Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

II CNEA Educação Ambiental Responsabilidade para A Conservação Da Sociobiodiversidade Vol.3

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 1042

Giovanni Seabra

Ivo Mendona
(organizadores)

Educao ambiental:
Responsabilidade para a
conservao da sociobiodiversidade

Editora Universitria da UFPB


Joo Pessoa - PB
2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA


reitor
RMULO SOARES POLARI
vice-reitora
MARIA YARA CAMPOS MATOS

EDITORA UNIVERSITRIA
diretor
JOS LUIZ DA SILVA
vice-diretor
JOS AUGUSTO DOS SANTOS FILHO
supervisor de editorao
ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR

Arte Grfica: Cludia Neu


Capa: Ivo Thadeu Lira Mendona
Editorao: Ivo Thadeu Lira Mendona
E-mail: gs_consultoria@yahoo.com.br

E24

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da


sociobiodiversidade / Giovanni Seabra, Ivo Mendona
(organizadores). Joo Pessoa: Editora Universitria da
UFPB, 2011.
V. 3
1.042 p.: il.
ISBN: 978-85-7745-938-4
1. Educao Ambiental. 2. Meio Ambiente. 3. Biogeografia
e Biodiversidade. 4. Mudanas Climticas. 5. Agroecologia. 6.
Recursos Hdricos. 7. Degradao Ambiental. I. Seabra,
Giovanni de Farias. II. Mendona, Ivo Thadeu Lira

UFPB/BC

CDU: 37:504

As opinies externadas nesta obra so de responsabilidade exclusiva dos seus autores.


Todos os direitos desta edio reservados GS Consultoria Ambiental e Planejamento do Turismo Ltda.

Apresentao

Assemblia Geral das Naes Unidades elegeu 2011 como o Ano Internacional das Florestas.
Coincidentemente, neste mesmo ano, o Congresso Nacional emerge como cenrio para os debates
aquecidos envolvendo a aprovao do novssimo Cdigo Florestal do Brasil, cujos principais atores
so os parlamentares, os empresrios rurais, ambientalistas e membros da sociedade civil organizada.
Contrariamente ao movimento ecolgico nacional, houve no Brasil aumento na queima das florestas, os
problemas e desastres ambientais urbanos foram acentuados e os danos decorrentes da explorao do
petrleo em guas marinhas nacionais so agravados e, a curto e mdio prazo, irreversveis.
Estas e outras questes de natureza socioambiental foram abordadas no II CNEA & IV ENBio. Os 21
eixos temticos pautados nas principais temticas socioambientais serviram de base para elaborao dos
850 trabalhos apresentados nos eventos e publicados neste livro na forma de artigos. Os temas enfocados
incluem a preservao dos ecossistemas atravs do manejo sustentvel, a conscientizao da sociedade e o
papel que ela deve exercer no desenvolvimento global sustentvel.
Conservar florestas preservar no somente a vida das rvores. E sim manter viva toda a
biodiversidade do Planeta, e com ela as sociedades humanas. A Educao Ambiental como poltica efetiva
governamental, com o uso dos meios de comunicao de massa, de modo a atingir o nvel familiar e todos
os nveis de ensino, o principal instrumento para conservar a natureza e o ambiente em que vivemos.
O II Congresso Nacional de Educao Ambiental e o IV Encontro Nordestino de Biogeografia
ocorreram simultaneamente em Joo Pessoa, no perodo de 12 a 15 de outubro de 2011, reunindo 1.500
participantes, entre pesquisadores, professores, estudantes e cidados de todos os setores da sociedade.
Os participantes do II CNEA e IV ENBio, conforme constatado nos artigos publicados neste livro,
demonstraram, talento, conhecimento e responsabilidade ao apontar os Caminhos para a Conservao da
Sociobiodiversidade.

Giovanni Seabra
Ivo Thadeu Lira Mendona

Sumrio
APRESENTAO .................................................................................................................................................. 5
SUMRIO ............................................................................................................................................................ 6
11. DINMICA E GERENCIAMENTO DOS AMBIENTES COSTEIROS ................................................................11
EVOLUO ESPACO-TEMPORAL ENTRE AS PRAIAS DO BOTO E DE SUAPE CABO DE SANTO
AGOSTINHO (PE).....................................................................................................................................12
QUALIDADE DE VIDA, AMBIENTE E ECOSSISTEMA DUNAR NA PERCEPO DOS MORADORES DE DUAS
COMUNIDADES LITORNEAS E DA ZONA URBANA DO MUNICPIO DE AREIA BRANCA-RN. ..................20
DINMICA GEOAMBIENTAL DA PRAIA DE VALHA-ME DEUS, CURURUPU-MA .................................................27
CENRIOS TURSTICOS DO LITORAL SUL DE SERGIPE: CAMINHOS PARA EDUCAO AMBIENTAL...................35
A DIFCIL APLICAO DAS NORMAS INCIDENTES NAS FAIXAS DE PRAIA: O CASO DO ESTADO DE
PERNAMBUCO ........................................................................................................................................43
ANLISE QUALITATIVA DAS PRAIAS DE MACEI, ALAGOAS, TRECHO PONTAL DA BARRA A CRUZ DAS
ALMAS ....................................................................................................................................................49
DANOS PROVOCADOS PELA EROSO COSTEIRA NA ORLA DA PRAIA DE PAU AMARELO, PE ............................55
ANLISE SOCIOAMBIENTAL DAS COMUNIDADES LITORNEAS DE BARRA, PERNAMBUQUINHO E
ALAGARMAR, MUNICPIO DE GROSSOS-RN ...........................................................................................61
12. PAISAGEM, TURISMO E MEIO AMBIENTE ...............................................................................................69
ECOTURISMO, MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE: ANLISES E PROPOSTAS. ..........................................70
TURISMO COMUNITRIO: UMA ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL EM
CANRIAS-MA ........................................................................................................................................77
PAISAGEM, FUNCIONALIDADE TURSTICA E O DILEMA DA SUSTENTABILIDADE ..............................................85
A RELAO ENTRE PAISAGEM E TURISMO NA BACIA COSTEIRA DO RIO REAL .................................................92
ECOTURISMO DE BASE COMUNITRIA E EDUCAO AMBIENTAL NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARO NO RIO GRANDE DO NORTE .......................................99
PENSANDO UM CONCEITO DE PAISAGEM: POR OUTRO OLHAR SOBRE O ESPAO E SUA INTERFACE
COM A INFORMAO ...........................................................................................................................105
UM OLHAR PARA OS PRODUTOS TURSTICOS E A PAISAGEM NATURAL DO CARIRI PARAIBANO:
MUNICPIO DE CAMALA .....................................................................................................................114
EDUCAO AMBIENTAL E USO DOS RECURSOS NATURAIS EM UMA REA DE INTERESSE TURSTICO:
UMA PROPOSTA PARA A BACIA DO RIBEIRO SO VICENTE - ITUIUTABA (MG) ..................................120
USO DO SIG NO MAPEAMENTO DOS PONTOS TURSTICOS DO MUNICPIO DE AREIA PB (ESTUDO DE
CASO ENGENHO QUATI) ....................................................................................................................128
TURISMO DE BASE COMUNITRIA: FORTALECENDO A CONSERVAO DE MODOS DE VIDAS LOCAIS E
DA BIODIVERSIDADE NA REGIO SUDOESTE DA MICROBACIA DO RIO SAGRADO - MORRETES
(PR) .......................................................................................................................................................134
O POTENCIAL DO TURISMO RURAL NO MUNICPIO DE SANTA CRUZ DA BAIXA VERDE-PE ............................140
EDUCAO AMBIENTAL: SUBISDIOS PARA ELABORAAO DE UMA EDUCAO PELO TURISMO ..................146
A PRAA SO FRANCISCO COMO PALCO PARA AS MANIFESTAES RELIGIOSAS EM SO
CRISTVO/SE......................................................................................................................................150
ANLISE PARCIAL DAS POTENCIALIDADES NATURAIS CACHOEIRA DE OURICUR PILES/PB: UMA
PERSPECTIVA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ECOTURISMO ............................................................157

NATUREZA, TURISMO E A VALORIZAO DO ESPAO ....................................................................................164


RECIFE: BECOS DA HISTRIA DE UM POVO .....................................................................................................171
IMPLICAES SOCIOAMBIENTAIS DO TURISMO NO DISTRITO DE SOLEDADE APODI/RN ...........................180
ECOTURISMO EM REAS DE MANGUEZAIS NO LITORAL DO PIAUI.................................................................187
OS DESAFIOS DOCENTES NA PS-MODERNIDADE: TRANSVERSALIZANDO A EDUCAO AMBIENTAL
NO ENSINO SUPERIOR DO TURISMO ....................................................................................................194
USO DE TRILHA DE EDUCAO CIENTFICA E AMBIENTAL PARA APRENDIZADO DE CONCEITOS
ECOLGICOS.........................................................................................................................................206
A NOVA FUNCIONALIDADE DA PAISAGEM NATURAL: ECOTURISMO EM PETRPOLIS RJ ...........................212
O TURISMO COMUNITRIO E A EDUCAO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO
TURSTICO SUSTENTVEL EM COMUNIDADES COSTEIRAS DO NORDESTE BRASILEIRO.......................219
PAISAGEM, TURISMO E MEIO AMBIENTE NA PRAIA DA COSTA (SE): UM POTENCIAL AMEAADO ...............227
EDUCAO AMBIENTAL E TURISMO COMUNITRIO NA ZONA COSTEIRA CEARENSE: O CASO DA
PRAINHA DE CANTO VERDE-CE.............................................................................................................234
DESAFIOS DAS POLTICAS PBLICAS DE TURISMO: MUNICPIO PARAIBANO DO CONDE EM ANLISE ..........239
TURISMO PEDAGGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO -APRENDIZAGEM E FORMAO DE
VALORES: UMA EXPERINCIA EM ESCOLAS PBLICAS DE MOSSOR-RN ............................................246
PERCEPO DE MORADORES E EXCURSIONISTAS E ENFOQUES PARA GESTO AMBIENTAL EM
OLHEIRO DE PUREZA-RN ......................................................................................................................253
TURISMO, PRODUO DO ESPAO E PLANEJAMENTO SUSTENTVEL: APORTES TERICOS .........................259
O SENSORIAMENTO REMOTO COMO FERRAMENTA PARA O ESTUDO DA PAISAGEM DO CATETE-MG .........266
ECOTURISMO COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: UM ESTUDO DE CASO EM
ING - PB ..............................................................................................................................................272
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL SETOR HOTELEIRO-PIPA/RN ............................................................278
13. PLANEJAMENTO E GESTO DE REAS PROTEGIDAS .............................................................................283
APA DE MARANGUAPE (CE): IMPACTOS IDENTIFICADOS E PERSPECTIVAS POR MEIO DE ATIVIDADES DE
EDUCAO AMBIENTAL .......................................................................................................................284
ANLISE DA PERCEPO AMBIENTAL DOS VISITANTES NO PARQUE ESTADUAL DE DOIS IRMOS,
RECIFE / PE. ...........................................................................................................................................292
O RPG (ROLE PLAYING GAME) ELETRNICO COMO MEIO INTERATIVO PARA ESTUDOS DE CASO EM
PLANEJAMENTO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAO ............................................................299
PARQUES URBANOS: ATRATIVOS TURSTICOS OU REAS DE LAZER? REFLEXES A PARTIR DO PARQUE
ESTADUAL DA SERRA DA TIRIRICA, NITERI-RJ ....................................................................................306
UNIDADES DE CONSERVAO E EDUCAO AMBIENTAL: ENFATIZANDO A NECESSIDADE DO DEBATE. ......315
EDUCAO AMBIENTAL NO PARQUE ESTADUAL DA CHACRINHA (RJ) ...........................................................321
PRTICAS LDICAS COM ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAO DE
USO SUSTENTVEL ...............................................................................................................................328
ESCOLAS EM UNIDADES DE CONSERVAO NA AMAZNIA: COMO CONTRIBUIR PARA O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL? ...................................................................................................334
DIAGNSTICO DAS UNIDADES DE CONSERVAO EM REA URBANA, NO CONTEXTO DA EDUCAAO
AMBIENTAL AO LONGO DO IGARAP DO MINDU, MANAUS-AM .........................................................340
CARACTERSTICAS FISCAS E QUIMCAS E CLASSIFICAO DE UM NEOSSOLO LOCALIZADO NA RESERVA
LEGAL RIACHO PACAR, RIO TINTO/PB ................................................................................................355
A EDUCAO AMBIENTAL NA GESTO DE UNIDADES DE CONSERVAO DE USO SUSTENTVEL: UM
DILOGO ENTRE TRS ESTUDOS DE CASO ............................................................................................361
APA DAS ONAS: GESTO DO TERRITRIO E DESAFIOS PARA CONSERVAO DE ECOSSISTEMAS................367
CONSERVAO DE REAS DE RESERVA LEGAL EM ASSENTAMENTO RURAL NO MUNICPIO DE
POMBAL-PB ..........................................................................................................................................373
A APA DE GUAPIMIRIM (RJ) E O COMPERJ: DESAFIOS E PERSPECTIVAS .........................................................380

PROJETO NAVEGANDO NO @MBIENTE - INCLUSO DIGITAL E CONSERVAO DO PARQUE NATURAL


MORRO DO OSSO .................................................................................................................................389
USO DAS TIC NA EDUCAO AMBIENTAL DESENVOLVIDA EM UNIDADES DE CONSERVAO DO RIO
GRANDE DO SUL ...................................................................................................................................395
RESULTADOS PRELIMINARES DE PROJETO MULTIDISCIPLINAR COM ALUNOS DO ENSINO MDIOTCNICO NA APA DP ITAPIRAC, SO LUS-MARANHO .....................................................................403
A APA DO MARACAN PARA OS ALUNOS DA UNIDADE DE EDUCAO BSICA (UEB) MAJOR JOS
AUGUSTO MOCHEL ..............................................................................................................................410
ASPECTOS GEOAMBIENTAIS E BIOGEOGRFICOS DA MICRORREGIO DO LITORAL NORTE PARAIBANO ......415
A EDUCAO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA A GESTO DE PARQUES............................................421
A EXPERINCIA DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITRIA EM SILVES, AMAZONAS ......................................428
A CONSERVAO SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAO AMBIENTAL NO PARQUE JOO MENDES
OLIMPIO DE MELO, TERESINA - PI.........................................................................................................435
A RESERVA EXTRATIVISTA ALTO JURU-AC E A IMPORTNCIA DO PLANEJAMENTO NA GESTO DESSA
UNIDADE DE CONSERVAO ................................................................................................................444
RESERVA BIOLGICA GUARIBAS PB: UMA ALTERNATIVA PARA O ENSINO PRTICO DA
BIOGEOGRAFIA.....................................................................................................................................451
AS RESTRIES IMPOSTAS PELA LEGISLAO AMBIENTAL NO ENTORNO DO PARQUE ESTADUAL DO
BIRIBIRI DIAMANTINA/MG ................................................................................................................458
MANEJO E CONSERVAO, NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ESTADUAL DA PONTA
DO TUBARO/RN..................................................................................................................................466
PERCEPO AMBIENTAL E CONHECIMENTO LOCAL NO ESTUDO E CONSERVAO DE MATAS CILIARES:
ESTUDO DE CASO NO RIACHO DO NAVIO, FLORESTA, PERNAMBUCO .................................................472
ANLISE DA EDUCAO AMBIENTAL EMPREGADA NO HORTO DE DOIS IRMOS - RECIFE / PE.....................479
CONCEBENDO UNIDADES DE CONSERVAO: UM DEBATE SEM FIM? ..........................................................484
UNIDADES DE CONSERVAO E ORDENAMENTO TERRITORIAL: IDENTIFICANDO CONFLITOS DE USO E
OCUPAO DO SOLO COMO SUBSDIO GESTO DA APA BONFIM-GUARARA, RN, BRASIL. .............490
PROJETO NAVEGANDO NO @MBIENTE - INCLUSO DIGITAL E CONSERVAO DA RESERVA BIOLGICA
DO LAMI JOS LUTZENBERGER .............................................................................................................499
OS FOCOS DE CALOR NAS UNIDADES DE CONSERVAO BRASILEIRAS EM 2010 ...........................................504
AVALIAO DAS PUBLICAES CIENTFICAS DAS UNIDADES DE CONSERVAO DE USO SUSTENTVEL
EM SERGIPE ..........................................................................................................................................513
EDUCAO AMBIENTAL E TRILHA ECOLGICA A PARTIR DE UM CAMPO DE ESTUDO PALEONTOLGICO ....518
PLANEJAMENTO E GESTO DE REAS PROTEGIDAS E BACIAS HIDROGRFICAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES DE INTEGRAO ........................................................................................................526
CARACTERIZAO E CLASSIFICAO DE SOLO NA RESERVA LEGAL RIACHO PACAR, RIO TINTO PB...........533
EDUCAO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAO DE USO SUSTENTVEL: PERCEPO
ESTUDANTIL SOBRE CONSERVAO DA VEGETAO NATIVA DA APA DO MARACAN, SO LUSMA ........................................................................................................................................................541
AVANO DAS MONOCULTURAS E A IMPORTNCIA DAS UNIDADES DE CONSERVAAO PARA A
PRESERVAO DO CERRADO................................................................................................................546
GESTO COMUNITRIA DO TERRITRIO E AUTONOMIA SOCIAL EM UNIDADES DE CONSERVAO DE
USO SUSTENTVEL ...............................................................................................................................554
ESTRATGIA PARTICIPATIVA DE EDUCAO AMBIENTAL PARA CONSERVAO ........................................560
PERCEPO AMBIENTAL DOS POVOS PESQUEIROS DA RDS PONTA DO TUBARO ACERCA DO
MANGUEZAL, MACAU/RN. ...................................................................................................................566
TECENDO UMA HISTRIA DA EDUCAO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAO DO
MARANHO..........................................................................................................................................574
O USO DO PERFIL DOS VISITANTES DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO CIP/MG COMO
FERRAMENTA PARA AES DE EDUCAO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAO. ..............580
CONFLITO, PLANEJAMENTO E GESTO EM REAS DE PROTEO AMBIENTAL: UM OLHAR A PARTIR
DAS PERCEPES DOS CONSELHEIROS DAS APAS CABREVA, CAJAMAR E JUNDIA SP....................589
EDUCAO AMBIENTAL E UNIDADE DE CONSERVAO ................................................................................598

PARQUE ESTADUAL MATA SECA: CARACTERIZAO AMBIENTAL E OS DESAFIOS DE UMA UNIDADE DE


CONSERVAO DO BIOMA CAATINGA NO NORTE DE MINAS GERAIS .................................................605
EXTENSO UNIVERSITRIA EM UNIDADE DE CONSERVAO ........................................................................614
A PRTICA PEDAGGICA E O ECOTURISMO NO VALE DO CATIMBAU, BUQUE PE. .....................................621
PERCEPO E REPRESENTAES ESTUDANTIS SOBRE A REA DE PROTEO AMBIENTAL DA REGIO
DO MARACAN, SO LUS-MA .............................................................................................................627
PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA A ZONA DE PROTEO AMBIENTAL 03 DO MUNICPIO
DE NATAL-RN ........................................................................................................................................632
REAS ESPECIAS: A PROBLEMTICA DO USO E GESTO DOS TERRENOS DE MARINHA .................................640
O PROCESSO DE PLANEJAMENTO E GESTO PARTICIPATIVA EM UNIDADES DE CONSERVAO:
ANLISE DE SUA EVOLUO.................................................................................................................646
QUANTIFICAO DO MATERIAL COMBUSTVEL EM PISO FLORESTAL EM UNIDADE DE CONSERVAO
NO SEMIRIDO DA PARABA, BRASIL....................................................................................................654
14. GEODIVERSIDADE E GEOCONSERVAO ..............................................................................................663
GEOTURISMO NA BACIA DO ARARIPE: CAPITAL CEARENSE DA PALEONTOLOGIA, MUSEU E PERFIL DO
TURISTA. ...............................................................................................................................................664
GEOPARK ARARIPE POSSIBILIDADES PARA A EDUCAO AMBIENTAL ...........................................................671
GEOPARK ARARIPE: EXPERINCIA DE TRABALHO COM AS COMUNIDADES EM TORNO DOS GEOSSTIOS. ....677
A GEODIVERSIDADE NO MUNICPIO DE BONITO, AGRESTE DE PERNAMBUCO ..............................................682
CARACTERSTICAS GEOFSICAS E AMBIENTAIS DO INSELBERGUE ESPINHO BRANCO NO MUNICPIO DE
PATOS PB ...........................................................................................................................................692
EVOLUO E CARACTERIZAO GEOMORFOLGICA DE JUAZEIRO DO NORTE/CE: UMA
CONTRIBUIO AO ESTUDO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS URBANOS .................................................700
POTENCIAL GEOTURSTICO EM UNIDADES DE CONSERVAO: UM ESTUDO DO PARQUE ESTADUAL DA
PEDRA DA BOCA PB............................................................................................................................708
PORQUE MEIO AMBIENTE E NO AMBIENTE INTEIRO? A GEODIVERSIDADE COMO NOVO CAMINHO
PARA UMA EDUCAO AMBIENTAL COMPLETA ..................................................................................717
EDUCAO AMBIENTAL EM REAS DE GEOPARK: A FORMAO DO CIDADO ECOLGICO. .......................724
ASPECTOS GEOMORFOLGICOS E A IMPORTNCIA DA EDUCAO AMBIENTAL PARA O AMBIENTE DA
SERRA DA CAXEXA. ...............................................................................................................................733
GEOCONSERVAO E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONMICO NO PARQUE NACIONAL DE PEDRA
CADA MA ..........................................................................................................................................739
CARACTERIZAO GEOAMBIENTAL DA BORDA ORIENTAL DA MICRORREGIO DO LITORAL SUL DO
ESTADO DA PARABA, BRASIL ...............................................................................................................746
POTENCIALIDADES GEOTURSTICAS DA SERRA DA ENGABELADA - MUNICPIO DO CONGO/PB ...................754
15. IMPACTOS E DEGRADAO AMBIENTAL ..............................................................................................762
CAUSAS E CONSEQUNCIAS DAS QUEIMADAS NO CAMPO EM ITAPETIM, PERNAMBUCO............................763
PERCEPO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS QUE AFETAM O RIO APODI PELOS MORADORES DO
CONJUNTO MANOEL DEODATO, PAU DOS FERROS/RN .......................................................................773
AVALIAO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DOS CEMITRIOS EM CAMPINA GRANDE-PB ...............................781
LIMITAES DO SISTEMA AGROPASTORIL NO ASSENTAMENTO PATATIVA DO ASSAR, PATOS-PB..............790
SNTESE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS OCASIONADOS PELA OCUPAO DO SOLO EM PARNAMIRIM-RN
NO ENTORNO DO RIO PITIMB ............................................................................................................799
IMPACTOS AMBIENTAIS DA EXTRAO DE AREIA DESTINADA CONSTRUO CIVIL: O CASO DE DOIS
EMPREENDIMENTOS NO MUNICPIO DE MOSSOR-RN ......................................................................807
VARIVEIS DE CRESCIMENTO E PRODUO DO PINHO MANSO IRRIGADO COM GUA SUPERFICIAL
POLUDA ...............................................................................................................................................816

SUBSTITUIO DE FLORESTAS POR ESPCIES FRUTFERAS E SEUS IMPACTOS NAS PROPRIEDADES


FSICAS DO SOLO ..................................................................................................................................821
ANLISE DO IMPACTO AMBIENTAL DA CARCINICULTURA NO ESTURIO DO RIO JAGUARIBE-CE..................828
CARACTERIZAO AMBIENTAL DA REA DE IMPLANTAO DE UM CAMPUS UNIVERSITRIO ....................835
ABORDAGEM TERICA SOBRE A EROSO DO SOLO: CAUSAS, CONSEQUNCIAS E PRTICAS DE
CONTROLE ............................................................................................................................................842
IMPACTO SOCIOAMBIENTAL DOS RESDUOS SLIDOS E SUA IMPLICAO NO DESENVOLVIMENTO DO
TURISMO NA CIDADE DE PARNABA - PI ...............................................................................................848
CARACTERIZAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS DE INDSTRIAS CERMICAS NA COMUNIDADE DE
POO REDONDO, RUSSAS - CE ..............................................................................................................856
EDUCAO AMBIENTAL COM NFASE NA CONTENO DE ENCOSTAS PARA ALUNOS DE ESCOLAS
PBLICAS EM RECIFE ............................................................................................................................865
PROCESSOS EROSIVOS DECORRENTES DE AES ANTRPICAS EM VERTENTES CRISTALINAS NA BACIA
DOS RIOS MEIRIM-MUZUMBA, ITAMB/PE .........................................................................................871
AGRICULTURA CAMPONESA EM ITAPORANGA - PB: DEGRADAO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE .......879
RISCOS E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS: CONTEXTUALIZAO A PARTIR DE UM ESTUDO DE
ANLISE DE CONTEDO .......................................................................................................................886
PERCEPO DOS AGRICULTORES DA COMUNIDADE CAIARA, ING-PB, A CERCA DA UTILIZAO DE
AGROTXICOS E SEUS DANOS AO MEIO AMBIENTE ............................................................................892
UMA BREVE REFLEXO SOBRE O MITO E A VERDADE ENVOLVENDO OS IMPACTOS AMBIENTAIS DOS
EUCALIPTOS EM MONTES CLAROS, NORTE DE MINAS GERAIS ............................................................898
UMA ANLISE BIBLIOGRFICA DO PROCESSO DE DEGRADAO AMBIENTAL EM SO JOO DO CARIRIPB..........................................................................................................................................................906
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DE MICROEMPRESAS DE LAVAGENS DE VECULOS .......................................913
INFLUNCIA DAS OCUPAES HUMANAS EM UM FRAGMENTO DE MATA ATLNTICA NA LOCALIDADE
DE COVA DE ONA, CURADO III, JABOATO DOS GUARARAPES PE ...................................................921
IMPACTOS AMBIENTAIS X OCUPAO IRREGULAR NO CANAL DE DRENAGEM SANTA TERESA EM BOA
VISTA-RR. ..............................................................................................................................................929
ANLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO LIXO, NO MUNICPIO DE QUEIMADAS PB. ........938
OS IMPACTOS AMBIENTAIS DO LIXO NA CIDADE DE COD-MA .....................................................................945
SUSTENTABILIDADE EM REAS DEGRADADAS: PRTICAS DE EDUCAO AMBIENTAL PARA O
SEMIRIDO ...........................................................................................................................................951
O GEOPROCESSAMENTO EM ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL.................................................................957
CONTRIBUIO DO AGENTE ANTRPICO NO ASSOREAMENTO DO RIO ARAAGI, CIDADE DE
CUITEGI/PB ...........................................................................................................................................962
A EROSO HDRICA NOS SOLOS DO MUNICPIO DE INDEPENDNCIA - CE .....................................................971
TCNICAS EMPREGADAS NA RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS NA REGIO SEMI-RIDA DE
MOSSOR-RN.......................................................................................................................................980
IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DA RETIRADA DA COBERTURA VEGETAL NAS ENCOSTAS DE
BANANEIRAS/PB ...................................................................................................................................985
OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS NO ENTORNO DO IGARAP MELGAO E LAGO DO IRIPIXI
(ORIXIMIN-PA)....................................................................................................................................992
O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL E O AMBIENTE DO TRABALHO NA EXTRAO DE OPALA EM PEDRO II
(PIAU) ................................................................................................................................................1001
IMPACTOS SOCIAIS E A PERCEPO AMBIENTAL DOS TRABALHADORES DA PEDREIRA NOSSA SENHORA
DA PENHA, NO MUNICPIO DE MAMANGUAPE, PARABA, BRASIL.....................................................1010
IDENTIFICAO DOS PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS NA REA CONSTRUDA DE UM CAMPUS
UNIVERSITRIO FEDERAL ...................................................................................................................1015
IMPACTOS DA EXPLORAO DE AREIA NO LEITO DO RIO PARABA DO NORTE: UM ESTUDO DE CASO
NO MDIO PARABA ...........................................................................................................................1021
IMPACTOS AMBIENTAIS DE UMA PONTE NO ESTURIO DO RIO APODI-MOSSOR, RIO GRANDE DO
NORTE (NORDESTE DO BRASIL) ..........................................................................................................1028
PRTICAS DE EDUCAO AMBIENTAL NA RESEX MARINHA DE SO JOO DA PONTA-PA ........................1037

11.

Dinmica e Gerenciamento dos Ambientes


Costeiros

12

EVOLUO ESPACO-TEMPORAL ENTRE AS PRAIAS DO BOTO E DE SUAPE


CABO DE SANTO AGOSTINHO (PE)
BARBALHO, David de Carvalho
Graduado em Licenciatura em Geografia (UFPE)
Ps-Graduado em Gesto Ambiental com nfase em Zona Costeira (UNESF/FUNESO)
Prof. de Geografia da Escola Jlio Correia de Oliveira

RESUMO
O presente artigo teve como objetivo principal elaborar um estudo sobre a anlise da evoluo
espao-temporal do trecho da praia do Boto at o esturio do rio Massangana no municpio do Cabo de
Santo Agostinho no Estado de Pernambuco. A abordagem utilizada se baseou na anlise de uma srie de
fotografias, com escala de 1:6000, utilizando o programa ArcGis9.1, tendo como base cartogrfica a carta
de nucleao sul da regio metropolitana do Recife, na escala de 1:20000. O estudo buscou caracterizar a
evoluo em escala espao-temporal, entre os anos de 1974 e 1997 com base nos e estgios evolutivos no
processo de ocupao do trecho georreferenciado atravs do programa ArcGis9.1. Os resultados obtidos da
sobreposio da rea vetorizada apresentou um crescimento da rea ocupada no valor, entre os anos de
1974 e 1997, uma populao de 81 habitantes em 1974 e 7622 habitantes em 1997. Foi observado um
aumento populacional na malha urbana da faixa costeira do Cabo de Santo Agostinho, decorridos nos 23
anos, referente ao perodo entre 1974 e 1997. Esse aumento provocou uma forte presso antrpica sobre a
costa, onde a maior concentrao fica evidenciada na praia de Gaibu.
Palavras-Chave: Cabo de Santo Agostinho, Faixa Costeira, Evoluo Espao-Temporal.
ABSTRACT
This article aimed to develop a major study on the analysis of spatial-temporal evolution of the
stretch of beach of the Dolphin to the estuary Massangana in the municipality of Cabo de Santo Agostinho
in the state of Pernambuco. The approach used was based on analysis of a series of photographs with scale
of 1:6000, using the program ArcGis9.1, based on mapping the letter nucleation southern metropolitan
area of Recife, on a scale of 1:20000. The study sought to characterize the evolution in space-time scale,
between the years 1974 and 1997 and based on the evolutionary stages in the process of occupying the
stretch georeferenced ArcGis9.1 through the program. The results of the overlapping area vectored
showed an increase in the value of the occupied area, between the years 1974 and 1997, a population of 81
inhabitants in 1974 and 7622 inhabitants in 1997. We observed an increase in urban population in coastal
waters of Cabo de Santo Agostinho, after the 23 years, covering the period between 1974 and 1997. This
increase led to a strong anthropogenic pressure on the coast, where the greatest concentration is evident
on the beach inPGaibu.
Keywords: Cabo de Santo Agostinho, Coastal Range, Spacial-Temporal Evolution.
INTRODUO
As zonas costeiras representam um sistema economicamente produtivo, e se caracterizam pela
complexidade das atividades que abrigam, bem como pela sensibilidade de seus ecossistemas (GREGRIO,
2009). O crescimento da populao nesta regio resulta na explorao e degradao destes ambientes
(PEREIRA et al, 2003).
Esse sistema economicamente produtivo reflete no crescimento urbano no litoral brasileiro, que na
atualidade manifesta-se de forma concentrada, atravs de assentamentos que se expandem em todas as
escalas e em todos os quadrantes do pas. Sendo assim, a maior parcela da populao nacional se aloca na
zona costeira, onde se encontram ncleos essenciais da dinmica demogrfica brasileira. (MORAES, 2007).
Esse crescimento tambm e evidenciado na zona costeira do estado de Pernambuco que marcada
pelo uso e ocupao das mais diversas atividades tais como, indstria, comrcio, transporte, agricultura,
pesca, aquicultura, lazer e turismo (MADRUGA FILHO, 2004).
A evoluo urbana do litoral do Cabo de Santo Agostinho reflete as variaes progressivas da rea
costeira nas ultimas trs dcadas do sculo XX, assim como o litoral pernambucano e o brasileiro em geral.
Esta dinmica regida principalmente por condicionantes atrativos como a aproximao com a capital
Joo Pessoa, outubro de 2011

13
(Recife). Essa evoluo urbana se inicia com a implantao dos loteamentos de veraneio ao longo da orla
situada no trecho da praia de Gaibu. Esses loteamentos se expandem ao longo dos anos em conjunto a
implantao de infraestrutura a apoio ao turismo atraindo maiores contingentes populacionais (PMCSA,
1998).
Neste artigo utilizar o georreferenciamento, atravs do programa ArcGis9.1, para anlise espacial
e temporal. Esta essa ferramenta utilizada para a montagem de fotografias areas, servindo para a
comparao de reas em pocas diferentes, tendo como base um mapa referencial. Essa ferramenta
importante para a anlise das modificaes ocorridas georreferenciadas no espao ao longo do tempo.
O presente estudo visa determinar a evoluo multi-temporal e espacial de um trecho da rea
costeira do municpio do Cabo de Santo Agostinho entre a praia do Boto (Enseada dos Corais) e de Suape,
ao longo de 23 anos (1974-1997) a fim de observar a expanso da rea urbana e sua relao com o
crescimento populacional. Possibilitando uma visualizao da dinmica evolutiva da costa do municpio do
Cabo de Santo Agostinho.
EVOLUO ESPAO-TEMPORAL DA REA COSTEIRA
A orla do municpio do Cabo de Santo Agostinho apresenta uma diversidade de usos ao longo dos
seus 24 km de extenso. Pode-se observar desde trechos com baixa densidade e/ou sem ocupaes
cobertos com extensa faixa de coqueirais na praia do Paiva, passando-se por trechos com uma densidade
de ocupaes desordenadas e no dotadas de redes de infra-estrutura urbana como nas praias de
Itapuama, Enseada e Gaibu, at a existncia de stio histrico composto por afloramentos rochosos e runas
de edifcios do sculo XVII como na praia do Cabo de Santo Agostinho. Ressalta-se ainda a praia de Paraso
e de Suape onde houve a acelerao de sua ocupao em funo da instalao do Resort Blue Tree Park em
1997 (GOMES, 2003).
Vale ressaltar tambm que o municpio em seu trecho litorneo, vem apresentando vrios
problemas decorrentes de assentamentos no planejados que se agravaram ao longo dcadas de 70, 80 e
90. Entretanto ainda no sofre fortes presses por ocupaes para moradia permanente ou com intensa
construo de imveis de veraneio (GAMA 1999). A dificuldade de acesso s praias do municpio, deve-se
considerar que, em parte, esse problema vem sofrendo modificaes haja vista a duplicao da rodovia BR101 e a pavimentao da PE-28, principal via de acesso s praias, encurtando ainda mais as distncias
dentro da Regio Metropolitana do Recife que compreende 14 municpios e uma populao de
aproximadamente 3.331.552 habitantes. (IBGE - Censo, 2000).
MTODO DE PESQUISA
A coleta de dados para o presente trabalho baseou-se no mtodo de investigao de dados
espaciais e temporais. Consistindo na coleta de matrias cartogrficos correspondentes a rea de estudo e
fotografias areas dos anos de 1974 e 1997. A Tabela 1 apresenta as informaes levantadas.
Materiais Coletados
Fotografias Areas
Carta de Nucleao

Ano
1974

Escala
1:6000

Quantidade
16

1997

1:6000

18

2003

1:20000

Tabela 1: Dados coletados para a execuo do trabalho


Fonte: CONDEPE/FIDEM

REGISTRO, GEORREFERENCIAMENTO E MOSAICAGEM DAS IMAGENS


Uma vez selecionadas as fotos areas do litoral do municpio do Cabo de Santo Agostinho, tornouse, ento necessrio realizar o registro e o georreferenciamento das fotos areas na escala de 1:6000 dos
anos 1974 e 1997. O georreferenciamento foi realizado atravs do software ArcGis9.1.
Foi utilizado como base cartogrfica a carta de Nucleao Sul da rea metropolitana do Recife de
2003, na escala de 1:20000.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

14
Aps o georreferenciamento das fotos areas, foram realizados dois mosaicos, um para o ano de
1974 e o outro para o ano de 1997 (Figura 1).
VETORIZAO DA REA COSTEIRA
Para a anlise evolutiva da rea de costeira em formato vetorial, utilizou-se tambm o software
ArcGis9.1, devido aos seus recursos existentes para vetorizao e facilidades em trabalhar com imagens
georreferenciadas. Aps anlise das imagens, foi vetorizada a rea ocupada pela a urbanizao dos anos de
1974 e 1997. Aps o processo de vetorizao foram sobrepostas espacialmente e temporalmente.
Aps a vetorizao, foi calculada a rea ocupada (km) dos anos de 1974 e 1997 utilizando-se
programa ArcGis9.1. A diferena da expanso foi calculada no programa Excel 2003, bem como o clculo do
crescimento demogrfico.

Figura 1: Fotografias areas georreferenciadas da rea de estudo


Fonte: CONDEPE/FIDEM

Joo Pessoa, outubro de 2011

15

RESULTADOS E DISCUSSO
Atravs da superposio das imagens vetorizadas (Figura 2), foram verificadas as tendncias
evolutivas, espacial e temporal para a faixa litornea da rea de estudo, entre os anos de 1974 e 1997.
As reas ocupadas e acrescidas na zona costeira da rea de estudo se encontram representadas nas
figuras 1 e 2. O clculo da rea se encontra na tabela 2, demonstrando que houve um crescimento espacial
e populacional equivalentes rea existentes entre a posio da faixa costeira (Figura 3) no ano de
referncia (1974) e o ano de comparao (1997).
Ano
1974

Dimenso espacial urbana


243,27 km (8,9 %)

Diferena
2504,11 km (91,1%)

1997

2747,38 km (100%)

Tabela 2: Resultado de comparao da dimenso espacial urbana entre os anos de 1974 e 1997
Fonte: CONDEPE/FIDEM

Durante o intervalo de 1974 a 1997, as reas acrescidas ao litoral da rea de estudo apresentaram
um total de 2.504,11 km (91,1%) da rea de costa observados na tabela 2 e na figura 4. A anlise dos
dados demonstra que existe uma tendncia progressiva da expanso urbana, devido s atividades
desenvolvidas neste espao do territrio municipal como comrcio, turismo, pesca etc.
Neste estudo, as mdias das taxas de expanso espao-temporal de rea foram observadas na zona
costeira de estudo, no perodo entre 1974-1997, evidenciando um valor de crescimento espacial de 91,1 %.
Pode-se afirmar que esse crescimento na zona costeira se deve a valorizao capitalista desse espao
(MORAES, 2007), O crescimento da economia de mercado no Brasil na zona costeira, expressa
imediatamente, no apenas a instalao de um mercado capitalista, mais de mercados de feies citadinas,
onde se vendem lotes urbanos. Assim o aumento dessa rea vem acompanhado o aumento da ocupao
da zona costeira do pas onde reafirma e refora, com bastante nfase, o carter urbano do crescimento do
litoral brasileiro.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

16

Figura 2: mapa de vetorizao da posio temporal e espacial da rea costeira de 1974 sobreposta a 1997
Fonte: CONDEPE/FIDEM

Joo Pessoa, outubro de 2011

17

Figura 3: Comparao da dimenso espacial em rea urbana entre os anos de 1974 e 1997
Fonte: CONDEPE/FIDEM

Figura 4: Comparao percentual da dimenso espacial em rea urbana entre os anos de 1974 e 1997
Fonte: CONDEPE/FIDEM

No incio dos anos 70 a populao residente ocupava um pequeno trecho situado na praia de
Gaibu, mas no final dos anos 90 essa populao se expandia em no sentido Gaibu-Recife. Essa expanso
acompanhada pelo crescimento quantitativo da populao absoluta e relativa do litoral do Cabo de Santo
Agostinho representado na tabela 3 e no grfico da figura 5. O clculo para determinar a densidade
demogrfica foi expresso (km) utilizando a populao absoluta dos anos de 1970 e 2000 do litoral do Cabo
de Santo Agostinho dividido pela rea estudada dos anos de 1974 e 1997 respectivamente, estimando-se
apenas os resultados da rea de estudo desses dois anos, os quais esto representados na tabela 3 e na
figura 5. A populao absoluta dos anos de 1980 e 1990 no foi dividida pela rea de estudo por estarem
mais distantes em escala temporal.
Densidade Demogrfica (Populao Relativa) = Populao Absoluta (litoral)
rea
Ano
Densidade absoluta
Densidade relativa
1970
81
~0,3 hab/km
1980
2404
_
1990
3120
_
2000
7622
~2,7 hab/km
Tabela 3: Resultado da comparao do crescimento demogrfico entre os anos de 1970 a 2000.
Fonte: IBGE. Sinopse Preliminar do Censo Demogrfico Pernambuco 1970, 1980, 1990, 2000.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

18

Os resultados demonstram taxas de crescimento demogrfico durante 30 anos, com ndices de 81


habitantes no incio da dcada 70 atingindo ndices de 7622 habitantes no ano 2000. Este resultado revela a
expressiva crescente populacional na faixa litornea do municpio do Cabo. Analisando os resultados,
constata-se que o crescimento demogrfico entre os anos de 1970 e 2000 causa uma grande presso na
zona costeira da rea de estudo.
Em sntese a evoluo espao-temporal do litoral do Cabo de Santo Agostinho, pontuando entre a
praia do Boto e Suape os principais elementos que impulsionaram esse processo, que so a expanso
territorial e o crescimento populacional. Alm da expanso urbana em direo ao norte do municpio do
Cabo, foi tambm observada a expanso territorial em direo ao interior do municpio bem como o
aparecimento de pequenos ncleos populacionais.

Figura 5: Densidade absoluta e relativa da rea de estudo


Fonte: IBGE. Sinopse Preliminar do Censo Demogrfico Pernambuco 1970, 1980, 1990, 2000.

CONSIDERAES FINAIS
O litoral do municpio do Cabo de Santo Agostinho delimitado pelas praias do Boto (Enseada dos
Corais) e a praia de Suape apresentaram uma progresso urbana nas ltimas trs dcadas. Houve um
crescimento da expanso urbana em direo ao norte, a partir do ncleo urbano da praia de Gaibu entre os
anos de 1974 e 1997.
A regio apresenta uma concentrao de lotes e imveis, bem como o crescimento populacional da
faixa costeira do municpio do Cabo de Santo Agostinho. Entretanto, no se expandiu em direo ao sul,
onde est situado o Parque Armando Holanda Cavalcanti (Promontrio de Nazar), salvo a rea do Resort
em Suape, inaugurado em 1997, que impulsionou, a partir deste ano, o incremento econmico e o fluxo
populacional da rea.
Os dados levantados ao longo da pesquisa vm confirmar a contnua expanso urbana onde esto
concentrados os atrativos tursticos. Esse crescimento foi verificado atravs de uma expanso territorial de
243,27 km em 1974 para 2747,38 km em 1997, bem como o crescimento da densidade demogrfica. Esta
Joo Pessoa, outubro de 2011

19
durante o ano de 1970, era de 0,3 hab/km e de 2,7 hab/km para o ano 2000 ampliando a infraestrutura e
as atividades de apoio ao setor de indstria, comrcio, transporte, agricultura, pesca, aquicultura, lazer,
turismo e habitao.
As informaes levantadas permitiram identificar na rea de estudo, um forte processo de
urbanizao, ncleos urbanos tradicionais revitalizados pelo turismo balnerio e franjas de urbanizao
recente que margeiam praias e os mencionados ncleos de ocupao antiga da dcada de 70.
REFERNCIAS
CONDEPE/FIDEM: Carta de nucleao Sul da rea metropolitana do Recife. Escala 1:20.000.
Setembro de 2003. Recife.
CONDEPE/FIDEM: Fotos areas do litoral do Cabo de Santo Agostinho. Escala 1:6.000. Setembro de
1974. Recife.
CONDEPE/FIDEM: Fotos areas do litoral do Cabo de Santo Agostinho. Escala 1:6.000. Setembro de
1997. Recife.
GAMA, Ana Maria de Freitas. Coord. Diagnstico Ambiental Integrado da Bacia do Pirapama. Recife
- CPRH/DFID. 1999. 278 p. ISBN: 85.86592.04-8
GOMES, E. T. A. Relatrio de Sistematizao das Informaes Levantadas para os Municpios do
Cabo de Santo Agostinho e So Jos da Coroa Grande PRODUTO 2. MMAPNMA II/SECTMA/CPRH/GERCOPE. Recife. Janeiro de 2003. 93 p.
GREGRIO, Maria das Neves. Evoluo da Linha de Costa e Caracterizao da Plataforma
Continental Interna Adjacente Cidade Do Recife PE. Tese de Doutorado. Departamento de Oceanografia,
UFPE, Recife, 2009. 173 p
IBGE. Sinopse Preliminar do Censo Demogrfico Pernambuco 1970, 1980, 1990, 2000.
MADRUGA FILHO, J. D. Aspectos Geoambientais entre as praias do Paiva e Gaibu, Municpio do
Cabo de Santo Agostinho (Litoral Sul de Pernambuco). 2004. 252 p. Tese (Doutorado em Geocincias)
Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 2004.
MORAES A. C. R.; Contribuies para a Gesto da Zona Costeira do Brasil: Elementos para uma
Geografia do Litoral Brasileiro. 2 ed. So Paulo: Annablume, 2007. 232 p.
PEREIRA, L. C. C.; JIMENZ, J.; MEDEIROS, C., 2003. Environmental Degradation of the Littoral of
Casa Caiada and Rio Doce, Olinda (PE), Brazil. Journal of Coastal Research. Itaja, 35: 205-502.
PMCSA: Plano de Aes Integradas da Orla. Secretaria de Planejamento, Coordenao e Meio
Ambiente Depto. de Planos e Projetos. Cabo de Sto. Agostinho. 1998. 39 p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

20

QUALIDADE DE VIDA, AMBIENTE E ECOSSISTEMA DUNAR NA PERCEPO


DOS MORADORES DE DUAS COMUNIDADES LITORNEAS E DA ZONA
URBANA DO MUNICPIO DE AREIA BRANCA-RN.
Dweynny Rodrigues Filgueira G
Bacharel em Gesto Ambiental. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN
Ps-Graduando lato sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel. Universidade Potiguar UnP
E-mail: dweynny@yahoo.com.br;
Rodrigo Guimares de CARVALHO
Professor Assistente da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN. Departamento de Gesto Ambiental
E-mail: rodrigo.ufc@gmail.com

RESUMO
O incio do processo de colonizao do territrio brasileiro ocorreu atravs do seu litoral, desde
ento so desenvolvidas atividades econmicas que possuem um grande potencial de interferncia na
dinmica natural dos ecossistemas costeiros, dentre eles o ecossistema de dunas. O municpio de Areia
Branca, localizado no litoral setentrional do Estado do Rio Grande do Norte, no Nordeste do Brasil, possui
uma economia voltada para atividades relacionadas faixa litornea, por exemplo, a carcinicultura, as
atividades salineiras, o potencial turstico e a possibilidade de instalao de parques elicos na faixa de
praia do municpio, podem ser fatores de modificao do ambiente natural. Portanto, faz-se necessrio
uma investigao no municpio com a finalidade de identificar os nveis de qualidade de vida da populao,
os principais problemas ambientais e a importncia do ecossistema de dunas para a comunidade local a
partir da percepo dos indivduos. A pesquisa foi realizada em trs localidades do municpio: na zona
urbana e em duas comunidades litorneas: So Cristvo e Ponta do Mel. Para tanto, foi necessrio um
levantamento bibliogrfico relativo temtica em questo, coleta de dados em campo, com visitas in locu
aos locais investigados e confeco e aplicao de questionrios semiestruturados. Com isso, foi possvel
identificar que os moradores consideram a qualidade de vida local entre boa e razovel, os principais
problemas elencados esto relacionados com infraestrutura e que acham as dunas uma paisagem muito
agradvel e bonita, mas que no possui grande utilidade para a comunidade. Diante disso, fica perceptvel a
falta de informao relativa aos ecossistemas costeiros e sua importncia para a estabilidade do ambiente,
e, portanto, faz-se necessrio a aplicao de programas de educao ambiental para a populao, com a
finalidade de orientar sobre a importncia da conservao dos ecossistemas costeiros, alm da
implementao de polticas pblicas que tratem da preservao desses ecossistemas.
PALAVRAS-CHAVE: Percepo Ambiental; Ambiente Costeiro; Dunas.
INTRODUO
O Brasil teve todo o seu processo de ocupao iniciada a partir do litoral, da as diversas
atividades econmicas realizadas at hoje nas faixas litorneas. As zonas costeiras possuem aspectos
formidveis, fruto de uma agregao excepcional de fatores fsicos, ambientais e humanos que as elevam
classe de lugar privilegiado, em todo o mundo.
As reas litorneas so, ao mesmo tempo, interconexes das diversas relaes de interesse vital,
tanto da vertente ecolgica, pois onde se desenvolve a quase totalidade das espcies marinhas do
planeta, como da tica humana, tendo sido o ponto de entrecorte e contato das diversas culturas, onde
foram constitudas inmeras cidades e civilizaes do passado, inclusive na antiguidade. No presente, sua
importncia se afirma cada vez mais pelo fato de intermediar relaes econmicas e scio-espaciais,
marcadas vastamente pelas caractersticas atuais da sociedade contempornea em contato com o mar,
ocasionando conflitos e suscitando discusses sobre as relaes de controle e gesto (MONTENEGRO
JUNIOR, 2004).
Localizado no extremo nordeste do Brasil, o Estado do Rio Grande do Norte est situado entre os
paralelos 658'57"S e 449'53"S e os meridianos 3834'54"W e 3458'08"W, ocupando uma rea territorial
de 53.307 km, que representa 0,62% do territrio brasileiro. Seus limites so formados com o Oceano
Atlntico ao leste e norte, e com os Estados da Paraba, ao sul, e Cear, a oeste. O litoral, com extenso da
ordem de 400 km, apresenta uma grande rea de dunas e formaes arenosas, orientadas segundo a
Joo Pessoa, outubro de 2011

21
direo dos ventos alsios, intensos e constantes nesta regio da costa brasileira. Com exceo da poro
sudeste, onde o clima semi-mido propicia um maior desenvolvimento da vegetao verde, o restante do
territrio do Rio Grande do Norte possui clima semi-rido, com mais de sete meses de durao do perodo
seco anual, resultando no domnio da vegetao xerfila seca e esparsa - a Caatinga (AMARANTE et. al.,
2003, p. 01).
De acordo com o IDEMA (2007), o municpio de Areia Branca est localizado na microrregio de
Mossor, no Estado do Rio Grande do Norte, sendo que sua sede est localizada nas coordenadas
45722S e 370813W, o municpio possui uma rea total de 357,58 Km e populao de 24.398
habitantes. O municpio de Areia Branca possui um litoral amplamente constitudo por morfologias
dunares, tanto dunas fixas como dunas mveis, fazendo assim, com que se tenha uma grande ateno para
com a manuteno desse ecossistema.
A zona costeira do municpio de Areia Branca possui muitas atividades econmicas que podem
afetar negativamente o meio ambiente. Dentre as principais contata-se a atividade salineira, o turismo e
atividade de carcinicultura, alm do possvel aproveitamento para aquisio de energia elica, uma vez que
o litoral de Areia Branca possui caractersticas favorveis para explorao desse tipo de fonte energtica.
Nesse sentido, de grande importncia o conhecimento sobre a importncia dos ecossistemas
costeiros pelos moradores do municpio, principalmente, das dunas, por estarem presentes em quase todo
o litoral do municpio, com a finalidade de avaliar a importncia dos ecossistemas dunares para a qualidade
de vida da populao e para a manuteno da estabilidade dos ecossistemas locais. Nesse contexto, esse
estudo tem como objetivos: a identificao dos nveis de qualidade de vida da populao do municpio; a
identificao dos principais problemas ambientais e a importncia das dunas para a populao local, a
partir da percepo dos indivduos de trs localidades do municpio de Areia Branca/RN.
METODOLOGIA
A pesquisa abrangeu trs localidades do municpio de Areia Branca, conforme demonstra a figura
01: rea 01, a zona urbana do municpio de Areia Branca; rea 02, comunidade litornea, tipicamente
pesqueira, a comunidade de So Cristvo, distante aproximadamente 25 km do centro urbano; rea 03,
comunidade litornea, predominantemente pesqueira e turstica, a comunidade de Ponta do mel, distante
aproximadamente 35 km da zona urbana.

Figura 01 - Localidades da pesquisa, municpio de Areia Branca: rea 01, Zona urbana; rea 02,
comunidade de So Cristvo e rea 03, comunidade de Ponta do Mel. Fonte: Google Earth, 2009.
Adaptado.
Inicialmente, foi realizado o levantamento bibliogrfico relativo temtica em questo,
principalmente, por meio de obras dos acervos da biblioteca do campus central da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte. Logo em seguida, foi confeccionado o questionrio para aplicao com a
populao da zona urbana do municpio de Areia Branca, alm das comunidades litorneas de So
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

22
Cristvo e Ponta do Mel. O questionrio foi organizado de maneira semiestruturada. Foram aplicados 45
questionrios, sendo 15 na zona urbana do municpio de Areia Branca, 15 na comunidade de So Cristvo
e 15 na comunidade de Ponta do mel, com o objetivo de examinar as percepes dos moradores das
localidades citadas a cerca das questes pertinentes a temtica em questo. A forma de aplicao do
questionrio foi aleatria em relao s residncias das localidades escolhidas para pesquisa.
Com relao aos objetivos a pesquisa pode se classificada como exploratria, que de acordo com
Gil (2002, p. 41), proporciona maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais explcito ou
a construir hipteses. J com base nos procedimentos tcnicos utilizados a atual investigao qualificada
como bibliogrfica e de campo. Quanto a natureza, o estudo contempla uma anlise quali-quantitativa, pois
sero analisados dados, visando a importncia de se demonstrar em nmeros e grficos as informaes
relatadas pelos participantes da pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSO
Contexto Socioeconmico
Faz-se necessrio uma pequena anlise socioeconmica dos respondentes do questionrio, sendo
um ponto de extrema importncia para anlise e entendimento das concepes ora abordadas nesta
pesquisa.
Do grupo de entrevistados, ou seja, respondentes do questionrio, 60% eram do sexo feminino e
40% do sexo masculino; com idade entre 18 e 77 anos sendo a mdia de idade de 45,1 anos. Destes, 87%
residiam em sua localidade a mais de 10 anos, 7% tinham tempo de residncia de 2 a 5 anos, 4% moravam
no local da aplicao da pesquisa at no mximo 1 ano e apenas 2% residiam no lugar num perodo de 6 a
10 anos.
No tocante a renda mdia dos respondentes, 18% possui renda de at 1 salrio mnimo, 31% detm
renda de 1 salrio mnimo, 18% possui de 1 a 2 salrios, 7% recebem de 2 a 4 salrios mnimo, 4% ganham
mais de 4 salrios, 20% relataram que no possuem renda e 2% disseram no saber sua renda mdia.
Quanto a escolaridade dos respondentes, 51% possuam o ensino fundamental incompleto, 2%
tinham o ensino fundamental completo, 7% disseram que no concluram o ensino mdio, 33% relataram
que finalizaram o ensino mdio completo e 7% possuam nvel superior.
Qualidade de vida e ambiente
Foram coletados dados referentes qualidade de vida e meio ambiente nas localidades que foram
foco da investigao, inicialmente foi feita a seguinte pergunta: Como voc classifica a qualidade de vida
na localidade? (Grfico 01).

Grfico 01 Nvel de qualidade de vida dos respondentes em suas respectivas localidades. Areia
Branca, RN. 2010.
Depreende-se do grfico 01, que os participantes da pesquisa consideram, de maneira
geral, a qualidade de vida da sua localidade de boa a razovel e os prprios justificam-se com as seguintes
afirmativas: ... boa, por que aqui muito tranquilo, tem um clima bom, tem um custo de vida baixo, por
isso boa, n?..., resposta de um questionrio aplicado na comunidade de So Cristvo. J um
respondente da comunidade de Ponta do Mel afirma que a qualidade de vida ... razovel, por que os
Joo Pessoa, outubro de 2011

23
servios da prefeitura fraco aqui em Ponta do Mel, tem pouca renda aqui e falta emprego para a
comunidade....
Com a finalidade de demonstrar, de maneira mais clara, alguns aspectos que interferiam
diretamente na qualidade de vida da populao foi realizada a seguinte pergunta: Quais os problemas
ambientais mais caractersticos de sua comunidade?. Para a comunidade de So Cristvo o principal
problema a m disposio do lixo. Os respondentes da localidade de Ponta do Mel enfatizam que a falta
de saneamento e a m disposio do lixo prejudicam diretamente a qualidade de vida dos moradores. J na
zona urbana de Areia Branca, o desconforto ambiental mais caracterstico citado foi a falta de saneamento
(Grfico 02).

Grfico 02 Principais problemas ambientais nas localidades investigadas. Areia Branca, RN. 2010.
De acordo com as informaes coletadas, o principal problema ambiental relatado pelos moradores
do municpio est relacionado com a infraestrutura, principalmente com a vertente do saneamento
ambiental, relacionado com a m disposio dos resduos slidos como a prpria falta de saneamento
bsico. Disposto em qualquer lugar ou inadequadamente tratado, o lixo uma fonte inigualvel de
proliferao de insetos e roedores, com os consequentes riscos para a sade pblica, alm de ser causa
tambm de incmodos estticos e de mau cheiro (BRAGA, et al., 2005). J a falta de saneamento bsico
diminui consideravelmente a qualidade de vida da populao, pois pode provocar inmeras doenas para a
populao (PHILIPPI JR., 2005).
Importncia do ecossistema dunar
A zona costeira um espao um tanto conflitante, devido a sua importncia ecolgica e sua
fragilidade ambiental contrastando com as potencialidades econmicas, j que abriga um contingente
populacional significativo e uma abundncia de atividades econmicas que podemprovocar situaes de
riscos e integridade ambiental para a regio (MORAIS, 2009). O municpio de Areia Branca possui um litoral
onde est presente uma grande quantidade de dunas. Portanto, necessria a coleta de informaes
relativas ao ambiente dunar presente nas localidades pesquisadas.

Figura 02 Dunas localizadas no municpio de Areia Branca, RN. Fonte: SEIXAS, 2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

24
O questionamento inicial desta etapa foi a cerca da percepo ambiental relacionada as dunas: O
que voc acha dessa imagem (dunas - figura 02)?. De acordo com as pessoas consultadas, 76% relataram
que a imagem bonita e 18% comentaram que a imagem agradvel (Grfico 03).

Grfico 03 Percepo relacionada s Dunas. Dados em %. Areia Branca, RN. 2010.


Quando perguntados sobre a importncia dos ambientes dunares no cotidiano da populao, 36%
relataram que o ecossistema de dunas possui uma alta importncia para a populao, 24% comentaram
que as dunas tm uma mdia importncia para a populao e outros 24% expuseram que as dunas no
possuem nenhuma importncia para as comunidades que a cercam (Grfico 04).
As principais indagaes foram as seguintes: ... as dunas tem grande importncia, por que
elas trazem um equilbrio natural e econmico.... Outro respondente enfatiza que ... as dunas no
possuem nenhuma importncia para a comunidade, pois elas destroem as estradas e para a populao no
so importantes, so importantes apenas para a natureza. Alguns respondentes citaram que ... as dunas
tem baixa importncia, pois o turismo ainda fraco na regio....

Grfico 04 Importncia dos ambientes dunares para as comunidades e zona urbana do municpio
de Areia Branca, RN. Dados em %. 2010.
Moraes (1999, p. 29 apud MORAIS 2009, p. 01) define zona litornea ou zona costeira como uma
zona de usos mltiplos, pois em sua extenso possvel encontrar variadssimas formas de ocupao do
solo e a manifestao das mais diferentes atividades humanas. Com as inmeras formas de utilizaes
para a zona costeira, foi questionado voc acha que as dunas de Areia Branca sofrem algum impacto
ambiental causado pelo homem?. Do total da populao pesquisada, 47% dos questionados responderam
que sim, enquanto 40% disseram que no e 13% no souberam repassar a resposta do questionamento
(Grfico 05). Os entrevistados citaram como os impactos mais comuns nas localidades: a retirada de areia
para utilizao na construo civil, desmatamento da vegetao, a m disposio de lixo, que colocado
nas dunas e o turismo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

25

Grfico 05 Voc acha que as dunas de Areia Branca sofrem algum impacto ambiental causado
pelo homem? Dados em %. Areia Branca. 2010.
Tratando-se de um ambiente natural frgil de suma importncia o conhecimento das
caractersticas e as formas de relacionamento das populaes com o ambiente, neste caso a zona costeira,
mais especificamente as dunas, que esto inseridas no litoral do municpio de Areia Branca. As dunas
podem possuir uma relao com o ambiente natural, cultural ou artificial (TRIVIOS, 1992, p. 96).
CONSIDERAES FINAIS
No tocante a qualidade de vida no municpio a maioria dos questionados consideram de boa a
razovel, apenas elencando como os principais problemas ambientais do municpio a falta de
infraestrutura, principalmente na rea de saneamento ambiental, envolvendo a disposio final
inadequada de resduos e a ausncia de saneamento bsico.
Com relao ao ecossistema dunar pode-se constatar que a maioria da populao acha o ambiente
de dunas bonito e agradvel, alm de acreditar que as dunas so importantes para a comunidade, no
entanto ainda muito grande o nmero de pessoas que citaram que as dunas no possuem nenhuma
utilidade para a populao, bem como que as dunas no sofrem nenhum impacto antrpico.
Percebe-se na resposta de vrias pessoas que o ecossistema de dunas no fornece um benefcio
econmico direto, na verdade chega a interferir na rotina da comunidade, pois as dunas mveis ocupam
estradas e construes, passando a ser um problema para a comunidade, de acordo com os dados
coletados esse ecossistema colocado a margem no rol de importncia, ou seja, prioridades ou
preocupaes, para as comunidades e a zona urbana do municpio de Areia Branca, pois no apresenta um
benefcio econmico direto para a populao.
Portanto, perceptvel a carncia de informaes da populao local sobre os ecossistemas
costeiros, principalmente, as dunas e a sua importncia para a estabilidade do ambiente, existindo a
necessidade de aplicao de aes de educao ambiental com a inteno de orientar sobre a importncia
desse ecossistema para o municpio, alm da implementao de mecanismos e polticas pblicas que
preservem efetivamente as dunas do municpio. Para isso, faz-se necessrio a interao constante entre os
atores envolvidos, nesse caso o poder pblico e a populao local.
REFERNCIAS
AMARANTE, Odilon A. Camargo do. et. al. Atlas do potencial elico do Estado do Rio Grande do
Norte. Natal: Companhia Energtica do Rio Grande do Norte - COSERN; Rio Grande do Norte. Iberdrola
empreendimentos do Brasil S.A. e Camargo schumbert engenharia elica, 2003.
BRAGA, Benedito et al. Introduo Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento
sustentvel. 02. ed. So Paulo: Prentice Hall, 2005.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. So Paulo: Atlas, 2002. 175 p.
IDEMA - Instituto de Defesa do Meio Ambiente. Perfil do municpio de Areia Branca (RN). 2007.
[online] Disponvel em <URL: http://www.idema.rn.gov.br/perfila.asp#areiabranca> [2009 jun 13].

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

26
MONTENEGRO JUNIOR, Igncio Ribeiro Pessoa. Turismo e urbanizao: Gesto de impactos no
litoral de Aquiraz, CE. 2004. 259 f. Dissertao (Mestrado) - Programa Regional de Ps-graduao de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, CE, 2004.
MORAIS, Lenygia Maria Formiga Alves. Expanso urbana e qualidade ambiental no litoral de Joo
Pessoa Paraba. 2009. 171 f. Dissertao (Mestrado) - Curso de Mestrado em Geografia, Programa de Psgraduao em Geografia, Universidade Federal da Paraba, Joo Pessoa, PB, 2009.
PHILIPPI JR, Arlindo, editor. Saneamento, sade e ambiente: Fundamentos para um
desenvolvimento sustentvel. Barueri, So Paulo: Manole, 2005. (Coleo Ambiental).
TRIVIOS,Augusto N. S.Introduo Pesquisa em Cincias Sociais. A Pesquisa Qualitativa em
Educao. So Paulo: Atlas, 1992. 175 p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

27

DINMICA GEOAMBIENTAL DA PRAIA DE VALHA-ME DEUS, CURURUPUMA1


Francisco Wendell Dias COSTA
Prof. Esp. da rede Municipal de Anajatuba-MA
wendeldis@ibest.com.br
Antonio Cordeiro FEITOSA
Prof. Dr. do Departamento de Geocincias da Universidade Federal do Maranho.
feitos@terra.com.br

RESUMO
Aborda-se a dinmica geoambiental da Praia de Valha-me Deus, localizada no municpio de
Cururupu, Estado do Maranho. O estudo foi realizado com base no mtodo fenomenolgico-qualitativo,
como suporte para os exerccios de percepo ambiental, apoiado nos seguintes procedimentos
metodolgicos: levantamento e anlise bibliogrfica e cartogrfica da rea de estudo; imagens de satlite
Landsat 5-TM, com rbita/ponto 221/061; trabalhos de campo para mensuraes e anlise do
comportamento dos agentes e processos morfogenticos de origem: climtica, oceanogrfica, bitica e
antrpica. Os resultados obtidos evidenciam a formao sedimentar inconsolidada, constituda de areias
quartzosas de granulometria fina a muito fina, submetida aos agentes e processos climticos e
oceanogrficos que determinam intensas alteraes da morfologia. As mdias trmicas e velocidades do
vento so maiores no perodo da estiagem do que no perodo chuvoso, a ao das ondas e correntes
determina o padro da morfodinmica praial. A populao local apresenta baixo nvel educacional,
refletido diretamente na renda familiar, a pesca a base econmica da comunidade, apresentando
infraestrutura e servios pblicos ineficientes. As alteraes ambientais so decorrentes de processos
naturais, com mnima interferncia humana. A ausncia de polticas pblicas eficientes permite indicar
polticas de planejamento e gesto para potencializar a sustentabilidade socioeconmica, cultural e
ecolgica.
Palavras-chave: Dinmica geoambiental. Praia de Valha-me Deus. Agentes e processos
morfogenticos.
ABSTRACT: In this paper the geo-environmental dynamics of the Valha-me Deus beach located in
the municipality of Cururupu, in the State of Maranho is approached. The study was carried out based on
the phenomenological-qualitative method, as a supportive theory for the exercises of environmental
perception, grounded on the following methodological procedures: survey and bibliographic and
cartographic analysis of the study area; Landsat 5-TM satellite images, with orbit/set 221/061; field trips for
measuring and analyzing the behavior of agents and morphogenetic processes from climatic,
oceanographic, biotic and anthropic origin. The results obtained show an unconsolidated sedimented
formation, constituted by quartz-like sand varying from fine to extremely fine granulometry, submitted to
climate and oceanographic processes and agents which determine intense changes on its morphology. The
average temperatures and the speed of the winds are higher in the dry season than in the rainy one, and
the action of the waves and tides determine the pattern of the beach morphodynamics. The local
population presents low literacy levels, which directly reflects in the family income; and fishing is the
economic basis of the community, which presents inefficient infrastructure and public services. The
environmental changes are due to the natural processes, with minimum human interference. The absence
of efficient public policies allows it to indicate that planning policies and managing for potentializing the
socioeconomic, cultural and ecological sustainability is required.
Key words: Geo-environmental policies. Valha-me Deus beach. Morphogenetic agents and
processes.
1 INTRODUO
1

Texto produzido com base na monografia apresentada ao Curso de Geografia Licenciatura sob a orientao
do Prof. Dr. Antonio Cordeiro Feitosa - Universidade Federal do Maranho (UFMA).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

28
A zona costeira um ambiente dinmico cujos elementos bsicos; terra, mar e ar, interagem em
relaes intrnsecas e cujo conhecimento sobre os processos fsicos e humanos atuantes de grande
relevncia para a identificao das tendncias evolutivas e elaborao de prognsticos sobre a
configurao do espao. Possuindo grande importncia por sua riqueza natural, econmica, porturia,
estratgica e poltica, a zona costeira merece toda a ateno quanto s transformaes ocorridas ao longo
das ltimas dcadas.
A praia de Valha-me Deus de competncia do municpio de Cururupu, localizada na regio
costeira do Litoral Ocidental do Estado do Maranho, a oeste da capital, So Lus. Apesar do longo tempo
de conquista e ocupao da zona costeira do Maranho, a rea estudada ainda apresenta-se fracamente
povoada e os habitantes ainda praticam atividades econmicas com predomnio do emprego de
instrumentos e tcnicas de uso tradicional com baixo nvel de produtividade de pequeno impacto sobre a
natureza.
Abordam-se as variveis ambientais mais representativas na dinmica da geoambiental da praia de
Valha-me Deus, discorrendo sobre as principais caractersticas fsicas, os aspectos histricos de sua
ocupao, as caractersticas de sua populao e os servios disponveis.
Discute-se a ao dos agentes e dos processos geolgicos, climticos, oceanogrficos, biticos e
humanos na dinmica da geoambiental, assim como as transformaes nos ambientes caractersticos da
rea (praia, dunas e lagoas), no intuito de subsidiar aes de planejamento para o uso das potencialidades
desta rea que se apresenta com potencial turstico.
2 METODOLOGIA
2.1 Mtodos e Materiais
A pesquisa foi fundamentada no mtodo fenomenolgico-qualitativo, como suporte para os
exerccios de percepo ambiental, sistematizao dos processos de observao, interpretao e explicao
dos fenmenos locais. Com apoio tcnico-instrumental foram mensuradas variveis ambientais de natureza
climtica e oceanogrfica. Para tanto, foram desenvolvidos os seguintes procedimentos metodolgicos:
- Levantamento e anlise da bibliografia relacionada ao tema e rea de estudo;
- Levantamento e anlise do material cartogrfico e de sensoriamento remoto, sendo utilizadas as
cartas da CPRM, na escala de 1:250.000, folhas SA.23-Z-A e SA.23-X-C, referentes aos municpios de So
Lus e Cururupu; do IBGE na escala de 1:100.000, folha 0494;
- Imagem orbital do satlite Landsat/5, Sensor TM, rbita/Ponto 221/061, com data de aquisio
29/07/2007, georreferenciada para o datum horizontal SAD69 com sistema de projeo UTM;
- Utilizao de GPS Garmin, para marcar os pontos escolhidos para as mensuraes;
- Trabalhos de campo em perodos diferentes ao longo de dois anos: o primeiro ocorreu nos dias 05
a 07 de Setembro de 2007; o segundo ocorreu nos dias 19 a 21 de maio de 2008, as mensuraes foram
realizadas nos perodos de: 04 a 07 de setembro de 2008 (estiagem); 19 a 22 de dezembro de 2008
(transio) e 17 a 20 de maro de 2009 (chuvoso);
- Seleo de pontos amostrais para medio de variveis ambientais considerando a metodologia
proposta por Troppmair (1988);
- Mensuraes de ndices trmicos, de umidade relativa do ar e velocidade do vento em dois
pontos amostrais previamente selecionados, por perodos de 25 horas consecutivas, em ambientes com as
seguintes caractersticas em relao luz solar: Exposio total (Et) e Sombreamento Total (St);
- Aplicao de um questionrio para recolher informaes socioeconmicas da populao;
- Registro fotogrfico da rea de estudo.
3 RESULTADOS E DISCUSSES
3.1 Localizao e situao geogrfica
A rea de estudo est localizada a noroeste do Estado do Maranho, delimitada pelos paralelos de
12418 e 12653 de latitude de sul e pelo meridianos de 445034 e 445116 de longitude oeste
(Figura 01). Limita-se ao norte com o Oceano Atlntico; ao sul, oeste e leste com uma rea de cobertura de
mangue.
A praia de Valha-me Deus integra Municpio de Cururupu-MA, cuja costa possui diversas ilhas
dentre as quais a Ilha do Campelo, onde se encontra a rea de estudo. Integra a Mesorregio Norte
Joo Pessoa, outubro de 2011

29
Maranhense, a Microrregio do Litoral Ocidental e faz parte da rea de Proteo Ambiental das
Reentrncias Maranhense, estando includa na Reserva Extrativista Marinha de Cururupu e no Plo
Turstico da Floresta dos Guars.
O acesso a rea feito por via martima a partir de qualquer cidade costeira. Tambm pode ser
feito por um percurso rodovirio pelas principais rodovias estaduais at Cururupu, deste municpio sai um
micronibus at o Porto de Pindobal em Serrano do Maranho. Do porto, o acesso a rea s ocorre via
martima utilizando embarcao a motor e a vela.

Figura 01: mapa de localizao.


Fonte: IBGE (2008), adaptado por Costa (2009).

3.2 Aspectos fsicos


A praia de Valha-me Deus constitui uma formao geolgica sedimentar inconsolidada,
Quaternria, Holocnica, com predomnio de areias quartzosas marinhas de granulometria fina a muito
fina, e depsitos silticos e argilosos provenientes da ao marinha e/ou continental transportados pelos
agentes climticos e oceanogrficos (RODRIGUES et al, 1994).
Geomorfologicamente, a praia de Valha-me Deus est situada na Plancie Litornea, local de
contato direto com dos processos marinhos, fluviomarinhos e climticos. Dessa dinmica surgiram as Rias,
apresentando topografia plana composta por baixos nveis altimtricos, modeladas por agentes
oceanogrficos e climticos. As unidades geomorfolgicas so representadas pelas plancies aluviais, praias
arenosas, cordes de dunas fixas e canais de mar (FEITOSA e TROVO, 2006; ABSABER, 1960).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

30
O clima da rea o Tropical mido do Tipo B1, com temperatura mdia anual de 27C, baixa
amplitude trmica e pluviosidade entre 1.200 a 1.600mm/ano e umidade relativa do ar anual superior a
82%. O regime pluviomtrico apresenta dois perodos distintos: um chuvoso, que corresponde aos meses
de janeiro a junho, com os maiores ndices entre maro e maio, e outro seco, de agosto a dezembro, entre
setembro e novembro, a precipitao mensal no ultrapassa os 83 mm (MARANHO, 2002).
A vegetao da rea arbustiva e arbustiva de restinga e mangue, adaptadas ao solo arenoso, onde
predominam: a grama de praia (Sporobolus virginians), capim da areia (Panicum racemosum), alecrim da
praia (Hybanthus ipecacuamha), pimenteira (Cordia curassaviaca), carrapicho da praia (Acicarpha
spatulata). Associada cobertura herbcea e arbustiva, encontram-se as florestas de mangues, com
destaque para trs espcies: Mangue vermelho (Rhyzophora mangle), espcie caracterstica da rea;
Mangue Branco (Laguncularia racemosa) e Siriba (Avicennia germinans), alm da presena de marismas e
de apicuns (BARROS et al, 2002; MOCHEL, 1999).
O sistema hidrogrfico composto pela gua ocenica contgua que adentra as reentrncias se
misturando com as guas fluviais originando ambiente de gua salobra. Outra caracterstica a presena
de pequenas lagoas temporrias alimentadas pela gua pluvial durante o primeiro semestre do ano,
secando no segundo semestre decorrente a intensa evaporao e baixa umidade. As lagoas servem para os
animais beberem gua e geralmente so utilizadas por moradores para lavar roupas.
Na rea de estudo foi identificada a presena de Neossolos e Gleissolos. Os Neossolos
Quartzarnicos, associados s Areias Quartzosas, so excessivamente drenados, de estrutura em gros
simples, macia e fertilidade natural baixa e, as Areias Quartzosas Marinhas se apresentam com textura
arenosa constitudos por camadas estratificadas, acidez elevada com baixa fertilidade natural. Os Gleissolos
correspondem ao Glei Tiomrfico, solo influenciado pela ao das mars, apresentando grande teor de
enxofre e argila e, Gleissolos Slico, geralmente com baixa fertilidade natural, m drenagem, com grande
limitao de uso. O crescimento de formas deposicionais terrgenas, compostas por areia, silte e argila,
ocorrem em reas cobertas por manguezais (GUERRA; BOTELHO, 2003; IBGE, 2007).
A descrio edfica local permite compreender que os solos tm textura arenosa e formaes
sltica e argilosa explica a baixa fertilidade natural e as limitaes s prticas agrcolas. Constatou-se apenas
um caso de um morador que utiliza adubos orgnicos para preparar o solo para o plantio.
3.3 Aspectos socioambientais
A praia de Valha-me Deus foi ocupada no final do sculo XIX, por um grupo de escravos que havia
escapado de algum engenho, que viajando numa embarcao tipo jangada ficaram vrios dias a deriva,
suplicaram pedindo proteo divina com a expresso Valha Deus e Nossa Senhora. Ao adentrarem por
um igarap encontraram um local no qual poderiam desembarcar. Depois da construo de um rancho, os
fugitivos foram encontrados por um morador de Guajerutiua, uma comunidade prxima a Valha-me Deus,
que trabalhava como vaqueiro nos pastos do local. A partir desse momento comeou o processo de
povoamento da rea.
A rea de estudo possui 599 habitantes (IBGE, 2007a), com famlias tradicionais em que o chefe do
domiclio mora na comunidade mais de 20 anos. A populao apresenta baixo nvel educacional, refletindo
diretamente sobre a renda famlia adquirida principalmente pela pesca e aposentadoria. Os servios
pblicos e a infraestrutura no atende as necessidades dos moradores.
O difcil acesso dificulta a instalao da infraestrutura necessria comunidade, onde no existe
gua encanada, saneamento bsico e coleta de lixo domstico. A comunidade possui trs escolas
municipais, trs telefones pblicos, igrejas, comrcios informais, associao recreativa e beneficente e um
sistema de energia eltrica movido por um gerador a diesel. As atividades econmicas so: a pesca
artesanal, extrativismo vegetal, criao bovina e caprina e agricultura de subsistncia, com baixo
rendimento devido a acidez e baixa fertilidade natural do solo.
3.4 Dinmica Geoambiental
A dinmica da geoambiental na praia de Valha-me Deus, decorre da relao direta e indireta, entre
os fatores biticos e abiticos e do comportamento dos agentes e processos morfogenticos de origem:
climtica, oceanogrfica, bitica e antrpica, analisados de forma conjunta.
Joo Pessoa, outubro de 2011

31
Os agentes climticos tm funo importante na dinmica da paisagem da rea de estudo, por
serem responsveis pelo controle da ao dos processos fsicos, qumicos e biolgicos. Para o
entendimento da ao dos agentes climticos, foi mensurado o comportamento da temperatura, unidade
do ar e direo e velocidade do vento.
Os ndices trmicos do ar oscilam de acordo com o perodo do ano. O primeiro semestre
corresponde ao perodo chuvoso, poca das amplitudes trmicas menores devido s altas taxas de
umidade do ar que minimizam as temperaturas, contribuindo para a manuteno de nveis relativamente
baixos das temperaturas do ar diurnas com mdias de 26,4C (Et) e 25,7C (St), que, nas madrugadas,
baixam a 19C. O segundo semestre representa o perodo seco, devido deficincia hdrica e a baixa
porcentagem de umidade do ar, as mdias trmicas diurnas atingem os 45C (Et) e 33C (St), com 22C
durante as madrugadas.
Na Praia de Valha-me Deus, a umidade relativa do ar demonstra comportamento sazonal ao longo
do ano, apresentando mdias de 94% (Et) e 95% (St) no pico do perodo chuvoso e prximo dos 34% (Et) e
64,5% (St) no pico do perodo seco.
O vento atua direta e indiretamente na dinmica local, realizando o transporte e a deposio de
sedimentos. A atividade elica regular, quanto direo e freqncia ao longo do ano, com predomnio
da direo no quadrante NE. No perodo chuvoso predominam os tipos de ventos: aragem leve e ventos de
brisa leve, com velocidades entre 0 e 10 km/h, intercalados por ventos moderados e fortes espordicos. A
velocidade mdia no perodo da estiagem fica entre 0 e 34,9 km/h, quando predominam os ventos
moderados e ventos fortes.
Em Valha-me Deus as dunas so classificadas como dunas fixas, com predomnio de areias
quartzosas de colorao embranquecidas, contendo feies com presena de vegetao tpica que
imobiliza ou reduz o transporte elico dos sedimentos. Devido aos elevados ndices pluviomtricos que so
registrados na rea, so comuns os processos de hidratao e aglutinao dos gros de areia, durante o
perodo chuvoso (Foto 01).

Foto 01: Cordes de dunas fixas.


Fonte: Costa (2009).

Na tentativa de contribuir na anlise da dinmica da paisagem local, foram observados tambm os


demais agentes climticos como insolao, nebulosidade, pluviosidade e presso atmosfrica, atuando de
modo indireto na modelagem e transformaes da paisagem.
A insolao intensa, se manifestando atravs de interferncia na presso atmosfrica e na
temperatura, que se mantm elevada ao logo de todo o ano. A nebulosidade intensa durante o perodo
chuvoso, notadamente nos meses de maro a maio, e, significativa, durante parte do perodo seco. A
pluviosidade exerce ao direta sobre o relevo, atravs do splash, entretanto no foi constatado
escoamento superficial significativo nas primeiras chuvas do ano, quando os gros ainda esto ressequidos,
alm da hidratao e da aglutinao.
A praia de Valha-me Deus sofre influncia direta e indireta dos agentes oceanogrficos. Fica
evidente e marcante a ao das ondas e correntes, provocando eroso e deposio de sedimentos e
interferindo na morfodinmica da praia (Foto 02).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

32

Foto 02: Vista parcial da praia.


Fonte: Registro da pesquisa.

A rea de estudo apresenta costa dissipativa com ampla zona de surfe, baixo gradiente topogrfico,
elevado estoque de areias finas, feies morfolgicas bem caracterizadas pela: Ante-praia (offshore),
apresentando baixa declividade e intenso transporte de sedimentos finos; Estirncio (foreshore), com
declividade mdia de 4, com presena de canaletas de dimenses variadas alimentadas por sedimentos
finos retrabalhos pela ao das ondas, aparecem tambm marcas ondulas (ripple marks) e cristas e o Pspraia (backshore) com presena de cordes de dunas fixas, sujeitas ou no atividade elica, enquadrandose plenamente na descrio feita por Muehe (2005).
O regime de mar predominante do tipo semidiurno, com duas preamares e duas baixa-mares,
por dia lunar, com enchente e vazante proporcionais em intervalos de 6 horas e amplitude mdia de 5 m.
As ondas influenciam na modelagem do relevo praial. Resultam da ao dos ventos sobre superfcie da
massa lquida e sua formao est relacionada aos fatores climticos, principalmente: temperatura, elica,
presso atmosfrica e a morfologia do fundo.
Na rea de estudo, o suave declive do fundo marinho possibilita que as ondas quebrem vrias
vezes, em arrebentao progressiva (Splling), determinando uma larga zona de surfe com ondas de 1,1 m
de altura, em perodos de 6 segundos e freqncia entre 2 e 5 segundos.
Quando as ondas se aproximam da costa formam as correntes litorneas responsveis pelo
transporte de sedimentos. A corrente longitudinal (longshore current) desenvolve-se entre a praia e a zona
de arrebentao e flui paralelamente praia. A corrente de retorno (rip current) retorna ao mar
perpendicularmente praia atravessando a zona de arrebentao, processo que pode ser visualizado pela
elevada turbidez decorrente da suspenso dos sedimentos (MUEHE, 2005).
O processo de transporte de sedimentos, paralelamente costa, ocorre diretamente na face da
praia, pela ao do fluxo e refluxo das ondas. A corrente de fluxo (swash) quebra obliquamente linha de
costa e o transporte de sedimentos segue a mesma direo. Por outro lado, com a corrente de refluxo
(backwash) os sedimentos se movem na direo do mergulho da face da praia, tendo como resultado o
movimento em ziguezague (SILVA et al, 2004).
No perodo da estiagem, o transporte elico ao longo do estirncio mais intenso. A face da praia
exposta durante a baixamar recebe maior insolao e a umidade absorvida pelos sedimentos evapora
acelerando o processo transporte e deposio de sedimentos superficiais na praia, formando uma nvoa de
sedimentos arenosos.
Em decorrncia do contato direto e indireto dos agentes oceanogrficos, a praia de Valha-me Deus,
apresenta alteraes ambientais causadas pela eroso e deposio, associadas oscilao do nvel relativo
do mar local devido ao balano de sedimentos. As alteraes ambientais causadas pela eroso podem ser
diretamente relacionadas ao desequilbrio ecolgico, destruio do patrimnio natural, reduo do
ambiente praial e transformaes ou perda da paisagem.
Para Costa (2009), evidente a eroso costeira evidenciada pela destruio das faixas frontais da
vegetao de mangue e restinga. O processo de acreso est associado mobilidade dos sedimentos
oriundo de desembocaduras fluviais prximas ao local que so depositados na faixa de praia. A destruio
Joo Pessoa, outubro de 2011

33
das faixas de mangue e de restinga um fenmeno causado pela deposio de sedimentos arenosos,
tornando a rea de mangue mais arenosa formando o testemunho de mangue.
Na rea de estudo, a presena de formaes argilosas e a intensa ao da hidrodinmica costeira
promovem alteraes morfolgicos na estrutura rochosa, formando pequenos fragmentos de argila gleibol. Esse aspecto morfolgico apresenta cores acinzentadas a esverdeadas (EMBRAPA, 2003). Na rea
de estudo, em face da interao dos agentes e processos oceanogrficos e climticos, essa formao
modifica-se em curtos perodos (Foto 03 e 04).

Foto 03: Gleibol set.2008.


Fonte: Costa (2009).

Foto 04: Gleibol dez.2008


Fonte: Costa (2009).

Os aspectos biticos na rea de estudo so importantes para a compreenso da dinmica local. A


fauna apresenta vrias espcies de crustceos, pescados e moluscos. Alguns animais ganham destaques
como: guaxinim (Procyon cancryvorus), macaco-prego (Cebus apella) e aves: figurinha-do-mangue
(Conirostrum bicolor), forma endmica dos manguezais e as aves migratrias, com destaque para o guar
(Eudocimus ruber), Gara-branca-grande (Cosmorodium albus), Gara-branca-pequena (Egretta thula) e o
maarico-de-coleira (Charadrius colaris). H registro da ocorrncia de Caravelas (Physalia) e ourio-do-mar
(BARROS et al, 2002).
Alguns rpteis ganham destaque como: cobra cip (Chironius bicarinatus) cobra Jibia (Boa
constricto), calango-verde (Ameiva ameiva) e anfbios, alm de animais domsticos, como gato, cachorro,
galinha, gado, caprino e asinino.
A presena do homem na praia de Valha-me Deus remonta quase dois sculos. Por suas
caractersticas de proteo ao ambiente natural, valorizao do conhecimento, histria e cultura da
populao local, promovendo o uso sustentvel dos recursos naturais, a rea de estudo est includa em
uma Reserva Extrativista e uma rea de Proteo Ambiental. Dessa forma ainda no pode se afirmar que o
homem responsvel por processos que interferem diretamente na dinmica da geoambiental, pois a
populao imprime pequenas modificaes ao ambiente natural e a apropriao dos recursos tcnicos
ainda incipiente.
Grande parte da exuberncia natural se encontra no litoral ocidental do Estado. Nessa rea existe
um potencial turstico rico, despertado principalmente pelos aspectos naturais de beleza exuberante. O
turismo uma atividade econmica que cresceu muito nos ltimos anos, repercutido no ambiente natural,
na economia, na vida social e cultual.
4 CONSIDERAES FINAIS
Os resultados do estudo sobre a dinmica geoambiental na praia de Valha-me Deus permitem
estabelecer concluses relevantes sobre a temtica. De forma que, entender a organizao do espao
costeiro implica um estudo interdisciplinar dos agentes e processos responsveis pela formao,
caractersticas, transformao da estrutura da paisagem que compem toda zona costeira.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

34
A base geolgica da rea formada por sedimentos arenosos inconsolidados, argila e siltes
responsveis pela instabilidade ambiental, sobretudo pelo predomnio de areias finas e muito finas que
potencializam a instabilidade local.
Os agentes climticos, em especial a temperatura do ar, umidade relativa do ar e o vento, e os
oceanogrficos so responsveis diretos e indiretos pela dinmica local, responsveis tambm pelos
processos de eroso, transporte e deposio de sedimentos. O desenvolvimento dos processos de eroso e
acreso acarretaram em diversas feies na faixa de praia, com destaque para o testemunho de mangue,
a formao do gleibol e pequenas acumulaes arenosas no estirncio.
O reduzido nmero total de habitantes na rea de estudo decorre de uma srie de fatores, com
destaque para a deficincia da infraestrutura e dificuldade de acesso, dificultando a sobrevivncia dos
moradores, que geralmente emigram para os centros urbanos na busca de melhores condies de vida.
Por se tratar de uma rea de Proteo Ambiental e uma Reserva Extrativista, a populao local
possui uma relao harmoniosa e sustentvel com a natureza, retirando somente o que necessrio para a
sua sobrevivncia.
Pela exuberante paisagem natural e pela formao histrica e cultural da comunidade, torna-se
importante monitorar, planejar e gerenciar todas as atividades que venham a se desenvolver, sobretudo o
turismo. Esta ligada natureza deve possuir uma perspectiva auto-sustentvel, buscado a reduo da
pobreza, fortalecimento da cultura e a valorizao do trabalho da populao local.
REFERNCIAIS
AB SABER, Aziz Nacib. Contribuio geomorfologia do Estado do Maranho. Campinas:
Departamento de Geografia da UNICAMP, abril de 1960.
BARROS, Ktia et al (orgs.). Laudo biolgico da Reserva Extrativista Marinha de Cururupu. So Lus:
IBAMA, 2002.
COSTA, Francisco Wendell Dias. Dinmica geoambiental da Praia de Valha-me Deus, Cururupu-MA.
Monografia de Graduao em Geografia, Universidade Federal do Maranho, 2009.
EMBRAPA. Propostas de reviso e atualizao do sistema brasileiro de classificao dos solos:
conceitos, definies, atributos e horizontes diagnsticos e reestruturao de classes. Rio de Janeiro, 2003.
FEITOSA, Antonio Cordeiro; TROVO, Jos Ribamar. Atlas escolar do Maranho: espao geohistrico e cultural. Joo Pessoas: Grafset, 2006.
GUERRA, Antonio Jos Teixeira; BOTELHO, Rosangela Garrido Machado. Eroso dos solos. In:
CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio Jos Teixeira (orgs.). Geomorfologia do Brasil. 3. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. cap. 05, p. 181-228.
IBGE. Manual tcnico de pedologia. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
____. Contagem da populao. Rio de Janeiro: IBGE, 2007a.
MARANHO. GEPLAN. Atlas do Maranho. LABGEO/UEMA, So Lus, 2002.
MUEHE, Dieter. Geomorfologia Costeira. In: In: CUNHA, Sandra Batista da; GUERRA, Antonio Jos
Teixeira (orgs.). Geomorfologia: uma atualizao de bases e conceitos. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005. cap. 6, p. 253-308.
MOCHEL, Flvia Rebelo. Caracterizao espectral e mapeamento dos manguezais por
sensoriamento remoto na baa de Turiau, Maranho, Brasil. Tese de doutorado em geocincias e
geoqumica ambiental. Niteri: [19-]. Universidade Federal Fluminense.
RODRIGUES, Telmo Luiz das Neves et al (orgs.). Programa de levantamentos geolgicos bsicos do
Brasil. So Lus, Folha AS.23-Z-A; Cururupu, Folha AS.23-X-C. Braslia: CPRM, 1994.
SILVA et al. Ambientes de sedimentao costeira e processos morfodinmicos atuantes na linha de
costa. In: NETO, Jos Antonio Batista; PONZI, Vera Regina Abelin; SICHEL, Susanna Eleonora. Introduo
geologia marinha. Rio de Janeiro: Intercincia, 2004. cap. 8, p. 175-218.
TROPPMAIR, Helmut. Metodologias simples para pesquisar o meio ambiente. Rio Claro: Editora
GrafSet, 1988.

Joo Pessoa, outubro de 2011

35

CENRIOS TURSTICOS DO LITORAL SUL DE SERGIPE: CAMINHOS PARA


EDUCAO AMBIENTAL
Letcia Bianca Barros de Moraes LIMA
2
lemoraes@hotmail.com
Josael Bruno de Sousa LIMA
3
jobs@infonet.com.br

RESUMO
O objetivo central deste artigo utilizar a educao ambiental como instrumento de preservao
dos recursos naturais do Litoral Sul de Sergipe. A metodologia consiste em pesquisa bibliogrfica e de
campo, levantamento das diretrizes nacionais de educao ambiental, anlise das unidades de paisagem do
Litoral Sul de Sergipe, observao in loco.
Palavra chave: Litoral Sul de Sergipe, turismo, educao ambiental
Introduo
Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e
preserv-lo para as presentes e futuras geraes (BRASIL, Art. 225, da CF de 1988). A Constituio de 1988
previu a concretizao da educao ambiental quando prescreveu os espaos territoriais, em todas as
unidades da Federao, com seus componentes a serem protegidos. Considerando os parques e as
unidades de conservao como espaos a serem preservados, uma vez que o patrimnio cultural e a
biodiversidade so reconhecidos como essenciais para a sustentabilidade da vida na terra, o papel da
educao ambiental fundamental.
Na dcada 1990, foram criados: o Grupo de Trabalho de educao ambiental do MEC e um setor de
educao ambiental do IBAMA. Em 1992, foram criados o Ministrio do Meio Ambiente e o IBAMA que
instituram os Ncleos de educao ambiental em todas as Superintendncias Estaduais.
Na Conferncia da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizado no Rio de Janeiro (Rio
92 ou Eco 92), tambm chamada de Cpula da Terra, estabeleceu-se uma proposta de ao para os
prximos anos, denominada Agenda 21. Esse documento procurava assegurar o acesso universal ao ensino
bsico, conforme recomendaes da Conferncia de educao ambiental (Tbilisi, 1977) e da Conferncia
Mundial sobre Ensino para todos: Satisfao das Necessidades Bsicas de Aprendizagem (Jomtien,
Tailndia, 1990).
Por conta das recomendaes da Agenda 21 e em cumprimento aos preceitos constitucionais foi
construdo o Programa Nacional de Educao Ambiental (PRONEA) que previu aes nos mbitos de
educao ambiental formal e no-formal.
Em 1997 na Conferncia Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade , Educao e
Conscientizao Pblica para a Sustentabilidade (Thessaloniki, Grcia), ficou determinado que os governos
e as instituies financeiras nacionais, regionais e internacionais, assim como o setor produtivo,
destinariam recursos adicionais e incrementariam as inverses em educao e conscientizao pblica. O
estabelecimento de fundos especiais dedicados educao para o desenvolvimento sustentvel deveria ser
considerado como uma forma especfica para incrementar o apoio.
Para Reigota (2002), trata-se de uma educao que visa no s a utilizao racional dos recursos
naturais, mas basicamente a participao dos cidados nas discusses e decises sobre a temtica
ambiental.
Partindo desse pensamento, pode-se abstrair que a educao ambiental no pode apenas estar
focada na discusso de questes puramente naturais, mas precisa da mobilizao social em busca de uma
sociedade sustentvel.

Turismloga, Mestre e Doutora em Geografia. Professora do Instituto Federal de Educao, Cincia e


Tecnologia de Mato Grosso.
3
Bilogo, Professor de Educao Bsica da Rede Pblica Estadual de Sergipe.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

36
A poltica nacional de educao ambiental, criada oficialmente em 1990, um componente
essencial e permanente da educao Nacional, devendo estar presente em todos os nveis e modalidades
do processo educativo formal e no formal.
Seu carter humanista, holstico, interdisciplinar e participativo. Dessa forma a educao
ambiental pode contribuir muito para renovar o processo educativo, trazendo a permanente avaliao
crtica, a adequao dos contedos realidade local e o envolvimento dos educandos em aes concretas
de transformao desta realidade.
A educao ambiental um processo permanente no qual os indivduos e a comunidade tomam
conscincia do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experincias, valores e a
determinao que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de solues para os
problemas ambientais (UNESCO, 1997)
O Litoral Sul Sergipano
No segmento do Litoral Sul Sergipano predominam as seguintes unidades geomorfolgicas: plancie
costeira e tabuleiros costeiros. No tocante plancie costeira, que aqui nos interessa mais de perto,
destacam-se a plancie fluviomarinha e os terraos marinhos, estes apresentam na superfcie vestgios de
cordes litorneos, remanescentes de antigas cristas de praia, parcialmente reconstrudos pela ao elica
ou semi-fixados pela vegetao herbceo-arbustiva de restinga. Completam a paisagem dos terraos
marinhos os campos de dunas costeiras e o ambiente praial
Na plancie fluviomarinha do Litoral Sul de Sergipe encontra-se a bacia do Piau, a segunda do
Estado em extenso, menor somente do que a bacia do So Francisco. O rio Piau tem 132km de extenso,
nasce em Riacho do Dantas e drena as terras do Centro-Sul. Seus principais afluentes so os rios:
Piauitinga, Fundo, Cai, Jacar, Machado, Arau, Indiaroba e Pago.
O rio Real drena a margem esquerda das terras sergipanas, nascendo em Poo Verde, na divisa com
a Bahia. Seus principais afluentes so os rios: Jacarezinho, Jabiberi, Paripe e Itamirim. O rio Real desgua no
Atlntico juntamente, com o rio Piau, formando um imenso esturio, que mais conhecido como esturio
do Mangue Seco. (CARVALHO e FONTES, 2006).
A relevncia hdrica do local refere-se abundncia dos recursos pesqueiros expressivos
principalmente nos ambientes estuarinos. O sistema estuarino Piau/Real constitui-se num elemento
geogrfico que exerce forte influncia na estrutura da paisagem do Litoral Sul Sergipano. Os esturios dos
rios Piau e Real podem ser analisados em conjunto, pois se apresentam geograficamente e com
caractersticas ambientais semelhantes.
A alta fertilidade estuarina promove alta produtividade fitopanctnica formando a base alimentar
da cadeia trfica, o que faz com que os esturios tenham as guas mais frteis e piscosas do globo. Os
peixes dos esturios pertencem a vrios nveis trficos; alguns se alimentam de material detrtico,
diretamente do fundo, mas a maioria se constitui de carnvoros intermedirios e superiores (alimentao
indireta de detritos). Podem-se classificar as espcies de peixes do manguezal em trs grupos: tipicamente
marinhas (a maioria), tipicamente dulciaqicolas e tipicamente mixo-halinas (estuarinas) (BAPTISTA NETO
et al, 2004).
A elevada produtividade biolgica que o esturio Piau/Real apresenta faz com que esse ambiente
seja considerado um berrio de inmeras espcies de peixes e outros animais, que usam esses locais para
o desenvolvimento das primeiras fases de seus ciclos de vida. A complexidade das interaes biolgicas que
se observa na rea, somada extrema adaptabilidade das espcies frente s variaes ambientais que ali
se observa, notadamente a salinidade, permite a manuteno de uma biodiversidade elevada, com muitas
espcies comercialmente importantes. Apesar de sua importncia, o esturio Piau/Real uma rea
naturalmente estressada e sujeita a diferentes tipos de presso antrpica. Neste contexto, o esturio
Piau/Real um ambiente costeiro recente em termos geolgicos, derivados do afogamento da linha de
costa em funo de elevao relativa do nvel do mar. Estes ambientes atuam como depsitos efetivos dos
sedimentos fluviais, impedindo que grande parte destes chegue regio da plataforma continental. Alm
dos sedimentos trazidos pelos rios, os esturios tambm recebem sedimentos da plataforma interna e de
reas costeiras adjacentes, trazidos pela deriva litornea. Sendo ambientes propcios a sedimentao, a
tendncia de serem completamente colmatados ao longo de sua evoluo, transformando-se em
Joo Pessoa, outubro de 2011

37
plancies costeiras emersas e, caso a sedimentao fluvial seja mantida a nveis importantes, evoluindo
para sistemas deltaicos. (BAPTISTA NETO et al, 2004).
No municpio de Indiaroba, a pesca tem carter artesanal sendo uma atividade de subsistncia de
algumas famlias, porm, devido forte ligao de dependncia com o esturio Piau/Real, a pesca tornouse para a grande maioria dos pescadores a principal fonte de renda familiar.
Analisando o litoral como um sistema complexo de unidades paisagsticas, este um espao de
suporte em que as atividades geradas pelos processos de ocupao e usos mltiplos determinam mudanas
caracterizadas particularmente pela rapidez e intensidade das transformaes. Tais mudanas advindas do
processo de inter-relao fsico-humano geraram inmeros riscos que acabam por interferir no equilbrio
biofsico e no comprometimento do quadro socioeconmico.
As reas onde se encontram manguezais, mata atlntica, mata de restinga, dunas fixas e semimveis e dunas fixas das lagoas do Abais so potenciais para o desenvolvimento do ecoturismo e turismo
contemplativo. Essas reas so limitadas ocupao por restries legais e fragilidades dos seus
ecossistemas.
Os manguezais so zonas de preservao, pois se constituem no principal reduto de reproduo da
fauna estuarina, e a cobertura vegetal apresenta poucas alteraes, mesmo com o avano do plantio do
coco-da-baa sua retaguarda, bem como a presena da infra-estrutura hidroviria, principalmente
atracadouros de balsas e catamars, e de alguns empreendimentos construdos margem dos canais de
mangues.
Segundo a ADEMA (1984), o desenvolvimento dos manguezais depende de cinco requisitos bsicos:
altas temperaturas (mdia mensal mnima maior que 20 C e uma amplitude anual inferior a 5C); costas
livres de ao de ondas e mars violentas (baas rasas e abrigadas, esturios abrigados, lagoas, o lado de
ilhas abrigado do vento, canais protegidos); aluvio fino particulado (substrato mole constitudo por silte e
argila fina, rica em matria orgnica); presena de gua salgada e amplitude de mars. Todas essas
condies so encontradas no Litoral Sul de Sergipe.
Os animais que se encontram no manguezal so de diferentes tipos de hbitats disponveis, tais
como a copa das rvores, concavidades com gua em rvores, poas dgua, superfcie do solo, o prprio
substrato e os canais de gua desse sistema.
A fauna encontrada em manguezais composta por espcies residentes, organismos marinhos
jovens (criadouro) e visitantes marinhos e duciaqcolas. A proporo desses componentes numa rea
estuarina varia durante o ano segundo a salinidade. Por exemplo, quanto maior a pluviosidade, maior o
componente dulciaqcola, sendo que o componente estuarino permanece o ano todo. Crustceos,
moluscos e peixes passam pelo menos uma parte do ciclo de vida no manguezal.
O ecossistema manguezal no Litoral Sul de Sergipe, com rea de 75,53km, Figuras 26 e 27, est
distribudo no esturio dos rios Vaza-Barris, Piau, Fundo e Real, incluindo os seus afluentes, constituindose, em alguns pontos, de pequenos e sinuosos canais, prolongados para o oeste da rea. A plancie de mar
superior (shore) ocorre no mdio litoral superior e representa antigos domnios de manguezais, que
decorrentes dos eventos propagantes deixaram de receber regularmente guas de mars, sendo bastante
influenciadas por condies continentais.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

38

Figura 01 Manguezais do rio Real


Fonte: Pesquisa de campo, 2010

Figura 02 Manguezal no esturio do rio Piau.


Fonte: Pesquisa de campo, 2010
A mata Atlntica no Litoral Sul de Sergipe encontra-se bastante modificada pela interveno
humana. Grandes parcelas da mata foram cedendo lugar s atividades agrcolas e pastagens existindo,
hoje, alguns remanescentes pouco alterados, nos topos de relevo colinoso ou em reas redutos, localizadas
nas propriedades e mantidas como reservas. Esta formao de vegetao pode ser observada ocupando as
plancies aluviais, ao longo dos rios ou terrenos ngremes, situados prximos ao litoral. (VILAR e VIEIRA,
2010).
A mata de restinga se estende at a fronteira com a Bahia, ocupando uma estreita faixa que vai da
linha de praia para o interior, alargando-se em alguns trechos, compondo cerca de 70% da vegetao.
As reas ocupadas por coqueirais e por reas de preservao permanente providas de acessos e
hidrovias naturais se estendem ao longo dos rios Vaza-Barris, Fundo, Piau, Guararema e Real. Nessas reas
h potencialidades para empreendimentos tursticos ambientalmente integrados com limitaes para a
ocupao de veraneio por riscos sanitrios inerentes a adensamentos residenciais.
A rea agrcola tradicional de criatrio bovino, cultura do coco e extrativismo vegetal da mangaba
localiza-se no municpio de Indiaroba e apresenta potencialidades para chcaras de lazer e turismo rural
As dunas mveis e semi-fixas so encontradas ao longo da plancie litornea, nas proximidades da
linha da praia, dispostas em faixas que apresentam traado sinuoso, variando razoavelmente em altitude.
Esto constantemente sujeitas a ao do vento, que vem atuando com fora de empurro no sentido oeste
e para o interior da rea provocando seu gradativo deslocamento. Em movimento, as dunas tm soterrado
a vegetao de restinga arbustiva-arbrea at quase a copa das mesmas, especialmente na praia do Abas.
Joo Pessoa, outubro de 2011

39
As dunas mveis, com altitudes de 8 a 25 metros de altura, Figura 03, encontram-se parcialmente
cobertas de vegetao de restinga apresentando mobilidade, soterrando coqueiros, restingas arbustivas e
avanando sobre as pistas. As dunas fixas, com mais de 25 metros, situam-se na retaguarda das lagoas
Grande, Escura, Funda e Azul. Mesmo com a legislao vigente, as dunas do litoral Sul so
descaracterizadas no somente pela ao da natureza (ventos), mas tambm pela degradao ambiental e
descaso humano. A populao ainda dispe resduos slidos nas dunas, comprometendo assim, este
importante ecossistema litorneo, como mostra a Figura 04.

Figura 03 - Dunas mveis da praia da Boa Viagem.


Fonte: Letcia Lima, 2007

Figura 04 - Presena de lixo nas dunas do Abas


Fonte: ADEMA, 2004.
Vale destacar que no povoado Saco do Rio Real as dunas esto avanando lentamente na direo
da Rodovia SE-100, Rodovia das Dunas. (Figuras 04, 05 e 06).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

40

Figura 05 - Soterramento de coqueiros na Praia do Abas.


Fonte: ADEMA, 2004

Figura 06 - Avano das dunas sobre a Rodovia SE-100 no Povoado Saco do Rio Real.
Fonte: Letcia Lima, 2008.
As lagoas do Abas, os rios Fundo, Real, Piau, Gonalves Dias, da N Angola e Guararema, bem
como seus canais naturais apresentam potencialidade para esportes nuticos, pesca, recreao e
navegao turstica. As modalidades de turismo em destaque so: nutico, contemplativo, ecolgico,
esportivo e de aventura. Estes recursos hdricos esto restritos ocupao das margens controladas pela
legislao vigente e monitoramento da qualidade das guas e dos efluentes.
A Figura 06 mostra a Lagoa do Abas localizada no municpio de Estncia a qual ocupa uma rea
superior a 200 hectares. Constituindo-se originalmente como um nico corpo dgua, a lagoa foi secionada
transversalmente pela construo de estradas interligando suas margens.
Consideraes Finais
De acordo com o zoneamento ambiental da APA, efetuado em 1998, as margens da lagoa do Abas
so classificadas como rea de Preservao Permanente e apresentam em alguns trechos, principalmente
nas margens da Rodovia Airton Senna, ncleos de povoamento. O zoneamento ecolgico econmico indica
Joo Pessoa, outubro de 2011

41
para as APPs os usos possveis - contemplao, recreao, lazer e pesquisa - e proibies: supresso de
vegetao; caa e pesca predatria; implantao de loteamentos, condomnios e ncleos urbanos;
implantao de atividades agrcolas e aqicultura.
Segundo o artigo 2 da Lei Federal 4.771/65, margens de lagoas so consideradas reas de
Preservao Permanente. O art. 3 da resoluo CONAMA n 303/2002 estabelece os limites mnimos
referentes s reas de preservao permanente do entorno de lagoas: trinta metros, para as que estejam
situadas em reas urbanas consolidadas; cem metros, para as que estejam em reas rurais, exceto os
corpos dgua com at vinte hectares de superfcie, cuja faixa marginal ser de cinqenta metros.
Alm das margens da Lagoa do Abais serem reas de reconhecimento legal (reas de Preservao
Permanentes), elas esto inseridas na rea de Proteo Ambiental do Litoral Sul, com limites de uso
definidos pelo Zoneamento Ecolgico Econmico.
A faixa de praia, foco central deste estudo, estende-se pelas praias do Saco, das Dunas, da Boa
Viagem, do Abais e da Caueira. Considerada como zona de alta restrio, compreende a faixa de 60 a 100
metros de largura contada da linha da costa de preamar mdia atual para dentro, considerada a zona de
praia propriamente dita, estirncio ou foreshore4.
Nas praias do Saco, Dunas e Boa Viagem encontram-se reas de segunda residncia consolidadas
por ocupaes de alto e mdio padro. Porm, uma pequena poro da praia da Boa Viagem, prxima
praia de Abais, possui reas de baixa ocupao. As praias do Abas e Caueira apresentam em um menor
trecho reas de segunda-residncia consolidadas por ocupao de mdio padro, em outros trechos essas
praias possuem reas de baixa ocupao.
As praias supracitadas apresentam potencialidades para lazer, recreao e para equipamentos de
segurana para banhistas e a criao de base para trabalho ecolgico de alta relevncia visando
reproduo e preservao de tartarugas marinhas. preocupante qualquer tipo de ocupao e de
construo de cercas, muros, cais, molhes, espiges e similares, pela sua ineficcia e pelo seu alto poder de
impacto negativo visual e paisagstico e com agresso ao meio ambiente natural, comprometendo assim, o
turismo, a paisagem e a valorizao imobiliria.
As reas de baixa ocupao, de segunda residncia (alto e mdio padro) e as reas ocupadas por
stios de coqueiro, chcaras de lazer e moradias permanentes apresentam potencialidades para a ocupao
de veraneio, hotis, pousadas e equipamentos de lazer com restries legais e sujeio a medidas de
ordenamento urbano-ambiental.
Os povoados de Porto do Mato, Porto da Nangola, Porto do Cavalo, Convento, Preguia, Pontal,
Crasto, Terra Cada, Abais e Caueira possuem potencialidades para o desenvolvimento de vilas tursticas
com restries urbanizao indiscriminada por riscos de descaracterizao scio-cultural das
comunidades. O turismo de pesca, e o turismo ecolgico so modalidades do turismo que podem ser
desenvolvidas como incremento de renda nos povoados de Pontal, Terra Cada e Crasto.
Os povoados de Pontal e Terra Cada so locais que apresentam grande potencial para o
desenvolvimento do turismo gastronmico, ecolgico e fluvial. A praia fluvial de So Jos, em Terra Cada,
conta com dezenas de restaurantes e peixarias rsticas que comercializam pescados e frutos do mar. Outro
elemento que merece destaque no referido povoado a disponibilidade de embarcaes nuticas para a
realizao de passeios tanto em praias sergipanas como baianas. Esses passeios nuticos complementam a
renda dos pescadores, no entanto, esta atividade poderia se transformar na fonte renda principal dos
moradores locais se houvesse investimentos em treinamento e capacitao tcnica para atender a
demanda de turistas.
No esturio Piau/Real, situam-se exemplares preservados de manguezais configurando-se em
atrativos naturais tursticos que se formatado como um produto de turismo ecolgico pode tornar-se uma
fonte de renda para a populao dos povoados de Porto de Nangola, Porto do Cavalo e Saco do Rio Real. A
paisagem dos manguezais e sua dinmica biofsica contemplados de uma canoa um passeio turstico
diferenciado que o Litoral Sul poder ofertar se trabalhado na perspectiva de educao ambiental com
vistas sustentabilidade, bem como ao turismo ecolgico e cientfico.

A parte da zona litornea exposta durante a mar baixa e submersa durante a mar alta denominada face
de praia foreshore.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

42
REFERNCIAS
ADEMA. Levantamentos da flora e caracterizao dos bosques de mangue do Estado de Sergipe.
Aracaj.154p, 1984.
BAPTISTA NETO, PONZI & SICHEL. (Orgs.). Introduo a Geologia Marinha. Rio de Janeiro:
Intercincia, 2004.
BRASIL. Resoluo CONAMA n 303, de 20 de maro de 2002. Dispe sobre parmetros, definies
e
limites
de
reas
de
Preservao
Permanente.
Disponvel
no
site:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30302.html Acesso em 12 de janeiro de 2011.
CARVALHO, M. E. S. A.; FONTES, A. L. Estudo ambiental da zona costeira sergipana como subsdio
ao ordenamento territorial. Geonordeste, ano XV, n 2, 2006. Disponvel no site:
http://www.posgrap.ufs.br/peridicos/pdf/revista_geo_06_2/aracaju.pdf .Acesso em: 25 de fev. 2008.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representao social. 5 ed. So Paulo, Cortez, 2002.
UNESCO-PNUMA. Educacin para un Futuro Sostenible: una Visin Transdisciplinaria para una
Accin Concertada. Documento preparatrio para a Conferncia Internacional de Educao Ambiental em
Thessaloniki, Grcia, dezembro de 1997.
VILAR, J. W. C. e VIEIRA, L. V. L. A dinmica scio-demogrfica e os conflitos territoriais no Litoral Sul
de Sergipe. In: VILAR, J. W. C. e ARAJO, H. M. de. Territrio, meio ambiente e turismo no litoral sergipano.
So Cristvo: UFS, 2010, p.98-119.

Joo Pessoa, outubro de 2011

43

A DIFCIL APLICAO DAS NORMAS INCIDENTES NAS FAIXAS DE PRAIA: O


CASO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
SILVA, J. J.* e ABREU, L. M.**
* Gegrafo - E-mail: josinaldojose74@gmail.com
**Biloga - E-mail: lenilda.abreu@gmail.com

RESUMO
A zona costeira brasileira, considerada patrimnio nacional pela Constituio Federal, uma regio
de grande extenso e complexidade, inclusive ambiental, em face da natureza de seu ecossistema, isso
porque compreende o espao geogrfico de interao do ar, do mar e da terra. A zona costeira de
Pernambuco (PE) tem suportado um grande crescimento, sendo a rea que apresenta maior densidade
demogrfica do Estado. Com o intuito de estabelecer um ordenamento para a zona costeira de PE, foram
realizados alguns estudos que deram base para a publicao de legislaes incidentes nestas reas. As
principais foram o Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro do litoral Sul e do litoral Norte e, mais
recentemente, a Poltica Estadual de Gerenciamento Costeiro. As reas de maior conflito, no espao
compreendido como zona costeira pelo Decreto Federal n5.300/2004, so as faixas de praia. Para essas
reas, as legislaes estaduais citadas estabeleceram ordenamento especfico quanto ao seu uso. o caso
da proibio de construo fixa ou equipamentos permanentes na praia. Essa medida objetiva garantir a
no privatizao desse espao, bem pblico de uso comum do povo. Alm disso, a no ocupao das praias
contribui para o no agravamento dos processos erosivos. Este trabalho objetiva analisar a aplicabilidade
das normas incidentes nas faixas de praia constantes nos ordenamentos jurdicos estaduais.
Palavras chaves: zona costeira, legislao, praia, Pernambuco.
INTRODUO
A zona costeira corresponde rea de transio entre o continente e o oceano, muitas vezes
estendendo-se desde a bacia hidrogrfica at a plataforma continental e contm por isso uma grande
variedade de ecossistemas (Word Bank, 1996; Crossland e Kremer, 2001; apud Belchior, 2008).
Ela considerada patrimnio nacional, nos termos do artigo 225, pargrafo 4, da Constituio
Federal. regio de grande extenso e complexidade em face da natureza de seu ecossistema. Nela se
encontram as maiores taxas de densidade populacional do estado de Pernambuco (cerca de 44%), e
tambm se concentra a maioria das atividades econmicas que utilizam e degradam os recursos naturais
(CPRH, 2006; IBGE, 2010; FREITAS, 2006).
De acordo com a Lei Federal n 7.661/1988 que institui o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro (PNGC), a zona costeira compreende o espao geogrfico de interao do ar, do mar e da terra,
incluindo seus recursos renovveis ou no, abrangendo uma faixa martima e outra terrestre.
O Decreto Federal n 5.300/2004, que regulamenta o PNGC, estabele limites bastante amplos para
a zona costeira. Na faixa martima considera doze milhas nuticas medidas a partir das linhas de base, ou
seja, todo mar territorial. Na faixa terrestre considera todos os municpios que sofrem influncia direta dos
fenmenos ocorrentes na zona costeira, podendo, em alguns casos, existir municpios distantes at 50 km
da linha de costa.
A Zona Costeira de Pernambuco composta por 21 municpios, distribudos numa faixa de 187 km
de extenso (CPRH, 2006).
O Estado de Pernambuco iniciou suas polticas de proteo da zona costeira em 1989 com a
implantao do Programa de Gerenciamento Costeiro de Pernambuco (GERCO/PE). Este programa tem por
objetivo principal avaliar e orientar o processo de ocupao e uso do solo e a utilizao racional dos
recursos costeiros, atravs do planejamento participativo e de aes integradas de gesto, visando
melhoria da qualidade de vida das populaes locais, a proteo dos ecossistemas costeiros e do seu
patrimnio natural, histrico, tnico e cultural (CPRH, 2006).
Dentre as vrias atividades que foram desenvolvidas pelo GERCO/PE, destacam-se:
1- Diagnstico Socioambiental e respectivo Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro (ZEEC) do
Litoral Sul de Pernambuco; e

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

44
2- Diagnstico Socioambiental e respectivo Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro (ZEEC) do
Litoral do Litoral Norte de Pernambuco.
O ZEEC um instrumento de apoio ao processo de ordenamento territorial. Ele estabelece as
normas de uso e ocupao do solo e de manejo dos recursos naturais em reas especficas, definidas a
partir das anlises de suas caractersticas socioeconmicas e ecolgicas (MMA, 2002; CPRH, 2006).
Os decretos estaduais n 21.972, de 29 de dezembro de 1999, e n 24.017, de 07 de fevereiro de
2002, aprovaram os zoneamentos dos litorais sul e norte, respectivamente.
Estes zoneamentos objetivam proteger e conservar os ecossistemas naturais essenciais
biodiversidade, especialmente os recursos hdricos, visando melhoria da qualidade de vida da populao
em sintonia com a proteo dos ecossistemas e com o desenvolvimento econmico-social.
Com o intuito de cumprir seus objetivos, estes zoneamentos dividiram a zona costeira
pernambucana em diversas zonas e subzonas. Nelas foram estabelecidas metas ambientais, proibies,
tolerncias e incentivos a vrias atividades.
Dentre as diversas proibies, cita-se a no permisso de construes fixas ou equipamentos
permanentes em faixa de praia.
Vale ressaltar que para o PNGC praia a rea coberta e descoberta periodicamente pelas guas,
acrescida da faixa subseqente de material detrtico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, at o
limite onde se inicie a vegetao natural, ou, em sua ausncia, onde comece outro ecossistema.
Segundo SUGUIO (1992), praia corresponde a zona perimetral de um corpo aquoso (lago, mar,
oceano), composta de material inconsolidado, em geral arenoso (0,062 a 2mm) ou mais raramente
composta de cascalhos (2 a 60mm), conchas de moluscos, entre outros, que se estende desde o nvel da
baixamar mdia (...) para cima, at a linha de vegetao permanente (limites de onda de tempestades), ou
onde h mudana na fisiografia, como zona de dunas ou de falsias marinhas.
O PNGC garante que as praias so bens pblicos de uso comum do povo, sendo assegurado,
sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direo e sentido, ressalvados os trechos
considerados de interesse de segurana nacional ou includos em reas protegidas por legislao especfica.
Acrescenta-se ainda que as praias martimas foram includas no rol de bens da Unio, pela primeira
vez, no artigo 20, inciso IV da Constituio Federal. Portanto as praias martimas so bens pblicos federais
(FREITAS, 2007).
Este trabalho tem como objetivo principal analisar a aplicabilidade das normas incidentes nas faixas
de praia do Estado de Pernambuco, constantes nos decretos estaduais acima citados e na Lei Estadual n
14.258, de 23 de dezembro de 2010, que institui a Poltica Estadual de Gerenciamento Costeiro (PEGC).
METODOLOGIA
Este trabalho ser tratado como um estudo de caso que, segundo GIL (2006), consiste no
estudo profundo e preciso de um ou poucos objetivos.
Para o seu desenvolvimento realizou-se um levantamento bibliogrfico da rea de estudo, com
informaes de carter geral. Posteriormente, foram analisadas as legislaes incidentes na zona costeira
do Estado de Pernambuco, especificamente as normas relativas a ordenamento territorial.
O segundo momento consistiu em uma pesquisa de campo onde foram visitadas algumas reas
chaves (praias do Carmo - Olinda, de So Paulo - Itamarac, de Boa Viagem - Recife, Porto de Galinhas e
Toquinho - Ipojuca) para servirem de exemplo no presente estudo. Foram identificados e fotografados,
utilizando-se mquina fotogrfica digital, os principais tipos de ocupao e os impactos decorrentes delas, o
avano das construes sobre as reas de praia e os processos erosivos.
Foi realisada uma pesquisa ao rgo ambiental do estado com o intuito de se adquirir imagens
antigas (fotos) de praias ocupadas por residncias de veraneio (anteriormente ao ano de 1999) e praias
com problemas de eroso anterior a esta data.
RESULTADO E DISCUSSO
Os zoneamentos dos litorais Sul e Norte de Pernambuco foram elaborados tomando por base os
seus respectivos Diagnsticos Socioambientais que so importantes instrumentos de Planejamento e
Gesto Ambiental, pois estabelecem as normas de uso e ocupao do solo e ampliam a base para atuao
dos gestores pblicos, nos diferentes nveis, atravs de medidas que visem reverso das tendncias de
ocupao irregular e a potencializao das atividades sustentveis (CPRH, 2006).
Joo Pessoa, outubro de 2011

45
O ZEEC do litoral Sul traa as diretrizes de uso das diversas zonas e subzonas propostas no
Diagnstico Socioambiental do Litoral Sul de Pernambuco.
O artigo 41 desse zoneamento probe construo fixa ou equipamentos permanentes na faixa de
praia, medida 33 metros em direo ao continente, a partir da linha de preamar mxima atual, da mar de
sizgia.
O ZEEC do litoral Norte, em seu artigo 49, tambm proibiu a construo fixa ou equipamentos
permanentes na praia.
Vm-se tornando comuns as construes nas praias brasileiras, nas quais bares, quiosques,
pousadas, marinas, peres, etc. vo desfigurando as paisagens naturais. Essas construes revelam-se os
problemas mais complexos e de mais difcil soluo na zona costeira (FREITAS, 2006).
Muitas dessas construes esto instaladas h dcadas (e at h sculos, como, por exemplo, o
Forte Orange construdo pelos holandeses em Itamarac) nessas reas. Sem dvida, as praias so palcos de
vrios conflitos de interesse e qualquer que seja a poltica pblica a ser implementada nelas, precisar de
muito dilogo com os diversos setores envolvidos.
Em 23 de dezembro de 2010, o Estado de Pernambuco instituiu a Poltica Estadual de
Gerenciamento Costeiro (PEGC), atravs da Lei Estadual n 14.258.
Com esse novo ordenamento jurdico, a proibio foi direcionada a novas edificaes, em reas
urbanizadas e no urbanizadas, numa faixa mnima de 33 metros em todo litoral do estado, conforme
artigo 10, 2 da PEGC:
Para as reas urbanizadas no ser permitido qualquer tipo de instalaes de novas construes,
urbanizao ou outra forma de utilizao do solo na zona costeira, na faixa de 33 m (trinta e trs metros),
considerada como non aedificandi, ou valor superior a este quando comprovado em estudo tcnico,
medidos perpendicularmente em direo ao continente, a partir da linha de preamar mxima da sizgia
atual, salvo quando determinado a maior ou a menor por legislao municipal.
Essa lei no especifica quais sero as medidas tomadas pelo poder pblico em relao s ocupaes
existentes que so ponteciais causadoras de eroso costeira. A nica previso observada para as
edificaes j existentes quanto ao acesso praia. Caso algumas destas estejam impedindo o livre acesso
as praias, prever a lei que elas precisaro se adequar criando rea de servido de passagem que garanta
populao o livre acesso.
Proibir a construo fixa na praia medida necessria tendo em vista que algumas intervenes,
alm de privatizar um bem pblico de uso comum do povo, potencializador de eroso costeira.
A eroso costeira pode ser resultado da combinao de vrios fatores tanto humano quanto
natural. Cita-se entre outros a ocupao do ambiente praial e aterros dos manguezais; o barramento de
sedimentos nas bacias costeiras; a construo de espiges e quebra-mar planejados e executados de forma
pontual e sem observar os parmetros do projeto; as obras de conteno efetuadas de forma pontual,
transferindo o processo erosivo para o norte, gerando efeito domin; as causas naturais advindas das
mudanas climticas como a elevao do nvel do mar e das ondas, em escala mundial (MAI, 2001).
De certa forma, a PEGC representa um avano em relao proteo das praias. Porm o poder
pblico insistiu em limitar essa proibio em uma faixa de 33 metros medidos a partir da linha de preamar
mxima atual. Caso optasse pela proibio contida no ZEEC Norte, ou seja, em toda praia, a proteo seria
mais eficaz e os limites a serem demarcados seriam mais facilmente delimitados, tomando por base para
essa delimitao o conceito de praia adotado na PEGC.
Vale ressaltar que a Poltica Estadual de Gerenciamento Costeiro permite construes de
estruturas de apoio pesca e s atividades nuticas, desde que previamente licenciadas pelo rgo
ambiental competente. Alm disso, permite que haja intervenes em rea de praia ou na faixa martima
desde que objetivem minimizar os efeitos erosivos j instalados e potencializar a regenerao das praias.
Sabe-se que na zona costeira h dinmicas, naturais e antrpicas, em curso que modificam suas
paisagens. Tais dinmicas exigem aes do poder pblico para que no sejam instalados na zona costeira
empreendimentos que prejudiquem a populao e o meio ambiente. Acredita-se que por estes e outros
fatores, ficou estabelecido que os zoneamentos fossem revistos no prazo de quatro em quatro anos aps
sua publicao. Porm essas revises nunca ocorreram.
Em 2006, o ZEEC Norte sofreu algumas alteraes, mas nenhuma delas fez referncia faixa de
praia.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

46
CONCLUSO
Observou-se que as praias do Estado de Pernambuco esto em sua maioria sofrendo processo de
eroso e ocupao desordenada que comprometem o equilbrio praial e contribuem para desfigurar sua
paisagem.
Os zoneamentos Ecolgicos Econmicos Costerios deste estado, publicados, respectivamente, em
1999 e em 2002, no foram revisados, como previsto nos decretos que os aprovaram.
A legislao mais recente (PEGC) pretende proteger uma parte da praia das construes fixas, trinta
e trs metros a partir da linha de preamar mxima atual. Tendo em vista, porm, ser a praia um ambiente
frgil, poderia a norma proteg-la em sua totalidade. Alm disso, a zona costeira patrimnio nacional e a
praia bem pblico de uso comum do povo, fatos esses que do respaldo jurdico suficiente para edio de
normas mais restritivas.
Observou-se que uma ampla rea de praia do litoral pernambucano est ocupada h anos por
diversos tipos de edificaes (hoteis, residncias, bares, fortes seculares, peres, etc). Para esses casos, as
normas no preveem solues.
Sabe-se da dificuldade de se estabelecer normas mais rgidas para esse espao to cubiado
por diversos segmentos sociais. Mas preciso levar em conta que algumas medidas mais duras so
necessrias para que a PEGC alcancem os objetivos pretendidos.
Tendo em vista ser um espao densamente ocupado e abrigar diversas atividades econmicas, o
ordenamento dessas reas passa por decises polticas.
A participao de todos os segmentos da sociedade na implementao das polticas pblicas sobre
a zona costeira condio necessria para o sucesso das aes propostas na Poltica Estadual de
Geranciamento Costeiro.
REFERNCIAS
AGNCIA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE. Gesto Costeira. Diretrizes para o Controle Ambiental.
Recife, CPRH 2006. 91p.
BECHIOR, Constana de Carvalho. Gesto Costeira Integrada-Estudo de Caso do Projeto
ECOMANAGE na regio estuarina de Santos-So Vicente, SP-Brasil. Dissertao apresentada ao Programa
de Ps-Graduao em Cincia Ambiental da Universidade de So Paulo, 2008. Disponvel em:
<http//www.ecomanage.info/products
2008_Belchior_gestao_costeira_integrada>.
Acessado
em
25/04/2011.
BRASIL. Decreto n 5.300 de 7 de dezembro de 2004. Regulamenta a Lei no 7.661, de 16 de maio de
1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC, dispe sobre regras de uso e
ocupao da zona costeira e estabelece critrios de gesto da orla martima, e d outras providncias.
Disponvel em: <http://www.in.gov.br/mp_leis/leis_texto.asp?ld=LEI%209887>. Acesso em: 22 de maro de
2011.
BRASIL. Lei N 7661 de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e
d outras providncias. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7661.htm>. Acesso
em: 22 de maro de 2011.
ESTADO DE PERNAMBUCO. Decreto Estadual n 24.017, de 07 de fevereiro de 2002. Aprova o
Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro - ZEEC do Litoral Norte do Estado de Pernambuco, e d outras
providncias.
Disponvel.em:<http://www.cprh.pe.gov.br/legislacao/decretos/decretos_estaduais/decretos_estaduais_2
002/39897%3B56710%3B14020206%3B0%3B0.asp>. Acesso em: 22 de maro de 2011.
ESTADO DE PERNAMBUCO. Decreto n 21.972 de 29 de dezembro de 1999. Aprova o Zoneamento
Ecolgico Econmico Costeiro _ ZEEC do litoral sul de Pernambuco, e d outras providncias. Disponvel
em:
<http://www.cprh.pe.gov.br/legislacao/decretos/decretos_estaduais/decretos_estaduais_1999/39897%3B
59125%3B14020208%3B0%3B0.asp>. Acesso em: 22 de maro de 2011.
ESTADO DE PERNAMBUCO. Decreto n 28.822, de 16 de janeiro de 2006. Altera dispositivos do
Decreto n 24.017, de 07 de fevereiro de 2002, que aprova o Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro ZEEC do Litoral Norte do Estado de Pernambuco, e d outras providncias. Disponvel
Joo Pessoa, outubro de 2011

47
em:<http://www.cprh.pe.gov.br/legislacao/decretos/decretos_estaduais/decretos_estaduais_2006/39825
%3B34118%3B14020202%3B0%3B0.asp >. Acesso em: 22 de maro de 2011.
ESTADO DE PERNAMBUCO. Lei Estadual N 14.258, de 23 de dezembro de 2010. Institui a Poltica
Estadual
de
Gerenciamento
Costeiro,
e
d
outras
providncias.
Disponvel
em:<http://legis.alepe.pe.gov.br/legis_inferior_norma.aspx?nl=LE14258>. Acesso em: 22 de maro de
2011.
FREITAS, Mariana Almeida Passos de. Zona Costeira e Meio Ambiente Aspectos Jurdicos. Ed. Juru,
Curitiba, 2007.
GIL, Antnio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. 8 reimpr. So Paulo: Atlas, 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo de 2010. Disponvel em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm>. Acesso em: 01 de abril de 2011.
MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Projeto Orla: fundamento para a gesto integrada.
Braslia: MMA/SQA; Braslia: MP/SPU, 2002. 78p.
MONITORAMENTO AMBIENTAL INTEGRADO MAI Eroso Costeira, 2001. Disponvel
em:<http://www.prpe.mpf.gov.br/internet/Casos/Erosao-Costeira-Avanco-domar/Documentos/Apresentacao-Monitoramento-Ambiental-Integrado-MAI>. Acessado em 29/05/2011.
SUGUIO, Kenitiro. Dicionrio de geologia marinha (com termos correspondentes em ingls, francs
e espanhol). So Paulo: T.A. Queiroz. 1992. 171p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

48
ANEXO: FOTOS

rea ocupada e com obras de conteno j desgastadas


Praia do Carmo- Olinda (20/06/11)

Obra de conteno em Boa Viagem (20/06/11)

Construes a beira mar na praia de Porto de Galinhas Ipojuca (17/06/11)

Praia de So Paulo- Itamarac. Fonte: CPRH


(processo de eroso costeira 1996)

Joo Pessoa, outubro de 2011

Praia de Toquinho, Ipojuca. Fonte: CPRH.


(processo de ocupao por residncia de veraneio -1994)

49

ANLISE QUALITATIVA DAS PRAIAS DE MACEI, ALAGOAS, TRECHO


PONTAL DA BARRA A CRUZ DAS ALMAS
Jhonatan GUEDES
Bilogo. Especialista em Cincias Ambientais.
Email: jhonguedes@gmail.com
Luciana CALADO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE UFS. Mestranda em Ecologia e Conservao.
Email: lrodriguesbio@gmail.com
Jos Gomes CHAVES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS UFAL. Doutor em Agronomia.
E-mail: gchaves@ccen.ufal.br

RESUMO
A anlise da balneabilidade das praias proporciona aos gestores ambientais informaes relevantes
para que sejam tomadas providncias na busca de solues para minimizar os impactos s regies costeiras
e sade daqueles que se submetem a tais ambientes. O Conselho Nacional de Meio Ambiente, atravs de
sua resoluo n 274/2000, traz uma srie de procedimentos para a caracterizao da qualidade balneria
das praias. Nesse contexto, este trabalho teve como objetivo a anlise dos processos envolvidos na perda
da balneabilidade das praias de Macei, utilizando como base uma reviso de literatura sobre a degradao
de ambientes costeiros e os dados de balneabilidade coletados pelo Instituto de Meio Ambiente de Alagoas
(IMA-AL). Percebeu-se que todas as praias apresentam decrscimo na qualidade de suas guas durante o
perodo chuvoso, demonstrando forte presso antrpica e afetando sua balneabilidade.
INTRODUO
Macei, uma cidade de notvel beleza cnica, atrai um grande nmero de turistas para suas belas
praias. Contudo, compartilha alguns problemas comuns s cidades litorneas do Brasil, como o
direcionamento de guas pluviais oriundos do sistema de drenagem urbana diretamente nas praias. Essa
carga de "dejetos" levada ao mar, principalmente, em perodos chuvosos (BRASIL 2004), quando sistemas
de conteno adotados de forma paliativa no so capazes de suportar o volume de gua, afetando o
ambiente e, por conseguinte, colocando em risco a sade da populao que eventualmente entre em
contato com as guas contaminadas.
Este trabalho apresenta como objetivo a anlise dos processos que envolvem a perda da
balneabilidade das praias de Macei, utilizando como base a reviso de literatura sobre a degradao de
ambientes costeiros e os dados de balneabilidade coletados pelo Instituto de Meio Ambiente de Alagoas
(IMA-AL).
IMPACTOS AMBIENTAIS E A PERDA DA BALNEABILIDADE
No processo de urbanizao, o ser humano altera as condies ambientais para adequar a natureza
s suas necessidades. Essas alteraes so denominadas de impactos ambientais. A Resoluo CONAMA n
001/1986 define impacto ambiental como:
(...) Qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
a sade, a segurana e o bem-estar da populao;
as atividades sociais e econmicas;
a biota;
as condies estticas e sanitrias do meio ambiente;
a qualidade dos recursos ambientais.

As alteraes ambientais podem afetar direta ou indiretamente os corpos dgua, modificando sua
qualidade e interferindo no seu uso. A qualidade das guas destinada a recreao de contato primrio
(balneabilidade), regulada pela Resoluo CONAMA 20/86, entendida como verificao de critrio de uso
deste recurso, instrumento do controle de qualidade e insumo para formulao de polticas de
desenvolvimento. As normas do CONAMA determinam que uma praia considerada apropriada para o

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

50
banho quando 80% das amostras analisadas, das respectivas praias, apresentam uma contagem de
bactrias inferior a 1000NMP/100mL.
A classificao dos usos presentes e futuros da gua torna possvel a definio de critrios capazes
de avaliar se a mesma encontra-se poluda. No meio urbano predominam as contaminaes por esgotos
domsticos, que agrupam esgotos sanitrios de residncias, de atividades comerciais e de atividades
industriais que no geram efluentes lquidos. Seus componentes mais preocupantes em relao poluio
das guas so a presena de matria orgnica, microorganismos patognicos e concentraes de fsforo e
nitrognio (PHILIPPI Jr et al. 2004, PEREIRA 2004).
Quando atingem os corpos dgua, os poluentes encontram condies fsicas, qumicas e biolgicas
diferenciadas, afetando o seu comportamento. Aureliano (2000) identifica como principais fatores de
alterao das condies de utilizao das praias aqueles de origem antrpica, quais sejam: (a) concentrao
urbana na zona costeira; (b) poltica de desenvolvimento aplicada prioritariamente econmica; (c)
cobertura e manuteno deficiente da rede de esgotos; (d) ligaes clandestinas de esgotos rede de
drenagem; (e) baixos ndices de educao sanitria e ambiental; (f) baixa eficincia no controle de fontes
poluidoras; (g) baixo envolvimento da sociedade na problemtica ambiental de ambientes costeiros.
USO DE ORGANISMOS INDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL
freqente o uso de bioindicadores para verificar a contaminao de zonas costeiras; os
organismos mais utilizados so do grupo coliforme. Dentro deste grupo, os mais importantes so os
coliformes fecais (FLORES 2007). Segundo Efstratiou (2001), praticamente todos os critrios e padres
microbiolgicos para analisar as guas recreacionais so baseados inteiramente em concentraes de
bactrias indicadoras, definindo ndices de balneabilidade.
Em geral, as fontes de poluio das guas podem ser agrupadas como (a) poluio natural, (b)
poluio causada por esgotos domsticos, (c) poluio causada por efluentes industriais e (d) poluio
causada pela drenagem de reas urbanas e agrcolas (PHILIPPI Jr et al. 2004).
As bactrias do grupo coliforme podem ser encontradas no solo, na gua e nas fezes, sendo
denominadas coliformes totais. Dentro desse grupo destacam-se os coliformes fecais, sendo seu principal
representante a bactria Escherichia coli, que so bactrias restritas ao trato intestinal dos animais de
sangue quente, sendo capazes de se reproduzirem ativamente e fermentarem o acar na temperatura de
44,5C. Por essa caracterstica restritiva, os coliformes fecais so muito mais eficientes para caracterizar
contaminao de corpos dgua por fezes do que os coliformes totais, sendo considerados indicadores
primrios de contaminao fecal das guas (PEREIRA 2004).
Quando os coliformes fecais e os patgenos do trato intestinal dos animais de sangue quente so
dispostos no ambiente, as condies fsico-qumico-biolgicas para sua sobrevivncia e reproduo se
modificam para aqum do desenvolvimento timo, gerando uma tendncia a que o nmero desses
indivduos diminua gradativamente. Esse decrescimento denominado Fator de Decaimento. importante
salientar que, por se tratarem de bioindicadores, a contaminao de um corpo dgua por coliformes fecais
no significa, necessariamente, que aquele local esteja contaminado por patgenos, mas que h uma
potencialidade dessa ocorrncia (FLORES 2007).
METODOLOGIA
Alagoas possui um litoral com 230 km de extenso, o qual pode ser subdividido em trs regies
litorneas: Litoral Norte, Litoral Central e Litoral Sul. A rea de estudo do presente trabalho localiza-se na
cidade de Macei - AL, situada no Litoral Central. Possui clima quente e mido, sem variaes trmicas
muito significativas ao longo do ano, e com dois perodos distintos, um perodo chuvoso (outono-inverno) e
um perodo seco (primavera-vero) (CORREIA & SOVIERZOSKI 2008).
Esta pesquisa, de carter descritivo, foi fundamentada em levantamentos bibliogrficos e em dados
disponveis nos boletins de balneabilidade de setembro de 2009 a agosto de 2010 publicados pelo Instituto
de Meio Ambiente de Alagoas (IMA-AL) em seu stio eletrnico na Internet. Foram analisados dados de
quatorze pontos, de 020 Mar (Praia do Pontal da Barra) a 116 Mar (Praia de Cruz das Almas), os quais
cobrem seis praias da rea urbana de Macei (Figura 1).

Joo Pessoa, outubro de 2011

51

Fig 2. - Comparativo das mdias dos meses secos, em verde escuro (setembro de 2009 a fevereiro de 2010) e
chuvosos, em verde claro, (maro a agosto de 2010) por ponto analisado.

Foram compiladas tabelas com a balneabilidade de cada ponto, subdivididas entre o perodo seco
(setembro de 2009 a fevereiro de 2010) e o perodo chuvoso (maro a agosto de 2010). Foi elaborada,
ainda, uma figura comparativa dos valores mdios de cada ponto ao final de cada perodo. No perodo seco
o IMA realizou 21 coletas, enquanto que no perodo chuvoso ocorreram 22 coletas. As informaes
coletadas nos boletins de balneabilidade do IMA-AL foram agrupadas e compiladas em tabelas, as quais
foram subdivididas em balneabilidade nos meses secos e nos meses chuvosos e a mdia da balneabilidade
do total de praias por cada ms nos meses secos e nos meses chuvosos. Tambm foi calculada a mdia de
cada ponto em cada perodo, a partir da soma das mdias de cada ms e a diviso dessa soma pela
quantidade de meses amostrados.
RESULTADOS E DISCUSSO
Nesta seo so apresentados os resultados dos boletins de balneabilidade do IMA-AL adotando-se
uma diviso por perodo: tanto seco quanto chuvoso.
BALNEABILIDADE NOS MESES SECOS
Na praia do Pontal da Barra, dois pontos (022 Mar e 030 Mar) se mantiveram, ao longo do perodo
seco, acima de 60% do tempo prprios para banho, enquanto outros dois (020 Mar e 035 Mar)
mantiveram-se prprios por cerca de 50% do tempo. O ponto 035 Mar mostrou-se, como os pontos 037
Mar e 040 Mar (praia da Avenida) mais que 80% do tempo imprprios. importante frisar que esses pontos
so os mais prximos de onde desgua o riacho Salgadinho, que recebe efluentes clandestinos de vrias
residncias ao longo de seu percurso. Sugere-se que esse fato tenha influncia direta nessa perda da
balneabilidade, principalmente quando se percebe que h um aumento dessa degradao medida que se
aproxima a foz do riacho, com valores de impropriedade da gua variando de 84,7% a 100%. Alguns autores
j verificaram essa influncia dos riachos que cortam as cidades sobre a perda de balneabilidade nas praias
que recebem suas guas (PIMENTEL et al 2005, FLORES 2007).
A praia de Pajuara e a praia de Ponta Verde, que contm grande nmero de hotis e pousadas em
suas orlas e apresentam ndices de balneabilidade estveis ao longo do perodo, apresentaram,
respectivamente, 95,8% e 87,5% de propriedade da gua.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

52
A praia de Jatica (081 Mar) aparece com 45,8% de propriedade para banho no perodo. Alguns
metros ao norte desse ponto possvel verificar a ocorrncia de descarga de guas pluviais, o que pode
estar influenciando na baixa balneabilidade. Porm, por tratar-se de um perodo seco e no ocorrer fortes
descargas de guas da chuva, possvel que haja a contaminao por meio de ligaes clandestinas de
esgoto.
Os ltimos trs pontos avaliados, 095 Mar, 106 Mar e 116 Mar correspondem praia de Cruz das
Almas. Estes pontos apresentam, respectivamente, 37,5%, 62,5% e 87,5% de propriedade. Mais uma vez,
pode estar ocorrendo aqui a influncia da foz de um riacho urbano, o riacho guas do Ferro, que desgua
antes do ponto 095 Mar, influenciando, provavelmente, em sua baixa propriedade, enquanto os pontos
106 Mar e 116 Mar, por se localizarem em pontos que no recebem a corrente de despejo do riacho,
mantiveram um bom nvel de balneabilidade.
Com o exposto, verifica-se que as praias que mantiveram melhores condies no perodo seco
foram as praias de Pajuara e Ponta Verde, e a que se mostrou como um fator de risco para a populao,
foi a praia da Avenida, apresentando ndices de balneabilidade que atingiram 0%.
BALNEABILIDADE NOS MESES CHUVOSOS
Durante o perodo de chuvas, h um aumento da quantidade de resduos carregados para as
galerias pluviais e riachos que desguam nas praias, o que ocasiona menor qualidade dessas guas.
Portanto, houve diferena nos ndices de balneabiliade entre os perodos secos e chuvosos.

Fig 2. - Comparativo das mdias dos meses secos, em verde escuro (setembro de 2009 a fevereiro de 2010) e
chuvosos, em verde claro, (maro a agosto de 2010) por ponto analisado.

A praia do Pontal da Barra (pontos 020 Mar a 035 Mar) apresentou-se mais de 50% do tempo
imprpria para as atividades balnerias, permanecendo 75% do tempo imprpria no ponto 035 Mar, um
tempo menor que nos meses secos que foi de 80%.
A praia da Avenida manteve-se imprpria em quase sua totalidade do tempo, enquanto a praia de
Pajuara, que apresentou ndices acima de 95% nos meses secos, passou a manter-se metade do perodo
chuvoso sem condies de balneabilidade (impropriedade de 45,83% para o ponto 051 Mar e de 58,33%
para o ponto 052 Mar).
Na praia de Ponta Verde, que tambm se apresentou com boas condies nos meses secos, uma
diferena drstica ocorreu no ponto 071 Mar, que alcanou o tempo de 70,8% de impropriedade, enquanto
que o ponto 061 Mar apresentou-se somente 29,2% do tempo imprprio. A praia de Jatica, que j se
apresentava no perodo seco com um tempo de impropriedade de 54,2%, alcanou no perodo chuvoso
75%.
Na praia de Cruz das Almas, o ponto 095 Mar apresentou-se 54,2% do seu tempo imprprio,
repetindo-se o fato ocorrido no ponto 035 Mar, que no perodo seco apresentou um tempo de
impropriedade superior ao perodo chuvoso de 16,7%. Os ltimos dois pontos desta praia apresentaram
Joo Pessoa, outubro de 2011

53
uma elevao no tempo de impropriedade, alcanando 54,2% para o ponto 106 Mar e 70,8% para o ponto
116 Mar.
Verifica-se que no perodo seco as praias mais indicadas para a atividade balneria foram Pajuara
e Ponta Verde. Dos 14 pontos amostrados, 08 mostraram-se disponveis mais que 60% do perodo seco, ao
passo que no perodo chuvoso, apenas um ponto da praia de Ponta Verde manteve-se 70% do perodo
disponvel para balneabilidade.
A mdia de impropriedade de todos os meses do perodo chuvoso foi alta (Figura3).

Fig 3. Mdia da balneabilidade do total de praias analisadas por cada ms no perodo seco e chuvoso.

Os meses mais crticos para a balneabilidade foram junho e julho, que mantiveram uma mdia de
impropriedade de todos os pontos superior a 80% e 90%, respectivamente. Maro apresentou 48,2% de
impropriedade, enquanto que os demais meses apresentaram valores entre 50% e 60%.
As informaes do perodo chuvoso expem uma situao de risco populao, pois todas as
praias apresentaram-se imprprias at 50% do tempo, considerando a mdia dos pontos amostrados de
cada praia. Esses dados so corroborados pelos trabalhos de Parente 2004, Philippi Jr et al. 2004, Pimentel
et al. 2005 e Silva 2009, que afirmam que o perodo chuvoso crtico para a balneabilidade, aumentando a
contaminao dessas guas.
CONCLUSES
As praias de Macei sofrem forte presso antrpica, o que afeta sua balneabilidade tanto nos
perodos secos, quanto nos chuvosos, tornando expressivo o aumento da sua impropriedade.
No perodo seco, boa parte da rea avaliada mantm condies adequadas para a prtica
balneria, ao passo que no perodo chuvoso todas as praias mantiveram-se imprprias para banho mais da
metade do tempo.
REFERNCIAS
AURELIANO, J.T. 2000. Balneabilidade das Praias de Pernambuco: O Ncleo Metropolitano.
Dissertao de Mestrado. Depto. de Geografia da UFPE. 105p. Recife.
BRASIL. Resoluo CONAMA n 274 de 29 de Novembro de 2000. Disponvel em
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res00/res27400.html>. Acesso em [10/06/2010].
BRASIL.Resoluo CONAMA N 20, de 18 de junho de 1986. Disponvel em <
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res2086.html>. Acesso em [28/07/2011].
CORREIA, M.D. & SOVIERZOSKI, H.H.. 2008. Gesto e Desenvolvimento Sustentvel da Zona Costeira
do Estado de Alagoas. Revista da Gesto Costeira Integrada, v. 8, n. 2, p. 25-45.
EFSTRATIOU, M.A. 2001. Managing coastal bathing water quality: the contribution of microbiology
and epidemiology. Marine Pollution Bulletin, v. 42, n. 6, p. 425-432. Disponvel em
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11468920>. Acesso em [14/06/2010].
FLORES, A. 2007. Introduo ao Estudo do Meio Ambiente Monitoramento Ambiental Qualidade
das guas Balneabilidade. Grfica e Editora Poligraf Ltda. Macei.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

54
PARENTE, K.S. A. 2004. Questo da Balneabilidade nas Praias: O Caso dos Municpios de Santos e
So Vicente. Revista Brasileira de Cincias Ambientais, n. 2. Dezembro
PEREIRA, R.S. 2004. Identificao e Caracterizao das Fontes de Poluio em Sistemas Hdricos.
Revista Eletrnica de Recursos Hdricos, v. 1, n.1, p. 20-36. Jul/Set
PHILIPPI Jr, A.; ROMERO, M.A. & BRUNA, G.C. 2004. Curso de Gesto Ambiental. Editora Manole.
Barueri SP.
PIMENTEL, I.M.C.; CALLADO, N.H. & PEDROSA, V.A.. 2005. A Drenagem Urbana e a Balneabilidade
das
Praias
de
Macei,
AL.
Disponvel
em
<
http://www.ctec.ufal.br/professor/vap/DrenagemUrbanaBalneabilidade.pdf>. Acesso em [10/06/2010].
SILVA, A.C.; PINHEIRO, L.S.; MAIA, L.P.; MORAIS, J.O. & PINHEIRO, L. 2009. Estudo Hidrodinmico,
Climtico e Bacteriolgico Associado s Fontes Pontuais de Poluio ao Longo do Litoral de Fortaleza.
Revista Brasileira de Recursos Hdricos, v. 14, n. 2, p. 83-90.

Joo Pessoa, outubro de 2011

55

DANOS PROVOCADOS PELA EROSO COSTEIRA NA ORLA DA PRAIA DE


PAU AMARELO, PE
Autor: Lucilo Chagas Sousa CAMPOS
FUNESO (lucilocamposs@hotmail.com)
Graduando do curso de Biologia.
Resumo
Sabemos que o avano do mar um agravante atualmente nas praias de todo o mundo devido ao
aumento do volume martimo pelo derretimento de setores glaciais. As causas encontradas do avano
martimo esto principalmente relacionadas com o s mudanas do clima feitas pelo homem desde
principalmente a Revoluo Industrial, eroso provocada pela movimentao das ondas entre o mar e a
costa e a ocupao desordenada da rea costeira. Tendo como conseqncia, a gua invade bares, casas,
construdos ao longo da orla. Para o entendimento da eroso e acrscimo ocasionadas pelo quebra-mar
foram analisados dados anteriores e posteriores a sua construo como fotos. Corroborando este material
inicial foram realizados vrios estudos. Os resultados indicaram que o quebra-mar alterou vrios processos
naturais. O presente trabalho tenta demonstrar os setores crticos da Praia de Pau Amarelo, onde o avano
da mesma, alm de provocar destruio dos patrimnios histricos provoca tambm problemas financeiros
ao municpio.
Palavras-chave: eroso costeira, praia de pau amarelo, danos provocados
Introduo
A Praia de Pau Amarelo possui uma faixa de areia larga e o mar rico em algas (sargao), mas no
tem pedras. Um grande atrativo histrico da praia o Forte de Pau Amarelo, construo datada de 1719.
Ali ocorreu o primeiro desembarque de holandeses no Brasil, em 1630.
Corresponde faixa litornea ao longo da qual se estende a avenida Cludio Jos Gueiros Leite (ou
PE-01) ligada Avenida Governador Carlos de Lima Cavalcanti pela Ponte do Janga. Trata-se, atualmente,
de um bairro praieiro compreendido entre os bairros do Janga (ao Sul) e de Maria Farinha (ao Norte).
A linha da preamar (High Water Line HWL), a marca deixada pela ltima mar alta, identificada
pela linha de umidade que separa a praia seca da praia mida.
Este o indicador de linha de costa mais utilizado e mencionado na literatura (Boak &
Turner, 2005; Pajak & Leatherman, 2002) em pesquisas sobre modificaes temporais e demarcaes de
linha de costa (Anders e Byrnes, 1991; Crowell et al., 1991; Dolan et al., 1980; Leatherman, 1983; Morton,
1991; Pajak & Leatherman, 2002; Stafford, 1971; Stockdon et al., 2002; Zhang et al., 2002).
Diversas tcnicas so utilizadas na determinao da posio da linha de preamar que
podem ser utilizadas de forma isolada ou associadas. A determinao atravs de fotografias areas e
ortofotos so bastante utilizadas para a anlise do deslocamento da linha de costa em longo termo e
ideal para locais que possuem um grande acervo temporal de fotografias (Moore, 2000).
Os perfis de praia permitem a determinao da posio da marca de preamar mxima em
relao a um ponto estvel e conhecido, este um mtodo simples e de baixo custo (Souza & Angulo,
2003).
Devido ao rpido aumento do nvel do mar, a rea costeira do litoral de Pau Amarelo, Paulista - PE,
tem sido continuamente destruda. A faixa de areia foi reduzida drasticamente dando lugar pedras, a
partes de estruturas de casas, troncos de rvores, etc. Com isso, fica claro que o avano do mar torna-se o
principal fator para a causa de tais acontecimentos ao longo da orla do litoral dessa regio, provocando
uma eroso costeira praticamente irreparvel.
Deste modo, este estudo vem por finalidade analisar os fatores que proporcionam esta eroso
costeira nesta regio de Pau Amarelo, aliado ao avano martimo, e indicar possveis medidas para que esse
fato seja amenizado.
Orientadora: Prof. Especialista: Rosngela Martins dos Santos (FUNESO)

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

56
Justificativa
A dinmica costeira a principal responsvel pelo desenvolvimento das praias arenosas e pelos
processos de eroso e/ou acreso que as mantm em constante alterao. Os ventos, as ondas por eles
geradas e as correntes litorneas que se desenvolvem quando as ondas chegam linha de costa, alem das
mars, atuam ininterruptamente sobre os materiais que se encontram na praia, erodindo, transportando e
depositando sedimentos. Como j citado, somam-se a esses processos as ressacas produzidas pelas
tempestades que modificam consideravelmente as feies topo morfolgicas do perfil praial.
O avano do mar um problema que afeta todo o litoral brasileiro e em particularmente a praia de
Pau Amarelo. A poca mais aguda entre julho e setembro, quando os ventos so mais fortes e as mars
esto mais altas. As causas do avano do mar esto relacionadas s mudanas climticas, eroso natural
provocada pela quebra-de-brao entre o mar e as cidades do litoral e ocupao urbana desordenada
entre outros fatores. Como conseqncia, a gua invade e destri casas, bares e restaurantes construdos
na orla martima.
Historicamente, ao longo do litoral de Pau Amarelo ocorreu intensa ocupao urbana da
linha de praia por edificaes privadas. Nas ultimas dcadas, processos de eroso marinha esto agindo nas
orlas dos municpios da regio Metropolitana do Recife atingindo com mais rigor alm deste municpio, os
de Jaboato dos Guararapes, de Olinda e outras reas de Paulista.
Como conseqncias desse avano, destacada a alterao dos ecossistemas costeiros que
afeta a vida marinha nos oceanos, GTGUAS, 2008. Um exemplo so os manguezais considerados os beros
de vida aqutica no planeta. Uma elevao do mar pode destruir esses ecossistemas, alterando a sua
dinmica e influindo de maneira muito negativa no ciclo de diversos organismo marinhos. Quando o
sedimento vem principalmente dos rios que as reas de vrzea de drenagem, as praias so mais finas na
textura TRUJILLO, ALAN P.2005.
Outro impacto diz respeito eroso costeira que ocorre quando o mar transporta parte das praias.
Atualmente os estudos apontam processos erosivos em quase todas as partes do mundo. Na Europa, mais
de 20.000 Km de litoral esto sob processos de eroso, GTGUAS, 2008. No Brasil, aproximadamente 40%
do nosso litoral est sendo engolido pelo mar.
Avaliao no controle de eroso costeira
Trabalhos j realizados na zona costeira do Brasil mostram que os principais casos de eroso
reportados podem ser entendidos e explicados como:
O resultado intrnseco dos padres de disperso e transporte de sedimentos na zona costeira;
O resultado de intervenes humanas na zona de costa, seja pela construo de obras de
engenharia, seja pelos usos inadequados do solo.
Atualmente as obras utilizadas para controle de eroso costeira podem ser resumidas a dois
aspectos:
1) Obras de engenharia via de regra caras e, na maioria dos casos, destruindo o acesso praia por
parte da populao; portanto, de um lado preservam a propriedade, e do outro eliminam um importante
recurso natural.
2) O custo de manuteno das obras que muitos municpios e proprietrios no podem arcar.
Controle de eroso no litoral de Paulista
A linha costeira extremamente dinmica do planeta. As praias arenosas constituem um
dos dinmicos ambientes da costa mundial. Uma das definies mais atuais sobre as praias arenosas
ocenicas foi formulada por Andrew Short (1999), que definiu as praias ocenicas, sendo corpos de
sedimentos arenosos no coesivos e inconsolados sobre a zona costeira. So denominadas por ondas e
limitadas internamente pelos nveis mximos da ao das ondas de tempestades e pelo inicio da ocorrncia
das dunas ou qualquer outra feio fisiolgica brusca. Externamente so limitadas pela zona de
arrebentao.
As ondas de tempestades ou ressacas so causadas pelas variaes da presso atmosfrica
e a atuao da tenso do vento na superfcie dos oceanos.
As ressacas so ondas de pequeno perodo, da ordem de segundos, com grande poder de
destruio, sendo geralmente acompanhadas por mars meteorolgicas intensas, de perodos de dias.
Joo Pessoa, outubro de 2011

57
Pode ocorrer que ressacas e mars meteorolgicas estejam combinadas com as mars astronmicas de
sizgia (mar que ocorre em poca de lua Nova e Cheia), de perodos de horas causando assim
considerveis inundaes em rgios costeiras pouco profundas.
O litoral de Paulista, tanto quanto o restante da costa brasileira, tm sofrido com os efeitos dos
movimentos do mar. Cerca de 40 % dos 8.500 km do litoral brasileiro sofrem um grave processo erosivo
(Muehe, 2006).
As alternativas utilizadas foram executadas conforme discriminao abaixo:
Enrocamento com pedras granticas
o Lanamento de pedras dentro do mar para conter seu avano criando um talude de
estabilizao.
o Vantagens
Durabilidade do material.
Flexibilidade para remoo e colocao dos materiais.
o Desvantagens
Agresso ao meio ambiente aumentando o processo erosivo no local .
Efeito visual desarmnico com o ambiente urbano.
Extino do acesso praia
Alto custo de manuteno.
Muro de arrimo com pedras granticas
o Muro feito de alvenaria de pedra grantica com argamassa de cimento e areia,
utilizado como paramento para conteno de avano de mar protegendo a rea
erodida.
o Vantagens
Baixo custo construtivo.
o Desvantagens
Dificultar o acesso da populao praia.
Aumentar a eroso da praia devido ao choque do trem de ondas no
paramento do muro.
Eroso do aterro do muro devido subpresso da mar.
Destruio do muro de arrimo
Gabio
o Utilizao de pedra arrumada revestida com tela, para conter o efeito da mar nas
reas afetadas.
o Vantagens
Durabilidade de 5 anos.
o Desvantagens
Dificulta o acesso da populao praia.
Destruio das telas do gabio devido ao choque do trem de ondas, da
salinidade do mar, e da ao de vndalos
Risco de acidentes nos fios oxidados das telas para os banhistas.
Desarrumao das pedras aps a destruio das telas .
Eroso do aterro da conteno.
Perigo de sade, proliferao de ratos e insetos.
Dissipador de energia, Bagwall
Utilizao de maneiras para construo de um dissipador de energia preenchidas com concreto e
ou argamassa. O Dissipador de Energia Bagwall apresenta as seguintes vantagens:
O Barra Mar Dissipador de Energia Bagwall uma obra de engenharia aderente rgida e articulada,
que utiliza formas geotxteis preenchidas com concreto, contm o avano do mar na medida que estabiliza
a linha de costa, dissipa a energia das ondas no local da interveno sem transferir o processo erosivo para
reas adjacentes, promove a engorda natural da praia e garante o acesso da populao praia recreativa.
o Durabilidade da obra
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

58
O uso de enchimento de geoformas com concreto para proteo de avano de mar uma
tecnologia utilizada h mais de 50 anos nos EUA, so os denominados Seawalls, e tem uma vida til de
aproximadamente 50 anos sem necessidade de manuteno.
o Facilidade do acesso
O uso deste dissipador de Energia do Tipo Barra Mar Bagwall facilita o acesso dos banhistas
praia tornando-a aprazvel.
o Material Utilizado
O material construtivo utilizado de fcil obteno, pois o enchimento das geoformas feito com
micro-concreto.
o Esttica
Esteticamente o dissipador se harmoniza com o ambiente urbanizado.
o Flexibilidade
O Dissipador de Energia do Tipo Bagwall pode ser removido e ou ampliado, no primeiro caso os
blocos de concreto so superpostos fora dgua o que facilita a emoo; no segundo caso se houver
necessidade futura de aumento da altura do dissipador.
o Recuperao do Perfil da Praia
Recupera a rea erodida promovendo a engorda natural da praia no local da interveno.
o Desvantagens
Dificuldade para execuo em reas remotas fora do permetro urbano.
Objetivos:
Identificar os aspectos determinantes da eroso costeira da Praia de Pau Amarelo;
Listar as reas afetadas pelo avano martimo;
Descrever as caractersticas ambientais da rea atualmente;
Mapear as reas com incidncia de eroso da costa;
Comparar estatisticamente o avano do mar no passado e atualmente;
Material e mtodos:
O presente trabalho desenvolvido no litoral da praia de Pau Amarelo, situada no municpio de
Paulista, e poro norte do estado de Pernambuco. Assim, objetivando sistematizar a pesquisa, optou-se
por um arcabouo terico onde se busca fazer uma relao entre a ocupao/urbanizao da rea e a idia
de desenvolvimento sustentvel.
O mtodo de abordagem adotado o sistmico, uma vez que considera a paisagem como
resultante da combinao dinmica de elementos fsicos, biolgicos e antrpicos, os quais reagem
dialeticamente uns sobre os outros, SACRAMENTO, 2010. Tal abordagem adequada ao estudo do
zoneamento ambiental visto que esse tambm foi resultante da anlise integrada dos elementos
supracitados.
Como forma de contribuio para a sustentabilidade da rea, objeto deste estudo,
sugerimos as seguintes aes estratgicas:
Avaliao sistemtica dos impactos scio-ambientais integrados do processo de desenvolvimento
no espao de planejamento;
Plano de monitoramento permanente para a faixa de praia com a finalidade de controlar a
degradao j instalada;
Implementao de mecanismos de informao e mobilizao da comunidade, em funo do
problema da degradao da rea, como forma de se obter colaborao com as iniciativas pblicas
referentes proteo/conservao da rea;
Estabelecimento de polticas de segurana pblica que devolva a tranqilidade populao com a
implantao de um policiamento mais ostensivo.
Resultados e Discusso
Joo Pessoa, outubro de 2011

59
Os motivos principais para o processo acelerado de eroso na costa de Pau Amarelo incluem a
ocupao desordenada da regio costeira, o aquecimento global que por conseqncia provoca o aumento
do nvel dos oceanos e a retirada da terra para aterros sanitrios e pavimentao de ruas. A construo de
obras de conteno na praia pode ser um meio encontrado para proteger a rea afetada, onde vale
ressaltar que na Praia do Janga foi feita uma conteno. Os impactos causados na regio abrangem desde o
desequilbrio ecolgico a destruio do patrimnio histrico da cidade e a reduo da praia com a perda da
paisagem. Os primeiros registros de eroso no Estado remontam a 1914 e foram agravadas principalmente
pelas obras do porto, que alterou as correntes litorneas que atingem Paulista.
Antes de decidirmos qual alternativa escolher para controlar a eroso litornea necessrio
observar os seguintes fatores:
- Durabilidade da obra.
- Disponibilidade dos materiais para construo.
- Mtodos de transporte e colocao.
- Custos.
- Impactos Ambientais.
- Condies de trabalho.
- Manuteno a longo prazo.
A importncia do monitoramento do mar ao longo do litoral serve no s para gerar dados
de observao de todos componentes que interferem no comportamento dos movimentos do mar, como
tambm, utiliz-los para desenvolver modelos de futuras aes preventivas de proteo do continente,
preservando-o das aes do avano do mar. A construo de obras de conteno na praia pode ser um
meio encontrado para proteger a rea afetada, onde vale ressaltar que na Praia do Janga foi feita uma
conteno. Os impactos causados na regio abrangem desde o desequilbrio ecolgico a destruio do
patrimnio histrico da cidade e a reduo da praia com a perda da paisagem. Dentre as possveis solues
para o agravante, seriam a devoluo da areia retirada e a desocupao dos imveis da costa. Onde vale
salientar que a interferncia humana o fator principal para o desequilbrio sedimentar e por conseqncia
o aumento erosivo da rea de costa. necessrio impedir desde agora qualquer tipo de construo sobre a
rea de ps-praia.
Concluso
A constituio brasileira de 1998, em seu artigo n 225 assegura que Todos tm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Publico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e
futuras geraes.
Nos seus diversos pargrafos estabelece como efetivamente esse direito deve ser
preservado bem como prever regulamentaes complementares para a perfeita obedincia a esse artigo.
Resta, portanto sociedade organizada e suas instituies exigir o cumprimento da
legislao no trato das questes ambientais. Assim, sendo cumprida as leis, no precisamos ter que sugerir
aes que j so previstas quando se fala de meio ambiente.
O resultado do trabalho de pesquisa serve, portanto, para mostra que dilema est no
campo dos valores. De um lado, interesses cada vez mais a servio da especulao financeira e cambial, de
outro a luta para que os interesses sociais e ecolgicos sejam ferramentas para atingir uma melhor
qualidade de vida.
As questes tratadas nesse trabalho mostram que interesses econmicos ainda se
sobrepem aos ambientais, sociais e comunitrios quando da implantao de projetos governamentais.
Referncias bibliogrficas
Anders, F.J. & Byrnes, M.R. (1991) - Accuracy of shorelines change rates as determined from maps
and aerial photographs. Shore & Beach, 59(1):17- 26.
Atlas de Eroso e Progradao Costeira do Litoral Brasileiro - Revista Pesquisa Fapesp
(http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI160661-EI299,00.html)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

60
Boak, E.H. & Turner, I.L. (2005) - Shoreline definition and detection: a rewiew. Journal of Coastal
Research, 21(4), 688-703. (doi: 10.2112/03-0071.1)
Carneiro, M. C.; S, L. A.; GOMES E.T O Monitoramento da Eroso Costeira Estudo a partir das
Praias de Casa Caiada e Rio Doce Olinda.
Crowell, M., Leatherman, S.P., & Buckley, M.E. (1991) - Historical shoreline change: error analysis
and mapping accuracy. Journal of Coastal Research, 7(3):839-852.
Dolan, R., Hayden, B. P., May, P., & May, S. K. (1980) - The reliability of shoreline change
measurements from aerial photographs. Shore and Beach, 48(4):22-29.
for Beach Erosion Surveys in North Carolina. U.S. Army Corps of Engineers, Coastal Engineering
Research Center, 115p, Vicksburg, MS, USA. (ISBN: B0006W18WG)
GTGUAS, A Revista das guas. Ano 2, n 5, PGR, 4 CCR, Maro de 2008. Disponvel em:
http://revistadasaguas.pgr.mpf.gov.br/edicoes-da-revista/revista5/materias/avanco/, Acesso em 13 mar.
2011, s 19:00h
Leatherman, S.P. (1983) - Shoreline mapping, a comparison of techniques. Shore & Beach, 51(3):2833
Machado, Regina Coeli Vieira. Porto do Recife. Pesquisa Escolar On-Line, Fundao Joaquim
Nabuco, Recife. Disponvel em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia ms ano. Ex: 6 ago. 2009.
Morton, R.A. (1991) - Accurate shoreline mapping, past, present, and future. In: Kraus, N. C.,
Gingerich, K. J., e Kriebel, D. L. (eds.), Coastal Sediments 1991, pp. 997-1010. (ISBN:0872628086).
Muehe, D. (2001) - Critrios morfodinmicos para o estabelecimento de limites da orla costeira
para fins de gerenciamento. Revista Brasileira de Geomorfologia, 2(1):35-44. (http:// w w w . u g b . o r g . b
r/artigos/
Muehe, D. (org.) (2006) Eroso e Progradao do Litoral Brasileiro. 476p, MMA - Ministrio do
Meio Ambiente e Amaznia Legal, Braslia, DF, Brasil. (ISBN 85-7738-028-9)
Prefeitura do Paulista. Disponvel em: http://www.paulista.pe.gov.br/, Acesso em 02 dez. 2010, s
20:32 SEPARATAS_RBG _Ano_2001 /Revista2_Artigo03_2001.pdf)
Sacramento, I. C. C. As tcnicas de fotointerpretao como instrumento de anlise ambiental
urbana, estudo de caso: rea de proteo ambiental das lagoas e dunas do Abaet. Projeto de pesquisa,
Salvador 2010. Universidade Federal da Bahia. Escola Politcnica. Mestrado em Engenharia Ambiental
Urbana.
Stafford, D.B. (1971) - An Aerial Photographic Technique
Stockdon, H.F., Sallenger, A.H., List, J.H. & Holman, R.A. (2002) - Estimation of shoreline position
and change using airborne topographic lidar data. Journal of Coastal Research, 18(3):502- 513.
Trujillo, A. P. Essentials of oceanography. 8 Edio, Ano 2005, Pgina 302,
Zhang, K., Huang, W., Douglas, B.C. & Leatherman, S.P. (2002) - Shoreline position variability and
long-term trend analysis. Shore and Beach, 70(2):31-35.

Joo Pessoa, outubro de 2011

61

ANLISE SOCIOAMBIENTAL DAS COMUNIDADES LITORNEAS DE BARRA,


PERNAMBUQUINHO E ALAGARMAR, MUNICPIO DE GROSSOS-RN
Samylle Ruana Marinho de MEDEIROS
Graduanda em Gesto Ambiental Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN.
E-mail: samyllemedeiros@yahoo.com.
Dweynny Rodrigues Filgueira G
Bacharel em Gesto Ambiental Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
Ps-Graduando lato sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel Universidade Potiguar. E-mail:
dweynny@yahoo.com.br;
Samuel Rodrigues de Freitas MOURA
Bacharel em Gesto Ambiental Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
Ps-graduando lato sensu em Gesto Ambiental Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email:
samuelfreitas84@hotmail.com;

RESUMO
Historicamente as reas litorneas abrigam inmeros tipos de atividades econmicas, que geram
recursos econmicos para a regio e interferem nos ecossistemas locais e em sua dinmica natural, essas
atividades quando desenvolvidas de maneira insustentvel, comprometem tanto a diversidade biolgica,
quanto a paisagem litornea. Inserido nesse contexto, o municpio de Grossos localizado no litoral
setentrional do Rio Grande do Norte, na regio Nordeste do Brasil, historicamente tem suas razes na pesca
e na agricultura. Posteriormente a presena das salinas, da carcinicultura, e da pecuria, vo atribuir outro
carter ao local, que passa a se desenvolver e extrair recursos naturais com mais rapidez. Neste sentido,
uma anlise socioambiental das comunidades litorneas do municpio traduz a histria, o contexto social e
ambiental, fatores importantes para identificar e buscar solues de conflitos socioambientais. No entanto,
o objetivo principal desse estudo foi realizar um levantamento das condies de vida da populao e avaliar
os principais problemas ambientais existentes nas comunidades litorneas do municpio, especificamente,
Barra, Pernambuquinho e Alagamar. Para esse estudo fez se necessrio um levantamento bibliogrfico
relativo temtica em questo, coleta de dados em campo, com visitas in locu nas trs comunidades
estudadas; depois foi confeccionado o questionrio, organizado de maneira semi-estruturada, alm do
registro fotogrfico da rea de investigao. A partir da pesquisa realizada foi possvel identificar conflitos
sociais, observar as relaes que se estabelecem durante o ciclo de atividades econmicas, que se d
basicamente em torno da atividade salineira e da pesca. J o avano do mar, a proximidade das salinas s
reas de manguezal, e a presena de rebanhos caprinos e bovinos no campo de dunas, se apresentam
como os principais problemas ambientais. Diante do exposto, fica evidente que instrumentos de gesto
capazes de fornecer subsdios para a conservao e sustentabilidade local devem ser implementados em
Grossos-RN.
Palavras-chave: Sustentabilidade Socioambiental; Comunidades Litorneas; Grossos-RN
INTRODUO
As regies estuarinas do Brasil, historicamente, desenvolvem atividades econmicas,
principalmente, nas ltimas dcadas, onde tais reas esto sendo muito utilizadas para a gerao de
recursos econmicos. Inserido nessa realidade, o Estado do Rio Grande do Norte, possui um litoral de 410
km de extenso (IDEMA, 2005) e apresentou um processo de ocupao litornea derivado de cidades
porturias ou reas pouco ocupadas que seriam espaos de refgio de ndios e escravos fugidos,
configuradas no final do perodo colonial. So estas reas de refugiados voltados para um estilo de vida
coletivo, rudimentar e de autoconsumo, que esto enraizadas as origens das comunidades tradicionais
presentes at hoje na costa litornea do Brasil (MORAES, 1999).
Atualmente, o Rio Grande do Norte apresenta nas reas estuarinas o desenvolvimento de suas
principais atividades econmicas, com destaque a explorao de sal e a carcinicultura. Essas atividades,
quando desenvolvidas de maneira insustentvel, tm ocasionado prejuzos ao meio ambiente,
deteriorando os ecossistemas e sua dinmica natural, situao que compromete tanto a diversidade
biolgica, quanto a paisagem litornea do Estado.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

62
Os impactos desse desgaste ambiental sentido e refletido nas comunidades locais que dependem
diretamente dos recursos naturais. Com isso, emerge uma grande e complexa problemtica
socioambiental: a combinao de formas de desenvolvimento atuais com o uso racional e no predatrio
do meio ambiente inerente a um modo de vida que integre a conservao da natureza. Neste sentido, uma
anlise socioambiental permite identificar aspectos e conflitos que interferem diretamente na qualidade de
vida da populao litornea local e na deteriorao do meio ambiente (CUNHA et al., 2004).
O municpio de Grossos est localizado no litoral setentrional do Rio Grande do Norte, na regio
Nordeste do Brasil, entre as coordenadas 4 58 47 de latitude Sul e 37 09 17 longitude Oeste (
NASCIMENTO, 2004), e possui sete comunidades alm do seu permetro urbano, e quatro esto em reas
litorneas, so estas: Barra, Pernambuquinho, Alagamar e Areias Alvas. Sendo que esta ltima no foi
contemplada no estudo, pois, optou-se por analisar as comunidades que se localizavam na rea frontal da
plancie litornea, e Areias Alvas a comunidade que mantm certa distncia da faixa de praia. Nesse
contexto, o presente estudo tem como objetivo principal a anlise do contexto socioambiental das
comunidades, realizando um levantamento sobre as condies de vida da populao, avaliando os
principais problemas ambientais.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no municpio de Grossos, que est localizado no litoral Norte do
Estado do Rio Grande do Norte, enfocando as comunidades litorneas do municpio, especificamente,
Pernambuquinho, Alagamar e Barra. No desenvolvimento do estudo foram realizadas as seguintes etapas:
realizao de levantamento bibliogrfico relativo temtica em questo, principalmente, por meio de
obras dos acervos da biblioteca do campus central da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
coleta de dados em campo, com visitas in locu nas trs comunidades estudadas; em seguida foi
confeccionado o questionrio, organizado de maneira semi-estruturada, com questes objetivas fechadas e
questes abertas, com o intuito de absorver a maior quantidade de informaes dos entrevistados, alm
do registro fotogrfico da rea de investigao.
Com relao a pesquisa, pode-se classific-la quanto aos seus objetivos como exploratria,
que de acordo com Gil (2002, p. 41), proporciona maior familiaridade com o problema, com vistas a tornlo mais explcito ou a construir hipteses. J com base nos procedimentos tcnicos utilizados a atual
investigao qualificada como bibliogrfica e de campo. Quanto natureza, o estudo contempla uma
abordagem qualitativa.
RESULTADOS E DISCUSSO
As entrevistas realizadas com moradores das comunidades de Barra, Pernambuquinho e
Alagamar, juntamente com a entrevista secretria do meio ambiente do municpio de Grossos-RN,
possibilitou a construo do perfil dessas comunidades, voltado para o contexto socioambiental. Neste
processo fez se necessrio uma reflexo aos aspectos polticos, sociais e ambientais que regem o territrio
pertinente, como tambm a dinmica e as relaes que estes aspectos estabelecem entre si no interior de
cada comunidade.
Nesse primeiro momento a proximidade com o conceito de comunidade essencial. Valorizando o
cotidiano comunitrio, Urrutia (1985, apud CARVALHO, 2002 p.106) define comunidade como o cotidiano
dos indivduos e grupos que partilham de condies sociais comuns e, face a elas, organizam seu ambiente
de relaes dentro de uma dinmica prpria. No entanto a anlise de uma comunidade deve considerar:
1) Aspectos territoriais ambiente fsico da comunidade, 2) Aspectos psicossociais comportamento,
atitudes e hbitos vivenciados, 3) Questes polticas, econmicas organizao e classes sociais que
predominam no local, e questes culturais que so as idias e valores presentes na mesma. (CARVALHO,
2002)
Nessa perspectiva as comunidades de Barra, Pernambuquinho e Alagamar apresentam em seu
contexto histrico e social uma estreita relao com os recursos naturais locais. Historicamente, a pesca e a
agricultura so atividades desenvolvidas pelas comunidades, que mesmo estando inseridas numa plancie
litornea, no desenvolvem atividades tursticas. As comunidades so predominantemente pesqueiras e
partilham de um estilo de vida simples, utilizando os recursos extrados do meio para sua prpria
subsistncia.
Joo Pessoa, outubro de 2011

63
Visando uma melhor compreenso das condies de vida das populaes das comunidades
explcitas nessa pesquisa faz se necessrio anlise de duas vertentes:
Infraestrutura geral das comunidades
Sustentabilidade e as atividades relacionadas ao mar
A partir da caracterizao das comunidades de Grossos RN elaborada por Carvalho (2010), a
comunidade de Barra considerada uma das mais antigas do municpio, e tem suas razes histricas na
pecuria. As salinas desta comunidade datam de 1920, nela vivem cerca de 300 pessoas, 85 famlias, que
mantm suas atividades econmicas nas salinas, na pesca e no setor de servios. J Pernambuquinho, foi
fundada por escravos pescadores, a comunidade essencialmente pesqueira, l que reside colnia de
pescadores de Grossos-RN, com 240 pescadores cadastrados. Sua populao de 500 pessoas, cerca de
120 famlias, que se sustentam na atividade pesqueira. No entanto, Alagamar a menor comunidade
litornea com apenas 13 domiclios e 60 pessoas, sua existncia deve-se aos escravos expulsos de MossorRN e Grossos-RN, que se estabeleceram no local. Atividades como a pesca, salinas, artesanato de renda e
coleta de bzios, so desenvolvidas na comunidade e constituem a base econmica da mesma.
INFRAESTRUTURA GERAL DAS COMUNIDADES
As comunidades compartilham de uma necessidade em comum, as questes referentes
gua, energia, pavimentao pblica, iluminao e saneamento so relacionadas como as principais
urgncias segundo os moradores. Para a comunidade de Pernambuquinho durante os meses de novembro,
dezembro e janeiro o abastecimento de gua precrio, a demanda da gua se concentra no municpio de
Tibau, que fica vizinho a Grossos-RN, em virtude do perodo de veraneio, quando nesses meses Tibau sofre
uma migrao por uma populao no residente, o que exige um maior demanda no volume de gua para
municpio.
J Alagamar no possui distribuio de gua encanada e o armazenamento da gua feito atravs
de cisternas, onde a gua pluvial captada. A prefeitura possui um importante papel na distribuio de
gua atravs de carros pipas. Apesar disso, os residentes das comunidades quando questionados sobre a
qualidade da gua, alegaram ser de boa qualidade.
Outra questo que merece destaque a problemtica dos resduos slidos, a prefeitura realiza
coleta de lixo regularmente, uma vez na semana, os moradores se sentem satisfeitos com a coleta e no se
percebe nenhuma ponderao deles com relao ao destino final dos resduos resultantes das
comunidades, para as pessoas o que realmente importa se livrar do lixo de qualquer maneira (GRIPPI,
2006 p.93). Para a secretria de meio ambiente de Grossos-RN a ausncia de um aterro sanitrio
considerado um grande desafio ao planejamento ambiental do municpio. Contudo, os moradores da
comunidade tm a conscincia de que a no realizao da coleta de lixo regular e peridica pode trazer
prejuzos sade.
No que diz respeito estrutura organizacional das comunidades, esta se da de forma simples, cada
uma possui uma liderana constituda conforme a figura 1.
Lder Comunitrio
(Barra)

Lder Comunitrio
(Alagamar)

Pescador
(Pernambuquinho)

Liderana
constituda
nas
comunidades

Figura 1: Lideranas constitudas nas comunidades.


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

64
Esses representantes so as vozes da comunidade diante dos conflitos e discusses de
questes pertinentes a mesma. O lder comunitrio quando no especificado, geralmente um morador
que reside no local h mais tempo e possui a confiana dos demais, como o caso dos lderes comunitrios
de Barra e Alagamar.
J em Pernambuquinho, a figura do pescador se destaca por ser esta a comunidade mais ligada
atividade pesqueira. Os pescadores j tentaram organizar uma associao, visando o alcance de benefcios
para a comunidade, pois estes sentem a necessidade de benefcios e melhorias como, por exemplo, uma
cmara fria para o condicionamento do pescado, no entanto conflitos internos dificultam a unio em prol
dessa conquista.
Outro conflito ainda identificado em Pernambuquinho, e vivenciado entre pescadores e
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovveis - IBAMA. Vale ressaltar que o
conflito aqui apresentado diz respeito s relaes sociais que se do em torno de uma luta por uma posio
que o indivduo ou grupo acredite corresponder ao seu papel (CARVALHO, 2002).
Em Pernambuquinho os pescadores seguem um ciclo anual (figura 2), durante o primeiro semestre
deve-se respeitar o perodo de defeso da Lagosta, o qual fica a cargo do IBAMA, fiscalizar se esta ao vem
sendo respeitada ou no, nesse mesmo perodo os pescadores devem receber do governo o seguro salarial,
j que no esto exercendo a pesca da lagosta.

Jan/Fev/ Mar

Abr/Mai/Jun

Pesca /
Perdo de
Defeso da
Lagosta

Pesca /
Perdo de
Defeso da
Lagosta

Pesca da
Lagosta

Pesca da
Lagosta

Out/Nov/Dez

Jul/Ago/Set

Figura 2: Ciclo da Atividade Pesqueira em Pernambuquinho


No entanto, pelo fato do seguro atrasar, as famlias que dependem da pesca para seu sustento
acabam quebrando o perodo de defeso, j que a lagosta mais valorizada economicamente. Com base na
noo de conflito abordada por Carvalho (2002), o que se percebe em Pernambuquinho que o IBAMA se
sente no seu papel de fiscalizador e os pescadores se sentem no papel de sustentar suas famlias, e dentro
dessa tenso o conflito gerado.
SUSTENTABILIDADE E AS ATIVIDADES RELACIONADAS AO MAR
Para Derani (1997, apud QUINTAS, 2003) sustentabilidade envolve a compreenso do que
necessidade humana e como esta pode ser satisfeita de maneira sustentvel. E isso implica em
considerar a quantidade de bens ambientais que extrado da natureza para a satisfao das necessidades
dos moradores atuais das comunidades, sem inviabilizar os futuros moradores a usufrurem desses bens.
As comunidades estudadas desenvolvem atividades ligadas pesca, ao extrativismo, as salinas e a
criao de pequenos rebanhos de caprinos e bovinos. E so estas que representam a base de sustento das
Joo Pessoa, outubro de 2011

65
famlias residentes no local. O turismo praticamente inexistente na rea, mas possvel percebe indcios
de tentativas de iniciar a atividade na regio, prximo comunidade de Pernambuquinho existem
estruturas de quiosques abandonados (figura 3) em virtude do arrasto de sedimentos na faixa de praia, que
propiciam o soterramento.

Figura 3: Quiosques abandonados prximos comunidade de Pernambuquinho, Grossos RN.


Os principais recursos naturais que os moradores extraem da natureza no seu dia-a-dia so Peixes e
crustceos. A produo anual do pescado em Grossos RN pode ser visualizada na tabela 1, e boa parte
advm de Barra, Pernambuquinho e Alagamar.
Tipo do Pescado
(t)
Peixe
95,0
Lagosta
16,1
Camaro
1,4
Caranguejo
Outros
44,5
Total
157,0
Tabela 1: Produo do Pescado 2003 - Fonte: IDEMA (2009)
O comrcio do pescado feito atravs de atravessadores, o que implica na diminuio considerada
do lucro do pescador. No entanto a atividade pesqueira, no geral, se desenvolve sazonalmente, como as
salinas apresentam uma proposta de trabalho mais rentvel, alguns pescadores se dedicam a estas, e no
perodo que vai de janeiro a maio, quando as salinas sofrem um declnio na produo em virtude do
perodo chuvoso, estes voltam a exercer a pesca com mais intensidade.
interessante observar tambm nesse cotidiano comunitrio, o envolvimento das mulheres nessas
atividades. A realidade das comunidades estudadas apresenta uma interao entre mulheres na pesca
artesanal de mariscos. Inicialmente elas saiam em grupos e cada uma coletava sua parte. No havia uma
preocupao com o manuseio nem com o tamanho do marisco que era coletado e a venda era feita por
atravessadores que abasteciam bares e restaurantes da regio (CARVALHO, 2010).
Ainda de acordo com Carvalho (2010), atravs do projeto Entre a Terra e o Mar em parceria com
a ONG Terra Viva sediada em Mossor e a prefeitura municipal de Grossos-RN, foi criada, em 2003, a
Associao de Mulheres Pescadoras e Artess de Pernambuquinho contabilizando um nmero de vinte
mulheres associadas. Assim como acontece com os trabalhadores das salinas e os pescadores, as

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

66
marisqueiras tambm sofrem com as condies precrias de trabalho, pelo fato de no usarem
equipamentos de proteo individual.
Na trajetria histrica das comunidades a pesca artesanal aparece inicialmente, incluindo a a
coleta de mariscos como a atividade mais antiga. Posteriormente as salinas se instalaram e se expandiram
atribuindo uma nova identidade ao territrio de Grossos-RN, e inegvel o beneficiamento
socioeconmico dessa atividade ao municpio e as comunidades litorneas (Idem, 2010).
No entanto necessria a observao das relaes que as salinas estabelecem com o ambiente
natural, observando as influncias e os impactos. Para os moradores, as salinas no prejudicam o trabalho
dos pescadores e das marisqueiras. Nessa vertente foi perceptvel a falta de informao, a falta de uma
educao ambiental crtica, capaz de levar os moradores locais a conhecerem, refletirem e se posicionarem
frente os diversos segmentos que interagem com o ambiente.
Quando questionados se as salinas produzem algum problema para o rio Apodi Mossor, que
perpassa a regio, nenhum morador sabia informar, pois estes no percebiam nenhuma agresso da
atividade salineira ao meio ambiente.
PROBLEMAS AMBIENTAIS E GESTO DO TERRITRIO
No contexto ambiental das comunidades estudadas, duas problemticas se destacam. A primeira
vivenciada na comunidade de Barra, esta apresenta um cenrio preocupante que perdura por longas
dcadas, que diz respeito proximidade das salinas em relao s reas de mangue, desde que a atividade
salineira se instalou na regio, o manguezal vem sofrendo com a supresso vegetao.
A comunidade de Barra possui a maior rea remanescente de manguezal, mesmo assim o
desmatamento no local perceptvel, alm disso, o acmulo de lixo proveniente da rea urbana e dos
estabelecimentos comerciais que funcionam prximos a APP de mangue, fortalece ainda mais o descaso
com a conservao da vegetao.
Outra realidade que causa preocupao aparente se encontra na comunidade de Pernambuquinho,
onde o avano do mar sobre a comunidade causa apreenso do poder pblico, tal nervosismo tambm
encontrado em moradores ribeirinhos locais.
Sendo assim, a prefeitura vem tomando cautela com o assunto, tomando medidas cabveis de
mitigao, uma dessas medidas vem por meio do apoio implantao de vegetao na zona litornea para
minimizar os impactos no local. Entretanto, de forma errnea a comunidade ou a prpria prefeitura
implantaram uma espcie invasora para tentar conter o avano das dunas frontais sobre a comunidade, a
algaroba. Inicialmente a introduo desta espcie na regio do Nordeste se deu em virtude do
fornecimento de alimento para os rebanhos, alm de ser uma boa produtora de lenha e carvo (OLIVEIRA,
2006).
Na comunidade de Pernambuquinho, a algaroba ocasiona alguns incmodos, como por exemplo, o
alastramento rpido da espcie e sua aproximao com as casas. Com relao aos impactos ao ambiente, a
algaroba compromete a biodiversidade da caatinga, pois em ambientes onde no existem espcies
invasoras, as reas de caatinga so bem mais ricas e apresentam uma maior diversidade florstica
(OLIVEIRA, 2006).
Segundo o relatrio tcnico sobre o monitoramento do desmatamento no bioma caatinga
divulgado pelo Ministrio do Meio Ambiente no primeiro semestre de 2010, a rea do municpio de
Grossos na caatinga de 106,4 Km, sendo que at 2008 foi desmatado 37,9 Km dessa rea, um
desmatamento que percebido nas delimitaes salineiras, onde antes eram ocupadas por espcies de
manguezais, e tambm no tabuleiro costeiro, onde as atividades agropecurias esto concentradas
(CARVALHO, 2010).
No entanto, o municpio no possui nenhum instrumento de controle do desmatamento da
caatinga, como tambm no possui um plano diretor que regulamente a gesto do espao urbano.
Segundo o IBGE (2010) Grossos-RN tem 9.393 habitantes, o que torna a elaborao do plano diretor
municipal no obrigatrio. Entretanto instrumentos de gesto que oriente atividades e o uso do solo no
municpio so necessrias, em virtude de Grossos-RN ser uma regio de relevante interesse ecolgico, e
econmico.
Os campos de dunas expressos ao longo das comunidades litorneas enfrentam dificuldades
quanto a sua conservao, a presena de rebanhos bovinos e caprinos nas dunas acaba condicionando
Joo Pessoa, outubro de 2011

67
fezes de animais nas dunas, matria orgnica necessria para a fixao de vegetao rasteira. Nas dunas
frontais faixa de praia existem construes de edificaes, no entanto grande parte se encontram
abandonadas, em virtude de soterramentos. Aes do poder pblico para a retirada de areia tambm so
constantes nas casas localizadas prximo a faixa de praia.
inegvel a necessidade de aderir aspectos da gesto ambiental no territrio de Grossos-RN, sendo
esta necessidade acentuada com a presena das guas do Rio Apodi Mossor na regio, j que o desenho
natural do rio influencia nos modos de uso e apropriao dos recursos naturais, levando em considerao
as atividades desenvolvidas pelo parque salineiro, que proporcionam impactos significativos biota, e
assim aos ecossistemas locais. Fatores preponderantes nas relaes sociais que se do no interior de cada
comunidade, e que tornam essencial a pratica de aes voltadas gesto dos recursos hdricos.
Segundo a secretaria de meio ambiente de Grossos-RN, o municpio enfrenta algumas dificuldades
para o exerccio pleno da gesto, em virtude da escassez de recursos, tanto para efetivar polticas pblicas
ambientais como para incentivar a secretaria e assim o contrato de profissionais na rea. Contudo o
municpio tem um conselho de meio ambiente que esta em fase de mudana, segundo a mesma.
CONCLUSO
O perfil coletado e aqui apresentado torna relevante a discusso de polticas pblicas voltadas para
a gesto do ambiente de Grossos-RN. Gesto que seja fundamentada no planejamento ambiental e que
tenha por base uma poltica ambiental, considerando instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente,
lei 6.938/81, que sejam capazes de fornecer subsdios para a conservao e sustentabilidade local. Sendo
assim, aes importantes como a criao de unidades de conservao para campos de dunas e o
zoneamento da regio devem ser refletidas.
Nesse processo faz se necessrio a prtica de aes de educao ambiental, que fornea uma viso
crtica aos moradores das comunidades litorneas, sobre o ambiente em que residem, possibilitando estes
a se posicionarem de forma segura diante dos conflitos socioambientais. Sendo indispensvel o dilogo
continuo entre poder pblico e moradores, pois este o exerccio essencial para se alcanar a gesto
participativa.
REFERNCIAS
CARVALHO, Rodrigo Guimares de. Anlise de sistemas ambientais aplicada ao planejamento:
estudo em macro e mesoescala na bacia hidrogrfica do rio Apodi-Mossor. Tese (Doutorado em
Geografia) Universidade Federal do Cear, Fortaleza. 2010. (Tese em Desenvolvimento)
CARVALHO, Vilson Srgio de. Educao ambiental & desenvolvimento comunitrio. Rio de Janeiro:
Wak Editora, 2002.
CUNHA, Lcia Helena de Oliveira; ROUGEULLE, Marie Dominique; BEHR, Miguel Fernando Von.
Comunidades litorneas e unidades de proteo ambiental: convivncia e conflitos - O caso de
Guaraqueaba, Paran. Srie Documentos e Relatrios de Pesquisa n. 3. NUPAUB- USP. So Paulo, 2004.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa - 4. Ed. So Paulo: Atlas, 2002
GRIPPI, Sidney. Lixo reciclagem e sua histria: Guia para as prefeituras brasileiras. 2 edio. Rio de
Janeiro: Editora Intercincia, 2006.
http://www.idema.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/idema/socio_economicos/arquivos/Perfil
%20do%20Seu%20Municipio%202009/Grossos_tabelas.pdf
IBGE, Sinopse do censo demogrfico, 2010.
MORAES, Antnio Carlos Robert. Contribuies para a gesto da zona costeira do Brasil: elementos
para uma geografia do litoral. So Paulo: Hucitec; Edusp 1999.
NASCIMENTO, Sergio Roberto do. Geoprocessamento Aplicado a Gesto de Informaes Territoriais
do Municpio de Grossos RN Estudo Multitemporal do Uso e Ocupao do Solo. 2004. 98 f. Dissertao (
Mestrado em Geocincias) Centro de Ciencias Exatas e da Terra. Programa de Pesquisa e Ps Graduao
em Geocincia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2004.
OLIVEIRA, Francieldo Xavier de. Impactos da invaso da Algaroba - Prosopis juliflora (sw.) DC. sobre o componente arbustivo-arbreo da caatinga nas microrregies do Curimata e do Serid nos estados
da Paraba e do Rio Grande do Norte. 2006. 146 f. Dissertao (Mestrado em Agronomia) - Centro de
Cincias Agrrias, Universidade Federal da Paraba, Areia. 2006.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

68
Projeto de zoneamento ecolgico-econmico dos esturios do rio grande do norte zee/RN. IDEMA;
SEBRAE; Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Natal, 2005: 1 ed.
QUINTAS, Jos Silva. Educao no processo de gesto ambiental: uma proposta de educao
ambiental transformadora e emancipatria. Braslia: IBAMA, 2003.

Joo Pessoa, outubro de 2011

12.

Paisagem, Turismo e Meio Ambiente

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

70

ECOTURISMO, MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE: ANLISES E


PROPOSTAS.
Agostinho Paula Brito CAVALCANTI (PD.Sc)
Departamento de Geografia
Universidade Federal do Piau (UFPI)
agos@ufpi.br

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar e propor aes para a efetivao das
atividades de ecoturismo voltadas para a proteo do meio ambiente, respaldada nos princpios
da sustentabilidade. Os mtodos adotados constaram de pesquisa bibliogrfica buscando a
fundamentao terica da pesquisa e anlises dos trabalhos sobre o tema em epgrafe. Os
resultados mostraram que turismo e meio ambiente podem coexistir, de acordo com a dimenso
natural e cultural, embasados nos princpios da proteo ambiental e na valorizao das
comunidades locais, com a promoo do desenvolvimento em bases sustentveis. Como
concluses foram propostas aes sistemticas visando o incentivo das atividades ecotursticas
como meios de promoo social e econmica das comunidades locais.
Palavras-chaves: Turismo, Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentvel.
ABSTRACT
This paper aims to analyze and propose actions for the realization of ecotourism activities
aimed at protecting the environment, based on the principles of sustainability. The methods
adopted consisted of bibliographic searching for theoretical research and analysis work on the
theme above. The results showed that tourism and the environment can coexist, according to the
natural and cultural dimension, based on the principles of environmental protection and
enhancement of local communities, promoting development on a sustainable basis. The
conclusions were proposed systematic actions aimed at the encouragement of ecotourism as a
means of promoting social and economic situation of local communities.
Keywords: Tourism, Environment, Sustainable Development.
CONSIDERAES INCIAIS

O turismo uma atividade em que os indivduos procuram prazer por livre e espontnea
vontade, devendo ser includa como fundamental nos estudos relativos ao meio ambiente e ao
desenvolvimento sustentvel.
sabido de pases que lucram com o turismo como Espanha, Itlia, Canad e Frana ou dos
que estimulam o turismo receptivo como Mxico, EUA e Alemanha, que tm alternativas
econmicas de angariar empregos e gerar divisas.
As viagens sempre crescentes dos turistas em demanda a lugares em contato direto com a
natureza, coloca o Brasil em posio privilegiada no contexto mundial, devido os variados recursos
naturais existentes.
As variadas paisagens naturais, aliadas histria da implantao de sua sociedade e a
cultura de um povo, alm da ideologia que move a classe governante, vm transformando as
reas naturais ou protegidas em territrios potencialmente aptos para o incremento das
atividades ecotursticas.
Para o pleno desenvolvimento do ecoturismo, torna-se necessrio realizar uma poltica
social, especialmente com relao infra-estrutura oferecendo um atendimento de qualidade que
o turista deseja encontrar, devendo-se incorporar um maior nmero de atividades destinadas a
satisfazer suas exigncias e necessidades, desencadeando relaes e parcerias que caracterizam
seu funcionamento.
Joo Pessoa, outubro de 2011

71

Este trabalho pretende expor os fundamentos tericos sobre as atividades do turismo


ecolgico relacionadas proteo do meio ambiente e ao desenvolvimento em bases sustentveis
atravs de anlises conceituais e propostas objetivas referidas ao plano de gesto ambiental.
ECOTURISMO E MEIO AMBIENTE

O turismo pode ser definido como a soma de relao e de servios resultantes de um


cmbio de residncia temporria e voluntria, motivadas por razes alheias a negcios ou
profissionais, segundo a Organizao Mundial de Turismo OMT (1994).
Entende-se turismo como o conjunto das relaes e dos fenmenos existentes produzidos
pelo deslocamento e permanncia de pessoas fora do seu local de domiclio, sempre que ditos
deslocamentos e permanncia no estejam motivados por uma atividade lucrativa.
O turismo uma atividade que consome o espao atravs dos servios apresentados. Pela
dimenso natural e cultural, a paisagem para o turismo, representa a relao com o lugar a ser
visitado (Cruz, 2002). Salienta ainda que a paisagem utilizada para fins tursticos deva ser
protegida, devido no apenas pelo valor esttico, mas pelos padres culturais manifestados.
Existem inmeras instituies e autores que tem sua prpria definio de turismo. Entre
essas definies os elementos mais importantes so o carter no lucrativo da visita e o tempo
de permanncia e tambm a procura do prazer por parte dos turistas.
Para o entendimento do ecoturismo como atividade produtiva torna-se importante a
compreenso dos sistemas envolvidos, de acordo com Cavalcanti (1997): (i) nos sistemas
ecolgicos, deve-se proceder ao inventrio dos recursos naturais disponveis; (ii) nos sistemas
socioeconmicos, deve-se analisar a estrutura das relaes estabelecidas sob o efeito da produo
em escala nacional e mundial; (iii) nos sistemas tecnolgicos, deve-se analisar o grau de
desenvolvimento das tecnologias produtivas utilizadas e suas modalidades.
O turismo sustentvel uma forma de lazer harmoniosa atravs da valorizao das
populaes locais e respeito ao meio ambiente, embasada nos princpios de proteo do
patrimnio natural e na valorizao do patrimnio histrico e cultural, alm da promoo
do desenvolvimento econmico com equidade social e incentivo aos pequenos negcios
(Ruschmann, 1997).
Para a apresentao das potencialidades e vocaes de reas ecotursticas ou como plo
de atrao para o turismo ecolgico, deve-se recorrer ao seu potencial natural pelo patrimnio
gentico, arqueolgico, paleontolgico, que inclui as paisagens naturais, antroponaturais e
protegidas, alm de reas possuidoras de real interesse cientfico.
Como potencial cultural pelo patrimnio histrico-cultural, que inclui edificaes das
pocas histricas, alm de museus, do artesanato local, manifestaes religiosas, artsticas e de
tradies populares.
Como potencial esportivo pelas condies geoambientais tornando altamente propcias
prtica de esportes: caminhadas, escaladas, pesca, mountain-bike, off-road e observao da
vida selvagem.
Como potencial de negcios, favorvel ao comrcio e servios, de decises e negcios, com
a realizao de eventos, para a realizao de convenes, reunies, feiras, congressos e encontros.
Como potencial religioso como palco da devoo que ao longo do tempo consolidam um
fluxo turstico atravs do roteiro religioso, onde a religiosidade do povo materializa-se atravs da
devoo e roteiros consagrados da f.
Como potencial ecoturstico, para os pesquisadores e observadores da fauna e flora, dada
diversidade de ecossistemas, representando alternativas para os visitantes, com diversidade de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

72

opes e caractersticas nicas, constituindo-se em um potencial para o desenvolvimento de


atividades voltadas para a proteo ambiental, constando de programaes variadas e roteiros
integrados.
De acordo com Molina (2001) o turismo, como subsistema dentro de um sistema
mais amplo, necessita de avaliao nos nveis de troca nos ecossistemas naturais, seja
pelo impacto ambiental causado ou pela capacidade carga e de renovao do meio
ambiente.
Pela sua prpria estrutura, o ecoturismo seria o complexo de atividades e servios
relacionados aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentao, circulao de produtos
tpicos, atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e entretenimento, todos
direcionados a proteo do meio ambiente.
Os processos naturais e humanos so aspectos da realidade, necessrios ao estudo
paisagstico entendido como espao global, numa perspectiva do diagnstico ambiental, em busca
do planejamento turstico sustentvel (Seabra, 2001).
O ecoturismo neste sentido considerado como o conjunto de servios que tem por
objetivo o planejamento, a promoo e a execuo de viagens e os servios de recepo,
hospedagem e atendimento aos indivduos e aos grupos, fora de suas residncias habituais.
Seabra (op. cit.) salienta que a paisagem deve ser observada em sua totalidade, visto que
os processos naturais e humanos so dois aspectos da realidade, fazendo-se necessrio o
estabelecimento no seu estudo e anlise o entendimento do espao global, numa perspectiva do
diagnstico ambiental, almejando o planejamento turstico sustentvel.
Para o desenvolvimento do turismo faz-se necessrio o monitoramento e anlise das
condies ambientais em reas naturais, necessitando-se de avaliao dos impactos decorrentes
da atividade turstica, atravs de estudos e relatrios de impactos ambientais, possibilitando a
verificao dos limites aceitveis das modificaes ocorridas, visando uma gesto ambiental
compatvel com o turismo sustentvel (Dias, 2003).
Nas paisagens naturais tendo por base as premissas do desenvolvimento sustentvel a
partir da atividade turstica, principalmente aquelas que apresentam potencial natural relevante,
observa-se uma contradio, devido s caractersticas da atividade turstica que
predominantemente de consumo.
A paisagem como recurso para atividades de turismo o elemento substancial do
fenmeno turstico de significativo valor no desenvolvimento e na consolidao da oferta.
Segundo Pires (2001) devem-se considerar trs dimenses para consolidar a oferta turstica: (i)
esttica (relacionada com a sensibilidade e a percepo); (ii) cultural (relacionada com o sentido
humano, histrico-cultural modificador da paisagem e que transcende qualquer beleza esttica ou
equilbrio ecolgico); (iii) ecolgica (como resultado da inter-relao entre os componentes fsicos
e biolgicos).
ECOTURISMO E SUSTENTABILIDADE
O ecoturismo corresponde aos programas voltados para atividades ecolgicas, de proteo e
educao ambiental, devendo ser explorado de maneira racional em distintas reas, evitando-se
intervenes prejudiciais aos diferentes ambientes.
A discusso da sustentabilidade em turismo deve partir, de acordo com Faria e Carneiro
(2001) de uma abordagem sistmica, devido prpria natureza dessa atividade que requer um
rigoroso nvel de controle. Acrescenta ainda que a gesto do empreendimento turstico, s ser

Joo Pessoa, outubro de 2011

73
possvel a partir de um planejamento integrado, com a possibilidade de avaliao da
sustentabilidade local, socioeconmica e ambiental.

Sobre a sustentabilidade ecolgica em turismo, Faria e Carneiro (op. cit.) ressaltam que a
questo ecolgica tema central e apresentam uma classificao das atividades de turismo,
definida quanto: (i) situao geogrfica em que atua (litoral, rural, urbano e outros); (ii) rea do
conhecimento envolvida (tnico, cultural, histrico, cvico, tcnico, cientfico, ambiental, de sade,
educacional, gastronmico e outros); (iii) tipo de atividade envolvida (frias, eventos, aventura,
negcios e interesses pessoais, religioso, etc.); (iv) pblico envolvido (infantil, adolescente,
adultos, idosos e outros); (v) sustentabilidade (longo prazo) ou no (curto e mdio prazo).
As atividades ecotursticas devem promover as prticas de lazer, esportivas ou educacionais, em
reas naturais, utilizando de forma sustentvel o patrimnio natural e cultural, incentivando sua proteo,
promovendo a formao de uma conscincia ambiental e garantindo o bem-estar das comunidades
envolvidas.
Na implantao dessas atividades deve-se contar com o envolvimento efetivo da comunidade local,
garantindo que uma parcela significativa da renda fique para as localidades e que sejam respeitadas as
caractersticas culturais da sociedade, bem como o crescimento do indivduo, com noes de tempo,
espao e limites da paisagem.
Mendona (2001) salienta que a paisagem entra em degradao ambiental com as atividades
tursticas de forma evidente ou no, independentemente da insero da infra-estrutura turstica,
transformando-se com a presena dessas intervenes humanas.
Deve-se ainda respeitar a capacidade de absoro do meio natural, havendo limites de tolerncia
para a explorao humana, com o intuito de manter a qualidade ambiental e a satisfao dos visitantes,
sem que sejam causados efeitos negativos ou exercendo impactos adversos sobre a sociedade, economia e
cultura locais.

Sobre os limites ecolgicos do crescimento do turismo, onde os recursos naturais


disponveis apontam deteriorao ambiental presente no meio, Molina (op. cit.) salienta que o
turismo, como um subsistema pertencente a um sistema maior, necessita de avaliao das formas
de uso e ocupao, dos impactos ambientais resultantes e da resilincia, como poder de
recuperao natural das reas degradadas.
O ecoturismo permite a insero social e a criao de empregos para a mo-de-obra local,
viabilizando a sustentabilidade econmica das comunidades, demonstrando a viabilidade das unidades
ambientais em reas naturais e a importncia da pesquisa cientfica para a proteo ambiental.
Ao propor o planejamento turstico para os espaos naturais, Boulln (2002) apresenta trs tipos de
paisagens distintas: naturais, culturais e urbanas, agregando valores naturais e culturais ao estabelecer
critrios de qualidade, atravs da valorizao como atrativo para o ecoturismo e destaca variveis
(topografia, vegetao, clima e habitat), para apreciao da paisagem sob o ponto de vista esttico.
A falta de uma poltica em relao s questes culturais e ambientais, levando perda e
degradao dos recursos naturais, prejuzo da qualidade de vida da populao local e alterao dos
costumes e da cultura da populao receptora, so alguns problemas enfrentados para a implantao das
atividades ecotursticas.
Essas questes adquirem uma dimenso maior quando se trata de destinos especialmente frgeis,
do ponto de vista natural ou scio-cultural, que necessitam ser conhecidos e controlados.
Segundo Ceballos-Lascurin (1999) as reas naturais, em conjunto com os elementos
culturais se constituem em significativas atraes tursticas, reconhecendo-se sua relevncia,
apesar dos efeitos danosos que esta atividade quando mal administrada ou incontrolada provoca
no patrimnio natural e cultural dessas reas.

Ao enfatizar que as reas naturais, sua paisagem, fauna e flora, juntamente com os
elementos culturais existentes, constituem atrativos para os habitantes locais e para turistas de
outros pases, Ceballos-Lascurin (op.cit.) atenta que estas reas devam ser reconhecidas dada a
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

74

enorme relevncia para o turismo, observando, porm que se deve estar ciente dos danos que o
turismo mal planejado e sem controle pode provocar nestes ambientes.
O ecoturismo pode oferecer benefcios significativos como a promoo de maior desenvolvimento
social e econmico, em particular para as reas naturais, que hoje se encontram em risco, principalmente
por falta de competitividade em suas atividades tradicionais; na proteo e recuperao ambiental do
espao natural; na manuteno das atividades agrcolas tradicionais e consequentemente a manuteno da
famlia rural no campo e na produo rural, baseada na prestao de servios aos visitantes.

As atividades tursticas requerem estudos mais aprofundados e mtodos especficos de


abordagem para seu pleno desenvolvimento. A utilizao do mtodo VIM (Visitor Impact
Management) pode ser considerado oportuno para esta abordagem. Esta metodologia proposta
por Graefe et al. em 1990, apresenta um processo composto por oito etapas divididas em trs
reas consideradas fundamentais no manejo dos impactos: 1. Identificao dos problemas; 2.
Determinao da causa provvel do problema, 3. Seleo de possveis estratgias para controle ou
reduo dos impactos.
De acordo com Magro, in Riedl et al. (2002) o VIM tem por objetivo prover diversos tipos
de informaes, para auxiliar a complicada tarefa de controlar ou eliminar impactos indesejados, e
baseado em consideraes cientficas, fortalecer um veculo de identificao sistemtica de
problemas, suas causas e solues potenciais.
Alm do contedo do produto ecoturstico, resultado do aproveitamento dos recursos naturais e
culturais deve-se observar a qualidade dos servios prestados, no que diz respeito a transporte,
alojamento, alimentao e atividades de segurana, higiene, conforto e privacidade dos visitantes.

Para as atividades ecotursticas devem ser fixadas regras para seu desenvolvimento,
estabelecendo parmetros a serem observados, mediante a concesso de licenas e fiscalizao.
Os mtodos propostos para a capacidade de carga esto vinculados aos fatores climticos e
ambientais, determinados a partir dos limites de visitao, estabelecidos em trs nveis: (i)
Capacidade de carga fsica, onde o limite mximo de visitantes que um espao definido pode
conter, em um tempo determinado; (ii) Capacidade de carga real, onde o limite mximo de
visitantes determinado a partir da aplicao dos fatores climticos e ambientais sobre a
capacidade fsica; (iii) Capacidade de carga efetiva ou permissvel, obtida atravs da comparao
da capacidade real com a capacidade de manejo dessas reas.
A implantao de obras de infra-estrutura turstica provoca impactos ambientais negativos
pelo estabelecimento ou ampliao de instalaes, requerendo medidas atenuantes para
minimizar esses impactos, como o estabelecimento do zoneamento e planos diretores; a
adequao dos sistemas de abastecimento de gua, tratamento de esgotos e resduos slidos; o
planejamento integrado dos acessos aos ncleos urbanos; a elaborao e implantao dos planos
de manejo; o estabelecimento de programas de Educao Ambiental e a adequao da legislao
ambiental. A tabela 1 mostra uma proposta de gesto ambiental tendo em vista o potencial
natural do ecoturismo.
GESTO
AMBIENTAL:
POTENCIAL
NATURAL

OBJETIVOS

METAS

ESTRATGIA

Desenvolvimento
do potencial
ecoturstico.

Divulgao e
valorizao do
turismo
ecolgico.

Elaborao e
execuo de
programas de
desenvolvimento
do ecoturismo.

ECOTURISMO
Implantao de
obras de infraestrutura turstica.

Joo Pessoa, outubro de 2011

Elaborao de
planos para
construo ou
recuperao

Capacitao
profissional da
populao local.

ADEQUAO DE
USO E
OCUPAO

Ordenamento do
ecoturismo.

PLANO
DE
GESTO
Elaborao de
programas para
as atividades
ecotursticas
Divulgao do
potencial
ecoturstico.

75
da infraestrutura.

Tabela 1 Proposta de gesto ambiental potencial natural do ecoturismo.


Fonte: Cavalcanti (2011)

Os objetivos estariam direcionados para o desenvolvimento do potencial do turismo


ecolgico em reas naturais e/ou protegidas e ainda a elaborao de projetos e posterior
implantao de obras prioritrias de infra-estrutura para o ecoturismo.
As metas seguiriam critrios de divulgao e valorizao do turismo ecolgico e na
elaborao de planos para novas construes ou recuperao da infra-estrutura existente.
As estratgias de ao seriam definidas de acordo com a elaborao e execuo de
programas de desenvolvimento do ecoturismo e da capacitao profissional da populao local,
com a participao efetiva da comunidade, com adoo de medidas para o aprimoramento
profissional e ingresso no mercado de trabalho.
Nos programas de adequao das formas de uso e ocupao, na procura do ordenamento
do turismo ecolgico deve estar previstas aes como a proibio de acesso a zonas de
significativo interesse ambiental e coletas de material; estabelecimento de limites da quantidade
de turistas e informaes sobre as formas de conduta.
CONSIDERAES FINAIS
O poder local deve formular os objetivos ajustados s necessidades da populao atravs
da mobilizao e participao das foras existentes com vistas adoo de medidas compatveis
com a realidade, disponibilidade de recursos potenciais ou vocao e interesse e conscientizao
da populao local.
Entre os benefcios para a comunidade, as atividades ecotursticas proporcionam a
melhoria no nvel de vida da comunidade; a criao de novos postos de trabalho e negcios; a
possibilidade de rendimentos adicionais; a diversificao e gerao de divisas para a economia
local; a melhoria da infra-estrutura bsica da comunidade; a promoo de uma maior integrao
entre os segmentos da sociedade; a promoo de maior conscincia e proteo do ambiente e da
cultura local e a introduo de novos conhecimentos para a populao local.
Com o desenvolvimento baseado no ecoturismo, importante manter uma viso
abrangente em termos de planejamento, sendo capaz de promover o desenvolvimento como
processo integrado, com articulao dos agentes sociais e autonomia local, alm da
descentralizao dos processos administrativos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

76

Conclui-se que a oferta ecoturstica ser possvel atravs da implantao do conjunto de


atividades apresentadas para a insero das atividades sustentveis e de proteo ambiental,
propondo-se as seguintes etapas para seu pleno desenvolvimento:
Visitao sistemtica s reas para aprofundamento nos estudos e pesquisas e
identificao dos atores sociais;
Realizao de palestras e oficinas acerca da importncia do turismo para o
desenvolvimento sustentvel;
Desenvolvimento de atividades de Educao Ambiental com envolvimento das
comunidades residentes;
Realizao de cursos de capacitao profissional para monitores visando qualificao e
acompanhamento dos turistas nas visitas;
Criao de associaes comunitrias a partir de parcerias entre poder pblico, iniciativa
privada e populao envolvida.
Sugere-se enfim, que sejam incentivadas pesquisas acadmicas e cientficas na busca da
compreenso do funcionamento e a capacidade de carga, visando incluso nas atividades
ecotursticas, permitindo um desenvolvimento que distribua mais equitativamente os benefcios
econmicos e proteo do meio ambiente, em benefcio das futuras geraes e melhoria da
qualidade de vida das comunidades residentes.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BOULLN, R. C. Planejamento do espao turstico. Bauru: EDUSC, 2002.
CAVALCANTI, A. P. B. (org.) Desenvolvimento Sustentvel e Planejamento Bases Tericas e
Conceituais. Fortaleza: Imprensa Universitria da UFC, 1997.
CEBALLOS-LASCURIN, H. Introduo: O Ecoturismo como um Fenmeno Mundial. In:
LINDBERG, K; HAWKINS, D. E. (ed) Ecoturismo: um guia para planejamento e gesto. So Paulo:
SENAC, 1999.
CRUZ, R. de C. A. da. As paisagens artificiais criadas pelo turismo. In: YZIGI, E. (org.)
Turismo e Paisagem. So Paulo: Contexto, 2002.
DIAS, R. Turismo Sustentvel e Meio Ambiente. So Paulo: Atlas, 2003.
FARIA D. S. de; CARNEIRO, K. S. Sustentabilidade Ecolgica do Turismo. Braslia: Editora
Universidade de Braslia, 2001.
MAGRO, T. C. Ambiente natural e turismo em meio rural. In RIEDL et al. Turismo rural:
tendncias e sustentabilidade. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.
MENDONA, R. Turismo ou meio ambiente: uma falsa oposio? In. LEMOS A. I. G. de.
(org.) Turismo. Impactos Socioambientais. So Paulo: Hucitec, 2001.
MOLINA, E. S. Turismo e Ecologia. Bauru: EDUSC, 2001.
ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO OMT. Desenvolvimento de Turismo Sustentvel:
Manual para Organizadores Locais. Madri, OMT, 1994.
RIEDL, M; ALMEIDA, J. A. & VIANA, A. L. B. Turismo rural: tendncias e sustentabilidade.
Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2002.
RODRIGUES, A. B. Turismo e espao. Rumo a um conhecimento transdisciplinar. So Paulo:
Editora Hucitec, 1997.
RUSCHMANN, D. van de M. Turismo e planejamento sustentvel: A proteo do meio
ambiente. Campinas: Papirus, 1997.
SEABRA, G. de F. Ecos do Turismo: O turismo ecolgico em reas protegidas. Campinas:
Papirus, 2001.

Joo Pessoa, outubro de 2011

77

TURISMO COMUNITRIO: UMA ALTERNATIVA PARA O


DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL EM CANRIAS-MA
Anderson Fontenele, VIEIRA
Bacharel em Turismo. Universidade Federal do Piau (UFPI)
E-mail: andersonfv-tur@hotmail.com
Edvania Gomes de, ASSIS
Doutora em Geografia. Universidade Federal do Piau (UFPI)
E-mail: edvania@ufpi.edu.br

RESUMO
O presente trabalho destaca a prtica do turismo comunitrio especificando o enfoque nas
dimenses da sustentabilidade como uma alternativa ao desenvolvimento local para o Povoado das
Canrias-MA (Ilha das Canrias MA), localizado no Delta do Parnaba. No Povoado das Canrias-MA (rea
objeto de estudo) vivem cerca de 299 famlias e aproximadamente 1.700 habitantes, sendo essa populao
constituda em sua grande maioria por pessoas jovens e adultas. Em relao s atividades econmicas
principais destaca-se: a pesca, a cata do caranguejo e a prtica da agricultura de carter familiar, mais
especificamente da cultura do arroz, sendo a atividade pesqueira a mais predominante entre os moradores
locais. Para a realizao deste estudo, utilizou-se de uma metodologia pautada em pesquisa de campo,
levantamento bibliogrfico e documental, os dados foram coletados mediante aplicao de um
questionrio estruturado, atravs de uma abordagem qualitativa que possibilitou a elaborao de
categorias subsidiadas pela anlise do contedo dos questionrios aplicados. Com a pesquisa in lcus
identificou-se a opinio dos sujeitos pesquisados, quanto a atividade turstica e ainda observou-se suas
expectativas respeito do desenvolvimento da localidade. Posteriormente, destacou-se a importncia do
turismo, no tocante a possibilidade da prtica do turismo de base comunitria enquanto segmento
potencial a ser trabalhado. Portanto, infere-se que o povoado em questo possui um grande potencial
turstico e que essa atividade significativamente presente perante a tica local. Estima-se que esse
estudo, possibilite a integrao entre as esferas pblica e privada, juntamente com a comunidade local na
elaborao de polticas que fomentem o desenvolvimento da localidade, com a insero do turismo.
Palavras-Chave: Turismo, Desenvolvimento Sustentvel, Comunitrio, Povoado das Canrias, Delta
do Parnaba.
INTRODUO
Fatores ocorridos nos sculos XX e XXI como; a globalizao, o surgimento de inovaes
tecnolgicas e de novas formas de comunicao proporcionaram o aumento da atividade turstica devido
essa constante necessidade das pessoas de interligao com o outro, possibilitando uma permuta em
aspectos culturais, sociais e econmicos relevantes ao desenvolvimento especfico de cada localidade. O
turismo acaba por ser uma forma de relao das necessidades individuais em paralelo processos de
cunho populacional.
O turismo pertence ao setor de servios que abrange atividades como: lazer, entretenimento e
hospitalidade sendo que a partir da viabilizao do mesmo em um contexto local, regional e/ou global,
percebe-se a possibilidade de ampliao em aspectos de sustentabilidade do prprio setor turstico que
est em constante crescimento. Em contrapartida a essa ideia, a realizao da atividade turstica pode
acarretar consequncias negativas, sobretudo no que tange as caractersticas ambientais do espao, no
qual se desenvolve a atividade.
Assim sendo, muito se tm discutido a respeito de novas formas de realizar a atividade turstica
sem causar tantos danos, sobretudo as comunidades receptoras. Sendo comuns temas referentes :
sustentabilidade, desenvolvimento local, realizao de prticas que estimulem a sensibilizao em
preservar o meio ambiente natural, criao de segmentos de mercado que versem pela preservao da
localidade quanto aos aspectos socioambientais, dentre outros que tm alimentado essa nsia de realizar
um turismo cada vez mais responsvel.
Dessa forma, este estudo tem como objetivo, destacar a prtica do turismo comunitrio
especificando o enfoque nas dimenses da sustentabilidade no Povoado das Canrias-MA (Ilha das
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

78
Canrias-MA), localizado no Delta do Parnaba5. Infere-se que o mesmo, um ecossistema composto por
uma alta biodiversidade e detm caractersticas singulares (particularidades ambientais), que o permitem
ser detentor de um grandioso potencial turstico.
Para que haja a preservao pautada na prtica de atividades que versem a manuteno desse
patrimnio ambiental em paralelo com o desenvolvimento socioeconmico das comunidades residentes, a
regio deltica contempla duas Unidades de Conservao (UC), sendo estas a APA (rea de Proteo
Ambiental do Delta do Parnaba) e a RESEX (Reserva Extrativista Marinha do Delta do Parnaba).
Efetivamente, a atividade turstica tem sido desenvolvida de forma significativa dentro desse contexto
possibilitado algumas mudanas no mbito das comunidades que fazem parte do Delta, mas preservando
suas caractersticas naturais.
CENRIO DE ESTUDO
Canrias um dos povoados que se encontra localizado na Ilha das Canrias-MA; considerada a
segunda maior ilha em extenso do delta, e est situada junto barra das Canrias, limite entre os estados
do Piau e Maranho. Destaca-se que esse povoado o maior e mais populoso dos cinco existentes na ilha,
sendo os outros respectivamente: Passarinho, Caiara, Torto e Morro do Meio (MATTOS e IRVING, 2003).
No povoado das Canrias-MA vivem cerca de 299 famlias e aproximadamente 1.700 habitantes,
sendo essa populao constituda em sua grande maioria por pessoas jovens e adultas. Em relao s
atividades econmicas principais destaca-se: a pesca artesanal6, a cata do caranguejo e a prtica da
agricultura de carter familiar, mais especificamente da cultura do arroz, sendo a atividade pesqueira a
mais predominante entre os moradores locais (FEYDIT e COSTA, 2006 apud SARAIVA, 2009).
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL: ASPECTOS CONCEITUAIS
O conceito de desenvolvimento sustentvel vem adquirindo cada vez mais destaque e aceitao,
motivada pela preocupao da sociedade com o futuro dos recursos naturais do planeta. Essa forma de
desenvolvimento objetiva preservar e manter as condies existentes para atender as geraes futuras em
diversos segmentos, tais como: o social, o econmico, o espacial, o cultural e, sobretudo, o ambiental.
A posteriori sero apresentadas algumas abordagens para que haja uma maior compreenso a
respeito do tema em foco. Por exemplo, em Montibeller-Filho (2001) ser encontrado como base a
preocupao com a preservao do meio ambiente conjugada com a melhoria das condies
socioeconmicas da populao (MONTIBELLER-FILHO, 2001, p. 42). O mesmo ainda esboa que tal atitude
proporcionou uma reciclagem no antigo conceito de ecodesenvolvimento, sendo este substitudo e
vivenciado pelo de desenvolvimento sustentvel.
Efetivamente, o desenvolvimento sustentvel tem como um dos seus principais focos a
preservao do meio ambiente, porm agrega a esse processo a integrao de outras dimenses. Dentro
desta perspectiva Leff (2006) sugere que
O planejamento de polticas ambientais para um desenvolvimento sustentvel, baseado no manejo
integrado dos recursos naturais, tecnolgicos e culturais de uma sociedade, conduz necessidade de
compreender as inter-relaes que se estabelecem entre os processos histricos, econmicos, ecolgicos e
culturais no desenvolvimento das foras produtivas da sociedade (LEFF, 2006, p. 78).

Portanto, importante que o processo de desenvolvimento sustentvel seja planejado, de modo a


integrar os diferentes recursos e demandas de uma sociedade, pois mediante o supracitado, sero
compreendidas as inter-relaes nesse contexto, e para Cnuamad ([s/d]), o desenvolvimento sustentvel
aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das geraes futuras
atenderem s suas prprias necessidades (CNUAMAD [s/d], p. 98, apud SILVA, 2004, p. 26).
5

O Delta do Parnaba est situado entre os estados brasileiros do Piau e do Maranho. o nico das
Amricas e um dos nicos do mundo em mar aberto. Formado pelo rio Parnaba, que tem 1.485 km de extenso, o
delta do Parnaba abre-se em cinco braos, dos quais quatro no Maranho e apenas um no Piau, envolvendo mais de
70 ilhas fluviais. Sua paisagem exuberante, cheia de dunas, mangues e ilhas fluviais, garante o cenrio paradisaco
dessa regio do Piau e Maranho (GUERRA, 1998).
6
O termo pesca artesanal utilizado para explicar a prtica pesqueira realizada na localidade, que consiste
no consumo prprio e na venda.
Joo Pessoa, outubro de 2011

79
Nesse contexto, Silva (2004) considera a existncia de trs processos de desenvolvimento distintos,
cada um com suas prprias imposies sendo produzidos, ao mesmo tempo, em nvel regional: o
econmico, o ambiental e o da comunidade. Destaca-se ainda que essas imposies muitas vezes so
contraditrias, pois cada esfera tem interesses especficos, mas o desenvolvimento sustentvel o
processo que visa colaborar com a integrao e o equilbrio do todo (SILVA, 2004, p. 27).
Outro ensinamento de Montibeller-Filho (2001) a partir de uma conferncia mundial sobre a
conservao e o desenvolvimento, realizada pela IUNC7, caracteriza como princpios norteadores do
desenvolvimento sustentvel fatores como:
(...) integrar conservao da natureza e desenvolvimento; satisfazer as necessidades humanas
fundamentais; perseguir equidade e justia social; buscar a autodeterminao social e respeitar a diversidade
cultural; manter a integridade ecolgica (MONTIBELLER-FILHO, 2001, p. 47).

Acrescenta-se a isto os ensinamentos de Sachs (1993), onde ele denomina as cinco dimenses de
sustentabilidade do ecodesenvolvimento sendo respectivamente: sustentabilidade social; econmica;
ecolgica; espacial; e cultural. Cada uma pode ser sintetizada como segue.
a) Sustentabilidade social: o processo deve se dar de maneira que reduza substancialmente as
diferenas sociais. E considerar o desenvolvimento em sua multidimensionalidade, abrangendo todo o
espectro de necessidades materiais e no-materiais; b) Sustentabilidade econmica: defini-se por uma
alocao e gesto mais eficientes dos recursos e por um fluxo regular do investimento pblico e privado
(...). A eficincia econmica deve ser medida sobretudo em termos de critrios macrossociais. E pressupe
evidenciar-se a denominada economia de Gandhi (...). c) Sustentabilidade ecolgica: compreende o uso dos
potenciais inerentes aos variados ecossistemas compatvel com sua mnima deteriorao. Deve permitir que
a natureza encontre novos equilbrios de utilizao que obedeam a seu ciclo temporal (...). d)
Sustentabilidade espacial/geogrfica: pressupe evitar a excessiva concentrao geogrfica de populaes de
atividades e do poder. Busca uma relao mais equilibrada cidade/campo. e) Sustentabilidade cultural:
significa traduzir o conceito normativo de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de solues particulares,
que respeitem as especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local (SACHS, 1993 apud
MONTIBELLER-FILHO, 2001, p. 46).

TURISMO DE BASE COMUNITRIA


A atividade turstica apresenta diversos segmentos, os quais possuem especificidades, mas tambm
caractersticas em comum. Dentre esses, um que vem ganhando destaque por ser uma alternativa ao
turismo de massa o turismo de base comunitria.
Inicialmente, destaca-se o conceito de comunidade para que se possa compreender melhor sobre
as relaes dentro desse mbito. De acordo com Japiass e Marcondes (2006)
Comunitarismo (do lat. communitas: comunidade) Teoria elaborada nos Estados Unidos (por M.
Sandel, C. Taylor e A. MacIntyre) segundo a qual o indivduo precisa estar integrado na cultura de sua
comunidade, no devendo ser considerado um desencanado ou desvinculado de suas razes culturais
representadas por uma histria, valores e relaes suscetveis de integr-lo socialmente e conferir um
sentido sua existncia (JAPIASS e MARCONDES, 2006, p. 50).

Em outras palavras, quando se fala em comunidade impossvel dissociar esse termo a


coletividade, ou seja, a integrao entre as pessoas. A necessidade da convivncia em grupos sociais, onde
cada um tem suas expectativas e desejos, somada as dos outros constituintes representa uma vontade em
comum, que se diferencia de localidade para localidade.
O turismo de base comunitria, basicamente um processo centrado em mbito comunitrio,
como afirma Coriolano (2006), sendo este um
[...] jeito diferenciado de trabalhar com o turismo. Trata-se de um eixo do turismo centrado no
trabalho de comunidades, de grupos solidrios, ao invs do individualismo predominante no estilo
econmico do eixo tradicional [...] a atividade turstica deixa lacunas no ocupadas pelo grande capital, que
passam a ser oportunidades para aqueles excludos desta concentrao, criando-se assim um turismo
alternativo, solidrio e comunitrio. Trata-se de servios tursticos realizados por pequenos empreendedores,
pequenos ncleos receptores, comunidades que descobrem no turismo oportunidades de trabalho e formas
7

Unio Internacional pela Conservao da Natureza, Ottawa-Canad, 1986.


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

80
de incluso no mercado do turismo, sendo estas atividades estratgias de sobrevivncia (CORIOLANO, 2006
apud RIBEIRO, 2008).

Observa-se que o turismo comunitrio tem o objetivo de incluir a comunidade organizada na


execuo da atividade turstica, de modo que os atores locais (poder pblico e privado, juntamente com a
populao) realizem uma atuao em conjunto, visando uma gesto participativa, possibilitando a insero
dos moradores locais a uma postura ativa de co-responsveis. Nessa perspectiva Carvalho (2007) afirma no
seguinte trecho que
O turismo comunitrio apresenta-se sendo desenvolvido pela prpria comunidade, onde seus
membros passam a ser ao mesmo tempo articuladores e construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o
lucro permanecem na comunidade contribuindo para melhoria de qualidade de vida, levando todos a se
sentirem capazes de cooperar e organizar as estratgias do desenvolvimento do turismo. [...] Desenvolvendo
assim a gesto participativa, ou seja, os atores sociais na sua maioria se envolvem com as atividades
desenvolvidas no local de forma direta ou indireta tendo sempre em vista a melhoria da comunidade e de
cada participante (CARVALHO, 2007 apud RIBEIRO, 2008).

Logo, ao se organizar a comunidade para o turismo necessrio estabelecer uma aliana entre
interesses econmicos locais e no locais, objetivando atribuir uma maior valorizao s questes culturais
e ambientais, que so fatores importantes para a motivao do turista em conhecer uma determinada
localidade e/ou atrativo (MIELKE, 2009).
Em sntese, ao se falar em turismo de base comunitria plausvel corroborar sobre os APLs
(Arranjos Produtivos Locais), enquanto instrumentos importantes para o fomento desse segmento
turstico. Haja visto, que os mesmos tm o objetivo de minimizar os riscos econmicos, alm de valorizar a
autogesto, o que possibilita grande abertura e uma maior autonomia para os empreendedores locais.
Encontra-se como base em Coriolano (2009) que APLs do turismo vem a ser
[...] atividades produtivas locais derivadas de fatores naturais e histricos, concentrando no mesmo
territrio micro e pequenas empresa de subsistncia (setor informal) com base familiar, baixa competncia
tcnica comercial e gerencial produzindo atividades tercirias para a cadeia produtiva do turismo
(CORIOLANO, 2009).

valido dissertar ainda, ao fato de ser comum, que projetos de turismo ligados s comunidades
sejam automaticamente qualificados como comunitrios. Entretanto, o turismo comunitrio detentor de
caractersticas to especficas que, no limite, so raras as experincias de turismo no mundo que vo ao
encontro deste enfoque cientfico (ARAJO e GELBCKE, 2008).
Parindo desse pressuposto, os autores supracitados ainda mencionam que
[...] os princpios do enfoque de Turismo Comunitrio centram-se na preservao, valorizao e
induo de tradies e relaes sociais solidrias, na gerao de trabalho e renda com base na produo
associativista, no revigoramento dos significados de virtude humana e, por ltimo, na utilizao apropriada
dos recursos naturais e das capacidades humanas locais (ARAJO e GELBCKE, 2008, p. 367).

Logo, a promoo do turismo de base comunitria deve ser pautada na ocorrncia de


elementos que contribuam e que so essenciais, mas tambm existem outros que se ope ao
desenvolvimento dessa atividade. E que alm da participao ativa da comunidade, necessita da presena
de elementos da estrutura primria que seriam os equipamentos e servios.
PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Delimitou-se para o estudo a investigao da atividade turstica existente no Povoado das CanriasMA, tendo como foco a opinio da comunidade (populao local). Utilizou-se de uma abordagem
qualitaviva, pois conforme anlise dos resultados trabalha-se com o contedo do discurso dos
entrevistados.
A pesquisa de natureza descritiva e tambm exploratria. Quanto natureza das fontes para a
abordagem utilizou-se as seguintes modalidades de pesquisas cientficas: pesquisa de campo, bibliogrfica
e documental. A pesquisa de campo aconteceu durante os meses de Setembro, Outubro e Novembro de
Joo Pessoa, outubro de 2011

81
2010. A pesquisa documental, assim como a bibliogrfica foi feita durante toda a etapa de elaborao do
estudo subsidiada por livros, artigos e peridicos disponveis atravs da internet.
AMBIENTE DA PESQUISA
A pesquisa foi realizada no Povoado das Canrias-MA, (Ilha das Canrias-MA), localizado no Delta
do Parnaba, com enfoque para visitas populao local.
AMOSTRA
Os sujeitos deste estudo emprico correspondem aos moradores do Povoado das Canrias-MA;
estes representam a populao residente e trabalham direta e/ou indiretamente com a atividade turstica.
Evidenciou-se para amostra um grupo de 100 moradores locais. Utilizou-se de uma amostra baseada no
clculo de valor tabelado, a partir da distribuio normal de probabilidade. Os entrevistados foram
escolhidos aleatoriamente e participaram de forma voluntria, sem nenhum critrio de excluso.
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
A pesquisa foi constituda atravs da aplicao de questionrios estruturados, os quais foram
elaborados visando coleta de dados e se objetivou uma abordagem qualitativa. Ressalta-se que foi
elaborado um questionrio destinado aos moradores locais o qual constitui o instrumento aplicado aos
sujeitos da pesquisa.
ANLISE DOS DADOS
Os dados foram estudados por meio da anlise do contedo, na viso de (BARDIN, 2004), vem a
significar: um conjunto de tcnicas de anlises das comunicaes que possibilita ao pesquisador obter
concluses a partir do discurso do entrevistado e posteriormente desenvolver os resultados dos dados
obtidos atravs da elaborao ou no de categorias (BARDIN, 2004, p. 33).
Infere-se que se objetivou fazer um paralelo da seguinte maneira; alocando as questes do
questionrio que fossem condizentes com as cinco dimenses da sustentabilidade (espacial, econmica,
social, cultural e ecolgica) propostas por Sachs (1993) e demonstradas nos resultados, respectivamente na
sequncia anterior. Esse mtodo de anlise foi de extrema importncia para a pesquisa, pois a partir dele
houve uma maior percepo quanto s expectativas advindas dos sujeitos pesquisados e ainda se h a
possibilidade de promover um desenvolvimento local pautado no modelo sustentvel.
RESULTADOS E DISCUSSO: BENEFCIOS ESTRUTURAIS (SUSTENTABILIDADE ESPACIAL)
Essa categoria refere-se dimenso da sustentabilidade espacial e nela buscou-se destacar
questes que fossem referentes insero do turismo, quanto ao desenvolvimento estrutural da localidade
Canrias. Analisando os resultados obtidos, evidenciou-se certa dificuldade referente participao dos
entrevistados em compreender o questionamento realizado, pois algumas respostas no foram
congruentes com a pergunta.
A maioria dos entrevistados inferiu uma resposta afirmativa, quanto a essa questo,
quando lhes solicitada, sendo que foram elencadas categorias referentes s respostas negativas, destacamse as seguintes:
O turismo no beneficia em nada;
No sabem/No visualizam benefcios;
No explorado;
S h benefcio para os proprietrios de pousadas;
Dentre as respostas mais citadas muitos consideram que o turismo no beneficia em nada, e que as
melhorias estruturais que ocorreram no povoado no foram por conta do turismo. Nesse contexto, afirma
o morador local D.C.B de 45 anos de idade que vendedor: [...] muitas coisas que aconteceram aqui, no
foi necessariamente por causa do turismo. Corroborando, a moradora local M.A.L.B de 52 anos de idade
que zeladora da igreja, afirma: [...] tudo o que tem aqui verba da prefeitura, mas de turismo mesmo eu
no conheo nada.
A segunda categoria mais evidenciada refere-se s pessoas que no sabiam responder ou as que
no visualizavam benefcios, validando a afirmao do pesquisador quanto dificuldade dos entrevistados
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

82
em entender o objetivo da questo. Alguns entrevistados destacaram ainda que o turismo ainda no to
explorado. Essa afirmao revela um paradoxo, pois a partir das pesquisas de campo constatou-se que o
turismo uma atividade extremamente presente na tica local, mesmo ainda sendo bastante incipiente.
Mais uma vez salienta-se que alguns questionados no se sentem participantes no processo de
desenvolvimento turstico local e acham que a atividade s tem representatividade para os proprietrios de
pousadas e no nutri a comunidade, seja financeira ou scio-culturalmente, pois como afirma uma
moradora local, o turismo beneficia s as pousadas; eles no do valor ao artesanato da gente (L.B.C de
36 anos que artes).
O TURISMO E AS CONDIES DE VIDA DA POPULAO (SUSTENTABILIDADE ECONMICA/ SOCIAL/
CULTURAL)
Este item faz referncia s seguintes dimenses da sustentabilidade (econmica, social e cultural)
foi criado com o intuito de obter dos entrevistados a existncia ou no de uma crena que o turismo
poderia melhorar as condies de vida da populao local nesses trs aspectos. Analisou-se os resultados
obtidos, os quais foram categorizados da seguinte maneira:
Questes financeiras;
Desenvolvimento da comunidade;
Diverso;
Interao com a comunidade;
Mais interesse da comunidade para com o turismo;
Evidencia-se que muitos admitiram que o turismo pode possibilitar a melhoria das condies de
vida, sobretudo, quanto a questes financeiras, atravs da gerao de emprego e renda. Conforme, um
morador local: o turismo oferece condies de melhor renda, emprego e conhecimento a todos, afirma
D.F de 31 anos de idade que pescador. Nesse sentido, salienta-se a viso de outra moradora local sobre a
presena dos turistas; eles deixam renda e gastam nos restaurantes e os donos dos restaurantes
empregam mais pessoas, M.R.C de 38 anos que dona de casa.
Quanto segunda categoria, muitos dos entrevistados afirmaram que o turismo possibilita o
desenvolvimento da comunidade, pois traz consigo o crescimento econmico local e incentiva os
moradores a se capacitarem, para que possam melhor receber o turista. Dentro dessa perspectiva, uma
moradora local comenta que: depois que comearam a aparecer turistas, as pessoas esto se interessando
em estudar outras lnguas. A.M.M.S de 53 anos de idade que pescadora.
Salienta-se que algumas pessoas destacaram a interao do turista com a comunidade. Essa
afirmao corroborada com o depoimento da moradora local, que vem a identifica que: [...] os turistas
agradam as crianas e tiram fotos. M.R de 23 anos que agente de sade.
Enfatiza-se que uma parcela dos questionados declara que a diminuio do turismo na regio
evidente e acontece, talvez, pela falta de interesse da comunidade para com o turismo e com o turista. Esse
fato perceptvel, a partir da afirmao de uma moradora local, que diz que a gente daqui no tem
interesse, antes era mais frequentada agora muito pouco. M.C de 34 anos de idade que pescadora.
PRESERVAO DA LOCALIDADE (SUSTENTABILIDADE ECOLGICA)
Quanto preocupao com a preservao da localidade, de acordo com os resultados obtidos nas
respostas afirmativas, destacam-se as seguintes categorias:
Preservao do ambiente
Preservao da natureza
Benefcios econmicos
Dentre as respostas, enfatiza-se que grande parte dos entrevistados afirmou a importncia de
preservar o ambiente no qual eles vivem, caso contrrio poderia acontecer prejuzos comunidade. Assim,
constatou-se a fala de um morador local que afirma: A gente tem que se preocupar, pois aqui o lugar da
gente, seno traz prejuzo depois (A.F.V. de 70 anos de idade que aposentado).
Leva-se em considerao que esse prejuzo seria sobretudo financeiro, pois se o ambiente sujo e
h a presena de muito lixo, consequentemente essa situao vai afastar o turista; isso se comprova na
declarao de uma moradora local: uma ilha dessas tendo um monte de lixo horrvel para os turistas
(M.M.P. de 43 anos que funcionria de uma pousada).
Joo Pessoa, outubro de 2011

83
Na segunda categoria evidencia-se a preservao da natureza, dentre as respostas citadas muitas
delas fazem referncia a essa preservao como forma de sustento, mantendo o que j existe na regio e
preservando para as geraes futuras e para o sustento prprio do lugar. Preservar bem o ambiente para
passar para os filhos e netos e preservar o mangue e a natureza para o sustento da gente so
preocupao comuns aos moradores (e o que afirmam dois entrevistados, respectivamente L.N.C
aposentado de 67 anos e T.N.G pescadora de 24 anos).
Quanto categoria referente aos benefcios econmicos infere-se que alguns dos entrevistados
reconhecem a importncia de se preservar a natureza, pois a atividade que os mesmos desempenham tem
ligao direta com a manuteno do ecossistema: a pesca: Preservar a natureza para manter o sustento da
pesca. (B.O.C; pescador de 26 anos).
CONSIDERAES FINAIS
O turismo desenvolvido no Povoado das Canrias-MA ainda bastante incipiente para ser o centro
da economia local, referente a isso, vem a se destacar a importncia de iniciativas por parte dos poderes
pblico e privado junto comunidade, em inferir polticas que fomentem a atividade turstica enquanto
possibilitadora do desenvolvimento de forma sustentvel da localidade.
Diante disso salienta-se que a comunidade deve ser a maior beneficiada nesse processo, onde cada
um dos atores sociais co-autor e participante ativo na prestao de servios, sabendo que assim como
possui responsabilidades, tambm deve ter benefcios assegurados. Sendo assim, o turismo passa a ser um
significativo instrumento de promoo social e de dinamizao socioeconmica.
Logo, fica evidente que o turismo de base comunitria pode ser demonstrado como uma estratgia
eficaz de desenvolvimento sustentvel no Povoado Canrias-MA. Para tanto se entende que essa atividade
deve levar em considerao as reais necessidades da comunidade, assim, devem ser elaboradas aes que
versem a prtica desse segmento turstico no Povoado das Canrias-MA atravs de iniciativas como:
1) criao de associaes, que tenham o intuito de promover cursos e oficinas, referentes
qualificao dos atores (os moradores locais) para uma melhor prestao de servios (como atender e
receber bem o turista; assim como tambm promover capacitao da mo de obra quanto ao fator
gastronmico);
2) incentivar a comunidade local a participar diretamente da atividade turstica, com o objetivo de
melhor lhe compreender e, partindo desse pressuposto, inserido-a na melhor diviso econmica da regio
e mesmo de auto-valorizao regional;
3) mostrar para os integrantes do processo de desenvolvimento do turismo (populao e trade
local) que a atividade deve acontecer de forma que evidencie a sustentabilidade como princpio norteador;
logo, haver uma conscientizao e insero da importncia da necessidade da atividade turstica no
cotidiano, da populao em destaque.
Frente a tudo que foi exposto, relevante evidenciar que o turismo uma atividade importante e
significativa no mbito das comunidades residentes na regio do Delta do Parnaba, em virtude do seu
grande potencial turstico. Vale salientar que existem outras atividades econmicas tradicionais que so
desempenhadas, como: a pesca, a cata do caranguejo, a agricultura, o artesanato, entre outras. Nesse
contexto, o turismo se destaca como mais uma oportunidade de desenvolvimento local, sobretudo para os
moradores do povoado das Canrias-MA.
Portanto, estima-se que este estudo proporcione uma fonte de pesquisa para a elaborao sobre o
turismo na regio do Delta do Parnaba, ou mais precisamente sobre o Povoado Canrias-MA. Ainda
esperado que o mesmo contribua como incentivo a integrao entre as esferas pblica e privada,
juntamente com a comunidade na elaborao de polticas que fomentem o desenvolvimento local, com a
insero do turismo e suas vantagens sustentveis comunidade.
REFERNCIAS
ARAJO, G. P. e GELBCKE, D. L. Turismo Comunitrio: Uma perspectiva tica e educativa de
desenvolvimento. Revista Turismo Viso e Ao Eletrnica, v. 10, n 03. p. 357 378, set/dez. 2008.
BARDIN, L. Anlise de contedo. 3 ed, 2004.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

84

CORIOLANO, L. N. M. T. Arranjos Produtivos Locais do Turismo Comunitrio. In: Conferncia


brasileira de arranjos produtivos locais. 2009, Braslia.
GUERRA, A. J. T. Guerra (org). Novo Dicionrio Geolgico Geomorfolgico. 8 Ed. Bertrand
Brasil, 1998.
JAPIASS, H. e MARCONDES, D. Dicionrio bsico de filosofia. 4 ed. Rio de Janeiro, 2006.
LEFF, E. Epistemologia ambiental. 4 ed. So Paulo: Cortez, 2006.
MATTOS, F. F. e IRVING. M. A. Delta do Parnaba nos rumos do ecoturismo: Um olhar a partir
da comunidade local. Caderno Virtual de Turismo, v. 3, n. 4, 2003.
MIELKE, E. J. C. Desenvolvimento turstico de base comunitria; Uma abordagem prtica e
sustentvel. So Paulo: Editora Alnea, 2009.
MONTIBELLER-FILHO, G. O mito do desenvolvimento sustentvel: Meio ambiente e custos
sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Florianpolis: ed. da UFSC, 2001.
RIBEIRO, G. Turismo de base comunitria. Revista Global Tourism; Vol. 4 N. 2, 2008.
SARAIVA, N. A. Projeto PNUD Desenvolvimento sustentvel com populaes tradicionais.
(Instituto Chico Mendes de conservao da biodiversidade ICMBIO; MINISTRIO DO MEIO
AMBIENTE). Braslia, 2009.
SILVA, M. F. L. O ecoturismo no Delta do Parnaba - PI e entorno: Turismo e sustentabilidade.
2004. 93 f. Monografia (Especializao em Turismo e Hospitalidade)-Universidade de Braslia, Braslia.

Joo Pessoa, outubro de 2011

85

PAISAGEM, FUNCIONALIDADE TURSTICA E O DILEMA DA


SUSTENTABILIDADE
PORTUGUEZ, Anderson Pereira
Professor Doutor do Curso de Geografia FACIP Universidade Federal de Uberlndia. Professor Colaborador do Programa
de Mestrado Profissional em Gesto de Negcios Tursticos da Universidade Estadual do Cear.
anderson@pontal.ufu.br

RESUMO
O presente trabalho traz uma discusso terica sobre trs conceitos complexos que, embora
possam originar discusses dissociadas, aqui foram confrontados buscando-se suas interfaces. So eles:
funcionalidade turstica, paisagem e sustentabilidade. As discusses ora apresentadas constituem-se em
uma contribuio reflexiva aos debates sobre o turismo, aqui entendido como um fenmeno social
altamente complexo, plural, multifacetado, contraditrio e importante para as sociedades atuais. Para
tanto, realizou-se reviso de literatura sobre estes termos, buscando-se compreend-los em suas
peculiaridades e transversalidades.
Palavras-Chave: Funcionalidade. Paisagem. Sustentabilidade. Turismo
INTRODUO
O conceito de paisagem j foi (e ainda ) discutido por diversos pesquisadores, vindos de diferentes
ramos do conhecimento cientfico, o que resulta em um amplo e complexo conjunto de concepes. No
h consenso, portanto, sobre o significado do termo e do seu papel enquanto categoria de anlise de
cincias como a Geografia, a Ecologia, as Artes, a Arquitetura e outras.
A existncia de diferentes noes do que venha a ser paisagem no pode ser tomado como algo
negativo. Ao contrrio, a existncia de diferentes concepes permite uma abordagem muito mais rica e
muito mais instigante para os estudiosos do assunto. Bom lembrar que at mesmo no seio de uma mesma
cincia, o conceito de paisagem sofreu alteraes ao longo do tempo e de escola para escola. Esta riqueza
de idias vem contribuindo tambm para o entendimento do que neste trabalho chamamos de paisagem
turistificada, ou seja, tecnificada pelo turismo, ainda que o grau de incorporao desta atividade produtiva
dinmica espacial seja considerado modesto.
Segundo Castro (2011), o termo paisagem extremamente polissmico, e as acepes
disciplinares a ele relacionadas so to vagas quanto variadas. De acordo com este autor, para a cincia
geogrfica a paisagem um conceito-chave, ou seja, uma de suas categorias de anlise mais importantes,
mas com destaque variado ao longo da histria desta disciplina, pois em alguns momentos assumiu papel
relevante nas anlises espaciais, mas em outros foi relegado a uma posio secundria, para que conceitos
como regio, espao, territrio e lugar pudessem assumir posio de maior destaque nas anlises espaciais.
De acordo com Mateo Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007), entre 1850 e 1920 o conceito de
paisagem constituiu-se como tema central da Geografia clssica, marcando a fase de surgimento das
primeiras idias fsico-geogrficas referentes s mltiplas interaes dos fenmenos naturais, assim como
(os primeiros conceitos) desta categoria de anlise.
Porm, a partir da dcada de 1950, surgiram as contestaes incorporadas a Geografia pelos
pensadores de outras bases epistemolgicas, o que fez com que a paisagem tivesse sua importncia
reduzida, sobretudo com a emergncia da chamada Geografia Regional. Porm, na atualidade, com a
emergncia da Geoecologia ps-moderna e Geografia Cultural, este conceito retornou ao debate, mas a
problemtica de seu significado permanece. Mateo Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2007) afirmaram que nos
dias atuais podem-se distinguir pelo menos cinco grandes concepes de paisagem:
paisagem como aspecto externo de uma rea ou territrio (esttica e percepo);
paisagem como formao natural;
paisagem como formao antropo-natural;
paisagem como sistema econmico-social;
paisagem cultural.
Para os estudos da Geografia do Turismo, este conceito assume papel de forte centralidade, pois
so muitos os estudos sobre espaos receptores que a ela atribuem forte significado. A paisagem surge
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

86
nesta abordagem como a dimenso visitada do espao. onde o turismo se materializa por meio de novas
formas e novos usos dos destinos; ela que possui, ou no, potencial atrativo e ela que se degrada com
os fluxos excessivos.
Para fins desta anlise, adotamos como referncia terica a obra de Milton Santos, para o qual a
paisagem representa o mundo que se v desde onde se est, no momento que se a observa. tudo aquilo
que ns vemos, o que nossa viso alcana, a paisagen. Esta pode ser definida como o domnio do visvel,
aquilo que a vista abarca. No formada apenas de volumes, mas tambm de cores, movimentos, odores,
sons etc (1996, p. 61).

Sendo a paisagem o que se v, o referido autor entende que ela seja a dimenso concreta do
espao, apreendida pelos sentidos sensoriais de um observador que a interpreta a partir de suas ticas
culturais e intelectuais e, ainda, a partir do local de onde o sujeito realiza a observao (desde o solo, do
alto de um edifcio, a partir de um sobrevo... enfim). A paisagem que resulta desta observao fruto de
um processo profundamente impregnado de subjetivismo, mediado pelas representaes do imaginrio
coletivo que, por sua vez, dota-se de valores simblicos (FERRETTI, 2002). A paisagem apresenta-se, nesta
perspectiva, com um aspecto dual, constituindo-se simultaneamente de formas concretas e formas
simblicas (Castro, 2002).
Santos (2002) estabeleceu uma clara distino entre os conceitos de espao, regio e paisagem.
Para ele, esta ltima constituda de num amplo conjunto de formas dinmicas, que em um dado
momento, expressa fisicamente as heranas que representam as sucessivas (inter)relaes dos sistemas
sociais e naturais.
Nas paisagens, existem objetos do passado e do presente em uma construo transversal. Este
acmulo de distintas temporalidades materializadas nas paisagens foi chamado pelo autor de
rugosidades e, nesta perspectiva, as formas concretas precisam ser entendidas no somente em funo
objetividade, mas tambm a partir dos usos que se faz delas (funo), o que d sentido subjetivo ao
significado daquilo que se v.
Um stio histrico pode ser neste sentido, tomado como exemplo. Vejamos o caso do ncleo de
ocupao pioneira da cidade de Vila Velha (ES), fundada por Vasco Fernandes Coutinho em 1535 e que este
ano completou 476 anos.
O Forte Piratininga foi construdo em 1535 para proteger a primeira vila capixaba de ataques
indgenas e invases estrangeiras. Quando visitado na atualidade pelos turistas, revela que uma mesma
forma pode exercer distintas funes ao longo do tempo. Por sua vez, o Convento de Nossa Senhora da
Penha, construdo a partir de 1558, sempre foi utilizado como templo religioso. Mas na atualidade,
tambm um dos mais importantes atrativos tursticos do Estado do Esprito Santo.
Este jogo de forma e funo tem servido de base para muitos estudos tursticos, uma vez que ao
mesmo tempo em que a paisagem acumula formas, ela pode tambm acumular funes, intenes de uso,
significados sociais das formas e ainda pretenses polticas, que do sentido ao territrio. E ser
justamente este o foco de nossas anlises, pois a incorporao da funcionalidade turstica a uma
determinada paisagem pode de um lado, ampliar a salvaguarda de suas formas socialmente consideradas
importantes, como tambm, por outro lado, degrad-las. Pode acrescentar novas formas destoantes da
harmonia pr-existente, assim como incorporar formas que valorizam a memria, o patrimnio, a
identidade e a vinculao das pessoas aos seus entornos espaciais. Instaura-se nesta perspectiva, uma forte
contradio intrnseca ao uso turstico dos destinos dotados de aspectos cnicos notveis.
De acordo com Ferretti (2002), para os estudos do turismo, a paisagem constitui-se em um
elemento chave para compreender como esta atividade produtiva se apropria do espao e como o
transforma, reorganizando seus arranjos, muitas vezes desorganizando suas dinmicas pr-existentes.
A FUNCIONALIDADE TURSTICA DA PAISAGEM
Nesta ltima dcada, o conceito de funcionalidade da paisagem ganhou destaque nos estudos do
turismo em diversas universidades do Brasil e da Europa. Muitos dos trabalhos acadmicos que tratam
desta temtica no foram escritos para discutir especificamente a funcionalidade turstica dos lugares, mas
de certa forma, parece haver consenso entre os pesquisadores de este tema torna-se relevante para se
estudar a dinmica espacial do turismo, ainda que seja abordado como apenas um tpico das pesquisas.
Joo Pessoa, outubro de 2011

87
Rodrigues (1999) lembrou que dentre as categorias de anlise do espao geogrfico proposta por
Milton Santos, a funo, uma das mais importantes para os estudos do turismo. Para esta autora, as
funes so atributos historicamente justificados das formas espaciais. Estas duas categorias de anlise
(forma e funo) vm recorrentemente subsidiando estudos de funcionalidade turstica de diversas
localidades. Por sua vez, Portuguez (2010, sp.) afirmou que:
As paisagens so formadas por conjuntos complexos de elementos constituintes, que pertencem aos
sistemas naturais e sociais que esto em constante interao e transformao. Em cada momento da
histria, de acordo com os interesses vigentes na sociedade e as tecnologias disponveis, estes elementos
assumem funes muito especficas, que do sentido ao seu dinamismo espacial. Em outras palavras, a
funcionalidade se refere utilidade atribuda historicamente a cada um dos conjuntos complexos de
elementos que compem as paisagens.

Os objetos constituintes dos sistemas naturais e culturais so apropriados utilizados por diferentes
atores sociais, simultaneamente, muitas vezes de forma consensual, mas tambm muitas vezes, de forma
conflituosa. Desta maneira, as diferentes utilidades socialmente atribudas aos objetos geram as distintas
funcionalidades de suas formas.
Seguindo esta linha de raciocnio, as funcionalidades sobrepostas originam a multifuncionalidade. A
paisagem, nesta perspectiva, desempenha papis que lhes so dados pelo sistema de aes-decises e
mesmo que os papis venham a mudar com os movimentos da histria, eles deixam marcas visveis na
dinmica da paisagem. A multifuncionalidade um contedo histrico, um atributo cultural com
localizao fsica e temporal. Minguez Gara (2007) chamou este mosaico de contraste funcional. Nesta
perspectiva, Portuguez (2010, sp.) considerou que
Como em qualquer outro caso de funcionalidade, a funo turstica representa claramente um
intrincado jogo de interesses. (...)Este movimento de multifuncionalizao pode estar relacionado prpria
necessidade de superao da pobreza, baixo dinamismo econmico ou at mesmo a interesses polticos e/ou
empresariais internos e externos. Em outras palavras, a nova funcionalidade incorporada pode no estar
relacionada na origem, aos atributos da paisagem, mas sim aos interesses de quem nela vive e produz.

Rodrigues (1999) lembrou que o turismo um fenmeno social fruto da modernidade urbanoindustrial. Sendo assim, na medida em que esta atividade se consolida na paisagem, ele (o turismo) se vale
de uma srie de infra-estruturas consideradas imprescindveis para sua operacionalizao. Quando ele se
expande para paisagens menos tecnificadas, como reas de natureza exuberante ou para o meio rural, por
exemplo, o turismo tende a adens-las e urbaniz-las8.
A apropriao turstica de um destino em potencial depende em larga medida da existncia de
espaos emissores com alta concentrao de classe mdia, pois este extrato social tem sido a base de
sustentao dos fluxos que afluem para os mais variados destinos tursticos. Inclui-se nesta afirmao, a
recente incorporao dos extratos C e D no rol de consumidores potenciais, que inclusive contam com
segmentao de mercado voltado especificamente para suas peculiaridades de renda e de consumo.
Como a maior parte da populao brasileira mora em cidades, as paisagens menos tecnificadas,
uma vez turistificadas, se vem obrigadas a investir em determinados recursos tipicamente urbanos, tais
como: oferta de lazer noturno, energia eltrica, telefonia fixa e mvel, refrigerao, calefao,
diversificao gastronmica, acesso internet, melhorias nas infraestruturas de acesso e transportes, entre
outros.
A multifuncionalizao das paisagens fruto da complexificao do trabalho. O espao sensvel a
este movimento de agregao de funes e se os novos usos forem acrescentadas sem a atrofia dos usos
pr-existentes, a paisagem passa a sofrer com os impactos decorrentes de sua densificao. Da sua relao
direta com o conceito de sustentabilidade, ou ainda, com a necessidade de uma funcionalizao
sustentvel da paisagem em fase de turistificao.

Urbaniz-los no sentido de aportar contedos de urbanidade, alterando o modo de viver e trabalhar das
pessoas e introduzindo formas tpicas do meio citadino. O meio rural permanece rural em termos absolutos, mas
assume inclusive funes no relacionadas ao meio agrrio. O mesmo raciocnio se aplica s reas de natureza, que
ocasionalmente so fetichizadas pelo/para o turismo, ainda que permaneam como reas de exuberncia ecolgica.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

88
Por outro lado, segundo Portuguez (2010, sp.), a multifuncionalizao pode contraditoriamente
reforar as atividades e funes originais, como o caso do meio rural, pois os turistas que viajam para o
campo desejam ver o campo, com caractersticas de campo e, desta forma, desvincular-se pelo menos
em parte do espao urbano onde vive. O aporte de uma funo turstica, nesta perspectiva, pode reforar
a identidade rural do espao ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, densifica a tecnoesfera urbana
em reas rurais.
Minguz Garca (2007), que realizou um importante estudo sobre esta contradio em stios
histricos espanhis, mostra que em alguns casos, a funcionalidade pode se manter original, ou mudar com
o tempo, mas o turismo de certa forma resgata as funes histricas dos lugares.
Portanto, acreditando-se na existncia de um processo sustentvel de turistificao das paisagens,
pode-se apregoar que a funo turstica ser benfica quando for capaz de acrescentar o uso recreativo e
contemplativo, sem, no entanto, impactar gravemente as formas, as relaes sociais e a dinmica
9
ambiental pr-existente .
O DILEMA DA SUSTENTABILIDADE
O amplo acervo de termos inventados pelas sociedades ps-modernas para designar aes de
planejamento dotadas de novos valores sociais focados na humanizao do capitalismo informacional , de
fato, impressionante. O desejo de implementar globalmente um novo modelo de desenvolvimento menos
degradante em termos ecolgicos um claro exemplo destra tendncia humanizadora, que em geral
produz resultados muito mais que duvidosos.
Gesto ambiental, ecomarketing, consumo verde, ecodesenvolvimento, desenvolvimento
sustentvel, solidariedade ambiental, aldeia global e mais um cem nmeros de termos chamativos vm
cada vez mais se fazendo presente nos discursos polticos, nas filosofias organizacionais e at mesmo vm
se integrando ao vocabulrio do dia-a-dia. Muitos destes termos no foram cunhados no mbito acadmico
e sim pela mdia de massas, o que os tornam repletos de pompa, mas pobres de sentido prtico. Depois de
criados e incorporados ao vocabulrio comum, muitos pesquisadores se vm obrigados a encontrar sentido
lgico para eles e isto tem gerado discusses acaloradas sobre esta ou aquela expresso.
A noo de sustentabilidade tem sido apresentada de forma manipuladora pelo grande capital
turstico como um novo e inquestionvel valor organizacional, mostrando que as empresas possuem
preocupaes com a conservao da paisagem e da dinmica ambiental. uma noo generosa de gesto,
que atribui fragrncias humanizantes s organizaes, mas que precisa ser observada como fenmeno
histrico que traz consigo intensionalidades explcitas e implcitas.
No passado, a paisagem era predominantemente contemplativa e o seu valor era irrisrio, apenas
dos usos que dela se fazia. Hoje, com o discurso ecolgico, a paisagem e a natureza como um todo
adquiriram valor de troca que as transformaram em uma mercadoria de alto valor agregado, pois nelas
esto incorporadas no somente as memrias coletivas de uma sociedade do passado, mas a possibilidade
destas memrias serem apropriadas/contempladas por parte de uma sociedade do presente. Isto em si, d
uma outra perspectiva de valor paisagem e natureza.
Embora muitas empresas de fato desenvolvam aes de responsabilidade social, que so sempre
voluntrias, devemos lembrar que estas aes no podem ser confundidas com o cumprimento de
obrigaes exigidas pela legislao, como , por exemplo, o caso das condicionantes ambientais impostos
por rgo pblicos competentes, por ocasio dos processos de licenciamento de empreendimentos
potencialmente impactantes.
Muito do que se divulga como responsabilidade social poderia simplesmente no existir caso a
legislao no impusesse. Do ponto de vista contbil, a manuteno dos sistemas culturais e ambientais
custa muito caro e esta despesa muitas vezes tratada como uma obrigao incmoda por muitos
empreendedores do turismo. Como sada, muitas organizaes se utilizam de suas aes de compensao
ambiental (obrigao legal) para propagandear aes de responsabilidade social, o que gera no pblico

Toda atividade humana gera impactos socioambientais. No entanto, o grande desafio da sustentabilidade,
gerar modos de uso e produo da/na paisagem turstica que degrade o mnimo possvel, de modo que os benefcios
sociais desta atividade sejam sempre maiores que os impactos por ela gerados.
Joo Pessoa, outubro de 2011

89
consumidor, manipulado e acrtico, uma sensao de segurana e sentimentos de simpatia. o tpico caso
do fazer do limo, uma limonada.
O modelo econmico assumido globalmente aps a segunda grande guerra trouxe tona uma srie
de questes que pem o homem em conflito com sua prpria condio de existncia. O meio natural, cada
dia mais exaurido, requer um elevado grau de intervenes em seu favor para que os aspectos de sua
falncia no criem situaes de anti-reproduo do capital (PHILIPI JR; ROMRO & BRUNA, 2009). Por outro
lado, a imensa produo econmica dos pases centrais e emergentes exige, cada vez mais, recursos
naturais que, se no forem oferecidos em abundncia, resultaro na inoperncia de importantes
engrenagens do mundo globalizado.
Essa situao causou na dcada de 1960, uma srie de manifestaes a favor do ambiente, das
culturas locais e das identidades nacionais. O homem comum urbano comeou nesta poca, a perceber que
perdia a noo de tempo e espao na medida em que o capitalismo informacional se apropriava de seu
cotidiano.
A dcada de 1970 foi tempos de crticas e crises. A idia de preservao/conservao do ambiente
embasada em uma nova viso de crescimento econmico - o desenvolvimento sustentvel - passou a
figurar na dcada de 1980 como a grande proposta generosa do sculo XX (SCOTTO, CARVALHO &
GUIMARES, 2007). Embora pouco pragmtica, a viso de sustentabilidade teve o mrito inquestionvel de
dialogar ideologicamente com os modelos tradicionais - ps-fordistas - de desenvolvimento e deste
dilogo, boas prticas foram se consolidando em alguns pases, gerando pequenas experincias bem
interessantes de uso planejado dos recursos naturais.
Fundamentada em trs princpios bsicos (crescimento economicamente vivel, justia social e
responsabilidade ambiental), a idia de desenvolvimento sustentvel , por si s, contraditria. Como criar
estratgias promotoras de justia social (conceito to caro aos marxistas e neo-marxistas) em plena
macroestrutura produtiva do ps-guerra? possvel em pleno capitalismo informacional (era atual)
conseguir lograr programas locais regionais e nacionais de bem-estar-social sem agredir o princpio
fundamental do capitalismo: a acumulao?
Mas, se por um lado existe certa ingenuidade no discurso da sustentabilidade, no se pode ignorar
o papel civilizatrio que ele desempenhou ao longo da segunda metade do sculo passado, quando
influenciou a legislao de inmeros pases, gerando as bases de uma nova concepo de sociedade. H,
portanto, uma linha muito tnue que separa a generosidade terica do mero cinismo retrico.
No se pode esquecer das profundas desigualdades sociais, que por si s inviabilizam o grande
projeto da sustentabilidade. Este , na realidade, um discurso inalcanvel quando se pensa na grande
quantidade de excludos, como os quase dois bilhes de humanos que vivem prximos, ou abaixo da linha
da pobreza, ou seja, na misria absoluta em todo o mundo. No se pode falar em um planeta solidrio,
nem do ponto de vista social, nem ambiental. Neste sentido, o discurso da sustentabilidade no deu os
resultados esperados e nem produziu uma nova concepo de mundo.
No entanto, podemos pensar em uma outra noo de sustentabilidade, menos ambiciosa e mais
factvel, focada em escalas de ao menos pretensiosas. Podemos pensar, por exemplo, na
sustentabilidade do desenvolvimento quando engendrado escala comunitria. Dizemos isto, porque o
simples fato de existir um discurso de sustentabilidade, independente de sua efetivao global, fez com
que grandes mudanas sociais ocorressem mundo afora, em larga medida, devido a presses sociais e
organizao de grupos com voz suficiente para exigirem mudanas na relao sociedade e meio natural.
Vejamos alguns exemplos:
governos de todo o mundo tomassem atitudes importantes para proteo de reas naturais.
legislaes foram criadas para impedir a poluio excessiva e impactos ambientais graves.
a educao ambiental foi incorporada ao discurso pedaggico, provocando grande revoluo na
formao de jovens e crianas.
produtos da cultura de massa (programas de televiso, filmes em cinemas, msicas, peas de teatro,
sites de internet e outros ) foram criados para difundir a sensibilidade ambiental e isto tem contribudo para a
construo de uma nova mentalidade coletiva.
ONGs ambientalistas foram fundadas em diversos pases do mundo e vm desempenhando
importante papel nas naes onde atuam.
conferncias internacionais foram realizadas pela ONU para mobilizar as naes membro no sentido
de se engajarem na criao de polticas ambientalistas. Mesmo sem sucesso em termos concretos, a ONU
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

90
tem logrado pequenos avanos, como por exemplo, a criao de stios tombados como Patrimnios Naturais
da Humanidade pela UNESCO.
Refgios da vida selvagem foram criados em todo o mundo, como forma de assegurar que parcelas
da natureza permaneam dinmicas e produtivas, sem a interferncia direta do homem. Entre outros...

Se pensarmos nestes termos, mesmo admitindo que sustentabilidade no exista concretamente


como um atributo do processo de desenvolvimento, um adjetivo, ela existe sim como ideologia. Ela um
fato enquanto postura poltica e, sendo assim, vem logrando importantes avanos na formatao de
sociedades menos predatrias e mais crticas, ainda que a passos lentos.
CONSIDERAES FINAIS
Diante do exposto, podemos concluir que h uma grande variedade de concepes conceituais
para a paisagem. Estas noes derivam de diferentes formas de abordar seu sentido e contedo ao longo
do tempo e no seio de cada cincia que a tem como categoria de anlise. Observamos tambm que as
paisagens possuem caractersticas muito peculiares e que so estas caractersticas que justificam a
existncia de determinados usos sociais de seus sistemas naturais e culturais.
O uso, por sua vez, configura-se como delineador das funcionalidades. O turismo, quando se
apropria das paisagens, a elas atribui um conjunto de funes produtivas muito prprias, que se sobrepe
aos usos preexistentes e, ocasionalmente, pode conflitar-se com eles. Nesta perspectiva, a sustentabilidade
do turismo reside na capacidade de se planejar um modelo de uso que se harmonize ao mximo com as
demais funes.
O objetivo deste equilbrio pretendido entre os usos assegurar que o turismo seja lucrativo ao
mesmo tempo em que incentive outros dinamismos produtivos, proteja os recursos naturais existentes,
no sobrecarregue demasiadamente a infraestrutura local e se valha das peculiaridades culturais sem
fetichiz-las.
Isto no tem sido tarefa fcil, pois alm de ainda hoje no contarmos com estratgias adequadas
de planejamento no mbito das polticas pblicas, a maior parte dos governos confundem desenvolvimento
via turismo, como o aumento do fluxo, de forma que incentivam demandas massivas que, por sua natureza
constitutiva, so profundamente impactadoras dos destinos receptivos.
Precisamos rever nossas noes sobre turismo. necessrio, cada vez mais, pensarmos em fluxos
menores e modelos alternativos de turistificao, para evitarmos que as paisagens se degradem, at
porque, se estas entrarem em processos de desfigurao, certamente se desturistificar.
Conclumos defendo o modelo de turismo de base local como uma estratgia vivel e sustentvel
de funcionalizar paisagens, sobretudo quando estas so pouco densificadas.
REFERNCIAS
CASTRO, Demian Garcia. Significado do conceito de paisagem: Um debate atravs da epistemologia
da Geografia. Disponvel em http://www.pucsp.br/~diamantino/PAISAGEM.htm. Acessado em 09 de julho
de 2011.
CASTRO, In Elias de. Paisagem e turismo. de esttica, nostalgia e poltica. In: YZIGI, Eduardo
(org.). Paisagem e Turismo. So Paulo: Contexto, 2002, p.121-140.
FERRETTI, Eliane R. Turismo e meio ambiente: uma abordagem integrada. So Paulo: Roca, 2002.
MATEO RODRIGUEZ, Jos M. SILVA, Edson V. da & CAVALCANTI, Agostinho P. B. Geoecologia da
paisagem: uma viso geossistmica da anlise ambiental. Fortaleza: UFC, 2007.
MINGUEZ GARCA, Maia del Carmen. Patrimonio cultural y turismo en los Reales Sitios de la
Comunidad de Madrid y sus incidencias en el territorio. Tese (Doutorado em Geografia). 2007. Madrid:
Departamento de Geografia Humana da Universidad Complutense de Madrid, 2007.
PHILIPPI JR, Arlindo; ROMRO, Marcelo de Andrade e BRUNA, Gilda Collet (orgs.). Curso de Gesto
Ambiental. 3 ed. Barueri: Manole, 2009.
PORTUGUEZ, Anderson Pereira. Funcionalidade turstica e multifuncionalidade produtiva do espao
rural. Anais do VII Congresso Brasileiro de Turismo Rural: O turismo rural e as territorialidades na
perspectiva do campo e da cidade. Presidente Prudente: UNESP, 2010. Disponvel em Acessado em.

Joo Pessoa, outubro de 2011

91
RODRIGUES, Adyr A. B. Turismo e espao: rumo a um conhecimento transdisciplinar. 2 ed. So
Paulo: Hucitec, 1999.
SANTOS, Milton. Metamorfose do espao habitado. 4 ed. So Paulo: Hucitec, 1997.
______, A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. So Paulo: Edusp, 2002.
SCOTTO, Gabriela; CARVALHO, Isabel Cristina de Moura & GUIMARES, Leandro Belinaso.
Desenvolvimento sustentvel. Petrpolis, Vozes, 2007.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

92

A RELAO ENTRE PAISAGEM E TURISMO NA BACIA COSTEIRA DO RIO


REAL
COSTA, Boni Guimares
Prof. da SEED/SE, Mestrando em Geografia pelo NPGEO/UFS- Brasil, costaboni@hotmail.com
SANTOS, Carmem Lcia
Prof do IFS-SE, Doutoranda pelo NPGEO/UFS- Brasil, carmemls@infonet.com.br

RESUMO
O turismo uma atividade que relaciona elementos naturais e culturais das paisagens, vrios
segmentos da indstria, do comrcio, movimentando um significativo montante de capital Desde a
segunda metade do sculo XX, com as mudanas econmicas, sociais e geopolticas, principalmente com a
expanso do consumo e de servios o turismo vem transformando a paisagem em mercadoria, sofrendo
manipulaes de interesse dos atores hegemnicos, sendo uma atividade econmica que vem se
difundindo no Mundo e no Brasil, mais especificamente na Bacia Costeira do Rio Real, localizada entre os
Estados de Sergipe e Bahia, onde se encontra um esturio com uma diversidade de paisagens agradveis
aos turistas, compostas por um diversificado ecossistema, rico em espcies da flora e da fauna regional,
restingas, dunas e manguezais. Para tentar proteger toda essa variedade, o Estado criou reas de proteo
ambiental do Litoral Sul de Sergipe e a do Litoral Norte e Mangue Seco, na Bahia. O povoado Mangue Seco
(Bahia) o principal atrativo turstico de Sergipe que vem contando com investimentos privados, por outro
lado o Governo da Bahia no vem promovendo melhorias estruturais. No povoado Costa Azul alguns
grupos de empresrios internacionais pretendem construir resorts, o que poder aumentar o fluxo turstico
para a rea.
Palavras chave: Paisagem, turismo e Polticas pblicas.
1 - LOCALIZAO DA REA
A bacia do Rio Real, compondo o quadro da hidrografia dos Estados de Sergipe e Bahia com rea
total de 4.968,44 Km2 percorre vinte e dois municpios e desgua no Oceano Atlntico, juntamente com o
rio Piau entre os municpios de Jandara, Indiaroba e Estncia o seu rio principal nasce no municpio de
Ccero Dantas (Bahia).
A rea de estudo, sua zona costeira, composta pelos municpios de Jandara e Indiaroba, estando
includa nos territrios Sul Sergipano e Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte (Bahia). O seu esturio dotado
de caractersticas ambientais peculiares, com um diversificado ecossistema, rico em espcies da flora e da
fauna regional, restingas, dunas e manguezais. Para tentar proteger toda essa diversidade foram criadas as
reas de proteo ambiental do Litoral Sul de Sergipe e a do Litoral Norte e Mangue Seco, na Bahia.
2 - A PAISAGEM COMO OBJETO DO TURISMO
A paisagem pode ser definida como o domnio do visvel, o que a vista abarca, envolvendo no
apenas volumes, mas tambm cores, movimentos, odores e sons. O que pode ser visto est em constante
transformao, de acordo com diferentes momentos econmico e sociocultural vivenciado pela
humanidade (SANTOS, 1988).
Conforme argumenta Brque (1998), no sculo XIX Vidal de La Blache e Demangeon
buscaram encontrar causas que explicassem a fisionomia de uma determinada regio. Consideraram em
primeiro lugar as causas geolgicas e climticas, porm, logo se revelaram insuficientes para explicar a
paisagem, pois se a natureza das terras e a localizao das fontes de energia e de matria prima levaram a
criao de modos de ocupao e explorao do meio havia outros fatores como a cultura e a histria. A
paisagem revela o sentido da relao de uma sociedade com o seu meio ambiente, so tanto maneiras de
ser, como maneiras de ver os espaos produzidos. Para Bertrand (1972, p.2):
A paisagem no a simples adio de elementos geogrficos disparatados. , em uma determinada
poro do espao, o resultado da combinao dinmica, portanto instvel, de elementos fsicos, biolgicos e
antrpicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto nico e
indissocivel, em perptua evoluo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

93
Para Christofoletti (1999), a paisagem como um organismo complexo, feito pela associao
especfica de formas e apreendida pela anlise morfolgica. O contedo da paisagem constitudo pela
combinao de elementos materiais e de recursos naturais disponveis em um lugar, com as obras humanas
correspondendo ao uso que deles fizeram os grupos culturais que viveram nesse lugar.
Ainda para o referido autor h uma tendncia maior para as descries a respeito dos aspectos dos
elementos do quadro fsico que sobre os aspectos das atividades scio-econmicas. Em decorrncia das
razes naturalistas, torna-se compreensvel a valorizao maior para focalizar as paisagens morfolgicas
como a cobertura vegetal e, o surgimento de adjetivaes para estabelecer distines entre as paisagens
naturais e as paisagens culturais.
Dentro destas concepes de paisagem, a litornea destaca-se por uma conformao sistmica
prpria em que suas inmeras feies so partes constitutivas de uma configurao territorial que expe
unidades paisagsticas interligadas por relaes de complexidade. A dinmica do litoral regulada pela
convergncia de sistemas ambientais formados por elementos fsicos e socioeconmicos com ritmos e
intensidades diferenciados.
A zona litornea dispe de paisagens que devem ser encaradas como uma combinao entre
diversos fatores, tais como as condies climticas, variaes do nvel do mar, natureza das sequncias
geolgicas, que agem simultaneamente e formam uma poro nica no espao, um fenmeno em
constante transformao, seja natural ou social.
Dentro desta perspectiva, a paisagem uma representao, um dos motores do turismo. nela
que o turismo encontra sua manifestao e o seu mais valioso recurso para difundir a oferta turstica. A
paisagem um dos elementos fundantes do turismo, sendo considerada um notvel recurso de acordo
com a posio do observador (SAMPAIO, 2006).
Como o turismo transforma a paisagem em mercadoria, passa-se a exigir tambm um instrumental
de vendas, com marketing especializado, sofrendo manipulaes de interesse dos atores hegemnicos. As
tcnicas apropriadas pelo turismo so tambm responsveis pelo crescimento da atividade. Segundo Yzigi
(2002), o turista est predeterminado pelos modelos e imagens pr-formadas, que a mdia, a indstria
cultural e a publicidade insistem em cristalizar.
Esse instrumental nem sempre leva em conta as populaes nativas como cidads, mas como
objetos que tm o papel principal de satisfazer as necessidades dos visitantes. Assim, aos poucos elas vo
se desfazendo do seu principal meio de produo a terra vendendo-a para especuladores ou para
agentes interessados em investir em pousadas, resorts e casas de veraneio.
Cruz (2002) ressalta que o marketing criado em torno das paisagens, acaba muitas vezes, por
privilegiar determinados lugares em detrimento de outros, considerados menos atrativos, causando
problemas sociais. Alguns municpios tursticos transformam a sua paisagem de acordo com a imagem
vendida para o turista, deteriorando a cultura local. A localidade acaba por perder suas caractersticas
prprias, os turistas tornam-se alienados pela padronizao da paisagem.
3 - O TURISMO E AS POLTICAS PBLICAS NA BACIA COSTEIRA DO RIO REAL
Segundo a Organizao Mundial do Trabalho (OMT), Turismo uma modalidade de
deslocamento espacial que envolve a utilizao de algum meio de transporte e, pelo menos, um pernoite
no destino. Tal movimento motivado por negcios, congressos, lazer, etc.
Para Andrade (1995, p.38), Turismo o complexo de atividades e servios relacionados aos
deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentao, circulao de produtos tpicos, atividades
relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e entretenimento.
O turismo por ser uma atividade geoeconmica da contemporaneidade um fenmeno
econmico, poltico, social e cultural. Apresenta inmeras modalidades, envolve os espaos naturais e
produzidos, alm dos turistas, os residentes e os produtores dos servios tursticos, estando subordinado s
polticas pblicas e privadas em escala global, regional ou local.
As polticas pblicas so realizadas pelo Estado que age inicialmente, por meio da legislao,
criando limitaes, impedindo ou induzindo os usos do solo. Mediante o planejamento, busca orientar as
tendncias presentes, direcionando-as para padres sustentveis de uso. E pela gesto, os agentes estatais
buscam mediar ou intervir nos conflitos de uso existentes.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

94
Para Moraes (1999), o Estado age como produtor de espaos atravs da implantao de
equipamentos e infra-estruturas, sendo o maior agente impactante na zona costeira, promovendo
perspectivas de uso do solo ou at mesmo imobilizao ou tombamento.
Dentre os espaos mais procurados pelo turismo destacam-se as zonas litorneas, que segundo
Morais (1996, p.3) compreendem os ecossistemas formados pelas faixas praiais, cordes litorneos,
dunas, antidunas, plancie litornea, plancies fluviomarinhas, plancie de mars, esturios, zonas deltaicas
e as regies da plataforma continental interna. O litoral , assim, o geossistema que compreende a faixa
de antepraia, zona interdital, a zona de praia e ps praia, a de dunas, associando ainda a estes os tabuleiros
pr-litorneos. nessa zona litornea que vivem as comunidades de pescadores (CORIOLANO, 2004).
As polticas de turismo vm ocupando espao no mbito do planejamento e gesto, em
funo do aumento da importncia da atividade para economias locais, e com isso novos desafios na
formulao e aplicabilidade dessas polticas esto se incorporando na gesto pblica dos Estados de
Sergipe e Bahia.
O desenvolvimento das polticas tursticas em Sergipe, assim como no Brasil, relativamente
recente, pois se iniciou na dcada de 70, com suas aes mais concentradas na capital e em seu entorno,
atravs da participao de Sergipe em eventos nacionais; implantao do Programa Nacional do
Desenvolvimento do Artesanato PNDA e qualificao profissional (SANTOS 2010).
Na dcada de 80, o Governo do Estado em parceria com a Unio realizou algumas obras que
ajudaram a melhorar o turismo em Sergipe, como a construo do calado da praia de Atalaia, e das
Rodovias Jos Sarney, Ayrton Sena e Nufragos. Estas duas ltimas promoveram um melhor acesso ao
litoral sul sergipano.
Os investimentos em infra-estrutura aumentaram na dcada de 90, quando o Governo Federal
lanou o Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste (PRODETUR/NE) que tem como objetivo
principal a consolidao do Nordeste como destino turstico, idealizando aes nas reas de meio
ambiente, patrimnio histrico, desenvolvimento institucional, transportes e saneamento, a fim de
melhorar a infra-estrutura dos empreendimentos tursticos.
Segundo orientao do Programa, cada Estado nordestino deve definir suas zonas tursticas e a
partir da elaborar o PDITS, onde so definidas as aes e o montante dos investimentos necessrios, alm
de uma avaliao das aes da primeira verso do PRODETUR I.
De acordo com o PDTIS (2001) do Plo Costa dos Coqueirais/SE, zona esta que abrange todos os
municpios litorneos sergipanos, o Municpio de Indiaroba vem recebendo investimentos no turismo de
sol e praia, principalmente em infra-estrutura, a exemplo da implantao do sistema de esgotamento
sanitrio, pavimentao da SE 100 trecho Povoado Convento/Pontal, construo de uma orla e um
atracadouro em Pontal, com o objetivo de melhorar o acesso via fluvial ao Povoado de Mangue Seco. Esses
investimentos fazem parte de um projeto maior, que a interligao com a Grande Aracaju que ser
viabilizado com a construo da Ponte sobre o Rio Piau, o que ir contribuir para aumentar a dinmica
turstica.
O Povoado Pontal por ser a principal porta de entrada para Mangue Seco, sua economia est
diretamente ligada aos servios de pousadas, restaurantes, fretamento de lanchas, comercializao de
artesanatos e estacionamento de veculos dos turistas.
Alm dos investimentos do PRODETUR, a Prefeitura de Indiaroba construiu na cidade uma orla
ribeirinha com estrutura de bares e um mirante, a fim de contemplar a paisagem natural do Rio Real.
No Estado da Bahia, o planejamento da atividade turstica desenvolveu-se nos anos 60 e 70. Nesse
perodo, as estratgias se deram em torno de aes que promovem o Estado no mercado turstico nacional
e a construo de meios de hospedagem, com base na utilizao de incentivos fiscais.
Nos anos 80, assistiu-se a uma mudana na estratgia de interveno pblica. As aes se voltaram
para o mercado internacional, ao mesmo tempo que no plano interno, tentou-se uma maior interiorizao
da atividade turstica como o programa Caminhos da Bahia, a partir do qual buscou-se o desenvolvimento
do turismo em alguns municpios do Estado (CARDOSO, 2005).
Nos anos 90, o PRODETUR-BA promoveu uma descentralizao da atividade turstica. Atravs desse
programa redefiniu-se o papel da atuao pblica no setor, transferindo-se iniciativa privada a tarefa de
promoo dos meios de hospedagem e de outros empreendimentos ligados aos negcios tursticos
(restaurantes, entretenimento etc.) e limitando-se o setor pblico s aes de infra-estrutura bsica
Joo Pessoa, outubro de 2011

95
(saneamento, construo de estradas e aeroportos), as quais deveriam mostrar-se capazes de viabilizar e
atrair os novos empreendimentos privados.
A partir de 1994, seguindo recomendaes do PRODETUR, o governo da Bahia criou sete zonas
tursticas, onde a ao estatal passaria a focar suas aes, provendo-as de infra-estrutura. Uma dessas
zonas a Costa dos Coqueirais formada por municpios localizados ao norte da capital baiana (Camaari,
Conde, Entre Rios, Esplanada, Jandara, Lauro de Freitas e Mata de So Joo), considerada uma das zonas
tursticas mais procuradas do Estado, abrigando destinos nacionalmente conhecidos como a Praia do Forte
e Costa do Saupe. tambm o local onde h o maior conjunto de resorts da Amrica do Sul (SETUR/BA,
2010).
Apesar dessa zona ser importante para o turismo da Bahia em funo da cultura dos Resorts, a
partir de 1995 a zona Costa dos Coqueirais recebeu recursos do PRODETUR apenas para a implantao do
sistema de esgotamento sanitrio da Praia do Forte (PDITS, 2004). Com relao ao municpio de Jandara, a
nica obra realizada foi a construo da BA-099 na dcada de 90, que faz parte de um projeto maior de
interligao entre a Bahia e Sergipe, via litoral. Esta obra fez aumentar o fluxo turstico nos Povoados
Mangue Seco e Costa Azul, mas por falta de outras obras de infra-estrutura, como saneamento bsico e
estradas vicinais, estes locais ainda so esquecidos pelo Estado.
3.1 - IMPLANTAO DE REAS DE PROTEO AMBIENTAL (APAs)
Segundo a lei (6.902/81) que cria as APAs, em cada rea de Proteo Ambiental o poder executivo
estabelecer normas, limitando ou proibindo, dentre outras:
A realizao de obras de terraplanagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas
importarem em sensvel alterao das condies ecolgicas locais;
O exerccio de atividades capazes de provocar uma acelerada eroso das terras e/ou um acentuado
assoreamento das colees hdricas;
O Decreto n 99.274/90 foi importante para a implantao das APAs, j que determinou a funo
de cada rea de proteo ambiental ao definir a sua denominao, limites geogrficos, principais objetivos
e as proibies e restries de uso dos recursos ambientais nela contidos.
Nos anos 80 e 90 as APAs proliferaram, em funo da necessidade de ordenamento do uso e da
ocupao dos solos em regies de interesse para programas de desenvolvimento, especialmente quando
estes vinham acompanhados da instalao de infra-estrutura viria, que aceleram a ocupao e imputam
riscos ao meio ambiente.
Conforme SNUC (2000) o conceito de APA foi definido como:
Uma rea em geral extensa, com certo grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos,
estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes
humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao
e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais.

A rea de estudo est inclusa em trs APAs: a do litoral sul de Sergipe, a de Mangue Seco e a do
litoral norte da Bahia.
A APA sergipana foi transformada em Unidade de Conservao atravs do Decreto 13.468 de 22 de
janeiro de 1993, ocupa uma rea compreendida entre a foz do Rio Vaza Barris e a desembocadura do Rio
Real no municpio de Indiaroba
No municpio de Jandara BA, existem as APA de Mangue Seco (decreto n 605 de 1991), com
uma rea de 3.395 hectares e a APA do Litoral Norte (Decreto n 1.046/92 de 1992), que compreende uma
faixa litornea no Estado da Bahia de 10 km de largura e 142 km de extenso, com 142.000 ha, abrangendo
pores territoriais dos municpios de Mata de So Joo, Entre Rios, Esplanada, Conde e Jandara.
As APAs baianas foram criadas para ser uma das estratgias de conservao ambiental do
PRODETUR-BA, tendo em vista a necessidade de preservar os recursos naturais e culturais ali existentes,
pressionados pela construo dos 142 quilmetros da BA-099 (Linha Verde).
Para Andrade (2002), o processo de licitao para a construo da Linha Verde foi iniciado na
mesma data da criao da APA-LN. A Linha Verde, concluda em 1993, tornou possvel o acesso a uma
regio, at ento, relativamente preservada em seus recursos naturais e paisagsticos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

96
4 - O TURISMO NOS POVOADOS MANGUE SECO E COSTA AZUL E OS INVESTIMENTOS PRIVADOS EM
RESORTS
Atravs das paisagens de reconhecida beleza cnica dos povoados de Mangue Seco e Costa Azul,
localizados no litoral do municpio de Jandara, o turismo na Bacia Costeira do Rio Real vem sendo uma das
principais atividades econmicas, atraindo turistas locais, nacionais e internacionais (Figura 1), inserindo-se
num contexto de um turismo de sol e mar, onde a natureza apresenta-se como o principal objeto de
consumo.

Figura 1 Paisagem do Povoado Mangue Seco explorada por turistas.

Mangue Seco uma antiga vila de pescadores com 221 habitantes (IBGE, 2007) que passou a ser
mais explorada turisticamente a partir da gravao da novela Tieta, exibida pela Rede Globo de Televiso,
no final dos anos 80.
Apesar deste local ser conhecido nacionalmente, h uma infra-estrutura precria de saneamento
bsico, principalmente quanto a qualidade da gua que extrada de poos, no recebendo tratamento
adequado do rgo pblico responsvel, e distribuda atravs de um sistema de encanao abandonado
pela EMBASA que foi reaproveitado pela prpria populao.
Sua infra-estrutura turstica vem sendo ampliada pela iniciativa privada, principalmente na
construo de bares, restaurantes e pousadas localizados na faixa fluvio-marinha do Rio Real. Segundo
pesquisa de campo, grande parte desses estabelecimentos comerciais foram construdos aps a veiculao
da novela, no sendo registrados em rgos estatais. So pertencentes a moradores antigos que esto no
local h mais de 20 anos. De acordo com os resultados de entrevistas os funcionrios residem nos
municpios de Jandara (60%), Indiaroba (35%) e Estncia (5%).
Segundo os comerciantes, o fluxo turstico tem origem diversificada, sendo grande parte de Minas
Gerais, da prpria Bahia, de Sergipe e de outros pases como Dinamarca, Itlia, entre outros, sendo que no
vero (alta temporada) a chegada de turistas aumenta em mdia 70%.
Segundo o PDITS (2001), Mangue Seco o destino turstico mais procurado em Sergipe, ou seja,
apesar de estar no Estado da Bahia, sua paisagem vendida por vrias empresas operadoras de turismo
em Aracaju.
As operadoras de turismo vendem pacotes que incluem transporte Aracaju/ Estncia, alm do
passeio em escunas e catamars que diariamente promovem passeios que duram em mdia 35 minutos de
travessia entre Porto do Cavalo, no municpio de Estncia e Mangue Seco, acompanhados de guias
especializados. Segundo informaes das prprias empresas, o fluxo de turistas aumenta de forma
significativa no vero considerada uma estao de alta temporada.
Com relao oferta de transporte terrestre, oferecido aos turistas locao de bugres para
passeio nas dunas (reas de preservao permanente) que so organizados em regime de cooperativa com
o aval da Prefeitura Municipal. Esses passeios so feitos sem normas de conservao ambiental o que
interfere na dinmica elica deste local.
Joo Pessoa, outubro de 2011

97
Alm da degradao antrpica o povoado vem sofrendo com a eroso fluvio-marinha que est
promovendo o avano do Rio Real sobre Mangue Seco, comprometendo a existncia do povoado. Segundo
relatos de moradores, vrias ruas foram extintas, inclusive o cemitrio est sendo engolido.
Outro ponto turstico da rea de estudo o povoado Costa Azul que se localiza no extremo sul do
litoral do municpio de Jandara. O acesso feito atravs da BA 782, rodovia no asfaltada, que dista 20 km
at a Linha Verde (BA 099).
Os servios pblicos so ineficientes, no havendo coleta regular de lixo domstico e ausncia de
sistema de distribuio de gua. O povoado marcado pela presena da cocoicultura, da extrao artesanal
da mangaba e das casas de veraneio, que empregam os moradores locais em atividades que exigem pouca
qualificao.
Apesar da beleza da paisagem, o local ainda pouco explorado pelo turismo sendo visitado por
veranistas principalmente aos finais de semana, que usufruem de alguns bares e restaurantes feitos de
madeira, sem padronizao. Por outro lado, empresrios internacionais j anunciaram investimentos
significativos na construo de Resorts de alto padro, o que vem a confirmar o crescimento deste tipo de
empreendimento no Litoral Norte baiano.
O turismo por ser uma atividade econmica, busca sempre acumulao do capital por parte dos
grandes empresrios que esto procura de paisagens agradveis aos turistas. Em virtude disso, grupos
internacionais vm se interessando pelo litoral norte da Bahia que se destaca nacionalmente pela
quantidade significativa de Resorts, que so frequentados por turistas de alto poder aquisitivo que
geralmente passam vrios dias para descansar e jogar golfe.
Os Resorts so meios de hospedagem com configuraes espaciais elitizadas, localizadas
preferencialmente em reas naturais preservadas e, muitas vezes, distantes de reas urbanizadas.
Oferecem vrios servios, com a estratgia de reter o turista fazendo com que ele gaste seu capital ali
mesmo.
Para Coriolano (2004) visitar estes espaos transformados em espetculos, significa deleitar-se com
a beleza ou o espetculo das obras construdas, mas por outro lado, visualizar as contradies espaciais
em virtude dos investimentos do setor privado.
No Municpio de Jandara, h uma previso de vrios empreendimentos tursticos de porte
internacional (Tabela 1), mas apenas o Costa Azul Bahia Golf Resort j tem RIMA (Relatrio de Impactos
Ambientais) aprovado pela SEMA (Secretaria do Meio Ambiente da Bahia).
Tabela 1 Previso de investimentos tursticos privados para o municpio de Jandara.
Previso
Pas
de rea
Grupo
Investimento Empregos
Empreendimento
de
origem
(ha)
proprietrio previsto (US$) diretos
abertura
Fazenda Ona
Blgica
454 Inka Lodge
18.750.000
300
Costa Azul Bahia
Espanha
868 Jan/2014 Invisa
312.500.000
1.500
Golf Resort
Costa Azul Beach
Portugal
70
Dez/2012 50.000.000
120
Resort
Fonte: SETUR/BA, 2010.
Este empreendimento trata-se de um complexo turstico com 9.000.000 m2 de rea e 2,4 km de
praia com equipamentos hoteleiros, de lazer ( piscinas e quadras), casas comerciais, restaurantes, e
residenciais com usos diferenciados, com dois campos de golfe, atividade esportiva em crescimento nos
Resorts da Bahia.
Em funo da promessa do nmero de empregos, este Resort est causando na populao local
uma expectativa de melhoria de vida. Para Coriolano (2004) a implantao de um empreendimento deste
porte nem sempre traz desenvolvimento para a regio. Em muitos casos, trata-se apenas da localizao
especfica de certos investimentos ligados s economias externas e no economia local, cujos lucros so
remetidos para fora, circulando apenas em redes fechadas das cadeias hoteleiras.
Nesses espaos criados artificialmente geralmente faz-se um programa para a captao da
populao fixa, indispensvel como fora de trabalho. Invariavelmente essa populao fixada nas reas
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

98
menos nobres do ncleo turstico, em local, se possvel, no visvel para os turistas, essa no tendo acesso
aos equipamentos implementados no ncleo. Nos espaos tursticos sofisticados geralmente no h lugar
para a populao residente (RODRIGUES, 1999). Alm disso, poder haver transformao nos valores e nas
tradies, desestabilizando essas comunidades que sonham com a integrao vida moderna e o acesso
aos bens que o progresso proporciona.
Outro fator que se deve observar quanto a preservao ambiental do local durante a construo
e de funcionamento do Resort que embora a legislao e a fiscalizao sejam importantes instrumentos
para a conservao ambiental, tais mecanismos por si s so ineficientes se no forem acompanhados de
programas participativos de diagnstico, planejamento e educao ambiental.
5 - ALGUMAS CONSIDERAES A MAIS
Assim, o turismo reproduz as contradies da sociedade, mostrando que poucos espaos
constituem lcus do turismo, pois as relaes socioespaciais so seletivas e marcadas pelo signo da
dependncia e da explorao econmica. O turismo um fenmeno prprio das classes altas e da chamada
classe mdia que podem comprar lazer, mas chegou a todos os continentes, a muitos lugares perifricos,
alcanando o seu raio de ao aos locais considerados subdesenvolvidos e as classes pobres.
O turismo pode representar tanto uma maneira adicional de enriquecimento da sociedade como
tambm de decadncia da mesma, e tudo isso depende da forma como ele se constituiu enquanto
fenmeno social. Por isso deve ser estudado e discutido antes de ser aplicado pelo planejador e rgos
pblicos, pois so estes que devem fazer a mediao entre os diversos interesses que existem na rea.
Projetos que visem conservao e ao desenvolvimento social, so os mais indicados para serem
implementados.
6 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANDRADE, Jos Vicente de. Turismo: Fundamentos e dimenses. So Paulo: tica, 1995.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia fsica global: esboo metodolgico. Cadernos de Cincias da
Terra. So Paulo, v-13, 1972.
CARDOSO, Roberta C. Dimenses sociais do Turismo Sustentvel: Estudo sobre a contribuio dos
resorts de praia para o desenvolvimento das comunidades locais. Tese de doutorado em Administrao de
empresas. Escola de Administrao de Empresas de So Paulo da Fundao Getlio Vargas, 2005.
CHISTOFOLETTI, Antonio, Modelagem de Sistemas Ambientais. So Paulo, Edgard Blucher, 1999.
CORIOLANO, Luzia Neide M. Teixeira. Turismo, Territrios e sujeitos nos discursos e nas prticas
polticas. Tese (Doutorado em Geografia) NPGEO/UFS, So Cristvo, 2004.
CRUZ, R. C. A. As paisagens artificiais criadas pelo turismo. IN: YZIGI, E. Abdo (org.). Turismo e
paisagem. So Paulo: Contexto, 2002, p. 107 119.
MORAES, Antonio Carlos R. Contribuies para a Gesto da Zona Costeira do Brasil: Elementos para
uma Geografia do Litoral. So Paulo: Hucitec; Edusp, 1999.
MORAIS, J. O. Processos e Impactos ambientais em zonas costeiras in Geologia no planejamento
Ambiental. Revista de geologia. Fortaleza: V.9. p. 191-242, 1996.
PDITS Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentvel. Relatrio do Plo Costa dos
Coqueirais. Aracaju: UEE/SE Verso 2001.
RODRIGUES, Adyr Balastreri, Turismo e espao: rumo a um conhecimento transdisciplinar, 2 Ed.
Pg. 92 e 93 So Paulo: Hucitec, 1999.
SAMPAIO, Andrecksa V. Oliveira. Apreenso da paisagem a partir do turismo na chapada
Diamantina Bahia, Dissertao de Mestrado- Aracaju: UFS, 2006.
SANTOS, M. Metamorfoses do espao habitado. Ed. Hucitec. So Paulo, 1988.
SANTOS, Mary N. L. e PINTO, Josefa E. S. S. Polticas Territoriais do Turismo: Investimentos no Plo
Costa dos Coqueirais em Sergipe. In VILAR, Jos W. C. e ARAUJO, Hlio M (Coordenadores.). Territrio, Meio
Ambiente e Turismo no Litoral Sergipano. So Cristvo: Editora UFS, 2010.
YZIGI, Eduardo. Turismo: Espao, paisagem e cultura. So Paulo: Hucitec, 1996
YZIGI, Eduardo (org.). Turismo e Paisagem. So Paulo: Contexto, 2002. p. 107-119.
Joo Pessoa, outubro de 2011

99

ECOTURISMO DE BASE COMUNITRIA E EDUCAO AMBIENTAL NA


RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ESTADUAL PONTA DO
TUBARO NO RIO GRANDE DO NORTE
Carina Freire de SIQUEIRA (1); Prof. Dr. Samir Cristino de SOUZA(2).

(1)Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Av. Senador Salgado
Filho 1559, 59015-000, fone: (84) 4005-2668 E-mail: cafs_carina@hotmail.com; Estudante. Bolsista do CNPq.
(2)IFRN, Av. Senador Salgado Filho 1559, 59015-000, fone: (84) 4005-2668 E-mail: samir.souza@ifrn.edu.br;
Professor Doutor (orientador).

RESUMO
O ecoturismo de base comunitria se constitui como uma atividade de lazer, preservao e
educao ambiental. Ao longo dos anos o ecoturismo vem se destacando cada vez mais como uma
atividade de conservao de reas protegidas. A Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentvel Ponta
do Tubaro compreende as comunidades de Barreiras, Diogo Lopes, Sertozinho, Mangue Seco e Lagoa
Doce pertencentes aos municpios de Macau e Guamar, e tem como atividade econmica predominante a
pesca. A diversidade de experincias educativas com o ambiente que os visitantes podem ter ao conhecer a
reserva pode ser considerado um dos maiores objetivos de uma visita a essa regio, o que pode trazer
reflexos diretos para a conservao da biodiversidade no contexto especfico do ecoturismo. O objetivo
deste trabalho apresentar um modelo de turismo, denominado ecoturismo de base comunitria, que visa
promover proteo, a sustentabilidade e a educao ambiental por meio de visitas reserva para
conhecer o lugar e seus ecossistemas ricos em biodiversidade e cultura, adquirindo novos conhecimentos e
novas atitudes para a preservao do meio ambiente. O mtodo utilizado constituiu-se de anlise crtica de
textos a partir de pesquisa bibliogrfica e entrevista com a comunidade local. O resultado esperado se
configura como uma proposta de ecoturismo que tem como principal funo a educao ambiental e
cientfica, a sustentabilidade da comunidade local, a preservao dos recursos naturais e a
responsabilidade socioambiental.
Palavras-chave: Ecoturismo. Educao. Comunidades locais. Educao Ambiental.
INTRODUO
O turismo uma atividade que vive de novidades e da diversidade. No campo da conservao da
natureza, o ecoturismo ocupa local de destaque. um dos mais sugeridos dentre os negcios
ambientalmente corretos listados para reas protegidas, sejam unidades de conservao legalmente
estabelecidas, ou sem reconhecimento legal, mas protegidas por outros mecanismos, como algumas
tradies locais.
O ecoturismo se constitui uma atividade com potencial de abarcar integralmente diversas
atividades de lazer, preservao e educao ambiental. Assim, ao longo dos anos o ecoturismo vem se
destacando cada vez mais como uma atividade de conservao de reas protegidas e sua maior riqueza
consiste nas pessoas que promovem, planejam e executam o ecoturismo responsvel e educativo,
principalmente, quando so as comunidades seus protagonistas.
Aumentar a diversidade de experincias com o ambiente que os visitantes podem ter em um
destino ecoturstico pode ser considerado um dos maiores objetivos de uma viagem nesse segmento. Isso
pode trazer reflexos diretos para a conservao da biodiversidade no contexto especfico do ecoturismo. O
ecoturista, ento, seria brindado com a integrao das vises de natureza local a partir dos conhecimentos
adquiridos.
O turismo que no se firmar em bases educativas, de conservao da natureza e das culturas est
condenado a desaparecer. Atualmente, os maiores exigentes so, alm dos turistas, os prprios
investidores que sabem que somente vendero seus pacotes se forem reconhecidos nacional e
internacionalmente, pelos selos de conservao ambiental.
Os princpios bsicos exigidos, atualmente, para qualquer tipo de turismo so: a proteo, a
conservao e a preservao dos recursos naturais; a preservao dos hbitos e costumes da sociedade
local; a incluso da populao local nos processos de planejamento e execuo do turismo, a interiorizao
das atividades e das parcerias.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

100
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Estadual Ponta do Tubaro pretende-se desenvolver
essa modalidade de ecoturismo devido s ameaas de implantao de grandes empresas interessadas em
seu potencial econmico, tanto pelo aspecto turstico quanto pelo desenvolvimento de outras atividades
como a carcinicultura, que ocupa largas faixas de restinga e dunas e que representavam graves ameaas
aos ecossistemas da regio.
A reserva Estadual Ponta do Tubaro formada pelas comunidades de Barreiras, Diogo Lopes,
Sertozinho, Mangue Seco e Lagoa Doce, pertencentes aos municpios de Macau e Guamar e tem como
atividade econmica predominante a pesca.
Portanto, objetivo deste trabalho apresentar uma proposta de turismo denominado ecoturismo
de base comunitria que visa promover a proteo, a sustentabilidade ambiental e a educao ambiental e
cientfica por meio de visitas Reserva Ponta do Tubaro para conhecer o lugar e seus ecossistemas ricos
em biodiversidade e cultura, em que a comunidade local ser a principal protagonista da atividade turstica.
1 ECOTURISMO DE BASE COMUNITRIA
A atividade turstica ao longo dos anos tem crescido e se desenvolvido de diversas formas, uma
delas, o ecoturismo tem se destacado como uma atividade de relao direta com a natureza o que gera
mltiplas formas de compreenso de suas prticas.
Entende-se o ecoturismo como uma atividade turstica que tem um profundo compromisso com o
meio ambiente, que se caracteriza pelo aspecto da proteo, respeito, segurana, e que exige de quem est
envolvido um olhar mais cuidadoso e consciente, que considere a relao do homem com a natureza to
importante quanto necessria para a vida e a conservao dos ecossistemas, da cultura local e da
sociedade em geral.
No Brasil foi criado em 1994 um grupo de trabalho interministerial para pensar e discutir o
ecoturismo e apresentar um conceito que apontasse as diretrizes para a poltica nacional de ecoturismo,
que foi assinada pelo IBAMA e pela EMBRATUR, o seguinte: Trata-se de um segmento da atividade
turstica que utiliza, de forma sustentvel, o patrimnio natural e cultural, incentiva sua conservao e
busca a formao de uma conscincia ambientalista atravs da interpretao do ambiente, promovendo o
bem-estar das populaes envolvidas.
Outra definio de ecoturismo a da Sociedade de Ecoturismo que define o ecoturismo como a
viagem responsvel a reas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da
populao local (HAWKINS apud MACHADO, 2001, p. 27).

Assim, surge uma nova postura no tratamento dado ao ambiente natural pela atividade turstica
que a de usufruir seus benefcios e, ao mesmo tempo, garantir sua sobrevivncia para as futuras
geraes.
Devemos, tambm, com a atividade turstica considerar a necessidade de manuteno dos
potenciais naturais do mundo, para podermos olhar o meio ambiente como o grande gerador da vida,
responsvel pelos processos naturais de formao de solos, da purificao do ar e gua, fundamentais para
nossa manuteno e da diversidade de espcies. Compreendendo que a natureza tem seus prprios
limites, que muitas vezes no satisfaz as nossas expectativas de consumo de seus recursos naturais.
Um dos grandes desafios do ecoturismo estimular um novo comportamento do turista diante do
espao natural, que impea a destruio dos locais de visitao. (MACHADO, 2005). Por isso que o
ecoturismo a ser pensado e desenvolvido deve, obrigatoriamente, focalizar a integrao de valores
ambientais, culturais, sociais e econmicos, considerando o bem-estar das pessoas envolvidas no processo,
alm de buscar a cidadania ecolgica inserida na expectativa de uma qualidade de vida melhor
O ecoturismo tambm pode ser considerado como um meio importante para mitigar alguns
problemas ambientais e contribui com mudanas individuais e coletivas para reverter destruio
existente e promover uma nova relao do ser humano com o espao natural onde atua.
Assim, os recursos naturais existentes so fundamentais para a organizao de um produto
turstico e devem ser considerados a matria-prima a ser oferecida ao visitante. O cuidado com a
manuteno do ambiente deve ser o centro de toda ao, uma vez que ser a garantia da sobrevivncia do
projeto. (MACHADO, 2005, p. 39).

Joo Pessoa, outubro de 2011

101
O contato do turista com a natureza dever ser pensado sempre de maneira a garantir o menor
impacto possvel e ao mesmo tempo atender as suas expectativas. Nesse sentido, o uso do potencial
natural jamais poder ser explorado alm da sua capacidade de manejo. Deve-se, tambm, monitorar
regularmente os impactos gerados pela atividade visando prevenir problemas futuros.
Nessa perspectiva, durante a implantao do projeto de ecoturismo educativo na Reserva Estadual
Ponta do tubaro deve-se manter o compromisso com um turismo consciente e responsvel, que conduz
os visitantes a compreender a importncia da natureza e de seus ecossistemas, proporcionando uma
integrao entre o ambiente e o visitante com o objetivo de sensibilizar para preservar.
A Reserva consiste em uma rea natural que abriga populaes tradicionais. O seu objetivo
concentra-se na preservao da natureza, assegurando condies e meios necessrios para a reproduo e
a melhoria da qualidade de vida dos seus moradores, com base em sistemas sustentveis de explorao
dos recursos naturais.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentvel (RDS) de domnio pblico, e a visitao permitida e
incentivada, desde que seja compatvel com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de
Manejo da rea. Assim, um projeto de ecoturismo, tambm deve ter em vista no s a preocupao
ambiental, mas tambm com outros aspectos importantes, tais como: a distribuio de renda, a criao de
empregos e as possibilidades de manuteno e sustentabilidade da atividade turstica, tendo em vista gerar
oportunidades de crescimento scio-econmico em regies cujo potencial turstico ainda pouco ou mal
utilizado; alm de promover a cooperao entre todos os grupos envolvidos com esse setor: organizaes
da sociedade, instncias do governo estadual e municipal, empresrios, instituies de ensino, turistas e
principalmente a comunidade.
Criam-se, assim, produtos ecologicamente corretos, que promovem um desenvolvimento baseado
na comunidade e procuram amenizar conflitos histricos no uso das reas naturais. importante ressaltar,
tambm, que a massificao do ecoturismo se constitui um grande risco de uma prtica ainda mais
perigosa para o ambiente do que a promovida at ento pelo turismo tradicional, pois utiliza como
principal fator de atrao o recurso natural disponvel, em geral extremamente frgil, o que pode se torna
um problema maior a ser resolvido.
Portanto, como qualquer atividade antrpica, o ecoturismo tambm pode ser um grande gerador
de impactos, capaz de destruir em pouco tempo o que poderia servir como atrao durante um perodo
indeterminado. Assim, a atividade turstica necessita de planejamento correto, capaz de ordenar as aes
de investidores, visitantes, condutores e gestores das reas naturais.
O ecoturismo de base comunitria pode ser definido como uma atividade que busca o encontro do
homem com o ambiente natural e a cultura local, atravs de conceitos de controle de impactos e
desenvolvimento sustentvel, frutos de um planejamento resultante da integrao entre comunidade e
promotores da atividade turstica. Com a conscincia de que o nosso bem maior o meio ambiente, as
decises sobre como deve ser usado esse patrimnio precisam ser tomadas de maneira pblica e
negociada com os diversos atores envolvidos na ao. (MACHADO, 2005).
Pode-se dizer que o ecoturismo de base comunitria tem a misso de formar ecoturistas que, por
princpio, so visitantes conscientizados e habilitados a freqentar reas sensveis e que necessitam ser
conduzidos pelos habitantes locais, de maneira adequada, para o perfeito aproveitamento de sua viagem
sem causar danos ao ecossistema. Tendo em vista que o respeito pela cultura local, por suas manifestaes
e crenas e o cuidado no uso do patrimnio oferecido e a constante vigilncia no trato com o ambiente
natural orientam a viagem do ecoturista, e isso o diferencia de um ecoturista tradicional.
No ecoturismo de base comunitria o ecoturista sabe que est sujeito a regras e a condies
preestabelecidas em sua viagem; compreende que suas atividades precisam ser condizentes com os
objetivos determinados para a rea. A visitao passa, assim a ser instrumento de fomentao da
conservao dos recursos naturais e culturais da comunidade.
A responsabilidade pela manuteno dos espaos a serem ofertados na atividade turstica da
comunidade local, ONGs ligadas preservao da natureza, associaes de moradores, instituies
privadas e gestores municipais e estaduais. E no est exclusivamente relacionada chegada de um
nmero maior ou menor de turistas e, sim, capacidade de organizao desse fluxo por parte daqueles que
assumem a gesto desses destinos.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

102
O planejamento dirigido ordenao da visitao em reas naturais deve focar o uso dos valores
culturais da comunidade e envolver os atores locais durante todo o processo, oferecendo um produto
turstico capaz de alimenta o visitante com vivencias e informaes aprofundadas sobre os ecossistemas
locais e a formao cultural da regio.
O ecoturismo deve envolver aes capazes de garantir, de um lado, o sucesso do empreendimento
como gerador econmico e, de outro, a sobrevivncia do espao onde este ocorre. O seu compromisso
organizar um turismo capaz de promover o desenvolvimento dentro de critrios ambientais que garantam
a manuteno de sua biodiversidade. Na realidade, a proteo do ambiente natural e a promoo de um
desenvolvimento mais amplo so questes interligadas: para garantir os recursos que sustentam o
desenvolvimento, necessrio equilibrar as aes geradoras do crescimento econmico.
Por isso, no ecoturismo de base comunitria a conscincia ecolgica deve ser demonstrada pelo
agente de viagens, pelo operador da visita, pelo cuidado na manuteno do local visitado e pelo
desenvolvimento partilhado com a comunidade. Os agentes envolvidos devem estar perfeitamente
inseridos nesse conceito, relacionando a atividade turstica a uma rede organizada na defesa do patrimnio
natural (ver figura1).

Figura 1: Ecoturismo de Base Comunitria


Fonte: Machado, 2005. Adaptado.
compreenso do empreendedor na manuteno do espao natural preciso aliar a possibilidade
de sobrevivncia de seu negcio, o cuidado com o espao onde se insere do ponto de vista ambiental e
cultural, a formao de uma cultura ecolgica e o desenvolvimento a ser legado a comunidade a aos grupos
envolvidos no processo.
Assim, no ecoturismo de base comunitria podemos eleger alguns critrios bsicos que o
identificaro como um produto turstico preocupado com as questes ambientais:
Est localizado em uma rea natural importante e expressiva do ponto de vista de raridade,
endemismo ou beleza cnica, ou seja, deve ter um nvel de atratividade capaz de despertar o interesse de
grupos variados, possibilitando a promoo da sustentabilidade dos projetos;
Ter uma organizao participativa, que leva em conta o envolvimento da comunidade local, como
protagonista do programa. Esse envolvimento o cerne do projeto, uma vez que busca as solues, para
possveis dificuldades presentes e futuras quanto administrao do projeto, na diviso de tarefas e
responsabilidades;
Promover a utilizao do espao natural dentro da preocupao de gerar impactos reduzidos,
atravs de um zoneamento adequado, garantindo sua sobrevivncia no futuro. Trata-se do ponto
fundamental para o ecoturismo de base comunitria, capaz de promover programas sustentveis e
possibilitar a variabilidade de investimentos financeiros;
Despertar a preocupao e o cuidado com o ambiente natural, a cultura local, servindo esta como
aliada da qualidade do produto oferecido. O ecoturismo de base comunitria deve trabalhar pensando
constantemente no meio ambiental e na cultura. Assim, uma no pode ser negligenciada em benefcio da
outra;

Joo Pessoa, outubro de 2011

103
Participar ativamente nas aes em rede atenta s questes ecolgicas locais, possibilitando o uso
de recursos alternativos em seus empreendimentos;
Promover experincias ecolgicas enriquecedoras aos visitantes seja atravs de passeios,
comentrios, observaes, pesquisas ou treinamentos. Deve-se, tambm, promover experincias
significativas para o visitante que busca satisfazer seus desejos, por meio de atividades culturais e
ambientais agradveis para o ecoturista.
Portanto, a comunidade local deve participar ativamente em todo o processo, discutindo as aes,
propondo solues e envolvendo-se diretamente na manuteno dessas reas. Assim, devemos entender
a utilizao dos recursos naturais como algo que ter interferncia direta na vida da comunidade e de
todos aqueles que, por algum motivo, utilizam essa rea. (MACHADO, 2005).
2 EDUCAO AMBIENTAL
Os modelos atuais de desenvolvimento nas sociedades contemporneas no encaram o meio
ambiente como o principal fornecedor de recursos naturais e receptor dos resduos oriundos das atividades
humanas e nem contemplam o espao como o lugar onde se do as interaes entre homem e natureza.
Por intermdio da Educao Ambiental possvel compreender a importncia da interdependncia
social, poltica e ecolgica, adquirindo novos conhecimentos e novas atitudes para a preservao do meio
ambiente. Ela surge como elemento essencial para o combate crise ambiental no mundo, devido
urgncia do homem de reordenar suas prioridades.
A Educao Ambiental configura-se um verdadeiro desafio para todos os cidados. Ela deve, de
certa maneira, possibilitar a realfabetizao em relao ao meio ambiente e tudo que o compe. A situao
atual exige um novo reaprender, principalmente no que concerne ao consumismo em relao natureza.
O exerccio da cidadania possibilitou a participao da sociedade civil em decises fundamentais
para a populao.
Orientada para a mudana de comportamentos considerados como predatrios, a educao
ambiental est sendo chamada de educao para a cidadania, a qual prope que as questes ambientais
sejam tratadas como componentes da cultura cvica dos direitos e dos deveres dos cidados. Dessa forma,
de grande importncia que a comunidade seja bem informada sobre os problemas decorrentes da
degradao do meio ambiente, facilitando uma real avaliao econmica das atividades que vm sendo
desenvolvidas, uma vez que se conheceriam melhor os benefcios gerados pelos bens ambientais e quanto
do bem-estar se poderia perder com o seu desaparecimento. Deve ser ressaltada a responsabilidade da
comunidade com a manuteno dos recursos naturais e com o reconhecimento de que todo programa que
vise a promover o desenvolvimento sustentvel deve ter apoio da comunidade, a fim de que seja efetivo.
Revela-se essencial que a coletividade, assim como os outros agentes de seu desenvolvimento,
contribua igualmente para a proteo dos atrativos naturais que estimulam o afluxo dos turistas. Para isso,
essas comunidades devem ser alfabetizadas ecologicamente e sensibilizadas scio-ambientalmente. Essa
a tarefa da EA no processo de gesto turstica.
Segundo (MATHEUS, MORAES E CAFFAGNI, 2005), a finalidade da Educao Ambiental , portanto,
a busca por mudanas de atitudes e comportamentos que passam obrigatoriamente por uma
transformao interior do ser humano.
A experincia de ecoturismo pode ser uma das mais ricas em potencialidades para a realizao dos
princpios da educao: ativar uma energia mental totalmente nova e levar o visitante a experimentar, a
partir da possibilidade e do estmulo criatividade e afetividade, novos sentimentos capazes de dar
origem a novos pensamentos e, assim, a novas possibilidades de compatibilizao e harmonizao da
presena humana no planeta. (NEIMAN; MENDONA, 2005, p. 67).
Essa modalidade de educao nasce com o dever de ajudar a solucionar os problemas ambientais,
preparando os indivduos para uma atuao mais compreensiva e responsvel em relao ao mundo em que
vivemos.

3 CONSIDERAES FINAIS
A Proposta do ecoturismo de base comunitria e educao ambiental pretende ser uma atividade
comprometida com dois aspectos importantes na formao do ser humano: o desenvolvimento do
conhecimento cientfico contextualizado dos ecossistemas e a capacidade de socializao e compromisso
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

104
com a preservao do meio ambiente, incentivando os visitantes e comunidade local responsabilidade
social e ambiental.
A educao ambiental constitui-se uma importante ferramenta de conscientizao ambiental para
as comunidades da RDSEPT e dos visitantes.
Pode-se aprender, tambm, sobre os diversos ecossistemas que compem a Reserva, bem como a
geomorfologia do local onde os organismos vivem e a metodologia com que se registram os fatores do
meio fsico e da relao entre a comunidade humana, a cultura e o ecossistema local. Podemos tambm
refletir acerca dos sentimentos e percepes dos alunos em relao ao meio ambiente estudado e ao uso
que feito do espao geogrfico.
Todos esses temas so assuntos possveis que podem ser abordados em uma visita a uma reserva
ou rea de proteo ambiental. Entretanto, esses objetivos devem ser definidos durante o planejamento e
preparao da visita rea para que os profissionais responsveis possam preparar a viagem de forma a
atender a todas as expectativas. Uma vez que h uma gama muito grande de coisas interessantes que
podem ser feitas em um estudo do meio e o tempo disponvel par isso pode ser definido pelo grupo.
Assim, no ecoturismo de base comunitria alm da equipe promotora da visita a prpria
comunidade participa do processo como parceiros fundamentais no desenvolvimento dos conhecimentos
dos ecossistemas locais, na organizao da infraestrutura da visita e colaborando em todo o processo de
aprendizagem.
REFERNCIAS
MACHADO, lvaro. Ecoturismo: um produto vivel. Experincia do Rio Grande do Sul. Rio de
Janeiro: SENAC, 2005.
PIRES, Paulo dos Santos. Dimenses do Ecoturismo. 2. ed. So Paulo: SENAC, 2002.
NEIMAN, Zysman (Org.). Meio ambiente, educao e ecoturismo. So Paulo: Manole, 2002.
BARRETTO, Margarita; TAMANINI, Elizabete. Redescobrindo a Ecologia no Turismo. Nematur, 2000.
MATHEUS, Carlos Eduardo; MORAES, America Jacintha; CAFFAGNI, Carla Wanessa do Amaral.
Educao Ambiental para o Turismo Sustentvel. RIMA, 2005.
SILVA, Luis Ribeiro da. RDSEPT: Criao, Desafios e Aes Pedaggicas.2006.

