MEMÓRIA FERROVIÁRIA E
CULTURA DO TRABALHO
conselho editorial
Ana Paula Torres Megiani
Eunice Ostrensky
Haroldo Ceravolo Sereza
Joana Monteleone
Maria Luiza Ferreira de Oliveira
Ruy Braga
MEMÓRIA FERROVIÁRIA E
CULTURA DO TRABALHO
Perspectivas, métodos e perguntas interdisciplinares sobre o
registro, preservação e ativação de bens ferroviários
Eduardo Romero de Oliveira
(organização)
Copyright © 2017 Eduardo Romero de Oliveira
Graia atualizada segundo o Acordo Ortográico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.
Edição: Haroldo Ceravolo Sereza
Editora assistente: Larissa Polix
Projeto gráico, diagramação e capa: Danielly de Jesus Teles
Assistente acadêmica: Bruna Marques
Revisão: Alexandra Colontini
Imagens da capa: Área interna da antiga Oicina da Companhia
Mogiana, em Campinas (SP), com vista para o pátio ferroviário
abandonado e centro atual da cidade. Autoria de Eduardo Romero de Oliveira.
Este livro foi publicado com apoio da Fapesp, nº do processo 2016/00718-7
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj
m 487
memória ferroviária e cultura do trabalho: perspectivas, métodos e perguntas interdisciplinares
sobre o registro, preservação e ativação de bens
ferroviários
Organização Eduardo Romero Oliveira - 1. ed.
São Paulo : Alameda, 2017.
21 cm.
Inclui bibliograia
ISBN 978-85-7939-481-2
1. Brasil - História - I. Oliveira, Eduardo Romero de. II
Título
17- 42537
cdd: 385.0981
cdu: 656.2(81)
ALAMEDA CASA EDITORIAL
RUA 13 DE MAIO, 353 – BELA VISTA
CEP 01327-000 – SÃO PAULO, SP
TEL. (11) 3012-2403
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Sumário
7
Prefácio
9
Rumo a uma renovação metodológica e conceitual das relações entre
história e patrimônio
Julián Sobrino Simal
23
I. A multiplicidade histórica do ferroviário: processos, discursos e signos
25
Memória ferroviária: perspectivas e desaios na investigação multi e interdisciplinar sobre patrimônio cultural
Eduardo Romero de Oliveira
69
Uma abordagem da História da Ferrovia no Brasil (1850- 1950): legislação, empresas e capitais britânicos
Domingo Cuéllar, Eduardo Romero de Oliveira e Lucas Mariani Corrêa
121
Sobre a convergência de processos históricos e a gestão do patrimônio
ferroviário (Brasil e Argentina)
Mónica Ferrari e Eduardo Romero de Oliveira
147
Espaços de trabalho e produção ferroviária: estudos sobre termos técnicos
ferroviários (São Paulo, 1868- 1930)
Eduardo Romero de Oliveira e Ivanir de Azevedo Delvizio
181
Arqueologia da industrialização
Juan Manuel Cano Sanchiz
217
II. A ativação como conservação do patrimônio feroviário: preservar, intervir e difundir
219
Laboratório americano de paisagens históricas da produção: o laboratório
como proposta de experimentação e gesto contemporâneo
Enrique Larive Lopez
237
A Estrada de Ferro Fulinense e a formação da região metropolitana de
Campinas: um patrimônio de várias cidades
Maria Cristina da Silva Schicchi, Renata Ocanha Góes e Ana Laura Evangelista
283
Arqueologia industrial, arqueologia pública e o patrimônio ferroviário:
uma perspectiva histórica
Pedro Funari e Tobias Vilhena
299
As bibliotecas dos museus ferroviários paulistas: diretrizes arquitetônicas
a partir da avaliação pós ocupação
Samir Hernandes
331
Rotas, circuitos e itinerários: a aplicação de novas categorias patrimoniais
e turísticas no Brasil
Eduardo Romero de Oliveira e Renata Maria Ribeiro
Prefácio
Os textos presentes neste livro consolidam uma trajetória de pesquisa e resultados sobre a preservação sobre o patrimônio ferroviário no estado de São Paulo.
Ao mesmo tempo, apontam uma agenda de pesquisa para os próximos anos, linhas
de pesquisa possíveis de desenvolvimento pelos pesquisadores colaboradores nesta
publicação ou pelo menos alguns exemplos de investigações sobre a temática do
patrimônio ferroviário.
