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- 37 titles
- DirectorCharles WaltersStarsLeslie CaronMel FerrerJean-Pierre AumontAn orphaned young woman becomes part of a puppet act and forms a relationship with the anti-social puppeteer.[Mov 06 IMDB 7,1/10] {Video/@@@}
LILI
(Lili, 1953)
''Uma jovem órfã francesa é adotada por um circo, quando fica sozinha em uma cidade e acaba se apaixonando pelo mágico, que a vê apenas como uma menina." (Filmow)
26*1954 Oscar / 11*1954 Globo / 1953 Pala de Cannes
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Diretor: Charles Waters
2.034 users / 202 face
Check-Ins 26
Date 12/07/2012 Poster - ##### - DirectorStanley KubrickStarsJames MasonShelley WintersSue LyonA middle-aged college professor becomes infatuated with a 14-year-old girl.[Mov 10 Fav IMDB 7,7/10 {Video/@@@@@}
LOLITA
(Lolita, 1962) Obra Prima
"Segundo consta, o filme fracassou por causa da censura da época. Hum-um, sei." (Demetrius Caesar)
"Ousado em seu tempo, é um filme exemplar, até hoje, sobre o desejo e suas consequências." (Marcelo Leme)
O desejo rendido às sutilezas.
"Há um desejo manifesto no olhar do homem sobre aquele corpo feminino de biquíni estirado sobre a grama e celebrado pelo sol. É um vislumbre erótico inofensivo, enraizado no prazer reprimido por tratar-se de uma jovem em sua adolescência, lasciva em suas atitudes e impudica em seus olhares inclementes. Lolita é um marco na carreira de um dos cineastas mais aclamados pelo público e pela crítica, Stanley Kubrick. Aqui ele disseca a obra literária homônima de Vladimir Nabokov – também responsável pelo roteiro – e constitui um clássico econômico sobre o desejo carnal, assunto que atingiria plenitude em seu último trabalho, o suspense enigmático De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999). "Lolita" é considerado um clássico muito mais pela discussão que o envolveu. Um advento que negaria os bons costumes do cinema ainda tímido com relação ao sexo lá no início da década de 60. Cenas de sexo ficaram na sala de edição. A forma branda retratada parece dissonante as propostas de outros filmes do diretor, o que hoje causa certo estranhamento e receio. Kubrick teve o roteiro de seu projeto visivelmente castrado. Já era demasiado divergente segundo o próprio Nabokov. Mas é preciso entender o viés de adaptação e o desconforto temático: a realização e as possíveis questionáveis limitações da obra precisam ser compreendidas a partir do contexto que fora feito. O ato inicial aturde a memória. Algo se passou num passado até então inacessado. A memória fundamenta o arrependimento do que se fez. Esse é um drama intuitivo até quando adentramos de vez na vida de seu protagonista, o professor Humbert Humbert, que surge na cidade de Ramsdale para depois viajar pelo país e lecionar francês. As circunstâncias engolem o desejo desse homem interessado na beleza da jovem Dolores, nossa Lolita, que ganha às curvas da atriz Sue Lyon. É na casa dela que ele vai morar de favor, e, para não mais ir embora, casa-se com sua mãe, a viúva Charlotte Haze, encantada com a postura intelectual do docente. Desenha-se aí um romance como potencial tragédia. Fica na sugestão. Diferente de suas obras anteriores – Spartacus (idem, 1960) havia sido seu último trabalho –, o diretor reside num ponto de ebulição urbana, buscando compreender o núcleo de relações familiares, a acidez entre mãe e filha, incapazes de assumirem suas funções. Nesse âmbito, alguns assuntos se repetem como alusão: o homicídio, conforme retratado em A Morte Passou por Perto (Killer's Kiss, 1955) e o estupro, visto em Medo e Desejo (Fear and Desire, 1953). Aqui se acentua a polêmica em torno de uma menor. Com essa oportunidade, a polêmica torna-se atrativa e apimenta a narrativa. Fica distante da proposta original. Na refilmagem de 1997, o inglês Adrian Lyne tentou realizar com maior fidelidade. E fez. Terminou pouco interessante. Nas intenções o filme se enterra. Mas enternece nas várias sugestões dos desejos de Humbert que não consegue realizá-los. A impossibilidade de colocar em cena os assuntos correntes devido a polêmica que os estúdios não gostariam de tratar transformam o filme numa narração velada, quase que em tom de fábula, acerca do prazer proibido. Sobram incitações desenvolvidas ao longo da longuíssima duração. A adaptação ficara enxuta apesar das quase 3 horas. Marca-se a impossibilidade de elucidações em benefício da trama: tudo acontece as escondidas, as percepções e vontades são inacessíveis. Traduz-se, então, de maneira mais contida, o dialogo final entre Tom Cruise e Nicole Kidman lá em De olhos bem fechados. Moralmente, o filme se segura abrindo margem para a função do humor que ridiculariza suas próprias restrições. Um estímulo para o gás de sua próxima obra, Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964). Devido à censura imposta pelo Código Hays, vigente à época, o filme às vezes parece enroscado, engessado. Isso dá uma conotação diferenciada ao protagonista, que fica preso em suas ambições românticas. Não poderiam aceitar o lançamento de um filme cujo conteúdo destacasse o relacionamento entre um homem bem mais velho com uma adolescente, ainda mais com cunho sexual. O sexo interfere de diferentes maneiras em Lolita, pois fica tão reprimido quanto a própria obra. Resta ao espectador frente à ebulição cobiçosa dos intérpretes tornarem-se voyeurs de um desejo latente. É de certo modo provocativo. O preto e branco utilizado pelo diretor optou deixou a obra ainda mais luxuosa e obscurecida, frente às pretensões escondidas de seus personagens, todos com bastante tempo em cena, ganhando maior importância pelas mãos do próprio Nabokov, que roteirizou o filme. O trabalho rendeu-lhe uma indicação para o Oscar. A preocupação com a linguagem é notável, a clareza das situações intricadas são sólidas, resultado do investimento do roteiro que, cumprido, manifesta com precisão os temores do desejo. Os atores tiveram material para desenvolver seus bons personagens fazendo-os inteligíveis e verdadeiramente relevantes. O Clare Quilty de Peter Sellers inspira bons momentos e ações nessa trama burlesca e admiravelmente sutil. Fica a conduta do diretor, seus planos centrais e abertos caracterizam o espaço, até quando seus breves movimentos de câmera apresentam seus personagens como pedaços que visam um todo. O desejo parte das formas, dos membros, dos gestos. Isso é contemplativo por parte de Kubrick. Ele nos mostra de uma maneira mais ampla, um tanto diferente da ótica do personagem central. Esse viés atmosférico implanta um idealismo romântico, pois sugere e deixa as sugestões em aberto, como num misterioso caso o qual não sabemos se será concretizado. É nessas minúcias que a narrativa tange, saindo de um suspense inicial para um drama particular para enfim transformar-se num romance abarrotado de tiradas intransigentemente cômicas, ou cínicas. É a percepção de um diretor visionário que usou as limitações a favor." (Marcelo Leme)
“Lolita”?...Com certeza um bom cinéfilo já ouviu falar nesse filme!...E que Stanley Kubrick é um gênio, não é novidade pra ninguém! E nessa adaptação do romance de Vladimir Nabokov, é a prova viva de que ele é Extraordinário!! A maneira como o diretor explora a obsessão sexual do personagem de James Mason pela jovem Lolita (Sue Lyon) é inebriante de se ver. Na trama, James Mason é o escritor Humbert, que se casa por conveniência com Charlotte Haze (Shelley Winters), por estar apaixonado pela sua encantadora filha Lolita, de quem ele gosta e quer manter sempre por perto. E Peter Sellers é Clare Quilty, seu perseguidor infatigável. Kubrick parece ter colocado um alucinógeno na bebida do personagem de James Mason. E o que mais impressiona é como a obsessão pode chegar ao ponto de cometer atos tão perversos e antiéticos. É realmente incrível! Do mesmo modo que o espectador fica obcecado em ver Humbert e Lolita juntos. Mason e Sellers estão ótimos em seus papéis. O filme é uma mistura de drama e suspense com um toque de humor negro; magnífico do começo ao fim, com atuações maravilhosas e diálogos envolventes. Enfim, quem gosta de cinema não deve deixar de ver esse grande sucesso do mestre Kubrick. Imperdível!!" (Mario Zaparoli)
"Além de ser um ícone para o cinema de uma forma geral, Stanley Kubrick foi fundamental para quebrar paradigmas nos anos sessenta – quando havia um regresso no conservadorismo (um princípio) do cinema, mas poucos tinham coragem para encarar isso (não por coincidência Kubrick é o herói dos revolucionários anos setenta). Ainda assim, quando fez ''Lolita” (ainda estava colhendo os frutos de sua obra-prima Glória Feira de Sangue e do complicado Spartacus teve inúmeras interferências por conta da censura da época, para lidar com um tema espinhoso: a pedofilia, que ainda era um tabu indiscutível, adaptado de um livro que causou polêmica e perturbou a ala tradicionalista e de preservação de valores dos Estados Unidos. Não por coincidência o protagonista é um europeu na América. É difícil avaliar “Lolita” como uma visão de Kubrick sobre aquela história tortuosa e delicada, uma vez que acabou tendo que multilar o filme para conseguir se adequar as exigências ultraconversadoras que ainda tinha uma frente resistente (a violência já era permitida, mas a sexualidade encontrava problemas nos Estados Unidos, diferente da Europa). E parece que desse aspecto que surgiu a verdadeira essência de “Lolita”, o filme: uma obra que para ser o que gostaria, precisou trabalhar com sub entendimentos e pressupostos, e ora também, um tanto quanto humoristicamente escapista, para ter alguma substancialidade, uma vez que se fosse cumprir e cobrir o filme com todas as camadas do notório conto da jovem adolescente que mexe com a mente de um professor intelectual, seria impedido de ser distribuído. Por conta disso, toda a relação entre Lolita e o professor acaba sendo feita por cenas e situações que são cuidadosamente sutis. Em uma das cenas mais sugestivas e sexuais do filme, Lolita fala ao pé do ouvido do professor coisas das quais não temos conhecimentos, mas que numa simples troca de diálogos enigmáticos – fica o entendimento da brincadeira de criança que a jovem sugere e mexe com a libido do professor. Kubrick corta a cena, mas na tomada seguinte já em outro ambiente (no caso dentro do carro), faz uma continuação da sequência anterior para complementar à informação – demonstrando que o ato foi consumado, e dessa forma, sublinha a mútua relação e intensidade sexual entre os personagens. Kubrick tinha uma bomba nas mãos, mas não tinha o estopim para conseguir fazer proveito total dos recursos que tinha. Ou seja, havia sua competência (técnica e intelectual), por outro lado, tinha também uma corda amarrada que lhe segurava – lhe prendia e criava uma delimitação em forma de camisa-de-força, para tornar seu filme permitido. A ousadia em colocar tudo subentendido, escondido sutilmente nas cenas, é um ponto positivo, certamente. Mas “Lolita”, para ser preenchido, ter sua essência – precisaria de um algo mais (imagens, intensidade na relação, aprofundamento do desejo carnal) que jamais é encontrado no filme de forma assertiva (talvez, somente levemente em um diálogo do Peter Sellers quando descreve os atributos da garota), que por conta disso, acaba prolongando demais sua narrativa em mais de 150 minutos (precisa retomar e explicar demais as coisas em texto, por ter limitações quando se trata de imagens). Em outros momentos podemos até pensar sobre o questionável humor utilizado pelo filme, que pode ser visto como uma ironia, um tom de sarcasmo justamente pelo o que não está na diegese – todo esse contexto que foi construída a obra (ou seja, pensamos nos bastidores para compreender elementos da obra). Porém, avaliando tudo o que está no filme – seu tema espinhoso e sua profunda analise psíquica (desde a obsessão do professor, até os recursos visivelmente manipulativos da garota), o pastelão funciona muito mal, desviando o espectador de toda a essência e substancia da narrativa, criando uma desconexão entre aonde quer chegar e o que fazer para chegar até lá (por exemplo, quando eles estão em um dos quartos do hotel e não vão dormir na mesma cama, o professor de forma estabanada monta a cama, e depois que monta, ele deita e ela quebra). “Lolita” é polêmica certeira, pois seu próprio tema já é por si só autoimportante, e Kubrick por mais gênio, brilhante e não se contentasse em se esconder por trás de seus temas, mas sim, utilizava-os com precisão para criar abordagens e discussões intensas, ricas e cinematograficamente impecáveis, não conseguiu sair das amarras, o que culminou em um filme morno, que peca na parte humorística (deslocada, não faz parte daquele cenário), e que não chega há lugar nenhum desde a concepção e desenvolvimento da narrativa, até os aspectos técnicos que tanto marcaram a carreira desse brilhante autor. Porém, “Lolita” tem isolados momentos de genialidade e construção de cenas (quando a então esposa conta para o professor que irá colocar Lolita em um internato, ele fecha a expressão e diz que está com uma linha de pensamento na cabeça, ela pergunta se ela está nesse pensamento”, e em um enquadramento, Kubrick focaliza a arma e o professor pensamento, revelando o desejo dele em assassiná-la) – e isso já torna o filme obrigatório." (Henrique Miura)
35*1963 Oscar / 20*1963 Globo / 1962 Lion Veneza
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Seven Arts Productions
A.A. Productions Ltd.
Anya
Harris-Kubrick Productions
Transworld Pictures
Diretor: Stanley Kubrick
52.289 users / 3.147 face
Check-Ins 27
Date 13/07/2012 Poster - ########## - DirectorDheeraj AkolkarStarsLiv UllmannIngmar BergmanSamuel FrölerThe 42 year long relationship between legendary actress Liv Ullmann and master filmmaker Ingmar Bergman.[Mov 10 Fav IMDB 7,2/10] {Video/@@@@@} M/74
LIV & IGMAR - UMA HISTÓRIA DE AMOR
(Liv & Ingmar, 2012)
''Nostálgico como sou, sempre me solidarizei diante das estrelas de cinema. Afinal, ter um passado de sucesso, conhecer inúmeras pessoas em anos de carreira e, com o passar do tempo, observar a morte, a distância e a idade chegando é um trabalho árduo. Ainda por cima, ter registrado para a eternidade toda essa glória só faz com que se aflore tal sentimento de que, sim, somos frutos de um passado que vai se rendendo rapidamente ao inevitável futuro. Assim, retratar o universo que uniu o cineasta sueco Ingmar Bergman (ícone de retratos profundos da natureza e relação humanas) seria uma aposta arriscada. Porém, o desconhecido cineasta indiano Dheeraj Akolkar transformou a ideia em uma bela história de amor e decidiu contar a relação entre Bergman e sua grande musa, a atriz e diretora norueguesa Liv Ullmann. Assim, nasce “Liv & Ingmar – Uma História de Amor” que, em apenas 83 minutos, tenta esmiuçar esta intensa relação que durou quatro décadas e marcou para sempre a vida de ambos e a história do cinema. Em 1966, Ingmar Bergman e Liv Ullmann (que já havia trabalhado em outros sete filmes pouco conhecidos do grande público), iniciou sua amizade com o já consagrado cineasta de longas como Morangos Silvestres e O Sétimo Selo. Ele, aos 46 anos e ela, aos 25, logo criaram uma relação de amizade, amor ao cinema e que não tardou a se transformar em uma grande paixão. Eu chorava de admiração simplesmente por vê-lo, declara Liv Ullmann sem qualquer receio em um de seus depoimentos. Hoje, aos 74 anos, Liv, cuja beleza doce e sensual de lábios carnudos do passado deu lugar a uma adorável senhora de olhos ainda profundamente azuis e uma sensibilidade intocável, narra os momentos mais marcantes de seu convívio com Bergman, considerado um dos grandes gênios do século 20. É inegável sua contribuição para o cinema por expor as ânsias da psique humana, em filmes carregados de beleza, dor e silêncios. Juntos, desde a estreia em 1966 com Quando Duas Mulheres Pecam, firmaram uma parceria em outros dez filmes, como A Paixão de Ana, Gritos e Sussurros, Cenas de um Casamento, Sonata de Outono e Saraband que, em 2003, encerrou a parceria. Quatro anos depois, em julho de 2007, aos 89 anos, Bergman morre, deixando um legado de suma importância, que faz escola e até hoje é dissecado por inúmeros estudiosos por conta da profundidade de suas temáticas. Narrado pela própria Liv Ullmann em seus depoimentos, “Liv & Ingmar – Uma História de Amor” pontua o convívio dos dois, desde o início, desenrolando-se como uma relação profissional e desembocando no romance, que durou cinco anos. Porém, mesmo com o fim da relação, ambos continuaram trabalhando juntos (com sete filmes realizados após o término do casamento) e uma relação de amizade emocionante que jamais poderia ser desfeita. Dividido em curtos capítulos (Amor, Solidão, Raiva, Dor, Saudade e Amizade), o documentário é entremeado por cenas dos próprios filmes que fizeram juntos, com uma intertextualidade impecável. Unidos pelo cinema, podemos ver transbordar nas telas os diálogos do Bergman roteirista na boca de seus personagens, revelando nas entrelinhas o sabor agridoce desta relação com Liv, que complementam ainda mais a narrativa da história dos dois. Isso sem contar a curiosa nostalgia de cenas de bastidores, fotos e cartas que enviou à amada e amiga.Mesmo para quem não conhece a fundo a relação, o longa já anuncia em seu prólogo uma sinceridade e intensidade tocantes, bem ao estilo do mundo mágico criado por Bergman em suas películas. Na costa da Noruega, a lendária atriz revisita os paradisíacos lugares que fizeram a história de ambos, com uma fotografia tão impecável que chega a dar contornos oníricos a tais locais. Carregado de mistério, silêncios e uma trilha intimista (todos elementos de Bergman), “Liv & Ingmar – Uma História de Amor” é feito para emocionar. E consegue, com os louros de não ofender o espectador pelo choro fácil. Revivendo a juventude, Liv relembra amigos que já se foram, bem como o homem que mudou sua vida. Assim, entramos no universo de uma época que vemos apenas nos longas: seja nos flagras de bastidores dos cinegrafistas, seja nos depoimentos precisos da atriz que pontua, além de fatos, sensações e momentos a dois inéditos para o grande público. Descobrimos, então, um Ingmar Bergman profundamente romântico, mas sempre com uma forte carga de melancolia: isso que sinto é um pouco como o inferno; quase romântico, diz uma de suas cartas endereçadas a Liv. Desta paixão avassaladora (ambos já eram casados e causaram furor na sociedade quando Liv engravidou do cineasta), nasceu a escritora e jornalista Linn Ullmann. Liv, ainda, declara o temperamento inseguro e possessivo de Bergman, que colocou uma grande pedra na relação dos dois quando amantes. Assim, sem acabar e sim durando o tempo que tinha que durar, somos apresentados à relação de dois seres humanos carentes de formas díspares, lidando com um sentimento que nasceu da própria solidão que ambos sofriam. E diante de uma conexão espiritual incontrolável, “Liv & Ingmar – Uma História de Amor” vai, entre constantes fade in e fade out, desvendando a intimidade dessas declarações por meio de fotografias, vídeos, cartas e lembranças com um ritmo lento e sempre cadente, mas que jamais se perde. Expondo todas as amarguras de conviver com um gênio (do universo próprio e mergulho em seu trabalho que lhe ausentava por diversos momentos à violência psicológica), Liv Ullmann jamais perde o bom humor. Da risada alta e espontânea, o documentário é um retrato poético de uma história real (tal qual, guardadas as devidas diferenças e proporções, pudemos acompanhar no documentário José e Pilar, sobre a relação entre o finado escritor português José Saramago e sua esposa Pilar Del Río). Tal relação de Liv e Bergman se refletia nas atitudes dele diante da parceira em seus filmes, inclusive, na própria atuação de Liv que, já infeliz e com raiva, transmitia para suas personagens seu estado de espírito. Porém, a atriz, que o conhecia tão profundamente, jamais deixou que o temperamento por ora obscuro de Bergman influenciasse, além do permitido, na relação dos dois. Afinal, como o cineasta insistia em dizer, estávamos dolorosamente conectados. E, quase 50 anos depois do primeiro encontro, tal ligação parece ter somente se fortificado com o passar dos anos. Imperdível." (Léo Freitas)
{As vezes, sentimos saudades e nem sabemos o quanto} (ESKS)
''No livro O Cinema Segundo Bergman (Paz & Terra), o mestre sueco conta como conheceu Liv Ullmann. Bibi Andersson havia sido contratada para fazer um filme chamado Os Canibais (depois se tornaria A Hora do Lobo) e ele havia encontrado um grupo de atores noruegueses que visitava Estocolmo. Entre eles, uma moça bastante interessante. Preciso escrever um papel para ela, disse para si mesmo. A moça era Liv. Ela se tornou amiga de Bibi Andersson, Bergman as observa e pensa: Como são parecidas. Nascia a ideia de Persona (1966) que, entre outras qualidades, tem a de ser a primeira colaboração artística entre Liv Ullmann e Ingmar Bergman. Essa trajetória em comum – na vida como na arte – é o tema do belo documentário Liv & Ingmar – Uma História de Amor, de Dheeraj Akolkar. O filme é um longo depoimento da agora madura Liv Ullmann, falando do seu companheiro de vida e filmes. Mantiveram um casamento tumultuado, como seria de se esperar dada a época em que conviveram e seus respectivos temperamentos. Tiveram uma filha, Linn, e trabalharam juntos em nada menos que dez longas-metragens. Não são filmes comuns. Podem ser qualificados, com uma exceção, em escala que vai do excelente à obra-prima, sem qualquer extravagância valorativa por parte do crítico. Na dúvida, basta lembrar os títulos: Persona (1966), Vergonha (1968), A Hora do Lobo(1968), A Paixão de Ana (1969), Gritos e Sussurros (1972), Cenas de Um Casamento(1973), Face a Face (1976), O Ovo da Serpente (1977), Sonata de Outono (1978) eSaraband (2003). A exceção é O Ovo da Serpente, tido como um Bergman menor, embora pelos padrões de hoje possa ser considerado até brilhante. O fato é que Bergman encontrou em Liv seu instrumento precioso. O belo rosto da norueguesa expressa, como nenhum outro, o conflito interno de que se compõe o imaginário do diretor. Suas personagens são dilaceradas como a Elizabet Vogler, dePersona, ou Alma Borg, de A Hora do Lobo. Podem ser oprimidas como a Marianne deCenas de Um Casamento, ou Eva, de Sonata de Outono. Mas nunca são passivas. Guardam força interna, angustiada, que a câmera capta. Liv Ullmann e Ingmar Bergman passaram juntos a vida, ou apenas alguns anos? Depende do ponto de vista. O casamento não durou tanto, embora tenha deixado uma filha, Linn. Já a colaboração artística vai de Persona (1966) a Saraband (2003), canto do cisne do mestre, que morreria em 2007. Nada menos de 37 anos! Quase quatro décadas, que acompanharam as mutações de um dos maiores cineastas de todos os tempos. Com exceção da sua primeira fase, Liv acompanha Bergman ao longo de toda a sua evolução como cineasta, da exasperação artística e existencial dos anos 60 à calma melancólica dos últimos trabalhos. Em especial Saraband, reencontro da agora envelhecida dupla de Cenas de Um Casamento, Liv e Erland Josephson. Da união real, ficamos sabendo pelo filme de Dheeraj Akolkar que não se deu sem tumultos. Muito pelo contrário. Liv lembra-se de que trabalhou com Bergman emPersona, e voltou grávida para a Noruega. Bergman pediu-lhe que viesse viver com ele. Liv hesitava. Era jovem, tinha 28 anos, e Ingmar, 48. Vinte anos de diferença. Ele propôs um filme, Os Canibais, e, sedutor, falou: Se não quer viver comigo, vamos pelo menos trabalhar juntos. Ela não resistiu ao canto de sereia e saiu de sua ilha em direção à Suécia. Para filmar Os Canibais, agora rebatizado de A Hora do Lobo. E para viver com Bergman. Na entrevista, Liv se recorda de que a vida diária com Bergman nada tinha de fácil, embora estivesse completamente apaixonada por ele. A começar pelas filmagens de A Hora do Lobo, talvez o filme mais assustador assinado por Bergman. Não seria exagerado defini-lo como um radical horror movie, com seus personagens principais, Johan (Max Von Sydow) e sua esposa grávida, Alma (Liv), retirados em uma ilha. No isolamento, Johan é atormentado por fantasmas e demônios do seu passado, que assumem um ar assustadoramente real. “Talvez não fosse o melhor papel para ser interpretado por uma mulher grávida de seu primeiro filho”, considera Liv, em outra entrevista. De qualquer forma, aterrorizada ou não, Liv sente-se em perfeita sintonia com a assustada Alma. Essa crueldade talvez fosse a percepção de Bergman de que a arte por vezes exige uma certa rudeza e não se conforma aos bons modos. “Queimar os móveis da casa para manter a sala aquecida para a modelo”, conforme a conhecida metáfora de Freud sobre os inevitáveis sacrifícios exigidos pela arte. A obra compensa tudo e pauta-se por outra ordem de consideração que não a moral ordinária do dia a dia. De outra filmagem – a de Vergonha - de novo ambientada em uma ilha, desta vez visitada não por fantasmas e demônios, mas por refugiados de guerra, Liv também guarda a lembrança de dificuldades. “Max Von Sydow e eu interpretávamos em um barco, no gélido mar do inverno sueco, tremendo de frio com poucas roupas. De outro barco, Bergman com sua câmera nos filmava, muitíssimo bem agasalhado!”, lembra, com o humor que permite a distância no tempo. O problema não era apenas as condições radicais de filmagem de um diretor muito rigoroso. Entre um trabalho e outro, Bergman gostava de ficar em sua casa em Farö, isolado do mundo, pensando em roteiros cada vez mais complexos. Liv sentia nostalgia da vida social. De alguma vida social, pelo menos. Bergman trancava-se em seu escritório, pensava, escrevia e ouvia música clássica, enquanto a mulher se sentia solitária, em companhia apenas de um cãozinho que trouxera da Noruega e do qual Bergman tentara em vão se livrar. As palavras de Liv não soam como queixas ao longo do documentário. São apenas constatação das dificuldades de viver com um gênio que precisa da solidão como de um alimento básico para poder criar. Além disso, a hoje madura Liv Ullmann é bem consciente dos seus sentimentos de outrora. Eu estava completamente em paz, grávida de um homem que eu amava. Mas acrescenta: Deveria ter aprendido a lição de A Hora do Lobo, a de que quando você convive com alguém que não está em paz consigo mesmo, pode ter também a sua paz roubada. Não devia ser fácil mesmo. Mas o fato é que a ligação entre os dois se estabeleceu por toda a vida. Mesmo depois de separados, continuaram a se falar com frequência e a se ver sempre que possível. E, claro, a trabalhar juntos. Liv Ullmann, apesar de ter atuado sob direção de outros cineastas, e ter dirigido ela mesma os próprios filmes, sabia que a ligação artística com Bergman era um privilégio e tanto. Da parte dele, Bergman era consciente de que havia encontrado uma parceira preciosa, cujo rosto se amoldava com perfeição ao turbilhão de sentimentos contraditórios que desejava expressar. E que também se submetia sem pestanejar aos seus desejos. Bergman tolerava pouca improvisação, diz Liv. Exigia submissão total. Tanto que ficou famoso o bastidor da filmagem de Sonata de Outono, no qual a veterana Ingrid Bergman interpreta a mãe concertista de Liv. Ingrid não gosta de um diálogo e diz que não vai dizê-lo. E ponto. Ingmar teve de engolir e aceitar. Nunca vi isso num set de Bergman, recorda Liv. Portanto, toda vez que se falar sobre este belo Liv & Ingmar será preciso lembrar a frase de Bergman que define a relação artística mantida com Liv. Ela se queixa a ele de que, a cada vez que dá uma entrevista, não fala de si mesma e sim dele, Bergman. O cineasta a conforta: Não se preocupe com isso, você sempre foi o meu Stradivarius. O instrumento perfeito, que vibra todas as emoções sentidas pelo mestre, das intensas às mais sutis. ''Liv & Ingmar – Uma História de Amor'', de Dheeraj Akolkar, tem desses momentos de emoção genuína. É bom ouvir Liv porque se trata de uma pessoa franca, madura e serena, que procura reviver as coisas como elas de fato foram, e não de maneira idealizada. Havia a dureza da vida a dois, que não pôde ser suportada por muito tempo, pois não se pode atribuir a Bergman um temperamento dócil. E, depois, a exigência da parceria artística, também muito intensa e árdua, porém, recompensadora. Liv sabe que entra para a história do cinema como a atriz preferida de um dos maiores mestres dessa arte. Não é pouca coisa, não." (Luiz Zanin)
Top Noruega #4
Top Suécia #38
NordicStories
Svensk Filmindustri
Sveriges Television (SVT)
Vardo Films
Vardo Films
Diretor: Dheeraj Akolkar
686 users / 1.113 face
Check-Ins 567 6 Metacritic
Date 18/05/2014 Poster - ########## - DirectorRob EpsteinJeffrey FriedmanStarsAmanda SeyfriedPeter SarsgaardSharon StoneThe story of Linda Lovelace, who is used and abused by the porn industry at the behest of her coercive husband before taking control of her life.[Mov 05 IMDB 6,2/10] {Video/@@@} M/51
LOVELACE
(Lovelace, 2013)Sinopse
''Linda Lovelace foi a protagonista do clássico do gênero pornô "Garganta Profunda". Seu relacionamento com os maridos Chuck Traynor e Larry Marchiano e o modo como lidava com o súbito estrelato, até abandonar de vez o cinema erótico.''
