EnTRE AS VInHAS E OS CAFEZAIS:
O PERFIL DOS MADEIREnSES
QUE nAVEGARAM RUMO à SãO PAULO
EnTRE 1888 E 1899
1
nELLY DE FREITAS2
introdução
No século XIX, uma pressão demográica crescente aliada a uma revolução nos
transportes e ao desenvolvimento econômico do Novo Mundo izeram a Europa
conhecer uma expansão e uma aceleração de movimentos migratórios, com claros
impactos na evolução de sua população. Há muito objeto de extensos estudos, a
emigração portuguesa não escapou à tais movimentos, que constituíram uma
válvula de escape para as tensões sociais e os problemas no campo em Portugal3.
Nesse contexto, apesar de suas relativas dimensões e população, a Ilha da Madeira
representou, juntamente com o arquipélago dos Açores, grande parte da diáspora
portuguesa em termos comparativos. A população da Madeira, em sua maior parte
campesina, cresceu a um ritmo constante num espaço limitado dando resultado a
um dos números mais altos de densidade no país nos inais do século XIX4.
Este trabalho faz parte do conjunto de estudos doutorais inanciado pela Fundação para a Ciência
e a Tecnologia de Portugal. Agradece-se o professor Alberto Vieira, Presidente do Centro de Estudos de
História do Atlântico, pelos conselhos, sugestões, críticas e comentários a este projeto.
2
Université Paris-Sorbonne. nellydefreitas@hotmail.com
3
VIEIRA, 1988: 264; FERRAZ, 1994: 85.
4
Apesar da desigual distribuição interna, o distrito do Funchal apresentava a segunda maior densidade de Portugal, vindo logo depois do distrito do Porto. Em 1864 ela era de 135.9 hab/km2 (sendo 147.7
na Madeira e 33.4 no Porto Santo) e em 1900, era de 184.8 hab/km2 (sendo 200.2 na Madeira e 54.8 no
Porto Santo) (RODRIGUES, 2004:31).
1
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A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
Cercada pelo Atlântico, alvo de graves crises agrícolas, em constante contato com
os estrangeiros vindos para o turismo ou a negócios, a população madeirense não
hesitava em emigrar5. Chamados pelos parentes, amigos ou vizinhos já instalados no
estrangeiro, os madeirenses rumaram para lugares como Demerara, Havaí e Brasil.
Este último destino exerceu, em particular e desde o século XVI, uma forte
atração sobre os povos insulares. Desde os primórdios da colonização do território
brasileiro, lá se encontravam muitos portugueses vindos dos arquipélagos atlânticos.
A chegada dos primeiros madeirenses deveu-se ao desenvolvimento da cultura
da cana de açúcar na colônia americana, seguiram-lhes então os aventureiros
e os perseguidos pela religião6. No século XVIII, esses movimentos migratórios
intensiicaram-se com o apoio oicial da Coroa portuguesa que, no objetivo de
defender o território, enviou casais insulares, dos Açores majoritariamente, mas
também da Madeira, para o sul do Brasil7.
O luxo de deslocamento de madeirenses continuaria também no século XIX.
Nesse arquipélago português, o contexto de crises econômicas regulares aumentava
fortemente a miséria da população, que via na emigração um meio de sobrevivência.
Ao mesmo tempo, do outro lado do Atlântico, o processo de abolição da escravatura
no Brasil e o crescimento da cultura do café na Província do Rio de Janeiro, mas
sobretudo na de São Paulo, provocaram uma evolução nas políticas de imigração a
im de favorecê-la. O fenômeno então cresceu, ainda que a forma de recrutamento
dos imigrantes e as condições na chegada originassem manifestações contrárias
ao que muitas vezes era chamado «escravatura branca»8.
O trabalho a ser aqui desenvolvido faz parte de uma pesquisa doutoral sobre o
impacto da evolução da emigração e de medidas de controle de população sobre a
sociedade insular do distrito do Funchal na segunda metade do século XIX9. Mesmo
existindo uma vasta historiograia sobre movimentos migratórios de madeirenses
CORVO, 1854; VASCONCELLOS, 1876; BRANCO, 1987; NEPOMUCENO, 1994.
VIEIRA, 2004: 14.
7
Sobre os Madeirenses no Sul do Brasil, consultar, entre outros: RAU, 1965; PIAZZA, 1999; SANTOS,
2008.
8
SERRÃO, 1976: 96.
9
Para esclarecimento, faz-se importante ressaltar que o período compreendido entre 1832 e 1851,
chamado “segundo liberalismo”, conheceu a uma profunda reforma da administração pública portuguesa.
A lei de 25 de Abril de 1835 supprimiu as províncias e comarcas e, a partir do Decreto de 31 de Dezembro
de 1836, com as Ilhas, Portugal foi divido em distritos (17 no continente e 4 nas ilhas adjacentes, sendo o
do Funchal para o arquipélago da Madeira), concelhos e freguesias. Os distritos eram administrados por
governadores civis de nomeação régia; os concelhos por administradores escolhidos pelo Governo, com
base numa lista feita por eleição direta, e as freguesias, por comissários de paróquia, escolhidos pelos
administradores dos concelhos. Junto de cada órgão havia corpos administrativos eleitos: as juntas gerais
de distrito, as câmara municipais e as juntas de paróquias. (SERRÃO, 1988: 206).
5
6
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Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
para certos destinos, como Ilhas Sanduíche10 ou Guiana Britânica11, e mesmo se
já existem bases de dados, ainda que genéricas, sobre o peril demográico dos
madeirenses no período12, relexões sobre o impacto das migrações para alguns
destinos (como para o Estado de São Paulo no Brasil) na demograia da ilha, bem
como análises sistemáticas de fontes estatísticas conhecidas ou ainda inéditas (como
listas de passaportes ou listas de passageiros mantidas no Brasil, entre outras) oferecem possibilidades até agora pouco exploradas pelos historiadores demográicos.
Nesse sentido, foram realizadas pesquisas nos arquivos brasileiros nos Estados
de São Paulo e do Rio de Janeiro (arquivos estaduais, nacional e Memorial do Imigrante de São Paulo), onde foram levantadas listas de passageiros provenientes da
Ilha da Madeira ainda hoje quase desconhecidas e pouco trabalhadas.
O presente trabalho revela uma parte desses estudos feitos ao analisar o luxo
migratório madeirense em direção a um dos principais portos brasileiros do inal
do século XIX: Santos no Estado de São Paulo, precisamente entre 1889 e 1899, ou
seja, na década seguinte à decretação do im da escravatura no Brasil. As fontes
utilizadas consistem em listas de passageiros recolhidas no acervo histórico do
Memorial do Imigrante, na cidade de São Paulo no Brasil, e que foram tornadas
públicas somente há alguns anos13. Os objetivos resumem-se, primeiramente, à
relexão sobre as causas da emigração no arquipélago madeirense e da imigração
no Brasil, em seguida, à apresentação das fontes e do peril do contingente madeirense e, inalmente, à descrição da chegada no porto santista.
i. CAusAs dA eMigrAção MAdeirense pArA são pAulo
A. A realidade do arquipélago da Madeira
A economia portuguesa das décadas inais do século XIX baseava-se sobretudo
em uma agricultura rudimentar, com mão de obra numerosa, pouco qualiicada,
com baixos salários e com pouco interesse pelos avanços tecnológicos. A indústria,
incipiente, apresentava falhas semelhantes14.
