Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Academia.eduAcademia.edu

A presença de Maria Amália Vaz de Carvalho na revista oitocentista A Mensageira

2020, Letras em Revista

Publicado no periódico Letras em Revista, da UESPI, v. 2, n. 11. O objetivo deste artigo é investigar a escrita cronística da portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho, presente na coluna "Selecção" da revista oitocentista brasileira A Mensageira, a fim de contribuir para a ampliação de sua fortuna crítica e, consequentemente, para a sua (re)inserção nas histórias da literatura e na memória cultural dos países de língua portuguesa. A metodologia consiste em revisão bibliográfica, apoiada, inicialmente, em pesquisas sobre o resgate de escritoras, a partir dos Estudos de Gênero, enquanto a análise do material é baseada em aportes teóricos da história das mulheres. Assim, na discussão, comparar-se-ão as realidades femininas, em Portugal e no Brasil do século XIX, com as opiniões de Carvalho, examinando o que a escritora afirmava, acerca do sujeito feminino dos oitocentos. Observou-se que ela teve quatro de seus escritos veiculados no periódico, cujos temas, em sua maioria, evidenciam um engajamento com a luta feminista da época, em relação ao direito de exercer profissões e à educação de qualidade. Assim, além do resgate realizado ajudar na sua (re) consideração nos Estudos Literários, ele colabora por trazer à tona as suas crônicas que, por sua vez, podem auxiliar na reescritura de uma história das mulheres, pensada a partir de um contexto luso-brasileiro. Palavras-chave: Maria Amália Vaz de Carvalho; A Mensageira.

A PRESENÇA DE MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO NA REVISTA OITOCENTISTA A MENSAGEIRA1 THE PRESENCE OF MARIA AMÁLIA VAZ DE CARVALHO IN THE NINETEENTH-CENTURY MAGAZINE A MENSAGEIRA Guilherme Barp Cecil Jeanine Albert Zinani UCS Resumo: O objetivo deste artigo é investigar a escrita cronística da portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho, presente na coluna “Selecção” da revista oitocentista brasileira A Mensageira, a fim de contribuir para a ampliação de sua fortuna crítica e, consequentemente, para a sua (re)inserção nas histórias da literatura e na memória cultural dos países de língua portuguesa. A metodologia consiste em revisão bibliográfica, apoiada, inicialmente, em pesquisas sobre o resgate de escritoras, a partir dos Estudos de Gênero, enquanto a análise do material é baseada em aportes teóricos da história das mulheres. Assim, na discussão, comparar-se-ão as realidades femininas, em Portugal e no Brasil do século XIX, com as opiniões de Carvalho, examinando o que a escritora afirmava, acerca do sujeito feminino dos oitocentos. Observouse que ela teve quatro de seus escritos veiculados no periódico, cujos temas, em sua maioria, evidenciam um engajamento com a luta feminista da época, em relação ao direito de exercer profissões e à educação de qualidade. Assim, além do resgate realizado ajudar na sua (re) consideração nos Estudos Literários, ele colabora por trazer à tona as suas crônicas que, por sua vez, podem auxiliar na reescritura de uma história das mulheres, pensada a partir de um contexto luso-brasileiro. Palavras-chave: Maria Amália Vaz de Carvalho; A Mensageira; feminismo Abstract: The goal of this paper is to investigate the chronicles written by the Portuguese writer Maria Amália Vaz de Carvalho, which were reproduced in the column “Selecção” of the nineteenth-century Brazilian magazine A Mensageira, in order to contribute to an extension of the critical considerations made to her writing and, consequently, to her insertion in the histories of literature and in the cultural memory of the Lusophone countries. Methodologically, a bibliographic review is done, focusing on studies about the recovery of forgotten women writers, grounded on a Gender Studies’ perspective, while the analysis of the material is based on theoretical approaches of the history of women. Therefore, in the discussion, Carvalho’s opinions concerning Para realizar este estudo, recorreu-se à versão fac-similar da revista, publicada, em dois volumes, pela Imprensa Oficial do Estado e a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, no fim do século XX. Dessa forma, nas citações retiradas desse periódico, consta o ano de 1987. 1 Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 185 women were compared to their reality during the 1800s in Portugal and Brazil. Thus, it was examined what she actually wrote about them. Four chronicles under her authorship could be found in the periodical, which had the majority of themes related to feminist vindications, like the right to work and to education. In conclusion, this recovery, aside from aiding in the (re)consideration of the writer in the Literary Studies, brings up her chronicles that could assist in the rewriting of a history of women, based on a Luso-Brazilian context. Keywords: Maria Amália Vaz de Carvalho; A Mensageira; feminism Ao observar o paratexto, inserido na contracapa do Dicionário de escritoras portuguesas – escrito por Conceição Flores, Constância Lima Duarte e Zenóbia Collares Moreira, e publicado pela editora Mulheres, em 2009 –, verificam-se as seguintes considerações: [...] Ao lado de nomes bem conhecidos, [...] temos outros, quase desaparecidos na história literária, ou conhecidos apenas por dedicados investigadores da literatura. Lembramos aqui, os nomes de Ana de Castro Osório, Ana Plácido, Antónia Margarida, Feliciana de Milão, Fernanda de Castro, Maria Amália Vaz de Carvalho, Maria Felicidade do Couto Brown [sic], Marquesa de Alorna, Sóror Catherina de Christo, Soror Maria do Céu, Teresa Margarida da Silva e Orta e Violante do Céu. (FLORES; DUARTE; MOREIRA, 2009, s. p.). Conforme referido pelas autoras, essas ilustres escritoras não são frequentemente lembradas pelas histórias da literatura. Certa parte delas figurou durante o século XIX,2 em que à mulher era conferida uma educação cujo modelo, frequentemente, não desenvolvia a sua intelectualidade, além de privações de atuação na vida pública, aspectos que resultaram na sua marginalização no âmbito literário desse período. Suas relações com o sujeito masculino, nessa época, eram, muitas vezes, conturbadas. Em relação a um caso lusitano, Duarte (1997, p. 54) cita a história de Maria da Felicidade do Couto Browne – uma das “desaparecidas”, como fora apontada pelas autoras do Dicionário –, uma poetisa portuguesa do século passado [XIX] que não chegou a publicar nenhum livro porque teve todos seus manuscritos queimados, assim como sua biblioteca, por um filho enciumado do talento materno. Os poucos versos que sobraram estavam publicados sob pseudônimo e foram recolhidos de jornais e revistas literárias da época. Acrescido a tais realidades o preconceito das instituições sociais e da crítica literária, em relação ao feminino, resulta a posição marginalizada que elas exerceram nas histórias da literatura, como atesta Duarte (1997, p. 57), ao afirmar que “mesmo aquelas que tivessem incentivo da família, 2 De acordo com o Flores, Duarte e Moreira (2009), eis as seguintes datas de nascimento e falecimento de tais mulheres: Ana de Castro Osório (1882-1935); Ana Augusta Plácido (1831-1895); Antónia Margarida de Castelo Branco (16521717); Feliciana de Milão (1632-1705); Fernanda de Castro (1900-1994); Maria Amália Vaz de Carvalho (1847-1921); Maria da Felicidade do Couto Browne (1797-1864); Marquesa de Alorna (1750-1839); Sóror Catherina de Christo (século XVI, sem data específica); Sóror Maria do Céu (1658-1753); Teresa Margarida da Silva e Orta (1711-1793); e Sóror Violante do Céu (1602-1693). Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 186 uma educação sólida e a oportunidade de publicar, a crítica se encarregava de desencorajar”. Assim, é necessário contribuir para a inserção dessas escritoras, que foram vítimas desse destino, em espaços como as histórias da literatura e a memória cultural, para que, finalmente, ocupem um lugar de igualdade ao dos homens, a que outrora foram marginalizadas. Cabe ressaltar, então, como fazer tal tarefa? Por meio de revisão bibliográfica, seguindo uma abordagem dos Estudos de Gênero e da crítica feminista. Para Zinani (2014, p. 185), os pesquisadores fazem um “trabalho quase arqueológico, procuram resgatá-las e reinseri-las no universo literário, por meio de edições críticas, dicionários biobibliográficos, dissertações e teses”. A isso Muzart (1997, p. 85) acrescenta que, “[...] além do resgate, da publicação dos textos, é preciso fazer reviver essas mulheres trazendo seus textos de volta aos leitores, criticando-os, contextualizando-os [...]”. Dessa maneira, este estudo pretende enveredar por essas orientações, tendo por objetivo investigar as crônicas da portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho, transcritas na coluna “Selecção” da revista brasileira do século XIX A Mensageira, a fim de contribuir para a ampliação de sua fortuna crítica e, consequentemente, para a sua (re)inserção nas histórias da literatura e na memória cultural dos países de língua portuguesa. A análise dessas crônicas será pautada em aportes teóricos da história das mulheres. Assim, na discussão, comparar-se-ão as realidades femininas, em Portugal e no Brasil do século XIX, com as opiniões de Carvalho, examinando o que a escritora afirmava, em relação à mulher oitocentista. Maria Amália Vaz de Carvalho, também conhecida pelo pseudônimo Valentina de Lucena, nasceu em 1847 e faleceu em 1921. Luca (1999) a considera a escritora mais popular de Portugal, no fin de siècle, sendo a sucessora incontestável de Guiomar Torrezão (1844-1898). Ela descendia diretamente do escritor do século XVI Francisco de Sá Miranda. (LUCA, 1999). Admite-se que, desde cedo, já manifestava uma inclinação à literatura, visto que, de acordo com Luca (1999), frequentavam o palacete, em que ela se criou, escritores como Antônio Feliciano de Castilho, Tomás Ribeiro e Gonçalves Crespo, com quem se casou. Tem relevância na sociedade portuguesa, pois foi a segunda mulher a ser admitida na Academia de Ciências de Lisboa. (LUCA, 1999). Ainda, a respeito disso, Flores, Duarte e Moreira (2009, p. 190) afirmam que, em parceria com o marido, escreveu uma obra didática aprovada pelo Conselho Superior de Instrução Pública, para uso das escolas de Portugal. [...] Tem seu nome dado a uma rua e a um Liceu de Lisboa, além de ter sido distinguida com a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e ter seu nome dado a um prêmio anual para agraciar a melhor obra publicada no gênero literatura infantil. Em relação à sua produção literária, Flores, Duarte e Moreira (2009, p. 190) afirmam que ela “[...] deixou uma vastíssima bibliografia na qual abordou quase todos os gêneros literários”. Assim, sobre a sua poética, assinalam que dentre os inúmeros livros que publicou, figuram os seguintes títulos: Vozes do ermo (1876); Serões no campo (1977) [sic]; Arabesco (1880); Contos e fantasias (1880); Um Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 187 conto (1885); Mulheres e crianças: notas sobre educação e costumes (1886); Contos para os nossos filhos, escrito em parceria com o marido, em 1886; Cartas a Luísa: moral, educação e costumes (1887); Pelo mundo fora (1896); A arte de viver na sociedade (1897); A vida do Duque de Palmela, vols. I, II, III (1898-1903); Em Portugal e no estrangeiro: ensaios críticos (1899); Figuras de ontem e de hoje (1902); Cérebros e corações (1903); As nossas filhas: cartas às mães (1905); Ao correr do tempo (1906); A Marquesa de Alorna (1909); No meu cantinho: homens, factos e idéias (1909); Duquesa de Palmela: in memoriam (1910); Impressões de história (1991); Coisas do século XVIII em Portugal (1913); Coisas de agora (1913); Páginas escolhidas (1920). (FLORES; DUARTE; MOREIRA, 2009, p. 190-191). Suas criações não se restringem ao formato de livro, pois ela dedicou grande parte de sua produção ao âmbito jornalístico, colaborando com periódicos de países variados: de Portugal, Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro (CHAVES, 2011), Diário Popular, Artes e Letras, Atualidade, Comércio do Porto (CARDOSO, 1917), O Ateneu, A Mulher, Álbum das Glórias, Brasil-Portugal, Correio da Manhã, Diário Ilustrado, Diário de Notícias, O Gabinete dos Repórteres, Jornal da Noite, A Moda Ilustrada, Novidades, O Ocidente e Jornal do Comércio (Lisboa) (REIS, 2012); do Brasil, Jornal do Comércio (Rio de Janeiro), Eco do Sul e O País (REIS, 2012); por fim, da França, Revista Moderna (REIS, 2012). A respeito do conteúdo do seu material veiculado na imprensa, Reis (2012, p. 59) assinala que “[...] é muito diversificado: vai de conversas entre mulheres até política; comenta sobre arte, sociedade, comportamento e traz também a ficção, através de contos breves”. Em A Mensageira (1897-1900), Carvalho não foi colaboradora fixa, contudo, teve constante participação, devido à transcrição de seus textos nas páginas dessa revista. Portanto, pode-se considerar que suas contribuições foram indiretas. Esse periódico, cujo subtítulo é “revista literária dedicada à mulher brasileira”, foi dirigido por Presciliana Duarte de Almeida.3 Apesar de ser veiculada em São Paulo, circulou por diversos estados brasileiros e, até mesmo, outros países, como França e Chile. Buitoni (1986) separa a imprensa de mulheres do século XIX em duas modalidades: feminina e feminista. A “imprensa feminina é aquela dirigida e pensada para mulheres. A feminista, embora se dirija ao mesmo público, se distingue pelo fato de defender causas”. (BUITONI, 1986, p. 16). É possível considerar A Mensageira como parte da feminista, devido a determinadas colunas veiculadas, como “A nossa condição” e “O suffragio feminino em a Nova Zelandia”.4 O primeiro texto, escrito por M. P. C. D.,5 reivindica uma educação mais completa às mulheres da época. A escritora reitera que é necessário que os pais eduquem suas filhas, e, também, que escolas sejam abertas em todos os estados, com a finalidade de diminuir a ignorância e elevar a capacidade intelectual da mulher. O 3 Presciliana Duarte de Almeida (1867-1944), escritora mineira, nasceu em Pouso Alegre, mas logo se mudou para São Paulo. Durante a sua juventude, juntamente à prima – e também escritora – Maria Clara da Cunha Santos, dirigiu o periódico O Colibri, que era manuscrito. Em 1890, a dupla lançou uma obra em conjunto, Pyrilampos e Rumorejos, sendo Pyrilampos de sua parente e Rumorejos de sua autoria. Ainda, segundo Vasconcellos (2004), publicou Sombras (1906), Páginas infantis (1908), Livro das aves (1914) e Vetiver (1939). Foi membro da Academia Paulista de Letras. 