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Apoio Patrocínio a primeira viagem ao redor do mundo organização Heloisa Meireles Gesteira Magalhães – Elcano 1519–1522 a primeira viagem ao redor do mundo Realização Magalhães-Elcano 1519–1522 textos Heloisa Meireles Gesteira Carlos Ziller Camenietzki Marcello José Gomes Loureiro Elisa Frühauf Garcia Marcelo da Rocha Wanderley Magalhães–Elcano 1519–1522 a primeira viagem ao redor do mundo PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, organização Heloisa Meireles Gesteira SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA APRESENTAM © ANDREA JAKOBSSON ESTÚDIO EDITORIAL LTDA., 2021 textos Heloisa Meireles Gesteira Carlos Ziller Camenietzki Marcello José Gomes Loureiro Elisa Frühauf Garcia Marcelo da Rocha Wanderley ORGANIZAÇÃO Heloisa Meireles Gesteira TEXTOS Heloisa Meireles Gesteira, Carlos Ziller Camenietzki, Marcello José Gomes Loureiro, Elisa Frühauf Garcia, Marcelo da Rocha Wanderley PROJETO GRÁFICO a+a design | Glória Afflalo REVISÃO Rosalina Gouveia ASSISTENTE EDITORIAL Renata Magalhães Arouca TRATAMENTO DE IMAGENS Cesar Barreto IMPRESSÃO E ACABAMENTO Ipsis Editora Gráfica Todos os direitos reservados. É vedada a reprodução desta obra no todo ou em partes sem a expressa autorização da editora. Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda. Rua Percy Murray, 5/703 Copacabana, 22071-040 Rio de Janeiro (RJ) www.jakobssonestudio.com.br Realização Apoio JACQUELINE MENAEI | MAISARTE 2 3 A PUBLICAÇÃO DESTE LIVRO FOI POSSÍVEL GRAÇAS AO PATROC´´INIO DA PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA E DA PRATICAGEM RJ, POR MEIO DA LEI MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA — LEI DO ISS PATROCÍNIO 4 5 Encontros entre Espanha e Brasil Luis Prados Covarrubias Cônsul Geral da Espanha no Rio de Janeiro Nesse importante encontro, organizado pelos governos do Brasil, Espanha e Portugal, e dirigido na parte científica pelo Professor Paulo Roberto Pereira, destacados representantes acadêmicos, diplomáticos, militares e culturais dos países visitados pela expedição na América do Sul lançaram novas luzes sobre esse trecho da viagem, dando assim continuidade aos debates acadêmicos iniciados em 2018 com o “Congreso Internacional de Historia Primus Circumdedisti me”, realizado em Valladolid. Na esteira desse quinto centenário, é publicado agora o livro Magalhães– Elcano: a primeira viagem ao redor do mundo, 1519–1522, de enorme riqueza em sua abordagem multifacetada do feito, com uma valiosa seleção de narrativas e personagens, assim como reproduções de documentos de grande valor histórico e cultural. Este livro é resultado de um profundo trabalho de pesquisa que, por diferentes perspectivas, realiza uma importante contribuição ao acervo bibliográfico sobre o tema. Para o Consulado Geral da Espanha no Rio de Janeiro é uma satisfação ter podido contribuir à articulação entre a editora e a Biblioteca Nacional da Espanha, o que favoreceu a reprodução de diversos manuscritos e imagens. A bela e cuidadosa edição de Andrea Jakobsson é mais uma prova de que os encontros entre Espanha e Brasil, nos mais diversos âmbitos e momentos históricos, produzem resultados de grande interesse e fascínio. Em 1519, aproximadamente 260 navegantes, patrocinados pelo Rei da Espanha e capitaneados primeiro por Fernão de Magalhães e depois por Juan Sebastián Elcano, zarparam em cinco naus do porto de Sevilla e cruzaram os mares em busca de uma nova rota marítima por América para acessar as especiarias das Ilhas Molucas. Ancorados no porto em Sanlúcar de Barrameda três anos depois, em 1522, dezoito deles finalizariam com a nau Victoria um périplo histórico que se consagrou como a primeira circum-navegação