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Tênue e Paralelo

Chapter 17: Décimo Sétimo

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Yuta estava novamente sem ir às aulas por dias. Ele olhava para o celular e via as mensagens de seus amigos se acumularem, via o número de Sicheng ali, e não fazia nada. Ele não saia da cama, não comia, não fazia nada. Apenas se remoía por algo que tinha sido inteiramente sua culpa. No fundo, Yuta sabia que ficar inerte não o ajudaria em nada a sair daquela situação, e que adiar as coisas não serviria de nada, mas não conseguia fazer diferente.

Ele sabia que em algum momento Taeyong iria aparecer na porta do seu apartamento, demandando que Yuta falasse consigo. Sabia que alguma hora sua mãe iria notar que ele não trocava de roupa desde terça-feira e falaria algo. Ainda assim, Yuta esperava por um milagre: passar despercebido a ponto de ser capaz de desaparecer por completo.

Seu milagre nunca se concretizou, pois na quinta-feira depois das aulas acabarem Taeyong se materializou no batente de Yuta. Ele tocou a campainha vezes o suficiente para que Yuta não tivesse escolha senão levantar e abrir a porta, porque o barulho estava o deixando mais maluco do que o normal.

— Yuta. — Taeyong disse, com uma voz que transbordava preocupação. — Posso entrar?

— Já que você já me encheu o saco o suficiente, de que adianta eu negar? — Ele resmungou, abrindo espaço para o amigo.

Taeyong trancou a porta e o seguiu até seu quarto em completo silêncio. Yuta não estava nem um pouco a fim de conversar, mas sentia que não tinha escolha. Taeyong costumava respeitar seu tempo e ter uma paciência de Jó, mas em alguns momentos encurralava Yuta de uma maneira que só ele conseguia.

Ele se jogou de volta na cama e deixou Taeyong parado em pé; eles tinham intimidade o suficiente para que seu amigo soubesse onde sentar, e se ele decidiu ficar em pé que nem um espantalho, problema dele. Yuta estendeu o braço até a mesa de cabeceira e pegou um dos cigarros de palha e o isqueiro. Acendeu o cigarro e largou o isqueiro na cama mesmo, deitando enquanto dava o primeiro trago.

— O que aconteceu, Yuta? Você ‘tá mais estranho do que o normal.

Yuta suspirou, sem saber por onde começar.

— Eu quase bati no Seungmin e acho que o Sicheng nunca mais vai olhar ‘pra minha cara por causa disso.

Taeyong ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada. Yuta tragou novamente.

— Ele veio me cobrar, o Seungmin. Falou umas coisas muito tortas, e de cara eu saquei que ele ‘tava com ciúmes. E aí ele disse que eu não me importava com ninguém, nem com você, e eu simplesmente perdi a linha, sabe? Tipo, quem caralhos ele pensa que é ‘pra falar isso ‘pra mim? Eu nunca fiz nada contra ele, e eu quero ser amigo do Sicheng, de verdade. Eu não ‘tô usando ele. Eu gosto dele. — Ele passou a mão pelos cabelos. — E aí eu catei ele pelo colarinho e ia descer a porrada nele, mas o Sicheng apareceu.

— Mas isso não é sobre o Seungmin, é? — Taeyong perguntou, finalmente se sentando na beirada da cama. — Esse seu distanciamento, não é sobre ele. Talvez seja sobre o Sicheng, mas eu acho que se fosse só isso você já teria se desculpado com ele.

— Às vezes você me tira do sério, sabia? Com essa sua mania de fuxicar na minha vida.

— Você ‘tá falando isso porque ‘tá irritado, então eu não vou levar ‘pro pessoal. — Taeyong sorriu. — Além do mais, você faz a mesmíssima coisa.

Yuta revirou os olhos.

— Eu não gosto disso. — Ele disse. — Do fato de que a minha raiva é tão grande que eu não consigo controlar e aí eu explodo e ataco as pessoas. Eu não quero ser que nem o Jae, eu não quero que as pessoas tenham medo de mim. Eu gosto que elas tenham um pé atrás porque assim me deixam em paz, mas eu não quero ser visto como alguém ruim.

— Você sabe que o Jae tem um problema, né? Tipo, de verdade?

— Eu sei, Tae. — Ele respirou fundo. — Eu ‘tô com medo de eu ter um também. Parece, sei lá, parece que tem alguma coisa de errado comigo. Não acho que alguém normal reagiria do jeito que eu reagi.

— Não mesmo. — Taeyong concordou. — Mas e aí? O que tem de errado? Eu também tenho um problema, e você me encorajou a buscar ajuda.