A proposta deste livro surgiu do interesse de iniciar pesquisas conjuntas, proposto por pesquisadores do quilate de Pedro Paulo Funari (UNICAMP) e Maria
Cristina Schicchi (PUC-Campinas). Dentre as possibilidades de investigações e a
busca por temas interesse comuns, chegou-se ao patrimônio industrial ferroviário
como a temática mais adequada para desenvolver estudos sobre preservação e educação patrimonial, além do turismo industrial. Somou-se a isso, a nossa colaboração
já existente com investigadores estrangeiros sobre a mesma temática: Julián Sobrino
Simal (Universidade de Sevilla), Domingo Cuéllar Villar (RENFE), Monica Ferrari
(Universidad de Tucumán), Enrique Lopez (Universidad de Sevilla). Pesquisadores
8
Eduardo Romero de Oliveira (org.)
cujo vigor de trabalho e esforço intelectual tem sido nossa referencia, e com o qual
cultivamos grata amizade. Assim, entre o apuro intelectual e a empatia, izeram-se reuniões de trabalho, pequenos ensaios metodológicos e seminários ao longo
de 2014 e 2015 para discutir linhas teóricas, frentes de pesquisa e metodologias. O
acúmulo de resultados e experiências de pesquisa obtidos em investigações anteriores, trouxe a colaboração imediata de antigos colaboradores como Samir Hernandes
(UNESP) e Ivani Delvizio (UNESP); e novos como Renata Maria Ribeiro (UNESP).
Além de pós-doutorados e orientandos que se viram enredados no desenvolvimento das possibilidades, como Juan Manuel Cano Sanchiz (Pós-doutorando/UNESP),
Tobias Vilhena (Pós-doutorando/UNICAMP), Lucas Mariani Corrêa (doutorando/
UNESP), Renata Ocanha Góes (mestre/PUC-Campinas), Ana Laura Evangelista
(graduada/PUC-Campinas) - outros em participações ou atividades de apoio às
equipes, como Isabela Frederico (doutoranda/UNICAMP), Ewerton Henrique de
Moraes (mestre/UNESP), Priscila Kammilyn Araujo (mestranda/UNESP), Rafaela Rondon Rogato (mestranda/UNESP). Ao longo deste percurso, outros investigadores nacionais e estrangeiros acabaram também contribuindo com suas idéias
ou troca de experiências, como Roger White (University of Birmingham), abrindo
instigantes possibilidades futuras de investigação.
As propostas aqui esboçadas neste livro são resultados dos percursos intelectuais, das colaborações pré-existentes e das amizades formadas aos longo de 2 anos de
formulações das propostas. Assim com expressam o alto potencial de investigação
na área das Humanidades, quando se sai da pesquisa individual isolada e nos aventuramos nas colaborações com equipes de pesquisa e instituições. Acreditamos que
alguns temas atuais de pesquisa podem avançar muito com esta atitude.
Arqueologia Industrial, Arqueologia
Pública e o Patrimônio Ferroviário:
uma perspectiva histórica
Pedro Funari
Tobias Vilhena
UNICAMP
Introdução
O presente artigo tem como principal objetivo reletir, de forma sucinta, sobre possíveis abordagens da relação entre Patrimônio e Arqueologia numa perspectiva que visa compreender como se constrói o envolvimento das comunidades
locais e do público em geral com a percepção dos valores culturais e a construção
identitária em torno do patrimônio industrial paulista, mais especiicamente de
seu patrimônio ferroviário.
Esta perspectiva vem sendo desenvolvida dentro do Projeto Memória Ferroviária, coordenado Laboratório de Patrimônio Cultural da Unesp e que conta com a
participação de universidades estrangeiras e brasileiras. Dentre estas, o Laboratório
de Arqueologia Pública Paulo Duarte da Unicamp (LAP).
O projeto coordenado pelo LAP tem como principal objetivo a construção de
interações entre instâncias públicas e privadas tendo como foco os conjuntos patrimoniais escolhidos no escopo deste projeto. Por último, terá por compromisso colaborar na articulação da plataforma de divulgação dos estudos e projetos desenvolvidos,
284
Eduardo Romero de Oliveira (org.)
visando à intercomunicação permanente entre pesquisadores, comunidade, agentes
públicos, educadores e público geral. Terá como objeto de estudo as comunidades que
estão diretamente localizadas no entorno do antigo patrimônio ferroviário paulista e
que deverão ser estudadas sob o ponto de vista da Arqueologia Pública.
Para tanto, a equipe do Laboratório de Arqueologia Pública da Universidade de
Campinas (LAP/UNICAMP) buscará desenvolver atividades de educação patrimonial e de caráter técnico-cientíico nas escolas e com as comunidades locais. Além
das recentes discussões teóricas sobre os temas especíicos abordados acerca a prática
Arqueológica Industrial, serão trabalhados textos e questões relativas a temáticas relacionadas ao Patrimônio Ferroviário. Os conceitos postos em prática nesta etapa do
projeto não são novos e já são parte das práticas mais avançadas aplicadas no campo
do patrimônio arqueológico em órgãos de preservação no Brasil e no exterior.
