Samba
Samba
Samba
Florianpolis
2012
Agradecimentos
A Daisi Vogel, pela orientao.
Ao Posjor, pela oportunidade e pelo apoio.
Capes, pela bolsa de estudos.
A meus colegas de mestrado, pela parceria e cumplicidade.
A Ana Maria Preve, por me ajudar a lapidar o projeto da dissertao.
Aos colegas de mestrado, amigos e pessoas queridas, por contribuies
diversas: Jlia Crochemore Restrepo, Suzana Rozendo, Carlos Borges
da Silva Jnior, Paola Madeira Nazrio, Joana Brando, Rafael Alves,
Cndida Oliveira, Fbio Spia, Ana Paula Bandeira, Criselli Maria
Montip, Jos Dirceu Campos Ges, Gabriel Pereira Knoll, Daniela
Galdino, Cris Lima, Cristiano Pinto Anunciao, Daiana da Silva,
Carolina Pompeo Grando, Ana Marta M. Flores, Janara Nicoletti,
Fabrcio Franco e Gisele, Luiz Fernando Ribeiro Alvarenga, Rita
Narciso Kawamata, Karen Herreros, Patrcia Silveira, Leiza de
Carvalho, Fabrcio Silveira, Narriman Chede Rotolo, Lucas Vilela,
Fernanda Capibaribe.
RESUMO
Esta dissertao procura analisar o modo como a imprensa mais
especificamente a crtica musical desenvolvida pela Revista da Msica
Popular, publicada entre 1954 e 1956 contribuiu para a construo de
uma identidade nacional para o Brasil a partir do samba. Tendo como
referncia terico-metodolgica as teorias do imaginrio e os textos de
Walter Benjamin, busca-se compreender como o jornalismo intervm na
construo do imaginrio e na constituio de novas simbologias e
identidades culturais. A pesquisa consiste em identificar nos textos da
publicao mapas e fragmentos significativos que auxiliem na
compreenso dessa grande trama cultural que envolveu a consolidao
de uma identidade nacional a partir do samba, verificando a dinmica da
inter-relao que se estabelece entre os diversos atores sociais e vetores
de fora envolvidos, sejam polticos, econmicos, sociais. Procura-se
destacar a importncia da mediao da crtica musical nos embates
simblicos que envolveram a legitimao de narrativas para a identidade
musical brasileira, atentando para a tenso que se formou entre os
valores estticos e determinantes poltico-ideolgicos. Destaca-se,
assim, a centralidade da narrativa na construo de nosso imaginrio.
Palavras-chave: 1. Crtica musical. 2. Identidade nacional. 3. Revista da
Msica Popular. 4. Samba. 5. Jornalismo.
ABSTRACT
This dissertation aims to analyse the way the press more specifically
the musical criticism developed by the magazine Revista da Msica
Popular, published between 1954 e 1956 has contributed to the
building of a Brazilian national identity related to the samba. Having as
theoretical and methodical references the theories of the imaginary and
the Walter Benjamins writings, it intends to understand how the
journalism interferes in the construction of the imaginary and in the
constitution of new simbologies and national identities. This research
consists in identify in the texts of the magazine maps and meaningful
fragments that could help the comprehension of this huge cultural plot
about the consolidation of a national identity related to the samba,
verifying the dinamic of the inter-relations established between the
many social actors and the vectors of influence connected to them, as
political, economical, social. It intends to stress the importance of the
mediation of the musical criticism in the symbolic confronts connected
to the legitimation of the narratives about a Brazilian musical identity,
noticing the tension that forms between the aesthetic values and the
political and ideological determinations. This resarch aims to stress,
after all, the central importance of narrative to the construction of our
imaginary.
Keywords: 1. Musical criticis. 2. National identity. 3. Revista da
Msica Popular. 4. Samba. 5. Journalism.
SUMRIO
1 INTRODUO...................................................................15
Captulo I: O samba como nao: jornalismo, samba e identidade
nacional..........................................................................................................37
15
1 INTRODUO
A msica popular brasileira um manancial de memrias vividas e
imaginadas a partir do qual foram construdas narrativas diversas sobre a
formao de uma tradio que pudesse caracterizar uma identidade
nacional particular de nosso Pas, em busca de consolidar nossa
emancipao poltica e cultural. Corroborar a inveno de uma era de
ouro para a msica popular brasileira foi o expediente empregado por
um grupo de intelectuais que se reuniu em torno da Revista da Msica
Popular (1954-1956) com o propsito de proteger nossa cultura de uma
suposta ameaa da influncia da msica estrangeira difundida pelas
rdios e gravadoras. Este passado utpico e idlico corresponderia ao
perodo entre 1930 e 1945, quando a msica brasileira ainda manteria
uma suposta pureza, antes de ser submetida ao processo de
modernizao que alteraria radicalmente os modos de produo,
distribuio e consumo dos bens culturais.
Imbudos de uma postura semelhante dos romnticos ou dos
modernistas, os chamados folcloristas urbanos1 fizeram uma
verdadeira saga em busca de elementos da cultura popular que pudessem
servir de fonte para uma cultura brasileira autntica, buscando
instaurar assim nossa independncia cultural e livrar-nos das heranas
coloniais e da dependncia com relao arte e ao pensamento
europeus. A singularidade cultural, antes buscada no extico e no
distante, era neste contexto vislumbrada no folclore e na arte popular,
que possuam traos caractersticos diferenciadores das manifestaes
O termo parece ter sido cunhado por Enor Paiano, na dissertao O Berimbau
e o Som Universal. Lutas Culturais e Indstria Fonogrca nos anos 60, de
1994.
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Souza, Trik de. Revista da Msica Popular. Rio de Janeiro: Funarte; BemTe-Vi Produes Literrias, 2006, p. 16.
15
CAYMMI, Dorival. RMP, jan. 1955, p. 182.
22
Maria Clara Wasserman fez uma amostragem das msicas mais tocadas
nas rdios na poca da Revista da Msica Popular, para verificar qual
era a parcela da programao ocupada pela msica estrangeira e
questionar a suposta crise que a msica brasileira vivia na poca, em
funo da difuso cada vez maior gneros musicais estrangeiros no Pas.
Segundo ela, embora dividisse com rumbas, jazz, boleros, fox e
marchinhas de Carnaval as paradas de sucesso das maiores emissoras de
rdio, o samba continuava sendo o gnero musical mais executado e
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realiza.
as
realidades
profundas da
terra
em
que
se
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SODR, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de3 Janeiro: Mauad, 1998, p.
53.
