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A escrita feminina no Jornal Letras Sergipanas da Academia Sergipana de Letras (1984-1989)

Revista Tempos e Espaços em Educação

Resumo Este artigo dedica-se a examinar a escrita feminina no jornal Letras Sergipanas da Academia Sergipana de Letras (ASL), no período de 1984 a 1989, evidenciando as temáticas e o protagonismo de professoras imortais da Academia Sergipana de Letras. O marco temporal corresponde aos anos da primeira e da última edição do periódico, identificadas e utilizadas neste estudo. Por meio de pesquisa documental foram identificadas 28 edições do jornal Letras Sergipanas na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e no Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes). A participação de mulheres no sodalício ocorreu somente em 1978, com a posse da professora Núbia Marques. No século XX foram eleitas imortais as professoras Ofenísia Freire (1980); Maria Thétis Nunes (1983); Carmelita Pinto Fontes (1984); Giselda Morais (1992) e Maria Lígia de Madureira Pina (1998). Essas professoras, exceto Giselda Morais, publicaram no jornal Letras Sergipanas. Foram 53 publicações femini...

Página |1 // Rev. Tempos Espaços Educ. v.13, n. 32, e-12935, jan./dez.2020 © 2020 - ISSN 2358-1425 Doi: http://dx.doi.org/10.20952/revtee.v13i32.12935 A ESCRITA FEMININA NO JORNAL LETRAS SERGIPANAS DA ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS (1984-1989) FEMALE WRITING IN SERGIPAN NEWSPAPERS OF THE SERGIPAN LETRAS ACADEMY (1984-1989) ESCRITURA FEMENINA EN LOS PERIÓDICOS SERGIPAN DE LA ACADEMIA SERGIPAN LETRAS (1984-1989) José Genivaldo Martires 1 Joaquim Tavares da Conceição 2 Resumo: Este artigo dedica-se a examinar a escrita feminina no jornal Letras Sergipanas da Academia Sergipana de Letras (1984 a 1989), evidenciando as temáticas e o protagonismo de professoras imortais. Por meio de pesquisa documental foram identificadas 28 edições do jornal Letras Sergipanas na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e no Arquivo Público de Sergipe. A participação de mulheres no sodalício ocorreu somente em 1978, com a posse da professora Núbia Marques. No século XX foram eleitas imortais as professoras Essas professoras, exceto Giselda Morais, publicaram no jornal Letras Sergipanas. Foram 53 publicações femininas no período estudado, abordando diferentes temáticas, sendo as mais recorrentes: literatura sergipana, biografias e poesias. Neste sentido, a estratégia de divulgação de trabalhos dessas professoras no periódico contribuiu para a visibilidade de suas produções literárias e a ampliação do capital cultural. Palavras-chave: Academia Sergipana de Letras. História da Educação. Intelectuais. Jornal Letras Sergipanas. Professoras. Abstract: This article is dedicated to examine female writing in the newspaper Sergipanas of the Sergipana Academy of Letters, (1984 to 1989), highlighting the themes and the role of immortal teachers. Through documentary research, 28 editions of the newspaper Letras Sergipanas were identified in the library of the Sergipe Historical and Geographic Institute and in the Sergipe Public Archive. The participation of women in sodalitium occurred only in 1978, with the inauguration of Professor Núbia Marques. These teachers, except Giselda Morais, published in the newspaper Letras Sergipanas. There were 53 female publications in the period studied, addressing different themes, 1 2 Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, Sergipe, Brasil. Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, Sergipe, Brasil. Página |2 the most recurring: sergipan literature, biographies and poetry. In this sense, the strategy of disseminating works of these teachers in the journal contributed to the visibility of their literary productions and the expansion of cultural capital. Keywords: Sergipana Academy of Letters. History of Education. Intellectuals. Sergipanas Letters Journal. Teachers. Resumen: Este artículo está dedicado a examinar la escritura femenina en el periódico Sergipanas de la Academia de Letras de Sergipana (1984 – 1989), destacando los temas y el papel de los maestros inmortales. A través de la investigación documental, se identificaron 28 ediciones del periódico Letras Sergipanas en la biblioteca del Instituto Histórico y Geográfico de Sergipe y en el Archivo Público de Sergipe. La participación de las mujeres en el sodalitium se produjo solo en 1978, con la inauguración de la profesora Núbia Marques. Estas maestras, excepto Giselda Morais, publicaron en el periódico Letras Sergipanas. Hubo 53 publicaciones femeninas en el período estudiado, abordando diferentes temas, los más recurrentes: literatura sergipana, biografías y poesía. En este sentido, la estrategia de difusión de las obras de estos docentes en la revista contribuyó a la visibilidad de sus producciones literarias y a la expansión del capital cultural. Palabras clave: Academia de Letras Sergipana. Historia de la educación. Intelectuales. Periódico Letras Sergipanas. Maestras. 