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Alvaro Lapa Raso Como o Chao

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LVARO LAPA

RASO COMO O CHO

Editorial Estampa

Capa de HEN RIQ U E RUIVO

C opyright

l v a r o Lapa

Editorial Estampa, Lda., Lisboa, 1977

NDICE

MO RAD AS NA M E -T E R R A OS CRIMINOSO S E AS SUAS PROPRIEDADES PARA SI PRPRIO U M R E Q U E R IM E N T O PERG UN TA O A D VER SR IO O A D V R B IO ASSIM OUVIDO QUE HORAS SO QUE HORAS A DESCOBERTA NOTA SOLTA O TMULO UM PASSEIO O F IM DE UM M U N D O O SURDO HISTRIAS DO REI DOS CIGARROS H O M E N A G E M A RUNO SC HULZ A RAPOSA E AS UVAS AS UVAS E A RAPOSA O IR M O AS P A N A T E N E IA S M O R A V A M TODAS J UN TAS... O RELENTO O DESERTO O PASSEIO A VISIT A O MON LO GO DO PASTOR OS CIGANOS E AS SUAS PROPRIEDADES PRIPICAS U M A RECEITA A LIO DOS G RAFIT TI O PRAZER DE URINAM O NILO

9 25 29 31 33 35 35 37 39 45 49 53 57 61 69 73 77 89 93 95 97 99 101 103 105 107

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M ORADAS

NA

M E -T E R R A

as pequenas ervas sobressaem esguias na 1.a manh, que enquanto os fogos duram por e os homens jazem escondidos na penumbra invadidos, alastra pela trmula indiferena em nvoa escura

manh a toda a parte dos abrigos do planeta,

uma carcassa prodigiosa, resguardo para vermes, alguma frmula, e uma que outra sinalefa do passado, costeia um falo solto que enternece. A erva cresce, calma. Os prmulos sinais da civilizao podem ser rapidamente entrevistos, na rgua riscada que um mar de vida arremessou crosta. Agncias...

III

Sempre do alto, a viso esconjura a rocha mais luzida, mais polida decerto pela rpida lavagem que foi a da gua enraivecida nos planaltos daquele globo, e a viso encon tra a limpa toalha de um asceta, ou de uma comunidade de ascetas, sobre cuja nvea garantia pespontam geometrias, e o inclume persistente riscado mtrico de um g nio civilizador

IV

N
Oh, que esta raa nunca nova havia de empurrar o piano at ao mar, calfet-lo, afeit-lo, e dele observar (ou tentar observar, em prodgios de espera!) os menores sinais de tudo.

(De outro modo, para abastecimento da ateno e do es tudo, descanso, colquio, reiteraes ou pernoita, reinven tou-se a MESA agora lugar, geogrfico, posto que a petrificada natureza envolvente foi tornada, ela, o dcor absoluto das possveis rotinas.)

VI

A vela (de navegao), os ptimos comboios que haviam sempre circulado a horas, e, porque no?, a mola elstica que to bem desentorpecera o plano nico da sua posio forte, tudo foi convocado ao acaso do reencontro inaugu ral. Assim tornaram a navegar e a palitar os dentes os que dos antepassados se chamaram... nome de gente.

VII

O agoiro dos tmulos, santo dia! as negociatas de smbolos na vizinhana do talvez real mistrio, a seduo do ar livre e do seu estudo, isso foi mantido, e querido.

VIII

e o jardim, construdo sobre as aparncias transparentes de um prazer lesado, dava para um mar muito ocenico, muito fundamental.

Floresta... Floresta. O poeta tornou a conjugar, entre a presena e as ausncias, a possibilidade nica que era a de qualquer coisa

A pera, gnero simples, foi conservada em lenda, em ru mor do que antes foram meramente vivncias.

XI

uma nova onda de cancros provocados pela bomba de Hiroxima, era um ttulo j no alarmante para divulgao tecnolgica na rdio, nos jornais, nas revistas. Por isso que a terra era para alguns um apeadeiro...

XII

... e entre vivam os reis e cadncias hermticas, trans pareceu a que fora casa ou gaveta (no!) a que fora aparentissimamente a caixa de socorros gerais, ou a mala das definitivas abastanas, para quem de algum modo quisesse a seu tempo viajar sem regresso.

XIII

A amazona, sempre capaz de reerguer a fantasia, a imagi nao, e as faculdades amorosas da raa.

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e o eunuco de Tetuan, entronado em que garagem, santo dia! entre que pneus, parecia o responsvel de qualquer medo, de qualquer defeito num sistema que muitos clas sificariam de circular. E se no foi ele, o responsvel, ra zes lhe sobrariam ento para rir no seu apesar de tudo riso alegre. Rir...

OS CRIMINOSOS E AS SUAS PROPRIEDADES

os criminosos e as suas propriedades um mundo cri minoso de passividade um mundo este instante vale outro, e outro, e outro compara sem reservas, ininterruptamente compara sem culpas o outro mundo vale este a clarabia azul-fosco a frescura bendita do recinto para que serve a infncia? ima gina e V todas as imagens selvagens sobressaem o rio, as abelhas, as pulgas, a flor silvestre, o luar for tssimo invencvel natureza tudo o que vs existe o amor e o dio so a tua emancipao, a tua nica emancipao viveres pelo luar evades-te s o pri sioneiro da realidade Prisioneiros deste mundo, sa (Hassan I Sabah) Clera, que clera? o tmulo s tu prprio que melhor vida que a tua prpria vida? Hoje tudo esta circunstncia uma definio circuns tancial o corpo do meu companheiro a minha sen sualidade, em todo o caso que pulgas? que piolhos? que cabelos? que pele? Tudo o Homem. a converso de tudo no Homem a Converso Espiritual (sadhan) os meus pequenos clculos so a minha teoria do mundo este mundo dispensa (no dispensa) clculos a

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educao gratuita eu no paro de educar-me alm da priso, s a sociedade alm da sociedade est o ce mitrio aqui estou, disse Jesus abrindo a porta comea j a imaginar lembra o que vs, rapidamente vai para o fundo da doura de te sentires tu escolhe sempre espalha a tua inacessvel indiferena quali fica-te secretamente verde fosco, tambm rosa fosco, tambm os vitrais da priso so a luz do teu mundo o teu mundo a condio do teu projecto, e nisto te especializas suficientemente deixa o estranho emocio nar-se, v! a comunicao, mas com quem? tudo est a ser visto por ti, milimetricamente se fores cego no faz mal quem te desanima? a pena de morte brbara; e os restaurantes?...

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(PAR A SI PRPRIO:)

essa viso da realidade vale a outra, e a outra, e a outra o espectculo dos olhos, dos pnis, dos rudos, substi tuem o dos campos, se tos negam vaya adentro, en el mas prprio y ntimo y muy personal descubrimiento hay que evadirse, vaya!

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UM REQUERIMENTO:

na priso andam medos na noite da priso andam foras ventos ares incontestveis que impedem os. prisioneiros de ser felizes.

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PERGUNTA:

Uma ria matinal no corredor grande com o Sol que aquece as celas diminui a imensa angstia dos que ouvem e vem. No diminui?

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O ADVRBIO

decimoquatreobliquozingarirapidograficoporcimensiobliquoquatrioviviotraveziobilicovistotravezalimentuandantelareficamente.

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ASSIM OUVIDO:

D c a tua mo

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QUE HORAS SO QUE HORAS

METODOLOGIA DE UM INADAPTADO

... e nesse caso gostaria bem que me enforcassem, me abolissem; em suma: se vierem a deter-se no meu caso, (para o efeito) muito simples o incurvel. Por outro lado, quando me tatuo, para ficar, no estmago, na barriga, no cu dos colhes, que no sequinho da fominha mais estrita, fina gota do belo licor, estafado. Ora a est: tatuagens!