30
CUNHA, Fabiana Lopes da. Da marginalidade ao estrelato: o samba na
construo da nacionalidade. So Paulo: Anablume, 2004, p. 31-32.
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procura-se
examinar
alguns
pressupostos
tericos
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tensionada
por
determinantes
poltico-ideolgicos
estticos
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dos
chamados
agentes
sociais,
so
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1922-1923, n. 1, p. 8.
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obra
de
Mrio
de
Andrade
(1893-1945)
influenciou
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brasileira
nos
tipos,
costumes,
textos
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calcada
nos
autores
estrangeiros
de
tendncias
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diversos concertos, gravou alguns nmeros de msica brasileira. VillaLobos facilitou a tarefa do nosso visitante, apresentando msicos como
Pixinguinha, Donga, Joo da Baiana, Jararaca, Ratinho (...).
Outra grande influncia na linha editorial da RMP foi o radialista
Almirante (Henrique Foris Domingues, 1908-1980), considerado a
mais alta patente do Rdio durante a Era de Ouro do Rdio. Exparceiro de Noel (de quem se tornaria bigrafo), autor de uma das
msicas carnavalescas mais famosas, "Na Pavuna", possua enorme
biblioteca e discoteca sobre msica brasileira. O artigo Almirante: a
maior patente do rdio, por Mrio Faccini, que apresenta o LP de
Almirante gravado para a Sinter, define o prestgio do radialista na
poca: Sem medo de erro, podemos afirmar que no existe nenhum
arquivo particular no pas que possa ombrear com o de Almirante; e que
ningum manuseia e conhece melhor o que possui do que ele.101 Alm
do prestgio como pesquisador, ele ainda desfrutava da credibilidade que
sua atividade como msico lhe proporcionava: (...) Almirante, muito
moo ainda, isoladamente ou acompanhado pelo legendrio Bando dos
Tangars, no s gravou um punhado de msicas nossas, como pde
acompanhar de perto o movimento desse ramo de atividade artstica.
Para Almirante, de 1923 a 1926 o cenrio musical brasileiro modificase, com a invaso de vrios ritmos americanos shimmy, charleston,
blues, black botton que trouxeram consigo as jazz bands. O
compositor e radialista realizou uma verdadeira cruzada para consagrar
o samba e o choro como representantes da mais legtima msica popular
brasileira. Dois programas de rdio contriburam para realizar esta
empreitada: O Pessoal da Velha Guarda (Rdio Tupi, maro/1947 a
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antigas
de
msica
popular.
Segundo Napolitano
102
Wasserman :
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Sem querer sugerir uma cronologia linear dos fatos, pode-se pensar que
Lcio Rangel era herdeiro da pesquisa da msica folclrica e popular
feita por Mrio de Andrade e Almirante. Como aponta Srgio Augusto,
o editor da RMP passou a se corresponder com Mrio de Andrade em
dezembro de 1934. Lcio e seus amigos costumavam tomar uns chopes
com o modernista na Taberna da Glria, prximo de onde Mrio morou
entre 1938 e 1941.
Conforme o Dicionrio Cravo Albin da Msica Brasileira, Lcio Rangel
foi um dos defensores mais intransigentes da msica popular brasileira
tradicional, da qual era profundo conhecedor.103 Sua crtica, publicada
na seo Discos do Ms (presente em todas as edies da RMP e sempre
assinadas por Rangel, com exceo da 1 edio, em que foi assinada
por Srgio Porto), no se constrangia em dar nome aos bois, mostrandose cida principalmente ao tratar de lanamentos de discos nacionais
influenciados por gneros estrangeiros. Na 4 edio, ao comentar o
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AUGUSTO, Srgio. In: RANGEL, Lcio. Samba, Jazz & Outras Notas.
Srgio Augusto (org. / Apr. / Notas). Editora Agir,2007, p. 16.
109
AUGUSTO, Srgio. Ibidem, 2007, n/d.
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Janana
Faustino
Ribeiro111
atenta
para
uso
do
termo
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SOUZA, Trik de. A bossa nova da imprensa musical. In: Coleo Revista
da Msica Popular. Rio de Janeiro: Funarte; Bem-Te-Vi Produes Literrias,
2006, p. 17.
116
Ibidem, Coleo RMP, 2006, p. 22.
117
CABRAL, Mrio. RMP, nov. 1954, p. 124.
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caro que a Radiolndia, que saa por CR$ R$ 5,00 (em 1954, data de
lanamento da RMP). O preo da publicao se manteve o mesmo at a
ltima edio. Produzida no Rio de Janeiro, a RMP era vendida nas
bancas e tambm por assinatura, a CR$ 80,00 anuais. Em sua 5 edio,
informava que tinha representantes e distribuidores em outros Estados
do Pas So Paulo, Minas Gerais, Gois, Rio Grande do Sul, Bahia,
Paraba, Paran, Pernambuco e Santa Catarina. A publicao parece ter
enfrentado certa dificuldade para conseguir anunciantes, ao menos a
princpio. A 1 edio traz apenas seis anncios, sendo trs de pgina
inteira (Jucas Bar, Suebra Importadora e Continental Discos) e trs
menores (Livraria Jos Olympio Editora, Livraria So Jos, Rdios Bel).
A situao melhorou um pouco nas edies seguintes, mas no muito. A
4 edio trazia onze anncios (apenas trs de pgina inteira, um mdio
e os demais pequenos). No editorial, Lcio Rangel desabafa:
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Outro
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Vincius conta que Ismael era considerado por Lcio Rangel e Prudente
de Morais Neto o maior compositor brasileiro. Texto intitulado Mestre
Ismael Silva, de autoria de Vincius, fala sobre a parceria do compositor
com Francisco Alves137:
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contratado pela rdio Mayrink Veiga para seu cast por indicao do
produtor e colaborador da RMP Srgio Porto (que era inclusive sobrinho
de Lcio Rangel).
Verifica-se que muitas vezes o mediador cultural intervm junto ao
cenrio cultural para corrigir distores e buscar orientar seus rumos.
Tornou-se famoso o encontro entre o radialista Srgio Porto (Stanislaw
Ponte Preta) tambm colaborador da RMP e sobrinho de Lcio Rangel
e Cartola (Angenor de Oliveira, 1908-1980), em 1956, na Garagem
Atlntica, em Copacabana. Cartola na poca trabalhava tomando conta
de uma garagem, das 18h s 6h. Em uma madrugada, acabei de lavar
meus carros, fechei a garagem e fui tomar um caf em um bar (...). L,
encontrei Srgio Porto. Ele me viu de macaco e tamanco, todo
molhado, e ficou horrorizado, lembra o sambista no documentrio
Cartola: Msica para os Olhos146, de 2007, de Lrio Ferreira e Hilton
Lacerda. O jornalista levou Cartola a programas de rdio e o incentivou
a compor novos sambas. A partir da, Cartola foi redescoberto por uma
nova safra de intrpretes.