Sobre os Madeirenses nas Ilhas Sanduíche, consultar, entre outros: NORDYKE, 1989; SILVA, 1996;
CASTRO CALDEIRA, 2005.
11
Sobre os Madeirenses na Guiana Britânica, consultar, entre outros: MENEZES, 2006/2007; RIBEIRO,
2006.
12
RODRIGUES & PINTO, 1989; OLIVEIRA, 1999.
13
M.I. Listas Gerais de Desembarque de Passageiros no porto de Santos. Rolos 1 a 11.
14
Esse atraso tecnológico e industrial português era constantemente referido, por exemplo, nas correspondências dos cônsules franceses em Lisboa. Diziam eles que, «infelizmente, a agricultura portuguesa era
ainda muito primitiva» (A. N. F. Commerce et Industrie. F/12/7165: carta enviada pelo Consulado da França
10
77
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
Na Madeira, dadas as primitivas técnicas empregadas no setor primário, a
agricultura chegou a ser qualiicada de «atrazadissima» até mesmo pelos contemporâneos15. Como no continente, a ilha também apresentava o emprego extensivo
de mão de obra no campo. Em 1890, por exemplo, três quartos da população insular
lá trabalhavam, criando um contexto de alto risco em caso de crise nesse setor, com
impactos em várias esferas da sociedade, inclusive nos movimentos emigratórios16.
Ademais, a historiograia existente aponta o sistema de propriedade de terras
e o predomínio do contrato de colônia17 também como tendo forte impacto sobre
a economia e a emigração. O desapego do terreno onde se trabalhava, pela quase
impossibilidade de conseguir o título de propriedade, provocava ainda menos receio
nos agricultores de partir18.
Estima-se que em 1888, por exemplo, quatro quintos da população da Madeira
estavam ligados ao campo por meio desse acordo de trabalho19. No contrato de
colônia, o proprietário arrendava a terra a um colono para o cultivo enquanto se
instalava na zona urbana. Por sua vez, o colono poderia, para além do cultivo,
construir benfeitorias e promover outros melhoramentos no terreno, mas sempre
respeitando o título de propriedade, que a ele não pertencia. Além disso, icava
estabelecido que os produtos de subsistência, bem como aqueles destinados à alimentação do gado, pertenceriam ao colono, enquanto os benefícios dos produtos
cultivados para exportação eram divididos igualmente entre esse e o proprietário.
Com o acesso à propriedade praticamente inexistente para os colonos, a precariedade da situação familiar encontrava inúmeros desaios. Um desses surgia
sempre no momento de transmissão do contrato de colônia mortis causa. Como
herança aos ilhos, os colonos podiam deixar as benfeitorias por eles construídas,
mas o aumento do número de membros da família a cada geração agravava a
fragilidade da vida no campo, já constantemente abalada por crises de pragas,
intempéries naturais, impostos e instabilidade dos mercados consumidores dos
produtos exportados20.
no Porto do 26 de agosto de 1899) ou que «as matérias primárias faltam e os trabalhadores portugueses
têm pouca habilidade. Eles não têm nenhum conhecimento prático nem teórico; empregam-se somente
poucas máquinas e seus operadores têm fracas noções de mecânica» (A. N. F. Commerce et Industrie.
F/12/7163: carta enviada pelo Consulado da França em Lisboa de 29 de agosto de 1881).
15
VASCONCELLOS, 1876: 35-37.
16
OLIVEIRA, 1999: 34.
17
Para mais informações sobre esse sistema, ver: VALLE, 1888: 6; LOMELINO, 1888; DEGLI ALBIZZI,
1889: 71-72; PITTA, 1929; RIBEIRO, 1985: 47-72; SOUSA, 1994.
18
RIBEIRO, 1985: 71-72; VIEIRA, 1993: 108; CâMARA, 2002: 31-33.
19
CâMARA, 2002: 32.
20
Em correspondência oicial, o Governo Civil do Funchal relata parte dessa realidade em decorrência
de «novos impostos sobre os moradores (…) alem d’aquelles que ja pesados são (…) sem por lhes ser
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Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
Um outro grave problema relacionado ao campo era a opção pela monocultura.
Presente desde as primeiras décadas de exploração econômica da ilha com a cultura
da cana de açúcar, seguiu-se a partir do século XVI com as vinhas, para fabricação do Vinho Madeira de exportação. Essa realidade tornava a economia insular
extremamente dependente do mercado externo. O historiador Alberto Vieira insiste
nesse ponto airmando que «a fragilidade da economia madeirense é uma evidência
histórica e surge como resultado da insistente aposta num produto de exportação»21.
Na segunda metade do século XIX, além da concorrência internacional que o Vinho
Madeira conhecia22, o cultivo seria atingido pelo fungo oídio Tukery, que aniquilaria
as culturas da ilha em 1852, levando à perda total da colheita23. Esse lagelo deixou
a ilha numa situação de tão grande miséria (a produção total de vinho diminuiu de
152.243 barris em 1851 para 19.778 em 1852)24, que até mesmo nas correspondências
dos diversos cônsules portugueses no Brasil é notória a mobilização das comunidades
madeirenses emigradas por ajuda «a im de minorar os sofrimentos dos infelises
habitantes da Ilha da Madeira que se achão reduzidos à maior penuria»25.
Mesmo passados vinte anos, a cultura do vinho ainda estava a recuperar-se
quando outra praga (dessa vez a iloxera) arrasou mais uma vez as plantações
madeirenses26. Essa nova crise aliada a uma reação insuiciente e tardia do Estado
impossível paga-los no estado em que as coisas actualmente estão». (A.N.T.T. Ministério do Reino, 3ª Rep.
em 1870, Correspondência recebidas, mço 2839: Representação dos Vereadores da Calheta ao Ministério
do Reino do 5 de Janeiro de 1888).
21
VIEIRA, 2003: 295.
22
VASCONCELLOS, 187: 19-47; CâMARA, 2002: 94-96.
23
CORVO, 1854: 21; VASCONCELLOS, 1876: 19; CâMARA, 2002: 89-142.
24
CORVO, 1854: 30. A costa norte, grande produtora de vinho, teve sua capacidade de produção
reduzida em 56,26 % em 1851 e até mesmo em 19,78 % entre 1868 a 1873 (CâMARA, 2002: 107).
25
A.H.M.N.E. Ministério dos Negócios Estrangeiros. Consulado português no Rio de Janeiro. Cxa
539: carta n.° 6 do 13 de Janeiro de 1853 enviada pelo Consulado Geral de Portugal no Rio de Janeiro ao
Ministro Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. Consulado português no Pará. Cxa 524 : carta
n.° 11 do 30 de Setembro de 1853 enviada pelo Consulado da Nação portugueza no Pará ao Ministro
Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. Consulado português em Pernambuco. Cxa 531: carta
n.° 93 do 20 de Abril de 1853 enviada pelo Consulado de Portugal em Pernambuco ao Ministro Secretário
de Estado dos Negócios Estrangeiros.
26
Outras culturas sofreram também com doenças no período, como a laranja (A.R.M. Governo Civil.
