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Viagem negra
Viagem negra
Viagem negra
E-book330 páginas7 horas

Viagem negra

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Sobre este e-book

É 1914, e medo e paranoia são regras em alto mar.


Iain Cosgrove está recém-casado com Jennifer Manson, filha de um rico comerciante escocês. Mas Iain tem que sair numa busca a bordo do Lady Balgay, último dos grandes navios de Dundee. Cheio de rum e histórias de John Pratt, a tripulação fica obcecada com antigas superstições; algumas Iain simplesmente toma como simples crenças... até que eles alcançam o frio mar Ártico.


Quando uma série de acidentes coincide com a aparição recorrente de uma mulher, as crenças de Iain ficam sobre um fio. Então, o navio encontra dois náufragos—um deles, uma mulher—e eventos tomam uma virada sinistra.


Inspirado em lendas históricas, Viagem Negra é uma histórica persuasiva e horripilante que tomam lugar no gelado mar das águas do Norte.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de jun. de 2023
Viagem negra

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    Viagem negra - Helen Susan Swift

    1

    SETEMBRO - MAR DO NORTE

    A imaginação é sempre mais nova, do que um homem são pode ser um navegador.

    RALPH WLADO EMERSON

    Repleto de violência, negro de ameaça, o esquadrão passou pelo horizonte norte como a ira de um deus nórdico.

    —Aquilo parece feio. — Lauren mostrou urgentemente apontando para a tempestade e quase riu da expressão de Kenny — Espero que não fique enjoado!

    —De onde diabos aquilo veio? — Kenny ficou na lateral do barco, olhando para as nuvens negras que se empilhavam uma depois da outra, prometendo muita chuva. Ele viu um relâmpago em meio a escuridão, que refletia em meio ao oceano e ele apertou seus olhos. Ao redor deles, as ondas faziam seu curso suave, quase macio, mas com tal tamanho que a próxima sempre parecia maior que a anterior — Não estava aí um minuto atrás.

    A vinte e dois pés de distância, aberto e perto do leme, o barco de pesca os protegia do tempo. Mesmo que a água insistisse em entrar no barco, explodindo contra seus tornozelos, numa amostra gelada do que estava por vir. Nos últimos minutos, o movimento foi de devagar e chegada regular, para uma irregular e imensa subida.

    —Parece ruim. — Lauren só teve que olhar para a tempestade chegando uma vez mais — Acho melhor retornamos.

    —Você não vai ouvir nenhum argumento de mim. — Kenny assentiu rapidamente — Quanto mais rápido, melhor.

    Ele começou a puxar as varas de pescar, as estocando, enquanto as ondas batiam na popa no barco.

    Sorrindo forçadamente, Lauren deus os dois passos para a cabine na qual se encontrava o leme.

    —O mar do norte é assim; um minuto está suavemente calmo, no outro é uma força extrema, mexendo tudo à sua volta.

    —Prefiro ele calmo. — Kenny chacoalhou as grandes varas no começo do barco — Olhe para o céu. Está ficando louco!

    A banda negra se expandiu por todo o horizonte, obscurecendo completamente a visão do Bell Rock Lighthouse e apagando qualquer coisa em volta. Avançou rapidamente na direção deles, trazendo um cortante granizo fora de estação e um vento que gritava seu ódio ao redor da orelha deles. Lauren aumentou sua voz digladiando contra o lamento.

    —É melhor você vir aqui, Kenny.

    Ele se agachou no parco abrigo da casa do leme, enquanto ela pressionava para que o barco andasse. O motor tossiu uma, duas vezes, veio à vida e depois morreu novamente com um urro apoteótico.

    —Tente de novo. — Kenny ordenou. Ele olhou por cima do seu ombro, onde a escuridão estava aumentando, avançando visivelmente por sobre eles. O granizo bateu na fibra do corpo do barco, eclodiu no interior e chacoalhou no telhado da cabinek — Vamos com isso, Lauren; tem uma monção acontecendo aqui!

    —É algo, de qualquer modo. — Lauren apertou para fazer o motor funcionar de novo, amaldiçoando quando o motor falhou de novo — O que diabos está errado com essa coisa?

    —Você que é a expert. — Kenny lembrou — Você que me diz! — Ele olhou para trás de novo, encolhendo enquanto as nuvens aumentavam visivelmente de tamanho, então ele, transformando tudo em preto e cinza, com uma fúria vermelha que ele tinha visto antes e com alguns flashes que iluminava o interior, fazendo cada minuto parecer mais nefasto.