Uma passagem igualmente emblemtica, porm menos conhecida,
narrada no artigo Porto Alegre Zero Grau, de Irineu Garcia, que conta
como Lupicnio Rodrigues foi revelado por um jornalista descobridor
de talentos. O compositor trabalhava como entregador de pacotes da
Livraria da Globo e o jornalista Rivadvia de Souza lhe perguntou:
como tche, no tem algum sambinha para o carnaval?:
(...) O rapaz no se fez de rogado, acompanhado
de sua caixa de fsforos, muito simples, executou
146
100
sua ltima composio. O cronista entusiasmouse, agarrou o rapaz e levou-o para a redao, onde
houve um verdadeiro show com flashs, etc.
No dia seguinte a Folha da Tarde dava o tiro, O
Rio Grande do Sul tambm cria sambas. O
entregador de pacotes, daquele dia em diante,
comeou a agigantar-se e hoje o grande criador
de sucessos: o jornalista Lupiscnio (sic)
Rodrigues.
O descobridor foi o jornalista
Rivadvia de Souza.
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Vale reparar que estes artigos sobre o jazz apresentavam uma elaborao
terica mais consistente que aqueles sobre samba, identificando
claramente os elementos estticos sobre o gnero norte-americano e
quais critrios de valor eram usados. No artigo Os fatores essenciais da
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165
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do
Jazz
em
oposio
aos
que
somente
atingem
109
A seguir, Jos Sanz afirma que o moo italiano escorrega por um plano
inclinado de coisas ruins e pssimas, que inclui grandes nomes do jazz
moderno e toda a raa de boppers e cools, entre eles, Duke
Ellington, Count Basie, Benny Goodman, Ella Fitzgerald, Woody
Herman, Dizzy Gillespie e Charlie Parker, Manchito (?), Stan Kenton,
Miles Davis, Lennie Tristano, Lee Konitz. O crtico parece bem
desapontado ao concluir o artigo:
Esse fato nos fora a uma reflexo melanclica:
de nada adiantou, at agora, o trabalho exaustivo e
honesto de pesquisa e interpretao de homens
167
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111
A crtica mais direta linha editorial da revista foi feita por Jorge
Guinle, no artigo Jazz: crticos e estilos, publicado na 13 edio.
Conforme introduo de Marcelo F. de Miranda, o autor traou as
principais caractersticas do jazz e fornece o critrio para sua anlise.
Ainda segundo ele, o texto representava uma forma de apreciao
inteiramente nova entre os crticos nacionais, reservando-se o direito de
critic-lo posteriormente. Guinle criticou a concepo puramente
folclrica da msica, exposta no livro Shinning Trumpets, de Rudi
Blesh, considerada a Bblia por crticos s vezes superficiais (entre ns
Jos Sanz, Lcio Rangel e M. Miranda). Guinle criticou ainda a
tentativa de aplicar ao jazz os critrios estticos dos work songs, blues e
spirituals, que exprimiam o cotidiano das populaes rurais negras do
sul:169
112
harmnico deste nas improvisaes, diferenciamno de suas origens. (...) Assim a polirritmia em
que concorrem todos os instrumentos da
orquestra, aliada inveno meldica da
improvisao, a qualidade dos sons que j por si
so altamente expressivos, constituem a essncia
do Jazz. (...) Assim, a concepo puramente
folclrica dos Oderigo, Bornemann e excntrico
William Russel, est completamente superada por
estudiosos como Rudi Blesh, que abandonou a
formulao essencial desta teoria, exposta como
estava no livro Shinning Trumpets, considerado a
Bblia por crticos s vezes superficiais (entre ns
Jos Sanz, Lcio Rangel e M. Miranda), sendo
seguido nesse movimento por Bill Grauer, Orrin
Keepnews, etc. Certos crticos confundem as
origens com o prprio fenmeno. Preocupam-se,
como dissemos, demasiadamente com as razes
folclricas: os work songs, blues e spirituals. (...)
Com o aparecimento de novos elementos
culturais, o esprito continuou numa forma
diferente.
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RANGEL, Lcio. Samba, Jazz & Outras Notas. Srgio Augusto (org. / Apr. /
Notas). Editora Agir, 2007, p. 25.
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estudos da msica
popular urbana,
Lira
vinculou
seus
Enciclopdia da Msica Brasileira - Art Editora e Publifolha - So Paulo 2a. Edio - 1998.
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comearam
evidenciar-se
as
tentativas
mestias
de
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Ainda de acordo com o artigo, o choro teria nascido nos arrasta-ps das
estalagens e pagodeiras dos capadcios (que significa tanto quem
dado a serenatas quanto os charlates e impostores), dominados por
grupos de segunda categoria, que transformavam em choros as
msicas que interpretavam, to chorosas eram suas interpretaes.
Segundo ela, o choro uma cano autenticamente carioca:180
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O termo
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dos
folcloristas
urbanos.
Ainda
segundo
Napolitano,
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SODR, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de3 Janeiro: Mauad, 1998, p.
51.
203
MIRANDA, Marcelo F. de. RMP, dez. 1954, p. 168-170.
204
MICHEL, Nicolau Netto. Msica brasileira e identidade nacional na
mundializao. So Paulo: Annablume; Fapesp, 2009, p. 93-94.
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urbanos
da
Revista
da
Msica
Popular,
muito
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de
qualidade
afirma-se
por
seu
aspecto
evolutivo,
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O livro
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234
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de
uma
cultura
brasileira
autntica,
produzida
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envolvidos
com
essas
formulaes
estavam
muito
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258
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morrissimam elas! Vde tais olhos ingnuos, tais bocas de largos beios
puros, tais corpos de bronze que brasa, e testas, e braos, e pernas
escuras, que mil escalas de mulatas!
259
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Consideraes finais
168
mais
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178
paradoxos,
principalmente
nas
tenses
entre
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RANGEL, Lcio. Samba, Jazz & Outras Notas. Srgio Augusto (org. / Apr. /
Notas). Editora Agir,2007, p. 56.
181
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Referncias bibliogrficas
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185
186
Jess.
