XII POLITICOM – Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013
XI Encontro Regional de Comunicação – Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013
A cobertura midiática da Mídia Ninja pela Grande Imprensa 1
Susana Azevedo Reis 2
Luiza Quinet Ramos Perez 3
Christina Ferraz Musse 4
Universidade Federal de Juiz de Fora
RESUMO
Este artigo tem como objetivo buscar entender como a considerada grande mídia, que se constitui
como as grandes emissoras de TV e jornais mais conceituados no cenário nacional, realiza a
cobertura das ações da denominada Mídia Ninja e procura entender o papel do movimento no
cenário do jornalismo brasileiro, e nas ações dos protestos ocorridos em junho de 2013. Para tal
julgamento, iremos analisar o assunto destacando os debates realizados no programa audiovisual
Observatório da Imprensa, realizado no dia 30 de junho de 2013, e no programa Roda Viva,
realizado dia 5 de agosto de 2013. Estes programas deram ênfase à dúvida sobre o conceito de
“jornalismo”, quando empregado para definir a Mídia Ninja, além de questionarem outras
questões que podem, ou não, ser de interesse do expectador e de estudiosos.
PALAVRAS-CHAVE: comunicação; mídia ninja; jornalismo
Introdução
O jornalismo vive em constante mudança, desde a invenção da escrita até hoje. Estamos
em 2013 e existem variadas formas de nos conectarmos ao mundo, recebendo e transmitindo
informações. Aquele indivíduo que antes estava passivo em casa, assistindo à novela ou ao filme,
hoje comenta sobre eles nas redes sociais; aquele que ia ao protesto e se via na televisão no dia
1
Trabalho apresentado ao GT 2 - Jornalismo da Comunicação do XI Encontro Regional de Comunicação – Juiz de Fora (MG)
2
Bolsista de iniciação científica, estudante de graduação do 4º período de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora.
Email: susana.reis360@gmail.com
3
Bolsista de iniciação científica, estudante de graduação do 2º período de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora.
Email: luiza_quinet@hotmail.com.br
4
Jornalista, mestre e doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Professora da UFJF no curso de Jornalismo e no Programa
de Pós-Graduação em Comunicação. Coordenadora do projeto “Cidade e memória: a construção da identidade urbana pela
narrativa audiovisual”. E-mail: musse@terra.com.br
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seguinte, hoje faz seu próprio vídeo e posta na internet. Vivemos em uma época onde busca-se
descobrir a todo o tempo o que é ou não é jornalismo.
O aparecimento das mídias consideradas não tradicionais a partir do desenvolvimento da
tecnologia, como a Mídia Ninja, as postagens individuais nas redes sociais, as publicações de
vídeos e textos opinativos em blogs, sites e canais de vídeo, podem facilitar o acesso dos
cidadãos à informação rápida e instantânea, promovendo a dúvida sobre a verdadeira função do
jornalismo na sociedade.
A Mídia Ninja ganhou destaque nos protestos nacionais através de seus próprios veículos
de difusão de informação, a fanpage na rede social Facebook e o canal Pós-TV, e pela cobertura
da mídia convencional, que buscou entender como é esse processo aonde cidadãos comuns,
principalmente jovens estudantes, vão às ruas e veiculam imagens de protestos, em seu estado
bruto. Como essa mídia convencional analisou esse movimento?
O que é jornalismo?
Na sociedade atual, onde há uma grande quantidade circulação de informação, por vários
meios de comunicação possíveis, nos questionamos muitas vezes o que é jornalismo. Segundo
Nelson Traquina, é preciso coragem para tentar fazer uma boa definição do termo.
Pode mesmo parecer absurdo pensar que podemos responder à pergunta ‘O que
é jornalismo?’, porém poeticamente podia-se dizer que o jornalismo é vida, tal
como é contada nas notícias de nascimentos e de mortes. É a vida em todas as
suas dimensões, como uma enciclopédia (...). Pode-se dizer que o jornalismo é
um conjunto de ‘estórias’ da vida, das estrelas, de triunfo e tragédias.
(TRAQUINA, 2005, p.14).