Arqueologia Pública
O Laboratório de Arqueologia Pública da Universidade Estadual de Campinas
resulta de longa trajetória de engajamento da Universidade com a Arqueologia, em
uma perspectiva cientíica fundada na excelência acadêmica, na inserção internacional e no engajamento social. A Unicamp surgiu em meio a um regime de força,
inspirado no MIT e voltada para os saberes técnicos que pudessem transcender os
questionamentos políticos que advinham das universidades de referência à época e
cujos quadros foram golpeados de forma mais dura: a Universidade de São Paulo e
a Universidade Federal do Rio de Janeiro. A Universidade Estadual de Campinas,
fundada em 1966, no entanto, logo teve no desaio de produzir ciência de relevância
internacional não um obstáculo, mas um meio de contrapor-se às exações políticas
que grassavam alhures na academia, ao acolher cientistas notáveis perseguidos tanto
no Brasil, como em outros países latino-americanos sob o jugo ditatorial. Em pouco
tempo, a Unicamp despontava não apenas no âmbito cientíico, stricto sensu, como
na originalidade de adotar perspectivas transdisciplinares, na busca por inserção
mundial, na ênfase em ciência aplicada e políticas públicas e na atuação voltada para
a sociedade, em sua diversidade.
Tudo isto se reletiu no surgimento precoce do interesse da Universidade por
uma Arqueologia relevante para a sociedade. Enquanto práticas e abordagens reacionárias e conservadoras eram predominantes e espíritos críticos eram silenciados,
como no caso notável do fundador da USP e pioneiro da Arqueologia humanista Paulo Duarte (1899 – 1984), expulso da Universidade de São Paulo, em 1969, a
Memória ferroviária e cultura do trabalho
Unicamp abria-se para práticas e abordagens libertárias. Acolheu o acervo de Paulo
Duarte e trouxe a Professora Niède Guidon, a quem Duarte havia aberto as portas
para aprender com os arqueólogos pré-historiadores mais renomados e amantes da
liberdade, para atuar no Núcleo de Pesquisas Arqueológicas – Nipar (1986 – 1991).
Aberta essa seara, a Arqueologia na Unicamp desenvolveu-se nos aspectos constitutivos tanto da Universidade, como da disciplina, em termos mundiais: em interação
com a ciência mundial, em perspectiva transdisciplinar, engajada com a sociedade e
em luta pela liberdade e pelo respeito à diversidade.
Pesquisas arqueológicas de variado gênero foram levadas a cabo, diversas delas
de expressão social, acadêmica e de repercussão internacional. O Laboratório de
Arqueologia Pública resulta, portanto, de um esforço continuado e de parcerias com
estudiosos e instituições no Brasil e no estrangeiro, como destaque para o World
Archaeological Congress.
A cultura material como bem público no Brasil
Neste sentido, o próprio Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), desde sua criação no ano de 1937, já demonstrava, em seus documentos
internos, a importância da realização de ações educativas para promoção, proteção
e preservação do patrimônio nacional.
Diversas iniciativas voltadas para destacar o papel pedagógico dos museus foram executadas entre os anos de 1937 e 1970, se concentrando, sobretudo, na criação de museus e no incentivo a exposições; no tombamento de coleções e acervos
artísticos e documentais, de exemplares da arquitetura civil, religiosa, militar, assim
como incentivando algumas publicações técnicas e de divulgação jornalística, com
vistas a sensibilizar o público .1
A partir de meados da década de 1970 a questão foi abordada de modo cada
vez mais incisivo. De início, com a criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC). Este Centro propunha uma ampla discussão sobre os sentidos da
preservação, convergindo para a ampliação da concepção de patrimônio. Para tanto,
destacava a necessidade de promover modelos de desenvolvimento econômico au-
1
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Educação
patrimonial: histórico, conceitos e processos. Brasília: IPHAN/MINC, p. 6, 2014.
285
Eduardo Romero de Oliveira (org.)
286
tônomos, ao mesmo tempo em que a valorizava a diversidade regional e os riscos da
homogeneização e perda da identidade cultural da nação.2
O CNRC tinha como uma das principais metas impedir o esmagamento dos
valores da formação cultural brasileira, tendo em vista o acelerado processo de desenvolvimento econômico e à expansão dos meios de comunicação de massa no
período conhecido como o Milagre Econômico Brasileiro (1968-1973).
Desta forma, foi elaborado um sistema de coleta, processamento e divulgação
de informações, que tinha como objetivo fortalecer o planejamento e a execução de
ações e a consolidação de um sistema de referência básico, e de abrangência nacional, de informações sobre a cultura brasileira.3
Este novo enfoque considerava os sujeitos envolvidos na dinâmica da produção, da circulação e do consumo de bens culturais. Sujeitos legítimos detentores do
‘saber-fazer’ e agentes ativos do destino de sua própria cultura.4
As diretrizes teóricas e conceituais defendidas e os métodos empregados pelo
CNRC foram um importante contributo para o estabelecimento de novos parâmetros no campo do patrimônio, contribuindo para uma interlocução abrangente entre
a preservação do patrimônio cultural brasileiro e os diversos processos educacionais
Como exemplo deste processo de construção de política de gestão na área foi
formulado, em 1981, o Projeto Interação. Este projeto buscava o fortalecimento das
condições necessárias onde o trabalho educacional pudesse acontecer. Logo, a dinâmica cultural, a pluralidade e a diversidade cultural brasileira foram consideradas
como elementos referenciais no campo. Por sua vez, a cultura e a educação foram
tratadas como ferramentas indissociáveis, estando diretamente vinculadas com a
Educação Básica e os diferentes contextos culturais dos alunos. Professores e membros da comunidade eram atraídos, devendo participar, de forma ativa, de todos os
níveis do processo educacional.