1 INTRODUÇÃO Este artigo identifica e analisa como mulheres, principalmente as professoras/imortais da Academia Sergipana de Letras, utilizaram o jornal Letras Sergipanas para divulgar suas produções literárias e ampliar a visibilidade perante os seus pares. O marco temporal corresponde aos anos da primeira e da última edição do periódico, identificadas e utilizadas neste estudo. Por meio de pesquisa documental foram encontradas 28 edições do Letras Sergipanas na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e no Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes). A Academia Sergipana de Letras (ASL) foi criada em 1929, como resultado de atividades literárias desenvolvidas na agremiação A Hora Literária General Calazans, que teve a sua origem em 1919. Segundo Martires (2016), essa agremiação tratava-se de uma instituição de caráter recreativo e literário, onde os poetas, escritores(as) e professores(as) pudessem debater temas, recitar poesias e difundir a cultura letrada em Aracaju. A sede da agremiação funcionava na residência do Coronel José da Silva Ribeiro3, situada na colina do bairro Santo Antônio, em Aracaju/SE. Em 1927, os associados da Hora Literária aprovaram a modificação estatutária, transformando-a numa 3 José da Silva Ribeiro nasceu em Simão Dias, mudou-se para Aracaju, onde desenvolveu atividades comerciais. Foi condecorado de Patrono da Hora Literária e da Academia Sergipana de Letras, em razão da sua prática de mecenato com a produção literária do estado. Faleceu em 1949. Ver Ribeiro (2005). Página |3 Academia. Em 01 de junho de 1929, é instalada solenemente a ASL, com aprovação do seu estatuto e regimento interno. A organização da ASL seguiu o modelo da Academia Brasileira de Letras, ou seja, 40 cadeiras com os seus respectivos patronos e fundadores, além da previsão de sócios correspondentes. No tocante à participação feminina, seguiu-se também o mesmo estilo da ABL, o ingresso de mulheres no sodalício foi negado. Interessante observar que este impedimento das mulheres como imortais não encontrava razão na agremiação gênese da ASL, pois de acordo com Pina (2004, p. 182): “Da Hora Literária participaram Etelvina Amália de Siqueira4, Leonor Telles de Menezes5 e Cesartina Régis6”. Assim, no momento da institucionalização da academia, mesmo com a participação de mulheres nos debates para a sua instalação e nas conversas literárias, saraus, reuniões da Hora Literária, elas acabaram sendo impedidas de participarem do sodalício. A admissão de mulheres na Academia Brasileira de Letras somente se efetivou em 1977, com a posse da escritora Rachel de Queiroz. Como reflexo desta mudança, em Sergipe, no ano de 1978, a professora Núbia Marques (1927-1999) foi a primeira mulher a ser empossada na ASL. Porém, a sua luta para adentrar ao sodalício foi anterior a esta data, ela participou de dois processos eleitorais em 1976 que não lograram êxito, em razão da interpretação dos acadêmicos que mulheres não podiam pertencer a esta agremiação. Núbia Marques pertenceu a uma geração7 de mulheres que lutaram para a superação de impedimentos da participação das mulheres em diferentes espaços da sociedade sergipana. De acordo com Melnikoff (2014), Núbia estudou no Atheneu Sergipense (concluiu o ginasial em 1943), em seguida estudou contabilidade na Escola de Comércio Conselheiro Orlando (em 1948). No final da década de 1940, fez curso na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro. Na sua trajetória acadêmica, Núbia, ao retornar a Aracaju (1952), fez parte da primeira turma do recém-implantado curso de Serviço Social (1954), graduou-se em 1957. As primeiras atividades foram no exercício da 4 Etelvina Amália Siqueira nasceu na cidade de Itabaiana/SE, em 05 de novembro de 1862, filha de José Jorge de Siqueira e Rosa Maria de Siqueira. Mudou-se para Aracaju, concluiu o curso normal em 1882, exerceu o magistério em colégios da capital e do interior, participou ativamente na campanha abolicionista. Faleceu em 1935. Sobre Etelvina Amália de Siqueira ler: Figueirôa (1994) e Pina (1994). 5 Leonor Telles de Menezes é natural de Aracaju, do ano de 1890. Estudou e foi professora da Escola Normal. Notabilizou pelo seu vasto conhecimento na língua portuguesa. Escreveu vários discursos e poemas. Morreu em 1976. Ver Pina (1994). 