Nelson Traquina, porém aborda o jornalismo como um meio pelo qual as pessoas se
mantêm informadas sobre o que as rodeias e o que lhes interessa. (TRAQUINA, 2005) O
estudioso Michael Kunczik, completa, afirmando que a definição mais básica que nos ocorre
diariamente, é a de que o jornalismo trata as informações de forma objetiva e neutra,
distanciando-se passivamente dos eventos. O jornalismo pode também, muitas vezes, apresentarse sendo ativamente comprometido e presente, em causas sociais. Apesar de essas duas últimas
ideias serem contrárias, Kunesik afirma que uma não exclui a outra, pois um jornalista deve ter
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ao mesmo tempo o compromisso e a neutralidade com determinada informação. (KUNCZIK,
2002)
Já Wolfgang Langenbucher (1994) busca definir a profissão do jornalista, afirmando que
o jornalismo deve fazer o papel de intervenção entre a notícia e a sociedade, é ser responsável por
fazer essa ponte.
[...] a mediação em uma sociedade democrática é o principal papel do jornalista,
e a tarefa dos jornalistas é facilitar a mútua comunicação entre os diferentes
grupos da sociedade. Atribui-se aos meios de comunicação a função precípua de
facilitar a comunicação entre todos os grupos que participam na formação da
vontade política, criando assim s opinião pública dirigida. (LANGENBUCHER
apud KUNCZIK,, 2002, p.100)
Para Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2003), a principal característica do jornalismo é, sem
dúvidas, o compromisso com a verdade, sendo a partir dela que todas as etapas da transmissão da
informação se desenvolvem. A verdade influência diretamente na lealdade com os cidadãos e na
ética profissional. Outro ponto a ser abordado é, justamente, o da ética. Essa consiste em uma
parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com a sociedade. É a ciência da moral,
do que deve ser feito ou não. Nos conceitos do jornalismo, tal ponto aparece como importante,
como comenta Kunczik:
No cumprimento desse dever, defenderá o jornalista a todo momento os
princípios da liberdade na honesta seleção e publicação das notícias e do direito
de comentário e crítica justos. (KUNCZIK, 2002, p.110)
O autor também explica que há uma síntese que ilustra bem os princípios que os
jornalistas devem seguir para exercer bem suas respectivas funções.
Todos esses princípios profissionais exigem que o jornalista respeite a verdade,
informe cuidadosa e confiavelmente o público, verificando a fonte das notícias e
corrigindo as informações errôneas. Embora no momento não se possa discernir
nenhum consenso internacional sobre a ética do jornalismo, é irrefutável a
necessidade dessa ética. O objetivo é evitar que as notícias se distorçam e que os
“jornalistas” altamente qualificados utilizem suas habilidades técnicas para a
manipulação. (KUNCZIK, 2002, p.109)
Em suma, para Kuncsik, a principal função do jornalismo é comunicar, levar a informação
ao próximo. Para isso é preciso que haja a prática de coletar, redigir e editar, até que a notícia
esteja pronta para ser publicada.
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A principal função dos jornais é comunicar à raça humana o que seus membros
fazem, sentem e pensam. Por isso o jornalismo exige de todos os profissionais o
âmbito mais amplo de inteligência, conhecimento e experiência, assim como
poderes de observação inatos e adquiridos. (KUNCZIK, 2002, p.109)
O jornalismo nacional, atualmente, vem sofrendo grandes transformações. As constantes
alterações na regularização profissional do jornalismo, a ascensão da internet e a grande
disponibilidade de informação rápida fornecida pela tecnologia são alguns exemplos dessas
mudanças que estão ocorrendo no contexto midiático brasileiro. Podemos dizer que a forma de
transmitir informações tornou-se mais democrática, assim como a forma de obter a mesma.
Apesar dessa ascensão, os meios de comunicação mais comuns, como jornais, televisão, rádio,
revistas, ainda têm grande importância na função de informar e entreter.