4 Ao mencionar o nome das colunas, manteve-se a grafia original. 5 De acordo com Luca (1999), trata-se, provavelmente, de um heterônimo de Presciliana Duarte de Almeida, constituído a partir do seu nome de batismo: M (Maria) P (Presciliana) C (da Cunha) D (Duarte). Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 188 segundo – publicado, originalmente, na Gazeta de Petrópolis, mas reproduzido em A Mensageira – traz informações acerca do sufrágio exercido pelas neozelandesas, as primeiras mulheres do mundo a receberem tal direito. A coluna celebra o voto feminino, que foi essencial para que candidatos com antecedentes questionáveis fossem barrados da eleição. Além disso, a presença feminina foi primordial para que se qualificassem as assembleias, visto que os oradores adotaram uma postura mais moderada e atenciosa em relação à linguagem e à cortesia, respectivamente. A partir de tais exemplos, o status feminista da revista é justificado. O periódico tratou de diversos assuntos, mesclando o cotidiano, principalmente, representado por Maria Clara da Cunha Santos, em “Carta do Rio”, com o literário, expresso, em sua maioria, pela pena de escritores e escritoras de todas as partes do Brasil, como Sílvio de Almeida, Amadeu Amaral, Francisca Júlia da Silva, Júlia Lopes de Almeida e Júlia Cortines. No levantamento feito por Luca (1999), observam-se, ao todo, 74 colaboradores, sendo 41 homens e 33 mulheres. Apesar dessa característica, a maioria dos textos veiculados são de autoria feminina. Segundo Barp e Zinani (2019, p. 165), “é possível levantar a ideia de que Presciliana estava bastante interessada em divulgar a produção literária de mulheres”. Em meio às diversas colunas, há uma peculiar: “Selecção”. Nela, consideravam-se excertos de textos gerais de diversos autores, tanto contemporâneos à época como consagrados, como Madame de La Fayette e Walter Scott. A escolha dos textos que a estampariam ficava, provavelmente, a critério da coordenadora da revista, visto que não é revelado quem os designava. Dividindo espaço com esses nomes famosos, encontra-se o de Maria Amália Vaz de Carvalho, que, em suas curtas crônicas de opinião, abordava, com frequência, temáticas relacionadas às mulheres. É possível sumarizar a sua presença, nessa coluna, no seguinte quadro: Quadro 1 – Crônicas de Maria Amália Vaz de Carvalho, transcritas na coluna “Selecção”, em A Mensageira Coluna Edição da revista Data de veiculação Tema “Selecção” Nº 16 30 de maio de 1898 Educação feminina “Selecção” Nº 18 30 de junho de 1898 Trabalho feminino “Selecção” Nº 20 31 de julho de 1898 Educação feminina “Selecção” Nº 22 30 de agosto de 1898 Alimentação adequada dos filhos Fonte: elaboração dos autores. A partir desses temas, sumarizados no levantamento, é possível observar que ambas Maria Amália Vaz de Carvalho e “Selecção” tiveram um papel importante em A Mensageira, consonante com seu o ideal, a saber “estabelecer entre as brazileiras uma sympathia espiritual, pela comunhão das mesmas ideias, levando-lhes de quinze em quinze dias, ao remansoso lar, algum pensamento novo [...]” (ALMEIDA, 1987, p. 1),6 devido à disseminação de três ideias vinculadas aos direitos das mulheres,7 com frequência contínua, durante quatro meses, em 1898. 6 Nas transcrições d’A Mensageira, manteve-se a grafia original. 7 O seu último texto, publicado na “Selecção” do número 22, é o único que não apresenta caráter claramente feminista. Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 189 A presença de Carvalho, em “Selecção”, inicia-se no número 16 da revista. Com base em uma informação no fim da coluna, é possível saber que se trata da transcrição de um trecho de sua obra Mulheres e creanças,8 de 1880.9 A crônica começa com as seguintes considerações: “A mulher precisa de ser moralmente mais forte do que o homem [...]”. (CARVALHO, 1987a, p. 251). A partir disso, espera-se um discurso em consonância com as ideias relativas à mulher na época, no que diz respeito à castidade em relação ao marido, no matrimônio, e às regras sociais; contudo, a continuação é surpreendente: “[...] para conseguir levar a cabo a tarefa relativamente superior que a natureza e a sociedade lhe impõem”. (CARVALHO, 1987a, p. 251-252). A autora mostra-se consciente da realidade feminina do século XIX, em que a esses sujeitos as pessoas impunham e demandavam determinados comportamentos sociais. Visto que o homem não precisava lidar com essas vivências, argumenta a escritora, as mulheres precisavam ser “moralmente mais fortes” que eles, porque passavam por essa experiência singular. Porém, essa questão de gênero, vivenciada pelas mulheres, não era aceita por todos, mas deveria ser. Carvalho (1987a, p. 252) conclui tal ideia a partir da seguinte afirmação: “No dia em que se assentar este ponto como verdade incontestavel, o mundo terá dado um de seus passos mais gigantescos no caminho da felicidade”. Cabe ressaltar que, nessa crítica, Carvalho (1987a) não idealiza a mulher como mãe, como muitos que travam-na como ser divino ou superior, devido à capacidade de reprodução – ao gosto dos argumentos do século XIX e do Romantismo, na literatura vigente –. Isso pode ser verificado em suas palavras posteriores, em que educar a mulher não é simplesmente formá-la uma boa mãe,10 mas, “e’ preparal-a para a grande lucta moral que é a Vida, com os cuidados com que Sparta, a guerreira cidade antiga, preparava os seus filhos para as luctas do corpo, para as victorias da destreza physica”. (CARVALHO, 1987a, p. 252). Moral e educação, assim, para a portuguesa, não estão relacionados aos discursos oitocentistas dominantes, que reivindicavam apenas a instrução necessária para agradar o homem e uma submissão a esse sujeito; são conceitos definidos de maneira muito mais emancipatória: comparando-os à realidade da pólis grega, afirma que as mulheres deviam ser formadas assim como os soldados, numa metáfora, como se ambos enfrentassem suas próprias batalhas. A coluna também apresenta tom de denúncia: “Educar a mulher, eis o grande