6 Cesartina Regis nasceu em Laranjeiras/SE, em 1890. Fez o curso primário na sua cidade natal e o secundário na Escola Normal, em Aracaju/SE. Estudou o curso superior no Rio de Janeiro, onde se formou em farmácia. Em Aracaju, exerceu a sua profissão, foi professora no Instituto Coelho e Campos, participou de diversas instituições culturais e das lutas femininas na primeira metade do século XX. Faleceu em 1980. Ver Pina (1994). 7 Conceito de geração de acordo com Mannheim, ou seja, elas participavam de situações similares, comungavam pensamentos parecidos, tiveram uma trajetória de formação para o magistério muito similar. Ver Mannheim (1982). Página |4 profissão de assistente social. No tocante ao magistério, iniciou a sua careira no Instituto Educacional Rui Barbosa (Ierb), conhecido popularmente como a Escola Normal, e na Universidade Federal de Sergipe (UFS), ambos no final da década de 1960. No início da década de 1970, realizou o curso de mestrado em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), onde defendeu a dissertação intitulada Contribuição ao estudo exploratório sobre possíveis correlações da cultura espontânea com o lazer e desenvolvimento comunitário a partir da observação de alguns folguedos no Estado de Sergipe – Brasil, sob a orientação da Professora Doutora Maria Lúcia Carvalho da Silva. Na Universidade Federal de Sergipe desempenhou funções de docência e pesquisadora da cultura popular. Além da pioneira Núbia Marques, outras mulheres se tornaram imortais da ASL no período de 1978 a 2017, como evidenciado no quadro em sequência: Quadro 1 – Relação das mulheres acadêmicas na Academia Sergipana de Letras. Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 ACADÊMICAS Núbia Nascimento Marques Ofenísia Soares Freire Maria Thétis Nunes Carmelita Pinto Fontes Gizelda Santana de Morais Maria Lígia Madureira Pina Aglaé D’Ávila Fontes Marlene Alves Calumby Clara Leite de Rezende Luzia Maria da Costa Nascimento Ana Maria do Nascimento F. Medina Patrícia Verônica S. de Souza Jane Alves Nascimento Moreira de Oliveira Ano da posse 1978 1980 1983 1984 1992 1998 2004 2004 2004 2007 2008 2012 2017 Fonte: Nascimento (2017). Da relação apresentada no quadro anterior, exceto Clara Leite Rezende, as demais acadêmicas estão inseridas no campo8 do magistério, pois no decorrer das suas trajetórias já exerceram ou exercem a docência, constituindo o grupo majoritário entre as mulheres que adentraram na ASL. Essas mulheres são compreendidas como intelectuais, considerando este conceito segundo a teoria de Sirinelli (2003, p. 242), que assinala duas categorias: “[...] uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e ‘mediadores’ culturais, a outra mais estreita, baseada no 8 O conceito de Campo utilizado neste artigo é compreendido como local de disputa, insere-se nas concepções de Pierre Bourdieu que o define como: “[...] lugares de relações de forças que implicam tendências imanentes e probabilidades objetivas. Um campo não se orienta totalmente ao acaso. Nem tudo nele é possível e impossível a cada momento” (BOURDIEU, 2004, p. 27). Página |5 engajamento. No primeiro caso, estão abrangidos tanto jornalista como escritor, o professor secundário como o erudito”. Neste caso, as professoras acadêmicas são compreendidas como intelectuais criadoras e/ou mediadoras culturais em razão de suas atividades e da inserção na ASL, “instituição guardiã e difusora de uma produção literária em Sergipe”. Um dos requisitos para ser eleita imortal é a produção literária e/ou científica da postulante à vaga pretendida. Nota-se que essas mulheres detinham um capital cultural9 relacionado com as artes, literatura e conhecimento científico. Uma vez eleitas e empossadas continuaram e/ou continuam diversificando esse capital. A própria ASL favoreceu que as professoras intelectuais ampliassem o seu capital cultural. Neste sentido, desde a sua criação, em 1929, a ASL criou uma revista como veículo de divulgação das produções dos seus confrades, denominada de Revista da Academia de Letras, a segunda mais antiga do estado de Sergipe, depois da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Outro instrumento utilizado pela ASL para dar visibilidade à produção literária dos imortais foi a criação do jornal Letras Sergipanas, em 1984. Esta ação foi fruto da administração do presidente do sodalício Antônio Garcia Filho10 (1984-1999), que ocupou a cadeira de nº 1, em 1961, cujo patrono é o jurista Tobias Barreto. Durante a sua gestão, além do jornal, criou também o Movimento de Apoio à Academia Sergipana de Letras (MAC), com o propósito de aproximação entre a Academia e novos escritores, apoiando as atividades literárias e culturais da ASL. Após a sua morte, em 1999, foi acrescentado