A Mídia Ninja como outro meio de comunicação
O estudioso Marshal McLuhan pesquisou o processo de comunicação através dos meios e
veículos comunicacionais. Ele comenta sobre como o meio é a mensagem, ou seja, como o
suporte tecnológico em que a comunicação é veiculada não apenas estabelece a forma
comunicativa, mas produz o próprio conteúdo da comunicação. O meio é a extensão de nós
mesmos, ou seja, todos os meios são extensões de certa faculdade humana, psíquica ou física.
O significado de conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre um outro meio ou
veículo. Ele exemplifica citando como o conteúdo da escrita é a fala, assim como a escrita é o
conteúdo da imprensa. Mas temos que lembrar que nesse caso, o leitor de um jornal pode
permanecer quase que inteiramente inconsciente, seja em relação à palavra impressa, seja em
relação à palavra falada. (MCLUHAN, 1991).
O meio possui a capacidade de influir e moldar as nossas ações e atividades, é ele que
configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas. Desse modo,
entendemos que o meio pode gerar consequências no estado de nossas vidas, como comenta
McLuhan:
Isto apenas significa que as consequências sociais e pessoais de qualquer meio
— ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos — constituem o
resultado do novo estalão introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologia
ou extensão de nos mesmos. (MCLUHAN, 1991, p.21)
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Desse modo, McLuhan afirma que devido às tecnologias digitais, o mundo vem sofrendo
grandes mudanças, em todos os setores, inclusive na comunicação entre as pessoas. Essas
tecnologias surgiram e revolucionaram o modo das pessoas se comunicarem e se informarem,
criando uma rede complexa, onde todos são agentes e podem participar da produção de conteúdo,
não apenas da recepção, possibilitando o que Henry Jenkins denominou de “cultura
participatória”. (JENKINS, 2008) Não somos mais consumidores passivos do material midiático,
ou meros receptores de mensagens geradas pela indústria de comunicação. Somos agora agentes
criativos, que ajudam a definir como o conteúdo midiático deve ser usado e, em alguns casos,
como produzir nosso próprio conteúdo para disseminação de material, como comenta Navarro.
“A convergência midiática tende a expandir essa possibilidade de participação porque permite
maior acesso a produção e circulação da cultura.” (NAVARRO, 2010:11).
Segundo a pesquisadora Imma Tubella, essas novas tecnologias, em especial a internet,
estão causando forte preocupação nos meios de comunicação tradicionais.
O mundo das comunicações tem mudado radicalmente devido ao
desenvolvimento das tecnologias digitais. A multiplicidade de canais de
televisão e de sítios na Internet, bem como o acesso à informação nos seus
vários formatos em todo o mundo, tem tido um forte impacto nos media
tradicionais e, simultaneamente, como refere Thompson (1997), as tecnologias
digitais transformaram a organização espácio-temporal da vida social, criando
novas formas de acção e interacção, novos modos de relação social e novas
formas de relacionamento com os outros e connosco. (TUBELLA, 2006, p. 281)
McLuhan comenta que, à medida que a tecnologia cria ambientes novos, os homens ficam
sem consciência de sistemas e culturas, e assim, o ambiente que se estabelece se torna um contraambiente, que contribui para o entendermos. Deste modo, a tecnologia contribui para a sucessão
de veículos comunicacionais, de modo que, muitas vezes, não estamos preparados para o que
vem a seguir:
Hoje, as tecnologias e seus ambientes consequentes se sucedem com tal rapidez
que um ambiente já nos prepara para o próximo. As tecnologias começam a
desempenhar a função de arte, tornando-nos consciente das consequências
psíquicas e sociais da tecnologia. (MCLUHAN, 1991, p.12)
As novas tecnologias desse século, a internet, os celulares com alta tecnologia, a TV
digital, todos esses meios foram nos preparando para a explosão de informação e
questionamentos que ocorreram com o aparecimento da Mídia Ninja no ambiente nacional.
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Utilizando da tecnologia disponível, eles criaram uma nova forma de transmitir instantaneamente
pela internet imagens das manifestações pelo Brasil, que estouraram na semana do dia 17 a 21 de
junho de 2013. Os medias convencionais não estavam preparados para tal acontecimento, o que
ocasionou grandes discussões em vários meios comunicacionais.