Este desenvolvimento de ações sociais efetivas e transformadoras no campo patrimonial brasileiro não estava distante das principais discussões sobre o patrimônio
2
Ibidem, p. 7.
3
Ibidem, p. 6.
4
OLIVEIRA, Eduardo Romero de ; Arquitetura Industrial, Patrimônio Industrial e sua difusão
cultural. In: Funari, Pedro Paulo Abreu; Campos, Juliano Bittencourt; Rodrigues, Marian Helen
S.G.. (Org.). Arqueologia Pública e patrimônio: questões atuais. 1ed. Criciúma/SC: UNESC, 2015,
v. 1, p. 197-226.
Memória ferroviária e cultura do trabalho
cultural internacional e mais especiicamente o arqueológico.5 Sobretudo a partir da
década de 1970, quando inluenciado por teorias marxistas e pós-processualistas
uma nova visão sobre os papéis da ciência arqueológica e a educação surge, criando-se o conceito de Arqueologia Pública.6
Neste período, arqueólogos passam a reletir sobre as funções sociais da Arqueologia e como deveriam ser estabelecidas as relações entre os acadêmicos, o processo investigativo e a sociedade. O livro Public Archaeology (1972), lançado pelo
pesquisador norte-americano Charles Robert McGimsey, professor de Antropologia
da Universidade da Lousiana, pode ser considerado hoje o texto que trouxe, pela
primeira vez, à baila esta discussão.7
No continente europeu, mais especiicamente na Inglaterra, o enfoque voltado
para a comunidade durante projetos de arqueologia e patrimônio eram raros antes
dos anos 1970. Somente durante a execução do projeto de preservação RESCUE:
he British Archaeological Trust (1971), SAVE Britain’s Heritage (1975) e he Interpretation of Britain’s Heritage (1975), inicia-se o engajamento entre a Arqueologia e
o patrimônio.8 Os trabalhos de americanos e ingleses colocaram a ‘comunidade’ no
centro dos trabalhos de pesquisa em arqueologia.9
A partir desse momento uma nova noção de patrimônio passa a defendida,
muito mais ativa e engajada. Os parâmetros de atuação são pensados de forma a
efetivar um vínculo mais forte entre a comunidade e público e sua defesa para as
futuras gerações.
A cristalização desta mudança pode ser notada hoje através da assinatura de
um novo aparato legal em defesa do patrimônio arqueológico inglês: o Ancient Monuments and Archaeological Areas Act, de 1979, e o National Heritage Act, de 1983,
e o Planning Act, de 1990.10
5
FUNARI, P.P.A. ROBRAHN-GONZÁLEZ, E. Editorial, Arqueologia Pública, 1, 2006.
6
HOLTORF, Cornelius. From Stonehenge to las Vegas: archaeology as popular culture. Oxford: Altamira Press, 2005.
7
MERRIMAN, Nick. Introduction – diversity and dissonance in public archaeology. In: MERRIMAN, Nick (Org.). Public archaeology. Londres: Routledge, 2004.
8
CRESSEY, P. J.; REEDER, R.; BRYSON, J. Held in trust: community archaeology in Alexandria,
Virginia. In: DERRY, L.; Malloy, M. (Eds.). Archaeologists and local communities: partners in exploring the Past, 1-17. Washington, D.C.: Society for American Archaeology, 2003.
9
WATERTON, E.; SMITH, L. Heritage, communities and archaeology. London: Bristol Classical
Press, 2009.
10 Ibidem.
287
Eduardo Romero de Oliveira (org.)
288
No Brasil, é em particular com a abertura democrática nos anos 1980, que a
Arqueologia Pública ganha espaço para se desenvolver. Podemos dizer que um dos
momentos mais marcantes deste período foi a introdução da Educação Patrimonial,
como metodologia de trabalho a partir de ações desenvolvidas por Maria de Lourdes
Parreiras Horta.
Este conceito, desenvolvido de início na Inglaterra, abarcava uma noção de
patrimônio que partia de objetos tais como utensílios e vestígios materiais. Estes
permitiriam conhecermos como as pessoas se socializavam e viviam em diferentes
tempos. A prática arqueológica e os bens de cultura material seriam utilizados como
instrumento de interação com o público.
Além da elaboração de legislações estaduais de proteção dos sítios, monumentos
e coleções arqueológicas, o im do regime autoritário oportunizava depois de duas
décadas a construção de espaços de comunicação entre os pesquisadores, suas práticas
arqueológicas e um contato mais democrático entre o pesquisador e a sociedade.