ao MAC o nome do seu criador. Desse movimento, vários intelectuais pleitearam vagas na ASL e obtiveram êxitos, tais como: Domingos Pascoal de Melo, José Lima de Santana, Lúcio Antônio Prado Dias, Luzia Maria da Costa Nascimento, Marcelo da Silva Ribeiro, Maria Lígia Madureira Pina, Marcos Almeida Santos, Marlene Alves Calumby, Jane Alves Nascimento Moreira de Oliveira, Claudefranklin Monteiro Santos, Acelino Pedro Guimarães e Bemvindo Salles de Campos Neto. 9 O conceito de Capital Cultural está em consonância com Bourdieu (2002), que demonstra a sua existência em três formas: “no estado incorporado, ou seja, sob a forma de disposições duráveis do organismo; no estado objetivado, sob a forma de bens culturais [...] e no estado institucionalizado, forma de objetivação [...]” (BOURDIEU, 2002, p. 74, grifo do autor). 10 Antônio Garcia Filho é natural de Rosário do Catete/SE. Nasceu em 29 de maio de 1916. Realizou os seus estudos secundários na cidade de Aracaju/SE, no Colégio Atheneu Sergipense. Fez a Faculdade de Medicina em Salvador/BA, graduando-se em 1941. Foi professor fundador da Faculdade de Medicina de Sergipe (1961. Ingressou na ASL em 1961, ocupando a cadeira de nº 01. Faleceu em 22 de junho de 1999, na cidade de Aracaju/SE. Ver Nascimento (2017) e Silva (2012). Página |6 2 O JORNAL LETRAS SERGIPANAS E A ESCRITA FEMININA Os exemplares de edições do jornal Letras Sergipanas foram localizados nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e no Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes)11. A pesquisa documental identificou 28 números do periódico, publicados entre os anos de 1984 e 1989. Ressalte-se que, embora a publicação tenha estado sob os auspícios da ASL, nenhum exemplar do periódico foi encontrado no acervo da Academia. A figura em seguida apresenta aspecto da primeira página do periódico em exame. Figura – Aspecto do jornal Letras Sergipanas em 1984. Fonte: Jornal Letras Sergipanas junho de 1984. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Como adverte Chartier (1998), os dispositivos presentes em um impresso revelam estratégias textuais e intenções do autor e/ou do editor: Contra a representação elaborada pela própria literatura e retomada pela mais quantitativa das histórias do livro – segundo a qual o texto existe em si mesmo, isolado de toda a materialidade – deve-se lembrar que não há texto fora do suporte que o dá a ler (ou ouvir), e sublinhar o fato de que não existe a compreensão de um texto, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele atinge o seu leitor (CHARTIER, 1998, p. 17). 11 No IHGSE foram localizados os seguintes números do Jornal Letras Sergipanas: 01, 02, 03, 08, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 20, 21, 22, 13, 27, 28, 29, 30 e 31. E no Apes as edições: 05, 06, 07, 08, 18, 19, 24 e 25. Página |7 Levando em conta esses aspectos apontados por Chartier (1998), buscou-se examinar a materialidade do periódico em análise. O periódico era impresso em papel jornal, no tamanho conhecido como Berliner ou midi (47 cm x 31,5 cm), contendo de quatro a seis páginas por edição e com ilustrações em preto e branco. Não foram identificados anúncios e propagandas, exceto em duas citações ao Banco do Estado de Sergipe e ao Yate Club de Aracaju como instituições apoiadoras de atividades culturais da Academia Sergipana de Letras. Igualmente, não foi possível identificar informações a respeito da tiragem e nem da gráfica responsável pela impressão. Quanto ao corpo editorial, o periódico contou com a participação dos imortais Antônio Garcia Filho, Ofenísia Soares Freire, Luiz Antônio Barreto, Emanuel Franco e Clodoaldo Alencar Filho (LETRAS SERGIPANAS, 1984). Observa-se nessa composição, a participação de professores(as) e jornalistas, habituados com a escrita jornalística em edições e/ou colunas na impressa sergipana. Note-se também a presença entre os editores da professora Ofenísia Soares Freire, conceituada professora de Língua Portuguesa do Colégio Atheneu Sergipense (SOUZA, 2017a, 2017b). O jornal Letras Sergipanas apresentava como divisões o editorial; notícias de atividades da Academia Sergipana de Letras; artigos dos membros da ASL e do MAC. Além destas partes principais, foram evidenciadas três colunas fixas denominadas Fragmentos, escrita por Antônio Garcia Filho, A terra e a gente na literatura sergipana, de Ofenísia Freire, e uma seção de poesias, com publicações de diversos imortais. No editorial do número 1 do jornal é destacado o motivo da produção do impresso no formato de jornal. Segundo o editorial o jornal era um “[...] instrumento de comunicação mais rápido e mais penetrante, abrangendo um espectro de leitores bem mais