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Rev. Tempos Espaços Educ. v.13, n. 32, e-12935, jan./dez.2020
© 2020 - ISSN 2358-1425
Doi: http://dx.doi.org/10.20952/revtee.v13i32.12935
A ESCRITA FEMININA NO JORNAL LETRAS SERGIPANAS DA ACADEMIA SERGIPANA DE
LETRAS (1984-1989)
FEMALE WRITING IN SERGIPAN NEWSPAPERS OF THE SERGIPAN LETRAS ACADEMY (1984-1989)
ESCRITURA FEMENINA EN LOS PERIÓDICOS SERGIPAN DE LA ACADEMIA SERGIPAN LETRAS
(1984-1989)
José Genivaldo Martires 1
Joaquim Tavares da Conceição 2
Resumo: Este artigo dedica-se a examinar a escrita feminina no jornal Letras Sergipanas da
Academia Sergipana de Letras (1984 a 1989), evidenciando as temáticas e o protagonismo de
professoras imortais. Por meio de pesquisa documental foram identificadas 28 edições do jornal
Letras Sergipanas na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e no Arquivo Público
de Sergipe. A participação de mulheres no sodalício ocorreu somente em 1978, com a posse da
professora Núbia Marques. No século XX foram eleitas imortais as professoras Essas professoras,
exceto Giselda Morais, publicaram no jornal Letras Sergipanas. Foram 53 publicações femininas no
período estudado, abordando diferentes temáticas, sendo as mais recorrentes: literatura sergipana,
biografias e poesias. Neste sentido, a estratégia de divulgação de trabalhos dessas professoras no
periódico contribuiu para a visibilidade de suas produções literárias e a ampliação do capital
cultural.
Palavras-chave: Academia Sergipana de Letras. História da Educação. Intelectuais. Jornal Letras
Sergipanas. Professoras.
Abstract: This article is dedicated to examine female writing in the newspaper Sergipanas of the
Sergipana Academy of Letters, (1984 to 1989), highlighting the themes and the role of immortal
teachers. Through documentary research, 28 editions of the newspaper Letras Sergipanas were
identified in the library of the Sergipe Historical and Geographic Institute and in the Sergipe Public
Archive. The participation of women in sodalitium occurred only in 1978, with the inauguration of
Professor Núbia Marques. These teachers, except Giselda Morais, published in the newspaper Letras
Sergipanas. There were 53 female publications in the period studied, addressing different themes,
1
2
Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, Sergipe, Brasil.
Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, Sergipe, Brasil.
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the most recurring: sergipan literature, biographies and poetry. In this sense, the strategy of
disseminating works of these teachers in the journal contributed to the visibility of their literary
productions and the expansion of cultural capital.
Keywords: Sergipana Academy of Letters. History of Education. Intellectuals. Sergipanas Letters
Journal. Teachers.
Resumen: Este artículo está dedicado a examinar la escritura femenina en el periódico Sergipanas
de la Academia de Letras de Sergipana (1984 – 1989), destacando los temas y el papel de los
maestros inmortales. A través de la investigación documental, se identificaron 28 ediciones del
periódico Letras Sergipanas en la biblioteca del Instituto Histórico y Geográfico de Sergipe y en el
Archivo Público de Sergipe. La participación de las mujeres en el sodalitium se produjo solo en 1978,
con la inauguración de la profesora Núbia Marques. Estas maestras, excepto Giselda Morais,
publicaron en el periódico Letras Sergipanas. Hubo 53 publicaciones femeninas en el período
estudiado, abordando diferentes temas, los más recurrentes: literatura sergipana, biografías y
poesía. En este sentido, la estrategia de difusión de las obras de estos docentes en la revista
contribuyó a la visibilidad de sus producciones literarias y a la expansión del capital cultural.
Palabras clave: Academia de Letras Sergipana. Historia de la educación. Intelectuales. Periódico
Letras Sergipanas. Maestras.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo identifica e analisa como mulheres, principalmente as professoras/imortais da
Academia Sergipana de Letras, utilizaram o jornal Letras Sergipanas para divulgar suas produções
literárias e ampliar a visibilidade perante os seus pares. O marco temporal corresponde aos anos da
primeira e da última edição do periódico, identificadas e utilizadas neste estudo. Por meio de
pesquisa documental foram encontradas 28 edições do Letras Sergipanas na hemeroteca do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE) e no Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes).
A Academia Sergipana de Letras (ASL) foi criada em 1929, como resultado de atividades
literárias desenvolvidas na agremiação A Hora Literária General Calazans, que teve a sua origem em
1919. Segundo Martires (2016), essa agremiação tratava-se de uma instituição de caráter recreativo
e literário, onde os poetas, escritores(as) e professores(as) pudessem debater temas, recitar poesias
e difundir a cultura letrada em Aracaju. A sede da agremiação funcionava na residência do Coronel
José da Silva Ribeiro3, situada na colina do bairro Santo Antônio, em Aracaju/SE. Em 1927, os
associados da Hora Literária aprovaram a modificação estatutária, transformando-a numa
3
José da Silva Ribeiro nasceu em Simão Dias, mudou-se para Aracaju, onde desenvolveu atividades comerciais. Foi
condecorado de Patrono da Hora Literária e da Academia Sergipana de Letras, em razão da sua prática de mecenato
com a produção literária do estado. Faleceu em 1949. Ver Ribeiro (2005).