O diálogo Patrimônio Industrial e a Arqueologia:
um breve histórico
Na arqueologia, o estudo das fábricas, moinhos, máquinas a vapor e estradas de
ferro sofre uma grande expansão a partir da década de 1950 na Inglaterra. Sobretudo,
as ações desenvolvidas naquele país tinham como principal objetivo desenvolver métodos que auxiliassem em ações de preservação dos antigos vestígios da industrialização. Esta nova perspectiva ajudou abrir um novo campo de investigação cientíica.11
Naquela mesma década, alguns trabalhos no âmbito acadêmico ajudaram a
fortalecer este novo campo de pesquisa. Como exemplo disso, temos os trabalhos
de Michael Rix, em articular seu artigo Industrial Archaeology publicado na revista
Amateur Historian (RIX: 1955), que contribuiu enormemente para a ampliação do
espaço dessa área nas instituições de pesquisa.
Posteriormente, o próprio Council for British Archaeology (CBA), organismo
não-governamental britânico, organizou em 1959 a primeira conferência nacional
de Arqueologia Industrial, evento que ajudou a estimular o governo britânico na
consolidação de um inventário dos monumentos industriais britânicos com o intuito de identiicar e avaliar sítios a serem protegidos. Esta discussão estava relacionada
11 ROSA, Carolina Lucena. O patrimônio industrial: a construção de uma nova tipologia de patrimônio. In: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.
Memória ferroviária e cultura do trabalho
à crescente demolição de antigos edifícios industriais e os planos para substituir
antigas estações ferroviárias por novas, como na Euston Station, em Londres, perto
da University College London (UCL). 12
A partir destas iniciativas britânicas diversas outras passaram a ocorrer em todo
mundo. O Primeiro Congresso Internacional para a Conservação dos Monumentos
Industriais (FICCIM), ocorreu em 1973 na instituição recém-inaugurada Ironbridge George e contou com com a participação de diversos especialistas vindos do Canadá, Estados Unidos, Holanda, Suécia, Irlanda, Alemanha Oriental e Ocidental .
Por sua vez, no Brasil, os debates sobre o patrimônio industrial além de terem
ocorrido de forma bem mais tardio ainda são muito incipientes no meio acadêmico.
Desta feita, práticas governamentais que ajudem a proteger os bens ainda existentes
são escassas. Esta defasagem ica ainda mais clara quando comparamos ações aplicadas em outros países latino-americanos, como Chile e o México, onde já existe
uma tradição de inventariação e conservação consolidada.13
Ao longo das últimas décadas, a destruição de estruturas arquitetônicas do patrimônio industrial somadas a projetos mal-sucedidos de reutilização e restauro provocaram danos irreversíveis ao patrimônio industrial. Diante deste cenário preocupante,
surgiram iniciativas de estudiosos estudos e ações de proteção (Rosa, 2011).
Artigos acadêmicos e esforços preservacionistas ajudaram a consolidar um
novo olhar sobre o tema no país. Dentre estes merecem destaque o artigo pioneiro
intitulado “Fábrica São Luiz de Itu: Um Estudo de Arqueologia industrial” de Warren Dean, de 1976. Das atividades para preservação do patrimônio industrial merece destaque o “Mapa do Patrimônio Industrial” da Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo (FESP-SP) que propôs identiicar e registrar antigas estruturas
industriais existentes no município de São Paulo.
Além do interesse acadêmico, o número de monumentos e sítios protegidos,
assim como a reutilização de bens vinculados ao passado industrial têm crescido de
forma signiicativa no país. Talvez o melhor exemplo a ser destacado dentro desta
nova perspectiva seja a conversão da antiga Estação da Luz de São Paulo (1867) no
Museu da Língua Portuguesa.
Cabe destacar, no entanto, que várias das primeiras ações governamentais não
foram desenvolvidas com o intuito de preservar dentro de uma categoria de patri-
12 Ibidem.
13 Ibidem.
289
290
Eduardo Romero de Oliveira (org.)
mônio industrial. As próprias ações do IPHAN tinham de início uma perspectiva
muito mais vinculada ao passado colonial, ou de vinculação com o fortalecimento
do estado nacional na década de 30.14
Como exemplo destas perspectivas podemos destacar o engenho de canas em
Candeias na Bahia (tombado em 1943), a cidade mineira de Ouro Preto (tombada
em 1933) e a Real Fábrica de São João de Ipanema, em Iperó, São Paulo (tombada em
1964). Todos estes edifícios foram tombados mesmo antes do nascimento do debate sobre o patrimônio industrial no país (Rosa, 2011; Moreira, 2007). A Arqueologia
envolveu-se de forma tardia com o tema e isto por diversos motivos. Em primeiro
lugar, por sua trajetória como disciplina acadêmica, após a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). Com o retorno do exílio do humanista Paulo Duarte, houve a introdução
de uma perspectiva humanista, preocupada com os vestígios dos antigos habitantes
do continente, que levou à lei de proteção arqueológica de 1961, voltada para as jazidas pré-históricas. Logo após o golpe militar, foi implantado um Programa Nacional
de Pesquisas Arqueológicas – Pronapa, baseado em Washington e com apoio do governo militar brasileiro, contrário ao humanismo, de cunho empírico e fundado em
uma perspectiva determinista ecológica que justiicava o domínio norte-americano do
mundo e o subdesenvolvimento, como se dizia à época, da América Latina. 15
O panorama começou a mudar com a anistia (1979), a eleição de governos estaduais por voto direto (1982) e com o retorno dos civis (1985), do estado de direito
e com a constituição (1988).