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ESPAOS LIBERAIS

aurfero o caso. uma pe chincha. nem mal nem bem. uma pechincha, a priso, a priso, a priso, aqui s h rudos, lalalalalalalalalalala, na manh do fim. Porafora. O Budismo sonoro. Viuhaha. Esta a manh do fim.

TAMANHO DIA, O OUTRO

Mas mesmo assim, considerada a memria, houve uma tal disparidade de marcas, de coisas, de ditos, de factos. Assim, assim, assim, assim, assim, como era aquela no outro dia aquela com o coreto e tal na tal metfora? Era assim, ou assim

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ESMERO, IMPOSSVEL

sim pois esmero impossvel. Nalguma perfeio fiado e confiado? quem que manda, aqui? Lugar para quem? Forma de ti, lembra-te bem, sovas e sovas e sovas que bas tam a quem assoma. Para contar, j j, este agulho na lama, doce, escuro, pontiago a u

QUARTO OU QUINTO DE UMA SRIE

A mesma coisa, agora tarde. Pomos que noite. No escuro da srie. Que toda est, na mesma. E esta, a srie? A do tumulto? a do sim, sim, sim que sim. Que

LINHAS DECALCADAS PELA MEMRIA DE UM ASNO

estas so as linhas e estas so as linhas e estas e

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DESPOVOAMENTO GERAL URBANO

quando foi

CATULO, PROPRCIO OU TITO LVIO

ou que memria, ou que iterao este o termo POR QUE INTENO VASCULHADA ESSA BAGAGEM, VAI-TE MAS FODER

BARCO ABANDONADO OU VIRADO PARA FORA

Agora sim, o barco, a praia, o barco, ias por a alm e re cordavas o barco, a praia, o barco e no negro batel da tua vida que, se o virares para fora se obtm o que l estiver. Realidade sim. Realidade no. A que estiver.

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DESCRIO DE UM ABISMO

A viso de aqui. Ora aqui est. Onde pernoitas cansas re cuperas e pronto, quando te vs tudo.

NATURAL-SOBRENATURAL

As possibilidades de arranjo de um nmero quase limitado de elementos compem a imaginao inferior . A surpresa, a venerao, o xtase, a curiosidade, caracte rizam a viso astral.

OS DEUSES ANTIGOS

A LIDE: UMA AMOSTRA

AO P DO LARGO NOVO, A FANTASIA E O BATUQUE

quer dizer, o neo-realismo de um Manuel da Fonseca est ao p da fa e do ba

LENDO RESOLVE-SE

que mesmo.

TAMANHO ABSOLUTO

Puisquon gre, cest les nerfs.

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A DESCOBERTA

No KOSMOS, enquanto um citarista de crnio rapado mostrava A ALEGRIA, numa tcnica que com preendia o fandanguillo, o solo de jazz e a rga, eu vi: o animal liberto no corpo de um japons, que abraava uma mulher feia, lsbica e triste, que o repelia com secura. Ele era o animal do princpio, procurando-a como outro corpo, abraando-a com a ternura. Eu via a minha querida besta abandonada por mim no caminho, o falso caminho da mente. A minha querida besta terna e verdadeira, em que serei alma e esprito, com que beberei copos de gua fresca e comerei doces e frutos; a que dorme s e pode querer aquecer-se no corpo amigo de outras bestas, em quartos de hotel que so metade do seu mundo; a de mos dadas nas ruas de Marrakech, a da cabea pousada no peito do amigo. A da lua e do vento nos poemas chineses, e dos mosquitos; a que sabe e expia a tristeza dos animais encarcerados, ultrajados pelos visitantes dos jardins zool gicos. A que se encolhe de medo, e pula de alegria na se gurana da proteco. A que no compra nem vende, e apenas d e tira. A vaidosa, a mongolide ao espelho. A vivaz. A que se ofende e agride. A que foge. A que de re-

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pente fica triste, sabendo que vai morrer. Morrer sozinha, ser levada para fora da cidade e deixada morta a que morre. A que o sabe e aceita. A que diz sim e ri. A do tempo instintivo, homogneo. A que gosta de conduzir-se von tade, sem razes. A admiradora da razo e das majestades do pensamento. A que desconfia dos racionalistas e s vezes os segue arrastada pelos punhos indefesa. A que la menta e expia a pretenso ignorante dos homens, conhe cendo os seus efeitos. A que pode compreender as verdades causais da pretenso ignorante. A que se sentar a me ditar as verdades do budismo. A que a msica completa das verdades do budismo. A que tem olhos e um arco de olhar maravilhado onde v tudo. A que reclama ver, a apaixonada.

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NOTA SOLTA, SOBRE O POSSVEL VALOR DAS OBRAS DE ARTE, PARA O FUTURO

carcter de ltimas vontades, de ltima-vontade, de von tade extrema, tensa, sobreavisada, que tomam as obras para o futuro ( = doravante). A obra como sinal premonitrio, a imaginao como actividade receptiva (seu carcter dominante), captadora do sinal-mensagem que vem do futuro: uma gigantesca central-receptora, a imaginao da arte moderna. Trata-se de preservar o essencial donde as minhas legendas profticas, as minhas caixas-relicrio-pessoal, as minhas alegorias, os meus cnones, os meus dogmas, os meus abrigos, os meus auto-auto-retratos, os meus estmulos, os meus fla grantes erticos ou, como declara o meu amigo Joo Cutileiro, de preservar a ecologia (cfr. o uso paralelo deste termo, no Gary Snyder, Poetry as an echological survival)

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O TMULO

Negros cabelos fundir-se-o na cova dura de Aster, o solo, em solo duro de renovar. O torro apreensor que escama, regula, risca a brilhante, a vivaz. Risca e roda, esferiza e decai: a brilhante. A tonta brilhada encontrada vida ida. Esse regula e marca, esse, o risco. De ver que ata, o esca moso Aster. Teu pai to no diria, mas tu sim. Tu, o sim. Vai v-lo beira da luz que decai. Vai v-lo no orifcio quase cego de um teu olho aberto, sobre o que sobra quando lhe tirares (ousa) a luz toda que vs haver. Vai e no voltes, campeo!

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UM PASSEIO

Combinai os trevos. Reaparecei. Caminhai nos trevos amarelecidos do crepsculo. Findai o mundo. Depressa ide. Reduzide a prolas as gotas do suor, do medo. Cami nhai sobre prolas. Investide. Atormentai a possibilidade (nica?) do lugar. Sem testemunhas, as tormentas. Os pios de encontro ao veludo verde das bancadas. A gua-suor do medo. A liberdade sem testemunho. O fundo livre sem comparsa na rota exangue do crepsculo. Os detri tos, as escamas, os rumores. No cimento alteado formam-se os montes, precipcios em flor de bouquet imediato, a estoirar na neve imaginria da solido. Um co morre por nada. Dois ces matar-se-o vrias vezes. Impossvel re comear. Todas as viagens conduzem casa (H. Hesse scripsit). Caseira, domesticamente protestante (Joyce dixit?). Reaparecer nas palavras, contar com outrem, fazer dois sem um, desaparecer. Ir e vir. Depois nada mais. Quatro, quatro, quatro vozes soltas. Civa vai e vem, con ta-se.