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Academia. Em 01 de junho de 1929, é instalada solenemente a ASL, com aprovação do seu estatuto
e regimento interno.
A organização da ASL seguiu o modelo da Academia Brasileira de Letras, ou seja, 40 cadeiras
com os seus respectivos patronos e fundadores, além da previsão de sócios correspondentes. No
tocante à participação feminina, seguiu-se também o mesmo estilo da ABL, o ingresso de mulheres
no sodalício foi negado. Interessante observar que este impedimento das mulheres como imortais
não encontrava razão na agremiação gênese da ASL, pois de acordo com Pina (2004, p. 182): “Da
Hora Literária participaram Etelvina Amália de Siqueira4, Leonor Telles de Menezes5 e Cesartina
Régis6”. Assim, no momento da institucionalização da academia, mesmo com a participação de
mulheres nos debates para a sua instalação e nas conversas literárias, saraus, reuniões da Hora
Literária, elas acabaram sendo impedidas de participarem do sodalício.
A admissão de mulheres na Academia Brasileira de Letras somente se efetivou em 1977, com
a posse da escritora Rachel de Queiroz. Como reflexo desta mudança, em Sergipe, no ano de 1978,
a professora Núbia Marques (1927-1999) foi a primeira mulher a ser empossada na ASL. Porém, a
sua luta para adentrar ao sodalício foi anterior a esta data, ela participou de dois processos eleitorais
em 1976 que não lograram êxito, em razão da interpretação dos acadêmicos que mulheres não
podiam pertencer a esta agremiação. Núbia Marques pertenceu a uma geração7 de mulheres que
lutaram para a superação de impedimentos da participação das mulheres em diferentes espaços da
sociedade sergipana.
De acordo com Melnikoff (2014), Núbia estudou no Atheneu Sergipense (concluiu o ginasial
em 1943), em seguida estudou contabilidade na Escola de Comércio Conselheiro Orlando (em 1948).
No final da década de 1940, fez curso na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro. Na sua trajetória
acadêmica, Núbia, ao retornar a Aracaju (1952), fez parte da primeira turma do recém-implantado
curso de Serviço Social (1954), graduou-se em 1957. As primeiras atividades foram no exercício da
4
Etelvina Amália Siqueira nasceu na cidade de Itabaiana/SE, em 05 de novembro de 1862, filha de José Jorge de Siqueira
e Rosa Maria de Siqueira. Mudou-se para Aracaju, concluiu o curso normal em 1882, exerceu o magistério em colégios
da capital e do interior, participou ativamente na campanha abolicionista. Faleceu em 1935. Sobre Etelvina Amália de
Siqueira ler: Figueirôa (1994) e Pina (1994).
5
Leonor Telles de Menezes é natural de Aracaju, do ano de 1890. Estudou e foi professora da Escola Normal. Notabilizou
pelo seu vasto conhecimento na língua portuguesa. Escreveu vários discursos e poemas. Morreu em 1976. Ver Pina
(1994).
6
Cesartina Regis nasceu em Laranjeiras/SE, em 1890. Fez o curso primário na sua cidade natal e o secundário na Escola
Normal, em Aracaju/SE. Estudou o curso superior no Rio de Janeiro, onde se formou em farmácia. Em Aracaju, exerceu
a sua profissão, foi professora no Instituto Coelho e Campos, participou de diversas instituições culturais e das lutas
femininas na primeira metade do século XX. Faleceu em 1980. Ver Pina (1994).
7
Conceito de geração de acordo com Mannheim, ou seja, elas participavam de situações similares, comungavam
pensamentos parecidos, tiveram uma trajetória de formação para o magistério muito similar. Ver Mannheim (1982).
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profissão de assistente social. No tocante ao magistério, iniciou a sua careira no Instituto
Educacional Rui Barbosa (Ierb), conhecido popularmente como a Escola Normal, e na Universidade
Federal de Sergipe (UFS), ambos no final da década de 1960. No início da década de 1970, realizou
o curso de mestrado em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP),
onde defendeu a dissertação intitulada Contribuição ao estudo exploratório sobre possíveis
correlações da cultura espontânea com o lazer e desenvolvimento comunitário a partir da
observação de alguns folguedos no Estado de Sergipe – Brasil, sob a orientação da Professora
Doutora Maria Lúcia Carvalho da Silva. Na Universidade Federal de Sergipe desempenhou funções
de docência e pesquisadora da cultura popular.
Além da pioneira Núbia Marques, outras mulheres se tornaram imortais da ASL no período
de 1978 a 2017, como evidenciado no quadro em sequência:
Quadro 1 – Relação das mulheres acadêmicas na Academia Sergipana de Letras.