A Arqueologia passou a ocupar-se de temas mais relevantes para a sociedade, o
que abriu espaço para a Arqueologia Histórica e, dentro dela, a Arqueologia Industrial, assim como para temas do patrimônio industrial.16
A indústria pode ser entendida no sentido estrito ou mais amplo. No primeiro
caso, a expressão e a pesquisa se referem à indústria que nasceu no século XVIII e
que se expandiu pelo mundo, nos seguintes, ao congregar operários em fábricas.
Portanto, neste aspecto, mais do que a propriedade desse meio de produção, está em
jogo o tipo de produção, de modo que a indústria em países capitalistas ou na União
14 KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do Patrimônio Arquitetônico da Industrialização: problemas
teóricos de restauro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.
15 FUNARI, P. P. A.; L’archéologie brésilienne au cours des vingt dernières années. Perspective, v. 2,
p. 269-287, 2014.
16 ANDREATTA, M. O Engenho São Jorge dos Erasmos: prospecção arqueológica, histórica e industrial, Revista USP, 1999, 41, 28-47.
Memória ferroviária e cultura do trabalho
Soviética, por exemplo, embora em sistemas diversos, constituía uma unidade de
produção, objeto inicial de interesse da Arqueologia Industrial.17
Há dois sentidos mais amplos. Indústria pode referir-se a todo engenho humano, de onde deriva a expressão comum no estudo pré-histórico: indústria lítica.
Da mesma forma, pode aplicar-se ao mundo antigo, greco-romano, ou medieval .
Outra conotação refere-se ao mundo industrial moderno, mas que não se restringe
ao ambiente fabril, ao englobar toda a materialidade resultante do industrialismo,
como seriam, por exemplo, as estradas de ferro, as casas e edifícios pré-fabricados
ou mesmo os artefatos industriais, como as garrafas. 18
Os estudos sobre a indústria lítica desenvolveram-se antes, assim como os
relativos à cerâmica, também resultado de trabalho humano (indústria), mas em
contexto distante da realidade contemporânea. Já o estudo dos ambientes industriais modernos, ligados à escravidão, primeiro, e ao trabalho assalariado, em seguida, tardou, em grande parte, devido à situação política no país e no interior da
disciplina arqueológica.19
O estudo do mundo moderno iniciou-se por empreitadas como as missões jesuíticas e os quilombos e, portanto, à manufatura, mas de maneira indireta, nas décadas
de 1980 e 1990. Foi apenas no século XXI que surgiram mais análises de contextos
industriais, com destaque para a pesquisa das fazendas escravistas e de fábricas .20
O estudo do patrimônio ferroviário também pode ser considerado parte desse
processo .21 Isto revela uma ampliação do engajamento social da disciplina, em paralelo com o avanço da Arqueologia Pública.22
17 KÜHL, Beatriz Mugayar. Patrimônio industrial: algumas questões em aberto, usjt - arq.urb - número 3/ primeiro semestre de 2010, 23-30. KÜHL, Beatriz Mugayar. Preservação do Patrimônio
Arquitetônico da Industrialização: problemas teóricos de restauro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.
18 CANO SANCHIZ, J. M. ; LEÓN, E. ; SALINAS, E. . La industria medieval de Córdoba: el sector
occidental en época islámica. In: VAQUERIZO, D.; MURILLO, J.F.. (Org.). El Aniteatro romano
de Córdoba y su entorno urbano. Análisis arqueológico (ss. I-XIII d.C.), Monografías de Arqueología Cordobesa 19, vol. II. 1ªed. Córdoba (Spain): Grupo de Investigación Sísifo, Universidad de
Córdoba, 2010, v. II, p. 685-699.
19 FUNARI, PEDRO PAULO A. ; Charles E. Orser, Jr. (Org.) . Current Perspectives on the Archaeology of African Slavery in Latin America. 1. ed. New York: Springer, 2015.
20 TEGA, Glória. Fábricas contam sua história. Cienc. Cult. [online]. 2013, vol.65, n.3 [cited 201512-12], pp. 12-13
21 OLIVEIRA, Cléo Alves Pinto. Educação Patrimonial no Iphan. [Monograia de Especialização] Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), Brasília, 2011.
22 OLIVEIRA, Eduardo Romero de; Arquitetura Industrial, Patrimônio Industrial e sua difusão cul-
291
292
Eduardo Romero de Oliveira (org.)