Joo Pessoa, outubro de 2011

105

PENSANDO UM CONCEITO DE PAISAGEM: POR OUTRO OLHAR SOBRE O


ESPAO E SUA INTERFACE COM A INFORMAO
Carlos Xavier de Azevedo Netto
Arquelogo, docente do PPGCI/UFPB, coordenador do NDIHR/UFPB, bolsista de produtividade de pesquisa do CNPq

RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo discutir e entender como se d a relao entre o homem,
enquanto indivduo ou grupo, com seu o meio, considerado como espao, incorporando e centrando na
discusso a dimenso cultural, inerente ao universo humano. Considerando o espao manipulado e
significado pelo homem enquanto paisagem.
Palavras-chave: paisagem, simetria, perspectivismo, produto cultural
INTRODUO
Relao do homem com o meio ambiente tem ocupado as atenes dos governos, das instituies
e dos indivduos. As questes relacionadas aos esforos de preservao do meio ambiente e minimizao
das agresses ambientais levantam uma gama de argumentos, srios, estruturados e fundamentados,
acerca dessas necessidades. Mas o elemento de maior constncia nessas argumentaes est direcionada a
presena e papel do homem em sua relao com o meio. Todas as formas de explanao trazem a
preservao ambiental como uma necessidade de sobrevivncia do homem, mas centrada em seus
aspectos fsicos/biolgicos, mas esquece que o homem um ser inserido, criador e criatura, na cultura,
seno que essa dimenso cultural que a definidora da prpria noo de humanidade, como foi explicitado
por Mithen (2002).
Considerando a defasagem nas discusses ambientais, centradas em questes fsico-biolgicas,
necessrio incorporar as questes culturais e incorporando o conceito de paisagem para sua
instrumentao. Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir e entender como se d a relao
entre o homem, enquanto indivduo ou grupo, com seu o meio, considerado como espao, incorporando e
centrando na discusso a dimenso cultural, inerente ao universo humano. Considerando o espao
manipulado e significado pelo homem enquanto paisagem.
UMA CONCEITUAO DE CULTURA
No que diz respeito ao conceito de cultura, que em sua polissemia, tem surtido alguns usos
inadequados, quer por carregar certo grau de determinismo ou por apresentar-se hermeticamente
delimitado no seu emprego pelos vrios campos do conhecimento e cientistas sociais que utilizaram o
termo. Em caminho histrico, o conceito de cultura chegou a ser renegado a um plano acessrio dos
estudos humanstico, conforme demonstra Cuche (2002), justamente pela falta de sua aplicabilidade a
situaes determinadas e variadas, no tempo e no espao.
Mas no desenvolvimento dos estudos sobre as variadas culturas e seus contatos e conflitos, onde
se destacam as questes de aculturao, dinmica cultural, entre outros temas, comea surgir uma
recuperao terico-metodolgica do conceito de cultura. O conceito passa a ser um instrumento para
visualizar as teias de significado (GEERTZ, 1978) na iterao dos indivduos de um grupo. Nesse processo de
recuperao:
A cultura compreendida a partir de ento como um conjunto dinmico mais u menos homogneo.
Os elementos que compe uma cultura jamais so integrados uns aos outros pois provem de fontes diversas
no espao e no tempo. Em outras palavras, h um jogo no sistema, especialmente porque se trata de um
sistema extremamente complexo. Este jogo est no interstcio no qual a liberdade dos indivduos e dos
grupos se instala para manipular a cultura. (CUCHE, 2002, p. 140)

Essa relao entre o bem e a atribuio cultural que se faz dele traz a tona questo da
reflexividade entre as prticas de discurso e memria que marcam os grupos humanos, que marcada com
o aparecimento da escrita, como abordado por Duarte (2003, p.307), quando coloca que:
Essa separao, esse distanciamento entre os recursos objetivados de memria e a experincia
vivida de rememorao implicou, na verdade, duas linhas de desenvolvimento paralelas: se a desvitalizao e
dessensibilizao dos suportes ameaa a integridade vivencial da cultura (inclusive servindo diretamente as
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

106
diferenciaes sociais, decorrentes da emergncia das estruturas estatais, de que so, s vezes, consideradas
alguns dos mecanismos ativos), enseja por outro lado uma autonominao virtual dos processos de
racionalizao do pensamento.

Quando se aborda a cultura a partir de sua dimenso estruturante e estruturada, pode-se observar
a ao de simetria, onde o ator da cultura e o seu produto assumem atitudes, tem vida ativa e, pelo menos,
quase equivalente, como foi colocado por Latour (1994), quando prope a existncia tanto dos atores
como dos actantes. Essa equivalncia entre sujeito e coisas est bem documentada e discutida, tambm
por Latour (2005), quando trata da relao entre Pasteur, o fungo e o microscpio, como determinante de
toda a teoria desenvolvida. Outra faceta que se deve considerar diz respeito as formas abordar esse
fenmeno, j que indivduo, e o grupo por conseguinte, est imerso dentro do tecido cultural que eles
mesmos confeccionaram, ento sua relao com o mundo passa pela perspectiva que a sua cultura
permite, ou seja, as forma com que so construdas as cosmologias especficas, como foi discutido por
Castro (2002) sob a denominao de perspectivismo.
Entendendo que o universo que o homem est inserido e modela de natureza simblica
(CASSIRER, 1977), j que o assentamento de um determinado grupo no se d em funo de determinantes
da natureza de sua sobrevivncia, mas antes, pelos atributos ideolgicos e simblicos que delimitam a ao
destas populaes. Assim, para poder embasar uma interpretao sobre o que est disposto no contexto
arqueolgico, deve-se observar a relao entre os elementos que so observados dentro das composies
arqueolgicas, a saber: elementos da cultura material (os artefatos), elementos da rea de assentamento
do stio e o ambiente de ocorrncia dessas relaes. Considerando como uma relao de mediao de
simetria entre os elementos que compe o stio arqueolgico, j que seu entendimento s pode ser
interpretado quando se estabelece essa relao entre os elementos e com o prprio processo de
recuperao da informao, como coloca Witmore (2005)
On the ground the human being is but one of a multiplicity of entities. So in the course of the
excavation process the prime mover of an action is a distributed and nested series of practices whose sum
may be possible to add up but only if we respect the mediating roles of all the participants in the series
(Latour 1999, 181). Here, the notion of mediation refers to the multiple ways humans and non-humans
swap properties in the process of moving toward a goal, a possibility, an outcomesay excavating densely
packed wall collapse to get to a floor level.

ESPAO E TERRITRIO
A categoria espao est presente no cotidiano humano desde o seu surgimento, j que se trata de
uma dimenso existencial fundamental de nossa espcie, sendo objeto de estudo da filosofia e das
cincias, desde Lao-Ts e Plato, at os dias atuais (NAVARRO, 2007). Dentro dessa perspectiva, a
existencialidade dessa relao se d mediante a necessidade dos indivduos e seus grupos de interagir com
o ambiente que os rodeia, como forma de organizar e dar sentido ao mundo a volta. Essa premissa se d
quando se:
Observa que la mayor parte de las acciones humanas encierran un aspecto espacial entendindose
por ello que los objetos orientadores estn distribuidos segn relaciones espaciales, por ejemplo, interiorexterior, lejos-cerca, separado-unido. Luego, el ser humano para poder llevar a cabo sus intenciones debe
comprender las relaciones espaciales y unificarlas en un concepto espacial. Sin embargo, argumenta que el
espacio no es una categora particular de orientacin, sino un aspecto de la orientacin cualquiera.
(NAVARRO, 2007, p.04)

A aproximao do espao, enquanto entidade fsica do mundo, do universo cultural humano vai
indicar a importncia do conceito de percepo. A incluso da percepo como elo fundante da relao do
homem com o espao, indica a necessidade de utilizao da noo de perspectivismo (CASTRO, 2002), j
que a relao em si est mediada por cada cultura em particular. atravs da percepo que o homem
possibilita a criao de um sistema de orientao concreta que permite a sua interao, que se do atravs
dos mecanismos de percepo desenvolvidos em cada cultura particular (NAVARRO, 2007). Com essa
sistematizao, especfica para cada formao cultural particular, o reconhecimento do espao leva a uma
delimitao do mesmo, dai o surgimento dos territrios. Assim:

Joo Pessoa, outubro de 2011

107
los patrones culturales de diferentes sociedades ofrecen diferentes significados por los cuales las
percepciones son desarrolladas, refinadas y ordenadas, es decir los conceptos espaciales dependen de los
contextos especficos intencionales propuestos por una determinada cultura.
Como se puede comprobar despus de este recorrido por los distintos mbitos en los que se
reflexiona sobre el concepto de espacio, ste h pasado de ser una nocin con un nico significado (lugar,
espacio tridimensional...), a valorarse de forma multidimensional, considerando tanto su concepcin como
matriz fsica como la percepcin que el ser humano tiene sobre l y el significado que lleva implcito. Este
espacio multidimensional est directamente relacionado con el patrn de racionalidad (lo que Lvi- Strauss,
1973, llama pensamiento) de la sociedad que lo genera y vive, siendo adems la arquitectura el medio ms
evidente de concretar los conceptos espaciales de esta racionalidad. (NAVARRO, 2007, p. 08)

A noo de territrio sempre norteada pela delimitao de espaos, que se efetiva em uma esfera
de jogo de poder, entre elementos de uma comunidade e seus membros, com a outorga desse poder de
delimitar, e ser reconhecida, uma determinada territorialidade, como indicado por Bordieu (1989). Nesta
delimitao entra em cena a aproximao feita por Bordieu (1989) entre identidades regionais e tnicas,
que esto intimamente ligadas propriedade territorial, enquanto signos originrios, que so referenciados
pelo lugar, com seus sinais duradouros, que se vinculam como produtoras da identidade do grupo. Isto
porque as regies, paisagens ou territrios so produtos histrica e culturalmente determinados.
Assim, o lugar aparece permeado de signos da identidade, e introduz, a partir do poder de
classificao, uma descontinuidade scio-cultural em uma continuidade dada como natural. Este ponto
levanta a questo do aparecimento de fronteiras entre territrios, que se mantm subjetivadas dentro de
classificaes particulares, j que:
Ningum poderia hoje sustentar que existem critrios capazes de fundamentar classificaes
naturais em regies naturais, separadas por fronteiras naturais. A fronteira nunca mais do que uma
diviso que se atribuir maio ou menor fundamento na realidade segundo os elementos que ela rene,
tenham entre si semelhanas mais ou menos numerosas e mais ou menos fortes (dando-se por entendido
que se pode discutir sempre a cerca dos limites e variaes entre os elementos no idnticos que a
taxonomia trata como semelhantes). (BORDIEU, 1989, p. 114)

Esta relativizao se d porque no curso da delimitao de fronteiras, ou de territrios, possui uma


origem que:
[...] social de parte a parte e as classificaes mais naturais apiam-se em caractersticas que em
nada tm de natural e que so, em grande parte, produto de uma imposio arbitrria, quer dizer, de um
estado anterior das relaes de fora no campo das lutas pela delimitao legtima. (BORDIEU, 1989, p 155)

Assim, esse ambiente, quando se torna socializado, passa a uma dualidade em que considerado
como uma construo social, ao mesmo tempo, que em determinados momentos constri uma
determinada sociedade. Com isso, essa relao entre a paisagem e o lugar torna-se estreita, com a
primeira, passando pelo nvel da escala espacial a ser adotada, podendo ser considerado dentro da esfera
do territrio de unidade poltica, uma cidade e etc. Podendo-se indicar que o lugar passa a ser um ponto
especfico dentro do territrio.
Do ponto de vista desta proposta de conceituao, que procura identificar e entender o
comportamento do homem atravs dos vestgios deixados no espao e no tempo possvel se visualizar a
distribuio de determinados traos da cultura material que possam ser teis para a inferncia de
territorialidade. Pelos padres de ocupao, com referncia Central Place Theory, pode-se:
The first use we will make of settlement pattern information is to identify the social and political
territories around centers, in order to establish the political organization of landscape. [...] It assumes that the
sites in given region will fall neatly into series categories according variations in site size. All the primary
center should be in one size categories, all the secondary centers in the next, etc. (RENFREW; BAHN, 2004,
0P. 182)

Com isso, atravs dos padres de assentamento, dos vrios grupos humanos, que se torna
possvel identificar um determinado territrio que se organize a volta de um centro, permitindo recuperar
elementos para uma eventual reconstituio da ordem poltica vigente no estabelecimento de um
territrio, como foi apresentado e discutido por Azevedo Netto; Kraisch; Rosa (2007). O que pode ser
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

108
exemplificado, em estudos de arte rupestre pr-histrica, nos trabalhos de Williams (1985), para
ocorrncias na Guianas, e de Corra (1984), para ocorrncias na bacia do Rio Uatum, na Amaznia, em
que a noo de espao assume contornos mais restritos de territrio, visto que ocorre um processo de
sinalizao de diferentes nichos em um mesmo ambiente, ou mesmo em ambientes diferentes, denotando
um com figurao de territorialidade. Assim, pode-se considerar:
It is useful to make a distinction between spaces and places. Spaces are fairly undifferentiated
areas which nevertheless provide the general character, texture and context f place, a specific, defined
topographical location at which human is activity is focused (Tilley, 1994, apud RENFREW; BAHN, 2004, p.
182)

INFORMAO ENQUANTO PRODUTO CULTURAL


A informao est intimamente relacionada a aspectos sociais da vida humana, j que, como foi
apontado por Capurro (2003), estando, no momento, inserido em um paradigma social, onde a partir dos
aspectos tecnolgicos e cognitivos da informao procura chegar s prticas sociais relacionadas a
produo, tratamento e consumo da informao. Isto porque a multiplicidade de contornos que o
fenmeno informacional vem assumindo, conforme demonstrado por Pinheiro (1997), tende a coloc-lo
em torno do plo scio-cultural, percebendo-se uma forte tendncia a ver a Informao como fenmeno
social, ligado s prticas e s aes sociais, como foi observado por Pinheiro & Loureiro (1995). Assim,
pode-se chegar a afirmar que a presena do homem frente ao fenmeno imprescindvel e que a
Informao enquanto fenmeno cultural permite, influencia e promove a interao dos atores sociais, em
diferentes nveis e em suas estruturas. Podendo ser considerada como a parcela materializada do
conhecimento
O conceito de informao h muito vem despertando uma srie de discusses a respeito da sua
delimitao, bem como as suas formas de uso, tanto no nvel social, cotidiano, quanto no nvel analtico,
dentro da Cincia da Informao. Zeman (1970), incorporando o materialismo dialtico aos estudos da
informao, considera-a como uma qualidade da realidade material a ser organizada, considerando que
Na corrente de informao, Zeman conclui que a informao no existe fora do tempo, fora do processo:
ela aumenta, diminui, transporta-se e conserva-se no tempo. Pinheiro e Loureiro (1995, p. 45). A
Informao s existe na presena do homem, como seu receptor, j que nesta instncia que se d o
reconhecimento da Informao, mas incluindo a o homem no s como indivduo, mas tambm como ser
e ator social. A presena do homem no processo informacional pode estar relacionada viso da
Informao considerada como artefato (Pacheco, 1995), no sentido de ser um produto de confeco
humana, sem existncia prpria na natureza, j que ela uma ferramenta, produzida e/ou percebida pelo
homem, como um dos elementos necessrios para a construo do conhecimento. Como artefato, a
Informao s tem existncia quando percebida como tal, e s estabelecida esta percepo quando, de
algum modo, em alguma circunstncia, criada uma relao de significao. Assim essa relao efetivada
na medida em que:
Se a informao um artefato ela foi criada num tempo, espao e forma especfica, que formam um
dos contextos pelo qual deve ser interpretada - o contexto de sua gerao. Sendo artefato ela pode ser
utilizada em um contexto distinto daquele para o qual e no qual foi produzida, sendo, portanto passvel de
recontextualizao. (PACHECO, 1995, p.21)

Voltando a Zeman, a informao no um fenmeno afeito somente aos aspectos de


quantificao, no se trata de um termo ou conceito exclusivamente matemticos. Ela no pode ser
abordada somente do ponto de vista da medida de organizao, ou outras medidas, mas, principalmente,
sob a tica da organizao em si, enquanto um processo resultante de fatores de ordens diversas (social,
cultural, moral, tico, etc.). Para Zeman, portanto:
A informao , pois, a qualidade da realidade material de ser organizada (o que representa,
igualmente, a qualidade de conservar este estado organizado) e sua capacidade de organizar, de classificar
um sistema, de criar (o que constitui igualmente sua capacidade de desenvolver a organizao). ,
juntamente com o espao, o tempo e o movimento, uma outra forma fundamental de existncia da matria a qualidade de evoluo, a capacidade de atingir qualidades superiores. No um princpio que existiria
fora da matria e independentemente dela (como so por exemplo, o princpio idealista da entidade ou o
termo da entelequia) e sim inerente a ela, inseparvel dela. (ZEMAN, 1970, p. 157)
Joo Pessoa, outubro de 2011

109

Concordando-se explicitamente com a viso da informao enquanto artefato, vendo-a como


resultado da ao intencional de uma forma de registro, esta informao passa por diversos nveis de
interpretao, por conseguinte de contextualizao, dentro do processo, j mencionado, de interlocuo,
no qual a experincia-distante passa a ser a experincia-prxima. Reconhecendo-se que, nesta
recontextualizao, deve-se levar em conta dois fatores de afastamento para o entendimento das novas
interpretaes dessa informao, o tempo e o espao, poder-se-ia discutir, nesse ponto, as novas
tecnologias de informao, as redes de informao, a Internet etc., mas essa discusso acabaria fugindo do
foco central do trabalho, se bem que, estes dois fatores no devem ser levados em conta sob seu aspecto
fsico, mas sim sob o prisma da cultura, ou seja, a distncia espao-temporal de uma cultura, ou seu
momento, para outra.
Assim, a informao aqui considerada aquela que diz respeito a uma produo de significados
socialmente aceitos. aquele fenmeno em que h no s a produo de um bem simblico, mas tambm
sua disseminao e consumo, que implica na sua prpria reproduo, j que a dimenso espacial
extremamente dinmica, dentro da sua recontextualizao. Vendo a uma questo de identidade, j que a
informao implica em significao, ela poderia estar restrita a setores ou segmentos culturais, que podem
ser mais ou menos permeveis, produzindo, assim, novos significados sobre a informao disseminada.
No que diz respeito circunscrio da informao exclusivamente ao universo humano, recorreu-se
a Bronowski (1997) para detalhar essa especificidade. No pensamento deste autor, a informao no faz
parte dos processos de comunicao entre os animais, j que estes no fazem uso de informao, mas sim,
instruo. Para a diferenciao entre estes dois conceitos, o autor aborda as formas como so constitudos
e interpretados os impulsos que configuram a informao. Enquanto que, na comunicao animal, os
impulsos somente tm uma possibilidade de interpretao. No caso humano h uma multiplicidade de
possibilidades de acordo com as formas de perceber e pensar de cada receptor. Assim, Bronowski (idem)
incorpora a subjetividade nos processos informacionais, j que no possvel, nem ao emissor (quanto for
humano), nem ao receptor, estar desvinculado das emoes, o que torna a informao, a partir dessa tica,
um produto exclusivamente humano e, portanto, um artefato, e por isso um produto cultural.
UMA NOO DE PAISAGEM
A noo de paisagem possui uma dualidade interessante, ao mesmo tempo tem grande
proximidade com as noes de espao e territrio, como uma distino fundamental. Toda paisagem, para
sua ocorrncia necessita do substrato do espao, sendo que este tem uma amplitude maior que a primeira.
A distino bsica entre os trs conceitos est diretamente relacionado as formas reconhecimento de cada
forma especfica que se configura o ambiente, quando o espao tido pelos contornos fsicos do ambiente,
com o territrio delegado pelas formas de percepo e pertencimento do espao, e a paisagem sendo
considerado, partindo tambm da percepo, atravs do movimento, como foi discutido por Pellini (2007).
Ressaltando-se a importncia do aspecto informao nessa relao, j que:
[...] os movimentos de um indivduo so governados por uma relao entre informao e distncia.
A informao consiste no conhecimento que um indivduo tem do seu mundo, e seu campo de informao
a distribuio espacial deste conhecimento. (PELLINI, 2W007, p. 25)

Esta noo converge os conceitos de espao e representao, onde:


O espao, alm, de ser produto das atividades humanas, tem mltiplas valorizaes e caracteriza-se
por atributos funcionais, estruturais e afetivos. Espao pode ser, ento, considerado como o lugar onde os
homens e as mulheres, ideologicamente diferentes, procuram impor suas representaes, suas prticas, seus
interesses. Cada espao, tornado-se social, est possudo de smbolos e afetividades atribudos pelas pessoas.
(ALMEIDA, 2003, P. 71)

Assim, esse ambiente, quando se torna socializado, passa a uma dualidade em que considerado
como uma construo social, ao mesmo tempo, que em determinados momentos constri uma
determinada sociedade. Com isso, essa relao entre a paisagem e o lugar torna-se estreita, com a
primeira, passando pelo nvel da escala espacial a ser adotada, podendo ser considerado dentro da esfera

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

110
do territrio de unidade poltica, uma cidade e etc. J o lugar passa a ser considerado como um ponto
especfico dentro de uma paisagem maior, como prope Acuto (1999). J que:
Como est sealado ms arriba, una especialidad puede modificarse a lo largo del tiempo, puede
cambiar su materialidad, los significados en ella impresos o ambos. Por ejemplo, ms adelante se ver como
los Inkas modificaron significativamente a la estructura de los paisajes de las regiones conquistadas. [...]
Existen tambin casos en que la materialidad no vara, pero si su significado, Bender (1993b) presenta un
buen ejemplo al respecto tomando al sitio de Stonehenge (Inglaterra) y cmo su significado cambi desde la
Edad Media hasta la actualidad. Por ltimo, muchas veces se puede dar que paisaje o lugares concebidos por
una elite para excluir a otros sectores sociales, cambien a lo largo del tiempo su aspecto material aunque no
su significado. Para el resto de la sociedad esos lugares seguirn siendo percibidos como ambientes
construidos a los que no pueden acceder por falta de capital econmico y/o social. (ACUTO, 1999, p. 37)

Essa relao entre o ambiente e as interaes sociais perpassa pelo conflito simblico da tradio
de espacialidade em sociedades de pequena escala, onde atores infundem os aspectos objetivos e
subjetivos das noes de identidade passveis de serem construdas. na dinmica cognitiva que persiste a
caracterizao desta relao, de forma conflituosa, por meio da reificao da separao entre o eu e o
outro. Neste sentido, pode-se dizer que:
This transformation is suggested here to unfold as symbolic conflict between groups over the
meaning, ownership, and value of traditional inventories (knowledge, names, practices, symbols) that confer
symbolic capital (legitimacy, prestige) within specific sociospatial fields (Bourdieu 1985; Harrison 2001). The
spread and spatial configuration of tradition is the outcome of this conflict. (CHAMBERLIN, 2006, p. 39)

Partindo desta tica, deve-se buscar, dentro do escopo da arqueologia atributos que possam ser
definidos objetivamente que possam indicar os limites das tradies espaciais. Esses indicadores podem ser
observados atravs das prticas simblicas que representam expresses subjetivas de desejo ou interesse,
que pode ser considerada como uma estrutura dentro das disposies do habitus (BORDIEU, 1989).
Portanto, a considerao dos atores e suas aes dentro de determinados contextos devem nortear as
construes das redes entre os elementos que constituem o registro arqueolgico e suas alteraes, para
que:
Transformations take place, but these are infrequent and mostly unintentional, occurring when
contradictions between tradition and historical circumstances generate crises of identity (Sahlins 1981) or the
politicization of practical knowledge (Bourdieu 1991), or where a gradual disjuncture of traditional practices
from their origins develops, as when actors perpetuate the surface form without necessarily understanding
the ultimate meanings (Pauketat 2001, 77). (CHAMBERLIM, 2006, p. 40)

Essa constituio de identidades passa por processos cognitivos contnuos de objetivao dos
atores que maximizam a uniformidade interna para ruptura externa, onde a dimenso individual
transladada para a homogeneidade entre os membros de um determinado grupo. Esta duplicidade de
relao para a construo de identidades tem sua origem na contradio contratual entre os atributos de
semelhanas e diferenas dentro de um mesmo grupo. Essa duplicidade se de modo permanente porque
entrelaa padres de reunio social, interao de identidades e sistemas simblicos em constante
desalinhamento, com a no correspondncia da distribuio dos atributos individuais, configurando seus
mapas de tradio da especialidade, dentro de um jogo de poder simblico. Assim:
As a result, transformation is also permanent: actors continually create new knowledge as they confront the
disjuncture of objective and subjective identities in local contexts (Jenkins 1994; Schryer 2001). []actors adjust both
objective conditions and subjective perceptions. Rather than requiring a crisis of identity or consciousness, this flow of
knowledge is on-going, especially in small-scale societies that lack the differentiation ofcapital that institutionalizes
unquestioned knowledge (Bourdieu 1990, 118). (CHAMBERLIN, 2006, p. 42)

Sendo que:
Relations of conflict and power are inevitably mapped on to the disjuncture of objective and
subjective identities (Jenkins 1994; Schryer 2001). In smallscale societies, at issue specifically is symbolic
power, the power of imposing on other minds a vision, old or new, of social divisions (Bourdieu 1990, 138).
(CHAMBERLIN, 2006, p. 42)

Joo Pessoa, outubro de 2011

111
Considerado como um processo simblico, a duplicidade dentro do jogo de poder simblico,
mantm o jogo dentro de uma disputa para o desenvolvimento das tradies culturais de espacialidade. O
que leva a crer que:
This process is stimulated by the mutual classification of self and other between groups that reifies
and maximises separateness (Levine 1999). In evaluating cultural differences, doxa becomes heterodoxy, and
habitus susceptible to mutual adjustment. Groups attempt to transform tradition, to map power onto
relations of identity through the acquisition of new elements of tradition. Traditions thus comprise symbolic
capital within fields, and spread as they are contested, emulated, and appropriated. At the same time,
traditional inventories facilitate the creation of difference and power between groups. (CHAMBERLIN, 2006,
p. 46)

Assim, o espao comea assumir contornos de paisagem. Onde possvel vislumbrar a diluio
entre as fronteiras entre natureza e cultura, como foi explicitado por Castro (2002). nesta interface entre
o cultural e o natural10, que emerge a paisagem:
medida que os grupos reencontram suas paisagens como um prolongamento da prpria
identidade, essas relaes so avintensificadas, interiorizadas, gerando processos combinados e simultneos
de natureza diversificada, legados a um jogo de foras. Sob essa tica, todas as paisagens so heranas em
vrios sentidos, sejam como realidade natural ou cultural, transformados a todo instante de maneira
contnua, ao longo dos tempos, manifestas em testemunhos de uma objetividade que emerge da prpria
subjetividade. (GUIMARES, 2003, p. 49)

ESPAO ENQUANTO PAISAGEM


Como foi visto, estreita a relao entre o ambiente, enquanto espao fsico e suas caratersticas e
a noo de paisagem passando pelas noes de lugar e territrio. Assim, vislumbra-se a proximidade entre
os territrios e os contextos culturais especficos, o que leva a uma relativizao da noo de paisagem, j
que passa pelo reconhecimento e pelo movimento, de indivduos ou grupos. O que denota um
aproveitamento, efetivo ou simblico, dos espaos, levando a incorporao dessa entidade fsica na esfera
cultural das populaes, como foi visto em Bordieu (1999).
Nessa proximidade, leva ao espao fazer parte de outros conceitos que esto diretamente
vinculados com a apropriao cultural do espao, que so os conceitos de memria e identidade. No
tocante memria, o espao torna-se um referente da historicidade dos grupos que por ali viveram ou
passaram. Para a identidade, a entidade espao passa ser um marco, um signo que leva aos indivduos e os
grupos produzirem aproximaes e distines, atravs das formas de uso, ocupao e significao do
espao, nos seus atributos e peculiaridades. O que acaba incorporando as noes simetria e
perspectivismo, para que possa delimitar e entender como e porque se formam as paisagens.
Mas essa relao s pode ser efetiva quando passa pela mediao da informao. E essa mediao
se d na perspectiva em que a informao, enquanto produto cultural, um artefato, possibilita a relao
entre o homem, e sua coletividade, com outros homens e com o mundo, como um aparato
representacional, que leva aos processos de significao e, por isso, sua apropriao, podendo ser vistra
como elemento fundamental para a definio das paisagens, como foi indicado por Pellini (2007). Com isso
posto, pode-se considerar como paisagem aquela parcela do espao, entendida a partir da equivalncia dos
diversos elemento e atributos, fsicos e simblicos, que compe e significam o espao enquanto paisagem,
que perpassa pelo territrio, dentro de uma perspectiva dada por cada marco cultural que reconhece e
define a paisagem, que transcende o tempo, e por isso mediada pela informao.
REFERNCIAS
ACUTO, Flix A. Paisaje y Dominacin: La constituicin del espacio social em el Imprio Inka, in
ZARAKIN, A.; ACUTO, F.A. (ed.), 1999. Send Non Satiata Teoria social em la arqueologa latinoamenricana
contempornea, Buenos Aires, 25 Ediciones Del Tridente, 1999. p.33-76.
ALMEIDA, Maria G. Em busca do potico do serto: um estudo de representaes, in ALMEIDA,
M.G.; RATTS, A.J.P. (orgs.) Geografia: Leituras culturais, Goinia, Editora Alternativa, 2003, p. 71-88.

10

Fruto de nossa dicotomia ocidental


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

112
AZEVEDO NETTO, C. X; KRAISCH, A. M. P. O; ROSA, C. R. Territorialidade e Arte Rupestre
Inferncias iniciais a cerca da distribuio espacial dos stios de arte rupestre na regio do Cariri paraibano,
in Revista de Arqueologia , SAB, Juiz de Fora, 2007, p. 51-66.
AZEVEDO NETTO, C.X.; DUARTE, P.; SOARES JUNIOR, M.F. Marcas da Identidade A re-apropriao
de grafismos em um stio arqueolgico, in OLIVEIRA, T.B. et alli (org) Pr-Histria: Estudos para arqueologia
da Paraba, Joo Pessoa, SPA/JRC Editora, 2007, p. 35-52.
BORDIEU, Pierre. O poder simblico, Lisboa, Difel. 1989.
BRONOWSKI, Jacob. As origens do conhecimento e da imaginao, Braslia, Editora Universidade de
Braslia, 1997.
CASSIRER, Ernest. Antropologia filosfica. Traduo de Vicente Flix Queiroz. 2. ed. So Paulo:
Mestre Jou, 1977.
CAPURRO, Rafael. Epistemologia e Cincia da Informao, in Anais do V Encontro Nacional da
Associao Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao e Biblioteconomia, Belo Horizonte, ECI/UFPMG,
2003, CD-rom.
CASTRO, Eduardo B. V. A inconstancia da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. So
Paulo, Cosac & Naify, 2002.
CORREA, Marcus Vinicius M. As Gravaes e Pinturas Rupestres na rea do Reservatrio da UHEBalbina AM, Dissertao de mestrado, Rio de Janeiro, UFRJ/EBA. 1994.
COUCHE, Denys. A Noo de Cultura nas Cincias Sociais, 2 ed., Bauru, EDUSC, 2003.
DUARTE, Luis Fernando Dias. Memria e reflexividade na cultura ocidental, in ABREU, R.;
CHAGAS,M (orgs) Memria e Patrimnio: ensaios contemporneos, Rio de Janeiro, DPA/FAPERJ/UNIRIO,
2003, p.305-316.
GEERTZ, Clifford. A Interpretao das Culturas. Traduo de Fanny Wrolbel. Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
GUIMARES, Solange T. L. Paisagens e Ciganos: uma reflexo sobre paisagens do medo, in
ALMEIDA, M.G.; RATTS, A.J.P. (orgs.) Geografia: Leituras culturais, Goinia, Editora Alternativa, 2003, p. 4969.
LATOUR, Bruno. Esperana de Pandora, Bauru, EDUSC, 2005.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos Ensaio de Antropologia Simtrica, Rio de Janeiro,
Editora 34, 1994.
MITHEN, Steven. A Pr-Histria da mente uma busca das origens da arte, da religio e da cincia.
So Paulo: Editora Edusp, 2002.
NAVARRO, Alexandre G. Sobre el concepto de espacio, in Revista do Museu de Arqueologia e
Etnologia, n 17, So Paulo, USP, 2007, p. 3-27.
PACHECO, Leila S. Informao enquanto artefato. Informare - Cadernos do Programa de Psgraduao em Cincia da informao. Rio de Janeiro, ECO/UFRJ - CNPq/IBICT, v. 1, n. 1, jan./jun., p. 20-24.
1995.
PELLINI, Jos R. Uma fisiologia da Paisagem: Locomoo, GIS, sites catchment. Uma nova
perspectiva, in Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, n 17, So Paulo, USP, 2007, p. 23-37.
PINHEIRO, Lena Vnia R. A cincia da informao entre sombra e luz: domnio epistemolgico e
campo interdisciplinar, Rio de Janeiro, Escola de Comunicao/UFRJ, 1997 (Tese de doutorado)
PINHEIRO, Lena Vnia R., LOUREIRO, Jos Mauro M, 1995. Traados e limites da Cincia da
Informao. Cincia da Informao, Braslia, MCT/CNPq/IBICT, v. 24, n. 1, jan./abril, p. 42-53.
RENFREW, Colin; BAHN, Paul. Archaeology: Theories, methods and practices, Fourth Editions,
London, Thames & Hudson. 2004.
WILLIAMS, Dennis. Pethrogliphs in Prehistory of Northen in Amazonia and Antilles. In: WENDORF,
CLOSE. Advances in World Archaeology. New York, Academic Press,. p. 335-387. v. 4. 1985.
WITMORE, Christopher L. Vision, media, noise and the percolation of time: symmetrical approaches
to the mediations of the material world, in Journal of the Material Culture, London, SAGE Publications, Vol
11(3), 2006. p. 267-292.
ZEMAN, Jri. O Significado Filosfico da Noo de Informao. In: O Conceito de Informao na
Cincia Contempornea - Colquios Filosficos Internacionais de Royaumont. Rio de Janeiro: Paz & Terra. p.
154-179. 1970.
Joo Pessoa, outubro de 2011

113

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

114

UM OLHAR PARA OS PRODUTOS TURSTICOS E A PAISAGEM NATURAL DO


CARIRI PARAIBANO: MUNICPIO DE CAMALA
Cristiane de Melo NEVES: cristianemelo79@hotmail.com, graduada e licenciando no Curso de Geografia pela UFPB
Paulo Roberto de Oliveira ROSA: paulorosa_ufpb@hotmail.com, Professor da UFPB
Maria Jos Vicente de BARROS: laecogeo@yahoo.com.br, Pesquisadora e Gegrafa

RESUMO
A insero do turismo sertanejo vem sendo desenvolvido em reas interioranas, como uma
modalidade que tem o objetivo de unificar os fatores naturais, sociais, culturais e cientficos como proposta
para pontuar os produtos tursticos locais que passam a valorizar e em alguns casos resgatar a cultura e o
meio ambiente do lugar. E essa a proposta mais concreta para o municpio de Camalau que esta inserida
no Cariri Paraibano e que possui caractersticas singulares para ser cuidada e planejada. Analisando-se esse
contexto, o objetivo da sistematizao servir de base para um planejamento que contemple os benefcios
como: Preservao de reas naturais, de locais arqueolgicos, melhoria na infra-estrutura e valorizao da
cultura tpica.
Palavras-chaves: Turismo, Turismo Sertanejo, Preservao de reas naturais
ABSTRACT
The insertion of sertanejo tourism is being developed in inland areas, as a modality that aims to
unify the natural factors, social, cultural and scientific proposal as to score the local tourist products that
come to value and in some cases to rescue the culture and environmente of the place. And this is the most
concrete proposal for the city of Camala that was contained in Cariri Paraibano and has especial features
to be careful and panned. Analyzing this context, the objective of systematic basis for a plan that includes
benefits such as preservation of natural areas, archaeological sites, improved infrastructure and
enhancement of typical culture.
Keywords: Tourism, Sertanejo Tourism, Preservation of natural areas
Consideraes Iniciais
Esse trabalho procura demonstrar as diferentes percepes sobre a geografia no Cariri Paraibano,
principalmente no municpio de Camala. Acredita-se que essa rea geogrfica tem muitas riquezas a
serem apreciadas pelo turista em suas diversas modalidades devido aos seus recursos naturais e culturais.
Dentre as classificaes tursticas, decide-se para melhor especificar as caractersticas dessa regio,
contemplar uma marca paraibana que o Turismo Sertanejo. Este procura conciliar a atividade turstica,
com a cultura local e com o meio ambiente.
Portanto, essa se torna uma proposta concreta para a introduo do turismo que provavelmente
ir beneficiar a populao que estar ligada direta ou indiretamente na atividade, com possibilidades reais
de melhora na qualidade de vida socioeconmica atravs da divulgao de pontos e produtos tursticos na
regio.
Conhecendo um pouco mais sobre essa regio o recorte espacial do estudo encontra-se na regio
do Cariri Paraibano, que est localizado na Mesorregio da Borborema e distribuda em quatro
microrregies: Cariri Ocidental, Cariri Oriental, Srid Oriental e Srid Ocidental. A partir desta diviso
observa-se que a expresso Cariri Paraibano vem da compreenso da juno do Cariri Ocidental e o Cariri
Oriental, que tambm j foi conhecido como Cariris Velhos.
Portanto a regio do Cariri, que fortemente individualizada pelas suas barreiras naturais, est
situada na franja ocidental da unidade geomorfolgica do Planalto da Borborema, encontra-se entre o
Serto e o Agreste, sendo composta por 29 municpios que ocupam uma rea total de 11.233 km.
Com clima Semi-rido, o Cariri Paraibano caracteriza-se por chuvas irregulares que segundo Araujo
(2008) ocorre devido zona de convergncia intertropical que formada pela juno dos ventos alsios de
nordeste e os ventos alsios de sudeste. Este o principal sistema produtor de chuvas no norte e nordeste
brasileiro. A regio caririzeira tem uma pluviometria que se concentra em um curto tempo (3 a 4 meses). A

Joo Pessoa, outubro de 2011

115
temperatura mdia anual relativamente alta exerce grande influncia sobre o meio ambiente e no modo de
vida da populao local, ocasionando uma forte inter-relao entre o clima e os geossistemas presente.
No dizer de Nascimento e Alves (2008, p. 31), a vegetao aparece de forma diversificada. Assim
apontam os autores:
Ao analisar a paisagem do Cariri, vemos de imediato um mosaico de diferentes formaes
vegetacionais reunidas pelas mais variadas transies edafoclimatolgicas. Isso causa muitos problemas para
enquadr-la em uma classificao universal, uma vez que a maioria de seus aspectos fisionmicos
decorrente da inter-relao complexa entre fatores ecolgicos (clima, topoclima, condies edficas e
topogrficas) e fatores antropognicos, resultando numa caatinga de porte e homogeneidade vegetacional.
Na regio do Cariri ocorrem diferentes formaes da caatinga, ocorrendo transies entre uma formao de
caatinga secundaria bem definida para outra terciria atravs de fcies de transio resultando numa
formao bem definidas. Em certos casos, porm, a passagem entre formaes diferentes brusca e seus
limites so de fcil observao, como feies que vo de uma caatinga arbustiva aberta caatinga arbrea
fechada.

Com relao hidrografia do territrio do Cariri, destaca-se a Bacia do alto curso do Rio Paraba
que recebe toda drenagem sul do Planalto da Borborema, onde esto localizados tambm os audes
monitorados que servem de abastecimento hdrico para toda uma dinmica de populaes existente nos
municpios. Mas os rios, em sua maioria, no Cariri seguem o regime das chuvas, por isso observa-se na
paisagem que os leitos por onde passa o curso da gua do rio, no perodo de estiagem da regio do semirido, esto secos, sendo estes predominantemente de regimes temporrios ou intermitentes, sendo
conhecido por alguns pesquisadores como rios de areia. A cidade de Camala est inserida no Bioma
Caatinga que se concentra na regio Nordeste do Brasil. O termo Caatinga originrio do tupi-guarani e
significa mata branca, e tem como principal caracterstica a perda das folhas no perodo de estiagem
prolongada. Estudos mostram que esse ecossistema est presente no Brasil, principalmente no interior do
nordeste e que segundo o IBGE, essa vegetao faz parte da formao campestre de dupla estacionalidade,
sendo classificada como Savana Estpica.
Denominada pelo IBGE, principalmente como Savana Estpica, a caatinga apresenta um tapete
graminoso, o que lhes conferiu a caracterstica pela qual se denominou de estpica. Essa tipologia vegetal
em Camala possui espcies arbustivas e arbreas, cada qual com sua adaptao de resistncia ao longo
perodo de estiagem a que submetida. O bioma Caatinga considerado nico, porque apresenta uma
variedade de paisagens que demonstra uma variedade endmica, de riqussima beleza natural prpria do
clima semi-rido.
Infelizmente ainda quando se fala em Caatinga, o conhecimento do ambiente por muitos se remete
a um nico tipo de paisagem. E o que vem no imaginrio destes no primeiro momento a viso de um
ambiente rido, seco, com rvores quase sem folhas e esbranquiadas.
Bem, na verdade isso realmente ocorre com a vegetao da caatinga, mas s no longo perodo de
estiagem, que faz parte das caractersticas climticas da regio do Cariri, o que no justifica dizer que esse
ambiente sempre esteja seco. Pois, para evitar a perda da gua com o calor excessivo, as plantas perdem
suas folhas e por isso parece que toda a vegetao est morta, mas no est. E quando comeam a
precipitar as primeiras gotas que chamam o incio da poca de chuvas nessa regio do Cariri Paraibano,
como tambm se pode ver no municpio de Camala, a caatinga se encanta mudando sua aparncia, a
paisagem se transforma dando espao ao verde e s flores.
E esse encantamento tambm se estende dupla estacionalidade que caracteriza as belezas do
lugar. A fauna e a flora so importantes indicadores das condies gerais dos ambientes e de suas
especificidades locais, contribuindo de forma significativa na compreenso das paisagens. Associado a estes
indicadores, o entendimento do observador complementado pela forma como populao e o agricultor
se relaciona com o conjunto vegetacional e incorpora ao seu processo produtivo.
Turismo Sertanejo e a valorizao da paisagem
Todos os novos processos de urbanizao e as concepes do homem moderno, fazem com que a
paisagem seja redefinida no apenas na forma conceitual, mas tambm no ponto de vista da observao do
indivduo, e assim, a viso paisagstica vai ganhar um carter de singularidade espacial e uma reorientao
do seu uso com novos modos de acesso.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

116
Sendo assim, quando retomamos a paisagem como uma categoria e a sua apreenso do olhar
humano, a imagem pode se tornar de banal a singular, de acordo com o observador ou transeunte do
momento. Pode-se observar que com o valor comercial, antes as paisagens eram consideradas sem
perspectivas de admirao como reas desertificadas, montanhosas, praieiras e florestais e com o passar
do tempo e com a introduo da percepo do ambiente como atrativo, conceitos foram sendo agregados
a esses espaos e passaram a ser considerados de grande importncia para o turismo.
O turismo como uma atividade econmica tambm vai usar dessas atribuies da paisagem para
sua comercializao, pois o turista vai se tornar um colecionador de paisagens que despertem no s a
curiosidade, mas tambm que sejam nicas. E assim, o turismo se desenvolve desde os primeiros eventos
tursticos realizados na histria. Com o tempo, esta atividade segue atrelada s mudanas do modo de
produo e ao desenvolvimento tecnolgico.
Hoje se observa que de acordo com a argumentao de Boulln (apud SILVA, 2007), entende-se
que o turismo uma atividade econmica, de natureza consultiva, pertencente ao setor tercirio por se
constituir marcadamente de uma prestao de servios. Essa indstria do turismo de acordo com os
conhecimentos adquiridos durante a pesquisa uma das mais apropriadas, quando pensada como forma
de investimento econmico para a regio do semi-rido, pois ao contrrio, por exemplo, das indstrias
txteis ou agrcolas, no requer um consumo excessivo de gua para a execuo do seu produto, por isso
intitulada de Indstria Seca.
Uma tipologia de turismo que vem sendo muito trabalhada atualmente o Turismo Sertanejo, cuja
definio proposta por Seabra (2007, p31):
O turismo sertanejo uma forma de lazer fundamentada na paisagem natural, patrimnio cultural e
desenvolvimento social das regies interioranas do Brasil. O seu carter ecolgico, social, cultural, econmico
e paisagstico, revela uma modalidade de turismo deferente, cativante e extica. Ao mesmo tempo tem suas
bases estruturadas num projeto amplo de desenvolvimento regional com incluso social, que promove o
lazer juntamente com a compreenso do meio ambiental em suas mltiplas e complexas relaes.

Com o que j foi exposto, admite-se que o turismo uma atividade socioespacial, que promove a
integrao dos indivduos com o meio visitado. Ele tambm se apresenta de forma diferenciada, ao falar-se
de planejamento, pois cada espao geogrfico principalmente na regio nordeste, precisa de um conceito
turstico para sua efetivao.
Para o Cariri, observam-se atrativos naturais e culturais que certamente serviro de base para que
transforme a regio em um ncleo turstico, principalmente quando nos reportamos ao municpio de
Camala, que reuni e proporciona, atividades nas modalidades tursticas como lazer, aventura e pesquisa.
Ento, de acordo com as tendncias atuais do turismo e com base local, procurar-se- privilegiar a
natureza, as expresses da cultura e, no caso especfico, do Caririzeiro, as aes coletivas e o comrcio
justo.
Resultados e discusses
Elementos atrativos no cenrio natural e arqueolgico
Os primeiro elemento a ser observado a questo dos fatores naturais do Bioma Caatinga no
Cariri. No percurso ao municpio de Camala, a partir da Praa Intitulada Meio do Mundo, pode ser
observado as caractersticas desta regio que geograficamente isolada em sua configurao pela distncia
da capital paraibana. A estrada seguida possui atrativos singulares onde a percepo paisagstica e cultural
tem destaque a partir do acesso da BR 412 que percorre toda a regio do Cariri, passando por reas de
caractersticas semi-ridas e que tambm iro fazer parte da paisagem turstica at o municpio estudado.
Ento ao percorrer pelas cidades caririzeiras, com olhos hipnotizados, a paisagem vai criando novas
formas de apreenso de acordo com observador ou visitante da regio. Essa imagem paisagstica com o
tempo vai quebrando barreiras e formando novas compreenses sobre o ambiente natural e cultural da
regio. Mais adiante j na PB 224, que ainda no asfaltada, sendo constituda de uma estrada de barro,
que leva para Camala. A imagem latente da Caatinga retratada no perodo de estiagem est bem visvel na
regio e mesmo assim a riqueza e variedade de espcies esto presentes por toda a parte.
Observa-se tambm j na entrada da cidade o Aude Pblico Z Tourinho. Lugar onde est
demonstrado que existe muita gua nesta regio, pelo menos o municpio est bem abastecido com esse
Joo Pessoa, outubro de 2011

117
aude. Portanto, o que podemos constatar que a grande dificuldade est na forma que ela distribuda,
portanto o turista no precisa se preocupar a esse respeito, pois na cidade de Camala a gua um ponto
positivo e tambm um atrativo em potencial para o turismo, tendo em vista a paisagem buclica que tem
viso a partir de lugares nos arredores do aude, considerando ainda ser um ponto que pode servir de
observao para pesquisadores da fauna, que em determinados horrios do dia freqentam o aude por
conta da gua
Os municpios caririzeros so fartos na questo de stios arqueolgicos, o que faz com que
pesquisadores da rea sempre se dirijam ao lugar para um ou outro tipo de escavao, prospeco dentro
desta parte do conhecimento. No entanto o municpio de Camala que mais tem colaborado no campo
atrativo do turismo, trazendo sempre ao lugar pesquisadores para fazerem uma ou outra prospeco.
O que mais enriquece esse espao geogrfico o imaginrio no tocante histria e pr-histria
deste local. Alm dos stios arqueolgicos onde encontramos vestgios materiais de um povo tm-se o
despertar do conhecimento de uma populao nmade que j existiu neste ambiente e que povoava toda
essa regio do Cariri. Segundo Santos, Brito e Oliveira (2006), um stio arqueolgico pode ajudar a
compreender sobre a vida humana num passado distante, pois nele h pistas que, somadas s demais
existentes, podem esclarecer, confirmar ou contestar paradigmas da arqueologia, desde que seus
testemunhos estejam inclumes.

Fotografia 01: Conrad Rosa


Por isso a conotao de toda regio caririense se enriquece no s com um belo cenrio
paisagstico, mas com esses smbolos que possuem uma riqueza imensurvel de vestgios culturais da
sociedade primitiva como, por exemplo, as gravuras rupestres a que vem representar a cultura material
que possibilita fazer o resgate dos registros de um grupo social, e atualmente esto identificadas em
diversos rochedos, como possveis caracteres dos antigos ndios Cariris ou seus antecessores.
2. Atrativos do cenrio tradicional
Nas formas de entretenimento na cidade, tem-se a demonstrao popular de atividades, que
envolvem no s a populao local mais tambm pessoas de outros municpios. E dentre essas
manifestaes surge a singularidade desta populao hospitaleira e alegre, que cada vez mais atrai
visitantes para essa regio. Portanto, dentre as atividades locais pode-se incluir um calendrio com os
eventos cclicos anuais na cidade.
No ms de maro ocorrem dois momentos comemorativos para a cidade, que so a festa do
Padroeiro So Jos e a emancipao do municpio. Portanto, no ano de 2009 foi comemorada os 112 anos
da fundao do povoado, e os 45 de Emancipao. Neste perodo ocorrem eventos religiosos e
manifestaes pblicas da populao local onde se destaca a programao religiosa, os shows em praa

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

118
pblica e a tradicional Pega do Boi na manga (Caatinga) que uma atividade que deu origem a vaquejada e
consiste em pegar o boi montado num cavalo sem o uso de cordas dentro de rea da Caatinga cercada.
J no ms de junho so realizados os festejos juninos, e na cidade destaca-e o Santo Antnio como
a mais comemorada. A festa tem um grande sabor cultural e a importncia para essa regio interiorana
ultrapassa as festividades natalinas. que neste perodo encontra-se entre as festividades tradicionais, as
deliciosas comidas de milho que se pode saborear a mesa, as danas e roupas tipicamente representadas
nas quadrilhas, s casas com enfeites juninos e as belezas dos fogos na rua, contando tambm com
cantores da terra mostrando o tradicional forr P-de-Serra, que passa a animar a festa.
Dentre os eventos regionais no municpio de Camala, temos os espordicos que podem ocorre em
stios ou fazendas prximos cidade. Estes eventos so promovidos semanalmente, como forma de
diverso para a populao camalauense e seus vizinhos. Como por exemplo, as vaquejadas, o lao do bode
e os shows com os cantores da regio, bem como a Pega do boi na manga. Tanto a Pega do Boi, a
vaquejada e o lao do bode so eventos que resgatam a cultura do local como forma de entretenimento
esportivo. J as bandas, em sua maioria, cantam a vida do homem do campo ou do vaqueiro de vaquejada.
Ultimamente na regio do Cariri destaca-se, portanto o Lao do Bode que foi criado a pouco mais de um
ano e que envolve um grande nmero de participantes de forma democrtica, pois o custo no alto e
todos podem participar de forma bem organizada.

Fotografia 02: Conrad Rosa


Essa atividade um entretenimento que foi criado para agregar o pessoal com muita habilidade no
lao. Outro fato importante so as cavalgadas pela regio do Cariri. Uma delas conhecida como Cavalgada
da Integrao que sai da cidade de Monteiro Camala. Nela ocorrem apresentao de violeiros,
aboiadores e um trio de forr, onde os cavaleiros tambm participam de um concurso de cavalos de
passada.
Consideraes Finais
O conjunto representado pela diversidade florstica e faunstica se destaca no ambiente semi-rido
como importante atrativo turstico pelas possibilidades que oferece para compreender o ambiente em
questo, pelas formas de relao que a espcie humana estabelece com a mesma, ora como suporte para a
manuteno de comunidades rurais, ora como parte dos traos culturais do habitante sertanejo do semirido.
Dentre as caractersticas do turismo sertanejo que envolve a preservao do recurso natural tm-se
os atrativos relacionados a atividades com grupos escolares ou de ensino superior relacionados
compreenso do bioma Caatinga e as formao geolgica da regio.
Outra atividade que ir atrair visitantes os stios arqueolgicos, que j vm sendo catalogados por
pesquisadores na rea da arqueologia. No tocante parte cultural, a cidade recebe turistas das regies
Joo Pessoa, outubro de 2011

119
vizinhas para interagir com os eventos locais, dentre esses eventos observa-se a valorizao e a inovao de
atividades tipicamente locais que procuram conservar a cultura, como por exemplo, a volta das Cavalgadas
de longas distncias, a Pega do boi na manga e como inovao tem-se o lao do bode que em pouco tempo
j se espalhou pela regio do Cariri.
Ressalta-se aqui, a populao camalauense que tem o dom do acolhimento, e isso tambm passa a
ser um atrativo, pois faz com que o turista tenha boas lembranas e deseje retornar cidade.
Considerando a diversidade de espcies da caatinga e a forma como o homem sertanejo se
relaciona com a mesma, os resultados explanados apontam para amplas possibilidades de atividade com
potencial turstico, principalmente com o auxilio de guias locais que vo favorecer o conhecimento das
espcies da fauna e da flora para o visitante com trilhas na caatinga e visita aos stios arqueolgicas., A
visita pode ser estruturada por temas que explicam a compreenso do ambiente semi-rido sob o ponto de
vista do sistema ecolgico local e em relao forma como o povo sertanejo se relaciona com a caatinga.
Bibliografia
ARAUJO, Lincoln Eloi de; et al. Anlise estatstica de chuvas intensas na bacia hidrogrfica do Rio
Paraba. Rev. bras. meteorol. [online]. 2008, vol.23, n.2, pp. 162-169.
BRASIL. Manual tcnico da vegetao brasileira. Srie manuais tcnicos em geocincias. Rio de
Janeiro: FIBGE, 1992.
BRITO, Vanderley de; SANTOS, Jurandi de Sousa; OLIVEIRA, Thomas Bruno. A Serra de Bodopit:
pesquisas arqueolgicas na Paraba. Joo Pessoa: JRC, 2006.
NASCIMENTO, S.S.;ALVES,J.J.A./ Ecoclimatologia do Cariri Paraibano Rev. Geogr. Acadmica v.2 n.3
(xii.2008) 28-41 ISSN 1678-7226
SEABRA, Giovanni. Turismo Sertanejo. Joo Pessoa: Editora Universitria da UFPB, 2007.
SEBRAE. Diagnstico Scio-econmico: Camala. Joo Pessoa, Editora: Edio SEBRAE, 1998
SILVA, Jorge Antonio Santos. O turismo como atividade econmica: enfoque de demanda versus
enfoque de oferta. In: Turismo y Desarrollo y Simposio "Desarrollo Local y Turismo" del 5 al 23 de julio de
2007. Disponvel em: < http://www.eumed.net/eve/resum/07-07/jass.htm > Acesso em: 25 de agos. 2009.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

120

EDUCAO AMBIENTAL E USO DOS RECURSOS NATURAIS EM UMA REA


DE INTERESSE TURSTICO: UMA PROPOSTA PARA A BACIA DO RIBEIRO
SO VICENTE - ITUIUTABA (MG)
Bruno de FREITAS
Estudante do curso de Geografia FACIP Universidade Federal de Uberlndia Participante do Programa Institucional de
Apoio Iniciao Cientfica. freitasgeoscienc@hotmail.com
Daniel Medeiros MAIA
Estudante do Curso de Geografia FACIP Universidade Federal de Uberlndia. daniel.medeiros@hotmail.com
Anderson Pereira PORTUGUEZ
Professor Doutor do Curso de Geografia FACIP Universidade Federal de Uberlndia. Professor Colaborador do Programa
de Mestrado Profissional em Gesto de Negcios Tursticos da Universidade Estadual do Cear.
anderson@pontal.ufu.br

RESUMO
O presente trabalho traz um estudo realizado na bacia hidrogrfica do Ribeiro So Vicente, em
Ituiutaba (MG). Teve como objetivos, apresentar um balano das atuais formas de uso e ocupao do
espao nesta bacia e, ao mesmo tempo, mostrar que o turismo associado educao ambiental pode ser
uma importante ferramenta de proteo dos ecossistemas locais, pois o crescimento do cultivo canavieiro
e a expanso da pecuria extensiva pem em risco os aspectos cnicos e a organizao ecolgica desta
paisagem. Para tanto, alm de reviso da literatura especializada, realizou-se trabalhos de campo para
coleta de dados junto aos produtores, alm de realizao de fotografias panormicas de solo e de tomada
area. Concluiu-se que h certa resistncia de uma grande parcela dos produtores rurais em relao
atuao dos rgos oficiais de defesa ambiental, assim como s suas aes de educao ambiental. Por
outro lado, h proprietrios rurais mais receptivos, que em um momento futuro da pesquisa, sero
convidados a implantarem projetos pilotos em suas propriedades para recepo de escolares e realizao
de circuitos educativos no interior das fazendas, sobretudo em trilhas ecolgicas. Acredita-se que esta
atividade receptiva pode vir a motivar os empreendedores rurais a manterem as matas ciliares e, ainda,
alguns bosques remanescentes de Cerrado.
Palavras-Chave: Turismo. Cerrado. Bacia Hidrogrfica. Educao Ambiental.
Introduo
O municpio mineiro de Ituiutaba est localizado na Mesorregio Geogrfica do Tringulo Mineiro e
Alto Paranaba, em uma das reas de expressivo crescimento econmico do Brasil central. De acordo com o
Censo 201011, Ituiutaba possui 2.598 km, que abrigam uma populao de 97.159 habitantes, sendo que
93.122 (95,85%) indivduos vivem em sua rea urbana e 4.037 (4,15%) moram em seu espao rural.
A bacia hidrogrfica do Ribeiro So Vicente, doravante identificada apenas pela sigla BHRSV,
ocupa a poro sul do municpio, a cerca de 4 km do distrito sede de Ituiutaba (mapa 01). Sua localizao,
para fins de prticas tursticas associadas educao ambiental, pode ser considerada bastante
promissora, pois est prxima cidade, onde reside um elevado contingente de classe mdia, que segundo
Portuguez (2010), a base de sustentao da demanda potencial deste setor.

Este trabalho parte do relatrio de pesquisas acadmicas realizadas pelos autores, que so membros do
GEPTEEDL Grupo de Estudos e Pesquisa em Turismo, Espao e Estratgias de Desenvolvimento Local (FACIP-PROPPUFU/CNPq).

11

Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/cidadessat/topwindow.htm?1. Acessado em 08 de abril de 2011.

Joo Pessoa, outubro de 2011

121

Mapa 01: Localizao da rea estudada.


De acordo com Rodrigues (2000), as bacias hidrogrficas concentram todos os elementos da
natureza que so responsveis pela manuteno da qualidade do ambiente, alm de nelas, ser possvel
encontrar recursos naturais que, se bem utilizados, podem embasar o desenvolvimento econmico e social.
Neste sentido, refletir sobre estas questes em uma dimenso emprica significa aportar alguns elementos
novos anlise do meio rural de Ituiutaba, considerando que o turismo associado educao ambiental
pode ser uma ferramenta importante para estimular novas alternativas de desenvolvimento para este
municpio.
Ao longo do processo histrico responsvel pela dinmica de ocupao do espao em Ituiutaba, o
meio rural foi gradativamente e extensivamente apropriado, o que resultou em grande perda das reas de
vegetao natural, ao ponde de haver atualmente, necessidade de sensibilizar a populao, tanto urbana,
quanto rural, da importncia de se manter a natureza em equilbrio, para que a prpria qualidade de vida
dos moradores seja beneficiada.
E neste sentido que esta reflexo foi encaminhada. Entende-se que promovendo um encontro de
carter ldico-educativo da populao local e de outros municpios com a natureza do Cerrado, pode-se ao
mesmo tempo incentivar a economia rural e, ainda, atribuir novos significados aos bosques remanescentes,
no sentido de estes serem vistos como um patrimnio social com importncias que vo para alm do mero
cumprimento de exigncias legais.
TURISMO E EDUCAO AMBIENTAL: DILOGOS POSSVEIS
No so poucos os autores que consideram a idia de sustentabilidade como j bastante
desgastada (e at excessivamente midiatizada) para ser aceita como um conceito acadmico. Para
Portuguez (2010), este termo apresenta, contraditoriamente, um carter ideolgico excessivamente
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

122
exacerbado pelo discurso oficial e empresarial, mas por outro lado, pressupe um pensamento dotado de
certa generosidade terica, que mesmo reconhecendo-se seu carter retrico, serve de inspirao para a
produo de idias focadas em uma ocupao do espao a partir de usos mais comprometidos com as
dinmicas do meio natural. Por este motivo, o autor no rechaa por completo a idia de sustentabilidade,
considerando-a possvel, ainda que do ponto de vista de um idealismo terico.
Seguindo este mesmo princpio, Dias (2003) mostrou que h uma estreita relao entre o turismo
de base sustentvel e a conservao da natureza, na medida em que os agentes sociais responsveis pela
promoo desta atividade, cada vez mais, vm demonstrando preocupaes com a proteo dos lugares
onde a recepo ocorre, envolvendo a no somente a salvaguarda dos recursos naturais, mas tambm das
culturas locais e das condies de existncia humana. Porm, para que isto seja possvel, a atividade
turstica no pode ser pautada pelo mercado de massa, como j alertou Rodrigues (1997), que por diversas
vezes denunciou o carter predatrio desta atividade.
Segundo Portuguez (2010), apesar dos avanos tericos que balizam o planejamento turstico no
Brasil, ainda hoje muito comum confundir-se o desenvolvimento do (ou com base no) turismo com a
mera ampliao de sua demanda. O autor lembrou que quanto maior o fluxo de pessoas, de capitais e de
mercadorias, maior a presso social sobre os espaos tursticos. Sendo assim, as reas de fluxo massivo
tendem, em geral, a apresentar graves problemas de ordem socioambiental.
O espao rural, como o caso da rea estudada, apresenta uma srie de fragilidades que precisam
ser consideradas e, por este motivo, no adequado turistific-lo de forma intensiva. Tomando por base as
consideraes de Souza (1997), pode-se dizer que as reas j amplamente tecnificadas, como os centros
urbanos, tendem a absorver e diluir os impactos do turismo de forma mais eficiente que as reas menos
tecnificadas, onde os prejuzos pode at superar os benefcios, caso se negligencie os cuidados relativos ao
planejamento.
Nesta perspectiva, preciso compreender os diversos fatores responsveis pelas dinmicas:
ecolgicas, culturais, demogrficas, polticas e econmicas, que interagem entre si para compor o mosaico
de aspectos integrantes da paisagem. a partir desta compreenso que este planejamento se torna
possvel, no sentido de valer-se do turismo como fator potencializador do desenvolvimento local e, em
contrapartida, utilizar a paisagem como seu recurso mais precioso. Para Petrocchi (2001), reside a o foco
do planejamento que assegura a sustentabilidade do setor turstico.
Defende-se aqui que, em escala local, este planejamento de fato possvel, ainda que duras
penas. Isto porque parte das classes empresariais e polticas do Brasil ainda entendem o turismo como
expresso de fluxos de massa e sentem dificuldade em vislumbrar a viabilidade de lucro de pequena escala
e de longo prazo. Porm, mesmo com este percalo, o turismo de pequenos fluxos o mais adequado para
os propsitos de desenvolvimento do meio rural, pois de outra forma no seria possvel assegurar a
manuteno das reas naturais remanescentes.
Porm, o controle numrico do fluxo turstico (comumente chamado de capacidade de carga, ou
capacidade de acolhida), ainda que rigoroso, no assegura, por si s a sustentabilidade ambiental desta
atividade. Esta prtica precisa ser regida por normas de uso do espao, horrios de atendimento, padres
aceitveis de comportamento e, sobretudo, por uma forma de estar no ambiente orientada pelo desejo de
experimentar e aprender. Da a importncia de transformar a atividade turstica na natureza e no meio
rural em um valioso momento de convvio e aprendizagem e, neste sentido, a educao ambiental mostrase importante e deve ser incorporada ao planejamento como um pressuposto bsico para o sucesso da
atividade.
De acordo com o Art. 1 da Lei Federal n 9.795 de 27 de abril de 1999, que instituiu a Poltica
Nacional de Educao Ambiental:
Entende-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a
conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e da sua
sustentabilidade.
Lombardo (2000) atribui importncia educao ambiental pelo fato de que ela transcende sua
essncia, chegando aos mbitos econmicos, polticos e sociais. Neste sentido, evidencia a sua
interdisciplinaridade e intersetorialidade, permitindo o engajamento dos diferentes agentes sociais
Joo Pessoa, outubro de 2011

123
responsveis pela formao de cidados conscientes de seus direitos e deveres, inclusive no que se refere
preservao da paisagem e da qualidade de vida.
As aes de educao ambiental pretendidas para a rea em estudo, no se limitam aos fluxos de
visitantes. Os prprios proprietrios precisam ser sensibilizados quanto necessidade de manter o espao
visitado limpo, conservado e em condies de ser contemplado pelos visitantes. Portanto, a insero da
prtica da educao ambiental nas atividades receptivas pretendidas para a BHRSV, vai para alm do
simples ato de transmitir conhecimentos. Deseja-se uma real mudana de comportamento, tanto por parte
dos visitantes, quanto por parte dos visitados, que em primeira instncia, so os guardies do patrimnio
turstico.
O TURISMO E A EDUCAO AMBIENTAL COMO OPES PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E
PROTEO DOS RECURSOS NATURAIS DA BACIA HIDROGRFICA DO RIBEIRO sO VICENTE
O Ribeiro So Vicente um dos tributrios da bacia hidrogrfica do Rio da Prata que, por sua vez,
afluente do rio Tijuco. Este ltimo desgua no rio Paranaba, que integra a Bacia Platina. A rea
correspondente bacia tijucana, inspirou uma srie de estudos sobre suas mais variadas caractersticas.
Rocha et al (2001) por exemplo, investigaram os aspectos geomorfolgicos desta bacia, traando um perfil
bem claro do tipo de paisagem que encontrado em todo o municpio. Por sua vez, os impactos do uso da
terra sobre a cobertura vegetal de Ituiutaba, foram estudados por Rezende e Rosendo (2009), que
trabalharam com trs cenrios temporais distintos (1987, 1997 e 2007), para mostrar os ritmos da
profunda transformao sofrida por Ituiutaba no perodo delimitado para sua investigao.
De acordo com estas ltimas autoras, no meio rural de Ituiutaba predominam atividades
relacionadas ao agronegcio canavieiro e pecuria extensiva, com ampla utilizao do espao, o que
resultou na reduo das reas de vegetao natural, ocasionando a degradao de inmeros recursos ali
existentes. Trabalhos de campo realizados para a elaborao desta pesquisa comprovaram que em 2011,
estas atividades ainda dominam a paisagem na rea correspondente rea estudada (foto 01).
Ainda segundo Resende e Rosendo, as pastagens ocupam o maior percentual de reas em todos os
perodos analisados, de forma que a vegetao nativa ocasionalmente reduziu-se ou expandiu-se, de
acordo com o contexto poltico-legislativo de cada perodo. Em 1987, as reas de vegetao nativa
ocupavam 18,81 %, e este valor foi reduzido para 12,44% em 1997. Esta reduo se deveu expanso da
pecuria, que requeria cada vez mais reas para a expanso das pastagens, assim como algumas atividades
agrcolas.

Foto 01: Canaviais e pastagens no meio rural sul de Ituiutaba (MG).


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

124
Fonte: Anderson Pereira Portuguez (2011).
Com a criao de novas leis de proteo da natureza, este percentual voltou a se elevar, de forma
que em 2007, a cobertura de matas nativas chegou ao patamar de 18,92% do territrio municipal. Neste
sentido, a recuperao destas reas naturais deveu-se principalmente publicao de novas normas
jurdicas, como por exemplo a Medida Provisria n. 2.166-67 de 24 de agosto de 2001, que alterou
diversos artigos da Lei n 4.771 de 15 de setembro de 1965, que instituiu o Cdigo Florestal Brasileiro. Para
as Rezende e Rosendo (2009), a manuteno das reas de Preservao Permanente (APP) passou a ser uma
realidade mais concreta no meio rural por elas investigado.
O mapa 02, a continuao, mostra que o alto curso do Ribeiro So Vicente a rea que apresenta
a maior concentrao de vegetao nativa, enquanto no baixo curso, as matas ciliares e o Cerrado cederam
espao aos grandes plantios canavieiros.

Mapa 02: Antropizao da BHRSV.


Apesar deste alto grau de antropizao, a BHRSV ainda apresenta uma srie de localidades dotadas
de condies adequadas para a incorporao de atividades produtivas de baixo impacto, como o caso do
turismo no espao rural12. Evidentemente, est-se aqui, falando de uma prtica devidamente planejada no
sentido de no assumir feies de turismo de massa.
Advoga-se que o turismo composto por fluxos controlados, pode ser uma importante ferramenta
de proteo e valorizao da natureza local, pois presume a manuteno dos aspectos paisagsticos
considerados atraentes. Soma-se a isto, o fato de a BHRSV estar bem prxima da sede municipal, que
segundo Guerra (2006), um dos municpios mineiros com alta concentrao de classe mdia, o que lhe
assegura pblico consumidor potencial residente em rea prxima.
12

No trataremos neste trabalho de conceitos relacionados s tipologias de prticas tursticas, pois este um
tema absolutamente tangencial aos propsitos deste estudo. Reconhecemos a existncia de uma ampla segmentao
do mercado turstico, assim como das discusses acadmicas derivadas desta segmentao. No entanto, optou-se
aqui por uma abordagem mais genrica, para que o foco das anlises fosse dado ao espao enquanto categoria de
anlise primordial da Geografia do Turismo.
Joo Pessoa, outubro de 2011

125
A bacia delimitada por um conjunto de formaes geomorfolgicas escarpadas, localizadas em
altitudes que variam de 550 a 750 metros de altitude, ora caracterizadas por serras de topos aplainados,
ora por morros residuais13 que, do ponto de vista turstico, propiciam mirantes naturais importantes para
aes de contemplao e caminhadas em trilhas. As prprias estradas rurais que do acesso aos diversos
recantos da bacia possibilitam bons pontos de observao e interpretao da paisagem, uma vez que foram
traadas em boa parte, em sentido perpendicular aos divisores de guas (foto 2).

Foto 2: Estrada rural na BHRSV.


Fonte: Bruno de Freitas (2011).
Na foto 02, v-se que as serras escarpadas ao fundo, sofreram a ao de processos de eroso
diferencial que, com o tempo, deram origem a morros residuais que emolduram a BHRSV. Estes morros so
em sua maioria ainda recobertos por vegetao nativa, formadas por bosques remanescentes e vegetao
secundria, nos quais h trilhas naturais e/ou criadas para uso cotidiano propcias para a prtica de
atividades de educao ambiental e turismo.
Nas escarpas do alto curso, os crregos tributrios do Ribeiro So Vicente drenam o terreno de
relevo mais movimentado, ocasionalmente dando origem a cachoeiras de pequeno porte, localizadas,
sobretudo, em reas prximas s suas nascentes. Estas quedas dgua esto no interior de propriedades
rurais e, por este motivo, o acesso restrito aos moradores das fazendas e pessoas de seus crculos de
convvio. A abertura das mesmas para o turismo pressupe a criao de um circuito turstico e de educao
ambiental que envolva a participao e mobilizao dos proprietrios que, pelo que se percebeu at o atual
momento da pesquisa, reconhecem o potencial turstico da bacia, mas desconhecem os mecanismos
adequados para formatarem conjuntamente produtos compatveis com os atuais usos que fazem deste
espao.
CONCLUSES
O estudo ora apresentado pautou-se em trs conceitos fundamentais: sustentabilidade, educao
ambiental e turismo alternativo. Viu-se que do ponto de vista terico, h uma ampla discusso sobre a
noo de sustentabilidade, que enseja muitas divergncias entre os pesquisadores, pois muitos a acusam
de ser um mero discurso miditico. Por outro lado, h um grupo de estudiosos que mesmo reconhecendo o
13

Os morros residuais so compostos por rochas formadas no perodo Pr-Cambriano que foram
metamorfizadas ganhando grande resistncia ao processo intempricos, onde predominam os migmatitos de
estrutura complexa (policclicos) de paleossoma predominantemente gnssico (SUGUIO e MARTIN, 1978).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

126
empobrecimento do sentido deste termo devido ao seu uso indiscriminado, acreditam que
sustentabilidade uma designao ainda vlida para referirem-se aos processos de desenvolvimento
com respeito s necessidades culturais, sociais e ao meio ambiente.
O turismo, sobretudo quando planejado para espaos de baixa tecnificao, necessita ter os
pressupostos da sustentabilidade incorporados ao seu planejamento, para que no provoque graves
impactos sobre o conjunto de lugares onde ser praticado. Para tanto, necessrio um cuidadoso trabalho
de educao ambiental, no sentido de despertar a sensibilidade ambiental na classe poltica, no meio
empresarial, entre os turistas e na comunidade receptora. Todos necessitam trabalhar juntos no sentido de
estruturarem espaos de visitao nos quais a prtica turstica converta-se em um importante momento de
aprendizagem coletiva.
Do ponto de vista emprico, constatou-se que a BHRSV se encontra bastante alterada pelas formas
histricas de uso e ocupao do espao, onde h uma grande concentrao de renda nas mos de
proprietrios que exploram basicamente a pecuria extensiva e a agricultura canavieira direcionada ao
mercado do grande capital.
Apesar deste cenrio, h inmeras reas ainda com bosques remanescentes de Cerrado, que so
propcias para atividades de turismo, contemplao, realizao de trilhas e outros. E justamente neste
sentido que o presente trabalho traz contribuies, incentivando prticas que, ao mesmo tempo em que
contribuem para a agregao de renda, ajudam no despertar de uma conscincia ambiental e social mais
ampla e crtica.
REFERNCIAS
DIAS, Reinaldo. Turismo sustentvel e meio ambiente. So Paulo: Atlas, 2003.
GUERRA, Alexandre et al (org.). Atlas da nova estratificao social no Brasil: classe mdia,
desenvolvimento e crise. V. 1, So Paulo: Cortez, 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Censo demogrfico 2010: dados municipais
de Ituiutaba (MG). Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em
10/06/2011.
LOMBARDO, Maria Adelaide. Educao ambiental como subsdio escola do futuro. In: FREITAS,
Maria Isabel Castreghini de; LOMBARDO, Maria Adelaide. (Org.). Universidade e Comunidade na Gesto do
Meio Ambiente. 7ed. Rio Claro: Pginas & Letras, 2000. p. 27-62.
PRESIDNCIA DA REPBLICA. Medida Provisria n. 2.166-67 de 24 de agosto de 2001: Altera a Lei
No. 4.771 de 15 de setembro de 1965, que instituiu o Cdigo Florestal Brasileiro, e d outras providncias.
Disponvel em <http://www.mma.gov.br>. Acessado em 10 de junho de 2011.
______, Lei Federal n 9.795 de 27 de abril de 1999: Institui a Poltica Nacional de Educao
ambiental. Disponvel em <http://www.mma.gov.br>. Acessado em 10 de junho de 2011.
PETROCCHI, Mrio. Turismo: planejamento e gesto. So Paulo: Futura, 2001.
PORTUGUEZ, Anderson Pereira. Turismo e aquecimento global: perspectivas de sustentabilidade. 3
ed. So Paulo: Clube de Autores, 2010.
REZENDE, Mariana, ROSENDO, Jussara Santos. Mapeamento do uso da terra e cobertura vegetal do
municpio de Ituiutaba MG, no perodo de 1987, 1997 E 2007. In: IX Encontro Interno e XIII Seminrio de
Iniciao Cientfica, PIBIC-UFU, CNPq e FAPEMIG, 2009, Uberlndia. Anais. Uberlndia, CD-ROOM, 2009, sp.
ROCHA, Marlon Rogrio et al. Mapeamento Geomorfolgico do Tringulo Mineiro. In: 8 Encuentro
de Gegrafos de Amrica Latina, 2001, Santiago de Chile. Anais do 8 EGAL. Santiado de Chile, Universidad
de Chile, v. 2, 2001.
RODRIGUES, Adyr B. Turismo e espao: rumo a um conhecimento transdisciplinar. So Paulo:
Hucitec, 1997.
RODRIGUES, Valdemir Antonio. A importncia das florestas na educao ambiental e como
proteo da biosfera. In: FREITAS, Maria Isabel Castreghini de; LOMBARDO, Maria Adelaide. (Org.).
Universidade e Comunidade na Gesto do Meio Ambiente. 7ed. Rio Claro: Pginas & Letras, 2000. p. 149155.
SOUZA, Marcelo Jos L. de. Como pode o turismo contribuir para o desenvolvimento local? In
RODRIGUES, Adyr A. B. (org.). Turismo e desenvolvimento local. So Paulo: Hucitec, 1997, p. 17-22.
Joo Pessoa, outubro de 2011

127
SUGUIO, K.; MARTIN, L. Mapa geolgico: Folha Santos. So Paulo: AEE/USP/FAPESP. Escala
1:100.000, 1978.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

128

USO DO SIG NO MAPEAMENTO DOS PONTOS TURSTICOS DO MUNICPIO


DE AREIA PB (ESTUDO DE CASO ENGENHO QUATI)
Guttemberg da Silva SILVINO
Professor do DSER/CCA/UFPB Universidade Federal da Paraba, guttemberg@cca.ufpb.br
Franciezer Vicente de LIMA
Eng Agrnomo CCA/UFPB, mestrando em Cincia do solo UFPB, franciezer@hotmail.com
Helder Carneiro Garrido Arruda de SOUZA
Engenheiro Agrnomo CCA/UFPB, helder_arso@hotmail.com

RESUMO
Os Sistemas de Informao Geogrfica - SIG surgiram a partir da necessidade de armazenar e
processar volumes cada vez maiores de dados sobre a Terra e solucionar questes ambientais cada dia
mais complexas. As aplicaes destes sistemas tm se ampliado, acompanhando a evoluo dos
dispositivos de coleta de dados e das facilidades computacionais. SIGs so ferramentas que permitem
trabalhar com informao espacial geogrfica, integrando e sobrepondo vrios tipos de informao sendo
uma poderosa ferramenta que trabalha com diferentes softwares para interpolao de um conjunto de
programas que permitem armazenar, modificar e extrair informao de um banco de dados para que estes
possam ser arquivados e/ou manipulados para qual seja finalidade: planejamento, referenciamento,
delimitaes, etc. O presente trabalho aborda a aplicao do SIG no mapeamento e na caracterizao do
engenho Quati, inserido no municpio de Areia PB, na gerao de mapas planimtricos, a partir da coleta
de dados pelo GPS Sistema de Posicionamento Global e uso do Sistema de Informao Geogrfica na
gerao de mapas e formao de um banco de dados geogrfico.
Palavras-chave: Georreferenciamento, mapa temtico, banco de dados geogrfico.
INTRODUO
A observao e a representao da superfcie terrestre so partes importantes na organizao da
sociedade. Vivemos em um mundo de natureza espacial, lidando diariamente com um complexo conjunto
de interaes espaciais e tomando regularmente, de maneira intuitiva, decises que envolvem conceitos de
distncia, direo e localizao relativa. No passado informaes espaciais eram coletadas por guerreiros,
navegadores e exploradores e representadas graficamente pelos antigos cartgrafos atravs de mapas.
Na era moderna, a necessidade de armazenamento, anlise e apresentao de um volume cada vez
maior e mais complexo de observaes sobre o planeta, levou utilizao de computadores para a
manipulao destes dados e ao desenvolvimento de sistemas automatizados sofisticados, que so
conhecidos como Sistemas de Informao Geogrfica ou simplesmente SIG. Os primeiros SIGs foram
desenvolvidos na dcada de 60 por agncias governamentais, como resultado da necessidade premente de
lidar com questes ambientais complexas.
A dinmica e a complexidade das operaes no setor agrcola requerem o controle e a atualizao
constante de informaes. Estas informaes esto associadas s propriedades agrcolas e suas
particularidades, cujos detalhes esto normalmente ligados, entre outros, aos mapas das reas, sua diviso
em blocos e talhes, vias de acesso, relevo, tipos de solo e uso da terra. Do manuseio e controle de tal
volume de dados depende o gerenciamento agrcola, que, por sua vez, deixar de ser eficiente se estes
dados no se apresentarem de forma integrada, atualizada e de fcil interpretao.
A coleta de informaes sobre a distribuio geogrfica de recursos naturais, propriedades, animais
e plantas sempre foi uma parte importante das atividades das sociedades organizadas. Os Sistemas de
Informaes Geogrficas - SIG apresentaram-se, como uma opo aos mtodos tradicionais de
gerenciamento, pois constituem uma ferramenta poderosa, integrando dados espaciais e seus atributos,
possibilitando a simulao, a modelagem e a visualizao de informaes associadas aos mapas de reas de
cultivo e fornecendo subsdios ao processo de tomada de decises.
A UFPB/CCA/DSER tem desenvolvido pesquisas na rea de Solos e Engenharia
Rural, tais como
uso da terra, caracterizao de solos e anlises do meio fsico utilizando as tcnicas de geoprocessamento e
sensoriamento remoto.
Os trabalhos realizados pela UFPB/CCA/DSER, tm gerado informaes relevantes que retratam
alguns dos importantes segmentos da cana-de-acar paraibana. Por meio de levantamentos de dados e
Joo Pessoa, outubro de 2011

129
anlises de solos e na gerao de mapas de uso e ocupao das terras. Nesse sentido a caracterizao da
relao entre a cana-de-aucar e a produo da cachaa existente nos engenhos do municpio de Areia-PB,
tm sido tarefas importantes, realizadas pelo Departamento de Solos e Engenharia Rural do CCA/UFPB.
O objetivo deste trabalho apresentar como o SIG pode ser aplicado na agricultura e mais
especificamente no mapeamento do engenho Quati, localizado no municpio de Areia PB, com formao
de um banco de dados geogrfico e na gerao do mapa planimtrico.
MATERIAL E MTODOS
A rea de estudo onde esto inseridos os engenhos, localiza-se no municpio de Areia-PB
(Figura 1). No desenvolvimento desse estudo foram utilizados dados bibliogrficos, bem como as
ferramentas de Geoprocessamento, para o georreferenciamento dos pontos, feies e trajetos com a
utilizao do Sistema de Posicionamento Global GPS, j os suportes lgicos de software utilizados foram
os seguintes: Software TrackMaker 13.8 para importao dos dados coletados em campo e o Sistema de
Informaes Geogrficas SPRING 5.1, na gerao de mapas e formao do banco de dados.
3830'

LOCALIZAO GEOGRFICA DA REA DE ESTUDO

3800'

3730'

3700'

3630'

3600'

3530'

3500'

600'

e do

rand
Rio G

Norte

Areia

630'

Guarabira
Areia

Cear

700'

ntic
Atl

Patos

ano

Barra de Santa Rosa

Oce

Bananeiras

Sousa

Joo Pessoa
Campina Grande

730'

co

bu

m
rna
Pe

co

u
mb

Monteiro

a
ern

800'

LEGENDA
EXPERIMENTO

Figura 1 Localizao da rea de Estudo.


A metodologia utilizada pode ser dividida em duas partes: o levantamento de campo e a
manipulao e processamento dos dados. No levantamento de campo foi realizada a obteno das
coordenadas geogrficas de pontos e feies utilizando o equipamento GPS. Para o levantamento da rea
total da propriedade onde est inserido o engenho Quati, foi percorrido todo seu permetro e a coleta de
dados foi realizada em todos os vrtices de seus limites, em seguida utilizou-se da mesma metodologia
para levantamento dos pontos internos, a saber: Todas as edificaes existentes, reas utilizadas para
cultivo enfatizando a utilizada com cana-de-acar, bem como as reas ociosas encontradas no engenho, a
rea destinada a Preservao Permanente, etc. Aps o processo de obteno dos dados em campo, onde
os mesmos foram processados no computador por meio dos softwares GPS TrackMaker 13.8 e SPRING
5.1.5, os quais foram imprescindveis para processar e manipular as informaes, com a finalidade da
gerao dos mapas temticos e a formao do banco de dados geogrfico facilitando assim o planejamento
do uso.
As informaes dos diversos pontos tursticos inseridos no municpio de Areia-PB, esto sendo
colhidas em parceria com a Secretaria de Turismo Municipal de Areia-PB e confirmadas junto aos pontos
tursticos visitados. No caso especfico dos Engenhos, estas informaes so primordiais, pois sero
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

130
lanadas no banco de dados a fim de proporcionar ao turista a preciso e as informaes da rea onde
esto localizados os engenhos, tais como: diviso dos blocos e talhes, vias de acesso, relevo, tipos de solo
e uso da terra, dados de resitncia a penetrao, etc.
O GPS um sistema de abrangncia global, pois permite o posicionamento exato em tempo real,
consiste de uma rede de 24 satlites em 6 planos de rbita sobre a Terra a uma altitude de 20.200
quilmetros aproximadamente. Considerando as limitaes tcnicas de seu uso, o GPS de navegao
bastante til, embora no fornea uma preciso to exata quanto os demais, seu baixo custo, sua
portabilidade e fcil manuseio o tornam vivel para empresas, especialmente as de pequeno porte,
pesquisadores e usurios comuns, (FONTANA, 2003).
De acordo com (Alves, et al., 2000), Os SIGs podem ser usados para adicionar valor aos dados
espaciais, permitindo que os mesmos possam ser organizados e visualizados eficientemente,
transformando-os em informao, propiciando a integrao de diversos tipos de dados, em diferentes
escalas, criando informaes novas e ajudando na tomada de decises. Nesse sentido, Os SIGs tratam os
dados que descrevem fenmenos aos quais est associada alguma dimenso espacial, uma vez que utiliza
uma classe particular de dados espaciais: os dados georreferenciados ou geogrficos, que so aqueles que
descrevem fatos, objetos e fenmenos do globo terrestre, associados sua localizao sobre a superfcie
terrestre, num certo instante ou perodo de tempo.
RESULTADOS E DISCUSSO
As aes no mbito do desenvolvimento deste projeto esto sendo desenvolvidas nos horrios
disponveis, onde algumas atividades esto bem avanadas em relao as outras. Neste trabalho sero
apresentados os resultados obtidos com o engenho Quati, que um dos engenhos visitados, pois os demais
ainda esto em processo de coleta de dados para posterior utilizao do SIG.
Para o engenho Quati foi elaborado o mapa geral, com definies de limites e obteno de sua rea
e posteriormente foi realizada sua manipulao, obteve-se um banco de dados juntamente com os mapas
temticos onde o seu acesso se d atravs da seleo do ponto que se deseja obter suas informaes, j os
outros dois engenhos se encontram em fase de obteno de dados, ou seja, na fase de levantamento de
dados de campo. A Figura 2 mostra o mapa geral da fazenda onde est localizado o engenho Quati, onde a
partir deste pode-se observar onde esto localizadas as plantaes com cana-de-aucar, suas reas, a
localizao do engenho, etc. Para posteriormente efetuar sua caracterizao da rea, bem como verificar a
relao de cana-de-aucar plantada com a produo do engenho.
Pode-se verificar na Figura 2 que est sendo diferenciada cada rea de acordo com a sua utilizao,
existindo uma diversidade de cultivo sendo uma pequena rea destinada ao cultivo de cana-de-acar com
uma rea de 4,00 ha aproximadamente, sendo toda a produo para este caso, destinada a produo de
rapadura.
Em relao aos mapas temticos gerados, sugerem-se tambm gerar um banco de dados
geogrfico com a classificao dos solos inseridos na rea, com os dados de resistncia a penetrao, e com
as informaes referentes a arquitetura do engenho, j que so informaes relevantes para a adoo de
manejos adequados de acordo com os dados levantados.

Joo Pessoa, outubro de 2011

131

Figura 2 Mapa geral da fazenda Quati.


O banco de dados georreferenciado permitiu a associao dos atributos alfanumricos aos
atributos geogrficos, possibilitando a combinao de um conjunto de informaes referentes s
caractersticas dos solos, dos valores da resistncia a penetrao e da arquitetura dos engenhos.
A Figura 3 mostra o banco de dados geogrfico aplicado aos dados relacionados com a classificao
dos solos inseridos na rea de estudo.

Figura 3 Banco de dados dos solos existentes na rea de estudo.


A Figura 4 mostra a gerao do banco de dados geogrfico com os dados obtidos em campo
pela equipe da disciplina de Mecanizao Agrcola, referente a resistncia penetrao, levando em
considerao sua localizao, referncia, valores da presso (Kpa) para diferentes profundidades.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

132

Figura 4 Banco de dados com valores de Resistncia a Penetrao.


A Figura 5 mostra o banco de dados geogrfico com os dados levantados com as
caractersticas das edificaes localizadas na rea de estudo, enfatizando a estrutura do engenho,
mostrando algumas informaes importantes, como: largura, comprimento, rea, p-direito, tipo de
edificao, tipo de piso etc.

Figura 5 Banco de dados geogrfico das edificaes inseridas na rea de estudo.


CONCLUSES
A tecnologia do Sistema de Informaes Geogrficas (SIG) utilizada neste trabalho mostrou-se
adequada na gerao do banco de dados;
O banco de dados georeferenciado proporciona acesso rpido e de forma prtica s informaes
importantes, constituindo assim, uma ferramenta de grande utilidade, gerado por este trabalho;

Joo Pessoa, outubro de 2011

133
As informaes, juntamente com os dados j existentes neste trabalho, formaram um banco de
dados consistente, que ficar a disposio dos usurios, que tero acesso aos dados atravs de um
microcomputador;
O georreferenciamento da rea juntamente com a formao do banco de dados e dos mapas
planimtrrios auxiliam na organizao dos dados, implicando um melhor planejamento das atividades
realizadas na propriedade.
REFERNCIAS
ALVES, H. M. R.; VIEIRA, T. G. C.; ANDRADE, H. Sistemas de Informao Geogrfi ca na avaliao de
impactos ambientais provenientes de atividades agropecurias. v. 21, n 202, p. 99-109 . Belo Horizonte:
Revista Agropecuria e Ambiente / Informe Agropecurio, jan./fev., 2000.
Cmara, Gilberto; Casanova, Marcos A.; Hemerly, Andra S.; Magalhes, Geovane Cayres e
Medeiros, Claudia M. Bauzer. Anatomia dos Sistema de Informaes Geogrficas Campinas/SP: Instituto de
Computao, UNICAMP, 1996.
FONTANA, S. P. GPS de navegao do futuro. 2 Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2003. 304p.
Rocha, V.J.; Gerenciamento de operaes agrcolas em sistema de informaes geo-referenciadas.
[on line] Visitado em Agosto/2005. http://orion.cpa.unicamp.br/html/cigv1n1a5.html
"SPRING: Integrating remote sensingand GIS by object-oriented data modelling" Camara G, Souza
RCM, Freitas UM, Garrido J Computers & Graphics, 20: (3) 395-403, May-Jun 1996.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

134

TURISMO DE BASE COMUNITRIA: FORTALECENDO A CONSERVAO DE


MODOS DE VIDAS LOCAIS E DA BIODIVERSIDADE NA REGIO SUDOESTE
DA MICROBACIA DO RIO SAGRADO - MORRETES (PR)
Gabriela Zamignan
Mestranda do Programa de Ps-Graduao (PPG) em Meio Ambiente e Desenvolvimento (MADE) da Universidade Federal
do Paran (UFPR). Bolsista Capes.
E-mail: gabinhaaa_@hotmail.com
Carlos Alberto Cioce Sampaio
Professor Permanente do PPG em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau e Colaborador do PPG
em Meio Ambiente e Desenvolvimento (MADE) da Universidade Federal do Paran. Pesquisador CNPq.
E-mail: carlos.cioce@gmail.com

RESUMO
O turismo de base comunitria (TBC) desponta como alternativa ao modelo de turismo
convencional praticado, priorizando a conservao de modos de vidas locais e a preservao da
biodiversidade, oportunizando s pequenas comunidades com desvantagens socioeconmicas, a gerao
de renda e desenvolvimento local. O presente trabalho tem como intuito discutir a perspectiva do TBC no
fortalecimento dos modos de vida das comunidades locais, bem como a conservao da biodiversidade,
apontando sua contribuio no desenvolvimento de experincias de convivencialidade entre visitante e
visitado. Nesse sentido, pode-se concluir que mesmo por se encontrar em fase incipiente, a experincia de
Turismo Comunitrio do Rio Sagrado favorece que prticas e conhecimentos tradicionais, que permeiam na
histria destas comunidades, sejam resgatados e valorizados por meio da atividade turstica. Ao mesmo
tempo, oportuniza uma aproximao do visitante em relao ao visitado, na qual as vivncias possibilitam
de forma especial o contato com o cotidiano e costumes da populao local.
Palavras-chave: Turismo de Base Comunitria; Modos de vida; Vivncias.
Introduo
Atualmente, o turismo vem sendo tratado como uma das principais alternativas seja no mbito
social ou econmico para promover o desenvolvimento de diversas localidades. Contudo, este cenrio
mostra que ao mesmo tempo em que o turismo pode ser considerado um importante instrumento de
promoo social, quando mal planejado e estruturado, pode gerar impactos socioambientais, econmicos
e culturais irreversveis (RUSCHMANN, 1997). Assim, o desenvolvimento da atividade turstica necessita de
polticas publicas direcionadas e planejamento ordenado para que suas aes se concretizem de forma a
gerar benefcios e melhorias na qualidade de vida dos atores envolvidos.
Neste limiar, surge como proposta o Turismo de Base Comunitria, baseado nos modos de vidas
locais, que favorecem aes de desenvolvimento local endgeno bem como prticas de economia solidria
na cadeia produtiva da atividade turstica. Essa nova forma de organizao do turismo busca a construo
de um modelo turstico alternativo, o qual valoriza a cultura local, transformando a comunidade local como
protagonista na organizao e desenvolvimento do TBC.
Para tanto, o presente trabalho apresenta a experincia de turismo de base comunitria na regio
sudoeste da Microbacia do Rio Sagrado Morretes (PR), com intuito de discutir como essa perspectiva
favorece o fortalecimento dos modos de vida das comunidades locais, bem como a conservao da
biodiversidade, apontando sua contribuio no desenvolvimento de experincias de convivencialidade
entre visitante e visitado.
Metodologia
O presente trabalho baseou-se inicialmente por uma reviso bibliogrfica a qual, de acordo com Gil
(1999), elaborada a partir de material j publicado com a finalidade bsica de desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e ideias para a formulao de abordagens posteriores. Em um segundo momento, para
atingir os objetivos propostos, utilizou-se de pesquisa exploratria, a qual visa proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais explcito (GIL, 1999), com intuito de discutir a

Joo Pessoa, outubro de 2011

135
perspectiva do turismo de base comunitria ilustrada pela experincia do Sudoeste da Microbacia do Rio
Sagrado.
Turismo de Base Comunitria
Considerado como importante agente de desenvolvimento, o processo de organizao do turismo
necessita ter como base os princpios da sustentabilidade, a fim de preservar os valores culturais e recursos
naturais disponveis.
Um exemplo que se projeta neste sentido o Turismo Comunitrio ou de Base Comunitria (TBC),
com intuito de construir um modelo mais justo e equitativo de turismo, que considera as mais diversas
dimenses da sustentabilidade, colocando a comunidade local no centro do planejamento, da
implementao e coordenao da atividade turstica, oportunizando a gerao de benefcios para a
melhoria da qualidade de vida da populao local.
O turismo comunitrio pode ser definido como aquele [...] desenvolvido pelos prprios moradores
de um lugar que passaram a ser os articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o
lucro ficam na comunidade e contribuem para melhorar a qualidade de vida (CORIOLANO, 2003 p. 41).
Para a construo de um projeto de TBC, o planejamento configura-se como importante
instrumento de organizao no desenvolvimento da atividade turstica em determinado local. De acordo
com Beni (2006, p. 36), fundamental que o planejamento tenha uma base endgena, ou seja, um
planejamento endgeno, o qual
[...] visa atender s necessidades e demanda da populao local por meio da participao ativa da
comunidade envolvida. Mais do que obter ganhos em relao posio do sistema produtivo local na diviso
nacional ou internacional do trabalho, o objetivo buscar o bem-estar econmico, social e cultural da
comunidade local, o que leva diferentes caminhos de desenvolvimento, conforme as caractersticas e
capacidades de cada economia e sociedades locais.

Ao mesmo tempo, o turismo comunitrio possibilita o contato do turista com o patrimnio


comunitrio e o modo de vida das comunidades locais. Oportuniza ainda, que visitantes entrem em contato
com assuntos relacionados conservao da natureza (sistemas ecolgicos) e, ao mesmo tempo, a
conservao de modos de vida tradicionais (sistemas sociais) (SAMPAIO; ZECHNER; HENRQUEZ, 2008).
Irving (2009) aborda sobre a importncia da coeso social na experincia de TBC, ou seja, uma
possibilidade de encontro e oportunidade de experincia compartilhada. A autora ainda complementa
que
O turismo de base comunitria, portanto, tende a ser aquele tipo de turismo que, em tese, favorece
a coeso e o lao social e o sentido coletivo de vida em sociedade, e que por esta via, promove a qualidade de
vida, o sentido de incluso, a valorizao da cultura local e o sentimento de pertencimento (IRVING, 2009, p.
111).

Neste sentido, uma das principais caractersticas do turismo comunitrio a criao de


comunicao entre visitantes e visitados, havendo interao e respeito mtuo entre turista e morador; as
relaes so humanizadas, pessoais e singulares, ao contrrio do turismo convencional, onde as relaes
so impessoais, distantes ou nem chegam a existir (CORIOLANO, 2003). Alm dessa convivencialidade,
outra possibilidade vivenciar a dimenso espao-tempo, regulado pelo ciclo natural de um modo de vida
mais conectado com a natureza (SAMPAIO; ZECHNER; HENRQUEZ, 2008).
A experincia de TBC na regio Sudoeste da Microbacia do Rio Sagrado
O objeto de estudo concentra-se na Microbacia Hidrogrfica do Rio Sagrado, pertencente
ao municpio de Morretes, o qual est situado aproximadamente a 65 km de Curitiba (PR), a 45 km do
Porto de Paranagu (PR) e a 190 km de Blumenau (SC). A regio est inserida na rea de Preservao
Ambiental (APA) de Guaratuba, Unidade de Conservao Estadual de Uso Sustentvel instituda pelo
Decreto Estadual n 1.234 de 27/03/92 (SAMPAIO, ZECHNER & HERIQUEZ, 2008).
A APA de Guaratuba possui cerca de 199.586,51 hectares, representando
aproximadamente 1% do territrio paranaense. Sua extenso abrange os municpios de Guaratuba,
Matinhos, Paranagu, Morretes, Tijucas do Sul e So Jos dos Pinhais, situada nas unidades fisiogrficas:
Plancie Litornea, Serra do Mar e Primeiro Planalto. O municpio de Morretes representa apenas 6% da
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

136
rea total referente a APA de Guaratuba, a qual foi instituda pelo Decreto Estadual n 1.234 de 27 de
maro de 1992 (IAP, 2011).
A populao local constituda aproximadamente por 520 famlias, sendo 270 famlias residentes,
predominantemente pequenos proprietrios rurais, e 250 famlias no-residentes, ou seja, proprietrios de
chcaras ou stios de lazer (ALVES, 2008; ZECHNER, 2007). As comunidades esto organizadas atravs de
duas associaes, a Associao de Moradores do Rio Sagrado (AMORISA) e a Associao Comunitria
Candonga, tendo a primeira entre outras finalidades a da gesto do abastecimento da gua. A segunda
associao tem como finalidade principal a agroindustrializao de produtos in natura em sua sede (na qual
est instalada uma cozinha comunitria) e desenvolve aes com o intuito de atuar na defesa dos
interesses sociais, culturais e econmicos das famlias associadas.
A experincia de Turismo de Base Comunitria na regio sobrevm desde 2006, tendo como
principal diferencial a oferta de vivncias aos visitantes. As experincias tursticas se adequam com a
definio de arranjo socioprodutivo de base comunitria quando membros da comunidade se articulam
para a realizao de tais vivncias. a associao (arranjo) de grupos ou indivduos, organizados ou
articulados, que coletivamente (socioprodutivo) se esforam para oferecer aos visitantes aquilo que
possuem de mais simples e verdadeiro: a forma como passam e encaram seu dia-a-dia. Isso se d no
territrio, no local, ou seja, na comunidade. Estes socioprodutores agregam valor social e ambiental aos
seus bens e servios, se beneficiando alm do aspecto econmico, passando a incorporar aspectos
culturais, ambientais, sociais e polticos s suas atividades. Nestas vivncias, o turista tem a oportunidade
de entrar em contato com o modo de vida, com o dia a dia do morador local, favorecendo o intercmbio
cultural, as trocas de experincias, conhecimentos e saberes.
O TBC no Sudoeste da Microbacia do Rio Sagrado insere-se numa proposta de
desenvolvimento integrado e sustentvel, abrangendo as diversas dimenses da vida comunitria e da
organizao das atividades ligadas educao, sade, meio ambiente, sendo que a atividade turstica
tem funo complementar na economia da comunidade.
Dentre as atividades oferecidas, destacam-se a agroindustrializao da mandioca e do caf; a
agroindustrializao de frutas e verduras realizada na cozinha comunitria, a visitao a uma propriedade
que adota a agroecologia; a extrao e o feitio de artesanato com a fibra da bananeira; oficinas de
bioconstruo e meliponicultura (criao de abelhas nativas). Os preos atuais subsidiados para fins
pedaggicos ou investigativos so de R$ 5,00 para cada oficina (na maioria das vezes so 4, duas no sbado
de tarde e duas no domingo de manh) e de R$ 80,00 para hospedagem por um fim de semana - check-in
no sbado ao meio dia e check-out no domingo depois do almoo - com todas as refeies inclusas.
Uma das vivncias que atrai diversos visitantes ao local a Feira de Trocas. A feira tem como
principais participantes os prprios moradores da comunidade e visitantes, oportunizando que os turistas
troquem seus objetos por produtos artesanais e outros tpicos do espao rural. Com intuito de oportunizar
espaos de dilogo, trocas de saberes e conhecimentos, as feiras de trocas tem como principal
caracterstica o no uso de dinheiro, fomentando uma idia de valorao das relaes sociais.
As vivncias de turismo comunitrio realizadas na Microbacia do Rio Sagrado se realizam a partir de
um pacote turstico de final de semana. Os visitantes ficam hospedados em instalaes rsticas e
aconchegantes na Hospedaria Montanha Beija-Flor Dourado. Os visitantes so organizados em grupos
pequenos, entre quinze e vinte pessoas, orientados logisticamente por um colaborador do Instituto LaGOE.
Contudo, as oficinas so coordenadas por socioempreendedores da comunidade agricultores familiares e
artesos e por socioempreendimentos coletivos - Associao Comunitria Candonga, Associao de
Artesos de Morretes e Associao de Moradores do Rio Sagrado.
Resultados e discusses
O Turismo de Base Comunitria, do ponto de vista cultural, respeita os legados culturais e as
tradies do local e, dessa forma, pode se constituir como instrumento para fortalec-las e, at mesmo,
resgat-las. O TBC significa aprendizagem, conhecimento, encontro de pessoas. Representam-se os valores,
signos e smbolos que favorecem as relaes interpessoais e de hospitalidade entre turistas e visitados.
Oferece um espao de encontro e convivencialidade, estabelece uma relao interativa, expressando sua
essncia nas trocas e intercmbios culturais (ZAMIGNAN & SAMPAIO, 2010).
Assim, a comunidade se torna protagonista na organizao da atividade no local, eliminando-se as
aes de intermedirios, estabelecendo, assim, uma relao de compromisso direto entre produtor e
Joo Pessoa, outubro de 2011

137
consumidor. Cita-se o caso dos artesanatos confeccionados a partir do cip imb, os quais so
comercializados na varanda da casa da artes, onde o comprador tem oportunidade de visualizar com seus
prprios olhos o modo de vida desta produtora bem como conhecer sua famlia (filhas e esposo), seus
animais de estimao, sua residncia, suas ferramentas de trabalho, e, at mesmo, tomar um cafezinho
com bolo preparado por ela.
Para o efetivo desenvolvimento do projeto de TBC na comunidade, pode-se evidenciar que a
participao da comunidade local no planejamento e organizao da atividade turstica torna-se elemento
fundamental para o xito dos projetos desejados e, conforme aponta Irving (2002),
Ainda que em pequena escala, experincias bem-sucedidas de participao e envolvimento
comunitrio na tomada de decises e no enquadramento de problemas comuns prioritrios podem ter um
papel singular na mudana de mentalidade dos atores envolvidos, no sentido de co-responsabilidade e
exerccio de cidadania, elementos essenciais ao desenvolvimento efetivo das sociedades humanas rumo ao
terceiro milnio ( p. 37).

O TBC, no que tange a conservao da biodiversidade, pode-se compreender que os


moradores locais detm conhecimentos tradicionais sobre os ecossistemas de sua regio, assim, muitas
vezes sem saber, possuem conscincia conservacionista. Embora cientes das redues dos espaos naturais
de extrativismo, muitas vezes impostos pela criao de unidades de conservao que o caso da
Microbacia do Rio Sagrado, a qual est inserida na APA de Guaratuba e da consequente diminuio de
oferta natural destes recursos, ainda assim veem a si e aos demais membros da comunidade envolvidos em
prticas de consumo que aprenderam diretamente no cotidiano, nas relaes dirias com o ambiente
natural que residem. Assim pode-se dizer que a maneira como entendem o meio ambiente se d pela
forma como estes se relacionam com a natureza.
Diegues & Arruda (2001) evidenciam que:
[...] a biodiversidade no s um produto da natureza, mas em muitos casos produto da ao das
sociedades e culturas humanas, em particular das sociedades tradicionais no-industriais. tambm uma
construo cultural e social [...] ( p.15).

Para Albagli (2003), as populaes tradicionais vem contribuindo para a conservao e o


desenvolvimentos sustentvel in situ de diversos remanescentes florestais. Pode-se citar como exemplo
desta preocupao de populaes tradicionais para com a conservao da natureza, a compreenso da
mata como principal fonte de alimento e renda, as quais construram seus conhecimentos, tcnicas e
prticas de utilizao de recursos (como o palmito, por exemplo) de forma sustentvel, preocupando-se
com a manuteno e manejo dos bens naturais como garantia de sua sobrevivncia. Estas populaes
utilizam o conhecimento empiricamente acumulado sobre os habitats naturais, bem como suas prticas
agrcolas de baixo impacto e de extrativismo de subsistncia adequado ao meio ambiente local, atuando
como verdadeiros guardies do patrimnio natural, passando estes saberes de gerao gerao.
Conforme aponta Diegues (2000), no entendimento de tradio em movimento, o que importante
ressaltar que algo entregue de gerao gerao para reproduzir-se no tempo, ainda que
ressignificado no curso da histria.
Para tanto, essa interao entre as comunidades residentes na Microbacia do Rio Sagrado e
o meio natural na qual esto inseridas, faz com que prticas e conhecimentos tradicionais, que permeiam
na histria destas comunidades, sejam resgatados e valorizados por meio do TBC. A interao entre
moradores rurais e o meio natural constantemente determinada pelas prticas adotadas, e por esta
razo, verifica-se a possibilidade de vincular saberes tradicionais vivncias de turismo comunitrio na
localidade, como j vem acontecendo com o engenho da farinha, o artesanato com cip imb e com a fibra
da bananeira, prticas as quais permeiam por geraes, contribuindo no incremento da renda familiar e, ao
mesmo tempo, na valorizao do patrimnio cultural.
Neste limiar, as experincias que tentam aproximar as comunidades locais dos benefcios
gerados pela atividade turstica, com intuito de promover um turismo baseado na sustentabilidade, de uma
forma ou de outra necessitam ser pensados alem de uma noo de desenvolvimento vinculado somente
ao crescimento econmico. Conforme aponta Irving (2002)
A concepo de desenvolvimento sustentvel implica um novo paradigma do pensar as sociedades
humanas segundo uma nova tica de democratizao de oportunidades e justia social, percepo das
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

138
diferenas como elemento norteador de planejamento, compreenso da dinmica de cdigos e valores
culturais e compromisso global com a conservao dos recursos naturais (p. 35).
Assim, Sampaio (2005) complementa o conceito de turismo comunitrio como um projeto de
comunicao social que favorece as experincias de planejamento para o desenvolvimento de base local,
na qual os residentes se tornam os principais articuladores da cadeia produtiva, bem como no resgate e
conservao de seus modos de vida, os quais podem ser vivenciados atravs da atividade turstica. Assim,
estas comunidades tradicionais que vivem em espaos rurais podem conservar modos de vida prprios,
manifestados em suas atividades produtivas agrcolas e atravs de seu artesanato local. Espera-se que o
TBC proporcione s famlias autctones oportunidades de desenvolvimento, sem interferir nas
particularidades e dinamismo comunitrio.
Para tanto, um projeto TBC s se concretiza efetivamente por meio de uma pea fundamental: a
educao. De acordo com Meyer (apud IRVING, 2002, p. 37), educao um processo de aprendizagem de
conhecimento e exerccio de cidadania que capacita o indivduo para uma viso crtica da realidade e uma
atuao consciente no espao social. Nesse sentido, a educao ambiental pode contribuir na formao de
cidados mais conscientes, construindo valores sociais, conhecimentos e atitudes voltadas para a
conservao do meio ambiente, bem como valorizando seus conhecimentos tradicionais, sua cultura, seu
modo de viver.
Sob esta perspectiva, so inmeras as vantagens que o Turismo de Base Comunitria pode
proporcionar aos agentes envolvidos, como novas oportunidades de desenvolvimento local, no qual os
residentes se tornam os principais articuladores da cadeia produtiva; bem como o resgate e conservao de
seus modos de vida, manifestados em suas atividades produtivas agrcolas e atravs do artesanato local.
Consideraes finais
Ancorado nos princpios da participao, da cooperao, da sustentabilidade, e conservao da
identidade das comunidades bem como da biodiversidade, o Turismo de Base Comunitria requer o
envolvimento dos residentes e dos visitantes no processo de desenvolvimento da atividade, aproximando
os atores comunitrios dos processos de tomada de deciso, favorecendo o amadurecimento poltico da
comunidade.
Assim, o TBC tem como base o desenvolvimento local, constituindo-se como um instrumento de
manuteno da identidade sociocultural das comunidades, alm de estabelecer um intercmbio de
relaes e informaes entre visitantes e visitados, fomentando uma nova dinmica social nestas reas.
Conclui-se que a experincia de TBC nas comunidades do Sudoeste da Microbacia do Rio Sagrado
oportuniza uma aproximao do visitante em relao ao visitado, na qual as vivncias possibilitam de forma
especial o contato com o cotidiano e costumes da populao local, consolidando a identidade das
comunidades e, ao mesmo tempo, favorecendo trocas de conhecimentos e a valorizao de relaes
interpessoais.
Referncias Bibliogrficas
ALBAGLI, S. Interesse global no saber local: a geopoltica da biodiversidade. In: Seminrio Saber
Local / Interesse Global: Propriedade Intelectual, Biodiversidade E Conhecimento Tradicional Na Amaznia,
2003, Belm. Anais... Belm: CESUPA-MPEG, 2003.
ALVES, F. K. Arranjo Socioprodutivo de Base Comunitria: Um projeto piloto na comunidade do
entorno da micro-bacia do Rio Sagrado Morretes Paran. Dissertao Programa de Ps-graduao em
Administrao. Universidade Regional de Blumenau, 2008.
BENI, M. C. Poltica e planejamento de turismo no Brasil. So Paulo: Aleph, 2006.
CORIOLANO, L. N. C. Os limites do desenvolvimento e do turismo. In: CORIOLANO, L. N. M. T. O
Turismo de incluso e o desenvolvimento local. Fortaleza: FUNECE, 2003. p. 13-27.
DIEGUES, A. C. S. & ARRUDA, R.S. (2001). Saberes Tradicionais e Biodiversidade no Brasil. Braslia,
Ministrio do Meio Ambiente; So Paulo, USP, (Biodiversidade, 4).
DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. 3 ed. So Paulo: Hucitec, 2000.
GIL, A. C. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1999.
INSTITUTO AMBIENTAL DO PARAN IAP. Disponvel em: <http://www.pr.gov.br/iap>. Acesso em:
janeiro de 2011.
Joo Pessoa, outubro de 2011

139
IRVING, M. de A. Reinventando a reflexo sobre turismo de base comunitria: Inovar possvel? In:
BARTHOLO, R.; SANSOLO, D. G.; BURSZTYN, I. (Orgs). Turismo de base comunitria: diversidade de olhares e
experincias brasileiras. Rio de Janeiro: Letra e Imagem, 2009.
IRVING, M., Participao questo central na sustentabilidade de projetos de desenvolvimento.
In: Irving, M. e Azevedo, J., Turismo: o desafio da sustentabilidade. captulo 2, So Paulo: Futura. 2002.
RUSCHMANN, D. van de M. Turismo e planejamento sustentvel: A proteo do meio ambiente.
Campinas, SP: Papirus, 1997. (Coleo Turismo).
SAMPAIO, C. A. C. Turismo como fenmeno humano: princpios para se pensar a socioeconomia e
sua prtica sob a denominao turismo comunitrio. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2005.
SAMPAIO, C. A. C.; ZECHNER, T. C.; HENRQUEZ, C. Pensando o conceito de turismo comunitrio a
partir de experincias brasileiras, chilenas e costarriquenha. In: II Seminrio Internacional de Turismo
Sustentvel (SITS), 12 a 15 de maio de 2008, Fortaleza (CE). Anais..., Fortaleza: 2008.
ZAMIGNAN, G.; SAMPAIO, C. A. C. Turismo de base comunitria como perspectiva para a
preservao da biodiversidade e de modos de vidas de comunidades tradicionais: a experincia da
Microbacia do Rio Sagrado, Morretes (PR). In: V Encontro Internacional da ANPPAS, 4 a 7 de outubro,
Florianpolis (SC). Anais..., Florianpolis: 2010.
ZECHNER, T. C. Arranjo socioproduitvo de base comunitria, com nfase no turismo comunitrio: o
caso da Micro-bacia do Rio Sagrado (Morretes, PR). 65 f. Relatrio Final de Estgio Supervisionado II (Curso
de Graduao em Turismo e Lazer). Centro de Cincias Sociais Aplicadas, Universidade Regional de
Blumenau, Blumenau, 2007.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

140

O POTENCIAL DO TURISMO RURAL NO MUNICPIO DE SANTA CRUZ DA


BAIXA VERDE-PE
SOUSA, Gerlcio Moura Bezerra de
Especialista em Solos e Meio Ambiente, Engenheiro Agrnomo, Gegrafo. Extensionista Rural Instituto Agronmico de
Pernambuco (IPA)
gerlucio.moura@ipa.br
SILVA, Maria das Graas Nunes Mand
Gegrafa. Licenciada pela Faculdade de Formao de Professores de Serra Talhada (FAFOPST)
SILVA, Andrea Pereira
Especialita em Educao Ambiental, Bacharel em Turismo. Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA)

RESUMO
Este trabalho pretende diagnosticar as pontencialidades tursticas do municpio de Santa Cruz da
Baixa Verde situado no semirido pernambucano, pautadas no desenvolvimento local sustentvel,
valorizao e promoo da diversidade cultural e preservao da biodiversidade. O Turismo Rural
apresenta-se como alternativa de incremento para agricultura familiar por meio do turismo associativismo
como opo aos empreendimentos que no possuem capacidade de atuarem individualmente. Como
metodologia do estudo utilizou-se reviso bibliogrfica e observaes in loco. Para tanto, propem-se a
necessidade de um planejamento turstico, capacitao tcnica aos atores sociais envolvidos no
desenvolvimento da atividade e melhoria na infra-estrutura.
PALAVRAS-CHAVES: Turismo Rural;Santa Cruz da Baixa Verde; Agricultura Familiar;
Desenvolvimento Local Sustentvel.
INTRODUO
O turismo rural defende a preservao ambiental, o respeito herana social e cultural visando um
desenvolvimento sustentvel. Acredita-se que o desenvolvimento do turismo no espao rural em bases
planejadas e com mecanismos de controle e monitoramento poder alcanar a sua sustentabilidade. Essa
modalidade de turismo considerada a soluo para os problemas decorrentes do crescimento econmico
mundial, como: a marginalizao de algumas regies e pequenas e mdias empresas acentuando
desigualdades, a desertificao humana, a falta de preservao ambiental que geram incertezas quanto ao
futuro desses espaos e sua populao e sem perspectiva de desenvolvimento.
O municpio de Santa Cruz da Baixa Verde-PE, diante de sua populao e atividade econmica
predominante (agropecuria) considerado um municpio rural, com o alto potencial para o
desenvolvimento do turismo rural. Sendo objetivo principal do presente trabalho o levantamento e a
identificao de tal potencial.
CARACTERIZAO DO MUNICPIO SANTA CRUZ DA BAIXA VERDE
O municpio Santa Cruz da Baixa Verde est localizado no serto pernambucano, a 437 km da
capital, limitando-se ao norte com o Estado da Paraba, ao sul com Calumbi e Serra Talhada, a leste com
Triunfo e a oeste com Serra Talhada. A rea do municpio 114,931 km, a vegetao predominante a
floresta subcaduciflia, com clima quente e mido, apresentando uma temperatura mdia anual de 21,9
C, incluindo-se na bacia hidrogrfica Rio Paje; a sede est localizada a 7 49' 14'' S e 38 9' 10'' W, com
altitude de 850m.
Ao consultar os acervos do Instituto Agronmico de Pernambuco (IPA) de Santa Cruz da Baixa
Verde, no documento Plano de Ao Municipal (PAM) de 2011 e verificar informaes sobre a populao
por situao do domiclio e sexo (2000 e 2007), indicadores de renda, pobreza e desigualdade (1991 e
2000), ndice de desenvolvimento humano (2000), pessoas ocupadas segundo as principais atividades
econmicas (2000), produo agrcola municipal (2007), constatou-se que Santa Cruz da Baixa Verde um
municpio rural, tendo como principal atividade econmica a agropecuria, destacando-se a produo da
cana-de-acar.
O TURISMO RURAL E A AGRICULTURA FAMILIAR

Joo Pessoa, outubro de 2011

141
O Turismo considerado uma importante atividade econmica, sendo igualmente atendido como
um instrumento de desenvolvimento. A dinmica da atividade turstica pode movimentar toda a cadeia
produtiva de um municpio/regio, no momento em que demanda uma srie de servios e atividades,
desde hospedagem, alimentao, lojas de artesanato e infra-estrutura bsica com acessos, comunicao e
rede de sade.
O Ministrio do Turismo-MTUR(2006) conceitua turismo rural como:
Conjunto de atividades tursticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produo
agropecuria, agregando valor a produtos e servios, resgatando e promovendo patrimnio cultural e
natural da comunidade.
De acordo com Carvalho & Marques (2008,p.21) dentre as atividades tursticas no meio rural
destacam-se:
Hospedagem;
Alimentao;
Recepo visitao em propriedades rurais;
Recreao, entretenimento e atividades pedaggicas vinculadas ao contexto rural;
Atividades complementares s acima citadas, desde que praticadas no meio rural, que existam em
funo do turismo ou que se constituam no motivo da visitao.
O Ministrio do Desenvolvimento Agrrio por meio do Programa Nacional de Turismo em
Agricultura Familiar pretende promover o desenvolvimento rural sustentvel, atravs da implantao e
fortalecimento das atividades tursticas pelos agricultores familiares, integrado aos arranjos produtivos
locais, agregando renda e gerando postos de trabalho no meio rural, com consequente melhoria das
condies de vida.
Tendo como princpios norteadores do Programa (ibidem, p.23):
A prtica do Associativismo;
A valorizao e resgate do patrimnio cultural (saberes e fazeres) e natural dos agricultores
familiares e suas organizaes;
A incluso dos agricultores familiares e suas organizaes, respeitando as relaes de gnero,
gerao, raa e etnia, como atores sociais;
A gesto social da atividade, priorizando a interao dos agricultores familiares e suas organizaes;
O estabelecimento das parcerias institucionais;
A manuteno do carter complementar dos produtos e servios do Turismo Rural na agricultura
familiar em relao s demais atividades tpicas da agricultura familiar;
O comprometimento com a produo agropecuria de qualidade e com os processos
agroecolgicos;
A compreenso da multifuncionalidade da agricultura familiar em todo o territrio nacional,
respeitando os valores e especificidades regionais;
A descentralizao do planejamento e gesto deste Programa.
ENGENHOS PRODUTORES DE RAPADURA COMO ATRATIVOS TURSTICOS
A produo de rapadura inciou-se no sculo XVI nas ilhas espanholas do Oceano Atlntico:
Canrias, sendo exportada no perodo de grande expanso aucareira, no sculo XVII, para toa Amrica
espanhola.
A partir da raspagem das crostas de acar que ficavam presas s superfcies dos tachos utilizados
na fabricao de acar surgiu a rapadura, sendo o mel resultante deste processo aquecido e colocado em
formas semelhantes s de tijolo.
Segundo Cascudo (1971,p.127):
A rapadura foi o doce das crianas pobres, dos homens simples, regalo para escravos, cangaceiros,
vaqueiros e soldados. Est presente na mesa do sertanejo. o adoante do caf, do leite, da coalhada.
consumida com farinha, munguz, carne de sol, paoca, cuscuz, milho cozido. No h casa sertaneja sem
farinha e rapadura.
Quanto ao perodo inicial da produo de rapadura Gaspar (2009) afirma que:
Os engenhos de rapadura eram pequenos e rudimentares. Possuam apenas a moenda, a fbrica,
onde ficavam as fornalhas, e as plantaes de cana, que normalmente, dividiam o espao com outros tipos
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

142
de cultura de subsistncia. Os grandes engenhos tambm fabricavam rapadura, mas no para fins
comerciais. O produto era utilizado apenas para consumo dos habitantes locais.
Sobre a produo atual da rapadura, Lima (2001,p.962) ressalta que:
No Nordeste do Brasil, os engenhos de rapadura em atividade so, na sua maioria, unidades
antigas, com vrios anos de existncia. Sua produo sazonal, feita em geral nos meses de julho a
dezembro, ou seja, no perodo de estiagem no Agreste e Serto. Os Estados do Cear, Pernambuco e
Paraba so os maiores produtores, existindo tambm produo significativa nos Estados do Piau, Alagoas
e Bahia.
Destacando-se no Cear as regies do Cariri e da Serra do Ibiapaba, na Paraba os plos de Brejo e
Serto, em Pernambuco o serto, principalmente em Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo.
Levantamento realizado pela EMATER/PE em 1995, solicitado pelo SEBRAE, identificou 287
engenhos de rapadura em Pernambuco, segue abaixo.
Tabela 1. Distribuio dos Engenhos de Rapadura. Pernambuco, outubro de 1995.
MUNICPIOS
QT. ENGENHOS
%
rea I

78

Santa Cruz da Baixa Verde

45

Triunfo

33

rea II

111

Afrnio

28

Dormentes

47

Petrolina

36

rea III

73

Iguaraci

Itapetim

18

Santa Terezinha

16

So Jos do Egito

15

Tabira

19

Tuparetama

rea IV

11

Salgueiro

10

So Jos do Belmonte

Outras reas

14

Araripina

Belo Jardim

Ibimirim

Ipojuca

Paudalho

Maraial

So Benedito do Sul

TOTAL

287

Fonte: EMATER/PE. Pesquisa aplicada em outubro de 1995.


Joo Pessoa, outubro de 2011

27,2

38,7

25,4

3,8

4,9

100

143

Lima (2001, p.968) descreve a experincia de comercializao entre os agricultores da Serra da


Baixa Verde e o LAFEPE:
No caso de Pernambuco, observou-se entre 1997 e 1998 uma experincia nova. O Laboratrio
Farmacutico de Pernambuco (LAFEPE) participou de um programa que envolveu alguns produtores de
Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde implicou a aquisio de rapadura triturada, acar mascavo para a
fabricao de pastilhas rapaduras. O LAFEPE ento comercializava as pastilhas com a merenda escolar e nos
seus pontos de venda em Recife, com grande aceitao pelo mercado.
Com a mudana de Governo estadual 1999, o LAFEPE descontinuou essa linha de produo. Essa
experincia, embora frustrada, indica existncia tanto de alternativas de uso da rapadura em novos
produtos quanto de mercado urbano para os mesmos.
Atualmente a rapadura est inserida na merenda escolar de vrios municpios e nas cestas bsicas
dos programas sociais do Governo. Segundo Gaspar (2009):
O consumo da rapadura no Brasil de 1kg por habitante/ano. O maior consumidor mundial a
Colmbia, com a marca de 25kg por habitante/ano, alm de ser tambm primeiro pas produtor de
rapadura na Amrica e o segundo do mundo depois da ndia.
Santa Cruz da Baixa Verde atualmente integra o Projeto Rota do Cangao, por meio do valor
histrico dos seus engenhos. O projeto foi concebido em 2007 pela Empresa Pernambucana de Turismo
(EMPETUR) como parte da poltica estadual de interiorizao do turismo. A Rota do Cangao refaz as trilhas
usadas pelos cangaceiros no serto pernambucano, no qual composto pelos seguintes municpios:
Afogados da Ingazeira, So Jos do Egito, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra Talhada e Triunfo. Constituindo
em um nico produto turstico, atravs da metodologia cluster.
Cluster vocbulo ingls, trata-se de um grupo de coisas, ou atividades semelhantes que se
desenvolvem conjuntamente. Segundo Beni (2006, p.165):
Cluster o conjunto de atrativos com destacado diferencial turstico, dotado de equipamentos e
servios de qualidade, com excelncia gerencial concentrado num espao geogrfico delimitado.
Desta forma fortalecem a atividade turstica de uma regio que individualmente no reuniria
condies em compor unicamente um produto turstico. Assim respeitando as especificidades de cada um
e promovendo prtica do turismo sustentvel desde que haja tambm uma poltica municipal de turismo.
EXPOSIO FEIRA DA RAPADURA
A exposio Feira da Rapadura uma feira anual e teve seu incio em 1996. Segundo o Blogspot
Santa Cruz da Baixa Verde:
J no seu primeiro ano, mostrou que veio para ficar e da em diante tornou-se a maior e a mais
esperada festa do municpio, e sem medo de declarar, quem sabe, seno, a maior festa do serto do Paje.
uma festa: agrcola, comercial, cultural, social e familiar, onde todos se empenham em reverenciar o doce
que a cara do povo nordestino a rapadura. Sua primeira edio aconteceu como inovao na
divulgao do mais tradicional doce nordestino, e considerada como uma das principais atraes turstica
na localidade. Tanto pelo nmero de visitantes e atraes do ptio de eventos como pela quantidade de
produtores que comparecerem interessados nos aspectos agronmicos e tecnologias apresentadas durante
o evento.
A produo de rapadura da regio teve em 2004 um incremento de 30% no volume de produo
por conta do inverno mais longo e estmulo dos produtores. No ano de 2008 foi implantado pelo Instituto
Agronmico de Pernambuco (IPA) na regio novas variedades de cana-de-acar que apresentam maior
produtividade. A nova variedade estimula antigos produtores a apostar novamente na rapadura.
A festa vai alm dos limites municipal e estadual. So muitas as pessoas que hoje se deslocam para
a Capital da Rapadura com o objetivo de participar das festividades.
Sobre os hbitos em torno da Feira o Blogspot Santa Cruz da Baixa Verde afirma que:
Alguns hbitos, inclusive, foram mudados por alguns santacruzenses ausentes. que o antigo
costume de visitar a Terra Natal acontecia rotineiramente nas festividades de dezembro. Hoje, muitos
filhos desta terra preferem fazer a visita no perodo de festividades da feira. Vale destacar tambm todo o
carinho do povo de Serra Talhada e Triunfo pelo evento. Nos trs dias de festa, quer seja em suas
participaes na festa, quer seja tambm expondo os seus produtos nos estandes espalhados pelo centro
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

144
da cidade. Nesta poca Santa Cruz recebe visitantes da capital e de vrios Estados Brasileiros. Muitos da
Paraba, outros da Bahia e at do Maranho.
A festa representa no s uma divulgao do produto para o mercado consumidor, mas tambm
uma maneira do povo demonstrar a rapadura como o principal produto agrcola a gerar fontes de rendas
diversas no municpio.
Durante a Feira exibi-se uma rapadura gigante que, a cada ano, ganhou incrementos e tamanha
cada vez maior, chamando ateno dos visitantes. Em 2008 foi produzida uma rapadura com trs mil
quilos, j em 2009 foi produzida a Maior Rapadura do Mundo que alcanou o quantitativo de cinco mil
quilos. O engenho responsvel por esta rapadura o Buenos Aires, d produtor Valdemir Adriano.
O ESPAO FSICO CRATERA DA PANELA COMO PONTO TURSTICO
Segundo os estudos de Barreto, obtidos por meio do Blogspot Santa Cruz da Baixa Verde:
A Cratera da Panela foi formada pela queda de um meteoride de aproximadamente 30 metros de
dimetro. O meteoride foi batizado pelo astrnomo com o nome de Tup e o seu choque com a
superfcie, h aproximadamente 10.000 anos atrs, se comparando com um asteride de nquel de ferro de
mesma proporo, pode ter provocado uma exploso capaz de destruir totalmente a regio em cerca de
10km de dimetro. O calor provocado pela onda de choque pode ter ainda destruio em vrios graus, a
vegetao da regio, a uma distncia de at 50km do local da exploso. Asteride hipottico de
nquel/ferro com 30m de dimetro que formou a Cratera da Panela, e suas propores comparativas a
pessoas.
O choque da exploso seria equivalente a 10MT (a maior bomba atmica existente tem 100MT). O
impacto, possivelmente, pode ter aberto uma cratera com 130m de profundidade, e causando um
terremoto de magnitude 6,2 (o maior terremoto j registrado foi de magnitude 9,5). O evento que gerou a
Cratera da Panela, se recente, pode ter sido presenciado, ou at registrado por ndios pr-histricos.
Segundo o Jornal do Commercio (2009):
A cratera da panela representa um dos principais pontos tursticos do municpio de Santa Cruz da
Baixa Verde e est sendo divulgada no roteiro turstico da Rota do Cangao - Projeto turstico apoiado
pelo SEBRAE que percorrer os 217km que unem os municpios de So Jos do Egito, Afogados da
Ingazeira, Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra Talhada e So Jos do Belmonte.
CONCLUSES
O turismo no espao rural possibilita aos agricultores de base familiar: nova oportunidade de
gerao de renda, de desenvolvimento, de resgate da dignidade profissional e do meio rural. Tendo como
referncia o turismo associativismo que prevalece os princpios e vantagens da organizao social na
potencializao das atividades tursticas.
Ao analisar potencial do turismo rural no municpio de Santa Cruz da Baixa Verde constatou-se que:
Os engenhos produtores de rapadura alm de produzirem um alimento tradicional na dieta
alimentar dos nordestinos, gerarem renda e incentivar o comrcio local, apresentam um potencial turstico
ao enfatizar a cadeia produtiva da rapadura, desde a produo da cana-de-acar, passando pela produo
do mel, da rapadura, at o beneficiamento do produto, por meio de visitas possibilitando o
acompanhamento de tais etapas;
A Exposio Feira da Rapadura j se consolidou como um espao para divulgao e comercializao
do principal produto do municpio: a rapadura. Em tal evento ainda pode ser explorado com mais nfase: a
temtica da cadeia produtiva da cana-de-acar, as atividades no-agrcolas (artesanato e o prprio
turismo rural), informaes e capacitao tcnica;
A Cratera da Panela destaca-se pelo histrico de sua formao (meteoro), registro de pinturas
rupestres que sinalizam a passagem de povos pr-histricos no local, alm da beleza do espao natural.
Identificam-se como empecilhos: a falta de marketing direcionado ao local e a precariedade das vias de
acesso.
Detectou-se na atividade turismo rural: a falta de conhecimento, tanto pelos agentes de turismo
em lidar com as caractersticas do meio rural, quanto dos agricultores em lidar com as caractersticas da
indstria do turismo. So formas gerenciais diferentes, existe uma deficincia de conceituaes,
Joo Pessoa, outubro de 2011

145
delimitao do espao entre turismo urbano e rural, administrao e, ainda, a desconfiana de que o
turismo pode ser mesmo uma alternativa vivel.
REFERNCIAS
BENI, Mrio Carlos. Anlise Estrutural Do Turismo. So Paulo: Senac, 11 edio revisada e
atualizada, 2006.155-165p.
BRASIL. ENCICLOPEDIA DOS MUNICPIOS BRASILEIROS. Braslia:IBGE,1958.
BRASIL. Programa de Desenvolvimento do Setor Rapadureiro do Estado de Pernambuco. Recife:
SEBRAE,1995.
CARVALHO. Adriana Garcia de & MARQUES, Caroline. Atividades no-agrcolas: Turismo e
Artesanato. Recife:IPA,2008.
CASTRO, F.P.F. Diagnstico do setor rapadureiro de Pernambuco. Recife: SEBRAE/PE, 1966. 72p.
CASCUDO, Lus da Cmara. Rapadura. In: _____. Sociologia do acar: pesquisa e deduo. Rio de
Janeiro: IAA. Servio de Documentao, 1971. p.121-132. (Coleo canavieira,n.5).
GASPAR, Lcia. Rapadura, engenhos. Pesquisa Escolar On-Line. Fundao Joaquim Nabuco, Recife.
Disponvel em: <htpp://www.fundaj.gov.br>. Capturado em 15/04/2010.
JORNAL DO COMMERCIO. Recife, 14 de maro de 2009. Cidades, p.5. Arte revela queda de
meteorito.
LIMA, Joo Policarpo Rodrigues & CAVALCANTI, Clia M. Lira. Do engenho para o mundo? A
produo de rapadura no Nordeste: caractersticas, perspectivas e indicao de polticas. Revista Econmica
do Nordeste, Fortaleza, v.32, n.4, p.950-974, out./dez. 2001
MENDONA, Maria Cristina Anglico de. BATALHA, Mrio Otvio. SANTOS, Antnio Carlos dos.
Turismo no Espao Rural: debate e tendncia. Etur. Ministrio do Turismo. Disponvel em:
<htpp://www.etur.com.br>. Capturado em 20/04/2010.
PERNAMBUCO. Plano de Ao Municipal PAM,2010. Santa Cruz da Baixa Verde: Instituto
Agronmico de Pernambuco, 2010.
www.biblioteca.ibge.gov.br/visualizao/dtbs/pernambuco/santacruzdabaixaverde.pdf. Capturado
em 23/04/2010.
www.santacruzbaixaverde.blogspot.com/2009/07/xii-feira-da-rapadura-festa-mais.html. Capturado
em 05/05/2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

146

EDUCAO AMBIENTAL: SUBISDIOS PARA ELABORAAO DE UMA


EDUCAO PELO TURISMO
Herbe Xavier PUC Minas

No Brasil a tomada de conscincia pelo turismo, de forma geral, no aconteceu, pois, segundo
Librio (1994) a conscientizao pelo turismo se fundamenta na tica do meio ambiente e no
relacionamento entre os grupos humanos. So situaes que ainda precisam ser trabalhadas. A tomada de
conscincia pelo turismo se inicia, normalmente com a formao escolar, mas, no Brasil a formao escolar
geogrfica que vem trabalhando este tema foi negligenciada, cujo exemplo significativo pode ser ressaltado
no ensino fundamental e mdio. Tanto os programas, como os livros didticos escolares sempre deram
nfase s atividades dos homens ligadas atividades mais tradicionais, ou seja, minerao, agricultura
ou indstria Elas vm sendo tratadas pela Geografia e eram consideradas mais importantes. No caso da
indstria, se consideravam como atividade das mais moderna. Com freqncia, definiam como pases
desenvolvidos, aqueles de maiores projees industriais, enquanto que os pases de economia agrria eram
tidos como menos desenvolvidos ou de economia tradicional. Da mesma forma, os livros escolares
didticos sempre incluam captulos referentes economia industrial, pois eram assim valorizados.
As atividades tursticas no eram nem citadas. Assim, a comunidade no tomou conscincia da
importncia da agricultura ou da indstria para a organizao dos espaos do homem. Sobre o turismo essa
forma de conscientizao no aconteceu. Ressalte-se que no se podem esperar aes se a populao no
atingiu o limiar do conhecimento sobre o turismo.
A Organizao Mundial do Turismo destacou a necessidade de estruturar sistemas educativos
competitivos: qualidade e eficincia organizando a Metodologia Tedqual (Tourism Education Quality) com o
propsito de contribuir para uma estatizao voluntria no tratamento dos problemas da qualidade na
educao bem como na formao do profissional do turismo.
Um segundo aspecto refere-se ao setor de pesquisas envolvendo o turismo como atividade do
homem e como importante elemento de organizao do espao. Neste sentido oportuno exemplificar
referindo-se Poltica Nacional de Turismo.
De acordo com Beni (1997), no Brasil, diferentemente do que ocorre na frica e na sia,
observavam-se, at recentemente, marcante ausncia de pesquisas cientificas e um quase menosprezo ao
conhecimento do fato e do fenmeno turstico, provocando improvisada ao no setor, com evidentes
reflexos e conseqncias de minguada presena das polticas pblicas, sobretudo das reas responsveis
pelo desenvolvimento do turismo, aliadas a uma sensvel indiferena para com a Universidade e com os
campos de investigao.
Em uma viso sobre a situao das pesquisas sobre o turismo, vale destacar sobre o significado do
sculo XXI que ser esperado como o sculo do turismo.
Espera-se que o Sculo XXI seja s Sculo do turismo, e se reporta entrada de um mundo novo
que se apresenta diante de ns. Neste novo mundo, as transformaes que se verificam no Turismo so
profundas e significativas. Assim nesta discusso, procura-se visualizar um quadro que destaca a situao
das pesquisas sobre turismo. Destacam-se como temas mais trabalhados: a gesto e a economia do
turismo. Numa posio mdia, encontram-se a ecologia do turismo, os impactos ambientais, no turismo, as
polticas territoriais e os temas ligados ao turismo e a cultura. Porm encontram-se como temas carentes: a
sociologia e a psicologia do turismo, a noo de turismo e cidadania, os interesses da comunidade
receptora, o turismo virtual, as atraes contemporneas do turismo, os caminhos do turismo para as
sociedades perifricas, o envolvimento da comunidade local e a interiorizao do turismo brasileiro, entre
outros. Inclui-se, tambm, como temas carentes, as possibilidades de envolvimento das comunidades locais
no turismo, a valorizao do patrimnio turstico, especialmente no que se refere cultura popular,
culinria e ao saber-fazer da comunidade local.

Joo Pessoa, outubro de 2011

147

CONDIO
Melhor

REAS DE ESTUDO
Gesto do Turismo
Economia do Turismo
Mdia
Ecologia do Turismo
Impactos ambientais do Turismo
Polticas territoriais
Turismo e Cultura
Carente
Sociologia do Turismo
Psicologia do Turismo
Turismo e cidadania
Interesses da comunidade receptora
Turismo virtual
Atraes contemporneas do Turismo
Caminhos do Turismo para as sociedades perifricas
Envolvimento da comunidade local no turismo
A interiorizao do turismo brasileiro
Fonte: Xavier, Herbe:2007.
Diante de uma proposta, no sentido de atingir os novos caminhos da pesquisa em turismo, torna-se
importante destacar algumas consideraes que se referem entrada no novo milnio, conforme destaca
Oliveira (1999), que um mundo novo que se apresenta diante de ns as transformaes no campo do
turismo sero rpidas e profundas. Assim, os estudos agora devero promover a criao de novas tcnicas,
novos mtodos e novos modelos de implementao. Deve ser um estudo para um turismo novo, um
turismo para uma clientela nova. Isso nos faz mais e mais trabalharmos na interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade presentes nas discusses. Chama-se tambm a ateno para a ousadia de um dilogo
dentro do prprio campo do turismo.
Oliveira (1999) tambm chama a ateno sobre um novo momento para as pesquisas. Apoiados em
suas consideraes pode-se dizer que a situao em relao ao turismo precisa-se ousar, trabalhar as
atividades tursticas como um todo. Ressalte-se o fato de ter-se dado, at ento, prioridade ao setor
econmico, em detrimento da qualidade de vida das comunidades receptoras e pode-se destacar que, ao
adentrar no Sculo XXI, diante desse novo mundo devem-se vislumbrar novos caminhos da pesquisa em
turismo. Torna-se importante destacar algumas consideraes, que, conforme Oliveira (1999), nesse
mundo novo que se apresenta diante de ns, as transformaes no campo do turismo foram profundas. Os
estudos, agora, devero promover a criao de novas tcnicas, e novos modelos de implementao. Deve
ser um estudo para um turismo novo, um turismo para uma clientela nova. Isso nos faz mais e mais
necessrio trabalharmos na interdisciplinaridade e almejarmos a transdisciplinaridade, presentes, que nas
discusses. Chama-se tambm a ateno para a ousadia de um dilogo, dentro do prprio campo do
turismo. preciso realmente ousar, trabalhar as atividades tursticas como um todo. Ressalte-se, o fato de
ter-se dado, at ento, prioridade para o setor econmico, em detrimento da qualidade de vida de vida das
comunidades que recebem os turistas. Pelo quadro verifica-se que a comunidade que recebe o turismo
muito pouco considerada e que as universidades se apresentam bastante omissas ao problema
imprescindvel a participao das universidades, por meio da pesquisa e dos cursos de psgraduao que existem em nmero muito pequeno. Lembrarmos que os cursos superiores de Turismo, no
Brasil, surgiram tarde, embora no sejam to recentes assim. Eles comearam a partir de 1971 em So
Paulo e logo em seguira foram abertos no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Porto Alegre. Era o incio
de uma etapa cujas pesquisas foram lentamente aparecendo. Segundo Rejowski (1996), as primeiras
pesquisas sobre o Turismo aconteceram em 1973 em Cursos de Administrao, em 1974 na Economia e,
em 1975 na Geografia. De l para c, gradativamente, foram surgindo estudos em dissertaes de
mestrado ou em teses de doutorado em diversas reas de estudo, alm de estudos realizados por
instituies governamentais, mesmo assim, de maneira bastante dispersa.
Contudo, os Cursos de Turismo continuavam carentes de projetos de pesquisa. Um fato
conseqente, segundo Beni: (2000) foi a falta de fundamentos tericos e metodolgicos para os planos
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

148
governamentais, inclusive para a prpria Poltica Brasileira de Turismo. Felizmente, a partir da dcada de
noventa com a abertura de cursos de ps-graduao se preocupando com o Turismo e com a multiplicao
dos encontros cientficos inicia-se um perodo mais frtil em termos de produo cientfica. Nesta situao
muito importante a interdisciplinaridade, mas, quase sempre ela tem consistido, apenas pela justaposio
entre as disciplinas (Xavier, 2007). Assim, considera-se de fundamental importncia o desenvolvimento de
estudos que avancem em direo interdisciplinaridade. De acordo com Azevdo, (1997) necessrio
conhecer o conceito de cada uma das disciplinas e, mais do que isso, os fluxos de relaes que entre elas
possvel estabelecer para que, no futuro, se possa atingir a transdisciplinaridade, uma estratgia que requer
unificao entre as diversas reas do saber.
Algumas reas de estudos tm objetivos prximos aos do turismo. o caso da geografia que,
assentando-se em uma tica espacial, incorpora-o como atividade modificadora e organizadora do espao
geogrfico.
Diante disso, comprova-se a importncia do turismo como rea de estudo que recebe contribuies
de outros ramos do saber para que possa desempenhar seu papel rumo ao campo da cincia. (Xavier: 2007)
e para que no necessite tanto da improvisao e da importao de modelos vigentes em outros pases,
para a aplicao realidade brasileira. Lembra-se, tambm que o Turismo polui, como um campo de
estudos cientfico, mas, ainda novo, e, portanto, procura ainda se equipar.
Lembra-se, tambm, como temas carentes, dois temas, que esto muito prximos das
comunidades e necessitam ser trabalhado, especialmente no turismo com base local: o retorno natureza
e o redespertar dos valores culturais.
A idia do retorno natureza, constitui, oportuno para melhor investigao e muito importante
para as comunidades locais e que motivo de discusses sobre seus benefcios e suas contradies, porm
de grande interesse para as investigaes, pois hoje elas fazem parte, e necessria a criao de
estratgias, para enfrentar a concorrncia com a alta tecnologia dos simulacros e das imitaes artificiais.
Este movimento, que constitui o turismo alternativo, foi iniciado na Europa e se espalhou pelo planeta e as
reas bem conservadas de todo o mundo do turismo, resultam como fato conseqente est sendo o uso e
a apropriao de reservas naturais pelos grandes grupos internacionais. Este fato, realmente motivo para
aprimorar o uso dos recursos naturais em benefcio da comunidade local.
Outro tema, como a retorno natureza, o redespertar dos valores culturais, por meio das
manifestaes antropolgicas, religiosas, artsticas, artesanais e histricas tambm possa ser usado em
benefcio do turismo com base local, pois tambm possvel investigar os temas que possuem valor
simblico e representativo de uma coletividade, assim como a importncia das manifestaes folclricas e
das artes populares. Assim tais elementos do patrimnio cultural precisam ser mais bem conhecidos, bem
como se fazem necessrias as pesquisadas e as estratgias de uso, em benefcio da coletividade, portanto,
tanto o retorno natureza, como o redespertar dos valores culturais, necessitam de pesquisas sobre seus
valores e suas possibilidades de uso pelo turismo de base local.
Lembra-se ainda destacar que o turismo envolve as vertentes econmica, social, cultural e
psicolgica. Porm, predominantemente, tem-se conhecido a vertente econmica e. tem-se poucos
conhecimentos sobre as outras. Isso vem mostrar que. Pouco ainda se conhece sobre a verdadeira
potencialidade do turismo.
Por sua caracterstica, espacial e social, as pesquisas sobre o turismo constituem um campo
frtil para as pesquisas. Os estudos a esse respeito vm ganhando nfase nas ltimas dcadas face atual
expanso de tal atividade. A par disso, nessas ltimas dcada tornou-se necessrio um mais amplo
conhecimento da conduta das pessoas frente aos deslocamentos para o lazer. necessrio um mais amplo
conhecimento sobre a interdisciplinaridade. A incorporao do turismo por outras reas do conhecimento
deve ser considerada, lembrando que tal interao deve considerar mais que se o conhecimento, mas que
se divulguem os plenos de ao e, ainda que se conhea o conceito de cada uma das disciplinas e tambm
os fluxos de relaes que entre elas possvel estabelecer, para que, no futuro se possa atingir a
transdisciplinaridade, uma estratgia que requer unificao entre conceitual entre as diversas reas do
saber, pois o aprofundamento a respeito da interdisciplinaridade que se faz urgente, importante e
necessrio. Esta situao requer no apenas o relacionamento de diversas reas do saber, mas exige que
todos os profissionais nelas envolvidos tenham aderncia aos objetivos do turismo.
Joo Pessoa, outubro de 2011

149
Diversas reas de estudo se interagem com o turismo e fazem referncias aos PCMs,
principalmente pela Educao Profissional de Nvel Tcnico ou dos cursos tecnlogos, a exemplo da
hotelaria, restaurao, gastronomia. alimentos e bebidas, que apontam segmentaes do mercado e
tendncias contemporneas negcios de turismo, rea da administrao hospitalar e profissionais do lazer.
O fato que atualmente so grandes e variados os segmentos do turismo, como destaca
Ansarah 2002, em seu livro Formao e capacitao do profissional em turismo, ou Fuster (1991) em Fster
no livro Introduccin a la teoria y tcnica Del turismo (1075) que tm a preocupao com o turismo como
prtica educativa.
Ressalte-se ainda a manifestao da educao ambiental, se preocupando sobre os
impactos da atividade turstica em reas naturais como forma de educar turistas e autctones no sentido
de salvaguardar o patrimnio.
Nesse sentido se faz agora uma discusso sobre o alcance da educao ambienta, j que as
respostas humanas atribudas natureza tm sofrido grandes mudanas no decorrer dos tempos.
De uma questo de sobrevivncia atribuda pelos povos primitivos, a natureza passa a ser
vista como fonte de alegria, de prazer e de status. J foi acoimada de subserviente e, para tanto, deveria
ser conhecida, dominada e usada, mas quando comearam a surgir os grandes problemas ecolgicos da
segunda metade do sculo XX, ela passa a ser tida como algo em risco, por causa da violncia das
sociedades humana. Tornou-se absolutamente necessrio, portanto, proteger a natureza e proteger a
natureza e corrigir os erros que os homens cometeram na busca de suas necessidades e ambies. (Xavier:
2007).
Ao se considerar o turismo como um fenmeno geogrfico, que incorpora a dimenso
social necessariamente, toma-se por base a conduta das pessoas em seu mundo vivido e, assim reforamse esclarecimentos sobre fundamentos cognitivos, afetivos e simblicos, ressalte-se que tais fatos, tambm
necessitam de maiores conhecimentos, portanto fazem parte do grupo do grupo das pesquisas, de forma
carente,
Destaca-se, ainda que a percepo do turismo bastante complexa, j que a atividade envolve
vrios segmentos das atividades humanas, atingindo diferentes grupos de pessoas, como planejadores, os
polticos, os tcnicos, os turistas e, evidentemente, a comunidade local. Tais fatos tambm precisam de
maiores investigaes, fato que aumenta a carncia de pesquisas, pois, os lugares vm sendo percebidos
como simples referncia espacial ou palco para o desenvolvimento econmico. A comunidade que recebe o
turista vem constituindo matria neutra, sobre a qual investidores do turismo, a partir de seus interesses,
esperam ter oportunidades, mesmo porque, com freqncia, muitas formas de ocupao desordenada do
espao tem deixado marcas profundas de degradao.
Para se estabelecer o controle dos impactos resultantes das interaes homem-natureza e
homem-homem, torna-se necessrios o desenvolvimento de investigaes e pesquisas neste campo de
atuao profissional.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.
BENI, Mrio Carlos, Anlise Estrutural do Turismo, So Paulo: SENAC, 2002.
OLIVEIRA, Lvia.
LIBRIO, Marlia Gomes Campos, UNESP: Rio Claro, Relaes entre sua Eficincia e a Valorizao da
Paisagem Florestal no Sudoeste Paulista, Tese de Doutorado, 1994.
OLIVEIRA, Lvia, Como Educar sobre os Direitos da Paisagem, Anais do III Encontro sobre o Estudo da
Paisagem. Rio Claro: UNESP: 1977: 61-72.
REJOSKI, Miriam, Turismo no Percurso do Tempo, So Paulo: 2002.
XAVIER, Herbe, Percepo Geogrfica do Turismo, So Paulo: Aleph, 2002.
XAVIER, Herbe & OLIVEIRA, LVIA (Orgs), Dimenses Geogrfica do Turismo: Joo Pessoa: 2006.
ANSARAH, Marlia Gomes Reis.(org) Segmentao do Mercado, So
Paulo: Futura: 2001.
AZEVEDO, A, A Interdisciplinaridade na Cincia: O Modelo da Gentica, Cincia e Cultura,
Suplemento, So Paulo: v.1, 1997: 113-115.
BALLASTREI, Adyr Rodrigues, Turismo e Desenvolvimento Local, (Org) So Paulo: Hucitec, 2002.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

150

A PRAA SO FRANCISCO COMO PALCO PARA AS MANIFESTAES


RELIGIOSAS EM SO CRISTVO/SE.
SANTOS ,Ingrid Fernanda Gois - ingrid_fernanda_@hotmail.com
BIANCHINI, Ilka Maria Escaliante - ibianchini@yahoo.com.br

14
15

RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal investigar a importncia da Praa So Francisco para a
cidade de So Cristvo. Neste contexto, o artigo estuda a relao do caso especfico da Praa So
Francisco como Palco para as manifestaes religiosas. Recentemente, comprovou-se a importncia dela,
no apenas para a sociedade sancristovense, como tambm, para o Estado de Sergipe, Brasil e mundo,
visto que a partir do dia 1 de agosto de 2010 ela se tornou Patrimnio da Humanidade e, assim, podendo
ser um atrativo turstico a mais para a comunidade local. Esse trabalho teve como foco pesquisa
bibliogrfica em livros, internet, artigos, revistas e materiais relacionados ao tema abordado e pesquisa de
campo.
Palavras Chave: Praa, Praa So Francisco, Manifestaes Religiosas.
Introduo
O desenvolvimento do presente artigo foi baseado em uma pesquisa bibliogrfica referente ao
contexto histrico de como surgiu e com quais objetivos eram destinados as primeiras Praas existentes no
mundo, a Praa So Francisco e as manifestaes religiosas, dando seqncia importncia da Praa So
Francisco com Palco das manifestaes religiosas em So Cristvo SE.
A Praa So Francisco foi construda entre os sculos XVI e XVII. Localizada no centro histrico e
cultural da cidade alta em dias de festas vira cenrio e/ou palco das manifestaes culturais da cidade.
Manifestaes essas que significam expresses corporais ou sentimentais atravs de danas, peas,
procisses. Uma vez que perceptvel na Praa So Francisco, em So Cristvo/Sergipe, a influncia da
colonizao de Portugal e da Espanha em seu plano urbano e nas suas construes coloniais refletindo uma
concepo de cidade que tem na Praa e na Cruz, smbolo maior do cristianismo. Ela representa o registro
do modelo de construo baseada no cdigo filipino de urbanizao que regia as relaes entre a coroa, o
clero e os cidados, j que no momento em que foram construdos os reinos de Portugal e Espanha
encontravam-se unidos e denominados de Unio Ibrica (1580-1640), unio esta que decorreu devido a
vacncia do trono portugus e, Felipe II reivindica o trono, uma vez que era o neto de Dom Manuel rei de
Portugal (BRAICK; MOTA, 2010).
Trajetria Histrica do Espao Urbano Pblico
A trajetria histrica das praas surgiu nos primeiros espaos urbanos pblicos que aconteceram na
Grcia e Roma. Antigamente chamados de gora para os gregos e Frum para os romanos talvez estes
espaos estivessem sido criados ou planejado com objetivos bem definidos para a poca, mas diferentes
para cada cidade. Na Grcia, por exemplo, o objetivo de espao pblico urbano era de possuir contexto
urbanstico na qual teria aspectos que a tornassem bastante ou talvez a mais conhecida de todas as
culturas existentes. Ainda tendo como principal objetivo os gregos tinham os espaos urbanos como debate
de idias e lugar pelo qual os cidados iam exercer a sua cidadania (lugar da democracia). Enquanto para os
romanos, o objetivo era de monumentalidade do Estado, lugar onde passariam e iriam olhar aqueles
edifcios, monumentos que cercavam aquele espao aberto. Neste ponto percebe-se que os espaos
pblicos urbanos abertos tm objetivos definidos e diferenciados para gregos e romanos.
Passaram-se alguns anos e nos meados do sculo XVIII o projeto de praas europias estava
totalmente voltado para a viso paisagstica. Onde os espaos abertos se formavam desordenadamente nas
cidades devido existncia de mercados e entradas de igrejas e catedrais. Neste perodo podemos destacar
um exemplo de maior cuidado com os espaos pblicos, que foi dado pelo Papa Sixto V que tambm atuou
14

Bacharel em Turismo pela Faculdade Estcio de Sergipe Estcio FASE: ingrid_fernanda_@hotmail.com.


Mestre em Geografia, Bacharel em Turismo, Bacharel em Administrao de Empresas, professora do SENAI
SE e da Faculdade Estcio de Sergipe Estcio FASE: ibianchini@yahoo.com.br
15

Joo Pessoa, outubro de 2011

151
como prefeito da cidade de Roma. Inicio do sculo XIX percebe-se a importncia do tratamento e do
cuidado da paisagem dos espaos pblicos urbanos, passando a legalizao da profisso de arquiteto
paisagista, graas ao olhar e empenho de um dos primeiros profissionais de desenho urbano chamado
Olmsted que foi proporcionado pelo urbanista George - Eugne Houssmam em Paris e Barcelona.
Aps a legalizao da profisso de arquiteto paisagista no sculo XIX, o Brasil conceitua as
praas como um lugar cheio de verde e repleto de jardins (ajardinamento). Devido a este motivo o pas
mantm o mesmo modelo de praa ou de espaos abertos europeus. As praas rotatrias e canteiros
centrais em algumas situaes de difcil acesso aos pedestres podem acabar recebendo o Ttulo pelo fato
de se formar a partir de ptios de igrejas e mercados livres, assim chamados de Adros ou Largos.
Atualmente, a Praa dos Girassis em Palmas, localizado no Brasil considerada a maior Praa do
mundo, com 570.000m. Onde as praas so caracterizadas por serem locais abertos, pblico, arborizados e
de muito verde construdo em cidades para fazer um contraste das: ruas, edifcios, casas e igrejas. A mesma
quando bastante planejada e cuidada pode obter como resultado de um projeto altamente qualificado
equipamentos recreativos, brinquedos para crianas, quadras esportivas, espaos para correr e cantos para
descansar. Cotidianamente, algumas praas tm sido alvo de vndalos e outros estmulos para viciados a se
drogarem devido a alguns fatores no menos importantes, mas essenciais para determinar o perigo do
local, exemplo: praas isoladas onde quase ningum freqenta, pouca iluminao e muito silencioso.
Praas cotidianamente freqentadas dificilmente ira atrair vndalos, drogados, ou at mesmo propiciar um
assalto, mas um lazer como um jogo de futebol entre amigos, conversas, encontros, crianas a brincar,
ponto de partida ou chegada de manifestaes, shows e feiras livres.
Apesar de concluir-se que as praas de antigamente tinham o objetivo de debates, eleies e
monumentalidade do Estado, hoje em dia, devido talvez a modernizao o objetivo seja de lazer e diverso,
embora se percebam aspectos positivos e negativos, ainda se pode definir em vrios conceitos a depender
do lugar.
A Praa So Francisco
Ao iniciar esse estudo preciso saber que a Praa um local de encontros e desencontros;
um ponto em comum de um determinando local. Para Cas (2000, p. 56), a praa dentro do espao da
cidade a sntese da cultura urbana de uma comunidade, traduzida em smbolos materializados em
slidos, se constitui num legado pleno de ensinamentos e exerce a funo insubstituvel de aglutinador do
encontro e da convivncia.
A Praa So Francisco est localizada no municpio de So Cristvo e uma referncia
histrica que tem preservado a cultura, arquitetura e memria de um povo. Recentemente, tornou-se
Patrimnio Cultural da Humanidade. So Cristvo que a 4 cidade mais antiga do Brasil e foi a 1 capital
de Sergipe, foi fundada por Cristvo de Barros em 1 de janeiro de 1590, no contexto da Dinastia Filipina
em Portugal, durante a Unio Ibrica.
A cidade sofreu sucessivas mudanas at firmar-se no local em que hoje se encontra
margem do rio Paramopama, afluente do rio vaza-barris. Em 1637 foi invadida pelos neerlandeses, um
grupo tnico predominante nos pases baixos, geralmente vistos como um povo germnico, So
popularmente, mas incorretamente, chamados de holands, ficando praticamente destruda. As tropas
luso-espanholas, sob o comando do conde Bagnoli, tentando evitar o abastecimento dos inimigos,
incendiaram as lavouras, dispersaram o gado e conclamaram a populao a desertar. Os neerlandeses, que
encontraram a cidade semideserta, completaram a obra da destruio.
Em 1645, os neerlandeses foram expulsos da capitania de Sergipe, deixando a cidade em runas. No
final do sculo XVII, Sergipe foi anexado Bahia e So Cristvo passa sede de ouvidoria. Em 1710 foi
invadida pelos habitantes de Vila Nova, regio norte de Sergipe, revoltados com a cobrana de impostos
por Portugal. Nos meados do sculo XVIII, a cidade foi totalmente reconstruda. Em 1763 sofre a invaso
dos negros dos mocambos e ndios perseguidos. No dia 8 de julho de 1820, atravs do decreto de Dom
Joo VI, Sergipe foi emancipado da Bahia, sendo elevado categoria de Provncia do Imprio do Brasil e So
Cristvo torna-se, ento, a capital. No final da primeira metade do sculo, os senhores de engenho
lideram um movimento com o objetivo de transferir a capital para outra regio, onde houvesse um porto
capaz de receber embarcaes de maior porte para facilitar o escoamento da produo aucareira,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

152
principal fonte da economia na poca. Em 17 de maro de 1855, o ento presidente da Provncia, Incio
Joaquim Barbosa, transferiu a capital para Aracaju. A partir desse momento, a cidade passa por um
processo de despovoamento e crise, que s resolvido no incio do sculo XX com o advento das fbricas
de tecido e a via frrea.
A cidade tombada pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional desde 23 de
janeiro de 1967, tendo sido inscrita no livro de tombo arqueolgico, etnogrfico e paisagstico, enquanto
que em nvel estadual j havia sido elevada a categoria de cidade Histrica pelo Decreto-lei n. 94 de 22 de
junho de 1938, do Governador-Interventor Eronildes Ferreira de Carvalho.
A Praa So Francisco representa o corao da parte alta de So Cristvo, construda para
ser o centro da cidade e abrigo das estruturas polticas, judiciais e religiosas. O espao foi construdo no
final do sculo XVI e incio do sculo XVII e permanece ao longo desses mais de 400 anos como uma rica
fonte de resgate histrico e, tambm, de identidade. Esse monumento um legado do perodo da Unio
Ibrica, com influncias tanto portuguesas como espanholas, finalizando em uma visvel riqueza histrica.
Do ponto de vista arquitetnico, da Praa So Francisco possvel apreciar o palcio do perodo colonial
onde funciona o Museu Histrico de Sergipe; e tambm prdios de ordem religiosa, como o Museu de arte
sacra e o Convento de So Francisco e a Santa Casa de Misericrdia. Todos eles continuam praticamente
com a mesma feio de quando fundados.
A Praa So Francisco palco das principais manifestaes religiosas de So Cristvo
A Praa So Francisco, desde sua construo, tornou-se um espao notrio e compartilhado pela
comunidade. No passado e atualmente, o principal local das mais variadas festividades. As manifestaes
religiosas, atravs do Convento de So Francisco, da Ordem Carmelita e demais irmandades catlicas
podem dar-se de diversas formas, como por exemplo: suas quermesses, missas campais e procisses fazem
desse lugar um ambiente de manifestao da f e devoo da religio crist como tambm mostra a
expressiva religiosidade dos brasileiros.
Antes de irmos adiante devemos entender o que chamamos aqui de manifestaes culturais.
Segundo Cardozo (2006), os produtos culturais tnicos podem ser diversos: como as obras arquitetnicas,
as festividades, os idiomas, os trajes tpicos, os grupos artsticos de msicas e danas, a gastronomia, a
religiosidade, a literatura, dentre outros que conseguem definir a cultura de um povo e/ou demarcar suas
fronteiras tnicas e culturais.
Observa-se a importncia que a Praa So Francisco tem para os eventos culturais e religiosos de
So Cristvo. Nela, se concentram as festividades, ponto de encontro para as realizaes coletivas ou
como ponto de partida para outros lugares. Dessa forma importante perceber que a mesma faz parte da
vida dos moradores locais.
As manifestaes religiosas podem ser consideradas como um momento de intimidade com os seus
santos e Deus. A partir do momento em que ela exposta, em um momento de f coletiva, todos os
presentes, participantes, visitantes ou curiosos, buscam um lugar comum e que tenha um papel importante
para eles, que no caso a Praa So Francisco, e dessa forma, exaltam sua importncia.
As festividades religiosas ganham um peso maior por ter ao redor delas o Convento de So
Francisco, a Capela da Ordem Terceira de So Francisco, a Santa Casa, a Igreja da Misericrdia e o Palcio
Provincial.

Joo Pessoa, outubro de 2011

153

Praa So Francisco So Cristovo SE Foto: Artur Leite

Todo esse conjunto s faz aumentar a importncia de tal lugar, de forma que, atrai visitantes de
todas as regies de Sergipe e do Brasil. Com esses patrimnios culturais h uma maior dedicao em
preservar as tradies religiosas do local, pois todo esse conjunto, entre construes antigas, f e
comprometimento, faz com que fiis igreja e governo busquem a continuidade de tais manifestaes.
Segundo Barretto (2000, p. 09,10)
At a primeira metade deste sculo, praticamente, patrimnio cultural foi sinnimo de obras
monumentais, obras de arte consagradas, propriedades de grande luxo, associadas s classes dominantes,
pertencentes sociedade poltica ou civil. Os prdios considerados merecedores de cuidados especiais e
exibio eram antigos palcios, residncias de nobres ou locais onde aconteceram fatos relevantes para a
histria poltica de determinado local. O patrimnio assim transformado em monumento passou a ser
considerado um mediador entre o passado e presente, uma ncora capaz de dar uma sensao de
continuidade em relao a um passado nacional, de ser um referencial capaz de permitir a identificao com
uma nao.

A praa um importante elemento cultural para o povo sancristovense que v nela a


preservao de suas tradies culturais. Atravs desse patrimnio a identidade de um povo preservada e
onde todo o seu patrimnio cultural exposto. Ela atrai muitos visitantes por seus inmeros elementos
de atrao, como o carter geogrfico, histrico e cultural. Mas a infra-estrutura um fator relevante j
que tratam dos elementos receptivos dos turistas como: restaurantes, reas de lazer, transportes,
comunicao.
A Praa So Francisco transcorreu por sculos como cenrio das manifestaes culturais de
So Cristvo, tanto por parte da aristocracia, quanto das camadas populares. As festividades fazem parte
de todo esse patrimnio histrico, pois , tambm, atravs delas que o povo confirma seus valores
tradicionais e buscam sua identidade.
Todas as festas que ali acontecem, sejam culturais ou religiosas, usam da Praa como um
palco, um bem coletivo que possui grande representatividade e valores para todos por causa, no s dos
monumentos que a cercam, mas tambm pela tradio de uma cultura preservada at hoje.
As festas de Nosso Senhor dos Passos, Nossa Senhora da Vitria e a Procisso do Fogaru so
exemplos de festas tradicionais que acontecem nesse palco. Elas buscam manter vivas as tradies de um
povo, a identidade deste e, encontrar nesse bem comum um lugar de visualizao para todos que carregam
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

154
esse peso histrico. Esse bem imaterial que possui uma relao ntima com a cultura popular atravs de
seus monumentos e sua histria, que nos revela um grande cenrio para as manifestaes artsticas e
culturais. Estas festividades utilizam-se desse ambiente como o lugar principal, o palco para suas
celebraes.
Pode-se dizer que tudo que envolve esse mais novo Patrimnio Histrico da Humanidade algo
que desperta a ateno de visitantes e estudiosos. A vida na quarta cidade mais antiga do Brasil, segundo
Silva Filho (2007), reproduz a atmosfera religiosa e social, do sculo XVII ao XX. E essa atmosfera
religiosa que a cidade de So Cristvo respira, listando apenas as trs principais manifestaes religiosas
por ordem cronolgica, que so as mais conhecidas em Sergipe e no Brasil. Como por exemplo, a procisso
do Senhor dos Passos que atrai mais de 50 mil romeiros, evento esse que acontece anualmente na cidade e
sempre no segundo domingo da quaresma. Nela, os devotos saem em caminhadas para agradecer as
graas alcanadas. A procisso do Fogaru tambm um evento anual e sempre acontece na quinta feira
da semana santa. Onde os catlicos saem em procisso, seguindo a imagem e entoando cnticos com
tochas nas mos para simbolizar os discpulos de Jesus. E por fim os Corpos Christi, uma expresso Latina
que significa corpo de cristo. uma festa que j tradio e costume das cidades brasileiras e portuguesas.
Esse evento feito anualmente no Brasil, onde sempre realizado na quinta feira aps o domingo da
Santssima Trindade. Segundo a tradio latina para os sancristovenses no diferente, amanhece com
longos tapetes coloridos, feitos de serra de madeira, decorados com muitas imagens religiosas, atraindo
assim centenas de fiis.
De acordo com Cobra (2005, p. 21), O comportamento do cliente bem identificado permite
segmentar o mercado, agrupando clientes por estilo de vida e outros fatores demogrficos e psicogrficos.
Sabendo-se que o Turismo propicia aos turistas diversos tipos de segmentaes e opes de escolhas de
produtos e servios diferenciados pelos variados tipos de pblicos, classes, perfis e afinidades.
Segundo Vaz (2001, p. 80),
Segmentao do mercado a diviso do pblico em agrupamentos homogneos, com uma ou mais
referencias mercadologicamente relevantes. A segmentao de mercado serve aos seguintes propsitos:
permite identificar grupos de consumidores atuais ou potenciais de um produto; possibilita quantificar a
demanda potencial e efetiva desse produto; permite avaliar a viabilidade financeira das correspondentes
aes de marketing; orienta com maior eficincia o direcionamento das aes de marketing.

A segmentao de mercado ir auxiliar tanto empresrios que obtm a sua fatia de cientes
com seus produtos personificados, quanto a seus clientes que estaro satisfeitos com os bens e/ou
produtos adquiridos. Ainda segundo Vaz (2001, p. 86), as principais bases de segmentao, com variveis e
extratos mais relevantes como segmentao psicogrfica; comportamental; demogrfica pessoal;
demogrfica Sociocultural; demogrfica Socioeconmica e Geogrfica.
De acordo com Ansarah (2000, p. 25 a 31), ainda se pode estabelecer formas de segmentar
de acordo com tabelas ilustradas nas pginas citadas, por modalidade, bens e produtos, Afluncias, Faixa
Etria, Classificao e Critrios de segmentos, tendo se como motivao para a viagem o Turismo cultural
subdividido em um aspecto cultural como Turismo Religioso.
O turismo cultural, nada mais do que uma atividade que mostra a identidade cultural de
cada lugar, e significa o conjunto de inmeras peculiaridades nicas que varia de regio para regio,
oportunizando ao turista uma viso mais ampla sobre a cultura. Principalmente, propiciar uma experincia
nica e vivida individualmente, adquirindo com mais facilidade o aprendizado atravs de uma forma
divertida e informativa. O Turismo religioso tambm faz parte deste aspecto cultural, pois de acordo com
Ansarah (2000, p. 125), uma modalidade que movimenta um grande nmero de peregrinos em uma
viagem pelos mistrios da f e da devoo a algum santo.
Ainda segundo Ansarah (2000, p. 126), a religio considerada um fenmeno espiritual que
envolve o profundo relacionamento entre as criaturas e o criador. Pois os seres humanos foram criados
desde a sua existncia acreditando em um Deus que pudesse todas as coisas, e que tudo que existe ou que
acontecesse de estranho na vida tivessem sempre uma explicao para algo que os mesmo no possam
explicar, DEUS. Portanto, o turismo cotidianamente e visivelmente uma atividade que movimenta a
sociedade como um todo, pois atravs do mesmo que tem-se a possibilidade de conhecer, compreender,
aprender, valorizar e respeitar no somente a cultura, costume e tradio vivenciada por cada um na sua
Joo Pessoa, outubro de 2011

155
cidade, regio e/ou Pas, mas as culturas alheias tambm percebendo quanto a cultura ou peculiaridade
importante para cada lugar como mais precisamente para a cidade de So Cristvo.
Mtodos e Resultados
O mtodo cientifico utilizado consistiu em pesquisa bibliogrfica realizada em livros, internet,
artigos, revistas, materiais relacionados ao tema e pesquisa de campo, com a aplicao de questionrios a
quarenta (40) moradores da cidade. Os questionrios foram compostos de perguntas fechadas e abertas
para obteno de dados quantiqualitativos. Realizada no dia 07 de maio de 2011 na cidade de So
Cristvo, teve por objetivo verificar a importncia da Praa So Francisco para a comunidade.
De acordo com a pesquisa 65% dos entrevistados relataram a manifestao religiosa como um fator
muito importante para a cidade, 0%, ou seja, nenhum dos entrevistados acredita que as festas sejam ruim
para a cidade, 33% descreveram como uma demonstrao de f e, 1% se manifestou indiferente. Ainda de
acordo com a pesquisa 88% acham importante que as manifestaes aconteam na Praa So Francisco e,
12% no acham importante, 82% acreditam que essas festividades religiosas atraem turistas e 18% no
acreditam que essas festividades atraiam turistas, 71% confirma que a comunidade gosta dos turistas e
29% pensa que a comunidade no gosta da presena dos mesmos. Sobre o calendrio de eventos 99% dos
entrevistados sabem que existe um calendrio das festividades religiosas, sendo que destes, 1% sabe que
este calendrio divulgado, 73% no sabem informar e, 26% acham que o mesmo pouco divulgado.
Cerca de 87% dos entrevistados acham importantes que as manifestaes aconteam na cidade e, 13% no
acham importantes para a cidade, 96% acham que as festas atraem turistas e, 4% no acham que essas
festas possam atrair turistas. 94% acreditam que aps a Praa So Francisco ser considerada Patrimnio da
Humanidade estar atraindo mais turistas e/ou visitantes e, 6% no acreditam que aps esse fato atrair
mais turistas.
Consideraes Finais
Por meio deste trabalho, buscou-se mostrar a trajetria das Praas e a histria da Praa So
Francisco, considerada desde agosto de 2010, Patrimnio da Humanidade. Buscou-se ressaltar quo
importante ela para as festividades religiosas da comunidade, que com isso atraem no s o prprio povo
sancristovense, mas visitantes e curiosos em busca de participarem dos momentos religiosos ou apenas
conhecer essa cultura.
As manifestaes religiosas que ocorrem na Praa So Francisco so uma forma de
promover todo o patrimnio, onde a representatividade, originalidade e formas de culturas so valorizadas
para alm da cidade de So Cristvo. Com tudo isso, a incluso da Praa como Patrimnio Cultural da
Humanidade acabam por beneficiar a todos atravs de atividades tursticas e, por isso, um ganho na
qualidade de vida do povo circunvizinho.
Contudo, pode-se concluir e perceber o valor material e imaterial da cidade de So Cristvo,
observando a importncia das manifestaes religiosas realizadas na Praa So Francisco que cenrio e
sinnimo de tradio. Atraindo tanto os moradores locais como pessoas que j moraram e vem o evento
como oportunidade de reencontro com seus familiares e amigos trazendo consigo a lembrana dos velhos
tempos e aproveitando o momento para convidar os amigos e vizinhos da sua nova morada, que tem
interesse de conhecer a cidade, principalmente depois de a Praa ser denominada Patrimnio da
Humanidade.
As manifestaes religiosas significam uma demonstrao de f, atrai milhares de turistas, curiosos,
visitantes, moradores, pois o catolicismo a religio mais disseminada e seguida em todo o mundo.
Embora a presena de turistas incomode uma pequena fatia da populao local, a presena dos mesmos
significa motivo de alegria, distrao e auxilia no desenvolvimento econmico da cidade. Embora estes
eventos aconteam anualmente cidade no possui um calendrio oficial com datas especificas, por estar
seguindo o calendrio grego cristo, porm mesmo sabendo que este calendrio mvel, ou seja, nunca
cai no mesmo dia todos os anos, pode-se estabelecer, no mesmo, antecipadamente datas fixas sob estas
festividades. Entretanto, muitos moradores no sabem informar e outros acham muito pouco divulgados as
festividades locais da cidade de So Cristvo. Percebemos que a Praa So Francisco um ponto de
encontros e um referencial da identidade cultural de um povo, seja ele morador de So Cristvo, ou de
qualquer outro lugar, desde que se identifique com a cultura ali manifesta.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

156

Referncias Bibliogrficas
ANSARAH, M. G. R. Turismo Segmentao de mercado. 3 ed. So Paulo: Futura, 2000.
ARAGO, I. R. Patrimnio cultural da Humanidade: aspectos histricos e Culturais da Praa So
Francisco
em
So
Cristvo

Sergipe.
Disponvel
em:
<http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=25185> Acesso em: 09/05/11
BARRETTO, Margarita. Turismo e Legado Cultural: as possibilidades do planejamento. Campinas, SP:
Papirus, 2000.
BRAICK, P. R.; MOTA, M. B. Histria das cavernas ao terceiro milnio. Vol. 1. 2 Ed. So Paulo:
Moderna, 2010.
CARDOZO, Poliana F. Consideraes preliminares sobre produto turstico tnico. Pasos Revista de
Turismo y Patrimnio Cultural. Vol. 4 n2 (P. 143-152) 2006.
CAS, Paulo. A cidade desvendada: reflexes e polmicas sobre o espao urbano. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2000.
COBRA, Marcos. Marketing de Servios: turismo, lazer e negcios. Ed. Compacta. So Paulo: 2005.
LOBODA, C. R.; ANGELIS, B. L. D. reas Verdes Pblicas Urbanas: conceitos, usos e funes.
Disponvel em: <http://www.unicentro.br/editora/revistas/ambiencia/v1n1/artigo%20125-139_.pdf >
Acesso em: 30/05/11.
MERIGUE, G. L. A Gesto do Turismo para o desenvolvimento local. Disponvel em:
<http://www.etur.com.br/conteudocompleto.asp?IDConteudo=1508> Acesso em: 31/05/11.
Praa So Francisco. Disponvel em: http://pracasaofrancisco.se.gov.br/ Acesso em 19/10/2010
SILVA FILHO, Jos Thiago da. Memria e cotidiano da Praa So Francisco: tradio, louvor e festa.
In: Dossi com a proposio de inscrio da Praa So Francisco em So Cristvo/SE na lista do patrimnio
mundial. Aracaju: Secretaria do Estado da Infra-Estrutura, IPHAN, Prefeitura Municipal de So Cristvo,
2007. CD-ROM.
SILVA, Maria da Glria Lanci da. Cidades tursticas: identidades e cenrios de lazer. So Paulo:
Aleph, 2004.
VAZ, G. N. Marketing Turstico: receptivo e emissivo: um roteiro estratgico para projetos
mercadolgicos pblicos e privados. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.
VIERO, V. C.; FILHO, L. C. B. Praas Pblicas: origem, conceito e funes. Disponvel em:
<http://www.ulbra.br/santamaria/eventos/jornada/2009/JPE2009/Arq1257229939.pdf>
Acesso
em:
30/05/11.

Joo Pessoa, outubro de 2011

157

ANLISE PARCIAL DAS POTENCIALIDADES NATURAIS CACHOEIRA DE


OURICUR PILES/PB: UMA PERSPECTIVA PARA O DESENVOLVIMENTO
DO ECOTURISMO
CARDOSO, Jailson da silva
Graduando em Geografia UEPB/CH/DG/campus III
E-mail: jailsongeografia2010@hotmail.com
SANTOS, Edinilza Barbosa dos
Prof.Ms.da UEPB/CH/DG/Campus III
E-mail: edinilza@yahoo.com.br
ALVES, Carlos Antnio Belarmino
Prof. Ms. da UEPB/CH/DG/Campus III - Orientador
c_belarminoalves@hotmail.com

RESUMO
A Cachoeira de Ouricuri, situada nos domnios da bacia hidrogrfica do Mamanguape e recortado
pelo rio Araagi, sendo um dos seus afluentes na Paraba. Encontra-se encravada numa regio de relevo
pouco movimentado com vales profundos, estreitos dessecados. O objetivo dessa pesquisa e desenvolver
um levantamento parcial das potencialidades ecolgicas cnicas e contemplativas do vale do Ouricuripiles/PB, onde tem como cone a cachoeira que tem atrado turistas pesquisadores e populares de toda
regio. Na perspectiva de dinamizar o desenvolvimento do ecoturismo dessa regio tendo como base a
manuteno do equilbrio natural e do meio ambiente. O municpio de Piles/PB est inserido na
mesorregio do agreste e microrregio do brejo paraibano, pertencente unidade Geoambiental do
Planalto da Borborema, dotada de grandes mananciais hdricos, cachoeiras, vegetao exuberante que
facilita a contemplao de belezas cnicas sendo capaz de atrair turistas, gerando emprego e renda. A
metodologia utilizada procurou valorizar a pesquisa qualitativa somada a pesquisa emprica, na qual
ocorreram observaes sistemticas na referida em pocas de chuvas e de estiagens, com a aplicao de
questionrios com perguntas semi-estruturadas e entrevistas. Ser realizado um levantamento
bibliogrfico que nos auxiliar na definio dos autores utilizados nos procedimentos tericos e
metodolgicos. Ser ainda realizado visita in locu para se detectar as potencialidades, versadas, atravs do
conhecimento popular dos moradores da rea em estudo. Os resultados preliminares nos deram conta das
potencialidades existente e na certeza da gerao de emprego e renda. Se bem planejadas e com a
efetivao de parceria com instituies governamentais. Podemos concluir que essa potencialidade ser
base do desenvolvimento da regio, se organizado o espao com infraestrutura para aqueles que ali
freqentam como turista. Sendo necessria ainda a atuao eficaz da mdia para divulgar o produto
turstico.
Palavras-chave: Cachoeira do Ouricuri, meio ambiente, potencialidades naturais.
ABSTRACT
The Ouricuri waterfall, located in the areas of the Mamaguape watershed and cut by the Araagi
river, being one of its affluents in Paraba, is set in a little moving relief region, with deep valleys, narrow
and dried. The purpose of this research is to develop a partial statistics of scenic and contemplative
ecological potential of Ouricuri Piles/PB valley, where there is as icon waterfall that has attracted tourists,
researchers and popular from the region. In order to facilitate the development of ecotourism in this region
based on maintaining the natural balance and the environment. Piles city is inserted in the middle region
of the rough and microregion of Parayban swamp, belonging to the Geoenvironmental unit Borborema
upland, endowed with large water fountains, waterfalls, lush vegetation, which facilitates the
contemplation of the scenic beauty, being able to attract tourists, producing employment and income. The
methodology sought to make qualitative research, coupled with empirical research, in which systematic
observations occurred in that in times of rains and droughts, with the use of questionnaires with semistructured questions and interviews. It will be performed a bibliographical statists that will assist us in
definition of authors used in the theoretical and methodological procedures. Visit will also be held in locus
to detect the potential, versed in residents popular knowledge of the area under study. Preliminary results
made us realize the existing potential and the certainty of employment and income generation. If well
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

158
panned and with criation of partnerships with government, we can conclude that this potential will be the
basis for development of the region, organizing the space with the infrastructure for those who go there as
a tourist, requiring yet effective performance of the media tospread the tourism product.
Key-words: The Ouricuri waterfall, environment, natural potential.
1. INTRODUO
A diversidade vegetal da mata nativa do vale16 do Ouricur apresenta uma paisagem de belezas
cnicas com a predominncia de palmeiras conhecida vulgarmente por ouricuri (Syagrus Coronata) no
entorno da cachoeira. De acordo com RAMALHO C.I, (s.d) o ouricuri uma espcie de palmeira de
caracterstica da vegetao da regio seca e semi- rida do Nordeste uma planta extrativista, de um
potencial paisagstico e alimentcio, ornamental. Sendo ainda conhecida por Aricuri, Nicuri, Alicur.
A vegetao do vale constituda por rvores com tais caractersticas: caule longo, com
folheamentos densos, com caracterstica da caatinga hipoxerfila a mesma contm poucas cactceas e
bromlias. Em grande contraste com a cobertrura vegetal dos diferentes tipos de caatinga ocorrem serras
midas, baixos e brejos, revestidos de florestas tropicais. O contraste ecossistmico hidrolgico berrante
nesses setores de mudana rpida e radical de vegetao. Em meios as serras midas, ocorrem solos de
decomposio funda e pedognese generalizada, incluindo espcies arbreas de Mata Atlnticas e relictas da
flora Amaznica. (LIMA 1966 apud ABSABER 2009)

As potencialidades paisagsticas do vale do Ouricuri bem como de formao de relevo. De acordo


com Guerra (1993) so caractersticas de vales topogrficos em forma de V com terrenos argilosos a
predominncia de rochas cristalinas ou at mesmo de arenitos, onde aparecem vales como vertentes
abruptas, ou seja, vales em garganta. Na rea em estudo percebe-se uma interligao com a vegetao
nativa e o relevo.
17
O curso fluvial que recortam a declividade dos afloramentos rochosos , ocasionando uma grande
queda dgua origina as cachoeiras. Segundo Jatob; Lins (2003) com o aumento da declividade de uma
rea causada pelo um rio ocorre um acrscimo da velocidade deste, quando esse desnvel topogrfico
vertical formam-se as cachoeiras. Levando-se em conta os fatores morfogenticos, podem ser classificar
nos seguintes tipos: cachoeiras em escarpa de falha e pelas diferenas de durezas dos terrenos.
Guerra e Guerra (2008) mencionam: A cachoeira como sendo, uma queda dgua no curso de um
rio, ocasionada pela existncia de um degrau no perfil longitudinal do mesmo. As causas da existncia
dessas diferenas de nvel no leito do rio podem estar ligadas a falhas, dobras, eroso diferencial, diques.
No sop da cachoeira geralmente h o aparecimento de marmitas ou caldeires, produzidos pelo choque
das correntes fluviais. Geralmente as guas carregam sedimentos de diversas dimenses depositados em
18
suspenso, que so responsveis pela escavao das marmitas de turbilhonamento.
Para Mariano Neto (2006) apud Costa (2006) A mesorregio agreste influenciada pela semi-aridez
do serto (clima quente-seco) e a umidade vinda do litoral (clima quente-mido), criando uma zona de
transio natural. No entorno do brejo, a temperatura diminui em funo do Planalto da Borborema e dos
ventos alsios do sudeste, provocando chuvas orogrficas19 e deixando o ambiente com clima mais ameno
(frio).
Segundo a Companhia de Pesquisa e de Recursos Minerais (CPRM, 2005), a cachoeira de Ouricur
pertence ao municpio de Piles que est localizado no estado da Paraba inserido na microrregio de
Guarabira e na Mesorregio do Agreste paraibano, na unidade geoambiental no Planalto da Borborema.

16

GUERRA, Dicionrio Geolgico Geomorfolgico, p.427. Os vales so formas topogrficas constitudas por
talvegues e duas vertentes com dois sistemas declives convergentes.
17
GUERRA, Dicionrio Geolgico Geomorfolgico, p.5. Toda e qualquer exposio de rocha na superfcie da
Terra.
18
GUERRA, Dicionrio Geolgico Geomorfolgico, p.6. Buracos que aparecem nos leitos dos rios produzidas
pelas guas turbilhonares.
19
Ocorrem com a ascenso e o resfriamento do ar, quando tem de ultrapassar barreiras montanhosas.
(ALVES, s.d p.2)
Joo Pessoa, outubro de 2011

159
20

Sua formao de relevo de vales profundos, estreitos e dissecados , e possui afloramentos das rochas,
h uma variao com altitude entre 650 a 1000 metros. A sede do municpio possui uma altitude
aproximada de 334 metros, com distncia da capital de 117 km com acesso a partir de Guarabira/PB a Joo
Pessoa, pelas rodovias BR 230, BR 104, PB 079 e PB 067.
A pesquisa de grande importncia para messoregio do agreste paraibano visto est localizado
em um recorte de grande beleza cnica e complexos geomorfolgicos que creditam ao municpio
potencialidades tursticas capazes de gerar emprego e renda.
Essa pesquisa tem por objetivo desenvolver um levantamento parcial das potencialidades
ecolgicas do vale do Ouricur - Piles/PB, na perspectiva de dinamizar o desenvolvimento do ecoturismo
dessa regio, tendo como base a manuteno do equilbrio natural e do meio ambiente e sustentabilidade,
utilizando-se dos recursos de maneira racional, deixando como legado para futura gerao sem intervir no
meio ambiente.
2. FUNDAMENTAO TEORICA
Segundo Guerra e Cunha (2008), eles ressaltam que o meio ambiente hoje, sem dvida, uma das
grandes preocupaes da humanidade, ao buscar melhorias na qualidade de vida e na tentativa de
preservar o patrimnio que a natureza produziu.
Mendona (1994) afirma que o meio ambiente visto como um recurso a ser utilizado e como tal
deve ser analisado e protegido, de acordo com suas diferentes condies, numa atitude de respeito,
conservao e preservao. Em suas declaraes Lacerda e Barbosa (2006) ressaltam que a vegetao da
caatinga do estado da Paraba foi classificada em quatro tipologias, cada caracterstica prpria de sua rea
ou regio so essas tipologias: caatinga arbustiva- arbrea caatinga arbustiva- arbrea fechada, caatinga
arbrea fechada e um tipo que inclui alm das espcies caduciflias as espcies da mata mida.
As caractersticas da caatinga conceituam-se pelo clima, vegetao acompanhada de insolaes,
elevadas temperaturas, altas taxas de evapotranspirao, baixa umidade relativa distribuio irregular de
chuvas restringindo-se de trs a quatro meses do ano e com ocorrncias de chuvas errticas. (ARAJO et.
al., 2007).
Absaber (2009) ressalta que no Planalto da Borborema uma espcie de macio central do
Nordeste, posio para o leste, h a predominncia de matas de encostas na vertente leste e sudeste no
plat cristalino. E que em alguns casos, a umidade vinda de sudeste e leste contribui para o
desenvolvimento de matas cimeiras, de encostas e de piemonte. Na regio do agreste as espcies de matas
da caatinga so constitudas por uma vegetao arbreas e por matinhas entremeadas tpica do tropical.
Como afirmao, Mendes (1997) expe que o padro fisionmico e florstico da caatinga so
alterados pelas matas ciliares que recobrem as margens aluviais dos rios intermitentes que cortam o
semirido. A vegetao do vale ouricur apresenta uma grande diversidade florstica e estrutural, e a
ocorrncia da mata ciliar nessa rea pouco conhecida e estudada esse patrimnio paisagstico e utilizado
para o desenvolvimento do turismo de lazer, faltando um gerenciamento das riquezas naturais.
Ruchmann (1997) chama a ateno para os problemas e conflitos encarados pelos responsveis do
turismo, bem como pelos responsveis do meio ambiente, para que possam criar condies para
conviverem e administrar essa situao no futuro. Embora o turismo no nordeste esteja centrado no
litoral existem paisagens interiores riqussimas em atrativos cnicas pouco exploradas turisticamente.
(SEABRA, 2001).
De acordo com Guerra e Maral (2006) o turismo pode estar totalmente relacionado aos meios
fsicos, como tambm uma atividade que pode estar ligada intimamente e vinculada explorao de
reas naturais, oferecendo um turismo de aventura, um turismo ecolgico, ou qualquer outra modalidade
ou termo que se crie.
O turismo ecolgico compreende uma viagem ambientalmente responsvel, com visitao de reas
naturais relativamente preservadas, no sentido de vivenciar e apreciar a natureza, que promove a
conservao, tem baixo impacto e promove, de forma benfica, o envolvimento socioeconmico ativo das
populaes locais. (CEBALLOS-LASCURIN (1993) Apud SEABRA 2001).
20

GUERRA, Dicionrio Geolgico Geomorfolgico, p. 138. Diz-se da paisagem trabalhada pelos agentes

erosivos."
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

160

3. MATERIAL E MTODOS
A rea em estudo encontra-se no municpio de Piles, inserido nos domnios da bacia hidrogrfica
do rio Mamanguape. A pesquisa desenvolveu-se com base nos seguintes procedimentos: levantamento
bibliogrfico fundamentado em autores que abordam as discusses que destacam as potencialidades
naturais: Ruschmann (1997) que relacionam o turismo ao planejamento sustentvel e enfatizam a
preservao do meio ambiente; Rodrigues (1999), dentre outros contedos, trabalha com o conceito de
patrimnio ambiental, implicaes e explorao turstica dos recursos naturais; Seabra (2001) faz uma
arbodagem do turismo ecolgico; Guerra e Maral (2006) com nfase no meio ambiente;Lacerda e Barbosa
(2006) ressalta a importncia do bioma caatinga nos seus domnios nordestinos.Absaber (2009)
ecossistemas do Brasil.
O trabalho emprico ocorreu atravs da observao do objeto de estudo, especificamente ao fazer
um estudo da localizao e da caracterizao da rea, na qual se fez uso de registro fotogrfico, anotaes
em caderneta de campo, somados a levantamento de dados atravs de conversas informais e,
principalmente, aplicao de 20 questionrios semi estruturado lista livre (com moradores do local e
turista), para compreenso das potencialidades naturais como das belezas cnicas. Portanto, foi levada em
considerao a viso dos moradores do entorno da cachoeira e a viso dos visitantes, em relao das
riquezas naturais.
Foram realizadas pesquisas em peridicos na internet e stios oficiais, os quais contriburam para o
desenvolvimento do estudo, como: Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM) com
caracterizao do municpio e da respectiva bacia hidrogrfica do rio Araagi e Araagi Mirim.
4. RESULTADOS E DICUSSO
A vegetao do vale do Ouricur destaca-se pelo potencial natural com matas fechadas,
caracterstica do bioma caatinga com uma diversidade vegetal, uma potencialidade exuberante natural e
hdrica principalmente em tempos chuvosos, permanecendo com fluxo de gua e queda dgua o ano todo.
Na cachoeira percebe-se uma formao rochosa com caracterstica topogrfica de vale estreito e encaixado
com forte declive em forma de V.

Figura1 - viso parcial do vale do Ouricur piles/PB


Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

Joo Pessoa, outubro de 2011

161
A cachoeira usada como espao de lazer pelos turistas, no resultado obtido nos questionamentos.
90% afirmaram que deveria ser mais utilizada, enquanto que 10% optaram para serem menos utilizados e
preservados os recursos naturais.
Segundo SEABRA (2001) o turismo sustentvel uma forma de lazer harmoniosa que valoriza as
populaes nativas, bem como respeita o meio ambiente, mas preciso ser fundamentado na
autodeterminao. Conforme os dados levantados, metade (50%) dos moradores utiliza a cachoeira como
espao de lazer e a outra metade afirmaram no utilizar a cachoeira para qualquer atividade.

60%
50%

50%

50%
Sim

40%
No

30%
20%
10%
0%
Grfico 1 - Opinio dos moradores quanto utilizao da cachoeira como espao de lazer.
Fonte: Pesquisa de campo, 2011.
Uma parcela significativa dos moradores no utiliza a cachoeira como ponto de lazer assegura que
se banham nas guas do rio Araagi, j que o mesmo fornece um espao de relaxamento ou de lazer nos
finais de semana e feriados, da pode-se perceber a potencialidade e grande volume hdrico que esse rio
advindo da cachoeira possui, sendo um dos afluentes da bacia do Mamanguape.Western (1995, p. 55) ao
fazer uma reflexo sobre o desenvolvimento do turismo em reas naturais, afirma que se deve explorar o
potencial natural para o desenvolvimento turstico visando conservao, e deve-se evitar o impacto
negativo ecologia, cultura e a esttica. Queremos enfatizar, portanto, que isto no ocorre na rea em
estudo.

Figura 2 Cachoeira do Ouricur/PB


Fonte: Pesquisa de campo, 2011

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

162
4.1 Viso dos turistas entrevistados
Os turistas entrevistados que sempre visitam a cachoeira de Ouricuri foi questionado o que eles
faziam com o lixo produzido no local, 80% responderam que recolhem o seu lixo, mas deixam no local e
20% afirmaram que recolhem o prprio lixo e levam de volta, podemos ento perceber um problema para
a vegetao, bem como para os seres biticos e abiticos, que possivelmente acarretar na acelerao da
degradao ambiental, se no for tomada nenhuma providncia por parte dos gestores pblicos, na
reciclagem ou retirada do lixo. Conforme o demonstrado no grfico (02).

80%

80%

Recolho e
deixo

60%

Recolho e levo

40%
20%

20%

0%
Grfico 2 - Destino dos resduos slidos produzido pelos turistas da cachoeira de Ouricuri.
Fonte: Pesquisa de campo, 2011.
A pesquisa demonstrou que (60%) dos turistas foi conhecer pela primeira vez a referida cachoeira
por influncia da mdia e 40% afirmaram no terem sofrido qualquer influncia da mdia. Esses turistas que
sempre esto indo at a cachoeira para descansar no momento de lazer e contemplar as belezas naturais
do local, ao serem questionados sobre o motivo da(s) sua(s) visita(s) 50% dos entrevistados disseram que
foram atrados pela beleza do local, outros 40% afirmaram que foram atrados pela curiosidade e um
pequeno percentual de 10% disseram que foram apenas pelo encontro com os amigos.
As belezas naturais da referida cachoeira, com paisagem bastante destacada pela vegetao, rios,
favorecem um belo aconchego natural, harmonioso, com uma arte que s a natureza pode promover para
os aventureiros, com relevo bastante diversificado o rapel ganha destaque como esporte de aventura.
Segundo Costa (2006) o local possibilita um turismo de aventura, onde a paisagem natural contribui com
serras, encostas cristalinas, com uma enorme queda dgua, um atrativo natural aos apaixonados pela
prtica desse tipo de esporte.
5. CONSIDERAES FINAIS
Consideramos que a presente pesquisa foi de grande valia, por tomarmos conhecimento da
potencialidade que a cachoeira tem em todos os mbitos que no tem sido discutida por nenhum
seguimento da sociedade, e de podermos nos posicionar e chamar a ateno dos diversos agentes
produtores do espao principalmente dos gestores pblicos
H uma demanda considervel de visitantes na cachoeira, e isto ratifica o seu potencial turstico,
principalmente nos dias feriados. A beleza natural da rea chama a ateno daquelas pessoas que gostam
de apreciar a natureza, pois, nas imediaes da cachoeira ainda preservada a sua vegetao natural e,
isto pode ser explorado culturalmente e economicamente de forma bem planejada para que esta beleza
possa ser apreciada por geraes futuras.
6. REFERNCIAS
ABSABER, Aziz, MARIGO, Luis Claudio. Ecossistema do Brasil. So Paulo, Metalivre, 2009.

Joo Pessoa, outubro de 2011

163
ARAUJO,
Gisele
Maria
de.
Dissertao.
Disponvel
em:
http://www.pgb.ufrpe.br/doctos/2009/dissertacoes< acessado em 05/06/11>
COSTA, Evilimar Loureno da. Geografia e turismo de aventura no stio Poo Escuro municpio de
Piles/ PB.( Mono). Guarabira: UEPB, 2006.
CPRM- Servio geolgico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por gua
subterrnea. Diagnostico do municpio de Piles, estado da Paraba/ organizado [por] Joo de Castro
Mascarenhas, Breno Augusto Beltro, Luiz Carlos de Souza Junior, Franklin de Morais, Vanildo Almeida
Mendes, Jorge Luiz Fortunato de Miranda. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.
GUERRA, Antnio Jos Teixeira, Cunha, S. Baptista. Geomorfologia uma atualizao e conceitos. 8
ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
GUERRA, Antonio Jos Teixeira; MARAL, Mnica dos Santos. Geomorfologia Ambiental. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
GUERRA, Antnio Teixeira. Dicionrio geolgico- Geomorfolgico. 8Ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993.
JATOB, Lucivnio. Introduo a geomorfologia. Ed 4 Recife: revista ampliada, 2003.
LACERDA, Alecksandra Vieira de; BARBOSA, Francisco Maria. Matas ciliares nos domnios das
caatingas. So Paulo: UFPB, 2006.
MENDONA, Francisco. Geografia e meio ambiente. 2Ed. So Paulo: contexto, 1994.
RAMALHO,
Ccera
Izabel:
Licuri
(syagrus
Coronata).
Disponvel
em:
<www.cca.ufpb.br/lavouraxerofila/pdf/licuri.pdf> Acesso em: 08/06/11
RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e ambiente; reflexes e propostas. 2 ed. So Paulo: Hucitec,
1999.
RUSCHMANN, Doris Van de Meene. Turismo e planejamento sustentvel: a proteo do meio
Ambiente. 10 ed. So Paulo: Pantirus, 2007.
SEABRA, Giovani de Farias. Ecos do turismo. Campinas, S/P: Papirus, 2001.
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Acesso em: 05/ 03/ 2011

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

164

NATUREZA, TURISMO E A VALORIZAO DO ESPAO


21

Kelson de Oliveira SILVA


Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Av. Salgado Filho, Lagoa Nova, Natal/RN.
CEP: 59072-970. Tel.: (84) 3215.3572/Ramal 501.
E-mail: kelsongeo@hotmail.com

RESUMO
O turismo de natureza vem se configurando, recentemente em importante modalidade turstica
por atrair crescente nmero de interessados nesse tipo de atividade. Nesse contexto, a natureza
apropriada e transformada em produto, agregando valor simblico aos destinos tursticos, em razo do
amplo e difundido debate ambiental, atualmente vigente na sociedade contempornea. O presente
trabalho se constitui em ensaio exploratrio e tem como objetivo central analisar como se deu a
valorizao social da natureza enquanto recurso turstico. O espao assume uma conotao mercadolgica
e os elementos paisagsticos naturais so incorporados aos roteiros tursticos, vendidos como produto. Em
razo da problemtica do uso irrestrito e abusivo desses recursos naturais turistificados, a implantao
de um planejamento turstico ambiental, participativo e sustentvel, limita e condiciona um uso mais
racional e justo da natureza, possibilitando que a comunidade diretamente afetada no limite-se ao nus
de uma atividade turstica desenfreada.
Palavras-chave: Valorizao social da natureza; Impactos ambientais; Turismo de natureza; Poder
pblico; Espao geogrfico.
A Mercantilizao do Espao
Com o crescente aprofundamento do capitalismo a partir das ltimas dcadas do sculo XX e suas
repercusses em escala global, a natureza assume uma perspectiva cada vez mais mercadolgica,
apropriada e transformada em produto de consumo por diferentes seguimentos econmicos. Essa
perspectiva da natureza enquanto recurso concomitante transformao dos elementos naturais em
artificiais, por e a partir do que Santos (2008, p.238) designa de meio tcnico-cientfico-informacional, o
que impe ao espao uma nova dinmica e significado.
Com a gradativa transformao dos elementos naturais em produto de consumo, associada
precariedade das condies de vida em alguns centros urbanos, observa-se um movimento de valorizao
da natureza em busca de reas com clima quente, paisagens naturais exticas e/ou paradisacas e do meio
rural (FONSECA, 2005, p. 29). Levando-se em conta o valor social atribudo natureza com o movimento
ambientalista e sua importncia estratgica para o desempenho turstico, Fonseca (2005, p. 29) afirma que
os lugares ambientalmente conservados e dotados de paisagens valorizadas, tornam-se objetos de
consumo para restrito nmero de indivduos que podem custear o desfrute desses espaos naturais cada
vez mais raros.
No que diz respeito a qualificao econmica atribuda aos lugares, a localizao geogrfica e a
caracterizao ambiental se constituem nos fatores de sua valorizao (MORAES, 2007, p.19). Para Moraes
(2007, p. 23), a valorao da natureza significa a realizao (objetivao) do valor, sua apropriao material.
Seria a ao de transformar materiais da natureza em valores de uso, por meio da mensurao qualitativa
ou quantitativa de um bem ou conjunto de bens, atribuindo-lhe assim uma utilidade para o uso humano.
De forma que para Moraes (2007, p. 19), o valor de um espao preservado , portanto, um capital
potencial, uma reserva de valor que se expande em relao direta com suas possibilidades de uso.
Porm, necessrio ressaltar que a valorizao turstica de determinados elementos naturais
relativa ao longo do tempo e do espao, conforme os modismos e especificidades de cada sociedade
(FONSECA, 2005, 30). Esses elementos naturais - praias, rios, lagos, montanhas, florestas, fauna e flora,
entre outros - so recursos considerados cada vez mais raros em razo da degradao ecolgica que
implica na perda da qualidade ambiental de ecossistemas inteiros, devido seu consumo indiscriminado.
Para o turismo, particularmente, a natureza apresenta-se como elemento fundamental capaz de
atrair ou retrair fluxos tursticos, segundo a qualidade ambiental dos espaos turistificados. Entretanto,
21

Docente vinculado ao Departamento de Geografia/Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Joo Pessoa, outubro de 2011

165
ainda que o turismo atente para a relevncia dos elementos paisagsticos - enquanto atrativos tursticos se observam formas desastrosas de apropriao dos recursos naturais, fato esse considerado por
Coriolano (2007, p. 19) passvel de ser tratado como uma questo de (in)sustentabilidade socioambiental.
Coriolano (2009, p. 19) afirma que esta (in)sustentabilidade produzida pela contradio inerente ao
capitalismo, apresentando-se no caso da atividade turstica, na forma de impactos sociais, ambientais,
especulao mobiliria, ocupao de reas vulnerveis e outros diversos modos de descaracterizao da
paisagem.
Em alguns casos, esses bens naturais presentes tanto na paisagem urbana quanto rural e que
foram institudos legalmente como de propriedade do povo, so apropriados e privatizados de forma
depredadora pelo turismo, resultando em prejuzos cidadania da populao local. Santos (1993, p. 48)
afirma que atualmente, com a mercantilizao de diferentes esferas da vida, esses espaos pblicos (praias,
montanhas, caladas, entre outros) esto sendo impunemente privatizados. Por motivo desse fato, Temos
de comprar o ar puro, os bosques, os planos de gua, bens naturais esses cada vez mais raros e
transformados em produtos de consumo pelo modelo econmico vigente (SANTOS, 1993, p. 48).
Considerando-se a raridade dos elementos naturais e sua indispensvel qualidade ambiental para
o cidado - esteja ele ou no na condio de turista - o debate a propsito do turismo e seus impactos
sociais, culturais e ambientais, no deve negligenciar o papel do Estado enquanto ente social responsvel
pelo uso dos territrios turistificados. Cabe ao poder pblico municipal, estadual e federal zelar pelo
patrimnio cultural, histrico e natural sob sua respectiva jurisprudncia. Entretanto, em razo da
caracterstica neoliberal do Estado brasileiro favorvel ao capital e consequentemente contra o exerccio
pleno da cidadania, torna-se oportuno questionar:
Qual o sentido das polticas econmicas, quando o Estado guardio da natureza e com deveres
sobre os direitos dos cidados, mas age no sentido inverso ao papel contratado juridicamente?
Especialmente quanto ao turismo, o que esperar de uma atividade que surge como resposta crise
capitalista de lucro, ser que ela poder produzir uma verdadeira alternativa ao modelo econmico
dominante? (CORIOLANO, 2007, p. 20).

O Estado ao implementar polticas pblicas voltadas para o desenvolvimento do turismo, assume


ampla responsabilidade no que diz respeito aos povoados turistificados. Primeiro, por induzir o
desenvolvimento do turismo de forma vertical e desordenada, sem o efetivo e amplo desejo da
comunidade; segundo, pelo poder poltico/administrativo, financeiro e jurdico de regular os lugares
turistificados. Por isso, incontestavelmente, se constitui de competncia e dever do Estado reparar os
danos scio-ambientais que eventualmente sejam ocasionados pelo turismo.
Outra questo tambm de suma relevncia, diz respeito dicotomia entre sociedade e natureza
ainda presente no discurso ecologicista, que reduz ou suprime o papel essencial do homem na relao com
o meio ambiente. Em razo desse fato, Cruz (2003, p. 28) adverte que os problemas ditos ambientais
nada mais so que a concretude espacial das distores e contradies inerentes ao modo de reproduo
social. Para a autora (CRUZ, 2003, p. 28), qualquer medida concernente melhoria da qualidade ambiental,
seja preservando determinada rea, despoluindo um rio, rodzio de automveis, ou outra qualquer ao
apenas de ordem pontual e desarticulada, ser sempre um paliativo diante do carter estrutural econmico
do capitalismo.
Posto isso, necessrio reconhecer que as aes polticas no sentido de solucionar os problemas
ditos ambientais, devem inicialmente incidirem na macro-estrutura do modelo econmico capitalista, de
forma promover mudanas nos padres de produo/consumo em escala global. Conforme coloca
Coriolano (2007, p. 37), os impactos ambientais do turismo so indcios de que h um carter
economicista e reacionrio nas polticas governamentais, descompromissado com os apelos das
comunidades submetidas lgica perversa de reproduo do trade turstico.
Sobretudo, no que diz respeito ao modelo turstico de massa, a adoo de posturas ticas e
responsveis significaria uma produo/consumo de produtos e servios que contribuiro de forma efetiva
com o desenvolvimento dos lugares turistificados, possibilitando o exerccio cidado dos agentes
comunitrios nas decises polticas de suas localidades.
Portanto, imprescindvel e urgente um novo turismo que possibilite reconhecer o meio
ambiente no apenas na perspectiva econmica, enquanto recurso paisagstico e panormico para desfrute
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

166
do turista, mas, como o lugar da experincia e sobrevivncia do cidado local, detentor por direito dos bens
naturais cobiados pelos agentes tursticos.
Turismo litorneo ocupao e o uso social da praia
No caso do turismo sol e mar, a intensa e crescente ocupao das praias sem o devido
planejamento ambiental tem resultado na degradao dessas reas litorneas, implicando em danos
ecolgicos sobre restingas, dunas, mangues e outros ecossistemas associados zona costeira. Atualmente,
o litoral tem sido espao privilegiado para instalao de diversas atividades tursticas de lazer, restaurao,
residncias secundrias22, resorts, hotis, pousadas, entre outros. Esse fenmeno da ocupao do litoral
est relacionado valorizao social atribuda as praias, a partir da difuso europeia do banho de mar.
Segundo Corbin (1989, p. 65), a procura pelo litoral torna-se mais expressiva por volta de 1750,
inicialmente atendendo a concepo mdica de aliviar a angstia, a melancolia e a tristeza presente nos
citadinos europeus. O discurso mdico e higienista dos banhos de mar como recurso teraputico,
contriburam decisivamente para disseminar o banho de mar, posteriormente apropriado como forma de
lazer e cio, entre os anos de 1750 1840:
ento que as margens do oceano surgiro como alternativa aos males da civilizao, como lugares
onde se pode ler da forma mais simples a nova temporalidade proposta pelos sbios, experimentar a
dissociao da histria do homem em relao da terra (CORBIN, 1989, p. 65).

Conforme Boyer (2003), os britnicos foram os responsveis por difundir a prtica do banho de
mar, criando os balnerios no qual o passeio na orla e a prtica da imerso na gua salgada das praias
tinham um fim teraputico. Boyer (2003), afirma que a partir do sculo XIX, o discurso teraputico tornouse dominante, popularizando a ideia de higiene entre as mais diversas classes sociais.
Em parte, deve-se muito da transformao dessa imagem anteriormente depreciativa da praia, aos
grandes balnerios franceses que desde meados do sculo XIX, comearam a se impor como lugares de
encontro da aristocracia e da alta burguesia:
[...] a duquesa de Berry em Dippe, o duque de Morny em Dauville, a imperatriz Eugnie Biarritz.
Segundo consta, a atriz francesa Sarah Bernhardt foi uma das primeiras pessoas a tomar banho de mar em
Copacabana, o que naquela poca, final do sculo XIX, ainda chocou as elites brasileiras. A partir de ento, a
leitura do banho de mar e da praia em geral comea a ser revista tambm no Brasil (GOMES, 2002, p. 219).

O Manual do banhista ou estudo sobre o banho de mar, publicao de origem europeia, surge em
1876 com o intuito de orientar os banhos de mar por prescrio mdica (CAMARGO, 2007). Esse fato coloca
em evidncia a importncia dada a esse fenmeno, tanto na Europa, quanto tambm em outros pases
diretamente influenciados pelos costumes europeus. No Brasil, a publicao inicialmente chegou cidade
do Rio de Janeiro, certamente pelo motivo da efervescncia da febre dos banhos salgados entre os seus
citadinos e por ser a capital federal, poca.
Na Europa, com o sucesso alcanado pelas estncias termais do interior, em particular na
Inglaterra, procuram-se estender tambm os banhos para os balnerios martimos, institucionalizando essa
prtica. Segundo Camargo (2007), a doutrina mdica-teraputica de Russel conquistou adeptos distintos e
abastados, e com o intuito de atend-los, o mdico passou a ocupar uma casa suntuosa no balnerio
martimo de Brighton Sussex - muito prximo ao sul de Londres, atraindo pblico de todo o continente
europeu.
O modismo europeu dos banhos de mar, gradativamente se expande por outros continentes,
chegando ao Brasil com a famlia real e sua corte em 1808 (CAMARGO, 2007). O prncipe regente D. Joo
teria sido o pioneiro involuntrio do mergulho teraputico no mar, por causa de uma inflamao na perna
provocada por picada de carrapato (GASPAR, 2004). Foi na praia do Caju, em Botafogo que, a famlia real
adquiriu um palacete destinado a suas estadas de vero. De acordo com Gaspar (2004, p. 142), a residncia
secundria de D. Joo VI foi a nica testemunha de que um dia o mar ali foi cristalino.
22

residncia secundria ou segunda residncia so termos equivalentes e amplos, abarcam formas e usos
distintos de um domiclio permanente, tendo como principal finalidade o lazer, a recreao e o descanso de seu
proprietrio e familiares, seja nos fins de semana, feriados ou frias (SILVA, 2010, p. 31).
Joo Pessoa, outubro de 2011

167
Na cidade do Rio de Janeiro, no incio do sculo XX, as praias do Botafogo, Leme, Ipanema e Leblon
so includas tessitura urbana carioca, em virtude da crescente expanso de residncias secundrias de
propriedade da aristocracia carioca. Conforme Gaspar (2004), o ramal Igrejinha-Ipanema, inaugurado em
abril de 1894, a princpio foi considerado um erro pelos acionistas da empresa de bondes carioca que,
consideravam imprudente a iniciativa de levar o bonde a um deserto arenoso, sem habitaes e cujo
progresso seria muito lento.
Contrariando o prognstico pessimista acima exposto, as reas de praia no Brasil, assumiram a
partir do sculo XX, valor simblico e de troca enquanto bem de consumo. Em razo desse fato, Moraes
(2007, p. 21) afirma que O litoral tambm se particulariza, modernamente, por uma apropriao cultural
que o identifica como um espao de lazer, por excelncia, e os espaos preservados so, hoje, ainda mais
valorizados nesse sentido. Nesse contexto, pode-se afirma que o turismo por meio de empreendimentos
diversos de hospedagem, restaurao, lazer, entretenimento, residncias secundrias, entre outros, o
seguimento econmico que maior expresso assume no que diz respeito aos impactos ambientais sobre os
ecossistemas costeiros:
Notadamente, a atividade turstica ganha grande destaque quando se adota uma perspectiva de
futuro. Em termos globais, um dos setores produtivos que mais cresce na zona costeira na atualidade,
revelando uma velocidade de instalao exponencial (MORAES, 2007, p. 42).

Mais recentemente, no incio dos anos 2000, outro elemento que se soma ao turismo litorneo
brasileiro, diz respeito entrada de investimentos internacionais na produo de empreendimentos
tursticos destinados a pblico tambm estrangeiro. Esses investimentos estrangeiros esto sendo
aplicados especialmente nas zonas de praia para construo de uma modalidade de empreendimento
turstico que agrupa servios diversos de hotelaria, lazer, entretenimento, esttica, spa, entre outros, se
prestando em alguns casos, como domiclio permanente ou residncia secundria.
Embora, no se apresentem apenas no litoral do Nordeste brasileiro, esses empreendimentos
preferencialmente se instalaram nessa regio do pas, devido os seguintes fatores locacionais indicadas por
Fonseca (2007, p.229): papel institucional do Estado (PRODETUR/NE23); recursos ambientais (paisagsticos e
climticos); disponibilidade e preo da terra (relativamente mais baixos que o mercado europeu); curta
distncia entre o Nordeste brasileiro e a Europa (no que diz respeito ao deslocamento areo); e condies
sociais locais satisfatrias.
Algumas medidas do governo federal, na implementao e execuo de polticas e aes favor
das reas costeiras, sinalizam a inquietao do Estado, diante do quadro scio-ambiental preocupante em
que se encontra o litoral brasileiro. Entre essas medidas, o Projeto de Gesto Integrada para a Orla
Martima (Projeto Orla), surge para impedir ocupaes indevidas das reas litorneas de propriedade da
Unio, evitando danos ambientais aos ecossistemas costeiros. O Projeto Orla foi implementado no ano de
2001, em todo litoral do Brasil, se constituindo em ao conjunta entre o Ministrio do Meio Ambiente MMA, e o Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto - MPOG, no mbito da Secretaria do
Patrimnio da Unio - SPU, buscando implementar uma poltica nacional que harmonize e articule as
prticas patrimoniais e ambientais, com o planejamento do uso e da ocupao da costa brasileira.
Meio ambiente e o turismo ecolgico
De acordo com Cruz (2003, p. 17), o turismo relacionado aos espaos naturais, fundamentalmente
surge na dcada de 1990, assumindo importante papel na escolha dos destinos tursticos de seleto grupo
de indivduos. Essa modalidade de turismo vinculada a natureza e que busca uma prtica turstica
sustentvel tem sido denominada de turismo de aventura, turismo verde, turismo de selva, turismo
ecolgico ecoturismo, ou simplesmente turismo de natureza. Essas diferentes denominaes podem
abarcar prticas diversas de esportes, tais como rafting24, rapel25, tracking26, safris fotogrficos, entre
outros (CRUZ, 2003, p. 17). Embora, outras formas de turismo tais como o litorneo, cultural, histrico e de
23

PRODETUR/NE Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste, 1992.


Tipo de esporte no qual os participantes descem por corredeiras de rios, em botes especializados.
25
Escalada de picos e ou montanhas com o uso de instrumentos apropriados para esse tipo de esporte.
26
Caminhadas por matas ou florestas fechadas.
24

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

168
negcio, ainda se constituam nos principais motivos de deslocamento espacial, o turismo de natureza
cada vez mais tem ganhando importncia entre os diferentes tipos de destinos tursticos.
Para Cruz (2003, p. 17-18), o crescimento do turismo de natureza est associado a dois fatos
importantes: primeiro, por se constituir em produto novo no mercado; e segundo, devido ao
comportamento social, poltico e cultural que incorporou a concepo ambientalista, sobretudo a partir da
dcada de 1970, com a primeira Conferncia sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (Sucia).
No Brasil, a Amaznia um dos destinos ecotursticos que mais se destaca no cenrio internacional
devido o alto padro de luxo dos empreendimentos hoteleiros instalados em regies de natureza, atraindo
principalmente turistas estrangeiros. So empreendimentos que mesmo localizados em reas selvagens ou
naturais, dispe de servios e infraestrutura sofistica e luxuosa presente em qualquer hotel padro cinco
estrela.
Para anlise emprica da apropriao e dependncia do turismo com relao a natureza, tomou-se
como referncia o Hotel de Selva Aria Amazon Towers (Figura 1), da Rede de Hotis Aria, mesmo grupo
empresarial dos empreendimentos: Hotel do Boi Aria - Parintins (AM), Marbello Aria Hotel - Fortaleza
(CE), Bzios Aria Hotel - Bzios (RJ), e Aria Amazon Towers - Miami (Flrida/EUA).
27
O Hotel de Selva Aria Amazon Towers est localizado no municpio de Iranduba/AM , em plena
floresta amaznica, destacando-se por sua arquitetura adaptada e construda sobre palafitas de madeira
altura da copa das rvores, integrando o turista selva amaznica e favorecendo o contato com alguns
animais da fauna brasileira: macacos, araras, papagaios, botos cor-de-rosa, entre outros. O referido
empreendimento foi cenrio para alguns filmes28, bem como serviu de base operacional para os realities
shows "Survivor29" e "La Selva de los Famosos30". Suas instalaes e ambientes fsicos tambm serviram de
paisagem para diversas reportagens e curtas metragens de origens nacionais e estrangeiras.

Figura 1 Aria Amazon Towers


Fonte: Site oficial do Selva Aria Amazon Towers.
27

Estado do Amazonas, regio norte do Brasil, tinha 40.735 habitantes, no ano de 2010, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica 2011.
28
Entre outros o filme Anaconda.
29
De propriedade da CBS TV americana.
30
Da Antena 3 TV espanhola.
Joo Pessoa, outubro de 2011

169

O meio ambiente nesse contexto, se constitui em produto turstico decisivo para a consolidao do
turismo de selva, que associado aos elementos histricos e culturais da regio amaznica, se configuram
fundamentalmente indutores dos fluxos de visitantes.
Considerando-se, portanto, o papel que a natureza desempenha para o turismo, seja na cidade ou
no campo, o planejamento turstico elaborado com a participao da comunidade, setor privado e poder
pblico, se constitui instrumento capaz de garantir preservados os bens scio-ambientais que compem
esses destinos, os protegendo dos efeitos negativos das crises peridicas e sistmicas inerentes a economia
capitalista, nesta atual fase da globalizao.
O ciclo de vida dos lugares turistificados
O modelo do ciclo de vida do turismo de Butler, citado por Rodrigues (1998, p. 89), sugere fases
baseadas na anlise dos fluxos tursticos. A primeira fase corresponde partida, ou seja, que diz respeito
ao incio do processo quando um determinado lugar descoberto e turistificado espontaneamente ou
por iniciativa do poder pblico ou privado. Na segunda fase denominada de exploratria, os fluxos vo
aumentando, ainda que de forma lenta, porm, contnua. De acordo com Rodrigues (1998, p. 89), nestes
dois primeiros perodos o valor absoluto e relativo (taxas de crescimento) de turistas sempre crescente. A
terceira etapa, chamada de fase de desenvolvimento indica a prosperidade do fenmeno turstico,
expressando um grande crescimento dos fluxos. Nesta fase o volume de turistas igual ou superior ao
volume da populao residente. Para Rodrigues (1998, p. 89), este um dos momentos mais perigosos
porque pode indicar a saturao do destino turstico, quando ultrapassado o limite da capacidade de
suporte, ocorrendo a perda da qualidade scio-ambiental implicando em prejuzos sociais populao
residente - e para o prprio turismo. A quarta fase denominada consolidao corresponde estabilidade
do destino turstico, marcada por um crescimento absoluto mais lento, enquanto os valores relativos
decrescem significativamente.
Nessa quarta fase, se por acaso o processo no for adequadamente conduzido podem ocorrer
eventos que caracterizem um colapso do turismo, iniciando a quinta fase do modelo de Butler definida
como crise. Rodrigues (1998, p. 89) afirma que pode ainda ocorrer um processo de rejuvenescimento
do destino turstico, atravs de polticas intervencionistas da infraestrutura bsica e de apoio.
O modelo de vida do turismo desenvolvido por Butler contribui para o diagnstico dos impactos
scio-ambientais dos lugares turistificados, estabelecendo indicativos dos nveis aceitveis de ocupao e
uso desses destinos. Quanto aos agentes tursticos responsveis pela implantao, planejamento e
execuo das mais diversas atividades ligadas ao turismo, Cruz (2003, p. 14) os define como sendo os
turistas, o mercado e os planejadores/promotores territoriais. So esses agentes que imprimem ritmos e
formas diferentes de consumo dos elementos naturais transformados em produto turstico submetido
lgica de reproduo do capital.
Consideraes finais
Em razo da natureza do turismo em se apropriar do espao para a sua (re) produo,
fundamental estabelecer normativas de uso dos recursos naturais, definindo limites e instituindo por via
legal a participao dos agentes locais. Os objetos materiais e imateriais que se constituem elementos pelo
qual o turismo se apropria e os transformam em produto turstico, esto espacialmente distribudos e
localizados no territrio, sendo por isso necessrio que a populao diretamente envolvida possa conduzir
os rumos da atividade, sem que a qualidade do produto seja comprometida pela voracidade do turismo de
massa. Esses elementos culturais, histricos e paisagsticos fixados no espao, propem ao turista a
oportunidade de se deslocar de sua cidade de origem em busca do desfrute dos recursos tursticos
presentes em outros lugares, de forma que a perda da qualidade ambiental, certamente inibir a presena
do turista. O espao, desse modo, se constitui a base material no qual esto fixados os elementos de
consumo da atividade turstica. Seja de ordem material ou cultural esses recursos se constituem,
fundamentalmente, como o motivo do deslocamento de pessoas em viagens de lazer e descanso.
A valorizao da natureza e sua transformao em produto mercadolgico implicam na
necessidade de aes e medidas gerenciais, por parte do poder pblico, que sejam capazes de

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

170
resguardarem a biodiversidade dos destinos tursticos, considerando-se o fato que a beleza cnica e a
qualidade ambiental das paisagens tursticas assumem papel indutor dos fluxos de visitantes.
Sendo necessrio tambm ressaltar, o indiscutvel direito do uso e posse dos bens naturais pelas
comunidades locais, que de forma participativa e soberanamente democrtica devem conduzir os rumos
do planejamento e execuo da atividade turstica, de forma seja implantado um turismo sustentvel e
socialmente justo.
Referncias:
BOYER, Marc. Histria do turismo de massa. Traduo de Viviane Ribeiro. Bauru: EDUSC, 2003.
170p.
CAMARGO, Haroldo Leito. Uma pr-histria do turismo no Brasil: recreaes aristocrticas e
lazeres burgueses (1808-1850). So Paulo: Aleph, 2007. 383 p.
CORBIN, Alain. O territrio do vazio: a praia e o imaginrio ocidental. Traduo: Paulo Neves. So
Paulo: Companhia das Letras, 1989. 385 p.
CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira. Turismo e meio ambiente: interfaces e perspectivas. In:
______; VASCONCELOS, Fbio Perdigo (orgs.). O turismo e a relao sociedade-natureza: realidades,
conflitos e resistncias. Fortaleza: EDUECE, 2007. p. 19-43.
CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. Introduo geografia do Turismo. 2 ed. So Paulo: Roca, 2003.
125p.
FONSECA, Maria Aparecida Pontes da. Tendncias atuais do turismo potiguar: a internacionalizao
e a interiorizao. In: _____; NUNES, Elias; CARVALHO, Edilson Alves de; FURTADO, Edna Maria (orgs.).
Dinmica e gesto do territrio potiguar. Natal: EDFURN, 2007. p. 215-231.
______. Espao, polticas de turismo e competitividade. Natal: EDUFRN, 2005. 224 p.
GASPAR, Claudia Braga. Orla carioca: histria e cultura. So Paulo: Metalivros, 2004. 288 p.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Contribuies para a gesto da zona costeira do Brasil: elementos
para uma geografia do litoral brasileiro. So Paulo: Annablume Editora, 2007. 232 p.
SANTOS, Milton. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. 4 ed. So Paulo: EDUSP,
2008. 384 p.
______. O espao do cidado. 2 ed. So Paulo: Nobel, 1993. 133 p.
SILVA, Kelson de Oliveira. A residncia secundria e o uso do espao pblico no litoral oriental
potiguar. Natal, 2010. 167 p. Dissertao (Mestrado em Geografia). Programa de Ps Graduao e
Pesquisa em Geografia, Departamento de Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Joo Pessoa, outubro de 2011

171

RECIFE: BECOS DA HISTRIA DE UM POVO


Mara Ceclia Da Cunha Guimares
Discente do Bacharelado em Turismo da Faculdade Santa Helena FASH
mara.cecilia@ymail.com
Natlia Girlene Pereira Da Silva
Discente do Bacharelado em Turismo da Faculdade Santa Helena FASH
nataliagirlene19@hotmail.com
Orientador: Profa Morgana Leo
Docente do Bacharelado em Turismo da Faculdade Santa Helena FASH
morganaleao@gmail.com

Poema do Beco
Que importa
A passagem, a glria, a baa...
A linha do horizonte?
O que vejo um beco.

Manuel Bandeira
RESUMO
Quando se fala em Recife, em imediato vem ao pensamento a Veneza Brasileira, com suas pontes
belssimas, mas nada seria dessa cidade sem os seus Becos, onde esto reunidos sentimentos de um povo,
cultura e tradies que esto entranhadas, enraizadas nas suas artrias, dando a identidade daqueles que
coabitam e transitam, perpetuando e resistindo a geraes onde se encontram o passado e o presente cujas vias surgiram da necessidade de favorecer os pedestres e facilitar as vias de acesso que so
caractersticas de uma cidade que no foi planejada. Tendo em vista a importncia socioeconmica e
cultural, inscrita em valores histricos de um povo que transita e trabalha nos Becos do Bairro de So Jos,
em Recife, Pernambuco, e com o intuito de fazer um turismo com base na sustentabilidade sociocultural e
econmica do citado bairro, exaltando a histria e costumes do povo pernambucano, as autoras do artigo
vem mostrar o enorme potencial para um bom fluxo turstico gerador de economia e renda, representado
pelos Becos do Recife, atestando a possibilidade de ser uma nova ramificao turstica saindo do eixo sol e
praia to comum para a Regio Nordeste do Brasil, mostrando uma nova linha turstica com base na cultura
do povo pernambucano com nfase na sustentabilidade. Culturalmente, a Cidade do Recife muito forte,
pea-chave na colonizao portuguesa e holandesa com forte influncia arquitetnica, constituindo o
Recife e seus Becos, per si, um item a mais a ser explorado atravs de um roteiro turstico, direcionado e
alicerado nos pilares da sustentabilidade. Aguando a segmentao como sustentabilidade local geradora
de renda e trabalho direito e indireto, que fomenta tambm o crescimento econmico, so apresentados
os Becos do Serigado, do Marroquim, Veado branco, Rua das guas Verdes e o Mercado So Jos, sob uma
perspectiva ousada que aponta para a realidade e a certeza de que h muito mais histria, cultura e
promessas de dividendos nos Becos do secular bairro recifense de So Jos, do que sups, at hoje, a nossa
v filosofia.
Palavras chave: Veneza Brasileira. Becos. Sustentabilidade. Bairro de So Jos.
INTRODUO
A Cidade do Recife, capital do Estado de Pernambuco, com seus becos, na verdade um grande
ponto de encontros e desejos presentes na singularidade, nas ruas, nas experincias prprias dos seus
habitantes, nas caractersticas modernas que entram em contradio, presentes em consideraes sociais,
em pequenos trechos que fazem parte dessas ruas chamadas popularmente de becos. Os becos surgiram
da necessidade de favorecer os pedestres e facilitar as vias, porm, so caractersticos de cidade antiga no
elaborada e mal planejada.
Os becos com aspectos imprevisveis e peculiares para os autctones, a exemplo do amolador de
alicates sobre pedras amoladas, que faz parte do cotidiano das pessoas, no so lugares, mas sim, fonte de
desejos, ao seu tempo que nos levam at a artria do passado, permitindo entranhar nas mentes e na
imaginao das pessoas o futuro que lhes aguarda nos becos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

172
Com seu potencial para um bom fluxo turstico gerador de economia e renda, os becos do Recife,
atravs da explorao de riquezas histricas e culturais, onde o presente e o passado se encontram, e
trazendo consigo caractersticas a caminhar, como indcios de um povo que mantm a tradio do passado,
o barulho das mquinas de costuras, o caldinho de cana, amoladores de alicates e vendedores de
charque, passam de gerao a gerao, fazendo emergir uma oportunidade de ir ao encontro do passado
novamente, e promessas de um turismo baseado nos alicerces da sustentabilidade.
Quando se fala de pontos tursticos de Recife, normalmente os principais locais que nos vem
mente so os mesmos: Marco Zero, pontes histricas, Praa da Repblica, monumentos arquitetnicos,
como o Palcio da Justia, Campo das Princesas, Teatro de Santa Isabel, Igrejas, entre outros, que,
incontestavelmente, so patrimnio histrico-cultural da nossa cidade.
Desta forma, o presente artigo tem por objetivo voltar os olhos do trade turstico e do Poder
Pblico em Recife, para outro grupo de atrativos que para muitos, certamente, num primeiro momento,
tem cunho um tanto quanto estranho: os Becos do Recife.
Para o senso geral da populao, beco normalmente visto como um local apertado, sujo,
violento, ou at mesmo de promiscuidade e, portanto, desagradvel; local que serve apenas como via de
acesso. Mas o que poucos sabem que os becos da cidade do Recife, de uma forma muito peculiar, trazem
consigo uma srie de histrias e possuem uma importncia socioeconmica e cultural para o povo que
neles trabalham e transitam.
Diante desta realidade, surgiu nos autores da presente proposta, explcita neste artigo, a
necessidade de ressaltar o potencial desses locais, to pouco explorados pelo turismo, a partir de uma
pesquisa de dados primrios e secundrios que envolvesse inovadora proposta em roteiro turstico
sustentvel, atendendo, inclusive, atividade didtica necessria graduao como Bacharel em Turismo,
especificamente, no tangente Disciplina: Roteiros Tursticos.
Com abordagem eminentemente qualitativa, a pesquisa de dados secundrios constituiu-se de
consulta literatura cientfica que trata da histria do Municpio do Recife, capital do Estado de
Pernambuco, Brasil, especialmente as obras de Sette (1978), Cavalcanti (2007) e Lima (2001), que
constituem verdadeiros celeiros de informaes e dados sobre aspectos sociais, culturais e histricos do
citado municpio, e possibilitam, ao mesmo tempo, uma perspectiva rica e inovadora acerca das
possibilidades tursticas inscritas naqueles espaos da cidade (os becos), frequentemente alijados como
pauta de discusses, intrinsecamente em relao atividade turstica. Assim, evidencia-se o mtodo de
abordagem hipottico-dedutivo, tendo a hermenutica histrica como pano de fundo. Obras como
Planejamento e Organizao do Turismo (BARRETO, 2003), Turismo e Planejamento Sustentvel Proteo
do Meio Ambiente (RUSHMANN, 2001) e Turismo: Planejamento e Gesto (PETROCCHI, 2002), tambm
constituram objeto de pesquisa terica, objetivando a apreenso dos alicerces conceituais necessrios ao
planejamento do turismo sustentvel.
Por sua vez, a pesquisa de dados secundrios foi realizada com os comerciantes mais antigos do
Bairro de So Jos, e as entrevistas aconteceram nas dependncias dos seus respectivos estabelecimentos
comerciais. Cumpre ressaltar que as entrevistas no foram estruturadas, alm das pesquisadoras primarem
tambm pela observao participante, de sorte que puderam, quela ocasio, presenciar toda a
efervescncia sociocultural indiscutivelmente presentes nos becos visitados.
Desta forma, para explorao turstica, e delineando atrativos potenciais, foram selecionados trs
becos, uma rua (quase beco) e tambm um mercado todos no Bairro de So Jos, em Recife -, criando
como foco de segmentao o turismo histrico-cultural e o turismo de compras, este ltimo, um mbito do
turismo que fomenta ainda mais o crescimento econmico, e, se bem planejado e com bases
fundamentadas na sustentabilidade, pode ampliar o eixo do desenvolvimento local sustentvel.
Assim, sero apresentados os becos do Serigado, do Marroquim, do Veado Branco, Rua das guas
Verdes e o famoso Mercado de So Jos - pontos de alto potencial turstico por suas riquezas histricoculturais, mas que no atual momento e de forma excludente, apenas o ltimo vem sendo desenvolvido do
ponto de vista da atratividade turstica.
O objetivo central das presentes explanaes despertar e ressaltar a importncia dos becos para
o desenvolvimento da Cidade do Recife e Pernambuco, em valores histricos, culturais e econmicos, com
foco para a atividade turstica, tendo-os como principais atrativos, aguando a segmentao como
sustentabilidade local geradora de renda e trabalho direto e indireto.
Joo Pessoa, outubro de 2011

173
O que o artigo prope a ressignificao e exaltao da cultura pernambucana, presente naquelas
ruas, estabelecimentos comerciais e casario, presentes no Bairro de So Jos, como uma forma de
Educao Ambiental atravs do turismo que promova o desenvolvimento socioambiental, sustentvel,
daquela localidade, especialmente atravs da sensibilizao do trade turstico para os provveis dividendos
representados pela explorao turstica responsvel dos becos do Recife.
AS VARIVEIS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL
Antes de discorrermos sobre a proposta em roteiro turstico que colabore para o desenvolvimento
socioambiental (sustentvel) do Bairro de So Jos, atravs do usufruto turstico dos atrativos potenciais
constitudos pelos becos citados, bem como do Mercado de So Jos (atrativo efetivo), convm
debatermos sobre as variveis que compem o desenvolvimento sustentvel, estabelecendo relaes com
o universo de atrativos constitudos pelos Becos do Bairro de So Jos, e pelo Mercado de So Jos, no
Recife, Estado de Pernambuco.
Quanto Sustentabilidade Econmica, a utilizao dos atrativos citados contribuir para
desenvolvimento da economia local, gerao de mais empregos e renda alternativa a todos que,
capacitados, se inseriro na cadeia produtiva do turismo. Bom lembrar que mais negcios formais
significam mais tributos pagos ao fisco, ento, o poder pblico, tambm ganha, alm de agncias e
operadoras de turismo, ampliarem seus negcios com novas opes em turismo sustentvel.
Em se tratando da Sustentabilidade Cultural, teremos a exaltao, ressignificao e elevao da
auto-estima das pessoas que trabalham e moram no Bairro, onde o roteiro acontece. Desmarginalizao do
bairro, ampliando sua funo comercial e residencial para atrativo turstico, afirmando para a sociedade
que aquele local parte integrante e rica da histria do nosso Estado, da nossa cidade.
Sobre Sustentabilidade Espacial: Com estudos da capacidade de carga do destino (bairro), otimizase a utilizao do bairro para fins tursticos. Isto atrai melhor infra-estrutura urbana (bsica), sobretudo
pela presso dos agentes do trade turstico sobre o poder pblico.
Sustentabilidade Social: Comunidade local consultada, conscientizada e informada = adeso ao
projeto turstico = sustentabilidade.
Sustentabilidade Poltica: Esta, talvez, seja o centro da complicao porque num projeto inovador
assim, quem apostar primeiro na idia, ser, como ns sabemos, alvo de campanha eleitoral. O adversrio
poltico que ganhar a eleio seguinte poder desistir do projeto turstico por lembrar o governante
anterior. Infelizmente, no Brasil, temos que lidar com isto.
Sustentabilidade Ecolgica: Que agresses haver sobre o ambiente natural, num projeto como
este? De acordo com as variveis do desenvolvimento sustentvel, nenhuma, porque se o roteiro alicerase nos pilares da sustentabilidade, claro que, alm da cultura ser preservada, a comunidade que mora no
local ter maiores oportunidades de ganhos econmicos; a economia aquecer-se- pelos tributos; e o
espao (bairro) ganhar mais uma funo. E neste ponto, claro est que o guia de turismo trabalhar
tambm aspectos de preservao do ambiente natural e resduos slidos (lixo), alm de pessoas
capacitadas na prestao de servios se sentirem motivadas a prestar um servio de qualidade, com
ncleos comerciais dotados de uma adequada estrutura para destinao e coleta dos resduos slidos, bem
como para comercializao de bens (artesanato, itens gastronmicos, roupas tpicas), possibilitando
orgulho tnico.
Tais variveis, quando atendidas, significam coerncia na segmentao das atividades sugeridas em
prol do desenvolvimento local pelo turismo, valorizando assim os recursos arquitetnicos existem nas
proximidades, convertendo as vias de acessos (becos) em atrativos, valorizando a herana cultural,
diminuindo a sazonalidade das demandas tursticas que, em determinadas pocas, provocam efeitos
econmicos negativos considerveis na localidade.
Vejamos ento, uma a uma, as promessas em termos de atratividade turstica, representada pelas
caractersticas socioculturais, incluindo a arquitetura do casario dos Becos do Recife e do, j consagrado,
Mercado de So Jos.
RUA DAS GUAS VERDES
Situada no Centro do Recife, Bairro de So Jos, a Rua das guas Verdes, ao lado da Igreja de So
Pedro rene traos estilsticos de trs expresses artsticas: o maneirismo, o barroco e o rococ, se
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

174
constituem em um local de extrema movimentao comercial. A grande maioria dos seus comerciantes so
camels que ganham a vida comercializando artigos dos mais diversos tipos, como bolsas, roupas, relgios,
brinquedos, calados, artigos de bijuteria, papelaria e couros.
A rua traz consigo um rico legado em histria, pois l, ainda hoje, est instalada a mais antiga
farmcia de manipulao da Amrica do Sul, datada de 1848. Seu fundador, Sabino Olegrio Ludiglio
Pinho, homeopata de formao, montou nesta rua seu negcio, que j est na sexta gerao sob a
administrao de Andria Almeida Sabino Pinho e Raquel P. Sabino Pinho Leo, que em Maio de 2011, foi
repassada, a administrao do Sr. Luiz Sabino Pinho para suas filhas.
A farmcia, atualmente, funciona normalmente e pela grande maioria dos recifenses tem sua
histria desconhecida, mas, em seu centenrio, recebeu uma homenagem prestada pela Prefeitura do
Recife, no Parque Treze de Maio.
Conversando com o empresrio Cleber Urbano, administrador de uma papelaria da rua, que tem
seu negcio desde 1984, foi constatado que a Rua das guas Verdes antigamente era uma rua morta,
pois era parada, com pouco movimento e sem nenhum comrcio. As casas serviam para residncia e
muitas, pertenciam ao Mosteiro de So Bento, que depois foi se desfazendo delas e aproximadamente h
sete anos, foram incrementadas pelo comrcio local e as caladas por vendedores ambulantes. Em tempos
recentes, os imveis da rua estavam desvalorizados e tinham o valor por volta de R$ 200.000 a 300.000,
mas atualmente eles possuem um alto valor. O empresrio Cleber Urbano j recebeu uma proposta de R$
1.000.000.00, entretanto, no aceitou.
Na rua que fica ao lado da Igreja de So Pedro, todas teras feiras se realiza a Tera-feira Negra,
evento que acolhe todos os tipos de msicas, como maracatu, afox, forr, rock, MPB e manifestaes do
povo nordestino, e freqentada por muita gente a procura de diverso e msica de qualidade. Na outra
extremidade se situa o Ptio do Tero, da Igreja do Tero, onde em Janeiro de 1825 foi realizado o ato de
exaltao, do carter religioso de Frei Caneca, que marcou a histria pernambucana. Uma vez por ano, no
perodo carnavalesco, se realiza a Noite dos Tambores Silenciosos, que rene dezenas de maracatus sob
a regncia de um nico maestro, e a meia noite todas as luzes so apagadas e se ouvem apenas os sons dos
tambores.
A Rua das guas Verdes, alm do valor histrico muito forte, tambm possui valores culturais e
sentimentais, advertncias poticas dos saudosos: Manuel Bandeira ou Mario Andrade.
Nesta Rua Lopes Chaves
Envelheo, e envergonhado, nem sei quem foi Lopes Chaves
Mame! Me d essa lua,
Ser esquecido e ignorado como esse nome da rua.

(BANDEIRA, 1922)
A Rua das guas Verdes um exemplo de nome original, retrata o seu nome de batismo onde se
faz presente a sabedoria popular que perpetua at os dias atuais, pois nela ficavam empoadas as guas
que corriam pela Rua das Augustas e eram tolhidas pelas trincheiras holandesas fincadas na proximidade.
Tomavam ento uma colorao esverdeada que possua em seu solo e que acumulava gua parada por um
bom tempo e posteriormente se transformava em lodo. Da se origina a sua nomeao popular que
perdurou at os dias de hoje, porm a municipalidade lhe aplica o nome de Rua Lomas Valentinas.
BECO DO VEADO BRANCO
A Travessa So Pedro, que popularmente conhecida como Beco do Veado Branco, est situado
numa esquina do Ptio de So Pedro, prximo a Casa do Carnaval, ao espao Chico Science e ao espao Luiz
Gonzaga. O Beco, que tem na origem de seu nome vrias controvrsias, possui duas verses mais aceitas
pela populao que nela comercializa seus produtos. A primeira verso que no beco, antigamente morava
um senhor que criava veado (o bicho); e a segunda que naquele local, antigamente, faziam ponto os
veados - assim chamados pelos populares da regio.
O Beco tem como principal produto de comercializao o amolar de alicates, mas, tambm se
comercializam cosmticos e carne de charque, que na verdade foi o primeiro produto a ser comercializado

Joo Pessoa, outubro de 2011

175
no local, seguido pelo ramo dos cosmticos e agora tem como carro chefe o afiamento de tesouras e
alicates.
No alto da ltima casa do Beco h uma imagem de um veado branco que faz meno ao nome do
local. Os comerciantes que l trabalham adoram o que fazem e tambm gostam do lugar, mas, segundo o
Sr. Valdir, amolador entrevistado, o que precisa melhorar o comrcio na regio; seria uma ao de
padronizao dos comerciantes sem tirar o direito de trabalhar de nenhum sequer, pois h um pouco de
desorganizao que poderia ser trabalhada para melhor servir aos compradores.
O Beco do Veado, que d acesso a Rua Direita e aos Becos do Marroquim e do Serigado, local de
passagem para muitas pessoas todos os dias.
BECO DO MARROQUIM
O Beco do Marroquim, no centro do Recife o beco mais diferente de todos os outros. No
Beco h uma srie de barracas que comercializam comidas como cachorro quente, carne de charque
assada, macaxeira, caf, coxinha e muito mais. O cheiro desse incio de beco muito atrativo para o
paladar dos pedestres, mas adiante, se localiza a loja do famoso comerciante Fortunato Rosso, com artigos
do tipo aviamento, cama, mesa, banho, cosmticos, eletrodomsticos, pratos, copos, panelas, materiais
esportivos, trofu, medalhas entre outros. O mesmo concedeu uma entrevista aos autores do presente
artigo, falando de seu comrcio e do Beco do Marroquim.
A histria da famlia de Fortunato Rossi repleta de fatos interessantes. O comerciante j est na
terceira gerao e conta que seu bisav Fortunato Rossi veio da Itlia num navio que tambm trazia o
conhecido empreendedor Francisco Matarazzo, imigrante italiano que foi, tambm, fundamental para a
economia brasileira, constituindo um dos mais importantes personagens daquela fase da industrializao
brasileira e da imigrao italiana no Brasil. Para se ter uma idia, o imprio empresarial de Matarazzo, em
1911, chegou a reunir 365 fbricas por todo o Brasil, a renda bruta do conglomerado chegou a quarta
maior do pas e 6% da populao paulistana dependeu de suas fbricas, que passaram a se
chamar Indstrias Reunidas Fbricas Matarazzo (IRFM), uma sociedade annima.
Quando Fortunato Rossi chegou ao Brasil, por volta de 1881, um escrivo que tratava da papelada
de sua documentao cometeu um erro de escrita e em vez de Fortunato Rossi escreveu Russo, erro que
tornou o nome do comrcio forte e tambm o salvou da queda.
O que aconteceu que, durante o perodo da Segunda Guerra Mundial, o Brasil, que fazia
parte do bloco aliado, juntamente com Gr-Bretanha, Frana, Unio Sovitica e Estados Unidos, mandou
que fossem saqueados e queimados todos os comrcios e armazns de povos do bloco de seus adversrios
- o Eixo e a Itlia era um deles. Em meio a esta situao, o governo ficou sabendo que havia tal comerciante
que era italiano, ento todos os estabelecimentos pertencentes aos imigrantes italianos foram queimados,
a exemplo da Piore Fbrica de Chocolates e Bombons, e Impam Fbrica de Panelas e Quadrilhas de
Alumnio. Ao chegarem os oficiais do exrcito no comrcio de Fortunato Russo foi alegado: aqui no tem
nem um italiano, ns somos russos, no est nosso nome! E assim foi salvo o comrcio da famlia at os
dias atuais.
Na frente da loja de artigos esportivos e tecidos de Fortunato Russo est situada a nica
homenagem a uma pedinte no Recife e provavelmente em Pernambuco. Trata-se da homenagem a pedinte
Maria, que era uma filha de escravos que ficava todos os dias pedindo esmolas na frente da loja de
Fortunato e tinha trs filhos, todos formados em universidades e criados com o dinheiro arrecadado das
esmolas de Maria. Ela era uma negra abastada de carne, calada, mas que servia como vigia para as lojas do
beco, pois via todo o movimento e no caso de algo estranho, corria para avisar aos donos, principalmente a
Fortunato Russo e dona de um bar, chamada Ftima. O primeiro, todos os meses lhe dava um corte de
chita, enquanto a segunda, lhe concedia todos os dias o seu almoo.
Maria faleceu em 1987, porm antes de sua morte, Fortunato chamou seu amigo o artista plstico
Eduardo Magalhes e pediu-lhe para prestar uma homenagem pedinte Maria, e foi feito um mural onde
ela homenageada em forma de poesia.
Mas o Beco do Marroquim no s isso. O Beco tem uma parte que deslumbrante, onde se
colocam a venda, todos os dias, dezenas de artigos em renda para a comercializao, e tais artigos do ao
local o aspecto de um ambiente oriental. O Marroquim tem esse nome de acordo com o comerciante Sr.
Wagner, que j faz parte da terceira gerao a comercializar renda, por conta de uma novela que passou
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

176
na TV em 1985, chamada de Marrocos, e pela aparncia do Beco, foi associado o nome ao lugar. O
comerciante afirma que antigamente sua bisav comercializava bolsas no local, mas com o passar do
tempo o comrcio passou para o setor das rendas. Wagner antigamente viajava muito para comprar os
produtos de seu comrcio e por isso ficou conhecido como paraguaio, pois os populares diziam que ele ia
para o Paraguai.
O Marroquim j recebeu o ttulo de beco mais bonito do Recife, homenagem prestada pelo Jornal
do Comrcio, e com tanta histria e beleza no difcil entender o motivo da homenagem.
Contudo, o Beco do Marroquim precisa de melhorias na estrutura urbana, no incio prximo Rua
Direita, pois h um trecho apertado que necessita de ampliao, especialmente se candidato a atrativo
turstico.
BECO DO SERIGADO
O Beco do Serigado est localizado em uma travessa da Rua Direita. Possua um terreno largo e
baldio que por sua vez foi invadido por comerciantes que perceberam a potencialidade existente para a
comercializao local, a primeira loja a ser construda foi a Malharia Santo Antnio em alvenaria, e nesta
rua foi onde se deu a origem da profisso de amoladores de alicates tendo como precursor o Sr. Jos
Rodrigues, conhecido popularmente como cabeo. O Beco tem como caracterstica o som de mquinas
de costura e amoladores de alicates; tem comrcio fundamentado principalmente na venda de peas
populares tais como roupas ntimas, enxovais de bebs, e acessrios para adultos.
Mediante a pesquisa realizada verificou-se que o nome do Beco vem do peixe serigado, mas neste
local no foi comercializado e o motivo de tal emprego desconhecido at mesmo para os populares que
trabalham no local. Mas o local tambm foi um ponto de encontro e romantismo para o comerciante mais
antigo - o Sr. Jos Aroldo - que atravs de uma caminhada ao lado de uma linda moa, surgiu uma
romntica troca de olhares, conhecendo assim a sua esposa, com quem est casado h 28 anos.
O Beco bastante estreito e em conversa com um comerciante que afirma trabalhar no local h 30
anos, ele d acesso a antiga rodoviria da capital pernambucana, localizada no conhecido Cais de Santa
Rita, tambm no Bairro de So Jos. Alm da venda de peas intimas, tambm possibilita servios como
conserto de bolsas, amolao e h a popularmente conhecida Lanchonete do Irmo, que vende sucos,
bolos e salgados.
O Serigado traz consigo a lembrana do Z Viturino, que, segundo conta a lenda, sempre que
algum fazia um conserto de bolsa pela metade, pronunciava a famosa frase merda vem, merda vai.
MERCADO DE SO JOS
No final do sculo XVIII, os frades capuchinhos do Convento de Nossa Senhora da Penha de Frana
pediram ao governador D. Toms Jos de Mello a transferncia do mercado de carne e peixe, que
acontecia na Praa do Pol, atual Praa da Independncia, para as proximidades de seu recolhimento, no
tradicional Bairro de So Jos. Este local ficou posteriormente conhecido como Largo da Ribeira do Peixe. O
Mercado de So Jos foi inaugurado em 1875 com arquitetura de ferro do sculo XIV. Representa uma das
primeiras construes em ferro do Brasil, e constitudo por dois pavilhes retangulares com cobertas em
quatro guas31, e estrutura independente, conectado por um vo menor com largura que conforma uma
rua coberta. Com telhado em duas guas32, sua rea total de 3.658,50 m, caracterizada por sobrados
antigos e por edificaes religiosas, em cuja trajetria j foi palco de apresentaes de mgicos, acrobatas,
ventrloquos, onde se ouviam sons de zabumbas, cavaquinhos e sanfonas nas dcadas de 1940 e 1950. Era
freqentado por figuras ilustres tais como o poeta Ascenso Ferreira e o cronista e compositor Antnio
Maria.
Com a contratao do empresrio Jos Augusto de Arajo, sob responsabilidade do arquiteto
francs Louis Vauthier e do engenheiro Victor Lieutier, a construo do Mercado seguiu o modelo do
31

Caracterizada por coberturas de edificaes quadrilteras, de formas regulares ou irregulares.


Caracterizada pela definio de duas superfcies planas, com declividades iguais ou distintas, unidas por
uma linha central denominada cumeeira ou distanciadas por uma elevao. O fechamento da frente e fundo feita
com oites.
32

Joo Pessoa, outubro de 2011

177
Mercado de Grenelle, na Frana. Em 1989, parte de sua estrutura foi destruda por um incndio, ficando
fechado por quase quatro anos, sendo reaberto em 1994. O Mercado possui mais de 540 boxes, onde so
comercializados peixes, crustceos, carnes, queijos, cermicas, cordis, bordados, brinquedos populares,
artigos em madeiras, ervas medicinais, artigos das religies afro-brasileiras, lanches, almoos, instrumentos
musicais e artesanato. A rea externa do Mercado tomada por barracas que vendem frutas, verduras,
ervas e temperos; alm de comidas tpicas como cuscuz e macaxeira. No mercado, pode-se observar a
coexistncia da sinceridade da estrutura mostra com o decorativismo, caracterstica esta que marca um
momento de transio na histria da arquitetura, da tradio ao modernismo. Atualmente tombado pelo
IPHAN.
OPERACIONALIZAO DE UM ROTEIRO HISTRICO-CULTURAL A PARTIR DOS BECOS DO RECIFE
De acordo com as explanaes realizadas at aqui, atesta-se a viabilidade da presente proposta
quanto ao turismo histrico-cultural, e de compras, tendo os Becos do Recife como alicerces-mestre de um
pacote turstico, diversificando, inclusive, a oferta turstica constante na Cidade do Recife, atravs de novas
funes para o Bairro de So Jos e seus becos: o turismo de compras aliado ao turismo histrico-cultural.
De acordo com as pesquisas realizadas pelas autoras do presente artigo, as possibilidades em
termos de pblico-alvo para este segmento do mercado turstico so promissoras. No universo especfico
do turismo histrico-cultural, alm de visitantes oriundos de outras cidades pernambucanas, e mesmo de
outros Estados brasileiros e outros pases, h possibilidades quanto ao pblico constitudo por estudantes,
do ensino fundamental ao universitrio. Observe-se a riqueza de informaes relativas histria,
trajetria da sociedade pernambucana, presente e viva naquele espao urbano subestimado em vrios
aspectos.
Quanto a turismo de compras, h lgica em convergi-lo com explanaes educativas sobre aspectos
socioculturais do destino visitado. A literatura cientfica que trata do turismo farta em apontar que tal
convergncia extremamente profcua em termos de Educao Ambiental e um estmulo para que o
visitante volte, de preferncia para demorar mais tempo na destinao turstica, e por que no, trazendo
amigos e familiares. Neste tpico, importante ressaltar que toda a cadeia produtiva do turismo, no apenas
nos limites do Bairro de So Jos, como tambm na Cidade do Recife, em termos globais, comemorar os
dividendos gerados por esta iniciativa inovadora, que mitiga a sazonalidade turstica presente na Regio
Metropolitana da capital pernambucana, exaltando e ressignificando a prpria histria e o acervo histricocultural.
Prope-se, portanto, e a partir das pesquisas in loco realizadas pelas autoras deste artigo, que aps
o traslado a ser realizado entre o meio de hospedagem ou aeroporto/rodoviria aos atrativos dos Becos do
Recife, o trajeto a p, constitudo por uma trilha urbana de baixa dificuldade, seja iniciado aps
desembarque na Avenida Nossa Senhora do Carmo, no Centro do Recife, tomando em seguida a Rua da
Praia, adentrando, pois, o 1 Beco: Beco do Marroquim.
Pode-se permanecer em mdia 30 minutos nesta primeira parada, onde, conforme explanao
anterior - h lojas, barracas com vrios artigos como bolsas, acessrios, peas ntimas; itens de cama, mesa
e cozinha, trabalhados em renda; cortinas, pinturas em tecidos, tais como pano de prato. Os preos em
valores vigentes no ms de Julho 2011 estavam entre R$ 10,00 e R$ 100,00, e na loja Fortunato Russo,
preos em torno de R$ 0,50 a R$ 500.00.
A parada seguinte o Mercado So Jos, onde possvel, em uma hora, apreciar vrios atrativos,
do artesanato gastronomia local, incluindo frutos do mar. Nesta parada, a Igreja da Penha (So Flix)
exalta aos visitantes toda a riqueza histrica e cultural do Bairro de So Jos e do prprio Estado de
Pernambuco.
Prosseguindo na trilha urbana, passando pela Rua de Santa Rita, adentramos no Beco do Serigado,
onde a permanncia de 30 minutos adequada para a observao das variedades de produtos da loja
Masculinos, com Moda Masculina, e Talentos com moda feminina, alm desta ltima, oferecer
essncias para bebs e roupas regionais.
Em seguida, pela Rua Direta, e a caminho do 3 Beco - Beco do Veado - temos utenslios
domsticos, lojas de bijuterias e utilidades, seguindo, pois, para o Ptio de So Pedro. Ao lado deste, temos
a Rua guas Verdes onde est localizada a farmcia de manipulao mais antiga da Amrica do Sul Farmcia Dr. Sabino Pinho -, e a Igreja do Tero, onde acontece a noite dos tambores silenciosos. Aqui, o
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

178
ponto de apoio constitui-se pelo Bar Mrmores, com culinria regional em pratos feitos. Os preos neste
estabelecimento gastronmico vo de R$ 7,00 a R$ 25,00, e nele, pode-se finalizar o roteiro (trilha urbana),
que pode durar em mdia, 3h10.
Aps o citado ponto de apoio, segue-se Avenida Dantas Barreto, quando realizado o traslado
de volta ao meio de hospedagem.
Tambm importante ressaltar que, numa provvel divulgao de pacote turstico que envolvesse os
atrativos citados, e tomando por base o acervo histrico-cultural constante no Bairro de So Jos bem
como as promessas em turismo de compras, poder-se- estabelecer parcerias com instituies de ensino
pblicas e privadas, bem como realizar divulgao na prpria agncia de viagem ou operadora, de acordo
com a carteira de clientes que aquelas j possuem, apostando, da mesma forma, num potencial interesse
das mesmas em investir nesta proposta inovadora para o Bairro de So Jos.
Quanto segmentao do mercado turstico, est claro que se trata de turismo de compras
+ turismo histrico-cultural, e, quanto ao pblico-alvo, estudantes do ensino fundamental ps-graduao,
alm de visitantes interessados em histria, cultura; compras de artigos pitorescos e gastronomia local.
CONSIDERAES FINAIS
De acordo com as explanaes realizadas e tomando por base a pesquisa de dados primrios e
secundrios realizada pelas autoras do presente, evidente que os becos do Recife no so meros pontos
de venda, to pouco simples locais de passagem. Os becos do Recife so, na verdade, lugares que trazem
consigo muita histria, cultura e vivncias, que refletem aspectos de um povo com personalidade prpria e
bem particular; que busca a melhor maneira de se divertir e sobreviver, aproveitando as oportunidades de
entrosamento com a realidade.
O turismo voltado para o segmento de compras um timo fomentador da economia nos locais do
roteiro, pois, at aqui os becos eram visitados mais como meio de acesso para outros pontos tursticos e
no como foco de compras e local onde existe uma rica cultura.
Faz-se necessria uma srie de polticas pblicas que visem melhoria desses locais, e
principalmente da infra-estrutura bsica das ruas como reajustes de calamento e tambm nas redes de
saneamento, o que pode ser efetivado atravs de um adequado plano de saneamento ambiental.
A principal reivindicao dos autctones a padronizao dos pontos de comrcio, sem a retirada
de nenhum dos profissionais liberais do local e a insero de agentes voltados para a segurana nas
localidades de extrema movimentao.
Apesar do contexto socioambiental problemtico em que se encontram os atrativos propostos,
verificou-se que os becos tm valor sentimental para os autctones, por trazerem a oportunidade do
exerccio de atribuies profissionais, alm do que englobam, numa viso geral, o cotidiano atual do povo
recifense e as histrias de um passado que por vezes esquecido, e que precisa de aes em polticas e
projetos de cunho pblico e privado para que seja valorizado e divulgado, de acordo com o enorme valor
patrimonial que representam para o Estado de Pernambuco e mesmo, para a histria do Brasil.
Voc v coisas que existem e se pergunta: Por qu?
Eu imagino coisas que no existem e me pergunto: Por que no?

George Bernard Shaw


BIBLIOGRAFIA
BANDEIRA, Manuel. So Paulo: Paulicia Desvairada, 1922.
BARRETTOS, Magarita. Planejamento Organizao em turismo 9 ed. Campinas: Papirus, 2003.
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. Recife e Seus Bairros. 3 ed. atual.e ampl. Recife: Ed. do Autor, 2007.
LIMA, Jos Caldino. Miscelnea Recife. A mistura do que existem para o presente futuro. 1
ed.Recife Ed. do Autor 2001.
PETROCCHI, Mario.Turismo: Planejamento e Gesto 6. ed. So Paulo:Futura, 2002. 381 p.
RUSHMANN, Doris. Turismo e Planejamento Sustentvel: A Proteo Do Meio Ambiente. Campinas:
Ed.Campus, 2001.
SETTE Mrio. Arruar: histria pitoresca do Recife antigo. Coleo Pernambucana, Volume XII. So
Paulo: Ed. SETTE, 1978, 3 ed.
Joo Pessoa, outubro de 2011

179

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

180

IMPLICAES SOCIOAMBIENTAIS DO TURISMO NO DISTRITO DE


SOLEDADE APODI/RN
MARIA JULIANA JAMILLE BARRA DE SOUZA
Universidade Federal Rural do Semi-rido
jamillesouza86@hotmail.com
WELLMA KARLA BARBOSA DE MEDEIROS
Universidade Federal Rural do Semi-rido
wellmak@hotmail.com
ORIENTADORA: PROF. MA. MICHELE DE SOUSA
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
sousa_michele@yahoo.com.br

Resumo
O estudo analisa as implicaes socioambientais que ocorreram desde meados da dcada de 80
com o incio da visitao no Stio Arqueolgico Lajedo de Soledade, bem como as dificuldades em
transformar o Lajedo de Soledade em destino turstico. Diante dos entraves em transformar o Lajedo de
Soledade em destino turstico, surge o problema que motivou esta pesquisa: em que medida o processo de
explorao turstica do Lajedo de Soledade, desde a dcada de 80 quando se iniciou a visitao, tem
contribudo para o desenvolvimento scio-ambiental da comunidade local proporcionando melhorias na
qualidade de vida das famlias que de forma direta ou indireta participam do fomento do turismo na
localidade. A pesquisa teve como objetivo geral realizar um levantamento das implicaes sociais e
ambientais proporcionadas pelo fomento da atividade turstica no distrito de Soledade localizado no
municpio de Apodi RN, bem como apontar os benefcios ocasionados pelo turismo na rea em estudo.
Para verificar a percepo dos agentes do turismo no distrito de Soledade frente implantao do Parque
Arqueolgico de Soledade e do turismo, entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, foram realizadas
15 entrevistas com a populao local, os comerciantes locais, os guias que trabalham no Lajedo e a
presidente da Fundao Amigos do Lajedo de Soledade FALS. Observou-se com os resultados finais que o
incio da visitao proporcionou melhorias para a populao local, apesar do turismo ser ainda muito
incipiente, necessitando de mais investimentos na infra-estrutura da comunidade para que se possa
atender uma demanda maior. Alm disso, a ausncia do poder pblico tem inviabilizado o desenvolvimento
da atividade turstica no Lajedo,
PALAVRAS-CHAVE: Turismo. Desenvolvimento Local. Lajedo de Soledade Apodi/RN.
Introduo
O turismo uma das maiores atividades econmicas da atualidade, movimentando divisas no
mundo todo. De acordo com dados da Organizao Mundial do Turismo (2003), os recursos investidos na
atividade turstica por um pas, se bem gerenciados, podero proporcionar o desenvolvimento to
almejado pelas regies que possuem potenciais tursticos, propiciando melhores condies de vida para os
nativos.
Estima-se que o turismo dever crescer de forma rpida at o ano de 2020, atingindo uma mdia
de 1,6 bilhes de turistas internacionais no mundo inteiro; a receita turstica internacional poder alcanar
2 trilhes de dlares, alm disso h expectativa de que o turismo domstico possa expandir dez vezes mais
do que o internacional (OMT, 2003).
Diante disso, percebe-se a importncia do planejamento para que as comunidades possam
implantar o turismo de forma satisfatria, tanto para atender os visitantes quanto a comunidade local que
dever ser a mais beneficiada.
O crescimento da atividade turstica tem se tornado uma realidade para muitas regies que
possuem atrativos, sendo uma proposta pertinente para o desenvolvimento local, uma vez que a
comunidade poder ser includa melhorando suas condies de sobrevivncia, j que o turismo visto
como uma atividade que propicia a gerao de emprego e renda.
Por outro lado, importante observar que o desenvolvimento do turismo muitas vezes resumido
apenas ao fator econmico, aumentando a disparidade social, fator que no contribui para a melhoria na
qualidade de vida das pessoas.
Joo Pessoa, outubro de 2011

181
De acordo com Souza (2002), o desenvolvimento no deve ser interpretado, apenas como sinnimo
de desenvolvimento econmico, atravs do crescimento do PIB e da modernizao tecnolgica, pois o
crescimento poder ocorrer sem que haja melhorias nos indicadores sociais.
O desenvolvimento da atividade turstica tem despertado a ateno de alguns autores para analisar
de que maneira o turismo tem proporcionado benefcios ou prejuzos para a populao da rea de destino
dos turistas. Nas palavras de Benevides:
Por conseguinte, as propostas de um desenvolvimento local alavancvel`` por meio do turismo
alternativo estaria na representao das possibilidades de ele equalizar cinco objetivos, cuja compatibilizao
muito problemtica, objetivos estes que constituem os ingredientes bsicos a temperar o j referido caldo
de cultura; quais sejam: preservao/conservao ambiental; identidade cultural; gerao de ocupaes
produtivas e renda; desenvolvimento participativo e qualidade de vida. (BENEVIDES, 2002, p.25).

Mesmo com essa proposta de desenvolvimento local e equalizao de fatores que venham
beneficiar as comunidades, o turismo poder acarretar problemas para a populao ribeirinha. De acordo
com Silva (2003), o desenvolvimento deve ser visto de forma ampla priorizando a distribuio de renda
para que as disparidades sociais sejam superadas, sem comprometer os recursos naturais. Por sua vez,
compreende-se que tal desenvolvimento s poder ocorrer com profundas mudanas nas estruturas
econmicas, sociais, polticas e culturais. Sendo assim, o desenvolvimento na maioria das vezes
confundido com o crescimento econmico, uma vez que, uma regio poder atingir um crescimento no PIB,
sem contribuir para melhorias na qualidade de vida da populao.
A populao da rea de destino dos turistas poder ser atingida com os impactos socioeconmicos,
no que diz respeito grande disparidade social entre os pases e regies, alterando de forma significativa o
estilo de vida dos nativos, visto que o poder aquisitivo dos turistas na maioria das vezes incompatvel com
o da comunidade local.
Diante das dificuldades em transformar o Stio Arqueolgico Lajedo de Soledade em destino
turstico, surge o problema que motivou esta pesquisa: em que medida o processo de explorao turstica
do Lajedo de Soledade, desde a dcada de 80 quando se iniciou a visitao, tem contribudo para o
desenvolvimento scio-ambiental da comunidade local proporcionando melhorias na qualidade de vida das
famlias que de forma direta ou indireta participam do fomento do turismo na localidade?
Para tanto, o objetivo geral desta pesquisa foi realizar um levantamento das implicaes sociais e
ambientais proporcionadas pelo fomento da atividade turstica no distrito de Soledade, localizado no
municpio de Apodi RN, bem como apontar os efeitos ocasionados pelo turismo na rea de estudo.
No intuito de atingir esse objetivo, foram elencados trs objetivos especficos: realizar reviso
bibliogrfica acerca do desenvolvimento da atividade turstica e seus impactos; caracterizar o municpio de
Apodi, o distrito de Soledade e seu Parque Arqueolgico (rea de estudo) e identificar as principais
transformaes scio-ambientais ocorridas, desde a dcada de 80 com o desenvolvimento da atividade
turstica nessa regio em estudo at o presente momento.
Metodologia
O presente estudo fundamentou-se em pesquisa bibliogrfica e de campo, na qual foram realizadas
15 entrevistas estruturadas e informais com o desenvolvimento dos levantamentos sociais e uma viso
geral do objeto pesquisado. As entrevistas foram feitas com a populao local, os comerciantes locais, os
guias que trabalham no Lajedo e a presidente da Fundao Amigos do Lajedo de Soledade FALS. Na
oportunidade, verificou-se a percepo dos agentes do turismo do distrito de Soledade frente
implantao do Parque Arqueolgico de Soledade e do turismo, entre os meses de julho e agosto do ano de
2009.
Localizao e caracterizao da rea de estudo
A comunidade de Soledade, local de pesquisa deste estudo, encontra-se localizada no municpio de
Apodi, na regio Oeste do Estado do Rio Grande do Norte, distante da capital do Estado 328 km, com uma
populao de 34.632 mil habitantes e uma rea territorial de 1.603 km. O distrito de Soledade tem uma

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

182
populao de aproximadamente 1.173 habitantes33. A comunidade destacada pelos aspectos histricos
representados pelas pinturas rupestres presentes no Stio Arqueolgico Lajedo de Soledade. O Lajedo de
Soledade considerado uma das formaes rochosas mais antigas do Brasil, originada h 90 milhes de
anos. Pesquisas demonstram que num passado remoto o Lajedo era um mar de guas rasas, sendo
transformado na maior exposio de rocha calcria da bacia potiguar, com cavernas e fendas repletas de
pinturas rupestres que desperta o interesse de vrios visitantes (BARROS, 2007).
Por sua vez, o potencial existente na localidade tem despertado, desde a dcada de 80, o interesse
de pessoas da regio para desenvolver a atividade turstica no local. Mesmo diante desse potencial,
observam-se problemas sociais como a precria infra-estrutura, tanto bsica quanto turstica, alm da falta
de investimentos do poder pblico, inviabilizando a implantao da atividade turstica, no s em Soledade
como tambm no municpio de Apodi.
Resultados e discusses
Para verificar as expectativas dos agentes do turismo no distrito de Soledade, frente implantao
do Parque Arqueolgico de Soledade e do turismo, foram realizadas 15 entrevistas entre os meses de julho
e agosto do ano de 2009. Os entrevistados foram os comerciantes locais, os guias que trabalham no Lajedo
e a presidente da Fundao Amigos do Lajedo de Soledade FALS, sendo que alguns tiveram vergonha de
responder ao questionrio.
Em se tratando do Lajedo de Soledade, percebeu-se nas respostas dos entrevistados que o incio da
visitao proporcionou melhorias para a populao local, apesar de que o turismo ainda muito incipiente,
necessitando de mais investimentos na infra-estrutura da comunidade para que se possa atender uma
demanda maior. De acordo com os entrevistados, antes da visitao s existia em Soledade duas atividades
econmicas, a agricultura e a extrao da pedra e somente alguns moradores da comunidade trabalhavam
nessas atividades, ento o trabalho desenvolvido pelo Parque se configurou uma nova alternativa de
emprego.
Segundo os entrevistados, a implantao do Parque foi fundamental para os benefcios alcanados
pela comunidade. Alm disto, todos foram unmines em afirmar que o Lajedo de Soledade propiciou
benefcios s famlias de forma direta ou indireta, a partir da gerao de emprego e renda, preservao do
meio natural, construo da via de acesso, surgimento de novos comrcios, dentre outros.
Segundo Cludio Sena, diretor do Museu, a preservao do Parque s trouxe benefcios, uma vez
que, se no fosse isso, talvez no existisse esta rea de 10 hectares sendo preservada34. Nesse sentido, o
trabalho desenvolvido pela FALS 35 se tornou primordial para que as pessoas compreendessem a
importncia de conservar as pinturas rupestres, sendo essas um testemunho vivo da histria dos nossos
antepassados, como pode ser observado na fotografia 01.

33

Informao fornecida em pela secretaria de sade de Apodi em 17 de agosto de 2009.


34
[ ] Informao fornecida pelo, diretor do Museu, em 13 de julho de 2009.
35
Fundao Amigos do Lajedo de Soledade.
Joo Pessoa, outubro de 2011

183

Fotografia 01 Pinturas Rupestres Lajedo de Soledade Apodi/RN.


Fonte: Maria Auxiliadora Maia.

Em relao ao comrcio local, possvel perceber um crescimento considervel, inclusive com o


surgimento de novos empreendimentos. Atualmente, existem em Soledade quatro supermercados, alm
de salo de beleza, farmcia, lanchonetes, bares, lojas de confeces, aougues, padarias, dentre outros.
Muitos deles iniciaram suas atividades comerciais aps o incio da visitao ao Lajedo. Segundo alguns
comerciantes da comunidade, a visitao proporcionou melhorias tanto para aumentar as divisas quanto
para a gerao de novos empregos.
Ainda nessa perspectiva, a professora da rede municipal e integrante da FALS, Maria Vanda
36
Oliveira , compreende o turismo como uma proposta pertinente para promover o desenvolvimento da
comunidade atravs da gerao de emprego e renda, bem como a preservao da histria. Alm disso, ela
entende que a participao da Petrobras e o trabalho desenvolvido por Dodora37 foram fundamentais para
alcanar as melhorias que hoje so possveis visualizar como a estrada, a perfurao do poo, as atividades
desenvolvidas pelas artess, dentre outros.
Com relao criao de postos de trabalho, observa-se de forma positiva a implantao do Parque
Arqueolgico na comunidade, criando-se oportunidades de emprego, complementando assim, a renda
dessas famlias, tais como os guias e os artesos, que at ento, sobreviviam somente da agricultura de
subsistncia e da extrao da pedra.
Os entrevistados, por sua vez, compreendem que a visitao contribuiu para diversas melhorias.
Conforme o senhor Otaclio Reinaldo de Sena, residente em Soledade, desde a dcada de 70, o incio da
visitao ocasionou benefcios para a populao, tais como: gua de boa qualidade, a via de acesso e
gerao de emprego e renda; ele afirma, porm que na poca existiam algumas pessoas que eram contra
(pertencentes atividade da cal).
O consenso entre os donos das atividades da cal e da FALS foi positivo para o desenvolvimento da
atividade turstica, que no entendimento dos entrevistados tem sido comprometido pela falta de
investimentos por parte do poder pblico, pois notria a ausncia de infra-estrutura no local, o que
dificulta a implantao de equipamentos do turismo. Alm disso, dentre as reivindicaes mencionadas
pela localidade, tem se observado que a falta de segurana tem afetado o fluxo de turistas nos ltimos
anos, da a importncia de implantar um posto policial na comunidade, uma vez que Soledade abrange
vrios distritos de Apodi, extremando com o estado do Cear.

36
5

Integrante da Fundao Amigos do Lajedo de Soledade.


Maria Auxiliadora Maia Presidente da FALS.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

184
Outro ponto considerado deficiente pelos entrevistados a ausncia de empreendimentos de
alimentao e hospedagem. Alm disto, a falta de um trabalho que conscientize os moradores do local dos
benefcios que o turismo poder ocasionar, bem como sua importncia para o desenvolvimento local.
Durante a pesquisa, percebeu-se que existe uma carncia no que tange a falta de qualificao na
mo-de-obra, apesar de a FALS e a Petrobras terem executado um importante projeto na capacitao de
pessoas da comunidade para trabalhar tanto no museu quanto nas atividades do centro de artesanato (a
fotografia 02 ilustra esse fato).

Fotografia 02 Jovens da comunidade que trabalham nas atividades do Lajedo de Soledade Apodi/RN
Fonte: Maria Auxiliadora Maia.

Alm dos benefcios j citados anteriormente, Dodora enfatiza ainda que antes das
atividades do Stio Arqueolgico, no havia nenhum cuidado com o meio ambiente. Diante disso, a
preservao das pinturas rupestres tem contribudo para compreender a histria da humanidade.
Durante o estudo, observou-se que a participao da Petrobras foi fundamental, uma vez que o
apoio desse rgo proporcionou a divulgao do local, a construo do museu, a delimitao da rea e o
treinamento com a populao local, capacitando homens e mulheres que desejassem ingressar nas
atividades desenvolvidas pelo Lajedo como guias e arteses.
A fotografia 03 ilustra os benefcios provenientes da parceria da FALS com a Petrobras para o
desenvolvimento do Stio Arqueolgico.

Joo Pessoa, outubro de 2011

185

Fotografia 03 Museu do Lajedo de Soledade Apodi/RN


Fonte: Maria Auxiliadora Maia.

Percebeu-se que os entrevistados consideram o turismo uma atividade importante, visto que a
mesma surge como uma terceira fonte de renda para a comunidade.
Dodora afirma ainda que, a capacitao de pessoas da comunidade contribuiu para que cerca de 40
famlias viessem a sobreviver da atividade. Por sua vez, ela acredita que a presena do visitante motivou a
auto-estima da populao.
Segundo o diretor do Museu, Cludio Sena, o perodo em que o Stio
Arqueolgico recebe mais visitante so os meses de maro a maio e julho a novembro, com uma estimativa
de 600 a 700 turistas por ms.
Conforme Dodora, os equipamentos existentes em Soledade so insuficientes, fazendo-se
necessrio melhorar a infra-estrutura tanto pblica quanto privada, no s na comunidade como em todo o
municpio de Apodi, visto que apresenta potencial para desenvolver o turismo, a exemplo da Barragem de
Santa Cruz, do Complexo Turstico da Lagoa do Apodi, da Casa de Cultura, das Festividades Religiosas, alm
do carnaval que conforme a mdia est entre as cidades que recebem mais folies no Rio Grande do Norte.
Dodora refora o que j havia sido colocado pelos demais entrevistados acerca da ausncia de
segurana nos ltimos anos, e diz que a FALS vem arcando com algumas despesas para garantir segurana
aos visitantes, a exemplo do abastecimento da viatura da polcia militar para se deslocar at o Lajedo
quando necessrio, alm de 2 guardas que so pagos pela Fundao. No entanto, percebe-se a ausncia do
poder pblico, em relao a segurana da comunidade.
De acordo com Dodora, na implantao do Parque Arqueolgico, a FALS era formada por 16 guias,
sendo 10 titulares e 6 suplentes, porm atualmente apenas 8 esto trabalhando. Com relao ao centro de
atividades, existem 20 integrantes que vm produzindo artesanato de cermica, palha, cermica artstica e
a parte de serigrafia.
Consideraes finais
A prtica do turismo na comunidade de Soledade, a partir da visitao do Lajedo vista como
positiva pelos agentes da atividade. Diante do exposto, observa-se que os benefcios alcanados pela
comunidade foram de certa forma advindos do incio da visitao do Parque, embora necessitem de mais
investimentos na infra-estrutura bsica como transporte, segurana, educao, sade, alm da implantao
de equipamentos tursticos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

186
Nesse contexto, imprescindvel um planejamento adequado incluindo toda a localidade. Alm
disso, fundamental desenvolver polticas que visem preservao do meio natural, a partir da
conscientizao da populao.
Resumindo o observado na pesquisa, compreende-se que apesar do turismo ser considerado
incipiente na comunidade de Soledade, verifica-se que a implantao do Parque visualizada pelos agentes
do turismo como positiva, devido aos benefcios alcanados como a via de acesso, a delimitao da rea de
preservao do Lajedo, a construo do museu, a perfurao do poo, o surgimento de novos
empreendimentos, a construo do Centro de Atividades onde produzido o artesanato local que
complementa a renda de algumas famlias, alm da preservao do meio ambiente.
Por outro lado, a falta de infra-estrutura e a ausncia do poder pblico tm inviabilizado o
desenvolvimento da atividade turstica no Lajedo, o que vem preocupando a Fundao Amigos do Lajedo
de Soledade que, desde a dcada de 80, tem se empenhado em promover a implantao do turismo em
parceria com a Petrobras.
Portanto, faz-se necessrio o poder pblico de modo geral elaborar um planejamento capaz de
atender aos aspectos sociais, culturais, econmicos e ambientais da regio, alm de incluir a populao
local. Dessa forma, a comunidade deve ser preparada para atuar na atividade, atravs da capacitao, uma
vez que a falta de instruo por parte da populao se torna um obstculo para sua insero. Alm disso, os
investimentos em infra-estrutura bsica como transporte, segurana, educao, sade, alm da captao
de empreendimentos tursticos devem ser pontos enfocados pelas autoridades, visto que a localidade se
encontra desprovida de tais elementos.
O turismo, se implantado de forma planejada, ser benfico populao do entorno, onde
possivelmente o turista e a comunidade tero um convvio sociocultural positivo, com a valorizao da
cultura local. Com a finalizao do estudo, alcanaram-se os objetivos j mencionados, possibilitando o
contato da prtica e da teoria aprendida durante o curso.
REFERNCIAS
BARROS, K. Lajedo de Soledade. Dirio do Nordeste. Fortaleza, 16 nov. 2007. Disponvel em:
<diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=487701>. Acesso em: 27 mar. 2009
BENEVIDES, Ireleno Porto. Para uma agenda de discusso do turismo como fator de
desenvolvimento local. In: RODRIGUES, Adyr Balastreri (Org.). Turismo e desenvolvimento local. 3. ed., So
Paulo: Hucitec, 2002.
MAIA, Maria Auxiliadora da Silva. Lajedo de Soledade (histria de) Um Poema de Pedras. Apodi:
Coleo O Mossoroense, 2002. 157 p. (C).
ORGANIZAO MUNDIAL DO TURISMO. Guia de desenvolvimento do turismo sustentvel. Porte
Alegre: Bookman, 2003. 168 p.
SILVA, Bandeira de Melo. Turismo como instrumento de desenvolvimento e reduo da pobreza:
uma perspectiva territorial. In: CORIOLANO, Luzia Neide M. T; LIMA, Luiz Cruz (orgs.). Turismo comunitrio
e responsabilidade socioambiental. Fortaleza: EDUECE, 2003. p. 19 - 25.
SOUZA, Marcelo J. Lopes de. Como pode o turismo contribuir para o desenvolvimento local? In:
RODRIGUES, Adyr Balastreri (Org.). Turismo e desenvolvimento local. 3. ed. So Paulo: Hucitec, 2002.

Joo Pessoa, outubro de 2011

187

ECOTURISMO EM REAS DE MANGUEZAIS NO LITORAL DO PIAUI


Maria Majaci Moura da SILVA
Prof. Msc do Colgio Agrcola de B. J.-PI- majacibio@gmail.com
Bernardo Machado GONTIJO
Prof. Dr. UFMG gontijobm@yahoo.com.br

RESUMO
Os manguezais ocupam no Brasil, cerca de 25 km da costa, desde o Amap at Santa Catarina. No
Piau, dos 66 km de litoral, 8,9 km so ocupados por mangues, que se estendem desde o municpio de
Parnaba at Cajueiro da Praia, onde so encontrados em abundncia as seguintes variedades: mangue
vermelho (Rhizophora mangle L.); mangue siriba (Avicennia nitida Jacques); mangue-manso (Laguncularia
racemosa Gaerth) e com menor freqncia, o mangue de- bolota (Conocarpus erecta L.). Por se tratar de
um ecossistema frgil, sua visitao deve ser controlada, orientada e fiscalizada. Desta forma, o objetivo
desta pesquisa apontar diretrizes e aes para a prtica do ecoturismo em reas de manguezais, visando
a sustentabilidade do litoral do Piau O ecoturismo surge como um eficiente instrumento de utilizao dos
recursos naturais, compatvel com o modelo de desenvolvimento sustentado, sua prtica apresenta
significativos benefcios sociais e econmicos aos moradores, atravs da gerao de emprego e renda, com
investimento na produo comercial do pescado, desenvolvimento do artesanato, como tambm, pela
reduo dos impactos negativos ao ambiente, A metodologia consistiu na observao do fluxo de turistas
e na rotina dos moradores no perodo de 03/01 a 08/02/2011, atravs de conversas informais, com
gestores, com lideres de ONGs, com o trade turstico dos quatro municpios que compem o litoral do
Piau. A elaborao das diretrizes devem servir de norte para o manejo, conservao e preservao do
mangue, buscando a elevao do padro da qualidade de vida da comunidade e o respeito natureza por
parte dos turistas.
Palavras-chaves: Manguezais, educao ambiental, sustentabilidade, litoral, ecoturismo.
I - INTRODUO
Esta pesquisa tem como objetivo principal apontar diretrizes e aes para a prtica do ecoturismo
em reas de manguezais no litoral do Piau, visando a sustentabilidade da regio norte do Piau.
O Brasil possui uma orla de 7.048 (IBGE, 2000), recortada por vrios deltas, enseadas e bacias, onde
os manguezais se desenvolvem. A rea total de manguezal do Brasil estimada em 9.802,81 km
estendendo-se desde o Cabo Orange, no Amap at a cidade de Laguna em Santa Catarina, sendo
encontrado com mais frequncia os gneros: Rhizophora, Avicennia e Laguncularia (Cintron & SchaefferNovelli, 1983).
A palavra mangue empregada para designar a cobertura vegetal, representada por um grupo de
espcies que possui adaptaes que permitem colonizar terrenos alagados e sujeitos intruses salinas.
Para denominar o ecossistema como um todo, se utiliza o termo manguezal. Cintron & Schaeffer-Novelli,(
1986).
Para Schaeffer-Novelli (1991), manguezal um ecossistema costeiro, de transio entre os
ambientes terrestre e marinho, caracterstico de regies tropicais e subtropicais, sujeito ao regime de
mars. constitudo de espcies vegetais lenhosas tpicas (angiospermas), alm de micro e macroalgas
(criptgamas), adaptadas flutuao de salinidade e caracterizadas por colonizar sedimentos,
predominantemente lodosos, com baixos teores de oxignio. Ocorre em regies costeiras abrigadas e
apresenta condies propcias para alimentao, proteo e reproduo de muitas espcies animais, sendo
considerado importante transformador de nutrientes em matria orgnica e gerador de bens e servios.
Segundo Sassi (1988), manguezais so associaes vegetais representados por espcies tolerantes
ao sal, que habitam a zona costeira tropical, entre as latitudes de 23 30S e 23 30N.. Em latitudes mais
altas so raros e apresentam menor desenvolvimento estrutural. Vrias adaptaes tornam esses vegetais
aptos a viverem em sedimentos lodosos anxicos e reas salinas: seus tecidos possuem cera que reduz a
perda de gua da planta; possuem glndulas de sal que secretam o excesso de sal.
Alguns funes e servios interferem direta ou indiretamente no sistema econmico do
ecossistema manguezal, os principais, segundo Tognella (1995) so:
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

188
Mars o agente que torna o substrato ecologicamente adequado para ser colonizado pelos
manguezais. Possibilita as trocas gasosas (baixa-mares e preamares) permitindo que o substrato seja
colonizado por organismos (fauna e flora). A substituio dessa rea por outro empreendimento, atravs
de aterros, implica em perda de uma rea de inundao e custos para a construo de barreiras de
conteno de mar, alm da perda de fonte alimentar resultante da eliminao dos produtos primrios,
base de uma complexa cadeia trfica;
Fluxo de gua como os manguezais ocorrem em reas inundveis, fazem o papel de reguladores
de vazo nos perodos de enchente, eliminando alguns danos econmicos provenientes desta, se no
houver uma rea disponvel como reservatrio para o excesso de fluxo;
Reteno de sedimento - a habilidade do manguezal em dissipar a energia das ondas permite que
os sedimentos finos, tanto continentais quanto marinhos, sejam depositados nesse ambiente. A perda
dessa funo provoca assoreamento dos canais de navegao, implicando, no mnimo, em custos de
dragagem para sua manuteno;
Estabilizao da linha de costa atravs da dissipao das foras erosivas permite que os
ecossistemas naturais e econmicos situados mais internamente fiquem protegidos, evitando gastos com
manuteno e recuperao. Em muitos pases sujeitos a passagem de furaces, a vegetao do ecossistema
manguezal protege os sistemas mais internos;
Biomassa e produtividade representa a base da cadeia alimentar da regio costeira. Sustento para
muitas espcies de interesse econmico;
Berrio e habitat local de reproduo e crescimento para muitas espcies de interesse
comercial. A reduo dessas reas implica na eliminao de habitat e da fonte alimentar para muitos
organismos, ocasionando queda na produtividade com srias conseqncias para a economia;
Troca de matria orgnica Exportao de matria orgnica que serve de suporte para a pesca
comercial e desportiva, alm de outros estoques at o momento desconhecidos quanto sua importncia
econmica.
A costa martima piauiense tipicamente transgressiva, com mangues apenas nas partes
interiores das vias fluviais que drenam diretamente para o mar. A partir da Baa das Canrias at o
municpio de Cajueiro da Praia, trecho que encerra a Ilha Grande de Santa Isabel, encontra-se um acidente
onde a abraso marinha parece ficar mais sensvel, evitando que haja um acmulo de sedimentos. No
Piau, dos 66 km de litoral 8,9 km so ocupados por mangues, que se estendem desde o municpio de
Parnaba at Cajueiro da Praia, na regio norte do Estado. (Lustosa, 2005)
Da barra do Igarau barra do rio Timonha, o litoral apresenta-se arenoso, com dunas mveis,
pequenos rios e lagoas de bacia litornea, alm das salinas localizadas prximo ao limite com o Cear. No
trecho compreendido entre Luis Correia e a praia de Itaqui, h um rebaixamento de plancie e,
consequentemente um crescente aumento da velocidade dos ventos, fazendo com que as partculas de
areia se transportem com maior intensidade, o que possibilita a formao das dunas mveis.(Carta Cepro,
1987).
Os rios apresentam regime perene e esto sujeitos ao fluxo e refluxo das mars. H tambm rios
que possuem suas guas quase que totalmente salobras, conseqncia direta do rebaixamento da plancie
costeira.(Cavalcanti, 2000).
No Piau, o manguezal representa um ecossistema onde os recursos naturais so explorados
economicamente em favor do homem. importante tambm para a economia do Estado, uma vez que a
explorao de caranguejo e camaro, do municpio de Parnaba para o Estado do Cear e outros, gera um
capital que se constitui em renda familiar, com a qual os catadores de caranguejos residentes prximo as
reas de manguezais, usufruem com poucos recursos com a venda do caranguejo, fato contrrio acontece
com os donos de restaurantes, que valorizam o produto cobrando altos preos ao consumidor final,
(Lustosa, 2005).
O manguezal mais expressivo, ao longo da orla martima do Piau, est localizado na Ilha
Grande de Santa Isabel, margeando rios e igaraps ou povoando pequenas ilhas. Encontram-se ainda
manguezais, em menor escala, na foz dos rios Igarau, Camurupim e barra do Timonha.
Por ser recortado, com canais e esturios afogados e entulhados por aluvies, baias
ponteadas de ilhas e constantemente atingido pelo fluxo da mar, o litoral piauiense, considerado o
menor litoral do pas, mas contm todos os elementos biticos e abiticos comuns s demais zonas
Joo Pessoa, outubro de 2011

189
litorneas do Brasil. Constitui-se, portanto, num habitat perfeito proliferao dos manguezais.(Lustosa,
2005).
A formao vegetal da rea do manguezal apresenta em quase toda a sua extenso uma
fisionomia uniforme e uma diversidade de espcies lenhosas muito reduzida. H um nmero maior de
espcies arbustivas e, ocasionalmente, registra-se a ocorrncia de algumas da regio de restinga.
Observou-se no litoral do Piau, que h lugares em que o desmatamento est se dando de forma
acelerada, principalmente prximo rea dos bares e restaurantes, onde a espcie mais atingida o
manguevermelho, cuja madeira est sendo utilizada para construo de casas, barcos e lenha,
combustvel usado pela comunidade local.
A alta salinidade da gua e do solo torna os manguezais imprprios e at mesmo hostis
para a maioria das plantas. Poucas so as espcies vegetais que conseguem sobreviver neste ambiente,
sendo que os substratos ali existentes possuem alto grau de adaptao. O meio salino traz modificaes
morfolgicas, anatmicas ou fisiolgicas das espcies em resposta s condies ambientais em que se
desenvolvem. As principais adaptaes so as razes escoras, que permitem a sustentao ereta das
plantas num substrato lamacento e as razes respiratrias e areas, as quais, devido pouca aerao, tem
como principal funo promover a ventilao inteira, especialmente das razes subterrneas. LACERDA
(1989:34 ).
O efeito principal, a longo prazo, da alta salinidade a acumulao de ons. Em
conseqncia desse efeito, as plantas halfitas conseguem um funcionamento metablico normal,
promovendo a expulso dos ons e eliminando, atravs das glndulas epidrmicas, grandes quantidades de
sal, o que possibilita a cristalizao deste sobre a superfcie da folha. Como exemplo, tem-se as espcies de
Avicennia e Spartina. Outro processo natural desenvolvido pelas espcies para superar a alta concentrao
de ons a produo de folhas carnosas e grossas, a fim de garantir sua sobrevivncia num ambiente
altamente salino. TAGNELLA,(1995: 69).
Dentre as espcies caractersticas do ambiente salino do litoral do Piau, apenas 9 (nove)
tm registro no cadastro botnico do Brasil. As espcies encontradas nos manguezais dos municpios de
Luis Correia e Cajueiro da Praia so as seguintes: cipde-leite (Condylocarpon sp); mangue-de-bolota
(Conocarpon erecta L.); mangue siriba (Avicennia nitida); jiquiri (Dalbergia lunatus Mey); mangue-manso
(Laguncularia racemosa Gaerth); cip-de-sangue ( Dalbergia ecartophyllum); guaxuma (Hibicus tiliaceus St.
Hill); mangue-vermelho (Rhizophora mangle L.), alm de espcie da famlia Malpighiaceae, sem
identificao especfica .(Mai, 2010)
A retirada de rvores do manguezal bastante prejudicial ao ecossistema, as folhas do
manguezal so importantes para a cadeia detrtica, a qual, por sua vez, bsica para a produtividade. O
solo exposto aos raios solares e ao vento resseca, facilitando a invaso de espcies indesejveis, que
interferem na produtividade e garantias de sobrevivncia para a fauna.
Dentre as espcies que foram observadas nos manguezais do Piau , encontram-se
indivduos da fauna terrestre e aqutica. O levantamento faunstico possibilitou a elaborao de uma
listagem dos animais registrados com mais freqncia, tais como: crustceos, peixes, rpteis, aves e
mamferos.
As espcies de crustceos detectados possuem ampla distribuio com relao
salinidade e constam das seguintes espcies: caranguejo u (Ucides cordatus), caranguejo vermelho (
Metasesarma rubripes); siri amarelo Ocypode guadrata, caranguejo espera mar (Ua maracoani,); aratum
(Aratus pisoni); siri ( Callinectes bocourti); caranguejo terrestre (Cardisoma guanhumi) e micro crustceos:
Macrobrachium acanthurus e Macrobrachium amazonicus. (Mai,2010).
As espcies de peixes coletadas nas reas percorridas foram as seguintes: bagre
(Tachysurus ssp), Camurim ( Centropomus ensiferus), Baiacu de croa (Spheroides testudineus); camurupim
(Tarpon altanticus); tainha (Mugil ssp); pescada branca (Cynoscion leiarchus); mandi dourado (Pimeledus
maculatus); arenque (Anchora ssp); cor ( Conodon nobilis); carapeba (Engerres brasilensis) e outros no
identificados. Dentre as espcies de rpteis mais comum observadas foram: tei (Tupinambis tequixin);
jibia (Boa constinitor); sucuri(Eunectes murinus) e inmeras outras cobras no identificadas. (Mai,2010)
As aves, de modo geral, constituem um grupo especial, no-tpico de manguezais, embora
os visitem frequentemente. Em se tratando de aves no de pode definir uma regio que lhes seja peculiar,
portanto elas transitam livremente de um ambiente para outro de acordo com o grau de necessidade sua
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

190
sobrevivncia. As espcies de aves mais encontradas, foram: xexu (Cacicus cela); gara azul (Egretta
thula); Gara branca grande (Casmerodius albus); soc-boi (Trigrisoma lincatum); socozinho (Butorides
striatus); anu-preto (Crotophaga ani) entre outros.(Mai, 2010).
Dentre as espcies de mamferos, destacam-se: macaco-prego (Cebus apella) peixe- boi (
Trichaechus manatus ). Este ltimo visto durante seu perodo de reproduo nos meses de maio a agosto.
(Mai,2010). A riqueza da fauna constitui um bioparque natural a cu aberto para a pratica do turismo de
contemplao, praticado por turistas no mundo todo.
Poucas espcies so exclusivamente de manguezais. A maioria representa populao de
espcies oportunistas e de ampla distribuio, onde os fatores fsico-qumico como a salinidade, inundao,
dessecao e caracterstica do solo, determinam a estrutura das comunidades mais que fatores biticos.
Em geral, a baixa diversidade dos manguezais tende a aumentar medida que diminuem as condies de
estresse desses ambientes. Uma vez capazes de invadir o ambiente, estas espcies oportunistas mostram
grande capacidade de adaptao e elevada biomassa orgnica, o caso das aves, os rpteis e mamferos.
Dentre as inmeras formas de turismo, encontra-se o ecoturismo, que no Brasil, comeou a ser
discutido, no mbito governamental, somente a partir da dcada de 80, a primeira iniciativa de sistematizar
a atividade ocorreu em 1987, com a criao da Comisso Tcnica Nacional, constituda por tcnicos do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBAMA e do Instituto Brasileiro
de Turismo EMBRATUR, para monitorar o Projeto de Turismo Ecolgico, em resposta s prticas
existentes no momento. (EMBRATUR,1940)
No entanto, nem os esforos governamentais, nem os privados foram suficientes para ultrapassar
os entraves , at hoje existentes, entre a teoria, principalmente em relao aos modelos nacionais, e a
prtica do ecoturismo.
Considera-se entre esses entraves a ausncia de consenso sobre a conceituao do
segmento, a falta de critrios, regulamentao e incentivos que orientam empresrios, investidores e o
prprio Governo, no estmulo e na explorao do potencial das belezas naturais e valores culturais
disponveis, ao mesmo tempo em que promova a sua conservao.
o que confirma as Diretrizes Para uma Poltica Nacional de Ecoturismo, elaborado pelo
IBAMA/EMBRATUR em 1994:
O ecoturismo praticado no Brasil uma atividade ainda desordenada, impulsionada, quase que
exclusivamente, pela oportunidade mercadolgica, deixando, a rigor, de gerar os benefcios socioeconmicos e ambientais esperados e comprometendo, no raro, o conceito e a imagem do produto
ecoturstico brasileiro nos mercados interno e externo.
Do ponto de vista mercadolgico, o ecoturismo um segmento que tem crescido a um ritmo
considervel no Brasil, ao longo dos anos. Apesar da ausncia de estatsticas oficiais relativas dimenso
deste mercado, estima-se que 10% das pessoas que viajam sejam ecoturistas (EMBRATUR, 1994).
Entretanto, a oferta de destinos ecotursticos depende, essencialmente, de fatores como:
existncia de reas de elevado valor ecolgico e cultural, maneira como estas reas so geradas, existncia
de infra-estruturas adequadas e disponibilidade de recursos humanos capacitados.
O Piau possui um grande potencial para desenvolver essa atividade, pela inmeras riquezas
naturais que precisam ser preservadas tambm pela grande parcela da populao sem acesso aos servios
essenciais. Sem perder de vista os significativos benefcios ambientais, sociais e econmicos .
Desta forma, a compatibilidade do ecoturismo em reas de manguezais, se faz a partir do
dimensionamento do nmero de visitantes, o fluxo de transporte, a adoo de parmetros para a
implantao da infra-estrutura, o respeito e a valorizao da cultura local, so condies bsicas e
imprescindveis para o desenvolvimento harmnico do ecoturismo.
II - MATERIAL E METODOS
O litoral do Piau formado por quatro municpios: Cajueiro da Praia, Luis Correia, Parnaba e Ilha
Grande, apresentando uma orla de 66 Km de gua lmpidas e transparentes.
A metodologia consistiu na observao do fluxo de turistas e na rotina dos moradores no perodo
de 03/01 a 08/02/2011, atravs de conversas informais, com gestores municipais, secretrios de meio
ambiente e turismo, diretores do IBAMA, do ICMbio, com lideres de ONGs, com o trade turstico dos quatro
municpios que compem o litoral do Piau. A elaborao das diretrizes devem servir de norte para o
Joo Pessoa, outubro de 2011

191
manejo, a conservao e a preservao do mangue, buscando a elevao do padro da qualidade de vida
da comunidade e o respeito pela natureza.
III - RESULTADOS/DISCUSSO
Desde o incio desta investigao procurou-se evidenciar a necessidade de determinar a
estratgia de maneira clara, precisa e completa. Um dos desafios mais difceis na incorporao do
ecoturismo em reas de manguezais conceber uma estratgia que tenha uma concepo integradora,
no somente com os agentes tursticos, principalmente com a comunidade local.
Segundo Coriolano (1998, p.147), a contribuio econmica do turismo nas comunidades deve
possibilitar a elevao do nvel e da qualidade de vida dos residentes, direcionando ao desenvolvimento
local, o qual segundo esta autora, no implica apenas a reduo para escala local, implica sobretudo a
participao nas rendas geradas no local, a abertura s mudanas tecnolgicas e a melhoria das atividades
produtivas.
A estratgia proposta pode ser aplicada em qualquer rea de manguezal. Seu objetivo
preparar toda uma comunidade com novos conceitos e abordagens que possa garantir o melhor
desempenho profissional das pessoas envolvidas com atividades tursticas. Elaborou-se uma estratgia
conformada em sete diretrizes com suas respectivas aes para implementao do ecoturismo em reas
de manguezais no Piau.
As aes sero desenvolvidas pelo comit turstico, formado por pessoas ligadas a rea de
turismo pertencentes a comunidade local. A composio do comit ter a participao de rgos
municipais, estaduais e federais, instituies do setor hoteleiro, receptivos tursticos, associaes,
sindicatos, cooperativas e etc.
Diretrizes para a incorporao do ecoturismo em reas de manguezais:
Definir regras e objetivos do ecoturismo em reas de manguezais;
Desenvolver o ecoturismo como veculo de educao ambiental;
Promover e estimular a capacitao de recursos humanos para o ecoturismo;
Desenvolver parcerias com instituies pblicas e privadas;
Valorar os recursos naturais e culturais nas reas de manguezais;
Inserir a comunidade local na atividade ecoturstica;
Implantar e adequar infra-estrutura compatvel com o ecoturismo.

1 Diretriz: Definir Regras e Objetivos do Ecoturismo em reas de Manguezais


Aes:
Elaborar dispositivos legais necessrios ao desenvolvimento do ecoturismo, harmonizada com as
esferas federal, estadual e municipal;
Estabelecer mecanismos legais de fiscalizao e controle
Definir responsabilidades e tarefas dos agentes envolvidos com a atividade;
Determinar os objetivos do ecoturismo compatveis com os aspectos econmicos e ambientais;
Definir horrio, nmero de visitantes , tempo de permanncia;
Elaborar e distribuir folder com os direitos e deveres do turista em reas de mangues
.Elaborar um calendrio de atividades ecotursticas a serem implementadas;

2 Diretriz: Desenvolver o ecoturismo como veculo de Educao Ambiental.


Aes:
Elaborar programas de Educao Ambiental direcionados para reas de mangues
Desenvolver formas alternativas de energia;
Implementar cursos de reciclagem do lixo de praia aos moradores e turistas;
Promover programas de Educao Ambiental em todos os nveis de ensino, de forma interdisciplinar
e transversal;
Promover a instalao de uma escola de Educao Ambiental;
Organizar oficinas para implementar novas tecnologias empregadas no artesanato local;
Incentivar a criao de ONGs com dimenso ambiental;

3 Diretriz: Promover e estimular a capacitao de recursos humanos para o ecoturismo.


Aes:
Realizar palestras nas escolas de ensino fundamental e mdio.
Incentivar a incluso de contedos relacionados ao ecoturismo no sistema de ensino
Estimular a criao de cursos tcnicos-profissionalizantes de curta e longa durao;
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

192
Organizar campanhas de sensibilizao nos meios de comunicao local;
Realizar treinamento para os garons, os catadores de caranguejos e micro- empresrios;
Promover a formao permanente de guias mirins e adultos atravs de cursos.

4 Diretriz : Implementar Parcerias com instituies pblicas e privadas.


Aes:
Promover a articulao e o intercmbio de informaes e de experincias com as universidades
pblicas e privadas;
Estabelecer convnios com as prefeituras possuidoras de reas de manguezais;
Envolver as ONGs locais e nacionais na luta pela conservao do ecossistema;
Estabelecer relaes com empresas privadas na promoo de Seminrios, Fruns, Simpsios e na
elaborao de material de marketing turstico.
Incentivar parcerias com o SEBRAE, SENAC, SENAT, SESC, SENAI, ABAV, Banco do Brasil e do
Nordeste para implementar atividades ecotutsticas.

5 Diretriz: Valorar os recursos naturais e culturais das reas de manguezais


Aes:
Desenvolver metodologias para avaliar os impactos do ecoturismo em reas de manguezais;
Propor o engajamento do ecoturista, de forma interativa, com o mangue
Propor aos municpios e aos estados a criao de bnus fiscais para empresas que envolveram as
comunidades locais na prestao de servios.
Elaborar e distribuir materiais informativos sobre a importncia do mangue aos turistas
Realizar o controle sistemtico da atividade turstica em reas de mangues;

6 Diretriz ; Inserir a comunidade local na atividade ecoturstica;


Aes:
Promover momentos de sensibilizao da comunidade, referente ao potencial ecoturstco;
Formao dos comits tursticos;
Organizar encontros comunitrios;
Promover a organizao da comunidade frente a atividade ecoturstica
Conscientizar a comunidade na defesa do patrimnio natural e cultural local;
Promover e incentivar a expanso dos mercados para os produtos locais;
Promover o incremento do turismo domstico com descontos:
Oportunizar novos empregos e rendimentos, melhorando a qualidade de vida da comunidade local;
Disponibilizar cursos de capacitao da mo-de-obra local;
Disseminar na comunidade os direitos do turista, enquanto consumidor;
Realizar campanhas tursticas :turista em 1 lugar, receba bem, ele volta
Fomentar a participao das lideranas comunitrias nas etapas de planejamento, execuo e
avaliao dos projetos de ecoturismo;

7 Diretriz ; Implantar e adequar infra-estrutura compatvel com o ecoturismo.


Aes:
Incentivar a comunidade na implementao da infra-estrutura;
Criar sistemas de trilhas no mangue por meio de passarelas
Implementar a iniciativa privada de construir hotis, restaurantes, bares,
Implementar programas de financiamento nacionais como: PRODETUR I E II ,FAT, Min. do Turismo,
etc
Desenvolver a pesca esportiva;
Implementar vias de acesso ao mangue;

A estratgia prope uma transformao no enfoque educativo frente aos problemas


ambientais, decorrentes das atividades ecotursticas em reas de manguezais, cujo a anlise no pode ser
unilateral, exige portanto uma verdadeira reflexo acerca da dimenso ambiental e da essencialidade de
abord-los para indicar solues instrutivas e educacionais eficientes.
Trabalhar a estratgia por meio destas diretrizes e aes, como delineadoras gerais para
sua aplicao, com perspectiva de carter social, poltico e econmico, constitui um dos elementos que
pode contribuir para o desenvolvimento harmnico do ecoturismo como o capital natural e humano.
IV - CONCLUSO

Joo Pessoa, outubro de 2011

193
Os objetivos propostos pelo presente trabalho foram alcanados, tendo em vista a
elaborao da estratgia para a incorporao do ecoturismo em reas de manguezais no litoral do Piau,
onde se conformou em sete diretrizes com suas respectivas aes na implementao da proposta de
investigao com um enfoque social, econmico, cultural, poltico e ambiental;
A nica forma de implementar o ecoturismo em reas de manguezais, atravs da
incorporao da dimenso ambiental, em todas as atividades desenvolvidas pelos agentes inseridos no
contexto do litoral do Piau, como meio de maximizar os impactos scio culturais e ambientais positivos, e
minimizar os impactos negativos.
A prtica do ecoturismo em reas de manguezais, desenvolvido de forma sustentvel,
poder apresentar significativos benefcios ambientais, sociais e econmicos, para a comunidade local e
para os turistas, tais como: diminuio do impacto ambiental no plano esttico-paisagstico; implantao e
melhoramento da infra-estrutura de transporte, segurana comunicao, energia, gua tratada, sade,
educao e saneamento; e o desenvolvimento do artesanato local; fixao da populao no litoral com
garantia de emprego e renda, alm de manter a reproduo e criao de inmeras espcies importantes
para a cadeia trfica e para a econmica do litoral como, por exemplo: peixes, camares, ostras e
caranguejos, muito usados na alimentao humana.
V - REFERENCIAL BIBLIOGRFICO
BURSZTYN, M (Org.). Para pensar o desenvolvimento sustentvel. Brasiliense. So Paulo.2004
CARTA CEPRO. Manguezais: fragilidade e riqueza. Vol. I, n1, p.:113 a 127. Teresina-PI; 1987;
CAVALCANTI, Agostinho P. Brito. Delta do Parnaba: uma caracterizao geo ambiental. Teresina:
edio do autor, 2000.
CORIOLANO, Luzia Neide M. T. Do Local ao global: o turismo litorneo cearense. 3 Ed. Campinas:
Papirus, 2002.
EMBRATUR. Anurio estatstico: 2004; 0 estudo da demanda turstica de 2003. Disponvel em
www.embratur.gov.br. Acesso em 20 de junho de 2011.
IBGE, senso 2000.
LACERDA, L. D. Manguezais Floresta de Beira-Mar. Cincia Hoje. Vol. 3.Ano II.1984
LUSTOSA, A. H. M. Prticas produtivas e (in)sustentabilidade: os catadores de caranguejo do Delta
do Parnaba, Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) UFPI. Teresina: UFPI, 2005.
MAI, A.C.G., LOEBMANN, D. Guia ilustrado biodiversidade do litoral do Piaui. Paratodos: Sorocaba
SP. 2010
RUSCHMANN, D. Turismo e Planejamento Sustentvel A Proteo do Meio Ambiente. Papirus. So
Paulo.1997
SASSI, R. Interferencia dos Fatores Abiticos em Sistemas Estuarinos. Cadernos Feduc. UFPB.
Paraba. 1988.
SCHAEFFER-NOVELLI, Yara. Gilberto CINTRON (1986) Guia para Estudo de reas de Manguezal
Estrutura, Funo e Flora. Caribbean Ecological Research. So Paulo.
_______ . Introduo a Ecologia de Mangue. Montevideo. UNESCO.1996
SCHAEFFER- NOVELLI, Yara. Manguezais Brasileiros: Texto que Sistematiza Criticamente Parte da
Produo Cientfica. Tese de livre-docncia. USP. Instituto Oceanogrfico. 1991
TOGNELLA, M. M. P. Valorao Econmica: Estudo de Caso Para o ecossistema Manguezal
Bertioga e Canania, Estado de So Paulo. Dissertao de Mestrado em Oceonografia Biolgica. USP 1995.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

194

OS DESAFIOS DOCENTES NA PS-MODERNIDADE: TRANSVERSALIZANDO


A EDUCAO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR DO TURISMO
Morgana LEO
Turismloga. Ps-graduada em Educao Ambiental.
Docente no Instituto Pernambucano de Ensino Superior - IPESU
morganaleao@gmail.com

A diviso territorial do trabalho, que confina ramos particulares de produo em distritos


particulares de um pas, recebe novo impulso da empresa manufatureira, a qual explora todas as
particularidades. Rico material para a diviso do trabalho dentro da sociedade recebeu o perodo
manufatureiro, com a ampliao do mercado mundial e o sistema colonial que pertencem esfera das suas
condies materiais de existncia. [...] como essa diviso se apossa, alm da econmica, de todas as outras
esferas da sociedade, lanando por toda a parte a base para aquele avano da especializao, das
especialidades e um parcelamento do homem, [...] levou Adam Ferguson, professor de Adam Smith, a
exclamar: Estamos criando uma nao de hilotas e no existem livres entre ns.

(MARX, O Capital)
RESUMO
A presente discusso, alicerada nos pressupostos da Epistemologia, da Lgica e da Filosofia da
Linguagem, tem por objetivo a descoberta, apreenso e decodificao dos desafios pedaggicos inerentes
ps-modernidade, sobretudo em se tratando da Educao Ambiental no ensino superior do turismo,
objetivando a emerso de uma fenomenologia docente que incite interdisciplinaridade, voltada ao
questionamento, problematizao dos conhecimentos historicamente acumulados, confrontando-os
crise ecoantropolgica contempornea, incrustada nas relaes humanas e destas com o macroambiente.
As concluses a que somos impelidos aps tal embate epistemolgico, nos assegura a certeza de que o
nico caminho vivel, representado por uma proposta acadmica emancipatria na formao de bacharis
do turismo, delineia-se a partir da idealizao de projetos de desenvolvimento local pelo turismo,
discutidos por equipes multidisciplinares, formadas por profissionais formados em vrias reas do
conhecimento, alm de turismlogos, onde as pautas inerentes crise socioambiental constituam
inarredvel oportunidade de exerccio interdisciplinar e transdisciplinar da Educao Ambiental, atendendo
ao preconizado pela Poltica Nacional de Educao Ambiental brasileira (Lei 9.795 de 27 de Abril de 1999).
Palavras-chave: Ps-modernidade; Epistemologia; Educao Ambiental; Turismo.
ABSTRACT
This discussion, based on the assumptions of Epistemology, Logic and Philosophy of Language, has
for its object the discovery, apprehension and decoding of the pedagogical challenges inherent in
postmodernity, especially when it comes to environmental education in higher education in tourism,
aiming the emergence of a phenomenology of teaching which encourages scientific research, aimed at
questioning, questioning the historically accumulated knowledge, comparing them to the contemporary
crisis ecoantropolgica, embedded in human relationships and those with the macro environment. The
conclusions that we are driven after such epistemological clash, assures us the certainty that the only viable
path, represented by a proposed academic training in the emancipatory alumni of tourism, there is
discerned from the idealization of local development projects for tourism discussed by multidisciplinary
teams, formed by professionals trained in other areas of knowledge, and tourismologists, where the
guidelines related to the socio-environmental crisis constitute immovable opportunity to the
interdisciplinary and transdisciplinary approach to Environmental Education, given the policy advocated by
the Brazilian National Environmental Education (Law 9795 of April 27, 1999).
Key words: Powder-modernity; Epistemology; Environmental Education; Tourism.
Introduo
A contemporaneidade, ou, se preferirmos, a ps-modernidade transversalizada por novos
conceitos, idias e sentimentos acerca de tudo o que existe na Terra, reifica uma profunda reavaliao
quanto forma e contedo das relaes entre os humanos e destes com o ambiente em sentido lato. A
Joo Pessoa, outubro de 2011

195
compreenso de tais relaes possibilitar a construo das slidas bases necessrias ao soerguimento de
sociedades efetivamente justas e prsperas, onde aspectos psicossociais dos indivduos aspectos estes
que interferem nas suas prprias atividades profissionais e na forma como compreendem o mundo,
ganham novo status, objetivando o interesse maior da qualidade de vida humana, ainda negada ou
concedida a conta-gotas queles que no compem as classes sociais detentoras do poder de deciso
sobre assuntos que afetam toda a humanidade.
No intuito da percepo e compreenso das relaes mencionadas, imperativo atentar para o
processo educativo, as cincias da Educao, tendo em vista o fato de que exatamente pela educao
formal que o ser social adquire o conhecimento e a capacidade de compreender o meio no qual est
imerso social, econmico, poltico, cultural e partir da, propor solues aos problemas socioambientais
enfrentados.
Sem a menor inteno de esgotar o assunto, muito ao contrrio, incitando reflexes e
contraposies ao que aqui ser exposto, proponho discutir os desafios docentes impostos pela psmodernidade aos professores universitrios do turismo. No novidade que as cincias da Educao esto,
comprovadamente, na atualidade, eivadas por paradigmas em construo, entre os quais cito o Paradigma
da Complexidade de Edgar Morin, correlato Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire (precursor do
conceito de transdisciplinaridade), e o fenmeno da interdisciplinaridade exigida pela Lei 9.795/99 (PNEA,
Poltica Nacional de Educao Ambiental), em todos os cursos reconhecidos pelo Ministrio da Educao.
As repercusses educacionais destes novos paradigmas no devem ser ignoradas por seus
protagonistas e condutores, os professores, alm disto, como reflexo dos padres de consumo ainda
vigentes, emoldurados pelo fordismo e pelo taylorismo, o turismo, como atividade socioeconmica que ,
constitui profcuo campo de estudo e reflexo para reviso e aperfeioamento do paradigma de
desenvolvimento adotado pela humanidade desde o nascimento da burguesia nos confins da Idade Mdia
e incio da Modernidade. Fala-se, portanto, de temtica extremamente atual e de um debate do qual no
podemos nos abster sob nenhuma hiptese.
Tendo em vista a premissa de que o quadro de degenerescncia socioambiental vivenciado por
ns, na contemporaneidade, conseqncia do paradigma de desenvolvimento inerente Modernidade, e
tomando por ponto de partida a observao da nossa realidade acadmico-pedaggica (dados e fatos
empricos), refletida luz da dialtica, da hermenutica e do raciocnio hipottico-dedutivo; recorrendo a
dados e fatos, historicamente comprovados, relativos Educao Acadmica, legislao atinente aos
Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), alm da literatura cientfica relativa ao paradigma moderno e
ps-moderno em Educao, em Cincias Sociais e Cincias Humanas, foi possvel estabelecer a relao de
dependncia, causalidade e associao entre o sistema de organizao socioeconmica e poltica,
amplamente comungado pela maior parte dos pases do globo - e alicerado sobre o modo de produo
capitalista, com a lgica do planejamento do turismo de massa e do turismo alicerado na rezortizao dos
lugares tursticos, sem esquecer que a metodologia adotada no ensino superior do turismo tambm
pressupe os ditames capitalistas, ressaltando, entretanto, as excees que, certamente, existem.
Eminentemente qualitativa, a presente reflexo advoga que ns, professores universitrios do
turismo, precisamos desmistificar o sofisma baseado na idia de que crescimento econmico (lucro e
arrecadao tributria, ascendentes e em curto prazo) redunda necessariamente em desenvolvimento, a
saber, diminuio das disparidades regionais, mais emprego, mais sade, mais educao para as
comunidades anfitris, maior participao sociopoltica, menor dilapidao dos sistemas naturais. Ao
contrrio disto, o desenvolvimento sustentvel, sim, agrega, obrigatoriamente, como uma das suas
mltiplas variveis a to perseguida sustentabilidade econmica. Isto significa dizer que no h
desenvolvimento sustentvel sem viabilidade econmica e crescimento econmico. Trata-se de realizar o
caminho inverso, ou seja, repensar o conceito de desenvolvimento como ponto de partida rumo ao
crescimento econmico, ressaltando que desenvolvimento implica, necessariamente, em participao
social consciente e com poder de veto, e em se tratando de turismo, participao das comunidades
receptoras nas decises sobre o tipo de turismo que se pretende implantar nas destinaes efetivas e
potenciais.
Boa parte dos megaprojetos tursticos, cones do capitalismo, especialmente os que remetem ao
turismo elitizado (resorts e complexos tursticos de segunda-residncia), constitui base de arrecadao
tributria respeitvel, todavia, raramente atesta-se o reflexo de tal benesse econmica, por exemplo, na
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

196
gerao de emprego e renda para todos os indivduos autctones, a partir das potencialidades inscritas na
cultura e no ambiente natural local - o que dizer, ento, de melhores escolas e saneamento ambiental na
periferia das ilhas de prosperidade? Isto, sem falar que, alm do ecoturismo, h alternativas em turismo
responsvel, verdadeiro promotor de desenvolvimento local, com consequente conservao de ativos
culturais e naturais, ou seja, trabalhar com os pressupostos da Educao Ambiental desde a concepo do
projeto turstico desenvolvimentista.
Importante ressaltar aqui, que no pretendo fazer apologia contra resorts, to pouco contra
complexos tursticos de segunda residncia, mas propor que se reavalie uma prtica bastante comum, onde
o desenvolvimento de uma regio pelo turismo baseia-se, exclusivamente, na efetivao das estruturas
citadas. oportuna uma anlise, no ambiente acadmico, da utilizao destes tipos de projeto
desenvolvimentista, como estratgia de desenvolvimento, sob o aprofundado enfoque das novas teorias
que tratam do desenvolvimento sustentvel, informando ao aluno que resorts e complexos tursticos de
segunda-residncia so necessrios, porm no devem ser a nica opo em desenvolvimento pelo
turismo, mesmo porque, h demanda para tais empreendimentos.
Tomando por base a certeza de que alm da exigncia de comprovao, uma das principais
caractersticas do saber cientfico , exatamente, sua refutabilidade, pretende-se demonstrar que em todas
as reas do conhecimento humano, e em especial quanto formao de bacharis em turismo, a
transmutao deste paradigma equivocado de desenvolvimento vigente, atrelado aos paradigmas
cientficos da Modernidade, que confunde crescimento econmico com desenvolvimento, depende da
competncia, da pesquisa e da ousadia docentes na descompartimentalizao e mixrdia dos saberes
construdos ao longo dos sculos que nos antecedem e aos paradigmas cientficos emergentes, ou seja,
pensar e agir de forma interdisciplinar. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade no ambiente
acadmico, constituem o nico caminho seguro para uma proposta social emancipatria, capaz de criar um
estrato de pessoas cidads aptas a interferir conscientemente e inteligentemente, no direcionamento e
redirecionamento de todas as atividades humanas, incluindo o turismo, rumo a uma nova racionalidade
que privilegie a sensibilidade, a conscincia e a participao de todos os atores sociais, especialmente as
comunidades receptoras, nas discusses sobre desenvolvimento pelo turismo. a partir de tais
pressupostos que a pedagogia acadmica no ensino superior do turismo coaduna-se pedagogia humana
ou transdisciplinaridade, rumo ao efetivo desenvolvimento socioambiental, evocando a idia de que
crescimento econmico pode e deve existir, conquanto seja reavaliado e ampliado seu conceito, haja vista
parte indissocivel do ecodesenvolvimento, tambm conhecido pelo vocbulo desenvolvimento
sustentvel.
O paradigma da disjuno
O trusmo propalado por Karl Marx, na epgrafe do presente artigo, significante da
sociedade capitalista contempornea, representado pelo demasiado nvel de especializao das atividades
humanas e das cincias consagradas, pela relativa dificuldade no transcorrer de debates interdisciplinares,
e considerando os objetivos desta explanao, faz-se necessria uma digresso dos fatores
desencadeadores do panorama sociocultural atual, no descurando da historicidade necessria
compreenso das suas ameias. Em outras palavras: por que to difcil convergir saberes e trabalhar de
forma interdisciplinar?
Primeiramente, somente poderemos nos confrontar com a possibilidade de novas realidades em
Educao Ambiental (E.A.) aplicada ao ensino e ao planejamento do turismo, quando tivermos
compreendido a realidade na qual estamos imersos, ou seja, estamos inseridos no sistema de organizao
sociopoltica e econmica alicerado no modo de produo capitalista. Evocando mais uma vez a
racionalidade marxista, a tese de que o modo de produo capitalista tem existncia histrica, de que
nasceu de determinadas condies criadas pelo desenvolvimento social e de que criar, ele prprio, as
condies para o seu desaparecimento e substituio por um novo modo de produo, exige uma
abordagem histrica: historiografia.
A gnese do Paradigma da Disjuno ou especializao fechada, nos termos de Morin
(2003), remonta ao surgimento da diviso do trabalho na empresa manufatureira do sculo XVI, Europa
Setentrional, mais precisamente na potncia econmico-colonialista da poca, Inglaterra, e reinos a Ela
unidos, Esccia, Irlanda e Pas de Gales (Ilhas Britnicas); Frana e Blgica, na Europa Meridional. Em sua
Joo Pessoa, outubro de 2011

197
tese sobre o materialismo histrico38, Marx (1983) coloca que a cooperao baseada na diviso do
trabalho adquire sua forma clssica na manufatura. Quando mencionada a palavra cooperao, recorrase idia dos primeiros burgos39, ao mestre-arteso e seus epgonos/aprendizes (a maioria, servos
foragidos dos feudos), remanescentes Idade Mdia, reunidos em pequenas oficinas domsticas; e em se
tratando da manufatura, recorramos aglomerao de vrios mestres-artesos e/ou epgonos, em uma
nica oficina, sob a tutela de um pequeno comerciante burgus, que poderia ser tambm um mestrearteso. Ambas as modalidades de cooperao - uma simples e a outra sofisticada -, ainda no evocam,
de fato, a idia da empresa mecanizada, eclodida um pouco mais tarde, nos ltimos decnios do sculo XVII
e aurora do sculo XVIII, a partir da inveno das mquinas, com participao massiva dos
artfices/artesos, camponeses e estudiosos da poca (MARX, 1983). Estamos falando sobre os primrdios
da complexa diversidade da sociedade contempornea, com a excruciante e compartimentada amlgama
de atividades socioeconmicas (inclua-se aqui a educao e o turismo), produtos/mercadorias,
necessidades (?)40, bem como interesses institucionais e mercadolgicos que a simbolizam.
O comrcio mascate, itinerante, muito comum na Era Medieval, adquiriu os contornos da
atividade mercantil/comercial contempornea, a partir do momento que mais e mais servos aportavam os
burgos florescentes, na busca por possibilidades de existncia material desassociada servido senhorial
feudal. Os primeiros donos de oficinas produtoras de artefatos, bens de uso e de troca, tiveram nos
mestres-artesos de ento, e nos bem sucedidos mascates/feirantes de Lagny-sur-Marne, Bar-sur-Aube,
Provins e Troyes, por exemplo, seus eminentes representantes, onde se conclui, os camponeses/servos em
fuga dos suntuosos encastelamentos feudais, encontravam nas primeiras aglomeraes burguesas, refgio,
sobrevivncia e meio de vida pelos trabalhos realizados nas oficinas.
As prprias condies materiais de existncia das primeiras manufaturas, com tantos
ajudantes disposio dos proprietrios, crescendo quantitativamente em escala geomtrica, implicavam
um aumento da produo de artefatos e ulicas possibilidades de atendimento a mercados emergentes
como as colnias portuguesas, espanholas, francesas e mesmo inglesas. A premncia em produzir cada vez
mais em lapsos de tempo menores e a diferenciao dos instrumentos de trabalho41 na manufatura
mecanizada, desencadeou o parcelamento das etapas da produo entre os artfices (mestres e ajudantes),
e a transformao do proprietrio da oficina/manufatura mecanizada em capitalista. Como bem explana
Marx (1983), a diviso do trabalho no interior da sociedade mediada pela venda do produto das
diferentes ramificaes do trabalho e a conexo dos trabalhos parciais na manufatura, pela venda de
diferentes foras de trabalho ao mesmo capitalista, que as emprega como fora de trabalho combinada.
No incorrendo em maiores detalhamentos sobre o genocdio capitalista que dizimou
milhares de trabalhadores na fase ascensional do modo de produo correlato, o fato inconteste que ao
final da Idade Mdia, a nobreza feudal perdia prestgio e riquezas com o avano do comrcio burgus,
obrigando a Igreja Catlica, detentora da cultura secularizada e de um poder temporal jamais visto outrora,
a escolher o seu senhor. Entre os nobres feudais e os ricos comerciantes, a proftica instituio religiosa,
educacional e comercial, propagadora das coisas sacrossantas excludas do comrcio humano, optou pelo
alvissareiro e ofuscante metal burgus.
Responsvel pela formao educacional clssica (alicerada sobre a herana greco-romana)
de eclesiastas e indivduos pertencentes realeza e nobreza feudal, doravante, tomando por evidncia
historicamente comprovada, o fato de que todo o legado cultural remanescente s culturas clssicas e noclssicas encontrava traduo para o latim e demais dialetos nos monastrios, elementar que sua
38

Concepo baseada nas cincias sociais (Sociologia, Antropologia), e na cincia das relaes materiais de
vida (Economia Poltica: a ideologia dos interesses capitalistas ou como diria Marx: Antropologia do homo faber).
39
Nome atribudo s primeiras aglomeraes citadinas, derivando, por conseguinte, o nome dado maior
parte dos seus habitantes: comerciantes = burgueses.
40
A interrogao explica-se pela idia de que a maior parte das necessidades humanas contemporneas o
resultado do hbil trabalho dos profissionais do Marketing (disciplina da cincia Administrao), cuja respirao e
alimentao se baseiam na criao de necessidades quase sempre desnecessrias na psique dos seres sociais:
tteres da economia de mercado. Ou, como diria Vancourt (1969): O Marketing atual trabalha da seguinte forma:
desperta necessidades e sentimentos nos indivduos, e a partir disto, os fazem idealizar certas coisas, e nelas, crem,
no podem prescindir na vida em sociedade.
41
Com ativa participao do trabalhador da manufatura.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

198
propagao, em concordncia com a razo dos fatos, ocorresse por obra e resilincia dos monges/jesutas
(PIMENTA; ANASTASIOU, 2002). Paulatinamente, a Ratio Atque Institutioni Studiorum 42 (PIMENTA;
ANASTASIOU, 2002) incorporou as transformaes histrico-sociais (inclua-se aqui a cultura lato sensu),
como se fossem caractersticas suas, e de acordo com bilateralidades inerentes aos seus prprios interesses
e aos da classe ento, dominante, burguesia capitalista.
Natural que a detentora (Igreja Catlica) do conhecimento secularizado e do mtodo
didtico-pedaggico necessrio educao acadmica legasse ao ensino as caractersticas que lhes eram
prprias, convergindo-as centralidade cultural estabelecida pelos Estados Nacionais europeus, em
processo de formao (especialmente a partir do sculo XIV), as superpotncias colonialistas e pelo
mercantilismo burgus (CANDAU, 2001). O que a Histria nos relata a emerso das cincias,
hodiernamente consagradas, engendradas no desiderato da manuteno do status quo. Da tradio
clssica a paideia43 e a peripattica44 de Aristteles, Plato e Scrates -, cristianizao destes, pelas
tradues das compilaes greco-romanas e aramaico-hebraicas, adequadas s necessidades
socioeconmicas e religiosas medievais; ao enquistamento dos interesses da moeda e da indstria
comercial na tradio da Pedagogia moderna. Entrementes, preparar indivduos para o trabalho nas
fbricas, num claro favorecimento ao ensino profissionalizante, desprovido do criticismo que redunda na
autoconscincia humana, passou mxima pedaggica. Que grande mudana!
A modernidade e o eugenismo45, atravs da biohistria e da biopoltica46 (CANDAU, 2001),
corroboraram a excruciante especializao, ento, necessria atividade intelectual e pragmtica humana
na modernidade, como um serdio da semente lanada na aurora do sistema capitalista de produo a
diviso do trabalho -, engendrando na educao acadmica a dita compartimentalizao dos saberes e dos
pensares. Dada a alta complexificao das sociedades com suas mltiplas demandas, o imperativo de
indivduos cada vez mais especializados em suas reas de atuao e formao, fez germinar e crescer a
nao de hilotas ou sociedade dos especialistas. Especialistas em economia, especialistas em biologia, em
poltica, direito, ambiente natural, e, na infindvel lista, especialistas em turismo. Chegamos a tal patamar
da especializao cientfico-profissional que a maior parte dos seres sociais j no consegue relacionar os
preceitos, mtodos, prticas e concluses adjacentes sua prpria formao acadmica realidade vvida,
ao ambiente no qual esto imersos, e o mais preocupante, no conseguem dialogar com especialistas de
outras reas do conhecimento, quando complexas, alarmantes e interdisciplinares questes
socioambientais batem nossa porta, exigindo-nos a capacidade de dialogar e estabelecer linhas de
raciocnio e de ao, de forma sensata e competente.
A habilidade de muitos pesquisadores, sobretudo na rea educacional, especialmente os que se
ocupam da planificao necessria s polticas educacionais, tem avanado propedeuticamente no
caldeamento e apresentao de estratgias que indicam a inteno de aglutinar as urgncias
socioambientais aos currculos oficiais, atravs da insero transversal da chamada Educao Ambiental
(E.A.) em todas as disciplinas e cursos oficiais. Contudo, tal inteno nobre esbarra na dificuldade
encontrada quanto ao raciocnio, a ao e a discusso interdisciplinar (Pedagogia Acadmica) e
transdisciplinar (Pedagogia Humana), o que Guimares (2004), refletindo sobre os desafios inerentes ao
processo de formao dos educadores ambientais, denomina como limitao compreensiva e
42

Mtodo Pedaggico dos Jesutas ou Mtodo Escolstico: lectio, questio, reportationes, caderno loci
communes, quaestiones, disputationes, lectionem reddere; baseadas no Trivium (Gramtica, Retrica, e Dialtica) e no
Quadrivium (Aritmtica, Geometria, Astronomia e Msica). Objetivava poder manter-se, propagar sua doutrina e
assegurar o culto (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
43
Paideia: cultura, cultivo intelectual, instruo, educao, capacidade de aprender, desenvolvimento da
memria, nsia de saber (JAEGUER, 1995).
44
Peripattica: mtodo didtico-pedaggico clssico, alicerado na dialtica, na hermenutica e na heurstica,
em que o discpulo/aluno aprendia com seu mestre, caminhando literalmente com ele, observando fatos, substncias
e sujeitos, num exerccio contnuo do raciocnio hipottico-dedutivo (a mitopoiese) (HEEMAN, 2000) to almejado na
ps-modernidade.
45
Novas formas de hierarquia e excluso.
46
Biohistria e Biopoltica: Relativo s diferenas de gnero e raas institudas pela normalizao da cincia e
da tcnica: a premissa de que as sociedades/indivduos diferem moral e tecnicamente a partir de diferenas fundadas
em caractersticas biolgicas raa, sexo, religio, cor de pele, et cetera.
Joo Pessoa, outubro de 2011

199
incapacidade discursiva, caracterstica da sociedade dos especialistas no contexto das questes
socioambientais, cujos interstcios esto presentes, ainda, at mesmo na formao inicial dos futuros
professores (licenciatura) (ANDR et al., 1999) e nas ps-graduaes lato sensu; neste ltimo caso, em se
tratando da formao dos professores universitrios.
Como prxis social e econmica, situada historicamente, a atividade turstica e, em tempos
mais recentes, o ensino do turismo, incorporaram sinestesicamente todas as idiossincrasias da sociedade
do consumo e da compartimentalizao dos saberes (cientficos e existenciais), de sorte que, na edificao
de uma proposta pedaggica, socialmente emancipatria quanto a professores e alunos, necessrio
considerarmos tambm, o substrato poltico-social e institucional sobre o qual repousa a comunidade
acadmica: a universidade.
Universidade: diagramao moderna e ps-moderna
Evocando, uma vez mais, a racionalidade marxista, que preconiza a mxima de que no a
conscincia que determina a vida, a vida que determina a conscincia; no sendo, pois, o Estado, como
pensava Hegel, que cria a sociedade civil, ao contrrio, a sociedade civil que cria o Estado (MARX, 1965,
p. 62), inevitvel a constatao de que todas as instituies sociais so reflexos mimticos das condies
materiais de existncia historicamente determinadas, isto , das condies sociais de produo do sistema
cultural hegemnico. Assim posto, elementar deduzir que instituies educacionais e atividades
socioeconmicas como o turismo, so o espelho do sistema capitalista de produo.
Conforme explanado anteriormente, a modernidade com o cientificismo, a tcnica
sistemtica e conseguinte, a disjuno do conhecimento, que lhe peculiar, legou ps-modernidade a
tarefa herclea, conquanto possvel, de desconstruir e reconstruir saberes (cientficos e existenciais), sob
pena de um fracasso total na luta pela existncia humana na Terra, porque, como diria Leff (2001, p. 217),
a crise ambiental no crise ecolgica, mas crise da razo, do que decorre a certeza de que nada deve
ficar isento de exame e possvel reconstruo (DEWEY, 1958, p. 265); [...] nada isolvel: h uma
interpenetrao e uma interconexo entre o empirismo e o racionalismo, entre a imaginao e a
verificao, entre o ceticismo e a certeza (MORIN, 1996, p. 174). Cada palavra ou cada conceito, por mais
claro que possa parecer, tem somente uma faixa limitada de aplicabilidade (HEISENBERG, 1958, p.70) eis
o paradigma ps-moderno da complexidade (MORIN, 1991), tambm evocado sob o nome de Teoria das
Estruturas Dissipativas (PRIGOGINE, 2002) ou Teoria da Autopoiese (MATURANA R.; VARELA GARCIA;
ACUA LLORENS, 1997) ou Teoria dos Fractais (HUSSERL, 2007; MANDELBROT, 1998) ou Antropomorfia
Bioflica (MENDES, 1993; SATO, 1997) ou ainda, a Teoria do Caos, nos termos de Taylor & Wacker (1997
apud GOELDNER; RITCHIE; McINTOCH, 2002), sem esquecer a tambm correlata Teoria do Efeito Mariposa
(GAUDIANO, 1993).
Face s mirades de problemas socioambientais ensejados pelo paradigma moderno do
progresso pela tcnica cientfica e pela acumulao de capital, inelutvel torna-se a premncia de uma
reformulao total na concepo (emphasis), percepo (aisthesis) e interface (oikeiosis) do ser humano
com a sua prpria existncia e aes nela imbricadas, pois quanto mais estudamos os principais problemas
de nossa poca, mais somos levados a perceber que eles no podem ser entendidos isoladamente
(CAPRA, 1996, p. 101). O conhecimento cientfico, tal como o concebemos e usufrumos (de forma
descontextualizada e compartimentalizada), tem demonstrado ineficcia no entendimento, discusso e
proposio de alternativas para a crise socioambiental, que muito antes de delinear-se mero problema da
Natureza (physis) degradada, passvel de solvncia com algumas modificaes estruturais no modo de
produo, mantendo-o, porm, grita vituperada que o problema humano, demasiado humano
(NIETZSCHE, 2000).
Considerando a certeza de que o nico caminho seguro na busca por tal reformulao e
redirecionamento ideolgico a E.A., e considerando o fato de que a educao que transforma,
necessariamente tem de estar vinculada ao momento histrico-social, a anttese Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) 9.394/96 sobre a qual repousa a normalizao do ensino superior no Brasil, averbada por Chau
(2001, p. 78), algo preocupante: [A universidade de hoje] no forma nem cria pensamento, despoja a
linguagem de sentido, densidade e mistrio, destri a curiosidade e admirao que levam a descoberta do
novo, anula toda a pretenso de transformao histrica como ao consciente dos seres humanos em
condies materialmente determinadas.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

200
Apesar da proficincia de parte considervel dos que atuam como docentes, cuja
competncia e ousadia didtico-pedaggica na contextualizao e aplicao dos preceitos em E.A.
transversais LDB 9.394/96, inclusive no ensino do turismo, produzir pesquisas e projetos de
inquestionvel e relevante vanguarda, a utopia47 de uma Epistemologia face o conhecimento, que assegure
em todas as universidades que formam turismlogos, a desconstruo e reconstruo dos saberes
acumulados historicamente caracterstica da E.A. - carece de muito maior contundncia, especialmente
quando o assunto debater o turismo com profissionais formados em outras reas, convergindo saberes
na construo dos projetos de desenvolvimento sustentvel pelo turismo.
A universidade que forma o profissional do turismo precisa compreender, de fato, em que
pese a Lei 5.540/68 (MEC, 2003) haja separado o processo da pesquisa e construo do conhecimento, no
tangente graduao e ps-graduao, assentando-se sobre esta ltima a total responsabilidade da
pesquisa acadmica que constri saberes, tal premissa legal destoa do preconizado mais recentemente
pela LDB 9.394/96, consoante exposto no pargrafo anterior, alm de sub-repticiamente, apresentar-se
controversa problemtica realidade socioambiental da ps-modernidade e prpria PNEA (Lei 9.795/99).
inconcebvel que nos limitemos construo de projetos inerentes atividade turstica sem a indefectvel
problematizao/proposio de alternativas aos impactos socioambientais nefandos deles decorrentes.
Para tanto, a incitao e estabelecimento, pela universidade, de condies para o desenvolvimento de
pesquisas e projetos tursticos arrojados, com macia participao dos professores de diversas disciplinas, e
dotados de formao acadmica variada fundamental.
A habilidade e as estratgias necessrias convergncia dos saberes historicamente
construdos, inerentes s diversas reas do conhecimento humano, aos dilemas epistemolgicos eclodidos
com a crise ecoantropolgica extenuante, porm possvel, e creiamos ns, profissionais docentes, que
Paulo Freire est certo quando diz que, em Educao, o caminho se faz caminhando (HORTON; FREIRE,
2003), ou seja, aprendemos a pensar e a trabalhar sobre discusses interdisciplinares, no calor dos debates,
interagindo com humildade e solicitude face os nossos colegas de profisso. Tal fato constitui-se no maior
desafio educacional e docente na ps-modernidade: auto-superao.
As inferncias sobre projetos tursticos idealizados e efetivados por intermdio da
interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, aqui reportados, recaem sobre o preparo tcnico, social e
cientfico para exercer-se a docncia (SATO, 1997), pois, na planificao da poltica pedaggica institucional
necessria estruturao de um ambiente acadmico inquiridor e inovador, a interpretao acertada da
LDB 9.394/96, por reitores e docentes das vrias disciplinas e cursos existentes, a participao de toda a
comunidade acadmica (e entorno)48 esto condicionadas habilidade dos educadores em adotar o que
em Educao Ambiental denominado como Triangulao (THIOLLENT, 1994; SATO, 1992;
MACINKOWSKI, 1996; ROBOTTOM, 1996; WALS, 1996 apud SATO, 1997).
Triangular , intrinsecamente, a aptido do profissional docente em dialogar sensata,
crtica, construtiva, interdisciplinar, transdisciplinar, em suma, epistemologicamente, no apenas com o
colega professor, outrossim, com o aluno na sala de aula. No ensino superior do turismo, triangular ser,
a exemplo, adotar uma metodologia didtico-pedaggica que associe na anlise de projetos tursticos j
efetivados ou na criao de inovadora proposta para desenvolvimento pela atividade turstica, a forma
quantitativa (anlise diagnstica e prognstica de dados estatstico-matemticos quanto oferta e a
demanda, viabilidade econmico-financeira, impactos socioambientais e consideraes s necessidades e
expectativas das comunidades receptoras), forma qualitativa (interpretao dos dados comprovveis),
luz da narrativa descritiva, sob o crivo do raciocnio hipottico-dedutivo. Isto implica interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade para navegar por entre as vrias reas do conhecimento cientfico acumulado,
estabelecendo sinergias entre disciplinas em projetos de carter multidisciplinar (MINAYO, 2000; SATO,
1997; GUIMARES, 2004).