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
ACADÊMICAS
Núbia Nascimento Marques
Ofenísia Soares Freire
Maria Thétis Nunes
Carmelita Pinto Fontes
Gizelda Santana de Morais
Maria Lígia Madureira Pina
Aglaé D’Ávila Fontes
Marlene Alves Calumby
Clara Leite de Rezende
Luzia Maria da Costa Nascimento
Ana Maria do Nascimento F. Medina
Patrícia Verônica S. de Souza
Jane Alves Nascimento Moreira de Oliveira
Ano da posse
1978
1980
1983
1984
1992
1998
2004
2004
2004
2007
2008
2012
2017
Fonte: Nascimento (2017).
Da relação apresentada no quadro anterior, exceto Clara Leite Rezende, as demais
acadêmicas estão inseridas no campo8 do magistério, pois no decorrer das suas trajetórias já
exerceram ou exercem a docência, constituindo o grupo majoritário entre as mulheres que
adentraram na ASL. Essas mulheres são compreendidas como intelectuais, considerando este
conceito segundo a teoria de Sirinelli (2003, p. 242), que assinala duas categorias: “[...] uma ampla
e sociocultural, englobando os criadores e ‘mediadores’ culturais, a outra mais estreita, baseada no
8
O conceito de Campo utilizado neste artigo é compreendido como local de disputa, insere-se nas concepções de Pierre
Bourdieu que o define como: “[...] lugares de relações de forças que implicam tendências imanentes e probabilidades
objetivas. Um campo não se orienta totalmente ao acaso. Nem tudo nele é possível e impossível a cada momento”
(BOURDIEU, 2004, p. 27).
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engajamento. No primeiro caso, estão abrangidos tanto jornalista como escritor, o professor
secundário como o erudito”. Neste caso, as professoras acadêmicas são compreendidas como
intelectuais criadoras e/ou mediadoras culturais em razão de suas atividades e da inserção na ASL,
“instituição guardiã e difusora de uma produção literária em Sergipe”.
Um dos requisitos para ser eleita imortal é a produção literária e/ou científica da postulante
à vaga pretendida. Nota-se que essas mulheres detinham um capital cultural9 relacionado com as
artes, literatura e conhecimento científico. Uma vez eleitas e empossadas continuaram e/ou
continuam diversificando esse capital. A própria ASL favoreceu que as professoras intelectuais
ampliassem o seu capital cultural. Neste sentido, desde a sua criação, em 1929, a ASL criou uma
revista como veículo de divulgação das produções dos seus confrades, denominada de Revista da
Academia de Letras, a segunda mais antiga do estado de Sergipe, depois da Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe.
Outro instrumento utilizado pela ASL para dar visibilidade à produção literária dos imortais
foi a criação do jornal Letras Sergipanas, em 1984. Esta ação foi fruto da administração do
presidente do sodalício Antônio Garcia Filho10 (1984-1999), que ocupou a cadeira de nº 1, em 1961,
cujo patrono é o jurista Tobias Barreto. Durante a sua gestão, além do jornal, criou também o
Movimento de Apoio à Academia Sergipana de Letras (MAC), com o propósito de aproximação entre
a Academia e novos escritores, apoiando as atividades literárias e culturais da ASL. Após a sua morte,
em 1999, foi acrescentado ao MAC o nome do seu criador. Desse movimento, vários intelectuais
pleitearam vagas na ASL e obtiveram êxitos, tais como: Domingos Pascoal de Melo, José Lima de
Santana, Lúcio Antônio Prado Dias, Luzia Maria da Costa Nascimento, Marcelo da Silva Ribeiro,
Maria Lígia Madureira Pina, Marcos Almeida Santos, Marlene Alves Calumby, Jane Alves Nascimento
Moreira de Oliveira, Claudefranklin Monteiro Santos, Acelino Pedro Guimarães e Bemvindo Salles
de Campos Neto.
9
O conceito de Capital Cultural está em consonância com Bourdieu (2002), que demonstra a sua existência em três
formas: “no estado incorporado, ou seja, sob a forma de disposições duráveis do organismo; no estado objetivado,
sob a forma de bens culturais [...] e no estado institucionalizado, forma de objetivação [...]” (BOURDIEU, 2002, p. 74,
grifo do autor).
10
Antônio Garcia Filho é natural de Rosário do Catete/SE. Nasceu em 29 de maio de 1916. Realizou os seus estudos
secundários na cidade de Aracaju/SE, no Colégio Atheneu Sergipense. Fez a Faculdade de Medicina em Salvador/BA,
graduando-se em 1941. Foi professor fundador da Faculdade de Medicina de Sergipe (1961. Ingressou na ASL em
1961, ocupando a cadeira de nº 01. Faleceu em 22 de junho de 1999, na cidade de Aracaju/SE. Ver Nascimento (2017)
e Silva (2012).