"Segue a estrutura tradicional da cinebiografia, focando mais em seu relacionamento conturbado com o marido do que na pseudo-carreira no cinema. Não é tão ousado quanto poder-se-ia imaginar." (Alexandre Koball)
"A história é interessantíssima, de fato, mas faltou capricho na hora de contar a história. É tudo muito vago e superficial." (Rafael W. Oliveira)
''Linda Lovelace entrou para a história do cinema em 1972, ao protagonizar Garganta Profunda, primeiro filme pornô a fazer sucesso em grandes salas de exibição nos EUA - até então, o gênero era confinado em ambientes menores. "Lovelace" conta a história dessa garota bonita e meio gordinha, que ganhou seu papel mais famoso por suas habilidades na prática do sexo oral. Ela virou estrela pornô, mas fez apenas mais dois filmes depois do estouro de Garanta Profunda. A cinebiografia que passa na TV, feita em 2013, tem no papel título uma esforçada Amanda Seyfried (de Os Miseráveis) e mostra a vida conturbada de Linda antes e depois da fama. Ela morreu em 2002, aos 52 anos, em um acidente de carro." (Thales de Menezes)
"O princípio de Jean Renoir, segundo o qual não existem maus atores, mas maus personagens, aplica-se bem a Linda Lovelace, ao menos tal como é vista em "Lovelace". A atriz de Garganta Profunda tornou-se uma celebridade instantânea em vista do filme, mas o que sua biografia explora são, apenas, o que se poderia chamar de "circunstâncias atenuantes". Ou seja, a ideia é de que Lovelace está sempre sendo julgada. E, no caso, o filme se empenha em mostrá-la como boa moça que caiu nas mãos da bandidagem. Digamos que seja: o espectador no fim pergunta-se: e daí?" (* Inácio Araujo *)
''A história de "Lovelace"pode ser descrita como a de uma mudança de tom. De início, o que nos mostra é uma jovem razoavelmente ingênua, porém aberta às experiências que a vida tem a oferecer –como em geral eram as garotas na época. É essa moça que o marido introduz no universo pornô dos anos 1970, de onde ela sairá poucos dias depois como um dos maiores fenômenos de bilheteria, talvez de todos os tempos. À parte isso, existe a vida em geral: o mundo do pornô, com seu machismo; um marido que a explora de todos os modos possíveis; a incapacidade da sociedade em compreender não o mito, mas a pessoa de que ele deriva –o que é bem diferente. A progressiva mudança de tom marca essa cinebiografia de Linda Lovelace. Não é um filme genial, mas justamente o oposto daquilo a que normalmente se associa o pornô: digno. '' (** Inácio Araujo **)
Filme de Rob Epstein e Jeffrey Friedman apresenta visão censurada, mas emocionalmente coerente da atriz de Garganta Profunta.
''A inocente menina sardenta de uma família conservadora se transforma no símbolo da emancipação feminina e da revolução sexual dos anos 70. A história de Linda Lovelace seria um conto de fadas da indústria pornô, mas a vida da atriz de Garganta Profunda se revelou um drama pesado, abarrotado de passagens chocantes. Pelo roteiro de Andy Bellin, Rob Epstein e Jeffrey Friedman misturam o glamour e as desgraças da trajetória de ''Lovelace'', em uma narrativa que recria emocionalmente a sua biografia. A primeira parte do longa mostra a sua entrada na pornografia, incentivada pelo marido, Chuck Traynor, e os louros da fama - como o apoio de Hugh Hafner e o encontro com celebridades. O segundo ato preenche as lacunas, revelando a presença abusiva do marido durante todo o processo da transformação de Linda Susan Boreman em Lovelace. O formato exprime perfeitamente a descrença sofrida por Linda, quando ela assume o sobrenome do seu segundo marido, Larry Marchiano, e decide contar sua história em Ordeal (Provação em português). Mesmo que tivesse passando por um detector de mentiras, era difícil acreditar que a musa de um dos filmes pornográficos mais conhecidos e lucrativos da história fosse uma vítima. Pelas páginas do livro, contudo, o símbolo do amor livre revela uma vida de abusos e humilhação, sendo submetida pelo próprio marido a atos execráveis, devidamente filmados em oito milímetros. Epstei e Friedman, porém, tocam apenas na superfície, em nenhum momento explorando a violência e o conteúdo sexualmente explicito da realidade do seu tema. Assim como em Uivo (2010), que rendeu uma excelente performance de James Franco como Allen Ginsberg, Lovelace se constrói pela estrutura sensorial do roteiro e pelas atuações, deixando os fatos em segundo plano. Ainda que seja bem-sucedida em desdobrar os dois lados da vida de Linda, esse mesmo relato não-linear é responsável por desprover o filme de ritmo, submetendo o espectador a voltas no tempo mal demarcadas e repetições desnecessárias. É Amanda Seyfried, em uma atuação delicada e sincera, que sustenta o longa, criando uma empatia imediata e necessária com a personagem-título. Peter Sarsgaard (Chuck), James Franco (Hugh Hafner), Sharon Stone (como a mãe de Linda), Adam Brody (como Harry Reems, o ator que recebe pela primeira vez a técnica da garganta profunda de Lovelace), Chris Noth e Bobby Cannavale (os produtores de Garganta Profunda) e Hank Azaria (o diretor), entre outras participações especiais, também despontam em momentos inspirados ao longo do filme. ''Lovelace'' é uma visão educada e sensível da vida da atriz de Garganta Profunda, mas é apenas uma introdução à história controversa de uma mulher que teve influência significativa tanto na desmitificação da sexualidade - revelando o sexo oral e o prazer feminino ao grande público -, como no combate ao abuso. Um símbolo sexual e um símbolo do feminismo que merece ser conhecido.'' (Natalia Bridi)
Em uma passagem do novo longa Lovelace, entrecortado pela reconstituição de programas de TV dos anos 70, um apresentador profere a comparação peculiar entre gêneros cinematográficos: "Garganta Profunda é praticamente ...e O Vento Levou da indústria pornográfica" . Seria Linda Lovelace uma Scarlett O'hara? Não chega a tanto. Jeffrey Friedman e Rob Epstein (Uivo) repetem a parceria na direção para contar a história do icônico filme pornô e de sua protagonista, a qual ganha vida nos traços da angelical Amanda Seyfried (Os Miseráveis). A atriz conseguiu incorporar bem o papel, em parte por transmitir naturalmente certa candura. Reza a lenda que Lovelace era a inocência em pessoa até adentrar o mundo do entretenimento adulto levada por seu marido Chuck Traynor. A interpretação de Peter Sarsgaard (Lanterna Verde), variando entre a amabilidade e a cólera, deu o tom certo ao personagem oportunista. Outra atuação de destaque fica por conta da praticamente irreconhecível Sharon Stone no papel de mãe beata. O longa mantém foco nos 17 dias dentro dos sets de filmagem de Garganta Profunda que repercutiriam por toda a vida de Linda. A fotografia de tonalidade sépia junto a uma reconstituição de época bem feita ambientam de forma eficiente a década do flower power. Escrito por Andy Bellin e Merritt Johnson, Lovelace tem um roteiro bem desenvolvido e surpreende na medida de seu desenlace. Até a metade da trama, mostra-se a aparência sedutora da fama repentina. Na segunda parte, os bastidores vêm à tona a partir da primeira perspectiva, num movimento circular em torno de determinadas passagens. Uma delas mostra o que realmente se passa no quarto onde Linda e Chuck estão durante uma festa. Para os convidados, o barulho denota diversão. Mas os fatos não fazem juz à essa ideia. O longa tem lá seu clichês e não se mantém empolgante o tempo todo, mas vale ser visto pela forma interessante de desenvolvimento da narrativa e estética notável ao contar uma boa história. Além disso, foi criativo para desviar de cenas de sexo explícito que não fariam tanto sentido no drama. A questão intrínseca a Lovelace é a libertação sexual feminina. Nesse movimento, a mulher livre e a mulher objeto se confundiram muitas vezes aos olhos de ambos os sexos. Linda jogou luz ao debate pela forma mais difícil: sendo usada. Se era tão inocente quanto o filme mostra, já é outra história." (Cristina Tavelin)
Millennium Films
Eclectic Pictures
Untitled Entertainment
Animus Films
Telling Pictures
Diretor: Rob Epstein / Jeffrey Friedman
26.776 users / 6.608 face
Soundtrack Rock = KC & The Sunshine Band + Bachman-Turner Overdrive + Gladys Knight & The Pips
Check-Ins 628 37 Metacritic
Date 09/07/2014 Poster - ##### - DirectorHoward HawksStarsKatharine HepburnCary GrantCharles RugglesWhile trying to secure a $1 million donation for his museum, a befuddled paleontologist is pursued by a flighty and often irritating heiress and her pet leopard, Baby.[Mov 03 IMDB 8,1/10 {Video/@@@}
LEVADA DA BRECA
(Bringing Up Baby, 1938)
"Uma delícia de filme. Hilário e divertido como poucos, e traz consigo praticamente um porftólio do que esse gênero pode oferecer. Representa para a comédia o mesmo que No Tempo das Diligências representa para o western." (Daniel Dalpizzolo)
"A dinâmica entre Hepburn e Grant é ótima, com o astro divertindo em uma canastrice sem igual. O roteiro cria situações inusitadas (um leopardo e um osso de dinossauro)e bons diálogos, mas o filme parece ter perdido um pouco da sua graça ao longo dos anos." (Silvio Pilau)
"O filme que inicialmente parece não conter grandes qualidades, mas com uma graciosidade que o torna eterno." (Juliano Mion)
"Nos 105 anos da atriz Katharine Hepburn, a ocasião de mostrar alguns se seus filmes mais notáveis, caso de "Levada da Breca" e Núpcias de Escândalos. O primeiro é um prodígio da chamada comédia maluca (screwball comedy). Narra a história de uma garota que envolve um distraído cientista nas mais extravagantes aventuras. O segundo é uma comédia sofisticada em que a separação do casal segue-se ensaio de um novo romance (entre ambos, claro). Nos dois casos, Hepburm está acompanhada pelo ator Cary Grant. Os diretores são, respectivamente, Howard Hawks e George Cukor. Como pretender mais de uma tarde de sexta?" (* Inácio Araujo *)
"Como saber que "Levada da Breca" é um dos grandes filmes de todos os tempos? Simples: basta vê-lo umas quatro vezes. Será difícil não perceber que, a cada vez, rimos mais. Não porque gostamos de repetições, nada disso. E sim porque mais coisas parecem se mostrar na história da garota maluquinha que irrompe na vida de um cientista. Ao terminar o filme podemos perguntar: mas o que esse filme conta mesmo? E a resposta é essa: a rigor, nada. Não há história a contar. No entanto, não tiramos os olhos da tela, esperamos pelo que virá com ansiedade... É tão estranha (e única) quanto fascinante a arte de Howard Hawks: nada para melhor refletir sobre homens, mulheres, cientistas, animais, evolução etc." (** Inácio Araujo **)
''Baseado numa história de Hagar Wilde, "Levada da Breca" é uma divertida comédia. Produzido e dirigido pelo famoso cineasta Howard Hawks, o filme parte de um interessante roteiro, repleto de situações hilariantes, que prendem a atenção do espectador do início ao fim. Com uma bela fotografia, assinada por Russell Metty, e a direção competente de Hawks, "Levada da Breca" tem sua maior força, entretanto, nas fantásticas atuações de Katharine Hepburn e Cary Grant, dois atores completos que mostram sua competência num filme de suspense, num drama ou numa comédia leve como essa. Entre os coadjuvantes, merecem atenção as atuações de May Robson, Charles Ruggles e Walter Catlett." (70 Anos de cinema)
Clássico fundamental da comédia cinematográfica e uma pequena pérola sobre os costumes e contradições da vida burguesa.
''Enquanto o melodrama no cinema de gente como Douglas Sirk e Max Ophuls acabou sendo por vocação a forma preferida de tragédia da classe burguesa no século vinte, alguns filmes em toda a sua anarquia - de renomados diretores como Frank Capra, Howard Hawks, George Cukor e Billy Wilder – foram responsáveis por criar a screwball comedy, a comédia amalucada responsável justamente pelo contraponto: se em ambos os casos vemos a exposição da falência do modelo tradicional de homens absolutos e mulheres subservientes, nesse caso veremos pelo escopo da risada. Sem vergonha alguma em uma década notória pelo moralismo, diretores, roteiristas e atores viraram tudo de cabeça para baixo em filmes de teor sexual que fizeram a cabeça de uma classe média que, muito provavelmente, encontrava ali uma válvula de escape dos costumes repressores. ''Levada da Breca'' (Bringing Up Baby, 1938) é um dos melhores exemplos dessa safra histórica; o mestre Howard Hawks em um dos seus grandes momentos em conjunto com o faroeste Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, 1959) e o noir À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946). Um dos cinco filmes nascidos da colaboração entre Hawks e o ator Cary Grant, talvez o ator símbolo do gênero, presente em várias obras que marcaram época, como Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940), a outra grande screwball comedy de Hawks, e Esse Mundo é Um Hospício (Arsenic and Old Lace, 1944), de Frank Capra. Marcado pelo ritmo intenso dos diálogos e pela construção de uma atmosfera insana e absurda, onde situações rompiam com a normalidade da vida a favor do riso, como peças de roupa que se rasgam, confusão com objetos de donos diferentes, animais selvagens soltos em casas burguesas... Apesar de tão referenciado em produções ao longo das décadas, o filme dificilmente parece datado; os planos abertos, favorecendo toda a visualização das gags e a grande informação visual em quadro, só ajudam a assegurar o clima de trem descarrilhado, onde quase não há tempo para raciocinar frente à metralhadora de tropeços, resmungos, correria e gritos. A história já mostra a preocupação de Hawks e de seus companheiros de risadas: o paleontólogo David Huxley, um profissional desajeitado e caxias, acaba tendo seu mundo virado de cabeça pra baixo por Susan, uma moça rica, atrapalhada e obstinada, que se apaixona por David e decide que vai se casar com ele – querendo ele ou não. Lá atrás, o diretor já já mostrava mulheres independentes e homens dispostos a serem transformados pelo sexo oposto. Com o tempo, David acaba se cansando da vida burguesa e tornando-se companheiro das situações insanas provocadas pela garota – como passear por aí com um filhote de leopardo ou procurar um osso antiqüíssimo enterrado por um cachorrinho de madame. O tempo acabou mostrando a influência que esse filme teve sobre a cultura popular: não apenas filmes, mas também séries de televisão e quadros de esquetes copiam, com diferentes resultados de excelência, as estruturas de preparação, escada e desenlace em sua forma moderna. Hawks soube como ninguém dar uma unidade visual e narrativa a um filme que poderia facilmente ter altos e baixos; o roteiro de Dudley Nichols (que escreveu vários clássicos de Hollywood como No Tempo das Diligências [Stagecoach, 1939]) se mantém interessante até o último momento. A correria de informações acaba sendo assimilada de forma quase automática e quando menos é percebido já está se acompanhando a vertiginosa velocidade visual e sonora. Filmes-tributo, como Essa Pequena é Uma Parada (What’s Up, Doc?, 1972), de Peter Bogdanovich, atestaram o impacto: a homenagem setentista colocava Ryan O’Neal e Barbra Streisand para repetirem os papéis em um contexto ainda mais liberal e sexual; a tensão entre Cary Grant e Katharine Hepburn segurada por uma hora e quarenta por Hawks eram propícios a criar identificação entre seus espectadores; a transformação cultural era forte nesse contexto pós-Grande Depressão e pré-Segunda Guerra Mundial, plena era de ouro de Hollywood, e seus valores ainda fortes e consolidados eram lentamente dinamitados por dentro; os valores tipicamente americanos de seus faroestes e filmes de aventura, como união e coragem, também exigiam uma transformação dos costumes tradicionais e hipócritas; o caso não é diferente aqui, onde uma aritoscracia moralista não parecia mais fazer sentido para seus personagens anacrônicos, aberrantes e, sobretudo, hilários. Mestre raro na sétima arte, com o ritmo afiado feito navalha, as piadas amalucadas e obscenas de Hawks foram um passo a caminho da lenta renovação de costumes que só se concretizaria, de fato, vinte anos mais tarde. Mas na loucura, obsessão, independência e malandragem de Susan Vance, Hawks fez Katharine Hepburn lançar a primeira semente de independência em meio a um verdadeiro bacanal humorístico. O leopardo podia ser só um bebê ainda, mas já estava à solta." (Bernardo D I Brum)
''É esta aqui, e não tem para nenhuma outra. Esta é a comédia mais maluca, mais doida, mais insana, mais lelé da cuca, mais demente, mais alienada, mais sem juízo que já foi feita em qualquer época, em qualquer lugar. Se algum dia uma civilização extraterrestre vier explorar este planeta, e se interessar em saber o que raios exatamente vinha a ser a tal da screwball comedy, basta que assistam a Levada da Breca/Bringing Up Baby, que Howard Hawks perpetrou em 1938, com a cumplicidade de Cary Grant e Katharine Hepburn. ''Levada da Breca!'' Eis aí um título que ficou velho. Quem é que tem menos de 40 anos hoje e conhece essa expressão? Levada da breca é mais démodé do que homessa, supimpa, vosmecê. Uns dias atrás revi O Inventor da Mocidade/Monkey Business, outra comédia amalucada de Hawks, também com Cary Grant, esse ator que fez um monte de comédias amalucadas, como, só para citar duas outras, Este Mundo é um Hospício/Arsenic and Old Lace, de Frank Capra, e A Noiva Era Ele/I Was a Male Bride, outra vez de Howard Hawks. Foi ao rever O Inventor da Mocidade que me deu vontade de ver de novo Levada da Breca. Pensei: diabo, preciso rever essas comédias da era de ouro de Hollywood, aqueles filmes que dão prazer de ver. Por isso fui atrás, por exemplo, de Contrastes Humanos/Sullivan’s Travels. Sobre O Inventor da Mocidade, anotei: Já foi feita muita, muita bobagem, em cento e tantos anos de cinema, mas poucos filmes são tão bobos quanto O Inventor da Mocidade/Monkey Business. É, seguramente, uma das comédias mais bobas que o cinema já produziu – e também uma das maiores delícias. A frase vale perfeitamente também para Levada da Breca – com a diferença de que Levada da Breca merece o superlativo máximo. Não é um dos filmes mais bobos da História. É o filme mais bobo que já foi feito. Não adianta Mel Brooks se esforçar ao máximo para fazer uma comédia mais maluca. Nem Mel Brooks, nem Richard Lester, nem o povo das sátiras com Leslie Nielsen – Jim Abrahams, David e Jerry Zucker. O troféu máximo vai para Howard Hawks com Levada da Breca. Não tem concorrente que chegue perto. ''Levada da Breca'' passa a zilhões de anos-luz de qualquer coisa parecida com lógica, sentido, verossimilhança. Não é que em alguns momentos a trama fique doidona. Toda a trama, toda a história, do princípio ao fim, é sem pé nem cabeça. Basta comparar com o próprio O Inventor da Mocidade, loucura lançada em 1952 – 14 anos e uma Guerra Mundial depois. O Inventor da Mocidade tem uma trama amalucada, mas parte de alguns pontos que têm alguma lógica: um cientista está tentando inventar uma droga que faça as pessoas rejuvenescerem. Isso tem algum sentido. Depois as coisas fiquem muito doidonas, e os personagens de Cary Grant e Ginger Rogers viram crianças e saem por aí fazendo travessuras de crianças. Bem, ''Levada da Breca'' até que parte de uma base que também tem um pouquinho de sentido. Um cientista (exatamente como seria o personagem do mesmo Cary Grant 14 anos depois), um paleontólogo, que há vários anos se dedica a montar o esqueleto de um brontossauro em um instituto de pesquisas, está atrás de uma senhora milionária que tem US$ 1 milhão para doar. Precisa, então, encontrar-se com o advogado da milionária, Elizabeth Random (May Robson), o sr. Peabody (George Irving), para mostrar a importância do trabalho de seu instituto de pesquisas. Isso aí, esse fiapo de base da trama, é tudo o que o filme de lógica, de verossimilhança. Mais nada. O resto é só loucura. No momento em que está começando a conversar com o sr. Peabody, durante um jogo de golfe, o doutor David Huxley, o nosso Professor Pardal, conhece uma mulher absolutamente levada da breca, uma tal Susan Vance (o papel da grande, imensa, sensacional Kate Hepburn). E aí é o seguinte: nunca jamais em tempo algum houve ou haverá uma mulher mais levada da breca do que a Susan criada por Kate Hepburn. Para começo de conversa, ela tem um leopardo em seu apartamento de Nova York – presente de seu primo Mark, que caçou o leopardo nas selvas de um país distante e misterioso chamado Brasil. E que maravilhoso trabalho é o dos domadores do leopardo usado nas filmagens de Bringing Up Baby. Baby, o leopardo, dá um show de interpretação. É quase tão hilário quanto Cary Grant e Kate Hepburn. Ou Barry Fitzgerald. Barry Fitzgerald (1888-1961) não precisaria ter feito nada na vida além do bêbado casamenteiro Michaeleen Flynn de Depois do Vendaval/The Quiet Man, a obra-prima de John Ford de 1952, para ser uma das figuras mais simpáticas e agradáveis da história do cinema. Mas felizmente fez 48 filmes – e, em Levada da Breca, faz um ensaio do que viria a ser Michaeleen Flynn. Interpreta um empregado da casa da milionária tia Elizabeth, um sujeito cuja alegria na vida vem dentro de um copo. ''Levada da Breca'' já está rumando para o final – e a essa altura qualquer espectador de nariz empinado, chegado a um cinema de arte, que porventura estivesse vendo aquilo já teria desistido para ver o último Lars von Trier – quando baixa em Kate Hepburn o espírito de uma dame, broad, uma mulher vulgar, daquele tipo de amante de gângster, ou puta. Não me lembrava dessa parte do filme, dessa baixada do santo da puta sobre a moça levada da breca. É hilariante, uma absoluta delícia. De alguma maneira, faz lembrar um pouco a mulher vulgar que aparece no tribunal para depor na segunda metade de Testemunha de Acusação – para a total surpresa do advogado de defesa, interpretado por Charles Laughton. E a Kate Hepburn que, no finalzinho, traz sob rédea curta o leopardo bravo é uma deliciosa, agradabilíssima, inteligentíssima piada a respeito da própria atriz, de quem já havia se dito que era uma bomba na bilheteria, uma destruidora de possíveis sucessos. Mulher porreta, forte, de opinião, de raça, de tutano, Kate Hepburn devia de fato assustar muito homem. Era preciso ser Spencer Tracy para enfrentá-la de igual para igual.Eta mulher levada da breca.E esta seguramente deve ter sido também uma das primeiras vezes em que um homem apareceu em roupa de mulher no cinema americano. Onze anos mais tarde, em 1949, Howard Hawks voltaria a botar Cary Grant em roupa de mulher, mais uma peruca, na já citada comédia I Was a Male War Bride, eu fui uma noiva de guerra homem, no Brasil A Noiva Era Ele. Mas o fato é que Cary Grant andou pela sala da casa vestido com roupa de mulher em 1938, duas décadas antes de Jack Lemmon e Tony Curtis se travestirem em Quanto Mais Quente Melhor, o clássico de Billy Wilder de 1959." (Sergio Vaz)