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O FIM DE UM MUNDO

o coreto em sangue aparecia diminudo das suas terceiras, 4as, 8.a s pedras. Isaac, a moa rubia e Czanne, a mesa dos detritos, concertavam as operaes mais ptimas do poente naqueles ngulos do planeta Terra. Xago, o eunuco de Tetuan, engrossa os nervos expostos dos alguns assis tentes; Trac, o marinheiro, desagua de uma rocha, ping, pling, pling; nasce agora. A coisa crebro dupla, venada, azulina nas patas. Calmo, o sangue intermitente, e Cinto, o p estragado, dormem no cncavo do mesmo pneu. A garagem adulta, o tempo ameno. As aves riscam o cu. Agora no. Mais que imponente desgraa apreciam os visitantes. Nada falta na discrdia avolumada. quando os tigres do crepsculo apreciam chegar visitana do festim, por entre glandes. Repuxam o campo para o lugar dos mortos idos e regulam a prateleira ovular do em-vez-de-relgio pulso. Nenhuma cidade aparece transposta, algo viveu. Cigarros esgotados na neve. Nenhuma im presso proferida sobre as mesas. Nveas flores esgota das. Marcas clebres na casca do limo ferido. Rivalidade. Rivalidade. Impresso renovada do crepsculo por entre asas de utenslios. Agora enormes. Simo sobe e desce,

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o escalpelo. Revoa a distncia acopuiada do horizonte e da rvore torta, separa o limo da catana, revoa a espcie de astro entalado no segurador de esquinas. Astral, o ins trumento. Capaz de iluminar outra vez as eras espantadas, os dourados orifcios por que sorver e a fantasia iluminosa dos doentes. As caixas cheias de espinhas segregam ca ves, sinos, e uma outra capacidade de sofrer. O creps culo, outro. Os sinos, outrossim. Nenhum animal escapa s suas rotas. O coreto insomne ecoa tudo, no pio cimeiro das aves. Aves-fmeas, engrossadas pela ventania apu rada em orifcios dourados. A fantasia ltima dos eunucos resgatados. A coisa crebro pia na madeira ovulada das mesas, herldicas, mas profanadas, e dispostas no cr culo habitado do lugar em que a exploso continua. O san gue intermitente pinga pela falsia. Nascem pios, rosados, vigiados, vivos ainda. Pontes, o pnis do festim engrossa na dureza da nascena, separa mundos de aparncia e vai surgir ataques no pneu dourado da amazona. O escudo desta espera-o, e a seduo comea. Uma fita branca ganha cruzes, e os abrigos cerram-se para sempre.

Notas a O fim de um mundo O coreto em sangue Algum as pedras faltam na mem brana in vu lg a r deste coreto. Tem as escadas, revelam o tablado lum inoso, mas breves escadas de fe rro e pedra que se pulam a pulso para cima e para baixo. A in vu lg a r m em brana octogonal, no volum e exterior, la drilha da e azul. Por dentro h de tudo: cadeiras fechadas, toldos fragm e ntrios, adereos de con certo, livros de senhas verm elhas e verdes, grades de refrig era ntes, pedaos de balaustrada, ninhos de andorinha, lucarnas com fecho ro tativo, em roscea, cifras de bandos juvenis, inscries contingentes,

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ecos emaranhados, o b rilh o dos metais concertantes, o tropel certistas que tm subido e descido a breve escada, as faces bradas de m uitas crianas que espreitam com toda a ousadia rpido o escuro pontilhado que bebem e transm ite m noite rvores perfum adas, e ainda: cabeas soltas no vo da escada

dos cond e slu m no olhar cheia de erguida,

m etros de cordo dourado pelo cho octogonal em pedrado, sementes rarssim as do universo vegetal em tessitura ardente, a frm ula das v i trias futuras da infncia e da curiosidade sobre a sensaboria meldica dos Offenbachs, os V erdis, e tal e tal, o duplo intacto do carrasco em m ar de agredir o heri a descoberto, l no fundo mais esconso. A lg u mas pedras em falta, neste momento as faces 3 . a e 4 . a e ltim a de uma perfeio em aberto, a dos sm bolos acontecidos na fora da curiosidade prim ordial. Isaac, a moa rubia Czanne, a mesa dos de trito s ... e como im aginar o nome nico da foraste ira prodigiosa, a nunca mais tornada a ver depois daquela noite mgica, no instante imenso de ter percebido o abism o de estranheza que para sem pre isola os fas cinados na m em ria das suas irreversveis dedues? Rev-la no ins tante de a reanim ar pelo nome que a devolve ao foco andrgino em que por instantes foi apercebida, ou tro ra e sem pre, a fulva dispensadora de um prazer inesgotvel, suposto que a sua vagina era to hm ida e v i brante como os seus olhos abertos sobre o grande e xte rio r e como os seus lbios de uma grossura anexa ao prazer de olhar. Este Isaac tem a estatura de um grande gnio solar e a doura aplicada de um luar num a varanda. Veste uma chita com prida em form a de tnica leve, e os ps so nus e fortes e cheios de sal de areia. Os braos so longos como o silncio e fortes como um anim al adulto. De o ver resulta a im ediata sensao de vida independente e tum ultuosa, arcasmo e lume.

A uma considervel distncia de Isaac acha-se uma para o efeito de uma dem orada operao. uma mesa cujo tampo branco de linho e os quatro ps so de deira escura e talhada em barrote de um modo tosco.

mesa, Czanne, branca de linho, uma vulga r m a Esta mesa vive,

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pela relao de espao e de distncia e do fu lg o r operatrio que os gestos de Isaac lhe atribuem m agicamente. Sobre o branco como num metal esto soltos os detritos da vida, o po cortado, a mo aberta, o livro -orculo, o corao persistente num grande ouvido solto, o pnis-e-avagina como o dia num rosto, as flores abertas do am anhecer, a caixa de msica com a valsa de Brahm s, as palavras de uma carta, os m u r m rios inesgotveis e a receita do fogo, entre cabelos m isturados em vida. A arte de mexer nos detritos pertence a Isaac, a moa rubia. As suas prticas so espontneas e ancestrais. O pera nua e mais audaz que o vento, e todos os seus m ovim entos reflectem o enorm e prazer do conhecimento, pela noite adiante.

Xago, O eunuco de Tetuan (ler Csago) Em Tetuan encontrei um eunuco. Fum ava trs cigarros sim ultneos, e bebia ch de mento. C fr. Moradas na m e-terra, X IV: ... e o eunuco de Tetuan, entronado em que garagem , santo dia! entre que pneus, parecia o responsvel de qualquer medo, de qualquer d e fe ito num sistem a que m uitos classificariam de c irc u la r . E se no foi ele, o res ponsvel, razes lhe sobrariam ento para r ir no seu apesar de tudo riso alegre. R ir...

Trac, o m arinheiro O m arinheiro, por fora de uma inquietao que com o todo se parte, trac, como o rudo de um ramo doravante separado do todo esttico, a rvore-m e. De m arinheiro tem Trac a alcunha, o processo e o destino aquoso de pingar rocha abaixo. Visione-se: um ramo suspenso num abism o sobre o mar. E compare-se a cena visionada com os seguintes textos, inditos: a) Saumure resvala, cabeceia. Onde ests tu agora bicho? nalgum tra m p o lim ? ... pronto a dizer?... pronto a in te rv ir? ... sem pre aleijad o? ... incapaz de aparecer?... Quem te escolhe? E Saumure tragado pelo fu ro r das ondas pardas, absolutam ente de vastado.