Dos
Meios
Comunicaes:
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188
189
Documentrios e discos
A MSICA DE DONGA. Gravadora Marcus Pereira. Rio de Janeiro:
1974.
CARTOLA MSICA PARA OS OLHOS. Direo e roteiro de Lrio
Ferreira e Hilton Lacerda. Brasil, 2006, 88 min, cor.
O MISTRIO DO SAMBA. Dirigido por Lula Buarque de Hollanda e
Carolina Jabor e produzido por Marisa Monte, 2008.
PAULINHO DA VIOLA E OS QUATRO CRIOULOS. In: A Msica
Brasileira Deste Sculo Por Seus Autores E Intrpretes (Programa
Ensaio) Vol. 3 CD 09: (2001).
190
191
ANEXO
FICHAMENTO DA RMP
Pg. 23 Edio n 1 setembro de 1954 Capa com Pixinguinha.
Pg. 25 Editorial. Apresentao da revista, sua proposta, linha editorial,
seus colaboradores.
Revista da Msica Popular nasce com o propsito de construir. Aqui
estamos com a firme inteno de exaltar essa maravilhosa msica que a
popular brasileira. Estudando-a sob todos os seus variados aspectos,
focalizamos seus grandes criadores e intrpretes, cremos estar fazendo
servio meritrio.
Os melhores especialistas no assunto estaro presentes, desde este nmero
inaugural, nas pginas que se seguem. Ao estamparmos na capa do nosso
primeiro nmero a foto de Pixinguinha, saudamos nele, como smbolo, ao
autntico msico brasileiro, o criador e verdadeiro que nunca se deixou
influenciar pelas modas efmeras ou pelos ritmos estranhos ao nosso
populrio. Mas no nos limitaremos a tratar apenas da msica popular
brasileira. Algumas pginas sero dedicadas, em cada nmero, ao jazz, a
grande criao dos negros norte-americanos, e para tanto convidamos um
dos mais acatados especialistas no assunto, o crtico Jos Sanz.
Pg. 26-28 O enterro de Sinh. Por Manuel Bandeira. Artigo faz um perfil
do grande pianista e compositor, que considera um dos mais deliciosos
sambas cariocas. Conta a ltima vez que o viu, j doente, e descreve sua
morte. Procura descrever sua importncia.
O que h de mais povo e de mais carioca tinha em Sinh a sua
personificao mais tpica, mais genuna e mais profunda. De quando em
quando, no meio de uma poro de toadas que todas eram camaradas e
frescas como as manhs dos nossos suburbiozinhos humildes, vinha de
Sinh um samba definitivo, um Claudionor, um Jura, com um beijo puro
na catedral do amor, enfim uma dessas coisas incrveis que pareciam
descer dos morros lendrios da cidade, Favela, Salgueiro, Mangueira, So
Carlos, fina-flor extrema da malandragem carioca mais inteligente e mais
herica... Sinh!
Ele era o trao mais expressivo ligando os poetas, os artistas, a sociedade
fina e culta s camadas profundas da ral urbana. Da a fascinao que
despertava em toda gente quando levado a um salo.
Pg. 29 Discoteca popular Reportagem sobre discoteca popular do
SAPS, na Praa da Bandeira, onde trabalhadores podem ouvir as msicas de
sua preferncia em cabines. Relata que havia, na poca, quatro discotecas
no Rio criadas pelo SAPS.
Numa Discoteca Popular logicamente o samba, em suas diversas
modalidades, detm a preferncia absoluta dos ouvintes. As msicas
populares mexicanas boleros, rumbas, de to grande aceitao entre ns,
192
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196
197
negros nos EUA, a partir do sculo XVI. Faz um panorama dos negros nos
EUA.
Ao contrrio do que nos querem fazer crer os exegetas da chamada arte
pela arte, indiscutvel que todas as expresses artsticas obedecem a
determinados fatores de ordem social, econmica, histrica, geogrfica e
cultural, que agem poderosamente sobre suas formas, sobre suas tendncias
estticas e sobre seu contedo. Porque o artista no pode, de modo algum,
fugir vigorosa influncia que nele exerce o meio ambiente no qual cria.
Na chamada arte folcklrica, voz da expresso mais pura do sentimento do
povo, da massa annima, como tambm nas suas mltiplas derivaes de
ordem popular, o influxo a que nos referimos acima adquire contornos de
muito maior transcendncia. Isso porqu, ela quem possui uma origem
social mais direta, toda vez que se vincula intimamente com fatos cotidianos
do povo, como os trabalhos manuais, as funes religiosas, os atos de
magia, as danas coletivas, etc. As condies geogrficas e climatricas,
bem como a situao econmica do povo que as cria so, nela, fatores
determinantes de sua expresso de suas formas e do seu contedo.
Tais canes esto caracterizadas por certas peculiaridades do ritmo, de
suas formas e melodias, as quais derivam do temperamento ou idiosincrasia
do povo, de suas condies de vida e trabalho, de sua linguagem e do clima
do pas em que surgem, assim como das funes que desempenham dentro
da comunidade.
As canes eram aprendidas de ouvido, eram lembradas e, ao passar de
uma aldeia para outra, atravs do pas e das geraes, mudavam
constantemente. A falta de memria ocasionava lacunas que requeriam
novos versos para serem sanadas; trechos de outras canes, palavras ou
melodias eram introduzidos, acidental ou intencionalmente (...).
Pg. 68-72 Discografia selecionada de jazz tradicional Por Jorge Guinle.
Fala sobre as primeiras gravaes de jazz, procura caracterizar rapidamente
o jazz, e enumera discos que exemplificam esta maneira de tocar no que
ela produziu de melhor, isto , nas gravaes feitas entre 1923-1929.
Conseguem, assim, esses msicos, uma polifonia intuitiva realada ainda
mais por uma liberdade rtmica notvel dentro do ritmo iscrono de base.
Antecipaes e atrasos, enfim decalagens sobre um fundo rtmico
imutvel, conferem ao jazz outra caracterstica, a sua polirritmia.
Pg. 73 Notas de jazz - Nota critica o livro Puissances Du Jazz, de Grard
Legrand. Trata-se de uma obra extremamente confusa, no s em sua
exposio como nas ideias e sentimentos do autor, que tem a fabulosa
capacidade de gostar, ao mesmo tempo, de Ma Rainey, Ella Fitzgerald,
Billie Holiday e Sarah Vaughan e de King Oliver, Thelonius Monk,
Charlie Parker, Dizzie Gillespie, Louis Armstrong, Stan Getz e Gerry
Mulligan. Como se v, o homem uma espcie de avestruz: come de tudo.
