Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
Adriana Moreira Pedro
Agildo Santos Silva de Oliveira
Alexandre Marques Silva
Douglas Rabelo de Sousa
Letícia Fernandes de Britto Costa
Sergio Mikio Kobayashi
(Organizadores)
Discurso e Identidade:
múltiplos enfoques
FFLCH/USP
SÃO PAULO, 2018
IX EPED - Discurso e Identidade: múltiplos enfoques
291
Uma lulik: o sagrado na expressão da
identidade nacional leste-timorense
Alexandre Marques SILVA1
Resumo: Neste artigo objetivamos discutir a relação entre cultura, tradição e identidade a partir da consideração das
uma lulik (casas sagradas) como símbolo de resistência e de preservação de elementos da cultura e da identidade lestetimorenses. Nossas análises realizam-se a partir de depoimentos apresentados no documentário Uma lulik: futuro de
uma tradição, produzido pela ALGA (Associação Luso-Galega de Antropologia Aplicada) em colaboração com a
secretaria de Estado da Cultura do Timor-Leste, em 2011, e fundamentam-se nos estudos acerca da identidade
desenvolvidos por Bhabha (1998), Hall (2000), Mendes (2005), Moita Lopes (2006) e nos relativos à cultura realizados
por Anderson (2009, 1993), Cinatti (1986), Giddens (1991) e Smith (1997). Observamos que, em Timor-Leste, as casas
sagradas constituem um referencial para a preservação da memória coletiva e, portanto, consistem em um importante
patrimônio relacional daquela nação, assegurando-lhe a preservação e a disseminação de uma (possibilidade de)
identidade nacional.
Palavras-chave: Identidade Nacional; Timor-Leste; Uma Lulik; Cultura Tradicional.
Introdução
Os estudos acerca da identidade têm interessado a diversas disciplinas das Ciências Humanas desde a
virada do século XX. Não se trata de um fenômeno casual, mas de uma tendência oriunda das profundas
transformações pelas quais o mundo vem passando desde o advento da globalização e de seus impactos na
estruturação das sociedades e das distintas formas de identificação decorrentes de tal processo.
Por meio do metafórico encurtamento entre as distâncias possibilitado fundamentalmente pelo
desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e das telecomunicações, tornou-se mais facilitada a
difusão de determinados modelos socioculturais produzidos por/em países de cultura hegemônica – no
sentido de terem a posse dos meios de produção da Indústria Cultural e das ferramentas necessárias para
disseminação de seus produtos culturais (música, cinema, propagandas, entre outros).
Nesse sentido, o contato entre culturas, por um lado, pode promover o enriquecimento das que estão
em contato, quando se trata de uma relação simétrica (em condições ideais) de cooperação, na qual elas se
influenciam mutualmente, sem que haja qualquer espécie de “predatismo cultural”. Talvez se trate de uma
perspectiva romântica e bastante idealizada da globalização, quando se observam seus efeitos já no século
XXI. Em contrapartida, quando atrelada a valores econômicos, a cultura de uma sociedade hegemônica tornase, invariavelmente um produto de dispersão de valores, e é exatamente essa relação (que se tornou)
intrínseca entre mercado e cultura que tem levado estudiosos a se interessarem pelos impactos desse
processo na conformação das identidades.
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Filologia e Língua Portuguesa de Universidade de São Paulo, sob a orientação da
Profª Dra. Zilda Gaspar Oliveira de Aquino. Bolsista CAPES. E-mail: alexandremarques@usp.br
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Como um contraponto a essa tendência homogeneizante, observamos que, em Timor-Leste, as casas
sagradas (uma lulik) desempenham papel fulcral na preservação de tradições e identidades que estão
fortemente arraigadas naquela sociedade. Trata-se, assim, de um símbolo de resistência – oqual se manteve
firme mesmo após dois processos consecutivos de dominação colonial, protagonizados respectivamente por
Portugal e Indonésia – que possibilita a manutenção de elementos culturais os quais participam da
construção identitária dos leste-timorenses.
Em função dessas características, tendo como eixo norteador a cultura tradicional, objetivamos
realizar uma discussão acerca da relação entre as casas sagradas, a preservação e a disseminação de um
projeto de identidade nacional em Timor-Leste, bem como discorrer sobre a concepção de identidade
vinculada a elementos imateriais: as “comunidades imaginadas”.
Cumpre salientar que consideramos tratar-se de um projeto, pois, no que se refere a identidades
nacionais e, sobretudo no caso de uma nação jovem, que conquistou a independência definitiva há menos
de 20 anos, seria bastante precipitado afirmarmos haver“a” identidade nacional. Menos problemático, no
entanto, é considerarmos que essa identidade é objeto de permanente disputa, cujos contornos e conteúdos
são fixados pelos grupos que, em determinados momentos, gozam de poder e de legitimidade para
determiná-los.