47

Aqui, fao minhas as palavras de Freire (1992): [...] utopia como unidade inquebrantvel entre a denncia
e o anncio. Denncia de uma realidade desumanizante e anncio de uma realidade em que os homens possam ser
mais. Anncio e denncia no so porm palavras vazias, mas compromisso histrico.
48
Substrato comunitrio sobre o qual reside a instituio acadmica, seu entorno imediato: bairro, cidade,
Estado, os quais, podem constituir ricos insumos para a pesquisa acadmica.
Joo Pessoa, outubro de 2011

201
A mixrdia do currculo oficial, o formal (o que ensinado), o real (o que
aprendido/apreendido), o oculto (normas e valores tico-morais implcitos nas atividades escolares), o
vazio (conhecimentos significativos e fundamentais para a compreenso da complexa realidade
socioambiental e atuao nela) (SATO, 1997), tendo em vista as premissas do ecodesenvolvimento, com
solues alternativas de vanguarda, est condicionada ao processo do debate ininterrupto.
Estamos diante de um impasse epistemolgico sem precedentes, entre o
ecodesenvolvimento (abordagem de um tipo de desenvolvimento no longo prazo, dcadas, talvez sculos)
e o crescimento econmico (manuteno do discurso neoliberal, iluso de que se est em tempos de
mudana), e a nica maneira de discernir um do outro onde a interface professor X professor adquira o
carter dialgico tpico dos que efetivamente processam conhecimentos. A criao de propostas
pedaggicas para estruturao de projetos tursticos que atendam s emergncias ecossociolgicas49 atuais
est associada incontroversa emerso do hbito da leitura (em sentido objetivo e figurado: leitura das
questes ambientais) e do dilogo, pressuposto bsico do processo de pesquisa, por e entre alunos,
professores, dirigentes de universidades e planificadores das polticas educacionais, com posterior
diagramao epistemolgica eis a universidade dos resultados: regulatria (agente de integrao social) e
emancipatria (agente de mobilidade social) (CANDAU, 2001).
Corroborando a exposio anterior, e em considerando a atividade turstica como
fenmeno socioeconmico mundial, por assim dizer, pelo fato do profissional turismlogo trazer em
essncia, a multiculturalidade e multidisciplinaridade inerentes ao prprio substrato de atuao, nos
exigido, a ns docentes e a instituio acadmica do turismo, o despojamento da amlgama de
paradigmas/pr-conceitos modernos cerceadores da liberdade disciplinada e criadora ou, em outras
palavras, permitir-se aprender com o colega de profisso tambm (NASH, 1968), doravante a certeza de
que tal liberdade disciplinada e criadora necessria descompartimentalizao dos saberes e adoo de
uma viso transdisciplinar na Academia. Isto quer dizer, ultrapassar as fronteiras da prpria formao e,
com humildade, compreender, aprender e convergir as contribuies dos colegas especialistas em outras
reas nossa prpria, o que aplica-se s instituies de ensino superior que ministram cursos superiores
em turismo, bem como s demais um novo estilo de cooperao entre os artfices/artesos do
conhecimento, com nova roupagem na ps-modernidade. E, como bem explana Capra (2003), o que to
importante na nossa nova compreenso da cincia o fato de que qualquer uma delas est sujeita
reviso a qualquer momento. No h verdade permanente e no h verdade absoluta, no sentido de uma
identidade entre a descrio e a coisa descrita, o que significa dizer, no holos50 da linguagem ps-moderna,
que tudo passvel de reviso, ampliao e interpenetrao, at mesmo os moldes sobre os quais so
construdos os multi e interdisciplinares projetos tursticos.
Descompartimentalizao e confluncia dos saberes cientficos aos saberes existenciais do
professor e do educando: a responsabilidade docente
Desmistificando e desagregando a nao de hilotas, a sociedade dos especialistas
prognosticada por Marx (1983), e no intuito da adequao dos preceitos ps-modernos em Educao
Ambiental atividade didtico-pedaggica dos professores do curso superior em turismo, conveniente a
recorrncia aos novos paradigmas cientficos.
Os paradigmas cientficos emergentes podem ser descritos como uma amlgama de
mudanas impassveis de cerceamento e/ou retrocesso, tendo em vista a impossibilidade da permanncia
de uma percepo lacerada face o conhecimento historicamente acumulado e a complexa, interdisciplinar,
alarmante crise socioambiental ou ecossociolgica ou ainda ecoantropolgica51.
Capra (2003) os alicera sobre cinco pilares principais: mudana das partes para o todo;
mudana de estrutura para processo; mudana de cincia objetiva para cincia epistmica; mudana de
49

O mesmo que socioambientais, considerando-se a premissa de que os problemas ambientais, em verdade,


so problemas inerentes ao modelo cultural de desenvolvimento econmico, criado pelos humanos - epicentro dos
desastres ecolgicos de base antropolgica.
50
Na totalidade.
51
Eco: do grego oikos = casa = ambiente; da a aplicao do termo sob diferentes vocbulos
sematologicamente semelhantes.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

202
construo para rede enquanto metfora do conhecimento; mudana de descries verdadeiras para
descries aproximadas. Como trazer esta Epistemologia para a realidade das salas de aula, exige do
professor o autodesenvolvimento de competncias didtico-pedaggicas, a partir dos
saberes/conhecimentos cientficos e existenciais trazidos na bagagem, isto , no delineamento da
competncia didtica do professor, o embasamento na relao dialgica com aluno e com o colega de
profisso, com abordagem psicanaltica, e a insistente pesquisa que busque ressignificar as tcnicas de
ensino numa perspectiva emancipatria imprescindvel (PIMENTA; ANASTASIOU, 2002).
E quais so os tais conhecimentos cientficos e existenciais/experienciais mencionados?
Pimenta e Anastasiou (2002) colocam que a docncia solicita dos profissionais que a ela dedicam-se, um
conjunto de conhecimentos especficos atrelados a contedos de diversas reas do saber e do ensino
(cincias humanas, naturais, da cultura e das artes); contedos didtico-pedaggicos (prticas, tcnicas,
instrumental usado no processo do ensino); contedos inerentes aos saberes pedaggicos (referentes
prtica profissional docente) e contedos inerentes aos saberes filosficos (existncia humana,
sensibilidade individual e social, tica). Perceba-se que, para alm dos saberes cientficos necessrios
adquiridos na Academia (licenciatura e ps-graduao), h outros determinantes da eficcia docente frente
os desafios educacionais impostos pela ps-modernidade.
Isto se deve ao fato de que ao longo da vida
realizamos aprendizagens que nos garantem a sobrevivncia, o sucesso pessoal e social, e que exigem
apenas o envolvimento pessoal e dispensam qualquer tipo de ensino formal. A maior parte delas requer
uma forte motivao, potencialidades e aptides que as apiem, contextos estimulantes e, na maioria dos
casos, utilizam recursos intelectuais tcitos e implcitos (CANDAU, 2001), dentre os quais cito a criatividade.
Quando falo criatividade docente, no me refiro a mtodos de ensino pirotcnicos,
outrossim, entre outras coisas, capacidade do indivduo que se prope ao professorado, em refletir a
docncia, primacialmente, sobre seus ideais, objetivos sociais e conceito acerca da profisso e das
exigncias ticas que lhe so impostas pela complexa contemporaneidade, onde no cabem idiossincrasias
de foro egostico-personalista, mormente incrustadas em relaes no-dialgicas entre colegas de
profisso. Em linguagem psicopedaggica proustiana, j que a abordagem psicanaltica evocada por
Pimenta e Anastasiou (2002), nas discusses sobre Educao, captar e decodificar a mxima de que a
verdadeira viagem da descoberta do conhecimento consiste no em buscar novas paisagens, mas em ter
novos olhos (PROUST, 1995, p. 101), reinterpretar os debates entre profissionais da docncia como uma
urea oportunidade de aprender.
A Pedagogia do ecodesenvolvimento (Pedagogia Escolar + Pedagogia Humana), sustentada na tica
e na solidariedade acadmica, educando para o trabalho da transformao social, para a vida. Professor
autoconsciente professor que adere s suas responsabilidades ps-modernas, comprometido com os
resultados transformadores das suas prprias aes.
Ento, no suficiente ministrar conceitos e prticas em turismo, trazendo baila projetos
j efetivados, discutindo seu sucesso ou fracasso do ponto de vista mercadolgico-econmico, sob risco de
incorrer-se no impriting cultural52 de Edgar Morin (2003) ou centralidade cultural53 de Vera Maria Candau
(2001). necessria, tambm, recorrncia epistemolgica s determinantes sociolgicas, antropolgicas,
geogrficas, estatsticas e matemticas, polticas, econmicas, legais, tico-filosficas (inscape, mindscape,
landscape)54, em suma, ambientais, devidamente contextualizadas historicamente (historicidade), inscritas
no xito ou sucumbncia da empreitada turstica, at mesmo para que se proponham novas possibilidades,
com devido esclarecimento ao aluno quanto ao que de fato signifique ecodesenvolvimento - imperativo da
ps-modernidade. No se trata de alijar a varivel rentabilidade econmica, destarte, para sua discusso
com o alunado, que o professor esclarea que Economia no o mesmo que Crematstica.
A Economia, no a Crematstica, tem um limite [...], a primeira intenciona algo diferente do prprio
dinheiro [considera ou, em essncia, deveria considerar, a varivel bem-estar psicossocial de todos
envolvidos no projeto, especialmente as comunidades receptoras] , a outra, a sua multiplicao [do dinheiro,

52

Marca matricial que inscreve conformismo a fundo, e a normalizao que elimina o que poderia contest-lo
(MORIN, 2003).
53
Remanescente aos poderes institudos do mercado e mesmo do Estado (CANDAU, 2001).
54
Inscape = nossos sentidos; Mindscape = nossa percepo; Landscape = do exterior; ambiente externo a ns
(SATO, 1997, p. 178).
Joo Pessoa, outubro de 2011

203
nos bolsos de alguns poucos] [...] A confuso de ambas, que se sobrepem entre si, induz a ver na
conservao e multiplicidade do dinheiro ao infinito, a finalidade ltima da Economia (MARX, 1983, p.170).

Do que se conclui, crescimento econmico pode e deve existir, conquanto seja reavaliado e
ampliado seu conceito, conforme explicitado na Introduo do presente artigo.
Consideraes Finais
Volto a frisar que a presente discusso reflexiva no tem a pretenso de esgotar o assunto,
oferecendo solues prontas e acabadas para a crise socioambiental conseqente a todas as atividades
socioeconmicas oriundas da Modernidade, incluindo o turismo. Deixando bem claro que as emergncias
ecossociolgicas no devem constituir objeto de preocupao exclusiva dos ambientalistas, educadores
ambientais ou pesquisadores da rea, haja vista toda a humanidade habita o planeta Terra e grande parte
das naes adota o sistema de organizao sociopoltica e econmica, baseado no modo de produo
capitalista, somos todos responsveis, entre artfices do conhecimento cientfico historicamente
acumulado, donos dos meios de produo, trabalhadores e consumidores.
Se, especialmente, ns, professores e pesquisadores, que constitumos o privilegiado setor
social cuja misso formar pessoas cidads, aptas a agir e reagir, intervindo conscientemente e
inteligentemente na realidade sociocultural, promovendo avanos e humanidades, nos abstemos de assim
proceder, entregando-nos aos paradigmas cerceadores da liberdade disciplinada e criadora o que esperar
dos demais atores sociais?
A universidade no deve constituir instrumento de manuteno do status quo; deve servir,
sim, ao nobre propsito da transformao social propalado por Freire e tantos outros educadores do seu
quilate.
Proponho que a efetivao de projetos-piloto para desenvolvimento local pelo turismo,
com macia participao de profissionais de diversas reas, alm de turismlogos, claro, produzam
confirmaes ou refutaes tese da possvel descompartimentalizao e mixrdia dos saberes cientficos
e existenciais aqui reportados e embasados em literatura cientfica apontada adiante.
Neste momento, inevitvel a recorrncia s pesquisas da Dra Michelle Sato (1997), quando afirma
que a interdisciplinaridade no ocorre no nvel das disciplinas, mas fundamentalmente na natureza da
realidade (ontolgica), no conhecimento (epistemolgico) e em como os atores (ideolgico) atuam no
processo (metodolgico) o que concordo plenamente.
Referncias
ANDR, Marli; SIMES, Regina H. S.; CARVALHO, Janete M.; BRZEZINSKI, Iria. Estado da Arte da
Formao de Professores no Brasil. Revista Educao & Sociedade, ano XX, n 68, p. 301-309, dez. 1999.
Convnio Anped/Pnud, intermediado pelo Inep.
BRASIL. LEI N 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educao
nacional. Disponvel em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm> Acesso em set. 2008.
_______. MINISTRIO DA EDUCAO E CULTURA: Referencial para as Diretrizes Curriculares
Nacionais DCN dos Cursos de Graduao. Processo n: 23001.000029/2003-38. Parecer n CNE/CES.
Aprovado em 11/03/2003. Disponvel em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0067.pdf>
Acesso em set. 2008.
_______. LEI N 9.795 DE 27 DE ABRIL DE 1999: Dispe sobre a Educao Ambiental. Estabelece a
Poltica Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias. Disponvel em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9795.htm> Acesso em jun. 2008.
BRUNER, Jerome. Sobre a Teoria da Instruo. So Paulo: Phorte Editora, 2006.
CANDAU, Vera Maria (org.). Cultura, Linguagem e Subjetividade no Ensinar e Aprender. Rio de
Janeiro: DP&A, 2001.
CAPRA, F. O ponto de mutao. So Paulo: Editora Cultrix, 2001.
_________. A teia da vida: uma compreenso cientfica dos sistemas vivos. So Paulo: Editora
Cultrix, 1996.
_________. Pertencendo ao Universo: exploraes nas fronteiras da cincia e da espiritualidade.
So Paulo: Cultrix, 2003.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

204
CHAU, Marilena. Escritos sobre a universidade. So Paulo: UNESP, 2001.
DEMO, P. Pesquisa - princpio cientfico e educativo. So Paulo: Cortez, 1996-a.
DEWEY, John. Art as Experience. New York: Putnam, 1958.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana: Um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1992.
GAUDIANO, Edgar J.G. Elementos estratgicos para el desarrollo de la educacin ambiental en
Mxico. Mxico: Universidad de Guadalajara/Fondo Mundial para la Naturaleza, 1993.
GOELDNER, Charles R.; RITCHIE, J.R. Brent; McINTOSH, Robert W. Turismo: princpios, prticas e
filosofias. Porto Alegre: Bookman, 2002. ISBN 85-7307-937-1
GUIMARES, Mauro. A formao dos educadores ambientais. Campinas: Papirus, 2004.
HEEMAN, Ademar. Natureza e sociedade: a controvrsia sobre os alicerces da conduta humana.
Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 1, p. 9-19, jan./jun. 2000. Editora da UFPR. Disponvel em
<http://www.googleacadmico.com.br> Acesso em: jul. 2006.
HEISENBERG, Werner. Physics and Philosophy. New York: Harper and Row, 1958.
HORTON, Myles; FREIRE, Paulo. O Caminho Se Faz Caminhando. So Paulo: Vozes, 2009.
HUSSERL, Edmund. La Filosofia como Ciencia Estricta. Buenos Aires: Terramar, 2007.
JAEGUER, Werner. Paideia: A formao do homem grego. So Paulo: Martins Fontes, 1995.
LEO, M. Rocha. Central de Triagem de Lixo de Tamandar: uma alternativa ao planejamento do
turismo responsvel. Dissertao (Especializao em Educao Ambiental) Faculdade Frassinetti do
Recife, 2008. Disponvel em <http://profamorganaleao.spaces.live.com>, Arquivo pblico.
LEFF, E. Epistemologia Ambiental. So Paulo: Cortez, 2001.
MANDELBROT, Benoit. Objetos Fractais. Lisboa: Gradiva, 1998. ISBN 9726622158.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alem. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
___________. O Capital - Crtica da Economia Poltica. So Paulo: Abril Cultural, volumes 1, 2 e 3,
1983.
MATURANA R., Humberto; VARELA GARCIA, Francisco J.; ACUA LLORENS, Juan. De mquinas e
seres vivos: autopoiese: a organizao do vivo. 3. ed. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997. ISBN 8573073020.
MELO, Rosemeri Santos de. A Dimenso Ambiental da Educao e as Redes de Informao e
Conhecimento. Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental, vol. 5, p. 7-17, jan./fev./mar. 2001.
ISSN 1517-1256. Departamento de Educao, Universidade Federal de Sergipe UFS. Fundao
Universidade Federal do Rio Grande. Disponvel em <http://www.furg.br> Acesso em: jul. 2006.
MENDES, A.D. Breve itinerrio dos ecossistemas ecopoesia: achegas para o seu traado (11 - 27).
In BURSZTYN, M. (Org.) Para Pensar o Desenvolvimento Sustentvel. So Paulo: Brasiliense, 1993.
MINAYO, M.C. de S. (org.) Pesquisa Social: teoria, mtodo e criatividade. 16 ed. Petrpolis: Vozes,
2000.
MORIN, E. Os Sete Saberes necessrios Educao do Futuro. So Paulo: Cortez Editora, v.1, 2003.
___________. Cincia com Conscincia. So Paulo: Bertrand Brasil, 1996.
___________. Introduo ao Pensamento Complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.
NASH, Paul. Autoridade e Liberdade na Educao: uma introduo Filosofia da Educao. Rio de
Janeiro: Bloch Editores, 1968.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Humano Demasiado Humano. Coleo Grandes Obras do
Pensamento Universal. So Paulo: Editora Escala, vol. 42, 2000.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, La das Graas Camargos. Docncia no Ensino Superior. So
Paulo: Cortez Editora, 2002.
PRIGOGINE, Ilya. As Leis do Caos. So Paulo: UNESP, 2002.
PROUST, Marcel. O Tempo Redescoberto. So Paulo:Globo, vol. 7, 1995.
SATO, M. Educao para o Ambiente Amaznico. Tese (Doutorado) Universidade Federal de So
Carlos, 1997. Disponvel em <http://googleacademico.com.br> Acesso em set. 2008.
________. How the Environment is Written: A Study of the Utilisation of Textbooks in
Environmental Education in Brazil and England. Norwich: M. Phil. Thesis, University of East Anglia, 1992.
TAYLOR, J., WACKER, W. The 500 Year Delta: What happens after what comes next. New York:
Harper-Collins, 1997.
VANCOURT, Raymond. A Estrutura da Filosofia. So Paulo: Livraria Duas Cidades, 1964.
Joo Pessoa, outubro de 2011

205

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

206

USO DE TRILHA DE EDUCAO CIENTFICA E AMBIENTAL PARA


APRENDIZADO DE CONCEITOS ECOLGICOS
Adriana Rosa CARVALHO
Docente do Departamento de Botnica, Ecologia e Zoologia UFRN
Email: adriana.carvalho@pq.cnpq.br
Jssica Adrielly da Costa PENHA
Discente do curso de Ecologia, UFRN
Email: jessicaadrielly@hotmail.com
Natlia Carvalho ROOS
Discente do curso de Ecologia, UFRN
Email: nataliaroos@hotmail.com

RESUMO
O presente estudo tem como objetivo avaliar a eficincia da aprendizagem de conceitos ecolgicos
utilizando uma trilha de educao cientfica e ambiental de um fragmento florestal de Mata Atlntica. Para
isso, quatro grupos de visitantes realizaram uma atividade dividida em trs etapas: 1) Aplicao do
questionrio (pr-teste); 2) Visita a trilha e abordagem dos temas do questionrio; 3) Aplicao do
questionrio (ps-teste). A partir da correo e anlise dos questionrios foi possvel comprovar que a
diferena entre o pr-teste e o ps-teste foi estatisticamente significativa para todos os grupos de
visitantes (p =0.0000). Com o uso da trilha e aplicao de conceitos ecolgicos possvel que o indivduo
interaja com o meio ambiente e promove uma reflexo a cerca da importncia dos servios ecossistmicos.
Palavras-chave: Trilha. Educao ambiental e cientfica. Mata Atlntica. Pr-teste. Ps-teste.
INTRODUO
A Mata Atlntica brasileira um dos hotspots mundiais e considerada uma rea prioritria para
conservao (Conservation International do Brasil, 2005), visto que restam hoje apenas cerca de 7,9% de
sua rea original de 102.012 km e se estende do Rio Grande do Norte at o Rio Grande do Sul (Fundao
SOS Mata Atlntica e INPE, 2010).
Para remediar as perdas de ecossistemas brasileiros, como o que ocorre na Mata Atlntica,
vrios programas que focalizam a conscientizao ambiental de adultos, tm sido executados como forma
de integrao social e poltica (Gaudiano, 2003; Marin et al., 2003; Barbosa et al., 2004). Mais
recentemente projetos de Educao Cientfica-Ambiental tm sido testados com o intuito de educar sobre
aspectos ambientais com fundamentao cientfica terica e prtica envolvendo atividades ao ar livre
(como em trilhas) e em laboratrio. (Curado e Angelini, 2006; Angelini et al., 2011). As trilhas em reas
naturais como parques, estaes experimentais, reservas, ou mesmo em manchas de vegetao ou locais
com potencial paisagstico so frequentemente usadas como ferramenta para educao ambiental (Saito,
2000; Padua & Tabanez, 1998). Contudo o uso destes habitats para Educao Cientfica tem sido criticado
por no dar nfase a temas como biodiversidade e conservao (Bride, 2006) e por explorar e contribuir
pouco com a compreenso que as pessoas tm sobre diversidade biolgica e os benefcios de sua
restaurao (Bizerril, 2004; Randler et al., 2005).
Juntamente com a Educao Ambiental, a Educao Cientfica pode promover o ganho e a fixao
de conhecimentos ecolgicos utilizando os objetos da natureza para conhecer, atravs de uma metodologia
coerente, suas formas, caractersticas e processos propiciando conhecimento, no apenas sobre os
fenmenos que determinam a dinmica da vida destes objetos, mas fundamentalmente estabelecendo as
relaes quali e quantitativas do conhecimento, unindo a sabedoria e a cincia (Bellini, 1993).
O fragmento de mata atlntica que existe no campus da UFRN oferece condies para aplicao de
metodologias de Educao Cientfica-Ambiental, pois alm de aspectos naturais caractersticos de
vegetao de mata atlntica, este habitat est sobre presso antrpica constante e atualmente h projetos
didticos de restaurao em desenvolvimento no local, de forma que temas como biodiversidade,
conservao e a compreenso dos visitantes sobre estes temas podem ser exemplificados e quantificados
aps a experincia na trilha. Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi testar a eficincia do uso da trilha
no aprendizado de conhecimentos ecolgicos testando as seguintes hipteses: i) Existe ganho de

Joo Pessoa, outubro de 2011

207
conhecimentos gerais aps visitao trilha; ii) A visita e os esclarecimentos aumentam a percepo das
mltiplas funes ecolgicas de algumas espcies e seus benefcios para a sociedade.
MATERIAL E MTODOS
rea de estudo
O estudo foi conduzido em uma trilha aberta e inaugurada em Setembro de 2010 no fragmento de
Mata Atlntica do campus da UFRN. O fragmento de mata possui uma rea aproximada de 15.500m e uma
composio florstica formada por espcies tpicas da Mata Atlntica, da restinga arbrea e arbustiva e
tambm espcies de formao savnica desta poro da regio setentrional do nordeste Brasileiro. A trilha,
denominada Trilha dos Saguis possui cerca de 450m de extenso (Figura 1).

Figura 1- Localizao da reserva de Mata Atlntica no campus da UFRN. (Linha azul: desenho da
Trilha de Educao Cientfica e Ambiental).
METODOLOGIA
Foi elaborada uma atividade para ser aplicada em um perodo do dia e que se dividiu em trs
etapas. A primeira etapa da atividade foi realizada em sala de aula e objetivava avaliar os conhecimentos
prvios de cada visitante sobre os temas abordados. Para isso, foi aplicado um questionrio (chamado prteste) que continha 10 questes objetivas que abordava vrios temas tais como: endemismo, caracterstica
do Pau-brasil, funo da serrapilheira e de rvores no microclima, tipos de disperso de sementes,
importncia de vegetao em barrancos, funo de espcies pioneiras, e fragmentao de hbitas. Na
segunda etapa, os visistantes percorreram a Trilha dos Saguis acompanhados por duas monitoras que,
abordaram os temas do questionrio exemplificando in situ situaes que auxiliavam na compreenso dos
vrios assuntos. Para esta etapa foram estabelecidos 8 pontos de parada e a cada um deles as explicaes
eram fornecidas e as perguntas esclarecidas. Por fim na terceira etapa os visitantes responderam ao
mesmo questionrio (chamado de ps-teste) para que fosse possvel verificar o ganho de conhecimento de
conceitos ecolgicos com o uso da trilha.
Para verificar se houve ganho de conhecimentos, os acertos de cada visitante respondente no pr e
no ps-teste foram comparados usando o teste t pareado simples.
RESULTADOS

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

208
No total, 53 pessoas de quatro diferentes grupos de visitantes percorreram a trilha no primeiro
semestre de 2011, sempre no perodo da manh e acompanhadas por duas monitoras do curso de
Graduao em Ecologia da UFRN. O primeiro grupo era composto por professores da rede pblica de
ensino (N = 14); o segundo foi uma turma de alunos de graduao em Cincias Biolgicas (N = 26); o
terceiro foi uma turma de alunos de graduao em Engenharia Eltrica (N = 10); e o ltimo grupo era
composto por trs alunos que participavam da Semana do Meio Ambiente da UFRN e se inscreveram em
percorrer a trilha.
A correo dos questionrios foi feita de forma que cada questo respondida corretamente valia 1
ponto. Como o questionrio continha 10 perguntas, o valor mximo que um participante poderia atingir
seria 10. Na comparao entre pr e ps teste, por grupo, no foram includos os alunos que participavam
da semana do Meio Ambiente devido ao baixo nmero amostral neste grupo (N=3). A diferena entre as
mdias de pr-teste e o ps-teste para todos os grupos foi significativa e a maior diferena entre o
desempenho antes e aps percorrer a trilha foi observada no grupo de alunos da engenharia eltrica e com
exceo deste grupo, o desvio padro do ps teste foi sempre menor do que no pr teste (Tabela 1).

Grupo de visitantes
Professores da
Rede Pblica (N=14)
Alunos de Biologia
(N = 26)
Alunos de Engenharia
Eltrica (N = 10)
Todos visitantes
(N= 53)

Mdia
pr-teste

Mdia
ps-teste

Diferena
entre mdias

d.p do pr
e ps-teste

Valor de p

Valor de t

6,37

8,58

2,21

1,33; 0,85

0,000021

-6,48034

6,43

8,56

2,13

1,21;0,67

0,000000

-8,84036

5,81

8.12

2,31

0,90; 0.97

0.000020

-8,08384

6.39

8.52

2,13

1,20; 0.79

0,000000

-13,3237

Tabela 1 Comparao entre mdias do pr e do ps-teste dos trs grupos que percorreram a
Trilha dos Saguis na UFRN em 2011 (d.p = desvio padro; valores de t em negrito indicam diferena
significativa entre as mdias do ps e do pr-teste; os trs visitantes da Semana do Meio Ambiente esto
inclusos na comparao geral).
No pr-teste as questes em mdia que tiveram mais acertos foram as questes 2 e 7, que
tratavam do habitat tpico do Pau-brasil e de eroso do solo, respectivamente. No ps-teste estas duas
questes obtiveram 100% de acerto para todos os grupos. No entanto, como houve alta porcentagem de
acerto antes da visita a trilha, a diferena entre pr e ps-teste para estas questes foi pequena (acertos no
pr-teste: questo 2 - 96,2% e questo 7 - 92,4%). As questes que em mdia tiveram menos acertos no
pr-teste foram as questes 1 e 9, que tratavam de endemismo e espcies pioneiras. Apenas 39,6% dos
visitantes acertaram a resposta a questo 1 no pr teste e aps percorrerem a trilha a questo 1 obteve
100% de acerto para todos os grupos. Da mesma forma, no pr teste apenas 38,1% dos visitantes
acertaram a resposta a questo 9, contudo no ps-teste houve apenas uma pequena melhora, passando a
55,6% de acerto.
DISCUSSO
Os objetivos de uma trilha podem ser desdobrados em vrios pontos relacionados experincia,
percepo e interpretao ambiental (Guimares, 2006) e permite que se use conceitos ecolgicos
propiciando que o indivduo possa interagir com o meio ambiente e refletir sobre a importncia dos
servios ecossistmicos.
A metodologia utilizada aqui tem algumas limitaes. Por exemplo, no permite ainda avaliar
a fixao de conhecimentos, uma vez que para isto seria necessrio que aps algum tempo depois da visita
os visitantes fossem novamente contatados para investigarmos se os conhecimentos adquiridos foram
cognitivamente incorporados, como feito por Curado e Angelini (2006). Alm disso, h evidncias recentes
de que as diferenas entre mdias observadas em atividades de Educao Cientfica-Ambiental so
crescentes quando as atividades so realizadas de forma contnua e em mais de um dia de atividade (e.g.
Joo Pessoa, outubro de 2011

209
Angelini, et al., 2011). Nosso delineamento ainda no permitiu aplicar nenhuma das duas propostas, mas
estes so desdobramentos futuros dos resultados gerados que certamente sero includos. No entanto,
vrios outros estudos em diferentes reas tm demonstrado a efetividade dos resultados mesmo quando
as atividades so realizadas em uma nica visita (e.g. Sharp et al, 2005; Sebasto e Cavern, 2006). Outra
crtica comum de que muitas vezes o programa desenvolvido resume-se a uma simples difuso de
informaes tcnicas a respeito dos ecossistemas locais, diminuindo a eficcia das trilhas interpretativa
como um instrumento efetivo de educao ambiental (Di Tullio, 2005). Para evitar incorrer nesta limitao,
foram includos temas que se aplicam a outros biomas e que puderam ser extrapolados para outros
ecossistemas, como por exemplo: espcies pioneiras, disperso de sementes e fragmentao de habitat. As
abordagens citadas acima podem aumentar a eficcia do uso de trilhas, e todas elas usam sistemas de
avaliao (conforme descrito em Pdua e Tabanez, 1997) como um instrumento para verificar o efeito da
visita sobre o conhecimento dos visitantes e para avaliar os objetivos e metas do programa desenvolvido.
Este sistema foi usado na atividade desenvolvida na Trilha dos Saguis e nos possibilitou verificar
que o conhecimento adquirido durante o percurso da trilha aumentou para todos os grupos. A maior
diferena entre pr e ps-teste no grupo de alunos do curso de engenharia eltrica indicou que neste grupo
houve ganho de conhecimentos em relao ao contedo de informaes que cada um detinha ao chegar
para a visita na trilha. Isto ocorreu porque a rea de formao deste grupo de alunos tem foco em cincias
exatas como matemtica e fsica e as informaes repassadas na trilha foram novidade para a maioria
deles. Pela mesma razo, os alunos de biologia obtiveram as maiores notas tanto no pr-teste quanto no
ps-teste, uma vez que estes alunos possuem tanto maior interesse no tema quanto conhecimento prvio
sobre o assunto. Apesar de estes alunos estarem todos no 1 perodo, isto j lhes possibilitou mais contato
com conceitos de Biologia e Ecologia em comparao com os outros grupos.
O grupo de professores da rede pblica obteve as segundas maiores notas no pr-teste mostrando
um relativo conhecimento em Cincias Biolgicas e Ecologia no geral. Isto pode ter decorrido porque o
grupo composto principalmente de professores graduados em Cincias Biolgicas (10 professores).
Outros 4 professores possuam graduao em cursos como Fsica, Matemtica ou Farmcia e dois eram
formados em pedagogia. Como a maioria leciona disciplinas como Cincias e Biologia, eles se mantm se
no atualizados, pelo menos informados para ministrar esta disciplina aos alunos.
O resultado final obtido para todos os visitantes em conjunto, foi muito influenciado pelos
alunos da Biologia, uma vez que eles compunham a maior parte da amostra (49,1%). Assim, na anlise
conjunta de todos os grupos o desvio padro do ps-teste foi menor que o desvio padro do pr- teste
indicando que de maneira geral, houve homogeneizao do conhecimento entre os visitantes que
percorreram a trilha, de forma que diminuram as diferenas entre aqueles que detinham informaes
sobre o ecossistema e os aspectos abordados durante a visita e aqueles que sabiam pouco ou nada a
respeito do ambiente. Apenas entre os alunos do curso de engenharia eltrica no teve grande mudana
no valor do desvio observado antes e aps a visita. Isto indica que neste grupo, a diferena no
conhecimento entre os indivduos se manteve, porm foi evidente o ganho de conhecimentos uma vez que
as mdias de acerto no ps-teste foram bem maiores.
Assim, embora os alunos do curso de engenharia eltrica tenham iniciado a trilha com menos
conhecimento geral, eles finalizaram a trilha com praticamente o mesmo ganho de informaes, quando
comparados entre os outros grupos.
Os temas abordados nos questionrios so, no geral, comentados no cotidiano, como os assuntos
que se referem Mata Atlntica, Pau-brasil, biodiversidade e eroso do solo. Isto explica o maior nmero
de acertos em algumas questes, como ocorreu nas questes 2, 6 e 7 que tratam dos temas citados acima.
Questes como a 4, 5, 8, 9 e 10 obtiveram o menor nmero de acertos, pois alm de tratarem de
assuntos no triviais (como espcies pioneiras na questo 9), estas questes possuam mais de uma
alternativa correta e no pr-teste os participantes em geral marcaram apenas uma alternativa correta. Este
comportamento se modificou no ps-teste em especial nas questes 4, 5 e 10 que abordavam disperso de
sementes, serrapilheira e fragmentao de habitat nas quais a maioria dos participantes acertou 100%. A
percepo de mais de uma alternativa correta para estas questes denota que os visitantes passaram a
compreender mltiplas funes de um mesmo elemento no ecossistema, aumentando sua viso e
compreenso do todo.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

210
As atividades de Educao Ambiental ou Cientfica realizadas em trilhas, e em especial dentro
de Universidades, normalmente so uma atividade de extenso a alunos do ensino fundamental e mdio
(Pasqualetto e Mello, 2007; Matarezi et al., 2000). Diferentemente, neste estudo os visitantes eram alunos
da prpria universidade e professores da rede pblica, caracterizando a atividade como uma extenso
comunidade universitria e a funcionrios da rede pblica. As perspectivas futuras so de que o pblico
alvo seja ampliado s crianas do ensino fundamental e mdio e aos funcionrios da universidade, para que
a rea possa ser mais bem conhecida e utilizada pelo pblico em geral. Isto possibilitar que os
conhecimentos abordados durante a visita sejam cada vez mais difundidos entre diferentes grupos,
ampliando a compreenso da necessidade de preservao desta rea e as vantagens em servios
ecolgicos e bem-estar que este ecossistema propicia.
REFERNCIAS
BARBOSA, F.A.R.; SCARANO, F.R.; SABAR, M.G.; ESTEVES, F.A. 2004. Ecosystem and biodiversity
information in support of decision-making. Environmental Monitoring and Assessment, Brazilian LTER: v. 90,
p.121-133, 2004.
BELLINI, L.M. 1993. Afetividade e cognio: conceito de auto-regulao como mediador da
atividade humana em Reich e Piaget. Tese de doutorado em Psicologia Social USP-SP.
BIZERRIL MXA, 2004. Childrens perception of Brazilian cerrado biodiversity and landscapes. The
Journal of Environmental Education, 35:47-58.
BRIDE I.:2006. The conundrum of conservation education and the conservation mission.
Conservation Biology, 20:1337-1339.
CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL. Referncia obtida na Internet <
http://www.conservation.org.br>. Acesso em 09 de julho de 2011.
CURADO, P.M; ANGELINI, R. 2006. Avaliao de atividade de Educao Ambiental em trilha
interpretativa, dois a trs anos aps sua realizao. Acta Scientiarum, 28: 395-401.
DI TULLIO. 2005. A abordagem participativa na construo de uma trilha interpretativa como uma
estratgia de educao em So Jos do Rio Pardo. Dissertao de mestrado em Cincias da Engenharia
Ambiental, USP SP.
FUNDAO SOS MATA ATLNTICA, INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE). Atlas
dos remanescentes florestais da Mata Atlntica, perodo 2008-2010, relatrio parcial. So Paulo, 2010.
120p.
GAUDIANO, E.G. 2003 Education for the environmental citizenship. Intercincia, v. 28, p. 611-615.
GALINDO, L. C.; CMARA I. G.2005. Status do Hotspot Mata Atlntica: uma sntese. Belo Horizonte.
Fundao SOS Mata Atlntica/ Conservao Internacional Brasil.
GUIMARES, S. T. Trilhas Interpretativas e Vivncias na Natureza: reconhecendo e reencontrando
nossos elos com a paisagem. Anais do I Congresso Brasileiro de Planejamento e Manejo de Trilhas. Rio de
Janeiro:
UERJ,
2006.
Disponvel
em:
http://homologa.ambiente.sp.gov.br/EA/adm/admarqs/Solange_Guimaraes01.pdf. Acesso em: 20 mai.
2011
IBGE. Referncia obtida na Internet. <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 17 de junho de 2011
MARIN, A. A.; OLIVEIRA, H.T.; COMAR, V. 2003. Environmental education in a context of the
complexity of theoretical perception. Intercincia, v. 28, p. 616-619.
MATAREZZI, J.; BONILHA, L.E.C.; MENTGES, T.; 2002. Educao Ambiental comunitria na zona
costeira brasileira e o papel da Universidade. Laboratrio de Educao Ambiental em reas Costeiras LEA,
Centro de Ensino de Cincias Tecnolgicas da Terra e do Mar - CTTMar, Universidade do Vale do Itaja
UNIVALI.
PDUA, S. M.; TABANEZ, M.F. 1997. Educao Ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Braslia:
Instituto de Pesquisa Ecolgica.
PASQUALETTO, A.; MELO, E. L. 2007. Trilha sensitiva no Memorial do Cerrado da Universidade
Catlica de Gois. Revista Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental. V. 18. Rio Grande do Sul.
Disponvel em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vol18/art8v18a1.pdf>. Acesso em 07 de julho de 2011.
RANDLER C, Ilg A & Kern J, 2005. Cognitive and emotional evaluation of an amphibian conservation
program for elementary school students. The Journal of Environmental Education, 37:43-52.
Joo Pessoa, outubro de 2011

211
SAITO, C.H. 2000. Educao Ambiental na Cachoeira do Morumbi (Planaltina DF). Dupli Grfica
Editora (DF).
SHARP, J. G.; KUERBIS, P. et al, 2005. Childrens ideas about the Solar System and the chaos in
learning science. Science Education, 90(1), 124-147.
SEBASTO, S.N.J; CAVERN, L. 2006. Effect of pre and post trip activities associated with a residential
and environmental education experience on students attitudes toward the environment. Journal of
Environmental Education; 37: 3-17.
TABANEZ, M. F. 1998. Educao Ambiental. Caminhos Trilhados no Brasil. Editora do MMA e FNMA
(Braslia-DF).
TILDEN, F. 1967. Interpreting our Heritage. The University of North Carolina Press, Chap & Hill.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

212

A NOVA FUNCIONALIDADE DA PAISAGEM NATURAL: ECOTURISMO EM


PETRPOLIS RJ
Paula da Silva Manhes55
Renata Barreto Villaa56
Lilia dos Santos Seabra57

RESUMO
O presente trabalho tem como rea de estudo o municpio de Petrpolis-RJ, aonde certas
localidades vem apresentando a prtica de atividades de ecoturismo o que contribui para o
desenvolvimento de diversos setores da cidade como o hoteleiro, comercial e companhias tursticas. Isso
porque se observa uma tendncia de um iderio de qualidade de vida associado ao campo, fazendo
emergir uma grande procura por atividades de lazer e turismo em locais onde a paisagem natural
predomina. Logo, toda essa funcionalizao na cidade vem trazendo uma nova dinmica espacial e um
grande dinamismo econmico. No obstante, essa nova atividade econmica pode ser bastante severa com
o meio ambiente que, apesar de explorado por alguns, trata-se de um bem de todos.
PALAVRAS-CHAVE: Ecoturismo, Paisagem, Meio Ambiente
INTRODUO
A cidade vem apresentando uma atividade ecoturstica bastante peculiar, pois at ento, o turismo
histrico era predominante. Porm, o antigo espao de turismo histrico vem dividindo lugar ao novo
espao, com o ecoturismo.
Est sendo percebido que o fenmeno ecoturstico vem se realizando em vrias partes da cidade,
porm mais evidente nas reas que possuem seu ambiente natural em grande proporo. E com essa
nova atividade na cidade, possvel perceber a utilizao desse espao por diversos setores, com destaque
para o tercirio, com atividades que se realizam em funo do ecoturismo, dentre elas, o hoteleiro, o
comercial, as companhias que visam os esportes de aventura e a habitacional. Logo, toda essa
funcionalizao na cidade est influenciando nos hbitos e principalmente na atividade econmica local.
Observa-se, tambm, o discurso da necessidade de prticas tursticas que no agridam o
Meio Ambiente, e com isso naturalizando um conceito que no deve ser simplificado, fazendo com o que o
mesmo seja interpretado e (re)interpretado de diversas possibilidades e aes.
Algumas reas da cidade de Petrpolis possuem certas tendncias, as quais o espao natural tende
a ser cada vez mais valorizado por tudo o que ele se ope a cidade e o que ela representa (estresse,
agitao, baixa qualidade de vida, etc.). Sendo assim ocorre a emergncia de um discurso em que o verde,
e o que ele representa, possui certa prioridade.
UM ESTUDO PRVIO SOBRE ECOTURISMO
Segundo a Organizao Mundial do Turismo o ecoturismo tem um crescimento maior que 20% ao
ano, enquanto as outras modalidades de turismo crescem aproximadamente 7,5%, ou seja, cerca de trs
vezes mais. A busca por esse tipo de atividade est ligada necessidade das pessoas sarem da vida agitada
e estressante do meio urbano, da maior conscincia ecolgica e da preocupao com o meio ambiente
(EMBRATUR, 1994).
O Ecoturismo muitas vezes tem seu sentido deturpado, pois em voga a questo ambiental pensa-se
que, praticando esse tipo de turismo, est auxiliando para a conservao das reas verdes e causando
menos impacto. Porm no se percebe que a rea que recebe uma atividade desse porte, sem nenhum
estudo e planejamento prvio, apresenta um grande impacto negativo.
55

Estudante de graduao em Geografia com nfase em Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro UERJ/FEBF - Estagiria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE
paula.manhaes@bol.com.br
56
Estudante de graduao em Geografia com nfase em Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro UERJ/FEBF - Professora da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias-RJ renatavillaca@ig.com.br
57
Trabalho produzido partir da disciplina de Metodologia da Pesquisa em Geografia pela Prof. Dr. Lilia dos
Santos Seabra
Joo Pessoa, outubro de 2011

213
Afirma Yzagi (1998), que o prefixo eco pretende ter um efeito moralizante. Sendo assim, o
ecoturismo apresenta-se carregado de ideologias e intenes que precisam ser identificadas.
A EMBRATUR conceitua o ecoturismo como um segmento da atividade ecoturstica que utiliza de
forma sustentvel o patrimnio natural e cultural, incentiva sua conservao e busca a formao de uma
conscincia ambientalista atravs da interpretao do ambiente, promovendo o bem estar das populaes
envolvidas.
Com isso entendido a tomada de conscincia dos problemas ambientais, exigindo assim
mudanas nas atividades humanas.
Segundo Western, (1995), citado por Figueiredo
O ecoturismo provocar e satisfazer o desejo que temos de estar em contato com a natureza,
explorar o potencial turstico visando conservao e o desenvolvimento, evitar o impacto negativo
ecologia, cultura e esttica. (WESTERN, 1995)
Alm do que o turismo uma atividade econmica com grande crescimento nas ltimas dcadas
no Brasil, onde existem reas naturais sendo exploradas e valorizadas por ricos patrimnios histricoculturais, dando caracterstica ao turismo ambiental, ou seja, o ecoturismo. (Figueiredo, 2000)
O ecoturismo um segmento dentro do turismo que em muitas reas est sendo mal
explorado, e os impactos negativos causados por ele j se manifestam. No basta apenas desenvolver o
ecoturismo, preciso um planejamento turstico para se obter o turismo sustentvel.
De acordo com Ruschmann (1997, p. 83) o planejamento uma atividade que envolve a inteno
de estabelecer condies favorveis para alcanar objetivos propostos
Aponta a necessidade do planejamento e desenvolvimento do turismo nas seguintes situaes:
locais em as empresas esto se estabelecendo com sucesso, locais de crescimento acelerado da demanda
turstica, locais que o turismo no se desenvolveu satisfatoriamente e locais que o turismo j apresenta
seus impactos negativos ( BOUND-BOVY & LAWSON (1977), apud RUSCHMANN, 1997, p. 86 ).
O planejamento turstico deve ser cauteloso, pois os impactos negativos causados pelo turismo so
de grandes propores. A presena do ecoturismo no meio natural causa impactos nos ecossistemas
devidos principalmente necessidade de implantao de servios, equipamentos, alojamentos. A ocupao
turstica na natureza provoca uma srie de desequilbrios na regio.
A turistificao das paisagens ou o processo de mudana de um lugar para adequ-la funo
turstica, na maioria das vezes no consegue sincronizar o ritmo e o volume da explorao dos recursos
com a capacidade que o meio oferece de suportar esta explorao. (SALVA 1996, p. 193)
Como o ecoturismo depende dos recursos naturais para se efetivar, um dos segmentos do
turismo que mais causa danos ao meio ambiente. Alm disso, possui uma particularidade que a
valorizao da natureza como produto, como mercadoria para os turistas, gerando um novo mercado, o
chamado ecoturismo, com indivduos que supem que no esto submetidos ao marketing e ao turismo de
massa, mas sim, ao desejo de retornar natureza.
PAISAGEM: CENRIO PARA O ECOTURISMO
A relao entre paisagem e turismo marcada pela ambigidade, pois traz efeitos negativos e ao
mesmo tempo positivos ao ambiente. Alm disso, a paisagem est intimamente ligada a uma nova maneira
de ver o mundo como uma criao racionalmente ordenada e em um estado de equilbrio.
Segundo Pires (1999) a paisagem implica uma percepo sensorial e isso supe um subjetivismo
que se manifesta quando desejamos fazer qualquer valorao a seu respeito. Isso quer dizer que, a
paisagem, muito mais do que algo esttico e de servir para um cenrio, ele resultante de aes passadas
e presentes tanto naturais quanto humanas.
Para Milton Santos, paisagem e espao no so iguais. A paisagem ou configuraes territorial so
os elementos naturais e artificiais que caracterizam uma rea que se pode abarcar com a viso. O espao
seria um conceito mais amplo.
A paisagem um conjunto heterogneo de formas naturais e artificiais; formada por fraes de
ambas, seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critrio. A paisagem
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

214
sempre heterognea. A vida em sociedade supe uma multiplicidade de funes, e quanto maior o nmero
dessas, maior a diversidade de formas e de atores. (SANTOS, 2008, p. 71)
A atratividade dos lugares, paisagens naturais ou construdas, precisa ser constantemente vendida,
ento ela constantemente recriada, ou melhor, padronizada em estilo, esttica e atendimento (Luchiari,
1998).
Assim, a valorizao da paisagem para essas atividade possvel em funo do contedo simblico
prvio do qual ela se encontra revestida e, principalmente, pela sua dimenso visual que constitui o
principal apelo de atratividade, com freqncia desencadeada para compor, juntamente com o aporte de
meios e servios, a oferta de uma destinao turstica (Pires, 2001).
Esse olhar que foi despertado para as atividades ecotursticas, em parte estimulado pelos meios
de comunicao, visando o retorno a uma vida buclica que o processo avassalador de urbanizao no
tem condies de conservar. Assim, a paisagem natural converte-se em cenrio, onde os visitantes buscam
reencontrar valores eliminados da vida cotidiana pelo progresso. Tal fato se traduz pela busca do autntico,
pela necessidade de paz, tranqilidade e repouso, pela valorizao da gastronomia local, tudo em nome da
recuperao do equilbrio pessoal (Rodrigues, 2000).
Em vista dessa concepo, podemos perceber que a paisagem uma forma natural, aonde o
homem se apropriou, dominou por completo e que em seguida utilizou para trazer benefcios a si, inclusive
para o ecoturismo. entendido que a paisagem o item primrio e principal quando se trata de atividades
ecotursticas, pois as mesmas ocorrem em um lugar que possui uma paisagem atraente.
Em vista, a paisagem torna-se um carto de visita bastante interessante para os visitantes e
turistas, pois a partir dessa visualizao que se torna bsico o exerccio do Ecoturismo. Alm do que essa
atividade possui diversas finalidades, que vo desde ao turismo de aventura rafting e montanhismo - at
ao simples contato com a natureza, por meio de caminhadas ou at mesmo de visitao para visualizao.
Portanto, dentre todas essas possveis atividades que se torna necessria a paisagem. Alm do que, para
se entender a finalidade das atividades ecotursticas, se faz necessrio entender que a paisagem de suma
importncia, e nela que ao mesmo tempo serve para promover um marketing natural, e tambm serve
para realizar atividades prprias do ecoturismo.
BREVE HISTRICO DE PETRPOLIS

FIGURA 1: Mapa de localizao de Petrpolis.Fonte: Plano de Manejo da APA de Petrpolis


Petrpolis um dos municpios que compe da Regio Serrana do Estado Rio de Janeiro, com cerca
de 306 mil habitantes (IBGE, 2007) rota de intenso fluxo turstico, sobretudo o Turismo Histrico. Essa
cidade est dividida em cinco distritos, so eles: Petrpolis, Cascatinha, Itaipava, Pedro do Rio e Posse.
Joo Pessoa, outubro de 2011

215
A cidade reconhecida por ser o cenrio da Histria Imperial Brasileira, pois est intimamente
ligada ao Imperador D. Pedro I e ao Padre. Correia. Desde que o Imperador pernoitou na fazenda do padre,
de passagem pelo Caminho do Ouro que o levaria s Minas Gerais, ficou encantado com a exuberncia e
amenidade do clima. Foi seu anseio ento, adquirir a propriedade para seu uso e tambm por sentir a
necessidade de construir um palcio fora do Rio de Janeiro, pois recebia muitas visitas da Europa no
habituadas ao calor tropical. Construir um palcio na fazenda do Padre Correia seria muito oportuno pelo
excelente clima da regio que agradaria aos visitantes estrangeiros. Consciente ou inconscientemente,
incomodava tambm ao Imperador, residncias muito mais luxuosas que os seus palcios, todos eles muito
simples. Um palcio de vero serra acima poderia ser mais qualificado para a sua condio imperial
(Rabao,1985).
Durante o 2 Reinado a cidade se desenvolvia rapidamente por fora da presena do Imperador e
de sua corte, nas temporadas do vero petropolitano. Nobres, polticos, diplomatas, grandes senhores e
todo seu entourage, ricos negociantes e a intelectualidade da poca se transferia para Petrpolis,
durante um semestre a cada ano. Palacetes eram construdos para morada dessa gente abastarda. Quem
no tinha moradia se hospedava em hotis e casas de famlia. E a cidade assumia um aspecto
elegante. Muitos desses palacetes, hoje fazem parte do patrimnio arquitetnico do Centro Histrico da
cidade, cuja preservao imprescindvel para o desenvolvimento turstico e cultural de Petrpolis.
(Taulois, 2007)
A partir de 1960 a Prefeitura de Petrpolis planejou e organizou o setor de turismo e cultura e uma
extensa rede de facilidades foi sendo oferecida ao turista como informaes, eventos, pousadas e hotis,
restaurantes e outras atraes cheias de requinte e particularidades, capazes de atrair o interesse do
visitante.
Tanto no Imprio como na Repblica, Petrpolis se desenvolveu sempre estimulado pela presena
de pessoas ilustres que amaram a cidade e aqui passaram boa parte de suas vidas. Muitos deles esto
sepultados em Petrpolis e foram incorporados ao patrimnio cultural de nossa cidade. Especialmente a
sua rica tradio ligada Famlia Imperial brasileira, em particular a figura de D. Pedro II, passou a ser um
valor significativo para a cidade e um forte apelo para turismo cultural de maior grandeza. Durante o
perodo de decadncia econmico-industrial sua vocao turstica, foi um dos meios de sobrevivncia para
o setor econmico.
ECOTURISMO: ATIVIDADE EM EXPANSO EM PETRPOLIS
Um ponto crucial a ser percebido, que a rea possui uma atividade turstica muito intensa, tanto
no ecoturismo quanto em outros ramos do turismo, dentre eles o cultural. possvel identificar na rea a
existncia de uma srie de empreendimentos como pousadas e hotis, em locais considerados como
buclico, que se encontra afastado da rea central de Petrpolis, e que visam criao de condomnios,
shoppings, atividades ecotursticas, plos gastronmicos e uma gama de atividades direcionadas ao turista.
Atualmente, a cidade reencontra sua funo de estncia ecoturstica, devido ao conforto e as
belezas naturais encontradas na rea. Dessa nova funo turstica que se tm o ecoturismo. Entretanto, o
questionamento camuflado, que Petrpolis por ser uma cidade voltada para o uso turstico, tendo assim
uma infra estrutura como transportes, vias de acesso e servios destinados a esse pblico, percebemos o
incmodo e atropelos na vida da comunidade local - moradores.
E com todo esse investimento na cidade, possvel perceber que existe no mesmo espao de
Petrpolis dois estilos diferentes de turistas. Os que preferem o turismo histrico da cidade e outros que
preferem a atividade ecoturstica.
Medeiros (2002) confirma a potencialidade de Petrpolis para o Turismo Histrico e para o
Ecoturismo:
Assim como o turismo histrico e cultural, Petrpolis tambm apresenta uma vocao natural
para o Ecoturismo, j que o municpio faz fronteira com reas que apresentam bons ndices de preservao,
como as reservas biolgicas do Tingu, do Alcobaa e de Araras e o Parque Nacional da Serra dos rgos.
Alm disso, a cidade oferece uma boa rede hoteleira e um excelente plo de gastronomia, de nvel
internacional, concentrado na regio dos distritos, onde tambm se encontram as principais atraes do
turismo ecolgico da regio.
A partir dos anos 2000 cresceu, consideravelmente, o nmero de pousadas com prticas de
ecoturismo na regio. Das quarenta e cinco pousadas cadastradas na Secretaria Municipal de Turismo de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

216
Petrpolis, vinte e seis foram registradas a partir de 1998, ou seja, partir da criao da rea de Proteo
Ambiental. (GREGRIO, 2009)
O ecoturismo mais presente nos distritos mais buclicos e distantes da cidade, em localidades
como: Corras, Araras, Pedra do Rio e Itaipava onde a constante valorizao da Mata Atlntica e a
propaganda da rea de proteo ambiental atraem turistas de toda a parte.

FIGURA 2: Caminhadas ao ar livre. Fonte: Esporte Verde


Sabendo que a utilizao do ambiente natural com as prticas ecotursticas traz diversos impactos
seja positivo e seja negativo, contudo o nmero de impactos negativos nessas reas da cidade bem
superior, como: A proliferao de edificaes de todos os tipos, para alojamento e permanncias como os
hotis, pousadas e camping; A construo em grande escala de restaurantes e outras atividades comerciais,
que mudam a fisionomia do lugar, alterando a paisagem e modificando simultaneamente a fauna e a flora
da cidade; O entretenimento paisagstico atividades no meio natural com motivao cultural e recreativa:
banhos, navegao, observao da natureza, interpretao ambiental, visualizao de animais e da
vegetao que, ao longo do tempo traz diversas conseqncias como o pisoteamento e a coleta de
mudas; O acmulo de restos de lixos deixados no ecossistema que favorecem a entrada de moscas e ratos,
causando assim um empobrecimento do ecossistema e; a privatizao dessas reas, em que
conseqentemente ficam impossibilitadas ao uso pblico.

FIGURA 3: Prtica de Arvorismo. Fonte: Esporte Verde


Joo Pessoa, outubro de 2011

217

Devido a esses impactos negativos na regio receptora dessas atividades, se faz necessrio diversos
estudos e anlises prvias, que indiquem um pleno conhecimento do Estado em indicar essa rea como
plo ecoturstico. Tem sido visto o fenmeno ecoturstico na cidade de Petrpolis como uma atividade
econmica, que pode degradar, mas tambm que pode ser uma forma de conservao ambiental,
dependendo da forma implementada. O ecoturismo foi desenvolvido nessa rea devido ao grande
potencial ecolgico proporcionando aos visitantes um contato direto com os recursos naturais e com as
culturas das regies visitadas, buscando, sobretudo, uma conscincia ecolgica.

FIGURA 4: Mapa das atividades de Montanhismo em Petrpolis. Fonte: Guia de Petrpolis


Torna-se claro a potencialidade de um setor do ecoturismo que a atividade de Montanhismo.
Pelo fato de uma parte do territrio do Parque Nacional Serra dos rgos est situada em Petrpolis,
visto nesses lugares a proliferao de agncias que tem como princpio a venda de pacotes para o chamado
turismo de aventura, o que contribui bastante para o crescimento dessa atividade ecoturstica.
CONSIDERAES
No decorrer desse trabalho, buscou-se mostrar as intencionalidades do ecoturismo e o modo como
essa atividade vem influenciando a vida e as atividades econmicas em Petrpolis, assim como a sua
localizao ou preferncia locacional. Percebe-se que um novo e atraente produto emergiu no
mercado. Na verdade, no se trata de algo novo, e sim de um novo olhar sobre o que um dia pareceu
atrasado/arcaico em comparao ao urbano, que era caracterizado como moderno.
O sossego do espao dito rural que, dcadas atrs, foi trocado pela vida moderna das cidades,
hoje se exibe como mercadoria de luxo, constituindo-se objeto de desejo para uns e explorao para
outros.
A paisagem natural imprescindvel para a expanso do ecoturismo, e se faz necessria tambm
para abarcar uma propaganda nos meios de comunicaes de valorizao ao meio ambiente. na
paisagem rural que se apresenta a possibilidade de um retorno ao buclico, onde, segundo o novo iderio,
pode ser encontrado o equilbrio e a tranqilidade. E, devido vontade de realizao desse desejo, que a
atividade ecoturstica vem ganhando espao e mercado, no s em Petrpolis, mas desponta-se em todo o
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

218
territrio nacional provido das condies necessrias para a instaurao dessa atividade, ou seja, um lugar
onde a natureza ainda parea intocada pronta para servir de objeto e cenrio de explorao e exibio.
Parece que no se esgota as possibilidades de explorao no sistema capitalista. Trata-se de uma
rede, um emaranhado de fluxos que rompe barreiras, evidenciando a inexistncia de um espao rural e um
espao urbano e o ecoturismo vem a reboque dessa viso, mostrando um novo imaginrio de qualidade de
vida, atrelado ao lazer que s possvel num cenrio natural.
REFERNCIAS
BRASIL. Plano de Manejo da APA de Petrpolis. Braslia, maro de 2007
EMBRATUR. Diretrizes para uma Poltica Nacional de Ecoturismo. Braslia: EMBRATUR, 1994.
FIGUEIREDO, Silvio L. Ecoturismo, Festas e Rituais na Amaznia. Belm NAEA/UFPA, 1999.
FIGUEIREDO, L. A. V. de. Ecoturismo e participao popular no manejo de reas protegidas:
aspectos conceituais, educativos e reflexes, 1997.
GREGRIO, R. S. Petrpolis Cidade Imperial? Da Representao do Espao aos Espaos de
Representao. In: XII Encontro Latino-americano de Geografia, 2009, Montevido. XII EGAL - Caminhando
em uma Amrica Latina em transformao, 2009.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Informaes Estatsticas. Disponvel em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?codmun=330390#>(Acesso em 03/11/2009).
LUCHIARI, Maria Tereza D.P. Urbanizao turstica um novo nexo entre o lugar e o mundo. IN:LIMA,
Luiz Cruz (Org.). Da cidade ao campo: a atividade do saber-turstico. Fortaleza: UECE, 1998.
MEDEIROS, Josemir. Plo de Ecoturismo comea a virar realidade. Disponvel em:
<http://www.petronline.com.br/materias.php?cod=396&mat=1&mes=04&ano=2002&flg=373> (Acesso em
27/11/2009)
PMP Prefeitura Municipal de Petrpolis. Disponvel em: <http:/www.petropolis.rj.gov.br>
RABAO, Henrique J. Histrias de Petrpolis. Petrpolis: Instituto Histrico de Petrpolis, 1985.
RODRIGUES, Adyr Balastreli. Turismo rural no Brasil ensaio de uma tipologia. IN: ALMEIDA,
Joaquim Ancio; RIEDL, Mrio (Org.). Turismo rural: ecologia, lazer e desenvolvimento. So Paulo: EDUSC,
2000.
RUSCHMANN, Dris Van de Meene. Turismo e Planejamento Sustentvel. So Paulo: Papirus, 1997.
SALVA,P. Las Implicaciones scio-culturales Del turismo em El mar Mediterrneo. In LEMOS, A.I.
Turismo e Impactos Scio-Ambientais. So Paulo; Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espao Habitado: Fundamentos Tericos e Metodolgicos da
Geografia. So Paulo: EDUSP, 2008.
TAULOIS, A.E. Histria de Petrpolis. Universidade Catlica de Petrpolis: Instituto Histrico de
Petrpolis, fevereiro de 2007.
YZAGI, Eduardo. Turismo: uma esperana condicional. So Paulo: Plaide, 1998.
WESTERN, D. Definindo o ecoturismo. So Paulo: SENAC, 1995.
IMAGENS
FIGURA
1:
Plano
de
Manejo
da
APA
de
Petrpolis.
Disponvel
em:
<http://sma.petropolis.rj.gov.br/sma/modules/mastop_publish/files/manejo_apa.pdf>. Acesso em 25 jun.
2011
FIGURA 2: Caminhadas ao ar livre. Disponvel em <http://www.esporteverde.com.br>. Acesso em
13 jun. 2011
FIGURA 3: Prtica de Arvorismo. Disponvel em <http://www.esporteverde.com.br>. Acesso em 13
jun. 2011
FIGURA 4: Mapa das Atividades de Montanhismo em Petrpolis. Disponvel no site
<http://guiadepetropolis.wordpress.com/catalogo-de-escaladas/>. Acesso em 10 jul. 2011

Joo Pessoa, outubro de 2011

219

O TURISMO COMUNITRIO E A EDUCAO AMBIENTAL COMO


INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO TURSTICO SUSTENTVEL EM
COMUNIDADES COSTEIRAS DO NORDESTE BRASILEIRO.
Plnio Guimares de SOUSA
Professor Mestre do Instituo Federal de Cincia, Educao e Tecnologia de Pernambuco Campus Barreiros
e-mail: plinio@barreiros.ifpe.edu.br
Vanice Santiago Fragoso SELVA
Professora Doutora do Departamento de Cincias Geogrficas/UFPE.
Coordenadora do Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da UFPE.
e-mail: vanice.selva@gmail.com

RESUMO
Este artigo analisa importncia da Educao Ambiental como instrumento de planejamento
turstico e sustentabilidade em comunidades costeiras do litoral nordestino, a partir da lgica do Turismo
Comunitrio. Para isso, fez-se uma reviso bibliogrfica em livros e estudos cientficos que tratam de
turismo sustentvel, educao ambiental, participao social, impactos sociais e ambientais do turismo,
entre outros assuntos correlatos. Analisa-se o modelo de desenvolvimento turstico de dois dos principais
destinos no segmento sol e praia do Brasil, um na Costa dos Corais, em Alagoas, e outro na Costa dos
Coqueiros, na Bahia, fazendo um contraponto com um caso de experincia bem sucedida do turismo de
base comunitria em uma vila de pescadores no litoral leste do Cear. A anlise procurou identificar, em
ambos os modelos, importncia da educao ambiental e da participao social, base do turismo
comunitrio, no planejamento da atividade turstica, consequentemente, como elementos bsicos e
fundamentais para a garantia da sustentabilidade em comunidades costeiras do Nordeste Brasileiro,
ressaltando os impactos socioambientais negativos que a ausncia destes elementos pode provocar. Desta
forma, conclui-se que no basta empreender esforos na elaborao do planejamento turstico como forma
de promover o desenvolvimento sustentvel em reas com baixos indicadores sociais, necessrio que na
base desse planejamento esteja a educao ambiental e a participao social.
Palavras chaves: educao ambiental, turismo comunitrio, participao social, planejamento
turstico e sustentabilidade.
1 INTRODUO
No Brasil, a atividade turstica tem sido constantemente utilizada como a grande salvadora
da ptria de comunidades aonde o desenvolvimento no chegou atravs de fbricas, indstrias e onde se
instalaram muitos problemas socioambientais. Na regio Nordeste, alardeada aos quatro cantos como a
Cancn Brasileira, a fora da atividade turstica como instrumento de desenvolvimento torna-se ainda
maior, principalmente pelos pssimos indicadores sociais, pelo extraordinrio potencial natural, localizao
geogrfica, clima, e at pela natural hospitalidade, to caracterstica dos habitantes desta regio.
A reboque deste falso raciocnio, aconteceu na regio a partir da dcada de oitenta um
boom de implantao de inmeros empreendimentos hoteleiros voltados para o segmento de lazer de sol
e praia, os denominados resorts, a maioria incentivados pelo financiamento pblico, atrados pelas
isenes fiscais, os baixos custos dos terrenos e da mo de obra Com isto, pequenos municpios ou
comunidades antes isoladas ou pouco conhecidas, dependentes economicamente da agricultura e da
pesca, tiveram um intenso e rpido crescimento econmico.
Segundo Cruz (2000, p. 152), porm, esta apologia ao turismo como possvel vetor de
desenvolvimento econmico regional tem levado localidades litorneas do Nordeste a optar por
investimentos no setor em detrimento de outras eventuais alternativas econmicas, que incluem os
setores primrio (principalmente a agricultura) e secundrio. Ela completa, dizendo:
[...] desenvolvimento turstico no como no poderia ser - sinnimo de desenvolvimento
econmico-social. Nenhuma atividade econmica setorial pode garantir esse desenvolvimento, j que no
imenso jogo de relaes que comanda esse processo, cada uma dessas atividades representa apenas uma
parte. [...] O modelo de desenvolvimento que se tem levado a cabo no Brasil, ao qual se `sujeita tambm o
turismo, concentrador de renda, excludente e perpetuador de desigualdades socioespaciais, e o turismo,

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

220
inserido nesse modelo, reproduz, tal como qualquer outra atividade econmica, contradies do sistema
(CRUZ, 2000, p. 153).

Hoje, diante de todos os problemas sociais e econmicos que se tem vivenciado, e com a
crescente conscientizao da humanidade em relao sria crise ambiental que assola o mundo, tem-se a
convico de que o modelo de desenvolvimento vigente no suficiente para atender as enormes
demandas sociais, naturais e econmicas do mundo atual. Os resultados mostram que os modelos e
instrumentos forjados a partir da adaptao do capitalismo s novas realidades que constantemente se
apresentam, foram, e so, insuficientes para resolver os graves problemas socioambientais que ameaam a
qualidade de vida do planeta. Os avanos na questo social e no esgotamento dos recursos naturais s iro
produzir resultados que possam vir a reverter, ou quem sabe estancar, a crise ambiental quando
conseguirmos provocar o envolvimento de todos os atores desta crise, no s os governantes, as ONGs, os
empresrios, mas todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuem com os problemas e sofrem
com as consequncias.
Segundo Sato, Santos e Zakrzevski (2004) a forma eficaz de se conseguir esse envolvimento
atravs da Educao Ambiental:
verdade que o desenvolvimento sustentvel possui uma face ambiental, mas a trilogia em
evidenciar a economia como esfera de igual importncia sociedade e ecologia ainda encerra a supremacia
do capitalismo srdido. Para alm do desenvolvimento, preciso celebrar mais ENVOLVIMENTO. Um
envolvimento poltico que possibilite que a EA seja uma nova prtica reflexiva em oposio ao modelo de
desenvolvimento sustentvel, ousando proposies de uma inveno crtica, atravs dos processos da
transio democrtica, que seja capaz de posicionar o conceito de sustentabilidade sob as esteiras da
incluso social, sustentao ecolgica e participao comunitria (p. 15).

No entanto, a Educao Ambiental precisa sair da ingenuidade dos cartazes coloridos,


cartilhas recreativas ou camisetas com design de espcies em extino e partir para uma construo
poltica com criticidade, encarando a utopia do desenvolvimento sustentvel e possibilitando o
empoderamento dos sem poder (SATO, SANTOS E ZAKRZEVSKI, 2004, p. 13).
Diante do exposto, esse trabalho tem por objetivo analisar a importncia da Educao
Ambiental, a partir da lgica do Turismo Comunitrio, como instrumento de planejamento turstico e
sustentabilidade em comunidades costeiras do litoral nordestino, frequentemente desestabilizadas com a
insero de novos empreendimentos tursticos. Como forma de subsidiar a hiptese deste artigo da
insustentabilidade do atual modelo de Desenvolvimento Turstico em curso nessas comunidades, foram
selecionados para anlise dois tradicionais e consolidados destinos tursticos nordestinos, Maragogi-AL e
Mata de So Joo-BA, e uma pequena comunidade do Municpio de Beberibe-CE, a Prainha do Canto
Verde, onde se desenvolve o turismo de base comunitria.
Tanto quanto ao objetivo como quanto ao mtodo o estudo se desenvolveu como pesquisa
bibliogrfica, j que a sua finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi dito,
escrito ou filmado sobre determinado assunto (LAKATOS e MARCONI, 1996, p. 66), ou seja, conhecer e
analisar as principais contribuies tericas existentes sobre a Educao Ambiental e o Planejamento
Turstico no Desenvolvimento Sustentvel de comunidades costeiras no litoral nordestino brasileiro. Nos
casos de Maragogi e Mata de So Joo utilizou-se a observao assistemtica. Para Cervo e Bervian (2003,
p. 28) a observao assistemtica, tambm chamada espontnea, informal, simples, livre ou ocasional,
caracteriza a observao sem o emprego de qualquer tcnica ou instrumento, sem planejamento, sem
controle e sem quesitos observacionais previamente elaborados.
3 A AUSNCIA DO INSTRUMENTO DA EDUCAO AMBIENTAL NO PLANEJAMENTO TURSTICO
3.1 A Educao Ambiental
Educao Ambiental um processo permanente no qual os indivduos e a comunidade
tomam conscincia do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experincias, valores e
a determinao que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de solues para os
problemas ambientais, presentes e futuros. (UNESCO, 1987). Portanto, sendo a Educao Ambiental um
processo onde o individuo e a sociedade se conscientizam em busca da soluo de seus problemas,
redundante a utilizao do adjetivo AMBIENTAL, pois a prpria palavra educao j sinnimo de
Joo Pessoa, outubro de 2011

221
preocupao com o ambiente. Ela s educao se for ambiental, devendo reconstruir o histrico das
crises ambientais como histria do ntimo envolvimento entre a pessoa e seu ambiente fsico-material,
natural e construdo [...] O processo educativo, a partir das motivaes da pessoa e de suas relaes,
conduz os indivduos ao caminho da cidadania, provocando mudana de hbitos e atitudes, possibilitando
um novo padro mental (PELIZZOLI, 1999), por isto, tratar-se- daqui por diante a Educao Ambiental
apenas como Educao, um importante e necessrio componente para a mudana da realidade atual no
tocante a problemtica gerada nas comunidades que tornam-se destinos tursticos.
3.2 O Exemplo de Maragogi
Nenhum projeto turstico pretensamente voltado para o desenvolvimento de reas com
baixos indicadores sociais, como forma de solucionar os problemas resultantes desses indicadores, tornarse- sustentvel sem que um verdadeiro processo educativo seja previamente desenvolvido. O que tem
ocorrido nas reas e comunidades vocacionadas para a atividade turstica que se desenvolvem dentro da
lgica capitalista58 (onde o mercado torna-se o responsvel pela equidade social) a melhoria dos
indicadores econmicos com piora dos indicadores sociais e ambientais, juntos ou isoladamente.
Tida como um dos principais balnerios tursticos do Brasil, a cidade de Maragogi, no litoral
norte do Estado de Alagoas, sofreu nos ltimos trinta anos um forte processo de urbanizao provocado
pelo apelo paraisstico de suas belas praias, agravados pela imigrao provocada pelo status de novo El
Dourado do turismo nordestino. Vtima de um desenvolvimento focado apenas na dimenso econmica,
Maragogi, hoje, sofre com os impactos socioambientais. As piscinas naturais (Gals), principal atrativo
turstico do municpio, por conta de um nmero cada vez maior de visitantes, vem sofrendo srias
agresses sem que haja perspectiva de soluo no sentido de garantir a utilizao sustentada deste
importante patrimnio natural de modo que haja uma orientao para o uso. Apesar de j haver um TAC59
firmado entre Ministrio Pblico, IBAMA60, Prefeitura e empresrios exploradores do atrativo natural,
constata-se que o mesmo vem sendo descumprido, conforme citao a seguir:
Segundo levantamentos feitos pelo COMDEMA de Maragogi, o nmero de visitantes/ano nas Gals,
saltou de cerca de 50.000 em 2002, para mais de 80.000 em 2004 (o COMDEMA de Maragogi deixou de se
reunir a partir de 2005 e no contabilizou os anos seguintes) [...] Foi definido pelo IBAMA um nmero limite
de 720 visitantes/dia, como forma de precauo para minimizar os impactos da visitao em uma rea
ambientalmente to frgil, caracterizada como ecossistema de ambiente recifal. Segundo a observao de
pessoas ligadas ao turismo no municpio, este nmero no est sendo respeitado nos dias de pico de
visitantes [...] Foi elaborado um TAC para o ordenamento da visitao s Gals, como resultado de uma srie
de reunies com os atores sociais envolvidos no processo IBAMA, Prefeitura, empresrios, pescadores,
COMDEMA, entre outros (CARVALHO, 2008, p. 26).

Outro indicador preocupante e que tambm coloca em risco a sustentabilidade da


atividade turstica em Maragogi o da violncia. Segundo dados do Mapa da Violncia dos Municpios
Brasileiros 200861, Maragogi est entre os 556 municpios mais violentos do pas, ocupando o 467 lugar.
Este dado torna-se preocupante na medida em que a cidade ocupa apenas a 1.239 posio no ranking
populacional dos municpios brasileiros, relao inversamente proporcional ao ranking da violncia.
evidente que os dados relacionados violncia de Maragogi no so exclusivamente resultantes do
crescimento da atividade turstica, h que se levar em conta tambm questes de ordem histrico-cultural

58

Segundo FOLADORI (2005), a economia capitalista gera eficincia nos processos produtivos e
ineficincia social, e parte desta ineficincia se transforma em degradao da sociedade humana, com o aumento da
pobreza e da desigualdade social. O sistema capitalista degrada a natureza de maneira espontnea.
59
Termo de Ajustamento de Conduta
60
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
61
Publicao da RITLA (Rede de Informao Tecnolgica Latino Americana), o Instituto Sangari,
Ministrio da Justia e Ministrio da Sade, de uma srie de estudos que se iniciaram h exatos dez anos. O primeiro
Mapa da Violncia foi divulgado no ano de 1998, com o objetivo de preencher uma significativa lacuna existente no
Brasil no campo da gerao de indicadores e de abrangncia nacional sobre o tema da violncia letal e da
criminalidade.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

222
e questes relacionadas com a Reforma Agrria62, no entanto, no h dvidas que o aumento da circulao
de turistas e excursionistas, em destinos tursticos que no passaram pelo processo de planejamento
turstico participativo, eleva, consequentemente, o nmero de assaltos, provocados principalmente pelo
aumento da circulao de recursos financeiros, mercadorias e equipamentos, como se pode constatar em
trecho de recente matria publicada no jornal Gazeta de Alagoas:
At meados do ano passado, eram os nibus interestaduais. Agora, o alvo preferencial dos
assaltantes so as vans do transporte alternativo de passageiros, carros de passeio, utilitrios com cargas
valiosas e veculos que transportam turistas entre Macei e Maragogi. o que est acontecendo nas rodovias
que cortam o Norte do Estado. Elas se converteram em corredores perigosos por onde circulam, livremente,
o medo e a violncia. O ms de janeiro ainda no terminou e j foram registrados, pelo menos, dez assaltos
nessas estradas [...] Como a maior parte dos vos chega noite, os hspedes so transportados de
madrugada. Tornam-se, ento, presas fceis e atrativas economicamente para os bandidos que demonstram
estar bem informados (CARVALHO, 2009).

Ainda no existe nenhum estudo cientfico que associe o aumento da violncia no


municpio de Maragogi com o crescimento da atividade turstica, no entanto, a cobertura jornalstica dos
principais meios de comunicao da regio demonstra claramente que nos meses da alta estao63 o
nmero de assaltos tem um considervel aumento. Estima-se que esses dados obtidos nos meios de
comunicao estejam subestimados, tendo em vista a prtica comum no trade turstico64 de ocultao de
casos que envolvam qualquer tipo de violncia contra os turistas.
3.3 O exemplo de Mata de So Joo A Vila da Praia do Forte e a Costa do Saupe
Mata de So Joo, atravs da Vila da Praia do Forte, tornou-se conhecida no cenrio
turstico nacional e internacional, inicialmente com o Resort Praia do Forte, no inicio da dcada de oitenta,
e posteriormente, no incio do novo milnio, com o Complexo Turstico Costa do Saupe, fatores que podem
ser classificados como os dois marcos do crescimento da atividade turstica naquela regio. O primeiro
marco, o inicio das atividades do Resort Praia do Forte, tem caractersticas similares ao que ocorreu em
Maragogi, tendo se diferenciado por conta da atuao do empresrio Klaus Peter, naquele perodo
proprietrio do empreendimento e dono praticamente de toda a rea correspondente a Vila da Praia do
Forte, inclusive proprietrio tambm do principal atrativo histrico-cultural da regio, o Castelo Garcia
Dvila65. O monoplio territorial do empresrio e sua atuao a frente do empreendimento possibilitou o
aumento dos impactos sociais negativos. A crescente presso capitalista por meio de forte especulao
imobiliria e a fora do turismo baiano, aliada a outros fatores como a criao do PRODETUR66,
convergiram para o inicio do segundo marco do desenvolvimento daquela regio: a implantao do
Complexo Turstico Costa do Saupe.
Essa segunda etapa ocorreu de forma totalmente diferente da primeira. Depois de
contactar diversos grupos hoteleiros internacionais e realizar um estudo sobre a categoria dos hotis ideal
para a regio, a Construtora Norberto Odebrecht, detentora de grande extenso de terra, decide investir
parte de seus recursos como forma de dar incio a implantao do projeto Costa do Saupe, buscando
financiamento com a Previ, a Caixa de Previdncia dos Funcionrios do Banco do Brasil (COUTO, 2003,
p.27). Em 1996, a Odebrecht, cria em parceria com Fundao Banco do Brasil e outras entidades, o Instituto
62

Maragogi o terceiro maior plo de assentamentos da reforma agrria no Pas. Com 18


assentamentos, fica atrs, em nmeros absolutos, apenas de Marab (PA) e Bonito (PE).
63
Perodo que corresponde ao maior fluxo de turistas em determinado destino, no litoral nordestino
esse perodo compreende os meses de dezembro, janeiro e fevereiro.
64
Corresponde ao conjunto de empresas que compem a oferta turstica do destino.
65
Foi iniciado em 1551 e concludo em 1624. Suas runas esto entre as mais antigas do Brasil. Garcia
D'vila chegou ao Brasil na expedio de Tom de Souza, em 1549, sendo nomeado o feitor e almoxarife da Cidade do
Salvador e da Alfndega.
66
O Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste um programa de crdito para o setor
pblico (Estados e Municpios) que foi concebido tanto para criar condies favorveis expanso e melhoria da
qualidade da atividade turstica na Regio Nordeste, quanto para melhorar a qualidade de vida das populaes
residentes nas reas beneficiadas. financiado com recursos do BID e tem o Banco do Nordeste como rgo
Executor.
Joo Pessoa, outubro de 2011

223
de Hospitalidade (IH), uma Organizao No Governamental, sem fins lucrativos, que teve como finalidade
levantar os recursos humanos e patrimnio cultural da Costa dos Coqueiros para iniciar um programa de
capacitao e formao de mo de obra local a ser aproveitada no Complexo (COUTO, 2003, p. 29).
Por conta destas e outras aes desenvolvidas na implantao do complexo turstico,
aparentemente promotoras do desenvolvimento com sustentabilidade, os resultados da pesquisa de Couto
(2003), apontaram alguns impactos socioambientais positivos nas comunidades no entorno da Costa do
Saupe, como a melhoria das condies de sade e da educao tradicional, por conta das informaes
obtidas no processo de treinamento realizado com parte da populao da regio, assim como o
fortalecimento do artesanato local, a criao de associaes e cooperativas, e o abastecimento de gua e
energia eltrica em algumas localidades. No entanto, so os impactos negativos identificados pela
pesquisadora que se destacam, tais como: o aumento da imigrao, elevao do custo de vida, crescimento
da prostituio e do consumo e trfico de drogas, a poluio do Rio Saupe, degradao dos manguezais e
contaminao dos lenis freticos, caracterizando, desta forma a insustentabilidade do modelo de
desenvolvimento ali praticado.
3.4 As consequncias
Em ambos os casos mencionados, Maragogi e Mata de So Joo, verifica-se uma
considervel incidncia de impactos socioambientais negativos, inviabilizando desta forma qualquer
possibilidade de um modelo de desenvolvimento sustentvel, sendo que em Mata de So Joo, mesmo
havendo a preocupao prvia do planejamento turstico com aes educativas e um volume considervel
de recursos financeiros em investimentos no municpio, o que no ocorreu em Maragogi, os resultados no
so nada animadores, inclusive para os prprios empreendedores. As redes hoteleiras internacionais Accor
(francesa) e Marriott (norte-americana) j deixaram o complexo (permanecem a jamaicana SuperClub
Breezes e o grupo portugus Pestana), passando os hotis a serem administrados pela Previ Fundo de
Penso dos Funcionrios do Banco do Brasil, que investiu cerca de 1 bilho de reais entre construo e
manuteno do empreendimento, e que diante dos resultados negativos negocia a venda do complexo por
menos de duzentos milhes de reais (MAIA FILHO, FILGUEIRAS & OLIVEIRA PACHECO, 2008).
Em Maragogi, nota-se que a maioria dos problemas que hoje atingem o municpio so
decorrentes, como em muitos outros municpios potencialmente tursticos do Brasil, da completa falta de
planejamento. J no caso de Mata de So Joo, apesar de ter havido algum tipo planejamento turstico, vse que os problemas foram praticamente os mesmos, levando a concluso que o planejamento turstico do
destino importante medida que se torna uma interveno social participativa, ou seja, com a
participao organizada das comunidades beneficirias e outros atores sociais pertinentes (BENI, 2006, p.
137), o que no ocorreu, pois a comunidade foi um sujeito passivo no processo, ou o nativo mudo de
Krippendorf, aquele que pouco ouvido, negligenciado, excludo da tomada de decises dos projetos
tursticos (MENDONA, 2004, p. 18), pois o modelo de desenvolvimento turstico proposto j existia em
forma de um grande pacote, no contemplando portanto os reais interesses da comunidade. Apesar dos
altos investimentos realizados pela Construtora Norberto Odebrecht, atravs da PREVI, os resultados
mostram a total insustentabilidade econmica, social e ambiental deste modelo.
Como ento promover o desenvolvimento com sustentabilidade em comunidades
potencialmente tursticas, no entanto, frgeis socioambientalmente? Sem dvida, a Educao pode ser o
primeiro passo rumo a um modelo de desenvolvimento que seja, segundo Sachs (2000), prudente
ecologicamente, eficiente economicamente e justo socialmente.
4 H UMA LUZ NO FIM DO TNEL - A CANOA QUE NO QUEBROU E A FONTE QUE NO SECOU67
No Cear, encurralada entre dois plos tursticos tradicionais daquele Estado Praia das
Fontes e Canoa Quebrada, a Prainha do Canto Verde pode ser considerada um destes casos de experincias
que fogem aos padres importados, concentradores de renda e altamente especulativos. A Prainha do
67

A frase, segundo MENDONA (2004), foi criada por Ireleno Porto Benevides, em analogia aos
exemplos de desenvolvimento turstico apresentados por Canoa Quebrada e Praia das Fontes. Ireleno poeta, autor
de vrios artigos sobre turismo e do livro: Turismo e Prodetur: dimenses e olhares em parceria. Fortaleza: EUFC,
1998.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

224
Canto Verde, comunidade pertencente ao municpio de Beberibe, a cerca de 100 km de Fortaleza, o que
se pode considerar um caso de empreendedorismo social no turismo, pois l os moradores dessa vila de
pescadores optaram por um sistema de gesto de forma associativa, atravs de organizaes comunitrias
e cooperativa de moradores. Segundo Mendona (2004), a comunidade, nas dcadas de setenta e oitenta,
estava sendo ameaada de ser expulsa de suas terras pela especulao imobiliria, quando no final dos
anos oitenta passaram a contar com a ajuda do executivo suo Ren Scharer68 e constituram uma
Associao de Moradores, deram incio ao Projeto de Desenvolvimento Comunitrio desenvolvido pela
Fundao dos Amigos da Prainha do Canto Verde69. Em dezembro de 1991 a comunidade enfrentou
bravamente o poderio poltico e financeiro da Imobiliria Henrique Jorge70, conseguindo, nas barras da
Justia Federal, garantir a posse da terra que historicamente lhes pertenciam.
A comunidade optou por ser a responsvel pelo seu destino, podendo ela mesma, dentro
de sua realidade, escolher quais os caminhos a serem trilhados, impendido dessa forma que se repetissem
os fatos para a criao de um destino turstico a exemplo do que ocorreu em Maragogi e Praia do Forte. O
turismo pelo qual a comunidade optou caracterizado por um fluxo, em sua grande parte, de estudiosos e
pesquisadores, atrados pela histria de organizao da comunidade e pelo modelo inovador de turismo
que est sendo implantado (MENDONA, 2004, p. 146). Trata-se do Turismo Comunitrio, que segundo
Coriolano (2003, p 41), aquele desenvolvido pelos prprios moradores de um lugar que passam a ser os
articuladores e os construtores da cadeia produtiva, onde a renda e o lucro ficam na comunidade e
contribuem para melhoria da qualidade de vida; levar todos a se sentirem capazes de contribuir, e
organizar as estratgias do desenvolvimento do turismo. Ocorreu nesta comunidade um processo
educativo que foge aos padres tradicionais de Educao, possibilitando o que sugere Sato, Santos e
Zakrzevski (2004, p. 15), uma educao como nova prtica reflexiva em oposio ao modelo de
desenvolvimento sustentvel, ousando proposies de uma inveno crtica, atravs dos processos da
transio democrtica, que seja capaz de posicionar o conceito de sustentabilidade sob as esteiras da
incluso social, sustentao ecolgica e participao comunitria.
5 A EDUCAO E O TURISMO COMUNITRIO COMO INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO
TURSTICO COM SUSTENTABILIDADE
Analisando as trs experincias destes importantes destinos tursticos nordestinos pode-se
verificar a relevncia do processo educativo dentro do planejamento da atividade turstica. Em Maragogi,
verifica-se alm da ausncia de um modelo de educao diferente, inovador e transformador, a ausncia
quase que total de planejamento. Na Mata de So Joo, houve planejamento, no entanto, o fator
educao foi utilizado de forma domesticadora71. Na Prainha do Canto Verde, viu-se uma forma
inovadora de planejamento turstico, onde a educao, embora que espontnea, teve uma participao
fundamental nos inmeros casos de sucesso que os moradores tm conseguido atingir, inclusive com
repercusso internacional.
Para Beni (2006, p. 133), o planejamento turstico uma interveno pblica na realidade
social em razo, em grande parte, do carter desigual do desenvolvimento resultante de um sistema de
mercado [...] pressupe uma ao prtica transformadora e no mantenedora da situao da realidade
social. Essa ao transformadora s ocorre com a participao organizada da populao-alvo da
interveno na identificao do problema, no planejamento, monitoramento e avaliao [...] que, na
maioria das vezes, pode ser a diferena que garante o sucesso de uma interveno (BENI, 2006, p. 133).
atravs de uma educao para a libertao, onde educar um ato de conhecimento e um mtodo de ao
68

Suo, executivo da Swissar, chegou Prainha do Canto Verde pela primeira vez em 1987, em meio
s discusses sobre conflitos da terra, fixando residncia na comunidade em 1992.
69
Foi criada por empresrios suos e alemes, com o objetivo de fornecer apoio financeiro aos
projetos desenvolvidos pela comunidade. Este agente no se encontra presente fisicamente na Prainha do Canto
Verde, mas representado pelo Ren (MENDONA, 2004).
70
A Imobiliria, aps entrar com um suspeito pedido de usucapio, pretendia viabilizar o projeto
PORTO DAS JANGADAS", que dividia a beleza natural da Prainha do Canto Verde em 4.547 lotes numa rea de 321
hectares.
71
Segundo Paulo Freire a prtica atravs da qual os educadores no respeitam a expressividade dos
educandos.
Joo Pessoa, outubro de 2011

225
transformadora que os seres humanos devem exercer sobre a realidade (FREIRE, 1981, p 73), que vir a
mudana que tornar a comunidade o instrumento e no o alvo da interveno, livre das amarras da
educao domesticadora, onde educar um ato apenas de transferncia de conhecimento (FREIRE, 1981,
p 73). Ainda segundo Freire (1981, p.53), a condio bsica para a conscientizao que seu agente seja
um sujeito, isto , um ser consciente, a conscientizao, como a educao, um processo especifica e
exclusivamente humano. como seres conscientes que mulheres e homens esto no apenas no mundo,
mas com o mundo, ou seja, a conscientizao ocorre juntamente com a educao na medida em que o
individuo assume sua condio de cidado, e passa a decidir sobre os rumos de sua vida, de maneira
autnoma e reflexiva. esse tipo de educao (ambiental, local, espacial, ou qualquer outro nome que
represente o lcus onde as coisas acontecem) que se constata na comunidade de Prainha de Canto
Verde, e que deve ser a base para um modelo de turismo sustentvel, no importando o tamanho da
comunidade, mas que ela seja crtica, reflexiva, autnoma.
O problema do insucesso em muitos destinos com extraordinrio potencial turstico que
o processo de planejamento do turismo nas comunidades tendem a ser simplista, ou em alguns casos,
inexistente. Com frequncia as destinaes tursticas so criadas por um empreendedor, empresa privada
ou governo nacional, e todo o planejamento parte dessa perspectiva (Beni 2006, p. 137). Analisando os
casos aqui expostos, exceto o da Prainha do Canto Verde, foi exatamente isso que aconteceu. A partir da
perspectiva do pensamento de Beni (2006), o que faltou a Maragogi e Mata de So Joo foram mobilizao
social e participao comunitria. No entanto, a fora da educao preconizada por Paulo Freire est
exatamente na percepo crtica das injustias sociais pelos sem poder, que medida que se
conscientizam tomam posse do poder. Como se fora um sistema que se retroalimenta, a comunidade, de
posse do poder, vai se apossando de mais educao, participao, envolvimento, vai se empoderando e
se apossando, em um ciclo virtuoso.
A partir desse ciclo virtuoso, surge ento, a idia de capital social, que, segundo Kliksberg
(apud MENDONA, 2004, p. 180), composto pelos valores partilhados, cultura, tradies, saber
acumulado, redes de solidariedade, expectativas de comportamento recproco. O capital social,
diferentemente do capital econmico, no se acaba, d dignidade e cidadania comunidade e pe fim aos
nativos mudos. Segundo MENDONA (2004), a manuteno do capital social dever ser respeitada e
considerada no processo de desenvolvimento; as pessoas, as famlias, os grupos, so capital social e
cultura por essncia. So portadores de atitudes de cooperao, valores, tradies, vises da realidade,
que so sua prpria identidade. Se isso for ignorado, saltado, deteriorado, importantes capacidades
aplicveis ao desenvolvimento esto inutilizadas, e sero desatadas poderosas resistncias. Se pelo
contrrio, se reconhecer, explorar, valorizar e potencializar sua contribuio, pode ser muito relevante e
propiciar crculos virtuosos com as outras dimenses do desenvolvimento (KLIKSBERG, 2003, apud
MENDONA, 2004, p. 180).
6 CONSIDERAES FINAIS
Diante do exposto, pode-se concluir que os resultados hoje obtidos em pretensos projetos
de desenvolvimento turstico, exemplificados neste trabalho por Maragogi e Mata de So Joo, mostram
que impossvel a obteno de eficincia econmica, prudncia ecolgica e justia social, bases do
conceito de sustentabilidade, quando esses projetos so desenvolvidos de cima para baixo, atravs de
burocratas que compreendem a complexidade da atividade turstica a partir dos seus gabinetes
refrigerados, ignorando a realidade, o histrico, os valores e os anseios das comunidades potencialmente
tursticas. Modelos de planejamento turstico que ignorem a necessidade de um processo de educao, no
rotulada de ambiental, mas que seja das pessoas e para as pessoas da comunidade, logicamente que
enriquecida com as contribuies globais, mas respeitando a localidade, sero fadados ao insucesso.
Ao se nomear um dos captulos deste trabalho como H UMA LUZ NO FIM DO TNEL A CANOA QUE NO QUEBROU E A FONTE QUE NO SECOU teve-se a inteno de destacar essa
potica e brilhante metfora, mostrando que possvel o desenvolvimento sustentvel de destinos
tursticos em comunidades costeiras do litoral nordestino. O Exemplo de Prainha do Canto Verde, que no
nico, pois existem outras comunidades desenvolvendo o turismo comunitrio em vrios Estados do
Nordeste, pode ser um referencial para o desenvolvimento at mesmo de destinos em processo de
acelerado crescimento turstico e que j sofrem com os impactos socioambientais, pois a base do turismo
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

226
comunitrio o empoderamento da comunidade local atravs da educao e o consequente envolvimento
no planejamento e na soluo dos seus problemas. Isso poderia, e ainda pode, ser aplicado a outros
destinos como Maragogi e Mata de So Joo, mesmo que j no seja mais possvel desenvolver ali um
turismo de base comunitria, mas ainda possvel frear os impactos negativos e torn-los, dentro da
realidade hoje existente, sustentveis. Como forma de contribuir com a mudana da lgica apenas
desenvolvimentista do turismo, importante que surjam outros trabalhos que se aprofundem na anlise
dos impactos e benefcios que o turismo de base comunitria proporciona s comunidades autctones,
possibilitando alternativas que vo alm da lgica capitalista dominante.

REFERNCIAS
BENI, Mrio Carlos. Poltica e Planejamento de Turismo no Brasil. So Paulo: Aleph, 2006.
CARVALHO, Gisela Livino. Anlise Preliminar da Gesto do Turismo na rea de Proteo Ambiental
da Costa dos Corais. Monografia (Bacharel em Turismo). Universidade Federal de Pernambuco: Recife,
2008.
CARVALHO, Severino. Cresce o nmero de assalto nas rodovias. Gazeta de Alagoas, Macei, 25 Jan.
2009, Caderno de Municpios, p.1
CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; Metodologia Cientfica. 5 Ed. So Paulo: Prentice Hall, 2003.
CORIOLANO, Luzia, N.M. Teixeira; O Desenvolvimento voltado s Condies Humanas e o Turismo
Comunitrio. In Coriolano, Luzia, N.M. Teixeira; Lima, Luiz Cruz (Orgs.) Turismo Comunitrio e
Responsabilidade Socioambiental. Fortaleza, EDUECE, 2003, p.26-44.
COUTO, Rosalina da Conceio. Impacto social do turismo Os impactos causados pela hotelaria
nas comunidades locais. Estudo de caso: Complexo Costa do Saupe. 2003. 101 f. Monografia (MBA em
Turismo, Hotelaria e Entretenimento) - Fundao Getlio Vargas. Rio de Janeiro, 2003.
CRUZ, Rita de Cssia. Poltica de Turismo e Territrio. So Paulo: Contexto, 2000.
FOLADORI, Guillermo. Por una sustentabilidad alternativa. Editora Coleccin Cabichui, Uruguai,
2005.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. So Paulo: Atlas, 1991.
LOUREIRO, C. F. B. O que significa transformar em Educao Ambiental?. In: Zakrzevski, S. B.;
Barcelos, V.. (Org.). Educao Ambiental e Compromisso Social. 01 ed. Erechim: EdiFapes, 2004, v. , p. 265282.
MAIA FILHO, Jos Pacheco; FILGUEIRAS, Maria Luiza; OLIVEIRA, Regiane. Resort Costa do Saupe
vira pechincha de R$ 200 milhes. Gazeta Mercantil, So Paulo, 17 Jul. 2008, Caderno C, p.2
MARCONI, Marina A.; LAKATOS, Eva Maria. Tcnica de pesquisa. So Paulo: Atlas, 1996.
MENDONA, Teresa Cristina de Miranda. Turismo e participao comunitria: Prainha do Canto
Verde a Canoa que no quebrou e a Fonte que no Secou? 2004. 209f. Dissertao (Mestrado em
Psicossociologia de Comunidade e Ecologia Social) Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
Programa EICOS/IP, 2004.
PELIZZOLI, M.L. A emergncia do paradigma ecolgico. Petrpolis: Vozes, 1999.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentvel. Rio de Janeiro: Editora
Garamond, 2000.
SATO, Michele; SANTOS, Jos E.;ZAKRZEVSKI, Sonia; Metamorfoses ambulantes. In ZAKRZEVSKI,
Sonia; BARCELOS, Valdo (Orgs.) Educao Ambiental e Compromisso Social Pensamentos e Aes.
Erechim, URI, 2004, p.337-351.
UNESCO. Congresso Internacional UNESCO/PNUMA sobre la educacion y la Formacion Ambientales,
Moscou, in: Educao Ambiental, Situao Espanhola e Estratgia Internacional. DGMA-MOPU, Madrid,
1987.
VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatrios de pesquisa em administrao. 3. ed. So Paulo:
Atlas, 2000.

Joo Pessoa, outubro de 2011

227

PAISAGEM, TURISMO E MEIO AMBIENTE NA PRAIA DA COSTA (SE): UM


POTENCIAL AMEAADO
Priscila Pereira SANTOS
Instituto Federal de Sergipe
Graduanda em Tecnologia de Gesto de Turismo - p.p.s2902@gmail.com
Alessandra Magda dos Santos de SOUZA
Instituto Federal de Sergipe
Professora Mestre - alemagsou@hotmail.com
Jos Wellington Carvalho VILAR
Instituto Federal de Sergipe
Professor Doutor Orientador - wvilar@yahoo.com.br

RESUMO
O homem o principal ator para a construo de uma paisagem, uma vez que este percebe o
espao e o interpreta na sua mente, construindo-a a partir da sua percepo visual, ttil, auditiva e olfativa.
Nessa perspectiva, o turismo cria o marketing em torno da paisagem e a comercializa, tornando alguns
locais mais atraentes do que outros. A atividade turstica, nesse sentido, procura satisfazer as diversas
aspiraes do homem ps-moderno, organizando e planejando o seu tempo livre para que este possa
deslocar-se do seu cotidiano em busca da contemplao e consumo da paisagem. Em Sergipe, o municpio
da Barra dos Coqueiros est passando por intenso processo de crescimento e transformao no mbito
social, econmico e ecolgico. Essas modificaes tem como mola propulsora a construo da ponte que
interliga Aracaju ao municpio citado que direcionam os turistas principalmente - Praia da costa, Atalaia
Nova e Jatob. Na praia da Costa, o acmulo de lixo exacerbado, a quantidade de espcies marinhas mortas
e as excretas humanas e animais, alm de incomodar no aspecto visual, provocam problemas ambientais
de grande envergadura. A especulao imobiliria, a ocupao irregular do espao e como consequncia a
urbanizao horizontal litornea crescem em ritmo acelerado favorecendo as diferentes classes sociais,
destacando-se o trecho da praia da costa at a Atalaia Nova, todavia a rede de gua e esgoto ainda no
est completamente estruturada em muitas residncias, e com o aumento do nmero de visitantes
principalmente no perodo de frias pode transformar o ambiente em um esgoto nico. Surge, nesse
contexto, como possvel resposta a valorizao ambiental pelo turista o ecoturismo. Educao ambiental
e turismo se aliam nesse processo para criar novas oportunidades de vivncias no homem com a natureza e
a construo de novas relaes com o mundo.
Palavras-Chaves: Paisagem; Turismo de Sol e Praia; Meio Ambiente; Educao Ambiental; Praia da
Costa (SE).
1. INTRODUO
O municpio de Barra dos Coqueiros, Sergipe com base territorial na Ilha de Santa Luzia localizado
na margem esquerdo do rio Sergipe em frente Aracaju apresenta ecossistemas frgeis e infraestrutura
inadequada ocupao humana acelerada. Com a construo da ponte que liga a capital sergipana,
Aracaju, a Ilha de Santa Luzia as paisagens comeam a sofrer inmeras metamorfoses, com o uso e
ocupao desordenada do solo para o turismo, a especulao imobiliria e o comrcio.
O objetivo do presente artigo discutir as mudanas paisagsticas e os impactos no turismo da
praia da Costa na Barra dos Coqueiros a partir da construo da ponte que interliga Aracaju ao referido
municpio.
A fim de alcanar esse objetivo geral foram construdas algumas estratgias metodolgicas. A
pesquisa foi realizada de maneira qualitativa, atravs de pesquisa documental, em bibliotecas do Instituto
Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Sergipe, da Universidade Federal de Sergipe, pesquisa online,
atravs de sites especializados, como: IBGE, Ministrio do Turismo, Secretaria de Meio Ambiente, Recursos
Hdricos de Sergipe e Ministrio do Meio Ambiente. Foram realizadas visitas in loco no municpio de Barras
dos Coqueiros, com o intuito de avaliar, atravs de observao do pesquisador e entrevistas realizadas com
moradores, turistas e donos de bares e restaurantes, os impactos ambientais, as mudanas paisagsticas e
sua relao com o turismo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

228
Houve tambm uma preocupao com a contextualizao da rea de estudo em relao aos
problemas da degradao ambiental no litoral sergipano e do litoral do municpio de Barra dos Coqueiros
como um todo.
2. BREVE DISCUSSO TERICA SOBRE PAISAGEM
A paisagem um acontecimento cognitivo para o homem e sofre constantes modificaes de
carter natural e/ou artificial. Inmeras so as reas de conhecimento que discutem e analisam o conceito
de paisagem, dentre outras se destacam: a geografia, a arquitetura, a antropologia e o turismo. Surgem
assim, diversas interpretaes sobre a relevncia natural e social da paisagem.
O homem o principal ator para a construo de uma paisagem, uma vez que este percebe o
espao e o interpreta na sua mente, construindo-a assim a partir da sua percepo visual, ttil, auditiva e
olfativa. Nesse contexto, a cognio o processo mental que seleciona as informaes percebidas,
armazenando-as e traduzindo-as em significados.
Sob essa tica, a paisagem o modo como os elementos naturais so percebidos e apropriados
pelo homem. Desse modo, num dado momento, as representatividades visualizadas na relao
homem/natureza constituiro um complexo de formas significativas a qual se denomina paisagem, sendo
assim considerada uma construo cultural.
Para Coelho e Terra (1998), quando olhamos para um lugar, estamos vendo a sua paisagem.
Portanto, paisagem tudo o que ns vemos, tudo que nossa percepo alcana p.38.
Enquanto smbolo geogrfico para Vilar et. al. (2010), a paisagem demonstrao dos artifcios de
transformao do espao que se processam de maneira rpida ou lentamente, dependente das relaes
socioculturais e das possibilidades tcnicas de determinada poca p.84.
A viso do gegrafo francs George Bertrand tambm elucidativa da complexidade da paisagem:
A paisagem no a simples adio de elementos geogrficos disparatados. em uma determinada
poro do espao, o resultado da combinao dinmica, portanto instvel, de elementos fsicos, biolgicos e
antrpicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto nico e
indissocivel, em perptua evoluo. (BERTRAND, 2004, p.141).

Para Bertrand (2004), a paisagem definida pela combinao holstica dos elementos paisagsticos
com o olhar da mente humana. Em virtude disto, foram analisados por este autor trs aspectos
indissociveis na configurao da paisagem: potencial ecolgico (geologia, geomorfologia, clima);
explorao biolgica (vegetao e solo) e ao antrpica (Figura 1).
Nessa perspectiva, a paisagem pode ser compreendida como a conexo entre a paisagem natural,
no que se referem aos elementos geolgicos, geomorfolgicos, vegetais e aquticos, e a paisagem cultural
humanizada, por meio das aes dos indivduos nos espaos rurais e urbanos.
No podemos formar uma ideia de paisagem a no ser em termos de suas relaes associadas ao
tempo, bem como suas relaes vinculadas com o mesmo espao. Ela est em um processo constante de
desenvolvimento ou dissoluo e substituio. Assim no sentido corolgico, a alterao da rea modificada
pelo homem e sua apropriao para o uso so de importncia fundamental. A rea anterior atividade
humana representada por um conjunto de fatos morfolgicos. As formas que o homem introduziu so um
outro conjunto. (SILVEIRA apud SAUER, 1998, p.42).

Figura 1: Modelo de entendimento de Paisagem proposto por Bertrand


Joo Pessoa, outubro de 2011

229
Fonte: Priscila Pereira

Ito (2007) complementa esse pensamento ao ressaltar que a paisagem o real, o vivido e o sentido
diferentemente por cada ser humano, que de acordo com suas influncias sociais, culturais, ambientais e
emocionais julgar por meio da sua percepo a importncia de determinada paisagem. Sendo assim, cada
sujeito pode entender a paisagem com diferentes significados e representatividades.
Quatro tipos bsicos de paisagem so classificados por Ito (2007 apud Figueiredo e Manhi, 2006):
Paisagem visvel: cultural ou simblica;
Paisagem perceptvel: construda ou natural;
Paisagem fundamental: caractersticas geossistmicas;
Paisagem integral: inter-relaes das paisagens.
Segundo Cruz (2002), a paisagem pode ser analisada no seu aspecto visual e social. No primeiro
instante o sujeito observa e logo em seguida reflete a imagem de um local em determinado perodo,
formando a paisagem. Pode-se tambm analisar a paisagem como um elemento fixo em constante
transformao, ou seja, o espao se transforma e logo a paisagem tambm se transforma. Por fim, a
paisagem pode ser estudada como uma realidade complexa, haja vista que homem e natureza
transformam a paisagem num determinado tempo.
De acordo com Cruz (2002), a paisagem possui algumas caractersticas fundamentais: concretude
em suas formaes naturais e antrpicas, fixidez espacial e dimenso histrica, ou seja, transforma-se com
processos naturais e sociais. Estes elementos reunidos provocam o imaginrio das pessoas, pois so
carregados de signos culturais. Nessa perspectiva, o turismo cria o marketing em torno da paisagem e a
comercializa, tornando alguns locais mais atraentes do que outros.
3. PAISAGEM DE NATUREZA TURSTICA
A paisagem a mola propulsora para a existncia do turismo, enquanto atividade socioeconmica.
O turista consome o lugar visitado por diversos meios: servios de hospedagem, alimentao, transporte,
lazer. A atividade turstica, nesse sentido, procura satisfazer as diversas aspiraes do homem psmoderno, organizando e planejando o seu tempo livre para que este possa deslocar-se do seu cotidiano em
busca da contemplao e consumo da paisagem.
A paisagem utilizada como recurso turstico quando os smbolos que lhes so atribudos atraem
visitantes. Assim, quando a valorizao de determinada paisagem chama ateno como criao cultural
comeam a surgir os esteretipos de paisagem. Esses modelos paisagsticos que movimentam a economia
de determinado local comeam a ser recriados, manipulados e corrompidos como frmulas prontas para
tornar um espao turstico, por meio de uma paisagem turstica.
O turismo est sendo transformado em uma atividade que no depende somente dos aspectos
naturais de uma regio, pois podem ser construdos artificialmente ambientes tursticos, como por
exemplo: os parques temticos compostos de natureza artificial. Partindo dessa premissa, Cruz (2002, p.
111) salienta que, as paisagens construdas como resultados de processos naturais e sociais
historicamente engendrados, numa dada poro do espao geogrfico, no podem ser reproduzidas a no
ser no que se refere estritamente sua aparncia.
nesse contexto que a paisagem se torna uma mercadoria apenas sensitiva, sem contedo
concreto e densidade superficial. As pseudos paisagens, como o caso dos parques temticos, oferecem
aos turistas a simulao da realidade, sem, no entanto, os expor aos perigos das paisagens naturais.
A paisagem tendo seus significados culturais esvaziados pela artificialidade do lugar gera falta de
senso crtico e conscincia ao turista e reduz a paisagem mercadoria e a objeto visual. Cruz (2002) explica
que as paisagens quando so copiadas no possuem histria e podem ser considerada apenas mercadoria
para consumo. So chamadas de ilhas da fantasia, no-lugares, paisagens fora do lugar.
Ademais, o artificial elimina as emoes dos conflitos, do inesperado, das contradies. As ilhas da
fantasia distanciam os visitantes dos perigos da vida real, garantem a reciclagem de substncias,
controlam a poluio, significando assim, a eliminao da aventura, da experincia autntica.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

230
Em busca de aventura, do contato com a natureza retorno a natureza e da fuga do cotidiano,
os destinos tursticos exticos e dirigidos para ambientes de potencial paisagstico e ecolgico, gera um
movimento ao segmento turstico identificado como ecoturismo.
As pessoas esto a cada dia buscando melhorar a qualidade de vida, e a concretizao do
ecoturismo no mbito da atividade turstica o resultado de uma mudana de valores e hbitos. Os turistas
esto fugindo das artificialidades, da padronizao das ofertas e servios. Atualmente, as paisagens
valorizadas pelo turismo so aquelas com ecossistemas frgeis.
Nesse contexto, ecoturismo definido pela autarquia responsvel pelo setor turstico no Brasil, a
EMBRATUR, como: um segmento da atividade turstica que utiliza de forma sustentvel o patrimnio
natural e cultural, incentiva sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista pela
interpretao do ambiente, promovendo o bem-estar das populaes. (Serrano 1997 apud Ruschel e
Associados 1995, p.7)
De acordo com Dias (2003), um das definies mais utilizadas a que compreende o ecoturismo
como uma viagem responsvel que conserva o ambiente natural e mantm o bem-estar da populao
local. (p.107). Todavia, essa busca por paisagens ecolgicas est transformando a atividade ecoturstica
em um modismo contextualizado num movimento turstico em massa que pode ocasionar grave
degradao ambiental e provocar desastres nos ambientes naturais protegidos.
No Brasil, as paisagens que apresentam elevado potencial ambiental concentram um grande
mercado consumidor, destaque para o litoral que sendo constitudo de aproximadamente 9.000
quilmetros bastante utilizado para fins tursticos. Nesse movimento, ocorre a ocupao desordenada
das reas ao longo do litoral provocada pela multiplicao da chamada segunda residncia,
desfiguralizando a paisagem.
No geral, as construes so erguidas com o mnimo de recursos, sem nenhum padro arquitetnico
e por pessoas no comprometidas com os valores paisagsticos e culturais do lugar. Os veranistas,
contagiados pelo clima descontrado de frias, provocam a alta nos preos dos aluguis, mercadorias e
servios. Alm disso, aumentam a poluio sonora, provocam mudanas nos hbitos culturais dos nativos e,
por fim, abandonam o lixo nas areias das praias, nos bancos de corais, em terrenos baldios e s margens das
estradas e rodovias. (DIAS, 2003 apud SEABRA, 2001, p.42).

Os impactos que ocorrem da ocupao desordenada no litoral so de difcil recuperao, pois os


ecossistemas litorneos so bastante frgeis. Trs tipos de impactos se destacam no litoral: ocupao
desordenada; uso intenso de recursos naturais; contaminao.
O turismo inevitavelmente impacta o meio ambiente e modifica as paisagens. Em virtude disso,
necessrio um planejamento preocupado em manter a atividade turstica dentro dos limites aceitveis, que
no provoque modificaes irreversveis. Turismo e meio ambiente devem sempre vir acompanhados de
polticas de Educao Ambiental e ordenamento territorial.
4. PRAIA DA COSTA: UM POTENCIAL TURSTICO AMEAADO
Situado no litoral norte de Sergipe, o municpio da Barra dos Coqueiros est passando por intenso
processo de mudanas territoriais e paisagsticas e transformaes no mbito social, econmico e
ecolgico. Essas modificaes tem como eixo indutor a construo da ponte que interliga Aracaju ao
municpio citado.
Os impactos gerados pela construo da ponte apresentam caractersticas benficas e adversas nos
diversos ecossistemas existentes na localidade, entretanto a degradao ambiental no espao litorneo
compreendida problemtica - pela velocidade que est ocorrendo - tanto pelos frequentadores assduos
quanto pelos muncipes, j que interfere na qualidade de vida de todos.
Alm do turismo de sol e praia, a Barra dos Coqueiros apresenta singular potencial no segmento do
turismo rural e no ecoturismo, mas que ainda so pouco explorados. Das quatro praias existentes no
municpio, podem-se destacar as trs mais frequentadas: Praia de Jatob mais ao norte, a Atalaia Nova no
setor mais meridional do municpio que sofre hoje intervenes pblicas por meio do Projeto Orla e a praia
da Costa situada nas proximidades da sede municipal e que aqui nos interessa mais de perto.
A atividade turstica consome o espao, quer seja no litoral, em reas rurais ou em espaos
urbanos, e como toda atividade humana, transforma o meio ambiente. Essa atividade considerada uma
Joo Pessoa, outubro de 2011

231
atividade econmica e assim como os demais setores da economia moderna depende da apropriao e da
explorao da natureza e das sociedades locais. Mas vale ressaltar que no caso Sergipano e do municpio da
Barra dos Coqueiros em particular, os espaos litorneos so os mais ocupados pelo turismo e os que
sofrem mais impactos e degradaes ambientais. A praia da Costa no est imune a esses problemas de
maior envergadura
Na praia da Costa, o acmulo de lixo, a quantidade de espcies marinhas mortas, a ocupao
desordenada do espao, a inexistncia de sistema de esgoto sanitrio e problemas graves de urbanismo
deficiente so exemplos de problemas que a cada dia aumentam e assumem uma complexidade maior.
Outro aspecto que merece ateno a especulao imobiliria, a ocupao irregular e como
consequncia a urbanizao horizontal do litoral que cresce em ritmo acelerado. Um destaque deve ser
dado ao trecho da Praia da Costa at a Atalaia Nova, onde os problemas se avolumam e colocam em risco
as potencialidades paisagsticas do lugar. A rede de gua e de esgotamento sanitrio ainda no est
completamente estruturada em muitas residncias da Praia da Costa, e com o aumento do nmero de
visitantes principalmente no perodo de frias, a tendncia aumentar os nveis de degradao e a
quantidade de gua residual sem o destino adequado.
A construo da ponte sobre o rio Sergipe teve fortes impactos na Praia da Costa que teve um
acesso mais rpido para a populao de Aracaju. Ademais, a Praia da Costa apresenta hoje seus terrenos
bastante valorizados e com maior presso demogrfica e de uso e ocupao do solo o que gera problemas
de ordenamento territorial e paisagstico que dificulta uma atividade turstica sustentvel.
De acordo com Vilar et al. (2010), o setor de transportes foi o elemento chave na modificao da
paisagem local, j que a ligao de Aracaju (SE) com o municpio da Barra dos Coqueiros (SE) por meio da
ponte no baixo curso do rio Sergipe, teve como consequncia o desativao dos servios das lanchas que
faziam o transporte regular de cargas e passageiros, e com isso o Terminal Hidrovirio foi desativado e o
comrcio na reas adjacncias deste local foi diminuindo. Uma nova geografia foi construda com acessos
mais rpidos e com dinamismo urbano mais acentuado e com tendncia a ser ampliado.
Nesse sentido, a interpretao do turismo como atividade econmica de salutar rentabilidade atrai
os muncipes para o mercado autnomo e os empreendedores comeam a investir neste setor econmico,
principalmente na Praia da Costa dada sua localizao geogrfica e proximidade com a sede do municpio e
agora com a capital, Aracaju. Sob essa situao as pessoas de classes menos favorecidas que construram
suas casas na praia, transformam essas residncias em comrcio; so os bares que atendem aos turistas
mesmo sem estrutura bsica como rede de gua e esgoto.
Porm, a principal modificao na paisagem municipal foi inaugurao do primeiro resort de
bandeira internacional do Estado de Sergipe, e como consequncia o governo estadual autorizou obras de
alargamento e reestruturao da Rodovia SE-100 no trecho que liga a entrada do municpio at a Atalaia
Nova (VILAR, 2010). A infraestrutura, algo bsico para alavancar o turismo, ainda apresenta problemas
graves limitando o potencial da Praia da Costa.
Alm das alteraes j mencionadas, outras esto sendo planejadas, que so: a instalao do
Aeroclube de Sergipe, que se justifica como um ganho para o turismo internacional, uma vez que este
ficaria prximo ao resort e de loteamentos que podero servir para a construo de segundas residncias
para brasileiros e estrangeiros; e o projeto de urbanizao da orla martima implantado nas imediaes da
Praia da Costa. Vale ressaltar que somente como o anncio desse projeto foi observado um aumento do
nmero de assentamentos precrios, sem a menor estrutura, modificando negativamente a paisagem para
o turismo. Essas ocupaes irregulares na Praia da Costa tem sido um constante que necessita de uma
interveno pblica em termos de monitoramento e aes sociais para a populao local to empobrecida.
O descompasso existente entre as polticas pblicas e o crescimento do turismo na Barra dos
Coqueiros em geral e na Praia da Costa em particular degrada ambiente natural e meio construdo, alm de
gerar problemas de natureza social, j que a populao se encontra despreparada para oferecer servios
baseados na compreenso do turismo como processo de desenvolvimento no s econmico, como social
e ambiental. Ademais, a dimenso cultural no tem sido valorizada neste processo contribuindo para
ampliar a fora dos atrativos naturais. Vale igualmente ressaltar que a falta de monitoramento com as
formadas de uso e ocupao do solo tem gerado danos irreparveis ao bioma litorneo, pois as agresses
so constantes, severas e com tendncia a ampliao.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

232
O resort presente na regio, apesar gerar emprego e renda para alguns moradores do muncipio,
traz na sua essncia srios problemas para a Praia da Costa, onde est situado, pois o trecho costeiro
sofreu uma espcie de privatizao, desrespeitando a constituio federal, em seu artigo 20, que define os
ambientes de praia como bens da Unio.
Diante dessas observaes, o presente artigo prope a aliana entre o poder pblico, a populao
local, as instituies de ensino, os lderes comunitrios e as ONGs, na formao de coletivos educadores,
pois por meio da interveno consistentes e continuadas no turismo de sol e praia em bases sustentveis,
ou seja, que considere o trinmio respeito aos atrativos locais, gerao de renda e ocupao geogrfica
equilibrada poderia ser desenvolvido na Praia da Costa e tambm na Atalaia Nova que tem mais tradio
no uso turstico da franja litornea, mas que dadas as condies atuais do molhe perdeu um pouco sua
atratividade natural.
Com os todos os atores sociais envolvidos, a sensibilizao ambiental dos visitantes ser maior, haja
vista que sero motivados pelos moradores a manter a praia limpa. Coletivos educadores, de acordo com o
Ministrio do Meio Ambiente (MMA) (2010), tem o objetivo de formar atores sociais/educadores
ambientais populares crticos e atuantes.
Segundo o MMA (2010), a constituio do Coletivo Educador surge como uma estratgia para a
implementao de polticas pblicas federais, estaduais e municipais de educao ambiental, uma vez que
uma instncia institucional de interlocuo e de referncia para as aes educadoras locais. Por meio dos
Coletivos Educadores, os diversos Ministrios e instituies com atuao junto a temas como educao
ambiental, extenso rural, saneamento ambiental, sustentabilidade, diversidade, qualidade de vida,
autonomia, educao e participao social, podero interagir para formular estratgias de mudanas.

5. CONSIDERAES FINAIS
Por ser muito dinmica, a paisagem deve ser meticulosamente estudada no mbito turstico para
que no seja apropriada como uma mera mercadoria de consumo, uma vez que toda a concretude e
contexto paisagstico extremamente relevante para as comunidades locais, pois neste espao comportase a histria e a cultura local.
Os turistas continuam buscando lugares e principalmente praias paradisacas, ou seja, a busca pelo
den tropical continua. Assim, paisagens naturais despoludas e longe da degradao so valorizadas. Para
a preservao do meio ambiente e minimizao do vandalismo algumas medidas devem ser tomadas pelos
consumidores da paisagem, e o turista tambm pode contribuir bastante para minimizar os impactos
produzidos pela atividade turstica. Isso no significa transferir ao turista culpa ou responsabilidade pela
problemtica ambiental, apenas sensibiliz-lo quanto necessidade de valorizar o meio ambiente e usar
adequadamente os recursos tursticos do nosso litoral.
Surge, nesse contexto, como resposta a valorizao ambiental pelo turista o turismo de sol e praia
em bases sustentveis. Educao ambiental e turismo se aliam nesse processo para criar novas
oportunidades de vivncias no homem com a natureza e a construo de novas relaes com o mundo.
vlido ressaltar que o desequilbrio psicolgico e socioambiental atualmente vivenciado, o reflexo do
modo limitado que os seres humanos tem de pensar e ver o mundo.
Os problemas ambientais no se referem unicamente a dinmica da natureza, as degradaes nas
relaes sociais e individuais fazem parte da mesma problemtica. Em razo dessa realidade, novas formas
de explorao dos recursos naturais com finalidade turstica devem ser impostas levando em considerao
as limitaes de uso das paisagens e dos atrativos naturais, para que as futuras geraes tambm possam
usufruir. Nesse sentido, os que vivem do turismo poderiam se tornar orientadores de aes de educao
ambiental para os turistas.
REFERNCIAS
BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Fsica Global. Esboo Metodolgico. RAE GA, Curitiba,
n.
8,
p.
141-152,
2004.
Editora
UFPR.
Disponvel
em:
<http://www.nepa.ufma.br/Producao/importantes/paisagem%20bertrand.pdf>
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Histrico do municpio da Barra dos
Coqueiros. Disponvel em <http://www.biblioteca.ibge.gov.br>. Acesso em: 31 de maro de 2010.
Joo Pessoa, outubro de 2011

233
BRASIL.
Ministrio
do
Meio
Ambiente.
Coletivos
Educadores.
Disponvel
em:<http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=20&idMenu=4>
BRASIL. Ministrio do Turismo. Planejamento e Gesto do Turismo. Disponvel em
<http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/planejamento_gestao/>. Acesso em: 30 de maro
de 2010.
CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. As paisagens artificiais criadas pelo turismo In :YAZIGI, C (org)
Turismo e Paisagem. So Paulo: Contexto, 2002.
DIAS, Reinaldo. Turismo sustentvel e meio ambiente. So Paulo: Atlas, 2003.
Disponvel em: <http://www.amigosdanatureza.org.br/noticias/358/trabalhos/252.paisagem.pdf>
ITO, Claudemira Azevedo. Percepo da Paisagem e do Meio Ambiente no Turismo. 2007.
MENDONA, Rita; NEIMAN, Zysman (Org.). Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole, 2005.
SERGIPE. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hdricos. Disponvel em
<http://www.semarh.se.gov.br/srh/>
SERRANO, Clia Maria de Toledo; BRUHNS, Helosa Turini (Orgs.). Viagens Natureza: Turismo,
cultura e ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1997.
SILVEIRA, Emerson Lizandro Dias. Paisagem: um conceito chave na geografia. Disponvel em:
<http://egal2009.easyplanners.info/area07/7624_Dias_Silveira_Emerson_Lizandro.pdf>
TRIBE, J. Economia do Lazer e do Turismo. So Paulo: Manole, 2003.
TUAN, Yi-Fu. Espao e lugar: a perspectiva da experincia. So Paulo: DIFEL, 1983.
VILAR, J.W.C.; FONSECA, Vnia; SANTOS, Max Alberto Nascimento. Abertura territorial e alteraes
socioambientais em Barra dos Coqueiros (SE). In: ARAJO, H. M.; VILAR, J.W.C. Territrio, meio ambiente e
turismo no litoral sergipano. So Cristvo: Editora UFS, 2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

234

EDUCAO AMBIENTAL E TURISMO COMUNITRIO NA ZONA COSTEIRA


CEARENSE: O CASO DA PRAINHA DE CANTO VERDE-CE
Rafaela Barbosa
Graduanda em Gesto de Turismo pela Faculdade Ateneu
rafaela.barbosa21@yahoo.com.br
Erica Silva Pontes
Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal do Cear/Professora da Faculdade Ateneu
ericageografi@yahoo.com.br

RESUMO
O turismo uma das atividades que movimenta a economia no estado do Cear, e vem crescendo
de forma acelerada. Para o poder pblico, esta atividade proporciona no s o progresso econmico, mas
tambm a oportunidade de desenvolvimento social, cultural e ambiental destas localidades. Porm, muitos
empreendimentos e municpios acabam por implantar a atividade turstica sem planejamento e de forma
desordenada, deixando de lado na maioria dos casos, questes essenciais para a gesto de uma rea, como
por exemplo, a proteo ambiental e a incluso social. Cabe ressaltar que para a atividade turstica ter
continuidade h de se compreender a relao direta entre esses elementos scio-econmicos, polticos,
fsico-ambientais, histrico-culturais do ambiente.
INTRODUO
Nos ltimos anos, podemos citar inmeros trabalhos e discusses tm estudado os impactos
negativos do turismo, advertindo-nos sobre o crescimento desordenado e a falta de conhecimento sobre os
problemas que poderia acarretar no futuro, prximo ou distante, acabaram provocando danos irreversveis
ao meio ambiente e s culturas humanas. O medo dos ambientalistas e estudiosos sobre o assunto que
acontea com os ncleos tursticos o mesmo que ocorre com qualquer produto da sociedade de consumo.
Quando um produto deixa de ser comprado, os fabricantes o descartam e os substituem por outro. Porm,
em se tratando da atividade turstica, o produto corresponde a populaes inteiras, que, quando os
turistas no quiserem como mais um objeto de consumo, no podero ser jogadas no lixo. Essa
preocupao relevante, pois possvel dizer que a indstria das viagens ocasionou uma mudana nos
povos do mediterrneo numa escala que nem Alexandre, Jlio Csar ou a Igreja Catlica conseguiram no
decorrer de pouco mais de 2 mil anos.
A natureza formada pelo conjunto dos recursos naturais, que constituem a base material da
existncia do homem. O relacionamento deste com a natureza depende de vrios fatores, tais como modo
de produo, estgio scio-econmico e tecnolgico, etc. Podemos utilizar como exemplo as antigas
sociedades comunitrias, onde a dependncia do homem com relao natureza era praticamente total, o
homem retirava da natureza apenas o necessrio para sua sobrevivncia.
Devido ao advento do capitalismo, a explorao destes recursos naturais sofreu profunda alterao
em relao aos seus objetivos, o capitalismo estabeleceu uma relao homem x natureza de forma
predatria, fazendo com que a sociedade ao longo dos anos se tornasse extremamente consumista, tendo
como foco o lucro. No sculo XX, com o avano das tecnologias e do crescimento populacional, o homem
comeou a perceber que esta matria-prima oriunda dos recursos naturais era esgotvel.
A conscientizao sobre desenvolvimento sustentvel s comeou a ser popularizada em 1992
numa conferncia realizada pela ONU, no Rio de Janeiro, onde a questo abordada era Meio Ambiente e
Desenvolvimento.
Na histria do nosso pas, a extrao de produtos nativos da biodiversidade uma atividade
constante. Vem atravessando os ciclos econmicos, encontrando pocas em que se constitua como
principal atividade regional. Mas, em pleno sculo XXI possvel ver esta atividade sendo a base econmica
de muitas famlias como o caso das famlias que habitam a Prainha de Canto Verde.
Para a manuteno dessa biodiversidade, necessria uma preparao da comunidade para
conservao dos recursos naturais, alm de uma organizao comunitria elevada para a garantia da terra
para as futuras geraes da comunidade tradicional. Como ferramenta eficaz, temos a educao ambiental,
formal e informal, a ser desenvolvida na rea em questo.
Joo Pessoa, outubro de 2011

235
Esta comunidade foi escolhida devido ao trabalho desenvolvido com a educao ambiental e o
turismo comunitrio. Por esse motivo, este trabalho tem o objetivo de aperfeioar a metodologia de
educao ambiental desenvolvido na comunidade citada.
Diante do exposto, faz-se necessrio enriquecer a discusso sobre as possibilidades de melhorias
provocadas pelo desenvolvimento do turismo, potencializando os impactos positivos da atividade.
Pretende-se, ento, colaborar para o crescimento de trabalhos sustentveis como aquele desenvolvido na
Prainha de Canto Verde, localizada em Beberibe -CE, incentivando a gesto econmica local e a
preservao ecolgica existente.
JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAO
nesse contexto que vemos a importncia das unidades de conservao, como as reservas
extrativistas (RESEX), que so espaos territoriais destinados explorao sustentvel e conservao dos
recursos naturais renovveis, por populaes tradicionais. Em tais reas possvel materializar o
desenvolvimento sustentvel, equilibrando interesses ecolgicos de conservao ambiental, com interesses
sociais de melhoria de vida das populaes que ali habitam. Quando falamos de reservas extrativistas
lembramo-nos da RESEX mais famosa do nosso pas, que a reserva extrativista da AMAZNIA. Inclusive as
RESEX so categorizadas em duas modalidades so elas: a da AMAZNIA e MARINHA.
Oficialmente, conforme o Decreto N 98.897, a seguinte a conceituao de Reservas Extrativistas:
Art. 1. As Reservas Extrativistas so espaos territoriais destinados explorao auto-sustentvel e
conservao dos recursos naturais renovveis, por populao extrativista.
Art. 2. O Poder Executivo criar Reservas Extrativistas em espaos territoriais considerados de
interesse ecolgico e social.
Pargrafo nico - So espaos territoriais considerados de interesse ecolgico e social as reas que
possuam caractersticas naturais ou exemplares da biota que possibilitam a sua explorao auto-sustentvel,
sem prejuzo da conservao ambiental.
Art. 3. Do ato de criao constaro os limites geogrficos, a populao destinatria e as medidas a
serem tomadas pelo Poder Executivo para sua implantao, ficando a cargo do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - IBAMA, as desapropriaes que se fizerem necessrias.
Art. 4. A explorao auto-sustentvel e a conservao dos recursos naturais sero reguladas por
Contrato de Concesso Real de Uso, na forma do artigo 7 do Decreto-lei N 271, de 28 de fevereiro de 1967.
Inciso primeiro - O direito real de uso ser concedido a ttulo gratuito.
Inciso segundo - O contrato de concesso incluir o plano de utilizao aprovado pelo IBAMA e
conter clusula de resciso quando houver quaisquer danos ao meio ambiente ou a transferncia da
concesso "inter vivos".
Art. 5. Caber ao IBAMA supervisionar as reas extrativistas e acompanhar o cumprimento das
condies estipuladas no contrato de que trata o artigo anterior.

fcil deduzir que segundo o Decreto, as Reservas Extrativistas no podem ser modelo de
desenvolvimento para todo o Brasil. Elas so vlidas, apenas, para algumas regies onde houver as
condies constantes no Decreto:
1. Existncia de recursos naturais renovveis e de populaes extrativistas.
2. Espaos territoriais considerados de interesse ecolgico e social.
3. Garantia de auto-sustentabilidade mediante a aprovao, pelo IBAMA, de um plano de utilizao.
Assim, a reserva extrativista da Prainha do Canto Verde garante a conservao do ecossistema
costeiro, marinho e terrestre, mantendo a principal fonte de subsistncia de sua populao: a pesca
artesanal.
A pesquisa Educao Ambiental e Turismo Comunitrio na Zona Costeira Cearense: o caso da
Prainha de Canto Verde-Ce tem como foco apontar solues para os problemas mencionados a seguir:
Em que a educao ambiental contribui para o desenvolvimento do turismo comunitrio? Como
trabalhada a temtica ambiental com os visitantes?
De que maneira a comunidade desenvolve atividades de educao ambiental?
Como desenvolvido o (eco) turismo comunitrio em uma RESEX, Unidade de Conservao de uso
sustentvel?

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

236
Desta feita, o objetivo geral deste trabalho compreender o desenvolvimento da educao
ambiental em unidade de conservao de uso sustentvel, atravs do turismo comunitrio. Para tanto, ser
necessrio identificar aes de educao ambiental na escola formal; desenvolver ferramentas
metodolgicas para aes de educao ambiental no universo escolar; apontar atividades de educao
ambiental criada a partir da atividade turstica; construir o calendrio de eventos ambientais.
FUNDAMENTOS TERICOS
A atividade ecoturstica visa o crescimento da comunidade, estimulando assim o uso dos seus
direitos sociais e deveres individuais e coletivos possibilitando a comunidade ao desenvolvimento
econmico utilizando de seus prprios recursos.
Esta atividade comunitria estimula a preservao do meio ambiente e da cultura local oferecendo
assim bases slidas para a consolidao do turismo responsvel, estimulando uma poltica de
desenvolvimento sustentvel pelas condies de sobrevivncia.
A promoo do turismo comunitrio abre espao para as comunidades, que so levadas
transformao das mesmas em ncleos receptores do turismo, buscando no mesmo, ferramentas para o
desenvolvimento local, alm de se autobeneficiarem com a produo de produtos e prestao de servios.
Aderem ao associativismo atravs de cooperativas e organizaes comunitrias. (Morais, Wallqiraecotour.07/05/2007)

As comunidades que aderem a esta atividade trazem transformaes aos ncleos receptores, tendo
como objetivo ferramentas para o desenvolvimento local, alm de auto-beneficiarem com a produo local
de produtos diversos e prestao de servios. Eles se organizam atravs de cooperativas, associaes
comunitrias, aderem o associativismo.
Como o turismo comunitrio vem se expandindo em nosso pas, necessrio trabalhar outro
conceito relacionado que a Educao Ambiental, que a condio necessria para modificar um quadro
de crescente degradao socioambiental, mas ela ainda no suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000),
se converte em mais uma ferramenta de mediao necessria entre culturas, comportamentos
diferenciados e interesses de grupos sociais para a construo das transformaes desejadas
O desafio , pois, o de formular uma educao ambiental que seja crtica e inovadora, em dois
nveis: formal e no formal. Assim a educao ambiental deve ser acima de tudo um ato poltico voltado
para a transformao social.
METODOLOGIA (CARACTERIZAO E PROCEDIMENTOS)
A busca por respostas Problematizao inicial ser dada a partir da escolha de uma comunidade
tradicional litornea onde sero desenvolvidas parcerias e atividades na(s) unidade(s) escolar (es) para o
estabelecimento de atividades pedaggicas curriculares e extracurriculares.
Sero feitos trabalhos de campo para a identificao dos mecanismos j desenvolvidos no processo
de sensibilizao j utilizado na comunidade como forma de Educao Ambiental, tanto para turistas como
para os nativos.
Sero firmadas parcerias para desenvolvimento de atividades socioeducativas no universo escolar e
na comunidade, em geral. Estabelecimento de atividades pedaggicas curriculares e extracurriculares na
unidade escolar, baseadas em idias motrizes citadas por CAVALCANTI (2002) que so:
construtivismo/socioconstrutivismo; a geografia do aluno; seleo de conceitos geogrficos bsicos.
As etapas da pesquisa desenvolvidas constituem-se como: sinttica, com a caracterizao de
unidades de paisagem e suas formas de uso e ocupao, cujos dados serviro de base para as informaes
elaboradas para sensibilizao da comunidade; analtica, com o diagnstico socioambiental e educacional;
dialtica, com a identificao de potencialidades e limitaes de uso, como suporte terico visando a
elaborao do programa de educao ambiental.
De maneira geral, as etapas a serem desenvolvidas correspondem a: Pesquisa bibliogrfica,
Sensoriamento remoto e base geocartogrfica, Trabalhos de campo, Confeco de material didtico;
Esboo do Plano de Educao Ambiental; Redao do texto final.
CONSIDERAES
Joo Pessoa, outubro de 2011

237
Durante a realizao do Trabalho de Campo, assumimos o desafio de buscar o conhecimento sobre
o cotidiano dos habitantes da Prainha de Canto Verde, para conhecermos os projetos desenvolvidos na
comunidade.
O desenvolvimento do tema - EDUCAO AMBIENTAL E TURISMO COMUNITRIO NA ZONA
COSTEIRA CEARENSE: O CASO DA PRAINHA DE CANTO VERDE-CE foi proposto devido ao grande potencial
turstico e organizao social da comunidade.
Atravs deste trabalho nos permitiu enquanto estudantes dirigentes, articular muitos dos
conhecimentos adquiridos ao longo das pesquisas juntamente com a prtica, sobre a importncia do
desenvolvimento de projetos que apiem a Educao ambiental e Turismo comunitrio.
Principalmente, devido ao fato da atividade Turstica hoje ser apontada como uma das
responsveis por muitos danos causados ao Meio Ambiente.
A comunidade de Canto Verde um exemplo, de uma regio litornea com grande potencial
turstico, ao contrrio de muitos plos Tursticos traz como prioridade a preservao Ambiental, J que a
principal fonte de renda da comunidade proveniente da RESEX Reserva Extrativista. E tambm da
comercializao de produtos artesanais desenvolvidos pelos prprios nativos disponveis para os visitantes
na Bodega lojinha artesanal da comunidade.
Os nativos Participam de projetos culturais desenvolvidos pela prpria comunidade, como o caso
da Regata Ecolgica.
A questo preservao ambiental um tema abordado por toda a Comunidade durante o ano
todo, do Qual realizados concursos para a escolha de temas, os temas selecionados so pintados nas
Velas das jangadas,
Infelizmente a comunidade no conta muito com o apoio do Poder Publico para a realizao de um
evento to interessante como este.
Esperamos que este projeto incentive a outras regies a desenvolverem trabalhos educativos e
sustentveis como o que desenvolvido na Prainha de Canto Verde .
ANEXO

Espao verde da comunidade

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

238

II. Frente da Loja Artesanal

Artigos desenvolvidos pelas artess


BIBLIOGRAFIA
CAVALCANTI, L. de S. Geografia e prticas de ensino. Goinia: Editora Alternativa, 2002.
PENTEADO, Helosa Dupas. Meio ambiente e formao de professores. 3 ed. So Paulo: Cortez,
2000. (Coleo Questes da Nossa poca)
PONTES, Erica Silva. Anlise da paisagem: instrumentos para o turismo comunitrio na Prainha do
Canto Verde-Cear. Dissertao (Mestrado Acadmico em Geografia) Universidade Estadual do Cear.
Fortaleza, 2005.
RODRIGUEZ, Jos Manuel Mateo e SILVA, Edson Vicente. Educao Ambiental e desenvolvimento
sustentvel: problemtica, tendncias e desafios. Fortaleza: Editora UFC, 2009.
SOARES, Ftima Maria. Zoneamento Geoambiental da Prainha do Canto Verde. [s.n.], 2000.
TAMAIO, I. A Mediao do professor na construo do conceito de natureza. Campinas, 2000.
Dissert. (Mestr.) FE/Unicamp.

Joo Pessoa, outubro de 2011

239

DESAFIOS DAS POLTICAS PBLICAS DE TURISMO: MUNICPIO PARAIBANO


DO CONDE EM ANLISE
Rafaella SOARES ESPNOLA

72

RESUMO
O artigo pretende analisar as polticas pblicas de turismo brasileiras direcionadas s regies
litorneas do Nordeste, e mais especificamente, as polticas desenvolvidas no municpio do Conde, na
Paraba. Para isto, faremos um breve panorama das polticas pblicas de turismo brasileiras e apontaremos
o papel do PRODETUR-NE nas aes polticas de turismo da Paraba. Em seguida, avaliaremos as polticas de
turismo do Conde a partir das consideraes do secretrio de turismo do Conde. Por fim, faremos uma
reflexo a cerca dos desafios e sustentabilidade dessas polticas pblicas de turismo nacionais e locais. Do
ponto de vista metodolgico, o artigo adotar uma abordagem qualitativa utilizando a reviso bibliogrfica
e uma entrevista realizada com o secretrio de turismo do Conde como principais instrumentos de
pesquisa. Concluiu-se que o grande desafio das polticas pblicas de turismo consiste na ausncia de um
planejamento estratgico de aes pblicas que envolva o desenvolvimento sustentvel e a participao
popular em todo o processo.
Palavras-Chave: Polticas Pblicas, Turismo, desenvolvimento sustentvel, participao popular.
INTRODUO
De acordo com Ignarra (2003, p.14), o turismo um fenmeno complexo que implica na
combinao de atividades, servios e indstrias que se relacionam com a realizao de uma viagem.
O turismo est totalmente relacionado com as polticas pblicas, que, em parceria com o setor
privado, responsvel pelo tipo (ou segmento) de turismo que se deseja investir e desenvolver em uma
localidade.
Por polticas pblicas entendemos as aes de governo que podem ser divididas em atividades
diretas de produo de servios pelo prprio Estado e em atividades de regulao que influenciam as
realidades econmica, social, ambiental, espacial e cultural (LUCCHESE, 2004 apud MENDES et Al., 2010,
p.4). Vale salientar que o acompanhamento de todo o processo das polticas pblicas desde seu
planejamento ps execuo essencial e devem ser permanentes. Essas polticas devem atender as
necessidades locais, o que na maioria das vezes no acontece na prtica.
As polticas pblicas de turismo, por sua vez, envolvem o estabelecimento de metas e diretrizes
que orientem o desenvolvimento socioespacial da atividade, tanto no que tange esfera pblica como no
que se refere iniciativa privada (CRUZ, 2002, p.9). Para o desenvolvimento sustentvel da atividade
turstica, preciso priorizar a etapa do planejamento73 e monitorar o crescimento do turismo de forma a
minimizar os impactos negativos. Para Cruz (2002, p.9), na ausncia da poltica pblica, o turismo se d
revelia, ou seja, ao sabor de iniciativas e interesses particulares. Por isso, o papel do setor pblico
fundamental, pois por meio das polticas pblicas ele vai dar o apoio aos incentivos fiscais, a infra-estrutura,
aos cursos de capacitao, por exemplo, entre outros.
O turismo visto, muitas vezes, como a soluo para o desenvolvimento de uma localidade e a
gerao de emprego e renda, por isso muitas localidades procuram se inserir no mercado turstico em
busca desses benefcios. Dentre eles, podemos citar a gerao de emprego e renda, o desenvolvimento de
infra-estrutura local (acesso, indstrias, novas empresas,etc). De acordo com Ignarra (2003, p.78), o
turismo pode trazer ainda outros benefcios como: gerar divisas estrangeiras, favorecer o entendimento
e a paz mundiais, criar uma imagem externa favorvel da localidade, incrementar o Produto Nacional

72

Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA-UFPB), Graduada em Turismo UFPB,


Graduada em Relaes Internacionais UEPB. E-mail: rafaellafr@hotmail.com.
73
O planejamento consiste na definio dos objetivos, na ordenao dos recursos materiais e humanos, na
determinao de mtodos e formas de organizao, no estabelecimento das medidas de tempo, quantidade e
qualidade, na localizao espacial das atividades e outras especificaes necessrias (MUNOZ, 1993 apud IGNARRA,
2003, p.81).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

240
Bruto, ter um grande efeito multiplicador, justificar a proteo e o melhoramento das condies
ambientais, entre outros.
Por outro lado, existe uma outra vertente que questiona a eficcia da atividade turstica como fator
de desenvolvimento. Nesta viso argumenta-se que o turismo tem um papel neocolonizador, criador de
laos de dependncia, que provoca diversos impactos ambientais e uma alta informalidade dos empregos,
de qualidade questionvel (DELGADO, 2009).
No Brasil, a modalidade de turismo predominante a intitulada de sol e mar ou
litornea, em decorrncia do clima tropical e diversas praias do pas, embora tambm exista diversas
outras modalidades de turismo no pas como o turismo de aventura, o turismo ecolgico, turismo rural,
entre outros. Estas reas mais tursticas so tambm as mais urbanizadas, visto que a atividade turstica
requer infra-estrutura de suporte (urbana) e turstica (de apoio aos hspedes). Contudo, as polticas
pblicas desenvolvidas no pas ainda bastante falha, e fica evidente ainda a carncia de infra-estrutura
bsica mesmo nos locais mais tursticos, a falta de segurana, etc.
Desta forma, o artigo pretende analisar as polticas pblicas de turismo brasileiras
direcionadas s regies litorneas do Nordeste, e mais especificamente, as polticas desenvolvidas no
municpio do Conde, na Paraba com o intuito de refletir sobre os principais desafios deste tipo de poltica
pblica.
Do ponto de vista metodolgico, ser utilizado o mtodo de abordagem qualitativo e a
reviso bibliogrfica bem como uma entrevista realizada com o secretrio de turismo do Conde como
principais instrumentos de pesquisa.
DO NACIONAL AO LOCAL: PANORAMA DAS POLTICAS PBLICAS DE TURISMO BRASILEIRAS E O
PAPEL DO PRODETUR-NE NAS POLTICAS PBLICAS LOCAIS.
Segundo Cruz (2002, p.40), as polticas pblicas de turismo podem ser entendidas como um
conjunto de intenes, diretrizes e estratgias estabelecidas e/ou aes deliberadas, no mbito do poder
pblico, em virtude do objetivo geral de alcanar e/ou dar continuidade ao pleno desenvolvimento da
atividade turstica num dado territrio. E fato que todo tipo de poltica pressupe uma ideologia, uma
tomada de posio em direo a uma viso de mundo e um tipo de desenvolvimento que se deseja
alcanar.
No Brasil, o incio do planejamento turstico se deu, em 1966, com a criao da Empresa Brasileira de
Turismo (EMBRATUR) e do Conselho Nacional de Turismo (CNTUR), que constituiu o chamado Sistema
Nacional de Turismo. A principal idia na poca era atrair investimentos externos por meio de incentivos
financeiros. (DELGADO, 2009). Esses dois rgos foram essenciais na construo das polticas nacionais de
turismo. Porm, at a dcada de 1990, a poltica nacional de turismo foi reduziu-se ampliao e melhoria
da infra-estrutura hoteleira (CRUZ, 2002, p.53).
Em 1991, houve a reestruturao da EMBRATUR, que passou de empresa pblica a autarquia
especial. A EMBRATUR passou a ser intitulada de Instituto Brasileiro de Turismo e lhe foi atribuda a
finalidade de formular, coordenar, executar e fazer executar a Poltica Nacional de Turismo (CRUZ, 2002,
P.57).

Em 1992, foram criadas as diretrizes da Poltica Nacional de Turismo (PNT), cujo instrumento de
operacionalizao era o PLANTUR (Plano Nacional de Turismo), que no chegou a sair do papel visto que o
Plano Nacional de Turismo, que deveria constituir um instrumento de efetivao da poltica, foi institudo
antes de a poltica de turismo ser implementada (CRUZ, 2002, p. 62), que s se efetivou em 1996.
Em 1994, a instituio do Programa Nacional de Municipalizao do Turismo (PNMT) marca a nova
fase de descentralizao das polticas pblicas de turismo, permitindo que que fossem consideradas as
caractersticas de cada esfera no planejamento turstico, envolvendo o nvel municipal, estadual e federal
(ANDRADE, 2007, p. 53 apud Moura, 2008, p.42). O objetivo principal do PNMT consistia em melhorar o
produto turstico brasileiro atravs da conscientizao dos municpios e de seus residentes acerca dos
benefcios econmicos que o turismo poderia trazer, assim como da descentralizao das atividades de
planejamento. (MOURA, 2008). Entretanto, o programa no obteve xito devido insignificante
participao do setor privado e das comunidades locais.

Joo Pessoa, outubro de 2011

241
J em 1996, foi criada a Poltica Nacional de Turismo: Diretrizes e Programas, que compreendia as
diretrizes, metas e objetivos de turismo at 1999 e cujo discurso oficial era apoiado em cinco
macroestratgia, destacadas por Moura (2008, p.43) como:
1. A implantao de infra-estrutura bsica e turstica
2. A capacitao de recursos humanos para o setor
3. A modernizao da legislao
4. A descentralizao da gesto do turismo
5. A promoo do turismo no Brasil e no exterior

Posteriormente, em 2003, foi criado o Plano Nacional de Turismo (2003-2007) com o objetivo de
consolidar o Ministrio de Turismo como articulador do processo de integrao dos diversos segmentos
do setor turstico, cabendo EMBRATUR voltar seu foco para a promoo, marketing e apoio
comercializao do produto turstico brasileiro no mundo (DIAS, 2003, p. 140).
Vale ressaltar que, somente em 2003, foi criado o Ministrio do Turismo que foi saudado
por todas as organizaes ligadas ao turismo como medida que demonstra a valorizao da atividade pelo
novo governo (DIAS, 2003,p.138).
No Nordeste, as polticas pblicas de turismo foram marcadas por duas polticas regionais:
a Poltica de Megaprojetos tursticos, que objetiva ampliar a infra-estrutura hoteleira regional e o
Programa para o desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR-NE), que busca melhorar os
aspectos da infra-estrutura bsica e de acesso e aperfeioar o sistema institucional de gesto da
atividade (CRUZ, 2002, p.77).
A poltica de megaprojetos do Nordeste consiste na urbanizao turstica de trechos
litorneos poucos ou nada urbanizados e objetiva, sobretudo, ampliar a infra-estrutura hoteleira dos
estados, tendo os respectivos governos dos estados como principais empreendedores. Entres os
megaprojetos, Cruz (2002, p.80) cita:
O Projeto Parque das Dunas Via Costeira (Natal RN)
O projeto Cabo Branco (Paraba)
O projeto Costa Dourada (Pernambuco e Alagoas)
O projeto Linha Verde (Bahia)

Um dos principais projetos foi o intitulado Costa Dourada, nas dcadas de 1980 e 1990, cujo
principal objetivo foi desenvolver a infra-estrutura hoteleira do litoral sul de Pernambuco e do norte de
Alagoas. Entretanto, o megaprojeto no obteve o xito desejado em razo da falta de infra-estrutura geral
(acesso, saneamento,etc), um grande problema a ser resolvido em todo o pas. Neste contexto, o ento
presidente da poca, Fernando Collor de Mello, criou, em parceria com a SUDENE e a EMBRATUR, um
programa que dotasse de infra-estrutura as regies nordestinas consideradas de vocao turstica (ler-se
regies litorneas) e assim foi institudo o Programa de Ao para o Desenvolvimento do Turismo no
Nordeste (PRODETUR-NE) em 1992 (DELGADO, 2008, p.37).
Este programa priorizou a implantao de infra-estrutura de saneamento bsico e de
acesso (26,2% do volume total dos recursos, cerca de US$ 800 milhes); destinou aproximadamente 36,7%
para obras mltiplas (disposio de lixo slido, transporte, recuperao ambiental e do patrimnio
histrico); 11% foram destinados reforma e ampliao de aeroportos; e o restante foi destinado aos
programas de qualificao de mo-de-obra e custos de operao. Ou seja, o PRODETUR uma poltica de
turismo que, na verdade, possui programas de uma poltica urbana, no contemplando, especificamente,
obras de infra-estrutura turstica (CRUZ, 2002).
O PRODETUR-NE, em sua primeira fase, compreendia os noves estados nordestinos e na
segunda fase, alm destes estados, foram acrescentadas a regio norte dos estados de Minas Gerais e
Esprito Santo. O programa foi financiado dom recursos externos, como explica Delgado (2008, p.37 apud
BENI, 2006, p.27):
O PRODETUR/ NE foi estruturado com recursos externos, provenientes em sua quase totalidade BID
e do Banco Mundial (BIRD), tornando-se o programa por meio do qual o governo interviu na regio atravs de
aes de ordenamento e de alavancagem do processo de desenvolvimento turstico no territrio,
notadamente com a implantao de infra-estrutura bsica (transporte, saneamento,energia), instalao de
equipamentos urbanos e oferta de servios pblicos em espaos considerados com vocao turstica e
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

242
definio para a expanso turstica.Os recursos e investimentos destinados a esse programa foram
concentradamente aplicados na construo e operacionalizao dos aeroportos da regio.

Apesar dos benefcios trazidos com o PRODETUR, o programa recebeu algumas crticas por
privilegiar o turismo de sol e mar em detrimento dos outros segmentos tursticos, que necessitam de mais
ateno e investimento para sobreviverem, como o turismo sertanejo e o turismo rural (DELGADO, 2008).
Alm disso, o fato dos recursos serem destinados aos grandes receptores de turismo, j consolidados
nvel regional e nacional, implica no aumento das desigualdades sociais e econmicas entre as localidades
tursticas. Critica-se tambm a ausncia da participao popular no processo de desenvolvimento das
polticas pblicas de turismo, uma vez que a imposio de modelos e aes sem o consentimento da
populao local pode gerar grandes conflitos sociais.
Na Paraba o principal rgo turstico a PBTUR (Empresa Paraibana de Turismo S/A),
criada em 1975. A PBTUR vinculada a secretaria de turismo do estado e responsvel pela poltica de
marketing deste destino turstico.
Em 1988, o Governo do Estado lanou o Plano de Desenvolvimento Turstico da Paraba, que
apresentava o Projeto Costa do Sol (atualmente intitulado Plo Turstico Cabo Branco) como principal ao.
O projeto seguia uma tendncia regional da poltica de Megaprojetos das dcadas de 1970 e 1980 e foi
inspirado no modelo de indstria turstica desenvolvido em Cancn, no Mxico. Nessa poltica pblica o
Estado atua como idealizador, empreendedor e financiador do megaprojeto (MOURA, 2009, p.3).
Na dcada de 1990, o PRODETUR-NE financiou projetos como o Plo Turstico Cabo Branco e o
Plano Amanher, mas o problema da falta de continuidade das aes polticas devido s intrigas partidrias
e de governo fez com que muitos projetos ainda estejam parados.
Delgado (2008, p.39) explica que os investimentos do PRODETUR-NE no estado paraibano, e em sua
primeira fase, ocorreram no campo das aes de desenvolvimento institucional, saneamento na forma de
abastecimento de gua e esgotamento sanitrio, projeto de transporte com a construo de rodovias,
recuperao de patrimnio histrico, elaborao de projetos/ estudos.
O PRODETUR-NE possibilitou a criao da PB-008, rodovia que liga a capital paraibana, Joo Pessoa,
aos municpios litorneos, inclusive o Conde. O programa foi considerado inovar por destacar a importncia
da infra-estrutura urbana para o turismo e dar visibilidade a Paraba e alguns municpios paraibanos, dando
subsdios para que tais destinos pudessem se inserir no turismo e competir em nvel nacional e
internacional.
Os investimentos do PRODETUR I possibilitaram algumas obras fsicas nos municpios de Cabedelo,
Conde, Joo Pessoa e Pitimbu.
Na segunda fase do PRODETUR,em 1999, o programa objetivava reparar os impactos negativos
gerados pelo PRODETUR I, incorporar princpios do desenvolvimento sustentvel e a participao popular
no seu planejamento atravs dos Conselhos de Turismo criados. Nesta perspectiva, o PRODETUR II exigiu
que todos os investimentos fossem inseridos em um documento intitulado Plano de Desenvolvimento
Integrado do Turismo Sustentvel (PDITS). O programa trabalhou com o conceito de plos tursticos que
reunia espaos geogrficos com atrativos tursticos similares e/ou complementares onde cada um possua
um Conselho de Turismo, garantindo audincias pblicas e a participao da sociedade civil no processo de
planejamento das aes do programa. O Plo da Paraba foi denominado de Costa das Piscinas, que inclua
os municpios de Mamanguape, Mataraca, Baa da Traio, Marcao, Rio Tinto, Lucena, Cabedelo, Joo
Pessoa, Conde, Pitimbu, Santa Rita e Bayeux (MOURA, 2008, p.95). Entretanto, a Paraba no conseguiu
recursos nesta segunda fase, receberam apenas recursos da Unio para execuo das aes do PDITS. A
coordenadora executiva do PRODETUR na PB explica o fato afirmando que a Paraba no recebeu recursos
por questes polticas (MOURA, 2008), e no faz nenhuma referncia ao cumprimento de todas as
exigncias estabelecidas pelo programa, sem as quais os investimentos seriam vetados, entre elas estariam
a instalao do Conselho de Turismo no plo,a apresentao do Plano de Desenvolvimento Integrado do
Turismo Sustentvel (PDTIS), elaborado por empresa especializada e com a participao da sociedade
atravs dos Conselhos de Turismo,entre outros.
Deste modo, o Conselho foi abandonado pela Paraba, pois como no conseguiram os recursos,
esta exigncia no se tornava mais obrigatria. Desta forma, o PRODETUR II tambm apresentou falhas e
Joo Pessoa, outubro de 2011

243
no representou, de fato, avanos no turismo na Paraba, apesar do novo direcionamento ideolgico das
polticas de turismo.
Verifica-se que existe, ao menos, uma vontade e iniciativa na concepo das polticas pblicas de
turismo no sentido de melhorar e dar uma nova direo a atividade turstica no Brasil, mas conflitos
polticos ainda constituem um grande entrave.
Atualmente, o Plano Nacional de Turismo, por exemplo, possui um macroprograma intitulado de
Regionalizao do Turismo que, de acordo com o Ministrio do Turismo74:
Prope a estruturao, o ordenamento e a diversificao da oferta turstica no pas e se constitui no
referencial da base territorial do Plano Nacional de Turismo. , dessa forma, um modelo de gesto de poltica
pblica descentralizada, coordenada e integrada, com base nos princpios de flexibilidade, articulao,
mobilizao, cooperao intersetorial e interinstitucional e na sinergia de decises como estratgia
orientadora dos demais macroprogramas, programas e aes do PNT.

No entanto, este modelo descentralizado, participativo e cooperativo no condiz com a prtica das
polticas pblicas realizadas nacionalmente e localmente, como no caso do municpio do Conde na Paraba.
POLTICA DE TURISMO DO CONDE EM ANLISE
O municpio do Conde possui 173km2 e est localizado na micro-regio do litoral do estado da
Paraba. Em relao capital, Joo Pessoa, situa-se a 16,9 km. De acordo com o IBGE, atravs do censo
demogrfico de 2009, o Conde possui uma populao de aproximadamente 20.849 habitantes. O turismo
a principal e mais lucrativa atividade econmica do municpio em razo da extensa (19,85km2) orla
martima do distrito de Jacum que concentra as 7 praias do municpio: Barra de Gramame, Praia do Amor,
Jacum, Carapibus, Tabatinga, Coqueirinho e Tambaba (GUEDES, 2005).
De acordo com o secretrio de turismo do Conde, Saulo Barreto, a prioridade poltica do municpio
no que diz respeito ao turismo consiste em colocar o conde na vitrine turstica, participando das feiras,
para se tornar conhecido e consolidar o destino. E a partir dessa visibilidade pretende-se atrair
investidores e implantar equipamentos tursticos. Entretanto, o grande problema para o desenvolvimento
do turismo a falta de infra-estrutura, que segundo ele, depende de recursos do governo do estado e
federal.
Verificou-se que no existe um planejamento adequado da atividade turstica na regio, uma vez
que no existe um plano diretor pronto e nem um documento que defina as metas e diretrizes do turismo
no municpio. O secretrio de turismo justificou o fato afirmando que o plano diretor est sendo feito em
parceria com a secretaria de planejamento e que existem projetos pontuais como o projeto Orla,
Coqueirinho, Jacum, Tambaba, mas apenas documentos arquitetnicos foram encontrados pelo
funcionrio responsvel, confirmando a ausncia de um documento escrito que avalie de forma qualitativa
os projetos ou aes de desenvolvimento do turismo.
Em relao ao PRODETUR, o programa beneficia o municpio apenas com a criao de uma estrada
de acesso a Jacum e a finalizao da PB008,no trazendo grandes impactos.
O Conde possui 30 km de praias e tem como principal potencial turstico o turismo de sol e mar,
justificado pela beleza de suas praias (limpas e favorveis ao banho), falsias, diversidade de ecossistemas
(rios, maceis, mata atlntica, etc.). Contudo, o secretrio de turismo admitiu a necessidade de diversificar
e criar outras opes e tipo de turismo na regio. Neste sentido, eles possuem um programa de turismo
rural (destinado a visitao de plantaes de cana de acar, abacaxi, e outras frutas tropicais alm da
visita a uma cachaaria local) e um programa de turismo ecolgico (atravs da realizao de trilhas).
Portanto, o turismo de sol e mar, rural e ecolgico so basicamente nosso enfoque maior, afirmou.
Desde 2009, o Conde adota uma poltica de turismo polmica e excludente ao cobrar uma taxa
entrada de nibus e vans de excurso. O valor varia de R$200,00 a R$300,00. Apesar do secretrio de
turismo afirmar que o objetivo dessa poltica no elitista, esclareceu que este tipo de turismo chamado
de farofeiro no interessa para o municpio, pois eles trazem sua prpria comida, poluem o ambiente do
ponto de vista visual e sonoro, e por isso, ele defendeu a idia de que infelizmente um tipo de turista
74

MINISTRIO
DO
TURISMO.
Regionalizao
do
Turismo.
Disponvel
em:
http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/>. Acesso em: 27/07/2011.

<

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

244
que predatrio, eles no usufruem de nada, pelo contrario, s deixa problema,lixo e aborrecimento para
a gente e acrescentou que o direito de ir e vir sagrado, livre, agora tem que pagar. A taxa foi recebida
com indignao pelos farofeiros, mas conseguiu deslocar estes excursionistas para outra localidade,
praticamente zerando a presena deles no Conde atualmente. A Lei em questo, segundo Barreto, foi
benfica para o turismo local visto que o problema da poluio sonora, lixo, violncia diminuram muito
repercutindo positivamente tambm no Carnaval de l por iguais motivos. Esta medida reflete na posio
poltica de como o turismo pensado: A gente quer fazer um turismo de qualidade e no de quantidade.
Por outro lado, existe uma poltica de incentivo a construo de grandes empreendimentos do tipo
resort na regio. Isto se explica pela grande visibilidade dada ao municpio pela divulgao de seus atrativos
tursticos em feiras nacionais e internacionais. O prprio secretrio admite que com tais aes houve uma
avalanche de investidores e com ela alguns impactos negativos como a especulao imobiliria.
Atualmente o Conde possui um resort em funcionamento na praia de Carapibus (o primeiro da
Paraba) e que foi inaugurado em 2009, um segundo empreendimento em processo de construo na
mesma paia, um terceiro megaprojeto de trs resorts sendo discutido com bastante polmica por estar
sendo projetado para se instalar na rea de proteo ambiental (APA) de Tambaba e um ltimo
(igualmente megaprojeto de trs resorts) sendo idealizado em Gramame. Todos estes empreendimentos
foram confirmados pelo secretrio de turismo, mas ainda sem previso de data de entrega, pois esto
ainda em processo de negociao apenas.
De acordo com Barreto, a Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olmpicos de 2016, a serem realizados
no Brasil, tm influncia na acelerao da construo desses empreendimentos tursticos, mas ele acredita
que pouco provvel que at l mais de um resort esteja finalizado, apesar de eles estarem trabalhando
para que o Conde seja uma sub-sede abrigando alguma delegao ou jornalistas.
Questionado sobre como feita a licitao ambiental para os empreendimentos, Saulo
Barreto explicou que esta parte de competncia da SUDEMA (Superintendncia de Administrao do
Meio Ambiente) e que os empreendimentos s podem ser feitos com o aval do rgo e lembra que a
que se desmancham os projetos.
Por fim, ele defendeu a idia de que tais empreendimentos e o prprio turismo no trazem
nenhum impacto negativo: eu no vejo impactos negativos [...] s vejo impactos positivos, logicamente
com muita precauo, ou seja, respeitando o desenvolvimento sustentvel, que no seja predatrio.
Entre os impactos positivos ele cita o emprego, a gerao de renda, os impactos nos impostos, na
urbanizao da rea e na divulgao do destino. Para as comunidades locais, ele explica que existe um
termo e compromisso para empregar 80% da mo de obra local nestes empreendimentos e cursos
gratuitos de capacitao (de garons, camareiras, gastronomia, etc.) oferecidos pela prefeitura no
municpio do Conde e alguns realizados em Joo Pessoa.
CONSIDERAES FINAIS
A grande dificuldade das polticas pblicas de turismo do Conde, assim como em muitos
outros destinos brasileiros a ausncia de um planejamento turstico, bem como um planejamento
adequado e eficiente entre as polticas pblicas de turismo e polticas urbanas, e a conseqncia disso a
criao de espaos exclusivamente (ou quase) usados para o turismo (CRUZ, 2002, p.36) onde a atividade
desenvolvida de forma segregada, maquiando o espao turstico e impedindo o contato dos turistas
com a realidade local.
Vale ressaltar que a excluso das comunidades locais no processo de deciso das polticas pblicas
nacionais e locais e no processo de desenvolvimento do turismo comprovam a imposio de um modelo
econmico padro de turismo de massa que tem se demonstrado incapaz de proporcionar o
desenvolvimento sustentvel (MOURA, 2008, p.15).
Um dos aspectos preocupantes neste tipo de poltica pblica de turismo que elas
traduzem uma viso de turismo como indstria de exportao enfatizando a preocupao com metas
econmicas em detrimento de metas sociais e ecolgicas (DELGADO, 2008, p.38).
Alm disso, a modernizao dos espaos litorneos trazida pelo turismo parcial e superficial,
porque ela social e espacialmente restrita (CRUZ, 2002, p.147), limitando-se a poucos territrios e a
uma camada especfica da sociedade. Neste sentido, a urbanizao movida e patrocinada pelo turismo, o
que positivo para uma localidade, mas pode ser prejudicial quando se cria espaos alienados de seus
Joo Pessoa, outubro de 2011

245
contextos atravs de bolhas tursticas que aumentam a segregao espacial e excluso das comunidades
autctones do processo. Todavia, tais problemas no so exclusivos da atividade turstica, e no cabe a
atividade turstica resolver todos os problemas socioeconmicos de uma localidade.
certo que o turismo traz muitos benefcios econmicos, mas tambm pode gerar grandes
impactos negativos, e o grande desafio consiste em minimizar tais impactos negativos e aumentar os
impactos positivos. No caso do Conde, no reconhecer os impactos negativos oriundos do turismo j
representa um fator limitante para se pensar adequadamente nas polticas pblicas de turismo a serem
desenvolvidas na localidade. Alm disso, a carncia de infra-estrutura bsica, planejamento e participao
popular constituem alguns dos problemas do turismo local.
Neste sentido, o grande desafio das polticas pblicas est relacionado com o seu aspecto tico, isto
, sua viabilidade e sustentabilidade dependem de um planejamento estratgico de aes pblicas que
envolva o desenvolvimento sustentvel em sentido amplo, que atenda s demandas sociais da populao,
inclusive a dos excludos, e melhore as condies de vida (MENDES e Al., 2010, p.5). Nesta perspectiva,
almeja-se uma maior participao popular e polticas pblicas que no estejam sujeitadas interesses
privados em detrimento da maioria da populao.
Como resposta s crticas deste modelo de turismo, o turismo de base local tem demonstrado ser
uma soluo para o desenvolvimento de um turismo sustentvel, baseado na insero das comunidades
locais nos processos decisrios de planejamento, execuo e participao nos lucros proporcionados pelo
turismo.
REFERNCIAS
CRUZ, Rita de Cssia. Poltica de turismo e territrio. So Paulo: Contexto, 2002.
DELGADO, Anna Karenina Chaves. As aes do PRODETUR/NE I e suas implicaes para o
desenvolvimento da Paraba com base no turismo. Caderno Virtual de Turismo. Vol.9, N 3, 2009.
Disponvel
em:
<
file:///C:/Users/granvia/Downloads/Documents/Mestrado%20Prodema/Pol%C3%ADticas%20P%C3%BAblic
as/As%20a%C3%A7%C3%B5es%20do%20PRODETUR%20%20NE%20I%20e%20suas%20implica%C3%A7%C3
%B5es%20para%20o%20desenvolvimento%20da%20Para%C3%ADba%20com%20base%20no%20turismo.h
tm>. Acesso em: 25/07/2011.
DIAS, R. Planejamento do turismo: poltica e desenvolvimento do turismo no Brasil. So Paulo:
Atlas, 2003.
GUEDES, Joelma. Empreendimentos tursticos e impactos ambientais no distrito de Jacum,
municpio do Conde PB. Dissertao de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Prodema,
UFPB, 2005.
IGNARRA, Luiz Renato. Fundamentos do turismo. 2ed. So Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
MENDES, Ana Maria e Al. Polticas pblicas, desenvolvimento e as transformaes do Estado
brasileiro. In: SILVA, Christian Luiz da; SOUZA-LIMA, Jos (Orgs). Polticas Pblicas e indicadores para o
desenvolvimento sustentvel. So Paulo: Saraiva, 2010.
MINISTRIO
DO
TURISMO.
Regionalizao
do
Turismo.
Disponvel
em:
<
http://www.turismo.gov.br/turismo/programas_acoes/regionalizacao_turismo/>.
Acesso
em:
27/07/2011./>. Acesso em: 27/07/2011.
MOURA, Anna Karla. O mito do desenvolvimento sustentvel da atividade turstica: Uma anlise
crtica das teorias da sustentabilidade, das Polticas pblicas e do discurso oficial do turismo na Paraba.
Dissertao (Mestrado). Joo Pessoa: PRODEMA-UFPB, 2008. (b)
MOURA, Anna Karla; GARCIA, Loreley. Polticas pblicas de turismo e sustentabilidade: o Plo
Turstico Cabo branco em anlise. Revista de Cultura e Turismo - CULTUR, ano 03, n 03, 2009. Disponvel
em: < http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/edicao6/artigo_5.pdf>. Acesso em: 22/07/2011

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

246

TURISMO PEDAGGICO COMO FERRAMENTA DE ENSINO APRENDIZAGEM E FORMAO DE VALORES: UMA EXPERINCIA EM
ESCOLAS PBLICAS DE MOSSOR-RN
Raimunda Maria M. de AZEVEDO
Professora do Departamento de Turismo/FACEM /UERN
e-mail: azevedorai@yahoo.es/marquesazevedo@uern.br
Fernanda Gabriela da Silva FERREIRA
Estudante do Curso de Turismo /UERN fgabi@hotmail.com
Samuel Moreira CHAVES
Estudante do Curso de Turismo/UERN - agora_e@hotmail.com

RESUMO
O turismo pedaggico constitui-se em uma atividade desenvolvida com objetivos voltados mais
para os aspectos pedaggicos que comerciais. Trata-se de uma prtica recente e pouco difundida no Brasil
j que as escolas pblicas no dispem de incentivo financeiro para uso de TAM recurso pedaggico. Tem
por premissa favorecer ao aluno uma viso real do local visitado configurando-se em uma das maneiras
mais adequadas para conduzir a atividade educativa e consolidar o processo de ensino-aprendizagem
atravs da experincia turstica. O objetivo deste trabalho relatar as experincias vivenciadas no
desenvolvimento de um projeto de turismo pedaggico na escola estadual, Moreira Dias na cidade de
Mossor-RN. O procedimento metodolgico utilizado foi a aula passeio, precedida do planejamento
participativo com as escolas para elaborao dos roteiros tursticos e, seguidas de visitas tcnicas pela
equipe de execuo para coletar informaes e realizar o percurso antes de faz-lo com as escolas.
Posteriromente, s aulas passeios, utilizou-se como instrumento de avaliao junto aos alunos, atividades
em sala de aula com produo de textos, desenhos e dramatizao; e, com a escola, encontros coletivos e
depoimentos de professores acerca do vivido, alm de aplicao de questionrio com os alunos para saber
a repercusso das aes nas rotinas desses alunos. Dos resultados alcanados destaca-se, cinco aulas
passeio realizadas pelas ruas da cidade, em roteiros que possibilitou apreciar as praas, as pontes, o rio, os
teatros, a biblioteca, a universidade; a participao de 90 crianas dessas escolas no periodo aqui
compreendido de julho de 2010 a junho de 2011; a integrao de docentes e discentes dos cursos de
turismo e gesto ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN, diretores,
coordenadores e professores das escolas.
Palavras-chave: turismo pedaggico, educao ambiental, educao, cidade, cidadania.
INTRODUO
A prtica do turismo se d pelo movimento de pessoas de seu local de residncia para os mais
variados roteiros, motivados pelo lazer, por novas culturas e aprendizados e at por negcios. Constituiuse, nos ltimos anos, em uma atividade econmica e importante instrumento de gerao de emprego e
renda, em todo o mundo. Trata-se de uma atividade capaz de elevar a economia e contribuir para a
preservao do patrimnio natural e cultural, se trabalhado de forma que possibilite a insero da
comunidade receptora. As antigas civilizaes j praticavam deslocamentos na busca de garantir seu
sustento, embora no contasse com as facilidades ocasionadas pela tecnologia.
As viagens, expressa no gran tour europeu, no incio do sculo XVIII, tinham uma durao mdia de
um a trs anos e eram destinadas apenas ao sexo masculino que aristocracia inglesa. Tinham por objetivo
propiciar o conhecimento das artes, da cultura e do idioma dos pases visitados, alm de desfrutar de status
social, pois estaria apto a assumir cargos pblicos.
O turismo pedaggico se constitui em uma atividade com objetivos pedaggicos e tem por
premissa favorecer ao aluno uma viso real do local visitado configurando-se em uma das maneiras de
conduzir a atividade educativa na consolidao do processo de ensino-aprendizagem atravs de
experincia turstica. O deslocamento do aluno para alm do ambiente da sala de aula se configura em
elemento motivador e visa propiciar encantamento ao aprendizado.
A cidade de Mossor-RN um dos principais plos econmicos do estado do RN, tendo em suas
relaes algumas cidades dos estados da Paraba e do Cear. A cidade vem passando por um perodo de
Joo Pessoa, outubro de 2011

247
intensa modificao em sua estrutura urbana motivada pelo crescente contingente populacional que
aportou a cidade, ocasionado, principalmente pela mecanizao salineira, a produo da fruticultura
tropical irrigada e a atividade petrolfera na dcada de 1970.
O presente trabalho se pauta na experincia de um projeto de turismo pedaggico desenvolvido
por docentes e discentes dos cursos de Turismo e Gesto Ambiental da UERN, cujas aes vem sendo
realizadas com alunos do 7 ano A e B do ensino fundamental de duas escolas pblicas estaduais da cidade
de Mossor/RN, no perodo compreendido entre junho de 2010 a maio de 2011. Como procedimentos
metodolgicos utilizou-se de aulas passeios, precedida do planejamento participativo com as escolas para
(re)elaborao dos roteiros das aulas passeio e, seguidas de visitas tcnicas pela equipe de execuo para
coletar informaes e realizar o percurso antes de faz-lo com as escolas, inspirada na possibilidade da
insero do turismo no processo educativo.
Como resultado, verificou-se que o turismo pedaggico pode ser uma importante ferramenta para
o processo de ensino-aprendizagem, na formao de valores humanos pois sair da sala de aula e promover
atividade fora dos muros da escola, pode ser to ou mais importante quanto s atividades regulares
desenvolvidas em sala de aula ou em laboratrios.
Turismo e Turismo Pedaggico: base conceitual e funo
Compreendido como um fenmeno social, complexo e diversificado, o turismo propicia qualidade
de vida queles que dele usufruem, alm da causar desdobramento na economia e na gerao de emprego
nos destinos. (ANDRADE, 2000). Tambm visto como atividade econmica, o turismo, se constitui, nos dias
atuais, em um dos instrumentos mais importantes para a gerao de emprego e renda, em todo o mundo.
(BENI, 2002, p.9). Com um bom planejamento e direcionamento das aes, o turismo capaz de elevar a
economia de uma regio e/ou pas, alm de contribuir, para a preservao do patrimnio natural e cultural
de um povo, matria-prima bsica para a existncia dessa atividade. Destaca-se, dentre as diversas
definies atribudas ao que deve ser o turismo (DE LA TORRE 1992, p.19, apud BARRETO, 1995, p. 13).
O turismo um fenmeno social que consiste no deslocamento voluntrio de indivduos ou grupos
de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreao, descanso, cultura ou sade, saem do seu local
de residncia habitual para outro, no qual no exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada,
gerando mltiplas inter-relaes de importncia social, econmica e cultural.

De acordo com o conceito e ainda, considerando o objetivo do referido trabalho, entende-se que o
turismo favorece uma gama de possibilidades alm do objetivo de lazer e entretenimento. O turismo
surgiu, historicamente, nos deslocamentos realizados pelos nmades em busca de seu sustento e de se
proteger dos efeitos das mudanas climticas. (LIMA, 1998). At o sculo XVI o homem ainda no dispunha
de tecnologia capaz de propiciar deslocamentos seguros e rpidos como na atualidade, porm, j sentia a
necessidade de buscar novos aprendizados e novas experincias e tinha, na mobilidade, uma forma de
ampliar seus conhecimentos e adquirir novas tcnicas para garantir sua sobrevivncia e sair da rotina.
J o turismo pedaggico, como referncia ao Gran Tour europeu, uma prtica recente, praticada
no Brasil, ainda de forma acanhada embora essa modalidade de viagens tenha sido bastante praticada
pelos nobres ingleses nos sculos XVII e VXIII. (BARRETO, 1995). Segundo Bemdez,
Os filhos dos nobres, burgueses e comerciantes ingleses deveriam completar os conhecimentos
culturais adquiridos em seus pases com a realizao de uma grande viagem pelos pases de maior fonte
cultural do velho continente e conseguir, assim, a considerao cultural que a sociedade impunha na idade
mdia (apud BARBOSA, 2002, p.31).
As viagens realizadas no incio do sculo XVIII, denominadas de tour, ida e volta, duravam de um a
trs anos, eram permitidas apenas ao sexo masculino da classe social que gozasse de condio financeira
privilegiada. Os jovens eram acompanhados por professores particulares e, como requisito imprescindvel ao
desempenho da funo, deveria ter profundo conhecimento sobre diversos aspectos do pas visitado e
dominar o idioma, e assim as viagens tinham cunho educativo e cultural. Os defensores das viagens
entendiam que as escolas jamais conseguiriam o mesmo resultado pedaggico permitido pela observao
direta dos usos e costumes, da poltica, do governo, da religio, da arte de outras naes. (BARRETO 1995, p.
50).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

248
O turismo pedaggico ou turismo educacional considerado uma ferramenta adequada de
conduzir a atividade educativa, consolidando o processo de ensino-aprendizagem atravs de experincia
turstica, pois entende-se que o aprendizado se d, mais pela interao que proporcionada pelas
viagens que pelo exerccio de memorizao do texto ou do discurso do professor. O deslocamento do
aluno para alm do ambiente da sala de aula se configura num elemento motivador e visa propiciar
encantamento ao aprendizado e alcance dos objetivos. (RAYKIL, Eladyr Boaventura; RAYKIL, Cristiano [...]).
O turismo pedaggico deve ser concebido para alm da perspectiva de deslocamento e explorao
de espaos diferentes e distantes, ou ainda como fuga do cotidiano, haja vista que, conhecer a cidade onde
se vive pode proporcionar um contentamento real, por conciliar, sob uma nova perspectiva, a necessidade
de experincias relevantes e a possibilidade de interveno em mbitos social, ambiental e, at mesmo,
poltico, fomentando a superao da viagem como nico momento de manifestao turstica, conforme
relata. (SERRANO 1997, apud MOREIRA e SCHWARTZ).
As viagens de estudo, como prtica de ensino, possibilitam aprender, a partir da experincia e
interao com colegas, o que foi visto bibliograficamente em sala de aula. Mszros, (2008, p. 9) comenta
que a educao no pode ser encerrada no terreno estrito da pedagogia, mas tem de sair s ruas, para os
espaos pblicos, e se abrir para o mundo. A afirmativa de Mszros refora o que defendo o pedagogo
Celstin Freinet, quando sugeriu, ainda na dcada de 1920, a aula-passeio como um recurso pedaggico,
que consiste em atividades extraclasse, organizadas de forma coletiva cujo pressuposto valorizar as
necessidades vitais do ser humano e favorecer um ambiente propcio a criao, a vivncia em grupo, a
comunicao e a novas descobertas, pois o aluno considerado sempre o centro da construo de seu
conhecimento (COSTA, 2006).
Descrevendo Mossor
A cidade de Mossor-RN, por sua localizao (entre as capitais nordestinas Natal-RN, e FortalezaCE), tem se tornado destaque entre as cidades nordestinas de mdio porte, como um dos principais plos
econmicos do Estado. A cidade vem passando por um perodo de intensas modificaes em sua estrutura
urbana motivadas pelo crescente contingente populacional, ocasionado, principalmente pela mecanizao
salineira, a produo da fruticultura tropical irrigada (dcadas de 70 e 80 do sculo XX) e a atividade
petrolfera em fins da dcada de 70. Mossor o maior produtor terrestre de petrleo do Brasil, alm de
ser o maior distribuidor brasileiro de sal, circulando diariamente uma mdia de trezentas carretas em suas
rodovias. (ROCHA, 2005).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2007), Mossor conta com uma
populao estimada de 234.390 habitantes num territrio com 2.110 km de extenso.
Mossor, a exemplo das cidades brasileiras e de cidades de outros pases, surgiu a partir de
pequenas vilas desordenadas em torno de uma capela. Do seu surgimento at o primeiro momento de
apogeu urbano-demogrfico passaram-se cem anos. Mossor passou a receber um contingente
significativo de pessoas na busca de emprego, vindas, especificamente de municpios de seu entorno que
migraram para Mossor devido o processo de mecanizao das salinas que eram a principal fonte de renda
dessas pessoas. A partir de ento, se d o processo de expanso urbana do municpio, com a formao de
novos bairros. Associado a esse processo rpido de urbanizao a cidade j sinalizava para um crescimento
urbano racional e planejado quando no ano de 1967 criado a Escola Superior Agrcola de Mossor
(ESAM), atual Universidade Federal Rural do Semi-rido (UFERSA); em 1974 se d o marco inicial da
construo do Campus da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), e no ano de 1979,
construdo o Hotel Thermas de Mossor, numa ao do governo, na tentativa de desenvolver o turismo no
interior do Estado.
Nesse contexto de expanso urbana e econmica, Mossor atualmente pode ser considerada um
plo regional, que recebe pessoas de diferentes municipios do Rio Grande do Norte e de outros estados do
Brasil, sobretudo, em virtude das suas atividades econmicas e educacionais, etc. Cabe ressaltar, que tendo
em vista a importncia dessa cidade para o estado, faz-se necessrio pensar em estratgias alternativas de
ensino, com vistas a envolver os estudantes em projetos pedaggicos, voltados para a formao de valores,
de atitudes e de comportamentos em relao ao patrimnio ambiental e cultural da cidade, bem como
para melhoria da qualidade do ensino.
Joo Pessoa, outubro de 2011

249
Pelos cantos e recantos de Mossor
A busca pelo prazer e pelo descanso tem gerado um grande fluxo de turistas que transitam por
diferentes espaos, constantemente modificados e recriados para a comercializao no mercado, em busca
de satisfazer suas necessidades socias e conhecer novas culturas. Com a globalizao os espaos urbanos, a
princpio passaram a se homogeneizar e como seu fim era a comercializao para uso de servios e atender
o mercado passou-se a buscar espaos singulares para disponibilizar sua oferta no mercado cada dia mais
competitivo. A ordenao desses espaos, muitas vezes so originadas por planos diretores que
transformam as paisagens, tanto naturais quanto artificiais em nome do lucro.
Mossor/RN, vem passando por um constante processo de urbanizao. Muitas edificaes que
retratam a cultura e a histria do povo foram destruidas, tanto em funo do desejo de expandir o
comrcio, bem como pelo processo de especulao imobiliaria, restando apenas poucos prdios que
retratam os aspectos arquitetnicos e histricos de uma poca. Para Rodrigues (2000), os bens histricos
so de suma importncia para a memria de um povo, mas tambm admite que o mercado e a sociedade
contempornea necessitam desses espaos e comenta que,
[...] o patrimnio edificado alvo predileto da destruio provocada por renovaes urbanas ou por
investimentos particulares. A reciclagem, como vem sendo chamado o ato de aproveitamento de antigas
edificaes de modo a integr-las ao uso cotidiano, no raro tem provocado perdas relativas sua
representao no quadro social (RODRIGUES, 2000, p.151 apud PINHEIRO, 2009, p. 28).

Percorrendo os cantos e recantos da cidade de Mossor pode-se perceber as mudanas


ocasionadas ao patrimnio cultura edificado. Muitos de seus prdios foram destruidos para dar lugar a
centros comerciais e lojas, desconfigurando a imagem original da cidade. Tal fato atribuido,
principalmente, a nova ordem econmica, mas tambm a cultura do povo que no v sentido em
preservar o patrimnio se a substituio desse pode trazer ganhos materiais. (PINHEIRO, 2009).
No entanto, ao que os olhos percebem, nota-se a interveno do poder pblico local em algumas
reas da cidade com edificaes que do origem a equipamentos de lazer, entretenimento e prtica de
esportes em um estilo que tenta resgatar um pouco da memria perdida e que d cidade uma nova
paisagem, a exemplo do notvel corredor cultural, espao projetado pela gesto pblica que utiliza a
antiga linha frrea para criar reas de lazer e entretenimento para a populao local numa mescla de
equipamentos pblicos e privados e que provavelmente no esteja ao alcance das camadas sociais menos
favorecidas.

Figura 01. Praa da Convivncia Corredor Cultural


Fonte: Raimunda Maria Marques de Azevedo

Figura 02: Memorial da Resistncia Corredor Cultural


Fonte: Raimunda Maria Marques de Azevedo

O projeto de extenso (Re) Conhecer a cidade: aspectos relevantes na construo da cidadania de


alunos de escola pblica de Mossor/RN
O presente trabalho se pauta na experincia de um projeto de turismo pedaggico desenvolvido
por docentes e discentes dos cursos de Turismo e Gesto Ambiental da UERN cujas aes vem sendo
realizadas desde o semestre letivo de 2008 at os dias atuais. A princpio as aes contemplaram alunos do
5 e 6 ano do ensino fundamental de escolas pblicas de Mossor e, atualmente contempla alunos do 7
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

250
ano A e B do ensino fundamental de escola estadual Moreira Dias- Mossor/RN. Utilizou-se como
metodologia a aplicao de aulas-passeios inspiradas na possibilidade da insero do turismo no processo
educativo, por entender que o papel da escola deve ser o de incentivar os alunos a construir o
conhecimento, a apartir do local onde vive, at os limites do territrio, s carcatersticas geogrficas,
econmicas, sociais e polticas.
O projeto (RE) Conhecer a cidade: Mossor-RN, seus cantos e encantos, foi pensado e numa
perspectiva de realizar aulas-passeios, como recurso pedaggico visando a valorizao dos espaos
urbanos, na busca de ressignificar o olhar sobre a cidade e despertar nos alunos uma viso e conduta
cidad, quando trabalha a funo e importncia da preservao dos recursos naturais, a conduta cidad no
sentido de cultuivar arvores nas ruas, manter os espeos pblicos limpos, respeitar os colegas e ter
responsabilidade com as atividades educativas e conduta pessoal. Como critrios de escolha para
elaborao dos roteiros considerou-se os espaos mais relevantes da cidade nos aspectos: social, cultural,
ambiental, histrico e arquitetnico. Nas aulas passeio buscou-se despertar olhar tanto para as
interferncias urbanas que dificultam a convivncia das pessoas e negam seus direitos de cidados bem
como, para reconhecer e apreciar aspectos que favorecem uma melhor qualidade de vida urbana, alm da
construo de valores humanos.
No inicio do projeto realizou-se levantamentos prvios dos diversos aspectos da cidade, atravs de
visitas aos orgos pblicos e a equipamentos coletivos, com a coleta de informaes, documentos e
registro fotogrfico realizado pela equipe executora do projeto. Por se tratar de um projeto de
continuidade, as aes vem sendo realizadas nas mesmas escolas, aqui importante salientar que, desde o
semestre letivo 2009.2 o projeto vem sendo desenvolvido apenas na Escola estadual Moreira Dias. Para a
realizao dos roteiros, provocada uma discusso prvia com a equipe de professores da escola, alunos e
professores da UERN envolvidos nas aes do projeto, que na ocasio expem os diversos contedos e
temas que podero ser trabalhados em sala de aula que ser percebido e vivenciado no roteiro. Em
seguida, professores e alunos da universidade realizaram atividades em sala de aula sobre o roteiro
realizado na aula-passeio e, sobre a conduta dos alunos durante o roteiro. Aps as experincias vividas nos
dois primeiros semestre de execuo do projeto foram escolhidos e reelaborados os roteiros que
despertaram maior ateno dos alunos.
Nessa perspectiva os roteiro executados atualmente so os seguintes: Cultura e Natureza, Ruas e
Praas (que, contemplam teatros, museus, pontes, biblioteca, rio, bairros tradicionais, bem como o entorno
das escolas beneficiadas), a UERN e o viveiro de mudas da prefeitura e o museu de serto. Os roteiros
foram pensados para serem realizados caminhando (trilhas urbanos) que, nas primeiras experincias se
deram, parte utilizando o transporte escolar do municpio ou nibus alugado pelas escolas e parte
caminhando, no entanto, dada as condies climaticas da cidade e a estrutura urbana (trnsito irregular,
caladas mal projetadas, dificultando o deslocamento e compromete a segurana do pedestre), a ausencia
de arvores para gerar sobra e minimizar o calor, o projeto conta atulmente, com a parceria de uma
empresa de transporte Trem da alegria que transporta os alunos assistidos pelo projeto para os roteiros
programados.
Como resultados, constatamos que o turismo pedaggico pode ser uma importante ferramenta
para o processo de ensino-aprendizagem, e da formao de valores humanos como o respeito aos colegas,
aos professores e mesmo aos pais, saber escutar, a responsabilidade com horrio e com as tarefas dentre
outros valores outras condutas na escola, na rua e na famlia, respeito as diferenas; o tratamento
pedaggico dado a aula-passeio, torna o processo ensino-aprendizagem prazeroso e produtivo e dinmico.
Na fala dos alunos, aps a realizao da aula passeio a aluna Luana Larissa comenta em relao visita a
UERN, Mais Sade e DAIN que, foi uma atividade bem diferente, l aprendemos sobre sade, deficientes e
etc. Na escola aprendemos coisas que vo incentivar para escolhermos uma profisso. Na visita ao rio
Apodi/Mossor que tem p objetivo despertar no aluno a importncia da preservao dos recursos
naturais para a qualidade de vida da populao, identificamos no relato do aluno Ronina Gabriela da escola
estadual Moreira Dias, sobre o Rio Apodi/Mossor e Biblioteca municipal Ney pontes Duarte, Devemos
cada dia cuidar do rio, porque se no preservarmos no teremos um mundo melhor, lembrando que
existem muitas pessoas que passam fome por isso cuide, esse nosso planeta que est pedindo ajuda.
Sobre a repercusso do roteiro para a Universidade UERN, identificamos na fala dos alunos a aula
passeio no foi boa, legal nem mais ou menos, foi simplesmente espetacular.
Joo Pessoa, outubro de 2011

251
Despertar no aluno o interesse para conhecer e explorar o patrimnio natural que no caso de
Mossor conta-se com o rio Apodi/Mossor75 e/ou cultural, primeiramente de sua regio e depois de seu
pas, abre-se portas a um mundo de novas descobertas e experincias que introduziro novos conceitos,
aumentando sua capacidade intelectual, desenvolvendo sua sensibilidade, sua criatividade e o senso
crtico. O aprender atravs do convvio com o acervo histrico-cultural e natural proporciona aquisio de
conhecimento aliado ao lazer e a descontrao, o aprender de forma interativa e prazerosa.

Figura 03. Visita s margens do rio Apodi


Fonte: Raimunda Maria Marques

Figura 04: Alunos do 7 ano A e A em visita ao rio Apodi


Fonte: Raimunda Maria Marques

CONCLUSO
As experincias do projeto (RE) Conhecer a cidade: Mossor-RN, seus cantos e encantos, indica a
continuidade e ampliao dessa iniciativa, por acreditar que no uma nica forma de fazer educao, que a
escola no o nico lugar onde ela acontece, e talvez nem seja o melhor, o ensino escolar no a nica
prtica de educao. (BRANDO, 1995). Superar atravs de parceria as dificuldades encontradas e
vivenciadas no decorrer da sua execuo, a exemplo da experincia pode-se comentar nos percursos a p
com grandes dificuldades de deslocamento em funo da estrutura urbana da cidade desnvel das
caladas, uso destas como estacionamento e oficinas mecnicas; ausncia de faixa de pedestres,
sinalizao e semforos insuficientes, grande nmero de vias duplas, dificultando o movimento dos
pedestres; ausncia de reas verdes na cidade, arborizao precria, que devido alta temperatura,
dificulta o deslocamento e permanncia da populao nas ruas.
No entanto, ressaltamos a importncia das percerias para a realizao das aes (escola Moreira
Dias, UERN programa mais saude, DAIN, projeto a matemtica atravs dos jogos, curso de biologiaMuseu do Serto, Viveiro de mudas da prefeitura, biblioteca pblica municipal Ney Pontes, sem essas
parcerias no seria possivel a realizao das aes e consequentemente impossivel alcanar os objetivos do
projeto.
Portanto, prope-se a continuidade deste projeto que tem por objetivo, continuar com as aes na
escola Moreira Dias e ampliar as aes para outras escolas pblicas que nos sinalisaram interesse, na
perspectiva de despertar na criana uma conscincia ecolgica e ver no rio, um dos maiores patrimnios da
cidade; e ampliar os roteiros de reconhecimento incluindo visita a entidades associativas e ultrapassar as
fronteiras de Mossor indo a outras regies, no intuito de propiciar vivncias em novos ambientes que
podem propiciar novas descobertas e novas experincias.
REFERNCIAS
ANDRADE, Jos Vicente de. Turismo: fundamentos e perspectivas. 8. ed. So Paulo: tica, 2002.
BARBOSA, Ycarim Melgrado. Histria das viagens e do turismo. So Paulo: Aleph, 2002.
75

Mais importante recurso hdrico da regio oeste potiguar, responsvel por grande parte do
desenvolvimento das cidades localizadas na regio. No entanto, a poluio e degradao do Rio Apodi/Mossor um
problema ocasionado pelo desenvolvimento e atinge toda a populao da regio. Fonte: Correio da Tarde. Edio
Nmero 0999 - Ano IV - http://www.correiodatarde.com.br/editorias/correio_mossoro-17630.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

252
BARRETO, Margarita. Manual de iniciao ao estudo do turismo. Campinas, SP: Papirus, 1995.
BENI, Mrio Carlos. Anlise estrutural do Turismo. 7 edio. So Paulo: Senac, 2002.
BRANDO, Carlos R. O que educao.33. Ed. So Paulo:Brasiliense, 1995.
COSTA, Michele Cristine da Cruz. A pedagogia de Clestin Freinet e a vida cotidiana como central na
prtica pedaggica. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.23, p. 26 31, set. 2006 - ISSN: 16762584. Disponvel em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/art02_23.pdf, acesso em: 15 mai. 2009.
Histrico
da
cidade
de
Mossor,
disponvel
em:
http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 10 mai. 2009.
MSZROS, Istvn. A educao para alm do capital. 2. ed. So Paulo: Boitempo, 2008.
PINHEIRO, Alekxander Henrique de Oliveira. Patrimnio histrico cultural material: uma anlise do
conjunto arquitetnico mossoroense e sua potencialidade como atrativo turstico. Monografia de
graduao em turismo. UERN, 2009.
RAYKIL, Eladyr Boaventura; RAYKIL, Cristiano. Turismo pedaggico: uma interface diferencial no
processo
ensino-aprendizagem.
Disponvel
em
http://www.periodicodeturismo.com.br/site/artigo/pdf/Turismo%20Pedagogico.pdf. Acesso em: 29 jan.
2009.
ROCHA, Aristotelina Pereira Barreto. Expanso urbana de Mossor (perodo de 1980 a 2004):
geografia dinmica e reestruturao do territrio. Natal, RN: EDUFRN Editora da UFRN, 2005.

Joo Pessoa, outubro de 2011

253

PERCEPO DE MORADORES E EXCURSIONISTAS E ENFOQUES PARA


GESTO AMBIENTAL EM OLHEIRO DE PUREZA-RN
Rodrigo Lucas de LIMA1
Valdenildo Pedro da SILVA2
Eline Arajo de ALMEIDA3
1Mestrando do PPGECNM /UFRN - rlucas07@hotmail.com
2Prof. Dr. do IFRN/Campus Natal Central - valdenildo.silva@ifrn.edu.br
3Prof. Dr. do Depto de Botnica, Ecologia e Zoologia/UFRN - elineiaraujo@yahoo.com.br

RESUMO
O turismo um fenmeno cuja importncia vem crescendo no mundo contemporneo, devido ao
seu carter transversal e complexo, so mltiplos os desafios para o gerenciamento de suas atividades
setoriais. Para levantar informaes importantes sobre o ambiente turstico os trabalhos desenvolvidos em
percepo ajudam a investigar as relaes que uma determinada sociedade tem com o seu ambiente
vivencial. Partindo dessas premissas este artigo teve por objetivo responder a pergunta sobre qual a
percepo do morador e do excursionista acerca do Olheiro de Pureza/RN. Por meio de entrevistas,
permitiu-se obter dados para subsidiar planejamentos, avaliaes, estmulos e propostas de aes
mitigadoras dos impactos ambientais, como tambm fornecimento de elementos para os nos processos de
deciso, planejamento e controle social.
PALAVRAS-CHAVE: Turismo excursionista, Gesto ambiental, Estudos de Percepo
INTRODUO
O turismo um fenmeno cuja importncia social vem crescendo no curso dos ltimos anos. Tratase de uma das principais atividades que contribui para o desenvolvimento socioeconmico e cultural de um
pas; alm de ser um dos setores que mais apresenta condies favorveis conciliao de sua atividade
com o meio ambiente (ANDRADE, 2002). Essa atividade vem se constituindo numa das possibilidades de
desenvolvimento, pois o Brasil j apresenta uma oferta de 1,1 milho de apartamentos unidades
hoteleiras (UHs) e gerando cerca de 500 mil empregos diretos e mais de 1.500.000,00 indiretos. A
indstria turstica envolve um volume significativo de recursos e patrimnios em torno de US$ 15 bilhes. A
receita bruta anual dos seguimentos de cerca de US$ 9 bilhes; arrecadao de mais de US$ 1,8 bilho
em impostos, taxas, contribuies, e grande gerao de divisas internacionais. Estima-se que, at o final de
2010, a indstria do turismo
do Brasil receber investimentos da ordem de R$5,3 bilhes na construo de novos meios de
hospedagem (EMBRATUR, 2008).
Com o turismo as pessoas buscam um tempo de lazer e descanso, j que o confinamento e o
constrangimento tpicos da vida urbana o tornam uma necessidade; buscam-se satisfao, ao mximo, para
se recomporem do stress cotidiano. De acordo com Andrade (2001), a civilizao industrial e o ambiente
tumultuado, barulhento e desumano que as grandes cidades causam; criam um estado de tal opresso, que
obriga os indivduos, mesmo os mais equilibrados, a procurarem durante as frias, finais de semana e
feriados, lugares com belezas naturais, pessoas e culturas diferentes, para uma reciclagem e recomposio
da energia, mesmo porque o desejo de evaso humano, natural, freqente e produto caracterstico de
grandes metrpoles.
Diante da necessidade de se deslocar espontaneamente, por perodo limitado para fora do local de
sua residncia habitual, um tipo de turismo que tem crescido o excursionista, uma vez que o
excursionismo uma tendncia cada vez maior dos moradores das grandes cidades pela sua praticidade
(FELLINI, 1983). O excursionista permanece por menos de vinte e quatro horas em receptivo ou localidade
que no seja o de sua residncia fixa, com as mesmas finalidades que caracterizam o turista, mas sem
pernoitar no local visitado, pode-se usar o termo excursionista ou visitante de um dia (ANDRADE, 2002).
Esse visitante de um dia busca satisfazer sua necessidade de lazer e descanso em um perodo curto
de tempo, o local visitado deve causar um impacto na motivao pessoal, nas emoes, valores, interesses
e outros estados mentais que influenciaram no seu retorno ao local de sua residncia (ANDRADE, 2002).
O Municpio de Pureza, situado a 59 km da capital Natal, com uma rea de 504,32 km, o local
onde est localizado Olheiro de Pureza situado em pleno centro da cidade. Com suas guas cristalinas
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

254
abastece cinco cidades circunvizinhas Joo Cmara, Taipu, Poo Branco, Bento Fernandes, Parazinho,
alm de ser o local da nascente do Rio Maxaranguape que ocupa uma superfcie de 1.010 km (IBGE, 2009).
atravs da percepo que o indivduo tem sobre o ambiente visitado que ele desenvolve suas
observaes de acordo com seus valores e importncia de significados, diferena de culturas, de grupos
socioeconmicos, que desempenham funes distintas no plano social (DAY, 1974).
Segundo Davidoff (1983), por meio da percepo desenvolvemos a conscincia do ambiente que
nos cerca e de ns mesmos, define-se como o processo de organizar e interpretar dados sensoriais
recebidos (sensaes). Nesse sentido, Day (1972) afirma que a percepo pode ser definida como o contato
que o organismo mantm com seu ambiente, seu estado interno, sua prpria postura e movimento no
espao.
por meio da percepo do prprio consumidor, suas observaes e necessidades atingidas ou no
que possvel identificar as deficincias de um determinado segmento ou localidade, e propor melhorias
para um funcionamento maior do ambiente receptivo.
no contexto da importncia e significado dado aos estudos de percepo de moradores e
excursionistas para uma melhor gesto ambiental que este trabalho tem como objetivo tentar responder
qual a percepo dos moradores do turista excursionista sobre o Olheiro de Pureza/RN e de posse dos
elementos perceptivos, propor um plano de gesto ambiental para o Olheiro de Pureza/RN.
Foi feito inicialmente uma reviso bibliogrfica, levantada por meio da leitura de livros, revistas
cientficas, teses, dissertaes, e em seguida utilizou-se a pesquisa de campo, cuja tcnica escolhida foi o
estudo de caso de acordo com Gil (2002). Esta tcnica de pesquisa a mais flexvel e que permite analisar o
maior nmero de ngulos do problema. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos visitantes do Olheiro.
As entrevistas foram realizadas em um final de semana, dias de maior freqncia de visitantes,
incluindo 11 pessoas, 6 moradores e 5visitantes, sendo 2 mulheres e 9 homens, com faixa etria entre 21 e
61 anos, sendo a idade mdia, 32 anos, com abordagem de forma aleatria, mas focando numa analise
qualitativa, tendo como embasamento as falas dos entrevistados. Entre os moradores apenas um no
nasceu neste municpio, mas mora na cidade h 10 anos; todos os outros moram na cidade desde o seu
nascimento e possuem residncia fixa no municpio. Entre os visitantes, 3 residem em Natal, capital do
Estado e 2, so oriundos do municpio de Parnamirim na regio metropolitana de Natal.
O nmero limite de entrevistados foi definido pelo critrio de saturao, indicado por S (1998),
o qual ocorre no suceder da pesquisa, quando as entrevistas/argumentos comeam a se repetir, isto
significa que, entrevistar uma maior quantidade de sujeitos pouco acrescentaria no contedo da
representao.
O tratamento das informaes foi feito a partir do discurso dos moradores e excursionistas sobre
sua opinio acerca do Olheiro de Pureza/RN, segundo Chizzotti (1998), cujo objetivo compreender
criticamente o sentido das comunicaes, seu contedo manifestado ou latente, as significaes explicitas
ou ocultas.
Alm dessa parte introdutria o presente artigo est estruturado em mais trs sees. Na primeira,
apresentamos uma fundamentao de referncia terica. Em seguida uma breve caracterizao do
municpio de Pureza e sua histria recente. Por fim, apresentamos as nossas consideraes finais e as
referencias do estudo.
O turismo caracterstico de uma sociedade de consumo como um todo estruturado, mais um
produto ou uma combinao de bens e servios, cuja funcionalidade depende de uma srie de
conhecimentos operacionais e de paciente dedicao para atendimento cabal dos requisitos da oferta e das
exigncias da demanda (ANDRADE, 2002).
O conceito de turismo uma matria bastante polmica segundo vrios autores que tratam desse
assunto. O turismo est relacionado a viagens, mas nem sempre todas as viagens so consideradas como
turismo (IGNARRA, 2002). Conforme Ignarra (2002), a Organizao Mundial do Turismo (OMT) define
turismo como sendo o deslocamento para fora do local de residncia por perodo superior a 24 horas e
inferior a 60 dias motivado por razes no-econmica. Essa definio serve apenas para padronizar o
conceito de turismo em todos os pases que so membros da organizao. Para muitos especialistas,
turismo so as viagens para regies que se distanciam mais de 80 km dos locais de residncia (LAGE;
Joo Pessoa, outubro de 2011

255
MILONE, 2001). Outros especialistas, ao conceituar turismo, definem como sendo os viajantes que
permaneam mais de 24 horas nos locais visitados e que no exeram atividade lucrativa nem remunerada.
Para a realizao de uma atividade turstica necessrio que ocorra o deslocamento de pessoas a
localidades diversas da cidade onde o visitante possui residncia fixa. Assim os viajantes so tidos como
consumidores de servios tursticos como hospedagem, produtos alimentcios, transporte, produtos
regionais tpicos, qualquer que sejam suas motivaes. Porm a OMT classifica esses consumidores em
turistas, excursionistas e visitantes (ANDRADE, 2002).
PERCEPO: UMA BREVE DISCUSSO
possvel identificar as deficincias de um determinado segmento seja publico ou privado, se est
ou no atendendo as necessidades do publico, atravs da percepo do prprio consumidor turista ou
excursionista, por meio de suas observaes e necessidades atingidas ou no, e propor melhorias para o
sistema turstico empregado em uma localidade.
Para, Tuan (2002), a percepo o processo de organizar e interpretar sensaes, necessrias para
o desenvolvimento da conscincia sobre o ambiente que nos cerca e de ns mesmos. A motivao pessoal,
as emoes, os valores, os interesses e outros estados mentais influenciam o que as pessoa percebem,
diferenciando o sentido de percepo entre pessoas.
Dessa forma, o estudo da percepo neste trabalho se torna importante para que se possa
compreender melhor, de acordo com Fontenele, 2004, as inter-relaes do homem com o ambiente, suas
expectativas, satisfaes e insatisfaes, julgamentos e condutas. atravs da percepo que o indivduo
trz sobre o ambiente em que ele mantm contato e seu estado interno, de acordo com seus valores e
importncia de significados, diferena de culturas, de grupos socioeconmicos que desempenham funes
distintas, no plano social. Pois, a valorizao do ambiente pelo visitante est na existncia de percepes
dos valores que o individuo da para as condies do local em que ele ira permanecer durante sua estadia.
AREA DE ESTUDO: O MUNICPIO DE PUREZA/RN E O OLHEIRO
O Municpio de Pureza teve inicio no ano de 1806, nas terras de nome Pau Ferro de propriedade de
Leopoldo Rodrigues Braga. Era um pequeno povoado ladeado por rvores chamadas pau-ferro, que faziam
sombra sobre as pedra de onde brotava o manancial de gua que irriga o leito do rio Maxaranguape. Por
volta de 1879 o Dr. Jos Incio Fernandes Barros, um freqentador da localidade e defensor das qualidades
medicinais das guas lmpidas das nascentes, o povoado passou a se chamar Pureza e no dia 25 de maio de
1891, a povoao de Pureza foi elevada categoria de distrito. Em 1938 foi elevado vila, permanecendo
assim at dezembro de 1943, quando a localidade passou a se chamar vila de Maxaranguape, nome que
permaneceu at sua emancipao em 5 de abril de 1963. Atravs da Lei n 2.882, desmembrou-se de
Touros tornando-se municpio do Rio Grande do Norte e retornando ao histrico e definitivo nome de
Pureza (IBGE, 2004). O municpio possui uma populao de 8.415 habitantes no ano de 2009, segundo
dados do IBGE, censo 2009.
Em pleno centro da cidade, o Olheiro de Pureza tambm conhecido como Fonte de Pureza, com
suas guas cristalinas abastece cinco cidades circunvizinhas Parazinho, Taipu, Joo Cmara, Poo Branco,
Bento Fernandes, alm de ser o local da nascente do Rio Maxaranguape que ocupa uma superfcie de 1.010
km, correspondendo em torno de 1,9% da rea do estado (CPRM, 2005).
Segundo Guerra (1978), olheiro a designao dada aos locais onde se verifica o aparecimento de
uma fonte ou mina de gua. As reas onde aparecem olhos-dgua so, geralmente em terrenos rochosos,
planos e brejosos.
Por estar localizado no centro da cidade e ser um resqucio de rea natural, o Olheiro acaba
atuando como agente impulsionador da economia local, atravs da gerao de emprego e renda, por outro
lado, se o local no estiver sendo administrado de forma adequada, de acordo com Melo (2005), pode
gerar alteraes nos processos ecolgicos dos ecossistemas, descaracterizando-os e contribuindo para o
empobrecimento biolgico, ecolgico, paisagstico e cnico. Com o aumento do uso destas reas naturais
pelo excursionismo na busca por locais agradveis para fins de lazer, descanso e recreao, constitui uma
necessidade busca de tcnicas adequadas para avaliar, aplicar medidas mitigadoras e difundir
informaes adequadas sobre a relao entre ecologia e lazer (MIDAGLIA, 1999).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

256
ANALISE DA PERCEPO
A anlise da percepo dos moradores e dos excursionistas do Olheiro de Pureza ocorreu por meio
da identificao de seus discursos sobre o que eles julgavam sobre o Olheiro. As entrevistas foram
realizadas no ms de agosto em dois momentos: o primeiro, com os moradores da cidade em um sbado,
dia de feira e de movimento na cidade, j as entrevistas com os visitantes foram realizadas no domingo no
prprio Olheiro dia de maior movimento excursionista no local.
Os moradores foram perguntados sobre a opinio que eles tm sobre o olheiro de Pureza, as
primeiras palavras foram observadas nos discursos a seguir:
O olheiro precisa mais de zelo, de saneamento bsico, ainda tem muito sistozama...
... o olheiro uma fonte muito produtiva, muito importante para o nosso municpio...
O olheiro do meu ponto de vista, para o turismo ele muito bom.

O olheiro ainda tido como principal atrativo e impulsionador econmico do municpio, servindo
tambm como grande divulgador da cidade. Percebe-se que os moradores possuem um cuidado, um
carinho com o Olheiro da sua cidade, principalmente por terem vividos sua infncia e adolescncia no local.
Porm, no esto aprovando a situao atual em que o local se encontra. Esse desconforto com o
momento atual apontado pelos entrevistados transcreve-se nos discursos abaixo:
Hoje eu vejo que ningum olha para o Olheiro, principalmente as autoridades, t abandonado.
Eu tomava banho aqui no tempo que no tinha nenhuma construo, era bom.
... a condio dele agora no est boa, t muito abandonado, principalmente pelas autoridades.

Por meio desses depoimentos dados pelos moradores d para perceber que h uma insatisfao
destes com o encaminhamento realizado pela Prefeitura Municipal. As autoridades pblicas no esto
investindo de forma adequada na preservao da fonte inclusive na segurana da estrutura do local, devido
ao afundamento de parte do pavimento em torno do Olheiro, fato relatado pelos moradores no discurso a
seguir:
Agora t interditado, eu acho que o povo s toma banho do outro lado maior.
... a prefeitura deve achar um rgo de fora para fazer o servio no Olheiro.
Essa semana a prefeita tava dizendo que parte da fonte tava interditado e que foi a bomba de gua
da CAERN que causou a queda da barreira.

Por meio desses relatos percebe-se o quanto os moradores esto interessados nas informaes
sobre a fonte de sua cidade e atentos as condies atuais do local. Pois, os problemas apontados pelos
moradores refletem tambm no fluxo de visitantes e na renda da populao que vive do excursionismo no
Olheiro.
O fluxo dos visitantes um ponto colocado em todas as falas dos moradores, tanto de forma
positiva como negativa, a primeira, pela satisfao de receber visitantes, a renda deixada no municpio, a
movimentao da cidade, e a segunda, causada pela sujeira dos banhistas, o vandalismo tanto com a
natureza quanto com os agentes artificiais em volta.
Mesmo com apontamentos positivos e negativos dados pelos moradores sobre os excursionistas do
Olheiro, eles admitem que o local no oferece uma infra-estrutura adequada para recepo e acomodao
do publico excursionista. A partir do momento em que no h uma oferta, por exemplo, de banheiros,
vestirios, duchas, pontos de alimentao com preos acessveis, lixeiras em quantidades suficientes,
programas de conscientizao e fiscalizao, e tudo isso somado a grande quantidade de excursionistas
disputando o mesmo lugar, acaba por incentivar as atitudes descritas. Talvez partes destes
comportamentos reflitam o descaso que os visitantes sofrem por parte do poder publico municipal.
Cabe ao poder publico e a comunidade traar metas para uma organizao dos sistema
administrativo do Olheiro, visando melhorar a infra-estrutura para acomodao e recepo dos visitantes,
fortalecendo o seu vinculo com o local e propiciando uma maior oportunidade para gerao de renda e
divisas para o municpio. Um fator proposto nas entrevistas pelos moradores a privatizao do banho ou
pelo menos uma cobrana para permanecer no local do banho, conforme trechos da entrevista a seguir:
Todo canto que a pessoa vai paga alguma coisa, era para cobrar pelo menos qualquer coisa para
manuteno do Olheiro.

Joo Pessoa, outubro de 2011

257
Era para pelo menos limitar o pessoal na fonte pagando, tem muita gente ao mesmo tempo
tomando banho.

Por meio dessas respostas percebe-se que mesmo trazendo vantagens para cidade o turismo no
local no esta sendo feito de forma organizada e que os rgos competentes no esto dando conta da
manuteno da fonte.
Do ponto de vista dos visitantes outros pontos foram relatados nas entrevistas, local em que foi
feito a mesma pergunta, qual a opinio que eles tm sobre o olheiro de Pureza, as primeiras palavras foram
observadas nos discursos a seguir:
Vejo ele como uma atrao turstica para a cidade.
O Olheiro uma fonte de riqueza para cidade, assim como a questo da gua.
uma beleza natural show de bola que gera renda para cidade.

Por meio dessas entrevistas percebe-se que o turista ao conhecer o Olheiro de Pureza ele se admira
com o local, se permitindo usufruir desse momento de vislumbre, alcanando nesse breve instante seu
desejo de lazer e descanso. Mas a primeira impresso logo deixada de lado com o passar das horas
quando cada visitante busca se acomodar em determinado local para passar o dia, eles percebem que o
local no esta recebendo os devidos cuidados de manuteno por parte da prefeitura, como relatado nos
seguintes discursos:
Hoje parece esta meio abandonado.
No meu ponto de vista ta faltando organizao, tem muita gente, meio desorganizado.
No vejo a prefeitura investindo numa estrutura melhor...

Mesmo passando um perodo curto de tempo no local visitado o excursionista consegue valorizar a
natureza e ao mesmo tempo perceber os problemas do local no que diz respeito falta de manuteno e
infraestrutura. Segundo Andrade (2001) o visitante observa todas as condies sociais e ambientais locais
durante todo seu perodo em receptivo. Da mesma forma, os moradores, os visitantes tambm, apontaram
a responsabilidade da falta de organizao e estrutura local para entidades publicas, apesar de que um
entrevistado ter apontado os moradores da cidade como os responsveis pela falta de organizao, como
seguem os depoimentos a seguir:
Eu acho que a administrao da prefeitura ruim e segundo os moradores no zelam pelo principal
ponto de lazer da cidade.

No sendo confirmada essa responsabilidade aos moradores nas demais entrevistas:


bonito aqui, s precisa de uma organizao maior da prefeitura
Falta organizao, acho que a prefeitura no esta trabalhando muito aqui no.
Falta administrao chegar junto e organizar o povo.
No vejo atitude com a qualidade do banho, a prefeitura devia limitar as pessoas aqui.

Aps as anlises das entrevistas com os moradores e excursionistas a respeito de observaes


sobre o Olheiro de Pureza, percebeu-se que esses vem o olheiro como um bem muito precioso e que
necessita ser preservado e melhor gerido pelos rgos pblicos competentes. Sendo que parte desses
problemas tambm se deve a populao em geral, pois para minimizar os problemas relatados necessria
uma participao direta e consciente de toda sociedade.
CONSIDERAES FINAIS
O desenvolvimento deste trabalho possibilitou evidenciar por meio da fala dos moradores e
excursionistas as mudanas socioambientais necessrias para melhoria das condies locais. As entidades
pblicas necessitam criar um plano de gesto turstica com participao da populao, e, tambm, ouvindo
os visitantes do Olheiro.
O conhecimento da percepo pela populao local e pelos visitantes sobre o meio ambiente e o
local em que eles compartilham, fornece elementos para o gestor planejar e elaborar projetos em Gesto
Ambiental; avaliar, estimular e propor aes mitigadoras dos impactos ambientais; fornecer elementos
para as polticas pblicas; mas, nada disso ser possvel sem a imprescindvel e efetiva participao da
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

258
comunidade nas polticas pblicas, nos processos de deciso, planejamento e no controle social. Alm
disso, pode-se dizer que os problemas relatados pelos purezenses, como falta de organizao, sujeira,
vandalismo, lotao do espao, devem ao descaso dos moradores e a falta da efetiva ateno da poltica
ambiental local. Os habitantes e as entidades pblicas da cidade, em sua maioria, agem individualmente, de
acordo com os prprios interesses, desconsiderando o meio ambiente e a coletividade local.
O caminho para a soluo dos problemas socioambientais do Olheiro de Pureza fica explicitado:
compromisso populacional e poltico em relao aos assuntos socioambientais. Para tanto, faz-se
necessrio uma mudana das concepes e atitudes individuais dos habitantes, polticos locais e
principalmente dos excursionistas, pelo menos em relao ao Olheiro, o que pode ser obtido a partir do
desenvolvimento de uma atitude tica e de prticas de educao e gesto ambiental que estejam ao
alcance de todos. Acontecendo isso, espera-se que a sociedade purezense encontre o seu prprio caminho
para a sustentabilidade de sua maior fonte de riqueza.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANDRADE, R. O. B.; CARVALHO, A. B.; TACHIZAWA, T. Gesto ambiental: enfoque estratgico
aplicado ao desenvolvimento sustentvel. So Paulo: Makron Books, 2000. 232 p.
ANDRADE, J. V. Turismo: Fundamentos e dimenses. So Paulo: Ed. tica. 5 ed. 1998. 214 p.
__________. Gesto em lazer e turismo. Belo Horizonte: Autntica, 2001. 176 p.
BARBIERI, J. C. Gesto ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. So Paulo: 2004.
__________. Poltica e planejamento de turismo no Brasil. So Paulo: Ed. Aleph, 2006.
DAY, R. H. Percepo humana. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos, 1972. 189 p.
FELLINI, L. Turismo: uma atividade municipal. In: Polticas pblicas de turismo: a hospitalidade
pblica ao excursionista em Bertioga. Prof M. Silvia Rubino (UAM). Porto Alegre: Est. 1983.
FONTENELE JR, A. M. Percepo socioambiental: a viso de turistas e residentes de GuaramirangaCE. 2004. 117 f. Dissertao (Mestre) - Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2004.
GIL, A. C. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1999. 5 ed. 206 p.
__________. Como elaborar projetos de pesquisas. 4 ed. So Paulo: Atlas, 2002. 4 ed. 175 p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO EMBRATUR. Ministrio do Turismo: Dados e Fatos.
Disponvel em: <http://www.turismo.gov.br/dadosefatos>. Acesso em: 30 ago. 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA - IBGE, Banco de dados cidades 2009.
Disponvel em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/>. Acesso em: 06 jul. 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE. Resultados da Amostra do Censo
Demogrfico 2000 - Malha municipal digital do Brasil: situao em 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
LAGE, B. H. G.; MILONE, P. C. Economia do turismo. Campinas: Papirus, 1991. 122p.
__________. Turismo: teoria e prtica. So Paulo: Atlas, 2000. 1 ed. 376p
MIDAGLIA, C. L. V. Turismo e meio ambiente no litoral Paulista: dinmica da balneabilidade nas
praias. In: LEMOS, A. I. G. (org.). Turismo: impactos scio-ambientais. 2 ed. So Paulo: Hucitec, 1999, p.3256.
OMT Organizao Mundial do Turismo. Turismo internacional: uma perspectiva global. 2. ed.
Porto Alegre: Bookmann, 2003.
ORLANDI, E. P. Anlise de discurso: princpios e procedimentos. 8ed. Campinas: Pontes, 2009.
105p.
PINHEIRO, O. de G. Entrevista: uma prtica discursiva. In: SPINK, M. J. (org.). Prticas discursivas e
produo de sentidos no cotidiano: aproximaes tericas e metodolgicas. 3. ed. So Paulo: Cortez, 2004.
S, C. P. A Construo do objetivo de pesquisa em representaes sociais. In:_______. A construo
do objetivo de pesquisa em representaes sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 1998, p. 79-95.
TRIGO, L. G. G. Turismo bsico. So Paulo: SENAC, 2002.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia : um estudo da percepo, atitudes e valores do meio ambiente. So Paulo:
Difel, 1980. 288p.
VALLE, C. E. Como se preparar para as normas ISO 14000: qualidade ambiental: o desafio de ser
competitivo protegendo o meio ambiente. So Paulo: Pioneira, 2000.

Joo Pessoa, outubro de 2011

259

TURISMO, PRODUO DO ESPAO E PLANEJAMENTO SUSTENTVEL:


APORTES TERICOS
Rosa Maria Rodrigues LOPES
Professora do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
rosamrlopes@gmail.com

RESUMO
O texto que segue objetiva encaminhar uma discusso bastante necessria, porm, ainda tmida,
no mbito dos estudos acerca da produo e reproduo do espao pela atividade turstica e sua
compreenso consorciada ao planejamento sustentvel da mesma, em referncia ao poder pblico. Para
tanto, a construo textual se deu com base em uma reviso de literatura pautada nos estudos da
apropriao do espao pelo turismo e as suas consequentes transformaes que tm recebido uma
ateno especial dos escritos recentes de alguns gegrafos como Rodrigues (1996), Coriolano (2005) e Cruz
(2002, 2003). Aps exposto, tal arcabouo terico tratado em sua relao com a anlise das polticas de
turismo numa referncia mais ampla e ao planejamento sustentvel do turismo numa perspectiva mais
restrita, abordando as possibilidades e limites do mesmo no contexto mais local. Por fim, conclui-se que
so muitas as fragilidades que podem ser observadas no processo de planejamento e gesto pblicos da
atividade turstica, assim como vrios os desafios a serem superados para um desenvolvimento turstico
mais coerente com os ideais de sustentabilidade da atividade.
Palavras-chave: Produo do Espao. Turismo. Poltica de Turismo. Planejamento Turstico.
Sustentabilidade.
1 INTRODUO
Os estudos que fazem referncia ao planejamento sustentvel da atividade turstica, consorciados
ao entendimento da produo do espao pelo turismo e toda a sua complexidade, so, ainda, incipientes,
muito embora, tenham uma relevante importncia para a compreenso dos limites e possibilidades
vivenciados por todos que contribuem para o processo de produo e reproduo da atividade.
Nesse sentido, o texto ora apresentado, busca explicitar as diferentes relaes consubstanciadas no
espao em razo da apropriao do mesmo pelo turismo. Assim, sua produo est pautada numa reviso
de literatura construda com respaldo na Cincia Geogrfica, posicionando-a nas discusses empreendidas
pelas Cincias Sociais e Humanas, principalmente, a partir das trs ltimas dcadas.
Associada a essa abordagem, o texto apresenta uma discusso que envolve as polticas de turismo,
em nvel geral, assim como o planejamento sustentvel da atividade turstica em um cenrio mais
especfico, este ltimo centrado nas especificidades que caracterizam os desafios do poder pblico no
mbito do municpio e do estado.
Assim sendo, o artigo tem sua construo pautada, fundamentalmente, numa bibliografia que
compreende a leitura da produo e reproduo do espao, tomando como referncia a atividade turstica
e a associao dessa leitura com a compreenso dos limites, perspectivas e desafios concernentes s
prticas do planejamento sustentvel do turismo. Para tanto, foram consultados artigos, livros, e trabalhos
acadmicos que fazem referncia s temticas e que puderam contribuir para a relao entre as mesmas.
2 O TURISMO EM SUA COMPELEXIDADE: A PRODUO DO ESPAO
O turismo uma atividade moderna que vem sendo alvo de variados estudos que, por sua vez,
sinalizam para uma premente preocupao em relao aos fatores que so condicionados pela apropriao
do espao nas suas mais diversas dimenses e inter-relaes. Seus estudos so bastante recentes e
resultam da massificao da atividade que se deu com maior destaque a partir da Segunda Guerra Mundial.
Contudo, a maior expresso quantitativa e qualitativa desses estudos vem acontecendo a partir da dcada
de 1980 e, principalmente, a partir da dcada de 1990 e se insere em um contexto no qual as discusses
sobre a sustentabilidade das diversas atividades humanas estavam ganhando espao no meio acadmico e
na sociedade em geral.
Nesse sentido, vale frisar que at ento as discusses acadmicas concernentes ao turismo
estavam respaldadas pelo vis econmico, denotando, por conseguinte, uma abordagem reducionista de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

260
anlise da atividade, tendo em vista que a mesma se apropria do espao que necessita de um respaldo
mais complexo de compreenso, sob pena de tornar o estudo, incompleto no mbito da realidade
estudada. Nesse contexto, afirma Ramirez,
Es indudable que los pases industrializados han percebido al turismo errneamente, convirtindolo
em una industria ms del engranaje comercial, es decir, en un conjunto de actividades econmicas
destinadas a producir y ofrecer uma serie de servicios que el turista necesita para su confort, olvidndose que
bsicamente el turismo es uma actividad humana que lleva implcita los elementos que constituyem la dos
caras de una misma moneda: sociedad y cultura (2010, p. 53).

Assim sendo, muitos pesquisadores, com destaque para aqueles das Cincias Sociais, passaram a se
debruar sobre estudos tericos e conceituais que se mostravam relevantes para o entendimento da
atividade no contexto de suas repercusses nas realidades onde a mesma se instalava, fazendo emergir
uma srie de produes acadmicas direcionadas para os impactos causados pelo turismo que muitas
vezes comprometem a qualidade de vida das populaes dos ambientes visitados e do meio natural,
comprometendo, conseqentemente a prpria atividade.
No tocante gesto da atividade turstica, tomando como referncia as polticas pblicas de
turismo, alguns estudos vm sendo apresentados, especialmente, nas duas ltimas dcadas. Entretanto, a
realidade da gesto pblica de muitos municpios tem mostrado ainda uma carncia acentuada no que diz
respeito a essa abordagem, tendo em vista o entendimento e tratamento superficial e secundrio que tem
sido dado ao turismo, frente s mltiplas interferncias que se fazem sentir nas localidades onde o mesmo
se instala ou pretendido. Assim sendo, o estabelecimento de polticas para o setor s emerge de
situaes expressas pela importncia econmica da atividade ou quando os efeitos negativos
comprometem a comercializao dos produtos tursticos.
As polticas de turismo se perdem, assim, em aes pontuais e setorizadas que no conseguem
abranger as reais necessidades demandadas pelo setor, se restringindo, muitas vezes, aos aspectos
econmicos em detrimento dos demais que compem o seu entendimento. O pensamento de Solha
corrobora com esse entendimento, quando ao analisar as polticas de turismo, destaca que:
[...] o papel da poltica de turismo, assim como sua abrangncia, varia conforme as necessidades e os
objetivos de cada local. Ao analisar a literatura, so verificadas duas principais posturas relacionadas ao papel
da poltica de turismo: por um lado, uma viso comercial que acredita que ela contribua para obter
resultados mais eficazes; por outro lado, a poltica funcionando como estratgia para o desenvolvimento
harmonioso, estabelecendo limites e garantindo o atendimento das necessidades e expectativas da
comunidade receptora (2006, p. 92).

No entanto, no que pese a sua importncia, essa segunda vertente vem se efetivando, ainda de
forma muita tmida, o que deixa transparecer a necessidade de um aprofundamento e consolidao dos
estudos acadmicos que contemplem o turismo no contexto de suas mltiplas dimenses, a saber: poltica,
econmica, social, cultural e natural.
A abordagem sugerida comporta, assim, um contexto mltiplo de olhares que do sentido s
proposies de um turismo sustentvel capaz de se despir de seu sentido utpico que desacredita muitas
tentativas de aes planejadas a partir da sustentabilidade e do desenvolvimento local. Nessa vertente,
compreende-se o planejamento turstico como um processo avaliativo do ncleo receptor (comunidade,
oferta e demanda), e dos destinos concorrentes, objetivando o ordenamento de aes da gesto pblica
pautadas no vis do desenvolvimento sustentvel e que possa, tambm, fornecer subsdios gesto
privada para que os equipamentos tursticos se estruturem com base na responsabilidade socioambiental
(BRAGA, 2007).
Assim, pensar o turismo no espao, implica pensar sobre a produo do espao pela atividade
turstica, tema de diversos estudos empreendidos no mbito da Cincia Geogrfica, principalmente nas trs
ltimas dcadas. Essa produo se d no mbito das mltiplas relaes tecidas no espao e por ele
influenciadas, fazendo emergir, ento, uma compreenso encorpada pelo vis dialtico concernente
anlise da atividade.
Conforme salienta Coriolano,
Explicar o turismo implica estudar o espao geogrfico, pois os turistas viajam para conhecer lugares,
havendo, portanto, uma relao estreita entre a Geografia e o Turismo. O turismo materializa-se de forma
Joo Pessoa, outubro de 2011

261
contundente na lgica da diferenciao geogrfica dos lugares e das regies. Tornou-se, assim, importante
aos gegrafos para a compreenso do desenvolvimento regional (2005, p. 12).

Assim sendo, entender o turismo na lgica da diferenciao geogrfica exige uma anlise,
primeiramente, direcionada leitura da organizao espacial via reproduo das relaes sociais,
considerando que o conjunto de prticas sociais ao longo do tempo que concretiza a produo e
reproduo do espao. Conforme definio de Corra (1989, p. 55), A organizao espacial, ou seja, o
conjunto de objetos criados pelo homem e dispostos sobre a superfcie da Terra, assim um meio de vida
no presente (produo), mas tambm uma condio para o futuro (reproduo). Assim, temos um
processo dinmico que pressupe uma continuidade operacionalizada no prprio processo de produo,
no qual as condies de sua reproduo so criadas e recriadas, onde usos diferenciados do solo definem
reas com formas e funes tambm diferenciadas.
O espao, nessa perspectiva, est permanentemente sendo modificado em razo de interesses
especficos que influenciam na emergncia de novas formas de relaes sociais, gerando,
consequentemente, novos produtos espaciais. Tal fato constata-se no momento atual, tendo em vista que
o espao entra no circuito da troca, por intermdio de algumas atividades econmicas e o turismo uma
delas. nessa perspectiva que entendemos a atividade turstica, como uma atividade econmica se
inserindo nos espaos e trazendo repercusses substanciais para sua organizao e reordenamento.
Tomando como referncia a relao do turismo com o espao, afirma Cruz (2002, p. 17), Nenhuma
outra atividade consome, elementarmente, espao, como faz o turismo e esse um fator importante da
diferenciao entre turismo e outras atividades produtivas. Assim sendo, o espao o principal objeto de
consumo do turismo.
Ao se apropriar desses espaos, a atividade turstica recria as condies necessrias sua produo
e reproduo, por intermdio dos diversos agentes do turismo (empresrios, proprietrios de terra, turistas
etc) (RODRIGUES, 1996). Em consequncia, ao recriar as condies do processo de reproduo do espao, o
turismo mostra seu potencial marcante para a transformao dos lugares. A esse respeito salienta Cruz,
O turismo tem, reconhecidamente, uma capacidade avassaladora de transformar os lugares
(natureza e cultura), mas, a priori, isso no bom ou ruim. Somente as anlises de caso podem revelar como,
quando e onde o turismo impactou positiva ou negativamente o patrimnio natural ou cultural de um lugar.
E, quando se tratar de impactos socioeconmicos e culturais, preciso ter cincia de que todo julgamento
ser permeado por ideologias e que, portanto, aquilo que for considerado negativo por determinado autor
poder ser visto como positivo por outro (2003, p. 45).

Nesse contexto, entende-se que a configurao do espao, sua formao, deve ser tomada
anlise a partir das atividades e relaes sociais e econmicas empreendidas no espao ao longo do tempo.
Esses elementos nos colocam diante da necessidade de se pensar o conceito de espao, aqui
compreendido segundo a tica de Santos (1996a, p. 90), como formado por um conjunto indissocivel,
solidrio e tambm contraditrio, entre sistemas de objetos e sistemas de aes, no considerados
isoladamente, mas como quadro nico no qual a histria se d. Assim, no contexto do processo de
produo capitalista, as aes tendem racionalidade evidenciando a dinmica da produo/reproduo
das condies socioespaciais, condio necessria reproduo do capital. No mbito do turismo, a
racionalidade torna o espao mais competitividade no contexto de lugares mercantilizados e, em
consonncia com os objetos e relaes precedentemente estabelecidos, d margem para uma
reorganizao desses espaos.
Considerando esse processo de mercantilizao, em sua anlise, o turismo visto como marca de
atividade moderna, ao se utilizar dos espaos, dando impulso sua valorizao e, por conseguinte,
contribuindo para a sua complexificao. Segundo Carlos (2001, p. 423),
[...] a tendncia que se vislumbra, hoje, aquela da realizao da vitria do valor de troca sobre o de
uso, o que esvazia a possibilidade da apropriao do espao. O processo de reproduo espacial se produz
como condio, meio e produto da reproduo do capital e do poder poltico que constrange e coage,
limitando usos.

Essa tendncia ganha fora na medida em que o uso do espao orientado, cada vez mais, pelo
mercado, estabelecendo relaes tpicas do modelo capitalista e limitando as possibilidades de apropriao
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

262
do espao no mbito do viver e do vivido, tornando-o, em certa medida, estranho ao cotidiano de seus
habitantes.
Obedecendo a essa configurao, entende-se que so nos centros receptores que a atividade ganha
expressividade, em termos materiais, (re)produzindo novos espaos e a onde h maior consumo de
espao. Esse consumo o que Santos (1985) chama de consumo consumptivo que se esgota em si e
consumo produtivo que consome produzindo.
Nos espaos do turismo observa-se superposio dos efeitos do consumo consumptivo e do
consumo produtivo [...]. Nos novos espaos de turismo, particularmente em reservas naturais, consome-se
destruindo e produzindo. Objetos naturais vo transformando-se em objetos sociais no processo de
valorizao do espao (RODRIGUES, 2001, p. 63).

Dessa forma, quando da apropriao, esses espaos tursticos tornam-se privilgios de alguns e so
transformados no intuito de dar maior comodidade, transformando-se assim, espaos
modificados/construdos para o consumo e potencializados como mercadoria. Diante do exposto,
[...] toda anlise que se pretenda consistente sobre a participao do turismo na produo do
espao geogrfico, ou seja, sobre a criao de territrios tursticos, deve considerar o conjunto de relaes
em que se desenvolve a atividade, bem como suas dimenses global e local. O turismo representa apenas
uma parte de um imenso jogo de relaes (CRUZ, 2003, p. 20).

Nessa perspectiva, ao considerar as mudanas provocadas pela atividade turstica, o espao tem
suas especificidades sufocadas ao se constituir espao de contedo similar ao da origem do turista e ao ter
o modo de vida, os costumes dos turistas copiados pelos autctones sob pretexto do moderno, tendo em
vista que o contato deste com aquele contnuo e a relao entre ambos passa a fazer parte do cotidiano
da populao receptora.
A questo ambiental se insere nesse contexto de forma destacada, tendo em vista, que os atrativos
naturais compem, majoritariamente, o conjunto da oferta turstica de muitas localidades. O meio
ambiente alterado e medida que a atividade se complexifica, os problemas scio-ambientais tornam-se
mais relevantes e ganham destaque, principalmente na ausncia de um planejamento territorial com vistas
para a conservao scio-cultural e ambiental.
3 POLTICA E PLANEJAMENTO SUSTENTVEL DO TURISMO
A problemtica ambiental em sua relao com a apropriao dos espaos naturais pela atividade
turstica vem sendo discutida, pela comunidade acadmica, a partir da dcada de 1970 em razo da
consolidao do turismo de massa e com ele o aumento dos impactos causados pela atividade em reas
naturais.
Nesse contexto, o consumo do espao pela atividade turstica passa a demandar amenidades
ecologicamente equilibradas, tratando-se, portanto, de um consumo produtivo, voltado para a interao
homem-natureza, separados no processo de produo do urbano. No entanto, observamos que sob a
denominao de ecolgico, muitas localidades com atratividade natural passam a desenvolver o turismo,
onde o real interesse focaliza o econmico. Dessa forma, tais localidades do subsdios para a
implementao da atividade, desconsiderando os fatores de risco para os recursos naturais, a populao
autctone e o patrimnio histrico-cultural. O desenvolvimento sustentvel ento propalado, enquanto
discurso para dar mais legitimidade e credibilidade s intervenes no espao em nome do turismo.
Levando em considerao o crescente uso dos espaos naturais, entra em cena a necessidade de
planejamento dos ambientes, dos equipamentos e da atividade turstica sob pena da deteriorao desses
espaos, pois apesar de gerar riquezas, a atividade constitui fora de agresso natureza, s culturas e aos
territrios, eliminando contraditoriamente, as bases sob as quais a atividade ganhou respaldo para seu
desenvolvimento. Assim, a atividade vai se reproduzindo dialeticamente de forma combinada e
contraditria. Combinada quando levamos em considerao o conjunto de elementos materiais e
simblicos e as conseqentes mudanas socioespaciais do processo de turistificao. E contraditria, pois
destri as caractersticas socioespaciais que deram respaldo a sua explorao, perdendo dessa forma, as
suas especificidades. Conforme destaca Rodrigues (1996, p. 61), Este tipo de consumo deveria no ser

Joo Pessoa, outubro de 2011

263
destrutivo. Deveria preservar, conservar a mercadoria que deu origem atividade. Porm,
contraditoriamente, destri as condies que deram origem a esta mercantilizao.
tomando como base esse quadro de referncia que, ao analisar a atividade turstica, Becker
(1996), afirma que a mesma possui uma caracterstica hbrida, haja vista que ao mesmo tempo em que se
constitui em potencial de desenvolvimento, se constitui, tambm, em potencial de degradao das
potencialidades naturais e, tambm, culturais.
Assim, diante desse potencial de degradao provocado pela atividade turstica e em associao
com as discusses relativas s questes ambientais no final do sculo XX, o turismo passou a se apropriar
de outras prticas que se fundamentam no rtulo de sustentvel, a exemplo dos segmentos tursticos
praticados em reas naturais como o ecoturismo, turismo de aventura, geoturismo entre outros.
No Brasil, essa associao se processou, notadamente, a partir da dcada de 1980, quando a
articulao entre o turismo e a questo ambiental passou a se consubstanciar de forma mais marcante.
Nesse contexto, em 1981 foi criada a Poltica Nacional de Meio Ambiente e com ela, os primeiro indcios de
uma relao mais prxima com o turismo, fato que corroborou no lanamento oficial de mais um produto
turstico, pela EMBRATUR, em 1987, denominado, na poca de turismo ecolgico e, posteriormente, de
ecoturismo.
Alm dos movimentos ecolgicos que ganharam fora a partir da dcada de 1970, a ideia de um
turismo sustentvel, vendida por intermdio do ecoturismo se intensificou a partir da dcada de 1980,
impulsionado, tambm, pelos movimentos de contracultura da dcada de 1960.
Juntamente com a intensificao de modalidades sustentveis de turismo, a exemplo do
ecoturismo, surgem como necessidades prementes as discusses relativas ao planejamento sustentvel da
atividade. A esse respeito, destaca Seabra:
[...] Preocupaes com a poluio do turismo, decorrentes do uso irracional dos recursos naturais
so crescentes, e o planejamento das atividades ecotursticas comea a emergir. Esses movimentos de fuga
para as reas de predomnio da paisagem natural so ampliados como resposta aos problemas ambientais
que agravaram a qualidade de vida nas cidades. Os movimentos de busca pelo verde, objetivando recuperar
o equilbrio psicofsico, so o motivo do deslocamento de pessoas para essas reas (2009, p. 58).

Entretanto, no que pese a relevncia desse tipo de planejamento no tocante atividade turstica,
as aes pblicas e privadas ainda so pontuais e carregadas de variadas fragilidades que acabam por
inviabilizar um planejamento adequado lgica da sustentabilidade.
A prpria poltica de turismo em mbito brasileiro bastante recente e seu incio se pautou na
preocupao com a viabilizao do crescimento econmico da atividade. Na atualidade, os Estados e
municpios demostram deficincias quando so chamados a apresentar suas diretrizes em relao ao
turismo. Para essas entidades pblicas o que caracteriza a poltica de turismo se refere s poucas, aes,
ainda, pontuais e bastante setorizadas.
Nessa perspectiva, elas no so formalizadas, mas so percebidas pelas estruturas criadas pelo
poder pblico para dar apoio ao setor e, tambm, pelas aes das diversas reas governamentais do turismo
(SOLHA, 2004, p. 12).

Ao analisar o contexto de evoluo da atividade turstica, Solha (2004), destacar trs importantes
fases da poltica de turismo. A primeira delas faz referncia ao perodo de 1950 a 1970, quando as polticas
pblicas tinham um carter de fomento e apresentavam como objetivo primeiro, aumentar o fluxo de
visitantes; a segunda fase, diz respeito ao perodo de 1970 a 1985 quando o turismo passou a ser entendido
como agente de desenvolvimento, gerando, como consequncia, um maior envolvimento governamental
no tocante infraestrutura urbana e turstica; e a terceira fase que compreende o perodo de 1985 at os
dias atuais e que corresponde ao cenrio de maior preocupao com as questes ambientais e aumento da
competitividade, condicionando o Estado a assumir um papel de coordenao e estruturao da atividade
turstica (apud OMT, 1998; Hall, 2001).
Como se pode depreender a partir dessa periodizao, o envolvimento do pode pblico, por
intermdio das polticas pblicas de turismo, nos assuntos relativos sustentabilidade relativamente
recente, tendo em vista que, historicamente, o mesmo esteve disposio da promoo da atividade
turstica sob o discurso de prerrogativas econmicas.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

264
Alm dessa concentrao majoritria de esforos no crescimento econmico, o poder pblico, em
muitas situaes, no tem se apresentado suficientemente preparado para encaminhar um planejamento
turstico pautado em bases sustentveis e, muitas vezes, acaba por disseminar um conjunto de aes
puramente utilitaristas, acentuando as problemticas socioespaciais dos lugares.
Dentre os vrios fatores que compem esse quadro de fragilidades, destaca-se: ausncia de
legislao e regulamentao da atividade; restries financeiras e polticas; ausncia ou ineficincia do
sistema de infraestrutura; falta de pessoal qualificado; direcionamento de aes pontuais e setorizadas e
pouco eficientes; ausncia de planejamento e gesto participativos, alm da inexistncia de instrumentos
de planejamento turstico, a exemplo do inventrio, do diagnstico e do plano de desenvolvimento
turstico.
Corroborando com esse cenrio, verifica-se, ainda, a necessidade do poder pblico conquistar mais
autonomia e conseguir encaminhar seus processos em consonncia com as polticas regionais, e em
parceria com os diversos agentes envolvidos na produo do espao pela atividade turstica, considerando,
tambm, as especificidades/singularidades prprias dos municpios, conforme salienta Malta:
Reconhece-se, entretanto, a necessidade de definir-se um processo de planejamento baseado nas
peculiaridades locais, de maneira a reforar a autonomia garantida aos municpios, permitindo sua livre
associao conforme interesses de natureza comum.
Um movimento ascendente do estado para o municpio, promoveria a discusso das polticas
regionais e suas implicaes locais no processo de planejamento estadual, para ajustar sua ao s
peculiaridades de cada municpio (1996, p. 205).
Essas dificuldades refletem-se na aceitao das decises tomadas, assim como nos resultados
alcanados que se apresentam com expressiva incoerncia em relao aos anseios, potencialidades e
vocaes das diferentes localidades.
CONCLUSO
vlido ressaltar, nesse contexto, que essa produo acadmica exige um carter mltiplo de
pensamento que se realiza na conjuno de conhecimentos mltiplos, possibilitando um entendimento
mais global, completo e conexo do turismo, apontando para mais uma caracterstica que respalda a
relevncia dessa pesquisa, vinculada ao curso de turismo, tendo em vista que do ponto de vista acadmico
o mesmo tem apresentado poucos estudos tericos dessa temtica.
Dessa forma, deve-se destacar que estudar o turismo implica pensar de forma interdisciplinar,
compreender em profundidade as causas e os efeitos das mudanas que se processam no desenvolvimento
da atividade em todas as suas dimenses, mudanas essas que muitas vezes decorrem de aes
promovidas pelos prprios profissionais da rea. A necessidade posta de um crescente esforo desses
profissionais em relao pesquisa que objetive a construo e compreenso do conhecimento do turismo
como um todo complexo.
Diante desse quadro referencial de complexidade no mbito da produo do espao pela atividade
turstica, conclui-se que tem sido cada vez mais urgente e premente o estabelecimento de diretrizes e
objetivos necessrios ao encaminhamento das polticas de turismo, numa concepo mais geral, e do
planejamento sustentvel do turismo em um contexto mais especfico. Consorciado a essas prerrogativas
tem-se, ainda, uma srie de fragilidades que precisam de ateno necessria por parte dos gestores, como
condio necessria ao efetivo desenvolvimento em bases sustentveis.
Por fim, cabe ressaltar que os caminhos a serem trilhados para esse fim, so longos, tortuosos, e
contemplados por percalos variados, pois abarcam uma srie de interesses, muitas vezes conflitantes,
alm de exigirem sensibilidade poltica suficiente para a compreenso da complexidade que caracteriza a
atividade turstica em seu processo de produo do espao.
REFERNCIAS
BECKER, Bertha. Polticas e planejamento do turismo no Brasil. In: YZIGI, Eduardo; CARLOS, Ana
Fani Alessandri; CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. Turismo: espao, paisagem e cultura. So Paulo: Hucitec,
1996.
BRAGA, Dbora Cordeiro. Planejamento turstico: teoria e prtica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
Joo Pessoa, outubro de 2011

265
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O sentido da cidade: as possibilidades da anlise geogrfica. In:
SPOSITO, Maria Encarnao Beltro (Org.). Urbanizao e cidades: perspectivas geogrficas. Presidente
Prudente: UNESP, 2001.
CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira; MELLO E SILVA, Sylvio C. Bandeira. Turismo e
Geografia: abordagens crticas. Fortaleza: Ed. UECE, 2005.
CORRA, Roberto Lobato. O espao urbano. So Paulo: tica, 1989. (Srie princpios).
CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. Introduo Geografia do Turismo. 2. ed. So Paulo: Roca, 2003.
______. Poltica de turismo e territrio. So Paulo: Turismo Contexto, 2002.
MALTA, Flvio J. N. C. Planejamento e gesto do turismo no litoral norte Paulista. In: YZIGI,
Eduardo; CARLOS, Ana Fani Alessandri; CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. Turismo: espao, paisagem e cultura.
So Paulo: Hucitec, 1996.
RAMIREZ, Carmen Urdaneta. Reflexiones sobre epistemologa del turismo. In: NECHAR, Marcelino
Castillo; PANOSSO NETTO, Alexandre. (Orgs.). Epistemologa del turismo: estudios crticos. Mexico: Trillas,
2010.
RODRIGUES, Arlete Moyss. A produo e o consumo do espao para o turismo e a problemtica
ambiental. In: YZIGI, Eduardo; CARLOS, Ana Fani Alessandri; CRUZ, Rita de Cssia Ariza da. (Orgs). Turismo:
espao, paisagem e cultura. So Paulo: Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton. Espao e Mtodo. So Paulo: Nobel, 1985. (Coleo Espaos).
SANTOS, Milton. O espao: sistemas de objetos, sistemas de aes. In: ______. Tcnica, espao e
tempo: globalizao e meio tcnico cientfico informacional. 2. ed. So Paulo: Hucitec, 1996.
SEABRA, Llia. Turismo sustentvel: planejamento e gesto. In: CUNHA, Sandra Baptista da;
GUERRA, Antnio Jos Teixeira (Orgs.). A questo ambiental: diferentes abordagens. 5. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil.
SOLHA, Karina Toledo. rgos pblicos estaduais e o desenvolvimento do turismo no Brasil. Tese
(Cincias da Comunicao), Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo, Universidade de
So Paulo, So Paulo, 2004.
______. Poltica de Turismo: desenvolvimento e implementao. In: RUSCHMANN, Doris; SOLHA,
Karina Toledo (Orgs.). Planejamento turstico. Barueri/SP: Manole, 2006.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

266

O SENSORIAMENTO REMOTO COMO FERRAMENTA PARA O ESTUDO DA


PAISAGEM DO CATETE-MG
Magnum DOS SANTOS DE CARVALHO
Estudante do 8 perodo do Curso de Geografia. Instituto de Geocincias / UFMG
magnum_carvalho@yahoo.com.br
Sara ROCHA DE ALMEIDA COSTA
Estudante do 8 perodo do Curso de Geografia. Instituto de Geocincias / UFMG
sararocha22@gmail.com
Vincius WEBER FARIA VIDON GONALVES
Estudante do 8 perodo do Curso de Geografia. Instituto de Geocincias / UFMG
weber_vidon@hotmail.com

Resumo
O Sensoriamento Remoto representa para a Geografia uma nova ferramenta para a anlise
espacial. Para os alunos apresenta-se como uma nova maneira de conhecer a realidade do mundo que os
cercam. O presente trabalho prope uma atividade em campo para os alunos da regio da Serra do CateteMG, utilizando recursos do Sensoriamento Remoto e da Cartografia, e espera obter como resultado uma
melhor compreenso destes sobre os elementos da paisagem na qual esto inseridos.
Palavras Chave: Ensino de Geografia, Fotografia Area; Recurso Didtico.
INTRODUO
O presente projeto constitui um conjunto de material de apoio ao ensino de Geografia para alunos
do Terceiro Ciclo do Ensino Fundamental da regio do Catete, localizada em Santo Antnio do Leite, distrito
de Ouro Preto (MG). Para embasar tal trabalho, foram utilizadas as propostas oficiais para o ensino da
Geografia no Brasil: Os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) e o Contedo Bsico Comum (CBC).
Um dos eixos temticos propostos pelos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) a cartografia
como instrumento na aproximao dos lugares e do mundo (BRASIL, 1998). Os alunos devem chegar ao fim
do terceiro ciclo sabendo analisar e interpretar as paisagens, percebendo osmovimentos naturais e
antrpicos que as caracterizam. Para isso, importante a alfabetizaocartogrfica, que dar ao aluno
condies de interpretar os diversos tipos de imagens, retirandodelas informaes, hipteses e conceitos.
Na escola, fotos comuns, fotos areas, filmes, gravuras e vdeos tambm podem ser utilizados como
fontes de informao e de leitura do espao e da paisagem. preciso que o professor analise as imagens na
sua totalidade e procure contextualiz-las em seu processo de produo: por quem foram feitas, quando,
com que finalidade etc., e tomar esses dados como referncia na leitura de informaes mais
particularizadas, ensinando aos alunos que as imagens so produtos do trabalho humano, localizveis no
tempo e no espao, cujos significados podem ser encontrados de forma explcita ou implcita. (PCN, p. 33)

Para uma efetiva alfabetizao cartogrfica, fundamental que as aulas extrapolem o simples
colorir de mapas e decorar de nomes. preciso que o aluno tenha a noo de interpretao de imagens, de
proporcionalidade, do uso dos smbolos, de tcnicas de projeo e neste sentido que o Sensoriamento
Remoto pode ser inserido como ferramenta didtica.
Para facilitar o aprendizado destas noes, recomendado que se faa uma conexo entre os
assuntos tratados em sala de aula e o contexto scio-ambiental no qual o aluno est inserido. Os contedos
lecionados para o Terceiro Ciclo devem propiciar uma identificao do aluno com sua realidade.
Os contedos so entendidos nestas diretrizes curriculares como saberes culturais, diferenciando-se,
assim, da concepo de contedos escolares definidos pela tradio. Isso significa que neles esto
incorporados outras formas ou saberes culturais. So conhecimentos relativos a uma ampla gama de
atividades e prticas sociais, que incluem o conhecimento e domnios de sistemas simblicos, habilidades e
estratgias de busca, seleo e organizao da informao; estratgias de aprendizagem e de resoluo de
problemas; conhecimento, respeito e prtica de costumes e tradies; conhecimento, respeito e prtica dos
princpios que regem os comportamentos individuais e grupais; alm de diversos enfoques que forem
considerados vlidos para as aprendizagens e a formao mais ampla dos alunos. (CBC, pg.16)

Joo Pessoa, outubro de 2011

267
Importante salientar que ao professor caber o papel de bem orientar o uso dos mapas e das
imagens na aprendizagem da Geografia. Estes recursos podem auxiliar em muito no processo de
compreenso de questes envolvendo territrio e territorialidade, estudos das paisagens, sociodiversidade,
preservao do meio ambiente dentre muitos outros.
O SENSORIAMENTO REMOTO E A GEOGRAFIA ESCOLAR
O Sensoriamento Remoto uma tcnica de obteno de informaes sobre um objeto, uma rea
ou fenmeno no planeta Terra, sem que haja contato fsico com o mesmo. Os objetos de interesse do
Sensoriamento Remoto podem ser vegetao, culturas agrcolas, solos, formaes rochosas, corpos dgua,
etc. Tais elementos so denominados de alvos. Estas informaes de interesse so obtidas basicamente
atravs do estudo da interao da radiao eletromagntica (REM), emitida por fontes naturais (Sol) ou
artificiais (radar), com esses alvos.
Essa tecnologia configurou-se como uma revoluo nas tcnicas de estudos sobre a Terra, pois as
imagens de satlite nos oferecem uma viso privilegiada, atualizada e precisa da superfcie do planeta.
O Sensoriamento Remoto representa para a Geografia uma nova ferramenta para a anlise
espacial. Para os alunos apresenta-se como uma nova maneira de conhecer a realidade do mundo que o
cercam. O professor de Geografia, enquanto profissional da cincia e da educao, deve se apropriar dessa
nova tecnologia para auxiliar seus alunos a obter uma formao crtica.
A utilizao do Sensoriamento Remoto no ensino da Geografia vem sendo pesquisada por diversos
interessados na rea. Um exemplo o artigo intitulado Sensoriamento remoto na WEB: acesso livre a
materiais instrutivos como subsdio as aulas de Geografia, de DORNELAS, CARVALHO & SLOVINSCKI DI
MAIO (2009), publicado nos Anais do XIV Simpsio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Nesse artigo, os
pesquisadores buscaram por fontes de material confiveis e eficientes que pudessem auxiliar os
professores de Geografia a trabalhar com as novas tecnologias. Em outro trabalho, Utilizao de Imagens
de Satlite como Recurso na Proposio de Mudana no Ensino da Geografia, tambm publicado nos anais
j citados, IMPAGLIAZZO (2009) afirma que o uso das tecnologias em sala de aula ferramenta essencial
para que se possa compreender esse mundo dinmico e em constante transformao.
CARACTERIZAO DA PAISAGEM DO CATETE
O Catete situa-se em Santo Antnio do Leite, distrito do municpio de Ouro Preto (MG), localizado
prximo s coordenadas 202233 S e 434228 O. A comunidade possui cerca de 160 habitantes e tem
origem nas antigas fazendas pecuaristas da regio.
O local no oferece grandes atrativos naturais como rios e cachoeiras, no entanto, visitantes so
atrados por festas promovidas pela comunidade, principalmente a festa da Padroeira Santa Luzia que
acontece no ms de dezembro.
Suas terras sustentam a prtica agrcola, com campos de pastagem para o gado, produo de
hortalias, frutas e verduras, plantio de caf e eucalipto. A arquitetura local caracteriza-se por edificaes
simples que assumem perfil rural. Alm disso, destacam-se as Capelas de Santa Luzia e de Nossa Senhora
da Conceio.
A comunidade vem se organizando em forma de associaes ou grupos comunitrios a fim de
promover o desenvolvimento da regio. Dos grupos sociais formados, destaca-se o Grupo de Mes Unidas
Venceremos que promove o artesanato e auxilia a comunidade carente ensinando o ofcio de arteso.
Sobre a as caractersticas fsicas, atravs da anlise da foto-rea (fig. I) possvel identificar
diferentes feies no relevo da regio. A foto apresenta uma diviso ntida de relevo, principalmente no
que diz respeito s formas. A poro Sul da imagem apresenta um relevo bastante movimentado, com
topos arredondados e vertentes ngremes, o que pode ser indicado pelo nvel maior de sombreamento na
imagem. A morfologia desta rea marcada por um nvel de dissecao do relevo bastante expressivo, o
que confere maior inclinao das vertentes em relao poro Norte. Tal dissecao evidencia um
complexo canal fluvial composto por canais perenes, ravinas e algumas poucas voorocas. J a parte Norte
caracteriza-se por um conjunto de colinas, com topos abaulados com vertentes e vales cncavos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

268

Figura I - Foto rea da regio da Serra do Catete


Fonte: Servio Aerofotogramtrico 046B Fx13; 14018.
Em relao altimetria, pode-se observar que a poro Norte da imagem mais rebaixada, como
podemos comprovar com o auxilio das cartas topogrficas Cachoeira do Campo e Bao (fig. II) e, alm
disso, registra a ocorrncia de intenso voorocamento. De Leste a Oeste da imagem ocorre a presena de
um relevo mais elevado com vertentes ngremes e com uma linha de crista, atuando como interflvio da
rea.

Joo Pessoa, outubro de 2011

269

Figura II - Mapa topogrfico da poro Oeste da Serra do Catete.


Fonte: Instituto de Geocincias Aplicadas. Carta Topogrfica de Dom Bosco - 1981. Folha SF.23-XA-III-4-SO. Escala: 1:12.500.

A rea estudada est inserida em uma zona de contato geolgico marcada na paisagem pela
diferena entre as feies ao Norte, com modelado mais suave e menos dissecado, e ao Sul da Serra do
Catete, com relevo mais acidentado. A paisagem, ao Norte da imagem, marcada por inmeras voorocas,
onde h rochas pertencentes ao Complexo Bao e, portanto, solo mais susceptvel eroso. J as rochas
que compem a poro mais acidentada da rea, ao Sul da imagem, pertencem ao Supergrupo Minas,
compostas de quartzito e itabiritos, bem mais resistentes e menos suscetveis eroso.
No que diz respeito ao uso e ocupao do solo, pode-se observar reas com ocupao urbana e
estradas de acesso, denunciadas na imagem pelas linhas mais claras. Observam-se tambm reas de
pastagem e cultivo agrcola, indicadas pela diferena da tonalidade e textura em relao s reas de matas
densa ou pouco densa que so geralmente mais escuras e grosseiras. As reas mais claras na imagem
podem estar relacionadas com a presena de solo exposto e/ou possvel reas preparadas para o plantio.
Alm da vegetao rasteira em maior quantidade em alguns pontos das pores oeste da imagem, tambm
ocorre vegetao de mata galeria ao longo de algumas vertentes. No restante da rea observa-se o
predomnio dapastagem.
Os tipos de uso dos solos so bem diversificados podendo ser encontrados rea com
plantios de caf e eucalipto, campo de pastagem, remanescentes de vegetao de maior porte. Existe ainda
um pequeno aglomerado de residncias e presena de stios e estruturas de lazer como pesque-pague.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

270
Em alguns casos, pode se observar o desenvolvimento de vegetao no interior das voorocas indicando
um certo grau de estabilizao.
PROPOSTA PARA O TRABALHO PEDAGGICO COM IMAGENS
Elaborar um material para o ensino de interpretao de imagens requer planejamento.
interessante pensar tanto nas aulas tericas, quanto das aulas prticas. Os alunos precisam ter,
primeiramente, acesso aos conceitos bsicos do sensoriamento remoto (tonalidade, forma, textura, cor) e a
compreenso da importncia desta ferramenta no aprendizado principalmente da Geografia.
Posteriormente, a fim de fixarem estes conceitos, precisam ter tambm uma vivncia prtica.
Precisam no s lidar com as imagens, mas conhecer o local que elas retratam. Assim aprendero a
identificar os elementos da paisagem na imagem e vice e versa.
A proposta a seguir foi pensada de forma que os alunos da regio da Serra do Catete consigam
compreender melhor os elementos da paisagem em que vivem.
Roteiro para o trabalho de campo a ser realizado com os alunos:
1. Introduo ao estudo da imagem (todos reunidos em sala ou no Coreto da comunidade):
Entregar a cada aluno: um mapa e uma foto area da regio;
Discutir a importncia das imagens e como elas podem ser teis sociedade, apresentando as
possibilidades de abordagem atravs do mapa da regio.
O objetivo proporcionar o primeiro contato dos alunos com o tema, ouvindo e discutindo as
vrias interpretaes iniciais que possivelmente surgiro.
2. Discusso sobre a comunidade e regio do Catete, priorizando a forma como as caractersticas
fsicas influenciam a vida dos moradores da regio.
O objetivo correlacionar a disposio das instalaes do municpio (moradias, cultivos) e o
desenho fsico do terreno.
3. Campo:
2 paradas no povoado (perto da vooroca e de uma rea de cultivo de eucalipto ou caf, que so
reas mais notveis no mapa) com produo de desenhos pelos alunos (pedir que eles desenhem os pontos
que mais chamaram a ateno);
1 parada no alto da serra com produo de um desenho (pedir que eles desenhem os pontos que
mais chamaram a ateno);
Discusso sobre os desenhos, a fim de socializar as percepes dos alunos sobre a paisagem.
Orientao sobre a noo de escala e sobre o posicionamento dos tens destacados pelas ilustraes no
mapa.
3. Ao fim da atividade, apresentar uma imagem de satlite (fig. III) da rea e fazer uma nova
discusso sobre a imagem e os elementos identificveis.

Joo Pessoa, outubro de 2011

271

N
Figura III - Imagem de satlite da Serra do Catete
Fonte: Google Earth (julho/2009).
CONSIDERAES FINAIS
Esperamos que a utilizao desse material possibilite uma melhor compreenso dos alunos sobre
os elementos da paisagem na qual esto inseridos. Acreditamos que, ao realizarem as atividades propostas,
eles podero, tambm, desenvolver a capacidade de interpretar mapas, o que lhes proporcionar um
entendimento mais fcil de contedos que vierem a utilizar este recurso em aulas futuras.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANAIS XIV Simpsio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE,
p.2405-2412.
BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais: Geografia. Braslia: MEC-Secretaria de Educao
Fundamental, 1998.
FLORENZANO, T.G. Iniciao em Sensoriamento Remoto. So Paulo: Oficina de Textos, 2007.
NOVO, E.M.L.M. Sensoriamento Remoto: princpios e aplicaes. So Paulo: Blucher, 2008.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

272

ECOTURISMO COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTVEL: UM ESTUDO DE CASO EM ING - PB
Stella Pereira LEITE; Leandro Calixto HENRIQUES; Rodrigo Lelis da SILVA.
1. Administradora. Especializanda em Desenvolvimento e Meio Ambiente, UNIP/FURN E;
stella.pb@hotmail.com
2. Graduando em Licenciatura em Biologia, UNAVIDA;
nando-henrique10@hotmail.com
3. Graduando em Licenciatura Plena em Qumica, UEPB;
rlelis84@gmail.com

RESUMO
No cenrio atual, h um considervel aumento no turismo sendo possivelmente a atividade que
mais se desenvolve e que influi nos aspectos sociais, polticos e econmicos de localidades. Neste sentido, o
ecoturismo se tornou um importante ramo do turismo, pois utiliza de forma sustentvel o patrimnio
natural e cultural, incentiva sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambiental,
promovendo melhorias na qualidade de vida das populaes envolvidas. O objetivo desse artigo
apresentar o ecoturismo e o desenvolvimento sustentvel, atravs de um estudo de caso, realizado na
cidade de Ing, Paraba. A pesquisa descritiva e os dados so analisados qualitativamente. Os pontos
ecotursticos apresentados evidenciam o potencial da rea, no entanto a inexistncia de uma poltica de
gesto eficiente e eficaz voltada para o ecoturismo e a ausncia de participao efetiva da comunidade
dificulta o pleno desenvolvimento, e mostra a necessidade de elaborao e implantao de projetos que
agreguem valor ao local, com a finalidade de atingir o desenvolvimento sustentvel.
Palavras-Chave: Ecoturismo, Desenvolvimento Sustentvel, Ing.
ABSTRACT
In the current scenario, there is a considerable increase in tourism activity that is possibly the
fastest growing in influence and in the social, political and economic locations. In this sense, ecotourism has
become an important branch of tourism as a sustainable use of natural and cultural heritage, encourages
conservation and seeks to form an environmental awareness, promoting improvements in quality of life of
the people involved. The aim of this paper is to present eco-tourism and sustainable development through
a case study in the city of Inga, Paraiba. The research is descriptive and the data are analyzed qualitatively.
The points demonstrate the potential of ecotourism in the area, however the lack of a policy of efficient
and effective management focused on ecotourism and the absence of effective community participation
hinders the full development, and shows the need for developing and implementing projects that add value
to the site, in order to achieve sustainable development.
Keywords: Ecotourism, Sustainable Development, Ing.
1. INTRODUO
Nos ltimos anos, o setor de turismo um dos que mais tem crescido no mundo marcado por um
considervel aumento na demanda por prticas de lazer em ambientes naturais, onde a natureza torna-se
o produto a ser ofertado.
O ecoturismo o segmento do turismo que possibilita valorizar e preservar o patrimnio,
viabilizando retornos econmicos, proporcionando uma educao ambiental, atravs da conscientizao da
importncia da preservao do meio ambiente, gerando benefcios para comunidade. Possibilita a eficcia
e eficincia na atividade econmica, mantendo a diversidade e estabilidade do meio ambiente, atuando
como instrumento de orientao, sensibilizao e equilbrio entre os desgastes causados pelo
desenvolvimento econmico e a necessidade de preservar o meio ambiente.
De acordo com Ruschmann (2000), as pessoas que buscam por esse tipo de atividade so
denominadas de novo turista constitui em um nicho de mercado de pessoas ambientalmente
conscientizadas que, na busca do contato com ambientes naturais preservados, atuam no sentido da
conservao do ecossistema visitado e contribuindo para a sua sustentabilidade. A crescente busca pelo
ecoturismo pode ser explicada devido o aumento da preocupao com o meio ambiente, a maior
conscientizao ecolgica e uma maneira de fugir da rotina e do estresse dos grandes centros urbanos.
Joo Pessoa, outubro de 2011

273
O conceito de desenvolvimento sustentvel j se firmou o bastante para incorporar, com clareza e
de forma indissolvel as dimenses econmicas, ambientais e sociais das aes humanas e suas
conseqncias sobre o planeta e os seres que o habitam.
Nesse contexto, o ecoturismo utiliza de forma sustentvel, o patrimnio natural e cultural,
incentiva sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista, atravs da interpretao
do ambiente, promovendo o bem-estar da populao envolvida.
O caminho ideal para o ecoturismo o que se denomina de desenvolvimento sustentvel,
propondo a integrao da comunidade local com atividades que possam promover a conservao e o uso
sustentvel dos recursos naturais e culturais.
As Naes Unidas definem desenvolvimento sustentvel como satisfazer as necessidades das
atuais geraes sem comprometer a habilidade de futuras geraes em atender s suas prprias
necessidades (MEIRELLES FILHO, 2006, p. 253).
O desenvolvimento sustentvel busca conciliar as necessidades de desenvolvimento das atividades
econmicas e sociais, considerando as necessidades de preservao ambiental.
O conceito de desenvolvimento sustentado tem trs vertentes principais: crescimento econmico,
eqidade social e equilbrio ecolgico. Induz um esprito de responsabilidade comum como processo de
mudana no qual a explorao de recursos materiais, os investimentos financeiros e as rotas do
desenvolvimento tecnolgico devero adquirir sentidos harmoniosos. Neste sentido, o desenvolvimento da
tecnologia dever ser orientado para metas de equilbrio com a natureza e de incremento da capacidade de
inovao dos pases em desenvolvimento, e o progresso ser entendido como fruto de maior riqueza,
maior benefcio social eqitativo e equilbrio ecolgico. (DONAIRE, 1999, p. 40)
Segundo Boff (2201, p.137), no significa voltar ao passado, mas oferecer um novo enfoque para o
futuro comum, no se trata de simplesmente de no consumir, mas de consumir responsavelmente.
Para se alcanar o desenvolvimento sustentvel, no contexto do ecoturismo, faz-se necessrio
utilizar a educao ambiental, pois esta uma ferramenta eficiente para se atingir a participao popular,
levando ao desenvolvimento de uma nova cultura que proporcione a manuteno e renovao dos
recursos naturais, com o intuito de suprir as necessidades das geraes futuras.
A sustentabilidade envolve a idia de manuteno dos estoques da natureza, ou a garantia de sua
reposio por processos naturais ou artificiais, ou seja, precisa-se olhar com cuidado a capacidade
regenerativa da natureza. Para Moura (2000), o conceito de sustentabilidade estar ligado, em primeiro
lugar, ao uso racional do recurso, evitando-se desperdcios e adotando-se processos de recuperao e
reciclagens. Em segundo lugar, a sustentabilidade poder ser buscada atravs do desenvolvimento de
novas tecnologias, procurando-se substitutos mais eficientes para os materiais esgotveis.
Segundo o Programa das Naes Unidas para o Ambiente, os objetivos do Desenvolvimento
Sustentvel so o retorno ao crescimento, combate pobreza, que impossibilita as pessoas de satisfazerem
suas necessidades bsicas, alm de utilizarem os recursos naturais de modo insustentvel. Alm do
crescimento, necessrio que o desenvolvimento seja eqitativo, atenda s necessidades essenciais de
emprego, alimentao, ou seja, necessidades humanas, o controle do nvel populacional, a conservao e
melhoria da base dos recursos, j que muito mais caro limpar o que j foi poludo do que preservar.
necessria uma mudana no estilo de vida dos pases para que seja compatvel com os recursos disponveis,
um empenho poltico que viabilize o desenvolvimento, a incluso do meio ambiente e a participao dos
cidados no processo decisrio (CMMAD 1991).
2. MATERIAL E MTODOS
A cidade de Ing est localizada a aproximadamente 95 km de Joo Pessoa e 35 km de Campina
Grande, no agreste da Paraba. A rea do municpio de 197,9 km, a altitude do municpio de 18 metros
acima do nvel do mar, e sua densidade demogrfica de 59,5 hab/ km. O clima semi-rido e as
temperaturas variam de 35 a 40 graus no vero e 20 a 27 graus no inverno. De acordo com o IBGE no
ltimo senso realizado a populao de 18.677 habitantes. A cidade de Ing conhecida mundialmente
por possuir uma riqueza arqueolgica importantssima, a Pedra do Ing. E seu nome de origem indgena
que segundo a interpretao de Coriolano de Medeiros significa cheio d`gua (INGA, 2011).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

274
A pesquisa realizada no presente estudo considerada uma pesquisa descritiva e os dados
foram tratados de forma estritamente qualitativa. Para facilitar a constatao da realidade foram utilizados
registros fotogrficos, captados atravs da observao in loco.
O trabalho foi desenvolvido em trs etapas: a primeira etapa consistiu nas anlises
bibliogrficas disponveis para a orientao metodolgica nos estudos dos impactos ambientais
ocasionados pelas atividades da agropecuria; a segunda etapa constituiu em duas visitas aos roteiros
tursticos do referido municpio, durante o perodo de abril a junho de 2011; e, a terceira etapa, a tcnica
empregada foi a de entrevista no estruturada e focalizada realizada com o guia turstico.
3. ESTUDO DE CASO
O municpio de Ing ficou conhecido internacionalmente por possuir um stio arqueolgico
rochoso com dezenas de inscries, onde no se conhece qual sua origem. A Pedra do Ing foi o primeiro
monumento arqueolgico tombado como patrimnio nacional em 1944 e os arquelogos classificam a
Pedra do Ing situada as margens do rio Ing de Bacamarte como "Itaquatiara"- que em tupi significa
"pedras pintadas". O bloco rochoso principal possui 24 metros de comprimento e quase 4 metros de altura,
e as inscries encontram-se esculpidas em baixo relevo formando um fabuloso painel com dezenas de
gravuras, provavelmente produzidas pelo uso de instrumentos de pedra que "guardariam" dados sobre o
cotidiano e de acontecimentos marcantes do homem pr-histrico que ali viviam (PATRIMONIO DE TODOS,
2011).
No municpio do Ing esto disponveis os seguintes roteiros:
Visita a Lagoa Pleistocnica e subida do Cruzeiro de Pontina: distncia de 15 km a partir do centro
de Ing, com durao de 1 hora ou 1 hora e meia (aproximadamente). Classificado o nvel de dificuldade
como mdio. E tem por objetivo: conhecer o lugar onde os animais da mega-fauna morriam ou eram
caados, e apreciar a vista do alto do cruzeiro com destaque para o planalto da Borborema.
Labirinto de Ch dos Pereiras: distncia de 15 km a partir do centro de Ing, com durao de 15 a
20 minutos. E tem como objetivo: conhecer essa expresso de artesanato popular to rica e to escassa no
nosso pas, no distrito essa arte passada de gerao para gerao, e se mantm viva desde a chegada dos
colonizadores portugueses.
Trilha da Ponte de Ferro: distncia de 6 km a p, com durao de 2 horas e meia. O nvel de
dificuldade classificado como fcil. E tem por objetivo: caminhada ecolgica de 6 kms at a pedra de Ing,
passando pela ponte de ferro construda h 100 anos durante o ciclo do ouro branco. A trilha passa
tambm por possveis indstrias lticas, ou possveis acampamentos de ndios que viveram na regio.
Visita a loja de artesanato: localizada no centro da cidade.
Trilha da Serra Velha: distncia de 4 km a p, com durao de um dia inteiro. O nvel de dificuldade
classificado como difcil. E tem por objetivo: aventureiros que no tem medo de altura e nem de caminhar
por trilhas a mais de 600 metros, passando por paisagens nicas e deslumbrantes. Alm de conhecer os
mistrios da Serra Velha o aventureiro vai redescobrir o passado e entrar nas grutas que serviram de abrigo
para os cangaceiros e para o homem primitivo.
O municpio apresenta diversos pontos tursticos onde o principal a trilha, escalada e
rapel na Serra Velha (Figura 1), ressaltando a vista do alto da serra (Figura 2), bem como as visitas Pedra
do Ing (Figura 3). A divulgao realizada por meio de um site e da distribuio de folders atravs de
parcerias firmadas com hotis das cidades de Campina Grande e Joo Pessoa.
Embora o municpio apresente um forte potencial turstico, ele no oferece condies de
infra-estrutura necessria para a prtica do turismo ecolgico. Essa constatao se deu devido ao elevado
grau de aes antrpicas, principalmente por meio de lanamento de resduos como embalagens, sacolas,
copos descartveis e latas (Figura 4), pois alm de existir apenas duas lixeiras espalhadas para que o
visitante possa depositar seu lixo muitas vezes no so utilizadas (Figura 5). H apenas um guia no local.
Vale ressaltar que no perodo de cheia o rio atinge as pedras (Figura 6), por isso est sendo elaborado um
projeto de desvio do rio para que este no entre em contato com a pedra.
Ainda no que diz respeito infra-estrutura a cidade oferece apenas trs pousadas, sendo
que no existe nenhuma na zona rural. No h placas informativas que orientem os visitantes por isso estes
dependem do guia, e as que l existiam encontram-se deterioradas (Figura 7).
Joo Pessoa, outubro de 2011

275
Em entrevista com o guia, ficou evidente que a Pedra do Ing destino de visita de turistas
(Figura 8) de toda a Paraba, do pas e at mesmo de estrangeiros, no perodo de setembro de 2010 a maio
de 2011 obteve mais de seis mil visitantes. Com isso fica evidente o potencial da rea, no entanto a
inexistncia de uma poltica de gesto eficiente e eficaz voltada para o ecoturismo e a ausncia de
participao efetiva da comunidade dificulta o pleno desenvolvimento das atividades econmica, social e
ambiental no municpio.

Figura 1: Trilha da Serra Velha

Figura 2: Vista do alto da Serra

Figura 3: Pedra do Ing ou Itacoatiaras

Figura 4: Descarte de resduos na rea de visitao

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

276

Figura 5: Lixeiras encontradas na rea de visitao


Figura 6: Itacoatiaras atingidas pela cheia do rio Ing de Bacamarte

Figura 7: Placas informativas deterioradas

Figura 8: Visita de turistas s Itacoatiaras

4. CONSIDERAES FINAIS
Com base no estudo foi possvel verificar que o ecoturismo um meio de se obter o
desenvolvimento sustentvel de forma estratgica para que possa envolver a comunidade local e, com isso,
permitir uma melhoria na qualidade de vida. Visando contribuir para o desenvolvimento econmico, social
e ambiental atravs da gerao de emprego e renda, e da preservao da riqueza ambiental, com o intuito
de possibilitar uma nova conscincia a todos os envolvidos enfatizando a importncia da preservao do
meio ambiente.
O ecoturismo pode ser utilizado de forma a desenvolver e de preservar, por meio da conservao,
manuteno e valorizao do patrimnio histrico, cultural e natural da regio onde est sendo explorado.
Mas pode tambm proporcionar impactos negativos, como por exemplo, as transformaes no ambiente
natural e a descaracterizao de determinados traos culturais da sociedade local.
Observou-se que a falta de infra-estrutura, o desconhecimento da sociedade quanto aos benefcios
das atividades relacionadas ao ecoturismo, bem como a pouca aplicabilidade de uma poltica efetiva de
gesto pblica so os principais entraves para a implantao de um projeto ecoturstico de sucesso no
municpio do Ing.
Faz-se necessrio promover a capacitao de novos guias tursticos e investir em infra-estrutura
bsica para que o local estudado possa oferecer condies de receber adequadamente os turistas. Bem
Joo Pessoa, outubro de 2011

277
como, envolver toda a comunidade em busca da plena efetivao de um modelo de ecoturismo
sustentvel.
5. REFERNCIAS
BOOF, Leonardo. Saber Cuidar. 7. ed. Petroplis: Vozes, 2001.
CMMAD Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Nosso Futuro Comum, 2.
ed., Rio de Janeiro. Ed. da Fundao Getlio Vargas, 1991.
DONAIRE, Denis. Gesto ambiental na empresa. 2. ed. So Paulo: Atlas, 1999.
MEIRELLES FILHO, Joo Carlos. Livro de ouro da Amaznia. 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
MOURA, L. A. A. Economia ambiental: gesto de custos e investimentos. So Paulo: Juarez de
Oliveira, 2000.
RUSCHMANN, D. V. de M. A experincia do turismo ecolgico no Brasil: um novo nicho de mercado
ou um esforo para atingir a sustentabilidade. Turismo Viso e Ao. Revista Cientfica do Mestrado em
Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itaja. Itaja, SC: ano 2, n.5, p.81-90, out-1999/ mar-2000.
<http://patrimoniodetodos.gov.br/gerencias-regionais/spu-pb/pontos-turisticos-da-paraiba/pedrado-inga-ou-itaquatiara/view> Acesso em 20 de jul. 2011.
<www.inga.pb.gov.br> Acesso em 20 de jul. 2011.
<www.pedradoinga.blogspot.com> Acesso em 20 de jun. 2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

278

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL SETOR HOTELEIRO-PIPA/RN


BERTO, Taciana da Silva
Engenheira Qumica (UNAERP)
Especialista em Gesto Ambiental (UFSCar)
Email: tacianaberto@gmail.com

RESUMO
H alguns anos talvez fosse impossvel de conceber a idia em aliar a preservao do meio
ambiente ao desenvolvimento econmico.
No entanto, questes como sustentabilidade e
responsabilidade social so temas cada vez mais decorrentes em todo o mundo. Preocupadas com a
ameaa da sobrevivncia humana, em busca de uma melhor qualidade de vida as pessoas tem buscado
diferenciao no atendimento aos seus anseios, especialmente na relao de consumo. Assim, a
Responsabilidade Socioambiental (RSA) est passando a fazer parte da rotina das empresas como aspecto
estratgico e diferencial competitivo. O objetivo do presente trabalho sistematizar a RSA para o setor
hoteleiro na comunidade da Praia da Pipa, Tibau do Sul RN, local de turismo ecolgico de suma
importncia para o turismo brasileiro, cujo destino caracterizado como indutor de turismo. Ou seja,
destino que de atrair e/ou distribuir significativo nmero de turistas para seu entorno e dinamizar a
economia do territrio onde esto inseridas. E por ter toda esta caracterstica de desenvolvimento, o setor
hoteleiro pode atuar com responsabilidade socioambiental, contribuindo de forma ativa para o equilbrio
social e ambiental. Como procedimentos metodolgicos foram realizados levantamentos da importncia da
regio para o turismo ecolgico, dilogo com a secretaria do meio ambiente, pesquisa bibliogrfica e
ambiente internet. Com a sistematizao de todo o levantamento, elaboram-se as etapas de
implementao das boas prticas de RSA para o setor hoteleiro. Conclui-se que o setor hoteleiro depende
do meio ambiente equilibrado e mo de obra qualificada para alcanar o movimento permanente de
turistas e com a RSA implementada dentro das prticas gerenciais, alcanar o xito junto ao mercado e a
comunidade. Assim, o empreendimento trabalhar a favor de ser socialmente justo e ambientalmente
correto perante a sociedade e interagindo de forma positiva com o meio ambiente em que se localiza.
PALAVRAS CHAVES: Responsabilidade socioambiental, Praia da Pipa, hotelaria, turismo e Tibau do
Sul-RN e desenvolvimento sustentvel.
ABSTRACT
A few years ago was perhaps impossible to conceive the idea of combining environmental
conservation with economic development. However, issues such as sustainability and social responsibility
issues are increasingly arising around the world. Concerned with the threat of human survival, in search of
a better quality of life people have sought differentiation in service to their concerns, especially in relation
to consumption. Thus, the Social and Environmental Responsibility (SER) is becoming part of the routine
aspects of business and strategic and competitive advantage. The objective of this study is to systematize
the RSA for the hospitality industry in the community of Praia da Pipa, Tibau do Sul - RN, eco-tourism site of
the utmost importance to tourism in Brazil, whose fate is characterized as a promoter of tourism. That is, a
destination which is to attract and / or distribute a significant number of tourists to their environment and
boost the economy of the territory where they operate. And why have all of this trait development, the
hospitality industry can act with environmental responsibility, contributing actively to the social and
environmental balance. The methodological procedures were carried out surveys of the region's
importance to ecological tourism, dialogue with the secretary of the environment, literature and internet
environment. With the systematization of the entire survey, draw up the steps to implement the good
practices of RSA for the hospitality industry. It is concluded that the hotel industry depends on a balanced
environment and skilled labor to achieve the permanent movement of tourists and the RSA implemented
within the management practices, achieve the success in the marketplace and the community. Thus, the
project will work in favor of being socially just and environmentally friendly to society and interacting
positively with the environment in which it is located.

Joo Pessoa, outubro de 2011

279
INTRODUO
O conceito de Responsabilidade Socioambiental (RSA) agir de forma social e ambientalmente
responsvel na vida pessoal, profissional e empresarial, se preocupar com a qualidade do impacto das
aes sobre as pessoas e o meio ambiente. medir as conseqncias desse impacto e apenas efetivar ou
prosseguir com as aes quando h certeza de que elas influenciaro positivamente. Quando uma empresa
consegue o equilbrio simultneo entre a equidade social, prudncia ecologia e eficincia econmica, ela
atinge o conceito de empresa sustentvel, o que resulta em um grande diferencial competitivo para o
setor, e contribui para o desenvolvimento econmico e socioambiental das comunidades do entorno.
Barbieri (2009) afirma que seguir a legislao e honrar contratos o patamar mnimo que se espera de
qualquer empresa
A interferncia do homem e suas atividades vm provocando a degradao ambiental e dentro
deste cenrio a indstria hoteleira tambm se insere como responsvel, segundo Dias (2008) a ausncia de
um planejamento e organizao adequada, o desenvolvimento do turismo poderia contribuir para um
aproveitamento inadequado do territrio, o que poderia causar desflorestamento, eroso dos solos e
perda da diversidade biolgica.
No litoral, principalmente nas praias, a densificao humana e a concentrao sazonal provocam a
poluio das guas e o acmulo de detritos deixados na areia. A partir de um ponto central, o crescimento
urbano das praias ocorre em 180 e a frente para o mar a parte mais disputada e valorizada.
O municpio de Tibau do Sul, no estado do Rio Grande do Norte, foi rotulado como indutor de
turismo pelo Plano Nacional de Turismo 2007-2010. O plano tem como objetivo estruturar roteiros
tursticos intermunicipais nas regies tursticas brasileira, com base nos princpios na cooperao,
integrao e sustentabilidade ambiental, econmica, sociocultural e poltico-institucional para alcanar o
padro de qualidade internacional.
Os segmentos tursticos da regio em estudo so: turismo cultural, ecoturismo, turismo de
aventura, turismo nutico e turismo sol e praia, todos os segmentos envolvidos na regio dependem da
mo-de-obra (social) e da natureza (meio ambiente equilibrado). A Declarao de Manila sobre o Turismo
Mundial, de 1980, expressa essa realidade de dependncia ao afirmar:
Os recursos tursticos de que dispem os pases esto constitudos por sua vez por espao, bens e
valores. Trata-se de recursos cujo emprego no pode deixar-se a uma utilizao descontrolada sem correr
risco de sua degradao, e mesmo sua destruio. A satisfao das necessidades tursticas no deve
constituir uma ameaa para os interesses sociais e econmicos das populaes das regies tursticas, para
o meio ambiente, especialmente para os recursos naturais, atrao essencial do turismo, nem para lugares
histricos e culturais.
Considerando que a economia da cidade gira em torno da pesca, artesanato e principalmente do
turismo, Tibau do Sul necessita de iniciativas para melhorar e manter a comunidade e o meio ambiente
equilibrados. Deste modo a questo ambiental e cidadania so indissociveis, pela necessidade absoluta de
que a qualidade de vida do ser humano est diretamente relacionada com o estado do meio ambiente.
Segundo Corra, Pimenta e Lacerda (2009) afirmam a relao da responsabilidade como compromisso
continuo da empresa em adotar a tica do desenvolvimento social, sustentada sobre o trip da qualidade
de vida, incluso social e respeito ao homem, natureza e s geraes futuras. Nela esto presentes a
responsabilidade ambiental e responsabilidade cultural.
Desta forma, a identificao das boas prticas de RSA pelo setor hoteleiro ir contribuir de forma
significativa para o desenvolvimento sustentvel da regio em que se localiza.
METODOLOGIA
De acordo com Gil (2006), o presente estudo classificado quanto finalidade como exploratrio,
e quanto aos meios, enquadra-se como pesquisa de campo e pesquisa bibliogrfica.
Como procedimento metodolgico, inicialmente foi realizado a investigao bibliogrfica em
bancos de dados na rede mundial de computadores (internet), consulta em livros didticos pessoais e a
biblioteca central da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte (UFRN) e dilogo com
moradores.
Aps a leitura do material selecionado, elaborou-se um resumo de forma a orientar o
desenvolvimento do trabalho com o foco voltado para a temtica em questo.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

280
importante destacar que sero realizadas visitas in loco na regio de estudo com a rede hoteleira
interessada em participar da pesquisa/diagnstico de Responsabilidade Socioambiental.
No final do levantamento, foi contatada a Secretaria Municipal de Meio Ambiente para coletar
dados, com o intuito de obter informaes sobre as iniciativas de responsabilidade socioambiental para a
rede hoteleira do municpio de Tibau do Sul-RN.
RESULTADO
H um reconhecimento mundial de que o planeta vem enfrentando uma grande degradao
ambiental, onde recursos naturais esto sendo esgotados e a qualidade de vida est diretamente ligada de
como esses so aproveitados.
Dentre as inmeras causas dessa degradao, o turismo a atividade que pode contribuir para
prejuzos ao meio natural.
E com o crescimento das cidades em todo mundo fez com que aumentasse tambm o estresse
urbano, e quanto mais s pessoas sentem presso pela escassez de tempo provocada pela agitao da vida
urbana, maior a necessidade de relaxamento e descanso. Dessa forma as pessoas se deslocam para locais
de espaos naturais de grande beleza cnica, por ser um ambiente apropriado para desestressar.
Assim o turismo de aventura teve grande valorizao e conseqentemente, mais procura.
Apropriando-se de recursos naturais para atrair turistas, esse tipo de turismo cresceu rapidamente e junto
a ele a deteriorao e explorao desenfreada de tais recursos, fazendo com que haja crescente
preocupao em conserv-los.
Os impactos socioambientais em que o turismo est inserido se subdivide em 3 categorias (Mariani,
2003): impactos ambientais da rea urbana, impactos nos atrativos tursticos e impactos socioeconmicos
e culturais. A tabela a seguir lista alguns dos impactos das categorias:
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DO TURISMO
rea Urbana
Atrativos Tursticos
Contaminao da gua
Contaminao do mar
Esgoto mal tratado
Destruio da vegetao nativa
Lixo jogado na cidade
Poluio Visual
-

Socioeconmico e Cultura
Criminalidade
Explorao sexual
Choque de cultura
Falta de mo-de-obra local

As boas prticas de Responsabilidade Socioambiental do setor hoteleiro contribuem


significativamente para o desenvolvimento sustentvel da rea urbana, dos atrativos tursticos, da
comunidade e da cultura local.
O conceito de sustentabilidade ambiental apresentado por Rodriguez (1997) envolve: O atributo de
uma entidade espao-temporal em que se incorpora a interao sociedade-natureza, implicando a
coexistncia harmnica do homem com seu meio ambiente, pressupondo a incorporao de conceitos
temporais, tecnolgicos e financeiros, refletindo um processo dinmico de transao de fluxo de energia, de
matria e de informao entre os componentes espaciais. (RODRGUEZ, 1997 apud XAVIER, 2002, p.75-76).

O planejamento turstico em locais onde a principal atrao so os recursos naturais, deve ser
realizado com cuidado especial, pensando-se sempre em agredir o mnimo possvel o meio social e
ambiental.
Para se evitar ou minimizar os impactos socioambientais negativos e ampliar os positivos se deve
planejar as boas prticas de Responsabilidade Socioambiental do empreendimento hoteleiro.
Considerando que o empreendimento j est inserido na comunidade, a seguir sero detalhadas as etapas
das prticas socioambientais. Nesta perspectiva, a referncia bsica para sua elaborao a NBR
15401:2006 - Sistema de Gesto da Sustentabilidade para Meios de Hospedagem, cuja metodologia
aplicada PDCA planejar, implementar, verificar e agir:
Definir a poltica socioambiental;
Definir misso e valores;
Elaborar plano de ao em conformidade com a poltica socioambiental;
Definir indicadores socioambientais para monitoramento;
Joo Pessoa, outubro de 2011

281
Elaborar relatrio de Responsabilidade Socioambiental, sendo revisado anualmente;
Melhoria contnua com a anlise crtica dos resultados e elaborar novamente o plano de ao.

A poltica, misso e valores corporativos includas nesse trabalho privilegiam o respeito ao meio
ambiente, o foco na responsabilidade social, a valorizao dos principais pblicos de interesse
(stakeholders) e a transparncia nas relaes com os mesmos.
Para isso as boas prticas e a poltica socioambiental devem ser estabelecidas visando diminuir os
impactos causados pelo empreendimento turstico. Dentro das boas prticas podemos citar:
Combater e denunciar o trabalho infantil nos empreendimentos;
Capacitar trabalhadores de bares e restaurantes populares localizados ao entorno;
Patrocinar empreendimentos culturais e de lazer popular;
Palestras de conscientizao de cidadania e meio ambiente;
Atividades de valorizao do ser humano/natureza;
Efetuar a gesto de resduos (resduos slidos, efluentes lquidos e emisses atmosfricas);
Combater a pratica de esportes inseguros;
Apoiar a realizao de estudos e programas com objetivos de desenvolvimento sustentvel;
Tornar a qualidade de vida mais vivel nas cidades, com polticas alternativas de habitao, de
educao e pequenos negcios;
Educao ambiental (colaboradores, comunidade, turistas e parceiros);
Contribuio para o desenvolvimento sustentvel do municpio e entorno.

As aes de boas prticas ambientais so diversificadas e cada empreendimento poder focar


naquelas que ficam mais prximas em relao as suas atividades e caracterstica do empreendimento.
importante ressaltar o dilogo com a secretaria do meio ambiente de Tibau no qual se foi falado
que ser sistematizada a coleta seletiva bem como o centro de triagem e condies de trabalho para as
pessoas que j trabalham com os reciclveis. A coleta seletiva ir se estender por toda a cidade, inclusive a
rede hoteleira. A educao ambiental nas escolas o incio (que j est em andamento) de conscientizao
e pr-atividade. A concepo desta prtica que comeamos em adquirir o senso dos 3Rs Reduzir,
Reutilizar e Reciclar.
Dentro das praticas socioambientais necessria a mudana de concepo nas formas de pensar
que valorizem o meio natural, no qual estamos inseridos, como o lugar em que vivemos e que a relao do
homem com o meio ambiente e comunidade, por isso essencial a elevao do nvel de conscientizao
atravs da educao ambiental, na qual a Poltica Nacional de Educao Ambiental (Lei n 9.765, de 27 de
abril de 1999) define educao ambiental como Os processos por meio dos quais o individuo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para
a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade.
O presente trabalho se aplica principalmente para pequenos e mdios empreendimentos
hoteleiros.
CONCLUSES
Conclui que as grandes vantagens de empresas que incorporam os princpios da RSA e os aplicam
corretamente, so:
Valorizao da imagem institucional e da marca;
Maior lealdade do consumidor/turista;
Maior capacidade de recrutar e manter talentos;
Flexibilidade;
Capacidade de adaptao;
Longevidade;
Diferencial competitivo.

Dentro da sistematizao da RSA o empreendimento conquistar a harmonia entre meio ambiente,


comunidade, turistas e parceiros. Vivendo em equilbrio e conquistando qualidade de vida contnua.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

282
Portanto a questo da RSA vai alm da postura legal da empresa, da prtica filantrpica ou apoio a
comunidade. Significa mudana de atitude, numa perspectiva de gesto empresarial com foco na
agregao de valores para todos.
BIBLIOGRAFIA
ABNT NBR 15.401:2006 Meios de Hospedagem Sistema de Gesto da Sustentabilidade.
BARBIERI, J.C. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentvel: da teoria prtica. So
Paulo: Saraiva, 2009. p. 70-80.
BARRETO, M. e TAMANINI E. Redescobrindo a ecologia no turismo. Caxias do Sul: Educs, 2002.
CORRA, M. L.; PIMENTA M. S. e ARNDT J. R. L. Turismo, sustentabilidade e meio ambiente:
contradies e convergncias. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2009.
DIAS, R. Turismo sustentvel e o meio ambiente 1 Ed. So Paulo: Atlas, 2008.
MARIANI, M. A. P. Turismo e Meio Ambiente no Paraso das guas. Campo Grande: UCDB, 2003.
MINISTRIO
DO
TURISMO.
Projeto
65
destinos
indutores.
Disponvel
em:
<http://www.turismo.gov.br>. Acesso em 20/06/2011.
RUSCHMANN, Doris van de Meene. Turismo e planejamento sustentvel: A proteo do meio
ambiente. Campinas, SP: Papirus, 1997.
Swarbrooke, J. e HORNER S. O comportamento do consumidor no turismo. So Paulo: Aleph, 2002.
p.257-271.

Joo Pessoa, outubro de 2011

13.

Planejamento e Gesto de reas Protegidas

284

APA DE MARANGUAPE (CE): IMPACTOS IDENTIFICADOS E PERSPECTIVAS


POR MEIO DE ATIVIDADES DE EDUCAO AMBIENTAL
Abner Monteiro Nunes CORDEIRO
Mestrando em Geografia - PROPGEO/UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
abnermncordeiro@hotmail.com
Danielle Sequeira GARCEZ
Prof. Adjunto do Instituto de Cincias do Mar LABOMAR/UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
daniellegarcez@ufc.br

RESUMO
Este estudo visa contribuir para a produo de conhecimentos, por meio da aplicao e atividades
de educao ambiental, atravs da descrio do processo de formao da rea de Proteo Ambiental
(APA) da Serra de Maranguape-CE. O foco est na anlise dos impactos ambientais e na participao social
como dimenses essenciais para que processos de educao ambiental contribuam para a efetiva
conservao do ambiente e melhoria da qualidade de vida das comunidades serranas.
Palavras-Chaves: rea de proteo ambiental; Impactos ambientais; serra de Maranguape.
ABSTRACT
This study purposes to contribute to the environmental education knowledge based on the
description of the Environmental Protection Area on Serra do Maranguape - CE formation. It focus on the
analysis of environmental issues and participation as essential dimensions of environmental education
processes which contribute to the effective local conservation and to the improvement in mountain
communitys life quality.
Key-words: Environmental Protection Area; Environmental impacts; Maranguape mountain.
INTRODUO
A humanidade, ao longo do seu processo histrico, busca na natureza as condies para sua
manuteno e desenvolvimento. Para tanto, elaborou tcnicas para transformar os espaos naturais e
extrair os recursos necessrios para satisfazer s suas necessidades. Para Souza (1999), esse processo deuse de forma desequilibrada, sem considerar as limitaes naturais impostas.
inegvel que o desenvolvimento humano no planeta tem trazido inmeras vantagens ao homem,
e estas se traduzem, ou visam, em melhorias da qualidade de vida das sociedades. No entanto, a busca
desenfreada pelo usufruto dessas vantagens tem extrapolado a capacidade dos recursos naturais de se
recomporem, transformando determinadas vantagens em graves malefcios para toda a humanidade
(ARRUDA, 2001).
Portanto, a necessidade de um gerenciamento no intuito de evitar o esgotamento das
potencialidades naturais surge de forma cada vez mais intensa nos mais diversos meios de comunicao, e
desta forma, pode-se afirmar que nunca se discutiu tanto sobre educao ambiental e desenvolvimento
sustentvel como na sociedade contempornea.
Em decorrncia das limitadas condies de produtividade da rea semirida do Nordeste brasileiro,
constata-se a ocorrncia de processos migratrios que podem ocorrer tanto do serto para as grandes
cidades litorneas, como para regies mais prximas que apresentam melhores condies de
produtividade, como o caso das serras midas (BASTOS, 2005). De forma geral as serras midas do Estado
do Cear caracterizam-se como reas de grande importncia estratgica, devido a maiores produtividade
agrcola e densidade populacional, j que apresentam melhores condies ambientais quando comparadas
s condies de semiaridez das depresses sertanejas.
Nesse contexto devem ser desenvolvidos, nesses ambientes de exceo que configuram
verdadeiros enclaves midos e submidos, propostas de educao ambiental como instrumentos
estratgicos de promoo da conscincia ambiental e de integrao da sociedade com a natureza,
atrelando conhecimento com participao. Ou seja, desenvolvimento com envolvimento. De fato, para
Krasilchik (1986) a educao ambiental deve funcionar como elemento integrador, para que a comunidade
tome conscincia do fenmeno do desenvolvimento e de suas implicaes ambientais.
Joo Pessoa, outubro de 2011

285
Assim, este estudo teve por objetivo caracterizar os aspectos fsico-ambientais da rea de Proteo
Ambiental (APA) da serra de Maranguape e as alteraes humanas ocorrentes. Tal caracterizao permite
fornecer dados aos envolvidos no gerenciamento da unidade de conservao, de modo que possam
elaborar projetos de educao ambiental que visem ampliar o sentido individual e coletivo da palavra
ecologia, despertando a responsabilidade das comunidades serranas diante da crise ambiental que
marcou o final do sculo XX e o incio deste milnio, na busca de solues localmente viveis.
FUNDAMENTAO TERICA
Segundo Bertrand (1971) a paisagem o resultado da interao dialtica entre trs principais
subconjuntos: o potencial ecolgico, a explorao biolgica e a utilizao antrpica. Assim, as combinaes
dinmicas e instveis dos componentes naturais e socioeconmicos relacionam-se, fazendo da paisagem
uma unidade indissocivel e em constante evoluo. Influenciado pelos princpios da Teoria Geral dos
Sistemas de Bertalanffy (1933), Sotchava (1977) sugere a interpretao da paisagem e de seu instrumento
terico a partir de uma viso sistmica. Por conseguinte, a anlise sistmica contribui no estudo da
paisagem por meio de uma abordagem dinmica, considerando os elementos naturais em conjunto com os
aspectos sociais.
Neste contexto, para o estudo da APA da serra de Maranguape optou-se por uma anlise integrada
da paisagem, com enfoque geossistmico, sobre o prisma de que a anlise paisagstica o conjunto de
mtodos e procedimentos tcnico-analticos que permitem conhecer e explicar a estrutura da paisagem e
sua dinmica. A anlise em escala espao-temporal permite avaliar as condies atuais, bem como as
transformaes decorrentes da evoluo natural e das intervenes humanas ocorridas regionalmente.
Dessa forma, para alcanar os objetivos da pesquisa, foram realizados procedimentos tcnicometodolgicos, como: levantamento bibliogrfico junto aos rgos ambientais competentes do Estado do
Cear e Prefeitura Municipal de Maranguape, onde se objetivou obter informaes referentes s
especificidades do macio residual, APA local e do prprio Municpio de Maranguape; pesquisa
investigativa de campo, no perodo de fevereiro a junho de 2011, na rea da unidade de conservao, com
o objetivo de verificar e atualizar as informaes adquiridas do material bibliogrfico e documental
pesquisados, marcao da delimitao da rea da unidade de conservao; obteno de bases
cartogrficas, imagens de satlite e fotografias areas, que serviram de base para o mapeamento da rea
da APA de Maranguape, a partir da utilizao de tcnicas de geoprocessamento.
REA DE PROTEO AMBIENTAL DE MARANGUAPE
No incio da dcada de 1980, com a instituio da Poltica Nacional de Meio Ambiente, surgiram
diversos instrumentos destinados proteo do meio ambiente, dentre os quais, uma nova categoria de
conservao: a rea de Proteo Ambiental (APA). As APAs so definidas como unidades de conservao
que visam proteo da vida silvestre de bancos genticos e de espcies raras da biota regional, bem como
dos demais recursos naturais, atravs da adequao e orientao das atividades humanas na rea,
promovendo a melhoria da qualidade de vida da populao (BRASIL, 1987). Seu objetivo principal
conservar a diversidade de ambientes, de espcies e processos naturais, pela adequao das atividades
humanas s caractersticas ambientais da rea, observando suas potencialidades e limitaes. Elas inovam
ao estabelecer, por lei, apenas restries ao direito de propriedade, controlando total ou parcialmente as
iniciativas privadas que constituem ameaas ao ambiente.
Segundo Arruda (2001) o processo de implantao de uma APA envolve diversas etapas e
procedimentos. Sua simples criao, por um instrumento legal (lei, decreto, resoluo ou portaria)
apenas o primeiro passo, que deve ser seguido pela regulamentao, por estudos tcnicos e pela
implantao de um sistema de gesto ambiental. Os zoneamentos ecolgico-econmicos das APAs so
imprescindveis para assegurar o uso adequado do solo, para o disciplinamento e orientao das atividades
humanas, que devem ser compatveis com as potencialidades do meio fsico, convergindo para formas
adequadas ao desenvolvimento sustentado e participativo (So Paulo, 1992).
A preocupao com o mau uso dos recursos naturais da regio serrana de Maranguape,
principalmente pelas comunidades locais, motivou no ano de 1993 a implantao, por parte do Poder
Pblico Municipal, da rea de Proteo Ambiental (APA) da serra de Maranguape. O Governo Municipal de
Maranguape criou, no macio residual cristalino, uma unidade de conservao de uso sustentvel,
conforme a Lei Municipal n 1168 de 08 de julho de 1993, no qual delimitou todas as reas de cotas
altimtricas acima de 100 metros como rea de Proteo Ambiental (APA).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

286
A APA de Maranguape cobre uma rea de 71 Km e 56 km de permetro, est situada na Regio
Metropolitana de Fortaleza (RMF), compondo um macio pr-litorneo, que se destaca topograficamente
entre a depresso sertaneja e a superfcie de tabuleiros pr-litorneos (Figura 1). A rea da unidade de
conservao abrange somente o referente vertente oriental e partes das vertentes meridional e
setentrional, pertencentes ao municpio de Maranguape-CE, situadas acima da cota altimtrica de 100
metros at os limites com o municpio de Caucaia, que coincide com as cristas da serra (ARRUDA, 2001).
Sua importncia ambiental deve-se ao fato de ser este macio residual considerado um remanescente de
mata atlntica do nordeste brasileiro, um fragmento de mata que visto como uma ilha de
biodiversidade em contraste com o semirido tpico da regio.

Figura 1-Localizao da APA da serra de Maranguape-CE. Fonte: Composto por Abner Cordeiro (2011).