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Ele era a seta que apontava para o Norte, que dizer, para a liberdade, para o
trabalho remunerado, onde o negro no era obrigado a andar on the sunny
side of the street para que o branco pudesse comodamente transitar pela
sombra nos sufocantes dias de vero.
Pg. 164-166 Lead Belly Arquivo humano do cancioneiro
afronorteamericano Por Nestor R. Ortiz Oderigo Artigo sobre Lead
Belly, um dos cantores folclricos mais importantes dos ltimos tempos,
no s em matria de blues, como, tambm, de outras canes do suculento
acervo da gente de cor da Unio. Diz que na poca se buscava com
grande empenho as razes autnticas do jazz na arte sonora da frica
Ocidental e em suas diversas derivaes no substancioso folclore dos negros
estadunidenses.
Pg. 168-170 O jazz de New Orleans (2) Por Marcelo F. de Miranda.
Sobre o papel da sesso rtmica no conjunto de New Orleans. Chama a
ateno para a diversidade de ritmos africanos existente.
Na realidade, toda a vida do negro construda em torno do ritmo, tanto no
falar, quanto no andar e demais atividades.
No que diz respeito msica de Jazz, encontramos duas caractersticas
rtmicas essenciais: a sncopa e a polirritmia.
Pg. 171 Um disco por ms Folkways Huddie Ledbetter Memorial
Take This Hammer.
Pg. 172-173 Os fatores essenciais da msica de jazz. Por Jorge Guinle.
Como ele mesmo define, o autor examina quais so os caracteres que
formam o fundo do Jazz em oposio aos que somente o atingem
superficialmente.
Considero autntico o Jazz moderno, porque nele encontro os fatores
essenciais desta msica, que passo a recapitular:
1 ritmo iscrono de base com balanceio caracterstico e, contrapondo-se a
ele, decalagens rtmicas criando pliritmia.
2 sonoridade: tratamento da matria sonora maneira inaugurada pelo
Jazz com modificaes dos timbres que se tornam expressivos por si.
Referimo-nos aqui maneira negride com que o som tratado.
3 o uso freqente dos blues como material temtico mantendo-se as
inflexes produzidas por deformaes microtnicas.
4 solos improvisados.
5 a tcnica instrumental tem um valor somente funcional na estrutura dos
solos (no caso dos msicos).
Pg. 176 Como a imprensa se referiu ao aparecimento da Revista da
Msica Popular Traz trechos de citaes sobre a publicao nos jornais da
poca.
O aparecimento da Revista da Msica Popular motivo de justa alegria
para os cultores da msica folclrica e da msica popular entre ns.
Apresentando agradvel aspecto, bastante ilustrada, selecionou igualmente
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sambas pela noite a dentro. Notas sobre shows de Carmen Miranda, Carlos
Machado, reforma na boite Drink, noites no Maxims.
E Slvio est nesta noite de agora, nesta do instante desta crnica. No
folio, no diz carnaval, no fala em passado, no conta vantagens, no diz
nem bobagem, no paga pra ver nem ouvir. Quer rede, violo, coisa macia
e ternura de seus bens que so seus compadres, seus amores que so as
flores. Slvio est dentro da noite e por isso h mais msica dentro dela.
Ela, que sem reinado e sem coroa tem muito do caboclinho de quem h
pouco falamos. Elisete bela e boa moa pra poema de Manuel Bandeira,
moa do sabonete Arax, moa que no precisa pedir licena a ningum pra
entrar no cu.
Pg. 202-204 (22-24) Onde mora o samba - A escola de samba da Portela.
Reportagem de Cludio Murilo. Autor anuncia que inicia uma srie de
artigos sobre as melhores Escolas de Samba, abordando nesta edio a
Portela. Conta sobre as origens da Portela (fundada em 1931), os blocos que
a antecederam, os primeiros sucessos, os principais integrantes Paulo da
Portela, Claudionor.
Paulo foi o Civilizador do Samba; passou a levar a sua gente dentro de um
terno engomado e uma gravata borboleta. Proibia expressamente que se
entrasse em botequins.
(...) E Osvaldo Cruz passou a chamar-se Quem nos faz o capricho.
Influenciados pelo Estcio, o bloco passou a cantar somente sambas.
Pg. 204 (24) Sobre a R.M.P. Por Fauck Savi. Artigo elogioso sobre a
Revista da Msica Popular, publicado na Folha do Povo, de S. Paulo, e
transcrito na revista.
Acredito, sinceramente, tratar-se da coisa mais sria que j se fez na
imprensa brasileira, concernente especialidade. Tresanda a idealismo, boa
vontade, esprito didtico, num movimento, verdadeira batalha declarada em
defesa da genuna msica popular brasileira, to esquecida, to confundida,
nesta era de samboleros xaporosos, artificiais e mentirosos, neste momento
to ausente da espontaneidade criadora de um Noel, Custdio, Ary Barroso
(menos o Risque), Almirante, e muitos outros mais.
Pg. 205 Noticirio.
*1 Congresso Nacional de Trovadores Ser realizado em Salvador,
Bahia, de 1 a 9 de julho. Ter concurso de trovas.
*Homenagem a Lattari A cantora Angela Maria homenageia Vitrio
Lattari, diretor artstico da Copacabana Discos.
*Pixinguinha e o carnaval antigo A Copacabana vai lanar um disco com
msicas de carnaval antigo.
Pg. 206-208 Discografia completa de Francisco Alves (2) Organizada
por Slvio Tlio Cardoso.
Pg. 209-211 Vicente Celestino, cantor e canastro. Reportagem de Jos
Guilherme Mendes. Artigo sobre aquele que , segundo o autor, o cantor
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Pg. 226-227 Zutty escolhe Sobre levantamento feita por Jorge Guinle
nos EUA sobre os favoritos de crticos e msicos. De um modo geral, os
msicos, com todas as limitaes da sua incultura e do interesse comercial
com relao s suas casas editoras, so mais coerentes e intuitivamente mais
certos do que os crticos.
Pg. 228 Escreve o leitor.
Pg. 231 Edio 5 Fevereiro de 1955 Capa com Elizete Cardoso.
Em nossa capa deste nmero, publicamos a fotografia de Elizete Cardoso,
a grande intrprete da msica popular carioca. uma cantora de grandes
recursos, que fez uma carreira limpa at alcanar a celebridade.
So Paulo parecer ter gostado desta nossa revista. Nossos nmeros vm
sendo disputados nas bancas, tendo o ltimo se esgotado em toda a cidade,
apesar do nmero considervel de exemplares enviados para a grande
capital.