amplo e diversificado que a revista” (LETRAS SERGIPANAS, 1984, p. 01). Portanto, o editorial ressalta o propósito de ampliar a divulgação das produções literárias dos imortais e das atividades da Academia, com o propósito de ampliar a visibilidade da agremiação e de seus membros na sociedade sergipana, sobretudo entre o público letrado e interessado na cultura sergipana. Sobre a periodicidade do jornal, no mesmo editorial, os autores informavam aos leitores que o periódico não previa “[...] períodos fixos para vir a lume. Surgirão os números de ‘Letras Sergipanas’ ao sabor das disponibilidades financeiras e da compreensão dos patrocinadores, além de se levar em conta o tempo disponível dos acadêmicos envolvidos” (LETRAS SERGIPANAS, 1984, p. 1). Mesmo não contando com uma previsão de periodicidade de circulação, a tiragem bimensal foi mantida ao longo do período de sua existência. Provavelmente, a circulação do jornal também se apresentou como uma espécie de paliativo por Página |8 conta dos longos períodos entre os números da Revista da Academia Sergipana de Letras, o principal periódico de divulgação da ASL. Qual a importância de um jornal para o campo da intelectualidade? Para elucidar esta questão, Campos (2012) explica que: Bem sabemos que os jornais são antes de tudo, ambientes de sociabilidade entre pares, espaços de visibilidade de determinados grupos e de silenciamento de outros; locais privilegiados para a constituição de distinções simbólicas e para a construção, reconfiguração e exposição de valores, ideias e sensibilidades. Mas eles são veículos peculiares, porque também se constituem como suportes de diferentes temporalidades e de falas que emanam tanto do tempo presente, do acontecimento ou da opinião imediata, da notícia dada em primeira mão – matériaprima por excelência do jornalismo – quanto de um passado às vezes imemorial (CAMPOS, 2012, p. 64). No que se refere aos acadêmicos da ASL, a iniciativa do jornal coaduna-se com os aspectos ressaltados na citação acima, ou seja, um veículo para difundir os propósitos da própria agremiação e socializar as produções literárias e científicas dos confrades e dos membros do MAC, fortalecendo a rede entre os pares, principalmente no tocante à participação das acadêmicas, contribuindo para a ampliação de espaços de escrita feminina num ambiente androcêntrico como a ASL. Romper com os impedimentos e silenciamentos da escrita de mulheres foi um processo recorrente na história desde o século XIX, segundo Michelle Perrot (2005). Evidentemente, as mulheres não respeitaram essas injunções. Seus sussurros e seus murmúrios correm na casa, insinuam-se nos vilarejos, fazedores de boas ou más reputações, circulam na cidade, misturados aos barulhos do mercado ou das lojas, inflado às vezes por suspeitos e insidiosos rumores que flutuam nas margens da opinião. Teme-se sua conversa fiada e sua tagarelice, formas, no entanto, de desvalorização da fala. Os dominados podem sempre esquivar-se, desviar as proibições, preencher os vazios do poder, as lacunas da História. Imagina-se, saberse que as mulheres não deixaram de fazê-lo. Frequentemente, também, elas fizeram do seu silêncio uma arma (PERROT, 2005, p. 10). Rompendo com barreiras que dificultavam a participação de mulheres nas atividades culturais e/ou literárias da sociedade sergipana, diferentes iniciativas resultaram no protagonismo de mulheres, sobretudo professoras, no campo literário sergipano, especialmente na segunda metade do século XX e início do XIX. Dentro dessa estratégia de visibilidade, a produção de textos femininos no jornal Letras Sergipanas serviu para marcar o espaço feminino na ASL e reforçar a Página |9 necessidade de ampliação do quadro de mulheres como membros da Academia, bem como romper com as barreiras do androcentrismo. 3 A MARCA DA ESCRITA FEMININA NO JORNAL LETRAS SERGIPANAS A partir do mapeamento das edições do jornal localizadas no IHGSE e no Apes, produziu-se um panorama das mulheres acadêmicas que publicaram no Letras Sergipanas; as temáticas abordadas por elas; e uma relação comparativa com o quantitativo da produção dos homens no mesmo periódico. O quadro a seguir informa esses aspectos. Quadro 2 – Relação das publicações de mulheres no jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989). Nº 1 1984 Número do Jornal 01 2 3 1984 1984 02 03 Ano Meses Título da publicação jun. Panorama da poesia em Sergipe A terra e a gente na literatura sergipana Panorama da poesia em Sergipe A terra e a gente na literatura sergipana Florentino Teles de Menezes, o sociólogo esquecido A terra e a gente na literatura sergipana Ciência e Arte Herma Fonte O “tenente” Zaqueu Brandão Revolução na Linguagem