Correspondencias, cxa n.° 30: carta de 9 de janeiro de 1883, da Direção Geral de Comércio e Industria para
o Governador Civil do Funchal), a batata e a batata doce, e até mesmo o gado bovino (A.R.M. Adminis‑
tração do Concelho de Ponta do Sol. Correspondências. Liv. n.° 3: carta n.° 155, de Setembro de 1891 do
Administrador do concelho ao Governador Civil; Correspondência expedida. Liv. n.° 17: carta n.° 384 do
8 de Dezembro de 1887 do Administrador do concelho de Ponta do Sol ao Governador Civil do distrito;
Administração do concelho de Santa Cruz. Correspondências expedidas. Liv. n.° 30: edital do 18 de Abril
de 1891; Governo Civil. Correspondências diversas. Cxa n.° 333 II: carta de 25 de Setembro de 1899, do
representante da paróquia da Sé do concelho do Funchal ao Administrador do concelho).
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A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
central, provocou desalentos na população e duras críticas ao poder pelos proprietários locais. Em uma dessas manifestações, lia-se que:
[...] os indivíduos que formam os diversos grupos políticos teem, geralmente, mais em vista
conveniencias particulares, do que o interesse geral do paiz: de modo que o homem que pensa
mais no bem geral do que no individual, acha‑se quasi sempre isolado e sem apoio27.
Outro airmara mesmo anos mais tarde que «uma nação que tem a fortuna
de possuir um paiz d’esta ordem [referindo-se à fertilidade e à riqueza em água
da ilha], não o deve abandonar, como desde ha muito está abandonado» e que «a
crise agrícola não espera [...] continua sempre, em quanto não lhe for applicado
o remedio eicaz»28.
Os estrangeiros partilhavam a mesma percepção das relações entre a Madeira
e o continente. O cônsul britânico assim informou Londres em 1885 :
Fazendo a Madeira parte integrante de Portugal, todos os excedentes dos seus rendimentos
são inalmente aplicados às necessidades da mãe pátria […] as autoridades portuguesas,
apressadas pelas inanças, sacriicam os interesses mais importantes da Ilha e, na administração
dela, ignoram as regras mais elementares de economia política29.
Além dessas diiculdades econômicas e sociais, com baixos salários e desemprego,
a miséria e a fome eram agravadas também pelo serviço militar obrigatório (que
tirava os braços jovens do trabalho de subsistência das famílias) e pela escassez
progressiva de áreas de cultivo devido ao constante crescimento demográico (de
1864 a 1878, a taxa de crescimento anual médio era de 1.18%, de 1878 a 1890,
0.22% e de 1890 a 1900, 1.05%30).
Nesse contexto, o fenômeno de insularidade, da abertura de espírito quanto
ao contato com o exterior31, levou a população a identiicar na emigração um dos
VASCONCELLOS, 1876: 39-40.
LOMELINO, 1888: 2 e 4.
29
« […] Madeira forming an integral part of Portugal, any surplus in the revenue is at once applied
to the general requirements of the mother country », « […] the portuguese authorities urged by the exigencies of the excheques, sacriice the best interest of the Island ; and in it administration ignore the most
elementary rules of political economy ». N.A.U.K. Foreign Oice. FO 179/246: carta de 27 de Novembro de
1885, enviada pelo cônsul britânico na Madeira ao Ministro plenipotenciário da Sua Majestade Britânica
em Lisboa.
30
RODRIGUES & PINTO, 1989: 331; RODRIGUES, 2004: 30. Sobre este assunto veja-se também o
capítulo “O Arquipélago da Madeira: Dinâmicas Demográicas de 1890 a 2011” de Isabel Tiago de Oliveira
incluído neste livro.
31
Inúmeros estudos já foram feitos acerca do impacto do meio insular sobre o homem que nele vive
e sobre seu comportamento. Segundo Joël Bonnemaison, por exemplo, o fato de as ilhas estarem rodeadas
pelo mar, como uma fronteira aberta, provoca uma sensação de que “morar numa ilha não é morar num
mundo fechado mas numa costa que induz contacto, troca e circulação” (BONNEMAISON, 1997: 122). O
27
28
80
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
raros meios para fugir das diiculdades e encontrar melhores condições de vida,
ainda que em terras distantes32. Nem à terra sobre a qual trabalhavam podendo
apegar-se, os madeirenses deixaram-se atrair pelas propostas de agenciadores para
substituir os escravos no outro lado do Atlântico33.
Nada de novo, porém, na história do país, ressaltou o geógrafo François Guichard em 1990. Segundo o acadêmico, «para um país pequeno, pobre e muito
povoado olhando para o mar, a emigração foi a solução natural desde as grandes
descobertas»34.
B. Terras paulistas, um destino em transformação
O Brasil sempre foi uma terra de atração para os portugueses. «Terra de eldorado
e de fortuna fácil», idéia que tinha raízes antigas no imaginário popular, desde a
época colonial, e que os emigrantes retornados com melhores condições alimentavam35. No século XIX, sob pressão de interesses internos e internacionais, onde
se destacavam os britânicos, o Brasil passou por muitas mudanças, sobretudo em
relação à transição da economia escravocrata, o que tornou a questão do trabalho
um dos problemas fundamentais para o Estado que surgiria em 1822.
Com a interrupção do tráico negreiro legal em 1831, esse comércio diminuiu
fortemente, mas somente por alguns anos. Ele seria retomado sobretudo em razão
da «tolerância e depois da cumplicidade das autoridades brasileiras» que permitiram
«a reativação dos circuitos de tráico desde o inal dos anos 1830»36. Essa situação
sofreria um novo golpe em 1850, com a lei Eusébio de Queiroz37, e em 1871, com
a lei do ventre livre, quando os ilhos das escravas nascidos a partir dessa data
ganharam liberdade. Mas somente o ano de 1888 conheceria, inalmente, a abolição
total da escravatura38.
Esse conturbado processo de extinção da economia escravocrata marcou com
uma profunda complexidade a história do Brasil e a formação do povo brasileiro
devido, entre outros fatores, ao multifacetado problema do futuro das massas de
historiador Alberto Vieira também alerta para o fato de que não só os problemas econômicos explicam
a emigração, un fenômeno que continuava inclusive “nos periodos de estabilidade econômica” (VIEIRA,
1990: 46). Sobre o tema da insularidade, consultar entre outros: DE LA RUE, 1956; SANGUIN, 1997;
MOLES, 1982: 281-289; CONNELL, 1999; SEVIN, 2010.
32
CARDOSO, 1968: 6-7; PELLETIER, 1995: 197; CASTRO CALDEIRA, 2005: 214.
33
VIEIRA, 1993: 108.
34
GUICHARD, 1990: 66.
35
PEREIRA, 2002: 11.
36
ALENCASTRO, 1984: 127.
37
Sobre o tráico negreiro consultar, entre outros: MALHEIRO, 1976; ALENCASTRO, 2006 e 2007.
38
BEIGUELMAN, 1968: 15-35.
81
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
ex-escravos que não encontravam trabalho remunerado nas fazendas onde antes
trabalhavam. Num contexto de expansão da cultura do café no Estado de São Paulo,
esses acontecimentos traduziram-se, do ponto de vista microeconômico, como uma
questão a ser urgentemente resolvida.