problema que resta ainda resolver. Educar a mulher, é arrancal-a na infancia ao seu berço fôfo e tepido de beijos, e leval-a por caminhos d’uma magestade austera que ella nunca trilhou”. (CARVALHO, 1987a, p. 252). É possível afirmar que esse seu pensamento questiona as pessoas que não priorizavam a educação das mulheres na época, fato que ela observa como um empecilho. De fato, basta relembrar a alfabetização feminina em Portugal, no fim do século XIX, que, segundo Esteves (2001), era de Foi reproduzida a grafia original do título da obra. Apesar de Flores, Duarte e Moreira (2009) considerarem o ano de publicação da obra como 1886, na verdade, ela foi publicada em 1880. No upload realizado pelo Projeto Gutenberg, observa-se que a edição foi impressa, nessa data, por Joaquim Antunes Leitão & Irmão Editores, na Rua do Almada, 209, 1º andar – Porto. Tais informações estão disponíveis em: http://www.gutenberg.org/files/29550/29550-h/29550-h.htm. Acesso em: 26 jun. 2020 10 Tal argumento é comum, até mesmo, em A Mensageira. No número de 30 de novembro de 1897, José Américo dos Santos reivindica a educação feminina como pedra de toque do processo civilizatório, visto que eram elas que exerciam a maior influência na formação das crianças: “Quereis civilizar uma nação? Educae a mulher”. (SANTOS, 1987, p. 57). 8 9 Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 190 85,4% em 1890; 85% em 1900; e, mesmo com a mudança de século – em 1911 – ainda marcava 81,2%. A educação feminina brasileira era, também, precária e pouco acessível, como atesta Hahner (2003, p. 73-74): O sistema escolar brasileiro exprimia o consenso social sobre o papel da mulher. Ensinava-se a ela só o que fosse considerado para viver em sociedade. As relativamente poucas escolas existentes no século XIX no Brasil enfatizavam atividades complementares aos papéis femininos de esposa e mãe. Observando a realidade educacional nas citações acima, verifica-se a intenção de Carvalho (1987a) de mudar esse cenário catastrófico. Ela sinaliza para que se valorize a educação feminina, para que seja garantido à mulher o direito de desenvolver a sua intelectualidade, a partir de uma jornada, e não meramente servir como um objeto de agrado do sujeito masculino. Como sintetiza Gusmão (2012, p. 274), “no lugar de uma mulher dependente do pai, irmão ou marido, Maria Amália espera que a educação feminina seja capaz de fortalecer um novo tipo de mulher [...]”. Em seguida, além da educação, Carvalho (1987a) reivindica a atuação das mulheres na sociedade: “E’ associal-a pela comprehensão pela sympathia a todos os trabalhos e investigações do homem moderno [...]”. (CARVALHO, 1987a, p. 252). Assim, observa-se mais uma vez a ênfase da escritora em colocar a mulher em posição de equidade ao homem em diversas esferas sociais. Então, a curta crônica é finalizada: “[...] é dar-lhe ao lado d’este um lugar definido, não igual, pois são diversas as atribuições de ambos, mas equivalentes em direitos e deveres”. (CARVALHO, 1987a, p. 252). Cabe ressaltar, então, que ela não reivindica que as mulheres abandonem suas características inerentes e “tornem-se homens”; ela considera os direitos das mulheres a partir de um conceito de equidade, na esfera social, e não de igualdade. A segunda participação da portuguesa, em “Selecção”, está no número 18 da revista. Tratase de uma transcrição de um texto previamente publicado no Jornal do Comércio, conforme está sinalizado no fim da coluna. Carvalho (1987b) inicia a crônica afirmando que as reivindicações do feminismo são complexas, e sinaliza que irá esclarecê-las. O grande foco da escritora, nesse texto, é a defesa do acesso da mulher ao mercado de trabalho. Assim, ela decide afrontar os que argumentavam que o sujeito feminino não deveria exercer profissões. Cabe ressaltar que, no século XIX, muitas mulheres não trabalhavam e, caso trabalhassem em determinados ofícios públicos, eram malvistas pela sociedade. Desse modo, dependiam inteiramente das figuras masculinas presentes em suas vidas. De acordo com Simonton (2003, p. 89-90, tradução nossa), na Europa, ser respeitável, para o trabalhador, significava que a sua esposa deveria se dedicar aos afazeres da casa sem precisar ganhar um salário. O status social e o conforto doméstico do homem era realçado, a partir do momento em que a mulher se dedicava exclusivamente às tarefas domésticas. O objetivo do marido respeitável da classe trabalhadora – de manter a esposa em casa, como uma lady – tornou-se Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 191 extremamente relevante para os homens europeus [...].11 Além disso, em terras brasileiras, como atesta Hahner (2012, p. 50), “o Código Filipino, compilado em 1603 em Portugal e que se manteve efetivo no Brasil até a promulgação do Código Civil de 1916, especificamente designava o marido como ‘cabeça do casal’; e somente com sua morte a mulher ocuparia a posição de ‘chefe da casa’”. Mostrando-se consciente de tais realidades, a portuguesa, então, questiona o que aconteceria com as que não tivessem um homem em suas vidas, apontando a primordialidade do trabalho para a sobrevivência de tais sujeitos: Ha ainda quem reclame para a mulher o direito de exercer, certas profissões que lhe garantão os meios de ganhar a propria subsistencia, se não tem nem pai, nem marido, nem irmão, e tambem este ponto, comquanto intricado e dificil, me parece digno de attender-se. (CARVALHO, 1987b, p. 285). É relevante a tentativa de Carvalho (1987b) de clamar pela emancipação feminina, visto que as mulheres se encontrariam em apuros, caso perdessem os homens de que tanto dependiam. Essa realidade, contudo, era a das pessoas mais abastadas. As jovens de classes sociais mais baixas necessitavam do trabalho para a subsistência. Simonton (2003) aponta que, nos países europeus, os empregos femininos, garantidos às necessitadas, iam da agricultura aos serviços fabris. Sobre isso, no Brasil, Arend (2012, p. 68) afirma que [...] o labor era a sina das meninas que nasciam pobres, fossem elas escravas, libertas, “ingênuas” ou livres. A partir dos 4 ou 5 anos, começavam a auxiliar nas lides domésticas, com os animais (galinhas, vacas, porcos) e no cuidado de outras crianças. Nas cidades, também saíam a vender mercadorias junto dos adultos, auxiliavam na lavagem de roupas das famílias de mais posses ou eram postas para pedir esmolas. Algumas aprendiam ofícios considerados especializados, tais como a tecelagem e a costura, os relativos aos partos e benzeduras e as habilidades para produzir quitutes populares que seriam vendidos em tabuleiros ou barraquinhas nas ruas. Novamente, em relação às vivências femininas, Carvalho (1987b) mostra-se conhecedora. Ela admite que muitas mulheres menos abastadas exerciam profissões que demandam grande força física – como operárias, lavadeiras e costureiras –, e, apesar disso, por que os contrários às mulheres trabalhadoras não as impediam? Nas palavras da autora, “e comtudo, a esse jugo opressor do trabalho ninguem se opõe sobre nenhum pretexto humanitario ou moral!” (CARVALHO, 1987b, p. 285). A portuguesa, então, sinaliza a hipocrisia de tais pensamentos, que não questionam a posição da mulher em tais ofícios, mas o fazem em outros convencionalmente masculinos na época, como a advocacia, a medicina, o comércio e as artes plásticas. A partir disso, ela ironiza: 11 Do original: “Respectability for the working man came to mean that his wife devoted herself to household affairs without needing to earn wages. His social status and domestic comfort were enhanced more by her dedicating herself exclusively to domestic tasks. The ultimate aim of the respectable working-class husband – to keep his wife at home ‘in a ladylike manner’ – became increasingly relevant for skilled European men [...]”