ao mundo e representou a abertura de novos e decisivos horizontes culturais, científicos e geográficos. Cinco séculos mais tarde, Espanha e Portugal iniciaram um movimento que durará de 2019 a 2021, dessa vez para reunir e revisitar os detalhes dessa façanha histórica. Nesse contexto, a cidade do Rio de Janeiro, que em 1519 fora palco da primeira parada da expedição na América, reviveu seu papel pioneiro e, em dezembro de 2019, inaugurou as celebrações no Brasil com o “Seminário Internacional 5º Centenário da Primeira Volta ao Mundo: A Estadia da Frota no Rio de Janeiro”. 6 7 Prefácio António Fernandes Alves Correia Este livro sobre a viagem de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano surgiu como projeto, foi elaborado e veio a público no contexto das celebrações dos 500 anos da primeira viagem de circum-navegação que ocorreu entre 1519 e 1522. Escrever sobre temas célebres da história no momento de suas comemorações é sempre uma tarefa desafiadora e instigante, uma vez que desperta a curiosidade de muitos. Os 500 anos da viagem de Magalhães–Elcano nos levam a pensar em outras relacionadas particularmente a esta, como as viagens de descobrimentos iniciadas pelos ibéricos do final do século XV até meados do século XVI. Desde a década de 1990 lemos nos livros e ouvimos nos meios de comunicação múltiplas visões sobre as viagens de Bartolomeu Dias (1488), Cristóvão Colombo (1492), Vasco da Gama (1498), Pedro Álvares Cabral (1500) e Magalhães–Elcano, a primeira experiência de circum-navegação, para citar apenas as mais famosas. Falar das chamadas viagens de descobrimentos evoca eventos que provocaram alterações significativas na feição do mundo, desde o ponto de vista da geografia até o das transformações culturais que marcaram a vida dos homens no ecúmeno que, ao longo dos últimos 500 anos, ficou cada vez mais conectado. Se o feito foi positivo ou negativo é quase impossível concluir de forma precisa e fechada. Os indivíduos que entraram em naus e caravelas eram destemidos ou cheios de sonhos? Eram aventureiros ou sabiam aonde queriam chegar? Partiam dos portos de Lisboa e Sevilha cheios de fé ou de cobiça? Que dizer dos olhares dos marinheiros cujos nomes não chegaram até nós e dos povos não europeus que foram sendo “descobertos”? Apenas uma certeza: as perguntas e respostas são tantas que não nos cabe julgar, mas tentar refletir sobre o assunto buscando exatamente ouvir outras vozes e trazer novas perspectivas de análise. Esse foi o desafio. Os autores convidados para pensar sobre o feito percorreram caminhos diferentes. Cada um explorou um tema específico e analisou documentos textuais e iconográficos diversos. Os capítulos reunidos no livro Magalhães– Elcano: a primeira viagem ao redor do mundo, 1519–1522, além de trazerem novas análises sobre a viagem, buscaram demonstrar que tanto a experiência de Magalhães–Elcano, como tudo o que se disse sobre ela ao longo do tempo devem ser examinados com cuidado, evitando a armadilha de narrativas épicas Magalhães–Elcano: a primeira viagem ao redor do mundo, 1519–1522 comandadas por indivíduos visionários e intrépidos. O que se buscou, ao contrário, foi recuperar as teias políticas, os interesses mercantis, as condições técnicas e as transformações culturais que permitiram que as cinco embarcações zarpassem de Sevilha sempre navegando em direção ao Ocidente e procurando uma passagem marítima para o Mar do Sul, contornando o Novo Mundo e, por essa rota, atingir as Ilhas Molucas, tesouro das especiarias, sobretudo o cravo. Os capítulos analisam o impacto que essa viagem causou no âmbito da cultura, das ciências, da política europeia, das técnicas de navegação e do comércio entre europeus e diferentes