''Falaremos sobre ''Levada da Breca'' (Bringing Up Baby, 1938), grande representante da Comédia Maluca (ou Screwball Comedy), um gênero tipicamente hollywoodiano, muito popular nas décadas de 1930 e 40. A Comédia Maluca combina farsa, pastelão e diálogos espirituosos. Os filmes pertencentes a esse gênero geralmente focalizam uma batalha de sexos, na qual os protagonistas tentam ludibriar ou enganar o outro. Além de gags visuais, a Comédia Maluca apresenta um ritmo acelerado, com diálogos rápidos, sofisticados e tiradas certeiras. O termo maluca parece exprimir o comportamento errático e excêntrico dos personagens, que flertam, muitas vezes, com a loucura e o ridículo. Outros elementos geralmente encontrados na Comédia Maluca são: grande tensão sexual entre os protagonistas, por vezes disfarçada em animosidade e troca de farpas; confusões e mal-entendidos; lutas de classes; trocas de identidades; inversões de papéis; situações absurdas e/ou embaraçosas. Muitos dos elementos típicos da Comédia Maluca podem ser encontrados nas comédias românticas dos dias de hoje. Grant tinha 34 anos e Hepburn tinha 30 anos na época do lançamento do filme. Costuma-se apontar Suprema Conquista (1934), de Howard Hawks, e Aconteceu Naquela Noite (1934), de Frank Capra, como as primeiras comédias malucas do cinema. Outros clássicos do gênero são: Irene, A Teimosa (1936), Cupido é Moleque Teimoso (1937), Jejum de Amor (1940), Bola de Fogo (1941) e Ser ou Não Ser (1942). Hawks talvez seja o diretor que mais tenha contribuído para o gênero. É dele um dos filmes que melhor representam o caráter inovador da Comédia Maluca, Levada da Breca (1938). Hawks (1896-1977) é um dos cineastas mais importantes e versáteis da Era de Ouro de Hollywood. Ele atuou como produtor, diretor e roteirista, tendo iniciado sua carreira ainda no cinema mudo. Dono de uma filmografia impressionante, Hawks foi um dos diretores mais influentes de sua época. Ainda assim, não usufruiu da mesma fama e reconhecimento de alguns de seus contemporâneos, como os grandes John Ford e Billy Wilder. Hawks foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor apenas uma vez por Sargento York (1941), tendo levado um prêmio honorário pela carreira em 1975. Hawks dirige Cary Grant e Katharine Hepburn em cena do filme. Curiosamente, foi na França que o trabalho do cineasta foi mais apreciado e aclamado. Hawks era um dos diretores favoritos dos renonados críticos franceses da revista Cahiers du Cinéma,que fizeram dele um verdadeiro ícone do cinema americano. Hawks se enveredou por diferentes gêneros cinematográficos durante sua carreira, tendo realizado comédias, dramas, filmes de gângster, westerns, filmes noir, entre outros. Dentre suas principais obras estão:Scarface – A Vergonha de Uma Nação (1932), Paraíso Infernal (1939), Jejum de Amor (1940),Uma Aventura na Martinica (1944), À Beira do Abismo (1946), Rio Vermelho (1948), Os Homens Preferem As Loiras (1953), Rio Bravo (1959) e, é claro, Levada da Breca (1938). ''Levada da Breca'' já foi citado diversas vezes como uma das comédias mais engraçadas de todos os tempos. Desastre absoluto de bilheteria na época de seu lançamento, o filme foi ao longo dos anos alçado à categoria de obra-prima. Considerado por alguns especialistas como o filme definitivo da Comédia Maluca, Levada da Breca conta a história de David Huxley (Grant), um desajeitado paleontólogo que vê sua vida virar de cabeça para baixo, assim que conhece Susan Vance (Hepburn), uma insana e espevitada milionária. Para obter uma generosa doação, o certinho paleontólogo tem que lidar com as excentricidades da ricaça (que se revela obcecada por ele) e com o novo animal de estimação da moça, um leopardo brasileiro chamado Baby. A cena em que David se veste com o robe de Susan é uma das mais famosas do filme. O longa-metragem foi roteirizado por Dudley Nichols e Hagar Wilde, a partir de um texto escrito por Wilde e publicado na Collier's Magazine. O filme combina humor farsesco, situações absurdas, romantismo, grandes atuações e ação de tirar o fôlego. O filme é protagonizado por duas das maiores estrelas da Hollywood Clássica: Cary Grant e Katharine Hepburn. Esse foi o segundo de quatro filmes estrelados pela dupla. Outra parceria bastante conhecida do casal foi na premiada comédia Núpcias de Escândalo (1940). O personagem de Cary Grant em ''Levada da Breca'' foi inspirado na persona de Harold Lloyd, famoso comediante do cinema mudo (os óculos do personagem são, inclusive, referência ao ator). No entanto, muito do sucesso do personagem vem do talento e do carisma de seu intérprete. Grant, por sinal, demonstrou ter, ao longo de sua carreira, grande facilidade para encarnar papéis cômicos e não teve nenhum problema para encontrar o tom de seu personagem em Levada da Breca. O mesmo não aconteceu com Hepburn, que tinha menos experiência que o galã em comédias. ''Levada da Breca'' foi ignorado por todas as premiações em 1938.Katharine Hepburn, premiada quatro vezes com o Oscar e apontada como uma das melhores atrizes de todos os tempos, teve dificuldade em acertar o timing cômico da personagem. Hawks teve que treinar a atriz, com o auxílio de outros profissionais, incluindo Walter Catlett, colega de cena de Hepburn no filme. Esforço recompensado. A impagável performance de Hepburn e a química dos protagonistas são dois dos maiores trunfos do filme. Existe uma série de anedotas sobre o clássico. Dizem, por exemplo, que a famosa cena do restaurante, em que o vestido de Hepburn é rasgado, foi inspirada em algo que teria acontecido realmente com Cary Grant. Ao ver que uma mulher havia rasgado o vestido em um teatro, o ator teria se comportado como seu personagem ao tentar cobrir a moça. Grant teria contado a história ao diretor, que a adorou e a incluiu na trama. Outra anedota diz respeito à relação dos atores com o leopardo nos sets de filmagem. Enquanto Hepburn se mostrava extremamente à vontade e destemida com o animal, Grant tinha pavor da fera. Foi necessário o uso de dublê em cenas em que seu personagem precisava fazer contato com o leopardo. O leopardo usado no filme chamava-se Nissa na vida real. Outra curiosidade diz respeito ao uso da palavra gay no filme. Acredita-se que foi em Levada da Breca que o termo gay foi usado pela primeira vez no cinema (não pornográfico) com o sentido que conhecemos atualmente (referindo-se à homossexualidade), em oposição ao seu sentido original, alegre. Tal uso se deu na cena em que o personagem de Cary Grant veste um robe de Susan e ao ser perguntado a razão, diz: Because I just went gay all of a sudden! (Porque eu acabei de ficar gay de repente!). O fracasso de bilheteria de ''Levada da Breca'' foi decisivo para que Katharine Hepburn entrasse para a infame lista dos atores chamados de “veneno de bilheteria” (box-office poison). A culpa do insucesso do filme junto ao público recaiu sobre os ombros da atriz, já que muitos afirmavam que a rejeição do público a Hepburn teria sido o motivo da má arrecadação do filme. O motivo dessa alegação tem origem no fato de que, desde 1935, a atriz estrelara uma série de filmes que foram mal de bilheteria. Além disso, ela tinha uma péssima relação com a imprensa. No filme diversos efeitos visuais e truques são usados para aproximar os atores do leopardo. ''Levada da Breca'' foi o último filme de Katharine Hepburn para o estúdio RKO. Depois que o longa-metragem foi retirado precocemente das salas de cinema, devido ao seu fraco desempenho, a RKO ofereceu a Hepburn um papel em um filme B, de baixo orçamento. Hepburn, então, corajosamente, rompeu seu contrato com o estúdio e se tornou independente. Seu próximo projeto seria outro filme com Cary Grant, Férias (1938), pela Columbia Pictures, que também não foi muito bem de bilheteria. A redenção de Hepburn viria com Núpcias de Escândalo (1940), grande sucesso comercial. ''Levada da Breca'' aparece na lista de melhores filmes de todos os tempos da Total Film Magazine, da Sight & Sound e do American Film Institute. A Entertainment Weekly incluiu o clássico na sua lista dos filmes mais engraçados de todos os tempos. A Premiere Magazine elegeu a performance de Cary Grant como uma das melhores do cinema e Susan Vance como uma das maiores personagens da sétima arte. Setenta e quatro anos não foram capazes de fazer com que Levada da Breca se tornasse menos engraçado e arrebatador, ao contrário, o filme continua sendo uma aula de como fazer rir." (Leonardo Alexander)
Top 250#225
Top Década 1930 #32
RKO Radio Pictures
Diretor: Howard Hawks
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Check-Ins 136
Date 17/03/20013 Poster - #### - DirectorRainer Werner FassbinderStarsBarbara SukowaArmin Mueller-StahlMario AdorfA seductive cabaret singer-prostitute pits a corrupt building contractor against the new straight-arrow building commissioner, launching an outrageous plan to elevate herself in a world where everything-and everyone-is for sale.[Mov 07 IMDB 7,4/10 {Video/@@@@}
LOLA
(Lola, 1981)
''Apesar de ter sido feito antes de Veronika Voss,"Lola" é, para muitos, a última parte da trilogia do pós-guerra BRD (Bundesrepublik Deutschland). Estamos nos anos 50, a década preferida de Fassbinder, e a Alemanha traumatizada vive um súbito período de graça no plano económico e financeiro. No entanto, o poder político, profundamente conotado com o seu trágico passado recente, mantém-se nas mãos daqueles que, mais ou menos oportunisticamente, deram o passo em frente para liderar a reconstrução da Alemanha. O poder aparece, tal como em The Marriage of Maria Braun, como coisa intrinsecamente corruptora. ''Lola'' (grande interpretação de Barbara Sukowa) é a principal atracção de um luxuriante lupanar, que serve de ponto de encontro dos homens poderosos (incluindo o presidente da Câmara) de uma localidade alemã. A chegada de Von Bohm (Armin Mueller-Stahl), o novo director de urbanismo, um homem da velha guarda com valores sólidos e uma visão para o país (moderno e antiquado), vem desorganizar o mundo de Lola e dos seus conspícuos clientes. "Lola" é um filme dividido entre o glamour e o romantismo naive de Hollywood dos anos 50 (mais uma vez, Douglas Sirk, pese embora tenha como principal fonte de inspiração Blue Angel de Josef von Sternberg) e um ambiente histórico carregadamente político. É mais uma obra de Fassbinder que se constrói entre extremos: num momento, é encantador, mágico e frenético; noutro, cruel, negro e intempestivo.'' (Cinedrio)
"Lola Montès, by Rainer Werner Fassbinder." (Heitor Romero)
Rialto Film
Trio Film
Westdeutscher Rundfunk (WDR)
Diretor: Rainer Werner Fassbinder
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Check-Ins 167
Date 28/05/2013 Poster - ### - DirectorRian JohnsonStarsJoseph Gordon-LevittBruce WillisEmily BluntIn 2074, when the mob wants to get rid of someone, the target is sent into the past, where a hired gun awaits - someone like Joe - who one day learns the mob wants to 'close the loop' by sending back Joe's future self for assassination.[Mov 08 IMDB 7,6/10 {Video/@@@@} M/84
LOOPER - ASSASSINOS DO FUTURO
(Looper, 2012)
''A ficção científica tem sofrido nas produções recentes de Hollywood com roteiros esquemáticos que resultam em filmes desprovidos de qualquer sutileza. Joseph Gordon-Levitt faz papel de Bruce Willis mais novo em Looper Não é este o caso de "Looper - Assassinos do Futuro", terceiro longa do diretor e roteirista Rian Johnson. Denso e original, o argumento recebe tratamento de filme de ação e levanta um dilema moral, algo pouco usual no gênero. O filme também marca o retorno de Bruce Willis à ficção científica. Em um futuro próximo, o crime organizado usa as viagens no tempo para enviar seus inimigos ao passado com o propósito de serem eliminados por assassinos profissionais, os "loopers", que também se encarregam de fazer com que todos os corpos desapareçam. Joe (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem Looper que se dedica a acumular todo o dinheiro que ganha para desfrutar uma aposentadoria na França. Mas seus planos começam a desandar quando o sindicato do crime resolve despachar os "loopers" ao passado para serem assassinados por si mesmos. Longe das inflexões de ator canastrão e brutamontes, Bruce Willis é Joe com algumas décadas a mais, um personagem cansado e vulnerável. Ele retorna ao passado e acaba se confrontando com sua versão mais nova. Mesmo sendo a mesma pessoa, as décadas de experiência de vida entre eles os colocam em campos opostos. Conhecedor de seu destino, o velho Joe quer evitar que o jovem cometa certos erros que o levarão a um fatídico final, mesmo que isso implique em arruinar o presente do rapaz. Mas o jovem Joe não parece muito disposto a obedecer. E isso abre espaço a uma série de peripécias e para o drama moral. Quem tem razão? Aquele que quer viver o presente ou o que sacrifica o aqui e agora pensando no futuro? Johnson trabalha muito bem o suspense, mas as doses de violência -que se aproxima do registro dos filmes gore - são exageradas. Fora de lugar também está a mãe arrependida (Emily Blunt), cuja presença serve apenas para trazer um pouco de romance, ingrediente desnecessário ao contexto." (Alexandre Agati Fernandez)
"Se tivesse menos furos na história, seria um clássico instantâneo." (Rodrigo Cunha)
"Não chega a ser um novo "Os 12 Macacos", mas Looper é um dos filmes de viagem no tempo mais interessantes dos últimos anos. A caracterização dos personagens, principalmente o rosto cansado de Joseph Gordon-Levitt, ficou excepcional." (Alexandre Koball)
"Alguns filmes fracassam por se acharem espertos demais. A trama de "Looper", ao contrário, é realmente engenhosa, com doses certas de ação, tensão e reflexão. Forte candidato a cult nos próximos anos. #eutenhomedodepiercegagnon" (Regis Trigo)
"Ambicioso, Johnson constrói uma trama complexa que contorna problemas (lacunas em aberto, desenvolvimento lento por falta de capricho em edição e montagem e um Joe convenientemente ingênuo no clímax) e se justifica num ato final bem convincente." (Rodrigo Torres de Souza)
Mesmo com alguns problemas, um filme original, com boas ideias e realizado com bastante competência.
''Não é de hoje que o conceito de viagem no tempo fascina escritores e cineastas. Desde H. G. Wells e seu A Máquina do Tempo, passando por La Jetée (idem, 1962) e De Volta para o Futuro (Back to the Future, 1986) e chegando até bobagens como A Ressaca (Hot Tub Time Machine, 2010), os paradoxos do tema serviram como um prato cheio para mentes criativas, encontrando também o seu apelo junto ao público. Ainda que, nos últimos anos, este subgênero tenha sofrido com a preguiça de roteiristas satisfeitos em apenas reciclar ideias, ocasionalmente ainda surgem filmes que buscam extrair algo de original diante das inúmeras possibilidades que o conceito oferece. ''Looper – Assassinos do Futuro'' (Looper, 2012) é um desses filmes.Escrito e dirigido por Rian Johnson (um cineasta que exibiu boas ideias e talento mesmo em seus irregulares trabalhos anteriores), Looper parte de uma boa premissa: em um futuro no qual a viagem no tempo é possível, criminosos enviam suas vítimas para serem eliminadas no passado, onde seus corpos não serão encontrados. É uma ideia interessantíssima, que ganha um conflito dramático à altura quando um dos assassinos precisa matar a si próprio, porém 30 anos mais velho. Está exposta aí a base de uma ótima história de ficção-científica, que, felizmente, é desenvolvida de forma inteligente por Johnson, explorando as possibilidades da trama para um resultado final bastante competente. O primeiro passo do cineasta para alcançar seu objetivo está na construção de seu mundo futurista. O amanhã visto em Looper está mais para aquele exposto em Filhos da Esperança (Children of Men, 2006) do que para o de Minority Report – A Nova Lei (Minority Report, 2002): no lugar de carros voadores e tecnologia de ponta, o que se vê é uma sociedade dominada pela miséria e quase sem lei. Este pano de fundo para a história, infelizmente, não chega a ser tão bem desenvolvido como no impressionante filme de Alfono Cuarón, mas as cenas iniciais que ambientam a trama nesse mundo são eficazes para estabelecer o contraponto entre as pessoas da época, vivendo em dificuldade, e os Loopers, que passam seus dias de forma pródiga devido aos lucros de sua atividade. Da mesma forma, Rian Johnson também acerta ao explicar de forma breve a premissa da história logo nos minutos iniciais, sem entrar em desnecessários detalhes técnicos sobre as viagens no tempo, para logo em seguida fazer a trama andar. Assim, Looper tem um primeiro ato bastante ágil e promissor, garantindo que a plateia fique interessada naquilo que irá acontecer. Este fato, por sinal, é fundamental para manter o espectador fisgado no desenrolar da história, uma vez que isso seria difícil através da identificação básica com o protagonista: Joe, em essência, não é um cara bom, mas um assassino frio, ganancioso, que não hesita em entregar seu melhor amigo para manter a sua fortuna. Looper ganha, portante, desde seu primeiro ato, uma bem-vinda complexidade moral, especialmente por ser algo raro no atual cinema hollywoodiano. O protagonista está mais para anti-herói do que para mocinho, assim como a sua versão mais velha, que, em determinado momento, toma uma atitude repudiável diante de uma criança, mesmo sem saber se ela é inocente ou não. Ainda assim, apesar de ser um dos antagonistas da trama, o personagem de Bruce Willis jamais é retratado como um simples vilão, tendo as motivações para suas atitudes bem apresentadas pelo roteiro. Já o jovem Joe, por outro lado, possui um arco dramático mais definido: se no início da história ele não passa de um matador egoísta, ao final, após seu encontro com a fazendeira e o filho, torna-se um homem capaz de fazer sacrifícios por um bem maior – e a jornada do personagem é sempre convincente, méritos tanto do texto quando do trabalho de Joseph Gordon-Levitt, que consegue transmitir humanidade em Joe até mesmo em seus momentos mais condenáveis (vale dizer ainda que as próteses no rosto do ator incomodam menos do que o sugerido pelo trailer). Mas o roteiro não mostra seus méritos apenas na construção dos personagens. Em uma trama com estrutura difícil, Johnson consegue amarrar os principais pontos de forma inteligente (ainda que falhe aqui e ali, como explicarei mais adiante), exigindo atenção da plateia para acompanhar tudo, porém jamais fazendo com que a história se torne confusa. Da mesma forma, Looper mostra ter uma narrativa muito bem pensada ao inserir diversos detalhes aparentemente insignificantes, mas que serão importantes mais adiante: o fato de a arma dos assassinos não ter muito alcance, por exemplo, será fundamental em uma cena-chave do filme, assim como a questão da telecinese, apresentada inicialmente de forma quase aleatória. Como se não bastasse, Johnson ainda preenche sua obra com boas pequenas ideias, como as queimaduras para se comunicar com as versões do futuro, que rende um excelente momento envolvendo o velho Paul Dano. É uma pena, no entanto, que o roteiro não busque trabalhar mais a fundo as questões maiores que permeiam a história, como a valor das memórias ou a consequência de nossas escolhas, optando por focar simplesmente no lado dos acontecimentos da trama. Da mesma forma, não é preciso quebrar a cabeça para ver que Looper ainda traz alguns furos no roteiro: se os criminosos mandam os corpos para o passado por ser difícil se livrar deles no futuro, como o tal do Rainmaker realiza seus massacres e mata uma pessoa próxima ao personagem de Bruce Willis sem problemas? Aliás, como a gangue de Jeff Daniels (ótimo) sabe que o looper não eliminou seu alvo, já que o assassino é o único que vê a vítima desde o momento em que ela volta no tempo até seu corpo desaparecer? Além disso, o filme parece deixar uma lacuna ao não explicar de que forma funciona o processo realizado pelos loopers. Por exemplo, como eles são avisados sobre quando e onde deverão realizar os assassinatos? E por que não explorar um pouco mais a o antagonismo entre o jovem e o velho Joe, especialmente o dilema de que o veterano não pode matar sua versão mais nova? Sim, talvez seja injusto avaliar um filme por algo que ele deixa de fazer, mas são questões que mostram como Looper, mesmo desenvolvido de forma competente, poderia ter sido ainda melhor. Rian Johnson, ao menos, mostra não se render às fórmulas predominantes do cinema comercial norte-americano: além da já citada ambiguidade moral dos protagonistas, o cineasta não tem o menor problema em exibir sangue de forma a ressaltar a violência de suas cenas, fugindo do tom asséptico que normalmente se vê. Por outro lado, o diretor se sai de forma irregular nas escolhas para as cenas mais movimentadas: se a escolha pelo slow motion em certo momento na casa da fazenda é perfeito, o mesmo não pode ser dito do instante em que utiliza recurso semelhante para acompanhar Joe caindo de um prédio, em um plano gratuito, que soa mais como exercício de estilo que uma opção com algum propósito dramático. Como se não bastasse, Johnson também se demonstra claudicante na condução de uma narrativa que viaja por diferentes gêneros. Looper é, ao mesmo tempo, um filme de ficção-científica, de suspense, de ação, de romance e até de drama, modificando o seu tom no decorrer da trama. Boa parte dessas transições ocorrem de forma orgânica, mas ocasionalmente a produção sofre com problemas de ritmo, especialmente em seu segundo ato, como no momento em que a personagem de Emily Blunt compartilha histórias de seu passado. Contando ainda com uma ótima interpretação do garotinho Pierce Gagnon e um final que fecha de forma quase perfeita a narrativa, Looper – Assassinos do Futuro pode trazer alguns problemas que o impedem de se tornar algo maior, mas não deixa de ser um filme bem realizado, calcado em boas ideias e com certa originalidade. É uma prova de que Rian Johnson vem evoluindo como cineasta e que o seu próximo trabalho tem tudo para chamar a atenção. Enquanto não existe máquina do tempo, resta esperar." (Silvio Pilau)
Ficção científica de viagem no tempo mistura subgêneros e surpreende.
''Fimes de viagem no tempo são inerentemente confusos. Não existe um sequer que sobreviva ao escrutínio científico de suas improbabilidades. Mesmo assim, representam um dos mais fascinantes e divertidos subgêneros desse tipo de obra. ''Looper - Assassinos do Futuro'', felizmente, é um desses casos, uma ficção científica extremamente confusa, mas que usa esse entendimento difícil (talvez nem o próprio diretor e roteirista, Rian Johnson, saiba ao certo o que está acontendo) ao seu favor. Os diálogos divertidos e inteligentes frequentemente referenciam esse problema, tornando-os parte do entretenimento.Na trama, Joseph Gordon-Levitt vive um "looper", um executor da máfia especializado em dar cabo de vítimas que são despachadas do futuro. Seu trabalho é matar o pacote e dar sumiço no corpo (não existe lugar melhor para isso do que um tempo em que a vítima sequer existe). Viciado, desregrado e com um plano, o protagonista depara-se com o maior problema possível para um looper: quando sua vítima foge. Pior ainda... quando a vítima é ele mesmo - ou sua versão 30 nos mais velha (Bruce Willis). Gordon-Levitt está perfeito como o jovem Willis. É o ano dele depois de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Seu rosto foi modificado com próteses e maquiagem para ficar com o formato do ator veterano e ele usa com segurança as feições alheias, dando vislumbres da canastrice controlada de Willis, já tão conhecida (o filme só funciona tão bem nesse aspecto porque Willis tem trejeitos tão conhecidos, que Gordon-Levitt pode explorar). Além do vai-e-vem temporal, o filme encontra espaço para outros subgêneros sci-fi, como o cyberpunk, que é inserido em um contexto de máfia retrô, com um governo ausente e gangues e indivíduos poderosos dominando o cenário. Há também mutação e outras surpresas interessantes, que culminam em uma mistura de De Volta Para o Futuro com Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança e - pasme - até Akira! O diretor Rian Johnson equilibrou muito bem todos os elementos que tinha à disposição, dando personalidade inesperada a um grande filme de gênero, que certamente se destaca das demais esquecíveis tentativas de ficção contemporânea. E o melhor: não é remake, nem continuação ou adaptação.'' (Erico Borgo)
''As ficções científicas têm público cativo e Hollywood investe todo ano em várias produções do gênero para faturar em cima de quem vive o presente imaginando o futuro. Taí uma turma que sofre. Não por falta de filmes, mas pelo número de bobagens onde a lacuna deixada pela falta de estofo narrativo é preenchida por efeitos especiais pomposos. Vez ou outra surge algo com substância e acima da média. Este é o caso de ''Looper - Assassinos do Futuro'', filme ambientado em 2044 com Joseph Gordon-Levitt (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) e Bruce Willis nos papéis principais. Neste futuro imaginado pelo diretor e roteirista Rian Johnson (Vigaristas), a máquina do tempo ainda não foi inventada, mas será algumas décadas à frente. É de lá que organizações criminosas - as únicas que utilizam o equipamento proibido - enviam seus desafetos para serem assassinados em 2044. A ideia é que os vestígios de suas existências desapareçam do futuro, onde se livrar de um corpo é praticamente impossível. Os assassinos responsáveis por dar cabo dos infelizes vindos do futuro são chamado de loopers. Seu trabalho é relativamente fácil: em dia e hora marcados eles aguardam suas vítimas chegarem da viagem temporal. Eles vêm sempre amarrados, com capuz na cabeça e barras de prata e ouro amarrados ao corpo – o pagamento pelo serviço vem junto com a vítima. Assim que surgem, os loopers disparam uma espécie de escopeta, matam o condenado e somem com o corpo da vítima. Essa é a rotina de Joe (Gordon-Levitt), que sabe que um dia terá de eliminar a si mesmo 30 anos mais velho – espécie de queima de arquivo exigida pelos chefões. Neste ponto o filme abre espaço a algumas reflexões filosóficas interessantes, como o apego ao presente em detrimento do futuro. Um looper sabe que só terá mais 30 anos de vida, que será ele mesmo o responsável por sua morte, mas ignora isso por uma garantia de presente mais confortável. E conforto parece ser um luxo de poucos nos Estados Unidos de 2044. A boa ambientação retrata um país caótico e em decadência onde a mendicância se tornou endêmica e milhares de pessoas vivem nas ruas. Joe era um menino nessa situação quando foi recrutado por Abe (Jeff Daniels, de Debi & Loide - Dois Idiotas em Apuros), enviado pelos chefões do futuro para recrutar os loopers. Ele não pensa em abandonar a vida de regalias que conquistou, por isso não hesita em realizar bem seu trabalho. Tudo vai bem até ele ter de liquidar a versão 30 anos mais velha de si mesmo, interpretada por Bruce Willis. A hesitação diante de uma surpresa o faz hesitar em apertar o gatilho, o que dá a Joe de 2070 a oportunidade escapar. Isso, naturalmente, não pode acontecer pelo risco de mudar o curso natural das coisas. Assim, uma caçada tem início para se eliminar o Joe do presente e do futuro. O problema é que ambos têm objetivos bem diferentes, apesar de serem a mesma pessoa. Com esse argumento o filme trata de maneira inteligente temas já bem explorados no cinema, como a velha questão: Nosso futuro estaria pré-determinado ou seríamos capazes de mudar seu curso? As respostas vêm com o desenrolar da história de Joe e também de um menino com poderes telecinéticos que, hipoteticamente, se tornará um tirano sanguinário em 2070. Em Looper somos conduzidos por uma narrativa envolvente e bem ambientada repleta de personagens complexos e dúbios o suficiente para ficarmos sem saber por quem torcer. Há um lapso de roteiro aqui e ali e algumas explicações um tanto confusas, mas isso não desmerece essa ficção científica inventiva, pouco previsível e distante da banalidade modernosa que grassa nos filmes do gênero." (Roberto Guerra)
Endgame Entertainment
DMG Entertainment
FilmDistrict
Ram Bergman Productions
Diretor: Rian Johnson
326.341 users / 73.191 face
Soundtrack Rock = The Cinematic Underground + Warren Zevon
Check-Ins 212
Date 17/06/2013 Poster - ##### - DirectorBertrand BonelloStarsNoémie LvovskyHafsia HerziCéline SalletteAt an elegant Parisian bordello at the dawn of the 20th century exists a cloistered world of pleasure, pain, hope, rivalries--and, most of all, slavery.[Mov 10 Fav IMDB 6,7/10 {Video/@@@@@} M/75
L'APOLLONIDE - OS AMORES NA CASA DE TOLERÂNCIA
(L'apollonide - Souvenirs de la maison close, 2011)
"Bonito, mas traz consigo junto uma grande carga de desconforto." (Vlademir Lazo)
"Aquelas vidas fadadas à desgraça e com prazo de expiração pré-determinado são retratadas aqui com alguma superficialidade, mas a beleza visual, em vários sentidos, é um deleite." (Alexandre Koball )
"Cicatrizes no corpo e na alma, sonhos, delírios, sorrisos forjados e transas encenadas dão vida, à sua maneira, a um submundo sedutor e fantasmagórico, físico e surreal. Um atmosférico mergulho sensorial como apenas o cinema é capaz de proporcionar."(Daniel Dalpizzolo)
"Um passeio através de diversos perfis que vai direto às carnes e aos espíritos destes, com doses de melancolia e muita força. O filme do 'ano' até o momento." (David Campos)
"Elegância e decadência de uma época em paralelo com um bordel, oprimido por uma sociedade em transição, e as prostitutas que ali vivem, dilaceradas literal e moralmente. Um filme melancólico e muito bonito." (Rodrigo Torres de Souza)
"Esplêndido! Belo! A composição de vidas num único e asfixiante cenário cuja convivência e ações são necessidades de uma vida marcada com dor, na face e no coração." (Marcelo Leme)
Bertrand Bonello inverte valores sociais dentro de um bordel parisiense no início do século XX.