Ademais, os estudos contemporâneos sobre identidade, e aos quais nos filiamos, buscam discuti-la
sob a perspectiva da complexidade que lhe é inerente: como um fenômeno dotado de plasticidade,
fragmentado, contraditório e, consequentemente, passível de múltiplas possibilidades de definição e de
negociação. Assim, a fim de realizarmos uma discussão mais profícua desse processo, passamos a
caracterização das uma lulik e de sua relação com a conformação identitária leste-timorense.
1 Lulik: o lugar do sagrado na cultura tradicional
As práticas culturais podem ser observadas como características de dada comunidade – entendida
como a agregação de práticas e símbolos em um sistema de significados o qual pressupõe não apenas a
interpretação, mas também parte do pressuposto de que essa interpretação é partilhada pelos indivíduos
que a constituem. Nesse sentido, a compreensão da cultura como um sistema fundamenta-se na ideia de
que “os significados culturais são normalmente partilhados, fixos, interligados e profundamente sentidos”
(Sewell, 1999,p. 47).Além disso, autores como Hall (2000) e Bhabha (1998), a seu turno, partem de uma
concepção segundo a qual a cultura é portadora e atribuidora de significados; apreendida pelos indivíduos,
e, por conseguinte, arbitrária.
Ainda, de acordo com Hall (2000), compartilhar uma cultura significa também partilhar a mesma forma
de construir inteligibilidades sobre o mundo por meio da linguagem. Esse compartilhamento não implica,
todavia, que uma cultura seja dotada de significados homogêneos e únicos, ao contrário, as representações
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produzidas nas práticas culturais são diversas, regem comportamentos e influenciam as ações dos sujeitos.
Dessa forma, então, as culturas nacionais não podem ser pensadas como sistemas unificados, mas
constituídos por divisões fundamentadas em diferenças étnicas, sociais ou culturais.
A partir dessa delimitação acerca do conceito de cultura, compreendemos que as comunidades são
compostas por indivíduos que, de diversas formas, têm experiências, dão sentido ao seu meio cultural e, por
conseguinte negociam as formas de interpretar a realidade. A cultura, assim, não se revelaria em ações e
sistemas de crenças individuais, mas na partilha de similaridades e padrões observados dentro de um mesmo
grupo. Desse modo, no que tange às culturas tradicionais e sua necessidade de adaptação às novas demandas
dos agrupamentos sociais, Giddens (1991, p. 38) aponta para o fato de que:
Nas culturas tradicionais, o passado é honrado e os símbolos valorizados porque contêm e
perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um modo de integrar a monitoração da
ação com a organização tempo-espacial da comunidade. Ela é uma maneira de lidar com o
tempo e o espaço, que insere qualquer atividade ou experiência particular dentro da
continuidade do passado, presente e futuro, sendo estes por sua vez estruturados por
práticas sociais recorrentes. A tradição não é inteiramente estática, porque ela tem que ser
reinventada a cada nova geração conforme esta assume sua herança cultural dos
precedentes. A tradição não só resiste à mudança como pertence a um contexto no qual
há, separados, poucos marcadores temporais e espaciais em cujos termos a mudança pode
ter alguma forma significativa.
Observamos, assim, que o lulik (o sagrado) está fortemente arraigado à cosmogonia leste-timorense
e, por isso, converte-se em elemento que permite, ao mesmo tempo, a perpetuação da tradição e a
transformação dela. Em Timor-Leste, para além da metáfora, da casa como nação, há um vínculo muito
particular entre os indivíduos e as suas uma lulik:como uma metonímia das relações sociais e com o sagrado,
elas ganham relevo como expressão de uma cultura genuína, uma forma de manutenção identitária,
tornando-se o elo entre presente e passado, sagrado e profano, modernidade e tradição.
No que tange à conformação de uma identidade nacional, as casas sagradas corresponderiam,
portanto, à materialização das necessidades de uma variedade de grupo sociais e de indivíduos que
conceptualizam o território como uma casa comum à qual todos pertencem. Segundo Mendes (2005),
expressões como sangue, família e casa possuem em Timor-Leste um efeito mobilizador do imaginário da
nação, o qual está na base da edificação da identidade nacional, assim, a nação concebida como casa
converte-se em uma unidade vivencial que “circunscreve uma unidade sacralizada, em torno da qual, em
actos e processos rituais, se posicionam e articulam processos de identificação e pertença. ” (MENDES, 2005,
p.110).
Discutimos, a seguir, a relações que se estabelecem entre as casas sagradas, como elemento
congregador de paradoxos aparentes, a construção de projetos identitários para Timor-Leste.