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b) contas de enfiar num pau fininh o, um So Joo de habilidade e de monotonia, no alto da m ontanha que os festejadores escolhem para a d m in istra r nela os seus rodeios infam es de festana, distraco, a m onotonia de um jogo sem tradio local. Excntricos festejadores que se furam nos olhos como m alandros em m elancolia, convvio. Uma inverosm il qualidade no-anim al, travada apenas pela retirada de cada um , olhos furados, ou cabeas estragadas, ndoas negras no veludo ign bil das carantonhas de volta r a casa, -tar-d in ha. Chamam a isto o ir s nozes , quando se desafiam na cidade, em esplanadas.

A coisa crebro que coisa crebro... Isolado, retirado, colorido (levem ente) e posto a pastar, o crebro um anim al dom stico do subjectum . Dois hem is frios irrigados, e um grande casco equdeo para cada um deles, e eis descrito em sua form a mais um dos excelentes com panheiros do homem total.

so com plem ento da nota an terio r, os seguintes contos: I) O DIAGNSTICO Um jovem tinha um crebro a rtific ia l chamado diagnstico. Um dia fez-lhe trs perguntas e o crebro no respondeu. Como era jovem teve medo e logo a seguir fez-lhe mais duas perguntas. O crebro respondeu mas estava errado.

II) O STIO DO SILNCIO O crebro de um homem estava inutilizad o pela discrdia. De que m o tivos eram os dessa discrdia, ele no poderia evidentem ente dar conta. Nem dar-se conta. Apenas, mas que sentido tin h a afin al essa re s tri o , quando m uito, ele poderia re fe rir um lu ga r enorm e, a alargar-se como um rasgo, im aginava-o como um lago rodeado de juncos e outras

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plantas lacfilas, e chamava-lhes algo lite raria mente o stio do siln cio. Olhava-o em imaginao, com pleno dom nio da sua configurao, e realizava-o na perfeio, fosse onde fosse. Que tru q u e !... Que ta n q u e !... Calmo: o sangue in te rm iten te . Que bate calm o, alertado, calm o, alertado; quando flu i; para que flua. Sendo Cinto o p estragado congestionado da posio, porque no solene? em que se enrola escravo de um espao atrofia do , o do pneu em que o subjectum se recolhe para im a gin ar que devaneia num pneu * a fim de im aginar que devaneia num pneu, e assim por diante.

As aves

Jam ais as aves capitulam . Quer dizer: no dorm em , as aves. Pousadas por vezes no tam po de uma mesa. Rs paisagem . Pousadas no tam po. Ou alteadas num ponto qualquer de um prdio, sobre o imenso. Nesses pontos se transform am . Partem. E ntranham -se, no stio do cu. Deixam tudo e Descolam e No voltam . Reaparecem dem asiado longe. Longe com elas. Fazem um crepsculo de um dia claro, tecem um creps culo e a noite e talvez o dia. Triunfante, a agncia das aves. Extracto sim blico triu n fa n te , este do tecido pelas aves em vida. De notar que no voltam . Nunca so as mesmas, aqum do seu afastam ento perp tuo. Ou l como no tem po em que nadam. O mais vasto campo tapam -no as asas de uma ave. Um pequeno quadrado m aior que o corao de uma ave em vida. Grande e pequeno como uma ave, em expanso, movendo-se, para l sem pre. L o dom nio fin a l do voo perptuo, aqui nunca, parte algum a, onde elas jam ais esto.

Simo escalpelo: o estico vam piro que, tal como Nietzche dizia de Heraclito, utiliza em sua cosm ologia (!) as coisas nocivas.

Pontes, o pnis do fe stim : ligando m undos de aparncia.

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O SURDO

Metamiolo reaparece a dizer o que viu. Agora surdo, en surdecido pela jorrada incessada dos licores sujos. Ou su jados, como na histria (estrias) daquele jovem que preferiu alimentar-se de esperma durante uma semana. Sem mais tnicos. Ouvitrolo o captulo. Capitrola, ouvinte feminina do dito futuro, na concha em espiral. Lattentive, est. O segredo emaranhado no ouvido atingido, enfurado pela experincia que segrega o licor mau. Chamada da fora-morte: a incessante inversora, a vitrola espelhadora da refinada fora-vida. At ao pulso gasto em foras, de aparecer. Cascas sagradas pela profisso de sagrar, as formas. Outros valores aparecem, descascados. Logo amados, cascados, religados ao hbito havido. Dizer ter visto, condillaca-se a harmonia impressionadamente, sem reserva, porque a eternidade... Miolo esvai-se, em diz-lo. Caem p, pedaos e pontes negadoras. Os fus veis. Fundveis. s formas, s formas, gritam no convs em rotina de afligir-se os marinheiros do conhecido. Os reservistas. Na gorada superfcie do p soprado enfraquece a reserva de pegadas, e no crepsculo sobram os tigres. De Tudo Capazes, entre aspas. Metamiolos os acreditam

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tal o seu ver, ensurdecido ou no, contm mais mun dos, em reserva j. As caves estoiram de cheias, donde os tigres, e os lees, e a maravilha histrica da potica envolumada. De amijar, no imediato redentor do corpo em miolo. Cavilhar o cimento exterior com exploraes (a cien tfica habituada, de reservatrio no rim do esquecimento; ou a que no vale mais que nervo, quando nervo se torna, a sentimenta cclica; ou a de ir sem vir, a Aforme, para loucos muito habituados ao tudo). Considerar alis a ca vilha: do que v, e aqui didatizam extremamente os que de morrer se fartam. E no h inclumes, nem s de in verno, nem s de nada. H ir e vir, para o explicar uma vez mais, e esta imagem acostumar-se-ia a tudo, ao cre psculo, diviso lgica, e ao esquecimento das suas pr prias origens formais. Titular, francs (nisto equilibram-se as parcimnias nacionais, diga-o melhor quem sabe). H que titular (vive la France, hlas!). M ijar toa, ento, na determinao calmar de um p solto, enquanto sobra, ou de uma pedra, aparente, ao miolo, empoada, ao gosto, e enfim pedra ao Zen que metamiolo v e escolhe. O ral. Que portugus camilar por castelo branco adentro. Na gruta zenital do havido.

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HISTRIAS DO REI DOS CIGARROS

Ali estava ele, o intrprete, com os nervos expostos trans misso de qualquer alegria, na verdade disposto a alquimizar cada dano, cada perda, cada avaria, todo o passado entornado em odre novo, o da forma realada. Para que dcor absoluto se virava a sua face, a verdadeira, a sempre at a oculta e silenciosa? a matizada? em trgua aposta pela reverncia generalizada, que a entorpeceu, a defi niu em cios do sentimento e da vontade, a perturbou por imensos corredores de frieza solitria e de impacincia atrapalhada. Que dcor e que jmpeto, o de falar sem es mero, e o dcor entrevisto s<?ndo o da vida mesma, real ada e efmera. Declarando-S:'. a funo permanente de encantar a dvida, pela colheita expressiva do ainda menos que efmero, do inaparente, do inconsistente e fissurado possvel da inveno. A tanto atento.