Não cabendo aqui um exame extenso de outras soluções imaginadas, tentadas
ou descartadas, concentrar-se-á sobre o patrocínio da imigração de trabalhadores
do sul da Europa, sobretudo de Portugal39. A importância que os trabalhadores
europeus ganharam seria destacada, por exemplo, em correspondência enviada
em 14 de Maio de 1888 pela Legação portuguesa no Brasil ao Ministério do Reino
em Lisboa. O documento informava que havia sido aprovado pelo Senado, e sancionado pela Princesa Imperial na véspera, o projeto de lei que declarava extinta a
escravidão no Brasil. O discurso da Legação prossegue relatando que seria, então,
normal para o governo central e para os governos provinciais redobrar os esforços que já estavam sendo empregados anteriormente na introdução de operários
agrícolas europeus. Nesse contexto, um destaque foi dado ao luxo português de
imigrantes. Ainda segundo a Legação, o governo provincial do Rio de Janeiro já
havia celebrado um contrato com o “conhecido agente de immigração” Sr. Fiorita,
a im de introduzir na Província 10.000 açorianos40. Como será analisado mais
adiante, esse mesmo agente assinaria nos anos seguintes diversos contratos com o
governo da Província de São Paulo para a vinda de europeus e madeirenses para
as lavouras de café, ocupando o lugar dos escravos41.
Comentando o novo sistema que entrava em funcionamento, a historiadora
Paula Beiguelman ressaltou mesmo que, desde antes da abolição da escravatura,
as leis determinavam a cobrança perante os proprietários pelo uso de cada escravo
nas fazendas a im de inanciar o serviço de imigração42. Em 1884, por exemplo, a
cobrança era de 3$000 por ano para cada escravo e de 1$000 em 188543. Nesse novo
contexto social da década de 1880, o Brasil, em geral, e as fazendas de café em São
Paulo, em particular, tornaram-se os primeiros destinos da emigração portuguesa44.
Trazido da Guiana Francesa, o produto começou a ser cultivado na Província
do Pará no começo do século XVIII, mas foi no Rio de Janeiro, através das mãos
HOLLOWAYS, 1980: 5; KLEIN, 1993: 241-242.
A.N.T.T. Ministério do Reino. 3ª Rep. em 1870. Correspondência recebida (SR). Mç. 2843: carta do
14 de Maio de 1888 enviada pela legação portuguesa no Brasil ao Ministério dos Négócios Estrangeiros.
41
M.I. Listas Gerais de Desembarque de Passageiros no porto de Santos. Rolos 1 a 11. PASCAL, 2005: 23
42
BEIGUELMAN, 1968: 54-55.
43
BASSANEZI et al., 2008b: 33.
44
FREITAS, 2006: 1. É preciso ressaltar, entretanto, que no último quartel do século XIX, os açorianos, em particular, dirigiram-se principalmente para os Estados Unidos. (MIRANDA, 1999: 47; MATOS
& SILVA, 2008: 291).
39
40
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Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
de João Alberto de Castello Branco, que conheceu a grande escala a partir de
178145. A região de partida para o novo ciclo monocultor do país reunia condições
ideais para a cultura, na zona montanhosa perto da capital havia: terras de boa
qualidade, acesso facilitado à mão de obra e proximidade com o porto. Quanto ao
consumo, a produção era estimulada pelo aumento de interesse no café na Europa
e nos Estados Unidos46.
Com uma demanda cada vez mais crescente, o cultivo seguiu em direção à
vizinha Província de São Paulo, rompendo os limites geográicos impostos pela zona
serrana através do vale do rio Paraíba e tomando o lugar das plantações de cana
de açúcar47. Uma expansão profundamente transformadora para a região, criando
cidades segundo a marcha de disseminação das lavouras em direção ao oeste paulista como o mostra o mapa 1, muitas das quais receberiam famílias madeirenses48.
Outra grande consequência desse fenômeno foi a exploração intensiva do porto
de Santos como meio de escoamento da produção, ultrapassando mesmo, a partir
de 1894, o porto do Rio de Janeiro49.
Mapa 1.
O avanço do café no oeste
paulista durante o século XIX
Fonte: DANTAS, J. História
do Brasil. Apud MARTINS, A.
L. Império do Café, p. 37. In:
GONÇALVES, Paulo Cesar.
Migrações e mão‑de‑obra : reti‑
rantes cearenses na economia
cafeeira do centro‑sul (1877‑
‑1901). São Paulo: Associação
Editorial Humanitas, 2006, p. 43.
GONCALVES, 2006: 40.
MAURO, 1994: 100.
47
Nos anos 1820, o café representava 18,4 % das exportações, depois do açúcar (30,1 %) e do algodão
(20,6 %). Nos anos 30, já alcançava o primeiro lugar com 43,8 % do total da balançia comercial brasileira.
Em poucas décadas o Brasil passou a ser o maior produtor de café do mundo (GONÇALVES, 2009: 2).
48
GONÇALVES, 2006: 40-43.
49
HOLLOWAYS, 1980: 9.
45
46
83
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
Nesse contexto, terra e capital para que a nova fronteira agrícola pudesse seguir
expandindo-se não minguavam, restava, como dito, o problema da mão de obra.
A partir dos anos 1870, São Paulo implantou uma política de favorecimento de
introdução de imigrantes estrangeiros de maior força e institucionalidade50. Quanto
às estruturas de acolhimento, no ano de 1871, a lei provincial n. 42 de 30 de Março
passou a autorizar o governo a emitir títulos de dívida a im de inanciar a vinda de
imigrantes e a sua ixação na Província51. Quatro meses depois, foi institucionalizada
a Associação Auxiliadora da Colonização e Imigração para a Província de São Paulo,
que conseguiu inanciamento público em 1874. Tais iniciativas da administração
provincial continuaram entre 1881 e 1884, com a liberação de novos contingentes
de verbas para o inanciamento de casas e transportes para os imigrantes.
Finalmente, no ano da abolição da escravatura, os serviços da Sociedade Promotora de Imigração (criada um ano antes) foram contratados pelo Governo de
São Paulo para a introdução de até 100.000 imigrantes dos Açores, das Canárias
e da Europa continental52.
Os serviços dessa sociedade foram de muita valia para a intensiicação e o enquadramento dos luxos migratórios através, por exemplo, da instalação de subsídios
de passagem. Assim, de 1889 até o começo do século XX, 80 % dos estrangeiros
chegados em São Paulo seriam subsidiados pelo governo53. Em geral, a prioridade
era dada às famílias. A imigração familiar permitia ao fazendeiro obter mão de obra
barata e em grande número, sobretudo devido aos baixos custos remuneratórios
das mulheres e das crianças, mas permitia também ao trabalhador, ao subsidiar a
vinda de sua família, aumentar a produtividade, os ganhos e a qualidade de vida
devido à cooperação de seus próximos54.
Os núcleos familiares buscados eram divididos segundo os seguintes critérios:
casais com crianças, casais sem crianças, viúvos com ilhos, viúvos com outros
familiares. Outros membros da família eram eventualmente aceites, como pais, avós,
irmãos, cunhados e sobrinhos ou sobrinhas órfãos. Também as mulheres casadas
podiam viajar para se encontrarem com os maridos já presentes no Brasil, desde
que portadoras de Cartas de Chamada55 (16 mulheres viajaram com os ilhos nesse
caso nos 44 navios aqui analisados), um direito não extensivo a outros parentes56.
Sobre as políticas precedentes, ver COSTA, 1999: 195-231.
BASSANEZI et al., 2008b: 25.
52
BASSANEZI et al., 2008b: 35.
53
HOLLOWAYS, 1980: 39.
54
BEIGUELMAN, 1968: 51.
55
PEREIRA, 1990: 736.
56
HOLLOWAYS, 1980: 47. Nos navios analisados, somente um homem viajou portando a tal carta.
