Tempo-memória, Literatura e Ciência
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Sobre este e-book
Ciente disso é que Márcia Fusaro trata de literatura não pelo viés convencional, mas por meio de um diálogo muito original e singular com a ciência. Aborda Clarice Lispector não pelo viés convencional da "escritora hermética e difícil", já tantas vezes revisitado, mas por meio das influências científicas identificáveis nas sutilezas dos interesses narrativos dessa grande escritora brasileira.
Assim, o diálogo entre literatura e ciência se faz flecha em movimento espiralado e compatível com as metáforas de mudanças, fluxos, acasos, indeterminações, liquefações, entre outras tantas, próprias do pensamento muito moderno e contemporâneo. A intenção é que essa flecha se direcione ao alvo de novas e possíveis ousadias de reflexão.
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Tempo-memória, Literatura e Ciência - Márcia Fusaro
Sumário
Capa
Conselho Editorial:
Agradecimentos
Prefácio à segunda edição
Prefácio
Introdução
O Tempo da Ciência
O Tempo da Literatura
Ciência e Literatura: um Possível Diálogo Sobre o Tempo
Clarice Leitora
A Estética Temporal Clariceana
Tempo-Memória à Luz de uma Perspectiva Científica
A Paixão Segundo G.H.: Cristal Literário Multifacetado
Conclusão
Bibliografia
Márcia Fusaro
Tempo-memória, Literatura e Ciência
São Paulo | Brasil | Setembro 2017
2ª Edição - Revista e Ampliada
Big Time Editora Ltda.
Rua Planta da Sorte, 68 – Itaquera
São Paulo – SP – CEP 08235-010
Fones: (11) 2286-0088 | (11) 2053-2578 | (11) 97354-5870 (WhatsApp)
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Conselho Editorial:
Ana Maria Haddad Baptista (Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)
Catarina Justus Fischer (Doutora em História da Ciência/PUC-SP)
Lucia Santaella (Doutora em Teoria Literária/PUC-SP)
Marcela Millana (Doutora em Educação/Universidade de Roma III/Itália)
Márcia Fusaro (Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)
Vanessa Beatriz Bortulucce (Doutora em História Social/UNICAMP)
Ubiratan D’Ambrosio (Doutor em Matemática/USP)
Ficha Catalográfica
Fusaro, Márcia | Versão Ebook | Tempo-memória, Literatura e Ciência | São Paulo: BT Acadêmica | Setembro de 2017 | ISBN 978-85-9485-038-6 | 1. Educação. 2. Ensino. 3. Prática pedagógica. I. Título
Ficha Técnica
Projeto gráfico: Big Time Editora | Diagramação: Marcello Mendonça Cavalheiro | Capa: Jardim dos Livros/Rose Marie Silva Haddad | Revisão: Autor
A meus pais, por tudo
Agradecimentos
Em especial à querida Ana Maria Haddad Baptista, por sua orientação sábia, por seu respeito à liberdade de expressão humana e, sobretudo, por acreditar, tanto quanto Deleuze, nas ousadias das possibilidades entre a filosofia, a arte e a ciência.
Ao Cabral, por me (re)despertar (sempre) o amor (inclusive pela Física e a Filosofia).
A todos os colegas e professores que, de alguma maneira, compartilharam comigo os momentos deste trabalho.
À CAPES, pelo apoio financeiro durante a pesquisa.
Prefácio à segunda edição
Passado algum tempo desde a publicação da primeira edição deste livro, percebo quanto ainda se faz certeira a escolha pelas interfaces entre literatura e ciência, pelo recorte temático do tempo-memória.
A decisão de relançar o título pela nova roupagem em e-book se deu também pela necessidade de atualização, tornando seu conteúdo mais acessível pelas mídias virtuais.
Ao longo dos últimos dezesseis anos, venho trabalhando com formação de professores, além de pesquisas e publicações ligadas às áreas das interfaces entre educação, artes, ciências e comunicação.
Interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, entre outros conceitos ligados às possibilidades de interfaces, têm sido temas cada vez mais atuais e necessários a uma formação intelectual de cabeças bem-feitas, lembrando o que nos ensinam Edgar Morin e Gilles Deleuze, entre outros grandes pensadores.
Ciente disso, trato aqui de literatura não pelo viés convencional, mas por meio do diálogo com a ciência. Trato de Clarice Lispector não pelo viés convencional da escritora hermética, difícil
, já tantas vezes revisitado, mas por meio das influências científicas identificáveis nas sutilezas de seus interesses narrativos.
Assim, o diálogo entre arte literária e ciência se faz flecha em movimento. Compatível às metáforas de mudanças, fluxos, acasos, indeterminações, liquefações, entre outras, próprias do pensamento muito moderno e contemporâneo. Que essa flecha se direcione ao alvo de novas e possíveis ousadias reflexivas.
Márcia Fusaro
Prefácio
Literatura e Ciências. Ciências e Literatura. Áreas, aparentemente, divergentes. Os escritores vivem em mundos quase inacessíveis. Como dizem os ditados populares: poetas, escritores, músicos, pintores vivem na esfera da Lua
. E: artistas... pobres coitados... vivem de fantasias e sonhos
. Ou, ainda: literatura não enche barriga
. Infelizmente, em pleno século XXI, existem muitas pessoas que ainda possuem tais tipos de concepções a respeito dos artistas, incluindo, mais do que nunca, os famosos literatos, como diria Ezra Pound. Por um outro lado, os cientistas são, popularmente, pessoas sem almas
. Cientistas, supostamente, são seres racionais, plenos de percepções objetivas. Cientistas são seres que vivem de concretudes e materialidades. As ciências são a expressão de verdades incontestáveis. Eis o quadro que, via de regra, espelha as concepções mais comuns e populares a respeito dos cientistas.