"Mergulhando sua câmera em um cenário riquíssimo em detalhes de uma reconstituição de época fiel que reproduz um bordel parisiense do inicio do século passado, Bertrand Bonello ignora os sorrisos falsos das belas prostitutas e os sorrisos maliciosos satisfeitos de burgueses abastados para finalmente chegar ao seu objetivo: o sorriso infinito rasgado no rosto de uma prostitua, desfigurado por uma navalha. Madeleine (Alice Barnole) teve sua beleza roubada quando um cliente cruel decidiu desenhar em seu rosto um sorriso mórbido que jamais se desfará. E é através desse sorriso que "L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância" (L’apollonide –Souvenirs de la maison close, 2011) encontrará uma maneira nada usual de inverter aquilo que estamos acostumados a ver em filmes que tratam de temas fortes como a prostituição. Quando Federico Fellini dirigiu As Noites de Cabíria (Le Notti di Cabiria, 1957) em pleno movimento neorrealista italiano, o que poucos perceberam na época foi uma curiosa inversão de argumentos, ao apresentar a figura de uma prostituta como uma mensagem de esperança em meio a uma sociedade corrompida. Algo parecido acontece com L’Apollonide, quando aquelas belas prostituas que comandam um bordel decadente passam a representar, curiosamente, a imagem de vítimas de uma sociedade egoísta. Elas não são a escória da sociedade, como muitas vezes aparecem nos filmes, e sim as únicas que se mantiveram (ironicamente) inocentes a um mundo marcado por mudanças injustas. A trama gira em torno de todas essas mulheres, em plena Belle Époque, lutando para manter um bordel de luxo quando a prostituição de rua começa a crescer e tomar o espaço antes dominado por elas. Aproveitando-se do glamour dessa época da história francesa, Bonello aposta as suas fichas em uma direção de arte impecável, fazendo cada enquadramento ali parecer uma pintura clássica ganhando movimento aos poucos. Seu truque de efeito é começar cada nova cena com poucos movimentos de câmera e certa estática por parte do elenco, para depois ir acelerando sutilmente até tudo entrar em uma sintonia dançante – como um quadro ganhando vida. O grande acerto nessa mise-em-scène é o equilíbrio e o bom gosto. Filmes de época muito preocupados com a estética geralmente extrapolam nesse quesito, mas a cenografia, figurino e mesmo a fotografia de L’Apollonide jamais ultrapassam o limite do bom gosto e em momento algum fazem tudo parecer um desfile de escola de samba. Com isso temos uma perfeita atmosfera envolvente que, desde a cena inicial, absorve o espectador para dentro de seu contexto histórico sem muita dificuldade. Uma vez imerso nesse universo de luxúria e beleza, fica fácil entender a grande ironia presente no texto de Bonello. A condição de decadência implícita naquele bordel que logo deixará de existir está associada à situação das prostitutas de lá –vítimas de um mundo que começava a mudar. Na lente de Bonello, a lástima representada pelo bordel não significa necessariamente que aquelas mulheres faziam parte da decadência; muito pelo contrário, elas são apenas sobreviventes àquilo. O grande responsável pelo mal, o nosso vilão, é a modificação que a sociedade se submete com o passar do tempo. Por conta disso, as variadas cenas de sexo não são o suficiente para tirar de nossa cabeça a imagem de inocência impregnada nos rostos das prostitutas. Ao contrário desses pornôs sofisticados e vazios que andam enchendo o mercado hoje, L’Apollodine tem algo por trás de toda sua exuberância visual e traz a marca sempre observadora e sagaz de seu diretor. Assim como em O Pornógrafo (Le Pornographe, 2001), onde a pornografia é associada à decência enquanto o moralismo ocupa o cargo de nocivo, ou em Tiresia (idem, 2003), quando um travesti é mostrado como a vítima de um padre inescrupuloso, Bonello apresenta nesse seu novo trabalho uma interessantíssima equivalência entre o sexo e a pureza. Se por um lado há todo um cuidado para que a direção de arte tão bem planejada não se exceda em artificialidade, por outro não há muito cuidado com a narrativa. Longo demais e cheio de momentos desnecessários, L’Apollonide com certeza agradaria mais se fosse tão enxuto quanto a mensagem que deseja passar. Se não fossem os rodeios que Bonello leva para finalmente chegar à sua simples conclusão, estaríamos diante de um dos filmes mais bem executados dos últimos anos. Mas nada disso compromete o resultado final da obra, que com certeza traz muito mais atributos do que falhas. Afinal, por trás daquele mórbido sorriso rasgado no rosto de Madeleine, ainda há uma bela mulher que exerce sua profissão com uma desenvoltura impecável; e por trás de alguns errinhos de percurso do novo filme de Bonello, se sobrepõe um cineasta que também exerce sua profissão com invejável desenvoltura." (Heitor Romero)
"Final do século XIX, início do XX. O travelling que literalmente esquadrinha os corpos para oferecê-los ao gosto do freguês repete seu movimento algumas vezes ao longo de L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância, último filme de Bertrand Bonello. Está aí seu sentido. “Eu amo profundamente as prostitutas. Elas sabem ser maravilhosas”, diz um dos clientes assíduos da casa. Maravilhamento este que é precificável. É também nesse ritmo orgástico de sentenças que as mulheres aparecem na tela, ora apresentando semblantes dos mais inocentes, ora um tanto selvagens. A caracterização dos humanos (sic) desvenda alguns mistérios (o passado) enquanto esconde outros (o futuro), mas não é aí que está a principal arma de Bonello. Se por um lado a manipulação dos dramas pessoais transborda a potencialidade feminina, também a não relativização das pessoalidades (e os psicologismos) é decerto uma virtude que se escancara para além dos limites geográficos/territoriais do espaço filmado. Em L’Apollonide, Bertrand Bonello fez um filme sexual à altura dos desejos. Se o sexo não é tão possante quanto o de Shame (filme em que ele é tema), aqui a sexualidade existe no momento em que ele é conjectura das relações, satisfação, completude, diário de ocorrências dramáticas e relaxantes. A agonia das mulheres que lá trabalham, que trabalham com seus corpos (jamais os vendem), é impressa pela aplicação do contrato de mútua colaboração no trabalho, em nível do imperativo categórico kantiano embebidas por um hedonismo epicurista. É um sexo não filmado, sem amor (essa baboseira), puramente prazeroso – não há espaço para o amor platônico renascentista, para quem o amor é mesmo uma forma de chegar à Deus (a novata, virgem, já leu Sade, mas não leu a Bíblia). A crueldade nos olhares das mulheres é o que subverte o sexo, que por sua vez é tragado pela imaginação da própria câmera (símbolo do olhar externo) e mesmo pela fotografia que, mergulhada na penumbra sádica da luz escassa, enxerga um mundo. Aqui, aos homens: poupo importa quem são. O feminismo de Bonello se inscreve nas entranhas dessa imagem gloriosa e potente do corpo que não é só objeto de desejo, mas sobretudo escultura do intelecto e das narrativas históricas e vívidas pulsantes daquela ambiência. Entenda-se: a tarefa do cineasta é menos complexificar as relações que ali se tocam que observá-las vulgarmente. O verbo (ser) concorda com o sujeito. Uma imagem a destacar, seria aquela em que uma das mulheres é maquiada, pintada mesmo, sobre suas cicatrizes. Ela é a Mulher que Ri – só que ela não ri. O traço vermelho que contorna sua boca e a espicha ainda mais até quase o pé do ouvido representa o exato oposto de sua lamúria: o sorriso forçado, arrancado às lágrimas do prazer, sinaliza a ideia de que talvez, naquele caso e momento específico, foi necessário sofrer um pouco para sorrir. A imagem é forte e insiste na verdade que possui intrinsecamente ligada ao seu discurso, pois realiza seu símbolo e seu signo em miúdos – às vezes, para uma imagem ser verdadeira basta que ela seja realizada -, seja para esconder um rosto ou para mostrá-lo ou para disfarçá-lo (a mise en scène é suficientemente robusta de modo que não escapa de olhar suas personagens). Quando uma jovem se oferece para trabalhar na casa, alegando que almeja a liberdade, quer ser livre, a patroa logo desdenha e lembra-a que ela agora está numa casa de prostituição, e que lá liberdade é utopia desvairada (a liberdade está lá fora). Esta é, tal como se explicita, a atitude que envolve aquela dezena de mulheres servis, humanas, políticas, constituindo suas experiências pessoais e alargando suas angústias. O registro é da mais alta finesse, sem o comportamento solipsista que aufere a maioria dos filmes contemporâneos uma estética ideológica de botequim. A narratividade de Bonello sustenta a estética, não fere a sensibilidade da imagem e enfrenta com dureza as dificuldades humanas que se impõe (o drama de cada uma das personagens é compreendido pela câmera, que abraça o sofrimento e o prazer num gole só). A doença genital chega para umas, constrangendo as outras e prejudicando a produtividade do estabelecimento. O filme não esquece sua motivação: decantar aquelas personagens é desnudá-las por inteiro e em todos os sentidos, reconhecê-las na iminência da paisagem que se apresenta. A decantação é parte desse processo de esparramar as forças de cada uma, difundir a heterogeneidade num espaço a elas mesmas tão caro. Um filme de resistência." (Pedro Henrique Gomes)
"L'Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância" (França, 2011) consegue um feito interessante: transitar entre extremos drasticamente opostos. Bruto e também elegante; cru e ao mesmo tempo poético; deprimente, mas romântico; sensual, porém, bizarro. Ambivalente, o longa-metragem de Bertrand Bonello narra o cotidiano de prostitutas em um bordel na Paris da virada do século XIX para XX para, adiante, discorrer sobre mudanças de comportamentos e de parâmetros concernentes àquilo que a sociedade da época passara a entender como tolerável em seu meio. Neste passo, considerando que atemporais são as agruras da profissão e a condição de pária assumida por tais mulheres, Bonello ressalva que hoje - ao invés do abrigo escravocrata de gerenciadores de luxuosas casas de encontro - as ruas, via de regra, são os atuais cenários do exercício da prostituição. Não obstante esse seja um relevante aspecto do roteiro, o que, entretanto, soa mais caro a Bonello é a abordagem humana e, portanto, jamais caricata do grupo de mulheres que por justificativas diversas tem de se submeter ao mercado do sexo. Assim, dentre muitas outras possibilidades sugeridas, vemos exemplos de quem começou a se prostituir no afã de esgotar dívidas pré-existentes e de quem optou por tal profissão no intuito de alcançar uma independência financeira que nada tem a ver com sobrevivência. São escolhas particulares sobre as quais nenhum juízo de valor é aplicado, afinal, a intenção é compreender não os motivos, mas as conseqüências emocionais geradas a partir de uma atividade tão exploratória. Com efeito, alguns podem ver clichês nos romances frustrados e imaginados pelas prostitutas, possibilidade essa que, embora não inédita, se mostra, na verdade, imprescindível ao processo de construção das farsas, das atuações teatrais que soterram a amargura da realidade em nome de uma felicidade fingida, porém apta a lograr a satisfação da clientela. Neste contexto, como forma de melhor ilustrar tal requisito prático da profissão, Bonello se apropria da obra O Homem que Ri de Victor Hugo e apresenta uma versão feminina do personagem na figura da mulher de programa cujo rosto fora desfigurado pela bestialidade de um cliente. Sua face monstruosa representa, desta feita, tanto o infindável sorriso mentiroso de suas colegas como também a brutalidade envolta na violação de corpo e mente característica da profissão. Não bastasse a forma exitosa com que torna factíveis os sentimentos descritos no roteiro, o filme de Bonello também se revela magnífico enquanto técnica seja em virtude das requintadas direções de arte e de fotografia, seja em decorrência do competente trabalho de edição, seja por conta do estupendo elenco feminino, seja, por fim, em razão da fascinante trilha musical cujas canções, apesar de estranhas ao período histórico retratado, proporcionam uma acachapante carga dramática - tal qual o modus operandi de Rainer Werner Fassbinder em As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant (Alemanha, 1972). Para quem ainda não viu, eis, enfim, um filme imperdível." (Setima Critica)
2011 Palma de Cannes / 2012 César
Les Films du Lendemain
My New Picture
arte France Cinéma
Arte France
Canal+
Ciné+
Centre National de la Cinématographie (CNC)
Région Ile-de-France
Programme MEDIA de la Communauté Européenne
Soficinéma 6 Développement
Soficinéma 7
Cinémage 5
Diretor: Bertrand Bonello
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Sountrack Rock = The Moody Blues
Check-Ins 233
Date 28/06/2013 Poster - - DirectorRainer Werner FassbinderStarsHanna SchygullaGiancarlo GianniniMel FerrerIn 1938, a German singer falls in love with a Jewish composer in Zurich, who helps Jews flee Nazi Germany. She wants to help but is forced back to Germany. Her song "Lili Marleen" becomes a hit with soldiers and the Nazi top brass.[Mov 08 IMDB 7,1/10 {Video}
LILI MARLENE
(Lili Marleen, 1981)
"Entrelaçamento entre cinema de guerra e melodrama, entre o coletivo (país) e o individual, Lili Marlene é um eficiente comentário social de Fassbinder sobre a consciência, o peso das escolhas e a resistência." (Bernardo D.I. Brum)
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''Tantas vezes dedicado à Alemanha do pós-guerra, em "Lili Marlene" Rainer Werner Fassbinder retrocede aos anos do hitlerismo para narrar a história de uma canção e de sua cantora. A canção viria a se tornar uma espécie de hino internacional dos soldados em guerra: um estranho canto de alento e dor, simultaneamente. O diretor fixa-se na história de Willie (Hanna Schygulla), a cantora alemã apaixonada por um compositor judeu que se torna um sucesso imediato e um símbolo do Reich depois de interpretar a canção. Essa contradição central forma, com outras que virão, o magnífico núcleo melodramático do filme de Fassbinder. Que, recordemos, depois de passar a vida em pequenas produções, nesse momento atingia um prestígio mundial que lhe permitia filmar longas-metragens em que o luxo sobressai, tão mais paradoxal quanto em meio à carnificina da guerra.'' (* Inácio Araujo *)
''Nascido em meio às ruínas do Terceiro Reich, o alemão Rainer Werner Fassbinder consagrou-se grande artista ao reinterpretar, com seus filmes, a história da Alemanha. Sob inspiração de Balzac, cuja Comédia Humana consiste de cenas de facetas humanas e desumanas da ascensão da burguesia após a Revolução Francesa, Fassbinder usou o cinema para investigar e expor as fraturas da alma alemã no século 20. Encontram-se sinais desse projeto em toda a sua extensa obra, mas a intenção torna-se explícita a partir de O Casamento de Maria Braun, filme que tornou o diretor alemão conhecido além de um pequeno círculo de iniciados. E alcança máxima visibilidade com "Lili Marlene", que contou com um orçamento milionário (para os padrões da época) e projetou internacionalmente o nome do cineasta. Com a linguagem do melodrama, gênero do qual Fassbinder herdou de Douglas Sirk a maestria, "Lili Marlene" enfoca o drama de uma cantora cooptada pelos nazistas e transformada em ídolo em contraposição a suas emoções íntimas. A trajetória de Willie, vivida com alma de estrela por Hanna Schygulla, serve para Fassbinder revelar os mecanismos de projeção e de sedução do próprio nazismo. A Fassbinder interessa não enxergar a história como um passado neutralizado na poeira do tempo, mas como uma força que vive com a mesma intensidade de seus agentes humanos. O mecanismo de ascensão do regime lúgubre de Hitler que, segundo alguns, adotou a estética como forma suprema de encantamento das massas é aqui desmontado em minúcias. Na identificação extrema de Willie com a canção que interpreta e que a eleva aos céus da idolatria o que se revela, aos olhos do espectador, é uma Alemanha mergulhada em sonho e que, imobilizada, torna-se incapaz de escapar do pesadelo. Com "Lili Marlene" Fassbinder mostra que nem as canções de amor são inofensivas.'' (Cassio Starling Carlos)
Bayerischer Rundfunk (BR)
CIP Filmproduktion GmbH
Rialto Film
Roxy Films
Diretor: Rainer Werner Fassbinder
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Date 06/08/2013 Poster - ######### - DirectorBernardo BertolucciStarsJill ClayburghMatthew BarryVeronica LazarWhile touring in Italy, a recently-widowed American opera singer has an incestuous relationship with her 15-year-old son to help him overcome his heroin addiction.[Mov 09 IMDB 6,6/10 {Video}
LA LUNA
(La Luna, 1979)
"Uma mãe que chega a satisfazer sexualmente o filho adolescente para aplacar a dor do garoto que busca mais uma dose de cocaína. Fica claro que "La Luna", de 1979, é predestinado à polêmica. Mas, como seu diretor é Bernardo Bertolucci, tudo se encaixa. Dentro de sua filmografia, as discussões sobre "La Luna" ficaram à sombra do estardalhaço provocado por "O Último Tango em Paris", de 1972. Há muito longe de lojas e locadoras, "La Luna" surge em DVD pelo selo do Instituto Moreira Salles, que tem a proposta de resgatar filmes interessantes do limbo do mercado. O DVD vem com um pequeno livro de análise, mas o melhor mesmo é (re)ver a história da cantora de ópera (a ótima Jill Clayburgh) em sua relação explosiva com o filho que sente a falta da figura paterna." (Thales de Menezes)
"O diretor italiano Bernardo Bertolucci, 73, ganhou nos anos 1970 o adjetivo de polêmico muito antes desta palavra ser vulgarizada. O trabalho do cineasta era realmente capaz de disparar discussões intensas. Foi assim com O Último Tango em Paris, espécie de narrativa existencialista com Marlon Brando, Maria Schneider pelada e uma famosa cena com manteiga. "La Luna", de 1979, já foi concebido com direção irreversível para a polêmica. Como poderia ser diferente? O filme mostra uma mãe que chega a satisfazer sexualmente o filho adolescente para aplacar a dor do garoto que busca mais e mais cocaína. A ótima atriz americana Jill Clayburgh interpreta a cantora de ópera que tem essa relação explosiva com o filho e enlouquece com ele. "La Luna" é um filme belíssimo e perturbador." (* Inácio Araujo *)
"Desde a primeira cena, "La Luna" tenta o espectador com uma explicação fácil. Lá está a mãe que leva o filho sorridente numa bicicleta, sob a luz da lua. Não será essa a relação perfeita, que inspirou a Freud o complexo de Édipo? Não será também o momento insubstituível, em torno do qual todos os outros se ordenam? E que dizer da crise de adolescência de Joe, o filho? Ou da crise de maturidade da mãe? Ou das cenas de incesto, ponto extremo da dedicação da mãe por seu filho? Ou, ainda, da providencial morte do pai, no início? Assim como flerta ostensivamente com o clichê, Bernardo Bertolucci não permite que ele se arvore em explicação de nada. Nada, na verdade, tem explicação -clichê ou não. Porque a empreitada de Bertolucci, mais bem-sucedida aqui do que em seus outros filmes, consiste em construir uma rede de explicações razoáveis -e de modo nenhum opacas- para o comportamento de seus personagens. No entanto, essas explicações não explicam. Elas rodam, como que por hábito: mãe + filho = Édipo. Etc. Mas não esclarecem, a rigor, nada do que está acontecendo. Temos, então, explicações claras para acontecimentos que, quanto mais passa o tempo, mais opacos se tornam. Talvez seja essa, precisamente, a arte de Bertolucci: a de desexplicação do mundo. De um mundo saturado por explicações freudianas, marxistas, pedagógicas, econômicas. É como se tudo em "La Luna" quisesse trazer as coisas de volta à superfície, em sua inteireza e mistério. É como se tudo desse tão certo nesta inegável obra-prima que, ao final, nos resta pensar, diante de um rosto cheio de tristeza, por exemplo, que afinal a vida não se explica. Apenas consente em entregar-se, fugazmente, transfigurada na beleza de uma música ou no esplendor de uma imagem. Que, de todo modo, não a explicam, apenas a prolongam ou duplicam." (** Inácio Araujo **)
"Talvez seja possível dizer que, sem fases intermediárias, ''La Luna'' saltou de um quarto minguante, na primeira exibição, para a lua cheia, com a boa recepção no lançamento comercial na Europa e nas Américas. Na estreia, em agosto de 1979, na 36ª Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica di Venezia, sofreu uma recepção abertamente hostil dos críticos italianos: Gian Luigi Rondi (até o ano anterior diretor artístico do festival) abandonou a projeção no meio – um horror! – e outras explosões indignadas se espalharam pelos jornais no dia seguinte: um filme com personagens de atitudes mesquinhas (para Aggeo Savioli de L’Unità) de um diretor demasiadamente pretensioso (para Paolo Granzotto de Il Giornale) que durante todo tempo faz psicanálise de si mesmo” (para Guglielmo Biraghi de Il Messagero). Dois meses mais tarde, no lançamento na Espanha e na França, uma recepção entusiasmada. Diego Galán (El País, Madrid), presente na sessão de Veneza (as vaias começaram muito antes do final da sessão), comenta a reação dos críticos (que falta de visão! Que estranhos somos!) e assinala que o diretor trabalha elementos melodramáticos à luz da psicanálise e de uma construção poética para desenvolver temas esboçados em seus filmes anteriores. Jacques Siclier (Le Monde, Paris) sublinha o refinamento estético e o soberbo estilo dramático dessa história de um impulso incestuoso entre mãe e filho adolescente. Michel Young (Rouge, Paris) conclui: este é um filme fascinante por jogar em dois níveis – a realidade cotidiano dos personagens e a ópera. Bertolucci empresta uma poética universal a uma cena melodramática." (Jose Carlos Avelar)
37*1980 Globo
Fiction Cinematografica S.p.a.
20th Century Fox Film Corporation
Diretor: Bernardo Bertolucci
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Soundtrack Rock = The Bee Gees
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Date 17/08/2013 Poster - ######## - DirectorIngmar BergmanStarsIngrid ThulinGunnar BjörnstrandGunnel LindblomA small-town priest struggles with his faith.[Mov 10 Fav IMDB 7,9/10 {Video/@@@@}
LUZ DE INVERNO
(Nattvardsgästerna, 1963)
"Análise profunda, através de diálogos magistralmente escritos, da relação humana com a necessidade da existência de um deus. Sem dar respostas prontas, Bergman cria um cenário propício para auto-análise sobre vida e amor." (Alexandre Koball)
{Deus esta silencioso. Deus não pode falar. Deus nunca falou, pois Deus não existe, só isso} (ESKS)
Bergman questiona a existência de Deus nesse filme belíssimo de ótimos personagens.
"Um pastor cristão, que atua em uma longínqua, diminuta e friorenta vila sueca, olha para Jesus Cristo pregado na cruz e comenta: Que imagem ridícula!. Trata-se de "Luz de Inverno", de 1962, segunda e melhor parte da Trilogia do Silêncio, que Ingmar Bergman fez tendo como tema o silêncio de Deus. O filme tem todas as características do cinema do diretor: longo planos focado no rosto dos atores, diálogos densos, atuações lancinantes e discussões existenciais. É de lascar. Luz de inverno fala da perda da fé. Não só os fiéis sofrem com as hesitações do pároco descrente: sua amante também é massacrada com a desilusão da autoridade religiosa local, homem distante, incapaz de amar. Ela diz ao amante: Nunca acreditei na sua fé, sempre a achei neurótica e obscurantista. O pastor se culpa pelo suicídio de um humilde pescador, dilacerado pelo medo da guerra nuclear então em curso no mundo. Acreditar que Deus não existe faz a vida ter sentido. É um alívio! Dor e morte tornam-se coisas naturais, diz o pastor ao recolher o corpo do ex-fiel que acabara de dor um tiro no ouvido. O pastor começou a se questionar depois da morte da mulher, a quem amava com força. Julga nunca mais encontrar alguém à altura. Impecáveis, Gunnar Bjornstrand e a belíssima Ingrid Thulin fazem o casal de maneira soberba. Bergman baseou-se no clássico Diário de um Pároco de Aldeia, de Robert Bresson, para compor seu filme de apenas 80 minutos, com igual rigor cinematográfico do cineasta francês. Ambientou-o na paranóia que começou a crescer com a iminência da guerra nuclear. Deus, mais uma vez, parecia ausente frente à desgraça. Cansado, sem ter o que falar aos fiéis, em especial em momentos de desespero - quando eles mais necessitam de ajuda –, o pastor vê sua igreja esvaziar até que, no final do filme, reza uma missa para ninguém, talvez porque reencontrou a fé ao conversar minutos antes com um deficiente físico que lhe disse ter Jesus Cristo sofrido mesmo foi de solidão, não por causa dos castigos físicos. Ou talvez tenho celebrado a missa só para si mesmo, para tentar se convencer, um ato reflexo. É impossível saber." (Demetrius Caesar)
"A Luz de Inverno" é o segundo filme da chamada Trilogia do Silêncio, do diretor sueco Igmar Bergma. Porém hoje, em entrevistas recentes, ele nega que os filmes Através de um Espelho, este e O Silêncio formem uma trilogia sobre o Silêncio de Deus e que só disse isso na época porque fazer trilogias estava na moda. Mas parece estar errado. Ainda que de forma inconsciente, a temática entre os filmes é semelhante, mesmo que se diferenciem na forma e no estilo. Dos três filmes, "A Luz de Inverno" é o mais seco, o mais distanciado, e o mais difícil de ver. Para começar, Bergman não usa trilha musical, apenas umas poucas músicas incidentais aqui e ali. Como sempre, a fotografia é do seu iluminador habitual, o grande Sven Nykvist, que em poucos exteriores consegue passar o clima opressivo do inferno. O filme é construído em três atos, ou grandes cenas. O primeiro no interior da igreja (também sem adornos), o segundo na casa da amante Ingrid Thulin (onde de forma crua e até chocante ele disse que não suporta aquela mulher que há dois anos o persegue e mima, na esperança de se casar com ele) e o terceiro na sacristia de outra igreja (e começa e termina com atos litúrgicos). O filme é bastante claro e apresenta seu protagonista, o pastor Tomas (o que equivalente a Tomé, o apóstolo que precisava ver para crer), cada vez mais descrente em Deus a crise começou quando perdeu a mulher que amava até demais, dizem seus amigos. Quando um pescador (Von Sydow) vem lhe procurar, com relutância, porque está em crise existencial, porque tem medo da situação mundial, porque a China vai criar a bomba atômica e o mundo pode ser destruído, Tomas não consegue ajudá-lo. Logo depois, o pescador se mata, e sua mulher, excelente presença de outra musa de Bergman, Gunnell Lindblom, aceita tudo com complacência. Mas isso não lhe provoca remorsos ou maiores reflexões como em Através de um Espelho, ele fala em Deus como uma aranha. O momento mais marcante e famoso talvez seja a conversa com o sacristão, quando ele discute a Paixão de Cristo e afirma que ele não deve ter sofrido tanto ao ser torturado, porque tudo teria durado quatro horas, mas pelo fato de se sentir sozinho e abandonado por todos e até mesmo pelo seu Pai divino. Embora curto, não é um filme fácil e acessível aos que ainda não estão familiarizados com Bergman (que teria se inspirado em O Diário de um Pároco de Aldeia, de Bresson, diz a capinha)." (Rubens Ewald Filho)
"Uma missa sendo celebrada para nenhum crente. Um diálogo entre um deficiente e o pastor apóstata. A oração de uma ateia. A febre e a gripe, com a qual quase nos contagiamos. "Luz de Inverno" é daqueles filmes especiais. Nunca havia visto nada de Ingmar Bergman, e eis que começo por esta obra-prima. Li que se trata da segunda parte da trilogia do silêncio, composta também por Através de um Espelho e O Silêncio, e já li que Bergman é especialista em pessoas, em filmar vidas de verdade. Não sei dizer o que mais me chamou a atenção no filme: a temática – perda de fé –, sempre relevante para um católico como eu; as personagens – não deveria dizer as personagens, mas as pessoas, tal a autenticidade que elas passam; os belíssimos e tocantes diálogos; ou o clima pesado, reforçado pela neve, pelo frio, pela gripe do pastor. Não vou ousar entrar em detalhes técnicos. Limito-me a falar do que vi e do que senti. A atmosfera do filme é envolvente de tal sorte, que fiquei com medo de pegar a gripe do pastor. É possível sentir o frio, o peso da lama nas botas, os calafrios perpassando a espinha dentro da igreja vazia, o enfado provocado pela música que vem do órgão tocado por um homem sem qualquer compromisso com o culto. Há uma cena, particularmente um momento, perto do final do filme, cuja beleza da fotografia me encantou: Quando a amante do pastor reza, seu rosto é captado de forma que a sua bela silhueta fica desenhada pela luz, num simbolismo direto (a ateia que ela é, imersa nas trevas, é iluminada quando reza), mas nem por isso menos belo. Não sei o nome dessa técnica, usada muito, muito mesmo, mas o resultado é esplendoroso. Como é bom não saber de algumas coisas! Tentando encontrar o nome da amante do pastor (só encontrei o nome da atriz até agora – Ingrid Thulin), li que Gunnar Bjornstrand, que interpreta o pastor, estava realmente doente durante as filmagens. Preferiria acreditar que tudo havia sido planejado, eu acho. Os diálogos, as falas, são tão cheias de sentido e tão pesadas. Incrível como um filme como esse – todas as críticas que li falam de uma mensagem de ateísmo de Bergman – me evangeliza, me faz pensar ainda mais em Deus. As personagens são todas muito ricas. Os diálogos entre o pastor e o pescador e entre o primeiro e o deficiente são fantásticos, mas é quando o pastor conversa com sua amante que tudo acontece. Quanta sinceridade, entrega e devoção estão presentes nos sentimentos da mulher! Quanta amargura, quanto desespero e desamor carregam em sua alma o pastor! A cena em que ele despreza a amante lembra bastante (apesar de ser mais suavizada, mas não menos cruel) aquele momento de A Fita Branca e até mesmo de Luz de Agosto, de Faulkner, ambos já citados aqui por Reinaldo. Os diálogos funcionam tão bem porque não há personagens, há pessoas. Não é um filme sobre um pastor e sua amante, um pescador e sua esposa, é a história de um pastor e sua amante, um pescador e sua esposa. Não há excessos, é tudo muito contido. Desde a celebração, a leitura da carta, as discussões, o próprio suicídio. A missa celebrada no início do filme, e aquela que encerra a película são de um realismo duro, que machuca um católico, por sabermos que muitas vezes somos assim. E neste ponto o filme acerta mais uma vez: ele não cria estereótipos. Não se trata de um pastor ateu ou de uma amante com tendências à humilhação, ou de um pescador suicida. São pessoas vivendo um determinado momento da sua vida. Percebemos que elas têm um passado e terão um futuro (claro que exceção feita ao pescador). Elas respiram, mas é como se não respirassem. Estão sufocadas com algum peso. Estão angustiadas. Não aguentam mais. Cada um à sua maneira. Aí entra a temática do silêncio de Deus. O silêncio sempre me fascinou (por isso mesmo, desde já proponho-me a ver os outros dois filmes da trilogia). O silêncio de Deus então, não é novidade nem no campo teórico nem no campo prático. Qualquer pessoa que creia em Deus sente, em alguma época, esse silêncio – arrasador, doloroso, mas fundamental para o amadurecimento como cristão. É a noite escura da alma de São João da Cruz, quando duvidamos da existência de Deus, quando não temos ninguém para ouvir nossos clamores. Numa biografia recente de Madre Tereza de Calcutá, grande ícone religioso de nosso tempo, foram publicadas cartas de sua autoria em que ela afirma, dentre outras coisas, que passou mais de cinquenta anos da sua vida vivendo na escuridão espiritual. Apesar de, como falei, o filme ser visto como uma pregação ateia, há uma semelhança fundamental entre o pastor de Bergman e a nossa Madre Tereza: ambos não desistem. Madre Tereza não passou dois ou três anos, mas Cinquenta anos sem perceber Deus. E não desistiu. O pastor estava há alguns anos nesse vazio, que encontrou seu ápice após o suicídio do pescador. Mas ele termina o filme celebrando a missa. Se vendo Deus ou não, o que importa é que ele perseverou. Não sabemos se ele desistirá de tudo. Essa resposta cada um pode dar de si." (José Leonardo Ribeiro Nascimento)