A terra e a gente na literatura sergipana O passeio Sideral Manoel Bomfim – Pioneiro de uma ideologia nacional A terra e a gente na literatura sergipana Tipos folclóricos de Aracaju A terra e a gente na literatura sergipana Rosalvo Queiroz, um homem do seu tempo O Sergipano José Calazans, p. 4 Canto ao vendedor de quebraqueixo A terra e a gente na literatura sergipana jul./ago. set/out. 4 1985 05 jan/fev. 5 1985 06 mar/abr. 6 1985 07 mai/jun 7 1985 08 jul/ago 8 1985 09 set/out 9 1985 10 nov/dez 10 1986 11 jan/fev Autoria Núbia Marques Ofenísia Freire Núbia Marques Ofenísia Freire Maria Thétis Nunes Ofenísia Freire Ofenísia Freire Lígia Pina Cléa Brandão Carmelita Fontes Ofenísia Freire Lígia Pina Maria Thétis Nunes Ofenísia Freire Lígia Pina Ofenísia Freire Cléa Brandão Maria Thétis Nunes Lígia Pina Ofenísia Freire P á g i n a | 10 11 12 1986 1986 12 13 mar/abr mai/jun 13 1986 14 jul/ago 14 1986 16 nov/dez 15 1987 17 jan/fev 16 1987 18 mar/abr 17 1987 19 mai/jun 18 1987 20 jul/ago 19 1987 21 set/out 20 1987 22 nov/dez 21 1988 23 jan/fev 22 1988 24 mar/abr 23 24 1988 1988 25 27 mai/jun set/out 25 26 27 1988 1989 1989 28 29 30 nov/dez jan./fev mar/abr 28 1989 31 mai/jun Discurso A terra e a gente na literatura sergipana Um empresário idealista, O centenário de Florentino Teles de Menezes Eu sobrevivi – poesia Uma venerável mulher A terra e a gente na literatura sergipana Fiat Lux, p 2 - poesias Avaliando p 3 - poesias A terra e a gente na literatura sergipana Um tipo inesquecível A terra e a gente na literatura sergipana Ouvindo Édipo em Edidauro Não apresenta publicação de autoria feminina Minha gente de Clodomir Silva, A terra e a gente na literatura sergipana Uma sergipana sobre a Acrópole, O método refluente de Deus Infinito As vítimas da radioatividade A terra e a gente na literatura sergipana Martin Fierro na Literatura Argentina A terra e a gente na literatura sergipana Á sombra das pirâmides A terra e a gente na literatura sergipana. HERMES FONTES Não possui publicação feminina A terra e a gente na literatura sergipana Natal de uma mãe Sem solução A terra e a gente na literatura sergipana. TOBIAS BARRETO Redenção Fresta Dever – poesias Um Gênio Multiforme, Tobias Barreto, pioneiro na emancipação feminina Fonte: Jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989). Maria Thétis Nunes Ofenísia Freire Lígia Pina Maria Thétis Nunes Cléa Brandão Lígia Pina Ofenísia Freire Conceição Ouro Cléa Brandão Ofenísia Freire Cléa Brandão Ofenísia Freire Maria Thétis Nunes --Maria Thétis Nunes Ofenísia Freire Maria Thétis Nunes Cléa Brandão Conceição Ouro Lígia Pina Ofenísia Freire Maria Thétis Nunes Ofenísia Freire Maria Thétis Nunes Ofenísia Freire --Ofenísia Freire Conceição Ouro Conceição Ouro Ofenísia Freire Conceição Ouro Ligia Pina Conceição Ouro Lígia Pina Maria Thétis Nunes P á g i n a | 11 O primeiro aspecto que se evidencia no quadro anterior é a regularidade das publicações de mulheres. Das 28 edições localizadas nos arquivos, somente três não tiveram textos escritos por mulheres, sendo que durante esse período foram 53 publicações de diversos gêneros literários. No tocante à produção masculina, nessas edições somam-se 211 publicações de autoria dos imortais: Antônio Garcia Filho (53 publicações); Manoel Cabral Machado (30 publicações) e Emmanuel Franco (25 publicações). Portanto, a produção feminina representa um percentual de 20,3% de todas as publicações do periódico. Em sua maioria, são publicações de professoras imortais da Academia, que utilizaram o periódico como espaço para divulgação e visibilidade de suas produções literárias, contribuindo para o protagonismo e enfraquecimento do monopólio dos homens. O quadro em sequência apresenta as mulheres que publicaram no periódico em estudo. Quadro 3 – Relação das mulheres que publicaram no jornal Letras Sergipanas. Nº Intelectuais Femininas 01 02 03 04 05 06 07 Ofenísia Franco Freire Maria Thétis Nunes Maria Lígia Madureira Pina Cléa Maria Brandão de Santana Maria da Conceição Ouro Reis Núbia Marques do Nascimento Carmelita Pinto Fontes Quantitativo de publicações 18 11 9 6 6 2 1 Imortal da ASL X X Membro do MAC X X X X X Fonte: Jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989). Os dados apresentados no Quadro 3 evidenciam, entre as mulheres escritoras, o destaque de três professoras escritoras. Duas delas imortais da Academia Sergipana de Letras, ou seja, Ofenísia Freire, com 18 publicações; e, na sequência, Thétis Nunes, com 11 publicações. E, na terceira colocação em número de publicações, figura a professora Lígia Pina, participante do Movimento de Apoio à Academia Sergipana de Letras (MAC) e que no ano de 1998 foi eleita como imortal da