O poder pblico de Maranguape, atravs do Decreto Municipal 1097, de junho de 1999, visando
necessidade de uma gesto participativa da unidade de conservao, na qual todos os setores do governo e
da sociedade possam tomar parte nas discusses dos problemas e na escolha das alternativas de solues,
regulamentou a criao do Comit Gestor da APA, formado por representantes da prpria Prefeitura,
IBAMA, da Superintendncia Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), da Unio das Entidades Comunitrias
de Maranguape (UNECOM), dos sitiantes e moradores da serra.
Na rea da APA existe uma srie de conflitos de origem socioambiental, que tm de ser
enfrentados pela administrao, no sentido de tornar possvel o crescimento urbano, sem que sejam
afetados os solos, as vertentes, a biodiversidade, os mananciais, o patrimnio histrico e cultural, enfim,
toda a riqueza ambiental e histrica existente na serra. Porm, segundo Arruda (2001), alm de no existir
fiscalizao, as comunidades, distribudas pelas vertentes da serra e, em algumas outras localizadas nos
sertes do entorno e que mantm relaes estreitas com o macio, desconhecem os direitos e deveres de
se viver em uma rea de proteo ambiental.
ASPECTOS GERAIS DA SERRA DE MARANGUAPE
A serra de Maranguape, situada a uma distncia de aproximadamente 25 km da capital do Estado
do Cear um macio residual cristalino pr-litorneo, com rea de 318, 69 km, apresenta orientao no
sentido NE-SW, tendo como ponto mais elevado a Pedra da Rajada, com 920m. Esse enclave em seus
pontos mais elevados abriga uma complexa cobertura vegetal que serve de refgio para a fauna e se
projeta como condio indispensvel para a manuteno de vrios mananciais, para regular o clima, a
temperatura do solo e proteger as encostas do macio. O macio destaca-se como se fosse uma ilha mida
dentro do territrio cearense, j que este possui 92,1% do seu territrio sob condies de semiaridez
Joo Pessoa, outubro de 2011

287
(FUNCEME, 2005). A rea de estudo encontra-se inserida dentro do Domnio Morfoclimtico das
Depresses Interplanlticas Semiridas constituindo uma regio de condio climtica azonal com relao
s faixas tropicais e subtropicais da Terra (ABSABER, 1970).
Souza (1983) ressalta que no estudo geomorfolgico do Cear, a serra de Maranguape
classificada como um macio pr-litorneo, e a inclui no Domnio dos Escudos e Macios Antigos,
constitudos por litotipos do embasamento cristalino, oriundos do pr-cambriano. Para o IPT (1975) a
topografia do macio se deve principalmente sua constituio grantica, sendo formada pela eroso
diferencial que rebaixou as reas de rochas menos resistentes.
Segundo Arruda (2001), o relevo serrano encontra-se dividido em pores de altitudes
diferenciadas onde somente a poro central alcana as cotas altimtricas acima de 600 metros. Trata-se
da parte mais representativa, com uma rea de 207, 35 km, o que corresponde a 65, 06% do total. Esse
nvel altimtrico mdio interfere significativamente no clima local, pois submete o macio ao das
chuvas orogrficas, proporcionando um escoamento fluvial intenso, por conta tambm dos solos
impermeveis.
Na rea da APA alguns fatores assumem destaque para justificar as caractersticas do clima local: o
mecanismo de circulao atmosfrica, a posio geogrfica da rea prxima ao mar e a elevao
topogrfica interferindo no aumento da pluviosidade e da umidade, atenuando as condies trmicas e de
evaporao. A ao combinada da altitude e da exposio do relevo face aos deslocamentos das massas de
ar midas oriundas do oceano faz com que a rea de estudo em seu conjunto possua um dos mais elevados
ndices pluviomtricos do Estado do Cear, com mdias anuais acima de 1.300mm (CEAR, 2002).
O clima da rea correspondente segundo o sistema de THONTHWAITE (CEAR, 2002) foi
classificado como mesotrmico, nos setores de vertentes orientais e nas cimeiras, a partir dos ndices de
umidade e altitude. Nos setores sul-ocidentais, h sensvel diminuio da umidade e de pluviometria,
expressando mudanas locais de clima. Segundo KOPPEN (CEAR, 2002) o clima do tipo AW, quente e
mido com chuvas de vero e precipitaes mximas de outono.
Quanto aos sistemas fluviais, a serra de Maranguape se apresenta como um pequeno dispersor de
drenagem que se orienta para o rio Cear, a oeste, e para o rio Maranguapinho, a leste. A estrutura
cristalina das rochas aliada ao forte gradiente dos perfis longitudinais justificam a elevada densidade de
cursos dgua.
A natureza geolgica e geomorfolgica dos terrenos tambm ir condicionar um limitado potencial
hidrogeolgico, ocorrendo guas subsuperficiais apenas nas reas de fraturas e nas plancies alveolares. A
tipologia dos solos encontrada nas vertentes e plat do macio de Maranguape varia de acordo com as
alteraes das condies de relevo, clima e de rochas.
A orientao do enclave, tambm, aparece como um fator importante para a caracterizao e
distribuio das unidades vegetacionais que recobrem a serra, devido principalmente participao das
brisas marinhas que sopram, influindo nas vertentes expostas umidade oriunda do oceano. Conforme
Fernandes (1998) foram constatadas trs grandes unidades de cobertura vegetal na serra de Maranguape:
Arboreto Climtico Estacional Caduciflio (Caatinga), Arboreto Climtico Estacional Semicaduciflio (Mata
Seca) e Arboreto Climtico Pereniflio (Mata mida). Estas formaes, via de regra, esto bastante
descaracterizadas, em funo dos desmatamentos indiscriminados e da forte presso antrpica sobre a
base de recursos naturais do enclave.
Segundo Coimbra-Filho & Cmara (CEAR, 2002), o fator determinante na composio faunstica da
regio foi a continuidade florestal entre os biomas amaznico e atlntico que teria existido em passado
relativamente recente. Com a regresso destas formaes florestais, a mata mida desapareceu das reas
que separaram estes biomas, permanecendo apenas naqueles locais que apresentam ambientes mais
midos devido s condies orogrficas locais.
USO E OCUPAO DA SERRA DE MARANGUAPE
A histria de ocupao do municpio comea com a incurso dos homens de Mathias Beck, por
volta da metade do sculo XVII (1630). Incentivados pela poltica expansionista holandesa, os batavos
estavam interessados na busca de prata. Porm, conforme Matos (1966), o verdadeiro processo de
povoamento da regio s comearia no incio do sculo XIX, quando o portugus Joaquim Lopes de Abreu,
incorporou por ordem da Coroa Portuguesa, vrias sesmarias. A atuao expressiva de Abreu no p da
serra redundou no aparecimento do ncleo originrio da atual cidade de Maranguape. Porm, a real
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

288
ocupao das serras cristalinas do Estado do Cear, entre elas, a de Maranguape deu-se a partir da
introduo da cultura do caf no final do sculo XIX.
Segundo Arruda (2001) o incio da utilizao agrcola da serra de Maranguape se deu entre o final e
incio dos sculos XVIII e XIX, com cultivo de caf e laranja, levando derrubada de matas medida que a
produo aumentava. Com a decadncia do caf na dcada de 1920 a cultura da banana, a partir da dcada
de 1940, passa a substituir os cafezais, ocupando seus espaos, porm com maior retirada da vegetao.
Para Pereira & Silva (2007), o macio de Baturit e as serras de Uruburetama, Meruoca, Aratanha e
Maranguape, sempre foram centros tradicionalmente produtores de frutas e hortalias no estado do Cear.
A cultura do caf de sombra, junto a rvores de grande porte, possibilitou durante dcadas uma
harmonizao entre as atividades agrcolas e o ambiente. Porm, o processo de ocupao da regio serrana
na vertente centro-oriental, intensificou-se principalmente nas ltimas trs dcadas do sculo XX e resultou
em uma explorao desordenada de seus recursos naturais que provocaram ao longo do tempo, visveis
alteraes ambientais no espao serrano e que atualmente comprometem os ecossistemas e a qualidade
de vida das comunidades locais.
IMPACTOS AMBIENTAIS NA APA DA SERRA DE MARANGUAPE
A serra de Maranguape apresenta um quadro crtico de problemas ambientais decorrentes de usos
inadequados e interferncias fsicas no apropriadas aos requisitos de manuteno do sistema como um
todo. Conforme Arruda (2001), a explorao mineral, e a monocultura do caf e da banana provocaram a
derrubada da cobertura vegetal nativa, causando a quebra do equilbrio natural. Estes fatos constituram os
fatores decisivos para desencadear os processos erosivos que se intensificaram nas ltimas dcadas.
O processo de urbanizao pode ser visto como um marco-tensor dos impactos ambientais,
principalmente, na vertente centro-oriental, pois a partir deste desencadearam-se uma srie de outros
processos que, alm de produzir impactos na ecologia da paisagem, em determinado momento
provavelmente provocaro diminuio da qualidade ambiental, influenciando nos indicadores scioambientais da paisagem serrana.
Souza (1999) afirma que a bananicultura, que degrada a vegetao natural das serras,
possivelmente responsvel pelos principais problemas ambientais da serra de Maranguape, entre eles a
solifluxo. Segundo Lima (2005), esta cultura ocupa qualquer espao que lhe seja favorvel sem prvio
estudo de possveis impactos ambientais, ocorrendo em lugares proibidos pelo Novo Cdigo Florestal (Lei
n 4.771, de 15 de setembro de 1965), como as margens dos olhos dgua e dos riachos, bem como nas
regies de alta declividade, que so consideradas reas de Preservao Permanente (APP).
A retirada progressiva da cobertura vegetal da serra de Maranguape vem comprometendo sua
biodiversidade, que ainda pouco conhecida. A serra apresenta ambiente fsico significativamente
heterogneo, com locais secos e midos, planos e acidentados, ensolarados e sombreados que
proporcionaram a evoluo de comunidades bastante diversificadas de plantas e animais. O isolamento da
mata mida, rodeada pela vegetao caduciflia proporcionou o isolamento reprodutivo de espcies
dependentes de umidade e/ou sombra, possibilitando a ocorrncia de processos evolutivos de
diferenciao, inclusive o surgimento de espcies endmicas, como o caso do pequeno anfbio
Adelophryne maranguapensis e do escorpio Broteochactas brejo, filogeneticamente ligado a espcies
amaznicas, bem como de populaes disjuntas de espcies anteriormente registradas apenas nos biomas
da Mata Atlntica e da Amaznia (CEAR, 2002). O interesse na preservao e conservao da
biodiversidade local baseia-se no fato de que as espcies que residem na rea da APA de Maranguape so
de grande valor ecolgico, sendo esse espao o ltimo refgio para sua sobrevivncia, cujas reas mais
midas permitem suportar uma fauna e flora mais diversificada.
A destruio da cobertura vegetal nativa vem provocando, tambm, a ocorrncia de processos
erosivos, proporcionando o aparecimento de reas instveis, com riscos de desmoronamentos semelhantes
aos ocorridos em maio de 1974 (IPT, 1975) e maro de 2001, ambos na vertente centro-oriental da serra.
De acordo com Guidicini & Nieble (1984), no escorregamento de massa ocorrido na vertente oriental da
serra de Maranguape no ano 1974, foram ceifadas 12 vidas, alm do arruinamento de dezenas de
propriedades. Os sinais de rastejo observados em determinados setores da serra, apesar de no
apresentarem risco imediato de instabilizao, so indicativos de processos lentos e contnuos de
movimento da encosta que podem evoluir para movimentos de maior expresso e magnitude. A instalao
de alguns stios tambm altera em parte a composio da paisagem natural e modificam o sistema de
Joo Pessoa, outubro de 2011

289
drenagem por meio da construo de pequenas barragens nas encostas (PEREIRA & SILVA, 2007). Clubes e
pousadas tambm contriburam na modificao do escoamento hdrico, construindo piscinas atravs de
barragens artificiais.
No que diz respeito s comunidades serranas cearenses, segundo Arruda (2001), estas sofreram um
longo processo de expropriao rural que passa hoje pela morte lenta de suas histrias de vida, pela
inexistncia de terras para plantar seus roados e pela falta de oportunidades no mercado de trabalho,
devido ao restrito conhecimento e qualificao profissional aos quais esto sujeitas.
EDUCAO AMBIENTAL E UNIDADES DE CONSERVAO
A legislao brasileira define educao ambiental como um direito de todos e um dever do Poder
Pblico que deve garanti-la em todos os nveis de ensino. Neste sentido a educao ambiental compreende
os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competncias voltadas para conservao do ambiente e melhoria da qualidade de
vida (LOUREIRO, 2009).
Segundo Cear (2002) no h dvida de que investir na educao ambiental nas comunidades em
e/ou no entorno de APAs seja a forma mais segura de proteger seus ecossistemas; pois no existe fiscal
mais eficiente do que aquele que mora no local e assim conhece as singularidades do lugar e sua
importncia. Estes espaos so verdadeiros laboratrios vivos, abertos a visitao pblica, onde possvel
o contato direto com diversos ecossistemas. Mesmo que os processos de degradao ambiental j tenham
deixado fortes marcas em reas da APA de Maranguape, especialmente em decorrncia do desmatamento
indiscriminado, ainda restam reas em razovel estado de conservao, o que torna urgente implantar
programas de educao ambiental, visando desenvolver na populao hbitos, atitudes e comportamentos
compatveis com a preservao e conservao da flora, fauna, recursos e aspectos paisagsticos locais. Isto,
sem que haja prejuzos economia local, para que as propostas de mudana das atuais formas de
explorao possam, de fato, ser aceitas e absorvidas pelos moradores.
Os programas de educao ambiental, a serem implantados, devem ser diversificados e
trabalhados em diferentes interfaces com o turismo, a agricultura, a urbanizao, a sade, a indstria e o
comrcio. Sempre conferindo s aes educativas um grande vnculo com a realidade local, com os
conhecimentos e as vivncias e, quando possvel, associando estas aes s possibilidades de mudanas
nas condies econmicas de segmentos da populao local.
O estmulo por parte do poder pblico municipal no desenvolvimento de atividades econmicas
como a agricultura ecolgica, farmcias-vivas, hortos, jardinagem, floricultura, paisagismo e o ecoturismo,
entre outras, de extrema importncia. Estas atividades emergem como estratgias para mudar a situao
econmica e o quadro de valores ticos e culturais da populao (CEAR, 2002). A capacitao de atores
sociais, a gesto participativa, a valorizao da unidade de conservao e a utilizao dos meios de
comunicao social, tambm so instrumentos fundamentais no processo de educao ambiental. Faz-se
necessrio, tambm, a execuo de projetos envolvendo a agroecologia, que permitam o uso racional do
espao serrano, proporcionando populao da APA mtodos e tcnicas apropriadas ao uso racional do
solo, de maneira a no interferir no funcionamento dos refgios ecolgicos.
Busca-se, portanto, com estes projetos o uso sustentvel, a defesa das reas de preservao e um
convvio saudvel e ecologicamente correto com a biodiversidade existente na APA, para com isso darem
continuidade ao equilbrio dos ecossistemas componentes e consequentemente, melhorarem a qualidade
de vida da populao serrana.
CONSIDERAES FINAIS
A preservao e conservao dos ecossistemas existentes na APA de Maranguape so de extrema
importncia para o estado do Cear, devido rea constituir uma paisagem de exceo no contexto
geoecolgico do semirido nordestino, representado majoritariamente pelas caatingas. Os servios e
benefcios ambientais prestados por esta unidade de conservao contribuem prioritariamente, para
regular e amenizar o clima local, manter o equilbrio dinmico dos mananciais hdricos, e na manuteno da
biodiversidade. Alm disso, a APA contribui com a economia local e regional, atravs da utilizao dos
recursos naturais e, principalmente, a partir da explorao de seu potencial turstico.
A tranquilidade do clima serrano, associado existncia de nascentes fluviais de guas lmpidas,
caracterizam-se como os principais atrativos tursticos procurados, sobretudo, por turistas de Fortaleza, o
que mostra a importncia da proximidade com a capital do Estado do Cear. As condies naturais de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

290
exceo no contexto semirido, relacionadas s condies edafo-climticas, condicionam a existncia de
um elevado potencial paisagstico, de onde se pode destacar a existncia de cachoeiras, lagos naturais,
florestas preservadas e vistas belssimas das depresses sertanejas. Os aspectos relacionados
biodiversidade tambm tm atrado muitas pessoas para a serra, sobretudo pesquisadores e
ambientalistas. Portanto, os recursos naturais da serra de Maranguape so os principais atrativos tursticos,
o que se pode caracterizar como um ponto positivo no processo de preservao e conservao ambiental.
A Prefeitura Municipal de Maranguape e o Governo do Estado devem fazer com que a legislao
existente seja aplicada, e que as instituies responsveis fiscalizem a aplicao dessas leis. A Prefeitura
Municipal de Maranguape juntamente com a SEMACE e o IBAMA, devem realizar monitoramentos
sistemticos por toda a rea representativa da APA no intuito de fiscalizar, de forma mais precisa, as
construes e desmatamentos irregulares. Paralelamente s obras de recuperao ambiental e de
fiscalizao da APA, importante que, junto comunidade serrana, sejam desenvolvidas aes de
educao ambiental, que possibilitem o reconhecimento da serra como um patrimnio natural, e que lhes
sejam oferecidas opes de desenvolvimento de acordo com a vocao da unidade paisagstica,
objetivando a proteo dos recursos hdricos, a conservao da diversidade gentica e a auto-regulao do
meio ambiente.
O turismo ecolgico uma atividade que pode gerar inmeros empregos para a populao serrana,
porm, imprescindvel que seja criado um projeto de qualificao para tal atividade, em que sejam
abordadas questes relativas melhoria de infraestrutura e qualificao de mo-de-obra local. Atravs de
programas de educao ambiental desenvolvidos na APA, pode-se estimular outros tipos de culturas
agrcolas, de forma que ocorra, gradativamente, uma reduo da bananicultura e consequentemente, do
problema da monocultura existente nas encostas e margens de riachos do macio. Busca-se, portanto, de
acordo com as aes propostas pelos programas ambientais oficiais, a defesa da rea de proteo e um
convvio saudvel e ecologicamente correto com a biodiversidade ora existente, para dar continuidade ao
equilbrio dos ecossistemas componentes e, com isso, melhorar a qualidade de vida das comunidades
serranas no estado.
REFERNCIAS
ABSABER, A. N. Provncias Geolgicas e Domnios Morfoclimticos do Brasil. So Paulo: Instituto de
Geografia, 1970.
ARRUDA, L. V. Serra de Maranguape-CE: Ecodinmica da paisagem e implicaes socioambientais.
Fortaleza, UFC, 2001. 162 pp. Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). PRODEMA.
Universidade Federal do Cear, 2001.
BASTOS, F. H. Guaramiranga: proposta de zoneamento e manejo ambiental. Fortaleza, UFC, 2005.
175pp. Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). PRODEMA. Universidade Federal do
Cear, 2005.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia fsica global: esboo metodolgico. Caderno de cincias da
terra. So Paulo. Instituto de Geografia, 1971.
BRASIL. Ministrio de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Secretaria Especial do Meio
Ambiente. reas de Proteo Ambiental: abordagem histrica e tcnica. Braslia: SEMA SEC
Coordenadoria de reas de Proteo Ambiental, 1987. 45p.
CEAR (Estado). Superintendncia Estadual do Meio Ambiente. Zoneamento ambiental e plano de
gesto da rea de proteo ambiental (APA) da serra de Maranguape. Fortaleza: SEMACE, 2002. 114p.
FERNANDES, A. Fitogeografia brasileira. Fortaleza: Multigraf. 1998. 339p.
FUNCEME. Proposta de dimensionamento do semirido brasileiro. Fortaleza: Banco do Nordeste do
Brasil, 2005.
INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLGICAS-IPT. Estudo preventivo e corretivo dos movimentos
coletivos de solo e rochas na serra de Maranguape: Relatrio Tcnico-Fase de Diagnstico. So Paulo. Vol 1,
1975.
KRASILCHIK, M. Educao ambiental na escola brasileira - passado, presente e futuro. Revista
Cincia e Cultura. v. 38, p. 1958-1961, 1986.

Joo Pessoa, outubro de 2011

291
LIMA, D. C. A bananicultura na rea de proteo ambiental da serra de Maranguape-CE e suas
implicaes no ambiente fsico, humano e na biodiversidade. Fortaleza, UFC, 2005. 103pp. Dissertao
(Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). PRODEMA. Universidade Federal do Cear, 2005.
LOUREIRO, C. F. Trajetrias e fundamentos da educao ambiental. 3. ed. So Paulo: Editora Cortez,
2009.
MATOS, P. G. Maranguape- CE: aspectos histricos e geogrficos. Fortaleza, 1966.
MENDES, M. C. Metropolizao e Indstria: Maranguape no contexto da Regio Metropolitana de
Fortaleza-CE. Fortaleza, UECE, 2006. 165pp. Dissertao (Mestrado Acadmico em Geografia). MAG.
Universidade Estadual do Cear, 2006.
PEREIRA, R. C. M; SILVA, E. V. Problemas ambientais e unidades de conservao no Cear. In: SILVA,
J. B.; CAVALCANTE, T. C.; DANTAS, W. C. (Orgs). Cear: um novo olhar geogrfico. 2. ed. Fortaleza: Edies
Demcrito Rocha, 2007. 480p.
SO PAULO. Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Planejamento Ambiental. reas de
Proteo Ambiental do Estado de So Paulo-APAs: propostas de zoneamento ambiental. So Paulo, 1992.
76p
SOUZA, M. J. N. Zoneamento ambiental e plano de gesto da APA da serra de Maranguape.
Fortaleza: SEMACE, 1999.
______, M. J. N. Compartimentao geoambiental do Cear. In: SILVA, J. B.; CAVALCANTE, T. C.;
DANTAS, W. C. (Orgs). Cear: um novo olhar geogrfico. 2. ed. Fortaleza: Edies Demcrito Rocha, 2007.
480p.
SOTCHAVA, V. B. O estudo dos geossistemas. Mtodos em questo, Universidade de S Paulo. So
Paulo, n 161, 1977.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

292

ANLISE DA PERCEPO AMBIENTAL DOS VISITANTES NO PARQUE


ESTADUAL DE DOIS IRMOS, RECIFE / PE.
Adna P. FERREIRA
Kamila L. T. NASCIMENTO
Estudante de graduao em Cincias Biolgicas com nfase em Cincias Ambientais pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) adinhaporto_poetinha@hotmail.com
Estudante de graduao em Cincias Biolgicas com nfase em Cincias Ambientais pela Universi dade Federal de
Pernambuco (UFPE) e de Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Pernambuco
(IFPE). kamilalarisa@hotmail.com

RESUMO
Os zoolgicos desempenham papis fundamentais no que se diz respeito conservao, recreao,
trabalhos cientficos e educao ambiental. Atualmente, o enfoque sobre o tema tem sido abordado na
questo ambiental, demonstrando a importncia que os zoolgicos tm diante da sensibilizao ambiental
para com os visitantes. Essa evoluo tem se dado, uma vez que nesses locais, encontram- se uma fauna
diversificada, e por vezes em total ateno por sua raridade, por isso preciso medidas de preservao.
Para isso, mostrou- se necessrio uma verificao atravs de entrevistas, quanto percepo ambiental
dos visitantes do Parque Estadual e Zoolgico de Dois Irmos. Dentre os resultados obtidos aps a
aplicao de questionrios, destaca-se que 51,67% dos visitantes, sempre liam as placas quando chegavam
s instalaes do parque e apenas 3,36% responderam nunca. A respeito de Educao Ambiental, se
haviam escutado alguma informao antes, 66,66% dos visitantes entrevistados responderam que no e,
apenas 33,33% sim. A verificao da anlise de percepo para com os visitantes foi positiva, uma vez que
mostraram ter ateno e sensibilizao para com a conservao e prticas ambientais que um parque e
zoolgico podem apresentar. Conclu-se que o conceito mais pertinente para definir conscientizao
ambiental, se d por novos princpios ticos, valores culturais e potenciais produtivos necessrios as
mudanas para a sustentabilidade.
Palavras- chave: Educao Ambiental, Parque de Dois Irmos, Percepo Ambiental.
INTRODUO
O surgimento dos zoolgicos no mundo est historicamente associado manifestao de
diferentes atitudes humanas em relao aos animais, e pelos diferentes papis que estas instituies
desempenharam na sociedade e na cultura ao longo da histria da civilizao humana conforme Wemmer
(2006). Segundo Sanders; Feij (2007) os zoolgicos foram criados basicamente com o propsito de expor
espcies exticas de animais sociedade e estes locais tiveram sucesso pela curiosidade prpria do ser
humano e passaram a receber um nmero significativo de visitantes, tornando- se ponto rentvel e
turstico de muitas cidades contemporneas.
No sculo XX, houve uma mudana no enfoque da funo dos zoolgicos, que deixaram de ser
meras colees, passando a desenvolver atividades e funes voltadas para a conservao da fauna
regional e global segundo Barrella et al.(1999).Observando essa abordagem do objetivo geral dos
zoolgicos, evidencia a importncia que tem- se de trabalhos de educao ambiental, desenvolvidos em
tais ambientes, uma vez que alm de desenvolver conservao, fazem-se necessrias prticas da
conscincia ambiental por partes dos visitantes e tambm dos funcionrios dos parques.
Os zoolgicos brasileiros so responsveis pela manuteno de animais silvestres em cativeiro,
especialmente de espcies da fauna brasileira. Atuam de vrias formas na conservao das espcies,
promovendo a criao em cativeiro e realizando atividades em educao ambiental. Tambm atuam na
rea da pesquisa em zoologia, muitas vezes em parceria com instituies de pesquisas nacionais e
internacionais, conforme Guedes (1998). De acordo com Jacobi (2003), a educao ambiental deve ser
crtica e inovadora, em dois nveis: formal e no-formal e deve ser acima de tudo um ato poltico voltado
para a transformao social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva holstica de ao, que relaciona o
homem, a natureza e o universo, tendo em vista que os recursos naturais se esgotam a biodiversidade se
extingue devido ao antrpicas.
Orientadora: Aldemir D. Barboza - Professora Adjunta-UFPE / CFCH/Dpto. Cincias Geogrficas.
Joo Pessoa, outubro de 2011

293
O Parque Estadual de Dois Irmos foi fundado em 1916, logo aps alguns anos o parque tornou-se
reserva ecolgica e depois veio a tornar o que hoje um parque estadual, abrangendo uma rea de 387,4
hectares e mais 14 hectares do Horto Zoobotnico de Dois Irmos. O Parque desenvolve prticas de
conservao, recreao, educao ambiental e pesquisa cientifica, como so os objetivos dos zoolgicos em
geral, porm nem todos esses aspectos so sempre abordados de maneira eficiente e regular, tendo
algumas dificuldades. O zoolgico um ambiente bastante propicio para desenvolver trabalhos a cerca de
percepo ambiental, uma vez que os visitantes vo para sua diverso e entretenimento e assim, esperam
um local agradvel, acurado e com animais saudveis e bem tratados e sendo um parque estadual, aberto
ao pblico com uma pequena taxa, recebendo visitas de todas as idades, desde crianas a idosos. O
objetivo geral do trabalho foi de verificar a percepo ambiental dos visitantes no Parque de Dois Irmos,
visando importncia da informao dentro dos parques como instrumento de Educao e Sensibilizao
Ambiental.
MATERIAL E MTODOS
Foi utilizada aplicao de questionrio voltado aos visitantes do Parque Estadual Dois Irmos.
Foram aplicados 120 questionrios contendo nove perguntas, sendo uma delas optativa, e essas perguntas
serviram como base para o levantamento dos dados.
Estes questionrios foram igualmente distribudos de acordo com os visitantes que chegavam ao
Parque. As perguntas foram todas objetivas, com intuito de verificar a percepo ambiental dos visitantes
em relao s questes ambientais, se elas procuravam ler sobre as placas de informaes contidas no
zoolgico, se importante a preservao da fauna silvestre, se detinham de algum conhecimento de
Educao Ambiental dentro do Parque. Aps a realizao das entrevistas, foi feita a tabulao dos dados e
construo de grficos e, consequentemente a anlise desses grficos.
RESULTADOS
Aps a concretizao das entrevistas, foi visto que todas as interrogaes contidas nos
questionrios foram respondidas, com base nessas respostas reunimos dados que objetam aos
questionamentos relacionados desde conceito de conscientizao ambiental at quais as funes
primordiais de um zoolgico.
Quando se foi perguntado qual opinio seria mais pertinente para definir conscientizao
ambiental, como se pode observar no Grfico 1, 24,37% (A) afirmaram que tudo que se relaciona a
paisagem natural: florestas, rios e seus habitat, enquanto 33% (B) responderam que o lugar onde o
homem e a natureza esto em constante interao, j 40% (C) disseram que so novos princpios ticos,
valores culturais e potenciais produtivos necessrios as mudanas para sustentabilidade e apenas 3% (D)
responderam que a inter- relao entre a flora e o clima.
A

3%

24%
40%

33%

Grfico 1 - Conhecimento a respeito de conscientizao ambiental no Horto de Dois Irmos


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

294
Fonte: Adna Porto, 2011(pesquisa direta)

Em relao s instalaes do zoolgico, foi perguntado se eles procuravam ler as placas de


informaes sobre as espcies e sobre as regras de visitao, o Grfico 2 mostra que 52,00% (A) disseram
que sempre leem as placas, 43,00%(B) disseram que s vezes, enquanto 2,5% (C) responderam raramente e
apenas 3%(D) responderam que nunca procuravam ler as placas.
A

3%

2%

43%

52%

Grfico 2 - Das placas de informaes e sobre as regras de visitao


Fonte: Adna Porto, 2011 (pesquisa direta)

Dependendo das respostas da questo anterior, era solicitado ir para a terceira questo que
perguntava a respeito se ao ler as placas contendo as informaes, os visitantes procuravam cumpri-las de
maneira correta, conforme consta no Grfico 3, 81% (A) disseram que sempre cumpriam as observaes
solicitadas, 17%(B) s vezes, 2%(C) raramente e 0%(D) nunca cumpriu as normas.
A

2% 0%
17%

81%

Grfico 3- Observa e cumpre as placas de maneira correta


Fonte: Adna Porto, 2011 (pesquisa direta)

Dos entrevistados (Grfico 4), 97% (A) acham muito importante a preservao das espcies, em
especial as da fauna silvestre e apenas 3%(B) acham apenas importante. Vale salientar que pouco
importante(C) e sem importncia(D) no tiveram resposta por parte dos visitantes.

Joo Pessoa, outubro de 2011

295

3%
0%

97%

Grfico 4- Importncia de preservar-se a fauna silvestre


Fonte: Adna Porto, 2011 (pesquisa direta)

Das 113 respostas obtidas a respeito de se j algum j havia falado sobre Educao e Conscincia
Ambiental dentro do parque o Grfico 5 demonstra que, 33 % (A) disseram que sim, enquanto 67%(B)
disseram que no.
A

0% 0%

33%

67%

Grfico 5- Educao e Conscientizao Ambiental no Parque Estadual Dois Irmos


Fonte: Adna Porto, 2011 (pesquisa direta)

Sobre como os visitantes classificariam a seguinte frase: O zoolgico como espao integrados de
posturas em Educao e Conscientizao Ambiental, 91% (Grfico 6 - A) responderam muito importante,
7% (B) apenas importante, 2% (C) pouco importante e nenhuma resposta para sem importncia (D)

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

296

2% 0%
7%

91%

Grfico 6- O zoolgico como espao integrador de posturas ambientais


Fonte: Adna Porto, 2011(pesquisa direta)

Em uma determinada situao onde a pessoa se deparasse com uma espcie da fauna silvestre
ameaada de extino em sua posse, qual seria o procedimento tomado por voc? A respeito desse
questionamento 97% (Grfico 7- A) disseram que procuraria imediatamente algum rgo de proteo a
fauna silvestre, 1%(B) esperaria at que algum tomasse a deciso de procurar um rgo de proteo a
fauna silvestre por voc, 1%(C) abandonaria o animal, pois isso no problema seu e 1%(D) venderia, pois
sendo um animal raro de ser encontrado na natureza, pagariam bem por ele.
A
1%

B C
1%
1%

97%

Grfico 7- Procedimento tomado ao deparar com uma espcie em extino


Fonte: Adna Porto, 2011 (pesquisa direta)
O ltimo questionamento foi a respeito da seguinte frase Os zoolgicos, alm da funo de
conservao, possuem outras importantes funes, como o lazer das populaes e a Educao Ambiental,
que por sua vez, de extrema importncia para a conscientizao das pessoas, para voc, quais as funes
mais importantes de um zoolgico? 2% (Grfico 8- A) disseram que serve apenas para o lazer das pessoas,
enquanto 29%(B) disseram que serve para o lazer das pessoas principalmente, mas tambm a Educao
Ambiental, 65%(C) disseram que importante para a conservao e a educao ambiental, que levam a
conscientizao ambiental e 4%(D) responderam principalmente o lazer das pessoas e a conservao.

Joo Pessoa, outubro de 2011

297

2%
4%
29%

65%

Grfico 8- Funes do zoolgico


Fonte: Adna Porto, 2011 (pesquisa direta)
DISCUSSO
A verificao da percepo das pessoas que visitam o Parque Estadual de Dois Irmos, sobre as
questes ambientais de extrema importncia, uma vez que so agentes diretos na transformao e
modificao da paisagem natural encontrada neste local, no parque estadual.
Quando se foi perguntado aos visitantes como eles classificariam a importncia de ser
preservar as espcies, em especial da fauna silvestre em sua maioria responderam muito importante,
mostrando com isso que possuem uma ateno quanto ao que se refere biodiversidade, alertando que
esses animais que residem nos zoolgicos esto nesse ambiente por justamente estarem em perigo de
extino.
Na ltima pergunta do questionrio, que era opcional, os visitantes puderam dar sua
opinio a respeito de como deve ser feita a Educao e Sensibilizao Ambiental dentro dos zoolgicos, e
quais pontos principais devem ser abordados para que haja mais respeito e atitude pela fauna e flora. As
respostas variaram muito de acordo com grau de importncia para eles, alguns questionaram a falta de
investimento na infraestrutura do local, tambm foi levantado que deveria haver uma maior preocupao
por parte dos rgos governamentais como, tambm por partes dos empresrios e pessoas que
preocupam- se com meio ambiente e bem- estar dos animais. Tambm foi exposto que deveria existir um
monitoramento com estudantes ou empregadores da rea, no qual fizesse um trabalho explicativo para
com os visitantes, o que ajudaria e muito num trabalho de Educao Ambiental.
Com as respostas dos visitantes e o levantamento feito por eles nesse ltimo
questionamento, fez transparecer a importncia que o Parque Estadual de Dois Irmos tem para com os
mesmos, s que preciso um trabalho bem elaborado de Educao e Sensibilizao Ambiental para que
possam melhor transmitir a respeito da conservao referente fauna e flora do local. Porm, apesar da
necessidade de um maior envolvimento nas questes ambientais, foi possvel verificar que os visitantes
possuem uma ateno ao meio que esto inseridos e que se preocupam com a preservao do mesmo.
REFERNCIAS
BARRELLA, W.; PESSUTI, C.; TEIXEIRA, R. H. & MERGULHO, M. C. 1999. Zoolgicos do Estado de So
Paulo. In: JOLY, C.A. & Carlos BICUDO, C.E. (Orgs.). Biodiversidade do Estado de So Paulo, Brasil. So
Paulo. FAPESP. 7: 126-148.
GUEDES, A.C. (Coord.) 1998. Conservao Ex-Situ. Relatrio do Grupo de Trabalho Temtico 3:
Artigo 9 sobre a Conveno de Diversidade Biolgica. Braslia. Coordenao Nacional de Diversidade
Biolgica (COBIO) do Ministrio do Meio Ambiente. 43 pp. (Estratgia Nacional de Diversidade Biolgica).
Disponvel em http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/doc/gtt3.pdf. Acessado em Agosto/2007.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

298
JACOBI, P. Educao ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n.118, p.189206, mar. 2003.
SANDERS, A. & FEIJ, A.G.S. 2007. Uma reflexo sobre animais selvagens cativos em zoolgicos na
sociedade atual. Anais do III Congresso Internacional Transdisciplinar Ambiente e Direito- III CITAD,
realizado em Porto Alegre na PUCRS em 2007.
WEMMER, C. 2006. Manual tcnico de zoolgico. Sociedade de Zoolgicos do Brasil. Balnerio
Camburi, SC.

Joo Pessoa, outubro de 2011

299

O RPG (ROLE PLAYING GAME) ELETRNICO COMO MEIO INTERATIVO


PARA ESTUDOS DE CASO EM PLANEJAMENTO E MANEJO DE UNIDADES
DE CONSERVAO
Adriano Gomes GARCIA
Universidade Federal de So Carlos - Campus Sorocaba. Graduando do curso Bacharelado em Cincias Biolgicas
adriano_gg@hotmail.com
Rogrio Hartung TOPPA
Universidade Federal de So Carlos - Campus Sorocaba. Docente do curso Bacharelado em Cincias Biolgicas. Ncleo de
Estudos em Ecologia da Paisagem e Conservao.
toppa@ufscar.br
Andria De FIORI
Universidade Paulista UNIP, Campus de Sorocaba. Docente do curso de Bacharelado em Cincias Biolgicas.
andreiafiori@gmail.com

RESUMO
As Unidades de Conservao tm sido extremamente importantes para a manuteno dos servios
dos ecossistemas e para a conservao da biodiversidade. Por meio do Plano de Manejo, define-se seu
zoneamento e as normas que devem presidir o uso da rea e o manejo dos recursos naturais, inclusive a
implantao das estruturas fsicas necessrias gesto da Unidade. Visto a necessidade do
comprometimento da sociedade no processo de elaborao do Plano, necessita-se que seja feita uma
abordagem populao em um processo contnuo de aprendizagem, principalmente nas escolas, para
preparar crianas e adolescentes, de forma a serem adultos atuantes no estabelecimento de reas
protegidas. O presente trabalho apresenta a elaborao de um jogo em forma de RPG (Role Playing Game)
eletrnico para computador, de forma que o aluno do Ensino Mdio tenha um contato inicial com o
processo a ser seguido no planejamento de uma Unidade de Conservao. O jogo se baseia Roteiro
Metodolgico de Planejamento do IBAMA e interage com o aluno demonstrando as principais etapas
correlacionadas ao processo de elaborao e implantao do Plano de Manejo.
Palavras chave: Unidade de Conservao. Plano de Manejo. Educao Ambiental. RPG.
1. INTRODUO
A biodiversidade pode ser vista como um recurso e/ou como uma propriedade de vida. A
percepo pblica de biodiversidade evoluiu rapidamente de um estgio denominado pelo medo da perda
de certas espcies carismticas de plantas e animais, para aquele da Conveno sobre Diversidade
Biolgica, no qual a biodiversidade percebida como um recurso precioso que devemos conservar e
manejar para benefcio das geraes humanas atuais e futuras (YOUNS, 2001).
Nesse sentido, a conservao in situ por meio da criao das Unidades de Conservao (UC) vem a
ser indispensvel para que o pas consiga cumprir os compromissos constitucionais internos e os diversos
acordos internacionais firmados, sendo primordial para a preservao dos bens e servios prestados pelos
ecossistemas, diminuio dos problemas oriundos da crise ambiental e promoo da qualidade de vida da
sociedade (WWF-Brasil, 2008). Uma das biotas mais notveis do planeta como a do Brasil, vem sofrendo
alto grau de degradao, tendo como indicativos a perda acelerada da vegetao nativa, e a presena de
627 espcies da fauna na Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaada de Extino de 2005 (Ministrio do
Meio Ambiente, 2003) e 472 espcies da flora na Lista Oficial das Espcies da Flora Brasileira Ameaadas de
Extino (Ministrio do Meio Ambiente, 2008). O Sistema Nacional de Unidades de Conservao foi
institudo em 18 de Julho de 2000, por meio da regulamentao do artigo 225, pargrafos 1, incisos I, II, III,
IV e V da Constituio Federal e implementado com base nos dispositivos da lei n 9.985 que compreende
as UC como o espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com
caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao
e limites definidos, sob regime especial de administrao.
O sucesso das UC depende das estratgias de planejamento implementadas por meio de um Plano
de Manejo, como definido no artigo 2, inc. XVII da lei n 9.985/00: Documento tcnico mediante o qual,
com fundamento nos objetivos gerais de uma Unidade de Conservao, se estabelece o seu zoneamento e
as normas que devem presidir o uso da rea e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantao das
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

300
estruturas fsicas necessrias gesto da Unidade. Alm dos dispositivos legais, outros instrumentos,
como os roteiros metodolgicos do IBAMA (2002), consideram alguns apontamentos que orientam o
planejamento de UC, dentre eles, o planejamento participativo (adotado pelo IBAMA na dcada de 90, e
incorporado como um dos dispositivos legais de aes de manejo nas UC) tem por objetivo o envolvimento
da sociedade com o intuito de torn-la partcipe e comprometida, na tentativa de se obter o
reconhecimento da importncia da UC e promover sua efetiva proteo. Os momentos de envolvimento da
sociedade ocorrem por ocasio de visitas prefeitura e outras instituies, reunies abertas nos municpios
que levam preparao das comunidades para a participao nas oficinas de planejamento, reunio
tcnica com pesquisadores, implementao dos conselhos consultivos e em aes de cooperao
institucional (IBAMA, 2002). essencial que a sociedade se torne integrada com as estratgias
estabelecidas, a fim de que a UC seja vista como um patrimnio da sociedade como um todo, e que seja
reconhecido o seu valor e importncia. No documento Unidades de Conservao: Conservando a vida, os
bens e os servios ambientais da WWF (2008), dentre os meios de colaborao para a gesto de UC esto:
Colaborar na divulgao das UC junto sociedade, mostrando a sua importncia para a qualidade
de vida e ambiental das geraes atuais e futuras;
Dialogar e buscar parceria junto mdia, governo e sociedade, em prol da conservao dos recursos
naturais e das UC;
Entretanto, por mais que se verifiquem diversos avanos na democratizao dos fruns de
tomada de deciso na rea ambiental, por meio da criao de conselhos e estruturas mais participativas de
discusso, a questo da participao dos vrios setores da sociedade civil ainda um desafio a ser
alcanado. Trata-se no apenas do conhecimento tcnico sobre o assunto, mas tambm um aprendizado
social com participao qualificada, que envolve habilidades de negociao, entendimento da situao,
posicionamento e tomada de deciso.
Nesse sentido, a Educao Ambiental (EA) pode ser incorporada como um meio para se alcanar a
participao efetiva dos atores sociais de forma gradativa, enfocando os diversos crculos que envolvem
cada cidado, fazendo com que ele reflita sobre si, desenvolva o seu senso crtico, e procure ver de que
forma ele poder contribuir com a melhoria ou com a eliminao de situaes danosas a sociedade ou
natureza (Dohme & Dohme apud Antunes et al, 2005).
Porm, as formas tradicionais de formao e materiais didticos simplificados, como manuais e
cartilhas, j no so suficientes para uma efetiva formao das comunidades. No mbito da educao para
a cidadania e da prpria EA, surgem algumas metodologias participativas de maior complexidade que vo
atuar no sentido de promover um aprendizado para a participao.
Neste contexto, os jogos de papis ou Role Playing Games (RPG) surgem como metodologias que
agregam o aspecto ldico do jogo e a interpretao de personagens, promovendo a vivncia dos vrios
aspectos de uma situao-problema proposta (Camargo, 2006).
RPG eletrnicos so simulaes de aventuras ambientadas em um cenrio estabelecido, em torno
das quais se encontram personagens construdos, absorvidos em uma mesma histria, na perspectiva de se
resolver de forma colaborativa com os outros personagens do jogo, um problema apresentado diante do
contexto sugerido (Djardin et al, 2011). So considerados bons materiais de interao, pois inserem o
participante dentro de uma simulao da vida real, colocando-o em contato com desafios, ameaas e
perigos representativos da realidade, possuindo facilidade de elaborao e baixos custos para aplicao.
Dentre outros jogos de computador com o objetivo de subsidiar os processos correlacionados a Educao
Ambiental pode-se citar A Fazenda (Passerino & Silva,2007) e Jogo Tartarugas (Filho et al,2007).
Na perspectiva de incorporar novas propostas para ampliar o conhecimento sobre o processo de
criao e planejamento de UC, este trabalho teve por objetivo a criao do jogo Lendas de uma UC: O
desafio do Plano de Manejo para computador em forma de RPG (Role Playing Game), voltado para
alunos do Ensino Mdio, com a finalidade de explicar os passos envolvidos na definio do planejamento
para o manejo de uma UC.
2. METODOLOGIA
Para elaborao do jogo utilizou-se o documento Roteiro Metodolgico de Planejamento: Parque
Nacional, Reserva Biolgica, Estao Ecolgica do IBAMA (2002) e o software RPG Maker 2003 (Ojima,
2000).
Joo Pessoa, outubro de 2011

301
Com base no documento foram identificadas todas as etapas do planejamento de uma UC para
elaborao do Plano de Manejo, e para cada uma delas foi elaborado um cenrio para as personagens, com
os seguintes eventos correlacionados ao planejamento, diagnstico e implantao:
I) Organizao do planejamento (1 Reunio Tcnica): Estabelecimento dos papis na equipe,
definio preliminar da regio da UC;
II) Coleta e anlise das informaes disponveis: levantamento bibliogrfico;
III) Reconhecimento de campo: conhecimento da UC, contato com grupos de interesse, reunio
com funcionrios da UC, estratgia para oficina de planejamento;
IV) Oficina de planejamento: mapeamento das informaes, propostas de ao, identificao do
potencial de cooperao comunitria;
V) Levantamento de campo: 2 etapa de campo, avaliao da regio da UC, levantamentos
complementares;
VI) Gerao dos encartes: contextualizao da UC (Encarte 1), anlise regional (Encarte 2), anlise
da UC (Encarte 3).
VII) 2 Reunio tcnica de planejamento: avaliao dos encartes, apresentao dos resultados das
pesquisas;
VIII) 3 Reunio tcnica para a estruturao do planejamento: matriz de anlise estratgica;
IX) Elaborao do encarte de planejamento e verso resumida;
X) 4 Reunio tcnica: avaliao do plano de manejo;
XI) Entrega e aprovao do documento final;
XII) Implantao do plano na UC: execuo, projetos especficos, monitoria e avaliao. Esta a fase
final do jogo, na qual o aluno dever eliminar todas as ameaas UC de acordo com o previsto pelo Plano
de Manejo elaborado.
3. RESULTADOS E DISCUSSO
O jogo produzido refere-se histria de uma UC de Proteo Integral (UCPI), que est passando
pelo processo de elaborao do seu Plano de Manejo, contando com a participao da comunidade
pescadora que vive prxima UC, com a prefeitura, com pesquisadores, e com um grupo de quatro
personagens (controlados pelo jogador) que auxiliaro para a elaborao e execuo do Plano. Em
conjunto com o RPG, o professor pode utilizar um estudo de caso de uma UCPI de sua regio, tomando
como base o plano de manejo. As propostas para o desenvolvimento das atividades com os alunos sero
apresentadas oportunamente nos tpicos 3.2, 3.3 e 3.4.
3.1 - Participao direta do jogador na elaborao do Plano de Manejo
De acordo com Arajo (2007), o planejamento deve ser contnuo (os conhecimentos gerados
evoluem simultaneamente durante a implementao do plano), gradativo (o grau de manejo da rea
depender da profundidade dos conhecimentos gerados), flexvel (possibilidade de serem revisadas
informaes em um plano, sempre que se dispuser de novos dados) e participativo (sua elaborao envolve
a participao de vrios segmentos da sociedade). Nesse contexto, destaca-se uma das caractersticas
vantajosas da utilizao de um game em forma de RPG. O jogo procura manter contanto com o jogador,
sempre se direcionando a ele como participante do planejamento da UC e no como mero expectador,
trazendo o planejamento participativo para dentro do jogo (Figura 1).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

302

Figura 1. Na fase de organizao do planejamento, o jogador questionado se quer ver os mapas


da regio da UC, fornecidos pelo IBAMA, possibilitando interagir com informaes correlacionadas ao
processo de planejamento.
3.2 - Interao com personagens sociais caractersticos do entorno de uma UC
Visto a importncia do comprometimento dos diversos atores envolvidos na rea da elaborao de
um Plano de Manejo, h a necessidade da Oficina de Planejamento, que conta com a participao dos
principais grupos de interesse no Planejamento da UC (Coordenador de Plano de Manejo, Chefe da UC,
Supervisor, representantes das prefeituras dos municpios nos quais se inserem a UC e a Zona de
Amortecimento (ZA), lderes comunitrios, pesquisadores e outras pessoas cujo conhecimento seja
significativo para a UC). Esse envolvimento possibilita a elaborao de um mapa situacional e uma
discusso da proposta de zoneamento preliminar da UC e da delimitao da ZA, mobilizando o
conhecimento e a experincia dos participantes, para que de forma conjunta e consensual haja o
enriquecimento do diagnstico da UC, visando propor uma estratgia de ao para superao de seus
desafios de manejo (IBAMA, 2011).
No decorrer do jogo, o jogador se depara com a Oficina de Planejamento, dialogando com
representantes das populaes do entorno, com o representante da prefeitura e com pesquisadores, de
forma que o jogo ilustra o mosaico de opinies envolvendo a elaborao de um Plano de Manejo dentro da
Oficina (Figura 2). Nesse momento, o professor pode elaborar atividades em sala de aula, que ocorrem
dentro de uma Oficina de Planejamento, demonstrando a importncia do debate entre as diferentes vises
de cada grupo social sobre determinado assunto; como, por exemplo, a Tempestade de idias, em que
cada aluno se expressaria sobre determinado tema.

Joo Pessoa, outubro de 2011

303
Figura 2. Durante a Oficina de Planejamento, os diversos atores sociais envolvidos na elaborao do
Plano de Manejo expem suas opinies.
3.3 - Participao interativa do jogador para a identificao dos pontos fracos/fortes e as
oportunidades/ameaas presentes na regio da UC.
Durante a elaborao do Plano de Manejo, ser elaborada a Matriz de Avaliao Estratgica
(SWOT- Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats), a fim de identificar os pontos fortes e fracos,
oportunidades e ameaas relacionados UC e traar as diretrizes gerais para seu planejamento, nas quais
os fatores endgenos UC sero classificados como pontos fracos (fenmenos ou condies inerentes UC
que dificultam seu manejo) ou pontos fortes (fenmenos ou condies inerentes UC que contribuem ou
favorecem seu manejo) e os fatores do cenrio externo sero classificados como ameaas (fenmenos ou
condies externas UC, que comprometem ou dificultam o alcance de seus objetivos) ou oportunidades
(fenmenos ou condies externos UC, que contribuem ou favorecem o alcance de seus objetivos)
(IBAMA, 2002) Na Matriz de Avaliao Estratgica apresentada no jogo, o jogador questionado sobre
vrios pontos e de acordo com a sua resposta, receber uma avaliao do coordenador do Plano. Por
exemplo, quando questionado sobre a presena de espcies raras no interior da UC, ele pode classificar
como ponto fraco ou ponto forte; no caso da primeira resposta, o coordenador no concordar, porm no
caso da segunda, ele concordar, explicando os seus motivos. Como ameaas apontadas esto os caadores
e passarinheiros, e como oportunidade a presena da comunidade local. O ponto fraco apontado a baixa
quantidade de guarda-parques, e o ponto forte, a presena de espcies raras (Figura 3). Nesse ponto,
sugere-se uma atividade em sala de aula:o professor pode construir uma matriz, analisando a realidade
local da UCPI, previamente selecionada para atividade, colocando em discusso seus pontos fracos e forte,
suas ameaas e oportunidades.

Figura 3. Elaborao da matriz de planejamento para avaliao dos pontos fortes e fracos, ameaas
e oportunidades que podem ser considerados para a elaborao do plano de manejo.
3.4 Fantasia versus Realidade
Na avaliao realizada sobre as UC do Instituto Florestal e da Fundao Florestal do estado de So
Paulo com base no RAPPAM (Avaliao Rpida e Priorizao do Manejo de Unidades de Conservao), a
ameaa biota que ficou acima da mdia foi a caa, demonstrando que essa uma das principais prticas
que ameaam a biodiversidade (WWF, Fundao Florestal, Instituto Florestal, 2008).
Geralmente a caa realizada por palmiteiros invasores, mas tambm est relacionada ao consumo
de carne de caa e ao trfico de animais vivos, realizadas por moradores do interior ou do entorno da UC,
tendo como espcies mais visadas: porco-do-mato, anta, veado, capivara, ona, macuco, jacu, jacutinga,
uru, nhambu, papagaio, tatu, tamandu e macacos (WWF, Fundao Florestal, Instituto Florestal, 2008).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

304
No jogo, a caa representa uma das principais ameaas UC, na forma de personagens caadores e
passarinheiros; porm tambm h a representao da ocorrncia de queimadas. O jogador se depara com
essas ameaas e deve elimin-las para garantir o cumprimento dos objetivos da UC e a efetividade do Plano
de Manejo; porm elas aparecem representadas na forma de antagonistas, que entram em batalhas
envolvendo super poderes, contra os protagonistas (Figura 4). Nesse ponto, o professor pode utilizar o
estudo de caso para discutir as presses e ameaas existentes na UCPI de exemplo, correlacionando com os
que foram apresentados no RPG.

Figura 4. Cena em que o jogador comandando os quatro personagens principais direita da tela
(Aqua, Tonitrus, Ignis e Tenebra) combatem um caador esquerda da tela
4. CONCLUSO
O jogo pode ser uma boa ferramenta para introduzir os alunos do ensino mdio aos problemas
enfrentados por uma UC, pois permite a insero do aluno dentro das dificuldades presentes na elaborao
e implementao de um Plano de Manejo de uma maneira ldica, utilizando como ferramenta algo que
atrai a ateno de crianas e adolescentes, como o caso de um game em RPG. O prximo passo agora
aplicar o material dentro de escolas do Ensino Mdio, utilizando planos elaborados como estudo de caso e
o RPG como um meio de interao desse contedo, discutindo o processo de planejamento, o diagnstico
e a operacionalizao dos programas de gesto e analisar os resultados.
REFERNCIAS
ANTUNES, K.G; COELHO,R; TOCHEN,T. A Importncia da Educao Ambiental em Unidades de
Conservao: Experincia do centro de referncia em Educao Ambiental de Marapendi. II Seminrio de
reas Protegidas e Incluso Social. Rio de Janeiro/RJ,2005.Disponvel em < http://www.ivtrj.net/sapis/2006/index.html> Acesso em 29/05/2011
ARAUJO, M.A.R. Unidades de Conservao no Brasil: da Repblica gesto de classe mundial.
Editora SEGRAC. Belo Horizonte.2007.
BRASIL. Lei n9985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o art. 225, 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza e d outras
providncias. Disponvel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm> . Acesso em
29/05/2011
CAMARGO, M.E.S.A.. Jogos de papis (RPG) em dilogo com a Educao Ambiental: aprendendo a
participar da gesto dos recursos hdricos na regio metropolitana de So Paulo. (Dissertao) Mestrado
em Cincia Ambiental - Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental, USP, So Paulo, SP. 2006. 160p.
DJARDIN,I.P; SILVA, F.P.S; MATTA, A.E.R. Socializando vivncias em ecocidadania nas escolas
atravs de Role Playing games digitais. 3Congresso Nacional de Educao. Universidade Estadual de Ponta
Joo Pessoa, outubro de 2011

305
Grossa. Ponta Grossa/PR, 2011.Disponvel em < www.isapg.com.br/2011/ciepg/download.php?id=17>
Acesso em 29/05/2011.
DOHME, V. & DOHME W. Ensinando a criana a amar a natureza. Informal Editora. So Paulo,2002.
IBAMA. Roteiro Metodolgico de Planejamento: Parque Nacional, Reserva Biolgica, Estao
Ecolgica.2011.
FUNDAO
FLORESTAL.
Unidades
de
Conservao.2011.
Disponvel
em
<
http://www.fflorestal.sp.gov.br/apresentacaoUCs.php> Acesso em 29/05/2011
IBAMA. Roteiro Metodolgico de Planejamento: Parque Nacional, Reserva Biolgica, Estao
Ecolgica.2002
MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Lista Nacional das Espcies da fauna brasileira ameaadas de
extino.2003.
Disponvel
em

http://www.meioambiente.es.gov.br/download/NovaListaFaunaAmeacaMMA2003.pdf. Acesso em
15/06/2011
MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Lista Oficial das Espcies da Flora Brasileira Ameaadas de
Extino.2008.Disponvel em< www.icmbio.gov.br/sisbio/legislacao.php?id_arq=42>
PASSERINO, L.M, SILVA, A. A. A Fazenda, software educativo para educao ambiental. Novas
Tecnologias na Educao. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. Disponvel em <
http://www.cinted.ufrgs.br/ciclo10/artigos/1aAlessandro.pdf> Acesso em 29/05/2011
PINTO, L.P. Unidades de Conservao. Revista da Universidade Federal de Minas
Gerais.BeloHorizonte.Ano7,n14,2008.Disponvel
em
<
http://www.ufmg.br/diversa/14/index.php/unidade-de-conservacao/unidades-de-conservacao.html>
Acesso em 29/05/2011
OJIMA, Y. RPG Maker 2003.2000
VENDRAMETTO, L.P. Educao Ambiental em Unidades de Conservao: Um Estudo de Caso na
rea de Proteo Ambiental de Sousas e Joaquim Egdio. Piracicaba, v5, n2, 2004. Disponvel em <
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11150/tde-06102004-165858/pt-br.php> Acesso em
29/05/2011.
WWF-Brasil.Unidades de Conservao: Conservando a vida, os bens e os servios ambientais.So
Paulo, 2008.
WWF , FUNDAO FLORESTAL, INSTITUTO FLORESTAL.Implementao da Avaliao Rpida e
Priorizao do Manejo de Unidades de Conservao do Instituto Florestal e da Fundao Florestal. So
Paulo.2008
YOUNS, T. Cincia da biodiversidade: questes e desafios. In: GARAY, I.; DIAS, B.F.S. (Org.)
Conservao da biodiversidade em ecossistemas tropicais: avanos conceituais e reviso de avaliao e
monitoramento. Petrpolis: Ed. Vozes, 2001. p. 29-42.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

306

PARQUES URBANOS: ATRATIVOS TURSTICOS OU REAS DE LAZER?


REFLEXES A PARTIR DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DA TIRIRICA,
NITERI-RJ
Aguinaldo Cesar FRATUCCI
Departamento de Turismo
Universidade Federal Fluminense
acfratucci@turismo.uff.br

RESUMO
O objetivo desse artigo iniciar a discusso sobre os possveis conflitos existentes entre o uso das
unidades de conservao, localizadas nos limites ou arredores das grandes regies metropolitanas
brasileiras, pelos turistas e pelo visitante local. Os resultados aqui apresentados so resultados das
pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Trabalho de Turismo em reas Protegidas GTTAP/UFF, no Parque
Estadual da Serra da Tiririca, Niteri-RJ. A definio do perfil do visitante do PESET, iniciada pela coleta de
dados de julho de 2009, vem indicando para um perfil distinto daquele perfil clssico atribudo aos
ecoturistas, principalmente no tocante ao tempo de permanncia, s atividades desenvolvidas e s relaes
de pertencimento que se observa neles. Essa diferenciao no perfil parece indicar a necessidade de um
olhar diferenciado das equipes gestoras desse tipo de UCs, especialmente no controle dos impactos do uso
pblico sobre as mesmas. Trata-se de uma pesquisa exploratria descritiva que pretende se estender por
um horizonte temporal longo, como forma de apoio aos trabalhos do Conselho Consultivo do PESET e da
sua equipe gestora.
Palavras chave: Parques urbanos; gesto do uso pblico; PESET-RJ; GTTP-UFF
Introduo
A gesto do uso pblico de unidades de conservao (UCs), em especial de parques (nacionais,
estaduais e municipais), localizados no permetro urbano das regies metropolitanas das grandes cidades
brasileiras, o foco desse nosso artigo. A partir da observao e da pesquisa em desenvolvimento pelo
Grupo de Trabalho de Turismo em reas Protegidas (GTTAPUFF) da Universidade Federal Fluminense, no
Parque Estadual da Serra da Tiririca, localizado no limite leste da regio metropolitana da cidade do Rio de
Janeiro, nos municpios de Niteri e Marica, algumas indagaes e preocupaes foram se revelando para
os participantes daquele grupo as quais, trazemos para reflexo e aprofundamento.
As caractersticas especficas desse tipo de unidade de conservao que, aqui estamos
denominando de parques urbanos, indicam a necessidade de um olhar diferenciado para a sua gesto, uma
vez que, do ponto de vista do seu uso, as mesmas tanto podem ser utilizadas por turistas como pelos
residentes dessas grandes reas urbanas. Assim como as presses antrpicas ocorrentes nesse tipo de UC
so distintas daquelas ocorrentes em UCs localizadas em reas do interior do pas, tambm o perfil do seu
visitante mostra-se diferenciado, tanto nas suas caractersticas socioculturais, quanto nos seus fatores
motivacionais e no tipo de atividade que desenvolvem nas visitas a esses parques urbanos.
Segundo a Lei 9.985 de 2000, que define a terminologia e conceituao legal para as unidades de
conservao brasileiras e suas diferentes unidades de manejo, o principal objetivo dessas UCs vincula-se
proteo de recursos renovveis existentes nos espaos delimitados por elas. Dessa forma, tais UCs se
constituem em
uma terceira via de percepo e apropriao do espao pela sociedade. A partir dessa lgica,
juntamente dinmica do espao urbano e do espao rural/agrcola,soma-se ou acomoda-se o espao
natural especialmente protegido pelo Estado. (MEDEIROS; IRVING; GARAY, 2006, p. 23).

Em outras palavras, no caso dos trechos do espao delimitados como UCs, a gesto das atividades
antrpicas, sejam elas ligadas urbanizao ou agricultura e/ou pecuria, devem se submeter s normas
de manejo daquelas unidades. Na literatura cientfica e mesmo tcnica, encontramos muitos estudos sobre
esse tema abordando, ou as UCs de modo geral, sem distino, ou de modo especfico, cuidando das UCs
localizadas em reas menos urbanizadas ou rurais, talvez por essas ltimas representarem a grande maioria
do universo de UCs existentes no pas.
Joo Pessoa, outubro de 2011

307
Esse artigo objetiva investigar o perfil encontrado nas recentes pesquisas realizadas no Parque
Estadual da Serra da Tiririca (PESET), comparando-o com as indicaes dos diversos conceitos de
ecoturismo e com o perfil do ecoturista proposto pelo Ministrio do Turismo, buscando indcios que
possam sugerir novas posturas e orientaes para os processos de gesto do uso pblico dos parques
urbanos brasileiros. Trata-se de um estudo de iniciado em 2009, que j conta com trs etapas de coleta de
dados (julho de 2009, maio de 2010 e maio de 2011), includo em um projeto de pesquisa e extenso de
maior flego em desenvolvimento no mbito do Grupo de Trabalho de Turismo em reas Protegidas
(GTTAP/UFF/UFF), do Departamento de Turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O Parque Estadual da Serra da Tiririca PESET
O Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET) est situado na parte oriental da regio
metropolitana da cidade do Rio de Janeiro, abrangendo parte dos territrios dos municpios de Niteri e
Maric, mas com sua rea de amortecimento compreendendo tambm o municpio de So Gonalo. O
PESET foi criado pela Lei Estadual n 1.901, de 29 de novembro de 1991 a partir de vontade popular,
coordenada pelo movimento ambientalista e comunitrio dos municpios de Maric e Niteri, iniciado no
inicio da dcada de 1980 (GUIULIANI et al, 2008), sendo o nico parque fluminense com essa caracterstica.
Seus limites provisrios foram estabelecidos pelo Decreto Estadual n 18.598, de 19 de abril de
1993 e, sua delimitao atual data de 05 de Setembro de 2007, compreendendo uma rea aproximada de
2.260 hectares (Figura 1). Em seus limites territoriais, constitudo por um conjunto de elevaes, sistemas
lagunares e vales, destacam-se remanescentes de fauna e flora originais de Mata Atlntica; ali, estima-se
existir 350 espcies de plantas, diversas espcies animais, algumas ameaadas de extino como so os
casos do jacar do papo amarelo, do tamandu bandeira, da preguia, da jaguatirica e do jabuti de cabea
vermelha. (BRASIL, 2009).

Figura 1 - Mapa do PESET - trilhas e pontos de interesse


Fonte: Adaptado de INEA, 2009

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

308
Em 1832, o naturalista Charles Darwin, autor da Teoria da Evoluo das Espcies, em sua viagem
pelo estado do Rio de Janeiro, esteve na rea do Parque, o que agrega valor histrico e cultural s suas
caractersticas naturais e ambientais. O trecho percorrido cavalo por Darwin, hoje uma das trilhas
oficiais do PESET, com 2 km de extenso em leve aclive que cortam o parque entre o Engenho do Mato
(Niteri) e Itaoca (Maric). Charles (ibidem).
Por todo esse conjunto de caractersticas, rea do PESET foi classificada pela UNESCO, em 1992,
como Reserva da Biosfera da Mata Atlntica, o que um reconhecimento sua relevncia ecolgica.
Atualmente, o PESET recebe cerca de 50.000 visitantes por ano, de acordo com dados da sua equipe
gestora, despertando muito interesse e curiosidade.

O Perfil dos Visitantes do PESET


A partir de uma solicitao do gestor do Parque, em maio de 2009, um grupo de alunos e
professores do curso de turismo da UFF, organizados no mbito do GTTAP-UFF, deu incio a um projeto de
extenso com o objetivo de coletar e sistematizar informaes tcnicas essenciais para o processo de
tomada de deciso da equipe gestora e do Conselho Consultivo do PESET. O Conselho, composto por
representantes das entidades pblicas, sociedade civil organizada, universidade, terceiro setor e trade
turstico, vem desenvolvendo diversas aes emergenciais para a gesto do uso do Parque, enquanto o seu
plano de manejo, em processo de elaborao e desenvolvimento, no esteja aprovado e implantado. Para
tanto, o Conselho conta com trs cmaras tcnicas , sendo o GTTAP-UFF membro consultor tcnico da
Cmara Tcnica de Turismo.
A primeira pesquisa realizada atendeu a uma solicitao especfica da equipe gestora, que
necessitava de informaes atualizadas sobre o perfil do atual frequentador do Parque. Essa solicitao
estava diretamente relacionada com o incremento expressivo no nmero de visitantes dirios que o Parque
vem recebendo nos ltimos anos. Tanto o Conselho Consultivo como a equipe gestora do PESET vem
demonstrando preocupao com esse crescimento no volume de visitantes, especialmente de grupos,
tendo em vista os impactos que isso pode representar para a preservao dos ecossistemas ali existentes.
Alm disso, essas informaes foram indicadas como essenciais para a proposio de um plano
estratgico para o manejo do uso pblico do PESET, incluindo a sinalizao das trilhas, a definio de limites
de capacidade de carga, a delimitao das reas de uso pblico e daquelas que necessitavam ser fechadas
por questes ambientais e de conservao de elementos dos seus ecossistemas.
Durante o processo de planejamento da pesquisa, a definio das variveis de estudos a serem
contempladas pela pesquisa foi discutida pelo grupo e, aps apresentao para o gestor do PESET, foi
estabelecido um instrumento de entrevistas estruturadas com 39 perguntas, na sua grande maioria,
fechadas. O formulrio contempla desde as clssicas variveis sobre o perfil sociocultural e econmico do
visitante, motivos da visita, nvel de conhecimento das caractersticas do parque, pontos fortes e problemas
que a visitao ao PESET oferecia.
A primeira etapa de coleta de dados ocorreu entre os dias 18 e 26 de julho de 2009 (perodo das
frias escolares de inverno), das 9 s 18 horas, em trs pontos especficos do PESET: subsede (Itacoatiara),
Mirante de Itaipua e Morro das Andorinhas (Itaipu). O horrio foi definido a partir do horrio de
funcionamento do PESET para o perodo de inverno. Os pontos de coletas foram escolhidos por serem os
locais de maior concentrao de visitantes e ponto de partida de praticamente todas as trilhas do Parque.
(ROSA, 2009).
Para a realizao da coleta dos dados, foram selecionados e treinados 14 alunos do curso de
Turismo da UFF, totalizando 16 pesquisadores, incluindo os dois coordenadores que tambm realizaram
entrevistas com os visitantes. Os pesquisadores foram divididos em dois turnos de trabalho: manh (das 9
s 14h) e tarde (das 13 s 18h), sempre contando com, pelo menos, dois pesquisadores em cada ponto de
pesquisa (GTTAP-UFF, 2009).
O pblico alvo da pesquisa foram os visitantes do PESET, entrevistados no momento em que
deixavam o Parque. Foi entrevistado um em cada 10 visitantes, com idade superior a 14 anos,
independente de sexo e origem. No total, foram realizadas 231 entrevistas. O tempo mdio de execuo
das entrevistas foi de 8 minutos (ibidem).
Joo Pessoa, outubro de 2011

309
Na segunda etapa de coleta de dados, realizada entre os dias 14 e 23 de maio de 2010 (perodo de
outono), foram utilizados 23 estudantes do curso de turismo, a maioria membros do GTTAP/UFF, sob a
coordenao de dois bacharis de turismo (formados pela UFF), um bolsista do projeto de extenso e dois
monitores da disciplina de Gesto de Destinos Tursticos. Os locais de coleta de dados foram ampliados, a
pedido da gesto do PESET e compreenderam: Mirante de Itaipuau, Subsede de Itacoatiara, Morro das
Andorinhas e Caminho Darwin/Engenho do Mato. Nos dois primeiros locais foram realizadas entrevistadas
durante todo o perodo e, nos dois ltimos, apenas nos sbados e domingos, dado as caractersticas de
visitao nos mesmos. A amostra total foi de 350 (trezentos e cinquenta) entrevistas. O instrumento de
pesquisa foi o mesmo, com algumas adaptaes e correes geradas pela avaliao da primeira etapa da
pesquisa (GTTAP-UFF, 2010).
A terceira etapa de coleta de dados ocorreu durante o ms de maio de 2011, em nove dias
alternados, de modo a contemplar dois finais de semana e cinco dias teis. Esses dados ainda encontram-se
em fase de tratamento e tabulao.
As perguntas fechadas do formulrio foram tabuladas no software Microsoft Excel e os resultados
expressos em valores relativos. As perguntas abertas foram analisadas atravs do estabelecimento de
categorias por similaridade das respostas. Deste modo, as respostas mais comuns so expressas nas tabelas
e nos grficos como categorias e as pouco repetidas aparecem, normalmente, como outras respostas.
Com os resultados encontrados foram gerados tabelas e grficos que mostram a realidade por local de
entrevista e a situao global do PESET. Os resultados foram apresentados ao Grupo de Turismo e ao
Conselho Gestor do PESET, em reunies ordinrias e, j serviram de base para dois trabalhos de concluso
do curso de Turismo da UFF e para alguns artigos cientficos apresentados em eventos acadmicos
nacionais e internacionais.
O perfil dos visitantes do PESET, obtido a partir das duas coletas de dados j tabuladas, nos
indicaram algumas caractersticas que consideramos peculiares para visitantes de unidades de conservao
localizadas dentro ou na periferia das reas urbanas de regies metropolitanas. Tais parques
metropolitanos tanto podem funcionar como atrativos tursticos para aqueles visitantes oriundos de outros
municpios, estados ou mesmo do exterior, assim como reas de lazer para os residentes das suas reas de
entorno. Esse uso diferenciado aponta para que as entidades gestoras dessas UCs, trabalhem com normas
de uso e controle dos impactos gerados pela visitao, mais especficas. Apesar dos dados da pesquisa
recm-realizada em 2011, ainda no terem sido totalmente tabulados, alguns resultados preliminares
indicam para uma confirmao dos resultados das pesquisas anteriores, a seguir detalhados.
De acordo com os resultados das duas etapas de pesquisa, a grande maioria dos visitantes do PESET
do sexo masculino (69,74% em 2009 e 69,43% em 2010), oriunda dos municpios circunvizinhos ao Parque
(Niteri, Maric, So Gonalo e Rio de Janeiro) que, juntos representam cerca de 90% dos visitantes. Esses
ndices indicam claramente, que o PESET utilizado, principalmente, como rea de lazer pela populao
residente na parte oriental da regio metropolitana do Rio de Janeiro.
Vale destacar que na pesquisa realizada durante as frias escolares de inverno (julho/2009), o
percentual de visitantes de outras reas foi mais significativo (22,94%) que aquele encontrado na pesquisa
de outono (maio/2010), quando representaram apenas 7,14% dos entrevistados. Essa diferena parece ir
de encontro com a nossa hiptese de que, nos perodos de frias escolares (janeiro, fevereiro julho e
dezembro,), o PESET recebe mais visitantes de fora da regio metropolitana do Rio de Janeiro,
provavelmente, turistas em viagens de frias/turismo nas cidades do Rio de Janeiro e Niteri. Podemos
confirmar isto, ainda que preliminarmente, dado que na pesquisa de inverno, 23,4% dos entrevistados
declararam ter utilizado algum tipo de meio de hospedagem (hotel, pousada, albergue ou casa de
amigos/parentes), contra apenas 7,5% dos entrevistados na pesquisa de outono (Figura 2) (GTTAP-UFF,
2009; 2010).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

310

Figura 2 Meios de hospedagem utilizados pelos visitantes


Fonte: Pesquisas GTTAP-UFF, 2009; 2010

Com relao o nvel de escolaridade, os dados encontrados nas duas etapas da pesquisa indicam
uma predominncia bastante significativa de visitantes com nvel superior (completo ou incompleto):
67,1% em julho de 2009 e, 62,3% em maio de 2010. Vale destacar que o municpio de Niteri, responsvel
por praticamente metade dos visitantes do PESET, apresenta um dos maiores ndices de escolaridades do
pas, conforme dados da Fundao CIDE e do IBGE (ibidem).
Entretanto, esse alto ndice de escolaridade no se reflete no grau de conhecimento que os
visitantes tm sobre o tipo de vegetao predominante na rea do PESET. Os resultados das pesquisas nos
indicaram que 64,9% (julho/2009) e 52,6% (maio/2010) dos entrevistados declararam no conhecer qual
era o tipo de vegetao predominante no Parque. Dentre aqueles que declararam ter conhecimento
daquela varivel, apenas 87,6% (julho/2009) e 76,5% (maio/2010), informaram corretamente que a
vegetao do PESET era de Mata Atlntica. Parece-nos incoerente que, sendo a maioria dos frequentadores
do PESET formada por pessoas com nvel superior, as mesmas desconheam um tema a Mata Atlntica
to divulgado na mdia nos ltimos tempos. Isto pode nos indicar um ponto de incoerncia entre aquele
perfil mais clssico (ou terico) de ecoturista e de ecoturismo e os atuais frequentadores do PESET, como
iremos discutir na sequencia (BRASIL, 2009).
Outro ponto que tambm revela um descompasso entre o grau de escolaridade e o perfil do
visitante do PESET esta relacionado com o grau de desconhecimento sobre a presena do cientista Charles
Darwin na rea do Parque quando de sua parada no Rio de Janeiro, durante a viagem que resultou na sua
teoria da evoluo das espcies. Na pesquisa de 2009, 75,76% dos entrevistados declararam desconhecer
aquele fato e, na coleta de 2010, 62% tambm declararam desconhecer o mesmo fato. O descompasso fica
mais evidente se recordarmos que aquele fato histrico vem sendo o foco de diversos programas de mdia
e do projeto Caminhos de Darwin, coordenado pelo Departamento de Recursos Minerais do Estado do
Rio de Janeiro (DRM-RJ).
Quanto ao tempo de permanncia no PESET, os dados encontrados so bastante equilibrados, com
a maioria dos entrevistados indicando permanecer no Parque por perodos de at duas horas (Figura 3)

Joo Pessoa, outubro de 2011

311

Figura 3 - Tempo de permanncia dos visitantes no PESET


Fonte: Pesquisas GTTAP/UFF, 2009; 2010

Por outro lado, identificou-se que a grande maioria dos entrevistados declarou estar visitando o
Parque pela primeira vez (35,9% em 2009 e, 27,1% em 2010) ou ento, visit-lo esporadicamente, sem
regularidade (24,7% em 2009 e, 25,4% em 2010). J dentre aqueles que visitam o PESET com mais
regularidade, encontramos um percentual expressivo de visitantes que o fazem semanalmente (uma ou
mais vezes): 11,3% pelas pesquisas de 2009 e 20,0% pelos resultados encontrados em 2010 (Tabela 1).

Figura 4 Tipo de atividades desenvolvidas pelos visitantes no PESET


Fonte: Pesquisas GTTAP-UFF, 2009; 2010

Tabela 1 Frequncia de visitao no PESET


2009
FREQUNCIA
Valor

2010

1 Vez
Esporadicamente
Mensal
Semanal
Mais de uma vez por semana
Anual
Quinzenal
Semestral
Sem resposta

Valor
Absoluto Relativo
83
35,93
57
24,68
22
9,52
10
4,33
16
6,93
16
6,93
15
6,49
9
3,90
3
1,30

Valor
Absoluto
95
89
50
42
28
24
11
10
1

Valor
Relativo
27,14
25,43
14,29
12,00
8,00
6,86
3,14
2,86
0,29

TOTAL

231

350

100,00

100,00

Fonte: Pesquisas GTTAP-UFF, 2009; 2010

Mais uma vez, percebe-se uma tendncia de nos perodos escolares haver uma predominncia de
visitantes oriundos das reas de entorno do PESET, que utilizam o Parque mais como uma rea de lazer. No
perodo de frias escolares h um aumento no nmero de visitantes vindos de outros municpios, estados e
pases, que utilizam o Parque como um atrativo turstico que merece ser visitado durante a sua viagem ao
Rio de Janeiro e/ou Niteri.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

312
Outro ponto a se destacar no perfil do visitante do PESET aquele relacionado com o hbito de
frequentar o Parque preferencialmente em grupos (67,53% em 2009 e 63,71% em 2010) ou com a famlia
(20,35% em 2009 e 18,29% em 2010). O percentual de entrevistados que indicaram visitar o Parque sozinho
bastante reduzido: 12,12% segundos a pesquisa de 2009 e, 17,71% pelos dados obtidos na pesquisa de
2010.
Vale destacar que essas tendncias relacionadas com o perfil do visitante do PESET ainda precisam
ser confirmadas nas prximas etapas de pesquisas. Entretanto, a nossa experincia como pesquisador e
residente na rea do entorno do PESET nos estimula a encar-la como uma hiptese bastante provvel de
confirmao.
O perfil do visitante atual e a gesto do PESET

Considerando que o
Ecoturismo um segmento da atividade turstica que utiliza, de forma sustentvel, o patrimnio
natural e cultural, incentiva sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista por meio
da interpretao do ambiente, promovendo o bem-estar das populaes. (BRASIL, 2008, p. 16),

devemos subentender que as UCs brasileiras devem ter a gesto do seu uso norteada por um perfil
de visitantes bastante diferenciado e especfico.
Segundo orientaes do Ministrio do Turismo, a prtica do ecoturismo pressupe atividades que
promovam a reflexo e a integrao homem e ambiente, em uma inter-relao vivencial com o
ecossistema, com os costumes e a histria local (ibidem, p.17). Ou seja, esse tipo de atividade caracterizase pelo contato do visitante com ambientes naturais, onde possa experenciar uma vivncia direta com
ecossistemas protegidos. Por isso, deve ser uma atividade que se norteie por produtos que contemplem a
interpretao, a conservao e a sustentabilidade do local visitado.
Apesar da falta de pesquisas sistemticas e padronizadas nas UCs, o Ministrio do Turismo nos
indica alguns pontos bsicos que caracterizam o perfil do praticante de ecoturismo no Brasil atualmente:
Entre 25 e 50 anos.
Poder aquisitivo mdio e alto.
Escolaridade de nvel superior.
Profisso de carter liberal.
Viaja sozinho ou em pequenos grupos.
Permanncia mdia no destino:
Nacional: 4 dias.
Internacional: 10 dias.
Procedncia de grandes centros urbanos.
Desejo de contribuir para a conservao do meio ambiente. (BRASIL, 2008, p. 29-30).

Podemos ainda afirmar que esse tipo de consumidor tende a ter um comportamento mais
responsvel perante os locais visitados, buscando ter um contato mais direto com as comunidades locais,
que lhes possibilitem ter experincias mais singulares e autnticas.
Quando comparamos as caractersticas acima, indicadas pelo MTur, com os resultados das duas
pesquisas realizadas pelo GTTAP-UFF no PESET, identificamos diversos pontos conflitantes ou, pelo menos,
no coincidentes. O frequentador do PESET apresenta um perfil mais prximo de um visitante que utiliza a
rea do Parque para desenvolver atividades de lazer e recreao de modo rotineiro.
A localizao do PESET dentro de uma das reas de maior intensidade de urbanizao da regio
metropolitana do Rio de Janeiro, conhecida como Regio Ocenica de Niteri, trs para a sua gesto
variveis bastantes diferenciadas em relao maioria das UCs brasileiras. A presso antrpica existente na
zona de amortecimento do Parque est diretamente relacionada com a exploso imobiliria das cidades de
Niteri, So Gonalo e Maric, iniciada com a inaugurao da ponte Rio-Niteri e, atualmente, ampliada
pela implantao do Polo Petroqumico COMPERJ, no municpio de Itabora, vizinho rea de estudo. A
abertura daquela ligao rodoviria trouxe para essa parte da regio metropolitana do Rio de Janeiro, um
crescimento urbano desordenado quase incessante, em sua grande maioria, constitudo de condomnios de
classe mdia e mdia alta, construdos e comercializados pelo forte setor imobilirio local, o que est sendo

Joo Pessoa, outubro de 2011

313
potencializado por aquele novo empreendimento do governo federal na regio metropolitana do Rio de
Janeiro.
Paralelo ao processo de institucionalizao do PESET, iniciado e apoiado at os dias atuais pelos
movimentos ambientalistas regionais, vem ocorrendo o processo de densificao da malha urbana,
provocado pelo setor imobilirio que tem fortes ligaes com os grupos polticos que administram os
governos dos municpios da regio. O conflito de interesses bastante grande e, a gesto do uso pblico do
PESET precisa incorporar e administrar essas variveis endgenas.
O crescimento acelerado da populao do entorno vem gerando o aumento do nmero de
visitantes dirios do Parque, exigido aes imediatas da sua gesto. Como o plano de manejo do PESET
ainda no foi iniciado, os atuais gestores vm atuando de forma focalizada e emergencial, com apoio do
Conselho Consultivo do Parque. Medidas at certo ponto drsticas tm sido tomadas para tentar diminuir
os impactos desse crescimento no numero de visitantes.
Uma delas, recentemente tomada, foi a proibio da visitao de grupos de estudantes de escolas
de ensino fundamental e mdio nos finais de semana e feriados. Esse tipo de grupo, oriundos de escolas da
regio metropolitana do Rio de Janeiro, bastante recorrente no e, normalmente, so grandes de acordo
com os parmetros de grupos para a prtica de ecoturismo, chegando a atingir 40 pessoas. Alm de
estarem restritos aos dias teis, esses grupos tambm devem fazer uma comunicao antecipada das suas
visitas, para que a administrao do Parque indique um funcionrio ou guarda parque para acompanhar o
grupo durante todo o tempo em que estiverem nos limites do Parque.
Consideraes finais
Os resultados das primeiras pesquisas realizadas pelo GTTAP-UFF no PESET parecem apontar para a
necessidade de uma viso diferenciada para a gesto do uso pblico nos parques urbanos, localizados
dentro ou nos arredores das grandes regies metropolitanas brasileiras.
Neles convivem tanto os visitantes com perfil tipicamente de ecoturistas e visitantes que tem no
parque a sua rea de lazer cotidiana e regular. Esses ltimos costumam indicar inclusive, que percebem as
reas dos parques como extenses de suas casas e quintais, sobre as quais entendem ter direitos plenos.
Isto se confirma indiretamente quando, nas pesquisas, so questionados sobre a implantao de uma taxa
de visitao para o PESET. A grande maioria (47, 83% em 2009 e 52,29% em 2010) dos entrevistados no
PESET se declarou contra qualquer tipo de cobrana de ingresso para o acesso ao interior do Parque.
A maioria dos trabalhos desenvolvidos sobre a questo do manejo do uso pblico de UCs brasileiras
tem colocado as comunidades das reas de entorno quase sempre, apenas como aqueles agentes sociais
que precisam ser inseridos dos processos de gesto participativa, como parceiros ou como mo de obra
para as operaes das atividades tursticas previstas. No entanto, quase nunca, essas comunidades so
vistas e contempladas como potenciais usurios da UCs.
No caso dos parques urbanos esse aspecto precisa ser observado com mais cuidado pelas equipes
gestoras. As populaes das grandes reas urbanas carecem de reas de lazer e, as UCs localizadas nos seus
limites ou arredores, tornam-se os pontos de atrao bvios para elas. Compete s equipes gestoras dessas
unidades de conservao conciliar as necessidades dos ecoturistas e dos visitantes locais. Ambos tm perfis
diferenciados, principalmente no tocante ao tempo de permanncia e ao tipo de atividade de desejam
desenvolver no interior dos parques urbanos.
Para atend-los, torna-se necessrio um novo olhar sobre a gesto do uso pblico e dos seus
impactos nos parques urbanos. Esse novo olhar pode ser estabelecido pelo profissional de turismo que,
para tanto, precisa se habilitar e se preparar para ocupar esse novo nicho que vem se revelando bastante
instigante e ampliado no contexto contemporneo das grandes regies metropolitanas brasileiras.
REFERNCIAS
BRASIL, Breno Platais Teixeira. (2009). O Uso Pblico do Parque Estadual da Serra da Tiririca: o perfil
do visitante e um desafio de gesto. Trabalho de Concluso do Curso de Graduao em Turismo,
Universidade Federal Fluminense, Niteri-RJ, 2009. 181p.
BRASIL, Ministrio do Turismo. Ecoturismo: orientaes bsicas. Braslia: Ministrio do Turismo,
2008.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

314
GIULIANI, Gian Mario et al. (2008). O Parque Estadual da Serra da Tiririca: o movimento
ambientalista de Niteri cria sua rea protegida. IN: Irving, Marta de Azevedo, et al (org) Parques Estaduais
do Rio de Janeiro construindo novas prticas para a gesto. So Carlos, RiMA. p. 55-68
GTTAP-UFF, Grupo de Trabalho de Turismo em reas Protegidas Universidade Federal
Fluminense. Relatrio da Pesquisa do Perfil do Visitante do Parque Estadual da Serra da Tiririca PESET
Julho/2009. Niteri: 2009. CD-ROM
____. Relatrio da Pesquisa do Perfil do Visitante do Parque Estadual da Serra da Tiririca PESET
Maio/2010. Niteri: 2010. CD-ROM.
MEDEIROS, Rodrigo; IRVING, Marta de Azevedo; GARAY, Irene. reas protegidas no Brasil:
interpretando o contexto histrico para pensar a incluso social. IN: IRVING, Marta de Azevedo (org.) reas
Protegidas e Incluso Social: construindo novos significados. Rio de Janeiro: Fundao Bio-Rio, Ncleo de
Produo Editorial Aquarius, 2006. p. 15-40
ROSA, Leandro Almeida de Barros (2009). Parque Estadual da Serra da Tiririca:A Comunicao
Como Instrumento De Preservao E Sustentabilidade. Trabalho de Concluso do Curso de Graduao em
Turismo, Universidade Federal Fluminense, Niteri-RJ, 144p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

315

UNIDADES DE CONSERVAO E EDUCAO AMBIENTAL: ENFATIZANDO A


NECESSIDADE DO DEBATE.
ARAJO, Aline Reis de Oliveira/ Docente do Curso de Geografia do IFPA
geografaalinereis@ yahoo.com.br
FERREIRA, Suzanna Silva/Discente do Curso de Geografia do IFPA/ Bolsista PIBICT
suzannsilva@hotmail.com

RESUMO
Este artigo surge a partir da reflexo referente necessidade cada vez maior em desenvolver a
educao ambiental crtica para que o processo de gesto das unidades de conservao acontea de
maneira responsvel, participativa e cidad. Nas trs ltimas dcadas a regio Amaznica vivenciou um
rpido processo de implementao de unidades de conservao. Cabe a anlise permanente de seus papis
em uma sociedade marcada pela desigualdade, com significativas injustias ambientais como o caso do
Brasil. Pretendemos com esta anlise, ratificar a importante contribuio que a educao ambiental possui
na gesto do territrio. Para isto, buscamos compreender a educao ambiental desenvolvida em uma
unidade de conservao da regio metropolitana de Belm no Estado do Par. Entendemos, de maneira
geral, que o processo de gesto ambiental nas unidades de conservao so carentes de uma participao
social de qualidade. Por isto, ratificamos a educao ambiental, como um processo que proporciona
mudana, e habilita os cidados a pensarem melhor seus espaos de reproduo ambiental.
Palavras-chave: Educao Ambiental, Unidades de Conservao, Gesto Ambiental, Participao
social e Cidadania.
INTRODUO
Este trabalho fruto das reflexes desenvolvidas por um grupo de pesquisa no mbito do
Curso de Geografia Licenciatura do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Par, Campus
Belm. O projeto intitulado Reflexes sobre a expanso e a criao de unidades de conservao na regio
metropolitana de Belm-PA, patrocinado pelo Programa de Bolsas de Iniciao Cientfica PIBICT do IFPA,
busca, dentre outros objetivos, analisar o processo de implementao da educao ambiental como
importante elemento do processo de gesto ambiental.
A Lei n 9795/99 que trata da Poltica Nacional de Educao Ambiental dispe em seu Art.
13, as consideraes referentes educao ambiental no-formal, definindo-a como aes e prticas
educativas voltadas sensibilizao da coletividade sobre as questes ambientais e sua organizao e
participao na defesa da qualidade do meio ambiente.
Partimos do entendimento de que a educao ambiental necessria para o bom processo
de gesto ambiental tem como princpio bsico a participao e a preparao para a cidadania. Neste
contexto nos utilizamos das discusses de Jacobi (2005) em que se diz que a educao ambiental
condio necessria para modificar um quadro de crescente degradao socioambiental, mas ela ainda no
suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000), se converte em "mais uma ferramenta de mediao
necessria entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construo
das transformaes desejadas". O educador tem a funo de mediador na construo de referenciais
ambientais e deve saber us-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prtica social
centrada no conceito da natureza. A problemtica da sustentabilidade assume neste novo sculo um papel
central na reflexo sobre as dimenses do desenvolvimento e das alternativas que se configuram. O quadro
socioambiental que caracteriza as sociedades contemporneas revela que o impacto dos humanos sobre o
meio ambiente tem tido conseqncias cada vez mais complexas, tanto em termos quantitativos quanto
qualitativos.
As Unidades de Conservao no Brasil
As unidades de conservao, como territrios propcios gesto ambiental, devem ser entendidas
em um contexto geopoltico nacional e internacional que reconhecidas no meio acadmico. Para
introduo de sua considerao, salientamos que as mesmas so fruto da importao de experincias e de
modelos de desenvolvimento econmico externos para o pas. A primeira unidade de conservao no
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

316
Brasil criada em 1937, o Parque Nacional de Itatiaia/RJ, caracterizou-se pela concepo eminentemente
preservacionista no que se refere aos recursos naturais, e que marcou a criao das primeiras unidades de
conservao no Brasil e no mundo.
Vrias crticas foram desenvolvidas com relao introduo deste modelo de conservao da
natureza nos pases do mundo subdesenvolvido, no entanto, a maior delas foi referente no considerao
da presena das populaes tradicionais nesses territrios, como nos afirma DIEGUES( 2005):
las ms recientes crticas a la inadecuacin del modelo Yellowstone a los pases subdesarrollados que
detienem una gran diversidad cultural, sobre todo de poblaciones tradicionales, provienen actualmente sin
duda, de quienes adoptan un enfoque socio ambientalista, propio de la ecologia social, o de la ecologia
socialista (o neomarxista). Una nueva modalidad de conservacin surgi entre la asociacin de movimientos
sociales que luchan por el derecho de acceso a la tierra y a los recursos naturales por parte dos campesinos,
pescadores, ribereos, pueblos de la floresta y e de sectores del ambientalism del Tercer Mundo, para
quienes la crisis ambiental est profundamente asociada a la crisis del modelo de desarrollo, a la misria
creciente y a la degradacin ambiental.

Foi durante o sculo XX, principalmente a partir da dcada de 30, que tivemos uma verdadeira
onda preservacionista, que culminou com a criao de unidades de conservao pelo mundo todo. No
Brasil, a criao de tais unidades de conservao ocorreu em maior quantidade a partir da dcada de 70 em
um momento histrico centralizador e autoritrio: o regime militar. Contexto que contribuiu para que as
primeiras formas de gesto e implementao de nossas unidades de conservao assumissem um carter
tradicional e inaceitvel para os dias atuais. Em decorrncia da expanso rpida e degradadora da fronteira
amaznica, as polticas governamentais decretavam as reas protegidas sem qualquer estudo consistente
sobre as realidades locais, simplesmente o processo de implementao era feito de cima para baixo,
objetivando como que num passe de mgica a proteo de grandes reas naturais. Neste contexto, as
polticas pblicas contriburam significativamente para o acirramento de vrios conflitos scio-ambientais
na regio amaznica.
Segundo Diegues (2005), um outro motivo responsvel pela rpida expanso e criao das unidades
de conservao no pas, e especialmente na regio amaznica, se deu em virtude da presso ambiental
internacional, decorrente do conhecimento dos impactos negativos que os grandes projetos econmicos
causaram aos ecossistemas ricos em biodiversidade. Os organismos internacionais acabaram acatando,
como itens de negociao de concesso de emprstimos, garantias mnimas de proteo aos direitos
humanos e ambientais dos locais impactados por tais projetos:
essa poca coincidi con el gran endeudamiento externo brasileo, causado por la solicitud de
financiacin a entidades bi o multinacionales. Estas organizaciones, como el Banco Mundial y el BID,
comenzaron a imponer y hacer respetar clusulas de conservacin ambiental para grandes proyectos
(creacin de reas protegidas, reas indgenas) sobre todo en la Amaznia.(DIEGUES, 2005, p 39)

Assim, pode-se afirmar que j na dcada de 70, independente da legislao ambiental brasileira, os
organismos internacionais j haviam estabelecido um sistema de compensao s populaes locais, que
foram impactadas em seus modos de vida e reproduo scio-espacial, a partir de obras infra-estruturais
causadoras de significativos impactos ambientais. Como forma de compensao, recomendava-se a
criao de unidades de conservao, que por muito tempo, e pode-se afirmar que at hoje, mesmo com
todo o avano em suas caracterizaes e com toda contribuio do debate cientfico, continuam com
problemas de gesto gravssimos, constituindo o que alguns autores chamam de parques de papel.
A atuao dos governos, como acontece no Brasil, tem promovido a criao das unidades de
conservao, mas no se pode dizer o mesmo em relao ao gerenciamento. Por isso, as unidades de
conservao no Brasil, tem sido caracterizadas por certos autores como fices jurdicas e parques de
papel. MORSELLO ( 1999) apud VALLEJO ( 2004, p.2).

O Sistema Nacional de Unidades de Conservao, ou SNUC como mais conhecido, consolidou-se


aps mais de uma dcada de discusso, proporcionada, sobretudo, a partir dos interesses de classes
confrontados e disputados no mbito da delimitao dos territrios protegidos e de sua instituio legal.
Ainda que as primeiras medidas conservacionistas brasileiras tenham sido importadas, estas experincias
sero fundamentais para a criao de um modelo prprio. Assim, gradativamente, as polticas ambientais
Joo Pessoa, outubro de 2011

317
brasileiras vo ganhando corpo e identidade. Um exemplo do crescimento do entendimento da temtica
ambiental o decreto Lei n 6.938/81 que estabeleceu o Sistema Nacional de Meio Ambiente/SISNAMA e a
Lei n 2.892/02 que estabeleceu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao/SNUC. Somente na
dcada de 1980, com o advento da Lei n 6.938, de 31.08.1981, que a questo ambiental foi tratada de
uma forma mais ampla. A referida lei dispe sobre a Poltica Nacional de Meio Ambiente- PNMA, e constitui
o Sistema Nacional do Meio Ambiente- SISNAMA. E como no poderia deixar de ser, a lei da PNMA tem
como um de seus princpios a proteo dos ecossistemas, com a preservao de reas representativas
(artigo 2, inciso IV). Uma das formas de se proteger esses ecossistemas atravs da criao, pelo poder
pblico, de espaos especialmente protegidos (art. 9 inciso VI) e dentre eles esto as unidades de
conservao- UCs.
De acordo com Kelecom e Bernardo (2007), dos treze objetivos que compe o Sistema Nacional de
Unidades de Conservao/ SNUC, quatro se destacam e norteiam o texto geral, so eles: conservao da
natureza, aproveitamento pblico, pesquisa cientfica e uso econmico de seus componentes. A partir
desses princpios que teremos os tipos especficos de unidades de conservao, em maior ou menor
escala, um ou vrios desses objetivos, salvaguardado a primazia absoluta da finalidade conservacionista.
Inclusive, por vezes, as caractersticas entre uma e outra unidade de conservao se misturam e se tornam
de difcil diferenciao, o que provoca a confuso em torno do entendimento das mesmas, tornando-as de
dificultosa compreenso para o pblico em geral. No mbito do SNUC, h algumas diretrizes que devem ser
seguidas para que seus objetivos sejam alcanados:
As UCs devem possuir amostras significativas e ecologicamente viveis das diferente populaes,
habitats e ecossistemas do territrio nacional;
Participao popular, desde a criao, implantao e gesto das UCs, de forma mais genrica, at o
apoio e a cooperao de organizaes no governamentais,
Organizaes privadas e pessoas fsicas para o desenvolvimento de estudos, pesquisas cientficas,
prticas de educao ambiental, atividades de lazer e de turismo ecolgico, monitoramento e manuteno
das UCs de forma mais especfica.

Dentre os vrios benefcios advindos da implantao do SNUC, apoiada em Kelecom e Bernardo


(2007), possvel apontar a prpria organizao das categorias de unidades de conservao, pois antes de
existir um sistema centralizador, cada Estado da federao criava sua prpria categoria, contribuindo para
uma maior confuso no entendimento das unidades de conservao. Ressalta-se o fato de se criar
mecanismos para coibir os usos inadequados do solo (regulamentao jurdica), e ainda, a obrigatoriedade
da participao da sociedade na gesto das UCs, via gesto compartilhada, prevista em lei por meio de uma
OSCIP- Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico.
Apesar dos problemas inerentes ao SNUC, a referida lei representa um avano para a legislao
brasileira, com nfase para os aspectos democrticos que estimulam a participao e consulta popular.
A expanso da criao das Unidades de Conservao na Amaznia
No contexto internacional de valorizao e preocupao com os recursos naturais, a Amaznia se
destaca por sua considervel extenso territorial e presena de capital natural. Se no mbito global ocorre
a intensificao dos fluxos de pessoas, informaes, mercadorias etc., possibilitada pela expanso das redes
tcnicas, na Amaznia esses fluxos no aparecem de forma to significativa a ponto de apresentarem-se
como uma de suas caractersticas especficas. A regio passa a ser resignificada. Seu significado ecolgico
foi ressaltado e passa a ser compreendido a partir de duas vertentes: o da sobrevivncia humana (tanto em
escala local, quanto nacional e global) e o da presena do capital natural, conforme Becker (2004) analisa.
A regio amaznica, por sua especificidade natural, concebida a partir de suas potencialidades
atuais e futuras. Discute-se a transio de uma economia de fronteira para economia com base no conceito
de desenvolvimento sustentvel.
A Amaznia vivencia uma verdadeira contradio entre seu modelo industrialista e
ecodesenvolvimentista que se concretiza em torno de dois vetores de transformao regional: o tecnoecolgico e o tecno-industrial. A existncia do vetor tecno-ecolgico se manifesta numa profunda mudana
na poltica territorial, a partir de meados da dcada de 1980, configurando a transio para o

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

318
desenvolvimento sustentvel. A varivel ambiental, apoiada na importncia e abundncia dos recursos
naturais existentes na regio, foi definitivamente includa no discurso e na definio de polticas pblicas.
Em decorrncia desta nova forma de pensar o espao amaznico a nvel internacional e nacional,
novos recortes territoriais correspondentes multiplicao de vrios tipos de reas reservadas e projetos
comunitrios se configuram sobre a regio.
Nesse contexto, observa-se a implantao das unidades de conservao (UCs), que devem ser lidas
sob trs pontos de vista: o da perspectiva endgena, de atendimento s necessidades das populaes
locais, como exemplo temos a criao das Reservas Extrativistas (uso direto); o da perspectiva exgena,
expressa pelas recomendaes ambientais internacionais de criao de grandes reas protegidas e
implantao dos Corredores de Conservao ou Ecolgicos, que correspondem a uma revoluo no
planejamento de conservao; e por ltimo, como recorte geopoltico, estratgia de Estado e at mesmo
de coorporaes e empresas, que vem neste tipo de ao uma oportuna possibilidade de apropriao de
determinados espaos.
A implementao de novas UCs, oriunda de demandas exgenas e endgenas passa a fazer parte
das polticas pblicas. Em nvel federal, o governo estabelece um Programa de reas Protegidas, que
pretende criar na Amaznia uma verdadeira rede de conservao da natureza, conforme foi estabelecido
durante a Conferncia Rio +10, realizada na frica do Sul, onde, de acordo com Becker (2004, p.109), foi
lanado o Programa de reas Protegidas da Amaznia/ ARPA..o programa vai proteger 500.000 km da
Amaznia at 2012.....significando transformar 12% das florestas amaznicas em parques ou reservas
extrativistas.
Unidades de Conservao em Belm do Par: Caracterizando o objeto de anlise
A rea de Proteo Ambiental do Comb uma rea de proteo ambiental de uso sustentvel
criada por meio do Decreto de Lei n 6083/97, de responsabilidade da Secretaria de Estado de Meio
Ambiente/SEMA em 13 de novembro de 1997. A criao da APA da Ilha do Comb, localizada a 1,5 Km de
Belm na margem esquerda do Rio Guam em frente orla da cidade de Belm, decorreu da necessidade
de proteo aos aaizeiros, explorados de forma inadequada para extrao do palmito, e para minimizar
outros problemas ambientais vivenciados pela populao residente na Ilha. Segundo a Lei que regulamenta
a APA, em seu interior proibido ou limitado a implantao de indstrias potencialmente poluidoras.
A APA tem como objetivos bsicos a proteo da diversidade biolgica, disciplinar o processo de
ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. A lei de criao da APA da Ilha do
Comb afirma que so proibidos ou limitados a implantao e funcionamento de empreendimentos
potencialmente poluidores que venham causar qualquer dano fauna e flora local, no entanto, podem
ser utilizados instrumentos legais para incentivos financeiros governamentais, a fim de proteger o uso
racional dos recursos naturais, impedir atividades causadoras de sensvel degradao da qualidade de vida
ambiental e principalmente derrubada de aaizeiro, para comrcio do palmito.
Os maiores problemas enfrentados por seus habitantes so a falta de gua potvel; de
esgotamento sanitrio; de saneamento bsico, enfatizando-se o destino inadequado do lixo produzido
pelos moradores ou mesmo trazido de Belm at ilha pela fora das mars.
A criao da APA longe de assegurar as comunidades um desenvolvimento sustentvel (Beira do
Rio, Igarap Comb, Igarap Piriquitaquara e Furo So Benedito a Preservar- com aproximadamente 200
famlias), sem fiscalizao eficaz e planejamento pratica-se na Ilha a extrao e comercializao de
produtos como banana, cacau, andiroba, cupua, jambo, limo, birib entre outros, principalmente o aa,
sendo estas as atividades econmicas desenvolvida na Ilha, com certo descontrole.
Com aproximadamente 1500 ha e apresentando atrativos naturais e beleza cnica de grande
importncia, com variados ecossistemas de igaraps, furo, mata fechada, e inmeras espcies de fauna e
flora, a Ilha do Comb, ainda que nominada como rea de Proteo Ambiental apresenta inmeros
problemas como os de inundaes no perodo de mars altas; lixo e eroso do solo; ausncia de polticas
pblicas populao local; precrio sistema de esgotamento sanitrio e consumo da gua do rio por parte
dos moradores da Ilha,dentre outros...
Ainda que os trabalhos de pesquisa que norteiam estas anlises estejam em fase inicial, j
possvel visualizarmos algumas questes referente importncia da educao ambiental na APA Comb. A
comunidade que vive nesta ilha localizada em frente Belm, apresenta um modo de vida bastante
Joo Pessoa, outubro de 2011

319
afetado pelo fluxo de mercadorias, de pessoas, e de demanda pelos recursos naturais locais, oriundos de
Belm. As trocas, a explorao da ilha por parte das demandas dos habitantes da cidade, tem colocado
condies perversas para os moradores da ilha, que se vem em condio de reproduo scio econmica
muito desfavorvel. A implementao de um espao protegido, que a APA, ainda no trouxe os benefcios
esperados. Entendemos que estes, por sua vez, s sero alcanados, ou minimamente debatidos, quando a
educao ambiental cidad for uma prtica real e exeqvel no ambiente observado. Assim, partindo da
observao da paisagem, e a partir das pesquisas bibliogrficas, sugerimos que a realidade de excluso e
no participao cidad seja revertida a partir do debate da educao ambiental.
A Educao Ambiental que se deseja e se compreende como necessria
Muito se tem escrito sobre a trajetria da educao ambiental no aspecto internacional e
nacional. Neste artigo, no cabe este tipo de anlise j feita de forma coerente por vrios autores
brasileiros. Mas pertinente que se enfatize as bases dos principais dilemas que se desenvolvem em torno
do debate de educao ambiental, para que ento saibamos nos posicionar sobre que prxis e
compreenso terica pertinente realidade observada.
Dados de LOUREIRO (2003) nos afirmam que no Brasil, a educao ambiental se fez tardiamente.
Apesar da existncia de registros de projetos e programas desde a dcada de 1970, efetivamente em
meados da dcada de 1980 que ela comea a ganhar dimenses pblicas de grande relevncia. Em termos
oficiais e de destaque para o conjunto da sociedade, aparece na Constituio Federal de 1988, Captulo VI,
sobre meio ambiente, no seu artigo 225, pargrafo 1o, inciso VI, no qual se l que compete ao poder
pblico promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a
preservao do meio ambiente.
Concordamos com Layrargues (2009) quando define a educao ambiental com
compromisso social sendo aquela em se articula a discusso da relao entre o ser humano e a natureza
inserida no contexto das relaes sociais.
aquela que propicia o desenvolvimento de uma conscincia ecolgica no educando, mas que
contextualiza seu projeto poltico-pedaggico de modo a enfrentar tambm a padronizao cultural, excluso
social, concentrao de renda, apatia poltica, alm da degradao da natureza. aquela que enfrenta o
desafio da complexidade, incorporando na reflexo categorias de anlise, como trabalho, mercadoria e
alienao. aquela que expe as contradies das sociedades assimtricas e desiguais. (p. 28)

Assim, entendemos que a educao ambiental no processo de gesto ambiental define, conforme
LOUREIRO (2003) que a participao um processo social que gera a interao entre diferentes atores
sociais na definio do espao comum e do destino coletivo. Em tais interaes, como em quaisquer
relaes humanas, ocorrem relaes de poder que incidem e se manifestam em nveis distintos em funo
dos interesses, valores e percepes dos (as) envolvidos (as).
Assim, LOUREIRO (2003) cita que um dos objetivos da educao ambiental utilizar a servir de
fomento aos conselhos, a fim de se obter uma gesto que possa, em dilogo com a populao do entorno
ou inserida em seus limites, chegar a uma situao em que a sustentabilidade das condies gerais de vida
desses grupos sociais auxilie na preservao, atenuando presses degradantes sobre o patrimnio natural.
Tecendo algumas consideraes
Ao nos depararmos com a realidade das unidades de conservao observadas em plena
capital amaznica, bastante perceptvel identificar a fragilidade da participao local nos processos
decisrios que envolvem os territrios de reproduo social. Torna-se imperiosa a implementao de uma
educao ambiental crtica que habilite os indivduos a pensar seus espaos de ao e reproduo social,
de maneira satisfatria e responsvel.
Para dar conta de rdua tarefa, compete ao poder pblico implementar aes
permanentes, integradas e fomentar a participao da comunidade nos processos de educao e gesto
ambiental, mas cabe tambm sociedade civil organizada, s instituies de ensino, mdia, aos rgos de
pesquisa, etc, estimularem e desenvolverem o debate em torno da educao ambiental, para que todos
percebam seus papis, dentro de uma sociedade complexa como a atual, que vive uma verdadeira crise
paradigmtica, em que j no se pode conceber os problemas sociais e ambientais de maneira fragmentada
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

320
e pontual. Est claro que h um jogo de poderes, que se manifestam nos conflitos sobre o uso dos recursos
naturais e que deve ser conduzido pela decrescente desigualdade social e econmica que h na realidade.
Pensar e implementar a educao ambiental de forma crtica, permanente, integradora,
interdisciplinar e sobretudo, transformadora, romper com o debate em torno de uma educao
ambiental que se pensa e se faz com atos isolados, em que cada individuo faz sua parte, no contexto da
reproduo social e econmica vigente. Por isso, o debate em torno de um educao ambiental cidad
fundamental para que cidados historicamente excludos das possibilidades de maior desenvolvimento
humano e social, enxerguem o to propalado desenvolvimento humano como possibilidade.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARAJO, A. R. de. O. Os Territrios Protegidos e a Eletronorte na rea de influncia da UHE TucuruPA. Dissertao de Mestrado. PPGEO/UFPA/2008.
BECKER, Bertha. Amaznia- Geopoltica na virada do III milnio. Rio de Janeiro:Garamond: 2004.
BRITO, Maria Ceclia Wey de. Unidades de Conservao: intenes e resultados. 2 ed. So Paulo:
Annablume, Fapesp, 2003.
CASTRO, R. S d. LAYRARGUES, P.P. LOUREIRO, C. F. B. Repensar a Educao Ambiental- Um olhar
crtico. So Paulo, Cortez , 2009.
DIEGUES, Antnio Carlos S. Populaes Tradicionais em Unidades de conservao: O Mito Moderno
da Natureza Intocada. In: Cincias Sociais e a Questo Ambiental: Rumo Interdisciplinaridade. Maimon,
Dlia. Vieira, Paulo Freire (org). Aped/UFPA, 1993.
DIEGUES, Antnio Carlos. El Mito Moderno de La Naturaleza Intocada.
JACOBI, P. R. Educao Ambiental: o desafio da construo de um pensamento crtico, complexo e
reflexivo. Educao e Pesquisa, So Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-250, maio/ago. 2005 233
LOUREIRO, Carlos F. AZAZIEL, N Franca. (Orgs) . Educao ambiental e gesto participativa em
unidades de conservao .Rio de Janeiro : Ibase : Ibama, 2003.
MORSELLO, Carla. reas protegidas pblicas e privadas: Seleo e Manejo. So Paulo: Annablume,
Fapesp, 2001.
QUINTAS, J. S. A Educao no Processo de Gesto Ambiental. In: Educao Ambiental no Brasil.
MEC. TV ESCOLA. SALTO PARA O FUTURO. ANO XVIII Boletim 1, Maro de 2008.

Joo Pessoa, outubro de 2011

321

EDUCAO AMBIENTAL NO PARQUE ESTADUAL DA CHACRINHA (RJ)


Amanda Santos MACHADO
Universidade Veiga de Almeida RJ. Graduanda em Curso de Bacharelado em Engenharia Ambiental
E-mail: amandasantosmachado@ig.com.br
Aline Guimares Monteiro TRIGO
Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckow da Fonseca CEFET-RJ. Av. Maracan, 229, Maracan, Rio de
Janeiro, CEP 20271-110. Professora Adjunta do CEFET-RJ
E-mail: amonteiro@cefet-rj.br, aj.trigo@ig.com.br

RESUMO
Este artigo demonstra a importncia da educao ambiental na primeira etapa de desenvolvimento
cognitivo da criana, por meio da abordagem construtivista, que explica a aquisio do conhecimento na
perspectiva daquele que aprende, e da aplicao de atividades ldicas, influenciando, a forma como as
crianas iro lidar com o mundo que os cerca. O estudo iniciou-se a partir da experincia adquirida durante
o trabalho voluntrio realizado em uma rea de Proteo Ambiental (APA), a APA do Marapendi, para que
depois fosse viabilizado no Parque Estadual da Chacrinha, localizado tambm no municpio do Rio de
Janeiro. No Parque, vrios tipos de projetos de educao ambiental foram elaborados, permitindo
desenvolver uma maior percepo ambiental acerca das causas e conseqncias da degradao ambiental
e contribuir para a formao de um cidado crtico e consciente ambientalmente.
Palavras-Chave: Educao Ambiental, Atividades Ldicas, Projetos ambientais.
INTRODUO
O tema educao ambiental um assunto que vem sendo bastante discutido, devido s atuais
condies ambientais. No entanto, poucos projetos vm sendo desenvolvidos especificamente com
crianas, considerando que as mesmas constituem a gerao futura, responsvel tambm pela preservao
do planeta. A ausncia de projetos que atuem de forma integrada a outras disciplinas, nas instituies de
ensino, est associada, principalmente, falta de capacitao de professores e orientadores para atuar na
rea ambiental, bem como sobrecarga de contedo, que no permite a realizao de trabalhos
relacionados aos temas transversais. Outro fator que dificulta a integrao dos indivduos ao meio
ambiente o apelo tecnolgico, com o aumento de jogos, brinquedos eletrnicos, TVs, que afastam as
crianas do ambiente natural em que esto inseridas, principalmente do convvio com os indivduos e a
natureza.
Portanto, este trabalho vem demonstrar a importncia da educao ambiental na etapa da
educao infantil (crianas at 6 anos de idade), de forma que no seja abordada apenas como uma parte
da cincia biolgica, mas sim, uma rea de conhecimento que deve estar integrada s demais reas de
conhecimento humano, seja em carter formal ou informal.
Neste estudo, a maneira com que a criana ser estimulada se d por meio da aplicao de
atividades ldicas e interativas, e tendo como princpio bsico para a construo do conhecimento a
abordagem construtivista de Piaget. Isto permite incentivar a criana a pensar e refletir, demonstrando, na
prtica, as causas e as conseqncias das aes antrpicas prejudiciais e favorveis ao meio ambiente.
Acredita-se, com isso, que o indivduo cresa com uma viso mais ampla sobre o que se deve fazer com os
recursos naturais e a forma de preserv-los, tornando-o, questionador e praticante de aes em prol de um
ambiente sustentvel.
UMA FORMA ABRANGENTE DE EDUCAO: A EDUCAO AMBIENTAL
Atingir todos os cidados, atravs de um processo pedaggico participativo permanente, incutindo
no educando uma conscincia crtica sobre a problemtica ambiental, de forma que seja capaz de captar a
origem e a evoluo de problemas ambientais, o desafio da educao ambiental.
A proposta de educao ambiental apresentada por Telles et al. (2007) vai ao encontro ao que o
Ministrio da Educao e Cultura (2009) espera que ocorra com aqueles que venham trabalhar com a
educao ambiental, no qual o indivduo adquire conscincia do seu meio ambiente, passando a interagir
com este, por meio de conhecimentos, experincias, habilidades e valores, sendo capaz de agir, individual e
coletivamente, para a melhoria das problemticas ambientais.
Educao Ambiental trata-se de um processo contnuo de aprendizagem das questes relacionadas
ao espao onde ocorre interao dos componentes biticos e abiticos, os quais regem a vida em todas as
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

322
suas formas. Dessa maneira, a Educao Ambiental propicia o aumento de conhecimentos, a mudana de
valores e o aperfeioamento de habilidades, que materializam as condies bsicas para que o ser humano
assuma atitudes e comportamentos que estejam em harmonia com o meio ambiente (MEC, 2009, p. 50).

O episdio Rio 92 estendeu e demonstrou a todos indivduos e setores governamentais e no


governamentais a preocupao ambiental, na qual a educao ambiental foi caracterizada por:
Incorporar as dimenses socioeconmicas, poltica, cultural e histrica, no podendo se basear em
pautas rgidas e de aplicao universal, devendo considerar as condies e estgio de cada pas, regio e
comunidade, sob uma perspectiva histrica. Assim sendo, a educao ambiental deve permitir a
compreenso da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependncia entre os diversos
elementos que conformam o ambiente, com vista a utilizar racionalmente os recursos no presente e no
futuro (CORDANI, 1997, p.33).

Sete anos depois, a lei n 9795, de 27 de abril de 1999, veio formalizar o processo de educao
ambiental, por meio da Poltica Nacional de Educao Ambiental, afirmando que:
Educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em carter formal e
no-formal (art. 2).

importante ressaltar a ao dos vrios integrantes do espao escolar na construo das condies
necessrias para que a escola alcance junto aos alunos uma viso socioambiental e que isto se perpetue
para o ambiente externo escola. Para tanto, Prado et al. (2005) esclarecem que os professores e
orientadores/ monitores educacionais precisam dominar o assunto e buscar com os alunos/crianas mais
informaes, no decorrer das atividades. Seja, pesquisando em livros, conversando com os colegas das
outras disciplinas, ou convidando pessoas da comunidade para fornecer informaes, atravs de pequenas
entrevistas.
No espao fora da escola, deve haver uma maior flexibilidade no uso de mtodos que promovam a
educao ambiental, principalmente para um pblico que apresenta caractersticas variadas, segundo a
faixa etria, nvel de escolaridade, nvel de conhecimento da problemtica ambiental, entre outros
aspectos (CASTRO, 2004). Neste contexto, vem sendo construdas atividades ldicas que fazem com que
eles interajam uns com os outros e expressem suas opinies sobre variados temas ambientais,
considerando que se trata de um indivduo que se encontra em constante modificao emocional, cognitiva
e social. Significando assim, que as vivncias adquiridas ao longo de seu desenvolvimento influenciaro no
comportamento futuro.
Segundo Noal (2005), as atividades em educao ambiental precisam incentivar a ruptura com os
pressupostos da educao moderna, sob pena de se continuar a reproduzir tudo o que ajudou a mutilar a
educao como um todo, o que inviabiliza a realizao da Educao Ambiental como uma prtica que leve
reflexo e ao alargamento do conceito e da cidadania.
Neste estudo, o foco se d nos indivduos de at 6 anos, que se encontram na educao infantil,
que a primeira etapa do desenvolvimento cognitivo da criana e que influencia, diretamente, na forma
como ela ir lidar com o mundo que a cerca. A criana, independentemente de sua idade, um indivduo
com seu desenvolvimento fsico, motor, emocional, cognitivo, e social em fase de construo. Portanto,
capaz de se expressar, assimilar conhecimentos e construir a sua realidade quando est praticando alguma
atividade.
O uso da abordagem construtivista de Piaget (2005) explica a aquisio do conhecimento cientfico
na perspectiva da criana ou daquele que aprende. O seu estudo principalmente centrado em
compreender como o aprendiz passa de um estado de menor conhecimento a outro de maior
conhecimento, o que est intimamente relacionado com o desenvolvimento pessoal do indivduo.
Para Piaget (2005), o sujeito estabelece a ao de troca com o meio, a partir de duas dimenses: a
assimilao e a acomodao. Estes aspectos so importantes para conhecer e compreender a relao de
interao do indivduo com seu ambiente. Por isso, esse sujeito age ativamente sobre o objeto, de forma
assimil-lo, apropriando-se desse objeto. Com isto, cria para este objeto um significado prprio, na medida
em que o interpreta de acordo com a sua possibilidade. Ou talvez, o sujeito por no ter as estruturas
cognitivas suficientemente maduras, age no sentido de se transformar ajustando-se s resistncias
Joo Pessoa, outubro de 2011

323
impostas pelo objeto do conhecimento e agindo sobre suas prprias estruturas, alterando-as para
acomodar o objeto experimentado. E assim, estas duas dimenses, assimilao e acomodao, esto
intimamente ligadas, de forma que, sem assimilao (interpretao ativa), de determinado objeto
(contedo) no haveria a acomodao das estruturas psicolgicas do aluno.
O uso das atividades ldicas, segundo Telles et al. (2007), ajuda a estimular as crianas a pensar e
refletir com o objetivo de que elas cresam com uma viso ampla sobre os recursos naturais e para que no
futuro venham a preservar o meio ambiente. Essas atividades por serem executadas, na maioria das vezes,
em grupo proporcionam uma interatividade maior entre os indivduos e um desenvolvimento no
comportamento futuro dos mesmos.
DESCRIO DO LOCAL DE ESTUDO: PARQUE ESTADUAL DA CHACRINHA
O Parque Estadual da Chacrinha est localizado no bairro de Copacabana, no municpio do Rio de
Janeiro. Apesar de se encontrar em uma rea urbana densamente ocupada como Copacabana, o parque
representa o ltimo refgio para algumas espcies como o mico-estrela, o gamb, o tatu, o gavio-carij, a
coruja, o anu-branco, o anu-preto e o sanhao. Desempenha, ainda, um papel de destaque para a
amenizao do clima e preservao do ecossistema. Na flora do parque podem ser encontradas espcies
como embaba, guatambu e paineira (INEA, 2011).
Muito procurado por moradores vizinhos e alunos das escolas prximas, o parque apresenta
espaos destinados recreao, esporte e ginstica. As trilhas so bastante utilizadas por visitantes e
montanhistas, e do acesso ao alto do Morro de So Joo.
METODOLOGIA
Os projetos desenvolvidos no Parque da Chacrinha tm por objetivo estimular um processo
de atividade coletiva que desenvolva a percepo ambiental, permitindo aos indivduos encontrar solues
para os impactos ambientais.
O tema a ser trabalhado pelos projetos no Parque Ecossistemas da cidade do Rio de Janeiro que
visa fornecer informaes sobre os ecossistemas da cidade do Rio de Janeiro, evidenciando as
caractersticas do ecossistema, os animais e vegetais nativos e introduzidos. Dessa forma, torna-se possvel
identificar as causas dos impactos ambientais sofridos pelas espcies de fauna e flora desse ambiente.
A implantao dos projetos segue uma sistemtica que empreendida junto ao pblico infantil:
Explorar e entender a situao problemtica;
Identificar os elementos do meio (a gua do rio e os animais ribeirinhos, por exemplo) e os
personagens ou grupos implicados (habitantes, associaes de moradores do bairro, o prefeito, o governo
e outros, por exemplo);
Identificar e compreender as opinies e os valores de cada um;
Definir o problema, guiando-se pelo que percebem ou entendem dele (por exemplo: a gua cheira
mal, a gua est contaminada, ningum cuida do rio, etc.);
Refletir sobre a relao entre as posies e valores das pessoas em uma situao problemtica,
assim como sobre a complexidade de situaes deste tipo;
Identificar e avaliar as solues possveis;
Escolher uma soluo (ou um conjunto de solues).
Sero descritos para o tema selecionado, os projetos que foram desenvolvidos no Parque da
Chacrinha, de forma ldica, enfocando a faixa etria, o tempo estimado da atividade, os materiais, o
mtodo e os resultados esperados.
a) Projeto Painis Informativos
- Materiais necessrios: Cartolina, cola, recortes de revistas e textos.
- Tempo estimado: De 5 at 10 minutos.
- Faixa etria: A partir de 4 anos.
- Mtodo:
Atravs da construo de painis, com o uso da cartolina, cola, recortes e textos informativos, esta
atividade tem o objetivo de mostrar e relatar para as crianas algumas caractersticas dos ecossistemas
encontrados. Cabe ressaltar que as informaes devem ser passadas de maneira diferenciada de acordo
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

324
com a idade e a compreenso do grupo de crianas. O monitor deve realizar perguntas constantes que
estimulem o interesse pelo assunto, como por exemplo: O que est sendo mostrado nos painis?, Qual
a diferena entre tais animais?, Em quais ambientes encontram-se esses animais?, e assim por diante,
dificultando as perguntas de acordo com a idade do indivduo. Normalmente, trabalha-se com o
questionamento que estimula o aprendizado e favorece a aceitao da informao. O objetivo que a
criana participe da atividade e perceba, junto com o monitor, os impactos presentes nos ecossistemas,
estimulando-os a buscar solues para os problemas encontrados.
- Resultado esperado:
Espera-se que a criana assimile a informao e tome conscincia de que o ecossistema faz parte
do ambiente em que ela vive, do qual a mesma depende, e por isso, deve utilizar os recursos naturais de
forma racional, contribuindo para a qualidade ambiental do ecossistema e de sua prpria qualidade de
vida.
b) Projeto Vivendo e Brincando com o Meio Ambiente
- Materiais necessrios: Gibis, cartilhas e lpis.
- Tempo estimado: 30 a 40 minutos, em mdia.
- Faixa etria: De 4 a 12 anos.
- Mtodo:

Figura 2: Cartilha desenvolvida pelos monitores no Parque Estadual da Chacrinha


Este projeto composto por duas atividades, as quais so: Interagindo com o meio ambiente e
Leitura de gibis e cartilha (Figura 1). A primeira consiste em levar a turma de crianas para um ambiente:
jardim de uma escola ou para o prprio Parque da Chacrinha, identificando os seres vivos que podem ser
encontrados neste local: plantas, insetos, etc. Busca-se, neste momento, incentivar a curiosidade do grupo.
Deve-se enfatizar a necessidade de inform-los acerca de no emitirem barulhos e andarem sempre pela
trilha como medida de segurana, a fim de observar uma maior quantidade de animais. Fala-se acerca da
importncia do ecossistema, dos seres habitantes, dos seres intrusos e da interao do homem com o
meio, verificando a capacidade do grupo em encadear e operar as situaes vivenciadas.
A durao desta atividade varia com a faixa etria. Geralmente crianas mais jovens no tm muita
resistncia e cansam facilmente. Neste caso, indicado que a atividade seja realizada de 15 a 20 minutos
no mximo, j com crianas mais velhas, de 9 a 12 anos, pode-se estimar um tempo de 25 a 30 minutos.
A distribuio e leitura de gibis e cartilhas podem ser feitas como opo durante as atividades. A
durao da mesma est em torno de 10 a 15 minutos, para crianas que ainda no sabem ler, o monitor
deve orientar a realizao desta atividade. um momento em que as crianas podem desenvolver sua
capacidade de raciocnio e concentrao, bem como relembrar as informaes durante a primeira
atividade. As cartilhas trazem atividades para colorir e jogos que buscam estimular a capacidade de pensar.
- Resultado esperado:
Joo Pessoa, outubro de 2011

325
Com essas atividades, espera-se que as crianas sejam capazes de captar e assimilar as informaes
relacionadas ao ecossistema, reconhecendo, principalmente, as causas e as conseqncias ao ambiente.
c) Projeto Horta no Parque
- Materiais necessrios: Aventais, composto orgnico, sementes, materiais para formar os canteiros
(redes ou estacas de madeiras), regador e p.
-Tempo estimado: 30 minutos.
- Faixa etria: De 4 at 12 anos.
- Mtodo:

Figura 3: Horta no Parque Estadual da Chacrinha


O Projeto Horta no Parque (Figura 2) trata de ensinar as noes bsicas de como cultivar um
alimento em uma horta. Esta atividade pode ser desenvolvida nas escolas e nos parques, como foi
evidenciado na figura. A atividade inicia no preparo dos canteiros, na produo do composto orgnico, na
semeadura, no transplante, no plantio at a colheita. Os alimentos presentes na horta so alface, chicria,
cenoura, rabanete, beterraba e plantas aromticas, como manjerico, alecrim e pimenta. No Parque da
Chacrinha, foi realizada a atividade com crianas com deficincia fsica e mental. O composto orgnico foi
produzido pelas crianas a partir de uma mistura de restos de vegetais e animais em decomposio.
- Resultado esperado:
Espera-se que as crianas saibam trabalhar em grupo, respeitando os colegas e reconhecendo a
importncia dos recursos naturais, como solo, gua, ar e sol no desenvolvimento dos vegetais e legumes.
d) Projeto Pescando Conscincia
- Materiais necessrios: Caixote, cartolina, serragem, fita, canetinha e lpis de cor, tesoura, cola, e
saco plstico preto picotado.
- Tempo estimado: 1 hora.
- Faixa etria: De 6 at 9 anos.
- Mtodo:
Produz-se uma lagoa poluda, utilizando caixote, cartolina, serragem e plstico preto picado. Na
lagoa, observam-se, alm da poluio, os seres que nela vivem. Os peixes so produzidos com cartolina,
canetinha e fita. Neles, estaro descritas informaes sobre a poluio ou sobre o ecossistema daquela
lagoa. Ao pescar o peixe, a criana dever ler a mensagem, no caso de uma pergunta, dever respond-la.
A partir de ento, o monitor mediar as respostas e passar as informaes sobre os aspectos e impactos
verificados na lagoa. Deve ficar atento com as crianas que ainda no esto completamente alfabetizadas,
tendo o monitor o dever de ler a mensagem para o aluno, evitando constrangimentos e recolhimento da
criana.
- Resultado esperado:
Espera-se que a criana entenda as informaes passadas e conhea mais sobre os ecossistemas de
suas vizinhanas.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

326

e) Projeto Role Play


- Materiais necessrios: Textos informativos e materiais para a dramatizao de acordo com a
situao.
- Tempo estimado: No mximo 40 minutos, havendo a realizao de uma tarefa a cada ms e por
turma.
- Faixa etria: De 7 a 12 anos.
- Mtodo:

Figura 4: Role play


O role play consiste em organizar uma dramatizao baseada em um problema ambiental em que
as crianas representam os protagonistas do caso (Figura 3). Atravs da atividade, procura-se fazer com
que as crianas dem suas opinies sobre as causas e a gravidade do problema e proponham solues. O
projeto costuma ser desenvolvido em escolas e parques destinados proteo ambiental.
O projeto composto por duas partes:
Primeira parte: Introduzir a atividade a partir da leitura do texto que apresenta o problema
ambiental, pedindo para as crianas definirem o problema.
Segunda parte: Realizao da prtica.
Recomenda-se:
1. Antes do jogo:
- Definir e esclarecer os objetivos da atividade com as crianas;
- Entender o problema ou a situao e definir os personagens que sero representados;
- Estabelecer e esclarecer as regras do jogo: repartir os papis, dar detalhes sobre as etapas do jogo
e a durao da atividade, etc;
- Coletar as informaes necessrias para o desempenho dos diferentes papis.

2. Durante o jogo:
- Animar e dinamizar os dilogos, orientando as crianas em torno dos objetivos e quanto ao tema
central;
- Estimular a participao de cada um no dilogo;
- No censurar as discusses, mas assegurar um clima de respeito mtuo;
- Inverter os papis para que cada jogador represente diferentes papis e experimente outros
pontos de vista;
- Ajudar com perguntas para esclarecer as discusses de cada um;
- Interromper o jogo quando for necessrio para buscar informaes adicionais.

3. Depois do jogo:
- Identificar o aprendizado adquirido.

- Resultado esperado:

Joo Pessoa, outubro de 2011

327
Espera-se que as crianas aprendam a considerar em suas decises/ opinies os problemas sociais e
ambientais, alm de apreciar sua importncia. Por meio do role-play, aprende-se tambm a argumentar e
desenvolver habilidades para comunicar-se, negociar e tomar decises.
CONSIDERAES FINAIS
Buscou-se desenvolver a percepo ambiental dos indivduos/crianas a partir de atividades ldicas
fora do espao escolar Parque Estadual da Chacrinha, contribuindo na formao de um cidado crtico e
consciente ambientalmente que saiba identificar a causa de um impacto em uma rea degradada e
respeitar o espao do prximo.
O monitor deve propiciar para as crianas o acesso ao ambiente, identificando os elementos
naturais e experincias diferentes das de casa, enriquecendo sua vivncia. Ao longo das atividades, a
abordagem construtivista verificada, considerando os conhecimentos prvios e a utilizao das atividades
ldicas, que propiciam condies adequadas ao desenvolvimento fsico, motor, cognitivo e social das
crianas.
Por fim, os projetos de educao ambiental foram apresentados e diferenciados pela faixa
etria, tempo de durao da mesma e descrio dos mtodos. Os resultados demonstraram que um novo
conhecimento possvel de ser construdo/ trabalhado. comprovado que a criana assimila
conhecimentos e constri a sua realidade quando est praticando alguma atividade ldica. Portanto,
espera-se que, com a futura implantao dos projetos, o aprendiz espelhe a experincia adquirida,
modificando a realidade de acordo com os valores recm adquiridos.
Os projetos desenvolvidos no Parque Estadual da Chacrinha podem ser implementados em
outras reas de proteo ambiental, possibilitando o envolvimento de todos, por meio dos mais jovens que
devem disseminar a informao para a comunidade.
REFERNCIAS
BECKER, Fernando.

que

construtivismo?

Braslia,

1992.

Disponvel

em:

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias 20 p087-093 c.pdf Acesso em 12 de agosto de 2010.


BRASIL. Lei n0 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental.
Disponvel em http://www.planalto.gov.br Acesso em 9 de agosto de 2010.
CASTRO, Valquria Oliveira. Educao formal e informal. So Paulo: Ambiente Brasil, 2004.
Disponvel em http://www.ambientebrasil.com.br Acesso em 23 de abril de 2010.
CORDANI, Humberto et al. Rio 92 cinco anos depois: Avaliao das aes brasileiras em direo ao
desenvolvimento sustentvel cinco anos aps a Rio-92. So Paulo: Alpha Graphics, 1997
DIAS, Genebaldo Freire. Educao ambiental: Princpios e prticas. 9a Edio. So Paulo: Gaia, 2007.
INEA.
Parque
Estadual
da
Chacrinha.
Disponvel
em:
http://www.inea.rj.gov.br/unidades/pqpec.asp Acesso em 2 de fevereiro de 2011.
MINISTRIO DE EDUCAO E CULTURA (MEC) A implantao da educao ambiental no Brasil.
Braslia, 2009. Disponvel em http://www.ambientebrasil.com.br Acesso em 20 de junho de 2010.
NOAL, Fernando et al. Tendncias da educao ambiental brasileira. Santa Cruz do Sul: editora
UNISC, 2005.
PADUA, Suzana Machado et al. Educao ambiental: caminhos trilhados no Brasil. So Paulo: Ip,
2005.
PIAGET, Jean. A epistemologia gentica e a pesquisa psicolgica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos
editora, 2005.
PRADO, Iara Glria Areias et al. Temas Transversais: Parmetros Curriculares Nacionais 6a a 90 Ano.
Ministrios da Educao e Cultura. Secretaria de Educao Ambiental: Braslia, 2005.
TELLES, Marcelo de Queiroz et al. Prticas de educao ambiental para escolas, parques, praas e
zoolgicos: Vivncias integradas com o meio ambiente. Rio de Janeiro: S, 2007.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

328

PRTICAS LDICAS COM ALUNOS DE ENSINO FUNDAMENTAL EM


UNIDADES DE CONSERVAO DE USO SUSTENTVEL
Ana Carolina Fiquene Lima da SILVA
Estudante do Curso de Cincias Aquticas/UFMA
Selene Gonzaga Masullo1
Biloga, Curso de Cincias Cincias Biolgicas/UEMA
Raimunda Nonata Fortes CARVALHO-NETA
Professora Orientadora da UEMA
1Grupo de Pesquisa em Educao Ambiental em Unidades
de Conservao no Maranho (GPEAMA)
Email: carolinafiquene@yahoo.com.br
Professora do Departamento de Qumica e Biologia, Universidade Estadual do Maranho. Cidade Universitria Paulo VI
Campus do Tirirical, CEP 65.000-000 So Lus, Maranho, Brasil.

RESUMO
No presente trabalho visamos relatar prticas pedaggicas de sensibilizao ambiental com alunos
de uma escola situada dentro da rea de Proteo Ambiental (APA) do Maracan. As atividades foram
direcionadas para o entendimento da importncia de uma APA, bem como para a vegetao como
importante recurso protegido legalmente em uma Unidade de Conservao. Nossa experincia tem
mostrado que as prticas pedaggicas que melhor se adequam ao enfoque de Unidades de Conservao
so atividades ldicas ao ar livre, msicas, poemas e jogos educativos diversos. Essas prticas desenvolvidas
na APA do Maracan esto permitindo que os educandos compreendam as leis que regem uma rea
protegida e reconheam as causas dos principais problemas vivenciados, motivando a participao na
busca de solues.
Palavras-chaves: APA do Maracan, educao ambiental, atividades educativas.
1 INTRODUO
A Educao Ambiental tem sido indicada como o melhor caminho para se entender os problemas
ambientais da atualidade. Segundo Dias (1992), a maioria dos nossos problemas ambientais tem suas razes
em fatores scio-econmicos, polticos e culturais, e que no podem ser previstos ou resolvidos por meios
puramente tecnolgicos. Da a grande importncia da insero da Educao Ambiental nas escolas, a fim de
conscientizar nossos alunos e ajud-los a se tornarem cidados com uma conscincia ecolgica capaz de
modificar o panorama de degradao ambiental da atualidade.
Nesse contexto, a criao de unidades de conservao uma estratgia poltica que vem sendo
adotada como uma das formas de possibilitar a conservao dos ecossistemas naturais, uma vez que
considerada uma via efetiva de proteo dos processos ecolgicos fundamentais (SO PAULO, 1998). Essas
reas protegidas podem se constituir em importantes espaos pedaggicos e so campos privilegiados para
o desenvolvimento de Educao Ambiental.
Nossa pesquisa est direcionada a uma das categorias de unidade de conservao classificada como
de uso sustentvel. Como o prprio nome j indica, os recursos naturais existentes nessas reas podem
sofrer interferncia humana controlada, a fim de evitar o desgaste e a extino dos recursos. Conforme
estabelece a Lei que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservao, o objetivo bsico das Unidades
de Uso Sustentvel ajustar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parte dos seus recursos
naturais (BRASIL, 1999).
A rea de Proteo Ambiental do Maracan foi criada pelo Decreto Estadual n 12.103 de 01 de
Outubro de 1991 e caracterizada por ser uma Unidade de Conservao de Uso Sustentvel. Segundo Rios
(2000) essa regio possui a flora caracterizada por apresentar floresta de galerias entremeadas por igaraps
de gua doce, terras baixas e formaes colinosas. Farias-Filho (2002) realizou uma pesquisa nessa APA e
verificou que a vegetao encontrada atualmente no Maracan constituda, predominantemente, pelos
juarais/buritizais (vegetao tpica de vrzea) e pelas matas de stios. Nessa rea localizam-se importantes
recursos hdricos como, por exemplo, o rio Ambude e o Rio Bacanguinha um dos afluentes do principal rio
da Bacia, o Rio Bacanga.

Joo Pessoa, outubro de 2011

329
Apesar de ser uma unidade de conservao, a rea vem sofrendo com impactos ambientais, tais
como corte e queima da vegetao local para o uso do cultivo da terra, pastagem, extrao mineral de
areia, argila e laterita, extrao da madeira para uso domstico e comercial. Tais problemas indicam a
necessidade urgente de educao ambiental com as comunidades locais e do entorno dessa rea
legalmente protegida. Entre os principais temas que podem ser desenvolvidos no processo educativo,
destacam aqueles relacionados ao rgo gestor da APA, plano de manejo da regio, bem como as
potencialidades e problemas ambientais locais.
Nesse contexto, as escolas situadas dentro da APA passam a representar um lcus ideal para o
desenvolvimento da educao ambiental, visto que uma instituio social com poder e possibilidade de
interveno na realidade e que, por este motivo, deve estar conectada com as questes mais amplas da
sociedade incorporando-as sua prtica. Desse modo, no presente trabalho objetivou-se desenvolver
prticas pedaggicas de sensibilizao ambiental para alunos de uma escola de ensino fundamental situada
dentro da APA do Maracan. Essas prticas pedaggicas enfocaram o conceito e a importncia de uma
APA, bem como a vegetao como um dos mais importantes recursos protegidos legalmente em uma
Unidade de Conservao.
2 O CONTEXTO ESCOLAR
A pesquisa foi realizada pelo Grupo de Pesquisa em Educao Ambiental em Unidades de
Conservao do Maranho (GPEAMA) no perodo compreendido entre maro de 2010 a maio de 2011, na
rea de Preservao Ambiental (APA) do Maracan. Essa unidade de conservao est delimitada ao Norte
pelo parque Estadual do Bacanga, ao Sul pela localidade do Rio Grande, a Leste pela BR-135 e a Oeste pelo
Distrito Industrial de So Lus, abrangendo 1.831 hectares (VASCONCELOS, 1995).

Figura 5 - Vista da APA do Maracan e do Parque Estadual do Bacanga, So Lus-MA.


O Centro de Ensino Sagrados Coraes (CESCO) est situada dentro da APA, no bairro conhecido
como Alegria. Nessa escola, trabalhou-se com alunos de 3 e 4 ano do ensino fundamental, com faixa
etria entre 8 a 14 anos. Inicialmente, realizou-se uma entrevista com um questionrio semiestruturado
para analisar qual o grau de percepo ambiental dos alunos. Em seguida foram desenvolvidas aes
educativas, visando sensibilizar os alunos para a importncia e as vantagens de se viver em uma APA, bem
como para a vegetao nativa que deve ser protegida em uma Unidade de Conservao

3 AES EDUCATIVAS REALIZADAS NA APA DO MARACAN

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

330
As entrevistas realizadas com os alunos serviram para diagnosticar o conhecimento prvio dos
alunos e para planejar as aes de Educao Ambiental a serem encaminhadas na escola.
Durante o processo educativo do perodo foi possvel observar as atitudes dos educandos em
relao vontade de adquirirem mais conhecimento sobre educao ambiental e sobre a rea de estudo,
pois, apesar de morarem na APA do Maracan, muitos ainda no haviam ouvido falar em uma rea de
Proteo Ambiental. Esse fato apontou para a necessidade da disseminao de informaes sobre a
existncia e a importncia de reas protegidas tanto para os alunos da escola, quanto para as comunidades
escolares do entorno da APA. As Unidades de Conservao devem atuar no somente na preservao dos
recursos naturais, mas, tambm, como locais de aprendizagem e sensibilizao de pessoas a respeito das
questes ambientais (JACOBI et al., 2004) em todos os nveis, dentro e fora dessas reas protegidas
legalmente. Assim, o GPEAMA iniciou uma srie de prticas pedaggicas no CESCO, visando construir
conhecimentos sobre a APA do Maracan de forma ldica.
3.1 Explicando o que uma APA de maneira ldica
Os alunos do CESCO foram convidados a sarem da sala de aula para aprenderem o que uma APA.
Ao ar livre, os educadores ambientais enfocaram o que uma APA, qual o rgo e a lei que criou a APA
do Maracan, bem como a importncia de se viver uma rea legalmente protegida. Nesse momento
educativo, foram apresentados diversos cartazes com fotos da rea, fez-se uma exposio do mapa da rea
da APA do Maracan, bem como brincadeiras.
No processo de sensibilizao, foram usadas msicas. Uma parodia da conhecida cano popular
atirei o pau no gato foi bem recebida pelas crianas (Fig. 2). A letra enfocava a principal funo de uma
APA, como segue: o Maracan APA PA PA, mas a APA PA PA como EU EU EU bonita T T de se ver
VER VER, tem amor, tem amor por proteger... legal!

Figuras 2 Alunos durante as atividades com msica e poemas.


Ns aprendemos atravs dos sentidos, ou seja, olfato, tato, gustao, viso e audio. No entanto,
o aprendizado a partir da unio de dois ou mais sentidos mais eficiente do que a partir de um isolado
(PILLETI, 1993). Dessa forma, em Educao Ambiental interessante a utilizao de diferentes recursos
didticos e procedimentos pedaggicos que faam uso de diferentes sentidos. Os recursos dos sentidos so
muito eficientes, pois abrangem os sentidos da audio e viso, no entanto, este recurso pode ter melhor
resultado se for empregado juntamente com outros recursos e procedimentos pedaggicos, como a
discusso, a reflexo, as experincias e observaes.
3.2 Sensibilizando para o amor natureza

Joo Pessoa, outubro de 2011

331
Alm de msicas, a sensibilizao foi trabalhada com poemas. Sees de declamao foram
realizadas com um poema feito por um dos membros do GPEAMA intitulado Amor Natureza, transcrito
a seguir.
Terras de verdes imensides cobrindo tudo o que esta debaixo do cu.
As flores coloridas enfeitam ainda mais a beleza, a beleza desses verdes que so poucos
Verdes das matas quais muitos tentam acabar, frutos os quais muitos querem terminar.
Vamos juntos cuidar da natureza que ainda nos resta e ver noites belas.
Vamos lutar pelo ar mais puro, o cu sem cinzas, as matas sem queimadas.
Vamos amar as florestas, os animais e vamos dar pulos em festas.
A literatura atua na construo, difuso e alterao de sensibilidades e de representaes do
imaginrio coletivo (LAJOLO, 1997). tambm representativa de situaes e desejos, de projees e
fazeres, de ambiente e vida. Para Reigota (1995), o meio ambiente e a Educao Ambiental, por seu carter
difuso e muito variado, devem ser considerados como representaes sociais. Os textos literrios, por suas
circunstncias, tambm se constituem como representaes de realidades, que so vividas e
experimentadas na vida social, cultural, educacional, afetiva, poltica e ambiental. Assim, nas prximas
etapas do trabalho que est sendo encaminhado na APA do Maracan, os educandos iro realizar seus
poemas (sobre amor natureza e plantas nativas) e suas representaes sociais sero organizadas em uma
publicao.
3.3 Entendendo a diferena entre plantas nativas e exticas
As crianas desejaram conhecer mais sobre a vegetao nativa da APA do Maracan. Nas prticas
pedaggicas realizadas, abordou-se a diferena existente entre plantas nativas e exticas, bem como as
principais espcies nativas existentes na regio e sua importncia ecolgica. Depois foi realizado um jogo
educativo onde os educandos deveriam reconhecer quais eram as plantas nativas e exticas da APA, qual a
importncia ecolgica e as finalidades das espcies para a comunidade local.
A utilizao de espcies nativas visando reabilitao de reas degradadas uma das melhores
alternativas utilizadas atualmente em planos de manejo. Assim, importante que os educandos conheam
a diferena existente entre vegetao nativa e extica e reconhea as funes ecolgicas das plantas. Tais
espcies precisam ter afinidade com os solos, o clima e as demais espcies da regio. As espcies nativas,
assim como outros tipos de vegetao, propiciam uma cobertura vegetal que por sua vez atua como fator
de proteo para o solo (CHAGAS et al., 2001). Lepsh (2002) explica que devido falta de vegetao
natural, o solo fica exposto a uma srie de fatores que ocasionalmente o empobrecem. O autor ainda
afirma que os processos de empobrecimento e lixiviao, eroso hdrica, eroso elica, excesso de sais ou
salinizao, degradao fsica e degradao biolgica, contribuem drasticamente para o empobrecimento e
provvel perda de solo, prejudicando a vegetao.
3.4 Maracan: Uma planta nativa especial
As prticas pedaggicas realizadas permitiram aos alunos descobriram a origem de muitas das
rvores frutferas que eles conhecem. Aprenderam atravs de brincadeiras diversas que a rvore conhecida
como Maracan uma planta nativa da regio e, segundo relatos de moradores mais antigos, foi a
presena e a importncia dessa vegetao que deu origem ao nome da APA do Maracan. De acordo com
Rego (2002), na brincadeira que a criana aprende a agir numa esfera cognitiva. Segundo ele, a criana
comporta-se de forma mais avanada do que em atividades da vida real, tanto pela vivncia de uma
situao imaginria, quanto pela capacidade de subordinao s regras.
A incluso de modalidades didticas diversificadas, empregadas como instrumento de ensino,
permite ao professor atender a situaes especficas dentro do processo de ensino-aprendizagem,
encontrando solues que se adequam a cada caso, contemplando diferenas individuais e atraindo o
interesse do aluno (KRASILCHIK, 2004).
AES PARTICIPATIVAS EM ATIVIDADES DE EDUCAO AMBIENTAL
A Educao Ambiental surge como um dos importantes instrumentos de mudana das Unidades de
Conservao brasileiras. Isso porque a EA refere-se a uma dimenso do processo educativo que demanda
mudanas na prtica pedaggica e nas atitudes e posturas do ser humano em relao ao meio ambiente,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

332
permitindo que os indivduos compreendam as leis que regem a natureza e reconheam as causas e
conseqncias dos principais problemas ambientais, motivando a participao na busca de solues (SILVA,
2000).
A questo da acessibilidade informao no passa apenas pela conscincia real das necessidades
de informaes aos usurios das reas protegidas, devendo-se considerar, em especial, sua conscincia
possvel para receber e decodificar, adequadamente, a informao (GOLDMANN, 1975). Nesse caso,
destaca-se a importncia do professor como fonte de informao crtica capaz de auxiliar no processo de
mudana de atitudes frente aos problemas ambientais.
O desafio para a construo de uma cidadania consistente em reas protegidas encontra-se na
capacidade de instituir prticas democrticas cotidianas, de favorecer o progresso de uma escola capaz de
levar o aluno a refletir criticamente sobre seu ambiente de vida e de consolidar uma cultura da cidadania,
nos planos local, regional e internacional, articulada aos processos de transformao sistmica (LOUREIRO,
2002).
Nesse sentido, a Educao Ambiental no pode ser pensada simplesmente como transmisso de
contedos, visto que isso compromete a conquista da conscincia de uma rede complexa de aspectos
polticos, econmicos, culturais e cientficos. Uma ao educativa ambientalista, sem as devidas
orientaes polticas e tericas, perde seu efeito transformador e no expressa aumento qualitativo da
conscincia e do exerccio da cidadania ecolgica, diante do pice da degradao da qualidade de vida e do
ambiente, por mais ricas que sejam suas propostas metodolgicas e prticas (LOUREIRO, 2002).
Os problemas ambientais atualmente vistos na APA do Maracan demandam mudanas urgentes.
Freire (2001) afirma que mudar difcil, mas possvel. A educao no pode tudo, mas pode muita coisa.
A realidade pode e deve ser mudada e transformada. Dessa maneira, a educao tem um grande potencial
no que diz respeito busca de novas formas de relacionamento entre o ser humano e o ambiente. O
processo educativo uma construo social repleta de subjetividade, de escolhas valorativas e de vontades
polticas, com a especial particularidade de reproduo dentro da sociedade. Ela pode tanto transformar o
mundo quanto estar a servio da acomodao dos seres humanos realidade tida como intocvel (FREIRE,
1996; LIMA, 2004).
Trabalhar a educao ambiental em Unidades de Conservao com alunos do ensino fundamental
um processo muito significativo. O que se espera a afinidade entre as comunidades escolares e o
ambiente, novas formas de exerccio da cidadania e novas premissas efetivas para a prtica docente nesse
contexto de reas protegidas.
As prticas que esto sendo desenvolvidas na APA do Maracan esto permitindo que os
educandos compreendam as leis que regem uma rea protegida e reconheam as causas dos principais
problemas vivenciados. Isso tem motivado a participao da comunidade escolar na busca de solues.
Nesse sentido, os educandos tm indicado a necessidade de restaurao das trilhas ecolgicas da regio
com uso de plantas nativas. Esse processo de restaurao das trilhas ecolgicas da APA j foi iniciado e a
prxima etapa do nosso trabalho educativo ser o plantio de mudas e o acompanhamento do crescimento
da vegetao na rea.
REFERNCIAS
BRASIL, 1999. Lei n 9.795, de 27 de abril, Dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica
Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil,
Braslia, DF, n 79, Seo 1, p.1-3, 28 abr. 1999.
CHAGAS, N. G.; NASCIMENTO, J. T.; SILVA, I. de F. da ; BELTRO, N. E. M. Efeito de sistema de cultivo
e manejo na conservao do solo e produtividade das culturas para agricultores de sequeiro. In: 3
SIMPSIO BRASILEIRO DE CAPTAO DE GUA DE CHUVA NO SEMI-RIDO, Campina Grande. Campina
Grande: EMBRAPA-CNPA, 2001.
DIAS, G. F. Educao Ambiental: princpios e prticas. So Paulo: Gaia. 399 p. 1992.
FARIAS-FILHO, M. S. 2002. Projeto Maracan Diagnstico. Relatrio Final. Prefeitura Municipal
de So Lus. So Lus-MA.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia - saberes necessrios a prtica educativa, Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e
Terra, 2001.
Joo Pessoa, outubro de 2011

333
GOLDMANN, L. Conscincia possvel e comunicao. In: COHN, G. (Org.). Comunicao e indstria
cultural. 2. ed. So Paulo: Nacional, 1975.
JACOBI, C. M.; FLEURY, L. C.; ROCHA, A. C. C. L. Percepo ambiental em unidades de conservao:
experincia com diferentes grupos etrios no parque estadual da serra do rola moa, MG. In: 7 Encontro
de Extenso da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. Anais do 7 Encontro de Extenso da
Universidade Federal de Minas Gerais. p. 1-7. 2004.
KRASILCHIK, M. Prtica de Ensino de Biologia. 4 ed., So Paulo: Editora da Universidade de So
Paulo, 2004.
LAJOLO, M. Do Mundo Da Leitura Para a Leitura do Mundo. So Paulo: Ed. tica, 1997.
LEPSH, F. I. Formao e Conservao dos Solos. So Paulo: Oficina de Textos, 178 p. 2002.
LOUREIRO, C. F. B. Educao Ambiental e movimentos sociais na construo da cidadania ecolgica
e planetria. In: CASTRO Ronaldo Souza; LAYRARGUES, Philippe Pomier; LOUREIRO, Carlos Frederico B.
(Org.). Educao Ambiental: repensando o espao da cidadania. 2. ed. So Paulo: Cortez, p. 69-98. 2002
LOVEJOY, T. E. & BIERREGAARD, R. O. Cental Amazonian forests and the Minimum Critical Size of
Ecosystems Project. Pp. 60-71. In: A. H. Gentry (Ed.). Four neotropical rainforests. Yale University Press,
New Haven. 1990.
MACHADO, E. L. M.; OLIVEIRA-FILHO, A. T.; CARVALHO, W. A. C.; SOUZA, J. S.; BORM, R. A. T.&
BOTEZELLI, L. Composio florstica e estrutura de um fragmento de floresta semidecidual montana na
fazenda Beira Lago, Lavras, MG, e comparao com outras sete reas na regio do Alto Rio Grande. Revista
rvore 28 (4): 499-516. 2004.
PILETTI, C. Didtica geral. So Paulo: tica, 1993. 258p.
REGO, T. C. Vygotsky: Uma Perspectiva Histrico-Cultural da Educao. 14 ed. Petroplis: Vozes,
2002.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representao social. So Paulo: Ed. Cortez, p.10. 1995.
RIOS, L. Estudos de Geografia do Maranho. 2. ed. So Lus: SIOGE, 2000.
SO PAULO - Secretaria do Meio Ambiente. Proposta para discusso do Sistema Estadual de
Unidades de Conservao. SMA, Srie PROBIO/SP Documentos Ambientais, So Paulo, Brasil, 266pp.
1998.
SILVA, M. M. P. Percepo ambiental dos educadores de biologia. In Anais XXVII Congresso
Interamericano de Engenharia Sanitria e Ambiental. Porto Alegre, 2000.
VASCONCELOS, J. R. Maracan para todos: uma proposta de desenvolvimento sustentvel para a
rea de Proteo Ambiental da Regio do Maracan. UEMA/ CTDS. So Lus. 1995.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

334

ESCOLAS EM UNIDADES DE CONSERVAO NA AMAZNIA: COMO


CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL?
Ana Gouva BOCCHINI
Aluna de mestrado do Programa Ps Graduao em Cincias do Ambiente e Sustentabilidade na Amaznia - PPGCASA UFAM anagouveab@gmail.com
Ktia Helena Serafina Cruz SCHWEICKARDT
Professora Dra. do Departamento de Cincias Sociais da Universidade Federal do Amazonas UFAM - katiahelena@uol.com.br

RESUMO
As escolas de Unidades de Conservao na Amaznia enfrentam o desafio de aliar o contedo
programtico com a cultura cabocla-ribeirinha e com a dinmica de uma rea protegida, que possui regras
especficas. Este artigo questiona se as populaes ribeirinhas tm uma escola ligada realidade local, ou
possuem os modelos das escolas tradicionais. Ser a escola capaz de contribuir com o desenvolvimento
sustentvel nas Unidades de Conservao e com sua implementao?
Palavras-chave: educao, Unidade de Conservao, Amaznia, cultura, ribeirinhos.
Introduo
A regio amaznica bastante conhecida por ainda ter grandes extenses florestais praticamente
intactas e populaes que vivem e dependem dos recursos da floresta. Da, naturalmente, h a
preocupao com a ocupao e explorao sustentvel dos recursos naturais, o que nos leva a pensar em
diversos temas que devem ser amplamente discutidos entre o Estado e a sociedade civil: regularizao
fundiria, conservao da biodiversidade, criao e implementao de reas protegidas, manejo dos
recursos naturais, extrativismo e implementao de polticas pblicas especficas realidade amaznica,
que envolvem a vida da floresta, dos povos indgenas e da populao ribeirinha. Neste artigo discutiremos
o papel das Unidades de Conservao UC e das escolas de comunidades ribeirinhas no Estado do
Amazonas, permitindo uma reflexo de como estas escolas podem contribuir com o processo de
implementao das Unidades de Conservao e com o desenvolvimento sustentvel da regio.
O texto est dividido em quatro partes. Na primeira discute-se o conceito de cultura e a cultura
cabocla-ribeirinha. A segunda trata das Unidades de Conservao e seu papel na Amaznia e, mais
especificamente, no estado do Amazonas. A terceira parte lembra os modelos mais comuns de escolas
adotados no Brasil, trazendo a pergunta: ser que as populaes ribeirinhas da Amaznia tm uma escola
ligada realidade local, ou possuem os modelos das Escolas Urbanas? A ltima parte apresenta uma
proposta de escola baseada nos conhecimentos locais, capaz de contribuir com o desenvolvimento
sustentvel nas Unidades de Conservao e com sua implementao.
Cultura cabocla-ribeirinha
Neste estudo compreendemos como cultura uma juno de elementos sociais e ambientais
que representam a forma como o homem v o mundo.
a cultura como uma lente atravs da qual o homem v o mundo. Homens de culturas diferentes
usam lentes diversas e, portanto, tm vises desencontradas das coisas. Por exemplo, a floresta amaznica
no passa para o antroplogo desprovido de um razovel conhecimento de botnica de um amontoado
confuso de rvores e arbustos, dos mais diversos tamanhos e com uma imensa variedade de tonalidades
verdes. A viso que um ndio Tupi tem deste mesmo cenrio totalmente diversa: cada um desses vegetais
tem um significado qualitativo e uma referncia espacial. Ao invs de dizer como ns: "encontro-lhe na
esquina junto ao edifcio x", eles freqentemente usam determinadas rvores como ponto de referncia.
Assim, ao contrrio da viso de um mundo vegetal amorfo, a floresta vista como um conjunto ordenado,
constitudo de formas vegetais bem definidas. (LARAIA, 2001, p.35)

Os caboclo-ribeirinhos da rea rural amaznica tm uma cultura elaborada por dinmicas e


caracterizaes especficas da regio. O principal elemento dessa cultura a relao homem-natureza e,
sobretudo, homem-rio. O cotidiano do ribeirinho liga-se intimamente dinmica dos rios. Na poca da
cheia o trabalho na pesca ou na agricultura feito de uma forma; na seca, de outro. As moradias,
Joo Pessoa, outubro de 2011

335
assentadas em flutuantes ou palafitas, representam a dinmica do convvio com a gua, da relao com o
ambiente de vrzea. No rio, crianas, homens e mulheres ribeirinhos vivem seus momentos de trabalho e
de lazer, dependendo dele e da floresta para quase tudo. O rio, ali, a essncia. Para quem vive nas
vrzeas, o rio muito mais que um referencial geogrfico.
Dele (rio) saem alguns elementos culturais que vo compondo a alma cabocla, marcando
definitivamente a essncia do homem amaznida. Ainda que ele se ausente deste espao geogrfico, levar
consigo a identidade construda na sua relao com esse mundo de guas que encanta, assusta, compem
imaginrios coletivos, verdades no desvendadas... (FREIRE, 2009, p.15)

Na relao com o rio criaram-se aspectos culturais tpicos do mundo caboclo-ribeirinho, como a
linguagem, os mitos, costumes, formas prprias nas atividades de caa, pesca, agricultura e no uso dos
recursos naturais como um todo. Estas caractersticas especficas vo alm das questes tnicas, de
miscigenao entre ndios, estrangeiros, nordestinos e negros.
Existe ainda no cotidiano desses povos a influncia da cultura moderna sobre a tradicional e viceversa. Fraxe (2004) define essa troca como transculturalidade, que gera mudanas e adaptaes no estilo
de vida, tanto urbano como rural. Em comunidades ribeirinhas, costumes antigos, festejos, tcnicas de
extrativismo, mitos, histrias, alimentao tpica se misturam com informaes que vem da televiso, das
idas aos municpios, do contato com pesquisadores ou turistas. Como caracterstica evidente da
transculturalidade existente nas comunidades ribeirinhas destaca-se a migrao de jovens para os centros
urbanos com o objetivo de estudar. Esses jovens adquirem outros valores, mas mantm os vnculos com a
cultura local por intermdio da relao com a famlia. Ao terem contato com os centros urbanos, com os
meios de comunicao, os ribeirinhos no perdem sua cultura tradicional, apenas a ressignificam.
Como vimos, a cultura tambm determinante nas praticas de manejo dos ecossistemas, no uso e
consumo dos recursos. Enrique Leff afirma que a cultura orienta o uso dos recursos.
Neste sentido, a organizao espacial e temporal de cada cultura define um sistema de relaes
sociais de produo, que potenciam o aproveitamento integrado e sustentvel dos recursos naturais (LEFF,
200, p.114-115)

Ao pensar a cultura das comunidades tradicionais, principalmente no que se refere ao


modo de uso dos recursos naturais, ambientalistas passaram a pensar como seria possvel aliar o modo de
vida tradicional com a criao e implementao de reas protegidas.
Unidades de conservao e seu papel
A proteo natureza tornou-se um dos temas mais discutidos nas ltimas dcadas. Organizaes
governamentais e no governamentais discutem formas de proteo ao meio ambiente, atentando para a
conservao da biodiversidade, e isto causa polmica principalmente nos pases tropicais subdesenvolvidos
ou em desenvolvimento. Esses pases so
depositrios da maior parte das espcies de flora e fauna, mas ao mesmo tempo, confrontados com
o problema da pobreza crescente, da devastao do mundo rural por modelos de desenvolvimento
inapropriados, estes ainda mais agravados pelas polticas neoliberais marcadas pelo baixo investimento em
setores bsicos para as comunidades rurais, como a sade e educao (DIEGUES, 2000, p. 10).

O modelo de UC adotado no Brasil e em outros pases subdesenvolvidos ou em desenvolvimento


deriva de uma concepo norte-americana, pela qual uma rea protegida serve para proteger espcies
selvagens contra a ao predatria da civilizao urbano-industrial. A ideia que fundamenta este modelo
a de conservar o mundo natural em seu espao originrio, antes da interveno humana, como uma
natureza intocada (Diegues, 2000).
No Brasil, o antroplogo Antnio Carlos Diegues um dos principais expoentes no estudo da
presena de populaes humanas em Unidades de Conservao.
A partir de meados dos anos 80, comeou a surgir no Brasil um tipo de ambientalismo distinto do
preservacionista, mais ligado s questes sociais. Esse novo movimento surgiu no bojo da redemocratizao,
aps dcadas de ditadura militar, e, conseqentemente, caracteriza-se pela crtica ao modelo de
desenvolvimento econmico altamente concentrador de renda e destruidor da natureza, que teve seu
apogeu durante esse perodo. (DIEGUES, 2000, p.21)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

336

Esses movimentos passaram a repensar a funo das reservas, incluindo os interesses e modos de
vida das populaes tradicionais. O Sistema Nacional de Unidades de Conservao SNUC (Lei n.
9.985/00) pode ser considerado o maior avano poltico nesta questo, j que, de forma oficial, as questes
sociais passam a ser integradas na discusso das reas protegidas. O SNUC define conservao como:
manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservao, a manuteno, a utilizao
sustentvel, a restaurao e a recuperao do ambiente natural, para que possa produzir o maior
benefcio, em bases sustentveis, s atuais geraes, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades
e aspiraes das geraes futuras, garantindo a sobrevivncia dos seres vivos em geral. Esta nova forma
de pensar a preservao do meio ambiente prope a participao das comunidades tradicionais no
planejamento e na gesto das atividades de conservao.
Nos anos 1980, a Amaznia estava praticamente fora das polticas ambientais propostas no Plano
Nacional de Meio Ambiente - PNMA. Este quadro vai ter uma mudana substancial com a implantao do
Programa Piloto de Proteo as Florestas Tropicais PPG7 e pela Agenda Amaznia 21. A partir da,
estabelece-se uma poltica integrada para a regio como parte do Projeto Amaznico, envolvendo
desenvolvimento econmico e proteo ambiental (...). A questo ambiental passou a ter um direcionamento
mais efetivo, em termos das polticas pblicas estaduais, em 1996, com a criao do Instituto de Proteo
Ambiental do Amazonas IPAAM. Com o apoio da cooperao internacional, agncias governamentais e no
governamentais que apoiam projetos de conservao ambiental, passou a traar estratgias para a poltica de
gesto ambiental do estado. No mesmo ano da criao do IPAAM, implantou-se no Mdio Solimes, a
primeira categoria de Unidade de Conservao de Uso Sustentvel, a RDS Mamirau (SCHWEICKARDT, 2010,
p.309).

Surge ento a incluso da Reserva de Desenvolvimento Sustentvel RDS no Sistema Nacional de


Unidades de Conservao SNUC -, e a expanso de reservas extrativistas RESEX, reas que, alm de
poder haver pessoas morando, permitem o uso dos recursos naturais de forma sustentvel.
Neste contexto, a conservao deve ser feita em benefcio da populao, inserindo o conceito de
desenvolvimento sustentvel. Neste trabalho entendemos por desenvolvimento sustentvel o conceito
usado por Ignacy Sachs (2004). Em sua linha de pensamento so definidos cinco pilares: 1. Social,
fundamental para manter as igualdades sociais; 2. Ambiental, para manter o sistema de sustentao da
vida como provedores e recursos e como para a disposio de resduos; 3. Territorial, relacionado
distribuio de recursos, das populaes e das atividades; 4. Econmico, sendo a viabilidade econmica
para que as coisas aconteam; 5. Poltico, a governana democrtica e fazendo com que as coisas
aconteam. Uma Unidade de Conservao, para ter um projeto de desenvolvimento sustentvel deve estar
pautada nestes cinco pilares.
Ignacy Sachs defende ainda que
a democracia um valor verdadeiramente fundamental e garante tambm a transparncia e a
responsabilizao necessrias ao funcionamento dos processos de desenvolvimento (SACHS, 2004, p.39).

O processo de criao e de implementao das UCs garante participao e transparncia. A


populao deve ser informada sobre reas em processo de criao de UCs, onde o rgo gestor deve
promover discusses com a sociedade sobre os objetivos e a importncia das reas em questo. Primeiro
deve-se considerar a qual categoria uma determinada rea pertence. Algumas categorias so mais
restritivas que outras. A maioria das UCs do Estado do Amazonas permite o uso sustentvel. Nelas podem
haver pesquisa cientfica, visitao por turistas, atividades de educao ambiental, manejo florestal,
extrativismo, pesca e agricultura de subsistncia e comercial em pequena escala. Tambm, na gesto da
unidade, necessrio construir infra-estrutura, realizar estudos biolgicos e sociais, fazer o zoneamento da
unidade, identificando reas de uso pblico, reas de manejo comunitrio, reas de acesso restrito e at
reas de proteo integral. As atividades e aes a serem realizadas so reunidas em um documento,
denominado Plano de Manejo da UC (no Amazonas, o Sistema Estadual de Unidades de Conservao
SEUC , adotada o termo Plano de Gesto), que deve ser discutido pela sociedade, principalmente pelas
comunidades tradicionais usurias ou residentes. No Plano de Gesto, alm do diagnstico da reserva,
estaro inclusas as aes de pesquisa, educao, fiscalizao, manejo, uso, recuperao de reas alteradas,
administrao, infra-estrutura, visitao pblica os chamados programas de gesto. As UCs ainda contam
Joo Pessoa, outubro de 2011

337
com um Conselho Gestor, que pode ser consultivo ou deliberativo, dependendo da categoria da UC. Os
conselhos gestores devem ter representaes governamentais e no governamentais, incluindo,
naturalmente, as comunidades tradicionais.
A participao das comunidades em todas as decises , sem dvida, um dos maiores desafios da
gesto destas reas. Uma gesto eficiente do territrio deve ser integrada e compartilhada, o que
pressupe dilogo e negociao entre os diferentes segmentos envolvidos.
Atualmente existem cada vez mais esforos do governo e de organizaes no governamentais no
sentido de haver um planejamento das UCs de forma participativa. Porm, vrias UCs ainda esto aqum
do ideal, e suas populaes ainda no intervm de fato nas decises. Muitos moradores ainda no sabem
exatamente o que uma Unidade de Conservao. necessrio e urgente disseminar o conhecimento
referente s regras, leis, direitos e deveres que abrangem a realidade de uma UC. Para isto, investimentos
que venham a igualar o nvel de conhecimento e de articulao dos grupos sociais e polticos devem ser
feitos.
Com a crena na efetividade desse modelo de Unidade de Conservao de uso sustentvel, surgem
novas propostas e experincias governamentais e no governamentais que visam, sobretudo, uma maior
participao das comunidades tradicionais na gesto destas reas. Estas iniciativas se do na forma de
oficinas interativas para tomadas de decises, confeco de cartilhas, consultas pblicas e cursos de
capacitao, entre outras.
Ora, as escolas tambm no podem ser um timo veculo para a disseminao desse
conhecimento?
Escolas e Comunidades ribeirinhas
Maria do Cu Bessa Freire (2009) utiliza em seu livro A criana Indgena na Escola Urbana
uma analogia metafrica entre a escola e o rio.
Na nascente do rio-escola, com as guas, surgem gentes, histrias individuais e coletivas, anseios,
esperanas e culturas que se hibridizam nas relaes com as margens. Nada pode impedir o rio de correr, de
se (re)constituir, ainda que obstculos possam desvi-lo de seu curso natural (FREIRE, 2009, p. 16).

Com a predominncia de uma viso etnocntrica, hegemnica e homogeneizadora que


enfrentamos na sociedade moderna, padres culturais so veiculados e tomados como melhores opes
para vivermos, tornando-nos uma sociedade igual. As escolas, como importante veculo de reproduo
do sistema, seguem esta ideia homogeneizadora, embora alguns grupos socialmente organizados mostrem
que a diversidade cultural existe e resiste. A diversidade apresentada nas teorias crticas da educao e
at mesmo nas pedagogias oficiais, como os Parmetros Curriculares Nacionais PCNs -, porm tratada
sob a tica do respeito e da tolerncia, insuficiente para abranger essa temtica complexa: a dificuldade
que temos para tratar da grande diversidade cultural existente no pas.
Essas diferenas, que constituem cada ser humano como nico e que influenciam na ressignificao
das culturas, chegam aos nossos dias ainda como obstculos para a convivncia alteritria, em que alguns
grupos estabelecem relaes de poder sobre os outros (FREIRE, 2009, p. 19).

Nesta relao de poder, a ideologia dominante impregna todo o processo educacional, traduzido
pela indiferena, ou at mesmo pela desvalorizao do que diferente dos padres predominantes,
incorporados pelo sistema.
A educao formal no pode mais do ponto de vista da legislao, das conquistas sociais, da
histria da prpria educao e das culturas eximir-se da responsabilidade de formadora de conscincia na
perspectiva de indagar e refletir sobre a sociedade em que est inserida (FREIRE, 2009, p. 31).

O modelo das escolas rurais deve ser repensado, com projetos diferenciados e especficos.
Geralmente as escolas das comunidades ribeirinhas no tm Projeto Poltico Pedaggico prprio,
utilizando-se de uma proposta mais genrica, oriunda das secretarias de educao. Nessa proposta, que
podemos chamar de macro sistema, apenas so seguidos os calendrios e contedos programticos. As
avaliaes so dadas, na maior parte das vezes, de forma tradicional, com provas, trabalhos e tarefas a
serem feitos em casa que visam reproduzir os contedos ministrados pelos docentes.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

338
Na linha de pensamento do Paulo Freire a educao vai muito alm da transmisso do contedo
programtico. A alfabetizao tem de ser um processo de aprendizado para escrever a sua vida, como
autor e como testemunha de sua histria, isto , biografar-se, existenciar-se, historicizar-se. Paulo Freire
enfatiza a necessidade de a educao escolar se basear na realidade dos alunos. O mtodo proposto por
ele inicia-se com uma pesquisa do universo vocabular e temtico do grupo a ser alfabetizado. O educador
identifica palavras geradoras, que serviro de instrumento no s do aprendizado da escrita e da leitura,
mas tambm da discusso da realidade, relacionando o processo educativo ao meio social do aluno. O
exemplo mais conhecido o que utiliza a palavra geradora tijolo para a alfabetizao de um grupo de
adultos: o professor apresenta ao grupo a imagem de uma construo na qual se destacam o objeto tijolo e
a palavra tijolo. As slabas desta palavra sero usadas progressivamente para a construo de outras
palavras, como laje, lote, luta. Isto :
Ser a partir da situao presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspiraes do
povo, que podemos organizar o contedo programtico da educao ou da ao poltica. (...) Jamais doarlhes (aos alunos) contedos que pouco ou nada tenham a ver com seus anseios, com suas dvidas, com suas
esperanas, com seus temores. (FREIRE, 1987, P. 86-87)

Partimos, pois, do princpio de que para a educao escolar se tornar eficaz, formando sujeitos
crticos, deve partir da realidade dos alunos. No caso das escolas ribeirinhas que esto inseridas em
Unidades de Conservao, nos perguntamos como o contedo programtico se relaciona com a realidade?
Fraxe (2004, p.290-291), em seu estudo acerca da cultura cabocla-ribeirnha, observou que a escola est
irremediavelmente comprometida com as concepes e valores urbanos e dominantes da sociedade
capitalista. (...) a escola se prope como veculo de negao do mundo rural.
Em algumas escolas de comunidades ribeirinhas h docentes que tentam superar esse padro
baseado no mundo urbano. Procuram trazer a realidade rural e ribeirinha para o aprendizado dos
educandos, trabalhando temas intrnsecos Amaznia cabocla: mitos e lendas regionais, biodiversidade
local, a importncia da floresta, o cotidiano da vida nos rios. Mas so iniciativas individuais, no se trata de
poltica adotada pela escola ou pelas secretarias de educao.
Aquelas escolas que, alm de se situarem em comunidades ribeirinhas, esto dentro de reas
protegidas, Unidades de Conservao de uso sustentvel ou at de proteo integral, se deparam com
problemas ainda mais complexos: a conservao da biodiversidade, as regras especficas de uso dos
recursos naturais, a gesto participativa e todas as questes que envolvem o cotidiano da UC. Como essas
escolas atuam? Podero elas contribuir com a implementao destas unidades?
Escola, Unidades de Conservao e comunidades ribeirinhas: Uma nova abordagem.
Ao refletirmos sobre a cultura caboclo-ribeirinha e a realidade de quem vive em uma Unidade de
Conservao, podemos pensar no dia-a-dia destas pessoas: meios de transporte, mitos e lendas, momentos
de lazer, gastronomia, trabalho extrativista, religio e, no caso deste estudo, escolas.
O contedo programtico das escolas ribeirinhas nem sempre est vinculado realidade
dos alunos, que envolve uma cultura tradicional relacionada com a dinmica dos rios. Para mudar essa
realidade, este estudo defende a necessidade de as instituies que trabalham com educao promoverem
reflexes sobre a formao e a prtica docente. Isto , que se invista na formao dos professores, para
que suas prticas sejam mais conectadas com o mundo onde vivem e trabalham.
Da mesma forma que as Unidades de Conservao passaram a ser geridas em grande parte
pelas prprias comunidades tradicionais, prope-se que as escolas atuem junto s populaes, utilizando
os prprios conhecimentos da comunidade. O conhecimento tradicional para o uso dos recursos naturais
pode ser utilizado como base e princpio do processo de aprendizagem na sala de aula. Alguns exemplos
prticos: na fase da alfabetizao os professores podem utilizar a palavra boto ou rede como palavras
geradoras, como sugere o mtodo Paulo Freire. Nas aulas de lngua portuguesa, por que no usar histrias,
mitos e lendas da regio? tambm possvel associar as atividades principais da comunidade produo
de farinha, pesca, agricultura com todas as disciplinas ministradas. Nas aulas de matemtica, pode-se
lidar com as quantidades de peixes pescados pela comunidade por semana. Nas aulas de geografia, impese tratar da dinmica dos rios. Nas aulas de artes, possvel representar artisticamente elementos da
biodiversidade local. Nas aulas de histria, por que no estudar tambm a histria da prpria comunidade?
Joo Pessoa, outubro de 2011

339
Estas histrias que, naturalmente est relacionada com a histria do estado do Amazonas, do pas e do
mundo: quem eram os avs e bisavs dos alunos? Seringueiros vindos do nordeste? ndios? Qual era a
posio deles na sociedade e o que isto estava relacionado com a economia e a poltica do pas? Alm
disso, outras atividades poderiam relacionar-se com o dia-a-dia dos alunos, propiciando um ambiente de
estudo mais agradvel e, certamente, capaz de gerar mais resultados positivos e sujeitos mais crticos.
A partir da aplicao desses contedos, e levando em conta que: a educao essencial para o
desenvolvimento, pelo seu valor intrnseco, na medida em que contribui para o despertar cultural, a
conscientizao dos direitos humanos, aumentando a adaptabilidade e o sentido de autonomia (SACHS,
2004, p.39), podemos avanar mais. Podemos, por exemplo, comear a refletir sobre outras questes: A
forma como nossa comunidade explora os recursos naturais sustentvel? Como, vivendo dentro de uma
Unidade de Conservao, podemos ter boa qualidade de vida e continuar explorando os recursos?
A partir da reflexo dessas questes e da maior participao na gesto das Unidades de
Conservao, a escola passa a ser um importante instrumento de implementao de UCs. medida que os
temas so discutidos em sala de aula, eles so levados para cada casa, cada famlia da comunidade,
garantindo, cada vez mais, o interesse acerca do tema, alm do prprio conhecimento, que se tornar mais
maduro.
Para que isto acontea, a integrao entre a gesto das Unidades de Conservao e as escolas
uma necessidade primordial. As duas polticas pblicas envolvidas aqui UC e escola -, se atuarem em
conjunto e no de forma independente como vem ocorrendo, podem contribuir uma com a outra. Tudo
para alcanar o objetivo comum: o desenvolvimento sustentvel das comunidades tradicionais.
Bibliografia
- AMAZONAS (2007) Lei Complementar N. 53 de Junho de 2007. Institui o Sistema Estadual de
Unidades de Conservao SEUC.
- AMAZONAS. Governo do Estado. (2007) Unidades de Conservao do Estado do Amazonas.
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel, Manaus: SDS/SEAPE.
- ARRUDA, Rinaldo S. V. (2000) Populaes tradicionais e a Proteo dos Recursos Naturais em
Unidades de Conservao. In: DIEGUES, Antnio Carlos (org.). Etnoconservao: novos rumos para a
proteo da natureza nos trpicos. 2 ed. So Paulo: Nupaub-USP / HUCITEC.
- BRASIL (2000) Lei N 9.985, de 18 de julho de 2000. Dispe sobre o Sistema Nacional de Unidades
de Conservao.
- DIEGUES, Antnio Carlos (2000) O mito moderno da natureza intocada. 4. ed. So Paulo: Hucitec.
- FRAXE, Therezinha de Jesus Pinto (2004) Cultura cabocla-ribeirinha: mitos lendas e
transculturalidade. 2 ed. So Paulo: Anablume.
- FREIRE, Maria do Cu Bassa (2009). A criana indgena na Escola Urbana. Manaus: Editora da
Universidade Federal do Amazonas.
- FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. (1987) 24 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
- LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropolgico (2001) 14 ed. Rio de Janeiro: Editora
Jorge Zahar
- LEFF, Enrique. Ecologia, Capital e Cultura. (2000) Blumenau: FURB.
- SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: Includente, sustentvel, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond,
2004.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

340

DIAGNSTICO DAS UNIDADES DE CONSERVAO EM REA URBANA, NO


CONTEXTO DA EDUCAAO AMBIENTAL AO LONGO DO IGARAP DO
MINDU, MANAUS-AM
Ana Lcia Soares MACHADO
Universidade de Braslia (UnB)
Doutoranda Desenvolvimento Sustentvel - CDS/UnB
analusmachado@hotmail.com
Izabel Bruno Bacellar ZANETI
Universidade de Braslia (UnB)
a
a
Prof . Orientadora, Dr . Desenvolvimento Sustentvel, CDS-UnB
izabel.zaneti@yahoo.com
Maria Ins Gasparetto Higuchi
a
Prof . Co-Orientadora, Dra. Pesquisadora INPA.
mines@inpa.gov.br

RESUMO
As conseqncias de um crescimento acelerado e desordenado da capital da floresta,
Manaus-AM, tm crescido no mesmo modelo hegemnico e predatrio observado nas metrpoles
brasileiras, em que as primeiras conseqncias so rios contaminados e guas comprometidas, antagnicas
na rede de interligao existente nos fragmentos florestais, na zona urbana de Manaus. O igarap do
Mindu, o maior da bacia do So Raimundo76 tem sofrido graves conseqncias mesmo com as medidas
tomadas a partir da dcada de 1990 para sua proteo. O objetivo deste trabalho foi realizar um
diagnstico da atual situao das Unidades de Conservao e reas de proteo ao longo do igarap do
Mindu sob a tica da Educao Ambiental. Os resultados encontrados foram varias medidas de proteo a
partir de criao de parques, corredor ecolgico, parques de lazer. No entanto ainda que muito
importantes, so incipientes e desconectadas, para efetiva proteo do igarap e seu entorno. Este artigo
refere-se a resultados parciais da pesquisa de doutorado cuja temtica a educao ambiental no processo
de gesto sustentvel dos igaraps urbanos, um estudo de caso: Igarap do Mindu, Manaus-AM.
Palavras-chaves: Educao Ambiental, Conscientizao e Mobilizao Social
ABSTRAT
The consequences of accelerated and disorganized expansion of Manaus, Amazonas, have the
same predatory pattern seen in other Brazilian cities. Such state of affairs produces as the first
consequences uncontrolled pollution and contamination of the water courses besides the depredation of
the vegetation nearby those water canals. Manaus is fully crosses by streams called igarap. Every igarap
in Manaus has a history that is still evoked with remembrance as part of the city culture and the later
gorgeous nature. One of the most famous is the Mindu igarap, which is part of the largest watershed of
the city. The Mindu has suffered severe consequences in spite of the attention given by the district
environmental regulations towards the necessity for its protection since the 1990s. The objective of this
work was to conduct an analysis of the existing circumstances the appeal to develop practices in order to
protect the areas along the canal. The perspective of such initiative was identified as actions of
Environmental Education. This study showed that indeed exist various protective measures such as
establishment of parks, ecological strips and leisure areas. Whereas these measures revealed to be
important, they are embryonic and disconnected as far as the effective protection of the igarap is of
relevance. This article is part of a doctoral research project whose subject is the process of environmental
education toward a sustainable management of Mindu igarap in Manaus, AM.
INTRODUO
Grande parte das pesquisas e debates cujo tema Amaznia, via de regra, est em
sua maioria relacionada a florestas, grandes bacias, reservas de gua, fauna e flora (SOUZA, 1977; SILVA,
2001; SCHERER e FILHO, 2005). Entretanto o tema deste estudo est intimamente ligado a problemtica
76

A Bacia do So Raimundo - maior bacia urbana do municpio de Manaus (SEMMAS,2008)

Joo Pessoa, outubro de 2011

341
crescimento urbano e a poluio dos igaraps da cidade na floresta, resultados parciais da tese de
doutorado em Desenvolvimento Sustentado (CDS-UnB).
O crescimento da cidade um fenmeno mundial visto que mais de 50% da
populao vive nas cidades. Segundo Relatrio (2009) do United Nations Population Fund (UNFPA)
constata-se que quase todo crescimento populacional futuro est projetado para ocorrer em cidades, o que
implica em um aumento de moradores em favelas, encostas, margens de rio ou ms condies de
moradias. As cidades fazem parte de uma sociedade global interligada e interdependente que est se
tornando cada vez mais urbana.
Dias (2002) aponta que ao longo da histria, as cidades agregam os maiores
problemas ambientais, mais do que em todas as pocas e esta desordem nos modelos de desenvolvimento
predadores e autofgicos tem levado 1,1 bilho de pessoas fome e 2 bilhes s condies deplorveis.
Sendo que 1,5 bilhes de pessoas pobres vivem nas cidades. A perda da qualidade de vida tem sido
intensificada nas cidades, o centro de expresso da espcie humana e do ponto de vista das alteraes
ambientais globais, contudo o ambiente menos pesquisado (DIAS, 2002).
Este artigo apresenta um diagnostico dos aspectos socioambientais relacionados ao Igarap
do Mindu e Unidades de Conservao UCs correlatas, os projetos e aes em Educao Ambiental
desenvolvidos para sua proteo; bem como verificar os conflitos existentes na gesto ambiental do
igarap Mindu e o que tem sido feito para sanar estes problemas em termos de polticas pblicas,
participao social.
2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A pesquisa se caracteriza como multi-mtodos, ou seja: pesquisa documental; utilizao da
ferramenta ArcGis, geoprocessamento para delimitar a rea das unidades de proteo ao longo do
igarap; entrevista semi-estruturada e dirio de campo. As atividades de pesquisa ocorreram em quatro
etapas: 1) documental acerca das reas ao longo do igarap do Mindu; 2) caracterizao da rea de estudo
tais como, geomorfologia e geologia locais; 3) ferramenta ArcGis geoprocessamento, para construo de
mapa temtico com delimitao das unidades de conservao e demais reas de proteo; 4) entrevistas
semi-estruturada aos gestores dos parques.
2.1 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO
O Igarap do Mindu o maior igarap em extenso do municpio de Manaus e cruza a
cidade no sentido Nordeste-Sudoeste, pertence maior bacia hidrogrfica urbana, a do So Raimundo,
sendo o igarap do Mindu o maior contribuinte. Ocupa do territrio urbano e, em torno dela, concentrase aproximadamente 30% da populao do municpio (RIMA, 2008).
Da nascente foz desse igarap, existem unidades de conservao, parque linear (lazer e
entretenimento), corredor ecolgico urbano, reserva de particular. Ainda assim, recebe uma carga de
dejetos e detritos humanos, das residncias instaladas no seu entorno, o que tem alterado drasticamente
suas caractersticas naturais. De acordo com relatos de antigos moradores do entorno do Mindu, at incio
da dcada de 1990, esse igarap era opo de lazer e divertimento para a populao, a qual ainda faz uso
da nascente para banhos aos finais de semana.
O curso deste igarap agrega trs Unidades de Conservao: o Parque Municipal das
Nascente, a Reserva Particular do Patrimnio Natural RPPN de propriedade da Honda, e o Parque
Municipal do Mindu; o Corredor Ecolgico Urbano do Mindu e ainda um parque linear : Parque dos
Bilhares (Figura 1).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

342

Jd.
Municipal

Botnico

Pq. Bilhares

Fonte: SEMMA, 2008

Figura 1: Localizao das reas protegidas, SEMMAS (2009)

Suas nascentes esto situadas no setor leste do municpio (3 0107.31S 59 5529.84W),


no bairro denominado Cidade de Deus, oriundo de invaso, fazendo fronteira com os bairros Jorge Teixeira,
Tancredo Neves e com a Reserva Florestal Ducke/INPA; existem diversos corpos dgua de contribuio ao
igarap, por exemplo: Goiabinha, Geladinho e Aleixo (SEMMAS - PLANO DE MANEJO PARQUE DO MIND,
2008). Segue o sentido leste-oeste por 20 km, percorrendo e delimitando inmeros bairros, passando pelo
bairro So Raimundo (zona central da cidade) at chegar sua foz, que se encontra com o Igarap dos
Franceses, formando, a partir da, o Igarap da Cachoeira Grande. Este igarap desgua no Igarap do So
Raimundo, que desgua no Rio Negro, cujas coordenadas geogrficas da foz so: 3 0744.74S 60
0205.04W (CLETO FILHO, 1998; RIMA, 2008).
3 RESULTADOS E DISCUSSO
Estudos tm sido realizados desde a dcada de 1980 para proteger o Igarap do Mind,
curso dgua de grande importncia ambiental, sociocultural, paisagstica, econmica e de lazer para
Manaus, o que permitiu a iniciativa de medidas de proteo ao igarap do Mindu. Observou-se ainda que a
poluio das guas se d a partir do mal uso do solo que tem como uma das conseqncias a morte dos
rios, riachos ou igaraps. Algumas medidas tomadas pelos gestores em Manaus podem ser observadas no
mapa (Figura2):

Joo Pessoa, outubro de 2011

343

Figura2: Mapa com as unidades de conservaao e proteao ao longo do igarap do Mindu

A figura demonstra na cor marrom todas as reas de ocupaes irregulares e uma grande
concentrao de moradias na parte alta do curso deste igarap, desencadeando os impactos negativos da
ocupao do solo, o que foi o principal motivo da criao pelo poder pblico destas reas de proteo,
como observado a seguir:
3.1. Criao do Parque Municipal do Mindu Lei n. 219 de nov./1993 e limites ampliados decreto
n. 9.043 mai/2007
O Parque do Mindu foi criado em 1992, em rea urbana; possui 300 mil m de mata,
administrado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA), o Plano de Manejo foi concludo em
2008, as atividades desenvolvidas esto voltadas para pesquisas cientficas, educativas, culturais e
tursticas. um dos ltimos refgios do sauim-de-Manaus (Sanguinus bicolor), espcie endmica na regio
e ameaada de extino (VIDAL, 2006). So encontrados no Parque trs diferentes tipos de vegetao: a
mata de capoeira, a mata de terra firme, a mata de baixio e as reas desmatadas ilegalmente (PLANO DE
MANEJO PARQUE DO MINDU, 2008).
Entre os entrevistados observou-se que a principal motivao para a criao do parque foi
uma mobilizao da populao que vive na rea que queria se defender das ocupaes irregulares de reas
(loteamentos clandestinos), e o que fortaleceu a deciso para a criaao na dcada de 1990 foi o momento
histrico e poltico da ECO 92 com a vista da Gro Brundtland na rea e plantio da rvore smbolo da Floresta
Amaznica: Samama (Ceiba pentandra). Logo a criao do parque foi um marco um avano em relao as
questes ambientais para Manaus-AM.
3.2 Criao do Parque Municipal da Nascente ou Centro de Vigilncia da Nascente: Decreto n
8.351, de 17 de maro de 2006.
Foi observado que as nascentes dos igaraps ainda apresentavam condies satisfatrias,
prximas s de ambientes naturais, embora j se observassem processos de ocupao em reas prximas
s suas cabeceiras. Para proteo da nascente do igarap foram realizadas identificao da origem dos
esgotos e orientao para criarem fossas spticas e unidades de tratamento, desapropriao de moradores
do entorno e delimitao do parque.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

344
A principal motivao partiu de um entendimento dos gestores da poca juntamente com
um grupo de pesquisadores e ambientalistas que priorizavam a preservao das nascentes, j que a partir
da dcada de 1990 a rea era muito ameaada pela ocupao irregular do solo, moradores que j viviam
nesta rea foram indenizados e desocuparam os limites do parque. Existem quatro nascentes preservadas
dentro do parque (Figura 3).

Fonte: SEMMA, 2008

Figura 3: Principal nascente Igarap do Mind, zona leste

3.3 Criao da Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN) - Decreto no. 8.501 de 2006.
A criao da RPPN ocorreu em 2006, rea de 14 hectares de mata secundria preservada,
mantida a totalidade sem nenhuma atividade direta. A reserva possui uma nascente sem contaminao
que contribui com o igarap do Mindu, faz parte do Corredor Ecolgico Urbano de Manaus. A Reserva
contribui com o igarap no sentido de preservar a mata ciliar, fato extremamente para manuteno desse
ambiente.
3.4 Corredor Ecolgico Urbano Decreto no. 9.329, de 26 de outubro de 2007.
O Corredor Ecolgico Urbano (CEU) foi criado a partir da mobilizao pesquisadores e
ambientalistas, moradores nas proximidades do igarap, que observaram que havia uma possibilidade de
construo de vias as margens do mesmo, podendo gerar um maior impacto negativo e outros moradores
da regio foram motivados pela proteo as suas residncias com o possvel aumento do trfego na rea.
O CEU o primeiro projeto aprovado de corredor ecolgico em rea urbana do Brasil, tem
como objetivo promover a conectividade biolgica e o fluxo gnico de fauna e flora entre unidades de
conservao municipais, reas verdes e outros fragmentos florestais urbanos.
Entretanto, nos trechos dos igaraps onde ocorrem aes antrpicas, as propriedades dos
corpos dgua apresentam intensa alterao, chegando a atingir estado de total descaracterizao, em
virtude do excesso de matria orgnica, acmulo de resduos slidos e pouca capacidade de autodepurao
das cargas poluidoras (CLETO FILHO, 1998). Isto se deve ao fato de que esses igaraps no so protegidos
por matas ciliares. Na maior parte de seus percursos grande a influncia da ao antrpica, permitindo o
carreamento de grande variedade de detritos para suas calhas, levados pelas guas pluviais. Em
conseqncia, ocorre o assoreamento dos talvegues e, freqentemente, a alterao dos canais, alm do
Joo Pessoa, outubro de 2011

345
represamento de guas altamente poludas junto s margens, onde se instauram ambientes pobres em
oxignio que provocam a liberao de odores desagradveis. Esta , alis, uma situao que se observa em
quase todos os igaraps que cruzam a cidade: o mau cheiro.
3.5 Criao do Parque dos Bilhares
Este parque no uma unidade de conservao, tem modalidade de parque linear de lazer
com estrutura urbana e foi criado para ocupar uma rea bem localizada, no entanto subaproveitada. Tem
como objetivo oferecer lazer para a populao com foco ambiental e preservao de recursos.
Tanto o Igarap quanto o CEU Parque Municipal do Mindu, Parque dos Bilhares e o Parque
Municipal da Nascente do Mindu apresentam importantssimos servios ecossistmicos para o ambiente
onde esto inseridos, bem como para o entorno e para o planeta, tais como: regulao micro-climtica,
absoro das guas pluviais, abrigo para a fauna e flora, embelezamento da paisagem da cidade - rea
verde pblica, lazer e educao ambiental.
Apesar de todas as medidas proposta para a proteo do igarap, observa-se que ainda h
alagamentos, muito lixo e esgotos lanados no leito. Tem sido verificado por pesquisadores em suas
monografias e dissertaes, que toda atividade proposta para conservao ou proteo de uma rea deve
vir acompanhada de medidas no estruturantes tambm, por exemplo, comando e controle com
orientaes, estabelecimento de normas, fiscalizao e multas, mas principalmente um programa efetivo
de educao ambiental para a mobilizao social. (STONE, 2007; SERAFINI, 2008).
3.6 Educao Ambiental
Nos programas e projetos, nos Estudos de Impacto Ambiental e Relatrios de Impacto
Ambiental EIA/RIMA, apresentam a proposta de educao ambiental, porm observa-se que no h
efetividade destes programas, pois se resumem em aes pontuais, desconectadas e fragmentadas cuja
banalizao j est decretada nos discursos, por meio de campanhas educativas sobre a importncia e
cuidados que devem ser tomados com os igaraps, to somente.
sabido que a concepo de EA no nica, diversos autores concordam na
heterogeneidade das concepes, na diversidade de paradigmas tericos, de estratgia de ao, prticas e
cenrios (CARVALHO, 2004; SAUV, 2004; SORRENTINO, 2006; GARCIA 2003). Todavia, para Garcia (2003)
h um consenso de que a Educao Ambiental pretende propiciar uma mudana de pensamento e conduta
das pessoas individualmente e grupos sociais. O problema como se d esta mudana: no sentido dela
mesma, do contedo ou das estratgias utilizadas para facilitar isto.
Atualmente, no h um consenso sobre as respostas a estas questes. Sobre a natureza da
Educao Ambiental, tanto a tendncia conservacionista e protecionista, quanto a tendncia associada a
tratamento de conflito e mudana social tm um substrato comum, ou seja, o reconhecimento das crises
ambientais e a necessidade de buscar solues, porm, o que diverge na anlise das causas das crises
ambientais. Podemos identificar pelo menos quatro perspectivas de educao ambiental: a EA Pragmtica,
a EA transformadora, a EA na Poltica Nacional de EA e a concepo dos entrevistados.
A categoria da EA Pragmtica apresenta o foco pontual, na ao, na busca de solues para os
problemas ambientais e na proposio de normas a serem seguidas. Pode ter suas razes no ambientalismo
pragmtico e em concepes de educao tecnicistas (SAUV e SATO, 2005). A nfase na mudana de
comportamento individual, por meio de informaes e conscientizao. Capra (2002) contrape esta
idia quando prope a viso sistmica, o olhar do todo, os organismos no vivem isolados dependem uns
dos outros num ecossistema para atender suas necessidades energticas e manter a vida.
A Educao Ambiental Transformadora mais abrangente e visceral. Carvalho (2008)
salienta que a contribuio da educao ambiental estaria no fortalecimento de uma tica que articulasse
as sensibilidades ecolgicas e os valores emancipatrios, contribuindo para a construo de uma cidadania
ambientalmente sustentvel e no aes fragmentadas e descontnuas.
A contribuio da Poltica Nacional de Educao Ambiental-PNEA (1999) na proposio de
programas de educao ambiental deve ser fundamentada nos princpios bsicos da PNEA, considerando
que os objetivos devem estar em sintonia com a realidade para promover conhecimento e compreenso da
complexidade, das interaes, da evoluo e adaptao numa viso sistmica para mudar posturas,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

346
hbitos e comportamento que sejam capazes de um envolvimento da populao do entorno, gestores e da
populao que de alguma forma tenham uma conexo com as guas dos igaraps do municpio de Manaus.
3.7 A Educao Ambiental segundo os entrevistados na pesquisa
Os amaznidas tm uma forte identidade com a gua, devido a rede capilarizada de rios e
igaraps em todas as regies da Amaznia. Por um lado os igaraps constituem uma parte profunda e
sentimental da vida, porm por outro so apenas um canal de despejo e poluio, as casas nas periferias
esto de costas para os igaraps. Para Haas (2006) o rio uma espcie de smbolo dos problemas
ecolgicos negados pela sociedade moderna, nessa relao que se observou a importncia da Educao
Ambiental, para os gestores dos parques.
Os gestores dos parques de modo geral ainda no tem muito claro a concepo de EA, pois
entendem como uma ferramenta como apresentada na PNEA (1999) para proteo das unidades de
conservao e ao mesmo tempo citam que :
[...] O mais importante de tudo isto que a EA primordial no processo de gesto, porque voc no
consegue gerir um recurso com todos os instrumentos de fiscalizao, licenciamento, voc no consegue
gerir sozinho, vai ter que se relacionar com a populao, se esta est mais esclarecidas a unidade vai estar
mais protegida, mais conservada . Quanto mais EA a populao tiver melhor vai alcanar o objetivo.

Os moradores do entorno do parque das nascentes ainda se sentem invadidos com a


delimitao do parque das nascentes, uma vez que l eles caavam, tinham lazer, extraiam areia, madeira e
desfrutavam de um micro-clima agradvel. No entanto, acredita-se que a medida que houver um trabalho
de EA no local, esta concepo vai mudar. J se observa os primeiros resultados em respostas s atividades
de educao desenvolvidas no parque.
De acordo com um entrevistado a EA no processo de gesto:
[...] Contribui muito, ningum faz nada sem educao. Hoje em dia por mais que voc pense que
Meio Ambiente moda, no mais moda, j percebemos a necessidade e a EA dentro do parque ou nas
escolas de grande valor e grande importncia, vai ajudar muito, trabalhar com as crianas vai dar muito
mais resultado do que trabalhar com os adultos. Chegou a hora de mudar e a EA vai fazer um bem imenso
para todos, inclusive prevenindo doenas, usar a preveno. Acho muito importante a EA em qualquer escola
e unidade de conservao.

A EA tambm entendida como processo de orientao para que as pessoas mudem de


comportamento e atitudes, que se chegue num processo de responsabilizao por este meio. Enquanto ele
no se sentir responsvel, beneficiado pela boa qualidade do meio que ele vive enquanto isto no o
acontece no foi educado orientado para este fim. Ento EA ela est voltada para esta questo: para
mudana, da transformao da aprendizagem, o que aprendizagem - mudana de comportamento.
Outro entrevistado diz que:
[...] Educar ambientalmente um ser humano primeiro mostrar o que se tem como ambiente,
depredado ou no, fazer o ser humano entender que tudo que precisa tira da natureza, se voc precisa
dela, tem que viver harmonicamente com ela.

Observou-se que a concepo dos entrevistados vem ao encontro tem um pouco de cada
abordagem citada, com uma tendncia para a EA transformadora. No entanto percebe-se que no basta o
gestor do parque ter um entendimento da EA no processo de gesto, as decises e poder em tratar estas
questes est alm de seu alcance, o que pode ser percebido quando perguntados sobre a situao atual
do igarap e possibilidades de recuperao:
[...] Eu quero acreditar que a prefeitura e o estado, que algum vai fazer alguma coisa para recuperar
o igarap. No acredito em palestra de conscientizao, as pessoas j tem conscincia, mas no so sensveis
a problemtica. Acredito que vai fazer algo para sensibilizar a populao e o igarap ficara prximo da
qualidade da nascente.

Uma contribuio para a recuperao e proteo deste igarap poder ter como ponto de
partida as iniciativas que foram relatadas. No entanto, necessrio que haja um comprometimento e

Joo Pessoa, outubro de 2011

347
disposio para um trabalho em conjuntos com as demais secretrias e medidas efetivas para recuperao
do igarap do Mindu.
4 CONSIDERAES FINAIS
Considera-se que a principal contribuio deste trabalho est no desafio de buscar uma
maior insero da educao ambiental para a gesto sustentvel da gua para o Igarap do Mindu. Afinal
deve-se compreender que cada ato do cidado, por mais simples que seja, passa a ser vivenciado com uma
forte conscincia de que ele est afetando a existncia do todo em seus planos mais sutis. Por fim, o ser
humano vive na natureza, portanto faz parte dela, ou seja, ele est nela e ela nele, deve desenvolver uma
relao unvoca, uma vez que pessoa e ambiente so dimenses de um mesmo mundo (Higuchi et al,
2009).
Os principais desafios e possibilidades para a gesto sustentvel das guas do Igarap do
Mindu so: desenvolver parcerias para os Programas de Educao Ambiental formal e no formal junto s
escolas e sociedade civil e o comando e controle; integrando as secretarias: Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, Secretaria Municipal de Sade, Secretaria Municipal e Estadual de Educao, Secretaria de
Turismo e Cultura e a Secretaria Municipal de Limpeza Pblica, para juntas alcanar xito na proposta da
sustentabilidade da vida.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Lei n. 9.795 27 de abril 1999. Dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica Pblica
Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias. Braslia: DF, 2002.
CAPRA, Fritjof. As conexes Ocultas. Cincia para uma vida sustentvel. Traduo: Marcelo Brando
Cipolla. Editora Cultrix: So Paulo, 2002.
CARVALHO, Isabel C.M. EDUCAO AMBIENTAL CRTICA:NOMES E ENDEREAMENTOS DA
EDUCAO. In: Philippe Pomier Layrargues (coord.), Identidades da Educao Ambiental Brasileira; Braslia:
Ministrio do Meio Ambiente, 2004. 156 p.;
CLETO FILHO, S.E.N., 1998. Efeitos da ocupao urbana sobre a macrofauna de invertebrados
aquticos de um igarap da cidade de Manaus / Am Amaznia Central. Dissertao de Mestrado,
Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia /Universidade do Amazonas, 74p.
FUNDO DE POPULAAO DAS NAES UNIDAS UNFPA. Relatrio sobre a situao da populao
mundial. Woldwach Institute, 2009.
GARCA. J. Eduardo. Los problemas de la educacin ambiental: es posible una educacin ambiental
integradora? Carpeta Informativa - Centro Nacional de Educacin Ambiental CENEAM, Espaa, outubro
2003.
HASS, Robert. Aprendendo a conhecer uma bacia fluvial. In: STONE, Michael K. e BARLOW, Zenbia,
orgs. Alfabetizao Ecolgica: A educao das crianas para um mundo sustentvel. So Paulo: Cultrix,
2006.
HIGUCHI, Maria Ins G.; Alves, Heloisa .H.S.C; Sacramento, Luiza C. A arte no processo educativo de
cuidado pessoal e ambiental. Currculo sem Fronteira, 2009. V.9, n.1. pp. 231-250.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA-IBGE. Populao Oficial Brasileira. Disponvel
em <www.ibge.gov.br>. Acesso em 02 out. 2009.
RELATRIO DE IMPACTOS AMBIENTAL RIMA. PARA A REVITALIZAO DO IGARAP DO MIND.
Manaus, 2008.
SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentvel. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.
SAUV, L. Perspectivas curriculares para la formacin de formadores en educacin ambiental.
Carpeta Informativa - Centro Nacional de Educacin Ambiental CENEAM, Espaa, novembro, 2004. p. 162170
SAUV, Lucie. Uma cartografia das correntes em educao ambiental. Trad. Ernani Rosa. In: SATO,
Michle; CARVALHO, Isabel Cristina de Moura (Org). Educao Ambiental: pesquisa e desafios. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
SEMMA Secretaria Municipal Meio Ambiente. CAPR Coordenao de reas Protegidas. Plano de
Manejo do Parque Municipal do Mindu, relatrio final. Manaus, 2008.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

348
SERAFINI, Rodrigo Tacioli. Relatrio final Levantamento Fauna e Flora do Corredor Ecolgico Urbano
do Mindu. Secretaria Municipal de Meio Ambiente SEMMA. Manaus, 2008.
SORRENTINO, M. Do diversionismo cotidiano s Polticas Pblicas Nacionais e Internacionais
voltadas a enfrentar as Mudanas Climticas: a formao do educador ambiental popular. In:
Ambientalmente sustentable. Ano 1, Nmero 1-2, jun./dez. 2006. p. 39-58.
STONE, Roseane Torres. Unidade de Conservao no papel: uma realidade brasileira. Manaus:
Faculdade Martha Falco, 2007. Monografia de Graduao.
VIDAL, M.D. E CINTRA, R.. Efeito dos componentes estruturais da floresta na ocorrncia, tamanho e
densidade de grupos do sauim-de-coleira (Saguinus bicolor - primates: Callitrichinae), na Amaznia
Central. Acta Amaz. 2006, v. 36, n. 2, pp. 237-248.

Joo Pessoa, outubro de 2011

349
HERPETOFAUNA DE UM BREJO EM SANTA CRUZ DA BAIXA VERDE/PE SUGESTO PARA UMA
UNIDADE DE CONSERVAO
Ana Maria Siqueira QUIRINO
Erasmo Andrade da SILVA
Ednilza Maranho dos SANTOS
1-Estudante de graduao em Cincias Biolgicas. Departamento de B iologia, Universidade Federal Rural de
Pernambuco/Unidade Acadmica de Serra Talhada (UFRPE/UAST), Fazenda Saco, S/N, Serra Talhada -PE, CEP 56900-000. Email: anasiqueira17@hotmail.com.
2-Professora adjunta do departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadmica de
Serra Talhada (UFRPE/UAST), Fazenda Saco, S/N, Serra Talhada-PE, CEP 56900-000.

RESUMO
A Caatinga um ecossistema exclusivamente brasileiro, porm pouco estudado e tambm pouco
protegido, com isso necessrio um maior esforo em conhec-la para evidenciar reas de interesse
biolgico que deve ser protegida. O objetivo desse trabalho listar as espcies de anfbios e rpteis,
destacando sua ocupao nos diferentes hbitat e microhabitat, alm do seu status de conservao,
destacando reas como prioridade para conservao desse grupo. O Stio Olho dgua situa-se no
municpio de Santa Cruz da Baixa Verde/ PE posicionada a uma latitude de 07 49 19 Oeste e 38 09 10
ao Sul. A coleta dos dados foi realizada desde agosto de 2010 at junho de 2011 atravs de buscas ativas e
passivas nos perodos diurnos e noturnos. Foram registradas 19 espcies de anfbios distribudas em seis
famlias, todas pertencentes ordem Anura e 14 espcies de Squamatas. As informaes sobre a paisagem,
presena de mananciais hdricos e riachos, bem como a lista de ocupao das espcies pode contribuir para
o surgimento de uma Unidade de conservao no municpio.
Palavras-chaves: Anfbios, caatinga, conservao, conscientizao, rpteis.
INTRODUO
O semirido nordestino apresenta diferentes paisagens dentre essas o maior destaque para
variveis feies de Caatingas sendo reas xricas e algumas mais msicas. De uma maneira geral a
Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, apresenta uma ampla diversidade biolgica, porm o mais
ameaado, menos estudado e o menos protegido em unidades de Conservao (RODRIGUES, 2003). Um
dos principais problemas enfrentados na regio semirida tem sido a degradao e destruio dos recursos
naturais, causados principalmente pela ao antrpica. Isso acarreta problemas irreparveis nas diferentes
paisagens distintas desse bioma. Estudos revelam uma biodiversidade bastante expressiva, todavia essa
informao bastante pontual o que impossibilita aes de conservao mais direcionadas e
consequentemente a criao de polticas de ambientais locais e estaduais.
De acordo com Rodrigues (2003) esto descritas 52 espcies de anfbios e 150 de rpteis para as
reas do semirido Nordestino, especificamente para as Caatingas. Em Pernambuco, MOURA et al. (2011)
atravs de uma compilao de diferentes estudos realizados no estado, lista para o semirido cerca de 189
espcies distribudas entre anfbios (71) e rpteis (118) para um total de 43 localidades, porm nenhuma
informao para o municpio de Santa Cruz da Baixa Verde, Serto do Paje/PE.
Devido sensibilidade em responderem as alteraes ambientais, os anfbios e rpteis so
considerados importantes bioindicadores e a sua adaptao em regies semiridas envolve diferentes
comportamentos interessantes que ainda necessita ser melhor estudado (POUGH, JANIS, HEISER, 2003),
justificando a importncia desse estudo, como ferramenta interessante para sugerir reas prioritrias para
conservao das espcies. Acreditamos que de extrema importncia tentarmos proteger a biota de
diferentes paisagem do semirido e que o melhor instrumento para tentar garantir um pouco do nosso
potencial gentico implementar um maior nmero de Unidades de Conservao.
O objetivo desse trabalho listar as espcies de anfbios e rpteis, destacando sua ocupao nos
diferentes hbitat e microhabitat, alm do seu status de conservao.
METODOLOGIA
rea de estudo
O Stio Olho dgua situa-se no municpio de Santa Cruz da Baixa Verde/ PE (Figura 1) posicionada a
uma latitude de 07 49 19 Oeste e 38 09 10 ao Sul. Est localizada na mesorregio do Serto de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

350
Pernambuco e na microrregio do Paje, limitando-se ao Norte com o estado da Paraba ao Sul com
Calumb e a Oeste com Serra Talhada, o local esta com 850 metros de elevao, estando localizada cerca de
445 km da capital do Estado, Recife. Possui temperatura mdia anual de 21,9 C, clima tropical chuvoso e
uma rea de 90,8 km.
A localidade referida est inserida em um vale com encostar bastante acentuada com paredes
rochosos e pequenas quedas dgua que dar um toque especial na paisagem local. A vegetao bastante
variada com elementos de caatinga arbustiva e em alguns pontos, nas serras, encontra-se uma vegetao
mais arbustiva. A presena de diferentes corpos dgua (riacho, cachoeira e tanques) sendo estes locais
propcios para os anfbios e algumas espcies de rpteis. Para amostragem foram selecionados cinco
pontos fixos (Tabela 1, Figura 2) e seis reas para buscas ativas (Tabela 1 e 2).

Figura 1. Mapa do Brasil, destacando o mapa de Pernambuco pontuando rea regio do Serto do
Paje
com
destaque
da
cidade
de
Santa
Cruz
da
Baixa
Verde/PE.
Fonte:
http://santacruzbaixaverde.blogspot.com/2009_05_01_archive.html.
Tabela 1. Pontos de coletas passivas (pit-fall) no Stio Olho dgua, Santa Cruz da
Baixa/Pernambuco, em setembro de 2010 a junho de 2011.
PONTOS

Coordenadas
rea

Local

Descrio
S

W
Vegetao
arbustiva
residncia.

herbcea
prximo

rea aberta

Cacimbo, vegetao
circunvizinhas
e
proximidades
da
residncia

075144,9

381033.7

II

rea aberta

Tanque 1

075142.3

381035.4

Vegetao
herbcea,
arbustiva/arbrea
em
ambiente de pastagem.

III

rea aberta

Tanque 2

075145.2

381034.8

Vegetao
herbcea,
arbustiva/arbrea
em
ambiente de pastagem.

IV

rea aberta com


enclaves
de
mata

Riacho

075140.2

381035.4

Vegetao
herbcea,
arbustiva/arbrea
em
ambiente de pastagem.

rea aberta com


enclaves
de
mata

Bordas do riacho

075140.2

381035.4

Vegetao
arbustiva/arbrea.

Joo Pessoa, outubro de 2011

351

VI

Ambiente
antropizado

Plantao
bananeiras

das

075145.0

381039.0

Vegetao arbustiva, com


predominncia de frutferas.

Tabela 2. Pontos de coletas ativas no Stio Olho d gua, Santa Cruz da Baixa Verde/Pernambuco em
setembro de 2010 a junho de 2011.
Sistema

Local

Mata

Coordenadas
S

075156.9

Descrio

0381028.4

Caatinga arbustivo-arbrea com predominncia de


Canavillesia arbrea, Mimosa sp., Croton sp.,
Jatropha sp., Copernicea prufifera,representantes
da famlia Anarcadiaceae e principalmente
Euphorbiaceae.

Mata

075153.4

0381032.5

Caatinga arbustivo-arbrea com predominncia de


Canavillesia arbrea, Mimosa sp., Croton sp.,
Jatropha sp., Copernicea prufifera,representantes
da famlia Anarcadiaceae e principalmente
Euphorbiaceae.

Mata

075156,9

0381032.2

Caatinga arbustivo-arbrea com predominncia de


Cactaceae, Euphorbiaceae e Anarcadiaceae.

Mata

075156,5

0381033,0

Caatinga arbustivo-arbrea com predominncia de


Cactaceae, Euphorbiaceae e Anarcadiaceae.

Mata

075156,3

0381032,1

Caatinga arbustivo-arbrea com predominncia de


Cactaceae, Euphorbiaceae e Anarcadiaceae.

Figura 2: Corpos dgua que compem a paisagem da localidade Olho dgua, Santa, Santa Cruz da
Baixa Verde/Pernambuco, no perodo de agosto de 2010, reas importantes para ocupao de anfbios e
rpteis; A- Riacho; B- rea alagada prximo a encosta; C-Lago, rea onde se acumula gua do riacho; DVegetao dentro do fragmento destacando bromeliceas. Fonte: SANTOS, 2010.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

352
Coleta dos dados
As coletas dos dados foram realizadas mensalmente desde o perodo agosto de 2010, durante seis
dias, distribudos em duas semanas, nos ambientes de refgio, alimentao e procriao dos anfbios,
atravs de buscas passivas utilizando armadilhas de interceptao e queda - modelo padro pit fall traps
(NOGUEIRA, et al.,2005) em forma de Y adaptado para captura de anfbios, e buscas ativas, por meio de
caminhadas espordicas. Para as buscas passivas, foram selecionadas cinco reas. Em cada rea foi
instalado cinco sistema de armadilhas (Tabela 1), onde cada sistema constitudo por quatro baldes de 20
litros enterrados no cho, dispostos em forma de Y. O balde central e os perifricos so interligados
atravs de cercas com lonas de plstico de 400 cm de comprimento e 50 cm de altura, fixados por estacas
de madeira.
Anlises dos dados
Para a anlise estatstica da constncia de ocorrncia de cada espcie utilizou-se o mtodo de Dajoz
(1983), que tem a seguinte expresso matemtica: C = p.100/P. Onde: C= constncia de ocorrncia de cada
espcie; p= nmero de excurses em que a espcie foi registrada; P= nmero total de excurses. A anlise
define as seguintes categorias de espcies: constantes (ocorreram em mais de 50% das amostras),
acessrias (ocorreram entre 25% e 50% das amostras) e acidentais (ocorreram em menos de 25% da
amostra).
RESULTADOS E DISCUSSES
O esforo de coleta foi diludo em 162 horas/homem de busca ativa e 432 horas de busca passiva,
com dois observadores em cada coleta, o que resultou um registro de 19 espcies de anfbios distribudas
em seis famlias, todas pertencentes ordem Anura: Bufonidae (2), Hylidae (5), Leiuperidae (1),
Leptodactylidae (8), Pipidae (1) e cycloramphidae (2) e 14 espcies de rpteis onde 10 espcies foram de
lagartos, paras oito famlias, essas pertencentes a Tropiduridae (2), Gekkonidae (1), Teiidae (2), Iguanidae
(1), Gymnophthalmidae (1), Leiosauridae (1), Sphaerodactylidae (1) e Phylloctylidae (1) e foi observadas
duas famlias: Dipsadidae (3) e Viperidae (1). Todas as espcies listadas para localidade j foram registradas
em outros trabalhos realizados em reas de Caatinga, para Pernambuco (SANTOS; CARNAVAL, 2001;
RODRIGUES, 2003).
Do total de espcies de anfbios registradas, 18 ocorreram na rea de caatinga aberta (1) e apenas
O. carvalhoi e Proceratophrys cristiceps (Mller, 1884 "1883") foram observada na rea de caatinga densa
(2).As famlias Hylidae e Leptodactylidae tiveram uma maior representatividade com sete e cinco espcies
respectivamente, seguidas de Bufonidae, Leiuperidae, Pipidae e Cycloramphidae com duas, duas, uma e
duas espcie respectivamente. Quanto aos rpteis famlia Tropiduridae com registro de duas espcies
Tropidurus hispidus (Spix, 1825) e Tropidurus semitaeniatus (Spix, 1825), obtiveram uma maior
representatividade com 22% dos indivduos contabilizados, seguidos de Gekkonidae (11%), Teiidae (11%),
Sphaerodactylidae (11%), Iguanidae (11%) e Gymnophthalmidae (11%), Leiosauridae (11%) e
Phyllodactylidae (11%). Na amostragem geral podemos perceber uma riqueza para a famlia Tropiduridae
como a mais abundante. Em relao as espcies de serpentes registradas no Stio Olho d'gua, foi
observadas duas famlias: Dipsadidae (3) e Viperidae (1) , onde a famlia Dipsadidae (75%) obteve maior
representatividade entre as serpentes e Viperidae representando apenas 25% da amostra.
O mtodo de busca ativa nos stios de procriao mostrou-se mais eficiente na coleta dos dados,
resultando no registro de uma maior riqueza de espcies de anuros (n=764 indivduos) e 350 indivduos de
rpteis. Porm, a instalao dos sistemas de armadilhas de interceptao e queda auxiliou para que a
listagem fosse maximizada e aumentar o esforo de captura dos animais, tendo em vista que existem
anuros habitam a serrapilheira e que no foram observados na busca ativa.
Quanto a frequncia de ocorrncia, foram consideradas acidentais um total de duas espcies, sete
foram consideradas acessria e 10 espcies foram consideradas constantes (Tabela 3).
Das espcies registradas nenhuma delas encontra-se na lista de espcies ameaadas de extino,
todavia a maioria encontra-se como status de conservao desconhecido (Tabela 3).
Tabela 3: Nomes populares, abundncia e ocorrncia das espcies de anfbios e rpteis amostrados
no Stio Olho dgua, Santa Cruz da Baixa Verde/PE no perodo de agosto/2010 a junho /2011. Habitat: Apoa, B- solo mido, C- solo seco, D-rvores. Microhabitat: 1-Serrapilheira, 2- tronco, 3-Vegetao arbrea
arbustiva, 4- lajedo, 5- reas edificadas, 6-frechas de rochas, 7-tanque, 8-cacimbo. Frequncia de
Joo Pessoa, outubro de 2011

353
ocorrncia (FO): Constante-mais de 50%, acessria-entre 25 e 50% e acidental-menos de 25%. Forma de
Registro: BA-busca ativa, BP-busca passiva.
SUBCLASSE/ ORDEM/ FAMLIA/ ESPCIE
LISSAMPHIBIA/ANURA/BUFONIDAE
Rhinella granulosa Spix, 1824
Rhinella jimi (Stevaux, 2002)
CYCLORAMPHIDAE
Odontophrynus carvalhoi Savage & Cei, 1965
Proceratophrys cristiceps (Mller, 1884 "1883")
HYLIDAE
Dendropsophus gr. nanus (Boulenger, 1889)
Dendropsophus oliveirai Bokermann, 1963
Dendropsophus sp.
Hypsiboas crepitans Wied-Neuwied, 1824
Hypsiboas raniceps (Cope, 1862)

HABITAT /
MICROHABIT

FO

FORMA DE
REGISTRO

Sapo

B,1

Acessria

BA

Sapo-cururu
Sapo cavador, sapo
de chifre
Sapinho
da
caatinga

B,1

Constante

BA

B,1

Constante

BP

B,1

Acessria

BP

Perereca

D,1,2,5

Constante

BA

Perereca
Perereca
Perereca, gia

D,1,2,5,6
D,1,2,5,6
D,5

Constante
Acidental
Acessria

BA
BA
BA

Gia-de-bananeira

D,5

Constante

BA

D,5,7

Constante

BA

D,5,7

Constante

BA

B, 1

Constante

BP, BA

B, 1

Acessria

BA

B,1,5,2

Constante

BA

B,1

Constante

BA

B,1

Acidental

BA

B,1

Acidental

BA

Parereca
verde
pequena
Perereca raspa cuia
R piadeira, r foi
no foi, r cachoroo
R chorona

Phyllomedusa nordestina (Caramaschi 2006)


Scinax x-signatus (Spix, 1824)
LEIUPERIDAE
Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826
Physalaemus albifrons (Spix, 1824)
LEPTODACTYLIDAE
Leptodactylus troglodytes Lutz, 1830

Sapo, r
R-pimenta,
jiapimenta
Caote
Caote, r manteiga
ou giote
Caote

Leptodactylus vastus Spix, 1824


Leptodactylus caatingae Heyer & Junc, 2003
Leptodactylus latrans (Steffen, 1815)
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799)
PIPIDAE
Pipa carvalhoi (Miranda-Ribeiro, 1937)
SQUAMATA/LIZARDS/IGUANIDAE
Iguana iguana (Linnaeus, 1758)
LEIOSAURIDAE
E
Enyalius bibronii Boulenger, 1885
TROPIDURIDAE
Tropidurus hispidus (Spix, 1825)
T

NOME POPULAR

Tropidurus semitaeniatus (Spix, 1825)

GEKKONIDAE
Hemidactylus brasilianus (Amaral, 1935)
PHYLLODACTYLIDAE
Gymnodactylus geckoides Spix, 1825
Phyllopezus pollicaris Spix, 1825
SPHAERODACTYLIDAE
C
Coleodactylus meridionalis (Boulenger, 1888)
TEIIDAE
Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758)
Cnemidophorus cf. ocellifer (Spix, 1825)
GYMNOPHTHALMIDAE
Anotosaura vanzolinia Dixon, 1974
SQUAMATA/SNAKES/ DIPSADIDAE
Oxyrhopus trigeminus Dumril, Bibron & Dumril, 1854
Thamnodynastes hypoconia (Cope, 1860)
Thamnodynastes sertanejo Bailey, Thomas & Silva-Jr, 2005
Thamnodynastes sp.
VIPERIDAE
Caudisona durissa (Linnaeus, 1758)

STATUS
AMEAAS
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)
LC (IUCN)

B, 1

Acessria

BA

A, 8

Acessria

BA

Camaleo, iguana

D,3,5

Acidental

BA

Papa vento

B, 1

Acidental

BA, BP

Lagartixa de muro,
catende, carambolo

C,5,4

Acessria

BA

Lagartixa

C,4

Acessria

BA

C,5

Acessria

BA

C, 6

Acidental

BA

Bribinha mirim

C, 1

Acidental

BA

Calango verde, bico


doce, bebe ovo

C, 1

Acidental

BP

Bibra
grosso

de

rabo

Briba
Lagarto, briba

Calango
Lagartinho
folhio

LC (IUCN)
LC (IUCN)
-

de

B, 1

Acidental

BP

Coral falsa

C,3

Acidental

BA

Jararaquinha
Jararaquinha
Jararaquinha

C, 3
C, 3
C, 3

Acidental
Acidental
Acidental

BA
BA
BA

Cascavel

C,3

Acidental

BA

Critrios de ameaa: criticamente em perigo (CR); dados deficientes (DD); em perigo (EN);
presumidamente em perigo (PA); vulnervel (VU); pouco preocupante (LC). Apndice I - Lista as espcies
mais ameaadas de extino. O comrcio internacional est proibido; Apndice II - Lista as espcies em
risco de se tornarem ameaadas de extino, caso o comrcio internacional no seja controlado; e
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

354
Apndice III - Lista as espcies com o comrcio internacional parcialmente regulado, mas que precisa da
cooperao dos pases para no haver sobreexplotao; Sem informao (-)
CONSIDERAES FINAIS
O presente trabalho revela que a rea estudada pode ser uma forte candidata a uma rea
prioritria para conservao biolgica, devido principalmente aos recursos hdricos disponveis que so
reas de ocupao de anfbios e rpteis, todavia evidente que a continuidade do trabalho deve ser levada
em considerao. Atualmente o municpio Santa Cruz da Baixa Verde/PE no possui nenhuma Unidade de
Conservao, apesar da rea estudada ser uma rea de rea de Proteo Permanente (APP), com reas de
declives, presena de vales e diferentes encostas de rea florestada, a atuao antrpica evidente
modificando parte da paisagem o que levanta uma preocupao e evidencia uma ao urgente para
proteo da rea. Estudos faunsticos auxiliam no diagnstico para diferentes reas, como embasamento
terico para elaborao de proposta de reas protegidas.
A famlia Hylidae apresentou uma maior riqueza e tambm uma maior abundncia, onde as
espcies com maior frequncia de ocorrncia foram Phyllomedusa nordestina, Scinax x-signatus, Rhinella
jimi, Hypsiboas raniceps.
A fauna de rpteis do Stio Olho d' gua caracterizada por predomnio de animais da
Caatinga e pelo registro de uma espcie de lagarto do domnio atlntico (Coleodactilus meridiolalis). A rea
de caatinga onde se encontra lajedos e rochas em um terreno declnio apresentou uma maior riqueza e
tambm uma maior abundncia devido maior nmero de ambientes de refgio, alimentao presentes
nesta rea. As espcies com maior frequncia de ocorrncia foram: Tropidurus hispidus; Tropidurus
semitaeniatus e Hemidactylus brasilianus.
Atualmente necessrio, dentro do bioma Caatinga, um maior nmero de reas
protegidas, principalmente no Estado de Pernambuco, que tem aes voltadas para selecionar reas
prioritrias para conservao biolgica. Com tudo isso esse trabalho deve contribuir e ajudar os gestores
nessa seleo para garantir parte do nosso potencial gentico em um bioma exclusivamente brasileiro.
REFERNCIAS
MOURA, G. J. B de (Organizador) Herpetologia no estado de Pernambuco. Braslia:IBAMA,2011.
POUGH, F. H.; JANIS, C. M.; HEISER, J. B. A vida dos vertebrados. So Paulo: Atheneu, 2003, p. 261269, 3. Ed., Cap. 9.
RODRIGUES, M. T. 2003 a. A fauna de rpteis e anfbios das caatingas. In: Workshop Biodeversidade
da
Caatinga.
Petrolina,
PE.
2003.
Disponvel
em<http://www.biodiversitas.org/caatinga/relatorios/repteis_anfibios.pdf>.Acessado em:14/04/2011.
RODRIGUES, M. T. 2003 b. Anfbios e rpteis: reas prioritrias para a conservao da Caatinga. In:
BRASIL PROBIO Projeto de Conservao e Utilizao Sustentvel da Diversidade Biolgica Brasileira.
MMA. Avaliao e aes prioritrias para a conservao da biodiversidade do Bioma Caatinga.
SANTOS, E. M.; CARNAVAL, A. C. O. Q. Anfbios anuros do Estado de Pernambuco. In: TABARELLI, M;
SILVA, J.M.C. (orgs.). Diagnstico da biodiversidade de Pernambuco. V. 2. Recife: Editora Massagana, p.
529-533. 2001.

Joo Pessoa, outubro de 2011

355

CARACTERSTICAS FISCAS E QUIMCAS E CLASSIFICAO DE UM


NEOSSOLO LOCALIZADO NA RESERVA LEGAL RIACHO PACAR, RIO
TINTO/PB
Andr Amaro FELIX
UEPB Campus III Guarabira/PB/ andrefelixslterra@yahoo.com.br
Aluno bolsista empresa particular Miriri Alimentos e Bioenergia S/A / membro do Terra: grupo de pesquisa urbana rural e
ambiental / CNPq
Jos Ronielly Soares de SOUZA
UEPB Campus III Guarabira/PB/ ronielly-gba@hotmail.com
Aluno bolsista PIBIC / membro do Terra: grupo de pesquisa urbana rural e ambiental / CNPq
Dr. Luciene Vieira de ARRUDA
UEPB Campus III Guarabira/PB/ luciviar@hotmail.com
Professora Dra. do curso de Licenciatura plena em geografia / membro do grupo Terra: grupo de pesquisa urbana rural e
ambiental / CNPq (Orientadora)

RESUMO
Os estudos cientficos referentes aos solos se mostram mais direcionados para as reas agrcolas do
que reas de matas, o que dificulta um melhor conhecimento da fertilidade natural dos solos encontrados
nessa rea. O objetivo dessa pesquisa est direcionado classificao e avaliao da fertilidade natural de
um Neossolo, diagnosticado junto a outras ordens de solo em uma rea de preservao ambiental de mata
Atlntica de posse da Miriri Alimentos e Bioenergia S/A, denominada Reserva Legal Riacho Pacar, situada
no municpio de Rio Tinto/PB. A pesquisa nessa rea aconteceu em fevereiro de 2011, com a escolha do
perfil, levantamento de campo, coleta de 06 amostras e analise macromorfolgica, realizado aps abertura
da trincheira e coleta de amostras. Posteriormente as amostras foram submetidas s anlises fsica e
qumica no laboratrio de Fsica do Solo e de Qumica e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos e
Engenharia Rural do CCA/UFPB. Sua analise fsica revela uma maior quantidade de areia em todas as
camadas, caracterstica que demonstra um solo formado por sedimentos de material aluvial que foi
carreado e depositado em forma de camadas. Suas caractersticas qumicas revelam pH com acidez alta,
CTC mdia, SB baixa e Distrfico (Tb), por apresentar saturao por bases menor que 50% em todas as suas
camadas o que qualifica esse solo como carente em nutrientes bsicos, o que forma um solo pobre. Aps
macromorfolgia e resultados das analises fsica e qumica o solo estudado foi classificado de acordo com o
Sistema Brasileiro de Classificao de Solos (Embrapa, 2006), at o 4 nvel categrico (sub-grupo).
PALAVRAS-CHAVE: classificao, avaliao, fertilidade natural e neossolo.
INTRODUO
As pesquisas referentes aos solos se mostram mais direcionados para as reas agrcolas do que
para reas de matas, devido a vegetao de mata que cobre o solo. No entanto em reas de mata a prpria
cobertura vegetal natural se responsabiliza pela preservao do solo alm de proteg-lo da ao de alguns
elementos naturais como a chuva e o vento.
reas de remanescentes de vegetao so parcelas da propriedade rural que devem ser
conservadas com vegetao nativa, permitindo apenas a extrao de madeira, de forma racional, sem
destruir o conjunto da vegetao. O estudo do solo nessa rea compreende uma parcela considerada
pequena, se comparada aos estudos de classificao de solos em reas agrcolas, que objetiva a correo
do mesmo, com o interesse de manter uma elevada produo visando apenas o lucro.
De acordo com Almeida (2000) apud Gonalves e Santos (2010) a Mata Atlntica engloba um
variado conjunto de ecossistemas florestais (Florestas Ombrfilas Densas, Florestas Estacionais, Florestas
Ombrfilas Abertas e Mistas, Matas Serranas do Nordeste), vegetao de restingas, manguezais, praias e
vegetao de dunas que apresentam alto grau de endemismo e representam um rico patrimnio natural e
histrico-cultural que de fundamento prpria identidade nacional.
Em relao Mata Atlntica paraibana sua rea corresponde Mesorregio da Mata Paraibana,
que engloba 22 municpios situados em uma faixa de at 100 km da costa litornea para o interior do
estado, com extenso de 5.231 km2, que corresponde a 9,3 % do territrio paraibano (SUDEMA, 2004 apud
GONALVES E SANTOS, 2010).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

356
Grandes empresas so obrigadas, por legislao a manter unidades de mata nativa para proteger
nascentes e espcies de animais, vegetais assim como ordens de solos. Fundamentada nesse propsito a
Miriri Alimentos e Bioenergia S/A, que ocupa terras no municpio de Mamanguape, Santa Rita e Rio Tinto,
totalizando um patrimnio territorial de 18.026,70ha, reserva 5.570ha ou 30,90% para preservao
ambiental e em relao ao resto das parcelas so destinados 7.607ha ou 42,20% para cultivar cana-deacar, e 4.842ha ou 26,86% para outros fins como a pecuria. A rea reservada para preservao
ambiental se divide em 22 Reservas Legais (RL), 1 Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN) e 1 rea
de Proteo Permanente (APP) (GONALVES E SANTOS, 2010).
O objetivo dessa pesquisa est direcionado caracterizao das analises fsicas e qumicas,
avaliao da fertilidade natural e classificao de um Neossolo, diagnosticado junto a outras ordens de solo
em uma rea de preservao ambiental de mata Atlntica pertencente Miriri Alimentos e Bioenergia S/A,
denominada Reserva Legal Riacho Pacar (RLRP), situada no municpio de Rio Tinto/PB.
METODOLOGIA
A pesquisa ocorreu na Reserva Legal Riacho Pacar, de posse da Miriri Alimentos e Bioenergia S/A,
situada no municpio de Rio Tinto/PB. Trata-se de uma unidade de conservao particular localizada na
Fazenda Santa Emlia, de sede localizada no mesmo municpio, com 56,06 ha, que busca preservar
resqucios de mata Atlntica.
De acordo com CPRM (2005) o municpio de Rio Tinto est localizado na Microrregio do Litoral
Norte e na Mesorregio da Mata Paraibana do Estado da Paraba, inserido nos domnios das bacias
hidrogrficas dos rios Mamanguape, Miriri e Camaratuba com altitudes medias entre 50 e 100m.
Geomorfologicamente falando, Rio Tinto est inserido na unidade Geoambiental dos Tabuleiros
Costeiros que acompanha todo litoral nordestino que Compreende plats de origem sedimentar, com grau
de entalhamento varivel, que apresente vales estreitos e encostas abruptas e vales abertos com encostas
suaves e fundos com amplas vrzeas (CPRM, 2005). O clima predominante no respectivo municpio do
tipo Tropical Chuvoso com vero seco, o que caracteriza uma vegetao do tipo Floresta Subpereniflia,
com partes de Floresta Subcaduciflia e Cerrado/ Floresta.
O trabalho de campo ocorreu em 21 de fevereiro de 2011, com a escolha de um perfil de solo,
coleta de 06 amostras e analise macromorfolgica. A caracterizao morfolgica foi feita de acordo com a
metodologia de Santos et al, (2005), e se divide em duas partes: a primeira parte corresponde descrio
do ambiente, em que se escolhe o local onde ser aberto o perfil e se observa o relevo, drenagem,
vegetao, pedregosidade, eroso e uso atual; a segunda parte se refere s caractersticas de espessura,
cor, textura, estrutura, consistncia, cerosidade, porosidade, distribuio de razes e transio entre os
diferentes horizontes do perfil do solo. Em seguida foram coletadas as 06 amostras de solo referente aos
horizontes encontrados (figura 1).

Figura 6. Macromorflogia, Separao das camadas e Coleta de amostras de solo na RLRP, Rio
Tinto/PB. (Fotos do autor. 21/02/2011).

Joo Pessoa, outubro de 2011

357
Posteriormente as amostras coletadas foram submetidas s anlises fsicas e qumicas no
laboratrio de Fsica e de Qumica e Fertilidade do Solo do Departamento de Solos e Engenharia Rural do
CCA/UFPB. A anlise fsica se resumiu na classificao textural e avaliao das fraes areia (grossa e fina),
silte e argila. Em relao a anlise qumica e de fertilidade foram analisados o pH em gua, fsforo,
potssio, sdio, clcio, acidez potencial (H + Al) e material orgnico.
Com os resultados das analises fsica e de qumica do solo pode-se avaliar sua fertilidade natural e
posteriormente realizar a classificao do perfil de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificao de
Solos (EMBRAPA, 2006), at o 4 nvel categrico (sub-grupo).
RESULTADOS E DISCUSSO
Segundo EMBRAPA (1972) os Neossolos, anteriormente chamados de Solos Aluviais Eutrficos, so
constitudos por sedimentos aluviais, no consolidados, de natureza variada formam camadas estratificadas
sobrepostas, sem disposio preferencial de estratos, presentes em reas de florestas pereniflias de
vrzea, na zona mida costeira e sob caatinga hiperxerfila em relevo plano.
Ainda de acordo com a referncia acima citada, a ordem dos Neossolos deriva de formaes
referentes a rochas mais recentes, sedimentares, que ocorrem em quase todas as regies do estado, em
estreitas faixas ao longo dos cursos dgua, nos vales dos baixos cursos dos rios Paraba e Mamanguape e
na faixa mida costeira.
Na presente pesquisa o perfil diagnosticado como um Neossolo foi encontrado na margem
esquerda do riacho Miriri, Rio Tinto/PB, onde foram coletados e georeferenciados os dados gerais desse
solo (Quadro 1).
Tabela 1. Caractersticas gerais do Neossolo estudado na RLRP, Rio Tinto/PB
Profundidade do
slum/
(horiz. A + c)
(cm)

Altitude/
Coordenadas
UTM

Relevo regional/
local
Declividade

Pedregosidade/
Rochosidade

Vegetao
primria/
atual

Uso

Drenagem

NEOSSOLO FLVICO Tb Distrfico tpico (RYbd)


190+
(A+C1,
C2,
C3, C4 e C5)

17 m
0283482
9239344

Suave ondulado/
Inclinado
25 55 %

No pedregoso/
No rochoso

Mata Atlntica/
Unidade
de
conservao

Bem
drenado

Acima do perfil o relevo local contribui para uma elevada deposio de material por ser suave
ondulado e inclinado, formando um solo profundo, moderadamente pedregoso, no rochoso e coberto por
vegetao de Mata Atlntica.
O solo est estruturado sob a forma de camadas, que se mostram depositadas e formadas por
sedimentos aluviais diferenciados pela cor e textura, sequenciadas de A-C, sendo este ultimo subdividido
em cinco camadas com profundidade maiores de 180 cm.
As cores diagnosticadas de acordo com MUNSELL COLOR (1998) variam de Bruno escuro e forte
(solo mido) a Bruno, forte, avermelhado e amarelado (solo seco), com matizes de 7,5YR a 10YR e 5YR, com
valores de 3 a 5 e cromas de 2 a 6 para o solo mido e valores de 3 a 4 e cromas de 2 a 6 para o solo seco
(Quadro 2). De acordo com Santos et al, (2005) essas cores atribudas ao solo so derivadas da matria
orgnica que se encontra em boa quantidade contida no solo e refletem cores de preto a marrom.
A textura predominante no solo de arenosa mdia, que comprova a presena de uma maior
quantidade de areia superior a de argila e a de silte. J na estrutura do solo estudado, foram encontrados
blocos granulares e subangulares que variam de fraco a moderado, pequenos e muito pequenos, com
consistncia de solta a macia, frivel, no plstica e no pegajosa, caractersticas resultantes da
concentrao de areia, o que demonstra ser esse solo um conjunto de material depositado em diferentes
pocas que carreou diferentes componentes do solo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

358
Tabela 2. Caractersticas morfolgicas do Neossolo estudado na RLRP, Rio Tinto/PB
1

Horiz.
Prof. (cm) Cor
Textura
NEOSSOLO FLVICO Tb Distrfico tpico (RYbd)
7.5YR 3/4 s Bruno Arenosa/
A
0-10
escuro
franco
7.5YR
3/2
u arenosa
Bruno escuro

C1

10-30

C2

30-55

C3

55-85

C4

85-125

C5

125-190+

Estrutura

Consistncia

Blocos
granulares,
fracos,
pequenos

Solto, frivel, no
plstico, no pegajoso,
poros comuns, mdios,
muitas
razes
secundrias medias e
finas

m.

Transio

7.5YR 4/3 s Bruno


7.5YR
4/4
u
Bruno

Arenosa/
franco
arenosa

Blocos
granulares,
moderados,
pequenos

Solto, frivel, no Abrupta e


plstico, L. pegajoso, ondulada
muitos poros mdios,
razes
comuns,
secundrias, mdias

7.5YR 4/6 s Bruno


forte
7.5YR
5/4
u
Bruno

Mdia/
franco argila
arenosa

Blocos
subangulares,
moderados,
pequenos

Macio,
frivel,
no
plstico e L. pegajoso,
muitos poros pequenos a
mdios, razes comuns,
secundrias e finas

Gradual e
ondulada

5YR 4/3 s Bruno


avermelhado
7.5YR
5/6
u
Bruno forte

Mdia/
franco argila
arenosa

Blocos
subangulares,
fracos,
m.
pequenos

Macio, firme, plstico e L.


pegajoso, muitos poros
pequenos,
razes
comuns,
secundrias
finas

Abrupta e
plana

7.5YR
Bruno
7.5YR
Bruno

Mdia/
franco argila
arenosa

Blocos
subangulares,
fracos, pequenos

Macia, muito frivel, no


plstica e no pegajosa.
Muitos poros pequenos,
poucas razes secund.
finas

Clara
plana

Argilosa/
argila arenosa

Blocos
granulares,
fracos,
pequenos

Solto, frivel, L. plstica,


N. pegajoso, muitos
poros, mdios, poucas
razes secund. Finas

Abrupta e
ondulada

4/2

4/4

10YR 4/4 s Bruno


amarelado
escuro7,5YR 5/6
u Bruno forte

m.

A anlise fsica foi resumida apenas granulomtrica e classificao textural, que diagnosticou no
solo um percentual menor que 35% de argila na maioria das camadas (Quadro 3). Apenas a camada C5
superou os 35%, porem com uma porcentagem muito baixa, caracterizando uma textura do solo de
arenosa a media (Santos et al, 2003).
As maiores porcentagens da frao areia encontrada no solo demonstra sua formao recente,
decorrente do material aluvial arrastado pelas enxurradas, contendo principalmente areia grossa.

Joo Pessoa, outubro de 2011

359
Tabela 3. Caractersticas fsicas (granulometria) do Neossolo estudado na RLRP, Rio Tinto/PB
Horizontes
Smb.

Granulometria
Prof.
Areia grossa
Areia fina
Silte
Argila
Cm
.............................................g/kg................................................................
NEOSSOLO FLVICO Tb Distrfico tpico (RYbd)
A
0-10
531
179
87
203
C1
10-30
438
180
222
160
C2
30-55
379
168
205
248
C3
55-85
412
176
156
256
C4
85-125
409
187
130
274
C5
125-190
401
175
71
353

Com os resultados da analise qumica e comparando os valores obtidos com a interpretao de


fertilidade do solo para matria orgnica e para o complexo de troca catinica, pode-se diagnosticar que o
solo apresenta um pH cido por apresentar valores abaixo de 5.0 com exceo do horizonte A, e por isso
apresenta deficincia de P e baixos teores de Mg2+. A saturao por bases (V) com nveis abaixo de 50%
qualifica esse solo como Distrfico. Os nveis de H++Al+3 foram mdios assim como os de Al+, enquanto que
a SB se mostrou baixa, resultante da soma dos teores de Ca2+, Mg2+ e K+ trocveis, o que qualifica esse solo
como carente em nutrientes bsicos e consequentemente pobre, apesar de obter um nvel de matria
orgnica (MO) muito boa.
Tabela 4. Caractersticas qumicas do Neossolo estudado na RLRP, Rio Tinto/PB
Horiz

PH/ H2O
(1:2,5)

H +AL

+3
3

2+

2+

P
K
Na
Al
Ca
Mg
SB
CTC
3
-3
... mg/dm ..................................... cmolc dm ...............................
...
NEOSSOLO FLVICO Tb Distrfico tpico (RYbd)
A
5,21
2,14 44,88 0,06 2,81
0,20 0,95
1,00
2,12
4,93
C1
4,66
4,38 16,64 0,09 3,30
0,80 0,15
0,15
0,43
3,73
C2
4,74
0,48 10,81 0,08 2,15
0,80 0,05
0,35
0,51
2,66
C3
4,72
0,33 7,90
0,05 2,48
0,70 0,05
0,25
0,37
2,85
C4
4,62
0,77 9,84
0,09 3,14
0,75 0,05
0,15
0,32
3,46
C5
4,61
0,84 8,87
0,07 1,49
0,50 0,10
0,15
0,34
1,83

V
M
...........%.........

MO
-g/kg-

43,00
11,53
19,17
12,98
9,25
18,58

17,28
11,21
6,81
8,90
5,45

8,62
65,04
61,07
65,42
70,09
59,52

Pelo fato de estar localizado as margens de um curso dgua, e desta forma apresentar carter
flvico, formado a partir de sedimentos aluviais organizados em forma de camadas e sem apresentar um
horizonte B diagnostico definido, o solo estudado foi classificado como um Neossolo Flvico Tb Distrfico
com argila de atividade baixa, menor que 27 cmolc/kg de argila e saturao por bases baixa, ou seja, menor
que 50% em todas as suas camadas (EMBRAPA, 2006). Em seu quarto nvel categrico esse solo
considerado um Neossolo Flvico Tb Distrfico tpico por no apresentar horizonte glei dentro de 150 cm
da superfcie (EMBRAPA, 2006).
CONSIDERAES FINAIS
Com os resultados aps as analises fsica, qumica e caractersticas naturais do solo, pode-se
concluir que o solo estudado foi classificado um Neossolo Flvico Tb Distrfico tpico.
Apresenta carter flvico, por est situado as margens de um rio. um solo pouco evoludo e
constitudo por sedimentos aluviais, sobreposto em forma de camadas. Possui argila de atividade baixa (T <
27 cmolc de argila) diagnosticada em sua analise fsica e saturao por bases baixa (V< 50%) em todas as
suas camadas, sem presena de horizonte glei.
Esse solo demonstra uma carncia em relao aos nutrientes bsicos, diagnosticados em sua
analise qumica, e que devem estar contido no solo e por isso considerado pobre, porm para
manuteno da cobertura vegetal e dos recursos hdricos essa ordem de solo de fundamental
importncia para o equilibro do meio ambiente, assim promovendo a preservao da mata ciliar que
acompanha o Riacho Pacar.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

360

REFERNCIAS BIBLIOGRAFICA
ALMEIDA, D. S. Recuperao ambiental da Mata Atlntica. Ilhus: Editus, 2000.130p.
COMISSO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - CFSEMG. Recomendaes
para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais 5 aproximao / RIBEIRO, A. C., GUIMARES, P.
T. G., ALVAREZ V, V. H. (editores) Viosa, MG, 1999. 359p.: il.
CPRM - Servio Geolgico do Brasil/Projeto cadastro de fontes de abastecimento por gua
subterrnea. Diagnstico do municpio de Rio Tinto, estado da Paraba. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005. 11
p. + anexos.
EMBRAPA. Levantamento exploratrio dos solos do estado da Paraba. Recife, EMBRAPA/ Servio
Nacional de Levantamento e Conservao de Solos, Recife, 1972. (Boletim tcnico, 15).
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de
Solos. Sistema Brasileiro de Classificao de Solos. Braslia: Embrapa Produo de Informao; Rio de
Janeiro: Embrapa Solos. 2006. 306p. : il.
GONALVES, E. O; SANTOS, C. A. dos. Composio florstica e fitossociolgica da Reserva Legal
Riacho Pau-Brasil, Miriri Alimentos e Bioenergia S/A Paraba. Projeto de Pesquisa Cientfica realizado na
Reserva Legal Riacho Pau-Brasil, Miriri Alimentos e Bioenergia S/A-PB. Guarabira PB, 2010.
MUNSELL COLOR. Munsell soil color Charts, New Windsor: 1998. Revised washaple edition.
SANTOS, R. D. LEMOS, R. C.; SANTOS, H. G.; KER, J. C.; ANJOS, L. H. C. Manual de descrio e coleta
de solo no campo. 5 ed. Revista e ampliada. Viosa: Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, 2005. 100p. il.
SUDEMA Superintendncia de Administrao do Meio Ambiente. Atualizao do diagnstico
florestal do Estado da Paraba Joo Pessoa: SUDEMA, 2004. 268p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

361

A EDUCAO AMBIENTAL NA GESTO DE UNIDADES DE CONSERVAO


DE USO SUSTENTVEL: UM DILOGO ENTRE TRS ESTUDOS DE CASO
Andrea Abdala RAIMO
Avenida Pdua Dias, 11- Piracicaba/SP; graduanda em Gesto Ambiental (ESALQ/USP)
abdala@usp.br
Thas BRIANEZI
Av. Prof Luciano Gualberto, 1289 So Paulo/SP; doutoranda do Programa de Cincia Ambiental (Procam/USP), mestre
em Sociedade e Cultura da Amaznia (Ufam), jornalista (ECA-USP)
tbrianezi@usp.br
Isis Akemi MORIMOTO
Av. Prof Luciano Gualberto, 1289 So Paulo/SP - doutoranda do Programa de Cincia Ambiental (Procam/USP), mestre
em Conservao de Ecossistemas (ESALQ-USP), ecloga (UNESP) e bacharel em Direito (UNISAL) isisakemi@bol.com.br

RESUMO
O Programa Nacional de Educao Ambiental (Pronea) preconiza uma EA pautada na valorizao da
identidade e no dilogo. Tal perspectiva pode desempenhar um papel central na gesto de Unidades de
Conservao de uso sustentvel, reconhecendo e promovendo a etnoconservao. Os trs estudos de caso
apresentados neste artigo foram desenvolvidos por pesquisadoras da OCA - Laboratrio de Poltica e
Educao Ambiental (Esalq/USP) na Reserva de Desenvolvimento Sustentvel de Aman e na Floresta
Nacional de Tef, ambas no Amazonas, alm da Floresta Nacional de Lorena, em So Paulo. Eles trazem
reflexes sobre como a EA pode contribuir para a construo coletiva do significado de uma rea protegida,
a partir da apresentao de casos prticos em que se evidenciam potencialidades e conflitos na relao
entre os moradores dessas UCs e os representantes do Estado.
Palavras-chave: Unidades de Conservao de uso sustentvel; educao ambiental emancipatria;
dilogo; sociobiodiversidade.
1. Introduo
Este texto fruto de um processo de reflexo coletiva de trs pesquisadoras da OCA Laboratrio
de Educao e Poltica Ambiental (ESALQ/USP), coordenado pelo professor Marcos Sorrentino. Ele alia o
debate da OCA sobre a educao ambiental (EA) pautada nos princpios da identidade, comunidade,
felicidade, dilogo e potncia de ao (SORRENTINO et al, 2010) a trs estudos de caso desenvolvidos pelas
autoras em unidades de conservao (UCs) de uso sustentvel.
Inicialmente, o artigo sintetiza esta proposta de educao ambiental emancipatria e a relaciona
com o desafio da gesto participativa de UCs. Nesta primeira parte do texto detalhado o arcabouo
jurdico que sustenta essa perspectiva, alm da abordagem da etnoconservao. A seguir, so
apresentados os trs estudos de caso em questo, cada um enfatizando um aspecto da problemtica do
papel da EA na gesto das UCs de uso sustentvel, a saber: Reserva de Desenvolvimento Sustentvel de
Aman e a construo coletiva do significado de uma reserva; a Floresta Nacional de Lorena e a criao do
Conselho Consultivo da Unidade; a Floresta Nacional de Tef e a relao com o Estado, a partir do
reconhecimento dos moradores como assentados. Por fim, as consideraes finais apontam caminhos
abertos para ao e pesquisa.
Educao Ambiental em Unidades de Conservao
Atravessamos uma crise socioambiental que fruto de uma estrutura social pautada em
monoculturas, hierarquias, linearidade, guiada por uma racionalidade instrumental e tecnicista, que pode
atribuir educao ambiental (EA) um carter conservador, reducionista, antropocntrico e construir um
ambientalismo superficial (AVANZI, 2004). No esta a EA preconizada pelo Programa Nacional de
Educao Ambiental (Pronea), que entende a educao como ato poltico que possibilita ao/ educando(a)
a compreenso de seu papel no mundo e de sua insero na histria (FREIRE, 1987), despertando para a
capacidade de transformao.
Para tal deve-se valorizar a diversidade (de saberes, de conhecimentos, de culturas, de habitats, de
paisagens, de construes socioambientais) e o dilogo. De acordo com Paulo Freire (1983), o que se
pretende com o dilogo, seja em torno de um conhecimento cientfico e tcnico, seja de um conhecimento
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

362
experencial, a problematizao do prprio conhecimento em sua indiscutvel relao com a realidade
concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreend-la, explic-la e transform-la.
De acordo com Lima, (2004:106)
A Educao Ambiental emancipatria parte de um diagnstico de que a crise ambiental
resultante do esgotamento de um projeto civilizatrio que entendeu progresso e conhecimento como
dominao e controle e fez da razo instrumental o atalho mais eficiente conquista do poder econmico
e poltico que coloniza e degrada a vida humana e no-humana.
As mltiplas dimenses abrangidas pela EA esto presentes nas Unidades de Conservao (UCs). A
educao proposta para este contexto deve, portanto, conduzir tomada de conhecimento, por
conseguinte, de conscincia, da condio comum a todos os humanos e da muito rica e necessria
diversidade dos indivduos, dos povos, das culturas, sobre nosso enraizamento como cidados da Terra.
(MORIN, 2000:61).
No campo das UC, entende-se que esta deve contribuir para a construo do olhar para a
complexidade, a partir de prticas que trabalhem as teias de relaes, promovam o dilogo, construam
uma racionalidade ambiental pautada na diversidade, na transdisciplinaridade, culminando na real inteno
de compreender a crise ambiental e super-la. Cada oportunidade deve ser convertida em experincia
educativa das sociedades sustentveis (AVANZI, 2004).
2.a) Aspectos legais
No mbito legal, institui-se o Plano Estratgico Nacional de reas Protegidas PNAP, pelo Decreto
n 5.758, de 13 de abril de 2006. O PNAP resultado de compromissos firmados pelo Brasil ao assinar a
Conveno sobre Diversidade Biolgica durante a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento CNUMAD, realizada em 1992, a qual representa um guarda-chuva legal na poltica
internacional para acordos ambientais especficos. Ele estabeleceu como meta a elaborao e execuo de
Programas de Trabalho para reas Protegidas, com estratgias visando um sistema abrangente de UCs
alcanando os diferentes biomas, ecologicamente vivel e efetivamente manejado at 2015.
O PNAP faz diversas consideraes que podem ser aplicadas ao papel da EA nas reas protegidas
dentre as quais se ressaltam os seguintes pontos:
Princpios:
XX - promoo da participao, da incluso social e do exerccio da cidadania na gesto das reas
protegidas, buscando permanentemente o desenvolvimento social, especialmente para as populaes do
interior e do entorno das reas protegidas;
1.2. Diretrizes
XI - assegurar o envolvimento e a qualificao dos diferentes atores sociais no processo de tomada
de deciso para a criao e para a gesto das reas protegidas, garantindo o respeito ao conhecimento e
direito dos povos indgenas, comunidades quilombolas e locais;
Esta estratgia de EA, sob coordenao do MMA, teve publicado um primeiro documento
inicial em 2009, intitulado Estratgia Nacional de Comunicao e Educao Ambiental no mbito do
Sistema Nacional de Unidades de Conservao - SNUC (ENCEA). Ela est baseada no Sistema Nacional de
Meio Ambiente (SISNAMA/ Lei n 6.938/81) e no SNUC, considerando a importncia da Educao
Ambiental enquanto dimenso para o alcance dos objetivos relacionados participao social e
conservao da sociobiodiversidade.
Assim, as UC so locais onde a EA qualifica cidados e cidads para uma leitura crtica e poltica da
realidade e os empodera para a interveno em espaos de participao, possibilitando o controle social na
elaborao e execuo de polticas pblicas (ENCEA, 2009:3). As UCs devem, portanto, fortalecer as
estruturas comunitrias, estimular a organizao e participao, oportunizando espaos e promovendo
processos de aprendizagem coletiva e exerccio da cidadania, a partir do estmulo ao pertencimento,
estreitando os laos de identificao com o territrio, alm de explicitar os conflitos e interesses de cada
ator social envolvidos, de modo a super-los.
A UC deve ser um espao educador ambientalista: espao fsico, histrico, situado politicamente,
com caractersticas culturais especficas e construdo socialmente; educador no sentido de promover
processos de emancipao, revelador das potencialidades e fundamentador da sustentabilidade;
Joo Pessoa, outubro de 2011

363
ambientalista, pois redimensiona o papel da Natureza nas relaes sociais, estando no s preocupado com
a preservao de ecossistemas e uso sustentvel de recursos naturais, mas com a consolidao de uma
racionalidade ambiental (LEFF, 2007).
2.b) Etnoconservao
As prticas e estratgias adaptativas dos chamados povos e comunidades tradicionais constituem
riquezas porque podem oferecer solues problemtica de como compatibilizar o desenvolvimento com a
conservao (COSTA, 2010). Estudos como os de Bale (1989), Posey (1983) e Diegues (2005) mostram que,
em muitos casos, as populaes humanas foram responsveis pela manuteno ou at incremento da
biodiversidade, uma vez que possuem sistemas complexos de classificao dos elementos naturais
entitulado etnoconhecimento.
Edna Castro (2000) observou que o termo populaes tradicionais impreciso e generalista, mas
lembrou que tem sido usado tambm como auto-nomeao pelas prprias comunidades - o que lhe
confere, assim, elementos de identificao poltica e de reafirmao de direitos. Do mesmo modo, Diegues
(1996) destacou que as chamadas comunidades tradicionais se caracterizam pelo no-uso de trabalho
assalariado; produo independente (sem existncia de patro ou controle do mercado) ou em pequena
escala, baseada no uso equilibrado dos recursos naturais renovveis e no conhecimento dos ciclos
biolgicos, transmitidos de gerao em gerao; baixa densidade populacional; combinao de vrias
atividades econmicas dentro de um calendrio complexo; baixo nvel de poluio; noo de territrio
onde o grupo se reproduz econmica e socialmente; importncia das atividades de subsistncia;
importncia da unidade familiar e das relaes de compadrio; existncia de simbologias, mitos e rituais;
auto-identificao e identificao pelos outros de pertencer a uma cultura distinta.
Essa riqueza socioambiental princpio da etnoconservao, que, segundo Diegues, impe o
questionamento de quais so os modelos de sociedades sustentveis mais apropriados [...], baseados na
diversidade dos ecossistemas regionais e locais, e na imensa diversidade social e cultural a existente (1992,
apud DIEGUES, 2005:12).

3. Estudos de Caso
3.a) Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Aman
A Reserva de Desenvolvimento Sustentvel (RDS) Aman, localizada no Amazonas, foi criada
pelo Decreto Estadual n 19.021 de 4 de agosto de 1998 (QUEIROZ, 2005). Liga a RDS Mamirau (a primeira
da categoria instituda no Brasil) ao Parque Nacional de Ja e est prxima a outras oito UC Federais. As
unidades contguas formam um bloco de floresta tropical protegido com cerca de 6.500.000 ha, o Corredor
Central da Amaznia (MMA/PPG7), da Reserva da Biosfera da Amaznia Central (MaB/Unesco) e Stio
Natural do Patrimnio Mundial (Unesco/IUCN).
Os procedimentos metodolgicos utilizados durante o estudo, resultado de um estgio vivencial,
baseiam-se no uso de ferramentas do Diagnstico Rural Participativo (DRUMOND, 2002; FARIA, 2006;
VERDEJO, 2006). As ferramentas usadas so acessveis, recorrem oralidade, ao desenho, diagramas e
mapas, de modo a possibilitar a participao de todos, permitindo que os assuntos mais diversos surjam
dando a oportunidade transformao da realidade rumo sustentabilidade. As comunidades nas quais
foram realizadas atividades so: Boa Vista do Calafate, Vila Nova, Santo Estevo, Monte Sinai, no Setor
Aman; Betel, Monte Carmelo e So Francisco do Paraso, no Setor Castanho. Alm disso, foram envolvidos
os professores do Plo Boa Esperana, Vila Nova e Belomonte.
Os moradores foram convidados a enunciar assuntos que lhes interessava, posteriormente
classificados em trs eixos: Sade Ambiental, Direitos e Deveres e Manejo.A preocupao com resduos
slidos e lquidos (lixo e esgoto domstico) apareceu com fora, demonstrando a falha de um servio
bsico. Outro tema recorrente foi a influncia da RDS nas limitaes e potencialidades das atividades
realizadas pelos moradores.
Os calendrios sazonais mostraram um profundo conhecimento dos ciclos da Natureza, bem como
uma ntima dependncia dos mesmos para realizao das atividades principalmente de pesca e
agricultura. J os diagramas de fluxo indicaram as principais atividades (quais os recursos mais explorados e
seu destino), fontes de renda e subsistncia das comunidades, evidenciando relaes das unidades de
produo e das formas de distribuio dos mesmos. Por fim, a linha do tempo trouxe a importncia da
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

364
organizao comunitria, que hoje reconhecida como um dos instrumentos sociais fundamentais para
aes participativas de desenvolvimento sustentvel (...) e para a interao dos atores locais em redes
polticas que so constitudas conjuntamente com as demandas da comunidade perante a administrao
poltico-administrativa e as polticas municipais e estaduais na regio (BICALHO, 2005:2).
A partir deste trabalho, percebeu-se que h uma necessidade de ressignificar o que a RDS, de
construir coletivamente um entendimento de como ela funciona. Muitos sabem que a Reserva um local
para preservao, mas no sabem como isto funciona e nem os direitos e deveres dos moradores. A
fiscalizao percebida como um impeditivo para as atividades historicamente desenvolvidas no local e, os
novos atores sociais (Instituto de Desenvolvimento Sustentvel Mamirau, INCRA, Fundao Amazonas
Sustentvel, Centro Estadual de Unidades de Conservao) no tm papis definidos frente s
comunidades, resultando em conflitos.
3.b) Floresta Nacional de Lorena
Embora se tratando de uma realidade bastante distinta daquelas encontradas na Regio
Amaznica, consideramos pertinente destacar uma experincia em que a EA foi utilizada tambm como
uma ferramenta de fortalecimento e gesto de uma UC, atravs do enfoque na criao e capacitao de
seu Conselho Consultivo77. Distante aproximadamente 180 km da Capital do Estado de So Paulo e em
posio estratgica por estar localizada na interseco entre os Estados de So Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais, a rea de 249,31 hectares, antes conhecida como Horto Florestal, foi classificada como
Unidade de Conservao da Natureza (Lei 9985/00) e enquadrada na categoria de Floresta Nacional
administrada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA)78,
em 18 de julho de 2001 (Portaria n 246/01). Passou ento, a ser denominada FLORESTA NACIONAL DE
LORENA ou, simplesmente, FLONA LORENA.
No ano de 2003 deu-se incio ao processo de formao do Conselho Consultivo da Flona, tendo
como objetivos primordiais:
Agregar apoio poltico e institucional gesto da Unidade;
Obter contribuio de cada parceiro, ou ator, na gesto e manejo da Unidade;
Auxiliar na sensibilizao das populaes locais e regionais sobre a necessidade de conservao do
Meio Ambiente e da Natureza;
Proporcionar a insero da FLONA no desenvolvimento scio-econmico da regio.
Deste modo, foram realizadas prticas relacionadas ao fortalecimento da cidadania e da
participao pblica na soluo de problemas em Unidades de Conservao e seu entorno ou Zona de
Amortecimento, representando um importante instrumento de envolvimento efetivo da populao com a
proteo ambiental e melhoria da qualidade de vida em mbito local e regional.
Na sequncia, realizou-se um amplo processo de chamada pblica e eleio de
repesentantes de todos os setores da sociedade para compor o Conselho da Flona. O trabalho culminou na
elaborao conjunta de um Projeto para o Fundo Nacional do Meio Ambiente FNMA, visando a obteno
de recursos para capacitar os Conselheiros da Flona para o exerccio da funo de gesto compartilhada da
Unidade de forma qualificada, bem como, para a promoo do desenvolvimento sustentvel na regio.
3.c Floresta Nacional de Tef - o (des)encontro da poltica ambiental e agrria
Na Floresta Nacional (Flona) de Tef, no Amazonas, criada em 1989, moram cerca de 360 famlias,
reconhecidas como assentadas pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) em 2002.
A implantao da poltica nacional de reforma agrria em UCs de uso sustentvel uma experincia
pioneira no pas, que representa um esforo de sinergia entre duas polticas historicamente opostas na
Amaznia: a ambiental e a fundiria.

77 O Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC) e seu Decreto regulamentador (Dec.
n 4.340/02), determinam que todas as Unidades de Conservao do pas devem dispor de um Conselho, seja ele
Consultivo ou Deliberativo.
78 Em 2007, com a criao do Instituto Chico Mendes, a administrao da Flona Lorena passou para o
ICMBio.
Joo Pessoa, outubro de 2011

365
A pesquisa de campo na Flona de Tef foi desenvolvida em 2006, nos trs povoados que
constituem as chamadas comunidades sedes das Associaes de Moradores da UC: So Joo do Mulato, no
rio Tef; So Sebastio, no rio Curumit de Baixo; Vila Sio, no rio Bauana. Alm da reviso bibliogrfica, os
dados foram obtidos a partir de observaes diretas e de anotaes no dirio de campo, do preenchimento
de um extenso formulrio de caracterizao das comunidades, da realizao de entrevistas semiestruturadas com 36 informantes (12 em cada localidade estudada) e tambm por meio de entrevistas com
tcnicos do Incra e do IBAMA.
Os moradores da Flona de Tef inseridos no processo de reforma agrria esto imersos no contexto
contraditrio, mas indissocivel, de dominao e de reconhecimento de direitos marcado pela ao do
Estado. Cerca de um ano aps a assinatura do convnio entre o Incra e o Ibama, por exemplo, eles criaram
com incentivo do poder pblico as trs associaes citadas acima, juridicamente vlidas e organizadas por
calhas de rio.
A criao das associaes foi uma exigncia do Incra para viabilizar o recebimento direto do crdito
implantao79, que s poderia ser repassado a uma pessoa jurdica. Se no houvesse uma entidade
comunitria oficial, essa verba seria enviada s prefeituras de Tef e de Alvares, que fariam a distribuio
aos assentados. Alm da exigncia burocrtica, os tcnicos do governo federal incentivaram o
associativismo como uma forma de potencializar a organizao scio-produtiva dos moradores da Flona
Tef e de melhorar a relao deles com o poder pblico e sua insero no mercado.
O problema que as formas tradicionais de organizao nem sempre so consideradas pelo
modelo de gesto formal, no qual a monotonia e a homogeneidade de estatutos utilizados seja no centrosul ou na Amaznia, bem revelam uma noo de comunidade` que menospreza especificidades
(ALMEIDA, 2001: 7). De fato, os estatutos das trs associaes de moradores da Flona de Tef so idnticos
todos eles foram escritos pelo chefe da unidade e por outro servidor do Ibama que tambm atuava na
rea.
Toda famlia recm-assentada pela poltica nacional de reforma agrria tem direito ao crdito
habitao, que no distribudo em espcie, mas na forma de materiais e servios para a construo de
uma casa. A idia oferecer ao assentado, que em tese est chegando ao local, a possibilidade de erguer
uma moradia. Mas as pessoas que vivem em unidades de conservao reconhecidas como projetos de
reforma agrria, via de regra, j moravam na rea antes que o convnio entre o Ibama e o Incra fosse
formalizado. Assim, na Flona de Tef, para receber o crdito habitao, as famlias foram obrigadas a
construir uma casa nova, seguindo o modelo proposto pelos engenheiros do INCRA (que no permite a
desmontagem e remontagem em outra rea, no processo de deslocamento de subir ou descer o rio,
comum na regio).
Consideraes finais
A partir dos trs estudos de caso sintetizados acima, percebe-se que a poltica de criao de reas
protegidas tem repercusses no apenas na rea ambiental, mas tambm nas esferas econmicas,
territoriais, sociais e culturais. Logo, a gesto das UCs de uso sustentvel deve sustentar-se na realidade
socioambiental local, consolidando estas unidades como Unidades Scio-Ambientais (Sammarco, 2005)
processo no qual a educao ambiental, pautada na valorizao das diversidades e no dilogo, desempenha
papel central.
As chamadas UCs Scio-Ambientais consistem em cenrios de diversas prticas e formas de
interao da sociobiodiversidade, dentro das quais a preservao das heranas cultural e natural so
fundamentais para a gesto territorial, manejo dos recursos, desenvolvimento local e qualidade de vida.
Nelas, os moradores so protagonistas das tomadas de deciso, em um processo de planejamento e gesto
compartilhada no qual a EA cumpre o papel de dar a fundamentao terica e criar ferramentas de dilogo
que possibilitem a emergncia de processos de construo coletiva dos mltiplos significados de uma rea
protegida.
79 O crdito implantao se divide nas modalidades fomento e habitao, que na poca da pesquisa eram R$
2,4 mil para a compra de equipamentos de trabalho e dos primeiros alimentos e R$ 5 mil para a construo de uma
casa. Esses valores so recebidos por cada famlia de assentados, em espcie e/ou produtos e servios, assim que so
cadastradas pelo INCRA.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

366

Referncias bibliogrficas
ALMEIDA, Alfredo W. B. Distinguir e mobilizar: duplo desafio face s polticas governamentais. In:
Revista Tipiti. So Lus: Abong, 2001.
AVANZI, Maria Rita. Ecopedagogia. In: Identidades da educao ambiental brasileira / Ministrio do
Meio Ambiente. Diretoria de Educao Ambiental; Philippe Pomier Layrargues (coord.). Braslia:
Ministrio do Meio Ambiente, 2004. 156 p.; 28cm.
BALE, W. The culture of Amazonian forests. In: POSEY, D.A.; BALE, W. Resource Management in
Amazonia: indigenous and folk strategies. New York: New York Botanical Garden, 1989. p. 1-21.
BICALHO, Ana Maria S.M. Construindo Capital Social na Amaznia Brasileira. Universidade Federal
do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro - RJ Brasil, 2009
BRASIL; Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza - SNUC. Lei n 9.985, de 18 de
julho de 2000. Braslia IBAMA/ DIREC 2000
BRASILIA, DF; Plano Estratgico Nacional de reas Protegidas - PNAP, Decreto n 5.758, de 13 de
abril de 2006.
BRASILIA, DF; Programa Nacional de Educao Ambiental, ProNEA, 2005
CASTRO, Edna. Territrio, biodiversidade e saberes das populaes tradicionais. In: DIEGUES, A. C.
(org.) Etnoconservao: novos rumos para a proteo da natureza dos trpicos. So Paulo: Hucitec, 2000.
COSTA, Eliza.M.A: Uma Floresta Politizada relaes polticas na Reserva Extrativista do Alto Juru,
Acre. UNICAMP. 2010
DIEGUES, Antonio C. Populaes tradicionais: conceitos e ambiguidades. IN: DIEGUES, A. C. Mito
moderno da natureza intocada. So Paulo: Hucitec, 1996.
_____________ (Coord.). Desmatamento e modos de vida na Amaznia. So Paulo: Editora Hucitec
2005
DRUMOND, Maria Auxiliadora. Participao comunitria no manejo de Unidades de Conservao:
manual de tcnicas e ferramentas / Maria Auxiliadora Drumond. Belo Horizonte: Instituto Terra Brasilis de
Desenvolvimento Scio-ambiental, 2002. 81p.: il.
Estratgia Nacional de Comunicao e Educao Ambiental no mbito do Sistema Nacional de
Unidades de Conservao.: Ministrio do Meio Ambiente, 2009.
FARIA, Andra Alice da Cunha; FERREIRA NETO, Paulo Srgio. Ferramentas do dilogo qualificando
o uso das tcnicas do DRP: diagnstico rural participativo Braslia: MMA; IEB, 2006. 76 p.: il. color; 23 cm.
FREIRE, Paulo. Extenso ou comunicao? traduo de Rosisca Darcy de Oliveira; 7 ed. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1983. 93 p.
_____________Pedagogia do oprimido, 17. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
Instituto de Proteo Ambiental do Estado do Amazonas - IPAAM. Decreto de Criao da Reserva de
Desenvolvimento Sustentvel Aman, Decreto Estadual N 19.021 del 4 de agosto de1998.
LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental; traduo de Sandra Valenzuela; reviso tcnica Paulo
Freire Vieira. 4.ed. revista So Paulo: Cortez, 2007.
LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Educao, emancipao e sustentabilidade: em defesa de uma
pedagogia libertadora para a educao ambiental. In: Identidades da educao ambiental brasileira /
Ministrio do Meio Ambiente. Diretoria de Educao Ambiental; Philippe Pomier Layrargues (coord.).
Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2004. 156 p.; 28cm.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessrios educao do futuro; traduo de Catarina Eleonora F.
da Silva e Jeanne Sawaya ; reviso tcnica de Edgard de Assis Carvalho. 2. ed. So Paulo : Cortez ;
Braslia, DF : UNESCO, 2000.
POSEY, D. A. O conhecimento entomolgico Kayap: etnometodologia e sistema cultural. Anurio
Antropolgico. 81:109-124. 1983
SORRENTINO, Marcos et al. Em busca da sustentabilidade educadora ambientalista. Revista
Ambientalmente Sustentable, v. 1. Madrid, 2010.
VERDEJO, Miguel Expsito: Diagnstico Rural Participativo, um guia prtico Braslia: MDA; Ascar,
Emater, 2006
WRI / UINC / PNUMA / Fundao Boticrio. A estratgia global da Biodiversidade. Traduo de P. P
Distfano e M. D. Schlemm. 1992.
Joo Pessoa, outubro de 2011

367

APA DAS ONAS: GESTO DO TERRITRIO E DESAFIOS PARA


CONSERVAO DE ECOSSISTEMAS
Autor: Antnio Henrique Martins Carneiro da CUNHA
Universidade Federal da Paraba - Estudante
tonypibja@hotmail.com
Co-autor: Cristhiane Fernandes de ARAJO
Universidade Federal da Paraba - Estudante
Cristhiane.fernades@hotmail.com
Orientador: Prof. Dr. Bartolomeu Israel de SOUZA
Universidade Federal da Paraba- Professor DGEOC
bartoisrael@yahoo.com.br

RESUMO
No inicio do sculo XIX o mundo conheceu um novo padro de explorao dos recursos naturais, o
que acarretou um alto nvel de degradao da natureza, tais mudanas surgiram a partir da Revoluo
Industrial que trouxe para os diversos atores sociais a preocupao com a questo ambiental, que se
apresenta em crises ambientais. Com isso a sociedade Ocidental toma como base para a conservao da
natureza o modelo de criao de reas protegidas. Este trabalho tem o objetivo de realizar um confronto
entre os regimentos previstos no Decreto Estadual n. 22.880/2002, o qual criou a APA das Onas tomando
como base os critrios e normas estabelecidos pelo SNUC e a realidade encontrada no territrio da APA. O
grande nmero de problemas encontrados em trabalho de campo demonstra uma falta de fiscalizao
efetiva pelas entidades responsveis.
Palavras-chave: crise ambiental - conservao da natureza unidade de conservao
INTRODUO
Em meados do sculo XIX uma preocupao com os ndices de depredao e desgaste do ambiente
ou natureza, que se apresentam na forma de crises como, por exemplo: a crise climtica, a crise de
alimentos e a crise energtica. provvel que se no todas, mas a maior parte se traduz em crise
ambiental. Com isso a preocupao com a questo ambiental se amplia e passa a ocupar um espao
significativo da cincia, particularmente nos ltimos vinte anos (SUERTEGARAY, 2002).
A partir dessa crise ambiental, instaurada no planeta, a sociedade Ocidental toma como base para a
conservao da natureza o modelo de criao de reas protegidas. Estas nada mais so do que reservas de
biomas ou ilhas de vegetao, classificadas, a priori, a partir de critrios de beleza cnica. Esse modelo,
diga-se de passagem norte-americano, foi adotado pelos pases do cone sul e tambm pases da Europa
assim como nos mostra (DIEGUES, 1996, p. 24), quando afirma que nessa perspectiva que se insere o
conceito de parque nacional como rea natural, selvagem, originrio dos E.U.A.
A Geografia como campo do conhecimento esteve, desde o seu incio, vinculada ao estudo da
natureza e seus fenmenos naturais, a partir da descrio e interpretao de fenmenos naturais. Como
afirmam Suertegaray, et. al. (2000, p. 28), quando retomam as idias de um dos fundadores desta cincia, o
gegrafo Alexander von Humbolt, lembrando que no sculo XIX, como vimos com Humbolt (1862), a
Geografia constitui-se uma cincia natural. Este sugeria uma interpretao da natureza subdividida em
Fsica e Geografia Fsica. Ento podemos dizer que a geografia pde ser utilizada a principio como um
instrumento de conhecimento das foras da natureza com o objetivo descritivo de possibilitar ao homem
uma adaptao e/ou interveno no ambiente pelo qual era rodeado.
BASES CONCEITUAIS E TERICAS
O modelo de reas protegidas no-habitadas possui claramente uma idia de que a natureza
externa ao homem, onde a ao humana seria exclusivamente predadora e devastadora. Os criadores
desta idia se basearam no ponto de vista do modelo capitalista da apropriao de recursos naturais, onde
a ao humana mostrou-se historicamente feroz e nociva ao meio, portanto o homem deveria afastar-se da
natureza para que ela no corra o risco de desaparecer. E ainda possui preceitos para a escolha das reas
completamente equivocadas, como melhor explica Rodmam (1973, apud Diegues, 1996):
Esse modo de preservao por meio de reas naturais protegidas
inadequado e injustamente seletivo, pois privilegia reas naturais que so
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

368
apelativas do ponto de vista esttico, segundo valores acidentais, como florestas,
grandes rios, canyons, discriminando reas naturais menos nobres, como
pntanos, brejos, etc., ainda que estas possam ser essenciais para o funcionamento
dos ecossistemas.

O primeiro projeto de reas protegidas no Brasil surgiu com cdigo florestal de 1934. Mais tarde,
em 1937 a Constituio Federal definiu as responsabilidades da Unio em proteger belezas naturais e
monumentos de valor histrico (DIEGUES, 1996, p. 114). O Parque Nacional do Itatiaia foi a primeira rea
do pas a se construir em Unidade de Conservao, procurando com isso seu rico patrimnio bitico e
geomorfolgico.
Os rgos federais responsveis pelos parques e reservas criados foram: o Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal em 1967, que estava vinculado ao Ministrio da Agricultura e em 1989 com a
criao do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), o estabelecimento e administrao das unidades
de conservao passaram para esse rgo (Diegues, 1996, p. 117). Por fim em 18 de julho de 2000, a Lei
Federal n 9.985 institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao que divide as Unidades de
Conservao em duas categorias, so elas: Unidades de Proteo Integral, que admite apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais; e Unidades de Uso Sustentvel, onde que prope o uso sustentvel de
parcela dos seus recursos naturais. Nosso objeto de estudo, a rea de Proteo Ambiental das Onas est
contida na segunda categoria acima citada. Diante disto, vejamos como so definidas APAs pelo SNUC:
Art. 15. A rea de Proteo Ambiental uma rea em geral extensa, com um certo
grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos, estticos ou
culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade
biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso
dos recursos naturais. (Brasil, 2000, p. 9).

Nosso trabalho tem o objetivo de realizar um confronto entre os regimentos previstos no Decreto
Estadual n. 22.880/2002, o qual criou a APA das Onas, localizada no municpio de So Joo do Tigre-PB,
tomando como base os critrios e normas estabelecidos pelo Sistema Nacional de Unidades de
Conservao (SNUC) e a realidade encontrada no territrio da APA. Tal confronto feito a partir de uma
anlise sobre os problemas enfrentados para a efetiva conservao dos ecossistemas, bem como para a
gesto do seu territrio, neste caso, realizada pelo rgo estadual responsvel, a Superintendncia de
Desenvolvimento do Meio Ambiente (SUDEMA), compreendendo as relaes naturais e sociais existentes
na unidade de conservao ambiental.
A diversidade de ecossistemas encontrados no interior da rea de Proteo Ambiental das Onas
consideravelmente importante, embora existam poucas pesquisas realizadas em sua rea, o que contribui
para aumentar o grau de dificuldade em sua conservao e gesto, uma vez que esto contidas em seu
territrio terras de propriedade privada.
O fato das APAs permitirem o uso sustentvel de parte de seus recursos no implica,
necessariamente, num desequilbrio ambiental ou mesmo na ausncia de parmetros para a efetiva
conservao de ecossistemas. Pois como visto acima, havendo um cumprimento dos objetivos principais do
SNUC essas reas se transformariam em modelos de convivncia entre o homem e a natureza. Assim, mais
uma vez nos reportamos Diegues, (1996, p. 97), pensando na criao de reas protegias como espaos
territoriais onde a necessidade de uma relao mais harmoniosa entre o homem e a natureza afirmada
positivamente, no de forma excludente com prev a legislao de parques e reservas, mas de forma a
beneficiar as populaes locais... Essas unidades de conservao (APAs) podem oferecer condies para
que os enfoques tradicionais de manejo do mundo natural sejam valorizados, renovados e at
reinterpretados, para torn-los mais adaptados a novas situaes emergentes.
Portanto, algumas das chamadas comunidades tradicionais podem oferecer para a sociedade
industrial-consumista, um modelo de relao de apropriao de recursos naturais onde so respeitados os
limites naturais do meio. O que Diegues chama de sistemas de manejo dos recursos naturais marcados pelo
respeito aos ciclos naturais, sua explorao dentro da capacidade de recuperao das espcies de animais
e plantas utilizadas. (DIEGUES, 1996, p. 85).
Joo Pessoa, outubro de 2011

369
No territrio da APA das Onas existem comunidades que podem representar as chamadas
tradicionais, o relatrio realizado pela empresa MULTICONSULT em 2010 traz dados acerca das
caractersticas de uso e ocupao do solo da APA:
Por ocupar cerca de 50% (cinquenta por cento) da rea total do Municpio,
a APA das Onas tem em seu interior diversas comunidades como: Stio Riacho
Fundo, Stio Jurema, Stio Vrzea Grande, Capim Grosso, Mimoso Seco, Stio Cupira,
Cachoeira, Stio Jos Rodrigues, Serra da Moa e Stio Mulungu. Todos com
ocupao mdia entre 10 (dez) a 100 (cem) famlias. Estes moradores situados
dentro dos limites da rea de Proteo Ambiental das Onas tm seu ganho
econmico voltado para a criao de caprinos e bovinos, de forma extensiva, ou
em campo aberto. Sendo o cultivo do feijo, milho e arroz em campos midos uma
atividade sem significativo impacto econmico.

A APA das Onas est localizada no municpio de So Joo do Tigre-PB, poro ocidental do Cariri
paraibano, sendo a maior unidade de conservao do estado, com 36.000 km. Segundo dados do
Ministrio de Minas e Energia, a sede municipal est a 557 metros de altitude. Segundo dados do IBGE
(2010) o municpio possui 816.111 km, uma populao estimada de 4.396 habitantes, das quais 2.867
pessoas moram na zona rural. (IBGE, 2010). Segundo dados da Proposta de Zoneamento Ambiental da APA
das Onas, realizado pela empresa MULTICONSULT no ano de 2010.
A Unidade de Conservao, denominada de rea de Preservao Ambiental das Onas, foi
transformada em rea Protegida, em regime especial de gesto, em 25 de maro de 2002 pelo Governo do
Estado da Paraba. Como rea de Desenvolvimento Sustentvel, a partir da Lei Federal 9.985/2000 (SNUC) e
Decreto Estadual regulamentador n 22.880, de 25/03/2002, passou a ter uma exigncia de uso ordenado
seguindo os trmites do Artigo 15 da Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservao da
Natureza/SNUC (9.985/2000).
A APA das Onas possui uma extenso territorial de 360 km e altitudes acima de 550 metros. Faz
parte do bioma da Caatinga, apresentando alguns cursos dgua perenes. Segundo dados da SUDEMA, a
Unidade de Conservao bero das nascentes dos rios Capibaribe e Paraba. Nas reas de serra, onde as
altitudes chegam a mais de 1000 metros, a vegetao apresenta algumas espcies de Mata Atlntica,
misturadas com espcies de caatinga, o que mostra que aquele ambiente pode representar uma rea de
transio de biomas.
Este trabalho tem como Objetivo Geral, identificar o que estabelece a lei sobre APAs no Brasil e a
sua efetividade na rea de Proteo Ambiental das Onas So Joo do Tigre/PB. E ainda como Objetivos
Especficos: Realizar um levantamento dos principais problemas que afetam a gesto e a conservao dos
ecossistemas na APA das Onas; Contribuir para a gesto e conservao dos recursos naturais existentes na
rea da pesquisa.
O trabalho ser realizado em trs fases, tendo como procedimentos metodolgicos: consulta
bibliogrfica referente ao tema em destaque, assim como consulta e anlise das leis que rezam sobre o
assunto no Brasil. Paralelo a essas atividades iniciais; trabalhos de campo para identificao dos problemas
que esto afetando a APA, afim de estabelecer um mapeamento temtico.
RESULTADOS OBTIDOS
O quadro geral das UCs no Brasil preocupante, pois a gesto e a manuteno dessas reas tem
sido um grande desafio para uma poltica que no est voltada para a sua real implementao, tal como
defende Hauff (2010, p. 2), a falta de recursos suficientes e constantes para a consolidao das unidades de
conservao brasileiras hoje um dos principais gargalos para a efetiva implementao do Sistema
Nacional de Unidades de Conservao. Este quadro ainda mais grave para as unidades da Caatinga, Bioma
tradicionalmente pouco valorizado, com escassos recursos (governamentais e no-governamentais)
direcionados para sua conservao e situado em uma das regies mais carentes do pas.
No caso especfico da APA das Onas, o que se pode constatar uma situao de quase total
abandono por parte do rgo gestor. Neste sentido, um dos problemas observados a demora na
elaborao do Plano de Manejo. Segundo o SNUC, este consiste num documento tcnico mediante o qual,
com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservao, se estabelece o seu zoneamento e
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

370
as normas que devem presidir o uso da rea e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantao das
estruturas fsicas necessrias gesto da unidade. (BRASIL, 2000, p. 3).
Nove anos aps a criao desta APA, ainda no foi criado este documento, enquanto que o SNUC
estabelece um limite de cinco anos aps a data de sua criao. At o momento, o que existe nessa UC
uma Proposta de Zoneamento Ambiental, realizado no ano de 2010 por uma empresa contratada para
fazer o levantamento das principais caractersticas fsicas e sociais da rea. A APA das Onas tambm no
conta com uma infra-estrutura mnima para atender visitantes e/ou pesquisadores, nem mesmo um
escritrio para o seu administrador.
A APA das Onas gerida pela SUDEMA, logo a fiscalizao do territrio tambm fica a cargo do
mesmo, porm essa fiscalizao praticamente inexiste. Nos trabalhos de campo realizados na rea, durante
a execuo dessa pesquisa, foi possvel encontrar diversos crimes ambientais, tal como est previsto na Lei
Federal que institui o SNUC no que diz respeito sua gesto.
Pelo fato de no haver nenhum dado da SUDEMA sobre fiscalizao na rea, foi feito uma busca
junto ao IBAMA, especificamente na Diviso de Proteo Ambiental (DIPRAM) em busca de informaes
sobre apreenses de fauna e/ou flora no municpio de So Joo do Tigre, onde est localizada a APA das
Onas. A resposta obtida foi de que no foi verificado, no perodo de 1 ano nos seus sistemas, autuaes
especificas no municpio de So Joo do Tigre.
Apesar dessa resposta do rgo em questo, o grande nmero de problemas encontrados em
trabalho de campo demonstra uma falta de fiscalizao efetiva pelas entidades responsveis. Neste
trabalho, os problemas detectados foram classificados em quatro categorias listadas abaixo, as quais
sintetizam, seno todos, grande parte dos problemas detectados na APA em questo.
1- USO DO LEITO DO RIO
O uso indevido do leito de rios e riachos uma prtica comum no semirido nordestino, pois uma
das poucas reas onde o solo mais espesso e possui a capacidade de armazenar certa quantidade de
gua, propiciando um local para o plantio de culturas e tambm utilizado para pasto pelo gado. Apesar de
comum, essa prtica ilegal, visto que esta rea considerada pelo Cdigo Florestal Brasileiro como rea
de Proteo Permanente (APP), que consiste em uma rea protegida nos termos dos arts. 2 e 3 desta Lei,
coberta ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a
paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem estar das populaes humanas. (BRASIL, 1965, p. 1)
O Cdigo Florestal Brasileiro considera como rea de Preservao Permanente, as florestas e
demais formas de vegetao natural situadas: a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d'gua desde
o seu nvel mais alto em faixa marginal cuja largura mnima seja: 1) de 30 metros para os cursos d'gua de
menos de 10 metros de largura. (BRASIL, 1965, p. 2)
O que ocorre no caso ilustrado pela foto acima o uso do solo da rea do leito do rio e a retirada
total da vegetao natural de suas margens. Pensando no campo das consequncias, este tipo de atividade
acarreta o assoreamento do leito do rio, uma vez que as suas margens, destitudas de vegetao, esto
expostas eroso intensa. Outra consequncia a compactao do solo pelo gado, a qual, em alguns
casos, acarreta importantes modificaes na capacidade de armazenamento de gua no subsolo, numa
rea, em princpio, favorvel a esse processo.
Do ponto de vista da legalidade jurdica, essas atividades nessas reas esto sujeitas a penalidades
para os donos das propriedades. Dessa forma,
Artigo 26 - Constituem contravenes penais, punveis com trs meses a
um ano de priso simples ou multa de uma a cem vezes o salrio-mnimo mensal
do lugar e da data da infrao ou ambas as penas comulativamente: a) destruir ou
danificar a floresta considerada de preservao permanente, mesmo que em
formao, ou utiliz-la com infrigncia das normas estabelecidas ou previstas nesta
Lei. (BRASIL, 1965, p. 8).

Apesar de uma APA ser constituda por terras publicas e privadas, existem normas que devem ser
seguidas pelas propriedades privadas. Essas normas so estabelecidas pelo Plano de Manejo da UC, porm,
Joo Pessoa, outubro de 2011

371
como ainda no foi elaborado este documento na APA das Onas, os proprietrios de terras no seu interior
devem seguir normas do MMA.
2- PRODUO DE CARVO
O uso do carvo como fonte energtica no Nordeste do Brasil sempre foi tradicional. A distncia de
grandes centros distribuidores de combustveis fsseis e a elevada taxa de pobreza da populao foram os
principais causadores deste quadro. Porm, historicamente os maiores consumidores de lenha e do carvo
vegetal produzido na Caatinga nordestina so a indstria e o setor da construo civil. Garillo et al. (2010,
p. 66) fazem as seguintes observaes em relao a essa questo.
At 1974, o uso tradicional de lenha e carvo acompanhou o crescimento da populao regional.
Com a crise petrolfera de 1974 foi criado o Conselho Nacional do Petrleo (CNP), e implementou-se uma
forte poltica de reduo de uso de hidrocarbonetos, baseada no impulso gerao hidroeltrica,
desenvolvimento do PROALCOOL e fixao de quotas decrescentes de leo BFB para as industrias.
Consequentemente, muitas indstrias foram reduzindo ou abandonando o uso de leo e diesel,
substituindo-os por lenha e carvo vegetal. Estas polticas de substituio de petrleo importado por
combustveis nacionais, somadas crescente urbanizao que intensificou a demanda de materiais para a
construo civil como tijolos, telhas, cal, cimento e gesso provocaram um grande aumento no consumo de
lenha e carvo vegetal. No inicio dos anos de 1990, 35% da energia primria consumida na regio Nordeste
j era obtida destas fontes.
A produo de lenha e carvo vegetal dentro de um APA representa um risco conservao do
ecossistema local. Isto tambm vai de encontro a um dos objetivos principais estabelecidos pelo SNUC,
citado no artigo 4 como: III - contribuir para a preservao e a restaurao da diversidade de ecossistemas
naturais. (BRASIL, 2000, p. 3). Tal forma de produo energtica, sem a licena ambiental, citada no artigo
26 do Cdigo Florestal como contraveno penal. O que ocorre na realidade uma falta de fiscalizao,
pois o forno fotografado encontra-se beira da estrada que corta a APA das Onas Coivara.
Assim como o uso indevido do leito do rio, mostrado anteriormente, este ponto representa outra
irregularidade de extrema importncia para a gesto dos recursos naturais da APA das Onas. A atividade
de queima da vegetao, denominada popularmente pela palavra indgena coivara, realizada pelos
pequenos agricultores da regio para, posterior queima, fazerem uso do solo para plantio. Essa atividade
traz srias conseqncias relacionadas ao empobrecimento do solo.
Do ponto de vista jurdico, o Cdigo Florestal, em seu artigo 27, considera que: [...] proibido uso
de fogo nas florestas e demais formas de vegetao. (BRASIL, 1965, p. 9).
Essa prtica muito comum entre os agricultores da regio, apresentando ainda um forte
agravante, j que, pelo tipo de relevo dominante na APA, a coivara feita geralmente nas encostas das
serras, algumas com declive superior a 45, o que faz com que essas reas sejam consideradas APPs, tal
como definido em lei:
Artigo 2 - Consideram-se de preservao permanente, pelo s efeito
desta Lei, as florestas e demais formas de vegetao natural situadas: nas encostas
ou partes destas com declividade superior a 45 equivalente a 100% na linha de
maior declive. (BRASIL, 1965, p. 2).

Portanto, esta forma de uso do solo mais uma irregularidade encontrada na UC e constitui-se em
contraveno penal.
3- MOSAICO DE CULTIVO
Este caso de igual irregularidade citada no ponto 4, apresentando as mesmas ponderaes sobre
o Cdigo Florestal. Porm, analisada a imagem de satlite da rea, constata-se um relevante problema de
gesto da UC.
Atravs da foto e ainda mais pela imagem de satlite, temos uma noo do quanto o territrio da
APA est tendo sua vegetao suprimida, principalmente nas encostas. Nesse caso, h sculos ocorre uma
espcie de rodzio nas terras das propriedades, ou seja, num primeiro momento, retira-se a vegetao pelo
machado, queimando parte do material lenhoso e aproveitando a madeira de algumas espcies para a
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

372
venda ou aproveitamento para a construo de cercas e outros tipos de construo. Num segundo
momento, essa rea ser cultivada com gneros alimentcios (geralmente predomina o feijo e o milho, em
consrcio). Num terceiro momento, quando o solo comea a dar os primeiros sinais de diminuio da
fertilidade natural, a lavoura substituda pelo plantio de capim para o aproveitamento do gado.
Nesse processo, como nem toda a rea efetivamente ocupada pela agricultura e pelo pasto
plantado, esta parcialmente invadida por algumas espcies da caatinga e do Brejo, consideradas pioneiras
nesses ecossistemas. Entretanto, como a rea continuamente utilizada, o processo de sucesso ecolgica
iniciado no evolui positivamente, criando um quadro em que observamos o mosaico resultante da
interveno humana na rea da APA, tal como se encontra exposto na figura do ponto 4.
CONSIDERAES FINAIS
A falta de fiscalizao, aliada a ausncia de uma ao voltada educao ambiental da populao
residente (tradicional), e ainda a demora na elaborao do plano de Manejo, so os principais problemas
encontrados na APA das Onas, os quais acabam propiciando a existncia das irregularidades ambientais
destacadas nesse trabalho, entre outras que tambm devem estar ocorrendo mas no puderam ser
elencadas neste trabalho.
Grande parte das prticas de uso e ocupao do solo encontradas nesta APA, so herana de uma
tradio secular, associada necessidade de sobrevivncia da populao que vive no seu territrio. Estas,
por sua vez, acabam desencadeando riscos elevados aos recursos naturais da APA.
Pensando num processo de mudana necessrio aos hbitos de vida dessa populao, parte da
soluo tem que passar pela introduo da educao ambiental nessa rea. Este um dos principais
objetivos do SNUC. Se devidamente colocado em pratica na APA, poderia mudar o quadro encontrado
atualmente no interior dessa UC.
Por fim, a construo do Plano de Manejo de extrema importncia e se faz urgente. As vrias
aes e prticas da populao tradicional residente na APA, esto em desacordo com os principais
objetivos do SNUC que so, proteger os recursos naturais, contribuir para a manuteno da diversidade
biolgica e para a conservao de ecossistemas naturais. A falta deste documento implica num quadro
negativo em termos de gesto da APA das Onas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
BRASIL. Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o Art. 225, 1. Incisos I, II, III e VII da
Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza e d outras
providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia 19 de julho de 2000.
BRASIL. Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965. Cdigo Florestal Brasileiro, (Modificado por leis,
decretos e medidas provisrias. Verso em vigor - ago/97).
CPRM - Servio Geolgico do Brasil. Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por gua
Subterrnea. Diagnstico do Municpio de So Joo do Tigre, estado da Paraba. Recife, setembro/2005.
Disponvel
em
23
de
novembro
de
2010.
Fonte:
http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/paraiba/relatorios/SAOJ180.pdf
DIEGUES, Antnio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. So Paulo. Editora Hucitec. 1996
GARLIO, Maria Auxiliadora [et al.] organizadores. Uso sustentvel e conservao dos recursos
florestais da caatinga, Brasilia: Servio Florestal Brasileiro, 2010.
HAUFF, Shirley N. Alternativas para a manuteno das unidades de conservao da Caatinga,
Braslia, Dezembro 2010, p. 2, mma. Disponvel em:
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=203&idConteudo=902
8&idMenu=9791
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Censo Demogrfico 2010. Disponvel em 05 de
maio de 2011. Fonte:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
MULTICONSULT. Proposta de zoneamento ambiental APA das Onas; Joo Pessoa: SUDEMA,
2010.
SUERTEGARAY, Dirce M. A.; et al. Ambiente e lugar no Urbano: a grande Porto Alegre. Editora da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.
Joo Pessoa, outubro de 2011

373

CONSERVAO DE REAS DE RESERVA LEGAL EM ASSENTAMENTO RURAL


NO MUNICPIO DE POMBAL-PB
Aristodemo Soares de SOUSA
Graduando em Engenharia Ambiental pela UFCG-Universidade Federal de Campina Grande. Campus de Pombal-PB
Email-aristodemodm@bol.com.br
Alesca Barbosa RODRIGUES
Graduanda em Engenharia Ambiental pela UFCG-Universidade Federal de Campina Grande. Campus de Pombal-PB
Email-alesca_rodrigues@hotmail.com
Patrcia Hermnio Cunha FEITOSA
Profa. Dra. Unidade Acadmica de Cincia e Tecnologia Ambiental. UACTA/UFCG. Campus de Pombal -PB
Email-phcfeitosa@hotmail.com

RESUMO
Conflitos socioambientais esto associados especialmente ao controle dos recursos naturais.
Muitos debates a cerca das questes ambientais vm acontecendo visando essencialmente preservao
da qualidade do meio ambiente, contribuindo assim para que dispositivos, tais como os que definem as
reas de preservao permanente (Cdigo Florestal) fossem criados. Neste contexto, a demarcao e
conservao dessas reas so de fundamental importncia, uma vez que grandes partes das atividades
exercidas pelo homem afetam o meio ambiente, cujos efeitos podem ser vivenciados por ele mesmo.
Reserva legal em assentamentos rurais pode ser demarcada em reas separadas ou agregadas e no
assentamento Jacu foi dividida em duas reas, uma ao sul e outra ao norte do assentamento. Um ponto
importante a ser considerado a distncia existente entre as reas de preservao e a rea onde se localiza
as residncias dos assentados, o que tambm contribui para a no explorao da rea, tornando assim
menos susceptvel a interveno por parte dos assentados. Pautados na incorporao das contribuies
que a implantao das reas de reserva pode prover ao assentamento Jacu e ao seu entorno, o objetivo
deste trabalho foi analisar a adequao do uso do solo s exigncias legais referentes Reserva Legal do
assentamento Jacu, localizado no municpio de Pombal - PB.
PALAVRAS - CHAVE: reserva legal, assentamento rural, meio ambiente.
INTRODUO
Devido a constante busca das sociedades humanas em reas urbanas ou rurais em promover
alguma forma de desenvolvimento para uma regio, acaba sempre causando impactos ao ambiente.
Exemplos desses impactos so vistos no uso inadequado do solo e da gua com conseqncia no
desmatamento e em outras atividades desenvolvidas no meio. Com isso surgem s preocupaes
ambientais, em geral, com o solo e a gua em particular, adquirem especial importncia, pois as demandas
esto se tornando cada vez maiores, em virtude do crescimento da populao e do maior uso desses
recursos. Sabe-se que cada vez mais se tem aumentado o nmero de Projetos de Assentamentos (PA)
implantados no semirido nordestino, tornando inevitvel a diversificao das atividades produtivas para
consolidar a sustentabilidade desses sistemas de produo.
Contudo a apropriao coletiva dos recursos naturais, em reas de reserva legal tem se colocado
como importante tema de debate acadmico e poltico, portanto, a coordenao de aes coletivas que
procure regular e monitorar o uso desses recursos constituem um grande desafio das famlias que vivem
em assentamentos rurais. A Reserva Legal pode ser uma oportunidade de diversificao da produo e da
renda, pois pode ser utilizada por meio de manejo e explorao sustentvel. Tambm fundamental para a
proteo dos recursos naturais, a conservao e a reabilitao dos processos ecolgicos, a conservao da
biodiversidade e o abrigo e a proteo de fauna e flora nativas (SO PAULO, 2011). Desta forma, a boa
ordenao e a utilizao destes recursos tm importncia crtica para a qualidade de vida da populao e
dos ecossistemas que mantm a diversidade biolgica.
Quando se exigi reas de Reserva Legal (RL) em todos os imveis rurais do Brasil, o Cdigo Florestal
Brasileiro (Lei Federal 4771/1965) se torna um dos mais importantes instrumentos com o objetivo de
mitigar impactos ambientais das atividades agrcolas. Desta maneira, a legislao pode contribuir para
mitigar impactos que venham a ocorrer ao meio ambiente.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

374
Uma forma de unidade de conservao especificada no Artigo 1, 2, Inciso III do Cdigo Florestal,
so as de Reserva Legal, que so definidas como a rea localizada no interior de uma propriedade rural,
excetuando-se as APPs, necessrias ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao
dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e flora nativas;
assim, na regio compreendida pela floresta Amaznica de 80% o bioma Cerrado dentro da Amaznia
Legal de 35%, nos demais biomas inclusive na caatinga ttulo de Reserva Legal, devem ser mantidos
cobertos por vegetao natural no mnimo 20% da propriedade rural (Brasil, 1965).
As alteraes na forma de uso e ocupao das terras podem vir a ocasionar uma rpida mudana
em reas de reserva legal e acelerar ainda mais as mudanas ambientais. A instalao de assentamentos
rurais gera uma modificao da estrutura fundiria existente, o que conduz a impactos positivos e
negativos ao ambiente, associados a uma srie de fatores socioeconmicos e culturais. A floresta traz
benefcios para o proprietrio rural e para todo o meio ambiente, pois os recursos naturais como o solo e a
gua so essenciais para o sistema de produo de agricultura, silvicultura e pecuria. A Floresta faz parte
desse conjunto na medida em que protege e se relaciona com ambos, ou seja, na natureza tudo est
interligado (SO PAULO, 2011).
Do debate emergiu a ideia que imprescindvel avaliar a cultura local, analisar os aspectos falhos
no planejamento e na gesto dos recursos naturais disponveis e fomentar aes que conduzam ao
desenvolvimento sustentvel das reas reformadas. Mediante o exposto, o objetivo deste trabalho foi
analisar a adequao do uso do solo s exigncias legais referentes Reserva Legal do assentamento Jacu,
localizado no municpio de Pombal - PB.
LOCALIZAO E REA DE ESTUDO
O municpio de Pombal est localizado no nordeste brasileiro, no serto paraibano. Uma das
cidades mais antigas da Paraba e a segunda maior do estado em questo territorial, possuindo 889 km, o
que representa 1,58% da superfcie total do estado. Com taxa de crescimento anual de 1,86%, possui o 15
maior IDH da Paraba e o maior entre os municpios que compe a mesorregio do serto paraibano, tem
uma expectativa de vida em mdia de 66,2 anos. Sua economia baseada na agricultura de subsistncia,
no comrcio interno e algumas fbricas. Faz parte da maior bacia leiteira do estado da Paraba. De acordo
com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), no ano de 2010 sua populao era estimada em
32.443 habitantes.

Joo Pessoa, outubro de 2011

375

Figura 1 localizao do municpio de Pombal PB.


CARACTERIZAO DO ASSENTAMENTO
As fontes histricas indicam que o assentamento Jacu, foi implementado pelo INCRA (Instituto
Nacional de Colonizao e Reforma Agrria), atravs da portaria N011 de 16 de Junho de 2003, ocupa uma
rea de 1.340 hectares, localiza- se a 7 km da cidade de Pombal (PB) e est situada a direita da BR 427,
sentido PombalPaulista. Apresenta aproximadamente 8 anos de formao e os assentados so
representados por uma associao composta por 40 famlias, distribudas em lotes com rea de 14 hectares
por famlia.
O assentamento Jacu situa-se num ecossistema sob condies de clima semirido, onde o fator
climtico, principalmente a m distribuio pluviomtrica durante todo o ano limita a produo e at
mesmo a sobrevivncia humana, possui solos relativamente rasos e frteis, porm com dficit hdrico
atualmente invivel para produo contnua, em especial produo agrcola.
Estruturalmente apresenta caractersticas do solo de ondulado moderado com altitude que varia
entre 250 a 500 m. A rede hidrogrfica presente no assentamento tem efetivo potencial de uso, limitandose pelo volume de gua captado durante o perodo chuvoso. A fauna encontrada no imvel, no difere da
fauna tpica da microrregio, esta vem melhorando aps uma deciso conjunta da populao do
assentamento em proibir a caa predatria tanto por assentados como por pessoas que moram no
entorno.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

376

Figura 2- Localizao do assentamento Jacu


METODOLOGIA
A metodologia utilizada para a elaborao do presente trabalho ocorreu atravs da mobilizao das
famlias, articulao e reunio com os segmentos sociais, levantamento das informaes da realidade do
assentamento obtida atravs do diagnostico socioeconmico participativo e discusses complementares,
coleta de propostas e demandas com as famlias atravs das visitas in loco.
A sistematizao do diagnstico resultou e esto representados ao longo do texto. A observncia
da participao dos assentados deu qualidade e aumentou a capacidade dos envolvidos no processo de
levantamento de dados em fazer a constatao/comprovao dos dados que foram coletados no
levantamento, a partir do conhecimento tcnico na rea: social, ambiental, produtiva e econmica.
RESULTADOS E DISCUSSO
De acordo com o definido pelo Cdigo Florestal e atravs do levantamento de dados do Plano de
Desenvolvimento do Assentamento (PDA) foram determinados os quantitativos de reas para o
cumprimento da legislao.
Tabela 1 - Dados de reserva legal do assentamento Jacu
rea total
rea requerida na rea disponvel
lei de reserva legal para reserva
Hectares
1.345,8387
268, 1799
329, 9218
Percentagem
100
20
24,5

rea de reserva a recuperar


3, 847
1, 16

A Reserva Legal da rea estudada, encontra-se dividida em dois blocos um ao sul do assentamento
e outro ao norte. Juntas, as reas de Reserva Legal possuem 329, 9218 ha, da qual j foi excluda as reas
de Preservao Permanente dos corpos dgua encontrados no interior da rea de Reserva Legal. O
assentamento Jacu possui 24,5% da sua rea coberta por RL, essas reas ultrapassam o limite mnimo de
20% exigidos na Lei 4771/65 (Cdigo Florestal), havendo assim um excedente de 4,5% ou 14,85 ha, na
Reserva Legal ao sul do projeto do assentamento Jacu nota-se uma rea desmatada de 1,16% ou 3, 847 ha,
Joo Pessoa, outubro de 2011

377
so reas passiveis de um plano de recuperao que est sendo explorada por moradores da propriedade
vizinha, (Monte Alegre dos Galdinos), as quais posteriormente devero ser negociadas entre ambas as
partes para que se possa elaborar o processo de desocupao e recuperao da rea degradada.

Figura 3 Mosaico de fotos da reserva legal no assentamento Jacu.


Valente e Gomes, (2005) argumenta que nas reas de explorao agrcola, a Reserva Legal favorece
o controle natural de pragas, mantm uma maior diversidade no habitat, atuando tambm como barreiras
na disseminao de doenas. Contribuindo desta maneira, para melhorar a disponibilidade hdrica,
reteno de umidade, reduzindo assim os efeitos provocados por estiagens. Ainda regulamentado pela
legislao existe o manejo nas reas de Reserva Legal, contemplando apenas coleta e corte seletivo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

378
Tabela 2 Flora existente encontrada no Assentamento
NOME POPULAR
NOME CIENTFICO
Angico

Anadenanthera colubrina

Aroeira

Myracrodruon urundeuva

Catingueira

Caesalpinia pyramidalis

Cumaru

Amburana cearenses

Carnaba

Copernicia prunifera

Coaur

Triplaris surinamensis

Imburana

Commiphora leptophloeos

Juazeiro

Ziziphus juazeiro

Juc

Caesalpinia frrea

Jurema-branca

Piptadenia stipulacea

Jurema-preta

Mimosa tenuiflora

Mandacaru

Cerus jamacaru

Marmeleiro

Croton sonderianus

Mufumbo

Combretum leprosum

Moror

Bauhinia forficata

Oiticica

Licania rgida

Pau-drco

Tabebuia impetiginosa

Pereiro

Aspidosperma pyrifolium

Xiquexique

Pilocereus gounellel

Fonte: PDA (Plano de Desenvolvimento do Assentamento)


O no cumprimento da legislao vigente no que tange as questes a respeito do uso da reserva
legal no assentamento pode representar uma ameaa conservao dos recursos naturais desta regio,
causando prejuzos incalculveis devido ao aumento do desmatamento, a diminuio da biodiversidade, a
alterao da paisagem, a degradao do solo, contribuindo desta forma na perda de qualidade ambiental.
CONSIDERAES FINAIS
Quanto ao contexto ambiental no assentamento Jacu se percebe uma transformao favorvel
no que diz respeito ao comportamento dos assentados em relao ao desmatamento da Reserva Legal. No
inicio da explorao das reas do assentamento, os agricultores mantinham a cultura de fazer um manejo
seguindo o mtodo tradicional, onde no se havia preocupao com as questes ambientais, porm com
discusses e palestras ministradas por vrios rgos, inclusive a universidade, que atuam dentro do
assentamento, essa cultura vem mudando sendo implementadas atividades produtivas que aliam
preservao ambiental a produo, dando um novo rumo ao contexto ambiental da rea, atualmente a
situao apresenta-se bastante satisfatria.
Nesta nova condio ao qual o assentamento Jacu pode ser includo, foi possvel perceber a
importncia de valorizar as prticas sustentveis, no apenas no que tange questo ambiental, mas
tambm no que se refere atuao da associao e dos vrios rgos que atuam dentro do assentamento
voltados ao desenvolvimento econmico, levando em considerao os diferentes aspectos sociais e
culturais da populao, sempre buscando associao destas esferas como forma de consolidar o meio
ambiente cada vez mais equilibrado.
As caractersticas ambientais descritas nos itens anteriores deste trabalho evidenciam a fragilidade
do ecossistema caatinga, que necessita de um manejo adequado, sempre ponderando sua capacidade de
regenerao para que as pessoas que necessitam viver nesse sistema possam desenvolver suas atividades

Joo Pessoa, outubro de 2011

379
de forma sustentvel, proporcionando produo e melhoria na qualidade de vida sem degradao do
ambiente.
Outra constatao importante que pode ser feita que a Reserva Legal no assentamento Jacu no
vem desempenhando sua funo socioeconmica, uma vez que estas poderiam estar sendo utilizadas de
inmeras maneiras pela comunidade. O uso direto destas reas tambm contemplado em lei, como, por
exemplo, atravs da implantao de planos de manejo dos recursos naturais.
Uma alternativa que se mostraria significativa em termos de conservao dos recursos naturais
seria o uso do manejo florestal que beneficiaria a relao de equilbrio e sustentabilidade entre o homem e
o meio ambiente. Uma vez que promove a possibilidade de emprego e renda nos perodos de estiagem, e
isso tudo sendo de forma legal. Alm de ser uma alternativa sustentvel, haja vista que promove a
conservao dos ecossistemas, e recuperao da vegetao.
Os principais propsitos desta iniciativa consistem, na gerao de renda e viabilidade econmica
nos assentamentos da regio semirida a partir da produo florestal sustentvel, e, por outro, na sua
sustentabilidade e adequao ambiental.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Lei Federal n 4.771, de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Cdigo Florestal, alterado
pela Medida provisria n2166-67, de 24 de agosto de 2001. Dirio Oficial da Unio, Braslia, Poder
Executivo, 16 set.1965. Disponvel em www.planalto.gov.br. Acesso em: 02 jun.2011.
BRASIL. Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA. Instituto Nacional de Colonizao e
Reforma Agrria INCRA. Superintendncia Regional da Paraba SR/18. Plano de Desenvolvimento de
Assentamento - PA - Jacu. Pombal/PB 2010.
IBGE. Censo 2010. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br acesso em 10 de junho de 2011.
SO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Departamento de Proteo da Biodiversidade.
Reserva legal [recurso eletrnico] / Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Departamento de Proteo da
Biodiversidade ; editor Henrique Sundfeld Barbin ; redao Henrique Sundfeld Barbin, Renata Ins Ramos.
Reimpresso da 1.ed. So Paulo : SMA, 2011. 56 p. : il. color. Disponvel em:
<http://www.ambiente.sp.gov.br> Acesso em: 03 de junho de 2011.
Valente, O. F.; Gomes, M. A. Conservao de nascentes: hidrografia e manejo de bacias
hidrogrficas de cabeceiras. Viosa: Aprenda Fcil, 2005. 210p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

380

A APA DE GUAPIMIRIM (RJ) E O COMPERJ: DESAFIOS E PERSPECTIVAS


Bianca Borges Medeiros SANTOS
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Departamento de Geografia
biamedeiros.ufrj@gmail.com
Gegrafa, cursando especializao em Gesto Ambiental

RESUMO
O presente artigo visa discutir os desafios a gesto das Unidades de Conservao, face sua
importncia como instrumentos para preservao da natureza, buscando avaliar as condies dos rgos
gestores dessas reas para responder aos desafios que se colocam diariamente como impasse a um manejo
efetivo desses territrios. Neste sentido, o artigo prioriza o olhar sobre a rea de Proteo Ambiental de
Guapimirim, uma UC localizada s margens da Bacia Hidrogrfica da Baa de Guanabara, em virtude da sua
proximidade com um empreendimento de grande porte a ser instalado nos prximos anos, o Comperj. A
gesto de reas de Proteo Ambiental dotada de desafios que na maior parte das vezes no so
solucionados apenas pelos rgos gestores responsveis pela gesto dessas reas, e, portanto
fundamental a discusso dos limites e impasses a esses rgos de promover um manejo mais efetivo.
Palavras-chave: Unidade de Conservao, rea de Proteo Ambiental, Gesto Ambiental, Comperj.
Introduo
Dado o recente processo de criao e implantao de polticas ambientais no pas, a discusso
sobre a gesto ambiental de reas protegidas no Brasil uma temtica que merece destaque. Somado a
este fato, tambm se destaca a carncia de recursos e instrumentos capazes de garantir aos rgos
gestores condies mnimas de enfrentamento dos desafios diariamente impostos ao manejo dessas reas.
Logo, o presente artigo visa discutir a gesto ambiental das reas protegidas no pas, priorizando o
olhar sobre as Unidades de Conservao (UCs), haja vista a sua capacidade de preservar fragmentos
significativos de remanescentes para que as geraes futuras possam desfrutar dos seus benefcios
ecolgicos.
A gesto de UCs um processo que para obter-se eficcia, requer o encerramento da aplicao de
modelos pr-definidos de planejamento e controle dos componentes polticos, tcnicos, operacionais e
atores sociais, j que so territrios que assumem caractersticas peculiares em funo dos diversos
contextos em que se inserem, variando seu significado no tempo e na escala em que esto inseridas.
As UCs so parte integrante de um sistema nacional criado atravs de uma legislao especfica, o
Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) que objetiva assegurar a preservao da diversidade
biolgica contida nesses fragmentos de ecossistemas protegidos. O SNUC responsvel pelo
estabelecimento de critrios e normas para criar, implantar e gerir as UCs, mas cabe ao rgo gestor a
tarefa de assegurar um manejo adequado dessas reas.
Entretanto, ao longo do desenvolvimento desta pesquisa o que se tem notado, que na grande
maioria das UCs do pas, falta aos seus rgos gestores um aparato de instrumento e recursos altura dos
problemas que se colocam no manejo dessas reas. No entanto, este artigo prioriza a discusso da gesto
ambiental de uma Unidade especfica, a rea de Proteo Ambiental de Guapimirim, por estar localizada na
Bacia Hidrogrfica da Baa de Guanabara (BHBG), destino de uma agenda sem precedentes de volumosos
investimentos, j que o enfrentamento dirio dos impasses impostos ao manejo das reas protegidas em
geral no tm um histrico favorvel e este fato pode ser agravado com a proximidade de grandes
investimentos capazes de inserir novos desafios a gesto dessas reas.
Neste artigo objetiva-se avaliar os recursos e instrumentos disponveis ao rgo gestor dessa UC,
neste caso o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade (ICMbio), buscando compreender a
sua capacidade de responder aos problemas j existentes na gesto dessa rea, e que, possivelmente sero
agravados com a implementao de empreendimentos de grande porte (presentes e previstos) e que
consequentemente promovero grande impacto socioambiental na UC e no seu entorno.

Joo Pessoa, outubro de 2011

381
Metodologia
Primeiramente, buscou-se um respaldo terico-conceitual atravs da leitura de algumas
obras da vasta literatura existente sobre gesto ambiental de reas protegidas, no sentido de promover o
embasamento para a discusso da temtica proposta, visando o entendimento dos diversos significados
que as UCs so capazes de assumir diante dos diferentes locais, escalas e contextos em que se inserem,
bem como as suas especificidades. Neste contexto, foi fundamental a compresso da evoluo histrica da
criao das polticas ambientais no pas, at o surgimento do modelo de UCs como conhecido
atualmente, bem como o entendimento da gesto dessas reas.
Em um segundo momento, foi necessrio a definio de um recorte espacial para
aprofundamento da discusso proposta. Neste sentido, foram coletados dados sobre a rea a ser estudada,
alm do levantamento das caractersticas da UC a qual o olhar desta pesquisa privilegia. Esta etapa tambm
consistiu na sistematizao dos dados levantados e posterior produo de um banco de dados,
possibilitando as anlises posteriores.
Foi fundamental para o desenvolvimento da temtica, a realizao de entrevista com um
dos gestores responsveis pela UC, que permitiu aprimorar os dados secundrios levantados sobre a rea.
Por ltimo, os dados foram compilados em produtos cartogrficos e grficos, buscando a
melhor compresso da realidade da gesto dessa rea protegida.
A APA de Guapimirim frente nova agenda de investimentos
Segundo a Lei n 9.985 do ano de 2000 (SNUC) regulamentada pelo Decreto n 4.323 do
ano de 2002 as UCs so agrupadas em dois grupos de proteo, a saber: proteo integral e uso
sustentvel. O SNUC estabelece critrios que diferenciam os usos em cada uma dessas reas, que por sua
vez, pertencem a categorias distintas. O quadro abaixo mostra as categorias de UCs estabelecidas pelo
SNUC e os objetivos de usos em cada uma das situaes abaixo:
1 Quadro com categorias de proteo das Unidades de Conservao
Categorias de Proteo das Unidades de Conservao
Grupo

Proteo Integral

Objetivo
bsico

Preservar a natureza, sendo Compatibilizar a conservao da natureza com o uso


admitido apenas o uso indireto sustentvel de parcela dos seus recursos.
dos recursos naturais.

Categorias

Uso Sustentvel

Estao Ecolgica (EE), Reserva


Biolgica
(REBIO),
Parque
[Nacional (PARNA), Estadual
(PAQE) ou Municipal (PM)],
Monumento Natural (MONA) e
Refgio de Vida Silvestre
(REVISE).

rea de Proteo Ambiental (APA), rea de Relevante


Interesse Ecolgico (ARIE), Floresta [Nacional (FLONA),
Estadual (FLOE) ou Municipal (FLOM)], Reserva
Extrativista (RESEX), Reserva de Fauna (REFA), Reserva
de Desenvolvimento Sustentvel (REDES) e Reserva
Particular de Patrimnio Natural (RPPN).

Fonte: Dados obtidos a partir da Lei n 9.985 do ano de 2000 (SNUC) compilados pela autora.
Segundo o SNUC (BRASIL, 2000), as APAs so definidas como:
Uma rea em geral extensa, com um certo grau de ocupao humana, dotada de atributos
abiticos, biticos, estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bemestar das populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o
processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000, p. 9).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

382

Como se pode observar, as APAs so UCs que pertencem ao grupo de uso sustentvel, no qual so
permitidos usos mais flexveis dos recursos naturais, visando a sustentabilidade dos recursos. Essa
flexibilidade confere as Unidades dessa categoria alguns desafios caractersticos, que devem ser melhores
discutidos a seguir.
Segundo o SNUC (BRASIL, 2000) a categoria APA constituda tanto por terras pblicas como
privadas, e no caso de terras privadas, cabe ao proprietrio estabelecer as condies para pesquisa e
visitao pelo pblico, observadas as restries legais. Entretanto, podem ser estabelecidas normas e
restries para a utilizao da propriedade privada localizada em uma APA, desde que respeitados os
limites constitucionais. As condies de pesquisa nas terras de domnio pblico so estabelecidas pelo
rgo gestor da Unidade.
A criao da APA de Guapimirim se deu atravs do Decreto presidencial n 90.225, de
25/09/1984, com o objetivo de proteger os manguezais situados na poro leste da Baa da Guanabara e a
regio situada na foz dos rios Iriri, Roncador, Guapimirim e Imboau. Sua instituio foi resultado de um
movimento ambientalista que envolveu representantes da sociedade civil organizada e da comunidade
cientfica, preocupados com a avassaladora destruio dos manguezais do Estado do Rio de Janeiro e de
todo o pas, que se acentuava na dcada de 1980 (MMA, 2001).
A localizao da APA abrange quatro municpios, Mag, Guapimirim, Itabora e So Gonalo, e a
mesma ocupa uma rea de cerca de 138 km, protegendo remanescentes pertencentes ao bioma Mata
Atlntica formados por ecossistemas marinhos e manguezais. Segue abaixo um mapa com a localizao da
APA.
Figura 2 Mapa com a localizao da APA de Guapimirim e seus zoneamentos

Fonte: Plano de Manejo da APA de Guapimirim (MMA,2001).


A APA de Guapimirim exerce extrema importncia socioeconmica para a populao que habita
seu interior, j que a populao mantm estreita relao com o meio ambiente, vivendo de seus recursos
naturais e mantendo caractersticas muito tradicionais. Alm da sua importncia ecolgica, j que
responsvel pela manuteno de toda a cadeia biolgica da baa.
Entretanto, por estar localizada na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), a APA de
Guapimirim continuamente ameaada pelo crescimento urbano dos municpios onde se localiza, uma vez
que entre eles esto os menos populosos da BHBG e os que mais crescem nos ltimos anos. As principais
ameaas diretas so aterros, vazadouros de lixo, poluio por leo, desmatamentos, queimadas e invaso
por habitaes irregulares, e essas presses requerem dos rgos gestores medidas que vo alm do
Joo Pessoa, outubro de 2011

383
simples monitoramento e fiscalizao da rea. Alm de problemas como poluio dos rios, instalao de
indstrias incompatveis com o zoneamento da rea protegida, ausncia de tratamento de esgoto nos
municpios em que a APA est localizada e seu entorno e outros.
O enfrentamento desses desafios s pode ser plenamente assegurado com a existncia de um
quadro de instrumentos e recursos que atenda minimamente os problemas diariamente desencadeados
nessa rea.
Neste sentido, foi feito um levantamento sobre as condies desta UC de responder aos problemas
que se colocam no seu manejo, priorizando levantar informaes sobre os instrumentos e recursos
disponveis.
O quadro de servidores da APA composto, segundo dados do MMA (op. cit.), de nove
funcionrios, sendo quatro de nvel superior, quatro de nvel mdio e um de nvel fundamental. Trs dos
funcionrios da APA esto diretamente envolvidos com a fiscalizao e esto habilitados a realizar autos de
infrao. Desde dezembro de 2000 a APA conta tambm com apoio do Batalho Florestal nas aes de
fiscalizao e apreenso, em virtude do convnio firmado entre o IBAMA e o Batalho Florestal.
Em relao infraestrutura, a APA conta com uma sede localizada em Guapimirim, e em relao
infraestrutura de apoio, os dados no Plano de Manejo (MMA, op. cit.) apontam que existem viaturas e
embarcaes em nmero suficiente, mas que se faz necessria uma suplementao de recursos para a sua
manuteno. Por outro lado, os dados de equipamentos de trabalho indicam que os mesmos so poucos e
inadequados para um manejo adequado da rea. Tambm salientado no Plano de Manejo (MMA, op. cit.)
a necessidade de melhoria no sistema de comunicao, que poderia ser feita atravs da aquisio de pelo
menos um bom computador com conexo Internet, impressora, um sistema de rdio-comunicao e
telefones funcionando com regularidade. Dados tambm apontam para insuficincia e inadequao do
mobilirio existente.
Em relao aos recursos financeiros, uma quantia regular disponibilizada pelo Ministrio do Meio
Ambiente, entretanto grande parte dos recursos que viabilizam as aes de fiscalizao e monitoramento
da rea so provenientes de multas aplicadas em funo dos crimes ambientais na UC ou ainda quando h
acidentes nas indstrias prximas a mesma prejudicando a fauna e flora da rea.
Os dados acima, j apontam para uma insuficincia de equipamentos adequados, o que denota
uma capacidade de resposta do rgo gestor incipiente, haja vista que grande parte desses equipamentos
permite que se ponha em prtica a aes de manuteno e de fiscalizao dos recursos naturais que so
protegidos pela APA.
Entretanto, fez-se necessrio um uma aproximao com a realidade situao de conservao da
rea em questo, que foi possvel atravs da entrevista concedida pelo Analista Ambiental chefe da Estao
Ecolgica da Baa de Guanabara, Maurcio Barbosa Muniz. A gesto da APA de Guapimirim tem sido
promovida de maneira integrada com a gesto da ESEC da Baa de Guanabara, o que permite o
conhecimento do chefe da ESEC nos problemas de maneira conjunta.
Em entrevista, o mesmo afirmou que atualmente o grande desafio de gesto da APA est atrelado
ao fato da mesma ser o que ele denomina de um sistema aberto. Pois, as influncias do entorno da rea
de proteo levam freqentemente alterao da qualidade ambiental da APA, principalmente porque os
manguezais protegidos situam-se a montante da BHBG. O fato de a APA estar localizada montante da
bacia hidrogrfica, propicia que os problemas originados nos municpios situados no seu entorno, como j
citados, falta de coleta de lixo, tratamento de esgoto inexistente ou inadequado, ocupao desordenada,
entre outros, acabem de alguma forma influenciando em uma piora ambiental da fauna e flora da APA.
O chefe da ESEC acrescenta que esses problemas somados a falta de articulao com as prefeituras
dos municpios em que a APA se localiza e do entorno, formam os principais desafios enfrentados pela
Unidade. Em muitos casos, os zoneamentos ordenados pelo Plano de Manejo da APA no so atualizados
nos Planos Diretores dos municpios em que ela se localiza, o que leva, por exemplo, ao municpio autorizar
uma construo em uma rea que segundo o seu Plano Diretor considerada rea de loteamento, mas que
recentemente foi alterada segundo o ordenamento do Plano de Manejo da APA para uma rea onde o uso
restrito expanso urbana.
O Plano de Manejo da APA aponta as principais presses identificadas por estudos de diversas
instituies de pesquisa e organizaes no governamentais (ONGs). As presses identificadas por esses
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

384
estudos esto expostas no quadro a seguir, e foram complementadas com os dados obtidos a partir da
entrevista realizada com o chefe da ESEC da Baa de Guanabara:
3 Quadro com os principais desafios impostos gesto da APA de Guapimirim
Principais desafios gesto da APA de Guapimirim
Derramamento de leo na Baa de Guanabara.
Assoreamento dos canais dos rios principais, bem como alterao dos rios.
Pesca predatria.
Presso da ocupao antrpica, bem como a ocupao desordenada.
Aumento das reas de pastagem.
Destruio dos stios arqueolgicos no todo ou em parte, e o uso indevido da rea do stio e do
seu
entorno.
Esgoto
in natura jogado nos rios e canais.
Usinas de tratamento de resduos industriais.
Extrao de saibro.
Aterros de lixo e lixes.
Desmatamento.
Fonte: Dados obtidos atravs do Plano de Manejo da APA de Guapimirim (MMA, 2001) e da
entrevista realizada com chefe da ESEC da Baa de Guanabara em 09 nov. 2010 compilados pela autora.
O que se nota, que justamente pelo fato da APA ser uma UC que pertence ao grupo de proteo
de uso sustentvel, permitindo usos mais flexveis de seus recursos naturais, h um aumento nos impasses
ao seu manejo, em funo principalmente do fato de grande parte dos problemas que afetam a sua rea
terem suas origens fora dos limites da UC.
A APA de Guapimirim, apesar de sua extrema importncia para a manuteno dos
manguezais localizados dentro dos seus limites, enfrenta uma srie de problemas, que precisam ser
melhores pensados. E somado a este fato, existe uma volumosa agenda de investimentos prevista para a
BHBG nos prximos anos como supracitado. Dentre esses investimentos, destaca-se o Complexo
Petroqumico do Rio de Janeiro (Comperj), que ir se localizar no municpio de Itabora, a cerca de 5 km de
distncia dos limites leste da APA.
4 Mapa com a localizao do Comperj

Joo Pessoa, outubro de 2011

385

O complexo faz parte do Programa de Acelerao do Crescimento PAC, que teve incio em 2006
pelo Governo Federal, e representa um investimento de cerca U$ 8.5 bilhes. Segundo estudos da
Fundao Getlio Vargas (FIRJAN,2008), aps o incio das suas atividades, o Comperj poder acrescentar R$
11 bilhes/ano ao PIB do Rio de Janeiro. A rea fsica da localizao das principais instalaes industriais do
complexo soma um total de 45km, representando cerca de 10% da rea total do municpio de Itabora. Em
funo da sua importncia fsica e econmica, o Comperj ir representar uma requalificao da poro
leste da BHBG, somado ao Arco Metropolitano, investimento da ordem de R$1,2 bilhes que constituir
uma importante via de ligao entre o complexo e o Porto de Itagua.
A intensificao do fluxo dirio de automveis acentua a poluio atmosfrica que ser gerada pelo
complexo, e segundo o EIA do empreendimento (PETROBRS, 2007) a direo da disperso dos ventos
nessa regio aponta para a parte norte do estado, em direo ao paredo rochoso da Serra dos rgos,
dificultando a disperso dos poluentes.
Notadamente, haver nos prximos anos algumas modificaes importantes na regio em que essa
UC est localizada. Embora, algumas mudanas promovam crescimento econmico da regio, por outro
lado, alguns problemas podero ser acrescentados e/ou reforados.
O Comperj ir situar-se em uma regio marcada pela escassez de gua, e sua planta industrial ir
promover a impermeabilizao de uma vasta rea, alterando a infiltrao de gua que auxilia a
manuteno do ecossistema de manguezais, j que os mesmos atingem o equilbrio ecolgico a partir do
encontro da gua doce com a gua salgada. No caso dos manguezais situados na Baa de Guanabara, em
grande parte protegidos pela APA de Guapimirim e ESEC da Baa de Guanabara, cerca de 60% do volume de
gua doce que os abastece proveniente dos ltimos trs rios (Guapimirim, Guara e Caceribu) com uma
qualidade ambiental satisfatria que drenam em direo baa, de um total de mais de quarenta rios. Alm
do fato do complexo estar situado prximo ao aqfero Macacu, um importante aqfero para a
manuteno hdrica da regio.
Outro ponto que deve ser destacado a demanda de gua do complexo (1.200 litros/s), em uma
regio que j se encontra em situao de dficit do saldo hdrico segundo o Plano Hdrico da Baa de
Guanabara (GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2005), podendo tambm afetar a manuteno dos
manguezais.
Alm das presses que sero introduzidas atravs da atrao de indstrias e gerao de novos
empregos, podendo acarretar em um crescimento da ocupao desordenada do seu entorno. Segundo
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

386
dados da Fundao Getlio Vargas (op.cit.) num cenrio otimista, sero gerados na fase de implantao 75
mil empregos diretos no estado do Rio de Janeiro, sendo 16 mil apenas no municpio de Itabora. Aps
iniciadas as suas atividades, o complexo ir gerar, num cenrio otimista, 271 mil empregos no pas seja
direto, indireto ou por efeito de renda. Desse total 168 mil empregos sero gerados no Rio de Janeiro, e 63
mil na regio de influncia direta do Comperj delimitada pelo EIA (op. cit.), que compreende os sete
municpios do entorno imediato do complexo.
Alm da gerao de empregos diretos, o estudo da Fundao Getlio Vargas (op. cit.) aponta a que
existe uma cadeia de indstrias passveis de serem induzidas pela instalao do Comperj, que so elas:
indstrias consumidoras de insumos petroqumicos bsicos, indstrias consumidoras de resinas
termoplsticas, indstrias intermedirias consumidoras de produtos de material plstico, indstrias
jusante na cadeia produtiva, indstrias de atividades de apoio e indstrias de atividades associadas aos
efeitos induzidos pela renda gerada pelos empreendimentos (efeito-renda).
Acredita-se que essas atividades sero responsveis pela atrao de mo-de-obra, que poder
acarretar o aumentar do fluxo de migraes para a regio. Em virtude desse maior contingente
populacional, poder ocorrer a expanso irregular das ocupaes, haja vista a carncia de infraestrutura
que est associada ao municpio de Itabora e dos demais municpios do seu entorno. E, a APA de
Guapimirim poder sofrer efeitos diretos dessa expanso irregular, na medida em que as ocupaes
avanam em direo a essa rea protegida ou seu entorno, desencadeando problemas secundrios como
poluio dos rios, e outros j citados.
Alm das emisses de gases poluentes, o complexo tambm ir gerar diariamente efluentes, que
sero descartados atravs de dutos que os conduziro at a Baa de Guanabara, onde sero depositados
aps terem sido submetidos ao tratamento adequado. Embora o EIA (op. cit.) aponte que o risco de
acidente nos dutos seja remoto, essa possibilidade no pode ser descartada, haja vista que os efeitos
negativos causados sobre o ecossistema da Baa de Guanabara seriam talvez irreparveis.
Alm dos problemas j conhecidos que so diariamente enfrentados por uma UC, a APA de
Guapimirim ter um acrscimo significativo das presses nessa rea com a insero do Comperj no cenrio
da BHBG. Como promover a gesto adequada dessa UC frente insero de um empreendimento do porte
do Comperj, j que faltam instrumentos e recursos bsicos para responder minimamente aos desafios
dirios impostos a essa rea?
Concluses
A gesto das reas protegidas no Brasil sempre enfrentou desafios no que tange a
insuficincia de recursos e instrumentos para seu manejo adequado, e no caso das UCs pertencentes ao
grupo de proteo de uso sustentvel, o que se nota que os desafios so ainda maiores.
Atualmente, os principais problemas enfrentados pelas APAs de uma maneira geral, tem suas
origens fora dos limites da Unidade, o que acarreta uma impossibilidade de remediao apenas por parte
do rgo gestor da rea afetada. O enfrentamento desses desafios requer uma articulao entre todos os
setores da sociedade que participam/ocasionam os problemas nessas reas.
A falta de conscientizao da prpria comunidade que vive no entorno da UC, ou ainda, no interior
dessas reas, dificulta o processo de uma gesto efetiva, haja vista que grande parte dos problemas como
poluio dos rios, lixo jogado em locais inapropriados, e outros, so gerados em funo da falta de
conhecimento da populao sobre a importncia da preservao daquela rea. Outro fato relevante, que
muitas pessoas vivem em UC, mas no tem conhecimento do seu significado e importncia que assumem
naquela rea preservando remanescentes. Portanto, de suma importncia a promoo de atividades de
educao ambiental, dentro e no entorno de reas protegidas, de maneira que se possa promover uma
maior conscientizao das pessoas sobre a importncia das UCs como instrumentos para a preservao
ambiental.
O que se nota que a atual situao da gesto das UCs no s no estado do Rio de Janeiro, mas no
pas, ainda est muito aqum do suprimento do aporte de recursos necessrios manuteno do equilbrio
dos ecossistemas que so protegidos nessas reas. Esse fato pode ser atribudo no s a indisponibilidade
de instrumentos e recursos aos rgos responsveis pela administrao dessas reas, mas principalmente
falta de uma viso de planejamento que compreenda uma escala que todos os problemas inerentes
Joo Pessoa, outubro de 2011

387
gesto de reas protegidas, e neste sentido a criao de mosaicos tem sido uma iniciativa importante
visando conscientizao sobre a importncia da gesto ambiental integrada.
Os desafios que so diariamente impostos a essas Unidades no podem ser tratados
pontualmente, mas sim como uma pequena parte de uma realidade maior, entendendo, que uma
significativa parte dos problemas impostos na gesto das UCs, tem suas origens fora dos limites da
Unidade.
O caso da APA de Guapimirim e sua iniciativa no processo de gesto integrada com a ESEC da
Guanabara, aponta o incio do longo caminho ainda a ser percorrido at que se alcance o cenrio onde os
recursos disponibilizados aos rgos gestores e os problemas, sejam utilizados e encarados de maneira
conjunta, e os ecossistemas sejam geridos sem serem tidos como grandes fragmentos de remanescentes,
mas sim parte de um sistema interligado.
Neste sentido, entende-se que os desafios no manejo dessas reas no devem ser tratados apenas
pelos seus rgos gestores, mas sim, por todas as institucionalidades as quais compete jurisdies e
interesses que possam interferir na gesto das UCs. E, portanto, os agentes devem ser mobilizados para a
promoo de um desenvolvimento regional integrado.
A atual formao de novos arranjos institucionais fruto de um recente processo de descentralizao
na formulao de polticas pblicas, como o caso da criao de consrcios e de comits, so importantes
inovaes para a promoo de uma governana conjunta, capaz de articular as escalas locais e regionais.
No caso das UCs do grupo de uso sustentvel, a promoo da participao dos diversos setores da
sociedade na gesto dessas UCs se faz ainda mais importante, por essas estarem amplamente submetidas
s influncias externas.
Pensar a gesto de reas protegidas pensar os problemas de forma conjunta, buscando
solues que contemplem diferentes escalas. E, neste caso, no existe uma frmula pronta, pois cada
Unidade assume um significado e importncia diferente na realidade a qual est inserida.
Referncias
ABSABER, A.N. Bases conceptuais e papel do conhecimento na previso de impactos. In: AbSaber,
A.N.; Mller-Plantenberg, C. (Orgs.). Previso de Impacto Ambiental no Leste, Oeste e Sul: experincias no
Brasil, na Rssia e Alemanha. 2. ed., 2. reimpresso, So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2006.
ARAJO, M.A.R. Unidades de Conservao no Brasil: da repblica gesto de classe mundial. Belo
Horizonte: SEGRAC, 2007.
BRANDON, K. & RYLANDS, A.B. Unidades de Conservao brasileiras. In: Megadiversidade. vol. 1, n.
1, 2005, p. 28-35.
BRASIL. Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza. Lei n 9.985, de 18 de julho de
2000, e Decreto n 4.340, de 22 de agosto de 2002, 5 ed. aum. Braslia: MMA/SBF, 2003, 56p.
BRITO, M.C.W. de. Unidades de conservao: intenes e resultados. So Paulo:
Annablume/FAPESP, 2000.
CASTRO, R. M. de. O Complexo Petroqumico do Rio de Janeiro COMPERJ: consideraes sobre os
Conflitos Ambientais no municpio de Itabora. Monografia de ps-graduao. Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ. 2008, 29p.
COELHO, M.C.N. & GUERRA, A.J.T. (orgs.). Unidades de Conservao: abordagens e caractersticas
geogrficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
DEBETIR, E. & ORTH, D. (orgs.). Unidades de Conservao: gesto e conflitos. Florianpolis: Insular,
2007.
DIEGUES, C.A.S. O mito moderno da natureza intocada. So Paulo: Hucitec, 2004.
FARAH, M.F.S. Gesto pblica local, novos arranjos institucionais e articulao urbano-regional. In:
BRANDO et al (orgs.). Regies e cidades, cidades nas regies: O desafio urbano-regional. So Paulo:
Editora UNESP: ANPUR, 2003.
GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Plano Direto de Recursos Hdricos da Regio
Hidrogrfica da Baa de Guanabara. Relatrio final Sntese. 2005.
GUSMO, P.P. de. Gesto Ambiental do territrio e capacidade de resposta dos governos locais na
rea metropolitana do Rio de Janeiro. In: Questes metodolgicas e novas temticas na pesquisa
geogrfica. PPGG/UFRJ, 2009.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

388
GUSMO, P.P. de. Desenvolvimento Territorial no Estado do Rio de Janeiro: Desafios Capacidade
de Respostas das Polticas Pblicas. In: Revista de Economia Fluminense - Estratgias para o
Desenvolvimento. Rio de Janeiro, 01, dez/2010. p. 1014.
FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FIRJAN. Estudos para o
desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. COMPERJ: Potencial de desenvolvimento produtivo. n.1, FGV,
2008. Disponvel em: <http://www.firjan.org.br/>. Acesso em: 19 nov. 2010.
MILANO, M.S. (Org.). Unidades de Conservao: atualidades e tendncias. Curitiba: Fundao O
Boticrio de Proteo Natureza, 2002.
____________. Plano de Manejo da APA de Guapimirim. 2001. Disponvel em:
<http://www.ibama.gov.br/siucweb/unidades/apa/planos_de_manejo/116/index.htm>. Acesso em: 12
abril 2010.
Petrleo Brasileiro S.A. PETROBRAS. Estudo de Impacto Ambiental (EIA): Complexo Petroqumico
do Rio de Janeiro COMPERJ. Rio de Janeiro: Petrobrs, 2007.
____________. COMPERJ. Site oficial. Disponvel em: <http://www.comperj.com.br/>. Acesso em:
15 mai. 2009.
____________. Relatrio de Impacto Ambiental (RIMA): Complexo Petroqumico do Rio de Janeiro COMPERJ.
Rio
de
Janeiro:
Petrobras,
2007.
Disponvel
em:
<http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/pdf/rima.pdf./>. Acesso em: 25 mai. de 2009.