Radiolndia, conhecida revista especializada, vai iniciar uma campanha
pela nacionalizao de nossa msica popular, to deturpada pelos falsos
compositores, pelos plagiadores de boleros, pelos fabricantes de sambas.
tima iniciativa, que conta com o nosso integral apoio. Precisamos
promover a volta dos legtimos valores da nossa msica popular, de homens
como Lamartine Babo, Heitor dos Prazeres, Ismael Silva, J. Cascata e
muitos outros, para substituir o falso e o medocre, agora dominando todo
um setor da nossa msica popular.
Excelente a reportagem de Arrigo Polillo publicada em os nmeros 224 e
225 da revista italiana poca. Atravs da imagem, temos uma pequena e
bem feita histria do jazz e de suas principais figuras.
Pg. 234 Variaes sobre o baio. Por Guerra Peixe. Fala sobre os
aspectos diversos do baio e suas derivaes, encontradas em Pernambuco e
outros Estados do Nordeste.
Uma das mais salientes caractersticas do baio a sua desconcertante
variedade, especialmente rtmica, contrastando fundamentalmente com
esquemas estandardizados da discografia comercial popularesca e
conseqente esteriotipia dos seus valores mais destacados.
A meu ver, baio na sua multiplicidade de formas to generalizado
no Nordeste, que se pode equiparar em diversidade s manifestaes
populares qualificadas de samba e batuque, correntes em todo o Brasil.
E lamentvel que a radiofonia atual no permita a sua divulgao, num to
oportuno momento de renovao da msica urbana.
Pg. 237-237 Mestre Ismael Silva Por Vincius de Moraes. Sobre vida e
obra do sambista, sua parceria com Francisco Alves.
Quem conhece de verdade o bom samba carioca no hesita em colocar
Ismael Silva como um dos trs maiores sambistas de todos os tempos. Lcio
Rangel e Prudente de Morais Neto acham-no, sem favor, o maior.
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Ismael ficou bom e voltou ao Estcio. Uns trs meses depois, estando ele
num caf a bater samba com a turma local, para um carro e dele desce
Francisco Alves em pessoa. A turma ficou besta e rodeou o automvel.
Chico no se deu por achado, pegou do violo e cantaram at o dia
amanhecer.
Pg. 238-240 Histria social da msica popular carioca Ritmos
carnavalescos. Por Mariza Lira. Sobre como ficou na histria do nosso
carnaval o Z Pereira, tradio portuguesa.
No dia do Carnaval l iam eles em grupos, das suas residncias a zabumbar
o Z Pereira at a Praa 11, onde se reuniam numa cervejaria ali existente.
Para a cervejaria e redondezas tambm desciam do morro do Pinto as
baianas, que vieram com os soldados de Canudos, da Favela baiana, que
motivou o topnimo dado pelo povo quele morro que, alis, se estendeu a
todo o conjunto de residncias precrias. No faltavam cervejaria os
chores, bomios e o meretrcio das redondezas, que numa amlgama
carnavalesca fizeram surgir o reduto mais popular, o smbolo mais perfeito
do carnaval carioca a Praa 11. E assim se imps o Z Pereira portugus
ao Carnaval carioca.
Pg. 241 Um pouco de recordao Por Jarbas Mello. Crnica sobre o
carnaval pelas ruas do Rio, com direito a recordaes de Recife e Macei.
E, assim, cantam (para que dizer cantavam?) as morenas faceiras do velho
Bloco das Flores, de minha Recife distante e frevolente. Bloco das
Flores, do velho Salgado, que vem na frente puxando o cordo e fazendo
um passo cruzado de causar inveja ao moleque Eduardo. A cabea cheia de
bate-bete, o balao-baco de Macei e a batida de maracuj aqui do rio. (...)
Pg. 242-243 Gafieiras. De Armando Pacheco. Crnica sobre as noites
nas gafieiras no Rio segundo o autor, havia dezenas delas. Cada qual tinha
a sua moral, assanhamento no salo era recriminado solenemente pelo
mestre-sala. Descreve incidentes inusitados que costumavam acontecer.
Que importa nga, sestrosa, dengosa, cheia de malemolncia, que exala
xexu danando colada ao seu ngo, que amanh a patroa no d o
ajantarado a tempo de participar do pife-pafe em casa do senador?! (...)
O clarineta solou o refrain do grande Fox que Handy colheu entre os
negros s margens do Mississipi. Agora a vez do piston gemendo o
atavismo musical com uma arte que enche de orgulho racista o solitrio
mestio se encharcando de cerveja no bar ao fundo. Pronto, acabou o
staccato, passou o scherzo, sobreviveu o smorzando. Mas a orquestra
emendou logo estridente swing em tempo de samba, e a cabrochada parece
possuda do esprito do Harlem pairando na Praa Onze dos velhos tempos,
manes da Serra Leoa!!!...
Pg. 246-247 Philipp-Grard, o brasileiro mais cantado em Paris. Por Nice
Figueiredo. Artigo sobre o sucesso do compositor Philippe-Grard,
brasileiro de nascimento, um jovem de trinta anos e aspecto esportivo, um
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das noites. A nica coisa que existe de sadia a msica. Vamos soletrar esta
ABC destas ltimas noites, j mortas e j em bom lugar.
Pg. 304-306 Catulo, letrista. Por Jarbas Mello. Texto sobre os dois
ltimos livros de modinhas de autoria de Catullo da Paixo Cearense: Lyra
dos Sales e Novos Cantares. Catulo escreveu msicas para artistas
como Ernesto Nazareth, Villa-Lobos, Mrio de Oliveira.
Naquela poca, Catulo no havia ainda iniciado a produo dos seus
celebrados poemas sertanejos, que mereceram tantos e tantos elogios, mas
que, ao nosso ver, deram-lhe como nico prmio o Luar do Serto. De
resto, consideramos que sua poesia nesse estilo, afora um ou outro poema
de versos mais consequentes, est muito aqum da poesia verdadeiramente
sertaneja, j integrada em nosso folclore, ou ainda improvisada nas vozes
dos nossos cantadores matutos. Sentimos sobretudo que para a msica
popular brasileira, a derivao do estro de Catulo para os motivos do serto,
os quais na realidade pouco conhecia, resultou numa perda irreparvel,
porque determinou a morte do letrista que tantas belezas construiu.