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1.1 Uma Lulik: elementos de uma arquitetura identitária
O significado social da uma lulik funda-se em suas dimensões imateriais, as quais lhe outorgam um
papel central na construção da identidade do povo leste-timorense e na configuração de seu patrimônio
cultural. Considerada nesses termos, “a casa sagrada constitui uma síntese simbólica do cosmos e, em
termos físicos a sua arquitetura reflete-o.”. (MENDES, 2005, p. 112)
As casas sagradas são, simultaneamente, uma entidade física e uma categoria cultural, pois constituem
um importante recurso à preservação da memória, além de serem um repositório de objetos ancestrais que
fornecem a evidência física de uma continuidade específica com o passado. (FOX, 1993). Dessa forma, podese compreender, segundo o que postula Souza (2007, p. 198), que as uma lulik representam uma
continuidade que “é essencial numa sociedade que privilegia a noção de fluxo de vida como fundamental
para a sua subsistência. A casa é um marcador temporal e geográfico da história tal como é percepcionada
localmente”.
Assim, sob as dimensões material e espiritual, Benjamim Corte-Real, presidente do Instituto Nacional
de Linguística, em depoimento no documentário Uma lulik: futuro de uma tradição2, produzido pela ALGA
(Associação Luso-Galega de Antropologia Aplicada) em colaboração com a secretaria de Estado da Cultura
do Timor-Leste, em 2011, assim define a casa sagrada:
Uma lulikpode ser entendida em duas dimensões: tem um sentido material e um sentido
espiritual. O sentido material é como uma construção física, com exigências arquitetônicas
próprias: um lugar de abrigo, um lugar de refúgio, um lugar de recolha, de meditação para
uma aglomeração mais ou menos grande de uma genealogia, são por, assim dizer, um lugar
onde os elementos desse aglomerado se reúnem para cerimônias, para ritos tradicionais é,
portanto, um repositório de bens materiais, herança de geração em geração, um repositório
da memória institucional da linhagem. No sentido espiritual, podemos dizer que é o lugar
do sagrado, é o ponto de ligação entre os vivos e os mortos, os espíritos dos antepassados
é, em última análise, um ponto de ligação entre os vivos e o sobrenatural, o invisível, o Deus.
As uma lulik, por conseguinte, possuem essencialmente um valor de uso, seja pela relação pragmática
que se estabelece diante da necessidade básica de proteção contra as intempéries, seja como forma de
preservar uma tradição ancestral, cosmogônica, por meio da qual se forja a coesão da sociedade lestetimorense.
Da perspectiva simbólica, os espaços internos das uma lulik, de modo geral, obedecem a esta lógica:
2
Todos os depoimentos apresentados ao longo do artigo foram transcritos do documentário supramencionado e estão indicados
com o ano de 2011.
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Figura 1. Organização interna da uma lulik, segundo a cosmogonia tradicional leste-timorense3
Fonte: Trindade(2011, s/p)4
Figura 2. Detalhe de entalhamentos na estrutura de uma casa sagrada.
Fonte: Fundação Mário Soares. Disponível em: <https://upload.Wikimedia.org/wikipe
dia/commons/7/79/Mau-Nuno,_Uma_lulik_ManeHitu.jpg> Acesso: 01 fev. 2018.
3
Tradução nossa: 1. Estrela (coisa sagrada, branca) representa entidade mais alta (Deus), o espírito dos avôs, coração, os valores
fundamentais. 2. Pomba (feminina, verde) representa paz, fertilidade e prosperidade, 3. Chifre (masculino, preto) representa força,
segurança e proteção.
4 Não nos é possível localizar a referência na página uma vez que o documento encontra-se em formato HTML.
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Figura 3. Uma lulikda região de Los Palos
Fonte: Fundação Mário Soares. Disponível em: <http://farm8.static.flickr.com/7203/
6960386671_09f2aeddaa.jpg > Acesso: 01 fev. 2018.
A casa sagrada é o espaço em que se praticam os rituais de casamento e outras cerimônias, além de
ser o centro do poder político. Cinattiet. al. (1986, pp. 38-39 e 54) salienta o seu simbolismo cósmico e a
importância dos nexos genealógico-familiares:
Ela é habitada pelos espíritos dos antigos guerreiros, antepassados do que habitam o
povoado ou o reino. Construída por uma várias famílias é propriedade de toda a população
e o elemento de união entre o clã: se a “uma lulik” desaparecer por ruina ou incêndio,
grande desgraça abater-se-á sobre o povo e as famílias dispersar-se-ão. (...). O núcleo
familiar com os seus limites territoriais demarcados estabelece-se num espaço sagrado,
constituindo um microcosmo autónomo, reflexo do Universo. A adoração comum dos
antepassados reforça a solidariedade e as ligações genealógicas entre os seus membros, e
a casa sagrada, a árvore, os lugares votivos, tendem a ter em conjunto um efeito
estabilizador na estrutura da pequena comunidade.