    Passando por ele, Lauren abriu a portinhola e deu uma espiada no motor.

    —Não consigo ver nada de errado! — Ela gritou lutando contra o barulho do vento — Tudo está conectado e não tem nada quebrado.

    Espiando por sobre o ombro novamente, Kenny falou.

    —Parece tudo ok para mim. Tente de novo!

    Ela tentou. E ficou mais frustrada a cada tentativa falha.

    —Não tem uso. — ela decidiu — Está estragado. — ela olhou para Kenny por um momento, afastando o cabelo molhado de seus olhos — Não podemos ficar simplesmente sentados ou chamar ajuda. Talvez eles enviem o barco salva-vidas Broughty Ferry até nós.

    —Faça isso, então. — tinha um medo genuíno na voz de Kenny. Ele olhou em volta, onde as ondas estavam mais altas que nunca, jogando o barco para um lado e para o outro, enquanto passavam. A escuridão estava avançando com rapidez, rolando por sobre o mar, acabando com a luz, pressionando-a para sumir, como se tivesse a capacidade de sumir com eles para o fundo das ondas. Ele ouviu trovões, então quebraram como se fosse a ira de Netuno, chamando os horrores de Hades para aquele barco inútil — Jesus, o que está acontecendo aqui?

    —Só Deus sabe; eu nunca vi nada como isso antes! — Lauren olhou para a tempestade que se aproximava, o cabelo molhado grudando em sua cabeça, a boca parcialmente aberta, os olhos estreitos contra o granizo rodopiando no ar. Ela sabia que em qualquer outro lugar, Kenny estaria distraído pelo modo como sua camiseta destacava suas curvas, mas agora, as nuvens é que o estavam deixando boquiaberto.

    —Chame eles, Lauren. Pelo amor de Cristo!

    —Eu venho navegando desde que tenho 8 anos de idade. — Lauren falou rapidamente, olhando de Kenny para a tempestade e da tempestade para Kenny — E eu nunca pedi ajuda antes. Eu chequei esse motor antes de sairmos.

    —Apenas chame. — Kenny implorou — Veja esse tempo e chame alguma ajuda!

    Nos poucos momentos em que Lauren estava trabalhando no motor, as nuvens negras tinham se fechado, se aproximando numa velocidade inexorável. O granizo e o vento aumentaram, batendo no casco, chacoalhando a cabine do leme e batendo de volta nas ondas, como se um deus do mal estivesse descontando sua ira neles.

    —Pelo amor de Deus! — Lauren blasfemou enquanto ia até o telefone — Nunca vi ficar tão ruim, tão rápido! — Apertando os botões, ela olhou para Kenny por cima de seu ombro — Nada está acontecendo! — Ela tentou de novo, lutando para tirar o pânico de sua voz — Nada; está morto! Ela balançou sua cabeça, com a boca aberta — Não tem nada aqui, Kenny. Nem estática.

    —Deve ter algo...

    —Não tem nada, eu te disse! — A ansiedade tomou conta do temperamento de Lauren e rosnou para ele — Está morto. — Inspirando fortemente — Temos que tentar enviar um sinal.

    —Você tem sinalizadores?

    Tinha quatro no plástico em forma de tubo, dois vermelhos e dois laranjas, estes apenas de fumaça.

    —Estes são para uso externo. — Lauren explicou — Então são melhores para usá-los quando você já está vendo algo definitivo, como um barco, ou mesmo terra.

    Kenny examinou um.

    —Como eles funcionam?

    —Você usa aquela luva. — Lauren indicou uma luva de jardinagem — Gira a parte de cima e segura; tem que ter cuidado com as faíscas, podem queimar sua mão. A luz pode ser vista num raio de até mais de 5 quilômetros.

    —Faça isso, então! — Ele a apressa.

    Ela manuseou o sinalizador, quase o derrubando, mas foi para a popa, tirou o topo e segurou o mais alto possível. A luz estava extremamente intensa, durando já por pouco mais de um minuto, e quando ela foi morrendo até se acabar, eles se sentiram mais sozinhos e vulneráveis que nunca.

    Eles olharam um para o outro, enquanto Lauren segurava os últimos sinalizadores com ela, somente como uma mãe segura sua criança recém-nascida.

    —Por favor, Deus, que alguém tenha visto!

    —Ainda tem mais três. — Kenny falou o óbvio.

    —Nós guardamos esses, caso vejamos outro barco — Não tinha cor no rosto dela — Vamos voltar para a cabine.