Potencialidades do Patrimônio Industrial
e a Arqueologia Pública
Há um imenso potencial para o estudo e para as ações em relação ao patrimônio
industrial, em particular a partir da experiência epistemológica e prática da Arqueologia Pública. Neste novo século XXI, tanto no mundo como no Brasil, tem havido esforço para que o patrimônio, em geral, e industrial, em particular, sirva como motivo
para relexão sobre o nosso próprio mundo, como maneira de melhor conhecer as particularidades materiais a que estamos submetidos. Isto icou ainda mais evidente com
duas mudanças resultantes dessa revolução industrial dos últimos séculos, a começar
pela urbanização. Foi apenas neste momento que os seres humanos, pela primeira vez
na História, passaram a viver, em sua maioria em cidades, segundo as Nações Unidas.
Isto signiica uma separação de todo o restante de sua milenar História, em que a
maioria viveu no campo . A sociedade industrial, com relações face a face, em ambiente artiicial, criado pelos humanos, passou a predominar.23
Em paralelo, e em grande parte em consequência dessa mesma industrialização,
o planeta tem sido afetado por emissões de gases de efeito estufa, com aquecimento
global, além de crescente poluição ambiental, apenas mitigada de forma parcial pela
tecnologia industrial .24 Portanto, mais do que nunca, a indústria está no centro das
preocupações. Em particular, a materialidade criada por esse mundo industrial tem
merecido atenção, na medida em que se tem observado a importância central dessa
nova ordenação material do mundo. Um mundo sempre mais envolto na tecnologia.
Por outro lado, as diversas disciplinas acadêmicas, como a Arqueologia Pública, têm
se voltado para a interação com as pessoas, de modo a produzir um conhecimento
não apenas informado por esse contato, como a serviço, em certo sentido, das próprias pessoas . A Arqueologia Pública tem proposto, pelo mundo afora, fazer tanto
tural. In: Funari, Pedro Paulo Abreu; Campos, Juliano Bittencourt; Rodrigues, Marian Helen S.G..
(Org.). Arqueologia Pública e patrimônio: questões atuais. 1ed.Criciúma/SC: UNESC, 2015, v. 1, p.
197-226.
23 FUNARI, P.P.A ; Poloni, R,J.S. . Arqueologia Urbana: trajetória e perspectivas. Revista do Arquivo
Municipal (São Paulo), v. 205, p. 137-154, 2014.
24 WORLD POPULATION PROSPECTS. New York, UN, 2015 (http://esa.un.org/unpd/wpp/Publications/Files/Key_Findings_WPP_2015.pdf).
Memória ferroviária e cultura do trabalho
o conhecimento especializado sobre a materialidade ao leigo, como pelo estudo das
maneiras como as pessoas interagem com essa mesma materialidade.25
No caso especíico brasileiro, esse potencial é imenso, por diversos motivos, a
começar pela crescente urbanização e materialidade industrial. De fato, já em meados da década de 1960 a população urbana superava a rural e hoje já são mais de
85% vivendo em cidades. Portanto, temos já muitas décadas de materialidade urbana e resultante do mundo da indústria. Por outro lado, como já ressaltamos, a sociedade brasileira e a Arqueologia sofreram por um mando autoritário que coincidiu,
de fato, com essa passagem do mundo rural e agrícola para o urbano e industrial.
A crise institucional que resultou no golpe militar está em relação direta com essa
passagem, como atesta, ainda, o papel que um tema do passado – a Reforma Agrária
– teve no desencadear do trauma. No momento da passagem do rural ao urbano,
dá-se a quebra institucional. A indústria imporá seus ritmos e preocupações, sob a
mão de ferro dos generais. A crescente relevância dos temas industriais levará tanto
ao endurecimento do regime, como o lorescimento de uma oposição que acabará
por triunfar, com o retorno do estado de direito.
Passados esses anos escuros, no início do novo século, surgiram iniciativas
como o estudo desse passado recente, por meio da Arqueologia da Repressão e da
Resistência e da Arqueologia Pública, partes, de alguma forma, de uma Arqueologia
Industrial engajada. As oportunidades de temas como patrimônio ferroviário são
múltiplas, até mesmo se considerarmos que também as linhas de ferro estiveram
associadas a uma fase industrial no Brasil em grande parte a serviço da produção
agrícola. O seu declínio, na década de 1960, dá-se também nessa passagem do rural
ao urbano, sendo que uma nova indústria entra em seu lugar: a automobilística, de
onde surgirão os líderes operários e intelectuais que guiarão o país no inal do século
e no início do novo. O estudo do patrimônio ferroviário é um tributo, também, a
esse movimento histórico de importância central para entender o Brasil contemporâneo. A Arqueologia Industrial, a Arqueologia Pública e o patrimônio ferroviário
conluem para uma atuação em prol dos direitos humanos em nossa sociedade.
25 FUNARI, P. P. A. ; Bezerra, M. . Public archaeology in Latin America. In: Robin Skeates; Carol
McDavid; John Carman. (Org.). he Oxford Handbook of Public Archaeology. 1ed. Oxford: Oxford
University Press, 2012, v. 1, p. 100-115.
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Eduardo Romero de Oliveira (org.)