— Não é a mesma coisa. — Yuta deu um trago longo no palheiro. — Você sabe que não é, Tae. Você só se prejudica, mas eu machuco os outros. Você é o resultado do mundo exterior, e eu causo os problemas.

— E você genuinamente acha que você não é resultado de alguma coisa, Yuta?

— Não justifica.

— Não, — Taeyong disse. — mas explica. Você não é algum vilão maligno, Yuta, você é um garoto com coisas demais na cabeça que precisa de um lugar ‘pra colocar isso ‘pra fora. Você não confia no Jae e no Johnny ‘pra isso, você não confia em mim ‘pra isso, você não confia na sua mãe ‘pra isso. E aí, Yuta? O que você imagina que vai acontecer com esses sentimentos acumulados?

— Eles vão explodir. — Ele suspirou. — E vão explodir na pessoa errada, ainda por cima.

— Exatamente. E se você não quer que isso se repita, você precisa tomar uma atitude.

— Eu sei.

Houve silêncio no quarto, e Taeyong se aproximou, tirando o palheiro da mão de Yuta para dar um trago.

— Ficar fumando compulsivamente não vai resolver isso, ‘tá? — Taeyong apontou. — Você se interessou pelo Sicheng porque tinha alguma coisa para além das aparências de errado com ele, e você é igual, Yuta. Você acha que o Sicheng vai parar de surtar sozinho?

— Não.

— Ele precisa de ajuda, não precisa?

Yuta fechou os olhos.

— Precisa.

— Então. — Taeyong colocou o cigarro no cinzeiro que ficava na mesa de cabeceira. — O que te faz achar que você não precisa?

— É diferente… o Sicheng não é o problema, ele é a consequência.

— E o que eu ‘tô dizendo é que você também é. Só porque os seus problemas se manifestam de uma maneira diferente não significa que eles são inválidos, Yuta. Só que a partir do momento que você sabe que tem alguma coisa de errado e que você ‘tá afetando os outros e você não faz nada, você é o problema. E eu não acredito que esse seja o seu caso, porque eu te conheço bem demais e sei que você não é essa pessoa horrível que você acha que é. Você só precisa de ajuda. A questão é: você vai aceitar ou não?

Yuta não respondeu. Ele observou o palheiro lentamente se apagar no cinzeiro e pensou que precisava limpar aquilo. Taeyong sabia como mexer consigo como ninguém; como ele mesmo disse, ele conhecia Yuta. Ele era quem mais sabia da vida pessoal de Yuta. Eles eram bons amigos e se entendiam sem precisar falar. Mas às vezes — às vezes Yuta precisava escutar.

— O que você sugere, sabichão? — Ele disse, tentando aliviar o clima.

— Você precisa de terapia. — Taeyong falou, objetivo. — Tipo, urgentemente. Acho que essa foi a conversa mais íntima que eu tive contigo a respeito da sua vida, e isso é preocupante.

— Não é assim, também.

— É sim, você é introvertido ‘pra cacete. E não revire os olhos ‘pra mim, senhor Nakamoto.

— ‘Tá bom, ‘tá bom.

— E quem sabe uma psiquiatra. — Taeyong continuou. — Sabe, o Jae foi encaminhado ‘pra uma terapeuta e depois ‘pra uma psiquiatra porque a escola ‘tava preocupada com o quão agressivo ele era.

— Ele melhorou muito.

— Melhorou, mas não o bastante, porque ele fez tipo duas consultas e disse ‘pros pais que ‘tava tranquilo quando não ‘tava.

— Mas os pais do Jae são os pais do Jae, você não pode dar muito crédito ‘pra eles.

— Eu sei. O que eu quero dizer, Yuta, é que você precisa levar isso a sério. Eu te ajudo a achar alguém ‘pra te atender, mas você tem que, sabe, se abrir. Senão não adianta nada.

— Eu sei disso, Tae. Eu quero mudar, mais do que ninguém. Mas é assustador.

— Claro que é. — Taeyong deu um meio sorriso. — Mas às vezes mudança é algo necessário. Enfim, mudando de assunto, porque, novamente, precisamos de mudança, você vai na festa da Jennie Kim?
— Não sei. O Sicheng que me chamou e duvido que ele vá querer me ver agora.

— Talvez, mas é um bom cenário ‘pra vocês conversarem. Ele vai se sentir seguro cercado de gente, e você pode vazar na hora que quiser. Pode soltar a bomba e sair correndo.

— Que bomba?

O sorriso de Taeyong se alargou.