    —Jesus. — Kenny olhou além da terra, agora invisível, por trás de nuvens carregadas. Seu pequeno barco estava sozinho no oceano, os balançando e fervendo em algo que já prometia se transformar numa nevasca, podendo ficar bem pior — O que acontece agora?

    Lauren respirou fundo.

    —Agora a gente reza, Kenny. — Ela disse quietamente — Agora a gente reza como nunca rezou antes. — saindo um pouco da cabine, ela olhou em volta, balançou a cabeça e retornou com água escorrendo por sua face e o cabelo por sobre os seus ombros — Mesmo que eu ache, nem isso irá ajudar.

    —Eu não sabia que você era religiosa... — mas quando Kenny viu a expressão de falta de medo, notou que ela já tinha passado do momento de desacreditar — Oh, Jesus, isso é ruim?

    Ela não disse nada, e se sentou no único assento em frente ao leme, olhando para ele, que se uniu a ela. A mão dela deslizou por seus ombros e depois ele capturou sua mão, entrelaçando seus dedos nos dela.

    —Estava escrito que ia ser uma viagem divertida. — a voz de Lauren estava surpreendentemente calma — Só você e eu, juntos por um tempo. — ela ficou quieta por um tempo e o vento aumentou, assim como a escuridão, que se fechou sobre eles — Desculpe, Kenny.

    —Dificilmente é sua culpa. — De repente não importava. Eles estavam para morrer naquele mar, e todos seus medos e preocupações eram irrelevantes. Nada era importante, além daqueles dedos em suas mãos — Nos conhecemos faz quanto tempo?

    —Por toda a nossa vida. — Lauren falou baixo, como se estivesse longe — Me aperte forte.

    O barco de pesca estava fora de controle, subindo e descendo por sobre as ondas, que pareciam não ter um padrão, então um segundo depois eles estavam sendo chicoteados junto com as ondas, com a espuma branca contrastando com as nuvens negras. Em seguida, estavam nas profundezas de um abismo entre as ondas, enfrentando uma parede de água verde com um creme branco.

    —Veja. — Lauren apontou enquanto eles submergiam novamente e o vento batia nos dois, açoitando as palavras de sua boca — Oh, Deus, olhe para isso!

    A nuvem se aproximou deles. Escura e incrivelmente sólida, formou uma barreira que os apertava por ambos os lados, parecendo que eles estavam presos num vórtice dentro de um ciclone.

    —O que diabos está acontecendo aqui? Isto é a Escócia, não Star Trek. —Kenny sentiu a mão de Lauren esmagar seus dedos enquanto eles olhavam para aquilo — Eu nunca vi nada assim antes.

    —Nem eu. — as nuvens estavam se movendo em sentido anti-horário e lentamente, de um modo quase hipnótico. Teria até sido bonito, senão fosse pela ameaça que aquilo carregava — Tente o rádio de novo.

    Lauren tentou. Apertou botões, repleta de pânico.

    —Não está funcionando, Kenny. Nada está funcionando! O que fazemos agora? O que diabos fazemos agora?

    Ela sentiu que ele olhava para ela como se nunca a tivesse visto antes. Com seu um metro e sessenta, ela sempre era um vulcão, cheia de energia, e ele só podia admirá-la e tentar acompanhar. Agora, ela estava molhada com frio e medo, com o cabelo desmantelado sobre sua face, e ainda com a voz quebrando e sua respiração ficando fraca.

    —Nós pensamos. — ele disse a ela.

    Lauren assentiu, pensando no quanto ele soava calmo e ela só queria gritar e se esconder no fundo do barco.

    —Você está certo. Mas, primeiro a gente devia vestir algo mais quente. Você trouxe roupas para tempo frio como pedi?

    Duas mochilas no armário continham duas roupas laranja e à prova d’água, que eles vestiram por cima de seus jeans e camisetas.

    —Logo nossa temperatura vai aumentar aqui dentro. — Lauren estava mais calma, usando sua experiência náutica.

    —Combina com você. — Kenny tentou brincar, mas mesmo a visão dela vestida de laranja não diminuía seu medo.

    —Com você também. — ele era mais alto que ela, mas parecia mais vulnerável, já que ela tinha mais conhecimentos e habilidades ali — Kenny. — ela tocou seu braço, apontando para o meio das nuvens — Você está vendo aquilo?

    —O quê? — Kenny se virou e olhou — O que em nome de Deus é aquilo?