Novos enfoques sobre a avaliação patrimonial
Neste sentido, desde 2014 o Laboratório de Arqueologia Pública em conjunto
com os pesquisadores do Neil Silberman e Angela Labrador vem desenvolvendo um
projeto de investigação e valoração do patrimônio cultural universitário. Assim, no
primeiro semestre de 2015, foi realizado um curso de aplicação de métodos que permitissem aos alunos graduandos identiicarem os pontos culturais mais importantes
encontrados na área interna do campus universitário.
De início, os professores americanos repassaram o aparato teórico que cerca o
estudo do patrimônio a partir dos seus valores, destacando o histórico de pesquisa
no campo e seus principais debates no campo conceitual. Em seguida, os alunos
foram introduzidos aos métodos aplicados por este campo e colocados para praticar
alguns deles em atividades de campo e sala. Os resultados destes estudos deveriam
ser avaliados em sala de aula de acordo com técnicas especíicas de aferição.
Os métodos de coleta de dados foram divididos da seguinte forma:
1. Levantamento de campo: dois guias levavam grupos de alunos para
dois locais diferentes no campus. Neste local eles davam um breve
histórico daquele espaço, destacando a sua importância para a comunidade acadêmica e para si. Posteriormente, os dados deste tour são
avaliados em sala de aula de forma a identiicarem valores em comum
levantados pelos diferentes grupos ;
2. Em um segundo momento, foram realizadas entrevistas com proissionais vinculados a instituição acadêmica tais como professores,
secretários e responsáveis pela limpeza. Para tanto os alunos foram
treinados previamente para identiicarem os valores, atitudes e os enfoques dados por cada um dos entrevistados sobre o patrimônio local.
No im destas duas etapas os alunos trocavam ideias sobre os diversos
valores comunitários levantados. O que percebemos é que os discursos levantados contradiziam muitas vezes as falas oiciais divulgadas
através dos canais institucionais. Isto é, locais de convivência ‘não-oiciais’ eram elencados tanto pelos proissionais, como pelo alunos.
3. Depois, os alunos aplicavam métodos de investigação em campo,
tais como:
Photovoice: Inicialmente os alunos se reuniam em diferentes grupos
para determinarem temas a serem buscados através de imagens na
Universidade. Depois, os alunos eram incumbidos de fotografarem
as áreas mais signiicativas da Universidade a partir dos temas pré-selecionados pelo outro grupo. Os grupos se reuniam no inal para
Memória ferroviária e cultura do trabalho
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escolherem as imagens mais representativas. Os temas mais signiicativos e frequentes eram aqueles que deveriam ser considerados como
os mais importantes para a comunidade pesquisada.
Este modelo de trabalho tem como objetivo gerar uma participação
mais ativa dos membros da comunidade no processo avaliativo e decisório dos valores culturais locais;
Métodos observacionais: a partir deste enfoque foi possível aos participantes identiicarem os valores culturais levando em conta os comportamentos sociais de todas as pessoas que visitam ou trabalham na
Unicamp. Para tanto, os alunos desenvolveram mapas comportamentais (traçando em uma planta os locais mais visitados), observação
participativa (veriicando a frequência e a quantidade de pessoas em
um determinado espaço), mapeamento de traços humanos (identiicando sinais que demarcam a maior ou menor presença de pessoas em
um determinado espaço), entre outros.
Com os resultados em mãos foi possível criarmos um mapa que identiicou
os locais com maior potencial patrimonial para a comunidade acadêmica e local.
Ao mesmo tempo, o risco de não considerarmos os valores da própria comunidade
diminuíram de maneira considerável.
De posse dos valores identiicados traçamos um mapa com as mais variadas
manifestações culturais, assim como os pontos de maior importância para aquela comunidade. Logo, quaisquer atividades desenvolvidas deveriam levar em conta não só a própria comunidade, como deveriam considerar os diferentes tipos de
público que por ali passam (estudantes, professores, turistas, etc). Uma planta foi
montada a partir do GoogleMap, servindo de instrumento para a construção de uma
plataforma de valoração do patrimônio local. Está disponível para consulta o resultado dessa atividade, com o nome Values based heritage: approaches for sustainable
development, no site academia.edu.
Conclusão
A Arqueologia Industrial, em geral e, em particular, o estudo do patrimônio
ferroviário, têm muito a ganhar com novas abordagens que procurem dar conta,
também, das próprias pessoas. Desta forma, com o envolvimento das comunidades, será mais produtiva e fértil a valorização do patrimônio industrial e ferroviário.
A integração de abordagens advindas de diversas disciplinas, na mesma linha, tem
sido um caminho cada vez mais trilhado e prenhe de boas práticas e resultados.
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Eduardo Romero de Oliveira (org.)
Agradecimentos
Agradecemos a Márcia Bezerra, Paulo Bava de Camargo, Juan Cano, Lúcio
Menezes Ferreira, Cornelius Holtorf, Charles E. Orser, Erika Robrahn-González,
Eduardo Romero de Oliveira, Juliana Poloni, Glória Tega, Paulo Zanettini. Mencionamos, ainda, o apoio institucional da FAPESP, do CNPq e da Unicamp. A responsabilidade pelas ideias restringe-se aos autores.
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