As uma lulik exemplificam, então, os valores e ideais da sociedade leste-timorense e condensam, de
certo modo, a visão de mundo que a caracteriza e os princípios que a organizam, constituindo um elemento
fundador da identidade leste-timorense. Desse modo, ao inscreverem-se no rol de símbolos nacionais, as
casas sagradas são convertidas em poderosas manifestações de um sentimento coletivo de pertença
identitária fundado no princípio de uma origem ancestral comum. Como corolário dessa perspectiva,
entendemos que o projeto de identidade nacional leste-timorensealicerça-se também no plano simbólico, já
que, segundo Smith (1997, p. 31): “Através da utilização de símbolos – bandeira, moeda, hinos, uniformes,
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monumentos e cerimónias – os membros recordam sua herança comum e as suas características culturais,
sentindo-se fortalecidos e exaltados pela sensação de identidade e pertença comuns”. Em síntese: a
construção do projeto identitário nacional funda-se tanto no campo simbólico quanto no social.
Sob o viés social, o depoimento do deputado leste-timorense, Manuel Tilman (2011), acerca da relação
com sua uma luliké esclarecedor:
Para mim, a minha casa sagrada, a minha uma lulik, a minha casa sagrada é o centro do
mundo. Tudo gira à volta da minha casa lulik. Para eu poder olhar para a Espanha, Portugal,
Austrália ou América, olho a partir da minha casa sagrada, olho a partir da casa sagrada
onde meus antepassados chegaram a Timor, ocuparam, construíram, fizeram sua vida.
Mesmo que a minha família esteja na Europa, meu filho venha a se casar com uma alemã
ou a minha filha, com um espanhol, eles vão sentir sempre que o centro não é na Espanha
ou em Portugal, mas que o centro é onde está a minha casa sagrada. [...] A uma lulik não
só recupera ou une todos os vivos dos dias de hoje, mas através da ligação, através da nossa
casa sagrada, estamos continuamente ligados ao primeiro homem que chegou a Timor,
aquele que viveu em Timor, aquele que morreu em Timor. Para nós, não é [a lógica do]
“tudo se transforma”, tudo existe tal qual como está. Na nossa casa sagrada, estão todos,
até os animais que nós matamos pela memória de nossos antepassados, por isso, a uma
lulik significa: entram todos, e todos não são apenas os que vivem neste século, no tempo
presente, mas aqueles que já foram e os que hão de vir, nos unindo para que não se perca
a autoridade sobre as nossas tradições sobre as nossas casas sagradas.
O depoimento do deputado é revelador do poder da tradição na definição da identidade, de sua
intrínseca relação com o sentimento de pertença e de profunda ligação com a terra. A uma lulik constitui,
assim, um padrão de referência soberano a partir do qual todo o mundo é mesurado e avaliado, pois preserva
um conhecimento ancestral que se converte em força coercitiva, responsável por unir, por meio de laços
familiares, gerações mesmo que geograficamente dispersas.
Além disso, as casas sagradas respondem a uma finalidade ritual e cerimonial, ligadas às tradições das
comunidades em que são construídas. A relação com Deus e com os antepassados é mediada por um luliknae
– uma espécie de sacerdote gentílico – geralmente o homem mais velho da comunidade, possuidor dos
conhecimentos ancestrais. Embora desempenhem uma função marcadamente religiosa, em que se
estabelece contato com os ancestrais por meio de ritos, como o sacrifício de animais, característico do
animismo, as uma lulik constituem, também, um espaço importante para o exercício da vida política,
havendo, pois, uma confluência entre instâncias sociais. Nas palavras do professor Nuno Silva Gomes (2011):
Nas uma lulik, velhos e novos se reúnem para discutir sobre os problemas do presente,
rezar, planejar ações futuras das novas gerações. Nas lulik, não há regras escritas, mas a
prática ensina. [...] A prática da democracia que se faz no parlamento nacional, devo dizer,
já existe há muito tempo nas uma lulik.