. (SIMONTON, 2003, p. 89-90). Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 192 [...] me parece demasiado interessante, com seus visos de egoismo este que leva alguns homens a proclamar a mulher incapaz de exercer missões mais elevadas, embora difficeis, sob pretexto de que a fatalidade physica que a Natureza lhe impoz a inibe de qualquer trabalho regular e methodico que exija esforço, actividade e energia. (CARVALHO, 1987b, p. 285) Assim, verifica-se que a escritora questiona os que acreditavam que as mulheres não poderiam exercer profissões mais renomadas: se as mulheres exerciam trabalhos muito mais pesados, por que não seriam biologicamente capazes de realizar os outros? Por fim, a autora parabeniza todas as que buscam a emancipação feminina: “Achamos bem justo, pelo contrario, a ancia que a mulher tem de preparar-se para um trabalho que a emancipe da miseria, e lhe dê a independencia material tão preciosa e tão moralisadora”. (CARVALHO, 1987b, p. 286). A terceira crônica, presente no número 20, é mais curta que as demais. Conforme assinalado no seu fim, trata-se de um trecho de Mulheres e creanças (1880), novamente. Carvalho (1987c, p. 316) inicia a coluna com as seguintes considerações: “A nossa caridade official dá pão e vestuario ás creanças, mas que faz em favor das mulheres? Dando-lhes uma educação que não está em harmonia com os seus meios futuros; condemn-as á miseria, á desgraça, quantas vezes, á ociosidade e á ignominia?” Observa-se, então, mais uma denúncia por parte da portuguesa, no que diz respeito ao formato precário de educação garantido ao sujeito feminino oitocentista. Em relação a essa realidade, em Portugal, cabe ressaltar que, da influência estrangeira, sobretudo da França, a aristocracia portuguesa imitava os modelos para melhor educar as suas filhas. Desta forma, a família desejava possibilitar uma educação mais requintada às suas filhas para que estas, futuramente, estivessem melhor preparadas para assumir as desejáveis posturas típicas de elegância e de opulência social, associadas à «mulher da sala». (PEDRO, 2006, p. 165). No Brasil, isso não era diferente. Rocha-Coutinho (1994) revela que a educação das mulheres, no século XIX, constituía-se do aprendizado das primeiras letras, gramáticas portuguesa e francesa, música, canto, dança e trabalhos de agulha. A crítica de Carvalho (1987c), apesar de publicada em relação a um contexto europeu e na década de 1880, foi veiculada na edição d’A Mensageira de 1898, mostrando que a educação supérflua, feita para agradar os homens em eventos públicos, transpusera-se no Novo Mundo, estando ainda presente 18 anos após a crítica original. Sendo assim, é relevante o papel dessa reclamação, presente numa revista feminista, de modo que convida à reflexão acerca não mais, necessariamente, do acesso à educação, mas à qualidade de determinada instrução. Como solução a isso, Carvalho (1987c, p. 316) apresenta que “a educação deve fazer-se pratica e positiva, deve tornar-se um preventivo efficaz contra os maus conselhos da pobreza ou da preguiça. Os que pensarem n’isto farão um bem á familia e á sociedade”. A quarta – e última – colaboração, ao contrário das outras, não é de cunho feminista, Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 193 mas feminino. Apesar de não estar marcado no fim da coluna, trata-se de um trecho de Mulheres e creanças (1880), como é possível verificar em consulta à obra. O tema principal, agora, é o cuidado com os filhos. Carvalho (1987d, p. 335) inicia afirmando: “Uma das cousas que a mulher quasi geralmente ignora é a hygiene pratica, que ella tanto precisava saber, tendo, como tem, a seu cargo a distribuição e direcção do alimento da familia”. Assim, a escritora chama a atenção das leitoras para uma tarefa que ela acredita ser das mães, a da alimentação, enfatizando o aspecto higienista da atividade. Observa-se que o higienismo surge proximamente, em relação à época, em Portugal e no Brasil, como atestam Abreu Junior e Carvalho (2012, s. p.), que afirmam que “a manifestação do higienismo como um ramo da medicina se nota com muita visibilidade na sociedade europeia a partir de meados do século XIX, chegando logo depois ao Brasil”. Apesar da premissa básica do movimento, de ensinar cuidados de higiene à população, destaca-se que ele se executava em diversas formas. Conforme enfatiza Góis Junior (2002, p. 49), o “movimento higienista” compunha-se de uma frente ampla que abrigava várias posições políticas, que iam da esquerda para a direita, e vários métodos de intervenção, que iam da democratização da educação e da saúde à regulamentação de casamentos, esterilização, segregação (correntes da Eugenia). O discurso higienista foi rapidamente direcionado à mulher, principalmente, à mulher-mãe, visto que ela era considerada a responsável pelo progresso da nação, por meio dos cuidados com os filhos. Segundo Silva e Giuliani (2018, p. 97), dela era cobrada uma atuação “patriótica”. Era alvo de campanhas que pediam sua colaboração contra os males que se alastravam pelo país. Através de artigos, de propaganda na imprensa e conferências, os higienistas pretendiam conscientizar a “mulher brasileira” para que ela se empenhasse na “profilaxia social”. [...] Assim, percebe-se que o Movimento Higienista, utilizou-se da figura feminina para o seu avanço, impondo às mulheres deveres e responsabilidades através das políticas higiênicas. Na imprensa do fim do século XIX, as dicas de higiene, escritas de forma sutil, tornam-se uma abordagem comum. No número 25, publicado em 22 de maio de 1881, de Ribaltas e Gambiarras – revista literária portuguesa dirigida por Henrique Zeferino e redigida por Guiomar Torrezão –, encontra-se a coluna “Modas – chronica parisiense”, com o subtítulo “A hygiene da bocca”, assinada pelo pseudônimo Condessa de Luc d’Estrelles. Nela, a francesa dá dicas às mulheres, sendo que, no texto em questão, falará sobre os cuidados orais. Inicia-se com argumentos sobre a beleza feminina, retirados de uma obra seiscentista, como