50
51
84
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
Como já assinalado, o subsídio das passagens foi um dos instrumentos fundamentais
de alimentação do luxo migratório. Para além dos critérios apontados, a administração pública subsidiava inteiramente as passagens de todos aqueles com mais de 12
anos, metade para os de 7 a 12 anos e um quarto para os de 3 a 6 anos. Não podiam
aproveitar da ajuda pública os solteiros, os que pretendiam instalar-se fora de São
Paulo e os que no passado já haviam contado com o subsídio para se radicar Brasil e
que, por alguma razão, retornaram à sua origem (uma ocorrência não tão rara quanto
se poderia pensar)57. Nas listas aqui analisadas, por exemplo, 65 homens pagaram a
passagem “por já ter estado no Brasil” enquanto o restante da família era subsidiado58.
ii. o contingente madeirense nas listas de desembarque
A. Uma fonte histórica rara, mesmo se incompleta
O presente trabalho foi realizado a partir de listas de passageiros chegados ao
porto de Santos, no Estado de São Paulo, recolhidas no acervo histórico do Memorial do Imigrante na cidade de São Paulo e disponibilizadas à consulta pública em
2008. Esse fundo de arquivo contem listas produzidas desde o ano de 1888 e que
adentram o século XX.
Para o período considerado (1889-1899), foram veriicados onze rolos de
microilmes, correspondentes a onze caixas de documentos, em que iguram as
tais listas59. Durante o século XIX, devido à precariedade burocrática do Estado,
cabia à polícia o cumprimento de várias tarefas administrativas, dentre as quais a
recepção dos navios e a veriicação da listagem de passageiros. Baseado no artigo
85 do regulamento n.° 120 de 20 de Janeiro de 1842, é possível airmar que tais
listas foram elaboradas pelos :
[...] commandantes e Mestres das Embarcações mercantes, ou de outra qualquer classe, á
excepção somente das de guerra, [que] declararão, em relação por elles assignada, a bordo, no
porto em que entrarem, o numero, nomes, empregos, occupações e naturalidade dos passageiros,
que trouxerem com passaporte, ou sem elle, ou de quaesquer pessoas, que não pertenção á
matricula de suas Embarcações60.
HOLLOWAYS, 1980: 45-48.
Faz-se importante ressaltar que, ao lado da imigração subsidiada, existia também a espontânea,
isto é, a imigração de pessoas que iam para o Brasil sem contrato com os governos locais ou que, mesmo
com contratos, não tinham as passagens custeadas ou as tinham de forma reduzida (Lei n.°1 do 3 de
Fevereiro de 1888).
59
M.I. Listas Gerais de Desembarque de Passageiros no porto de Santos. Rolos 1 a 11.
60
Artigo 85 do Regulamento de 31 de Janeiro de 1842: 57.
57
58
85
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
O trabalho aqui desenvolvido será aprofundado no futuro quando do cruzamento dessas fontes com outras recolhidas no Brasil e em Portugal. Todo esse
complexo trabalho faz-se necessário a im de se averiguar, com a maior precisão
possível, quantos eram e quais peris tinham os emigrantes madeirenses que, de
fato, alcançaram as terras do interior do Estado de São Paulo para se instalar.
Para o momento, os onze rolos de microilmes analisados trazem-nos informações sobre quarenta e quatro navios, referenciados no quadro 1, originários ou que
recolheram passageiros da ilha da Madeira e que chegaram ao porto de Santos. No
total esses navios transportaram, no período analisado, 3756 madeirenses sendo
: 277 em 1889, 983 em 1893, 119 em 1894, 1282 em 1895, 222 em 1896, 380 em
1897, 358 em 1898 e 135 em 1899.
Quadro 1. Listas dos navios saídos da Ilha da Madeira e chegados ao porto de Santos
Passageiros
madeirenses
Chegada
Passageiros
madeirenses
Rhein
1889.02.16
201
Les Alpes
1897.02.20
31
Berlin
1889.04.04
76
Provence
1897.03.03
53
Bearn
1893.01.27
327
Italie
1897.04.17
48
Provence
1893.02.13
312
Les Alpes
1897.05.31
66
Malange
1893.07.27
31
Bearn
1897.06.19
26
Rei de Portugal
1893.08.13
77
Les Alpes
1897.08.18
57
Espagne
1893.11.04
236
Espagne
1897.09.17
31
Bearn
1894.12.05
119
Provence
1897.10.18
39
Provence
1895.02.09
247
Les Alpes
1897.11.18
29
Bearn
1895.03.05
333
Les Alpes
1898.02.03
103
Bretagne
1895.04.04
249
Aquitaine
1898.02.17
28
Bretagne
1895.06.28
71
Les Andes
1898.03.22
41
Aquitaine
1895.07.26
61
Italie
1898.07.17
67
Italie
1895.08.18
100
Provence
1898.08.19
32
Bearn
1895.09.05
67
Bearn
1898.10.21
26
Aquitaine
1895.10.19
70
France
1898.12.19
61
Provence
1895.10.19
84
Aquitaine
1899.02.20
41
Provence
1896.08.18
28
Bearn
1899.03.24
32
Les Alpes
1896.09.19
29
Provence
1899.04.18
19
Bearn
1896.10.20
53
France
1899.05.18
17
Aquitaine
1896.11.18
50
Aquitaine
1899.07.20
16
Navios
Navios
Chegada
Les Andes
1896.12.21
62
Bearn
1899.08.28
Fonte: M.I. Listas Gerais de Desembarque de Passageiros no porto de Santos. Rolos 1 a 11.
86
10
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
Umas das primeiras características que se pode destacar, inclusive como ponto
comum a todos esses navios, é o fato de que transportavam emigrantes europeus
contratados pelo Governo da Província (e depois Estado) de São Paulo61. As próprias listas de passageiros informam que existiram 5 contratos de introdução de
imigrantes celebrados entre o poder público paulista e os agentes Angelo Fiorita
(4 primeiros contratos) e José Antunes dos Santos no período considerado.
Antes de se seguir com a análise preliminar do estado e do conteúdo geral
dos dados contidos nas listas examinadas, alguns comentários são necessários.
Primeiramente é importante destacar que, em algumas ocasiões, os documentos
apresentam lacunas e uma certa heterogeneidade na apresentação das informações.
De maneira geral, as listas, estabelecidas por família, contêm as seguintes discriminações para cada passageiro: nome, nome de família, naturalidade, parentesco
com o chefe de família, proissão, idade, religião e destino.
Entretanto, a naturalidade, por exemplo, são informações disponíveis somente
para os chefes de família (cinco navios indicam como naturalidade “Madeira”, os
demais apontam as freguesias da ilha de onde eram originários). Já a proissão e
a religião são disponibilizadas somente para os chefes de família nas listas produzidas até 1896, com o navio «Aquitaine», ancorado em 18 de novembro de 1896.
A partir do navio seguinte, «Les Andes», essas informações são fornecidas para
todos os passageiros.
Também só se conhece o estado civil dos chefes de família. Para os demais
passageiros, encontra-se discriminado apenas o laço de parentesco para com o
chefe com quem viajava (se «mulher», «ilho», «primo», «tio» etc), não se permitindo saber se eram solteiros ou casados. Sem embargo, a condição de «viúvo» ou
«viúva» apresenta-se indicada nas listas.
Finalmente, do universo de passageiros dos quarenta e quatro navios analisados, em um pouco mais da metade (27) é possível identiicar a cidade de destino
inal no Estado de São Paulo de todas ou de algumas famílias. Essa informação
permite, mesmo com alguma reserva, aprofundar o conhecimento das cidades e
das colônias para onde rumaram os madeirenses e do trabalho que realizavam no
vasto território estadual paulista, 335 vezes maior que a ilha de partida.