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HOMENAGEM A BRUNO SCHULZ

perto do rio cinco coroas trabalho de ombros daquele enorme colega de liceu que me levava ao rio por entre os picos onde a cidade est exangue realmente perdida afastada no sol do vero que no comea daquele modo comeou com os aquecimentos do coro dos coros do ar todo na sala de aula qualquer que seja a norma da ateno come ou por aquecer e aquecer as faces as outras mos o sabo nete das tijelas a chita das colegas e o ar livre cuecas acima correr andar sem folga de um lado para o outro no j ento labirinto da tarde infindvel com o poente nas arcadas da bola rija do paredo do seminrio todo ecos todo vultos e o poente luz. a luz sem eco do poente, os patinhos es folados do poente sem sombra interminvel pelas vozes dos homens bons narradores da noite das dez das onze da meia-noite fora ao relento tosse rabos melopeia da noite do bon da mo na pinha que coa e afaga e recorda oh memria sem vontade que se senta frente s casas sem volume e os enfeites sem histria a memria dispe-na toda arbitrariamente dispe-na de Roma para todos-os-santos, de quem sai para quem corre, de quem sobe padre cnego praticante e com volume

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ou quem desce e se senta, se senta de novo entre o cheiro a voz a portugalia monumenta histrica murmurada tos sida gaseada voz da guerra de catorze e sobressai o com batente recordador de pouca deveras pouca coisa slida o volume est no cheiro no santo no pau utilitrio do bom beiro que caiu do esqueleto de ensaios e disfruta de evi dente insnia e desconfiada penso atribuda em desdm medalhado aqui a gua-mula-bilha-cntara faz correr a gua da tor neira mais prxima so trs as torneiras do chafariz que pode ter volume ser o da ateno que espera sabe-se l o qu de mais que a melopeia estante nenhuma guerra mais ociosa que aquela do ah-han abafado pela casa em que o gaseado se embalsama para a noite quente quentorra do ladeiral sem fim mas com um bacio sonoro nos ouvidos e nos cigarros e no pigarro e no comentrio e no murmrio estante. em boa hora entrevado e na cabea reabsorvido em be leza sem nexo nem pagamento apropriado afora o tdio e a multa e a cptica isolada iseno dos estantes

e algum corre mais que a mim e algum corre mais que a mim haver um arco uma ordenao uma fixidez desejvel para mais que vrios competidores e tudo fogo e espernear em volta do talho isolado para conferir norma e ei-los em direco certa at cair de novo na noite empedrada esfolada desfeita de despeito e de dvida imortal deveras

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persistente dvida que absorve conhecimento promoo e relento o modelo da voz sem dono apenas o solista certo pouca inveno quer dizer arte pouca arte sem arte sem desnvel sem dilogo duas razes concordam por acertos no pr vios ou ento transcendentes, deveras transcendentes nica razo que a voz no ter dono. A identidade preferida a do padre a do casulo a da gua demasiada no torneirame e zbre que te mete para dentro os dentes convales centes a boca pequena e apenas grita por dentro dos pulmes com uma destoao que te fura o peito de dentro para fora altura do peito, natao disparatada. Desporto.

Nenhuma inveno te seria permitida depois oh mundano ouvidor da voz sem dono

e alguma lqica se apropriou de ti, eucaristicamente, te fez ir e voltar, sem regresso possvel, andando para trs mesmo recuando mesmo caindo de costas e esfolando a coragem foi coisa em frente do olhar magoado e apenas crdulo fora apenas feito olhar pela razo da voz sem nome essa sem lgica mas alguma nostalgia haveria que a tor nava olhar ansioso descrente da solenidade aposta voz sem dono a enorme.

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A busca imaterial de um amuleto na escova que te sovava o atraso persistente as horas do vero tornadas a viver vista fantasiada revista e sempre golpeada no acontecido sem fundo e sem fim tornado a fantasiar em volta do pe dao de escova dourado, retirados que foram pelo uso e o desuso os cabelos da escova que a ficou a provar o acon tecido

nenhum seixo mais louvado do que o da gaveta grande, que se puxava a mos duas pelos botes castanhos e l haveria um seixo: ponto macio e ao lado a caixa de lata de folha te explicam sem pressa e a aprender te vives de sesperavas pois mas a outras horas, no as do dia a dia de abrir cmodas gavetas janelinhas as coisas do dia pen duradas no dia mesmo sem retardo sem mistrio ou que mistrio foi o de abrir uma janela a janelinha de peito ja mais aberta jamais aberta jamais fechada outra hora outro instante no tinha testemunho alm do teu esse a interminvel testemunho de haver tocado por pouco um mundo pouco cheio de horas e sinais de horas e flexibilidade e uni forme flexvel uniforme empedrado para a direita e para a esquerda do olhar de algum modo livre foram instantes de tragar o passvel, de colher o objectivo como quem diz o relativo, o relacionado foram instantes demorados repetidos repuxados em acolhimento de algum conselho prvio de algum conselho prximo

a aventura inexcedvel do acto sem demora, inda menos proibido que haver o dia, razo ptima de fazer tudo, de cortar com a tesoura, de construir com o carto, de ouvir ranger ao p e bigornear em frente, sobre a direita irreversvel do olhar aberto nenhum passo desconhecido para fora do olhar aberto: a o vulto entardecedor da mulher do bombeiro m ai la cntara e uma e outra vez passam aquelas duas dispropores e outra vez e outra, o disproporcionado que avana mas sempre se ajusta a um ritual possivelmente desconhe cido, possivelmente conhecido para quem ousa aproxi m-lo pelo lado do domstico justificador. Assim era, porta fresca do bombeiro entronizado para que srie do conhecimento para que impossvel reconstituio do mesmo mundo num crculo mais vasto e a outra hora exposto, ex posto em cheiro hmido de qualquer hora a que a casa hmida se abordasse l estaria a toalha ritual a dar as horas do relgio da parede recaiada ou tudo era relquia na ence nao daquele bombeiro casado para a gerao de dois filhos truculentos sovados colhidos envolvidos na desor dem do crescimento inegvel ante a muleta facultativa do pai em clera em revolta em indisciplina ante o cresci mento dos dois filhos ora aqui ora acol perdidos na faina mais misteriosa que era haver um ofcio assim um ofcio assado um poder masculino e outro mais prpria ou resi dualmente feminino. a descoberta de um sem nexo na famlia vociferante atordoada pelo exterior de uma casa demasiado pequena para conter qualquer futuro e ainda assim empenhados os responsveis daquele sofrimento em lavar e tornar a lavar a pedra smbolo porta da rua

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o poial das horas, o granito simblico do interminvel para durar deveras mais que um osso (quebrado) mais que uma bilha (ora quebrvel, sempre a desgaste) mais que a relquia analisvel que um relgio de sala e o poial ocioso mas no apenas a pedra redonda fora de arranhar e repuxar (simblicos) para fora do tempo da madeira da loja do bule da mola do relgio do tique-taque presente a vida que era haver ainda nervos a repuxar o granito escamoso por fora da meia porta e completarem (todos os gestos da mulher) a voz afectadssima do mximo inv lido que ali se sentava a declamar o incerto.

outra esperana da rua ao lado posta em esquina para en costar os clubistas principiadores de que afectao com que meios com que incerteza e mediante que incerteza assim na esquina proferindo a prpria discusso de meia hora antes, ao ping-pong, no clube sagrado. Ora o clube constava de duas salas, em casa trmula e toda alugada para parecer deles, toda pintada com fer vor emblemtico mas logo desmentido pela plural avidez do ganho a simples avidez do organizvel, do organizado, a desoras, sempre alm do aconselhado e apenas ultra passado pelo medo da multa que sobre a multa passava o sobre-polcia fardado de gordo, empurrando nenhum assombro mas toda a des confiana inata do grupo unido, agora j unido ateno que se coa e cospe ao lado e tudo cospe por reflexos su cessivos para-iniciticos e aparentemente inexcedveis

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e que fora esconde um grupo que assim repara, assim reflecte, e por deciso prpria se dissolve na residncia reafirmada de cada qual sua. direis que foi sempre assim, diria que foi sempre assim at no drama de deixar de haver ouvintes ou cm plices ou sujeitos ponderveis epopeia esboada ... seria sempre assim pelas noites fora, no empedrado e dir-vos-ei como. Pela identidade mxima vero-inverno-noite cada.

fora a voz sem dono o que de ti fez uso o que de ti tirou e te tornava a dar razes de fala, e as vrias obsessivas afectaes da memria no de outro modo pronuncivel para ningum com nome pronuncivel um recurso uma afectao uma deturpao de que te sairs pelo lado da analo gia, ou que ser poupada ou gasta pela laminao anal gica de um salto. irs saltar no conhecido? Sobre, por sobre, a inclume prtica da voz sem dono a do narrador que a ti deu o poder de o evocar para uma noite que sem peste a noite inacessvel do agora a ests parede s face ou foi a voz a tal o pretexto entornado de uma natural timidez por ela resolvida e a ela assimilada chamarias a todo este processo o da timidez derivada e remontarias antes aos impulsos de outro vero ou que

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calor te aquece l onde te aqueces ou l o que isso l no falar onde te buscas lendo-te aos impulsos de outra natureza sim ou no tmida invarivel ser trocares-te pela voz prvia que te deu a fala existente ser da voga da primeira fala que tirars o dentro e o fora, em falas bvias para um ti-prprio sem medida, um ouvidor inesgotvel enquanto duras crtico, insnia viva, ou colectiva peste. Teres falado.