"Godard estava certo em dizer que o cinema tem a sorte de preservar-se algumas belezas. No contexto da guerra fria, em 1962, em plena crise internacional política, Luz De Inverno, segundo filme da "Trilogia do Silêncio" de Bergman, chegava às telas anunciando uma crise de fé entre um pescador oriundo das silenciosas cidades do norte da Europa e atônito por saber entre os noticiários que a China possuía uma bomba atômica e o pastor (Thomas) - o personagem central do filme - que, igualmente, está em crise moral com seu ofício. Se pudéssemos restituir um fio condutor de "Luz De inverno" era teria um caráter (narrativo) teatral em cujas cenas têm seu desencadeamento de ação nos diálogos, longos diálogos aliás, com ritmos em que cada palavra pronunciada é uma tensão entre a palavra a seguir. Cada momento é decisivo pois eles refletem sobre o momento e sobre seu estado presente. Adiantamos que é um filme de poucos personagens, e também de pouca mobilidade espacial: quase todo o filme se passa no interior da igreja que cria uma sensação claustrofóbica. Quando se sai dessa jaula lúgubre não é para vultos alegres e sim para acompanhar o pastor que se dirige para lá das Colinas onde (o pescador) se matou. O silêncio da cena (o que ouvimos é apenas o barulho das águas) e a rapidez em relação ao corpo que começa a ser removido transmitem uma sensação de desajuste entre aquele que reflete o acontecimento e o fato consumado. Os enquadramentos do bosque e do lago são integrados a psicologia do personagem. Não há recursos de melodrama. Há apenas silêncio. "Luz de Inverno", como outros filmes de Bergman, aparentam serem lugares distanciados de tudo, do mundo moderno (quem imagina, por exemplo, que naquele tempo onde a fé cristã está em seu ápice, depois de voltar das cruzadas, o cavaleiro Antonius, de O Sétimo Selo, teria dúvidas sobre a existência de Deus). Parece que esse fim do mundo que é o mundo de Bergman é incomunicável com seu próprio mundo nas quais as pessoas vivem um outro tempo em suas vidas camponesas, nas vilas e províncias. Não obstante, parece a primeira vista um exagero o pescador estar alarmado por um acontecimento aparentemente distante: a China e sua bomba atômica. Exagero que logo se dilui, pois trata-se sobre a tragédia da possibilidade real da destruição do planeta. A modernidade e o progresso que mal se instalaram em todos os recantos do mundo chegam através das políticas internacionais catastróficas que acelera o (des)caminho da barbárie. O progresso é catastrófico na medida em que não forneceu um real progresso humano como sonhavam os iluministas. A angústia do pastor e do pescador podem ser aparentemente as mesmas. Digamos assim: que tanto o pastor quanto o pescador estão em uma situação de desespero tamanho que questionam o inquestionável: a fé de Deus. (Que imagem ridícula! assevera o pastor quando olha para o cenário de Jesus em uma cruz). Desse modo, em vez de aconselhar Jonas a recuperar sua fé o pastor lhe dá mais argumentos para o pescador distanciar-se de qualquer crença. Parece que não há mais escapatória, pois nem mesmo o sagrado fornece força de ação para continuar. Não é a toa que Thomas lhe conta que foi pastor em Lisboa durante a guerra civil espanhola. E que fechavas os olhos sobre o que estava acontecendo realmente. Recusava em nome de um Deus que, logo em seguida, quando solicitado a confrontar questões reais. logo se transformara em uma alga feia, um Deus-aranha, um monstro. Qual Deus salvará? Qual final se anunciará? Se pelo menos tivéssemos a verdade para acreditar ou se pelo menos pudéssemos acreditar acrescenta Thomas. O Pastor faz um pergunta em diálogo com o dostoevskiano: Se Deus não existisse, isso faria alguma diferença? Se para Dostoievski, tudo seria permitido, para o Pastor de Bergman: sim, a vida seria um alívio. Jonas sai perturbado. Em seguida, uma senhora avisa que Jonas Persson deu um tiro na cabeça com um rifle. Todavia Bergman segue adiante em sua luta contra a odisséia de um Deus Todo Poderoso. A morte não o assusta, ao contrário, o anima para encontrar provas para situação emergencial da sociedade. O célebre diálogo entre o sacristão e o Pastor tem uma proposição que vai nessa direção. Para o sacristão após ler o Evangelho chegara à conclusão que o sofrimento de Cristo não foi um dos piores. Seu sofrimento físico durou apenas algumas horas enquanto muitas pessoas passaram (e passam) por dificuldades mais dramáticas. Nessa medida, sua acepção trata Cristo de modo mais profano que sagrado, o coloca como humano, imperfeito, cheio de incertezas, um Cristo mortal como o de O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini. Assim pois, o sacristão acentua uma hipótese de que o próprio Cristo, também, teve dúvida da própria fé ao proclamar, antes de morrer, Deus, meu Deus por que me abandonaste?. Se até naquele que acreditamos, o senhor sob todas as coisas, estava descrente, por que nós não podemos nos permitir tal idéia? A crise de fé com qual é o motor do filme é mais pela possibilidade real de um apocalipse nuclear do que uma crise individual. Sem dúvida é um pessimismo que tem como de uma de suas fontes principais o existencialismo que, nessa época, estava em seu apogeu. Mas não nos esqueçamos que, para além disso, é uma crise geral dos padrões (bárbaros) civilizatórios que mesmo em temporalidades tão diferentes se combinam e criam ritmos desiguais na reprodução social do capital." (Deni Ireneu Alfaro Rubbo)
Top Suécia #21
Svensk Filmindustri (SF)
Diretor: Ingmar Bergman
11.069 users / 701 face
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Date 09/09/2013 Poster - ####### - DirectorSteven BrillStarsAdam SandlerPatricia ArquetteHarvey KeitelAfter two of the devil's three sons escape Hell to wreak havoc on Earth, the devil must send his third son, the mild-mannered Nicky, to bring them back before it's too late.[Mov 05 IMDB 5,1/10 {Video/@@} M/38
LITTLE NICK - UM DIABO DIFERENTE
(Little Nicky, 2000)
"Ninguém esconde coisa boa. Partindo deste preceito, algumas distribuidoras de cinema têm o hábito de evitar mostrar para a imprensa os filmes considerados de baixa qualidade. Não é possível afirmar com segurança absoluta que um filme "escondido" pela própria distribuidora seja necessariamente um fracasso, mas a tendência natural é esta mesma. Assim, confesso: não assisti à comédia ''Little Nicky - Um Diabo Diferente'', filme que teve apenas uma única exibição em São Paulo antes da sua estréia oficial. E mesmo assim, não foi uma exibição específica para a imprensa. Dentro da tradição de transparência que o Cineclick sempre teve com seus leitores, vamos nos limitar, por enquanto, a contar a trama do filme, sem nenhuma consideração opinativa. Pelo menos até uma próxima sessão, breve, num cinema perto da redação. Lá vai: Tudo começa no Inferno, no ano 2000. Após dez mil anos de reinado como O Príncipe das Trevas, já próximo da sua aposentadoria, o Demônio (Harvey Keitel) decide que vai permanecer mais tempo no cargo. Uma prorrogação de mandato que revolta seus filhos Adrian (Rhys Ifans, a revelação cômica de Um Lugar Chamado Notting Hill) e Cassius (Tom Tiny Lister Jr.), sucessores naturais do trono. Enfurecidos, os dois rapazes resolvem fazer um inferno particular na Terra, para que eles possam governar absolutos o novo Reino de terror, que terá Nova York como capital. A saída insubordinada de Adrian e Cassius pelos Portais de Hades desequilibra as leis naturais do cosmos, fazendo com que o papai-Demônio perca seus poderes gradativamente, tornando-se mais humano a cada minuto. A solução é pedir ajuda ao irmão caçula Nicky (Adam Sandler, de O Paizão), que agora precisa usar os poderes dados pelo pai e fazer de tudo para recuperar o equilíbrio entre o Bem e o Mal na Terra. Com um megaorçamento superior a US$ 80 milhões, Little Nicky - Um Diabo Diferente é a comédia mais cara já produzida pelo cinema. Seu elenco traz uma série de participações especiais como Quentin Tarantino, Ozzy Osborne, Dana Carvey (Quanto Mais Idiota, Melhor), Reese Witherspoon (Segundas Intenções), Rodney Dangerfield (De Volta às Aulas), Carl Weathers (da série Rocky), Rob Schneider (Gigolô por Acidente), mas nada disso foi suficiente para salvar o filme do fracasso comercial. Nas bilheterias americanas, ele não rendeu nem a metade do seu custo." (Celso Sabadin)
Avery Pix
Happy Madison Productions
New Line Cinema
RSC Media
Robert Simonds Productions
Diretor: Steven Brill
68.291 users / 1.818 face
Soundtrack Rock = The Stampeders + Kool & The Gang + Van Halen + Linkin Park + Johnny Cash + The Dandy Warhols + Filter + Insolence + Powerman 5000 + Zebrahead + Sinéad O'Connor + Cypress Hill + Scorpions + Ozzy Osbourne + Chicago + AC/DC + Disturbed + David Grohl + Deftones + Incubus + Muse
Check-Ins 313
Date 10/09/2013 Poster - ###### - DirectorSteven SpielbergStarsDaniel Day-LewisSally FieldDavid StrathairnAs the Civil War rages on, U.S President Abraham Lincoln struggles with continuing carnage on the battlefield as he fights with many inside his own cabinet on his decision to emancipate the slaves.[Mov 06 IMDB 7,5/10 {Video/@@} M/86
LINCOLN
(Lincoln, 2012)
''Uma das razões de "Lincoln" ter sido recebido com certa frieza é o fato de ser um filme sem ação tresloucada. O espectador atual está mais preparado (ou educado, ou manipulado...) a apreciar um Lincoln caçador de vampiros. É mais divertido. Steven Spielberg talvez não possa reclamar muito disso: ele foi o profeta, afinal, desse admirável mundo novo em que o cinema é uma distração para os cérebros fatigados por uma semana exaustiva de trabalho. Mas quando chega o Lincoln de verdade e temos diante de nós algo que faz sentido - como a batalha legal para abolir a escravatura, e todas as baixezas conexas contidas na atividade política -, parece que para muitos tudo é um exaustivo exercício: melhor viver as aparências." (* Inácio Araujo *)
"Lincoln acerta ao sair da estrutura tradicional da Biografia - nascimento, carreira e morte - ao retratar com atuações e direção de arte magníficas um momento crucial da história dos Estados Unidos e humanizar um personagem um tanto distante para nós." (Alexandre Koball)
"Ainda que Spielberg tenha amadurecido na concepção da imagem, seu conteúdo segue puxando sardinha em excesso e transformando figuras complexas em personagens unilaterais e previsíveis." (Rodrigo Cunha)
"Cineasta do espetáculo, Spielberg vence o desafio de fazer um filme austero mas não solene, baseado inteiramente na palavra (e por isso injustamente rotulado de enfadonho) e não na imagem. Mais que DDLewis, o destaque vai para o roteiro de Tony Kushner." (Régis Trigo)
"Um Spielberg mais contido enfrenta dificuldades no início com o excesso de nomes e informações das conversas, mas acerta a partir da metade, quando o roteiro engrena e o diretor compõe belíssimas cenas. E Daniel Day-Lewis, bom, só pode ser alienígena." (Silvio Pilau)
"Spielberg controlado no melodrama fala menos sobre abolição, mais sobre política e ética. Lincoln é peça chave do jogo sujo que ele alimenta por um fim nobre. É válido? Cheio de diálogos e informações, falta calma para pensar. Ou era esse o objetivo?" (Emilio Franco Jr)
"Spielberg foi extremista dessa vez. Ao tentar provar que podia fazer um filme biográfico sem apelar para seu costumeiro sentimentalismo, ele acabou soando excessivamente frio e verborrágico. Mas é uma bela ode ao poder da palavra falada e escrita." (Heitor Romero)
"Um filme correto, com uma ótima atuação e muito chato." (Rodrigo Torres de Souza)
"Bem realizado e relativamente bem construído - melhora muito no segundo ato -, o filme tem um Spielberg diferenciado e pouco atrativo. Day-Lewis espanta e Lincoln termina orgulhosamente saudado." (Marcelo Leme)
Um contido Steven Spielberg faz mais um drama histórico com cenas embaraçosas e excesso de boas intenções.
Steven Spielberg parece ter ouvido as críticas feitas ao seu trabalho ao longo dos anos. Seu ''Lincoln'' é bem menos melodramático que a maioria de seus filmes recentes, não castiga o público com uma saravaida de violinos do John Williams e tem um certo estofo intelectual vindo do roteiro de Tony Kushner. Mas Lincoln está mais para uma monocórdia minissérie da HBO, que Spielberg vem se dedicando a fazer há mais de uma década, do que para um grande filme. A Guerra Civil encenada na tela parece uma visão escurecida de O Resgate do Soldado Ryan e, mesmo livre dos canhestros diálogos, o tom solene termina por anestesiar tudo, reduzindo personagem principal e filme a sorumbáticos maneirismos. Se Spielberg maneirou no tom, suas boas intenções em excesso estão em toda parte – e bastante insidiosas, pois o diretor, no seu humor supostamente inteligente, não consegue ser discreto. Seu Abraham Lincoln é um êmulo de Barack Obama (do qual Spielberg, entusiasta de primeira hora, foi um dos maiores doadores na última campanha) para alfinetar o Partido Republicano. Lincoln era Republicano e mesmo assim lutou contra as elites de seu país para proibir a escravidão nos EUA, antecipando as lutas pelos direitos civis, voto feminino e outras causas ditas “liberais”, bem longe do atual Great Old Party, cuja facção mais radical, o Tea Party, empurrou a agremiação para a direita religiosa e reacionária. Com seu jeito caipira, suas historietas de gosto duvidoso, e embalado sempre pelo senso comum (sim, lembra o Lula), o Lincoln de Spielberg, apesar de o oposto do eloquente atual presidente Obama, o primeiro negro a ocupar o cargo, estão em sintonia. Alguns debates sobre o fim da escravidão são óbvias referências à atual discussão sobre o casamento gay – da qual Obama se declarou recentemente a favor e o roteirista Kushner, ativista, é uma das principais vozes. Kushner calibrou o roteiro para que as duas discussões, abolição dos escravos e casamento gay, caminhassem juntas o filme todo. "Não queira fazer ser iguais o que é naturalmente diferente, diz um deputado da oposição (a maioria dos discursos mostrados são contra a abolição, ressaltando o absurdo dos argumentos). O deputado Thaddeus Stevens (Tommy Lee Jones), numa tentativa de aplacar a dúvida sobre a questão da igualdade racial, solta o sofismo de que a abolição não tornaria brancos e negros iguais, eles apenas não teriam distinção perante a lei - ademais falso, pois o deputado nunca disse isso, mas isso não vem ao caso. ''Lincoln'' usa a sujeirada comum da política (mentiras, sofismos, populismo, nomeações de cargos e outros atos menos nobres, até mesmo coação) para conseguir ao que parece ser seu intuito principal, que era acabar com aquela guerra pestilenta. Sim, há discussão ética sobre os meios que o presidente fez para conseguir o resultado, mas entra o piano de John Williams, seguido de suas marchinhas militares, e uma sufocante grandiloquência que Spielberg confunde com a própria ideia de direção de um filme. A pior indulgência do filme é o papel da esposa de Lincoln, interpretada sofrivelmente por Sally Field. Aqui os vícios de Spielberg estão todos de volta, com cenas desnecessárias, diálogos reiterativos dizendo exatamente o que se vê na tela, exageros visuais e sentimentalismo. O filme sofreu inúmeras críticas históricas, e entre elas está o fato de que Mary Todd Lincoln nunca ter acompanhado os debates, mas há pelo menos uma dúzia de imagens de Sally Field nas galerias, acompanhada da criada negra, incluindo inúmeros takes contando voto a voto a vitória da emenda. Ela também se esborracha no chão às lágrimas implorando ao marido para evitar que o filho deles fosse para a guerra. Ela exigindo ser chamada de “Madam President” e reclamando de ser investigada pelas despesas na Casa Branca é a cena mais embaraçosa do filme, assim como o lamentável final – o elíptico assassinato do presidente – e a reedição da cena da menina do vestido vermelho de A Lista de Schindler. A degringolada deixa a dúvida se é Spielberg incapaz de fazer uma crítica política eficaz ou se foi o gênero que morreu mesmo, pressionado pela conjuntura econômica que restringiu bastante o fazer cinematográfico recente. Como se vê, Lincoln é um filme engajado, bem intencionado, bem feito, pertinente e articulado, mas nunca satisfaz. A impressão é de que esse tipo de obra não é capaz de competir com os documentários (cada vez mais em voga hoje em dia) e a internet, que conseguem ir muito além, de forma que Spielberg parece um amolfadinha sem inflexão intelectual suficiente para levar a cabo um projeto ambicioso como foi o de Lincoln. Afora todo o arsenal técnico, como a fotografia Janusz Kaminski, e a interpretação de Daniel Day-Lewis, essas simplificações todas hoje soam insultante para o espectador mais exigente. Exemplo: nos debates ocorridos na época, deputados não podiam discutir uns com os outros, apenas se dirigir ao presidente da Casa, de forma que todas (ênfase em TODAS) as cenas mostradas dos acalorados debates são falsas. As personagens dizem *beep* and *beep* em 1865. É um paradoxo: a sociedade da informação não comportaria mais esse tipo de reducionismo – mas a sociedade do espetáculo adora esse tipo de mistificação. Não há comprometimento em se fazer uma obra honesta sobre um personagem histórico controverso sobre um assunto difícil. Há espetáculo: fala-se sempre em prêmios para esse tipo de filme. Ou seja, um filme do Oscar. Por mais que o roteiro seja sólido e flerte com alguma densidade, Spielberg está lá para aliviar tudo, fazer concessões e tornar tudo palatável e de fácil compreensão. Não é má vontade em relação ao cinema de Spielberg: quando não faz filmes históricos, o cineasta é bom, como em Tubarão Jaws, ET – O Extraterrestre, a série Indiana Jones e até mesmo Minority Report - A Nova Lei e Inteligência Artificial (A.I. Artificial Intelligence, 2001). No terreno livre da ficção, não há amarras. Mas seus filmes históricos tem um ar de produto barato, apelativo. A beleza e técnica exuberantes acentuam a superficialidade. As derrapagens piegas incomodam e estão lá como para avisar: estamos diante de uma obra de segunda categoria, ávida pelos prêmios e alimentada pelas futricas da Era das Celebridades. ''Lincoln'' irrita por sua perfeição. É vazio porque o que diz já foi dito mil vezes. A maneira como foi dito também não é original. Impossível cobrar isso de Steven Spielberg, é fato. Impossível também lhe dar crédito a mais do que de um correto artesão, infelizmente, por essa obra. Talvez seja a época: alguns anos antes, ele seria considerado um grande intelectual. Mas hoje filmes como Lincoln são menores. Enfim, Spielberg está fazendo filmes com 30 anos de atraso, o mesmo cinema pela qual se insurgiu na metade dos anos 70." (Demetrius Caesar)
Steven Spielberg acha um equilíbrio entre o solene e o desafetado e deixa Daniel Day-Lewis fazer o que sabe.
''Fora dos Estados Unidos, as cópias de ''Lincoln'' estão sendo exibidas com uma cartela no início, um texto que explica a Guerra da Secessão em linhas gerais. Só então vem a cena de batalha que abre o filme de fato. Muita gente está achando que esse trecho de guerra foi editado também, porque tem só uns 40 segundos de duração. Não foi. É curto assim em qualquer lugar. A guerra, definitivamente, não é o foco de Steven Spielberg desta vez. É uma outra disputa que interessa o cineasta neste longa-metragem indicado a 12 Oscars sobre o décimo-sexto presidente dos EUA: a luta de Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis) pela votação da emenda constitucional que acabaria com a escravidão no país. A questão da abolição é um dos motivos da guerra civil, que opõe o Norte, comandado pela União, e os Confederados, os Estados separatistas do Sul cuja economia agrária depende dos milhares de negros escravos que seriam libertos pela nova lei. Com base em Team of Rivals - livro que analisa o gabinete de governo do presidente, que Lincoln formou com seus ex-rivais de campanha - Spielberg e o roteirista Tony Kushner limitam a trama ao crucial ano de 1865, o quarto e último da guerra civil. Lincoln se vê num dilema: estender um pouco mais o conflito (a aprovação da abolição significaria o possível fim da guerra, o que botaria pressão na Câmara na hora da votação) ou encerrá-lo de vez e evitar mais morticínio (uma vez que os Confederados já procuram negociar uma rendição). Esse dilema moral, que revela a força de estrategista político de Lincoln, sustenta o filme em seus 150 minutos de debates e negociações. Obviamente, o presidente não é o único defensor da abolição - bandeira que marcou a carreira de políticos como Thaddeus Stevens, vivido por Tommy Lee Jones - mas é Lincoln que responde pelas consequências, como a história deixou bastante claro no dia 15 de abril de 1865. É evidente que, com essa premissa e nessas circunstâncias, a forma como Spielberg registra a atuação de Daniel Day-Lewis seria o nervo do filme. Ambos fazem um trabalho que fica a meio termo entre o solene e o desafetado. Na entonação de voz e na linguagem corporal, mais até do que na competente maquiagem que o envelhece, Day-Lewis cria um Lincoln palpável - podemos sentir o peso que os quatro anos de guerra adicionaram ao seu corpo. A forma como o ator se move, senta-se ou articula um discurso tem, ao mesmo tempo, nos gestos lentos e na voz fina falsamente frágil, uma dor, uma gravidade e um esperto senso de retórica. Econômico nos close-ups e usando bastante os planos abertos, Spielberg basicamente fornece uma área útil para Day-Lewis ocupar. Quando o presidente está no meio de um grupo de pessoas contando suas histórias edificantes, por exemplo, a câmera quase sempre o pega em plano-médio, nem muito aberto nem muito fechado - porque fazer o close-up daria ao momento um excesso de dramaticidade que Spielberg visivelmente tenta evitar. Até a trilha cheia de refrões de John Williams, que toca desde a cartela inicial, está inesperadamente controlada aqui. Ao mesmo tempo, a iluminação de cena é quase barroca. Em muitos momentos, a principal fonte de luz em salas escuras vem da janela, e a réstia de sol obviamente recai sobre o presidente. É como se Day-Lewis estivesse sob holofotes num teatro, o que valoriza o já notável trabalho corporal do ator. Essa combinação fica entre o solene e o desafetado porque a luz é de iconografia - ela ressalta a silhueta clássica, com o cavanhaque e a cartola - mas sob ela Day-Lewis permanece inabalado, com sua composição mínima, sua atuação de câmara. O peso dos gestos de Day-Lewis, os holofotes e os planos abertos, combinados, dão uma boa dimensão da solidão do poder. Spielberg capta isso muito bem com sua costumeira excelência técnica, e se Lincoln é um filme imperfeito é porque o diretor carrega no discurso em alguns momentos para fazer o paralelo com outro presidente isolado, Barack Obama. Assim como Lincoln', Obama fez um gabinete com ex-rivais (Joe Biden, Hillary Clinton) e carrega uma bandeira impopular (seria o sistema público de saúde de Obama a nova abolição?). Cenas como a da discussão do orçamento da Casa Branca, porém, parecem encenadas apenas para forçar esse paralelo: Obama seria o idealista lincolniano de hoje, preocupado com o futuro, enquanto a oposição fica com as mesquinhezas dos gastos orçamentários. À parte esses excessos pontuais, o Spielberg contido de ''Lincoln'' pouco parece o cineasta que se colocava contra a escravidão nos dramáticos A Cor Púrpura e Amistad. Ele faz um filme que sem dúvida sabe dar ao episódio da abolição a gravidade devida, mas não perde de vista o político pai de família, negociador de apoios e contador de casos. Como o próprio diretor diz, em entrevistas, não é preciso endeusar mais um presidente que já tem sua cara em todas as notas de cinco dólares." (Marcelo Hessel)
''Steven Spielberg é o maior dos cineastas quando o assunto é aventura. Porém, ele exibe fragilidades ao filmar dramas históricos, como vem se especializando. Seus dois últimos longas são expoentes da qualidade distinta de seu trabalho como diretor. Se em As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne a intensidade e a diversão são evidentes, em Cavalo de Guerra Spielberg perde a mão ao introduzir o drama, como acontece em outros projetos do gênero. É, por vezes, sentimentalista, piegas com seus diálogos inverossímeis e trilha sonora demasiadamente emotiva. A temáticas importantes que trata juntamente com a destreza técnica de suas obras, porém, fazem seus trabalhos se destacarem, tornarem-se referência. Em “Lincoln”, no entanto, ele está mais contido. Em seu primeiro longa verdadeiramente político, ele concede a Tony Kushner, o roteirista, a função principal de contar uma trama detalhista e, até certo ponto surpreendente, sobre um dos fatos mais importantes da história dos EUA: a abolição da escravatura no país. O desejo de libertar os negros advém do próprio presidente norte-americano, Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis), que, depois de ter sua proposta derrotada, insiste em aprová-la em pleno período de guerra. Estamos em 1865. A Guerra de Secessão já não está mais em seu auge, mas as batalhas entre o Norte libertário e os Estados do Sul escravocratas da nação americana persistem. A oposição democrata na Câmara dos Representantes (equivalente a dos Deputados), porém, é ferrenha. Os mais radicais não aceitam qualquer possibilidade de igualdade entre brancos e negros. Por isso, algumas manobras políticas são realizadas para os congressistas mais maleáveis votarem a favor da 13ª Emenda, possibilitando o fim, pelo menos constitucional, da submissão racial. Não se engane. “Lincoln” não é um filme biográfico sobre a história de vida do 16º presidente americano. O objeto é a 13ª emenda à Constituição e o consequente fim da escravidão. A Guerra Civil serve apenas para contextualizar o período tenebroso que o país vive e influenciar as escolhas dos deputados acerca do assunto. São poucas as cenas de batalhas e mortes, das quase 1 milhão que ocorreram entre 1861 e 1865. Estamos diante de um longa eminemente político, em que as ideias se sobrepõem aos fatos, em que a emoção perde certo espaço para a razão, para as crenças e para as picuinhas políticas. O maior acerto do roteiro de Kushner, adaptado do livro Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln, de Doris Kearns Goodwin, é mostrar com riqueza de detalhes como um polêmico projeto alcança aceitação de diversos parlamentares oposicionistas em questão de dias. Apesar de ainda ser acometido por uma inocência em que interesses particulares estão pouco envolvidos, a trama exibe com louvor as manobras do presidente e toda a sua equipe para o convencimento dos não-aliados, seja por meio de promessas de cargos no Governo e simples argumentos ideológicos, seja, principalmente, por omissão de informações essenciais sobre o transcorrer da guerra. Não há nada de romântico nesse processo. Tratam-se, sobretudo, de negócios em que todos buscam ganhar ou defender o posicionamento e a autoridade de seu respectivo partido. E Kushner exibe tudo isso por meio de diálogos e mais diálogos. Em certos momentos, a impressão é de que nem estamos assistindo a um filme de Spielberg vide o falatório incansável da maioria das cenas. O cineasta, porém, se aproveita dos diversos momentos de eloquência do texto do roteirista para botar em prática suas exaltações e emoções, dando um pequeno e bem administrado coração ao filme, por mais que a trilha exagerada de John Williams trabalhe contra isso. E esses momentos acontecem, principalmente, quando temos o protagonista em cena. Abrindo espaço para o Lincoln pai de família, que é mais carinhoso com o filho mais novo do que com o mais velho e mantém uma relação turbulenta com a esposa, Kushner, porém, dá ao Lincoln presidente e líder dos republicanos uma atenção maior acertadamente. Trata-se de um homem que tem na dignidade e na oratória suas grandes qualidades. No entanto, por vezes, o texto esbarra no mito que circunda Lincoln, que a bonita fotografia de Janusz Kaminski faz questão de ressaltar. Parece com medo de exibir alguma falha de caráter no presidente recentemente reeleito. Até mesmo suas estratégias políticas duvidosas são inocentadas com lições de moral, muitas delas advindas de causos muito bem contados. Mas se o texto parece contraditório ao mostrar a desejada pureza do personagem, Daniel Day-Lewis faz dele um homem extremamente verossímil e carismático. Em mais uma performance impressionante, o ator inglês surge com uma voz arrastada, que jamais se exalta, o corpo curvado e um gestual incisivo. Se apreciamos sua técnica em suas primeiras cenas, Day-Lewis “desaperece” pouco depois para dar lugar a Lincoln, por inteiro. Outro destaque entre os atores é Tommy Lee Jones. Como o radical republicano Thaddeus Stevens, um dos principais apoiadores da abolição, Jones acerta o tom (ora cômico, ora dramático) e ajuda a história a sair das redondezas do protagonista e mergulhar na Câmara. O desfecho de sua trama é particularmente comovente. Vale elogiar também os desempenhos de David Strathairn, como o secretário de Estado William Seward, e de James Spader, como W. N. Bilbo, homem contratado para convencer secretamente alguns democratas contrários à Emenda, servindo como um ótimo alívio cômico. O elenco traz ainda nomes reconhecidos da dramaturgia americana, como John Hawkes, Hal Holbrook, Jack Earle Haley e Michael Stuhlbarg, todos em ótimos trabalhos. A única que destoa do desempenho dos colegas é Sally Field, extremamente estridente como a primeira dama dos EUA e uma das poucas mulheres da trama. Se às mulheres sobram poucos espaços, o mesmo pode-se dizer dos negros. Permancendo na esfera política, o filme pouco se preocupa com o público alvo da 13ª Emenda. “Lincoln” não é um filme social. Trata-se de um projeto atípico de Spielberg, de poucas cenas externas, maniqueísmo quase controlado, diálogos abundantes e de difícil compreensão para os menos atentos. Dono de qualidades evidentes, mas de erros perceptíveis, o longa é muito mais um trabalho de roteirista do que de diretor, o que não o faz menos importante para a sociedade americana. As 12 indicações ao Oscar são justas, mas não merece ir muito além, apesar do favoritismo." (Darlano Didilmo)
85*2013 Oscar / 70*2013 Globo
DreamWorks SKG
Twentieth Century Fox Film Corporation
Reliance Entertainment
Participant Media
Dune Entertainment
Amblin Entertainment
Kennedy/Marshall Company, The
Diretor: Steven Spielberg
162.636 users / 70.167 face
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Date 06/12/2013 Poster - #### - DirectorBurt KennedyStarsJames GarnerSuzanne PleshetteJack ElamA con artist arrives in a mining town controlled by two competing companies. Both companies think he's a famous gunfighter and try to hire him to drive the other out of town.[Mov 08 IMDB 6,9/10] {Video}
LATIGO - O PISTOLEIRO
(Support Your Local Gunfighter, 1971)
TAG BURT KENNEDY
{simpático}Sinopse
''O gigolô Latigo Smith (Garner) precisa arrancar algo do peito - a tatuagem com o nome de sua mais recente ex-noiva. Mas enquanto ele espera o médico local ficar sóbrio e realizar a operação, Smith fica sabendo que o chefão da mina local Taylor Barton (Harry Morgan) está tentando fechar a mina competidora contratando um famoso atirador, Swifty Morgan. Decidido a aproveitar a oportunidade para ganhar um dinheiro fácil, Smith faz um vaqueiro acabado (Jack Elam) se passar pelo temido Swifty, e embolsa o dinheiro. Com dinheiro no bolso, ele planeja ir embora para as montanhas... até que ele se apaixona pela explosiva filha de Barton, Paciência (Suzanne Pleshette). Mas quando o verdadeiro Swifty aparece em busca de sangue, Smith tem um plano ousado para salvar seu disfarce, o conflito entre os mineiros e ganhar Paciência - e pode ser que até funcione... se não detonar toda a cidade!''
