RIBEIRO, L. Relatório Técnico - Arte Rupestre Da Serra Geral de Monte Alto - Bahia
RIBEIRO, L. Relatório Técnico - Arte Rupestre Da Serra Geral de Monte Alto - Bahia
RIBEIRO, L. Relatório Técnico - Arte Rupestre Da Serra Geral de Monte Alto - Bahia
Loredana Ribeiro
Ficha Tcnica
Loredana Ribeiro
ndice
Ficha Tcnica ................................................................................................................. 2
ndice .............................................................................................................................. 3
Introduo....................................................................................................................... 4
I - A Arte Rupestre da Serra Geral de Monte Alto sntese preliminar.......................... 6
Aspectos tcnicos....................................................................................................... 7
Aspectos temticos..................................................................................................... 8
Exemplos de geometrizao de figuras antropomorfas e zoomorfas....................... 10
Aspectos cronolgicos.............................................................................................. 10
II - Sobre a idade da arte rupestre brasileira ................................................................ 12
III Os locais com arte rupestre visitados.................................................................... 14
Ponto I ...................................................................................................................... 14
Ponto II ..................................................................................................................... 14
Ponto III .................................................................................................................... 17
Pontos IV e V............................................................................................................ 17
Ponto VI .................................................................................................................... 18
Ponto VII ................................................................................................................... 18
Ponto VIII .................................................................................................................. 19
Ponto IX .................................................................................................................... 20
Ponto X ..................................................................................................................... 20
IV A arte rupestre da Serra Geral de Monte Alto no contexto do Brasil Central........ 22
V Bibliografia citada e leituras recomendadas........................................................... 27
Loredana Ribeiro
Introduo
A sul e a leste, a Serra Geral tem por vizinha a Serra do Espinhao; a oeste, os
afloramentos calcrios do carste do rio So Francisco e, a norte, a Chapada
Diamantina. Todas estas reas tm sido alvo de estudos arqueolgicos em graus
variveis de intensidade, subsidiando um quadro geral descritivo para a arte rupestre
regional. O que se pretende neste relatrio inserir as pinturas da Serra Geral de
Monte Alto neste quadro, apontando, de modo preliminar, as similaridades e as
especificidades dos stios da Fazenda Nazca em relao queles de reas mais
estudadas.
Loredana Ribeiro
fornecer um contexto temporal geral dentro do qual estas pinturas podem ter sido
realizadas. Friza-se que o nico modo de atribuir idades para as pinturas atravs de
dataes, ainda no disponveis pela ausncia de escavaes arqueolgicas na rea.
Em seguida so apresentados os locais visitados e as pinturas encontradas.
Finalmente, a arte rupestre da Serra Geral de Monte Alto discutida no contexto
grfico no Brasil centro-nordeste, considerando principalmente as reas prximas mais
estudadas: sudoeste e centro da Bahia e norte de Minas Gerais.
1415
Palmas
de Monte Alto
Mapas
de localizao
da rea de pesquisa
4245
425230
43
4315
430730
Loredana Ribeiro
142230
Candiba
BRASIL
8
9
1 a 7 e 10
1430
45
10
40
Sebastio
Larajneiras
143730
BAHIA
SALVADOR
15
SERRA GERAL
DE MONTE ALTO
ESCALA
0
150 km
750m
1445
L.RIBEIRO, 2007
Loredana Ribeiro
Aspectos tcnicos
A arte rupestre dos locais visitados na Serra geral compreende principalmente
pinturas, quase sempre em monocromia de vermelho, em vrios tons, seguido pelo
laranja e amarelo.
De modo geral, as tintas rupestres pr-histricas eram obtidas a partir da
triturao de pigmentos minerais (sobretudo xidos de ferro e mangans) e posterior
Loredana Ribeiro
diluio em gua. Especula-se que materiais orgnicos possam ter sido misturados a
esta composio bsica, com a funo de ligantes, para garantir sua fixao nos
suportes rochosos, mas as anlises qumicas j realizadas com pigmentos de pinturas
brasileiras no encontraram nenhuma matria orgnica. Na Serra Geral as tintas
parecem ter sido aplicadas principalmente com o uso dos dedos, ocasionalmente
encontramos traos muito finos que sugerem o uso de pincis. Outra tcnica utilizada,
em menor escala, foi o crayon. Neste caso, trata-se da aplicao do pigmento bruto ou
processado e seco, na forma de lpis.