Ninja é acrônimo de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, e o movimento
buscou, no primeiro momento, transmitir as manifestações ao vivo pela internet através,
principalmente, do canal Pós-TV e pelo facebook, sem nenhuma edição. Durante a transmissão,
que ocorrem durante toda a manifestação, os ninjas fazem entrevistas, narram os acontecimentos,
dão opiniões e muitas vezes se juntam à manifestação para protestar. Essa atitude ocasionou
várias críticas da imprensa, que considera que o jornalismo brasileiro deve ser imparcial. E o que
comenta o jornalista Alberto Dines, no editorial do Observatório da Imprensa na TV:
“Mídia ninja” passou a simbolizar uma forma individual de colher e transmitir
informações, notícia em estado bruto, sem passar pela cosmética da edição. Para
alguns, mídia ninja é também um jornalismo ativista, militante, capaz de romper
o conformismo dos meios tradicionais. (DINES, 2013)
Se considerarmos a mídia ninja como jornalismo, podemos caracterizá-lo como
socialmente engajado, pelas definições de Michael Kunczik. Esse jornalismo é ativamente
comprometido, participativo e militante, promovendo causas. O jornalista “defensor” é aquele
que “busca os direitos de certos grupos abandonados e que, por si mesmos, não podem
representar seus interesses com o Quarto Poder, impedindo o abuso do poder” (KUNCZIK,
2002). Ele não busca neutralidade, e sim os direitos do cidadão.
Já o jornalismo da grande mídia baseia-se na noção de gatekeeper, que segundo Kunczik,
implica a existência de algo chamado informação ou notícia neutra e objetiva. Ela não oferece
opinião, apenas transmite a informação com objetividade e ética profissional.
A Grande Mídia cobre a Mídia Ninja
A Mídia Ninja começou a ganhar espaço nas páginas dos jornais brasileiros, a partir de
suas ações nos protestos do dia 17 ao dia 20 de junho de 2013. Bruno Torturra, um dos
fundadores do grupo, afirmou em entrevista concedida ao Observatório da Imprensa, que os
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ninjas ganharam relevância “porque as pessoas estavam esperando uma cobertura mais próxima
sobre o que estava acontecendo nas ruas”. (TORTURRA, 2013)
Acho que a mídia [tradicional] não soube ler rápido o que estava acontecendo
nas redes e nas ruas. Estávamos sempre presentes nos protestos, transmitindo
tudo ao vivo, fotografando e dando o ponto de vista dos manifestantes. Acho que
tinha uma demanda muito grande de uma cobertura independente e a gente
estava lá. (TORTURRA, 2013)
Buscando entender e opinar sobre a Mídia Ninja, os veículos comunicacionais da grande
mídia realizaram debates e reflexões sobre o tema, em programas de TV e colunas de opinião.
Procuraremos analisar como ocorreu essa cobertura midiática em função da Mídia Ninja, quais os
pontos principais discutidos em cada veículo e como ela se desenvolveu. Avaliaremos a
discussão audiovisual realisado pelo Observatório da Imprensa, transmitido ao vivo no dia 30 de
julho de 2013, pela TV Brasil e o programa Roda Viva, exibido no dia 5 de agosto de 2013, pela
TV Cultura.
Alberto Dines foi o condutor da discussão realizada pelo Observatório da Imprensa. Junto
com ele, estavam o cineasta Eduardo Escorel, os jornalistas Mauro Malin e Leonel de Aguiar e o
integrante da Mídia Ninja Bruno Torturra. A discussão pautou-se em entender o que é a mídia
ninja, como é o processo midiático do grupo e qual sua relação com grande mídia.
O programa discutiu principalmente a ideia de que a Mídia Ninja, pelo menos para alguns,
é jornalismo. O editorial do jornalista Alberto Dines comentou sobre como “justamente no meio
das manifestações, o mercúrio da informação acabou produzindo uma nova forma de fazer
jornalismo” (DINES, 2013). Dines apontou o uso da tecnologia, e comparou a Mídia Ninja com a
imprensa alternativa que surgiu na ditadura militar, afirmando que ela pode revitalizar a grande
mídia, sendo por alguns visto como jornalismo cidadão.