Joo Pessoa, outubro de 2011

389

PROJETO NAVEGANDO NO @MBIENTE - INCLUSO DIGITAL E


CONSERVAO DO PARQUE NATURAL MORRO DO OSSO
Celson Roberto CANTO-SILVA
Professor do Instituto Federal do Rio grande do Sul. Bolsista de Extenso no Pas (EXP) do CNPq
celson.silva@poa.ifrs.edu.br
Izadora Flores RECH
Graduanda do curso superior de Tecnologia em Gesto Ambiental do IFRS. Bolsista de Iniciao ao Extensionismo (IEX) do
CNPq
Jonas KORNDRFER
Graduando do curso superior de Tecnologia em Sistemas para Internet do IFRS . Bolsista de Apoio Difuso do
Conhecimento (ADC) do CNPq

RESUMO
O projeto Navegando no @mbiente: incluso digital e conservao ambiental tem como objetivo
contribuir com a incluso digital das comunidades do entorno de unidades de conservao localizadas no
municpio de Porto Alegre, RS, gerando multiplicadores para a sua conservao a partir das novas
tecnologias da informao e comunicao. Este artigo tem por objetivo relatar os resultados parciais
obtidos pelo projeto junto comunidade do entorno do Parque Natural Morro do Osso, localizado na
regio centro-sul do municpio. A principal ao do projeto o oferecimento de cursos abordando
conceitos de informtica e meio ambiente e que tm como produto final a elaborao ou manuteno de
um blogue referente unidade de conservao do entorno. O primeiro curso do projeto ocorreu no
perodo de 6 de maio 3 de junho de 2011, sendo que o resultado mais evidente foi a maior percepo em
relao unidade de conservao demonstrada no blogue criado pela turma.
Palavras-chave: Educao Ambiental, Tecnologias da Informao e Comunicao, Unidades de
Conservao.
Introduo
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), os Parques tm por objetivo a
proteo de ecossistemas naturais, permitindo a prtica de pesquisas cientficas, turismo, recreao e
educao ambiental, desde que essas atividades sejam autorizadas pelo rgo administrador e estejam de
acordo com as normas estabelecidas no Plano de Manejo da unidade de conservao (ICMBIO, 2010).
O Parque Natural Morro do Osso uma Unidade de Conservao de Proteo Integral localizada na
poro centro-sul de Porto Alegre RS, sendo a primeira unidade de conservao nos 44 morros da cidade.
Essa unidade de conservao foi criada pela Lei Complementar n 334 de 27 de dezembro de 1994, sendo
denominada poca rea Funcional de Parque Natural, com 114 hectares. Em 1998, pela Lei N 8.155, a
rea passou a ser denominada Parque Natural Morro do Osso, tendo sua rea posteriormente expandida
para 127 ha.
A importncia dessa unidade de conservao na cidade est baseada principalmente no fato de
apresentar uma influncia da Mata Atlntica e diversas espcies em perigo de extino, junto a uma grande
biodiversidade tanto em campo quanto em mata, com reas de beleza cnica de importncia histricocultural. Junto a isso se soma o fato de que o parque apresenta-se cercado por reas urbanas, constituindose ento em um refgio para a manuteno e conservao da biodiversidade, alm de permitir o contato
da populao com essa rea natural (SESTREN-BASTOS, 2006).
Na gesto de reas protegidas, como o Parque Natural Morro do Osso, a educao ambiental
desempenha um papel central, visto que a sensibilizao e o despertar da conscincia crtica da
comunidade para a proteo dos recursos naturais a forma mais adequada de proteo dessas reas
(CERATI & LAZARINI, 2009).
Diversas so as estratgias que tem sido empregadas para a implementao da educao ambiental
em reas protegidas. Uma dessas estratgias diz respeito instituio da gesto participativa, na qual se
busca estimular uma efetiva participao dos diferentes agentes internos e externos unidade de
conservao na definio e execuo das suas polticas (LOUREIRO & CUNHA, 2008). As estratgias mais
usuais, entretanto, dizem respeito sensibilizao e interpretao do ambiente junto a visitantes, turistas
ou moradores do entorno, seja atravs da implantao de Centros de Interpretao Ambiental, de trilhas
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

390
interpretativas, de vivncias ou da recreao ao ar livre (NEIMAN & RABINOVICI, 2002; VENDRAMETTO,
2004; CAMPOS & FERREIRA, 2006; MOREIRA, 2008).
No Brasil, so ainda poucos os trabalhos em educao ambiental nas unidades de conservao que
se utilizam das novas tecnologias da informao e da comunicao. A integrao dessas tecnologias
educao ambiental, contudo, de fundamental importncia no atual cenrio, uma vez que elas tm o
potencial de promover a sensibilizao e o conhecimento dos ambientes e de seus problemas de uma
forma mais atrativa, interativa, instigante, e, portanto, mais adaptada aos atuais hbitos perceptivos de
uma sociedade multimdia (RODRIGUES & COLESANTI, 2008). Em recente estudo, Ramos & Canto-Silva
(2010) evidenciaram a pouca utilizao dessas tecnologias na educao ambiental realizada em unidades
de conservao do Rio Grande do Sul. Constataram especialmente que o uso da internet, por meio de
sites ou blogues, uma ferramenta ainda pouco utilizada para promover a conservao dessas reas.
neste contexto que se insere o projeto Navegando no @mbiente incluso digital e conservao
ambiental, que visa contribuir para o preenchimento desta lacuna de iniciativas no uso das tecnologias da
informao e comunicao na educao ambiental realizada em unidades de conservao. O projeto tem
como objetivo principal envolver o cidado que vive no entorno de unidades de conservao localizadas no
municpio de Porto Alegre com a produo de material didtico conservacionista em formato de mdias
eletrnicas, visando criao e manuteno de blogues. Para tal, o projeto oferece comunidade cursos
que abordam aspectos da informtica (navegao na rede, edio de texto, imagem e vdeo e elaborao
de blogue) e da conservao ambiental (noes de ecologia e meio ambiente e visitao s unidades de
conservao). O presente artigo relata os resultados iniciais obtidos no desenvolvimento do primeiro curso
junto comunidade do entorno do Parque Natural Morro do Osso.
Metodologia
Os cursos de informtica e meio ambiente so oferecidos comunidade em telecentros municipais
atravs de uma parceria entre o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), instituio executora do
projeto, e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre. O presente projeto financiado pelo Conselho nacional
de desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq; proc. 563486/2010-4).
Os cursos apresentam uma carga horria de 20 horas/aula, distribuda ao longo de cinco semanas.
organizado em trs mdulos, cujo ltimo apresenta uma prtica final utilizando os contedos propostos
nos mdulos anteriores. O primeiro mdulo, que abrange os dois primeiros encontros (8 horas), aborda os
contedos de informtica. O segundo, que compreende o terceiro e quarto encontros (8 horas), fornece os
contedos de meio ambiente, incluindo uma visitao ao Parque Natural Morro do Osso. O terceiro
mdulo, correspondente ao quinto encontro, o momento em que os participantes do projeto, utilizando
os contedos apresentados, elaboram os materiais didticos e realizam as postagem nos blogues criados.
Os instrutores dos cursos so acadmicos dos cursos superiores de Tecnologia em Gesto Ambiental e
Tecnologia em Sistemas para Internet do IFRS.
A seguir so descritos os principais temas abordados no primeiro curso ministrado no telecentro
Chcara Sperb, localizado prximo ao Parque Natural Morro do Osso. O curso ocorreu de 6 de maio 3 de
junho de 2011.
Mdulo 1
O primeiro mdulo ocupou as duas primeiras semanas do curso, tendo por objetivo apresentar o
projeto aos inscritos e passar a eles os conceitos de informtica necessrios para a utilizao desta
tecnologia da informao para os fins propostos no projeto.
Os contedos tratados pela rea de informtica comearam com noes bsicas de uso do
computador, com conceitos bsicos do funcionamento do mesmo, sistema operacional, criao de pastas e
salvamento de arquivos. Esses contedos visaram apenas embasar e nivelar os participantes. Aps esse
nivelamento foram tratados os contedos mais importantes para o projeto como Internet e Redes Sociais,
enfocando a relevncia das ferramentas da Web 2.0, citando colaborao comunitria, produo de
contedo pelo usurio e o navegador como plataforma nica e a Nuvem como forma de armazenamento.
Alm disso, foram trabalhados a edio de imagens utilizando a ferramenta PicasaWeb e criao,
manuteno e edio de blog utilizando a ferramenta Blogger. Como prtica, cada aluno criou o seu
primeiro blogue pessoal e o compartilhou com os colegas e tutores. A seqncia incluiu a noo das
Joo Pessoa, outubro de 2011

391
ferramentas de coleta (imagem e vdeo) e a organizao da produo de um blogue a partir de um grupo tomando como base a organizao editorial, com a diviso dos trabalhos entre os alunos.
Mdulo 2
Na terceira semana foi ministrado o mdulo sobre conservao ambiental. Inicialmente foi aplicado
um questionrio de percepo ambiental. Esse questionrio apresenta perguntas elaboradas com o intuito
de obter-se uma primeira viso do que essas pessoas entendem por assuntos como biodiversidade,
conservao ambiental, unidades de conservao e de que como elas enxergam sua comunidade, seus
problemas ambientais e o Parque Natural Morro do Osso. Com a aplicao desse questionrio foi possvel
se fazer uma discusso sobre o ponto de vista de cada um com relao aos temas abordados, servindo esse
momento apenas para a introduo dos assuntos a serem tratados na seqncia e no para assinalar
pontos de vistas certos ou errados.
Aps a discusso do questionrio foram apresentados os materiais elaborados sobre
biodiversidade, sua definio, importncia e os desafios para sua conservao. Foram trabalhados ainda os
conceitos relacionados s unidades de conservao e suas funes e foi feita uma apresentao sobre o
Parque Natural Morro do Osso, sua histria, localizao, importncia e ameaas.
Para finalizar o encontro, foi iniciada a montagem de um texto de apresentao do Parque a ser
postado no blogue. Como o pblico alvo do blogue foi definido como sendo estudantes das sries finais do
ensino fundamental e do mdio, foi orientado aos participantes que o texto fosse adequado em formato e
linguagem a essa faixa etria.
No encontro seguinte foi realizada a visitao ao Parque Natural Morro do Osso. Antes de
percorrerem uma trilha de interpretao ambiental denominada trilha da fonte, os visitantes assistiram a
uma palestra ministrada por um dos guardas-parque, na qual foi relatada a histria do parque, a luta por
sua conservao, a importncia desse ambiente num meio urbano, a influncia de diversos biomas na
formao de sua paisagem, os conflitos existentes com a populao do entorno (h uma ocupao indgena
no permetro do Parque), assim como seus principais problemas de gesto. J na trilha, os participantes
puderam saber mais sobre as espcies nativas e exticas do parque, curiosidades sobre algumas espcies
vegetais, os processos de sucesso ecolgica e os monumentos naturais presentes no parque. Ao longo da
trilha os participantes coletaram imagens e depoimentos (fotos e vdeos) para a postagem no blogue a ser
elaborado no ltimo encontro.
Mdulo 3
No ltimo encontro foi feita a organizao do material coletado na visitao ao parque e a
concluso do texto iniciado no terceiro encontro. Foi feita a seleo de fotos, a escolha do design do
blogue, o planejamento da disposio dos textos e imagens e, em seguida, a postagens dos mesmos no
blogue.
Resultados e discusso
Das 10 vagas oferecidas comunidade, seis foram preenchidas, sendo que apenas quatro
participantes concluram o curso. Diversas dificuldades foram encontradas ao longo da atividade.
Primeiramente, o pequeno envolvimento da comunidade com o telecentro onde foi realizado o curso foi um
limitante para o interesse da mesma pela atividade, refletindo no reduzido nmero de inscritos. Alm disso,
foi observado que os participantes eram heterogneos tanto nos conhecimentos prvios de informtica
quanto nos de meio ambiente, sendo que esse desnivelamento foi um fator que influenciou o andamento
dos cursos e, talvez, a desistncia de alguns participantes. Alguns tiveram uma participao maior do que
outros, relacionando o assunto apresentado com situaes cotidianas e de experincia de vida.
Pode-se observar atravs do questionrio que os alunos entediam por biodiversidade a diversidade
de espcies, organismos e ambientes e que consideravam importante conserv-la para constituir uma
melhor qualidade de vida, diminuir ou controlar a poluio e para conservar espcies importantes.
Compreendiam tambm que processos como desmatamento, poluio e aumento demogrfico podem
reduzi-la. Como medidas de conservao desta biodiversidade ressaltaram a importncia da
conscientizao e participao de todos, diminuio de desmatamento e implantao de locais de
preservao de espcies. Em relao s unidades de conservao foi respondido que elas tm como funo
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

392
a conservao e recuperao de espcies e ambientes, porm demonstraram no conhecer os aspectos
legais e de gesto que embasam o funcionamento dessas reas protegidas.
Somente um dos participantes conhecia o Parque Natural Morro do Osso, apesar de todos os
demais morarem nas suas proximidades. Este participante o conhecia atravs de uma visita com a escola
realizada h muito tempo. Os outros participantes ou j haviam ouvido falar do Parque ou nem mesmo
tinham conhecimento do mesmo. Assim, os participantes pouco sabiam opinar sobre os problemas
enfrentados pelo parque, como o lixo, a falta de segurana, o desmatamento e a ocupao humana,
principalmente atravs dos ndios. Entre os problemas apresentados nos bairros, a maioria citou a
colocao de lixo em local inapropriado como maior problema, seguido da poluio da gua, ocupao
desordenada, poluio do ar, sonora, visual e a falta de saneamento. Alguns no sabiam de que forma o
parque podia influenciar no seu bairro, enquanto outros manifestaram que o mesmo ajuda a diminuir a
poluio, influencia no lazer, turismo e no conforto trmico.
Com respeito visitao ao Parque Natural Morro do Osso, esta ocorreu no dia 27 de maio (Figura
1). Certamente foi um dos pontos altos do curso, sendo que todos participantes manifestaram grande
satisfao por conhecer a unidade de conservao.

Figura 1 Participantes do projeto Navegando no @mbiente incluso digital e conservao


ambiental em visita orientada ao Parque Natural Morro do Osso, Porto Alegre, RS.
Foi observado que as curiosidades da natureza como o gravat lngua de tucano, planta herbcea
cuja base das folhas apresenta gosto de cenoura, ou a erva baleeira, tambm chamada knorr dos pobres
por ser utilizada como tempero da mesma forma que o produto comercializado, ou ainda os liquens
indicadores da pureza do ar, a fauna observada (aranhas e moluscos de grade porte) e os monumentos
naturais (possveis paleotocas e rochas de formato singular), alm da paisagem deslumbrante, tiveram um
grande impacto sobre o grupo, gerando um interesse muito grande dos participantes pela conservao do
parque. Foram tiradas muitas fotos, registrando os momentos experimentados pelo grupo, assim como
foram gravados depoimentos para serem postados posteriormente no blogue.
Quanto prtica final, elaborao do blogue, as principais dificuldades encontradas foram
relacionadas ao tratamento das imagens, em face da baixa velocidade da internet ou problemas
apresentados pelos computadores do telecentro. Tambm houve dificuldade na produo dos textos
propostos. Esse momento foi o que mais exigiu a ateno dos participantes, pois a sua maioria no
apresentava a faixa etria do pblico alvo do blogue, sendo difcil encontrar uma linguagem adequada para
abordar os assuntos. Ao final, com textos e imagens selecionadas, foram feitas as postagens no blogue
(Figura 2), que pode ser acessado no endereo http://navegandonoambiente-morrodoosso.blogspot.com/.

Joo Pessoa, outubro de 2011

393

Figura 2 Pgina inicial do blogue criado pelos participantes do primeiro curso do projeto
Navegando no @mbiente incluso digital e conservao do Parque Natural Morro do Osso.
Concluses
O andamento do curso em relao aos contedos ministrados foi relativamente bom, e apesar das
dificuldades enfrentadas os participantes compreenderam bem os contedos e evoluram bastante em
comparao com os primeiros encontros. A qualidade do blogue criado evidencia esta evoluo. Fica
evidente tambm a necessidade de um maior investimento na divulgao do curso junto comunidade,
como forma de minimizar as limitaes enfrentadas pelo telecentro no cumprimento dessa tarefa.
Percebe-se tambm a necessidade de uma maior preocupao com a incluso daquelas pessoas que no
detm um conhecimento bsico de informtica, de modo que seja dada uma maior ateno ao
nivelamento da turma nesses conhecimentos. A atividade prtica de visitao ao Parque de fundamental
importncia, pois esta vivncia sensibilizou os indivduos de tal maneira que perceptvel uma mudana no
grupo antes e depois da visitao, sendo que a partir dessa atividade o participante se sente mais envolvido
com a conservao do parque. Importante tambm incluir no planejamento das atividades um plano de
contingenciamento para os imprevistos relacionados ao mau funcionamento das mquinas e dos
programas computacionais, assim como aprimorar a dinmica de trabalho em grupo, principalmente no
momento da elaborao de textos de modo colaborativo. Pretende-se tambm aperfeioar o blog com o
tempo, deixando-o mais interativo. As observaes feitas nesta edio sero utilizadas para a melhoria dos
prximos cursos oferecidos pelo projeto.
Alm de gerar multiplicadores em educao ambiental, que so os participantes do projeto, esperase com a continuidade do mesmo que seja constitudo um blogue com informaes relevantes sobre o
Parque Natural Morro do Osso e sua conservao. Esse material didtico posteriormente ser trabalhado
nas escolas da comunidade, de modo que o seu contedo chegue a um maior nmero de cidados. Futuros
estudos podem avaliar a eficincia dessa metodologia inovadora em educao ambiental, que alm de se
utilizar das novas tecnologias da informao e comunicao, o faz com contedos didticos criados a partir
do ponto de vista da prpria comunidade do entorno das unidades de conservao, numa construo
coletiva.
Referncias
CAMPOS, A. M. N. & FERREIRA, E. A. Trilha Interpretativa: busca por conservao ambiental.
Caderno
Virtual
de
Turismo,
Vol.
6,
N
1
(2006).
Em
www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/include/getdoc.php?id=913...pdf. Acessado em 18/12/2010.
CERATI, T. M. & LAZARINI, R. A. DE M. A pesquisa-ao em educao ambiental: uma experincia no
entorno de uma unidade de conservao urbana. Cincia e Educao, v. 15, n. 2, p. 383-92, 2009.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

394
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO). Em
http://www.icmbio.gov.br. Acessado em 5/09/2010.
LOUREIRO, C. F. B., CUNHA, C. C. Educao ambiental e gesto participativa de unidades de
conservao: elementos para se pensar a sustentabilidade democrtica. Ambiente & Sociedade, Campinas,
v. XI, n. 2, p. 237-253, 2008.
NEIMAN, Z & RABINOVICI, A. O Cerrado como instrumento para educao ambiental em atividades
de ecoturismo. (in) Meio Ambiente Educao e Ecoturismo. Org. Zysman Neiman. Manole, Barueri, SP,
2002, 181p.
RAMOS, C. & CANTO-SILVA, C. R. Uso das tecnologias da Informao e comunicao em Programas
de Educao Ambiental nas Unidades de conservao do Rio Grande do Sul. In: Jornadas Mercosul:
memria, ambiente e patrimnio, 2010, Canoas. Jornadas Mercosul: memria, ambiente e patrimnio Programas e resumos, 2010. p. 25-25.
RODRIGUES, G. S. Z. C. & COLESANTI, M. R. DE M. Educao Ambiental e as Tecnologias de
Informao e Comunicao. Sociedade & Natureza, Uberlndia, 20 (1): 51-66, jun. 2008.
SESTREN-BASTOS, M. C. (Coord.) Plano de Manejo Participativo do Parque Natural Morro do Osso.
Porto Alegre: Secretaria Municipal do Meio Ambiente, 2006.
VENDRAMETTO, L. P. Educao ambiental em unidades de conservao: um estudo de caso na rea
de proteo ambiental de Sousas e Joaquim Egdio. Dissertao de mestrado. Piracicaba, 2004, 108p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

395

USO DAS TIC NA EDUCAO AMBIENTAL DESENVOLVIDA EM UNIDADES


DE CONSERVAO DO RIO GRANDE DO SUL
Christiane RAMOS
Professora da Secretaria da Educao do RS. Especialista em Tecnologias da Informao e da Comunicao aplicadas
Educao
chris.ramos2@gmail.com
Ronaldo Martins GLUFKE
Professor da Universidade Federal de Santa Maria
Celson Roberto CANTO-SILVA
Professor do Instituto Federal do Rio grande do Sul

RESUMO
A despeito da natural convergncia entre as Tecnologias da Informao e Comunicao (TIC) e a
Educao Ambiental (EA), em alguns contextos, como no caso da EA desenvolvida em Unidades de
Conservao (UC), so ainda incipientes as iniciativas que fazem uso dessas tecnologias, ou pelo menos so
poucos os casos relatados. Este artigo apresenta uma pesquisa preliminar sobre o uso das TIC na EA
desenvolvida nas UC do estado do Rio Grande do Sul (RS). Atravs da aplicao de um questionrio aos
gestores das UC, via mensagem eletrnica, foi avaliado o uso das TIC na EA desenvolvida nessas reas
protegidas. Apesar da maioria das UC avaliadas utilizarem pelo menos uma das TIC apresentadas no
questionrio, as baixas freqncias alcanadas por quase todos os itens evidenciam que as TIC so ainda
um recurso pouco utilizado na EA desenvolvida nas UC do estado.
Palavras-chave: Educao Ambiental, Tecnologias da Informao e Comunicao, Unidades de
Conservao.
Introduo
As Tecnologias da Informao e Comunicao (TIC) apresentam um grande diferencial em relao
aos meios clssicos de comunicao, baseados na unidirecionalidade do processo comunicativo.
Diferentemente destes, as TIC possibilitam uma maior interao entre os plos de comunicao,
permitindo que ambos interfiram na mensagem (MORAES et al, 2006). Calcada no uso das tecnologias
associadas informtica e no grande desenvolvimento das telecomunicaes, a TIC tm promovido
profundas modificaes na nossa forma de conhecer o mundo, no modo de represent-lo e na transmisso
dessas representaes, democratizando um pouco mais as informaes (RODRIGUES & COLESANTI, 2008).
A necessidade de responder s questes que surgem diariamente, frente a um cenrio atual de
transformaes e descobertas cientficas e tecnolgicas, tem exigido que as pessoas cada vez mais
trabalhem em conjunto e essa colaborao requer comunicao (SCHEIBEL et al, 2009). O uso da rede
mundial, assim como dos recursos da hipermdia, viabilizam sobremaneira essa comunicao, rompendo
barreiras geogrficas de espao e tempo, e permitindo o surgimento de um processo cooperativo de
construo dos saberes (SANTOS, 1998).
Neste sentido, as TIC tm contribudo para a criao de um novo espao social, no qual uma
aprendizagem cooperativa, caracterizada pelo trabalho em equipe, auxlio mtuo, troca de idias,
realizao de negociaes e tomada de decises coletivas, pode ser desenvolvida (TRIMBUR, 1989;
SCHEIBEL et al, 2009). Segundo Arriada & Ramos (2003), esses novos ambientes de aprendizagem podem
ser caracterizados como amplamente favorveis criatividade, autonomia, criticidade e cooperao.
Um tema que surgiu e se intensificou nas ltimas dcadas refere-se degradao do meio
ambiente. Dentre as diversas estratgias que tm sido empregadas na reverso dos problemas ambientais,
a Educao Ambiental (EA) tem recebido uma especial ateno. Atravs da EA, busca-se a formao de
atitudes ecolgicas e cidads, por meio do desenvolvimento de capacidades e sensibilidade para identificar
e compreender os problemas ambientais e mobilizar-se e comprometer-se com a tomada de decises
voltadas a soluo dos mesmos (CARVALHO, 2004).
A integrao das TIC EA tem sido de fundamental importncia no atual cenrio, uma vez que
essas tecnologias tm o potencial de promover a sensibilizao e o conhecimento dos ambientes e de seus
problemas de uma forma mais atrativa, interativa, instigante, e, portanto, mais adaptada aos atuais hbitos
perceptivos de uma sociedade multimdia (RODRIGUES & COLESANTI, 2008). Essa integrao tem
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

396
ocorrido de forma natural, uma vez que tanto as TIC quanto a EA atuam na formao poltica da cidadania e
na mudana de valores e atitudes, favorecendo o conceito de inter-relao e a convivncia entre os seres
humanos (CARVALHO, 2004a; MOLON et al, 2009).
Os contextos e as formas em que essa integrao tem acontecido, entretanto, so variados. Em
geral, as TIC tm se constitudo em instrumentos de apoio ao desenvolvimento do tema educao
ambiental nos currculos escolares (SILVA et al, 2008; ANDRADE & VOSGERAU, 2009) e na formao de
educadores ambientais (GUERRA, 2001) ou como material didtico produzido para a EA, tanto no ensino
formal quanto no ensino no formal (EICHLER & DEL PINO, 2006; RODRIGUES, 2007).
A despeito da natural convergncia entre as TIC e a EA, em alguns contextos so ainda incipientes
as experincias nesse sentido, ou pelo menos so poucos os casos relatados. o caso do uso das TIC na EA
desenvolvida em Unidades de Conservao (UC). Essas reas especialmente protegidas com o objetivo de
conservar a biodiversidade tm na EA a forma mais adequada de sensibilizar e despertar a conscincia
crtica da comunidade para esse objetivo (CERATI & LAZARINI, 2009). Entretanto, apesar das inmeras
iniciativas do uso das TIC em outros contextos da EA, pouco se sabe sobre a sua contribuio para a EA
realizada nessas reas protegidas.
Considerando-se este cenrio, o presente trabalho objetivou avaliar preliminarmente o uso das TIC
nos programas de EA desenvolvidos nas UC localizadas no estado do Rio Grande do Sul (RS). Com isso
pretende contribuir para o conhecimento do papel atual das TIC nesse contexto, bem como lanar uma luz
sobre a disponibilidade de materiais didticos relacionados a esse tipo de mdia nas UC.
Educao Ambiental e as TIC
De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) do ensino fundamental, o meio
ambiente e a EA so temas transversais, devendo ser discutidos em todas as reas de estudo, de forma
interdisciplinar, e no individualizada em uma nica disciplina (BRASIL, 1997). Essa determinao foi
estendida a todos os nveis e modalidades do processo educativo, da educao formal e no formal, com o
advento da lei n. 9.795, que instituiu a Poltica Nacional de Educao Ambiental (SECAD, 2010).
Segundo Andrade & Vosgerau (2009), houve no Brasil um expressivo aumento da associao
sistemtica entre o uso pedaggico do computador e a existncia da EA nas escolas do ensino fundamental.
Para esses autores, todas as esferas de gesto educacional (municipal, estadual e federal) esto
empenhadas em integrar educao e tecnologia, no intuito de oferecer maiores alternativas de
aprendizagem ao aluno. Programas e aes federais como o Programa Nacional de Informtica na
Educao-PROINFO e o Guia de Tecnologias Educacionais tem contribudo fortemente para isso.
Diversos so os recursos relacionados s TIC no contexto educacional, sendo que o uso do
computador e da internet so as principais ferramentas s quais outros recursos esto associados
(ANDRADE & VOSGERAU, 2009). Segundo Rodrigues & Colesanti (2008), a Internet e o ambiente digital
viabilizam no somente a divulgao de informaes em diferentes formas (textuais, fotografias, filmes,
mapas, etc.), mas tambm permitem a sua integrao, caracterizando-a como uma multimdia. Esse
suporte digital de grande relevncia para o desenvolvimento da EA, por permitir problematizar o saber
ambiental, colocando-o em uma perspectiva onde os alunos possam se apropriar e utiliz-lo para a
construo das atitudes ecolgicas.
Outros recursos, relacionados implementao dessa informao, tais como o uso de cmeras
digitais, processadores de texto, de sons, digitalizadores de mapas, entre outros, tambm so ferramentas
de grande utilidade na EA desenvolvida no ensino formal (SILVA et al, 2008; RODRIGUES & COLESANTI,
2008; ANDRADE & VOSGERAU, 2009).
Um aspecto importante a ser considerado na integrao das TIC EA o desenvolvimento de
materiais didticos adequados a essas tecnologias. Neste sentido h um nmero crescente de iniciativas na
produo de objetos de aprendizagem digital, que podem compreender jogos, textos, vdeos, grficos,
udio, animaes, apresentaes, etc. A Rede Interativa Virtual de Educao (RIVED), um programa da
Secretaria de Educao a Distncia - SEED do MEC, tem dado um grande suporte produo de contedos
pedaggicos digitais, na forma de objetos de aprendizagem, por meio de capacitaes realizadas junto s
instituies de ensino superior e na rede pblica de ensino (SEED, 2010). Energos (EICHLER et al, 2006),
Carbpolis (EICHLER & DEL PINO, 2006) e o Jogo Tartarugas (FILHO et al, 2010) so exemplos de objetos de
aprendizagem digital direcionados EA.
Joo Pessoa, outubro de 2011

397
A EA no formal, entretanto, ainda carece de uma maior ateno quanto ao uso das TIC. Escassas
so as iniciativas neste sentido, apesar de reas como a gesto de unidades de conservao demandarem
um forte investimento em EA.
Educao Ambiental em Unidades de Conservao e o uso de TIC
De acordo com a legislao que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), Lei
n. 9.985/2000, as UC so reas protegidas com o objetivo de conservar a biodiversidade e outros atributos
naturais nelas contidas, com o mnimo de impacto (ICMBio, 2010). As UC so divididas em unidades de
proteo integral, nas quais se admite o mnimo de interferncia humana nos ecossistemas, e as unidades
de uso sustentvel, que tm por objetivo compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel
dos recursos. So considerados de proteo integral, os Parques Nacionais, Monumentos Naturais e
Refgios de Vida Silvestre, as Estaes Ecolgicas e as Reservas Biolgicas. Fazem parte das unidades de
uso sustentvel, as reas de Proteo Ambiental, reas de Relevante Interesse Ecolgico, Florestas
Nacionais, Estaduais e Municipais, Reservas de Fauna, Reservas de Desenvolvimento Sustentvel e Reservas
Extrativistas (ICMBio, 2010).
No que tange a gesto dessas reas protegidas, a EA desempenha um papel central, visto que a
sensibilizao e o despertar da conscincia crtica da comunidade para a proteo dos recursos naturais a
forma mais adequada de proteo dessas reas (CERATI & LAZARINI, 2009).
Neste sentido, diversas estratgias tem sido empregadas para implementao da EA em reas
protegidas. Uma dessas estratgias diz respeito instituio da gesto participativa, proposta
implementada principalmente a partir da regulamentao do SNUC pelo decreto n. 4.340/2002. Esta
iniciativa, caracterizada pelo estabelecimento de Conselhos de Unidades de Conservao, de carter
consultivo ou deliberativo, busca uma maior democratizao na elaborao e na execuo das polticas
pblicas, de modo sustentvel, por meio da participao permanente dos diferentes agentes internos e
externos UC (LOUREIRO & CUNHA, 2008). Por outro lado, so inmeras as iniciativas de EA relacionadas
sensibilizao e interpretao do ambiente junto a visitantes, turistas ou moradores do entorno, seja
atravs da implantao de Centros de Interpretao Ambiental, de trilhas interpretativas, de vivncias ou
da recreao ao ar livre (NEIMAN & RABINOVICI, 2002; VENDRAMETTO, 2004; CAMPOS & FERREIRA, 2006;
MOREIRA, 2008)
No Brasil, so ainda poucos os trabalhos em EA nas UC que tratam do uso das TIC. Santos et al
(2000) relatam o uso de Sistemas de Informaes Geogrficas para a caracterizao do sistema ambiental e
sensibilizao dos grupos sociais em relao ao problemas ambientais da Estao Ecolgica de Jata, em So
Paulo. Rodrigues (2007) desenvolveu material didtico em hipermdia, com o uso de imagens, textos e sons
referentes ao Parque Municipal Victorio Siquierolli, em Minas Gerais. Mais recentemente, Moreira (2008)
fez uma avaliao do uso do patrimnio geolgico das Unidades de Conservao em atividades
interpretativas, educativas e geotursticas no pas, avaliando tambm as diversas estratgias de
abordagem, incluindo o uso das TIC. O mesmo estudo compara as iniciativas brasileiras com outros pases,
evidenciando que h ainda uma grande trajetria a ser percorrida.
No estado do Rio Grande do Sul, o sistema de Unidades de Conservao constitudo por
58 reas de proteo sob o poder pblico, sendo 12 federais, 22 estaduais e 24 municipais (SEMA, 2010).
Este nmero, somado a outras tantas UC particulares, abrangem uma rea de 712.763 ha (SEPLAG, 2008),
que distribuda nas diferentes regies do estado.
Apesar de diversas iniciativas de EA ocorrentes nas UC do Rio Grande do Sul, nada se sabe sobre a
utilizao das TIC nessas iniciativas, resultando numa lacuna importante do conhecimento sobre o
potencial de uso dessas tecnologias.
Metodologia
O presente estudo foi baseado em uma pesquisa on-line, na qual um questionrio foi enviado aos
gestores das UC pblicas localizadas no estado do Rio Grande do Sul, via mensagem eletrnica, no perodo
de agosto/setembro de 2010. O recebimento dos questionrios respondidos tambm se deu por
mensagem eletrnica. Desta forma, a populao alvo desta pesquisa constituiu-se em 58 UC, sendo duas
unidades desconsideradas, em funo de atualmente estarem desprovidas de gestores. Foram, portanto,
enviados 56 questionrios apresentando seis perguntas com respostas fechadas, abordando: a
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

398
identificao da unidade, a caracterizao do pblico alvo da UC, a quantidade de visitantes no ano de
2009, a existncia de programa ou atividades de EA, o uso de TIC nessas atividades e quais tecnologias so
empregadas.
Os dados so apresentados sob a forma de freqncia das respostas obtidas, sendo analisados para
o total de UC, assim como para cada categoria de UC, quando pertinente.
Resultados e discusso
Do total de 56 questionrios enviados aos gestores de UC, foram recebidos 23 respondidos,
perfazendo um tamanho amostral de 41,1%, conforme mostrado na Tabela 1. Esta tabela tambm
evidencia que a percentagem de UC amostradas foi varivel conforme sua categoria. Das oito categorias de
UC existentes no estado, duas no foram contempladas na amostragem (Jardim Botnico / Horto Florestal
e Refgio de Vida Silvestre), uma apresentou baixa representatividade (Reserva Biolgica) e as demais
foram amostradas em pelo menos 40%.
O ndice de retorno de aproximadamente 41% pode ser considerado razovel, visto que
questionrios que so enviados para os entrevistados alcanam em mdia 25% de devoluo, segundo
estudo de Marconi & Lakatos (2005). No presente trabalho, os questionrios foram enviados e recebidos
por mensagem eletrnica, de modo que diversos fatores podem ter influenciado na transmisso das
mensagens, tais como endereos eletrnicos desatualizados, caixas de correio eletrnico lotadas, falta de
freqncia na verificao de e-mails, falhas tcnicas de transmisso, entre outros.
Tabela 1 Nmero e percentagem de questionrios respondidos em relao ao total de UC
localizadas no estado do Rio Grande do Sul, por categoria da unidade.
Nmero
de Nmero e % de questionrios
UC no RS
respondidos
rea de Proteo Ambiental
10
5
50
rea de Relevante Interesse Ecolgico
2
1
50
Estao Ecolgica
3
2
66,7
Floresta Nacional
3
2
66,7
Jardim Botnico / Horto Florestal
1
0
0
Parque (Municipal, Estadual ou Nacional)
29
12
41,4
Refgio de Vida Silvestre
1
0
0
Reserva Biolgica.
7
1
14,3
Total
56
23
41,1
Pode-se considerar que as trs esferas de poder pblico, gestoras das UC, foram contempladas de
maneira semelhante na amostragem, conforme evidencia a Tabela 2. Portanto, os resultados refletem de
maneira equilibrada a contribuio das diferentes polticas adotadas pelas UC.
Tabela 2 Nmero de questionrios respondidos pelos gestores das unidades de conservao
localizadas no estado do Rio grande do Sul por categoria da unidade e rgo gestor.
Nmero de Questionrios respondidos
Categoria da Unidade de Conservao
rea de Proteo Ambiental
rea de Relevante Interesse Ecolgico
Estao Ecolgica
Floresta Nacional
Parque
Reserva Biolgica
Total

Joo Pessoa, outubro de 2011

Municipal
3
1

4
1
9

Estadual
1

Federal
1

2
2
3

Total
5
1
2
2
12
1
23

399
O tipo de pblico atendido pelas UC no estado bastante amplo, de modo que todos os tipos
avaliados esto presentes em no mnimo 70% das Unidades (Tabela 3). As UC so mais freqentadas pelo
pblico em geral (em torno de 87% delas). Naturalmente, os resultados por categoria de UC refletem as
suas restries de uso conforme a legislao. Por outro lado, a visitao, tomando por base o ano de 2009,
foi em sua maioria superior a 1000 visitantes. Mais uma vez, a influncia do tipo de UC foi diferencial, onde
Parques e Florestas Nacionais apresentaram uma maior intensidade de visitao. Informaes adicionais,
fornecidas pelos prprios gestores nos questionrios, do conta que, exceto algumas, a mairoia das UC
recebem um nmero de visitantes no muito superior a 1000.
Tabela 3 Tipo e nmero de pblico visitante no ano de 2009 indicados nos questionrios
respondidos por categoria de unidade de conservao localizada no estado do Rio Grande do Sul: (A) rea
de Proteo Ambiental, (B) rea de Relevante Interesse Ecolgico, (C) Estao Ecolgica, (D) Floresta
Nacional, (E) Parque e (F) Reserva Biolgica.
Nmero de citaes por Categoria da UC
Nmero total e % de
A
B
C
D
E
F
citaes
Tipo de pblico visitante
Estudantes
Pesquisadores
Pblico em geral

1
3
4

1
1
1

2
2
2

2
2
2

9
9
11

1
1
0

15
17
19

69,56
78,26
86,95

Nmero de visitantes (2009)


At 50
De 50 a 500
De 500 a 1000
Mais de 1000

1
4
0
0

0
0
0
1

0
1
0
1

0
0
0
2

1
2
0
9

0
0
1
0

2
7
1
13

9,09
31,82
4,55
56,52

A quase totalidade dos gestores das UC amostradas (91,3%) registrou o desenvolvimento de


programas ou atividades de EA, conforme evidencia a Tabela 4. Apenas uma rea de Proteo Ambiental e
um Parque estadual amostrados no desenvolvem atividades de EA. Quanto ao uso de TIC nessas
atividades, 80,1% registrou o uso de pelo menos umas das tecnologias sugeridas no questionrio. Neste
quesito, os Parques e as reas de Proteo Ambiental apresentaram as menores freqncias, 72,7 e 75%,
respectivamente.
Tabela 4 Nmero e percentagem de questionrios indicando as iniciativas em Educao
Ambiental e o uso de TIC nas atividades, por categoria de unidade de conservao localizada no estado do
Rio Grande do Sul.
Iniciativas em EA
Uso de TIC
Categoria da Unidade de Conservao
Nmero
%
Nmero
%
rea de Proteo Ambiental
rea de Relevante Interesse Ecolgico
Estao Ecolgica
Floresta Nacional
Parque
Reserva Biolgica

4
1
2
2
11
1

80
100
100
100
91,66
100

3
1
2
2
8
1

75
100
100
100
72,7
100

Total

21

91,3

17

80,1

Na Tabela 5 so apresentadas as freqncias de citaes para cada TIC nas diferentes categorias de
UC. O tipo de UC em que houve o maior nmero de TIC citadas foi o Parque. Dentre as TIC sugeridas no
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

400
questionrio, o uso de multimdia foi a mais citada (59,1%), seguida pelo uso de CD/DVD informativo
(36,4%) e a disponibilizao de computadores na UC (26%). O uso de site na Internet com informaes da
UC vm apenas em quarto lugar (22,7%), sendo que o uso de sites mais elaborados e blogs registraram
baixssimas freqncias de citaes. Este panorama diferente daquele encontrado em outros pases como
Estados Unidos, Inglaterra, Repblica Checa e Portugal, cujas UC fazem uso da Internet para a introduo
de elementos de geoeducao e informaes tursticas (MOREIRA, 2008). Uma breve avaliao do site do
Servio Nacional de Parques dos Estados Unidos (U.S.NPS, 2010) tambm evidencia a discrepncia do uso
dessa tecnologia por parte daquele pas em relao aos resultados obtidos no presente estudo. Estudos
futuros devem ser dirigidos avaliao sistemtica do uso dos sites das UC brasileiras para o
desenvolvimento de atividades educativas.
Tabela 5 Nmero e percentagem de citaes das TIC utilizadas nos programas ou atividades de
educao ambiental nas unidades de conservao localizadas no estado do Rio Grande do Sul, por
categoria da unidade: (A) rea de Proteo Ambiental, (B) rea de Relevante Interesse Ecolgico, (C)
Estao Ecolgica, (D) Floresta Nacional, (E) Parque e (F) Reserva Biolgica.
Nmero de citaes por Categoria da UC

Total
de
citaes
%

Disponibiliza computadores na UC
Site na Internet com informaes
Site na Internet com Chat, fruns
ou questionrios
Blog na Internet
"Web-Quest ou jogos na Internet
CD/DVD informativos
CD/DVD com jogos educativos
Uso de Multimdia (data-show)
Outros

0
1

0
0

0
0

2
0

3
3

1
1

5
5

26
22,7

0
1
0
1
0
3
1

0
0
0
1
0
1
0

0
0
0
1
0
2
1

0
0
0
0
0
1
0

1
0
0
4
0
5
2

0
0
0
1
0
1
0

1
1
0
8
0
13
4

4,5
4,5
0
36,4
0
59,1
18,2

Total de citaes

18

Registra-se ainda que "Web-Quest ou jogos na Internet e CD/DVD com jogos educativos no foram
citados sequer uma nica vez entre os questionrios. Este resultado indica que os esforos relacionados
produo de objetos de aprendizagem digitais ainda no alcanaram a EA desenvolvida em UC e que
Iniciativas como a de Rodrigues (2007), que produziu material didtico em hipermdia para uma UC, so
ainda excees.
Os resultados obtidos neste trabalho indicam uma limitao no uso das TIC na EA desenvolvida nas
UC amostradas. Tal resultado pode refletir as dificuldades de implementao, produo e/ou gesto dessas
tecnologias por parte das UC, medidas que dependem dos recursos financeiros e humanos disponveis ou
ainda das polticas institucionais desenvolvidas pelas respectivas esferas pblicas. Segundo Carvalho et al
(1998), que avaliaram os problemas associados ao desenvolvimento da EA em UC federais, estes so os
principais problemas enfrentados pelas UC, no que tange a EA.
Alm das TIC sugeridas nos questionrios, outras foram citadas espontaneamente pelos gestores,
tais como o uso dos programas Google Earth e Flicker e material impresso como folders, livretos e
painis explicativos.
Ressalta-se que as citaes referentes ao uso de computadores nas UC podem no ter
representado a inteno prevista no questionrio, que era a disponibilizao deles ao pblico visitante.
possvel que as citaes se refiram ao uso dessa tecnologia na gesto da UC.
Chama ateno tambm que a TIC mais utilizada uso de multimdia justamente aquela que,
requerendo a presena tanto do comunicador quanto dos receptores, atinge apenas o pblico que
freqenta a UC.
Joo Pessoa, outubro de 2011

401

Concluses
Os resultados permitem concluir que o uso das TIC na EA realizada nas UC do estado do Rio
Grande do Sul est associado principalmente presena do visitante, sendo ainda pouco utilizados os
recursos da Internet e, quando utilizados, so pouco explorados em suas potencialidades. O mesmo pode
ser dito quanto ao uso de CD/DVD, que somente so informativos, no explorando as possibilidades de
interao que a mdia permite. Estudos futuros devem avaliar os reais fatores que tem moldado essa
realidade.
Sugere-se, preliminarmente, que esforos sejam feitos no sentido de subsidiar as UC com a
produo de materiais didticos que possam ser veiculados em mdias relacionadas s TIC. A produo
desses materiais deve levar em conta a sua atratividade e adequao aos propsitos especficos de cada UC
e que sejam elaborados de modo a permitir uma maior interao com o ambiente de aprendizagem. Outra
importante medida o estmulo ao debate sobre o potencial das TIC na veiculao de informaes e na EA
em reas protegidas. Pretende-se com isso qualificar a EA realizada nas UC, assim como atingir tambm
aquelas pessoas que no as freqentam.
Referncias
ANDRADE, V. L. A. M. & VOSGERAU, D. S. R. As tecnologias de informao e comunicao (tic) como
facilitadoras s prticas pedaggicas voltadas para a educao ambiental. IX Congresso Nacional de
Educao, 2009. Em: http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3683_2198.pdf.
Acessado em 18/12/2010.
ARRIADA, M. C & RAMOS, E. F. Como Promover Condies Favorveis Aprendizagem Cooperativa
Suportada
por
Computador?
Em:
http://www.inf.ufsc.br/~edla/publicacoes/AprendizagemCooperativaRBIE.pdf. Acessado em: 15/09/2010.
BRASIL, Ministrio da Educao. Parmetros curriculares nacionais: meio ambiente, sade. Braslia:
Secretaria de Educao fundamental, 1997.
CAMPOS, A. M. N. & FERREIRA, E. A. Trilha Interpretativa: busca por conservao ambiental.
Caderno
Virtual
de
Turismo,
Vol.
6,
N
1
(2006).
Em
www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/include/getdoc.php?id=913...pdf. Acessado em 18/12/2010.
CARVALHO, C. A. R. DE, FILHO, W. L. & HALE, W. H. G. An analysis of the problems of developing
environmental education in Brazilian Federal protected areas. The Environmentalist 18, 223-229 (1998).
CARVALHO, I. C. DE M. Educao ambiental: a formao do sujeito ecolgico. So Paulo: Cortez,
2004, 256p.
CARVALHO, I. C. DE M. Educao ambiental crtica: nomes e endereamentos. In: LAYRARGUES, P.P.
(coord.). Identidades da educao ambiental brasileira. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2004a.
CERATI, T. M. & LAZARINI, R. A. DE M. A pesquisa-ao em educao ambiental: uma experincia no
entorno de uma unidade de conservao urbana. Cincia e Educao, v. 15, n. 2, p. 383-92, 2009.
EICHLER, M. L. & DEL PINO, J. C. Ambientes Virtuais de Aprendizagem Desenvolvimento de
avaliao de um projeto em Educao Ambiental. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006, 175p.
EICHLER, M. L., PERRY, G. T., GONALVES, M. G. & DEL PINO, J. C. Energos, um objeto de
aprendizagem para o debate escolar sobre os meios de produo de energia eltrica. CINTED-UFRGS Tecnologias na Educao, V. 4 N 2, Dezembro, 2006, 1-12.
FILHO, J. W. S, BRITO, C. E. N., SANTOS, C. L., ALVES, A. C. M. & SCHNEIDER, H. N. Jogo Tartarugas:
Objeto de Aprendizagem na Educao Ambiental. IV Seminrio de Jogos Eletrnicos, Educao e
Comunicao, 2010.
GUERRA, A. F. S. A educao ambiental em reas costeiras: o uso da web como ferramenta na
formao do oceangrafo. Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. Volume 6, julho, agosto, setembro de
2001. Em http://www.remea.furg.br/mea/remea/vol6/guerra.pdf. Acessado em 10/09/2010.
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE (ICMBio). Em
http://www.icmbio.gov.br. Acessado em 5/09/2010.
LOUREIRO, C. F. B., CUNHA, C. C. Educao ambiental e gesto participativa de unidades de
conservao: elementos para se pensar a sustentabilidade democrtica. Ambiente & Sociedade, Campinas,
v. XI, n. 2, p. 237-253, 2008.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

402
MARCONI, M. A. & LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia cientfica. 6 Ed. So
Paulo: Atlas, 2005.
MOLON, S. I., ARRUDA, R. D & PAREDES, J. A formao em educao ambiental e as TIC: um olhar
sobre
o PPGEA/FURG-Brasil. Didcticas
especficas.
Revista
electrnica N 0. Em
http://www.didacticasespecificas.com, 2009. Acessado em 14 de setembro de 2010.
MOREIRA, J. C. Patrimnio Geolgico em Unidades de Conservao: atividades interpretativas,
educativas
e
geotursticas.
Tese
de
doutorado,
Florianpolis,
2008.
Em
http://www.geoturismobrasil.com/artigos/Tese%20Jasmine%20Moreira_Cap%200%20a%203.pdf.
Acessado em 19/12/2010.
MORAES, R. A., DIAS, A. C. & FIORENTINI, L. M. R. As Tecnologias da Informao e Comunicao na
Educao: as perspectivas de Freire e Bakhtin. UNIrevista, Vol. 1, n 3 : (julho 2006). Em
http://www.alaic.net/ponencias/UNIrev_Moraes_e_outros.pdf. Acessado em 19 de setembro de 2010.
NEIMAN, Z & RABINOVICI, A. O Cerrado como instrumento para educao ambiental em atividades
de ecoturismo. (in) Meio Ambiente Educao e Ecoturismo. Org. Zysman Neiman. Manole, Barueri, SP,
2002, 181p.
RODRIGUES, G. S. Z. C. Educao ambiental e hipermdia: a construo de um material didtico para
o
Parque
Municipal
Victorio
Siquierolli.
Tese
de
doutorado,
2007.
Em
http://www.ig.ufu.br/sites/ig.ufu.br/files/Anexos/Bookpage/gelze_rodrigues.pdf.
Acessado
em
18/12/2010.
RODRIGUES, G. S. Z. C. & COLESANTI, M. R. DE M. Educao Ambiental e as Tecnologias de
Informao e Comunicao. Sociedade & Natureza, Uberlndia, 20 (1): 51-66, jun. 2008.

SANTOS, J. E. dos, SATO, M., PIRES, J. S. R. & MAROTI, P. S. Environmental education prxis toward
a natural conservation rea. Rev. Brasil. Biol. 60 (3): 361-372, 2000.
SCHEIBEL, M. R., SILVEIRA, R. M. C. F., RESENDE, L. M. & JNIOR, G. S. APRENDIZAGEM
COOPERATIVA: uma opo metodolgica para se trabalhar as questes da Cincia e da Tecnologia nos
cursos de formao de professores. Anais do I Simpsio Nacional de Ensino de Cincia e Tecnologia 2009,
Universidade Tecnolgica Federal do Paran UTFPR, 1506-1520.
SECAD. Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (MEC). Programas e aes.
Em http://portal.mec.gov.br. Acessado em 18/12/2010.
SEED. Secretaria de Educao a Distncia (MEC). Rede Interativa Virtual de Educao (RIVED). Em
http://rived.mec.gov.br/. Acessado em 18/12/2010.
SEMA. Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Unidades de Conservao. Secretaria Estadual do
Meio Ambiente do RS, Em http://www.sema.rs.gov.br/sema/html/bio.htm. Acessado em 10/09/2010.
SEPLAG. Secretaria de Planejamento e Gesto do RS. Trilhas Gachas Indicadores do Futuro 2008.
Em http://www.seplag.rs.gov.br/. Acessado em 10/09/2010.
SILVA, M. A. G. D. , OBARA, A. T. & MARCOLLI, A. G. M. Integrando Tecnologias de Informtica
Educao Ambiental no ensino mdio e fundamental s margens do Rio Paran, Porto Rico - Pr Tedam,
em www.peld.uem.br/Relat2008/pdf/Capitulo18.pdf. Acessado em 20/12/2010.
TRIMBUR, J. (1989). Consensus and Difference in Collaborative Learning. College English, 51 (6),
602-16.
US NPS National Park Service. Em http://www.nps.gov/index.htm. Acessado em 20/12/2010.
VENDRAMETTO, L. P. Educao ambiental em unidades de conservao: um estudo de caso na rea
de proteo ambiental de Sousas e Joaquim Egdio. Dissertao de mestrado. Piracicaba, 2004, 108p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

403

RESULTADOS PRELIMINARES DE PROJETO MULTIDISCIPLINAR COM


ALUNOS DO ENSINO MDIO-TCNICO NA APA DP ITAPIRAC, SO LUSMARANHO
Clarissa Lobato da COSTA
Profa. de Biologia do Ensino Bsico, Tcnico e Tecnolgico IFMA Campus Monte Castelo. clarissa@ifma.edu.br
Jorge Antonio Soares LEO
Prof. de Filosofia do Ensino Bsico, Tcnico e Tecnolgico IFMA- Campus Monte Castelo. quixoteleo@yahoo.com.br
Mauro Lopes Carvalho SILVA
Prof. De Informtica do Ensino Bsico, Tcnico e Tecnolgico - IFMA - Campus Monte Castelo. maurosilva@ifma.edu.br

RESUMO
O presente trabalho est relacionado a pesquisa ao na rea de Proteo Ambiental do Itapirac,
So Lus- Maranho por professores e alunos do Curso Integrado MdioTcnico em Informtica, do
Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia (IFMA), Campus Monte Castelo. A metodologia consta
da pesquisa ao onde grupos de trabalho realizam pesquisas sobre quatro aspectos principais a saber:
fauna, flora, recursos hdricos e aes antrpicas. A pesquisa multidisciplinar envolvendo as disciplinas de
biologia, filosofia e informtica. Os alunos esto realizando visitas tcnicas na rea, desenvolvendo textos e
fazendo registros fotogrficos dentro dos aspectos citados. Em seguida ser elaborado um site para
democratizao do trabalho contendo os artigos elaborados pelos alunos, alm de outras informaes com
Decreto, Plano de Manejo, fotografias, dentre outros.
Palavras chaves: Pesquisa ao, sustentabilidade, Itapirac, So Lus, Maranho
INTRODUO
Desde a dcada de 70, as questes ambientais tm sido consideradas como um dos temas mais
relevantes para a sociedade atual. Fala-se sobre poluio, impacto ambiental, escassez de recursos hdricos,
dentre outros. De acordo com o escritor Vilmar Berna (2001), tais problemas esto relacionados com a
maneira com que a nossa espcie se relaciona entre si, e, consequentemente, isso acaba refletindo no
planeta.
Com o objetivo de proteger, preservar e conservar espaos territoriais, bem como seus recursos
ambientais, no Brasil foi institudo o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), no ano de
2000.
De acordo com o SNUC, a rea de Proteo Ambiental uma rea em geral extensa, com um certo
grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos, estticos ou culturais especialmente
importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes humanas, e tem como objetivos
bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais.
No municpio de So Lus tem-se a rea de Proteo Ambiental do Itapirac, conhecida como APA
do Itapirac. A unidade foi criada atravs do Decreto n 15.618/97, possuindo uma rea de 322 ha. A APA
limita-se ao norte com o conjunto Parque Vitria; ao Sul com o condomnio Itapirac; a Oeste com o
conjunto Ipem Turu e a Leste com o Cohatrac e o loteamento Soterra. As coordenadas so: latitudes 2 31'
00,00'' S e2 31'58,69'' S; longitudes 44 11'19,12'' W e 44 13' 15,69''W. (COSTA, 2008).
A unidade abrange uma vegetao remanescente de floresta amaznica, representada por
Angelim, Andiroba, dentre outras. Alm da conservao da fauna e da flora, a APA representa importante
papel na manuteno do microclima da Ilha de So Lus (http://www.sema.ma.gov.br/).
Por sua localizao limtrofe aos municpios de So Lus e So Jos de Ribamar essa APA congrega
os problemas tpicos dessas reas, como: ocupaes espontneas e induzidas e todos os impactos que
delas decorrem (desmatamento, assoreamento dos corpos dgua, perda da biodiversidade e paisagens,
etc.)
Este projeto est sendo desenvolvido por professores e alunos do Curso Integrado Mdio Tcnico
de Informtica do Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Maranho, envolve
multidisciplinaridade abrangendo as disciplinas biologia, filosofia e informtica a partir de um tema
gerador, no caso, a biodiversidade e o papel das unidades de conservao. Desta forma, a biologia se ocupa
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

404
dos aspectos biolgicos existentes na rea; a filosofia engloba a problematizao/ reflexo da relao ser
humano/ natureza e crise ambiental; e a informtica, no contexto das Tecnologias de Informao e
Comunicao (TICs) entra como ferramenta tecnolgica que rene informaes, com artigos, fotografias,
dentre outros e as distribui atravs, por exemplo, da criao de sites interativos, permitindo maior
aproximao entre as pessoas e o contedo.
Pedrini (2002) aponta que algumas situaes vivenciadas pela sociedade impes escola o
desempenho de papis que vo alm da mera transmisso do conhecimento, neste sentido ela capacita os
indivduos a aquisio de novos hbitos e valores, desta forma, a escola um espao poltico, importante,
promotor de mudanas sociais.
No presente trabalho tem-se o objetivo de analisar a importncia da rea de Proteo Ambiental
do Itapirac para a conservao da biodiversidade, identificando os principais aspectos da a fauna, flora e
recursos hdricos locais bem como as aes antrpicas .
O trabalho justifica-se pelo fato da APA ocupar uma rea urbanizada no municpio, que deve ser
conservada, mantendo e melhorando os seus atributos naturais. Alm disso, por ser de fcil acesso, a APA
do Itapirac pode abrigar trabalhos relacionados a educao ambiental, como trilhas ecolgicas, plantio de
rvores, informao ambiental, entre outros, estimulando escola e comunidade a cuidar do ambiente e
exercer cidadania valorizando a relao entre seres humanos que culminem em uma sociedade mais justa e
responsvel.
METODOLOGIA
So reconhecidas as vantagens da experimentao em pesquisa-ao em educao ambiental no
processo de formao crtica e para a cidadania do jovem aluno. De acordo com Sato (1997), essa
metodologia a mais indicada para pesquisas em Educao Ambiental por permitir a participao dos
envolvidos por meio de reflexes crticas de um problema percebido por todos, potencializando a
emancipao e a participao social.
A metodologia do trabalho a ser realizado est baseado na pesquisa ao e consiste em trs etapas
descritas a seguir:
Etapa 1 - levantamento bibliogrfico e estudos sobre a rea nas bibliotecas universitrias, rgo
gestor competente e internet.
Etapa 2 diviso de grupos de trabalho para a pesquisa de campo. Foram formados quatro grupos,
sendo que cada grupo ficou responsvel por analisar um dos aspectos a seguir:
Grupo 1- Fauna nome das principais espcies e sua importncia socioambiental, registro
fotogrfico e outras informaes interessantes.
Grupo 2 Flora- nome das principais espcies e sua importncia socioambiental, registro fotogrfico
e outras informaes interessantes.
Grupo 3- Recursos Hdricos- localizar os principais corpos hdricos, identificar sua importncia
sociambiental e observar o grau de poluio
Grupo 4- Aes Antrpicas identificar e analisar as principais aes antrpicas utilizando para isso
os conhecimentos de biologia e filosofia, envolvendo a problematizao a partir da tica, poltica e do
pensamento crtico.

Realizao de trs visitas de campo para anlise dos aspectos citados. Sendo que a primeira visita
ocorreu no ms de maio/2011. As pesquisas constam de entrevistas com o Batalho de Proteo Ambiental
(BPA), observao in locu, registros fotogrficos e entrevistas com moradores.
Etapa 3 Elaborao de artigos envolvendo os aspectos analisados por cada grupo, recebendo
orientaes dos professores envolvidos no projeto.
Etapa 4- Elaborao de um site sobre a APA do Itapirac contendo os artigos elaborados pelos
alunos, alm de outras informaes com Decreto, Plano de Manejo, fotografias, dentre outros. Nesta etapa, a
disciplina que envolve informtica ser de fundamental importncia, ela contribuir com a utilizao das TIC.
Dessa forma Molon et al (2009) evidencia que as TIC tm importantes efeitos na formao poltica da
cidadania, na configurao e transmisso de ideias e valores ideolgicos, no desenvolvimento de atitudes que
favoream a inter-relao e a convivncia entre os seres humanos, sendo que, desse modo, aparece de modo
quase natural a articulao entre as TIC e a Educao Ambiental, uma vez que o uso de novas tecnologias na
educao (SILVA, 2006; PAREDES, 2000: in Molon et al 2009) pode transformar-se numa ferramenta para
ajudar a preparar o cidado, no sentido de instrumentaliz-lo para o desenvolvimento de aes
Joo Pessoa, outubro de 2011

405
transformadoras que consigam organizar, de forma solidria, novas prticas polticas e sociais (GUATTARI,
2001: in Molon et al 2009). Sendo assim, tambm encontra eco num conceito mais amplo da Educao
Ambiental, defendido por Reigota, que diz que A educao ambiental deve ser entendida como educao
poltica, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidados para exigir justia social, cidadania nacional e
planetria, autogesto e tica nas relaes sociais e com a natureza. (REIGOTA, 2001: in Molon et al 2009).

RESULTADOS E DISCUSSES
Aps a primeira visita tcnica realizada em maio de 2011, acompanhada pelos professores das
disciplinas j citadas e monitores do curso de Licenciatura em Biologia do IFMA, os alunos Camila Ribeiro,
Renato Pereira e Rarilson Saraiva, o projeto encontra-se na fase de elaborao de textos pelos alunos
orientados pelos professores.
Desta forma apresenta-se como resultado algumas partes dos textos elaborados pelos alunos, bem
como registros fotogrficos.
Equipe Fauna:
A fauna presente na APA do Itapiraco constituda por animais de importncia tcnico-cientfica,
porm um pouco escassa, sendo a maioria insetos como mosquitos, liblulas, borboletas.
Durante a visita APA, foi notado a presena apenas de insetos, devido circunstncias
momentneas como barulho e agitao das pessoas que participavam da trilha, isso somado ao grande
numero desses participantes. Alm disso, tem-se fato dos animais de mdio porte apresentarem hbitos
noturnos. As informaes de espcies na APA foram obtidas graas ao levantamento, observaes e coleta
de dados por pesquisadores nos ltimos 17 anos, alm de entrevistas com moradores antigos da APA do
Itapirac.
Das espcies mais comuns destacam-se as aves os rpteis e anfbios, que so fundamentais para o
equilbrio ecolgico de uma rea alimentando-se de pequenos insetos. Dentre os habitantes das reas
periodicamente alagadas esto os sapo, gias e rs. Estes animais so um dos que mais sofrem com a
degradao do meio ambiente, pois por apresentarem uma fase larvria aqutica e possuir pele lisa e
permevel, so, portanto muito dependentes e sensveis contaminao da gua.

Figura 01: Borboleta APA do Itapirac, maio 2011. Foto: Clarissa Lobato.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

406

Figura 02: Gafanhotos em reproduo, APA do Itapirac, maio 2011. Foto: Clarissa Lobato.

Componentes da equipe: Alxis Sousa Carlos, Isabella Mylena Sodr Castro, Raimundo Lourival
Junior, Silvio Manuel Gomes Oliveira, Teresa Cristina Louzeiro, Victor Guilherme Alves
Equipe Recursos Hdricos
A rea de Preservao Ambiental do Itapirac apresenta ainda uma considervel riqueza
hidrogrfica composta por nascentes que do surgimento ao Rio Itapirac e que desgua no Rio Pacincia
situado no Maiobo. Mas que atualmente vem sofrendo processo de poluio devido s aes antrpicas
sofridas como: o acumulo de lixo ao longo do rio e o desmatamento das matas ciliares ou vegetao de
galeria, outro aspecto que influencia no agravamento da situao o lanamento de esgoto proveniente do
COHATRAC, devido a falta de um planejamento de esgoto e saneamento adequado, refletindo diretamente
na inviabilidade de aproveitamento direto dos recursos hidrogrficos da APA. A falta de interesse dos
rgos pblicos e da falta de gesto ambiental integrando a comunidade faz com que a situao da APA
agrave se a cada dia, prejudicando os prprios moradores que sofrem muito com a poluio na rea.

Figura 03: Resduos slidos em corpos hdricos, na


Itaprrac, maio 2011. Fotos: Yago Viana.

Joo Pessoa, outubro de 2011

Figura 04: Rio poludo na APA do Itapirac, maio 2011. APA do

407
Componentes da equipe: Edenilton Michael de Jesus, Jssica pereira Chagas, Joo Victor, Lucas,
Pedro, Tamires e Yago.
Equipe Aes Antrpicas
Aes Antrpicas Desfavorveis
A presena humana ao redor e no interior da APA um fator que acarreta vrios outros danos,
entre eles, a derrubada da floresta para se extrair madeira para a construo de moradias, este um caso
de resoluo complexa, pois fruto de um problema social, como o cabo Julio informou durante a visita, as
pessoas que se utilizam dessa madeira no tem outra forma de construir suas casas. Porm, alm desses,
existem as pessoas que destroem a flora da APA para fazer, at mesmo, reas de lazer, como por exemplo,
um campo de futebol dentro do territrio protegido.
Outro problema existente o acumulo de lixo encontrado na rea, este gerado tanto pelas
residncias das proximidades quanto pelos que utilizam a APA como rea de lazer. Foram encontrados
todos os tipos de matrias no local, como um sof velho, roupas velhas, caixas de isopor, garrafas de vidro,
garrafas plsticas, etc. Atravs desse exemplo percebe-se o grau de poluio, pois eles levam muitos anos
para se degradar.

Figura 05: Sof abandonado na APA do Itapirac, maio 2011. Foto Rick Leal

H tambm a presena de esgoto no caminho trilhado que era originrio dessas moradias, sendo
que o mesmo ia de encontro com o rio por onde a equipe passou, gerando assim a poluio, deixando a
gua imprpria para uso. Presenciamos a queimada de materiais que jogava diretamente na atmosfera
gases txicos, prejudiciais ao ser humano e os animais do local.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

408

Figura 06 :Queima de resduos na APA do Itapirac, maio 2011. Foto Rick Leal.

Aes Antrpicas Favorveis


Existem muitos grupos de ambientalistas, professores, alunos, enfim, cidados que estabelecem
como uma das metas de suas vidas proteger a vida e zelar pelo bem estar do planeta, contribuindo para um
mundo melhor. Infelizmente este tipo de atitude ainda no se tornou popular e o prprio sistema
econmico em que vivemos pe em xeque as atitudes conservacionistas, colocando geralmente o aspecto
econmico como prioritrio.

Figura07: Integrantes do BPA em palestra na APA do Itapirac, maio 2011. Foto: Camila Ribeiro.

(...) Alm da presena do BPA, as visitas realizadas por alunos de diversas escolas constituem aes
antrpicas favorveis, uma vez que proporcionam conscientizao e aperfeioamento do senso crtico em
relao as questes socioambientais, as quais so de grande importncia, mas tm sido relegadas ao
segundo plano.

Joo Pessoa, outubro de 2011

409

Figura 08: Alunos e professores do IFMA- Campus Monte Castelo em visita tcnica na APA do Itapirac, maio
2011. Foto: Rarilson Saraiva.

Componentes da equipe: Ana Maria Silva Souza, Brunna Letcia Abreu Santos, Driele Brito Torres,
Elaine Pinto Portela, Kelly Suenny Martins Correia e Rick Leal Frazo.
Durante o trabalho de pesquisa ao at ento realizado pode-se identificar o maior interesse dos
alunos, principalmente na pesquisa de campo, eles aprendem e incorporam conceitos de maneira prtica,
dialogando e realizando conexes entre a rea fsica estudada, questes relacionadas a cidadania, poltica,
justia, cuidado com o planeta, bem como as TICs utilizadas para apresentao e democratizao do
material elaborado.
Loureiro et al (2006) explicita que a educao ambiental um ato poltico, baseado em valores para
a transformao social. O projeto envolvendo a pesquisa ao segue este pressuposto acreditando que a
multidisciplinaridade um caminho possvel e exitoso para o desenvolvimento da educao ambiental para
a sustentabilidade nas instituies de ensino.
BIBLIOGRAFIA
BERNA, V. Como fazer educao ambiental. So Paulo: Paulus, 2001.
BRASIL, Sistema Nacional de Unidades de Conservao. Lei 9985/00 Disponvel em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm acesso em 10 de julho de 2001
COSTA, N. F. A.; Castro, A. C. L.; Costa, N. N. S.Efeitos da Urbanizao na rea de Proteo
Ambiental Do Itapirac, So Lus, Ma. Boletim do Laboratrio de Hidrobiologia, 21:09-16. 2008
MOLON,S. I., ARRUDA R. D., PAREDES J. A FORMAO EM EDUCAO AMBIENTAL E AS TIC: UM
OLHAR SOBRE O PPGEA/FURG-BRASIL. Revista de Didcticas Especficas, n 1, pp. 12-292009 Disponvel em:
http://digitooluam.greendata.es//exlibris/dtl/d3_1/apache_media/L2V4bGlicmlzL2R0bC9kM18xL2FwYWNoZV9tZWRpYS
8yNTQwOQ==.pdf . acesso em 10 de julho de 2011
PEDRINI, A.G. O contrato social da cincia: unindo saberes na educao ambiental. Petrpolis, RJ:
Vozes,2002.
SATO (1997) in: Cerati, Tania Maria; Lazarini, Rosmari Aparecida de Morais. A pesquisa-ao em
educao ambiental: uma experincia no entorno de uma unidade de conservao urbana. Cinc. educ.
(Bauru) vol.15 no.2 Bauru 2009.
Disponvel
em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151673132009000200009&script=sci_arttext acesso em 20 de maro de 2010
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS DO ESTADO DO MARANHO.
http://www.sema.ma.gov.br/ acesso em 20 de maro de 2010

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

410

A APA DO MARACAN PARA OS ALUNOS DA UNIDADE DE EDUCAO


BSICA (UEB) MAJOR JOS AUGUSTO MOCHEL
Danielle Rabelo MOREIRA
Acadmica do Curso de Geografia UEMA
(daniellemoreira03@hotmail.com)
Constantiliene Lisboa dos Santos SILVA
Acadmica do Curso de Geografia UEMA
(constantin-h@hotmail.com)
Rosalva de Jesus dos REIS
Professora Msc. do Departamento de Histria e Geografia/CECEN UEMA
(rosalvareis@oi.com.br)

Resumo
A APA do Maracan uma das reas verdes de destaque no municpio de So Lus, capital do
Maranho. Este trabalho destaca as atividades desenvolvidas pelo projeto de extenso intitulado
Conhecendo a APA do Maracan II, cujos objetivos foi proporcionar atividades que levassem a comunidade
escolar UEB Major Jos Augusto Mochel ao conhecimento dos principais aspectos naturais e humanos da
APA, identificando os atributos humanos ali inseridos; analisar a relao existente entre a comunidade
escolar e a Unidade de Conservao; e analisar a ao do poder pblico. Os procedimentos metodolgicos
foram o levantamento bibliogrfico, reconhecimento da rea de pesquisa, realizao de entrevistas,
aplicao de questionrios, realizao de palestras e conduo de trilhas. Houve apoio permanente da
Coordenao Pedaggica da escola e grande interesse dos alunos durante a realizao das atividades que
envolveram a APA do Maracan, contribuindo para a mehor realizao de todas as etapas do trabalho aqui
descrito.
Palavras-chave: APA do Maracan. Educao ambiental. Preservao ambiental.
INTRODUO
O ambiente tem se tornado cada vez mais tema de discusses sobre o futuro do planeta, logo se faz
necessrio sensibilizar as crianas de hoje que sero futuro do mesmo e faz-las entender qual a
importncia de suas responsabilidades para a sobrevivncia dos recursos naturais.
O ambientalismo compara-se a uma corrida de basto com obstculos. Quando um cansa ou pra,
outro continua. Assim, apesar de muitos terem morrido, cansado ou desistindo, a luta continuou e continua
cada vez mais complexa, medida que cresce a compreenso na sociedade que no basta ser
ambientalmente correto sem ser tambm socialmente justo e vivel economicamente. (Vilmar Berna,
2001)
Em todo e qualquer trabalho de sensibilizao ambiental necessrio pulso, pacincia e vontade de
fazer sua parte para mudar as atitudes que maltratam o meio ambiente, pois a luta rdua e precisa-se de
outros para continu-la, entretanto possvel fazer um bom trabalho.
A APA DO MARACAN
O Maranho est situado em uma rea de transio biogeogrfica, isto , contm a presena de
florestas, manguezais, restingas, cerrados, cocais e campos. Parte destas reas integra as Unidades de
Conservao existentes no Estado. So Parques, Reservas Biolgicas, Reservas Extrativistas e APAs. Como
exemplo do ltimo tipo citado, tem-se a APA do Maracan que foi criada pelo Decreto Estadual 12.102, em
1 de outubro de 1991, possuindo uma rea de 1.831 hectares (fig.1). Entretanto, vale ressaltar que estas
reas, assim como a maior parte das UCs do pas, esto parcialmente impactadas, pois falta maior atuao
dos governos tanto na esfera muicipal como estadual e federal.
Segundo a Secetaria de Meio Ambiente do Estado do Maranho (SEMA), a rea de Prteo
ambiental:
uma categoria de unidade de conservao relativamente nova. Sua implementao se iniciou na
dcada de 80, com base na Lei Federal n 6.902, de 27 de abril de 1981, que estabelece no art. 8: Havendo
relevante interesse pblico, os poderes executivos Federal, Estadual ou Municipal podero declarar
determinadas reas dos seus territrios de interesse para a proteo ambiental, a fim de assegurar o bemestar das populaes humanas, a proteo, a recuperao e a conservao dos recursos naturais. (...) As
APAs so tambm consideradas como espaos de planejamento e gesto ambiental de extensas reas que
Joo Pessoa, outubro de 2011

411
possuem ecossistemas de importncia regional, englobando um ou mais atributos ambientais. Necessitam de
um ordenamento territorial orientado para o uso sustentvel dos recursos naturais, elaborado por meio de
processos participativos da sociedade, que resultem na melhoria da qualidade de vida das comunidades
locais.

Figura 1 Mapa da localizao da rea


Fonte: FONSECA, adaptado por REIS (2005)
A APA est localizada na zona rural de So Lus, a 25 quilmetros do Centro, prximo BR 135,
limitando-se ao Norte com o Parque Estadual do Bacanga e ao sul com a localidade de Rio Grande, a oeste
com parte da Vila Maranho e a leste com a Vila Industrial, e engloba ainda as localidades do Maracan,
Alegria, Bacanguinha, Alto Alegre, , Vila Sarney, Vila Esperana e Rio Grande. Possui vasta rea verde,
animais silvestres e grande diversidade cultural.
Em toda a rea pode-se encontrar diversas nascentes de rios, entre os mais importante esto o rios
Maracan, Ambude e rio Grande, que servem para a prtica de lazer de muitos moradores do lugar.
A INTERAO DOS ALUNOS COM A APA DO MARACAN
Este trabalho foi desenvolvido por 4 acadmicos do Curso de Geografia Licenciatura da
Universidade Estadual do maranho (UEMA), sendo 3 voluntrios e 1 bolsista do Programa Institucional de
Bolsa de Extenso (PIBEX). Foi desenvolvido no perodo de 01 de abril de 2010 a 30 de abril 2011, sob a
coordenao da Prof Rosalva de Jesus dos Reis, na Unidade de Educao Bsica (UEB) Major Jos Augusto
Mochel, no bairro do Maracan. A mesma administrada pelo governo municipal e tem como diretora a
senhora Elona Duarte Guimares, a vice-diretora Maryane Castelo Branco e as secretrias Nbia Maria
Pires Baldez e Maria Auristela Baldez das Chagas. A UEB tem 318 alunos matriculados, no perodo
vespertino, distribudos em 3 turmas do 6 ano, 3 do7 ano, 3 do 8 ano e 2 do 9 ano. Possui sala de vdeo,
refeitrio e ampla rea para recreao, porm precisam de melhorias nas instalaes, principalmente, nos
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

412
aparelhos eltricos. Vale ressaltar que o contato direto com os alunos se deu por 8 meses, entre aplicao
de questionrios, palestras e trilhas ecolgicas.
Com a aplicao dos questionrio notou-se a viso da comunidade escolar para com o meio em que
vive. Atravs do mesmo foi possivel perceber o quanto estes alunos conhecem e utilizam esse meio.
Entre os 231 alunos que responderam o questionrio 62% moram no bairro do Maracan, rea da
pesquisa, mas somente 9% destes responderam que algum de sua famlia desenvolve algum tipo de
atividade econmica nessa APA que fornece tantos recursos. Recursos estes que no so reconhecidos por
grande parte dos alunos, pois ainda segundo o questionrio 74% no souberam ou no responderam quais
os recursos ali existentes.
Outro aspecto ao qual os alunos demontraram-se alheios a manifestao cultural to rica do
bairro, j que 19% disseram que no sabiam quais so essas manifestaes. Entre os que responderam, as
manifestaes mais citadas foram: Bumba-boi, Festa da Juara (as duas maiores), Cacuri, Festa de Reis,
Festa do Divino, Tambor de Crioula e Dana Portuguesa. E somente 16% participam de alguma forma
destas manifestaes.
Notou-se tambm que 76% dos alunos no sabiam o que era uma a APA e consequentemente que
o Maracan faz parte de uma. Desconhecimento que foi minimizado com 5 palestras sobre educao
ambiental que foram ministradas em todas 11 turmas da escola conforme cronograma mostrado no quadro
abaixo (fig. 2):
1 PALESTRA
MEIO AMBIENTE
Conceito,
componentes
naturais,
ex.
de
ambientes naturais

2 PALESTRA
MEIO
AMBIENTE

Componentes
culturais,
relao homem x meio
ambiente

3 PALESTRA
UNIDADES DE CONSERVAO
Conceito, tipos, por que da
criao, quem cria e quem
fiscaliza.

4 PALESTRA
UNIDADES
DE
CONSERVAO NO
BRASIL Destaque
para o Maranho

51 6 ano

10 / 08 / 10

23 / 08 / 10

31 / 08 / 10

07 / 10 / 10

52 6 ano

10 / 08 / 10

26 / 08 / 10

13 / 09 / 10

11 / 10 / 10

53 6 ano

18 / 08 / 10

23 / 08 / 10

13 / 09 / 10

26 / 10 / 10

61 7 ano

10 / 08 / 10

26 / 08 / 10

31 / 08 / 10

04 / 11 / 10

62 7 ano

18 / 08 / 10

26 / 08 / 10

21 / 09 / 10

07 / 10 / 10

63 7 ano

19 / 08 / 10

23 / 08 / 10

16 / 09 / 10

03 / 11 / 10

71 8 ano

09 / 08 / 10

16 / 08 / 10

20 / 09 / 10

10/ 11 / 10

72 8 ano

09 / 08 / 10

18 / 08 / 10

13 / 09 / 10

15/ 11 / 10

73 8 ano

11 / 08 / 10

16 / 08 / 10

13 / 09 / 10

26 / 10 / 10

81 9 ano

09 / 08 / 10

18 / 08 / 10

20 / 09 / 10

16/ 11 / 10

82 9 ano

09 / 08 / 10

26 / 08 / 10

16 / 09 / 10

11 / 10 / 10

TURMAS

Figura 2- Quadro de realizao de palestras por turma

Foram realizadas 2 trilhas ecolgicas (fig. 3 e 4), cujo objetivo era levar os alunos a conhecerem
mais o meio em que vivem, pois a educao ambiental uma forma de consolidao para uma conscincia
ecolgica e valorizao da sustentabilidade em reas de proteo ambiental como o Maracan.
A Trilha Joca Guimares, que recebeu esse nome em homenagem ao agrnomo Joo Guimares,
nascido em Alegria do Maracan, tem uma extenso de aproximadamente 1,5 km, com vegetao tpica de
brejo, repleta de juarais, buritizais e outras rvores frutferas como mangueiras, jaqueiras alm de anajs e
tucuns, entre outras. Outro destaque dessa trilha o rio Ambude, que, como foi citado anteriormente,
um dos mais importantes da APA. J a trilha do Hotel do Fazenda Maracan apresenta caractersticas

Joo Pessoa, outubro de 2011

413
diferentes, porm, assim como a primeira, possui grande diversidade vegetal. Contm uma mata mais
fechada, sem rios, mas com a presena de vrias espcies de animais silvestres.

Figura 3- Trilha Joca Guimares

Figura 4- Trilha Hotel Fazenda Maracan

Nas entrevistas realizadas com pessoas da comunidade teve-se a finalidade de melhor


reconhecimento de aspectos ambientais, da histria e manifestaes culturais e religiosas do lugar. Entre
as entrevistadas estavam a senhora Naida Mendes (fig. 5), uma das mais antigas moradoras do Maracan e
fundadora da Festada Juara, e a senhora Maria de Jesus Assis Marques, mais conhecida como d. Cotinha
(fig. 6), que a presidente da Associao dos Amigos do Parque da Juara. Nestas entrevistas constatou-se
que as pessoas entrevistadas sabem que o Maracan faz parte de uma APA e que esta est relativamente
conservada , embora a expanso urbana seja grande nos ltimos dez anos.

Figura 5 - Naida Mendes (in memoria)

Figura 6 - D. Cotinha

Convm destacar o apoio permanente da Direo e Coordenao Pedaggica da escola em todas as


etapas do projeto. Observou-se grande interesse dos alunos durante a realizao das atividades de
conhecimento e reflexo sobre os aspectos naturais e humanos que envolvem a rea de Proteo
Ambiental do Maracan.
CONCLUSO
A questo ambietal tem se tornado cada vez mais importante, logo mais discutida, nos dias de hoje.
As crianas so fundamentais para o futuro do planeta, portanto essenciais para a divulgao desta causa.
Nesse contexto, pode-se afirmar que este trabalho foi de suma importncia para o (re)conhecimento da
APA do Maracan pelos alumos da escola Augusto Mochel. Com o mesmo puderam ter uma nova viso do
espao em que vivem, podendo, assim, valorizar cada pedao usado e reavaliando sua atitudes para com o
mesmo. E ainda, ressalta-se o fato de que grande parcela dos alunos que participaram do projeto fazem
parte da comunidade, portanto, a partir da sensibilizao ambiental proporcionada pelas trilhas e palestras,
estes podem se tornar aliados na dinfunso da preservao da APA junto aos demais moradores do local.
Para os extensionistas, pode-se afirmar que o contato com a comunidade escolar, com a APA e com
as pessoas que nela vivem foram de grande utilidade para o crescimento acadmico e motivo de orgulho
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

414
por fazer parte de um projeto que proporcionou a todos os envolvidos melhor conhecimento e valorizao
da rea de estudo.
REFERNCIAS
BERNA, Vilmar. Como fazer educao ambiental. So Paulo; Paulus, 2001
BRITO, Francisco A.; CMARA, Joo B.D. Democratizao e gesto ambiental: em busca do
desenvolvimento sustentvel. 3. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2002.
CABRAL, Njila Rejanne Alencar Julio; RHM, Srgio Antonio; SOUZA, Marcelo Pereira de. Polticas
pblicas de reas protegidas: contribuio para sua implementao e manuteno da biodiversidade. In:
WENDLAND, Edson; SCHALCH, Valdir. Pesquisas em meio ambiente: subsdios para a gesto de polticas
pblicas. So Carlos: RiMa, 2003.
CUNHA, L. H.; COELHO, M. C. N. Poltica e gesto ambiental. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T.
(Orgs). A questo ambiental. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil, 2003.
FORTES, Raimunda (org). APA do Maracan: subsdios ao manejo e educao ambiental. So Lus.
FAPEMA, 2008.
Manual de Integridade Pblica e Fortalecimento da Gesto: Orientaes para o gestor minicipal em
inicio de mandato / Presidente da Repblica, Controladoria-Geral da Unio. Braslia: CGU, 2009.
O que uma rea de proteo ambiental APA. Secetaria de Meio Ambiente do Estado do
Meranho (SAMA), disponvel em http://www.ambiente.sp.gov.br/apas/oque_apa.htm
TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. Rio Claro, 1995.

Joo Pessoa, outubro de 2011

415

ASPECTOS GEOAMBIENTAIS E BIOGEOGRFICOS DA MICRORREGIO DO


LITORAL NORTE PARAIBANO80
Dennys da Silva BIZERRA
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraba
dennysdsb@hotmail.com
Haerte Durgel de MELO
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraba
haertedurgel@hotmail.com
Luis Gustavo de Pontes FERNANDES
Graduando em Geografia pela Universidade Federal da Paraba
luisgustavofernandes@hotmail.com

RESUMO
O objetivo do presente trabalho caracterizar os aspectos geoambientais, biogeogrficos e a
ocupao da cana-de-acar no Litoral Norte Paraibano, atravs do estudo de campo, analisando,
diagnosticando e descrevendo o estado atual em que o ambiente litorneo se encontra. A microrregio
caracterizada pela grande e intensa substituio da vegetao original pela cana-de-acar, processo que
efetivou a ocupao do litoral na Paraba. A vegetao de cerrado e principalmente da mata atlntica foram
retiradas dos baixos planaltos costeiros e das vrzeas para expanso da cana, processo de devastao que
acelerou nos anos 70 do sculo XX, principalmente pela expanso da fronteira agrcola provocada pelo
PROALCOOL. reas de vegetao caractersticas de cerrado foram encontrados e caracterizados no
presente artigo. Situa-se na Paraba uma importante reserva federal, a Reserva Biolgica Guaribas,
localizada entre os municpios de Mamanguape e Rio Tinto, representa um importante local para proteo
dos ltimos grupos de macacos guariba na Paraba, alm de possuir uma considervel biodiversidade,
representa um excelente ponto de apoio para pesquisadores.
Palavras-Chave: Litoral Norte, Geoambientais, Biogeogrficos, Reserva Biolgica Guaribas.
INTRODUO
A microrregio do Litoral Norte est situada no trecho norte do litoral paraibano, na Mesorregio
da Mata Paraibana, correspondendo geomorfologicamente parte da baixada litornea da Paraba, o trecho
norte dos tabuleiros costeiros e as vrzeas dos rios Camaratuba, Mamanguape e miriri.
Segundo Moreira (1989) as microrregies so espaos menores que as mesorregies, onde
predominam as mesmas caractersticas gerais, embora possuam individualidades locais que as distinguem
do espao total e umas das outras. Essa regionalizao tem como fator essencial para a diviso do Estado
da Paraba o papel da economia, embora no tenham sido esquecidos os fenmenos naturais.
Os municpios localizados na microrregio em destaque so: Baia da Traio, Capim, Cuit de
Mamanguape, Curral de Cima, Itapororoca, Jacara, Mamanguape, Marcao, Mataraca, Pedro Rgis e Rio
Tinto. Os municpios diagnosticados neste trabalho foram: Mataraca e Rio Tinto.
Exceto Mamanguape (tradicionalmente canavieiro), nos demais municpios que compem a regio,
a estrutura produtiva baseava-se, at 1970, numa policultura de fraco rendimento e na produo do cocode-praia, praticadas por arrendatrios. Atualmente, a organizao do espao regional comandada pela
atividade canavieira.
A equipe analisou em campo, a real situao do uso e ocupao do solo, destacando e analisando
os ecossistemas que ainda so encontrados no Bioma Mata Atlntica.
METODOLOGIA
A metodologia do presente artigo envolveu o trabalho de campo na microrregio do Litoral Norte
Paraibano, realizada na disciplina Biogeografia, no dia 06 de abril de 2011, resultando em uma analise
biogeogrfica com investigao in loco nos municpios de Mataraca e Rio Tinto, seguida de pesquisa
bibliogrfica.
80

Artigo orientado pelo Prof. Dr. Bartolomeu Israel de Souza, bartoirsrael@yahoo.com.br - Universidade
Federal da Paraba
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

416

OCUPAO TERRITORIAL DA CANA-DE-ACAR NA ZONA DA MATA PARAIBANA


A cana-de-acar foi o produto que efetivou a ocupao do litoral paraibano. Neste sentido, o
sistema de engenho foi aos poucos substitudo pelas usinas, o qual permanece at hoje, utilizando mo-deobra assalariada temporria (bias-frias).
A partir da dcada de 70 (sculo XX), a produo de cana se expandiu para os Baixos Planaltos
Costeiros, contribuindo para o desaparecimento quase que total das matas e do cerrado no litoral
paraibano, incentivando a concentrao de terras nas mos de grandes proprietrios e expulsando o
pequeno produtor, entre outras conseqncias.
O processo de modernizao da agricultura, levado o efeito na Paraba a partir de 1970, foi
responsvel por profundas alteraes na dinmica da organizao da produo. Isso porque ele promoveu
a substituio tanto de culturas alimentares e de matrias-primas destinadas ao abastecimento do
mercado interno, quanto da vegetao natural de mata, cerrado e caatinga, seja pela cana-de-acar, seja
pelo pasto plantado.
A utilizao de outras atividades agrcolas e a expanso urbana acelerada foram assim responsveis
pela destruio de grande parte da vegetao nativa, anteriormente presente no litoral paraibano.
A devastao acelerada nos anos 70, principalmente pela expanso da fronteira agrcola da
cana-de-acar, foi provocada pelo PROLCOOL81, restando apenas manchas residuais do patrimnio
cultural da regio.
ANLISE DO BIOMA MATA ATLNTICA E DOS ECOSSISTEMAS ENCONTRADOS NA MICRORREGIO
DO LITORAL NORTE
Ao sair de Joo Pessoa em direo ao Litoral Norte da Paraba, observa-se a fisionomia da
vegetao, no caso, principalmente a falta dela, pois os canaviais predominam na paisagem, embora
algumas Ilhas de vegetao sejam avistadas, funcionando como refgios ecolgicos.
A maior responsvel pela destruio da Mata Atlntica historicamente a lavoura canavieira, que
se expandiu ao longo do tempo sobre os solos de vrzea e sobre os interflvios dos tabuleiros. Como afirma
Carvalho (1985, p. 44)
A Mata Atlntica cobria as vrzeas e os tabuleiros, infiltrando-se para o interior sob a forma de Mata
de Galeria, ao longo dos rios. Constitua originalmente uma formao densa, sempre verde, com rvores de
grande porte e troncos grossos. A atividade canavieira desenvolvida na regio desde os primrdios do
processo inicial de colonizao, bem como a difuso de outras atividades agrcolas e a expanso urbana
acelerada so responsveis pela destruio desse patrimnio cultural da regio. Atribuem-se a devastao
acelerada observada nos anos 70 e 80 do sculo XX. O que resta hoje so manchas residuais.

Os rios avistados no caminho no tm a sua mata ciliar preservada, assim como prev o
cdigo florestal. O Rio Caboc, localizado no municpio de Mamanguape, um exemplo desse impacto
ambiental causado pela plantao indiscriminada da cana de acar. A retirada da vegetao ciliar provoca
assoreamento do rio e em alguns pontos o rio pode deixar de ser perene para se tornar intermitente.

81

O PROLCOOL Programa Nacional do lcool foi criado em novembro de 1975, atravs do Decreto Lei n.
76.593/75, no contexto de um esquema alternativo proposto pelo governo brasileiro para enfrentar a crise energtica
decorrente da alta dos preos internacionais do petrleo. Visou a recuperao do setor aucareiro e a estimulao do
setor automobilstico na produo de carros a lcool.
Joo Pessoa, outubro de 2011

417

Figura 1: Vasta Plantao de Cana de Acar ao longo da BR 101, sentido PB/RN


Foto: Luis Gustavo

MUNICPIO DE MATARACA: BARRA DE CAMARATUBA


O acesso a cidade de Mataraca e a praia de Barra de Camaratuba est localizado no KM 07 da BR101. Na entrada percebe-se a paisagem totalmente dominada pela cana-de-acar.
Compondo o mosaico da vegetao no municpio de Mataraca, encontram-se reas de cerrado,
com espcies espaadas e de porte mais herbceo-arbustiva, com uma estrutura similar ao bioma de
cerrado. De acordo com Carvalho (1985, p.44), na Paraba
...os cerrados dos Tabuleiros constituem uma formao herbceo-arbustiva com vrias espcies
comuns s dos Campos Cerrados do Brasil Central. O estrato arbustivo apresenta indivduos esparsos de
porte baixo, com troncos e ramos tortuosos e crtex espesso e fendido. Essa vegetao recobre solos pobres,
arenosos e lixiviados, mal drenados dos baixos planaltos costeiros. Por esta razo permaneceu durante longo
tempo como rea econmica marginalizada, subutilizada, onde desenvolvia-se culturas de subsistncia,
colhia-se frutos silvestres e produzia-se carvo vegetal para o autoconsumo.Essa cobertura pode alcanar, em
alguns casos, mais de um metro de altura, mas em geral cerca de 50 centmetros. As espcies de Cerrado
encontradas na Paraba so: Hancornia Speciosa (mangaba), a Curatella americana L. (lixeira), Anacardium
microcarpum L. (caju) e Ouratea sp. (batiput).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

418

Figura 2: rea de cerrado em Camaratuba


Foto: Dennys Bizerra

A praia de Barra de Camaratuba belssima. Apesar de algumas casas e pousadas serem


construdas sobre as dunas, a ocupao territorial e a especulao imobiliria no esto presentes de forma
intensa.
Em Barra de Camaratuba as dunas esto bem fixadas pelas gramneas. Para Suguio (1998), as dunas
so colinas de areia acumulada por ao elica, podendo apresentar-se mais ou menos coberta por
vegetao.
No caso especfico da Paraba, Carvalho (1982, p. 21) disserta afirmando que:
As dunas so as maiores da Paraba, so formaes arenosas originadas pela ao dos eventos de
sudeste sobre as areias marinhas. Alcanam relativa continuidade espacial, aparecendo mais esparsas entre a
Barra de Mamanguape e o rio Mirir. Na ponta de Lucena, mais ao sul do Mirir, ocorrem dunas mveis baixas
que recobrem, em parte, os cordes litorneos. As dunas podem ser martimas, quando localizadas na borda
do litoral, ou continentais, quando situadas no interior do continente. Na Paraba, s as dunas martimas so
encontradas.

MANGUE DE BARRA DE CAMARATUBA


Os manguezais so reas de preservao permanente, de acordo com a legislao ambiental
brasileira em vigor, abrigando as mais diversas espcies de peixes e crustceos. O ecossistema de mangue
um berrio natural, servindo de local para a procriao da vida. De acordo com Suguio (1998, p. 488)

O Mangue um ambiente caracterizado pela associao de arvores e arbustos (Rhyzmangle,


laguncularia racemosa, Avicennia sp.), alm de algumas gramneas (Spartina sp.), todas plantas holfitas,
que se desenvolvem em plancies de mars (Tidal flats) protegidas margeando lagunas e esturios de
regies quentes e midas. Os substratos desses ambientes so, em geral, lamosos e ricos em matria
orgnica.

Joo Pessoa, outubro de 2011

419

Figura 3: Imagem de Satlite mostrando o Mangue de Camaratuba


Fonte: Google Earth

A comunidade de pescadores da regio, atravs da ONG Caranguejo U, respeitam a fase de


procriao do caranguejo, esta atitude faz com que aja a preservao do animal e que ele no venha a se
extinguir na regio.
RESERVA BIOLGICA GUARIBAS
A Reserva Biolgica Guaribas est a 70 km de Joo Pessoa entre os municpios de Mamanguape e
Rio Tinto. dividida em trs reas, assim denominadas: SEMA 1, SEMA 2 e SEMA 3. As duas primeiras reas
localizam-se no municpio de Mamanguape e a terceira, no municpio de Rio Tinto. Na reserva esto
protegidos um dos ltimos grupos de macacos guariba no Estado da Paraba.

Figura 4: Reserva Biolgica Guaribas


Foto: Dennys Bizerra

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

420
Devido a sua proximidade com o litoral, o clima regente o quente e mido, enquanto a Mata
pode ser considerada um exemplar de Mata Atlntica, porm in loco foram identificados alguns vegetais
remanescentes de clima mais secos (semirido Brasileiro). A coroa de frade (Melocactus bahiensis) foi um
vegetal identificado que estava sobre um solo mais arenoso que diferenciava do solo circunvizinho.

Figuras 5 e 6: Coroa de Frade (Melocactus bahiensis) em uma mancha de solo arenosa


Foto: Haerte Melo

Nas ltimas grandes variaes climticas o recuo e avano dos biomas brasileiros foram freqentes,
no caso da reserva Guaribas, encontramos remanescentes do bioma Caatinga, indicando que a Caatinga
recuou perante a Mata Atlntica. Nesse caso, dadas as condies de alguns solos, algumas espcies de
climas mais secos ainda sobrevivem nessas reas de clima mido encontradas no litoral paraibano.
CONSIDERAES FINAIS
Uma vegetao nativa de Mata Atlntica, cerrado de tabuleiros, mangues, dunas, uma diversidade
de solos com diversos padres de aptido para o desenvolvimento da atividade agrcola, formam a
microrregio do Litoral Norte. Sofreu e continua sofrendo os efeitos da ao do homem (cana-de-acar e
explorao vegetal, por exemplo) sobre o mesmo desde os primrdios da colonizao at os dias atuais. Os
reflexos esto explcitos na paisagem, onde a vegetao nativa um artigo raro no territrio estudado, a
no ser nas reas de preservao como a reserva Guaribas. Esse trabalho nos d uma dimenso no exata
por no ser baseado em dados quantitativos, mas nos fornece uma noo do que ocorreu e continua
ocorrendo no litoral paraibano, sendo necessrio que medidas j previstas nas leis ambientais sejam
cumpridas para frear um pouco da descaracterizao da vegetao nessas reas, tendo em vista a
importncia ambiental das mesmas, mesmo que se trate de pequenos fragmentos do que um dia j existiu
nessas terras.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CARVALHO, M. Gelza F. de. Estado da Paraba; classificao geomorfolgica. Joo Pessoa, Editora
Universitria/ Funape, 1982.
CARVALHO, M. Gelza F. e CARVALHO, F. de. Vegetao. In. Atlas Geogrfico do Estado da Paraba.
Joo Pessoa, Graff-Set, 1985.
GOVERNO DO ESTADO. Atlas Geogrfico da Paraba. Joo Pessoa, Graff-Set, 1985.
GUERRA, Antnio Teixeira. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico. Rio de Janeiro, IBGE, 1969.
MOREIRA, Emlia. Mesorregies e Microrregies da Paraba: Delimitao e Caracterizao. Joo
Pessoa: Graff-Set, 1989.
SUGUIO, Kinitiro. Dicionrio de geologia sedimentar e reas afins. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1998.

Joo Pessoa, outubro de 2011

421

A EDUCAO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA PARA A GESTO DE


PARQUES
Douglas de Souza PIMENTEL
Professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal Fluminense. Rua Francisco
Portela, 794 Patronato. Cep 24435-000 So Gonalo RJ. douglasgeia@gmail.com e douglaspimentel@id.uff.br
Profissional
Teresa Cristina MAGRO
Professor Doutor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So Paulo. Av. Padua Dias, 11. CEP
13418-900 Piracicaba SP. tecmagro@esalq.usp.br

RESUMO
A Educao Ambiental (EA) interliga as atribuies geralmente relacionadas gesto dos parques,
sendo condio bsica para que as pessoas adquiram uma postura crtica frente s relaes dessas
Unidades de Conservao (UCs) com a sociedade. Nesse sentido, constitui se em uma necessidade para a
compreenso dos procedimentos da conservao e para a gesto de reas protegidas e sua visitao. No
entanto, no pode restringir-se s fronteiras dos parques e deve ser pensada sob diferentes objetivos.
Assim, esses podem servir como lcus das aes de consolidao da Poltica de Educao Ambiental, pois
representam um eixo de integrao bsico entre as aes do Ministrio do Meio Ambiente e Ministrio da
Educao; tm como premissa bsica o uso pblico qualificado pela aquisio de conhecimentos e
habilidades; permitem uma viso prtica e crtica das relaes da sociedade com a natureza; abarcam os
discursos dicotmicos das relaes entre ambiente e cultura, bem como, necessitam ganhar significado
para a sociedade. Aes voltadas EA, enquanto uma prtica social, podem contribuir para tal, uma vez
que fomentam a integrao participativa e democrtica nas decises sobre a gesto dos parques. O
presente texto almeja analisar as possibilidades oferecidas pela EA, para uma eficiente gesto de parques.
Esses podem ser encarados como laboratrios de ensino de uma nova postura social em relao ao meio
ambiente. Da a importncia da EA nessas reas, pois suas prticas, quando socialmente referenciadas,
promovem uma viso crtica e interligam as atribuies bsicas dessas UCs. No entanto, essas prticas no
devem restringir-se aos aspectos internos da gesto dos parques. Fala-se, portanto, em uma EA composta
por vrias ramificaes que, no obstante, podem contribuir para uma eficiente administrao das relaes
scio-ambientais mediadas pela administrao de reas protegidas.
Palavras chave: Relaes scio-ambientais, Educao ambiental, Gesto, Parques, Insero social
Introduo
A sociedade humana passa por um momento de crise nas suas relaes com o ambiente natural. H
tentativas para mitig-la, porm muitas ainda carecem de uma avaliao mais acurada de sua efetividade,
principalmente relacionada a sua capacidade de aplicao prtica, na complexa realidade social. No
entanto, duas constataes parecem comuns: a necessidade de uma sntese metodolgica que permita a
compreenso das relaes entre sociedade e ambiente e enriquea a abordagem tcnica da conservao,
bem como a emergncia de mtodos para entender e fomentar os processos de significao social da
conservao como um todo e particularmente dos parques, como categoria de unidade de conservao
que tem como um de seus principais objetivos o uso pblico. Na medida em que se faz a crtica sobre os
problemas da conservao calcada em parques, apontam-se caminhos a serem seguidos. Alguns
direcionamentos so mais antigos e acumulam experincias que permitem a sua avaliao e proposio de
correes de rumo. No entanto, ao longo do tempo, algumas diretrizes tornaram-se consensuais e
perderam a sua capacidade de crtica, transformando-se em um discurso retrico de fcil aceitao, porm
de difcil execuo.
O art. 11 da Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) prev que atividades de
educao e interpretao ambiental, de recreao em contato com a natureza e de turismo ecolgico
podem ser realizadas nos parques (BRASIL 2002). Portanto, a questo do seu uso premente. Como
unidades de Proteo Integral, o foco principal a conservao dos ecossistemas. Apenas o uso indireto
dos recursos permitido, relacionando-se tambm com a sua visitao (BRASIL, 2002) e especificamente
com projetos e polticas que fomentem uma forma de uso pblico mais direcionada e planejada que
envolva o ecoturismo e a pesquisa. A Educao Ambiental, por sua vez, uma vertente integradora do uso
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

422
pblico, pois representa uma atividade prevista pelo SNUC para todas as UCs. Nesse sentido, o objetivo do
presente texto analisar as possibilidades oferecidas pela Educao Ambiental para uma eficiente
administrao dessas reas protegidas.
Desenvolvimento
A utilizao do termo Educao Ambiental, remonta a 1965, porm, como resultado das
recomendaes da Conferncia das Naes Unidas sobre Ambiente Humano de 1972 em Estocolmo, a
partir de 1975 torna-se um objeto de anlise especfica em Educao, com a realizao do I Seminrio
Internacional de Educao Ambiental em Belgrado, (LOUREIRO AZAZIEL; FRANCA, 2003). Esse Seminrio
tambm estabeleceu referncias para o estabelecimento das diretrizes norteadoras das atividades de
Educao Ambiental na Conferncia Intergovernamental sobre Educao Ambiental realizada em Tbilisi, na
Gergia, em 1977 e que hoje so aceitas internacionalmente. A promoo da compreenso da
interdependncia econmica, social, poltica e ecolgica e da aquisio de conhecimentos, valores e novas
atitudes para melhorar o meio ambiente foram as principais diretrizes apontadas. As bases do conceito de
Educao Ambiental reconhecem que esse um processo que busca compreender as inter-relaes entre
os seres humanos e o ambiente biofsico. Alm da importncia de estimular a tomada de decises, da tica
como parte central da questo e da melhoria de qualidade de vida (DIAS, 2003; UNESCO, 1998). Logo, a
Educao Ambiental relaciona-se s questes da conservao no mbito scio-econmico, no campo da
poltica e cidadania (PELIZZOLI, 1999; LEONARDI, 1996).
No Brasil, esse processo de discusso tambm comea a partir da dcada de 1970, porm s ganha
maior dimenso pblica na dcada de 1980, consolidando-se na Constituio Federal de 1988, que
estabelece a promoo da Educao Ambiental como competncia do Poder Pblico. O PRONEA (Programa
Nacional de Educao Ambiental), de 1994, visou a consolidao do tema como uma poltica pblica. Como
resultado, tem-se o estabelecimento dos Parmetros Curriculares Nacionais de 1996, em que o meio
ambiente colocado como um tema transversal s diferentes disciplinas. Em 1999 publicada a lei que
institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental (PNEA - lei n 9.795 de 27 de abril de 1999) que refora a
viso desse processo educativo acontecendo de forma articulada em carter formal e no formal
(LOUREIRO; AZAZIEL; FRANCA, 2003; LOUREIRO, 2004). No entanto, a regulamentao dessa lei somente
acontece em 2002, quando definido o rgo gestor da PNEA, um colegiado composto pela Diretoria de
Educao Ambiental do Ministrio do Meio Ambiente (DEA/MMA) e pela Coordenao Geral de Educao
Ambiental do Ministrio da Educao (CGEA/MEC), alm de outras entidades na esfera Federal, Comisses
Estaduais Interinstitucionais de Educao Ambiental (CIEAs) e as Redes de Educao Ambiental. Porm,
essa articulao interministerial e o retorno de informaes balizadas por pesquisa social das aes j
implementadas, ainda so insipientes (VASCONCELLOS, 2006).
Assim as unidades de conservao podem servir como lcus das aes de consolidao da Poltica
de Educao Ambiental, pois: (1) representam um eixo de integrao bsico entre as aes do Ministrio
do Meio Ambiente e Ministrio da Educao; (2) tm como premissa bsica o uso pblico qualificado pela
aquisio de conhecimentos e habilidades, reaproximando as pessoas dos ambientes naturais pela
afetividade e reflexo sobre como suas aes o afetam; (3) permitem uma viso prtica e crtica das
relaes da sociedade com a natureza de uma maneira geral e especificamente confrontando as noes de
desenvolvimento sustentvel e ecoturismo; (4) abarcam os discursos dicotmicos das relaes entre
ambiente e cultura, no campo das aes construdas socialmente, bem como, (5) necessitam ganhar
significado para a sociedade e a Educao Ambiental, enquanto uma prtica social pode contribuir para tal
se fomentar a integrao participativa e democrtica nas decises sobre a gesto dos parques (PIMENTEL,
2008).
O SNUC incentiva a participao popular na criao e gesto de reas protegidas. Para tal, h o
reconhecimento de que a Educao Ambiental um componente importante do processo, principalmente
no estmulo a uma atuao cidad, considerada naquela ocasio, insipiente e imatura na sociedade
brasileira (BRASIL, 2004). Os Conselhos Gestores representam um espao privilegiado para a consolidao
dessa poltica de democratizao das relaes entre as UCs e a sociedade (IRVING et al., 2006; LOUREIRO;
AZAZIEL; FRANCA, 2003). Devido as caractersticas especficas dos Parques vamos nos referir a eles na
maioria das vezes uma vez que possuem como um dos objetivos principais atividades de uso pblico.
Joo Pessoa, outubro de 2011

423
A Educao Ambiental vista atualmente como um instrumento para disponibilizar informaes,
compartilhar percepes e ampliar o dilogo e aes conjuntas para fomento da atuao democrtica e
qualificada dos cidados nos Conselhos Gestores. Os conflitos inerentes ao processo so dessa maneira,
explicitados, ampliam qualitativamente as discusses e podem provocar mudanas positivas nas relaes
entre unidades de conservao e a sociedade (IBAMA, 2002; IBASE, 2006; LOUREIRO; AZAZIEL; FRANCA,
2003). Assim, um elemento chave para a Educao Ambiental, em parques especificamente, o
desenvolvimento de mecanismos que promovam a efetiva participao das comunidades locais nos
processos decisrios, mas tambm a formao de um cidado pleno, com posturas cooperativas, ciente de
seus direitos e deveres (PDUA; TABANEZ; SOUZA, 2003; ZIAKA; ROBICHON; SOUCHON, 2002), sob o
pressuposto de que a natureza constitui-se por processos complexos que envolvem a dinmica social e
cultural em mltiplas interaes, quando tambm, se manifestam subjetividades. Nesse sentido, a
Educao Ambiental entendida como prtica transformadora da realidade social e tambm construda
por ela, em um processo dialgico, crtico e que depende da interao entre diferentes atores para a
definio poltica do espao (LOUREIRO; AZAZIEL; FRANCA, 2003; LOUREIRO, 2006).
No entanto, essa prtica tambm teria que ser construda nos rgos gestores nas diferentes
esferas do poder pblico, pois ainda se podem identificar resqucios de um pensamento de controle mais
centralizado desses espaos reservados. Esse enfatiza a viso de separao entre sociedade e natureza e
conseqentemente, entre a gesto estritamente baseada nos preceitos ecolgicos e a concesso de
espaos democrticos de deciso (LOUREIRO; AZAZIEL; FRANCA, 2007).
Segundo Loureiro, Azaziel e Franca (2003), essa viso se manifesta na lei que regulamenta o SNUC,
que prev a instalao de conselhos consultivos e no deliberativos, necessariamente presididos pelo chefe
dos parques. Entretanto, esses entraves podem ser superados no mbito do Conselho Gestor, como
demonstrado por Rodrigues (2001). Nesse sentido a Educao Ambiental pode ser encarada como um
catalisador da construo de legitimidade e representatividade, condies bsicas para a efetiva
interveno poltica da comunidade na gesto dos parques.
Outro discurso freqentemente relacionado gesto dos parques o do desenvolvimento
sustentvel das comunidades locais. Aps a Conferncia das Naes Unidas de 1972, comeou-se a pensar
em um novo modelo de desenvolvimento, e os debates levaram a consolidao do conceito de
desenvolvimento sustentvel (SAMPAIO, 2000; TEIXEIRA, A., 2006) que confronta a necessidade de
crescimento econmico e a de conservao dos recursos naturais. No entanto, na dcada de 1990, o
desenvolvimento sustentvel passa a ser utilizado como referncia para a resoluo do dualismo entre
cultura e natureza latentes nas discusses sobre conservao. Difunde-se o ideal de incremento da
qualidade de vida atravs de crescimento econmico sem danos ao ambiente (TEIXEIRA, C., 2005), sem
questionar as bases paradigmticas do estilo de desenvolvimento ecologicamente depredador
(GUIMARES, 2006). Assim, o alcance de seus objetivos ainda permanece utpico, pois depende de
mudanas sociais mais profundas, chegando a correr o risco de perder a sua capacidade analtica, com a
conseqente reduo de sua importncia a um discurso retrico (GUIMARES, 2006; ORR, 2002).
Cabe nesse momento um questionamento sobre o papel da Educao Ambiental nesse contexto,
enquanto uma prtica que, apesar de ser moldada por alguns dos processos sociais que geram os
problemas ambientais, indispensvel para a compreenso e atuao crtica sobre esses problemas (IBASE,
2006). As discusses podem direcionar-se para a construo de um pretenso consenso entre crescimento
econmico e conservao dos recursos naturais, mas h diferentes entendimentos sobre as relaes entre
sociedade e natureza que tambm se refletem nas prticas educativas e conservacionistas. Em uma
perspectiva emancipatria a Educao Ambiental poderia proporcionar uma reflexo mais profunda sobre
a realidade social, buscando, atravs da prtica, uma ruptura dos processos que levam s desigualdades
locais (LOUREIRO, 2006). Logo, o debate precisa ser qualificado pelas atividades de Educao Ambiental,
para capacitar as comunidades gesto dos parques, ficando essas menos sujeitas s oscilaes polticas e
oramentrias que se processam independentes das aspiraes locais (LOUREIRO; AZAZIEL; FRANCA, 2007).
Os parques, nesse sentido, proporcionam um local privilegiado para gerar discusses sobre mudanas
sociais mais profundas, nas diferentes escalas da sociedade.
Considerando ainda outra forma de uso comumente relacionada aos parques, pode-se definir o
Ecoturismo como uma vertente das atividades tursticas associadas ambientes naturais e posturas de
respeito natureza e culturas locais (WESTERN, 1999). Logo, as reas protegidas atraem o ecoturismo e
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

424
virtualmente sempre o observamos ocorrendo na maioria das vezes em parques (WEST; IGOE;
BROCKINGTON, 2006). Porm, as atividades de turismo com base na natureza vm crescendo de maneira
significativa e trazem consigo alguns problemas que comprometem a sua prpria definio: a primeira
refere-se aos resultados pragmticos do aumento da visitao e conseqentes impactos ao meio ambiente
e nas populaes tradicionais (LEUZINGER, 2002; WEST; IGOE; BROCKINGTON, 2006). Segundo Boo (1999),
os impactos do ecoturismo so conhecidos: os negativos referem-se potencial degradao ambiental,
injustias sociais, instabilidades econmicas locais e mudanas scio-culturais negativas. Os positivos
relacionam-se a gerao de receita, a criao de empregos e a promoo da Educao Ambiental. Pode-se
identificar assim, baseado nas diretrizes do WWF, os pontos de congruncia entre o ecoturismo, a
conservao da natureza, a Educao Ambiental e o desenvolvimento sustentvel: a aplicao desses
conceitos na administrao de parques e suas zonas de amortecimento, bem como a necessidade de
ampliao do poder de influncia sobre as decises polticas locais e supralocais pela construo de uma
conscincia crtica nos visitantes e comunidades. Nesse sentido, Davenport e colaboradores (2002)
acreditam que as atividades de ecoturismo e Educao Ambiental poderiam ser consideradas como um
investimento em longo prazo na conservao da rea e premissa bsica do papel do ecoturismo na
proteo da biodiversidade.
Dessa maneira, a Educao Ambiental, associada ao ecoturismo, pode catalisar uma reflexo mais
profunda sobre os valores individuais no sentido de fomentar mudanas comportamentais ambientalmente
responsveis, reaproximando as pessoas dos ambientes naturais e conciliando a demanda e a satisfao do
usurio com a conservao da rea (SILVA; COSTA NETO, 2007; VASCONCELLOS, 2006). Logo, fica
evidenciado o papel da Educao Ambiental no manejo do uso pblico. Essa pode atuar na diminuio dos
impactos negativos da visitao ao promover o seu planejamento e, ao criar maior conscincia e apreo
pelos recursos ambientais e culturais protegidos, bem como uma melhor compreenso dos objetivos das
atividades de conservao, influenciando uma viso positiva sobre o parque e o rgo gestor
(VASCONCELLOS, 2006).
No entanto, as prticas de Educao Ambiental so deficitrias nos parques. Nesses espaos, os
programas educativos precisam ser ampliados e melhor compreendidos com a pesquisa e adequados para
alcance dos objetivos, tanto sob o ponto de vista da gesto, quanto da efetiva promoo de mudana de
comportamento perante a conservao dos ecossistemas. Alm disso, a emergncia das situaes do
manejo dos impactos da visitao, muitas vezes leva ao fechamento dos parques ou trilhas e, muitas vezes
limita a Educao Ambiental s prticas da Interpretao Ambiental, essas, mais pragmticas por estarem
ligadas s demandas da recreao. A Educao Ambiental, encarada enquanto um processo contnuo de
formao fica ento delegada a parcerias, muitas vezes precrias, com instituies formais de ensino. Em
adendo, nos planos de manejo, quando eles existem, as atividades de Educao Ambiental e Interpretao
Ambiental, so tratadas em eixos programticos distintos e com objetivos diferentes (VASCONCELLOS,
2006). Assim, as atividades de Educao Ambiental devem se voltar tambm para fora dos parques,
equilibrando o maior enfoque dado na sua gesto, pois, todos os conceitos aqui discutidos, englobam
mudanas mais profundas no indivduo ou na sociedade.
O ecoturismo aliado Educao Ambiental deve estimular uma viso mais abrangente dos
problemas ambientais, auxiliando na compreenso das variveis sociais, econmicas e polticas envolvidas
na complexidade ambiental, alm de incentivar a participao individual e coletiva (SILVA; COSTA NETO,
2007; VASCONCELLOS, 2006). Alm disso, essa aliana pode ajudar a ampliar a significao social dos
parques, ao tornar as pessoas mais conscientes sobre a complexidade das questes ambientais para que
adotem novos comportamentos (TAKAHASHI, 2004). Assim, os parques, como locais inerentemente
receptivos dessas atividades podem se constituir em centros irradiadores de novas posturas
ambientalmente responsveis. Logo, essas UCs, concebidas originalmente como locais de preservao da
vida selvagem, so cada vez mais encaradas como a vanguarda das transformaes sociais e econmicas,
aumentando, porm, o grau de complexidade de sua gesto (BENSUSAN, 2006).
Deve-se ponderar tambm que os parques deveriam fomentar o aumento do conhecimento da
flora e fauna, bem como das dinmicas populacionais e processos ecolgicos. No mbito dos rgos
gestores, devido s restries oramentrias que afetam todas as instituies pblicas, pouco se investe
nesse conhecimento essencial ou esse dinheiro mal investido em planos de manejo mal formulados
(DOUROJEANNI, 2003). No mbito das relaes polticas, alguns bilogos defendem a supremacia das
Joo Pessoa, outubro de 2011

425
pesquisas ecolgicas na determinao dos rumos das atividades de conservao. Assim, os resultados dessa
pesquisa ecolgica bsica em parques muitas vezes ficam restritos ao meio acadmico e no sensibilizam o
pblico. Alm disso, a cincia ecolgica, assim aplicada politicamente, pode conduzir a consensos acrticos
e poucos aplicveis na prtica (LOUREIRO, AZAZIEL, FRANCA, 2003). Esses fatos podem estar relacionados
com a perda de fora poltica dos conhecimentos ecolgicos bsicos, alijados das questes sociais, em
determinar os rumos da conservao no Brasil.
Assim, coloca-se em evidncia a importncia da Educao Ambiental, pois essa, enquanto prtica
construda na sociedade pode ser instrumentalizada pela pesquisa bsica e gerar, tambm pela pesquisa,
um conhecimento socialmente referenciado para a conservao em parques (SANTOS et al., 2000). Porm,
infelizmente observa-se que a Educao Ambiental volta-se para um carter imediatista e restrito aos
aspectos ecolgicos dos espaos naturais, pois o pragmatismo das questes direciona para as aes
emergenciais do manejo (CASCINO, 2000; PDUA; TABANEZ; SOUZA, 2003).
Muitos educadores ambientais acreditam que a simples aquisio de conhecimentos por parte dos
usurios dessas reas torna o pblico mais propenso a aceitar os argumentos para a sua conservao. No
entanto, no h estudos que liguem a efetividade desse tipo de Educao Ambiental com a promoo da
ligao das pessoas com o lugar (RYAN, 2005). A chamada Educao Ambiental apenas baseada em
informaes biolgicas, sem levar em conta os aspectos especficos do local e as projees individuais
sobre eles, pode ser menos efetiva, pois geralmente vista como uma proposio estranha, que no est
alicerada nessas referncias histricas do indivduo e do grupo social.
Dessa maneira, a pesquisa bsica, humana e social deve ser considerada como um investimento
pblico na conservao em parques. Sob o que foi exposto a Educao Ambiental pode ser vista como
mediadora da insero social dos parques ao integrar diferentes objetivos e atores em trs princpios
bsicos relacionados gesto de reas protegidas: a capacitao de pessoas para uma discusso mais
crtica no conselho gestor; a mitigao de impactos relacionados visitao e a formao de uma
conscincia ecolgica e conseqente mudana de valores e comportamentos.
Concluses
Os parques podem ser encarados como laboratrios de ensino de uma nova postura social em
relao ao meio ambiente. Da a importncia da Educao Ambiental nessas reas, pois suas prticas,
quando socialmente referenciadas, promovem uma viso crtica e interligam as atribuies bsicas dessas
reas protegidas. Fala-se, portanto, em uma Educao Ambiental composta por vrios nveis, que tem
como princpio bsico a insero dos parques na sociedade, pela conquista de significado social desse
instrumento de conservao. Assim, fica evidente um novo e importante papel para os parques: a
mediao na formao de cidados ecologicamente conscientes e com novas prticas frente s questes
ambientais e sociais, o que promoveria de maneira mais ampla a conservao ambiental por intermdio
dessa categoria de UC.
Referncias
BENSUSAN, N. Conservao da biodiversidade em reas protegidas. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006.
176 p.
BOO, E. O planejamento ecoturstico para reas protegidas. In: LINDBERG, K.; HAWKINS, D.E. (Ed.).
Ecoturismo: um guia para planejamento e gesto. 2. ed. So Paulo: Ed. SENAC, 1999. cap. 1, p. 31-57.
BRASIL. Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservao da Natureza SNUC. Braslia: IBAMA, Diretoria de Ecossistemas, 2002. 35 p.
BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente. Gesto Participativa do Sistema Nacional de Unidades de
Conservao -SNUC. Braslia, 2004. 205 p.
CASCINO, F. Educao ambiental: princpios, histria e formao de professores. So Paulo: Ed.
SENAC, 2000. 109 p.
DAVENPORT, L.; BROCKELMAN, W.Y.; WRIGHT, P.C.; RUF, K.; DEL VALLE, F.R.. Ferramentas de
ecoturismo para parques. In: TERBORGH, J.; VAN SCHAIK, C.; DAVENPORT, L.; RAO M. (Org.). Tornando os
parques eficientes: estratgias para a conservao da natureza nos trpicos. Curitiba: Universidade Federal
do Paran; Fundao O Boticrio de Proteo Natureza, 2002. cap. 21, p. 305-333.
DIAS, G.F. Educao ambiental: princpios e prticas. So Paulo: Ed. Gaia, 2003. 551 p.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

426
DOUROJEANNI, M.J. Anlise crtica dos planos de manejo de reas protegidas no Brasil. In: BAGER,
A. (Ed.). reas protegidas: conservao no mbito do cone sul. Pelotas: Edio do editor, 2003. p. 1-20.
GUIMARES, R.P. A ecopoltica da sustentabilidade em tempos de globalizao corporativa. In:
GARAY, I.; BECKER, B.K. (Org.). Dimenses humanas da biodiversidade: o desafio de novas relaes
sociedade-natureza no sculo XXI. Petrpolis: Ed. Vozes, 2006. p. 23-56.
INSTITUTO BRASILEIRO DE ANLISES SOCIAIS E ECONMICAS. Educao ambiental em unidades de
conservao. Rio de Janeiro, 2006. 28 p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS. Como o Ibama
exerce a educao ambiental. Braslia, 2002. 32 p.
IRVING, M.A.; COZZOLINO, F.; FRAGELLI, C.; SANCHO, A. Construo de governana democrtica:
interpretando a gesto de parques nacionais no Brasil. In: IRVING, M.A. (Org.). reas Protegidas e incluso
social: construindo novos significados. Rio de Janeiro: Fundao Bio-Rio Ncleo de produo Editorial
Aquarius, 2006. p. 41-75.
LEONARDI, M.L.A. Educao Ambiental e teorias econmicas: primeiras aproximaes. In:
ROMEIRO, A.R.; REYDON, B.P.; LEONARDI, M.L.A. (Org.) Economia do meio ambiente: teoria, polticas e a
gesto de espaos regionais. Campinas: Unicamp Ed., 1996. p. 240-262.
LEUZINGER, C. Ecoturismo em parques nacionais: a compatibilidade entre a funo de preservao
ambiental e a prtica do ecoturismo em parques nacionais. Braslia: W.D. Ambiental, 2002. 150 p.
LOUREIRO, C.F.B. Educao ambiental e gesto participativa na explicitao e resoluo de
conflitos. Gesto em Ao, Salvador, v. 7, n. 1, p. 1-16, jan./abr. 2004.
______. Crtica ao fetichismo da individualidade e aos dualismos na educao ambiental. Educar,
Curitiba, n. 27, p. 37-53, 2006.
LOUREIRO, C.F.B.; AZAZIEL, M.; FRANCA, N. Educao ambiental e gesto participativa em unidades
de conservao. 2. ed. Rio de Janeiro: IBAMA, 2003. 44 p.
______. Educao ambiental e conselho em unidades de conservao: aspectos tericos e
metodolgicos. Rio de Janeiro: Ibase, 2007. 87 p.
ORR, W.D. Four challenges of sustainability. Conservation Biology, Washington, v. 16, n. 6, p. 14571460, Dec. 2002.
p. 557-591.
PDUA, S.M.; TABANEZ, M.F.; SOUZA, M.G. A abordagem participativa na educao para a
conservao da natureza. In: CULLEN, JR., L. RUDRAN, R.; VALLADARES-PDUA, C. (Org.). Mtodos de
estudos em biologia da conservao e manejo da vida silvestre. Curitiba: Universidade Federal do Paran;
Fundao O Boticrio de Proteo Natureza, 2003.
PELIZZOLI, M.L. A emergncia do paradigma ecolgico: reflexes tico-filosficas para o sculo XXI.
Petrpolis: Ed. Vozes, 1999. 160 p.
PIMENTEL, D.S. Os parques de papel e o papel social dos parques. 2008. 254p. Tese (doutorado em
Conservao de Recursos Florestais) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So
Paulo, 2008.
RODRIGUES, C.L. Limites do consenso: territrios polissmicos na Mata Atlntica e a gesto
ambiental participativa. 2001. 254 p. Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia e
Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2001.
RYAN, R.L. Exploring the effects of environmental experience on attachment to urban natural areas.
Environment and Behavior, Edmond, v. 37, n. 1, p. 3-42, 2005.
SAMPAIO, C.A.C. Gesto organizacional estratgica para o desenvolvimento sustentvel. Itaja: Ed.
Univale, 2000. 138 p.
SANTOS, J.E.; SATO, M.; PIRES, J.S.R.; MAROTI, P.S. Environmental education prxis toward a
natural conservation area. Revista Brasileira de Biologia, So Carlos, v. 60, n. 3, p. 361-372, 2000.
SILVA, N.P.S.; COSTA NETO A.R. A educao ambiental como instrumento de sensibilizao turstica
em unidades de conservao. 3. ed. Revista Eletrnica Abor, Manaus, 2007. Disponvel em:
<http://www.revista.uea.edu.br/abore/comunicacao/comunicacao_pesq_3/Nathalin%20Priscila%20de%20
Souza%20da%20Silva.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2008.
TAKAHASHI, L. Uso pblico em unidades de conservao. Cadernos de Conservao, Curitiba, v. 2, n.
2, 40 p. out. 2004.
Joo Pessoa, outubro de 2011

427
TEIXEIRA, A. Biodiversidade e polticas ambientais: renovando conceitos para a promoo do
desenvolvimento. In: GARAY, I.; BECKER, B.K. (Org.). Dimenses humanas da biodiversidade: o desafio de
novas relaes sociedade-natureza no sculo XXI. Petrpolis: Ed. Vozes, 2006. p. 23-56.
TEIXEIRA, C. O desenvolvimento sustentvel em unidade de conservao: a naturalizao do
social. Revista Brasileira de Cincias Sociais, So Paulo, v. 20, n. 59, p. 51-56, out. 2005.
UNESCO. Educao ambiental: as grandes orientaes da Conferncia de Tbilisi. Braslia: Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis, 1998. 154 p.
VASCONCELLOS, J.M. Educao e interpretao ambiental em unidades de conservao. Cadernos
de Conservao, Curitiba, v. 3, n. 4, 86 p. dez. 2006.
WEST, P.; IGOE, J.; BROCKINGTON, D. Parks and people: the social impact of protected areas.
Annual Review of Anthropology, Palo Alto, v. 35, p. 251-277, 2006.
WESTERN, D. Prefcio: definindo ecoturismo. In: LINDBERG, K.; HAWKINS, D.E. (Ed.). Ecoturismo:
um guia para planejamento e gesto. 2. ed. So Paulo: Ed. SENAC, 1999. p.13-22.
ZIAKA, Y; ROBICHON, P.; SOUCHON, C. Educacion ambiental: 6 propuestas para actuar como
ciudadanos. Cuzco: Fundacon Charles Lopold Mayer para el Progreso del Hombre; Centro de Estdios
Regionales Andinos Bertolom de las Casas, 2002. 134 p. (Debate para otro futuro, 4; Serie Humanidad y
Bisfera).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

428

A EXPERINCIA DE ECOTURISMO DE BASE COMUNITRIA EM SILVES,


AMAZONAS
Roberta Maria de M. SOUSA.
Bacharel em Turismo, aluna de Mestrado da Universidade Federal do Amazonas. robertamourastm@yahoo.com.br
Edilza Laray de JESUS.
Licenciada em Geografia, Mestre em Educao Ambiental e Doutora em Educao.
Professora da Universidade do Estado do Amazonas. ejesus@uea.edu.br; edilzalaray@gmail.com

RESUMO
O turismo uma atividade econmica de elevado crescimento no mundo e com grande potencial
para gerar receita, contendo uma gama de opo de desenvolvimento para diversos municpios brasileiros.
Na esteira do modelo capitalista torna-se atividade econmica expressiva a partir do sculo XX e gera
impactos socioambientais nos locais onde ocorre. Nos anos de 1980 e 1990 do sculo passado surgem os
rgos incumbidos de zelar pelo ambiente, exigindo uma conduta tica da sociedade. Como alternativa de
uso desse ambiente, emerge o ecoturismo, um dos segmentos da atividade turstica apontado como aquele
que apresenta os mais altos ndices de crescimento, variando de 10 a 20% ao ano (MITRAUD, 2003). O
municpio de Silves, no estado do Amazonas considerado uma das regies mais promissora para o
ecoturismo por suas belezas naturais e riquezas histrico-culturais, por isso o presente estudo trata de uma
experincia comunitria iniciada na dcada de 1980, consolidada por meio da Associao de Silves pela
Preservao Ambiental e Cultural ASPAC, com o apio financeiro da WWF-Brasil e do Governo da ustria.
Esta Associao criou a Pousada Aldeia dos Lagos com o objetivo de viabilizar o primeiro empreendimento
hoteleiro a desenvolver o ecoturismo de base comunitria no estado do Amazonas, em benefcio da
conservao dos lagos e melhoria na qualidade de vida dos ribeirinhos. Assim sendo, a importncia desta
pesquisa est em analisar a experincia do ecoturismo desde o processo de criao da ASPAC e as
contribuies para o desenvolvimento comunitrio em Silves, no estado do Amazonas. Trata-se de uma
pesquisa exploratria com abordagem qualitativa para um estudo de caso por meio de pesquisa
bibliogrfica e documental. O trabalho de campo foi realizado tendo como base os instrumentos de gesto
participativa, atravs de um roteiro de entrevistas e formulrios estruturados e semi-estruturados.
Silves um dos 62 municpios do estado do Amazonas com importncia histrica e natural. Foi a
primeira capital do estado e est localizada em regio de lagos, no corao da Amaznia. O municpio de
Silves um dos povoados mais antigos do Estado do Amazonas. O municpio constitudo, em sua maioria
por descendentes de ndios, portugueses, espanhis, nordestinos, e as comunidades so formadas por
grupos de famlia do tipo nuclear, composto em mdia por sete moradores e sua produo econmica
tipicamente camponesa, concentrada na produo de farinha, peixe e extrao de madeira. Parte
integrante da Mesorregio do Centro Amazonense, o municpio de Silves, est localizado na regio do
Mdio Amazonas, distante da cidade de Manaus cerca de 250 km por via fluvial, na poca de cheia, e
terrestre percorre-se pela a estrada AM 010 (Manaus Itacoatiara) e mais 127 km da BR-363. Entre as
coordenadas de 0250'20" de latitude Sul e de longitude 5812'33" Oeste.
A cidade de Silves, sede municipal, est situada em uma ilha de terra firme, no Lago Sarac. Sua
superfcie de 3.671 Km (IBGE, 2002). Limitando ao Norte com o municpio de Itapiranga, ao Sul e Oeste
com Itacoatiara e a Leste com Urucurituba. O acesso pode ser realizado por via terrestre por veculos de
grande e pequeno porte e fluvial de balsa ou a bordo de canoas ou voadeiras, cujo servio supervisionado
pela Prefeitura Municipal

Joo Pessoa, outubro de 2011

429

Fig. 1 Vista de Silves


Fonte: Adilson Moralez

A populao atual, de acordo com o ltimo censo efetuado pelo IBGE (2010), de 8.445 habitantes.
Tendo como primeira sede municipal Itapiranga, e seu povoado teve incio com a fundao da Misso de
ndios denominada Aldeia de Sarac (nome de uma formiga muito conhecida na regio), por Frei Raimundo
da Ordem das Mercs no ano de 1660 a qual habitavam os ndios Buruburus, Caboquenas e Guanavenas
(RIBEIRO, 1991). Alguns movimentos da Igreja Catlica aliado aos comunitrios uniram foras e
questionavam sobre a situao conflitante que o lugar estava sofrendo. O Conclio Vaticano II do perodo
de 1962 a 1965 contribuiu para amenizar os problemas. Com isso criou-se as comunidades Eclesiais de Base
CEBs na tentativa de aproximar o povo da Igreja (RIBEIRO, 1991).
Aps conflitos sangrentos entre os nativos e portugueses Silves disputou com o municpio de
Itapiranga sua emancipao, que veio ocorrer em 1956. Vinte e cinco anos mais tarde Silves perdeu parte
de seu territrio em favor dos novos municpios de Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo. Tais percalos
histrico-polticos justificam um atraso no desenvolvimento do municpio, com respeito infraestrutura
bsica, qualidade de vida, educao, sade, entre outros.
Nos anos de 1970 e incio de 1980 os comunitrios presenciaram contnuas intervenes na zona
rural de pessoas oriundas de cidades e estados vizinhos que geraram conflitos socioambientais naquele
municipio, colocando os moradores em p de ameaa de fome, dada a escassez dos recursos pesqueiros
em decorrncia da pesca comercial predatria.
Como mecanismo de luta e resistncia os comunitrios fundaram a ASPAC, uma entidade sem fins
lucrativos, em 19 de fevereiro de 1993 com o objetivo de desenvolver projetos que fomentem as questes
scio-ambientais, valorizar a cultura e garantir os direitos das populaes locais mantendo o equilbrio
entre o homem e a natureza fortalecendo a preservao dos recursos naturais. Considerada a pioneira na
regio amaznica a aliar o turismo e proteo a natureza em benefcio da populao local, contou com o
apoio de entidades como a Igreja (Comisso Pastoral da Terra CPT), Fundao Vitria Amaznica (FVA), o
Pro vrzea e o WWF/Brasil implantando a Caravana Mergulho e manejo dos recursos naturais da vrzea,
atravs do turismo participativo e proteo de lagos.
Em meados de 1981 a ASPAC e demais comunitrios conseguiram junto a Cmara de Vereadores a
aprovao da Lei Municipal n 103/1993, que proibiu por tempo indeterminado a pesca profissional no
Municpio de Silves, a qual foi Sancionada pelo Prefeito, assim como tambm dividiu os lagos em trs
categorias (ASPAC, 2001): Lagos de Procriao: Santurios com proteo total, para permitir sem
interferncias a reproduo natural dos peixes e o repovoamento; Lagos de Manuteno: onde permitida
somente a pesca artesanal de subsistncia para garantir a alimentao e renda comunitria e; Lagos de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

430
Explorao Pesqueira: onde a pesca comercial permitida, respeitando algumas restries regulamentadas
por leis federais, estaduais e municipais. A partir de ento se formou parcerias entre o Poder Pblico
Municipal, Ministrio Pblico, ASPAC, Associaes de Pescadores APPs, Associao Vida Verde da
Amaznia AVIVE, IBAMA e os moradores em cumprimento da Lei. Ficando os lagos de procriao sob
tutela da ASPAC, a qual instalou flutuantes com vigias para fiscalizar 24 horas os lagos onde esto sendo
desenvolvidas pesquisas e o controle dos peixes, quelnios, animais, pssaros e floresta de vrzea, os quais
so: Lago do Purema e Piramiri (op. cit.).
A ASPAC ganhou fora, mobilizou rgos do governo, com o Ministrio do Meio Ambiente
conquistou apoio das Instituies Internacionais, como a ONG italiana Movimento Leigo da Amrica Latina
(MLAL), que iniciou seus trabalhos na regio por meio da Comisso Pastoral da Terra CPT (SOUSA, 2006).
A ONG est organizada em: Conselho Deliberativo - composto por sete membros que delibera as atividades;
Conselho Executivo - representado por trs pessoas que executam as atividades e; Conselho Fiscal
composto cinco pessoas sendo trs executivos e dois suplentes. Conta tambm com um gestor o qual
representa a Instituio e a Pousada Aldeia dos Lagos. Relembrando que todas as atividades desenvolvidas
pela Instituio so definidas por uma Assemblia Geral ou Extraordinria representada por quarenta e oito
scios. Para Sansolo (2004), a ASPAC por ter sido criada por alguns membros da pastoral da terra, atingiu os
ideais, mas, a luta vai alm do contexto local.
A Amaznia torna-se um dos espaos privilegiados na nova ordem mundial, isto , destinada
preservao pelo grupo dos sete pases mais ricos do planeta e as organizaes no governamentais locais
e internacionais, tornam-se os mediadores da conexo entre o local e o global assumindo um papel de dar
novos contedos, significados paisagem, fruto das dinmicas naturais, sociais e culturais. Para as
organizaes no governamentais, a natureza possui uma srie de significados associados s idias
conservacionistas e outras em busca de novos modelos de desenvolvimento econmico associados na
conservao (SANSOLO, 2004, p. 12).
A ASPAC desempenha papel fundamental na proteo dos lagos e na conservao do meio
ambiente no municpio de Silves junto s comunidades ribeirinhas por meio dos projetos de permacultura,
conservao da pesca e ecoturismo de base comunitria. Trabalha com 22 comunidades, sendo que 12
dessas esto desde o incio do projeto, e 11 trabalham com o ecoturismo. O quadro mostra as
comunidades que fazem parte dos projetos desenvolvidos pela ASPAC, ressaltando que algumas dessas
comunidades pertencem aos municpios de Itacoatiara e Itapiranga (quadro 01).
Quadro 01- Comunidades que fazem parte dos projetos geridos pela ASPAC

COMUNIDADES
PROJETO
TEMPO DE ATUAO
So Joo
Ecoturismo/Conservao
Desde o incio do projeto
Santa Luzia do Sanabani
Ecoturismo/Permacultura/Conservao Desde o incio do projeto
So Sebastio do Itapani
Ecoturismo/Permacultura/Conservao Desde o incio do projeto
Nossa Senhora do Bom Parto
Ecoturismo
Trs anos
So Jos do Pampolha
Ecoturismo/Permacultura/Conservao Desde o incio do projeto
Santa f do Canaari
Ecoturismo/Permacultura/Conservao Desde o incio do projeto
Cristo Rei do Aneb
Ecoturismo/ Permacultura
Desde o incio do projeto
Nossa Senhora da Conceio (antiga Ecoturismo/ Permacultura
Desde o incio do projeto
Baixa Funda)
Santa Luzia do Rio Amazonas
Ecoturismo/Permacultura
Desde o incio do projeto
Santa Maria do Rio Amazonas
Ecoturismo/Permacultura
Desde o incio do projeto
So Jos da Enseada
Ecoturismo/Conservao
Cinco anos
Livramento
Conservao
Cinco anos
Santana do Aneb
Conservao
Cinco anos
Nossa Senhora da Conceio do Conservao
Cinco anos
Joo Pessoa, outubro de 2011

431
Aneb
Nossa Senhora do Carmo
Nossa Senhora das Graas
Nossa Senhora de Nazar
So Pedro
So Raimundo do Bacaba
Santo Antonio do Macuarazinho
So Sebastio do Poo
Nossa
Senhora
Aparecida
Passarinho

Conservao/Permacultura
Conservao
Conservao/ Permacultura
Conservao
Conservao/ Permacultura
Conservao
Conservao
do Conservao/Permacultura

Desde o incio
Cinco anos
Cinco anos
Cinco anos
Desde o inicio
Cinco anos
Cinco anos
Desde o incio

Fonte: Adaptado de Nahum, reorganizado por SOUSA, 2010.

A base comunitria e participativa criou condies para a implantao de um turismo diferente


daquele massificador. Entretanto, Irving e Azevedo, (2002), salientam a importncia fundamental da
comunidade, pois ela conhecedora da sua realidade, sendo, portanto, capaz de identificar quais os seus
problemas e necessidades alm, de sugerir as alternativas adequadas para garantir a melhoria da sua
qualidade de vida e o bem-estar econmico e social. Na mesma perspectiva Dias (2003) comenta que a
participao comunitria deve estar relacionada ao bem-estar dos residentes comunitrios envolvidos em
projetos e programas voltados para sua melhoria da qualidade de vida. Como exemplo de programas,
podemos citar o Prodetur/NE que tem como objetivo desenvolver um planejamento turstico capaz de
alcanar, de maneira favorvel, as comunidades locais da regio Nordeste, que so marcadas por um
quadro de carncia econmica.
No municpio de Silves, a ASPAC adotou como estratgias o mtodo participativo, dividindo as
comunidades em grupos para elaborao de oficinas, debates, a fim de saber sobre os seus anseios em
relao implantao do ecoturismo no local. Desta forma o ecoturismo, visto como uma alternativa para
os conflitos entre a ecologia e o desenvolvimento econmico, foi apontado por Strong (apud DIEGUES,
2000) como uma estratgia de ecodesenvolvimento contrria a um crescimento econmico que levasse
degradao ambiental. Acredita-se que, a opinio das comunidades foi essencial para alavancar a atividade
turstica na regio pelo seu vasto conhecimento sobre a localidade.
A Pousada Aldeia dos Lagos
Localizada na Rua 04 s/n, no bairro Panorama, parte mais elevada da sede municipal, parte do
projeto Silves, cujo objetivo era viabilizar o primeiro empreendimento comunitrio de ecoturismo da
Amaznia no local, coordenada pela ASPAC desde 1993 e por comunidades de ribeirinhos residentes s
margens dos lagos e entorno da ilha de Silves desde 1981 com o objetivo de defender os lagos da pesca
predatria (2002). O que difere a Pousada dos demais meios de hospedagens em Silves a sua
responsabilidade com o meio ambiente e a valorizao da cultura local. No passado j chegou receber cerca
de 300 turistas por ano. Atualmente recebe aproximadamente 150 visitantes. importante frisar que para
a implantao deste empreendimento foi levado em considerao trs fatores essenciais: a educao
ambiental, ecoturismo e conservao por meio do Programa de Capacitao em Ecoturismo PEC. Os
sujeitos envolvidos foram treinados e capacitados para trabalhar com o ecoturismo de base comunitria,
levando em considerao a capacidade de carga, impacto social, monitoramento das trilhas e percepo
ambiental.
Em parceria com o SEBRAE desenvolveram uma culinria regional tpica para o local. E no ano de
2002 firmaram parceria com a Cooperativa de Trabalho Ecoturstico e Ambiental da Amaznia COOPTUR
com o objetivo de realizar treinamentos anualmente junto s comunidades inseridas no Projeto de
Ecoturismo, a Universidade Federal do Amazonas UFAM foi contratada para desenvolver a pesquisa
socioeconmica com o intuito de saber o que era vivel para regio.
Como estratgias de vendas firmaram um acordo com as agncias de turismo de Manaus e uma
operadora de So Paulo, dentre outras agncias de viagens como a Viverde e Ideiatur e outras fora do
Brasil. Seus funcionrios em grande maioria so associados da ASPAC, formados para elaborar os roteiros
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

432
tursticos de acordo com a realidade de cada comunidade. O pacote de hospedagem inclui: o caf da
manh, almoo, jantar e dois passeios por dia conforme o gosto do turista e a sazonalidade do local.
Enfatizando que os guias so todos das comunidades locais, as contrataes na maioria das vezes so
temporrias.

Fig. 1 Pousada Aldeia dos Lagos


Fonte: Google, 2011.

Cabe destacar que o pblico alvo o turista internacional, principalmente o europeu e americano.
Ficando sob responsabilidade da ASPAC o contato com o pessoal da Pousada e as reunies com o as
comunidades antes da chegada dos turistas no local a respeito dos acertos em prol do turismo.
Ento antes da temporada chegar s comunidades j sabem o que est se provendo, quantos
grupos vo chegar. Ento cada comunidade tem seus roteiros, elas so chamadas todo ano para rever esses
roteiros, que tipo de servios elas vo prestar. E isso feito constantemente (Vicente Neves).
Por outro lado, o empreendimento desempenha um trabalho baseado na gesto participativa
dando oportunidade de emprego aos ribeirinhos, ou melhor, as pessoas que no trabalham diretamente,
fornecem produtos artesanais, pesqueiro ou agrcola e assim todos se beneficiam com os servios da Aldeia
dos Lagos. O grande desafio da gesto da pousada a insegurana dos cooperados em assumir um cargo
de confiana, seja por falta de experincia na rea administrativa e financeira ou devido as exigncias dos
parceiros que muitas vezes discordam de ambas as partes. Essa uma das razes pelas quais pessoas de
outras localidades assumiram por muitos anos cargo de presidncia tanto na ASPAC, quanto na Pousada.
Na tentativa de se mudar essa tendncia o Gestor atual nativo de Silves.
O ecoturismo, dentro dos diversos segmentos tursticos, vem sendo apontado como aquele que
apresenta os mais altos ndices de crescimento, com um aumento de demanda variando de 10 a 20% ao
ano (MITRAUD, 2003). Segundo a Organizao Mundial do Turismo OMT, o ecoturismo em trs dcadas
ser responsvel por do turismo mundial (MEIRELLES FILHO, 2004). O mesmo autor relata que The
Ecotourism Society estima que anualmente, 8 milhes de norte-americanos, 20 milhes de europeus e 4
milhes de asiticos realizam viagens internacionais de ecoturismo. Porm, no Brasil, o ecoturismo
representa menos de 3% do movimento turstico, algo em torno de US$ 500 milhes, e a Amaznia deve
participar com menos de 10% deste mercado. Segundo a EMBRATUR o ecoturismo :
Um segmento da atividade turstica que utiliza de forma sustentvel o patrimnio natural e cultural,
incentiva sua conservao e busca a formao de uma conscincia ambientalista atravs da interpretao do
ambiente, promovendo o bem estar das populaes (EMBRATUR, 1994).

Joo Pessoa, outubro de 2011

433
Os princpios do ecoturismo seguem os princpios de Sustentabilidade Social, Ambiental e
Econmica diferentemente do turismo tradicional, cujos objetivos visavam especificamente ao lucro para
os empresrios do setor. Se bem planejado, o ecoturismo gera benefcios em uma localidade ao estimular a
melhoria nos sistemas de transportes e comunicaes, gerar emprego e renda para populao local, de
maneira direta e indireta, incentivando a produo do artesanato. Alm disso, fixa a populao no interior,
diversifica a economia local, principalmente em reas rurais, onde o emprego na agricultura pode ser
espordico e insuficiente, estimula a preservao ambiental, proporciona melhorias na educao,
segurana e sade da regio; mantm os atrativos naturais e os culturais da regio atraindo mais
ecoturistas; incorpora o planejamento, assegurando o desenvolvimento turstico apropriado para a
capacidade de sustentao do ecossistema (FIGUEIREDO, 1999).
De outro modo, quando no bem planejado pode ocasionar uma srie de impactos negativos ao
meio ambiente e a sociedade, por exemplo, na gerao dos efluentes domsticos (guas servidas)
direcionados in natura para os rios, igaraps e lagos; na coleta indiscriminada de espcies da fauna e da
flora; nos equipamentos montados inadequadamente para acessos a mirantes de observao da paisagem;
na instabilidade e dependncia econmica, quando a nica fonte de renda de uma localidade; nos
conflitos, culturais e sociais.
Os resultados da pesquisa de campo a ASPAC uma ONG brasileira sem fins lucrativos. Desde o
processo de implantao foram travadas muitas lutas na tentativa de encontrar alternativas que pudessem
proteger e utilizar de forma sustentvel os recursos naturais e culturais das populaes locais assim como,
implantar atividades geradoras de renda por meio do ecoturismo, transformando os recursos naturais e
culturais em atrativo, em constante dilogo com os comunitrios. Sendo assim, um dos principais objetivos
capacitar as comunidades para se tornarem autnomas e menos vulnerveis. Segundo os moradores, os
maiores benefcios foi a criao de uma Lei Municipal do Meio Ambiente em 1993 e a viabilizao dos
projetos como citados anteriormente: a conservao dos recursos naturais, o ecoturismo, o manejo dos
lagos e o desenvolvimento de alternativas sustentveis. A participao das comunidades em torno de 90%
considerada excelente, principalmente no que se refere ao de ecoturismo, educao ambiental e
preservao do meio ambiente.
Segundo o atual gestor da ASPAC, a criao deste empreendimento foi uma alternativa que os
moradores de Silves e a ASPAC encontraram para se trabalhar com o ecoturismo de base comunitria e
assim tentar ajudar as comunidades do entorno, com sucesso. Segundo ele, o empreendimento de suma
importncia para o municpio por trabalhar a questo ambiental de forma sustentvel, proporcionar aos
turistas o contato com a natureza, o sossego levando os mesmos a esquecerem o estresse do dia-a-dia.
Afirmou ainda que trouxe melhorias para comunidade, uma vez que passou a ser freqentada, podendo
aumentar a renda familiar com a chegada dos turistas e preservar o meio ambiente para as presentes e
futuras geraes.
De fato, a Aldeia dos Lagos difere dos demais empreendimentos tursticos da regio, por possuir
uma imensa rea verde proporcionando um bem estar, tranqilidade aos hspedes, seus colaboradores
so hospitaleiros e compromissados com a questo socioambiental. Todos os funcionrios so nativos do
Municpio de Silves; os guias e condutores dos turistas so comunitrios, bem como a recepcionista, as
camareiras, pessoal de servios gerais e os prprios administradores da pousada. A atualizao formativa
dos funcionrios realizada uma vez ao ano e o mais interessante o sistema de rotatividade de atividades
entre os funcionrios da pousada, pois trabalham em equipe, ou seja, um ajuda o outro, dependendo das
necessidades. Os guias falam fluentemente o idioma francs e espanhol. Quanto aos servios oferecidos, o
representante citou a hospedagem completa, transporte, pic nic noturno nas casas dos ribeirinhos,
passeios em trilhas, pescaria artesanal tanto diurna quanto noturna dependendo das exigncias do turista,
intercambio cultural na tentativa de conhecer a realidade cabocla, casa de farinha, as plantaes, ervas
medicinais, dentre outros. So oferecidas mais de treze opes de passeio, um dos mais procurados a
visita ao Lago Purema, feito por meio de voadeira, onde a pesca proibida e se pode observar os botos
durante o dia e os jacars nas noites.
O ecoturismo desenvolvido pela Aldeia dos Lagos procura aproximar os turistas da populao local,
na tentativa de mostrar a realidade local e criar uma relao harmoniosa entre si e com a natureza.
A pesquisa mostrou que o Municpio de Silves tem no ecoturismo uma de suas maiores fontes de
desenvolvimento socioeconmico em funo da riqueza de seus recursos naturais, onde despontam reas
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

434
de vrzea, florestas, rios e lagos, alm de rico folclore e artesanato diversificado, destacando-se ainda stios
arqueolgicos para desencadear o turismo cientfico. O ecoturismo uma alternativa para a
sustentabilidade dos recursos naturais, gerao de empregos, melhoria na qualidade de vida, sade,
educao, infra-estrutura, diversidade cultural, alm de valorizar a cultura local.
No campo dos desafios est a implantao de polticas pblicas que garantam o desenvolvimento
sustentvel de povos e regies para alm daqueles que trabalham direta ou indiretamente na ASPAC,
executando a legislao ambiental e fortalecendo as instituies governamentais e no-governamentais a
realizarem campanhas educativas e fiscalizadoras. Apesar da contribuio da Associao citada, os servios
oferecidos ainda carecem de melhor qualidade. necessria a parceria com os governos federal, estadual e
municipal para atender as necessidades bsicas de infra-estrutura nas comunidades, pois, as mesmas so
muito carentes para satisfazer os turistas. Acrescenta-se ainda um comprometimento maior dos sujeitos
sociais (comunitrios e gestores da ASPAC e Pousada Aldeia dos Lagos) envolvidos na gesto do ecoturismo
para obter sucesso na atividade.
Acredita-se que iniciativas comunitrias como esta, de Silves, sejam portadoras de autonomia para
milhares de amazonenses e amaznidas que lutam ansiosamente por melhores condies de vida, haja
vista o cansao de esperar por polticas pblicas que tardam a chegar...
REFERNCIAS
ARRUDA, R. S. V. Populaes tradicionais e a proteo dos recursos naturais em unidades de
conservao. In: DIEGUES, A. C. (Org.). Etnoconservao: novos rumos para a proteo da natureza nos
trpicos. 2. ed. So Paulo: Annablume: Hucitec: NUPAUB: USP, 2000.
ASPAC, Pousada Aldeia dos Lagos. Programa de Ecoturismo. Silves: ASPAC, 2005.
DIAS, R. Turismo sustentvel e meio ambiente. So Paulo: Atlas, 2003.
FARIA. Ivani Ferreira. Ecoturismo: etnodesenvolvimento e incluso social no Amazonas. PASSOS.
Revista de Turismo y Patrimnio Cultural. Vol. 3 N 1 pp. 63-77. 2005.
FIGUEIREDO, S. L. Ecoturismo e desenvolvimento sustentvel: alternativa para o desenvolvimento
da Amaznia? In: FIGUEIREDO, S. L. (Org.). O ecoturismo e a questo ambiental na Amaznia. Belm:
UFPA/NAEA, 1999.
INSTITUTO
BRASILEIRO
DE
GEOGRAFIA
E
ESTATSTICA.
Disponvel
em
http://www.ibge.gov.br/municpios.htm.> Acesso em: 20 jan 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Diviso Territorial do Brasil. Diviso
Territorial do Brasil e Limites Territoriais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) (1 de julho de
2008). Acesso em 20 out.2010.
IRVING, M. A. Refletindo sobre o ecoturismo em reas protegidas tendncias no contexto
brasileiro. In: IRVING, M. A.; AZEVEDO, J. (Orgs.). Turismo o desafio da sustentabilidade. So Paulo: Futura,
2002.
MEIRELLES FILHO, J. O livro de ouro da Amaznia: mitos e verdades sobre a regio mais cobiada do
planeta. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
MITRAUD, S. (Org.). Manual de ecoturismo de base comunitria: ferramentas para um
planejamento responsvel. Braslia: WWF-Brasil, 2003.
RIBEIRO, S. A. O. Vida e morte no Amazonas. So Paulo: Edies Loyola, 1991.
SANSOLO, Davis Gruber. Avaliao do subprojeto de recursos naturais da vrzea atravs do turismo
ecolgico e da gesto participativa na regio de Silves. So Paulo: Ministrio do Meio Ambiente/Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis, 2004 (documento).
SOUZA, Andr Luiz Lopes de. Meio ambiente e desenvolvimento sustentvel: uma reflexo crtica.
Belm: UFPA/NAEA, 2006. (Paper do NAEA, 45).

Joo Pessoa, outubro de 2011

435

A CONSERVAO SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAO AMBIENTAL NO


PARQUE JOO MENDES OLIMPIO DE MELO, TERESINA - PI
Franclio de Amorim dos SANTOS.
Aluno do curso de Especializao em Gesto Ambiental e Ecoturismo da Faculdade Montenegro - FAM. Endereo: Av. So
Vicente de Paula, 462. CEP: 45.745-000. Ibicara - BA.
E-mail: francilio.iesb@gmail.com.

RESUMO
So notrias as marcas de insustentabilidade deixadas pelo homem na natureza. Almejando
combater esses desequilbrios, foi necessria a criao de reas protegidas por lei para conservar e/ou
preserv-la contra a estrutura exploratria capitalista, bem como a busca pela conscientizao ambiental,
por meio da educao. Props-se como objetivo geral desse estudo diagnosticar a conservao e as
atividades de educao ambiental no Parque Joo Olimpio Mendes de Melo, para identificar atividades de
educao ambiental praticadas; conhecer o modo como utilizado o ambiente e apresentar, a partir da
pesquisa, alternativas sustentveis para a utilizao dos recursos disponveis. A rea de proteo ambiental
considerada pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservao - SNUC (Lei n 9.985/2000), como
Unidade de Proteo Integral, de vasta beleza natural e com uma infra-estrutura montada para atender aos
visitantes. A metodologia utilizada para chegar aos objetivos aqui propostos deu-se por meio de entrevistas
com 15 visitantes, escolhidos de modo aleatrio, e com 3 funcionrios do citado Parque, seguindo-se a
sistematizao, categorizao e discusso dos dados. O estudo demonstrou que h uma significativa
insatisfao dos visitantes com a atual estrutura do Parque, bem como a falta de manuteno dos
instrumentos, qualidade ruim dos brinquedos disponveis para lazer, insegurana devido a falta de
iluminao adequada e insuficincia de funcionrios. Destaque-se que algumas atividades de educao
ambiental so desenvolvidas no Parque, como a caravana ambiental. Nos moldes atuais de
desenvolvimento sustentvel que as naes propem, torna-se insustentvel a conservao e/ou
preservao da biodiversidade, pois a insuficincia ou inexistncia de investimentos relega a natureza a
segundo plano, sobrepujando-se a o econmico sobre o ambiental.
Palavras- chaves: Parque Joo Mendes de Olmpio Melo; educao ambiental; conservao.
ABSTRACT
the marks Well-known left by man are unsustainable in nature. Aiming to do something aganst
these imbalances, it was necessary to create protected areas to maintain law and / or preserve it against
the capitalist structure exploration and the search for environmental awareness through education. It was
proposed as a general objective of this study to diagnose the conservation and environmental education
activities in the John Olimpio de Melo Mendes Park, to identify environmental education activities
practiced; know how it is used to the environment, from the research, alternative sustainable use of
available resources. The area of environmental protection is considered by the National System of Protected
Areas - SNUG (Law 9.985/2000) as Integral Protection Unit, with its vast natural beauty and with an
infrastructure set up to meet visitors. The methodology used to reach the goals proposed here was made by
means of interviews with 15 visitors chosen at random, and three employees of the said Park, followed by
the systematization, categorization and discussion of the data. The study demonstrated that there is
significant dissatisfaction of visitors with the current structure of the Park, as well as lack of maintenance of
instruments, poor quality of toys available for leisure, insecurity due to lack of adequate lighting and
sufficient staff. It is noteworthy that some environmental education activities are developed in the Park, as
the convoy environment. In the current pattern of sustainable development suggest that nations, it
becomes untenable to conservation and / or preservation of biodiversity, because the insufficiency or lack
of investment nature relegates to the background, there is overwhelming on the economic environment.
Key-words: Parque Joo Mendes de Olmpio Melo; environmental; education conservation.
1 INTRODUO
O rastro deixado pela humanidade sobre a Terra est por toda parte (DOUROJEANNI e PDUA,
2007, p.47). Pinotti (2010, p.208) alerta que [...] a presena do homem sempre foi nociva ao meio
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

436
ambiente, causando destruio generalizada. Os ecossistemas tm sido submetidos a uma destruio
nunca antes vista na histria geolgica e humana.
Definiu-se o tema desta pesquisa a partir da grande nfase, mundial e local, dada s reflexes e
agravos ambientais. Logo, importante uma anlise de campo e uma posterior discusso sobre a
otimizao dos recursos naturais. Atualmente, enftica a necessidade de estudos que descartassem o
discurso demagogo em defesa do meio ambiente economicamente sustentvel.
O estudo da educao ambiental e da conservao no Parque Joo Olimpio Mendes de Melo foi
importante para proporcionar uma reflexo, dentro de um ambiente constitudo por uma reserva vegetal,
prxima ao rio Poti, alm de uma infra-estrutura receptiva a visitantes. Esta problemtica deu origem ao
seguinte questionamento aqui analisado: Como praticada a educao ambiental e a conservao no
Parque da Cidade? Elaborou-se como objetivos da pesquisa: diagnosticar as atividades ambientais e a
conservao no Parque Joo Olimpio Mendes de Melo, para identificar quais atividades de educao
ambiental so praticadas; conhecer o modo como utilizado o ambiente e apresentar, a partir da pesquisa,
alternativas sustentveis para a utilizao dos recursos disponveis.
2 MATERIAIS E MTODOS
2.1 Metodologia
Para operacionalizar o estudo, a priori, buscou-se a pesquisa bibliogrfica para o embasamento
terico-cientfico para o desenvolvimento das demais etapas. Seguiu-se a essa etapa, a pesquisa de campo,
com registros fotogrficos e entrevistas com perguntas semi-estruturadas, sobre a avaliao dos sujeitos
acerca da infraestrutura do Parque, Plano de Manejo, gesto participativa, monitoramento, atividades de
educao ambiental e entretenimento. O universo amostral composto por: o administrador, 2 (dois)
funcionrios e 15 (quinze) visitantes, escolhidos de modo aleatrio, especificamente 5 (cinco) visitantes em
trs finais de semana.
2.2 Caracterizao da rea de estudo
O Parque Joo Olimpio Mendes de Melo uma rea de Proteo Permanente, cuja razo de
existncia, segundo o Art. 15 da Lei N 9.985/2000, que define o Sistema Nacional de Unidades de
Conservao (SNUC), : [...] proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de ocupao e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2006a, p.16).
O citado Parque foi inaugurado em 9 de maio de 1982, possui uma rea de 17ha e est localizado
Av. Duque de Caxias, no bairro Primavera (Figura 01), constitui-se num local com infra-estrutura para
realizao de eventos culturais, ecolgicos, prtica de esportes, turismo e de apoio s atividades de
educao ambiental para escolas e grupos comunitrios. Visto que de acordo com o Art. 225 da
Constituio da Repblica Federativa do Brasil, todo brasileiro tem direito ao um meio ambiente
ecologicamente equilibrado e sadia qualidade de vida (BRASIL, 2006b).

Joo Pessoa, outubro de 2011

437

Figura 01: Localizao do Parque Joo Mendes Olmpio de Melo (Teresina - PI)
Fonte: Google - Adaptado, dados cartogrficos, 2011.

O Parque em estudo possui um viveiro para produo de mudas, o qual foi criado em agosto de
2010 e tem como principal objetivo o reflorestamento. No viveiro trabalham dois funcionrios e um
estagirio, do curso de Agronomia da Universidade Federal do Piau (UFPI). A SEMAM (Secretria Municipal
de Meio Ambiente) juntamente com SDR (Superintendncia de Desenvolvimento Rural) fornecem tcnicos
para auxiliar nas atividades de manejo das plantas.
3 REAS DE PROTEO AMBIENTAL: CONSERVAO E EDUCAO AMBIENTAL
A natureza, ao longo do tempo, vem sendo alterada frente aos processos sociais. Ao passo que o
capitalismo prope a natureza como fonte praticamente inesgotvel de lucro. Entretanto, para Camargo
(2005) a Terra um sistema constitudo por partes articuladas e no isoladas, o qual se organiza de forma
complexa, tendo o homem como promotor de modificaes no espao.
O meio ambiente para Kloetzel (1998, p.8) tido como [...] uma coisa viva, inconstante, sempre
disposta a inovaes, passivo de transformaes promovidas pelo ser humano, mas tambm pelos
fenmenos internos e externos a Terra. Em articulao ao conceito acima definido, criou-se a Unidade de
Conservao (UC), definida pela Unio Internacional para Conservao da Natureza (UICN) (citada por
COSTA, 2002, p.12) como sendo: [...] uma superfcie de terra ou mar consagrada proteo e manuteno
da diversidade biolgica, assim como dos recursos naturais e dos recursos culturais associadas, e manejada
por meio de meios jurdicos e outros eficazes.
Definidos os principais conceitos, bem como uma rpida reflexo sobre as questes ambientais,
passa-se a outros questionamentos sobre meio ambiente e as formas encontradas pelo homem para
conservao dos recursos naturais, bem como a prtica da educao ambiental.
3.1 Reflexes sobre a problemtica ambiental e as reas protegidas
Aos recursos naturais tem sido impelida uma destruio, ao longo da histria humana atravs do
processo evolutivo das tcnicas (meios de produo) e modelos socioeconmicos, resultando em
diferentes, mas crescentes magnitudes de fragmentao dos nichos ecolgicos e conseqente perda de
biodiversidade, segundo Guerra e Coelho (2009). Dito de outra forma, para Leff (2008) os elementos fsico
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

438
e social do meio ambiente foram dominados e excludos pela racionalidade econmica. De acordo com
Pinotti (2010), a populao humana est extraindo mais do que o planeta pode recuperar, aumentando o
fluxo de energia e matria nos ecossistemas.
Para onde se olha mundialmente, encontra-se um paradoxo: de um lado o desenvolvimento de
novos meios tcnico-cientficos capazes de gerar solues para os problemas ecolgicos; de outro, a falta
de capacidade das foras sociais em se apropriar desses meios tcnicos (GUATTARI, 1990). Altvater (1995,
citado por CAMARGO, 2005) afirma que os sistemas naturais sofrem interferncia advinda da acumulao
capitalista e da mais-valia demandante de industrializao e recursos, resultando no Sato e Carvalho (2005)
chamam de um sentimento de desproteo, ameaas e incertezas frente ao desenvolvimento industrial e
tecnolgico, gerando um processo de degradao ambiental que muitas vezes no percebido
cotidianamente. Logo, segundo Pinotti (2010), os pases pobres sofrem presso para desmatar as florestas
e explorar at ao exaurimento suas terras, resultando em processos de empobrecimento geral das
condies ambientais.
Organizaes pblicas e privadas tm promovido discusses sobre a problemtica ambiental,
propondo leis e criando rgos para controle de danos ambientais, acordos e protocolos mundiais buscam
criar a sustentabilidade ambiental e reparos aos danos ambientais, tal qual a I e II Conferncia das Naes
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, respectivamente, Estocolmo, em 1972, e Rio de
Janeiro, em 1992 (SOUSA e AQUINO, 2007).
Nos Estados Unidos, estas idias resultaram na criao do Yellowstone Nacional Park (1872),
seguido por: Canad, 1885; Nova Zelndia, em 1894; Austrlia, frica do Sul e Mxico, 1898; Argentina,
1903; Chile, 1926; Equador, em 1934; Brasil e Venezuela, em 1937 (GUERRA e COELHO, 2009). De acordo
com o Relatrio Brundtland, em 1988, o nmero total de reas protegidas no mundo chegava a um total de
4 milhes de km2 (COSTA, 2002).
As reas naturais protegidas surgiram e ainda se fazem uma grande estratgia com relao busca
pela conservao da biodiversidade. Entretanto, estas reas so o centro de conflitos sobre a forma como
devem ser exploradas, pois de acordo com Diegues (2001), de um lado tem-se a criao do mito moderno e
de outro a expulso das populaes residentes h vrios anos na regio, havendo assim um embate entre a
forma de manejo moderno e o tradicional.
Por muitas vezes, a cincia mostra-se limitada em relao s informaes para a formulao dos
Planos de Manejo, devendo-se haver um esforo maior para integrar o etnoconhecimento das populaes
tradicionais a esses planos. Guerra e Coelho (2009) enfatizam que o grande desafio resulta da necessidade
de se mudar os padres de produo e consumo existentes, prticas baseadas em princpios ecolgicos, na
justia social, desconcentrao e democratizao da propriedade da terra e o reconhecimento de
territrios de comunidades originais e locais. fato que, segundo Pinotti (2010), a atividade sustentvel
deve primar no somente por investimentos, mas controle governamental rgido, transformao cultural
dos habitantes, envolvimento de empresas e ONGs na busca por um equilbrio entre a explorao e a
conservao.
3.2 Unidades de Conservao no Brasil: conservao e conflitos
O primeiro Parque Nacional (PARNA) brasileiro foi criado em 1937, em Itatiaia, com fins de
incentivar a pesquisa cientfica e oferecer lazer s populaes urbanas. A criao deste parque foi
estabelecida pelo Art. 9 do Cdigo Florestal, de 1934. Sob a base do modelo norte-americano, pois no se
considerou a populao que j habitava essa rea. Posteriormente Itatiaia foram criados: os PARNA de
Iguau (PA) e o da Serra dos rgos (RJ), em 1939 (DIEGUES, 2001).
A UICN emitiu um manual para a criao das reas naturais protegidas, assegurando amostras
representativas de importantssimas regies naturais, que a diversidade fsica, biolgica e gentica seja
mantida, ainda estas reas contribuindo para a pesquisa, educao ambiental, desenvolvimento rural
integrado e para o turismo e recreao (DIEGUES, 2001).
Importante citar o SNUC que, entre outros objetivos, procura contribuir para a manuteno da
diversidade biolgica, assim como proteger espcies ameaadas de extino, promover o desenvolvimento
sustentvel, proporcionar meios e incentivos para a atividade cientfica, estudos e monitoramento,
respeitar o conhecimento e cultura das populaes tradicionais (BRASIL, 2006a).
Joo Pessoa, outubro de 2011

439
As principais causas de conflitos em UCs, no Brasil, originam-se de questes ligadas s foras do
capital produtivo e questo da expulso das populaes tradicionais. Os primeiros, provindos do setor
agropecurio, junto ao Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) atuam no combate a implantao
e regularizao das UCs. Os segundos causam tenses pelo fato de no lhes ser permitida a participao
ativa no processo de demarcao e gesto das UCs. Outro fator que merece destaque a questo dos
municpios deterem poder de definir o ordenamento territorial e por sofrerem inmeras presses dos
interesses locais. O Brasil apresenta grande biodiversidade tropical, inserindo-se no contexto global de
conservao ambiental, ao passo que fornece mltiplas facetas para atender a demanda generalizada do
desenvolvimento (GUERRA e COELHO, 2009).
Para Pinotti (2010) desejvel que aja um aumento no nmero de reas de proteo, porm,
essencial que o governo fornea os meios para tornar essas reas efetivamente protegidas.
3.3 A educao ambiental: pea fundamental para a conservao ambiental
A educao ambiental como resposta crise ambiental mundial tem mais de quatro dcadas de
existncia, a qual foi reconhecida como de fundamental importncia frente aos problemas ambientais na
Conferncia de Estocolmo, em 1972. A educao buscou por uma relao entre sociedade e meio ambiente
tendo como essncia o respeito aos limites ecolgicos de um planeta cujos recursos so finitos (SATO e
CARVALHO, 2005).
Para Guattari (1990), as foras polticas e as instncias executivas, somente vem as ameaas
ambientais provocados pelas indstrias, quando na verdade somente por meio de uma abordagem trina,
que chama de ecosofia meio ambiente, relaes sociais e subjetividade humana que se poderia
esclarecer as questes ambientais. Para ele, o que condena o capitalismo, seu sistema de valorizao de
carter equivalente geral, resultando numa aplainao dos outros modos de valorizao, alienando-os
sua hegemonia.
Segundo Leff (2008) a globalizao tem transformado os princpios de educao ambiental,
primando pelos mecanismos do mercado como forma de transio para um futuro sustentvel, visto que as
instituies educacionais e a universidade pblica esto direcionadas para a construo de um saber
ambiental voltado para a formao de recursos humanos, o que oposto concepo tida na Conferncia
de Tbilisi (UNESCO, 1980, citada por LEFF, 2008) de que a educao e formao ambientais so vistas como
um processo de construo de saber multidisciplinar e mtodo holstico, frente a complexidade
socioambiental que surgiu com a globalizao.
Atualmente, h um conflito que coloca homem e natureza como inimigos, de um lado, os que esto
a favor da natureza, do outro, os que so a favor do desenvolvimento econmico. Porm, evidente, a
conexo existente entre homem e natureza, resultando numa identidade onde no se pode pensar
separadamente a natureza, a organizao social e o tipo de indivduo existente em cada momento histrico
(SATO e CARVALHO, 2005).
De acordo com Leff (2008), os pases do Terceiro Mundo sofrem uma situao de financiamento,
subordinao e dependncia aos pases do Norte, resultando numa reduo da educao ambiental
conscientizao dos cidados, incorporao de contedos ecolgicos e fragmentao do saber ambiental.
Pinotti (2010) complementa afirmando que para se alcanar a conscientizao ecolgica deve-se primar
antes de tudo por uma educao que demanda anos de estudo, acima de tudo, num ambiente propcio.
A interdisciplinaridade surge como elo unificador dos saberes, antes, fragmentados pela cincia
moderna, sendo um campo de discurso heterogneo. Neste enfoque da crise ambiental a educao inserese como estratgia formao de valores, habilidades e capacidades voltados para a construo da
racionalidade ambiental, para tanto se necessita de um processo de autoformao e formao de
professores, diversificao da temtica ambiental, elaborao de estratgias de ensino e definio de novas
das estruturas curriculares. Na outra extremidade, os educandos so vistos como elementos inseridos num
meio ideolgico e social, visto que o conhecimento um processo de construo que se inicia a partir de
seus conceitos prvios (LEFF, 2008).
O protesto ecolgico se coloca de duas formas, a saber: o discurso romntico v o homem apenas
com um elemento assassino e a racionalidade como agressiva, sendo incompatvel com o desenvolvimento
sustentvel; por outro lado, o discurso ecolgico postula uma unidade entre homem e natureza, somente
podendo haver desenvolvimento do primeiro concomitante ao segundo (SATO e CARVALHO, 2005).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

440
Nos dias atuais, a educao ambiental insere-se como uma forma de crtica aos modelos sociais
dominantes emergncia de uma nova sociedade, tendo em sua base valores de democracia e princpios
do ambientalismo. A crise ambiental est introduzindo uma nova forma de conhecimento baseado nas
relaes entre processos ecolgicos, econmicos, sociais, polticos e culturais (LEFF, 2008). Para Pinotti
(2010, p.210) o necessrio [...] simplesmente alterar a nossa mentalidade, reconhecendo que o homem
e o meio ambiente no so estranhos um ao outro, mas profundamente interligados.
4 ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS
Seguem-se os dados obtidos a partir das entrevistas aplicadas, no ms de outubro e novembro de
2009, a 3 (trs) funcionrios e a 15 (quinze) visitantes. Os dados, num primeiro momento, foram
sistematizados e, posteriormente, tabulados e interpretados.
4.1 Concepo dos funcionrios do Parque
O primeiro questionamento feito aos funcionrios diz respeito aos eventos que so desenvolvidos
no Parque Joo Mendes Olmpio de Melo. As respostas, expostas no Quadro 01, mostram que as principais
atividades dizem respeito, principalmente, a visitao de estudantes, assim como a prtica de esportes,
sobretudo futebol.
Funcionrios

Respostas

Palestra para estudantes, passeios ecolgicos, futebol.

Futebol, capoeira, ao global, passeio de escolas nas trilhas.

Ao global, visitas de escolas.


Quadro 01: Atividades e/ou eventos que so desenvolvidos no parque

Foi perguntado aos funcionrios se tinham conhecimento sobre a existncia de um Plano de


Manejo no Parque em estudo e os resultados obtidos foram que 2 (dois) dos funcionrios afirmaram existir
Plano de Manejo, enquanto que 1 (um) falou desconhecer tal documento.
Outra questo que foi levada aos funcionrios elucida os projetos de educao ambiental que so
desenvolvidos no Parque. Todos foram unnimes em afirmar que so desenvolvidos vrios projetos, dentre
eles: Parque Escola, Caravana Ambiental, palestras da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hdricos
(SEMAR).
Os funcionrios foram indagados sobre a questo da participao de outras entidades ou mesmo
da populao local na administrao do Parque, isto , uma Gesto Participativa. Os trs entrevistados
afirmaram existir participao de empresas privadas, universidades e escolas. Estes ltimos,
constantemente, fazem visitas tcnicas ao Parque, tornando prtico o conhecimento adquirido em sala de
aula.
Dentre as indagaes, foi perguntado sobre quais instrumentos so usados para o monitoramento
do Parque. As respostas dispostas no Quadro 02, permitem afirmar que os principais instrumentos de
monitoramente dizem respeito aos guardas ambientais e guias.
Funcionrios

Respostas

Guias e guardas ambientais.

Bsicos, um carro, guardas, os garis.

Carro e guias.
Quadro 02: Forma de monitoramento do Parque

Quando os funcionrios foram questionados acerca dos problemas enfrentados pelo Parque Joo
Mendes Olmpio de Melo, todos afirmaram que ele passa por problemas financeiros e ambientais, devido
degradao feita pelos visitantes e mesmo pela populao local.
4.2 Concepo dos visitantes
Joo Pessoa, outubro de 2011

441
A priori, questionou-se aos visitantes a respeito de seu conhecimento do conceito de
desenvolvimento sustentvel. A resposta que mais se obteve foi que desenvolvimento sustentvel a
forma racional de uso dos recursos do meio ambiente, como se pode observar na resposta do sujeito N,
para o qual um desenvolvimento que procura melhor satisfazer algo tanto no seu ramo social e
econmico ou cultural, isso tanto melhorar condies de um determinado espao.
Foi questionado aos visitantes se o conceito de desenvolvimento sustentvel, definido acima,
aplicava-se ao Parque Joo Olimpio Mendes de Melo. mostrado na Tabela 01, que 53.3% dos visitantes
afirmaram que o conceito de desenvolvimento sustentvel no se aplica ao Parque em estudo, os outros
46.7% afirma haver desenvolvimento sustentvel na rea. Na fala do sujeito O, pode-se observar o porqu
do desenvolvimento sustentvel no ser aplicado ao Parque.
Tabela 01: O conceito de desenvolvimento sustentvel aplica-se ao Parque
Conceito
Sim
No
TOTAL

Valor Absoluto
7
8
15

%
46.7
53.3
100.0

Sujeito O: No. Devido ao grau de desvalorizao dos visitantes, nem todos tem o mesmo respeito a estrutura
e objetivo do parque. Em virtude disso muitas vezes acabam depedrando e pichando. Falta tambm maior
envolvimento da comunidade local. Ex: feiras, eventos que incentivem a cultura de preservao ambiental.

Os visitantes foram indagados acerca do estado de conservao dos recursos do Parque. Os dados
dispostos na Tabela 02 mostram que 60.0% afirmam que o Parque est em regular estado de conservao,
ao passo que 26.5% dizem que ele est em bom estado, contra apenas 13.5% que respondeu que est em
ruim estado de conservao. Frisa-se ainda que nenhum visitante avaliou de forma excelente a atual
estrutura do Parque, porm o esforo para conservao dos recursos naturais deve convergir para este
ltimo conceito.
Tabela 02: Avaliao das condies fsicas do Parque
Conceito
Ruim
Bom
Regular
TOTAL

Valor Absoluto
2
4
9
15

%
13.5
26.5
60.0
100.0

Quando perguntados se as atividades desenvolvidas no Parque, so bem estruturadas a fim de


preserv-lo, os dados expostos na Tabela 04, permitem dizer que 40.0% dos entrevistados afirmaram que
as atividades desenvolvidas no Parque so bem estruturadas, tendo como finalidade preserv-lo; em
contrapartida 60.0% dos visitantes afirmaram que as atividades so insustentveis, como mostra resposta
dos sujeitos C, para o qual as atividades no so bem estruturadas devido A ausncia de guias e aumento
da quantidade de atividades referentes educao ambiental.
Tabela 04: Atividades desenvolvidas no Parque e sua preservao
Conceito
Sim
No
TOTAL

Valor Absoluto
6
9
15

%
40.0
60.0
100.0

Quando questionados sobre a importncia da educao ambiental para a conservao dos recursos
naturais do Parque, as respostas obtidas elucidam sobre a conservao para que as geraes futuras
possam conhecer o patrimnio natural antecedente a sua existncia e a necessidade dos recursos naturais
para prpria existncia da humanidade, o que observado na resposta do sujeito M: Para que
futuramente se possa ter uma boa estrutura e esteticamente fique uma boa aparncia.
5 CONCLUSES
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

442
Percebeu-se que o Parque enfrenta vrios problemas, dentre eles: a questo da estrutura fsica,
que necessita de reparos, como pintura e algumas partes precisam ser consertadas. Outra questo diz
respeito violncia que tem afastado muitos visitantes, visto que h, praticamente, horrios prdeterminados para a visitao, devido a vrios episdios de furtos dentro da rea do Parque. H
insuficincia de instrumentos para uma adequada conservao da rea em estudo, ao passo que faltam
guias e iluminao, o que confirmado na avaliao feita pelos prprios visitantes. Portanto, devendo
haver um (re)planejamento do espao artificial do Parque, pois, segundo os entrevistados, a infraestrutura
est obsoleta e no recebe os devidos cuidados.
lamentvel o desconhecimento de grande parcela da populao no que tange ao conceito de
desenvolvimento sustentvel, resultando na no-prtica de tal desenvolvimento, visto que seu conceito
pouco preciso. Do mesmo modo, como a questo dos desencontros de informao entre administrador e
funcionrios pode gerar impactos negativos a rea de proteo ambiental.
Ressalte-se que no Parque so desenvolvidas algumas atividades culturais desde palestras a visitas
tcnicas at a prtica de esportes, visto que uma das funes dos parques ambientais proporcionar lazer
comunidade. Entretanto importante no se deixar levar pela grandiosidade do evento, mas antes
observar se a rea de proteo tem capacidade para suport-lo, sem ser impactada de forma muito
agressiva.
sumamente importante que aja gesto participativa na administrao do Parque, que se faz
presente segundos os funcionrios, pois o ambiente administrado de forma multidisciplinar promove um
fortalecimento da comunidade frente aos problemas existentes na rea em estudo, na busca por solues
aplicveis.
Tendo como busca primeira a conservao dos recursos do Parque, faz-se sumamente importante
que as atividades de educao ambiental venham a ser desenvolvidas com maior nfase, promovendo
assim a participao das populaes locais ou dos agentes como os turistas que freqentam o Parque, que
so os diretamente beneficiados com a explorao desses recursos, sejam eles econmicos ou meramente
contemplativos. O modelo atual de desenvolvimento sustentvel torna insustentvel a conservao da
biodiversidade, pois a insuficincia ou inexistncia de investimentos torna a importncia da natureza
submissa explorao econmica.
A questo da educao ambiental se faz, hoje, a base na tomada de conscincia para uma natureza
conservada frente explorao e expanso capitalista. Da, as atividades desenvolvidas, em especial no
Parque Joo Mendes Olmpio de Melo, buscar sensibilizar e integrar as comunidades locais e turistas ao
ambiente natural da rea de proteo ambiental, bem como mostrar a importncia da conservao dos
recursos disponveis nesta Unidade de Conservao.
6 REFERNCIAS
BRASIL, Ministrio do Meio Ambiente. SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservao da
Natureza. Lei N 9.885, de 18 de julho de 2000; Decreto N 4.340, de 22 de agosto de 2002. Introduz
alteraes pela Lei N 11.132, de 4 de julho de 2006 e pelo Decreto N 5.556, de 26 de outubro de 2005. 6
edio. Braslia, 2006a.
BRASIL, Senado Federal. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Texto promulgado em 05
de outubro de 1998. Secretaria Especial de Editorao e Publicaes Subsecretaria de Edies Tcnicas.
Braslia, 2006b.
CAMARGO, Lus Henrique Ramos de. A ruptura do meio ambiente: conhecendo as mudanas
ambientais do planeta atravs de uma nova percepo da cincia: a geografia da complexidade. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
COSTA, Patrcia Crtes. Unidades de Conservao Matria-prima do Ecoturismo. So Paulo:
Aleph, 2002. (Srie Turismo).
DIEGUES, Antonio Carlos Santana. O Mito Moderno da Natureza Intocada. 3 edio. So Paulo:
Hucitec, 2001.
DOUROJEANNI, Marc. J.; PDUA, Maria Tereza Jorge. Biodiversidade: a hora decisiva. Traduo de
texto Renato Gomes Bittencourt. Curitiba: Ed. UFPR, 2007.
GUATTARI, Flix. As trs ecologias. Traduo Maria Cristina F. Bittencourt. campinas, SP: Papirus,
1990.
Joo Pessoa, outubro de 2011

443
GUERRA, Antonio Jos Teixeira e COELHO, Maria Clia Nunes. (Orgs.). Unidade de Conservao:
abordagens e caractersticas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
KLOETZEL, Kurt. O que meio ambiente. 2 edio, 2 reimpresso. So Paulo: Brasiliense, 1998.
LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Traduo de
Lcia Mathilde Endlich Orth. 6. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2008.
ORTH, Dora e DEBETIR, Emiliana (Orgs.). Unidades de Conservao - Gesto e Conflitos.
Florianpolis: Insular, 2007.
PINOTTI, Rafael. Educao ambiental para o sculo XXI: no Brasil e no mundo.-- So Paulo. Editora
Blucher, 2010.
SATO, Michle e CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educao ambiental: pesquisa e desafios.
Porto Alegre: Artmed, 2005.
SOUSA, Ccero Rodrigues de; AQUINO, Cludia Maria Sabia de. Proteo ambiental e turismo no
Parque Ambiental Encontro dos Rios, Teresina/PI. Caderno Virtual de Turismo. Vol. 7, N 3 (2007). Pags. 6674. ISSN: 1677-6976.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

444

A RESERVA EXTRATIVISTA ALTO JURU-AC E A IMPORTNCIA DO


PLANEJAMENTO NA GESTO DESSA UNIDADE DE CONSERVAO
Ana Cladia Alves de CARVALHO
Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal do Par (UFPA)
anaclaudinha19@hotmail.com
Geise Corra TELES
Graduanda do Curso de Geografia da Universidade Federal do Par (UFPA)
geise-correa@hotmail.com
Igor Henrique FREITAS
Graduando do Curso de Geografia da Universidade Federal do Par (UFPA)
ih.freitas@hotmail.com

RESUMO
O processo de formao das reservas extrativistas no estado Acre resultado de muitos conflitos e
lutas a favor da preservao da natureza e do modo de vida da populao local, tais conflitos incidiram,
com a entrada de atividades como a pecuria na regio, na modificao do modo de vida tradicional, j que
a ao do capital privado, revelava interesses contrrios a esses sujeitos. Nesse sentido, este artigo busca
fazer uma breve anlise sobre o processo de institucionalizao da reserva extrativista do alto Juru,
localizada no Estado do Acre, considerando os agentes envolvidos, bem como a gesto desse espao, j que
a reserva uma rea de proteo, no s do meio ambiente mais do modo de vida da populao que dele
depende.
PALAVRAS-CHAVE: Reserva Extrativista, rea de proteo e gesto.
ABSTRACT
The process of formation of extractive reserves in Acre state is the result of many conflicts and
struggles for the preservation of nature and the livelihood of local people, such conflicts have focused, with
the addition of activities such as livestock in the region, modification of the traditional way of life, since the
action of private capital, revealed interests contrary to those subjects. In this sense, this article seeks to
make a brief analysis of the institutionalization process of the high Jurua extractive reserve, located in the
state of Acre, considering the players involved, as well as the management of space, since the reserve
is a protected area, not only the environment more in the way of life that depends on it.
WORDS-KEY: Reservations Extrativistas, protection area e management.
INTRODUO
A desativao dos seringais e a implantao da pecuria extensiva de corte, no final da dcada de
60 no Acre, trouxe mudanas profundas no modo de vida da populao local, a luta pela permanncia do
trabalhador na mata, ou seja, pela posse do meio de sobrevivncia, a terra, passa a se combinar com um
movimento mais geral e de carter ecolgico. Dessa combinao luta pela sobrevivncia e defesa
ecolgica resultou o apoio de diversas entidades do movimento ambientalista internacional, e mesmo
nacional, dada a resistncia dos seringueiros no Acre. Mas vale lembrar que a criao das Reversas
Extrativistas, no cessou o processo de luta desses trabalhadores rurais, as dificuldades atualmente
encontradas pelas famlias residentes na Reserva do Alto Juru refletem essas questes, pode-se dizer com
isso, que as justificativas para essa investigao, advm da preocupao da gesto dessa reserva, j que
como rea de preservao ela deveria assumir um carter sustentvel.

Orientadora: Prof Doutora Carmena Ferreira de Frana, Professora da Faculdade de Geografia e Cartografia
da Universidade Federal do Par e do Programa de Ps- graduao em Geografia tambm da UFPA.

Joo Pessoa, outubro de 2011

445
Portanto inicialmente ser abordado o processo de formao das reservas extrativistas no Acre, tal
como suas implicaes para os agentes envolvidos; posteriormente sero enfatizadas, dentro de um
contexto atual, as condies socioeconmicas da populao residente na reserva do Alto Juru, tal como
seu modo de vida e as atividades econmicas por elas realizadas, e de que maneira elas se posicionam
como atividades sustentveis. E por fim ser feita uma anlise da gesto da reserva, considerando os atores
sociais envolvidos. O objetivo aqui sucede, em conferir se a gesto dessa rea de proteo condiz com o
planejamento, que feito para uma rea denominada como protegida.
Vale ressaltar ainda que esse artigo resultado da anlise de vrias obras, que abordam diversos
aspectos referentes a problemtica em questo; a compreenso de distintas abordagens, conferindo
importncia a diferentes aspectos, deu margem para a afluncia de informaes necessrias a abordagem
que ser apresentada.
A LUTA PELA TERRA, E A INSTITUCIONALIZAO DAS RESERVAS EXTRATIVISTAS
Como se pode observar, a histria da proposta das Reservas Extrativistas no Acre nos remete ao
movimento organizado de trabalhadores - extrativistas principalmente seringueiros - em vrios estados da
Amaznia, num contexto de chegada de grupos econmicos do Sul na dcada de 70 e de crise da borracha,
com os antigos proprietrios abandonando os seringais e mudando de atividade. H um deslocamento para
atividades como a madeireira, a criao de gado e o gerenciamento de lojas e armazns comerciais nos ncleos
urbanos e cidades prximas. (FRANCO, 2000 p.1)
A entrada dessas novas atividades econmicas fez com que as populaes dessas reas de floresta
comeassem a ter sua reproduo social e econmica ameaada; nesse contexto, h uma percepo por
parte dos seringueiros, de que a luta pela preservao de sua forma de organizao socioeconmica
ganharia fora atravs da articulao com a conservao ambiental, pois as condies de vida das
populaes agro-extrativistas, no tinham um carter genuinamente predatrio. Com isso os movimentos
articulados pelos seringueiros ganham fora, e asseguram uma causa nobre, a preservao da floresta e a
manuteno do modo de vida nela existente. Aps o 1 Encontro Nacional dos Seringueiros, 1985 as
presses de movimentos sociais e ambientalistas foram intensificadas a favor da criao das Reservas
Extrativistas. Fato que se ativou aps o assassinato de Chico Mendes, visto que, ainda em vida, foi
responsvel pela repercusso internacional das polticas ditas de desenvolvimento para a regio
amaznica. Com isso, em 1990, foi criada a primeira reserva extrativista no Estado do Acre, a reserva Alto
Juru, resultado de vrias lutas e embates, como bem j foi ressaltado.
Com isso podemos dizer que uma Reserva Extrativista caracteriza-se por respeitar a forma de
ocupao e uso dos recursos tradicionais, comandados por uma demanda de trabalhadores com componentes
de justia social e de conservao ambiental, dentro de um modelo de propriedade bastante diferenciado. As
Reservas Extrativistas se apresentam assim, como um laboratrio vivo, para a busca de um modelo de
desenvolvimento que se faa com e a partir de populaes que tem um saber efetivo tecido na convivncia
com a floresta, constituindo-se uma proposta de incorporao da cultura seringueira (Gonalves, 2008 p. 132).
A primeira Reserva Extrativista, a do Alto Juru, criada em 23 de janeiro de 1990, pode ser considerada
um reflexo latente dessas lutas, ela apresenta uma rea de extenso considervel, pertencendo atualmente ao
municpio de Marechal Thaumaturgo no estado do Acre, possua 506.186 hectares de florestas e rios; o
cadastramento de 1991 revelou a presena de 865 grupos domsticos, cerca de 6.000 pessoas. A Reserva
vizinha a quatro reas Indgenas e um Parque Nacional, que, somando, totalizam cerca de 1 milho e 300 mil
hectares de rea de preservao ambiental. A Reserva inclua ainda, uma rea prioritria de seringueiros e de
produo de borracha e uma rea de margem no Juru, mais voltada para a atividade agrcola e algumas
pequenas fazendas. Quando a Reserva foi criada, a primeira Associao foi transformada em Associao dos
Seringueiros e Agricultores da Reserva Extrativista do Alto Juru (ASAREAJ), que passou a representar a
populao de toda a rea. Em 1990, a Reserva pertencia ao municpio de Cruzeiro do Sul, desmembrando-se
em 1992, estando ela hoje dentro do municpio de Marechal Taumaturgo, onde se criou uma situao bastante
interessante, que a seguinte: 70% da rea de Marechal Thaumaturgo corresponde Reserva, ou seja, 2/3 da
populao do municpio est na Reserva. (FRANCO, 2000 p. 4).
Desde sua criao, a Reserva Extrativista do Alto Juru (REAJ) era mantida no s pela extrao do
ltex, as famlias que ali residiam possuam pequenas plantaes e se alimentavam da caa de animais
silvestres para sobreviverem; com o passar do tempo a atividade gomfera teve uma grande queda e assim
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

446
as famlias sentiram a necessidade de encontrar uma nova atividade produtiva para se manter na regio,
aumentando as reas de desmatamento ao longo dos anos, dentro da Reserva, atualmente a Reserva do
Alto Juru tem mais da metade de sua rea desmatada.
Dessa forma, instalaram-se em vilas, em busca de melhores condies de vida, como educao e
sade, por exemplo, a mais populosa delas a Vila Restaurao, que sofre com o aumento desenfreado de
moradores, o que ocasiona srios problemas de saneamento bsico o que deriva pssimas condies de
vida. Sendo importante destacar que com isso a degradao ambiental se intensifica, pois a agricultura e a
pecuria so atividades mais predatrias que a extrao da borracha. A falta de polticas pblicas na
Reserva caberia como um captulo a parte, pois os rgos competentes como ASAREJ, CNPT, e tantos
outros como o IBAMA no desempenharam suas funes como planejado.
ATIVIDADES ECONMICAS SUSTENTVEIS?
A dinmica de uma Reserva Extrativista muda em resposta as suas necessidades; o
enfraquecimento significativo da borracha, no mercado, gerou a necessidade diversificao dos produtosbase da economia extrativista, alguns produzindo at para o mercado, e buscando novas medidas de
sobrevivncia, j que o governo no atua junto s atividades econmicas de subsistncia dentro da
Reserva, a extrao madeireira ilegal dentro da Reserva Alto Juru, reflete o descaso, e a fragilidade na
fiscalizao.
A aglomerao populacional, ocasionada pela presso migratria desordenada sobre a Amaznia,
contribuiu no s para intensificao dos impactos ambientais, como tambm para dificuldade na
resoluo de problemas urbanos, isso significa que, o que foi planejado para a reserva, em sua essncia
esvaeceu-se diante da atuao das polticas pblicas.
Como podemos perceber, o debate sobre a sustentabilidade econmica das Reservas Extrativistas
perpassa pelo papel do Estado, tendo em vista que as medidas relativas criao de infra-estrutura,
programas de sade e educao, apoio comercializao de produtos agroextrativistas, so
responsabilidades do poder pblico, e so as maiores deficincias da Reserva. Nesse sentido, nos cabe um
questionamento, como as atividades extrativistas podem gerar o sustento das famlias dentro da Reserva,
se seus principais produtos, como a borracha, encontram fragilidade no mercado?
A resposta como j nos reportamos, est no apoio a essas culturas tradicionais; por que, o que est
sendo questionado aqui, a viabilidade da existncia dessa cultura extrativista. E pelo que podemos
perceber as mudanas na base extrativa nas Reservas da Amaznia, prev um afastamento gradativo do
sistema extrativista, em seu conceito primitivo, aproximando-se de um sistema combinado de extrativismo
e explorao agrcola e silvicultura (CAVALCANTE, 1993 p.25). No se pode controlar as prticas
predatrias, sem a ao de uma poltica pblica que tenha seriedade diante das aes institudas dentro da
Reserva. As aes do Plano de Utilizao, proposto para a reserva, caso fossem cumpridas, revelariam um
ordenamento territorial adequado, tendo em vista os subsdios que seriam institudos pelo governo;
todavia as fragilidades do cumprimento desse Plano acumulam problemas, que como so deixados de lado,
encontram apenas solues parciais.
O QUE DEFINIR UMA REA DE PRESERVAO?
As reas protegidas so chamadas pela legislao brasileira de Unidades de Conservao,
fazendo parte do sistema brasileiro de proteo ao meio ambiente, sendo controladas pelo orgo federal
ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade), compondo o sistema em 18 de julho
de 2000, atraves da Lei N9.985. A consolidao do Sistema busca a conservao da diversidade biolgica a
longo prazo, centrando-a em um eixo fundamental do processo conservacionista. Estabelece ainda a
necessria relao de complementariedade entre as diferentes categorias de unidades de conservao,
organizando-as de acordo com seus objetivos de manejo e tipos de uso:
Unidades de Proteo Integral: Estao ecolgica, Reserva biolgica, Parque nacional,
Monumento natural, Refgio de vida silvestre.
Unidades de uso sustentvel: rea de proteo ambiental, rea de relevante interesse
ecolgico, Floresta Nacional, Reserva extrativista, Reserva de fauna, Reserva de Desenvolvimento
sustentvel, Reserva particular do Patrimnio Natural RPPN, Reserva indgena.
Joo Pessoa, outubro de 2011

447
Nesse sentido, encontramos tambm trs categorias que se destacam, estas so as reas de
proteo ambiental (APA) que so voltadas para a conservao e proteo de riquezas naturais que
estejam inseridas dentro de um contexto humano, o diferencial dela a possibilidade de manuteno da
propriedade privada e do estilo de vida tradicional da regio, onde programas de proteo a vida silvestre
podem ser implantados sem haver necessidade de desapropriao de terras. Esta estratgia compatvel
com a realidade brasileira, uma vez que a falta de recursos financeiros para a desapropriao de terras
limita a implantao e consolidao de outros programas de conservao. Temos a rea de preservao
permanente (APP) de acordo com o Cdigo Florestal brasileiro, so reas
... cobertas ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos,
a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populaes humanas. (Cdigo Florestal brasileiro, 2011)

Distinguem-se das reas de Reserva Legal, outra categoria tambm definidas no mesmo Cdigo,
por no serem objeto de explorao de nenhuma natureza, como pode ocorrer no caso da Reserva Legal, a
partir de um planejamento de explorao sustentvel. Exemplos de APP so as reas marginais dos corpos
dgua (rios, crregos, lagos, reservatrios) e nascentes; reas de topo de morros e montanhas, reas em
encostas acentuadas, restingas e mangues, entre outras.
A partir disso, vemos que existem vrios tipos de reas protegidas, que estas se diferenciam umas
das outras por pequenos aspectos, como serem habitadas ou no, outras por serem exercidas nelas
atividades extrativistas sustentveis, outras por serem protegidas integralmente no sendo permitida a
presena humana, contudo o objetivo maior a preservao da rea, e de suas riquezas naturais, sendo
definido por lei a sua preservao, e cabendo aos rgos pblicos sua fiscalizao e proteo, como
patrimnios coletivos e no de privados, mesmo nos casos em que estas se estabelecem dentro de
propriedades privadas, como o caso de algumas reservas legais, que podem fundar-se em qualquer
propriedade rural, constituindo 20% de seu total, para preservao.
Como j foi dito anteriormente, as reservas extrativistas so unidades de uso sustentvel, e devem
no s priorizar a preservao dos recursos naturais, como tambm manter as formas de utilizao desses
recursos incentivando as prticas no predatrias, j que como vimos no caso da reserva extrativista do
alto Juru, praticamente impossvel, a ao humana da natureza, dentro da reserva.
PLANEJAMENTO E GESTO DA RESERVA EXTRATIVISTA DO ALTO JURU
Definidos os contornos sociais e culturais pelos seringueiros, colocou-se a necessidade de d forma
jurdica as propostas estabelecidas; e como nenhuma sociedade ou grupo social auto-suficiente, o vnculo
institucional com o Estado, inevitvel no s como regulamentao das prticas inseridas na vivncia do
grupo social, mas como uma possibilidade de dilogo no qual os pactos de regulao podem ser provados.
Podemos considerar que a gesto das Reservas Extrativistas de responsabilidade do governo federal e da
entidade de representao dos seus moradores, de preferncia uma associao, porque no caso dos sindicatos
geralmente suas bases territoriais, que so municipais, so maiores que a das Reservas (FRANCO, 2000 p. 2).
No podemos esquecer o carter ambientalista das Reservas Extrativistas, que conferiu ao IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis-, a funo de fiscalizao
sob os recursos naturais da floresta; ocorrncia que incidiu em conflito com os representantes das Resex, uma
vez que a tomada das decises podiam no ser compatveis, outra questo que os moradores tinham dvidas
em quem procurar em caso de extrema urgncia, ou mesmo a respeito de pequenas confuses. A fim de
resolver essas questes, formalizou-se um conjunto de leis para reger o uso dos recursos naturais na Reserva
Extrativista pelos moradores, o Plano de Utilizao, que consiste na formalizao das regras e deveres que
devem ser assumidos pelos moradores da reserva; ao Plano de Utilizao caberia: registrar por escrito as
formas costumeiras e j implementadas de manejo dos recursos naturais, que se haviam mostrado eficazes
no passado para manter a floresta em p e conservar as seringueiras e a caa, de modo a fixar os costumes
j estabelecidos pelas populaes tradicionais (ALMEIDA & FRANCO, 2000 p. 3).
Voltamos a nos reportar agora, ao Plano de Utilizao, tendo em vista o seu carter de
assegurar a auto-sustentabilidade dentro da Reserva. Tomando como referncia a Reserva Extrativista do Alto
Juru, podemos dizer que o Plano de utilizao surgiu com a finalidade de assegurar a regulamentao da
utilizao dos recursos naturais e dos comportamentos a serem seguidos pelos moradores. O Plano expe
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

448
tambm a relao das condutas no predatrias incorporadas cultura dos moradores, bem como as
demais condutas que devem ser seguidas, sendo que confere ao IBAMA a responsabilidade de cobrar o
compromisso dos moradores, de respeito legislao ambiental e ao mesmo tempo, cumprimento das
normas aceitas por todos.
Vale ressaltar que o surgimento da Reserva do Alto Juru, no extinguiu os problemas
enfrentados pelos moradores dessa rea; tendo em vista que o surgimento de servios bsicos como escolas,
postos de sade etc., mostraram-se precrios diante das necessidades dos moradores; quanto ao Plano de
Utilizao, podemos dizer que a execuo das prticas por ele estabelecidas no sobreviveu ao primeiro ano de
implantao da Reserva, tanto que a sua atual conjuntura, reflete o descaso das polticas pblicas.
Nesse sentido, pode-se dizer que o planejamento proposto para a reserva, que deveria assumir um
carter de rea de proteo, ou mesmo de rea protegida, dando suporte para que seus moradores tambm
pudessem, defender o seu meio de sobrevivncia, j que as reas de proteo no podem ser

sustentavelmente protegidas sem levar em considerao os interesses e comportamentos de seus


moradores; no foi eficaz, a atuao de indstrias madeireiras na regio um reflexo latente dessas
falhas. Fato que mostra que o interesse do capital privado se faz presente, onde deveriam ser
priorizados interesses coletivos.
INTEGRAO ENTRE AS ENTIDADES GESTORAS E A IMPORTNCIA DA POPULAO NA TOMADA
DAS DECISES
A gesto de uma reserva extrativista sem duvida um grande desafio, pois resultado da ao
conjunta de determinados rgos, para se entender como se d esse processo precisamos ver os caminhos
que levaram a atual forma de se gerir tais Reservas. Veremos aqui o caso especfico da Reserva Alto Juru,
e suas entidades gestoras.
Inicialmente, como j vimos ao ser criada a Reserva passou a integrar a estrutura do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBAMA, sendo ele responsvel pela
implantao, proteo e administrao da Reserva, podendo estabelecer convnios com outras
organizaes legalmente constitudas, como tambm com as cooperativas e associaes existentes nela,
isto consta no DECRETO N 98.863, de 23 de janeiro de 1990. Existindo tambm o Plano de Utilizao, que
desde sua criao era o principal documento que regia as diretrizes dos moradores da Reserva.
J em 28 de agosto de 2007, pela lei 11.516, foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservao da
Biodiversidade, que uma autarquia em regime especial, o ICMBio ligado ao Ministrio do Meio
Ambiente e faz parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Este tem como funo executar as
aes do Sistema Nacional de Unidades de Conservao, com a funo de propor, implantar, gerir,
proteger, fiscalizar e monitorar as UCs institudas pela Unio. Atuar na preservao e conservao da
biodiversidade exercer o poder de polcia ambiental para a proteo das Unidades de Conservao
federais. Essas reas so definidas para serem gerenciadas em uma parceria entre o Governo Federal,
atravs do ICMBio e pelas associaes criadas pelas populaes tradicionais extrativistas da Reserva.
A partir de 2009 o ICMBio obteve recursos para elaborar um Plano de Manejo Extrativista do Alto
Juru, este novo documento viria substituir o plano de utilizao, nele constaria as determinaes do plano
de utilizao e algumas propostas de desenvolvimento para a Reserva, e medidas para o futuro, este
deveria ser elaborado pela prpria populao cerca de 1500 famlias.
Realizaram de 160 reunies nas oitenta comunidades da Reserva, que produziram relatrios sobre
os aspectos de suas vidas, problemas e projetos, propostas de zoneamento e reflorestamento das beiras
dos rios e dos vrios pastos foram feitos, criaram projetos alternativos a pecuria que vinha gerando
conflitos nas comunidades. Foi eleito dois representantes de cada comunidade, havendo trs grandes
reunies de representantes para unir os projetos, gerando assim, um novo projeto coletivo, que serviria de
lei para todos os moradores e para todas as esferas governamentais.
Como vimos gesto da Reserva Extrativista executada a partir da integrao de
entidades gestoras que possuem a responsabilidade de gerir junto com a populao que ali reside e utilizase dos recursos naturais extrados da rea, sem dvida, em todas as tentativas de gesto coletiva de um
patrimnio pblico existiro muitas dificuldades, pois entram em conflito os interesses e vontades dos
diversos atores que compem essa gesto. Um fator primordial a ser discutido a importncia da voz que
dada as associaes de moradores da comunidade, pois estes possuem papel de destaque, por serem os
Joo Pessoa, outubro de 2011

449
principais envolvidos nessa dinmica, e que buscam o mnimo que a qualidade de vida. Qualquer
planejamento para que se torne eficaz, deve ser levada em considerao a opinio dos diversos agentes
transformadores daquele espao, s assim o planejamento corresponder demanda dos envolvidos,
neste caso, os moradores da Reserva.
S assim ser possvel uma gesto coerente com a idia inicial, que a de convivncia pacfica
entre os moradores que se comprometem a zelar pela conservao dos recursos naturais dos quais retira o
seu sustento e a rea de preservao, ou seja, o modo de vida particular dos moradores da Reserva, que
tem por objetivo principal garantir as geraes atuais e futuras o uso sustentvel dos recursos.
ESTRATGIAS QUE PODERIAM VIABILIZAR A MELHORIA NA GESTO DA RESERVA.
A soluo de muitos problemas existentes em reas de proteo, poderiam ser solucionadas
atravs da criao de estratgias que viabilizassem a gesto das reas em questo; no caso da reserva
extrativista do Alto Juru; a necessidade de integrao dos rgos gestores, com a comunidade local
indiscutvel; pois atravs do dilogo entre essas representaes, possvel perceber quais os problemas da
reserva, e uma melhor forma de solucion-los.
Como a reserva do Alto Juru, possui um histrico de descaso como bem mostramos, que refletem
nas condies atuais de moradia e desenvolvimento das famlias da reserva, assim como a entrada de
atividades ilegais como madeireiras, que contribuem para o desmatamento; seria necessrio alm da
reformulao do antigo Plano de Utilizao, como ocorreu nos ltimos anos, um vigor maior no
cumprimento de suas leis. Nesse sentido o bem coletivo seria priorizado, em detrimento do interesse
privado.
O chamado Planejamento estratgico, que tem sido muito discutido nas ltimas dcadas busca
pensar a realidade futura das aes a que se prope; nesse sentido se torna importante em planejamentos
a longo prazo; tendo em vista que alm de tentar solucionar os problemas que decorrentes na atualidade,
tambm busca solues futuras. No caso da reserva extrativista do Alto Juru, diversas formas de
planejamento foram estabelecidas, nas suas mltiplas instncias, contudo no revelaram-se muito eficazes,
a reelaboraro dessas estratgias uma tentativa de mudar a histria da reserva, a fim de resolver
possveis problemas futuros, e que de uma certa forma foram latentes no passado.
CONSIDERAES FINAIS
Vale lembrar que a criao das Reservas Extrativistas no cessou os problemas enfrentados pelas
populaes que nela vivem, pois como bem mostramos, as dificuldades se intensificaram tanto pela
ausncia de polticas pblicas responsveis, como pela ao de prticas predatrias, que surgiram em
funo das deficincias dessas polticas; ocorrncias que demandaram uma mudana na configurao da
Reserva, ocasionada pela falta de dilogo entre as unidades gestoras, ou seja, entre a populao e os
agentes responsveis pelo controle das aes na reserva.
Nesse sentido, chama-se ateno no s para a reformulao do planejamento feito para a reserva,
mas tambm para a intensificao da participao da populao, pois eles circunscrevem sua vivncia na
dimenso corprea do espao, e so os maiores interessados na preservao dos recursos naturais, j que
com eles mantm uma relao de dependncia.
Portanto a ao conjunta fundamental na formulao de prticas que viabilizem a preservao
dos recursos naturais, pois no caso da reserva, como bem colocamos praticamente impossvel uma
dissociao da populao com a natureza, ou seja, pensar em uma unidade de conservao como uma
reserva extrativista, pensar no apenas na preservao dos recursos naturais, mais na preservao de um
modo de vida, da a necessidade de aumentar a participao da populao na gesto da mesma.
REFERNCIAS
CAVALCANTE, Ormifran Pessoa. A Polmica em Torno do Conceito de Reserva Extrativista Enquanto
Atividade Econmica Sustentvel. Rio Branco, 1993. Monografia (Graduao) Graduao em Economia,
Departamento de Economia, Universidade Federal do Acre, 1993.
FRANCO, Mariana Pantoja. A Participao Comunitria na Gesto dos Recursos Naturais: O Caso da
Reserva Extrativista do Alto Juru (Estado do Acre). So Paulo: Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), 2000.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

450
____________. As Reservas Extrativistas e a Institucionalizao do Movimento Local dos
Seringueiros: O Caso do Alto Juru. Razes- Revista de Cincias Sociais e Econmicas. N 15, dezembro de
1997. p. 103 112.
FRANCO, Mariana Pantoja; ALMEIDA, Mauro W. Barbosa de. A justia local: caa e estradas de
seringa na Reserva Extrativista do Alto Juru (Segunda verso). So Paulo: Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP), 2000.
GONALVES, Carlos Walter Porto. Nos Varadouros do Mundo. Braslia: Ibama, 2003
_____________. Amaznia, Amaznias. So Paulo: Contexto, 2008.
_____________. A Territorialidade Seringueira, Geografia e Movimento Social. Rio de Janeiro,
(Universidade Federal Fluminense): Revista GEOgraphia Ano 1 N2 1999.
Ministrio do Meio Ambiente. Efetividade de Gesto das Unidades de Conservao Federais do
Brasil. Braslia, 2007.
Classificao
das
unidades
de
conservao.
Disponvel
em:
<http://www.icmbio.gov.br/biodiversidade/unidades-de-conservacao/categorias> Acesso em 10 Junho de
2011.
Decreto do IBAMA. Disponvel em: <http://www.ibama.gov.br/resex/ajurua/opdecret.htm> Acesso
em 10 Junho de 2011.
O
planejamento
estratgico.
Disponvel
em:
<http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v3_n2/o_planejamento_estrategico.pdf.>
Acesso em 10 Junho de 2011.

Joo Pessoa, outubro de 2011

451

RESERVA BIOLGICA GUARIBAS PB: UMA ALTERNATIVA PARA O ENSINO


PRTICO DA BIOGEOGRAFIA
Helena Paula de B. SILVA1; Estudante do PROTEN/ DEN/ UFPE; barrosleny@hotmail.com
Leonardo N. de Q. MACIEL; Espao Primeira Semente; Av. Caxang, 5775, sala 17. Recife -PE
lenoquema@yahoo.com.br
Patryk MELO, Estudante do PROTEN/ DEN/ UFPE; patrykmelo@hotmail.com

ABSTRACT
Teaching in Elementary Education Biogeography is strictly important, given that among the main
objectives of the National Curriculum Parameters - PCN stands out to make the students realize is integral
and transforming agent of the environment. The use of field work and classroom practice serves as a
facilitator in the teaching-learning. The objective of this research was to provide students in a class of fifth
period Degree in Geography, Federal University of Pernambuco, the discipline of Geography Teaching
Methodology, a class field in Guaribas Biological Reserve, where they could organize and prepare a
practical class with themes related to biogeography, identifying facilities and / or difficult to deal with this
content in classes of elementary school. The work was divided into three steps. The first subjects were
subdivided and performed a literature review. In second place was the class field. The third and last, an
evaluation and review were performed. As a result it was observed that students were able to deepen their
knowledge of the thematic work and reflect on them. One can consider that the field work was carried out
successfully, as it responded to the expectations of faculty and, especially, of the participants.
RESUMO
O ensino da Biogeografia no Ensino Fundamental estritamente importante, uma vez que dentre
os principais objetivos dos Parmetros Curriculares Nacionais PCN destaca-se o de fazer com que o aluno
perceba-se integrante e agente transformador do meio ambiente. A utilizao de trabalhos de campo como
aula prtica serve como instrumento facilitador no processo ensino-aprendizagem. O objetivo dessa
pesquisa foi proporcionar aos alunos de uma turma de quinto perodo de Licenciatura em Geografia da
Universidade Federal de Pernambuco, da disciplina Metodologia do Ensino da Geografia, uma aula de
campo na Reserva Biolgica Guaribas, onde eles puderam organizar e preparar uma aula prtica com temas
relacionados Biogeografia, identificando facilidades e/ou dificuldades para lidarem com este contedo
em turmas do Ensino Fundamental. O trabalho foi dividido em trs etapas. Na primeira foram subdivididos
temas e realizada reviso bibliogrfica. Na segunda foi realizada a aula de campo. Na terceira e ltima, uma
avaliao e anlise crtica foram realizadas. Como resultados foi possvel observar que os alunos puderam
aprofundar seus conhecimentos acerca das temticas trabalhadas e refletir sobre as mesmas. Pode-se
considerar que o trabalho de campo foi desenvolvido com sucesso, pois atendeu s expectativas dos
ministrantes e, principalmente, dos participantes.
Palavras-chaves: Biogeografia; Reserva Biolgica Guaribas; Aula de campo.
INTRODUO
A biogeografia o estudo da distribuio dos organismos sobre a Terra e as causas que levam a tal
distribuio, a qual est relacionada a condies geomorfolgicas e climticas. Relaciona-se com outras
disciplinas, como a fisiologia, zoologia, ecologia, climatologia, paleontologia, evoluo e gentica. Por sua
vez, a biogeografia divide-se em reas, como a fitogeografia (distribuio de plantas) e a zoogeografia
(distribuio de animais); e se subdivide em ambientes terrestre e marinho (RICKLEFS, 2001).
Para o ensino Fundamental os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), caderno de Geografia,
sugerem que o ensino da Biogeografia seja realizado no Terceiro Ciclo do ensino Fundamental (antigas 5 e
6 sries), onde o tema o estudo da natureza e sua importncia para o homem abordado, fazendo com
que os alunos discutam questes referentes a natureza e os problemas socioambientais.
Helena Silva, foi Professora Auxiliar Substituta do Departamento de Cincias Geogrficas da UFPE, no
perodo de Janeiro de 2007 a Janeiro de 2009. Ministrando a Disciplina: Metodologia do Ensino da Geografia Fsica.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

452
Porm no apenas neste ciclo, mais em todo o Ensino Fundamental, o aluno vivencia a
biogeografia. Uma vez que, um dos objetivos do PCN fazer com que o aluno perceba-se como integrante
e agente transformador do meio ambiente, identificando seus elementos e suas interaes, e ainda
entendam os processos que determinam a ocupao do solo e as demandas por recursos naturais (BRASIL,
1998).
A aula de campo uma ferramenta de essencial importncia para o professor de Geografia. A
atividade a campo propicia a este profissional demonstrar na prtica a teoria apresentada na sala de aula,
pois por meio das quais o professor percebe os fenmenos com que deseja trabalhar (LAUTENSCHLAGER,
et al 2008).
Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi proporcionar aos alunos de uma turma de quinto
perodo de Licenciatura em Geografia da UFPE, da disciplina Metodologia do Ensino da Geografia, um maior
contato com temas relacionados Biogeografia, proporcionando a esses futuros professores uma aula
prtica, na qual eles identificariam facilidades e/ou dificuldades para lidarem com este contedo em
turmas de Ensino fundamental, assim como os procedimentos a serem adotados a os objetivos a serem
alcanados.
MATERIAS E MTODOS
Atravs do trabalho de campo possvel identificar e localizar diversos elementos constituintes da
paisagem, sendo esta concebida como o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as
heranas que representam as sucessivas relaes localizadas entre o homem e a natureza (SANTOS, 1997).
O local escolhido para a realizao deste trabalho foi a Reserva Biolgica Guaribas (figura 1),
localizada entre os municpios de Mamanguape e Rio Tinto na Paraba. A Reserva possui,
aproximadamente, 4.321 ha (IBAMA 1995) e est dividida em trs reas distintas: rea I, localizada em
Mamanguape, com superfcie de 616 ha, constituda por manchas de cerrado; rea II, tambm situada em
Mamanguape, com 3.378 ha, onde a cobertura vegetal predominante a mata atlntica, e rea III,
localizada em Rio Tinto, com superfcie de 327 ha que, embora seja a menor rea, apresenta trechos bem
conservados da floresta nativa e reas de tabuleiros (PEREIRA; BARBOSA, 2004).
Apresenta o clima tipo As de Kppen, quente e mido com temperatura mxima anual em torno
de 26C e precipitao acima de 1700 mm anuais; a estao chuvosa tem incio em fevereiro e se prolonga
at julho e a estao seca ocorre durante os meses de outubro, novembro e dezembro (ENDRES et al.
2007).
O relevo representado pela formao de Tabuleiros Costeiros. A altitude mxima registrada de
204m, acima da mdia da regio. O Grupo Barreiras indiviso formado por sedimentos areno-argilosos,
com intercalaes slticas e conglomerticas, que ocorrem formando tabuleiros ao longo de todo o litoral
Paraibano. Esses tabuleiros possuem suaves inclinaes em direo ao mar e so cortados por sistemas de
drenagens, geralmente sem controle estrutural (IBAMA, 2006).

Figura 1: Cartograma de localizao da Reserva Biolgica Guaribas. Fonte: Pereira; Barbosa, 2004.

Joo Pessoa, outubro de 2011

453
Para a realizao da presente pesquisa foram adotados os seguintes procedimentos:
Pesquisa de gabinete
Nesta etapa inicial, foi sugerido a turma de Licenciatura em Geografia que se dividissem em grupos
e escolhessem temas referentes ao ensino da Biogeografia. A partir desta escolha foram realizadas
pesquisas bibliografias sobre o local a ser visitado e o tema escolhido.
Os temas escolhidos pelos graduandos foram: O bioma Cerrado (tabuleiro), bioma Mata Atlntica,
ciclagem de nutrientes, biodiversidade e por ltimo influencia da ao antrpica ao meio ambiente. Aps
essa diviso os alunos foram orientados a prepararem aulas prticas para serem apresentados aos colegas
na aula prtica
Durante a preparao da aula expositiva o aluno de Licenciatura se depara com a perspectiva de
trabalhar de forma investigativa e com a aula prtica ele ultrapassa a viso da prtica pedaggica como
simples transmisso de um conhecimento pronto (PONTUSCHIKA, et al, 2009). Assim, considerando que
investigar pesquisar, a pesquisa pode ser considerada um processo aglutinador de reflexo e crtica, ou
seja, uma facilitadora da prtica crtico-reflexiva (LUDKE, 2001).
Aula Prtica
Esta etapa foi realizada na Reserva Biolgica Guaribas. Os alunos tiveram que expor suas aulas
preparadas sobre os temas escolhidos aos colegas de turma. Cada grupo apresentou sua aula em um ponto
da Reserva, visto o fato do campo propiciar aos estudantes um senso de integrao dos processos da
natureza e a percepo desta como um todo, e no suas partes isoladas (KERNER; CARPENTER, 1986). Os
integrantes dos grupos que assistiam aula faziam pelo menos uma pergunta ao grupo expositor, trazendo
dessa forma um maior dinamismo s aulas prticas.
Avaliao
Aps o retorno a sala de aula, em aula posterior, foi realizada uma avaliao em grupo sobre a aula
prtica. A avaliao ocorreu em forma e debate onde os alunos puderam expor suas maiores dificuldades
na elaborao e exposio das aulas prticas, bem como uma anlise crtica das metodologias utilizadas
pelos outros expositores.
RESULTADOS E DISCUSSO
essencial a motivao do aluno para a elaborao de projeto prprio de ensino e aprendizagem
em Geografia que envolva proposta terico-prtica, demonstrando assim, domnio terico-metdolgico
(PONTUSCHIKA, et al, 2009).
Durante a conduo da aula prtica os alunos, de maneira geral, mostraram domnio e
desenvolveram a contento a explanao de conceitos como paisagem, espao, ecossistema, biota, clima,
etc. demonstrando tambm a influncia que no s os aspectos naturais, mas tambm os aspectos
humanos, exercem sobre a dinmica espacial dos pontos visitados.
A figura 2, bioma de Cerrado (Tabuleiro), representa o primeiro ponto de parada. Neste os alunos
explanaram sobre a importncia econmica deste bioma, distribuio no Brasil, formao geomorfolgica,
caractersticas do solo e da vegetao, influncia do fogo e desmatamento.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

454

Figura 2: Bioma de Cerrado (Tabuleiro). Foto: Helena Silva

O prximo ponto de parada foi no bioma Mata Atlntica (figura 3), onde foram abordados temas
como: recursos hdricos e geomorfologia local e sua funo como reguladora do clima, temperatura,
umidade e chuvas, bem como sua biodiversidade em espcies animais e vegetais.

Figura 3: Bioma Mata Atlntica. Foto: Helena Silva


Para o tema ciclagem de nutrientes (figura 4) o local escolhido foi uma rea de transio entre os
biomas Cerrado e Mata Atlntica, assim os alunos tiveram um maior campo de ao para abordar o tema
em questo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

455

Figura 4: Regio de transio entre os biomas Cerrado e Mata Atlntica. Tema: Ciclagem de
Nutrientes. Foto: Helena Silva
Neste terceiro ponto, os alunos abordaram sobre a importncia do clima e do relevo na lixiviao
dos nutrientes do solo, papel da serrapilheira como principal via de retorno de nutrientes ao solo e
diferena na absoro de nutrientes por solo arenoso e argiloso.
Sobre a biodiversidade, o grupo escolheu fazer a parada, com auxilio de um guia local, prximo a
um formigueiro (figura 5), onde foi comentado sobre a influncia das formigas em diferentes ecossistemas,
bem como sua sociedade e organizao hierrquica, fato que gerou muitas perguntas entre os colegas.

Figura 5: Formigueiro. Local de explanao sobre biodiversidade. . Foto: Helena Silva

Na quinta, e ltima parada, o tema influncia da ao antrpica ao meio ambiente foi explanado
sobre a influncia da comunidade ao entorno da Reserva, sua utilizao sustentvel, bem como as prticas
de desmatamento. Tambm foi bordado o tema extino e readaptao de animais natureza, uma vez
que um dos objetivos da Reserva o restabelecimento do macaco Guaribas na rea preservada.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

456

Figura 6: Macaco Guaribas. Local de explanao sobre a influncia da ao antrpica ao meio


ambiente. Foto: Helena Silva
Foi possvel observar que diante da possibilidade de confrontar a parte terica com os
componentes observados em campo, os alunos puderam aprofundar seus conhecimentos acerca das
temticas trabalhadas e refletir sobre as mesmas.
O professor deve fazer com que o ensino de geografia parta do conhecido para o desconhecido, do
concreto para o abstrato, do prximo para o mais distante (TOMITA, 1999), dessa forma, o aluno capaz de
estudar a realidade a partir de reas prximas a ele, propondo assim um exerccio de reflexo (CARVALHO
et al., 2009).
Dessa forma, alm de dominar contedos, importante que o professor desenvolva a
capacidade de utiliz-los como instrumentos para desvendar e compreender a realidade do mundo, dando
sentido e significado aprendizagem (PONTUSCHIKA, et al., 2009). Para Cavalcanti (1998), mais importante
do que as aulas e a transmisso de contedos, abrir espao para que o aluno trabalhe com temas de
pesquisa, os quais lhe permitam desenvolver a capacidade de elaborao prpria.
CONSIDERAES FINAIS
Com base nessa experincia apresentada pode-se considerar que o trabalho de campo foi
desenvolvido com sucesso, pois atendeu s expectativas dos ministrantes e, principalmente, dos
participantes que manifestaram suas aprovaes por meio de comentrios e de tomadas de atitude
durante e aps a atividade.
REFERENCIAS
BRASIL. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros curriculares nacionais : Geografia /
Secretaria de Educao Fundamental. Braslia : MEC / SEF, 1998. 147 p.
CARVALHO, B. C., SANTOS, A. H. B.; OLIVEIRA, D. Trabalho de campo como recurso didtico no
ensino de geografia fsica 4 Encontro de Gegrafos da America Latina. Montevideu, Uruguai, 2009.
CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construo de conhecimentos. 6 ed. CAMPINAS: Papirus,
1998.
ENDRES, A. A.; CREO-DUARTE A. J.; HERNNDEZ, M. I. M. Diversidade de Scarabaeidae s. str.
(Coleoptera) da Reserva Biolgica Guaribas, Mamanguape, Paraba, Brasil: uma comparao entre Mata
Atlntica e Tabuleiro Nordestino. Revista Brasileira de Entomologia 51(1): 67-71, 2007.
IBAMA . Plano operativo de preveno e combate aos incndios florestais na Reserva Biolgica
Guaribas, Mamanguape PB. 17 p. 2006.
IBAMA. Plano de ao emergencial: Reserva Biolgica Guaribas. Ministrio do Meio Ambiente e dos
Recursos Hdricos e da Amaznia Legal. Braslia, IBAMA, 66 p. 1995.
KERN, E. L.; CARPENTER, J. R. Effect of field activities on student learning. J. Educ. 34:180-183. 1986.
Joo Pessoa, outubro de 2011

457
LAUTENSCHLAGER. C.; KAVALES, R. A. LUDKA, V. M.; MEIRA, R. P. S. Geografia e prtica de campo.
8 Mostra de ps-graduao. FAFIUV, Unio da Vitria -PR. 2008. 9p.
LUDKE, M. O professor e a pesquisa: Papirus, 2001
PEREIRA, M. S.; BARBOSA, M. R. V. A famlia Rubiaceae na Reserva Biolgica Guaribas, Paraba,
Brasil. Subfamlias Antirheoideae, Cinchonoideae e Ixoroideae1. Acta bot. bras. 18(2): 305-318. 2004
PONTUSCHKA, N. N.; PAGANELLI, T. L.; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender geografia. 3 ed. So
Paulo: Cortez, 2009. 381p.
RICKLEFS, R. Economia da natureza. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 503p.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espao. Tcnica e Tempo. Razo e Emoo. 2. ed.So Paulo:
Hucitec, l997.
TOMITA, L. M. S. Trabalho de campo como instrumento de ensino em Geografia. Geografia,
Londrina 8 (1): 13-15. 1999.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

458

AS RESTRIES IMPOSTAS PELA LEGISLAO AMBIENTAL NO ENTORNO


DO PARQUE ESTADUAL DO BIRIBIRI DIAMANTINA/MG
Herbert Amaro Aurlio SOUZA
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - herbert-amaro@hotmail.com - Estudante
Nau Gonalves BULHES
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - nauegb@gmail.com - Estudante
Orientadora:
Raquel Faria SCALCO
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - raquelscalco@hotmail.com Profissional

RESUMO
O Parque Estadual do Biribiri (PEBI) est localizado na cidade de Diamantina/MG e, de acordo com
a legislao vigente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), trata-se de uma Unidade de
Conservao de Proteo Integral, portanto, sofre restries quanto ao uso dos recursos naturais e no
permite a existncia de populaes humanas em seu interior. O entorno do Parque denominado Zona de
Amortecimento e tambm passivo de restries, no to rigorosas, porm que causam impactos nas
comunidades inseridas nesse territrio. Assim, esta pesquisa tem por objetivo compreender e explicitar as
principais restries impostas s comunidades que vivem no entorno do Parque Estadual do Biribiri em
funo da Legislao Ambiental vigente e compreender como estas comunidades reagem imposio
destas leis. Para tanto, a metodologia adotada consiste em pesquisas bibliogrficas, pesquisa de gabinete e
observao participativa, por meio da realizao de oficinas em quatro comunidades do entorno do Parque
Estadual do Biribiri: Pinheiros, Maria Nunes, Cidade Nova e Mendanha. Estas oficinas tm por objetivo
esclarecer dvidas acerca da legislao ambiental pertinente, demonstrar formas de participao na gesto
da Unidade de Conservao (UC) e alternativas geradas pelo turismo, para assim informar-lhes sobre seus
direitos, para que estes no sejam negligenciados, alm de incentivar um maior engajamento das
comunidades envolvidas com o propsito da preservao ambiental, visto que quando essas comunidades
observam os benefcios gerados pela criao de unidades elas se tornam co-responsveis pela preservao
da rea.
Palavras-chaves: Legislao Ambiental; Unidades de Conservao; Parque Estadual do Biribiri.
INTRODUO
A regio de Diamantina, localizada no Alto Vale do Jequitinhonha repleta de belezas naturais e
grande diversidade biolgica, inserida em uma extensa cadeia de montanhas, denominada Serra do
Espinhao, que foi reconhecida pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura
(UNESCO) como Reserva da Biosfera, em 2005. nesse contexto que se encontra o Parque Estadual do
Biribiri (PEBI), possuindo formaes vegetais predominantes savnicas e campestres, sendo tambm
encontradas formaes florestais como Cerrado e a Floresta Estacional Semidecidual (IEF, 2004).
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), Lei n 9.985/2000, os
Parques so Unidades de Conservao de Proteo Integral e so criados com o seguinte objetivo:
O Parque Nacional tem como objetivo bsico a preservao de ecossistemas naturais de grande
relevncia ecolgica e beleza cnica, possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento
de atividades de educao e interpretao ambiental, de recreao em contato com a natureza e de turismo
ecolgico. (Lei n 9.985, 2000, Art. 11)

O PEBI foi criado em setembro de 1998, atravs do Decreto n 39.909/98. Nesta Unidade de
Conservao (UC), bem como outras Unidades de Proteo Integral, no permitido o uso direto dos
recursos naturais, nem tampouco a existncia de populaes humanas em seu interior. Estas recebem
indenizao e devem ser desapropriadas. Alm disso, as comunidades que vivem no entorno dessas reas
so impedidas de realizarem uma srie de atividades tradicionalmente desenvolvidas nesta regio, como a
extrao vegetal, criao de gado e extrao de minerais. Estas atividades foram proibidas de serem
realizadas no interior do Parque e em sua Zona de Amortecimento que definida no artigo 2 do SNUC
como o entorno de uma unidade de conservao, onde as atividades humanas esto sujeitas a normas e
restries especficas, com o propsito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. Essa poro
Joo Pessoa, outubro de 2011

459
limtrofe do Parque restringe as atividades humanas ali desenvolvidas para que haja uma minimizao dos
impactos negativos sobre a unidade advindos do efeito de borda82.
Para Diegues (2000), o impacto para as populaes que vivem no entorno de Unidades de
Conservao de Proteo Integral grande, pois seus modos de vida dependem dos ciclos e recursos
naturais provenientes do Parque. Ou seja, a comunidade fica com o nus da criao do Parque, enquanto a
populao urbana e os turistas ficam com o bnus.
Alm das restries impostas pela criao da UC, estas comunidades tambm so cerceadas do
desenvolvimento de atividades tradicionais, em funo da legislao ambiental vigente, como o Cdigo
Florestal, a Lei de Crimes Ambientais, a Legislao sobre rea de Preservao Permanente (APP) e a Poltica
Nacional de Recursos Hdricos.
Devido a tantas restries, a grande maioria das pessoas que vivem no entorno desta rea
protegida no compreende a criao do Parque como algo positivo. De acordo com Silva (2004, p.677) as
populaes humanas sujeitas a intensas presses ecolgicas e econmicas, e com alto nvel de tenso
biossocial estaro sujeitas a desenvolver relaes antagnicas com as reas protegidas, que podem ser
vistas por elas como impedimento ao seu desenvolvimento.
Assim, esta pesquisa tem como um de seus objetivos compreender e explicitar as principais
restries impostas s comunidades que vivem no entorno do Parque Estadual do Biribiri em funo da
Legislao Ambiental e compreender como estas comunidades reagem imposio destas leis.
Para tanto, sero realizadas pesquisas bibliogrficas sobre legislao ambiental incidente na rea,
pesquisa de gabinete em rgos relacionados ao tema, e observao participativa em oficinas educativas
sobre legislao ambiental com as comunidades do entorno do Parque, sendo elas: Pinheiros, Mendanha,
Cidade Nova e Maria Nunes. A finalidade das oficinas tentar minimizar os conflitos existentes entre essas
comunidades e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), rgo gestor do Parque e possibilitar o acesso aos
conhecimentos sobre legislao ambiental, bem como demonstrar as formas de participao na gesto,
visando garantia dos direitos dessas comunidades. Dessa forma, as populaes podero exercer
participao ativa nos conselhos, conhecer os rgos responsveis pela questo ambiental em Diamantina,
bem como fazer valer seus direitos de cidados. A partir do momento em que as comunidades conhecem
melhor seus direitos, exercem a participao ativa nos conselhos e percebem alguns benefcios advindos
dessas leis, as contribuies para conservao dos recursos naturais se tornam mais efetivas.
METODOS E TCNICAS DE PESQUISA
O presente artigo fruto de um trabalho mais amplo, que consiste na realizao de um Projeto de
Extenso do Curso de Turismo da Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri.
O mtodo a ser utilizado nesta pesquisa o hipottico-dedutivo, partindo-se de um
questionamento, que permite a formulao de hipteses e, pelo processo dedutivo, testa-se a ocorrncia
dos fenmenos, confirmando ou refutando as hipteses (GIL, 1994). Parte-se do questionamento de que as
comunidades do entorno de UC do tipo Integral, e mais especificamente as de categoria Parque, sofrem
restries oriundas da legislao ambiental, e isso impede que essas populaes desenvolvam uma srie de
atividades antes realizadas.
O entorno do Parque Estadual foi escolhido como objeto de estudo em funo de sua proximidade
em relao ao ncleo urbano de Diamantina, o que facilita os trabalhos de campo. Alm disso, ressalta-se o
fato de que estas comunidades tm pouco acesso a este tipo de conhecimento e so constantemente
afetadas pela legislao ambiental incidente na rea. As comunidades onde os trabalhos esto sendo
desenvolvidos so: Pinheiros, Mendanha, Cidade Nova e Maria Nunes. Assim, o presente trabalho
caracteriza-se como um estudo de caso.
Para a realizao deste trabalho, foram desenvolvidas as seguintes etapas metodolgicas:
Pesquisa bibliogrfica para embasamento terico sobre legislao ambiental incidente na rea,
conflitos ambientais em Unidades de Conservao e participao da comunidade na gesto de UCs.

82

O efeito de borda consiste nas modificaes dos aspectos fsicos, qumicos e biolgicos observadas em
reas de contato entre fragmentos de rea preservadas e o seu entorno e caracteriza-se pelos efeitos negativos sobre
a preservao das reas limtrofes de Unidades de Conservao.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

460
Pesquisa de gabinete em rgos relacionados ao tema de estudo com o objetivo de conhecer
estudos de caso semelhantes realidade analisada. Foram pesquisados rgos como Instituto Estadual de
Florestas (IEF), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Instituto Chico Mendes
de Biodiversidade (ICMBio), Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Empresa de Assistncia Tcnica
Extenso Rural (EMATER), Centro Vocacional Tecnolgico Chica da Silva (CVT), Instituto de
Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (IDENE), dentre outros.
Trabalhos de campo para conhecimento da realidade local, para o entendimento dos problemas
pontuais da comunidade e identificao de atores chave nas localidades envolvidas;
Observao participativa, por meio do desenvolvimento de oficinas educativas acerca da legislao
ambiental com as comunidades do entorno do Parque Estadual do Biribiri. Estas oficinas tm como pblico
moradores do entorno do Parque e que tiveram vrias atividades cerceadas pela criao do Parque e por
outras leis ambientais. Por meio das oficinas foi possvel conhecer as restries impostas pela Legislao
Ambiental, bem como identificar as principais dvidas das comunidades quanto incidncia das leis no
entorno de Unidades de Conservao.
RESULTADOS E DISCUSSES
Legislao Ambiental Brasileira
A legislao ambiental brasileira uma das mais rigorosas do mundo, porm o fato do pas se
categorizar como um pas emergente trs uma srie de consequncias como a falta de fiscalizao,
escassez de recursos e de mo-de-obra para monitorar a utilizao dos recursos naturais, bem como
impunidade para os grandes transgressores da legislao vigente.
As leis que regulam o uso do meio ambiente brasileiro e que incidem sobre a realidade analisada
so: o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), Lei n 9.985/2000, o Cdigo Florestal, Lei n
4.771/1965, a Lei de Crimes Ambientais, Lei n 9.605/1998, Poltica Nacional de Recursos Hdricos, Lei n
9.433/1997 e a Resoluo do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) sobre APP, n 303/2002,
entre outras.
O entendimento da legislao brasileira de grande importncia a qualquer cidado,
principalmente aos cidados que vivem situaes conflituosas como o caso das comunidades que
habitam o entorno de unidades de conservao, esse grupo de pessoas tm na legislao um apoio s suas
decises, portanto necessrio o entendimento para que suas aes sejam efetuadas dentro do que
permite a lei. A proposio de esclarecimento e difuso do conhecimento acerca da legislao brasileira
um quesito previsto na prpria legislao ambiental.
Parte-se do pressuposto de que se as populaes residentes no entorno das unidades de
conservao possussem conhecimento, mesmo que geral, da legislao ambiental brasileira, elas poderiam
compreender a importncia da criao das unidades de conservao, os motivos que levam criao das
Reservas Legais e APPs, contribuindo, assim para a conservao do meio ambiente no qual esto inseridos.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservao
A Lei n 9.985 de 12 de julho de 2000 foi criada para regulamentar o artigo 225 da Constituio
Brasileira e instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservao.
A Constituio diz que todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o
dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. (BRASIL, 1988, Art. 225).
Essa lei trata da utilizao dos recursos ambientais dentro e fora das Unidades de Conservao, que
definida pelo SNUC como:
Espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas
naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e limites
definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo. (Lei n
9.985, 2000, Art. 2)

O objetivo do SNUC contempla questes relacionadas preservao e conservao do ambiente


natural e valorizao da cultura das populaes tradicionais. Para isso, o SNUC define dois grandes grupos
de Unidades de Conservao: as de uso sustentvel, que tm como objetivo bsico compatibilizar a
conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos naturais; e as unidades de
Joo Pessoa, outubro de 2011

461
conservao de proteo integral, que objetiva preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto
dos seus recursos naturais.
As unidades de uso sustentvel de dividem em rea de Proteo Ambiental, rea de Relevante
Interesse Ecolgico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva da Fauna, Reserva do Desenvolvimento
Sustentvel, Reserva Particular do Patrimnio Natural
J o grupo de Unidades de Conservao de proteo integral se divide nas seguintes categorias:
Estao Ecolgica, Reserva Biolgica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refgio da Vida Silvestre.
A Unidade de Conservao foco deste trabalho, como j citado anteriormente da categoria
Parque, que se caracteriza pela posse e domnio pblicos, podendo ser criado pelo municpio, estado ou
pelo pas, possuindo, respectivamente, as seguintes nomenclaturas: Parque Natural Municipal, Parque
Estadual e Parque Nacional. Por ser tambm de domnio pblico no permitida a moradia em seu
territrio, devendo desapropriar e indenizar as famlias que residam na rea at a sua criao.
A criao das unidades de conservao deve seguir as normas estabelecidas na Lei do SNUC, sendo
uma delas a de fornecer informaes adequadas e inteligveis populao local e a outras partes
interessadas (Lei n 9.985, 2000, Art. 22). Outra imposio que as unidades de conservao, exceto rea
de Proteo Ambiental e Reserva Particular do Patrimnio Natural, devem possuir uma zona de
amortecimento e, quando conveniente, corredores ecolgicos (Lei n 9.985, 2000, Art. 25).
A parte externa que margeia as unidades de conservao so chamadas de Zonas de
Amortecimento. Nessas reas a legislao mais permissiva do que no interior das UCs, permitindo a
permanncia de moradores.
Os limites das zonas de amortecimento podem ser definidos na criao da Unidade de Conservao
ou posteriormente por meio de seu Plano de Manejo, documento de gesto da unidade que contm as
normas de uso do solo e dos recursos naturais.
As populaes residentes nas Zonas de Amortecimento desenvolveram formas de apropriao
comunal dos espaos e recursos naturais (DIEGUES, 2000 p.11), ou seja, essa populao desenvolveu toda
sua subsistncia associada ao usufruto desses recursos, que na maioria das vezes constituem a principal
fonte de alimentao e de renda dessa populao. De acordo com o mesmo autor, as comunidades que
vivem no entorno dessas reas desenvolvem formas de uso da terra e dos recursos que respeitam o meio
ambiente, e possuem lgica de apropriao dos recursos naturais muito diferentes das desenvolvidas pelas
populaes urbano-industriais.
A partir dessa lgica emergem inmeros problemas quando observamos a criao das Unidades de
Conservao de Proteo Integral, que priorizam a manuteno dos ecossistemas livres de alteraes
causadas por interferncia humana, admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais (Lei n
9.985, 2000, Art. 2). Estas UCs no permitem a existncia de populaes em seu interior e muitas vezes as
famlias desapropriadas so realocadas em reas limtrofes s Unidades de Conservao.
Antnio Carlos Diegues (2000) critica o sistema de reas protegidas do Brasil por consider-lo um
sistema fechado, isolado da realidade, como ilhas de conservao em meio ao mar de degradao. Desta
forma, o autor acredita que deveria haver uma mudana na forma de relacionamento entre homem e
natureza, que permitisse um desenvolvimento menos predatrio.
Brito (2000) concorda com Diegues e afirma que, da forma como feita a implantao e gesto das
Unidades de Conservao, elas acabam sendo consideradas corpos estranhos em meio ao tecido da
paisagem regional, principalmente por excluir as populaes locais do processo, o que acaba contribuindo
para a gerao de resistncia e posturas de desconfiana em relao aos administradores das reas. Para
ela, o objetivo dessas unidades deve ser o de promover e no o de coibir, como tem sido feito no Brasil
at hoje (BRITO, 2000, p. 214).
Desta forma, grande parte dos conflitos ambientais so causados pela falta de conhecimento da
legislao que regula essas reas e da falta de participao das comunidades na criao e manuteno das
unidades de conservao. As populaes no conhecem as leis e apenas so punidas e advertidas quando a
infringem. Elas tambm no tm contato e nem acessos aos rgos responsveis pela gesto dessas
unidades, criando uma relao conflituosa entre a comunidade e o Estado.
Pelo fato das populaes estarem inseridas no interior do PEBI, em seu entorno e em sua Zona de
Amortecimento de extrema importncia que elas possuam conhecimento sobre o SNUC, suas categorias
de manejo e sobre as restries impostas pela criao das Unidades de Conservao, pois o SNUC se
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

462
caracteriza como principal instrumento de auxlio para que estas populaes compreendam as restries as
quais esto submetidas e percebam que o nus gerado com a criao do Parque pode ser superado com o
bnus de uma rea ambiental preservada e os benefcios que isso pode gerar.
O Cdigo Florestal Brasileiro
O cdigo florestal foi estabelecido pela Lei n 4.771 no dia 15 de setembro de 1965. Aps essa data
o projeto sofreu diversas modificaes e atualmente um novo Cdigo Florestal est sendo analisado pelos
Senadores. Porm, ser tratada neste artigo a lei em vigor que um conjunto de regras sobre a explorao
florestal a questo das reservas legais, que variam de acordo com o bioma onde a propriedade rural esta
inserida, alm das Resolues do CONAMA sobre rea de Preservao Permanente. Esses trs termos so
conceituados na lei como:
Reserva Legal:
rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao
permanente, necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos
ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e flora nativas. (Lei n 4.771,
1965, Art. 2)

Pequena propriedade rural ou posse rural familiar:


Aquela explorada mediante o trabalho pessoal do proprietrio ou posseiro e de sua famlia, admitida
a ajuda eventual de terceiro e cuja renda bruta seja proveniente, no mnimo, em oitenta por cento, de
atividade agroflorestal ou do extrativismo, cuja rea no supere [...] trinta hectares, se localizada em
qualquer outra regio do Pas. (Lei n 4.771, 1965, Art. 2)

rea de preservao permanente:

rea protegida nos termos dos arts. 2 e 3 desta Lei, coberta ou no por vegetao nativa, com a
funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o
fluxo gnico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas. (Lei n 4.771,
1965, Art. 2)

A demarcao da Reserva Legal especfica para cada tipo de bioma, sendo que na Amazonia Legal
deve ser reservada 80% da propriedade se a vegetao for de floresta, 35% se for na vegetao de cerrado
e 20% se estiver em reas de Campos Gerais. Nas demais regies do pas, deve ser reservado 20% da
propriedade rural a ttulo de Reserva Legal.
J as APPs so reas tambm dentro da propriedade rural onde a vegetao no deve ser retirada
visando garantir a conservao dos recursos naturais. A retirada de sua vegetao s pode ser feita com
autorizao e desde que se trate de interesse pblico. Os tipos de APPs mais comuns e que interferem
diretamente na realidade analisada so: APPs ao longo das margens dos rios (varia de acordo com a largura
do rio possuindo uma faixa mnima de 30 metros); ao redor de nascentes ou olhos dgua (raio de 50 m);
em topos de morros e montanhas (2/3 da altura mnima); em encostas ngremes (reas com declividade
superior 45).
O conhecimento acerca do Cdigo Florestal possibilita o entendimento sobre as reas Preservao
Permanente supracitadas, que so freqentemente incidentes na regio pelas caractersticas da geografia
montanhosa do Parque e de seu entorno.
Nesse sentido, as oficinas tem o objetivo de esclarecer dvidas cotidianas, como o plantio de hortas
na beira de rios e retirada de vegetao nativa, formas de autorizao de corte de rvores, dentre outras.
Assim, possvel que estas comunidades compreendam a importncia das restries no uso dos recursos
florestais, bem como desenvolvam prticas rurais que estejam de acordo com a legislao ambiental
vigente na rea.
A Lei de Crimes Ambientais
A Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 ou, Lei de Crimes Ambientais como tambm conhecida,
dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente, e d outras providncias (Lei n 9.605, 1998).
As populaes que vivem no entorno de unidades sofrem inmeros conflitos com rgos gestores e
fiscalizadores, no caso especfico do Parque Estadual do Biribiri as maiores ocorrncias so de extrao
vegetal (principalmente madeira e espcies de sempre-vivas) e recursos minerais, alm da prtica de
Joo Pessoa, outubro de 2011

463
queimadas e caa a animais. Estas prticas so tradicionalmente desenvolvidas pelas populaes residentes
no entorno do Parque, como forma de subsistncia e complemento de renda familiar. Aps a criao do
Parque, a fiscalizao aumentou consideravelmente e o que era uma prtica tradicional, passou a ser
considerado crime ambiental.
Diegues tece o seguinte comentrio acerca da utilizao dos recursos naturais por essas
populaes:
Estas populaes desenvolveram modos de vida particulares que envolvem grande dependncia dos
ciclos naturais, conhecimento profundo dos ciclos biolgicos e dos recursos naturais, tecnologias
patrimoniais, simbologias, mitos e at uma linguagem especfica, com sotaques inmeras palavras de origem
indgena e negra. (DIEGUES, 2000 p.14)

Dessa forma, o esclarecimento a respeito da lei de crimes ambientais representa para as


populaes do entorno do PEBI um conhecimento sobre os motivos que levaram restrio de uma srie
de atividades econmicas por eles desenvolvidas e as punies cabveis para os infratores, possibilitando
uma diminuio dos conflitos gerados entre os rgos fiscalizadores e populao residente do entorno.
A Poltica Nacional de Recursos Hdricos
Os recursos hdricos, at o surgimento da Poltica Nacional de Recursos Hdricos (Lei n 9.433/97),
eram vistos como algo infinito, a gua era considerada um recurso natural renovvel e ilimitado. A partir da
criao desta Lei, a gua passa a ser considerada um bem de domnio pblico, um recurso natural limitado,
dotado de valor econmico, considerando a bacia hidrogrfica como unidade de planejamento e cuja
gesto deve ocorrer de forma descentralizada e sempre considerando o seu uso mltiplo.
O Parque Estadual do Biribiri est inserido na Bacia Hidrogrfica do Rio Jequitinhonha, e uma
regio extremamente rica em nascentes e cursos dgua. Dessa forma, as populaes do entorno da
Unidade de Conservao precisam ser detentoras de conhecimento especfico adequado para que elas
mantenham os recursos hdricos preservados, visto que um dos objetivos dessa lei assegurar atual e s
futuras geraes a necessria disponibilidade de gua, em padres de qualidade adequados aos respectivos
usos (Lei n 9.433, 1997, Art. 2)
A Poltica Nacional de Recursos Hdricos herdou da constituio de 1988 uma gesto participativa e
descentralizada. Tal fato demonstra uma necessidade de percepo pelas comunidades do entorno acerca
da importncia de sua participao nos comits de bacia hidrogrfica, pois esses ambientes existem para
que suas demandas sejam discutidas, para que suas dvidas sejam esclarecidas fazendo desse ambiente
um local de participao efetiva da populao local.
As restries impostas pela Legislao Ambiental incidente no entorno do Parque Estadual do
Biribiri
A criao de uma Unidade de Conservao gera inmeros impactos na vida das populaes que
residem tanto em seu interior quanto no entorno, pois as atividades humanas esto sujeitas a normas e
restries especficas do uso dos recursos naturais, a fim de viabilizar a conservao da biodiversidade e
dos ecossistemas existentes nessas reas. Santilli (2004) analisa essas unidades de conservao da seguinte
forma:
Um dos questionamentos ticos que se faz em relao criao de unidades de conservao diz
respeito s discriminaes sociais engendradas por polticas de conservao que desconsideram o papel das
populaes tradicionais na conservao de seus habitats naturais e simplesmente promovem a sua expulso
para criar unidades de conservao. Tal prtica se baseia em um total desrespeito e na ausncia de
reconhecimento de quaisquer direitos destas populaes sobre as reas que tradicionalmente ocupavam e
manejavam h vrias geraes. Vistas como um entrave e uma ameaa conservao, tais populaes
tradicionais, foram, em muitos casos, simplesmente expulsas de suas terras. (SANTILLI, 2004, p. 5)

Alm do SNUC, lei especfica de Unidades de Conservao, outras leis ambientais tambm incidem
sobre a regio como caso do Cdigo Florestal, Lei de Crimes Ambientais e Poltica Nacional de Recursos
Hdricos. Estas leis acabaram restringindo o desenvolvimento de muitas atividades tradicionalmente
realizadas na regio, como a extrao vegetal e mineral e prticas de agricultura e pecuria de subsistncia.
Com a criao do Parque e consequentemente com o aumento da presena do IEF na rea, estas prticas
passaram a ser coibidas e as comunidades se sentiram prejudicadas com a imposio destas leis.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

464
Esses fatores, alm de levar muitos trabalhadores para a clandestinidade, contriburam de forma
determinante para o aumento do desemprego, diminuio das possibilidades de gerao de renda e
consequentemente, aumento do xodo rural. importante lembrar que as atividades anteriormente
desenvolvidas na regio so incompatveis com os objetivos de criao da unidade de conservao, quais
sejam: a proteo dos recursos naturais aliada melhoria da qualidade de vida da populao.
Porm, necessrio pensar em formas alternativas de gerao de renda, desenvolvimento de
projetos realmente sustentveis e que insiram a comunidade em uma forma digna e lcita de ocupao e
gerao de renda. Para tanto, necessrio interferir na cultura e nas tradies dessas pessoas. Trata-se de
um processo de mudana de comportamento, que requer um trabalho forte de educao e sensibilizao a
mdio e longo prazos.
Com o desenvolvimento do presente trabalho espera-se compreender as principais restries
impostas s comunidades que vivem no entorno do Parque Estadual do Biribiri bem como entender como
as comunidades reagem imposio destas leis. Alm disso, espera-se que as oficinas realizadas
proporcionem um diagnstico da relao entre comunidade, PEBI e rgo gestor, alm de esclarecer as
dvidas advindas do cotidiano e demonstrar quais os principais meios de participao na gesto do Parque.
Espera-se tambm um maior envolvimento entre as comunidades e o rgo gestor UC,
demonstrando os aspectos positivos de criao da mesma, e como a conservao do Parque pode
beneficiar diretamente a populao. Dessa forma, a preservao da unidade seria potencializada, pois para
que esse processo seja mais efetivo necessrio que as comunidades do entorno estejam diretamente
envolvidas. Rocha e Bursztyn (2005) tecem as seguintes consideraes acerca da participao de
comunidades na gesto:
A partir do momento em que se permite a criao de novos canais de participao, visando
tomada de decises e a gesto local, a prpria comunidade passa a ser protagonista de seu bem-estar. A
participao, segundo Bursztyn (2001), um dos imperativos ao desenvolvimento sustentvel. O conceito de
desenvolvimento sustentvel pressupe o atendimento das necessidades bsicas de todos, incluindo o das
futuras geraes. Como as futuras geraes no podem agir no momento, so as geraes do presente que
precisam intervir no padro de desenvolvimento corrente, buscando a mudana de rumo das atuais
tendncias de degradao social e ambiental mundiais. Da a necessidade de polticas de desenvolvimento
integradas e da participao dos cidados no processo de tomada de deciso. (ROCHA & BURSZTYN, 2005, p.
45 e 46)

Ou seja, quando estas comunidades observam os benefcios gerados a partir da criao e, por
conseguinte, conservao dos recursos naturais, esses agentes se tornam mais engajados e co-responsveis
no propsito da preservao da biodiversidade e dos recursos naturais da Unidade de Conservao. O
projeto, dessa forma, pretende esclarecer as dvidas dos integrantes dessas comunidades transformandoos em multiplicadores, bem como apresentar os meios de participao na gesto da unidade e o porqu da
importncia da preservao ambiental dessas reas incentivando a construo de um dilogo aberto entre
as comunidades e o IEF.
4 - REFERNCIAS
BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF, 1998.
BRASIL. Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, pargrafo 1, incisos I, II, III e
VII, da Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao e d outras
providncias. Braslia, 2000.
BRASIL. Lei n 4.771, de 15 de setembro de 1965. Institui o novo Cdigo Florestal. Braslia, DF, 1965.
BRASIL. Lei n 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Poltica Nacional de Recursos Hdricos, cria o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da
Constituio Federal, e altera o art. 1 da Lei n 8.001, de 13 de maro de 1990, que modificou a Lei n
7.990, de 28 de dezembro de 1989. Braslia, DF, 1997.
BRASIL. Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispe sobre as sanes penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e da outras providencias. Braslia, DF, 1998.
BRITO, Maria Clia Wey de. Unidades de Conservao: intenes e resultados. So Paulo:
Annablume/FAPESP, 2000.
Joo Pessoa, outubro de 2011

465
DIEGUES, Antnio Carlos. O Mito Moderno da Natureza Intocada. 3 ed. So Paulo: Hucitec, USP,
2000.
GIL, Antnio Carlos. Mtodos e Tcnicas da Pesquisa Social. 4ed. So Paulo: Atlas, 1994.
IEF. Plano de Manejo do Parque Estadual do Biribiri: encarte 2 - anlise da regio da unidade de
conservao. Diamantina, 2004.
ROCHA, Juliana D.; BURSZTYN, Maria Augusta. A importncia da participao social na
sustentabilidade do desenvolvimento local. In. Revista internacional de desenvolvimento local. 2005.
SANTILLI, Juliana. A distribuio socialmente injusta dos nus gerados pelas polticas de criao e
implantao de unidades de conservao ambiental em reas ocupadas por populaes tradicionais. A
viso crtica do socioambientalismo e as tentativas de superao de tais discriminaes sociais atravs de
mecanismos jurdicos criados pela Lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservao da
Natureza). In: Anais do 2 Encontro da ANPPAS. Indaiatuba/SP, 2004.
SILVA, Hilton. Presses antrpicas em reas protegidas: desafios para a conservao no sculo XXI.
In: IV Congresso Brasileiro de Unidades de Conservao, Anais Vol.1. Curitiba: Fundao O Boticrio de
Proteo Natureza: Rede Nacional Pr-Unidades de Conservao, 2004.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

466

MANEJO E CONSERVAO, NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO


SUSTENTVEL ESTADUAL DA PONTA DO TUBARO/RN
Hiara Ruth da Silva CMARA
Discente do Curso de Gesto Ambiental UERN
hiara_ruth@hotmail.com
Jarlene de Almeida MELO
Discente do Curso de Gesto Ambiental UERN
jarlenemelo@hotmail.com
Melissa Rafaela Costa PIMENTA
melissapimenta@bol.com.br
Docente do Curso de Gesto Ambiental UERN

RESUMO
A Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Estadual Ponta do Tubaro possui uma riqueza natural,
e vrios dos potenciais econmicos, ecotursticos, ecolgicos, sociais e culturais que demonstram o quanto
importante proteger seus potenciais e recursos de forma sustentvel destacando a importncia da
harmonia entre homem e natureza como forma de conservao e proteo da biodiversidade. Este
trabalho tem como objetivo elencar aes para o manejo e conservao dos recursos naturais e a
participao da comunidade, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento sustentvel.
Para a realizao e investigao utilizou-se pesquisa bibliogrfica e de campo. Conclui-se que faz parte da
realidade local a utilizao dos recursos provenientes da natureza por parte das comunidades locais, mas
tambm relevante observar um adequado manejo e destinao desses recursos. Configura-se, portanto,
como evidente a importncia da conscientizao, sensibilizao e participao das pessoas que vivem na
reserva e, concomitantemente, a implementao de polticas pblicas que gerenciem os recursos de forma
mais eficaz e atuante.
Palavras-Chaves: Sustentabilidade, Reserva Natural, Manejo.
1 INTRODUO
A conservao da biodiversidade e dos recursos naturais tem sido um dos constantes temas
discutidos em toda escala mundial, motivado por aes de desmatamentos e degradao dos ecossistemas,
principalmente pelas inmeras ameaas de extino de espcies da fauna e flora, pela explorao
desenfreada dos recursos naturais e a ao antrpica nos mais diversos biomas. No que se refere ao
contexto brasileiro essa realidade bastante visvel, pois este considerado um pas megadiverso
(RICARDO; CAMPANILI, 2007).
A Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Estadual Ponta do Tubaro, no Rio Grande do Norte,
est inserida neste contexto por ser uma rea de grande relevncia para pesquisas, estudos, projetos,
especialmente programas que viabilizam a implantao de reas de proteo, conservao da
biodiversidade e dos recursos naturais e proteo para as comunidades tradicionais locais e do entorno.
Este trabalho tem como objetivo elencar aes para o manejo e conservao dos recursos naturais
e a participao da comunidade, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento
sustentvel. Para com isso, se possvel perceber a existncia de uma gesto participativa, capaz de utilizar
prticas simples, como: educao ambiental, atividades comunitrias e coletivas, campanhas de
conscientizao e sensibilizao de comunidades locais e do entorno para a promoo da sustentabilidade.
2 METODOLOGIA
Para a realizao deste trabalho, utilizou-se pesquisa bibliogrfica com consulta/leitura de livros e
artigos cientficos relevantes relacionados temtica gesto ambiental dos recursos naturais e
desenvolvimento sustentvel.
Foi feita uma pesquisa de campo com o intuito de absorver informaes sobre a rea de
estudo, conhecer e entender a utilizao dos recursos que promovem o desenvolvimento de atividades
sustentveis desenvolvidas pelas comunidades ali existentes e a conservao da biodiversidade da
localidade e das reas circunvizinhas.

Joo Pessoa, outubro de 2011

467
3 MANEJO E CONSERVAO NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ESTADUAL DA
PONTA DO TUBARO/RN
A valorizao dos recursos naturais atualmente destaque de importantes discusses, nos mais
variados mbitos e segmentos, isso por que a utilizao destes no reflete somente no crescimento
econmico de um pas, visto por aqueles que idealizam a explorao destes como benefcio cada vez maior
para si e/ou de sua organizao, mas tambm por aqueles que optam por defender que o melhor para
alcanar o desenvolvimento sustentvel de uma nao a harmonia entre o econmico e o meio ambiente,
visando sua conservao, preservao e manejo.
De acordo com WWF (2008, p. 04) eis a importncia das Unidades de Conservao:
Regulao da quantidade e qualidade de gua para o consumo;
Fertilidade dos solos e estabilidade das encostas (relevo);
Equilbrio climtico e manuteno da qualidade do ar;
Alimentos saudveis e diversificados;
Base para produo de medicamentos para doenas atuais e futuras;
reas verdes para lazer, educao, cultura e religio;
Fornecer matria-prima para tudo o que se possa imaginar.

A criao de uma rea como Reserva de Desenvolvimento Sustentvel, se configura como


grande conquista para uma determinada regio, pois isto que diferencia a necessidade da populao pela
busca de uma economia baseada na sustentabilidade, demonstrando suas preocupaes s questes
socioambientais e aes participativas em conjunto com as polticas pblicas elaboradas por seus
representantes, no intuito de aplicaes destas com melhor clareza e eficincia.
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza SNUC (Lei Federal n
9.985/2000), a Reserva de Desenvolvimento Sustentvel uma rea natural que abriga populaes
tradicionais, cuja existncia baseia-se em sistemas sustentveis de explorao dos recursos naturais,
desenvolvidos ao longo de geraes e adaptados s condies ecolgicas locais e que desempenham um
papel fundamental na proteo da natureza e na manuteno da diversidade biolgica. E seu objetivo
aplica-se em: preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condies e os meios necessrios
para a reproduo e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e explorao dos recursos naturais das
populaes tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeioar o conhecimento e as tcnicas de
manejo do ambiente, desenvolvido por estas populaes, Pargrafo I, Art. 20 da Lei n 9.985/2000
(BRASIL, 2011).
Preocupados com esta realidade e baseando-se em conferncias de cunho internacional e presses
de ambientalistas e demais profissionais da rea, o Ministrio de Meio Ambiente MMA realizou um
estudo em todos os biomas do Brasil, inclusive a caatinga (rea de estudo deste trabalho), buscando definir
reas prioritrias de manejo e conservao (Figura 1), a fim de que nelas se realize formulao e
implementao de polticas pblicas, programas, projetos e atividades voltados : conservao in situ da
biodiversidade; utilizao sustentvel de componentes da biodiversidade; repartio de benefcios
derivados do acesso a recursos genticos e ao conhecimento tradicional associado; pesquisa e inventrios
sobre a biodiversidade; recuperao de reas degradadas e de espcies sobre exploradas ou ameaadas de
extino; e valorizao econmica da biodiversidade (BRASIL, 2007).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

468

Figura 1 Mapa de Importncia Biolgica para o Bioma Caatinga.


Fonte: BRASIL, 2007.

A partir da observao do mapa, percebe-se que da escala de cores mais clara para a mais escura
est a delimitao de rea prioritrias no bioma caatinga para conservao e manejo, sendo perceptvel
que o atual espao onde se encontra a RDS Estadual Ponta do Tubaro est em cores mais acentuadas, ou
seja, de prioridade mais alta.
A Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Estadual Ponta do Tubaro, est localizada no norte da
regio costeira do Estado do Rio Grande do Norte, abrangendo parte dos municpios de Macau e Guamar,
inserindo as comunidades de Barreiras, Diogo Lopes, Sertozinho, Mangue Seco e Lagoa Doce, foi criada a
partir da Lei n 8.349 de 17 de julho de 2003, instituda como categoria sendo, uma Unidade de Uso
Sustentvel ou Reserva de Desenvolvimento Sustentvel, dentro das Unidades de Conservao, como parte
do Bioma Caatinga, tem como rgo gestor o Instituto de Desenvolvimento Econmico e Meio Ambiente
do Rio Grande do Norte IDEMA, o qual est vinculado Secretria Estadual de Planejamento. A Reserva
possui uma rea de 12.960 hectares, sua criao foi recorrente de reivindicaes das comunidades do
entorno, tendo como foco a preocupao proteo da rea que serve de grande importncia para as
populaes locais tradicionais, pois esta se utiliza da pesca tradicional como principal fonte de renda e
trabalho. Esta RDS criada no estado do RN possui a perspectiva de atrair novos olhares para as implicaes
ambientais da rea e em seu entorno, com as possveis ameaas de extino de sua fauna e flora,
aplicaes do capital imobilirio, cujos interesses remetem na construo de plos industriais de gs e
petrleo, salinas, a atividade de carcinicultura, a degradao dos recursos naturais e ecossistemas (restinga,
caatinga, mangues, dunas e outros), a desocupao e remoo das populaes tradicionais. So estes os
principais motivos que levaram a tais iniciativas (IDEMA, 2010).
A RDS Ponta do Tubaro constitui uma vasta rea de ecossistemas diversificados e de relevncia
para a conservao de espcies, por existir vestgios de matas da caatinga, mangues, dunas e tambm a

Joo Pessoa, outubro de 2011

469
rea marinha, que abriga uma vasta lista de espcies aquticas, destacando-se como importantes para as
comunidades pesqueiras.
Para melhor viabilidade da gesto da Reserva, foram institudos instrumentos que serviram de
enclave para o fomento e a implantao de polticas pblicas e leis, para assegurar a conservao e manejo
dos recursos na determinada rea, os instrumentos utilizados foram: Zoneamento Ambiental e o
especialmente o Plano de Manejo documento tcnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos
gerais de uma unidade de conservao, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o
uso da rea e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantao das estruturas fsicas necessrias
gesto da unidade referido na Lei 9.985/2000, art.2, inciso XVII (BRASIL, 2011). Trata-se do principal
instrumento de gesto da rea, sendo proibidas quaisquer atividades em desacordo com as diretrizes e
normas estabelecidas pela lei.
Dentre a potencialidades da RDS destacam-se a pesca artesanal, os pescadores utilizam de barcos
pequenos e de equipamentos mais rudimentares, como redes feitas manualmente e sua produtividade em
geral reduzida, servindo de fonte de alimento para o pescador e sua famlia, o excedente
comercializado no mercado local; e o turismo comunitrio, priorizando sempre o meio ambiente e os
recursos de subsistncia em equidade para toda populao. A pesca de mariscos e os manguezais so
tambm preciosas fontes de alimento e renda. As pescarias artesanais so com linha e anzol, com rede
tarrafa, com rede de cerco, com rede de arrasto, catao de caranguejo-ua, catao de siri e mergulho
livre para captura de lagosta. O manguezal da Reserva fortemente influenciado pelo regime de mars.
Durante a baixa-mar formam-se dezenas de cras de areia ao longo do mangue resultantes do acmulo de
sedimento em alguns pontos. Essa dinmica de mar determina as atividades pesqueiras que podem ou
no ser realizadas no manguezal (DIAS; ROSA; DAMASCENO, 2007).
Esta regio composta de ecossistemas frgeis, manguezais e dunas abrigam uma populao
tradicional que tm na pesca artesanal a sua principal renda, complementada pela explorao de pequenas
lavouras e criao de ovelhas e cabras no entorno das dunas.
Os manguezais so considerados verdadeiros berrios dos oceanos. Dessa forma, torna-se
extremamente necessria a preservao sustentvel dos manguezais em Ponta do Tubaro, para no
comprometer a sobrevivncia das populaes locais e de boa parte da fauna marinha da regio. Conforme
observamos na Figura 2.

Figura 2 Mangue RDS Ponta do Tubaro, 2010.

A extrao dos recursos pela comunidade se d de uma forma sustentvel: a) desmatando e


reflorestando, extraem a madeira para usos afins e as plantas para alimentar o gado, sendo aquelas no
cortadas pelo tronco para facilitar no seu rpido crescimento, e b) pescando, mas respeitando o perodo de
reproduo das espcies (Figura 3). O mais importante a participao das populaes que ali vivem dos
rendimentos, na unio para a manuteno e preservao da RDS da Ponta do Tubaro.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

470

Figura 3 RDS Ponta do Tubaro, 2010.

A boa gesto da reserva acentua-se como um importante passo das comunidades, pois esta
colaborou para a sua criao e se insere, cada vez mais, em prticas que viabilizem a melhor qualidade de
vida, refletindo diretamente na economia, sade e principalmente no novo modelo de turismo, o
ecoturismo, que acaba atraindo mais um pblico diferenciado, pesquisadores, cientistas, estudantes e
empresrios ingressados no mercado verde.
O que se resulta no estudo realizado configura-se na viso de sustentabilidade das comunidades
locais, pois possvel perceber a compreenso dos moradores quanto s aes realizadas pelos gestores
para uma responsabilidade socioambiental na rea da RDS Estadual da Ponta do Tubaro. Destaca-se
tambm, na localidade, a atuao constante de professores e alunos das Universidades (tanto Estadual
como Federal, bem como privadas), atravs de projetos de pesquisa e/ou extenso, buscando uma melhor
compreenso do funcionamento da reserva e de sua dinmica nos mais diversos aspectos (social,
econmico, poltico, turstico, ambiental).
4 CONCLUSES
Para que se consolide um ambiente sustentvel nas Unidades de Conservao requisito essencial
a utilizao dos recursos provenientes da natureza por parte das comunidades locais, mas tambm
relevante observar um adequado manejo e destinao desses recursos, pois, configura-se como evidente a
importncia da conscientizao, sensibilizao e participao das pessoas que vivem na reserva e,
concomitantemente, a implementao de polticas pblicas que gerenciem os recursos de forma mais
eficaz e atuante. Caso contrrio, a relao harmnica entre sociedade e natureza jamais passar de uma
utopia.
A criao de Unidades de Conservao j viabiliza a minimizao das atuais problemticas,
evidenciando ainda mais a preocupao por parte da sociedade e do poder pblico com as geraes futuras
e com as mais variadas espcies de fauna e flora existentes em nosso planeta. Pois, esses espaos garantem
uma srie de vantagens, sem as quais o ambiente jamais teria capacidade de sobreviver em meio a tantos
impactos humanos, com vista a um crescimento essencialmente de cunho econmico e capitalista.
Contudo, no basta somente criar e deixar estas reas no descaso e esquecimento, sem o menor
plano de manejo e conservao, bem como sem que haja uma fiscalizao contundente para a formao de
um desenvolvimento sustentvel, economicamente vivel, socialmente justo e ecologicamente equilibrado.
REFERNCIAS
BRASIL. Lei Federal 9.985 de 18 de julho de 2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservao da
Natureza. Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em: 13 jun. 2011.

Joo Pessoa, outubro de 2011

471
BRASIL. Portaria n. 09 de 23 de janeiro de 2007. reas Prioritrias para Conservao, Uso
Sustentvel e Repartio de Benefcios da Biodiversidade Brasileira: Atualizao. Braslia: MMA, 2007.
Disponvel em <http://www.mma.gov.br/site>. Acesso em: 13 jun. 2011.
DIAS, Thelma L. P.; ROSA, Ricardo S.; DAMASCENO, Luis C. P. Aspectos socioeconmicos, percepo
ambiental e perspectivas das mulheres marisqueiras da Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Ponta do
Tubaro. Gaia Scientia, 2007. 1(1): 25-35.
IDEMA. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E MEIO AMBIENTE. Unidade de
Conservao: Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Ponta do Tubaro. Disponvel em:
http://www.idema.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/idema/unidades_de_conservacao/gerados/ponta
_do_tubarao.asp. Acesso em: 11 de dezembro de 2010.
Reserva de Desenvolvimento Sustentvel RDS Anlise da categoria de manejo e proposta de
regulamentao. Braslia: WWF, 2006. Disponvel em: <http://www.wwf.org.br/site>. Acesso em: 16 jun.
2011.
RICARDO, Beto; CAMPANILI, M. (editores gerais). Almanaque Brasil Socioambiental 2008. So
Paulo: ISA, 2007.
RIO GRANDE DO NORTE. Lei N. 8.349 de 17 de julho de 2003. Cria a Reserva de Desenvolvimento
Sustentvel Estadual Ponta do Tubaro, na regio de Diogo Lopes e Barreiras nos municpios de Macau e
Guamar no RN e d outras providncias.
WWF- Brasil. Unidades de Conservao: conservando a vida, os bens e os servios ambientais. So
Paulo: 2008. Disponvel em < http://www.wwf.org.br/informacoes/bliblioteca/?11320>. Acesso em: 16 jun.
2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

472

PERCEPO AMBIENTAL E CONHECIMENTO LOCAL NO ESTUDO E


CONSERVAO DE MATAS CILIARES: ESTUDO DE CASO NO RIACHO DO
NAVIO, FLORESTA, PERNAMBUCO
Jos Serafim F. FERRAZ, Dr., Engenheiro Florestal.
Departamento de Cincia Florestal, UFRPE. jsfferraz@gmail.com
Isabelle M. J. MEUNIER, Professora, M.Sc.
Departamento de Cincia Florestal, UFRPE. imjmeunier@gmail.com

RESUMO
As matas ciliares na regio semi-rida brasileira, no domnio das caatingas, se constituem em
ambientes singulares, abrigam uma flora arbrea prpria e fornecem importantes servios ecossistmicos
embora, no raro, sejam objeto de desmatamento e degradao. As pessoas que habitam nas
proximidades e usufruem dos bens e servios desse ambiente so atores importantes para a sua
conservao. Neste trabalho, procurou-se conhecer a percepo de proprietrios e trabalhadores rurais
que tem seus trabalhos e suas vidas relacionadas s matas ciliares do riacho do Navio, afluente do rio
Paje, em Floresta, Pernambuco. Foram entrevistados 10 proprietrios de terra e 13 moradores em um
distrito localizado prximo ao riacho, indagando sobre as espcies arbreas e arbustivas existentes e sobre
a importncia dessas matas. Em cada uma das amostras foram relacionadas 20 espcies, com 15 em
comum e bastante similares aos resultados obtidos em levantamento de campo. Observou-se que h, por
parte de fazendeiros e moradores das proximidades, a clara compreenso das diferenas florsticas que
essas reas apresentam em relao s reas de tabuleiros e do papel que representam, destacando-se os
valores utilitrios. A pecuria extensiva, imperante na regio, se apresentoucomo oportunidade para a
conservao das matas ciliares, pois essas representam reserva de forragem para a poca seca, altamente
valorizada pelos produtores. Alm disso, as matas ciliares proporcionam produtos medicianis, frutos para
alimentao humana e madeira para uso nas propriedades, obtida eventualmente e sem promoo de
desmatamentos. Recomenda-se que programas de restaurao ambiental devam levar em conta os
saberes e percepes dos atores locais e valorizar o conhecimento popular que, tanto quanto os mtodos
cientficos, so capazes de estimar a riqueza da flora e os servios ecossistmicos proporcionados pelas
matas ciliares.
Palavras-chave: Caatinga; etnoconservao; mata ciliar.
1. INTRODUO
Em todas as regies do Brasil encontram-se florestas s margens de rios e corpos dgua, em
associao com as formaes dominantes do interflvio,que recebem diferentes denominaes. Segundo
Rezende (1998) as matas ciliares, de galeria e riprias destacam-se por sua riqueza, diversidade gentica e
pelo seu papel na proteo dos recursos hdricos, edficos, fauna silvestre e aqutica, e sua presena reduz
significativamente a possibilidade de contaminao dos cursos dgua por sedimentos, resduos de adubos
e defensivos agrcolas, conduzidos pelo escoamento superficial da gua no terreno.
Para Rodrigues (2000), as formaes ribeirinhas representam fisionomias, condies ecolgicas e
composies florsticas distintas, com baixos valores de similaridades entre si, tendo em comum apenas o
fato de ocorrerem na margem de um curso dgua com drenagem definida ou no. Conforme esse autor, o
termo floresta ou mata de galeria deveria ser usado para as formaes florestais ribeirinhas em regies
onde a vegetao de interflvio no de floresta contnua (cerrado, campinas, caatinga, campos, campos
gerais) e ao longo de rios de pequeno porte.
De uma forma geral. as expresses florestas ciliares e matas ciliares envolvem todos os tipos de
vegetao arbrea vinculada beira de cursos dgua. Segundo AbSaber (2000), o Brasil o pas que exibe
o maior e mais diferenciado elenco de matas ciliares nos trpicos, distribudos pelas mais diferentes reas
do pas com notveis composies de biodiversidade. No Nordeste seco, ocorrem matinhas beiradeiras
designadas matas da craba separadas das colinas revestidas por caatinga, atravs de veredas de areia
branca com gramneas esparsas (Noroeste do Cear), ou circunscritas nas beiras de crregos e rios
intermitentes sazonrios (sertes secos interiores de Pernambuco, Bahia e Paraba) (ABSABER, 2000).

Joo Pessoa, outubro de 2011

473
No Brasil, reconhecendo a importncia ambiental das matas ciliares, o Cdigo Florestal Brasileiro,
Lei no 4.771/65, inclui esse tipo de mata na categoria de vegetao a ser protegida nas reas de
preservao permanente. Dessa forma, toda a vegetao natural, arbrea ou no, presente ao longo das
margens dos rios e ao redor de nascentes e de reservatrios deve ser preservada. No artigo 2 0 desta Lei, a
largura do curso dgua determina a largura da faixa de mata ciliar a ser preservada.
Apesar da lei, a destruio das matas s margens dos rios e riachos para implantao de culturas
agrcolas e pastagens herbceas uma prtica comum no semi-rido, aproveitando os solos aluviais mais
profundos e a disponibilidade de gua obtida em poos abertos nos seus leitos secos. Os desmatamentos
decorrentes desta prtica acabam por comprometer as funes ambientais das matas ciliares, que
conforme Barbosa (1996) tm importante papel na proteo gua, como abrigo para a fauna, na
regulao do macroclima e formao de corredores ecolgicos que ajudam a manter contato entre
fragmentos florestais preservados.
Para Lobo; Joly (2000), as matas ciliares protegem o solo contra a eroso, reduzem o assoreamento
de rios, lagos e reservatrios e contribuem para a conservao da biodiversidade local e regional. As matas
ciliares tm importncia vital como corredores para o movimento da fauna ao longo da paisagem e para a
disperso vegetal, e dessa forma, nelas ocorrem espcies tpicas tanto de formaes ribeirinhas como de
terra firme, o que as tornam fontes importantes de sementes para o processo de regenerao natural
(LIMA; ZAKIA, 2000).
As peculiaridades fisionmicas das matas ciliares do domnio da caatinga foram observadas por
Andrade-Lima (1981), que apresenta o tipo Copernicia-Geoffroea-Licania como caracterstico de mata ciliar
de caatinga e dos vales de rios do Piau, Cear e Rio Grande do Norte. De acordo com Nascimento (1998),
as matas ciliares do Rio So Francisco apresentam heterogeneidade ambiental, com conjuntos florsticos
distintos em funo dos ambientes topogrficos onde se encontram. Ferraz et al. (2006) encontraram, nas
matas ciliares do Riacho do Navio, 24 espcies lenhosas, sendo 23 nativas, destacando-se Ziziphus joazeiro
(juazeiro) pelo maior valor de importncia, seguido de Crataeva tapia (trapi), Lonchocarpus sericeus
(ingazeira) Tabebuia aurea (craibeira), Geoffroea spinosa (marizeiro ou umarizeiro), Schinopsis brasiliensis
(barana), Sapindus saponaria (saboneteiro), Albizia inundata (canafstula) e Triplaris gardneriana
(pajeuzeiro). A vegetao do ambiente ciliar apresentou caractersticas prprias, na qual alcanaram maior
importncia famlias botnicas diferentes daquelas usualmente encontradas na vegetao caduciflia
espinhosa que representa a matriz vegetacional onde se inseriam os fragmentos estudados (FERRAZ et al.,
2006).
Conhecimento local a expresso usada para se referir a conhecimentos relativamente recentes
das populaes sobre os recursos naturais (BERKES, 2000). O estudo dos saberes locais pode contribuir
para a conservao da biodiversidade e para o desenvolvimento sustentvel: (a) identificando processos de
uso sustentvel dos recursos biolgicos nativos; (b) avaliando o potencial econmico de florestas e
promovendo a comercializao de produtos no-madeireiros; (c) estudando modelos de conhecimento e
sistemas ecolgicos de populaes tradicionais, e (d) desenvolvendo projetos para conservao da
biodiversidade in situ, com base no conhecimento de populaes locais (ALBUQUERQUE, 1999).
Para Diegues (2000), o que se prope para a criao de uma nova cincia da conservao a
sntese entre o conhecimento cientfico e o tradicional. Para tanto, preciso, antes de tudo, reconhecer a
existncia, entre as sociedades tradicionais, de outras formas igualmente racionais de se perceber a
biodiversidade, alm das oferecidas pela cincia moderna.
A rea objeto do presente estudo abriga uma populao cuja subsistncia sempre foi ligada terra
e seus recursos, desenvolvendo a pecuria e a agricultura familiar. Essa relao com os recursos naturais
locais permite supor que haja uma clara percepo da importncia das matas ciliares do Riacho do Navio e
conhecimento sobre as espcies arbreas que a compem, informaes que podem ajudar elaborao de
projetos de restaurao ambiental. Dessa forma, a pesquisa foi norteada pelas seguintes questes:
- Os moradores locais percebem as matas ciliares como um ambiente diferente, tanto em funes
quanto em composio florstica?
- Qual a importncia dada pelos moradores locais s matas ciliares do Riacho do Navio?
- H diferenas entre as espcies informadas pelos moradores locais e os levantamentos botnicos
realizados?

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

474

2. MATERIAL E MTODOS
O Riacho do Navio nasce no municpio de Betnia e tem sua desembocadura na margem esquerda
do Rio Paje, no municpio de Floresta, Pernambuco. A rea de estudo corresponde a trecho ribeirinho do
riacho do Navio, em Floresta.
O municpio de Floresta encontra-se no semi-rido pernambucano, na mesorregio do So
Francisco, microrregio de Itaparica, distando aproximadamente 432,2 km do Recife. As precipitaes
pluviomtricas so escassas, irregulares e concentradas em poucos meses do ano, com totais
pluviomtricos quase nunca superiores a 500 mm anuais, na maior parte da rea; temperaturas mdias
entre 24o e 26oC, o que proporciona um alto ndice de evaporao e baixa umidade relativa do ar
(CONDEPE, 1998).
Foram entrevistados 10 proprietrios rurais cujas terras so marginais ao riacho do Navio e 13
moradores do distrito de Airi, situado nas proximidades do mesmo riacho. Foram feitas entrevistas
orientadas por questionrio com perguntas abertas, diferentes para cada amostra, e turns guiada, para
coleta e identificao das espcies citadas. A entrevista com os fazendeiros procurou caracterizar os usos
dados terra, as atividades principais na propriedade e a relao dessas atividades com as matas
ribeirinhas, indagando tambm quais as espcies arbreas mais frequentes e os bens e servios ofertados.
Aos moradores do Airi, na sua maioria trabalhadores rurais, foi indagado apenas sobre a importncia
desses ambientes e qual a sua composio. As duas listas de espcies foram comparadas entre si e com a
lista florstica apresentada por Ferraz et al. (2006), pelo ndice de similaridade de Sorensen.
3. RESULTADOS
Em todas as fazendas pesquisadas, que variaram entre 19 e 800 ha de extenso, praticava-se a
caprinoovinocultura, sendo frequente tambm a criao de bovinos. O cultivo de tomate, cebola, melo e
melancia foi ocasional e muitas vezes referido como difcil devido a falta de recursos, falta de mo-deobra, irregularidade das chuvas e problemas de preo e comercializao. Milho e feijo so cultivados
por poucos, geralmente associado cultura de subsistncia praticada por moradores. O plantio de capim
(buffel, elefante, sempre-verde) e palma foi referido por alguns fazendeiros, para alimentao dos
rebanhos. Entre as fruteiras, foram citadas coqueiro, pinha e banana.
Nove dos dez fazendeiros entrevistados mostraram valorizar as matas ciliares existentes na
propriedade como algo a ser conservado (no derruba por nada na vida ou s em caso de preciso) e
associaram a sua manuteno dinmica da fazenda (local para extrair ramas para alimentao da criao
e galhas para fazer cerca). Apenas um dos entrevistados declarou a inteno de substituir a vegetao
nativa por fruteiras.
A importncia das matas ribeirinhas na conservao das margens foi observada por alguns, que
ressaltaram o papel das razes das rvores e do arbusto jaramataia (Vitex sp.) na conservao do solo.
Trs entrevistados afirmaram plantar nas margens do rio (capim e fruteiras), sem, no entanto,
desmatar para isso, aproveitando reas anteriormente desmatadas.
Foram citadas 20 espcies arbustiva-arbreas como ocorrentes na mata ciliar (Tabela 1). Craibeira
(Tabebuia aurea), ingazeira (Lonchocarpus sericeus), juazeiro (Ziziphus joazeiro), trapiazeiro (Crataeva
tapia) e marizeiro (Geoffroea spinosa) foram as espcies mais citadas, dadas como mais abundantes. Jatob
(Hymenaea courbaril) foi indicado como ocorrente em poucos locais e angico (Anadenanthera colubrina) foi
considerado raro, mais comum no mato da caatinga, e no nas margens.
Das espcies citadas, apenas o oitizeiro no pode ser observado in loco, desconhecendo-se qual
espcie foi designada por esse nome. possvel tratar-se da oiticica (Licania rigida) espcie coletada por
Souza; Rodal (2010) na vegetao ripria do rio Paje.
A composio das matas ciliares informada pelos fazendeiros foi bastante semelhante descrita
por Ferraz et al. (2006) que inventariaram reas prximas s propriedades dos entrevistados. Nesse
trabalho, os autores identificaram 23 espcies arbustivas e arbreas nativas em seis fragmentos das matas
ciliares do riacho do Navio, nos quais foram amostrados os 30m mais prximos ao curso do rio. Os
fazendeiros entrevistados informaram 15 dessas espcies como existentes nas matas ciliares das suas
propriedades, resultando no valor de ndice de similaridade de Sorensen entre as duas relaes de 0,79.
Souza e Rodal (2010) encontraram riqueza inferior (nove espcies de rvores e arbustos) nas margens do
Joo Pessoa, outubro de 2011

475
rio Paje, embora vrias das espcies citadas no presente trabalho tenham sido coletadas pelas autoras no
ambiente de tabuleiros, sendo isso atribudo ao efeito das cheias.
A algaroba (Prosopis juliflora) foi citada por dois entrevistados, mas no se constatou a condio de
invasora relatada por Oliveira (2006), Pegado et al. (2006) e Nascimento (2008). A presena da espcie foi
vista como algo novo (j tem algaroba aparecendo), e esteve relacionada histria de desmatamentos
anteriores nas duas propriedades, confirmando a hiptese de que a planta de estabelece em plancies
aluviais de onde a vegetao natural foi removida. Um dos entrevistados recomendou o corte da algaroba,
considerada muito til para a confeco de cercas, devido ao seu poder de chupar a gua toda. Por outro
lado, a algaroba e algumas fruteiras (caju, pinha, coqueiro) foram as nicas espcies arbreas cultivadas
por cerca da metade dos produtores, em terrenos marginais ao riacho.
Tabela 1. Espcies nativas citadas por fazendeiros locais como integrantes da mata ciliar do riacho
do Navio, em Floresta, Pernambuco
Nome regional
Nome cientfico
Famlia
1

Angico monjolo

Piptadenia zehntneri Harms

Leguminosae

Angico preto

Anadenanthera colubrina (Vell.) Benan.

Leguminosae

Aroeira

Myracrodruon urundeuva Allemo

Anacardiaceae

4
5

Canafstula
Craibeira

Leguminosae
Bignoniaceae

6
7
8
9

Ingazeira
Jaramataia
Jatob
Jenipapo

10
11
12
13
14
15

Juazeiro
Marizeiro
Mulungu
Oitizeiro (a)
Pajeuzeiro
Pereiro

Albizia inundata (Mart.) Barneby & Grimes


Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f.
ex S. Moore
Lonchocarpus sericeus (Poir.) DC.
Vitex sp
Hymenaea courbaril L.
Tocoyena aff. formosa (Cham. & Schltdl.) K.
Schum.
Ziziphus joazeiro Mart.
Geoffroea spinosa Jacq.
Erythrina velutina Willd.
Triplaris gardneriana Wedd.
Aspidosperma pyrifolium Mart.

16

Quixabeira

17
18
19

Saboneteiro
Salgueiro (b)
Trapi

Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) Sapotaceae


Penn.
Sapindus saponaria L.
Sapindaceae
Vitex gardneriana Schauer
Verbenaceae
Crataeva tapia L.
Capparaceae

20

Umbuzeiro

Spondias tuberosa Arruda

Leguminosae
Leguminosae
Rubiaceae
Rhamnaceae
Leguminosae
Leguminosae
Polygalaceae
Apocynaceae

Anacardiaceae

Nota:
(a) No observada no local.
(b) Vitex gardneriana foi descrita por Andrade-Lima (1989) com o nome vulgar de jaramataia, mas foi
reconhecida no local com o nome regional de salgueiro. A comunidade local refere-se a jaramataia como sendo outra
planta observada em campo, no identificada, que se sups outra espcie do gnero.

Todos os fazendeiros informaram fazer uso de espcies arbreas da mata ciliar como alimento das
criaes, servindo para isso as folhas que caem no cho, as ramas, coletadas ou ramoneiadas diretamente
pelos rebanhos, muitos frutos e algumas flores. Os que se reportaram ao consumo de frutos pelas pessoas
destacaram o umbu (Spondias tuberosa), sendo mencionados tambm os frutos de trapi (C. tapia) jatob
(H. courbaril), mari (G. spinosa) e quixaba (Sideroxylon obtusifolium). Os usos medicinais das plantas, tanto
para humanos como para os animais, foram reportados pela maioria dos entrevistados, assim como a
retirada ocasional de madeira para substituio de estacas de cerca, confeco de cabos de ferramentas,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

476
vigas, esteios, embora, para esses fins, tenha se preferido a aquisio de madeira serrada, no comrcio
local.
O uso da lenha, segundo todos os informantes, restringe-se a coleta de madeira morta e seca e no
h, no local, tradio de fabricao de carvo.
Foram elencadas 20 espcies pelos moradores do Airi, no proprietrios rurais mas todos eles com
histrias de vida relacionadas s atividades tradicionais rurais da regio. A lista de espcies conhecidas teve
15 espcies coletadas nos levantamentos de Ferraz et al. (2006), com ndice de similaridade de Sorensen de
0,79. A relao de especies citadas pela comunidade de Airi apresentou 16 espcies em comum com as
citadas pelos fazendeiros, com ndice de similaridade de Sorensen entre elas de 0,8.
Tabela 2. Espcies nativas citadas por moradores de Airi como integrantes da mata ciliar do riacho
do Navio, em Floresta, Pernambuco
Nome regional
Nome cientfico
Famlia
1
Angico monjola
Piptadenia zehntneri Harms
Leguminosae
2

Angico preto

Anadenanthera colubrina (Vell.) Benan.

Leguminosae

Aroeira

Myracrodruon urundeuva Allemo

Anacardiaceae

Barana

Schinopsis brasiliensis Engl.

Anacardiaceae

5
6
7

Canafstula
Catingueira
Craibeira

Leguminosae
Leguminosae
Bignoniaceae

Imburana-de-cambo

Albizia inundata (Mart.) Barneby & Grimes


Caesalpinia pyramidalis Tul.
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.
f. ex S. Moore
Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett

9
10
11
12
13
14
15

Imburana-de-cheiro
Ingazeira
Jatob
Juazeiro
Marizeiro
Pajeuzeiro
Pereiro

Amburana cearensis (Allemo) A. C. Smith


Lonchocarpus sericeus (Poir.) DC.
Hymenaea courbaril L.
Ziziphus joazeiro Mart.
Geoffroea spinosa Jacq.
Triplaris gardneriana Wedd.
Aspidosperma pyrifolium Mart.

Leguminosae
Leguminosae
Leguminosae
Rhamnaceae
Leguminosae
Polygalaceae
Apocynaceae

16

Quixabeira

Sapotaceae

17
18

Saboneteiro
Salgueiro

Sideroxylon obtusifolium (Roem. &


Schult.) Penn.
Sapindus saponaria L.
Vitex gardneriana Schauer

19

Trapi

Crataeva tapia L.

Capparaceae

20

Umbuzeiro

Spondias tuberosa Arruda

Anacardiaceae

Burseraceae

Sapindaceae
Verbenaceae

Entre as espcies citadas, os informantes identificaram aquelas exlusivas do ambiente riprio e as


que ocorrem nas matas ciliares e tambm nas caatingas. Como exclusivas das matas ciliares foram
mencionadas trapi, marizeiro, ingazeira, pajeuzeiro, jatob, salgueiro, saboneteiro e canafstula. Sobre a
craibeira, as informaes divergiram: alguns informantes a consideraram exclusivas, outras confirmaram
sua corrncia tambm na caatinga. O umbuzeiro foi apontado como intolerante s condies de beira de
riacho, pois no suporta muita gua, ocorrendo na poro de terreno mais drenada.
A importncia da conservao das matas ciliares do riacho foi atribuda ao seu papel na
alimentao dos animais de criao, produo de madeira para cerca, oferta de remdios (usos
medicinais) e, menos citados, aos frutos que fornecem para a limentao humana (com meno para o
umbu e a quixaba). Um dos entrevistados relatou valores estticos (por que bonito) e um outro
associou sombra e atrao de chuva.

Joo Pessoa, outubro de 2011

477
4. CONCLUSES
Os ambientes riprios da caatinga so percebidos pelas populaes locais como ecossistemas
distintos da matriz interflvios, com composio florstica diferenciada, especializada e conhecida. H, por
parte de fazendeiros e moradores das proximidades, a clara compreenso das diferenas florsticas que
essas reas apresentam em relao s reas de tabuleiros e do papel que representam, destacando-se os
valores utilitrios. A pecuria extensiva, imperante na regio, se apresenta como oportunidade para a
conservao das matas ciliares, pois essas representam reserva de forragem para a poca seca, altamente
valorizada pelos produtores.
O manejo conservacionista dessas reas deve incluir as prticas tradicionais de pecuria bem como
prever a coleta de partes das plantas para usos medicianais e o consumo de frutas nativas, valorizando o
uso direto, no necessariamente comercial. Na percepo dos entrevistados, esses usos no trazem danos
vegetao e, embora o tipo de manejo adotado pelos entrevistados no possa ser generalizado para
todos as propriedades, demonstra que, a partir dos conhecimentos locais, h possibilidades de se
desenvolver atividades produtivas de forma satisfatria, aliada conservao das reas de preservao
permanente e que, para as pessoas envolvidas, proprietrios ou trabalhadores rurais, essa conservao
fundamental para a agricultura e a pecuria.
Programas de restaurao ambiental devem levar em conta os saberes e percepes dos atores
locais e valorizar o conhecimento popular que, tanto quanto os mtodos cientficos, so capazes de estimar
a riqueza da flora e os servios ecossistmicos proporcionados.
5. REFERNCIAS
AbSABER, A. N. O suporte geoecolgico das florestas beiradeiras (ciliares). In: RODRIGUES, R. R.;
LEITO FILHO, H. F. (Org.) Matas ciliares conservao e recuperao. So Paulo: EDUSP, 2000. p. 15-25.
ALBUQUERQUE, U. P. Manejo tradicional de plantas em regies neotropicais. Acta Botnica
Braslica, Rio de Janeiro, v. 12, n.3, p. 307 - 315, 1999.
ANDRADE-LIMA, D. The caatinga dominium. Revista Brasileira de Botnica, So Paulo, n.4, p. 149153, set. 1981.
ANDRADE-LIMA, D. Plantas das caatingas. Rio de Janeiro, 1989. Academia Brasileira de Cincias,
243p.
BARBOSA, L. M. Ecological significance of gallery forests, including biodiversity. In: IMAA-ENCINAS,
J.; KLEINN, C. (Org.) INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON ASSESSMENT AND MONITORING OF FORESTS IN
TROPICAL DRY REGIONS WITH SPECIAL REFERENCE TO GALLERY FORESTS. Proceedings... Braslia: DF, Ed. da
UNB,1996. p. 157-190.
BERKES, F. Sacred ecology: tradicional ecological knowledge and resource management.
Philadelphia: Taylor & Francis, 2000. 209 p.
CONDEPE. Monografia regional: mesorregio do So Francisco Pernambucano. Recife: Condepe,
1998. 147 p.
DIEGUES, A. C. Etnoconservao da natureza: enfoques alternativos. In: ______. Etnoconservao:
novos rumos para a proteo da natureza nos trpicos. So Paulo: Universidade de So Paulo, 2000. p. 147.
FERRAZ, J. S. F.; ALBUQUERQUE, U. P.; MEUNIER, I. M. J. Valor de uso e estrutura da vegetao
lenhosa s margens do riacho do Navio, Floresta, PE, Brasil. Acta Botnica Brasilica, Rio de Janeiro, v. 20, n.
1, p. 125-134, 2006.
LIMA, W. P.; ZAKIA, M. J. B. Hidrologia de matas ciliares. In: RODRIGUES, R. R.; LEITO FILHO, H. de
F. (Org.) Matas ciliares conservao e recuperao. So Paulo: EDUSP, 2000. p. 33-44.
LOBO, P. C.; JOLY, C. A. Aspectos ecofisiolgicos da vegetao de mata ciliar do sudeste do Brasil. In:
RODRIGUES, R. R.; LEITO FILHO, H. de F. (Org.) Matas ciliares conservao e recuperao. So Paulo:
EDUSP, 2000. p. 143-157.
NASCIMENTO, C. E. Estudo florstico e fitossociolgico em um remanescente de caatinga a margem
do rio So Francisco, Petrolina Pernambuco. Recife, 1998. 84 f. Dissertao (Mestrado em Botnica)
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
NASCIMENTO, C. E. S. Comportamento invasor da algaroba - Prosopis juliflora (Sw) DC. - nas
plancies aluviais da caatinga. Recife, 2008. 115 f. Tese (Doutorado). Universidade Federal Rural de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

478
Pernambuco OLIVEIRA, F. X.. Impactos da invaso da algaroba - Prosopis juliflora (Sw) DC. - sobre o
componente arbustivo arbreo da caatinga nas microrregies do Curimata e do Serid nos Estados da
Paraba e do Rio Grande do Norte. Areia, 2006. 135 f. Dissertao (Mestrado em Agronomia). Universidade
Federal da Paraba..
REZENDE, A. V. Importncia das matas de galeria: manuteno e recuperao. In: RIBEIRO, J. F. (Ed.)
Cerrado: matas de galeria. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1998. p.1-15.
RODRIGUES, R. R. Uma discusso nomenclatural das formaes ciliares. In: RODRIGUES, R. R.;
LEITO FILHO, H. de F. (Org.) Matas ciliares conservao e recuperao. So Paulo: EDUSP, 2000. p. 91-99.
SOUZA, J. A. N.; RODAL, M. J. N. Levantamento florstico em trecho de vegetao ripria de caatinga
no rio Paje, Floresta/Pernambuco/Brasil. Revista Caatinga, Mossor, v. 23, n. 4, p. 54-62. out./ dez. 2010.

Joo Pessoa, outubro de 2011

479

ANLISE DA EDUCAO AMBIENTAL EMPREGADA NO HORTO DE DOIS


IRMOS - RECIFE / PE
Kamila L. T. NASCIMENTO
Adna P. FERREIRA
Estudante de graduao em Cincias Biolgicas com nfase em Cincias Ambientais pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e de Saneamento Ambiental pelo Instituto Federal de Educao, Cincia e Te cnologia de Pernambuco
(IFPE). E-mail: kamilalarisa@hotmail.com
Estudante de graduao em Cincias Biolgicas com nfase em Cincias Ambientais pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). E-mail: adinhaporto_poetinha@hotmail.com

RESUMO
Desde a antiguidade que os seres humanos possuem o hbito de colecionar animais, que nessa
poca, significava sinal de riqueza e poder. Com o passar do tempo, surgi o primeiro zoolgico pblico que
tinha como objetivo abrigar os animais para expor a sociedade. Posteriormente, entre os sculos XVIII E XIX
com atravs do crescimento de da cincia os zoolgicos deixaram de ser apenas ambientes que serviam
para o alojamento de animais e passou a ser visto como um local de estudos. Tendo-se uma maior
preocupao com os recintos dos animais, realizando estudos sobre o comportamento deles e
identificando desta maneira, os pontos negativos a serem modificados. Por meio de vrias transformaes
ocorridas durante o passar dos anos, esses ambientes deixaram de ter somente a funo de acolhimento
de animais para a exibio, e atualmente os zoolgicos apresentam quatro funes principais: Conservao,
Pesquisa Cientfica, Entretenimento e Educao Ambiental. Tendo a educao ambiental como umas das
principais funes de um zoolgico, o principal objetivo desse trabalho foi de verificar de que forma ela
est sendo colocada em prtica no Horto de Dois Irmos/ Recife- PE comprando tal atividade com as
efetuadas em trs outros zoolgicos brasileiros.
PALAVRAS CHAVES: Educao Ambiental, Funes de um zoolgico, Horto de Dois Irmos/RecifePE, Zoolgicos Brasileiros.
INTRODUO
A cultura de manuteno de animais selvagens em cativeiro vem desde a antiguidade entre
os imperadores chineses, os astecas e os faras egpcios. Costume que continuou entre os nobres at o
sculo XVIII, segundo Mergulho (1997).
Segundo Figueiredo (2001), praticamente todas as grandes civilizaes antigas mantiveram
colees de animais, uma vez que esse hbito era sinal de riqueza e poder dos governantes da poca, que
se sentiam mais fortes quando cercados de animais perigosos e exticos.
No sculo XVIII surgiu o primeiro zoolgico pblico na Europa em Paris, na Frana onde os
animais eram derivados de apreenses em circos ou de outros eventos que utilizavam animais em shows.
Posteriormente foi fundado o Zoolgico da Sociedade de Londres, com o objetivo de ser uma instituio
cientfica para o estudo da zoologia. Porm com a finalidade de serem obtidos recursos financeiros para a
manuteno dos animais, o local tornou-se aberto visitao pblica e comeou a exibir os animais e fazer
shows para atrair os visitantes.
A grande maioria dos zoolgicos europeus e americanos passou a se estabelecer nos sculos XIX e
XX devido ao desenvolvimento das cidades e ao uso e ocupao de reas naturais, o que tornava essas
instituies importantes na conservao da vida de acordo com Figueiredo (2001).
A criao dos zoolgicos deu-se com o objetivo de expor os animais para a sociedade. As pessoas
passaram a frequentar bastante esses ambientes tendo em vista ser um local onde elas poderiam se
divertir observando os animais juntamente com a famlia. No havia nenhum olhar voltado para o uso dos
zoolgicos na educao ambiental, pesquisa cientfica, conservao ou qualquer coisa do gnero.
Orientadora: Orientadora: Aldemir D. Barboza - Professora Adjunta da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) no Centro de Filosofia e Cincias Humanas. Depto. De Cincias Geogrficas. E-mail:
aldemirbarboza@hotmal.com.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

480
Atravs do esprito cientfico que aumentava durante os Sculos XVIII e XIX, os zoolgicos
comearam a ser vistos como locais de estudo, e no apenas lugares para diverso. Com o
desenvolvimento de pesquisas sobre o comportamento dos animais na natureza, observou-se a
necessidade de enriquecer os recintos com elementos que os tornassem semelhantes ao habitat natural do
animal, tais como abrigos, galhos e tocas, dentre outros. Com o passar do tempo, recintos com grades e
barras foram substitudos por fossos, valas e outra barreiras invisveis, segundo Costa (2003).
Acompanhando a viso das instituies que surgiram na Europa durante o sculo XVIII, surge ao fim
do sculo XIX o primeiro zoolgico brasileiro no estado do Par. Posteriormente foi criado o do Rio de
Janeiro no ano de 1945. No ano de 1977 foi fundada a Sociedade de Zoolgicos do Brasil e foi a partir de
seu surgimento que os zoolgicos brasileiros comearam a dar um novo olhar aos vrios papis que um
zoolgico pode desempenhar. Hoje se sabe que est alm da recreao, desempenhando quatro funes
principais: Conservao, Pesquisa Cientfica, Entretenimento e Educao Ambiental.
Atualmente, no se pode manter um zoolgico apenas para abrigar animais. Na programao de
muitos zoolgicos a Educao Ambiental j est includa, sendo uma das formas mais eficientes para
transformar a mentalidade antiga de ver os animais apenas como bonecos enjaulados, conforme Telles et
al., (2002). Ainda conforme o mesmo autor, com programas bem elaborados, muitos zoolgicos j possuem
locais apropriados para executar atividades com alunos e visitantes, ensinando manejo e comportamento
dos animais de forma agradvel e educativa.
Dessa forma, o principal objetivo deste trabalho foi discutir de que maneira est sendo abordada
uma das principais funes de um zoolgico - a educao ambiental- no Horto de Dois Irmos/ Recife-PE e
comparando com a realizao da mesma atividade em trs outros zoolgicos brasileiros.
MATERIAL E MTODOS
A rea de estudo foi o Horto de Dois Irmos localizado em Recife sendo o nico zoolgico presente
na cidade. O parque possui uma rea de 384,42 h sendo 14ha ocupada pelo zoolgico. Onde vivem cerca
de 690 animais.
A coleta de informaes foi feita atravs de uma pesquisa no site do parque com o objetivo de
encontrar mais informaes a respeito do assunto e realizao de uma entrevista com um dos responsveis
pela efetuao de atividades que visem educao ambiental dos frequentadores do local. Foi realizada
uma pesquisa bibliogrfica com o intuito de encontrar informaes a respeito de outros zoolgicos
localizados no Brasil e suas respectivas atividades de Educao Ambiental para uma possvel comparao
com o zoolgico do Recife.
RESULTADOS
Por meio de uma pesquisa no site do Parque de Dois Irmos- Recife/PE e entrevista com um dos
responsveis pela rea de educao ambiental dentro do Horto, foi observado que h um Centro de
Educao Ambiental localizado dentro do parque denominado de Centro Vasconcelos Sobrinho de
Educao Ambiental (CEA). De acordo com as informaes contidas no site e fornecidas pelo responsvel,
esse centro possui atividades voltadas na socializao de conhecimentos nas reas de Cincias Biolgicas,
Veterinria, Zootecnia e Educao Ambiental, tambm possui um calendrio ecolgico pedaggico (Semana
do ndio, Dia da Criana, Semana do Meio Ambiente, etc.), promovendo tambm colnia de frias,
exposies temticas, cursos e palestras sobre o meio ambiente, envolvendo atividades e informaes
sobre conservao, preservao e reciclagem.
O CEA tambm possui aes relacionadas com a divulgao e ampliao de projetos educacionais a
todos os segmentos da sociedade, alm de possuir tambm um museu de Cincias Naturais que contm
um acervo com animais da fauna local taxidermizados. importante ressaltar que todas as atividades do
Centro Vasconcelos Sobrinho de Educao Ambiental so praticadas dentro das acomodaes do parque e
para seus visitantes.
Com a pesquisa bibliogrfica desempenhada para a verificao de como anda sendo empregada
educao ambiental em trs outros zoolgicos brasileiros foi visto que eles possuem atividades que vo
bem mais alm das realizadas no Horto de Dois Irmos.
Segundo Oliveira (2004), um dos zoolgicos brasileiros localizado na cidade de Curitiba possui um
amplo programa de Educao Ambiental, o qual composto por diversas atividades dentro e fora do local.
Joo Pessoa, outubro de 2011

481
H exposies onde o pblico pode conhecer peas taxidermizadas, crnios, patas e bicos de animais, bem
como receber informaes sobre o ambiente, suas interaes e as relaes da fauna e flora. Os visitantes
tambm podem assistir a vdeos educativos, participar de atividades culturais, recreativas e visitas
orientadas de acordo com Frasson & Bregenski (1996). Outra atividade importante que realizada pelos
funcionrios do zoolgico so visitas a hospitais e instituies de assistncia deficientes fsicos e mentais.
Os funcionrios levam filhotes dos animais do zoolgico ou animais domsticos. O contato com os animais
diverte e relaxa as crianas, melhorando seu estado emocional segundo, Frasson & Bregenski (1996).
No zoolgico de Fortaleza no estado do Cear que recebe muitas visitas de escolas da rede
municipal de ensino e tambm as escolas particulares, os professores responsveis, agendam a visita
antecipadamente informando qual a faixa etria dos alunos que participaro da visita. A partir da, os
estagirios do zoolgico preparam uma programao de acordo com o pblico-alvo. Durante a visita, alm
de explicaes acerca da importncia da fauna silvestre, so utilizados materiais didticos previamente
elaborados pelos estagirios e realizadas brincadeiras educativas voltadas para a conscientizao ambiental
do pblico. Tambm so disponibilizados para a populao, animais taxidermizados que so muito
utilizados nas feiras de cincias de diversas escolas. O Horto Municipal de Fortaleza est localizado numa
rea vizinha ao zoolgico, desta forma, os trabalhos de Educao Ambiental so tambm direcionados para
a conservao da vegetao nativa. Os visitantes tambm so acompanhados por funcionrios do horto,
que explicam o processo de produo de mudas e a utilizao de plantas para fins medicinais de acordo
com Oliveira (2004).
Em Sorocaba/SP o zoolgico realiza vrias atividades em Educao Ambiental que atendem cerca
de 20.000 crianas por ano, fato que o torna conhecido internacionalmente como centro de referncia em
E. A., conforme Ribeiro et al, (1996). Dentre as atividades direcionadas para a formao de reeditores
ambientais realizadas no zoolgico podemos citar a capacitao e elaborao de subsdios didticos para
professores e a formao de monitores. Moser & Mergulho (1996) comentam que, aos domingos, o
zoolgico recebe um pblico de aproximadamente 4000 pessoas. Em consequncia disso, o parque vinha
sofrendo agresses no que diz respeito aos animais e a sua estrutura. Dessa forma, a equipe de Educao
Ambiental elaborou um programa intitulado de Domingo no Parque. O programa realizado aos
domingos das 14 s 17 horas, quando os monitores devidamente identificados circulam pelo zool. e se
colocam disposio das pessoas para tirar dvidas e solicitar o maior cuidado dos visitantes com a
estrutura do zoolgico e o respeito que os mesmos devem ter ao observar os animais. Segundo os autores,
aps o incio da realizao desse programa, a agresso aos animais diminuiu sensivelmente, reforando a
eficcia da atividade. Conforme Mergulho & Zavarezzi (1996), outro programa de Educao Ambiental
realizado pelo zoolgico de Sorocaba O Zo Vai Escola, que foi criado com o objetivo de proporcionar
uma atividade educativa s escolas que no podiam participar das visitas orientadas no zoolgico. Os
professores agendam a visita escola e optam por um assunto que mais se adapte ao currculo escolar.
Dentre os assuntos abordados nessa atividade pode-se destacar: ecossistemas brasileiros, ambiente
marinho, ambiente urbano, animais peonhentos, bichinhos, plantas de Sorocaba, clima, solo e a gua. A
avaliao com os professores tem mostrado a boa aceitao do programa por parte das escolas, conforme
Oliveira (2004).
DISCUSSO
A educao ambiental est dentre uma das funes mais importantes desempenhadas pelos
zoolgicos. Esses ambientes so bastante procurados pela populao que buscam alguma forma de lazer
por meio da observao dos animais ali presentes e participao nas atividades fornecidas.
O Horto de Dois Irmos anualmente visitado por cerca de 240.000 pessoas, em sua maioria de
classes mais baixas e moradoras da regio metropolitana do Recife, conforme Fernandes et al.(2000), por
isso essencial o desenvolvimento de atividades que objetivem a educao ambiental de seus visitantes,
proporcionando um maior dinamismo e evidenciando que as funes dos zoolgicos vo alm da exposio
de animais, demostrando dessa forma seu papel de contribuio para a formao de pessoas mais
conscientes ambientalmente.
O centro de Educao Ambiental localizado no Horto sem dvida um instrumento crucial para a
educao ambiental, mas, quando comparado com os trs zoolgicos que foram tomados como exemplo,
percebe-se que possvel ter uma maior amplitude no assunto, pois nesses zoolgicos, a educao
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

482
ambiental no est limitada a um centro que proporciona atividades ligadas ao meio ambiente, eles
procuram ir bem mais longe.
Em Curitiba, por exemplo, o zoolgico, busca levar a educao ambiental para fora do zool. Por
meio de visitas a hospitais e instituies de assistncia a deficientes fsicos e mentais, efetuando dessa
forma um trabalho socioambiental bastante relevante e importante que tambm poderia ser includo no
programa de educao ambiental do Horto de Dois Irmos, pois, Recife possui uma quantidade de hospitais
e instituies da mesma esfera, onde as pessoas que se encontram localizadas dentro desses ambientes
necessitam desses tipos de atividades. No s para efetuao da funo ambiental, mas, tambm para
colocar em prtica o papel social.
J em Fortaleza/CE as atividades de educao ambiental para as escolas que se disponibilizam a
visitar o local, so realizadas de acordo com a faixa etria dos visitantes e os estagirios preparam a
programao de acordo com as idades dos alunos. So realizadas diversas explicaes a respeito de
assuntos como a fauna com os materiais que foram preparados previamente e a incluso de brincadeiras
que ajuda numa melhor fixao dos assuntos explorados e consequentemente uma maior conscientizao.
Aos demais frequentadores do zoolgico h a existncia de funcionrios do zoolgico fornecendo
orientaes a respeito de assuntos sobre a educao ambiental, ao contrrio do que acontece no zoolgico
de Dois Irmos onde os responsveis se restringem a praticar atividades dentro do Centro de Educao
Ambiental l existente, o Horto de Dois Irmos no possui em suas acomodaes a presena de
funcionrios fornecendo informaes aos seus visitantes como foi encontrado no zool. de Fortaleza/CE.
Essa questo bastante importante e necessria porque a incluso de pessoas devidamente capacitadas
para orientar a populao em diversas partes do parque aumentaria a preservao do local e alm de levar
informaes quelas que por algum motivo no podem participar das atividades fornecidas no centro de
educao ambiental presente no parque.
A educao ambiental realizada no zoolgico de Sorocaba tida como referncia. Eles tambm
realizam trabalhos de educao ambiental dentro de fora do zoolgico. Uma dos projetos, visa educar as
pessoas para que elas no destruam a estrutura do parque e para que tenham um maior respeito aos
animais ali presentes. Funcionrios do zool. circulam pelo ambiente e se disponibilizam a tirar dvidas dos
visitantes alm de orienta-los sobre como observar de uma melhor forma os animais e a importncia de se
preservar o parque. necessrio ressaltar que esse programa realizado todos os domingos. A circulao
dos funcionrios do zoolgico fornecendo informaes aos seus frequentadores de como observar os
animais muito importante pois a populao, em sua maioria, no possui nenhuma orientao sobre o
assunto e acabam desrespeitando as regras no que diz respeito ao tratamento correto para com os
animais. o que acontece no Horto de Dois Irmos, onde existe uma placa com as regras de visitao, mas,
no h a presena de monitores como no zoolgico de Sorocaba. Ento, grande parte da populao no
segue as regras impostas gerando dessa maneira um maior estresse para os animais, os quais j so
bastante estressados por outros fatores encontrados no local.
Levar a educao ambiental para as escolas tambm uma atividade desempenhada pelo
zoolgico de Sorocaba. Muitas vezes os professores no podem levar os alunos para uma visita ao zool.
mas, em Sorocaba eles podem agendar a visita do zoolgico na escola, onde eles efetuam atividades com
base no assunto escolhido pelo professor responsvel. Uma questo que tambm poderia ser aplicada ao
zoolgico de Recife, pois ao redor do mesmo h muitas escolas que poderiam receber esse tipo de projeto.
CONCLUSO
De acordo com a pesquisa feita sobre a educao ambiental efetuada dentro do Horto de Dois
Irmos Recife/PE em comparao a educao ambiental realizada em trs outros zoolgicos brasileiros,
sendo um deles referncia no assunto, foi percebido que o zoolgico do Recife pode acrescentar diversas
atividades ao seu programa de educao ambiental, deixando de tratar do assunto somente dentro de suas
delimitaes por meio de um Centro de Educao que mesmo estando localizado dentro do parque, no
atinge a todos os visitantes do horto porque no so todas as pessoas que possuem disponibilidade para
participar das atividades que so abordadas no Centro Vasconcelos Sobrinho de Educao Ambiental.
Vrias modificaes deveriam ser acrescentadas, tomando como exemplo outros zoolgicos brasileiros ou
at mesmo os localizados fora do pas para que com isso o Horto de Dois Irmos aprimore as suas
atividades levando a educao ambiental para um caminho bem mais extenso.
Joo Pessoa, outubro de 2011

483

REFERNCIAS
COSTA, G. O. Situao Atual dos Recintos do Parque Zoolgico Sargento Prata, Fortaleza/CE.
Monografia. Universidade Estadual do Cear. 2003. 41p.
FERNANDES, A. C. A.; MORAIS, D. A. L.; AVELLAR, C. (2000) Estimativa dos Valores Comercial e de
Custo de Viagem Travel Cost na Reserva Ecolgica de Dois Irmos, Recife-PE, Brasil. Biota 1, 5-9.
FIGUEIREDO, I. C. S. Histrico dos Zoolgicos no Mundo. In: WEMMER, C.; TEARE, J. A.; PIOKETT, C.
Manual do Bilogo de Zoolgico Para Pases em Desenvolvimento. So Carlos: Sociedade de Zoolgicos do
Brasil SZB, vii-x, 2001.
FRASSON, M. L.; BREGENSKI, M. A. Educao Ambiental no zoolgico de Curitiba. In Congresso
Brasileiro de Zoolgicos, XX, 1996. Cuiab. Anais...1996. p. 35
MERGULHO, M. C. & ZAVAREZZI, F. O Zo Vai Escola. In: 3 Congresso de Ecologia do Brasil,
1996. Braslia. Anais... 1996. p. 319.
MERGULHO, M. C. Zoolgico: uma sala de aula viva. In: PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. Educao
Ambiental: Caminhos Trilhados no Brasil. Braslia, 193-200, 1997.
MOSER, G. I. F. & MERGULHO, M. C. Programa de Educao Ambiental Domingo no Parque. In:
3 Congresso de Ecologia do Brasil, 1996. Braslia. Anais...1996. p. 321.
OLIVEIRA,C.G. Educao Ambiental Experincias dos Zoolgicos Brasileiros. Revista Eletrnica do
Mestrado em Educao Ambiental, 2004. Fundao Universidade Federal do Rio Grande.
RIBEIRO, L. M.; DUEK, E. A. R.; MERGULHO, M. C. Elaborao e aplicao de tcnicas de avaliao
em trs programas de Educao Ambiental no Parque Zoolgico Municipal Quinzinho de Barros
Sorocaba. In: 3 Congresso de Ecologia do Brasil, 1996. Braslia. Anais...1996. p. 319.
TELLES, M. Q.; ROCHA, M. B.; PEDRO, M. L.; MACHADO, S. M C. Vivncias Integradas com o Meio
Ambiente: Prticas de Educao Ambiental para Escolas, Parques, Praas e Zoolgicos. So Paulo: S
Editora, 2002.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

484

CONCEBENDO UNIDADES DE CONSERVAO: UM DEBATE SEM FIM?


1

Nadja Gomes MACHADO ,


2
Lidianny Aparecida ROCHA ,
3
Vera Lcia Monteiro dos Santos GUARIM
1
Laboratrio de Biologia da Conservao LABIC, Campus Cuiab Bela Vista, Instituto Federal de Mato Grosso IFMT, Av.
Ver. Juliano Costa Marques, s/n, Bela Vista, 78.050-560, Cuiab, MT, Brasil, e-mail: nadja.machado@blv.ifmt.edu.br,
professora.
2
Laboratrio de Biologia da Conservao LABIC, Campus Cuiab Bela Vista, Instituto Federal de Mato Grosso IFMT, Av.
Ver. Juliano Costa Marques, s/n, Bela Vista, 78.050-560, Cuiab, MT, Brasil. Estudante.
3
Departamento de Botnica de Ecologia, Instituto de Biocincias IB, Universidade Federal de Mato Grosso UFMT, Av.
Fernando Correa da Costa, n 2367, 78060-900, Cuiab, MT, Brasil. Professora.

