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26.12.16

Geringonçando



«A máquina está suficientemente bem oleada para que pouco mais oiçamos, em público, do que um ou outro arrufo sem grande significado. (…)

Hoje colamos nomes e rostos a esse esforço contínuo de concertação de posições políticas. Não é algo a que a política portuguesa estivesse habituada, pelo menos não nesta escala e entre partidos com posições tão afastadas em áreas-chave como a Europa ou a política de defesa, mas o diabo é que a coisa está a funcionar.

Já lá vão dois Orçamentos aprovados sem grande sobressalto, mais de um ano de governação sem qualquer ameaça séria à sobrevivência política do governo, mas há uma sombra que subsiste. É a mesma para o país e para a geringonça e, em boa verdade, pouco ou nada depende da vontade de socialistas, bloquistas, comunistas ou verdes. Continuamos descontraidamente estendidos, de pés esticados sobre uma mesa, em cima da bomba-relógio da dívida.

Por muitas voltas que Costa e Centeno deem, por muito lustro que consigam puxar ao défice público, o facto é que o ratio da dívida em relação ao PIB tem aumentado. É uma espécie de bola de ferro, pesadíssima, amarrada às pernas. Às do governo e às nossas. O serviço da dívida há de continuar a condicionar o crescimento da economia e a criação de emprego, o investimento e a confiança dos mercados. Teremos sempre o santo Draghi em quem confiar, mas nem um BCE hiperativo pode garantir, para lá de qualquer dúvida, uma travessia tranquila de 2017.»

Paulo Tavares

23.12.16

Perus versus TSU



Dantes, vendiam-se perus no Largo do Rato. Agora, o que está a dar é TSU. 
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TSU, TSU


Já disse no Facebook, repito aqui:

Quem desceu a TSU não foi a Geringonça, foi o governo que é só do PS; 
Quem desceu a TSU não foi a Geringonça, foi o governo que é só do PS; 
Quem desceu a TSU não foi a Geringonça, foi o governo que é só do PS; 
Quem desceu a TSU não foi a Geringonça, foi o governo que é só do PS.

Bloco vai submeter descida da TSU a debate no Parlamento.

PCP vai tentar travar descida da TSU para patrões no Parlamento.

21.12.16

Mariana Mortágua, «Figura do Ano na Economia»



«Mariana Mortágua foi eleita Figura do Ano na Economia pela redação do Observador. A deputada do Bloco representa a influência económica do BE e a viragem do PS à esquerda.»

Vale muito a pena ler esta entrevista
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19.12.16

Marcelo e a Cornucópia



Resta agora saber se Marcelo esquece e «passa à frente» (é o mais provável), ou se tira algum coelho da cartola. Talvez não lhe fizesse mal ficar mais tempo sossegado no palácio cor de rosa de Belém, em vez de andar por aí a espalhar ventanias e a criar confusões.


«O ministro da Cultura foi esta segunda-feira de manhã um dos intervenientes no Fórum que a TSF dedicou à situação do Teatro da Cornucópia, cuja extinção foi dada a conhecer na sexta-feira e que, 24 horas depois, naquele que fora anunciado como o seu espectáculo de despedida, viu o Presidente da República abrir uma janela para novas negociações.
Aos microfones da rádio, e contrariando o que parecia ser uma possibilidade depois da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa antes do recital de poesia deste sábado, Luís Filipe Castro Mendes garantiu que não é intenção do governo criar um estatuto de excepção para a companhia liderada pelo actor e encenador Luís Miguel Cintra.»


Esclarecimento do Teatro da Cornucópia (publicado esta tarde no Facebook)

Perante a lamentável confusão gerada nos órgãos de comunicação social pela inesperada visita do Senhor Presidente da República ao Teatro da Cornucópia, vemo-nos forçados a esclarecer a presente situação.

Ao longo dos muitos anos de dependência financeira do Estado, reivindicada como indispensável, várias vezes afirmámos em pedidos de subsídio e relatórios, que as verbas concedidas eram insuficientes para o projecto de, ao nosso modo, fazer teatro.