Pg. 308-309 O rdio em 30 dias Os 10 mais elegantes. Por Nestor de
Holanda. Crnica sobre os dez homens mais elegantes do rdio eleitos
pela revista do Anselmo Domingos. Os mais elegantes seriam, segundo o
autor, aqueles que mais negligenciam a gramtica. Reclama (ironicamente)
da injustia da lista por algumas omisses.
Waldeck usa colarinho duro de inverno a vero. Tem uns sapatos cor de
tijolo que assentam bem com um terno cinza e uma gravata amarela.
Carrega topete. Compra musculaturas nos alfaiates e pendura um brilhante
em cada dedo. Os invejosos lhe deram at o apelido de Lili das Joias.
Quando sai do microfone, depois de ter feito aquela saudao Minhas
fsocas, muito bem imitada por Lauro Borges, as meninas desmaiam.
Notas sobre Luiz Gonzaga, que terminou temporada na Rdio Nacional e
vai viajar contratado por uma firma comercial; Lana Bittencourt, que se
firma como perfeita intrprete da MPB; Vera Lucia, que lutou muito para se
eleger Rainha do Radio; e Cauby Peixoto, que pediu resciso de contrato
Nacional e migrou para a tupi e para a televiso.
Pg. 310-311 Um tipo da msica popular Seu Oscar. Por Prsio de
Moraes. Crnica sobre a dor de cotovelo de seu Osmar.
Parecia, mesmo, a triste e quotidiana histria do Seu Oscar. At o nome
parecido. A mesma histria. A paixo dele, a trabalho duro, a
preocupao com o bem estar da vigarista e, no fim, a ingratido
imperdovel consignada num bilhete cnico: No posso mais, eu quero
viver na orgia.
Pg. 312-313 Discos do ms. Notas de L.R.
Ciro Monteiro & Mariuza Tem que rebolar Escurinho. O samba bom,
de ritmo vivo e danante. Escurinho, samba de Geraldo Pereira, conta a
histria de um tipo popular, maneira de Noel Rosa, numa letra muito bem
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Historia Del Jazz, Estetica Del Jazz; Rudi Blesh, com Shine Trumpets e
This is Jazz: Ernest Borneman, com A critic looks at Jazz; Rex Harris e o
seu jazz; Alan Lomax com sua importante contribuio em Mr. Jelly Lord e
uns poucos outros, como William Russel, Frederic Ramsey Jr., Moses Arch,
Marshal W. Stearns e seu Instituto of Jazz Studies, Orrin Keepnews e suas
sbias notas nas capas do LP Riverside.
Pg. 324-325 King Oliver e a Creole Jazz Band (3) Por Frederic
Ramsey Jr. Sobre os esforos de Joe Oliver para manter conseguir
trabalho, aps o teatro onde sua orquestra se apresentava ter pegado fogo.
(...) tendo o Plantation fechado as portas por seis semanas, estou livre e
ficarei feliz se puder aceitar o que o senhor me puder oferecer. Tenho onze
msicos, cantos e tocamos jazz hot... s suas ordens, Joe Oliver.
Pg. 327 Um disco por ms Jazz Vol 10 Boogie Woogie and Jump and
Kansas City.
Pg. 328-331 Dicionrio de marcas de discos (A-C). Por Sylvio Tullio
Cardoso. Relao dos nomes das marcas por ordem alfabtica e localidade.
Pg. 332 Respondendo ao leitor Pg. 335 Edio 7 Maio/junho de 1955 Capa com Pixinguinhha,
Donga e Joo da Baiana.
Pg. 337 Editorial Sobre II Festival da Velha Guarda, e tambm viagem
de Ary Barroso Argentina e ao Uruguai. Ainda primeiro LP de Inezita
Barroso, nova seo discogrfica de Cruz Cordeiro.
Trs mestres da nossa msica popular ocupam hoje a capa desta revista:
Pixinguinha, Donga e Joo da Baiana, legtimos representantes da velha
guarda, msicos cem por cento brasileiros, caricaturados por Lau, o notvel
artista do trao.
Pg. 338-339 A propsito de mais um samba popular. Por Clemente
Neto. Relaciona os sambas da dupla Vadico-Noel Rosa. Menciona
participao deles em concurso institudo pela casa O Drago.
Noel Rosa morreu sem ver gravado Mais um Samba Popular, cujo
lanamento se deu no teatro, por intermdio de Grande Otelo, que ento
surgia, de forma consagradora, cantando, em dupla com Do Maia, numa
revista de Jardel, o grande samba de Ary Barroso No Tabuleiro da
Bahiana. Devido morte de Noel Rosa, e como Vadico, pouco depois,
viajava para os Estados Unidos, permanecendo fora do Brasil cerca de 15
anos, Mais um Samba Popular conservou-se indito durante todo esse
tempo, s tendo sido gravado o ano passado, quando Vadico retornou ao
Rio.
340-341 Msica (demasiado) popular. Texto e ilustrao de Vo Ggo.
Crnica sobre o quanto a cidade do Rio inspiradora musicalmente, com
seus sons e rudos diversos.
Tomo caf. Algum, em alguma parte do edifcio, puxa uma vlvula de
descarga. Vrias campainhas tocam em vrios andares, e o ronco do
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dos doze meses que deixamos para trs, podemos assegurar com satisfao
que est assegurada a continuidade desta revista. Queremos deixar
consignados os nossos agradecimentos a todos os que nos animaram com
palavras amigas, bem como aos anunciantes que, desde o nosso primeiro
nmero acreditaram em ns. Vamos tocar para a frente e procurar sempre
melhorar esta sua Revista.
510 Ovale, o seresteiro. Por Mario Cabral. Artigo sobre o compositor
Jaime Ovale. Diz que foi reconhecido em Londres e Nova York, onde
serviu como funcionrio na Alfndega. Embora tenha composto no
estrangeiro, sua msica no se deformou. Depoimento sobre impresses
pessoais do autor sobre o msico, que ele conheceu pessoalmente.
Neste aspecto, o msico-poeta, burocrata, bomio, mstico, se assemelhava
a Villa-Lobos, como ele impregnado desse substratum nacionalista,
telrico. Como Villa, esse seresteiro representa os ltimos compositores que
assimilaram o fato folclrico puro, no princpio do sculo. Hoje, isso no
seria mais possvel, ante o comercialismo voraz, o rdio, a msica mecnica
e os outros elementos deformadores do nosso populrio.
Pg. 512 O samba na literatura. Risoleta, trfega e vaporosa. Por Jota
Efeg. Crnica-conto sobre um samba feito por Claudionor (um valente, um
destemido, um bamba) para Risoleta, musa do morro. A histria, porm,
tem fim trgico.