    Algo dentro da escuridão da tempestade, fazia o barco de pesca parecer ainda menor. Era ao menos umas cem vezes maior, que brilhava em azul e branco, com um verde escuro que se encontrava com o balanço das ondas.

    —Parece um iceberg. — Lauren sentiu seu coração pular dentro do seu peito — Mas não tem icebergs no Mar do Norte.

    —Tem agora. — Kenny disse num murmúrio — E está vindo diretamente para nós. — ele olhou para ela, mexendo a boca, tentando formar um sorriso — Talvez devêssemos começar a rezar mais forte.

    —Talvez. — sem motor ou rádio, Lauren apenas podia esperar enquanto o iceberg emergia diretamente das nuvens. Ela balançou a cabeça, esperando estar errada, que aquilo fosse apenas uma ilusão devido a posição da luz, mas ela sabia que não estava delirando. Veio inexoravelmente, uma montanha de gelo, tingida de azul e com o mar batendo em sua base verde, enviando ondas de volta, subindo antes de descer, e se juntando a força que vinha na direção deles.

    —Vai bater na gente. — Lauren ouviu a falsa calma em sua voz. Ela tentou sorrir para Kenny — E na sua primeira viagem de pesca.

    Kenny se espremeu na lateral do pequeno barco, como se aquela pequena distância fosse salvá-lo.

    —Talvez possamos nadar. Ou remar? Você tem algum remo?

    Ela balançou a cabeça, surpresa de poder aparentar controle quando ela queria gritar. O mar estava agitado, com ondas de espuma branca batendo no barco, como se quisesse afundá-lo.

    —Nós não íamos durar um minuto nisso. E eu nunca precisei de remos antes.

    Eles só podiam assistir enquanto o iceberg se aproximava e o instinto pedia que eles ficassem juntos, então seguraram as mãos um do outro, enquanto aquele monstro vinha na direção deles, maior que um prédio de quatro andares, perigoso, mas de uma beleza formada por várias quedas d’água e a escuridão que se aproximava.

    Escuridão? Como uma escuridão estava dentro de um iceberg? Lauren sacudiu a cabeça. Aquilo era insano!

    —O que diabos é aquilo? — Kenny viu também, e apontou — Tem algo dentro do gelo.

    —E, importa? — apesar de suas palavras, Lauren olhou de novo. Ela não estava enganada, tinha alguma coisa grande e escura dentro do iceberg e quanto mais ela olhava, mais ficava visível — Jesus, Kenny! Está derretendo. O gelo está derretendo!

    Ela agora viu, que o que ela acreditava serem respingos de água do mar, era na realidade o gelo derretendo, desde a ponta do iceberg. Depois de meses, ou mesmo anos no Ártico, o iceberg estava começando a se desintegrar, com grandes pedaços quebrando bem diante deles.

    —Cuidado! — Lauren puxou Kenny, salvando-o de um grande pedaço de gelo que acabou caindo no mar, jogando água e enviando uma enorme onda na direção deles. — Segura, Kenny! Pelo amor de Deus, segura!

    Sua calma superficial desapareceu quando a onda se aproximou, batendo na lateral do barco e fazendo eles balançarem como se fossem de papel. Lauren se ouviu gritar, quando se viu lançada ao mar, que estava tão fria quanto o iceberg perto deles; ela viu um pouco do rosto de Kenny, cheio de terror, e então ela submergiu, chutando, lutando e com o sussurro da morte em seus ouvidos.

    2

    SETEMBRO

    Casa para o marinheiro, é o mar.

    ROBERT LOUIS STEVENSON

    Jesus, está frio. Eu vou morrer; eu vou morrer agora.

    —Sem pânico. — Lauren lutou para se lembrar de todas as lições de natação que teve quando criança, mas a realidade no Mar do Norte era bem diferente de uma piscina aquecida e segura. Ela tentou gritar, engolindo água, até que ela ouviu algo cantando em sua cabeça. O som era doce, tão melodioso, que ela parou de lutar para escutar; o pior do terror parou e ela parou de balançar as pernas.

    Quando as luzes estão fracas e macias

    E as sombras quietas vão caindo

    Emergindo numa explosão de ondas, ela balançou a cabeça, tirando o cabelo molhado do seu rosto para olhar em volta, vendo apenas a conturbada superfície do mar, um pesadelo de ondas quebradas e correnteza forte. Ela engoliu água, cuspiu, tossiu.

    —Kenny!

    —Aqui! Eu estou aqui!

