Entre nós mesmas: Poemas reunidos
4.5/5
()
Sobre este e-book
Juntos aqui, Uma terra onde o outro povo vive (1973), Poemas escolhidos – velhos e novos (1978) e Entre nós mesmas (1982), este último que dá nome à esta edição, apresentam um potente panorama da produção de sua poesia, meio de expressão em que Audre Lorde melhor refletiu sobre os temas da opressão social, a violência contra a população negra, a diáspora africana e as referências de sua cultura iorubá, o feminismo, filhos e o amor.
"Este Entre nós mesmas nos oferta poemas que, como todos os bons poemas, exigem diversas leituras. Não se trata de uma poesia a ser explicada, contextualizada, mesmo à guisa de introdução, é mesmo fundamental a experiência de lê-la, porque a poesia de Audre Lorde é uma circunferência de ressonância (não cabe em caixas, urge reiterar) da mulher profunda que guardamos, ainda num lugar mais recôndito do que a subjetividade. Uma mulher de múltiplas vozes e infinitas faces, uma mulher-Audre, que nos convida à implicação na transformação do mundo observando as sete direções que a ancestralidade africana nos propõe: à frente e atrás, em cima e embaixo, do lado esquerdo e do lado direito e dentro.", aponta a escritora Cidinha da Silva, na apresentação do livro.
A tradução foi feita por Tatiana Nascimento, poeta, tradutora e editora, juntamente com a também tradutora Valéria Lima. A revisão técnica é de Jess Oliveira e o texto de orelha é de Joice Berth. O livro é bilíngue e traz ainda um glossário com dos termos de origem africana presentes na edição, um apanhado das obras de e sobre Audre Lorde publicadas no Brasil e no exterior e uma detalhada nota biográfica da autora.
Leia mais títulos de Audre Lorde
Pensamento Feminista: Conceitos fundamentais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Você lembrará seus nomes: Antologia de poetas negras dos Estados Unidos do século XX Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Entre nós mesmas
Ebooks relacionados
Em busca dos jardins de nossas mães: prosa mulherista Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCartas a um Jovem Poeta Nota: 5 de 5 estrelas5/5Anseios: Raça, gênero e políticas culturais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra Nota: 1 de 5 estrelas1/5Olhares negros: Raça e representação Nota: 5 de 5 estrelas5/5Talvez precisemos de um nome para isso: ou o poema de quem parte Nota: 5 de 5 estrelas5/5Vozes guardadas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Escrever além da raça: teoria e prática Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDevir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLélia Gonzalez Nota: 4 de 5 estrelas4/5Escritos de uma vida Nota: 5 de 5 estrelas5/5A gente é da hora: homens negros e masculinidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe bala em prosa: Vozes da resistência ao genocídio negro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Planta Oração Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pertencimento: uma cultura do lugar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm Exu em Nova York Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnsinando comunidade: uma pedagogia da esperança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInterseccionalidades: pioneiras do feminismo negro brasileiro Nota: 5 de 5 estrelas5/5Em busca de novos caminhos críticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO segredo da alegria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #198: Gloria Anzaldúa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO sentido da liberdade: e outros diálogos difíceis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA invenção das mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um feminismo decolonial Nota: 3 de 5 estrelas3/5Maya Angelou - Poesia Completa Nota: 3 de 5 estrelas3/5Além da pele: repensar, refazer e reivindicar o corpo no capitalismo contemporâneo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Flores da Batalha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnsinando pensamento crítico: Sabedoria prática Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres quilombolas: Territórios de existências negras femininas Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Poesia para você
Eu tenho sérios poemas mentais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Alguma poesia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pra Você Que Sente Demais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Caos: poemas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Desculpe o exagero, mas não sei sentir pouco Nota: 5 de 5 estrelas5/5Emily Dickinson: Poemas de Amor Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Textos Para Serem Lidos Com O Coração Nota: 5 de 5 estrelas5/5Todas as flores que não te enviei Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sede de me beber inteira: Poemas Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Odisseia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTodas as dores de que me libertei. E sobrevivi. Nota: 5 de 5 estrelas5/5Antologia Poética Nota: 5 de 5 estrelas5/5Laços Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Profeta Nota: 5 de 5 estrelas5/5Meus Amores, Minhas Dores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAcreditar em mim é a minha única possibilidade de existir Nota: 5 de 5 estrelas5/5Me Chamaram de Louca Nota: 0 de 5 estrelas0 notaspequenas palavras Grandes Sentimentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Se você me entende, por favor me explica Nota: 5 de 5 estrelas5/5A DIVINA COMÉDIA - inferno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO amor vem depois Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para onde vai o amor? Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sentimento do mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstranherismo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Outras coisas que guardei pra mim Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs palavras voam Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poemas selecionados Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos Pornôs, Poesias Eróticas E Pensamentos. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEu me amo mesmo?: Histórias sobre virar você Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de Entre nós mesmas
4 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poemas viscerais e maravilhosos! Quero ler muito mais a Audre Lorde
Pré-visualização do livro
Entre nós mesmas - Audre Lorde
For Each of You
Be who you are and will be
learn to cherish
that boistrous Black Angel that drives you
up one day and down another
protecting the place where your power rises
running like hot blood
from the same source
as your pain.