As uma lulik, além de templo, desempenham um papel político importante na organização da vida
coletiva, por meio da prática de ações democráticas, como a deliberação, entre jovens e velhos, acerca de
assuntos que dizem respeito ao coletivo. Explicita-se, assim, que a multiplicidade de atividades que podem
ser abrigadas em uma mesma casa sagrada, permite estabelecer uma relação especular com os processos de
construção de identidades, conforme discutidos por Moita Lopes (2006), que as entende como
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fragmentadas, processuais e contraditórias. Para o autor (op. cit.), as identidades, caracterizadas pela
pluralidade, são oriundas das distintas posições sociais ocupadas pelos indivíduos. Tais posições são dotadas
de significado e implicam padrões de ação e de ser, estando, portanto, atreladas aos processos de
representações sociais, o que, no caso das casas, corresponde aos distintos usos a que elas se prestam,
conforme vimos discutido.
Podemos observar, também, que, por constituir uma manifestação cultural popular, a preservação das
uma lulik está estritamente ligada à memória e ao saber-fazer, decorrente do aprendizado ancestral
transmitido oralmente pelos homens mais velhos da comunidade.A partir dessas considerações, entendemos
que, como parte do processo de construção da identidade nacional, a memória constitui um importante
patrimônio, pois é por meio do apelo a ela que se erigem as grandes narrativas míticas, os mitos fundadores,
a exemplo do mito do crocodilo, o ancestral, que deu origem à ilha de Timor. Por meio de narrativas
ontológicas e da conservação de objetos materiais da cultura – como as uma lulik –, assegura-se coesão
social, forjam-se identidades e memórias coletivas.
Nesse sentido, o valor mítico atribuído às casas sagradas reitera sua importância no processo de
manutenção das tradições, da identidade nacional e da coesão social leste-timorense. Para Manuel Tilman
(2011), as regras para a construção das casas sagradas, embora não sejam escritas, passam de geração em
geração de forma espontânea, a partir do contato diário entre os jovens e os mestres, guardiães da tradição.
As casas sagradas fazem sentido como máxima expressão do vínculo entre passado, presente e futuro, tratase, assim, de uma construção coletiva aglutinadora de símbolos e promotora de identidades. A ex-ministra
de Educação de Timor-Leste, Rosária Corte-Real (2011), explicita o caráter aglutinador das casas sagradas, já
que elas:
[...] vêm desde nossos antepassados. Somos de cinco ou seis gerações diferentes e ainda
nos conhecemos, fazemos parte da mesma origem ancestral, pois temos uma mesma uma
lulik. Nossos irmãos casam-se, dividem-se, mas irmão é sempre irmão. Na uma lulik, sempre
tem cerimônias e festas que reúnem os irmãos, estamos sempre juntos.
É importante destacar que, sob a perspectiva leste-timorense, o conceito de família supera os laços
consanguíneos. Assim, para além de familiares de ascendência direta, podem ser agregados sob a mesma
umalulik familiar aqueles com quem há fortes vínculos de amizade ou, ainda, aqueles que, por exemplo,
forem escolhidos como padrinhos de crianças ou de casamento. Desse modo, podemos observar que o
conceito de família, segundo a percepção leste-timorense, possui uma dimensão mais ampliada que a do
paradigma ocidental e isso permite que as relações familiares sejam estendidas, conforme elucida o excerto
a seguir, extraído do site oficial do Governo de Timor-Leste:
A cultura tradicional timorense – tão bem defendida durante a resistência, e que, serviu,
também, para ajudar a defender o argumento da independência, pela diferença cultural
relativamente ao povo ocupante – assenta na complexidade da estrutura familiar praticada
em Timor-Leste. Trata-se de uma estrutura muito particular, muitas vezes mal-entendida
pelos malae (estrangeiros). Não é por acaso que mesmo os desconhecidos, em Timor-Leste
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– e isso sim, já assimilado pelos malae – se tratam por mana (irmã) ou maun (irmão) (se a
idade ou situação social é semelhante para o feminino e masculino, respetivamente), tia ou
tio (se se trata de alguém mais velho, uma ou duas gerações), avó ou avô (se a idade é já
avançada). Na prática, filhos, afilhados, primos ou pessoas da mesma ligação da estrutura
tradicional, são considerados familiares diretos, situação que traduz o papel central
estruturante dos laços familiares na sociedade timorense. “O laço de parentesco oferece
uma perspetiva de longo prazo, que falta noutras relações. A permanência das relações
familiares, normalmente garantida pelo laço biológico, permite, em larga medida, a
construção de confiança e compromisso mútuo. Criam-se âncoras - materiais e afetivas entre os indivíduos e as suas famílias. Isto significa, numa família mais alargada como a que
existe na estrutura tradicional de Timor-Leste, que existe um vínculo forte na sociedade que
tem garantido o bem-estar entre as famílias. Existe uma solidariedade familiar,
especialmente visível em cerimónias, como as de casamento, de funeral, ou nas cerimónias
de feto saumane (parentes por afinidade, por parte da mulher e por parte do marido), que
são cerimónias tradicionais ainda muito conservadas na nossa sociedade”, explica a
Ministra da Solidariedade Social, Maria Domingas Fernandes Alves. (TIMOR-LESTE, 2011.