Mídia ninja passou a simbolizar uma forma individual de colher e transmitir
informações, notícia em estado bruto, sem passar pela cosmética da edição. Para
alguns, mídia ninja é também um jornalismo ativista, militante, capaz de romper
o conformismo dos meios tradicionais.Eles se consideram pós-jornalistas mas há
quem os classifique como pré-jornalistas.
Certo é que os ninja saíram da quase clandestinidade e saltaram para a fama ao
denunciar a repressão policial no Rio de Janeiro: frequentam as primeiras
páginas, o Jornal Nacional, as colunas de opinião. Fenômeno do momento
poderá sacudir a imprensa do seu comodismo, espanar convenções e rotinas. Tal
como a imprensa alternativa dos anos 60 e 70, os ninja podem revitalizar um
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processo jornalístico que na última década só se preocupou com a sua própria
sobrevivência. (DINES, 2013).
Alberto Dines ofereceu a todos os seus entrevistados a oportunidade de explanar sua visão
sobre o que é a mídia ninja. Bruno Torturra, o representante do movimento na discussão, apontou
o movimento como um jornalismo cidadão, que busca uma nova forma de fazer jornalismo.
Acredito que o principal fenômeno dele, é a quebra de uma narrativa midiática
única, cobrindo política e pensando no papel de jornalismo cidadão, que é algo
que se vinha discutindo muito nos último 10, 15 anos, mas acho que no Brasil
principalmente, ele veio emergindo como uma força muito grande nos últimos
dois meses. (TORTURRA, 2013)
Porém, essa visão da mídia ninja como jornalismo foi refutada durante o programa pelo
cineasta Eduardo Escorel, que afirmou que ainda não vê toda a ação dos ninjas como jornalismo,
mas como uma técnica ainda em formação, que adiciona alguns aspectos tecnológicos. Para ele,
Mídia Ninja é um “processo de informação, em constituição, e pelo menos pelo que eu pude
assistir, está ainda mais no plano de testemunho, provocação, de um movimento de vanguarda
muito importante.” (ESCOREL, 2013).
O cineasta também aponta um tema que não foi debatido em nenhum outro meio
analisado neste artigo, de como a ação da mídia ninja, de documentar e testemunhar, é um desafio
para o cinema documental. Segundo Escorel:
Se alguém quiser fazer um documentário a respeito dos acontecimentos de
junho, e esse filme for fica pronto daqui a seis meses ou um ano - como é a
tradição do cinema documental, que é mais um réquiem do que um testemunho
ao vivo - esse réquiem vai ter que levar em conta o trabalho que foi feito pela
mídia ninja. Eu acho que esse documentário terá que se transformar, se
reinventar por causa desse trabalho que a mídia ninja está fazendo. (ESCOREL,
2013)
Sobre a Mídia em si, o programa destacou alguns pontos, como a imparcialidade e
conteúdo apresentado pelo grupo. A grande questão levantada foi a de que os ninjas possuem
uma posição já definida em meio os protestos, prejudicando uma cobertura de informação
imparcial. Além disso, há a questão dos “ninjas” selecionarem as imagens que transmitem pela
rede e opinarem sobre os acontecimentos narrados.
Segundo Bruno Torturra, o grupo é claro ao se posicionar a favor das manifestações. Ele
acredita que essa atitude não é manipulação, mas sim ponto de vista (TORTURRA, 2013).
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Quanto ao conteúdo disseminado pela Mídia Ninja, questionou-se sobre como a mídia ninja se
pautará com o fim dos protestos. Eduardo Escorel afirmou que havendo disposição de ir para a
rua, sempre haverá o que transmitir, não sendo um obstáculo essa questão (ESCOREL, 2013).
Diante de toda a entrevista, podemos destacar que o principal assunto foi a mídia ninja
como um complemento da mídia convencional. O jornalista Mauro Malin afirmou que a
revolução digital foi um grande colaborador no crescimento dessa mídia alternativa,
e o
professor Leonel de Aguiar completou, afirmando que a mídia convencional já está em crise
desde a década de 90 por ocasião do processo da digitalização da informação. Segundo Aguiar, o
cidadão já não confia plenamente no jornalismo convencional brasileiro, por considerar que o
jornalismo se beneficiou da cobertura comunicacional da ditadura militar, não conseguindo
exercer até hoje o papel de mediador social.