When you are hungry
learn to eat
whatever sustains you
until morning
but do not be misled by details
simply because you live them.
Do not let your head deny
your hands
any memory of what passes through them
nor your eyes
nor your heart
everything can be useful
except what is wasteful
(you will need
to remember this when you are accused of destruction.)
Even when they are dangerous
examine the heart of those machines you hate
before you discard them
and never mourn the lack of their power
lest you be condemned
to relive them.
If you do not learn to hate
you will never be lonely
enough
to love easily
nor will you always be brave
although it does not grow any easier
Do not pretend to convenient beliefs
even when they are righteous
you will never be able to defend your city
while shouting.
Remember our sun
is not the most noteworthy star
only the nearest.
Respect whatever pain you bring back
from your dreaming
but do not look for new gods
in the sea
nor in any part of a rainbow
Each time you love
love as deeply
as if it were
forever
only nothing is
eternal.
Speak proudly to your children
where ever you may find them
tell them
you are the offspring of slaves
and your mother was
a princess
in darkness.
Para cada uma de vocês
Sejam quem são e serão
aprendam a celebrar
aquele Anjo Negro ruidoso que lhes guia
pelos altos e baixos dos dias
protegendo o lugar donde seu poder emerge
correndo feito sangue quente
da mesma fonte
que sua dor.
Quando sentirem fome
aprendam a comer
o que quer que dê sustância
até a manhã
mas não se deixem perder em detalhes
simplesmente porque vocês os vivem.
Não deixem sua mente negar
suas mãos
memória alguma do que passa por elas
nem seus olhos
nem seu coração
tudo pode ser usado
menos o que é inútil
(vocês precisarão
se lembrar disso quando forem acusadas de destruição.)
Mesmo quando forem perigosas
examinem o coração das máquinas que vocês odeiam
antes de descartá-las
e nunca lamentem sua falta de poder
pra que não condenem vocês
a revivê-las.
Se vocês não aprenderem a odiar
nunca ficarão sós
o bastante
para amar facilmente
tampouco serão sempre corajosas
embora isso tampouco brote fácil
Não finjam crenças convenientes
mesmo quando são justificadas
vocês nunca conseguirão defender sua cidade
enquanto gritam.
Lembrem-se que nosso sol
não é nem a estrela mais digna de menção
nem a mais próxima.
Respeitem qualquer dor que venha
dos seus sonhos
mas não procurem deuses novos
no mar
nem em qualquer parte de um arco-íris
Cada vez que amarem
amem tão fundo
como se fosse
para sempre
só que nada é
eterno.
Falem com suas crias orgulhosamente
onde quer que as encontrem
digam a elas
vocês descendem de escravizades¹
e sua mãe foi
uma princesa
na escuridão.
1 \ Opção da tradutora em usar o pronome neutro, com e
. Outros casos aparecerão no livro. (N.E.)
