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Recensão crítica da obra de Federico Zannoni (org.) (2012) Società della discordia. Prospettive pedagogiche per la mediazione e la gestione dei conflitti

Published in E-REI Revista de Estudos Interculturais, n°2, Maio 2014

Federico Zannoni (org.) (2012) Società della discordia. Prospettive pedagogiche per la mediazione e la gestione dei conflitti. Bologna: CLUEB, 347 pp. Inês Vieira (ines.vieira@fcsh.unl.pt) “A sociedade da discórdia” é um livro escrito com um princípio plural, resultado da colaboração entre profissionais e estudiosos das ciências da educação, numa abordagem aberta ao confronto e à interdisciplinaridade. Propõem-se diversas considerações e estratégias, teóricas e operativas, para a questão de base: como enfrentar o conflito? A obra organiza-se em duas partes. Na primeira parte procede-se à apresentação dos conflitos, as suas teorias de base e estratégias de gestão (com reflexões de Federico Zannoni, Antonio Genovese, Paola Cosolo Marangon e Giordano Ruini). A segunda parte centra-se na mediação e nas suas diversas vertentes (com contributos de Maria Rosa Mondini, Rosalia Donnici, Serena Marroncini, Manuela Vaccari, Alessandra Gigli, Alessandro Zanchettin, Federica Filippini). O livro inicia com as reflexões de Federico Zannoni sobre o homem, entre o individual e o colectivo, no seu conflito original de preservar a individualidade estando imerso nas redes sociais que garantem a sua protecção.1O mesmo autor, organizador desta obra, redige o segundo capítulo, no qual apresenta uma visão transversal de conflito: etnias, culturas, classes e religiões não bastam para explicar a origem do conflito, que supera as categorias tradicionais. 2 Segue-se a contribuição de Antonio Genovese. Partindo do contexto actual de globalização e crise económica, Genovese reflecte sobre a agressividade e as formas de contenção que se vão transformando, particularmente nas relações sociais e familiares, apesar do emergente paradigma individualista que serve de base e legitima muitas discriminações até aos dias de hoje. Não obstante, reconhecendo que vivemos num mundo em mudança – com diferenças contextuais apesar da generalização dos conflitos –, sugere a criação de renovadas reflexões e instrumentos de mediação.3 No quarto capítulo, redigido por Paola Cosolo Marangon, a autora procura reconhecer a diferença entre conflito (que faz parte do quotidiano) e a violência. Sugere- E-REI: Revista de Estudos Interculturais do CEI se o desenvolvimento da comunicação como modo de gerir, minorar e resolver o conflito.4 Giordano Ruini acrescenta, no quinto capítulo, a importância de regressar ao corpo como local de origem dos conflitos (particularmente no paradigma ocidental de objectivação, desvalorização, exibição e comercialização) mas também como local de outros tipos de emoções. É da prática educativa que surge o conselho de criar instrumentos para a gestão dos conflitos partindo do corpo, ao exemplo de abordagens baseadas em bioenergia, meditação e contacto físico promotor da sensação de segurança.5 A segunda parte, composta por seis capítulos, começa com a apresentação de técnicas de mediação humanista e familiar, num capítulo redigido por Maria Rosa Mondini e Rosalia Donnici. Partindo da sua experiência jurídica em situação de divórcio, num contexto de pouca estabilidade das ligações familiares e do uso das crianças como meio de chantagem e vingança, propõe-se a mediação humanística e familiar como técnica útil e actual.6 Segue-se o contributo de Serena Marroncini, que considera a mediação social enquanto trabalho de comunidade, propondo que se procure encarar os conflitos enquanto se desenvolve a comunidade participante, numa acção facilitada por pedagogos e outros mediadores. A autora revisita os ensinamentos de Danilo Dolci e do seu método estrutural maiêutico, através do qual enquadra a apresentação do projecto participativo "La città dei bambini" (a cidade das crianças) 7. Manuela Vaccari apresenta dois projectos de mediação e prática educativa nos serviços territoriais (Via Circonvalazione e Via Turri). Cita-os enquanto boas práticas, que nos permitem reflectir sobre casos concretos de projecto, métodos de intervenção e avaliação, caminhando para a melhoria das próprias práticas. 8 Relocalizando-se entre teoria e praxis, Rosalia Donnici apresenta uma reflexão sobre a mediação entre culturas diferentes que coexistem nos mesmos espaços urbanos, propondo a desconstrução dos modelos multiculturais e a reconstrução de modelos actualizados de mediação. Daí considerar a importância do mediador cultural, elementochave para construir pontes mais do que para se afirmar nos conflitos; um mediador que desenvolva o saber técnico, o saber fazer e o saber ser.9 Inês Vieira - Federico Zannoni (org.) (2012) Società della discordia Focando-se na mediação em contexto escolar, Alessandra Gigli e Alessandro Zanchettin consideram a importância dos diversos actores sociais no contexto escola, citando exemplos de jardins de infância, de primeiro e de segundo ciclo. Discutem-se os diferentes papéis na gestão de conflitos, que conflitos podem emergir e a importância de um mediador nas escolas.10 No último capítulo coloca-se uma questão: e se os conflitos intratáveis fossem apenas uma aparência? Alguns exemplos de experiências colectivas podem conduzirnos à ideia de uma pedagogia da esperança, uma abordagem que segundo Federica Filippini pode colocar-nos para lá do intratável – é o caso de Freedom Writers, em que jovens a viverem em lógicas de gueto e de conflito se tornaram importantes embaixadores de tolerância em Long Beach (California, USA).11 O livro conclui com um diálogo entre os autores. Essencialmente, resume-se e integra-se cada contributo no binómio conflitos – mediação. Ao nível dos conflitos, considera-se o indivíduo e o colectivo; a transversalidade que vai além de categorias estanques de conflitos; a agressividade e a discriminação; a comunicação em detrimento da violência; e o corpo enquanto origem e cura. A mediação é reflectida enquanto humanística e familiar; social, com a participação das comunidades; relacionada com a educação no território; cultural, pós-multicultural; escolar; esperança, podendo ultrapassar o intratável. 1 Federico Zannoni "L'uomo nel mondo, epicentro del proprio mondo", p. 3-30. Federico Zannoni "Pervasività, creatività e distruttività nella dimensione conflittuale", p. 31-58. 3 Antonio Genovese "La società della discordia: gestire la rabbia, superare la paura", p. 59-88. 4 Paola Cosolo Marangon "Dialogo, ascolto, strategie comunicative per la gestione dei conflitti", p. 8912. 5 Giordano Ruini "Il corpo e la gestione dei conflitti", p. 121-144. 6 Maria Rosa Mondini e Rosalia Donnici "Tecniche di mediazione umanistica e famigliare", p. 153-190. 7 Serena Marroncini "Tecniche di mediazione sociale", p. 191-212. 8 Manuela Vaccari "La nervatura pedagogica delle esperienze di mediazione. Due progetti", p. 213-234. 9 Rosalia Donnici "Tra teoria e prassi: tecniche di mediazione culturale", p. 235-268. 10 Alessandra Gigli e Allessandro Zanchettin "Gestire i conflitti a scuola: riflessioni ed esperienze di mediazione scolastica", p. 269-304. 11 Federica Filippini "Trasformare i conflitti intrattabili: per una pedagogia della speranza", p. 305-326. 2