Exatamente em razão de todas as ressalvas acima feitas é que o exame das listas
de passageiros aqui realizado constitui apenas parte de um estudo mais abrangente,
que exige o cruzamento de diversas fontes mas que, pela extensão, somente é possível divulgar em um espaço mais amplo e futuramente. Adiantam-se aqui, assim,
apenas algumas conclusões preliminares.
61
Com a proclamação da República, em Novembro de 1889, e com a nova Constituição de 1891, o
Brasil tornou-se uma federação de Estados.
87
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
B. Procedência e peril etário dos emigrantes
Antes de se passar à análise mais detalhada do peril dos emigrantes madeirenses,
é importante recordar que, nas listas examinadas, somente a naturalidade dos chefes
de família é indicada, sem mencionar o fato de que, das listas produzidas nos 44
navios, em cinco delas há somente a indicação de naturalidade como «Madeira».
Tais imprecisões serão corrigidas no futuro com o cruzamento com outras fontes,
como já ressaltado. Por agora, partindo dos dados obtidos, foi possível elaborar os
gráicos e tabelas seguintes.
A partir das informações disponíveis foi possível elaborar o mapa 2, que permite
apontar os Concelhos de maior partida no sul da Ilha da Madeira (Calheta e Ponta
do Sol) e no norte (São Vicente e Santana). Globalmente, entretanto, a costa sul
parece mais afetada com as partidas, o que poderia ser em parte explicado pelos
baixos índices históricos de ocupação da região setentrional (em inais do XIX, a
população da costa sul representava 80 % dos madeirenses62).
Mapa 2.
Distribuição por Concelhos
dos chefes de família emigrados (1889-1899)
Fonte: Números estabelecidos
a partir das listas referidas na
nota n.°12.
Apenas para se ter uma certa idéia da dimensão global desse luxo migratório,
sem considerar a lutuação da população para o período e tomando como referência
unicamente o censo de 189063, elaborou-se o quadro 2 de número de emigrantes
para o Estado de São Paulo por cada mil habitantes. Como somente há indicação da
naturalidade para os chefes de família, elaborou-se o quadro abaixo presumindo-se
OLIVEIRA, 1998: 29. Teresa Rodrigues alerta ainda para o fato de que a progressão da população
na costa norte era prejudicada não somente pela emigração, mas também por movimentos migratórios
em direção ao sul da ilha (RODRIGUES, 2004:30)
63
III Recenseamento Geral da População – 1 de Dezembro de 1890.
62
88
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
que todos portavam a mesma naturalidade64. Os resultados obtidos indicam, entre
outros, que teriam sido os três Concelhos menos povoados da ilha (Porto Moniz,
São Vicente e Santana) que mais sofreram com as partidas.
Quadro 2. Número de emigrantes por 1000 habitantes
Concelhos
Número total da população no censo de 1890
Número de saídas
entre 1889 e 1899
Número de emigrantes
por 1000 habitantes
Calheta
17 010
571
33,5 ‰
Câmara dos Lobos
14 929
283
18,9 ‰
Funchal
37 011
316
8,5‰
Machico
10 287
60
5,8‰
Ponta do Sol
16 861
605
35,8‰
Porto Moniz
4 265
309
72,4‰
Santana
9 013
690
76,5‰
Santa Cruz
15 033
199
13,2‰
São Vicente
7 720
486
62,9‰
Naturalidade não indicada
–
237
–
Total
133 129
3756
28,2‰
Fonte: Números estabelecidos a partir das listas estudadas e do III recenseamento português de 1890.
Prosseguindo o estudo, dentro do universo amostral analisado no que se refere
ao sexo, a emigração pode ser caracterizada como um fenômeno relativamente
balanceado: 54 % dos emigrantes eram homens e 46 %, mulheres. Nota-se nesses
números uma diferença não muito signiicativa, o que pode ser explicado pelo fato
de que das ilhas, ao contrário do que se passava no continente, emigravam sobretudo famílias. Conforme aponta o historiador Joaquim da Costa Leite, na década
de 1860, 60 % da emigração insular havia sido familiar, tendo sido somente 20 %
no continente65. A mesma tendência veriicou-se ainda em 1890, quando para cada
100 mulheres emigradas do continente havia 428 homens. Já para cada 100 mulheres emigradas das ilhas, 114 homens as acompanharam, numa situação de quase
equilíbrio66. É preciso lembrar, também, que esses número não são frutos do acaso,
Faz-se importante ressaltar que o exercício comporta claramente o risco de se presumir erroneamente que todos nasceram na mesma localidade do chefe de família.
65
LEITE, 2001: 176.
66
LEITE & CâMARA, 2010: 109.
64
89
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
sobretudo em razão da preferência do Governo de São Paulo por famílias, critério
estabelecido em contrato e tenazmente observado pelos agentes de imigração67.
Relativamente aos casais passíveis de identiicação (765), 215 emigraram sem
ilhos, mas a grande maioria, 550, foram acompanhados. Com esses últimos viajaram
1371 ilhos, perfazendo uma média de 2,49 ilhos por casal. Foi também possível a
identiicação de 31 viúvos (26 mulheres e 5 homens) e de 4 homens solteiros. Um
resumo quanto às faixas etárias aparece no gráico 1 abaixo.
Gráico 1.
Distribuição dos emigrantes
por faixas etárias
Fonte: Gráico estabelecido
a partir das listas referidas
na nota n.°12.
Uma primeira observação faz referência ao expressivo número de recém-nascidos
e crianças entre 0 e 9 anos, que representam 30 % do total do contingente, um
número que aponta, mais uma vez, para uma típica emigração familiar. Outro dado
que atrai a atenção é a nítida superioridade feminina na faixa etária dos 15 aos
19 anos, cerca de 92 % do total. A quase ausência do sexo masculino nesse grupo
pode ser explicada pelo serviço militar a partir dos 20 anos. Em realidade, fugir
do exército era umas das razões da emigração de um grande número de jovens
portugueses nessa época, um problema que o Estado vinha tentando resolver
desde a aprovação, em 27 de julho de 1855, da lei que instaurou a obrigatoriedade
do recrutamento68.
A partir dessa data, os jovens rapazes eram recrutados entre 20 e 21 anos,
com única possibilidade de desobrigação caso provassem que, com seu trabalho,
constituíam o exclusivo recurso de subsistência de sua família69. Nesse mesmo
M. I. Listas Gerais de Desembarque de Passageiros no porto de Santos . Rolos 1 a 11.
Collecção systemática das ordens do exercito,1859: 327-347. Várias cartas evocavam esses problemas
de recrutamentos. A.N.T.T. Ministério do Reino. 2a Rep. em 1895. Correspondências recebidas. Mç. 2721:
carta do 3 de Maio de 1895 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino ao Ministro do Reino; 2a Rep.
Correspondência recebida. Mç. 4942: carta do 31 de Janeiro de 1867 do Governo Civil de Braga ao Ministério
do Reino. Sobre o recrutamento militar no período anterior, consultar, por exemplo: COSTA, 1995; 2010.