Quando essas mesmas verbas atribuídas para financiamento das estruturas sofreram sucessivos cortes e tendo elas há três anos chegado a um valor visivelmente insuficiente, vimo-nos obrigados a rever escolhas de programação e respectivas formas de produção, de modo a sempre viabilizar os nossos projectos. As co-produções bem como alguns apoios pontuais como os da CML e dos Amigos da Cornucópia, contribuíram para a sustentabilidade do funcionamento do Teatro da Cornucópia.

Antes do cumprimento do último ano do quadriénio a que estávamos vinculados, considerámos já a possibilidade de o não praticar, por considerar que era já difícil o seu pleno cumprimento. Mas insistimos em continuar. A evidência, porém, da situação limite das nossas possibilidades de assegurar, neste quadro de financiamento, o cumprimento de novos projectos e tal como dissemos na divulgação do espectáculo apresentado neste último sábado, considerámos como incontornável o fecho da empresa Teatro da Cornucópia.

Tinha já sido esta a decisão, anteriormente, comunicada informalmente ao Secretário de Estado da Cultura e que mais tarde foi a razão da reunião havida no fim de Outubro no Palácio da Ajuda, com a presença de uma representante da CML. Foi então por nós levantada a questão que se prende com a CASA, edifício excepcional que ocupamos e onde sempre trabalhámos. Com tudo que ele contém. Exprimindo um desejo de que pudesse ser aproveitado para fins culturais, não deixando que esse património viesse a constituir somente um valor capaz de colmatar indemnizações aos trabalhadores, a única dívida que a empresa que se extingue não tem porventura capacidade de resolver. Entendemos que de momento a intenção do Ministério é a de assegurar um ano de renda no sentido de se proceder a um inventário rigoroso do património.

Na véspera do passado Sábado (Recital Apollinaire e lançamento do segundo Livro do Teatro da Cornucópia/Espectáculos 2002-2016 e de um DVD) foi-nos comunicada a visita do Senhor Presidente da República, que, antes do espectáculo, queria inteirar-se da situação.

Desse momento, surgiu um tema que se prende com a questão de um estatuto de excepção para o Teatro da Cornucópia, capaz, talvez, de viabilizar a sua continuidade. Surgiu o equívoco de que poderíamos mudar de opinião. O que levou o Senhor Ministro da Cultura, também presente, a admitir que o tivéssemos feito. E parece não se ter restabelecido a única versão correcta que existe, porque infelizmente a dúvida já não se põe: o Teatro da Cornucópia acaba no princípio do ano, na realidade já acabou. Com a mudança do Governo, a situação não se alterou. Disse o Senhor Ministro que o assunto estava a ser acompanhado, estudado. Haverá por isso um próximo encontro com os representantes do Ministério da Cultura.

Não se tratará, portanto, agora de um estatuto de excepção, porque somos provavelmente excepção. A empresa dissolve-se nos próximos dias, dependendo apenas de procedimentos legais que terá de cumprir.

Às pessoas que elegemos para nos governarem e que se dispõem a ouvir-nos, não nos passa pela cabeça mentir. Para com eles, para com todos, mantivemos sempre as mais leais relações. Assim foi, assim será.

Pelo Teatro da Cornucópia,
Luis Miguel Cintra e Cristina Reis
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2.12.16

O PCP nos seus labirintos


Texto certamente polémico, aquele que Daniel Oliveira publica hoje no Expresso diário e aqui transcrito, mas que ajuda a pensar.

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29.11.16

A roleta russa de Domingues



«A nomeação da nova administração da CGD começou por ser feita como se António Domingues tivesse ido a um alfaiate requintado: queria um fato à sua medida e o artífice garantiu-lhe que nem pareceria mais anafado nem mais magro.

A fatiota mascararia qualquer imperfeição. Nada disso aconteceu. António Domingues sai de cena com um fato onde uma manga é mais comprida do que a outra e as calças se transformaram em calções. (…) Um banco público não é uma empresa privada. E a força política em Portugal tem mais músculo do que pareceres de doutas pessoas. António Domingues cai vítima das suas fragilidades: as que tinha e as que lhes juntou durante estas semanas. Nem o silêncio de declarações de rendimentos era de ouro, nem a sua alquimia permitia transformar uma entidade pública como a CGD numa outra qualquer. Marcelo e António Costa juntaram-se num desígnio: mostraram-lhe a porta do labirinto onde se tinha metido. (…)

As regras eram conhecidas. Alterá-las era subverter o espírito de um banco estatal que deve estar ao serviço da economia nacional e dos seus empresários. E não de jogos de bastidores impossíveis de escrutinar. Num cargo público não se pode nem deve usar uma incineradora para tranquilizar consciências. Por isso o resultado desta trapalhada na CGD é o enfraquecimento da democracia. No fim, António Domingues praticou um diletante exercício de roleta russa defronte dos portugueses. E não sai como um herói.»