    Ele estava a alguns metros de distância dela, com a cabeça batendo na água e um braço acenando. Ela nadou na direção dele, amaldiçoando o traje laranja que a estava atrasando.

    —Lauren, olhe para o iceberg!

    Em poucos segundos, desde que eles foram atingidos, o iceberg tinha se desmanchado mais, expondo a sombra negra que estava dentro dele.

    —É um navio! — a voz de Kenny estava repleta de terror, mas também de surpresa — Tem um navio velho para caramba dentro do gelo!

    Se debatendo na água mais desesperadamente, Lauren assentiu.

    —Estou vendo.

    A cada segundo, mais pedaços de gelo derretiam, expondo ainda mais a parte interna do iceberg. Quando Lauren olhou, dois mastros estavam expostos, já apontando para o céu. Anos, talvez séculos de clausura no gelo, estava descobrindo tudo, especialmente os mastros, mas não tinha velas, remos, nem nada que pudesse dar propulsão no barco. Era como se tivesse sido reduzido a um esqueleto de navio, deixando apenas partes essenciais. Tinha algo entre os mastros, algo saindo das sombras com o casco desgastado, como se o receptáculo apontasse seu dedo para o oceano. Um pequeno barco estava virado de cabeça para baixo no deque.

    —O que em nome de Deus... — Kenny balançou sua cabeça — Como aquilo chegou ali?

    —Quem liga? — Lauren começou a nadar em frente — Vamos subir a bordo.

    Ele olhou para ela, obviamente não entendendo, até que ela sacudiu a cabeça vigorosamente para o barco.

    —Vamos, Kenny. É isso, ou ficamos aqui até afogarmos.

    —Mas nós vamos afundar. Não tem como aquilo flutuar.

    —Não temos escolha! — segurando o braço dele, o empurrou na direção do que restava do iceberg, de onde a coisa com dois mastros estava emergindo, como uma borboleta saindo de seu casulo.

    Eles nadaram freneticamente, lutando contra a água, desviando de pedaços de gelo e confiando no destino ou num Deus benevolente que os ajudaria a evitar esses obstáculos na direção deles. Quando eles chegaram ao lugar, estava praticamente sem gelo, navegando no ritmo da tempestade, mas ainda flutuando, ainda oferecendo um vestígio de esperança.

    Jesus, nos ajude; nos ajude a escapar desse dia!

    —É um milagre. — Lauren olhou para a pintura negra do casco. Nadando com força, ela chegou a popa, onde os últimos restos de gelo, ofereciam acesso para o barco.

    —É sinistro. — Kenny se jogou no gelo, logo atrás dela, deitando e respirando, enquanto as ondas em azul e verde ainda batiam em seu rosto. Ele tossiu, encostando seus joelhos no peito, começando a ter ânsia de vômito.

    Lauren não estava melhor, quando suas pernas começaram a tremer, numa reação tardia. Ela vomitou, tirando o fluido que estava em seu peito e parecia que ia quebrar ela por dentro.

    —Pelo amor de Deus!

    —Não podemos ficar aqui! — Kenny limpou seu rosto — Com esse gelo derretendo, estaremos na água em alguns minutos — ele apontou para o navio próximo — Temos que voltar a bordo e apenas esperar que não apodreçamos no inferno.

    —Não sei nada sobre apodrecer. — Lauren tentou ficar no gelo, se equilibrando precariamente, suas mãos balançando — Mas talvez pegar fogo, olhe para aquela balaustrada — A pintura no casco estava horrível, com a madeira dividida em mil partes, o que deixava o nome indecifrável. Lauren lentamente entendeu as letras — Lady Balgay. Nunca ouvi falar.

    —Nem eu. — Kenny se segurou na balaustrada, testando a força do deque — Parece seguro o suficiente. — ele disse — Pensei que ia despencar daqui de cima. — ele esticou a mão para trazer Lauren à bordo.

    —Talvez o gelo tenha ajudado a preservar. — Lauren se juntou a ele, olhando com um interesse razoável — Isso é inacreditável. É como um navio fantasma, o escocês Marie Celeste.

    —O quê? — Kenny olhou, confuso.

    Marie Celeste; foi encontrado abandonado no meio do atlântico, séculos atrás, e ninguém nunca soube o que aconteceu com a tripulação.

    —Sim, eu lembro agora. — Kenny se moveu, olhando cada pedaço com grande cuidado — Mas, agora estamos aqui. O que faremos?