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2 O JORNAL LETRAS SERGIPANAS E A ESCRITA FEMININA
Os exemplares de edições do jornal Letras Sergipanas foram localizados nos acervos do
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e no Arquivo Público do Estado de Sergipe (Apes)11. A
pesquisa documental identificou 28 números do periódico, publicados entre os anos de 1984 e
1989. Ressalte-se que, embora a publicação tenha estado sob os auspícios da ASL, nenhum exemplar
do periódico foi encontrado no acervo da Academia. A figura em seguida apresenta aspecto da
primeira página do periódico em exame.
Figura – Aspecto do jornal Letras Sergipanas em 1984.
Fonte: Jornal Letras Sergipanas junho de 1984.
Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Como adverte Chartier (1998), os dispositivos presentes em um impresso revelam
estratégias textuais e intenções do autor e/ou do editor:
Contra a representação elaborada pela própria literatura e retomada pela mais
quantitativa das histórias do livro – segundo a qual o texto existe em si mesmo,
isolado de toda a materialidade – deve-se lembrar que não há texto fora do suporte
que o dá a ler (ou ouvir), e sublinhar o fato de que não existe a compreensão de um
texto, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele
atinge o seu leitor (CHARTIER, 1998, p. 17).
11
No IHGSE foram localizados os seguintes números do Jornal Letras Sergipanas: 01, 02, 03, 08, 10, 11, 12, 13, 14, 16,
17, 20, 21, 22, 13, 27, 28, 29, 30 e 31. E no Apes as edições: 05, 06, 07, 08, 18, 19, 24 e 25.
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Levando em conta esses aspectos apontados por Chartier (1998), buscou-se examinar a
materialidade do periódico em análise. O periódico era impresso em papel jornal, no tamanho
conhecido como Berliner ou midi (47 cm x 31,5 cm), contendo de quatro a seis páginas por edição e
com ilustrações em preto e branco. Não foram identificados anúncios e propagandas, exceto em
duas citações ao Banco do Estado de Sergipe e ao Yate Club de Aracaju como instituições apoiadoras
de atividades culturais da Academia Sergipana de Letras. Igualmente, não foi possível identificar
informações a respeito da tiragem e nem da gráfica responsável pela impressão.
Quanto ao corpo editorial, o periódico contou com a participação dos imortais Antônio
Garcia Filho, Ofenísia Soares Freire, Luiz Antônio Barreto, Emanuel Franco e Clodoaldo Alencar Filho
(LETRAS SERGIPANAS, 1984). Observa-se nessa composição, a participação de professores(as) e
jornalistas, habituados com a escrita jornalística em edições e/ou colunas na impressa sergipana.
Note-se também a presença entre os editores da professora Ofenísia Soares Freire, conceituada
professora de Língua Portuguesa do Colégio Atheneu Sergipense (SOUZA, 2017a, 2017b).
O jornal Letras Sergipanas apresentava como divisões o editorial; notícias de atividades da
Academia Sergipana de Letras; artigos dos membros da ASL e do MAC. Além destas partes principais,
foram evidenciadas três colunas fixas denominadas Fragmentos, escrita por Antônio Garcia Filho, A
terra e a gente na literatura sergipana, de Ofenísia Freire, e uma seção de poesias, com publicações
de diversos imortais.
No editorial do número 1 do jornal é destacado o motivo da produção do impresso no
formato de jornal. Segundo o editorial o jornal era um “[...] instrumento de comunicação mais
rápido e mais penetrante, abrangendo um espectro de leitores bem mais amplo e diversificado que
a revista” (LETRAS SERGIPANAS, 1984, p. 01). Portanto, o editorial ressalta o propósito de ampliar a
divulgação das produções literárias dos imortais e das atividades da Academia, com o propósito de
ampliar a visibilidade da agremiação e de seus membros na sociedade sergipana, sobretudo entre
o público letrado e interessado na cultura sergipana. Sobre a periodicidade do jornal, no mesmo
editorial, os autores informavam aos leitores que o periódico não previa “[...] períodos fixos para vir
a lume. Surgirão os números de ‘Letras Sergipanas’ ao sabor das disponibilidades financeiras e da
compreensão dos patrocinadores, além de se levar em conta o tempo disponível dos acadêmicos
envolvidos” (LETRAS SERGIPANAS, 1984, p. 1). Mesmo não contando com uma previsão de
periodicidade de circulação, a tiragem bimensal foi mantida ao longo do período de sua existência.
Provavelmente, a circulação do jornal também se apresentou como uma espécie de paliativo por
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conta dos longos períodos entre os números da Revista da Academia Sergipana de Letras, o principal
periódico de divulgação da ASL.
Qual a importância de um jornal para o campo da intelectualidade? Para elucidar esta
questão, Campos (2012) explica que:
Bem sabemos que os jornais são antes de tudo, ambientes de sociabilidade entre
pares, espaços de visibilidade de determinados grupos e de silenciamento de
outros; locais privilegiados para a constituição de distinções simbólicas e para a
construção, reconfiguração e exposição de valores, ideias e sensibilidades. Mas eles
são veículos peculiares, porque também se constituem como suportes de
diferentes temporalidades e de falas que emanam tanto do tempo presente, do
acontecimento ou da opinião imediata, da notícia dada em primeira mão – matériaprima por excelência do jornalismo – quanto de um passado às vezes imemorial
(CAMPOS, 2012, p. 64).