Fernando Sobral

28.11.16

A união de interesses



«Num mundo que sonha com a mão invisível da economia, Marcelo Rebelo de Sousa é a mão visível que abana o berço onde o Governo comemora um ano de vida.

É o abono de família de António Costa e da sua grande aventura: ter ganho várias batalhas perdendo umas eleições legislativas. Costa, que as sondagens aplaudem, venceu a batalha das expectativas e das percepções. Criou uma fórmula de poder de que a aritmética pura desconfiava. E empurrou a oposição, especialmente o PSD de Passos Coelho, para um labirinto onde este se tem perdido com bravura da suicidária carga da Brigada Ligeira. (…)

É isso que Marcelo reconhece, quando louva a "estabilidade política", abraçando a coligação. O PR sabe que os frutos para qualquer mudança estão longe de estarem maduros. Este ainda não é o tempo de desavenças visíveis entre PS, BE e PCP. E o PSD precisa de mudar para ser um parceiro audível para uma mudança. António Costa sabe que o acordo à esquerda não é para arrogantes nem para humildes. E a impaciência deve ser gerida a contento. Fazer um acordo é compreender os limites do poder e fazê-lo compatível com os limites dos que acordam algo contigo. É esta estabilidade que foi possível e que tem conquistado os cidadãos. Há sombras no horizonte: sem investimento não haverá riqueza futura; sem contas públicas certas a fraqueza será sempre real; as ameaças externas são variadas, da Europa às agências de "rating". A união de interesses de Marcelo e Costa tem, a prazo, amarras fortes: a estabilidade política e o diabo comum, Passos Coelho. É suficiente.»

Fernando Sobral

27.11.16

A ilusão de uma ilha



«“Estamos em Portugal numa ilha de estabilidade. Quando olhamos para o que acontece no mundo, seja nos EUA ou na União Europeia (UE), onde a incerteza política é grande, olhamos para Portugal como um espaço de estabilidade.” A frase é de Pedro Nuno Santos. (…)

De facto, contrariando o que há doze meses parecia impossível, o Governo PS com o apoio parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) e do PCP não só tem conseguido sobreviver, como também promete durar mais muito mais do que a grande maioria dos portugueses acreditaria. (…)

Ultrapassou-se a fatalidade do “centrão”, provocando ressentimentos e crispações entre uma direita manifestamente mal preparada para digerir a contrariedade de não ter obtido a maioria absoluta e de ser empurrada para a oposição por uma inesperada convergência parlamentar maioritária. (…)

Mas a “ilha de estabilidade” portuguesa confronta-se, sobretudo, com a ilusão de vivermos num mundo fechado às contingências externas, quando estas se acentuam cada vez mais no plano global e, em particular, europeu. Até quando poderá Portugal contar com a “compreensão” da UE para os nossos problemas orçamentais e a insustentável dívida que nunca conseguiremos pagar nas actuais condições? Ou até que ponto Angela Merkel, a única líder europeia com dimensão para enfrentar o choque do isolacionismo americano, será capaz de responder aos desafios que o desconcerto da Europa e o Diktat financeiro germânico provocaram na coesão e solidariedade da UE? Não, não vivemos numa ilha.»