s/p)
Ademais, asuma lulik constituem um cenário privilegiado para a realização das cerimônias da vida
social, ao redor delas tem lugar a comemoração de todo o ciclo da vida humana, desde o nascimento até a
morte. Nelas se guardamtambém todas as heranças deixadas pelos avôs aos seus netos. Rosária Corte-Real
(2011) defende a ideia de que a uma lulikrepresenta um umbigo que une e amarra a relação entre as
gerações. No contexto da crença leste-timorense, concebe-se que o umbigo constitui o centro da vida e, por
isso, é costume que, quando uma criança nasce, o cordão umbilical dela seja conservado na uma lulik. É um
ritual que se mantém para evitar que haja rupturas entre laços familiares ou entre gerações e, em termos
identitários, implica que os indivíduos, simbolicamente, possuam uma ligação indissociável com a terra na
qual nasceram.
Em termos estéticos, à entrada da uma lulik, estão dispostas duas estátuas, a de um homem e a de
uma mulher, representando a união, o casamento, o ciclo da vida e da morte, além da ancestralidade comum
e, figurativamente, da fertilidade. Cada uma lulik tem a sua doutrina. Geralmente, as casas são construídas
sobre oito colunas. Quatro representam o homem, quatro, a mulher. Cada um dos pilares masculinos, os
mais fortes, é fincado na terra como homenagem aos avós, os homens ancestrais que deram origem à família
proprietária da uma lulik. Os demais representam o apoio necessário da mulher à fortificação da família e,
por extensão, da comunidade. Vale ressaltar que o sistema político das comunidades tradicionais lestetimorenses, embora organizado de forma patriarcal, reconhece a importância da autoridade, identificada à
forma feminina, ao lado do poder, considerado essencialmente masculino, de modo que, para que haja a
preservação da harmonia social, poder e autoridade devem estar equilibrados.
Na relação entre a casa e o universo cosmogônico que ela simboliza, Cinattiet. al. (1986, p. 34)
observam que:
Na estrutura da habitação revela-se o simbolismo cósmico: a casa é a imagem do mundo, a
sua cobertura é o Céu, o pilar ou poste principal é assimilado ao “eixo do mundo” que
sustenta o imenso tecto celeste e desempenha um papel ritual importante: é na sua base
que têm lugar os sacrifícios em honra do ser supremo, Marômac (…) Toda a construção e
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inauguração de uma moradia equivalem a um começo, a uma nova vida: para que a obra
dure e “viva” deve ser animada, isto é, deve receber ao mesmo tempo uma vida e uma
alma. A transferência da alma só é possível pela via de um sacrifício sangrento.
O esclarecimento apresentado por Cinattiet. al. põe em relevo uma interessante questão acerca da
conformação religiosa dos leste-timorenses. A maior parte da população da porção oriental da ilha costuma
autodefinir-se como católica e uma série de estudos (CASTAGNA, 2015; CASTELO, 1998; COSTA, 2012, 2005;
FELGAS, 1956; GAGLIATO, 2008, só para citar alguns) sobre isso revelou que, de fato, o sincretismo seria a
forma mais apropriada para definir as práticas religiosas de muitos leste-timorenses. A associação aos
preceitos cristãos deve-se, em grande parte, à aproximação da Igreja Católica ao movimento de resistência
contra a invasão indonésia a Timor-Leste entre os anos de 1975-1999. Por ter sido uma instituição que
prontamente se dispôs a proteger os leste-timorenses das arbitrariedades indonésias, a Igreja, representada
pela figura do Bispo Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, conquistou a admiração e o respeito da população local,
além disso, fundaram-se escolas nas igrejas, nas quais o português era utilizado como língua de instrução,
em movimento oposto à obrigatoriedade imposta pelo novo colonizador de que toda a instrução e
comunicação em Timor-Leste fossem realizadas em língua indonésia.De acordo com Gagliato (2008, p. 4):
[...] esse novo cenário religioso de maioria Católica que se constituiu, principalmente, em
virtude do amparo, assistência e defesa que a população de Timor-Leste encontrou na Igreja
Católica do Timor-Leste, não só no aspecto de resistência política, mas de resistência social,
cultural e até religiosa, já que também a população, tornando-se Católica, encontrou na
Igreja uma maneira de preservar a transmissão e herança da religiosidade tradicionalanimista timorense. Esse amálgama religioso constituiu uma religiosidade de práticas tanto
Católicas quanto Tradicional-animistas, constituindo, assim, um sincretismo de ritos e
símbolos – sincretismo religioso.