RESUMO
Atualmente, emerge o desejo de conciliar necessidades imediatas e futuras de comunidades
biolgicas e humanas. Estas reas de conservao devem ser criadas em locais que permitam o futuro
evolutivo das comunidades. Desta maneira, ns temos que entender o por qu, o que, onde, como e
quanto conservar, criar e implementar estas reas. A compreenso de tais questes devem ser inseridas no
processo de concepo destas reas que consiste em: seleo, desenho das reas a serem protegidas e a
criao e implementao das unidades de conservao. Na seleo, ns devemos justificar o alto esforo
monetrio e social, assim como, sensibilizar a sociedade e a esfera poltica sobre sua necessidade. No
desenho, ns devemos observar a viabilidade de conservao das espcies e as condies que iremos
fornecer a elas. A criao um ato jurdico-legal de reconhecimento sobre a importncia da natureza. Na
implementao, ns devemos observar o manejo do territrio atravs de procedimentos administrativos e
tcnicos para alcanar os objetivos de conservao. Este texto no oferece um guia finalizado para ser
seguido, mas tenta expandir as discusses em cada estgio de concepo das unidades de conservao.
Estes processos devem ser planejados, porque envolvem o futuro de comunidades biolgicas e humanas.
Palavras-chave: reas protegidas; desenho de reas protegidas; manejo de territrio.
1. Introduo
Nos dias atuais, ns temos consumido os recursos naturais e comprometido a sustentabilidade
desses recursos tanto para as comunidades biolgicas quanto para nossas prprias geraes. Alm da
superexplorao dos recursos naturais, os nossos hbitos de consumo ocasionam a fragmentao de
habitats e a introduo de espcies exticas. Isto , tem causado alteraes na estrutura e no
funcionamento dos ecossistemas, e em alguns casos at o ponto de colapso (Meffe & Carrol, 1997).
Diante das transformaes de sistemas naturais em monoculturas (sistemas simplificados) e/ou
cidades (sistemas artificiais), surgem necessidades urgentes de medidas de conservao e restaurao das
comunidades biolgicas. Nas ltimas dcadas, a conservao da biodiversidade tem se tornado um objetivo
comum dos movimentos ambientalistas, sociais e polticos em nvel internacional, regional e local (Redford
& Richter, 1999).
Uma das medidas mais polmicas sobre a conservao das comunidades biolgicas o
estabelecimento de unidades de conservao, conhecidas tambm como reas protegidas, as quais se
tentam conciliar as necessidades imediatas e de longo prazo das populaes biolgicas e humanas.
Enquanto, a maioria dos pases usa o termo rea protegida automaticamente para designar unidade de
conservao, o Brasil diferencia rea protegida de unidade de conservao.
No Brasil, as reas protegidas so tambm as margens dos rios, os topos dos morros, as encostas
ngrimes e as reservas legais das propriedades (BRASIL, 2000). J as unidades de conservao so
caracterizadas como uma rea de terra e/ou mar especialmente dedicada para a proteo e manuteno
de diversidade biolgica, com recursos naturais e culturais associados, e manejados atravs de leis e outras
medidas efetivas (IUCN, 1994).
A primeira unidade de conservao foi o Parque Nacional de Yosimite em 1864 seguida pelo Parque
Nacional de Yellostone em 1872, ambos nos EUA (Possingham et al., 2006). Qualquer atividade que
alterasse as caractersticas naturais dessas reas foi proibida, destinando-as para a recreao e benefcio
das geraes atuais e futuras (Milano, 2003). Essa idia de parque se estendeu para vrios pases, entre
eles Canad (1885), Austrlia e frica do Sul (1898), Argentina (1903), Chile (1926), Equador (1934),
Joo Pessoa, outubro de 2011

485
Venezuela e Brasil (1937). Embora, nosso primeiro parque tenha sido criado em 1937 (Parque Nacional de
Itatiaia), desde 1876, o engenheiro Andr Rebouas lutou para que parques nacionais fossem criados na
Ilha do Bananal e Sete Quedas (Milano, 2003).
Em 1948, em uma conferncia internacional, um grupo de conferencistas criou a World
Conservation Union (IUCN), cuja misso contribuir com a proteo da natureza e o uso equitvel e
sustentvel dos recursos naturais. A sua sede em Gland na Sua, mas h escritrios da IUCN em 62
pases. Dentro da IUCN, existe a Comisso Mundial de reas Protegidas (WCPA) que tem contribudo no
estabelecimento e manejo efetivo de uma ampla rede representativa de reas terrestres e marinhas
protegidas.
Atualmente, h 107.107 unidades de conservao que cobrem 19.630.148 de km2, ou seja,
aproximadamente 12% da superfcie terrestre. A Amrica Central e a Amrica do Sul so as regies que
mais tm porcentagem de unidades de conservao, 22,45% e 19,33%, respectivamente. O Brasil tem
18,70% de sua rea protegida (IUCN, 2006). Estas unidades de conservao esto localizadas em regies
neotropicais e elas so consideradas reas com maior a concentrao de biodiversidade. Diante das
questes apresentadas, repensar o processo de concepo de unidades de conservao se faz necessrio,
pois possibilita avaliar as lacunas do pensamento conservacionista.
2. Unidades de Conservao
O objetivo fundamental das unidades de conservao assegurar que populaes biolgicas
possam responder s mudanas ambientais de uma maneira adaptativa (Meffe & Carrol, 1997), Sendo
assim, elas se constituem como locais que permitem o futuro evolutivo das comunidades biolgicas.
Para que as unidades de conservao atinjam tal objetivo, ns precisamos responder ou pelo
menos compreender durante o processo de concepo dessas unidades muitas questes, entre elas: por
que, o que e onde conservar? Como e quanto conservar? Como criar? Como implementar?
Para responder ou compreender tais questes, os bilogos da conservao tem se baseado num
arcabouo terico que no est finalizado e talvez nunca seja finalizado. As principais bases tericas da
biologia da conservao para a concepo de unidades de conservao so: Teoria de Biogeografia de Ilhas,
Macroecologia, Teoria de Metapopulaes, Ecologia da Paisagem, Fragmentao e Efeito de borda.
A concepo de uma unidade de conservao deveria seguir um protocolo que por muito tempo
debatido, mas no tem sido praticado com sucesso. Seguir um protocolo interessante, porque ele
direciona a constituio de uma rede mundial de conservao, assegurando mais efetivamente a
conservao de locais que realmente permitam o futuro evolutivo das comunidades biolgicas.
As etapas do protocolo para a concepo de uma unidade de conservao so as seguintes: seleo
da rea a ser protegida; desenho da rea a ser protegida; criao da unidade de conservao e;
implementao da unidade de conservao. um protocolo que no oferece uma receita a ser seguida,
mas tenta ampliar as discusses em cada etapa para conceber uma unidade de conservao.
3. Concebendo Unidades de Conservao
3.1 Seleo
A existncia de unidades de conservao uma deciso poltica e jurdico-legal. Quando o Estado
como representante do povo opta por conservar espcies e paisagens, ele assume perante a sociedade que
a conservao um valor cultural coletivo da sociedade. Sendo assim, as polticas pblicas voltadas para a
conservao do ambiente so reflexos desse valor cultural coletivo. Diante disto, por que conservar uma
questo de difcil consenso.
Para algumas pessoas, ns devemos conservar porque dependemos dos recursos naturais e no
devemos esgot-los sem pensar nas geraes futuras. Para outras pessoas, ns devemos conservar porque
no conhecemos os poderes medicinais de plantas, animais e microrganismos e no futuro ns poderemos
precisar de suas propriedades qumicas. Outros acreditam que devemos conservar porque a natureza
bela e plantas, animais e microrganismos tem o direito de existir.
As razes que motivam o desejo de conservar podem estar relacionadas aos valores ticos,
estticos, cnicos e econmicos. As discusses sobre isto so fundamentais para justificar o esforo de
conservao. Neste momento, os pontos de vistas sobre o porqu conservar so complementares e no
excludentes.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

486
O que precisa ser conservado? Onde deveria ser protegido? Quais os critrios que devemos utilizar
para selecionar uma rea? Ou seja, o que e onde conservar so tambm questes polmicas.
Os principais critrios utilizados para fundamentar a seleo de uma rea so a diferenciao
(paisagens nicas), o perigo (espcies em risco de extino), a utilidade (espcies com potencial comercial
e/ou farmacutico) e a representatividade (todos os ecossistemas devem ter mais de uma parcela
representativa conservada) (Primarck, 1998).
Nesta etapa, reunir diversos pontos de vista sobre por que, o que e onde conservar so
fundamentais para justificar o alto preo monetrio e esforo social da criao de unidades de
conservao, como tambm para sensibilizar a sociedade e a esfera poltica sobre tal necessidade.
3.2 Desenho
Decidir sobre o quanto e como conservar to polmico quanto o porqu conservar. Porm, talvez
esta seja a etapa com a maior fundamentao terica para consolidar as unidades de conservao como
locais que permitem o futuro evolutivo das comunidades biolgicas.
necessrio compreender o quanto das comunidades ns precisamos para conservar. Esta questo
complicada para ser respondida, porque ns conhecemos apenas um pouco da diversidade biolgica.
Mesmo sem conhecer a totalidade ou a quase totalidade da diversidade biolgica, ns podemos trabalhar
com cenrios para determinar o quanto conservar, atravs de uma avaliao de viabilidade de conservao
da espcie (ou das espcies que queremos conservar) em relao s condies em que a manteremos.
importante avaliar o tamanho da populao, porque populaes menores so mais susceptveis as
variaes ambientais e, portanto mais fceis de serem extintas.
O processo para avaliar a viabilidade de uma populao consiste no uso de modelos matemticos
que incorporem fenmenos que afetam o tamanho das populaes, e consequentemente poderemos fazer
simulaes computacionais para que diversos cenrios possam ser compostos (Possingham & Davies,
1995).
Os principais fenmenos que afetam o tamanho populacional so oriundos de processos
demogrficos, fatores de variao ambiental, fatores genticos, catstrofes, estrutura de metapopulao e,
fragmentao da paisagem (Soul, 1996).
As condies de conservao em que manteremos as espcies esto relacionadas ao tamanho e a
forma da rea, assim como ao grau de exposio s aes antrpicas que a mesma sofre. Podemos ainda,
ressaltar a importncia do grau de conectividade entre as unidades de conservao.
reas maiores tendem a suportar populaes maiores, por causa da maior heterogeneidade de
habitats (MacArthur & Wilson, 2001), o que proporciona maior variabilidade de recursos utilizados para
alimentao, refgio e reproduo. Nestas reas, as espcies podem ser divididas em vrias populaes e
estas sofrem processos de extino, migrao e colonizao (Hanski & Gilpin, 1997).
Sendo assim, reas maiores tm maior disponibilidade de habitat e recursos o que
consequentemente, faz com que elas suportem populaes maiores e as mantenha espacialmente isoladas
e funcionalmente unidas por fluxos biolgicos. Assegurar o isolamento espacial s populaes, mas que
sejam funcionalmente unidas garante uma maior variabilidade gnica e uma maior flexibilidade evolutiva
frente a um ambiente varivel (Metzger, 2006c).
A Teoria de Biogeografia de Ilhas permite o debate SLOSS (single and large versus severals and
small). H pontos importantes sobre o debate SLOSS que devem ser pontuados. Quando se opta por uma
grande e nica reserva minimizamos os riscos de extino em funo de populaes pequenas. Porm,
neste caso, h maior risco de extino em massa por perturbaes raras em grande escala (Metzger,
2006b).
Quando se opta por vrias e pequenas reservas ns maximizamos a riqueza especfica, porque
vrias reservas pequenas protegem um maior nmero de espcies (Metzger, 2006b). No entanto, este
maior nmero de espcies advm de espcies de borda e generalistas, sendo que muitas espcies focais
podem no estar sendo protegidas (Metzger, 2006b).
O debate SLOSS tem outras limitaes. A realidade nos permite conservar o que sobrou. A pergunta
SLOSS no espacialmente explcita, porque temos diferentes graus de fragmentao (Quantas reas
pequenas? Qual o tamanho de cada rea?) e de distribuio espacial (Metzger, 2006b).
Joo Pessoa, outubro de 2011

487
O que sobrou aps o uso e ocupao humana, normalmente so fragmentos espacialmente
isolados e imersos em pastagens, produes agrcolas ou outras paisagens intensamente modificadas. A
fragmentao ocasiona perda e isolamento de habitat, mudanas no padro de disperso e migrao e
eroso do solo (Scoss, 2002), o que ocasiona perda de biodiversidade.
A caracterstica mais marcante dos fragmentos florestais o efeito de borda. A borda de um
fragmento pode ser definida como a juno de dois tipos de habitat em estgios sucessionais diferentes
(Faaborg et al., 1992). reas maiores e de forma arredondada sofrem menor efeito de borda, porque no
sofrem de desbalanceamento da relao tamanho da rea e sua respectiva circunferncia ou permetro
(Scoss, 2002).
A ecologia de paisagem considera a paisagem como um mosaico ambiental heterogneo e formado
por unidades interativas cujo padro espacial se expressa nos processos ecolgicos (Metzger, 2006a) e nas
interaes biolgicas. Sendo estas unidades interativas, necessrio pensar sobre a matriz da paisagem
que a futura unidade de conservao estar inserida, porque a mesma sofrer influncia das atividades
exercidas nas unidades da paisagem de seu entorno.
Nesta etapa, devemos conceber a unidade de conservao considerando a constituio de uma
rede de unidades de conservao a fim de permitir a conectividade das populaes biolgicas e das
unidades das paisagens que, por sua vez permite o futuro evolutivo das comunidades biolgicas frente a
um ambiente constantemente varivel.
3.3 Criao
Nesta etapa, preciso ter informaes que justifiquem a necessidade de conservao e que
convenam o poder pblico a criar a unidade de conservao em consonncia com os direcionamentos
apontados pelos estudos de seleo e desenho da futura unidade de conservao.
A criao da unidade de conservao pelo poder pblico um ato de reconhecimento da proteo
e importncia da mesma pela sociedade. O ato de criao um procedimento jurdico-legal de cada pas, o
que no convm discut-lo neste momento.
3.4 Implementao
Uma unidade de conservao estar implementada quando os seus objetivos forem colocados em
prtica. Sendo assim, sua implementao depende das atividades que sero desenvolvidas em seu
territrio. O plano de manejo o instrumento de gesto do seu territrio. Ele composto por
procedimentos tcnicos e administrativos que sero aplicados concretizao da finalidade da unidade de
conservao.
Vale ressaltar que, hoje a abrangncia do manejo procura no somente inserir a sustentabilidade
biolgica e ecolgica, mas tambm a sustentabilidade econmica destas reas, atravs de atividades como
o ecoturismo e a recreao.
Para elaborar o plano de manejo necessrio: realizar pesquisa bibliogrfica sobre a rea;
inventariar os recursos naturais e culturais da rea; analisar as informaes obtidas e; escrever o plano de
manejo (Milano, 2003).
No plano de manejo, a definio do zoneamento e dos programas de manejo so as partes mais
importantes. O zoneamento o ordenamento territorial das categorias de uso da unidade de conservao,
considerando suas caractersticas. O zoneamento deve definir reas intangveis, reas de recreao, reas
de uso especial (sede da administrao) ou reas de recuperao (IBAMA, 2000).
Os programas de manejo definem as atividades que sero desenvolvidas com base nos estudos
realizados e nos objetivos da unidade de conservao. Os programas bsicos de manejo so: Programa de
Operacionalizao (Administrao, Relaes Pblicas, Capacitao e Atualizao Profissional); Programa de
Uso Pblico (Turismo e educao ambiental); Programa de Responsabilidade Social (Desenvolvimento
sustentvel e Educao Ambiental das Comunidades adjacentes) e; Programa de Monitoramento e
Fiscalizao Ambiental (Pesquisa Cientfica, Vigilncia Ambiental e Combate Incndios Florestais).
4. Consideraes finais

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

488
Os gestores pblicos precisam conciliar as necessidades imediatas e de longo prazo das
populaes biolgicas e humanas, porque a conservao da biodiversidade e dos recursos naturais uma
necessidade urgente frente s mudanas ambientais no planeta e suas severas conseqncias.
Apenas12% da superfcie terrestre est contida em unidades de conservao. Diante do rpido
crescimento populacional humano, a quantidade de unidades de conservao relativamente pequena
quando consideramos a existncia de reas nicas, frgeis e vulnerveis.
Regies tropicais com maior biodiversidade do planeta, como a Amrica Central e a Amrica do
Sul possuem 22,45% e 19,33% de sua rea protegida, respectivamente. Enquanto que, o Brasil tem 18,70%.
A porcentagem de reas consideradas protegidas no distingue reas de proteo integral das
reas chamadas de uso sustentvel. Se separarmos esses dois tipos de proteo e compreendermos que as
reas de uso sustentvel no so protegidas adequadamente, considerando as teorias ecolgicas, a
porcentagem de reas realmente protegidas menor ainda.
O uso de uma terminologia de classificao de unidades de conservao facilita a compilao de
dados sobre as mesmas e uma maior efetiva estratgia de conservao.
As unidades de conservao devem ser concebidas como locais que permitem o futuro evolutivo
das comunidades biolgicas. Por isso, necessrio conceb-las adequadamente.
O ato de conceber uma unidade de conservao composto pelos seguintes passos: seleo da
rea a ser protegida; desenho da rea a ser protegida; criao da unidade de conservao e;
implementao da unidade de conservao.
Este um protocolo que no oferece uma receita a ser seguida, mas tenta ampliar as discusses
em cada etapa para conceber uma unidade de conservao. Os gestores pblicos precisam pensar e
planejar cada uma das etapas de concepo destas reas.
Na etapa de seleo, devemos responder as questes de por que, o que e onde conservar. Neste
momento, preciso se cercar de toda fundamentao indispensvel para justificar o alto preo monetrio
e esforo social da criao de uma unidade de conservao, como tambm para sensibilizar a sociedade e a
esfera poltica sobre tal necessidade.
No desenho da unidade de conservao, devemos responder as questes quanto e como
conservar. O quanto conservar pode ser avaliado pela viabilidade de conservao da espcie. O como
conservar est relacionado s condies que sero oferecidas s espcies ou comunidades biolgicas. Ns
devemos planejar o desenho da rea a ser protegida, considerando um mosaico de unidades de
conservao.
A criao da unidade de conservao pelo poder pblico um ato de reconhecimento da
proteo e importncia da mesma pela sociedade. um procedimento jurdico-legal de cada pas, o que
no convm discut-lo neste trabalho.
A implementao da unidade de conservao depende da gesto de seu territrio por
procedimentos tcnicos e administrativos que so aplicados com a finalidade de concretizar seus objetivos.
A gesto efetiva do territrio da unidade de conservao est contida em seu plano de manejo.
Este documento contm o zoneamento e os programas de manejo que so o esqueleto da gesto.
O zoneamento pode ser comporto por reas intangveis, reas de recreao, reas de uso
especial (sede da administrao) ou reas de recuperao.
Os principais programas de manejo so: operacionalizao, uso pblico, responsabilidade social e,
de monitoramento e fiscalizao ambiental.
5. Bibliografia
Faaborg, J., et al. 1992. Habitat fragmentation in the temperate zone: a perspective for managers.
Pp 331-338 In Finch, D. M. & Stangel, P. W. (Eds). Proceedings status and a management of Neotropical
migratory birds. Rocky Mountain Forest Experimental Station. General Technical Report R. M. 229, Fort
Collins, Colorado, 1993.
BRASIL. 2000. Guia de Chefe: manual de apoio ao gerenciamento de unidades de conservao
federais. Braslia/DF.
IUCN (The World Conservation Union). Disponvel em: [http://sea.unepwcmc.org/wdpa/mdgs/
index.cfm#]. Acesso em: 18/06/2006.
Joo Pessoa, outubro de 2011

489
IUCN (The World Conservation Union). 1994. Guidelines for Protected Area Management
Categories. IUCN and the World Conservation Monitoring Centre, Gland, Switzerland and Cambridge, UK.
Hanski, I. & Gilpin, M. 1997. Metapopulation Biology: ecology, genetics and evolution. Princeton
University Library.
MacArthur, R. H. & Wilson, E. O. 2001. The Theory of Island Biogeography. Princeton University
Library.
Meffe, G. K. & Carrol, C. R. 1997. Principles of Conservation Biology. 2nd edition. Sinauer Associates
Inc. Publishers.
Metzger, J. P. 2006a. O que ecologia de paisagens? Disponvel em [http://www.biotaneotropica.
org.br/v1n12/pt/fullpaper?bn00701122001+pt]. Acesso em: 28/07/ 2005.
Metzger, J. P. 2006b. Conservao da Paisagem: um novo paradigma para a conservao da
biodiversidade? Disponvel em [http://eco.ib.usp.br/lepac/eco_paisagem/9_conservacao.pdf]. Acesso em:
15/03/06.
Metzger, J. P. 2006c. Populaes em paisagens fragmentadas: da teoria das ilhas aos modelos
atuais de metapopulao. Disponvel [http://eco.ib.usp.br/lepac/eco_paisagem/5_biogeo_metapop. pdf].
Acesso em: 15/03/06.
Milano, M. S. 2003. Curso de Planejamento e Manejo de reas Naturais Protegidas. Guaraqueaba:
FBPN. 202p.
Possingham, H. P. et al. (2006). Protected Areas: Goals, Limitations, and Design. Pages 509-533 In
M. J. Groom, G. K. Meefe and C. R. Carroll, editors. Principles of Conservation Biology. 3rd Edition. Sinauer
Associates.
Possingham, H. P. & Davies, J. 1995. ALEX: a model for the viability analysis of spatially structured
populations In Biological Conservation. 73. 143-150.
Primack, R. B. 1998. Essentials of conservation biology. Boston Univ. Sinauer Assoc.
Scoss, L. M. 2002. Efeito de borda e suas conseqncias para a conservao de remanescentes de
florestas tropicais: uma reviso In 7 Faces Revista da Fundao Comunitria de Ensino Superior de Itabira.
Funcesi, 3 (1): 61-74.
Soul, M. E. 1996. Viable populations for conservation. Cambridge University Press.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

490

UNIDADES DE CONSERVAO E ORDENAMENTO TERRITORIAL:


IDENTIFICANDO CONFLITOS DE USO E OCUPAO DO SOLO COMO
SUBSDIO GESTO DA APA BONFIM-GUARARA, RN, BRASIL.
Luis Felipe Fernandes BARROS
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Departamento de Geografia. Aluno de Graduao (Bacharelado).
luisbarros.geo@hotmail.com.
Lutiane Queiroz de ALMEIDA
Prof. Dr. Departamento de Geografia. Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. lutianealmeida@hotmail.com

RESUMO
Diante da atual massificao da idia de desenvolvimento sustentvel, os governos nacionais tm
direcionado esforados para a criao de estratgias e instrumentos de preservao ambiental, pautados
em decises de alta cpula a nvel global. No Brasil, essas estratgias seguem diretamente s proposies
de rgos como a ONU (Organizao das Naes Unidas) atravs do Pnuma (Programa das Naes Unidas
para o Meio Ambiente), bem como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), direcionando as
polticas pblicas na esfera federal. No Rio Grande do Norte, diante do adensamento urbano e da
intensificao do turismo em certas reas do litoral potiguar, os sucessivos governos estaduais tm
adotado a estratgia de criao de Unidades de Conservao da Natureza. Nesse contexto, a APA BonfimGuarara, criada em 1999 atravs do decreto n 14.369 de 22 de Maro, uma das Unidades criadas em
territrio potiguar visando o ordenamento dos usos do solo praticados, com vistas atender as
recomendaes dos rgos internacionais. Para inserir a prtica da gesto participativa nessas Unidades, o
Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservao) lei federal que regulamenta a criao e gesto das
UCs no Brasil prev a criao de conselhos gestores. Estes conselhos so constitudos de representantes
da esfera pblica, empresarial e da sociedade civil organizada e pela heterogeneidade de sua composio,
por vezes a tomada de decises destes conselhos algo bastante complexo. Deste modo, a anlise aqui
apresentada busca elaborar o levantamento dos principais conflitos territoriais inseridos nos limites da APA
em questo, servindo de base para a tomada de decises futuras da referida cmara de conselheiros. A
abordagem se deu atravs do mtodo geossistmico, buscando a identificao dos conflitos e a
compreenso da totalidade destes em suas relaes sistmicas, apresentando assim uma espacializao
dos conflitos existentes visando adequadas maneiras de resoluo destes.
PALAVRAS-CHAVES: Unidades de Conservao; Rio Grande do Norte e APA Bonfim-Guararas.
ABSTRACT
Before the current massification of the idea of sustainable development, the national governments
have directed efforts for the creation of strategies and instruments of ambient preservation, guided by
decisions oh high summit at global level. In Brazil, these strategies follow directly the propositions of bodies
like a UN (United Nations) trough UNEP (United Nations Environment Programme), and the IDB (InterAmerican Development Bank), directing the public policies in the federal level. In Rio Grande do Norte,
before the urban overgrowth and intensification of tourism in some areas of potiguar coast, the successive
state governments have adopted the strategy of creation of Units of Conservation of Nature. In this
context, the APA Bonfim-Guarara, created in 1999 by decree n 14.369 in March 22, is one of the units
created in the potiguar territory aiming at the order of the practiced uses of the ground to attend the
recommendations of international bodies. To insert the practice of the participative management in these
units, the Snuc (Sistema Nacional de Unidades de Conservao) - federal law that regulates the creation and
management of the units of conservation in Brazil - provides for the creation of management councils.
These councils are constituted of representatives of the level public, entrepreneurial and of the organized
civil society and, for the heterogeneity of its composition, for times the taking of decisions of these councils
is something quite complex. Thus, the analysis presented here seeks to elaborate the survey of the main
territorial disputes within the limits of the APA in question, serving of base for the taking of future decisions
in the chamber of counselors. The approach was through the method of the geosystem, seeking the
identification of the conflicts and understanding of the totality of these in their systemic relations, thus
presenting a spatial distribution of the existing conflicts aiming at appropriate ways of resolution of these.
Joo Pessoa, outubro de 2011

491
Keywords: Units of Conservation; Rio Grande do Norte; APA Bonfim-Guararas.
INTRODUO: DA NATUREZA NATURATA A NATUREZA TECNIFICADA.
Em virtude da sua localizao geogrfica e da dinmica geoambiental pr-existente, o litoral
oriental potiguar apresenta hoje paisagens de grande beleza cnica como falsias, dunas mveis (menos
desenvolvidas que no trecho setentrional), inmeras lagoas costeiras, e quilmetros de praias com distintos
graus de ocupao. Esses objetos naturais materializam-se hoje no que se considera como sendo a
paisagem local (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI, 2004). Devido atuao da dinmica geoambiental
pretrita tais fisionomias espaciais foram delineadas atravs de milhares de anos e a dinmica atual at
pouco tempo atrs conseguia mant-las em estgio de equilbrio dinmico (CAMARGO, 2005).
Durante anos estas terras do litoral oriental tiveram seu tempo ditado pelo chamado meio
ecolgico (SANTOS, 1977), atravs da interao entre os vrios elementos do clima, do relevo, da
vegetao, formando as paisagens que hoje a sociedade se utiliza em proveito prprio. Essa condio
espacial definida por Santos (2008) como o perodo pr-tcnico. O mesmo afirma que:
Quando a natureza ainda era inteiramente natural, teramos, a rigor, uma diversificao da
natureza em estado puro. O movimento das partes, causa e conseqncia de suas metamorfoses, deriva de
um processo devido unicamente s energias naturais desencadeadas (SANTOS, 2008, p. 131).
Mas houve um momento na Histria em que este meio deixou de ser regido apenas pelos
processos desencadeados atravs das energias naturais e passou a ser ditado tambm pelas aes
humanas. Diferente do que nos conta os livros didticos de Histria do Brasil e do Rio Grande do Norte,
esse momento no comeou com a descoberta pelos portugueses, pois aqui j habitavam povos nativos.
Entretanto, estes primeiros agrupamentos humanos a ocupar as terras do que veio a ser o litoral
oriental potiguar possuam tcnicas rudimentares, no imprimindo significativas alteraes espaciais. At
que com a chegada dos europeus novos rumos foram dados a estas terras e em tempos bem mais recentes,
j no sculo XX (anos 1900), foram instalados diversos equipamentos urbanos a fim de requalificar algumas
reas para o turismo, interferindo diretamente na dinmica geoambiental pr-existente atravs de aes
repletas de intencionalidades. Ou seja, Primeiro, o social ficava nos interstcios; hoje o natural que se
aloja ou se refugia nos interstcios do social (SANTOS, 2008, p. 131).
Essas aes foram ocorrendo durante anos sem que um pensamento sistmico fosse devidamente
e estrategicamente agregado as possveis consequncias das mesmas para as geraes presentes da poca
e muito menos em relao s geraes futuras. Com a riqueza dos recursos disponveis, variadas formas de
uso e ocupao do solo vem ocorrendo no litoral oriental potiguar desde muitos anos atrs. Estes usos no
foram acompanhados de estratgias que respeitassem a dinmica geoambiental pr-existente e em alguns
casos, nem mesmo as legislaes vigentes.
Cientes dessa situao os sucessivos governos estaduais tem buscado solues eficazes para a
diminuio desses casos de alteraes irreversveis das condies socioambientais dos lugares. Entre vrios
tipos de instrumentos legais o mais utilizado pelo poder pblico potiguar a criao de Unidades de
Conservao da Natureza.
Deste modo, atravs de uma viso sistmica este trabalho tem como recorte espacial a rea de
Proteo Ambiental Bonfim-Guarara, localizada no litoral oriental potiguar, e visa justamente a
identificao dos conflitos territoriais mais latentes no interior dos limites da referida unidade, servindo
ento como instrumento de subsdio tomada de deciso do Conselho Gestor que atualmente encontra-se
em processo final de criao. Para tanto, foram consultados documentos oficiais, fotografias areas, visitas
a campo e conhecimento de caso dos autores deste artigo.
CARACTERIZAO GERAL DO RECORTE ESPACIAL: CONHECENDO A APA BONFIM-GUARARA.
A rea de Proteo Ambiental Bonfim-Guarara foi criada pelo Governo Estadual em 1999, atravs
do decreto n 14.369 de 22 de Maro. Localizada no litoral oriental do Rio Grande do Norte seus limites
abrangem uma rea de 422,03 km ou 43 mil hectares, englobando terras de seis municpios potiguares, a
saber: Nsia Floresta, So Jos do Mipib, Senador Georgino Avelino, Goianinha, Ars e Tibau do Sul.
(ACQUATOOL CONSULTORIA, 2008) (FIGURA 1).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

492

Figura 1: Contextualizao espacial da APA Bonfim-Guarara.


Fonte: Instituto de Desenvolvimento Sustentvel e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte
(IDEMA/RN).
Os principais objetivos de sua criao diz respeito ao ordenamento do uso nos resqucios de Mata
Atlntica deste trecho da costa potiguar (a rea da APA faz parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlntica
Brasileira), bem como nos ecossistemas dunares, nos manguezais, lagoas, rios e demais recursos hdricos
inseridos nos limites da Unidade. Seu nome advm dos dois elementos de maior destaque paisagstico: a
Lagoa do Bonfim, maior reservatrio natural de gua doce do estado; e a Laguna de Guararas, de grande
valor cnico-paisagstico e nica laguna da costa potiguar.
A APA conta com grande variedade de paisagens e ecossistemas costeiros e o intenso uso de seus
recursos socioambientais se d em virtude desta Unidade est localizada na Regio Metropolitana de
Natal/RN, bem como no eixo de macios investimentos do PRODETUR/NE (Programa de Desenvolvimento
do Turismo no Nordeste). A rea da unidade engloba exatamente o trecho do litoral potiguar de maior
dinmica social, turstica e econmica, gerando assim alguns conflitos pelo uso do solo.
Mesmo diante de tamanha presso antropognica, passados 12 (doze) anos desde sua criao, a
APA nunca contou com um Plano de Manejo e seu respectivo Zoneamento implementados. Cientes da
problemtica, essa questo tem sido trabalhada pelo atual governo estadual atravs do IDEMA (Instituto de
Desenvolvimento Sustentvel e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte), este ltimo realizando aes na
temtica das UCs atravs do Ncleo de Unidades de Conservao (NUC), para que as providncias sejam
tomadas a fim de implementar tais instrumentos de ordenamento territorial ainda em 2011.

Joo Pessoa, outubro de 2011

493
CONSELHO GESTOR DA APA BONFIM-GUARARA: DA HETEROGENEIDADE DOS MEMBROS
TOMADA DE DECISES.
Para a implementao do referido Plano de Manejo, bem como o Zoneamento EcolgicoEconmico (ZEE) necessrio que algumas etapas da gesto de uma Unidade de Conservao j tenham
sido completadas. Na medida em que a Unidade de Conservao devidamente criada, juntamente com
ela cria-se, no mesmo ato jurdico ou em momento posterior, uma Cmara de Conselheiros denominada de
Conselho Gestor. Este conselho tem papel fundamental no efetivo andamento dos objetivos da UC,
principalmente nos casos em que o mesmo de carter deliberativo. Este Conselho presta sua voluntria
colaborao administrao pblica na busca pela participao da sociedade civil e demais organizaes
privadas para a tomada de decises sobre o andamento dos objetivos de criao das UCs.
As Unidades de Conservao brasileiras passaram por um longo perodo sem uma legislao
especfica que disciplinasse o planejamento e a gesto daquelas j existentes e que fundamentasse a
criao de novas UCs. No ano 2000, especificamente em 19 de Julho, foi publicada a Lei 9.985 que institui o
Sistema Nacional de Unidades de Conservao - SNUC. Apesar da importncia desta lei, um marco histrico
para legislao ambiental brasileira, a mesma no inclua artigos referentes participao da sociedade
civil na tomada de decises das Unidades de Conservao. Esta reivindicao foi atendida atravs do
Decreto n 4.430, de 22 de Agosto de 2002, que regulamenta artigos da lei 9.985 e inseriu outros
referentes participao dos agentes envolvidos no contexto de cada UC, no momento da tomada de
decises.
O referido decreto em seu Captulo V (Art. 17 ao 20) reza sobre os Conselhos Gestores e suas
diversas atividades, afirmando ainda que a atividade de conselheiro ser considerada como de relevante
interesse pblico (Art. 17,5). Nota-se assim a importncia atribuda aos conselheiros para o andamento
das Unidades de Conservao. Para fins deste trabalho o item VIII do Art. 20 o de maior destaque e
reflexo, pois o mesmo diz que: VIII: [compete ao conselho] manifestar-se sobre obra ou atividade
potencialmente causadora de impactos na unidade de conservao, em sua zona de amortecimento,
mosaicos ou corredores ecolgicos. (CADERNOS DA RESERVA DA BIOSFERA, 2004, p. 63).
Como descrito anteriormente, na rea da APA Bonfim-Guarara ocorrem diversos conflitos
territoriais em virtude de seu contexto social, econmico e ambiental, por isso, diante do acelerado
processo de composio da primeira gesto dos conselheiros que faro parte do Conselho Gestor da
referida APA, a pergunta a se fazer neste momento : estaria este Conselho preparado para tal
empreitada?
No se trata de subestimar a capacidade intelectual do grupo de conselheiros, ou mesmo de
duvidar da eficcia de suas aes antes mesmo de sua composio final, mas sim de levantar um
questionamento que suscite o nvel de conhecimento geral dos mesmos em relao diversidade de
conflitos territoriais que tero de opinar e ter posies devidamente contundentes, bem como
fundamentadas, diante da complexidade de situaes envolvidas. Vale destacar que a formao de um
conselho desta natureza busca a maior heterogeneidade possvel para que os diversos segmentos da
sociedade, do poder pblico e do setor produtivo possam ter vez e voz na tomada de decises sobre as
reas que atuam ou em muitos casos at mesmo habitam.
As ltimas reunies de sensibilizao e capacitao para constituio do Conselho Gestor da APA
Bonfim-Guarara se deu nos dias 07 e 08 de Abril de 2011, atravs de oficinas nos municpios de Nsia
Floresta/RN, Tibau do Sul/RN e Senador Georgino Avelino. A atual composio deste conselho, dever
contar com a participao do poder pblico dos seis municpios envolvidos (cadeiras para o poder
executivo e legislativo); secretarias estaduais como a de turismo (SETUR), de recursos hdricos (SEMARH);
de questes fundirias (SEARA), distribuio e abastecimento de gua (CAERN), entre vrias outras, alm
dos setores federais como o IBAMA. Alm do poder pblico, participa do conselho o setor produtivo e
tambm ONGs e associaes de diversos grupos.
IDENTIFICAO DE CONFLITOS TERRITORIAIS NA APA BONFIM-GUARARA ATRAVS DO MTODO
SISTMICO IDENTIFICANDO A TEIA DE INTERAES.
Este trabalho, por ser escrito luz do mtodo sistmico, tomando como conceito-chave o espao
geogrfico e sua indissociabilidade entre natureza e sociedade, busca o levantamento de conflitos pelo uso
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

494
do solo existentes nos limites territoriais da APA Bonfim-Guarara, entendendo-os no como conflitos e
problemticas isoladas, mas como um conjunto de eventos interconectados.
Esta uma questo puramente geogrfica posto que no momento em que os usos que se
praticam no territrio estadual so analisados, em especial ao da referida APA, territrio e espao tornamse sinnimos como querem Santos e Silveira (2001).
No primeiro momento necessrio perceber que o principal atributo da Teoria Geral dos Sistemas
[...] sua busca incessante do equilbrio, ou seja, os sistemas, a partir de suas trocas intensas de energia e
matria em certas circunstncias, encontram um estado relativo de equilbrio, conhecido como equilbrio
dinmico (CAMARGO, 2005, p. 53. Grifo nosso).

Ciente de que o equilbrio dinmico dos sistemas abarcados pelos limites da APA Bonfim-Guarara
vem sendo alterado e desorganizado h muitos anos sem que houvesse polticas de controle dessas aes,
este trabalho busca compreender a distribuio espacial e as conseqncias destas aes e desta
desorganizao do equilbrio dinmico pr-existente.
Diante destes objetivos, a primeira anlise das zonas conflituosas se deu atravs da leitura de
documentos oficiais disponveis no IDEMA/RN, bem como a observao de fotografias areas oblquas,
extradas a partir de sobrevos do Programa Estadual de Monitoramente e Fiscalizao Ambiental Areos
PEMFAA, do referido rgo (FIGURA 2).
Atravs destes sobrevos possvel identificar de modo panormico conflitos existentes. Uma das
mais problemticas questes inseridas nos limites territoriais da APA Bonfim-Guarara diz respeito
expanso da carcinicultura sobre rea de manguezal na Laguna de Guararas. Esta atividade considerada
como um dos motores da economia potiguar e dezenas de pedidos de licenas ambientais se avolumam
nos setores do IDEMA.

Figura 2: Extensas reas de viveiros de camaro Laguna de Guararas.


Fonte: PEMFAA Sobrevo APA Bonfim-Guararas (28/08/2009).
A imprensa local, que vale ressaltar, tambm ligada aos setores produtivos, logo incorpora para si
o papel de informar sociedade atravs do seu ponto de vista claramente definido, a situao que
atualmente se desenrola no meio poltico relacionado ao tema. Tal fato pode ser perfeitamente
exemplificado com a matria publicada pelo jornal Dirio de Natal, no dia 15 de Maio de 2011, cujo ttulo
As pedras no caminho da Carcinicultura denota claramente a posio deste veculo de informao. Para a

Joo Pessoa, outubro de 2011

495
imprensa, o IDEMA ao requerer e analisar de modo menos acelerado a dispensa de licena de alguns
empreendimentos no estado, seria o causador do atraso do desenvolvimento potiguar.
Outra situao conflitante o avano de construes sobre rea de dunas mveis na Praia de
Bzios, municpio de Nsia Floresta (FIGURA 3). Em virtude de fenmenos sociais como o da segregao
espacial, ou como preferem alguns, da incluso perversa ao capitalismo, famlias inteiras foram relocadas
para as reas mais distantes da orla medida que o turismo foi avanando neste trecho do litoral potiguar.
Com a construo de grandes condomnios e casas de veraneio as famlia de menor poder aquisitivo
perderam seus terrenos adquiridos atravs de posse ou mesmo venderam-nos a baixos valores comerciais,
indo reconstruir suas vidas nas dunas mveis em terras mais interioranas.

Figura 3: Edificaes sobre dunas mveis, Praia de Bzios (Nsia Floresta/RN).


Fonte: BARROS, Luis F. F. (2009).
Como todo problema ambiental tambm social, e isto um posicionamento terico dos autores
deste trabalho, percebe-se claramente que o adensamento urbano sobre dunas mveis traz tambm
questes de poluio do aqfero (fossas spticas sem saneamento); bem como desmatamento (abertura
de trilhas na mata e retirada de vegetao para usos diversos); acmulo de lixo domstico (visto a coleta
seletiva da praia no abranger essa rea), descaracterizao das feies dunares, entre outros fatores que
no so meramente ambientais, como querem os ecologistas, mas sim sociais porque a degradao
destes espaos afeta diretamente a sobrevivncia humana.
Deste modo, por se tratar de uma Unidade de Conservao muito extensa a APA Bonfim-Guarara
apresenta inmeros conflitos territoriais, conflitos estes que perpassam a infrao de vrias legislaes
ambientais vigentes desde a esfera federal como a que define as reas de Preservao Permanente (APPs),
assim como legislaes municipais naqueles municpios que possuem Plano Diretor, mas que no
conseguem implant-los com total eficcia.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

496

Figura 4: Espacializao dos conflitos territoriais da APA Bonfim-Guarara.


Fonte: Elaborao dos autores com bases cartogrficas do IDEMA/RN.
Como um dos objetivos deste trabalho foi elaborado pelos autores um resumido mapa cartogrfico
de espacializao dos principais conflitos territoriais existentes atualmente na APA Bonfim-Guarara.
(FIGURA 4). O mapa apresenta os usos mais conflitantes em relao aos objetivos da Unidade de
Conservao e fornece bases para a compreenso geral dos temas cujo o Conselho Gestor muito em breve
ser consultado.
Com os aspectos identificados espacialmente e apresentados atravs da cartografia foi elaborado
um quadro explicativo relacionando as Unidades Geoambientais existentes na APA e seus principais
conflitos territoriais (QUADRO 1).
Joo Pessoa, outubro de 2011

497

Quadro 1: Quadro relacional entre Unidade Geoambiental e Conflito Territorial


UNIDADE GEOMORFOLGICA

CONFLITOS TERRITORIAIS

Dunas mveis
Dunas fixas
Tabuleiros Costeiros
Corpos Dgua (Lagoas Costeiras e Rios)
Laguna

Ocupaes
irregulares,
poluio
de
aqferos,
descaracterizao paisagstica em alguns trechos.
Retirada indiscriminada de vegetao, abertura de diversas
trilhas.
Retirada de material argiloso (barro) para construo civil,
ocupaes irregulares (APPs).
Ocupao de margem (APPs), retirada de material arenoso
para construo civil.
Carcinicultura, ocupao intensa das margens por
loteamentos residenciais de alto padro.

Plancie de Deflao

Adensamento urbano excessivo

reas urbanizadas

Destino indevido dos resduos slidos, das guas servidas e


das fossas spticas, alm do crescimento (nas sedes
municipais inseridas na APA) de habitaes subnormais.

Fonte: Elaborao dos autores.


As informaes e correlaes elaboradas atravs do quadro acima representados podem servir
como indicativos para reas de maior vulnerabilidade e presso antropognica devendo ser atribuda
ateno especial no momento do Zoneamento Ecolgico-Econmico e da elaborao do Plano de Manejo,
instrumentos essenciais para o alcance dos objetivos de criao da APA Bonfim-Guarara.
CONSIDERAES FINAIS
Diante do exposto percebe-se que os conflitos territoriais existentes apesar de serem mais
perceptveis a partir da paisagem local, esto interconectados de dupla maneira: em primeiro lugar, por
causa das interaes inerentes ao fato de fazerem parte da Geoesfera que o geocomplexo (ou
geossistema) de nvel mais superior que existe no globo terrestre (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI,
2004, p. 30) e por este dado impossvel de ser rompido, est um dos modos de interconexo entre as
partes. O outro fator de interconexo o poltico, pois com a criao da rea de Proteo Ambiental as
decises tomadas sobre estes aspectos aqui apresentados fazem parte de um contexto poltico e envolve
necessariamente aes articuladas entre os rgos federais, como o IBAMA, rgos estaduais como o
IDEMA, e os poderes executivos dos municpios envolvidos.
Isso significa que o destino das atividades econmicas, dos conflitos e dos objetivos da APA BonfimGuarara, dependem diretamente da totalidade na qual est inserida, na qual h poucas maneiras de
alter-la, sendo a participao e o envolvimento popular nas discusses esse respeito de fundamental
importncia para a projeo de um cenrio desejvel e equilibrado para o futuro.
REFERNCIAS
ACQUATOOL Consultoria. IDEMA. Instituto de Desenvolvimento Sustentvel e Meio Ambiente.
Plano de Gesto para a rea de Proteo Ambiental APA Bonfim-Guarara e o Estabelecimento de
Estratgias para sua Implementao. Sub-produto 3.1 Zoneamento Ecolgico-Econmico da APA
Bonfim/Guararas. Maio 2004.
AS PEDRAS no caminho da Carcinicultura. Dirio de Natal, Natal-RN, 15 de Maio de 2011. Caderno
Economia.
CAMARGO, Luis Henrique Ramos de. A Ruptura do Meio Ambiente Conhecendo as mudanas
ambientais do planeta atravs de uma nova percepo da cincia: A Geografia da Complexidade. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. 240p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

498
RODRIGUEZ, Jos Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da; CAVALCANTI, Agostinho Paula Brito.
Geoecologia das paisagens Uma viso geossistmica da anlise ambiental. Fortaleza CE: Editora UFC,
2004. 222p.
SANTOS, Milton. Espao e Mtodo. 4 edio. So Paulo: Editora Nobel, 1997.
______________; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: territrio e sociedade no incio do sculo XXI. So
Paulo Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
SNUC. Sistema Nacional de Unidades de Conservao: texto da Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 e
vetos da presidncia da Repblica ao PL pelo Congresso Nacional. So Paulo: Conselho Nacional da Reserva
da Biosfera da Mata Atlntica, 2004. 2 edio ampliada. (Cadernos da Reserva da Biosfera da Mata
Atlntica: srie conservao e reas protegidas, 18). 76p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

499

PROJETO NAVEGANDO NO @MBIENTE - INCLUSO DIGITAL E


CONSERVAO DA RESERVA BIOLGICA DO LAMI JOS LUTZENBERGER
Luis Roberto Wazlawick
Graduando do curso superior de Tecnologia em Gesto Ambiental do IFRS. Bolsista de Iniciao ao Extensionismo (IEX) do
CNPq
luisroberto.wazlawick@gmail.com
Orlando Joo Borges Jr.
Graduando do curso superior de Tecnologia em Jogos e Entretenimento Digital . Bolsista de Iniciao ao Extensionismo (IEX)
do CNPq
Evandro Manara Miletto
Professor do Instituto Federal do Rio grande do Sul (IFRS)

RESUMO
O projeto Navegando no @mbiente: incluso digital e conservao ambiental tem como objetivo
contribuir com a incluso digital das comunidades do entorno de unidades de conservao localizadas no
municpio de Porto Alegre, RS, gerando multiplicadores para a sua conservao a partir das novas
tecnologias da informao e comunicao. Este artigo tem por objetivo relatar os resultados parciais
obtidos pelo projeto junto comunidade do entorno da Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger,
localizada na regio extremo-sul do municpio. Atravs do projeto, cursos so oferecidos comunidade
abordando conceitos de informtica e meio ambiente e que tm como produto final a elaborao ou
manuteno de um blogue referente unidade de conservao do entorno. O primeiro curso do projeto
ocorreu no perodo de 6 de maio a 3 de junho de 2011, apresentando resultados plenamente positivos,
evidenciados pelo envolvimento da turma e pela qualidade do blogue criado.
Palavras-chave: Educao Ambiental, Tecnologias da Informao e Comunicao, Unidades de
Conservao.
INTRODUO
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), as Reservas Biolgicas tm como
objetivo a Preservao Integral da Biota e demais Atributos Naturais existentes em seus limites, sem
interferncia humana direta. A visitao pblica no permitida em Reservas Biolgicas e Estaes
Ecolgicas, somente aquela com objetivos educacionais de acordo com os programas e atividades de
educao ambiental em conformidade com as normas da Unidade de Conservao descritas nos
respectivos planos de manejo. A pesquisa cientfica depende de autorizao do rgo responsvel pela
administrao da Unidade e estejam de acordo com as normas estabelecidas no Plano de Manejo da
unidade de conservao (ICMBIO, 2010).
A Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger uma Unidade de Conservao de Proteo
Integral localizada no Bairro Lami na poro extremo-sul de Porto Alegre RS. Contando com 179 hectares,
a reserva recebeu o nome em homenagem a Jos Lutzemberger, agrnomo e ambientalista portoalegrense de renome internacional.
Tendo sido a primeira reserva biolgica municipal do Brasil, protege alguns dos ecossistemas
originais e espcies nativas de fauna e flora da regio de Porto Alegre. Alm disso, a Reserva Biolgica do
Lami Jos Lutzemberger d suporte a atividades de pesquisa cientfica e de educao ambiental. A Reserva
est situada em uma das regies de Porto Alegre considerada representativa dos ecossistemas originais em
relao preservao dos ambientes naturais da Capital (WITT, 2008).
A criao da reserva Biolgica em 1975, teve como principal objetivo a preservao de uma planta
endmica e rara, a efedra (Ephedra tweediana), o que veio a beneficiar a conservao e preservao de
muitas outras espcies de organismos e habitats da regio. De acordo com Meira e Porto (2006), a efedra
um vegetal de aparncia semelhante a um cip quando encontrada em meio mata densa. J quando
ocorre em reas isoladas forma touceiras. A efedra considerada um elo entre as Gimnospermas e
Angiospermas, portanto de grande valor a comunidade cientfica, constituindo uma importante fonte de
informaes para a pesquisa evolutiva conservacionista, fitoecolgica, botnica e farmacolgica.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

500
Na gesto de reas protegidas, como a Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger, a educao
ambiental desempenha um papel fundamental, visto que possui a capacidade de despertar a conscincia
crtica da comunidade para a proteo dessas reas (CERATI & LAZARINI, 2009).
So raros os trabalhos em educao ambiental nas unidades de conservao brasileiras que se
utilizam das novas tecnologias da informao e da comunicao, apesar de em outros contextos da
educao ambiental ser mais comum o apoio dessas tecnologias (GERRA, 2001; EICHLER & DEL PINO, 2006;
RODRIGUES, 2007). Em recente estudo sobre o uso das tecnologias da informao e da comunicao na
educao ambiental desenvolvida em unidades de conservao do Rio Grande do Sul, Ramos & Canto-Silva
(2010) evidenciaram a sua pouca utilizao, especialmente no que diz respeito ao uso da internet, por
meio de sites ou blogues. A despeito desse cenrio, de fundamental importncia que haja a integrao
dessas tecnologias educao ambiental desenvolvida nessas reas protegidas, pois as mesmas tm o
potencial de promover a sensibilizao e o conhecimento dos ambientes e de seus problemas de uma
forma mais atrativa, interativa, instigante, e, portanto, mais adaptada aos atuais hbitos da sociedade atual
(RODRIGUES & COLESANTI, 2008).
neste contexto que se insere o projeto Navegando no @mbiente incluso digital e conservao
ambiental, que visa contribuir para a mudana desse cenrio, promovendo o envolvimento do cidado que
vive no entorno de unidades de conservao localizadas no municpio de Porto Alegre com a produo de
blogues conservacionistas, a partir da elaborao de material didtico em formato de mdias eletrnicas.
Para tal, o projeto oferece comunidade cursos que abordam aspectos da informtica (navegao na rede,
edio de texto, imagem e vdeo e elaborao de blogue) e da conservao ambiental (noes de ecologia
e meio ambiente e visitao s unidades de conservao). O presente artigo relata os resultados iniciais
obtidos no desenvolvimento do primeiro curso junto comunidade do entorno da reserva Biolgica do
Lami Jos Lutzemberger.
METODOLOGIA
Os cursos de informtica e meio ambiente so oferecidos comunidade no telecentro Ncleo
Comunitrio e Cultural Belm Novo, localizado na regio extremo-sul do municpio, prximo unidade de
conservao. Para tal, foi estabelecida uma parceria entre o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS),
instituio executora do projeto, e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre. O presente projeto financiado
pelo Conselho nacional de desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq; proc. 563486/2010-4).
Os cursos apresentam uma carga horria de 20 horas/aula, distribuda ao longo de cinco semanas.
organizado em trs mdulos, cujo ltimo apresenta uma prtica final utilizando os contedos propostos
nos mdulos anteriores. Os instrutores dos cursos so acadmicos dos cursos superiores de Tecnologia em
Gesto Ambiental e Tecnologia em Sistemas para Internet do IFRS.
A seguir so descritos os principais temas abordados no primeiro curso ministrado, que ocorreu de
6 de maio a 3 de junho de 2011.
MDULO 1
O primeiro mdulo teve por objetivo apresentar o projeto aos inscritos e passar a eles os conceitos
de informtica necessrios para a utilizao desta tecnologia da informao para os fins propostos no
projeto.
Os contedos tratados pela rea de informtica comearam com noes bsicas de uso do
computador, com conceitos bsicos do funcionamento do mesmo, sistema operacional, criao de pastas e
salvamento de arquivos. Os demais contedos tratados foram: Internet e Redes Sociais, Web 2.0,
compartilhamento da produo de contedo pelo usurio, edio de imagens utilizando a ferramenta
PicasaWeb e criao, manuteno e edio de blog utilizando a ferramenta Blogger.
MDULO 2
Na terceira semana foi ministrado o mdulo sobre conservao ambiental. Inicialmente foi aplicado
um questionrio de percepo ambiental. Esse questionrio buscou avaliar o conhecimento dos
participantes com respeito a conceitos como biodiversidade, conservao ambiental, unidades de
conservao e de que como elas enxergam sua comunidade, seus problemas ambientais e a Reserva
Biolgica do Lami Jos Lutzemberger. Aps a discusso do questionrio foram apresentados os materiais
Joo Pessoa, outubro de 2011

501
elaborados sobre biodiversidade, sua definio, importncia e os desafios para sua conservao. Foram
trabalhados ainda os conceitos relacionados s unidades de conservao e suas funes e foi feita uma
apresentao sobre a Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger.
No encontro seguinte foi realizada a visitao a Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger. Antes
de percorrerem uma trilha de interpretao ambiental, os visitantes assistiram a uma palestra ministrada
por um estagirio de biologia da reserva, na qual foi relatada a histria da reserva, a importncia desse
ambiente, a influncia de diversos biomas na formao de sua paisagem, a fauna existente na Reserva e
informaes sobre a efedra (Ephedra tweediana). J na trilha, os participantes puderam saber mais sobre
as espcies nativas e algumas exticas que ocorrem na Reserva, curiosidades sobre algumas espcies
vegetais, os processos de sucesso ecolgica com formaes de capoeiras, vassourais e maricazais. Ao
longo da trilha os participantes coletaram imagens e depoimentos (fotos e vdeos) para posterior postagem
no blogue.
MDULO 3
No ltimo encontro foi feita a organizao do material coletado na visitao Reserva e a
elaborao de textos informativos sobre a mesma, assim como foram elaborados depoimentos. Foi feita a
seleo de fotos, a escolha do design do blogue, a edio do vdeo e o planejamento da disposio dos
textos e imagens e, em seguida, a postagens dos mesmos no blogue.
RESULTADOS E DISCUSSO
Das 10 vagas oferecidas comunidade, oito foram preenchidas, sendo que apenas sete
participantes concluram o curso. Foi observado que os participantes eram heterogneos tanto nos
conhecimentos prvios de informtica quanto nos de meio ambiente.
De acordo com o questionrio, dentre os participantes trs j tinham ouvido falar na reserva e
quatro nunca ouviram sequer falar sobre a mesma, apesar de todos morarem nas suas proximidades. Com
respeito visitao reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger (Figura 1), esta foi certamente uma das
atividades que mais chamou a ateno dos participantes, sendo que todos aproveitaram esse momento
para conhecer na prtica o que era e como funcionava uma reserva biolgica.

Figura 1 Participantes do projeto Navegando no @mbiente incluso digital e conservao


ambiental em visita orientada Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger, Porto Alegre, RS.
Foi observado durante a trilha a diferena principalmente quanto a umidade do ar nos diferentes
ambientes, como por exemplo, entre mata e campo, e presena de bioindicadores e biomonitores como
liquens, fungos e um tipo de bromlia conhecida como barba-de-pau (Tillandsia usneoides L.). Foram
encontradas pegadas nas trilhas da fauna da reserva, alm de fezes de animais, como capivara e zorrilho.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

502
Na rea de desova de quelnios, foram encontradas tocas escavadas e ovos predados; foram identificadas
as principais configuraes da paisagem da Reserva como capoeirais, mata de restinga, mata de galeria e
banhados entre outros; observou-se a ocorrncia de espcies exticas invasoras, como uma espcie
originria da frica do sul conhecida como aspargo e uma formao de taquaras que precedia a formao
da Reserva e que foi mantida principalmente por no ser uma invasora agressiva e servir de refgio fauna
principalmente ao rato-de-taquara (Kannabateomys amblyonyx). Foram observadas ainda a grande
quantidade de epfitas, tais como bromlias e orqudeas, o que certamente jamais seria encontrado, na
quantidade expressiva vista, fora de uma Unidade de Conservao. Foram tiradas muitas fotos, registrando
os momentos experimentados pelo grupo, assim como foram gravados depoimentos para serem postados
posteriormente no blogue.
Quanto prtica final, elaborao do blogue, as principais dificuldades encontradas foram
relacionadas ao tratamento das imagens, pela demora em baixar as imagens para edio no Picasa Web.
No houve dificuldade na produo dos textos propostos. A dinmica utilizada para elaborao do Blogue
mostrou-se eficiente, sendo utilizado um modelo semelhante edio de jornal com um revisor e equipes
responsveis pela edio dos diferentes temas como, edio do texto de apresentao, edio do vdeo e
do lbum de imagens. Ao final, com textos e imagens selecionadas, foram feitas as postagens no blogue
(Figura 2), que pode ser acessado no endereo http://navegandonoambiente-morrodoosso.blogspot.com/.

Figura 2 Pginas do blogue criado pelos participantes do primeiro curso do projeto Navegando no
@mbiente incluso digital e conservao da Reserva Biolgica do Lami Jos Lutzemberger, Porto Alegre,
RS.
CONCLUSES
Foi bom o andamento do curso em relao aos contedos ministrados. Isto ficou evidente no
empenho dos participantes na execuo das tarefas e na qualidade do blogue criado. A atividade prtica de
visitao reserva , sem dvida, de fundamental importncia, pois esta vivncia sensibilizou muito os
indivduos para a conservao da reserva.
Cabe registrar ainda, mesmo que de forma prematura e considerando que este projeto aborda uma
unidade de conservao de uso mais restritivo, que, pelas mudanas de atitude dos participantes
evidenciadas ao longo do curso, essas aes certamente teriam igual ou maior impacto, efeito e
repercusso, nas unidades de uso no to restritivo, como por exemplo, as reas de Proteo Ambiental
APAs, onde inclusive populaes tradicionais residem dentro dessas unidades fazendo uso regrado dos
recursos conforme plano de manejo. Certamente a contribuio deste projeto para essa categoria de
Joo Pessoa, outubro de 2011

503
unidade de conservao seria maior. Portanto, esta metodologia de educao ambiental com o uso dos
recursos da internet, acreditamos, imprescindvel para uma efetiva consolidao de comportamentos e
atitudes de construo de conhecimento ambiental local de respeito ao meio ambiente e conservao da
biodiversidade local.
REFERNCIAS
CAMPOS, A. M. N. & FERREIRA, E. A. Trilha Interpretativa: busca por conservao ambiental.
Caderno Virtual de Turismo, Vol. 6, N 1 (2006). Em
CERATI, T. M. & LAZARINI, R. A. DE M. A pesquisa-ao em educao ambiental: uma experincia no
entorno de uma unidade de conservao urbana. Cincia e Educao, v. 15, n. 2, p. 383-92, 2009.
EICHLER, M. L. & DEL PINO, J. C. Ambientes Virtuais de Aprendizagem Desenvolvimento de
avaliao de um projeto em Educao Ambiental. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006, 175p.
GUERRA, A. F. S. A educao ambiental em reas costeiras: o uso da web como ferramenta na
formao do oceangrafo. Rev. Eletrnica Mestr. Educ. Ambient. Volume 6, julho, agosto, setembro de
2001. Em http://www.remea.furg.br/mea/remea/vol6/guerra.pdf. Acessado em 10/09/2010.
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO). Em
http://www.icmbio.gov.br. Acessado em 5/09/2010.
LOUREIRO, C. F. B., CUNHA, C. C. Educao ambiental e gesto participativa de unidades de
conservao: elementos para se pensar a sustentabilidade democrtica. Ambiente & Sociedade, Campinas,
v. XI, n. 2, p. 237-253, 2008.
NEIMAN, Z & RABINOVICI, A. O Cerrado como instrumento para educao ambiental em atividades
de ecoturismo. (in) Meio Ambiente Educao e Ecoturismo. Org. Zysman Neiman. Manole, Barueri, SP,
2002, 181p.
RAMOS, C. & CANTO-SILVA, C. R. Uso das tecnologias da Informao e comunicao em Programas
de Educao Ambiental nas Unidades de conservao do Rio Grande do Sul. In: Jornadas Mercosul:
memria, ambiente e patrimnio, 2010, Canoas. Jornadas Mercosul: memria, ambiente e patrimnio Programas e resumos, 2010. p. 25-25.
RODRIGUES, G. S. Z. C. & COLESANTI, M. R. DE M. Educao Ambiental e as Tecnologias de
Informao e Comunicao. Sociedade & Natureza, Uberlndia, 20 (1): 51-66, jun. 2008.
RODRIGUES, G. S. Z. C. Educao ambiental e hipermdia: a construo de um material didtico para
o
Parque
Municipal
Victorio
Siquierolli.
Tese
de
doutorado,
2007.
Em
http://www.ig.ufu.br/sites/ig.ufu.br/files/Anexos/Bookpage/gelze_rodrigues.pdf.
Acessado
em
18/12/2010.
VENDRAMETTO, L. P. Educao ambiental em unidades de conservao: um estudo de caso na rea
de proteo ambiental de Sousas e Joaquim Egdio. Dissertao de mestrado. Piracicaba, 2004, 108p.
WITT, Patrcia Bernardes Rodrigues (Coord.) Plano de Manejo|: Unidade de Conservao Reserva
Biolgica do Lami Jos Lutzemberger. Porto Alegre: Secretaria Municipal do Meio Ambiente, 2008.
www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/include/getdoc.php?id=913...pdf. Acessado em 18/12/2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

504

OS FOCOS DE CALOR NAS UNIDADES DE CONSERVAO BRASILEIRAS EM


2010
Luiz Renato VALLEJO
Prof. Dr. Associado III, Departamento de Geografia
Universidade Federal Fluminense-RJ
luizrenato@id.uff.br

ABSTRACT
In 2010, several conservation areas in Brazil were hit by a large number of fires. According to
satellite data (NOAA-AVHRR), more than 13,700 hot spots were recorded in parks and other protected
areas, both federal and state. Over 95% of outbreaks occurred between July and December, while the
months of August and September had about 69% of the records, intensely affecting several areas in the
Cerrado and Amazon biomes. It was noted that many of these protected areas are geographically aligned
with what is called "arc of fire" indicative of population expansion and farming in the north of the country.
RESUMO
Em 2010, diversas reas de conservao ambiental brasileiras foram atingidas por grande nmero
de incndios. Segundo os dados de satlite (NOAA-AVHRR), mais de 13.700 focos de calor foram
registrados em parques e outras reas de proteo ambiental, tanto federais como estaduais. Mais de 95%
dos focos foram contabilizados no segundo semestre, e os meses de agosto e setembro tiveram
aproximadamente 69% dos registros, afetando intensamente vrias UCs do Cerrado e da Amaznia. Foi
constatado que muitas destas UCs esto alinhadas geograficamente com o que se chama arco de fogo,
indicativo da expanso populacional e agropecuria em direo ao norte do pas.
Palavras chave: Unidades de conservao, focos de calor, incndios
Introduo
As expresses queimadas e incndios so, em geral, empregadas de forma indistinta, mas existem
diferenciaes em relao sua origem e contexto de ocorrncia. As queimadas so prticas tradicionais
associadas caa e coleta indgenas. Na atualidade esto presentes na agricultura mais intensiva e
moderna, onde os agricultores queimam resduos de colheita para combater pragas, limpar terrenos e
facilitar a colheita. Tambm acontece no manejo das pastagens, visando estimular o rebrotamento de
gramneas de interesse comercial (VALLEJO, 2010).
Sobre os incndios, em geral, esto relacionada ao ambiente florestal sendo de natureza acidental,
indesejados e de difcil controle. O tipo e as condies da vegetao podem favorec-los, como as
formaes de Cerrado, matas de Pinheiro Araucria, Floresta Atlntica Caduciflia de planalto (regies sul e
sudeste do pas). As florestas degradadas, entremeadas por arbustos e gramneas tambm so suscetveis
ao fogo (INDRIUNAS, 2008). A despeito das diferenas apontadas, existe a possibilidade de ocorrncia dos
incndios florestais por influncia de eventos de manejo agrcola e em pastagens adjacentes,
principalmente se as condies climticas antecedentes forem favorveis combusto e expanso do fogo
(baixa umidade, altas temperaturas e ocorrncia de ventos).
O ano de 2010 foi considerado como um dos mais problemticos no tocante aos eventos de
queimadas e incndios, afetando diversos biomas e os respectivos territrios de conservao da natureza,
incluindo os de proteo integral (Parques, Reservas, Estaes Ecolgicas, etc) e os de uso sustentvel
(reas de Proteo Ambiental, Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas, etc). Segundo os dados do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a maioria dos incndios verificados ocorreu em reas de
Cerrado e Amaznia, incluindo as zonas de transio com outros biomas, como a Caatinga e a Mata
Atlntica. No estado do Mato Grosso, por exemplo, houve um aumento de 840 % no ndice geral de
queimadas em agosto de 2010 em relao ao mesmo ms do ano de 2009. Alm dos possveis
condicionantes naturais, como as combustes causadas por raios sob condies de baixa umidade e
elevada biomassa seca acumulada, as causas do problema podem estar associadas ao humana
voluntria e/ou involuntria. Sobre este aspecto, h de se considerar os interesses e aes do agronegcio

Joo Pessoa, outubro de 2011

505
nacional que vem se expandindo de forma intensa sobre reas antes ocupadas pelo Cerrado e avana pelos
limites do bioma Amaznico (VALLEJO, op. cit.).
Neste contexto, a presente pesquisa foi realizada com o objetivo geral subsidiar o entendimento
das causas dos incndios e suas possveis relaes com as aes humanas, como no caso do agronegcio.
As anlises espaciais do estudo consideraram as Unidades de Conservao (UCs) Federais e Estaduais
monitoradas pelos satlites NOAA83 que, atravs do INPE, disponibiliza relatrios dirios sobre os focos de
calor em UCs, abrangendo os dados numricos e a sua distribuio espacial84. Estes registros de focos de
calor no so suficientes para caracterizar e dimensionar os impactos das queimadas e/ou incndios, mas
so elementos indicativos de sua ocorrncia, facilitando a composio de sries temporais e as anlises de
tendncias.
Em relao aos objetivos especficos do trabalho, procurou-se responder s seguintes indagaes:
1) como se deu a distribuio mensal dos focos de calor nas UCs Federais e Estaduais ao longo de 2010; 2)
em relao aos anos anteriores, houve aumento significativo; 3) quais as regies e estados brasileiros mais
afetados pelos focos de calor em UCs; e 4) quais as UCs mais afetadas pelos focos de calor.
Material e mtodos
No Brasil o INPE promove monitoramento dos focos de calor desde 1987, disponibilizando alguns
servios de monitoramento online especficos como: coordenadas geogrficas dos focos, alertas por e-mail
de ocorrncias em reas de interesse especial, risco de fogo, estimativas de concentrao de fumaa, entre
outras. Desde junho de 1998, os focos de calor so monitorados diariamente nas UCs federais e estaduais
e, tambm, nas terras indgenas, sendo disponibilizados gratuitamente para os usurios. O INPE tambm
disponibiliza o acesso a mais de 100 imagens oriundas de 10 satlites diferentes.
Para os objetivos desta pesquisa, foram selecionados os dados do satlite NOAA-15 (noite e
manh) para montagem de sries temporais e anlises geogrficas. Os dados deste satlite tm subsidiado
o desenvolvimento de vrias pesquisas sobre queimadas e desmatamentos pelo Brasil (FERREIRA et al,
2005). Os sensores utilizados so do tipo AVHRR85 e conseguem identificar frentes de fogo com, no
mnimo, 30 metros de extenso por 1 metro de largura. A captao das imagens baseada no princpio
fsico de que as chamas emitem energia, principalmente, na faixa termal-mdia de comprimento de ondas
entre 3,7 e 4,1 m86 do espectro tico. Em algumas circunstncias existem impedimentos ou prejuzos
deteco das queimadas: a) frentes de fogo com menos de 30 m; b) fogo rasteiro numa floresta densa, sem
afetar a copa das rvores; c) nuvens cobrindo a regio, apesar de que as nuvens de fumaa no atrapalham;
d) queimada de pequena durao, ocorrendo entre as imagens disponveis; e) fogo em uma encosta de
montanha, enquanto que o satlite s observou o outro lado; e f) impreciso na localizao do foco de
queima, que no melhor caso de cerca de 1 km, mas pode chegar a 6 km.
Cada foco de calor detectado pelo satlite no est diretamente relacionado com o nmero de
queimadas e/ou incndios. Um foco indica a existncia de fogo em um elemento de resoluo da imagem
(pxel), que varia de 1 km x 1 km at 5 km x 4 km. Neste pxel pode haver uma ou vrias queimadas
distintas, mas o registro indicar apenas um nico foco. Se uma queimada for muito extensa, ela ser
detectada em vrios pxeis vizinhos, ou seja, vrios focos estaro associados a uma nica e grande
queimada. Mesmo considerando que os sensores atuais no conseguem elucidar o que est queimando e
quanto queimou, podem ser constatadas tendncias espaciais e temporais nas ocorrncias de fogo.
As informaes mais detalhadas sobre as reas de conservao federais e estaduais, incluindo o
ano de criao, a extenso (em km), os dados georreferenciados, os municpios ocupados, etc, foram
obtidas atravs do Cadastro Nacional de Unidades de Conservao do Ministrio do Meio Ambiente,
Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Tambm foram considerados Relatrios sobre Incndios Florestais
83

A famlia de satlites NOAA (National Oceanic Atmospheric Administration) administrada pelo


National Environmental Satellite and Information Service (NESDIS) e National Aeronautics and Space Administration
(NASA), responsvel pelos lanamentos.
84
http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/
85
AVHRR - Advanced Very High Resolution Radiometer um tipo de sensor que gera imagens de
deteco de radiao podendo ser usado, remotamente, para determinar a cobertura de nuvens e a temperatura de
uma superfcie.
86
-6
m micrmetro (1 10 m)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

506
em Unidades de Conservao, divulgados regularmente pelo Instituto Chico Mendes de Conservao da
Biodiversidade (ICMBIO)87.
Os dados de focos de calor ao longo do ano de 2010, considerando os registros mensais e anuais, as
regies e estados, e as UCs federais e estaduais, foram tabulados em EXCEL para produo de grficos
ilustrativos das sries.
Resultados
Segundo a Figura 1, em 2010 houve um total de 13.778 focos de calor registrados nas UCs, sendo
8.546 nas federais (62,0 %) e 5.232 nas estaduais (38,0 %). A distribuio temporal mostra que entre
janeiro e junho foram registrados 744 focos (5,4 %) e de julho a dezembro, 13.034 focos (94,6%). Os meses
de agosto e setembro concentraram a maior parte dos focos (9.476 - 68,8%), sendo que o ms de setembro
foi o mais crtico com 6.132, ou seja, 44,5% do total anual.

Figura 1 Distribuio dos focos de calor em UCs federais e estaduais em 2010


Fonte: INPE
Atravs da Figura 2, podem ser visualizados os registros de focos de calor entre 1999 e 2010.

Figura 2 Distribuio dos focos de calor em UCs brasileiras entre 1999 a 2010
Fonte: INPE

87

MMA/ICMBIO Nota Informativa: Incndios Florestais em Unidades de Conservao. Disponvel


em: http://www.icmbio.gov.br/menu/protecao/prevencao-e-controle-de-incendios
Joo Pessoa, outubro de 2011

507
Em todos os anos, o primeiro semestre sempre se caracterizou por um nmero bem inferior de
focos em relao ao segundo, oscilando entre o menor valor de 374 (1999) e o maior de 980 (2003). Em
2010, ocorreram 744 focos de janeiro a junho. Entre 1999 e 2006, observamos um aumento gradual no n
de focos (de 6.671 para 8.621). Entretanto, nos anos de 2002, 2004 e 2005, os valores superaram a casa
dos 10.000, respectivamente com 11.386, 10.882 e 12.678.
O ano de 2007 teve o maior n de focos de todo o perodo (14.456 focos), sendo que naquele ano
os dados tiveram origem em dois satlites (NOAA-1288 e NOAA-15). Em 2009, o nmero total de focos foi o
menor (5.092), porm, os valores voltaram a crescer em 2010 (13.778), com uma variao de 170%.
No se pode desconsiderar que, at 1998, o Brasil tinha 376 UCs, sendo 183 federais e 193
estaduais89 nas cinco regies brasileiras, incluindo as de proteo integral (PI) e de uso sustentvel (US).
Aps 1999, foram criadas mais 366 UCs, sendo 152 federais e 214 estaduais. Portanto, houve um aumento
de 97,3% no n de UCs entre 1998 e 2010, paralelamente elevao do numero mdio de registros de
focos. Em 2010, a regio Sudeste tinha o maior n de reas protegidas (201), seguida pelas regies Norte
(184), Nordeste (159), Centro-Oeste (104) e Sul (94). Entretanto, considerando o tamanho das reas, as
regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentam as unidades com maior extenso.
Segundo as Figuras 3 e 4, a maior incidncia de focos de calor ocorreu nas regies Norte (5.858),
Centro-Oeste (4.534) e Nordeste (2.141), seguindo o padro geral de distribuio j observado na Figura 1.

Figura 3 - Porcentagem dos focos de calor em UCs por regio brasileira (2010)
Fonte: INPE

Figura 4 Distribuio mensal dos focos de calor em UCs por regio brasileira (2010)
88
89

O satlite NOAA-12 foi desativado em agosto de 2007


No foram contabilizadas as UCs municipais.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

508
Fonte: INPE
Em relao aos estados (Figura 5), Tocantins e Mato Grosso se destacaram, respectivamente com
3.290 e 2.809 focos, totalizando 6.099 focos (44,3% do total); Par (1.377) e Gois (1.265) formam um
segundo bloco concentrando 19,2%; Minas Gerais (950) e Rondnia (907), com 13,5%; Maranho (720),
Bahia (624) e Piau (603), totalizando 14,1%. O quinto grupo formado pelo Distrito Federal (336),
Amazonas (238), So Paulo (171) e Mato Grosso do Sul (124), com 6,3%. Nos demais estados, tivemos 356
focos (2,6%). Somente o estado do RN, no teve registro de focos detectado pelo satlite de referncia.

Figura 5 Distribuio dos focos de calor em UCs por estado (2010)


Fonte: INPE
Uma anlise mais particularizada mostrou que 54% dos focos de calor foram detectados nas
unidades de proteo integral (PI), ou seja, parques (PNs e PEs), reservas (REBIOs), estaes ecolgicas
(ESECs), refgios da vida silvestre (RVS) e monumentos naturais (MN). Os parques foram os mais atingidos
tanto na esfera federal como estadual (61% e 80%), como pode ser observado na Figura 6. As REBIOs e
ESECs federais foram atingidas com 19% e 17%, respectivamente, percentuais superiores s estaduais, que
registraram 6% e 7%.

Figura 6 Focos de calor registrados nas diversas categorias de UCs de proteo integral
Fonte: INPE
As unidades de uso sustentvel (US), representadas pelas reas de proteo ambiental (APAs),
Florestas Nacionais (FLONAs), reservas extrativistas (RESEX), reas de relevante interesse ecolgico (ARIEs),
reservas de desenvolvimento sustentvel (RDS), reservas de fauna (RFs) e reservas particulares do
patrimnio natural (RPPNs), tiveram 46% do total de focos de calor registrados. Segundo a Figura 7,
observa-ser que as FLONAs federais (49%) se destacaram, seguindo pelas APAs (34%) e RESEX (16%).
Joo Pessoa, outubro de 2011

509
Entretanto, nos estados, as APAs sobressaram com ampla maioria de 83% dos focos de calor, seguidas por
RESEX (8%) e FLONAs (7%).

Figura 7 - Focos de calor registrados nas diversas categorias de UCs de uso sustentvel
Fonte: INPE
Considerando os aspectos j levantados, procurou-se identificar as UCs mais afetadas pelos focos
de calor. Como o nmero de unidades atingidas foi muito elevado, optou-se por uma seleo daquelas que
tiveram mais de 100 focos registrados ao longo do ano de 2010. Na Tabela 1 temos a listagem das 22
unidades federais e 12 estaduais mais atingidas, incluindo os dados de rea (km), bioma predominante e o
n de focos de calor registrados.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

510
Tabela 1 UCs federais e estaduais afetadas por mais de 100 focos de calor em 2010
UCs Federais (Estado)
rea (km)
Bioma
N de focos
PN do Araguaia (TO)
APA dos Meandros do Rio Araguaia (MT)
PN das Nascentes do Rio Parnaba (TO/PI)
ESEC Serra Geral do Tocantins (BA/TO)
APA do Planalto Central (DF/GO)
PN do Pantanal Mato-Grossense (MT)
FLONA Jamanxim (PA)
PN da Serra da Canastra (MG)
REBIO do Guapor (RO)
PN de Grande Serto Veredas (BA/MG)
PN da Serra das Confuses (PI)
ESEC de Uruu-Una (PI)
FLONA de Bom Futuro (RO)
PN da Chapada das Mesas (MA)
APA da Chapada do Araripe (PI/CE/PE)
PN da Chapada dos Veadeiros (GO)
REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo (PA)
RVS das Veredas do Oeste Baiano (BA)
PN de Braslia (DF)
PN Chapada dos Guimares (MT)
PN das Emas (GO/MT)
PN dos Campos Amaznicos (RO)
UCs Estaduais (Estado)
APA Ilha do Bananal/Canto (TO/PA)
APA Pouso Alto (GO)
PES do Araguaia (MT/TO)
APA Triunfo do Xingu (PA)
APA das Cabeceiras do Rio Cuiab (MT)
PES de Mirador (MA)
RVS Quelnios do Araguaia (MT)
RVS Corixo da Mata Azul (MT)
PES Serra Ricardo Franco (MT)
APA Serra do Lajeado (TO)
PES Encontro das guas (MT)
PES do Cristalino (MT/PA)
Fonte: Dados do INPE e MMA/ICMBIO

5.555,0
3.591,9
7.301,8
7.125,9
4.829,7
1.356,1
13.015,7
1.978,1
6.158,0
2.308,5
8.238,4
1.371,6
974,1
1.599,5
9.342,6
648,0
3.421,9
1.280,5
418,9
326,6
1.326,4
8.796,8

Cerrado
Cerrado
Cerrado
Cerrado
Cerrado
Pantanal
Amaznia
Cerrado
Amaznia
Cerrado
Caatinga
Cerrado
Amaznia
Cerrado
Caatinga
Cerrado
Amaznia
Cerrado
Cerrado
Cerrado
Cerrado
Amaznia

1.649
712
463
410
339
298
282
259
210
195
194
190
169
168
167
163
152
124
122
115
103
103

15.700,1
8.394,9
2.299,2
16.784,6
4.862,3
4.380,0
806,4
360,1
1.625,1
1.118,8
1.127,0
595,6

Cerrado
Cerrado
Cerrado
Amaznia
Cerrado
Cerrado
Cerrado
Cerrado
Amaznia
Cerrado
Pantanal
Amaznia

976
501
427
414
387
167
146
121
109
108
105
104

Nesta seleo, as UCs mais atingidas foram: O PN do Araguaia (TO - 1.649 focos), a APA Estadual
Leandro (TO - 976 focos) e a APA dos Meandros do Rio Araguaia (MT 712 focos). Estas trs unidades esto
situadas nos limites entre os estados do MT e TO e, historicamente, sofrem presses das atividades
agropastoris em seu entorno (soja, arroz irrigado e a pecuria). Um levantamento preliminar sobre os
problemas territoriais nas demais UCs da Tabela 1, mostra que existem muitas semelhanas, mas com
diferentes intensidades nos seus efeitos territoriais. Os problemas mais comuns so: questes fundirias,
invases, queimadas, desmatamentos, caa e pesca predatrias, turismo descontrolado, entre outros.
preciso ressaltar que os impactos gerados pelos incndios no esto diretamente relacionados ao
nmero de focos de calor, havendo a necessidade de se considerar tambm outros instrumentos de
pesquisa. FRANA (2010), utilizando-se de imagens de satlite Landsat-TM, fez as seguintes avaliaes das
perdas por incndios em reas de Cerrado: PN do Araguaia - 56% (3.100 km - imagem do dia 05/09/10); PN
das EMAS - 90% (1.193,8 km - fogo iniciado em 12/08/10); PN da Serra da Canastra - 42% (830,8 km incndios do ms de agosto); PN da Chapada dos Veadeiros - 70% (477 km - incndios do ms de
Joo Pessoa, outubro de 2011

511
setembro); PN da Chapada dos Guimares - 34% (112 km - incndios do ms de agosto); e PN de Braslia,
36% (165 km - incndios do ms de setembro).
No mapa da Figura 8 esto posicionadas as 34 UCs listadas na Tabela 1.

Figura 8 Distribuio geogrfica das 34 UCs atingidas por mais 100 focos de calor em 2010
Fonte: ICMBIO e INPE, adaptado pelo autor
Nele, observamos que as UCs mais atingidas se encontram no interior e periferia da regio CentroOeste, ao sul da regio Norte e nos limites com a regio Nordeste. O bioma do Cerrado foi o mais atingido
(estados de MT, GO e TO), seguido pela Floresta Tropical Amaznica (estados de RO, PA, MT e MA) e, em
menor escala, a Caatinga (PI) e o Pantanal (MS). Nota-se que h uma forte correlao visual entre os
incndios e as reas denominadas de arco de fogo por Becker (2005) em seu trabalho sobre a Geopoltica
da Amaznia. Eles so indicativos dos processos de extrativismo da floresta, expanso das pastagens e do
agronegcio, alm da prpria expanso populacional.
Concluses
Os resultados mostram que, em 2010, os focos de calor nas UCs brasileiras foram intensos,
particularmente no segundo semestre, tendo os meses e agosto e setembro como os mais crticos. Este
padro de distribuio anual dos focos de calor em UCs vem se repetindo ao longo da ltima dcada, fato
que tem relao com a reduo das chuvas e da umidade do ar, junto com a elevao das temperaturas.
Alm disso, o acmulo de biomassa seca na superfcie do solo, particularmente no Bioma de Cerrado, pode
ter favorecido a combustibilidade e os incndios. Outro dado importante a ser considerado que, na
Amaznia, a precipitao na estao mais seca foi muito baixa (como j tinha ocorrido em 2005) e afetou
negativamente quase 57% da regio (LEWIS et al, 2011).
A avaliao da srie histrica dos ltimos 11 anos mostrou que em 2010 no tivemos uma situao
isolada em relao ao grande nmero de focos em UCs. Os anos de 2002, 2004, 2005, 2007 e 2008 tambm
apresentaram valores muito elevados, superando 10.000 focos. O ano de 2007 teve o maior nmero de
registros do perodo, superando 2010 em cerca de 5%. O que se pode destacar que o nmero de registros
em 2010 foi bem superior a 2009, com mais de 170%. O nmero de UCs federais e estaduais tambm
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

512
cresceu ao longo da dcada, demonstrando um esforo governamental de proteo das reas naturais, mas
com a elevao do nus de sua gesto territorial, incluindo as tarefas de preveno e combate aos
incndios. Sobre o tema, vale destacar a implantao do Sistema Nacional de Preveno e Combate aos
Incndios Florestais PREVFOGO, criado pelo Decreto no. 97.635, de 10/04/1989, e regulado pelo Decreto
no. 2.661, de 08/07/1998. O PREVFOGO atua em treinamento e divulgao da queima controlada, na
orientao s UCs para a implantao de planos de manejo de fogo e promove campanhas educativas
visando conscientizao das populaes rurais e urbanas sobre os riscos e problemas provocados pelos
incndios florestais. A efetividade das aes do PREVFOGO junto s UCs, mesmo tendo evoludo no perodo
de 2000 a 2010, ainda carece de investimentos que melhorem as condies operacionais (VALLEJO, op.
cit.).
As UCs das regies Centro-Oeste e Norte foram as mais atingidas, particularmente nos estados de
TO, MT, PA, GO, MG e RO, havendo uma clara correlao com as reas denominadas de arco de fogo da
expanso populacional e agropastoril em direo Amaznia. Desse modo, as UCs em reas de Cerrado,
foram tambm as mais afetadas pelos incndios que podem ter se iniciado com queimadas em reas
vizinhas.
Como demonstrado, a avaliao dos impactos causados pelos incndios no podem ser estimados
apenas pelo nmero de focos de calor registrados, na medida em que os sensores dos satlites no
conseguem elucidar exatamente o que queimou e quanto queimou. Esta avaliao requer estudos mais
especficos de cada rea afetada. Alm disso, existem medidas de controle associadas com os mecanismos
de gesto das UCs, como no caso das Brigadas de Incndio, que podem evitar ou conter a expanso dos
focos. Mesmo que tenha ocorrido um grande nmero de focos numa determinada UC, inmeros variveis
podem contribuir para o alastramento na forma de um incndio ou para sua conteno e minimizao dos
impactos.
Os resultados da pesquisa confirmam tambm a necessidade de se melhorar o controle territorial
das UCs brasileiras, suprindo-as com infra-estrutura compatvel s necessidades de gesto, particularmente
nos contextos locais e regionais de expanso populacional e agropastoril.
Referncias bibliogrficas
BECKER, B. K. - Geopoltica da Amaznia. Estud. av. [online]. 2005, vol.19, n.53, pp. 71-86. ISSN
0103-4014. DOI: 10.1590/S0103-40142005000100005.
CPTEC/INPE

Monitoramento
de
focos
de
queimadas.
Disponvel
em:
www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/bduc.php
FERREIRA, D.A.C.; TRANCOSO, R.; NOGUEIRA, S.P. e CARNEIRO FILHO, A. - O uso dos focos de calor
imageados pelo satlite NOAA-AVHRR para identificao das reas em processo de desflorestamento. Anais
XII Simpsio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goinia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 2145-2152.
FRANA, H. - Os incndios de 2010 nos parques nacionais do Cerrado. Centro de Engenharia e
Cincias
Sociais
Aplicadas
Universidade
Federal
do
ABC.
Disponvel
em:
http://www.ufabc.edu.br/images/stories/comunicacao/queimadas-2010-1.pdf
IBAMA/MMA - Relatrio de Ocorrncias de Incndios em Unidades de Conservao Federais 2005
2008. Prevfogo Braslia:Ibama, 2009. 31p. ; il. color.
ICMBIO/MMA - Cadastro Nacional de Unidades de Conservao. Ministrio do Meio Ambiente.
Disponvel em: www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=119
INDRIUNAS, L. - "HowStuffWorks - Como funcionam as queimadas". Publicado em
06/03/2008 (atualizado em 02/10/2008) Disponvel em: http://ambiente.hsw.uol.com.br/queimadas.htm
LEWIS, S.L.; BRANDO, P.M.; PHILLIPS, O.L.; VAN DER HEIJDEN, G.M.F. and NEPSTAD, D. - The 2010
Amazon Drought. Science 4 February 2011: Vol. 331 no. 6017 p. 554. DOI: 10.1126/science.1200807
VALLEJO, L. R. - A dimenso poltica da conservao ambiental no centro-oeste brasileiro. In: Carlos
Alberto Franco da Silva e Luciano Bomfim do Nascimento. (Org.). Redes polticas do agronegcio da soja:
interesse, estratgia e resistncias. 1 ed. Rio de Janeiro: Livre Expresso, 2010, v. 1, p. 167-199.

Joo Pessoa, outubro de 2011

513

AVALIAO DAS PUBLICAES CIENTFICAS DAS UNIDADES DE


CONSERVAO DE USO SUSTENTVEL EM SERGIPE
Marcela Drea BATTESINI
Estudante de Eng. Florestal da Universidade Federal de Sergipe
E-mail: marceladbattesini@yahoo.com.br
Carla Zoaid SANTOS
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA-UFS
Email: zoaid@hotmail.com
Laura Jane GOMES
Prof. Dra. Adjunta da Universidade Federal de Sergipe
Email: laurabuturi@gmail.com

RESUMO
As unidades de conservao so ambientes de alta diversidade biolgica, podendo conter espcies
endmicas e recursos naturais de valor imensurvel, onde pesquisadores podem desenvolver estudos nos
meios bitico, abitico e scio-ambiental. Estes estudos so importantes, pois contribuem para a
elaborao dos Planos de Manejo destas unidades. Este trabalho teve como objetivo fazer uma anlise das
publicaes acadmica realizadas nas unidades de conservao sergipana de uso sustentvel, indicando
reas de estudos que necessitam ser estudadas. As anlises demonstraram que das seis Unidades de
Conservao (UCs) de uso sustentvel analisadas em Sergipe, a rea de Proteo Ambiental (APA) Morro
do Urubu obteve o maior nmero de publicaes (17), sendo o tema melhor explorado a Educao
Ambiental e Ecoturismo. A APA Litoral Sul e a Floresta Nacional do Ibura apresentaram 11 e 12 publicaes,
respectivamente. Os temas mais pesquisados foram Educao Ambiental/Ecoturismo e Planejamento
Ambiental. As outras unidades apresentaram um nmero de publicaes inferior a 4.
Palavras-chave: rea de Proteo Ambiental, Reserva Particular de Patrimnio Natural, publicaes
cientficas, trabalhos acadmicos e plano de manejo.
INTRODUO
Atualmente o Governo Federal do Brasil vem investindo em projetos de pesquisa cientfica. Dentre
estes projetos muitos so aceitos graas abordagem ambiental, que vem ganhando cada vez mais
importncia.
Como resultados destes projetos so elaborados trabalhos acadmicos, que por sua fez so
publicados, estes consistem em um registro de determinado tema, permitindo que dados sejam expostos,
explanados e confrontados.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), que estabelece critrios e normas para
criao, implantao e gesto destas reas de proteo natural, afirma que as unidades do grupo
sustentvel pode-se haver a coleta e uso, comercial ou no, dos recursos naturais; e ainda devem possuir
um plano de manejo, que consiste em um procedimento seguro que vise conservao in situ da
diversidade biolgica e dos ecossistemas (BRASIL, 2000).
Nas unidades de conservao de Sergipe existe um bom nmero de projetos de pesquisas, que
geram dados de grande importncia, no s para a prpria unidade, como tambm para a sociedade.
Quando bem exploradas as publicaes, os dados contidos nestas so utilizados para confeccionar
documentos teis para a gesto da prpria unidade, como exemplo o Plano de Manejo, ou at mesmo para
elaborar novos estudos mais aprofundados, ou ainda dar continuidade aos estudos como estratgia de
monitoramento da rea, onde podem ser observados em vrios aspectos com intuito de conservao do
bem natural.
Dentre as normas estabelecidas o SNUC, consta que a realizao de pesquisas cientficas, estudos e
monitoramento ambiental devem ser incentivados, havendo autorizao prvia do rgo responsvel pela
administrao da UC (BRASIL, 2000)
Para Sanches et al. (2009), dados coletados podem servir como estratgia para se definir manejo de
uma UC, onde zonas potenciais podem ser delimitadas para os diferentes usos, os quais so requisitados
pelo SNUC, como (preservao, pesquisas cientficas, educao ambiental e ecoturismo).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

514
Dentre os temas que podem ser estudados nas UCs os que envolvem o Meio Abitico, Meio Bitico
e Scio-Ambiental. Nestes primeiro, ocorrem estudos que exploram os elementos do ecossistema, como
gua, solo e rocha; j o meio bitico onde so estudados os elementos vivos do meio ambiente: fauna, flora
e microorganismos; e por fim o meio scio-ambiental onde estudada a relao do homem com o meio
ambiente. Neste ltimo, podem ser considerados os seguintes temas: educao ambiental, ecoturismo,
percepo ambiental, impacto ambiental, extrativismo, planejamento, conflitos entre atores sociais e
etnobotnica.
METODOLOGIA
Foram analisadas as unidades de conservao de uso sustentvel do estado de Sergipe que
possuem gestor e categoria definida. Estas unidades so pertencentes s esferas Federal e Estadual, so
elas: Floresta Nacional do Ibura, a Reserva Particular de Patrimnio Natural (RPPN) da Fonte da Bica, a
RPPN Marinheiro e Pedra da Urca, a RPPN Bom Jardim e Tapera, a rea de Proteo Ambiental (APA)
Morro do Urubu e a APA do Litoral Sul (Quadro 1).
QUADRO 1: Unidades de Conservao em Sergipe pesquisadas, que apresentam Decretos na esfera
Federal e Estadual, com rea total em Km, municpios abrangentes e informaes sobre o Planejamento.
Unidades de Conservao de Uso
Sustentvel de Sergipe
Floresta Nacional do Ibura

Gesto
Federal

rea
(Km)
1,46

Localizao

Reserva Particular de Patrimnio


Natural da Fonte da Bica
Reserva Particular de Patrimnio
Natural Marinheiro e Pedra da Urca
Reserva Particular de Patrimnio
Natural Bom Jardim e Tapera
rea de Proteo Ambiental Morro
do Urubu
rea de Proteo Ambiental do
Litoral Sul de Sergipe.

Federal

0,13

Nossa
Senhora
Socorro
Areia Branca

Federal

1,74

Santa Luzia do Itanhy

Federal

2,97

Santa Luzia do Itanhy

Estadual

2,14

Aracaju

Estadual

522,33*

No Define

Planejamento
do

No possui Plano de
Manejo
No possui Plano de
Manejo
No possui Plano de
Manejo
No possui Plano de
Manejo
Possui
Plano
de
Gesto
Possui Zoneamento e
Plano de Gesto da
Orla Martima

*Valor obtido por meio de Sistema de Informaes Geogrficas


Quadro adaptado de GOMES et al. (2010).

De acordo com os dados do quadro 1 adaptado de Gomes et al. (2010), estas unidades de
conservao somam uma rea de 530,77 km, o que representa 2,42% do territrio do estado de Sergipe.
Utilizou-se como base a Coletnea Bibliogrfica sobre o Parque Estadual de Rio Doce, elaborado no
ano de 1994 pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais e do banco de informaes da
Superintendncia de Recursos Hdricos do Estado de Sergipe.
A pesquisa foi realizada basicamente por meio de pesquisas eletrnicas, atravs do site Google
Acadmico, Scielo e bancos de dados de cursos de ps-graduao de instituies como Universidade
Federal de Sergipe (UFS) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Para a captura dos arquivos nos sites de pesquisas foram utilizados os nomes das unidades de
conservao como palavra-chave, estes foram catalogados e com os nomes dos autores foram
confeccionada uma lista. Atravs do site do CNPq, foram analisados os currculos lattes dos pesquisadores,
onde foram levados em conta os registros de publicao nas unidades selecionadas para o estudo.
Estes trabalhos catalogados foram classificados de acordo com o tema de estudo. Os temas para
classificao foram: Meio Abitico (Hidrologia, Climatologia, Geologia e Edafologia), Meio Bitico (Fauna,
Flora e Microorganismo) e Meio Scio- Ambiental (Etnobotnica, Extrativismo/Impacto, Educao
Ambiental/Ecoturismo, Pensamento/Percepo Ambiental, Planejamento Ambiental e Conflito). Tal
classificao se deu por meio da anlise das palavras-chave dos trabalhos publicados, em caso de no
existncia das palavras-chave, foi classificado pelo ttulo da publicao.

Joo Pessoa, outubro de 2011

515
Aps a organizao da coletnea foi realizada uma anlise em porcentagem dos trabalhos
publicados de cada unidade de conservao, fazendo-se observaes quanto ao tema estudado e ao
nmero de publicaes, relacionando-se as unidades de conservao correspondentes. Os resultados
foram organizados tabelas.
RESULTADO E DISCUSSO
Dentre as reas destinadas conservao da natureza, as que apresentaram maior nmero de
estudos foram: a APA Morro do Urubu (17), Floresta Nacional do Ibura (12), e a APA Litoral Sul (11). As
outras unidades de conservao obtiveram os menores nmeros, como a Reserva Particular de Patrimnio
Natural (RPPN) Fonte da Bica (4), e as RPPNs Jardim Tapera e Marinheiro e Pedra da Urca que no foram
localizados estudos nas reas e reas de abrangncia (Quadro 2).
Os temas que obtiveram os maiores nmeros de publicaes foram Educao
Ambiental/Ecoturismo (34,09%), seguido Planejamento Ambiental (20,45%), Flora (13,64%) e
Extrativismo/Impacto Ambiental (11,36%) (Quadro 2). Dentre os temas dos trabalhos ambientais, nas reas
de uso sustentvel, que obtiveram nmeros de publicaes igual ou inferior a 4 tem-se: Fauna (9,09%),
Filosofia/ Percepo Ambiental (6,68%), Hidrologia e Conflito (2,27%). Para os temas Edafologia,
Climatologia, Geologia, Microorganismo e Etnobotnica no foram encontrados trabalhos das unidades de
conservao de uso sustentvel.
De acordo com Pinto, Sobral & Andrade (2007), a APA Morro do Urubu est situada na zona Norte
de Aracaju, capital do estado. Alm de ter 18 anos de criada, esta unidade comporta o nico zoolgico da
cidade.
A procura dos pesquisadores para desenvolver estudos nessa unidade de conservao pode estar
relacionada localizao na rea urbana de Aracaju, o que torna a regio de proteo ambiental acessvel
no s para quem desenvolve a pesquisa, quanto para a populao, podendo ser considerada um ambiente
interessante para estudos e prticas de educao ambiental e ecoturismo.
Os estudos que envolveram Educao Ambiental e Ecoturismo na rea de Proteo Ambiental do
Morro do Urubu, obtiveram nove publicaes. Porm outras unidades apresentaram poucas publicaes
neste tema, a exemplo da Floresta Nacional do Ibura (4), APA Litoral Sul (1), RPPN Fonte da Bica (1). E
outras no apresentaram nenhum tipo de publicao.
Com base nos trabalhos de Silva et al. (2008) e Oliveira et al. (2008), que desenvolveram trabalhos
na FLONA do Ibura e APA Litoral Sul, respectivamente, pode-se afirmar que nestas unidades de uso
sustentvel, no se destacaram em nmero de publicaes nos temas Educao Ambiental/Ecoturismo,
podendo estar relacionado a falta de articulao entre instituies de pesquisa e gestores destas unidades.
Paralelamente a este quadro, os autores citados acima alertam que estas reas apresentam sinais visveis
de antropizao, como: despejo de resduos, extrativismo e turismo desordenado.
As RPPNs Fonte da Bica, Bom Jardim Tapera, e Marinheiro & Pedra da Urca so unidades que
apesar de serem criadas entre os anos 1999 e 2007 pode-se observar um baixo nmero e at mesmo
inexistncia de publicaes na quase totalidade dos temas.
Os estudos que esto contidos no Meio Abitico (Hidrolgicos, Edafolgicos, Geolgicos e
Climatolgicos), so raros nas unidades de conservao de Sergipe pertencentes ao grupo de uso
sustentvel. A nica unidade que apresentou estudo em hidrologia foi a Floresta Nacional do Ibura.
A importncia de se desenvolver estudos no meio abitico est na caracterizao do espao,
compreendendo a dinmica dos elementos, o que permite fazer relaes com os espcimes que ali habitam
(PREZ, 2004).
Chama-se a ateno dos pesquisadores a existncia destes campos para o desenvolvimento de
projetos de pesquisa no meio abitico. Esta necessidade entra em conflito com os investimentos feitos pelo
governo brasileiro, onde capital federal foi recebido para a criao de novos cursos de nvel superior,
formando graduandos em, por exemplo, geografia e geologia em Sergipe nos ltimos 10 anos. No entanto
estas reas de estudos ambientais das unidades de conservao sergipanas so caracterizadas por lacunas.
Na maioria das unidades de conservao deste grupo, foi encontrado pouco ou nenhum trabalho
cientfico. Como exemplo tem-se: 6 estudos sobre a Flora do Ibura; 4 estudos para Fauna da APA Litoral Sul
de Sergipe e APA Morro do Urubu, sendo 2 para cada. As outras unidades de conservao de uso
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

516
sustentvel no obtiveram estudos na Fauna e na Flora. Vale tambm ressaltar que nenhuma unidade de
conservao deste tpico apresentou trabalhos sobre a microfauna.
A caracterizao da fauna e da flora de extrema importncia para uma UC, onde estas so
classificadas como espcies endmicas, ameaadas de extino, indicadoras da qualidade de habitats, ou
ainda anlise da distribuio territorial, identificando espcies migratrias (CORRA & MASCARENHAS,
2004).
Segundo Sanches et al. (2009), uma das etapas para se elaborar um Plano de Manejo, a anlise da
flora, que pode ser feita levantando dados secundrios j produzidos para a Unidade de Conservao, para
tanto, pode-se avaliar revises de literatura, estudos cientficos e coletas botnicas.
Como prova de que os temas de estudos no so bem distribudos das UCs sustentveis foi
percebida uma maior importncia no Meio Scio-Ambiental. Esta demanda por estudos pode estar
relacionada ao fato de que no grupo de unidades de uso sustentvel permite o manejo de recursos naturais
pelas comunidades de interesse.
Trabalhos relacionados ao planejamento das UCs de uso sustentvel estiveram em segundo lugar,
depois de Educao Ambiental/ Ecoturismo, apresentando um total de 9 publicaes. As unidades que mais
apresentaram trabalhos ligados ao Planejamento foram APA Litoral Sul de Sergipe e a RPPN Fonte da Bica,
com 4 e 3 trabalhos respectivamente. A APA Morro do Urubu apresentou apenas 2 publicaes neste tema,
no restante das unidades nenhum registro desses tipo de estudo foi localizado.
Como relatado por OLIVEIRA, et al. (2008) a APA Litoral Sul apresenta-se zoneada, possui plano de
gesto da orla martima, porm o descaso com a aplicao das ferramentas de gesto permite um processo
de antropizao intenso.
Os temas Extrativismo/Impacto Ambiental e Filosofia/Percepo Ambiental foram pouco estudados
nas unidades de uso sustentvel, contudo houve alguns registros de estudos nas APAs Litoral Sul de Sergipe
e Morro do Urubu (2 para cada); a FLONA do Ibura apresentou apenas 1 estudo no tema
Extrativismo/Impacto Ambiental.
A APA Litoral Sul apresenta uma situao vulnervel diretamente ligada ao quadro de especulao
imobiliria, permite que tal rea se caracterize por um cenrio de estudos de Extrativismo e Impactos
Ambientais. J a APA Morro do Urubu e a FLONA do Ibura poderiam juntamente com APA Litoral Sul ter
mais ateno quanto aos estudos de identificao de impactos ambientais e quanto a explorao ilegal dos
recursos naturais.
Nenhuma unidade de uso sustentvel apresentou trabalho com foco na Etnobotnica (Quadro 2).
QUADRO 2: Trabalhos acadmicos publicados por tema nas unidades de conservao de Uso
Sustentvel do estado de Sergipe.
Temas/Unidade
Conservao

APA
RPPN
APA
de Litoral Sul
FLONA do Bom
Morro
de
Ibura
Jardim
do Urubu
Sergipe
Tapera

RPPN
RPPN
Fonte da Marinheiro e Total
Bica
Pedra da Urca

Total
(%)

Edafologia

0,00

Climatologia

0,00

Hidrologia

2,27

Geologia

0,00

Flora

13,64

Fauna

9,09

Microorganismos

0,00

Etnobotnica
Extrativismo/ Impacto
Ambiental
Educao
Amb./
Ecoturismo
Filosofia/ Percepo

0,00

11,36

15

34,09

6,82

Joo Pessoa, outubro de 2011

517
Amb.
Planejamento

20,45

Conflito

2,27

Total

11

17

12

44

100

CONCLUSO
A unidade de conservao de uso sustentvel que apresentou maior nmero de publicao foi a
APA Morro de Urubu, tendo como tema de estudo com destaque no nmero de publicaes Educao
Ambiental/Ecoturismo.
Pode ser observado que algumas as RPPNs estudadas, possuam pouco ou nenhuma publicao e
nas outras unidades estudadas foi verificada deficincia de estudos em alguns temas, dentre eles tem-se:
Geologia, Hidrologia, Climatologia e Edafologia, Microorganismo, Etnobotnica, Filosofia/Percepo
Ambiental e Conflito.
Deve-se buscar um equilbrio entre os temas a serem estudados, pois se constatou que existem
mais estudos no meio scio-ambiental e bitico, possuindo poucos ou nulos estudos sobre o meio abitico.
Estes estudos devem ser estimulados de forma contnua, pois a inexistncia de estudos, por
determinado perodo, resulta na perda de registros de elementos contidos no meio ambiente.
Instrumentos de monitoramento devero ser realizados por parte do rgo gestor a partir dos estudos que
vem sendo realizados a fim de no perder informaes em perodos posteriores realizao da pesquisa.
Estudos existentes realizados nas UCs e nas suas zonas de amortecimento podem ser utilizados
para auxiliar na elaborao de Planos de manejo, ou at mesmo como base de dados para aprofundar
estudos.
REFERNCIA BIBLIOGRFICA
BRASIL. Lei n 9.985 de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao
da Natureza SNUC. Braslia/DF, 2000.
CORRA & MASCARENHAS. Avaliao Ecolgica Rpida de duas reas Potenciais para a
Conservao na Regio do Jalapo no Estado do Tocantins. 2004.
GOMES, L. J.; OLIVEIRA, I. S. S.; COSTA, C. C. & MAROTI, P. S. Percepo ambiental como estratgia
de planejamento e gesto em unidades de conservao. In: AGUIAR NETTO, A. de O. & GOMES, L. J. (org.)
Meio ambiente: distintos olhares. 1.ed. So Cristvo: UFS, 2010.
OLIVEIRA, I. S. S., OLIVEIRA, D. C., GOMES, L. J.; FERREIRA, R. A. Indicadores de sustentabilidade:
diretrizes para a gesto do turismo na APA Litoral Sul de Sergipe. Caderno Virtual de Turismo, vol. 8, nm.
2, 2008, pp. 46-55.
PREZ, A. G.. El establecimiento de Geoparques em Mxico: un mtodo de anlisis geogrfico para
la conservacin de La naturaleza en el contexto del manejo de cuencas hdricas. 2004. Disponvel em:
<http://www.ine.gob.mx/descargas/cuencas/geoparques.pdf>. Acesso em: 18 de Julho de 2011, as 15:54.
PINTO, J. B., SOBRAL, I. S. & ANDRADE, J. R. de L.. Potencial Ecoturstico da rea de Proteo
Ambiental Morro do Urubu (Aracaju/ SE). In: II Encontro Interdisciplinar de Ecoturismo em Unidades de
Conservao/ Congresso Nacional de Ecoturismo, 2007, Itatiaia, RJ. II Encontro Interdisciplinar de
Ecoturismo em Unidades de Conservao e Congresso Nacional de Ecoturismo, 2007.
SANCHES, R. P.; IVANAUSKAS, N. M.; TONIATO, M.T.Z. & KANASHIRO M. M. A vegetao da
Estao Ecolgica de Angatuba: lacunas do conhecimento e reas prioritrias para pesquisa. IF Sr. Reg.,
So Paulo, n. 40, p. 183-190, jul. 2009.
SILVA, C. E., PINTO, J. B. & GOMES, L. J.. Ecoturismo na Floresta Nacional do Ibura como potencial
fomento de sociedades sustentveis. Revista Nordestina de Ecoturismo, Aracaju, v.1, n.1, p.6-22, 2008.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

518

EDUCAO AMBIENTAL E TRILHA ECOLGICA A PARTIR DE UM CAMPO


DE ESTUDO PALEONTOLGICO
Marcelo Souza Paula
Centro Universitrio Plnio Leite
marcelo.souza@itaborai.rj.gov.br
Antonio Carlos de Miranda
Centro Universitrio Plnio Leite
mirantam@ig.com.br

RESUMO
O objetivo deste artigo tecer um estudo acerca da identificao e importncia da Trilha Ecolgica
a partir de um campo de estudo paleontolgico. Por outro lado, este estudo faz uma breve anlise da
importncia das questes ambientais, em consonncia com a temtica global. O cenrio uma Trilha
Ecolgica, situada no Parque Paleontolgico de So Jos de Itabora (RJ), que historicamente se apresenta
como um importante espao para pesquisas em diversas reas, tais como, biologia, paleontologia,
arqueologia, geologia, assim como no campo da Educao Ambiental. Nesse sentido, este estudo configurase como uma estratgia para a implementao da Educao Ambiental, em espaos no formais de ensino,
partindo do reconhecimento e identificao de espcies vegetais encontradas na Trilha Ecolgica, entre o
Centro de Referncia e a Bacia Calcria de So Jos do Parque Paleontolgico de So Jos de Itabora RJ,
ao mesmo tempo visando a elaborao de um CD. Neste sentido, acreditamos que este estudo pretende
resgatar o potencial do Parque Paleontolgico de So Jos de Itabora, como estratgia de ensinoaprendizagem ao consider-lo como cenrio e foco de divulgao das questes socioambientais e de
sustentabilidade.
Palavras-Chave: Educao Ambiental, Trilha Ecolgica, Sustentabilidade
ABSTRACT
The objective of this article is to weave a study about the identification and importance of the
Ecological Track from a field of study paleontolgico. On the other side, this study does a short analysis of
the importance of the environmental questions, in harmony with the global theme. The scenery is an
Ecological Track situated in the Park Paleontolgico of Saint Jos de Itabora (Rio de Janeiro), who
historically presents to himself biology, paleontology, archaeology as an important space for inquiries in
several areas, such as, geology, as well as in the field of the Environmental Education. In this sense, this
study is shaped like a strategy for the implementation of the Environmental Education, in spaces you do not
form of teaching, leaving from the recognition and identification of vegetable sorts found on the Ecological
Track, between the Centre of Reference and the Hard Basin of Saint Jos of the Park Paleontolgico of Saint
Jos de Itabora Rio de Janeiro, at the same time aiming at the preparation of a CD. In this sense, we
believe that this study intends to rescue the potential of the Park Paleontolgico of Saint Jos de Itabora,
like strategy of teaching-apprenticeship while considering it like scenery and focus of spread of the
questions socioambientais and of sustentabilidade.
Key words: Environmental education, Ecological Track, Sustentabilidade
1. INTRODUO
Desde sua descoberta at os dias atuais, o Parque Paleontolgico de So de Itabora vem
constituindo-se como um relevante espao destinado ao estudo dos fsseis, no somente dos vegetais, que
foram registrados a partir de dois vegetais encontrados nos arredores da bacia calcria de So Jos de
Itabora, mas tambm dos animais, principalmente de alguns mamferos e gastrpodes.
Atualmente o Parque Paleontolgico de So Jos de Itabora formado por dois importantes
espaos, os quais so bases fundamentais para a continuidade de estudos cientficos voltados ao campo da
paleontologia, da arqueologia e da geologia e da Educao Ambiental. Tais espaos so denominados Bacia
Calcria de So Jos e Centro de Referncia, este agregando um pequeno museu.

Joo Pessoa, outubro de 2011

519
O referido parque encontra-se classificado como um dos mais importantes Stios Geolgicos e
Paleontolgicos do Brasil, conforme consta no SIGEP (Stios Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil).
Tambm, segundo Bergqvist,L.P.;Mansur,K.;Rodrigues.M.A.; Rodrigues-Francisco,B.H.;Perez,R.A.R.;
Beltro,M.C.M.C. (2008), sobre este importante stio so feitas as seguintes consideraes:
O Stio Paleontolgico de So Jos de Itabora o nico depsito brasileiro conhecido que registra a
primeira irradiao dos mamferos aps a extino dos dinossauros. Por guardar fsseis dos primeiros grupos
de mamferos da linhagem moderna (Metatheria e Eutheria), tambm conhecida como o bero dos
mamferos, uma metfora em aluso condio primitiva dos fsseis de mamferos l preservados. De idade
neopaleocnica, a Bacia de So Jos de Itabora, ou Bacia de Itabora, como frequentemente denominada
na literatura, a despeito do seu pequeno tamanho, extremamente rica em fsseis de vertebrados e
gastrpodes, sendo os mamferos os mais abundantes e importantes e que a tornaram reconhecida no meio
cientfico internacional. Devido abundncia, qualidade e diversidade de fsseis de mamferos, e de sua
importncia para o entendimento da evoluo dos mamferos sul-americanos, uma das Idades MamferosTerrestres Sul-Americanas (SALMA), foi nomeada Itaboraiense por Marshall (1985), em homenagem Bacia
de Itabora. (BERGQVIS, Org, 2008,1)

Importantes iniciativas de universidades e demais rgos pblicos concentraram esforos no


sentido de desenvolver uma srie de pesquisas acadmicas visando democratizao do conhecimento
histrico, cientfico e socioambiental deste local, em funo de sua grande riqueza de materiais subsidirios
para a realizao das mesmas. Neste sentido, a tentativa de investimentos foi primordial para a garantia da
preservao do espao natural.
Considerando uma discusso no campo da economia e gerao de trabalho, o espao,
historicamente, se torna palco de grandes exploraes por parte das empresas estrangeiras que ali se
instalaram gerando o trabalho assalariado. Por outro lado, estas empresas foram as principais responsveis
por todo malefcio causado ao espao, que hoje se encontra totalmente modificado. Atualmente, sua
principal matria-prima, o calcrio, configura-se num recurso escasso para a produo de cimento.
A bacia calcria de So Jos de Itabora compreende o espao onde, no passado, foi o principal
motivo das grandes escavaes pelas grandes empresas estrangeiras para retirada do calcrio. Atualmente
conhecida como a Lagoa de So Jos, resultante da retirada do calcrio e do acmulo de gua, parte
integrante e fundamental do espao que, hoje, denominamos de Parque Paleontolgico de So Jos de
Itabora.
Encontrado ainda sob os resqucios de uma Mata Atlntica, com fortes evidncias arqueolgicas e
grande potencial de recursos naturais, principalmente evidenciados pela forte presena de animais e de
plantas fossilizadas, que viveram na regio entre 65 e 53 milhes de anos (Paleoceno/Eoceno), assim como
outras espcies que habitaram no perodo Neopleistoceno, o Parque Paleontolgico de So Jos de
Itabora, tambm chamado de O bero dos mamferos, foi criado no ano de 1995, por meio de lei
municipal n. 1.346, tendo como principais objetivos a preservao da rea, dos testemunhos da geologia
original e dos fsseis remanescentes nas rochas, visando possibilitar o acesso do acervo aos visitantes.
2. DISCUSSES PRELIMINARES ACERCA DA EDUCAO AMBIENTAL
A preocupao com a Educao Ambiental no um campo de estudo recente em nossa sociedade.
Historicamente vem sendo discutida sobre diferentes olhares, concebendo a construo de uma idia
multifacetada. A participao de profissionais das mais diversas reas do conhecimento vem contribuindo
de forma bastante relevante para a formao de um pensamento crtico acerca da sua trajetria.
Profissionais como ambientalistas, engenheiros, bilogos, educadores, filsofos, socilogos, formam uma
rede que visa canalizar discusses de forma a entender as grandes transformaes sofridas pelo ambiente,
a partir da ao do homem ao longo dos tempos.
Neste contexto, percebe-se que a questo ambiental surge a partir de uma crise social da
civilizao. Segundo Leff:
A questo ambiental uma problemtica de carter eminentemente social: esta foi gerada e est
atravessada por um conjunto de processos sociais. Entretanto, as cincias sociais no transformaram seus
conceitos, mtodos e paradigmas tericos para abordar as relaes entre estes processos sociais e as
mudanas ambientais emergentes. (LEFF, 2007,111).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

520
Para o autor, a imobilidade das cincias sociais deixou margem a construo de um
processo estratgico para uma relao sustentvel entre o social e o natural, no campo ambiental. Assim, o
ambiente, historicamente, encontra-se desconstrudo de forma avassaladora, o que tem limitado
consideravelmente o uso dos recursos renovveis e no renovveis nas grandes sociedades.
Um fato que evidencia o marco da crise ambiental no que concerne utilizao irracional e
consumista de produtos e embalagens para atender a demanda do mercado consumidor foi a Revoluo
Industrial. Principalmente a partir do Sculo XIX, atravs da mecanizao do sistema de produo,
associado a um grande um crescimento populacional, gerou uma maior demanda de produtos e
mercadorias. Neste sentido, aps dois sculos da industrializao do planeta, consolida-se uma crise
ecolgica que destri o ambiente, colocando em risco a sobrevivncia da diversidade dos sistemas vivos,
afetando, sobretudo, o prprio homem, conforme aborda Cavalcanti (2009) quando afirma que a maioria
dos problemas do planeta provm de certo estilo de cultura adotado pela sociedade, e conforme relata
ainda Guattari (2008), evoluem no sentido de uma progressiva industrializao.
O Planeta Terra vive um perodo de intensas transformaes tcnico-cientficas, em contrapartida
das quais engendram-se fenmenos de desequilbrios ecolgicos, que se no forem remediados no limite,
ameaam a implantao da vida em sua superfcie. Paralelamente a tais perturbaes, os modos de vida
humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma progressiva deteriorao. (GUATTARI, 2008, 07)

Em face de toda problemtica abordada, surge a necessidade de instituir uma linha de


discusso pautada nos interesses de mudana no comportamento da populao no tocante a sua formao
socioambiental, tal qual na obra Terra-Ptria, onde Edgar Morim (2001) prope a reformulao do
pensamento para a compreenso da crise planetria que se instalou em nosso Planeta. Contudo, a
Educao Ambiental aparece como necessidade primordial para a mobilizao das aes relacionadas
tica e cidadania ambiental.
A trajetria da educao ambiental no mundo e, principalmente no Brasil, marcada por
uma crescente mobilizao por parte das instituies acadmicas, movimentos sociais, poder pblico e
tambm das Organizaes No-Governamentais. Tal mobilizao, traz consigo, em geral, uma proposta que
envolve a construo de uma poltica ambiental voltada minimizao dos impactos causados ao meio
ambiente, assim como a formao de uma sociedade para um futuro sustentvel.
3. A TRILHA ECOLGICA IMPORTANTE ESTRATGIA EM EDUCAO AMBIENTAL E NA
DIVULGAO CIENTFICA
O uso do espao natural para o desenvolvimento de uma prtica educativa configura-se como de
fundamental importncia na elaborao de uma pesquisa. Segundo Bedim (2004), a educao ao ar livre
uma prtica educacional que utiliza como recursos educativos desafios encontrados em ambientes
naturais, e objetiva o desenvolvimento educacional do ser humano.
Para tanto, dimenses educativas tm sido incorporadas a atividades em ambientes naturais como
passeios ecolgicos, montanhismo, escotismo, entre outras tantas modalidades de lazer junto natureza,
principalmente por intermdio de trilhas de interpretao da natureza em parques naturais.
Analisando esta concepo podemos perceber que as trilhas podem se constituir num importante
mecanismo para a propagao da divulgao cientfica e, por conseqncia, para o desenvolvimento de
uma educao ambiental mais crtica e consciente. Segundo Serrano (2000), citado por Bedim (2004, 4):
Sendo a interdisciplinaridade um dos pressupostos da Educao Ambiental, o recurso s viagens para
estudos do meio como meio de ruptura da compartimentao do saber e para o estmulo construo
singular do conhecimento, facilitada pela experincia direta, coloca-se de modo privilegiado por tudo o que
pode oferecer analogamente aos momentos de lazer, de favorvel sensibilizao e percepo. (SERRANO,
2000, apud BEDIM, 2004, 4)

Ainda no vis da discusso anterior, a UNESCO (1987) ratifica ao descrever que o principal objetivo
da trilha auxiliar no processo da educao ambiental, de forma individual e coletiva:
Um processo permanente no qual os indivduos e a comunidade tomam conscincia do seu meio
ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experincias, valores e a determinao que os tornam
capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de solues para os problemas ambientais, presentes
e futuros.
Joo Pessoa, outubro de 2011

521

Pode-se perceber a grande importncia das trilhas na educao ambiental e na construo do


conhecimento cientfico. Vale ressaltar que o uso das trilhas vai alm desses conhecimentos. Segundo
Hller (2010, 1), as trilhas, como meio de interpretao ambiental, no visa somente transmisso dos
conhecimentos, mas tambm propiciam atividades que revelam os significados e as caractersticas do
ambiente por do uso dos elementos originais atravs de experincia direta, e dessa, forma, se tornando um
instrumento de programas de educao ao ar livre.
Neste sentido, a educao ao ar livre proporciona alm da aproximao e conhecimento do
ambiente, mas principalmente populariza este conhecimento. Este fato vem de encontro com as ideias de
Morin quando aborda que o verdadeiro sentido da revoluo do conhecimento uma educao cientfica,
no fragmentada e de acesso a todos e para todos. Serrano (2000) citado por Oberherr (2008, 3) contribui
de forma significativa quando relata:
A trilha ecolgica, como verdadeiro laboratrio ao ar livre, tambm promove o estudo do meio como
forma de ruptura da compartimentao do saber. Pois um instrumento que permite trabalhar de forma
multidisciplinar, articulando diversas reas do conhecimento como: biologia, geografia, histria, matemtica
e temas transversais relacionados preservao ambiental, tica e cidadania. Desta forma, estimula a
construo singular do conhecimento, facilitada pela experincia direta, que associada aos momentos de
lazer proporcionados pelas visitas a ambientes naturais, iro facilitar a sensibilizao e percepo do meio
ambiente (SERRANO, 2000 apud OBERHERR, 2008, 3).

Tratando-se da educao formal, a trilha uma maneira eficaz para se trabalhar com os alunos fora
da sala de aula, podendo ser utilizada por diversas cincias. Contudo, ela deve ser planejada e considerada
como parte de um processo mais amplo e, no apenas como um evento educativo pontual. Ela deve
propiciar a discusso de conceitos e valores sobre o meio ambiente natural e sociocultural, deve sensibilizar
os alunos a respeito das questes ambientais local e invocar neles, a possibilidade de construir o prprio
conhecimento e buscar respostas para as suas indagaes. Neste sentido, Tlio (2005) citado por
Guimares & Menezes (2006), acrescentam:
(...) tem sido considerada como uma estratgia educativa capaz de transcender os aspectos
cognitivos e os aspectos afetivos e habilidades dos educandos, podendo, portanto, ser considerada um
instrumento efetivo de educao ambiental. (TLLIO, 2005 apud GUIMARES & MENEZES, 2006, 10).

Percebe-se, neste momento, que o uso das trilhas pode se configurar num excelente instrumento
de ensino para o professor. Por outro lado, mecanismos e formas (Mdias) de sua divulgao tornam-se
tambm importantes estratgias educacionais.
Segundo Machado (2005) citado por Julio (2007) em seu Artigo Elaborao de Trilhas e rotas
interpretativas em manguezais: rea de proteo ambiental, o termo trilha significa ato ou efeito de
trilhar, vem do verbo trilhar e segundo o dicionrio da FENAME Fundao Nacional de Material Escolar
(1969) que significa marcar com pegadas, percorrer, abrir caminho por, andar por ou ainda debulhar,
reduzir a pequenos pedaos.
As trilhas podem ser caracterizadas sob duas formas, segundo as normas internacionais
(Guimares, 2006 apud Julio, 2007):
I. Trilhas de interpretao de carter educativo, pois consistem em instrumentais pedaggicos,
podendo ser: (1) auto-interpretativa ou auto-guiada; (2) monitorada simples ou guiada; (3) com
monitoramento/guia associado a outras programaes. O percurso deve ser de curta distncia, onde
buscamos otimizar a compreenso das caractersticas naturais e/ou construdas da seqncia paisagstica
determinada pelo traado. No caso de reas silvestres so conhecidas como trilhas de interpretao da
natureza ("Nature Trails"); em reas construdas, especialmente as urbanas, em geografia, so conhecidas
como percursos de espao vivido. ("Espace Vcu" / "Living Space").
II. Trilhas cnicas ("Scenic Trails"; "Wilderness Trails"), isto , trilhas que integram um sistema de
outras redes, geralmente com uma seqncia paisagstica envolvendo uma travessia por cenrios urbanos,
rurais, selvagens, enfocando aspectos e atributos culturais, histricos, estticos, etc. Possuem longas

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

522
distncias e grandes extenses, sendo consideradas de carter recreacional devido s viagens regionais.
(JULIO, 2007, p. 2)

Segundo Guimares & Menezes (2006), de acordo com a sua forma as trilhas pode ser classificadas
em quatro tipos:
A trilha circular tem a forma de um crculo que possibilita o retorno origem sem repetir o percurso.
Pode-se tambm definir um sentido nico de uso da trilha, o que permite que o visitante faa o percurso sem
passar por outros visitantes, no sentido contrrio. J a trilha linear o formato mais comum e simples.
Geralmente, o seu objetivo conectar o caminho principal (quando j no o prprio) a algum destino, como
lagos, clareiras, cavernas, picos... Ao contrrio da trilha circular, ela possibilita o retorno pelo mesmo caminho
de partida e a passagem por outros visitantes no sentido contrrio. A trilha em oito (com o desenho em
forma do nmero oito) muito eficiente em reas limitadas j que aumenta a possibilidade de uso dos
espaos. A trilha de atalho tem incio e fim em diferentes pontos de uma trilha ou caminho (estrada
principal). Apesar do nome, o seu objetivo no cortar caminho, mas sim mostrar uma outra alternativa
trilha ou caminho principal. (GUIMARES & MENEZES, 2006, 10,11).

Entretanto, pode-se notar que existe uma diversidade de trilhas, sendo estas, espaos potenciais de
estudo no campo de discusso sobre a Educao Ambiental, assim como o reconhecimento de sua fauna e
flora.
4. MATERIAIS E MTODOS
Procedimentos Metodolgicos
Em uma regio do Parque, selecionada como uma trilha de carter ecolgica, esta classificada
como Trilha de interpretao de carter educativo, segundo concepo de Julio (2007), assim como do
tipo linear, Guimares e Menezes (2006), ambas apresentadas anteriormente, fez-se uma pesquisa de
campo que consistiu em um levantamento de espcies vegetais, ao longo dela, identificando-as sob o
aspecto taxonmico na literatura acadmica e, ao mesmo tempo, fotografando-as no prprio local, ao
mesmo tempo, visando a elaborao de CD.
Para a realizao do levantamento iconogrfico dos vegetais encontrados no Parque Paleontolgico
de So Jos de Itabora, foi necessria a delimitao de uma rea, de forma a concentrar o estudo num
espao que possibilitasse um maior aprofundamento do seu objeto de estudo. Para tanto, escolheu-se (a
partir da anlise dos diversos caminhos que existem no Parque) o caminho que fica entre o espao
denominado Centro de Referncia e a Bacia Calcria de So Jos. Denominado pela pesquisa de O
Caminho Verde do Parque Paleontolgico de Itabora, possui uma extenso de aproximadamente 300
metros de comprimento. O cho deste caminho encontra-se, inicialmente recoberto por pedra zero e, da
metade para o final, de terra batida. Os vegetais esto localizados por toda a sua extenso, de forma
bilateral.
Por se tratar da explorao de um espao limitado, este classificado como um caminho ou, at
mesmo uma trilha, pode-se dizer que esta abordagem refere-se concepo do uso de trilhas como
estratgias para elaborao de um estudo acadmico.
A pesquisa catalogou um total de 16 (dezesseis) espcies vegetais, dentre as quais foram
encontradas no espao delimitado pela trilha. Em seguida, foram fotografadas e classificadas obedecendo a
norma taxonmica, incluindo, alm de seu nome cientfico, a famlia pela qual o vegetal pertence, o seu
nome popular, bem como sua origem. A classificao taxonmica obedeceu ao uso geral da nomenclatura
binominal. As espcies catalogadas foram: amoreira, ameixa amarela, hibisco, leucena, palmeira, cacto,
bananeira, comigo-ningum-pode, limoeiro, goiabeira, quebra-pedra, mangueira, aroeira, amendoeira,
jamelo, capim dos pampas.
Cabe destacar que essas espcies vegetais catalogadas no correspondem ao total das espcies do
local, tendo em vista a vasta extenso que compreende todo o parque. Entretanto, foi estabelecida uma
trilha visando um maior aproveitamento, organizao, e maior riqueza e diversidade. Trata-se de um
espao de relevncia na composio total do Parque, uma vez em que se torna o principal acesso Bacia
Calcria de So Jos, onde os estudos dos fsseis teve incio. Este caminho agrega valores altamente
significativos em se tratando do levantamento de espcies e explorao de conceitos no campo da

Joo Pessoa, outubro de 2011

523
Educao Ambiental, principalmente na rea da sustentabilidade, alm de ser considerado pelos visitantes
um espao agradvel e possuidor de uma beleza bastante singular.
Descrio do local O Cenrio
Encontrado ainda sob os resqucios de uma Mata Atlntica, com fortes evidncias arqueolgicas e
grande potencial de recursos naturais, principalmente evidenciados pela forte presena de animais e de
plantas fossilizadas, que viveram na regio entre 65 e 53 milhes de anos (Paleoceno/Eoceno), assim como
outros que habitaram no perodo Neopleistoceno, o Parque Paleontolgico de So Jos de Itabora,
tambm chamado de O bero dos mamferos, foi criado no ano de 1995, por meio de lei municipal n.
1.346, tendo como principais objetivos a preservao da rea, dos testemunhos da geologia original e dos
fsseis remanescentes nas rochas, visando possibilitar o acesso do acervo aos visitantes.
Encontra-se situado sobre as regies de Plancies Costeiras, de Tabuleiros Costeiros e de Colinas
Macios Costeiros. No Parque Paleontolgico de So Jos de Itabora ainda encontram-se remanescentes
de Floresta Ombrlfila Densa.
O termo Ombrfila Densa, foi criado por Ellemberg & Mueller-Domboi (1965/6), substitui Pluvial
(de origem latina) por Ombrfila (de origem grega, ambos com o mesmo significado amigos da chuva) Manuais Tcnicos em Geocincias n. 1, pg. 16. Ainda sobre a discusso da Floresta Ombrfila Densa,
so feitas as seguintes consideraes:
Este tipo de vegetao caracterizado por fanerfitos, justamente pelas subformas de vida macro e
mesofanerfitos, alm de lianas lenhosas e epfitas em abundncia, que o diferenciam das outras classes de
formaes. Porm, a caracterstica ecolgica principal reside nos ambientes ombrfilos que marcam muito
bem a "regio florstica florestal". Assim, a caracterstica ombrotrmica da Floresta Ombrfila Densa est
presa a fatores climticos tropicais de elevadas temperaturas (mdias de 25) e de alta precipitao, bem
distribudas durante o ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situao bioecolgica praticamente
sem perodo biologicamente seco. Alm disso, dominam, nos ambientes destas florestas, latossolos
distrficos e, excepcionalmente, eutrficos, originados de vrios tipos de rochas. (Manuais Tcnicos em
Geocincias, n 1,16)

Sobre este campo de discusso, Thibau (2000), relata que a floresta Amaznica - Floresta Pluvial
Tropical (Ombrfila Densa) cobre extensa rea sedimentar amaznica, do tipo densa, alta, com folhagens
sempre verdes e bem estratificada, representando 40% da rea do pas.
O Parque Paleontolgico encontra-se localizado no municpio de Itabora Regio Metropolitana
do Estado do Rio de Janeiro, estando situado na localidade de So Jos (6 distrito).
Atualmente, o Parque Paleontolgico est sendo reestruturado, no sentido de, em breve,
implementar projetos de pesquisa e de construo de conhecimento acerca da histria cientfica do espao
natural, e da bacia calcria de So Jos, assim como realizao de cursos sobre a temtica Educao
Ambiental, tomando como base de discusso o contexto scio/econmico/cientifico e de sustentabilidade
do local.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

524

Figura 1: Fotos da trilha do Parque so Jos de Itabora. Fonte: fotos do autor

5. CONSIDERAES FINAIS
O panorama historicamente construdo pela sociedade local no tocante ao Parque Paleontolgico
de So Jos de Itabora tem demonstrado uma grande preocupao quanto ao seu futuro sustentvel,
principalmente no que tange ao seu potencial histrico, econmico, social e cientfico.
No campo educacional, este estudo nos levou a perceber que o espao tem se constitudo como
importante recurso para o processo de discusses, tanto das questes ambientais, quanto do
conhecimento cientfico, tendo em vista seu grande laboratrio a cu aberto, a Trilha Ecolgica,
proporcionando assim um momento mpar para o desenvolvimento da Divulgao Cientfica, a partir da
construo de um CD, descrevendo o Parque, a sua Histria, os estudos dos fsseis, e as espcies
selecionadas da Trilha. Desse modo, ampliando a possibilidade de acesso aos estudantes a esses contedos
cientficos.
Sob a luz do estudo da Trilha Ecolgica, fica evidente que esta se comporta como importante
instrumento, no somente para reconhecimento do espao e de espcies vegetais (nativas ou no nativas),
mas tambm como foco de discusses que envolvam a Educao Ambiental. Como relatado anteriormente,
na educao formal, a trilha uma maneira eficaz para se trabalhar com os alunos fora da sala de aula,
podendo ser utilizada por diversas cincias.
Na perspectiva ambiental verifica-se que este campo de discusso possibilita a formao de
conceitos socioambientais e de sustentabilidade, contribuindo para uma valorizao e reconstruo de
valores do espao em que a Trilha Ecolgica se encontra.

6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BEDIM, Bruno Pereira. Trilhas Interpretativas como instrumento pedaggico para a educao
biolgica e ambiental: reflexes. 2004.
BERGGVIST, Llian Paglarelli; MOREIRA, Adraiana Lima; PINTO, Danille Ribeiro. Bacia de So Jos de
Itabora 75 anos de histria e cincia. Servio Geolgico do Brasil FAPERJ, Rio de Janeiro: 2006.
CAVALCANTE, Mrcio Balbino. Educao Ambiental: A responsabilidade individual para uma
sociedade sustentvel. Educao Ambiental em Ao, n. 27, 2009.
GUATTARI, Felix. As Trs Ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. 19 ed. So Paulo: Papirus,
2008.
GUIMARES, Vanize de Freitas; MENEZES, Sebastio de Oliveira. Uso de Trilha Interpretativa na
Educao Ambiental: uma proposta para o municpio de Rosrio da Limeira (MG). II Frum Ambiental da
Alta Paulista. Outubro de 2006.
JULIO, Danielle; IKEMOTO, Silva Marie & COSTA, Vivian Castilho da. Elaborao de Trilhas e Rotas
Interpretativs em Manguezais: rea de proteo Ambiental, Guapimirim, RJ. II Encontro Interdisciplinar de
Ecoturimso em Unidades de Conservao. VI Congresso Nacional de Ecoturismo. Itatiaia RJ.
Novembro/2007.
LEFF, Henrique. Epistemologia Ambiental - Coleo Magistrio: Formao e Trabalho Pedaggico.
Trad. Sandra Valenzuela. 4 ed. Revista. So Paulo: Cortez, 2007.
OBERHERR, Andra Diana. Trilhas Ecolgicas como Instrumento de Educao Ambiental.
Universidade Federal de Santa Maria RS: 2008.
Joo Pessoa, outubro de 2011

525

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

526

PLANEJAMENTO E GESTO DE REAS PROTEGIDAS E BACIAS


HIDROGRFICAS: PERSPECTIVAS E POSSIBILIDADES DE INTEGRAO
Jos Hermano Almeida PINA
Professor substituto do Instituto de Geografia da UFU
hermanojampa@yahoo.com.br
Marcus Vinicios BENACHIO
Mestrando IG/UFU Bolsista CNPQ Uberlndia MG/Brasil
marcusviniciosbenachio@yahoo.com.br
Marlene Teresinha de Muno COLESANTI
Prof. Dr. do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlndia-MG/Brasil mmuno@ufu.br

RESUMO
Este artigo versa sobre a importncia da relao entre o Sistema Nacional de Unidades de
Conservao da Natureza (SNUC) e a Poltica Nacional de Recursos Hdricos (Lei das guas), levando-se em
conta a necessidade de uma gesto integrada envolvendo as Unidades de Conservao (UCs) e as bacias
hidrogrficas. Para uma melhor contextualizao, a rea de estudo escolhida foi a rea de Proteo
Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, UC de Uso Sustentvel administrada pelo Instituto Chico
Mendes de Conservao da Biodiversidade, localizada no litoral norte da Paraba. A APA abriga extensas
reas de manguezais e restingas, alm de comunidades que vivem no interior da Unidade; possui tambm
uma base avanada do Projeto Peixe-Boi, localizada na foz do Rio Mamanguape. Foi possvel perceber que
a gesto integrada envolvendo a UC em questo e a bacia hidrogrfica do Rio Mamanguape ainda no
existe; essa lacuna observada surge como um importante tema para estudo, j que o SNUC preconiza a
importncia dos recursos hdricos para as reas protegidas, e a Lei das guas destaca a importncia da
gesto ambiental como uma de suas diretrizes. importante destacar que a APA da Barra do Rio
Mamanguape realiza vrias aes que contribuem para a conservao dos ecossistemas presentes no seu
interior e zona de amortecimento, alm da prpria insero das comunidades por meio das atividades
econmicas realizadas; porm, alguns instrumentos previstos na Lei das guas que devem ser aplicados na
bacia, a exemplo do enquadramento, no so ainda includos oficialmente na gesto da rea, o que refora
a falta de dilogo entre as duas esferas: gesto ambiental e gesto de recursos hdricos.
Palavras-chave: Unidade de Conservao; Bacia Hidrogrfica; Gesto Integrada.
Introduo
O domnio da natureza pela humanidade ocorre por meio das atividades socioeconmicas
que determinam a intensidade da explorao e a demanda pelos recursos naturais em geral. Diante disso, o
crescimento econmico passa a ser a principal ameaa aos recursos naturais, e isso influencia no s a
natureza propriamente dita como tambm a qualidade de vida da sociedade.
exatamente em virtude das ameaas constantes ao meio ambiente formado pela
sobreposio do tempo do homem ao tempo da natureza que so extremamente importantes os
dispositivos jurdico-legais capazes de contribuir para o diagnstico socioambiental, seguido do
planejamento e da gesto. Seguindo esse raciocnio, a gua componente da natureza pode ser vista
como um elemento essencial para a atividade biolgica e para o desenvolvimento das atividades
econmicas. Atribuindo-lhe valor econmico, o conceito de recurso hdrico traz tona a grande
responsabilidade da sociedade no que tange preservao e conservao desse bem.
Para isso, a construo de leis que atendam s necessidades regionais e locais so marcos
importantes para o planejamento e gesto dos recursos hdricos. No caso do Brasil, cita-se a lei n 9.433, de
8 de janeiro de 1997; conhecida como Lei das guas, instituiu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e
criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos. Outro dispositivo importante que est
diretamente relacionado questo ambiental a lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, a qual instituiu o
Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC).
As bacias hidrogrficas tornaram-se as unidades territoriais preferidas para o planejamento
e gesto dos recursos hdricos. A esse respeito, Pires e Santos (1995, p.41) mencionam que [...] as
abordagens de planejamento e gerenciamento que utilizam a bacia hidrogrfica como unidade de trabalho
tm evoludo bastante, pois as caractersticas biogeogrficas dessas bacias apresentam sistemas ecolgicos
e hidrolgicos relativamente coesos. Sendo assim, o recorte territorial feito por meio da bacia hidrogrfica
Joo Pessoa, outubro de 2011

527
tende a facilitar a gesto de recursos hdricos face aos dispositivos jurdico-legais referentes a cada rea
especfica, seja a bacia propriamente dita, ou uma unidade territorial interna mesma.
Em virtude da grande relao entre gua e diversidade biolgica, este trabalho buscou
discutir a interface existente entre a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e o Sistema Nacional de
Unidades de Conservao da Natureza, ou seja, a importncia recproca envolvendo a Unidade de
Conservao (UC) e a bacia hidrogrfica.
Para isso, escolheu-se a rea de Proteo Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape,
uma Unidade de Conservao Federal de Uso Sustentvel localizada na bacia hidrogrfica do Rio
Mamanguape, no litoral norte do estado da Paraba. A referida UC, como o prprio nome mostra, abrange
a rea da foz do Rio Mamanguape, e possui um dos maiores remanescentes de manguezais da regio
nordeste do Brasil.
importante identificar e evidenciar a grande relevncia da relao entre Unidades de
Conservao e bacia hidrogrfica, alm de contribuir para a manuteno e criao de UCs em reas
estuarinas, para que assim possa surgir uma viso mais integrada envolvendo a bacia hidrogrfica, a rea
protegida e o ambiente costeiro.
Fundamentalmente, importante tambm que os instrumentos de gesto previstos na Lei
das guas e no SNUC sejam criados, implementados e geridos. Mesmo previsto no Plano Estadual de
Recursos Hdricos da Paraba (PERH-PB), a bacia hidrogrfica do Rio Mamanguape ainda no possui seu
Plano Diretor, fato esse que dificulta a gesto adequada e completa em toda a bacia. J no caso da APA da
Barra do Rio Mamanguape, o Plano de Manejo da UC ainda no foi elaborado, sendo esse um forte
empecilho para a gesto adequada da rea, principalmente para resoluo de conflitos com as populaes
residentes no interior da Unidade, alm das ameaas externas causadas pela carcinicultura e pelo cultivo da
cana-de-acar.
Alm de tudo isso, percebe-se pouco dilogo entre a gesto de recursos hdricos e a gesto
ambiental por meio das UCs, principalmente aquelas situadas em reas estuarinas, j que a ateno se
volta, na maioria dos casos, para as Unidades que abrangem as reas de nascentes.
Com isso, o objetivo deste trabalho foi discutir a interface entre o SNUC e a Lei das guas,
destacando-se o caso da APA da Barra do Rio Mamanguape. Para isso, foram seguidos os seguintes
objetivos especficos:
Analisar, comparativamente, os dispositivos jurdicos, os fundamentos e os instrumentos
operacionais disponveis no contexto da gesto de recursos hdricos e gesto de UCs;
Identificar os aspectos referentes proteo dos recursos hdricos e das reas protegidas que
devem compor o planejamento e a gesto de forma integrada.
No contexto terico-conceitual, foram abordados temas como planejamento estratgico e
participativo muito em funo da ausncia do Plano de Manejo da APA e do Plano Diretor da bacia ,
legislao ambiental nesse caso o SNUC e a Lei das guas , alm de uma justificativa jurdico-legal
referente integrao envolvendo gesto ambiental e de recursos hdricos.
A importncia do planejamento e da gesto
Dentro da perspectiva do planejamento territorial, vrias so as aes que devem ser
implementadas com o objetivo de incluir os diversos segmentos sociais nos benefcios gerados por meio de
polticas pblicas. Para isso, torna-se necessrio um mosaico metodolgico abastecido de informaes
diretamente condizentes com a realidade a ser trabalhada.
exatamente dentro desse contexto que surge a grande importncia do planejamento,
caracterizado principalmente pelos seguintes aspectos:
Estabelecer um conjunto de aes para o futuro de forma pr-determinada;
Construir um conjunto de aes interdependentes, facilitando assim a integrao;
Programar processo contnuo e constante para um cenrio futuro ideal, tornando-se assim uma
condio inerente ao processo de planejamento;
Tomar atitudes no intuito de anteceder a tomada de deciso propriamente dita.
Seguindo esse raciocnio, percebe-se o planejamento como uma condio bsica e prexistente do cotidiano social, que perpassa as aes mais simples at as mais complexas, as quais
envolvem maior volume de decises. Sendo assim, o planejamento [...] contribui para que tarefas sejam
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

528
melhor realizadas e objetivos sejam mais facilmente atingidos, por pessoas ou organizaes (PETROCCHI,
1998, p. 20). O carter temporal das aes exige cada vez mais uma aproximao real do planejamento em
relao ao cenrio desejado, surgindo assim as necessidades referentes ao mnimo de retorno possvel. A
partir da, destaca-se a ideia de planejamento estratgico, o qual est inserido na abordagem sistmica do
planejamento.
Nesse caso, percebe-se claramente que a informao, a deciso e a ao refletem a grande
importncia do ciclo do planejamento envolvendo cada fase, exigindo do indivduo ou da organizao
pblica ou privada a percepo de que o planejamento materializa-se enquanto um processo contnuo.
Baseando-se nessa prerrogativa, o carter estratgico do planejamento surge como uma
das caractersticas de um amplo processo que pode ser usado de acordo com cada situao. No caso do
planejamento e gesto territorial, as caractersticas referentes ao tempo de execuo, flexibilidade para
mudanas, quantidade de aes e ambincia devem ser dispostas de acordo com a prpria necessidade de
todos os elementos envolvidos no processo.
importante ressaltar que tais caractersticas pertencem inicialmente ao ambiente
organizao/empresarial, j que o contexto no qual surgiu o planejamento estratgico foi marcado pelo
crescimento dos mercados, quando da formao das organizaes de grande porte por meio do aumento
da sociedade de consumo.
No contexto territorial, o planejamento e a gesto devem ser prerrogativas bsicas do
poder pblico, sendo esse o principal agente executor no tocante ao ciclo do planejamento. Para isso, a
informao passa a ser a base para a construo de um diagnstico fiel realidade a ser trabalhada; aps
isso, a deciso deve ser tomada de acordo com as reais necessidades de mudana ou manuteno da
realidade; posteriormente, a ao a ser executada deve ser o final e tambm o incio de um ciclo
planejado e coordenado, no qual cada informao absorvida em cada etapa deve alimentar a prpria
reviso do processo de planejamento.
No caso especfico dos recursos naturais, as reas protegidas por meio das Unidades de
Conservao merecem uma ateno especial durante as fases de planejamento e gesto, j que muitas
vezes os elementos inseridos nessas reas reforam a ideia de preservao e conservao aliada incluso
dos segmentos sociais envolvidos na composio/construo do diagnstico. Para as UCs de Uso
Sustentvel, a exemplo da APA da Barra do Rio Mamanguape, necessrio um planejamento e uma gesto
de forma participativa, de acordo com o que est previsto no SNUC. Surge assim a chamada participao
cidad, caracterizada pela redistribuio do poder que permite aos cidados excludos dos processos
sociais, econmicos e polticos serem ativamente includos no futuro. Nesse sentido, destacam-se as vrias
intervenes que devem, prioritariamente, beneficiar os diversos segmentos sociais envolvidos, resultando
assim na prpria ideia de planejamento territorial, contribuindo para a qualidade de vida da populao e
para a manuteno das reas protegidas.
Dentro da ideia de participao cidad como forma de contemplar o planejamento
estratgico e participativo, o quadro 1 destaca-se os seguintes nveis de participao:

Poder do cidado

Parceria

Concesso mnima de poder

Consulta

No participao

Manipulao

Quadro 1: Nveis de participao cidad


Fonte: SILVA (2007)
Elaborao: PINA (2011)

Joo Pessoa, outubro de 2011

529
De acordo com cada nvel, levando-se em conta as reais necessidades referentes ao
planejamento e gesto de UCs de Uso Sustentvel, so explicadas as fases que devem ser entendidas
durante o processo de planejamento estratgico e participativo:
Manipulao (nvel indesejado): muitos so os casos em que na manipulao travestida de
participao as pessoas so convidadas a participar de Comits ou Conselhos Consultivos sem real poder de
deciso com o propsito explcito de educ-las ou obter o seu apoio. Sendo assim, ao invs da genuna
participao, surge uma distoro da participao em um instrumento de relaes pblicas;
Consulta (nvel regular): solicitar a opinio dos cidados, assim como inform-los, pode ser um
passo significativamente legtimo rumo participao cidad no processo de planejamento. Porm, se a
consulta no estiver integrada com outras formas de participao, no sero oferecidas garantias de que as
preocupaes e ideias dos cidados sero levadas em conta durante o processo;
Parceria (nvel ideal): nesse caso, h uma redistribuio de poder por meio da negociao entre
cidados e tomadores de deciso. Para isso, ambos os lados concordam em compartilhar o planejamento e
as responsabilidades de tomada de deciso por meio das diversas estruturas como Conselhos paritrios,
Comits de planejamento e mecanismos de soluo de conflitos. A partir da, aps a definio das regras
bsicas no poder haver mudanas/alteraes de forma unilateral.
Essa passa a ser a ideia do planejamento estratgico por meio da participao cidad para o
contexto das vrias intervenes ambientais, nas quais as diversas variveis diretamente ligadas ao poder
pblico sade, educao, meio ambiente, trnsito, transporte, saneamento etc. devem compor um ciclo
de planejamento conduzido por informaes, decises e aes, essas inseridas dentro de um processo
contnuo e acompanhado.
Para isso, extremamente importante que todas as formas de planejamento territorial
sejam objetivamente integradas ao carter estratgico inserindo-se na viso abrangente da realidade
propriamente dita. Portanto, reforando a ideia do ciclo do planejamento e as suas fases, os procedimentos
metodolgicos do planejamento estratgico tm como objetivo uma ampla conjugao social dentro de um
processo de expanso democrtica, necessitando cada vez mais de informaes consistentes acerca da(s)
realidade(s) sociais (LOPES, 1998).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza
A discusso sobre reas protegidas extremamente importante quando se fala em
conservao e preservao ambiental. No Brasil, vrios so os ecossistemas que merecem ateno especial
em funo das ameaas constantes advindas das atividades econmicas que modificam os espaos rurais e
urbanos (SILVA, 2007; BRASIL, 2010a).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), institudo em 2000,
surgiu no sentido de contribuir para a Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA), instituda pela lei 6.938,
de 31 de agosto de 1981; as categorias de Unidades de Conservao (UCs) previstas no SNUC facilitam o
planejamento e a gesto do territrio levando-se em conta a manuteno e criao de reas capazes de
preservar e conservar ecossistemas, biomas e domnios de natureza no Brasil (MILAR, 2007; BRASIL,
2010c).
As categorias de UCs de Uso Sustentvel so: Floresta Nacional, rea de Proteo
Ambiental, rea de Relevante Interesse Ecolgico, Reserva Extrativista, Reserva de Desenvolvimento
Sustentvel, Reserva Particular do Patrimnio Natural e Reserva de Fauna; j as de Proteo Integral so as
seguintes: Parque Nacional (Estadual ou Natural Municipal), Reserva Biolgica, Estao Ecolgica,
Monumento Natural e Refgio de Vida Silvestre (BRASIL, 2010b)
No caso especfico da APA, objeto de estudo desse trabalho, por ser de Uso Sustentvel,
permitida a permanncia das comunidades que viviam na rea da UC antes de sua criao; para isso, tornase essencial a construo do Plano de Manejo, documento tcnico mediante o qual se definem diretrizes
para a gesto adequada da UC, usando-se para isso aes como zoneamento e normas que devem presidir
o correto uso da rea bem como o manejo dos recursos naturais existentes, alm da implantao da
infraestrutura necessria gesto.
A APAs situadas na zona costeira brasileira, como caso da APA da Barra do Rio
Mamanguape, so extremamente importantes para conservao e preservao da mata atlntica,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

530
manguezais, restingas e ambientes marinhos propriamente ditos. Torna-se obrigatria uma gesto que
integre a bacia hidrogrfica com o seu ambiente estuarino e costeiro situado a jusante.
Nesse caso, as Unidades de Conservao podem garantir aes previstas na legislao
ambiental capazes de propiciar a perenidade das guas sejam nascentes ou esturios , da flora, da
fauna, do solo etc. importante tambm o trabalho realizado junto s comunidades diretamente ligadas
UC, alm dos diversos setores envolvidos como Prefeituras, Organizaes No-Governamentais, Comits de
Bacia Hidrogrfica, setores produtivos primrio, secundrio e tercirio etc. (SACHS, 2002; SILVA, 2007).
A Poltica Nacional de Recursos Hdricos
Analisando a gesto dos recursos hdricos no Brasil, possvel perceber que a lei 9.433/97
passou a ser um divisor de guas, j que os vrios instrumentos criados por ela tornaram mais vivel a
resoluo de conflitos em diversas reas do territrio brasileiro, alm de construir uma nova viso
conceitual do recurso hdrico como elemento inerente manuteno da biodiversidade e ao
desenvolvimento das atividades humanas (MACHADO, 2002).
Inspirada no modelo francs, a Lei das guas criou o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hdricos, com destaque para a atuao dos Comits de Bacia Hidrogrfica (CBHs), os quais
funcionam como Conselhos participativos, compostos por diversos segmentos presentes na bacia
hidrogrfica. A partir disso, o principal objetivo do CBH fomentar estratgias operacionais para tornar
realidade os princpios, conceitos e instrumentos previstos na legislao, superando e suprindo as
incompatibilidades e as possveis omisses tcnicas, administrativas e legais por meio de processos de
negociao e cooperao entre as partes envolvidas, com vistas resoluo harmnica dos problemas
(SILVA; PRUSKI, 2000; BRASIL, 2010d).
Com relao preservao e conservao dos recursos naturais, a gesto de recursos
hdricos propriamente dita possui um papel extremamente relevante, j que a bacia hidrogrfica, por ser a
unidade territorial de planejamento preconizada pela lei, abriga diversos processos geoambientais
materializados em ecossistemas e biomas. Diante disso, surgem ento alguns questionamentos: possvel
fazer gesto de recursos hdricos sem pensar em gesto ambiental? Como estabelecer, de fato, uma
interface entre a gesto de recursos hdricos e a gesto ambiental? Tais questionamentos servem para
balizar os possveis caminhos tcnicos e legais a serem identificados no sentido de estabelecer o(s) elo(s)
entre o SNUC inserido na gesto ambiental e a Lei das guas referente gesto de recursos hdricos
(UFPB; MMA, 1998; SILVA; PRUSKI, 2000; MACHADO, 2002).
Planejamento e gesto de reas protegidas e bacias hidrogrficas
Pensando-se no planejamento territorial brasileiro, a questo ambiental propriamente dita
abrange diversos elementos que interagem entre si; conceitualmente, importante incluir os vrios
componentes da natureza como causa e consequncia das caractersticas ecolgicas encontradas nos
ecossistemas brasileiros. A figura 1 mostra a necessidade de integrao entre a gesto ambiental e a gesto
de recursos hdricos por meio das Unidades de Conservao haja vista a gesto territorial.

Joo Pessoa, outubro de 2011

531

Figura 1: Integrao entre a gesto ambiental e a de recursos hdricos


Elaborao: PINA (2011)

No caso da gesto ambiental e de recursos hdricos, nitidamente observa-se uma diviso


dessas esferas a partir da legislao, a exemplo do SNUC e da Lei das guas. No contexto ambiental, com
destaque para a flora, a fauna e o envolvimento social, a gua tambm como recurso hdrico includa
na legislao: [...] Art. 4o O SNUC tem os seguintes objetivos: [...] VIII - proteger e recuperar recursos
hdricos e edficos (BRASIL, 2010b).
A separao dos dispositivos jurdicos envolvendo as esferas ambiental e hdrica deve ser
compensada por meio dos instrumentos previstos em cada lei que garantem a participao dos setores
envolvidos. No caso das reas protegidas, imprescindvel a participao dos Comits de Bacias
Hidrogrficas no Conselho Gestor das UCs; j no caso dos CBHs, necessria a participao caso haja UCs
na rea da bacia de membros diretamente ligados Unidade de Conservao nas discusses referentes
bacia hidrogrfica em questo, sendo assim possvel uma troca mtua de experincias que possa contribuir
para ambos os lados.
Na legislao referente aos recursos hdricos tem-se: [...] Art. 3 Constituem diretrizes
gerais de ao para implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos: [...] III - a integrao da
gesto de recursos hdricos com a gesto ambiental (BRASIL, 2010d). Percebe-se ento uma postura
conceitual presente na lei que assegura a ligao entre as esferas ambiental e hdrica materializada nos
prprios processos ecolgicos que ocorrem nos diversos ecossistemas brasileiros.
Ainda com relao s diretrizes de ao presentes no Art. 3 da referida lei, no caso
especfico da relao entre bacias hidrogrficas e ambientes costeiros e estuarinos, importante destacar
[...] VI - a integrao da gesto das bacias hidrogrficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras
(BRASIL, 2010d). Tal referncia feita em virtude da grande importncia ecolgica da zona costeira
brasileira; a necessidade de inserir esse ambiente como parte indissocivel da bacia hidrogrfica refora a
grande importncia da implementao de leis como o SNUC e a Lei das guas.
A manuteno de uma gesto integrada e compartilhada nos pontos convergentes
relevantes tendem a otimizar a resoluo de conflitos, melhorar as aes de preservao e conservao
ambiental, facilitar o acesso a recursos financeiros, entre outros. Por isso, torna-se vlido o dilogo por
meio de reunies, trocas de dados e informaes e eventos conjuntos que possam integrar as aes
previstas e realizadas no mbito das Unidades de Conservao e dos rgos ligados gesto de recursos
hdricos CBHs, Agncias de gua etc.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

532

Concluses
Observa-se, de fato, a grande relevncia do SNUC e da Lei das guas para uma gesto
integrada que possa fortalecer as esferas ambiental e hdrica, exigindo-se cada vez mais dos gestores a
implementao dos instrumentos previstos nos dispositivos jurdicos capazes de fortalecer a gesto dessas
reas. Para isso, necessita-se de dilogo constante, alm de uma viso integrada que possa garantir a
continuidade das aes pensadas para a bacia hidrogrfica e para a Unidade de Conservao.
Espera-se evidenciar a grande importncia da relao entre o Sistema Nacional de Unidades
de Conservao da Natureza e a Poltica Nacional de Recursos Hdricos por meio do caso especfico da APA
da Barra do Rio Mamanguape, que possui o ambiente estuarino-costeiro como uma significativa
peculiaridade para uma gesto integrada que possibilite a execuo das diretrizes e dos instrumentos
previstos nas respectivas leis.
Portanto, o planejamento e a gesto de reas protegidas e bacias hidrogrficas, de acordo
com a legislao pertinente, devem ser pensados de forma integrada, haja vista a necessidade de
conservao e preservao de recursos ambientais inerentes manuteno de ecossistemas, bem como a
garantia de qualidade de vida para as populaes diretamente envolvidas nesse processo.
Referncias
AESA - Agncia Executiva de Gesto das guas do Estado da Paraba. Comit Litoral Norte.
Disponvel em: <http://www.aesa.pb.gov.br/comites/litoral_norte/>. Acesso: 27 de abr. de 2010.
BRASIL. Casa Civil. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso: 20 de fev. de
2010a.
______. ______. Lei no 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm>. Acesso: 20 de fev. de 2010c.
______. ______. Lei n 9.433, de 8 de Janeiro de 1997. Institui a Poltica Nacional de Recursos
Hdricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos, regulamenta o inciso XIX do art.
21 da Constituio Federal, e altera o art. 1 da Lei n 8.001, de 13 de maro de 1990, que modificou a Lei
n
7.990,
de
28
de
dezembro
de
1989.
Disponvel
em:
<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9433.htm>. Acesso: 20 de fev. de 2010d.
______. ______. Lei no 9.985, de 18 de Julho de 2000. Regulamenta o art. 225, 1o, incisos I, II, III e
VII da Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza e d
outras providncias. Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9985.htm>. Acesso: 20 de fev.
de 2010b.
LOPES, R. A cidade intencional: o planejamento estratgico de cidades. 2. ed. Rio de Janeiro:
Mauad, 1998.
MACHADO, P. A. L. Recursos hdricos: direito brasileiro e internacional. So Paulo: Malheiros, 2002.
MILAR, . Direito do ambiente: doutrina, jurisprudncia e glossrio. 5. ed. So Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2007.
PETROCCHI, M. Turismo: planejamento e gesto. So Paulo: Futura, 1998.
PIRES, J. S. R.; SANTOS, J. E. Bacias hidrogrficas integrao entre meio ambiente e
desenvolvimento. Cincia Hoje, v. 19, n. 110, p. 41-45, 1995.
SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentvel. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
SILVA, D. D.; PRUSKI, F. F. Gesto de recursos hdricos: Aspectos Legais, Econmicos,
Administrativos e Sociais. Braslia: MMA/SRH, UFV, ABRH, 2000.
SILVA, E. L. da. Conselhos gestores de Unidades de Conservao. Ferramenta de Gesto Ambiental e
Participao Cidad. 3. ed. Porto Alegre: IBAMA, 2007.
UFPB/MMA. Unidade de Planejamento UP12: Bacias Hidrogrficas dos Rios Paraba, Mamanguape e
Miriri. Joo Pessoa: UFPB/MMA, 1998.

Joo Pessoa, outubro de 2011

533

CARACTERIZAO E CLASSIFICAO DE SOLO NA RESERVA LEGAL RIACHO


PACAR, RIO TINTO PB
Maria da Glria Vieira ANSELMO
Aluna bolsista de graduao do curso de Geografia- UEPB CH
E-mail: gloria.anselmo@hotmail.com
Andr Amaro FELIX
Aluno bolsista de graduao do curso de Geografia- UEPB CH
E-mail: andrefelixslterra@yahoo.com.br

RESUMO
As reas rurais tm sofrido fortes influncias dos meios tecnolgicos, o que contribui para avanos
na agricultura e pecuria, conseqentemente os espaos de vegetao nativa so mais devastados.
Contudo, a vegetao protege o solo contra o processo erosivo, tendo em vista que o solo a camada
superficial que recobre as rochas e recebe influncias de imtemperismos fsicos e qumicos ao longo do
tempo. Para diagnosticar a diversidade de solos existentes faz-se necessrio um levantamento pedolgico,
que implica em estudar as origens, a morfologia, a classificao e a distribuio dos mesmos. O objetivo
dessa pesquisa foi caracterizar e classificar os solos da Reserva Legal Riacho Pacar, Rio Tinto-PB, no
tocante aos aspectos morfolgicos, fsicos e qumicos de acordo com Santos et al (2005). Esta pesquisa o
resultado de uma parceria da UEPB com a empresa particular Miriri Alimentos e Bioenergia S/A que data o
perodo de janeiro a abril de 2011. Foi realizada visita ao campo para reconhecimento do setor, o que
consta uma Reserva Legal de Mata Atlntica bem distribuda com vrias espcies e indivduos, com solos
bem drenados e baixo teor de eroso. Foram estudados dois perfis de solos, ambos registrados atravs de
coordenadas UTM, em seguida, foi feito a caracterizao macromorfologia de cada perfil que diz respeito
cor, textura, estrutura, consistncia, porosidade e razes. Enquanto os aspectos fsicos e qumicos que
englobam granulometria, classificao textural, pH em gua, P, K+, Na+, Ca2+, Mg2+ Al3, acidez potencial (H+ +
Al3+) e matria orgnica respectivamente, foram analisados no Laboratrio de Qumica e Fertilidade
CCA/UFPB. Aps os resultados das anlises, os perfis de solos foram caracterizados e classificados como
Argissolos Bruno Acinzentados.
PALAVRAS CHAVE: Reserva Legal, Classificao e Argissolo
1-INTRODUO
Segundo (EMBRAPA, 2006), solo um conjunto de corpos naturais dinmicos que se relacionam
entre si, constitudos por trs estados fsicos. So compostos por minerais e matria orgnica, sofrem fortes
influncias dos processos de intemperismos ao longo do tempo. O solo recobre a litosfera onde passivo a
degradao, seja pela ao antrpica, atravs das diversas atividades desenvolvidas ou pelo processo de
eroso provocados pelas chuvas.
A formao dos solos comea a partir de uma rocha matriz, que sofre transformaes fsicas e
qumicas, onde os elementos primitivos passam por um processo de hidratao e hidrolise,
conseqentemente, se transforma num material secundrio, que vai evoluindo at chegar fase em que os
organismos vivos aparecem. E como o ambiente natural formado por especificidades do lugar, a
diversidade do solo est relacionada com o clima, o relevo e a matria prima de determinada rea ao longo
do tempo (VIEIRA, 1988).
Aluna bolsista de empresa particular Miriri Alimentos e Bioenergia S/A - Membro do Terra: grupo de
pesquisa urbana rural e ambiental/ CNPQ
Aluno bolsista de empresa particular Miriri Alimentos e Bioenergia S/A - Membro do Terra: grupo de
pesquisa urbana rural e ambiental/CNPQ
Orientador: Ms. Carlos Antonio Belarmino ALVES. Prof. Ms. de graduao do curso de Geografia UEPB CH.
E-mail: c_belarminoalves@hotmail.com.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

534
A cobertura vegetal um fator que influi positivamente contra a eroso do solo e o equilbrio das
nascentes, a dinmica entre solo, atmosfera e gua forma a base que sustenta a vegetao espontnea ou
cultivada na terra. Atualmente, o Brasil tem um ndice de 42% de rea florestada em relao percentual do
globo terrestre, de acordo com Bertoni e Lombardi Neto (2010). desde a poca colonial que os recursos
naturais so explorados de maneira preocupante, florestas foram derrubadas, solos exauridos em nome do
desenvolvimento, que obedece a um modelo econmico capitalista voltado ao lucro. Silva (2010), diz que
esta relao homem e meio ambiente muito complexa e preocupante os impactos causados.
O sistema de classificao de solos brasileiro comeou a se formar a partir da dcada de 70 como as
tentativas iniciais, mas o ponto principal foi primeira publicao do Sistema Brasileiro de Classificao de
Solos (SiBCS) pela Embrapa em 1999 e revidado e atualizado sete anos mais tarde. Tal classificao
baseada no sistema norte americano (Soil Taxonomy) que consiste em formar classes de nveis
categricos. Atualmente, se tem 13 classes, divididas em quatros nveis categricos, que so: Ordem,
Subordem, Grandes Grupos e Subgrupos (EMBRAPA, 2006).
Das 13 ordens de solos existentes no Brasil, os principais so os Latossolos, Argissolos e Neossolos.
No Nordeste predomina os Latossolos e no estado da Paraba, os Neossolos Quartzarnicos ocupam a
maior parte da Baixada Litornea, os Argissolos Vermelho-Amarelos (com horizonte fragip) se evidenciam
no Baixo Planalto Costeiro, os Luvissolos Crmicos na Depresso Sublitornea, Os Argissolos VermelhosAmarelos (relevo ondulado/forte ondulado) nas Escarpas Orientais e Brejo Paraibano do Planalto de
Borborema, os Luvissolos Crmicos na Superfcie Aplainada da Borborema (OLIVEIRA, 2005).
Os solos do municpio de Rio Tinto PB so representados pelos Latossolos e Podzlicos nos topos
de chapadas e topos residuais, os Podzlicos com Fregipan, Podzlicos Plnticos e Podzis nas pequenas
depresses nos tabuleiros, os Podzlicos Concrecionrios em reas dissecadas e encostas alm dos
Gleissolos e solos Aluviais nas reas de vrzeas, se caracterizam por serem solos profundos e de baixa
fertilidade natural (CPRM, 2005).
O municpio est localizado na Microrregio Rio Tinto e na Mesorregio Mata Paraibana do Estado
da Paraba. Com uma rea de 466 km, encontra-se inserido na unidade Geoambiental dos Tabuleiros
Costeiros e apresenta altitude mdia de 50 a 100 metros. O clima da rea Tropical Chuvoso com vero
seco e apresenta uma precipitao mdia anual de 1.634.2 mm, as bacias hidrogrficas predominantes so
dos rios Mamanguape, Miriri e Camaratuba. (CPRM, 2005).
Neste municpio existem algumas reservas de Mata Atlntica, que so reas protegidas por
leis ambientais. Dentre elas a Reserva Legal Riacho Pacar, que tem 56 km, se localiza na fazenda Santa
Emlia pertencente Miriri Alimentos e Bioenergia. E se destaca pela diversidade na flora, com solos bem
drenados.
O objetivo desta pesquisa foi classificar e caracterizar perfis de solos, localizados na Reserva Legal
Riacho Pacar- Rio Tinto, PB (RLRP- PB), conhecer suas caractersticas morfolgicas, fsicas e qumicas e
classific-los de acordo com o SIBCS (Embrapa, 2006).
2-MATERIAL MTODOS
Os trabalhos foram desenvolvidos no municpio de Rio Tinto - PB, mas precisamente na Reserva
Legal Riacho Pacar localizada na fazenda Santa Emilia de propriedade da Empresa Particular Miriri
Alimentos e Bioenergia. Esta pesquisa o resultado da parceria da Empresa com a UEPB que teve inicio no
ms de janeiro do corrente ano e se estendeu at abril.
Inicialmente foram feitas observaes da paisagem no tocante aos seus aspectos naturais (clima,
relevo, cobertura vegetal, recursos hdricos e estados do solo), a partir de levantamentos bibliogrficos,
trabalhos de campo, gabinete e anlises laboratoriais, foram estudados dois perfis de solos, no que se
refere aos aspectos fsicos e qumicos. Tais perfis de solos foram denominados de P1 e P2, ambos os perfis
foram escolhidos e preparados para a descrio morfolgica, que foi realizada no campo, obedecendo a
metodologia de Santos et al. (2005)
Em seguida, coletou se amostras dos horizontes dos dois perfis, que somam 11 amostras de solos,
para serem analisadas em suas caractersticas fsicas e qumicas no laboratrio de Fsica do Solo e de
Qumica e Fertilidade do Solo do Departamento de Solo se Engenharia Rural do CCA/UFPB. As anlises
fsicas consistiram na granulometria e classificao textural, e as qumicas foram a determinao do pH em
gua, P, K, Na, Ca, Mg, acidez potencial (H+ Al) e carbono orgnico. Aps a descrio das caractersticas
Joo Pessoa, outubro de 2011

535
morfolgicas dos perfis de solos e das anlises fsicas e qumicas, procedeu-se a sua classificao que
obedecem as propostas do SiBCS (Embrapa, 2006), at o 4 nvel categrico, a figura 1 mostra os
procedimentos realizados no campo.

Figura 1- Coleta de amostra de solo da Reserva Legal Riacho Pacar, Rio Tinto - PB: Abertura de trincheira,
leitura do perfil e material coletado respectivamente. (Acervo da autora, 2011)

3- RESULTADOS E DISCUSSO
3.1- ASPECTOS AMBIENTAIS
Atualmente as preocupaes com o bioma de Mata Atlntica esto sendo mais rigorosas, em
alguns casos no tocante a conservao, e em outros a restaurao destas reas, Miranda (2007). Em
virtude da explorao exaustiva grandes extenses territoriais e elementos da fauna e flora foram
devastados. Contudo, continua sendo um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas em termos de
diversidade biolgica do planeta.
As reas remanescentes de vegetao so parcelas da propriedade rural que devem ser
conservadas, permitindo apenas a extrao de madeira, de forma racional, tais reas so comumente
chamadas de Reserva Legal (RL). Seu uso comparado ao da rea de Preservao Permanente (APP), em
que a legislao brasileira no permite o uso e a explorao de suas reas (OLIVEIRA & BACHA, 2003).
O municpio de Rio Tinto PB est inserido numa regio de Mata Atlntica, embora atualmente
este bioma tenha uma considervel perca em extenso territorial, ainda existem algumas reas a exemplo
da RLRP- PB que de domnio de Mata Atlntica em estagio secundrio, contudo apresenta uma excelente
densidade vegetal. Encontra se localizada no Litoral Norte do Estado da Paraba e apresenta um relevo
local um pouco inclinado, com unidade litolgica de rochas sedimentares da formao barreiras que data o
perodo tercirio, o quadro 1 contm dados gerais relacionados a RLRP- PB.
Profundidade do
slum /
(horizonte)

Altitude,
Coordenadas
UTM

Relevo regional /
local
Declividade

Perfil 1- ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO (PBAC)


110+
122m
Suave ondulado
(A, B, B1, BC)
0284016
Plano
9239049
02%

Pedregosidade
Rochosidade

Vegetao
primria /
uso atual

Drenagem

No pedregoso
No rochoso

Mata Atlntica
Unidade
de
conservao

Bem drenado

Ligeiramente
Pedregoso
No rochoso

Mata Atlntica
Unidade
de
conservao

Bem drenado

Perfil 2 - ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO (PBAC)


160+
( A, A1, B, BC, C,
CR)

0m
0283560
9239370

Suave ondulado
Inclinado
25 55 %

Quadro 1- Caractersticas gerais: Reserva Legal Riacho Pacar, Rio Tinto PB


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

536

3.2 CARACTERSTICAS MORFOLGICAS, FSICAS E QUMICAS DOS SOLOS


Os perfis de solos estudados, P1 e P2, so evoludos e mais antigos situados numa rea de boa
drenagem o que favorece a vegetao por ter um sistema radicular profundo. Segundo IBGE (2007), a
cobertura vegetao fortemente influenciada tanto pelo clima, quanto pelo solo.
O P1 foi registrado com 110 cm profundidade, com as seguintes subdivises, horizonte A, B, B1 e
BC. Enquanto o P2 apresentou 170 cm com os horizontes O, A, A1, B, BC, C, CR. Tais horizontes foram
diagnosticados a partir de anlises da cor, estrutura, consistncia, entre outros.
A cor do solo caracteriza as subdivises do perfil, e um fator indicativo de produtividade, solo
escuro indica presena de matria orgnica, enquanto um teor claro considerado de baixa produtividade
por ter como principal componente o mineral quartzo, que no tem nutrientes para as plantas.
Os solos estudados apresentam uma colorao avermelhada Munsel (1998), o que comprova
presena de xido de ferro e tem mais capacidade para reter metais pesados e evitam a contaminao das
plantas. A cor tambm esta relacionada com a umidade, o que se percebe ao ver os primeiros horizontes
so mais escuros por receberem mais a luz, ao contrrio dos mais profundos. A estrutura de um solo refere
- se ao modo como as partculas primrias esto distribudas, e a facilidade de separa- ls, tendo em vista
que esto interligadas atravs de agregados, indica o grau de desenvolvimento da estrutura. A importncia
desta estrutura para a vegetao considervel por a mesma contribuir para o desenvolvimento do
sistema radicular, na reteno e suprimento de nutrientes, alm da resistncia a eroso, Santos et al.
(2005). Ao analisar os dados do quadro 2, nota- se que o solo da RLRP- PB nos perfis 1 e 2 apresentam um
solo estruturado em subangular e angular com resistncia de fraca a forte e com classe de muito pequena
a mdia.

Joo Pessoa, outubro de 2011

537

Horiz.
Prof.(cm)
Cor
Perfil 1- ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO PBAC
A
0-20
5YR 3/3 s
Bruno averm. escuro
7.5YR 2.2/3 u
Bruno muito escuro

Textura

Estrutura

Consistncia

Franco
Argilo
arenosa

Granular fraca
muito
pequena

Solto, frivel no
plstico
ligeiramente
pegajoso

20-45

7.5YR3/3 s Bruno
Escuro
7.5YR2 u.5/2 Bruno muito
escuro

Fraco Argilo
arenosa

Granular fraca
muito
pequeno

Solto, frivel lig.


plstico
lig.
pegajoso

Gradual e
plana

B1

45-83

7.5YR3/4 s Bruno escuro


7.5YR3/3 u Bruno escuro

Argilo
arenosa

Macio,
firme,
past. e pegajoso

Gradual e
plana

BC

83-110

7.5YR4/6 s Bruno forte


7.5YR4/3 u Bruno

Franco.
argilo
arenosa

Subangular.
moderada
pequena
Subangular
moderada
media

Ligeiramente
duro,
firme,
plstico
e
pegajoso

Clara
plana

Franco
arenosa

Granular fraca
muito
pequena

Solto, frivel no
plstico
no.pegajoso

Perfil 2- ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO PBAC


O
0-10
5YR 3/2 s Bruno averm.
escuro
7.5YR 4/2 u Bruno

Transio

10-35

5YR3/3 s Bruno averm.


escuro
7.5YR2.3/3 u Bruno escuro

Franco.
argilo
arenosa

Granular
moder. muito
pequena

Solto, frivel no
plstico,
lig.
pegajoso

Gradual e
ondulada

A1

35-56

7.5YR4/4 s Bruno
7.5YR4/3 u Bruno

Franco
arenosa

Granular fraca
muito
pequena

Solto,frivel no
plstico,
lig.
pegajoso

Gradual e
plana

56-80

5YR4/4
s
avermelhado
7.5YR4/3 u Bruno

Bruno

Franco.
argilo
arenosa

Subangular
fraca pequena

Solto, frivel no
plstico
lig.
pegajoso

Gradual e
plana

BC

80-115

7.5YR7/8
s
Amarelo
avermelhado
7.5YR 5/6 u Bruno forte

Franco.
argilo
arenosa

Subangular
forte mdia

Duro ,firme, lig.


plstico.
e
pegajoso

Clara
e
ondulada

115-135

5YR5/6
s
amarelado
5YR5/8
u
avermelhado

Muito
argilosa

Subang .forte
mdia

Muito
duro,
firme, plstico e
muito pegajoso

Abruta e
irregular

Muito
argilosa

Laminar, forte,
mdia

Muito
duro
muito firme lig
plstico
e
pegajoso

Gradual e
plana

CR

135-170

Vermelho
Amarelo

5YR5/8
s
Vermelho
amarelado
5YR 6/8 u Amarelo
avermelhado

Quadro 2- Caractersticas morfolgicas de Argissolo encontrado na Reserva Legal Riacho Pacar Rio TintoPB

O percentual de areia fina de ambos os perfis ficaram entre 20,3g/Kg e 26,5 g/Kg, a areia no solo
responsvel por reter a gua e tambm indica a origem do solo, atravs dos minerais presentes, como o
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

538
quartzo, o feldspato e o processo de intemperizao. Os perfis de solos estudados so antigos e bem
trabalhados, pois o baixo ndice de silte indica alto grau de imtemperismo.
O teor de argila est acima de 30 %, o que caracteriza um solo mais impermevel. atravs da
argila que se determina as propriedades do solo, por conseguinte a parte de maior dinamismo, pois a
argila o produto final de destruio dos minerais. Os solos argilosos tendem a serem plsticos e pegajosos
quando submetidos gua e densos e duros no estado seco, apresentam um processo de expanso e
contrao do solo onde a maioria delas carregada negativamente. (GUERRA e CHAVES, 2006), segue o
quadro 3.
Horizontes
Simb.

Granulometria
Prof.
Areia grossa
Areia fina
Silte
Argila
cm
................................g/kg.............................................................
Perfil 1- ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO- PBAC
A
0-20
416
291
53
240
B
20-45
362
265
69
304
B1
45-83
266
241
141
352
BC
83-110
306
231
136
327
Perfil 2- ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO- PBAC
O
0-10
493
156
227
A
10-35
392
250
100
A1
35-56
398
275
149
B
56-80
402
259
98
BC
80-115
349
203
109
C
115-135
217
81
98
CR
135-170
111
91
114
Quadro 3- Caractersticas Fsicas do Argissolo encontrado na RL Riacho Pacar, Rio Tinto-PB

124
258
178
241
339
604
684

As plantas tm a capacidade de transformar os elementos qumicos presentes no solo e no


ambiente em componentes celulares para o seu desenvolvimento. O solo formado por trs estados
fsicos, mas atravs da soluo do solo que as plantas absorvem os nutrientes, embora a soluo seja a
fonte imediata de nutrientes. Em termos prticos deve se considerar o teor e nutrientes slido devido
soluo ser muito pouca (VALE 1997).
A vegetao primordial na formao da estrutura do solo, pois origina as fontes de energia que
contribui para o desenvolvimento da vida microbiana, deposita restos vegetais que forma o hmus, alm
de proteger o solo contra os efeitos destrutivos das chuvas (GUERRA e CHAVES, 2006). Nos dois perfis o
teor de matria orgnica vai de mdio a muito bom, fator que contribui para o desenvolvimento das
plantas devido quantidade de nitrognio e fosfato, entre outros.
O pH do solo considerado um fator essencial, tendo em vista que a alterao de uma unidade do
valor do mesmo pode alterar a disponibilidade de ferro consideravelmente (VALE, 1997; ALVAREZ V. et al.,
1999). O P1 e P2 possuem um pH de acidez alta e isto compromete a disponibilidade de nutrientes.
A capacidade de troca de ctions (CTC) do solo contribui para a determinao das propriedades
qumicas e de fertilidade potencial, pois a CTC indica a quantidade de nutrientes para as plantas, a
possibilidade de reduo das perdas de ctions por lixiviao. (TEDESCO et al, 1995). A CTC do P1 estudado
variou de 5,39 a 8, 60 cmolc/dm, o que determinar uma CTC de nvel bom. Enquanto o P 2 variou de 1, 06 a
9,51 cmolc/dm, logo indica um nvel de CTC que oscila de baixo a muito bom.
Os teores de ctions de clcio (Ca2+) nos solos estudados foram baixos, os de magnsio (Mg2+)
mdio, e os de potssio (K+) alto, tais elementos no solo so os que mais ocorrem, no tocante ao complexo
e troca de troca catinica, contudo a disponibilidades destes minerais acontece de acordo com o pH, num
solo de alta acidez a concentrao dos mesmos diminui o que causa deficincia as plantas (GUERRA e
CHAVES, 2006). Todos os horizontes do P1 apresentam saturao por bases (V) baixa, o que caracteriza
carter distrfico, enquanto no P2 nota-se uma variao de muito baixo a baixo, exceto no horizonte CR
que tem 52,07 g/kg V, Segue o quadro 4 a baixo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

539

Horiz

+3

+2

+2

PH
P
K
Na
H+Al
AL
Ca
Mg
SB
CTC
H2O(1:2,5)
3
-3
mg/dm
.......................... .cmolc dm ....................................
PERFIL 1 ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO - PBAC
A
4,44
1,42
22,46
0,06
7,43
0,85 0,30
0,75
1,17
8,60
B
4,43
0,98
10,81
0,04
7,10
0,90 0,15
0,35
0,57
7,67
B1
4,70
>LDL
6,93
0,05
5,45
0,85 0,20
0,40
0,13
5,58
BC
4,54
1,06
5,95
0,07
4,95
0,85 0,20
0,15
0,44
5,39
PERFIL 2- ARGISSOLO BRUNO ACINZENTADO - PBAC
O
5,30
2,21
86,55
0,14
4,95
0,05 2,75
1,45
4,56
9,51
A
4,89
0,41
14,69
0,06
5,20
0,85 0,25
0,30
0,65
5,85
A1
4,94
>LDA
7,90
0,05
2,97
0,80 0,10
0,15
0,32
3,29
B
4,96
1,13
14,69
0,06
0,66
0,60 0,10
0,20
0,40
1,06
BC
4,92
0,33
6,93
0,06
1,32
0,65 0,10
0,25
0,43
1,75
C
4,98
1,88
6,93
0,07
1,16
0,85 0,25
0,50
0,84
2,00
CR
5,02
>LDA
7,90
0,09
1,16
0,95 0,30
0,85
1,26
2,42
Quadro 4- Caractersticas Qumicas do Argissolo encontrado na RL Riacho Pacar, Rio Tinto-PB

MO

..... %........

g/kg

13,60
7,43
2,33
8,16

42,08
61,22
86,73
65,89

15.82
13,10
9,95
8,38

47,95
11,11
9,73
37,74
24,57
42,00
52,07

1,08
56,67
71,43
60,00
60,18
50,30
42,99

35,09
13,63
7,86
5,24
4,71
2,09
2,20

Como se sabe, os horizontes mais superficiais do solo so caracterizados por uma maior freqncia
de matria orgnica, devido o contato direto com os vegetais e demais organismos vivos e no vivos. Por
isso os dois primeiros horizontes de ambos os perfis estudados dispem de grandes quantidades de
matria orgnica, enquanto no horizonte B, por exemplo, observam-se mais fragmentos de minerais.
Os perfis de solos estudos tm um teor nutricional disponvel baixo, porm a rea de Mata
Atlntica e a mesma se desenvolve bem nas condies vigentes, tambm se deve considerar a
serrapilheira, que se desta na adio de nutrientes e microorganismos.
Aps serem analisados os resultados macro e micronutrientes de P1 1e P2, os mesmos foram
classificados como Ordem Argissolo e subordem Bruno Acinzentado. Os Argissolos compreendem a
segunda ordem de maior ocorrncia no Brasil, por isso abrangem vrios solos, desde estrficos ou
distrficos e alicos at alumnios, rasos a muito profundos, abruptos ou no, com cascalho ou no, com
fragip e at com carter soldico. (OLIVEIRA, 2005).
4- CONCLUSO
Os solos estudados foram classificados baseando - se nos resultados laboratoriais em Argissolo
Bruno Acinzentado. Por compreender solos constitudos de material, com horizonte B textural de argila de
atividade alta em P1 e baixa em P2, conjugada com saturao por bases baixa em ambos os perfis e por
apresentarem a parte superior do horizonte B pouco mais escurecida em comparao ao subhorizontes
inferiores com matriz 5YR ou mais amarelo, valor 3 e 4 e croma menor ou igual a 4 (EMBRAPA, 2006).
5- REFERNCIAS
ALVAREZ V., V. H.; NOVAIS, R.S.; BARROS, N. F.; CANTARUTTI, R. B.; LOPES A. S. Interpretao dos
resultados das anlises de solos. In: Comisso de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais.
Recomendaes para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais 5 aproximao / Antonio Carlos
Ribeiro, Paulo Tcito Gontijo Guimares, Victor Hugo Alvarez V (editores) Viosa, MG, 1999. 359p.: il.
BERTONI, J. ; LOMBARDI NETO, F. Conservao do solo. So Paulo: cone, 2010 355p. 7ed.
BRASIL. Ministrio da Agricultura. Escritrio de Pesquisa e Experimentao. Equipe de Pedologia e
Fertilidade do solo. I Levantamento exploratrio de reconhecimento dos solos do Estado da Paraba. II.
Interpretao para uso agrcola dos solos do Estado da Paraba. Rio de Janeiro: 1972. 683p (Boletim
Tcnico, 15; SUDENE. Srie Pedologia 8)
COMISSO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendao para uso de
corretivos e fertilizantes de Minas Gerais - 5 aproximao / Antonio Carlos Ribeiro Paulo Tcito Gontijo
Guimares, Victor Hugo Alvarez V(editores) Viosa, MG, 1999.359p.
COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS CPRM. Projeto cadastro de fontes de
abastecimento por gua subterrnea. Diagnostico do municpio de Rio Tinto, Estado da Paraba. Recife
CPRM/PRODEM, 2005. 22p
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

540
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de
Solos. Sistema Brasileiro de Classificao de Solos. Braslia: Embrapa Produo de Informao; Rio de
Janeiro: Embrapa Solos. 2006. 306p. il.
FUNDAO S.O. S MATA ATLNTICA. Dossi Mata Atlntica. So Paulo, 107p 1992.
GUERRA, H.O. C; CHAVES, L.H.G. Solos agrcolas. Campina Grande: EDUFCG, 2006.178p.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Manuais tcnicos em geocincias no4. Manual
tcnico de pedologia. 2a ed. Rio de janeiro, 2007, 316p. Il.
MUNSELL COLOR. Munsell soil color Charts, New Windsor: 1998. Revised washaple edition.
OLIVEIRA, F.H.T. de. Notas de aula da disciplina da gnese do solo. Areia, 2005
OLIVEIRA, S.J.M.; BACHA, C.J.C. Avaliao do cumprimento da reserva legal no Brasil. Revista de
Economia e Agronegcio, Viosa, volume 1, no 2, p. 177-203, Abr./Jun. de 2003.
SANTOS, R. D. LEMOS, R. C.; SANTOS, H. G.; KER, J. C.; ANJOS, L. H. C. Manual de descrio e coleta
de solo no campo. 5 ed. Revista e ampliada. Viosa: Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, 2005. 100p. il.
TEDESCO, M. J; GIANELLO, C; BISSANI, C. A; BOHNEN, H; VOLKWEISS, S. J. Anlises de solo, plantas e
outros materiais: Boletim tcnico de solos n 5. 2 ed. Revista e ampliada. Porto Alegre: Departamento de
solos, UFRGS, 1995. 174p. il
VALE, F. R. do; GUILHERME, L.R.G; GUDES, A. de A; FURTINI NETO, A. E. Fertilidade do solo:
dinmica e disponibilidade dos nutrientes de plantas. Lavras: UFLA/FAPE, 1997.117p. il.
VIEIRA, L.S. Manual da cincia do solo: com nfase aos solos tropicais. So Paulo, Ed. Agronmica
Ceres, 1998 464p ilust. 2 ed

Joo Pessoa, outubro de 2011

541

EDUCAO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAO DE USO


SUSTENTVEL: PERCEPO ESTUDANTIL SOBRE CONSERVAO DA
VEGETAO NATIVA DA APA DO MARACAN, SO LUS-MA
Maria Fabiene BARROS
Selene Gonzaga MASULO2
Raimunda Nonata Fortes CARVALHO NETA

90
91
92

RESUMO
A rea de Proteo Ambiental (APA) do Maracan uma Unidade de Conservao estadual
maranhense que ainda conserva significativo nmero de espcies vegetais nativas da Ilha de So Lus-MA.
Nosso objetivo neste trabalho foi conhecer as percepes de alunos do ensino fundamental sobre a
vegetao nativa conservada na APA do Maracan, realizando aes de conscientizao direcionadas para a
importncia da vegetao para a manuteno das Unidades de Conservao. Os resultados obtidos
indicaram que as percepes estudantis dos alunos precisam ser trabalhadas com aes educativas, j que
a maioria dos alunos (73%) afirmou no saber o que uma rea de Proteo Ambiental. Por outro lado o
diagnstico nos mostrou que os alunos em parte reconhecem alguns problemas ambientais na rea,
conhecem a vegetao existente e sabem que suas aes, sejam elas positivas ou negativas, afetam
diretamente a rea. Observamos que os discentes compreendem que as aes de educao ambiental so
projetos importantes e que seus conhecimentos e aes nestas reas ajudam no processo de conservao
dos recursos naturais existentes.
PALAVRAS-CHAVES: Percepo ambiental, rea de proteo ambiental, vegetao, conscientizao.
1 INTRODUO
rea de Proteo Ambiental (APA) uma rea em geral extensa, voltada para a produo de
riquezas que estejam dentro de um contexto de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos,
estticos ou culturais importantes para a qualidade de vida, que tem como objetivos proteger a
biodiversidade, assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais, podendo desfrutar de um
planejamento turstico sustentvel (BRASIL, 2010). Segundo Cabral e Sousa (2002), as reas de Proteo
Ambiental representam um dos instrumentos preconizados pela Poltica Nacional do Meio Ambiente, cujo
objetivo maior compatibilizar o desenvolvimento socioeconmico com a preservao da qualidade do
meio ambiente e do equilbrio ecolgico, buscando sustentabilidade ambiental.
A rea de Proteo Ambiental do Maranho foi criada pelo Decreto Estadual n 12.103 de 01 de
outubro de 1991 e caracterizada por ser uma Unidade de Conservao de Uso Sustentvel. A APA do
Maracan est delimitada ao Norte pelo parque Estadual do Bacanga, ao Sul pela localidade do Rio Grande,
ao Leste pela BR-135 e a Oeste pelo Distrito Industrial de So Lus, abrangendo 1.831 hectares
(VASCONCELOS, 1995).
Essa regio apresenta relativo interesse natural e cultural, especialmente no que se refere
vegetao nativa da Ilha de So Lus. De acordo com Farias-Filho (2010) as espcies vegetais mais
abundantes atualmente na APA do Maracan so constitudas por juarais e buritizais (vegetao tpica de
vrzea), pelas matas de stios, formadas por rvores frutferas e por vegetao secundria. Dentre as varias
espcies que compem os resqucios da flora original, destacam-se a paparauba, a andiroba, o angelim o
pau-darco, o guanandi, o acoita-cavalo e o pau-ferro. Essas espcies caracterizam a fitossociologia que
compem as trilhas ecolgicas dentro da APA do Maracan. A composio florestal das trilhas faz destas

90

Curso de Cincias Biolgicas - Universidade Federal do Maranho; Grupo de Pesquisa em Educao


Ambiental em Unidades de Conservao (GPEAMA/UEMA). E-mail: fabiene21_sud@yahoo.com.br
91
Curso de Cincias Biolgicas Universidade Estadual do Maranho (UEMA); Grupo de Pesquisa em
Educao Ambiental em Unidades de Conservao (GPEAMA/UEMA).
92
Orientadora; Prof. Dra. do Departamento de Qumica e Biologia UEMA; Coordenadora do Grupo de
Pesquisa em Educao Ambiental em Unidades de Conservao (GPEAMA/UEMA)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

542
um local de potencial turstico sujeito a degradao por fatores de retirada de produtos madeirveis e no
madeirveis, como tambm pela ocupao de forma desordenada por construes residenciais.
Identificar e conhecer os aspectos ecolgicos e scio-econmicos das espcies vegetais presentes
na APA surge como estratgia de divulgao junto comunidade local, que possibilita mecanismos de
valorizao e conservao dos recursos naturais da regio. Nesse sentido, nosso objetivo neste trabalho foi
conhecer as percepes de alunos do ensino fundamental sobre a vegetao nativa conservada na APA do
Maracan, realizando aes de conscientizao direcionadas para a importncia da vegetao para a
manuteno das Unidades de Conservao.
2 METODOLOGIA
O projeto esta sendo realizado com crianas na faixa etria entre oito e nove anos que esto
cursando o quarto ano no Centro de Ensino Sagrado Coraes (CESCO), escola situada dentro da APA do
Maracan. Foi aplicado um questionrio pr-palestra com 15 questes diagnosticas para conhecer a
percepo dos alunos em relao s questes ambientais da rea e sobre a importncia da vegetao e dos
recursos existentes na regio. A aplicao do questionrio foi feito na prpria escola abordando alguns
aspectos como: o conceito de APA, o tipo de lei que protege a APA, a vegetao existente na rea e
atitudes em relao APA.
Aps o diagnostico foram realizadas algumas atividades, tais como: palestras com apresentao de
cartazes, msicas, poemas, brincadeiras educativas e interpretativas sobre a vegetao, enfocando a
diferena entre vegetao nativa e plantas exticas, principais espcies que ocorrem na APA do Maracan e
seu papel ecolgico e econmico dentro da rea.
3 RESULTADOS
3.1 Percepes estudantis
Os resultados obtidos indicaram que as percepes estudantis dos alunos precisam ser trabalhadas
com aes educativas, j que a maioria dos alunos (73%) afirmou no saber o que uma rea de Proteo
Ambiental. Mesmo aqueles que disseram saber o que uma APA, quando perguntados sobre o que seria a
mesma no souberam responder; porm quando questionados sobre sua importncia indicaram que uma
APA serviria para a proteo das plantas.
As reas de Proteo Ambiental - APAs foram criadas com o intuito de conservar a natureza e
promover a qualidade de vida da populao, porm seu maior desafio compatibilizar seus objetivos com
as atividades econmicas do local. As APAs constituem-se em uma categoria de Unidade de Conservao de
Uso Sustentvel e so definidas pelo artigo 15 da Lei Federal n 9.985, de 18 de julho de 2000, como uma
rea em geral extensa, com um certo grau de ocupao humana, dotada de atributos abiticos, biticos,
estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populaes
humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o processo de
ocupao e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais" (BRASIL, 2000). De acordo com Silva
(2006) o objetivo principal da APA conservar os recursos naturais de forma associada ao desenvolvimento
de atividades produtivas, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da populao local. Para Cabral e
Sousa (2005, p. 47 apud Granja, 2009, p. 91), APA constitui um instrumento da poltica ambiental por
caracterizar-se como rea de desenvolvimento sustentvel, na qual as atividades humanas devem ser
exercidas com responsabilidade, no sentido de permitir a integridade e a manuteno da qualidade
ambiental do referido espao. Essas informaes foram trabalhadas com os alunos e professores da escola
situada dentro da APA do Maracan na forma de palestras e msicas, no intuito de torn-los importantes
multiplicados dessa idia.
Quando questionados se sabiam que a APA do Maracan uma rea protegida por lei, 55% dos
alunos sabiam e os outros 45% disseram que no sabiam. Esses dados indicam que a informao sobre a
existncia da APA do Maracan ainda precisa ser divulgada entre os moradores da regio, exigindo-se
aes educativas voltadas para o conhecimento das Unidades de Conservao pelas populaes que vivem
no entorno dessas reas.
Ao serem indagados sobre o tipo de lei que protege a APA do Maracan, os alunos ficaram em
dvida, indicando vrias possibilidades, tais como: lei federal (18%), lei estadual (27%), lei municipal (46%)
ou no responderam (9%). No Brasil, as unidades de Conservao de Uso Sustentvel so reas protegidas
Joo Pessoa, outubro de 2011

543
legalmente e que permitem a manuteno de populaes humanas em seu interior (GRANJA, 2009). De
acordo com Rocco (2002) essas reas constituem-se em objeto direto de ateno dos projetos realizados
por rgos governamentais das trs esferas de poder, sendo que a ao educativa e participativa em seus
espaos privilegiados de gesto passou a ter destaque e carter obrigatrio na Lei n 9.985, de julho de
2000, que define o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC). A APA do Maracan foi criada
pelo governo do Maranho, sendo, portanto, estabelecida por uma lei estadual. Essa informao tambm
foi trabalhada com os alunos na forma de palestras e brincadeiras.
Quando perguntamos qual seria o rgo responsvel pela gesto da APA do Maracan, os
estudantes disseram ser o IBAMA (18%) ou no souberam responder (82%). Em relao ao rgo
responsvel pela gesto da APA notamos que os estudantes no conhecem outros rgos ambientais
responsveis pela gesto das unidades de conservao. Paixo et al.( 2010) realizaram pesquisas e
obtiveram resultados parecidos em uma escola localizada no entorno da APA, mostrando que os alunos
conhecem somente o IBAMA quando se fala da gesto de reas de Proteo Ambiental. Esses dados
indicam a necessidade de aes educativas a serem encaminhadas na rea pela SEMA (Secretaria Estadual
de Meio Ambiente e Recursos Hdricos) enquanto rgo gestor dessa APA.
Ao serem perguntados sobre as plantas que conheciam na regio do Maracan, os estudantes
falaram da juara, do pequi, da pitomba, do abacate, do buriti, da goiaba, da manga e do caju (10%),
enquanto que o cupuau e o babau obtiveram um percentual de 9% e a rvore conhecida como maracan
foi citada por 2% dos estudantes. Estes dados nos mostram que os alunos precisam conhecer melhor a
regio, j que o Maracan esta inserido numa zona de expanso com influncia amaznica onde
encontramos uma vegetao bastante variada. Segundo Feitosa (1989) a formao vegetal original da Ilha
apresentava floresta, cerrado, babauais, campos, manguezais, dunas e restingas. Na rea de estudo, a
vegetao predominante a de floresta pereniflia de vrzeas, com predominncia de buriti (Mauritia
flexuosa, Mart.) e juara (Euterpe edulis, Mart.), (OLIVEIRA, 2003). Contudo, devido s condies climticas
e localizao, a vegetao apresenta caracterstica tanto da Floresta Amaznica, quanto do Cerrado, o que
pode ser evidenciado a partir das espcies tpicas dos dois domnios fitogeogrficos. Dentre as vrias
espcies que compem os resqucios da flora original, destacam-se (por nomes populares), a paparaba, a
andiroba, o angelim, o pau-darco, o guanandi, o aoita cavalo e o pau-ferro (FARIAS FILHO, 2009). Esses
dados esto sendo trabalhados com os alunos na forma de palestras, brincadeiras, msicas e jogos
educativos.
Os alunos responderam que as plantas que eles conhecem servem basicamente para sua
alimentao. Com esse dado podemos perceber a falta de conhecimento e informao sobre a importncia
da vegetao em uma unidade de conservao e o quanto o contato e o conhecimento dessa vegetao
influenciam as relaes que ligam os seres. Segundo Capra (2008, p.25) nenhum ecossistema produz
resduo, j que os resduos de uma espcie so o alimento de outra; a matria circula pela teia da vida; a
energia que sustenta estes ciclos ecolgicos vem do Sol; a diversidade assegura a resilincia; a vida, desde o
seu incio h mais de trs bilhes de anos, no conquistou o planeta pela fora, e sim atravs de
cooperao, parcerias e trabalho em rede. Precisamos mostrar que as plantas no servem somente para
alimentao e que estas possuem uma infinidade de importncia. Segundo Ramos et al. (2010), as plantas
esto presentes no nosso cotidiano sob diversas formas e usos - objetos, tecidos, papis, frutas, cereais,
vegetais, legumes, leos, remdios, perfumes, entre outros de tal maneira, que s vezes nem
percebemos.
Quando indagados sobre as suas atitudes ou as atitudes de seus familiares em relao APA do
Maracan, cerca de 82% das crianas disseram que suas atitudes podem afetar a vegetao da APA e os
demais (18%) responderam que no. A ao de dominao, muitas vezes, abusiva do ser humano sobre a
natureza, no entanto, no recente, uma vez que, desde os primrdios de seu processo evolutivo, o ser
humano enquanto ser social atua sobre a natureza, transformando-a, procurando torna-l mais til a sua
existncia. Percebemos uma necessidade de interveno ambiental educativa que proporcione uma
conscientizao quanto a conservao dos recursos naturais (JESUS, 1993). Observa-se que ser necessrio
a utilizao de diversos meios e mtodos educativos para construir o conhecimento sobre a importncia do
meio ambiente e como nossas atitudes podem influenciar na conservao dessas reas e de seus recursos
naturais.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

544
Ao perguntarmos sobre os principais problemas que envolvem as plantas da regio do Maracan, o
corte de madeira foi o principal motivo apontado pela maioria com 27%, seguido pelas queimadas com
24%, logo depois pelo plantio s de rvores frutferas com 19%, substituio de plantas nativas com 18% e
retirada de cascas e folhas para remdio com 14%. A riqueza dessas respostas dos discentes sobre os
problemas ambientais da APA do Maracan permitem vrias possibilidades educacionais direcionadas ao
manejo dessa unidade de conservao. De acordo com Milano (2000), no Brasil, a criao de reas de
Proteo Ambiental e outras reas naturais protegidas, no tem conseguido solucionar os problemas
decorrentes das aes antrpicas, tais como desmatamentos, invases, extrao de produtos naturais,
caa, pesca, expanso das atividades agrcolas e industriais as quais comprometem a conservao dos
recursos naturais e culturais dessas reas. Por isso necessitamos de estratgias especialmente nas escolas
que promovam a conservao das reservas ambientais.
Quando questionados sobre o que Educao Ambiental, todos os estudantes responderam que
so projetos para cuidar das plantas. Perguntamos se na escola havia projetos de educao Ambiental e a
maioria dos estudantes disse que sim apontando as oficinas de reciclagem como o principal projeto. Ao
serem indagados sobre quem seriam os responsveis pela Educao Ambiental, a maioria dos alunos (99%)
respondeu que seriam os professores. Diante desse cenrio, torna-se necessria a formao de um novo
professor, mediador de um novo conhecimento, aprendiz permanente; um orientador, cooperador curioso,
construtor de sentido (GADOTTI, 1998). Os professores devem estar preparados no somente para a
transmisso de informaes, mas para tornar o aluno um agente no seu aprendizado. Nesse contexto,
Freire (1997) afirma que ensinar no transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produo
ou para a sua construo, especialmente voltadas para a realidade social e ambiental de cada contexto
escolar.
4 CONSIDERAES FINAIS
Os resultados obtidos no diagnstico realizado permitiram concluir que os alunos ainda no
possuam conhecimento satisfatrio sobre a APA e o papel da educao ambiental nessa regio. Essa
constatao nos levou a desenvolver aes prticas voltadas para o reconhecimento da vegetao
enquanto fator primordial para a continuidade dessa Unidade de Conservao e dos demais recursos
naturais da regio, sensibilizando ambientalmente os estudantes para o desenvolvimento de atitudes
simples capazes de auxiliar na conservao dessa rea.
REFERNCIAS
BRASIL. Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o artigo 222 1, incisos I, II, III, VII da
Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao - SNUC. Dirio Oficial da
Unio, Braslia, DF, 19 de jul. 2000.
CABRAL, N.R.J.; SOUSA, M.P. reas de Proteo Ambiental: Planejamento e Gesto de paisagens
protegidas. So Carlos: Rima, 2002.
CAPRA, F. Alfabetizao Ecolgica: o desafio para a educao do sculo 21. In:TRIGUEIRO,
Andr (Coord.). Meio Ambiente no Sculo 21. Campinas, So Paulo: Armazm do Ip, 2008.
FARIAS-FILHO, M. S. Caracterizao geoambiental da rea de Proteo Ambiental da Regio do
Maracan, So Lus-MA. In: CARVALHO-NETA, R. N. F. rea de Proteo Ambiental do Maracan: subsdios
ao manejo e Educao Ambiental. So Lus: Caf&Lpis/FAPEMA, 2010.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessrios Prtica Educativa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1997.
GRANJA, L. V. A. de C. O papel das reas de proteo ambiental- APAS na conservao dos recursos
naturais em reas urbanas. 2009. 2008f. Dissertao (Mestrado em Planejamento Urbano) - Universidade
de Brasilia, Braslia, DF
GADOTTI, M. Pedagogia da Prxis. So Paulo: Cortez, 1998.
JESUS, T.P. caracterizao perceptiva da estao ecolgica de Jata (Luis Antnio, SP) por diferentes
grupos scio-culturais de interao. 1993. 337 p. Tese (Doutorado em Recursos Naturais) Universidade
Federal de So Carlos, So Carlos, SP.
Joo Pessoa, outubro de 2011

545
OLIVEIRA, L. R. C. Uso, manejo, conservao e importncia socioeconmica da juara (Euterpe
oleracea Mart.; Palmae) na Ilha de So Lus,Maranho. 2003. 115. (Mestrado em Agroecologia)
Universidade Estadual do Maranho, So Lus.
MILANO, M. S. Mitos no manejo de unidades de conservao no Brasil, ou a verdadeira ameaa. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAO. 2002. Campo Grande. Anais. Campo Grande,
Brasil, v.1, 2000.
PAIXO, V.M. et al. Educao Ambiental em uma escola pblica do entorno da APA do Maracan.
In: CARVALHO-NETA, R. N. F. rea de Proteo Ambiental do Maracan: subsdios ao manejo e Educao
Ambiental. So Lus: Caf&Lpis/FAPEMA, 2010.
RAMOS CHAVES, M. B. Verde e Vida: Conhecer para Proteger. Porto Alegre 2010.
SILVA, I. X. da. Gesto das reas de proteo ambiental APAS no estado de So Paulo: estudo e
avalidao. 2006. 199 pg. Dissertao (Mestrado em Geografia) Universidade de So Paulo, So Paulo, SP.
VASCONCELOS, P.C.L. de. Maracan para todos: uma proposta de desenvolvimento sustentvel
para a rea de Proteo Ambiental da Regio do Maracan. So Lus: UEMA/ CTDS, 1995.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

546

AVANO DAS MONOCULTURAS E A IMPORTNCIA DAS UNIDADES DE


CONSERVAAO PARA A PRESERVAO DO CERRADO
MELO, Marlia Christina Arantes
Av. Dr. Lamartine Pinto de Avelar, 1120, Catalo, GO, 75704-020. e-mail: liladageo@yahoo.com.br
Mestranda em Geografia - Universidade Federal de Gois
CHAVES, Manoel Rodrigues
Av. Dr. Lamartine Pinto de Avelar, 1120, Catalo, GO, 75704-020. e-mail: manoelufg@gmail.com
Prof. Dr. de Geografia - Universidade Federal de Gois

RESUMO
A prtica de cultivar e criar animais para a alimentao considerada como uma das atividades
antrpicas mais degradantes do meio ambiente, visto que reduz a variabilidade gentica, devido
crescente uniformidade das plantas agricultveis. Na agricultura moderna o aumento da produtividade
realizado com o acrscimo de produtos qumicos e pelo uso indiscriminado de gua nas lavouras irrigadas,
o que compromete a qualidade natural dos solos e oferece riscos aos cursos dgua. Dentre as culturas
desenvolvidas atualmente, encontram-se as que visam no apenas a alimentao, mas tambm as que
buscam suprir as necessidades energticas do Estado. A fragmentao de habitats causada pelas atividades
antrpicas, como o caso das monoculturas, so uma das principais ameaas atuais biodiversidade do
Cerrado. Recorrendo ao referencial terico acerca da substituio da vegetao natural por monoculturas,
bem como dados oficiais de culturas e uso da terra, a presente pesquisa documental e bibliogrfica tem o
intuito de discorrer sobre os impactos causados pela agricultura na biodiversidade das espcies, bem como
apresentar propostas que contribuam para a sustentabilidade no Cerrado. Essa substituio da vegetao
nativa do Cerrado comparada, por alguns conservacionistas, a um holocausto bitico, na qual muitas
espcies foram e esto sendo dizimadas sem ao menos ser catalogadas. Assim, faz-se necessrio que
ocorra uma reflexo com relao agricultura, sobretudo com relao s monoculturas, pois a destinao
de grandes reas essa forma de produo deve ser questionada. Uma vez que o grande desafio da
sociedade civil, iniciativa privada e o poder pblico tentar preservar o que ainda resta da fitofisionomia
nativa do Cerrado, levando em considerao que o Estado est prestes a legitimar uma preservao menor
que 20% das Reservas Legais, por exemplo, com o projeto do novo Cdigo Florestal Brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura. Biodiversidade. Cerrado. Sustentabilidade.
INTRODUO
A reserva de reas, em sua gnese, se deu por dois motivos um destinado preservao de lugares
sagrados e outro para manuteno estoques de recursos naturais. Somente na segunda metade do sculo
XIX que surgiu a ideia de definir espaos para a conservao de paisagens naturais, dado a diminuio de
reas conservadas causada pela grande transformao da paisagem por aes antrpicas (BENSUSAN,
2006).
Conservar a biodiversidade, para os preservacionistas, significa minimizar futuras extines,
preservando intactos os processos vitais que mantm a diversidade biolgica em ecossistemas livres de
distrbios (CUNHA; COELHO, 2007, p. 64).

As polticas ambientais, sobretudo as destinadas proteo florestas tropicais nos pases em


desenvolvimento, nas dcadas de 1970 e 1980 foram influenciadas pela ideia de proteo ambiental de
modo punitivo e coercitivo que visavam utilizao dos recursos naturais das reas a serem protegidas das
atividades humanas (CUNHA; COELHO, 2007).
No Brasil as Unidades de Conservao esto legalmente norteadas pela Lei N 9.985 de 18 de julho
de 2000 que regulamenta o art. 225, incisos I, II, III e IV da Constituio Federal, que institui o Sistema
Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC).
1 - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:
I - preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e prover o manejo ecolgico das espcies
e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimnio gentico do Pas e fiscalizar as entidades
dedicadas pesquisa e manipulao de material gentico;
Joo Pessoa, outubro de 2011

547
III - definir, em todas as unidades da Federao, espaos territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alterao e a supresso permitidas somente atravs de lei, vedada
qualquer utilizao que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteo;
IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que se dar publicidade
(BRASIL, Constituio de 1988).

O SNUC apresenta conceitos pertinentes ao uso e manejo, bem como o esclarecimento de


determinados termos tcnicos utilizados na Lei, como o de unidade de conservao.
Art. 2 Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - unidade de conservao: espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas
jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com
objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteo (BRASIL, SNUC).

A instituio das Unidades de Conservao (UC) nos domnios morfoclimticos se d pelo poder
pblico nas suas trs esferas: municipal, estadual e federal, tendo estas reas o intuito de conservar os
recursos naturais e a biodiversidade existente em seu interior e podem ser divididas em dois grupos: as de
proteo integral e as de uso sustentvel, conforme especificado no SNUC (Figura 1).

Figura 1: Cobertura de reas protegidas nos principais biomas brasileiros unidades de


conservao de proteo integral, de uso sustentvel e terras indgenas.
Fonte: KLINK; MACHADO (2005, p. 150).
As UC de Proteo Integral tm por objetivo preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso
indireto dos seus recursos naturais, enquanto que as UCs de Uso Sustentvel visam compatibilizar a
conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos naturais.
Os objetivos do SNUC so:
I - contribuir para a manuteno da diversidade biolgica e dos recursos genticos no territrio
nacional e nas guas jurisdicionais;
II - proteger as espcies ameaadas de extino no mbito regional e nacional;
III - contribuir para a preservao e a restaurao da diversidade de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentvel a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilizao dos princpios e prticas de conservao da natureza no processo de
desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notvel beleza cnica;
VII - proteger as caractersticas relevantes de natureza geolgica, geomorfolgica, espeleolgica,
arqueolgica, paleontolgica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hdricos e edficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa cientfica, estudos e monitoramento
ambiental;
XI - valorizar econmica e socialmente a diversidade biolgica;
XII - favorecer condies e promover a educao e interpretao ambiental, a recreao em contato
com a natureza e o turismo ecolgico;
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

548
XIII - proteger os recursos naturais necessrios subsistncia de populaes tradicionais,
respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente
(BRASIL, SNUC, art. 4).

A Lei pertinente leva em considerao no apenas as questes de aspectos fsicos, mas tambm
sociais, como o respeito s populaes tradicionais o que no ocorreu com a criao dos primeiros parques
e unidades de conservao.
O Parque Nacional de Yellowstone, o primeiro a ser criado, foi estabelecido em 1872 com o objetivo
de preservar suas belas paisagens virgens para as geraes futuras. Em seu ato de criao, o Congresso dos
Estados Unidos determinou que a regio fosse reservada e proibida de ser colonizada, ocupada ou vendida. O
ser humano ali seria um visitante, nunca um morador. Esse modelo foi adotado por muitos outros pases do
mundo e, em vrios deles, vigora at os nossos dias. ...a transferncia de moradores, freqentemente de
maneira forada, dos locais onde viviam tradicionalmente, com intuito de criar reas desabitadas para
serem parques nacionais. Yellowstone tampouco era uma rea vazia, desprovida de populaes humanas;
era territrio de ndios Crow, Blackfeet e Shoshone-Bannock (BENSUSAN, 2006, p. 13).

Terborgh (1999) apud Cunha e Coelho (2007, p. 64) identifica os principais desafios sociais para a
conservao da natureza como sendo a superpopulao, desigualdade de poder e riqueza, exausto dos
recursos naturais, falta de leis, corrupo, pobreza e intranqilidade social.
No Brasil a primeira UC a ser criada foi o Parque Nacional do Itatiaia em 1937, atravs do Decreto
Federal N 1713, de 14 de junho, conforme dados do Instituto Chico Mendes de Conservao da
Biodiversidade (ICMBio).
Assim, o presente trabalho teve por objetivo estudar a respeito das UC no Cerrado, bem como
propor uma discusso com relao quantidade das mesmas e se essas so suficientes para que haja a
preservao e conservao conforme a proposta do SNUC, levando em considerao a grande quantidade
de monoculturas existentes.
PRESERVAO E CONSERVAO AMBIENTAL E AS MONOCULTURAS NO CERRADO
Com 2,2 milhes de Km, o cerrado a maior regio de savana na Amrica do Sul, e se estende
desde a grande parte do Brasil Central at o leste da Bolvia e nordeste do Paraguai (Figura 2). Sua
localizao faz com que esse domnio morfoclimtico limite-se com a Caatinga, a Amaznia, a Floresta
Atlntica, o Pantanal e o Chaco. Segundo Santos; Silva (2005), nenhum outro bioma sul-americano possui
esta diversidade de contatos biogeogrficos com biomas to distintos.

Figura 2: Extenso do Cerrado na Amrica do Sul.


Fonte: SANTOS; SILVA (2005, p. 222).

Joo Pessoa, outubro de 2011

549
Conforme Salgado-Labouriau (2005), o Cerrado constitudo por vrios tipos de fitofisionomias,
por esse motivo diz-se que o mesmo constitudo por um mosaico de fisionomias, como campos, Cerrados,
formaes brejosas, matas secas decduas ou semidecduas, matas de galeria e veredas (buritizais).
De acordo com Ribeiro et al. (2005), as espcies da biota do domnio morfoclimtico so estimadas
em 160.000 (espcies de fauna e flora). Outro aspecto de relevante importncia diz respeito s aves, uma
vez que 50% do total de aves brasileiras se encontram no Cerrado. Como 90,7% dessas espcies
reproduzem na regio e apenas 32 espcies so endmicas, h uma clara importncia dos ecossistemas do
Cerrado no sentido de fornecer ambientes propcios ao berrio de inmeras outras espcies do territrio
brasileiro e sul-americano.
Essa grande diversidade ecolgica do Cerrado est sendo ameaada desde o inicio do sculo XVIII,
devido explorao de ouro e pedras preciosas, na qual propiciou o surgimento de diversas cidades. Com o
declnio da fase aurfera nessa regio, a pecuria extensiva passou a ser a principal atividade econmica.
Assim, o crescimento da regio ficou estagnado at a Construo de Braslia, que implicou no
desenvolvimento das infraestruturas e nas polticas agrcolas que incentivaram o cultivo comercial e em
grande escala do milho, feijo, arroz, caf e principalmente a soja (RIBEIRO et al., 2005) (Figura 3).

Figura 3: Principais usos da terra no Cerrado.


Fonte: KLINK; MACHADO (2005, p. 149).
Conforme Mucci (2005), o uso do solo para a agricultura quase sempre implica no estabelecimento
de monoculturas. Von der Weid (2009), afirma que as grandes extenses de monocultura do sistema
agrcola convencional so baseadas em processos de artificializao do meio ambiente que provocam
desequilbrios ambientais gigantescos.
O maior impacto que a humanidade causa sobre o ambiente e, conseqentemente, sobre a
biodiversidade, deriva-se da agricultura. A prtica de cultivar plantas ou criar animais para a alimentao, que
substituiu o sistema de coleta e caa, teria surgido em diferentes partes do mundo, a partir de 12.000 a.C.
Acredita-se que a agricultura desenvolveu-se por meio da extenso e intensificao de prticas longamente
adotadas continuamente (BENSUSAN, 2006, p. 99).

Vale ressaltar que a cultura de cana de acar em larga escala, fortemente cultivada no Cerrado,
como qualquer outra monocultura, traz vrios problemas como apresentado pelo Ministrio do Meio
Ambiente (MMA).
Vrias presses e ameaas conservao e sustentabilidade agem sobre o componente cultivado
ou manejado da biodiversidade a agrobiodiversidade. Algumas atingem, de forma direta, os prprios
recursos genticos (eroso gentica) e outras recaem indiretamente sobre prticas e saberes associados ao
manejo e utilizao tradicional desses recursos (eroso dos conhecimentos). Estas perdas resultam no
aumento da dependncia das comunidades tradicionais aos modelos econmicos alctones, na perda da
autonomia e na falta de segurana alimentar. Na origem destes problemas podemos citar fatores de cunho
econmico, como o avano de modelos agrcolas fundamentados em uma lgica que privilegia a
produtividade, com o uso de poucas variedades com base gentica estreita; e de cunho sociocultural, como
a homogeneizao dos hbitos alimentares, a crescente extenso de um modelo cultural de tipo urbano e a
dificuldade de insero de produtos agrcolas tradicionais no mercado. (MMA, 2006, p.14).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

550

Conforme Moreno e Ortiz (2007), a oposio internacional aos biocombustveis seguem os


seguintes argumentos:
impactos ambientais com o avano do desmatamento e destruio de ecossistemas (como o
Cerrado, no Brasil) para abrir novas reas;
impactos relacionados mudana de uso da terra e no consumo de gua;
o balano energtico negativo, argumento segundo o qual, considerando as emisses de gases de
efeitos estufa direta ou indiretamente relacionados a todo o ciclo de vida do combustvel, bem como o
consumo de petrleo e seus derivados na cadeia de produo e distribuio dos agrocombustveis (que
aprofundam a agricultura industrial), diz que estes, de fato, contribuiriam para agravar o aquecimento global
ao invs de serem uma soluo ao problema;
na competio alimentos x combustveis, disputando terra agriculturvel de melhor qualidade e
influenciando no aumento do preo como na disponibilidade de alimentos para a maioria da populao e, em
especial, na soberania alimentar no mbito local e nacional. (MORENO; ORTIZ, 2007. p. 13).

Von der Weid (2009), afirma que as grandes extenses de monocultura do sistema agrcola
convencional so baseadas em processos de artificializao do meio ambiente que provocam desequilbrios
ambientais gigantescos.
Tais desequilbrios se referem mudana dos microclimas e regime local de chuvas; exploso
populacional de insetos-pragas e de micro-organismos fitopatognicos dos quais os sistemas convencionais
laam mo de agrotxicos; e a exposio do solo que leva ao assoreamento de rios e lagos, a poluio
qumica das guas.
Outro impacto levantado por Von der Weid (2009) com relao ao aumento no preo dos
alimentos.
No h conspirao a ser denunciada quando se constata que o aumento da produo dos
agrocombustveis vem implicando o aumento dos preos dos alimentos. Segundo o Banco Mundial, 75% dos
aumentos se devem ao impacto dos agrocombustveis e 15%, aos aumentos dos preos dos fertilizantes.
(VON DER WEID, 2009. p. 122).

Essa substituio da vegetao nativa do Cerrado comparada, por alguns conservacionistas, a um


holocausto bitico, na qual muitas espcies foram e esto sendo dizimadas sem ao menos ser
catalogadas (ALHO, 2005).
Devido perda da diversidade biolgica, o Cerrado considerado como um hotspot, devido o
endemismo e a ameaa das espcies, pois restam apenas 20% de sua cobertura original (ALHO, 2005).
O Cerrado um dos hotspots mundiais de biodiversidade (Myers et al., 2000; Silva & Bates, 2002).
Pelo menos 137 espcies de animais que ocorrem no Cerrado esto ameaadas de extino (Fundao
Biodiversitas, 2003; Hilton-Taylor, 2004) em funo da grande expanso da agricultura e intensa explorao
local de produtos nativos. No Distrito Federal (Braslia),
por exemplo, o sustento de centenas de pessoas carentes depende do comrcio de plantas nativas
ornamentais uma das espcies exploradas j est extinta e outras 30 esto ameaadas (L. Marsicano, dados
no publicados) (KLINK; MACHADO, 2005, p. 150).

Nessa perspectiva, a Conveno sobre Diversidade Biolgica (CDB), da qual 168 pases foram
signatrios, durante a Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente (CNUMA ou ECO 92), e 188
pases j a ratificaram, aborda a questo da manuteno da biodiversidade e sua importncia.
Assim, o Brasil, que foi o primeiro pas a assinar tal documento, vem em sua legislao ambiental,
como no SNUC, abordando a importncia da preservao e conservao do meio ambiente
concomitantemente com seu desenvolvimento econmico. Vale ressaltar que o grande empecilho para que
ocorra a sustentabilidade tem sido a aplicao das leis, haja visto o despreparo tcnico dos organismos de
fiscalizao.
Com relao ao bioma, um dos principais desafios na conservao do Cerrado ser demonstrar a
importncia que a biodiversidade desempenha no funcionamento dos ecossistemas (KLINK; MACHADO,
2005, p. 152).

Joo Pessoa, outubro de 2011

551
Esse desafio se d principalmente em decorrncia das polticas pblicas agrcolas da dcada de
1980, guiadas por inciativas oficiais, as quais deram prioridade conservao da Amaznia, negligenciando
as problemticas do Cerrado, (KLINK; MACHADO, 2005) (Figura 4).

Figura 4: Distribuio das Unidades de Conservao no Brasil.


Fonte: IBGE (2003). Modificado por: MELO, Marlia Christina Arantes Melo.
CONSIDERAES FINAIS
O Cerrado, com rea original de 2.036.448 Km ocupa 23,9% do territrio brasileiro, onde situamse o Distrito Federal, Gois, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Maranho e Tocantins, estendendo-se em
menor rea por outros seis estados (ICMBio, 2011).
Em todo territrio brasileiro a quantidade de UC insuficiente se comparado ao tamanho do
territrio nacional. Observa-se que grande parte das reas protegidas se encontra no domnio
morfoclimtico da Amaznia seguido da Mata Atlntica. J no Cerrado, Pantanal e Pampas a quantidade de
UC so pequenas. Em toda extenso do Cerrado no Brasil h 44 UC, exceto as Reserva Particular do
Patrimnio (RPPNs), conforme dados do ICMBio.
importante questionar a situao da preservao e conservao do Cerrado, visto que o mesmo
vem sendo substitudo por monoculturas, dentre outras atividades agropecurias, ao longo dos tempos.
O grande desafio da sociedade civil, iniciativa privada e o poder pblico tentar preservar o que
resta dos 2% (RECOR, 2002) do restante de fitofisionomia nativa do Cerrado. Para tanto, necessrio que
sejam elaboradas e executadas polticas pblicas que solucionem tais problemticas.
Em contrapartida, percebesse que o Estado ainda depois de vrios eventos, debates, produo
cientfica e os diversos saberes populares que mostram a degradao e dizimao de espcies endmicas
do Cerrado, est prestes a legitimar uma preservao menor que 20% das Reservas Legais, por exemplo,
com o projeto do novo Cdigo Florestal Brasileiro.
Nessa perspectiva vale levantar algumas problemticas qual a rea do Cerrado pode tornar uma
UC? Quais os critrios que sero verdadeiramente considerados para a criao de uma nova UC? Se for e
quando for criada outra UC vai continuar ilhada em meio a tantas monoculturas?
H que se fazerem vrias consideraes a cerca desse tema, uma vez que o Cerrado no
homogneo como pensado. Ser que os estudos do Cerrado feitos no Distrito Federal, local que possui

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

552
mais levantamento socioambiental, reflete a realidade das outras localidades inseridas no domnio
morfoclimtico em questo?
Recorremos aos leitores desse artigo a refletir sobre os seguintes questionamentos: se h apenas
cerca de 2% do Cerrado preservado, como ser quando legitimar uma preservao menor que 20%?
Quantas espcies sero dizimadas sem que ainda sejam catalogadas? Possuir a soberania sobre a
biodiversidade do Cerrado no tem importncia?
Questionamos tambm o atual modelo do Cdigo Florestal, que mesmo reconhecendo que h
particularidades socioambientais, mas a mesma homogeniza a extenso territorial dos domnios
morfoclimticos existentes. Propomos que para a criao de UC, bem como de licenas ambientais e a
localizao das Reservas Legais sejam feitos estudos pontuais de forma que no seja totalmente atrelada a
homogeneizao posta pelas leis e normativas vigentes. H que se considerarem as particularidades.
Com relao populao que tem vive no Cerrado e do Cerrado, at quando muitos deles tero
que se sujeitarem as prticas agrcolas, impostas pelo mercado, das quais afetam suas prticas culturais e o
vinculo com a terra, como a expulso da populao rural para as cidades, devido a utilizao cada vez mais
intensa de mquinas; trabalhadores rurais que trabalham em condies semiescravas ou escrevas.
Assim, cabe a todos os agentes envolvidos, sobretudo ao poder pblico, a efetivamente garantir a
populao local e preservao e/ou conservao ambiental, visto que alm da natureza ser utilizada e vista
como um recurso natural h tambm que se leve em considerao que h vnculos com a terra, bem como
a sade publica fica fragilizada quando h grandes impactos no meio fsico.
REFERNCIAS
ABSBER, A. N. Os Domnios de Natureza no Brasil: Potencialidades Paisagsticas. 3. ed. So Paulo:
Ateli Editorial, 2005. p. 35-43.
ALHO, C. J. R.; Desafios para a conservao do Cerrado, em face das atuais tendncias de uso e
ocupao. In: SCARIOT, A.; SOUZA-SILVA, J. C.; FELFILI, J. M. (org.); CERRADO: Ecologia, Biodiversidade e
Conservao. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2005, p. 367-381.
BENSUSAN, N. reas protegidas: histria e desafios. In: _____. Conservao da biodiversidade em
reas protegidas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 11-31.
BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Anurio estatstico da agroenergia /
Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Braslia: Mapa/ACS, 2009. p. 7-18.
BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente (MMA). Agrobiodiversidade e diversidade cultural. Braslia:
MMA/SBF, 2006. Srie Biodiversidade. p. 11-24.
CUNHA, L. H.; COELHO, M. C. N. Poltica e gesto ambiental. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. A
questo ambiental: diferentes abordagens. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 43-76.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA). Tabela de impactos ao meio fsico
causados pelo cultivo de cana de acar. Disponvel em: <http://www.cana.cnpm.embrapa.br/canfi.html>.
Acesso em: jul. de 2010.
GOMES, M. (Coord.). Impactos Ambientais. In: _____. O Brasil dos Agrocombustveis: Impactos das
Lavouras sobre a Terra, o Meio e a Sociedade - Cana 2009. ONG Reprter Brasil (2010). p. 22-34. Disponvel
em: <http://www.reporterbrasil.org.br/documentos/o_brasil_dos_agrocombustiveis_v6.pdf>. Acesso em:
jul. de 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA (IBGE). Unidades de Conservao no Brasil.
Disponvel em: <http://mapas.ibge.gov.br/uc/viewer.htm>. Acesso em: set. de 2010.
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE (ICMBIO). Unidades de
Conservao no Cerrado. Disponvel em: < http://www.icmbio.gov.br/biodiversidade/unidades-deconservacao/biomas-brasileiros>. Acesso em: abr. de 2011.
JANK, M. S.; NAPPO, M. Etanol de cana-de-acar: uma soluo energtica global sob ataque. In:
ABRAMOVAY, R. (org). Biocombustveis: a energia da controvrsia. So Paulo: Editora SENAC So Paulo,
2009. p.19-57.
KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. A conservao do Cerrado brasileiro. Megadiversidade. Volume 1, N
1,
Junho/2005.
p.
147-155.
Disponvel
em:
<http://www.conservation.org.br/publicacoes/files/20_Klink_Machado.pdf>. Acesso: abr. de 2011.
Joo Pessoa, outubro de 2011

553
MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO (MAPA). Relao das Unidades
Produtoras Cadastradas no Departamento da Cana-de-acar e Agroenergia Ministrio da Agricultura,
Pecuria
e
Abastecimento
(MAPA).
Disponvel
em:
<http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/SERVICOS/USINAS_DESTILARIAS/USINAS_CA
DASTRADAS/UPS_12-07-2010_0.PDF>. Acesso em: jul. de 2010.
MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Unidades de Conservao no Brasil. Disponvel em:
<http://mapas.mma.gov.br/i3geo/aplicmap/geral.htm?cb1fc22b1459a737403e8fd66e7ed9ab#>.
Acesso
em: set. de 2010.
MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES / MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Conveno sobre
Diversidade Biolgica (CDB) Disponvel em: <http://www.cdb.gov.br/CDB>. Acesso em: jul. de 2010.
MORENO, C; ORTIZ, L. Construindo a soberania energtica e alimentar. In: _____. Construindo a
soberania energtica e alimentar: experincias autnomas de produo de combustveis renovveis na
agricultura familiar e de enfrentamento do agronegcio da energia. Porto Alegre : Ncleo Amigos da
Terra/Brasil, 2007. p.5-22.
PAULILLO, L. F. et al. lcool combustvel e biodiesel no Brasil: quo vadis? RER. Rio de Janeiro, vol.
45, n 03, p. 531-565, jul/set 2007. Disponvel em: <http://www.scielo.br/scielo.php>. Acesso em: jul. de
2010.
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Conservao de comunidades. In: _____. Biologia da conservao.
Londrina: E. Rodrigues, 2001. p. 199-266.
RESERVA ECOLGICA DO IBGE-RECOR. Dados do Cerrado. 2002. Disponvel em:
<http://www.recor.org.br/cerrado/cerrado.html>. Acesso: abr. de 2011.
RIBEIRO, H. Estudo de Impacto Ambiental como instrumento de planejamento. In: PHILLIPI JR., A.;
ROMRO, M. A.; BRUNA, G. C. Curso de Gesto Ambiental. Barueri: Manole, 2004. p. 759-790.
RIBEIRO, J. F. et al. Ocupao do bioma Cerrado e conservao da sua diversidade vegetal. In:
SCARIOT, A.; SOUZA-SILVA, J. C.; FELFILI, J. M. (org.); CERRADO: Ecologia, Biodiversidade e Conservao.
Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2005, p. 383-399.
SALGADO-LABOURIAU, M. L. Alguns aspectos sobre a Paleoecologia dos cerrados. In: SCARIOT, A.;
SOUZA-SILVA, J. C.; FELFILI, J. M. (org.); CERRADO: Ecologia, Biodiversidade e Conservao. Braslia:
Ministrio do Meio Ambiente, 2005, p. 107-118.
SANTOS, M. P. D.; SILVA, J. M. C. A importncia relativa dos processos biogeogrficos na formao
da avifauna do Cerrado e de outros biomas brasileiros. In: SCARIOT, A.; SOUZA-SILVA, J. C.; FELFILI, J. M.
(org.); CERRADO: Ecologia, Biodiversidade e Conservao. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2005, p.
219-233.
SILVA, V. G. Legislao Ambiental Comentada. 2 ed. Belo Horizonte: Frum, 2004. p. 235.
TEIXEIRA,W.; Toledo, M. C. M.; Fairchild, T. R.; Taioli, F. (Org). Decifrando a Terra. 2. ed. So Paulo:
Oficina de Texto, 2003. p. 158-165.
TROPPMAIR, H. Biogeografia e Meio Ambiente. 6 ed. Rio Claro: Divisa, 2004. p. 129-139.
VON DER WEID, J. M. Agrocombustveis: soluo ou problema? In: ABRAMOVAY, R. (org).
Biocombustveis: a energia da controvrsia. So Paulo: Editora SENAC So Paulo, 2009. p. 99-142.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

554

GESTO COMUNITRIA DO TERRITRIO E AUTONOMIA SOCIAL EM


UNIDADES DE CONSERVAO DE USO SUSTENTVEL
SANTOS, Mario Alberto dos.
Instituto de Cincias Ambientais e Desenvolvimento Sustentvel ICADS. Universidade Federal da Bahia UFBA /
Barreiras-BA. naturezageo@bol.com.br Docente-Pesquisador.

RESUMO
considera-se a gesto comunitria do territrio um instrumento, que a partir de aes polticas
pedaggicas, pode viabilizar a construo da autonomia social em unidades de conservao de uso
sustentvel (UCS). A dialogicidade entre os saberes tradicionais e os saberes cientficos num processo de
trocas, a partir da equidade nas relaes estabelecidas, reflete o mago da poltica em aes pedaggicas
aqui consideradas. A colaborao do conhecimento cientfico para a construo da autonomia social entre
as comunidades tradicionais moradoras-usurias das UCS apresenta-se como uma necessidade que no
substitui a necessidade da presena plena dos saberes e culturas tradicionais. O convvio com o outro no
deve neutralizar o eu. O outro, nesse caso as cincias, no assume o papel de opressora ou de observadora,
e o saber tradicional objeto observado. Aqui os saberes e culturas tradicionais cumprem o mesmo papel
das cincias; um instrumento regado de tcnicas e tecnologias para aes e intervenes no territrio de
usufruto humano com vistas a melhorias na qualidade de vida coletiva.
Palavras-chaves: gesto comunitria; territrio; cotidiano; autonomia; dilogo de saberes.
INTRODUO
As discusses, teorizaes e conceituaes em relao palavra Gesto nos trouxeram um amplo
entendimento e uma complexa percepo sobre aes e projetos para a gesto de espaos ocupados e
usufrudos por seres vivos humanos. As aes para a gesto dos Territrios so realizadas e concebidas no
cotidiano, a partir do encontro e do dilogo entre agentes participantes desse processo. Todavia, as
intencionalidades, os valores, as diretrizes, as motivaes e as condies tcnicas e tecnolgicas para tais
aes, influenciam, e muitas vezes determinam as materialidades e as trocas sociais que se estabelecero
naquele contexto social de relaes.
Prope-se aqui um ensaio para contribuir na discusso sobre as prticas de gesto em territrios
usufrudos-ocupados por grupos socioculturais considerados, a partir do exposto no art. 3, inciso I do
decreto n 6040/0793, povos tradicionais94. Nesse caso, o foco est voltado para os territrios das
Unidades de Conservao de Uso Sustentvel UCS.
A adjetivao utilizada no ttulo do artigo para Gesto sugere intencionalidades e olhares e ,
portanto, proposital. Pois, entende-se que a palavra Comunitria carrega em seus significados possveis a
ideia de troca, de reciprocidades, dilogo, equidade, coletividade e diferenas. E como nosso foco analisar
e discutir possibilidades de aes polticas para, a partir da gesto do territrio, conceber e construir a
autonomia social, o trabalho comunitrio e a construo coletiva do conhecimento so, nesse caso,
intrnsecos as experincias construdas e vividas no cotidiano.
A concepo e a construo da autonomia social passam pelo dilogo de saberes e pela troca nas
relaes sociais e polticas no e do cotidiano. A ideia de autonomia implica no estabelecimento de relaes
sociais e polticas fundadas na equidade entre os agentes participantes.
Considera-se, portanto, a construo da autonomia social e individual produtos que compe as
aes para a gesto comunitria dos territrios. Assim, tem-se nas e para as UCS, a gesto comunitria
como instrumento para melhorias na qualidade de vida, a partir do processo de desenvolvimento social e
poltico desses grupos socioculturais tradicionais.

93

Institui a Poltica Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais.


Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas prprias de
organizao social, que ocupam e usam territrios e recursos naturais como condio para sua reproduo cultural,
social, religiosa, ancestral e econmica, utilizando conhecimentos, inovaes e prticas gerados e transmitidos pela
tradio.
94

Joo Pessoa, outubro de 2011

555
Os saberes tradicionais, que instrumentalizam os moradores-usurios das UCS em seus cotidianos
de trabalho, manifestaes culturais e relaes sociais e polticas, pertencem a um domnio de experincias
diferente do domnio de experincias dos saberes cientficos. So, portanto, proposies explicativas
estabelecidas a partir de diferentes critrios de aceitabilidade, mas, que so, sobretudo, produtos de
nossas possibilidades cognitivas, e como tais, devem estar abertas ao dialogo, ao encontro, a troca...
Pressupor que o conhecimento fruto dos mtodos e metodologias cientficas, e no produto da
cognio humana, inviabiliza o dilogo entre diferentes domnios experienciais de proposies explicativas
de fenmenos, coisas e experincias humanas com e do mundo. Todavia, deve-se ressaltar que, para o
autor desse texto o conhecimento um fenmeno social que ocorre, a partir das relaes cognitivas com o
mundo, e no ao contrrio. Pois, ao contrrio estar-se- sugerindo que o saber cientifico algo absoluto e
verdadeiro, e que, portanto, o mundo real que ele traduz existe independente de quem o est
observando e traduzindo.
A realidade traduzida dentro do domnio experiencial das cincias no uma realidade em si
mesmo, e sim, uma mera interpretao de experincias cognitivas realizadas a partir de um sistema vivo
estruturalmente predefinido; os seres humanos. Sendo assim, admite-se que nada externo ao que nos
ocorre.
A seguir reflexes sobre significados e aes para os fenmenos sociais da gesto e do
comunitarismo em territrios de UCS.
GESTO DO TERRITRIO E COMUNITARISMO EM UNIDADES DE CONSERVAO DE USO
SUSTENTVEL
A institucionalidade das UCS efetivou-se a partir da assinatura da Lei n 9.985/0095 e do decreto n
4.340/02 que regulamenta a referida lei. O 2 do art. 7 da lei 9.985/00 estabelece como objetivo bsico
das UCS compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parcela dos seus recursos. A
sustentabilidade est em garantir a perenidade dos recursos ambientais renovveis e dos processos
ecolgicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecolgicos, de forma socialmente justa e
economicamente vivel. A autonomia administrativa e financeira das UCS implica num modelo de gesto e
planejamento que compartilhe intencionalidades e desejos, para tanto, tem-se na reciprocidade e na
equidade, fenmenos de convivncia social e poltica substanciais nesse processo.
Os territrios tradicionais96 das UCS possuem estrutura jurdica especifica que trata o uso social e
cultural da natureza como possvel instrumento de conservao e preservao da mesma. Numa espcie de
relaes simbiticas, as populaes tradicionais construram, a partir das relaes cotidianas com outros
sistemas vivos, mecanismos e estratgias que permitem a continuidade das capacidades e possibilidades de
resilincia, intrnsecos a todos os sistemas vivos que compe os diversos sistemas ecolgicos existentes.
Quando os classificamos enquanto sistemas vivos, j supomos que h algo de comum entre eles, O
que caracteriza o ser vivo sua organizao autopoitica. Seres vivos diferentes se distinguem porque tm
estruturas distintas, mas so iguais em organizao (MATURANA e VARELA, 2001, p.55). E justamente
esse padro de organizao que viabiliza a resilincia e a dinmica dos sistemas vivos. [...] no h
separao entre produtor e produto. O ser e o fazer de uma unidade autopoitica so inseparveis, e isso
constitui seu modo especfico de organizao. (MATURANA e VARELA, 2001, p.57).
O espao enquanto via de acesso, e ao mesmo tempo produto, do universo cognoscvel dos seres
humanos, expositor dos objetos e materialidades possveis para as relaes emotivas e afetivas, permitenos a inveno do Territrio como lugar das relaes polticas e de poder. O espao constitui a matriz
sobre a qual as novas aes substituem as aes passadas. ele, portanto, presente, porque passado e
futuro. (SANTOS, 2008, p.104).

95 Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao.


96 Espaos necessrios a reproduo cultural, social e econmica dos povos e comunidades tradicionais,
sejam eles utilizados de forma permanente ou temporria, observado, no que diz respeito aos povos indgenas e
quilombolas, respectivamente, o que dispem os arts. 231 da Constituio e 68 do Ato das Disposies Constitucionais
Transitrias e demais regulamentaes. Citando art. 3, inciso II do decreto n 6040/07.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

556
Nossos processos de significao do espao e de suas coisas e fenmenos so inerentes ao
entendimento desse mesmo espao; seus objetos materiais no podem ser explicados por si mesmos,
enquanto objetos da vida cotidiana humana, sua existncia passa pela sua significao.
Partindo do pressuposto que nada externo ao que nos ocorre, a significao e/ou traduo de
algum objeto ou fenmeno uma atividade cognitiva, onde as proposies explicativas que dela decorrem
no podem ser consideradas o objeto ou fenmeno em si mesmo, (MATURANA e YAEZ, 2009), no
passando, portanto, de meras interpretaes de experincias cognitivas e emotivas.
Falar sobre Territrio falar sobre um processo de significao humana em relao ao espao, que
sugere a delimitao fsica e simblica de relaes sociais, polticas e de trabalho.
Entende-se gesto do territrio como a administrao cotidiana de situaes e desdobramentos de
um processo previamente planejado e que nos impe os recursos e as necessidades imediatas (SOUZA,
2008). Ao pensar a gesto pelo caminho do comunitarismo tem-se o dilogo e a equidade pressupostos
substanciais para as aes pretendidas. O gerir comunitrio do territrio viabiliza-nos um contexto, no qual,
a ao poltica, enquanto condio humana do agir coletivo em proveito de um bem comum instrumento
e pr-condio.
A ao poltica pode e deve ser estimulada, [...] mas nunca condicionada, pela presena dos outros
cuja companhia queremos estar [...] (ARENDT, 2007, p.189). Os outros precisam ser reconhecidos e
legitimados para haver o dilogo, a troca. [...] meu discurso deve tomar o lugar do discurso do Outro, de
um discurso estranho que est em mim e me domina: fala por mim. (CASTORIADIS, 1982, p.124). Por isso
a necessidade do dilogo para a gesto. O encontro com grupos socioculturais tradicionais no pode
negar seu discurso, e cair nas armadilhas da hierarquizao dos saberes e das proposies explicativas. Da
a necessidade de aes polticas para a gesto,
Mas a poltica no nem concretizao de um Saber absoluto, nem tcnica, nem vontade cega no
se sabe bem de que; ela pertence a um outro domnio, o do fazer, e a esse modo especfico do fazer que a
prxis. [...] Chamamos de prxis este fazer no qual o outro ou os outros so visados como seres autnomos e
considerados como o agente essencial do desenvolvimento de sua prpria autonomia. (CASTORIADIS, 1982,
p.94).

O fenmeno social e cultural da competio no cabe dentro de um projeto de gesto comunitria


do territrio, com vistas construo da autonomia social. Pois, o fenmeno da competio, que se d no
mbito cultural humano, implica na contradio e na negao do outro (MATURANA, 1998), no sendo,
portanto, admitido numa relao equitativa entre diferentes agentes participantes.
Os seres vivos no humanos no competem, fluem entre si e com outros em congruncia recproca,
ao conservar sua autopoiese e sua correspondncia com um meio que inclui a presena de outros, ao invs
de neg-los. (MATURANA, 1998, 21). A competio uma construo social e cultural do viver humano. [...]
a competio se constitui culturalmente, quando o outro no obter o que um obtm fundamental como
modo de relao. (MATURANA, 1998, p.21).

Na organizao do tecido social para o comunitarismo no h espao para a competio, e sim para
a cooperao. O modo de vida deve ser encarado como uma configurao de relaes variveis entre
organismo e meio, que a partir da ao poltica se constroem as relaes equitativas entre os agentes
participantes.
Transformaes em relaes sociais e polticas territoriais dependem, alm de aes no fazer
cotidiano, de transformaes na episteme dos saberes, do conhecimento. Por que so necessrias
transformaes na episteme?
O conhecimento cientfico apresenta-nos limitaes para o dilogo com saberes que so
construdos e concebidos fora dos critrios de aceitabilidade e investigao cientficos, tratando, nesse
caso, os saberes tradicionais enquanto objetos de estudos e no fontes de informaes e/ou dados, ou
seja, subsdios para o prprio conhecimento dito cientfico. Folclorizando-os e reduzindo-os a mitos,
crenas, ou algo do gnero.
O conhecimento no produto do mtodo cientfico, o conhecimento produto da cognio
humana, como o so tambm os mtodos e metodologias cientficas para a construo de conhecimento.
Para um processo de gesto em territrios usufrudos por grupos socioculturais, que tem nos
saberes tradicionais os significados essenciais de sua existncia, incluindo a relaes de trabalho e relaes
Joo Pessoa, outubro de 2011

557
sociais e polticas do cotidiano, o dilogo faz-se essencial para o sucesso das aes propostas. A ideia de
comunitarismo para o processo de gesto sugere transcender a ideia de que o conhecimento cientifico por
si s daria conta de resolver todos os problemas cotidianos.
A ideia de comunitarismo aqui trabalhada apresenta como necessidade um tecido social organizado
para tal finalidade. A competio, fenmeno social comum para a organizao social e poltica capitalista e
neoliberal, d lugar a cooperao e a reciprocidade. Cooperar reciprocamente , portanto, condio
biolgica para a diversidade, ao contrrio da competio que nega a aceitao do outro (MATURANA,
1998), determinando o estabelecimento e a valorao das diferenas intrnsecas a vida social e biolgica
humana.
Os seres vivos humanos so iguais, enquanto sistema vivo, porm, h para cada indivduo da
espcie possibilidades de significaes ilimitadas. Ou seja, somos iguais enquanto sistemas vivos, e
infinitamente diferentes enquanto ser social e poltico, que a partir das coisas e fenmenos cognoscveis do
espao possui pela e na significao do que observado e vivido, possibilidades inmeras.
A pluralidade humana, condio bsica da ao e do discurso, tem o duplo aspecto de igualdade e
diferena. Se no fossem iguais, os homens seriam incapazes de compreender-se entre si e aos seus
ancestrais [...]. Se no fossem diferentes, se cada ser humano no diferisse de todos os que existiram,
existem ou viro a existir, os homens no precisariam do discurso ou da ao para se fazerem entender.
(ARENDT, 2007, p.188).

O DILOGO DE SABERES E A GESTO COMUNITRIA PARA A CONSTRUO DA AUTONOMIA SOCIAL


A cognio humana apresenta-nos possibilidades de manifestao de diferentes proposies
explicativas, construdas a partir de diferentes domnios de aceitabilidade e investigao. Os fenmenos e
coisas do mundo que nos so cognoscveis, e que podem, portanto, ser objetos de significaes humanas,
so tambm apresentados a partir de uma realidade construda internamente. Nada externo ao que nos
ocorre, [...] enquanto sistemas moleculares sejamos sistemas ou entes determinados em nossas
estruturas de modo que nada exterior a ns que incida sobre ns pode determinar o que nos acontece [...]
(MATURANA e YES, 2009, p.102). No mximo, desencadeia transformaes, mas nunca as determina.
A realidade no preexistente ao nosso habit-la, nesse sentido, considera-se o conhecimento
produto de nossas relaes cognitivas, sendo assim, no nos possvel falar de um conhecimento em si
mesmo, ou que, o que traduzido e/ou representado pelo conhecimento algo absoluto e que deva ser
visto como uma realidade em si mesmo. O mundo que habitamos gerado com nosso habitar...
(MATURANA e YES, 2009).
As experincias vividas e as relaes cognitivas com mundo que nos cerca fez nascer diferentes
conhecimentos, em diferentes domnios de aceitabilidade e investigao. A partir da observao, do
pensamento e da imaginao, como instrumentos e via de acesso ao mundo exterior, a cognio humana
criou e cria constantemente novas percepes e proposies explicativas do e no cotidiano.
O conhecimento no foi possvel a partir do cientificismo, mas sim, a partir de nossa condio
enquanto sistema vivo, que estabelece com as exterioridades relaes cognitivas e afetivas; o saber
humano no nasce com as cincias.
A partir do exposto acima, trata-se os saberes tradicionais como produto da cognio humana, e
que, portanto, nesse sentido so iguais aos saberes considerados cientficos. Todavia, o dilogo entre as
proposies explicativas cientficas e tradicionais no deve ser evitado por conta de uma suposta
incompatibilidade, no que tange a uma suposta verossimilhana superior do conhecimento cientfico na
traduo e/ou explicao de uma suposta realidade preexistente, e que somente alcanvel a partir dos
mtodos cientficos de investigao e explicao.
Os saberes tradicionais, para o domnio de sua aceitao e seus critrios de investigabilidade,
possuem o mesmo status que as cincias para o seu domnio de aceitabilidade e investigao. O
conhecimento cientfico configura-se como tal, dentro do domnio operacional que o considera
conhecimento. As proposies explicativas, seja cientificas ou no, somente tem valor a partir do momento
que considerada uma proposio explicativa (MATURANA, 2001).
Todavia, considera-se a gesto comunitria do territrio um processo continuo de construo
coletiva de aes e estratgias que visem melhorias nas e das condies materiais de existncia, a partir de
aes polticas pedaggicas.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

558
Considera-se essas aes polticas com carter pedaggico, pois, Acho que no se pode considerar
nenhuma pergunta sobre os afazeres humanos, no que diz respeito ao seu valor, sua utilidade ou quilo
que se pode obter deles, se no se explicita o que que se quer. (MATURANA, 1998, p.12). Sobretudo, por
considerar que necessita-se de um processo de aprendizagem o viver na equidade e no dilogo. Da a
necessidade de transformaes epistemolgicas e aes polticas de carter pedaggico.
Pois, somos educados e motivados a viver na competio e no na cooperao. Em outras
palavras, digo que s so sociais as relaes que se fundam na aceitao do outro como um legtimo outro
na convivncia, e que tal aceitao o que constitui uma conduta de respeito. (MATURANA, 1998, p.24).
Um outro que no me domina, mas que comigo compartilha. Para a gesto comunitria do territrio, esse
pressuposto reflete o mago de seu desenvolvimento.
A educao um processo continuo que dura toda a vida, e acontece, portanto, todo o tempo e de
maneira recproca (MATURANA, 1998). As aes dialgicas e recprocas para a gesto comunitria do
territrio viabilizam ou no a construo da autonomia social,
Como vivermos como educaremos, e conservaremos no viver o mundo que vivermos como
educandos. E educaremos outros com nosso viver com eles, o mundo que vivermos no conviver.
(MATURANA, 1998, p.30).

As relaes sociais e polticas do cotidiano, que permitem a construo do processo comunitrio de


gesto devem refletir, a partir do prprio cotidiano, os valores e os princpios norteadores desse contexto
comunitrio construdo na coletividade.
As aes e estratgias adotadas precisam permitir e viabilizar a construo da autonomia social no
e para o processo de gesto do territrio no cotidiano de trabalhos, de relaes sociais e polticas. E aqui a
poltica assume o papel de [...] uma atividade refletida e lcida, visando instituio global da sociedade.
(CASTORIADIS, 2004, p.177).
As intrigas, rivalidades, jogos de interesses comuns a poltica partidria brasileira no possui
ligao alguma com a ideia de poltica aqui considerada. [...] a poltica um momento e uma expresso do
projeto de autonomia; ela no aceita passiva e cegamente o que j est, aquilo que foi institudo, mas o
recoloca em questo. (CASTORIADIS, 2004, p.178).
O tecido social precisa permitir situaes de trocas e de reciprocidades que viabilizem o comeo da
autonomia social. Os momentos que definem trajetrias a ser seguidas, que estabelecem metas a ser
cumpridas, e, sobretudo, escolhem as metodologias, as tcnicas/tecnologias e os caminhos a ser
construdos, devem refletir a essencialidade das motivaes para as relaes e fenmenos sociais ali
institudos; a saber, a equidade.
A histria humana criao. Ela , antes de mais nada, autocriao sob todos os seus aspectos,
separao da humanidade da pura animalidade, separao jamais terminada e ao mesmo tempo insondvel.
Esta autocriao se manifesta pelo estabelecimento de formas de ser sem equivalentes, modelos ou
causas no mundo pr-social. Essas formas so linguagem, os utenslios, as normas institudas, as
significaes, os tipos antropolgicos etc. (CASTORIADIS, 2004, p.180-181).

Mudar o que est institudo no deveria ser to penoso, principalmente quando percebemos que
as regras estabelecidas, e as tcnicas utilizadas esto nos levando para o caminho da irreversibilidade e do
fim da possibilidade de resilincia dos sistemas ecolgicos e seus componentes.
As significaes das coisas e fenmenos cognoscveis so construes que nascem de nossas
relaes afetivas e cognitivas com as exterioridades. Considera-se, que de nossas experincias vividas
surgem nossas proposies explicativas, e se hoje percebe-se e entende-se que h prticas sociais e
econmicas que despreza o comunitarismo e a construo da autonomia social, pergunta-se, por que no
transformar esse cenrio?
A concepo que apresentamos mostra ao mesmo tempo que no podemos desejar a autonomia
sem desej-la para todos e que sua realizao s pode conceber-se plenamente como empreitada coletiva.
[...] o problema da autonomia remete imediatamente, identifica-se mesmo, com o problema da relao do
sujeito e do outro ou dos outros; que o outro ou os outros no aparecem como obstculos exteriores ou
maldio [...] mas como constitutivos do sujeito, de seu problema e da sua possvel soluo. (CASTORIADIS,
1982, p.129-130).

Joo Pessoa, outubro de 2011

559
CONSIDERAES FINAIS
Enquanto aes coletivas, o conhecimento, a poltica e a autonomia social aparecem como
fenmenos da vida e das relaes cotidianas entre seres vivos humanos e o mundo exterior. As proposies
explicativas, em cada domnio operacional no qual ela emerge e se cristaliza, devem considerar diferentes
domnios operacionais, de aceitabilidade e de investigao viabilizando assim a dialogicidade.
A ao poltica pedaggica para a gesto do territrio e a construo da autonomia social em UCS,
pressupe necessariamente a efetivao de fenmenos sociais de convivncia. A colaborao do
conhecimento tcnico-cientfico durante o processo, com vistas a contribuir para o estabelecimento de
estratgias de usufruto e convvio, permitir aos saberes tradicionais nutrir-se de um tipo de conhecimento
que no lhe comum. Nesse caso, a recproca faz-se verdadeira, pois, o conhecimento cientfico deve
tambm nutrir-se das proposies explicativas tradicionais e das experincias cognitivas e afetivas que as
materializam.
A imaginao, a oralidade, as experincias empricas, a fantasia, o pensamento reflexivo e o
raciocnio lgico apresentam-se como fenmenos intrnsecos s nossas relaes cognitivas com as
exterioridades materiais e imateriais. Para o saber tradicional e para o saber cientfico esses fenmenos
viabilizam as diferentes tradues, explicaes e interpretaes que orientam nossas condutas sociais,
nossas crenas religiosas, nossas diferentes ticas, nossos valores, nossas diferentes culturas, e tudo que
condiciona o nosso habitar o mundo.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARENDT, Hannah. A condio humana. Roberto Raposo (trad). 10 Ed., Rio de Janeiro: Forense
Universitria, 2007.
CASA CIVIL SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURDICOS. Decreto n 6.040 de 2007. Institui a Poltica
Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais. Ministrio do Meio
Ambiente, Braslia: 2007.
CASA CIVIL SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURDICOS. Decreto n 4.340 de 2002. Regulamenta
artigos da Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispe sobre o Sistema Nacional de Unidades de
Conservao da Natureza SNUC, e d outras providncias. Ministrio do Meio Ambiente, Braslia: 2002.
CASA CIVIL SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURDICOS. Lei n 9.985 de 2000. Regulamenta o art. 225,
1, inciso I, II, III e VII da Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da
Natureza e d outras providncias. Ministrio do Meio Ambiente, Braslia: 2000.
CASTORIADIS, Cornelius. Figuras do Pensvel: as encruzilhadas do labirinto vol. VI. Eliana Aguiar
(trad). Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2004.
______A instituio imaginria da sociedade. Guy Reynaud (trad). 5 Ed., Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1982.
MATURANA, Humberto. Cognio, cincia e vida cotidiana. Cristina Magro e Victor Paredes (trads).
Belo Horizonte: EdUFMG, 2001.
______Emoes e linguagem na educao e na poltica. Jos Fernando Campos Fortes (trad). Belo
Horizonte: EdUFMG, 1998.
MATURANA, Humberto e YES, Ximena Dvila. Habitar Humano: em seis ensaios de biologiacultural. Edson Arajo Cabral (trad). So Paulo: Palas Athena, 2009.
MATURANA, H. e VARELA, F.. A rvore do conhecimento: as bases biolgicas da compreenso
humana. Humberto Mariotti e Lia Diskin (trads). So Paulo: Palas Athena, 2001.
SANTOS, Milton. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. 4 Ed., So Paulo: EdUSP,
2008. (Coleo Milton Santos; 1).
SOUZA, Marcelo L. de. Mudar a cidade: uma introduo crtica ao planejamento e gesto
urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

560

ESTRATGIA PARTICIPATIVA DE EDUCAO AMBIENTAL PARA


CONSERVAO
Natlia Ribeiro Pereira dos SANTOS
CESP Companhia Energtica de So Paulo. Rodovia Marechal Rondon, Km 667 - Castilho SP
natalia.santos@cesp.com.br
Carmem Lcia Zaine MENEZES
CESP Companhia Energtica de So Paulo. Rodovia Marechal Rondon, Km 667 - Castilho SP
carmem.menezes@cesp.com.br
Jos Dimas ALSSIO
CESP Companhia Energtica de So Paulo. Rodovia Marechal Rondon, Km 667 - Castilho SP
jose.alessio@cesp.com.br

RESUMO
Estudos demonstram que em muitas regies as Reservas Particulares do Patrimnio Natural
(RPPNs) podem ser os ltimos fragmentos originais ainda bem conservados existentes, prestando, por isso,
inestimvel servio para a conservao da biodiversidade destas regies. A possibilidade de visitao em
unidades de conservao que prevem o uso pblico pode apresentar diversos aspectos positivos, entre
eles: aproximar a sociedade destas reas, despertando seu interesse sobre a sua conservao; e servir de
oportunidade para desenvolvimento de recreao e aprendizado em contato com a natureza (MMA;
ICMBio, 2007).
A utilizao de trilhas interpretativas guiadas ou autoguiadas tem sido um dos meios mais utilizados
para a interpretao ambiental. Estes percursos na natureza promovem o contato mais estreito entre
visitante e natureza, possibilitando o conhecimento das espcies animais e vegetais, da histria local, da
geologia, da pedologia, dos processos biolgicos e das relaes ecolgicas; conectando o visitante com o
lugar, aumentando a compreenso e apreciao sobre os recursos naturais e culturais protegidos,
diminuindo assim as presses negativas sobre a unidade; provocando mudanas de comportamento,
atraindo e engajando as pessoas na tarefa de conservao; criando uma impresso positiva sobre a rea
protegida.
O caminho safri utilizado para a visitao na RPPN Foz do Rio Aguape, j atendeu 234 visitantes
de diferentes faixas etrias, dos municpios do entorno da reserva e tem se mostrado uma ferramenta
eficiente na sensibilizao e conscientizao em relao importncia das unidades de conservao na
preservao da natureza.
PALAVRAS-CHAVE: Safri, RPPN, interpretao ambiental, unidade de conservao.
INTRODUO
Estudos demonstram que em muitas regies onde restam poucas amostras da vegetao original,
as RPPNs podem ser os ltimos fragmentos originais ainda bem conservados existentes, prestando, por
isso, inestimvel servio para a conservao da biodiversidade de determinadas regies (WWF, 2008). A
possibilidade de visitao em unidades de conservao que prevem o uso pblico pode apresentar
diversos aspectos positivos, entre eles: funcionar como um dos vetores para o desenvolvimento local,
incrementar os recursos financeiros necessrios gesto da rea; aproximar a sociedade destas reas,
despertando seu interesse sobre a sua conservao; e servir de oportunidade para desenvolvimento de
recreao e aprendizado em contato com a natureza (MMA; ICMBio, 2007).
Nesse sentido a interpretao da natureza pode ser um componente fundamental da experincia
dos visitantes nestas reas. O documento Diretrizes para visitao em unidades de conservao (MMA,
2006), apresenta algumas diretrizes para a interpretao ambiental, entre elas: adotar a interpretao
ambiental como uma forma de fortalecer a compreenso sobre a importncia da unidade de conservao e
seu papel no desenvolvimento social, econmico, cultural e ambiental; utilizar as diversas tcnicas de
interpretao como forma de estimular o visitante a desenvolver a conscincia, a apreciao e o
entendimento dos aspectos naturais e culturais, transformando a visita em uma experincia enriquecedora
e agradvel; empregar instrumentos de interpretao ambiental como ferramenta de minimizao de
impactos negativos naturais e culturais; desenvolver instrumentos interpretativos fundamentados em
pesquisa e informaes consistentes sobre os aspectos naturais e culturais do local; envolver a sociedade
Joo Pessoa, outubro de 2011

561
local no processo de elaborao dos instrumentos interpretativos; assegurar que o projeto de
interpretao ambiental seja elaborado por equipe multidisciplinar e que utilize uma linguagem acessvel
ao conjunto dos visitantes.
A utilizao de trilhas interpretativas guiadas ou autoguiadas tem sido um dos meios mais utilizados
para a interpretao ambiental, tanto em ambientes naturais, como em ambientes construdos
(VASCONCELLOS, 1997), sendo que atualmente esto muito presentes, em programas educativos para uso
pblico, nas mais diversas categorias de unidades de conservao (GODOI et al., 2004). Estes percursos na
natureza promovem o contato mais estreito entre visitante e a natureza, possibilitando o conhecimento
das espcies animais e vegetais, da histria local, da geologia, da pedologia, dos processos biolgicos e das
relaes ecolgicas.
Segundo Vasconcellos (1997) as trilhas interpretativas, quando bem planejadas e implantadas,
podem auxiliar o manejo de unidades de conservao, conectando o visitante com o lugar, aumentando a
compreenso e apreciao sobre os recursos naturais e culturais protegidos, diminuindo assim as presses
negativas sobre a unidade; provocando mudanas de comportamento, atraindo e engajando as pessoas na
tarefa de conservao; criando uma impresso positiva sobre a rea protegida e a instituio responsvel.
OBJETIVO
A implantao de uma trilha interpretativa na RPPN Foz do Rio Aguape busca, atravs de um
recurso atrativo (o caminho Pantaneiro), possibilitar o acesso RPPN, promovendo a conservao do
meio ambiente atravs do conhecimento e da sensibilizao.
MTODOS
Este trabalho desenvolvido na RPPN Foz do Rio Aguape, que abrange os municpios de Castilho,
So Joo do Pau dAlho e Paulicia, no estado de So Paulo. A RPPN pertence Companhia Energtica de
So Paulo (CESP) e foi reconhecida pela Resoluo SMA-117 no dia 9 de dezembro de 2010.
Para este projeto foi adaptado um caminho Ford F-11000, diesel. O veculo recebeu pintura
camuflada, alteraes na suspenso e teve a carroceria adaptada para o transporte de at 25 passageiros.
O uso de um caminho modificado caminho safri (figura 1) foi idealizado para criar um
ambiente ldico durante a visita, uma vez que a rea da RPPN Foz do Rio Aguape (figura 2) apresenta
paisagem que se assemelha a do Pantanal, caracterizando ainda mais o clima de expedio ambiental.

Figura 7. Caminho Sfari


A bordo do caminho, durante 30 km, possvel observar reflorestamentos, a foz do rio Aguape,
lagoas, reas modificadas por ao antrpica (pastagens) e animais como cervos, capivaras, jacars,
tamandus, antas e at mesmo a ona parda, alm de muitas aves como tuiuis, garas, maguaris,
colhereiros.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

562

Figura 8. RPPN Foz do Rio Aguape


Durante este passeio temas como reflorestamento, fauna, flora, impacto do homem sobre reas
naturais so apresentados e discutidos com os participantes visando conduzi-los formao de um
pensamento crtico respeito da importncia das unidades de conservao e dos impactos das atividades
do homem sobre o meio ambiente.
Durante o trajeto so realizadas 5 paradas, nesta ordem: reflorestamento, lagoa, foz do Rio
Aguape, mirante e mata nativa (Figura 3, 4 e 5). Eventuais paradas so realizadas quando ocorre
visualizao de animais ou outro evento interessante.

Figura 9. Lagoa onde comum a observao de cervos e jacars

Joo Pessoa, outubro de 2011

563
Figura 10. Foz do Rio Aguape

Figura 11. Mirante


A primeira atividade feita com o Caminho Pantaneiro foi realizada no dia 07 de dezembro de 2010
com pessoas que residem no entorno da RPPN Foz do Rio Aguape - no Reassentamento Fazenda Buritis,
municpio de Paulicia, So Paulo - e que tambm participam do programa Sensibilizao de Comunidades
do Entorno das Unidades de Conservao.
No dia 13 de maio de 2011 teve incio o projeto Safri Ambiental na RPPN Foz do Rio Aguape
Projeto Melhor Idade, que recebe, quinzenalmente, os integrantes de grupos da melhor idade do
municpio de Trs Lagoas, estado de Mato Grosso do Sul (Figura 6).
Em 14 de junho de 2011 foi realizada uma visita com os jovens do Programa Adolescente Ambiental
(PROAMA) de Castilho, em parceria com a Usina Viralcool que patrocinadora oficial do PROAMA, mantido
pela ECONG em Castilho (Figura 7).
A visitao mais recente aconteceu no dia 20/07/2011 e atendeu crianas e jovens do
acampamento de frias do residencial Encontro das guas do municpio de Castilho-SP.

Figura 12. Grupo da Melhor Idade de Trs Lagoas, MS.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

564

Figura 13. Visita dos jovens do PROAMA


RESULTADOS
At o momento foram atendidas 234 pessoas de diversas faixas etrias, de dois dos municpios
sedes da RPPN Foz do Rio Aguape, Castilho e Paulicia, no estado de So Paulo e do municpio de Trs
Lagoas, Mato Grosso do Sul.
Em cerca de 80% das visitas os participantes puderam visualizar representantes da fauna local
cervos do pantanal, tamandu, jacars, capivaras e diversas espcies de aves, como tuiui, arara, cabeaseca, garas, patos. Alm de conhecer os diferentes tipos de ambientes que compem a reserva.
A experincia de passear por uma rea natural bastante impactante e deslumbra at mesmo os
moradores do entorno da RPPN, que vivem longe de centros urbanos, em contato mais ntimo com a
natureza. Mesmo estas pessoas ficam admiradas ao percorrerem a trilha da RPPN e chegaram a elaborar
frases como Sente o ar, olha como puro.
Os visitantes da melhor idade trazem consigo lembranas saudosistas da rea da RPPN, pois alguns
deles tiveram contato com a rea ou com outras reas naturais em algum momento de seu passado e
podem compartilhar suas experincias com os demais participantes, enriquecendo ainda mais a visita.
At o presente momento, todos os grupos participantes ressaltaram a importncia dessa atividade.
Testemunham que o passeio os faz perceber os males que os homens vm causando natureza e a
importncia da preservao das reas naturais, que o contato direto com a fauna e a flora local, mostralhes que possvel a convivncia respeitosa e harmnica entre homem e natureza. E que essa experincia
permite-lhes construir um melhor conceito de natureza, meio ambiente e lhes mostra a importncia da
existncia de reas para proteger essas belezas naturais e do trabalho daqueles que lutam pela
conservao.
Atravs dos relatos de todos que participaram das visitas podemos inferir que o objetivo de
sensibilizao e conscientizao em relao importncia das unidades de conservao na preservao da
natureza foi atingido.
REFERNCIAS
GODOI, E. L.; TEIXEIRA, K. A.; PACHECO, M. A.. Implantao de trilha para deficientes visuais no
Parque Ecolgico Altamiro de Moura Pacheco/Gois. In: Congresso brasileiro de unidades de conservao,
4., 2004, Curitiba. Anais... Curitiba: FBPN, Rede PR-UC, v.1, p.376-383, 2004.
MMA (Ministrio do Meio Ambiente). Diretrizes para Visitao em Unidades de Conservao. Srie
reas Protegidas do Brasil, n.3, 2006.
MMA (Ministrio do Meio Ambiente); ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservao da
Biodiversidade). Unidades de Conservao do Brasil. 2007.
VASCONCELLOS, J. M. O. Trilhas interpretativas: aliando educao e recreao. In: Congresso
brasileiro de unidades de conservao, 1., 1997, Curitiba. Anais... Curitiba: IAP, UNILIVRE, Rede PR-UC,
v.1, p.465-477, 1997.
WORLD WILD FUNDATION (WWF). Reserva particular do patrimnio natural (RPPN) Iniciativa
cidad para a proteo da natureza. Cartilha. So Paulo, 2008.
Joo Pessoa, outubro de 2011

565

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

566

PERCEPO AMBIENTAL DOS POVOS PESQUEIROS DA RDS PONTA DO


TUBARO ACERCA DO MANGUEZAL, MACAU/RN.
Patrcia Pereira MATTOS
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
patriciamattos@ufrnet.br
Amanda Padilha de OLIVEIRA
Graduanda em cincias biolgicas (bacharelado) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
a.padilha_@hotmail.com
Magdi Ahmed Ibraim ALOUFA
Prof. Dr. da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
magdi-aloufa@bol.com.br

RESUMO
As comunidades Diogo Lopes, Barreiras e Sertozinho, inseridas nos limites da Reserva de
Desenvolvimento Sustentvel (RDS) Ponta do Tubaro, apresentam um histrico de luta contra as aes
predatrias do manguezal e a criao da reserva partiu da prpria populao. Desse modo, esse trabalho
objetivou investigar a percepo ambiental dessas comunidades acerca do manguezal sob uma perspectiva
biolgica, ecolgica e social. Os dados foram obtidos por meio de observao direta, turns-guiadas e
entrevistas abertas e semi-estruturadas (n=262). A anlise de contedo comprovou que os entrevistados
apresentam um sentimento de topofilia com o manguezal, apresentam uma alta dependncia dos seus
recursos e detm um bom conhecimento das suas funes ecolgicas e biolgicas.
PALAVRAS CHAVES: rea protegida. Etnoconservao. Populaes tradicionais.
INTRODUO
A relao dos seres humanos com os manguezais antiga e aproximadamente h mais de
7.000 anos, grupos pr-histricos j utilizavam os produtos fornecidos pelos manguezais, de forma
harmnica e limitada (HUBER, 2004). No Brasil as reas de mangue foram utilizadas pelos indgenas
mesmo antes da chegada dos colonizadores portugueses, como atestam os depsitos conchferos. Os
sambaquis espalhados pelas reas costeiras do Brasil ilustram os recursos alimentares que os primitivos
habitantes do litoral encontraram para a sua subsistncia: ostras, mexilhes, siris, caranguejos, peixes,
alm de rpteis, mamferos e aves. (DIEGUES, 2001; ALVES E NISHIDA, 2003). Embora os manguezais sejam
de grande relevncia para comunidades litorneas o nvel de degradao desses ecossistemas
preocupante, estima-se que pelo menos 35% da rea de florestas de mangue no mundo foram destrudas e
em meados de 1991 estas perdas excederam s das florestas tropicais e dos recifes de corais (DIAS, 2006).
Atividades como agricultura, aqicultura, produo de sal e converso em reas urbanizadas so apontadas
como as principais causas de degradao dos manguezais (SCHAEFFER-NOVELLI, 1999; VANNUCCI, 1999).
Apesar das reas de mangues serem utilizadas para outras finalidades, os usos tradicionais prevalecem em
muitas comunidades litorneas que obtm sua subsistncia por meio da pescaria de manguezal (RONBACK,
1999; ALVES e NISHIDA, 2003; SOUTO, 2004; DIAS, 2006; ROCHA et al, 2008; CORTEZ, 2010) e diferente do
uso desordenado que a sociedade industrializada faz dos recursos naturais, muitas comunidades
tradicionais vm utilizando os recursos de forma mais racional, sem coloc-los em risco de esgotamento, o
que vem sendo chamado de etnoconservao (DIEGUES, 2000; SOUTO, 2004). Segundo Diegues (2001)
em certas regies do Nordeste do Brasil a relao de determinadas comunidades humanas litorneas com
o manguezal de verdadeira simbiose, o que faz com que nessas regies exista uma chamada civilizao
do mangue, que se trata, portanto, de um modo de vida em que as atividades econmicas, sociais e
culturais dependem fundamentalmente da existncia dos manguezais e dos ciclos biolgicos que a se
desenvolvem. Na civilizao do mangue existe um aprofundado conhecimento do ecossistema natural
onde a madeira somente retirada em certas fases da lua, onde folhas e sementes das rvores so usadas
como remdio, onde o caranguejo no retirado no seu perodo de reproduo (Ibdem). A rea protegida
estudada apresenta uma peculiaridade, pois sua criao foi um anseio da prpria populao e a devastao
de aproximadamente quatro hectares de manguezal, destinada atividade de carcinicultura, foi um dos
motivos que levaram a populao a lutar contra a ao predatria dos empresrios e solicitar s
autoridades o estabelecimento de uma rea legalmente protegida (DIAS, 2006). Nesse contexto, esse
Joo Pessoa, outubro de 2011

567
trabalho objetivou investigar a percepo ambiental das comunidades tradicionais da RDS Ponta do
Tubaro acerca do manguezal sob uma perspectiva biolgica, ecolgica e social. Para Tuan (1980) a
percepo ambiental pode ser definida como a resposta dos sentidos aos estmulos ambientais (percepo
sensorial) e a atividade mental resultante da relao com o ambiente (percepo cognitiva). Del Rio e
Oliveira (1996) define percepo ambiental como o processo mental mediante o qual, a partir do interesse
e da necessidade, estruturamos e organizamos nossa interface com a realidade e o mundo, selecionando as
informaes percebidas, armazenando-as e conferindo-lhes significado.
O incio da dcada de setenta pode ser considerado, em nvel internacional, o momento da
disseminao das pesquisas sobre a percepo ambiental, especialmente derivado da constituio do
grupo Man and Biosphere (MAB) na UNESCO. O projeto da UNESCO enfatizava o estudo da percepo do
meio ambiente como fundamental para a gesto de lugares e paisagens que tinham importncia para a
humanidade, e o objetivo do MAB era estudar as relaes entre as populaes e o meio ambiente em
diversas cidades em torno do mundo (MARIN, 2008). A relevncia do estudo da percepo ambiental se
evidencia num momento de crise das relaes do ser humano com o ambiente, na medida em que esse
conceito tem se mostrado til para compreender melhor as inter-relaes entre o homem e o meio
ambiente, suas expectativas, julgamentos e condutas (CAPRA, 1996; DEL RIO; OLIVEIRA, 1996). Whyte
(1977) apud Rempel et al(2008) ressalta que projetos de percepo ambiental contribuem para a utilizao
mais racional dos recursos naturais, possibilitam a participao da comunidade no desenvolvimento e
planejamento regional, o registro e preservao das percepes e dos sistemas de conhecimento do
ambiente, bem como proporcionam uma interao harmnica do conhecimento local com o conhecimento
cientfico, funcionando como um instrumento educativo e de transformao. Para Marin et al. (2006) a
percepo ambiental pode ser compreendida por meio dos fenmenos: a biofilia e a topofilia, sendo que o
primeiro significa a ligao do ser humano com as outras formas de vida e o segundo consiste na atrao
por componentes fsicos do ambiente, especialmente paisagsticos.
METODOLOGIA
rea de estudo
A RDS Estadual Ponta do Tubaro abrange os municpios de Guamar e Macau, ambos
pertencentes ao Estado do Rio Grande do Norte e esto delimitados pelas seguintes coordenadas: latitude
52 S e 516 S e de longitude 3623 W e 3632 W (DIAS e SALLES, 2006). A reserva abriga uma enorme
diversidade de ecossistemas (Figura 1) manguezais, caatinga, dunas e restinga, as quais servem de suporte
para uma populao culturalmente diversificada (NOBRE, 2005). A pesquisa foi realizada no municpio de
Macau, nas comunidades de Diogo Lopes, Sertozinho e Barreiras e as trs comunidades tm como
principal meio de subsistncia a atividade da pesca, a pesca estuarina a base da subsistncia dos
moradores da Reserva, envolve aproximadamente 1.000 famlias e nesta rea podem ser encontradas cinco
espcies de mangue: Rhizophora mangle, Avicennia schaueriana, Avicennia germinans, Laguncularia
racemosa e Conocarpus erectus (DIAS, 2006).
Procedimentos
A pesquisa contemplou apenas pessoas que trabalharam ou trabalham com atividade de
pesca, sendo assim, o nmero de participantes foi calculado com base no nmero de pescadores
cadastrados na colnia de pescadores e o tamanho da amostra com intervalo de confiana de 5% foi de 262
participantes (ALBUQUERQUE et al, 2010). A pesquisa ocorreu entre os meses de maio a outubro de 2010,
com visita mensal e permanncia de cinco dias durante a semana. Para coleta de informaes empregou-se
observao direta, turns-guiadas e aps estabelecimento de rapport (estabelecimento de relaes de
confiana) foram aplicadas entrevistas abertas e semi-estruturadas (ALBUQUERQUE et al, 2010).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

568

Fig.1: Mapa da Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Ponta do Tubaro com destaque para
ecossistemas naturais. Fonte: Nobre (2005).
RESULTADOS E DISCUSSO
Importncia do manguezal
A percepo local da importncia do manguezal suscitou um amplo nmero de respostas
(Figura 2) e as respostas em ordem de citao foram: alimentos para o homem, berrio natural, forragem
para animais, madeira, subsistncia, proteo da linha de costa, diversidade biolgica, medicamento e
tintura, beleza cnica, purifica o ar, fornece sombra, no sabe, nenhuma e diverso.
A categoria alimentos para homem foi a que recebeu o maior percentual de citaes,
comprovando a grande dependncia dos recursos provenientes desse ecossistema, esse mesmo benefcio
foi o de maior destaque para Carneiro et al (2008). A pescaria de manguezal para muitas famlias de baixa
renda no Brasil representa uma fonte de alimento emergencial e constituem em uma das principais fontes
de protenas de suas dietas (DIAS, 2006; MAGALHES, et al2007).
A categoria berrio natural recebeu um alto nmero de citaes, comprovando que os
entrevistados apresentam uma boa percepo da importncia do ecossistema do ponto de vista biolgico.
Kjerve e Lacerda (1993) afirmam que o ecossistema manguezal apresenta um importante papel na
manuteno da diversidade biolgica, pois servem como local de desova para diversas espcies de peixes e
crustceos. A proteo da linha de costa tambm foi bastante comentada, indicando que os entrevistados
apresentam um bom conhecimento das funes ecolgicas do ecossistema. Muitos trabalhos comprovam a
influncia dos manguezais na proteo contra ciclones, inundaes, eroso do solo e costeiros e at
tsunamis (WALTERS et al, 2008; WALTERS, 2008). A importncia do manguezal tambm foi atribuda para
forrageamento de animais, sendo os dados compatveis com Carneiro et al(2008). Na rea estudada as
folhas da Rizophora mangle so utilizadas para alimentao de caprinos, equinos e bovinos, vlido
ressaltar que, a grande aceitao das folhas de Rizophora entra em contraste com a Conocarpus erectus,
pois, a ingesto da folha dessa ltima resulta na morte do animal, de acordo com a opinio de alguns
entrevistados.

Joo Pessoa, outubro de 2011

569

0,9%
3,6%

no sabe

0,4%

nenhuma
proteo linha de costa

7,4%

9,4%

diversidade

4,9%

berrio
madeira
20,3%

22,8%

beleza cnica
purifica o ar
sombra
diverso

11,6%

12,8%
0,2%
1,6%

forragem
alimentos homem

2,7%
1,6%

subsistncia

remdio/tinta

Figura 2: Percepo local sobre a importncia do manguezal.


Assim como o trabalho de Albuquerque e Albuquerque (2005) constatou-se que, no geral,
os entrevistados apresentam um sentimento de topofilia com o manguezal. Esse sentimento no foi
observado por Silva (2005) em estudo realizado com indivduos que migraram para o manguezal, para este
autor a topofilia inexiste pelo fato dos migrantes desconhecerem a importncia do manguezal, para alguns
desses entrevistados constrangedor afirmar que depende ou utiliza os recursos dos manguezais. Na rea
estudada, contatou-se tambm que os entrevistados apresentam um sentimento de biofilia, ou seja, forte
ligao com elementos da fauna e da flora do manguezal. Neste estudo, a topofilia e biofilia advm da
tradio, do contato direto com a natureza e da forte dependncia dos recursos provenientes do
manguezal (TUAN, 1980).
Propriedades medicinais do mangue
Foram atribudas propriedades teraputicas de cicatrizao de cortes e ferimentos para a
espcie Rizophora mangle por 69% dos entrevistados. Constatou-se que o conhecimento da propriedade
medicinal do mangue transmitido entre diferentes geraes, no entanto, a forma de uso pode diferir,
conforme o relato: (45) bota o ch [casca triturada da R. mangle diluda em gua] em cima das feridas pra
sarar, meu pai bebi, mas eu nunca bebi (informao verbal).
O uso combinado com a espcie ameixa (Ximenia americana L.) tambm foi constatado:
(63) eu j tomei o ch da casca dele [R. mangle] misturada com a gua de ameixa e fiquei boa de um cisto
no ovrio (informao verbal). Outros relatos sugeriram que a ingesto da R. mangle deve ser ministrada
em pequenas quantidades e contra indicada para pessoas alrgicas. Nessa pesquisa as propriedades
medicinais foram restritas ao gnero Rizophora e o uso restringiu-se a cura de inflamaes, em contraste
com o trabalho de Bandaranayke (1999), no qual as propriedades teraputicas abrangeram diversos outros
gneros e foram atribudas diversas utilidades, como combate a febre, diarria, reumatismo, gonorria e
outras.
Fauna do manguezal
Esse questionamento visou obter uma percepo geral da fauna existente no manguezal,
sem fazer distino da fauna enquanto recurso (aquele que utilizado pela comunidade com alguma
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

570
finalidade til). Do total de entrevistados (n=262) apenas duas pessoas (0,4%) afirmaram desconhecer a
fauna do manguezal, para os que afirmaram conhecer foi solicitado trs animais mais representativos do
manguezal e as citaes (Figura 3) foram agrupados em sete categorias taxonmicas: mamferos, rpteis,
aves, crustceos, insetos, moluscos e peixes. Os animais que se destacaram em seus respectivos grupos
foram: guaxinim ou guaxela (Procyon cancrivorus), sagui ou soim (Callithrix jacchus); cobras (Colubridae e
Dipsadidae); aves da famlia Ardeidae representada pelas garas, tamatio e socs; caranguejo-u (Ucides
cordatus); maruins (Ceratapogonidae), mutucas (Tabanidae); bzio ou marisco (Anomalocardia brasiliana);
tainha (Mugil curema) cavalo-marinho (Hippocampus reidi). Os animais mais representativos para a
comunidade foram os vertebrados, a maior representatividade se deve provavelmente ao maior porte e
maior visibilidade dos animais, esses dados so compatveis com Torres et al(2009) e Silva e Freire (2010).
Na regio estudada, ocorre uma peculiaridade, pois a caatinga ocorre junto ao manguezal e alguns
entrevistados conseguem fazer uma distino da fauna entre os ecossistemas, conforme pode ser
observado no relato a seguir: (53) Existem animais que so do mangue mesmo como o guaxinim e tm
outros que so tanto da caatinga quanto do mangue como a cobra e o camaleo, o guaxinim no sei da
caatinga (informao verbal).
insetos
2,5%

moluscos
2,3%

peixes
1,9
%

crustceos
15,9%

mamferos
36,9%

aves
17%
rpteis
23,5%

Figura 3: Fauna do manguezal citada pelos entrevistados.


Percepo dos impactos ambientais do manguezal
A maioria dos entrevistados percebe o manguezal da regio como conservado, deste modo,
foi perguntado o que poderia prejudicar a conservao do manguezal ou o que est prejudicando. As
respostas obtidas (Figura 4) na ordem de citao foram: natureza, retirada da madeira inadequada, lixo,
viveiros de camaro, nada, retirada da madeira, esgotos, no sabe, leo dos barcos, petrleo, pesca de
rede e turismo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

571

no
sabe
4%

leo dos petrleo


barcos
2,7%
4,1%

turismo
0,3%

pesca
de
rede
1,7%

esgotos
4,8%
natureza
34,4%

retirada da
madeira
5,8%
nada
6,1%
viveiro camaro
6,8%

lixo
13,3%

retirada da
madeira
inadequada
16%

Figura 4: Percepo local dos impactos ambientais do manguezal


Para Dahdough-Guebas et al (2006) os principais agressores dos manguezais so atribudos
as causas naturais. Schaeffer-Novelli (1999) corrobora a idia afirmando que a integridade do ecossistema
manguezal afetada pelas perspectivas do aumento do nvel do mar, decorrente das mudanas climticas
globais. Com a anlise de contedo das entrevistas foi possvel fazer a distino das categorias retirada da
madeira e retirada da madeira inadequada, ou seja, para a primeira categoria o impacto ambiental ocorre
independentemente da forma como a madeira extrada, para a segunda o impacto decorrente do uso
inadequado, como a retirada em excesso, abrindo clareiras na floresta e cortes em determinadas partes da
rvore, como o tronco. As categorias nada e no sei tiveram uma acepo de contedo muito prxima,
pois o primeiro significou que no momento atual nada est prejudicando vlido ressaltar que apesar da
percepo local auxiliar no entendimento da dinmica do ecossistema, deve-se enderear esforos para
extrair comprovaes cientficas, antes que seja aplicado poltica e gesto de decises (BERKES et al,
2000; CARVALHO, 2002).
Consideraes finais
Os entrevistados da RDS Ponta do Tubaro apresentam um sentimento de topofilia com o
manguezal, apresentam um bom conhecimento de suas funes ecolgicas e reconhecem a importncia do
ecossistema sob diversos aspectos. As funes mais valorizadas do manguezal foram alimentos para
homem, berrio natural e forragem para animais. A espcie Rizophora mangle foi a mais importante para
as comunidades a qual se atribuiu mltiplos utilitarismos, incluindo propriedade medicinal para cura de
cortes e feridas. A fauna mais citada pela populao corresponde ao grupo dos mamferos e rpteis. A
percepo da dinmica do ecossistema apresentou carter naturalista e imediatista, no entanto, foi
considerada boa, indicando que o conhecimento local poder contribuir com a pesquisa cientifica.
Referncias
ALBUQUERQUE, U. P; LUCENA, R. F. P; CUNHA, L. V. F. C. Seleo dos participantes da pesquisa. In:
ALBUQUERQUE, U. P. et al.(Org). Mtodos e tcnicas na pesquisa etnobiolgica e etnoecolgica. Recife: Ed.
NUPPEA, 2010. p. 23-37.
ALBUQUERQUE, C.A; ALBUQUERQUE, U. P. Local perceptions towards biological conservation in the
community of vila velha, Pernambuco, Brazil. Interciencia. Caracas. vol. 30, n 8, p. 460-465, 2005.
ALVES, R. R. N.; NISHIDA, A. K. Aspectos socioeconmicos e percepo ambiental dos catadores de
caranguejo-u Ucides cordatus cordatus (L. 1763) (Decapoda, Brachyura) do Esturio do Rio Mamanguape,
Nordeste do Brasil. Interciencia. [S.l.], v. 28, p. 36-43. 2003.
BANDARANAYAKE, W. M. Traditional and medicinal uses of mangroves. Mangroves and Salt
Marshes vol. 2. 133148 p, 1998.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

572
BARDIN, L. Anlise de Contedo. 3. ed. Lisboa: Edies 70, 1977. 223 p.
BERKES, F; COLDING, J.; FOLKE, C. Rediscovery of Tradicional Ecological as adaptative management.
Ecological applications vol. 10, 1251-1262 p, 2000.
CAPRA, F. A Teia da Vida: uma nova compreenso cientfica dos sistemas vivos. So Paulo: Editora
Cultrix, 1996. 256 p.
CARNEIRO, M. A. B.; FARRAPEIRA, C. M. R.; SILVA, K. M. E. O manguezal na viso etnoecolgica dos
pescadores artesanais do Canal de Santa Cruz, Itapissuma, Pernambuco, Brasil. Biotemas 21. 147-155 p,
2008.
CARVALHO; A. R. Conhecimento ecolgico no varjo do alto rio Paran: alteraes antropognicas
expressas na linguagem dos pescadores. Acta Scientacrium. Maring, v. 24, n. 2, p. 581-589, 2002.
CORTEZ, C. S. Conhecimento ecolgico local, tcnicas de pesca e uso dos recursos pesqueiros em
comunidades da rea de proteo ambiental Barra do rio Mamanguape, Paraba, Brasil. 2010. 91 f.
Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade Federal da Paraba, Joo
Pessoa. 2010.
DAHDOUGH-GUEBAS, F; et al. Analysing ethnobotanical and fishery-related importance of
mangroves of the East-Godavari Delta (Andhra Pradesh, India) for conservation and management proposes.
J. Ethnobio. Ethnomed. 2: p. 1-22, 2006.
DEL RIO, Vicente; OLIVEIRA, Lvia (orgs). Percepo Ambiental. So Paulo, So Carlos: Studio Nobel,
Editora da UFSCa, 1996.
DIAS, T. L. P. Os peixes, a pesca e os pescadores da Reserva de Desenvolvimento Sustentvel Ponta
do Tubaro (Macau-Guamar/RN) Brasil. 2006. 167 f. Tese (Doutorado em Zoologia)- Programa de ps
graduao em cincias biolgicas, Centro de Cincias Exatas da Natureza, Universidade Federal da Paraba,
Paraba, Joo Pessoa, 2006.
DIAS, T. L. P ; SALLES, R. Diagnstico da pesca artesanal e proposta de plano de ordenamento da
pesca na reserva de desenvolvimento sustentvel Ponta do Tubaro (Macau Guamar/RN): relatrio
tcnico IDEMA. [S.l]:[S.n], ago. 2006. 106 p.
DIEGUES, A. C. A Etnoconservao da Natureza: enfoques alternativos. In: ______.
Etnoconservao: novos rumos para a conservao da natureza. NUPAUB- USP, So Paulo: HUCITEC, 2000.
p.1-46.
DIEGUES, A. C. As populaes humanas em reas naturais protegidas da Mata Atlntica. In: ______.
Ecologia Humana e Planejamento Costeiro. So Paulo: NUPAUB, 2001. p.169-184.
HUBER, M. V. Estudo comparativo de trs projetos de restaurao de reas degradadas de
manguezais da grande Florianpolis, SC. 2004. 255 f. Dissertao (Mestrado em Engenharia Ambiental)Ps graduao em engenharia ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis. 2004.
MAGALHES A. et al. The role of women in the mangrove crab (Ucides cordatus, Ocypodidae)
production process in North Brazil (Amazon region, Par ). Ecological Economics 61, 559565 p, 2007.
MARIN, A. A.; OLIVEIRA, T. H.; COMAR, V. A Educao ambiental num contexto de complexidade no
campo terico da percepo. Interciencia, [S.l.], v. 28, n. 10, p. 616-619, 2006
MARIN, A. A. Pesquisa em educao ambiental e percepo ambiental. Pesquisa em educao
ambiental, Rio Claro, vol. 3, n. 1, p. 203-222, 2008.
NOBRE, I. M. Revelando os modos de vida de ponta do tubaro. 2005. 260 f. Tese (Doutorado em
Cincias Sociais)- Programa de Ps-Graduao em Cincias Sociais, Centro de Cincias Humanas, Letras e
Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2005.
REMPEL, C et al. Percepo Ambiental da Comunidade Escolar Municipal sobre a Floresta Nacional
de Canela, RS. Revista Brasileira de Biocincias. v. 6, n. 2, p. 141-147, 2008.
ROCHA, P S. M. et al. O uso dos recursos pesqueiros no esturio do rio mamanguape, Estado da
Paraba. Interciencia, Caracas, v. 33, p. 903-909, 2008.
RNNBACK, P. The ecological basis for economic value of seafood production supported by
mangrove ecosystems. Ecological Economics, v. 29, p. 235-252, 1999.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Grupo de ecossistemas: manguezal, marisma e apicum. In: Workshop para
avaliao e aes prioritrias para a conservao da biodiversidade das zonas costeira e marinha: Relatrio
tcnico, 1999, 119 pp.
Joo Pessoa, outubro de 2011

573
SILVA, S. D. M. Percepo sobre o meio ambiente por parte de migrantes no manguezal do
municpio de Palhoa- SC. 2005. 131 f. Dissertao (Mestrado em agroecossistemas).Programa de psgraduao em agroecossistemas Centro de cincias agrrias, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianpolis, 2005.
SILVA, T. S; FREIRE, E. M. X. Perception and use of fauna resources in communities surrounding a
conservation unit in northeast Brazil. Acta Sci. Biol. Sci. vol. 32, 365-371p, 2010.
SOUTO, F. J. B. A Cincia que veio da lama: uma abordagem etnoecolgica das relaes ser
humano/ manguezal na comunidade pesqueira de Acupe, Santo Amaro. 2004. 319 p. Tese (Doutorado em
Ecologia e Recursos Naturais)- Universidade Federal de So Carlos, So Carlos, 2004.
TUAN, Y. Topofilia: Um Estudo da Percepo, Atitudes e valores do Meio Ambiente. So Paulo:
Editora Difel, 1980. 288 p.
TORRES, D. F. et al. Etnobotnica e Etnozoologia em unidades de conservao: uso da
biodiversidade na APA de Genipabu, Rio Grande do Norte, Brasil. Interciencia, vol. 34: 623-629 p, 2009.
VANNUCCI, M. Os Manguezais e Ns: Uma sntese de Percepes. So Paulo: Editora Universidade
de So Paulo, 1999. 233p.
WALTERS, B. B. Mangrove forests and human security. CAB Reviews: perspectives in agriculture,
veterinary science, nutrition and nature resources 3, no 64, 2008. Disponvel em:
http://www.cababstractsplus.org/cabreviews.
WALTERS, B. B. et al. Ethnobiology, socio-economics and management of mangrove forests: a
review. Aquatic Botany. v. 89, 220-236 p., 2008.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

574

TECENDO UMA HISTRIA DA EDUCAO AMBIENTAL EM UNIDADES DE


CONSERVAO DO MARANHO
1

Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta


2
Ana Carolina Fiquene Lima da Silva
2
Vanda Maria Paixo
1
Professora do Departamento de Qumica e Biologia, Universidade Estadual do Maranho (UEMA); coordenadora do Grupo
de Pesquisa em Educao Ambiental em Unidades de Conservao no Maranho (GPEAMA). Campus Paulo VI, Tirirical, So
Lus-MA, 65000-000, Brasil. E-mail: raimundafortes@yahoo.com.br;
2
Especializao em Educao Ambiental; Grupo de Pesquisa em Educao Ambiental em Unidades de Conservao no
Maranho (GPEAMA)

RESUMO
Neste trabalho objetivamos relatar a experincia do Grupo de Pesquisa em Educao Ambiental em
Unidades de Conservao do Maranho (GPEAMA). O eixo norteador desse relato envolve os aspectos de
origem do grupo, motivao, linhas de pesquisa e caminhos metodolgicos utilizados. Os resultados das
pesquisas e atividades extensionistas desenvolvidas pelo GPEAMA nas reas protegidas tm sido
divulgados em livros, cartilhas educativas, stios na internet, palestras e seminrios. Entre as principais
publicaes destacam-se dois livros intitulados Educao Ambiental na zona costeira e rea de Proteo
Ambiental do Maracan: subsdios ao manejo e Educao Ambiental. Os trabalhos de EA divulgados
nessas publicaes buscam sensibilizar a sociedade para os processos participativos de ao consciente e
integrada, fortalecendo o sentido de responsabilidade cidad para com cada tipo de Unidade de
Conservao analisada.
1 INTRODUO
O processo educativo ambiental voltado para o tema Unidade de Conservao tem sido objeto de
ateno dos projetos realizados por rgos governamentais e no-governamentais e apresenta carter
obrigatrio na Lei 9.985 (BRASIL, 2010). As aes de Educao Ambiental direcionadas para essas reas
legalmente protegidas devem fornecer subsdios para a modificao da ao dos indivduos e dos grupos
sociais, visando superao das relaes de dominao e de excluso, mas aliadas s aes
conservacionistas (CARVALHO-NETA, 2011).
Atuar nesse processo educativo um desafio para as instituies de ensino e pesquisa. Isso porque,
segundo Carvalho (2006), se espera que a Educao Ambiental seja um instrumento capaz de desenvolver
um processo crtico-transformador capaz de questionar a realidade econmica, poltica e cultural,
auxiliando o homem em sua complexa coexistncia com o meio ambiente. Assim, de acordo com esse
pesquisador uma das principais proposies indicadas pela Educao Ambiental a de clarificar o estreito
nexo existente entre informao, cidadania e meio ambiente.
Atingir essa proposio da Educao Ambiental nas Unidades de Conservao exige uma conjuno
de esforos nas reas de ensino, pesquisa e extenso. Nesse contexto, a formao de grupos de pesquisa
vinculados temtica imprescindvel para analisar a dinmica que existe entre Educao Ambiental e
reas protegidas legalmente, visando formar uma nova mentalidade capaz de auxiliar na constituio de
novos hbitos e atitudes ecologicamente saudveis dentro e fora da academia.
Foi com esse foco de interesse que nasceu o Grupo de Pesquisa em Educao Ambiental em
Unidades de Conservao do Maranho (GPEAMA) da Universidade Estadual do Maranho. A formao
desse grupo de pesquisa concretizou um desejo da comunidade acadmica maranhense de promover a
integrao de profissionais de nvel superior que atuam em EA e estudantes de graduao e ps-graduao
de instituies de ensino superior, para debater, interpretar, agir e avaliar os fenmenos da EA no Estado.
No presente trabalho visamos relatar a experincia de ensino, pesquisa e extenso realizada pelo
GPEAMA nas reas legalmente protegidas. O eixo norteador desse relato envolve os aspectos de origem do
grupo, motivao, linhas de pesquisa e caminhos metodolgicos utilizados pelos pesquisadores na busca de
auxiliar a sociedade a compreender que a dinmica das reas protegidas envolvem o conjunto de aspectos
ambientais, culturais, sociais e culturais e que esses aspectos so interdependentes e esto em constante
interao.

Joo Pessoa, outubro de 2011

575
2 O GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAO AMBIENTAL EM UNIDADES DE CONSERVAO DO
MARANHO
2.1 origem e motivao
O GPEAMA foi criado em abril de 2009 dentro da estrutura oficial do Departamento de Qumica e
Biologia da Universidade Estadual do Maranho (UEMA) e, desde ento, vem desenvolvendo projetos de
pesquisa e extenso na rea de Educao Ambiental aplicveis ao contexto das reas protegidas
maranhenses.
Os pesquisadores do grupo pertencem a diferentes cursos de graduao (Cincias Biolgicas,
Engenharia de Pesca, Pedagogia, Geografia) e ps-graduao (Educao Ambiental, Cincias) da UEMA, da
Universidade Federal do Maranho (graduao em Cincias Biolgicas e em Geografia, mestrado em
Educao), do Centro Universitrio do Maranho (graduao em Cincias Biolgicas) e vrias outras
instituies de ensino pblicas e particulares.
Entre os objetivos do grupo destacam-se: realizar pesquisas em educao ambiental nas unidades
de conservao do Maranho, bem como no seu entorno, zona de amortecimento e corredores ecolgicos,
com vistas produo de trabalhos cientficos destinados publicao em revistas e meios de divulgao
similares; diagnosticar a situao atual das unidades de conservao de uso sustentvel no estado do
Maranho; conhecer o histrico dos grupos formais ou no formais que realizam atividades de EA nas
unidades de conservao no Estado; analisar os planos de manejo existentes nas unidades de conservao
do Estado; trabalhar em conjunto com rgos ambientais no sentido de implementar as atividades de EA
previstas nos planos de manejo existentes nas unidades de conservao; implantar e reativar trilhas
ecolgicas interpretativas; congregar profissionais de nvel superior que atuam em EA e acadmicos de
graduao e ps-graduao de instituies de ensino superior para apresentao de seminrios, trabalhos
cientficos, troca de experincias e debates sobre Educao Ambiental em unidades de conservao.
2.2 Linhas de pesquisas e caminhos metodolgicos
O GPEAMA cadastrado no diretrio de Grupos de Pesquisas do CNPq e certificado pela UEMA,
atuando em duas linhas de pesquisa principais: 1) Educao Ambiental formal; 2) Educao Ambiental no
formal.
Nessas linhas de pesquisas so desenvolvidos trabalhos com enfoques de EA voltados para a
conservao da biodiversidade; levantamento de recursos naturais; valorizao cultural dos povos e
comunidades e conhecimentos tradicionais; sade ambiental e qualidade de vida; gesto ambiental
participativa; queimadas, incndios florestais e espcies ameaadas de extino; espcies exticas e/ou
invasoras; ecoturismo; riscos e conflitos socioambientais; plantas nativas e medicinais; manejo sustentvel;
Unidade de Proteo Integral (Estao Ecolgica, Reserva Biolgica, Parque Nacional, Monumento Natural
e Refgio de Vida Silvestre); Unidade de Uso Sustentvel (rea de Proteo Ambiental, rea de Relevante
Interesse Ecolgico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento
Sustentvel e Reserva Particular do Patrimnio Natural).
No desenvolvimento de pesquisas e trabalhos de extenso encaminhados pelo GPEAMA, destacamse os seguintes procedimentos e mecanismos:
realizao de debates, cursos, seminrios e demais eventos cientficos, por iniciativa prpria ou em
parceria com outras instituies, empresas e associaes, nos campi da UEMA, ou em quaisquer reas do
territrio maranhense, visando qualificao e continuidade dos debates e reflexes terico-metodolgicas
acerca das temticas prprias da Educao Ambiental;
promoo de intercmbio do conhecimento cientfico no nvel estadual, nacional e internacional
produzido no mbito do GPEAMA a partir de atividades de ensino, pesquisa e extenso;
articulao e estabelecimento de vnculos de pesquisa no mbito da UEMA e com outras
instituies de ensino, pesquisa e extenso;
programao e realizao de cursos e outros eventos de mesma natureza no nvel acadmico e
comunitrio.
Em todos os trabalhos desenvolvidos pelo Grupo busca-se aliar a teoria prtica da Educao
Ambiental. Os trabalhos de EA formal e no formal nas Unidades de Conservao so avaliados
continuamente e redimensionados com a participao dos grupos envolvidos. Alm disso, os resultados
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

576
desses trabalhos so publicados no formato de coletneas, a fim de socializar o conhecimento produzido
com toda a sociedade maranhense.
3 EDUCAO AMBIENTAL EM REAS PROTEGIDAS
As reas protegidas brasileiras so importantes espaos pedaggicos onde se concretizam prticas
e experincias metodolgicas diversas na rea de Educao Ambiental. De acordo com Rocco (2002) essas
reas constituem-se em objeto direto de ateno dos projetos realizados por rgos governamentais das
trs esferas de poder, sendo que a ao educativa e participativa em seus espaos privilegiados de gesto
passou a ter destaque e carter obrigatrio na Lei 9.985 de 18/07/2000, que define o Sistema Nacional de
Unidades de Conservao (BRASIL, 2010).
Nesse sentido, o GPEAMA tem buscado apontar caminhos metodolgicos para o trabalho com
Educao Ambiental nas reas protegidas do estado do Maranho com enfoque na participao e na
gesto de conflitos dos atores envolvidos com os usos diretos ou indiretos dos recursos naturais.
Os resultados das pesquisas e atividades extensionistas desenvolvidas pelo GPEAMA nas reas
protegidas tm sido divulgados em livros, cartilhas educativas, stios na internet, palestras e seminrios.
Entre as principais publicaes destacam-se dois livros intitulados Educao Ambiental na zona costeira e
rea de Proteo Ambiental do Maracan: subsdios ao manejo e Educao Ambiental.
3.1 Educao Ambiental na zona costeira
O livro Educao Ambiental na Zona Costeira apresenta um ponto de partida para aes
educativas e de manejo na zona costeira maranhense. Apesar de seu reconhecido papel histrico e
estratgico e de suas reconhecidas biodiversidade e complexidade ecolgica, a zona costeira continua a nos
desafiar com inmeros questionamentos cientficos e educativos. Buscar respostas para tais
questionamentos, sob mltiplos olhares, foi o objetivo dos pesquisadores do GPEAMA.
Nesse percurso investigativo, porm, o maior desafio encontrado foi o modo de abordar o tema
zona costeira, j que muitos profissionais ainda tm uma compreenso de ambiente muito limitada aos
aspectos naturais. Felizmente, no mbito da Educao Ambiental, esta viso vem sendo substituda por
uma percepo integradora que inclui os aspectos culturais e naturais. Desse modo, os nossos
pesquisadores buscaram uma postura crtica que pudesse inserir, na esfera das discusses e do
planejamento da zona costeira, uma preocupao social adequada dimenso ambiental.
A coletnea dos trabalhos foi publicada pela Cmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) do Rio de
Janeiro e composta de onze captulos, cujos ttulos e autores esto listados a seguir.
Educao ambiental na zona costeira: desafios e perspectivas Raimunda Nonata Fortes Carvalho
Neta;
Educao Ambiental: uma ferramenta utilizada na avaliao ambiental do manguezal e praia do
Araagy, Ilha de So Lus, Maranho (Brasil) Janana Gomes Dantas, Hilberto Silva Cutrim, Lauro
Guimares Castro, Emanoelle Lyra Jardim, Siliane Lima Coelho;
Diagnstico socioambiental em dois ecossistemas da zona costeira maranhense, So Lus-MA
Eliane Braga Ribeiro, Terezinha Ribeiro Ferreira, Flvia Roberta de Melo Dias, Levi Ribeiro Sampaio;
Impactos ambientais diagnosticados nos ecossistemas costeiros maranhenses, com nfase na praia
e manguezal do Araagy, So Lus-MA (Brasil) Maria Antonia Mendes, Djalma dos Santos Pinheiro Junior,
Ana Carolina Fiquene Lima da Silva, Avanne Costa Dominici, Rejania Maria Torres Carvalho;
Uma proposio de educao cidad na praia do Araagy-Maranho - Klenya Rosa Rocha Braga,
Viviane Diniz Mximo, Araclia Moreira Leite;
Aspectos naturais e antrpicos da praia do Araagy: a educao ambiental como meio de promover
a cidadania da populao pesqueira - Carlos Alberto Alves Bezerra Jnior, Claudiane Pinheiro Santos,
Flaviane Bessa Lordo, Jair Aldo Monteiro Cardoso;
Degradao ambiental da zona costeira de So Lus-Maranho: um estudo de caso da praia do
Araagy autores: Luciana da Silva Bastos, Lorena Santos Gonalves, Thais Eline Ribeiro Almeida, Hadryan
Lima Rodrigues, Janane Lira Vieira, Janete Andrade Fonseca, Conceio de Maria Pacheco Pinto;
Monitoramento de caranguejos do gnero Uca (chama-mars) no manguezal do Araagy, So Lus,
Maranho, Brasil Vanda Maria Paixo, Raimunda N. Fortes Carvalho Neta, Eliane Braga Ribeiro, Ticianne
de S. de Oliveira Mota Andrade, Ana Carolina Fiquene Lima da Silva;
Joo Pessoa, outubro de 2011

577
Estabilidade ecolgica de Uca rapax (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) em manguezais do
Maranho e a necessidade de educao ambiental nas unidades de conservao Ticianne de S. de Oliveira
Mota Andrade, Vanda Maria Paixo, Eliane Braga Ribeiro, Ana Carolina Fiquene Lima da Silva, Raimunda N.
Fortes Carvalho Neta;
Estrutura populacional de Uca maracoani (Crustacea, Decapoda, Ocypodidae) no manguezal do
Araagy, Maranho Ana Carolina Fiquene Lima da Silva, Terciano Alvite, Eliane Braga Ribeiro, Ticianne de
S. de Oliveira Mota Andrade, Vanda Maria Paixo, Adriand Sousa, Raimunda N. Fortes Carvaho Neta;
Pesca artesanal na comunidade de Timbuba, Ilha de So Lus-Maranho Arkley Marques Bandeira,
Glucia Barbosa e Silva, Mrcio Rodrigo da Silva Pereira.
Os autores continuam a pesquisar na rea e esperam que essa coletnea sirva ao conhecimento e
sensibilizao sobre a importncia e os problemas ambientais da zona costeira maranhense. Nosso desejo
maior est voltado para a formao de parcerias com os atores que se beneficiam direta ou indiretamente
dessa regio (em associao com o poder pblico, pesquisadores, educadores e sociedade como um todo)
a fim de contribuirmos efetivamente com o manejo responsvel e com a conservao dos recursos
marinhos e estuarinos do Maranho.
3.2 rea de Proteo Ambiental do Maracan: subsdios ao manejo e Educao Ambiental
O livro intitulado rea de Proteo Ambiental do Maracan: subsdios ao manejo e Educao
Ambiental rene conhecimento cientfico produzido pelos pesquisadores do GPEAMA sobre os vrios
aspectos geoambientais (clima, geomorfologia, recursos hdricos, fauna, flora) e socioculturais
(socioeconomia e tradio cultural) da rea de Proteo Ambiental (APA) do Maracan, que uma Unidade
de Conservao de Uso Sustentvel criada h 20 anos pelo governo do Estado do Maranho.
A APA do Maracan foi criada pelo Decreto Estadual nmero 12.103 de 1991 e possui uma rea de
1.831 hectares. Alm de ser uma Unidade de Conservao de Uso Sustentvel que objetiva disciplinar as
atividades humanas de forma a proporcionar o uso sustentvel dos recursos naturais e a qualidade
ambiental para as comunidades locais, por meio de planos de manejo e zoneamento - a referida APA
funciona como uma continuidade e suporte a outra rea legalmente protegida que o Parque Estadual do
Bacanga.
A regio possui diversos fragmentos de vegetao que ainda apresentam remanescentes da flora
nativa da Ilha do Maranho (ou Ilha de So Lus), mantendo diversas espcies da fauna que outrora se
distribuam por toda a regio da Ilha hoje urbanizada (FARIAS-FILHO, 2010). Todavia, mesmo sendo uma
rea legalmente protegida, vrias atividades desenvolvidas na APA do Maracan - como bem exemplificam
a extrao madeireira, a minerao, a captura e matana de animais, a realizao de queimadas e a criao
extensiva de bfalos - contrariam os vrios pressupostos de conservao estabelecidos para uma rea
legalmente protegida. Alm disso, a referida APA no tem implementado seu Plano de Manejo.
O GPEAMA vem trabalhando com a idia de que a discusso mais ampla de um Plano de Manejo
para a APA do Maracan s pode ocorrer com a disponibilizao de informaes significativas sobre as
caractersticas geoambientais e socioculturais locais, bem como sobre os diversos problemas ambientais
atualmente vivenciados na APA. Por outro lado, as aes educativas que devem ser desenvolvidas e/ou
esto sendo encaminhadas por diversos profissionais para a conservao dos recursos naturais na regio
devem ser divulgadas, a fim de subsidiar a tomada de deciso dos gestores ambientais.
O livro foi publicado pela Editora Caf&Lpis (So Lus), com recurso da Fundao de Amparo
Pesquisa e ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Maranho (FAPEMA) que financiou
integralmente a edio atravs de recurso do Edital 009/2009 Programa de Apoio Publicao (APUB).
composta de onze captulos, cujos ttulos e autores constam a seguir.
Caracterizao geoambiental da rea de Proteo Ambiental da Regio do Maracan, So Lus-MA Marcelino Silva Farias Filho;
Fauna edfica em trs condies de uso do solo rea de Proteo Ambiental do Maracan, So
Lus-MA - Sheilla Silva e Serpa; Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta;
Fauna de vertebrados da rea de Proteo Ambiental do Maracan, So Lus-MA - Raimunda
Nonata Fortes Carvalho Neta; Marcelino Silva Farias Filho;

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

578
As queimadas na APA do Maracan na viso dos moradores e visitantes das trilhas ecolgicas Janana Gomes Dantas; Hilberto Silva Cutrim; Emanoelle Lyra Jardim; Maria Antonia Costa Mendes;
Marcelino Silva Farias Filho; Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta;
Atividade mineradora de laterita e perda da qualidade ambiental da APA do Maracan, So Lus-MA
- Leonel Ramos Rocha; Andr Luis Soares Rodrigues; Marcelino Silva Farias Filho;
Trilhas ecolgicas da APA do Maracan So Lus/MA: aes educativas que favorecem o exerccio
da cidadania - Thas Eline Ribeiro Almeida; Hadryan Lima Rodrigues; Janaine Lira Vieira; Lorena Santos
Gonalves;
Instrumento didtico para educao ambiental com comunidade tradicional na APA do Maracan,
So Lus/MA - Luciana da Silva Bastos; Thas Eline Ribeiro Almeida; Lorena Santos Gonalves; Raimunda
Nonata Fortes Carvalho Neta;
Educao Ambiental em uma escola pblica do entorno da APA do Maracan, So Lus/MA - Vanda
Maria Paixo; Eliane Braga Ribeiro; Ana Carolina Fiquene Lima da Silva; Ticianne de Sousa de Oliveira Mota
Andrade; Marcelino Silva Farias; Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta;
Percepo ambiental de alunos do entorno de reas protegidas: subsdio a aes educativas na APA
do Maracan, So Lus/MA - Ana Carolina Fiquene Lima da Silva; Eliane Braga Ribeiro; Vanda Maria Paixo;
Ticianne de Sousa de Oliveira Mota Andrade; Marcelino Silva Farias Filho; Raimunda Nonata Fortes
Carvalho Neta;
Planejamento e gesto participativa em reas protegidas: indicaes para a APA do Maracan, So
Lus-MA - Francisca Maria Farias Duarte; Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta;
Educao Ambiental em Unidades de Conservao: possibilidades metodolgicas para a regio do
Maracan, So Lus-MA - Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta.
Os autores esperam que a coletnea de trabalhos promova uma discusso aprofundada com a
sociedade maranhense sobre o conjunto dos aspectos ambientais, sociais, culturais e educativos que esto
em constante interao na APA do Maracan e seu entorno, subsidiando o planejamento e implementao
do Plano de Manejo na regio.
4 PERSPECTIVAS FUTURAS
Os projetos de EA para as reas protegidas do Estado do Maranho devem estabelecer processos
participativos de ao consciente e integrada, fortalecendo o sentido de responsabilidade cidad para com
cada tipo de Unidade de Conservao. De acordo com Loureiro (2004) necessrio pensar em uma
Educao Ambiental voltada para a gesto participativa e o exerccio da cidadania, capaz de levar os
sujeitos a se recolocarem no ambiente e a se ressignificarem como natureza.
As perspectivas de trabalhos do GPEAMA esto voltadas para o auxlio gesto integrada das
Unidades de Conservao do Maranho. Segundo Guapyass (2003) esse tipo de trabalho envolve as
negociaes e os entendimentos que devem ser feitos com todos os atores sociais, incluindo,
principalmente, os grupos sociais em situao de maior vulnerabilidade ambiental.
Nesse sentido, o GPEAMA considera como sendo de fundamental importncia, a consolidao de
programas que articulem a educao formal com a no formal e a informal, num processo educativo
permanente. E esse o nosso caminho metodolgico que est em processo!
REFERNCIAS
BRASIL. Lei N 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituio Federal, institui o SNUC e d outras providncias. Disponvel em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010.
CARVALHO, V. S. de. Educao Ambiental & desenvolvimento comunitrio. Rio de Janeiro: Walk
editora, 2006.
CARVALHO-NETA, R. N. F. Educao Ambiental em Unidades de Conservao de Uso Sustentvel no
Estado do Maranho. Revista do IHGM, 32, p. 22-32, 2011.
FARIAS-FILHO, M. S. Caracterizao geoambiental da rea de Proteo Ambiental da Regio do
Maracan, So Lus-Ma. In: CARVALHO NETA, R.N.F. (org). APA do Maracan: Subsdios ao manejo e
educao ambiental. So Luis-Ma: Caf &lpis/FAPEMA, 2010. p.9-30.
Joo Pessoa, outubro de 2011

579
GUAPYASS, S. M. dos S. (Editora). Gerenciamento de reas de proteo no Brasil. Curitiba:
Fundao O Boticrio de Proteo Natureza, 2003.
LOUREIRO, C. F. B. Educao ambiental e gesto participativa na explicitao e resoluo de
conflitos. Gesto em Ao, v.7, n.1, p.37-50, jan./abr. 2004.
ROCCO, R. Legislao brasileira do meio ambiente. Rio de Janeiro, DP&A, 2002.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

580

O USO DO PERFIL DOS VISITANTES DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO


CIP/MG COMO FERRAMENTA PARA AES DE EDUCAO AMBIENTAL
EM UNIDADES DE CONSERVAO.
Renata Ferreira CAMPOS
Biloga. Especialista em Ecoturismo. Mestranda em Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitrio UNA
Renata001@gmail.com
Llian Arajo Grossi FLIX
Pedagoga. Especialista em psicopedagogia. Mestranda em Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitrio UNA
liliangrossi@gmail.com
Fernanda Carla Wasner VASCONCELOS
Doutora em Cincias. Professora do curso de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente do Cent ro Universitrio UNA.
fernanda.wasner@prof.una.br

RESUMO
O objetivo deste trabalho foi conhecer o perfil dos visitantes do Parque Nacional da Serra do Cip
de forma a contribuir para o planejamento do ecoturismo e de aes de educao ambiental neste destino.
O Parque Nacional da Serra do Cip se situa no distrito de mesmo nome, pertencente ao municpio de
Santana do Riacho, distante cerca de 100 km de Belo Horizonte/MG. Foram analisados 53 questionrios,
aplicados nos dias 18 e 19 de setembro de 2010. Verificou-se que o perfil dos visitantes encaixa-se dentro
do comumente proposto na literatura para ecoturistas. Predominam visitantes jovens, com renda elevada,
alto nvel de escolaridade, provenientes de Belo Horizonte e de sua Regio Metropolitana. A maioria dos
entrevistados reconhece os objetivos principais de um Parque, bem como a importncia de um centro de
visitantes e demonstra disposio a seguir regras de conservao da natureza e a participar de atividades
de educao ambiental. Apesar de no possurem um conceito formulado de ecoturismo, mais da metade
dos visitantes se considera ecoturista. Recomenda-se assim, a utilizao dos princpios do ecoturismo e,
conseqentemente, da educao ambiental, nas aes desenvolvidas pelo Parque Nacional da Serra do
Cip, em seu uso pblico. Dessa forma, acredita-se que o turismo possa ser verdadeiramente econmico,
social, cultural e ecologicamente sustentvel, alm de fonte de conservao ambiental.
PALAVRAS CHAVE: ecoturismo, sustentabilidade, reas protegidas.
INTRODUO
Com o crescente interesse do homem pela natureza devido a uma maior conscientizao para as
questes ambientais, a uma busca nostlgica de vivncia no meio natural e conseqente mudana dos
valores culturais, uma das atividades mais procuradas no ramo do lazer tem sido o ecoturismo (CAMPOS,
2010). O aparecimento do ecoturismo e o seu acelerado crescimento tm suas razes na insatisfao gerada
pelo turismo convencional, ou turismo de massa.
O ecoturismo surge, ento, como um segmento do turismo, uma a modalidade cujas bases esto
fincadas nas propostas do desenvolvimento sustentvel: comprometimento com as geraes futuras,
justia social e eficincia econmica; considerando o ambiente nas suas mltiplas conexes natural,
econmica, social e cultural (FARIA; CARNEIRO, 2001).
Portanto, o ecoturismo no deve ser visto apenas como um turismo tradicional realizado em reas
naturais. O ecoturismo uma atividade que depende da conservao do ambiente onde praticado, e
deve estar ligado prtica da educao ambiental (EA) e das tcnicas conservacionistas como uma forma
de minimizao dos impactos gerados. Dever, tambm, atender s necessidades bsicas da populao
local, assegurar a manuteno da diversidade cultural e das tradies da comunidade, alm de garantir a
participao da mesma nas tomadas de deciso (BENI, 2007).
O atual crescimento das atividades de ecoturismo no Brasil tem proporcionado o incremento da
visitao s reas protegidas, principalmente aos Parques Nacionais (includos os Parques Estaduais e
Municipais).
Niefer (2002) acredita que a visita a reas naturais protegidas uma tima oportunidade de se
influenciar o processo de aprendizado dos turistas que procuram as unidades de conservao (UC). Uma
vez que essas reas oferecem experincias nicas para a (re) aproximao das pessoas aos ambientes
naturais, aliando conhecimento, reflexes, desafios, afetividade, curiosidade, imaginao e noo de
Joo Pessoa, outubro de 2011

581
pertencimento. Fatores estes, que facilitam o cumprimento dos objetivos da educao ambiental e da
conservao da natureza (VASCONCELLOS, 2006).
Nesse sentido, Dias (2003) afirma que a educao ambiental um processo permanente no qual os
indivduos tomam conscincia do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades e
experincias capazes de os tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais, presentes e futuros.
Assim, a educao ambiental uma ferramenta existente para sensibilizao aos problemas ambientais e
de capacitao da populao para a busca da sustentabilidade.
A lei 9.795/99 que institui a Poltica Nacional de Educao Ambiental, em seu artigo 1, define
Educao Ambiental (EA) como sendo:
(...) os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidade, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de
uso comem do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Alm disso, a referida lei acrescenta, no artigo 2, que a educao ambiental deve estar presente,
de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em carter formal e noformal (BRASIL, 1999). Logo, a EA no deve limitar-se aos bancos escolares em um sistema formal de
ensino.
Portanto, acredita-se que a prtica da educao ambiental seja o grande diferencial do ecoturismo
em relao a outras formas de turismo. Pois, sem um efetivo trabalho de educao e interpretao
ambiental, o ecoturismo apenas reafirma as prticas do turismo convencional, uma vez que os visitantes
simplesmente passam pelos lugares e pessoas, meramente como lazer, fuga, vlvula de escape vida da
cidade (HINTZE, 2009).
Assim, para se planejar o ecoturismo em reas protegidas, preciso, alm de conhecer o perfil do
turista que visita a rea, investigar sua percepo, motivaes, expectativas, atitudes, valores e condutas.
Conseqentemente, a caracterizao dos turistas que visitam o Parque Nacional da Serra do Cip, assim
como a relao que estabelecem com o local, uma forma importante de orientao para as aes de
planejamento e manejo do turismo na regio. Uma vez que tais atividades, se bem conduzidas, podem ser
sinnimo de preservao, conservao e revitalizao de ambientes naturais e culturais (CAMPOS, 2010).
Assim, o presente trabalho tem como objetivo geral reunir informaes capazes de contribuir com
o planejamento futuro do Parque Nacional da Serra do Cip, para atividades e potenciais aes de manejo,
de forma a conciliar as necessidades educacionais e recreativas com a conservao dos recursos naturais.
MATERIAL E MTODOS
Este estudo foi desenvolvido no Parque Nacional (PARNA) da Serra do Cip, localizado a cerca de
100 km ao norte de Belo Horizonte/MG. O Parque apresenta uma rea total de 31.733 hectares e 120 km
de permetro, estendendo-se pelos municpios de Jaboticatubas, Santana do Riacho, Morro do Pilar e
Itamb do Mato Dentro (ICMBio, 2009).
As localizaes do PARNA Serra do Cip e da APA Morro da Pedreira so mostradas na Figura 1.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

582

FIGURA 1 Localizao do Parque Nacional da Serra do Cip.