Vicente Jorge Silva
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5.11.16

Degradação da política e do Estado



José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«O conflito entre a maioria dos partidos parlamentares e da opinião pública e António Domingues e os novos administradores da Caixa Geral de Depósitos e as demissões causadas nos governos (neste e no anterior) pelos falsos títulos académicos são eventos com causas próximas. O seu ponto em comum é a contínua degradação da política e do pessoal político, em complemento e em simbiose com a degradação do Estado nas suas componentes políticas, profissionais e técnicas. É o resultado de processos de demagogia, alimentados por uma opinião pública e uma comunicação social populistas, e por uma deterioração acentuada dos grandes partidos, em particular do PSD e PS, com mecanismos oligopólicos, e a crescente importância de carreiras pseudoprofissionalizadas, que se fazem dentro dos partidos por critérios que pouco têm que ver com a seriedade, o mérito, a capacidade política, profissional e técnica, tendo mais que ver com fidelidades e intrigas de grupo e com o acesso ao poder do Estado por via do poder partidário. (…)

O Estado deveria ter na sua administração capacidade técnica e profissional de primeira água, juristas, mecânicos, jardineiros, gestores, administradores hospitalares, técnicos fiscais, polícias, carpinteiros, especialistas em finanças e em mercados, deveria pagar salários compatíveis e promover carreiras de mérito com critérios de exigência. Esse é o ideal burocrático que substituiu na Europa as hierarquias de nascimento ou o inventário das “almas mortas” do livro de Gogol, mas que em Portugal ainda não arrancou de uma cultura de cunhas e patrocinato. Daí, “em baixo”, os boys e, “em cima”, os tecnocratas relutantes, muitas vezes desprovidos do mínimo senso político e noção de serviço público, condição para assumirem funções num Estado democrático.

O caso da nova administração da CGD é exemplar de todos estes equívocos. Toda a gente já percebeu que o acordo feito entre o ministro das Finanças e os quadros bancários que entendeu recrutar para a Caixa passava pela manutenção ou mesmo melhoria dos altos salários que já recebiam, e pela isenção da categoria de gestores públicos, numa lei feita à medida, incluindo a desobrigação de apresentação de declarações de património. Foi tudo mal feito, porque o ministro muito provavelmente prometeu isenções que não são legais e os candidatos a administradores pediram um estatuto de privilégio inaceitável em quem vai trabalhar para o Estado e, por muito que não queiram sujar as suas impolutas mãos com essa coisa menor da política, em cargos que têm uma forte componente política.

O seu objectivo não pode ser apenas tornar a CGD “competitiva” com a banca privada, como hoje se repete por todo o lado para justificar os seus salários. Não. É suposto que a CGD tenha também funções em relação à economia portuguesa que não se esgotam nessa “competitividade” e podem até prejudicá-la de algum modo. A CGD é pública por uma decisão política, como política era a intenção do PSD de a privatizar, e só tem sentido como banco do Estado se tiver funções distintas da banca em geral, incluindo alguma regulação indirecta do sector. Isso não significa, como é óbvio, que seja mal gerida ou que se continuem os desmandos cometidos por comissários políticos, cujo papel no agravamento dos problemas da Caixa não pode ser esquecido. Que esta administração rompa com essa época só pode ser saudado, mas isso não lhe dá carta-branca para se comportar como está a comportar-se. (…)

Caem-lhes os parentes na lama se neste contexto tiverem obrigações de transparência e tiverem de ver os seus barcos e casas numa declaração? É incómodo ter estes dados atirados à rua e às “redes sociais” para gáudio de um público sedento de “espiolhar” os ricos e que só acha bem que os jogadores de futebol ganhem fortunas? (…)

Coloquem na rua os boys que falsificam as declarações e não os mudem apenas de emprego para outro lugar de confiança política, e peçam aos senhores administradores da CGD que cumpram a lei. Se há mudanças a fazer de modo a que certos dados das declarações possam ser confidenciais, embora conhecidos do tribunal, procedam em consequência na Assembleia da República, não para estes homens em particular mas para todos. Se isto acontecesse, poderia sair-se desta confusão ainda com vantagem e melhoria para o país, mas a continuar assim, vai acabar tudo mal.» 
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30.10.16

A insustentável leveza de António Costa



«No momento em que escrevo, o suspense que paira sobre a novela da Caixa Geral de Depósitos (CGD) não tem ainda o seu desfecho anunciado. Mas o pedregulho que o Governo tem no sapato já não lhe permite enfiar o pé sem deixar uma fractura exposta. Assim, um caso que deveria ser claramente secundário face à importância dos desafios que se colocam a António Costa e à sua equipa acabou por afectar seriamente a credibilidade política e ética do executivo.