The Day They Eulogized Mahalia
The day they eulogized Mahalia
the echoes of her big voice were stilled
and the mourners found her
singing out from their sisters mouths
from their mothers toughness
from the funky dust in the corners
of sunday church pews
sweet and dry and simple
and that hated sunday morning fussed over feeling
the songs
singing out from their mothers toughness
would never threaten the lord’s retribution
any more.
Now she was safe
acceptable
that big Mahalia
Chicago turned all out
to show her that they cared
but her eyes were closed
And although Mahalia loved our music
nobody sang her favorite song
and while we talked about
what a hard life she had known
and wasn’t it too bad Sister Mahalia
didn’t have it easier
earlier
Six Black children
burned to death in a day care center
on the South Side
kept in a condemned house
for lack of funds
firemen found their bodies
like huddled lumps of charcoal
with silent mouths and eyes wide open.
Small and without song
six black children found a voice in flame
the day the city eulogized Mahalia.
O dia em que fizeram uma elegia a Mahalia
²
No dia em que fizeram uma elegia a Mahalia
os ecos de sua voz enorme se assentaram
e quem chorava a encontrou
cantando pela boca de suas irmãs
pela firmeza de suas mães
pela poeira dançando nos cantos
dos bancos dominicais da igreja
doce e seca e simples
e aquela manhã odiosa de domingo foi tomada por sentir
que as canções
cantadas da firmeza de suas mães
não ameaçariam a vingança do senhor
nunca mais.
Agora ela estava a salvo
aceitável
aquela Mahalia enorme
Chicago inteira se ergueu
para mostrar a ela que se importava
mas os olhos dela estavam fechados
E mesmo que Mahalia amasse nossa música
ninguém cantou sua canção favorita
e enquanto a gente comentava
que vida difícil ela teve
e que não foi tão mal Sister Mahalia
não ter sido fácil
mais cedo
Seis crianças negras
morreram queimadas numa creche
no South Side
mantida numa casa condenada
por falta de verba
bombeiros acharam seus corpos
feito pedaços amontoados de carvão
com bocas mudas e olhos bem abertos.
Pequenas e sem canção nenhuma
seis crianças negras acharam uma voz nas chamas
no dia em que a cidade fez uma elegia a Mahalia.
2 \ Mahalia Jackson (1911-1972) cantora negra estadunidense, conhecida como A rainha do gospel
, engajada nos movimentos pelos direitos civis. (N.E.)
Equinox
My daughter marks the day that spring begins.
I cannot celebrate spring without remembering
how the bodies of unborn children
bake in their mothers flesh like ovens
consecrated to the flame that eats them
lit by mobiloil and easternstandard
Unborn children in their blasted mothers
floating like small monuments
in an ocean of oil.
The year my daughter was born
DuBois died in Accra while I
marched into Washington
to a death knell of dreaming
which 250,000 others mistook for a hope
believing only Birmingham’s black children
were being pounded into mortar in churches
that year
some of us still thought
Vietnam was a suburb of Korea.
Then John Kennedy fell off the roof
of Southeast Asia
and shortly afterward my whole house burned down
with nobody in it
and on the following sunday my borrowed radio announced
that Malcolm was shot dead
and I ran to reread
all that he had written
because death was becoming such an excellent measure
of prophecy
As I read his words the dark mangled children
came streaming out of the atlas
Hanoi Angola Guinea-Bissau Mozambique Pnam-Phen
merged into Bedford-Stuyvesant and Hazelhurst Mississippi
haunting my New York tenement that terribly bright summer
while Detroit and Watts and San Francisco were burning
I lay awake in stifling Broadway nights afraid
for whoever was growing in my belly
and suppose it started earlier than planned
who would I trust to take care that my daughter
did not eat poisoned roaches
when I was gone?
If she did, it doesn’t matter
because I never knew it.
Today both children came home from school
talking about spring and peace
and I wonder if they will ever know it
I want to tell them that we have no right to spring
because our sisters and brothers are burning
because every year the oil grows thicker
and even the earth is crying
because Black is beautiful but currently
going out of style
that we must be very strong
and love each other
in order to go on