ASL (MARTIRES, 2016). Alguns fatores contribuíram para a dianteira na quantidade de publicações por parte da professora Ofenísia Freire, podendo ser citada, sua condição de redatora do jornal; ter participado da diretoria do sodalício e por ser titular de uma coluna no periódico. A professora Ofenísia assinava a coluna intitulada A terra e a gente na literatura sergipana, espaço em que analisava textos da literatura sergipana, comparando com características das escolas literárias brasileiras. P á g i n a | 12 Outro destaque dos dados apresentados no Quadro 3 refere-se os quantitativos de publicações de autoria de professoras que participavam do Movimento de Apoio à Academia Sergipana de Letras (MAC). Como informado anteriormente, esse movimento foi criado em 1984 com o escopo de auxiliar nas atividades da Academia. Professoras integrantes desse movimento começaram a se destacar com publicações no Letras Sergipanas, podendo ser citadas as professoras Lígia Pina, Cléa Brandão e Conceição Ouro. Contudo, destas apenas Lígia Pina conseguiu adentrar na ASL. De certo, suas publicações no Letras Sergipanas ajudaram neste processo de ampliação do capital cultural e credenciamento para o ingresso na agremiação. O quadro em seguida destaca as temáticas em que podem ser classificados os escritos de autoria feminina. Quadro 4 – Quantitativo de publicações por temáticas. Nº 01 02 03 04 04 05 06 07 08 09 10 11 Temas Literatura sergipana Biografia Poesias Relatos de viagens Resenha Corrida espacial no séc. XX Cultura popular Discurso Educação feminina Gramática da língua portuguesa Literatura argentina Texto religioso Quantitativo 20 11 8 3 2 1 1 1 1 1 1 1 Fonte: Jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989). Como evidenciado no quadro anterior, as temáticas que concentram as produções das mulheres apresentam, como destaque, escritos relacionados com a literatura sergipana resultantes, principalmente, da produção literária da professora Ofenísia Freire. Em um desses escritos, a professora Ofenísia destaca a preferência pela temática: “A presença da terra e do homem na produção literária em Sergipe foi o tema que discorremos aqui, nesta coluna” (FREIRE, 1984, p. 1). Os textos da coluna de Ofenísia discutem aspectos da produção literária de escritores sergipanos e suas relações com a terra natal. Entre os escritores mencionados na coluna, destacam-se os sergipanos Pedro Calazans, Alberto Carvalho, Hunald Alencar, Gilvan Rocha, Luis Rabelo Leite, Hermes Fontes, Brício Cardoso, Oliveira Teles, Gilberto Amado. Os textos de Ofenísia nessa coluna apresentam a marca do didatismo da prestigiada professora de literatura (SOUZA, 2017b) e o interesse em exaltar e rememorar vultos da cultura literária sergipana. P á g i n a | 13 A segunda temática mais explorada pela escrita feminina no Letras Sergipanas trata-se dos escritos biográficos, resultando em 11 publicações de perfis e trajetórias biográficas, relacionadas a personalidades sergipanas, a saber: Florentino Menezes (duas publicações), Hermes Fontes, Zaqueu Brandão, Manoel Bomfim, Rosalvo Queiroz, José Calasans, Augusto Luz, Antônio Garcia Filho, Tobias Barreto e Leonor Telles de Meneses. Nota-se que apenas uma mulher foi retratada no período por meio da escrita de um perfil biográfico, assim predominaram os escritos que discorrem a respeito de intelectuais sergipanos do sexo masculino. O estilo literário da poesia ocupou a terceira posição no quantitativo de publicações. São textos que expressam os sentimentos, as alegrias e angústias dessas escritoras. Dentre elas Conceição Ouro, membro do MAC, se destacou com a escrita de cinco poesias nas edições pesquisadas. Fiat Lux Maria da Conceição Ouro Reis (MAC/ASL) Fiat Lux – o cérebro luziu!!! Erram os sábios, reis, o potentado Não existe o troglodita que previu Nem homens do futuro hão notado. Talvez a sementinha, ela sentiu Que germinar é dom santificado. É o milagre da rosa que se abriu, Superior ao pétalo fanado. O lábio é róseo. Sim, o olhar brilhante Jamais em tempo se conta esse instante No qual o pensamento encontra a meta Da chama inextinguível, a centelha Surgindo pura, ao eterno se assemelha Somente Ele a tem, Ele o POETA. (JORNAL LETRAS SERGIPANAS, 1986, p. 02). Temas sobre a mulher e educação não despertaram interesse específico, como também a pena feminina pouco destacou o protagonismo de suas antecessoras no campo literário sergipano. No tocante aos estudos sobre mulheres, os artigos são de autoria das professoras Maria Thétis Nunes e Lígia Pina. Entretanto, no estudo sobre a trajetória intelectual de Florentino Menezes, Thétis Nunes (1984, p. 2) ressalta: “A SOCIEDADE E A MULHER constitui um dos mais interessantes