No que se refere aos acadêmicos da ASL, a iniciativa do jornal coaduna-se com os aspectos
ressaltados na citação acima, ou seja, um veículo para difundir os propósitos da própria agremiação
e socializar as produções literárias e científicas dos confrades e dos membros do MAC, fortalecendo
a rede entre os pares, principalmente no tocante à participação das acadêmicas, contribuindo para
a ampliação de espaços de escrita feminina num ambiente androcêntrico como a ASL.
Romper com os impedimentos e silenciamentos da escrita de mulheres foi um processo
recorrente na história desde o século XIX, segundo Michelle Perrot (2005).
Evidentemente, as mulheres não respeitaram essas injunções. Seus sussurros e
seus murmúrios correm na casa, insinuam-se nos vilarejos, fazedores de boas ou
más reputações, circulam na cidade, misturados aos barulhos do mercado ou das
lojas, inflado às vezes por suspeitos e insidiosos rumores que flutuam nas margens
da opinião. Teme-se sua conversa fiada e sua tagarelice, formas, no entanto, de
desvalorização da fala. Os dominados podem sempre esquivar-se, desviar as
proibições, preencher os vazios do poder, as lacunas da História. Imagina-se, saberse que as mulheres não deixaram de fazê-lo. Frequentemente, também, elas
fizeram do seu silêncio uma arma (PERROT, 2005, p. 10).
Rompendo com barreiras que dificultavam a participação de mulheres nas atividades
culturais e/ou literárias da sociedade sergipana, diferentes iniciativas resultaram no protagonismo
de mulheres, sobretudo professoras, no campo literário sergipano, especialmente na segunda
metade do século XX e início do XIX. Dentro dessa estratégia de visibilidade, a produção de textos
femininos no jornal Letras Sergipanas serviu para marcar o espaço feminino na ASL e reforçar a
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necessidade de ampliação do quadro de mulheres como membros da Academia, bem como romper
com as barreiras do androcentrismo.
3 A MARCA DA ESCRITA FEMININA NO JORNAL LETRAS SERGIPANAS
A partir do mapeamento das edições do jornal localizadas no IHGSE e no Apes, produziu-se
um panorama das mulheres acadêmicas que publicaram no Letras Sergipanas; as temáticas
abordadas por elas; e uma relação comparativa com o quantitativo da produção dos homens no
mesmo periódico. O quadro a seguir informa esses aspectos.
Quadro 2 – Relação das publicações de mulheres no jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989).
Nº
1
1984
Número
do Jornal
01
2
3
1984
1984
02
03
Ano
Meses
Título da publicação
jun.
Panorama da poesia em Sergipe
A terra e a gente na literatura
sergipana
Panorama da poesia em Sergipe
A terra e a gente na literatura
sergipana
Florentino Teles de Menezes, o
sociólogo esquecido
A terra e a gente na literatura
sergipana
Ciência e Arte
Herma Fonte
O “tenente” Zaqueu Brandão
Revolução na Linguagem
A terra e a gente na literatura
sergipana
O passeio Sideral
Manoel Bomfim – Pioneiro de
uma ideologia nacional
A terra e a gente na literatura
sergipana
Tipos folclóricos de Aracaju
A terra e a gente na literatura
sergipana
Rosalvo Queiroz, um homem do
seu tempo
O Sergipano José Calazans, p. 4
Canto ao vendedor de quebraqueixo
A terra e a gente na literatura
sergipana
jul./ago.
set/out.
4
1985
05
jan/fev.
5
1985
06
mar/abr.