— Que você gosta dele, ué.

As sobrancelhas de Yuta se arquearam e ele arregalou os olhos. Taeyong estava na sua cola havia um tempo já, mas ele não imaginava que o amigo seria tão direto assim. Ele sentiu seu rosto esquentar, vergonha se apossando de si e o distraindo da conversa sentimental que tinha acabado de ter.

— O que- o quê?

— Ah, Yuta, não se faz de sonso. — Foi a vez de Taeyong revirar os olhos. — Você é tudo, menos discreto. E eu sou seu melhor amigo. E sua ex paixão, então eu sei ler os sinais.

— Eu não gosto dele. — Yuta disse, mas nem mesmo ele acreditava nas próprias palavras. — Quer dizer, eu gosto, eu acho, eu não sei, é difícil.

— Você gosta. — Taeyong afirmou. — Gosta muito, ‘tá escrito na sua cara.

— Não importa. Não importa, porque ele não gosta de mim.

— Será?

— Tae, eu quase bati no melhor amigo dele.

— Mas não bateu.

— Mas eu ia.

— Mas não bateu.

— Esse não é o ponto. — Yuta estendeu a mão para pegar outro cigarro de palha. — O ponto é que ele deve me odiar agora.

— E aí entra a sua chance de ter uma redenção. — Taeyong disse, como se fosse fácil. — Você bebe um cadinho, pede desculpas, se explica e de quebra confessa seus sentimentos.

— ‘Tá, vamos partir do pressuposto que ele vai me perdoar, o que não é muito provável. O que te faz pensar que o Sicheng iria gostar de mim de volta?

— Só o fato de ele continuar falando com você já é sinal o bastante. — Ele explicou. — Você é um sujeitinho complicado com um senso de humor desprezível e uma curiosidade insaciável. Se ele não te deu um tapa na cara até agora, você tem chances.

— Eu acho que ele é hétero, de qualquer forma. — Yuta deu de ombros. — É uma causa perdida, Tae, não adianta.

— Não sei, viu. Causa perdida é o Johnny gostando do Jae, você ainda tem chances.

— Então você também reparou neles?

— Quem não reparou? — Taeyong disse, como se a situação toda fosse óbvia demais. — O dia que o Jae decidir se contentar com uma pessoa só, o mundo acaba.

O resto da tarde se passou com os dois fofocando sobre as pessoas da escola, dividindo cigarros de palha deitados na cama de Yuta. Foi bom de um jeito que os últimos rolês não tinham sido. Yuta se sentia muito mais leve tendo conversado com Taeyong, ainda mais com a promessa de que o amigo falaria com sua terapeuta para arranjar uma para Yuta. Ele não tinha a menor ideia de como traria a ideia à sua mãe, mas sabia que ela não o julgaria. Ela era boa demais para isso.

Taeyong partiu por volta das seis da tarde, sem saber sobre as feridas escondidas no braço de Yuta. Essa foi a única coisa que ele não conseguiu confessar para o amigo. Taeyong sabia do pai de Yuta, sabia do complexo de inferioridade que ele tinha por não ser lá um aluno muito bom, e agora sabia de Sicheng. Mas aquele novo segredo, aquela explosão de ausência total de controle, aquilo pertencia a Yuta e Yuta apenas.

Ele finalmente respondeu Johnny e Jaehyun, dizendo que estava sem pique para ir para as aulas. Eles entenderam, é claro, e Johnny perguntou se ele ia mesmo na festa de Jennie — Taeyong tinha o contado que Yuta talvez fosse. Yuta ficou de o responder mais tarde, porque não era capaz de tomar aquela decisão naquele momento.

Na manhã seguinte, Yuta acordou duas horas depois de seu despertador tocar. Ele tinha decidido que não iria novamente para a aula, e lidaria com as consequências depois. Ele sabia que não era capaz de olhar Sicheng no rosto — ao menos, não sóbrio.

Sentado na mesa da cozinha, tomando seu café, Yuta decidiu que iria naquela maldita festa e resolveria a situação de uma vez por todas. Iria pedir desculpas para Sicheng, e se ele não aceitasse, se contentaria com seus três amigos de sempre. Ele sentia um peso em seu peito pensando naquilo, porque sabia que as chances de ser perdoado eram baixíssimas, mas não importava. Ele preferia a rejeição do que a incerteza, afinal de contas.

Informou Johnny que iria para a festa e falou para o amigo vir da escola para sua casa, para que fizessem hora por lá e então partissem juntos. Johnny disse que traria cerveja, para que eles pudessem “iniciar os trabalhos” cedo.