Quem fala quem H o estrdulo: vara na mo, a senhora do infantrio risca chama-lhe a estouvada chama-lhe o casaro e pe-lhe o ptio das flores e no os relaciones seno por espaos com o primeiro amor de ouvir o estrdulo se trata de uma pesquisa que te ocupas e a est o vozeado feminnico da estrdula da estouvada da senhora e o vozeado da mezinha em avental s riscas s capaz de tocar-te o crebro e os pulos com as pontas dos dedos e o sal e a pi menta e algum cheiro a sopa tudo o que guardas da voz desse lado vozeado alarmado e apenas o canto lhe de volverias antes o cantar um exerccio acadmico do senti mento por sobre os teus ombros molhados quando ela te fadava rfo e te preparava para o colcho e a toalha de banho. Outro exerccio esse a que no da voz antes um inquietar fsico e um experimentar precoce do sentimento

inquieto. Todo estrdulo guincha me avs popa pompa go vernao e alarme todo esse dia a delas: vinagre azedo, gua e sabo, achaque e pompa. Riscam-lhe tudo, ao mundo do esmalte e da madeira ovular, desacertam o existente para reafect-lo a uma empacotagem arbitrria manaca e a fissura fica aberta na dor de levar o sal, o vinagre, a pi menta, e um banho oco de asabo. As tias baigneuses, a av salpicada, ultrapassada: me das baigneuses. O av delas emblema de longas tiradas sentimentas entre roupa a secar e o remexer das baigneuses por debaixo da mesa e a voz mais estrdula pela casa fora, a inconformada, a casadoira. A que a faz pela calada e a que a proclama porta da casa de banho a prima escrava e nenhum plo por toda a horta e toda a casa (comunicadas) nenhuma ndoa ao sol de inverno ou na sede do vero apenas mtier e a memria das baig neuses. E o toque do pai desembrulhado para a gabao permanente civil tribarrista: pouco pai e estridncia. Sal picos. Lcia-lima em. vez de cravos, cravos mal crescidos pelo excesso do hmido na terra toda seca, e dessa disproporo no vou tirar mais nada que alguma insnia na fissura do contraste, salpicada.

Pela noite da voz sem dono eu quero lembrar: a discusso (idem), o vozear dos bandos solta, o escapismo das vrias velhas na parede em frente com a delas sempre presente inspeco e o despeito e algum comentrio (idem, talvez) e a saia suja da irm de algum ali e o refgio adicional de uma pequena porta mais acima, para o jardim dos cnegos

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a minha pequena discusso equiiateral com dois ou mais velhos, consabidos no ponto fraco de algum menos documentado dito-ouvido os vrios alarmes de tardes trazidas at noite pela menos que serena identidade de algum conviva como sem pre que se tratava de mostrar feridas, contar desencontros do dia mesmo ou de h alguns dias ali expostos ou de h pouco mesmo na esquina ou na outra ou na orla j da re gio que entendamos contar desencontros ou reiterar encontros (seria o informe...) validar desejos (mais repre sentativos que o de ir-se deitar, ou menos supersticiosos que o de gostar de acordar cedo e so) excepes voz, aceitai-o: o que menos inibiria tais excepes (e a possvel argcia correspondente do de sejo) seria a passagem preconceptual do padre e senhor mgico-sombrio daquele lado da noite, ou a ligeira acoplagem do sacristo ao grupo. Essas, e a chegada da nora, ou noiva, ou da velha de algum estante, renovaria o de sejo mas pela forma no minuciosa e nunca incerta da conversa suspensa e logo ressoada ao lado, mediante sus piro que anexava a esperana abandonada da unio humana, de resto nunca ali tematizada. Os vikings, caso raro. Os romanos, nota corrente. Os medos (as medas, a merda, as molas, para pr em me uma srie que podia de facto ocorrer sem esforo, ou por tanto serem classificveis, as conversas) o mar, pitoresco? no, o mar til ou outrossim o mar his toriado, antropocntrica e caoticamente anexado facilidade de tudo haver e tudo nomear livremente o mar til, quer dizer, a relao tpica mar-sardinha, ou mar-pesca, ou sar dinha e pesca com camioneta de transporte interior-litoral, familiar.

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Algum nomearia os vikings, ou os gregos colheria muito menos que assombro: a inferioridade intransitvel e indirectamente pnica dos pares. Decerto. Apenas o consabido era disposto e essa era a cultura toda dominada do grupo em paz. Combinada. No hbito indirectamente ensaiado de reunir os ptimos, os piores ou os desanima dos. Reuni-los por sua livre vontade habituada ao des nimo, das nove dez horas certas e mesmo das sete a seguir ao jantar. Assim que de digesto que se trata, antes de mais. Salvar o dia sentido mais uma vez findar, lev-lo noite e ao mais que cio da semelhana retrica, lev-lo s vezes muito alm do previsto, se uma noite quente de um dia muito quente. Relevar a sobrevivncia modelar de todos, ou a dos que sobraram, ou a dos que l estivessem nesse encontro. Vitori-la desde o silncio, desde o silncio mesmo de serem demasiado poucos ou de no ser demasiado es curo para se porem a falar todos. Dirigismo. Aliana des crente. Inanimao. Mdio senso e alguma variedade. A dos mais novos, tambm passvel de censura, ostra cismo, aparente resoluo de um conflito sem causa e sem remdio.

Assim descrevers: um rio, a 5 km da cidade; a estrada e os caminhos (atalhos) em que a cidade se extingue; as leis solares e a vegetao vivida; os embates fsicos da experincia fraccionada, e reconstituda; as noites da des coberta da palavra e da funo fantasiadora da palavra, nica

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realidade sem fundamento nvio; o facto bruto, humano ou outro, ante a palavra ou no refluxo dela, ao olhar; o dado fixo de uma srie de ruas, habitadas, e os modelos po ticos do vivido imediato, acessvel, liberto: vizinhana, trabalho inventado, ateno e atrito; o dado nvio da gera o e da famlia; idem, da populao sexuada e da fissura decorrente. A tudo chamars: pelo olvido, pelo olvido, pela diferena fundamentada do olvido, enquanto ouvido. Essa exclu so, essa.