Fonte: ICMBio, 2009.
Foi elaborado um questionrio contendo 25 questes adaptadas dos estudos de Niefer (2002) e
Campos (2010).
O tipo de amostra utilizada foi a no probabilstica por convenincia (ou acidental), onde o
elemento pesquisado selecionado por estar disponvel no local e no momento em que a pesquisa estava
sendo realizada (MATTAR, 1997). Foram aplicados um total 53 questionrios, nos dias 18 e 19 de setembro
de 2010. Os questionrios foram respondidos pelos prprios visitantes, na Portaria do Parque Nacional da
Serra do Cip, aps retornarem do passeio, e os dados devidamente tabulados e analisados.
RESULTADOS
A maior parte dos visitantes (86%) originria de Belo Horizonte e Regio Metropolitana. O fcil
acesso regio e a curta distncia entre Belo Horizonte e a Serra do Cip favorecem a busca por esse
destino, principalmente, aos finais de semana. Os outros visitantes so do interior de Minas Gerais (10%) e,
somente, 4% de outros Estados.
Com relao ao gnero, no h diferena significativa, visto que foram entrevistados 51% de
mulheres e 49% de homens. No quesito idade, foram homogneas as faixas etrias entre 19 e 24 anos e
entre 35 e 45 anos, que representam 25% e 23 % do total de visitantes, respectivamente. No entanto, a
maior parte dos visitantes (31%) tem entre 25 e 34 anos. O que caracteriza um perfil de turistas jovens e
adultos, que se enquadra no perfil de ecoturistas estudados por Ruschmann (2002).
O nvel de escolaridade observado foi considerado elevado, uma vez que a grande maioria (83%)
possui ensino superior ou o est cursando. Sendo que destes, 23% possuem algum curso de ps-graduao.
De acordo com os estudos de Barros e Dines (2000), os ecoturistas apresentam um bom nvel de
escolaridade e so, normalmente, mais receptivos e conscientes das necessidades de conservao
ambiental e das atratividades ecotursticas. Portanto, se orientados, podem apresentar alto grau de
comprometimento para a conservao destes locais, favorecendo, ainda, a implantao de projetos de
educao ambiental.
Em relao renda individual, o resultado foi bastante equilibrado. A maioria dos entrevistados
(30%) afirmou ganhar entre R$2.000,00 e R$4.000,00 mensais, e ainda 35% disseram possuir uma renda
Joo Pessoa, outubro de 2011

583
individual superior a R$4.000.00. Fato comprovado por Ruschmann (2002) que cita que os ecoturistas
brasileiros possuem renda mdia superior a R$3.000,00 mensais.
A chamada propaganda boca a boca foi o principal meio pela qual os entrevistados tomaram
conhecimento sobre a Serra do Cip. 80% dos visitantes ouviram falar sobre o destino atravs de amigos e
parentes. Fato que observado tambm em outros roteiros de ecoturismo, como o Parque Estadual do
Ibitipoca (LADEIRA et al., 2007), o Parque Estadual da Ilha Anchieta (KATAOKA, 2004) e as Ilhas do Mel e do
Superagi (NIEFER, 2002).
Kataoka (2004) acredita que a propaganda informal aumenta a importncia de se entender as
expectativas que os visitantes tm sobre a rea visitada, pois, geralmente, aqueles visitantes que gostam da
experincia e saem satisfeitos, acabam recomendando o local para outras pessoas e tambm levam amigos
e parentes para o conhecerem, ou voltam para relembrar e ter uma nova experincia.
Em relao ao nmero de visitas que os entrevistados j fizeram Serra do Cip, a maioria (40%)
estava realizando sua primeira visita. No entanto, uma parcela tambm significativa dos entrevistados
(34%) costuma visitar o destino mais de trs vezes ao ano. E os 26% restantes, vo de 1 a 3 vezes por ano
Serra do Cip.
A freqncia com que as pessoas voltam a um mesmo destino pode se transformar em um timo
fator de conservao do ambiente. Quando as pessoas assumem um ambiente como seu, quando sentem
que fazem parte daquele ambiente, dificilmente vo querer agredi-lo, porque sabem que estaro
agredindo a si mesmas.
Os estudos de Kinker (2002) indicam ainda que quanto mais alta a freqncia de viagens a reas
naturais para o lazer, maior o grau de conscientizao ambiental do viajante. Procurou-se assim, saber
quantas viagens natureza os entrevistados haviam realizado no ltimo ano. Quase a metade (42%) disse
ter feito menos de trs viagens. 24% viajaram entre quatro e seis vezes s reas naturais no ltimo ano,
12% entre sete e dez vezes e 10% fizeram mais de 10 viagens. E ainda, 12% dos entrevistados no haviam
realizado nenhuma viagem no ltimo ano.
Kinker (2002) assegura que a maneira como uma pessoa desfruta o seu passeio na natureza, est
relacionada com a freqncia com que faz estes passeios. De acordo com a autora, a insegurana inicial
nesse ambiente, natural do indivduo que mora em centros urbanos, vai sendo substituda pela sensao de
bem-estar a cada visita e, gradativamente, a curiosidade e o interesse pela natureza visitada geram um
empenho maior do visitante em se informar sobre eles.
Questionados se gostariam de obter mais informaes sobre o Parque Nacional da Serra do Cip,
98% dos entrevistados demonstraram ter interesse e apenas 2% no. Tal resultado pode demonstrar uma
carncia de informaes disponveis, o que indica que o Parque tem se dedicado pouco orientao do
visitante, inclusive no que se refere aos usos e restries.
Por outro lado, Dutra et al. (2008) acreditam que o interesse dos visitantes por maiores
informaes pode resultar na criao de atrativos culturais, como por exemplo, museus, galerias, casa da
cultura, entre outros. Esses atrativos possibilitam a divulgao da cultura e da natureza da regio, alm de
representar um instrumento de conscientizao e educao dos turistas, repercutindo, assim, na
conservao dos atrativos locais.
Quanto s formas de se obter maiores informaes sobre o local, a grande maioria dos
entrevistados (72%) disse preferir receber as informaes atravs da internet (Figura 2). Atualmente, a
internet um grande veculo de divulgao de destinos e de obteno de informaes por parte dos
turistas. Dessa forma, importante que os gestores pblicos estejam atentos a essa nova ferramenta para
que possam utiliz-la adequadamente na divulgao do Parque, visando atender aos objetivos especficos
do mesmo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

584

2%
4%
2%

4%

16%

Mapas/folhetos
Internet
Guias/condutores
Palestras
Tv/rdio/jornal
Centro de visitantes

72%

FIGURA 2 Formas de obter informaes do Parque.


Apesar de apenas 4% dos visitantes terem escolhido o centro de visitantes como um instrumento
para obteno de maiores informaes a respeito do Parque (figura 2), a imensa maioria dos respondentes
(94%) considera que um centro de visitantes seja muito importante para o Parque. Sendo que os 6%
restantes, vem pouca importncia no mesmo.
Segundo MMA (1998), um centro de visitantes um espao de apoio a uma variedade de
programas e atividades que so desenvolvidos em uma unidade de conservao. E tm por objetivo
propiciar a aproximao dos visitantes com a natureza, permitindo que estes interiorizem o significado das
reas protegidas, sua importncia em termos de preservao, manejo e aproveitamento indireto dos
recursos naturais e culturais.
Portanto, o principal compromisso com a implementao de um centro de visitantes o de
despertar interesse no visitante e possibilitar que o seu contato com a natureza ou com os atributos
culturais da Unidade torne-se uma experincia nica e somente sua (MMA, 1998, p.8).
O Parque Nacional da Serra do Cip ainda no possui um centro de visitantes, mas o projeto para
sua construo consta do plano de manejo da unidade, que est em fase de finalizao.
Dessa maneira, perguntou-se aos visitantes, quais informaes eles gostariam que o centro de
visitantes do Parque possusse. O resultado foi bastante equilibrado, como pode ser visto na figura 3.
Informaes gerais sobre a Serra do Cip e sobre meio ambiente e biodiversidade foram as mais citadas,
com 28% e 23% de preferncia, respectivamente.
importante ressaltar, tambm, o interesse dos visitantes em participar de atividades de educao
ambiental, que aparece em terceiro lugar, com 17% da preferncia.
A educao ambiental uma das ferramentas fundamentais para a sensibilizao e capacitao dos
visitantes a respeito dos problemas socioambientais e de estratgias de conservao. Com ela, busca-se
desenvolver tcnicas e mtodos que facilitem o processo de tomada de conscincia sobre a gravidade dos
problemas ambientais e a necessidade urgente de se debruar seriamente sobre eles (MARCATTO, 2002).

16%

1%

23%

15%

17%

28%

Informaes sobre meio


ambiente e biodiversidade
Informaes gerais sobre a
regio da Serra do Cip
Atividades de educao
ambiental
Informaes especficas do
Parque
Histria da Serra do Cip e
do Parque
Outros

FIGURA 3 Tpicos a serem abordados em um centro de visitantes


Joo Pessoa, outubro de 2011

585
Fortunato e Fortunato Neto (2010) lembram bem que a educao ambiental aqui referida no
aquela promovida pela mdia, que ensina a separar o lixo de acordo com a cor da lixeira. Nem as aes
escolares que incentivam o plantio de rvores apenas na semana do meio ambiente. Os autores
consideram que essas prticas, ainda que importantes, assemelha-se s prticas de adestramento e, na
ausncia do prmio, o comportamento extingue-se. Portanto, necessrio procurar formas alternativas de
abordagem. Como por exemplo, o Aprendizado Seqencial, mtodo estruturado em fluxos de
aprendizado, criado por Joseph Cornell e difundido pela Sharing Nature Foundation (BUENO, 2010).
O mtodo traz em sua proposta metodolgica a realizao de dinmicas e jogos, organizados e
direcionados perante uma seqncia de quatro estgios (despertar do entusiasmo; concentrar a ateno;
dirigir a experincia e compartilhar a inspirao) desenvolvidos com o intuito de criar um fluxo de energia,
que vai de um estado de maior agitao para um estado de maior concentrao da ateno e
envolvimento. Estes estgios fluem de um para o outro de maneira suave e natural, configurando assim,
um processo educativo, onde o indivduo passa pelos diferentes estgios e alcana as estruturas mentais
proporcionadas pelas experincias diretas e profundas com a natureza (CORNELL, 1997 apud BUENO,
2010).
Para Hintze (2009), a produo do conhecimento, na educao ambiental, acontece atravs da troca,
da cooperao, e no por meio de relaes professorais de imposio, pois no se faz educao dentro da
cabea de ningum, se faz educao no contexto histrico, no contexto cultural. por isso tambm que ela
no pode ser neutra; no h, nunca houve, nem vai haver neutralidade educacional (OVALLES; VIEZZER,
1995, p.14 apud HINTZE, 2009, p.72).

A soluo, ento, est na educao para uma vida sustentvel. Dias (2003) acredita que a educao
ambiental deve contemplar todos os aspectos do ambiente abrangendo as questes polticas, sociais,
econmicas, cientficas, tecnolgicas, culturais, ecolgicas e ticas. De acordo com UNESCO (2005), deve-se
pensar e agir de forma diferente para que o processo de sustentabilidade tanto do homem, quanto do
planeta, tenha incio. Para que isto ocorra, a mudana dever ser dar de maneira ascendente, ou seja,
deve-se primeiramente transformar o indivduo, em seguida, a comunidade; posteriormente, os sistemas e
instituies sociais; e, por ltimo, o meio ambiente.
desta maneira, que segundo Moreira (2008), o indivduo transforma-se no principal agente de
mudana, sem o qual, os outros lugares sociais e o prprio meio ambiente no podero ser alterados para a
eficcia da sustentabilidade. Isso possibilita que a educao ambiental contribua, de maneira significativa,
para a reavaliao de valores e de posturas que influenciam nos padres de comportamento dos visitantes
em ambientes naturais, sensibilizando-os e ensinando-os a viver parcimoniosamente com a natureza
(FORTUNATO; FORTUNATO NETO, 2010). Assim sendo, a educao constitui o pilar central das estratgias
para promover e aprofundar os valores e comportamentos que o desenvolvimento sustentvel demanda
(UNESCO, 2005).
Enquanto ainda no existe um centro de visitantes para suprir as necessidades dos turistas, no
PARNA Serra do Cip, necessrio que se crie outras propostas de educao ambiental, como a
implantao de trilhas interpretativas. Oliveira et al. (1999 apud ROCHA et al., 2010) consideram que as
trilhas interpretativas, que utilizam a prpria paisagem como recursos didticos, so alternativas para
trabalhos educativos em campo a partir da anlise de seus recursos e da interpretao de suas belezas. Se
adequadamente planejadas, funcionam como grandes laboratrios para a reformulao da questo do
individualismo nos processos coletivos, promovendo mudanas de valores, princpio bsico da educao
ambiental (MENDONA; NEIMAN, 2005).
Nesse sentido, Aguiar et al. (2010) acreditam ainda que:
Quando bem elaboradas, as trilhas conseguem promover o contato mais estreito entre o ser
humano e a natureza, possibilitando conhecimento das espcies animais e vegetais, da histria local, da
geologia, da pedologia, dos processos biolgicos, das relaes ecolgicas, ao meio ambiente e sua proteo,
constituindo instrumento pedaggico extremamente importante (AGUIAR et al., 2010, p.504).

Por fim, foi destinado um espao no final do questionrio para que os entrevistados pudessem
fazer comentrio e/ou sugesto. No entanto, apenas 21% o fizeram. Com exceo de alguns poucos elogios
referentes beleza natural do Parque e algumas manifestaes de satisfao com a visita. A maioria dos

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

586
comentrios foram crticas infra-estrutura do Parque bem como sugestes para melhoria da qualidade da
visita. Destacam-se:
- Implantar lixeiras ao longo das trilhas, implantar lanchonete, hoje o bebedouro no estava
funcionando direito
- Loja de convenincia
- Oferecer ao pblico externo o conforto mnimo para maior satisfao
- Melhorar a estrutura para recepo e apoio ao turista
- Posto de gasolina, caixa eletrnico
- Permisso para percorrer a trilha de carro devido s enormes distncias para as cachoeiras
- S existe um chuveiro quente no vestirio

Alguns comentrios demonstram a falta de afinidade e mesmo o despreparo de alguns


entrevistados em suas relaes com a natureza. Isso reflete na vontade dos visitantes de inserir alguns
elementos da urbanidade no ambiente natural, sem considerar os impactos negativos que isso possa
causar. O que enfatiza o fato de alguns dos visitantes no se sentirem vontade nesse tipo de ambiente,
como demonstrado nos comentrios.
Para Gontijo (2003, p.183), o problema que no queremos abrir mo de nossos confortos, no
queremos nos afastar dos mitos da sociedade moderna do mito do possibilismo tecnolgico, do mito do
possibilismo monetrio, do mito recente da globalizao. Nesse sentido, Neiman (2007) acredita que se
no houver processos de percepo e interpretao ambiental individuais, capazes de modificar essa
realidade, a viagem resume-se apenas a uma bela coleo de fotos.
As sugestes deixadas pelos entrevistados indicam que h uma real necessidade de aes educativas
para formar e informar os visitantes. Barros (2003) acredita que alguns comportamentos inadequados
possam ser modificados atravs de programas voltados para a educao dos visitantes. No entanto, estes
programas precisam ir alm de simplesmente ensinar o que os visitantes devem fazer, eles devem objetivar
mudar o modo como as pessoas pensam e avaliam o seu comportamento. Mais do que conscientizar (campo
da razo) preciso sensibilizar (universo restrito das emoes) (NEIMAN, 2007, p. 132).

Mas, para Sandeville Jnior e Suguimoto (2010), o grande desafio consiste em conseguir
transformar essa sensibilizao em educao e, consequentemente, em aes afetivas e efetivas.
Distribuir panfletos ou qualquer outro material informativo aos turistas no Educao Ambiental,
apenas informao, por vezes discutvel. Contratar um guia local com falas decoradas tambm no
Educao Ambiental, superficialidade (SANDEVILLE JNIOR; SUGUIMOTO, 2010, p.56).
Torna-se evidente ento, que esse modelo de educao ambiental no tem surtido o efeito
necessrio. Bueno (2010) afirma que grande parte do que se realiza enquanto educao ambiental, em
Unidades de Conservao, no consegue atingir o ponto de sensibilizao, uma vez que as atividades so
desenvolvidas do ponto de vista meramente contemplativo ou puramente informativo. O autor tambm
enfatiza que so necessrias formas especficas de educao ambiental, capazes de promover a
sensibilizao e a reflexo nos visitantes, como etapas de um processo de transformao crtica.
O contato com a natureza um grande estmulo sensibilizao sobre o ambiente e sua
conservao, todos consentem. Neste sentido, Neiman (2007) acrescenta que, se esse contato com a
natureza for proporcionado de maneira adequada, estimulando todos os sentidos, como por exemplo,
sentir o cheiro da mata, olhar os animais, ouvir os barulhos, h uma melhora de sentimentos positivos em
relao ao que deve ser conservado. Afinal no apenas atravs do sentimento tico de obrigao que se
pode trabalhar o gosto pela natureza e pela conservao (NEIMAN, 2007, p.18).
Dessa forma, a educao ambiental atravs do ecoturismo no pode ser uma atividade isolada de
todas as outras, ela deve ser complemento, constituir um meio de conscientizao ambiental, deve ser uma
possibilidade e um exerccio de interpretao e valorizao dos lugares (SANDEVILLE JNIOR; SUGUIMOTO,
2010).
Portanto, a utilizao de reas naturais deve estar inserida em uma preocupao no incremento da
conscientizao ambiental, de forma a proporcionar ao visitante o envolvimento com as questes
ecolgicas, sociais, econmicas e culturais do destino. Eis o papel da educao ambiental no ecoturismo, ou
ainda, do ecoturismo na educao ambiental.
CONSIDERAES FINAIS
Joo Pessoa, outubro de 2011

587
Destaca-se neste estudo, a importncia de se conhecer o perfil e a percepo dos turistas que
visitam unidades de conservao de forma a propiciar uma maior integrao destes aspectos no
planejamento do uso pblico e, conseqentemente, garantir uma experincia rica e agradvel aos
visitantes sem causar impactos significativos aos recursos naturais e culturais da rea. Portanto,
necessrio o desenvolvimento de um programa de monitoramento constante deste perfil bem como da
opinio do visitante.
A fim de minimizar os impactos causados pelo turismo, tanto para a comunidade quanto para o
Parque, e garantir um melhor aproveitamento da visita pelos turistas, recomenda-se a adoo das prticas
de educao ambiental. Uma vez que esta constitui uma das principais ferramentas existentes para a
sensibilizao e capacitao dos visitantes a respeito daquele ambiente natural em suas potencialidades e
fragilidades. Por conseguinte, destaca-se a importncia da utilizao dos princpios do ecoturismo na regio
receptora da atividade. Dessa forma, talvez seja possvel que o turismo venha a ser verdadeiramente
econmica, social, cultural e ecologicamente sustentvel, alm de fonte de conservao ambiental.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
AGUIAR, P.W.; PADUA, S.M.; GOMES, M.A.O.; UEZU, A. Subsdios para o planejamento de trilha no
Parque Estadual da Serra Furada (SC). Revista Brasileira de Ecoturismo, So Paulo, v.3, n.3. p. 498-527,
2010. Disponvel em: <http://www.sbecotur.org.br/rbecotur/artigos/artigo40.pdf>. Acesso em: 30 mar.
2011.
BARROS, M.I.A.; DINES, M. Mnimo impacto em reas naturais: uma mudana de atitude. In:
SERRANO, C. (Org.). A educao pelas pedras: ecoturismo e educao ambiental. So Paulo: Chronos, 2000.
p.47-84.
BARROS. M. I. A. de. Caracterizao da visitao, dos visitantes e avaliao dos impactos ecolgicos
e recreativos do planalto do Parque Nacional do Itatiaia. 2003. 121 f. Dissertao (Mestrado em Recursos
Florestais). Universidade de So Paulo, Piracicaba, 2003.
BENI, M. C. Anlise estrutural do turismo. 12 ed. So Paulo: SENAC, 2007. 556 p.
BRASIL. Lei n. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica
Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil,
Braslia, DF, 27 abr. 1999. Disponvel em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso
em: 25 fev. 2011.
BUENO, F. P. Vivncias com a natureza: uma proposta de Educao Ambiental para o uso pblico
em Unidades de Conservao. Revista Brasileira de Ecoturismo. v.3, n.1, p.61-78. 2010. Disponvel em:
<http://www.sbecotur.org.br/rbecotur/artigos/artigo19.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2011.
CAMPOS, R. F. Perfil, Percepo Ambiental e Qualidade da Experincia dos Visitantes da Serra do
Cip/MG. 2010. 108 f. Monografia (Especializao em Ecoturismo) Universidade Federal de Lavras,
Lavras, 2010.
DIAS, G.F. Educao Ambiental: princpios e prticas. So Paulo: Gaia, 2003. 551p.
DUTRA, V. C.; et al. Caracterizao do perfil e da qualidade da experincia dos visitantes no Parque
Estadual do Jalapo, Tocantins. Caderno Virtual de Turismo. v.8, n.1, p. 104-117. 2008. Disponvel em
<http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/ojs/viewissue.php?id=27>. Acesso em: 16 fev. 2011.
FARIA, D. S. de; CARNEIRO, K. S. Sustentabilidade ecolgica no turismo. Braslia: UnB, 2001. 95p.
FORTUNATO, I.; FORTUNATO NETO, J. A poltica nacional de educao ambiental e a
sustentabilidade ambiental. Educao ambiental em ao. n 32. jun/ago 2010. Disponvel em:
<www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=861&class=02>. Acesso em: 15 mar. 2011.
GONTIJO, B.M. Iluso do ecoturismo na Serra do Cip/MG: caso de Lapinha. 2003. 192 f. Tese
(Doutorado em Desenvolvimento Sustentvel, rea de concentrao em Poltica e Gesto Ambiental) Centro de Desenvolvimento Sustentvel da Universidade de Braslia, Braslia, 2003.
HINTZE, H. C. Ecoturismo na cultura de consumo: possibilidade de educao ambiental ou
espetculo? Revista Brasileira de Ecoturismo, So Paulo, v.2, n.1, p.57-100, 2009. Disponvel em:
<http://www.physis.org.br/rbecotur/>. Acesso em: 19 mar. 2011.
INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAO DA BIODIVERSIDADE ICMBio. Plano de Manejo do
Parque Nacional da Serra do Cip. Braslia, 2009. 404 p.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

588
KATAOKA, S. Y. Indicadores da qualidade da experincia do visitante no Parque Estadual da Ilha
Anchieta. 2004.113 f. Dissertao (Mestrado em Recursos Florestais, com opo em Conservao de
Ecossistemas Florestais) Universidade de So Paulo, Piracicaba, 2004.
KINKER, S. Ecoturismo e Conservao da Natureza em Parques Nacionais. Campinas, SP: Papirus,
2002. 224 p.
LADEIRA, A. S. O perfil dos visitantes do Parque Estadual do Ibitipoca (PEIb), Lima Duarte, MG.
Revista
rvore,
Viosa-MG,
v.31,
n.6,
p.1091-1098,
2007.
Disponvel
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010067622007000600014&lng=pt&nrm=iso&tln
g=pt>. Acesso em: 16 mar. 2011.
MARCATTO, C. Educao Ambiental: conceitos e princpios. Belo Horizonte: FEAM, 2002.64 p.
MATTAR, F.N. Pesquisa de Marketing: metodologia, planejamento, execuo, anlise. 4 ed. So
Paulo: Atlas, 1997. 336 p.
MENDONA, R.; NEIMAN, Z. Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole, 2005, p 17- 39.
MMA MINISTRIO DO MEIO AMBIENTE. Guia para montagem de centro de visitantes em
Unidades de Conservao. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renovveis. 1998. 90 p.
MOREIRA, L.A.L. A (in)sustentabilidade do discurso da educao para o desenvolvimento
sustentvel do Banco Mundial. ETD Educao Temtica Digital, Campinas, v.9, n.2, p.20-30. jun. 2008.
NEIMAN, Z. A Educao Ambiental atravs do contato dirigido com a natureza. 2007. 234 f. Tese
(Doutorado em Psicologia) Universidade de So Paulo, 2007.
NIEFER, I.A. Anlise do perfil dos visitantes das ilhas de Superagi e do Mel: marketing como
instrumento para um turismo sustentvel. 2002. 237f. Tese (Doutorado em Engenharia Florestal)
Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2002.
ROCHA, F. et al. Trilha ecolgica como instrumento de Educao Ambiental: estudo de caso e
proposta de adequao no Parque Estadual Xixov-Japu (SP). Revista Brasileira de Ecoturismo, So Paulo,
v.3,
n.3,
p.
478-497.
set.
2010.
Disponvel
em:
<http://www.sbecotur.org.br/rbecotur/artigos/artigo39.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2011.
RUSCHMANN, D. van de M. Turismo no Brasil: anlise e tendncias. Barueri, SP: Manole, 2002.
165p.
SANDEVILLE JNIOR, E.; SUGUIMOTO, F.T. Ecoturismo e (Des)Educao Ambiental. Revista
Brasileira de Ecoturismo, So Paulo, v.3, n.1, p.47-60. jan. 2010. Disponvel em:
<http://www.sbecotur.org.br/rbecotur/artigos/artigo18.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2011.
UNESCO. Dcada da Educao das Naes Unidas para um Desenvolvimento Sustentvel,20052014: documento final do esquema internacional de implementao. Braslia: UNESCO, 2005.120p.
Disponvel em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001399/139937por.pdf>. Acesso em 30 mar.
2011.
VASCONCELLOS, J. M. de O. Educao e Interpretao Ambiental em Unidades de Conservao.
Cadernos de Conservao, ano 3, n 4. Curitiba: O Boticrio. 2006. 86p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

589

CONFLITO, PLANEJAMENTO E GESTO EM REAS DE PROTEO


AMBIENTAL: UM OLHAR A PARTIR DAS PERCEPES DOS CONSELHEIROS
DAS APAS CABREVA, CAJAMAR E JUNDIA SP
Ricardo Silveira ORLANDO
Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Unesp/Campus de Araraquara
ricardopre@uol.com.br

RESUMO
As reas de Proteo Ambiental (APAs) so Unidades de Conservao de Uso Sustentvel
institudas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC). A incorporao da figura jurdica das
APAs na legislao brasileira rompeu com uma tradio de unidades de conservao muito restritivas no
pas como os Parques Nacionais, criados a partir da dcada de 1930. Diferente de outras categorias de
reas protegidas, as APAs preconizam o respeito aos cdigos constitucionais que regem o exerccio do
direito da propriedade, desde que eles sejam condizentes com os princpios da conservao ambiental.
Para que uma APA cumpra adequadamente sua funo social e ambiental, fundamental a existncia e o
funcionamento de um conselho gestor. Essas arenas so presididas por rgos ambientais (municipais,
estaduais ou federais) responsveis pela administrao da APA e compostas por representantes de
entidades pblicas, de organizaes da sociedade civil e da populao residente. Com base nas ideias
expostas, o presente artigo tem como objetivo analisar as percepes dos conselheiros das APAs Cabreva,
Cajamar e Jundia sobre os limites e possibilidades de seu colegiado na resoluo de potenciais conflitos
para o planejamento e a gesto participativa do territrio.
Palavras-Chaves: Unidade de Conservao; Planejamento Ambiental; Conflitos Ambientais;
Conselhos Gestores
1. CARACTERIZAO DAS REAS DE PROTEO AMBIENTAL
No Brasil, as reas de Proteo Ambiental (APAs) foram institudas por meio da Lei no 6.902
de 27/04/1981, antes mesmo da aprovao da Poltica Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Esta lei definiu
os conceitos de Estaes Ecolgicas e reas de Proteo Ambiental (APAs). Outra definio de APA foi dada
pela Resoluo no10, de 14/12/1988, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que a
especificou como [...] unidades de conservao destinadas a proteger e conservar a qualidade ambiental e
os sistemas naturais existentes, visando melhoria da qualidade de vida das populaes locais e tambm
objetivando a proteo dos ecossistemas regionais.
A definio mais objetiva e atual do que vem a ser uma APA ocorreu com a aprovao da lei
no 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao, definindo-a
como [...] uma rea em geral extensa, com um certo grau de ocupao humana, dotada de atributos
abiticos, biticos e estticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bemestar das populaes humanas, e tem como objetivos bsicos proteger a diversidade biolgica, disciplinar o
processo de ocupao e assegurar a sustentabilidade dos recursos naturais.
A nova redao dada pelo SNUC s APAs manteve os mecanismos previstos em legislaes
anteriores: possibilidade de existirem em terras pblicas ou privadas; estabelecimento de normas e
restries para atividades em propriedades privadas (respeitando-se os limites constitucionais),
possibilidade de realizao de pesquisas cientficas e visitao pblica nas reas sob domnio pblico. A
novidade a constituio obrigatria de um conselho gestor presidido pelo rgo responsvel por sua
administrao e formado por representantes dos rgos pblicos, de organizaes da sociedade civil
(ONGs, universidades, sindicatos de trabalhadores rurais e urbanos, iniciativa privada, consrcios
intermunicipais de bacias hidrogrficas) e da populao residente.
2. AS REAS DE PROTEO AMBIENTAL CABREVA, CAJAMAR E JUNDIA
As reas de Proteo Ambiental Cabreva, Cajamar e Jundia (APAs CCJ) so trs unidades de
conservao de uso sustentvel contguas e criadas por leis estaduais em 1984. A criao destas unidades
teve como pretenso proteger a diversidade biolgica e os recursos hdricos do macio montanhoso
composto pelas serras do Japi, Guaxatuba, Guaxinduva e dos Cristais.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

590
Do ponto de vista geofsico, essas serras constituram-se barreiras aos ventos que sopram do
Atlntico em direo ao planalto paulista possibilitando significativa precipitao pluviomtrica. Por conta
desse fato, formaram centenas de crregos e riachos que vertem das encostas acidentadas das serras,
produzindo, conforme denominao de AbSber, um castelo de guas til ao abastecimento pblico.
Nas APAs CCJ, so encontrados um dos ltimos fragmentos de florestas do Estado de So Paulo.
Esse tipo de vegetao, com sua rica biodiversidade, compem o ecossistema da Mata Atlntica. Muitas
das espcies so endmicas, ou seja, so encontradas apenas na regio.
As trs APAs esto localizadas entre nove municpios do interior de So Paulo, bem prximas s
Regies Metropolitanas de Campinas e de So Paulo. uma extensa rea formada pelos municpios de
Cabreva, Cajamar e Jundia e trechos dos territrios de Jarinu, Campo Limpo Paulista, Itupeva (bacia
hidrogrfica do rio Jundia-Mirim e ribeiro Caxambu), Indaiatuba, Itu e Salto (bacia hidrogrfica do ribeiro
Pira).

Figura 1: APAs Cabreva, Cajamar e Jundia


Fonte: www.ambiente.sp.gov.br

Joo Pessoa, outubro de 2011

591
O Japi considerado o mais importante atributo natural das APAs, sendo um dos ltimos pontos de
encontro entre a Mata Atlntica e as Matas de Planalto ainda conservadas no Estado. Serve como um
cinturo verde entre duas regies metropolitanas bastante industrializadas.
A regulamentao das APAs CCJ foi feita por um nico decreto estadual, estabelecendo um
gerenciamento participativo e integrado que seria realizado por apenas um conselho gestor97. O conselho
tem como funo aglutinar diferentes agentes socioeconmicos para a gesto e o planejamento
participativos das referidas unidades de conservao.
3. A CONFIGURAO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS NOS PERMETROS DAS APAs CCJ
Do ponto de vista sociolgico, um conflito se instaura quando duas ou mais partes, em suas
relaes de sociabilidade, apresentam profunda falta de entendimento acerca de determinado tema.
Apesar das diferentes expectativas e significados, os objetos do ambiente, as prticas sociais desenvolvidas
nos territrios e os seus sentidos e usos atribudos ao meio interagem e conectam-se materialmente e
socialmente, seja atravs das guas, do solo ou da atmosfera (Acselrad, 2004a). Por ser uma rea
relativamente extensa e composta por reas urbanas e rurais de nove municpios, o territrio das APAs CCJ
98
naturalmente palco de potenciais conflitos ambientais .
Para ACSELRAD (2004a: 26), os conflitos ambientais so:
[...] aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de apropriao, uso e significao
do territrio, tendo a origem quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais de
apropriao do meio que se desenvolvem ameaada por impactos indesejveis transmitidos pelo solo,
gua, ar ou sistemas vivos decorrentes do exerccio das prticas de outros grupos. O conflito pode derivar
da disputa por apropriao de uma mesma base de recursos ou de bases distintas interconectadas por
interaes ecossistmicas mediadas pela atmosfera, pelo solo, pelas guas etc. Este conflito tem por arena
unidades territoriais compartilhadas por um grupo de atividades cujo acordo simblico rompido em
funo da denncia dos efeitos indesejveis da atividade de um dos agentes sobre condies materiais do
exerccio das praticas de outros agentes.

Diante das belezas paisagsticas da regio, diversos usos foram dados serra do Japi: condomnios
voltados aos segmentos das classes mdias e altas, chcaras e stios de veraneio ou recreao, pousadas e
clnicas de repouso, atividades de turismo rural, desenvolvimento de rede hoteleira, dentre outros.
Como todo conflito ambiental, as tenses no interior das APAs surgem diante das diferentes
expectativas criadas pelos agentes sociais e econmicos que intervm no espao regional. De um modelo
geral, podemos afirmar que atividades como minerao, uso indevido e comprometimento dos mananciais,
poluio e escassez de gua, loteamento e expanso imobiliria, desmatamento e queimadas, expanso
urbana desordenada, disposio final do lixo e crescimento da atividade industrial so os aspectos que mais
geram controvrsia no debate poltico e ambiental da regio.
A atividade mineradora tem interesse na extrao de argila, areia e pedra para a construo civil.
Dentro da APA, existem algumas mineradoras que, de acordo com alguns conselheiros, operam dentro dos
padres exigidos pela legislao e pelo zoneamento territorial previsto no plano de manejo. Os segmentos
da sociedade civil com assentos no conselho gestor reiteram que, mesmo com a devida cautela ecolgica, o
setor gera danos para o ecossistema (desmatamento, eroso e assoreamento dos corpos dgua). Alm
disso, afirmam que as empresas podem, em qualquer momento, descumprir a legislao, diante das
dificuldades de controle e fiscalizao por parte do Estado, de outros rgos pblicos responsveis e de
entidades ambientalistas.
Curiosamente, outro aspecto que merece ateno a beleza paisagstica da regio. O fato
de se poder viver prximo Serra do Japi desperta o interesse econmico das empresas do setor
imobilirio em atender os estratos populacionais de alta renda. Esses projetos imobilirios atuam dentro de
uma lgica de transformao do ambiente em um fator que agregue valor aos negcios.
97

Decreto Estadual n 43.284, de 03 /07/1998. Apesar de ser criada em 1984, a APA Cajamar ainda no foi
regulamentada. Em 2008, o conselho gestor se dedicou criao de uma minuta para a sua regulamentao, contudo
at agora no foi concretizada.
98
Em uma das reunies do conselho gestor, um membro apontava que grande parcela da populao entende
que a APA atrapalha o desenvolvimento da regio.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

592
A expanso urbana, por sua vez, acarreta outros problemas. Em um primeiro momento, a diviso
das propriedades em lotes menores. Posteriormente, a criao de demandas para o extrativismo mineral
(rochas e areia). Esta , alis, uma questo que toma um lugar central nas reunies do conselho gestor das
APAs.
Nos ltimos anos, a regio de Jundia vem atraindo populao, especialmente da Grande
So Paulo, interessada na qualidade de vida oferecida naquele local. So segmentos de alto poder
aquisitivo que transferem sua residncia para a regio, mas mantm sua atividade produtiva na Regio
Metropolitana de So Paulo. Esta migrao tem despertado a ateno de pesquisadores do Ncleo de
Estudos de Populao (NEPO) da Unicamp. Ocorreu um acelerado crescimento demogrfico entre as
dcadas de 1990 e 2000 nas cidades que compem as APAs CCJ. Curiosamente, este crescimento
populacional (aproximadamente 300.000 pessoas em menos de duas dcadas) contribui para piorar a
qualidade de vida na regio: trnsito, presso para a utilizao de recursos hdricos e demanda de novas
reas para empreendimentos imobilirios. Tais aspectos tambm ocupam espao nas reunies do conselho
gestor das APAs.
Desde a dcada de 1970, o municpio de Jundia, a principal cidade da regio, passa por um
acelerado processo de desenvolvimento industrial. A base industrial bastante diversificada e atualmente
99
o municpio conta com mais de 800 estabelecimentos . Essa notvel expanso da capacidade produtiva
exigiu demandas crescentes de gua e novas reas para a destinao dos seus resduos. Como grande parte
da regio apresenta territrios ambientalmente protegidos por leis, a sada para o impasse do lixo foi criar
um aterro sanitrio por meio de um consrcio intermunicipal em Vrzea Paulista.
A ideia da prefeitura de Jundia criar um aterro sanitrio gerou muita polmica. Ocorreu uma
grande mobilizao de setores da sociedade que pressionaram o poder pblico para desistir do projeto.
Utilizaram como argumento o fato de o municpio de Jundia estar totalmente inserido no permetro da
APA Jundia. Todavia, preciso resgatar que uma APA uma Unidade de Conservao de Uso Sustentvel.
Seguindo as recomendaes tcnicas e o zoneamento ambiental proposto, no haveria problema algum em
criar um aterro sanitrio na cidade. Tal episdio demonstra a desinformao da populao com relao aos
significados e objetivos de uma rea de Proteo Ambiental.
4. O CONSELHO GESTOR COMO ARENA INSTITUCIONAL DE GESTO E PLANEJAMENTO AMBIENTAL:
ALCANCES, LIMITES E DESAFIOS
A criao das APAs CCJ pelo pode pblico na dcada de 1980 decorreu da intensa
mobilizao da sociedade civil e de pesquisadores das universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e
Unesp). Destaca-se, por exemplo, a participao do professor Aziz Nacib Ab'Sber, que, dois anos antes,
quando ainda era presidente do CONDEPHAAT, produziu um parecer favorvel sobre o tombamento do
Japi.
A implantao de um conselho gestor nas APAs CCJ aconteceu somente em 1998, aps quatorze
anos de existncia da unidade de conservao. No Estado de So Paulo, mesmo antes da criao do SNUC,
algumas APAs j possuam gesto por meio de conselhos, os quais eram semelhantes s experincias dos
Comits de Bacias Hidrogrficas (composio tripartite, com representao paritria entre representantes
do Estado e dos municpios banhados pela bacia e da sociedade civil)100.
Aps a edio da lei do SNUC e seu decreto regulamentador, o Estado de So Paulo
precisou editar o Decreto Estadual no 48.149, de 09 de outubro de 2003, readequando a estrutura e
99

Dados da Prefeitura Municipal de Jundia (www.jundiai.sp.gov.br). De acordo com o IBGE, o setor de


servios bastante desenvolvido, seguido pelo setor industrial. J a agricultura ocupa um espao bastante reduzido na
formao da renda do municpio (apesar de ser bastante extensa a sua rea rural). Existe uma tendncia da
importncia do setor de servios nas cidades que compem as APAs. Somente em Cabreva, Cajamar e Itupeva, o
setor industrial mais importante do que o de servios.
100
No modelo de gesto de bacias hidrogrficas, a presidncia do conselho poderia ser exercida por qualquer
segmento de representantes. J nos conselhos gestores de APAs de So Paulo, a presidncia era exercida, at maio de
2008, pelo representante estadual da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SMA). Desde maio de 2008, a
presidncia cabe sempre ao representante da Fundao Florestal, rgo ligado SMA.

Joo Pessoa, outubro de 2011

593
composio dos Conselhos Gestores de APAs. O Decreto, em seu artigo 3, afirma que [...] o conselho
Gestor de rea de Proteo Ambiental no Estado de So Paulo tm carter consultivo e como objetivo
promover o gerenciamento participativo e integrado da rea, bem como implementar as polticas e
diretrizes nacionais, estaduais e municipais de proteo do meio ambiente e do Sistema Nacional de
Unidades de Conservao.
Quadro Informativo 1: A composio do conselho gestor das APAs paulistas
I) representantes de rgos e entidades da administrao estadual escolhidos pelas
Secretarias Estaduais do Meio Ambiente, da Agricultura e de Energia, Recursos Hdricos e
Saneamento (25%);
II) representantes das prefeituras municipais abrangidas (25%);
III) representantes da sociedade civil com atuao comprovada na regio (50%).
O mandato do conselheiro de dois anos, renovveis por igual perodo, no sendo
remunerado, por ser considerado de relevante interesse pblico.
Fonte: SO PAULO. Decreto Estadual no 48.149, de 9 de outubro de 2003.
Os conselhos deveriam apresentar composio paritria entre os rgos pblicos (25% de
representantes do Estado e 25% de representantes dos municpios) e a outra metade por entidades de
representao da sociedade civil (50%). Ainda de acordo com este decreto, todo conselho gestor deveria
ser institudo por resoluo do Secretrio do Meio Ambiente.
Os conselheiros da primeira gesto das APAs CCJ foram empossados em dezembro de 1998,
contando com ampla visibilidade na mdia, apoio da SMA e da comunidade local. Seguindo o modelo dos
comits de bacia, o conselho era composto por 24 membros, com mandatos de 2 anos, divididos de forma
paritria entre Estado (1/3), Municpios (1/3) e Sociedade Civil (1/3). Posteriormente alguns conselheiros
consideraram que este formato privilegiava os representantes do poder pblico (2/3) em relao aos
segmentos da sociedade civil organizada (1/3).
O que se notou, a partir desta constatao, foi uma alterao na composio do conselho
resultado do decreto estadual de 2003 que institucionalizou a representao 25% representantes do
Estado, 25% representantes das prefeituras municipais e 50% representantes da sociedade civil.
Tabela 1: A evoluo do nmero de conselheiros e a representatividade por segmento no conselho
gestor das APAs CCJ
Gesto
Estado
Prefeituras
Sociedade Civil
1998-2000
8
8
8
2000-2002
8
8
8
2002-2004
3
3
3
2004-2006
3
3
6
2006-2009
5
5
10
Fonte: Informaes obtidas do site da SMA e da Fundao Florestal. Dados organizados pelo autor.
Por causa da ampliao dos limites territoriais das APAs CCJ, ocorreram novas mudanas para
atender a representao dos municpios de Campo Limpo Paulista, Indaiatuba, Itupeva, Itu, Jarinu e Salto:
aumento do nmero dos representantes da sociedade civil de 6 para 10 membros, mantendo-se a paridade
anterior.
Entre 2006-2009, perodo analisado pelo trabalho, o conselho gestor das APAs CCJ era
composto por 40 membros distribudos de forma igualitria entre titulares e suplentes. Ponderando sobre
a importncia dos conselhos para a gesto, planejamento e resoluo de conflitos ambientais,
entrevistamos os conselheiros da gesto 2006-2009 das APAs CCJ101 no intuito de saber o que eles
pensavam sobre a relao conselho/resoluo de conflitos.
101

Foram entrevistados 19 conselheiros, sendo 13 titulares e 6 suplentes.


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

594
Para 42% dos entrevistados, o conselho gestor contribui na maioria das vezes para a soluo dos
conflitos ambientais. Para outros 31%, o conselho contribui pouco e 11% afirmaram que nunca.
curioso constatar que nenhum dos entrevistados respondeu que o conselho gestor contribui muito para a
resoluo dos conflitos.
Para Acselrad (2004a), qualquer indivduo interessado em compreender os conflitos em torno dos
recursos naturais deve antes averiguar a situao socioambiental do territrio a ser investigado. Por isso,
interrogamos os membros na tentativa de identificar suas percepes acerca da qualidade ambiental
regional. Assim sendo, os temas ambientais identificados como problemticos pelos conselheiros foram:
loteamento e expanso imobiliria (95%), desmatamento e queimadas (95%), loteamento irregular (90%),
poluio da gua (90%), atividade mineradora (79%), escassez da gua (74%), disposio do lixo domiciliar
(68%), saneamento (68%), uso incorreto dos recursos hdricos (63%), descarte de desejos da construo
civil (63%), emisses de lixo industrial (58%). Os demais tpicos (agricultura, caa, uso de agrotxicos e
fertilizantes, transportes de cargas perigosas) ficaram abaixo de 50%.
Cada conselheiro tambm teve a oportunidade, no momento das entrevistas, de apontar quais
seriam, em sua opinio, os conflitos mais frequentes entre os agentes atuantes nos permetros das APAs
CCJ e no interior do prprio conselho.
Com relao aos conflitos entre os agentes socioeconmicos, as respostas mais comuns foram:
loteamentos oficiais x conservao dos recursos naturais, atividade mineradora x conservao dos recursos
hdricos/biodiversidade e moradia irregular x legislao ambiental/conservao dos recursos naturais. Nas
instncias internas do conselho, os maiores conflitos se do entre segmentos sociedade civil/prefeituras
(42%); 21% no souberam afirmar entre quais segmentos existiam conflitos.
Quando indagados sobre o comprometimento e participao do conselheiro, 58% dos
entrevistados afirmaram ser a sociedade civil o segmento que mais participa das reunies do conselho,
seguida pelo Estado (5%) e representantes das prefeituras (5%). Para 26% dos consultados, todos os
conselheiros participam intensamente.
Um dos principais objetivos de um conselho de meio ambiente, alm de reunir os agentes sociais e
econmicos relevantes, conseguir fomentar um debate qualificado na tentativa de minimizar potenciais
conflitos e assim permitir uma gesto participativa e planejada do territrio. Em relao a este item, os
entrevistados afirmaram que a resoluo dos conflitos no conselho das APAs CCJ ocorre aps consenso com
auxlio de mediador para 47%. Todavia, mais de um tero dos conselheiros afirmou desconhecer a maneira
pela qual os conflitos so resolvidos.

Grfico 1: Maneira como os conflitos internos so


resolvidos pelo conselho
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
No so resolvidos e
permanencem
presentes

Por votao aps


negociao entre
alguns segmentos

No sei/no estou
certo/no repondeu

Aps consenso ou
acordo, com auxlio de
mediador

O grau de satisfao sobre como os conflitos so resolvidos no conselho da ordem de 37%.


Insatisfeitos totalizam 10% e no souberam responder 47%. Parece-nos que a dvida de quase metade dos
entrevistados sobre a capacidade do conselho em resolver os conflitos ambientais tem relao com o
aparente descaso dos rgos estaduais: o maior nmero de respostas (37%) apontou como principal
Joo Pessoa, outubro de 2011

595
obstculo a falta de apoio do governo do Estado. Dificuldades como falta de infraestrutura, falta de
conhecimento e informao por parte dos membros, ausncia da participao da comunidade local e
conflitos exacerbados entre os segmentos representativos receberam 26% das respostas cada um.
Durante a aplicao das entrevistas, alguns conselheiros mostraram-se desanimados com a
mudana do rgo gestor das APAs estaduais paulistas: da SMA para a Fundao Florestal. Em uma das
reunies do conselho gestor, uma entidade da sociedade civil acusava esta mudana como sendo uma
manobra do governo estadual a fim de esvaziar e, assim, dificultar o debate sobre a gesto e o
planejamento participativos das reas de Proteo Ambiental. Essa desconfiana pode contribuir para
obstaculizar o desempenho do conselho gestor, na medida em que o Estado no reconhecido como
parceiro por parte dos representantes da sociedade civil.
Apenas 42% dos entrevistados acreditam na cooperao conjunta entre Estado, municpios
e sociedade civil a fim de emplacar algum projeto ou trabalho promovido pelo conselho. Para 21%, o
projeto no se viabilizaria por falta de cooperao entre os segmentos. No responderam ou no souberam
responder somam 37%.
A percepo sobre o grau de comprometimento (58%), a confiabilidade dos membros do conselho
(68%) e o respeito s opinies entre os membros (58%) contrastam com os ndices atingidos por outras
variveis. Por exemplo, apenas 37% dos entrevistados acreditam que o conselho evoluiu (prosperou) por
causa do esprito de colaborao entre os seus membros apesar de 58% discordarem de que os membros
s se preocupem com assuntos de seus interesses, no estando voltados para o avano do conselho como
um todo. 42% afirmam que os membros do conselho esto mais dispostos a fazer acordos do que a no
chegar a acordo algum.
5. CONSIDERAES FINAIS
Ao contrrio da rpida e convergente mobilizao de foras sociais contra a degradao do
ecossistema do Japi que culminou na criao das trs APAs, o conselho gestor das APAs CCJ um frum
participativo (consultivo) e permanente de discusso acerca do planejamento e da gesto ambiental de
reas que necessitam de proteo. Como opera em uma lgica temporal e institucional de negociao
diferente das manifestaes populares ou ambientalistas, um arranjo que depende de negociao entre
os seus membros, podendo estar sujeito a avanos e retrocessos no cumprimento de seus objetivos.
O componente fundamental para aferir o desempenho de um conselho a sua capacidade
de acomodar diferentes expectativas e resolver situaes de conflito e assim corroborar para uma eficiente
gesto e planejamento da unidade de conservao. Para isso acontecer, o colegiado deve, em um primeiro
momento, atuar no sentido de estimular que os diferentes significados simblicos, econmicos, sociais,
polticos e culturais atribudos pelos agentes socioeconmicos sejam publicizados. Em uma segunda etapa,
faz-se indispensvel a construo de mecanismos democrticos para a negociao.
No caso do conselho gestor das APAs CCJ, existe uma boa percepo entre os entrevistados sobre a
resoluo de conflitos (aps consenso ou acordo, com auxlio do mediador), apesar de nenhum
conselheiro afirmar que o conselho contribui muito para a pacificao dos conflitos. Pareceu-nos,
durante as entrevistas, existir entre os membros uma percepo de que o conselho poderia melhorar sua
funo negociadora. Para isso acontecer seria preciso um maior apoio do governo estadual, melhoria das
condies de trabalho, melhor formao do conselheiro, dilogo mais efetivo entre os representantes dos
segmentos e uma participao mais ativa da comunidade local (que tem que ser constantemente
informada sobre os projetos desenvolvidos na unidade de conservao).
Outro aspecto que pode influenciar de maneira positiva o desempenho do conselho gestor das
APAs CCJ o respeito s diferenas entre os participantes. Mais da metade dos conselheiros afirmou que as
decises tomadas nas plenrias ocorrem por consenso, aps o debate entre os participantes. Outros
reconheceram que as decises so tomadas por votao, depois da articulao entre os segmentos.
Portanto, existe uma percepo dos membros quanto ao carter democrtico do conselho: respeito s
divergncias e possibilidade do dilogo o que corrobora o aumento da confiana e da cooperao entre
as partes antes divergentes.
Pouco menos da metade dos conselheiros acredita que a cooperao entre Estado,
municpios e sociedade civil pode contribuir para que projetos desenvolvidos internamente se transformem
em aes concretas. Os que afirmaram que tais projetos no se viabilizaram alegaram menos a disposio
do conselheiro do que alguns aspectos estruturais: o absentesmo dos representantes do Estado, a
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

596
representao inadequada das prefeituras municipais, a desconfiana em um conselho consultivo,
participao por meio do voluntariado, marginalizao das polticas pblicas estaduais para as APAs,
precria infraestrutura para o funcionamento e desempenho das funes do conselho.
O conselho das APAs CCJ cumpre sua funo pedaggica no sentido de corroborar para
uma discusso democrtica entre agentes sociais e econmicos divergentes. No entanto, pareceu-nos no
momento das entrevistas, certo desconforto de alguns conselheiros com relao posio de
marginalidade do arranjo institucional frente as instncias do Estado inclusive no interior da Secretria
Estadual de Meio Ambiente. Tal aspecto dificulta o bom desempenho do conselho e consequentemente um
dilogo mais profundo com setores sociais que no ocupam assento no colegiado.
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABRAMOVAY, Ricardo. O capital social dos territrios: repensando o desenvolvimento rural.
Economia aplicada, n.2, vol. IV, p. 379-397, abr./jun. 2000.
ACSELRAD, Henri. Sentidos da sustentabilidade urbana. In: ACSELRAD, Henri. A durao das
cidades: sustentabilidade e risco nas polticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A, 2001(a).
_____. As prticas sociais e o campo dos conflitos ambientais. In: ACSELRAD, Henri (org.). Conflitos
ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumar: Fundao Heinrich Bll, 2004(b).
_____. Conflitos ambientais a atualidade do objeto. In: ACSELRAD, Henri (org.). Conflitos
ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumar: Fundao Heinrich Bll, 2004(a).
_____. Polticas ambientais e construo democrtica. In: VIANA, Gilney; SILVA, Marina; DINIZ, Nilo
(orgs.). O desafio da sustentabilidade: um debate socioambiental no Brasil. So Paulo: Editora Fundao
Perseu Abramo, 2001(b).
ALONSO, Angela; COSTA, Valeriano. Dinmica da participao em questes ambientais: uma anlise
das audincias pblicas para o licenciamento do Rodoanel. In: COELHO, Vera Schattan P.; NOBRE, Marcos
(orgs.). Participao e deliberao: teoria democrtica e experincias institucionais no Brasil
contemporneo. So Paulo: Editora 34, 2004.
ALONSO, ngela; COSTA, Valeriano; MACIEL, Dbora. Identidade e estratgia na formao do
movimento ambientalista brasileiro. Rev. Novos Estudos, 79, p.151-167, nov. 2007.
BRASIL. Decreto Federal no 4.771, de 23 de Janeiro de 1934. Disps sobre Cdigo Florestal.
_____. Lei Federal no 23.793, de 15 de Janeiro de 1965. Disps sobre Cdigo Florestal.
_____. Lei Federal no 6.902, de 27 de Abril de 1981. Disps sobre Estaes Ecolgicas e reas de
Proteo Ambiental.
_____. Lei Federal no 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Institui a Poltica Nacional de Meio Ambiente.
_____. Lei Federal no 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservao SNUC.
CAMARGOS, Regina. Nascimento da APA Sul-RMBH: o poder da polmica. In: ACSELRAD, Henri
(org.). Conflitos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumar: Fundao Heinrich Bll, 2004.
CRTES, Soraya M. Vargas. Fruns participativos e governana: uma sistematizao das
contribuies da literatura. In: LUBAMBO, Catia; COELHO, Denlson Bandeira; MELO, Marcos Andr.
Desenho institucional e participao poltica: experincias no Brasil contemporneo. Petrpolis: Vozes,
2005.
COSTA, Heloisa Soares de Moura; BRAGA, Tnia Moreira. Entre a conciliao e o conflito: dilemas
para o planejamento e a gesto urbana e ambiental. In: ACSELRAD, Henri (org.). Conflitos ambientais no
Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumar: Fundao Heinrich Bll, 2004.
DIEGUES, Antonio Carlos SantAna. O mito moderno da natureza intocada. So Paulo: Hucitec,
NUPAUB, 1994.
FUCKS, Mario. Conflitos ambientais no Rio de Janeiro: ao e debate nas arenas pblicas. Rio de
Janeiro: Ed. UFRJ, 2001.
LUBAMBO, Ctia Wanderley. Conselhos gestores e desempenho da gesto nos municpios:
potencialidades e limites. Trabalhos para discusso, n. 149, Recife, 2002. Disponvel em
<http://www.scielo.br>. Acesso em: 10 out. 2006.

Joo Pessoa, outubro de 2011

597
MARTINS, Rodrigo Constante. Representaes sociais, instituies e conflitos na gesto de guas
em territrios rurais. Sociologias, n.15, Porto Alegre, 2006. Disponvel em <http://www.fundaj.gov.br>.
Acesso em: 19 mai. 2007.
NEDER, Ricardo Toledo. Crise scio-ambiental: Estado & sociedade no Brasil (1982-1998). So Paulo:
Annablume, Fapesp, 2002.
REIS, Fbio Wanderley. Deliberao, interesses e sociedade civil. In: COELHO, Vera Schattan P.;
NOBRE, Marcos (orgs.). Participao e deliberao: teoria democrtica e experincias institucionais no
Brasil contemporneo. So Paulo: Editora 34, 2004.
SO PAULO. Decreto Estadual no 48.149, de 9 de outubro de 2003. Disps sobre a criao e
funcionamento dos Conselhos Gestores das reas de Proteo Ambiental (APAS) nos Estado de So Paulo.
SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. APAS reas de Proteo Ambiental Estaduais:
proteo e desenvolvimento em So Paulo. Territrio de planejamento e gesto participativa. So Paulo,
Secretaria do Meio Ambiente, 2001.
SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE. APAS reas de Proteo Ambiental. Territrio de
planejamento e gesto participativa. So Paulo, Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e
Educao Ambiental, 2002.
SILVA, Iracy Xavier da. Gesto das reas de proteo ambiental APAs no Estado de So Paulo:
estudo e avaliao. Dissertao de mestrado apresentada Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas. So Paulo: USP, 2006.
TATAGIBA, Luciana. Os Conselhos Gestores e a Democratizao das Polticas Pblicas no Brasil. In:
DAGNINO, Evelina (org.). Sociedade Civil e Espaos Pblicos no Brasil. So Paulo: Paz e Terra, 2002.
VIOLA, Eduardo. Movimento ecolgico no Brasil (1974-1986): do ambientalismo ecopoltica. In:
PDUA, Jos Augusto. (org.). Ecologia e poltica no Brasil. Rio de Janeiro: Espao e Tempo: IUPERJ, 1987.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

598

EDUCAO AMBIENTAL E UNIDADE DE CONSERVAO


Abrao Abiachell Medeiros102
Licenciado em Geografia pelo Unimontes
abiachell@yahoo.com.br
Romana de Ftima Cordeiro LEITE103
Professora de Geografia do Departamento de Geocincias da Unimontes
romanafl@hotmail.com
Crmen Cssia Velloso e SILVA 104
Professora de Geografia do Departamento de Geocincias da Unimontes
Carmen.velloso@ig.com.br

RESUMO
Os ambientes naturais tm passado por graves modificaes e degradaes comprometendo a
sobrevivncia dos mesmos, fato que despertou nos governos a criao de reas protegidas dentro dos
princpios de unidade de conservao. s unidades de conservao cabe no somente a preservao dos
recursos naturais, mas tambm a aprendizagem e sensibilizao da sociedade quanto importncia do
meio ambiente. Associando-se a criao das reas protegidas a educao ambiental e a percepo
ambiental contribuem significativamente para a preservao do meio ambiente. Localizado no norte de
Minas Gerais no municpio de Gro Mogol, o Parque Estadual de Gro Mogol constitui uma unidade de
conservao sob a administrao do Instituto Estadual de Floresta - IEF. Este trabalho teve como objetivo
geral conhecer a percepo ambiental dos estudantes do ensino mdio da Escola Municipal Francisco
Pereira do Nascimento da comunidade de Palmital no municpio de Gro Mogol em relao ao Parque
Estadual de Gro Mogol. O caminho metodolgico se deu com reviso bibliogrfica e pesquisa de campo
com aplicao de questionrio contemplando 50% dos estudantes do ensino mdio da referida escola que
fica localizada no entorno do parque. A maior parte dos estudantes entende o Parque Estadual de Gro
Mogol como meio de preservao do meio ambiente e acham importante a interferncia do Parque na sua
qualidade de vida, porm ficou evidente a necessidade do estabelecimento de uma relao mais prxima
dos estudantes com o Parque. Este artigo resultado de um Trabalho de Concluso de Curso de
Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes.
Palavras-chave: Educao ambiental . Unidade de conservao . Parque . Percepo ambiental
INTRODUO
No que tange a Educao Ambiental, a percepo ambiental ferramenta poderosa, pois est
diretamente ligada forma como a sociedade se relaciona com seu meio. Atravs da percepo ambiental,
possvel a identificao dos aspectos positivos e negativos do homem em relao natureza. Sendo
assim, de acordo com Torres e Oliveira (2008) possvel compreender as inter-relaes entre o homem e o
ambiente, suas condutas, julgamentos, expectativas, satisfaes e insatisfaes.
Quanto importncia da percepo ambiental, Fernandes et al. (2003, p. 2) ressalta:
A importncia da pesquisa em percepo ambiental para o planejamento do ambiente foi ressaltada
pela UNESCO em 1973. Uma das dificuldades para a proteo dos ambientes naturais est da existncia de
diferenas nas percepes dos valores e da importncia dos mesmos entre os indivduos de culturas
diferentes ou de grupos scio-econmicos que desempenham funes distintas, no plano social, nesses
ambientes.

A anlise da percepo ambiental pode direcionar aes voltadas para o estabelecimento de


diretrizes de educao ambiental em unidades de conservao, como assevera Palma (2005), citado por
Torres e Oliveira (2008), pois nessa perspectiva a pesquisa de percepo ambiental pode ser aplicada para
levantar os anseios de uma populao e propor melhorias com conhecimento e compreenso dos
problemas, sendo desta forma mais eficiente na soluo dos mesmos.

102

Orientando
Orientadora
104
Co orientadora
103

Joo Pessoa, outubro de 2011

599
Ainda sobre a importncia da percepo ambiental para a educao ambiental em unidades de
conservao, Torres e Oliveira (2008, p. 231) destacam:
Atravs da pesquisa voltada percepo ambiental possvel identificar a verdadeira relao existente entre
o homem e a natureza e dessa forma elaborar uma importante base de dados para o planejamento e implementao
de educao ambiental em unidades de conservao.

preciso considerar e ter conhecimento das peculiaridades de cada grupo da sociedade, de povos e
culturas dos seus membros. Cada indivduo peculiar, percebe, reage de forma diferente ao meio. Essas
manifestaes moldam a concepo do individuo em relao ao meio em que vive. So concepes
construdas em casa, no trabalho, na vida pessoal, na sociedade, enfim de acordo com uma srie de fatores
internos e externos ao individuo. De acordo com Torres e Oliveira (2008), essas manifestaes afetam a sua
conduta, s vezes de forma inconsciente.
No contexto da percepo ambiental do individuo, vale ressaltar a relevncia dos conceitos de
topofilia e topofobia, sendo o primeiro o sentimento de valorizao e afetividade com o lugar e o segundo
diz respeito averso, fobia do lugar (TUAN, 1979, citado por FILHO, 1999). Estes conceitos esto
normalmente relacionados a fatores paisagsticos, financeiros e sociais. Faz se necessrio o entendimento
destes conceitos para melhor desenvolvimento no processo de construo da percepo ambiental, pois ao
se enquadrar em uma destas situaes, torna se mais claro o caminho para sensibilizao e entendimento
do individuo quanto importncia da preservao do meio ambiente em que vive.
A educao ambiental aliada percepo ambiental poder transmitir conhecimento e promover a
compreenso dos problemas do meio ambiente, alm de sensibilizar as pessoas quanto importncia da
preservao dos recursos naturais e quanto preveno de riscos de acidentes ambientais. (MELAZO,
2005) Dessa forma, torna se imprescindvel unir percepo ambiental com Educao Ambiental, pois assim
possvel mensurar a forma como os indivduos percebem o ambiente em que vivem e facilita o
estabelecimento de projetos que podero atender melhor as deficincias encontradas em cada
comunidade.
Este trabalho teve como objetivo geral conhecer a percepo dos estudantes do Ensino Mdio da
Escola Municipal Francisco Pereira do Nascimento, no municpio de Gro Mogol -MG, quanto importncia
do Parque Estadual de Gro Mogol para eles e para o municpio, uma vez que a escola se encontra no
entorno da Unidade de Conservao.Para tanto foi feita reviso bibliogrfica e aplicao de questionrio
para 50% dos estudantes do ensino mdio da j mencionada escola. A pesquisa revelou dados positivos e
interessantes quanto a percepo dos estudantes em relao a importncia do Parque Estadual de Gro
Mogol como tambm revelou a necessidade de um estudo mais aprofundado e que aproxime mais os
estudantes do parque.
UNIDADES DE CONSERVAO EM MINAS GERAIS
O ambiente fsico de Minas Gerais muito rico em biodiversidade sendo resultante da
combinao dos principais elementos do quadro natural, considerando a diversidade de solos, relevo,
topografia, clima, vegetao e da hidrografia. Trs grandes biomas brasileiros, o cerrado, a mata atlntica e
a caatinga esto presentes em Minas Gerais, com representaes das diversas gradaes dos mesmos. No
entender de Medeiros e Leite(2011), torna se de fundamental importncia a preservao dos ambientes
naturais em Minas Gerais. Neste sentido, fica a cargo do Instituto Estadual de Florestas IEF, desenvolver
aes polticas como a criao e administrao dos parques estaduais e efetivando-as no mbito da
conservao ambiental em Minas Gerais, considerando o estado de degradao que se encontram estes
ambientes apresentando espcies ameaadas de extino.Em parceria com o IEF esto outros rgos que
atuam no controle e fiscalizao ambiental, como a Polcia Militar de Minas Gerais - PMMG, Instituto
Mineiro de Gesto das guas - IGAM, Fundao Estadual do Meio Ambiente - FEAM, dentre outros
(MEDEIROS e LEITE, 2011).Um parque pode ser criado em nvel federal , estadual ou municipal ou seja,
Parque Nacional, Parque Estadual e Parque Municipal respectivamente.Os estudos de Medeiros e Leite
(2011) revelaram com base em informaes de relatrios do IEF a existncia no estado de Minas Gerais de
33 parques estaduais dentre eles o Parque Estadual de Gro Mogol.
O MUNICPIO DE GRO MOGOL
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

600
Distante 550 km de Belo Horizonte, capital do estado e 140 km de Montes Claros no norte
de Minas, o municpio de Gro Mogol abrange uma rea de 3.885 km cuja sede est nas coordenadas
geogrficas 16 55 S e 42 88 W. (IBGE, 2011)
A populao do municpio, de acordo com o Censo do ano 2010, perfaz um total de 15.026
habitantes, com predominncia rural (64,12 %), j a populao urbana compreende apenas 5.392, ou seja,
35,88% (IBGE, 2011).
Em relao a suas atividades econmicas Fonseca e Lessa (2010), destacam que o municpio
tem como principais produes agrcolas o caf, a banana, laranja e manga. J os produtos referentes
cana de acar, milho, feijo e mandioca so voltados para subsistncia. Na pecuria tem registros de
galinceos, eqinos, bovinos e sunos. Tem na monocultura de eucalipto uma das principais fontes de
empregos, sendo cultivados na maior parte para fabricao de carvo vegetal. Alm destas atividades, vale
citar a extrao de minrio de ferro que tambm se insere no cenrio das atividades econmicas.
A formao e organizao do municpio de Gro Mogol tem sua origem relacionada com a
minerao de diamantes no final do sculo XVIII.
Segundo Chavez et al. (2006) citado por Fonseca e Lessa (2010), do ponto de vista geolgico, a rea
do municpio est posicionada na Formao Gro Mogol, poro basal do super grupo da Serra do
Espinhao, de composio cristalina e quartzlica, de relevo com elevaes muito abruptas. A hidrografia do
municpio, composta pelos rios Extrema na regio central, o Rio Ventania na regio centro-leste, Rio
Jequitinhonha a sudeste e o rio Itacambiruu na regio sul (FONSECA e LESSA, 2010).
Quanto cobertura vegetal, nota se uma variedade de acordo com suas condies
fisiogrficas. H ocorrncia de campos de cerrado representado por rvores com pequizeiro e pau-terra e
caatinga arbustiva com bromlias e espcies cactceas. As matas ciliares compem se rvores de grande
porte, podendo apresentar se s vezes bem abertas e em alguns lugares se unem encosta acima com
capes de matas dos topos dos morros ou encostas menos inclinadas. No topo da serra, h ocorrncia de
campos rupestres com afloramentos rochosos bastante freqentes e aparecimento de vegetao
subarbustiva e herbcea (IEF, 2011). De acordo com IEF (2009), citado por Fonseca e Lessa (2010), pode se
encontrar ainda a formao de veredas com presena de buritis, alm de uma variao na vegetao no
topo das chapadas, devido altitude e outros fatores de interferncia local.
Em relao ao clima,
Fonseca e Lessa (2010) destacam que suas caractersticas variam em funo do relevo, com ocorrncia de
climas sub-mido a semi-rido a fracamente semi-rido.
O PARQUE ESTADUAL DE GRO MOGOL
Abrangendo atualmente uma rea de 28.404,4870 h, no municpio de Gro Mogol, o
Parque Estadual de Gro Mogol foi criado atravs do Decreto n 39.906/1998 e alterado pelo Decreto n
45.243/200 (MEDEIROS e LEITE,2011). Por ser uma rea muito rica ecologicamente conforme o IEF (2011),
o parque foi criado para proteger a flora e fauna da regio, suas nascentes e rios, alm de propiciar
desenvolvimento regional atravs de pesquisas e estudos cientficos, uso racional dos recursos naturais e
fortalecimento do potencial turstico da regio. De acordo com levantamento do IEF (2011), no parque
existem cerca de 95 nascentes, sendo que os locais de maior concentrao dessas nascentes so as
Comunidades de Bosquinho com 14, Ventania com 13 e Taquaral com 12. Num levantamento preliminar
realizado por Ferreira e Magalhes (1971) citado por Pirani (1997), foi relacionada a presena de 104
espcies de plantas com flores, em 28 famlias. O referido autor ainda esclarece a existncia de uma
vegetao arbustiva entre grandes blocos rochosos que se encontra em desagregao e agrupamentos de
arbustos e espcies subarbustivas e herbceas. A flora alm de apresentar semelhana fisionmica com a
de outras reas do Espinhao, possui uma peculiaridade em relao a sua composio florstica (PIRANI,
1997). Fato que evidencia essa situao a ocorrncia de Discocactus horstii, espcie endmica da
regio.Esses dados destacam a abundncia de recursos configurando, o Parque Estadual de Gro Mogol
como uma rea de grande importncia para preservao e perpetuao desses ambientes naturais.
O CAMINHO METODOLGICO
O presente trabalho foi elaborado a partir de uma discusso terica seguida de pesquisa de
campo. Para realizar a pesquisa de campo, foi construdo um questionrio com questes objetivas e uma
Joo Pessoa, outubro de 2011

601
discursiva, confrontando com a pesquisa bibliogrfica, a fim de levantar a percepo ambiental dos alunos
daquela escola em relao ao Parque.
A amostra foi composta de 40 alunos, correspondente a 50% dos alunos do ensino mdio
da Escola Municipal Francisco Pereira do Nascimento, coletado de forma aleatria. O questionrio foi
aplicado no dia 06 de junho de 2011. Houve uma participao positiva dos alunos, que colaboraram com a
pesquisa e ajudaram no bom andamento da atividade. Os funcionrios da Escola agiram com presteza e
boa receptividade, o que facilitou o trabalho de pesquisa.
TRABALHANDO OS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Localizada na comunidade Palmital, na zona rural de Gro Mogol entorno do Parque
Estadual de Gro Mogol, a Escola Municipal Francisco Pereira do Nascimento, conta com 80 alunos
matriculados no ensino mdio e dispe de estrutura fsica composta por 06 salas amplas para aulas,
cantina, secretaria, diretoria, banheiros, a escola tem uma estrutura simples, bem peculiar de comunidades
na zona rural. A escola recebe alunos de vrias comunidades vizinhas, algumas at muito distantes,
transportados em nibus da prefeitura.
Perguntados se conheciam o Parque Estadual de Gro de Mogol, a maioria (62%) afirma
que conhece, em contrapartida a parcela que afirma no conhecer o Parque bem menor (38%). Isso
mostra que os estudantes tm conhecimento acerca do Parque, como era de se esperar, pois a Escola em
questo fica no entorno da unidade de conservao, prximo da Serra Geral, onde est o limite do Parque.
Quando questionados acerca do conhecimento dos estudantes sobre a regio antes de se tornar
um Parque Estadual, (80%) respondeu que no conhecia a regio, fato que aceitvel, pois a criao data
do ano de 1998, e, de acordo com os dados do perfil dos estudantes, nota se que a na poca da criao da
unidade de conservao a maioria dos alunos ainda eram crianas, algumas muito novas ainda. Fato que
comprova isto que foram exatamente os estudantes mais velhos que alegaram conhecer a regio antes
da criao do Parque, perfazendo em 20% dos alunos questionados.
Indagados sobre os aspectos relacionados ao Parque que so mais importantes para o
municpio de Gro Mogol, a resposta que obteve maior percentual foi a preservao do meio ambiente
com 85% das respostas. O turismo com 5% e a beleza com 2% tambm foram lembrados. No foi levantado
nenhum outro aspecto importante pelos alunos. A conscincia de proteo ambiental como um dos
principais papis da unidade de conservao foi evidenciada neste questionamento.
Os estudantes foram unnimes (100%) em responder que acham o Parque importante na
melhoria da qualidade de vida deles, ficando claro a preocupao com o meio ambiente e associando os
benefcios do Parque ao seu dia a dia. Entende-se que essa conscincia torna mais propicio o indivduo a
cuidar do que traz benefcio para ele.
Esta idia fica evidente no posicionamento de Trigueiro (2003) citado por Freitas e Ribeiro
(2007) que relata a importncia desta tomada de conscincia do ambiente pelo homem, fazendo com que
ele perceba o ambiente em que est inserido e possa proteger e cuidar da melhor forma possvel.
No questionamento em relao participao de atividades educativas no Parque Estadual
de Gro Mogol, a maioria dos estudantes (80%) afirma nunca ter participado. Nota-se nesse sentido, que
apesar de entenderem a unidade de conservao como elemento importante na qualidade de vida, de
salientarem o Parque como importante na preservao do meio ambiente, conclui se que essas idias
poderiam ser ainda mais efetivas e trabalhadas caso os alunos desenvolvessem alguma atividade in loco.
Acerca do Parque Estadual de Gro Mogol como assunto tratado na Escola, apenas 3%
dos alunos acha que foi abordado de forma aprofundada, 59% acham que o tema foi abordado de forma
superficial e 15% afirmam no ter estudado sobre o assunto em sala de aula.
Sobre essa questo, Callai et al. (2001) ressalta que as pessoas tm vrias fontes de
conhecimento, como a prpria casa, a comunidade, o meio em que vivem. necessrio que a Escola faa
com que o conhecimento ultrapasse este senso comum, confrontando sua realidade concreta com o
conhecimento cientificamente produzido.
Ainda nesse aspecto, Freitas e Ribeiro (2007, p. 07) destacam que:
[...] a escola justamente o espao social e o local onde o aluno dar sequencia ao seu processo de
socializao. O que nela se faz, se diz e se valoriza representa um exemplo daquilo que a sociedade deseja e

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

602
aprova. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prtica, no cotidiano da vida
escolar, contribuindo para a formao de cidados responsveis.

O IEF, como rgo gestor do Parque realiza atividades de Educao Ambiental na escola.
Quanto a avaliao dos estudantes nos que se refere a atuao do rgo 75% dos estudantes declararam
que o IEF fez alguma atividade de educao ambiental relativo ao Parque, 20% afirmaram no saber
responder e apenas 5% disseram que no houve atividade nesse sentido.
De acordo com a UNESCO (s/d) citada por Andrade (2008), o preceito bsico da Educao
Ambiental ser parte do processo educativo, girando em torno de problemas concretos e carter
interdisciplinar. Sua tendncia forar o sentido dos valores e dar contribuio para o bem estar e
sobrevivncia humana, alm de tirar o essencial da fora da iniciativa dos estudantes, valorizando e
reforando seu empenho na ao, bem como se inspirar nas preocupaes imediatas e futuras.
Mesmo com o fato de a maioria dos estudantes no participarem de atividades dentro do
Parque, o desenvolvimento destas atividades do lado de fora, no entorno da unidade contribui para a
percepo ambiental por parte dos alunos, justificando dados enumerados outrora, quando foi constatada
a relevncia do Parque na melhoria da qualidade de vida e a importncia que os alunos atriburam
unidade de conservao na preservao do meio ambiente.
Na abordagem das questes fsicas do parque, os resultados deixam evidente que a maioria
dos alunos tem conhecimento sobre a composio da vegetao e da hidrografia do Parque. Mas preciso
ressaltar que este conhecimento vem no somente das atividades de educao ambiental. Muito
importante o conhecimento sobre as caractersticas da regio, pois aquele o ambiente no qual eles vivem
e muitos fazem dele meio de sobrevivncia. Esse conhecimento uma mescla de conhecimentos de senso
comum com aprendizado adquirido em sala de aula ou outras atividades educativas.
Nesta questo, aos estudantes foram perguntados sobre os itens que fazem parte do meio
ambiente deles. O resultado mostra o que os estudantes consideram seu meio ambiente aquilo que eles
tm de mais prximo, como o lar, a comunidade, a escola e at o Parque. As diferentes vises e posturas
frente ao meio ambiente, dizem respeito relao homem e meio fsico em que vive. Muitos moram
distante do Parque, sendo que at chegarem escola, que fica no entorno da unidade, fazem viagens de
mais de uma hora. Dessa forma, natural que alguns estudantes entendam o Parque como distante do seu
meio ambiente.
Por ltimo, foram questionados sobre a relao deles e da famlia com o Parque Estadual de Gro
Mogol, obteve se algumas respostas de que os alunos tem conscincia de preservao e alguma forma de
vnculo com o parque como: Tentamos ajudar na preservao, a qual nos traz benefcios.A gente faz
tudo para preservar, no jogando lixo, apreciamos a beleza do Parque. Sempre fazemos o possvel para
preservar e no jogar lixo prximo ao Parque. Uma convivncia amigvel, pois o Parque ajuda a preservar
o meio ambiente da nossa sociedade e faz bem para nossa cidade. Alm dessas houve respostas que
denotam pouca relao com o parque por exemplo: uma relao parcial, eu e minha famlia procuramos
preservar, mesmo morando um pouco distante do Parque. Quase no temos relao com o Parque por
que pouco conhecemos e moramos distantes. Temos pouca relao como Parque pelo fato de estar um
pouco afastado da rea e de quase no sair de casa. Existem tambm os alunos que no tem nenhum
vnculo com o parque, na maioria das vezes por morarem distantes da unidade de conservao, como pode
ser observado nas respostas: No temos relao, moramos longe. Nenhuma.
de grande relevncia o entendimento da forma como o individuo entende o meio que
vive. Este entendimento da percepo ambiental das pessoas um fator importante no processo de
conscientizao para preservao dos recursos naturais.
CONSIDERAES FINAIS
Localizado no norte de Minas Gerais no municpio de Gro Mogol, o Parque Estadual de Gro
Mogol uma unidade de conservao cuja gesto cabe ao IEF. As particularidades deste ambiente o coloca
como uma rea estratgica quanto sua localizao no norte de Minas bem como por abrigar espcies do
bioma do cerrado,caatinga alm dos campus rupestres do Espinhao.No entorno do mencionado parque
localiza-se a Escola Municipal Francisco Pereira do Nascimento, com 80 alunos matriculados no ensino
mdio.
Joo Pessoa, outubro de 2011

603
Nesse sentido, a pesquisa buscou conhecer a percepo dos estudantes do Ensino Mdio quanto a
importncia do Parque Estadual de Gro Mogol para eles e para o municpio. Percebeu- se com a pesquisa
que alguns alunos no tem relao com o Parque, apenas conhecimento acerca do assunto. Mesmo sem
relao com a unidade de conservao satisfatrio o resultado no aspecto de percepo ambiental, pois a
maior parte dos estudantes entende o Parque Estadual de Gro Mogol como meio de preservao do meio
ambiente e acham importante a interferncia do Parque na sua qualidade de vida.
Mesmo com resultados positivos acerca do conhecimento dos alunos sobre o Parque, fica evidente
a necessidade de um estudo mais aprofundado acerca do assunto, dentro de sala de aula e o
estabelecimento de uma relao mais prxima dos estudantes com o Parque, objetivo este que pode ser
alcanado com atividades no somente no entorno, mas dentro do Parque. Seria interessante promover
visitas tcnicas e aulas com os alunos dentro da unidade de conservao.
REFERNCIAS
ANDRADE, Eliane Gonalves. A percepo ambiental e conhecimento dos alunos do ensino mdio
da Escola Estadual Coronel Aristides Batista em Ibia MG sobre a transposio do Rio So Francisco.
Montes Claros: Unimontes, 2008.
CALLAI, Helena Copetti; CASTROGIOVANNI, Antnio Carlos; SHAFFER, Neiva Otero; KAECHER,
Nestor Andr. Geografia em sala de aula: prticas e reflexes. 3 Ed. Porto Alegre: Editora da Universidade
Seo Porto Alegre, 2001.
FILHO, Oswaldo B. A. Topofilia, Topofobia e Topocdio em MG. Em: Percepo Ambiental A
experincia Brasileira. Vicente Del rio; Lvia de Oliveira (Orgs.). So Paulo: Studio Nobel, 1999.
MEDEIROS, Abrao Abiachell e LEITE, Romana de Ftima Cordeiro.Unidade de Conservao:Um
estudo do Parque Estadual de Gro Mogol.Anais do 6 Encontro Regional dos Povos dos
Cerrados.Pirapora(MG), 2011.
PIRANI, Jos Rubens. Importncia da conservao da vegetao de Gro Mogol, Minas Gerais.
Instituto de Biocincias USP. So Paulo: IB/USP, 1997.
Sites Consultados
FERNANDES, Roosevelt S.; SOUZA, Valdir Jos de; FERNANDES, Sabrina T; PELISSARI, Vinicius Braga.
Uso da percepo ambiental como instrumento de gesto em aplicaes ligadas s reas educacional,
social e ambiental. Disponvel em < http://www.redeceas.esalq.usp.br/noticias/Percepcao_Ambiental.pdf>.
Acessado em 30 mar. 2011
FONSECA, Diego de Sousa Ribeiro, LESSA, Simone Narciso. Um breve diagnstico ambiental do
Parque Estadual de Gro Mogol (MG) e seu contexto espacial. Disponvel em
<http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html>. Acesso em: 11 abr. 2011.
FREITAS, Rafael Estrela de; RIBEIRO Karla Cristina Campos. Educao e percepo ambiental para a
conservao do meio ambiente na cidade de Manaus - Uma anlise dos processos educacionais no centro
municipal de educao infantil Eliakin Rufino. Revista Eletrnica Abor - Publicao da Escola Superior de
Artes
e
Turismo
Manaus

Ed.
03,
Nov/2007.
Disponvel
em
<
www.revistas.uea.edu.br/.../Rafael%20Estrela%20de%20Freitas.pdf> . Acessado em 15 mar. 2011.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. IBGE Cidades, 2000. Disponvel em:
<http://www.ibge.com.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acessado em 05 abr. 2011.
IEF,
Instituto
Estadual
de
Florestas.
reas
protegidas.
Disponvel
em:
<http://www.ief.mg.gov.br/areas-protegidas> Acessado em 31 mar. 2011.
IEF, Instituto Estadual de Florestas. Parque Estadual de Gro Mogol. Disponvel em:
<http://www.ief.mg.gov.br/areas-protegidas/202?task=view> Acessado em 31 mar. 2011.
MELAZO, Guilherme Coelho. Percepo Ambiental e Educao Ambiental: Uma reflexo sobre as
relaes interpessoais e ambientais no espao urbano. Olhares e Trilhas. Uberlndia, ano VI, n. 6, 2005.
Disponvel em < http://www.seer.ufu.br/index.php/olharesetrilhas/article/viewFile/3477/2560>. Acesso em 04
de abr. 2011.
TORRES, Denise de Freitas; OLIVEIRA, Eduardo Silva de. Percepo Ambiental: Instrumento para
educao ambiental em Unidades de Conservao. Revista Eletrnica do Mestrado em Educao
Ambiental. Rio Grande do Sul, v. 21, jul a dez 2008. Disponvel em: <
http://www.remea.furg.br/edicoes/vol21/art15v21.pdf>. Acessado em 01 mar. 2011.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

604

Joo Pessoa, outubro de 2011

605

PARQUE ESTADUAL MATA SECA: CARACTERIZAO AMBIENTAL E OS


DESAFIOS DE UMA UNIDADE DE CONSERVAO DO BIOMA CAATINGA
NO NORTE DE MINAS GERAIS
Ronaldo Alves BELM
Doutorando do Instituto de Geocincias da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Professor da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
ronaldobelem@hotmail.com

Resumo
O Parque Estadual Mata Seca localiza-se no municpio de Manga, Norte do Estado de Minas Gerais
e apresenta um mosaico vegetacional bastante complexo devido diversidade de formaes vegetais
encontradas dentro dos seus limites. O trabalho foi realizado a partir da aplicao de planilhas de
caracterizao ambiental e na descrio sumria das reas amostrais das fitofisionomias. A Floresta
Estacional Decidual de alto porte, a Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta e as Matas Ciliares se destacaram
por apresentar um timo estado de conservao e um avanado processo de sucesso ecolgica. Por fim, o
trabalho discute a soluo para os problemas que ameaam a preservao dos recursos naturais do parque
a partir de uma perspectiva que considera o contexto socioeconmico e cultural da regio visando alcanar
os verdadeiros propsitos das unidades de conservao que garantir a qualidade ambiental dos recursos
hdricos e do solo e a conservao da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentvel e a
melhoria das condies de vida da populao.
Palavras-Chave: Caatinga, Unidades de Conservao, Matas Secas, Meio Ambiente
1. Introduo
O Norte de Minas Gerais apresenta um quadro socioeconmico e ambiental com peculiaridades
que formam um universo de anlise extremamente favorvel ao estudo das unidades de conservao e
dos seus respectivos problemas socioambientais. Ao propor a criao da Etapa II do Projeto de Irrigao do
Jaba no incio da dcada de 1990, o governo Estadual teve que atender a uma srie de condicionantes
ambientais determinadas pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente - Copam e que reflete o
amadurecimento das preocupaes ambientais no mbito da sociedade civil e o fortalecimento das
instituies ambientais do Estado nas ltimas dcadas (BELM, 2008). Nesse contexto, o Parque Estadual
Mata Seca foi criado pelo Decreto 41.479 de 20 de Dezembro de 2000 e resultou de uma condicionante
ambiental que exigia a criao de uma unidade de conservao na margem esquerda do Rio So Francisco
no Norte de Minas Gerais. A rea inicial da unidade de conservao contava com 10.281 ha e com a
ampliao processada em fevereiro de 2009, o parque passou a ter 15.360 ha.
De acordo com Belm (2008), o Parque Estadual Mata Seca enfrenta srios problemas como as
queimadas, o desmatamento clandestino, o pastoreio do gado, a caa e a pesca predatria. Esses
problemas so tpicos das unidades de conservao do Estado e a presena dos mesmos se explica,
principalmente, pelo fato do poder pblico ter criado as reas protegidas e no ter promovido a
criao dos mecanismos necessrios para implementao efetiva das unidades de conservao. No caso
do Parque Estadual Mata Seca, a sua regularizao fundiria j foi feita, mas o parque ainda carece de uma
infra-estrutura que possa minimizar os impactos ambientais em sua rica biodiversidade(BELM, 2008).
O trabalho tem como objetivo apresentar uma caracterizao ambiental das fitofisionomias do
bioma caatinga presentes no Parque Estadual Mata Seca como subsdio elaborao de um plano de
manejo que ir promover o uso adequado dos diversos recursos ambientais dessa unidade de
conservao. Alm do mais, a rea de estudo vem sofrendo os efeitos de diversos problemas
socioambientais e toda essa problemtica representa os desafios que precisam ser superados para garantir
que o Parque Estadual Mata Seca assuma de fato a funo que a sua categoria de manejo estabelece.
Assim, este trabalho tambm tem como objetivo apresentar uma discusso que possa subsidiar a tomada
de decises e o encontro com as alternativas viveis para esses desafios, alm de favorecer a
implementao efetiva do Parque Estadual Mata Seca e de outras unidades de conservao que enfrentam
os mesmos problemas.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

606
2. Material e mtodos
O Parque Estadual Mata Seca localiza-se no municpio de Manga, Norte do Estado de Minas Gerais
e, conforme a figura 1 encontra-se entre os municpios de So Joo das Misses e Matias Cardoso, entre as
coordenadas geogrficas de 43 97 02 S - 14 64 09W e 44 00 05 S - 14 53 08W. Essa unidade de
conservao apresenta um quadro ambiental bastante complexo em funo da diversidade de bitopos
encontrados dentro dos seus limites (BELM, 2008).
Possui uma rea de 15.360 hectares e foi criado em Dezembro de 2000 com o objetivo de proteger
as representativas fitofisionomias da Caatinga que se encontram ameaadas pelas presses antrpicas da
regio. Esse trabalho foi realizado a partir dos bitopos mapeados na rea em 2008 e dentre as
fitofisionomias encontradas no Parque, destacam-se a Floresta Estacional Decidual Densa de alto porte, a
Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta ou Furado (depresso alagvel em afloramentos calcrios com
gramneas e cactceas), a Floresta Tropical Pluvial Pereniflia e a Floresta Estacional Decidual de
Afloramentos Calcrios.
As manchas de Florestas Decduas de alto porte so os principais bitopos do Parque, uma vez que
representam um dos ltimos remanescentes dessas formaes florestais no Norte de Minas. Por estarem
associadas a solos de alta fertilidade natural, essas florestas foram quase que totalmente destrudas pela
implantao do Projeto Jaba (BELM, 2008). A Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta se encontra sobre
grandes afloramentos de calcrio e se destaca por apresentar pequenas rvores muito espaadas e
entremeadas por arbustos e cactceas. As Florestas Tropicais Pereniflias ocorrem nas margens do Rio So
Francisco e tambm j foram bastante alteradas, devido ao fato de sua ocorrncia estar associada a reas
preferenciais para a prtica da agricultura de vazante. A Floresta Estacional Decidual de Afloramentos
tambm conhecida como mata seca crstica(ESPIRITO-SANTO et al, 2008) e se encontra em serras residuais
esculpidas sobre os calcrios do Grupo Bambu. Outro importante bitopo do quadro fisiogrfico dessa
unidade de conservao refere-se s Lagoas Marginais que ocorrem na rea do Parque. As Lagoas
Marginais exercem um importante papel na dinmica ecolgica que sustenta a manuteno da biota do Rio
So Francisco ( BELEM, 2008).
A proposta metodolgica aqui apresentada pode ser usada preferencialmente pelos gegrafos, por
no exigirem um conhecimento profundo de taxonomia vegetal (identificao da flora) e ecologia
(parmetros fitossociolgicos), uma vez que se baseia no aspecto fisionmico dos tipos vegetacionais e em
algumas caractersticas ecolgicas e socioeconmicas da rea estudada. uma proposta que se aplica com
muita eficincia aos zoneamentos ambientais de unidades de conservao e tem como base a metodologia
de caracterizao e mapeamento de bitopos apresentada por Bed et al (1997) e adaptada por Neves
(2002). Nos estudos de Belm (2008; 2009), essa metodologia foi adaptada para os estudos de
caracterizao dos ecossistemas do Parque Estadual Mata Seca, localizado em Manga e tambm na anlise
das fitofisionomias do Cerrado da Serra do Jatob, em Buritizeiro, Norte de Minas Gerais. Trata-se de uma
proposta simples que pode ser muito til aos estudos de diagnstico ambiental de unidades de
conservao ou no. Tambm permite estudos de caracterizao e comparao de formaes vegetais
distintas e contguas. Assim, a metodologia do trabalho seguiu as seguintes etapas: reviso terica, anlise
cartogrfica e aerofotogramtrica, trabalhos de campo e caracterizao ambiental atravs do
planilhamento, elaborao da tabela-sntese com os dados das planilhas, elaborao dos transectos
fitogeogrficos e anlise e discusso dos dados.
A reviso terica tem como objetivo fazer uma reviso bibliogrfica sobre o tema proposto,
visando adquirir a base conceitual necessria ao trabalho. Na anlise cartogrfica e aerofotogramtrica
para elaborao de mapas recomenda-se o uso de imagens de satlites coloridas IKONOS, pois essas
imagens possuem alta resoluo espacial. O trabalho de campo para caracterizao deve ser feita atravs
do uso de planilhas adaptadas de Bed et al (1997), Neves (2002) e Belm (2008). Essas planilhas so
elaboradas com o objetivo de produzir um mecanismo que permite registro das caractersticas da
vegetao. De acordo com essa metodologia a rea analisada deve conter um transecto/faixa de trs
metros de largura por cem metros de comprimento, subdividido em dez parcelas de trinta metros
quadrados. A caracterizao deve ser realizada com a aplicao das planilhas em cinco parcelas alternadas.
Os pontos amostrais tambm podem ser aleatrios de tal maneira a rea seja coberta. As tabelas-sntese
devem ser elaboradas com o objetivo de organizar os dados encontrados na anlise da vegetao. Os dados
da estrutura da vegetao (estratificao) podem ser representados por um grfico de colunas, mas a
Joo Pessoa, outubro de 2011

607
maneira mais interessante de se representar a estrutura da vegetao atravs dos transectos ou perfis
fitogeogrficos que so desenhos que mostram os estratos e o contexto geral da fisionomia da vegetao (
Figura 4). A anlise dos dados da tabela-sntese e do perfil fitogeogrfico constituem a etapa final desta
proposta.

Figura 1: Localizao e os principais bitopos do Parque Estadual Mata Seca


3. A Caatinga
O Norte de Minas est inserido em dois dos principais biomas brasileiros: a Caatinga e o Cerrado.
Para a Universidade Federal de Lavras UFLA ( 2006), a Caatinga abrange apenas 2% do territrio mineiro.
O que no faz com esse bioma seja menos importante. Muito pelo contrrio, pois a Caatinga Norte Mineira possui um conjunto de ecossistemas raros e de grande importncia ambiental. Estudos recentes
realizados por Zappi (2008) confirmaram que o bioma Caatinga na Bahia e em Minas Gerais mais rico em
espcies do que nos demais estados nordestinos.
A Caatinga um bioma exclusivamente brasileiro que possui uma rea de 844.000 Mil km2, o que
representa cerca de 11% do territrio nacional (FERRI, 1980). Localizado no domnio semi-rido, esse bioma
abrange os estados do Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Bahia e Minas Gerais. A Caatinga se destaca no cenrio nacional por ser o bioma menos conhecido
e o menos protegido. Nesse sentido, est entre os mais ameaados, uma vez que a intensidade da presso
antrpica sobre a regio diretamente proporcional presena de pesquisas e unidades de conservao.
Ao analisarmos a etimologia da palavra Caatinga, de origem tupi, nota-se que o seu significado
mata branca. O motivo para esta denominao reside no fato de apresentar-se a caatinga verde somente
no inverno, poca das chuvas de curta durao. E esse aspecto esbranquiado o mais duradouro, pois a
estiagem persiste por muito mais tempo (FERRI, 1980).
De acordo com Ferri (1980), no podemos supor que a Caatinga seja uma vegetao uniforme e
homognea. Ao contrrio, a Caatinga um substantivo que precisa ser qualificado pela adio de adjetivos
que definiro os diversos tipos de Caatinga (FERRI, 1980).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

608
Para Prado (2005), a Caatinga pode ser definida como um conjunto formaes que podem ser
caracterizadas como florestas arbreas ou arbustivas, compreendendo principalmente rvores e arbustos
baixos muitos dos quais apresentam espinhos e algumas caractersticas xerofticas. Compreende um
mosaico vegetacional bastante diversificado e formado por fisionomias muito variadas. Assim, a Caatinga
possui formaes que variam de florestas altas e secas com at 15-20 metros de altura, a caatinga arbrea
tpica de solos mais frteis (a verdadeira caatinga dos ndios Tupi), at afloramentos de rochas com
arbustos baixos esparsos e espalhados, com cactos e bromeliceas nas fendas (PRADO, 2005). Depois de
discutir a evoluo dos termos usados para a definio das diversas tipologias da Caatinga, PRADO (2005)
considera a Caatinga como um domnio formado por treze fisionomias distintas. Nessa classificao, a rea
de estudo e o extremo Norte de Minas abrange manchas de caatinga arbrea alta sustentada por um
substrato formado por rochas calcrias do grupo Bambu ou rochas cristalinas do Pr-cambriano (PRADO,
2005).
Para Prado (2005), a provncia das caatingas pertence ao Arco do Pleistoceno cuja origem deve
estar associada a mudanas climticas que ocorreram durante o Pleistoceno Superior h cerca de 18.000
anos atrs, quando a extenso das geleiras da ltima glaciao atingiu seu limite mximo fazendo com que
grande parte do vapor dgua da atmosfera se concentrasse nos plos na forma de neve. Assim, os trpicos
ficaram mais secos e as florestas midas recuaram deixando apenas os refgios midos cercados por
florestas secas, caatingas e savanas (PUIG, 2008).
Ainda em relao aos estudos de Prado (2005), o Arco do Pleistoceno considerado como uma
nova unidade fitogeogrfica da Amrica do Sul sendo denominado Domnio das Florestas Sazonais
Tropicais. Esse novo domnio formado pela Provncia das Caatingas e se estende at os vales secos dos
Andes peruanos passando pelo noroeste da Argentina e sudeste da Bolvia. Apesar da distribuio das
savanas e matas secas apresentar uma forte relao com o componente edfico, essa teoria encontra
respaldo nas semelhanas florsticas existentes entre as matas secas do Brasil Central e as caatingas do
nordeste e tambm nas marcas palinolgicas deixadas pelas mudanas climticas pleistocnicas (SALGADOLABOURIAU, 2001).
4. Resultados e discusso
A Floresta Estacional Decidual de alto porte a fitofisionomia de maior extenso do Parque
Estadual Mata Seca e est localizada em uma faixa contnua central que se entende de Norte a Sul,
abrangendo ainda trechos situados nas bordas Oeste e Noroeste do Parque (ver figura1). Trata-se de uma
formao vegetal de grande porte considerada como um dos ltimos e mais extensos macios de Florestas
Estacionais Deciduais pouco antropizados ou nativos do Estado de Minas Gerais. As caractersticas
fisionmicas desse bitopo so bastante semelhantes nos trs pontos amostrados e se destacam por
apresentar rvores com altura superior a 20 metros, a densidade elevada, a heterogeneidade de espcies e
a presena marcante das barrigudas (Cavanillesia arborea) com sua forma e porte que impressionam e
intrigam o imaginrio.
A estrutura da vegetao formada por seis estratos bem definidos. No extrato herbceo, a
presena de bromlias significativa em todos os pontos amostrados. Entretanto, deve-se destacar que
esse estrato mostra-se desenvolvido apenas no perodo de chuvas. Na estiagem, alm das bromlias,
observam-se apenas alguns resqucios de ervas que proliferam apenas na presena de umidade no solo. As
espcies predominantes so: Anadenanthera sp (Angico), Tabebuia sp (Ip-amarelo) e Pseudobombax
simplicifolia (Imbiruu), Myracruodon urundeuva (Aroeira), Bursera leptophoeus (Imburana) e Patagonula
bahiensis( Casquinha). As lianas so muito comuns e as epfitas ausentes, os liquens e musgos so ausentes
no perodo de estiagem e ocorrem com freqncia nas chuvas. A serrapilheira bastante espessa,
apresentando uma camada de folhagem e galhos que reflete o desenvolvimento da massa foliar e a total
deciduidade dessa vegetao no perodo seco.
O estrato arbustivo mostrou-se bastante desenvolvido com muitas espcies espinhentas com altura
aproximada de 1,5 metros. Esse extrato torna o deslocamento muito difcil e muitas reas so quase que
intransponveis devido presena marcante de exemplares de Unha de Gato (Acacia sp)que formam um
emaranhado de galhos delgados repletos de espinhos. O estrato arbreo marcado pela predominncia de
rvores entre cinco e 26 metros, sendo que o estrato acima de 20 metros caracteriza-se pela presena de
Joo Pessoa, outubro de 2011

609
indivduos muito desenvolvidos da espcie Cavanillesia Arborea (Embar) que alcanam cerca de 25 metros
de altura e cerca de 5 metros de dimetro (Figuras 2 e 3/A).
O bitopo no apresentou impactos ambientais significativos, nota-se apenas proximidade com as
estradas e a presena de pequenas trilhas que recentemente vm sendo usadas por atividades de
pesquisas.

Figura 2: A Floresta Estacional de alto porte nos perodos de chuvas e de estiagem. Um indivduo da
espcie Cavanilesia arbrea se destaca na paisagem.
A Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta uma formao vegetal com caractersticas nicas no
contexto vegetacional do Parque Estadual Mata Seca. Trata-se de um conjunto de grandes afloramentos
calcrios e neossolos litlicos sustentando uma vegetao com poucas rvores e com o predomnio de
cactceas, gramneas e bromlias, por isso tambm conhecida como Caatinga Arbreo-Arbustiva
Aberta sobre lajeamento (BRANDO & NAIME, 1998; BRANDO, 2000). Outro aspecto marcante dessa
fitofisionomia o fato de se encontrar sobre reas que se alagam no perodo chuvoso. Por essa razo a
Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta regionalmente conhecida como Furado (BRANDO et al, 1998). Com
pode se observar na figura 3/B, o estrato arbreo pouco representativo e se caracteriza por
apresentar agrupamentos arbreos esparsos e formados quase que exclusivamente pelo Imbiruu
(Pseudobombax simplicifolia). O Umbuzeiro (Spondias tuberosa ) e a Barriguda de Espinho (Ceiba sp)
tambm so freqentes. Esses indivduos arbreos no ultrapassam seis metros de altura. No entorno dos
afloramentos, observa-se um nmero de maior de rvores devido presena de um solo mais
desenvolvido. O estrato arbustivo mais significativo e conta com a expressiva presena de cactceas
como o Facheiro (Pilocereus sp), o Quip (Opuntia sp) e o Coroa-de-Frade (Melanocactos sp). A presena de
bromlias, como o caro ( Neoglaziovia variegata), tambm marcante.
O estrato herbceo composto por diversas espcies efmeras que se agrupam nas fendas
existentes entre as lajes ou nos montculos de terra e hmus que se acumulam sobre elas. Algumas das
espcies da Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta exercem uma funo ecolgica muito importante, pois
complementam a dieta da avifauna local que ali tambm se nidifica. As depresses alagveis tambm
representam um elemento que refora a importncia ecolgica dos Furados, pois alguns animais vem
esses locais como espaos apropriados para a obteno de gua( BRANDO et al, 1998). O nico problema
ambiental encontrado na rea foi o pisoteio do gado.
A Floresta Pereniflia ou Mata Ciliar destaca-se como uma formao vegetal formada por rvores
que mantm a folhagem em um contexto climato-botnico marcado pela deciduidade no perodo seco. O
bitopo ocorre ao longo das margens do Rio So Francisco e das Lagoas marginais localizadas na borda
Leste do Parque( Figura3/D). Essa fitofisionomia marcada pelo predomnio absoluto de Acacia farnesiana
(Alagadio ou Coronha), mas existem outras espcies importantes como Shinopsis brasiliensis (Brana) e
Triplaris sp(Paje). A estrutura da vegetao apresenta quatro estratos com rvores entre dois e dez
metros que, juntamente com os arbustos e ervas rasteiras, formam um macio vegetal entrelaado de
grande importncia para o equilbrio das encostas do Rio So Francisco e das Lagoas Marginais. O estrato
arbreo apresenta o predomnio de rvores de mdio e pequeno porte sendo que a maioria das espcies

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

610
formada por indivduos com alturas variando entre cinco e oito metros aproximadamente. Os estratos
arbustivo e herbceo so bastante desenvolvidos.

Figura 3: As principais fitofisionomias no sentido anti-horrio: Floresta Estacional de


Alto porte, Caatinga Arboreo-Arbustiva Aberta, Floresta Perenifolia e Floresta Estacional
Decidual Crstica.
A superfcie marcada por uma serrapilheira cujo desenvolvimento aumenta medida que se
distancia do rio ou da lagoa marginal. No se observam impactos ambientais significativos, mas foi notada a
presena de lixo nas proximidades da margem da lagoa. A presena de lianas significativa haja vista que
os cips contribuem muito para que as matas ciliares do So Francisco tenham um aspecto denso e
fechado.
A Floresta Estadual de afloramentos calcrios uma fitofisionomia que se encontra associada s
encostas do Morro da Lavagem localizado na poro Nordeste do Parque. As reas mais ngremes do Morro
da Lavagem apresentam um neossolo litlico quase que totalmente desprovido de vegetao de maior
porte (Figura 3/C). As fendas existentes nos afloramentos calcrios possibilitam o desenvolvimento de
cactceas e alguns arbustos. Os terrenos mais aplainados eram usados como pastagens h cerca de
aproximadamente quinze anos. Hoje existe uma vegetao secundria em regenerao, apresentando uma
sucesso ecolgica considerada como intermediria. A Floresta Estacional Decidual dos afloramentos
possui mdio porte e apresenta quatro estratos formados por rvores cuja altura varia entre dois e dez
metros. O estrato composto por rvores entre seis e 10 metros insignificante e a maioria dos indivduos
arbreos se encontra entre dois e cinco metros de altura. Nesse estrato, observam-se vrias touceiras com
diversas ramificaes da espcie Caesalpinia pyramidalis (Caatinga de Porco ou catingueira). O estrato
arbustivo pouco desenvolvido e apresenta algumas espcies esparsas entremeando as rvores.
A serrapilheira escassa e os afloramentos calcrios predominam na superfcie do bitopo. A
Caesalpinia pyramidalis (Caatingueira), a Cobretum sp (Vaqueta), a Jatropha curcos (Pinho-manso) e a
Cereus jamacaru (Mandacaru) so as espcies predominantes nessa formao vegetal. Os impactos
ambientais so ausentes e o conjunto da vegetao formado por rvores ressequidas e plantas xerfilas
distribudas ao longo das encostas ngremes do Morro da Lavagem faz com que o nmero de elementos de
beleza cnica seja alto.
5. Os principais desafios do Parque Estadual Mata Seca
Joo Pessoa, outubro de 2011

611
Os problemas relacionados ao desmatamento clandestino, caa, pesca e ao pisoteio do gado no
Parque Estadual Mata Seca so muitos comuns em outras unidades de conservao do Brasil. Trata-se de
um desafio que depende de outras importantes questes a serem enfrentadas, tais como, a elaborao do
plano de manejo e a implantao da infra-estrutura necessria ao bom funcionamento de um Parque. A
soluo para esses problemas tambm depende da gesto participativa que se pretende implantar na
unidade de conservao. Nesse caso, recomenda-se que a futura gesto incorpore um plano de ao
voltado para a conscientizao das comunidades de entorno sobre a importncia da preservao da flora e
fauna do Parque ao mesmo tempo em que sejam oferecidas as alternativas que possam gerar renda para
essas populaes.
Sabe-se que uma das maiores preocupaes do Parque Estadual Mata Seca refere-se aos riscos de
incndios nos perodos de secas. Nesse sentido, necessrio enfrentar esse problema que representa um
dos mais srios desafios do Parque. A maioria dos incndios que ocorre na regio so criminosos e quase
sempre se iniciam em estradas. Assim, faz-se necessrio criar mecanismos que possam detectar e
combater, no incio, os incndios com eficincia. Dentre as medidas a serem implantadas para combater os
focos de incndio recomenda-se a construo de outras torres de observao em pontos estratgicos do
Parque. Atualmente, existem duas torres, uma de 12 e outra de 25 metros de altura. Outro importante
desafio do Parque Estadual Mata Seca diz respeito definio da gesto a ser adotada. Atualmente,
discute-se muito a importncia de uma gesto democrtica ou participativa que considera o envolvimento
das comunidades de entorno na elaborao do plano de manejo e na conduo dos mecanismos voltados
para o desenvolvimento sustentvel da regio.
Esse processo tem dado certo na relao entre as populaes de entorno e os rgos gestores do
Parque Nacional do Capara no Leste de Minas. Para a Amda (2005), a gesto participativa no Parque do
Capara elevou a unidade de conservao ao status de Parque modelo em Minas Gerais. No caso do
Parque Estadual Mata Seca a gesto democrtica se esbarra em trs problemas: a ausncia de um plano de
manejo, a falta de uma infra-estrutura necessria para o funcionamento efetivo da unidade de
conservao, a necessidade de criao de mecanismos de gesto que possam unir os administradores, as
instituies pblicas e privadas e as comunidades existentes na regio. Outro desafio diz respeito ao
aproveitamento das potencialidades tursticas da rea. Nesse contexto, o Parque Estadual Mata Seca possui
um potencial imenso para o chamado turismo sertanejo, uma vertente do turismo ecocultural que tem
ganhado fora no serto nordestino nos ltimos anos. Para Seabra (2003), o turismo sertanejo caracterizase por apresentar atividades de lazer integradas com a paisagem interiorana onde esto presentes o meio
fsico, a cultura local e a participao da comunidade residente.
6. Concluses
As Florestas Decduas de alto porte, a Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta e as Florestas
Pereniflias esto entre os principais remanescentes vegetacionais nativos ou com pequenas alteraes
antrpicas que resistiram ao avano da agropecuria no extremo norte de minas, o que evidencia
a importncia do Parque Estadual Mata Seca no contexto regional uma vez que essa unidade de
conservao foi criada no ano 2000 com o objetivo de preservar essas reas.
A partir da anlise dos dados inferiu-se que um dos aspectos mais marcantes deste trabalho referese diversidade e ao alto nvel de preservao das fitofisionomias identificadas no Parque, o que confirma
a importncia da preservao dos ecossistemas presentes nessa unidade de conservao. Tambm se deve
ressaltar que a Floresta Estacional Decidual de alto porte o mais importante bitopo do Parque , haja
vista que esse macio florestal cobre mais da metade da rea da unidade de conservao e apresenta-se
bastante preservada. Como pode se observar na figura 4, essa fitofisionomia apresenta vrios estratos
vegetacionais o que comprova a existncia de uma diversidade de ambientes bastante expressiva.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

612

Figura 4: Perfil fitogeogrfico da Floresta Estacional de alto porte. A preservao, a


diversidade de ambientes e a extenso de sua rea fazem com que essa seja a principal formao vegetal
do Parque Estadual Mata Seca.
A Caatinga Arbreo-Arbustiva Aberta sobre lajeamento destaca-se por revelar-se como um dos
principais atrativos do Parque
em funo da sua incrvel beleza cnica. Mesmo diante de
tamanha importncia, a implantao efetiva desse Parque ainda no ocorreu haja vista os diversos
desafios a serem enfrentados e superados para que essa unidade de conservao possa assumir de fato a
sua funo definida pelos dispositivos legais que a criaram.
Tambm chegou-se concluso de que a elaborao do plano de manejo e a implantao da infraestrutura sero desafios decisivos para a soluo dos grandes problemas que hoje afetam a integridade e
o funcionamento do Parque. Nesse sentido, os incndios, o desmatamento, a caa e a pesca predatrias, o
pisoteio do gado so problemas que se apresentam como os principais desafios a serem enfrentados uma
vez que a soluo para essas questes beneficiar no s a unidade de conservao em si, mas tambm
todo o contexto social e econmico em que est inserido o Parque Estadual Mata Seca e o seu entorno.
7. Referncias Bibliogrficas
ASSOCIAO MINEIRA DE DEFESA DO AMBIENTE AMDA. Panorama das unidades de conservao
em Minas. Ambiente Hoje, Belo Horizonte, n. 118, p. 4-7, jul.2005.
BED, C. L. et al. Manual para mapeamento de bitopos no Brasil Base para um planejamento
ambiental eficiente. Belo Horizonte: Fundao Alexander Brandt, 1997. 146p.
BELM, R. A. Mini-Curso: As fitofisionomias do bioma Cerrado no Norte de Minas Metodologia de
caracterizao e contribuio ao sobre a nomenclatura vegetacional brasileira. Pirapora: Universidade
Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, 2009, 15p.
BELM, R. A. Zoneamento ambiental e os desafios da implementao do Parque Estadual Mata
Seca, Municpio de Manga, Norte de Minas Gerais. 2008. 169f. Dissertao (Mestrado em Geografia) Instituto de Geocincias, Universidade federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
BRANDO, M. Cerrado. In: MENDONA, M.; LINS, L. (Org.). Lista Vermelha das Espcies Ameaadas
de Extino da Flora de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundao Biodiversitas, 2000, p. 75-85.
BRANDO, M.; NAIME, U. J. Cobertura Vegetal Original dos Municpios de Jaba, Manga e Matias
Cardoso, MG. Daphne, Belo Horizonte, v. 8, n. 2, p. 7-13, abr. 1998.
BRANDO, M. et al. Furados: Um novo Ecossistema de Grande Importncia como Suporte da
Fauna Local e Regional da Regio da Jaba, MG. Daphne, Belo Horizonte, v. 8, n. 3, p. 51-60, jul.1998.
ESPIRITO-SANTO, M et al.Florestas estacionais deciduais brasileiras: distribuio e estado de
conservao. MG Biota, v.1, n.2, p.5-13, Junho/Julho - 2008
FERRI, M. G. Vegetao brasileira. So Paulo: Edusp/Itatiaia, 1980, 157p.
NEVES, C. B. Zoneamento ambiental da estao ecolgica da Universidade Federal de Minas Gerais.
2002. 126f. Dissertao (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geocincias, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2002.
Joo Pessoa, outubro de 2011

613
PRADO, D. E. In: LEAL, I.; TABARELLI, M.;SILVA, J.M.C. (Orgs.). Ecologia e Conservao da Caatinga.
Recife: Editora UFPE, 2005, 822p.
PUIG, H. A Floresta Tropical mida. So Paulo: Editora Unesp, 2008, 496p.
SALGADO-LABOURIAU, M. L. A Histria Ecolgica da Terra. So Paulo: Editora Edgard Blucher,
2001,307p.
SEABRA, G. de F. O turismo sertanejo como alternativa econmica para o semi-rido. Passo: Revista
de Turismo y Patrimnio Cultural, Tenerife, v. 1, n. 2, p. 137-143, 2003.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS UFLA; INSTITUTO DE FLORESTAS IEF. Mapas e Inventrio da
flora natural e dos reflorestamentos de Minas Gerais. Lavras: UFLA, 2006.
ZAPPI, D. Fitofisionomia da Caatinga associada Cadeia do Espinhao Revista Megadiversidade Conservao Internacional / Brasil, v.4, n. 1-2, Dezembro 2008. Disponvel em:
<www.conservation.org.br/publicacoes> Acesso em: 15 de Julho de 2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

614

EXTENSO UNIVERSITRIA EM UNIDADE DE CONSERVAO


Rosalva de Jesus dos REIS
Bacharel e Licenciada em Geografia (UFMA), Especialista em Geografia Aplicada ao Planejamento Ambiental (UFMA),
Mestre em Gesto e Polticas Ambientais (UFPE), Professora do Departamento de Histria e Geografia (UEMA), e -mail:
rosalvareis@oi.com.br

RESUMO
A APA do Maracan uma Unidade de Conservao, situada no municpio de So Lus, capital do
Maranho. Foi criada em 1/10/1991, pelo Decreto Estadual n. 12.103, com uma rea de 1.831ha. A APA
caracterizada por vegetao arbrea onde so encontradas espcies de relevante interesse ecolgico como
Orbygnia martiana (babau), Euterpe oleraceae (juara), Mauritia flexuosa (buriti), Theobroma
grandiflorum (cupuau), Platonia insignis (bacuri). Na Fauna destacam-se inmeras espcies de pssaros.
Entre os rios podem ser citados o Maracan e o Ambude. rica em manifestaes culturais e religiosas que
ocorrem ao longo de todo o ano. Entre elas podem ser citadas o bumba-boi de matraca, a Festa da Juara,
Festa do Divino, Festa de Reis. Pelo arranjo de seus atributos naturais e humanos, a APA se destaca no
contexto ludovicense, e recebe significativo n de visitantes em diversos momentos do ano. Apesar do
exposto, a esfera do poder pblico que instituiu a UC tem se mantido ausente da mesma. No foi
elaborado o Plano de Manejo, No h escritrio da Secretaria no local, no realizada Educao Ambiental.
As aes realizadas ficam por conta do governo Municipal e organizaes locais como Associao dos
Amigos do Parque da Juara, Associao Comunitria de Turismo (ACOMTUR). Esta ltima responsvel
pela conduo de trilhas. Neste trabalho so expostas as experincias de projetos de extenso
desenvolvidos por alunos do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Maranho junto
comunidade escolar maracanaense. So eles: Gesto ambiental participativa na rea de proteo
ambiental (APA) do Maracan: a fase de sensibilizao (extenso); Gesto ambiental participativa na rea
de proteo ambiental (APA) do Maracan: a fase de sensibilizao II (extenso); Conhecendo a APA do
Maracan (extenso); Conhecendo a APA do Maracan II(extenso).
Palavras-chave: APA. Gesto ambiental. Extenso universitria.
1 INTRODUO
Os problemas ambientais brasileiros ocorrem desde o perodo colonial quando as florestas situadas
na rea costeira passaram por intensa explorao (CABRAL; RHM; SOUZA, 2003). Posteriormente, com o
aumento da populao e implementao das atividades econmicas, fez-se necessrio uma maior
explorao dos recursos naturais. O modelo de explorao adotado levou a uma srie de problemas
ambientais, tais como: supresso da cobertura vegetal, poluio das guas e do ar, queimadas, eroso dos
solos agricultveis, crescimento desordenado das cidades, extino de espcies da fauna e da flora.
Os problemas ambientais brasileiros encontram-se no contexto global e,conforme destaca
Troppmair (1995, p. 7) pe em risco no apenas a vida de plantas e animais, mas a do prprio homem.
Estes problemas refletem o que ficou conhecido como crise ambiental, em decorrncia do
desequilbrio causado pelo uso dos recursos naturais da biosfera. Os problemas indicam que no se tratam
de crises regionais ou temporais, mas a crise generalizou-se, afetando a relao entre sociedade e o meio
ambiente (DIEGUES, 1995, p. 31).
A continuidade dos problemas citados levaria o planeta a um empobrecimento ou at a sua
aniquilao.
Diante deste contexto de degradao ambiental e, consequente, prejuzo de qualidade de vida,
comeam a surgir preocupaes com a preservao ambiental.
Em nvel mundial foram criados parques; congressos e convenes foram realizados e surgiram
vrios organismos para tratar da questo ambiental.
A dcada de 70, do sc. XX, considerada como marco na tomada de conscincia ambiental.
Foi somente no sc. XX que a preocupao com o meio ambiente resultou, no Brasil, na elaborao
e implantao de polticas pblicas com carter marcadamente ambiental, especialmente a partir da
dcada de 1970, quando aumenta a percepo de que a degradao do planeta pode ter efeitos
irreversveis e catastrficos.
Joo Pessoa, outubro de 2011

615
Dentro deste contexto os rgos ambientais e a legislao ambiental que vai se consolidando
contempla, entre inmeros aspectos, as reas protegidas, cujo objetivo principal a sustentabilidade
ambiental.
No universo das reas protegidas esto as chamadas Unidades de Conservao que por meio do
Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), foram reunidas em dois grupos: de uso
sustentvel e de proteo integral (CABRAL; RHM; SOUZA, 2003).
As reas de Proteo Ambiental (APA's) esto includas no primeiro grupo. Segundo o
IBAMA/DICOE (apud BRITO; CMARA, 2002), as APAs so reas terrestres e/ou aquticas de configurao
e tamanho variveis, submetidas ao planejamento e gesto ambiental, podendo compreender ampla
gama de paisagens naturais, seminaturais, ou alteradas, com caractersticas biticas, abiticas, estticas ou
culturais notveis que exijam proteo para assegurar o bem-estar das populaes humanas, e conservar
ou melhorar as condies ecolgicas locais.
As APA's tm por finalidade disciplinar o processo de ocupao, assegurar o uso sustentvel dos
recursos naturais e promover, quando necessria, a reabilitao dos ecossistemas degradados (BRITO;
CMARA, 2002). Eles integram os instrumentos da Poltica Nacional de Meio Ambiente e podem ser criadas
nos trs nveis: federal, estadual e municipal.
Aps a criao a APA deve contar com as seguintes medidas:
zoneamento ambiental;
utilizao dos instrumentos legais e dos incentivos governamentais necessrios manuteno da
sustentabilidade;
divulgao do instrumento legal junto comunidade;
promoo de programas de educao ambiental, extenso rural e saneamento bsico.
Os objetivos especficos de uma APA so:
proteger a cobertura vegetal;
promover a proteo da fauna;
manter ou promover a melhoria da qualidade dos recursos hdricos;
proteger os recursos de solo, subsolo e rochas;
contribuir para que a populao esteja sempre integrada aos objetivos da APA, s suas parcerias,
co-gesto.
Conforme destacado por Brito e Cmara (2002), para alcanar os objetivos a APA criada deve
estabelecer trs grandes prioridades:
zoneamento ambiental;
gesto ambiental;
fiscalizao integrada.
Entre os dispositivos legais que tratam do zoneamento est a Resoluo CONAMA n 10/88 que
estabelece [...] o zoneamento estabelecer normas de uso, de acordo com as condies locais biticas,
agropastoris, extrativas, culturais e outras.
Um grande nmero de Unidades de Conservao criado no Brasil carece de uma gesto adequada,
que corresponda aos objetivos aos quais foi criada. o caso de uma das UCs maranhense, a APA do
Maracan.
2 APA DO MARACAN
Entre as unidades situadas no municpio de So Lus est a rea de Proteo Ambiental da Regio
do Maracan. Situada na zona rural (Figura 1), ela se destaca no contexto ambiental ludovicense pelo
arranjo de seus atributos naturais e culturais. Foi criada em 1/10/1991, pelo Decreto Estadual n. 12.103,
com uma rea de 1.831ha.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

616

Figura 1 Mapa de localizao

A APA caracterizada por vegetao arbrea onde destacam-se espcies de relevante interesse
ecolgico como Orbygnia martiana (babau), Euterpe oleraceae (juara), Mauritia flexuosa (buriti),
Theobroma grandiflorum (cupuau), Platonia insignis (bacuri). Na Fauna destacam-se inmeras espcies de
pssaros. Entre os rios podem ser citados o Maracan e o Ambude.
A criao da APA objetivava, entre outros, disciplinar o uso e a ocupao do solo, a explorao das
reas naturais, a integridade biolgica das espcies e os padres de qualidade da gua.

Joo Pessoa, outubro de 2011

617
Alm da manuteno e/ou melhoria da qualidade ambiental deve haver, em uma APA, o fomento
de atividades geradoras de emprego e renda. Este fomento deve considerar as vocaes da rea e envolver
a comunidade local. Esta deve ter um papel decisivo na definio das atividades.
A localidade de Maracan famosa pela Festa da Juara (realizada no ms de outubro) e pelo
Bumba-meu-boi de matraca. No entanto a rea apresenta outros atrativos e recursos de ordem natural e
cultural, utilizados de forma incipiente, que podem contribuir para a implementao das atividades
econmicas, elevando o padro de vida da comunidade.
O fomento s atividades geradoras de emprego e renda totalmente admissvel em uma APA. No
entanto, necessria uma harmonia entre o crescimento econmico e as necessidades de conservao.
Vrias empresas esto instaladas na rea e atuam nos diversos ramos. A expanso urbana tem sido
um fenmeno constante.
Apesar da importncia da APA do Maracan no contexto ambiental ludovicense, grande parte de
sua populao no reconhece a mesma como uma unidade de conservao. O conhecimento deste fato se
deu a partir da aplicao de questionrios durante os projetos de extenso e pesquisa orientados no local.
Foram eles:
Gesto ambiental participativa na rea de proteo ambiental (APA) do Maracan: a fase de
sensibilizao (extenso);
Gesto ambiental participativa na rea de proteo ambiental (APA) do Maracan: a fase de
sensibilizao II (extenso);
Conhecendo a APA do Maracan (extenso);
Potencialidades econmicas da rea de proteo ambiental (APA) do Maracan (pesquisa);
Conhecendo a APA do Maracan II(extenso);
A APA do Maracan carece de instalaes de escritrios do rgo gestor. Consequentemente as
aes que devem ser implementadas a partir desta instalao ainda no se verificaram. O governo
municipal, universidades e alguns segmentos da comunidade local que tem empreendido algumas aes
no local.
Este trabalho tem como objetivo destacar as realizaes de projetos de extenso desenvolvidos por
acadmicos do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Maranho (UEMA), junto comunidades
escolar. Os projetos foram coordenados pela Prof. Ms. Rosalva de Jesus dos Reis, gegrafa, lotada no
Departamento de Histria e Geografia da UEMA.
3 PROJETOS REALIZADOS
3.1 Gesto Ambiental participativa na rea de Proteo Ambiental do Maracan: a fase da
sensibilizao
Realizado de dezembro de 2006 a dezembro de 2007 no Centro de Ensino Sagrados Coraes
(CESCO) e Unidade de Educao Bsica (UEB) 21 de Abril. 4 acadmicos foram envolvidos no projeto, sendo
todos voluntrios.
Objetivo: Propor estratgias de gesto envolvendo a comunidade escolar do Maracan.
Metodologia: Levantamento bibliogrfico, anlise de material cartogrfico, realizao de
entrevistas, aplicao de questionrios (com a comunidade em geral e com os alunos), realizao de
atividades sensibilizadoras.
Para melhor embasamento dos acadmicos extensionistas sobre a APA, os mesmos, alm do
levantamento bibliogrfico, realizaram entrevistas com moradores antigos do lugar, com organizadores das
principais manifestaes culturais e religiosas: observaram algumas festas; fizeram as trilhas. Estas
representam um forte atrativo do lugar por possurem aspectos naturais e arquitetnicos (runas) de
relevncia. Existem 4 trilhas na APA, assim denominadas: Joca Guimares, Hotel Fazenda, Rosa Mochel e
Baluarte.
Atravs da aplicao de questionrios junto comunidade do bairro Maracan, constatou-se que
93,27% das pessoas questionadas desconhecem o significado de uma APA. A partir de entrevistas feitas
com os organizadores das principais manifestaes culturais e religiosas do bairro, identificou-se que os
mesmos desconheciam a insero do Maracan em uma Unidade de Conservao.
Atividades desenvolvidas:
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

618
-No Centro de Ensino Sagrados Coraes: palestras para 80 alunos do inscritos do jardim de
Infncia 6 srie; leitura dirigida utilizando um livro (Joozinho salvando o Maracan) produzido por
integrantes da equipe de execuo do projeto; atividade de educao ambiental pela trilha Joca Guimares
at a nascente do rio Ambude para coleta do lixo encontrado e distribuio de folders (com o ttulo A
Natureza maracanaense pede Socorro) com informaes sobre lixo.
-Na Unidade de Educao Bsica 21 de Abril: palestras para 275 alunos; participao na Feira
Cientfica promovida pela escola com o tema A Natureza pede Socorro. Na oportunidade foram
desenvolvidas as seguintes atividades: apresentao de teatro de fantoches na abertura do evento,
premiao do desenho escolhido como tema do evento (a produo do desenho foi realizada na primeira
atividade do grupo nesta unidade de ensino), exposio de fotos com registro das atividades que
ocorreram nos dias das palestras, exposio de murais com desenhos dos alunos e cartazes com
informaes sobre a APA do Maracan.
Nas duas escolas, durante as palestras foi encenada uma pea com enfoque ambiental, foram
demonstrados cartazes e vdeo. E os alunos confeccionaram desenhos alusivos ao ambiente.
3.2 Gesto Ambiental participativa na rea de Proteo Ambiental do Maracan: a fase da
sensibilizao II
Realizado no primeiro semestre de 2008 por 4 acadmicos, sendo 2 bolsistas (do Programa
Institucional de Bolsas de Extenso PIBEX/UEMA) e dois voluntrios.
Esta segunda verso do projeto foi realizada na Unidade Integrada Major Jos Augusto Mochel, nos
turnos matutino e vespertino, com alunos do Ensino Fundamental. A sistemtica utilizada foi semelhante
do projeto anterior.
Durante a fase de sondagem junto aos alunos a respeito do conhecimento dos mesmos sobre a
APA, confirmou-se o pouco conhecimento da comunidade escolar quanto aos aspectos institucionais e
legais de uma APA.
Existe, uma forte relao da comunidade com o ambiente humano e material da APA. A afirmativa
baseada nos seguintes dados:
Cerca de 63% das famlias questionadas (durante o 1 projeto) afirmam utilizar algum recurso
natural disponvel na rea;
H uma participao muito grande dos alunos nas manifestaes culturais e religiosas existentes na
APA (Bumba-meu-boi, Festa de Reis, Festa do Divino, Festa da Juara).
Os diferenciais foram o nmero maior de alunos contemplados (atingiu-se um pblico de 250
alunos do Ensino Fundamental, nos turnos matutino evespertino); a realizao de uma gincana: e a
elaborao de uma cartilha sobre a APA.
3.3 Conhecendo a APA do Maracan
Projeto realizado por um bolsista (PIBEX/UEMA) e um voluntrio de setembro de 2008 a janeiro de
2009.
Os objetivos propostos eram:
Geral:
Proporcionar atividades que levem a comunidade escolar da UEB Major Jos Augusto Mochel ao
conhecimento dos principais aspectos naturais e humanos da APA do Maracan.
Especficos:
Identificar os atributos naturais e humanos;
Analisar a relao existente entre a comunidade escolar e a APA;
Analisar a ao do poder pblico na APA;
Relacionar a situao identificada na APA com a legislao ambiental vigente.
A metodologia utilizada foi: levantamento bibliogrfico; realizao de palestras; atividades de
campo (conduo de trilhas, acompanhamento do curso dos principais corpos dgua, incurses nos bairros
que compem a APA); realizao de atividade de culminncia.
Como foram propostas vrias atividades fora da escola, optou-se por trabalhar com um nmero
menor de alunos que nos projetos anteriores. Foram selecionados 30 alunos inscritos no Ensino
Fundamental da UEB Major Jos Augusto Mochel
Joo Pessoa, outubro de 2011

619
Os extensionistas, inicialmente, levantaram fontes bibliogrficas relacionadas s Unidades de
Conservao em geral e APA do Maracan; organizaram o roteiro das palestras; estabeleceram contato
com os trilheiros da Associao Comunitria de Turismo (ACOMTUR) para realizao das atividades de
campo; e elaboraram o roteiro de aspectos a serem anotados pelos alunos para posterior apresentao na
atividade de culminncia.
O ponto alto deste projeto foi a conduo das trilhas Joca Guimares e Rosa Mochel. Os alunos
tiveram a oportunidade de fazer uma observao orientada de diversos aspectos como: cobertura vegetal,
fauna, corpos dgua, ao antrpica, utilizao dos recursos naturais.
3.4 Conhecendo a APA do Maracan II
Realizado de maio de 2010 a abril de 2011 por 4 extensionistas, sendo uma bolsista e 3 voluntrios.
Esta foi a segunda verso do 3 projeto, sendo que com um tempo maior e equipe mais numerosa
pode-se trabalhar com mais alunos. 312 alunos da UEB Major Augusto Mochel, inscritos no turno
vespertino, foram beneficiados com palestras sobre diversos assuntos referentes temtica ambiental e 30
alunos selecionados para atividades de campo (trilhas). Sendo que os 312 alunos esto divididos em 3
turmas de 6 ano, 3 turmas de 7 ano, 3 turmas de 8 ano e 2 turmas de 9 ano.
As atividades desenvolvidas foram: levantamento bibliogrfico, reconhecimento da rea de
pesquisa, entrevistas, aplicao de questionrios, palestras, conduo de trilhas (Joca Guimares e Hotel
Fazenda).
Algumas dificuldades encontradas foram:
Greve dos funcionrios da Universidade;
Greve dos professores municipais que contribuiu para o atraso do inicio dos trabalhos junto aos
alunos;
Deslocamento para a rea de pesquisa dificultada pela reduzida frota de coletivos;
Indisponibilidade de horrios para palestras em alguns dias.
Est em andamento o projeto Conhecendo a APA do Maracan II, cujos extensionistas recebem
bolsa do Programa de Bolsa de Iniciao Extenso (BEX) da Fundao de Amparo Pesquisa e ao
desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico do Maranho (FAPEMA). O projeto est sendo desenvolvido por
dois bolsistas com as turmas de 6 ano da Unidade de Educao Bsica Major Jos Augusto Mochel. A
expectativa era de que o resultado do Edital BEX/FAPEMA 2010 fosse divulgado prximo ao resultado do
Edital PIBEX/Uema para que todos os bolsistas trabalhassem juntos. Isto no ocorreu. Os bolsistas da
FAPEMA s comearam a trabalhar em novembro de 2010 e vo at outubro de 2011.
4 PARCERIAS E APOIOS
Os resultados alcanados pelos projetos decorrem, tambm, da ajuda recebida por vrios
segmentos, a saber:
A Coordenadoria de Extenso da UEMA, que sempre esteve disponvel para prestar as informaes
e orientaes solicitadas;
Alguns professores que participaram ativamente de algumas atividades;
A Direo e Coordenaes (de Ensino e Pedaggica) das escolas;
A Associao Comunitria de Turismo (ACOMTUR) atravs da disponibilidade de agentes
ambientais para a conduo das trilhas;
A UEMA atravs da concesso das bolsas e do micro-nibus para o transporte dos alunos e
extensionistas para a realizao da trilha Hotel Fazenda.
A comunidade do Maracan. Aqui lembrada atravs das pessoas que organizam as manifestaes
culturais e religiosas do lugar, como D. Cotinha (Presidente da Associao dos Amigos do parque da Juara),
D. Clia (organizadora da Festa do Divino) e as saudosas D. Nonoca e D. Nan.
5 CONSIDERAES FINAIS
As experincias vivenciadas durante a realizao dos projetos foram positivas. A insero dos
acadmicos foi importante, pois os mesmos observaram in loco o funcionamento de uma unidade de
conservao, e puderam estabelecer um paralelo entre o que proposto para uma APA e o que realmente
acontece em uma delas. O contato dos extensionistas com o ambiente escolar foi relevante, considerando
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

620
que o curso dos mesmos de Licenciatura. Para a comunidade escolar os projetos se constituram em mais
um instrumento que visa o despertar da mesma para a sua importncia como agente da APA. Os temas
abordados e as observaes feitas deram mais fundamento, s equipes executoras, para as discusses de
cunho ambiental do Ncleo de Desenvolvimento Regional e Sustentabilidade (NEDERS). E foi uma
contribuio da Universidade considerando o pilar Ensino, Pesquisa e Extenso.
REFERNCIAS
BRITO, Francisco A.; CMARA, Joo B.D. Democratizao e gesto ambiental: em busca do
desenvolvimento sustentvel. 3. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2002.
CABRAL, Njila Rejanne Alencar Julio; RHM, Srgio Antonio; SOUZA, Marcelo Pereira de. Polticas
pblicas de reas protegidas: contribuio para sua implementao e manuteno da biodiversidade. In:
WENDLAND, Edson; SCHALCH, Valdir. Pesquisas em meio ambiente: subsdios para a gesto de polticas
pblicas. So Carlos: RiMa, 2003.
DIEGUES, A. C. S. Ecologia humana e planejamento em reas costeiras. So Paulo: NAPUB-USP,
1995.
TROPPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. Rio Claro, 1995.

Joo Pessoa, outubro de 2011

621

A PRTICA PEDAGGICA E O ECOTURISMO NO VALE DO CATIMBAU,


BUQUE PE.
Autora: Rosngela Martins dos SANTOS
FUNESO (rosangela-martins@hotmail.com)
Professora Especialista e Orientadora do curso de Biologia
Co-autoras:
Adriana Pereira de SOUZA
FUNESO (adriiannasouza@hotmail.com)
Graduanda em Biologia
Mahyara Lisboa LYRA Vieira Belo
FUNESO (mahyaralyra@hotmail.com )
Graduanda em Biologia

RESUMO
Este artigo tem por objetivo demonstrar como a prtica pedaggica pode ser aplicada ao
ecoturismo, propondo e viabilizando meios para que essa prtica possa ser inserida no planejamento anual
dos contedos escolares oferecidos, ligados educao ambiental. Com o intuito de oferecer medidas para
uma infraestrutura de base e orientaes ecopedaggicas, diversificando o ensino tradicional com
qualidade profissional das reas afins, desenvolvendo novas estratgias metodolgicas. O local escolhido e
estudado o Vale do Catimbau, Buque-Pe, considerado uma das sete maravilhas do estado. Sendo esta,
uma rea considerada o segundo maior stio arqueolgico nacional. Com os seus recursos naturais,
possvel interdisciplinar a prtica pedaggica com reas das cincias humanas, exatas e da natureza. De
forma favorvel e organizada, o manejo prtico e atrelado a educao ambiental, contribuir para a
preservao, o resgate cultural e socioeconmico do Vale. Para que novos patamares sejam alcanados e
desenvolvidos de forma sustentvel, proporcionando um desenvolvimento ecologicamente equilibrado do
ecoturismo na regio. Influenciando desta forma, a melhoria da qualidade de vida dos moradores, bem
como a reduo de impactos ambientais, proporcionados pelos ecoturistas e guias, no manejo inadequado
das trilhas. Com essas melhorias, juntamente com a prtica pedaggica no ecoturismo, possvel chegar a
um desenvolvimento sustentvel na regio, e formar cidados crticos e conscientes do valor do patrimnio
ambiental, por meio da ecopedagogia.
Palavras-chave: Prtica Pedaggica; Ecoturismo; Impactos ambientais e Desenvolvimento
Sustentvel.
Introduo
Na tentativa de tornar o mundo mais sustentvel, reduzindo os impactos ambientais, a pedagogia
traz uma vasta gama de realizaes no contexto escolar. Com a educao ambiental voltada ao ecoturismo,
faz-se necessrio que a prtica pedaggica seja aplicada, para que haja organizao nos projetos de
sustentabilidade na regio em foco.
Esse artigo tem como finalidade valorizar a prtica pedaggica atravs do ecoturismo,
contextualizando a educao ambiental, estimulada ao exerccio contnuo quanto interao homemnatureza, a cidadania, os valores patrimoniais e histricos, visando possibilidades de sustentabilidade,
atravs do ensino e a preservao do ambiente natural.
Com esse trabalho, a prtica pedaggica deve ser aplicada e fazer seu papel de extrema
importncia, velando suas caractersticas, complexidades e possibilidades sociais e culturais, sabendo dos
seus limites polticos e econmicos na regio desejada. esperado que o processo de interao, com a
realidade do local atinja a preparao de profissionais qualificados e preparados para solucionar problemas
entre discurso e prtica.
Segundo o ttulo VIII, captulo VI da Constituio de 1988: Art. 225. Todos tm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e
futuras geraes.
Orientadora: Prof. Especialista: Rosngela Martins dos Santos (FUNESO)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

622
Pargrafo 1 Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:
I preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e prover o manejo
ecolgico das espcies e ecossistemas;
VI promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a
conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente.

Segundo o Censo 2010, o municpio de Buque possui extenso de 1347,6 km 2. Nessa extenso
fazem parte 52.105 habitantes, onde 34% desses residem na sedo do distrito. Os outros 66% esto
distribudos pelos trs distritos. O objeto de estudo deste trabalho foi o distrito de Catimbau, Buque PE,
onde se localiza o Vale do Catimbau, que tem como eixo econmico o Ecoturismo. Distante
aproximadamente 12 km da sede do Municpio de Buque, Catimbau um tpico vilarejo rural, com
aproximadamente 635 domiclios, segundo dados do Censo 2000 (Revista Turismo Viso e Ao
Eletrnica, v. 10, n 02. p. 204 220, mai./ago. 2008).
Da infraestrutura bsica, pode-se contar apenas com a coleta de lixo, pois o abastecimento de gua
feito a partir de poos artesianos e no existe, no distrito, nenhuma rede de esgoto. Uma escola
municipal (ensino fundamental) e um posto de sade complementam a estrutura do lugar.
Justificativa
Desde as ultimas dcadas, o ecoturismo, o turismo em ambientes naturais, disseminou-se de forma
grandiosa, utilizando o meio ambiente, como local de estudo e desbravamento, tanto por parte dos
aventureiros, como por instituies de ensino. Estas se utilizam do ambiente local como uma forma de
demonstrar e vivenciar na prtica os conhecimentos obtidos em sala de aula. A Sociedade internacional de
Ecoturismo (The International Ecotourism Society TIES 1990) define ecoturismo como viagem responsvel
para reas naturais que conservem o meio ambiente e promovam o bem-estar da populao local.
O desenvolvimento sustentvel da regio est voltado ao ecoturismo socioambiental. Entretanto, o
manejo dos ecossistemas da regio no feito de forma adequada, por parte dos guias locais, da
comunidade e dos visitantes. Fato este, que gera um desequilbrio e impacto ambiental. A ausncia de um
ecoturismo pedaggico, tambm um fator limitante ao desenvolvimento da regio.
Neste contexto, adentra a prtica pedaggica voltada ao ecoturismo. Onde, ela surge de forma
crucial no planejamento escolar interdisciplinar. Propondo, a conscientizao ambiental e sociocultural,
desfrutando do meio ambiente, atravs das trilhas, sem degrad-lo, causando o menor impacto possvel.
Metodologia
Este projeto foi fundamentado a partir de estudos bibliogrficos atravs de uma reviso
literria de artigos, monografias acadmicas, documentos do ministrio do meio ambiente, censos 2000 e
2010, constituio 1988 e as visitas realizadas, nos meses de junho e outubro de 2010, maio de 2011,
constaram grupos de 25, 40 e 50 pessoas. Todos os participantes graduandos do curso de Biologia da
FUNESO registraram as trilhas com imagens, gravaes das explicaes dos guias e dos professores
envolvidos, realizaram tambm entrevistas informais.
Os trabalhos foram baseados, atravs de observaes crticas, com registros de imagens ao longo
dos percursos realizados nas seguintes trilhas: ( Serra das Torres, Paredes, Igrejinha, Umburanas, Casa de
Farinha, Pedra Furada, Canyon, Loca das Cinzas, Conchas, Homens sem Cabea) e coletas de dados atravs
de questionamentos informais, aos guias, proprietrios de estabelecimentos comerciais, moradores, com o
intuito de averiguao quanto prtica pedaggica, como pilar motivador do ecoturismo e no
desenvolvimento sustentvel local de forma planejada. Podem-se observar na realidade local, as
dificuldades para o acesso as trilhas em diferentes estaes do ano, bem como um despreparo na atuao
do grupo de guias da Associao do Vale, as visitas ao Vale do Catimbau foram realizadas em diferentes
estaes do ano, onde se observou realidades, quanto s dificuldades em percorrer as trilhas, ressaltando
as longas caminhadas realizadas antes mesmo do incio das reas da reserva, algumas foram necessrias a
locao de transporte pau- de- arara ou micro-nibus, visto que com as estradas de difcil acesso, em
alguns trechos impossibilitou o deslocamento com o transporte de grande porte, utilizado pelo grupo. Foi
observado tambm a motivao quanto a atuao do grupo de guias da Associao do Vale, quanto ao
nmero de participantes, bem como a fidelizao as trilhas requeridas. Trata-se de uma pesquisa
Joo Pessoa, outubro de 2011

623
qualitativa com carter investigativo, a respeito de como a prtica pedaggica pode ser aplicada ao
ecoturismo, amenizando os impactos ambientais e proporcionando um desenvolvimento sustentvel, de
forma a relatar como ocorre a explorao do meio ambiente, como se apresenta a estrutura fsica do
ambiente em estudo, o manejo da regio pelos guias e pelos ecoturistas das instituies de ensino.
A PRTICA PEDAGGICA NO ECOTURISMO
preciso levar em considerao que o desenvolvimento sustentvel e o meio ambiente podem
viver em equilbrio, se buscarmos o conhecimento e as prticas de tornar as atividades desenvolvidas para
uma economia em aes sem gerar impactos ambientais. Atravs da pedagogia sustentvel, novo ramo
pedaggico, pode-se propiciar uma aprendizagem, onde o ser humano se empenha no combate a
degradao do meio ambiente.
A Ecopedagogia surge num momento onde atitudes trs um questionamento: at que ponto, o que
fazemos benfico e pode influenciar na boa convivncia com as pessoas e ao planeta? Este
questionamento no se caracteriza como indito. Pois vem de uma evoluo ecolgica e pedaggica, onde
se desloca o aluno da sala de aula e o insere no ambiente natural, para que contextualize o aprendizado
inter-relacionando prticas sociais, culturais, histricas e principalmente ambientais.
A Educao Ambiental um processo permanente, no qual os indivduos e a comunidade tomam
conscincia do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experincias e
determinao que os tornam aptos a agir individual e coletivamente e a resolver problemas ambientais
presentes e futuros (BRASIL, 1993).
Neste enfoque, a prtica pedaggica deve ser trabalhada de forma interdisciplinar, e que promova
o conhecimento. A fim de integrar o alunado com atitudes que valorizem a prtica ambiental. dever dos
educadores motivar a participao dos educandos. Ao falar de meio ambiente, os educadores tem em
mos vrios materiais e mtodos para serem trabalhados na prtica pedaggica, que pode se
contextualizar no mbito do ecoturismo.
A educao ao longo de toda vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, para
beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educao ao longo de toda vida; aprender a fazer, afim de
adquirir no somente uma qualificao profissional, mas tambm diversas experincias sociais ou de
trabalho; aprender a viver juntos, realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos; aprender a
ser, para melhor desenvolver a sua personalidade. Delors (1998)
Neste contexto Delors revela a realidade da pedagogia e prope uma nova perspectiva para a
prtica pedaggica.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL E O IMPACTO AMBIENTAL
No pensamento de Pedro Jacobi (2003), o conceito de Desenvolvimento Sustentvel surge para
enfrentar a crise ecolgica. Pelo menos duas correntes alimentaram o processo: uma primeira, centrada no
trabalho do Clube de Roma, rene suas ideias publicadas sob o ttulo de Limites do Crescimento em 1972,
segundo as quais, para alcanar a estabilidade econmica e ecolgica prope-se o congelamento do
crescimento da populao global e do capital industrial; uma segunda est relacionada com a crtica
ambientalista ao modo de vida contemporneo, e se difundiu a partir da Conferncia de Estocolmo em
1972.
Com o crescimento da economia nas ultimas dcadas, foi significante os impactos ambientais
causados ao meio ambiente. Mesmo que ocorra a incluso social, o ecoturismo pode ser encarado como
uma forma de desenvolvimento para a regio, onde a educao ambiental poder proporcionar
sustentabilidade e diminuio no impacto ambiental, por parte da ao antrpica.
Diante de tantos inconvenientes, a educao pode ser um caminho para a prtica do mnimo
impacto. Dentre as tcnicas mais recomendadas para este fim, est interpretao ambiental que,
segundo Cascino e Figueiredo (2005. p. 552), caracteriza-se pela construo crtica derivada da
experimentao.
A sociedade, inserida nesse contexto, precisa ver-se como parte do processo do ecoturismo, para
que este ocorra em nveis adequados a seus interesses e condizentes com a realidade local. Com o intuito
de minimizar um dos fatos determinados como atividades predatrias (caa e retirada de madeira para
ser usada como lenha e em cercados), que so vistos pelos moradores como algo necessrio ao seu dia-dia,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

624
por serem, muitas vezes, a nica fonte de recurso. Porm do cuidado dos dirigentes o controle da coleta
dos lixos, evitando assim a deposio em local inadequado, como observado nas ruas e na entrada de
algumas trilhas. Talvez se a educao ambiental fosse algo de grande importncia na prtica para os
moradores e dirigentes da regio, o patrimnio do Vale do Catimbau teria sido preservado com as suas
pictografias e estruturas fsicas intactas.
No entanto, se a prtica pedaggica advinda do ecoturismo, for realizada de maneira ineficaz,
impactos ambientais ocorrero.
Segundo o CONAMA, Lei n 01/86, impacto ambiental conceituado como: qualquer alterao
das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria
ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a sade, a segurana e
o bem-estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota e a qualidade dos recursos
ambientais. Segundo o inciso II da mesma, os impactos subdividem-se em positivos e negativos
(benficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a mdio e longo prazo, temporrios e permanentes;
seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinrgicas; a distribuio dos nus e
benefcios sociais.
O ECOTURISMO ATRELADO A PRTICA PEDAGGICA NO DISTRITO DO VALE DO CATIMBAU
Quando se chega a Buque, os guias oferecem um turismo ecolgico em trilhas no Vale do
Catimbau. notria a falta de recursos at mesmo para chegar ao distrito de Catimbau, pois o acesso
difcil, e as condies em que transitam os veculos so precrias. Contudo, no contexto pedaggico o que
se percebe que no se tem uma prtica de ensino nas trilhas. Logo, o aluno deixado vontade, no
existe uma superviso e com isso, esse ecoturismo causa danos ao meio ambiente.
Segundo a EMBRATUR, o ecoturismo pode ser entendido como: atividades que promovam a
reflexo e a integrao do homem com o meio ambiente, em uma inter-relao vivencial com o
ecossistema, com os costumes e a histria local. O turismo no Vale do Catimbau, ainda se encontra longe
de alcanar a forma de ecoturismo. Mas suas trilhas interpretativas esto dentro desse contexto de
ecoturismo.
Assim, tem-se o ecoturismo como forma de preservar o local a ser realizada a prtica e a
aprendizagem. Nesse contexto insere-se o aluno num ambiente, e faz-se com que ele venha a dinamizar
suas atitudes, por meio da sensibilizao e no a imposio legal, com o meio ambiente a fim de causar
menor impacto ao local.
Para se gerar a prtica pedaggica, o educador tem todos os meios para transmitir esse
conhecimento. Como tambm essa vivncia ao aluno, dentro do Vale do Catimbau. Portanto, faz-se
necessrio que a relao educador educando siga de forma estratgica, clara e coerente com o
currculo proposto, de acordo com o nvel de compreenso, tornando assim a atividade prazerosa e
pedaggica.
Ao frequentar s trilhas, observa-se que no h monitoramento, nem acompanhamento
profissional para a formao das mesmas, e no que diz respeito h profissionais habilitados nas reas das
cincias da natureza, que desempenhe a educao e a interpretao ambiental. Como tambm a presena
destes na remoo da vegetao para a criao das mesmas. As informaes so repassadas sem
embasamento histrico apropriado, bem como na viso da pr histria atravs dos restos e vestgios
rupestres.
Soldateli (2005) faz referncia a uma srie de impactos ambientais negativos relacionados ao
comportamento do visitante, os quais refletem estes impactos como coleta e pisoteio da vegetao,
deposio de lixo e dejetos nas trilhas, vandalismo e pichao de formaes rochosas, coleta e destruio
de formaes em cavernas naturais (espeleotemas), contaminao das guas por organismos patolgicos e
a alimentos, e perturbao da fauna.
Tomando como ato de suma importncia a necessidades de se estabelecer profissionais habilitados
e comprometidos em preparar multiplicadores que defenda o patrimnio natural local, ultrapassa a breve
passagem dos visitantes, prope-se conscientizar cidados da regio, atravs da escola.
preciso permitir ao visitante, que acontea o passeio, da maneira mais livre possvel ateno s
normas de segurana e/ou informaes bsicas sobre as questes do lugar (relevo, vegetao, clima e
Joo Pessoa, outubro de 2011

625
outra peculiaridades) construindo, posteriormente aps o passeio, um momento de reflexo sobre o que
se viveu (CASCINO; FIGUEIREDO, 2005, p. 552).
CONSIDERAES FINAIS
Dentro do exposto para o aperfeioamento da infraestrutura da associao dos guias do vale do
Catimbau, e na recepo aos ecoturistas visitantes, faz-se necessrio a construo de um auditrio para
possveis palestras feitas por bilogos, paleontlogos, gegrafos e reas afins. Tendo assim profissionais
com um amplo conhecimento da rea do vale e dos seus recursos. Para com isso, transmitir aos visitantes o
conhecimento e a necessidade da preservao dos ambientes naturais do Vale do Catimbau. E esses
tornarem-se conscientes dos seus deveres e cuidados ao frequentar as trilhas.
A prtica pedaggica ter como excelncia a responsabilidade da organizao dos pontos
educacionais para o manejo das trilhas ecopedaggicas, bem como as suas utilizaes na produo de
vdeos, murais, cartazes e oficinas. Ressaltando como principal objetivo levar ao pblico, conhecimento
adequado sobre a educao ambiental nas trilhas, destacando o relevo, a fauna e flora do Vale do
Catimbau.
REFERNCIAS
BENJAMIN, Antnio Herman (coord.). Dano ambiental: preveno, reparao e represso. So
Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. Vol. 2.
BRASIL, Ministrio do Meio Ambiente e da Amaznia Legal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renovveis, Braslia, 1993.
CASCINO, Fbio Alberti. FIGUEIREDO, Fernando. Comunidade e ecoturismo: outras leituras para a
educao ambiental. In: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi (ed.). Anlises regionais e globais do turismo brasileiro.
So Paulo: ROCA, 2005. p. 548 553.
Constituio brasileira de 1988.
CUSTDIO, Helita Barreira. Questo constitucional: propriedade, ordem econmica e dano
ambiental. So Paulo. Revistas dos tribunais1993, v.2.
DELORS, J. Educao: um tesouro a descobrir. So Paulo, Cortez, 1998.
EMBRATUR. Diretrizes para uma Poltica Nacional de Ecoturismo. Coordenao de Slvio Magalhes
e D. Ham M. de la Penha. Braslia, 1994.
FARIA, Ana Carolina Viana et, al.Turismo e Impactos Ambientais: um estudo sobre a trilha e a
Cachoeira dos Macacos Distrito So Sebastio das guas Claras, Nova Lima/MG. Caderno de Geografia,
v.20, n.34, Minas Gerais. 2010.
FENKER, Eloy Impacto ambiental e dano ambiental. UNIFAE Centro Universitrio So Francisco. 2
Seminrio sobre Sustentabilidade 26 a 28 de setembro de 2007. Curitiba PR2007.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. 3. Ed. Petrpolis: 2000.
GUTIRREZ, Francisco. Pedagogia para el Desarrollo Sostenible. Heredia, Costa Rica, Editoria lpec,
1994.
Identidade cultural e desenvolvimento regional. Joo Pessoa: Editora Universitria UFPB, 2007.
JACOBI,
Pedro.
Educao
Ambiental,
Cidadania
e
Sustentabilidade.
In:
Cadernos de Pesquisa- vol. 118- maro 2003- Fundao Carlos Chagas
KINKER, Snia. Ecoturismo e conservao da natureza em parques nacionais. 2 ed. Campinas:
Papipus, 2005. Coleo Turismo.
MOREIRA, Carlos de Arbus. Desenvolvimento Sustentvel - Um conceito no limiar da utopia.
Outubro 2005.
O valor do dano ambiental. Texto-base para a palestra no Curso de Direito Ambiental e do
Consumidor, UFRGS/Instituto por um Planeta Verde, out. 2004. Curso de Especializao em Direito
Ambiental Nacional e Internacional.
PEDRINI, Alexandre Gusmo. A Educao Ambiental no Ecoturismo brasileiro: passado e futuro. In:
SEABRA, Giovanni (org.). Turismo de Base Local: Resoluo CONAMA n 001, de 23 de Janeiro de 1986.
Revista Turismo Viso e Ao Eletrnica. v. 10, n 02. P. 204 220, mai./ago. 2008.
SOLDATELI, Mrcio. Impactos ambientais negativos no contexto do turismo de natureza. In:
TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi (Ed). Anlises regionais e globais do turismo brasileiro. So Paulo: ROCA,
2005. P. 517535.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

626
Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES). Ecotourism statistical fact sheet.
N. Bennington, Vermont: Sociedade Internacional de Ecoturismo (TIES). 1990. 51p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

627

PERCEPO E REPRESENTAES ESTUDANTIS SOBRE A REA DE


PROTEO AMBIENTAL DA REGIO DO MARACAN, SO LUS-MA
1

Selene Gonzaga Masullo


2
Ana Carolina Fiquene Lima da Silva
3
Raimunda Nonata Fortes Carvalho Neta
1
Biloga - Curso de Cincias Biolgicas, Universidade Estadual do Maranho (UEMA). Campus Paulo VI, Tirirical, So Lus MA, 65000-000, Brasil. E-mail: selene.lua@hotmail.com
2
Biloga, Especialista em Educao Ambiental, UEMA.
3
Doutora em Biotecnologia - professora do Departamento de Qumica e Biologia, UEMA

RESUMO
As Unidades de Conservao de Uso Sustentvel so reas protegidas via instrumento legal, cujo
objetivo compatibilizar a conservao da natureza com o uso sustentvel de parte dos seus recursos
naturais. A rea de Proteo Ambiental da regio do Maracan (Decreto nmero 12.103 de 1991) uma
unidade de Conservao de Uso Sustentvel estadual maranhense que possui uma rea de 1.831 hectares.
Essa regio limita-se ao Norte com o Parque Estadual do Bacanga e ao sul com o Rio Grande, englobando as
localidades do Maracan, Alegria, Bacanguinha, Ferventa, Alto Alegre, parte da Vila Maranho, Vila Sarney,
Vila Esperana e Rio Grande. O objetivo deste trabalho foi analisar a percepo ambiental de alunos do
ensino fundamental sobre a importncia da APA da regio do Maracan para a conservao da vegetao
nativa, bem como os usos diretos e indiretos que a comunidade local faz dos recursos naturais. Utilizou-se a
tcnica da pesquisa participante e entrevistas enfocando os seguintes aspectos: percepo sobre Unidade
de Conservao, percepo sobre a vegetao e a percepo sobre a Educao Ambiental. Os resultados
indicaram que a grande maioria dos estudantes no sabe o que uma APA, desconhecem a funo e a
importncia de uma rea protegida, no reconhece a esfera do poder pblico responsvel pela gesto
ambiental da regio e no conhece a vegetao nativa da APA. Por outro lado, grande parte dos alunos
mostrou-se consciente de que suas aes podem influenciar a fauna e a flora da regio. As representaes
estudantis indicaram a necessidade de aes educativas voltadas para mudanas de atitudes frente ao
meio ambiente, as quais devem ser incorporadas ao modo de vida dos estudantes e sua existncia
cotidiana.
Palavras chave: Educao Ambiental; APA do Maracan; Conservao; vegetao nativa.
1 Introduo
Unidade de Conservao o espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas
jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com
objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteo (BRASIL, 2000).
A rea de Proteo Ambiental (APA) uma categoria de Unidade de Conservao classificada como
uma rea de uso sustentvel. Na APA deve-se restringir o uso e ocupao do solo, desde que observados
os limites constitucionais e, nas reas sob propriedade particular, o proprietrio quem deve estabelecer
as condies para visitao e pesquisa de acordo com as exigncias legais (CABRAL; SOUZA, 2002).
Conforme estabelece a Lei que criou o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservao), o
objetivo bsico das Unidades de Conservao de Uso Sustentvel compatibilizar a conservao da
natureza com o uso sustentvel de parte dos seus recursos naturais (BRASIL, 2000). Com esse objetivo, o
governo do Estado do Maranho criou a APA da regio do Maracan (Decreto nmero 12.103 de 1991),
com uma rea de 1.831 hectares. Essa regio legalmente protegida limita-se ao Norte com o Parque
Estadual do Bacanga e ao sul com o Rio Grande, englobando as localidades do Maracan, Alegria,
Bacanguinha, Ferventa, Alto Alegre, parte da Vila Maranho, Vila Sarney, Vila Esperana e Rio Grande. Alm
de ser uma Unidade de Conservao de Uso Sustentvel a APA da regio do Maracan funciona como uma
continuidade e suporte a outra rea legalmente protegida que o Parque Estadual do Bacanga (FARIASFILHO, 2010).
Apesar da importncia dessa regio, as aes voltadas para o entendimento da percepo e das
representaes sociais dos moradores da APA da regio do Maracan ainda so restritas. As mudanas de
percepes, atitudes e valores ambientais so as mais desafiadoras tarefas da educao ambiental e
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

628
exigem uma mudana urgente na metodologia de ensino aprendizagem para desenvolver, naturalmente, a
mentalidade conservacionista do aluno.
Cada indivduo percebe, reage e responde diferentemente s aes sobre o ambiente em que vive.
As respostas ou manifestaes da decorrentes so resultados das percepes (individuais e coletivas), dos
processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa (COELHO, 2002). Nossas relaes com o
meio ambiente so, portanto, determinadas no tanto pelo efeito direto de sensaes captadas pelo nosso
sistema biolgico, mas, antes, por nossa experincia passada, nossas expectativas, nossos propsitos e pela
interpretao individual de nossa experincia perceptiva.
Nesse sentido, faz-se necessrio a investigao das percepes estudantis e dos moradores das
reas protegidas, a fim de se iniciar aes educativas voltadas para a conservao dos recursos naturais.
Para isso, necessrio conhecer quais so as idias correntes sobre a fauna, a flora, o solo e os recursos
hdricos protegidos pelas Unidades de Conservao. necessrio saber se os atores sociais diretamente
envolvidos com essas reas percebem a importncia e a interrelao desses recursos com o ambiente
urbano e com o equilbrio dos ecossistemas associados.
As plantas influenciam o clima e o meio urbano em geral devido influncia que exercem em
microclimas, atuando no controle da incidncia solar, da temperatura e na umidade do ar, dos ventos, das
chuvas e exercendo um efeito moderador da poluio do ar. A vegetao contribui para se obter uma
ambincia urbana agradvel, pois protege dos efeitos da radiao solar, criando um efeito de filtro
(CARVALHO, 1989). A vegetao apresenta importncia fundamental no equilbrio dos ecossistemas, pois
torna o solo frtil, com a decomposio das folhas e de outras partes; reduz a velocidade do escoamento
da gua, evitando assim, o assoreamento dos rios; permite maior solidez e porosidade do solo por meio do
seu sistema radicular; propicia a formao de materiais coloidais, importantes para a aerao do solo; e
ainda protege os recursos hdricos e abriga inmeras formas de vida (SILVA, 2003). A conservao da
natureza inclui, igualmente, a proteo das paisagens, tendo como objetivo conservar um cenrio
harmonioso para a vida e as atividades do homem. Portanto, as percepes existentes sobre a vegetao
protegida em uma Unidade de Conservao so aspectos fundamentais para se defender sua proteo
(DORST, 2001).
Assim, o objetivo do presente trabalho foi analisar a percepo ambiental de alunos do ensino
fundamental que moram na regio do Maracan sobre a importncia da APA para a conservao da
vegetao nativa, bem como os usos diretos e indiretos que a comunidade local faz dos recursos naturais.
2 O DIAGNSTICO
O pblico alvo da ao educativa foi constitudo por alunos do Ensino Fundamental (3. Ano) do
Centro Educacional Sagrados Coraes (CESCO), situado dentro da APA da regio do Maracan, na cidade
de So Luis, Maranho.
Inicialmente, aplicou-se a tcnica survey, baseada em Candiani et al. (2004), realizando uma
avaliao da percepo dos alunos relacionada conservao e importncia dos recursos naturais
protegidos pela APA. Para isso, foi aplicado um questionrio com quinze questes relativas percepo
ambiental dos discentes, enfocando os seguintes aspectos: percepo sobre Unidade de Conservao,
categorias de reas protegidas, rgo ambiental responsvel pela gesto da APA da regio do Maracan,
conhecimento sobre a vegetao nativa da regio, principais problemas que envolvem as plantas da regio
do Maracan, atitudes que podem influenciar as plantas da APA do Maracan, educao ambiental na APA
da regio do Maracan.
3 AS PERCEPES DISCENTES
3.1 Conceito, aspectos legais e importncia de uma rea de Proteo Ambiental
As percepes discentes sobre Unidade de Conservao indicaram a necessidade de se trabalhar os
vrios aspectos legais, biolgicos, ecolgicos, sociais e econmicos que envolvem os recursos naturais da
regio.
A maioria dos alunos entrevistados no CESCO (60%) disse que no sabia o que uma APA. Pde-se
observar que mesmo aqueles que disseram saber (40%) o que uma rea de Proteo Ambiental, quando
foram solicitados a defini-la no souberam responder. O reconhecimento das distintas percepes sobre o
mundo natural, estruturadas a partir de diferentes referenciais, torna-se extremamente relevante na
Joo Pessoa, outubro de 2011

629
resoluo de conflitos, na elaborao de diagnsticos, planejamentos, polticas e programas de educao
ambiental que estimulem a participao equitativa de toda a comunidade (Hoeffel et al., 2004). Assim,
indica-se a necessidade de aes educativas no CESCO que proporcionem entendimentos sobre o que de
fato uma APA e qual a sua importncia na vida das comunidades humanas locais.
Ao serem questionados sobre a importncia dessas reas protegidas, a maioria (90%) indicou que
uma APA serviria para a proteo das plantas. De acordo com Medeiros et al. (2004), importante ressaltar
a funo e a importncia de uma APA nos projetos educativos, uma vez que essa categoria de Unidade de
Conservao tem mltiplas funes, entre as quais: a) conciliar o desenvolvimento de atividades humanas
com a conservao dos recursos naturais; b) proteger o solo, subsolo, a cobertura vegetal e a fauna local,
promover a melhoria da qualidade dos recursos hdricos e recuperar reas degradadas; c) propiciam a
experimentao de novas tcnicas e atitudes que permitam conciliar o uso da terra e o desenvolvimento
regional com a manuteno dos processos ecolgicos essenciais; d) permitem que a populao residente e
do entorno seja integrada nas medidas e prticas conservacionistas, por meio de aes de educao
ambiental ou participao no processo de planejamento e gesto; e) permitem o estabelecimento de um
processo de co-gesto entre rgos governamentais, no-governamentais e setores organizados da
sociedade.
Ao serem indagados se sabiam que a APA do Maracan uma rea protegida por lei, todos os
alunos responderam que sim, mostrando que todos tm conscincia de que vivem em uma regio
legalmente protegida. Questionados sobre o tipo de lei que protege a APA do Maracan, 10% dos alunos
disseram que seria uma lei federal, 20% afirmaram ser uma lei estadual e 70% responderam ser uma lei
municipal. Pouqussimos alunos acertaram essa questo, j que a APA do Maracan protegida por uma lei
estadual. Isso ocorre na regio, provavelmente, pela falta de informaes sobre o tema que no
abordado com frequncia de forma a esclarecer os estudantes e a comunidade local.
Quando perguntamos qual seria o rgo responsvel pela gesto da APA do Maracan, 18% dos
alunos disseram que seria a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos (SEMA), 37% a
Secretaria de Educao, 27% o IBAMA e 18% disse no saber. Dados semelhantes foram verificados por
Oliveira et al. (2009) no Centro de Ensino Salim Braid, localizado no entorno da APA do Maracan. Esses
dados indicam a necessidade da insero dessa temtica nos contedos programticos da escola e em
atividades extracurriculares, a fim de se construir mecanismos para o entendimento de quem so os atores
sociais responsveis pela gesto ambiental da APA. Sabe-se que somente a gesto ambiental participativa
pode minimizar conflitos, pelo fato de envolver todos os interessados pela rea, entre os quais se pode
incluir o rgo responsvel pela criao da UC, residentes locais, usurios dos recursos naturais,
prefeituras, ONG's, instituies de pesquisa e demais setores ou instituies que integram seu contexto
poltico, socioeconmico e cultural (FBPN, 2003).
3.2 A vegetao protegida pela rea de Proteo Ambiental da regio do Maracan
Quando indagamos sobre as plantas que os estudantes conheciam na regio do Maracan, a
maioria (83%) indicou plantas frutferas de chcaras ou stios, tais como: juara, cupuau, caju, pitomba,
goiaba, abacate, manga e pequi. As plantas nativas no inseridas nas chcaras como o maracan e o
guanandi foram pouco citadas (7%) e muitos disseram nunca ter escutado falar ou ver, mostrando assim a
necessidade de um trabalho de conscientizao da comunidade sobre a vegetao da APA a partir de uma
relao mais direta com o lugar e com as plantas de forma a perceber, conhecer e valorizar as
caractersticas ambientais locais.
Todos os alunos responderam que as plantas que eles conhecem servem para sua alimentao. De
um modo geral, no se percebeu nas respostas e representaes dos estudantes uma compreenso mais
ampla sobre a funo que vegetao exerce na regio. Nesse contexto, insere-se a necessidade da
Educao Ambiental voltada para a sensibilizao no s dos estudantes, mas tambm dos seus familiares,
que devem reconhecer outros valores intrnsecos das plantas. Czapski (1998) alerta que a Educao
Ambiental no visa solucionar problemas ambientais, mas coloca-se como um instrumento de
sensibilizao e de propostas de solues e esclarecimentos capazes de aprofundar os entendimentos e
sentimentos das populaes humanas frente aos recursos naturais.
Ao serem indagados sobre as suas atitudes ou as atitudes de seus familiares em relao APA do
Maracan, a maioria dos estudantes (70%), respondeu que suas atitudes podem afetar ao influenciar as
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

630
plantas da regio, enquanto que os demais (30%) disseram que suas atitudes ou a de seus familiares no
afetam de nenhuma forma as plantas da APA. Isso indica que os estudantes tm conscincia sobre o
impacto que podem causar ao meio ambiente e que suas aes podem influenciar direta ou indiretamente
a flora da regio. Estudos indicam que a compreenso do meio ambiente enquanto interao e
configuraes sociais, polticas e culturais gera um sentimento de maior responsabilidade da sociedade
(REIGOTA, 2002). Assim, fundamental desenvolver aes educativas que visem aprofundar a
compreenso de meio ambiente nessa comunidade estudantil que vive na APA do Maracan, a fim de que
todos eles saibam que suas atitudes tm influncias diretas e indiretas nos recursos naturais da regio.
Ao perguntarmos sobre os principais problemas que envolvem as plantas da regio do Maracan,
25% dos estudantes respondeu que seria o corte de madeira e a retirada de cascas e folhas para remdio,
21% as queimadas, 17% substituio de plantas nativas e 12% plantio s de rvores frutferas. Esses dados
mostram que os estudantes tm uma percepo aprofundada sobre os impactos ambientais ligados aos
problemas sociais da regio, sendo possvel utilizar esse conhecimento em aes conservacionistas que
visem modificar as atitudes da comunidade local.
3.3 Educao Ambiental na escola
Ao serem indagados se na escola havia projetos de Educao Ambiental a maioria dos estudantes
disse que sim, apontando as oficinas de reciclagem como o principal projeto. Segundo eles a escola tem
uma grande preocupao com a regio da APA e busca instruir seus alunos quanto aos cuidados para evitar
o desperdcio e a poluio. Alm disso, na viso dos estudantes os responsveis pela Educao Ambiental
so os professores, os quais devem instru-los para preservar, cuidar e manter a APA do Maracan.
Segundo Di Leo (1985), as crianas consideram pessoas, casas e rvores como influncias significativas em
suas vidas, e colocam os seus mestres como exemplo de vida e conhecimentos a serem seguidos. Nesse
sentido, fundamental pensar a formao continuada dos professores na rea de Educao Ambiental, a
fim de que eles possam ter a vivncia educativa necessria para multiplicar aes e projetos capazes de
interferir significativamente na realidade local.
Quando questionados sobre o que Educao Ambiental, todos os estudantes disseram que so
projetos para cuidar das plantas, mostrando que necessria uma vivncia educativa na rea para que seja
ampliado seu leque de informaes sobre o tema.
A Educao Ambiental - que est inserida no mbito de uma poltica nacional (Lei 9795 de 27 de
abril de 1999) - envolve os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a conservao do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL,
1999). Nesse contexto, importante que se amplie essa possibilidade de construo coletiva de valores e
atitudes na APA da regio do Maracan, envolvendo tanto a comunidade escolar situada dentro da
Unidade de Conservao como a comunidade que vive no seu entorno.
REFERNCIAS
BRASIL. Lei n 9.795/99. Poltica Nacional de Educao Ambiental. Braslia-DF: MEC, 1999.
BRASIL. Lei N 9.985/00. Regulamenta o art. 225, 1o, incisos I, II, III e VII da Constituio Federal,
institui
o
SNUC
e
d
outras
providncias.
Disponvel
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9985.htm>. Acesso em: 23 jul. 2010.
CABRAL, N.R.A.J.; SOUZA, M.P. rea de Proteo Ambiental: planejamento e gesto de paisagens
protegidas. So Carlos: RiMa, 2002.
CANDIANI, G.; VITA, S.; SOUZA, W.; FILHO, W. Educao ambiental: percepo e prticas sobre o
meio ambiente de estudantes do ensino fundamental e mdio. Revista Eletrnica do Mestrado em
Educao Ambiental, v. 12, Jan-Jun, p. 74-89, 2004.
CARVALHO, L. M. 1989. A temtica ambiental e a escola de 1grau. Tese de Doutorado,
Universidade de So Paulo, Brasil, 282pp.
COELHO, A. J. A Importncia do Desenvolvimento Sustentvel. 2000. Disponvel em:
<http://www.idcb.org.br/documento/artigos2301/aimportancia.doc>. Acesso em: 23 jul. 2010.
CZAPSKI, S. A implantao da educao ambiental no Brasil. Braslia: MEC, 1998.
Di Leo, J. H. 1985. A interpretao do desenho infantil. Artes Mdicas, Porto Alegre, Brasil, 218pp.
Joo Pessoa, outubro de 2011

631
FARIAS-FILHO, M. S. Caracterizao geoambiental da rea de Proteo Ambiental da Regio do
Maracan, So Lus-MA. In: CARVALHO-NETA, R. N. F. rea de Proteo Ambiental do Maracan: subsdios
ao manejo e Educao Ambiental. So Lus: Caf&Lpis/FAPEMA, 2010.
FBPN - FUNDAO O BOTICRIO DE PROTEO NATUREZA. Gerenciamento de reas de Proteo
Ambiental no Brasil. Curitiba: Guapyass, 2003.
HOEFFEL, J.L. et al. Concepes e percepes da natureza na rea de Proteo Ambiental do
Sistema Cantareira. Anais do IV Congresso Brasileiro de Unidades de Conservao. Curitiba: Fundao O
Boticrio de Proteo Natureza: Rede Nacional Pr Unidades de Conservao, vol.I, p. 346-356, 2004.
MEDEIROS, R.; IRVING, M.; GARAY, I. A Proteo da natureza no Brasil: evoluo e conflitos de um
modelo em construo. Revista de Desenvolvimento Econmico, Salvador, n. 9, p. 83-93, 2004.
OLIVEIRA, T. de S.; PAIXO, V. M.; RIBEIRO, E. B.; SILVA, A. C. L. Diagnstico Socioambiental de
Alunos do Entorno da rea de Proteo Ambiental do Maracan So Luis Brasil. In: I Congresso
Brasileiro de Educao Ambiental. Joo Pessoa-PB: GS Planejamento, 2009.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representaes sociais. So Paulo: Cortez, 2002.
SILVA, M. L. V. da. A zooterapia no Recife( Pernambuco): uma articulao entre prticas e histrias.
Biotemas. Recife-PB, p. 95-116, 2003.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

632

PROPOSTA DE ZONEAMENTO AMBIENTAL PARA A ZONA DE PROTEO


AMBIENTAL 03 DO MUNICPIO DE NATAL-RN
1

Carolina Maria Cardoso Aires LISBOA


2
Simon Klecius Silva de SOUZA
3
Richard Rocha MARINHO
1,2,3
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo SEMURB. Rua Raimundo Chaves, 2000 Lagoa Nova CEP 59064390
1
Biloga e mestre em Cincias Biolgicas. E-mail: carolisboabio@yahoo.com.br
2
Tecnlogo em Gesto Ambiental e Especialista em Geoprocessamento e Cartografi a Digital.
E-mail: simonrn@bol.com.br
3
Bilogo. E-mail: richardrocham@bol.com.br

RESUMO
O Municpio de Natal contribui com a menor rea territorial pertencente Bacia Hidrolgica do Rio
Pitimbu - BHRP, com aproximadamente 12,37 km2. o nico Municpio da bacia contemplado com
implantao de Zonas de Proteo Ambiental (ZPAs) que, reunidas, abrangem apenas 2,9% da mesma. O
rio Pitimbu-Pium abastece parcialmente as cidades de Natal e Parnamirim sendo, por isso, alvo de
programas, campanhas e regulamentaes para sua proteo e controle da qualidade das guas. A ZPA-3,
alvo deste estudo, localiza-se margem esquerda do rio Pitimbu, estendendo-se por aproximadamente
3,96 km, correspondendo ao comprimento de margem de rio que esse municpio detm. Embora protegida
por meios legais, a aludida rea encontra-se sob forte presso do capital imobilirio para implantao de
condomnios habitacionais. Alm disso, possui fragilidades como a artificialidade do sistema de drenagem,
solo dunar, efeitos das enxurradas provocadas pelo aumento de precipitao, impermeabilizao urbana e
uma rica, mas frgil biodiversidade composta predominantemente por espcies do bioma Mata Atlntica.
Assim, torna-se necessrio agir sobre as causas que desencadeiam os problemas e fragilidades da rea e
elaborar normas que estejam de acordo com a realidade local. Com esse objetivo, apresentamos uma
proposta de zoneamento que melhor permita a manuteno e sustentabilidade da ZPA-3, em observncia
legislao vigente e sua atual situao.
Palavras-chaves: Planejamento Urbano, Zoneamento Ambienal, Rio Pitimbu, Mata Atlntica.
INTRODUO
O Municpio de Natal contribui com a menor rea territorial pertencente Bacia Hidrolgica do Rio
Pitimbu - BHRP, com aproximadamente 12,37km2 (10% da bacia). o nico Municpio da bacia
contemplado com implantao de Zonas de Proteo Ambiental (ZPAs) que, reunidas, abrangem apenas
2,9% da mesma.
O rio Pitimbu-Pium um curso de gua perene, de pequenas dimenses, localizado na regio sul da
cidade de Natal, em cujos arredores observa-se reas alagadas com vegetao herbcea e fragmentos de
Mata Atlntica. Abastece parcialmente as cidades de Natal e Parnamirim sendo, por isso, alvo de
programas, campanhas e regulamentaes para sua proteo e controle da qualidade das guas. Dentre
tais aes, destacam-se a Lei Estadual n 8.426 de 14 de novembro de 2003, que dispe sobre a faixa de
proteo ambiental do rio Pitimbu e d outras providncias; e a Lei Municipal n 5.273 de 20 de junho de
2001, que dispe sobre o uso do solo, limites, denominaes e prescries urbansticas da Zona de
Proteo Ambiental 3 - ZPA-3, entre o rio Pitimbu e Av. dos Caiaps, Regio Sul de Natal, criada pela Lei
Complementar n 07, de 05 de agosto de 1994 e d outras providncias.
A ZPA-3, alvo deste estudo, localiza-se margem esquerda do rio Pitimbu, estendendo-se por
aproximadamente 3,96 km, correspondendo ao comprimento de margem de rio que esse municpio detm.
delimitada ao norte, pela avenida dos Caiaps, inserida no Conjunto Cidade Satlite; a leste, pela BR -101;
a oeste, pela linha frrea; e ao sul pelo Rio Pitimbu (limite municipal de Natal e Parnamirim). Embora
protegida por meios legais, a aludida rea encontra-se sob forte presso do capital imobilirio para
implantao de condomnios habitacionais. Destarte, passa a correr o risco de perder essa condio mnima
de proteo ambiental.
CARATERIZAO E FRAGILIDADES AMBIENTAIS DA REA
Joo Pessoa, outubro de 2011

633
Geomorfologia
A geomorfologia composta quase totalmente por cordes dunares sobrepostos ao pacote
sedimentar Barreiras, chegando ao leito do rio Pitimbu, com um terrao fluvial composto por sedimentos
oriundos do processo de acumulao fluvial (SANTOS, 1999). Cabe ressaltar que a paisagem margem
direita desse rio nesse trecho caracteriza-se pelo completo afloramento do pacote sedimentar acima
referido. Esse cenrio paisagstico deve-se ao fato do rio Pitimbu possuir sua gnese relacionada aos
processos tectnicos, apresentando um traado morfolgico de vale estrutural, onde ocorre o Graben
Parnamirim. As unidades morfolgicas encontradas na regio da BHRP so dunas fixas, que acompanham o
Graben Parnamirim na direo noroeste-sudeste, localizadas margem esquerda do rio Pitimbu na rea de
Natal e as formas tabulares (Tabuleiros Costeiros) encontradas predominantemente nos municpios de
Macaba e Parnamirim.
O setor da BHRP que pertence a Natal encontra-se quase que totalmente sobre um cordo dunar,
tratando-se de uma rea que apresenta baixos topogrficos e baixos estruturais (NUNES, 2000). Esses so
domnios inadequados para implantao de aterros sanitrios, cemitrios, fossas spticas, lagoas de
rejeitos industriais, lagoas de captao e infiltrao de guas pluviais e construo de estradas e
habitaes. Tem uso restrito/inadequado mecanizao agrcola, e uso restrito a obras enterradas e como
fonte de emprstimo de material para a construo civil (areia e argila), onde a retirada de areia nas dunas
recentes e argila, nos vales fluviais, destinados a construo civil, poder ser feita de forma monitorada em
reas previamente escolhidas e fiscalizadas por rgo competente, para que no haja degradao
ambiental.
Ressalta-se que as paleodunas quaternrias possuem alto poder de infiltrao, pondo em risco de
contaminao por nitrato (NO3) o aqufero livre, podendo estender-se ao rio Pitimbu. Marinho (2000)
ratifica essa hiptese ao afirmar que a contaminao do rio Pitimbu por nitrato (NO3) iminente. Explica
que isso poder ocorrer atravs do processo de nitrificao desenvolvido durante a infiltrao no solo dos
efluentes do sistema de esgotamento sanitrio fossa-sumidouro, utilizado na aludida rea.
Ao longo de toda plancie de inundao do rio Pitimbu, constatou-se que em vrios pontos h
ressurgncia do aqufero livre. No entanto, aqueles locais em que h afloramento da Formao Barreiras,
sobretudo com a vegetao preservada, sua presena mais forte, contribuindo assim para a perenidade
do rio. Tambm foi verificado que a proximidade dos cordes dunares da plancie de inundao em alguns
trechos desse rio proporciona uma retroalimentao de suas guas, tendo em vista serem filtros naturais,
particularmente quando a cobertura vegetal preservada, retendo as guas pluviais que vo, aos poucos,
alimentando esse curso dgua permanentemente. Essa constatao evidencia, portanto, a importncia de
se preservar a vegetao existente, bem como promover o reflorestamento daquelas reas j degradadas.
Em ltima anlise, portanto, pode-se afirmar que o escoamento de base predominante em toda bacia torna
o rio Pitimbu mais vulnervel contaminao por substncias qumicas.
Considerando que os cordes dunares desempenham fundamental importncia para a manuteno
do aquifero, a ocupao desordenada sem os devidos cuidados, sem o tratamento de efluentes resulta
numa equao onde apenas suas variveis j representam um risco manuteno da qualidade de vida da
populao.
Impermeabilizao, Eroses e Sistema de Macrodrenagem
As reas impermeabilizadas (principalmente com concreto ou asfalto) absorvem maiores
quantidades de energia solar, provocando o aquecimento das reas urbanas. As diferenas de temperatura
nas cidades so responsveis pelo aumento das precipitaes convectivas. As reas verdes amenizam o
calor e aumentam a possibilidade de infiltrao das guas das chuvas, diminuindo as vazes, e a
composio geolgica de Natal apresenta caractersticas que determinam sua alta permeabilidade, devido
especialmente ao seu solo dunar.
A variao topogrfica de uma bacia define a velocidade de escoamento das guas sobre a
superfcie. No caso da bacia do Pitimbu, o escoamento pela variao topogrfica determina a velocidade de
escoamento de fluxos cada vez mais rpidos, picos de alta vazo e, consequentemente aumentando a
presso sobre a rea da ZPA.
O sistema de macrodrenagem urbana de Natal vem impactando o rio Pitimbu com o excesso de
gua, provocando eroses de suas margens e de seus leitos. Tendo como exemplo o que vem ocorrendo no
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

634
bairro de Planalto, na BR 101 e no Prolongamento da Prudente de Morais sobre o Rio Pitimbu. Em alguns
pontos observa-se a ao erosiva da macrodrenagem do prolongamento da avenida Prudente de Morais
sobre o rio Pitimbu (Figuras 1 e 2).

Figura 1. Ao erosiva da macrodrenagem do prolongamento da avenida Prudente de Morais em maio de


2011.
Fonte: Arquivo Semurb.

Figura 2. Eroso causada pelo escoamento de guas na ZPA-3 em maio de 2011.


Fonte: Arquivo Semurb.

rea de risco
Entende-se por rea de risco: ...rea passivel de ser atingida por fenmenos ou processos naturais
e/ou induzidos que causem efeito adverso. (CARVALHO, MACEDO, & OGURA, 2007)
Normalmente, tais reas proporcionam locais de riscos de danos integridade fsica de seus
ocupantes, perdas materiais, de vidas humanas e outros prejuzos a sociedade, a resultante de fatores
como:
A ocupao indevida e desordenada de reas de encostas ou de declividade acentuada;
Da supresso vegetal de ambientes dunares;
Regimes pluviomtricos;
Carreamento de material particulado pela ao dos ventos;
Fragilidade geomorfolgica;
Falta de tratamento de conteno de encostas;

Emprego indevido de sistemas precrios de tratamento de esgotos potencializam


exponencialmente os riscos a que esto sujeitos os ocupantes das reas de instabilidade.
As construes sobre patamares de aterros no ou indevidamente compactados ou ainda sobre
terrenos horizontais decorrentes da execuo de cortes so causadores de instabilidade sobre o macio
resultante, reunindo condies propcias a movimentos de massa como rastejos, escorregamentos e
corridas. A geomorfologia existente no proporciona ao solo a capacidade suporte a aes antrpicas que
modifiquem bruscamente o comportamento do relevo local. Em decorrncia desta fragilidade, a ao de
remoo da vegetao natural e a modificao do relevo com cortes ou aterros potencializam os riscos das
ocupaes indevidas.

Joo Pessoa, outubro de 2011

635
Na rea foram verificadas declividades que podem representar riscos crticos visto que o sedimento
arenoso que compe o solo local, isoladamente, no oferece capacidade de suporte ao conjunta de
fatores como os j apresentados anteriormente. Segundo a Lei Federal 6.766/79, reas com declividade
acima de 30 devem ter sua ocupao condicionada a no existncia de riscos, verificado por laudo
geolgico-geotcnico. A Figura 3 um mapa de declividades da ZPA-3, onde as reas em laranja e vermelho
podem ser consideradas crticas e de grande fragilidade ambiental.

Figura 3. Mapa de declividade da ZPA-3.

Assim sendo, considera-se a rea sujeita a movimentaes de massas, pois o talude se enquadra
em uma declividade mdia ou alta, com algumas rampas em declividade superior a 30 na poro sudeste
e, portanto, sujeita instabilidade do ponto de vista geotcnico, conforme recomendao da Lei Federal
6.766/79.
Em virtude da composio do solo, o terreno est sujeito instabilidade caso haja a remoo da
cobertura vegetal. A vegetao est preservada, o que garante a fixao do solo e evita movimentos de
massa.
Flora e Vegetao
Visitas in loco no ano de 2011 e alguns levantamentos bibliogrficos fizeram constar que h uma
rica diversidade de flora na ZPA-3, com ocorrncias de algumas espcies ameaadas de extino. Foram
encontradas 124 espcies nativas de flora, o que caracteriza a significativa diversidade biolgica da rea.
Entretanto, essa biodiversidade encontra-se ameaada pela introduo ou aparecimento de 22 espcies
vegetais exticas na rea, muitas delas consideradas invasoras, de acordo com o levantamento nacional de

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

636
espcies exticas invasoras realizado pelo Instituto Hrus em parceria com a ONG The Nature Conservancy
(INSTITUTO HRUS, 2011).
A cobertura vegetal da rea composta predominantemente por alagadios e por formaes
pioneiras do Bioma Mata Atlntica, de acordo com a Lei 11.428 de 22 de dezembro de 2006, predominando
ecossistemas de dunas com ocorrncia de rvores emergentes de at 10m. Conforme Resoluo CONAMA
N 032, de 07 de dezembro de 1994, a vegetao possui caractersticas e espcies indicadoras de estgio
mdio de regenerao, com as seguintes observaes gerais:
Fisionomia arbrea e arbustiva predominando sobre a herbcea (essa predomina na rea inundvel
e locais degradados), com estratos diferenciados;
Cobertura arbrea variando de aberta a fechada, com ocorrncia eventual de indivduos
emergentes;
Registros de indivduos de at 25 cm de DAP;
Trepadeiras predominantemente lenhosas;
Serapilheiras presentes, de espessuras variadas;
Diversidade biolgica significativa, com cerca de 124 espcies da flora at o momento;
Subosque presente, geralmente denso;

Espcies indicadoras com ocorrncia na rea: Ximenia americana (ameixa), Eugenia prasina
(batinga), Myrcia multiflora (pau mulato), Chamaecrista bahiea (pau-ferro), Vitex polygama (maria preta),
Dioclea grandiflora (mucuna), Simaba trichilioides (cajarana), Eugenia speciosa (ubaia-doce), Eugenia
nanica (murta-branca), Bauhinia cheilanta (moror), Guettarda angelica (anglica), Eugenia crenata
(camboim), Solanum paniculatum (jurubeba), Byrsonima gardneriana(murici), Cecropia pachystachya
(embaba), Hancornia speciosa (mangabeira), Philodendron imbe (imb), Hymenaea courbaril (jatob),
Bowdichia virgilioides (sucupira), Tabebuia impetiginosa (pau darco roxo), Tetracera breyniana (cip-debrocha), Combretum laxum (cip-de-bugio), Cordia superba (gro-de-galo); Bauhinia cheilanta (moror),
Lecythis pisonis (sapucaia), Tetracera breyniana (cip-de-brocha), Combretum laxum (cip bugio),
Philodendrom imb (imb), Bowdichia virgilioides (sucupira), Maytenus impressa (pau monde).
Costa (1995), estudando a alterao da cobertura vegetal natural da BHRP, explica que dadas as
caractersticas climticas e pedolgicas, o mosaico vegetacional que ocorre na rea em realce bastante
complexo. Desse modo classificou a vegetao natural ocorrente na bacia como Savana Florestada e como
Formaes Pioneiras. Estas ltimas constituem-se nas primeiras comunidades vegetais que se estabelecem
sobre os terrenos que, na rea estudada, so as plancies fluviais e as depresses aluvionares. Tendo em
vista a escala de mapeamento utilizada, a formao pioneira mais expressiva e portanto a mapeada,
envolve a restinga que uma vegetao psamfila que est associada s dunas fixas constitudas de areias
quartzosas distrficas de origem marinha localizadas na poro oriental da bacia.
A vegetao tem um porte que dificilmente ultrapassa os dois metros de altura e cobrem quase
totalmente o solo. H predominncia de gneros e de espcies de nanofanerfitos, como Schinus
terebenthifolius, Lythraea brasiliensis, ErythroxyIon, Myrcia e Eugenia que emprestam um carter lenhoso
formao. A vegetao secundria resulta da interveno humana para uso da terra, provocando,
geralmente, a descaracterizao da vegetao nativa. Assim, esta representa uma regresso em funo das
frequentes modificaes daquela (COSTA, 1995).
Fauna
Por meio de levantamentos bibliogrficos (ECONATAL, 1995), (FUNPEC, 1998), (BORGES, 2002),
(IRUSTA, 2007) e em visitas in loco no ano de 2011, pde-se constatar que h uma rica diversidade de
espcies na ZPA-3, inclusive com ocorrncias de diversas espcies ameaadas de extino.
Nos estudos da ECONATAL (1995) registrou-se a presena do jacar-de-papo-amarelo (Caiman
latirostris), constante na lista oficial de espcies da fauna brasileira ameaada de extino (Portarias n
1.522/1989 e 45-N/ 1992, do IBAMA e na Red List da IUCN). Foram encontrados ainda as serpentes
salamanta, falsa-coral, cobra-verde, coral-verdadeira e corre-campo, alm da Amphisbaena ou cobra-deduas-cabeas e os lagartos vbora, lagartixa, camaleo ou iguana e o calango. Quanto ornitofauna,
obtiveram informaes do moradores, onde relatam a presena do urubu-de-cabea-preta, rolinha-branca,
anum-preto, anum-branco, beija-flor-verde, beija-flor-tesoura, bem-te-vi, lavandeira-de-cara-branca,
concriz, sibite, vem-vem, galo-de-campina e bigodinho. No que se refere mastofauna, (ECONATAL, 1995)
Joo Pessoa, outubro de 2011

637
relata a presena do rato-cachorro, gamb, saguim e vrios morcegos. Acrescenta que essa fauna
relativamente rara na ZPA-3, sendo mais comuns os grupos de saguim.
O relatrio da FUNPEC (1998) inventariou na rea em questo diversos animais de pequeno e
mdio porte. Dentre os mamferos, destacou o sagui (Callithrix jacchus), animal que se adapta bem em
reas degradadas ou em processo de recuperao, e a raposa (Cerdocyon thous), que faz suas tocas nas
razes areas ou moitas densas e o principal predador terrestre da regio; dentre suas presas est o pre
(Galea spixii), que tem grande capacidade reprodutiva. Em relao aos rpteis, encontrou o camaleo ou
iguana (Iguana iguana), a cobraverde (Philodryas olfersii) e a cobra-de-veado ou jiboia (Boa constrictor),
que podem ser encontradas nas copas das rvores ou no solo. Dentre as aves, destacou o carcar (Caracara
plancus), ave de rapina encontrada geralmente pousada no topo das rvores.
O trabalho de campo de (BORGES, 2002) permitiu levantar alguns componentes da fauna existente
na bacia hidrogrfica do rio Pitimbu (BHRP), quer seja pelo contato direto com os animais, quer seja por
obteno de informaes com a populao local atravs de entrevista informal. Dentre os pssaros, ele
encontrou o curi, pga, xexu bo, grana, cabocolinho. Quanto aos peixes, registrou o piau, piaba,
carapeba, camurim, muum, cascudo, jundi, cangat, maria doce, bagre de gua doce, bebeu e os exticos
trara e tilpia. Dentre as aves, registrou o frango-dgua-azul (Porphyrio martinica), que utiliza como
suporte a vegetao aqutica e subaqutica existente. Tambm encontrou algumas espcies de anfbios,
crustceos (camaro pit, entre outros) e rpteis (jacar-de-papo-amarelo).
Na tese de IRUSTA (2007) constam observaes em campo de duas espcies ameaadas de
extino na rea, o jacar-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) e a lontra (Lutra longicauda).
Em suma, foram levantadas 98 espcies de fauna, entre nativas e exticas, caracterizando
mais uma vez a rica diversidade local.
Espcies ameaadas
Verificou-se a ocorrncia das seguintes espcies da flora e fauna ameaadas de extino,
constantes na Lista Vermelha das espcies ameaadas de extino da Unio Mundial para Conservao da
Natureza- IUCN:
Ip-roxo (Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl.), que se encontra na categoria Pouco
preocupante. Fonte: World Conservation Monitoring Centre 1998. Tabebuia impetiginosa. In: IUCN 2010.
IUCN Red List of Threatened Species. Version 2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 17 de fevereiro
de 2011;
Goiti-trub (Pouteria grandiflora (A.DC.) Baehni), na categoria Baixo risco/ quase ameaada.
Fonte: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em
18 de abril de 2011;
Cacto Coroa-de-frade (Melocactus violaceus Pfeiffer.), que se encontra na categoria Vulnervel.
Fonte: Taylor, N.P. 2002. Melocactus violaceus ssp. violaceus. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened
Species. Version 2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 24 de fevereiro de 2011;
Lagartinho-de-folhio (Coleodactylus natalensis), na categoria Deficiente de Dados. Fonte:
Nogueira, C. 2009. Coleodactylus natalensis. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. Version
2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 17 de fevereiro de 2011;
Jacar-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), na categoria Pouco preocupante. Fonte: Crocodile
Specialist Group 1996. Caiman latirostris. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. Version
2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 18 de abril de 2011;
R ou Jia (Leptodactylus ocellatus), na categoria Pouco Preocupante. Fonte: Ronald Heyer, Jose
Langone, Enrique La Marca, Claudia Azevedo-Ramos, Ismael di Tada, Diego Baldo, Esteban Lavilla, Norman
Scott, Lucy Aquino, Jerry Hardy 2008. Leptodactylus ocellatus. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened
Species. Version 2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 17 de fevereiro de 2011;
Sapo cururu (Rhinella jimi), na categoria Pouco Preocupante. Fonte: Gilda Andrade, Ana Carolina
Carnaval 2004. Rhinella jimi. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2010.4.
<www.iucnredlist.org>. Acesso em 17 de fevereiro de 2011;
Raposa ou Cachorro-do-Mato (Cerdocyon thous), na categoria Pouco Preocupante. Fonte:
Courtenay, O. & Maffei, L. 2008. Cerdocyon thous. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species.
Version 2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 17 de fevereiro de 2011;
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

638
Timb (Didelphis albiventris), na categoria Pouco Preocupante. Fonte: Costa, L., Astua de Moraes,
D., Brito, D., Soriano, P., Lew, D. & Delgado, C 2008. Didelphis albiventris. In: IUCN 2010. IUCN Red List of
Threatened Species. Version 2010.4. <www.iucnredlist.org>. Acesso em 17 de fevereiro de 2011.
Lontra (Lontra longicaudis), na categoria Deficiente de dados. Fonte: Waldemarin, H.F. & Alvarez,
R. 2008. Lontra longicaudis. In: IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2010.4.
<www.iucnredlist.org>. Acesso em 18 de abril de 2011;
Espcies endmicas
Uma espcie endmica aquela que ocorre somente em determinado bioma, habitat, rea,
localidade ou regio geogrfica. A maioria das espcies identificadas endmica da Mata Atlntica, dos
ecossistemas de dunas ou da regio metropolitana de Natal. Um exemplo o lagartinho-de-folhio
(Coleodactylus natalensis), endmico das matas de Natal e regio metropolitana e tambm da Mata
Atlntica, ocorrendo em poucos fragmentos. Sendo assim, a supresso da mata da referida rea pode
contribuir significativamente para extines locais.
reas Prioritrias para Conservao da Biodiversidade
Parte da rea em questo se insere nos polgonos delimitados pelo Ministrio do Meio Ambiente
(MMA), como reas Prioritrias para a Conservao, Utilizao Sustentvel e Repartio de Benefcios da
Biodiversidade Brasileira, classificada como de importncia e prioridade Extremamente Altas. A rea em
questo compe a zona de mangue e dunas do Potengi, cuja ao prioritria a recuperao (BRASIL,
2011).
RESULTADOS E CONCLUSES
Os aspectos aqui relacionados no recomendam a utilizao da rea da ZPA-3, especialmente
devido aos aspectos legais, urbansticos e ambientais que subsidiariam sua no ocupao, visando
preservao do bem pblico, da qualidade de vida e da coletividade.
Em funo da artificialidade do sistema de drenagem, da grande fragilidade do solo dunar, dos
efeitos das enxurradas provocadas pelo aumento de precipitao, da grande impermeabilizao urbana e
das fragilidades da fauna, da flora, do bioma Mata Atlntica e de seus ecossistemas associados presentes
na ZPA-3, necessrio agir sobre as causas que desencadeiam os problemas e fragilidades da rea e
elaborar normas que estejam de acordo com a realidade local.
Com esse objetivo, apresentamos uma proposta que melhor permita a manuteno e
sustentabilidade da rea da ZPA-3 (Figura 4), em observncia legislao vigente, especialmente Lei
Estadual n8.426, de 14 de novembro de 2003 que trata da faixa de proteo ambiental do rio Pitimbu e s
diretrizes do Plano Diretor de Natal (NATAL, 2011), que estabelece o subzoneamento das ZPAs em
subzonas de preservao, conservao e uso restrito, e atual situao da ZPA-3.

Joo Pessoa, outubro de 2011

639

Figura 4. Proposta de zoneamento para a ZPA-3.

REFERNCIAS
BORGES, A. N. (2002). Implicaes ambientais na bacia hidrogrfica do rio Pitimbu (RN) decorrentes
das diversas formas de uso e ocupao do solo. Natal, RN.
BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente. reas Prioritrias para a Conservao, Utilizao Sustentvel
e
Repartio
de
Benefcios
da
Biodiversidade
Brasileira.
Disponvel
em:
<http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=14&idConteudo=743&idMen
u=356>. Acesso em: 15 jun. 2011.
CARVALHO, C. S., MACEDO, E. S., & OGURA, A. T. (2007). Mapeamento de Riscos em Encostas e
Margem de Rios. Braslia: Ministrio das Cidades; Instituto de Pesquisas TEcnolgicas - IPT.
COSTA, S. M. (1995). Alterao da cobertura vegetal natural da microbacia do rio Pitimbu-RN
devido ocupao antrpica. Natal: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico,
Prorreitoria de Pesquisa e Psgraduao, UFRN.
ECONATAL. (1995). Caracterizao e diretrizes gerais de uso e ocupao da Zona de Proteo
Ambiental, situada no bairro do Pitimbu, entre a Avenida dos Caiaps e o rio Pitimbu. Natal, RN.
INSTITUTO HRUS DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAO AMBIENTAL. Espcies Exticas
Invasoras:
Fichas
tcnicas.
Disponvel
em:
<http://www.institutohorus.org.br/index.php?modulo=fichasTecnicas>. Acesso em: 27 jun. 2011.
NATAL. Lei Complementar n 082 de 21 de junho de 2007. Plano Diretor de Natal. Disponvel em:
<http://www.natal.rn.gov.br/semurb/legislacao.php>. Acesso em: 15 jun. 2011.
NUNES, E. (2000). O Meio Ambiente da Grande Natal (RN). Natal: Imagem Grfica.
SANTOS, A. C. (1999). Influncia da expanso urbana na paisagem da sub-bacia do rio Pitimbu entre
Natal e Parnamirim. Natal: Monografia do Departamento de Geografia, UFRN.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

640

REAS ESPECIAS: A PROBLEMTICA DO USO E GESTO DOS TERRENOS DE


MARINHA
105

Suliman Sady de SOUZA


suliman60@hotmail.com
1
Michel Brito de LIMA
michelbrito10@hotmail.com
2
Romilson dos Santos ALCNTARA
romilufpa@hotmail.com

RESUMO
Os Terrenos de Marinha constituem-se em Bens da Unio e, de acordo com o Cdigo Civil, esto
compreendidos na categoria Bens Dominiais ou Dominicais, que incluem as denominadas reas Especiais.
Assim, so administrados pela Secretaria do Patrimnio da Unio (SPU) atravs de vrios decretos e leis.
Sob a orientao do Professor Dr. Joo dos Santos Carvalho106, o presente artigo objetiva, ento, tratar do
conceito de Terreno de Marinha e das principais leis e decretos que regularizam a gesto destas reas,
alm de espao a um debate acerca das principais formas de uso que se faz dos Terrenos de Marinha, com
nfase na utilizao das praias. Este ainda procura ressaltar os grandes desafios que se apresentam para a
gesto dos mesmos, de modo que para as referidas discusses que aqui se prope foi de fundamental
importncia o levantamento bibliogrfico que pudesse, de fato, permitir a materializao do mesmo,
possibilitando, com isso, um melhor entendimento a respeito da conceituao e Gesto dos Terrenos de
Marinha.
PALAVRAS-CHAVE: Praia, Bens Dominicais, Uso, Lazer
INTRODUO
Desde o perodo colonial j se notava uma preocupao com relao definio e
administrao de reas que atualmente correspondem aos Terrenos de Marinha, mas que ainda no
recebiam essa denominao. A Histria do Brasil marcada tanto no perodo colonial, como no imperial e
republicano por discusses relacionadas aos espaos que margeavam a costa brasileira. Sendo que o
perodo colonial marcado principalmente pela definio do que viria a ser considerado Terreno de
Marinha, onde em 1932 a Deciso 348 definiu pela primeira vez o termo Terreno de Marinha. Quanto ao
perodo monrquico e ao atual, o republicano, estes correspondem elaborao de toda uma legislao
voltada para a Gesto destas reas. Atualmente a Secretaria do Patrimnio da Unio, que responsvel
pela identificao, regularizao, manuteno e administrao de todo o patrimnio imobilirio
pertencente Unio, tem como uma de suas atribuies a gesto dos Terrenos de Marinha a fim de que,
diante dos programas estratgicos para o pas, os mesmos cumpram no somente uma funo
arrecadatria, mas que possam alcanar tambm uma funo socioambiental. A gesto dessas reas feita
atravs de algumas leis e decretos, dentre estes o Decreto-Lei n. 9760/1946, bem como o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro, e se constitui em um dos grandes desafios contemporneos ao ordenamento
do territrio, tendo em vista a dificuldade para a delimitao destas reas e as diversas formas pelas quais
as mesmas tm sido utilizadas.
Terrenos de marinha: conceito e principais usos destas reas especiais.
Os Bens pblicos so conceituados por Pereira (1994) como os bens necessrios Administrao
Pblica para o atingimento dos fins coletivos de propiciar o bem estar e a satisfao dos habitantes de seu
territrio, podendo ser da esfera federal, estadual, distrital ou municipal, conforme a entidade poltica a
que pertena ou o servio autrquico, fundacional ou para-estatal a que se vinculem. De acordo com o
Cdigo Civil, estes Bens podem ser categorizados segundo sua destinao, resultando em trs categorias:
os Bens de uso comum do povo, Bens de uso especial e Bens dominicais ou dominiais. A primeira categoria
diz respeito aos bens de uso indistinto das pessoas, como praas, ruas, estradas, etc., ou seja, se destinam
105
106

Graduando em Geografia UFPA (Universidade Federal do Par)


Professor Doutor da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Par (UFPA)

Joo Pessoa, outubro de 2011

641
ao uso geral pela coletividade. Quanto aos Bens de uso especial, estes so os que possuem destinao
execuo de servios administrativos e prestao de servios pblicos em geral. Como exemplo podemos
mencionar um prdio que seja construdo para a instalao de um hospital pblico, ou at mesmo a rea
que compreenda uma universidade pblica. A terceira categoria, que consiste nos bens Dominicais ou
Dominiais, refere-se aos bens que, embora constituam o patrimnio pblico, no possuem uma destinao
pblica determinada ou um fim administrativo especfico, a fim de exemplificar, podemos mencionar as
terras devolutas, ilhas continentais, bem como os Terrenos de marinha e seus acrescidos.
No mbito dos Bens Dominicais ou Dominiais, que incluem as denominadas reas Especiais,
importante analisar, de forma especfica, os Terrenos de marinha e seus acrescidos, tendo em vista a
relevncia que os mesmos possuem, principalmente no campo econmico, sendo alvo de grandes
incorporadoras imobilirias, fonte de arrecadao para o Estado, e reas bastante propcias para atividades
tursticas e de lazer, bem como, guardam em si uma relevante importncia de cunho ambiental, sendo
objetos de preservao. De acordo com Rocha (2008), a origem dos Terrenos de marinha no Brasil remonta
ao perodo colonial, estando a criao dos mesmos ligada garantia de um espao voltado para a defesa do
territrio, bem como a utilizao destes terrenos para embarque e desembarque de mercadorias, extrao
de sal e prtica da pesca, que consistiam-se em importantes fontes de renda naquele contexto. Em
relao definio do que vem a ser Terrenos de marinha, esta se deu especificamente durante o perodo
colonial, sendo os perodos posteriores a estes, a saber o imperial e o republicano, marcados
principalmente pela criao de uma legislao referente ao uso e ao gerenciamento dos mesmos. Desta
forma, durante as primeiras dcadas do sculo XVIII, o interesse do Rei pelas terras de marinha
praticamente inexistia, j que de acordo com Rocha (2008) durante esse perodo seu interesse era voltado,
sobretudo, para os benefcios proporcionados pela extrao do sal, da pesca e nos lucros que passou a ter
com locais para desembarque de pessoas, mercadorias, bem como a defesa das cidades contra as
embarcaes vindas pelo mar. Porm, em 1 de dezembro de 1726, foi criada uma ordem rgia que
estabelecia que ningum poderia alargar um palmo, os seus domnios para o mar, nem mesmo edificar em
praias. Em 1818, ouviu-se falar em marinha como sendo de domnio pertencente Ccoroa, como destaca
Santos (1985) apud Rocha (2008):
(...) tudo que toca a gua do mar e accresce sobre Ella da Coroa, na forma de Ordenao do Reino;
e que da linha dgua para dentro sempre reservadas 15 braadas pela borda do mar para servio pblico,
nem ento em propriedade alguma conflitantes com a marinha, e tudo quanto alegarem para se apropriar do
terreno abuso e inattentvel; pois que se pde haver posse de uns visinhos para outros, nunca pde haver
contra a Coroa, que tem o domnio (...).

A definio de terrenos de marinha, bem como as regras para mediao e demarcao dos mesmos
se deu somente em 1832, atravs da Deciso de 348, que estabeleceu que:
ART. 4 Ho de considerar Terrenos de Marinha todos os que, banhados pela gua do mar ou dos
rios navegveis. Vo at a distncia de 15 braadas craveiras para a parte da terra, contadas estas desde os
pontos a que chega a preamar mdia.

A partir de ento vrias medidas foram sendo adotadas com relao aos Terrenos de Marinha,
principalmente, no que diz respeito, a leis e decretos que regulamentam o uso e gerenciamento dos
mesmos. Atualmente os Terrenos de Marinha so administrados pela Secretaria do Patrimnio da Unio
(SPU), que responsvel pela identificao, regularizao e manuteno dos Bens imveis da Unio, e
regidos, basicamente, pela Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, pelo Decreto-Lei n.
9760/1946, pela lei n. 9636/1988 e pelo Decreto n. 3725/2001, bem como pela Lei n 7.661/88. Desta
forma importante analisarmos os conceitos presentes nestas leis e decretos a fim de compreendermos as
questes legais relacionadas ao uso e gerenciamento dos Terrenos de Marinha.
O Decreto-Lei n. 9760/1946 trata, principalmente, da conceituao dos Terrenos de Marinha,
dispondo em seu Artigo 2 que Terrenos de Marinha So reas situadas no continente; na costa martima;
nas margens dos rios e lagoas, e no contorno das ilhas, at onde se faa sentir a influncia das mars, em
uma profundidade de 33 metros medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posio da linha do
preamar-mdio do ano de 1831. Para alcanarmos a compreenso deste conceito, importante termos
em mente que a linha do preamar-mdio do ano de 1831, consiste em uma mdia das mars mais altas do
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

642
ano de 1831. No mbito dessa discusso conceitual, faz-se necessrio ainda o esclarecimento de dois
conceitos ligados a essa temtica, a fim de no se fazer confuso entre os conceitos. O primeiro destes diz
respeito aos Acrescidos de marinha, que segundo Melo (1996) apud Coimbra e Krholing (2005) consiste
nos terrenos que se formam por acrscimo, natural ou artificialmente, para os lados do mar, para as
margens dos rios, ou para a orla dos lagos, tornando mais ampla a rea dos terrenos a que se somam.
Dessa forma, independentemente do tamanho dos acrescidos, a rea considerada como Terreno de
marinha permanece com sua dimenso original segundo a Lei que a regulamenta. Neste caso, se o Estado
resolvesse realizar um aterro de alguns metros em direo ao mar, essa medida do aterro corresponderia
aos acrescidos e o Terreno de Marinha permaneceria com seus 33 metros a partir da linha da preamarmdia estabelecida. O Segundo conceito a ser diferenciado se refere definio de praia, que segundo
Coimbra e Krholing (2005) no pode ser confundido com a definio de Terrenos de Marinha. Esse conceito
preceituado no artigo 10, pargrafo 3 do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, onde se afirma que
praia consiste na rea coberta e descoberta periodicamente pelas guas, acrescida da faixa subseqente
de material detrtico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, at o limite onde se inicie a
vegetao natural, ou, em sua ausncia, onde comece um outro ecossistema. Estes autores afirmam a
partir deste conceito que a praia possui uma dimenso que pode sofrer variao, destacando que os
critrios demarcadores dos Terrenos de marinha podem ultrapassar a praia, ou vice-versa, concluindo que
toda e qualquer praia martima est situada em um Terreno de marinha, contudo nem todo Terreno de
marinha est localizado em uma praia de mar.
Cientes do conceito de Terrenos de Marinha, e que estes por serem considerados reas
Especiais, portanto, includos nos Bens Dominiais da Unio, como j mencionado anteriormente, possuem
uma legislao especfica para sua gesto, que tem como objetivo maior identificar e demarcar estas reas,
bem como controlar e regularizar o uso que se faz das mesmas, importante focarmos em algumas
questes relacionadas utilizao dos Terrenos de Marinha, seja para fins econmicos, de preservao
ambiental, etc. Primeiramente faz-se necessrio apresentar de forma generalizada as principais formas
pelas quais os Terrenos de Marinha so utilizados, ressaltando a importncia que cada uma delas possuem
para a populao como um todo, j que se trata de um Patrimnio Pblico. A construo de portos se
constitui em um dos usos que se faz desses espaos, pois possui uma relao intrnseca com os mesmos,
tendo em vista estarem localizados nos Terrenos de Marinha, todavia importante ressaltar que as
maiores problemticas no giram em torno das atividades porturias, j que se deve levar em considerao
o fato de que apesar de se tratar da utilizao de um Bem Pblico, esta uma atividade imprescindvel para
a economia nacional, sendo relevante para a populao do pas, alm de que, no que concerne
administrao dos portos j se percebe a existncia de uma legislao mais consolidada. Outra forma bem
comum onde se v a ocupao dos Terrenos de Marinha est relacionada expanso urbana, pois
notrio em muitas cidades costeiras, ou que possuem rios e lagoas em seus limites territoriais, a ocupao
de reas bem prximas as margens dos rios, lagoas e praias. Um caso exemplar e que pode esclarecer essa
problemtica est ligada incorporao imobiliria, pois os Terrenos de Marinha so alvos de grandes
incorporadoras que vem nos mesmos alguns atributos que podem proporcionar lucros elevados, fato este
que tem feito com que sejam construdos vrios edifcios em Terrenos de Marinha e que muitas vezes
acabam modificando a dinmica destes espaos e beneficiando uma parcela nfima da populao.
O Turismo tambm uma atividade que comumente invade os Terrenos de Marinha, onde se pode
perceber que, na maioria das vezes, tal atividade acaba restringindo a utilizao de espaos que por lei
devem ser utilizados sem nenhum constrangimento pela populao em geral. Um exemplo a esse respeito
consiste no uso das praias, percebendo-se vrias irregularidades na utilizao das mesmas. importante
lembrar que o uso de reas especiais, como os Terrenos de Marinha pode ser concedido por lei,
principalmente atravs do aforamento107, e que apesar dos mesmos serem administrados pela Secretaria
do Patrimnio da Unio atravs de vrias leis e decretos, bem como por meio do Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro, nota-se diversas formas irregulares e ilegais que historicamente tem se

107

o instituto civil que permite ao proprietrio atribuir a outrem o domnio til de imvel, pagando a
pessoa que o adquire (enfiteuta) ao senhorio direto uma penso ou foro, anual, certo e invarivel (cc de 1916, art.
678).
Joo Pessoa, outubro de 2011

643
materializado nesses espaos, lanando grandes desafios para a gesto dos mesmos, a exemplo do uso das
praias, que ser focado de forma mais especfica neste trabalho.

O uso dos Terrenos de Marinha: o exemplo das praias


A vasta costa brasileira com os seus mais de sete mil quilmetros que se estendem desde a foz do
Rio Oiapoque, na fronteira do estado do Amap com a Guiana Francesa, ao norte, at o Arroio Chu, na
divisa do estado do Rio Grande do Sul com o Uruguai, ao sul, marcada por inmeras praias com mltiplas
feies e peculiaridades. Alm destas, identifica-se ainda um nmero bastante expressivo de praias fluviais
e flvio-marinhas espalhadas pelo territrio nacional. Segundo Menezes (2004) o decreto n. 6.617 de 29 de
agosto de 1907, j continha em seus pargrafos referncia em relao aos terrenos de marinha.
Especificando de qual forma se daria a utilizao de praias o referido documento probe qualquer tipo de
construo que esteja na rea de Terrenos de marinha e, por conseguinte, nas praias. Pode-se perceber
que ainda no sculo passado j existia uma preocupao relacionada ao uso deste espao para os mais
diversos fins, sejam eles tursticos, porturios, imobilirios, etc. Nesse sentido, as praias, que integram os
terrenos de marinha, definem-se, como outrora j citado, por serem reas cobertas e descobertas pelas
guas, acrescidas de faixas de material detrtico, como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, at o limite
onde se inicie um outro ecossistema, como a vegetao natural. (SANTOS, 1985, apud ROCHA, 2008).
A Constituio Federal Brasileira de 1988, em seu vigsimo artigo, trata dos chamados Bens da
Unio. Nela as praias esto inseridas como patrimnios do Estado Brasileiro, assim como os lagos, os rios,
as ilhas lacustres, fluviais, marinhas e costeiras, o mar territorial, os potenciais de energia hidrulica, os
recursos minerais, entre outros. J a Lei n 7.661/88 que instituiu o PNGC Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro , vai mais alm e determina em seu dcimo artigo que as praias so bens
pblicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em
qualquer direo e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurana nacional ou
includos em reas protegidas por legislao especfica e que nelas no ser permitida a urbanizao ou
qualquer forma de utilizao do solo na Zona Costeira que impea ou dificulte o acesso assegurado.
Segundo Velli (2008) o artigo 2 da mesma Lei n 7.661/88 estabelece que: a regulamentao
desta lei determinar as necessidades e as modalidades de acesso que garantam o uso pblico das praias e
do mar. A lei prev conforme acrescenta Menezes (2004) que h a possibilidade de utilizao da praia
tanto para segurana nacional, proteo do meio ambiente e como atrao turstica, no entanto a prtica
de lotear esses lugares para atividades particulares no possui respaldo na Lei e, portanto atentam contra o
direto de uso de um Bem pblico, neste caso, a praia para a atividade de lazer.
Ainda se faz necessrio acrescentar, segundo Velli (2008), que a instalao de equipamentos
necessrios para o bom uso da praia, sejam eles pblicos ou particulares, clubes nuticos, quiosques para
venda de comidas e bebidas, barracas removveis, entre outros, tem sua permanncia em rea de praia
garantida pela legislao desde que tenham autorizao dos rgos municipais e federais e da SPU
(Secretaria de Patrimnio da Unio), porm a construo de manses, casas particulares, e outros imveis
de utilizao particular no se enquadram nesta categoria e, portanto, devem ser veementemente
proibidas pelo poder pblico.
Cabe, portanto, a SPU e rgos ambientais coibir qualquer forma de utilizao deste espao, cuja
natureza da atividade no permita o livre uso da mesma, no entanto percebe-se que h vrios anos alguns
municpios tm buscado reivindicar junto ao Governo Federal a atribuio de competncias necessrias
para aplicar os mecanismos de controle e gesto das praias localizados em sua jurisdio administrativa. A
procura por esse controle se faz cada vez mais necessria em virtude de que no cabe s Cmaras
Municipais qualquer tipo de gerncia sobre estes espaos, porm quando surgem os problemas
relacionados as mesmas o poder publico municipal o culpado tanto pela falta de limpeza das praias,
presena de ambulantes em locais imprprios, controle de qualidade da gua, etc., sendo que tais
problemticas costumam se evidenciadas nos perodos onde se registra a maior presena de pessoas
nestes locais.
Conforme afirma Menezes (2004) a praia um bem de uso pblico e no deve ser usada para fins
particulares, o acesso deve ser livre e pblico mantendo o carter de ser um bem de uso coletivo. Em
virtude disso faz-se necessrio aplicar os mecanismos de controle e gesto desse espao, configurando-o
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

644
como um bem de uso essencial populao, sobretudo, para a prtica do lazer. Todavia, a elevada
densidade demogrfica identificada na faixa costeira nacional, e a conseqente expanso do tecido urbano
no Brasil, acabam por exercer forte presso sobre as reas de praia que, embora tenham o seu acesso livre
assegurado por lei e sendo elas um bem comum do povo, em muitos casos sofrem formas de apropriao
indevida pelas diferentes prticas de diferentes atores que nelas atuam negligenciando o direito coletivo do
acesso a esses espaos amplamente utilizados prtica do lazer em nosso pas.
O municpio de Belm, capital do Estado do Par, constitudo tanto por pores continentais na
faixa costeira nacional como por unidades insulares, serve de exemplo dessa realidade at o presente
abordada. O acesso s praias da capital paraense em muitos trechos torna-se simplesmente impossvel em
funo da obstruo causada pela existncia de moradias predominantemente pauprrimas amontoadas
umas sobre as outras que ao longo do tempo foram construdas desorganizadamente e arbitrariamente
sem que houvesse qualquer tipo de interveno por parte do poder pblico. J em outros trechos, nos
quais h o acesso a essa orla, como na ilha de Outeiro, por exemplo, (FOTOS 01 E 02) este se d de forma
precria. A precariedade reside no fato de que tais espaos sofrem considerveis formas de apropriao
ilegal, pois onde deveriam existir formas de uso baseadas sempre na coletividade, ou seja, no bem comum,
tem-se a presena de donos de barracas e vendedores ambulantes que, fazendo uso privado destes,
passam a disputar os domnios da praia com a populao em geral, a quem de fato e de direito pertencem
essas reas especiais.

FOTO01: Barracas impedindo o livre acesso


praia em Outeiro, Belm PA.
Fonte: SOUZA, 2011

FOTO02: Faixa de praia em Outeiro,


Belm-PA, que apesar de ser naturalmente estreita,
foi invadida por barracas e ambulantes, limitando
ainda mais o acesso dos banhistas.
Fonte: SOUZA, 2011

CONSIDERAES FINAIS
Neste artigo nos propusemos analisar o conceito de Terrenos de Marinha, engendrados na
categoria de reas Especiais de Domnio Pblico, bem como identificar os principais uso que se tem feito
dessas reas, a fim de compreendermos algumas das principais problemticas que giram em torno da
gesto do que se compreende como Terrenos de Marinha. Dessa forma, em se tratando dessa questo,
evidente que apesar de j se ter sido construdo toda uma legislao focada na administrao dos Terrenos
de Marinha, o Estado representado pela Secretaria do Patrimnio da Unio, tem uma srie de desafios a
Joo Pessoa, outubro de 2011

645
serem enfrentados no que diz respeito gesto desses territrios, pois os mesmos so alvos de interesses
econmicos e ambientais de diversos atores, que muitas vezes se contrapem utilizao dos Terrenos de
Marinha como Bem Pblico, atendendo somente a uma pequena parcela da populao. Um das questes a
serem discutidas diz respeito funo que os espaos que compreendem os Terrenos de Marinha podem
assumir perante a sociedade, sendo importante destacar que os mesmos no podem ser administrados de
forma a realizar somente a funo de arrecadao, mas, que alm disso, dever estar voltado tambm para
a funo socioambiental. Com relao a essa questo, so muitos os desafios a serem superados, pois os
diversos usos que vem se fazendo dos Terrenos de Marinha atendem somente obteno de lucros, que
na maioria das vezes no so distribudos de forma igualitria para a populao, alm de no terem a
menor preocupao em se preservar o meio ambiente.
REFERNCIAS
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em:
<HTTP://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 07 jul. 2011.
BRASIL. Lei n 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.
Disponvel em: <HTTP://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109271/lei-7661-88>. Acesso em: 07 jul. 2011.
COIMBRA, G. Q; KRHOLING, A. (2006), Terrenos de Marinha e Acrescidos: novas perspectivas para
o
debate.
Revista
Depoimentos,
n.
10,
p.
115-141.
Disponvel
em:
<http://www.fdv.ensinolivre.net/siteperiodicos/arquivos/depoimentos/artigos_10/04_10_Gabriel_e_Aloisi
o.pdf>
LIMA, Obde Pereira de. Localizao geodsica da linha da preamar-mdia de 1831 LPM/1831,
com vistas demarcao dos terrenos de marinha e seus acrescidos. Florianpolis, SC, 2002. 250 f. Tese
(Doutorado em Engenharia) Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil, Universidade Federal de
Santa Catarina, Santa Catarina, 2002.
MENEZES, R. S. de. Regime Patrimonial dos Terrenos de Marinha. Jus Navigandi, Teresina, ano 2004.
DisponveL em:<HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5855.
MORSELLO, C. reas Protegidas Pblicas e Privadas. So Paulo: Fapesp, 2001.
PEREIRA, C. M. S.. Instituies de Direito Civil, 6. ed., v. 1, Rio de Janeiro: Forense, 1994. p. 279
ROCHA, Daniele C. da. Incorporao imobiliria em terras de marinha. Itaja SC, 2008. Monografia
de concluso de curso, Faculdade de Direito, CEJURS, Universidade do Vale do Itaja (UNIVALI).
VELLI. A. M. Terrenos de marinha e seus acrescidos: dificuldade prticas e jurdicas. Trabalho de
Concluso de Curso. Universidade vale do Itaja. Ano 2008.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

646

O PROCESSO DE PLANEJAMENTO E GESTO PARTICIPATIVA EM


UNIDADES DE CONSERVAO: ANLISE DE SUA EVOLUO.
Jos Luiz SEABRA Filho
108
jose.seabra-filho@ibama.gov.br
Sultane M. MUSSI
109
sulmussi@terra.com.br

RESUMO
Este trabalho pretende demonstrar a importncia do conselho de gesto no planejamento das
Unidades de Conservao brasileiras, relacionando esse instrumento com o novo modelo gerencial que se
implanta na administrao pblica federal, como exemplifica o programa Gespblica. Para tanto,
apresentamos a evoluo do processo de gesto participativa mediante a implantao dos conselhos de
gesto nas Unidades federais do estado do Rio de Janeiro, com os seus princpios norteadores e a sua base
legal. Em seguida, verificamos a pertinncia desse instrumento aos critrios de excelncia da moderna
administrao pblica, na qual o foco est na satisfao da sociedade e dos cidados-usurios, e que
prescreve a necessidade de canais de comunicao eficazes e efetivos com a organizao pblica. A
Unidade de Conservao uma organizao pblica que, para atingir seus objetivos, depende justamente
dessa interao e da legitimao de sua existncia pela sociedade. Destacamos, ao final, a evoluo no
nvel de participao nos conselhos, concluindo que o caminho natural o incremento dessa participao
rumo deliberao com responsabilidade.
Palavras-chave: Planejamento, Gesto Participativa, Unidade de Conservao.
Introduo
Este trabalho foi baseado na experincia de gesto participativa desenvolvida nas Unidades de
Conservao (UC) federais do RJ, implementada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renovveis (IBAMA) do RJ, entre os anos de 2002 e 2007. Vale ressaltar que at o ano de 2007 a
administrao das UC federais era de responsabilidade do IBAMA, sendo que com a Lei 11.516 de 28 de
agosto de 2007, esta tarefa passou para o Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade
(ICMBio). Partindo da anlise inicial, foi possvel avaliar a evoluo da gesto participativa e refletir sobre a
sua importncia dentro do planejamento das UC.
O processo de gesto participativa nas Unidades de Conservao federais do RJ
A gesto participativa traduzida por Buarque (2002) como um importante processo de
aprendizagem em que os atores sociais, por meio do planejamento participativo, vo construindo uma
viso coletiva da realidade local e do seu contexto, tendendo para a definio do futuro desejado e das
aes necessrias sua construo.
Bordenave (1985) afirma que a participao o caminho natural para o homem revelar sua
tendncia inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e transformar a natureza. Este um dos
princpios que o autor prope para orientar o processo de participao social, considerada por ele como
um processo de desenvolvimento da conscincia crtica e de aquisio de poder. A participao aquilo
que se aprende e se aperfeioa pela prtica e pela reflexo que leva a prxis, uma vez que no consiste
apenas numa opo metodolgica. Deve levar apropriao do desenvolvimento pelo povo porque,
quando a sociedade participa do planejamento e execuo do processo, ela se sente dona e co-responsvel
pelo seu sucesso ou fracasso.
Diversas experincias concretas de planejamento e gesto de reas protegidas, especialmente
aquelas classificadas como Unidades de Conservao, foram realizadas no Brasil, ganhando fora maior
particularmente no final dos anos 90. Diante da importncia dessas experincias, foi realizada em 1997 a
Oficina sobre gesto participativa em Unidades de Conservao como produto do Projeto Doces Matas,
desenvolvido por meio de um acordo firmado em janeiro de 1995 entre o Instituto Estadual de Florestas de
108

Analista ambiental do IBAMA/RJ; Mestre em Direito da Cidade - UERJ; Mateiro.


Analista ambiental do Ncleo de Educao Ambiental do IBAMA/RJ; Mestre em Psicossociologia de
Comunidades e Ecologia Social pelo Programa de Ps-Graduao EICOS UFRJ.
109

Joo Pessoa, outubro de 2011

647
MG e a Agncia Alem de Cooperao Tcnica (GTZ), em parceria com a Fundao Biodiversitas e o IBAMA
de MG. O objetivo da Oficina foi reunir aqueles que trabalhavam com planejamento e gesto participativa
em UC no Brasil para expor e discutir criticamente suas experincias, bem como definir algumas diretrizes
comuns de atuao.
A Oficina de 97 foi a primeira a discutir os princpios e diretrizes gerais para o processo participativo
na gesto de Unidades de Conservao. O debate realizado no evento resultou na identificao de
problemas e apontou sugestes e recomendaes para o processo de gesto de UC. Alm disto, os
resultados da discusso contriburam para servir de base para a elaborao do Sistema Nacional de
Unidades de Conservao da Natureza (SNUC), criado pela Lei n 9985 de 18 de julho de 2000.
Alguns itens relevantes retirados do documento final da Oficina devem ser ressaltados:
(1) Com o objetivo de levantar informaes relevantes para o planejamento e gesto da UC e
promover aes integradas entre os diferentes grupos interessados, fundamental a elaborao de um
diagnstico socioeconmico participativo que resulte numa base de dados, a fim de situar a Unidade no
contexto local e regional, incluindo a identificao do uso e ocupao do solo da UC e seu entorno e o
mapeamento comunitrio. Durante esse processo, deve-se procurar identificar lideranas, considerando a
diversidade de interesses no mbito da gesto da UC. Desta maneira, a identificao das atividades j
desenvolvidas na Unidade e seu entorno, assim como de suas potencialidades, possibilitam nortear melhor
as aes a serem estabelecidas no planejamento da Unidade.
(2) As formas tradicionais, pouco participativas, nas relaes intra e interinstitucionais e nas
relaes entre as UC e seu entorno, ocasionam uma srie de desconfianas que perturbam o processo
participativo em vrios aspectos, desde a preparao implementao da gesto da Unidade. Um dos
mecanismos identificados como minimizador desse ponto a melhoria da qualidade de informao e
comunicao. Deve haver uma preocupao quanto capacitao conceitual com relao ao planejamento
participativo, o que pode ser feito mediante a formao de grupos de discusso. Estes grupos podem ser
qualificados por meio de reunies e palestras, sendo o trabalho complementado com a produo de
material educativo como cartilhas, folhetos etc., elaborados em linguagem adequada realidade local,
aumentando assim o interesse e o potencial de participao da comunidade nesta fase de sensibilizao. As
diferenas devem ser identificadas e trabalhadas, assim como estabelecidos mecanismos que garantam a
interao equilibrada entre o saber "tcnico" e o saber "popular".
(3) A capacitao insuficiente de todos os envolvidos apontada como um grande problema em
todas as fases do planejamento e gesto das UC. Para a concretizao de aes de capacitao sugere-se
realizar a identificao das necessidades para que sejam propiciados os treinamentos. A capacitao em
gesto participativa deve ser acessvel a todos os envolvidos no processo de planejamento e gesto das UC.
(4) interessante que seja observado o perfil das pessoas que pretendem trabalhar com processos
participativos em UC, visando minimizar falhas na formao das equipes. Devem ser traados critrios para
a identificao e seleo dos diferentes interessados em participar do processo. Estes critrios devem ser
acordados como forma de garantir a representatividade, o envolvimento e as contribuies de todos. Aps
a seleo dos interessados, importante a sensibilizao dos mesmos para atuar junto ao processo de
gesto, desde as primeiras fases do planejamento. Existe uma dificuldade em conciliar os diferentes
interesses e de garantir a participao de todos os envolvidos. Alm disto, o trabalho para mobilizao e o
custo do processo so maiores, j que o processo participativo mais demorado.
(5) Um dos conflitos presentes na gesto de UC provocado por interesses polticos contrrios ao
objetivo e fortalecimento da UC. Para amenizar este conflito, deve-se buscar a sensibilizao dos polticos
quanto gesto ambiental participativa. Uma estratgia utilizada a divulgao dos benefcios que as UC
trazem para a sociedade, como, por exemplo, o equilbrio no ciclo da gua, seu potencial econmico, alm
dos benefcios de compensao, como o ICMS Ecolgico.
(6) fundamental a identificao de metodologias adequadas ao planejamento, uma vez que falhas
nesta fase geram problemas na implementao do plano de gesto, como, por exemplo, quanto
priorizao de atividades e estratgias de ao. O planejamento adequado deve ser transparente em todas
as suas aes e abordar a UC como um organismo nico e no por compartimentos. O registro e a
divulgao das experincias adquiridas so essenciais para maximizar os resultados e para a obteno de
avanos reais na aplicao do assunto.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

648
(7) Na implementao dos grupos gestores (conselhos, comits ou outros) foram identificados dois
problemas principais: a) representao de interesses e b) entraves institucionais.
a) Representao de interesses no grupo gestor - O primeiro problema levantado na composio do
grupo gestor quanto aos critrios para a definio da representao. Visando promover uma ampla
discusso e superar o problema, sugere-se a convocao dos interessados para o estabelecimento de
critrios transparentes de representatividade.
b) Entraves institucionais - Muitas vezes a expectativa criada para sociedade quanto execuo das
atividades previstas em um planejamento incoerente real capacidade institucional. Em alguns casos, as
reivindicaes da comunidade passam a fazer parte do planejamento e a no implementao das
atividades ligadas a estes objetivos causam desgaste, o que torna o processo negativo. Comparando a
forma tradicional de planejamento e gesto de UC com os processos participativos, observamos que estes
so mais dispendiosos e demandam mais tempo para sua execuo. Alm disso, o tempo e os custos para a
participao da comunidade so diferentes do tempo e custos institucionais.
Aps a Oficina de 97, Drumond (1999) resumiu os seguintes princpios gerais para o processo de
gesto participativa:
- Melhorar a eficincia na gesto de UC.
- Melhorar a qualidade das aes na gesto de UC.
- Compartilhar as responsabilidades, buscando a melhor proteo da UC.
- Estabelecer uma relao entre a UC e seu entorno.
- Garantir eqidade social.
- Garantir o acesso informao.
- Motivar a participao comunitria.
- Conhecer e respeitar a cultura da populao.

Em novembro de 2003, a Primeira Conferncia Nacional do Meio Ambiente reforou a


necessidade de consolidao dos conselhos de gesto das Unidades de Conservao por meio do incentivo
e apoio dos rgos executores, da capacitao de seus membros e da garantia de participao de
representantes de todos os segmentos envolvidos com essas reas Protegidas (BRASIL, 2004, p.34).
Em seguida, preocupados em proporcionar instrumentos para a efetiva implementao da gesto
participativa nas UC, o MMA e o IBAMA, em parceria com o World Wide Fund for Nature (WWF), o Fundo
Brasil para a Biodiversidade (FUNBIO), o Instituto Internacional de Educao do Brasil (IEB) e The Nature
Conservancy (TNC), realizaram em Braslia, de 10 a 12 de agosto de 2004, uma oficina sobre Gesto
Participativa do SNUC. O evento reuniu tcnicos do governo e representantes de organizaes da
sociedade civil com o objetivo de apresentar e debater experincias sobre consulta pblica e criao e
funcionamento de conselhos de gesto de UC (BRASIL, 2004, p.11).
Em 2006 foi institudo o Plano Estratgico Nacional de reas Protegidas (PNAP) por meio do
Decreto Presidencial n 5758 de 13 de abril de 2006 e um de seus objetivos especficos promover a
implementao do SNUC de forma efetiva e eficiente. O PNAP veio anunciar que a interao entre as
diferentes esferas e setores do governo, comunidades locais e demais atores sociais interessados prcondio para efetividade da gesto de reas protegidas, abrangendo Terras Indgenas, Quilombolas,
Reservas Legais e reas de Preservao Permanente.
Ao longo da histria da gesto participativa em UC, observa-se um processo que visa promover a
interlocuo entre diferentes atores sociais que tm envolvimento direto ou indireto na conservao e
utilizao dos recursos naturais dessas reas, especialmente as populaes que vivem dentro ou no
entorno do parque e que devem participar da resoluo de conflitos e das tomadas de deciso no processo
de gesto. Para isto, fundamental a existncia de um conselho de gesto, para funcionar como
instrumento de mediao de conflitos, com o principal objetivo de envolver todos os segmentos da
sociedade pertinentes, levando em conta todos os interesses, saberes, potenciais e inquietaes destes
atores.
De acordo com Ibase (2006), se a sociedade no estiver integrada gesto da Unidade e perceb-la
apenas como uma restrio ao uso, sua percepo ser negativa e ela no ser parceira da Unidade para a
proteo da natureza. Irving et al (2006) reforam que a participao da sociedade na gesto constitui

Joo Pessoa, outubro de 2011

649
elemento central para a conservao da biodiversidade e do patrimnio natural da Unidade, ou seja, para a
sustentabilidade em termos globais da rea Protegida.
O dilogo e a determinao das necessidades coletivas so condies para a participao e podem
ajudar na construo do conhecimento necessrio para o desenvolvimento da cidadania e aumentar a
capacidade para a tomada de deciso.
Considerando o conselho de gesto de UC como uma instituio social e um espao pblico
importante de equalizao de oportunidades, a consolidao da gesto participativa deve ser feita com o
intuito de torn-lo uma instncia democrtica, apropriada e legitimada pelos diferentes atores sociais
envolvidos na gesto. Porm, conforme MUSSI (2007), a participao nos conselhos de gesto de UC um
processo em construo que apenas se inicia, exigindo a construo de habilidades e metodologias que
possam fazer destes espaos, instrumentos eficientes e eficazes para a democratizao dos processos de
tomada de deciso, levando melhoria da qualidade de vida.
A importncia do planejamento participativo em UC
Planejamento a atividade que, partindo de uma viso de futuro desejado, estabelece o que ser
feito, por quem, quando, como e com que verba se chegar l. Para o planejamento de uma Unidade de
Conservao, a legislao brasileira prev dois documentos basilares: o seu plano de manejo e o seu
conselho de gesto, de carter deliberativo ou consultivo.
primeira vista, pode saltar aos olhos que a precedncia em importncia no planejamento do
plano de manejo, pois ele que incorpora o nome plano, traando as diretrizes que levaro ao futuro
desejado da Unidade. Todavia, o prprio executivo, ao regulamentar a lei do SNUC, fez questo de mostrar
que o preferencial a ordem inversa, pois o inciso II do artigo 20 Decreto federal n 4.340/2002 estabelece
como competncia do conselho acompanhar a elaborao, implementao e reviso do Plano de Manejo
da Unidade de Conservao, quando couber, garantindo o seu carter participativo (BRASIL, 2002). Essa
anterioridade do conselho faz todo o sentido dentro da gesto participativa, pois como o prprio texto do
Decreto exalta, esse colegiado o instrumento garantidor de que aquele planejamento se dar de forma
aberta aos demais atores sociais e no apenas por um corpo tcnico-cientfico.
Nota-se que a histria das Unidades de Conservao est repleta de diversos planos de manejo
complexos, caros e que nunca foram usados. Muito deles, como o do Parque Nacional da Serra da Bocaina
(IBAMA, 2002) chegam a prever detalhes inacreditveis como a cor das pulseiras a serem usadas ou a
decorao de um portal, enquanto problemas srios como a questo fundiria ou a relao com as
comunidades do entorno no recebem a devida ateno. Para evitar estes desvios da realidade no
planejamento da UC, que a pr-existncia de um conselho de gesto deve ser reforada. Ao validarem-se
os estudos e propostas perante os conselheiros, representantes da sociedade civil e das instituies
governamentais, cria-se a oportunidade de agregar elementos fticos ao terico e de verificar a
possibilidade de aceitao e legitimao das aes de manejo futuras.
Nas Unidades de Conservao, o conselho de gesto pode ser um elemento de moderao. Ele no
vai legislar, mas vai fiscalizar as aes da administrao da unidade, respaldando algumas, propondo outras
e contestando outras mais. Somente com a participao direta da sociedade pode haver o
comprometimento. Existe um dito popular que garante que s se defende o que se ama, mas s se pode
amar o que se conhece. O conselho tem esse potencial de abrir para a sociedade a Unidade de
Conservao, no como algo distante, imposto, exclusivo, mas algo de qual ela participa ativamente e a
defende da mesma forma. Se hoje em dia, o conselho de gesto, na maior parte das categorias de UC,
apenas consultivo, no pode ser esquecido que a natural evoluo da gesto participativa levar tambm a
deliberao, com responsabilidade e comprometimento.
Loureiro et al (2008), apresentam entendimento semelhante no tocante discusso acerca do
carter deliberativo ou consultivo dos conselhos. Segundo os autores, historicamente, a idia de conselhos
gestores diz respeito a um espao de concertao e deciso democrtica, criando uma necessria cultura
cidad e de responsabilidade no que feito em termos de polticas pblicas. Desta forma, concluem que
em tese, todo conselho gestor deveria ser deliberativo.
O novo modelo gerencial e a participao social
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

650
medida que o modelo gerencial de administrao pblica se consolida no cenrio brasileiro,
processo lento se contado do marco do Plano de Reforma do Aparelho do Estado de 1995, a fase de
planejamento nas polticas e aes pblicas ganha destaque na avaliao da sociedade e do prprio
aparelho estatal. Uma das polticas pblicas que interage diretamente com a sociedade, e que tem
objetivos de longo prazo onde o planejamento essencial, justamente a criao e gesto de Unidades de
Conservao.
A separao de um espao territorial, em cujo interior ou exterior imediato habitam indivduos e
comunidades, por vezes populosas, para lhe conferir um uso do solo especial e restritivo, algo que
naturalmente demanda um planejamento cuidadoso para que os objetivos dessa medida conservacionista
possam ser atingidos da maneira mais eficiente possvel.
Infelizmente, a histria da criao e gesto de reas protegidas no Brasil e no mundo no registra a
valorizao desse cuidado. Brandon (2008) foca em seu trabalho a importncia da adequao de uma
Unidade de Conservao ao seu contexto social. Colocar o parque certo no lugar certo tarefa que exige
planejamento e participao social. Bensusan (2008), por sua vez, nota que os rgos gestores de UC
temem muitas vezes essa participao da sociedade.
O simples planejamento, em si, algo subvalorizado na administrao pblica e programas oficiais
como o Gespblica, coordenado atualmente pelo Ministrio do Planejamento, procuram suprir essa falha.
importante notar que esse Programa, em sua metodologia, apresenta o foco nos cidados e sociedades
como fundamentos da excelncia gerencial, explicando que esse conceito se coloca em prtica da seguinte
forma:
Os cidados usurios, atuais e potenciais, e a sociedade so sujeitos de direitos e as organizaes
pblicas tm obrigao de atender, com qualidade e presteza, s suas necessidades e s suas demandas, de
forma regular e contnua. Nesse sentido, a organizao tem que alinhar as suas aes e os seus resultados s
necessidades e s expectativas dos cidados e da sociedade e antecipar suas necessidades futuras o que
implica estabelecer um compromisso com a sociedade no sentido de fazer o melhor no cumprimento da sua
misso institucional considerando o interesse pblico (BRASIL, 2008).

Outro importante fundamento do Programa o controle social, que realizado mediante a


participao das partes interessadas no planejamento, acompanhamento e avaliao das atividades da
administrao pblica. Esse controle pressupe transparncia nas informaes e o estmulo da prpria
organizao publica participao social, viabilizando as condies necessrias a essa participao. No
conceito do documento do Gespblica, participao social a ao democrtica dos cidados nas decises
e aes que definem os destinos da sociedade (BRASIL, 2008).
Ainda no modelo Gespblica, dentre os critrios de avaliao de um programa de melhoria da
gesto, esto dois critrios que avaliam essa dose de participao nas aes das organizaes pblicas: o
primeiro denominado Cidados, onde se examina como a organizao identifica, interage e responde s
demandas dos usurios de seus servios; e o segundo, chamado Sociedade, onde so verificadas as prticas
que a organizao adota para estimular o controle social e se relacionar com as comunidades diretamente
afetadas pela sua atuao, bem como ela aborda suas responsabilidades com a sociedade como um todo,
independente da utilizao ou no de seus servios (BRASIL, op. cit.).
Esse marco do novo modelo governamental revela, assim, uma componente indissocivel em
qualquer processo de planejamento integrado: a participao dos interessados e da sociedade. Note-se que
esse elemento no foi uma inovao oriunda do pensamento Estatal, mas a transposio de idias e
prticas consolidadas na iniciativa privada.
Costa (2003) j demonstrava que na gesto estratgica privada a interao com o pblico usurio e
com a sociedade em geral necessria ao sucesso empresarial de longo prazo. O conceito de partes
interessadas, no sentido amplo, englobando vizinhos, mdia, comunidades alm dos clientes e
fornecedores, demonstra como o ambiente externo de atuao de uma organizao complexo e
multifacetado, devendo o planejamento encontrar mecanismos para traduzir as expectativas e interesses
desses diversos grupos.
A ausncia de instrumentos de gesto estratgica, incluindo a seu importante elemento
participativo, j foi alvo de estudos de Reis e Pinto (2008) que concluram que a situao de baixa
capacidade gerencial e os fracos resultados obtidos nos desempenhos da maioria das UC brasileiras s
Joo Pessoa, outubro de 2011

651
poder ser revertida a partir da presso da sociedade por uma mudana qualitativa. Ora, justamente o
conselho de gesto o locus atualmente disponvel para que essa presso possa ser direcionada e sentida.
Nesse sentido, o modelo de gesto gerencial de resultados depende da implantao de canais de contato
com a sociedade, como pesquisas de satisfao, interao com a mdia (em especial a virtual), fomento
visitao, mas principalmente da presena de representantes dessa sociedade e dos cidados-usurios dos
servios da Unidade de Conservao em um frum permanente de debates e legitimao das aes
gerenciais.
A situao da gesto participativa nas UC federais do Rio de Janeiro
No incio de 2004 foi realizado pelo IBAMA/NEA/RJ um levantamento da situao da gesto
participativa de UC federais no Estado do RJ. O resultado possibilitou classificar as UC quanto situao de
seus conselhos em trs categorias (LOUREIRO et al, 2008):
Unidades do Tipo I Unidades sem a Portaria de formao do conselho, ou com conselho
formado, com at uma reunio realizada no perodo de um ano.
Unidades do Tipo II Unidades com conselho formado por Portaria e com a realizao de 2 a 3
reunies no perodo de um ano.
Unidades do Tipo III Unidades com conselho formado por Portaria e com 4 ou mais reunies
realizadas no perodo de um ano.

Em relao s categorias de UC existentes no RJ, foram pesquisadas as 4 APA (reas de Proteo


Ambiental); os 5 PARNA (Parques Nacionais); as 3 REBIO (Reservas Biolgicas); a FLONA (Floresta Nacional);
a ESEC (Estao Ecolgica) e a RESEXMAR (Reserva Extrativista Marinha). Portanto, no panorama total das
15 UC administradas pelo IBAMA/RJ na poca (incio de 2004), o cenrio era o seguinte:
Unidades do Tipo I Total de 8 UC = 53% do total de UC federais no Estado:
PARNA TIJUCA, PARNA SERRA DOS RGOS, PARNA SERRA DA BOCAINA, REBIO POO DAS ANTAS,
APA BACIA DO RIO SO JOO, FLONA MRIO XAVIER, ESEC TAMOIOS e RESEXMAR ARRAIAL DO CABO.
Unidades do Tipo II Total de 3 UC = 20% do total de UC federais no Estado: APA GUAPIMIRIM,
APA CAIRUU e REBIO TINGU.
Unidades do Tipo III Total de 4 UC = 27% do total de UC federais no Estado: PARNA DA
RESTINGA DE JURUBATIBA, PARNA ITATIAIA, APA PETRPOLIS e REBIO UNIO.
A partir do ano de 2004, o NEA/RJ priorizou o trabalho nas UC de Tipos I e II, realizando diversas
aes para a implementao da gesto participativa nestas Unidades. No final de 2007 foi possvel observar
uma grande mudana de cenrio, conforme Loureiro et al (2008):
Unidades do Tipo I que passaram para Tipo III: a) Os conselhos foram reestruturados resultando
num aumento da participao cidad: PARNA SERRA DOS RGOS, APA GUAPIMIRIM, REBIO TINGU, PARNA
TIJUCA e APA CAIRUU; b) Conselhos foram criados com grande participao cidad: APA BACIA DO RIO SO
JOO e RESEXMAR ARRAIAL DO CABO.

Total de UC do Tipo III = 11 (equivalente a 73% do total de UC federais do RJ).


Total de UC que continuaram Tipo I = 4 (equivalente a 27% do total): PARNA SERRA DA BOCAINA;
FLONA MRIO XAVIER; ESEC TAMOIOS e REBIO POO DAS ANTAS.
Com o objetivo de obter os dados atualizados para este trabalho, foram realizados contatos
telefnicos com as mesmas UC federais relacionadas acima. Os contatos foram feitos no ms de julho de
2011 e os entrevistados (todos analistas ambientais da UC) responderam um questionrio sobre a situao
dos conselhos de gesto, levando em conta a classificao feita no levantamento realizado em 2004 e 2007.
O resultado da situao atual (julho 2011) o seguinte:
Unidades do Tipo I Total de 1 UC = 7 % do total de UC federais no Estado: FLONA MRIO XAVIER
Unidades do Tipo II Total de 3 UC = 20 % do total de UC federais no Estado: PARNA SERRA DA
BOCAINA, RESEXMAR ARRAIAL DO CABO, REBIO POO DAS ANTAS.
Unidades do Tipo III Total de 11 UC = 73 % do total de UC federais no Estado: APA GUAPIMIRIM,
REBIO TINGU, PARNA TIJUCA, PARNA SERRA DOS RGOS, APA PETRPOLIS, ESEC TAMOIOS, APA CAIRUU,
PARNA DA RESTINGA DE JURUBATIBA, REBIO UNIO, APA BACIA DO RIO SO JOO, PARNA ITATIAIA.

No grfico a seguir pode-se verificar a evoluo dos conselhos, de acordo com a classificao
proposta:
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

652

Grfico 1 Evoluo dos conselhos de gesto das UC do RJ no perodo de 2004 2011

A evoluo visualizada no grfico demonstra que o conselho, como instrumento de gesto


participativa e do planejamento das Unidades de Conservao, est se consolidando nas Unidades de
amostra. Desde 2007, as Unidades de tipo 3 so a maioria e as de tipo 1 vem diminuindo gradativamente,
sendo substitudas pelas Unidades de tipo 2 e 3.
Foi possvel verificar, conforme as informaes obtidas nos questionrios, que atualmente no RJ
existem mais 3 UC federais, que podem ser classificadas da seguinte maneira: MONUMENTO NATURAL DO
ARQUIPLAGO DAS ILHAS CAGARRAS Tipo 1; ESEC da GUANABARA Tipo 2; REA DE RELEVANTE
INTERESSE ECOLGICO FLORESTA DA CICUTA Tipo 3.
Concluso
Unidades de Conservao so organizaes pblicas que, por natureza, precisam ser democrticas
e abertas. Elas representam medidas de imposio estatal que precisam estar sintonizadas com a sociedade
e as partes interessadas para se legitimarem e manterem seus objetivos de longo prazo.
O planejamento de longo prazo das UC deve levar em conta o paulatino fortalecimento dos
conselhos representativos, capazes de expressar os anseios das partes interessadas na gesto da Unidade.
A participao dos atores sociais elemento integrante fundamental dos modelos de gesto de excelncia,
em especial o Gespblica, sendo necessria ao seu alcance a existncia de prticas gerenciais que permitam
a expresso dos anseios, conhecimentos e experincias que complementam e aperfeioam o saber tcnicocientfico.
Podemos verificar, usando como base a escala de participao de Arnstein (2002) que descreve
uma tipologia de oito nveis de participao, que no caso das Unidades Federais no Rio de Janeiro, a
metade da escala j foi atingida, j que a informao e a consulta regulares j se fazem presentes na grande
maioria dessas Unidades. Na medida em que esses conselhos consolidarem, pela prtica, suas posies e
sua legitimidade junto aos atores sociais representados, ocorrer uma natural demanda por uma
participao maior.
Reconhecemos que, em um pas que ainda consolida muitas de suas instituies democrticas e
onde a participao popular consciente ainda d seus primeiros passos, essa mudana ocorrer num
processo paulatino. Contudo, seria muito importante se prever legalmente a passagem da fase consultiva
para a deliberativa depois de serem atingidos certos requisitos, como o decurso de um perodo de prtica,
com um nmero mnimo de reunies do conselho de gesto por ano. A distino entre presidncia do
conselho e chefia da Unidade tambm uma das poucas modificaes legais interessantes, prtica j
utilizada nas Unidades francesas, onde gesto participativa sria exige tomada de decises e
responsabilidade conjuntas (SEABRA, 2009).
REFERNCIAS:
ARAJO, M. A. R. e PINTO-COELHO, R. M. Utilizando o modelo de excelncia em gesto pblica
para explicar porque as unidades de conservao so precariamente geridas no Brasil. In: ARAJO, M. A. R.
(org.) Unidades de Conservao no Brasil: da Repblica gesto de classe mundial, Belo Horizonte:
SEGRAC, 2007.

Joo Pessoa, outubro de 2011

653
ARNSTEIN, S. R. Uma escada da participao cidad. Revista da Associao Brasileira de Promoo
da Participao. Porto Alegre, ano 2, n. 2, jan. 2002
BENSUSAN, N. Conservao da biodiversidade em reas protegidas. 1 Ed. So Paulo: FGV, 2006.
BORDENAVE, J. D. O que participao? So Paulo: Ed. Brasiliense, 1985.
BRANDON, K. Colocando os parques certos nos lugares certos. In: TERBORGH, J. et al. (orgs.).
Tornando os parques eficientes: estratgias para a conservao da natureza nos trpicos, Curitiba: Ed. da
UFPR, 2002.
BRASIL. Gesto Participativa do SNUC. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2004. (Srie reas
Protegidas do Brasil - Volume 2).
_______. Decreto n 4.340, de 22 de agosto de 2002, que regulamenta artigos da Lei 9.985, de 18
de julho de 2000, que dispe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservao SNUC, e d outras
providncias.
BRASIL, 2008. Instrumento de avaliao da Gesto Pblica. Gespblica, 2008.
BUARQUE, S. C. Construindo o Desenvolvimento Local Sustentvel: Metodologia e Planejamento.
Rio de Janeiro: Garamond, 2002.
COSTA, E. A. Gesto Estratgica. 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2007.
DRUMOND, M. A. (org) Oficina sobre gesto participativa em unidades de conservao: anais da
Oficina realizada no Parque Estadual do Rio Doce no perodo de 10 a 13 de novembro 1997. Belo
Horizonte: Fundao Biodiversitas, 1999.
INSTITUTO BRASILEIRO DE ANLISES SOCIAIS E ECONMICAS. Gesto Participativa em Unidades de
Conservao. Rio de Janeiro: Ibase, 2006.
IBAMA. Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Bocaina, 2002.
IRVING, M. A. et al Construo de governana democrtica: Interpretando a gesto de parques
nacionais no Brasil. In: IRVING, M. A. (org.) reas Protegidas e incluso social: construindo novos
significados. Rio de Janeiro: Fundao Bio-Rio: Ncleo de Produo Editorial Aquarius, 2006.
LOUREIRO, C. F. B. et al Educao Ambiental e gesto participativa em unidades de conservao. 3
ed. (revisada e atualizada). Rio de Janeiro: IBAMA, 2008.
QUINTAS, J. S. Pensando e praticando educao ambiental na gesto do meio ambiente. Braslia:
IBAMA, 2000.
MUSSI, S. M. O processo de Gesto Participativa e Educao Ambiental em conselhos de Unidades
de Conservao: O caso do Parque Nacional da Serra dos rgos, Terespolis, RJ. 2007. 199 p. Dissertao
(Mestrado em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social) - Programa EICOS, Instituto de Psicologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2007.
SEABRA Filho, Jos Luiz. A unidade de conservao como instrumento da poltica urbana, 2009.
Dissertao (Mestrado em Direito da Cidade), UERJ.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

654

QUANTIFICAO DO MATERIAL COMBUSTVEL EM PISO FLORESTAL EM


UNIDADE DE CONSERVAO NO SEMIRIDO DA PARABA, BRASIL
Terezinha de Oliveira RIBEIRO
Engenheira Florestal, mestranda do Programa de Ps-Graduao em Cincias Florestais,UFCG, campus de Patos,PB.
therezinha_2006@hotmail.com
Patrcia Carneiro SOUTO
Profa Adjunto da Unidade Acadmica de Engenharia Florestal, UFCG, Patos, PB. pcarneirosouto@yahoo.com.br
Bruna Vieira de SOUZA
Engenheira Florestal, mestranda do Programa de Ps-Graduao em Cincias Florestais,UFCG, campus de Patos,PB.

RESUMO
O conhecimento do tipo e da quantidade de material combustvel no piso florestal imprescindvel
para a estimativa de parmetros ligados ao comportamento do fogo. Este trabalho foi desenvolvido em
rea de Caatinga na Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN), pertencente Fazenda Tamandu,
localizada no municpio de Santa Terezinha (PB), com o objetivo de quantificar o material combustvel
presente no piso florestal. As coletas foram realizadas no perodo de outubro a dezembro/2009 em sete
transectos demarcados na Reserva. Com o auxlio de um gabarito foi demarcado parcela de 1m x 1m onde
coletou-se o material combustvel, vivo e morto, que foi pesado para determinao do peso fresco e, em
seguida, seco em estufa para obteno do peso seco. Todo o material foi ainda separado em folhoso e no
folhoso de modo a determinar a participao de cada classe na composio do material combustvel. A
maior quantidade de material combustvel foi obtida no ms de novembro com 535,3 g m 2. Em relao ao
estado fisiolgico dos resduos, a maior contribuio na formao do material combustvel foi do material
morto.
PALAVRAS-CHAVE: combustvel florestal, material orgnico, incndios florestais
INTRODUO
A vegetao da Caatinga composta de vegetao xerfila de porte arbreo, arbustivo e herbceo,
com ampla variao de fisionomia e flora e elevada diversidade de espcies (DRUMOND et al., 2000). Souto
(2006) salienta que, em virtude das condies climticas, a vegetao endmica nesse bioma ramificada,
com um aspecto arbustivo, tendo folhas pequenas ou modificadas em espinhos, de modo a evitar a
transpirao, ocorrendo a perda de folhas na poca seca (caducifolia). uma mistura de estratos herbceo,
arbustivo e arbreo de pequeno porte, tortuosa, espinhenta e muito resistente s secas. A vegetao
distribuda de forma irregular, contrastando reas que se assemelham a florestas, com reas com solo
quase descoberto. Apresenta uma grande biodiversidade com espcies de portes e arranjos
fitossociolgicos variados, tornando-a bastante complexa, e pouco se conhece sobre a sua dinmica.
Os combustveis superficiais so todos aqueles localizados sobre, e imediatamente acima
ou no piso da floresta, at 1,80 m de altura, e compreendem8basicamente folhas, galhos, troncos e demais
materiais que se encontram neste intervalo. Os combustveis subterrneos so todos os materiais
combustveis que esto abaixo da superfcie da floresta, como hmus, razes de rvores, madeira em
decomposio, turfa, entre outros (BATISTA, 1990).
Segundo o autor, os combustveis vivos e mortos
tm diferentes mecanismos de reteno de gua e diferentes respostas s variaes climticas.
Yebra et al. (2006) relatam que o conhecimento da umidade dos materiais combustveis
imprescindvel para a estimativa de parmetros ligados ao comportamento do fogo, tais como intensidade
e velocidade de propagao, alm de ser fator decisivo na obteno de bons resultados com a queima
controlada. tambm um dos mais importantes fatores a serem analisados para a estimativa do risco de
incndios florestais.
A quantidade de material combustvel em uma floresta varia bastante, dependendo
principalmente do tipo e idade da floresta e outros parmentros relacionados com o stio. A estimativa da
quantidade de combustvel fator importante em planos de preveno e controle de incndios, pois dela
depende a intensidade do fogo (SOARES, 1979).
As informaes relacionadas ao comportamento do fogo so de suma importncia para
garantir a eficincia das operaes de combate, cujo planejamento depende fundamentalmente dos dados
relativos quantidade de material combustvel (SOUZA et al., 2003).
Joo Pessoa, outubro de 2011

655

MATERIAL E MTODOS
O trabalho foi desenvolvido na Reserva Particular do Patrimnio Natural (RPPN), que possui uma
rea de 325 ha, cuja vegetao no explorada h mais de 25 anos, sendo caracterizado como Caatinga
arbustiva arbrea fechada. A reserva pertence Fazenda Tamandu, localizada no municpio de Santa
Terezinha (PB), entre as coordenadas geogrficas 7o 2 20 S e 37o 26 43 W (Figura 1).
O clima na regio do tipo BSh semirido, segundo a classificao de Kppen, caracterizado com
temperaturas superiores a 25C e pluviosidade mdia inferior a 1000 mm ano -1 com chuvas irregulares. De
acordo com Arajo (2000), a rea de estudo se caracteriza por uma estao seca e outra chuvosa, com
precipitaes mdias anuais em torno de 600 mm, e incio da estao seca em maio, podendo se estender
at janeiro. Os solos predominantes do municpio so associaes de Neossolos Litlicos e Luvissolos
(EMBRAPA, 2006).
a

Figura 1. Mapa da Paraba (a) com destaque para a localizao da RPPN da Fazenda Tamandu (b)
Na RPPN as coletas foram realizadas em sete transectos cuja distncia entre eles de 200m. A
quantificao do material combustvel foi realizada nos meses de outubro, novembro e dezembro/2009.
A coleta do material combustvel foi realizada em parcelas de 1m que foram demarcadas com a
ajuda de um gabarito, instalado com distribuio aleatria, trs vezes em cada transecto. Com base no
trabalho de Beutling et al (2005), o material combustvel acumulado nas parcelas experimentais foram
classificados de acordo com o estado fisiolgico nas seguintes classes:
Material combustvel vivo: constitudo pelo material herbceo e pequenos arbustos,que
posteriormente foi cortado;
Material combustvel morto: constitudo pelo material morto acamado sobre a superfcie do
povoamento.

Souto (2006) realizou a amostragem da vegetao arbrea e arbustiva presente em cada transecto,
cujos constituintes mais conspcuos esto elencados na Tabela 1. Alm desses indivduos, verificou-se
durante as coletas, a presena do capim panasco (Aristida setifolia) de forma mais evidente nos transectos
5, 6 e 7.
Aps a instalao da parcela, todo o material combustvel foi coletado e separado de acordo com a
classe fisiolgica pr-estabelecida (vivo e morto), sendo posteriormente colocado em sacos de plsticos
devidamente identificados (Figura 2) e transportados para o Laboratrio de Nutrio de Mineral de Plantas
da Universidade Federal de Campina Grande, campus de Patos, onde foram realizadas as determinaes.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

656
Tabela 1. Principais espcies arbreas e arbustivas presentes em cada transecto
NOME VULGAR
NOME CIENTFICO
(T1-T7)*
Catingueira
Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P.
Queiroz
Marmeleiro (T1-T7)
Croton blanchetianus Baill.
T1-T4; T6, T7
Mofumbo
Combretum leprosum Mart.
Angico (T1,T3-T7)
Anadenanthera peregrina (L.) Speg.
(T1-T3, T5-T7)
Malva
Sida sp.
Alfazema brava (T1-T3)
Hyptis suaveolens (L.) Poit.
Jurema branca (T2,T4,T7)
Mimosa verrucosa Benth.
(T2-T5, T7)
Imburana de cambo
Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B.
Gillett
Genipapo (T3)
Genipa americana, L.
(T3)
Juazeiro
Ziziphus joazeiro Mart.
Imbiratanha (T3, T6, T7)
Pseudobombax simplicifolium A. Robyns
Feijo bravo (T4,T6)
Capparis hastata Jacq.
(T4-T7)
Pinho bravo
Jatropha mollissima (Pohl) Baill.s
Pereiro (T4- T7)
Aspidosperma pyrifolium Mart.
Jurema preta (T4, T6)
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.
(T5)
Moror
Bauhinia cheilantha (Bong.) D. Dietr.
*T = Transecto
No laboratrio, o material combustvel foi pesado em balana digital para determinao do
peso fresco e colocado para secagem em estufa de circulao e renovao de ar a uma temperatura de
65C por 48 horas. Aps esse perodo foi pesado para determinao do peso seco.
A determinao do teor de umidade do material combustvel coletado nos meses de amostragem
foi calculada atravs da equao: TU%= PFPS/PS *100, onde: TU%= Teor de Umidade; PF= Peso Fresco;
PS= Peso Seco.
Em seguida foi feita a separao do material combustvel de cada rea em folhoso e no
folhoso (incluindo galhos, cascas, resinas e estruturas reprodutivas), sendo posteriormente pesado e
avaliado quanto ao grau de contribuio de cada classe.
O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado com os tratamentos em
arranjo fatorial 7x3 (transectos x meses), com trs repeties. Os dados sobre material combustvel folhoso
vivo foram transformados utilizando (x + 1) atendendo, assim, s exigncias da anlise de varincia. Os
dados obtidos foram submetidos anlise de varincia utilizando o programa estatstico ASSISTAT verso
7.5 beta sendo aplicado o Teste Tukey para comparao de mdias a 99% de confiabilidade.

Joo Pessoa, outubro de 2011

657

c
Figura 2 - Gabarito utilizado na marcao das parcelas (a), corte do material combustvel vivo (b) e
coleta do material combustvel morto (c)
RESULTADOS E DISCUSSO
Na figura 3 esto apresentados os valores mdios referentes quantidade de material combustvel
(peso seco em estufa) coletados nos perodos de amostragem. A maior quantidade de material combustvel
foi obtida no ms de novembro com 535,3 g m2, sendo que os combustveis mortos foram os que mais
contriburam na formao da carga total em todos os meses estudados, no diferindo estatisticamente
entre si. Essa maior contribuio de material morto durante os meses em que foi realizado o estudo pode
ser atribuda ao mecanismo de caducifolia, que caracterstico da maioria das espcies que constituem a
vegetao da Caatinga, j que o perodo de amostragem coincidiu com a estao seca na regio.
Essa maior contribuio do material combustvel morto tambm foi verificada por Souto et al.
(2009), ao avaliarem a quantidade de material combustvel em plantios florestais e em remanescente de
Mata Atlntica no brejo da Paraba. Para esses autores, a presena efetiva do material combustvel morto
sob a floresta nativa pode ser atribuda grande diversidade de espcies florestais existentes na rea que
depositam nas mais diversas formas, posies e arranjos, diferentes tipos e quantidades de material
orgnico na superfcie do solo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

658

Peso (g)

Vivo

500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0

Morto

a
a

A
B
Out

Nov
Meses de coleta

Dez

Figura 3 - Quantidade (g) de material combustvel coletado nos meses de amostragem, na RPPN da
Fazenda Tamandu, em Santa Terezinha, PB. Letra maiscula compara material combustvel vivo (DMS=
29,87) e letra minscula compara material combustvel morto (DMS= 120,08), entre os meses
A contribuio dos combustveis vivos diferiu entre os meses, com os maiores valores obtidos em
outubro e novembro com 98,2 e 83,1 g, respectivamente. Com a amostragem sendo realizada no perodo
seco e o baixo contedo de gua no solo contribuiu para que o local se tornasse menos favorvel ao
crescimento de ervas e arbustos. Com isso, a presena de poucas espcies herbceas justificvel, de
modo que as mais adaptadas aos baixos contedos de gua no solo como o capim panasco (Aristida
setifolia), a alfazema (Hyptis suaveolens (L.) Poit.) e a malva (Sida sp.), conforme pode ser visualizado na
figura 4, foram as principais constituintes do material combustvel vivo na maioria dos transectos.

Figura 4 - Material combustvel superficial vivo no gabarito com predomnio do capim panasco
(Aristida setifolia) e alfazema (Hyptis suaveolens Poit.), em coleta realizada em outubro/2010 na RPPN da
Fazenda Tamandu, Santa Terezinha, PB
Em relao quantificao do material combustvel coletados nos transectos (Figura 5), as
coletas do material em diferentes estados fisiolgicos diferiram entre si (p<0,01). O maior valor mdio de
material combustvel vivo foi registrado no transecto 7 com 121,8g, apesar de no diferir estatisticamente
dos transectos 4,5 e 6. J a maior quantidade de material combustvel morto foi coletada no transecto 1
com 660,89 g, sendo esse valor igual estatisticamente aos registrados nos transectos 2 e 5 com 459,44g e
448,89g, respectivamente.

Joo Pessoa, outubro de 2011

659

Vivo

Morto

700
600

ab

500

abc
bc

Peso (g)

400

bc

bc

300
200
100

AB
BC

ABC

BC

ABC

0
T1

T2

T3

T4

T5

T6

T7

Transectos

Figura 5 - Quantidade (g) de material combustvel coletado nos diferentes transectos, na RPPN da
Fazenda Tamandu, em Santa Terezinha, PB. Letra maiscula compara material combustvel vivo (DMS=
58,17) e letra minscula compara material combustvel morto (DMS= 233,87), entre os transectos
Observa-se ainda nessa figura que foi tambm no transecto 7 que se coletou a menor
quantidade de material combustvel morto com 220,89g. A maior presena de material combustvel morto
em todos os transectos pode estar associada ao dficit hdrico no solo que intensifica o processo de
caduciflia da maioria das espcies da caatinga na estao seca.
Beutling et al. (2005) salientam que essas informaes tornam-se muito teis sob o ponto de vista
da preveno dos incndios florestais, pois conhecer a quantidade e o estado fisiolgico dos combustveis
florestais existentes em campo permite a realizao de estimativas sobre o risco de incndio e o
comportamento do fogo.
Verifica-se na figura 6 que a maior contribuio na formao do material combustvel vivo foi do
material no folhoso, em todos os meses de amostragem, apesar de no diferir estatisticamente.

Peso (g)

No folhoso

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Folhoso

A
A

A
a

Out

Nov
Meses de coleta

Dez

Figura 6 - Peso (g) do material combustvel vivo folhoso e no folhoso coletado nos meses de
amostragem, na RPPN da Fazenda Tamandu, em Santa Terezinha, PB. Letra maiscula compara material
no folhoso (DMS= 29,66) e letra minscula compara material folhoso (DMS= 0,90), entre meses
De acordo com o resultado da quantificao do material combustvel vivo folhoso e no folhoso em
cada transecto expresso na figura 7, foi verificado que o maior valor do material no folhoso ocorreu no T7
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

660
com 117,22 g, sendo estatisticamente igual aos valores registrados nos T5 e T6, com 106,7 e 64,9 g,
respectivamente. Como nesses transectos a presena do capim panasco e da malva eram mais constante, a
contribuio de colmos pelo panasco e de caules e galhos da malva foram maiores, refletindo nos valores
mais elevados de material vivo no folhoso.

Peso (g)

No folhoso

120
110
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Folhoso
A
AB

ABC

BC
C

C
bc

T1

T2

ab

T3

abc

T4
Transecto

abc

T5

abc

T6

T7

Figura 7 - Peso (g) do material combustvel vivo folhoso e no folhoso coletado nos diferentes
transectos na RPPN da Fazenda Tamandu, em Santa Terezinha, PB. Letra maiscula compara material vivo
no folhoso (DMS= 57,77) e letra minscula compara material vivo folhoso (DMS= 1,75), entre transectos
Os valores mdios de material vivo folhoso nos transectos foram estatisticamente diferentes, sendo
3,16 g o maior valor registrado no T2, apesar de estatisticamente se assemelhar aos valores obtidos nos
tansectos 3,4,5 e 7.
Em relao ao material morto folhoso, a carga total durante o perodo de amostragem foi de
341,73 g. Observou-se que apesar da presena de folhas no piso florestal, principalmente das pequenas
folhas de catingueira (Figura 8), a contribuio em peso dessa parte dos vegetais na formao do material
combustvel foi inferior ao no folhoso.

Figura 8 - Coleta de material combustvel superficial morto com destaque para a presena de folhas
de catingueira (Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz) em coleta realizada em outubro/2010 na RPPN
da Fazenda Tamandu, Santa Terezinha, PB
Joo Pessoa, outubro de 2011

661

Verifica-se na figura 9, a contribuio dos resduos vegetais folhosos e no folhosos na formao do


material combustvel morto coletado nos trs meses de conduo do estudo. A carga total de material
combustvel morto no folhoso durante o perodo de amostragem foi de 833,71 g, com a maior
contribuio de material ocorrendo no ms de novembro com 299,43 g, apesar dos valores mdios obtidos
em cada ms no diferirem estatisticamente.
Portanto, essa maior contribuio do material no folhoso em todos os meses devido ao critrio
de classificao adotado neste estudo onde foi considerado material no folhoso galhos, cascas, colmos,
resinas e outros materiais, exceto folhas. Assim, por serem mais pesados em relao s folhas, as
contribuies desses materiais superou o folhoso em todos os meses amostrados.
Resultados semelhantes foram obtidos por Souto et al. (2009) em povoamento com pinus no
municpio de Areia (PB), em que o percentual de contribuio do material lenhoso foi superior s reas
com povoamento de teca (Tectona grandis) e Mata Atlntica. Para esses autores, a presena de grande
quantidade de material lenhoso constitui um ambiente ideal para a propagao de incndios de maior
intensidade.
No folhoso

A
300

Folhoso

A
A

250

Peso (g)

200

150
b

100
50
0
Out

Nov

Dez

Meses de coleta

Figura 9 - Peso (g) do material combustvel morto folhoso e no folhoso coletado nos meses de
amostragem, na RPPN da Fazenda Tamandu, em Santa Terezinha, PB. Letra maiscula compara material
morto no folhoso (DMS= 90,89) e letra minscula compara material morto folhoso (DMS= 62,11), entre
meses
Quanto ao acmulo de material combustvel morto folhoso e no folhoso nos transectos (Figura 10)
verifica-se que a maior contribuio foi do material no folhoso com destaque para o transecto 1 que
registrou o maior valor mdio com 457 g, diferindo estatisticamente dos demais, porm, semelhante aos
transectos 2, 3 e 5. O material combustvel folhoso tambm teve maior acmulo no transecto 1 com valor
mdio de 251,11 g, assemelhando-se estatisticamente apenas ao transecto 2 com 145 g.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

662
No folhoso

500

Folhoso

400

AB

Peso (g)

AB

300

AB

200

100

ab
b

b
b

0
T1

T2

T3

T4
Transecto

T5

T6

T7

Figura 10 - Peso (g) do material combustvel morto folhoso e no folhoso coletado nos diferentes
transectos na RPPN da Fazenda Tamandu, em Santa Terezinha, PB. Letra maiscula compara material
morto no folhoso (DMS= 177,00) e letra minscula compara material morto folhoso (DMS= 120,95), entre
transectos
interessante ressaltar que em todos os transectos avaliados ocorre maior acmulo de material
combustvel no folhoso, vivo e morto, indicando que nesse ambiente e nesse perodo seco h maior
concentrao de galhos, cascas, colmos, resinas, que iro influenciar na velocidade de propagao do fogo.
CONCLUSES
O maior acmulo de material combustvel, vivo e morto, ocorreu no ms de novembro;
Em relao ao estado fisiolgico dos resduos vegetais, a maior contribuio para a formao do
material combustvel superficial foi de resduos vegetais mortos em todos os meses avaliados;
O material no folhoso superou, em peso, o folhoso na composio do material combustvel
superficial em rea de Caatinga.
REFERNCIAS
BATISTA, A. C. Incndios florestais. Recife: UFRPE, 1990. 115 p.
BEUTLING, A.; BATISTA, A. C.; SOARES, R. V.; VITORINO, M. D. Quantificao de material
combustvel superficial em reflorestamentos de Araucaria Angustifolia (Bert.) O. Ktze. Revista Floresta, v.
35, p. 465-472, 2005.
DRUMOND, M.A., KIILL, L.H.P., LIMA, P.C.F., OLIVEIRA, M.C., OLIVEIRA, V.R., ALBUQUERQUE, S.G.,
NASCIMENTO, C.E.S.; CAVALCANTE, J. Estratgias para o uso sustentvel da biodiverdidade da caatinga. In:
SEMINRIO PARA AVALIAO E IDENTIFICAO DE AES PRIORITRIAS PARA A CONSERVAO,
UTILIZAO SUSTENTVEL E REPARTIO DE BENEFCIOS DA BIODIVERSIDADE DO BIOMA CAATINGA. 2000,
Petrolina. Anais Petrolina: EMBRAPA/CPATSA, UFPE e Conservation International do Brasil, 2000.
EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificao de solos. Braslia: Centro Nacional de Pesquisas de
Solos, 2006. 412p.
SOARES, R. V. Determinao da quantidade de material combustvel acumulado em plantios de
pinus spp na regio de Sacrameto (MG). Revista Floresta, v. 10, p. 48-62, 1979.
SOUTO P. C.; JNIOR J. E. V. C.; S; ALMEIDA, F. C. P. D ; MARTINS, S.; ARAJO, I. E.L.D; SOUTO J. S.
Quantificao do material combustvel em plantios florestais e em remanescente de mata atlntica no
brejo da Paraiba, Brasil. Engenharia Ambiental, Esprito Santo do Pinhal, v. 6, p. 473-481, 2009.
SOUTO, P.C. Acumulao e decomposio da serapilheira e distribuio de organismos edficos em
rea de caatinga na Paraba, Brasil. 2006. 150f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Centro de Cincias
Agrrias, Universidade Federal da Paraba, Areia, 2006.
SOUZA, L. J. B; SOARES, R.V.; BATISTA, A.C. Modelagem do material combustvel superficial em
povoamentos de Eucalyptus dunnii, em Trs Barras, SC. Cerne, v. 9, p. 231-245, 2003.

Joo Pessoa, outubro de 2011

14.

Geodiversidade e Geoconservao

664

GEOTURISMO NA BACIA DO ARARIPE: CAPITAL CEARENSE DA


PALEONTOLOGIA, MUSEU E PERFIL DO TURISTA.
Alexandre Magno Feitosa SALES1,
Antonio Jos BARBOSA NETO2,
Ana Cristina Laurentino de OLIVEIRA3.
1Professor do Departamento de Cincias Biolgicas, URCA,(amfsales@uol.com.br); 2Acad mico do Curso de Cincias
Biolgicas, URCA, (ajbneto_@hotmail.com); 3Acadmica do Curso de Cincias Biolgicas, URCA, Bolsista PIBIC/URCA
(aninha_tina.l.o@hotmail.com)

RESUMO
No territrio do Geopark Araripe, da Bacia Sedimentar do Araripe possui grande influncia para
regio na qual est inserida, com destaque na sua paisagem cultural, principalmente de sua biodiversidade
e geodiversidade, se consolidando como um dos principais locais de visitao no Nordeste do Brasil. Seu
carter cientfico representa um referencial de grande interesse para o geoturismo. Isto pode ser
observado com o fluxo de turistas no museu de paleontologia da pequena cidade de Santana do Cariri, de 8
mil habitantes, a Capital Cearense da Paleontologia, com fluxo de mais de 24 mil turistas ao ano. Outro
ponto de destaque so as feies geomorfolgicas na Chapada do Araripe, as quais contribuem para um
cenrio propcio ao desenvolvimento de atividades ecotursticas. Este trabalho procura destacar o turismo
na Bacia do Araripe, em especifico na Capital Cearense da paleontologia, de modo a contribuir com a
divulgao das geocincias e das prticas geotursticas a fim de promover o desenvolvimento local.
PALAVRAS-CHAVE: Bacia Araripe, Geoturismo, Santana do Cariri, Geopark Araripe.
ABSTRACT
In the territory of the "Geopark Araripe" Araripe Basin has great influence to the region in which it
operates, with emphasis on its cultural landscape, especially its biodiversity and geodiversity, consolidating
itself as a major visitor sites in the Northeast of Brazil. Its scientific character represents a benchmark of
great interest to the geotourism. This can be seen with the flow of tourists in the museum of paleontology
at the small town of Santana do Cariri of 8 000 inhabitants, the capital of Ceara Paleontology, with a flow of
more than 24 thousand tourists a year. Another highlight are the geomorphological features in the Araripe,
which contribute to a situation conducive to the development of ecotourism activities. This work seeks to
highlight tourism Araripe Basin, specifically in the capital of Ceara paleontology, in order to contribute to
the dissemination of geoscience Geotourism and practices to promote local development.
KEY WORD: Araripe Basin, Geoturism, Santana do Cariri, Geopark Araripe.
Introduo
Na bacia Sedimentar do Araripe, localizada na regio limtrofe entre os estados do Cear,
Pernambuco e Piau; com cerca de 10 mil km 2 , sua principal formao geolgica a Formao Santana,
que corresponde a um depsito sedimentar Mesozico, com idade cretcica (cerca de 120 M.A.), muito
fossilfera. Nesta bacia, no territrio do Geopark Araripe podem-se identificar duas caractersticas
fisionmicas: o Vale do Cariri onde so encontradas as rochas mais antigas, e a regio da Chapada do
Araripe, com predomnio das rochas mais recentes (Neumann, 1999), com os fsseis, a Floresta Nacional
do Araripe (FLONA) e as fontes naturais de gua.
Nesse cenrio o geoturismo destaca-se como um novo segmento da indstria turstica
responsvel em explorar de forma sustentvel o patrimnio geolgico e paleontolgico (Nascimento, et al.,
2008) da regio. Esta nova designao para meio abitico vem sendo utilizado pelos gelogos e

geomorflogos desde os anos 90, mas s agora ganhou maiores propores, sua definio est
associada a valores intrnsecos tais como a cultura, o esttico, o econmico, o cientfico, o
educativo e o turstico (Nascimento et al., 2008). Sua geodiversidade, que conceitualmente,
corresponde a natureza abitica (meio fsico), a qual constituda por uma variedade de
ambientes, fenmenos e processos geolgicos que do origem s paisagens, rochas, minerais,
guas, solos, fsseis e outros depsitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na
terra (Stanley, 2000 in Nascimento et al., 2008).
Joo Pessoa, outubro de 2011

665
J sua biodiversidade, conceitualmente, definida como a variedade e a variabilidade existente entre
os organismos vivos e as complexidades ecolgicas nas quais elas ocorrem, no Araripe, pode ser entendida
como uma associao de vrios componentes hierrquicos: ecossistema, comunidade, espcies,
populaes e genes em uma rea definida. No mbito biolgico sua fauna e flora peculiar constituem, por
assim dizer, um osis em meio ao serto; suas fontes de guas cristalinas proporcionam clima agradvel e
deslumbrante paisagens aos municpios que nela esto inseridos.
A combinao destas duas caractersticas que possibilitam a regio da bacia do Araripe, uma
riqussima geobiodiversidade. Estratigraficamente seus depsitos sedimentares abrigam muitos e belos
fsseis do cretceo brasileiro, os quais so conhecidos nacionalmente e internacionalmente por sua
diversidade, abundancia e especialmente pelo seu bom estado de preservao, alguns chegando at
mesmo a preservar tridimensionalmente, o tecido mole dos organismos mortos e fossilizados.
O municpio Santana do Cariri, no extremo sul do Estado do Cear, com cerca de 17.781 habitantes
distribudos em uma rea territorial de 856km2. Tem stios paleontolgicos famosos e vrios geosstios do
Geopark Araripe (CARDOSO, ET AL., 2008). A cidade tem aproximadamente 8 mil habitantes. A geologia e
a paleontologia so os principais destaques para o turismo local e o Museu de Paleontologia da URCA, tem
papel o mais importante para o geoturismo regional e local e agrega valor para um roteiro na cidade em
seu pequeno centro histrico e Igreja matriz. A cidade foi praticamente construda com uso de suas rochas
e outros materiais naturais, que guardam beleza arquitetnica e esboam a cultura secular das antigas
construes de pedra.
Capital Cearense da Paleontologia e Geopark Araripe
No ano de 2005, por decretos estaduais do Governo do Estado do Cear, Santana do Cariri foi
reconhecida como a Capital Cearense da Paleontologia, e, no mesmo ano criou o Geoparque Nacional do
Araripe, onde Santana do Cariri foi considerada uma das pores mais importantes, dentro do territrio do
projeto do geoparque. No ano de 2006, a regio do cariri foi reconhecida e certificada pela UNESCO, como
o Geopark Araripe, pertencente Rede Global de Geoparques (GGN), sendo, poca o primeiro do
Hemisfrio Sul e das Amricas.
Em Santana do Cariri, destacam-se os geosstios cretcicos da Formao Santana (Membros Crato,
Ipubi e Romualdo) (sensu Beurlen, 1971), com seus famosos e belssimos registros de alta qualidade, de
uma biota fssil de organismos petrificados no perodo do Cretceo (aptiano-Albiano) (Figura 1A), da
coluna litoestratigrfica da Bacia do Araripe (Figura 02) (Santos, 2010). Nesses, o turista pode visitar lavras
e pedreiras fossilferas, alm de conhecer uma das principais atividades econmicas da regio, o
extrativismo mineral (Figura 3B). Os turistas tambm procuram os geosstios da Formao Exu, de idade
Cenomaniana, tambm aflorante na regio do municpio de Santana do Cariri, e que ocupa o ltimo
registro sedimentar da Bacia do Araripe, com escarpas, anfiteatros naturais, paredes para escalada, furnas
e grutas arenticas, pinturas rupestres, fontes naturais, trilhas e vales, com destaque para o geosstio Exu,
localizado no Pontal da Santa Cruz, com bons afloramentos e valores culturais e paisagsticos, alm de
contar com o complexo turstico, com trilha ecolgica, artesanato, restaurante e capela (Figura 3.C) (Santos,
2010).

No entorno da capital cearense da paleontologia, o roteiro da regio Nova Olinda/Santana


do Cariri compreende trs geosstios, de grande relevncia cientifica. Os geosstios desta regio se
mostraram excelentes quanto a anlise dos seus valores junto aos critrios adotados por
(NASCIMENTO, et al. 2008 in Santos, 2010) (Figura 04) o que demonstra que os mesmo
apresentam perfeitas condies para ilustrar processos da historia da vida na terra, sendo: a
Pedra Cariri relacionada aos calcrios laminados e bastante fossilferos do Membro Crato(VIANA
& NEUMANN, 2002), o Parque dos Pterossauros composto por concrees calcrias do Membro
Romualdo, contendo principalmente fsseis de vertebrados (ambos pertencentes Formao
Santana) (KELLNER, 2002) e Pontal da Santa Cruz, caracterizado por arenitos da Formao Ex
(Cardoso, et al., 2008; Santos, 2010).
Mtodos

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

666
Visando identificar as principais caractersticas histricas e/ou cientficas dos principais pontos
tursticos de Santana do Cariri, assim como a carncia na infra-estrutura do municpio, foi realizado um
levantamento bibliogrfico e entrevistas com moradores locais, dentre os meses de Fevereiro e Junho de
2011. Alm de a aplicao de um questionrio para se avaliar o geoturismo no local, em especfico durante
a visita de grupos de turistas. Com intuito de identificar o perfil dos grupos de visitantes do museu de
paleontologia, o questionrio foi respondido pelo responsvel de cada excurso, no total de 27 grupos,
amostrando em dias de sbado, que apresenta o maior fluxo turstico na cidade.
Alm do geoturismo, a cidade apresenta outros atrativos. Possui rico patrimnio imaterial como
apresentaes populares, artesanato temtico na paleontologia e festas anuais que reverenciam seus
santos padroeiros e, que desenvolvem, em parte, estreita relao com a paleontologia. Todos esses valores
tangveis e intangveis so possveis de serem conhecidos pelo visitante e ajudam a desvendar a histria
fsica e biolgica local e, atrai cientistas, estudiosos, pesquisadores e turistas.
Dados DO Museu de Paleontologia, ncora do geoturismo
Somente o Museu de Paleontologia da URCA, recebe anualmente mais de vinte e quatro mil
visitantes, representando trs vezes mais do que o nmero de moradores da cidade. O Museu foi criado
pela Lei 197 de 18 de abril de 1985, e doado Universidade Regional do Cariri por fora da Lei 263, de 16
de abril de 1988, tendo sua inaugurao no dia 26 de julho de 1988.

Figura 05. Reconstruo do lago cretceo, em Santana, ilustrando sua paleobiota. (Maisey, 1991).

Joo Pessoa, outubro de 2011

667

Figura 02. Coluna com informaes sobre a crono litoestratigrfia da Bacia do Araripe (modificado
de Hessel e Freitas, 2010, in Santos, 2010).

Figura 03. A. Lavra de Calcario Laminado fossilifero nas cercanias da cidade de Santana do Cariri
(Fonte: Santos, 2010) e B. Vista area da mina de gipsita da Chaves Minerao em rea limtrofe dos
municpios de Nova Olinda e Santana do Cariri (Fonte: Cardoso et al., 2008), C. Geosstio Pontal da Santa
Cruz, municpio de Santana do Cariri.
Nos anos de 2009 e 2010 o Museu de paleontologia da URCA passou por uma reforma em sua
estrutura, ficando fechado ao pblico naquele binio. Para a coleta de dados dessa pesquisa e confeco
deste trabalho, o Professor Alexandre Sales, ex-diretor do museu, no perodo de 2005 a 2007, cedeu dados
da catalogao dos fsseis expostos no museu, no trinio de sua gesto.
Atualmente encontram-se expostos no Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri,
em Santana do Cariri, rochas e grande quantidade de fsseis pertinentes a Formao Santana, cretcica,
mas tambm registros geolgicos e fsseis de troncos de idade Jurssica, de outros importantes jazigos
paleontolgicos do Cariri (Teixeira, 2010).
Exemplificando os vegetais: dentre as gimnospermas no museu, tm-se 78 peas soltas (folhas,
caules e estrbilos) representados por Esquizeaceas, estrbilo de conferas, Brachiphillum obesum,
Brachyphylum castilhoi, folha de lindleycladus, Araucariostrobus sp e Podozamites sp, alm de troncos
silicificados de araucrias e conferas. As angiospermas contam com cerca de 26 partes isoladas (folhas,

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

668
galhos, sementes, flores), representadas por Trifucatia flabellata, Guynetales, Cicadaceas, Ephedraceas,
Welwitschiostrobus murilli, Isoetites (flores) e Frenelopsis e Pseudo frenelopsis.
Os vertebrados fsseis expostos no museu apresentam formas tridimensionais, com excelente
preservao de tecidos sseos e no sseos de peixes, anfbios (rs) e rpteis (tartarugas, lagartos,
dinossauro, crocodilianos e pterossauros).

Critrios

Pedreiras na estrada Nova Complexo turstico


Olinda/ Santana do Cariri.
Pontal da Santa Cruz.

Abundncia/raridade

10

10

Extenso

10

10

Grau de conhecimento cientfico

10

09

Utilidade como modelo para ilustrao


de processos geolgicos

10

10

Diversidade de elementos de interesse

10

10

Local-tipo

10

10

Associao com elementos de ndole


cultural

10

10

Associao com outros elementos do


meio natural

08

10

Estado de conservao

07

09

do

Figura 04. Geosstios em Santana do Cariri, que se mostraram excelentes quanto a anlise dos seus
valores junto aos critrios adotados para o geoturismo (NASCIMENTO, et al. 2008 in Santos, 2010).
Dentre os peixes, a espcie Dastilbe elongatus merece destaque, com 92 exemplares, contando
ainda com 29 exemplares de Rhacolepis buccalis, 20 de Cladocyclus SP, 09 de Vinctifer comptoni, 17 de
Vinctifer araripensis, 10 deVinctifer, 02de Notelops brama, 07 de Cladocyclus gardneri, 08de Araripichcthys
castilhoi, 09 de Brannerion vestitum, 01Branerion SP, 15de Neoproscinetes penalvai, 08 de Araripelepidotes
temnurus, 41de Calamoplerus cylindricus, 11 de Axelrodichithys araripensis, 09de Paraelops cearensis, 05
de Santanichthys diasi, 04 de Obaicthys decoratus, 05 fragmentos Mawsonia gigas , 15 de Tharrhias SP, 03
de Tribodus limae, 10 de Rhinobatos, 18 depeixe indeterminado, 01 peixe Celacantino,04de Placidicthys
bidorsalis ( sendo um holtipo), 04 de Iemanja palma,01 de Obaichthys leavis,03 de Santancclupea
silvasantosi,02 de Oshunia brevis,06 de Iansan beurleni, 01de Santanichthys silvasantosi.Os anuroscontam
com 06exemplares, sendo 01da espcie Araripebatrachus camposi. Dentre os pterossauros, tem-se 114
fragmentos de ossos, sete ossos, 04 fragmentos do bico, 03 crnios, 01 um pterossauro incompleto, 02 asas
(01 da espcie Anhanguera santanae) e 04 Santanadactylus brasiliensis. As tartarugas contam com 10
exemplares da espcie Araripemys barretoi, 04 tartarugas jovens e 01 Santanachelys sp. Ressalta-se que h
diariamente acrscimos de fsseis s colees do museu e, que esses nmeros, j no refletem, o acervo
atual.
Na cidade h deficincia em relao s vias de acesso dos stios (estradas precrias), saneamento
bsico, hospedagem (principalmente de grupos numerosos), transporte, restaurantes, sinalizao, mesmo
com a contribuio do Geopark Araripe, sade pblica e dificuldade dos turistas em utilizarem o sistema
de compras on line.
Joo Pessoa, outubro de 2011

669

Perfil do turista

Com base nas respostas dos questionrios aplicados, a amostragem revelou pblico de
diferentes localidades, faixa etria e nveis de escolaridade, sendo todos os grupos pertencentes a
cidades circunvizinhas Santana do Cariri. Onze grupos pertenciam a instituies de ensino: 02 do
fundamental 1, 05 do fundamental 2, 03 do Mdio e 01 curso tcnico; 01 referia-se a grupo de
amigos e outro a um clube literrio. Doze dos grupos afirmaram terem sido informados da
possibilidade de visita ao museu por outras pessoas e apenas um pelo Geopark Araripe. Dos
grupos escolares, 38,46% opinaram que a visita ao museu de paleontologia deve ser realizada uma
vez ao semestre, a mesma percentagem, opinou por uma vez ao ano e 7,69 % duas ou mais vezes.
Perguntou-se quem realizou visitas a geosstios fossilferos e 53,84% responderam que sim e 46,15
% que no. Alguns afirmaram no ter realizado a visita por desconhecimento da existncia dos
geosstios e outros por no conseguir localizar o geosstio, por falta de informaes e sinalizao
nas vias de acesso. Quanto aprendizagem da paleontologia pelo grupo durante as visitas, 53,84%
afirmaram compreende-la e, 46,15 % em parte. 46,15% disseram ter participado de alguma
atividade oferecida e, 53,84% no. Apenas um dos grupos visitava o museu pela primeira vez.
Considerando-se apenas as instituies escolares, 100% dos grupos entrevistados apresenta a
paleontologia com explicaes prvias, 81,81% com vdeos e documentrio, 54,54% com rplicas
de fsseis e apostilas e, 18,18% com folderes. 63,63% concordam que a maior dificuldade em se
trabalhar paleontologia em sala de aula carncia de material didtico, 36,36% de material fssil
e de realizao de passeios e visitas a stios e museu. 90,90% desejam participar de projetos do
museu, com material didtico, fsseis e monitores para seus alunos, apenas 9,09 % afirmam no
ter interesse.
Concluses
Pelo exposto, a Bacia do Araripe mostra potencial como um relevante plo para o desenvolvimento
de uma nova modalidade turstica, denominada de geoturismo e nesta nova vertente que une estudos e
pesquisas das geocincias para usufruto do turismo, a fim de constituir um produto de grande valor, a
capital Cearense da Paleontologia, Santana do cariri, alm de ofertar belezas cnicas, oferte ainda
informaes sobre os processos de formao e evoluo da terra, com destaque para geodiversidade local,
procurando valorizar e preservar o patrimnio geolgico assim como o bem-estar da comunidade.
Os geosstios possuem fortes interaes com os critrios intrnsecos analisados, o que demonstra
um comportamento propcio para o desenvolvimento econmico local e regional atravs das prticas
tursticas.
Com aplicao de questionrios voltados para o geoturismo, na cidade de Santana do Cariri, a
Capital Cearense da Paleontologia, os turistas procuram o Museu de Paleontologia, visitam geostios,
quando localizados e expressam desejo de interagir com atividades educativas e cientficas do museu e do
Geopark Araripe.
Constatou-se que mesmo com uma oferta razovel de geostios com valores geotursticos, do
museu de paleontologia, e da presena do Geopark Araripe, a cidade de Santana do Cariri, a Capital
Cearense da Paleontologia, ainda carece de melhoria de servios. H deficincias, principalmente em
relao s vias de acesso e sinalizao dos stios para suprir as necessidades crescentes e cada vez mais
exigentes no mercado do geoturismo.
Referncias Bibliogrficas

CARDOSO, A. L. H ; SALES, A. M. F. ; HILLLMER, G . (2008). The UNESCO Araripe Geopark: a


short story about evolution of life, rocks and continents.1. ed. Fortaleza: Expresso Grfica e
Editora, 2008. v. 1500. 80 p., Ilust.
KELLNER, A. W. A. 2002. Membro Romualdo da Formao Santana, Chapada do Araripe, CE
Um dos mais importantes depsitos fossliferos do Cretceo brasileiro SIGEP 6 In.:
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

670

SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D. A.; QUEIROZ, E. T.; WINGE, M.; BERBET-BORN, M. L. C. (Edits.)
Stios Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil. 1. ed. Braslia: DNPM/CPRM Comisso Brasileira de
Stios Geolgicos e Paleontolgicos (SIGEP), 2002. V. 01: 121-130.
MAISEY, J. G. (Ed.). 1991. Santana Fossil an illustrated atlas. Tropical Fish Hobbyist
Publications, New Jersey, USA, 459 pp.
NASCIMENTO, M. A. L. do; RUCHEKYS, U. A. & NETO, V. M. (2008) Geodiversidade,
Geoconservao e Geotursmo: Trimnio Importante para a Proteo do Patrimnio geolgico.
2008... SBG 44 Congresso brasileiro de Geologia, Curitiba - PR, 2008. P. 84, ilust.
Rodrigues, P. H. T.. (2010). Levantamento da fauna fssil de vertebrados expostos nos museus do
cariri cearense. Trabalho de Concluso de Curso de Graduao. Universidade Regional do Cariri URCA,
Centro de Cincias Biolgicas e da Sade CCBS, Departamento de Cincias Biolgicas DCB, Curso de
Cincias Biolgicas, Indito, no publicado, 56., ilust.
Santos, A.M.B. (2010). Geobiodiversidade cretcica da chapada do Araripe e sua potencialidade
para o geoturismo (poro cearense). Trabalho de Concluso de Curso de Graduao. Universidade
Regional do Cariri URCA, Centro de Cincias Biolgicas e da Sade CCBS, Departamento de Cincias
Biolgicas DCB, Curso de Cincias Biolgicas, Indito, no publicado, 67., ilust.

VIANA, M. S.; NEUMANN, V. H. L. 2002. Membro Crato da Formao Santana, Chapada do


Araripe, CE Riqussimo registro de fauna e flora do Cretceo. In.: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS,
D. A.; QUEIROZ, E. T.; WINGE, M.; BERBET-BORN, M. L. C. (Edits.) Stios Geolgicos e
Paleontolgicos do Brasil. 1. ed. Braslia: DNPM/CPRM Comisso Brasileira de Stios Geolgicos e
Paleontolgicos (SIGEP), 2002. V. 01: 113-120.

Joo Pessoa, outubro de 2011

671

GEOPARK ARARIPE POSSIBILIDADES PARA A EDUCAO AMBIENTAL


Ayslanne Amncio LUCAS
Graduanda em Cincias Biolgicas pela URCA-Universidade Regional do Cariri
ayslanne@yahoo.com.br
Maria Neuma Clemente GALVO
Doutora em Educao pela UFPB-Universidade Federal da Paraba
neuma-galvo@ig.com.br

RESUMO
O referido artigo constitui o relato de uma experincia, na qual, trabalhamos o que a Educao
Ambiental, como ela deve ser abordada, o que o Geopark Araripe e em atividades de educao
ambiental, realizadas por mim, junto as comunidade nos geosstios, demonstrando sua importncia para a
regio, quanto preservao e conservao das riquezas paleontolgicas, geolgicas, paisagstica e cultural
do Cariri. Enfocando sua preocupao em manter a identidade e histria local. A Educao Ambiental um
conceito que passa pela preservao e conservao dos ecossistemas, atravs da educao formal ou
informal, visando construir uma sociedade consciente dos impactos que causa no meio ambiente,
munindo-se de todas as prticas pedaggicas de ensino, como palestras, filmes, trilhas, atividades ldicas e
outros, com o intuito de construir um futuro melhor e cidados consciente de seus deveres junto
natureza e a sociedade. O Geopark um territrio delimitado de grandes riquezas que atravs das prticas
de Educao Ambiental faz-se conhecer como colaborador e protetor dos patrimnios material e imaterial
da humanidade, pregando os conceitos de Geoeducao, Geoconservao e Geoturismo. Obtendo
resultados que podem ser diagnosticada pela satisfao da populao e engajamento com as atividades
realizadas.
Palavras chave: educao ambiental, Geopark Araripe, conservao.
INTRODUO
O inicio da relao do homem com natureza comeou com o mnimo de interferncia nos
ecossistemas e hoje se trata de uma forte presso exercida sobre os recursos naturais. O homem destri
cursos dgua, obstrui e polui nascente, polui a atmosfera, desmata as florestas, caa indiscriminadamente,
causa extino de espcies, descaracterizao de habitats naturais e muitas outras formas de agresso ao
meio ambiente. Foi refletindo sobre essas agresses que a sociedade notou a necessidade de mudar o seu
comportamento em relao natureza, com tudo, a educao ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de
1999.
Entendem-se por educao ambiental os processos por meio dos quais o indivduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias voltadas para a
conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade. (Lei N 9.795 Lei da Educao Ambiental, Art. 1).
A Educao Ambiental de suma importncia para a sociedade, pois ao estarmos inseridos no meio
precisamos preservar e conservar nossa fonte de matria prima que a natureza. As escolas so os
principais orientadores e divulgadores deste assunto que est por assim dizer na moda. Segundo o Art. 2
da Lei N 9.795, "A educao ambiental um componente essencial e permanente da educao nacional,
devendo estar presente, de forma articulada, em todos os nveis e modalidades do processo educativo, em
carter formal e no-formal. Com isso podemos observar que no cabem s as escolas esta
responsabilidade outros meios so responsveis pela educao do indivduo e consequentemente da
sociedade, uma vez que h o repasse de informaes. H alguns anos atrs a populao estava cada vez
mais envolvida com as novas tecnologias e com o cenrio urbano, a natureza estava perdendo o ponto de
referncia na sociedade moderna, porm, ultimamente com a crescente preocupao com o meio, essas
tecnologias esto sendo usadas para divulgar a Educao Ambiental atravs dos meios de comunicao
vigentes, como os sites de relacionamento.
A Poltica Nacional de Educao Ambiental envolve em sua esfera de ao, alm dos rgos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, instituies educacionais pblicas
e privadas dos sistemas de ensino, os rgos pblicos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

672
Municpios, e organizaes no-governamentais com atuao em educao ambiental. (Lei Federal n.
9.795, de 27 de abril de 1999, Art. 7).
A Educao Ambiental uma forma abrangente de educao que procura atingir todos os cidados,
utilizando de um processo pedaggico participativo que procura inserir no educador uma conscincia
crtica sobre as interferncias ambientais e procura conservar os diferentes ecossistemas e culturas
humanas da Terra. Um programa de educao ambiental para ser efetivo deve promover simultaneamente,
o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessrias preservao e melhoria da
qualidade ambiental, procurando promover sustentabilidade. A chave para o sustentabilidade a
participao, a organizao, a educao e o fortalecimento das pessoas. Deve ser apropriado no s aos
recursos e ao meio ambiente, mas tambm cultura, histria e sistemas sociais do local onde ele ocorre.
A EA fomenta sensibilidades afetivas e capacidades cognitivas para uma leitura do mundo do ponto
de vista ambiental. Dessa forma, estabelece-se como mediao para mltiplas compreenses da
experincia do indivduo e dos coletivos sociais em suas relaes com o ambiente. Esse processo de
aprendizagem, por via dessa perspectiva de leitura, d-se particularmente pela ao do educador como
intrprete dos nexos entre sociedade e ambiente e da EA como mediadora na construo social de novas
sensibilidades e posturas ticas diante do mundo. (Carvalho, 2004).
O Geopark Araripe atua junto comunidade desenvolvendo atividades de Educao Ambiental,
fomentado sobre o trip: Geoeducao, a Geoconservao e Geoturismo, em parceria com rgos pblicos
e privados, para tanto, criou o Centro de Interpretao e Educao Ambiental Geopark Araripe. O referido
artigo faz uma anlise dos trabalhos ligados educao ambiental realizado pelo Geopark, bem como, o
contexto do que o Geopark Araripe e os geosstios que o constitui. Deixando clara a sua preocupao com
a identidade do lugar onde atua, com a cultura e histria de sua populao, prezando sempre a eficincia e
compromisso em suas atividades.
O QUE O GEOPARK E SEUS GEOSSTIOS
A UNESCO, atravs de sua Diviso de Cincias da Terra, em parceria com organismos ligados
conservao e preservao ambiental, lanou o Programa Geoparques da UNESCO, criando a Rede Global
de Geoparques. O Geopark Araripe foi criado pela Universidade Regional do Cariri URCA, no ano 2005, e
reconhecido pela UNESCO, aps se submeter aos procedimentos padres de vistoria e avaliao pela
comisso oficial da UNESCO, o Geopark Araripe foi aprovado e oficializado na II Conferncia Mundial de
Geoparques (II World Conference on Geoparks), realizada em Belfast na Irlanda do Norte, em 21 de
setembro de 2006.
Na criao do Geopark Araripe, a UNESCO reconhece o patrimnio geolgico, paleontolgico,
biolgico, arqueolgico e um conjunto de manifestaes culturais desta regio, como de interesse de
preservao para a humanidade. O motivo principal para a criao deste patrimnio mundial foi a Bacia
Sedimentar do Araripe, com suas formaes geolgicas que, em sua maioria, possuem fsseis singulares, a
Floresta Nacional do Araripe, reconhecida mundialmente por sua biodiversidade exuberante, alm de
registros da passagem de homens primitivos em rochas da Chapada do Araripe, atravs de pinturas
rupestres e artefatos lticos que somam-se ao conjunto de tradies que formam a cultura da regio.
Ele esta fundamentado num trip: Geoeducao, que procura desenvolver atividades de
conscientizao, juto as comunidades no entorno dos geosstios, assim como, nos territrios das cidades
onde ele fica inserido; Geoconservao, busca a sustentabilidade da regio e o Geoturismo, trata-se de um
turismo paisagstico que no causa impacto no ambiente. O Geopark Araripe est localizado ao sul do
estado do Cear, na poro cearense da Bacia Sedimentar do Araripe e abrange seis municpios da regio
do Cariri. Possui uma rea de aproximadamente 3.520,52 km que corresponde ao contexto territorial das
cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Misso Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.
Nesse territrio est localizado um determinado nmero de stios geolgicos e paleontolgicos,
selecionados conforme a relevncia das suas caractersticas para a histria da terra. Apesar do destaque,
principalmente relacionado ao patrimnio geolgico, tambm se considerou a ocorrncia de outros
aspectos fundamentais relacionados aos patrimnios socioeconmico, cultural, histrico, ambiental,
geolgico, paleontolgico, arqueolgico e elementos da biodiversidade, que apresentam importncia,
raridade e riqueza que conta a histria da terra e conferem identidade ao territrio do Araripe cearense.
Uma das principais preocupaes do Geopark est em gerir, conservar e manter os Geosstios preservados,
Joo Pessoa, outubro de 2011

673
proporcionando o turismo ecolgico, cultural e cientifico. Foram catalogados, inicialmente 59 geosstios,
dos quais, nove esto abertos visitao, so estes:
O Geosstio Colina do Horto possui as pedras mais antigas do Cariri, datadas a cerca de 650 milhes
de anos. Ele est localizado aos ps da esttua do Padre Ccero, na colina do Horto, a 3 km de distncia da
cidade de Juazeiro do Norte e a aproximadamente 550m de altitude. Sobre as rochas de granito so
depositadas todas as outras rochas encontradas na regio, constituindo a base da geologia do Araripe.
Graas ao Padre Ccero, milhares de romeiros visitam a colina do Horto, proporcionando uma economia
baseada no comercio religioso e no comercio do granito.
O Geosstio Riacho do Meio situado no Parque Ecolgico Riacho do Meio, em Barbalha. Nele esto
preservadas a fauna e flora nativas do Araripe, com raras espcies endmicas, como o soldadinho-doararipe e a samambaia-au e recursos hdricos disponveis, promovendo o incentivo aos diversos
segmentos do turismo como: ecoturismo, turismo cientfico e etc. L tambm est localizada a "pedra do
morcego", o lugar onde Lampio e seu bando de cangaceiros utilizavam como acampamento ou
esconderijo, quando estavam na regio.
No Geosstio Floresta Petrificada do Cariri, localizado em Misso Velha, podemos observar rochas
avermelhadas, arenitos em camadas de gros bem pequenos e de maiores, como os seixos dos rios. Entre
estes seixos, encontram-se pedaos de madeira petrificada.
No Geosstio Batateiras possvel observar quase 9m de arenitos cinzentos com marcas de
estratificao cruzada, lminas de rochas bem escuras chamadas de folhelhos, nestes, existem alguns
fsseis como, conchas de diminutos crustceos e fragmentos de vegetais e de pequenos peixes. Esta
sequncia de rochas sedimentares e de fsseis da chamada Formao Barbalha.
O Geosstio Ponte de Pedra liga as cidades de Crato e Nova Olinda. Mostra arenitos alaranjados da
Formao Exu com seixos de diversos tamanhos em estruturas sedimentares encurvadas resultantes do
movimento das guas que os depositaram. uma passagem natural preservada na rocha sobre um estreito
e profundo vale, produto da eroso da gua e do vento nos ltimos 50 milhes de anos. Prximo existem
registros da presena dos ndios Kariris, sob a forma de pinturas rupestres no arenito.
O Geosstio Cachoeira de Misso Velha encontra-se localizado no Parque Ecolgico Municipal da
Cachoeira de Misso Velha, onde podemos ver a estratificao cruzada da Formao Cariri, em alguns
locais pode-se ser vistos alguns icnofsseis (rastros de animais pretritos) preservados na rocha e algumas
pinturas rupestres dos ndios Kariris, nativos da regio.
O Geosstio Parque dos Pterossauros, a cerca de 2,5 km do Museu de Paleontologia da URCA, em
Santana do Cariri. Em escavaes paleontolgicas encontram-se concrees calcrias, ovaladas, que
geralmente tm peixes fsseis dentro, conhecidas popularmente como "pedras de peixe". Estas concrees
podem conter tambm restos de pterossauros, de dinossauros, tartarugas e vegetais. Os depsitos dos
fsseis das camadas sedimentares correspondentes a Formao Santana, membro Romualdo.
O Geosstio Padra Cariri est a 3 km de Nova Olinda, os fsseis so muito abundantes, ainda que
pequenos: insetos, peixes, algas e vegetais. Eles foram preservados dentro da "pedra cariri", um calcrio
com finas lminas subparalelas, que os especialistas reconhecem como Membro Crato da Formao
Santana. Este geosstio registra uma rica biota cretcea de cerca de 112 milhes de anos.
O Geosstio Pontal da Santa Cruz a quase 900m de altitude, prximo Santana do Cariri, fica no
topo da Chapada do Araripe, muito permevel chuva funciona como uma esponja absorvendo a gua.
Esta gua se acumula nas camadas mais baixas e forma as nascentes no sop da chapada. Estes arenitos
so as rochas mais jovens do Araripe, formadas h cerca de 100 milhes de anos.
EDUCAO AMBIENTAL DESENVOLVIDA PELO GEOPARK ARARIPE
O Geopark Araripe procura participar da promoo do exerccio da cidadania e da melhoria da
qualidade de vida da populao, atravs de um processo educacional compromissado, de prticas
ecolgicas e de gesto sustentvel dos recursos naturais, implantando a ideia de preservao e
conservao dos patrimnios histricos, ambientais e culturais, respeitando a cultura, os costumes e a
identidade do local.
O principal instrumento para desenvolver a Educao Ambiental e tornar de fato o Geopark Araripe
conhecido o Centro de Interpretao e Educao Ambiental do Geopark Araripe (CIEA- Geopark Araripe),
este trata-se de um espao estruturado para receber estudantes do ensino infantil, fundamental, mdio e
superior, assim como, toda a populao interessada em conhecer o Geopark Araripe e suas atividades. A
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

674
ideia partiu do stand montado durante a Expocrato 2010, festa regional que ocorreu em julho, aps o
sucesso deste ambiente a professora doutora Maria Neuma Clemente Galvo props tornar permanente a
exposio atravs da criao do CIEA.
No Centro as comunidades dos geosstios e todos que procuram conhecer as riquezas da nossa
regio encontram um ambiente totalmente voltado para este fim, atravs, de atividades como: desenhos,
oficinas, vdeos, maquetes e uma trilha imaginria por toda a estrutura do stand que trs fotos dos
geosstio, artefatos regionais e amostras da vegetao nativa da Chapada.

Figura 14-Trilha imaginria percorrida no CIEA do Geopark Araripe


O sucesso do CIEA pode ser constatado a partir do numero de visitantes, que em 04 meses de
funcionamento, setembro a dezembro de 2010, contou com a visita de 1.177 pessoas de 12 seguimentos
sociais, entre eles: escolas, universidades, turistas, profissionais liberais, comunidade, empresas,
instituies pblicas e privadas, autoridades e professores de mais de 40 cidades e 09 pases (Relatrio da
Educao Ambiental do Geopark Araripe, 2010). A importncia de sua criao foi de fundamental
relevncia para aproximar a comunidade do Geopark, realizando trabalhos com mais eficincia, com uma
Educao Ambiental de qualidade e interativa.
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO GEOPARK ARARIPE JUNTO S COMUNIDADES
O Geopark Araripe tem uma grande preocupao em levar o conhecimento e as prticas adequadas
de educao ambiental a comunidades de seus geosstios, proporcionando momentos de instruo e
capacitao para alunos e professores, a fim de implantar a sustentabilidade na regio do Cariri. O Geopark
Araripe trabalha com diversas atividades pedaggicas e em parceria com: a Secretarias de Educao e Meio
Ambiente dos municpios que o compe, o IBAMA, SEMACE, empresas privadas da regio, entre outros.
Para desenvolver estas atividades ele utiliza o ecoturismo, passeios interpretativos em trilhas
ecolgicas; visitas ao Museu de Santana, onde pode-se ver os fsseis e entender um pouco da geologia do
local; oficinas de desenhos feitos atravs da observao direta em relao ao ambiente, os desenhos
tornam-se instrumentos eficazes para indicar os temas que mais estimulam a percepo ambiental do
observador; publicaes peridicas, que abordam assuntos relativos aos recursos naturais da regio e s
atividades da rea de ambincia da instituio; atividades com a comunidade e campanhas de
conscientizao ambiental, com o intuito de incrementar a participao da comunidade nos aspectos
relativos ao conhecimento e melhoria de seu prprio ambiente.

Joo Pessoa, outubro de 2011

675

Figura 15- Explicando a colona estratigrfica da Chapada do Araripe


Utiliza-se tambm de palestras ministradas em escolas e universidades, onde o publico pode
conhecer o que o Geopark, seu geosstios e suas atividades; de cursos de capacitao de professores e
gestores em educao ambiental, visando qualificar estes profissionais; de oficinas de reciclagem, rplicas,
teatro de bonecos e biojias, atividades que podem vir a ser fonte de renda para pessoas de baixa renda e
organizao de blitz ambientais, com temas como queimadas, problema enfrentado na Chapada do
Araripe. O Geopark sempre est participando como parceiro em feiras de cincias em colgios, projetos
sociais de instituies privadas, em eventos universitrios e outros. O Geopark preocupa-se tambm na
troca de conhecimentos, para tanto, promove encontros e conferncias, a fim de se reciclar, um exemplo
disto foi a 1 Conferencia Latino-americanas e Caribenha de Geoparks.

Figura 16- palestra sobre Educao Ambiental


METODOLOGIA
Para a construo deste trabalho de extenso fez-se necessrio conhecer e participar do Geopark
Araripe ativamente, realizando estudos, observaes e integrando suas atividades quanto a Educao
Ambiental, o Geopark Araripe e a preservao e conservao dos seus patrimnios, tornando-se um
multiplicador das mesmas.
Os trabalhos e estudos foram realizados junto ao acervo bibliogrfico que o Geopark Araripe
dispe, disponvel em sua sede, a fim de, incentivar a pesquisa cientifica, atravs do qual, pode-se adquirir
uma seria de dados a respeito do que a Educao Ambiental, do que o Geopark Araripe e suas prticas
de educao ambiental, durante o estgio universitrio que ocorreu de julho de 2010 a junho de 2011. As
observaes foram feitas ao longo do estgio, atravs do convvio dentro da instituio e analise de suas

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

676
prticas de ensino e administrao, as observaes foram fundamentais para avaliar as aes do Geopark
junto s comunidades dos seis municpios.
Quanto s atividades realizadas junto ao Geopark, pode-se considerar a maior fonte para a
realizao do estgio, partindo dos estudos, das observaes e de uma formao realizada pela equipe
tcnica do Geopark Araripe para os estagirios, foram realizados: palestras, acompanhamentos na trilha
imaginria, oficinas de rplicas, oficinas de biojias, oficinas de desenhos, oficinas de teatro de bonecos,
participao em feiras, eventos, congressos, encontros e outros. O conjunto de todo o trabalho realizado
no Geopark Araripe serviu de ferramenta para a construo de um olhar sobre a Educao Ambiental e o
Geopark Araripe.
CONSIDERAES FINAIS
A Educao Ambiental trata da preservao no s da natureza mais da vida do homem como um
todo, pois este a constitui e modifica de acordo com as suas necessidades. O Geopark Araripe uma
instituio que atravs da educao Ambiental desenvolve trabalhos que visam sustentabilidade de sua
regio e a compreenso da importncia da Educao Ambiental e do Geopark Araripe, despertando o
interesse de preservar cada vez mais o patrimnio paleontolgico, geolgico, paisagstico, cultural que tem
sido afetado pela explorao desordenada de matria prima, explorao esta que realizada por alguns
elementos da populao local, assim como, por empresas privadas.
Para tanto as atividades so realizadas junto e esta populao e empresas que usufruem de forma
errada da natureza, buscando desenvolver uma identidade ecolgica e uma conscincia ambiental que as
faa pensar na natureza como um bem que tem que ser cuidado, preservado e conservado.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABLIO, Francisco Jos Pegado, GUERRA, Rafael Angel Torquemada. (organizadores). A Questo
Ambiental no ensino de Cincias e a formao continuada de Professores de ensino fundamental. Joo
Pessoa, Ed Universitria, 2005.
BRASLIA, Lei n 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispe sobre a educao ambiental, institui a Poltica
Nacional de Educao Ambiental e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 28 abr. 1999.
CARVALHO, Isabel. C. M; Educao ambiental: a formao do sujeito ecolgico. So Paulo: Cortez,
2004.
CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Elementos para um debate sobre educao ambiental popular e
extenso rural. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Sustentvel, Porto Alegre, v.2 abr/ jun. 2001 - pp.
43-51.
GALVO, Maria. N. C; BATISTA, Vanda; ALENCAR, Marcos; Relatrio de Atividades de Educao
Ambiental do Geopark Araripe; Relatrio Administrativo do Geopark Araripe, Crato-CE, dez. 2010.
GERVAISEAU, Pierre; ARRAES, Violeta; O Araripe no Mundo Contemporneo; Fundao Armando
Alvares Pentaado, Cincias da Terra Cincias da Vida Chapada do Araripe, So Paulo, 2004.
Geopark Araripe, site oficial. Disponvel em: <http://www.geoparkararipe.org.br/geoparkwebsite/changeLocaleCommand.do?METHOD_KEY=change&language=pt_BR> Acesso em: 19 fev. 2011.
GURGEL, Gustavo A. Studart; Cidades do Cear, relatrio de Avaliao Ambiental, Fortaleza, jan.
2008.
MANZOCHI, L.H.& TRAJBER.R. (org). Avaliando a Educao ambiental no Brasil: materiais Impressos.
So Paulo; Gaia/Ecoar, 1996.
MARCONI, Marina de Andrade e Lakatos, Eva Maria. Metodologia Cientfica. 4.ed.-SP: Atlas, 2004.
PENTEADO, H. D. Meio Ambiente e Formao de Professores. So Paulo: Cortes , 1994.( Coleo
Questes de Nossa poca)
REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representao social. 5. ed- So Paulo, Cortez, 2002.a
(Questes da nossa poca; v.41).
SATO, Michele. Apaixonadamente Pesquisadora em educao ambiental. Educao Teoria e
Prtica, Rio Claro, v.9,n.16/17, p.24-35,2001.
VALE, Ana Maria do. Educao Popular na Escola Pblica. So Paulo: Cortez, 1992.

Joo Pessoa, outubro de 2011

677

GEOPARK ARARIPE: EXPERINCIA DE TRABALHO COM AS COMUNIDADES


EM TORNO DOS GEOSSTIOS.
Cicera Reuva da Silva OLIVEIRA, Universidade Regional do Cariri- URCA,
(reuvinha-1@hotmail.com), graduanda em Pedagogia;
Maria rica Bezerra da COSTA, Universidade Regional do Cariri URCA, (erika.bezerra@yahoo.com.br); graduanda em
Geografia.
(Orientadora) Flvia Fernanda LIMA, Universidade do Minho/Portugal,
(flaferlima@yahoo.com.br); Mestre em Geoconservao.