{Dar dinheiro é o melhor jeito de tornar uma mulher sua inimiga} (ESKS)
Cherokee-Brigade Productions
Diretor: Burt Kennedy
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Date 18/11/2014 Poster - #### - DirectorEdward DmytrykStarsSpencer TracyRobert WagnerJean PetersThe saga of the Devereaux rancher family, set in 1880's Arizona.[Mov 06 IMDB 7,1/10 {Video/@@@}
LANÇA PARTIDA
(Broken Lance, 1954)
''Joe Devereaux (Robert Wagner) passou 3 anos na cadeia por ter assumido a responsabilidade pela destruição das instalações de uma mina que envenenava a água que o gado bebia, cujo verdadeiro responsável foi seu pai, Matt Devereaux (Spencer Tracy), um rancheiro e barão do gado. Joe quis poupá-lo da humilhação de ficar preso, mas após ser libertado descobre que seus meio-irmãos (pois Joe é um mestiço, em virtude da segunda esposa de Matt ser uma princesa índia) se rebelaram contra o pai deles, se recusando a assinar um documento que deixaria Joe livre. Matt então discutiu com os filhos e sofreu um infarto, que o deixou longe dos negócios. Ben Devereaux (Richard Widmark), o irmão mais velho, disse para Matt que iria vender parte das terras. Os dois discutiram e Matt pegou um cavalo para tentar impedir o negócio, mas não agüentou o esforço e morreu. A mãe de Joe, "Senora" (Katy Jurado), tenta persuadir que Joe não procure se vingar e vá embora com Barbara (Jean Peters), a mulher que ama. Como Joe não tinha aceitado uma proposta de US$ 10 mil dos irmãos logo que saiu da prisão, Ben pensa em matá-lo." (Filmow)
Spencer Tracy, Richard Widmark e Robert wagner – o western que Celdani pegou na Tv paga, tipo bonde andando, é ‘A Lança Partida’ (The Broken Lance), de Edward Dmytryk, de 1954. Tracy faz o velho rancheiro que descobre que sua família e o império que construiu a partir do gado estão se fragmentando. Há algo de Rei Lear na história, porque os filhos marginalizam o pai e só o bastardo (Robert Wagner) permanece fiel a ele. "A Lança Partida" é um daqueles filmes citados sempre que os críticos querem falar das semelhanças entre o cinema do Oeste e o de gângsteres. Dmytryk tranpôs para o Oscar a trama de um clássico de Joseph L. Mankiewicz Sangue do Meu Sangue (House of Strangers, de 1949), numa das raras vezes em que o grande diretor (e roteirista) não escreveu o material – o roteiro é assinado popr Philip Yordan. Gosto bastante de "A Lança Partida", porque tem ali, no personagem de Robert Wagner, uma tragédia do idealismo que me seduziu (embora a produção seja anterior, vi o filme pela primeira vez mais ou menos na mesma época de Rocco e Seus Irmãos e isso, de alguma forma, condicionou a minha visão do trabalho de Dmytryk). Curiosa figura, a deste cineasta. Dmytryk delatou companheiros comunistas à Comissão de Atividades Antiamericanas do Senado dos EUA – o episódio chamado de macarthismo -, mas, ao contrário de Kazan, que também foi delator e desenvolveu um ódio que o transformou num dos diretores mais críticos de Hollywood, Dmytryk teria se rendido ao cinemão. Coloco no passado imperfeito, porque eu próprio incorri neste erro, de avaliar o diretor desta maneira. Dmytryk fez diversos filmes sobre a segunda chance, como se quisesse renascer com seus personagens. De três ou quatro deles, eu gosto bastante. Um é "A Lança Partida", mas ele tem outro western, melhor ainda. Estou falando de ‘Minha Vontade é Lei (Warlock), com Richard Widmark, Henry Fonda e Anthony Quinn, que possibilita leituras metafóricas e psicanalíticas muito ricas. Dá para ver o filme como um estudo do macarthismo ou uma abordagem do homossexualismo entre caubóis, na ligação entre Fonda, o homem das pistolas de ouro, e Quinn, como seu guarda-costas debilitado e perturbado, para se dizer o mínimo. Mas eu ainda gosto de mais dois filmes de Dmytryk – Os Insaciáveis, sua adaptação do romance de Harold Robbins que ficcionaliza a história de Howard Hughes (e o filme é muito melhor, para mim, do que O Aviador, de Scorsese) e um pequeno filme com Gregory Peck, um thriller de paranóia chamado Miragem, feito depois de Sob o Domínio do Mal (The Mandchurian Candidate) e meio herdeiro do clássico de Jophn Frankenheimer com Frank Sinatra e Laurence Harvey. Infelizmente, tenho de admitir que não conheço o filme de Dmytryk que P.F. Gastal, em Porto Alegre, considerava a obra-prima do diretor. Cada vez que falava de Dmytryk ele lembrava Give Us This Day, de 1949, com Sam Wanamaker e Lea Padovani, que passou no Brasil como O Preço de Uma Vida. O filme é da fase comunista de Dmytryk, uma história social que o diretor fez no exílio, na Inglaterra, sobre trabalhadores imigrantes. Gastal achava o filme genial. Sempre quis acreditar que ele estava certo." (Luiz Carlos Merten)
27*1955 Oscar / 12*1955 Globo
Twentieth Century Fox Film Corporation
Diretor: Edward Dmytry
2.092 users / 85 face
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Date 27/12/2013 Poster - #### - DirectorAllen HughesStarsMark WahlbergRussell CroweCatherine Zeta-JonesIn a city rife with injustice, ex-cop Billy Taggart seeks redemption and revenge after being double-crossed by its most powerful figure: Mayor Nicholas Hostetler.[Mov 07 IMDB 6,1/10 {Video/@@@} M/49
LINHA DE AÇÃO
(Broken City, 2013)
"Erroneamente disfarçado de thriller de ação ordinário, há personagens de grande força e diálogos muito acima da média escondidos aqui." (Alexandre Koball)
''O título para o Brasil deste thriller é um equívoco e pouco ou nada diz sobre seu enredo. Pode, inclusive, induzir o espectador ao erro de acreditar tratar-se de um filme de ação, o que definitivamente não é. Originalmente intitulado Broken City, o longa fala de corrupção política e policial na cidade de Nova York. A trama de revelações fúteis e personagens genéricos e sem ambiguidade enfraquece este filme que taxia, taxia, mas nunca decola de fato. O herói do longa é Billy Taggart (Mark Wahlberg), ex-policial com uma mancha em seu passado, acontecimento que o levou a largar a policia e virar detetive particular. Os negócios não vão muito bem e muitos de seus clientes se recusam a pagar suas dívidas. É quando recebe uma ligação do prefeito (Russel Crowe) contratando-o para um serviço: descobrir o suposto amante de sua mulher (Catherine Zeta-Jones). O político está, aparentemente, menos preocupado com traição da esposa e mais temeroso do quanto a descoberta do caso extra-conjugal possa afetar suas chances de se reeleger. O trabalho parece fácil e a recompensa é alta: US$ 50 mil. O roteiro do estreante Brian Tucker pontua a vida de Taggart com mais uns elementos acessórios. Ele tem uma namorada por quem deixou de beber e uma irmã que trabalha como secretária em seu escritório. Personagens acessórios e supérfluos, que nada acrescentam e que pouca importância têm para a trama. A cena em que Taggart assiste ao filme de estreia de sua mulher - atriz em início de carreira – e, posteriormente, explode de ciúmes incomodado com as cenas de sexo que a amada protagoniza é desnecessária e só serve como artifício para eliminar a personagem da trama. Essa conveniência nos acontecimentos permeia todo o roteiro de Tucker, o que tira muito da naturalidade e credibilidade da história. As técnicas pueris de investigação de Taggart também não ajudam a nos convencer de que foi um investigador da polícia um dia. Ele está sempre à vista de seus investigados (chegando inclusive a bater papo com um deles). Sua câmera parece desprovida de zoom, pois só assim para explicar a proximidade que precisa estar das pessoas para clicá-las. Qualquer detetive pé-de-chinelo, desses que vemos anunciar seus serviços nos classificados, faria melhor. É claro que a investigação solicitada pelo prefeito tem outros propósitos que vão além da preocupação com a campanha. Tudo gira em torno de uma conspiração milionária que envolve a venda de um conjunto habitacional público. Mais isso não é novidade para o espectador, pois a tramoia já havia sido explicitada anteriormente por seu adversário político, interpretado por Barry Pepper – mais um personagem sem essência a serviço do desenvolvimento capenga do enredo. Este é o grande problema de Linha de Ação: seu roteirista usa os personagens para justificar os acontecimentos da trama e não como agentes desenvolvedores desta. Os detalhes são instáveis, as motivações dos personagens, confusas. Prova disso é a atitude altruísta de Taggart ao final do filme. Não há nada ao longo da história que nos convença de que seria capaz de tal sacrifício." (Roberto Guerra)
''Allen Hughes está longe de ser um diretor competente, como demonstram os filmes que realizou com o irmão gêmeo Albert -o blockbuster evangélico O Livro de Eli (2010) é o mais conhecido deles por aqui. Em seu primeiro voo solo na direção, Allen resolveu contar uma história de corrupção no meio político, tema atualíssimo em várias latitudes, mas não conseguiu lhe dar a menor originalidade. O roteiro cheio de clichês de Brian Tucker, outro estreante, não ajuda. Os personagens são superficiais, a história é previsível apesar das reviravoltas, o final se quer surpreendente mas é pouco crível, e ainda tenta empurrar boas intenções morais. Acusado de matar um estuprador, o policial Billy Taggart (Mark Wahlberg) acaba sendo absolvido, mas é obrigado a deixar a corporação, instado pelo prefeito de Nova York, Nicholas Hostetler (Russell Crowe), que manobrou para que nenhuma prova pudesse ser apresentada contra o assassino. Sete anos depois, Taggart - que virou detetive particular e está à beira da falência - é chamado pelo prefeito para descobrir com quem Cathleen, sua mulher (Catherine Zeta-Jones), o está traindo. Hostetler está em plena campanha pela reeleição e teme que o suposto affaire da mulher ponha tudo a perder. Ao espionar Cathleen, Taggart acaba se envolvendo em um escândalo imobiliário em que o prefeito é o principal implicado. Para embaralhar as coisas, o detetive é o maior suspeito de um assassinato relacionado ao escândalo. Os três personagens têm algo a esconder, mas a evolução da trama traz revelações que o espectador mais atento pode intuir com antecedência. A verossimilhança, fundamental para o espectador se interessar pela história, não é o forte do roteiro e contribui bastante para o naufrágio. Taggart não é convincente como detetive, pois não percebe que é seguido. Papeis relacionados ao escândalo são displicentemente jogados na lata de lixo. Cathleen vive rodeada de guarda-costas, mas a vigilância é furada facilmente por Taggart. Hostetler, pintado como um espertalhão, cai como um patinho na cena final." (Alexandre Agabiti Fernandez)
Emmett/Furla Films
Inferno International
Regency Enterprises
Black Bear Pictures
New Regency Pictures
Closest to the Hole Productions
Leverage Communications
Envision Entertainment
1984 Private Defense Contractors
Diretor: Allen Hughes
54.960 users / 9.028 face
Soundtrack Rock = Billie Holiday + Marvin Gaye + Moby + DMX
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Date 07/01/2014 Poster - #### - DirectorJulie GavrasStarsWilliam HurtIsabella RosselliniDoreen MantleThe struggles of Mary and her husband adjusting to retirement.{Video/@@@} M/53
LATE BLOOMERS - O AMOR NÃO TEM FIM
(Late Bloomers, 2011)
''Não é novidade que um filme de Julie Gavras consiga se aproximar de temas delicados com um charme que atenua as dores no meio do caminho. Se em A Culpa é do Fidel!, uma menina filtrava a dureza e sequelas do tema (militância política), em Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim o envelhecimento é o assunto da filha de Costa-Gavras.Os traumas são aliviados, as passagens menos dolorosas. Um filme educativo, no qual os personagens começam desconhecendo algo e, após a jornada compartilhada pelo espectador, aprendem uma lição para seguir vivendo. O bom da atenuação típica de Julie é que um público mais conservador que passaria longe de um filme sobre aprender a envelhecer dará uma chance a Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim e, provavelmente, não vai se decepcionar. O ruim é que abrandar na abordagem implica deixar de aprofundar e investir nas dores, o que também faz parte do processo de amadurecimento. Tais escolhas tornam ''Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim'' um filme leve, apesar da potencial aspereza da história; divertido e aprazível, porém superficial; personagens com empatia, mas repetições clichês; charmoso, todavia previsível. Quem guia a história escrita por Julie Gavras e Olivier Dazat é um casal vivido por William Hurt, cujo olhar guarda uma indecifrável tristeza desde O Beijo da Mulher-Aranha, e Isabella Rossellini, atriz que consegue dar uma pitada de humor às suas personagens. O filme abre com Adam (Hurt) ganhando uma medalha por seu trabalho como arquiteto. Passam alguns minutos e sua esposa Mary (Isabella) percebe que estão ficando velhos. O que fazer? O poder de sedução de uma mulher que chegou aos 60 (uma das melhores cenas do filme é a cantada no café), a necessidade de confirmar a virilidade para o homem, a obrigação de se reinventar, a falácia do discurso da “Melhor Idade” e outros assuntos passam com sensibilidade por "Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim". Porém, a cada sinal de entrar a fundo numa questão, o filme prefere puxar o freio. Um momento cômico sucede um dramático, uma sequência musical alivia o drama e assim o filme segue. Um tom parecido com Elsa e Fred - Um Amor de Paixão. Sem muitas surpresas, mas com um potencial claro em seduzir quem olha para a velhice como uma questão próxima. Numa sociedade cada vez mais conservadoram que cria um discurso eufemista para a idade, como viver os 60 com os benefícios que o tempo traz, mas sem cair nas armadilhas do comportamento infantilizado e vazio de viver como nos 20?" (Heitor Augusto)
"Se estreou evocando sua infância, no longa-metragem A Culpa É do Fidel, de 2006, a cineasta Julie Gavras descola-se da experiência pessoal em "Late Bloomers - O Amor Nunca Morre". Como se sabe, o cinema recente tem dedicado cada vez maior atenção à velhice. É um mercado florescente! Mas Julie parece dedicar-se sem grandes cálculos à tentativa de compreender o que ocorre num casamento de 30 anos. Mais marcante, talvez, seja o risco de assumir um filme que está distante de sua experiência pessoal, a partir da relação do casal formado pelos atores William Hurt e Isabella Rossellini. Mas a filha do diretor grego Costa-Gavras continua sensível." (* Inácio Araujo *)
"Mesmo sem estar no mesmo nível de "A Culpa é do Fidel!", Julie Gavras mostra sensibilidade, humor e ternura no trato de um tema sempre delicado: a velhice. Alguns momentos poderiam ser melhor explorados (como a cena do elevador), mas no geral é bem digno." (Régis Trigo)
"Rossellini e Hurt estão bem e se despem de vaidade para discutir a passagem do tempo e a velhice. Gavras, porém, tem a mão pesada, forçando a mensagem, e o roteiro apelas para conveniências e lugares-comuns. Um filme que não ofende, mas também não marca." (Silvio Pilau)
Date 26/01/2015 Poster - ##### - DirectorFrank BorzageStarsCharles FarrellRose HobartEstelle TaylorLiliom learns his wife is pregnant and robs a bank. During the getaway, he is killed and given a chance to return to Earth. He quickly learns the only way to make his wife and daughter happy is to leave them with cherished memories.[Mov 07 IMDB 6,7/10 {Video}
LILIOM
(Liliom, 1930)
{A sua memória as faz muito mais felizes que você as faria} (ESKS)
"Duas raridades. A primeira, "Liliom" já seria bem rara se fosse o filme que Fritz Lang fez na França, quando se mandou da Alemanha e antes de ir para os EUA. Mas não: trata-se do filme de Frank Borzage. A base, aliás, é a mesma: a peça de Ferenc Molnár sobre o boa-vida que, após muito aprontar neste mundo, suicida-se ao ser preso e vai a julgamento no outro mundo." (* Inácio Araujo *)
''Frank Borzage trabalhou no teatro, antes de entrar para o cinema. Partiu para Hollywood aos 20 anos, passando a trabalhar em faroestes ao lado de Thomas Ince. Como diretor de cinema americano foi o primeiro a ganhar um Oscar, com o filme Sétimo Céu, feito em 1927. Esse filme conta a história de um vagabundo de Paris e uma criança abandonada que o vagabundo salva da degradação física e moral. Em 1931, com o filme Depois do casamento, ganhou seu segundo Oscar. Em 1940, fez Tempestade d'alma, um drama anti nazista. Com esse filme, Frank Borzage parece ter encerrado seus dias de glória. O diretor tinha em Margaret Sullavan sua melhor intérprete A atriz chegou a atuar em quatro dos seus melhores filmes. Entre 1948 e 1958, o diretor foi uma das vítimas do macarthismo, e entrou para a lista negra de Hollywood. Encerrou sua carreira no cinema em 1959, com o filme O pescador da Galiléia." (Cinema Clássico)
Fox Film Corporation
Diretor: Frank Borzage
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Date 09/03/2014 Poster - ### - DirectorLuc BessonStarsScarlett JohanssonMorgan FreemanChoi Min-sikA woman, accidentally caught in a dark deal, turns the tables on her captors and transforms into a merciless warrior evolved beyond human logic.{Video/@@@@@} M/61
LUCY
(Lucy, 2014)
"É difícil perceber o objetivo real de Besson com Lucy - se é entregar um filme de ação e ficção científica ou um besteirol de ficção científica. Em ambos os casos, o resultado é miserável e perto do risível." (Alexandre Koball)
"O filme viaja de uma forma tão cativante que fica impossível não se entregar e ir junto naquela loucura toda." (Rodrigo Cunha)
"Assumindo sua veia kitsch, Luc Besson retorna ao primitivismo para deflagrar o caos onde vivemos, num mundo regido pelo "poder e lucro", devolvendo ao ser-humano a possibilidade de (se) descobrir - a custa de muito tiro e porrada." (Júlio Pereira)
"É como se Besson olhasse para o próprio cinema nessa chave encantada, que ainda transforma o famoso monólito em um pendrive e repete a “Aurora do Homem” do clássico de Kubrick como uma farsa, apenas para nos mostrar o poder do filme de gênero." (Gabriel Papaléo)
A evolução de Scarlett, a ascensão de Besson e o tempo: todos os encantos de Lucy.
''Se alguém fosse fazer um estudo no futuro sobre 2014, provavelmente verão marcado o nome de Scarlett Johansson impresso em alguma página dele na categoria entretenimento. Repleta de belíssimos títulos no currículo (Ponto Final - Match Point, Ghost World, O Homem que não Estava Lá), há algum tempo a mocinha americana teria sido olhada como símbolo sexual por algum produtor - a participação no filme de Woody Allen deve ter sido decisiva para tal - e desde então suas curvas tiveram maior atenção nos roteiros que lê, e a qualidade vinha caindo vertiginosamente no resultado final. Tanto no nível produção quanto no que compete apenas e ela. Mas eis que nessa temporada a moça não só emergiu do limbo como também conseguiu criar um momento de convergência muito especial entre os projetos, que fazem a situação toda tanto fascinante quanto deliciosa. Se em Sob a Pele vemos Scarlett na busca pela humanização e pelo entendimento da sociedade nos dias de hoje, em Ela sua personagem adquire todo o conhecimento em segundos, com o estalar de um dedo, e quando a mesma humanização chega pra essa máquina, não é estranho que ela se torne uma decepção, como todo humano está passível de ser. Humanidade, é tudo que elas querem ser... e Lucy é. Mas aí é a humanidade que foge dela, fazendo-a cada vez menos humana, ou mais super humana; de tão super, desprovida de qualquer traço humano cada vez mais. Ironicamente. É a evolução, enfim, da revelação de mais de uma década atrás. Julgada objeto, hoje mulher de plenos poderes na indústria, com dois absolutos sucessos de críticas e dois absolutos sucessos de público (e também de crítica; não esqueçam do segundo Capitão América), se metamorfoseia tal suas personagens e entrega aqui mais uma grande interpretação, a mulher vibrante e cheia de vida que ao esbarrar numa espécie de horror, ganha armadura mas perde o brilho até deixar de ser mulher ou super mulher, e passar ao estágio seguinte de algo jamais alcançado ou desejado. Usa a arma que quase virou contra ela (o sex appeal) para se valer dele em projetos que o tomam, engolem e regurgitam algo de fato substancioso e cada vez mais impressionante. Sendo bem direto, eu nunca curti Luc Besson. Nikita e O Profissional seriam os melhores momentos de sua filmografia mas não incensaria ninguém cujos melhores filmes fossem esses, e que além das muitas bobagens no currículo, de bastante tempo pra cá estivesse fazendo mais filmes ruins que bobos. Como produtor, o cara não pode reclamar; redescobriu Liam Neeson como herói de ação e criou uma cinessérie escapista repleta de fãs. Sua função no entanto sempre foi entreter, sem compromisso ou assinatura que o marcasse particularmente. E quando já não se esperava nada dele, eis a reinvenção. Adepto de linguagem pop contemporânea desde sempre, Besson descobriu Mila Jovovich como 'action star', e desde cedo atrelou seu cinema ao crescimento da mulher no poder, dando involuntariamente um caráter feminista à sua voz de realizador. Joana D'Arc, Nikita, Leeloo, Angel-A, foram mulheres que sobrepuseram as fragilidades particulares de suas personas, ultrapassaram limites e renasceram com força. A essas mulheres se junta ''Lucy''. Se todos nós já estamos preparados para a carga de adrenalina que o cinema de Besson pode produzir, o que não imaginávamos seria o viés filosófico-eletrônico-pop-moderno na qual ele poderia se debruçar, e não necessariamente num projeto com estofo e cheio de algo a dizer. Mas que ele enfim encontrasse vazão ao seu olhar clipado sobre o cinema, e mais, que tudo isso junto desse mais que samba, desse em algo verdadeiramente substancial, emocional e artístico de fato, uma surpresa acachapante, enfim, um acerto gigante. Observando o que se ingere de blockbuster no mundo, e o que é produzido por Hollywood em particular (o grosso da produção), fica claro que não é maioria o binômio que une cérebro e acelerador. Contra tudo e contra todos, o francês dá uma guinada de 180 graus na carreira com um produto que não apenas quer te sacudir na cadeira, como também provocar uma discussão, mesmo que seja de botequim (sim, mas algo contra?). Algo cheio de ritmo, som, fúria, mas também sutileza, subtexto (a mulher, atacada na primeira cena, ainda frágil como um cervo, mas vislumbrando a onça que já a veste), camadas e mais camadas de reflexão, de carreiras que encaminhavam para o grande nada e ressurgem na alegoria pop sobre o valor cada vez maior do inimigo que já não é mais só meu, mas do mundo inteiro: o tempo, que se faz tão onipotente e necessário até nos consumir de vez." (Francisco Carbone)
O cineasta francês mostra que pode não entender muito de ciências, mas sabe muito bem como fazer um filme de ação - e com conteúdo..