Leonel Aguiar acredita que desta forma, “não há possibilidade da mídia alternativa
substituir a grande mídia, mas somar e contribuir para a pluralidade de informações.” (AGUIAR,
2013). Em complemento, Malin pondera sobre como a Mídia Ninja possui novos olhares sobre as
velhas práticas do jornalismo, mas que no final, todos os veículos incomodam o poder público. A
questão é que cada veículo possui o seu olhar, e sua forma de cobertura midiática, transmitindo
mais, ou menos conteúdo:
O ponto de vista da Rede Globo é o ponto de vista de um helicóptero ou do alto
do terraço dos prédios. Então, há uma diferença entre quem está testemunhando
de dentro e quem está de fora. Por razões até compreensíveis, eles querem
proteger os profissionais, talvez – há várias explicações para isso. As coberturas
ao vivo, tanto as da Globo quanto da Globonews, em termos visuais, informam
pouquíssimo do que está acontecendo. E dependem de um texto contínuo que
também informa muito pouco. (Malin, 2013)
Deste modo a discussão realizada no Observatório da Imprensa focou-se principalmente
na questão jornalística da Mídia Ninja, havendo durante todo o programa, apenas uma pergunta
sobre o financiamento do grupo, que foi respondida por Bruno de forma simples. A questão de
posicionamento político, também não foi levantada durante todo o programa, diferente da
entrevista realizada pelo programa Roda Viva.
O programa Roda Viva com o tema Mídia Ninja, abordou muitos aspectos do assunto, não
se focando apenas no jornalismo do grupo. A mesa de debate foi formada com a mediação de
Mário Sérgio Conti, pelos entrevistadores Alberto Dines, Caio Túlio Costa, Eugênio Bucci,
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Susana Singer e Wilson Moherdaui e os entrevistados foram os fundadores da Mídia Ninja,
Bruno Torturra e Pablo Capilé.
Assim como no programa do Observatório de Imprensa, uma das primeiras perguntas
realizadas pela mesa entrevistadora constituiu – se na dúvida de que se a Mídia Ninja faz ou não
jornalismo. Bruno foi enfático ao dizer que a Mídia Ninja faz jornalismo sim:
A gente faz jornalismo sim. Eu acho até curioso que ainda é uma dúvida se o
que a gente faz é, ou não, é jornalismo. Então acho que dá para discutir que tipo
de jornalismo a gente faz, dá para discutir a qualidade dele, dá para discutir a
relevância dele, mas eu acho que o fato de ser um grupo organizado, de se
colocar como veículo, de ter uma dedicação diária em transmitir informação da
maneira mais crua, da maneira mais honesta, da maneira mais abrangente
possível, dentro de nossas limitações, acredito que é jornalismo sim.
(TORTURRA, 2013)
Após essa explanação não há nenhum debate sobre a fala de Torturra e a entrevista focase na busca pelo entendimento sobre a economia do grupo, como ela é financiada e como se
desenvolve dentro do Coletivo sem Paredes e da rede. A economia dentro do sistema de rede a
que pertence a Mídia Ninja é complexo. Foi difícil para os entrevistadores conseguirem
questionar Bruno e Pablo sobre o assunto. Bruno explica: "é importante entender como essa
lógica financeira é muito complicada da gente explicar rapidamente, porque ela é em rede, ela
funciona em fluxo.” (Torturra, 2013)
No primeiro bloco do programa, Alberto Dines é um dos únicos entrevistadores que
questionou o conteúdo midiático da mídia Ninja. Ele pergunta se após o fim das manifestações,
ainda haverá interesse público. Pablo responde que a mídia Ninja já estava a muito tempo, mas
foi evidenciado nas manifestações. Segundo ele, há muitas pessoas que possuem interesse em
divulgar, e essas pessoas vão continuar divulgando. Ele afirma "Pauta não nos falta". (CAPILÉ,
2013). Durante o programa, o assunto pauta é recorrente, discutindo sobre as diferenças entres as
pautas da grande imprensa e da mídia ninja, e principalmente sobre a imparcialidade do grupo
como imprensa, sendo ela ativista. Bruno se defende sobre o assunto, dizendo que está apenas
mostrando o ponto de vista do manifestante:
[O manifestante] é um cidadão, que está sendo atacado de maneira muito
violenta pelo estado por estar exercendo o seu direito a manifestação. A gente
está protegendo a democracia quando a gente toma lado em uma manifestação,
porque a gente não está defendendo o argumento do manifestante
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necessariamente, mas o direito de ele estar lá fazendo o que ele faz.