Afora as questões de natureza religiosa, observamos que a nação conceptualizada sob a forma de casa
converte-se em espaço de interação intergeracional, em que se “articulam processos de identificação e
pertença” (MENDES, 2005, pp. 110-111), o que é ainda reforçado pelo fato de as atividades – rituais e
políticas – realizarem-se nas umalulik de forma pública e performática (existe um “iniciado” responsável por
estabelecer a relação entre os vivos e os mortos, por exemplo). Portanto, é “[...] inegável o valor simbólico
da casa enquanto matriz e a sua assimilação à nação, como casa comum de todos os timorenses” (MENDES,
2005, p. 115).
Além da dimensão material – ilustrada pelas uma lulik –, o processo de edificação de identidades
também se apoia no que Anderson (2009) denominou de “comunidades imaginadas” e sobre as quais
discorreremos a seguir.
2 A identidade como produto de “comunidades imaginadas”
De acordo com o posicionamento de Smith (1997), a identificação do indivíduo com uma comunidade
política possui base ideológica ocidental e étnica, nas sociedades não ocidentais. No Ocidente, a identidade
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do indivíduo baseia-se em uma relação ideológica e cívica com a nação; nas comunidades não ocidentais, em
contrapartida, a ênfase à construção identitária é dada à origem étnica e cultural de pertencimento. Assim,
tomando como ponto de partida a perspectiva ideológica, o autor (p. 14) apresenta cinco atributos basilares
da identidade nacional: i) um território histórico; ii) a existência de histórias coletivas e mitos comuns; iii)
uma cultura pública de massa compartilhada; iv) direitos e deveres legais comuns a todos os membros e, por
fim, v) uma economia comum com possibilidade de mobilidade para todos os membros. Já, da perspectiva
da etnicidade, Smith (1997, p. 21) define seis características que participam da conformação da identidade:
i) um nome coletivo próprio; ii) um mito ancestral comum; iii) memórias históricas compartilhadas; iv) um ou
mais elementos diferenciadores de uma cultura comum; v) a associação com uma “pátria” específica; vi) um
senso de solidariedade com setores significativos da população.
Considerando esses elementos em seu conjunto, Smith (1997) defende que a identidade está imbuída
de certa instrumentalidade, a qual serve a uma elite política, que, com o propósito de mobilizar a população,
lança mão dessa identidade de forma sistemática, convertendo-a em uma ideologia nacionalista, cujo
propósito é forjar a unidade política da nação. Desse modo, observa-se que o poder político pode transformar
as raízes históricas e étnicas em discursos, a fim de promover interesses individuais ou coletivos. Nas palavras
de Smith (1997, p.20): “...esse poder aumenta imensuravelmente pela presença viva das tradições, que
incorporam os símbolos memórias, mitos e valores oriundos de eras muitos anteriores na vida de uma
população, comunidade ou área. ”.
No caso específico de Timor-Leste, os valores ancestrais ainda continuam preservados, conforme
apresentamos ao tratar das uma lulik, mesmo após os dois períodos coloniais por que passou o país, e da
influência de atores internacionais envolvidos diretamente no seu processo de reconstrução (Brasil, Portugal
e Austrália, principalmente).
[...] as casas sagradas não foram totalmente eliminadas. Tornaram-se um bastião da cultura
e da identidade timorense dotada de uma estrutura simbólica. Muitas foram destruídas
durante a guerra de invasão Indonésia e em 1999 foram objecto de ataque específico como
uma fonte de resistência timorense [...]. (SOUZA, 2007, p. 201)
A esse conjunto de valores que estão arraigados no seio de dada população, comunidade ou área,
considerado uma identidade natural e pré-existente, Smith (1997) dá o nome de etnicidade, esta, quando
instrumentalizada por uma elite política como projeto de construção de uma nação, converte-se em
identidade nacional. Nesse sentido, o autor (1997) postula que as nações erigem-se de identidades étnicas e
de todos os elementos subjacentes a elas, como os culturais, históricos, cívicos, ideológicos e políticos.
Na mesma perspectiva de construção instrumental de identidades nacionais, Anderson (2009) defende
a tese de que toda nação deve ser considerada “uma comunidade política imaginada”, pois, mesmo na menor
das nações, jamais todos os membros poderão conhecer, encontrar ou ouvir falar da maioria dos outros
membros, embora haja em suas mentes a imagem de comunhão nacional. Nesse sentido, compete ao Estado,
por meio da mobilização de seus instrumentos simbólicos, forjar uma identidade nacional, ou seja, trata-se
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da “invenção de nações onde estas não existem”. Os nacionalismos – e as identidades nacionais, por extensão
–, portanto, não seriam resultado de uma autoconsciência, se não um produto artificial das escolhas de
conteúdos simbólicos realizadas, de forma utilitária, pelo Estado (ou pelo grupo que busca representá-lo
legitimamente).