nomeia a própria autora: Essai de merveilles da [sic] la nature, de René François. O autor, filosoficamente, define a beleza de forma crua, descrevendo-a a partir de características biológicas, aspecto que D’Estrelles (1881) condena; ela, então, idealiza a beleza das pessoas – e, posteriormente, a feminina –, afirmando que o semblante de alguém é uma poderosa Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 194 influência na vida moderna. Após essas considerações, a cronista se propõe a dar dicas para a manutenção bucal e, consequentemente, transcreve os pensamentos de outro intelectual, JeanBaptiste Alphonse Karr. Por fim, D’Estrelles (1881, p. 197) dá a sua própria sugestão: “Aconselho pois minhas elegantes clientes, que substituam o carvão pela magnezia calcinada ou chlorato de potassio, preferiveis pelos saes alcalinos que contêem”. A coluna é finalizada com duas receitas, transcritas pela autora, de “elixir dentrifico” e “pó dentrifico”. No Brasil, os argumentos higienistas para as mulheres também atingiram a imprensa. A Mai de Familia: jornal scientifico, litterario e illustrado (1879-1888), um periódico feminino, veiculou diversos escritos que se relacionam com essa corrente de pensamento. De acordo com Duarte (2017, p. 229), “o jornal tinha algumas seções mais ou menos fixas, como ‘Moléstias das Crianças’, ‘Palestra do Médico’ e ‘Farmácia Doméstica’, voltadas para ensinar as mães como criar filhos saudáveis e felizes”. A coluna “Palestra do medico”12 do nº 17, publicada em setembro de 1879, por exemplo, conscientiza a leitora sobre as crianças que vivem em situação de rua e fumam, além dos riscos de fumar, a partir de um discurso assumidamente higienista: O hygienista tambem deve ser moralista. Muito bem sabem VV. EExs. que eu nada exagero com as considerações que acabo de fazer. Vós mesmas tereis tido occasião de vêr lindas crianças, immundas e mal cuidadas, no meio de toda a sorte de individuos mal educados, cheios de vicios, ás portas das vendas e dos cortiços, ouvindo tudo quanto ha de mais obsceno e presenciando actos e gestos immoraes. Tereis visto meninos de 4 a 5 annos já com o cigarrinho na bocca, isto é, com mais uma causa de anniquilamento para os jovens organismos, que começam a desenvolverse. O tabaco é um verdadeiro veneno pela nicotina que em si encerra, e vários factos se conhece na sciencia de morte de crianças, devida a esta causa. (COSTA, 1879a, p. 130). No número 5, de março de 1879, o redator de “Palestra de medico” chama a atenção das mães, culpando-as pela mortalidade infantil e sugerindo determinadas leituras em vez de outras: A mortalidade das crianças no Rio de Janeiro é enorme!! As mãis de familia são as principaes responsaveis por esse triste facto… Preferi assim, minhas senhoras, a leitura dos salutares conselhos qne [sic] a hygiene espalha aos inverosimeis e inuteis contos de Ponson du Terrail ou Ernest Capendu…. (COSTA, 1879b, p. 34). Dessa forma, observa-se a vontade da coluna de dar dicas higienistas, com o intuito de formar as suas leitoras como mães “ideais”. Como sintetiza Duarte (2017, p. 24), “daí tantos jornais criados por médicos, padres e jornalistas, empenhados exclusivamente em convencer as mulheres, sobretudo as da elite, então indiferentes à criação dos próprios filhos, a se transformarem em mães Assim como, anteriormente, manteve-se a grafia original do nome do periódico, o mesmo ocorreu com o título dessa coluna. 12 Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 195 ‘perfeitas’. A Mai de Familia (1879-1888) foi um que se destacou nessa linha”. Na sua última crônica, veiculada em A Mensageira, Carvalho (1987d) continua discorrendo acerca dos cuidados que as mães precisam ter com a alimentação dos filhos, de modo similar aos discursos higienistas, portugueses e brasileiros, anteriormente mencionados. A escritora dá sugestões de nutrição baseadas num conhecimento popular, como, por exemplo: Dae a uma creança alimentos irritantes, inflammaveis, apimentados; deixae-a usar sem discernimento bebidas em que o alcool predomine, e tereis o temperamento adulterado, o caracter azedo, os habitos baixos, os gostos perversos, todas as aberrações de um organismo estragado. Dae-lhe só carne, alimente-a brutalmente de materias fortemente azotadas, e fareis d’ella, da meiga e fragil creatura, do pequeno anjo de cabellos loiros e olhos innocentes, um temperamento sanguinario, selvagem, amigo das luctas bravias, das distracções violentas, dos exercicios athleticos, que caracterisam as rigorosas raças do norte. [...] A alimentação fraca produz os organismos inertes, fleugmaticos, sem impulso, sem fibra, sem energia duravel. (CARVALHO, 1987d, p. 335). Assim, a partir dessas considerações, observa-se a crítica da escritora à alimentação infantil inadequada, afirmando que influenciará no desenvolvimento da personalidade da criança. Cabe ressaltar que, em nível europeu, a nutrição e as políticas de alimentação, como afirmam Graça e Gregório (2012), apenas se popularizaram após a Segunda Guerra Mundial, a partir da criação da ONU, da FAO e da OMS. Portanto, é possível verificar que alguns conhecimentos de cunho informal, como esse, divulgados em almanaques ou pela tradição oral, acabaram se fixando na cultura, sendo posteriormente propagados. Nesse caso, é interessante notar que o conselho nutricional da portuguesa, originalmente veiculado em 1880, reverberou nessa revista feminista latino-americana, em 1898. Após esses comentários, a coluna é finalizada com o conselho da portuguesa, sobre como agir frente a isso: Saber pois, conhecer os diversos attributos que caracterisam a alimentação do homem, saber combinal-os de modo que todos concorram para o seu bem-estar physico, e que nenhum produza graves perturbações organicas de que podem ser origem, é a sciencia das mães, sciencia para cujo estudo devem tender todos os esforços. (CARVALHO, 1987d, p. 335). Com base nesse trecho, reitera-se, novamente, a influência do discurso higienista na escrita da autora, em temas de saúde, a partir do momento em que ela considera que a alimentação correta é a “ciência das mães”. Suas intenções, contudo, parecem nobres, com fins de instrução, e não meramente de dominação das mulheres, como era o objetivo oculto de muitos adeptos desse segmento da medicina. Além disso, é interessante destacar que essa postura poderia ser tomada como anti-feminista, porém, em nenhum momento na coluna, Carvalho (1987d) afirma que as mulheres devem ser mães, apenas destaca que, quando forem mães, devem estar atentas a esse aspecto Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 196 do cuidado com os filhos. Também, no início desse texto, ela observa a necessidade de comandar a alimentação da família como um fenômeno social frequentemente atribuído às mulheres, mas que não necessariamente reflete a sua opinião: “[...] que ella tanto precisava saber, tendo, como tem, a seu