    —Apenas ficamos aqui. — Lauren sentiu a confiança crescer; tinha escapado de se afogar, então nada importava muito — Quando essa coisa aparecer no radar, a guarda costeira vai tentar entrar em contato e no máximo dentro de uma semana, vai ter alguém aqui fazendo perguntas.

    —Contanto que continue flutuando.

    Claro que vai. Lauren não falou em voz alta.

    —Vamos ficar bem, agora que estamos aqui. Uma rajada de vento está passando.

    O vento foi morrendo até ficar em nada, tomando lugar no mar. Depois, uma névoa se formou em volta do Lady Balgay, cercando o casco e batendo nos mastros esqueléticos.

    —Eu não gosto disso. — Kenny olhou em volta, onde a névoa formava algo espectral — É muito estranho.

    —Está tudo bem. — Lauren sorriu para ele — Não sei porquê. Mas, por enquanto estamos seguros aqui. Acho que devíamos explorar.

    —Não concordo. — Kenny escorregou na madeira do mastro que continha um binóculo — O vidro estava quebrado e a bússola só apontava para o sudeste — Acho que devíamos ficar bem aqui.

    Lauren deu de ombros.

    —Você faça isso, então. Eu vou dar uma olhada em volta.

    O desejo era demais, a compelindo a investigar, forçando-a a examinar aquele local que emergiu de um iceberg no meio do Mar do Norte.

    Tenho que ver mais. É seguro. Ela está olhando por mim.

    Quem está olhando por mim?

    Kenny suspirou.

    —Vou também. Pode ser mais quente do que ficar aqui fora congelando a minha bunda.

    —E isso seria um desperdício. — Lauren deliberadamente olhou para o bumbum dele — É uma bela bunda que você tem.

    —O quê? Você tomou alguma coisa?

    Ela riu do embaraço dele.

    —Não se faça de tímido. Nós temos intimidade suficiente agora!

    —Acho que você deveria ir na frente. — mantendo uma distância segura, Kenny a seguiu, enquanto ela explorava o lugar.

    Tirando a popa chamuscada, o deque de Lady Balgay estava sólido, especialmente depois de passar anos dentro do gelo. Lauren os guiou mais para a frente, apontando para uma marca pontuda debaixo do mastro que é colocado na proa do veleiro.

    —Isto é interessante.

    Tinha outras partes que ficavam visíveis, pintadas de preto ou com um verniz amarelo. Os mastros continham uma madeira estragada, devido aos anos.

    —Essas marcas parecem de machado. — Kenny tocou a madeira — Mas, por que alguém iria dar machadadas em mastros de um navio velho como esse?

    —E depois queimar a popa? — Lauren sorriu forçadamente para ele — Parece que estamos a bordo de um verdadeiro navio misterioso. — ela se aproximou, ainda tremendo de frio, mas intrigada com o Lady Balgay e motivada pelo seu renovado sabor pela vida.

    Talvez é a reação por ter sobrevivido. Mas, não ligo, eu tenho que ver o que tem nesse navio.

    —De quem é esse navio, afinal? E, como ele entrou num iceberg? E o mais importante, como é que ele apareceu a apenas algumas milhas de distância da Escócia? — questões choviam em sua cabeça, tão fortemente que uma batia na outra, sem mesmo ter tempo de ser respondida.

    —Só Deus sabe. — Kenny tentou controlar suas tremuras — Não deveria ter registros no navio. Um livro de bordo ou algo do tipo?

    —Vamos ver. — Lauren decidiu pelos dois — Afinal, depois de sobreviver por tanto tempo, duvido que vá afundar agora. Tudo o que temos que fazer é esperar para sermos resgatados.

    —Vamos esperar que não demore. — Kenny disse — Estou congelando. — ele forçou um sorriso e começou a assoviar num tom triste.

    —Você ouviu isso?

    —Ouvi o quê? — Kenny olhou para ela.

    —Uma música. — foi a mesma música que ela ouviu quando estava na água. Erguendo as sobrancelhas, acertou um golpe de cotovelo em suas costelas — de qualquer modo, pare. Vai dar má sorte.

    —O quê? — ele olhou para ela — O que vai trazer má sorte?

    —Assoviar num navio. — ela sorriu, um pouco embaraçada — Ou pelo menos já ouvi isso. Mas, não sei de onde isso veio.

    Kenny olhou para o outro lado.

    —Acho que devíamos ficar no deque. — ele contou a ela — Não sabemos o quão seguro este navio é. Se desmoronar, estaremos de volta à água.

    Lauren olhou para o lado. O mar

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