A foto abaixo d exemplos das tcnicas observadas de execuo dos
grafismos rupestres da Serra: no alto da foto, h figuras feitas a tinta, aplicada
parede com os dedos e possivelmente com pincis (traos mais finos). O ziguezague
na parte inferior da foto foi desenhado a crayon, com um basto de pigmento seco ou
com
aplicao
direta do mineral na
parede (um seixo de
hematita,
por
exemplo)
Aspectos temticos
A temtica local preponderantemente antropomrfica (de forma humana),
mas as figuras zoomrficas (de forma animal) aparecem com freqncia, sobretudo
acompanhando os seres humanos. Menos numerosos so os grafismos de formas
geomtricas bsicas e no observamos nenhuma representao fitomrfica (figuras de
vegetais).
Os seres antropomrficos tm tamanhos variados, entre 3 e 30cm, e podem
ser desde esquemticos (apenas um trao para indicar o corpo e quatro menores,
sugerindo membros inferiores e superiores)
at bastante realistas e com forte sugesto de
movimento (membros e corpos sinuosos,
evocando danas frenticas). Alguns tm
corpos redondos, outros corpos alongados;
vrios deles apresentam dedos.
Loredana Ribeiro
Exemplos
de
formas
geomtricas pintadas na Serra
Geral
Loredana Ribeiro
Exemplos de geometrizao de
figuras antropomorfas e
zoomorfas
Aspectos cronolgicos
Este repertrio temtico no foi representado de modo sincrnico nos
pequenos abrigos do topo da Serra Geral. Notamos sinais de cronologia relativa entre
as figuras, correspondentes a superposies entre figuras realizadas com tintas de
cores e tons distintos, e sutis diferenas nos graus de ptina dos grafismos (provocada
pelo intemperismo das tintas depois de aplicadas ao suporte). Os abrigos mais ricos
em figuras so os que mais apresentam estes sinais de diacronia (SGMA I e II). No
abrigo II, por exemplo, notamos quatro nveis de superposies de tintas distintas,
evocando uma elaborao paulatina do painel. Todavia, de modo geral, formas muito
semelhantes aparecem em tintas diferentes que se superpem, e as mesmas
associaes temticas podem aparecer pintadas com tintas diferentes. A nica
exceo so as figuras a crayon, que s mostram geomtricos e aparecem sobre as
figuras feitas tinta (antropomorfos, zoomorfos e geomtricos).
Podemos estimar que os grupos de autores destas figuras permaneceram
algum tempo na rea, o suficiente para voltar algumas vezes nos mesmos lugares e l
deixar novas pinturas na rocha, ao lado de outras mais antigas. Mas no podemos
avaliar a quanto tempo foi isso ou quanto tempo decorreu entre a realizao das
pinturas mais antigas e das mais recentes. Estimativas de idade para a arte rupestre
somente so possveis com dataes das prprias figuras ou com apoio de outros
dados arqueolgicos.
10
Loredana Ribeiro
PAREDE
2,12m
ao piso
PAREDE
TETO
1,15
ao piso
SGMA II momento 1
(laranja) de pinturas
TETO
2,16m
ao piso
10
30cm
PAREDE
2,12m
ao piso
PAREDE
TETO
1,15
ao piso
SGMA II momentos 1
(laranja) e 2 (vermelho
escuro) de pinturas
TETO
2,16m
ao piso
10
30cm
PAREDE
2,12m
ao piso
PAREDE
TETO
1,15
ao piso
SGMA II momentos 1
(laranja), 2 (vermelho
escuro) e 3 (amarelo)
de pinturas
TETO
2,16m
ao piso
10
30cm
PAREDE
2,12m
ao piso
PAREDE
TETO
1,15
ao piso
TETO
2,16m
ao piso
10
30cm
SGMA II momentos 1
(laranja), 2 (vermelho
escuro), 3 (amarelo) e
4 (vermelho vivo) de
pinturas
11
Loredana Ribeiro
12
Loredana Ribeiro
domsticos,
fogueiras),
eventualmente
recuperando
indcios
13
Loredana Ribeiro
humana
em
figura
geomtrica.
Ciranda de antropomorfos do
Ponto II, em suporte com
descamaes
14
Loredana Ribeiro
P pinturas rupestres
limite da rea abrigada
A
A
perfil topogrfico
N
A
A
2,5
5m
L.RIBEIRO, 2007
15
Loredana Ribeiro
arenito
piso sedimentar
P pinturas rupestres
limite da rea abrigada
P
perfil topogrfico
P
P
2m
A
L.RIBEIRO, 2007
16
de
escorrimentos
sedimentos,
minerais
Pontos IV e V
A aproximadamente 50m do ponto III h dois outros blocos com faces
abrigadas, onde foram pintadas poucas figuras. No ponto IV so bastonetes (ou grade
vestigial) e alguns antropomorfos. O ponto V mostra um pequeno conjunto de figuras
antropomorfas e geomtricas, onde se v exemplos do jogo de esquematizao das
figuras humanas. Tambm
neste local h figuras em
crayon, que se sobrepem
s demais.