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A RAPOSA E AS UVAS

O lazarento diagnstico irs faz-lo assaz interminvel de tudo o que foi sentido reconhecido testemunhado desde o modelo de nenhum diagnstico pois te falhou cincia doutrina resoluo enfeite algum enfeite te sobrou e esse o escalpelo analtico que dourado ou descascado (desdourado, resduo e vivacidade de algum uso menos individual, mais ancestral at, porventura) vai-lo de con tnuo exercer e apurar. O lazarento: medida da humildade da fora da iseno e da proximidade ao modelo. Haverias de cham-lo, alter nadamente: o atento, o inesperado, o lazarento, como tam bm: o magoado, o imaculado, o contraditrio, o imaculado (no-contradito, no intimidado) meio de prova. Queres pois provar? a gerao do real, a unidade do sen sitivo, a regularidade do prodgio. Crs no prodgio? o de haver mundos, entidades, corpsculos, correlaes, e pelo lado do dizer, haver sries, haver inatismo e todo o mximo unitrio efvel material oral. Que prodgio? O de incansvel reaparecer a voz. Celebrao? Alguma esttica? Morigerao, ainda? O fu turo estranho de nenhum tempo. Isto sem tempo, andar

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a, ter visto a, ter sido o tal, o bico agora de uma caneta reaparecida na direita de uma esquerda que fuma um ci garro deveras estranho deveras solitrio (independente) Alguma esttica, possvel norma? Enumeradora, toda ela a palavra que melhor faz cham-la palavro, o pa-la-vro. O canto cho, salta o erudito, os eruditos que sempre so dois ao menos no recinto da experincia. Canto cho, h que imagin-lo. Rs paisagem que a do cho, mais as verticais do visto, do avistado. O cho, certo e do tempo. O acontecido (hop-l, frente do andar espera, por menos que bata, a tenso do havido) e o visto e o afastado e o sonegado y desejado na vertical, na erecta, na ginstica e est coordenado tudo, outra vez. Para o recurso a alguma lgica de todo o teu humor. Coordenadas as fluxes, as 2 hemorragias do vivido: andar espreita, e levar, y levar, com o relento urbano. Diz que te enervas?... Diz que te enfaixas?... Pe que te enfeitas?... Apenas uvas, altas ou no, com ou sem despeito, com ou sem habilidade, afora a histria (= habilidade, a de ser histrica, tam bm) afora a mstica (no fala ou ouve, de intransitvel) e as artes todas (afora o excntrico, posto por fora) ficam s uvas, nenhum despeito, nenhuma habilidade (surpreen dente) e nenhum credo possvel mais que a experincia (todo o acto simples, agora sim) de enumerar, enfrentar, dolo (o do verde) decepo (se mais ou menos que simples, diz que de estico) e rigor (sem ser potico, verde que farta, nem mesmo de nmeros, se serve o saltar e baixar e estender o brao prprio, rigoroso e tudo, apropriado por falta de maior desejo que o s sentido e percorrido totalmente pelo olhar crtico). Verdes uvas de um mar de lguas. Campo improvisado.

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Variedades: inumerveis, inumeradas. Dia e noite sem problema, esgotada a alternncia, e as projeces. A ltivada a memria, fica o campo de lguas com a parreira coordenada, tudo cientificamente, tudo brutalmente, ex posto. O ar livre, por hiptese infungvel. Nem urbano nem imposto, nem raro, nem sabido. Jardinao de um acto, sempre um s, elementar. E fica esboada, a gera o utpica do sbrio e do guloso, jardinadores do real em forma de paisagem. Paginada, dita, experimentada, reluzida, a paisagem do haver futuro. Vela-te nela. Occitano.

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AS UVAS E A RAPOSA

Reluzente dia da parreira Caminho beira de um muro caiado para a reflexo da abundncia invarivel, de luz e uvas caiadas e mais azul que o verde na imagem transbordante que prefaz todo o caminho, frente s runas, ao moinho de vento, ao inverno anoitecido, ao contraditrio. Desse lado que h tambm dura a imaginao completada pelo real mais dito que usurpado, o real especfico, das uvas memria adequa das. Percorrer o longo muro, do comprimento de todo o cu e de todo o passeio. Prxima da emanao a criao de andar. Mas exterior toda a imagem. O que aqui conta, e a custo acontece, e por certo acontece, a relao havida, e o esttico insinuado; nada mais que o verde, afinal.

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O IRMO

Deverei falar no meu irmo, Carlos Jos, para quem ima ginei um ttulo e fixei uma essncia. O ttulo seria o cora o brilhante: histria do rei dos cigarros, e a essncia simples como o segredo do meu irmo com a vida. In capaz de mentir ele cala-se ou vai-se embora, dentro da jaula em que vive, para um canto do andar superior, onde murmura, murmura, at resolver. Depois desce a pedir um cigarro, seu talism da sobrevivncia. Vive do que lhe do, entre emoes, e bate frequentemente as palmas, para celebrar o instante de entusiasmar-se. Entusiasma-se por inspirao: dum lado para o outro da casa, pelo calor da braseira se de de inverno, ou nos raios do sol se h sol na porta entreaberta, dum lado para o outro ele anda e celebra. Prisioneiro de uma vida que no busca enten der, cumpre-lhe todos os tempos fortes com o seu gesto de bater as palmas, ou de soltar uma gargalhada a pro psito. Se a seguir fala, depois de rir-se ou de percutir, s aparentemente ele perde a sobriedade. As palavras so de bocados de frases antigas, j usadas e que de facto nunca viveriam sem o consenso de que ele o idlatra

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consumidor. So bocados de jornal, ditos pblicos, rplicas memorveis nos anais de familia, snteses genealgicas sem extenso nem esforo, provrbios desfigurados, sries do mundano desdramatizado, antemas que protagoniza em vo, etc. Legendas da compreenso fulgurante, a do bater de palmas ou da gargalhada, legendas paraleisticas discontnuas.

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AS PANATENEIAS M ORAVAM TODAS JUNTAS.

as panateneias moravam todas juntas. No fundo da noite empedrada, com guarda porta, e os homens protegidos sentados no poial em frente, de colete e as calas largas, sapatos sem fecho. E os entendidos. E os traidores. E os aficionados. E os reservados. Mais os fornecedores. E as mes, as prprias mes anexadas vida ali, bem como os filhos mais crescidos, os filhos e filhas de quaisquer doze anos. Todos juntos contra os visitadores em passagem nas duas ruas clebres. Pelo ouvido se reconstitui o que foi dito e clamado. Pela vista, o que se abriu, se mostrou, se escusou, e se quis visto. Pelo cheiro, pelo gosto, pelo tacto, e pela memria louca de nimo, que lho deu o acon tecido nas milhares de horas a narrar. A memria do cheiro: urina, esperma, perfumes, e muito mais. Do gosto: idem. Do tacto: louco de nimo e de evidncia, em todo o corpo declarado e fcil. O tacto. A pele feliz. Com tempo.

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O RELENTO

O relento: concebido de costas para a relva crescida, e a palmeira bichosa. Ao lado o baloio. Na digesto pro funda, esgotado o dia, no rumor sim rumor no dos a lti falantes (feira, circuito interno, licena de pernoitar, e mais nenhum) desejo hoje desejo ontem de caminhar na noite sem fim, perpassa o relento. Lazer sem muros, le vado pelo ar da noite. Veleidade de sessenta ou mais dias, empolgada. Amor sem trguas, sob os candeeiros. Nave gao das pernas, em corrida, em sensao ante o cho e o ar, e o mistrio passageiro do jogo ordenado. Suave balano, no lazer. Imensa idade.