povos, como os indígenas que habitavam a costa brasileira. Destaque-se o número de negociações realizadas durante os 13 dias que as embarcações comandadas por Fernão de Magalhães ficaram ancoradas na região hoje conhecida como Baía de Guanabara, em dezembro de 1519, quando as terras do Novo Mundo situadas no hemisfério português ainda não haviam sido ocupadas e sequer divididas em capitanias hereditárias. Contudo, o Rio de Janeiro, assim batizado em 1502, era desde sempre parada obrigatória para muitas naus. O livro, nos 500 anos dessa jornada, destaca sua importância sob vários aspectos, sem retirá-la de seu contexto mais amplo: as ciências, o comércio, a formação de circuitos numa escala planetária, a consciência das diferentes culturas. Por fim, queremos demonstrar como o impacto da experiência das navegações na visão de mundo não pode ser restrito aos ibéricos nem tampouco aos europeus, mas deve ser explorado no quadrante mais amplo que engloba o mundo e, sobretudo, os homens. Neste mesmo momento em que o livro chega a público, em meio a tantas outras iniciativas e comemorações, está em julgamento a candidatura proposta à Unesco para que a rota seguida por Magalhães–Elcano seja considerada patrimônio da humanidade. Entendemos que a contribuição dos capítulos aqui apresentados seja a de evidenciar como nenhum evento deve ser visto de maneira isolada, e que podemos homenagear aqueles que nem sempre estão em primeiro plano. No nosso caso, os habitantes originais do entorno da Baía de Guanabara que muitas vezes receberam as tripulações e deram condições para que muitos seguissem viagem após descansos, reparos e abastecimento das embarcações. Somente assim podemos lembrar da rota não apenas sob o ponto de vista de heróis ou bandidos, mas como um feito multifacetado. 8 9 Prefácio Sumário 12 Apresentação Heloisa Meireles Gesteira 18 Saberes em movimento. A arte de navegar e os simples das Índias nas viagens de descobrimentos Heloisa Meireles Gesteira 54 O relato de Antonio Pigafetta. A publicação na cultura do Renascimento tardio Carlos Ziller Camenietzki 82 Entre política e cartografia. A conquista do Pacífico e o antimeridiano de Tordesilhas Marcello José Gomes Loureiro 112 Os índios brasileiros na formação do mundo moderno. Alianças, comércio e trocas culturais Elisa Frühauf Garcia 138 “Toda a Terra flutua no oceano do mundo”. Os argonautas do Período Moderno Marcelo da Rocha Wanderley 172 Bibliografia / Currículos 10 Entre política e cartografia Magalhães–Elcano: a primeira viagem ao redor do mundo, 1519–1522 82 83 Entre política e cartografia A conquista do Pacífico e o antimeridiano de Tordesilhas Em 1553, o governador do Brasil, Tomé de Souza, escrevia para D. João III relatando que “de São Vicente até o Rio da Prata, estavam algumas armas de Castela; em algumas partes mandei-as tirar e deitar no mar e pôr as de Vossa Alteza”. Para justificar essa iniciativa nada amistosa, estabelecia nexos explícitos entre as pretensões lusas acerca da bacia do Rio da Prata e das Ilhas Molucas, no Pacífico; alicerçado nessa mesma lógica argumentativa, alegava mesmo ser portuguesa a cidade de Assunção: “parece-nos a todos que esta povoação [de Assunção] está na demarcação de Vossa Alteza e se Castela isto negar, mal pode provar que é Maluco [Molucas] seu”.1 Mas, afinal, que relação poderia haver entre o domínio luso sobre as Molucas e as disputas jurídico-territoriais das coroas ibéricas na América? Com base nessa questão propositiva, este capítulo tem por objetivo não apenas identificar as tensões diplomáticas decorrentes das descobertas da viagem de Fernão de Magalhães no Oriente, mas também examinar as relações de interdependência entre as expectativas territoriais ibéricas