Os fatos e as grandes escolas de pensamento indicam o contrário do que foi exposto. Goethe foi, acima de qualquer coisa, um grande observador de plantas e possui verdadeiros tratados de cunho científico
a respeito de Botânica, isso sem contar a sua legítima teoria a respeito das cores. Bachelard foi matemático, acima de qualquer coisa. Einstein foi amante das artes e tocava com grande esplendor violino. Primo Levi, grande escritor, foi químico. Guimarães Rosa foi um grande médico que soube, talvez, mais do que ninguém, ouvir os rios e captar suas profundezas. Pedro Nava, grande memorialista, também foi médico. Mia Couto, a maior expressão, atualmente, da literatura africana, é biólogo. E isso somente para ficarmos com alguns exemplos.
Este livro de Márcia Fusaro que foi, inicialmente, uma dissertação de mestrado, trata, com grande rigor e, acima de tudo, com grande sensibilidade, aspectos de temporalidade e de memória na obra de Clarice Lispector.
Quais são os principais pressupostos da autora? A busca incansável de uma verdadeira interface entre Literatura e Ciências, via Física e Filosofia, e sem fugir de um debate epistemológico. Eis um dos maiores objetivos desta obra, naturalmente, entre muitos outros mais. O desafio é grande. Entretanto, neste texto, tal desafio é de certa forma, respondido, com grande ousadia.
Ao buscar caminhos, em especial, pelas Ciências, a autora abordou a Física. E isso não foi por acaso. Lembremos: a Física é a área científica que determina, objetivamente, a estrutura do real. Nessa medida, o que interessa à Márcia Fusaro é a questão do tempo-memória. Em que medida, Literatura, Ciências e Filosofia podem manter um diálogo? Quais são os principais rumos deste diálogo, que, acima de tudo, é necessário para se retomar a integração dos saberes? Em que medida o tempo-memória poderia estabelecer uma verdadeira ponte entre Literatura, Filosofia e Ciências?
Nessa perspectiva, a autora busca captar na literatura de Clarice Lispector algumas respostas. A literatura da grande escritora é traduzida por meio de questionamentos do incapturável, inapreensível instante.
Na primeira parte deste livro Márcia Fusaro faz um breve revisão a respeito dos principais conceitos de temporalidade legitimados pelas Ciências, em especial, as principais contribuições da Teoria da Relatividade. Lembra que a Relatividade, sobretudo, produz uma nova perspectiva de tempo-memória. Uma percepção de universo e de tempo completamente inovadoras. A humanidade passa a contemplar o tempo de outra maneira. Instantaneidade e simultaneidade são conceitos completamente redimensionados, além de outros.
A segunda parte desta obra apresenta, como um todo, a importância da literatura de Clarice Lispector, ou seja, a obra da escritora em seu tempo e como, basicamente, traduz conceitos de tempo-memória. Nessa medida, as principais influências recebidas por Clarice, sua formação e, finalmente, as principais particularidades de sua carreira literária e as singularidades em sua tentativa literária de capturar e apreender aspectos de tempo-memória.
Na terceira parte destacamos um dos pontos mais altos deste livro, ou seja, o diálogo entre as teorias a respeito do tempo em David Bohm, Deleuze e o romance de Lispector: A Paixão Segundo G.H. Nesta parte o que impera é a grande imagem do cristal. O cristal como um processo inacabado. O cristal do tempo apresentado por Gilles Deleuze: um tempo que jorra nas mais variadas direções num movimento sem interrupções e que indicaria a impossibilidade das tão sonhadas previsões. A imprevisibilidade dos devires e, como tal, os devires são possibilidades. Eternas. Sonhadas. Muitas vezes concretizadas. De acordo com o tamanho de nossos sonhos. A imagem do cristal mostra o universo de Deleuze, entre outras coisas. Um universo que persegue o tempo, visto que em diversos momentos Deleuze é muito claro: a busca do tempo é uma busca essencial. Por quê? Porque quem busca o tempo, essencialmente, busca a verdade. Nesse sentido, as indagações de Deleuze, via Bergson, residem nos eixos centrais que constituem o tempo qualitativo. Subjetivo. Movimentos de interioridade não coincidentes com o tempo mensurável e universal dos relógios.
Ciências, Literatura e Filosofia, sabe-se, no fundo (e quando levadas a sério) buscam a verdade. E o tempo-memória possibilita, mais do que nunca, tal busca. Eis um ponto chave que subjaz aos questionamentos propostos pela autora.
Entretanto, o instigante e provocador do texto reside nas profundas reflexões da autora que nos alerta para a necessidade de pensarmos que Ciências e Literatura, juntas, olhadas sob uma nova forma, reabilitam a percepção do mundo, como diria Merleau-Ponty. Há outras maneiras de se ler o universo que nos rodeia. A desordenação do pensamento é estritamente necessária para as grandes transformações, via humanização, no amplo sentido da expressão. Precisamos renomear as estrelas. Reobservar os jorros de cristais. A realidade não pode, em hipótese alguma, ser mera verificação por meio de lentes universais. Imobilizada como uma presa acorrentada. A observação e apreensão pelos sentidos torna-se fundamental para que possamos afinar as sensibilidades.
Sartre, certa vez, afirmou que o infortúnio do homem é ser temporal
. Talvez nada mais exato e mais completo acerca da humanidade. Somos seres temporais. Somos seres que existimos, ontológica e fundamentalmente, porque temos uma memória que nos constitui. Que nos identifica, acima de qualquer outro mecanismo. E, sobretudo, ser humano significa estar só ao nascer e ao morrer. O nascimento é o início de um tempo-memória finito. Eis uma das principais