6
1985
07
mai/jun
7
1985
08
jul/ago
8
1985
09
set/out
9
1985
10
nov/dez
10
1986
11
jan/fev
Autoria
Núbia Marques
Ofenísia Freire
Núbia Marques
Ofenísia Freire
Maria Thétis Nunes
Ofenísia Freire
Ofenísia Freire
Lígia Pina
Cléa Brandão
Carmelita Fontes
Ofenísia Freire
Lígia Pina
Maria Thétis Nunes
Ofenísia Freire
Lígia Pina
Ofenísia Freire
Cléa Brandão
Maria Thétis Nunes
Lígia Pina
Ofenísia Freire
P á g i n a | 10
11
12
1986
1986
12
13
mar/abr
mai/jun
13
1986
14
jul/ago
14
1986
16
nov/dez
15
1987
17
jan/fev
16
1987
18
mar/abr
17
1987
19
mai/jun
18
1987
20
jul/ago
19
1987
21
set/out
20
1987
22
nov/dez
21
1988
23
jan/fev
22
1988
24
mar/abr
23
24
1988
1988
25
27
mai/jun
set/out
25
26
27
1988
1989
1989
28
29
30
nov/dez
jan./fev
mar/abr
28
1989
31
mai/jun
Discurso
A terra e a gente na literatura
sergipana
Um empresário idealista,
O centenário de Florentino Teles
de Menezes
Eu sobrevivi – poesia
Uma venerável mulher
A terra e a gente na literatura
sergipana
Fiat Lux, p 2 - poesias
Avaliando p 3 - poesias
A terra e a gente na literatura
sergipana
Um tipo inesquecível
A terra e a gente na literatura
sergipana
Ouvindo Édipo em Edidauro
Não apresenta publicação de
autoria feminina
Minha gente de Clodomir Silva,
A terra e a gente na literatura
sergipana
Uma
sergipana
sobre
a
Acrópole,
O método refluente de Deus
Infinito
As vítimas da radioatividade
A terra e a gente na literatura
sergipana
Martin Fierro na Literatura
Argentina
A terra e a gente na literatura
sergipana
Á sombra das pirâmides
A terra e a gente na literatura
sergipana. HERMES FONTES
Não possui publicação feminina
A terra e a gente na literatura
sergipana
Natal de uma mãe
Sem solução
A terra e a gente na literatura
sergipana. TOBIAS BARRETO
Redenção
Fresta
Dever – poesias
Um Gênio Multiforme,
Tobias Barreto, pioneiro na
emancipação feminina
Fonte: Jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989).
Maria Thétis Nunes
Ofenísia Freire
Lígia Pina
Maria Thétis Nunes
Cléa Brandão
Lígia Pina
Ofenísia Freire
Conceição Ouro
Cléa Brandão
Ofenísia Freire
Cléa Brandão
Ofenísia Freire
Maria Thétis Nunes
--Maria Thétis Nunes
Ofenísia Freire
Maria Thétis Nunes
Cléa Brandão
Conceição Ouro
Lígia Pina
Ofenísia Freire
Maria Thétis Nunes
Ofenísia Freire
Maria Thétis Nunes
Ofenísia Freire
--Ofenísia Freire
Conceição Ouro
Conceição Ouro
Ofenísia Freire
Conceição Ouro
Ligia Pina
Conceição Ouro
Lígia Pina
Maria Thétis Nunes
P á g i n a | 11
O primeiro aspecto que se evidencia no quadro anterior é a regularidade das publicações de
mulheres. Das 28 edições localizadas nos arquivos, somente três não tiveram textos escritos por
mulheres, sendo que durante esse período foram 53 publicações de diversos gêneros literários. No
tocante à produção masculina, nessas edições somam-se 211 publicações de autoria dos imortais:
Antônio Garcia Filho (53 publicações); Manoel Cabral Machado (30 publicações) e Emmanuel Franco
(25 publicações). Portanto, a produção feminina representa um percentual de 20,3% de todas as
publicações do periódico.
Em sua maioria, são publicações de professoras imortais da Academia, que utilizaram o
periódico como espaço para divulgação e visibilidade de suas produções literárias, contribuindo
para o protagonismo e enfraquecimento do monopólio dos homens. O quadro em sequência
apresenta as mulheres que publicaram no periódico em estudo.
Quadro 3 – Relação das mulheres que publicaram no jornal Letras Sergipanas.
Nº
Intelectuais Femininas
01
02
03
04
05
06
07
Ofenísia Franco Freire
Maria Thétis Nunes
Maria Lígia Madureira Pina
Cléa Maria Brandão de Santana
Maria da Conceição Ouro Reis
Núbia Marques do Nascimento
Carmelita Pinto Fontes
Quantitativo de
publicações
18
11
9
6
6
2
1
Imortal da
ASL
X
X
Membro do
MAC
X
X
X
X
X
Fonte: Jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989).
Os dados apresentados no Quadro 3 evidenciam, entre as mulheres escritoras, o destaque
de três professoras escritoras. Duas delas imortais da Academia Sergipana de Letras, ou seja,
Ofenísia Freire, com 18 publicações; e, na sequência, Thétis Nunes, com 11 publicações. E, na
terceira colocação em número de publicações, figura a professora Lígia Pina, participante do
Movimento de Apoio à Academia Sergipana de Letras (MAC) e que no ano de 1998 foi eleita como
imortal da ASL (MARTIRES, 2016).
Alguns fatores contribuíram para a dianteira na quantidade de publicações por parte da
professora Ofenísia Freire, podendo ser citada, sua condição de redatora do jornal; ter participado
da diretoria do sodalício e por ser titular de uma coluna no periódico. A professora Ofenísia assinava
a coluna intitulada A terra e a gente na literatura sergipana, espaço em que analisava textos da
literatura sergipana, comparando com características das escolas literárias brasileiras.