Indiferente, sem se lembrar que ali esto dois homens que a querem, que a
disputam, Risoleta entra na roda e samba. Samba por todos, e para todos.
Samba pela satisfao que transborda da sua alma. Samba como um
agradecimento cano que a exalta.
Pg. 515 Estes so raros...
Pierrot, msica de Joubert de Carvalho e letra de Paschoal Carlos Magno.
Jorge Fernandes o intrprete.
Sussuarana, msica de Heckel Tavares e palavras de Luiz Peixoto, gravada
em 1928 por Stefana de Macedo.
Pg. 516 Histria social da msica popular carioca. A msica das
senzalas. Por Mariza Lira. Fala sobre a msica feita pelos negros escravos,
relaciona os instrumentos musicais de origem africana. Fala sobre os cantos,
as danas, os ritmos negros.
Os negros que vieram como escravos para o Brasil foram os mrtires da
nossa nacionalidade.
O negro africano ou j nascido no Brasil, nas horas de folga, as da noite
apenas, extravazava o sofrimento e a mgoa, no recesso das senzalas,
cantando ou versejando com caracterstica original. Do tempo da escravido
chegou-nos o eco desses lamentos das senzalas, fragmentos de cnticos
religiosos ou de solenidades sociais africanas, extravazados nos eitos da
capina ou abafados nos troncos, depois do castigo tremendo.
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Pg. 534 (26) Um tipo da msica popular Maria Maluca. Por Prsio de
Moraes. Crnica sobre uma moradora de rua, Maria Maluca, que xingada
pelos moleques de rua, bebe e pede dinheiro aos passantes. Alis, a maioria
dos sambas que tm inspirado essas crnicas de Noel.
Ele cita a letra de Maria Fumaa, de Noel Rosa: Maria Fumaa/ fumava
cachimbo,/ bebia cachaa.../ Maria Fumaa/ fazia arruaa,/ quebrava
vidraa/ e s de pirraa/ matava as galinhas/ de suas vizinhas./ Maria
Fumaa/ s achava graa/ na prpria desgraa.
Pg. 536 (28) Discos do ms. Notas de L. R.
Ataulfo Alves, suas pastoras e seus sucessos Um panorama dos melhores
sambas do autor de Amlia. Ataulfo realmente um sambista de primeiro
time.
Essa Negra Ful, de Jorge Fernandes.
Moreira da Silva, o tal e seus grandes sucessos. Veio, mais tarde, se
dedicar ao chamado samba de breque, o samba anedtico e pitoresco que
ao mesmo tempo uma movimentada crnica de certa camada da populao
da cidade. Os morros, gafieiras, os vigaristas e os valentes esto presentes
nas melhores pginas interpretadas pelo Morengueira.
Moreira da Silva est em grande forma, cada vez melhor e um consolo
ouvi-lo to cariocamente cantor, nesta poca em que alguns novos se do ao
ridculo de imitar Sinatra e Crosby. Com Moreira no h esse perigo: ele
mesmo em todos os sambas que canta, o genuno habitante desta cidade
que passa para a msica os seus problemas e as suas aventuras.
Bandeira e Drummond em LP Alguns dos melhores poemas dos dois
consagrados poetas interpretados por eles prprios.
Noel Rosa canta Noel Rosa
Pg. 538 (30) No Jockey Club Brasileiro. Grande Prmio Salgado Filho.
Pg. 539-547 Discografia mensal da indstria brasileira. Organizada por
Cruz Cordeiro.
Pg. 548-549 O problema do jazz. Direo de Marcelo F. de Miranda.
Texto sobre a gnese do jazz, a partir das canes de trabalho dos escravos e
do blues.
Temos a certeza, entretanto, que para se poder analisar e estudar a msica
de Jazz dentro de sua perspectiva verdadeira, somos obrigados a estudar o
folclore do negro nas Amricas, suas condies de vida, e as influncias
europeias que contriburam para a formao de sua msica e sua cultura.
Pg. 550 New Orleans de hoje. Por Eugene Williams. Sobre as origens do
jazz, em Nova Orleans, a partir de uma mapografia dos sales de dana e
cabarets, mas principalmente no Distrito Vermelho, em meio prostituio.
Assim, se voc quiser ouvir a melhor msica de New Orleans voc tem de
saber onde procurar indagar com os msicos pelas danas especiais,
banquetes dominicais, trabalhos casuais em sales e bares, jogos de dana
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De tudo que temos exposto resulta que a modinha tem sua origem firmada
na meldica europeia. Aqui ento ela se ambientou ao meio, gente e aos
costumes brasileiros. E foi perdendo o verniz extico, foi se tornando nossa
particularmente brasileira, com o sensualismo do branco, o dengue da
mulata, e o ritmo, o Bangu do negro.
Pg. 628 Msica dentro da noite Carnaval sem crtica. Texto e ilustrao
de Fernando Lobo. Crnica sobre como as msicas de carnaval estavam
perdendo o teor crtico, especialmente a crtica poltica.
De 1930 em diante quem tinha bico e sabia cantar, achou por bem matar a
crtica. O DIP estava no gog de todos e samba tinha censura e censura
mandava fazer as coisas que fossem de seu interesse. Samba em louvor
malandragem no podia sair. Se quisessem cantar que cantassem bonito:
O bonde de so
[Janurio
Leva mais um
[operrio
Sou eu que vou
[trabalhar...
Pg. 630-631 Noel, poeta do outro mundo. Por Jacy Pacheco. Rebate a
crtica de Ary Barroso a Noel, em que faz restries ao Noel melodista,
cantor e violinista.
Tambm reconheo em Noel o poeta acima de tudo, embora me comovam
muitas de suas melodias, de riqueza musical incontestvel.
O autor apresenta uma letra supostamente psicografada de Noel, mas cedida
pelas mos de Herv Cordovil, ex-parceiro de Noel, o que o leva a duvidar
da autenticidade da mediunidade da mensagem:
Minha Vila agora outra
Muito longe da Isabel...
Meu papel agora doutra
Qualidade do papel
Que representei na terra,
Andando de do em do,
Alma voltada pro samba,
Nada voltada pro cu!...
Pg. 632-643 Discografia mensal da indstria brasileira. Organizada por
Cruz Cordeiro.
Pg. 644-645 Pastoris pernambucanos. Por Jarbas Melo.
Sobre os pastoris, festejo popular muito apreciado em toda a regio
nordestina, segundo o autor. Descreve a festividade, realizada nos
subrbios, entre setembro e estendendo-se at maro.
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