A semana de provas começaria na segunda-feira e desde domingo Yuta não tinha estudado. Não era novidade, claro, mas o trazia desgosto considerando o quão dedicado ele estava nas últimas semanas. Ele sabia que se garantia em Literatura, História e Química, e tinha estudado Biologia com os amigos no final de semana. O resto, no entanto, era uma grande incógnita. Decidiu que iria dar uma revisada em Física para passar o tempo enquanto Johnny não chegava.

Yuta se manteve distraído por três horas com seu livro de Física e suas anotações. Ele não gostava de estudar, definitivamente, mas conseguia focar quando queria e isso o ajudou bastante a fazer os exercícios e compreender os conceitos que precisava. Ele só se levantou da cama quando o interfone tocou, anunciando que Johnny havia chegado.

Ele abriu a porta e esperou o amigo encostado no batente. Johnny chegou com um engradado de cerveja e um sorriso caloroso.

— Bom te ver vivo e inteiro. — Johnny disse, enquanto colocava as cervejas na geladeira. — Você apareceu todo estranho em casa e depois desapareceu, eu fiquei preocupado, cara.

— Desculpa, não era a minha intenção te preocupar.

— Relaxa. — Ele pegou uma lata para si e foi para o sofá, sentando-se lá. — ‘Tá animado ‘pras provas? A gente teve revisão de Matemática hoje e eu nunca contemplei tanto meu suicídio.

Yuta riu e se sentou ao lado do amigo, estendendo o braço em sua direção para que ele lhe passasse a cerveja.

— Deve ter sido horrível mesmo. — Ele deu um gole. — Eu ‘tava estudando Física agora, e ‘tava igualmente insuportável.

— A Jiwoo deu revisão hoje também, mas não foi tão maçante assim. Foi a parte teórica só.

— É a melhor parte. Se fosse só teoria, eu passava sem nem precisar estudar.

— É porque você é um nerdola em pele de delinquente. — Johnny disse, sorrindo. — Aí fica fácil. Reles mortais como eu tem que suar horrores ‘pra conseguir uma nota razoável.

— Você manda bem em Sociologia, Johnny. E Inglês.

— Eu morei fora, né, se eu não mandasse bem seria ridículo. E as aulas da Hyejin são fáceis, elas só são expositivas demais.

— Nem me fala. — Yuta devolveu a cerveja. — Eu quase durmo assim que ela começa a falar.

Johnny concordou e bebeu um pouco.

— Nós temos muitas horas até a festa começar. Você planeja estudar ou a gente pode assistir alguma coisa?

— Eu não quero estudar mais nada hoje. ‘Bora ver JoJo’s?

— ‘Bora.

Yuta ligou a televisão e colocou o primeiro episódio da segunda parte para passar. As horas foram se passando uma atrás da outra, com eles dividindo cervejas e cigarros e se divertindo com o anime. Quando deu cerca de seis horas da tarde, Yuta decidiu que era melhor tomar um banho e se arrumar.

Debaixo do chuveiro, ele começou a pensar em Sicheng e no que diria para ele. Sabia que o ideal era começar com um pedido de desculpas objetivo e sincero, mas não fazia a menor ideia de como prosseguir. Tudo dependia de como Sicheng reagiria, claro, e também de se ele sequer se dignaria a ouvir Yuta. Só de pensar que existia a possibilidade de Sicheng simplesmente voltar a ignorá-lo, Yuta sentia vontade de vomitar.

Ele foi se arrumar enquanto Johnny tomava banho; colocou uma blusa de manga comprida, óbvio, e um jeans largo. Foi a primeira vez em muito tempo que ele se pegou pensando se estava apresentável o bastante para sair de casa, e ele quis acreditar que isso não tinha nada a ver com a insistência de Taeyong para que ele se declarasse.

Quando Johnny terminou de se vestir, eles saíram do apartamento e foram caminhando até o ponto de ônibus da esquina. Jennie morava consideravelmente longe, então eles deveriam chegar lá pelas sete e meia, quando a festa ainda estaria começando. Yuta teria tempo o bastante para beber e mudar de ideia, caso quisesse.

Quando estavam na terceira parada, Johnny tirou os olhos do celular e encarou Yuta.

— Você vai falar com o Sicheng?

— Por que a curiosidade? — Ele respondeu, tentando se fazer de desentendido.

— Porque eu sei que você gosta dele. E você quase nunca gosta de alguém, então eu fico interessado ‘pra saber no que vai dar.

— Você devia cuidar da sua própria vida amorosa, sabia?