''Luc Besson é um aficionado por ficção científica e anime. Mesmo que sua filmografia não se volte especificamente para o sci-fi, as referências de mestres do gênero e da animação japonesa são notáveis em suas obras. Quase duas décadas após o divertido O Quinto Elemento, o cineasta francês volta a escrever e dirigir uma obra na qual pôde dar vazão a essas paixões de maneira mais explícita neste “Lucy”, cujo título remete ao apelido dado à ossada da Australopithecus afarensis descoberta em 1974. Ignore completamente a tecnobaboseira. Boa parte da ciência do filme é completamente errada e é ótimo que o próprio Besson (e o longa em si) admita isso. O mito do ser humano utilizar apenas 10% do seu potencial cerebral é equivocado, mas a fita faz dela um ótimo pontapé inicial para sua premissa, que mistura as partes mais cerebrais de 2001 – Uma Odisséia no Espaço, A Origem, um certo episódio de Jornada nas Estrelas – A Nova Geração, Serial Experiments Lain e Akira com a brutalidade graciosa de O Profissional. Lucy (Scarlett Johansson) é uma jovem modelo/atriz em Taiwan que é forçada por seu namorado a fazer uma entrega para um perigoso chefe do submundo coreano (Min-Sik Choi). Obrigada a trabalhar como “mula” transportando uma droga experimental, a substância acaba vazando para o seu organismo, permitindo o acesso a áreas antes desconhecidas de seu cérebro. Com a ajuda de um neurocientista (Morgan Freeman) e de um policial francês (Amr Waked), Lucy corre contra o tempo para entender e realizar seu destino. Uma das virtudes de Besson é a capacidade que ele tem de contar uma história de maneira direta e econômica, sem perder muito tempo com enrolação. Em “Lucy”, mesmo exagerando no uso de metáforas visuais, a agilidade da narrativa mantém o público em estado de tensão quase que permanente, deixando pouco tempo para pensar nas besteiras científicas que são jogadas pelo roteiro. O cineasta também escapa da armadilha de se criar uma protagonista excessivamente poderosa a ponto de destruir o temor do público por seu destino. A Lucy de Scarlett Johansson chega inicialmente como uma moça comum e indefesa, passando para um estado quase que divino no final do primeiro ato da projeção. A partir deste ponto, o modo de agir da atriz em cena muda porque a personagem não é mais a mesma e a percepção que ela tem de si e do ser humano também muda radicalmente. O drama interno de ''Lucy'' é a sua fragilidade e o que dá coesão e substância às cenas de ação. A função do policial Pierre, que passa a acompanhar Lucy em sua jornada, é ser a âncora de humanidade da narrativa e o lembrete para esse ser divino do que ela outrora foi. Tendo em vista que a importância de Pierre é justamente ser desimportante, perdoa-se a relativa falta de carisma de Amr Waked. O policial é basicamente uma folha em branco que deve ser preenchida pelo próprio espectador, que assim se sente como o companheiro de Lucy em sua jornada. Considerando a atuação de Scarlett aqui e no fascinante Sob a Pele, temos dois projetos, lançados um próximo ao outro, mas radicalmente diferentes, onde a questão humana é examinada por ela à distância, com a bela atriz se mostrando igualmente competente em ambos os papéis. Johansson carrega a produção com segurança e maturidade, conquistando a simpatia do público nos momentos iniciais pela vulnerabilidade de sua personagem e arrebatando-o após a transformação de Lucy. Só é uma pena ver Morgan Freeman desperdiçado em uma atuação expositiva, relegado a emprestar sua voz e credibilidade à ciência do filme. Luc Besson conduz as cenas de ação com sua maestria técnica habitual, fazendo bom uso das locações externas europeias e asiáticas, especialmente em uma corrida automobilística no meio de Paris, na qual as câmeras IMAX realmente fizeram a diferença. Ressalto ainda o bom retrato visual das habilidades de Lucy e a bela trilha sonora de Eric Serra, antigo colaborador de Besson, cujas composições oscilam entre o evocativo, o bizarro e o empolgante. “Lucy” é um eficiente filme de ação e uma péssima aula de ciências, se saindo bem melhor ao explorar as consequências e responsabilidades de uma quase divindade (e em mostrar quantos traseiros esta consegue chutar em 90 minutos)." (Thiago Siqueira)
''O diretor francês Luc Besson adora criar heroínas bonitonas, desde a incrível Nikita nos anos 1990, que teve versões francesa (Anne Parillaud) e americana (Bridget Fonda). Agora é Scarlett Johansson que se torna mais uma moça mortífera nas mãos dele. ''Lucy'' é um tipo de mula futurista. Bandidos colocam cirurgicamente em seu corpo o pacote de uma substância misteriosa para que ela o leve além de uma fronteira. Mas o treco vaza em seu organismo, permitindo que ela use 100% de sua capacidade cerebral - muito mais que os 10% normalmente utilizados. Isso dá a ela um conjunto de superpoderes, que empregará para se vingar dos malvados. "Lucy" tem roteiro absurdo, humor cínico, ação da pesada e Scarlett Johansson. Está bom demais." (Thales de Menezes)
Date 15/02/2015 Poster - ##### - DirectorAndrey ZvyagintsevStarsAleksey SerebryakovElena LyadovaRoman MadyanovIn a Russian coastal town, Kolya is forced to fight the corrupt mayor when he is told that his house will be demolished. He recruits a lawyer friend to help, but the man's arrival brings further misfortune for Kolya and his family.{Video/@@@} /92
LEVIATÃ
(Leviafan, 2014)
''"Se o retrato quase kafkiano de uma Rússia corrupta é válido, a rigidez e o formalismo da abordagem de Zvyagintsev afasta o espectador de um maior envolvimento com a história e os personagens. O resultado é de se admirar, mas à distância." (Silvio Pilau)
"Há algo de bem tradicional no filme "Leviatã", dirigido por Andrey Zvyagintsev: em 2014, ele propõe algo como nos revelar a realidade russa do século 21. Mas hoje acreditamos que a realidade não é mais do que isso, ou seja, uma palavra entre aspas: uma construção. Ainda assim, "Leviatã" ganhou um prêmio de melhor roteiro em Cannes pela história de Kolya, o homem que enfrenta praticamente sozinho o corrupto governo da pequena cidade em que vive, no norte da Rússia. Kolya vive com seu filho e a mulher (que não é a mãe do garoto) em um sítio que o prefeito acaba de desapropriar a preço de banana. A Justiça (que o político também controla) não recebe os apelos de Kolya. Todas as esperanças estão depositadas no amigo e advogado Dimitri, que possui um dossiê bem comprometedor sobre o prefeito. Mas este tem algumas cartas na manga de que lançará mão. A tragédia de Kolya começa a se desenhar plenamente quando o amigo advogado transa com sua mulher. A princípio este dado parece introduzido um pouco a fórceps na trama. Aos poucos, percebemos que é, na verdade, o dado central. Porque, em princípio, o que pretende nos mostrar Zvyagintsev é uma Rússia corrupta e autoritária, mais descendente do que sucessora do Estado soviético que a precedeu. Não por acaso aparecem ali retratos de Lênin, Brejnev, Putin etc. Mas o que interessa de fato, aquilo que está acima da "realidade russa", é a realidade russa que podemos apreciar. Não apenas a paisagem belíssima, mas os tristes conjuntos habitacionais do tempo do comunismo, o hotel interiorano, o modo de vida (as trabalhadoras no ônibus, por exemplo, mas também as bebedeiras homéricas) etc. E, sobretudo, as relações pessoais, tão deterioradas quanto o Estado é controlado por máfias. Talvez o aspecto mais original do filme venha da acusação (algo velada, mas ainda assim) da participação ativa da Igreja Ortodoxa Russa nessa esbórnia. Essa Rússia que o autor vê quase como uma doença milenar ganha aqui um relato vivo e bem copioso. Se não adere ao cinema soviético, nem ao misticismo conservador, esse cinema bem laico parece buscar apoio mais na literatura pontuada por excessos da Rússia do século 19." (* Inácio Araujo *)
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''Leviatã começa por ser um monstro bíblico, um demônio. Adquire sua forma mais conhecida no célebre livro de Thomas Hobbes sobre a constituição do Estados Unidos. Do estado forte, mais precisamente. E resurge agora, como filme. "Leviatã" com efeito, nos remete a existência de uma organização estatal forte. Um absolutismo, para ser mais claro. Estamos, pois, numa seara que a Rússia conhece bem: dos czares aos comissários do povo. O filme de Andrey Szyaginset nos introduz ao leviatã que surge após o fim da URSS. Pode ser um destino nacional, sem dúvida, ser governado sempre por déspotas... Mas o filme se détem, e não sem força, é nas corrupções e iniquidades locais e municipais que a imagem do monstro marinho cujo esqueleto permanece estacionado numa praia, sintetiza muito bem.'' (** Inácio Araujo **)
***
''Talvez algo aproxime Drácula de "Leviatã". Ambos tratam de reinados de terror. O do conde vampiresco, em sua versão mais célebre, a de Tod Browning, com Béla Lugosi, diz respeito a um homem que não consegue morrer inteiramente. O "Leviatã" de Andrei Zviagintsev nos fala de um Estado soviético que persiste, que não consegue morrer, na medida em que o pesado aparelho de Estado foi ocupado por máfias. A história, bastante singela, afinal, diz respeito a um homem que luta, em uma pequena cidade, contra o poder mafioso. Mais do que a trama propriamente dita, interessam, aqui, as imagens. Desde os tristes blocos de habitação popular do antigo regime aos lugares da corrupção generalizada. Já o Drácula apenas precisa sugar sangue para sobreviver. Ou seja, dois filmes que nos falam bastante sobre a atualidade próxima a nós.'' (*** Inácio Araujo ***)
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''Pode-se o longa-metragem "Leviatã" a partir de sua intriga: a luta praticamente solitárias de um homem - Kolia, papel de Aleksei Serebriakov - contra a corrupção que se consolidou e se expandiu na Rússia a partir do fim da União Soviética. Existe ai uma intriga interessante, em que a ideia central está na imagem de uma imensa ossada numa praia da região, a indicar a permanência de vícios arraigados na cultura. Talvez se possa observar o filme de Andei Zvyagintsev (também diretor de O Retorno e Elena) a partir de outro legado da URSS: a arquitetura de suas habitações populares. No caso, elas dominam a paisagem e parecem mesmo ocuper um lugar central na pequena cidade em que se passam os acontecimentos. Nada há de cruel nelas: apenas a completa falta de encanto parece nos dar indicações mais pertinentes sobre sua vida na URSS do que tantas denúncias (sem entrar no mérito de suas verdades etc): a dureza e a indiferença do regime estão lá.'' (**** Inácio Araujo ****)
A Mística do Poder.
''Antes de iniciar o texto sobre o filme propriamente dito, reservo espaço para uma consideração provavelmente irrelevante. Sobre o Oscar, acredito que uma das grandes funções da categoria melhor filme estrangeiro é apresentar aos espectadores comuns filmes considerados alternativos de países que alguns, pasmem, nunca imaginaram que produzissem filmes. Há alguns dias alguém me perguntou: A China faz filmes?. Ora, logo a China? Que susto esse alguém terá quando descobrir que a Nigéria tem uma grande produção cinematográfica. Obviamente não é obrigação do espectador saber quem e onde se produz os filmes, uma vez que tanto no Brasil quanto em vários outros países a maioria das produções simplesmente caem no colo do espectador que não escolhe o que ver, eles veem o que tem para ver. Quanto a essa categoria do Oscar, por mais reduzida e banal que possa ser, acaba como vitrine, o que inevitavelmente levanta questionamentos quanto às escolhas. De positivo está o fato de tais seleções despertarem atenção de uma parcela do público que procurarão vê-los ou ao menos terão ouvido falar de cada um. E esses filmes também terão mais oportunidades de estrearem comercialmente em alguns locais, ainda que no Brasil costumem ser esquecidos. O russo ''Leviatã'' foi um dos selecionados. Vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2014, o filme é dono de imagéticas impressionantes e de ótimos personagens cuja tragédia – no sentido do teatro grego – anunciada e o simbolismo que remete seu título lhe dá vigor para seu desenvolvimento narrativo dentro de uma realidade visceral e real. O real, por assim dizer, é bem mais angustiante e brutal que a fantasia e é suficiente independentemente de qualquer estímulo externo que vise atemorizar. Isso acontece pelo simples fato de ser real, alcançando nossa identificação e natural projeção. É da ordem da catarse. Aqui o poderio político emerge como Leviatã e arrasa. O regime projetado é na Rússia e, embora estejamos no Brasil, a sensação é análoga. E para pensar esse Leviatã, filme que fora exibido durante a 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, eu poderia entrar no mérito político russo, o que evidentemente fundamenta a história proposta no longa. A foto de Vladimir Putin pode ser vista no gabinete do prefeito em um quadro ao fundo pendurado na parede, e a fotografia coloca o prefeito – personagem que será discutido mais adiante – à frente da imagem do presidente. Há uma referência aí, especialmente mediante a forma com a qual a imagem nos é revelada. Não foi uma escolha aleatória. O diretor evidencia uma crítica política em distintos âmbitos, até por política ser o cerne de sua mundana história. Um casal está para ser despejado de uma casa que edificaram. O prefeito da cidade precisa da terra e na justiça encontra um aliado. O veredito é proclamado apressadamente, parecendo um ato convencional irrisório. Isso situa o espectador no meio de um ambiente impiedoso frente a uma espécie de mística do poder o qual o roteiro investe, fechando cercos, vigiando e afunilando vidas com o simbolismo do título engrossando a temática. Antes de assistir ao filme, vale a pena ter ciência do significado bíblico de Leviatã, e especialmente a ponderação de Thomas Hobbes sobre o tema. Este símbolo está vigente em duas óticas ao longo do filme: o poder municipal e o poder religioso. Observem a dinâmica de relação entre o prefeito e um líder religioso que motiva as escolhas do político que se arma com a coligação de um consentimento divino. Notem, um não interfere no outro. Ambos se exercem estando o religioso reforçando a soberania de hierarquias. Em meio à instância política, o prefeito Vadim (Roman Madyanov numa performance perversa) assume papel de vilão, uma vez que o antagonismo envolve os meios e as formas da instituição que este representa. Vadim vive numa redoma e constantemente está embriagado, temendo por seu futuro nas próximas eleições. Seus avanços predatórios freiam frente às ameaças que poderiam arruinar sua reeleição. Ameaças sobre ameaças, o totalitarismo se exprime nos dois lados, levando a um pensamento pessimista sobre o ser humano. A estruturação do roteiro se dá por adventos de relações. Além da política e religiosa que existem enquanto pilares, ainda há outras que exprimem o passo a passo de uma história serena, de cotidianos quase que imutáveis – e imutável não é um termo negativo aqui, pois são escolhas de alguns personagens habituados à rotina. Convites para mudar de vida, tal como feito quando um amigo chama o outro para se mudar para moscou, logo é negado. A raiz e o orgulho reinam. Em volta do lar do protagonista Nikolay (Aleksey Serebryakov), como contraponto a beleza exuberante do litoral russo gelado próximo ao Ártico, restos de navios apontam no mar juntamente à carcaças de baleias na praia, sinal refinado dessa história de opressão. O diretor Andrey Zvyagintsev aponta para a história de seu país sem receios. O auge desse ato, além das claras alusões ao poder instituído na figura horrenda do prefeito, está no humor polêmico instaurado em uma competição arbitraria de tiro ao alvo. Após alguns goles de vodca e sem garrafas para servir de alvo, surgem quadros com referências políticas históricas daquele país. Um desbunde em meio ao dramalhão meticuloso. Permita-se rir! Tal fato, além de alguns outros, fez com que o filme ganhasse censura na Rússia. É inegável que Zvyagintsev é talentoso em contar histórias através de imagens. Pode-se questionar o ritmo de suas obras – implico O Retorno (Vozvrashcheniye, 2003) nesse questionamento –, mas sua habilidade em desenrolar temas e trabalhar camadas é algo admirável. Observem as ondas explodirem nas rochas inabaláveis, tal como as investidas assoladas de Nikolay. Em outro momento, um plano sequência mostra o interior da casa e um ataque sobre ele, como um braço imponente destrutivo. Quanto à narrativa, o tema central com a briga judicial pelas terras é incontestável, e sobre essa disputa eclodem outras questões que, ao invés de roubar a atenção de seu plot, o dimensionam, seja nos aspectos simbólicos trabalhados com exatidão – o que nos leva a honrar a decupagem do cuidadoso roteiro – como nas inferências ao homem e sua progressão, funcional graças ao aprofundamento de seus enraizados personagens. Nessa guerra de todos contra todos, o novo trabalho de Zvyagintsev deverá melhorar com o tempo na memória de quem o viu. As imagens que abrem e rematam o filme figurarão enquanto representação idílica de sonhos afrontados. Sua longa duração pode causar certa exaustão, colaborando diretamente com a sensibilidade da temática bem como a forma com a qual vivem os vários personagens em constantes conflitos, quase sem espaço em meio à imensidão envaidecida proposta pela imagética sensorial. Nessa concepção de ideologias impostas pelo poder, o filme retrata pessoas que passam os dias sob ameaças e sob condições sem privilégios, sem oportunidade de apelo a alternativas. E nessa eficiência em dissecar o humano deixando sua carcaça vazia de sentido, tal como a baleia morta ancorada na praia, o pessimismo refletido exaure as vidas falidas de moral, vidas falidas de vida, vidas subjugadas ao estigma da fábula de Leviatã." (Marcelo Leme)
87*2015 Oscar / 72*2015 Globo / 2014 Palma de Cannes
Top Rússia #10
Date 22/02/2015 Poster - #### - DirectorXavier DolanStarsMelvil PoupaudEmmanuel SchwartzSuzanne ClémentA drama that charts ten years in a transgender woman's relationship with her lover.[Mov 03 IMDB 7,4/10] {Video/@@} M/73
LAURENCE ANYWAYS
(Laurence Anyways, 2012)
"Duas semanas após o convite, estava vestido de mulher, de minissaia pelas ruas de Montreal, depilado da cabeça aos pés, congelando numa temperatura de -30ºC. É assim que o ator francês Melvil Poupaud, 39, lembra-se de seu envolvimento em "Laurence Anyways", filme do diretor prodígio Xavier Dolan que estreia hoje no Brasil, após passar na Mostra de SP. O parisiense, que enfrentou as lentes de grandes nomes do cinema francês, como Eric Rohmer, em Conto de Verão (1996), e François Ozon, em O Refúgio (2009), caiu nas graças de Dolan. Aos 23 anos, o canadense, autor de Eu Matei a Minha Mãe (2009) e Amores Imaginários (2010), mostra em "Laurence Anyways" a forte história de amor de um casal. Não uma história comum, no entanto: Poupaud é um homem em corpo de mulher, um transexual, que precisa transpor suas barreiras físicas e emocionais com Fred, vivida por Suzanne Clément. Poupaud lembra que conheceu Dolan no Festival de Cannes de 2010, quando ele já era uma sensação. O diretor lhe ofereceu um pequeno papel em Laurence. Mas eu sabia que o papel principal tinha que ser meu, conta o ator em entrevista à Folha. Então, o ator teve algum problema, e Dolan me ligou: Você está livre pelos próximos seis meses?. O pouco tempo de preparação, segundo o ator, foi bom, é um papel que poderia ser assustador. Nunca havia me vestido de mulher e você nunca sabe como vai reagir, diz. Ele, então, depositou a confiança em Dolan, um diretor nato, preciso, generoso e muito exigente. Preciso ser dirigido por alguém que saiba o que está fazendo para me sentir confiante e dar minha melhor performance, diz. Poupaud também pesquisou sobre a condição de transexual, mas não quis se aprofundar muito no assunto. Não é um filme sobre transexualidade, é uma história de amor poderosa e bonita, afirma. Identifiquei-me com esse homem que tenta manter o amor de sua vida ao mesmo tempo em que tenta ser quem ele é de verdade. Durante a Mostra, o ator pôde ser visto também em Linhas de Wellington, drama de guerra de Raoul Ruiz finalizado por Valeria Sarmiento, viúva do cineasta chileno radicado na França. É um papel pequeno, mas especial, principalmente pelos diretores", diz. Num dia estava de saia, no outro vestido de general. É por isso que amo ser ator.'' (Iuri de Castro Torres)
Estiloso, extravagante e imaturo, Xavier Dolan faz filme excessivo com bons momentos.
''Com um orçamento de 8 milhões de dólares, atores de apelo internacional (pelo menos em língua francesa) e bastante liberdade criativa, Xavier Dolan não iria se furtar de fazer algo grande, extravagante, exagerado. Voilà! ''Laurence Anyways'' (idem, 2012) não é só interminável, com longuíssimas duas horas e quarenta minutos, como também é um filme de época, com sequências inteiras que só se justificam pela reconstituição dos anos 80-90 (Dolan tem enorme apreço por roupas, jóias, perucas, maquiagem), além, claro, do tema principal, no mínimo exótico, de um homem heterossexual que quer mudar de sexo – sim, Dolan quis também jogar com a dubiedade, reticências, contestar. É lógico que ele vai se enrolar nesse emaranhado de intenções. O resultado é confuso e inconvicente, como não poderia deixar de ser. A tese principal do diretor, cenógrafo, figurinista, DJ, editor e roteirista seria de que o amor resta independente de todas as mudanças, inclusive a do sexo de um dos parceiros (seria ele, Laurence, de qualquer maneira, anyways). Dolan aproveita o tema para falar de discriminação, mas não muito: seu filme é mesmo a história de um casal que tem suas vidas abalada pela decisão do rapaz de se tornar mulher. Perde o emprego, é rejeitado por amigos e familiares, sofre preconceito por onde vai, até de garçonetes, apanha na rua, escuta várias insinuações de ser ele um profissional do sexo, até cair em depressão e ter o dia-a-dia controlado por remédios. Enfim, ainda será obrigado a viver longe da mulher que ama. Não, não é fácil a vida de um travesti – sem contar os sapatos de salto, depilações, hormônios e os seios. O papel principal, escrito em princípio para o ator Louis Garrel, terminou com outra estrela do cinema francês, Melvil Poupaud. Com uma atuação um tanto distante, acentuada pela pronúncia em francês um tanto monocórdia se comparado ao forte sotaque canadense dos outros atores, Poupaud representa sem muita convicção esse papel difícil e enrola ainda mais o filme, pois a personagem é incapaz de atrair identificação por parte da plateia, nem mesmo nos momentos em que é alvo de preconceito. A namorada, defendida por atriz intuitiva em tudo oposta a Poupaud, Suzanne Clément, também não ajuda: encoberta de roupa de brechós, aberrantes cortes de cabelo, cercada de música brega e toda explosões em muitas cenas, parece mais uma atriz de novela mexicana lutando pelo herdeiro milionário de sempre. Dolan flertou com o melodrama, mas, como não é Almodóvar, foi incapaz de criar um estilo próprio que ultrapassasse a pura estética cafona e lágrimas, situações intempestivas. Fred, a namorada de nome masculino, decide seguir o amado na sua trajetória, dando apoio moral, e é onde o filme empaca e nunca convence. Mais adiante, quando ela desiste escolhe um estilo de vida mais tradicional, digamos assim (quem a julgaria por isso?), o filme ganha em densidade, pois adentramos no universo de gente comum com desejos mesquinhos, atulhados de enfadonhas tarefas amiúdes, o trabalho, a amargura, os amores frustrados. Mesmo o travesti também vai escolher uma vida mais ou menos estável ao lado de outra mulher, enquanto tenta desenvolver sua carreira de escritora, a única que parece ter lhe sobrado. Dolan usa o terrível inverno canadense para representar essa fase da vida do casal, mas a neve não é capaz de encobrir nem o ressentimento, nem a paixão dos dois. Encurralados, as personagens se movem. Fica mais interessante, mesmo que perdido da duração excessiva do filme. De resto, é o puro Dolan. Os diálogos ásperos, tiradas de humor sarcástico, trilha sonora cafonérrima e onipresente, melodrama um tanto puritano, direção de arte kitsch, foco nas atrizes, em geral mulheres de personalidade marcante. A diferença é que, se nos dois filmes anteriores Dolan fez huis-clos intimistas, aqui ele ensaia uma, vá lá, crítica social, bem norte-americana, calcada na supressão da liberdade individual (no caso, direito à diferença sexual). Esse excesso de estímulos (e agora, mais a camada social) não chega a ser um empecilho para se ver o filme. Em Amores Imaginários (Les Amours Imaginaires, 2010), esse exercício de estilo era mais leve e saboroso, mais lento, a ser apreciado nos detalhes. Nesse ''Laurence Anyways'', Dolan pesou demais a mão. Não chega a sufocar o filme, mas não tem a mesma organicidade do anterior. Os excessos adolescentes de Dolan também se fazem notar. O jovem diretor de 23 anos tem uma paixão por quase tudo que seja um tanto fútil e que de certa forma reafirme sua homossexualidade. Ele ainda tem necessidade desse tipo de coisa, e suas personagens carregam isso, um ardor incontrolável por literatura, música, o falar ininterrupto e fumar enlouquecidamente. Em Eu Matei Minha Mãe (J'ai Tué Ma Mère, 2009) e Amores Imaginários, as personagens também eram adolescentes, e havia todo um frescor nesses arroubos. Aqui, ao tentar algo mais sério, como personagens mais velhos, Dolan não conseguiu amadurecê-los. E há também o amontoado de clichês, que já povoavam os filmes anteriores. Se antes havia a desculpa de serem os filmes de início de carreira, num terceiro filme começam a soar ingenuidades, pois até poemas escritos no leito pós-sexo tem – e isso seria uma grande prova de amor. Dolan se joga também na caricatura, e nesse ponto nada pior do que a família de artistas/milionários que adota o travesti. É realmente uma pena que Dolan ainda faça desabar na cabeça dos espectadores um arsenal de referências de sua predileção. Ele cita sem piedade, mas não é uma referência criativa como Brian DePalma fez de Alfred Hitchcock, mas uma parafernália pop regurgitada a plena força. Dolan parece, como alguns adolescentes, estar mais preocupado em mostrar o quanto ele sabe de cinema e o quão longe ele pode ir ao misturar as mais disparatadas fontes. Tudo pessoal e com seu inegável toque, diga-se. Mas o cineasta tem estilo, ideias, é articulado e não conformista, o que faz seus filmes terem força. Em geral ele mais acerta do que erra nesse ''Laurence Anyways''. Dolan já chegou num estágio em que a maioria dos diretores nunca chegaram nem chegarão, em especial por conta da força de suas imagens, a paixão com que exerce a carreira de diretor de cinema e a intensidade de sua encenação. Só precisa controlar a panaceia, pois corre o risco de ver seu cinema se transformar num carnaval sem grandes consequências." (Demetrius Caesar)
''Xavier Dolan é um prodígio do cinema, ou ao menos é isso que parte da mídia pensa. No alto de seus 23 anos, ele assina seu terceiro longa-metragem e apesar de certa evolução, está claro que o diretor é um dos nomes mais superestimados dos últimos tempos. Sem dúvidas, ''Laurence Anyways'' é um trabalho autoral, mas existe uma grande diferença entre assinatura própria e qualidade. A forma que Dolan usa a câmera é grosseira e causa irritação aos olhos. São tomadas mal feitas, imagens trêmulas ou ainda diálogos extensos sem nenhum refresco, apenas closes nos rostos dos personagens. Aliás, o cineasta explora à exaustão este último recurso citado. São tantos planos fechados que o espectador não é apenas apresentado às rugas e marcas de cada ator, é praticamente obrigado a decorar cada expressão facial deles. Existe até uma explicação no roteiro para o uso de tantos closes, no entanto soa mais como desculpa do que como justificativa. No meio de tantos problemas, a trama apresenta a vida de Laurence Alia. Um professor canadense que nunca aceitou o seu próprio corpo e decide seguir a vida como transexual. A partir desse momento, o longa explora as reações de sua noiva Fred, familiares e a sociedade em geral. Os conflitos e barreiras que o protagonista tem de superar para ser aceito, ou no mínimo respeitado, estão presentes, porém de maneira duvidosa. Explosões de realidade sempre são sucedidas de uma frustrante dose de fantasia, um eterno “bate e afaga” entre público e diretor. Falta a Dolan ter pulso para assumir uma postura e bancá-la até o final. Outra prova de sua insegurança são as passagens didáticas. Muitos elementos não precisavam ser justificados, a escolha do título é um exemplo disto. Existe uma cena feita exclusivamente para explicá-la, além de desnecessária, ela gera um desfecho digno de um romance juvenil. Mas nem tudo são erros, ''Laurence Anyways'' é sem dúvidas uma evolução em relação ao seu último trabalho: Amores Imaginários. O elenco, bem escolhido, é muito superior aos anteriores. Os dois personagens principais: Melvil Poupand (Laurence) e Suzanne Clément (Fred) são carismáticos e ajudam o espectador a superar os 160 minutos de exibição. Porém, o ponto alto das produções de Dolan continua sendo o mesmo, a trilha sonora. O diretor sabe escolher um bom mix entre clássicos e novos hits do rock 'n' roll.. Os planos abertos, usados exclusivamente em cenas lentas, lembram clipes de bandas indies como Strokes, Kaiser Chiefs e Vaccines. No entanto o enquadramento incomoda, a escolha pelo 4:3 não combina com resto da estrutura. Resumindo, ''Laurecen Anyways'' é um filme autoral, mas com problemas. A imaturidade de Xavier Dolan faz com que uma grande história seja contada de maneira apenas regular. Deixando claro a sua dúvida entre o comercial e o artístico, optando por ficar apenas em cima do muro." (Paulo Cintra)
"Repleto de signos que, a depender da capacidade de identificá-los e interpretá-los, amplia o leque de significados dessa encantadora história contada por um Xavier Dolan mais maduro - e por consequência mais interessante. Experiência muito recompensadora.'' (Emilio Franco Jr)
2012 Palma de Cannes / 2013 César
Lyla Films
MK2 Productions
Diretor: Xavier Dolan
7.215 users / 3.470 face
Soundtrack Rock = Depeche Mode
Check-Ins 530 19 Metacritic
Date 10/04/2014 Poster - #### - DirectorGary FlederStarsJason StathamJames FrancoWinona RyderA former DEA agent moves his family to a quiet town, where he soon tangles with a local meth druglord.{Video/@@@} M/40
LINHA DE FRENTE
(Homefront, 2013)
"Statham pagando mais algumas contas." (Alexandre Koball)
"Linha de Frente" tem roteiro de Sylvester Stallone. Muitos críticos torceriam o nariz para isso. No entanto, Stallone é inteligente, homem de cinema. Mas isso só percebe quem vence certos preconceitos (os mesmos que destinam automaticamente quase tudo de Hollywood para a lixeira). Mais grave, nesses casos: é um veículo para Jason Statham, um astro de ação igualmente subestimado. É certo que Statham não tem o talento de Stallone para personagens que retomam a narrativa americana da segunda chance Rocky, Um Lutador", ou para se reinventar como brucutu envelhecido "Os Mercenários'', mas tem seu carisma. A trama de "Linha de Frente" mostra certo potencial. Stallone explora inteligentemente ingredientes de antigos sucessos. Um ex-policial (Statham) passa a viver com sua filha em uma cidade aparentemente tranquila. A partir de um incidente - a filha reage na base da porrada ao bullying que sofria na escola -, esse homem vê o passado retornar com força porque um dos trambiqueiros da cidade (James Franco), tio da criança agredida, reaviva um caso de condenação por tráfico de drogas. Há um pouco de "Rambo - Programado para Matar (1982) na maneira como o herói é recebido na pequena cidade, terra de "rednecks". Podemos até enxergar, no xerife que inicialmente o oprime, o tenente obsessivo que persegue o ex-boina verde John Rambo. Há outro tanto de "Falcão - O Campeão dos Campeões (1987), na relação do pai com a filha após a perda trágica da mulher e a necessidade de reconstruir sua família. Por que o filme não decola? A resposta está na assinatura de Gary Fleder, diretor que tem em seu currículo a bomba Coisas para se Fazer em Denver Quando Você Está Morto (1995) e mais alguns longas medíocres para cinema, além de uma penca de telefilmes e episódios de séries televisivas. O grande mal é que o diretor conduz a narrativa de maneira desleixada, filmando desastrosamente algumas cenas importantes e explorando a manjada confusão visual nas cenas em que o pau come solto." (Sergio Alpendre)
''Se seus concorrentes do cinema de ação vivem basicamente do passado, por meio de longas que resgatam e satirizam o estilo narrativo dos anos 80 e 90, Jason Statham constrói o seu presente com bem mais eficiência e intensidade. Estrelando uma média de dois filmes por ano, o ator participa de trabalhos solo mais modernos, mais conectados com a evolução do gênero cinematográfico. Estranho, então, perceber que é ninguém menos que Sylvester Stallone quem roteiriza o mais novo longa protagonizado por Statham, o razoável “Linha de Frente”. Responsável por se recolocar na telona por meio dos roteiros de Os Mercenários, Rocky Balboa e Rambo, Stallone desta vez escreve uma história mais discreta, de poucas explosões e heroísmo quase controlado. A única pessoa a quem Phil Broker (Statham), o personagem principal, deseja salvar é sua filha, a pequena Maddy (Izabela Vidovic). E ele só fará uso de suas habilidades com armas e artes marciais se alguém ousar agredi-la. É o que tenta fazer um grupo de mal encarados da cidade interiorana para qual se mudou, especialmente depois que descobre que Broker causou a morte do filho de um grande traficante. Simplicidade é a palavra de ordem desta trama enxuta e relativamente bem resolvida. Aqui não temos reviravoltas ou fatos pra lá de surpreendentes. Estamos diante de um filme bastante previsível, mas de ação bem orquestrada e personagens interessantes, que nos fazem querer assisti-lo até o fim, mesmo que o esqueçamos rapidamente ao término da sessão. Stallone aposta a maioria de suas fichas na direção de Gary Fleder e na edição de Padraic McKinley, e a dupla cumpre suas funções sem qualquer louvor, mas longe de comprometer uma história que ainda busca a inserção de um suspense psicológico. O medo é um dos principais temas do longa. E talvez por isso e por uma semelhança de cenários, o genial Marcas da Violência, de David Cronenberg, possa ser lembrado durante a projeção. Mas logo as duas produções se afastam em todos os sentidos quando percebemos que o trabalho de Gary Fleder não é tão competente ao ponto de fazer o medo realmente se instalar na trama. Fica, então, a sensação de uma mera ação cheia de ritmo, de socos, chutes e tiros convincentes, utilizados com esmo, ainda que o ato final traga sequências sem qualquer sentido. Na ânsia por um encerramento apoteótico, o roteiro provoca reações estúpidas por parte de seu personagens, contradizendo as atitudes bem pensadas que tiveram até então. A trama parece esquecer a objetividade de vilões e mocinhos, especialmente dos primeiros, com motivações que ultrapassam a simples vingança, porque no universo de “Linha de Frente”, os mal encarados são bem mais trágicos do que o usual. No maior dos méritos do filme, os vilões, especialmente as mulheres, demonstram uma instabilidade psicológica atípica, possível pelo intenso uso de drogas, marcando uma relação de imprevisibilidade entre eles. Kate Bosworth e Winona Ryder, como a irmã e a namorada do vilão principal, são quem mais se destacam nesse retrato pretensamente perturbador do usuário de drogas. Bosworth, principalmente, causa até espantos por sua magreza exagerada e atitudes bruscas, ainda que diante de seu filho. Já James Franco, como o grande antagonista, até nos faz confundir com um herói em sua primeira cena, mas logo mostra-se mais meticuloso do que o normal, configurando-se como um contraponto interessante para a bondade de Jason Statham, especialmente por basear suas maldades em ideias. Talvez por isso a estrela de Statham surja um pouco mais apagada, cercada por bons atores em bons desempenhos. O maniqueísmo que afeta mais o seu lado do que o de Franco, ressaltado por uma fotografia que exibe em cores fortes e claras o seu amor pela filha única, incomoda. Mas não faltam frases de efeitos e oportunidades para ele demonstrar todo o seu potencial físico. E a maioria dessas cenas funciona como deveria, integrando um filme de ação que cumpre o que promete… e nada mais." (Darlano Dídimo)
35 Metacritic
Date 19/03/2015 Postr - ###### - DirectorJean-Marc ValléeStarsReese WitherspoonLaura DernGaby HoffmannA chronicle of one woman's 1,100-mile solo hike undertaken as a way to recover from a recent personal tragedy.[Mov 06 IMDB 7.2/10] {Video/@@@} M/76
LIVRE
(Wild, 2014)
"Valée e Hornby fogem do tom de autoindulgência e, com a ajuda de flashbacks silenciosos e em fluxo (ao estilo de Roeg), e de uma inspirada Reese Whiterspoon, constroem um belo estudo de personagem e da relação mãe/filha. Bem melhor do que eu esperava." (Régis Trigo)
"Apesar do final abrupto e dos flashbacks que prejudicam o ritmo, Vallée mostra sensibilidade, evitando o melodrama e o tom de autoajuda em prol de uma sutil construção de personagem. Whiterspoon abraça e se entrega ao papel com dignidade. Bom filme." (Silvio Pilau)
''Reese Witherspoon faz filmes demais. É típico dessa atual geração de atrizes, mas ela poderia se conter e deixar de lado algumas comédias rasteiras. Porque, com um material bom na mão, ele é ótima. Mereceu seu Oscar em Johnny & June. E volta a brilhar em "Livre", como a mulher que resolve rebater crises diversas numa empreitada radical: caminhar uma trilha de quase 2.000 km na costa do Pacífico. Um filme zen, bom para refletir. E para ver Reese Witherspoon." (Thales de Menezes)
{As cinzas de um corpo são iguais as cinzas de uma fogueira} (ESKS)
Jean Marc Vallee está de volta, e o horror de Dallas ficou no passado.