(TORTURRA, 2013)
Também ocorre a discussão sobre a imparcialidade da grande mídia, que segundo Pablo,
seria mais honesto que a grande mídia “assumisse uma parcialidade”, para o cidadão buscar no
jornalismo a posição com a qual mais de identifica.
Temas como, a falta de oportunidades para os novos jornalistas no mercado convencional
jornalístico, o uso pela mídia ninja do material jornalístico bruto, sem edição, e a tecnologia
utilizada pelos “ninjas”, foram também debatidos.
Conclusão
Desta maneira, concluímos que a grande imprensa brasileira ficou motivada a buscar mais
informações sobra a Mídia Ninja, e os jornalistas profissionais, que atuam nos grandes veículos
de jornalismo nacional, ficaram curiosos para entender como esse grupo se configura e se
estabelece no cenário comunicacional do Brasil. A Mídia Ninja revolucionou o processo de
transmissão de conteúdo no Brasil, ao transmitir informações de maneira bruta, com grande
engajamento político e opiniões explicitas sobre os acontecimentos. A Grande Imprensa teve
papel fundamental para explanar e compreender as intenções desse grupo.
Jornalistas antigos e novos, e telespectadores mais atualizados, estavam curiosos para
entender como é todo o processo midiático realizado pelo grupo. A Imprensa Brasileira ofereceu
a oportunidade dos “Ninjas” se explicarem, mesmo muito vezes possuindo uma atitude defensiva
e acusatória perante a ação dos grupos.
As entrevistas que foram colocadas nesse artigo, realizadas pelos programas Observatório
da Imprensa e pela Roda Viva, buscaram entender o grupo, cada uma de uma maneira particular.
Enquanto o programa Roda Viva buscou compreender como a Mídia Ninja é financiada, qual o
seu engajamento político, debatendo pouco sobre a questão midiática do grupo, o Observatório
da Imprensa focou-se totalmente em estabelecer parâmetros para as ações comunicadoras da
Mídia Ninja, procurando todos os reflexos e consequências do movimento na rede
comunicacional do país.
A questão que levantamos no início deste trabalho, sobre a questão jornalística, continuou
em enfoque. Vimos a partir da análise dos dois programas audiovisuais, que a Mídia Ninja se
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tornou outro veículo de transmissão de informação, mas para a maioria dos jornalistas que
debateram sobre ao assunto, ela ainda não pode ser considerada jornalismo, mas sim uma técnica
de testemunho opinativo, que utiliza aparatos tecnológicos para a transmissão das informações
que foram colhidas por seus integrantes. Para a grande imprensa brasileira, dessa forma, a Mídia
Ninja aparece como um complemento da mídia tradicional, que busca estar em lugares que a
grande imprensa não consegue permanecer.
REFERÊNCIAS
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Disponível
em
>
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/videos/view/um_olhar_sobre_a_midia_ninja< . Acesso em :
15 de setembro de 2013
DINES, Alberto. Observatório da Imprensa. TV Brasil, 30 de julho de 2013. Programa de TV.
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http://www.observatoriodaimprensa.com.br/videos/view/um_olhar_sobre_a_midia_ninja<<. Acesso em:
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MCLUHAN, Marshal. Os meios de comunicação como extensões do homem. 10. ed., São Paulo:
Cultrix, 1995
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2008
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: por que as notícias são como são. V. 1.
Florianópolis: Insular, 2004.
TORTURRA, Bruno. Observatório da Imprensa. TV Brasil, 30 de julho de 2013. Programa de TV.
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