69
Outra possibilidade oferecida pela lei, mas muito pouco utilizada, era a da indicação de um substituto capaz, um irmão por exemplo, com idade acima dos 18 anos (Collecção systemática das ordens do
67
68
90
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
momento, antevendo possíveis evasões dos jovens para o estrangeiro, foi proibida
a concessão de passaportes para aqueles com idade entre 18 e 21 anos70. Passados
apenas alguns anos, respondendo a uma necessidade prática, o regulamento de 4 de
junho de 1859 proibiu a concessão do mesmo documento então para aqueles com
idade entre 14 e 21 anos71. Uma única exceção prevista era a emissão do documento
mediante o pagamento de uma taxa de 500 réis72, que se veriicava elevada demais
para as famílias da época as quais, em razão das crises econômicas recorrentes,
não conseguiam nem mesmo vender os bens familiares73.
O serviço militar compulsório de 8 anos (5 efetivos e 3 de reserva) considerado,
sem surpresa, como uma tragédia econômica pelas famílias, aumentava ainda mais
o interesse pela emigração. Voltando à pirâmide etária, compreende-se assim o
número expressivo de rapazes com menos de 14 anos presente nos navios.
A proibição legal não impedia, entretanto, a emigração clandestina daqueles
entre 14 e 21 anos, sendo apenas difícil a sua quantiicação, por motivos evidentes.
Esse recurso era, porém, bem conhecido das autoridades, como se veriica na leitura
do Primeiro Inquérito sobre Emigração elaborado pelo Parlamento português em
187374. Nos autos conclusivos dessa investigação, airma-se que: «ha geral repugnancia para o serviço militar. Attribue-se essa repugnancia a emigração dos menores
de 14 annos». O documento até estima a emigração clandestina «em 20 % sobre
a emigração total». O caso da Madeira ganha destaque quando o Inquérito airma
que a saída ilegal «faz-se principalmente das ilhas. Nos districtos insulares não
póde esta emigração evitar-se, excepto pelo emprego da iscalização maritima, e
por medidas repressivas extremamente vexatorias»75. O fenômeno se prolongaria
até a década de 1890 como ilustram as palavras do deputado Tomás Ribeiro ao
dizer que «outra causa de emigração encontrâmos, senhores, no serviço militar
obrigatorio»76.
Uma última observação a destacar a partir dos dados presentes na pirâmide
refere-se aos indivíduos em idade ativa (entre os 15 e os 64 anos completos), que
representam 56 % dos emigrantes, sendo 53% homens e 47% mulheres.
exercito, 1859: 337).
70
Ibidem: 338.
71
ALCANTARA, 1861: 107-108.
72
A.R.M. Governo Civil. Fianças e termos de passaportes.
73
MIRANDA, 1999: 61.
74
Primeiro Inquérito parlamentar sobre a emigração portuguesa, 1873: 22.
75
Ibidem: 41.
76
RIBEIRO, 1891: 9.
91
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
C. Ocupações na Madeira
Quanto ao exame do peril proissional dos emigrantes madeirenses, algumas
ressalvas prévias se fazem também indispensáveis. Em primeiro lugar, nas listas
analisadas produzidas até 1896, tal informação é fornecida somente para os chefes
de família. A partir dessa data, a ocupação de todos os passageiros aparece indicada.
Uma segunda observação refere-se à hipótese levantada pelo historiador
Holloways segundo a qual, no intuito de obter o benefício da passagem subsidiada,
a maioria dos emigrantes portugueses (fossem eles ilhéus ou continentais) teria
declarado ser agricultor, independentemente de sua real proissão77. Pois bem, nas
listas de passageiros aqui analisadas essa circunstância é veriicada para 86 % das
pessoas (sendo que entre os 14 % restantes, 13 % declaram-se lavradores e somente
1 % dividiu-se entre hortelãos, sapateiros, domésticos e carregadores). A tese de
Holloways deve ser considerada na interpretação de tais dados sobretudo porque
os luxos migratórios transcritos nas listas analisadas foram gerados no contexto
da celebração de contratos de agenciamento entre o Governo de São Paulo e prestadores de serviço onde era claro o objetivo inal de introdução de trabalhadores
rurais nas fazendas de café. Essa era a exigência para a partida.
Há outros elementos que também apontam para o recurso frequente à dissimulação por parte dos emigrantes portugueses, como o fato de muitos madeirenses
terem se instalado em centros urbanos em São Paulo, como indicado abaixo, ou
mesmo casos em que a fraude foi revelada, como ocorreu com o navio Italie. Nessa
embarcação, ancorada em Santos em 17 de Julho de 1898, vários passageiros, dentre
os quais dois portugueses, foram descobertos pela inspetoria estadual como sendo
“artistas” e tendo mentido78.
Outra informação interessante proveniente das listas produzidas a partir de
1896 refere-se ao fato de que muitas crianças são apresentadas como agricultores.
Mesmo tendo em mente a tese da fraude, é preciso considerar, primeiro, que a
economia madeirense era realmente baseada na agricultura e, segundo, como destacado pelo estudo de Benedita Câmara, que nas populações das zonas rurais em
geral, independentemente do sexo, os pequenos começavam a ajudar os pais desde
os 6 ou 7 anos79. O geógrafo e historiador Orlando Ribeiro ilustrou a realidade do
campo ao lembrar que uma criança de 7 anos já apanhava ervas para alimentar
HOLLOWAYS, 1980: 47-49.
Arquivo Público do Estado de São Paulo. SACOP. Cx. CO4738: carta n.° 165 de 30 de Agosto de
1898 enviada pela Inspetoria de Terras e Colonisação e imigração à Secretaria da Agricultura, Comercio
e Obras Publicas.
79
CâMARA, 2002: 30.
77
78
92
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
as vacas e que, aos 12, os rapazes iam para a serra apanhar mato e ajudar os pais
durante as lavragens e os regadios enquanto as raparigas começavam a bordar80.
De toda a forma, o emigrante madeirense tinha uma grande reputação internacional de forte trabalho no campo, de vida sóbria, serviçal, disciplinada e de
alguém que se aclimatava rapidamente aos lugares de destino, e preferencialmente
em família. Essas características faziam deles elementos muito bem cotados nos
projetos de ixação, de conquista e de ocupação de territórios, como foi manifesto
nos casos do Havaí e da Guiana Britânica81. No caso do Brasil, toda essa empresa
era ainda mais categórica devido ao benefício da ainidade cultural82. Como lembra
inalmente o historiador Antonio Sousa, “[o] Brasil é dos países onde mais madeirenses tem recebido (...) em todos os estados brasileiros existem colónias numerosas
de madeirenses, sendo de destacar as de Rio de Janeiro, Santos e São Paulo”83.
iii. A chegada em santos
A. De Santos à Hospedaria
Se os contextos sócio-econômicos tanto na origem como no destino explicam
o luxo madeirense em direção à São Paulo, a contribuição da revolução dos transportes do século XIX não deve ser esquecida. O progresso da tecnologia, permitindo
a transição da navegação a vela para a vapor, tornou mais curta e com melhores
condições as travessias atlânticas. A duração média da viagem da Madeira até Santos
dos navios aqui analisados era de 19 dias, enquanto que à época das velas, como
aponta o historiador Joaquim da Costa Leite, conhecia uma média de 62 dias84.
Também resultado dessa mesma onda revolucionária, o desenvolvimento dos
caminhos de ferro no Brasil permitiu uma melhor comunicação da costa com o
interior, favorecendo a implantação de novas colônias. Dos anos 1860 até os anos
1880, por exemplo, foram construídos, com apoio inanceiro britânico, 139 quilômetros de estradas de ferro ligando Santos até a capital de São Paulo e, em seguida,
até os territórios de produção de café85.