nas Índias e na América. No limite da análise, procura demonstrar como o conhecimento geográfico e sua manipulação cartográfica acompanharam as disputas geopolíticas entre essas monarquias. As Molucas eram constituídas por cinco ilhas principais — Ternate, Tidor, Motir, Maquian e Batian — e muitas outras menores, conquistadas pelos portugueses, oficialmente, em 1512. João de Barros nos relata que essas ilhas “juntamente se chamam Maluco. [...] O cravo que por todo o mundo corre nasce nestas ilhas [...] e a maçã e a noz, em outra chamada Banda, que também é senhorio destas”.2 A mesma referência ao cravo aparece no planisfério de Jorge Reinel, de 1519.3 Em três dessas ilhas, ainda havia, segundo o cronista, “rei próprio de cada uma”. Pedro da Covilhã, que alcançou as Índias por terra, em 1489, possivelmente as visitou e nomeou. De fato, as conexões propostas por Tomé de Souza resultam de interpretações e convenções decorrentes do Tratado de Tordesilhas, firmado entre Portugal e Castela, em junho de 1494. Embora atualmente esse acordo seja uma referência comum nos livros de história, sua redação ensejou discussões reiteradas entre as coroas ibéricas acerca dos limites territoriais e marítimos de seus domínios. Magalhães–Elcano: a primeira viagem ao redor do mundo, 1519–1522 Marcello José Gomes Loureiro Centro de Ciências Sociais — Escola Naval Para certos historiadores, algumas das indefinições textuais presentes no corpo do tratado poderiam até ser convenientes, já que representavam precedentes para negociações futuras. No momento de sua assinatura, Portugal se beneficiava, porque o acordo visava à “demarcação e concórdia sobre o Mar Oceano, ilhas e terras firme”; 4 desse modo, na prática, legitimava assim um dos objetivos primaciais da coroa: o monopólio da navegação no Atlântico Sul e o uso de suas franjas territoriais para abastecimento, viabilizando o acesso ao regime de ventos, correntes e marés que condicionavam a dinâmica das rotas marítimas para as Índias.5 Uma das muitas indeterminações textuais era a inexistência de um antimeridiano correspondente à linha que passava a 370 léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. Todo meridiano possui seu antimeridiano, de tal maneira que, passando pelo eixo da Terra, dividem o planeta em dois hemisférios. Contudo, não apenas a noção das raias meridionais antípodas era dissonante entre as autoridades da Igreja, como também não estava bem definida entre os ibéricos, nem tampouco na própria avença de Tordesilhas. 6 Assim, dada a esfericidade aproximada da Terra, os Reis Católicos poderiam considerar, por exemplo, que as Índias encontradas por Vasco da Gama estariam localizadas a oeste da linha referencial de 1494 e, assim, inseridas perfeitamente no espaço de sua jurisdição. O antimeridiano deveria ser, portanto, aceito; do contrário, qualquer uma das partes convenentes poderia navegar na direção que lhe competia até cortar pelo reverso a linha longitudinal de Tordesilhas, destituindo-a completamente de sentido.7 O imbroglio estava em estabelecer os lugares que o meridiano e seu antípoda cortariam. Desses possíveis lugares, atraíam mais os interesses lusitanos as Molucas e a Bacia do Prata. 1 Carta de Tomé de Souza a D. João III. Bahia, em 1 de junho de 1553. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Coleção São Vicente, vol. 3, fl. 313. Apud Almeida, 1957, p. 38. 2 Barros, J. Década III, Livro V, Capítulo V. Apud Cortesão, 1937, p. 4 Tratado de Tordesilhas, 7 de junho de 1494. Apud Soares, 1939, p. 65-77. 129. 3 Acervo da Armeebibliothek, 5 Tavares, 1995, p. 31. Munique. Ver ainda: Cortesão, 1935, 6 Cortesão, 1935, p. 71. p. 274. 7 Almeida, 1957, p. 13-14. 84 85 Entre política e cartografia