— Yuta. — Johnny disse em um suspiro triste. — Minha vida amorosa é um desastre. Eu sei disso, você sabe disso, todo mundo sabe disso. Agora a sua? A sua é um mistério, e eu aprendi com o Taeyong a apreciar isso.

Yuta revirou os olhos.

— Eu vou tentar falar com ele. A gente, bom, a gente não ‘tá exatamente se falando no momento.

Johnny ergueu uma das sobrancelhas e Yuta respirou fundo. Ele explicou para o amigo o incidente com Seungmin, sem, no entanto, se estender em como se sentia a respeito e em toda a conversa que teve com Taeyong no dia anterior. Johnny parecia ficar mais surpreso a cada palavra que escutava.

— De todas as pessoas na escola que não vão com a sua cara, eu nunca imaginei que seria justo o Seungmin que iria te cobrar. — Johnny disse. — Eu pensei no Jongho, no Junhoe, até na Lalisa, mas o Seungmin? Ele é tão, sei lá, pamonha. Nunca pensei que ele tinha essa coragem dentro dele.

— Não é coragem, é estupidez. É ciúme, na real. Como se eu tivesse roubando o Sicheng dele.

— Você meio que ‘tá, Yuta.

— Não ‘tô não. Já disse, se o Sicheng preferia ficar comigo ao invés dos outros amigos dele, isso não é problema meu.

— Se você diz…

Eles passaram o resto do trajeto em silêncio, descendo enfim no ponto que precisavam para chegar até a casa de Jennie. Johnny acendeu um cigarro enquanto caminhavam pelas ruas praticamente desertas do bairro residencial, e ofereceu um trago para Yuta. Eles fumaram ainda sem dizer nada, apenas trocando olhares, como se soubessem que havia ali um assunto que precisava ser discutido.

Quando foram se aproximando da casa, começaram a escutar o som alto da música eletrônica. Yuta sentiu um nervosismo estranho, algo que beirava o medo, mas não disse nada. Deixou que Johnny tocasse a campainha e ficou plantado ao lado do amigo, sem se pronunciar.

A porta foi aberta por Lalisa, que pareceu um tanto confusa ao ver Yuta, mas apenas deu de ombros e deixou os garotos entrarem. Eles subiram uma rampa, que levava ao enorme jardim de Jennie, onde a festa estava acontecendo. Johnny foi em direção à churrasqueira, que era o bar improvisado, e Yuta foi atrás. Precisava de algo bem forte.

Eles se serviram de um shot de vodka cada e brindaram antes de virarem tudo garganta abaixo. Johnny pegou uma cerveja e Yuta encheu o copo de shot de novo, seguindo o amigo, que parecia ter algum lugar em mente. Eles atravessaram a multidão de corpos dançantes e se sentaram na beira da piscina, onde também estavam Han Jisung e Hwang Hyunjin, dividindo um baseado. Jisung acenou para eles e Johnny sorriu de volta; Yuta apenas fez um aceno de cabeça e enfiou a mão no bolso da calça em busca de seu maço de cigarros de palha.

Ele observou Lee Felix se aproximar dos outros garotos, sentando-se também na beira da piscina, e então voltou a olhar a multidão. Reconheceu Bobby, conversando em um canto com Hanbin, e alguns garotos do primeiro ano que eram amigos de Mark. Jongho estava lá, de papo com Jungwoo, e Renjun estava sentado no gramado, com os olhos grudados no celular. Sicheng não estava em lugar algum.
Yuta suspirou e virou seu segundo shot, deixando o copinho ao seu lado ao terminar. Ele deu um trago no palheiro e assoprou a fumaça na cara de Johnny apenas para incomodá-lo.

— Só é sexy quando o Jaehyun faz isso, Yuta.

— Que nojo. — Ele fingiu que iria vomitar.

— Não fala nada, você ‘tá caidinho pelo Sicheng, então você é igualmente nojento.

— Mas eu respeito ele, Johnny, então eu nunca sopraria fumaça na cara dele.

— Respeita tanto que quase desceu o melhor amigo dele no soco. — Johnny disse e Yuta ficou sério. — Desculpa, cedo demais?

— Um pouco. — Ele admitiu. — Foi a primeira vez que eu me senti mal de bater em alguém, sabe?

— Sei. — Johnny deu um gole em sua cerveja e então olhou para a rampa de onde eles tinham vindo. — Falando nisso…

Yuta acompanhou o olhar do amigo e viu Yuqi, Seungmin e, é claro, Sicheng entrarem na festa. Ele respirou fundo. Seria uma noite longa, para o bem ou para o mal.

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