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O DESERTO

O deserto sem nexo, inesperado, tal como surge metafo ricamente sentido no impondervel percurso de alm-trguas. Sobrecadncia de algum meio-dia j percorrido, j esgotado (em corridas, em percursos mltiplos), e a se anuncia um excedente percurso a acometer e nesse percurso se revela o deserto. a experincia pura da terra abrasada, desassombrada, enigmtica de neutra. Estranha ao caminhante. Envolve a luz, a distncia e a mortalidade consumada do caminhante. A finitude, e os vrios amarelos dessas horas solares. Meio-dia, ou mais uma, duas, at sete meias-horas aps o meio-dia: as horas magnas da insolao desrtica. Em qualquer estrada anexa a um lugar povoado, ao sul. Esprito dos lugares circunvalantes, nas 7 meias-horas do meio do dia, ao sul. Experincia que pode ser instantnea, intervalar. Basta que surja sobre, a mais que, a cadncia adquirida de uma manh esgotada. nesse alm-trguas, nessa sobre in timidade que o deserto consiste. Ir de rastos, a-t-ao-fim-do-es-pa-o.

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O PASSEIO

A matria negra arde entre escofhos. Tudo avana lenta mente, posto que avana. Vai indo entre rodas, rumo ao hmido. o passeio. Rumo ao mais fresco. o Vero. Para l dos ces, alm da pedra com o talho da cabea, nos pneus que escorregam ainda amide (o p solto; a excitao) vers o rio. Em baixo, lago de lume, ardido ao ar, entre os escolhos. Degraus o puxam, degraus o trazem. Pula no ar, desfaz-te em rio. o passeio. Vitorioso passeio fora do dado, quase desconhecido, apenas visto. A aven tura sem as palavras, perdida em flegos, em contracenagens, em infraces. Ida por dentro, rasgada a terra. Volta por fora, pelo cu da estrada. Rudimentos do inesquecvel, permanncia do revelado: a toponmia de cada metro ciceroneado, por quem o sabe. Dentro de um, por fora o outro, os construtores da tarde. Os que asseguram. E asseveram. E assim procedem. Os (dois) guias eventuais da descoberta.

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A VISITA

G. Violetas, violetas, violetas im periais, violetas, oh vio letas, violetas imperiais. L. Bonita cano, violetas im periais; que bela voz que tens; que bela voz que ele tem; canta outra vez, para mim ouvir. G. Vou cantar outra vez. (Canta outra vez: violetas, violetas, oh violetas im-pe-ri-ais, violetas, e violetas, e violetas, im-pe-ri-ais) L. Cantas muito bem; ele canta m uito bem, no achas? Ningum diria. A. Pois canta. Olha, quanto que custa? L. O qu, filho? So 10 escudos. A. (dirigindo-se para a porta do fundo) Embora, filha. Aguentas a, p, so 10 minutos. G. No me faas isso, p. Empresta-me 10 escudos. (Revolve os bolsos, e vai porta, cuspir.)

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O MONLOGO DO PASTOR

Lavis, Lavis, Lavis sonoro, o ponto querer-se, acordar antes, menos que hora, acordar com o som de ao longe elas terem j acordado, como as oio agitadas no terreno, vo b ulir com as outras, vo andar soltas, fu g ir de mim , p artir as pernas, cair em baixo, oio os guizos, refro pe sado, a cabea pesa-me no estmago vazio, tudo vazio, a casa fria, a luz pouca, outro dia sem sol, mundo mundo solido vazia, tudo vazio, o ar frio, a luz vazia ou a janela sem trapo, o meu sono estragado, acabou-se antes, que fora no mijo, que vontade, que luz fraca, afinal, que con solo, ah, a andam elas, que consolo, ah, que bom quando se tem vontade, a esto elas, anda para l, rebolona, restolhona, fora daqui, ah sim est m elhor, o leite da cabra, ah uma copada, ali a jeito, um copanzil, ah assim est me lhor, um bocado de po, ah, assim est melhor, e que dia frio, outra vez frio, e o Arajo ainda est a d orm ir, e que dia frio e fode de manh se calhar fode de manh, noite os copos, de noite aquece, e de manh d-lhe o jeito, e olhe elas, j a brincar, d-lhes o jeito, boa vida a delas, se calhar no , mais murcho ando eu, com o cuidado, e as voltas, e esta vida bruta, sem cmodo nem m ulher

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nem carne nem peixe nem nada s bichos e mata, s mata, e cabeos, e mais cabeos, e se calhar sou de pau, sou a l gum bicho se calhar, chega para l, puta da bicha, oh para l, oh para l, toca a mexer-me, esto todas vivas, deu-lhes o azougue, toca a andar, estramada da vida, oh toca a andar para a vida, puta de vida, oh toca a ir.

Este monlogo de um pastor, de ovelhas por exemplo, re produz, tcito, uma comum sensao de acordar. Acordar sem nada alm do hbito, despertar por fora, por assim dizer, e no vislum brar mais que a imediata recolha das motivaes consabidas, o dever, a comida, o ente hostil, distante e alheio, o real em fuga histrica, e no in terior a mancha ensombrecida da entidade miseranda, o homem-sem-saliva.

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OS CIGANOS E AS SUAS PROPRIEDADES

PRIPICAS

Pois assim o meu maior se me revela que a seu modo ele entende e assim vela e nunca oh nunca deixa de ficar e durar mas dura muito sem de todo se apagar

II

Quando se abria a camisa da minha amada estavam vermelhas, castanhas, duas negras mamas espalhadas no pano branco e sobre o pano as pontas imaculdas de um lao feito mo. A carne sobre o pano se espalharia ento. Donde haver cus, bem conhecidos de ns dois, que o corpo eleva, mesmo esgotado, e de si extrai e perde, extrai e perde, quando em seu escuro se perde.

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UM A RECEITA

(RASO COMO O CHO ONDE BRANCA DE NEVE FAZ QUE NO) Toma-se neve, um silncio, cobre-se com essa neve uma montanha, a montanha da alma na teno de ocupar o seu prprio volume, e l surgir decerto um lugar, e esse o recanto wherein SnowW hite is laid. A Mancha e o Degrau e o Buraco, os furos por onde a alis branca respira. Desse lugar vers que jaz, opereta... e que acordando, sensa o... os seus olhos e porque no os teus reflectem o Grande Exterior.

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A LIO DOS GRAFITTI

Varei caminha agora no campo ameno dos cactos, das tre padeiras, dos coelhos. Vai olhando em volta, satisfeito pela aragem que de momento se elevou. Afasta alguma sara mais cerrada, busca o caminho por entre arbustos cada vez mais duros e a ateno eleva-se-lhe para o sol que oscila entre os ramos. O terreno desce agora para um n tido vale onde avista pedras e um regato. Escorrega at ao fundo do pequeno abismo poeirento, e salta o regato para a outra margem. Sombrio, o lugar. Senta-se no cho e agarra o solo. A seu lado uma pedra grande, de sob cuja poeira irradia um ntido traado intencional. Limpa e l: O CAMPO M UITO VASTO.

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O PRAZER DE URINAR

beira de um rio morava uma m ulher e um homem to talm ente nus. De cada vez que um deles saa a porta sem dizer ao outro para onde ia, era quase certo ir urinar ao p do rio, a descer. Um dia o homem estava a urinar e o sol dava-lhe na cara e nos olhos e os insectos voavam em volta das plantas. O homem fechou os olhos e a sor rir, sentiu uma grande fora dentro dele. Era a alegria. Quando voltou a casa foi comer uma laranja e beijar a pele da mulher que era loira.

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O NILO

Na terra corria um rio. Nas suas margens cresciam plan tas. Sobre a gua iam flores grandes e delicadas. A vida desse rio evoluiu perpetuamente. Quando o rio comeou a m orrer foi de repente, e alguns homens afastaram-se a tempo. Uns foram morar na cidade, outros em grutas, outros beira de rios vivos.

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