''Se existia alguma dúvida ano passado, ela se dissipou esse ano: o outrora delicado diretor canadense Jean Marc Vallee se transformou numa máquina hollywoodiana de produzir material para atores brilharem em premiações, com proporções cada vez menos orgânicas. Ao menos esse ano algo da sutileza antiga parece ter voltado à tona; ao mesmo tempo que não dá pra observar a produção que ele alcançou e não ter saudade dos tempos de C. R. A. Z. Y. e A Jovem Rainha Vitória. Em 2014, ele fez barba, cabelo e bigode com um dos filmes mais canhestros da temporada passada, Clube de Compras Dallas. Mal dirigido, montado e escrito, enganou todo mundo e ainda levou 3 carecas. Esse ano o nível do filme subiu (até porque era impossível cair mais do que aquilo), mas as indicações minguaram e chegaram na quantidade que deveriam ter tido ano passado. Se você é como eu e se assustou com seu filme anterior, pode embarcar sem medo aqui; não tem nada de especial, mas é um pequeno filme ao menos que aparenta honestidade, mesmo que não tenha absolutamente nada de novo. Na premissa, uma busca por redenção. Motivada pela prematura morte da mãe, Cheryl Strayed entrou num processo hardcore de autodestruição depressiva e física, embarcando no consumo desenfreado de drogas e parceiros sexuais, tanto diversos quanto incontáveis, destruindo o casamento sólido e chegando num ponto difícil de retornar. Tudo isso é flashback em Livre, que no tempo real mostra Cheryl empenhada numa travessia quase hercúlea de 1.800 quilômetros na Pacific Crest Trail americana, lugar inóspito e repleto de desafios. Aos poucos vai percebendo o eixo voltar a duras penas, muita reflexão e encontros múltiplos, num processo que lembra o do jovem retratado no fabuloso Na Natureza Selvagem, de Sean Penn. Aqui, sua versão feminina parece meio mimada demais e com problemas típicos de alguém que sempre teve uma vida mediana nem precisou enfrentar percalços de verdade. Mas seu sofrimento é real, e Vallee nos apresenta sua trama com certo cuidado e serenidade, sem diminuir ou romantizar demais sua personagem. E tudo isso numa busca que nunca insiste no externo, mas do que é o interior de Cheryl; sem quase nenhuma explosão e bastante resposta interna, Valee vasculha o que não está exposto pra plateia. Tecnicamente eficaz, o filme se apoia nas pequenas costas de Reese Witherspoon, uma atriz que poucas vezes demonstrou real talento (Eleição e Johnny & June são momentos quase únicos), mas que jamais devemos acusar de falta de empenho. Esforçada e com ânsia de evoluir, Reese dificilmente não ganha a simpatia de todos, e a verdade é que ela está num momento bem feliz. Sua indicação ao Oscar aqui vem coroar essa fase que inclui as pequenas participações em Amor Bandido e Vício Inerente, além da produção de Garota Exemplar (cujo protagonismo ela teve de ouvir do diretor David Fincher o quanto era inadequada para exercer), ou seja, não deixa de ser uma coroação, com cara de volta por cima depois de 9 anos da sua vitória na Academia; mas reparem, Reese não acerta em todas as cenas... tem camadas profundas de Cheryl que ela não consegue alcançar, embora o esforço seja visível. Já a indicação de Laura Dern... Bem, pra mim essa é inexplicável mesmo, independente de toda a simpatia e talento que essa sim grande atriz já nos demonstrou; não era pra tanto. No fim das contas é muito bom dar de cara com ''Livre'' após o freakshow que foi a produção anterior de Vallee e perceber que a sensibilidade não precisa se esvair se você quer virar uma máquina de prêmios (e o próximo, estrelado por Jake Gyllenhaal - a esnobada mais dolorosa das indicações 2015 - já desembarca esse ano); o canadense delicado está ali ainda. Que ele perceba isso também e continue nesse processo de relapidar o que parecia perdido." (Francisco Carbone)
Uma jornada pessoal.
''Não foram poucas as vezes que uma resistência a determinado diretor ou equipe afetaram meu julgamento de um filme. É algo provavelmente inevitável, no que a construção de uma opinião está atrelada a uma construção de gosto que pode enganar trazendo algumas determinações estúpidas. Pouco interessado em Jean-Marc Vallée ou Reese Whiterspoon (pelo menos desde Eleição e Legalmente Loira), foi muito fácil descartar Livre por todas as suas falhas quando o descobri há alguns meses na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Desde então, e por motivos que vão além do interesse, revi o filme duas vezes no cinema; e, embora suas falhas ainda estejam claras, parece-me um erro descartar seus acertos. ''Livre''', e isso é muito importante para que se entenda o que é feito pelo filme, é uma adaptação do texto autobiográfico de Cheryl Strayed Wild: From lost to found on the Pacific Crest Trail. O maior acerto do filme talvez seja o respeito à narrativa como memória, fora de ordem ou sentido. Assim, embora se acredite entender o trajeto e o objetivo de Strayed na trilha, não se entende as suas motivações até que o filme e sua memória avancem o bastante. Quando isso acontece, percebe-se que não era possível compreender o trajeto e o objetivo da personagem apenas por um um urro indignado na primeira cena. Na verdade, sem a memória de Strayed, não poderíamos compreender sequer o seu urro. A memória de Strayed, a montagem de Livre e a nossa leitura do filme precisam unir-se em cumplicidade para que a personagem e a realidade da sua história sejam alcançadas. O roteiro consegue ser tão honesto quanto a montagem, e a mesma sinceridade está nas atuações de Whiterspoon e Dern. A única coisa no filme que parece julgar a trajetória de Strayed é a direção de Vallée. Não sei se é uma marca de sua obra ou mera coincidência, mas os filmes de Vallée insistem em estilizar a vida sexual dos seus personagens, associando visualmente o sexo a um tipo de marginalidade moral. Tanto aqui como em Clube de Compras Dallas, seus personagens não apenas fazem sexo, mas o fazem com marcas de agulha nos braços, maquiagem carregada, aspectos cansados, cumprindo a expectativa estética do marginal. O moralismo de Vallée faz Livre parecer tolo, mas sua principal vítima é a atuação de Whiterspoon, sempre um passo atrás nesses momentos. É impossível alcançar a realidade do desabafo de Strayed quando esta é transformada em uma caricatura. Felizmente, a charge é negada no texto pela própria personagem. Em um momento poderoso de redenção, ela assume para si mesma que não faria nada de diferente, pois podem ter sido justamente os seus momentos de fraqueza que a levaram ao lugar onde estava então. Ainda assim, fico na cabeça com algo muito bonito que me foi dito por um amigo sobre Livre e como este se diferencia de outros feel good movies. Isto seria o respeito à individualidade da jornada. Livre, e agora não só concordo como é o ponto que mais me atrai do filme, é uma história pessoal, de uma personagem, que teve suas motivações e seus objetivos. O filme se restringe a querer contar a história dela apenas. Diferente de outros filmes de sujeito urbano em contato com a natureza, como Na Natureza Selvagem, ele não tenta nos dizer o que fazer ou uma razão universal da vida que foi aprendida pelo personagem no caminho. Não, todas as morais que Strayed encontra servem apenas para ela mesma, se as conhecemos é apenas porque Strayed confiou em nós para isso. Encerro dizendo que gosto muito do título em português, ele está muito mais próximo do que, pra mim, é o filme do que o Wild original. Pensar o filme como selvagem destaca a radicalidade da escolha da protagonista e da sua vida antes da caminhada. Pensá-lo como liberdade já acho bem mais interessante. O ''Livre'' que vejo hoje é filme falho, mas bonito, sobre a capacidade de se perdoar. No lugar do feel good movie, o I’m feeling good movie. Uma experiência boa." (Cesar Castanha)
''Tem várias maneiras de se pensar sobre o filme "Livre", com Reese Witherspoon, dirigido por Jean-Marc Vallée (de Clube de Compras Dallas, que rendeu o Oscar a Matthew McConaughey), com roteiro de Nick Hornby (Alta Fidelidade, Um Grande Garoto). É um filme de superação feminina, como Comer, Rezar, Amar, só que mais intenso. É sobre a relação mãe e filha, como Laços de Ternura, só que depois da morte. É uma história de atos extremos provocados pela perda da mãe, como Forrest Gump, mas um drama, não uma farsa. É um road movie, como Na Natureza Selvagem, só que versão feminina. Essa última é a comparação mais justa, tanto pela qualidade do longa quanto pela óbvia inspiração. Baseado na autobiografia de Cheryl Strayed, lançada em 2012, "Livre" conta a história da autora, que, em 1995, aos 20 e poucos anos, fez uma caminhada de 1.800 km pela costa oeste dos EUA, da fronteira com o México até a do Canadá. Ela anda boa parte da Pacific Crest Trail, um caminho que só pode ser trilhado a cavalo ou a pé e que corta os Estados da Califórnia, Oregon e termina em Washington (o Estado, não a capital do país). Passa pelo deserto de Mojave, por florestas e reservas e chega à friaca do extremo norte dos EUA. Ao longo do trajeto, descobrimos por flashbacks que Cheryl se impôs esse desafio como maneira metafórica de superar o sofrimento. Sua vida estava pesada como a mochila que carrega, desconfortável como as botas um tamanho menor que ela compra e com riscos tão sérios quanto os que encontra no caminho. Depois da morte precoce da mãe, de câncer de mama, aos 45 anos, Cheryl perde o norte. Começa a usar heroína e transar com todos os homens que aparecem, menos o marido. Decide, como ela mesmo diz, andar a pé até voltar a ser a filha que a mãe criou. Cheryl era muito próxima de sua mãe, uma mulher algo hippie que cria os filhos sozinha depois de abandonar o marido alcoólatra e violento. Em uma das cenas do passado, a filha, constrangida de frequentar a faculdade ao mesmo tempo em que a mãe, diz: Eu sou tão mais sofisticada do que você era na minha idade. A mãe responde: Esse era o plano. Eu só não imaginava que isso ia me machucar depois. A caminhada salva, sim, a vida dela (e isso não é um spoiler, já que ela viveu para escrever o livro tantos anos depois). E o filme deve dar uma bela sacudida na carreira de Reese Witherspoon, que ficou com a imagem eternamente grudada com a personagem de Legalmente Loira. Ela é melhor do que isso." (Tete Ribeiro)
87*2015 Oscar / 72*2015 Globo
Fox Searchlight Pictures
Pacific Standard
Diretor: Jean-Marc Vallée
33.408 users/ 22.097 face
Soundtrack Rock = Elvis Presley + Stevie Ray Vaughan & Double Trouble + The Hollies + Portishead + Free + The Shangri-Las +
Simon & Garfunkel + Wings + First Aid Kit
47 Metacritic
Date 01/04/2015 Poster - ##### - DirectorCate ShortlandStarsSaskia RosendahlKai-Peter MalinaNele TrebsAs the Allies sweep across Germany, Lore leads her siblings on a journey that exposes them to the truth of their parents' beliefs. An encounter with a mysterious refugee forces Lore to rely on a person she has always been taught to hate.[Mov 08 IMDB 7,1/10] {Video/@@@@@} M/76
LORE
(Lore, 2012)
TAG CATE SHORTLAND
{inspirador}Sinopse
''Baseado no livro de Rachel Seiffert e escrito por Cate Shortland e Robin Mukherjee, situado na Primavera de 1945. Com o colapso da frente alemã, as forças aliadas assumiram o controle. Com seus pais nazistas presos, a jovem de 14 anos Lore é deixada sozinha com seus quatro irmãos mais novos, embarcando numa jornada que desafiará qualquer noção que temos do amor, da família e da amizade.''
''Conduzido e roteirizado de maneira impecável pela australiana Cate Shortland, "Lore" oferece um diferenciado ponto de vista sobre a Segunda Guerra Mundial, e mais especificamente sobre o nazismo. A história conta a peregrinação da jovem alemã Lore, que após ser abandonada por seus pais - membros do partido de Hitler e fortemente envolvidos com os ideais do exército -, foi obrigada a atravessar parte da Alemanha em busca de refúgio, e isso levando seus quatro irmãos menores com ela, sendo um deles uma criança de poucos meses de vida. Através de argumentos reflexivos, ofertados de forma bastante clara pela diretora Shorthland, podemos perceber a tênue linha que separava (na época) o fanatismo do nazista patriota, daqueles que apenas apoiavam seu país (e consequentemente seu Führer) em um conflito mundial. O povo alemão, que com o fim da guerra não pertencia a lugar nenhum - mesmo dentro de suas próprias casas -, observava incrédulo a verdade por trás das atrocidades de Hitler. Para muitos, aquele massacre divulgado por meio de fotos era uma mera montagem dos americanos. Mas para Lore tudo culminou em uma experiência perturbadora. A pobre garota simbolicamente representa a parcela da população alemã que, de certa forma, se mantinha (ou era mantida) alienada à guerra. A bela menina de olhos azuis, quando saiu para seu verdadeiro calvário, ainda era uma criança, que pensava não gostar de judeus porque seus pais assim lhe ensinaram - no entanto seus valores e sentimentos são fortemente testados quando a mesma é auxiliada por um sobrevivente dos campos. No final, descobrir e vivenciar todos estes podres de sua nação, durante uma trajetória exaustivamente cruel, e por um local que se tornara praticamente sem lei, foi algo intenso, doloroso e visceral. Altamente recomendado." (Ronaldo D'Arcadia)
"Um olhar diferente sobre o pós 2º Guerra, dessa vez com os filhos dos nazistas tentando sobrevivência. É um filme duro que apresenta diferentes temas durante uma longa jornada familiar." (Marcelo Leme)
Top Austrália #14
Rohfilm
Porchlight Films
Edge City Films
Edge City Films
Diretor: Cate Shortland
9.983 users / 4.276 face
28 Metacritic
Date 14/08/2015 Poster - ######## - DirectorScott DerricksonStarsEric BanaEdgar RamírezOlivia MunnNew York police officer Ralph Sarchie investigates a series of crimes. He joins forces with an unconventional priest, schooled in the rites of exorcism, to combat the possessions that are terrorizing their city.[Mov 03 IMDB 6,2/10] {Video/@@@@} M/40
LIVRAI-NOS DO MAL
(Deliver Us from Evil, 2014)
TAG SCOTT DERRICKSON
{esquecíve}Sinopse
''O policial Ralph Sarchie une forças com um religioso especializado em exorcismo para combater uma série de possessões demoníacas que vêm desencadeando crimes em Nova York.''
"O atrito entre ser um filme policial (razoável) e um filme de terror (medíocre) cria uma obra sem muita identidade, e os elementos "possessão" e "exorcismo", tão utilizados atualmente, cimentam essa definição." (Alexandre Koball)
''Livrai-nos do Mal", com seu título extraído da oração cristã Pai Nosso (como o original, Deliver Us from Evil), é obviamente um filme de terror. Mais: um filme com exorcismo. Foi realizado por Scott Derrickson, dos irregulares O Exorcismo de Emily Rose e A Entidade, ou seja, alguém que se arrisca há alguns anos no gênero. Um de seus filmes preferidos é O Exorcista, de William Friedkin. Não diga... Apresentado inicialmente como uma aventura de guerra, com soldados americanos em missão no Iraque, o filme passa, em seguida, a mostrar policiais de Nova York em investigações: um bebê encontrado na lata do lixo, uma mulher espancada pelo marido, um outro bebê atirado aos leões por sua própria mãe. A progressão para uma história de horror é feita com habilidade, porque o filme adere ao ponto de vista do policial Ralph Sarchie, interpretado por Eric Bana, que inicialmente só acredita em coisas que pode ver ou tocar. Mais do que a resolução de um caso sério de possessão demoníaca, então, o filme narra o processo de conversão do agente da polícia, da incredulidade absoluta à aceitação religiosa total. Nesse processo, ele conta com a ajuda de um jovem padre, vivido pelo venezuelano Édgar Ramírez, que, no passado, era viciado em drogas. "Livrai-nos do Mal" é baseado no livro de não ficção "Beware the Night", que conta a história de Ralph Sarchie, com texto escrito a quatro mãos, por ele e pela jornalista americana Lisa Collier Cool. A tarefa dos roteiristas Derrickson e Paul Harris Boardman é transformar os relatos de Ralph numa obra de ficção. Essa transformação apresenta alguns problemas. A relação com as músicas da banda The Doors - que tem canções na trilha sonora e uma importância no enredo - é coisa de calouro universitário à procura de um sentido para as letras de Jim Morrison (por sinal, Ramírez é parecido com o líder dos Doors). Há também uma preferência por sustos fáceis, clichê do horror desde os anos 1970. Ainda assim, "Livrai-nos do Mal" convence, sobretudo pela maneira como nos insere de modo gradativo numa atmosfera angustiante. Em entrevistas, Derrickson mostrou saber que é no horror, mais do que em qualquer outro gênero, que se pode experimentar melhor com som e imagem, mesmo dentro de uma limitação comercial. Se não dá para dizer amém a tudo que ele experimenta aqui, ainda assim o filme representa um progresso em sua carreira até então medíocre." (Sergio Alpendre)
''Como o próprio nome sugere, Livrai-nos do Mal é outro filme sobre possessões demoníacas e mais um com a tentativa de instigar o medo com o uso do batido "baseado em fatos reais". Como a narrativa se sobressai mais do que os sustos e o terror - algo que se espera de um filme do gênero -, é de se pensar que a produção deveria ser anunciada como um drama. O longa, baseado no livro Beware the Night, conta a história real de Ralph Sarchie (Eric Bana, de Star Trek), um sargento da polícia de Nova York dedicado à divisão de casos especiais, o que tem feito negligenciar a mulher Jen (Olivia Munn. da série The Newsroom) e a filha de seis anos. O surgimento de uma série de casos policiais que parecem inexplicáveis e a influência do padre jesuíta Mendoza (Édgar Ramírez, de O Ultimato Bourne), levam Sarchie a acreditar que os crimes podem ser casos de possessão demoníaca. É aí que o personagem começa a lutar contra seus fantasmas do passado e sua falta de fé para chegar a fundo na tentativa de interromper essa onda de manifestações do mal. Na história original, é fato que Sarchie deve ter passado por situações das mais assustadoras durante o seu trabalho (que foi inclusive registrados em vídeos publicados no YouTube), mas a transposição para o cinema não provoca os sustos esperados. É mais ou menos a mesma quebra de expectativas que o diretor Scott Derrickson causou em outro trabalho, O Exorcismo De Emily Rose. Bana é bom ator e não precisa fazer grandes esforços para dar intensidade ao protagonista perturbado, embora seu sotaque seja por vezes forçado. Tanto Olivia Munn como Joel McHale, que interpreta seu parceiro Butler e funciona como alívio cômico em meio à tensão, cumprem seus papéis de forma sólida, embora sem brilho, empobrecendo o lado pessoal que poderia ser intensificado com o desenvolvimento desses coadjuvantes. Por outro lado, o personagem Mendoza é bem caracterizado: usa jaqueta de couro ao invés da batina, tem um passado sombrio, já se envolveu com drogas e fuma e bebe para aguentar o fardo de seu trabalho desgastante. Ramírez tem um desempenho à altura de Bana, mas é limitado por um roteiro que poderia ser mais profundo. Algumas ideias originais, como a inclusão da músicas do The Doors na trilha sonora quando a porta para a entrada dos espíritos malignos na Terra é aberta, são ofuscadas pelo uso excessivo de vozes estranhas, passos e outros clichês de gênero. Outras cenas são tão batidas que parecem desconexas do restante do filme, como quando o policial está investigando uma casa e é atacado, mas continua seu trabalho como se nada tivesse acontecido. Em determinado momento, Sarchie se rende ao sobrenatural e, obviamente, haverá um grande exorcismo. Mas, novamente, falta novidade à narrativa. Livrai-nos do Mal'' acaba ficando no meio do caminho: não chega a ser terror típico, não se aprofunda o suficiente para ser um bom thriller psicológico. Com boa produção e elenco forte, o filme pode ser bom entretenimento em uma noite chuvosa, mas não espere grandes sustos ou arrepios." (Júlia Fernandes)
''Usar elementos mais verossímeis nos aspectos sobrenaturais de uma trama de terror é uma das saídas mais usadas pelos roteiristas do gênero hoje em dia para ancorar suas narrativas no mundo real. Nada mais natural, portanto, que o interesse de Hollywood no livro Beware The Night, co-escrito pelo ex-policial novaiorquino Ralph Sarchie, no qual ele narra suas experiências com o macabro ao lado de um padre, bem como a influência do oculto nos crimes mundanos. Tal premissa é deveras promissora e, nas mãos certas, poderia render uma franquia de thrillers estilizados bastante eficiente. Infelizmente, a cria cinematográfica da obra literária acabou sendo este mediano “Livrai-nos do Mal”, fita que aproveita muito pouco do potencial criativo da sua ideia central, que acaba sendo usada para dar vazão a uma série de clichês batidos do gênero. Produzido por Jerry Bruckheimer, o longa foi dirigido por Scott Derrickson, com este último também co-responsável pela adaptação do livro de Sarchie ao lado de Paul Harris Boardman, repetindo a dobradinha que os dois fizeram no eficiente O Exorcismo de Emily Rose. No entanto, ao contrário da colaboração anterior da dupla (e algo denunciado pela produção do megalomaníaco Bruckheimer), o foco aqui está mais na ação que no suspense em si. Por isso não é surpresa que a primeira cena da fita se passe no Iraque, onde três soldados americanos encontram algo que os transforma. Algum tempo depois, em NY, o policial Sarchie (Eric Bana) e seu parceiro Butler (Joel McHale) descobrem uma série de casos macabros ligados ao trio de militares. Um pouco ortodoxo padre jesuíta, Mendonza (Edgar Ramirez), convencido da natureza sobrenatural dos crimes, oferece sua ajuda ao cético Sarchie, cujo casamento com sua bela esposa (Olivia Munn) vem sofrendo com as pressões de seu trabalho. Apesar de todo a atmosfera pesada ao redor dos personagens, criada especialmente através da fotografia digital de Scott Kevan, que retrata aquele mundo em tons tristes e dessaturados, a narrativa é, com o perdão do trocadilho, sem vida. A angústia que Sarchie deveria passar após anos servindo como radar de coisas ruins e o bálsamo que seria a sua vida familiar passam em branco, a despeito dos esforços de Eric Bana e Olivia Munn, que estão mais para apáticos que para melancólicos. Joel McHale, por sua vez, parece mais que era fazendo uma caricatura de um policial para Community que construindo um personagem. O filme perde mais tempo com sustos fáceis que com o fator humano, desenvolvido a base de clichês, o que faz com que pouco nos importemos com aquelas pessoas e seus destinos, mesmo quando os riscos para os heróis se tornam mais pessoais, já no terceiro ato. Se não há interesse no bem-estar dos personagens, não há motivo para que o público se assuste com os perigos que surgem na tela. Os vilões aparecem e desaparecem da tela em um piscar de olhos e até a propagandeada cena do exorcismo acaba sendo mais um desapontamento, visualmente adequada, mas desprovida de tensão. Apenas o Padre Mendonza ganha um pouco mais de cor, graças a um ótimo monólogo de Edgar Ramirez, que rouba a cena praticamente em todos os momentos em que surge na tela, em uma interpretação que – intencionalmente ou não – remete ao alquebrado Padre Karras de Jason Miller em O Exorcista. A atriz Olivia Horton também demonstra uma entrega física surpreendente no papel da perturbada Jane. É uma pena que o longa desperdice sua premissa e um cenário evocativo em uma produção previsível, que pesa mais pelo estilo que pela substância. Mesmo a discussão sobre o mal primário e secundário se perde em meio ao barulho. Se O Exorcista mostrava a destruição da inocência, na forma de uma criança, por uma influência maligna, aqui jamais conhecemos bem os “possuídos” para ver até onde suas ações foram manipuladas, o que esvazia a proposta. Todas as ações dos personagens e até mesmo as viradas do script podem ser previstas por qualquer um que tenha assistido ao menos um exemplar do gênero antes. Scott Derrickson pouco revela aqui do diretor que surpreendeu o público anteriormente, com o cineasta precisando urgentemente exorcizar o lugar-comum de sua filmografia." (Thiago Siqueira)
Screen Gems
Jerry Bruckheimer Films
LStar Capital
Diretor: Scott Derrickson
49.763 users / 17.465 faceSoundtrack Rock
The Doors / Steve Winwood / Moby / Atrium Carceri / Spanish Gold / Nathan Fox / The Zakary Thaks / X
32 Metacritic 1.817 Down 170
Date 24/11/2015 Poster - ##