cargo a distribuição e direcção do alimento da familia”. (CARVALHO, 1987d, p. 335, grifo nosso). No âmbito da imprensa feminina/feminista oitocentista, por fim, cabe ressaltar que, com frequência, as revistas traziam tanto abordagens tradicionais como, também, reivindicatórias, em meio às suas colunas. O Jornal das Senhoras (1852-1855), por exemplo, trazia as modas logo após um editorial em que a sua redatora afirma que tem “a vontade e o dezejo de propagar a illustração, e cooperar com todas as suas forças para o melhoramento social e para a emancipação moral da mulher”. (NORONHA, 1852, p. 1). Assim, não é de se estranhar o fato da editora d’A Mensageira veicular colunas como “A nossa condição” e “O suffragio feminino em a Nova Zelandia” – ou, até mesmo, as “Selecção” feministas escritas por Carvalho –, juntamente a essa última coluna tipicamente convencional, destinada às mães. Isso era comum na época, pois, para se manterem, periódicos direcionados às mulheres evitavam qualquer teor muito revolucionário, veiculando um feminismo moderado. Assim, com essa última “Selecção”, finaliza-se a participação cronística da portuguesa na revista brasileira. Finalmente, a partir deste estudo, é possível verificar que A Mensageira se constituiu como um importante órgão para a disseminação de ideias, relativas aos direitos das mulheres, no Brasil oitocentista. Nessa conjuntura, pôde-se observar que Maria Amália Vaz de Carvalho teve um papel importante, consonante com os ideais do periódico, ao expor as suas ideias feministas em crônicas, na coluna “Selecção”. Neste trabalho, para analisar como se constituía o pensamento de Carvalho, contrastou-se as suas opiniões com o cenário da época, sendo necessário trazer ambas as realidades de Portugal e do Brasil no século XIX. Isso ocorreu porque tais crônicas, publicadas na revista brasileira A Mensageira, em 1898, tratam-se, na verdade, em sua maioria, de excertos da obra Mulheres e creanças, veiculada em terras lusitanas, em 1880. Portanto, contextualizou-se a realidade feminina oitocentista numa perspectiva luso-brasileira. A partir do material investigado, percebeu-se que a portuguesa tinha noção da realidade marginalizada das mulheres na época e, a partir desse conhecimento, adquire uma postura feminista, utilizando a sua voz para buscar mudanças positivas nas vidas dessas pessoas. Por exemplo, na sua primeira colaboração, ela reivindica o acesso feminino à educação, numa época em que, como foi possível constatar, poucas alcançavam sequer a alfabetização. Além disso, ela afirma que as mulheres devem ocupar espaços como os homens na sociedade, em posição de equidade. Já na segunda crônica, talvez a mais relevante – no que diz respeito a uma postura explicitamente feminista – Carvalho questiona a hipocrisia dos que insinuam que a mulher não deveria executar profissões como a advocacia, a medicina, o comércio e as artes plásticas, apesar de muitas já trabalharem em outros ofícios, sendo operárias, lavadeiras e costureiras, e, mesmo assim, ninguém as impedia. Também, é relevante o seu comentário sobre a necessidade da mulher precisar se sustentar, sem depender vitalmente de uma figura masculina. Na terceira “Selecção”, a portuguesa recorre ao tema Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 197 da instrução feminina. Ela, dessa vez, problematiza o formato de educação garantido ao sujeito feminino oitocentista, priorizando um que seja “prático” e “positivo”. A sua última colaboração, ao contrário das outras, é muito parecida com uma da imprensa feminina do século XIX, apesar de estar veiculada num periódico da feminista. Nela, Carvalho dá dicas às mães sobre a alimentação dos filhos, seguindo conhecimentos que parecem ser de cunho popular. Apesar de se apoiar num discurso higienista, a autora parece ter boas intenções, aconselhando com fins de melhoramento pessoal – e não de controle das mulheres, como era comum nos discursos dessa vertente médica, no fin de siècle –. Por fim, esta pesquisa é um exemplo de como o resgate de escritoras esquecidas pode beneficiar os Estudos Literários e de Gênero, ao fornecer novas perspectivas a temas antigos. A partir dessa recuperação, torna-se possível inserir Maria Amália Vaz de Carvalho, essa escritora esquecida pelas histórias literárias – como é considerada, no Dicionário de escritoras portuguesas –, em espaços da literatura, a que outrora foi marginalizada. Sua contribuição, contudo, não se restringe a isso. As suas três primeiras crônicas, escritas numa realidade lusitana, reverberaram no meio brasileiro, em 1898, aspecto que contribui para estender as considerações acerca da intelectualidade e da luta feminista no fim do século XIX, a partir de um contexto luso-brasileiro. Por fim, ainda, é possível que auxiliem na reescritura de uma história das mulheres, pensada a partir da conexão desses dois países. REFERÊNCIAS ABREU JUNIOR, Laerthe de Moraes; CARVALHO, Eliane Vianey de. O discurso médico-higienista no Brasil do início do século XX. Trabalho, Educação, Saúde, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, s. p., 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1981-77462012000300005. Acesso em: 27 jun. 2020. ALMEIDA, Presciliana Duarte de. Duas palavras. In: ALMEIDA, Presciliana Duarte de (dir.). A Mensageira: revista literária dedicada à mulher brasileira. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Secretaria de Estado da Cultura, 1987. v. 1. p. 1-2. AREND, Silvia Fávero. Trabalho, escola, lazer. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (orgs.). Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012. p. 65-83. BARP, Guilherme; ZINANI, Cecil Jeanine Albert. A Mensageira, um periódico feminista do século XIX. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, Duque de Caxias, v. 21, n. 47, p. 156-169, 2019. Disponível em: http://publicacoes.unigranrio.edu.br/index.php/reihm/article/view/5908/3087. Acesso em: 25 jun. 2020. CARDOSO, Nuno Catharino. Poetisas portuguesas. Lisboa: Livraria Scientifica, 1917. Disponível em: https://archive.org/details/poetisasportugue00carduoft. Acesso em: 20 jun. 2020. CARVALHO, Maria Amália Vaz de. Selecção. In: ALMEIDA, Presciliana Duarte de (dir.). A Mensageira: revista literária dedicada à mulher brasileira. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 198 Secretaria de Estado da Cultura, 1987a. v. 1. p. 251-252. CARVALHO, Maria Amália Vaz de. Selecção. In: ALMEIDA, Presciliana Duarte de (dir.). A Mensageira: revista literária dedicada à mulher brasileira. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Secretaria de Estado da Cultura, 1987b. v. 1. p. 285-286. CARVALHO, Maria Amália Vaz de. Selecção. In: ALMEIDA, Presciliana Duarte de (dir.). A Mensageira: revista literária dedicada à mulher brasileira. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Secretaria de Estado da Cultura, 1987c. v. 1. p. 316. CARVALHO, Maria Amália Vaz de. Selecção. In: ALMEIDA, Presciliana Duarte de (dir.). A Mensageira: revista literária dedicada à mulher brasileira. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Secretaria de Estado da Cultura, 1987d. v. 1. p. 335. CHAVES, Vania Pinheiro. Notas para o estudo da presença feminina no Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro. Navegações, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 187-192, jul./dez. 2011. Disponível em: http:// revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/navegacoes/article/view/10180. Acesso em: 15 jun 2020. COSTA, Carlos. Palestra do medico. A Mai de Familia, [s.l.], mar. 1879b. p. 33-34. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/341703/per341703_1879_00005.pdf. Acesso em: 27 jun. 2020. COSTA, Carlos. Palestra do medico. A Mai de Familia, Rio de Janeiro, set. 1879a. p. 129-130. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/341703/per341703_1879_00017.pdf. Acesso em: 27 jun. 2020. D’ESTRELLES, Condessa de Luc. Modas – chronica parisiense. Ribaltas e Gambiarras: revista semanal, Lisboa, 22 mai. 1881. p. 196-197. Disponível em: http://docvirt.com/DocReader.net/ RealGabObrasRaras/30413. Acesso em: 27 jun. 2020. DUARTE, Constância Lima. O cânone e a autoria feminina. In: SCHMIDT, Rita Terezinha (org.). Mulheres e literatura: (trans)formando identidades. Porto Alegre: Palloti, 1997. p. 53-60. DUARTE, Constância Lima. Imprensa feminina e feminista no Brasil: século XIX; dicionário ilustrado. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. ESTEVES, João. Os primórdios do feminismo em Portugal: a primeira década do século XX. Penélope, n. 25, p. 87-102, 2001. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2654444. Acesso em: 27 jun. 2020. FLORES, Conceição; DUARTE, Constância Lima; MOREIRA, Zenóbia Collares. Dicionário de escritoras portuguesas: das origens à atualidade. Florianópolis: Mulheres, 2009. GÓIS JUNIOR, Edivaldo. “Movimento higienista” na história da vida privada no Brasil: do homogêneo ao heterogêneo. ConScientiae Saúde, São Paulo, v. 1, p. 47-52. Disponível em: https://periodicos.uninove. br/index.php?journal=saude&page=article&op=view&path%5B%5D=170&path%5B%5D=157. Acesso em: 27 jun. 2020 GRAÇA, Pedro; GREGÓRIO, Maria João. Evolução da política alimentar e de nutrição em Portugal e Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 199 suas relações com o contexto internacional. Revista SPCNA, [s.l.], v. 18, n. 3, p. 79-96, 2012. Disponível em: https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/70247/2/47843.pdf. Acesso em: 28 jun. 2020. GUSMÃO, Emery Marques. Debates sobre educação feminina no século XIX: Nísia Floresta e Maria Amália Vaz de Carvalho. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 25, n. 50, p. 269-289, jul./dez. 2012. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/10536. Acesso em: 27 jun. 2020. HAHNER, June Edith. Emancipação do sexo feminino: a luta pelos direitos da mulher no Brasil, 1850-1940. Florianópolis: Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003. HAHNER, June Edith. Honra e distinção de famílias. In: PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria (orgs.). Nova História das mulheres. São Paulo: Contexto, 2012. p. 43-64. LUCA, Leonora de. A mensageira: uma revista de mulheres escritoras na modernização brasileira. 1999. 581 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Sociologia, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Campinas, 1999. Disponível em: http://www.repositorio. unicamp.br/handle/REPOSIP/280414. Acesso em: 25 jun. 2020. MUZART, Zahidé Lupinacci. A questão do cânone. In: SCHMIDT, Rita Terezinha (Org.). Mulheres e literatura: (trans)formando identidades. Porto Alegre: Palloti, 1997. p. 79-89. NORONHA, Joanna Paula Manso de. As nossas assignantes. O Jornal das Senhoras: modas, litteratura, belas-artes, theatros e critica, Rio de Janeiro, jan. 1852. n. 1. p. 1. Disponível em: http://memoria. bn.br/pdf/700096/per700096_1852_00001.pdf. Acesso em: 28 jun. 2020. PEDRO, Carlota Maria Conceição Aires. Educação feminina no século XIX em Portugal: em busca de uma consciência. 2006. 244 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Ciências da Educação, Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Lisboa, 2006. Disponível em: http://hdl.handle.net/10451/32374. Acesso em: 27 jun. 2020. REIS, Bianca Santos Coutinho dos. Cérebros e corações: a ficção de Maria Amália Vaz de Carvalho no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro. 2012. 120 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Letras - Literatura Portuguesa, Centro de Educação e Humanidades; Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/ UERJ_1fa95489c79fc82a93d7637f64302000#details. Acesso em: 27 jun. 2020. ROCHA-COUTINHO, Maria Lúcia. Tecendo por trás dos panos: a mulher brasileira nas relações familiares. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. SANTOS, José Américo dos. Selecção. In: ALMEIDA, Presciliana Duarte de (dir.). A Mensageira: revista literária dedicada à mulher brasileira. Edição fac-similar. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Secretaria de Estado da Cultura, 1987. v. 1. p. 57. SILVA, Poliana Moreira; GIULIANI, Carla Denari. Movimento higienista: a construção da figura feminina. Caderno Espaço Feminino, Uberlândia, v. 31, n. 2, p. 95-110, 2018. Disponível em: http://dx.doi. org/10.14393/CEF-v31n2-2018-5. Acesso em: 27 jun. 2020. Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 02, jun./dez. 2020 200 SIMONTON, Deborah. A history of European women’s work: 1700 to the present. Londres: Routledge, 2003. VASCONCELLOS, Eliane. Presciliana Duarte de Almeida. In: MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX. Florianópolis: Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. v. 2. p. 407-428. ZINANI, Cecil Jeanine Albert. Produção literária feminina: um caso de literatura marginal. Antares: Letras e Humanidades, Caxias do Sul, v. 6, n. 12, p. 183-195, jul./dez. 2014. Disponível em: http:// www.ucs.br/etc/revistas/index.php/antares/article/view/3059 Acesso em: 15 jun. 2020. Guilherme Barp ___________________________________________________ Mestrando em Letras – Estudos de Literatura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Licenciado em Letras – Inglês pela Universidade de Caxias do Sul. Cecil Jeanine Albert Zinani ___________________________________________________ Doutora em Letras – Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora no Programa de Pós-Graduação em Letras e Cultura e no Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul. Coordenadora dos projetos de pesquisa “Imprensa feminista no século XIX e história da literatura” e “Representações do insólito na literatura de autoria feminina”. Recebido em 01/08/2020. Aceito em 10/09/2020. Letras em Revista (ISSN 2318-1788), Teresina, v. 11, n. 01, jun./dez. 2020 201