Loredana Ribeiro
Ponto VI
Este o maior abrigo dos visitados, composto por um grande bloco que forma
uma rea abrigada de cerca de 15m de extenso, por 8m de largura ou profundidade e
6m de altura. O abrigo est exposto para nordeste e seu piso composto
principalmente por blocos abatidos de tamanhos variados. H um ponto de gua
corrente a cerca de 100m de distncia.
As pinturas esto em suportes verticais e lisos e consistem principalmente em
seres antropomorfos, em vrios alinhamentos horizontais. Tambm esto presentes os
jogos de esquematizao das figuras. Destaca-se, neste abrigo, uma grande figura
que
evoca
uma
tartaruga,
com
aproximadamente
40cm
de
comprimento.
Vista do abrigo VI
Ponto VII
Trata-se de pequeno abrigo cujas dimenses aproximadas so 8m de
cumprimento, 5m de largura e 6m de altura mxima, exposto para nordeste. No piso
do abrigo, observamos blocos lascados de arenito. Nas paredes, h pinturas em
vermelho e laranja.
18
Loredana Ribeiro
Ponto VIII
O Ponto VIII corresponde a um bloco rochoso cujos abatimentos formam
pequenas reas de paredes verticais abrigadas, onde h pinturas rupestres em laranja
e vermelho.
Nele encontramos a nica cena da rea, envolvendo animais e seres humanos.
Acima de um extensa fila indiana de quadrpedes, quatro pares de figuras
antropomorfas com os braos erguidos parecem espantar os animais. Trata-se de
representao de uma caada coletiva, onde as presas so conduzidas a uma
armadilha? Entre outras figuras do stio, destaca-se um grande zoomorfo, similar a
uma ave, e um quadrpede de corpo alongado e sinuoso.
Seres
zoomrficos
e
antropomrficos pintados no Ponto
VIII
19
Loredana Ribeiro
Ponto IX
Trata-se de um mataco de arenito, com cerca de 2m de altura, com pinturas
em uma pequena superfcie abrigada na lateral do bloco. O conjunto representado
mostra trs aves, em estgios
distintos
de
esquematizao,
local
tambm
Ponto X
Como nos demais locais, o Ponto X corresponde a um bloco no topo da serra
com faces abrigadas que receberam pinturas. O bloco possui cerca de 4m de altura e
o suporte pintado est exposto para noroeste.
As pinturas so de antropomorfos e zoomorfos, esquemticos e realistas,
acompanhados por figuras geomtricas, como grades e bastonetes. Destaca-se um
par de antropomorfos, um trs vezes maior que o outro, cujos membros sinuosos
sugerem uma dana. Todas as figuras so em laranja ou vermelho. O suporte pintado
tem sido afetado por fortes escorrimentos
minerais que cobrem parcialmente as figuras e
por
insolao,
levando
ao
desbotamento
20
Loredana Ribeiro
Coordenada UTM
722944/8400962
722921/8400944
722791/8400958
722764/8400960
722711/8400920
722731/8400946
722665/8400924
722465/8400760
722796/8400908
722860/8400986
Coordenada Geogrfica
142716.9/425554.7
142717.5/425555.5
142717.1/425559.9
142717.0/425600.8
142718.3/425602.5
142717.5/425601.9
142718.2/425604.1
142723.6/425610.7
142718.7/425659.7
142716.2/425557.6
21
Loredana Ribeiro
Complexo Montalvnia
Classificamos como bio-antropomorfos aqueles grafismos que, embora muito esquematizados, sugerem
figuras antropomorfas e apresentam-se envolvidos nas mesmas associaes temticas em que aparecem
essas ltimas.
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Loredana Ribeiro
30 cm
20 cm
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Loredana Ribeiro
Exemplos de associaes
entre pinturas antropomorfas e geomtricas
no Complexo Montalvnia
A - Lapas do Drago, Montalvnia/MG e Vazante Cercada, Serra do Ramalho/BA; B - lapas do Piolho de Urubu e Hora, Vale do Peruau/MG;
C - Vazante Cercada; D - Lapa dos Desenhos, Vale do Peruau/MG; E - Lapa do Tiko, Vale do Peruau/MG; F - Lapa do Drago
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Loredana Ribeiro
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Loredana Ribeiro
nas reas crsticas, mostram uma profunda adequao entre as pinturas e gravuras
Montalvnia e o ambiente calcrio (Prous e Ribeiro 2007a; Ribeiro 2006). preciso ter
em mente que as populaes pr-histricas se relacionavam de modos particulares
com
seu
meio
ambiente
circundante,
criando
paisagens
antropognicas,
26
Loredana Ribeiro
27
Loredana Ribeiro
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