A insustentável leveza com que o primeiro-ministro foi gerindo os percalços da nomeação da nova administração da CGD – deixando à rédea solta o seu ministro das Finanças e a já proverbial inabilidade que demonstrou em vários episódios – ameaça pôr em causa a imagem e a coerência de procedimentos que se esperaria de um Governo apostado em devolver esperança e justiça aos portugueses depois dos funestos tempos da troika. (…)

Temos, pois, o Governo isolado pela primeira vez, à esquerda e à direita, depois de um processo tortuoso e marcado por um inexplicável amadorismo, com o Ministério das Finanças crescentemente refém das exigências e regalias reivindicadas por António Domingues. O banqueiro passou assim da vice-presidência do BPI – onde não consta que tenha brilhado por uma genialidade ímpar, a não ser aos olhos de Mário Centeno… – para um estatuto régio que lhe permitiu, numa audição parlamentar, escusar-se a uma auditoria pretendida pelo Governo à anterior gestão da CGD. Aliás, durante esse processo fora notório o clientelismo selectivo de Domingues na escolha dos numerosos administradores não executivos, bem típico do Bloco Central, e que se expôs a uma humilhante reprovação do BCE devido à acumulação de cargos desses administradores noutras instituições ou à sua duvidosa competência bancária.

Que acontecerá agora? Ou Domingues renuncia ao cargo, ou o Governo corre o risco de ser desautorizado no Parlamento – e a história terá de voltar ao início, com todas as consequências desastrosas para a recuperação do banco público já mergulhado num pesadelo financeiro que os portugueses serão chamados a pagar por um preço ainda mais estratosférico do que aquele já anunciado. E que custará, por acréscimo, uma perda grave do capital de confiança e respeitabilidade do Governo.»

26.10.16

Gestores que não nos envergonhem



«Um dos argumentos que tem sido avançado por alguns comentadores para justificar o elevado salário de António Domingues como presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos (423 mil euros por ano + prémios) tem sido o de que, se se pagar bem a um gestor, é menos provável que ele roube e, se lhe pagarmos muito bem, é muito menos provável que ele roube.

O pagamento de um salário elevado seria assim, essencialmente, não uma forma de compensar competências extraordinárias e muito menos uma forma de premiar resultados excepcionais, mas uma espécie de acção preventiva de racket… mas exactamente com o mesmo efeito do racket propriamente dito: pagar à cabeça a alguém para evitar os dissabores que esse alguém pode vir a causar caso não receba o pagamento. (…)

Nada indica que os salários elevados previnam os eventuais desvios à lei e à moral, tal como nada sugere que pagar salários menos principescos aos gestores promova o seu comportamento criminoso. E, mesmo que assim fosse, não seria de bom conselho que a República se vergasse à chantagem.

Posto isto, as razões em geral invocadas para justificar os salários de luxo de alguns gestores públicos são a justa retribuição de uma elevadíssima competência e a referência do mercado.

Penso que os salários pagos aos políticos deveriam ser mais elevados (ainda que o momento actual não seja propício nem para esse debate nem para adoptar essa medida) mas, mesmo assim, por razões de mercado a que não podemos fugir, acho aceitável que os salários dos gestores públicos excedam os dos políticos. O que me parece imprescindível é que os limites sejam claramente definidos no Estatuto do Gestor Público em vez da existência do actual subterfúgio, que define uma excepção que acaba por abranger praticamente todos os casos.

E o que me parece fundamental na nomeação de gestores públicos é que a escolha recaia não só sobre pessoas competentes mas sobre pessoas que reconhecem e assumem o papel específico de serviço público dessa função - e não são apenas seduzidos pelos salários de luxo. O que é preocupante no caso de António Domingues não é o facto de ter exigido o mesmo salário que auferia no BPI, mas o facto de ter exigido esse salário não para ficar a ganhar o mesmo que ganhava antes mas para o somar àquela que será a sua pensão de reformado do BPI.

As empresas públicas exigem gestores com maior abnegação e um grau superior de compromisso com a causa pública. Gestores de que nos possamos orgulhar e que não nos envergonhem.»