P á g i n a | 14 capítulos desse livro, sendo um grito de revolta contra as injustiças vem sendo vítima na sociedade através dos tempos”. Nas suas análises, Thétis Nunes ratificou as ideias de Florentino Menezes no sentido que a exploração feminina é decorrente das relações de dominação masculina. Em outro artigo, a autora, discorrendo sobre a proposta de Tobias Barreto, na Assembleia Provincial de Pernambuco, em 1870, a respeito da educação feminina, ressalta: Se hoje a mulher brasileira se projeta em todos os campos das atividades, que até pouco tempo eram privativas do homem, essa situação não foi uma dádiva, mas uma conquista. Entre os que batalharam para essa realidade que vivemos, Tobias Barreto está incluído. Há mais de um século ele acreditava na capacidade da mulher, e da necessidade de libertá-la das peias da tradição e do obscurantismo, defendendo suas ideias com o denodo e o entusiasmo que o marcaram (NUNES, 1989, p. 3). No texto acima, Thétis Nunes reforça a luta pela emancipação feminina, destacando a atuação do deputado e filósofo Tobias Barreto, na segunda metade do século XIX. A outra escritora que publicou sobre mulheres foi Lígia Pina num artigo em que destacou a amizade e a competência da professora da Escola Normal, Leonor Telles de Menezes. As questões educacionais despertaram pouco interesse nas escritas femininas no periódico em estudo, apesar das escritoras serem professoras. Em alguns artigos encontram-se menções e/ou situações sobre os aspectos educacionais, no entanto não se configura como uma temática de interesse específico. Na publicação da professora Thétis Nunes sobre Manoel Bomfim, ela cita que o intelectual foi professor do Instituto de Educação do Rio de Janeiro e Diretor Geral da Instrução Pública. Destacou também a sua atuação no Pedagogium, por meio da criação do primeiro laboratório de psicologia experimental do país. Outro aspecto salientado foi a criação de livros didáticos adotados em vários estabelecimentos de ensino no Brasil. A segunda publicação em que aspectos educacionais são citados, embora de forma difusa, é no texto da professora Lígia Pina sobre a professora Leonor Telles de Menezes, catedrática de Língua Portuguesa na Escola Normal Rui Barbosa. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O jornal Letras Sergipanas, criado pelo presidente da ASL, Antônio Garcia Filho, em 1984, teve a finalidade de ser um elo de comunicação mais rápido entre a ASL e a sociedade sergipana, bem como um veículo de divulgação das produções dos(as) confrades e participantes do MAC. P á g i n a | 15 O estudo desses exemplares do jornal Letras Sergipanas evidenciou um espaço importante utilizado por mulheres para a divulgação de seus escritos literários e como forma de alcançar visibilidade entre seus pares. Outrossim, o espaço de publicação contribuiu para a ampliação do capital cultural delas, o que resultou, para algumas, no credenciamento para o ingresso como imortal do sodalício sergipano. No tocante à escrita de acadêmicas da ASL e de mulheres que pertenciam ao MAC, foram localizados 53 trabalhos, num universo de 265 publicações de diferentes temas e estilos literários, sendo as mais recorrentes: literatura sergipana, escritos biográficos e poesias. A professora Ofenísia Freire figura como a maior escritora do jornal, tendo publicado 20 artigos nas páginas do Letras Sergipanas, em sua coluna A terra e a gente na literatura sergipana. Constatou-se o protagonismo de mulheres escritoras no periódico. Contudo, essa escrita feminina acabou por evidenciar, de forma hegemônica, o protagonismo de homens nas letras sergipanas. Situação que, em parte, pode levar a uma compreensão enganosa de naturalização de superioridade masculina no campo literário em terras sergipanas. Assim, se por um lado essas mulheres escritoras se esforçaram para romper a dominação masculina, de outro modo acabaram por legitimar, ainda que de forma inconsciente, uma dita superioridade ou hegemonia intelectual masculina. Por fim, outro aspecto deve ser destacado, as professoras escritoras não se interessaram em discutir, em seus escritos no periódico, questões diretamente relacionadas com o campo educacional sergipano. Neste caso, provavelmente estivessem mais interessadas na aderência de seus escritos ao escopo principal do jornal, ou seja, a produção literária sergipana e o destaque de seus vultos históricos, tudo isso para em prol de destaque no sodalício. Referências e fontes BOURDIEU, Pierre. 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E-mail: joaquimcodapufs@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8826-8137 Recebido em: 15/02/2020 Aprovado em: 24/04/2020 Publicado em: 01/05/2020