Uma vez desembarcados no porto, os madeirenses subiam a Serra do Mar nos
trens da São Paulo Railway e desciam na estação ferroviária junto à plataforma da
RIBEIRO, 1985: 113.
LIND, 1967: 27; FERREIRA, 2006/2007: 20.
82
PASCAL, 2005: 83.
83
SOUSA, 1965: 11.
84
LEITE, 2001: 743.
85
HOLLOWAYS, 1980: 9.
80
81
93
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
Hospedaria dos Imigrantes na cidade de São Paulo. E mesmo se o formato deste
trabalho não permite uma narrativa mais extensa dessa Hospedaria86, a apresentação
de algumas de seus aspectos principais pode ser de interesse.
Em funcionamento no bairro paulistano do Brás desde 1888 (onde permaneceu
aberta até 1978), tinha como função central recepcionar, triar e encaminhar trabalhadores
estrangeiros ou nacionais que chegassem no Estado para trabalhar na agricultura ou na
indústria. Recebia tanto imigrantes contratados como espontâneos, os quais tinham ali o
direito de permanecer até oito dias, quando recebiam comida, roupa, assistência médica
e tinham seus documentos de identidade veriicados87. Aqueles que já possuíam, desde
o ponto de partida, um destino determinado, para este eram encaminhados, enquanto
que os demais seguiam para as fazendas que na Hospedaria procuravam mão de obra,
para a indústria ou para o setor de serviços na zona urbana.
Nem tudo, entretanto, era bem-aventurança. Segundo Holloways, havia reclamações dos imigrantes sobre as condições de higiene nos navios e na própria
Hospedaria, além de denúncias de maus tratos nas fazendas para as quais eram
encaminhados88. Os que protestavam, em vez de serem ouvidos e independentemente de suas opções políticas, eram tratados pelo Governo como «anarquistas»
ou «grevistas». Nesse contexto e numa tentativa de evitar que tais «causadores de
problemas» chegassem ao país, cláusulas como esta passaram a ser padrão nos
contratos de agenciamento de imigrantes:
No caso de algum imigrante ter sua entrada negada por ser anarquista ou por suspeita de pertencer
a essa organização, a companhia de transporte será responsabilizada pelos custos de repatriação e por
quaisquer despesas que o governo ou a policia de São Paulo possa ter com tais imigrantes89
Essa novidade forçava os agenciadores e as companhias de transporte a tentar
identiicar e barrar eventuais imigrantes considerados problemáticos antes mesmo
que deixassem a Europa.
B. Os destinos inais
Mesmo se somente em um pouco mais da metade dos 44 navios se pode
identiicar o provável destino inal dos passageiros (e mesmo nesses, 157 chefes
de família não apresentavam destino prévio90), foi possível elaborar um mapa do
Estado de São Paulo apontando os paradeiros declarados.
PAIVA & MOURA, 2008; PAIVA, 2009; BASSANEZI, 1985.
BASSANEZZI, 1985: 30.
88
HOLLOWAYS, 1980: 48.
89
HOLLOWAYS, 1980: 48 Ver também o artigo 82 do regulamento de 1842, p. 56.
90
Para outros 10, as informações estão ilegíveis.
86
87
94
Entre as vinhas e os cafezais: o peril dos Madeirenses que navegaram rumo
à São Paulo entre 1888 e 1899
Mapa 3.
Provável destino das famílias
madeirenses no Estado de
São Paulo
Fonte: mapa do Estado de São
Paulo de 1904 (no original, sem
identiicação das cidades receptoras de madeirenses, acrescentada posteriormente) extraído de
BASSANEZI et al., 2008a: 131.
Em princípio uma surpresa, as cidades de São Paulo e de Santos teriam atraído
um número signiicativo de imigrantes madeirenses, situando-se apenas atrás de
Araraquara, 270 quilômetros Estado adentro. Para a primeira, tal fenômeno pode
se explicar por sua condição de capital de Estado, apresentando uma economia
urbana muito dinâmica e atrativa e, para a segunda, pela facilidade de instalação
na porta de entrada do território, mas também por suas características geográicas
muito semelhantes às da Madeira (como ressaltado mais abaixo). Entretanto, apesar
desses desvios, grande parte das famílias (ao menos 66% daquelas com destinos
declarados) ter-se-iam dirigido para o interior de São Paulo, onde estavam as
plantações de café.
A conirmação da sorte dos madeirenses é um trabalho que demandaria o
emprego de muito mais tempo de pesquisa do que mesmo um doutoramento
permite. A grande diiculdade reside no simples fato de que, uma vez presentes
nas estatísticas oiciais brasileiras, esses imigrantes passavam à categoria geral de
portugueses, diicultando em muito o rastreamento dos originários da Madeira.
Somente estudos pontuais como os de Maria Izilda Matos e Gisele Kodja, que
analisam a instalação dos madeirenses em Santos91, permitem conhecer um pouco
mais da integração dessas famílias no Brasil. Matos lembra que, agricultores na
terra natal, os ilhéus reproduziram os costumes nessa nova morada, «construíram
escadas de pedra, muros de arrimo e formaram pequenos sítios e chácaras, cujos
91
Os primeiros emigrantes madeirenses para ali dirigidos deixaram a ilha a partir de 1883 (A. R. M.
Administração do Concelho do Funchal. Listas dos passageiros saídos do porto do Funchal. Lvo n.° 120.
95
A Demograia das Sociedades Insulares Portuguesas. Séculos XV a XXI
cuidados eram entregues quase exclusivamente às mulheres»92. A historiadora
aponta que enquanto os homens iam trabalhar nas obras do cais, nos armazéns de
estocagem e exportação de café e na construção civil, as madeirenses ocupavam-se
da horticultura e retomavam um dos oicios mais tradicionais da Ilha da Madeira:
o bordado, que proporcionava-lhes uma renda suplementar. As crianças também
contribuíam para a economia familiar, especialmente as jovens, formadas bordadeiras desde pequenas pelas mães.
Kodja, por sua vez, recorda que os morros de Santos curiosamente favoreceram a ixação dos insulares, acostumados na Madeira aos terrenos acidentados
de encosta. Em sua dissertação de mestrado, a historiadora retraça a história das
bordadeiras madeirenses que até hoje vivem nos morros santistas93.
Conclusão
As dimensões do presente estudo, que como já dito é parcela de um trabalho
mais amplo e que tem por objectivo analisar em pormenores o deslocamento dos
ilhéus para o Estado de São Paulo bem como seu impacto sobre a demograia da
Madeira. Apesar de se desenvolver em meio a um universo amostral aparentemente
restrito, de 3756 pessoas, tem seu real valor revelado quando são considerados os
números globais de emigração madeirense em inais do XIX.
Nesse sentido, os estudos de Isabel Oliveira mostram de maneira precisa que,
durante os nove anos de mais alta emigração madeirense, entre 1888 e 1897, e
aqui considerados, cerca de 2200 pessoas deixaram a ilha por ano, perfazendo um
total de 19800 para todo esse período94. Cruzando esses dados com aqueles dos
desembarcados em São Paulo, descobre-se que estes representavam cerca de 20 %
do total, excluindo, portanto, a hipótese de marginalidade de tal destinação.
Ademais, fazendo parte de um capítulo importante da história do Brasil, de um
período de transição não só econômica, mas também social, as famílias madeirenses,
que aliás já haviam partido carregando o peso da realidade luso-madeirense de
inais do XIX, fazem por merecer os estudos que a elas foram ou serão dedicados.
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92
93
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