25.10.16

Tudo bons rapazes



«A lei proposta pelo Governo e apoiada pelo PS é inaceitável, já que exclui os gestores do Estatuto do Gestor Público e retira qualquer limitação aos salários. Mas a anterior lei do PSD não resolvia o problema: os gestores podiam receber a média dos últimos três anos. Ou seja, se Mexia fosse contratado para a Caixa, a lei do PSD permitia que viesse a receber 2,5 milhões por ano.»
Mariana Mortágua
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24.10.16

CGD: Tudo legal, mais do que legal



Nós é que somos mesquinhos. E parvos também.
(Eu ainda sou do tempo em que existiam sindicatos bancários.)


«Ao salário mensal de 30 mil euros como presidente da CGD, António Domingues vai poder juntar a partir de Janeiro a pensão a que tem direito pelos descontos efectuados ao longo da carreira contributiva no BPI.»

Além disso: o Decreto-Lei n.º 39/2016, de 28 de Julho, isenta os administradores da CGD de um série de deveres dos gestores públicos.
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20.10.16

Geringonça 2.0



«A direita não perde uma oportunidade para afirmar que continuamos em austeridade. "À la esquerda", como gosta de dizer Assunção Cristas. Não se entende o argumento. Estamos a falar dos mesmos partidos, PSD e CDS, que aplicaram a austeridade quando foram Governo e a queriam prolongar caso vencessem as eleições. Para a direita, a austeridade é coisa boa. O empobrecimento é uma solução para o país. A crítica não faz por isso sentido. A menos que se refira ao "tipo" de austeridade. Ou seja, à la esquerda tira-se alguma coisa aos ricos para dar aos pobres, à la direita tira-se aos pobres para dar aos ricos. Deve ser isso. (…)

Mais decisiva para a situação atual é a opção europeia de atacar os défices públicos de forma a salvar os prejuízos privados. Ainda recentemente, numa entrevista, o Presidente Obama afirmou que as políticas de austeridade estão na origem do fraco crescimento na Europa. Nos Estados Unidos, aplicou-se com sucesso a receita oposta, isto é, investimento público.

A incongruência da posição europeia está à vista nas consequências imediatas, não há aliás nenhum país europeu que esteja bem, nem a Alemanha, ainda mais numa perspetiva futura. A extraordinária evolução tecnológica das últimas décadas abre todos os dias novos e promissores campos por explorar. Com uma Europa estagnada, o grosso dos investimentos na inovação estão a ser feitos nos Estados Unidos e na Ásia. A Europa perdeu a corrida da internet, da robótica, da impressão 3D, dos carros elétricos, da inteligência artificial. O Velho Continente não lidera nenhuma revolução tecnológica. E, no entanto, temos excelentes cientistas, gente extremamente criativa, uma juventude com elevada formação. Faltam investidores. (…)

Num cenário tão hostil, pressionado por uma Europa política e economicamente retrógrada e, por outro lado, por um país empobrecido a solicitar mais e mais despesa, o Governo de António Costa tem conseguido um surpreendente equilíbrio. Impossível sem a posição solidária dos partidos à sua esquerda que têm dado uma notável lição social e política face a uma direita cada vez mais radical e destrutiva.

Acertadas as contas falta agora cumprir o futuro. Veremos se em 2017 a geringonça consegue ir além da reposição de rendimentos. Até porque sem um "upgrade" o acordo à esquerda arrisca a perder-se nas trapalhadas do dia a dia.»

Leonel Moura

19.10.16

Legisla-se para sermos modernaços?




E não só: «A lista de locais ao pé dos quais passa a ser proibido fumar é extensa e abrange ainda “estabelecimentos de ensino, independentemente da idade dos alunos e do grau de escolaridade, incluindo, nomeadamente, salas de aula, de estudo, de professores e de reuniões, bibliotecas, ginásios, átrios e corredores, bares, restaurantes, cantinas, refeitórios, espaços de recreio e áreas ao ar livre situadas junto às portas ou janelas dos respetivos edifícios”.»

Cinco metros? O que se pretende é que as pessoas atravessem a rua para poderem fumar? Ou passem a deitar as beatas para o chão, não usando os cinzeiros que muitas dessas instituições colocaram no exterior das fachadas? Os carros também têm de passar a cinco metros para não poluírem pulmões? Legisla-se proibições só porque sim ou entrámos no mundo do simbólico para sermos modernaços? 
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