Quando se trata da análise da situação de Timor-Leste, Anderson (1993, s/p)5, postula que as
comunidades imaginadas não resultam unicamente da soma de crenças de um grupo nacional específico,
pois, além da existência física dos indivíduos, elas manifestam sua existência por meio de símbolos, práticas
institucionais e discursivas. “[…] from the start the nation was conceived in language, not in blood, and that
one could be ‘invited to’ the imagined community6”. Nesse sentido, então, a nação leste-timorense passa a
ser compreendida como uma soma de representações culturais, pois o que é imaginado tem de ser
representado, o que, necessariamente, demanda um processo intermitente de criação.Para Mendes (2005,
p. 441), a construção da nação leste-timorense “se deve à edificação e disseminação de narrativas, assim, a
ideia de comunidade nasce da experiência histórica e de uma mitologia” e, desse modo, constitui um
“processo de invenção, de dentro para fora, configurando um projecto político que se pretendia concretizar
em Estado e que daria unidade à diversidade de identidades, criando um povo timorense”.
Subjacente à criação instrumental de narrativas, as uma lulik, ao condensarem elementos importantes
da cultura autóctone, surgem como parte do patrimônio material sob o qual se preservam símbolos que
conformam a identidade leste-timorense, entre os quais se destacam: os elos com os antepassados; um local
de cerimônias em que tradição e modernidade encontram espaço harmônico de expressão, o que contribui
para aedificação de identidades caracterizadas pela plasticidade, pois, no mesmo espaço sagrado, coexistem
práticas religiosas sincréticas como os rituais animistas e os da liturgia cristã; representa, metaforicamente,
por meio das colunas masculinas e femininas, a importância da união entre homens e mulheres na
construção de uma base sólida da nação, figurativizada pela casa propriamente dita, isto é, constitui um
princípio organizador das práticas sociais.
Considerações finais
Diante das demandas de um mundo marcado pela velocidade e pela volatilidade de valores, voltarmos
nossa atenção para a análise da sociedade leste-timorense e para algumas de suas idiossincrasias relativas à
preservação das culturas tradicionais, permite-nos reconhecer a importância dos símbolos para a
conformação de identidades, por isso, buscamos destacar a importância das casas sagradas como elemento
5
Não nos é possível localizar cada referência na página uma vez que o documento encontra-se em formato HTML.
Tradução nossa: Desde o início, a nação foi concebida pela língua, não pelo sangue, e qualquer um pode ser “convidado” para a
comunidade imaginada.
6
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– atemporal – responsável pela conservação e pela reafirmação de traços identitários considerados
relevantes e dignos de serem legados como herança às próximas gerações de Timor-Leste.
A partir dos relatos de atores leste-timorenses, reconhecemos que as uma lulikcorrespondem a uma
forma de ser e de estar no mundo – em suma: conformam projetos identitários – e revelam-se como signos
de resistência, corroborando a tese de Smith (1997) de que, nas sociedades orientais, a etnicidade é o maior
fator de promoção de pertença e identificação entre os indivíduos.
Além disso, como produtos de disputas pelo poder de criar significados, as casas sagradas integram
um projeto de construção de “comunidades imaginadas” e condensam em si narrativas e conteúdos
simbólicos cujo propósito é criar um referencial comum ancestral entre os indivíduos que compõem a nação
possibilitar-lhes a construção de uma identidade nacional.
Na sociedade contemporânea, marcada por rupturas, fragmentações e descontinuidades identitárias,
as uma lulik – e sua função como um dos paradigmas sobre os quais se assenta da construção da identidade
leste-timorense – seguem em direção radicalmente oposta: são a continuidade, a preservação e a tradição
as responsáveis pela constituição de um projeto de identidade nacional que se pretende legítimo, por estar
arraigado na cultura local, preservado pela memória; e desvinculado – ainda que parcialmente – das
demandas desterritorializadas da sociedade pós-moderna.
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em:
Como citar este capítulo:
SILVA, Alexandre Marques. Uma lulik: o sagrado na expressão da identidade nacional leste-timorense. In:
GONÇALVES-SEGUNDO, Paulo Roberto; PEDRO, Adriana Moreira; OLIVEIRA, Agildo Santos Silva de; SILVA,
Alexandra Marques; SOUZA, Douglas Rabelo; BRITTO-COSTA, Letícia Fernandes de; KOBAYASHI, Sergio
Mikio. Discurso e identidade: múltiplos enfoques. São Paulo: FFLCH, 2018, p. 291-304. DOI:
http://dx.doi.org/10.11606/9788575063361
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