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Outro destaque dos dados apresentados no Quadro 3 refere-se os quantitativos de
publicações de autoria de professoras que participavam do Movimento de Apoio à Academia
Sergipana de Letras (MAC). Como informado anteriormente, esse movimento foi criado em 1984
com o escopo de auxiliar nas atividades da Academia. Professoras integrantes desse movimento
começaram a se destacar com publicações no Letras Sergipanas, podendo ser citadas as professoras
Lígia Pina, Cléa Brandão e Conceição Ouro. Contudo, destas apenas Lígia Pina conseguiu adentrar
na ASL. De certo, suas publicações no Letras Sergipanas ajudaram neste processo de ampliação do
capital cultural e credenciamento para o ingresso na agremiação. O quadro em seguida destaca as
temáticas em que podem ser classificados os escritos de autoria feminina.
Quadro 4 – Quantitativo de publicações por temáticas.
Nº
01
02
03
04
04
05
06
07
08
09
10
11
Temas
Literatura sergipana
Biografia
Poesias
Relatos de viagens
Resenha
Corrida espacial no séc. XX
Cultura popular
Discurso
Educação feminina
Gramática da língua portuguesa
Literatura argentina
Texto religioso
Quantitativo
20
11
8
3
2
1
1
1
1
1
1
1
Fonte: Jornal Letras Sergipanas (1984 – 1989).
Como evidenciado no quadro anterior, as temáticas que concentram as produções das
mulheres apresentam, como destaque, escritos relacionados com a literatura sergipana resultantes,
principalmente, da produção literária da professora Ofenísia Freire. Em um desses escritos, a
professora Ofenísia destaca a preferência pela temática: “A presença da terra e do homem na
produção literária em Sergipe foi o tema que discorremos aqui, nesta coluna” (FREIRE, 1984, p. 1).
Os textos da coluna de Ofenísia discutem aspectos da produção literária de escritores sergipanos e
suas relações com a terra natal. Entre os escritores mencionados na coluna, destacam-se os
sergipanos Pedro Calazans, Alberto Carvalho, Hunald Alencar, Gilvan Rocha, Luis Rabelo Leite,
Hermes Fontes, Brício Cardoso, Oliveira Teles, Gilberto Amado. Os textos de Ofenísia nessa coluna
apresentam a marca do didatismo da prestigiada professora de literatura (SOUZA, 2017b) e o
interesse em exaltar e rememorar vultos da cultura literária sergipana.
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A segunda temática mais explorada pela escrita feminina no Letras Sergipanas trata-se dos
escritos biográficos, resultando em 11 publicações de perfis e trajetórias biográficas, relacionadas a
personalidades sergipanas, a saber: Florentino Menezes (duas publicações), Hermes Fontes, Zaqueu
Brandão, Manoel Bomfim, Rosalvo Queiroz, José Calasans, Augusto Luz, Antônio Garcia Filho, Tobias
Barreto e Leonor Telles de Meneses. Nota-se que apenas uma mulher foi retratada no período por
meio da escrita de um perfil biográfico, assim predominaram os escritos que discorrem a respeito
de intelectuais sergipanos do sexo masculino.
O estilo literário da poesia ocupou a terceira posição no quantitativo de publicações. São
textos que expressam os sentimentos, as alegrias e angústias dessas escritoras. Dentre elas
Conceição Ouro, membro do MAC, se destacou com a escrita de cinco poesias nas edições
pesquisadas.
Fiat Lux
Maria da Conceição Ouro Reis (MAC/ASL)
Fiat Lux – o cérebro luziu!!!
Erram os sábios, reis, o potentado
Não existe o troglodita que previu
Nem homens do futuro hão notado.
Talvez a sementinha, ela sentiu
Que germinar é dom santificado.
É o milagre da rosa que se abriu,
Superior ao pétalo fanado.
O lábio é róseo. Sim, o olhar brilhante
Jamais em tempo se conta esse instante
No qual o pensamento encontra a meta
Da chama inextinguível, a centelha
Surgindo pura, ao eterno se assemelha
Somente Ele a tem, Ele o POETA.
(JORNAL LETRAS SERGIPANAS, 1986, p. 02).
Temas sobre a mulher e educação não despertaram interesse específico, como também a
pena feminina pouco destacou o protagonismo de suas antecessoras no campo literário sergipano.
No tocante aos estudos sobre mulheres, os artigos são de autoria das professoras Maria Thétis
Nunes e Lígia Pina. Entretanto, no estudo sobre a trajetória intelectual de Florentino Menezes,
Thétis Nunes (1984, p. 2) ressalta: “A SOCIEDADE E A MULHER constitui um dos mais interessantes
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capítulos desse livro, sendo um grito de revolta contra as injustiças vem sendo vítima na sociedade
através dos tempos”. Nas suas análises, Thétis Nunes ratificou as ideias de Florentino Menezes no
sentido que a exploração feminina é decorrente das relações de dominação masculina. Em outro
artigo, a autora, discorrendo sobre a proposta de Tobias Barreto, na Assembleia Provincial de
Pernambuco, em 1870, a respeito da educação feminina, ressalta:
Se hoje a mulher brasileira se projeta em todos os campos das atividades, que até
pouco tempo eram privativas do homem, essa situação não foi uma dádiva, mas
uma conquista. Entre os que batalharam para essa realidade que vivemos, Tobias
Barreto está incluído. Há mais de um século ele acreditava na capacidade da
mulher, e da necessidade de libertá-la das peias da tradição e do obscurantismo,
defendendo suas ideias com o denodo e o entusiasmo que o marcaram (NUNES,
1989, p. 3).
No texto acima, Thétis Nunes reforça a luta pela emancipação feminina, destacando a
atuação do deputado e filósofo Tobias Barreto, na segunda metade do século XIX. A outra escritora
que publicou sobre mulheres foi Lígia Pina num artigo em que destacou a amizade e a competência
da professora da Escola Normal, Leonor Telles de Menezes.
As questões educacionais despertaram pouco interesse nas escritas femininas no periódico
em estudo, apesar das escritoras serem professoras. Em alguns artigos encontram-se menções e/ou
situações sobre os aspectos educacionais, no entanto não se configura como uma temática de
interesse específico. Na publicação da professora Thétis Nunes sobre Manoel Bomfim, ela cita que
o intelectual foi professor do Instituto de Educação do Rio de Janeiro e Diretor Geral da Instrução
Pública. Destacou também a sua atuação no Pedagogium, por meio da criação do primeiro
laboratório de psicologia experimental do país. Outro aspecto salientado foi a criação de livros
didáticos adotados em vários estabelecimentos de ensino no Brasil. A segunda publicação em que
aspectos educacionais são citados, embora de forma difusa, é no texto da professora Lígia Pina
sobre a professora Leonor Telles de Menezes, catedrática de Língua Portuguesa na Escola Normal
Rui Barbosa.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jornal Letras Sergipanas, criado pelo presidente da ASL, Antônio Garcia Filho, em 1984,
teve a finalidade de ser um elo de comunicação mais rápido entre a ASL e a sociedade sergipana,
bem como um veículo de divulgação das produções dos(as) confrades e participantes do MAC.
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O estudo desses exemplares do jornal Letras Sergipanas evidenciou um espaço importante
utilizado por mulheres para a divulgação de seus escritos literários e como forma de alcançar
visibilidade entre seus pares. Outrossim, o espaço de publicação contribuiu para a ampliação do
capital cultural delas, o que resultou, para algumas, no credenciamento para o ingresso como
imortal do sodalício sergipano.
No tocante à escrita de acadêmicas da ASL e de mulheres que pertenciam ao MAC, foram
localizados 53 trabalhos, num universo de 265 publicações de diferentes temas e estilos literários,
sendo as mais recorrentes: literatura sergipana, escritos biográficos e poesias. A professora Ofenísia
Freire figura como a maior escritora do jornal, tendo publicado 20 artigos nas páginas do Letras
Sergipanas, em sua coluna A terra e a gente na literatura sergipana.
Constatou-se o protagonismo de mulheres escritoras no periódico. Contudo, essa escrita
feminina acabou por evidenciar, de forma hegemônica, o protagonismo de homens nas letras
sergipanas. Situação que, em parte, pode levar a uma compreensão enganosa de naturalização de
superioridade masculina no campo literário em terras sergipanas. Assim, se por um lado essas
mulheres escritoras se esforçaram para romper a dominação masculina, de outro modo acabaram
por legitimar, ainda que de forma inconsciente, uma dita superioridade ou hegemonia intelectual
masculina.
Por fim, outro aspecto deve ser destacado, as professoras escritoras não se interessaram em
discutir, em seus escritos no periódico, questões diretamente relacionadas com o campo
educacional sergipano. Neste caso, provavelmente estivessem mais interessadas na aderência de
seus escritos ao escopo principal do jornal, ou seja, a produção literária sergipana e o destaque de
seus vultos históricos, tudo isso para em prol de destaque no sodalício.
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DOI: https://doi.org/10.20952/revtee.v10i23.6693 Disponível em:
https://seer.ufs.br/index.php/revtee/article/view/6693/pdf . Acesso em: 15 de ago. de 2019.
SOBRE OS AUTORES
José Genivaldo Martires
Doutorando em Educação; Universidade Federal de Sergipe (UFS); Professor da Universidade Federal de
Sergipe - Brasil; Programa de Pós-Graduação em Educação; Grupo de Estudos e Pesquisas em História da
Educação: Memórias, sujeitos, saberes e práticas educativas (Gephed/Cnpq/UFS).
E-mail: jmartires@globo.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7981-778X
Joaquim Tavares da Conceição
Doutor em História; Universidade Federal da Bahia (UFBA); Professor da Universidade Federal de Sergipe Brasil; Programa de Pós-Graduação em Educação; Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação:
Memórias, sujeitos, saberes e práticas educativas (Gephed/Cnpq/UFS).
E-mail: joaquimcodapufs@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8826-8137
Recebido em: 15/02/2020
Aprovado em: 24/04/2020
Publicado em: 01/05/2020