RESUMO
Esta pesquisa apresenta a importncia da presena do Geopark Araripe para a Regio do Cariri,
apresentados atravs de ricas caracterstica que contam a histria da evoluo do planeta Terra. O
Geopark Araripe uma rea com terrenos definidos que possui diversas riquezas geolgicas e est inserido
em seis municpios do Sul do Cear onde se entende por uma rea de 3.441 km, sendo gerido pela
Universidade Regional do Cariri URCA. Foram inventariados inmeros geosstios onde nove foram
selecionados para serem utilizados na visitao turstica e atividades educativas. O Geopark Araripe
estabelece suas atividades com base no trip: Geoeducao, Geoconservao, e Geoturismo, as quais so
desenvolvidas de forma interdisciplinar, aproveitando, tanto as caractersticas fsicas do lugar, assim como
as manifestaes culturais, visando o desenvolvimento da regio em torno do territrio do Geopark
Araripe. Atravs da experincia de estgio no geopark foi observado o quanto as comunidades so
privilegiadas por morarem em um local que apresentem singularidades quanto ao processo de evoluo.
Esta pesquisa tem como objetivo levar o conhecimento do Geopark para as comunidades. A metodologia
baseou-se na observao e na vivencia que aconteceu durante o perodo de 12 meses de estgio, que
permitiu o desenvolvimento de varias atividades pedaggicas junto as comunidades.
Palavras Chave: Conservao Ambiental, Cultura, Educao Ambiental, Geoparque.
INTRODUO
A Regio do Cariri est localizada ao Sul do Cear aproximadamente 560 km da capital
Fortaleza. O Cariri apresenta grandes riquezas naturais com uma diversidade de fauna e flora, considerada
um osis encravado no semirido Nordestino, embora predomine caracterstica de um clima seco. Destacase nesta regio Chapada do Araripe com a primeira floresta Nacional (FLONA), contento no alto da
chapada aproximadamente duzentos e trinta fontes de guas cristalinas e uma imensa floresta que abrigam
varias espcies, entre elas aves raras e plantas nativas. A regio revela caractersticas que contam o
processo de evoluo do planeta Terra, apresentando contedos geolgicos, paleontolgicos e naturais,
presentes h milhes de anos. O Cariri tambm apresenta uma grande diversidade quando se trata de
cultura, iniciando com os primeiros habitantes, os ndios Kariris. Sua presena na regio trouxe uma vasta
manifestao que se expressa atravs das comidas tpicas, da dana e outras manifestaes similares.
A regio tambm est inserida no inovador projeto Geopark Araripe. Mas o que um
Geoparque? um territrio com reas definidas que apresentam varias caractersticas inclusive um notvel
patrimnio geolgico. Um geoparque no caracterizado somente por ser um lugar que contm essas
riquezas, mas um lugar que tenha a participao das comunidades locais, pois as potencialidades podem
ser apresentadas para os moradores como uma forma de possibilitar a melhoria das condies de vida da
populao que ali residem. (Geopark Araripe, 2011)
O objetivo de fazer essa pesquisa sobre o Geopark Araripe se deu atravs da oportunidade
de estgio que durou doze meses, possibilitando assim uma compreenso sobre o que um geoparque, e
como se deu o projeto Geopark Araripe e o desenvolvimento de suas atividades. Os instrumentos
metodolgicos se deram atravs de acessos a documentos sobre o Geopark Araripe e a experincia de
estgio, assim como a participao nas atividades realizadas na secretaria da instituio, seu setor de
comunicao, educao ambiental e setor de economia que responsvel pelos convnios com os
parceiros.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

678
CONHECENDO O GEOPARK ARARIPE
O Geopark Araripe se estende por uma rea de 3.441 km em territrio Cearense. Gerido pela
Universidade Regional do Cariri URCA, e foi reconhecido pela UNESCO em setembro de 2006, aliado a
uma ideia de desenvolvimento regional sustentvel. Na regio, o Geopark alcana os municpios de Juazeiro
do Norte, Crato, Barbalha, Misso Velha, Santana do Cariri e Nova Olinda.
Na rea do Geopark Araripe foram inventariados inmeros geosstios, dentre eles 9 foram
selecionados para serem utilizados na visitao turstica e atividades educativas. Mas o que so geosstios?
So locais que apresentam elevado interesse geolgico, pelo seu valor singular do ponto de vista
cientifico, pedaggico, econmico, paisagstico entre outros alem do contedo geolgico. Os geosstios
tambm podem apresentar elevado interesse ecolgico arqueolgico, histrico e cultural, essas
caractersticas complementares levam os geosstios a apresentarem maior identidade com a regio onde se
insere. ( Geopark Araripe )
POTENCIAIS DE DESENVOLVIMENTO DO GEOPARK ARARIPE
O Geopark Araripe estabelece suas atividades com base no seguinte trip: Geoeducao,
Geoconservao, e Geoturismo. Estas atividades so desenvolvidas de forma interdisciplinar visando o
desenvolvimento da regio em torno do Geopark Araripe.
Geoeducao: As atividades de educao ambiental realizadas pelo Geopark Araripe tm como
finalidade orientar e divulgar aes pedaggicas que visem a interao das comunidades locais
beneficiando-os atravs de: blitz ambientais, oficinas com materiais reciclveis, oficinas de rplicas de
fsseis, trabalhos de divulgao nas escolas, programa Geopark no recreio, apresentao de teatro de
bonecos e capacitao dos professores da rede pblica, mostrando para os docentes a importncia do
Geopark Araripe para a regio.
As oficinas de materiais so ministradas nas instituies escolares e com um variado pblico alvo,
elas transmitem certa importncia em relao ao meio ambiente, pois, os materiais que antes seriam
jogados no lixo so transformados em objeto de decorao, brinquedos para as diversas idades,
reutilizao de leo de cozinha para a confeco de produtos de limpeza entre outros.
importante destacar que a educao ambiental no s uma forma de utilizao de materiais
reciclveis, ensinando a populao como transformar resduos slidos em objetos e sim uma forma de
conscientizar as comunidades em geral para que haja uma vida sustentvel para as geraes futuras.
Geoconservao: O Geopark vem desenvolvendo atividades que valorizam a preservao
do patrimnio cientifico, histrico-cultural local, pois a importncia da preservao de um patrimnio
geolgico nos da oportunidade de voltar ao tempo e rever atravs de estudos como se deu a histria da
evoluo do planeta Terra. Diante disso o Geopark Araripe tem como objetivo trabalhar com as
comunidades em torno do geosstios mostrado para os moradores as riquezas que esto presente ao seu
redor, valorizando e conservando a fauna e flora que aparece como um importante atrativo para que
sejam visitados e preservados. A presena de florestas de mata mida e aves endmicas caracterizam a
variedade da biodiversidade, que se destacam nas reas dos geossitios.
Geoturismo: O Geopark apresenta uma diversidade de roteiros que valorizam tanto seus
recursos naturais como suas manifestaes culturais representadas atravs da religiosidade, trilhas
ecolgicas, comidas tpicas, artesanato, msicas regionais e exposies que acontecem com frequncia.
Esses atrativos fazem do Cariri um bero cultural, que se expressa atravs das manifestaes, folclricas,
procisses, romarias, e apresentaes de shows em geral.
MANIFESTAES CULTURAIS QUE ESTO INSERIDAS NO GEOPARK ARARIPE
Festa de Santo Antnio: Na cidade de Barbalha todos os anos acontece a tradicional festa de Santo
Antnio representada pelo hasteamento do pau da bandeira. A cidade durante esse perodo fica repleta de
turistas e pessoas que moram nas cidades prximas, que apreciam a festa, e a caminhada dos devotos
carregando o pau da bandeira de quase duas toneladas, interessante ressaltar o quanto a f visvel
entre as pessoas que acompanham a festa. Nesse evento h varias apresentaes folclricas como maneiro
pau, boi bumbar, reisado, e caminhada dos penitentes.
Romarias: A cidade de Juazeiro do Norte hoje com cerca de 249.939 habitantes (IBGE 2010)
marcada como o bero da religiosidade, por apresentar uma grande presena de romeiros vindos de vrios
Joo Pessoa, outubro de 2011

679
lugares do Brasil. A imagem do padre Ccero Romo Batista, um santo no corao do povo nordestino, tem
uma presena ilustre na vida do romeiro, graas a ele que a cidade tornou-se, no interior do Cear, uma
das que mais recebe turistas e visitantes durante todo o ano. As romarias em Juazeiro do Norte acontecem
sempre nos meses de Fevereiro, Maro, Setembro e Novembro, sendo que em Fevereiro acontece a festa
de nossa Senhora das Candeias, em Maro, comemorao do nascimento do padre Ccero, em Setembro a
festa de Nossa Senhora das Dores, em Novembro a Festa de Finados. Nessas festas vrias igrejas em
Juazeiro recebem a visita vrios romeiros.
OS NOVE GEOSSTIOS E SUAS RIQUEZAS
Geosstio Colina do Horto: O geosstio Colina do Horto na cidade de Juazeiro do Norte,
representado por suas caractersticas geolgicas e culturais. No alto da colina, pode-se encontrar a
presena de Rocha Granito presente no embasamento cristalino da chapada do Araripe, a mesma possui
idade geolgica de 650 milhes de anos. A cultura expressa de forma abrangente com a presena dos
romeiros de todos os lugares do Brasil, que vem adorar a figura do Padre Ccero. O Santo Sepulcro um lugar
de oraes, serve tambm como trilha ecolgica em que o percurso da estatua do padre Ccero para o
santo sepulcro uma distancia de 2 km. Desse lugar podemos ter uma vista exuberante das trs principais
cidades da regio que so: Crato, Juazeiro e Barbalha. O padre Ccero tambm j pensava em meio
ambiente e na poca j orientava os romeiros atravs de seus preceitos ecolgicos.
Geosstio Cachoeira de Misso Velha: Localizado na Cidade de Misso Velha um dos
pontos de visitao turstica do Geopark Araripe. A cachoeira de Misso Velha apresenta uma beleza
exuberante de queda d'gua. Seu processo de formao se deu atravs da eroso provocada pelo o rio
Salgado que escavou mais de 12m de uma rocha formada a 450 milhes de anos, esta cachoeira j foi
utilizada pelos ndios Kariris, sua beleza natural destacada pela abertura de um canyon.
Cnion ou Canyon, que significa "canho", um termo usado em geologia para designar um vale
profundo com paredes abruptas em forma de penhascos, geralmente escavado por um rio. So tambm
chamados de "garganta". A maior parte dos canyons originam-se por um longo e lento processo de eroso
fluvial e elica. Diferentes camadas rochosas pouco consolidadas a partir de um planalto, so erodidas
lentamente por um curso de gua, criando um vale. As paredes se formam quando camadas de rochas
resistentes eroso so encontradas, de modo que a gua continua escavando um vale para baixo, no
afetando a rocha dura. (Fonte: Wikipdia).
Geosstio Floresta Petrificada do Cariri: O Geosstio Floresta Petrificada est localizado na
cidade de Misso Velha, nesta regio havia uma floresta semelhante a Floreta Nacional do Araripe (FLONA),
com uma vegetao exuberante, devido ao processo de mudana do clima, esta vegetao foi morrendo e
posteriormente coberta por sedimentos e os troncos foram silificados. Isso nos permite ver a presena de
pedaos troncos com aspecto de rochas que antes eram grandes pinheiros datados com mais de 150
milhes de anos atrs.
Geosstio Batateiras: Na cidade do Crato podemos encontra a presena de uma bela
cachoeira de aproximadamente 12 metros de altura, conhecida como Cascata do Lameiro. Apresenta como
caracterstica geolgica a presena de rochas claras e escuras formadas h 113 milhes de anos. Por volta
do sculo XIX havia naquele espao uma casa de fora que servia como hidreltrica, a mesma fornecia
energia eltrica para as comunidades vizinhas.
Geossitio Pedra Cariri: Na cidade de Nova Olinda encontra-se a Pedra Cariri ou o calcrio
laminado, nesta rocha podemos encontrar fsseis do perodo Cretceo, depositados h aproximadamente
112 milhes de anos, esse geossitio tem sua riqueza paleontolgica e geolgica contendo tambm
registros de intervenes martimas, com presena de fosseis de peixes de gua salgada. Neste geosstio
so encontrados tambm fsseis de plantas (angiospermas), primeiras plantas com flores, que na poca
estava se formando. O geossitio ponte de pedra no s apresenta um valor cientifico, mas um lugar que
serve como fonte renda, pois o calcrio laminado usada para revestimento de pisos e paredes.
Geosstio Parque dos Pterossauros: Na cidade de Santana do Cariri destaca-se o Museu de
paleontologia que em 1986, foi cedido pelo, na poca prefeito e recentemente ex-reitor da URCA, Plcido
Cidades Nvens. No museu de paleontologia de Santana do Cariri est armazenada uma grande quantidade
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

680
de fsseis, esses fsseis possuem um dos melhores estados de conservao do mundo, e so encontrados
na cidade de Santana, mais precisamente em uma escavao permanente. Foram encontrados nas
escavaes fsseis de peixes marinhos, de gua doce, tartarugas, folhas, insetos, inclusive fsseis de
liblula, hoje considerado um fssil vivo por sua resistncia a diversas mudanas climticas, ela tambm se
destaca como sendo o smbolo do museu de paleontologia.
O Parque dos Pterossauros recebe visitas de vrios cientistas, que vem conferir de perto as
escavaes, o lugar tambm considerado objeto de estudos acadmicos e ponto de visitao de turistas
de vrios lugares do mundo.
Geosstio Riacho do Meio: Na cidade de Barbalha temos a presena de uma unidade de
conservao estadual chamada Riacho do Meio, que se destaca por suas belezas paisagsticas com a
presena de fauna e flora. uma floresta de mata mida que apresenta uma bela biodiversidade e a
presena de aves endmicas. O Riacho do Meio tem uma riqussima abundancia de fontes de guas
cristalinas que jorram do solo, em sua flora temos as plantas nativas, uma delas a Samambaia Au
(Dicksonia Sellowiana), considerada um fssil vivo, por conta de sua adaptao com as variaes climticas.
No Riacho do Meio podemos encontra uma ave considerada em risco de extino que o Soldadinho-doararipe (Antilophia bokermanni), uma espcie rara que podemos encontrar no seu abrigo que so os ps de
Samambaia Au. A fmea diferencia-se do macho por suas cores diferentes sendo a fmea esverdeada e o
macho nas cores, branca, vermelha e preta. Tanto a planta nativa quanto a ave endmica, completam a
beleza do lugar. Alm dessas caractersticas naturais neste parque encontra-se pedra do morcego lugar
onde Lampio e seu bando descansavam quando estavam na regio. Esse espao tem como atrativo as
trilhas ecolgicas e foco de trabalhos cientficos.
Geossitio Pontal de Santa Cruz: Um dos lugares com uma vista exuberante o pontal de
Santa Cruz, chegando a 900 metros de altura, o visitante tem o privilegio de ver toda a Chapada do Araripe.
Acima do pontal existe uma igreja que construda no sculo XIX cheia de mistrios e lendas, e a presena
de uma trilha que comea do pontal at a estrada que d acesso ao lugar.
Os arenitos avermelhados so as rochas mais jovens do Araripe que representam a geologia
do lugar, com cerca de 100 milhes de anos, elas absorvem toda a gua da chuva e assim ficam acumuladas
nas camadas mais baixas, dando origem as nascentes de guas naturais, que so uma das riquezas da
chapada do Araripe.
Geossitio Ponte de Pedra: Prximo a Nova Olinda existe uma ponte de pedra que foi
escavada pelo processo de eroso, ela mostra uma paisagem natural com 25m de comprimento e 80 cm de
espessura. No lugar foram encontrados vestgios dos primeiros habitantes da regio, Os ndios Kariris que
viveram ali h muitos anos, o lugar tambm apresenta lendas antes contadas pelos ndios, sendo assim, os
mitos e lendas do povo Kariri, so heranas que devem ser preservadas interpretadas e registradas.
EXPERINCIA DE ESTGIO NO GEOPARK ARARIPE
O estgio uma forma de fazer a ligao entre a teoria e prtica, pois atravs de uma
experincia vivida tem-se a oportunidade de conhecer como acontece prxis. atravs do estgio no
Geopark Araripe que diversas pessoas tm a oportunidade de conhecer ativamente as aes de incentivo
cultura, educao ambiental, conservao da natureza e turismo.
Durante o perodo de estgio, essa prtica se deu de vrias formas, como: trabalhos na rea de
educao ambiental desenvolvidos nas comunidades, conservao ambiental e turismo. Os trabalhos so
de grande importncia para a regio, uma vez que os estudos cientficos que so feitos sobre as riquezas
existentes nas reas do Geopark so marcantes e de grande interesse acadmico, isso chama a ateno dos
estudiosos de todo o mundo. Para o turismo essas visitas so a chave para o desenvolvimento econmico
principalmente na rea de hotelaria e dos restaurantes que apresentam seus pratos regionais e recebem
com muita ateno os seus visitantes. O trabalho com as comunidades primordial para que o Geopark se
fortalea, pois a compreenso e a colaborao dos moradores e as atividades pedaggicas desenvolvida
pela equipe promove o dilogo direto sobre a preservao da riqueza existente no Cariri.
Na experincia de estgio foram acompanhadas vrias atividades ligadas as reas de atuao do
Geopark, sendo as quais se destacam por sua colaborao para os moradores.

Joo Pessoa, outubro de 2011

681
EDUCAO AMBIENTAL NAS COMUNIDADES: VIVNCIA E APRENDIZAGEM
Na rea de geoeducao foram desenvolvidos trabalhos voltados para a educao
ambiental nas escolas em torno do geosstio Batateira. Durante a Semana de Meio Ambiente de 2010,
realizada no Stio Pscoa, na cidade do Crato, foi realizada na escola do referido stio oficinas de produo
de sabo, com o intuito de promover atividades pedaggicas associadas conservao ambiental. O
projeto, foi iniciado com a divulgao do Geopark Araripe junto aos alunos do sistema EJA - Educao de
Jovens e Adultos, foi complementado com a proposta de trabalhar e ensinar a reutilizar o leo de cozinha
usado para a produo de sabo em barra. A oficina mostrou a turma o quanto importante a preservao
do meio ambiente e a conscientizao para no jogar leo de cozinha no solo, uma vez que este produto
prejudicial natureza.
Tambm foram realizadas oficinas de rplicas de fsseis nas escolas das cidades de Crato e
Juazeiro do Norte, com o intuito de demostrar os problemas de contrabando de fosseis, sua ilegalidade, e
apresentando a produo de replicas como uma alternativa vivel.
O material reciclvel que antes teria como destino o lixo hoje serve como forma de
produo de renda familiar atravs das oficinas de: biojias, oficina de confeco e bonecos, oficina de
pufes de garrafa pet entre outros objetos criados pelos prprios moradores.
CONSIDERAES FINAIS
A regio do Cariri mostra-se possuidora de uma grande riqueza tanto cultural como natural,
e que o Geopark Araripe uma forma de promover essas riquezas, dando oportunidade para que a
populao tome conhecimento do processo de evoluo que se deu a milhes de anos. Com a ideia
inovadora da criao de um geoparque se intensificou nessas belezas naturais o interesse por parte dos
estudiosos que vem de vrios lugares do mundo conferir de perto todas essas caractersticas singulares.
Neste caso a educao ambiental no pode ficar de fora, pois atravs das atividades pedaggicas
promovidas pelo Geopark que podemos ter um dialogo com as comunidades e atravs deste
conseguiremos juntos preserva este patrimnio cultural e natural da humanidade.
A experincia de estgio favoreceu a oportunidade de conhecer como se deu o projeto e
como o Geopark Araripe continua colaborando com as comunidades inseridas no projeto, proporcionando
para os mesmo a chace de conhecer um pouco sobre a histria da evoluo da terra e como viver em
equilbrio com o meio ambiente.
REFERENCIAS BIBLIOGRFICA
GEOPARK ARARIPE. Governo do estado do Cear. Geopark Araripe,Cultura,Histria da Terra e Meio
Ambiente. Fortaleza: 2009/2010.
IBGE. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/home/. Acessado em julho de 2011.
Wikipdia. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/. Acessado em julho de 2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

682

A GEODIVERSIDADE NO MUNICPIO DE BONITO, AGRESTE DE


PERNAMBUCO
Edjane Maria dos SANTOS 110
Programa de Ps-Graduao em Geocincias UFPE
Email: ems_geo@yahoo.com.br
Gorki MARIANO 111
Departamento de Geologia UFPE
Email: gm@ufpe.br

RESUMO
Este trabalho apresenta um levantamento a respeito da geodiversidade no municpio de Bonito,
situado no Agreste de Pernambuco. A pesquisa consiste em etapas de gabinete/laboratrio e campo,
realizadas com o intuito de identificar, catalogar, classificar e mapear 12 (doze) reas de interesse
geolgico. O mesmo traz ainda, sugestes de estratgias para a conservao desses potenciais geosstios,
de modo a viabilizar atividades ligadas ao geoturismo, ensino e pesquisa, alm de promover a utilizao
sustentvel desses locais. Essas medidas aqui propostas visam o repasse de conhecimentos a respeito da
geologia e geomorfologia do municpio aos visitantes, alm de promover o desenvolvimento regional com
envolvimento das comunidades locais e a valorizao e geoconservao do patrimnio geolgico do estado
de Pernambuco.
Palavras chave: Geodiversidade Municpio de Bonito Geoconservao
INTRODUO
Mesmo se tratando de um ramo de pesquisa relativamente recente e ainda em fase de expanso
no Brasil, os estudos que abordam o trinmio geodiversidade, geoconservao e geoturismo assumem
uma importncia fundamental na identificao, mapeamento e caracterizao de novos geosstios,
promovendo a valorizao e utilizao sustentvel dessas reas.
O Estado de Pernambuco apresenta uma grande geodiversidade, representada por uma grande
quantidade de reas de interesse geolgico, algumas delas com potencial para se tornarem futuros
geoparques. Em contrapartida, muitos outros potenciais geosstios precisam ser quantificados, catalogados,
divulgados e protegidos, de modo a conservar esse patrimnio para usufruto de geraes futuras, quer seja
para fins didticos, cientficos, geotursticos, entre outros.
Conhecido popularmente como "cidade das guas" e integrando a "rota das cachoeiras" de
Pernambuco, o municpio de Bonito destaca-se pela riqueza de seus cenrios naturais. Ao todo, so onze
cachoeiras, alm de corredeiras, riachos, serras, mirantes, furnas e afloramentos rochosos que atraem
visitantes de diversas regies, com objetivos de lazer e prtica de esportes radicais.
Objetivando desenvolver mecanismos capazes de promover a proteo da geodiversidade em
Bonito, este trabalho realizou o mapeamento e catalogao de 12 (doze) potenciais geosstios existentes no
municpio. Tambm foram sugeridas algumas estratgias de geoconservao, levando em considerao a
importncia e a vulnerabilidade de cada uma dessas reas de interesse geolgico.
MATERIAIS E MTODOS
A metodologia utilizada na pesquisa consistiu em atividades de gabinete/laboratrio e campo, que
podem ser agrupadas em 5 (cinco) etapas: levantamento bibliogrfico e cartogrfico; confeco de material
para pesquisa em campo; investigaes em campo; anlise das informaes colhidas e; criao de
instrumentos que viabilizem a geoconservao em Bonito.
A pesquisa teve incio com um levantamento bibliogrfico referente temtica envolvendo o
trinmio (geodiversidade, geoconservao e geoturismo), assim como tambm a respeito do meio fsico do
municpio de Bonito. Posteriormente, realizou-se uma seleo do material cartogrfico a ser utilizado, que
consiste em cartas geolgicas (CPRM-UFPE) na escala de 1:500.000 e cartas topogrficas (Sudene) na escala

110
111

Bolsista de Mestrado FACEPE


FACEPE APQ-O699-1.07/08

Joo Pessoa, outubro de 2011

683
de 1:100.000, correspondendo s folhas Caruaru (que abrange a parte Norte do municpio de Bonito) e
folha Palmares (que contempla a parte Sul do mesmo).
Posteriormente, foi realizada a preparao do material necessrio ao trabalho de campo. Nesta
fase, foram selecionados 16 (dezesseis) geosstios potenciais, a serem visitados em Bonito. Foram ainda
elaboradas fichas de catalogao e classificao dos geosstios, atravs de adaptaes a partir das
metodologias utilizadas pela Comisso Brasileira de Stios Geolgicos e Paleobiolgicos (SIGEP) e a
Associao Europia para a Conservao do Patrimnio Geolgico (ProGeo).
Durante a fase de campo, realizada em fevereiro de 2011, foram visitados um total de 12 (doze)
dos 16 (dezesseis) pontos selecionados previamente como reas de interesse geolgico no municpio de
Bonito, so eles: pedra do Rodeadouro, cachoeira Vu da Noiva, Pedreira abandonada, cachoeira da Gruta,
cachoeira da Pedra Redonda, cachoeira do Paraso, cachoeira de Barra Azul, cachoeira de Bonito, cachoeira
da Corrente, cachoeira Vu da Noiva II, corredeiras do Poo da Nga e a pedra da Rosria. Em cada um
desses potenciais geosstios, foram realizados os seguintes procedimentos: descrio da geologia,
geodiversidade e infra-estrutura turstica local (anotadas em caderneta de campo); levantamento
fotogrfico da rea; obteno de coordenadas UTM com auxlio de GPS; plotagem dos pontos em cartas
topogrficas e geolgicas; medies in loco com o auxlio de bssola (lineao, foliao, fratura, sentido de
mergulho) e; coleta de amostras de rochas para realizao de anlise macroscpica e tambm para
posterior confeco de lminas delgadas, seguida da descrio mineralgica atravs do microscpio
petrogrfico.
A ltima fase da pesquisa consiste na definio de algumas estratgias voltadas para a promoo
da geoconservao das reas de interesse geolgico visitadas. As sugestes apresentadas foram baseadas
na anlise das informaes colhidas durante as etapas anteriores (especialmente durante a fase de campo)
e levam em considerao duas variveis principais: a importncia (valor) do potencial geosstio e a
vulnerabilidade do mesmo degradao oriunda das aes antrpicas. De uma forma geral, essas medidas
procuram estimular a criao de atividades econmicas suportadas pela geodiversidade da regio, assim
como o envolvimento das comunidades locais no manejo adequado desses stios geolgicos e a divulgao
das geocincias entre os visitantes.
CARACTERIZAO DA REA
Bonito localiza-se na mesorregio do Agreste e na microrregio do Brejo Pernambucano (ver figura
1), o municpio foi desmembrado de Vitria de Santo Anto em 1839 e atualmente composto por trs
distritos: Bonito (sede), Alto Bonito (ex-Iuitepor) e Bentivi. Suas terras, que no passado pertenceram ao
territrio do clebre "Quilombo dos Palmares", englobam atualmente uma rea total de 395,611 km2 e
abrigam uma populao de 37.566 habitantes (IBGE, 2010).
Por se encontrar na zona de transio entre a Mata Sul e o Agreste, Bonito possui dois tipos
climticos distintos, segundo a classificao de Kppen: o predominante o As' (quente e mido com
chuvas de outono-inverno) e, na poro oeste, clima semi-rido com aridez atenuada. Inserido em rea de
brejo de altitude, o municpio apresenta mdias pluviomtricas anuais elevadas, que variam entre 1.100 e
1.300mm e temperaturas mdias anuais em torno de 27C (LINS, 1989).
A malha hidrogrfica composta, principalmente, pelas bacias dos rios Una e Sirinham, que
traam uma intensa rede de drenagem atravs de seus afluentes, destacando-se o rio Bonito (afluente do
rio Sirinham e principal fornecedor de gua para o municpio) e o rio da Prata (afluente do rio Una). O
municpio possui ainda, 135 audes e, graas a desnveis decorrentes da ao geolgica, diversas
112
113
cachoeiras e corredeiras de grande beleza cnica, quadro esse que concede ao municpio o ttulo de
"cidade das guas".

112

O municpio famoso por possuir sete cachoeiras, mas em visita a campo tomou-se conhecimento da
existncia de onze cachoeiras, sendo que destas, oito foram visitadas (Vu da Noiva, da Gruta, Pedra Redonda,
Paraso, Barra Azul, de Bonito Camping do Mgico; da Corrente Ecoparque e; Vu da Noiva II).
113
Diferente de uma cachoeira (queda-dgua, cascata, salto, desnvel vertical brusco em trecho de rio), uma
corredeira pode ser definida como o trecho de rio onde as guas, dada a inclinao do terreno, correm cleres, e que,
muitas vezes, corresponde ltima etapa de uma queda-dgua. (Dicionrio da Lngua Portuguesa Aurlio Buarque
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

684

Figura 1: Localizao do Municpio de Bonito, no Estado de Pernambuco.


Fonte de Dados: IBGE, 2000. Mapa desenvolvido por Girlan Cndido da Silva, 2009.
A cobertura vegetal primitiva do municpio compreende: a floresta subpereneflia, predominante
em mais da metade da rea municipal; a floresta subcaduciflia ou estacional semi-decidual, que se
estende das pores Norte a Oeste e tambm a floresta caduciflia, concentrada em uma rea
relativamente pequena, na parte Oeste de Bonito. (ANDRADE, 1992).
Quanto ao perfil pedolgico, notvel a presena de espessos mantos de intemperismo,
constitudos principalmente por latossolos profundos e bem drenados nos topos planos; podzlicos, pouco
a medianamente profundos e bem drenados, nas vertentes ngremes e gleissolos de vrzea, orgnicos e
encharcados, nos fundos de vales estreitos (CPRM, 2005).
Em relao geomorfologia, Bonito est inserido, em sua maior parte, nas encostas orientais do
Planalto da Borborema. O relevo local, nas pores SO, S e L, apresenta uma dinmica instvel, de forte
intensidade. Na parte SO, ocorrem morros e colinas com amplitudes variadas, vales amplos e rasos. No
sentido L, surgem as elevaes com encostas irregulares, topos aguados alongados e vales encaixados,
com declividades que variam de moderada a forte. (ANDRADE, 1992).
Geologicamente, Bonito encontra-se inserido na Provncia da Borborema (ver figura 2), sendo
constitudo pelos seguintes litotipos: Complexo Belm do So Francisco (Mp3bf - leuco-ortognaisses e
tonaltico-granodiorticos migmatizados, com enclaves de supracrustais); Sute Intrusiva Leucocrtica
Peraluminosa (MNyal - leucogranitides a duas micas, com granada e cordierita); Granitides
Indiscriminados (NP3y1 - granitos, granodioritos e monzogranitos) e da Sute Calcialcalina de Mdio a Alto
Potssio Itaporanga (NP3y2cm - granitos a granodioritos porfirticos associado a diorito). O municpio
cortado ainda por uma zona de cisalhamento transcorrente sinistral com direo NE-SO (CPRM, 2005).

de Holanda). Como exemplo de corredeira identificada no municpio de Bonito, pode ser citada a corredeira do Poo
da Nga (Tambm chamada de Banho do Poo da Nga).
Joo Pessoa, outubro de 2011

685

Figura 2: Mapa geolgico do municpio de Bonito. Fonte: Adaptado de CPRM (2005).


CATALOGAO DA GEODIVERSIDADE EM BONITO
A seleo dos potenciais geosstios presentes no municpio de Bonito partiu de um levantamento
prvio a respeito da geodiversidade da regio, sendo escolhidos pontos que alm da representatividade
geolgica, tambm j se configurassem em atrativos tursticos conhecidos nas proximidades, so eles:
pedra do Rodeadouro, pedra da Rosria, cachoeira Vu da Noiva, cachoeira da Gruta, cachoeira da Pedra
Redonda, cachoeira do Paraso, cachoeira de Barra Azul, cachoeira de Bonito (Camping do Mgico),
cachoeira da Corrente (Bonito Ecoparque), cachoeira Vu da Noiva II, corredeiras do Poo da Nga e uma
pedreira abandonada (ver figura 3).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

686

Figura 3: Localizao dos potenciais geosstios selecionados no municpio de Bonito.


Fonte: Pontos plotados sobre adaptao de mapa extrado de CPRM (2005).
Aps a identificao e mapeamento dessas reas, foram coletadas informaes in loco que
consistiram na observao geral dos aspectos geolgicos e geomorfolgicos, anlise macroscpica da
litologia, coleta de amostras para posterior confeco de lminas delgadas para descrio mineralgica,
levantamento fotogrfico e classificao e catalogao de cada um dos potenciais geosstios tomando como
base a metodologia desenvolvida pelo ProGEO e SIGEP114.
Nesta anlise sero considerados como critrios de quantificao os valores da
geodiversidade enumerados por Brilha (2005), que so: valor intrnseco, valor cultural, valor esttico, valor
115
econmico, valor funcional e valor cientfico/educativo . Assim, foi possvel identificar a importncia
relativa de cada uma das reas selecionadas, alm de definir os principais valores comuns entre esses
potenciais geosstios. (ver quadro 1)

114

estudo.

As metodologias originais sofrerem algumas adaptaes para melhor se adequar realidade da rea de

115

Segundo Brilha (2005): valor intrnseco Est relacionado natureza por si s e, principalmente, aos
meios de interao dos seres humanos junto mesma; valor cultural - Corresponde ao nvel de interdependncia
entre o desenvolvimento social, cultural e/ou religioso de uma sociedade e os elementos da geodiversidade; valor
esttico representado pelo impacto visual causado por uma paisagem natural aos olhos do expectador; valor
econmico, o mais objetivo e passvel de quantificao, est relacionado explorao comercial dos recursos minerais
e energticos; o valor funcional pode ser encarado sob duas perspectivas: a primeira corresponde Geodiversidade in
situ, de carter utilitrio para o homem, servindo de suporte para suas atividades; a segunda est relacionada ao valor
da geodiversidade enquanto substrato para a sustentao dos sistemas ecolgicos da superfcie terrestre e; valor
cientfico/educativo consiste no acesso e posterior anlise de amostras representativas da geodiversidade, com o
objetivo de permitir sua identificao e interpretao, de modo a buscar desvendar a histria geolgica da Terra, alem
de divulgar esse conhecimento cientifico de forma didtica, seja atravs de prticas educativas formais e/ou noformais.
Joo Pessoa, outubro de 2011

687
Quadro 1: Quadro esquemtico demonstrando os principais valores atribudos aos potenciais
geosstios em Bonito.

VALORES DA GEODIVERSIDADE PRESENTES NO MUNICPIO DE BONITO-PE


Potenciais Geosstios Intrnsec
Selecionados
o
Cachoeiras
Vu da Noiva
X
Da Gruta
X
Pedra Redonda
X
Paraso
X
Barra Azul
X
De Bonito (Camping)
X
Corrente (Ecoparque)
X
Vu da Noiva II
X
Formaes Rochosas
Pedra do Rodeadouro
X
Pedra da Rosria
---Corredeira
Poo da Nga
X
Outros
Pedreira Abandonada
----

Cultura
l

Esttic
o

Econmico

Funcional

Cientfico/
Educativo

X
X
X
X
X
X
X
X

X
X
X
X
X
X
X
X

X
------X
---X
X
X

X
----------------------

X
X
------X
------X

X
----

X
X

-------

X
----

X
----

----

----

----

----

----

----

Dentre os valores enumerados no quadro 1, o intrnseco o mais subjetivo e difcil de ser


quantificado, uma vez que trata de uma relao de interdependncia entre o homem e a geodiversidade.
Assim, tanto a pedra da Rosria como a pedreira abandonada, mesmo sendo conhecidas pelos habitantes
da localidade, ainda no representam para eles um bem natural de grande importncia se comparado, por
exemplo, s cachoeiras e pedra do Rodeadouro.
Em relao ao valor cultural da geodiversidade em Bonito, as cachoeiras podem ser consideradas o
elemento principal, uma vez que as mesmas representam o carto-postal do municpio, sendo motivo de
orgulho para a populao bonitense. Outro exemplo importante a pedra do Rodeadouro (ver figura 4),
uma vez que a mesma encontra-se intimamente ligada com a histria da regio e, na primeira metade do
sculo XIX, foi cenrio de uma das mais violentas batalhas de um movimento messinico conhecido como
Sebastianismo116.
O valor esttico , sem duvida, o que mais encanta os visitantes das reas de interesse
geolgico em Bonito, especialmente no que se referem s cachoeiras, detentoras de uma notvel beleza
cnica: Vu da Noiva (ver figura 5); da Gruta; Pedra Redonda; Paraso (ver figura 6); Barra Azul (ver figura
7); de Bonito, situada no Camping do Mgico; da Corrente, situada no Bonito Ecoparque e Vu da
Noiva II (ver figura 8), so apenas alguns exemplos117. A corredeira do Poo da Nga (ver figura 9) e as
grandes formaes rochosas como a pedra do Rodeadouro e a pedra da Rosria tambm podem ser
consideradas elementos da geodiversidade com importante valor esttico.

116

O Sebastianismo representava um movimento mstico-secular, que tinha como crena a volta do rei
Dom Sebastio de Portugal, que surgiria como um Messias, redentor de todos os males, especialmente os sofridos
pela populao mais humilde. No Nordeste brasileiro, o cunho poltico-religioso adquirido pelo movimento
sebastianista levou a desfechos violentos, a exemplo do massacre ocorrido em Bonito em 1820, conhecido como A
tragdia do Rodeador.
117
Est prevista para uma prxima etapa de campo, a catalogao de outros 4 (quatro) potenciais geosstios
em Bonito, so eles: cachoeiras Humayt, Poo Dantas e Encanto, alm do mirante da Serra do Araticum.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

688

Figura 4: Pedra do Rodeadouro, Bonito-PE.

Figura 5: Cachoeira Vu da Noiva, Bonito-PE.

Figura 6: Cachoeira do Paraso, Bonito-PE.

Figura 7: Cachoeira de Barra Azul, Bonito-PE.

Figura 8: Cachoeira Vu da Noiva II, Bonito-PE. Figura 9: Corredeiras do Poo da Nga, Bonito-PE.
O fator econmico relacionado geodiversidade de Bonito se deve ao fato de que muitas
dessas reas j so exploradas comercialmente. Na maioria das cachoeiras, por exemplo, o acesso aos
visitantes realizado atravs do pagamento de taxas que variam de R$ 2 a R$ 5 por pessoa. Em algumas
delas inclusive, montada toda uma infra-estrutura para receber os turistas que vem especialmente para
desfrutar dos banhos de cachoeira e prticas de esportes radicais. Outro exemplo de como a
geodiversidade da regio pode ser explorada para fins econmicos uma pedreira abandonada, que foi
118
utilizada para a extrao de granito no perodo de construo da PE-103 .
118

A PE-103 (tambm conhecida como estrada das cachoeiras) foi inaugurada em julho de 2009 e se trata
do principal acesso s reas de interesse geolgico em Bonito, tendo como alvo principal a atrao de turistas para as
cachoeiras.
Joo Pessoa, outubro de 2011

689
Em conjunto com o valor econmico, encontra-se o valor funcional atribudo aos elementos
da geodiversidade em Bonito. Como exemplo, podem ser citadas as prticas de rappel e canyoning119
realizados na cachoeira Vu da Noiva, que s se tornam possveis em decorrncia do falhamento geolgico
que originou o desnvel da rea. Se considerarmos o valor da geodiversidade in situ, tambm cabe ressaltar
a importncia da pedra do Rodeadouro, uma vez que a mesma representa abrigo natural para um nmero
considervel de espcies da fauna local.
No que diz respeito sua importncia didtica e cientfica, a geodiversidade encontrada em
Bonito revela-se um interessante campo para a pesquisa e o ensino das geocincias, uma vez que seu
substrato rochoso abriga diversas feies que servem de evidencias dos processos evolutivos que deram
origem a muitas das feies existentes na regio. Para a anlise desses elementos da geodiversidade, foram
realizadas observaes de carter macroscpico (in loco) e tambm microscpico (anlise mineralgica das
120
sees delgadas com uso do microscpio petrogrfico) .
Como exemplos das feies geolgicas de carter macroscpico identificadas in situ, podem ser
citados: evidncias de falhas normais e inversas, responsveis pelo surgimento de algumas cachoeiras (ver
figura 10); K-feldspatos arranjados em estrutura de pente ao longo de bordas de resfriamento (ver figura
11); pontos de cisalhamento transcorrente em sentido dextral e sinistral (ver figura 12); estruturas
venuladas ocasionadas pelo intemperismo qumico (ver figura 13); contato de diferentes litologias
ocasionados por eroso diferencial (ver figura 14) e; diversos pontos de ocorrncia de incluses,
especialmente por diques de pegmatito (ver figura 15).

Figura 10: Plano de Falha Normal na Cachoeira Vu Figura 11: Estrutura em pente dos cristais de
da Noiva (Medidas de campo: 275Az/47/185Az).
K-Feldspato ao longo das bordas de resfriamento.

119

O Canyoning pode ser definido como uma espcie de rappel (escalada e/ou descida) praticado em

cachoeiras.
120

Atravs da anlise microscpica as amostras de rochas coletadas foram classificadas como gneas em sua
maioria (granitos e granodioritos), com mineralogia composta basicamente de K-feldaspato, plagioclsio, quartzo e
biotita.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

690

Figura 12: Falha por cisalhamento transcorrente Figura 13: Estrutura venulada dos diques de
sinistral.
pegmatito.

Figura 14: Poro diortica exposta em decorrncia Figura 15: Incluses de pegmatito que se propagam
da eroso diferencial atuando no ortognaisse.
no ortognaisse.
PROPOSTAS DE GEOCONSERVAO PARA OS POTENCIAIS GEOSSTIOS
Como sugestes para auxiliar o ordenamento da atividade turstica j realizada nesses
potencias geosstios presentes no municpio de Bonito, sero enumeradas algumas estratgias de
geoconservao, levando em considerao as caractersticas geolgicas e geomorfolgicas da regio. As
propostas aqui apresentadas serviro como base da implantao do geoturismo na rea e foram agrupadas
em trs grupos especficos, so eles: infra-estrutura, divulgao e valorizao.
Estratgias de Infra-Estrutura A criao de infra-estrutura adequada para a implantao do
geoturismo em Bonito deve ser resultado de parcerias entre instituies de pesquisa/universidades e poder
pblico, as primeiras sendo responsveis pela elaborao de projetos adequados e o segundo, viabilizando
recursos para a execuo desses projetos. Trata-se do passo inicial para facilitar o acesso e interao entre
os visitantes e a geodiversidade da regio. Dentre algumas medidas propostas para esse grupo de aes
encontram-se: abertura de trilhas com diferentes graus de dificuldade para as pedras do Rodeadouro e
Rosria; implantao de escadarias com corrimo121 para facilitar o acesso s cachoeiras Vu da Noiva I e II
e Barra Azul; fixao de placas com informaes a respeito da geologia da rea em linguagem acessvel para
o pblico leigo e; aes de monitoramento para evitar intervenes irregulares, alm de constantes rondas
de policiamento para garantir a segurana dos visitantes e tambm evitar a depredao do patrimnio
geolgico.

121

Deve-se ter o cuidado para que essas obras causem o mnimo possvel de impacto sobre a geodiversidade

local.
Joo Pessoa, outubro de 2011

691
Estratgias de Divulgao Aps a instalao da infra-estrutura adequada necessrio que se d
incio a uma campanha de divulgao desses potenciais geosstios. Essa divulgao deve ser realizada tanto
no mbito local (entre os prprios moradores da regio) como tambm para o pblico de uma forma geral,
de modo que mais pessoas conheam a geodiversidade presente em Bonito e, principalmente, a
importncia da sua geoconservao. Dentre as ferramentas que podem ser utilizadas para esse fim
encontram-se: a criao de website, cartilhas e panfletos informativos a respeito da geodiversidade local;
implantao de um centro de informaes tursticas onde os visitantes podero ter acesso a guias treinados
e orientao sobre principais roteiros geotursticos na regio.
Estratgias de Valorizao A valorizao representa o reconhecimento, especialmente pelos
moradores da localidade, da importncia que a geodiversidade tem para suas vidas, quer seja como
smbolo da identidade do municpio ou como fonte de renda, estudo e lazer. As medidas voltadas para essa
finalidade devem prezar pelo envolvimento das comunidades em projetos que visem o desenvolvimento
sustentvel da regio. Como exemplos podem ser citadas as seguintes estratgias: desenvolvimento de
curso de formao de guias, inclusive de guias-mirins para apresentar o patrimnio geolgico aos visitantes
atravs da viso dos prprios moradores; criao de centro comunitrio onde sero realizadas oficinas de
artesanato cuja temtica ser o patrimnio geolgico da regio e; a interao entre as escolas pblicas e
particulares de Bonito com os elementos da geodiversidade local. Desta forma, as aulas de Cincias,
Geografia e Histria podero desfrutar de verdadeiros laboratrios ao ar livre, onde os processos de
formao das paisagens podem ser observados e interpretados.
CONSIDERAES FINAIS
O municpio de Bonito apresenta um nmero significativo de reas de interesse geolgico que
podem se configurar em geosstios reconhecidos. A devida quantificao e catalogao desses locais
tornam-se muito importante, uma vez que atravs do reconhecimento das especificidades da rea podem
ser desenvolvidas estratgias de geoconservao especficas. Desta forma, o turismo de base geolgica
(geoturismo), pode se configurar em um eficaz mecanismo de desenvolvimento local, atravs do
conhecimento, geoconservao e uso sustentvel desses potenciais geosstios.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ANDRADE, M.G. Caracterizao do Quadro Natural e o Aproveitamento dos Solos do Municpio do
Bonito. Departamento de Cincias Geogrficas, Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 1992.
Monografia de Graduao, 87 folhas.
BRILHA, J.B.R. Patrimnio Geolgico e Geoconservao: a conservao da Natureza na sua vertente
geolgica. Palimage Editora: 2005.
CPRM - SERVIO GEOLGICO DO BRASIL. Diagnstico do Municpio de Bonito, Estado de
Pernambuco. Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por gua Subterrnea. Recife:
CPRM/PRODEEM, 2005.
IBGE. Dados sobre o Municpio de Bonito-PE. IBGE Cidades, 2010. Disponvel em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em: 10/06/2011.
LINS, R.C. As reas de Exceo do Agreste de Pernambuco. Srie Estudos Regionais. n 20. Recife,
SUDENE, 1989.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

692

CARACTERSTICAS GEOFSICAS E AMBIENTAIS DO INSELBERGUE ESPINHO


BRANCO NO MUNICPIO DE PATOS PB
Elenide de SOUSA MARTINS 122
Helena MARTINS FAUSTO123
Edilson MENDES NUNES124

RESUMO
O Inselbergue Espinho Branco pode ser visualizado de muitos locais da cidade de Patos, sendo
marcado pela forma proeminente e de sua superfcie nua de onde provem o nome da formao. Porm,
em uma viso mais aproximada, verifica-se que eles so formados por mosaicos de fisionomias distintas,
resultados das variaes na topografia, no substrato e no microclima. Com o objetivo de Caracterizar os
aspectos ambientais e geomorfolgicos do Inselbergue Espinho Branco. Foi utilizado para a confeco de
mapas, localizao geogrfica e clculo com o aparelho de GPS, juntamente com imagem de satlite do
Google earth, mquina fotogrfica e caderneta de campo para anlises ambientais. Em gabinete foi
realizado o estudo e comparao dos dados registrados em campo. O Espinho Branco possui altitude
mxima de 417 m e um desnvel mdio, para cidade de Patos - PB de aproximadamente de 166 m. Ocupa
uma rea de aproximadamente 12,94 ha. O topo mede cerca de 7.678 m2. O solo do tipo Luvissolos. A
unidade litoestratigrfica onde est inserido o inselbergue o Complexo Granjeiro: ortognaisse (2541 Ma).
O Espinho Branco cercado por diversos corpos de gua, destacando-se dois audes e o rio da Cruz. Foram
identificados vrios tipos de degradaes desde a base at o pice como: queimadas, retirada de madeira
no sop, lixo, eroso, pichaes, ocasionando conseqncias negativas para o meio ambiente do
inselbergue.
PALAVRAS-CHAVE: Geomorfolgico, Meio Ambiente, Degradao.
1 INTRODUO
Os inselbergues so afloramentos rochosos, constitudos de rocha granticos ou gnissicos do
perodo Pr-cambriano, com mais de 50 milhes de anos, normalmente monolticas, que podem ocorrer
isolados ou formar aglomerados densos (POREMBSKI et al., 1998 e POREMBSKI, 2007) considerados como
formas naturais de ilhas terrestres. (POREMBSKI, 2002).
Em termos geolgicos, inselbergues so elementos estveis e muito antigos na paisagem
(BARTHLOTT et al., 1993). So produtos das mudanas climticas (perodos glaciais e interglaciais) que
aconteceram no Tercirio Superior e Quaternrio Inferior (BREMER e SANDER, 2000; ABSBER, 2003).
Os inselbergues quando observados distncia consistem em paisagens homogneas, com
longas extenses de rochas nuas (MEIRELLES et al., 1999; POREMBSKI et al., 2000). Mas quando se tem
uma viso mais aproximada, verifica se que eles so formados por mosaicos de fisionomias distintas,
resultados das variaes na topografia, no substrato e no microclima (POREMBSKI et al., 1996; AGRA
et al. 2002; BURKE, 2002; ARBELEZ e DUIVENVOORDEN, 2004).
A geomorfologia e a geologia dos inselbergues vm sendo estudados em todo o mundo. Esta
geomorfolgica especial constitui laboratrios naturais para resolver algumas dvidas existentes sobre
o passado e o futuro da formao geolgica e a diversidade bitica. Inselbergues oferecem modelos
para anlise a quantitativa da diversidade de espcies e comunidades biticas.
O processo de intemperismo passa por numerosos ciclos climticos e tectnicos, os quais
determinam os nveis relativos da superfcie do terreno e do lenol fretico, controlando a taxa e a
profundidade do intemperismo. Esses ciclos tambm controlam a freqncia e a escala do escoamento
superfcial e, consequentimente a eroso do solo e a formao do inselbergue.

122

Licenciada em Geografia pelas Faculdades Integradas de Patos, discente do Curso de Cincias Agrrias pela
UFPB. elenidemartins@hotmail.com
123
Discente do Curso de Geografia pelas Faculdades Integradas de Patos. helenamartins88@hotmail.com
124
Gegrafo Mestre em Sistemas Agrossilvipastoris pela UFCG. Professor das disciplinas Geomorfologia e
Pedologia pelas Faculdades Integradas de Patos. edimenu@ig.com.br
Joo Pessoa, outubro de 2011

693
O municpio de Patos conhecido por possui relevo predominantemente ondulado suavemente
ondulado, com declividade mdia baixa, com exceo de algumas reas. O seu territrio estende-se pelas
reas aplainadas do serto paraibano, conhecida como depresso de Patos, que faz parte do conjunto de
depresses perifricas e interplanlticas semiridas que circulam o Planalto da Borborema na Paraba. A
esse conjunto Ab Saber denominou de Superfcie Sertaneja e depresso sertaneja (RADAMBRASIL, 1981).
O presente trabalho consiste em estudar os aspectos geoambientais do Inselbergues Espinho
Branco, sua formao geolgica, observando a degradao existente ali. Com o objetivo de Caracterizar os
aspectos ambientais e geomorfolgicos do Inselbergue Espinho Branco. Justifica-se pela importncia dos
estudos nesta rea e pela necessidade de conhecer a riqueza natural que existe no municpio de Patos PB.
2 MATERIAL E MTODOS
A presente pesquisa do tipo exploratrio quali-quantitativa, realizada em campo com
complemento em gabinete.
O municpio de Patos PB se localiza na depresso sertaneja, semirido paraibano, com uma rea
de 506,5m2. Situando-se geograficamente nas coordenadas 70128S e 371648W, com altitude mdia
de 249 m. O clima da regio, conforme classificao de Koppen do tipo Bsh, quente e seco, com chuvas de
vero. O perodo mais seco compreende os meses de julho a fevereiro e o mais chuvoso no perodo de
Maro a Junho. Com uma pluviosidade mdia anual de 600 mm.ano- com potencial de evapotranspirao
acima de 2 000 mm.ano-, e distribuio irregular de chuvas e ainda temperaturas mdias superiores a
25C.
O alvo do estudo foi o inselbergue conhecido por Espinho Branco, localizado a sudoeste do
municpio de Patos - PB.
Foram realizadas visitas ao Inselbergue Espinho Branco, no perodo de Setembro a Outubro de
2010; com a realizao de mapeamento da rea estudada, os tipos de solo, altura, tamanhos e a formao
geolgica e geomorfolgica. Tambm foram levantados os principais problemas ambientais da rea,
analisando o grau de degradao ambiental, decorrente principalmente da interveno antrpica. Como
material de campo foi utilizado um GPS da marca Garmim, com acurcia de aproximadamente 10 m, uma
cmera fotogrfica digital Samsung com 8.0 megapixels, com a qual a autora fotografou todos os presentes
fotos, e caderneta de campo. Aps a pesquisa em campo, foram realizadas anlises estatsticas,
mapeamento da rea e observao e coletas de dados da degradao ambiental existente no Inselbergue
Espinho Branco.
3 RESULTADOS E DISCUSSO
3.1 Localizao e Formao Gelogica
O Inselbergue Espinho Branco em Patos, Paraba, marca a feio geomorfolgica do municpio em
toda sua extenso. a elevao deste tipo com mais proximidade do centro da cidade. Por este motivo a
que est mais sujeita a degradao.
Possui coordenadas geogrficas -07 03' 46,60058'' e -37 17' 58,66796'', com altitude mxima de
417 m e um desnvel mdio, para cidade de Patos - PB de aproximadamente de 166 m. Ocupa uma rea de
aproximadamente 12,94 ha. O solo do tipo Luvissolos (EMBRAPA, 1972). O topo mede cerca de 7.678 m2,
na parte mais alta do Inselbergue.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

694

Figura 1: Imagem de satlite correspondente ao Topo do Inselbergue Espinho Branco. (Fonte: Google Earth,
modificado).

Em seu entorno encontram-se dois audes e o Rio da Cruz. Os dois audes so particulares e
utilizados para irrigao e para consumo animal. E o Rio da Cruz o principal afluente do Rio Espinharas
principal rio da Regio das Espinharas.
A unidade litoestratigrfica onde est inserido o inselbergue o Complexo Granjeiro: ortognaisse
(2541 Ma).
A topografia dos terrenos do municpio de Patos revela cotas situadas entre 240m 580m. O seu
relevo predominantemente ondulado suavemente ondulado, com declividade mdia baixa, com
exceo de reas ao norte onde se localiza a serra de Carnaba, ao sul nos serrotes de Espinho Branco e
Forquilha, centro-oeste no serrote Serra Negra, noroeste nos serrotes Campo Alegre, Trapi, e, serra do
Boqueiro, e, a oeste nos serrotes Pitombeiras, do Caboclo e do Tamandu. Nestas reas a declividade
mdia elevada (CPRM, 2002).
O seu territrio estende-se pelas reas aplainadas do serto paraibano, conhecida como depresso
de Patos, que faz parte do conjunto de depresses perifricas e interplanlticas semiridas que circulam o
Planalto da Borborema na Paraba. A esse conjunto Ab Saber denominou de Superfcie Sertaneja e
depresso sertaneja (RADAMBRASIL, 1981).
3.2 Caractersticas Visuais
O Espinho Branco pode ser visualizado de muitos locais da cidade de Patos, sendo marcado pela
forma proeminente e de sua superfcie nua de onde provem o nome da formao.
Nota-se ainda, principalmente nas laterais, formao vegetal acatingada, que destoa do branco da
pedra nua, dando aspecto nico ao inselbergue.
O Espinho Branco cercado por diversos corpos de gua, destacando-se dois audes e o rio da
Cruz. Podendo observar-se tambm fazendas particulares, com cultiva de plantaes e a criaes de
animais. No topo temos uma vista privilegiada de toda a cidade de Patos, ao norte temos aude Jatob e a
da Barragem da Farinha.

Joo Pessoa, outubro de 2011

695

Figura 2: Imagem de satlite do Inselbergue Espinho Branco limitando a rea da base, destacando o sop. (Fonte:
Google Earth, modificado).

3.3. Descrio geo-ambiental


Atualmente, est crescendo a interveno humana que vem acelerando a degradao ambiental,
provocando desequilbrios ecolgicos de gravidade varivel. No Inselbergue Espinho Branco foram
identificados vrios tipos de degradaes desde a base at o pice como: queimadas, retirada de madeira
no sop, lixo, eroso, pichaes.
Nas visitas realizadas foram identificados vrios focos de queimadas indiscriminadas,
aparentemente sem motivos, pois no se cultiva absolutamente nada naquela rea; que acaba provocando
a eliminao de toda a cobertura do solo, e, por conseguinte, a fonte de alimentos limitando o nmero de
nichos ecolgicos e acarretando ainda a reduo dos recursos alimentares (ARAJO FILHO e BARBOSA,
2000). Neste contexto intensificam-se as repercusses sobre a fauna do solo por est sendo privada de
alimentao e abrigos. (NUNES et al., 2006). Como tambm modificado tanto o estrato herbceo como o
arbustivo-arbreo presente no Inselbergue.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

696

Figura 3: Aspectos de queimadas da vegetao do Espinho Branco.

A extrao de madeira para uso como lenha no sop do Inselbergue vem causando danos
vegetao que tem gerado reas de solo descoberto que esto em processo de desertificao.
Segundo Galindo et al, 2008, a lenha e o carvo vegetal ainda representam importantes fontes de
energia, o que tem contribudo para o desmatamento e o aumento na presso sobre o revestimento
florstico remanescente, sendo notvel no sop do Inselbergue estudado o corte de rvores para retirada
de lenha, que provocou vrios focos de desertificao, provavelmente para utilizao domstica de
moradores dos arredores do Inselbergue e criao de animais (caprinos) em sistema extensivo, que acabam
subindo ali para buscarem alimento e, por conseguinte, causarem degradao, visto que se alimentam dos
brotos e compactam o solo.
Os impactos das atividades humanas esto presentes na paisagem do Espinho Branco com a
poluio no local provocada pelo lixo deixado pelos visitantes que no se preocupa com a preservao.
Nas visitas foram registradas pichaes, restos de construes antigas e ainda, restos de material
de construo e postes. Em muitas reas sobre o inselbergue nota-se o acmulo de material biolgico que
misturado aos detritos formam um substrato que sustenta algumas ervas no local. O lixo se faz presente
em grande parte do Inselbergue, roupas, garrafas de vidro e pets, e sacolas so os principais materiais
entrados, provocando vrios problemas s formas de vida existente.

Joo Pessoa, outubro de 2011

697

Figura 4: Presena de lixo entre a vegetao do Inselbergue Espinho Branco.

A Paisagem do Espinho Branco deslumbrante, com diversidade nos aspectos geogrficos da


regio, possui uma viso ampla de toda a redondeza, sendo um ponto turstico bastante visita pela
populao local, porm sem nenhum cuidado por parte dos visitantes. O pblico que visita o Espinho
Branco bastante diversificado, onde todos busca esto em contato com a natureza.
Freqentemente se encontra grupos de pessoas fazendo acampamento no topo, trilhas e Escaladas
nos finais de semana. O local tambm serve para a prtica do rapel, promovidas pelos grupos de rapel da
cidade de Patos.
O Espinho Branco no possui nenhuma proteo ambiental, por isso os visitantes fazem fogueiras,
que muitas vezes provocam queimadas, destri as rvores, principalmente vo deixando grande
quantidade de lixo por toda parte, as pichaes j fazem parte da viso na pedra, pois pode ser
encontradas em todos os lados do Inselbergue.
O Inselbergue Espinho Branco fica exposto, sujeito ao do vento e de outros fatores que podem
experimentar temperaturas muito baixa durante as noites frias, enquanto que a temperatura pode ser
bastante elevada durante os dias quentes e ensolarados. Esta grande variao local de temperatura e
umidade durante o dia influencia bastante no processo de eroso.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

698

Figura 5: Processo de eroso no Inselbergue Espinho Branco

Sobre a rocha desnuda do Inselbergue so encontradas reas cobertas por uma camada de solo
bastante profunda sendo habitados por algumas espcies endmicas e raras da caatinga. Os solos gerados
se formam a partir da decomposio do arenito atravs da ao elica, formando depsitos arenosos ou
pedregosos rasos, podendo se tornam mais profundos onde a topografia permite.
Formando solos pouco profundos com condies ideais para as plantas, e muitas espcies crescem
nas rochas, em fissuras ou depresses da rocha onde a acumulao de areia, pedregulhos e outros detritos,
juntamente com o hmus gerado pela decomposio de restos vegetais.
Na face da pedra nota-se ainda o intemperismo do tipo esfoliao qumica e fsica devido
presena de organismos e a ao elica. Que atuando de fora para dentro, destruindo a rocha,
desagregando e decompondo os seus minerais provocando o surgimento de blocos de rochas em diversos
graus de alterao, juntamente com ao elica provocando o processo de eroso.
O relevo varia de plano a fortemente ondulado prximo aos divisores de gua (Planalto da
Borborema), drenada pelo Rio Espinharas, que formado pelos rios da Farinha e da Cruz, a vegetao da
rea do municpio caracterizada como Caatinga. Os solos respondem s condies de semiaridez e so, na
sua maioria, rasos, pedregosos e fortemente condicionados pelas rochas-mes. Os mesmos no esto
protegidos contra as aes metericas, por apresentarem uma vegetao pouco densa e caduciflia que
favorece a ao mecnica do escoamento difuso e em lenol. Esses processos so primordiais na
morfognese semirida.
4 CONCLUSES
Pelo exposto conclui-se que o Inselbergue denominado Espinho Branco, possui uma altitude de 417
m, que marca a feio geomorfolgica do municpio de Patos em toda sua extenso sendo marcado pela
forma proeminente e de sua superfcie nua, com um desnvel mdio para a cidade de 166 m. Sofre uma
forte presso antrpica, caracterstica de qualquer rea prxima ao permetro urbano.
Em seu entorno encontram-se dois audes e o rio da Cruz que o principal afluente do Rio
Espinharas, nota-se uma formao vegetal acatingada, que destoa do branco da pedra nua, dando aspecto
nico ao inselbergue.
O Inselbergue Espinho Branco sofre um grande processo de degradao, sendo identificados vrios
tipos em toda a sua extenso, como: queimadas, retirada de madeira no sop, poluio por lixo, ocupao
turstica predatria, eroso e pichaes.

Joo Pessoa, outubro de 2011

699
A beleza do Inselbergue marcante tanto na paisagem que marca a feio da cidade, como a vista
do topo que possui uma paisagem maravilhosa da natureza marcante junto cidade, onde podemos est
em contato com a natureza.

REFERNCIAS
AB SBER, A.N. Os domnios da Natureza no Brasil: Potencialidades Paisagsticas. 3. Ed. So Paulo:
Ateli Editorial, 2003. 159 p.
AGRA, M.F. et al. Levantamento Flortico Preliminar do pico do jabre, Paraba, Brasil. In: PORTO, K.
et al. ( eds.). Brejo de altitude em Pernambuco e Paraba. Histria Natural, Ecologia e conservao.
Ministrio do Meio Ambiente: Braslia: 2002, p. 324.
ARAJO FILHO, J. A.; BARBOSA. T. M. L. Sistemas Agrcolas Sustentveis para a Regies do Semiridas. Sobral: Embrapa-Caprinos, 2000, 18 p.
ARBELEZ, M. V; DUIVENVOORDEN, J. F. Patterns of plant species composition on Amazonian
sandstone outcrops. In: Veg. Sci. Knivsta. Colombia, v.15, 2004. p.181-188.
BARTHLOTT, W.; GROGER, A.; POREMBSKI, S. Some remarks on the vegetation of tropical
inselbergs: diversity and ecological differentiation. In: Biogeographica, v. 69, n. 3, 1993, p. 105-124.
BREMER, H.; SANDER, H. Inselbergs: geomorphology and geoecology. In: POREMBSKI, S.;
BARTHLOTT, W. (Eds.). Inselbergs: biotic diversity of isoleted rock outcrops in tropical and temperate
regions. Berlin: Springer-Verlag, 2000, p. 7-35.
BURKE, A. Islands-matrix relationships in Nama Karoo inselbergs landscapes. Part I: Do inselbergs
provide a refuge for matrix species? In: Plant Ecology. 2002. p. 79- 90.
CPRM Servio Geolgico do Brasil. Programa de gua Subterrnea para o Semi-rido Brasileiro.
Recife: CPRM, 2002. Disponvel em: < http://proasne.net/ PA RSNE Final. Pdf> Acesso: 10 set 2010.
GALINDO, I.C.L.; RIBEIRO, M.R; SANTOS, M.F.A.V.; LIMA, J.F.W.F.; FERREIRA, R.F.A.L. Relaes solovegetao em reas sob processo de desertificao no municpio de Jataba, Pe. R. Bras. Ci. Solo, 32:112831296, 2008.
MEIRELLES, S. T.; PRIVELLO, V. R; JOLY, C. A. The vegetation of granite rock outcrops in Rio de
Janeiro, Brazil, and the needs for its protection. In: Environmental Conservartion, 1999, p. 10 - 20.
NUNES, L. A. P. L.; ARAJO FILHO, J. A.; MENEZES, R. I. Q. Impacto da Queimada e do Pousio sobre a
qualidade de um solo sob a caatinga do semi-rido nordestino. Revista Caatinga, v.19, n. 2, p. 200-208,
2006.
POREMBSKI, S. et al. Islands: Habitats. In: POREMBSBI, S.; BATHLOTT, W. (Eds). Inselbergs: biotic of
isolated rock outcrops in tropical and temprate regions. Berlin: Ecological Studies, 2000, p. 49-66.
POREMBSKI, S. Biodiversity and vegetation of small-sized inselbergs in a West African rain Forest
(Tai, Ivory Coast). Biogeography: Oxford, v.23, n. 1, 1996, p. 47-55.
____. Tropical inselbergs: habitat types, adaptative strategies and diverversity patterns. Revista
Brasil. Bot. 2007, p. 579 - 586.
____. Terrestrial habitat islands as model systems for biodiversity research. In: ARAJO, E. L. et al
(Eds.). Biodiversidade conservao e uso sustentvel da flora do Brasil. UFRPE: Recife: 2002, p. 158 - 161.
POREMBSKI, S.; MARTINELLI, G.; OHLEMULLER, R.; BARTHLOTT, W. Diversity and ecology of
saxicolous vegetation mats on inselbergs in the Brazilian Atlantic Rainforest. In: Biodiversity Research, v.
4.,1998, p. 107-119.
RADAMBRASIL. 1981. Levantamento de Recursos Naturais. Ministrio das Minas e Energia, 25,
Folha SD-22/Paraba.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

700

EVOLUO E CARACTERIZAO GEOMORFOLGICA DE JUAZEIRO DO


NORTE/CE: UMA CONTRIBUIO AO ESTUDO DOS IMPACTOS
AMBIENTAIS URBANOS
Geislam Gomes de Lima
Graduando em Geografia URCA, Crato/CE. Integrante do Laboratrio de Geomorfologia e Pedologia (GeoPed),
geislamgomes@gmail.com
Francisco Marciano de Alencar da Silva
Graduando em Geografia URCA, Crato/CE. Integrante do Laboratrio de Geomorfologia e Pedologia (GeoPed),
maciobrotheralencar@gmail.com
Simone Cardoso Ribeiro
Orientadora. Gegrafa, Mestre e Doutoranda em Geografia, Prof. Adjunta Depto. Geocincias URCA, Crato/CE,
Coordenadora GeoPed, simonecribeiro@oi.com.br

RESUMO
O presente trabalho versa sobre as formas de relevo da cidade de Juazeiro do Norte, enfatizando
sua morfognese tpica de regio semi-rida e reconhecendo a ao antrpica como integrante do sistema
ambiental. Apresenta a evoluo morfoestrutural da regio e sua esculturao pela ao do clima semirido, e se aprofunda nas formas e processos atuais, tendo o meio urbano em crescimento como um dos
fatores principais para sua modificao morfolgica.
Palavras-chave: Formas de relevo; Semi-rido; Ambiente urbano; Pediplanao
ABSTRACT
This paper describes the landforms of the town of Juazeiro do Norte, emphasizing its
morphogenesis typical semi-arid region and recognizing the human action in the environmental system.
Shows the regional morphostructural evolution and his sculpture by the action of the semi-arid climate,
and deepens the current forms and processes, with the urban growth as a major contributing factor to their
morphological modification.
Keywords: Landforms; semi-arid; urban environment; pediplanation.
INTRODUO
A utilizao do espao pelo homem requer um conhecimento sobre seus processos naturais e da
forma de relao sociedade-natureza, tendo em vista a sua gesto. A Geomorfologia neste contexto vem
auxiliar na anlise da ocupao e apropriao das formas de relevo e os aspectos naturais envolvidos, com
fins de planejamento ambiental.
Este trabalho objetiva fazer uma caracterizao das formas e processos geomorfolgicos no stio
urbano de Juazeiro do Norte/ CE, resgatando a evoluo e descrevendo a dinmica atual, partindo do
pressuposto que o entendimento de tais processos fundamental no planejamento de uso e ocupao do
solo.
Ambientado no clima semi-rido, Juazeiro do Norte est entre as cidades que mais crescem no
interior do Nordeste. Se no incio de sua edificao, o desenvolvimento foi impulsionado pelas romarias,
voltadas figura do Padre Ccero, hoje outros ms atraem investimentos: indstria, principalmente
caladista, comrcio de abrangncia regional, servios de educao, sade entre outros. Neste sentido o
nmero de habitantes e, conseqentemente, a ocupao, aumentam. A populao contabilizada, segundo
IBGE (2010), com 249.936 habitantes e a rea de influncia, ultrapassando os limites estaduais, caracteriza
Juazeiro do Norte como uma cidade mdia em crescente desenvolvimento.
A ocupao urbana do solo nem sempre levam em conta os aspectos naturais, principalmente a
dinmica do relevo. Douglas (2004) afirma que a construo urbana envolve a remoo da cobertura
vegetal e escavao do solo e muitas vezes a camada de rocha. Nas etapas de preparao para a edificao,
o solo fica desprotegido, acarretando muitas vezes em desastres ambientais. As eroses urbanas nos
espaos urbanos ainda no totalmente consolidados so comuns e representa risco ambiental para os
moradores.

Joo Pessoa, outubro de 2011

701
A cincia geomorfolgica vem dar bases para a caracterizao ambiental da rea a ser ocupada e
subsidiar melhor forma de tratamento do relevo para as construes, identificando reas de risco que no
devem ser ocupadas.
Na caracterizao geomorfolgica usaremos o mtodo sistmico, mais indicado para a tarefa de
analisar os componentes paisagsticos sob uma tica integradora.
Localizao
Juazeiro do Norte est localizado na Regio do Cariri, ao sul do estado do Cear (Figura 1), a 396 km
de distncia, em linha reta, da capital do estado, Fortaleza. Tem como cidades limtrofes, Crato a oeste,
Barbalha a sul, Caririau a norte e Misso Velha a leste. Suas coordenadas geogrficas so 71247S e
391855W. Possui uma rea de 248,55 km, sendo que em sua maior parte ocupada pela malha urbana a
uma taxa de urbanizao de 95,3% (IPECE, 2010).

ESTADO
DO CEAR

FIGURA 1 Mapa de Localizao de Juazeiro do Norte.


Evoluo e caracterizao geomorfolgica
A estrutura do relevo terrestre resultado de intensos eventos geolgicos, e associadas a
condies climticas do passado e de atuais situaes ambientais, resultam nas formas de relevo. O
movimento das placas litosfricas e a alternncia do clima global dinamizaram a evoluo das formas de
relevo numa escala global e em tempo geolgico (milhes de anos). Outros fatores intervm no relevo no
tempo atual e em escalas regionais e locais, como a presena dos seres vivos (vegetao e ao antrpica
principalmente). Assim, possvel averiguar uma evoluo geomorfolgica a partir de estudos de
paleorelevos e da investigao de condies naturais, principalmente da tectonia e estudos das condies
climticas anteriores. E para o tempo presente, os estudos do Quaternrio e o uso e manejo do solo vm
auxiliar na investigao.
O Nordeste brasileiro marcado por eventos tectnicos antigos que formaram as principais zonas
de falhas e cisalhamentos, assim como eventos Fanerozicos125 que originaram as bacias sedimentares.
Podemos destacar como um dos primeiros e mais importantes eventos nesta regio a Orognese
Brasiliana, que Trompette (1994) apud Claudino-Sales e Peulvast (2007) explica como um evento tectnico
do Neoproterozisco, de amplitude continental, que amalgamou o bloco continental Gondwana, formado
pelo que hoje, separados, representam a frica, a Amrica do Sul, a Austrlia, a ndia e a Antrtida. O
confronto desta juno resultou numa zona de dobramentos e falhas conhecida por Provncia Borborema,
ao qual Ponte e Ponte-Filho (1996, p. 25) tambm chamam de Dobramentos do Nordeste e definem como
uma feio tectnica regional, Pr-Cambriana, com estruturao bastante complexa, dominada por
intensos dobramentos, segmentada por grandes geofraturas e intrudida por batlitos gneos, em sua
maioria granitides.
Claudino-Sales e Peulvast (2007) afirmam que aps a Orognese Brasiliana, a Provncia Borborema
teve seu perodo de calmaria interrompido no Mesozico, quando se deu incio a disperso da Pangea, a
125

"Denominao dada ao perodo geolgico que compreende as eras Paleozica, Mesozoica e Cenozica,
quando a vida comea a aparecer e se expressa em suas vrias formas" (Guerra e Guerra, 2001, p. 268)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

702
formao do Oceano Atlntico, a partir da individualizao do continente Sul-Americano e a formao da
margem continental do Nordeste brasileiro.
O movimento litosfrico que uniu os continentes num nico bloco de massa (Pangea) separa os
blocos sul-americano e do que hoje corresponde frica, fazendo da poro nordeste, a partir deste
evento de difuso, uma margem continental passiva. Este tipo de margem continental se difere das
margens ativas, e forma-se, segundo Tassinari et al (2009) da fragmentao de continentes. Para este autor
estas margens fraturadas so caracterizadas pela subsidncia de blocos por falhamento, o que originam as
bacias sedimentares.
A formao do oceano Atlntico se deu por rifte continental. Os processos de rifteamento da parte
sul de Gondwana e pores meridionais da Amrica do sul e da frica, tiveram sua ocorrncia h 140 M.a,
no final do Jurssico e incio do Cretceo Inferior. A separao setentrional ocorreu ainda no Cretceo
Inferior, h 120 M.a, tendo a completa e definitiva separao ocorrida por volta de 100 M.a (Matos, 1992
apud Maia, 2005).
Mesmo antes da total separao da Amrica do Sul e da frica, houve, a partir do processo de
estiramento e afinamento crustal a ocorrncia de riftes nesta rea, que no evoluram e abortaram,
permanecendo como reas intracontinentais deprimidas, recebendo sedimentao. Tal sedimentao veio
como resultado da eroso dos relevos da borda dos riftes como os de Tucano-Jatob e Cariri-Potiguar
(CLAUDINO-SALES, 2002 apud MAIA, 2005).
A sedimentao depositada ao longo do Mesozico no eixo Cariri-Potiguar formou as bacias
Potiguar e Araripe. Analisando esta ltima, Ponte e Ponte Filho (1996) a descreve como sendo formada por
dois compartimentos superpostos: na parte inferior, encontra-se uma zona de riftes, encravada no
embasamento pr-Cambriano, e na parte superior, uma cobertura tabular, sub-horizontal, encobrindo
discordantemente a bacia do tipo rifte, e as reas adjacentes do embasamento pr-Cambriano.
Seguindo uma evoluo morfotectnica da bacia do Araripe, pode-se dividir, abordando as suas
seqncias estratigrficas, em trs momentos:
Pr-rifte: Seqncia composta pelas formaes Brejo Santo e Misso Velha (Ponte e Ponte Filho,
1996 e Assine, 2007), marcado pela subsidncia mecnica produzida pelo estiramento litosfrico visco
elstico (Assine, 2007). Ponte e Ponte Filho (1996) comentam que esta fase foi caracerizada por uma lenta
subsidncia regional e admitem com ressalvas que este estgio tenha perdurado na Bacia do Araripe por 24
milhes de anos. nesta etapa que a unidade lito-estratigrfica Grupo Vale do Cariri registrada, tendo as
formaes Brejo Santo, Misso Velha e Abaiara como representantes.
Sin-Rifte: Estudos afirmam em uma durao de 12 milhes de anos (141 a 129 Ma) na Bacia do
Araripe, e durante este tempo um pacote sedimentar com 636 metros de espessura, dos quais, 480 metros
teriam sido removidos por eroso (Ponte e Ponte Filho, 1996). Assine (2007) afirma que o estgio teve
incio com a deposio da sequncia correspondente Formao Abaiara. O autor afirma que processos
erosivos predominavam at o Eoaptiano, causando eroso dos blocos altos e peneplanao do relevo,
posteriormente recoberto pelas unidades da seqncia ps-rifte I (p. 377).
Ps-Rifte: Este ltimo ciclo sedimentar representado pelo Grupo Araripe. Ponte e Ponte Filho
(1996) explicam sobre cada camada estratigrfica nesta ltima fase: Formao Rio da Batateira, quando
comeou a deposio dos sedimentos flvio-lacustres; Membro Crato, da Formao Santana, com litofcies
carbontico-argilosa, originada da sedimentao gradual que se fez sob ambiente lacustre; o Membro
Ipubi, formada por uma episdica ingresso marinha, no meso-Albiano, provavelmente vinda do oeste; esta
ingresso marinhas tambm influenciou a formao das litofcies argilo-carbonticas de ambiente
marinho-raso, do Membro Romualdo e as litofcies terrgenas, de ambiente transicional litorneo, da
Formao Arajara. Depois, com a fase de regresso, deu-se lugar sedimentao fluvial da Formao Exu,
(provavelmente no final do Albiano ou incio do Cenomaniano. Para Peulvast e Claudino-Sales (2006), no
ps-rifte, no Cretcio Superior, h um soerguimento regional, o que pode favorecer um aumento nas taxas
de eroso. Os autores associam tambm as reas de aplainamento s flutuaes de condies climticas
midas e secas durante o Cenozico.
Para Oliveira et al (2009) a era Mesozica foi marcada por um clima muito quente. As temperaturas
globais mdias situavam-se 8 a 10 C acima das atuais havia alta concentrao de CO2 na atmosfera, o nvel
do mar encontrava-se 100 a 200 m acima do atual, e desertos ocupavam extensas reas dos continentes.
No Cretceo, aps o desmantelamento da Gondwana, as massas continentais estavam em latitudes baixas
Joo Pessoa, outubro de 2011

703
ou mdias, e uma tectnica ativa colocava grandes quantidades de CO2 na atmosfera, intensificando o
efeito estufa. Os extensos mares rasos e os oceanos absorvem grande parte de energia solar incidente, o
que diminui a quantidade de luz refletida pela superfcie da Terra.
Na era Cenozica h uma diminuio contnua da temperatura. O Paleoceno e Eoceno (de 65 a 34
Ma) esteve relativamente quente e, h cerca de 35 Ma a temperatura caiu bruscamente. H registro de
flutuaes cclicas, mas com tendncia de diminuio da temperatura. (Oliveira et al, 2009)
Ponte e Ponte Filho (1996) ainda indicam que a Provncia Borborema vem sofrendo um suave
soerguimento epirogentico desde o Neo-Tercirio.
A geomorfologia atual
O resultado desta evoluo e de tempos alternados de mudanas climticas, acomodao e
desgaste de material, geraram a Chapada do Araripe, uma feio geomorfolgica tabular e que marca a
topografia regional do sul cearense.
Na geomorfologia da Bacia do Araripe, podem ser reconhecidas trs zonas: Zona de Chapada, Zona
de Talude e Zona de Pediplano (Brasil, 1996). Esta primeira tambm denominada Chapada do Araripe,
tendo a superfcie quase plana, constituda por arenitos da Formao Exu. Bordejada por escarpas abruptas
e erosivas, levemente inclinada para a poro norte.
A Zona de Talude corresponde ao sop da Chapada e se estende at o limite com a depresso. Lima
(2008), afirma que enquanto a estrutura do topo da Chapada consegue se manter preservada, seus
rebordos se apresentam fortemente dissecados. Atualmente as reas de encosta so alvo de ocupao. A
preocupao ambiental neste setor se d, entre outros fatores, pela retirada da cobertura vegetal,
compactao e selagem do solo que aumentam a eroso e a quantidade de sedimentos e volume dgua
que chegam s reas de pediplano e baixa encosta. Em dissertao de mestrado sobre a micro-bacia do rio
Grangeiro na cidade do Crato/CE, Ribeiro (2004), destaca a ocupao nas reas de encosta que modificam o
relevo e tornam reas propcias aos impactos geomorfolgicos diversos, como eroso dos solos (desde
pequenas ravinas voorocas), movimentos gravitacionais de massa, e enchentes no vale do referido rio.
Estes problemas podem ser observados tambm em outras reas e municpios, que sofrem como
alteraes nesta poro da encosta.
A Zona de Pediplano a poro mais deprimida.
A sua rea de domnio se desenvolve desde a regio do Crato - Juazeiro do Norte - Barbalha Misso Velha, at os municpios de Abaiara, Milagres e Mauriti a leste, e Brejo Santo, Porteiras e Jardim ao
sul, mostrando uma topografia, com altitude mdia em torno de 400 metros, caracterizada por morros
alongados entremeados por vales amplos de fundo plano. (Brasil, 1996, p. 18)

A cidade de Juazeiro do Norte, inserida nesta ltima Zona, compe o Grupo Vale do Cariri, estando
sobre a formao Misso Velha. Tal Formao teve seu surgimento na sequncia pr-rifte (Assine, 2007;
Ponte e Ponte Filho, 1996).
Em sua evoluo e formao geomorfolgica, Juazeiro do Norte tem caractersticas do relevo semirido. Este tipo de relevo comum na maior parte do territrio nordestino e tem o pediplano como forma
resultante da dinmica evolutiva.
Para Ribeiro et al (2010, p. 130), pediplano o nome dado a uma regio aplainada em clima rido
ou semi-rido caracterizada por se originar da coalescncia de pedimentos, litossolos e/ou extensos
afloramentos. Os autores enfatizam que para explicar tal formao de relevo, preciso levar em
considerao o clima tpico da regio, focando nos estudos da Geomorfologia Climtica. As precipitaes
nestas reas so espordicas e concentradas, com alto nvel de insolao, por se localizar numa zona
equatorial, o que aumenta os nveis de evapotranspirao e o albedo.
Neste sentido, a morfodinmica nestas condies climticas e com as caractersticas morfolgicas
do semi-rido, tem como componentes a desagregao mecnica das rochas e o escoamento superficial; os
processos biofsicos tm a, importncia secundria (Ribeiro et al, 2010).
A precipitao concentrada e irregular no semi-rido tem atuao direta na morfognese. O grande
volume de chuvas em pouco tempo atua tanto no intemperismo fsico das rochas, quanto no seu
transporte pelo escoamento at chegar numa rede de drenagem. As chuvas elevam o nvel e a intensidade
do fluxo fluvial que carrega o material depositado na base do relevo, atuando diretamente na denudao
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

704
das vertentes e na instabilidade da base e posterior movimento gravitacional associado eroso hdrica.
Esta escavao das vertentes resulta no recuo paralelo at restar o relevo residual.
A eroso fluvial (mais forte quando o talvegue est assoreado) tende a alargar o leito do rio e
torn-lo mais raso. Neste processo o relevo circundante tambm tende a aplainar, salvo as formas que
apresentam uma litologia mais resistente e diferenciada, que resistem ao trabalho de desgaste. Este ltimo
relevo chamado de inselberg, ou relevo residual.
Em Juazeiro do Norte possvel averiguar esta dinmica nas suas formas de relevo. No geral se
apresenta com baixa declividade, cortado por drenagens rasas que constitui leitos largos e vertentes
rebaixadas.
A cidade apresenta em seu territrio uma malha urbana densa construda sobre a depresso. Na
sua poro norte h um relevo residual com aproximadamente 550 metros de altitude, composta por
rochas granticas datadas do Pr-Cambriano. Tal relevo formado de uma intruso grantica deste perodo se
apresenta moderadamente dissecado e resultado tanto do soerguimento regional, quanto de tempos de
eroso, modelao e degradao por fatores externos. A Colina do Horto, como comumente chamada
ocupado pelo bairro Horto e no topo, um complexo religioso que atrai milhares de romeiros e turistas
todos os anos, sendo o principal carto postal da cidade. Este relevo (Figura 2) marca a topografia de
Juazeiro do Norte, que, associado ao pediplano, compe seu quadro morfolgico.

FIGURA 2 Juazeiro do Norte: centro urbano na rea pediplanada e relevo residual ao fundo.
Fonte: GURGEL, 2011.
Sendo o clima e os canais fluviais os principais fatores naturais externos de modelagem do relevo
nesta regio, vlido comentar sobre a precipitao pluviomtrica e a rede de drenagem.
Juazeiro do Norte mantm uma mdia anual de precipitao pluviomtrica de 925 mm (Silva et al,
2010). Tendo influncia climtica direta das chuvas orogrficas ocasionadas pelo barramento da umidade
vinda do litoral que precipita na rea de barlavento da Chapada do Araripe, a cidade apresenta nveis
pluviomtricos maiores que a mdia do semi-rido nordestino, onde para Nimer (1989, apud RIBEIRO et al ,
2010), no ultrapassa a isoieta de 800 mm. No entanto, as demais caractersticas climticas da cidade se
igualam ao clima tpico do semi-rido, como a alta insolao e conseqentemente a alta evapotranspirao,
e a concentrao das precipitaes, que neste caso ocorrem nos meses de janeiro fevereiro maro. Para
ilustrar esta concentrao, tem-se maro como ms mais chuvoso, como uma mdia de 256 mm e como
ms mais seco, agosto com 00 mm.
As principais drenagens naturais neste espao so constitudas pelo rio Salgadinho e pelo riacho das
Timbabas (Figura 3), seu principal afluente no municpio. O rio Salgadinho faz parte da sub-bacia
hidrogrfica do rio Salgado e atravessa a parte norte do meio urbano, no sentido W E. Este se forma da
confluncia dos Rios Batateiras e Grangeiro, na cidade de Crato, recebendo ainda, fluxo dos rios Saco Lobo
Joo Pessoa, outubro de 2011

705
e Salamanca. O leito do Salgadinho apresenta-se assoreado, com talvegue raso, e por vezes com fluxo
efmero. Os interflvios so de baixa declividade, tendo a sua vertente ao sul crescente ocupao
domiciliar, comercial e industrial.

FIGURA 3 Principais drenagens que compem o rio Salgadinho. Fonte: Adaptado de Google Earth
2011.
A drenagem do riacho das Timbabas atravessa um ambiente totalmente urbanizado, no sentido S
N de Juazeiro do Norte. Nesta rea se forma uma vrzea, tendo no vale um fluxo difuso e disperso,
concentrando-se a jusante quando se conflui com o Salgadinho, na poro norte do stio urbano. Seu leito
muito favorvel a enchentes, mantendo, mesmo em poca de estiagem, os solos midos, garantindo
instabilidade s ocupaes. Suas vertentes so totalmente ocupadas por oito bairros (Ftima, Pio XII,
Franciscanos, Timbabas, Limoeiro, Jos Geraldo da Cruz, Joo Cabral, Lagoa Seca). O padro destas
construes acompanha o restante da maior parte da cidade, com casas ligadas entre si, com a maior parte
das ruas com pavimentao asfltica. Este tipo de cobertura no solo, aumenta o escoamento superficial
(run off), tanto pelas casas, que escoam a gua da chuva pelas calhas nos telhados, quanto pelo solo
asfaltado, que aumenta a velocidade e poder destrutivo do escoamento. O resultado deste processo so
eroses e movimentos gravitacionais de massa prximas ao leito do rio, recebendo todo o fluxo e detrito
das encostas. As casas mais prximas a estas reas muitas vezes tem a sua estrutura condenada tanto pela
eroso, quanto pelas inundaes.
Se as condies naturais do semi-rido modelam o relevo de forma diferenciada de outros meios
morfoclimticos, a ao humana igualmente atua neste tempo presente numa dinmica geomorfolgica
prpria.
Segundo Ministrio da Integrao Nacional (2005) o semi-rido brasileiro maciamente ocupado
por 1.133 municpios. Logo, vlido ressaltar que as construes, a modelagem da topografia, a retirada da
cobertura vegetal para a ocupao, tambm atuam na atual morfognese do semi-rido.
As caractersticas geomorfolgicas de Juazeiro do Norte so resultado tanto da evoluo do
processo de pediplanao, ambientado na depresso sertaneja, quanto das atuais instalaes e fluxos
urbanos.
A evoluo geomorfolgica de Juazeiro do Norte recebe interferncia tanto de atividade tectnicas
(foras endgenas), quanto das foras exgenas, principalmente do clima e suas mudanas ao logo do
tempo geolgico. No entanto, atualmente, podemos falar de outro fator modelador do relevo: a presena
antrpica, com suas construes e fluxos. Suguio (2010) explica que o Quaternrio (1,81 milhes de anos
at a atualidade) pode ser denominado como a Idade do Homem, por ser o tempo geolgico caracterizado
pela intensificao das atividades antrpicas. Especificamente dentro deste perodo, h a poca do
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

706
Holoceno (10 mil anos), que marca o surgimento do Homem. O estudo do Quaternrio tido pelo autor,
como sinnimo de estudos ambientais, por se tratar de um tempo onde a relao homem meio interfere
diretamente na evoluo dos componentes geolgicos/ geomorfolgicos.
Na cidade em questo um olhar sobre os processos geomorfolgicos atuais mostra uma dinmica
em escala local, onde a ao humana interfere com mais intensidade. So encontrados sulcos, ravinas e
voorocas ativadas, principalmente por causa da concentrao do escoamento sobre determinadas reas.
Assim como a retirada da cobertura vegetal que protege o solo, que se torna fragilizando sob a ao das
chuvas e da eroso por salpicamento (splash) e evoluindo com a concentrao para as ravinas e voorocas.
Estas cicatrizes erosivas so encontradas principalmente onde a ocupao ainda no est
totalmente efetivada, sobrando espaos vazios (ruas sem calamento e loteamentos) e as guas pluviais
atuam no transporte de sedimentos.
Pode-se observar que entre os espaos em crescimento acelerado, h a rea periurbana de Juazeiro
do Norte, que vai de encontro cidade de Crato. Nota-se uma urbanizao ainda no totalmente
consolidada, se comparado s outras reas da cidade, mas evoluo urbana intensa. Principalmente nos
bairros So Jos, Antnio Vieira, Tringulo e Frei Damio.
CONCLUSO
As caractersticas do relevo de Juazeiro do Norte apresentam semelhanas da morfognse tpica do
semi-rido. A pediplanao o principal processo de formao e tem como resultado reas deprimidas,
com baixas amplitudes altimtricas, salvo o relevo residual do pequeno macio, onde est o complexo
religioso do Horto.
Ao longo de sua evoluo se manteve influenciado pelas atividades tectnicas regionais e
flutuaes climticas do Cretceo, mas no tempo presente tem como agente modelador as ocupaes
urbanas. As construes modificam a arquitetura do relevo, e conseqentemente o escoamento superficial,
a direo das drenagens, a cobertura vegetal.
Este trabalho vem auxiliar no ordenamento do territrio urbano no tocante as formas de relevos e
processos associados. A caracterizao sendo a etapa inicial da anlise ambiental o primeiro olhar sobre a
geomorfologia local.
REFERNCIAS
ASSINE, M. L. Bacia do Araripe. Boletim de Geocincias da Petrobrs, 2007. Vol. 15(2): 371-389.
BRASIL. MME. DNPM. PROGRAMA NACIONAL DE DISTRITOS MINEIROS. Projeto avaliao
hidrogeolgica da Bacia Sedimentar do Araripe. Recife, DNPM, 1996.
CLAUDINO-SALES, V.; PEULVAST, J. P. Evoluo morfoestrutural do relevo da margem continental
do estado do cear, nordeste do brasil. Caminhos da Geografia, Uberlndia, v. 7, n. 20, p. 1-21, Fev. 2007.
DOUGLAS, I. Urban geomorphology. In A. S. GOUDIE (ed.) Encyclopedia of Geomorphology, v.2.
London: Routledge, 2004. p. 1084-1088.
GUERRA, A. J. T.; GUERRA. A. T. Novo Dicionrio geolgico-geomorfolgico. 2.ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
GURGEL, A. Fotos Juazeiro do Norte. Disponvel em http://www.mundi.com.br/Fotos-Juazeiro-doNorte-2711686.html. Acesso em abril de 2011.
IBGE Cidades, 2010. Disponvel em http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Acesso
em 01 de abril de 2011.
IPECE. Perfil bsico municipal: Juazeiro do Norte. Fortaleza, 2010.
LIMA, F. J. Proposta de zoneamento geoambiental do municpio de Crato/CE. Natal/RN:
PPGg/CCHLA/UFRN, 2008.( Dissertao - mestrado em Geografia). 175 p.
MAIA, R. P. Plancie Fluvial do Baixo Jaguaribe: Evoluo Geomorfolgica, Ocupao e Anlise
Ambiental. Fortaleza/CE: UFC, 2005. (Dissertao -mestrado em Geografia).
MIN (Ministrio da Integrao Nacional). Relatrio final do grupo de trabalho interministral para
redelimitao do semi-rido nordestino e do polgono das secas. Braslia, 2005. 118 p.
OLIVEIRA, S. M. B.; CORDANI, U. G.; FAIRCHILD, T. R. Atmosfera, clima e midanas climticas. In
TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. (org.) Decifrando a terra. 2 ed. So Paulo:
Companhia Editora Nacional, 2009. 108 124 p.
Joo Pessoa, outubro de 2011

707
PEULVAST, J. P; CLAUDINO-SALES, V. Reconstruindo a evoluo de uma margem continental
passiva: um estudo morfogentico do nordeste brasileiro. In SILVA, J. B.; LIMA, L. C. ELIAS, D. (orgs.)
Panorama da geografia brasileira. So Paulo: Annablume, 2006.
PONTE, F. C.; PONTE FILHO, F. C. Estrutura geolgica e evoluo tectnica da Bacia do Araripe.
Recife: Departamento Nacional da Produo Mineral, 4 e 10 Distritos Regionais, Delegacias do Ministrio
das Minas e Energia em Pernambuco e Cear,1996. 68 p.
RIBEIRO, S. C. Susceptibilidade aos Processos Erosivos Superficiais com Base na Dinmica
Geomorfolgica na Microbacia do Rio Grangeiro, Crato/CE. Rio de Janeiro/RJ: PPGG/UFRJ, 2004. 148 p.
(Dissertao - mestrado em Geografia).
RIBEIRO, S. C.; MARAL, M. S.; CORREA, A. C. B.; Geomorfologia de reas semi-ridas: uma
contribuio ao estudo dos sertes nordestinos. Revista de Geografia (Recife), v. 27, 2010, p 120-137.
SILVA, S. M. A.; LIMA, G. G.; REIS, G. P.; SOUZA, G. B. B.; LIMA, F. J.; RIBEIRO, S. C. Anlise das
precipitaes pluviomtricas na sub-bacia do rio salgado, sul cearense (1979 - 2008). In Simpsio Nacional
de Climatologia Geogrfica, 9, 2010, Fortaleza. Anais... Fortaleza: UFC, 2010. 1CD.
SUGUIO, K. Geologia do quaternrio e mudanas ambientais. So Paulo: Oficina de Textos, 2010.
TASSINARI, C. C. G.; MARINS, C.; NETO, D. Tectnica global. In TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.;
TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. (org.) Decifrando a Terra. 2. ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional,
2009. p.78-107.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

708

POTENCIAL GEOTURSTICO EM UNIDADES DE CONSERVAO: UM


ESTUDO DO PARQUE ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA PB
Mrcio Balbino CAVALCANTE
Mestrando do Programa de Ps-Graduao e Pesquisa em Geografia UFRN
cavalcantegeo@bol.com.br
Edna Maria FURTADO
Prof. Dr. do Departamento de Geografia UFRN
ed@ufrnet.br

RESUMO
crescente o fluxo de visitantes em reas naturais e neste contexto emerge um novo segmento
turstico que tem o patrimnio natural abitico como atrativo, o Geoturismo. O Parque Estadual da Pedra
da Boca (PEPB), localizado no municpio de Araruna (PB), rico em atrativos tursticos, recebe destaque
pela exuberncia e singularidade das paisagens naturais, as quais esto diretamente relacionadas aos
aspectos geolgico-geomorfolgicos. Neste contexto, o presente artigo tem objetivo principal identificar,
analisar e mapear as geoformas do PEPB, visando subsidiar as reflexes acerca de seu potencial para o
aproveitamento pelo geoturismo e, conseqentemente o estabelecimento de estratgias voltadas
geoconservao da regio. A metodologia empregada envolveu reviso bibliogrfica, trabalhos de campo,
registro fotogrfico e trabalho de gabinete. Os dados obtidos demonstram que o Parque possui uma grande
geodiversidade que pode ser aproveitada pelo geoturismo, devendo, no entanto, ocorrer um planejamento
que contemple e ordene a atividade turstica, oportunizando a implementao da geoconservao.
Palavras-chave: Geoturismo; Unidades de Conservao; Patrimnio Geolgico-geomorfolgico,
Geoconservao.
ABSTRACT
An increasing flow of visitors to natural areas and in this context emerges a new tourist segment
that has the abiotic natural heritage as an attraction, the Geotourism. The Parque Estadual da Pedra da
Boca (PEPB), located in the municipality of Araruna (PB), is rich in tourist attractions, gets highlighted by the
exuberance and uniqueness of the landscapes, which are directly related to geological and
geomorphological aspects. In this context, the article's main objective to identify, analyze and map the
landforms of PEPB, to support your reflections about the potential for exploitation by geotourism and
consequently the establishment of strategies for the region geoconservation. The methodology involved
literature review, field work, photographic records and office work. The data show that the park has a large
geodiversity that can be leveraged by geotourism, having, however, there is a plan that includes tourism
and order, allowing the implementation of geoconservation.
Keywords:
Geotourism;
Conservation
Units;
Heritage
Geological-geomorphological;
Geoconservation.
INTRODUO
O turismo, enquanto prtica social e atividade econmica, produz o espao geogrfico a partir de
um conjunto de aes, tornando-o produto para consumo turstico. O espao geogrfico, neste sentido,
entendido como um conjunto formado pelos objetos geogrficos, naturais e artificiais, mais a sociedade
que o anima (SANTOS, 2010). Portanto, para sua compreenso preciso anlise dos processos e
fenmenos que o produzem, da o interesse da Geografia pelo estudo do turismo.
As reas naturais protegidas ou unidades de conservao, como so designadas no Brasil, so
espaos legalmente institudos com o objetivo de proteger a natureza, seja do ponto de vista da
preservao da biodiversidade e das belezas paisagsticas e ou da utilizao sustentada dos ecossistemas e
seus recursos naturais. Do ponto de vista geogrfico, podemos entender as Unidades de Conservao como
uma forma de institucionalizao do espao e uma expresso de seu controle poltico (RPER, 1999).
Atualmente o nmero de visitantes as reas naturais tem aumentado, revelando segmentos
tursticos que proporcionam a apreciao e o entendimento da paisagem natural, entre eles, o geoturismo.
Este recente segmento turstico busca priorizar os aspectos naturais negligenciados pelo ecoturismo:
geologia e geomorfologia, como formaes rochosas, cavernas, stios paleontolgicos, etc., proporcionando
Joo Pessoa, outubro de 2011

709
uma experincia turstica que vai alm da contemplao, agregando informaes sobre a origem e
formao dos locais visitados.
O presente artigo tem objetivo principal identificar, analisar e mapear as geoformas do Parque
Estadual da Pedra da Boca (PEPB), localizado no municpio de Araruna (PB), na Mesorregio do Agreste
Paraibano e Microrregio do Curimata Oriental; visando subsidiar as reflexes acerca de seu potencial
para o aproveitamento pelo geoturismo e, consequentemente o estabelecimento de estratgias voltadas
geoconservao da regio.
O GEOTURISMO: UM CONCEITO AINDA EM CONSTRUO
Como um importante fenmeno que atua na produo do espao geogrfico, a partir da
introduo de novos objetos tcnicos e pela ressignificao de objetos preexistentes, o turismo enquanto
prtica social e atividade econmica tm criado territrios tursticos que se orientam segundo a demanda
de uso turstico.
Diante desta assertiva, o Ministrio do Turismo (2006) apresenta vrios segmentos do
turismo em voga no Brasil: turismo de sol e praia, ecoturismo, turismo de aventura, turismo rural, turismo
cultural, turismo de estudos e intercmbio, turismo de esporte, turismo de pesca, turismo social, turismo
de negcios e eventos, turismo nutico, e turismo de sade.
Dos segmentos tursticos que tm a natureza como matria-prima, o geoturismo o mais
recente, fazendo com que o seu conceito ainda esteja em construo, sendo reelaborado e enriquecido
com a contribuio de estudiosos de todo o mundo.
O primeiro conceito relacionado a essa nova segmentao turstica foi criado por Thomas Hose em
1995, o mesmo o redefiniu e aprimorou em 2000, sendo o geoturismo [...] a proviso de facilidades
interpretativas e servios para promover os benefcios sociais de lugares e materiais geolgicos e
geomorfolgicos e assegurar sua conservao, para uso de estudantes, turistas e outras pessoas com
interesse recreativo ou de lazer (HOSE, 2000 apud LEITE DO NASCIMENTO; RUCHKYS; MANTESSO-NETO,
2007, p. 5).
Deste modo, o geoturismo est relacionado com os recursos naturais muitas vezes
negligenciados pelo ecoturismo, os fatores abiticos, ou seja, os aspectos geolgicos e geomorfolgicos, e
pode ter basicamente, trs motivaes: recreao, lazer e aprendizado, todos contribuindo para a
conservao de atrativos como cachoeiras, cavernas, afloramentos rochosos etc.
Hose (2000) no foi o nico a tentar definir geoturismo, aps ele surgiram muitos outros estudiosos
e instituies com mesma inteno, alguns priorizando os aspectos geolgicos, outros os geomorfolgicos e
ainda outros que ampliaram o seu leque de abrangncia, relacionando-o com o turismo acadmico, entre
eles, Nascimento, Ruchkys, Mantesso Neto (2007), (2008); Silva, Perinotto (2007); Manosso (2007); Arajo
(2005).
Diante da riqueza de conceitos existentes, o geoturismo um segmento turstico recente, tendo
surgido na inteno de preencher uma lacuna do ecoturismo, dando ateno aos fatores abiticos da
paisagem como elementos geolgicos e/ou geomorfolgicos, buscando sua apreciao, interpretao e/ou
conservao. Deste modo, o geoturismo deve ser entendido como um segmento turstico que tem sua
visitao baseada na contemplao e entendimento da geodiversidade; enquanto que o ecoturismo se
baseia na biodiversidade.
Leite do Nascimento, Schobbenhaus e Medina (2009), explicam que o geoturismo tem por objetivo
possibilitar aos turistas no s contemplar as paisagens, mais entender os processos geolgicos e
geomorfolgicos responsveis por sua formao. Para os autores, o geoturismo considerado uma
ferramenta de conservao e sustentabilidade do local visitado, por meio da educao e da interpretao
ambiental.
PATRIMNIO GEOLGICO-GEOMORFOLGICO E GEOTURISMO
No intuito de enfatizar os aspectos do meio fsico para a prtica turstica, Nascimento,
Ruchkys e Mantesso (2007, p. 2) apresentam o geoturismo como uma ferramenta de conservao e
sustentabilidade do local visitado, por meio da educao e da interpretao ambiental. Ademais o termo
geo da palavra pertence geologia e geomorfologia e aos recursos naturais da paisagem a elas
associados, com nfase no conhecimento dos processos que deram origem s feies geolgicas ou
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

710
geomorfolgicas. Sendo assim, o estudo da paisagem revela-se fundamental para a geoconservao do
patrimnio natural, determinando diretrizes para o uso geoturstico.
Nesse sentido, o gegrafo francs Georges Bertrand (2004) conceitua a paisagem como
uma determinada poro do espao, que resulta da combinao dinmica, portanto instvel, de elementos
fsicos, biolgicos e antrpicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto nico e indissocivel, em perpetua evoluo.
Dentre os elementos naturais que compem a paisagem, destacam-se os relacionados
geomorfologia, que constituem, segundo Vieira e Cunha (2002, p.1), a base sobre a qual se desenvolve a
paisagem, condicionam a cobertura vegetal e muitas atividades humanas, resultando assim como fator
estruturante das diversas paisagens.
Guerra e Cunha (2006) apontam a importncia da geomorfologia para os estudos tursticos,
principalmente em reas com trilhas ecolgicas, cachoeiras, corredeiras, entre outras, onde h afluxo de
turistas, como so os casos das reas naturais, onde os aspectos geomorfolgicos podem determinar a
capacidade de suporte desses ambientes, favorecendo o desenvolvimento das atividades tursticas de
maneira sustentvel.
Com o objetivo de conservar o patrimnio natural atravs da geoconservao, surgem iniciativas
que conciliam a conservao ambiental com a prtica turstica, o geoturismo, em especial dos aspectos
geolgicos e geomorfolgicos; uma vez que os minerais, as rochas, os fsseis, o relevo, que compem as
paisagens atuais, so o produto e registro da evoluo do planeta ao longo do tempo, sendo parte
integrante do mundo natural (NASCIMENTO; RUCHKYS; MANTESSO, 2007).
O GEOTURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAO
A criao de Unidades de Conservao, ainda uma das alternativas efetivas para tentar despertar
a conscincia ambiental na sociedade e convenc-la de que os recursos naturais so finitos. No Brasil,
segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), institudo pela Lei n 9. 985, de 18 de
julho de 2000, entendese por Unidades de Conservao:
Espaos territoriais e seus componentes, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas
naturais relevantes, de domnio pblico ou privado, legalmente institudos pelo Poder Pblico, com objetivos
de conservao e de limites definidos, sob regime especial de administrao, s quais se aplicam garantias
adequadas de proteo (SNUC, Lei n 9.985, Art. 2, 2000).

Assim, as reas protegidas so reas de terra e/ou mar especialmente dedicadas proteo e
manuteno dos ecossistemas naturais, de sua diversidade biolgica e de seus recursos naturais e culturais
associados, manejadas por meio de instrumentos legais ou outros meios efetivos e tm como objetivo
preservar a natureza e proporcionar a oportunidade para a pesquisa cientfica
As reas naturais protegidas brasileiras, principalmente os parques nacionais, esto entre as
principais destinaes tursticas. Tanto que o SNUC contempla a prtica de atividades tursticas, no caso,
o ecoturismo.
Assim, em nome do ecoturismo, reas remotas e partes dos territrios relativamente pouco
alterados dos pases esto se convertendo em destinos favoritos para turistas nada convencionais.
notvel que a beleza cnica, juntamente com os elementos histrico-culturais existentes nas reas naturais,
sobretudo as protegidas legalmente, representa plos de atrao e recepo de turistas e visitantes.
Segundo o SNUC (2000), um dos objetivos principais das unidades de conservao, alm da
preservao e a restaurao da diversidade de ecossistemas naturais, proteger as caractersticas
relevantes de natureza geolgica, geomorfolgica, espeleolgica, arqueolgica, paleontolgica e cultural.
Deste modo, a prtica do geoturismo em reas naturais pode contribuir para que as pessoas
despertem o interesse pelo conhecimento e valorizao dos aspectos geolgicos e geomorfolgicos que
uma regio, objetivos estes, que na maioria das vezes so secundrios na prtica do ecoturismo.
GEODIVERSIDADE E POTENCIAL GEOTURSTICO DO PARQUE ESTADUAL DA PEDRA DA BOCA
As serras de Araruna e da Confuso correspondem a um horst que contrasta com o graben da
depresso do Curimata ou vale do Rio Curimata. A depresso do Curimata corresponde a uma fossa
tectnica resultante de falhamentos, apresentando altitude mdia de 300 metros, com desnveis de 300
Joo Pessoa, outubro de 2011

711
metros entre a baixada e as serras vizinhas. Segundo Carvalho (1982), muitos estudos que analisaram o
relevo nordestino, salientam que os terrenos pr-cambrianos sofreram reativaes epirognicas entre o
Paleozico e o Tercirio originando a tectnica de ruptura. Como resultado surgiram os Grabens, por
exemplo, o vale do Curimata.
Devido a sua altitude de 570 m, a regio pode ser considerada uma das ramificaes mais elevadas
do Planalto da Borborema, aparecendo na paisagem sob forma de escarpas amplas, superficiais, elevadas e
aplainadas, alm de macios residuais representados pelas serras (CAVALCANTE, 2007).
Na serra da Confuso, poro norte do municpio paraibano de Araruna, est localizado o Parque
Estadual da Pedra da Boca (PEPB). Situado em zona fisiogrfica de caatinga, o complexo geolgico da Pedra
da Boca formado por afloramentos de granito porfirtico, com vestgios de gnasses e quartzitos, de faces
arredondadas, superfcies desgastadas e, em vrias delas, muitas e extensas caneluras, do cume ao cho,
provenientes do intemperismo qumico, fsico e biolgico que vem constantemente modelando as formas
de relevo da regio (Figura 1).

Figura 1 - Localizao do Parque Estadual da Pedra da Boca (PEPB)


Fonte: Rodriguez, 2001; 2003, adaptados pelo Autor, 2010.
As formaes identificadas no PEPB so resultantes dos processos erosivos aos quais so
submetidas s rochas. Estas passam por processo de quebramento devido ao hdrica e elica, bem
como a ao da temperatura, fazendo com que, em determinadas partes dos corpos rochosos na regio, se
criem cavidades de profundidade e dimetro bastante considervel, como so os casos da boca na Pedra
da Boca, da gruta na Pedra da Santa ou os caracteres de um crnio na Pedra da Caveira (figura 2). Essas
formaes so conhecidas na literatura geolgica como Taffoni (plural de taffone), que segundo Guerra e
Guerra (2006, p. 594), so cavidades hemisfricas cavadas em granito de paredes ngremes.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

712

Figura 2 - Complexo Geolgico da Pedra da Boca (PEPB)


Fonte: Mrcio Balbino Cavalcante, pesquisa de campo, set. 2008.
A geologia do Parque Estadual da Pedra da Boca insere-se na provncia geolgica da Borborema,
situada na faixa oriental do Complexo Presidente Juscelino, com formaes residuais que datam do PrCambriano inferior, composta de uma seqncia gnissica do Curimata e migmatitos com intercalaes de
lentes de anfiblitos e mais raramente mrmores (RADAMBRASIL, 1981 apud CAVALCANTE, 2007).
De acordo com o diagnstico do municpio de Araruna PB realizado pela Diretoria de
Hidrologia e Gesto Territorial do Servio Geolgico do Brasil CPRM (2005), geologicamente o Parque est
inserido na Sute calcialcalina de mdio a alto potssio Itaporanga (NP3y2cm), constituda por granitos e
granodioritos, e pelo Complexo Santa Cruz, constituda por augen-gnaisse grantico, leuco-ortognaisse
quartzo manzontico a grantico (PP2ysp) (Figura 3).

Joo Pessoa, outubro de 2011

713

Figura 3 - Mapa Geolgico de Araruna - PB


Fonte: CPRM, 2005.
O PEPB foi criado pelo Decreto Estadual n 20.889, de 07 de fevereiro de 2000, que instituiu 157,3
hectares de extenso territorial, em virtude de preservar seu conjunto rochoso de grande beleza cnica, de
composio grantica porfirtica, cujas configuraes geolgico-geomorfolgicas so mpares, e tambm por
abrigar espcies da flora e fauna endmicas e representativas do bioma caatinga (PARABA, 2000).
O principal atrativo do Parque a Pedra da Boca, formada por uma imensa formao rochosa de
aproximadamente 336 metros de altura, na qual apresenta uma enorme cavidade, semelhante forma
bucal, resultante do intemperismo fsico e qumico (figura 4). A Pedra da Caveira outra feio geolgica
localizada no interior do Parque, a mesma recebe este nome por ter um perfil semelhante ao de um crnio
humano (figura 5).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

714

Figuras 4 e 5 - Paisagem do PEPB: a) Pedra da Boca b) Pedra da Caveira


Fonte: Mrcio Balbino Cavalcante, pesquisa de campo, dez. 2010.
Desde o incio dos anos 90, vem se registrando a prtica extensionista de atividades
estudantis e cientficas, alm de esportes de aventura, como escalada e rapel no PEPB. Na anlise da
segmentao turstica do Parque, verificou-se a existncia, ou predominncia, de quatro atividades
tursticas: o turismo ecolgico, o turismo de aventura, o turismo religioso e o turismo educacional. Nesse
contexto, o geoturismo pode ser tambm realizado, uma vez que o Parque Estadual conta com grandes
potencialidades para esta prtica.
Existem outros atrativos geotursticos presentes no interior do Parque, como a Pedra da Santa
(Pedra do Letreiro), na sua cavidade abriga a imagem de Nossa Senhora de Ftima. Diante desse fato, a
Pedra da Santa recebe visitantes, pagadores de promessas e turistas de toda regio e de outros estados.
Todo dia 13 de cada ms, acontece no local uma missa ao ar livre realizada pela Parquia de Nossa Senhora
da Conceio de Araruna/PB.
Verifica-se um fluxo de turistas, praticantes de esportes de aventura, escalada e rapel, que se dirige
ao Parque, atrados pelas formaes rochosas, em especial a Pedra da Boca. Os pontos propcios tcnica
do rapel no Parque Estadual da Pedra da Boca so: rapel na Aroeira 55 m; na Pedra da Oratria 50 m; na
Pedra da Caveira 50 m; e, na Boca 80 m. Tambm existe a prtica da caminhada, montain bike, camping
e pra-quedas (CAVALCANTE, 2007).
Todo o Parque est inserido nos contrafortes da Serra da Confuso, assim conhecida pela existncia
de vrias serras de rochas granticas que escondem grutas e cavernas quase inexploradas, algumas
possuem importantes stios paleontolgico e arqueolgico, com pinturas rupestres da Tradio Nordeste,
outras do abrigo a alguns animais da fauna do lugar como: gato do mato, raposas, tejus, alguns roedores,
morcegos, tatu, gato do mato entre outros.
Parafraseando Santos (2003), as
cavidades naturais do Parque so frutos de tombamentos de enormes blocos de granito que, ao carem,
formaram abrigos sob rochas e cavernas e que esto em constante evoluo, graas ao da eroso e
dissoluo da gua.
A visita s cavernas e as grutas do PEPB uma das potencialidades geotursticas do local, onde o
grau de dificuldade alto. Ter em mente a responsabilidade ambiental e informao correta nestes lugares
primordial, visto pela fragilidade, exigindo cuidados especiais para que os sinais de falta de conscincia
Joo Pessoa, outubro de 2011

715
no fiquem marcados, tais como descaracterizao pelo pisoteio, pichaes, lixo, entre outros impactos
(CAVALCANTE, 2009).
A beleza cnica do Parque formada pelo conjunto rochoso e pelos recursos faunsticos e
fitogeogrficos, bem como pelos vestgios arqueolgicos, cenrio e laboratrio de pesquisadores de
diversas instituies e localidades, tais como a Universidade Federal da Paraba (UFPB), Universidade
Estadual da Paraba (UEPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), entre outras. So gegrafos, bilogos, gelogos, turismlogos, historiadores,
entre outros profissionais atrados pela diversidade ambiental e cultural do local.
O Parque Estadual da Pedra da Boca tambm recebe professores e alunos do ensino bsico,
profissionalizante e superior, encontrando no ambiente local a possibilidade de vivenciar in loco o saber
acadmico da sala de aula. Segundo os guias do PEPB, estas visitas, na sua maioria, so mal planejadas visto
que no existem agendamento nem controle do nmero de estudantes, o que gera impactos negativos ao
Parque.
CONSIDERAES FINAIS
O geoturismo, sendo um novo ramo do turismo, trs a oportunidade para que reas com
potencialidades naturais possam se desenvolver de forma sustentvel e valorizando no s os elementos
de fauna e flora, mas principalmente o patrimnio geolgico-geomorfolgico, proporcionando ao turista
no s a admirao da paisagem, mas o entendimento dos processos que se sucederam at que ela se
formasse e quais os processos que continuam a atuar sobre ela.
O Parque Estadual da Pedra da Boca (PEPB) est localizado numa regio que devido as suas
caractersticas fsicas proporcionou, ao longo do tempo geolgico, o surgimento de inmeras geoformas,
como a Pedra da Boca, Pedra da Caveira, Pedra do Coelho, entre outras. A criao do Parque de
fundamental importncia para a preservao do ambiente cnico, de grande valor didtico e cientfico,
possibilitando o entendimento da geologia e geomorfologia locais, que pode ser aproveitado pelo
geoturismo.
Entretanto, preciso que o Parque seja inserido num projeto de planejamento turstico, visando
sua gesto e explorao ordenadas, envolvendo o poder pblico, a comunidade e os turistas nesse
processo. H tambm a necessidade de inserir medidas estruturais urgentes na rea, tais como: placas de
sinalizaes; padronizao das trilhas; elaborao do Plano de Manejo; atualizao do conselho consultivo;
aumento do efetivo de guarda-parques; material de apoio e orientao aos visitantes sobre dados gerais do
Parque, de legislao e Educao Ambiental;
Nesse contexto, o geoturismo ao fundamentar-se em trs conceitos que se complementam e se
interagem: geodiversidade, patrimnio geolgico e geoconservao; uma forma de turismo que agrega
conhecimento cientfico ao visitante, possibilitando o desenvolvimento turstico de forma sustentvel.
REFERNCIAS
BERTRAND, Georges. Paisagem e Geografia Fsica Global: Esboo Metodolgicos. Revista RAEGA,
Curitiba, v.08, p. 141-152. 2004.
BRASIL. Segmentao do Turismo: marcos conceituais. Braslia: Ministrio do Turismo, 2006.
BRASIL. Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservao
SNUC. Braslia: PLANALTO, 2000. Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10 dez. 2010.
CARVALHO, Maria Gelza R. F. de. Estado da Paraba: classificao geomorfolgica. Joo Pessoa:
Editora Universitria/UFPB, 1982.
CAVALCANTE, Mrcio Balbino. Rio Calabouo: conhecer para preservar. In: LINS, Juarez Nogueira;
BEZERRA, Rosilda Alves; CHAGAS, Waldeci Ferreira (Orgs.). Espaos Interculturais: linguagem, memria e
diversidade discursiva. Olinda: Livro Rpido, 2006.
CAVALCANTE, Mrcio Balbino; MARIANO NETO, Belarmino. Reflexes sobre os impactos scioambientais da atividade ecoturstica no Parque Estadual da Pedra da Boca, Paraba. Revista Caminhos de
Geografia, Uberlndia, v. 8, n. 24, p. 46-55, 2007.
CAVALCANTE, Mrcio Balbino. Ecoturismo no bioma Caatinga: o caso do Parque Estadual da Pedra
da Boca, Paraba. Revista Nordestina de Ecoturismo, Aracaju, v.2, n. 1, p. 25-38, 2009.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

716
CPRM. Diagnstico do municpio de Araruna - PB. Recife: CPRM, 2005.
GUERRA, Antnio Teixeira; CUNHA, Sandra Batista. Geomorfologia Ambiental. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2006.
GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Antnio Jos Teixeira. Novo Dicionrio GeolgicoGeomorfologico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
LEITE DO NASCIMENTO, M. A.; RUCHKYS, . A.; MANTESSO, V. N. Geoturismo: um novo segmento
do turismo no Brasil. Global Tourism. v. 3, n. 2, nov. 2007.
LEITE DO NASCIMENTO, M. A.; SHOBBENHAUS, C.; MEDINA, A. I. de M. Patrimnio geolgico:
turismo sustentvel. In: SILVA, C. R. da (Ed.). Geodiversidade do Brasil conhecer o passado para entender o
presente e prever o futuro. [s.l.]: CPRM, 2009.
PARAIBA. Decreto n. 20.889, de 07 de fevereiro de 2000. Cria o Parque Estadual da Pedra da
Boca,
e
d
outras
providncias.
Disponvel
em:
<http://www.sudema.pb.gov.br/legis_files/decreto20889.html>. Acesso em: 10 de jun. 2010.
RPER, Monika. Geografia Social e Unidades de Conservao. Reflexes tericas e exemplos da
bacia do Alto Rio Paraguai (Mato Grosso). Geosul, Santa Catarina, n. 27, jan./jun. de 1999.
SANTOS, Milton. Espao e Mtodo. So Paulo: EDUSP, 2010.
SANTOS, Juvandi de Souza. Manual do Espelelogo. Campina Grande: EDUEP, 2003.
VIEIRA, A.; CUNHA, L. A importncia dos elementos geomorfolgicos na valorizao da paisagem:
exemplos em morfologias crsica e grantica. In: Actas do IX Colquio Ibrico de Geografia, Huelva, 2002.

Joo Pessoa, outubro de 2011

717

PORQUE MEIO AMBIENTE E NO AMBIENTE INTEIRO? A


GEODIVERSIDADE COMO NOVO CAMINHO PARA UMA EDUCAO
AMBIENTAL COMPLETA
Marcos Antonio Leite do Nascimento
Departamento de Geologia/UFRN. Caixa Postal 1678, CEP 59078-970. Natal/RN
marcos@geologia.ufrn.br

MEIO AMBIENTE
O termo Meio Ambiente pode ser considerado, de forma geral, como sinnimo de natureza,
compreendendo um local a ser protegido, respeitado e admirado. Este termo, a depender do ponto de
vista, apresenta inmeras definies podendo ser caracterizado como (i) o conjunto dos fatores fsicos,
qumicos, biticos que agem sobre um ser vivo ou uma comunidade ecolgica e podem determinar sua
sobrevivncia (Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa) ou (ii) o conjunto de condies, leis, influncia e
interaes de ordem fsica, qumica, biolgica, social, cultural e urbanstica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas (Lei No. 6.938, de 31 de agosto de 1981 que dispe sobre a Poltica
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e d outras providncias)
ou ainda (iii) circunvizinhana em que uma organizao opera, incluindo-se ar, gua, solo, recursos
naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relaes (Lei Ambiental ISO 14001 de 2004). Lendo estas
trs definies deparamos com palavras como fatores fsicos, ordem fsica e recursos naturais que podem
ser considerados sinnimos e representam na realidade o meio abitico [componente do ecossistema que
no inclui seres vivos (bitico)] em que vivemos.
Porm aqui iremos separar a palavra Meio da palavra Ambiente. O uso do termo Meio
considerando-o metade, parte de algo" serve para mostrarmos que o Meio Ambiente que estudamos,
pesquisamos, trabalhamos e obviamente queremos proteger (seja por meio da preservao e/ou
conservao, que na realidade so termos bastante distintos) no apenas formado pelos fatores biticos,
pela ordem biolgica ou pela flora e fauna, citados nas definies apresentadas anteriormente e que
podemos concentrar em um nico termo conhecido como Biodiversidade (conhecido por diversidade das
espcies vivas e suas caractersticas genticas e que merece proteo), mas tambm pela Geodiversidade
(conhecia como diversidade do meio fsico ou abitico e que merece mesma ateno e proteo)
anteriormente citada como meio abitico.
Em um conceito mais amplo podemos dizer que o Meio Ambiente tambm envolve todas as coisas
vivas e no-vivas que ocorrem na Terra, ou em alguma regio dela, que afetam os ecossistemas e a vida dos
humanos. Porm infelizmente sempre esta poro dos no-vivos deixada de lado ou abordada apenas
como mera contemplao da paisagem. Assim, com este artigo que ora os senhores e senhoras esto
lendo, no queremos mudar os conceitos de Meio Ambiente, os mesmos podem continuar da forma que
esto, porm o que queremos que mudem a forma de entender estes conceitos, que perfeitamente
podem ser encarados de maneira ampla, completa, se realmente trabalharmos em conjunto a
Biodiversidade e a Geodiversidade. Da forma que est realmente o Ambiente est sendo tratado como
Metade!
Neste contexto, imagina-se que uma compreenso mais ampla do meio fsico em que vivemos seja
de interesse fundamental para os estudos do Meio Ambiente, o que faz destacarmos a importncia da
Geodiversidade nestes estudos. Bitar (2004) j dizia que afinal, tudo o que o ser humano realiza acaba, em
maior ou menor escala, direta ou indiretamente, atingindo e modificando aspectos da estrutura,
composio material e dinmica do Planeta.
Utilizar a Geologia (cincias que tem na geodiversidade sua principal base de estudo) apenas com a
finalidade de reconhecimento dos recursos naturais constitui uma forma redutora de aplicar o
conhecimento geolgico, embora esta cincia tenha sido inicialmente aplicada para este fim. Um bom
conhecimento da herana geolgica um importante fator de aproximao para a sustentabilidade.
Assim, neste cenrio de preocupao com a qualidade ambiental, a Geologia ganhou novas reas
de atuao, entre as quais uma delas se refere ao reconhecimento de que o passado geolgico impresso
nos registros fsseis, nos minerais, nas rochas e no relevo constitui, alm de um recurso econmico, um
patrimnio que deve ser protegido. Dessa forma, o (re)conhecimento, a promoo e a conservao dessa
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

718
geologia (ou no caso em si a Geodiversidade) entram no sculo XXI como um dos maiores desafios da
comunidade de geocincias. Isto se faz necessrio uma vez que os minerais, as rochas, os fsseis, o relevo e
as paisagens atuais so o produto e o registro da evoluo do planeta ao longo do tempo e, como tal, so
parte integrante do mundo natural tendo um impacto profundo na sociedade atual. A proteo desta
geodiversidade, por exemplo, s pode ser alcanada por meio da sensibilizao coletiva, especialmente dos
jovens, os quais, conhecendo a geodiversidade local, iro apreciar seu valor e, consequentemente, protegla.
Nascimento et al. (2008) disse que o valor educativo da geodiversidade consiste no fato de o seu
estudo constituir a nica forma de sensibilizar as pessoas para a sua proteo, levando-as conscientizao
de sua importncia. A visitao a stios geolgicos (ou geosstios), por exemplo, pode proporcionar o
encontro com a histria evolutiva do planeta e, ao mesmo tempo, a descoberta de algo totalmente novo
aos sentidos dos visitantes. Para estes autores, nestes locais, possvel o desenvolvimento de estudos
cientficos, da investigao minuciosa e sistemtica em diversos campos do conhecimento.
Geodiversidade e Patrimnio Geolgico
Mas afinal o que Geodiversidade? Na viso de um gelogo que tem neste termo um dos seus
campos de trabalho, a geodiversidade compreende a variedade de ambientes geolgicos, fenmenos e
processos geradores de paisagens, rochas, minerais, fsseis, solos e outros depsitos superficiais que
constituem a base para a vida na Terra (definio da Royal Society for Nature Conservation, do Reino
Unido). Este um termo muito recente que comeou a ser utilizado por gelogos e geomorflogos na
dcada de 90 para descrever a variedade do meio abitico (Gray, 2004). De acordo com este autor difcil
precisar quando que esse termo foi referido pela primeira vez, mas provavelmente deve ter sido na
Tasmnia (Austrlia). Geodiversidade tambm o ttulo do artigo publicado por Stanley (2000) e foi
adotado pela Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido como ttulo em seu relatrio
informativo de Cincia da Terra (Geodiversity Update), lanado em Janeiro de 2001. Assim, percebe-se que
o termo j existe h cerca de 20 anos, porm para termos uma idia o primeiro livro dedicado ao tema foi
publicado somente em 2004 e corresponde ao Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature, de
Murray Gray (Professor do Departamento de Geografia da Universidade de Londres, Reino Unido).
Atrelado ao conceito de Geodiversidade podemos encontrar tambm o de Patrimnio Geolgico,
que representado pelo conjunto de stios geolgicos (ou geosstios). Contudo, no se deve encarar o
patrimnio geolgico como sinnimo de geodiversidade. A geodiversidade, de forma simples, consiste em
toda a variedade de minerais, rochas, fsseis e paisagens que ocorre no Planeta. J o patrimnio geolgico
apenas uma pequena parcela da geodiversidade e que apresenta caractersticas especiais e que, por
conseguinte, deve ser protegido. Brilha (2005), diz, por exemplo, que no se pretende conservar todos os
afloramentos de fsseis do mundo, mas apenas aqueles que apresentam um elevado valor cientfico e
educativo. So estes que se pode chamar de geosstios e que, no seu conjunto, constituem o patrimnio
geolgico (Nascimento et al. 2008). Segundo Brilha (2005) o patrimnio geolgico representa o conjunto
de geosstios (ou locais de interesse geolgico) inventariados e caracterizados de uma dada regio, sendo
os geosstios locais bem delimitados geograficamente, onde ocorrem um ou mais elementos da
geodiversidade com singular valor do ponto de vista cientfico, pedaggico, cultural, turstico, ou outro.
Em resumo todo patrimnio geolgico faz parte da geodiversidade, mas nem toda geodiversidade
considerada um patrimnio geolgico.
Valores da Geodiversidade
Vale salientar que a Geodiversidade, to importante quanto a Biodiversidade, tambm apresenta
seus valores. De acordo com Gray (2004) os valores da geodiversidade so classificveis em intrnseco,
cultural, esttico, econmico, funcional, cientfico e educativo. A seguir temos as definies desses valores
e exemplos brasileiros citados por Nascimento et al. (2008).
O valor intrnseco de mais difcil compreenso, principalmente devido a dificuldade de se atribuir
algum valor a ele (de quantific-lo), que expressa a relao existente entre a Natureza e o Homem. Existem
dois grandes grupos que vem a natureza de forma distinta. Um defende que a Natureza deve estar
disposio do Homem, com a finalidade de satisfazer as suas necessidades. Desta forma, o Homem estaria
Joo Pessoa, outubro de 2011

719
num nvel superior aos dos demais seres vivos. O outro grupo, diferentemente do primeiro, considera que o
Homem parte da Natureza e, portanto, esta teria seu valor prprio.
O valor cultural originrio da forte interdependncia entre o desenvolvimento social, cultural
e/ou religioso e o meio fsico circundante. Por exemplo, os nomes de algumas cidades no Brasil esto
diretamente relacionados com aspectos geolgicos ou geomorfolgicos, tais como, Serra Caiada (RN),
Itabira e Diamantina (MG), Torre de Pedra (SP), Torres (RS), Pedra Grande (MT e RN). Para se ter uma idia
o Brasil possui mais de 140 municpios que comeam com Ita que quer dizer pedra, por exemplo:
Itaberaba, BA (pedra brilhante, diamante); Itabira, MG (pedra erguida); Itabora, RJ (pedra bonita);
Itacuruba, PE (pedra enrugada); Itacoatiara, AM (pedra pintada). A arqueologia tambm mostra vrios
exemplos do valor cultural da geodiversidade. A relao dos antepassados com a geodiversidade est na
escolha dos materiais mais adequados para a fabricao de artefatos, como ponta das setas de slex, alm
de objetos de ouro, bronze e ferro. Tambm no se pode deixar de considerar como valor cultural a
utilizao de uma ocorrncia geolgica peculiar como marca de uma regio ou localidade. Por exemplo,
no Rio Grande do Norte, o Municpio de Serra Caiada se orgulha por ter um dos pedaos mais antigos da
Amrica do Sul. Alm disso, existe a associao de feies geolgicas/geomorfolgicas da paisagem com
imagens conhecidas. No Brasil so inmeros os exemplos. o caso da Pedra da Boca e do Capacete (PB), o
Pico do Dedo de Deus e a Pedra do Co Sentado (RJ), da Pedra da Galinha Choca (CE), a Pedra do Sapo (RN),
entre muitos outros.
O valor esttico atribudo geodiversidade tambm de difcil compreenso, pois no possvel
quantific-lo. Percebe-se que a contemplao da paisagem algo praticado de forma consensual, ou seja,
muita gente acha a paisagem bonita, mas definir qual paisagem mais bonita do que a outra algo muito
discutvel. Todavia, sabe-se que todas as paisagens possuem um valor esttico embutido. Interessante
que o contato do pblico com a natureza permite o deslumbramento de paisagens intimamente
relacionadas aos aspectos geolgicos, porm parte desse pblico no tem a conscincia de que ali est
sendo gravada parte da histria do Planeta Terra. Vale lembrar tambm, que o valor esttico da
geodiversidade pode ser visto ao longo dos tempos na produo artstica. Inmeras so as pinturas,
esculturas, utenslios, msicas, poemas e fotografias, que tem como pano de fundo a geodiversidade.
O valor econmico mais fcil de quantificar, j que as pessoas esto habituadas a atribuir valor
econmico a praticamente todos os bens e servios. Assim, com certeza, os minerais, as rochas e os fsseis
tm seu valor econmico. A utilizao desses bens como gemas em joalharia ou como produto de
artesanato, j algo bastante comum no Brasil (e no Mundo). No Brasil, v-se, que os artesanatos em
minerais e rochas so utilizados para vrios fins, em geral divididos em trs reas especficas: adorno
pessoal, decorao ou arte e utenslio. O adorno pessoal representado por colares, brincos, pulseiras,
broches e pingentes, ou ainda chaveiros, relgios revestidos e anis principalmente de minerais. A
decorao ou arte representada por pssaros em quartzo, ametista ou serpentinito e tambm as bolas de
cristal, pirmides, rvores de pedras roladas (cascalho), pequenos animais em pedra, estatuetas de marfim,
frutas e obeliscos em gata, alm de quadros. Como utenslio tem-se jogo de talheres, porta-copo de gata
ou nix, relgio de gata, entre outros. Fora isso, no se deve esquecer que a civilizao humana sempre
dependeu dos recursos minerais. A dependncia da geodiversidade se d principalmente nos campos
energtico, com a explorao do petrleo, carvo e gs natural; explorao de minerais radioativos;
aproveitamento do calor interno da Terra, por meio da energia geotrmica; construo de hidroeltricas
em locais de geomorfologia e geologia propcias; entre outros; da obteno de matrias-primas (minas,
pedreiras); e da implantao de ocupao humana, obras civis, transportes, etc.
O valor funcional encarado sob dois aspectos: i) o valor da geodiversidade in situ, de carter
utilitrio do Homem; e ii) o valor enquanto substrato para a sustentao dos sistemas fsicos e ecolgicos.
O primeiro refere-se valorizao da geodiversidade que se mantm no local de origem, exemplificado por
meio do suporte para a realizao das mais variadas atividades humanas (construo de barragens,
estradas, cidades e outros) ou no armazenamento de certas substncias (turfa, gua subterrnea, aterros,
etc). O segundo refere-se a populaes de animais e/ou plantas em locais cuja geodiversidade definiu as
condies ideais para a implantao e desenvolvimento. No Nordeste do Brasil, por exemplo, comum
encontrar plantaes de sisal em locais cujo solo originrio de tipos especficos de rochas, principalmente
bsicas a intermedirias. No Sudeste a terra roxa, resultante da decomposio do basalto e diabsio, foi
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

720
responsvel pela enorme riqueza e desenvolvimento gerados pela cultura de caf a partir da segunda
metade do sculo XIX.
Finalmente, valores cientficos e educativos tambm podem ser identificados na geodiversidade. O
cientfico tem como base o acesso e posterior estudo da geodiversidade, tanto em mbito fundamental ou
aplicado. No primeiro caso, til para conhecer e interpretar a geodiversidade e conseqentemente
reconstituir a histria da Terra. J a de carter aplicado auxilia para melhorar a relao entre as pessoas
com a geodiversidade, que ajuda as populaes a evitar, por exemplo, reas de potenciais de riscos
geolgicos (vulcanismo, terremoto, etc.). O valor educativo da geodiversidade est intimamente
relacionado educao em Cincias da Terra com a geodiversidade. Ela pode ocorrer como atividades
educativas formais (ensinos fundamental, mdio e superior) ou informais (pblico em geral). Os trabalhos
de campo apresentam um valor educativo extraordinrio, particularmente para o pblico em geral, porque
ajuda na conscientizao e valorizao dos ambientes naturais da Terra.
Relao Geodiversidade e Biodiversidade
Pode-se dizer que assim como a biodiversidade representada pela variedade de seres vivos que
uma regio possui, a geodiversidade est associada aos tipos de ambientes geolgicos que constituem esta
regio. Como o Brasil considerado o campeo mundial de biodiversidade, no seria de se esperar que
tambm sejamos um pas rico em geodiversidade.
Com dito anteriormente, a geodiversidade corresponde aos aspectos abiticos (no vivos)
do Planeta Terra, com exemplos no s do passado geolgico como os fsseis, mas tambm com exemplos
pretritos e atuais de minerais e rochas. Para Brilha (2005), a biodiversidade definitivamente
condicionada pela geodiversidade.
A geodiversidade um elo entre as pessoas, paisagens e sua cultura por meio da interao com a
biodiversidade. Porm, ao contrrio da biodiversidade, o conceito de geodiversidade pouco conhecido,
no tendo ainda um grau elevado de reconhecimento junto sociedade e, consequentemente pouco
divulgado por ela. Desta forma, as polticas pblicas de conservao, divulgao e utilizao do patrimnio
natural tendem a priorizar a biodiversidade em detrimento da geodiversidade.
Como o patrimnio geolgico est presente em ambientes diferentes, vrias so as atividades que
ameaam a sua conservao, tais como, falta de conhecimento do pblico sobre sua importncia; obras de
engenharia como estradas e outras construes; atividades de minerao no-planejadas; atividades
militares e coleta de amostras sem fins cientficos. Para Brilha (2005), provavelmente, a maior parte de
todas as ameaas citadas anteriormente tem por base a falta de conhecimento cientfico bsico, tanto dos
responsveis polticos e tcnicos, como do pblico em geral. O autor conclui que a maior parte dos
problemas seria efetivamente menor, ou mesmo eliminado, se os responsveis, afeitos aos mais diversos
afazeres, possussem um mnimo de conhecimento tcnico-cientfico na rea das Cincias da Terra ou, caso
o no tivessem, reconhecessem a necessidade de consultar os gelogos/gegrafos, por exemplo.
Portanto, a geodiversidade to importante quanto a biodiversidade, porm as aes que
contribuem para a conservao da natureza esto dirigidas, quase somente, aos seres vivos. Isto se deve,
em grande parte, a uma viso parcial e distorcida daqueles que cuidam da natureza e da sua proteo.
Enquanto a importncia da geodiversidade estiver esquecida (ou deixada em segundo plano) nunca
ocorrero aes eficazes de proteo e promoo do Meio Ambiente (este, portanto ficando somente na
Metade - lembram do que falamos no incio deste artigo?). Para uma ao mais ampla de proteo (seja
preservao e/ou conservao) de qualquer patrimnio natural preciso tratar em conjunto a
biodiversidade e a geodiversidade.
O surgimento do termo geodiversidade torna inevitvel a comparao com a biodiversidade,
apesar de versarem sobre aspectos diferentes. De acordo com Gray (2004) possvel distinguir quatro
pontos em comum entre as duas reas do conhecimento: i) a utilizao de alguns termos como espcies
e variedades, que so h muito tempo usados pela mineralogia (minerais) e paleontologia (fsseis), bem
como em botnica (plantas) e zoologia (animais); ii) os fatores que ameaam a integridade da
biodiversidade, que podem levar extino de espcies da fauna e da flora so muitas vezes coincidentes
com os que tambm ameaam a geodiversidade e conduzem ao desaparecimento de seus aspectos
mpares; iii) o pressuposto da existncia de muitas espcies ainda por descobrir, descrever e classificar
aplica-se fauna, a flora e aos minerais, cujos nmeros podem aumentar por intensificao dos trabalhos
Joo Pessoa, outubro de 2011

721
de campo e mapeamentos geolgicos; e iv) h necessidade de proteo, tanto para plantas e animais,
como para os minerais e as rochas.
Aes a favor da Geodiversidade no Brasil
Recentemente Nascimento (2010) publicou exemplos de diferentes aes a favor do
patrimnio geolgico brasileiro listando as comisses e leis que direta ou indiretamente trabalham com a
Geodiversidade, alm de apresentar os inmeros programas, projetos, eventos cientficos e publicaes
sobre o tema. A seguir um pequeno resumo destas aes.
O marco inicial e relevante no sentido de reconhecimento da geodiversidade brasileira , sem
dvida, a Comisso SIGEP - Stios Geolgicos e Paleobiolgicos do Brasil, criada no incio de 1997, em
resposta ao chamamento mundial feito em 1993 pelo Working Group on Geological and Palaeobiological
Sites GEOTOPES. A principal atribuio da SIGEP a de selecionar os stios geolgicos brasileiros
indicando-os para a Geosites Database da IUGS, apoiada no gerenciamento de um banco de dados nacional
em atualizao permanente. A Comisso est permanentemente recolhendo proposies, cadastrando
novas ocorrncias significativas e avaliando as condies de risco e de degradao dos stios candidatos. A
SIGEP composta por 13 entidades pblicas ou privadas, que so: Academia Brasileira de Cincias (ABC),
Associao Brasileira de Estudos do Quaternrio (ABEQUA), Servio Geolgico do Brasil (CPRM),
Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Renovveis (IBAMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), Instituto Chico Mendes
de Conservao da Biodiversidade (ICMBio), Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN),
Petrleo Brasileiro S.A. (PETROBRAS), Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), Sociedade Brasileira de
Geologia (SBG), Sociedade Brasileira de Paleontologia (SPB) e Unio da Geomorfologia do Brasil (UGB). At
o momento j foram catalogados e publicados no site da SIGEP (www.unb.br/ig/sigep) 106 stios
geolgicos.
Porm, no Brasil, uma das formas legais de proteo da geodiversidade a Lei n 9.985 de 18 de
julho de 2000, que regulamenta o art. 225, 1, incisos I, II, III, e VII da Constituio Federal e institui o
Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza - SNUC, e estabelece critrios e normas para a
criao, implantao e gesto das unidades de conservao. Vale salientar que entre os 13 objetivos
principais do SNUC, dois esto diretamente relacionados a geodiversidade (stimo e oitavo objetivos), cuja
finalidades so de proteger as caractersticas relevantes de naturezas geolgica, geomorfolgica,
espeleolgica, arqueolgica, paleontolgica e cultural (objetivo sete) e proteger e recuperar recursos
hdricos e edficos (objetivo oito).
Um dos rgos que mais tem contribudo para o conhecimento da geodiversidade no Brasil o
Servio Geolgico do Brasil (tambm conhecido por CPRM), ligado ao Ministrio de Minas e Energia do
Governo Federal, que dentre suas reas de atuao tem uma denominada Geodiversidade/Geologia
Ambiental contando com inmeros programas/projetos, com destaque para a gerao dos mapas de
geodiversidade do Brasil e dos Estados brasileiros (em diferentes escalas) e o Projeto Geoparques do Brasil
(obteno dos mapas e outras informaes acessar a www.cprm.gov.br).
Projetos de sinalizao da geodiversidade por meio de seus monumentos geolgicos j vm sendo
realizados desde 2001, com o pioneiro Caminhos Geolgicos do Estado do Rio de Janeiro implementado
pelo DRM-RJ (Departamento de Recursos Minerais Servio Geolgico Estadual) e que atualmente
apresenta o projeto mais desenvolvido e evoludo. O objetivo principal do mesmo consiste em divulgar a
geodiversidade do Rio de Janeiro, como base na conservao de seus monumentos naturais, atravs da
implantao de painis explicativos sobre a evoluo geolgica do local. Assim, a sociedade tem acesso a
este conhecimento atravs da percepo da complexidade e do tempo que a natureza leva para construir a
paisagem, que hoje habitada e deve ser mais respeitada. Cerca de 100 painis com informaes da
geodiversidade j foram fixadas em 31 municpios do Rio de Janeiro. Seguindo o modelo adotado pelo
Projeto Caminhos Geolgicos do Rio de Janeiro adaptado realidade local, quatro outros Estados do Brasil
esto promovendo o levantamento dos seus monumentos geolgicos com vista a sua conservao e
divulgao, so eles: i) Paran, atravs da MINEROPAR (Minerais do Paran S.A - Servio Geolgico
Estadual), que iniciou em 2003 o Projeto Stios Geolgicos e Paleontolgicos do Estado do PR, contando
hoje com cerca de 50 painis; ii) Bahia, atravs do Projeto Caminhos Geolgicos da BA, tambm iniciado em
2003 e j inaugurado 5 painis; iii) Rio Grande do Norte, atravs do Projeto Monumentos Geolgicos do RN,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

722
por intermdio do Instituto de Desenvolvimento Sustentvel e Meio Ambiente (IDEMA/RN) em parceria
com a PETROBRAS e a CPRM, tendo j instalado 16 painis; e So Paulo, atravs do Projeto Monumentos
Geolgicos de SP, por meio do Instituto Geolgico do Governo do Estado, que apesar de no ter instalado
nenhum painel est inventariando os principais pontos de interesse geolgico e sua geodiversidade.
Inmeros eventos cientficos abordando a geodiversidade j so realidade desde 2004, aonde os
Congressos Brasileiro de Geologia vm dedicando simpsios especficos, tais como Desenvolvimento
Sustentvel, Geologia e Turismo e Monumentos Geolgicos (42 CBGeo, em Arax/MG, com a
publicao de 32 trabalhos no primeiro e 31 no segundo); Geoconservao e Geoturismo: uma nova
perspectiva para o patrimnio natural (43 CBGeo, em Aracaju/SE, com 41 trabalhos); Monumentos
Geolgicos, Geoconservao e Geoturismo/Geoparks (44 CBGeo, em Curitiba/PR, com 61 trabalhos); e
Monumentos Geolgicos, Geoturismo, Geoconservao e Geoparques (45 CBGeo, em Belm/PA, com
66 trabalhos). Vale ressaltar que em Aracaju um dos principais resultados obtido no simpsio foi a
elaborao da Geocarta de Aracaju, com posterior aprovao da mesma na Assemblia da Sociedade
Brasileira de Geologia, sendo a primeira declarao sobre o tema geoconservao e afins feita fora da
Europa. Nos simpsios regionais de geologia (Nordeste, Sudeste e Amaznia) sempre h uma sesso
temtica abordando a geodiversidade. Alm desses eventos existem trabalhos apresentados/publicados
em Encontros Nacionais de Turismo de Base Local, Simpsios de Turismo Sertanejo, Simpsios Brasileiro de
Geografia Fsica Aplicada, Congressos Brasileiro de Paleontologia, entre muitos outros eventos.
Cursos esto sendo promovidos em diversas Instituies de Ensino Superior, a exemplo dos
realizados pela Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, onde em 2008, 2009 e 2010 ocorreu o
Curso Patrimnio Geolgico, Geoconservao e Geoturismo, ministrado pelo Prof. Jos Brilha de Portugal.
Na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2009, ocorreu o Curso Patrimnio Geolgico,
Geoconservao e Geoparques, ministrado pelo Prof. Jos Brilha (Universidade do Minho/Portugal), Prof.
Bigarella (UFSC) e Flvia Lima (Geopark Araripe). Neste mesmo ano, aconteceu na Universidade Federal do
Paran o Curso Patrimnio Geomorfolgico ministrado pelo Prof. Diamantino Pereira (Universidade do
Minho/Portugal). E mais recentemente ocorreram na Universidade Federal de Pernambuco os cursos
Geodiversidade e Geoconservao (em 2010) e Geodiversidade e seus Elementos (em 2011), ambos
ministrados pelo Prof. Marcos Nascimento (UFRN).
Revistas e Peridicos nacionais (e internacionais com trabalhos de brasileiros) tambm j esto
publicando artigos sobre geodiversidade e temas relacionados. Em novembro de 2007 a Global Tourism
Revista dedicou um volume especial a temtica geoturismo (www.periodicodeturismo.com.br); em
setembro de 2009 a Pesquisa em Turismo e Paisagens Crsticas tambm separou um volume especial para
o geoturismo (http://www.sbe.com.br/turismo.asp). Em outubro de 2009 a Revista de Geologia da USP
publicou uma edio especial sobre Geoparques, com resultados do Workshop GEOPARQUE Estratgia de
Geoconservao e Projetos Educacionais ocorrido em So Paulo/SP entre os dias 23 e 24 de julho daquele
ano (http://geologiausp.igc.usp.br/geologiausp/pe1/la.php?revista=85#). Alm dessas publicaes,
inmeros outros artigos versando sobre geodiversidade, geoconservao, geoturismo e geoparques esto
sendo publicados em diferentes peridicos tais como: Revista Brasileira de Geologia, Estudos Geolgicos,
Caminhos da Geografia, Pesquisas, Geocincias, Gaea, Revista Turismo em Anlise da ECA/USP, Caderno
Virtual de Turismo, Revista Regional de Turismo, OLAM Cincia & Tecnologia, Revista Cincia Hoje entre
outras.
Livros esto sendo publicados, a exemplo do Geodiversidade, Geoconservao e Geoturismo:
trinmio importante para a proteo do patrimnio geolgico, primeiro livro dedicado ao assunto e
editado/publicado pela Sociedade Brasileira de Geologia, em 2008 (Nascimento et al. 2008). O Livro
Geoturismo em Curitiba lanado pela MINEROPAR no Congresso Brasileiro de Geologia em Curitiba (2008)
que mostra a relao entre a geodiversidade e o turismo na cidade (Liccardo et al. 2008). O Livro
Geodiversidade do Brasil publicado pela CPRM, em 2008, com 14 captulos abordando diferentes temas,
alm de 1 CD com uma viagem pelo tempo geolgico (Silva 2008). Alm disso, j existem inmeras
monografias, dissertaes e teses concludas e em elaborao que abordam a geodiversidade no Brasil.
Comentrios Finais (e Pensamentos para o Futuro)
Como vimos, apesar de ter aparecido h cerca de 20 anos o termo Geodiversidade pouco
conhecido pela sociedade brasileira (antes de ler este texto voc j havia lido algo sobre o tema?) e quem
Joo Pessoa, outubro de 2011

723
sabe, pela sociedade mundial, apesar de alguns pases j estarem em estgios mais avanados quanto
discusso deste termo, em especial na Europa, Austrlia e China. No entanto, no deveria ser assim, j que
ns seres humanos somos inteiramente dependentes da Geodiversidade e de seus processos naturais.
Se olharmos quais so os elementos da Geodiversidade - minerais, rochas, relevo, fsseis, solos
entre outros - iremos perceber que no podemos viver sem os minerais e as rochas (matrias-primas para
construirmos tudo que necessitamos), sem o relevo (apenas contemplado como mera apreciao esttica
da paisagem, mas muito til para outros fins), sem os fsseis (teis para entendermos melhor o passado,
compreender o presente e melhor prever o futuro) e sem os solos (de onde retiramos boa parte de nossos
alimentos).
Devemos ter conscincia que dependemos da Geodiversidade para assim podermos dar o
verdadeiro valor e importncia a ela. Se hoje os noticirios mostram terremotos, tsunamis, deslizamentos
de terras simplesmente por que a Terra mostra sua dinmica e, portanto entender que isto ocorre vai nos
ajudar a prever e trabalhar esses e outros desastres naturais.
De acordo com Bitar (2004) o Meio Ambiente compreende o contexto no qual seus meios ou
subsistemas (fsico, bitico e antrpico) interagem e estabelecem relaes de interdependncia,
determinando as condies de sustentabilidade e qualidade de vida humana. Desta forma, no devemos
esquecer que este meio fsico tambm importante e pode ser descrito como Geodiversidade (ou meio
abitico). Assim, uma conscientizao ambiental s ser completada sem alm de conhecermos a
Biodiversidade, tambm conhecermos a Geodiversidade. A sim, teremos um ambiente INTEIRO e no s o
MEIO ambiente (lembram do incio deste artigo?).
Todos possuem responsabilidades tambm sobre a Geodiversidade, sejam cientistas, professores,
polticos, gestores pblicos, estudantes, sociedade em geral. Assim, vamos conhec-la melhor, identificar
seus valores, suas ameaas e divulg-la. Pois s conhecendo a Geodiversidade que poderemos proteg-la,
tornando o Meio Ambiente verdadeiramente Inteiro.
Referncias
Bitar, O.Y. 2004. Meio Ambiente & Geologia. Srie Meio Ambiente, volume 3. Editora SENAC, So
Paulo, 151p.
Brilha, J.B.R. 2005. Patrimnio Geolgico e Geoconservao: a Conservao da Natureza na sua
Vertente Geolgica. Palimage Editora, 190p.
Gray, M. 2004. Geodiversity: valuing and conserving abiotic nature. John Wiley & Sons Ltd.,
Londres/Inglaterra, 434p.
Liccardo, A.; Piekarz, G.; Salamuni, E. 2008. Geoturismo em Curitiba. Curitiba, MINEROPAR. 122p.
Nascimento, M.A.L. 2010. Diferentes aes a favor do patrimnio geolgico brasileiro. Estudos
Geolgicos, 20(2): 81-92
Nascimento, M.A.L.; Ruchkys, U.A.; Mantesso-Neto, V. 2008. Geodiversidade, Geoconservao e
Geoturismo: trinmio importante para a proteo do patrimnio geolgico. So Paulo, Sociedade Brasileira
de Geologia, 82 p.
Silva, C.R. 2008. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado, para entender o presente e prever o
futuro. Rio de Janeiro, CPRM. 264p + 1 CD-Rom.
Stanley, M. 2000. Geodiversity. Earth Heritage, 14: 15-18.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

724

EDUCAO AMBIENTAL EM REAS DE GEOPARK: A FORMAO DO


CIDADO ECOLGICO.
Paulo Wendell Alves de OLIVEIRA*.
Josier Ferreira SILVA**.
*URCA (Universidade Regional do Cariri), e-mail: paulowendell@bol.com.br. Graduando do curso de geografia e bo lsista do
PIBID/CAPES.
**URCA (Universidade Regional do Cariri), e-mail: josiersilva@ig.com.br. Professor Dr. do departamento de geocincias e
coordenador do PIBID/CAPES.

RESUMO
O artigo procura demonstrar a importncia de um projeto de educao ambiental, como forma de
educao poltica, na busca de desenvolver em escolas de nossa regio, uma formao crtica e cidad dos
seus alunos, pautados na atuao solidaria e emacipadora de toda a sociedade, que visa consolidar uma
prtica de ecolgica solidaria e desenvolva a sustentabilidade nos ambientes em que estes residem, tendo
como foco de atuao a Regio Cariri. Buscamos abordar reas dos territrios que se localiza Geopark
Araripe, somando-se sua poltica que visa desenvolver a preservao das localidades de seus geosstios,
dotadas de valor ambiental, histrico, cientifico e socioeconmico. Essas potencialidades contribuem para
possibilidade de se efetivar um desenvolvimento nas comunidades localizas no entorno dos geosstios e de
se elaborar uma poltica de atuao de desenvolvimento econmico local, engajado na preservao desses
ambientes, na consolidao da educao ambiental e no fortalecimento comunitrio. Compreendendo a
importncia desta atuao, buscamos fortalecer o ensino, como agente que promove a conscincia
ecolgica, na busca da interdisciplinaridade, trabalhando as riquezas locais, tanto nos seus aspectos de
patrimnios culturais (material e imaterial), bem como, do patrimnio natural.
Palavras-chave: Educao ambiental, educao poltica, formao social, patrimnio cultural e
patrimnio natural.
ABSTRACT
The article is trying to demonstrate the importance of environmental education, as a form of policy
education, in seeking to develop in the schools from our region, a critical and civil background from their
students, guided in the mutual and emancipating actions of society, that seeks to establish a mutual
ecological practice, that develops sustainability in the environments in which they reside, having, as a focus,
the Cariri Region, mainly in the areas of the territories found in Geopark Araripe, gathering the policies
therein, that seek to develop the preservation of the locales of its geosites, that possess great
environmental, historic, scientific, and socioeconomic value, elaborating policies of the local economic
development, engaged in the preservation of those environments, in the establishment of environmental
education and in the local socioeconomic strengthening of the community. Understanding the importance
of this action, we seek to strengthen the teaching, as an agent that establishes environmental education, in
the search of interdisciplinary cooperation, working with the local resources, as much in its aspects of
cultural heritage (material and immaterial), as well as its natural heritage.
Key Words: Environmental education, policy education, social background, cultural heritage, and
natural heritage.
Introduo
A educao ambiental tratada aqui, antes de mais nada, como educao poltica, que busca
126
trabalhar a realidade prxima ao aluno, tendo como foco de atuao principal o Geopark Araripe , um
territrio com limites definidos e que possui stios de grande valor cientifico, patrimonial, , histrico,
ambiental e socioeconmico. Essas potencialidades e projetam como raridades, de grande importncia
para a compreenso da histria do planeta e conferem identidade ao lugar.
126

Geopark um selo encaminhado pela UNESCO, a um territrio de grande valor cientifico, cuja sua
preservao seja realizada, principalmente pelas comunidades residentes em torno dos geosstios. O Geopark Araripe
foi aprovado em 21 de setembro de 2006, aps passar por vistorias da UNESCO e ser oficializado na II Conferncia
Mundial de Geoparks, realizada em Belfast na Irlanda do Norte.
Joo Pessoa, outubro de 2011

725
Trabalhar essa realidade local com os alunos das escolas da regio Cariri (onde se situa o Geopark
Araripe) buscar inseri-los como cidados conscientes da importncia desses patrimnios e da sua
preservao na busca de desenvolverem uma poltica social de desenvolvimento sustentvel para a regio,
buscando cobrar de autoridades pblicas e privadas uma postura de atuao tica e sustentvel. nesse
sentido que, Reigota (2009) nos fala:
[...] A educao ambiental deve ser entendida como educao poltica, no sentido de que ela
reivindica e prepara os cidados e cidads para exigir e construir uma sociedade com justia social, cidadanias
(nacional e planetria), autogesto e tica nas relaes sociais e com a natureza. (p. 14)

O Geopark Araripe formado por dez geosstios127, distribudos no territrio das cidades de:
Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Misso Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri, localizadas na regio do
Cariri, situado ao sul do Cear. Cada localidade tem riquezas naturais especficas. Isso condicionado pelas
condies geoambientais encontradas na regio da Bacia Sedimentar do Araripe, criando um ambiente de
biodiversidade diversificada que se diferencia de outras partes do semi-rido nordestino. Por outro lado,
integrando a paisagem regional, associada a natureza, o Territrio do Geopark-Araripe tem como
caractersticas a evidencia de manifestaes culturais e artsticas locais vinculada s tradies agrrias e
religiosas. Como por exemplos, citamos o geosstio do horto, onde o Padre Ccero, ou Padim Cio, santo
popular na concepo dos romeiros, criou um ambiente religioso sob uma estrutura geomorfolgica de
rocha cristalina. Dessa ao sacerdotal resulta o deslocamento de romeiros para visitarem o local, cujo
nome, horto, se faz em referencia com o Horto das Oliveiras, criando um sentido cultural/religioso ligado
Paixo de Cristo. Trabalhar a preservao dessas identidades locais, considerando aqui tanto aspectos de
patrimnios culturais, de ordem material e imaterial, bem como os patrimnios naturais, tem-se a inteno
de formar cidados capazes de conhecer e compreender o espao. Ressaltamos que Conhecer o espao
conhecer a rede de relaes a que se est sujeito, da qual se sujeito (DAMIANI, 2010. p. 50), alertando a
todos da importncia de se preservar esses patrimnios, buscando salientar que essa postura levar ao
desenvolvimento de uma qualidade de vida melhor a toda sociedade, assim criando para nossa regio um
desenvolvimento sustentvel.
Contudo, essa riqueza cultural e ambiental existente no Cariri Cearense, convive com um grande
contraste social, onde sofrem intervenes inadequadas por parte de instituies pblicas e privadas que
delas usufruem. Ao mesmo tempo tais recursos no so socializados entre a populao, sobretudo pelas
comunidades prximas,
Partindo para atuao, tendo conscincia desses problemas se faz fundamental a participao da
instituio escolar, a partir da junto com a educao ambiental, considerando esta como sendo [...] uma
perspectiva da educao que deve permear todas as disciplinas (REIGOTA, 2009. p. 41.), tendo na
geografia uma base para se trabalhar questes de cunho espacial, visando principalmente identidade com
o lugar que o aluno tem, podendo levar estes a vivenciarem de forma a interagir com o meio e atuarem
criticamente para criar condies sustentveis, que sejam viveis para toda sociedade. Apoiando-se na
poltica de atuao proposta pelo Geopark, onde procura-se inserir as comunidades locais, para que estas
tenham conhecimentos das potencialidades locais, podendo desenvolver mecanismos de interveno,
pautados na preservao e transformando essas localidades (os geosstios) em fonte geradoras de renda.
Entendemos que, para se formar cidados necessrio adotar um discurso dialtico entre homemnatureza, com fim de levar a uma relao harmoniosa e operacionalizando assim a incorporao dos alunos
e comunidade local na sua prpria realidade social e formando cidados conscientes das transformaes
que ocorrem nos lugares onde eles residem, partindo assim para uma ao concreta na sociedade onde
vivemos.
Educao ambiental: uma educao poltica de formao cidad.
A educao ambiental, como defende a maioria dos seus adeptos hoje, que est seja uma
temtica interdisciplinar e holstica, tanto nas instituies de um modo geral como nas escolas
127

So territrios delimitados, segundo sua relevncia de suas caractersticas para a histria da terra
(patrimnio geolgico). Outros aspectos fundamentais tambm so considerados: biodiversidade, histria, cultura,
arqueologia dentre outros.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

726
especificamente, com a finalidade de forma cidados consciente das riquezas naturais e culturais existentes
em nosso planeta como um todo, bem como, as que se fazem presentes no nosso dia-a-dia nos lugares
onde vivemos e freqentamos. Reigota (2009, p.41) aponta-nos que:
Em meados da dcada de 1980 [...]. O conselho federal de educao [...] assumindo as posies dos
mais conhecidos educadores ambientais brasileiros, que consideram a educao ambiental como uma
perspectiva da educao que deve permear todas as disciplinas.

A educao ambiental deve ser uma educao poltica como defende Reigota (2009), pautada na
formao de um cidado ecolgico, que conhea sua realidade local, as potencialidades existentes nesse(s)
lugar(es) e a importncia da sua preservao, mais do que isso, no ficar apenas na preservao, mas que
nossas atitudes, frente a educao ambiental, possa ir bem mais alm, como nos fala Barcelos (2010),
tornando os indivduos em pessoas que aprendam a viver, a compartilhar e respeitar idias, buscando uma
convivncia harmoniosa e solidaria em comunidade e assim tomar conscincia das questes ambientais j
existentes nos lugares onde vivem, e que juntos possam cobrar das autoridades competentes (pblicas e
privadas) postura de atuarem de forma a permitir que se possa ter um ambiente com justia social,
autogesto e tica com o meio ambiente.
Partindo desses princpios, atuando em algumas escolas da regio Cariri, tm-se buscado
desenvolver uma conscincia ambiental junto aos alunos e professores, procurando trabalhar tanto dentro
dos ambientes escolares (as salas de aula), como na prtica de campo, inserindo estes na realidade
ambiental de nossa regio, bem como a outros fatores que esto ligados a est questo, como o caso dos
patrimnios culturais, histricos, cientifico e socioeconmico, que merece ateno ao se tratar da questo
ambiental, j que esto todos relacionados e ligados direto ou indiretamente.
A atuao nessas escolas, como o incio desse trabalho que busco desenvolver, s se tornou
possvel graas aos estgios que realizei no decorrer do meu curso de licenciatura em geografia, como
128
tambm pela atuao no projeto do PIBID , que trabalha a caracterizao socioambiental da Bacia
Sedimentar do Araripe e o Geopark Araripe, nas escolas da regio. A partir desses trabalhos e projetos
notou-se a necessidade de desenvolver um dilogo maior entre escolas, o meio acadmico e as
comunidades, tentando abrir novas vises e possibilitando uma maior ao sobre estes problemas.
Atentando a importncia de se debater as problemticas ambientais e caractersticas que a est temtica
esto relacionadas necessrio uma educao ativa que tenha a inteno de formar cidados conscientes
do seu meio e que assumam um papel de agentes de luta na consolidao de um ambiente autosustentvel.
Conciliando a Educao ambiental com a poltica de atuao proposta pelo Geopark, que est
pautada no desenvolvimento econmico das comunidades locais, (principalmente as que se localizam
prximas aos geosstios), que passam a desenvolver um papel de preservarem essas localidades. Sendo
assim, procuramos consolidar uma atuao participativa das comunidades, atravs da educao ambiental,
ressalta Reigota (2010, p.10), que cita uma das resolues da conferncia de Estocolmo que: [...] Apontava
para a necessidade de se realizar a educao ambiental tendo em vista a participao dos cidados na
soluo dos problemas ambientais e ainda ressalta:
[...] A educao ambiental uma proposta que altera profundamente a educao como a
conhecemos [...]. Trata-se de uma educao que visa no s a utilizao racional dos recursos naturais (para
ficar s nesse exemplo), mas basicamente a participao dos cidados nas discusses e decises sobre a
questo ambiental (REIGOTA, 2010, p.11)

Partindo desse princpio, salientamos mais uma vez a importncia de fazer/praticar a educao
ambiental, no somente no ambiente escolar (a sala de aula), mais para alm desta, atuando junto as
comunidades locais no sentido de formar cidados capacitados para reivindicarem e contriburem junto aos
rgos pblicos e privados na tomada de deciso com vistas a melhoria da qualidade de Vida. Vale dizer
que tais prticas polticas, resultam da promoo de espaos de dilogos, com respeito e liberdade de
128

O PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciao a Docncia) um programa financiado pela CAPES
(Coordenao de Aperfeioamento Pessoal de Nvel Superior), que tem como intuito principal fortalecer a formao e
atuao docente dos alunos de diversos cursos de licenciatura, que atravs desta, encontram mais uma oportunidade,
aliada ao estgio, que ajuda no fortalecimento da formao de futuros professores.
Joo Pessoa, outubro de 2011

727
exposio de idias, contribuindo para um consenso, visando uma alternativa solidria ligada a um bem
comum de toda sociedade, bem como, ao do ambiente onde esto inseridos.
Ao se trabalhar a educao ambiental necessrio adequarmos nossa linguagem aos pblicos ao
qual nos dirigimos [...] pois o processo pedaggico precisa estar adequado s faixas etrias a que se
destina (REIGOTA, 2010, p.40), fazendo com que estes entendam a importncia de assumirem uma
postura de cidados crticos no desenvolvimento socioambiental de suas localidades, e tomando o cuidado
de quando assumirmos um discurso, que: [...] no podemos descuidar da necessidade de evitar agravar
ainda mais os processos de aniquilao e destruio de saberes culturais. (BARCELOS, 2010, p.68) ,
sabendo que com a influncia da mdia de massa, da dominao de culturas de massa sobre as outras,
atravs do processo de modernizao/ps-modernizao e desrespeito ao senso comum, acabamos por
destruir culturas que se ligam diretamente a identidade criada com o lugar pela vivncia desses cidados
com seus lugares de origem (TUAN, 1980), iremos retomar essas discusso um pouco mais adiante.
As vrias comunidades no entorno dos geosstios e que sofrem com algumas intervenes
inadequadas, como foi apontado por alguns moradores e alunos de escolas prximas aos geosstios em
visitas realizadas a essas localidades, apontando que alguns recursos existentes nessas localidades, no
chegam de forma adqua e igualitria para seus moradores. Vamos falar de alguns casos.
O primeiro geosstio que identificamos com alguns desses problemas o geosstio Riacho do
Meio129, dotado de um grande potencial hdrico a partir de suas duas fontes, que afloram no sop da
Chapada do Araripe, mas que sofre intervenes inadequadas, onde essas guas so desviadas por
tubulaes plsticas, gerando conflito na comunidade que se utilizam dessas guas, outro fator a
utilizao inadequada desse espao como balnerio, sendo que est gua, vinda de suas fontes, serve para
o consumo humano. Alm do potencial hdrico a localidade tambm desperta a ateno pelo valor histrico
e da sua biodiversidade, como patrimnio cultural e ambiental, contribuindo com memria viva dessa
localidade. As potencialidades naturais e culturais ajudam a contar a histria do seu povo pelos fatores
histricos ocorridos em pocas passadas, bem como toda a histria da humanidade conservada na geologia
dessa localidade com em outros geosstios. Com relao biodiversidade a presena de espcies
endmicas outro rico fator que encontramos nessa localidade a presena da Samambaiau (planta do
perodo pr-histrico) e o Soldadinho do Araripe (ver foto 1.) smbolo da regio.
Outros geosstios tambm foram encontrados problemas parecidos com esse, na localidade do
municpio de Nova Olinda, onde se encontra o geosstio Pedra Cariri130, local que leva esse nome por causa
da pedra cariri (um calcrio amarelinho ou cinza-claro com finas lminas subparalelas, que os
especialistas reconhecem como Membro Crato da Formao Santana.), est que muito utilizada na
construo civil, para acabamentos de caladas, paredes, dentre outros. Uma riqueza que sofre grande
contraste com a realidade vivida pelos moradores do municpio de Nova Olinda e Santana do Cariri. Um
grave problema que ocorre na extrao desse calcrio laminado (pedra cariri ver foto 2.) a forma como
o mesmo retirado das minas, que por no serem revestidas, so lavadas pelas guas das chuvas
carregando consigo sedimentos aos rios e aqferos dessas localidades, deixando a gua imprpria para o
consumo humano. O contrabando dos fsseis outro problema encontrado nessas localidades.
Portanto, torna-se imprescindvel [...] incluir nas atividades de educao ambiental a temtica
prxima ou distante (geograficamente) relacionada com o cotidiano das pessoas (REIGOTA, 2009, p.48),
buscando uma atuao crtica de formao socioambiental, trabalhando com esses indivduos suas
realidades prximas, na busca de consolidarem uma soluo a estes problemas, pautado numa formao
solidria.

129

O Geosstio Riacho do Meio est situado no Parque Ecolgico Riacho do Meio, no Km 09 da rodovia
estadual CE-60, em Barbalha. uma rea de vegetao densa, com interessantes trilhas que passam por duas fontes
naturais de guas cristalinas e uma vista privilegiada para o vale do Cariri.
130
Est a 3 km do municpio de Nova Olinda, na rodovia CE-166, que vai para o municpio de Santana do
Cariri, direita, prximo da mina trs irmos.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

728

Foto 1: Soldadinho do Araripe (Antilophia bokermanni). Espcie endmica.

Foto 2: Calcrio laminado pedra cariri (preserva fsseis de: insetos (grilos, formigas de asas, lacraias,
besouros, mariposas, baratas, etc.), peixes, algas e vegetais.)

A preservao dos patrimnios cultural e natural na formao de cidado ecolgico.


Qual a importncia de se trabalhar a conservao dos patrimnios cultural (material e imaterial) e
natural, na formao de um cidado que se preocupe com as questes ambientais? No que isso pode
contribuir para a formao de um sujeito ecolgico? Ser possvel que a partir da conservao dessas
memrias (naturais e culturais) o homem pode preserva seu meio, combatendo problemas ambientais?
Qual a importncia de se trabalhar isso em sala de aula? Partindo, desses questionamentos, buscando suas
respectivas respostas na procura de saber a contribuio deste para a preservao ambiental, vamos
entender o que venha a ser, tais patrimnios.
Segundo Carvalho (2008, p.47), [...] O Patrimnio Cultural diria respeito aos monumentos (desde
obras arquitetnicas at conjunto de construes) e aos stios (como os stios arqueolgicos) de valor
universal excepcional do ponto de vista da histria, arte ou cincia. Ainda segundo este autor, diz que:
[...] A noo de Patrimnio Natural, por sua vez, incluiria os monumentos naturais (constitudos de
formaes fsicas e biolgicas), as transformaes geolgicas e fisiogrficas, os stios e demais reas naturais,
todas de valor universal excepcional do ponto de vista esttico, cientifico e da conservao (CARVALHO,
2008, p.48).

Entende-se que atravs da cultura e de suas expresses materializadas como foi descrito acima,
bem como pelas manifestaes artsticas e culturais e as expresses naturais, que o homem busca se
conhecer. atravs de suas aes que o homem vai questionar-se sobre sua existncia e seu papel no
planeta. Cada povo carrega suas razes, suas identidades culturais e no decorrer do processo histrico
Joo Pessoa, outubro de 2011

729
aperfeioou suas tcnicas. A cultura de um modo geral est intimamente ligada natureza, onde a partir
do trabalho o homem a transforma, cria espaos artificializados (natureza transformada ou segunda
natureza) e vai produzindo e se constituindo como sociedade.
Na regio Cariri, como j foi citado, possui diversas formas de manifestaes culturais e artsticas,
assim como, as formaes naturais existentes na paisagem do seu territrio, onde muitas destas esto em
processo de reconhecimento como patrimnio material e imaterial pelo Instituto do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional IPHAN. No caso, respectivamente a esttua do Padre Ccero e a festa do pau-dabandeira de Santo Antnio em Barbalha CE. O prprio territrio do geopark-Araripe possui patrimnios
naturais passivos de serem incorporados ao turismo. A fala do professor Dr. Josier131 (2011), a partir de
entrevista, faz referncia a existncia dessas manifestaes na Regio Cariri e atenta para a importncia de
sua preservao e sua insero pedaggica do ponto de vista de uma educao ambiental, para a
preservao desses patrimnios culturais e natural locais:
O Cariri tem dois fatores que o caracterizam de forma mais expressiva. Uma sua cultura, suas
tradies, sobretudo no campo da cultura popular, as suas crenas e o outro fator que emerge no Cariri so
as condies geoambientais diferenciadas do restante do semi-rido. As especificidades que do origem ao
Cariri, que recepciona reas de floresta, as fontes. E, a grande importncia de se integrar essa dimenso da
natureza a cultura, porque na verdade, o espao ao ser trabalhado pelo homem, resulta na maneira de uma
forma de interpretao do homem do planeta. Exemplo: O homem s constri a igreja porque ele tem uma
religiosidade. O templo material, mas o que move a construo do templo a sua dimenso espiritual; Os
seus artefatos so produzidos a partir da natureza e que agregam elementos contidos nos seus espaos
naturais. Enfim impossvel a gente separar a dimenso da cultura, da dimenso da natureza. Porque at
mesmo o artesanato ele ganha uma expresso como se representa a natureza trabalhada de acordo com o
mundo imaginrio do arteso. [...] Do ponto de vista pedaggico, ldico, ela tem uma importncia
fundamental. Porque atravs das expresses, da sua cultura, o homem vai se conhecer, atravs de suas
aes o homem vai questionar o papel de sua existncia no planeta. Ento a identidade do homem do Cariri,
a identidade do homem Nordestino, passa pela descoberta de suas razes e ao descobrir suas razes o homem
vai perceber que o exerccio de suas vidas esta relacionado natureza. [...] Toda a artificialidade que se faz da
natureza ela est contida nas expresses do povo do Cariri e Nordestino.

Quando procuramos conhecer a manifestao desses patrimnios no nosso territrio, partimos


para uma ao prtica, levando cada aluno a conhecer esses espaos (quando os mesmos no tm
conhecimento destes espaos). Cada geosstio apresenta uma manifestao de um dos tipos de
patrimnios j citados, que abrem uma possibilidade pedaggica de se trabalhar de forma interdisciplinar e
inserir os alunos no conhecimento do valor histrico e natural que cada um possui, j que estas
manifestaes culturais esto ligadas aos ambientais naturais aos quais se ligam.
Um grande exemplo que j foi cita o Geosstio Colina do Horto (ver foto 3.), local de religiosidade
e com vrias manifestaes da crena popular da regio de uma forma partcula, como de outras
localidades. Remontando um ambiente cercado de espiritualidade e mstica, o Padim Cio graas s
caractersticas geomorfolgicas e geolgicas, existentes no relevo, localizado no Juazeiro do Norte (antes
na poca do padim cio era a Vila , pertencente ao municpio do Crato - Ce), ele procurou da vida ao
calvrio sofrido por Cristo nos seus ltimos momentos de vida, reconstruindo nesse espao o Horto das
Oliveiras, convidando os seus visitantes a fazerem uma viagem no tempo e se deslocarem ao percurso
feito por Cristo at o seu Sepulcro. Assumindo as caractersticas das cresas locais o lugar ganhou sentido e
visitado por milhares de pessoas a cada ano, nas grandes romarias existentes em Juazeiro do Norte CE.
Partindo dessa cultura local, podemos atuar na preservao da memria local, bem como de sua cultura e
crena, pautados na preservao do ambiente local, levando a uma conscincia ambiental, conscientizando
os moradores da localidade e seus visitantes a compartilharem o lugar e a seguirem o exemplo dado pelo
prprio Padim Cio que trabalha a conservao ambiental. Ao trabalhar a conservao dessa localidade,
poderemos formar nos alunos e indivduos que l esto e visitam uma conscincia crtica, atentando a
importncia de cuidar do nosso ambiente, transportando para demais localidades.
131

Doutor em Educao Brasileira pela Universidade Federal do Cear (UFC), professor adjunto da
Universidade Regional do Cariri (URCA), do departamento de geocincias, com atuao e produo acadmica voltado
para estudos geo-histricos, impactos ambiental e cultural, Cultura, tradio e educao.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

730
Outros geosstios carregam fortemente traos da cultural local. A tradicional festa de Santo Antonio
em Barbalha CE marcada principalmente pelo corte e o tradicional carregamento do troco da rvore,
que ir servir de mastro para bandeira da festa. Como a partir do corte de uma rvore poderemos trabalhar
a conscientizao ambiental? A partir do corte dessa rvore para a festa, criou um conflito entre cultura e
preservao ambiental, que logo abriu portas para outras discusses relevantes a preservao natural. O
corte da rvore pode servir para incentivar ao reflorestamento de rvores da mesma espcie, buscando
trabalhar de que forma a mesma deve ser feita, obedecendo s condies geoambientais para o
florescimento das mesmas. Alm de atentar a outros graves problemas, como a extrao de madeira para
alimentar os fornos na produo de matrias de construo e cortes clandestinos. Juntos a crena popular,
mais uma vez, poderemos criar espaos de dilogos dentro da sociedade, buscando formar uma
conscincia ambiental. Podemos trabalhar muito fortemente isso no ambiente escolar, nas diversas
disciplinas.
A conservao e a luta pela preservao dos stios geolgicos (ver foto 4.), presentes em nossa
regio mais uma alternativa para o debate ambiental. Despertando a curiosidade dos alunos, a partir das
formas de vida que habitaram em outras eras o nosso planeta, cria-se a oportunidade de se fazer ativo um
discurso da importncia da preservao desse patrimnio natural, tambm pode buscar despertar nas
comunidades que vivem em torno desse stio a conservao e a luta contra o contrabando de fsseis,
podendo forma uma localidade turstica de conservao ambiental e histrica do planeta, fazendo com que
os cidados possam junto a essas localidades, escola, corpo acadmico, autoridades pblicas e privadas
debaterem e buscarem alternativas de transformar essa localidade em local de sustentabilidade para todos
os cidados e despertando nos seus visitantes a importncia da preservao de tais espaos. Enfim,
trabalhando a cultura local, as crenas, as manifestaes com os ambientes aos quais esto ligados
podero buscar formar uma conscincia de preservao social nos residentes dessas localidades, que
podem ser hoje, tomados como espaos banais, tornando estes em locais de sociabilidade coletiva e de
formao de cidados conscientes de suas riquezas e potencialidade, atentando para a preservao desses
espaos (CARVALHO, 2008).

Foto do Geosstio Colina do Horto, formado por granitos e filitos que datam de aproximadamente 650
milhes de ano.

Joo Pessoa, outubro de 2011

731

Geosstio Parque dos Pterossauros, localizado no municpio de Santana do Cariri CE.

Consideraes Finais:
A educao ambiental, ainda hoje, encontra dificuldades e resistncia para ser trabalhado no
ambiente escolar, como fora destes, sendo que os professores no conseguem desenvolver atividades, em
sala de aula, com suas disciplinas, mesclando-a temtica ambiental. Isso muito se deve ao fato de que, no
usamos o espao escolar, como local de constante formao do professor, e no partimos para um dilogo
com os outros professores, isso acaba por empobrecer a educao de um modo geral e a educao
ambiental especificamente (BARCELOS, 2010).
O ambiente escolar deve ser o primeiro lugar onde o aluno deve ter o contato com a educao
ambiental, sendo que a partir dessa postura, desenvolvemos o cuidado de no transformar em espetculo
os espaos naturais, mistificando e colocando-os como nicos ao se trabalhar a temtica ambiental.
Nesse sentido, buscamos desenvolver esse trabalho, atentando para a possibilidade de fazer com
que a escola (o ambiente escolar), seja o primeiro passo para a educao ambiental, como educao
poltica (REIGOTA, 2009), que forma cidados crticos e capazes de identificar as transformaes
inadequadas de ordem local e global, sofridas pelo seu espao de vivncia. Essa interpretao reivindica
uma ao prtica, conciliando o seu conhecimento e atitudes a projetos desenvolvidos em comunidades,
como o Geopark Araripe no nosso caso especfico, visando uma postura de emancipao e solidariedade
com seus integrantes, na procura de desenvolver dilogos pautados num desenvolvimento sustentvel
para as localidades em que vivemos.
Referncias Bibliogrficas:
ALIER, Joan Martnez. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valorao. So
Paulo: Contexto, 2007.
ANJOS, Maylta Brando dos. Educao ambiental e interdisciplinaridade: reflexes
contemporneas. So Paulo: Libra trs, 2008.
BARCELOS, Valdo. Educao ambiental sobre princpios, metodologias e atitudes. 3 Ed.
Petrpolis: Vozes, 2010.
CARVALHO, Vilson Sergio de. Educao Ambiental Urbana. Rio de Janeiro: WAK editora, 2008.
CARVALHO, Marcos Bernardino de. A natureza na geografia do ensino mdio. In: OLIVEIRA,
Ariovaldo Umbelino de (org.). Para onde vai o ensino de geografia. 8 Ed. 5 reimpresso. So Paulo
Contexto, 2010.
DAMIANI, Amlia Luisa. A geografia e a construo da cidadania. In: CARLOS, A. F. A (org.). A
geografia na sala de aula. 8 Ed. 5 reimpresso. So Paulo: Contexto, 2010. p. 50-61.
GEOPARK ARARIPE. O que um Geopark. Disponvel em: <www.geoparkararipe.org.br/geoparkwebsite/home.jsp?page=geopark-araripe>. Acesso em: 11 de jun. 2011.
GONALVES, Carlos Walter Porto. Os (des) caminhos do meio ambiente. 14 Ed. So Paulo:
Contexto, 2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessrios a prtica educativa. Coleo Leitura.
37 Ed. Rio de Janeiro Paz e Terra, 2008.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

732
MENDONA, Francisco. Geografia e meio ambiente. 8 Ed, 3 reimpresso. So Paulo: Contexto,
2010.
REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representaes sociais. 8 Ed. So Paulo: Cortez, 2010.
REIGOTA, Marcos. O que educao ambiental. 2 Ed. So Paulo: Brasiliense, 2009.
ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geografia e as transformaes da natureza: relao sociedadenatureza. In: LEMOS, A. I. G. de. & GALVANI, E (orgs.). Geografia, tradies e perspectivas:
Interdisciplinaridade, meio ambiente e representaes. So Paulo: Expresso Popular, 2009. p. 119-138.
SILVA, Edson Vicente da. & RODRGUES, Jos Manoel Mateo. Educao ambiental para o
desenvolvimento sustentvel. In: MATOS, K. S. A. L. de (org.). Educao ambiental e sustentabilidade.
Fortaleza: Editora UFC, 2009.
SCOTTO, Gabriela; CARVALHO, I. C. de M. & GUIMARES, L. B. Desenvolvimento Sustentvel. 5 Ed.
Petrpolis: Vozes, 2010.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: Um estudo da percepo, atitudes e valores do meio ambiente. So Paulo:
DIFEL, 1980.

Joo Pessoa, outubro de 2011

733

ASPECTOS GEOMORFOLGICOS E A IMPORTNCIA DA EDUCAO


AMBIENTAL PARA O AMBIENTE DA SERRA DA CAXEXA.
Roberlndia da Costa Rodrigues
Curso de Graduao em Geografia - UEPB CH
E-mail: roberll22@hotmail.com
Renata de Sousa Cordeiro
Curso de Graduao em Geografia - UEPB CH
E-mail: renata.sousa12@yahoo.com.br
Francisco Fbio Dantas da Costa.
Gegrafo, Doutor em Geografia pela UFPE

RESUMO
O relevo resultado da constante interao entre os diversos elementos da natureza, estrutura
geolgica, clima, hidrografia e vegetao, que apresentam caractersticas peculiares no que diz respeito a
sua gnese e dinmica. Na natureza eles nunca se apresentam separados, sua dinmica especfica depende
da dinmica dos outros, compondo os ecossistemas Christofoletti (1980). Este trabalho enfatiza a
necessidade do desenvolvimento da conscincia ecolgica sobre o ambiente geomorfolgico da Serra da
Caxexa no municpio de Casserengue PB, para um desenvolvimento sustentvel local centrado na
participao, organizao, educao e no fortalecimento das pessoas. Que deve ser apropriado no s aos
recursos e ao meio ambiente, mas tambm cultura, histria e sistemas sociais do local. Destacamos a
idade geolgica, os tipos de rocha e a estrutura geolgica pertinente rea e os agentes de seu modelado.
A Serra da Caxexa uma subunidade do Planalto da Borborema, na Paraba, no contato deste com a
depresso do Curimata, apresenta caractersticas peculiares devido atuao do clima semi-rido
correspondendo na realidade a um grande inselbergue rico em mataces em ampla fase de desagregao
mecnica e aplainamento, com significativa perspectiva de aproveitamento turstico. Como resultado,
identificamos vrias formas de degradaes antrpicas sob a geomorfologia local. Esta rea deve ser
considerada um patrimnio histrico-natural da nossa regio, j que foram catalogados vrios stios
arqueolgicos na Serra. Sendo assim devem ser implementadas polticas pblicas locais de promoo
turstica e conservao da localidade, possibilitando as comunidades adquirir conscincia do seu meio
ambiente para que se tornem aptos a agir e sanar problemas ambientais presentes e futuros.
Palavras-chave: relevo, clima, ambiente e degradao.
1 INTRODUO
O delineamento das formas atuais do relevo remete a processos oriundos de mudanas climticas e
geolgicas ao longo dos tempos. resultado da interao entre diversos componentes da natureza
decorrente de uma histria evolutiva. O relevo corresponde s formas, silhuetas elaboradas na superfcie
da Terra. De complexa exuberncia em sua elaborao natural, h milhares de anos as reas mais elevadas
do relevo objeto das especulaes de curiosos e especialistas sobre sua gnese e processos de
formaes. As elevaes que se destacam numa regio atraem a ateno do observador de tal forma [...]
por ser uma configurao morfolgica que tanta beleza empresta a paisagem. (LEINZ & AMARAL, 1978, p.
367).
O relevo no como a rocha, o solo, a vegetao, ou at mesmo a gua que se pode pegar,
constitui-se eminentemente de formas com arranjo geomtrico as quais se mantm em funo do subtrato
rochoso que as sustentam e dos processos externos e internos que a geram (ROSS, 2001, p.10). Dentre as
serras principais da regio est a da Caxexa, que destaca na paisagem do municpio de Casserengue pela
expresso topogrfica, constituindo uma poro bem elevada do relevo local tambm denominado de
inselbergue. Segundo Carvalho (1982, p. 49), os inselbergues definem-se como morros totalmente isolados que
pontilham os baixos pediplanos ou como morros semi-isolados unidos ainda por exgua superfcie do conjunto
das serras locais.
A Serra da Caxexa chama a ateno tanto pelos arranjos rochosos de mataces que expe, como
pela vista panormica da Depresso do Curimata que se deslumbra do seu topo, j que fica encravada no
limite da Escarpa Oriental do Planalto da Borborema com a referida Depresso. Seu relevo estruturado e

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

734
alinhado, cuja superfcie gradualmente se eleva do centro para a periferia at se confundir com a
depresso do Curimata.
O Gegrafo Ab Sber (1969 apud CARVALHO 1982, p.50), explicando as superfcies elaboradas da
Borborema esclarece que o topo de pequenos macios ou cristas alinhadas so indistintamente denominadas
de Serras na toponmia regional. E que na realidade, constituem projees individualizadas e espacialmente
reduzidas daqueles nveis altimtricos que formam a superfcie aplainada do macio da Borborema.
Atualmente, observamos acontecimentos planetrios que manifestam o aparecimento de grandes
problemas ambientais devido aos novos padres econmicos recentes que utilizam predatoriamente os
recursos naturais. Tais prticas danosas provocam fenmenos catastrficos na natureza. A alternativa
para diminuir os impactos ambientais mudarmos a forma como exploramos os recursos naturais, e
passarmos a viver a sustentabilidade.
Segundo Macedo (1995), considera-se impacto ambiental o conjunto das repercusses e das
conseqncias que uma nova atividade ou uma nova obra, quer pblica quer privada, possa ocasionar ao
ambiente. Essa mudana de atitude, dever ser pautada na implementao de programas capazes de
promover a importncia da educao ambiental e a necessidade da adoo de prticas que visem
sustentabilidade e a diminuio de qualquer impacto que nossas atividades venham a ter no ambiente
ecossistmico da Serra da Caxexa que a circunda e mantm.
O objetivo da pesquisa formalizar proposta para a educao ambiental dos moradores das
comunidades locais situadas no entorno da Serra da Caxexa e, caracterizar o seu ambiente, identificando os
impactos ambientais existentes na rea, e por conseguinte, apresentar alternativas de uso e manejo
sustentvel dos recursos naturais.
2 METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada a partir de trabalho de campo, levantamento bibliogrfico para a
fundamentao terica de uma viso tcnica dos autores que discutem a educao ambiental e tambm
atravs de observaes empricas como aplicao de questionrios nas localidades envolvidas.
O Estudo teve inicio com a pesquisa bibliogrfica, levando-se em considerao a necessidade
de embasamento terico que o fundamentou. Nesta etapa foi analisadas diversas produes acadmicas e
cientficas sobre educao ambiental, constitudas de livros, artigos, peridicos, e material disponibilizado
na Internet. Finalizando a pesquisa, com desenvolvimento de propostas para implementao da Educao
Ambiental na comunidade local, por entendemos que estaremos contribuindo para despertar a conscincia
ecolgica e preservao ambiental da rea.
Como procedimento metodolgico, ser utilizado o mtodo de investigao geogrfica da
paisagem do gegrafo Antonn Bucek. Para Bucek (1983, p. 22-23) a investigao geogrfica completa do
meio ambiente consta dos seguintes componentes:
1) Caracterizao geogrfica dos elementos das interaes principais dos sistemas do meio
ambiente do territrio avaliado;
2) Evoluo dos efeitos negativos das atividades humanas sobre o meio ambiente;
3) Diferenciao territorial da tropicalidade, paisagem e do meio ambiente;
4) Seleo dos segmentos da paisagem, que demandam um cuidado e uma proteo elevada;
5) Evoluo geogrfica global do estado do meio ambiente;
6) Diagnstico do desenvolvimento territorial diferenciado e proposta de otimizao do meio
ambiente.
Nossa rea de estudo localiza-se no municpio de Casserengue, estado da Paraba, a 154 km, da
capital Joo Pessoa. Est situada na Mesorregio do Agreste Paraibano, includa na microrregio do
Curimata Oriental. Limita-se a leste com a microrregio do Curimata oriental (Solnea) divisa do
Curimata oriental e Brejo Paraibano (Bananeiras), a oeste com o Curimata ocidental (Damio), ao norte
com a microrregio do Curimata oriental (Cacimba de Dentro) e ocidental (Cuit) e ao sul com a
microrregio ocidental (Remgio). Apesar da vizinhana mida, bem como o brejo paraibano tem muito
mais traos de semi-aridez e Curimata. No trabalho desenvolvido na Serra da Caxexa no municpio de
Casserengue -Pb, foi levado em considerao a paisagem natural (clima, relevo, cobertura vegetal, recursos
hdricos, uso e ocupao do solo).
Joo Pessoa, outubro de 2011

735
3 RESULTADOS E DISCUSSES
3.1 Caracterizao Geoambiental da Serra da Caxexa, Casserengue PB
A rea de estudo da pesquisa a Serra da Caxexa localizada na regio natural geogrfica do
Nordeste, na messoregio do Agreste paraibano, na microrregio do Curimata Oriental. As serras
nordestinas caracterizam o seu geossistema, aqueles que so considerados fenmenos naturais, em anlise
com os aspectos sociais e econmicos, sistemas dinmicos sob a influncia do homem.
A geofcie a Serra da Caxexa e o geotopo o relevo residual serrano. Tem como coordenadas
geogrficas 6 45.51 81.6de latitude sul, e 35 53.16 84.4 de longitude oeste, com altimetria de 617m
acima do nvel do mar. (SANTOS & MEDEIROS, 2005. p. 53).
A formao litolgica est voltada ao Pr Cambriano, apresentando um material litoestratigrfico
originrio de rochas cristalinas. Essa alternncia de blocos de embasamentos com faixas mveis o
modelado da tectnica da provncia. Profundas geofraturas ou zonas de cisalhamento arranjado
longitudinalmente seccionam o conjunto e so denominados lineamentos de Patos e Pernambuco ao sul.
Essas estruturas, aparentemente formadas no ciclo brasiliano (540 Ma) apresentam grau metamrfico
variado (GUERRA & CUNHA, 2001).
O macio rochoso da Caxexa passou por processos geolgicos e condies diferentes daqueles nas
quais se formou por ser submetido ao de condies de temperatura, presso, presena de
agentes volteis e fortes atritos. Para Ernest (1977), essas rochas se relacionam com o ambiente de
metamorfismo, tudo indica que foram produzidas atravs de todos os tempos geolgicos por episdios
sucessivos de adaptao. Dentre as rochas principais existentes na serra que passaram por estas
transformaes temos, os gnaisses, micaxistos e migmatitos.
O compartimento do Curimata se estende num prolongamento para Nordeste, de acordo com
Assis & Borges (2004) est ligado a fenmenos tectnicos que originou o graben ocupado pelo rio
homnimo. Toda a regio do Curimata, embora juncada por falhas e razes de dobramentos oriundos
das fases de tectnicas e orognese pr-cambriana, apresenta-se geralmente bastante aplainada.
A drenagem temporria representada pela bacia hidrogrfica do rio Curimata, apresenta fluxo
hdrico em seu curso, apenas nas pocas de chuva. No perodo de estiagem o seu leito seca totalmente. No
sop da Serra da Caxexa a cerca de 2 Km, existe um dos afluentes do Curimata: o rio Salgado. Com
relao hidrografia do local, Carvalho (1982, p.42) se refere como sendo, uma drenagem intermitente,
sazonal, exorrica. H dissecao relativamente acentuada no escarpamento desta Serra, promovida pelos
agentes erosivos pertinentes ao rio Curimata e seus formadores.
Com relao ao clima predominante na rea tropical semi-rido. A irregularidade na distribuio
das chuvas e a sucesso de perodos prolongados de estiagem constituem alguns aspectos que assolam os
recursos hdricos locais. A Serra da Caxexa uma das vertentes do vale do rio Curimata entalhada no macio
cristalino da Borborema, na direo SW-NE, coloca-se, portanto, numa posio perpendicular, grosso modo, a
direo dos ventos alsios, o que dificulta a penetrao da umidade. Na concepo de Heckendorff & Lima
(1985), pequenas diferenas trmicas ambientais so influencia da altitude mostrando de certa forma o papel
do relevo sobre o clima onde em reas serranas transversais aos ventos alsios do sudeste ocorrem desvios
significativos no sentido de determinar uma zona de chuvas escassas.
A cobertura vegetal de fundamental importncia para o desenvolvimento dos solos, do relevo,
dos climas, como do ser humano. Nesta rea do Curimata, a composio e estrutura da vegetao so tpicas
de clima quente e seco; enquadra-se no domnio das Caatingas. A vegetao de Caatinga Hipoxerfila, com
pequenas reas de Florestas Caduciflia. (CPRM, 2005).
3.2 Descrio Morfolgica da Serra da Caxexa, Casserengue PB
A Serra da Caxexa como Unidade de mapeamento e fisiogrfica, est localizada na regio geogrfica
do Nordeste, na mesorregio do Agreste paraibano, na microrregio de Curimatau oriental. Esta vertente
vem sofrendo intenso processo de intemperismo, cujas modificaes de ordem fsica (desagregao) e
qumica (decomposio) resultam em rochas alteradas e solo, estando sujeitos a outros processos como
eroso, transporte, sedimentao, os quais esto levando ao aplainamento da serra da Caxexa. Os fatores
que controlam a ao do intemperismo o clima semi-rido que se expressa na variao sazonal da
temperatura e na distribuio das chuvas.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

736
As alteraes fsicas so bastante acentuadas nesta vertente. Evidenciadas na desagregao das
rochas inalteradas transformadas em material descontnuo e quebradio devido separao dos gros
minerais antes coesos resultantes de vrios fatores. Dentre eles a mudana cclica da umidade
associada variao trmica diria em diferentes estaes do ano, fragmentam as rochas expondo a
superfcie ao ar e gua. Quando chove, a presena da gua nas fissuras acarreta o aumento de volume e
presso nas paredes, causando esforos que aumentam as fraturas, bem como, o crescimento de razes
entre as fissuras. H a disperso de mataces por toda parte na Caxexa, resultante de processos
intempricos de desagregao das rochas, que ao se desagregarem, tombam formando um cone de
dejeo com detritos muito grosseiros.
Trata-se de uma zona de alta presso climtica, dispersora de ar nas quais as condies naturais
no permitem a ocorrncia do ciclo ascenso-condensao-precipitao do vapor de gua. Como esclarece
Piauhy (2003) a dinmica da movimentao das massas de ar do clima semi-rido permite no inverno a
penetrao das massas equatorial continental e tropical atlntica e massa polar, pela distncia e presena
de vrias barreiras topogrficas tambm chegam regio praticamente sem umidade. O excesso de calor e
a predominncia de solos pouco profundos incapazes de reter gua, tornam o balano da
evapotranspirao negativo em boa parte do ano, onde a perda da umidade maior da que a precipitao.
Estes fatores impostos pelo predomnio do clima semi-rido, so responsveis pela escassez de
chuva na rea e sua irregular distribuio ao longo dos meses, Para compreender a feio morfolgica
apresentada pela Serra da Caxexa deve-se em primeiro lugar considerar o Planalto da Borborema, cuja
compartimentao topomorfolgica responsvel pelas variaes mesoclimticas e fitoecolgicas e do
uso da terra. Em segundo lugar, o compartimento do Curimata se estende num prolongamento para
Nordeste, de acordo com Assis & Borges (2004) est ligado a fenmenos tectnicos que originou o
grabn ocupado pelo rio homnimo.
A serra uma vertente do Curimata, regio de falhas tectnicas e razes de dobramentos
oriundos das fases orognese pr-cambriana, apresenta-se geralmente bastante aplainada. A
topografia muito suave correspondendo a uma superfcie de eroso bastante evoluda que arrasou
litologias e estruturas diversas do pr-cambriano.
Nos dias atuais, o estudo das formas das vertentes e sua evoluo vm sendo feito,
levando-se em conta as interferncias dos fatores climticos. Nas reas semi-ridas, as vertentes
mostram um perfil marcadamente cncavo, com dominncia de pediplanos (superfcie planas) com relevos
residuais (inselbergues) (JATOB, 1990, p. 18).
3.3 Formao da conscincia ecolgica sobre a Serra da Caxexa
A serra da Caxexa uma rea elevada de relevo local que guarda uma grande especificidade,
expressa por sua paisagem, e exige conhecimentos, implementao de propostas pertinentes ao seu
desenvolvimento e definio de prioridades apropriadas a sua realidade, para que se alcance um nvel de
desenvolvimento sustentvel suficiente que garanta um padro de qualidade de vida a sua populao. No
semi-rido, os habitantes convivem com adversidades ambientais provocadas pelas limitaes do
ambiente. Nos ltimos anos, autoridades governamentais tem demonstrado preocupao na busca de
alternativas para melhores condies de vida, bem como polticas pblicas para o manejo sustentvel,
economicamente equilibrado dessa regio.
A Educao Ambiental surge e se consolida num momento histrico de grandes mudanas
no mundo e tende a questionar as opes polticas e o prprio conceito de educao vigente. Os problemas
ambientais que afetam o mundo de hoje so de dimenses expressivas e preocupantes e abrangem
problemas de diversas naturezas (poltica, econmica, ecolgica, cultural, social, tica), que representam
intensos conflitos de interesse. No campo das aes, a gesto ambiental se coloca como o caminho para se
obter o desenvolvimento sustentvel.
Assim, as prticas de Educao Ambiental devem se vincular a uma pedagogia da complexidade,
onde existe espao para a mono, inter e transdisciplinaridade, a fim de se "[...] induzir e fomentar as
capacidades e habilidades mentais para ver o mundo como sistemas complexos, para compreender a
causalidade mltipla, a interdeterminao e interdependncia dos diferentes processos"), estimulando o
pensamento crtico, participativo e propositivo dos educandos e da comunidade, sendo que esse impulso
Joo Pessoa, outubro de 2011

737
ao saber ambiental crtico deve se dar por vrios espaos de comunicao e com apoios tecnolgicos
diferenciados. LEFF ( 2002, p. 250 apud Rodrigues & Colesanti, 2008)
4 CONCLUSES
Estando inserida a regio da Serra da Caxexa no municpio de Casserengue por fazer parte do
Curimata uma das reas mais vulnerveis e de maior fragilidade e degradao devido atuao antrpica.
O clima e qualidade das terras apresentam limitaes muito fortes para o desenvolvimento de atividades
que possam competir com produtos oriundos de outras regies. A no ser em algumas reas especficas
com estudo de impactos ambientais (EIA), dentro de um planejamento ambiental-social, econmico e com
significativos investimentos em tecnologia.
Apesar da baixa concentrao populacional, depara-se freqentemente com despejamento de
detritos beira das estradas, e nos terrenos destinados as plantaes que so notadamente provenientes
das cidades. Os moradores rurais que vo rea urbana em busca de produtos industrializados, devido ao
estmulo feito pelos meios de comunicao ao consumismo, o problema tende a se agravar. H o
predomnio da prtica da agricultura itinerante, os agricultores cultivam anos em uma mesma
rea, acarretando a diminuio da fertilidade natural do solo que o expe eroso.
Essa rea um espao pobre, voltado para a criao ultra-extensiva que exerce grande presso
sobre a vegetao nativa, tanto pela eliminao das plantas, como pela compactao do solo devido ao
pisoteio excessivo.
Em funo da falta de manejo adequado na pecuria, as caatingas vm se exaurindo A retirada da
cobertura vegetal expe o solo ao impacto das chuvas aumentando o processo erosivo e levando ao
empobrecimento dos solos, inviabilizando a agricultura. . comum essa prtica nociva ao meio ambiente,
como a retirada da vegetao nativa para a produo de lenha.
A combinao dos fenmenos, diminuio das chuvas, elevao das temperaturas,
empobrecimento dos solos e, portanto acentuada diminuio de biodiversidade um srio problema
que est se agravando no Curimata paraibano. A crescente degradao ocasionada pela variao
climtica e atividades antrpicas, faz da rea que engloba a Serra da Caxexa, uma regio suscetvel ao
processo de desertificao.
Esta proposta de educao ambiental para moradores de comunidades situadas no entorno da
Serra da Caxexa, em Casserengue PB relevante pois refere-se a uma rea que tem atrado ateno de
paleontologistas, porque possui vrias inscries rupestres e abrigos sob rocha (SANTOS & MEDEIROS, 2005,
p. 57), de grupos de alpinismo (rapel) e turistas que em geral buscam entretenimento numa rea no
devidamente preparada para receber essa carga, alm de se constituir num ambiente frgil de transio entre
o ecossistema mido do Brejo Paraibano e do Curimata onde predomina a semi-aridez.
necessrio a conscientizao ecolgica da comunidade local sobre a importncia do ambiente
ecossistmico da Serra da Caxexa, seu entorno possui um potencial geogrfico e ecolgico que merecem
cuidados especiais, por sua fragilidade ecossistmica, e por sua beleza panormica poder se constituir num
fator de gerao de empregos e renda devido ao seu potencial turstico, se tiver um plano de manejo
adequado. Existem uma srie de aes que podem ser implementadas pelos rgos governamentais do
municpio em parceira com outras entidades, para mitigar os impactos ambientais e garantir a melhoria da
qualidade de vida dos moradores locais.
REFERNCIAS
ASSIS, Abelci Daniel de; BORGES, Marcelo Rafael. Geologia. In:______Programa S.O.S Seca-Adote
um municpio. Joo Pessoa: Grfica/UNIP, 2004.
BUCEK, Antonn. Problemtica de la investigacion geographica del medio ambiente. Revista Studia
Geographica, n 86, p. 17 - 27, Souhrn. 1983.
CARVALHO, Maria Gelza R. F. de. Estado da Paraba: classificao geomorfolgica. Joo Pessoa. Ed.
Universitria UEPB / UNIP, 1982
CHRISTOFOLETTI, Antnio. Geomorfologia. So Paulo. Edgard Bluciher, 1980.
CPRM - Servio Geolgico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por gua
subterrnea. Diagnstico do municpio de Casserengue, estado da Paraba/Disponvel em: <
http://www.cprm.gov.br/rehi/atlas/paraiba/relatorios/CASS055.pdf />. Acesso em 10 abr. 2011.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

738
ERNEST, W. G. Minerais e rochas. 2 reimpresso Trad. e adp. So Paulo: Edgard Blcher, 1977.
HECKENDORFF, Wolf Dietrich; LIMA, Paulo Jos de. Climatologia. In ______ Atlas Geogrfico do
Estado da Paraba. Joo Pessoa: Grafset, 1985.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica), Recursos naturais e meio ambiente: uma viso
do Brasil. 2ed Rio de Janeiro, 1997 208p.
JATOB, Lucivnio. As mudanas climticas do quaternrio e suas repercusses no relevo tropical.
Pernambuco: NEC, 1993.
JATOB, Lucivnio. Resumos de Geomorfologia-1. Texto didtico. Ed.Universitria UFPE, 1990.
LEINZ, Victor; AMARAL, Srgio Estanislau. Geologia geral. So Paulo: Nacional, 1978.
LEFF, Enrique. Saber Ambiental. Petrpolis: Vozes, 2002. 343 p. In:______ RODRIGUES, Gelze Serrat
de Souza Campos; COLESANTI, Marlene T. de Muno. Educao ambiental e as novas tecnologias de
informao e comunicao. Soc. nat. (Online), Uberlndia, v. 20, n. 1, jun. 2008 . Disponvel em:
<http://www.scielo.br/scielo. Acesso em: 24 fev. 2011.
MACEDO, Ricardo Kohn de. Equvocos e propostas para a avaliao ambiental. In: _____ Analise
ambiental: uma viso multidisciplinar. So Paulo: Editora da UNESP, 1995.
PIAUHY, Ricardo. A interao dos elementos da natureza. So Paulo: 2003, disponvel em:
http//:www.ricardopiauhy.hpg.ig.com.br/cincia_e_educao/8 html>. Acessado em: 31 jul. 2003.
ROSS, Jurandir Luciano Sanches. Geomorfologia: ambiente e planejamento. So Paulo: Contexto,
2001.
SANTOS, Juvandi de Souza; MEDEIROS, S. Leize Regina de Arajo. Contribuio para os estudos da
pr-histria paraibana: descrio sumria de stios arqueolgicos da Serra da Caxexa. Campina Grande. JRC,
2005.

Joo Pessoa, outubro de 2011

739

GEOCONSERVAO E DESENVOLVIMENTO SOCIOECONMICO NO


PARQUE NACIONAL DE PEDRA CADA MA
Alan Marcos da Silva SALES
Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Educao So Francisco FAESF
(alangamesmss@hotmail.com)
Daniel Csar Menses de CARVALHO
Orientador, coordenador do Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Educao So Francisco FAESF
(danielcmc@ymail.com)
Rosilda Costa de ALMEIDA
Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Educao So Francisco FAESF
(rosildagilr@hotmail.com)

RESUMO
O artigo trata do estudo realizado na regio Chapada das Mesas, Sul do Maranho, mais
precisamente no Parque Nacional de Pedra Cada localizado no municpio de Carolina a 830 km de So Lus,
visando identificar a estrutura econmica em relao geoconservao e o geoturismo. A referida pesquisa
foi desenvolvida com base nos mtodos obtidos em testemunho oral dos implicados diretos e tambm a
partir de observaes empricas realizadas in loco. Identificou-se que a maior parte da renda local gerada
pelo ecoturismo, onde apesar da grande relevncia turstica a cidade ainda no possui suporte suficiente
para a prtica do mesmo. Nesse sentido, a geoconservao do parque traz em sua estrutura no s
condies de renda a seus proprietrios, mas como a fonte de desenvolvimento de toda uma
comunidade, alm de ter a funo de conservar o bem natural que direito de todos.
Palavras-chave:Ecoturismo. Geoconservao. Desenvolvimento socioeconmico. Geoparques.
Pedra Cada.
INTRODUO
O Brasil um pas que apresenta um elevado potencial turstico, por ser rico natural e
culturalmente. Isso, de fato, leva e proporciona um grande crescimento na economia, principalmente para
os grandes empresrios que investem nesse setor.
tanto que, nos ltimos anos, o turismo vivencia mudanas fundamentais na parte de estrutura e
planejamento. Em meados de 1980, a atividade turstica se voltava para hotelaria e para o lazer,
principalmente o litorneo. No incio do Sculo XXI, esse setor conservou as mesmas caractersticas, aliadas
aos investimentos em servios tursticos modernos, com o intuito de atrair novos turistas que viajam
sempre em busca de mais informaes associadas ao lazer e ao ambiente. Esta nova forma de turismo
proporcionou a originalidade e o surgimento do conceito de geoturismo, que vem ganhando espao no
Brasil e no mundo, fazendo assim, uma divulgao do patrimnio geolgico.
Diante disso, o intuito desse estudo foi analisar os aspectos econmicos do Parque Nacional de
Pedra Cada, localizado no municpio de Carolina, interior do Maranho, associado ao geoturismo praticado
na regio, como o referido parque contribui para a circulao de renda daquele municpio, e
principalmente conhecer a ligao da sociedade em relao ao meio ambiente.
Dentro dessa crescente vertente ecolgica, que une gerao de renda com natureza, apresentando
caractersticas importantes na proteo e conservao do patrimnio ecolgico, cabe frisar que
importante considerar que a conservao do patrimnio no se fundamenta apenas em aes restritas;
porm, na maneira como usado pela sociedade, e na forma como o turismo contribui no enriquecimento
da identidade territorial e no desenvolvimento de atividades que geram renda estabelecendo
sustentabilidade econmica na rea. Marx apud Corra (2006) refora essa ideia quando diz que:
A natureza no produz, de um lado, possuidores de dinheiros e mercadoria, e, de outro, meros
possuidores da prpria fora de trabalho. Essa relao no tem sua origem na natureza, nem mesmo uma
relao social que fosse comum a todos os perodos histricos. Ela evidentemente o resultado de um
desenvolvimento histrico anterior, o produto de muitas revolues econmicas, o desaparecimento de
toda uma srie de antiga formao da produo social. (Marx apud Corra, 2006, p. 338).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

740
O turismo, sendo uma atividade em constante desenvolvimento, possui importncia significativa
dentro do contexto social, que nos ltimos anos, apresentou mudanas em termos de estrutura e
planejamento.
Dentro do terceiro setor, o turismo torna-se o de maior visibilidade para o desenvolvimento de
uma regio com pouca expresso. No entanto, no vale somente possuir atrativos no local, de
fundamental importncia investimentos para dar condies de receber o pblico-alvo. Essa atividade no
depende apenas da prestao de servios, como hospedagem e transporte, estabelecendo assim uma
relao no mercado em vrios aspectos como, por exemplo, o artesanato, pois sua comercializao acaba
criando caminhos para gerao de empregos. Ou seja, uma forma que faz com que a indstria passe a
demandar servios de todos os seguimentos, desde transportes at trabalhos voltados educao
ambiental. Segundo Medeiros (2003) tudo se resume em:
Uma modalidade de turismo, desenvolvido em bases geocientficas e apoiadas nos princpios da
atividade ecoturstica, que visa ao aproveitamento econmico dos stios ecolgicos, como forma de
fortalecer a sua proteo, a partir da participao da comunidade nos locais inseridos nas reas dos
stios,da promoo da educaoambiental e de incentivos pesquisa cientfica (Medeiros, 2003, p.28).
Com esse aspecto relacionado ao turismo, observa-se que o Parque Nacional de Pedra Cada
prioriza aspectos naturais, incidindo principalmente na questo da geoconservao da cobertura florestal
existente, onde essa conservao implica na manuteno e recuperao do valor natural da rea, que passa
a ser visto como elemento prprio do lugar, proporcionando vivncias que, alm do simples lazer turstico,
leva uma agregao de informaes sobre a origem do local.
Devido diversificao das atividades atrativas que so propostas, os visitantes passam a desfrutar
dessas atraes, contribuindo para a circulao de capital, onde se passa a consumir. E a integrao da
conservao deixa de ser apenas um ambiente natural para se integrar na economia local.
1 PARQUE NACIONAL DE PEDRA CADA: UMA IDENTIDADE DO MUNICPIO DE CAROLINA
O Brasil possui potencialidades para criao de parques geolgicos ou geoparques, em decorrncia
da sua grande extenso territorial associada sua geodiversidade, e por ter uma das maiores estruturas
geolgicas do planeta. To importantes que se tornam registros da histria, com aspectos nicos, como:
stios ecolgicos, geosstios, e tambm as reas que so conservadas e bem delimitadas, onde estas
representam parte do patrimnio natural da nao.
No entanto, esses geoparques agregam-se forma natural da paisagem de acordo com a
geomorfologia da regio. No necessrio um geoparque incidir em reas pblicas e em reas do Sistema
Nacional de Unidades de Conservao da Natureza, este, porm pode integrar a comunidade local nas
atividades pertencentes ao mesmo.
Na questo da geodiversidade vale lembrar que ela pode ser abordada como a alterao natural
das caractersticas geolgicas, geomorfolgicas e do solo. Ressalta-se, dessa maneira, que a geodiversidade
no inclui apenas elementos abiticos da natureza, mas tambm os biticos (ARAJO, 2005).
A geodiversidade tambm pode ser entendida como o resultado dos processos interativos entre a
paisagem, a fauna, a flora e a nossa cultura, onde a geologia e a geomorfologia passam a determinar a
distribuio das moradias das espcies e revela como o homem organiza seu espao geogrfico. Contudo, o
interesse pela geodiversidade ainda menor em relao ao interesse da biodiversidade por parte da
sociedade (ARAJO, 2005).
Dentre esses geoparques valido destacar a Chapada das Mesas que abrange uma vasta rea no
sul do Maranho, atingindo vrias cidades como: Imperatriz, Riacho, Estreito, Feira Nova do Maranho e
Carolina que foi o objeto de estudo da pesquisa.
Carolina um municpio do Maranho localizado a 830 km de So Lus, capital do Estado, na
Mesorregio do Sul, e na Microrregio de Porto Franco. Encontrada na margem direita do rio Tocantins, e
fazendo fronteira ao norte com o municpio de Estreito; ao Nordeste com Feira Nova do Maranho; ao Sul
com Riacho; e no Oeste com o rio Tocantins separando o Maranho do Estado do Tocantins e fazendo
limites com as cidades de Filadlfia e Goiatins.
Carolina possui o maior grupo de elementos geoturstico do Maranho. Com seus 22 rios perenes e
17 cachoeiras famosas, Carolina considerada o principal reduto turstico do Maranho, onde o mesmo
abastece mais de 50,0% da renda da cidade, sendo que a populao da cidade segundo o censo 2010 era de
23.950 habitantes com uma densidade de 3,72 hab/km.
Joo Pessoa, outubro de 2011

741
A histria de Carolina tambm contribuiu para esse potencial turstico empregado dentro da
cidade. Sua histria remete ao perodo colonial, quando o governo portugus teve interesse no
reconhecimento do rio Tocantins, tendo realizado vrias expedies. Coube ao piauiense Elias Ferreira
Barros que habitava o serto de Pastos Bons, percorrer o Tocantins at o Par, em companhia de um ndio
e trs escravos, em uma tosca embarcao, trazendo carta do governo do Par, apresentou-se ao governo
do Maranho para relatar o fato, o que muito contribuiu para o desenvolvimento da regio.
No entanto, a histria recente o que de fato contribuiu para a manuteno desses bens naturais.
Com a criao da BR 222 conhecida tambm como Belm-Braslia criada no governo de Juscelino
Kubitschek, o desvio do desenvolvimento para as cidades cortado pela BR que passa a 100 km de Carolina
foi inevitvel, algo que ironicamente tornou-se fundamental para manter livres das aes antrpicas
daquela natureza que to peculiar.
Por ser um municpio onde os recursos naturais apresentam uma notvel exuberncia, a
conservao da mesma faz com que o potencial turstico seja diferenciado. Essa diferenciao passa a
estabelecer um relacionamento com programas tursticos, como o caso dos geoparques que visam
proporcionar o desenvolvimento ambiental e cultural de forma sustentvel, preocupando-se com a
integrao da comunidade local com a sua rea, assim estimulando novas formas para o turismo.
fundamental destacar que o objetivo de um Geoparque:
[...] um selo outorgado pela UNESCO pra reas com significativo patrimnio geolgico de especial
interesse cientifico, que contenha atributos, de valor natural raro, deve integrar stios naturais e pontos
tursticos de interesse cultural constituindo-se em espao fundamental para proteo dos recursos
naturais, o geoturismo, educao e a popularizao da cincia (CABRAL E MOTA, 2010, p.184).
Diante do exposto, necessrio enfocar que atualmente os segmentos voltados para o turismo tm
sido mais procurados nas reas ambientais, onde os turistas buscam uma reaproximao com a natureza.
Com isso, h a manifestao do geoturismo que est diretamente ligado com os recursos naturais e com os
aspectos geolgicos e geomorfolgicos, assim como as cachoeiras e cavernas, entre outras.
O Parque Nacional estudado possui recursos naturais com capacidade de suportar uma grande
quantidade de turistas todo o ano, devido a grande variedade de atividades de lazer, evidenciou-se a
relao entre o meio natural e o turismo, onde o primeiro se torna elemento crucial para que o ltimo
possa se desenvolver da melhor forma possvel. Contudo, observa- se que a paisagem natural uma
referncia que marca a identidade da cidade e do pas.
2 PERFIL ECONMICO E TURSTICO DE CAROLINA E DO PARQUE NACIONAL DE PEDRA CADA
Segundo o IBGE (2010) Carolina um municpio com 23.959 habitantes. Sua renda baseada
principalmente no turismo, devido as caractersticas geogrficas, onde o grande nmero de rios e estrutura
geolgica parcialmente rochosa faz com que a regio tenha um elevado potencial turstico, conhecido
como Paraso das guas.
O municpio, alm dos recursos naturais, tambm manteve sua arquitetura original do perodo
colonial, algo que tambm favoreceu para que toda circulao da renda vinda de fora permanea e circule
na cidade atravs do turismo, como pode ser evidenciado na Figura 1.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

742

Figura 1: Casaro do perodo colonial, localizado no Centro Histrico de Carolina MA.


Fonte: Os Autores, 2011.

A comunidade carolinense no frequenta os Geoparques, porm, por conta dos moradores, a


cidade ainda mantm a estrutura original de sua arquitetura, onde os mesmos so transformados em
hotis e penses com caractersticas rsticas que contam a histria dos primeiros habitantes da cidade. O
que chama ateno de Marx apud Corra (2006, p.337) quando se refere que certas histrias so
necessrias para que um produto possa tornar-se mercadoria. preciso que seja produzido como meio
imediato da subsistncia do prprio produtor.
Com relao ao processo histrico da cidade, tambm se salienta que Pedra Cada foi o local que se
tornou um dos maiores pontos tursticos de Carolina. Toda rea que abrange o parque era uma grande
fazenda no sculo XIX, que no tinha nenhuma organizao logstica dos antigos proprietrios. Com o
passar dos anos a rea foi vendida, tornando-se o Parque, onde se pode observar na Figura 2.

Figura 2: Entrada do Parque Nacional de Pedra Cada MA.


Fonte: Os Autores, 2011.
Pedra Cada um parque privado que pertence empresa Pipes, onde sua representatividade nos
municpios intensa, j que a mesma, segundo os entrevistados, responsvel por 50,0% da renda que
circula em Carolina. Com isso, emprega 1.600 funcionrios diretos.
Antes da Pipes, o local j era aberto para utilizao como ponto turstico desde a dcada de 1960,
no entanto, Pedra Cada passou a ser rea de geoconservao, aps a aquisio da empresa em 2006, fato
Joo Pessoa, outubro de 2011

743
que consolidou Carolina como o maior destino para o ecoturismo da regio sul maranhense. Assim, desde o
incio do sculo XXI, milhares de turistas so esperados todo ano, sendo que praticamente todos esses de
outras regies do pas e at do mundo, gerando renda e divisas para toda a regio.
O parque de Pedra Cada conta com um quadro de trinta e dois funcionrios, todos residentes na
cidade de Carolina, no entanto, trazidos de outras regies, j que no existe mo de obra qualificada para
realizao desses servios no local. Para solucionar esse fato, a empresa responsvel pelo parque possui
projetos de capacitao para elevar as possibilidades da empresa e proporcionar condies de renda aos
moradores. Todos os trabalhos realizados no local so exclusivos ao ecoturismo, sendo proibida qualquer
outra prtica no local que venha agredir o meio ambiente, como a caa e a pesca.
Segundo Flavio Rodrigues, funcionrio do parque, a rea de aproximadamente 10.600 hectares,
sendo essa a rea de amortecimento do Parque Nacional da Chapada das Mesas, que tambm comporta,
em seu interior, tribos indgenas. No entanto, mesmo sendo proibida qualquer manifestao que venha
prejudicar o meio natural, o parque vem sendo ameaado e at mesmo agredido por questes muito alm
do desenvolvimento local.
Com a construo da barragem na cidade de Estreito (Figura 3), cidade vizinha de Carolina, muitas
cachoeiras esto sendo ameaadas, e algumas at j esto extintas somente com a pr execuo do
projeto.

Figura 3: Lagoa criada aps a instalao da Barragem em Estreito MA.


Fonte: Os Autores, 2011.

Com o represamento das guas do rio Tocantins, acontece uma serie de fenmenos que implicam
diretamente nos lenis freticos, causando danos nas nascentes de alguns rios que formavam as
cachoeiras de Porteira, Tacho e Poo. Mesmo com as perdas j concretas, existe por parte dos
diretamente afetados a esperana que esse fenmeno seja um caso isolado.
A maior preocupao est sobre as cachoeiras de So Rumo, Cachoeira do Prata e do Farinha,
todas no Rio Farinha, afluentes do Rio Tocantins, pois o grande problema que, com o aumento das aguas
do rio Tocantins, o nvel do rio Farinha pode subir, encobrindo todas as cachoeiras j citadas.
Caso aconteam danos estruturais, o abalo ao municpio de Carolina ser incalculvel, j que a
economia da cidade gira em torno de sua riqueza natural, principalmente pelas cachoeiras espalhadas por
toda a extenso do municpio.
Alm das cachoeiras de So Rumo, do Prata e do Farinha, a grande procura turstica esto nas
cachoeiras de Cachoeira do Itapecuru fica a 33 km da sede da cidade e de propriedade privada, l, o
visitante encontra uma piscina natural de gua cristalina formada por duas quedas d'gua de 20 e 18
metros de altura, que antes era usada para ativar uma pequena usina de gerao de energia que abastecia
todo o vale do Tocantins na dcada de 40.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

744
Outra atrao a Cachoeira da Caverna que tem esse nome porque o turista deve passar por
dentro uma caverna para chegar at a mesma. E, com seus com 64 metros de altura, a Cachoeira de Tal
caracterizada por ser a mais alta dentre as demais formaes.
Mesmo com tanta variedade, incontestavelmente que a principal atrao o Santurio de Pedra
Cada (Figura 4), uma cachoeira que despenca a 53 metros de altura dentro de um cnion, onde a presso
da gua escavou uma caverna a seu entorno. Para se chegar nessa cachoeira, o visitante deve percorrer
uma trilha ecolgica sobre uma estrada feita de madeira.

Figura 4: Acesso ao santurio de Pedra Cada, municpio de Carolina MA.


Fonte: Os Autores, 2011.
O visitante percorre a mata caracterstica do Bioma Cerrado, vegetao tpica da regio, at chegar
a uma escadaria. A partir da, inicia a descida at o fundo do cnion onde passa o rio de gua cristalina
formado por um grande numero de pequenas cachoeiras, cercado por bromlias, pequenas rvores e cips
que surgem em meio aos paredes de 50 metros, como pode ser observada na Figura 5.

Figura 5: Acesso ao cnion do santurio de Pedra Cada, municpio de Carolina MA.


Fonte: Os Autores, 2011.

Alm das cachoeiras, o Parque Nacional de Pedra Cada conta com piscinas naturais, resorts, e a
prtica de esportes radicais, onde pode ser destacado o arborismo, que consiste na travessia do parque
suspenso entre plataformas montadas na copa das rvores, orapel e as tirolesas, que so encontradas em
trs modalidades, com 40, 60 e 1.200 metros de comprimento, sendo que para ter acesso, o visitante deve
Joo Pessoa, outubro de 2011

745
atravessar uma ponte de madeira de 54 metros de extenso atravessando o cnion de 53 metros de altura,
onde se encontra o Santurio de Pedra Cada j citado anteriormente.
3 CONCLUSO
A sociedade de Carolina beneficiada pelos potenciais geotursticos, que atraem, no perodo de
frias, segundo Expedio Bemtevibrasil (2011), cerca de 40 mil visitantes, e enquanto for empregado no
Parque nacional de Pedra Cada a politica de preservao, possvel que o municpio consiga se
desenvolver tanto social como economicamente.
No entanto, com a ameaa sofrida devido construo da Barragem no municpio de estreito, o
futuro da economia de Carolina uma incgnita.Portanto, cabe ao municpio planejar sustentavelmente o
desenvolvimento regional, juntamente com as entidades responsveis com vistas a sanar os problemas
antes que as eventuais modificaes venham a prejudicar no s a comunidade local, como tambm todo o
sistema.
Portanto, no adianta preocupar-se somente com os danos que futuramente possam surgir e
esquecer-se dos pequenos atos que contribuem para destruio desse bem, ou seja, a sociedade, assim
como as empresas privadas e o prprio poder publico so responsveis por proteger esse patrimnio, que
to til pra toda uma sociedade.
4 REFERNCIAS
ARAJO, E. L. S. Geoturismo:conceitualizao, implementao e exemplo da aplicao Vale do Rio
Douro no setor Porto Pinho. Escola de Cincias. Tese de mestrado em Cincias do Ambiente da
Universidade do Minho. Portugal, 2005, 219 p.
BECKER, O.M.S. Mobilidade Espacial da Populao: Conceitos, Tipologia, Contextos. In: CASTRO, I,
E,de; GOMES,P,C,da C; CORREA; R,L.(orgs.). In: Exploraes geogrficas.2 ed. Rio de Janeiro :
BertrandBrasil,2006. 368 p.
CABRAL, N. R .A. J; MOTA,T. L. N. da G. Geoconservao em reas Protegidas : O Caso do GeoPark
Araripe CE. 2010. Homepage de Internet. Disponvel em: <http://www.abecol.org.br/pdf /13artigo.pdf>.
Acesso em 21jun. 2011.
EXPEDIO BEMTEVIBRASIL. Nordeste: 10 Parques Nacionais Dirio de Viagem. Homepage de
Internet. Disponvel em: <http://www.bemtevibrasil.com.br/carolina.htm>. Acesso em 21 jun. 2011.
IBGE. Sntese do Censo Demogrfico. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica,
2010.
MEDEIROS, W. D. A.Stios Geolgicos, e Geomorfolgicos, dos Municpios de Acari carnaba dos
Dantas e Currais Novos, Regio Serid do Rio Grande do Norte.Programa de Ps-graduao em Geocincias,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal,2003 (Dissertao de Mestrado)
MOREIRA, J.C. Patrimnio geolgico em unidades de conservao: atividades interpretativas,
educativas e geoturisticas. Tese de doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianpolis, 2005,
428p

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

746

CARACTERIZAO GEOAMBIENTAL DA BORDA ORIENTAL DA


MICRORREGIO DO LITORAL SUL DO ESTADO DA PARABA, BRASIL
Tamires Silva BARBOSA
Graduanda em Geografia - Universidade Federal da Paraba. Cidade Universitria - Joo Pessoa - PB - Brasil - CEP - 58051900
mires.ufpb@gmail.com
Maria Emanuella Firmino BARBOSA
Mestranda em Geografia - Universidade Federal da Paraba. Tec. em Geoprocessamento - Inst. Federal de Educao Cincia
e Tecnologia da Paraba
Cidade Universitria - Joo Pessoa - PB - Brasil - CEP - 58051-900
mariaemanuellaf@gmail.com
Prof. Dr. Max FURRIER
Universidade Federal da Paraba. Cidade Universitria - Joo Pessoa - PB - Brasil - CEP - 58051-900
Fone: +55 (083) 3216-7200
max.furrier@hotmail.com

RESUMO
O presente artigo tem por finalidade caracterizar os aspectos fsico-ambientais, biogeogrficos e
socioeconmicos dos municpios paraibanos que fazem parte do litoral sul do estado da Paraba,
ressaltando a sua borda mais oriental, onde se localizam as praias e os Baixos Planaltos Costeiros. A
importncia desse estudo est no fato da rea delimitada ser portadora de uma grande biodiversidade e
ter alguns pontos com unidades de conservao. Possui ainda, certa quantidade de formaes florestais,
como vegetao de restinga e Mata Atlntica e ocupaes irregulares em reas de preservao ambiental.
Nesta rea situa-se duas grandes unidades de relevo que so: a plancie litornea e os Baixos Planaltos
Costeiros. um campo de forte tendncia ao turismo, baseado nos elementos naturais que comportam a
sua paisagem.
Palavras chave: Paraba, litoral sul, conservao do meio ambiente.
INTRODUO
Esse trabalho tem por objetivo, fazer uma caracterizao geoambiental da regio
compreendida pela borda oriental da microrregio do litoral sul da Paraba. Visando tornar possvel a
gerao de indicadores geogrficos, geomorfolgicos e geolgicos de ameaas ao geossistema, medida
que forem gerados, analisados e disponibilizados um conjunto de dados e informaes atualizadas,
permitindo o monitoramento, futuro, de reas estratgicas e de interesse ambiental.
A rea foi escolhida por portar uma biodiversidade extensa, com ocupaes irregulares e
mau uso dos espaos naturais, que poderiam de alguma forma ser aproveitados pelo homem atravs da
criao de um programa de turismo sustentvel, e assim permitir a preservao das paisagens naturais
localizadas nessa microrregio.
Em campo, foram analisados as formaes vegetais ou os resqucios delas, com seus
aspectos e localizaes, dando nfase tambm s deteces de unidades de conservao, j que em muitas
reas da microrregio se encontram mangues - que considerado rea de preservao permanente; dunas
e esturios, entre outros importantes elementos naturais. Nessa anlise, tambm se observa como as
unidades se encontram em relao ocupao e preservao.
As unidades de conservao so aquelas reas consideradas de alto valor natural, protegidas por
lei, sob regimes de fiscalizaes que garantem a sua proteo. Ao analis-las, percebe-se a forma como se
d a ocupao humana nas reas naturais, que atravs do trabalho vem transformando o espao paraibano
natural em segunda natureza, que a natureza social, essa transformao do espao natural vem de longa
data, desde a poca colonial e persiste at os dias de hoje. Na maioria das vezes, esse processo
descaracteriza as paisagens primitivas sem que haja preocupao de quem assim o faz em restituir os
danos natureza e a biodiversidade.
LOCALIZAO DA REA DE ESTUDO
A rea de estudo compreende a microrregio do Litoral Sul do estado da Paraba, que
composta pelos municpios de Pitimbu, Caapor, Alhandra e Pedras de Fogo, fazendo um recorte da borda
Joo Pessoa, outubro de 2011

747
mais oriental dessa microrregio (Figura 1). Ela integra a mesorregio da Zona da Mata Paraibana e faz
limite com as microrregies de Joo Pessoa e de Sap. Essa regio ocupada principalmente atravs das
atividades de turismo (nas praias portadoras de belezas naturais ainda preservadas) e pela especulao
imobiliria que evidente, principalmente no Conde. O clima da microrregio sul da Paraba o tropical
quente-mido com chuvas abundantes no outono/inverno. (CARVALHO et. al, 2002).

Figura 1 - Localizao da borda oriental do litoral sul paraibano. Fonte: modificado de


http://www.sudema.pb.gov.br/geoprocessamento.php acessado em: 24/06/2011.
METODOLOGIA
Os procedimentos metodolgicos adotados para elaborao desse trabalho foram divididos
em algumas etapas: Primeiramente, foi planejado o trabalho de campo na disciplina de Biogeografia do
curso de Geografia da Universidade Federal da Paraba. Neste planejamento, foram decididas as rotas,
horrios, materiais a serem utilizados e a construo de um relatrio de campo. O trabalho de campo foi
realizado no dia 11 de maio de 2011, com rota inicial pela BR 101, passando tambm por outras avenidas e
estradas de terra. Foram visitadas as seguintes localidades: Jacarap, Tabatinga, Coqueirinho, Tambaba,
Praia Bela, Pitimbu e Aca.
A segunda etapa consistiu na anlise do espao construdo da rea estudada e dos seus
potenciais geoambientais. Com base no relatrio de campo, pod-se assim compreender que a
microrregio do litoral Sul da Paraba tem particularidades naturais que merecem ser estudadas com maior
detalhe, justificando assim, a razo para a escolha deste local.
CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO
Geomorfologia:
Na anlise da microrregio, destacam-se duas principais unidades geomorfolgicas: Os
Baixos Planaltos Costeiros, esculpidos sobre a Formao Barreiras, e a baixada litornea composta por
sedimentos inconsolidados do Quaternrio.
O relevo tabuliforme caracterizado por uma sequncia de camadas sedimentares
horizontais ou subhorizontais, embora elaborados pelos mecanismos morfoclimticos, reflete diretamente
a participao da estrutura. Trata-se de formas estruturais caracterizadas por sequncias sedimentares
horizontalizadas, cuja disposio tabular pode diferir daquelas resultantes de processos de pediplanao
em estruturas no-horizontalizadas (CASSETI, 2005). Os tabuleiros apresentam-se como uma ampla
superfcie plana ou suavemente ondulada, com altitudes que variam entre 10 e 200 metros.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

748
A baixada litornea, forma de relevo plana constituda de sedimentos recentes do
Quaternrio, ocupa as cotas mais baixas da orla martima, representada pelas praias e reas baixas de
restinga litorneas. Carvalho (1982) caracteriza as plancies litorneas como unidades morfolgicas
formadas por terrenos sedimentares geralmente quaternrios de baixa altitude (0 a 10 metros), formados a
partir de processos marinhos, fluviomarinhos e elicos. No mnimo da plancie litornea da rea de estudo
so encontradas as praias e a plancie fluviomarinha.
Geologia:
A rea de estudo est inserida, em sua maior parte, sobre os sedimentos areno-argilosos
mal consolidados da Formao Barreiras, uma cobertura residual de plataforma capeadora de varias bacias
marginais brasileiras, entre elas, a Bacia Pernambuco-Paraba, constituda pelas Formaes Maria Farinha,
Gramame e Beberibe, sendo as duas primeiras Formaes carbonticas, e a ltima, clstica (BARBOSA,
2010). Na rea de estudo, a bacia Pernanbuco- Paraba encontra-se sotoposta Formao Barreiras.
A Formao Barreiras132 - unidade litoestratigrfica de idade miocnica (Arai, 2006), um
conjunto de rochas sedimentares mal consolidadas que se encontram localizadas em faixa que vai do
estado do Amap at o norte do Rio de Janeiro. Dispe-se em camadas discordantes sobre embasamento
cristalino e bacias sedimentares marginais.
Em quase todas as praias do litoral sul essa Formao se apresenta em forma de falsias
que podem ser vivas, se receberem continuamente a ao do mar em sua base, tendo assim queda de
blocos e desmoronamentos, como por exemplo, a de Jacarap. Ou podem ser falsias mortas, nas quais o
mar no tem mais influencia erosiva, apresentando ento, formaes vegetais em sua escarpa, como por
exemplo, a de Tambaba.
Existem vrias teorias para explicar a origem da Formao Barreiras: Para Alheiros et al. (1988), ela
origina-se a partir da deposio de rios em sistema entrelaado. Para Arai (2006) a origem desta formao
possui influncia marinha. Gopinath et al. (1993) diz que os sedimentos da Formao Barreiras provm
basicamente dos produtos resultantes da ao do intemperismo sobre o embasamento cristalino,
localizado mais para o interior do continente que, no Estado da Paraba, seriam as rochas cristalinas do
Planalto da Borborema.
A baixada litornea composta por sedimentos inconsolidados, que nos locais visitados
fazem fronteira a leste com o oceano Atlntico e a oeste com os Baixos Planaltos Costeiros, possuindo
idade recente (Quaternrio), e origina-se dos sedimentos intemperizados vindos do continente trazidos
pelos rios e distribudo pelas correntes litorneas. Nela encontram-se as praias, restingas e os esturios. No
litoral sul da Paraba, as praias so arenosas e mais estreitas em relao s praias do litoral norte. Em
muitas praias visitadas encontram-se esturios que so formados pela desembocadura do rio no mar.
Quando o fluxo de gua doce muito estreito as desembocaduras so chamadas de macei, estes
diferem dos esturios porque perdem temporariamente o contato com o mar.
Aspectos biogeogrficos:
Relacionado ao clima, esto as formaes vegetais encontradas nessa regio. No trecho da baixada
litornea pode-se identificar formaes ligadas aos esturios vegetao arbrea ou arbustiva de mangue,
caracterizada por razes suporte e respiratrias e formaes vegetais de praia - mata de restinga
caracterizada por conter rvores que possuem porte e caules mdios, copas largas e irregulares, dentre as
espcies caractersticas dessa mata pode-se citar o Anacardium occidentale L. (cajueiro), que uma das
mais comuns (CARVALHO; CARVALHO,1985).
Nos Baixos Planaltos Costeiros, a vegetao de mata atlntica, que uma variedade das
matas tropicais midas que ocorrem nas regies costeiras do Brasil, acompanhando a umidade trazida
pelos ventos alseos de sudeste. Caracteriza-se por apresentar uma cobertura vegetal com densa vegetao
arbrea, sinsias subarbrea e arbustivas relativamente densas, herbceas e rasteiras. As rvores so altas
e os troncos grossos, apresentando lianas e vrias espcies de epfetas nos setores mais midos. Trata-se
de uma das florestas tropicais mais ameaadas de extino. A maior parte das espcies da fauna
132

A formao Barreiras tambm considerada por alguns como Grupo Barreiras, mas como esse termo
ainda est em discusso, preferimos aqui lhe chamar de Formao Barreiras.
Joo Pessoa, outubro de 2011

749
representada por insetos, anfbios, rpteis, aracndeos, aves e mamferos (CONTI; FURLAN apud ROSS,
1995).
Aspectos socioeconmicos:
O litoral sul possui altos ndices de crescimento populacional. Em 2000, alguns dos
municpios que mais cresceram demograficamente foram o municpio do Conde com 7,62% e Pitimbu com
3,36% (TELLES, 2002). Porm, conforme os dados do IBGE, apesar dos altos ndices de crescimento no
litoral sul em particular, em escala Paraba e Brasil o crescimento populacional tem diminudo.
A economia da microrregio baseia-se principalmente por atividades de pecuria aves e
gados bovinos, e tambm pela prtica da agricultura de produtos como o abacaxi, coco, cana-de-acar e
batata-doce. Um dos principais centros urbanos da microrregio a cidade de Alhandra (SOUZA, 1995).
RESULTADOS E DISCUSSES
Algumas peculiaridades foram observadas, divididas aqui em pontos de passagem, nos
quais sero relatadas suas caractersticas individuais. No primeiro ponto - Parque Estadual de Jacarap, na
praia de Jacarap observa-se uma unidade de conservao estadual que foi criada em 2002, a qual no
era (e continua no sendo) permitida ocupaes residenciais e comerciais. No entanto, o que se presencia
so muitas ocupaes irregulares que contribuem para a degradao do local. Segundo o portal de notcias
Paraba.com do dia 27 de maio de 2011, h todo um processo de gesto ambiental com o objetivo de
corrigir os problemas de ocupao instaurados no local e que tanto afetam negativamente o ecossistema
composto pela Mata Atlntica e tambm pelo manguezal.
A praia de Jacarap est localizada na cidade de Joo Pessoa, entre 7 10 47 e 7 12 30 de
latitude Sul e 34 47 e 34 49 30 de longitude Oeste, e acompanhada por uma faixa de falsias133 vivas.
O corte da escarpa da falsia tem logo no topo uma camada de solo mais escuro, por conta de matria
orgnica contida nessa poro do solo (horizonte A). Logo abaixo desse horizonte h uma camada mais
avermelhada que se trata especificamente da Formao Barreiras, essa camada possui bastante ferro, pois
a intensa pluviosidade do litoral faz com que a lixiviao leve muitos componentes qumicos do solo para a
formao sedimentar que fica abaixo dele.
A Formao Barreiras, na rea de estudo, est depositada de forma discordante sobre o
Grupo Paraba e sobre embasamento cristalino. No Grupo Paraba, existem algumas formaes que se
encontram de baixo para cima dispostas da seguinte forma: Formao Beberibe; Formao Gramame e
Formao Maria Farinha. A Formao Beberibe muito semelhante Formao Barreiras e por isso difcil
a distino entre as duas. A Formao Gramame difere pela sua composio essencialmente calcria, e a
Formao Maria Farinha semelhante Gramame, diferindo dela apenas pelo seu contedo fossilfero.
Observando as camadas da falsia em Jacarap, abaixo da Formao Barreiras, aflora uma
camada pouco vista em outras falsias do litoral norte (Figura 2a). Ela caracteriza-se por ser mais clara e
apresentar uma resistncia ao do mar diferenciada dos arenitos que esto em outros pontos da Falsia
(Figura 2b). Por no colher amostras dessa formao no se pode afirmar com certeza de que tipo de rocha
se trata, pelo aspecto embranquecido talvez possa se tratar de uma camada calcria, podendo ser um
afloramento da Formao Gramame - Grupo Paraba.

133

Falsia designa as formas de relevo litorneas abruptas ou escarpadas ou, ainda, desnivelamento de igual
aspecto no interior do continente. (GUERRA, 1987, p. 178).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

750

2a

2b

Figura 2a e 2b - Falsia em Jacarap. Fonte: Camila Gonalves. 11/05/2011.


Outro ponto importante a se salientar o Centro de Convenes da Paraba, que est
sendo construdo em uma grande rea que foi desmatada para a realizao da obra. Estima-se que ela deva
estar concluda em dezembro de 2012. Percebe-se que os governantes, tanto em escala local ou global,
priorizam um espao socialmente construdo voltado para o turismo, no medindo esforos para alcanar
seus objetivos que quase sempre o lucro, mesmo que resqucios da vegetao de mata atlntica que
nosso patrimnio natural sejam destrudos. Diante desta constatao, surge a necessidade de um plano
diretor baseado no turismo sustentvel.
No Conde, h uma especulao imobiliria enorme onde existem muitas construes e
consequentemente destruio da paisagem natural. No so observados indcios de planejamento
sustentvel e os investimentos na rea so altos e desordenados. Algumas das reas ainda verdes
observadas durante o campo esto em sua maior parte em especulao ou loteadas e a presena da
vegetao nessa rea uma situao temporria, pois com o passar do tempo, ela vai sendo modificada.
A praia de Tabatinga se trata de uma rea bem natural, possui um trecho curto de falsias
bem oxidadas, vegetao de dunas, espcies de pequenos caranguejos, e por se tratar de um habitat
estuarino, h a presena de outros pequenos animais marinhos/transicionais.
Entretanto, um dos pontos que mais se destacam em toda essa rea como paisagem
natural de beleza mpar na microrregio do litoral sul, a praia de Coqueirinho. O relevo at a baixada
litornea bem ngreme e de altitudes diferenciadas. As rochas esculpidas pelas ondas do mar constituem
uma vista maravilhosa, elas so argilosas e tomam um formato diferencial pela eroso. Porm, a praia j
est afetada pela ocupao humana, pois existem casas de veraneio ao longo da vertente que d acesso
praia, e a presena de plantas no-nativas Palma (Opuntia cochenillifera), que provavelmente foram
trazidas para o local. Apesar disso, grande parte da vegetao da falsia est preservada.
Nos Baixos Planaltos Costeiros que acompanham a praia de Coqueirinho, h a presena de
uma grande booroca, que se trata de um grande corte na vertente. Esses cortes que se instalam em
vertentes sobre o manto intemprico, sedimentos ou rochas sedimentares pouco consolidadas, que podem
ter profundidades de decmetros at vrios metros, tm paredes abruptas e o fundo coberto por material
desagregado onde aflora gua (KARMANN, In: Decifrando a Terra, p.201. 2009). Nos arredores desse local
h bastante intemperismo atuando, tendo presena de deslizamentos de terra e outros movimentos de
massa (Figuras 3a e 3b).

Joo Pessoa, outubro de 2011

751

3a

3b

Figura 3a e 3b Booroca na praia de Coqueirinho. Fonte: Camila Gonalves. 11/05/2011.


Na praia de Tambaba, os efeitos da eroso costeira tambm so bem evidentes,
principalmente pelo aspecto das rochas intemperizadas e pelas quedas de blocos no sop da falsia. A
vegetao costeira bem densa e recobre bastante os baixos planaltos tendo at muitas espcies arbreas.
Calcrios da Formao Marinha Farinha (continuao litoestratigrfica da formao Gramame) afloram na
regio costeira entre as praias de Tambaba e Jacum, influenciando fortemente a configurao atual da
linha de costa. Esses afloramentos, em certas reas, avanam em direo ao mar, formando pequenas
ilhotas prximas linha de costa, esse o caso de Tambaba (FURRIER, 2007. p.36).
Na praia Bela, h muita ocupao antrpica a beira mar, muitos bares e barracas tiram a
vista da praia, aumentam a degradao ambiental e a poluio agravada. A praia possui um macei que
a desembocadura do rio Mucatu, dentro do prprio macei h uma ocupao desordenada onde se
encontram mesinhas de bar. A praia tem uma plancie levemente ngreme e o mar apresenta-se com ondas
mais violentas. Os tabuleiros quase no so vistos prximos linha de praia, sua vegetao bem densa
possuindo espcies arbreas, arbustivas e rasteiras, dentre elas esto as gramneas, cajueiros (Anacardium
occidentale L) e coqueiros.
134
Em Pitimbu, observa-se uma faixa litornea estreita, apresentando alguns gabies para
conter o avano do mar. Algumas barracas se instalam em cima da faixa de areia da praia, e na mar cheia
o mar ocupa essa plancie, ento sob essa tica, afirma-se que o homem se instala em um espao
inapropriado para ocupao e por isso sofre as aes erosivas do mar. No mesmo local, h grande
quantidade de pequenas embarcaes, indicando uma economia de pesca, fonte de renda de muitas
famlias que ali vivem.
A paisagem da praia de Pitimbu composta por uma faixa de falsia morta, onde o mar no
alcana mais, e a conseqncia disso o desenvolvimento de uma vegetao mais densa. A plancie
litornea bastante plana e possui vrios barzinhos e quiosques presentes. A faixa de areia da praia bem
larga em alguns locais e mais estreitas em outros por ser interceptada pelos bares mais prximos ao mar.
Dessa forma, possvel estabelecer uma relao muito importante observada em campo e comprovada em
leituras: A presena antrpica o principal fator atual de aceleramento dos processos erosivos costeiros. As
intervenes antropognicas desequilibram e consequentemente origina processos de recuo das linhas de
costa (TESSLER e MAHIQUES, In: Decifrando a Terra, p. 395. 2009).
CONCLUSES
Como pde ser visualizado, a microrregio do Litoral Sul paraibano, em especial em sua
borda mais oriental, tem grande importncia ecolgica enquanto ecossistema, formado por ricas e frgeis
paisagens naturais, como o manguezal, os rios, os Tabuleiros, as praias, alm de diversas espcies vegetais
e animais. Do ponto de vista do seu potencial para o turismo ecolgico, destacamos que o litoral Sul e suas
134

Gabies so estruturas que o homem constri beira mar, utilizando materiais como rochas, areia ou
concreto, e que servem para tentar aplacar a ao erosiva das ondas e mars.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

752
praias so importantes para a atividade turstica, a exemplo da booroca na praia de Coqueirinho e de
outras belezas e peculiaridades encontradas em outras partes do Litoral Sul. No entanto, deve-se defender
o uso sustentvel desse potencial, visando, longo prazo, novas perspectivas para o turismo no local.
Quanto ocupao e uso do solo, destaca-se a presena de ocupaes irregulares, como a
que existe na Unidade de Conservao de Jacarap, e a forte especulao imobiliria no Conde, que
promete curto prazo, a instalao de mais edifcios no local. Essas atividades, que de certa forma
interferem no meio ambiente, principalmente quando intensificadas e mal planejadas, merecem hoje
ateno especial dos rgos pblicos responsveis pela fiscalizao, para melhor planejamento e para
evitar maiores danos ao meio, j que o local de estudo possui unidades geomorfolgicas frgeis, a exemplo
dos Tabuleiros Costeiros e das plancies litorneas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALHEIROS, M. M.; LIMA FILHO, M. F.; MONTEIRO, F. A. J.; OLIVEIRA FILHO, J. S. Sistemas
deposicionais na Formao Barreiras no Nordeste Oriental. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 35.,
1988. Belm. Anais... Belm: SBG, 1988. v. 2, p. 753-760.
ARAI, M. A grande elevao Eusttica do Mioceno e sua influncia na origem do Grupo Barreiras.
Geologia USP Srie Cientfica. So Paulo, v. 6, n. 2, p. 1- 6, 2006.
BARBOSA, M. E. F. Caracterizao geomorfolgica e tectnica da bacia hidrogrfica do rio Guruji
(PB), com apoio de ndices morfomtricos. Monografia (graduao) Departamento de Geocincias / CCEN.
Universidade Federal da Paraba UFPB. p. 103. 2010.
CARVALHO, M. G. R. F. de. Classificao geomorfolgica do estado da Paraba. Ed. Universitria /
FUNAPE. Joo Pessoa, 1982.
CARVALHO, Ma. Gelza F. de; TRAVASSOS, Maria do Socorro B; MACIEL, Valdenora da Silva. Clima,
Vegetao e Solo, In: Atlas escolar da Paraba. Joo Pessoa, Graff-set, 2002. 3 edio.
CARVALHO, Ma. Gelza F. e Carvalho, F.de Vegetao. In: Atlas Geogrfico do estado da Paraba.
Joo Pessoa, Graff-set, 1985.
CASSET,
V.
Geomorfologia.
2005.
Disponvel
em:
http//www.funape.org.br/geomorfologia/pdf/ndex.php. Acessado em: 23 de maio de 2010.
CONTI e FURLAN. Geoecologia: O clima, os solos e a biota. In: ROSS, Jurandyr. Geografia do Brasil.
So Paulo: EDUSP, 1995.
FURRIER, M. Caracterizao geomorfolgica e do meio fsico da Folha Joo Pessoa -1:100.000.
2007. 213f. Tese (Doutorado) Departamento de Geografia, FFLCH, Universidade de So Paulo, So Paulo,
2007.
FURRIER, Max; ARAUJO, Magno Erasto de; MENESES, Leonardo Figueiredo de. Geomorfologia e
tectnica da formao Barreiras no Estado da Paraba. Geol. USP, Sr. cient., So Paulo, v. 6, n. 2,out., 2006
GOPINATH, T. R.; COSTA, C. R. S.; JNIOR, M. A. S. Minerais pesados e processos deposicionais dos
sedimentos da Formao Barreiras, Paraba. In: SIMPSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE, 15., 1993. Natal.
Atas... Natal: SBG/Ncleo Nordeste, 1993. v. 1, p. 47-48.
GUERRA, Antnio Jos Teixeira. Dicionrio geolgico-geomorfolgico. 7. Ed. Rio de Janeiro: IBGE,
1987.
GUERRA, Antnio Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. [organizadores] - Geomorfologia: uma
atualizao de bases e conceitos. - 9 edio - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 474p.
KARMANN, Ivo. gua: ciclo e ao geolgica, In: Decifrando a Terra / organizadores Wilson
Teixeira... [et. al]. 2 ed. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009.
SOUZA, Amilton M. Paraba: Aspectos geo-histricos.Joo Pessoa: Pentgono, 1995.
TELLES, Gislaine M.V.V. Caracterizando a Populao Paraibana, In: Atlas escolar da Paraba. Joo
Pessoa, Graff-set, 2002. 3 edio
TESSLER, Moyss G.; MAHIQUES, Michel M. Processos ocenicos e produtos sedimentares , In:
Decifrando a Terra / organizadores Wilson Teixeira... [et. al]. 2 ed. So Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2009.
www.paraiba.com.br/2011/05/27/83800-mpf-faz-historico-de-entraves-juridicos-na-retirada-deconstrucoes-irregulares-em-praias-e-areas-de-preservacao. Acessado em 13 de junho de 2011.
www.ibge.gov.br/ Acessado em: 13 de junho de 2011.
Joo Pessoa, outubro de 2011

753

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

754

POTENCIALIDADES GEOTURSTICAS DA SERRA DA ENGABELADA MUNICPIO DO CONGO/PB


Autor: Thas de Oliveira GUIMARES
Mestranda em Geocincias UFPE
Thais.oguimaraes@ufpe.br
Orientador: Prof. Dr. Giovanni SEABRA
Professor Associado da UFPB
gioseabra@yahoo.com.br

RESUMO
Fatores como clima e ndices pluviomtricos influenciam vrios aspectos da paisagem, e entre eles
as morfoesculturas do relevo terrestre. O semirido nordestino, marcado pelo clima seco e ausncia de
chuvas, tem merecido destaque no que se refere s feies geomorfolgicas. A paisagem sertaneja e
semirida revela-se com infinita beleza, modelada atravs de lentas e constantes transformaes ao longo
do tempo geolgico. O meio abitico, suporte a vida no Planeta se destaca de forma generosa nesse
cenrio, transformando o Nordeste brasileiro em grande potencial geoturstico. O presente artigo tem
como objetivo caracterizar e evidenciar a rica Geodiversidade encontrada no municpio do Congo/PB, com
nfase na Serra da Engabelada. A rea possui grande potencial para o turismo de bases geolgicas e
atributos necessrios para tornar-se Geossitio. Em fase inicial, o trabalho visa o aproveitamento sustentvel
dos recursos naturais, notadamente, o patrimnio geolgico-geomorfolgico e a fitofisionomia da caatinga,
a fim de garantir a conservao desse bem natural. Para o desenvolvimento da pesquisa foram realizadas
revises bibliogrficas e cartogrficas, trabalhos expeditos de campo para avaliao do potencial turstico
municipal, alm de levantamento fotogrfico, objetivando registros atuais para comparaes futuras.
Palavras Chaves: Geodiversidade, Geoturismo, Geoconservao, Patrimnio Geolgico
Introduo
A preocupao com a conservao do meio ambiente tem crescido ao longo dos anos, no entanto,
a discusso entre preservar, conservar, buscar alternativas sustentveis para se conviver em equilbrio, tem
seguido caminhos onde a maior preocupao gira em torno da Biodiversidade, ou seja, com o meio bitico.
H uma grande inquietao em se conservar e manter o equilbrio de biomas, bem como da fauna
existente no planeta, todavia, por muitas vezes no se d a devida importncia a Geodiversidade.
preciso que se tenha o conhecimento da Geodiversidade enquanto suporte ao meio bitico, ou
seja, como suporte biodiversidade. Atravs desse conhecimento a sociedade ter uma viso ampliada
para a importncia da Geoconservao, que visa conservar o meio abitico e divulg-lo atravs do
Geoturismo.
Para isso, foram criadas condies de catalogar essas reas com o objetivo de conserv-las atravs
de Geosstios e Geoparques.
No presente trabalho so abordados alguns conceitos relativamente novos no que diz respeito
cincia geolgica com o objetivo de mostrar a relevncia do que podemos chamar hoje de 4GS135, ou seja,
o quanto devemos nos preocupar com os elementos a eles relacionados.
So mostrados exemplos brasileiros de reas que possuem algum interesse geolgico, bem como
alguns trabalhos desenvolvidos a fim de conserv-los, para que as geraes futuras tambm possam ter
acesso a esse patrimnio.
A rea em questo encontra-se inserida no Municpio do Congo, situado na Microrregio
Geogrfica do Cariri Ocidental paraibano, uma regio marcada por contrates, com destaque para as
temperaturas atmosfricas elevadas e secas prolongadas. O Cariri Paraibano uma rea deprimida situada
nos contrafortes ocidentais do Planalto da Borborema. As diferenas litolgicas contribuem na gnese de
diferentes feies geomorfolgicas encontradas na regio, como as formas piramidais, os dorsos de
paquiderme e os morros monoclinais. Diques quatzticos exumados, mediante processos erosivos que
atuam no rebaixamento das rochas adjacentes mais friveis, evidenciam as cristas, formas residuais que se
destacam com grande imponncia na paisagem sertaneja (Seabra, 2008).
135

Termo referente Geodiversidade, Geoconservao, Geoturismo e Geoparques.

Joo Pessoa, outubro de 2011

755
A Serra da Engabelada, compreende um formao rochosa pertencente ao complexo granticomigmattico da Borborema, de grande relevncia geolgica e ambiental. A regio que engloba a serra
tambm merece destaque por seu valor cultural, visto a ocorrncia de pinturas rupestres bastante
preservadas, o que potencializa mais ainda a necessidade de uma proposta de conservao e visitao
ordenada dessas reas.
Dessa forma, a pesquisa se obstina em contribuir com a comunidade cientfica e com a comunidade
local, a fim de levar ao seu conhecimento a relevncia desse ambiente, bem como a importncia de
conserv-lo, garantindo sua sustentabilidade.
GEODIVERSIDADE, GEOCONSERVAO E GEOTURISMO
A sociedade atual encontra-se diante de um grande desafio, pautado pela busca do
desenvolvimento sustentvel, que de acordo com o Relatrio da Comisso Mundial do Desenvolvimento e
Meio Ambiente, apresentado em 1987 pela Primeira Ministra da Noruega Gro Brundtland, , teria como
objetivo o desenvolvimento de uma sociedade onde os bens naturais de hoje devem ser usados de forma
responsvel, afim de garantir s demais geraes s mesmas condies de vida encontradas atualmente no
Planeta. No relatrio final, intitulado de Nosso Futuro Comum, a Comisso define desenvolvimento
sustentvel como o modelo de desenvolvimento destinado a atender s necessidades da gerao presente
sem comprometer o suprimento das geraes futuras.
Com relao aos bens ou recursos naturais existentes na Terra, poderamos divid-los em meio
bitico, sendo esse tudo aquilo que contm vida, biodiversidade; e o meio abitico, elementos no vivos
existentes no planeta e que so includos na geodiversidade.
A Geodiversidade em relao biodiversidade um conceito relativamente novo, no entanto a
preocupao com sua conservao j tem sido pauta em vrias discusses. O grande argumento dos
especialistas nessa rea o de tentar conscientizar o Planeta e a sociedade como um todo de que o meio
abitico, ou seja, os elementos que o compem, so to relevantes quanto biodiversidade.
A definio mais utilizada de geodiversidade proposta pela Royal Society for Nature Conservation
do Reino Unido, onde A geodiversidade consiste na variedade de ambientes geolgicos, fenmenos e
processos ativos que do origem a paisagens, rochas, minerais, fsseis, solos e outros depsitos superficiais
que so o suporte para a vida na terra.
De acordo com Brilha (2005) a geodiversidade no compreende apenas os aspectos no vivos do
nosso planeta, ela o resultado do passado geolgico representados pelos minerais, rochas e fsseis,
englobando os processos naturais e cclicos que agem direta e indiretamente, de forma endgena e
exgena, originando novos testemunhos, elementos e modelagens do relevo.
Dentre os valores atribudos e agregados geodiversidade esto os valores culturais, estticos,
econmicos, funcionais, cientificos e educativos.
Brilha (op. Cit.) alerta para as ameaas referentes conservao da geodiversidade, para ele a
aparncia e a imponncia de alguns tipos de rochas lhes atribui uma imagem de resistncia e solidez, o que
verdadeiro em diversos casos. No entanto existem aquelas que no apresentam grande resistncia, sendo
frgeis e mais vulnerveis aos eventos que sobre elas atuam, como pro exemplo as feies geomorfolgicas
desenvolvidas em rochas calcrias e arenticas..
A explorao de recursos geolgicos, que dentro da sociedade atual se faz cada vez mais
necessria, na maioria dos casos constitui uma ameaa a geodiversidade. Essas atividades podem impactar
o meio ambiente, afetando de modo negativo a paisagem natural, sobretudos os afloramentos rochosos,
comprometendo jazidas fsseis e minerais de valor cientfico, pedaggico e turstico.
Desenvolvimento de obras e estruturas, agricultura intensiva e industrializada, construo de
represas hidreltricas, atividades militares, colheita de amostras geolgicas sem fins cientficos, bem como
atividades tursticas de forma desordenada e vandalismos, tambm so fatores que podem comprometer a
geodiversidade e as morfoesculturas do relevo.
Diante da necessidade de conservar a diversidade geolgica surge o termo geoconservao, que
por sua vez tem como objetivo a utilizao e gesto sustentvel de todo meio abitico, englobando todo
tipo de recursos geolgicos. Neste sentido, a geoconservao tem como objetivo a gesto do patrimnio
geolgico e processos naturais a ele associados (Brilha, p. 53, 2005)
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

756
No contexto mundial so tambm adotados os seguintes conceitos referentes diversidade
natural: o de geosstio e patrimnio geolgico.
Geoconservao
Geosstios
O Brasil ingressou em 1993 no programa da UNESCO para conservao dos geosstios, conforme
definido pela Conveno para Proteo do Patrimnio Mundial Cultural e Natural, de 1972. Para o
desenvolvimento dessas atividades, foi criada em 1997 a Comisso Brasileira dos Stios Geolgicos e
Paleobiolgicos SIGEP (Nascimento, 2008).
A SIGEP representada por uma grande comunidade geolgica e vrias entidades pblicas, como o
Servio Geolgico do Brasil (CPRM), Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM), Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hdricos (IBAMA), Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE),
Sociedade Brasileira de Geologia (SBGeo), entre outras.
O principal papel desempenhado pela SIGEP o de selecionar os stios geolgicos, que uma vez
aprovados precisam prestar-se ao fomento da pesquisa cientifica bsica e aplicada, difuso do
conhecimento nas reas das cincias da Terra, o fortalecimento da conscincia conservacionista, estimular
as atividades educacionais, recreativas ou tursticas, sempre em favor da participao e do
desenvolvimento socioeconmico das comunidades locais (Nascimento, 2008).
Alm de atender a todas essas questes, h a necessidade de se estabelecer estratgias prprias
visando monitoramento e a manuteno da integridade dos pontos geolgicos do Brasil.
Os geosstios so divididos em categorias, entre elas podemos destacar os de interesse Geolgicos,
Geomorfolgicos, Paleoambientais, Paleontolgicos, gneos, Mineralgico, Arqueolgicos, Estratigrficos,
entre outros. Hoje, so em mdia 15 categorias de geosstios.
Para que haja a aprovao dos geosstios preciso que sejam adotados alguns critrios, que podem
ser chamados de estratgias de geoconservao. Eles foram divididos em etapas, onde tem incio o
processo do Inventrio, levantamento de toda rea de estudo. Durante o procedimento cada geosstio,
devemos ter como base uma carta topogrfica visando faciloitar as localizases dos geositios e a
caracterizao dos aspectos geolgicos, geomorfolgicos e paleontolgicos. Tal procedimento subsidiado
pelos registros fotogrficos.
Outro processo o de quantificao, onde so utilizados alguns critrios, divididos em intrnsecos
ao geosstio, que esto relacionados ao local, extenso, abundncia/raridade, estado de conservao, entre
outros. O uso potencial do geosstio tambm deve ser observado, ou seja, a acessibilidade, nmero de
habitantes da rea, possibilidades de se realizar atividades cientficas e educativas, bem como a sua
conservao.
H tambm o processo de classificao, de modo a analisar a relevncia do geosstio. A valorizao
e divulgao se fazem presente nessas etapas e tm um papel importante para a obteno de resultados
satisfatrios. A divulgao pode ser realizada de acordo com a relevncia do patrimnio geolgicogeomorfolgico, incentivado pela criao de roteiros geotursticos. Por fim, deve ser feito o trabalho de
monitorao anual dos geosstio.
Geoparques
Geoparques so reas em que se conjuga a Geoconservao e o desenvolvimento econmico
sustentvel das populaes que a habitam. Nelas procuram-se estimular a criao de atividades
econmicas suportadas na Geodiversidade da regio, com envolvimento das comunidades locais (Brilha,
2005).
Este um programa desenvolvido pela UNESCO que vem sendo difundido em pases que se
preocupam com a conservao e divulgao do patrimnio geolgico. A UNESCO recomenda que as reas
que possuem algum interesse geolgico o turismo com bases geolgicas seja amplamente divulgado e
valorizado.
Pases da Europa e da China j possuem inmeros Geoparques catalogados, no Brasil foi a provado
o Geoparque Araripe o nico do pas. O mesmo localiza-se no Sul do estado do Cear, na regio
denominada de bacia do Araripe, possui territrio com aproximadamente 5.000km e faz limite com os
Joo Pessoa, outubro de 2011

757
estados de Pernambuco e Paraba. Surgiu a partir de uma iniciativa do governo do estado do Cear e foi
qualificado por sua relevncia geolgica e paleontolgica.
H no Brasil vrias propostas para a criao de Geoparques sendo analisadas, entre elas
esto algumas regies de interesse geolgico em Pernambuco, como Fernando de Noronha (Interesse
gneo), Vale do Catimbau (Interesse Geomorfolgico e Ambiental) e Cabo de Santo Agostinho (Interesse
gneo, histrico-cultural).
Este ltimo se destaca por evidenciar grandes eventos geolgicos, entre eles sua
importncia relacionada abertura do Oceano Atlntico e ocorrncia de erupes vulcnicas, lhe atribudo
relevante interesse gneo e por apresentar vrias construes antigas, datadas a partir do sculo XVI,
construdas com elementos da regio.
Geoturismo
Sabemos que o turismo tem crescido bastante enquanto atividade socioeconmica. No entanto,
esse crescimento tem causado preocupao no tocante a relao sociedade x meio ambiente. Isto se deve,
principalmente, ao turismo em massa ou mal planejado. Este turismo disforme provocou a periferizao
nos centros e reas tursticas, acentuando a marginalidade social e extrapolando a capacidade de carga
desses ambientes.
A atividade turstica, de acordo com o enfoque e prioridades nas formas de lazer, possui vrias
ramificaes, ou segmentos. Entre elas se destaca o ecoturismo, atividade que tem por base a proximidade
e o equilbrio com a natureza, o mesmo tem como principal atrativo a paisagem e oferece a possibilidade
de sentir-se em harmonia, fato que se contrape ao cotidiano das cidades.
O geoturismo, assim como o ecoturismo possibilita um maior contato com a natureza e
preocupao com o patrimnio natural. No entanto nele ressaltado o meio abitico e os valores
geolgicos dos ambientes. Dessa forma, surge o Programa de Geoparques, com o objetivo de promover a
geoconservao e difundi-la em todo Planeta.
No Brasil a preocupao com o patrimnio geolgico j se faz presente, e comprovada atravs da
criao do Geoparque Araripe e as inmeras propostas para a criao de mais geoparques. Muitos
profissionais e alguns segmentos da sociedade j se conscientizaram do quanto se faz necessria a
conservao do patrimnio geolgico, em termos histricos, culturais, paisagsticos, cientficos, mas
principalmente em relao ao desenvolvimento sustentvel e conservao ambiental.
Alguns projetos geotursticos tm sido desenvolvidos em vrios estados brasileiros. Entre eles Rio
de Janeiro, Salvador, Rio Grande do Norte, Paran e Pernambuco que possui hoje o projeto Redescobrindo
o nosso litoral ensinando com Geoturismo: O vulcanismo do litoral sul de Pernambuco e a abertura do
Oceano Atlntico realizado pela UFPE, tendo apoio da FACEPE, rgo de fomento a pesquisa no estado de
Pernambuco. Este projeto est sendo implantado no Municpio do Cabo de Santo Agostinho, onde sero
fixadas algumas placas indicativas, relacionadas Geologia local, de forma simples e clara, para que os
visitantes possam entender os eventos geolgicos que ocorreram naquela rea.
O projeto ainda prev uma segunda etapa, de divulgao e educao ambiental, junto a escolas da
comunidade e sociedade local. Onde sero ministradas palestras de conscientizao e a confeco de
panfletos e cartilhas objetivando um maior conhecimento da populao e conseqentemente um provvel
aumento no nvel de conscincia com relao natureza e seus elementos.
Visando difundir a cincia geolgica e estender o projeto levando informao a um nmero ainda
maior de pessoas, foram fixadas placas informativas no Espao Cincia, rgo de divulgao cientfica da
Secretaria de Cincia e Tecnologia do estado de Pernambuco (SECTEC). Considerado o maior museu a cu
aberto do pas e um dos maiores do mundo, o espao est localizado em Olinda/PE, aberto ao pblico em
geral, oferece diversas atividades educacionais e projetos sociais.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

758

Foto 01 - Espao Cincia, alunos do ensino fundamental recebendo algumas informaes de cunho
geolgico. Foto 02 Placa com informaes sobre a Praia de Gaibu. (Fonte: Rogrio Valena e Thas
Guimares, 2011)
Em projeto intitulado Caminho das pedras Seabra (2004) traa um roteiro turstico de bases
geolgicas, tendo como cenrio a paisagem agrestina e semi-rida pernambucana, com nfase no uso
turstico sustentvel da diversidade geolgica e geomorfolgica regional. O circuito geoturstico do
Caminho das Pedras contempla os municpios de Gravat, Bezerros, Caruaru, Brejo da Madre de Deus, Belo
Jardim e Venturosa, propiciando maior integrao entre visitantes e visitados e acarretando benefcios
diretos para a populao residente.
O presente artigo prope um trabalho semelhante no Municpio do Congo, porm em menor
proporo, enfatizando a Serra da Engabelada.
CARACTERIZAO E DISCUSSO
O Cariri paraibano encontra-se inserido na faixa de terra denominado por AbSaber (2003) como
Nordeste Seco. As massas de ar provenientes do atlntico e que seguem no sentido leste a oeste tem
dificuldade de penetrar no interior. Esse fenmeno associado a outros fatores, como as formas de relevo, a
escassez hdrica, com os fluxos de gua temporrios, impem ao Cariri o aspecto de semi-aridez, que
podem ser observados atravs de vrios fatores intrnsecos a esta paisagem.
Com relao s formas de relevo, a Paraba possui paisagens naturais bastante contrastantes,
estendendo-se do litoral ao serto, desde baixada litornea at as depresses sertanejas, dentro desse
universo. O Cariri paraibano divide-se em oriental e ocidental, estando inserido na unidade geomorfolgica
do planalto da Borborema. Sua superfcie aproxima-se dos 26.000 km, cravados na regio oriental do
nordeste brasileiro, onde se estende pelos estados do Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco e Alagoas
(Seabra, 2004).
O Municpio do Congo, localizado no Cariri Ocidental, possui uma rea de aproximadamente
274km. Distante aproximadamente 212 km da capital paraibana, o municpio foi criado em 1959 e,
segundo dados do IBGE, possui populao estimada de 4.906 mil habitantes. Limita-se com o Estado de
Pernambuco e os municpios paraibanos de Camala, Sum, Serra Branca, Coxixola e Barabas.
Conhecida como cidade das guas, a sede municipal contraria todas as caractersticas de semiardidez da regio, j que atravs do Aude Cordeiro abastece vrias cidades circunvizinhas. Com relao
atividade turstica o congo conhecido pelo famoso banho no Rabo do Pavo, balnerio que atrai visitantes
de vrias localidades, principalmente do estado de Pernambuco, em busca do banho nas guas geladas do
enorme chuveiro, que serve de sangria ao aude.

Joo Pessoa, outubro de 2011

759

Foto 03: Balnerio de turismo e lazer, Rabo do Pavo


(Fonte: Thas Guimares, 2010)
Quanto aos aspectos fsicos, o relevo estrutural encontra-se em uma altitude de aproximadamente
e 480 metros (sede do municpio). O clima tropical semi-rido com chuvas de vero. Com relao a
hidrografia, a regio encontra-se inserida na bacia hidrogrfica do rio Paraba e os principais cursos de gua
so dos rios Paraba, Sucuru e Monteiro. A fauna composta por aves, insetos, rpteis e pequenos
mamferos, como o pre (Cavia aperea) e o moc (Kerodon rupestris), pequenos roedores, bastante
encontrados na regio.
Observa-se uma variedade de altitudes, as quais correspondem diferentes tipos de solos e
vegetao. Nas reas de relevo suave verifica-se a ocorrncia de planossolos; nos topos das vertentes
predominam solos rasos, brunos no clcicos; enquanto que nas altas vertentes do relevo ondulado
ocorrem solos podzlicos; por fim, nas elevaes residuais foram identificados solos litlicos, rasos e
pedregosos (Brasil, 2005).

Foto 04: Lajedo e blocos rochosos dispostos aleatoriamente


(Fonte: Thas Guimares, 2010)
A cobertura vegetal da regio varia de acordo com os tipos de solos, sendo encontradas na
rea as formaes de Caatinga hiperxerfita e hipoxerfita, cujas espcies botnicas mais comuns so o
mandacaru (Cereus jamacaru), facheiro (Pilosocereus squamosus), coroa de frade (Melocactus bahiensis) e
macambira (Bromlia laciniosa), alm de trechos com florestas caduciflias, destacando-se as espcies
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

760
arbreas mulungu (Erythrina velutina), juazeiro (Ziziphus joazeiro), umbuzeiro (Spondias tuberosa), entre
outras.
A Serra da Engabelada, um complexo geolgico exuberante, torna a paisagem local ainda mais
extica. A caminhada at o topo da serra requer bastante esforo fsico para o visitante, porm
recompensado pela vista que se tem do alto, uma viso panormica do municpio.
Do alto da Serra descortinam-se inmeros locais com vegetao diversificada e entremeada por
extensos lajedos. Sobre as extensas lpides esto dispostos mataces e diversas rochas desagregadas
configurando o caos de pedras. Processos de esfoliao e esferoidal so evidentes em alguns trechos da
caminhada, enriquecendo o aspecto geolgico e geomorfolgico da regio.

Foto 05: Serra da Engabelada, ocorrncia de mataces e rochas desagregadas


(Fonte: Thas Guimares, 2010)
Em algumas reas h ocorrncia vrias pinturas rupestres, como o caso da Pedra do Letreiro, uma
furna, composta por vrios blocos rochosos, onde podemos identificar figuras bastante significativas como
flores, animais, formas geomtricas, entre outras bastante preservadas.

Foto 06: Grupo visitando furna com ocorrncia de pinturas rupestres


(Fonte: Thas Guimares, 2010)

Joo Pessoa, outubro de 2011

761

Fotos 07 e 08: Algumas da pinturas rupestres encontradas n rea


(Fonte: Thas Guimares. 2010)
Um conglomerado de rochas tem uma importncia especial para os mais religiosos, o chamado
cruzeiro do Carmo, amontoado de blocos, onde foi erguido um cruzeiro em seu cume, de forma a
representar a religiosidade da populao local.
A Geodiversidade local notria, as formas de relevo so resultantes de processos geomorfolgicos
associados a fatores climticos, resultando em uma paisagem caracterstica do semi-rido.
CONSIDERAES FINAIS
O Municpio do Congo possui elevado potencial turstico e uma rica geodiversidade, que pode ser
conservada e ao mesmo tempo divulgada atravs do Geoturismo, objetivando a conscincia de sua
importncia.
preciso entender o que esses elementos representaram no passado geolgico, sua influncia ao
logo de milhares de anos, de que forma atuam hoje, qual seu comportamento e atuao na natureza e na
sociedade contempornea, bem como a importncia de conserv-los e garanti-los para as geraes futuras.
Para este fim, se fazem necessrias medidas de catalogao dessas reas potencialmente
importantes do ponto de vista geolgico, geomorfolgico e arqueolgico, atravs de trabalhos como este e
de incentivos locais direcionados a moradores e comerciantes da regio, para estes se tornarem agentes
divulgadores. Entretanto, a divulgao deve ser de forma educativa e conservacionista.
Referncias Bibliogrficas
ABSABER, A. N. Os domnios da natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas. So Paulo: Ateli
Editorial, 2003.
BRASIL. Ministrio das Minas e Energia. Diagnstico do Municpio do Congo. CPRM, 2005.
BRILHA, J. Patrimnio Geoecolgico e Geoconservao: a conservao da natureza na sua vertente
geolgica. Palimage Editores, Braga, 2005.
SEABRA, G. Turismo Sertanejo. Joo Pessoa: Editora Universitria UFPB, 2007.
_____. Caminho das Pedras: O turismo ecolgico de base geolgica no Agreste Pernambucano.
Departamento de Geologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Relatrio de Pesquisa, Nvel PsDoutorado, 2004, 73p.
NASCIMENTO, M. A. L do, RUCHKYS, U. A, MANTESSO, V. N. Geodiversidade, Geoconservao e
Geoturismo: trinmio importante para a proteo do patrimnio geolgico. 2008

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

15.

Impactos e Degradao Ambiental

763

CAUSAS E CONSEQUNCIAS DAS QUEIMADAS NO CAMPO EM ITAPETIM,


PERNAMBUCO
Adriano Jos LIMA DOS SANTOS
Edilson MENDES NUNES

136
137

RESUMO
Para identificar as principias causas e benefcios, na prtica, das queimadas no municpio de
Itapetim, Pernambuco, fez-se necessrio a realizao de uma pesquisa com agricultores filiados s
associaes comunitrias rurais do municpio. As queimadas so uma das tcnicas mais utilizadas na
preparao do solo, pelos agricultores do municpio, estas podem ocasionar diversos danos para o meio
ambiente, como por exemplo, a quebra da cadeia alimentar e os incndios. A partir da anlise dos
resultados nota-se que os agricultores entrevistados usam apenas o conhecimento emprico popular, o qual
passado de gerao em gerao, sem observar com clareza os danos que vem causando ao meio
ambiente e consequentemente, afetando na sua produo agrcola. Sendo assim, observa-se a grande
necessidade de proporcionar a estes agricultores a oportunidade de ter acesso ao conhecimento cientfico,
acerca de tcnicas que os ajudem na melhoria de suas plantaes, para que os mesmos possam fazer uso
do solo de forma sustentvel.
Palavras chave: Agricultura, Queimadas, Prticas Agrcolas.
1 INTRODUO
As queimadas tem se configurado numa prtica bastante degradadora do solo. A falta de um
manejo sustentado tambm vem contribuindo para que os solos se tornem cada vez menos produtivos. As
queimadas so, em parte, grandes responsveis por esta degradao.
Segundo Freitas (2009) as queimadas so mais frequentes em reas rurais que praticam tcnicas
rudimentares de preparo da terra, quando existe uma rea na qual se pretende cultivar, o pequeno
produtor queima a vegetao para limpar o local e preparar o solo, esse recurso no requer investimentos
financeiros.
Os agricultores muitas vezes por falta de informao ainda utilizam o fogo para eliminar o material
seco, consequentemente, tornando o solo imprprio para o brotamento de novas plantas, alm de no ser
digerido pelos animais ruminantes.
As emisses de gases provenientes das queimadas geram grandes problemas, principalmente para
o ser humano. Isso o que afirma Ribeiro e Assuno, (2002): os efeitos das queimadas prejudicam a
sade pblica, no entanto, depender da intensidade de poluentes no qual o indivduo fica exposto. Vale
salientar que os principais prejudicados so os agricultores e as suas prprias famlias.
Diante destes prejuzos ambientais apresentados com a ao das queimadas, interessante
examinar se estes so compensados economicamente, podendo assim justificar tal prtica.
O presente trabalho visa levantar o perfil do utilizador das queimadas, no municpio de Itapetim,
Pernambuco; bem alguns fatores que indiquem causas e consequncias dessa prtica.
2 MATERIAIS E MTODOS
2.1 Tipo e local do estudo.
O estudo apresentado do tipo exploratrio, realizado em campo prtico/terico, de carter
quantitativo.
A pesquisa foi realizada no municio de Itapetim, estado de Pernambuco. O municpio est
localizado na Macrorregio do Serto Pernambucano e na Microrregio do Paje, com uma rea territorial
de 408,0 km, limitando-se ao Norte com o estado da Paraba, ao Sul com So Jos do Egito, ao Leste com o
estado da Paraba, ao Oeste com So Jos do Egito e Brejinho, o municpio se localiza no bioma Caatinga. A
136

Bilogo, Especialista em Educao Ambiental, Professor do ensino Bsico do Municpio de Itapetim - PE.
adrianoj.santos@hotmail.com
137
Licenciado em Geografia, Mestre em Sistemas Agrossilvipastoris, professor do Curso de Geografia e da
ps-graduao das Faculdades Integradas de Patos. edimenu@ig.com.br
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

764
sede municipal est a 637 m de altitude em relao ao nvel do Mar, tem sua posio geogrfica
determinada pelo paralelo de -7 22 40.8 da latitude -37 11 25 de longitude. O clima semirido quente,
com temperaturas variando entre 20 C e 36C.
A Populao residente no municpio de 13.881 pessoas, sendo 8.426 residentes na zona urbana e
5.455 presidentes na zona rural (IBGE, 2010).
A Precipitao Pluviomtrica - Mdia Histrica Anual do Municpio de 608,00 mm/ano (Secretaria
de agricultura e reforma agrria de PE, 2011).
2.2 Desenvolvimento do Estudo
Este estudo foi realizado na zona rural do municpio de Itapetim PE, sendo desenvolvido em trs
etapas:
A primeira consistiu em uma pesquisa bibliogrfica sobre a importncia do fogo atravs dos tempos
e os prejuzos que ele pode vir a causar ao meio ambiente e, consequentemente ao homem, se mal
utilizado em sua aplicao.
Na segunda etapa foi realizada uma entrevista com agricultores de 05 (cinco), associaes
comunitrias Rurais do Municpio de Itapetim PE, sendo elas: Associao comunitria dos Prazeres,
Associao comunitria do Logradouro, Associao comunitria do Campo do Amb, Associao
comunitria Santa Rita e Associao comunitria da Cacimba Salgada. Tal instrumento visou traar um
diagnstico de como o tema est sendo abordado e averiguar o nvel de conhecimentos dos mesmos sobre
a utilizao do fogo; bem como levantar um breve perfil do entrevistado.
Em uma terceira etapa, aps coletadas as informaes, os dados foram analisados e apresentados
em forma de grficos e relatrios.
3 RESULTADO E DISCUSSO
A regio nordeste sofre bastante com os mtodos rudimentares de
manejo do solo. A cidade de
Itapetim, Pernambuco insere-se nesta realidade, com a prtica de queimadas pelas comunidades.
No presente estudo quando se buscou a cidade de nascimento dos trabalhadores do campo
entrevistados, chegou-se ao resultado demonstrado na Figura 1, que segue:

Figura 1: O grfico abaixo indica a cidade de nascimento dos entrevistados.

Observa-se no grfico que 68% dos entrevistados so oriundos do municpio de Itapetim PE, com menor proporo mais em destaque os municpios de So Jos do Egito - PE com 08%, Teixeira
PB com 05, Brejinho PE com 04%, Santa Terezinha PE e Livramento PB com 2,6%. Ainda apareceram
na pesquisa os municpios de So Paulo - SP, Patos - PB, Monte Santo - BA, Imaculada - PB, Carpina - PE,
Campina Grande PB e Brejo de Areia MA com apenas 1,3%. Apesar de serem de municpios distintos
todos os entrevistados residem hoje no municpio de Itapetim.
A Figura 2 que segue, denota o estado civil dos entrevistados:

Joo Pessoa, outubro de 2011

765

Figura 2: Estado civil dos entrevistados

Observa-se no grfico que 69,3% dos entrevistados so casados, 13,3% so solteiros e


17,3% encontra-se em situao civil bastante diversificada, sendo amasiados, vivos, separados,
divorciados entre outros.
Na Figura 3 podemos visualizar as faixas etrias correspondentes s pessoas pesquisadas.

Figura 3: Faixas etrias dos entrevistados

O grfico acima mostra que apenas 1,3% dos agricultores entrevistados apresenta idade
inferior a 20 anos, 22,7% apresentam idade entre 20 e 30 anos, os agricultores com idades entre 31 e 40
anos e entre 41 a 50 anos apresentaram 24% cada, sendo com maior destaque os agricultores com mais de
50 anos com 28%. Observa-se a partir destes dados que a agricultura no municpio uma atividade que
est sendo deixada de lado pelos mais jovens.
Na figura 4 abaixo podemos notar o grau de escolaridade dos entrevistados.

Figura 4: Grau de escolaridade dos entrevistados

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

766
Observa-se no grfico que 49,3% dos agricultores estudaram at a 4 srie/ 5 ano do
ensino fundamental, 22,7% cursaram at a 8 srie/ 9 ano do ensino fundamental, 14,7% passaram pelo o
ensino mdio e 13,3% no tiveram a oportunidade de estudar.
Com o melhor acesso a educao os moradores da zona rural do municpio, esto deixando
a agricultura e procurando outras profisses que possa d melhor condies de vida, isso pode-se observar
quando fazemos a leitura dos dados apresentados nas figuras 3 e 4.
O nmero de filhos dos entrevistados est em evidncia na figura 5, que segue:

Figura 5: Nmero de filhos dos entrevistados

O grfico acima mostra dados referentes quantidades de filhos por famlia pesquisada.
Sendo 14,7% com apenas um filho, 28% com dois filhos, 20% com trs filhos, 6,7% com quatro filhos, 04%
com cinco filhos, 16% com mais de cinco filhos e 10,6% no tiveram filhos. Observa-se nos dados que as
famlias encontram-se pouco numerosas. Uma tendncia natural vegetativa no pas.
A Figura 6 evidencia a principal atividade remunerada dos entrevistados

Figura 6: principal atividade remunerada

Observa-se no grfico que a grande maioria dos entrevistados apresentam com principal
fonte de renda a agricultura com 81,3%, tendo com principais culturas cultivadas o feijo, o milho, a
mandioca e a cana-de-acar. Apenas 18,7%, apresenta com fonte de renda a aposentadoria oriunda da
atividade rural.
As Atividades acessrias funcionam como complemento da renda. Muitos no conseguem
sobreviver apenas do campo, buscando alternativas, principalmente na entressafra ou no perodo da seca.
Essas atividades podem ser visualizadas na Figura 7, que segue:

Joo Pessoa, outubro de 2011

767

Figura 7: Atividades acessrias dos entrevistados

Ao observar o grfico acima se percebe em destaque que 72% dos entrevistados no tem
uma outra fonte de renda a no ser a agricultura, 18,7% mesmo aposentado mantm a agricultura com
atividade acessria, o comrcio e a criao de aves com 04% cada e como menor destaque o artesanato
com apenas 1,3% por cento.
A figura 8, que segue evidencia a Propriedade das terras que cultivam.

Figura 8: Propriedade das terras cultivadas

Na figura acima se verifica que 70% dos entrevistados so proprietrios das terras em que cultivas e
40% no so proprietrios.
A frequncia com que utilizada a queima nas terras para o cultivo ser apresentada na
Figura 9 abaixo.

Figura 9: frequncia de utilizao das queimadas por parte dos entrevistados

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

768
Ao analisar o grfico verifica-se que 73% dos entrevistados utilizam a queima para
preparao do solo sempre que acha conveniente, 20% utilizam uma vez por ano, 04%, duas vezes por ano
e apenas 2,7%, a cada dois anos. Fazendo a leitura do grfico pode-se observar ainda que todos os
entrevistados utilizam, mesmo que com pequena frequncia, o fogo, como tcnica para preparao das
terras em que cultivam.
Foi perguntado ao entrevistado a quanto tempo ele utiliza a mesma rea para plantio? A resposta
ficou evidente na Figura 10, que segue:

Figura 10: tempo mdio de utilizao das reas cultivadas.

Observa-se no grfico acima que 17,3% dos agricultores, utilizam a mesma rea para plantar at
dois anos, 25,3% utilizam de trs a cinco anos, 21,3% utilizam de seis a dez anos, 14,7% utilizam a mesma
terra entre onze e vinte anos e 21,3% por cento j utilizam a mais de vinte anos.
A utilizao da mesma rea consecutivamente para o plantio uma prtica que pode trazer
alguns prejuzos, pois retirada da terra os nutrientes e h uma perda da matria orgnica deixando o solo
pobre e assim diminuindo a produo (SILVA, et al 2005).
Em uma das questes foi perguntado se o pesquisado utiliza o resto da cultura para o
pastejamento animal. Na Figura 11, as respostas ficaram evidentes:

Figura 11: Utilizao, por parte dos entrevistados de restos de cultura para melhoria das
condies do.solo.

Observa-se no grfico que quase na totalidade com 98,7% por cento dos agricultores utilizam o
resto das culturas cultivadas para o pastejamento animal, enquanto apenas 1,3% no utilizam.
A utilizao do resto das culturas cultivadas para o pastejamento animal, pode trazer alguns
prejuzos, um deles a retirada da matria orgnica que consequentemente no entrar em decomposio
e, empobrecer o solo. Outro dano a compactao do solo feita pelos animais que pastejam dentro da
rea plantada.
Tambm foi perguntado aos entrevistados se tem notado diferena na produo desta rea, a
figura 12, que segue demonstra o resultado:
Joo Pessoa, outubro de 2011

769

Figura 12: Diferena sentida por parte dos entrevistados na produo

O grfico acima mostra que 70,7% por cento dos agricultores tem notado diferena na
produo de suas culturas, justificando que a cada ano a mesma apresenta uma diminuio, enquanto
29,3% no notaram nenhuma diferena.
Tambm foi perguntado que outras tcnicas so utilizadas pelos entrevistados, tendo sido
facultado a eles responderem mais de uma. A figura 13 demonstra os resultados.

Figura 13: outras tcnicas de manejo utilizadas

As tcnicas usadas na preparao do solo so muito importantes para a manuteno do


mesmo. A pesquisa feita mostra que 92%, dos entrevistados usam arados com trao animal, 21,3% usam
arado com trao mecnica, 44% usam a destoca e 38,7 usam a broca.
A utilizao de fertilizantes pelos moradores entrevistados demonstrada na figura 14, que segue:

Figura 14: Utilizao de fertilizantes pelos entrevistados

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

770
Observa-se que 96% dos agricultores no usam fertilizantes, isso implica em uma produo
orgnica bastante saudvel, enquanto que apenas 04% utilizam este instrumento como forma de aumentar
sua produo.
A utilizao de pesticidas pelos moradores entrevistados demonstrada na figura 15, que segue:

Figura 15: Utilizao de pesticidas pelos entrevistados

O grfico acima mostra que 69,3% dos agricultores utilizam pesticidas em suas lavouras e
30,7% no utilizam. Sabe-se que os pesticidas so usados para combater pragas, no entanto o seu uso deve
ser moderado, pois, pode causar contaminao solo e desequilbrio na cadeia alimenta.
Tambm foi perguntado aos entrevistados se j haviam recebido alguma
informao (palestra, Leitura ou informao qualquer) sobre os benefcios e malefcios da queimada. A
resposta ficou evidente na figura 16, que segue:

Figura 16: Participao do entrevistados em curso de capacitao ou de manejo do solo

Observa-se no grfico que 77,3% dos entrevistados nunca receberam nenhuma informao
a respeito dos benefcios e malefcios das queimadas, isso mostra que grande partes dos prejuzos causados
pode ser ocasionado por falta de informao. Apenas 22,7% j receberam algum tipo de informao.
Percebe-se assim que este percentual pouco significativo diante da relevncia do tema.
Figura 17 podemos notar a resposta dos entrevistados quando lhes foi perguntados
acerca do entendimento deles sobre os malefcios da queimada.

Joo Pessoa, outubro de 2011

771

Figura 17: entendimento acerca dos malefcios das queimadas

Verifica-se no grfico acima que 54,7% dos agricultores entrevistados entende que as
queimadas no trazem benefcios produo, enquanto 45,3% afirmam que elas trazem benefcios a
produo.
Na Figura 18 evidenciou-se a resposta acerca da utilizao da queimada, se ela extremamente
necessria para a manuteno da agricultura nas terras em que cultiva.

Figura 18: Resposta dos entrevistados acerca da necessidade de se fazer queimada

O grfico acima mostra que 26,7% dos agricultores acham que a utilizao da queimada
extremamente necessria para a manuteno da agricultura nas terras em que cultiva, enquanto 73,3%
deles acreditam que podem ser usadas outras tcnicas, embora as desconheam.
4 CONCLUSES
A partir do estudo realizado, pde-se observar que a maioria dos produtores rurais do municpio de
Itapetim PE, no dispe de informaes tcnicas para o manuseio das terras em que cultivam. Utilizando
assim, recursos rudimentares o que os tornam inadequados na manuteno das culturas cultivadas.
O grau de escolaridade dos entrevistados muito baixo, apesar de hoje a educao est um pouco
mais acessvel populao. Outro dado levantado que mesmo aqueles que buscam a escola e conseguem
mais informaes, no ficam na agricultura para melhorar e desenvolver novas tcnicas e assim conseguir
produzir sem agredir o meio ambiente.
A utilizao do fogo, o pastejo animal e a falta de rotatividade nas reas plantadas, fazem com que
a produo diminua cada vez mais, o solo perde matria orgnica, e, por conseguinte, nutrientes.
Sendo assim, deve-se buscar alternativas ao fogo, sendo que polticas pblicas voltadas para a
educao do campo e a disseminao de tcnicas de manejo sustentveis so de suma importncia para
manuteno do homem do campo, no campo.
REFERNCIAS:
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

772
BROWN, Irving Foster; VASCONCELOS, Sumaia Saldanha de; PANTOJA, Nara Vidal. Fogo e
Queimadas. Jornal Mundo Jovem, Porto Alegre, p. 4, jul. 2005.
FREITAS, Eduardo de; As Queimadas Provocam um Profundo Desequilbrio Ambiental, 2009.
Disponvel em: <http://www.alunosonline.com.br/geografia/queimadas/>. Acesso em: 12 de fevereiro
2011.
IBGE.
Instituto
Brasileiro
de
Geografia
e
Estatstica.
Disponvel
em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em: 23 maio. 2011.
JACQUES, Aino Victor Avila. A queima das pastagens naturais: efeitos sobre o solo e a vegetao.
Cincia Rural, Santa Maria, v. 33, n. 1, p.177-181, jan./fev. 2003.
PERNAMBUCO. Secretria de Agricultura e Reforma Agrria. Dados Pluviomtricos. Disponvel
em:<http://www.agricultura.pe.gov.br/interna.php?p=dadospluviometricos&s=RD5_Q_Ajustados>.
Acesso em: 23 maio. 2011.
RIBEIRO, Helena; ASSUNCAO, Joo Vicente. Efeitos das Queimadas na Sade Humana. Estudos
Avanados, So Paulo, v.16, n. 44, abr. 2002.
SILVA, C. G. da; ALVES SOBRINHO, T.; VITORINO, A C. T.; CARVALHO, D. F. de. Atributos Fsicos,
Qumicos e Eroso Entressulcos sob Chuva Simulada, em Sistemas de Plantio Direto e Convencional.
Engenharia Agrcola, v.25, p.144-153, 2005a.

Joo Pessoa, outubro de 2011

773

PERCEPO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS QUE AFETAM O RIO APODI


PELOS MORADORES DO CONJUNTO MANOEL DEODATO, PAU DOS
FERROS/RN
Alexsandra Fernandes de QUEIROZ
Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA
Email: alexsandrageografia@hotmail.com
Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Cincia do Solo
Jacimria Fonseca de MEDEIROS
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN
Email: marageografia@hotmail.com
Professora do Curso de Geografia

RESUMO
O conjunto Manoel Deodato, no municpio de Pau dos Ferros, RN, uma rea que est localizada
nas proximidades do Rio Apodi, cujas moradias foram e continuam sendo construdas s margens do rio,
sem respeitar os limites recomendados para tal, ocasionando, portanto, diversos impactos ambientais. A
populao tem subsistido de forma precria, sem os servios bsicos de saneamento, distribuio de gua e
energia, coleta de lixo, entre outros, o que agrava ainda mais o problema de poluio do Rio Apodi. Atravs
de uma pesquisa qualitativa, baseada em uma coleta de dados por amostragem, o presente artigo tem por
objetivo principal estudar e identificar a percepo dos moradores dessa localidade em relao aos
impactos ambientais provocados pela comunidade no Rio Apodi. Acreditamos que identificar o
entendimento que a populao tem sobre as suas aes no meio ambiente um passo inicial para a
implantao de polticas pblicas e educativas que transformem essa realidade de degradao e conduzam
essa populao a lutar por aes de sustentabilidade.
Palavras-chave: impacto ambiental, percepo ambiental, desenvolvimento sustentvel.
1 INTRODUO
O processo de formao das cidades desde os primrdios da humanidade aconteceu sempre em
reas costeiras, no entorno dos rios ou prximo a outros tipos de reservatrios de gua, no sentido de
facilitar o desenvolvimento das atividades e o dia-a-dia das pessoas. Conforme o processo de urbanizao
avana, avanam tambm as modificaes, as agresses ambientais ao longo dos cursos de gua.
Pau dos Ferros mais um exemplo dessa realidade, a cidade formou-se e expandiu seu territrio ao
longo do Rio Apodi (Figura 01). Esse modelo de ocupao trouxe como conseqncias diversos impactos
ambientais. Como destaca Morais (2007) os primeiros sinais de povoamento na regio prxima s
margens do Rio Apodi ocorreram no final do sculo XVII, com a chegada de grupos compostos por
bandeirantes vindos do Rio So Francisco, aps atravessarem os estados da Paraba e Pernambuco.

Figura 01 Localizao de Pau dos Ferros/RN com destaque do Bairro Manoel Deodato
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

774
Produzida por Agassiel de Medeiros Alves
A cidade se desenvolveu num ritmo acelerado por estar localizada no centro da regio oestana e
pelo destaque econmico na agricultura e pecuria. Na atualidade a cidade adquire novas funcionalidades,
vale destaque para o setor tercirio, com a prestao de servios.
O Conjunto Manoel Deodato uma das reas de Pau dos Ferros que merece destaque, pois
apresenta alguns problemas decorrentes de um crescimento desordenado e mal planejado. Lima (2009)
apresenta que entre alguns problemas enfrentados pela populao esto a falta de creches, escolas, reas
de lazer que atendam satisfatoriamente os moradores, como tambm h deficincias em servios bsicos
como o fornecimento de gua, luz, coleta e tratamento do lixo e dos esgotos.
A populao tem um contato muito prximo com o Rio Apodi, as casas nessa rea foram e
continuam sendo construdas nas margens do rio, sem respeitar os limites recomendados para tal,
ocasionando, portanto, diversos impactos ambientais. Assim, a importncia de se desenvolver nossa
pesquisa embasada na percepo ambiental, surge da necessidade de conhecer melhor a realidade vivida
pelos moradores dessa comunidade.
Nosso trabalho tem como principal objetivo estudar e identificar a percepo dos moradores do
Conjunto Manoel Deodato com relao aos impactos ambientais provocados pela comunidade que afetam
o Rio Apodi. Visualizar qual o entendimento que os mesmos tm sobre meio ambiente e impacto
ambiental, bem como os sujeitos visualizam as conseqncias que os impactos ambientais que afetam o
Rio Apodi trazem para todos que vivem nesse espao.
2 TECENDO ALGUNS CONCEITOS
2.1 Impacto Ambiental
importante nesse trabalho inicialmente apresentar algumas definies do conceito de impacto
ambiental. De acordo com a Resoluo n 01/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),
impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio causadas
por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas, que, direta ou
indiretamente, afetem: a sade, a segurana e o bem-estar da populao; as atividades sociais e
econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; a qualidade dos recursos
ambientais (BRASIL, 2004). Ainda de acordo com o inciso II do artigo 6 da resoluo o impacto ambiental
pode ser positivo (quando traz benefcios) ou negativo (quando proporciona nus).
Entendemos a classificao quanto ao impacto ser dito como positivo ou negativo bastante
relativa, uma vez que toda e qualquer atividade humana provoca algum tipo de impacto ambiental. Com
isso um impacto pode ser considerado positivo para um determinado nmero de pessoas, beneficiadas
pelo desenvolvimento de alguma atividade produtora de tal impacto, ao mesmo tempo pode ser
considerado um impacto negativo para aquelas pessoas que so prejudicadas diretamente nesse processo.
J Guerra e Guerra (1997, p. 350) no Dicionrio geolgio-geomorfolgico afirmam que impacto
ambiental :
Expresso utilizada para caracterizar uma srie de modificaes causadas no meio ambiente,
influenciando na estabilidade dos ecossistemas. Os impactos ambientais podem ser negativos ou positivos,
mas, nos dias de hoje, quando a expresso e empregada, j est implcito que os impactos so negativos. Os
impactos podem comprometer a flora, fauna, rios, lagos, solos e a qualidade de vida do ser humano.

Analisando o meio ambiente como um elemento social e historicamente construdo Coelho (2009,
p. 24-25) destaca que impacto ambiental o processo de mudanas sociais e ecolgicas causado por
perturbaes diversas no ambiente como a construo de um objeto novo, de uma estrada, instalao de
indstria, entre outras. Acrescenta que impacto ambiental diz respeito evoluo conjunta das condies
sociais e ecolgicas estimulada pelos impulsos das relaes entre foras externas e internas unidade
espacial e ecolgica.
Podemos perceber que essas definies de impacto ambiental apresentam caractersticas comuns.
De forma direta o impacto ambiental qualquer alterao provocada no ambiente, que pode mudar e
afetar as condies do mesmo. preciso entender que o ambiente no constitudo somente de
elementos naturais, devem ser considerados tambm os aspectos sociais, espaciais, polticos e culturais.
No h como pensar de forma separada os impactos que tm uma relao direta com os elementos
naturais e os impactos sociais. Como bem destaca Coelho (2009, p. 25) na produo dos impactos
Joo Pessoa, outubro de 2011

775
ambientais, as condies ecolgicas alteram as condies culturais, sociais e histricas, e so por elas
transformadas. Como um processo em movimento permanente, o impacto ambiental , ao mesmo tempo,
produto e produtor de novos impactos.
O homem para satisfazer suas necessidades provoca alteraes no ambiente utilizando os recursos
naturais necessrios para o desenvolvimento das mais diversas atividades. Como conseqncias disso
geram uma srie de impactos ambientais como o desmatamento desordenado, poluio das guas, dos
solos e do ar, gerao de resduos, entre tantos outros.
A maioria dos espaos urbanos brasileiro apresenta problemas com relao aos impactos
ambientais que surgem medida que as cidades crescem devido ao fato da inexistncia de um
planejamento urbano adequado. Gonalves e Guerra (2009, p. 189) dizem que:
As reas urbanas, por constiturem ambientes onde a ocupao e concentrao humana se tornam
intensas e muitas vezes desordenadas, tornam-se locais sensveis as gradativas transformaes antrpicas,
medida que se intensificam em frequncia e intensidade o desmatamento, a ocupao irregular, a eroso e o
assoreamento dos canais fluviais, entre outras coisas.

Coelho (2009, p. 27-28) salienta que os problemas ambientais (ecolgicos e sociais) no atingem
igualmente todo o espao urbano. Atingem muito mais os espaos fsicos de ocupao das classes menos
favorecidas do que os das classes mais elevadas. Podemos citar como exemplo a ocupao de espaos
prximos dos leitos dos rios (sujeito a inundaes) e das encostas ou prximas delas (passiveis de sofrer
processos erosivos e deslizamentos de terra).
Diante disso vemos a necessidade de pensar novas prticas, novos comportamentos e propor um
modelo de desenvolvimento mais condizente com tal realidade para que tenhamos um ambiente mais
saudvel e sustentvel. Os problemas ambientais so variados e a soluo depende do esforo de toda a
sociedade, por meio da sua organizao e da reivindicao para que suas expectativas sejam atendidas
pelas instituies competentes.
2.2 Percepo Ambiental
Podemos perceber que desde a dcada de 1970 at os dias atuais as discusses conceituais e
preocupaes com o meio ambiente tm aumentado em nossa sociedade. Grande parte das informaes
relacionadas ao meio ambiente como os deslizamentos de terra, desmatamento de florestas, inundaes,
entre outros, so mostradas para as pessoas pelos meios de comunicao.
A divulgao desses acontecimentos contribui para que muitas pessoas tenham conhecimento dos
principais problemas ambientais enfrentados nos mais diversos lugares e compreendam quais so os
fatores que contribuem para que tais problemas existam a partir da relao entre o homem e o meio
ambiente. Mas ao mesmo tempo provoca o entendimento por parte de muitas pessoas de que os
problemas relacionados ao ambiente ocorrem em realidades distantes e no se percebe o que se passa no
mesmo momento na realidade local.
Para que tenhamos um ambiente mais saudvel preciso que os atores sociais percebam quais so
os principais problemas ambientais enfrentados em uma dada localidade e busquem estratgias para
solucion-los. Como destaca Boff (2003, p. 65), estudar o prprio meio atividade fundamental para
desenvolver a percepo ambiental aliada a atitudes de respeito ao meio em que se vive, trabalha-se dessa
forma com a sensibilizao e afetividade, j que as pessoas cuidam daquilo que amam e amam aquilo que
conhecem.
A partir da percepo os sujeitos conseguem visualizar melhor a realidade local e desenvolver
aes mais responsveis e coerentes com o meio ambiente. Concordamos dessa forma com Fagionato
(2007) quando diz que o estudo da percepo ambiental de fundamental importncia para que
possamos compreender melhor as inter-relaes entre o homem e o ambiente, suas expectativas,
satisfaes e insatisfaes, julgamentos e condutas. Leff (2008, p. 247) tambm aponta que a percepo
pelo prprio sujeito um instrumento importante para a anlise da qualidade de vida, das condies de
existncia. Portanto, acreditamos que a percepo ambiental uma possibilidade de conseguirmos
entender melhor as relaes mantidas entre o homem e o ambiente, quais so as diferentes formas que
cada indivduo visualiza o meio ambiente, bem como suas insatisfaes e expectativas.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

776
2.3 Desenvolvimento Sustentvel
Vivemos um perodo marcado por contradies sociais, econmicas e ecolgicas como resultado do
modelo capitalista adotado. So algumas caractersticas do modelo de produo capitalista a busca
desenfreada por lucro, o apelo ao consumismo exacerbado e a utilizao predatria dos recursos naturais
sem considerar sua finitude. Nesse contexto h tambm uma desigual distribuio de renda, de acesso aos
mais diversos elementos bsicos para a garantia de uma vida digna como uma alimentao, sade,
educao e moradia.
Para a superao ou mesmo minimizao desses e de outros problemas recorrentes de nossa
sociedade na atualidade necessrio pensar novas formas de produo, de utilizao dos recursos naturais
e de consumo. Muitos so os tericos e pesquisadores que discutem essa problemtica e propem o
desenvolvimento sustentvel como uma alternativa para resolver as mazelas sociais e ambientais
vivenciadas por nossa sociedade.
Primeiramente importante fazer a distino entre crescimento e desenvolvimento. Com relao a
isso Veiga (2008, p. 56) destaca que:
Ningum duvida que o crescimento um fator muito importante para o desenvolvimento. Mas no
se deve esquecer que no crescimento a mudana quantitativa enquanto no desenvolvimento ela
qualitativa. Os dois esto intimamente ligados, mas no so a mesma coisa.

Entendemos que o desenvolvimento vai alm do aumento da renda per capita, da distribuio de
renda. Desenvolvimento deve ser sinnimo de qualidade de vida, de oportunidade de escolhas para que as
pessoas decidam como preferem viver, respeito aos direitos humanos, entre outras coisas.
O Relatrio Brundtland, documento intitulado Nosso Futuro Comum (1987, p. 46) apresenta que o
desenvolvimento sustentvel o aquele que atende as necessidades presentes sem comprometer a
possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades. O documento critica o
modelo de desenvolvimento adotado pelos pases e alerta com relao aos riscos que a sociedade enfrenta
devido o uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de renovao do planeta Terra.
Ignacy Sachs (1993) prope de forma ampla cinco dimenses de sustentabilidade: sustentabilidade
social em que a meta construir uma civilizao com maior equidade na distribuio de renda e de bens;
sustentabilidade econmica por meio da alocao e gerenciamento mais eficiente dos recursos;
sustentabilidade ecolgica prope-se a utilizao dos recursos naturais com o mnimo de danos aos
ecossistemas; sustentabilidade espacial objetiva uma configurao rural-urbana mais equilibrada e;
sustentabilidade cultural inclui processos que busquem mudanas dentro da continuidade cultural e que
traduzam o conceito normativo de ecodesenvolvimento em um conjunto de solues especificam para o
local, o ecossistema, a cultura e a rea.
De acordo com a Agenda 21 (CPDS, 2002) o desenvolvimento sustentvel um conceito que no
est pronto e acabado, est em processo de construo. Como aponta Veiga (2008, p. 189):
Seu ponto de partida teria sido o compromisso poltico internacional com um modelo de
desenvolvimento em novas bases, que compatibiliza as necessidades de crescimento com a reduo da
pobreza e a conservao ambiental. Isso quer dizer que os princpios e premissas que podero orientar a sua
implementao ainda so experimentais, e que dependem antes de tudo, de um processo social, no qual os
atores devero pactuar, aos poucos os novos consensos de uma agenda possvel rumo ao futuro que se
deseja sustentvel.

Muitos so os tericos e documentos que discutem o conceito desenvolvimento sustentvel.


interessante, contudo, percebermos que mais importante do que ter uma definio conceitual de
desenvolvimento sustentvel repensar nosso modelo de produo, a forma como visualizamos as
diversas interaes ambientais e como interagimos com as mesmas, para poder atuar com prticas mais
sustentveis que possibilitem um meio ambiente mais seguro e saudvel para todos de nossa gerao e das
prximas geraes.
3 METODOLOGIA
Para a produo deste trabalho foi feita inicialmente uma pesquisa bibliogrfica sobre a temtica
trabalhada em livros, artigos cientficos, documentos e na Resoluo CONAMA 001/86. Em seguida foi
realizada uma visita ao Conjunto Manoel Deodato (Figura 2) para a aplicao de 20 questionrios com o
Joo Pessoa, outubro de 2011

777
objetivo de fazer um breve levantamento da percepo dos impactos ambientais pelos moradores que
afetam o Rio Apodi.

Figura 2 Delimitao do Bairro Manoel Deodato


Produzida por Agassiel de Medeiros Alves
A proposta de aplicao dos questionrios no foi embasada em um mtodo estatstico, pois
acreditamos que o mtodo qualitativo, com a seleo aleatria de 20 moradores da rea em estudo
forneceu as informaes que precisvamos para fazer esse levantamento de percepo ambiental. O
questionrio foi elaborado com 08 questes abertas com o objetivo de identificar se os moradores sabem
definir conceitos como meio ambiente e impacto ambiental, quais os impactos existentes na comunidade
que afetam o Rio Apodi, a quem responsabilizar por tais impactos e quais atitudes individuais interferem na
situao ambiental da rea em estudo.
4 RESULTADOS E DISCUSSES
Os moradores entrevistados esto numa faixa etria de idades entre 19 e 28 anos, 32 e 57 anos.
Com relao s profisses desempenhadas, uma grande maioria (12 pessoas) disse ser agricultor, mas
tambm foram entrevistados donas de casa, ajudante de pedreiro, militar e diarista. A escolaridade baixa,
17 dos 20 entrevistados no concluram o Ensino Fundamental, apenas 03 disseram que tem o Ensino
Fundamental Completo.
A partir da aplicao dos questionrios podemos destacar alguns pontos importantes de nossa
pesquisa. Como a inteno aqui apresentar a percepo dos moradores com relao aos impactos
ambientais que afetam o Rio Apodi, inicialmente perguntamos o que meio ambiente. A maior parte dos
moradores entrevistados (75%) no conseguiu apontar uma definio de meio ambiente, mas fizeram uma
associao aos recursos disponveis como rvores, animais, florestas, gua, e rios (Figura 3).

15

Associado a alguns
recursos naturais

10

Tudo que faz parte


do planeta Terra
Casa

5
Lugar onde vivemos

Figura 03 Definio de Meio Ambiente pelos moradores


Com relao ao conceito de impacto ambiental um nmero considervel de pessoas (40%) no
sabe do que se trata. Podemos perceber tambm que algumas pessoas no conseguiram definir bem o
conceito, mas apresentaram situaes como a destruio da natureza e exemplificaes de diferentes
impactos ambientais (Figura 4).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

778

Destruio da
natureza

No sabe

4
Cita exemplos de
impactos ambientais

2
0

Figura 04 Definio de Impacto Ambiental pelos moradores


No que diz respeito percepo dos impactos ambientais provocados pela populao que residem
na comunidade que afetam o Rio Apodi, alguns destacaram somente um impacto ambiental, mas a maioria
destacou mais de um, que pode ser identificado na comunidade. Devemos concordar com Sauv (2000)
quando diz que os problemas ambientais que geralmente suscitam mais preocupaes so aqueles que
tocam diretamente as pessoas. O lixo domstico que jogado pelos prprios moradores nas ruas e no Rio
Apodi foi lembrado por 17 dos 20 entrevistados. Outro impacto ambiental de relevncia percebido pelos
moradores foi a problemtica dos esgotos a cu aberto, 14 dos 20 entrevistados o citaram (Figura 05).
Fossas
Criao de animais
Restos de animais
mortos
Esgotos

10

20

Lixo domstico

Figura 05 Impactos Ambientais percebidos pelos moradores


Ao serem perguntados quais as consequncias que esses impactos ambientais trazem para a
comunidade, 18 dos 20 entrevistados citaram que provoca muitas doenas associadas principalmente ao
lixo e esgotos. Foi lembrado tambm por alguns, outras consequncias como a contaminao do Rio Apodi,
mau cheiro e sujeira (Figuras 06 e 07).

Figura 06 Lixo
Figura 07 Lanamento de esgoto sem tratamento

Joo Pessoa, outubro de 2011

779
Quando nos referimos a quem os entrevistados responsabilizavam pelos impactos ambientais
citados, 50% (correspondente a 10 moradores) apontaram como sendo os prprios moradores os
causadores da realidade apresentada. Outros apontaram tambm que alm da prpria comunidade a
gesto pblica municipal tem sua parcela de culpa.
O ltimo questionamento colocado para os moradores teve como objetivo conhecer quais as
atitudes individuais que interferem na situao ambiental do bairro, 12 dos 20 entrevistados (60%)
responderam que no jogam lixo nas ruas nem no Rio Apodi, geralmente armazenam bem em sacos
plsticos para que o carro da coleta possa levar. Alguns responderam que conversam com frequncia com
os vizinhos para que armazenem bem o lixo, no joguem no Rio Apodi, entre outras situaes.
5 CONSIDERAES FINAIS
Perceber e conhecer os diversos problemas enfrentados e impactos ambientais produzidos em um
dado local pelos sujeitos deve ser o primeiro passo para que mudanas significativas possam acontecer, na
busca de um ambiente mais saudvel e sustentvel.
Constatamos atravs de nosso trabalho que os moradores do Conjunto Manoel Deodato no
souberam conceituar meio ambiente e impacto ambiental, mas conseguiram apontar alguns impactos
ambientais provocados pela comunidade que afetam o Rio Apodi, destacando tambm os responsveis
pela situao exposta (moradores e gesto pblica municipal). Isso j um passo importante para que
algumas alternativas sejam propostas e realizadas para a melhoria do ambiente que compartilham.
Algumas limitaes nas respostas e a quantidade de impactos apresentados pelos moradores so
entendidas quando associamos com a escolaridade dos mesmos. Percebemos que muitas vezes eles sabem
do que se trata, no entanto no conseguem se expressar adequadamente, podendo at termos uma idia
distorcida da realidade. Alguns outros impactos poderiam ter sido citados, mas tivemos que priorizar os
apresentados pelos moradores, j que se trata da percepo dos mesmos e no nossa percepo.
Esperamos que nosso trabalho no se encerrasse por aqui, que as informaes coletadas nos
sirvam para outros estudos e intervenes na busca de uma melhor qualidade ambiental para os
moradores do Conjunto Manoel Deodato.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BOFF, L. Civilizao Planetria. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
BRASIL. Resoluo CONAMA no. 001/86 Define Impacto Ambiental. Disponvel em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html . Acesso em: 30/01/2011.
BRUNDTLAND, Gro Harlem (org.) Nosso Futuro Comum. Editora da FGV, 1987. Our Comum Future,
Oxford: Oxford University Press, 1987.
COELHO, M. C. N. Impactos ambientais urbanos em reas urbanas: teorias, conceitos e mtodos de
pesquisa. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 5. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 19-45.
CPDS Comisso de Polticas de Desenvolvimento Sustentvel e da Agenda 21 Nacional. Agenda 21
Brasileira. Braslia: MMA/PNUD, 2002.
FAGIONATO,
Sandra.
Percepo
ambiental.
Disponvel
em:
http://www.cdcc.sc.usp.br/bio/mat_percepcaoamb.htm. Acesso em: 9 fev. 2011.
GONALVES, L. F. H.; GUERRA, A. J. T. Movimentos de massa na cidade de Petrpolis (Rio de
Janeiro). In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs). Impactos Ambientais Urbanos no Brasil. 5. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 189-252.
GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Dicionrio Geolgico-geomorfolgico. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1997.
LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. 6. ed. Petrpolis:
Vozes, 2008.
LIMA, K. Q. O Processo de Segregao Residencial: Um Olhar Sobre as Desigualdades Espaciais no
Conjunto Manoel Deodato em Pau dos Ferros-RN. Trabalhos de Concluso de Curso de Geografia, Pau dos
Ferros, v. 2, p. 28 67, 2010.
MORAIS, M. C. C. Terras Potiguares. 3. ed. Natal: Editora Foco, 2007.
SACHS, I. Estratgias de Transio para o Sculo XXI. So Paulo: Nobel/FUNDAP, 1993.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

780
SAUV, L. A Educao Ambiental uma relao construtiva entre a escola e a comunidade.
Disponvel em: http://www.ufmt.br/gpea/pub/edamaz-livro.pdf. Acesso em: 9 de fev. 2011.
VEIGA, J. E. Desenvolvimento Sustentvel: o desafio do Sculo XXI. 3. ed. Rio de Janeiro: Garamond,
2008.

Joo Pessoa, outubro de 2011

781

AVALIAO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DOS CEMITRIOS EM CAMPINA


GRANDE-PB
Antnio Lopes Gaio
Graduando do Curso de Biologia da UVA/UNAVIDA. tonydefesacivil@bol.com.br
Kalina Gioconda Matos de Souto
Graduada em Licenciatura e Bacharelado em Cincias Biolgicas
Mestranda em Cincia e Tecnologia Ambiental UEPB kalina.matos @yahoo.com.br
Helder Neves de Albuquerque
Bilogo, Doutorando em Agronomia. UFPB. Campus II Areia-PB. helderbiologo@gmail.com

RESUMO
Os cemitrios podem trazer srias conseqncias ambientais, em particular sobre qualidade das
guas subterrneas adjacentes. A infiltrao e percolao das guas pluviais atravs dos tmulos e solo
provocam a migrao de uma srie de compostos qumicos orgnicos e inorgnicos atravs da zona no
saturada, podendo alguns destes compostos atingirem a zona saturada e, portanto poluir o aqufero. Assim
o objetivo foi verificar os principais impactos ambientais em dois cemitrios instalados na cidade de
Campina Grande-PB. Para isso, realizou-se incurses aos dois ambientes necrolgicos para identificar in
loco os possveis elementos caracterizantes de alteraes nos aspectos fsicos, biolgicos e scioeconmicos de forma visvel, perceptiva, intuitiva e por que no dizer, subjetiva que contribussem para
definir os impactos ambientais. A coleta de dados foi realizado nos meses de Abril e Maio de 2011,
fazendo-se um registro visual de dados que foram analisados, interpretados e discutidos de forma
qualitativa e subjetiva. Os elementos observados e registrados foram configurados na Matriz de Leopold
adaptada. No estudo feito nos dois cemitrios indicados identificou-se que apenas 01 deles (Campo Santo
da Paz) cumpre a legislao prevista pela Resoluo CONAMA 335 de 3 de Abril de 2003, sendo assim,
considerado como cemitrio sustentvel. O municpio de Campina Grande-PB, possui nove cemitrios e
destes 8 so pblicos. No caso no Monte Santo, que pblico, por existir a mais de 110 anos, nenhuma das
normas presentes nas resolues so seguidas, o que caracteriza indcios de vrios impactos, gerando
condies de risco a sade da populao circunvizinha pela possibilidade de contaminao por
necrochorume. Os cemitrios pblicos de Campina Grande-PB necessitam urgentemente de aes que
busquem adequar as resolues para minimizar os impactos ocasionados at o momento e compensar os
danos causados a populao e ao meio ambiente.
Palavras-Chave: Necrochorume, Necrpoles, Contaminao, Impactos Negativos.
1. INTRODUO
A palavra cemitrio, do grego koimetrion, dormitrio, pelo latim coemeteriu, significa
recinto onde se enterram e guardam os mortos. Com o advento do cristianismo o termo tomou o sentido
de campo de descanso aps a morte. Os cemitrios tambm so conhecidos pelos seguintes termos ou
expresses: campa, necrpole, carneiro, sepulcrrio, campo santo, cidade dos ps juntos, ltima morada e
outros (PEREIRA, 2011).
S se pode falar realmente em cemitrios a partir da Idade Mdia europia, quando se
enterravam os mortos nas igrejas paroquiais, abadias, mosteiros, conventos, colgios, seminrios e
hospitais. Foi somente a partir do sculo XVIII, que a palavra comeou a ter o sentido atual, quando por
razes higinicas, os sepultamentos voltaram de novo a ser feitos ao ar livre, em cemitrios campais
localizados o mais longe possvel das reas urbanas (MELO, TUDOR e BERNARDINO, 2010).
Devido a esse fato, at mesmo os cemitrios devem ter o licenciamento e a fiscalizao
ambiental como qualquer outro empreendimento com algum potencial poluidor. At o presente momento
o assunto foi pouco estudado e poucos parecem conhecer ou dar importncia ao fato a no ser que
acontea algum fato grave na regio ou com a populao (PEREIRA, 2011).
A cidade de Campina Grande-PB possui 9 cemitrios localizados no Monte Santo, Jos
Pinheiro, Cruzeiro, Arax, Bodocong, Velame, So Jos da Mata, Galante e Santa Terezinha.
Cemitrios podem provocar grandes impactos ambientais na regio em que esto
instalados. As Resolues CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) 335 de 3 de Abril de 2003 e a
402/08, regulamentam e estabelecem critrios mnimos que devem ser integralmente cumpridos na
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

782
confeco dos projetos de sua implantao, como forma de garantir a decomposio normal do corpo e
proteger as guas subterrneas da infiltrao do necrochorume e contaminao do solo.
O principal veculo de contaminao o necrochorume que pode conter fontes de
contaminao com riscos qumicos e biolgicos (SILVA E MALAGUTTI FILHO, 2009).
Devido a esse fato, at mesmo os cemitrios devem ter o licenciamento e a fiscalizao
ambiental como qualquer outro empreendimento com algum potencial poluidor. At o presente momento
o assunto foi pouco estudado e poucos parecem conhecer ou dar importncia ao fato a no ser que
acontea algum fato grave na regio ou com a populao. Cujo principal veculo de contaminao o
necrochorume que pode conter fontes de contaminao com riscos qumicos e biolgicos (FOFONKA e
KUNT, 2010).
Dessa forma, investigou-se dois cemitrios da cidade de Campina Grande-PB para avaliar e
quantificar os possveis impactos ambientais proporcionados por tais empreendimentos.
2. OBJETIVOS
Verificar os principais impactos ambientais ocasionados por dois cemitrios instalados na
cidade de Campina Grande-PB.
3. MATERIAL e MTODOS
3.1 rea de Estudo
O estudo de impactos ambientais desse trabalho foi um estudo de caso realizado em dois
ambientes fsicos Cemitrio Nossa Senhora da Conceio, conhecido como Monte Santo e Cemitrio
Campo Santo da Paz, localizados na Cidade de Campina Grande,estado da Paraba,embora esta cidade
tenha nove cemitrios registrados possui 9 cemitrios localizados no Monte Santo, Jos Pinheiro, Cruzeiro,
Arax, Bodocong, Velame, So Jos da Mata, Galante e Santa Terezinha.
A unidade amostral constou de uma escolha intencional dentre esses nove cemitrios que
tentasse representar um esforo de amostragem que os representasse, bem como, apresentasse a priori,
aspectos positivos e negativos. Para caracterizar a presena dos possveis fatores impactantes, e nesse
contexto, escolheu-se, intencionalmente, o maior cemitrio, mais antigo e tradicional (Nossa Senhora do
Carmo - Monte Santo) (Figura 1) e outro moderno recentemente instalado na cidade (Campo Santo da Paz)
(Figura 2).

Figura 1.: Detalhe em amarelo da Vista area do cemitrio do Monte Santo. 2011.

Joo Pessoa, outubro de 2011

783

Figura 2.: Detalhe em amarelo da Vista area do Cemitrio Parque Santo da Paz. 2011.
4.2 Amostragem Necropolgica
Realizou-se incurses aos dois ambientes necrolgicos para identificar in loco os possveis
elementos caracterizantes de alteraes nos aspectos fsicos, biolgicos e scio-econmicos de forma
visvel, perceptiva, intuitiva e por que no dizer, subjetiva que contribussem para definir os impactos
ambientais.Utilizou-se para esta finalidade o aparelho de localizao por satlite- GPS Garmin e cmera
fotogrfica Sony H50.
O perodo de coleta de dados foi realizado nos meses de Abril e Maio de 2011, fazendo-se
um registro visual de dados que foram analisados, interpretados e discutidos de forma qualitativa e
subjetiva.
Os elementos observados e registrados foram configurados na Matriz de Leopold (1971)
adaptada por Albuquerque (2011), mtodo que permitiu uma rpida identificao, ainda que preliminar,
dos problemas ambientais envolvidos nesse estudo. Essa configurao foi bastante abrangente, pois
envolveu aspectos fsicos, biolgicos e scio-econmicos. Segundo Moreira (1995) essas Matrizes so
utilizadas na identificao dos impactos ambientais diretos e tem como vantagens as boa disposio visual
do conjunto de impactos diretos simplicidade de elaborao e baixo custo, embora no identificam
impactos indiretos nem consideram caractersticas espaciais dos impactos.
4 RESULTADOS E DISCUSSO
Os resultados referem-se ao levantamento dos principais impactos ambientais em dois
cemitrios instalados na cidade de Campina Grande-PB (o Nossa Senhora do Carmo - Monte Santo e o
Campo Santo da Paz).
A morte algo inevitvel e natural. A questo que muitos cemitrios no atendem os
requisitos mnimos da legislao e podem ser um grande potencial de contaminao do solo e da gua
subterrnea (MELO, TUDOR E BERNARDINO, 2010). Ressalte-se que os cemitrios so fontes de
contaminao do solo e das guas subterrneas, pelo simples fato de serem laboratrios de decomposio
de matria orgnica, durante a qual est presente uma infinidade de microorganismos (Figura 3) (MATOS,
2001).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

784

Figura 3: O risco de contaminao de guas subterrneas pelo necrochorume formado pela


decomposio dos corpos tambm est associado s caractersticas do solo e distncia das covas para o
lenol fretico (MELO, TUDOR E BERNARDINO, 2010).
A contaminao em um cemitrio pode ser qumica, microbiolgica e/ou radioativa. O
principal fator de contaminao o produto da coliquao (necrochorume), que os corpos em
decomposio liberam. Um cadver adulto de 70 kg libera em mdia 30 L de necrochorume. Ocorre de
forma intermitente e mais significativa durante os primeiros 5 a 8 meses de sepultamento (PACHECO e
MENDES, 2000; FELICIONI, 2007).
O crescimento populacional tem gerado a necessidade de construo de mais cemitrios,
sendo que existem locais totalmente inadequados utilizados com tal finalidade. Devido a falta de
planejamento e metodologia adequada, e o consequente crescimento dos centros urbanos, os
cemitrios que situavam-se em locais distantes das cidades, hoje fazem parte dela, propiciando o
aparecimento de reas de risco potencial ao meio ambiente.
De acordo com as observaes foi possvel detectar situaes opostas extremas entre os
dois cemitrios analisados. A preocupao com os impactos ambientais reside no fato que os cemitrios,
mesmo aquele onde todas as medidas de proteo ambiental foram tomadas, no podem ser considerados
como locais perfeitamente individualizados do meio ambiente. Portanto, a possibilidade de efluentes
lquidos serem lanados para fora do cemitrio, deve ser considerada, havendo a necessidade do
monitoramento constante destas obras.
Assim, a implantao de cemitrio, proporciona os seguintes impactos ambientais e
sanitrios. Com isso, para uma melhor visualizao dos impactos nos cemitrios analisados, usou-se a
Matriz de Leopold (1975) adaptada pela equipe tcnica.
Na Matriz mensurou-se a magnitude dos Impactos (1 a 3: pouco importante; 4 a 6: mdio
importante e 7 a 10: muito importante) e classificando os impactos como temporrio ou permanente;
positivo ou negativo; curto, mdio ou longo prazo; reversvel ou irreversvel; rea do impacto de influencia
direta ou indireta, para os dois cemitrios analisados, conforme Quadro 1.

Joo Pessoa, outubro de 2011

10

rea de Influncia
Indireta

rea de Influncia Direta

10

Reversvel

Animais
Microorganismos
(Vrus, Fungos e
Bactrias)

Longo Prazo

Mdio Prazo

Curto Prazo
X

Negativo
X

Positivo

Permanente

Temporrio

Vegetao

Magnitude dos Impactos


1 a 3 Pouco Importante
4 a 6 Mdio Importante
7 a 10 Muito Importante

Importncia do Impacto

Irreversvel

785

Cemitrio do Monte Santo (Nossa Senhora do Carmo)

A
T

Biolgico

Cemitrio Parque Santo da Paz

Biolgico

R
E

Vegetao

Animais
Microorganismos
(Vrus, Fungos e
Bactrias)

10

Quadro 01.: Matriz de Leopold adaptada para o diagnstico do impacto ambiental biolgico na
Comparao dos cemitrios do Monte Santo e no Parque Santo da Paz em Campina Grande-PB. 2011.
4.1 Impactos Fsicos
4.1.1 Impactos Sobre Solo
Ocorre descaracterizao da topografia para construir as edificaes, vias de acessos e
para preparar o nvel do solo para construo dos jazigos, como anteriormente foi previsto.
A maior preocupao com a eroso que pode ser causada no perodo chuvoso, tambm
com a gua de irrigao dos jardins.
Para evitar que isto ocorresse, deveria ser construdos terraos e curvas de nveis
planejadas, para receber as enxurradas, mantendo assim a boa conservao do solo, alm de vos entre os
jazigos preenchidos por terra para que houvesse infiltrao da gua da chuva no solo.
No Cemitrio do Monte Santo nenhuma das normas que as resolues 335, de 3 de abril de
2003 e 368, de 28 de maro de 2006 recomendam so seguidas, pelo fato do empreendimento j ter mais
de 110 anos de existncia, conforme as figuras 4 e, 5.

Figura 4.: Sepultamento direto no solo no Cemitrio do Monte Santo. 2011.


Figura 5.: Distncia menor que 5 metros entre os tmulos e o fim do no Cemitrio e ossurio na
parede do do Monte Santo. 2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

786
No caso do Cemitrio Parque Santo da Paz, que foi instalado em 2005, todas as normas
foram seguidas e implantadas.
No momento da visita no foi observada essa preparao no cemitrio do Monte Santo
preparao dos jazigos, onde se percebe que eles no so vedados para reter o necrochorume.
Existe tambm a impermeabilizao realizada antes da construo do jazigo, como medida de
segurana, para evitar a percolao no solo.
Conforme as observaes de campo apenas no Cemitrio Campo Santo da Paz que foram
notadas a construo de novos jazigos, onde pde tambm ser verificada cada parte do desenvolvimento
realizado para futuro recebimento de corpos.
4.1.2 Contaminao do Subsolo
O produto de coliquao proveniente dos cemitrios pode contaminar o subsolo se o meio
fsico local for vulnervel, o que depender de suas caractersticas geolgicas e hidrogeolgicas. O solo
pode ser dividido, de modo simplificado, em duas zonas (figura 6). A zona no saturada (ou de aerao)
composta de partculas slidas e de espaos vazios, ocupados por pores variveis de ar e gua. J a zona
saturada aquela em que a gua ocupa todos os espaos. O limite entre essas zonas definido pelo nvel
do lenol fretico. O movimento da gua tende a ser vertical na primeira e horizontal na segunda.
A zona no saturada atua como um filtro, por apresentar um ambiente (solo, ar e gua) favorvel
modificao de compostos orgnicos e inorgnicos e reteno e eliminao de bactrias e vrus. A eficcia
na reteno de micro-organismos depende de fatores como tipo de solo, aerao, baixa umidade, teor de
nutrientes e outros. Para reter organismos maiores, como as bactrias, o mecanismo mais importante o
de filtrao, relacionado permeabilidade do solo. Para reter vrus, bem menores, e evitar que atinjam o
lenol fretico, mais relevante a adsoro (adeso de molculas de um fluido a uma superfcie slida),
que depende da capacidade de troca inica da argila e da matria orgnica do solo (SILVA e MALAGUTTI
FILHO, 2009).
Nos terrenos destinados implantao de cemitrios, a espessura da zona no saturada e o
tipo de material geolgico so fatores determinantes para a filtragem do necrochorume (figura 11). A
proporo de argila no solo deve ficar entre 20% e 40%, para favorecer os processos de decomposio (que
dependem da presena de ar) e as condies de drenagem do produto de coliquao.

Figura 6.: A distribuio das guas no solo produz duas zonas distintas, a zona no saturada (ou de
aerao), onde o ar penetra nos espaos existentes, e a zona saturada, onde os espaos so preenchidos
apenas pela gua (SILVA e MALAGUTTI FILHO, 2009).
3.1.3 Impactos Sobre gua
Durante a construo do cemitrio as guas subterrneas no tiveram impactos algum
durante a implantao dos cemitrios, porm os mananciais superficiais podero ser afetados durante as

Joo Pessoa, outubro de 2011

787
chuvas ocorrendo o assoreamento, porm a medida mitigadora para evitar esse acontecimento a
construo de terraos em nvel j propostos para os impactos do solo.
Na fase de operao a preocupao com o lenol fretico, pois o mesmo poder ser
contaminado pela a decomposio dos corpos e pela composio dos caixes. Para que no ocorra a
contaminao, o terreno impermeabilizado e os jazigos fechados para que no haja transferncia de
necrochorume.
Apenas no Parque Santo da Paz que h uma preocupao existente com o meio ambiente
referente ao necrochorume, o que se deve observar que o mais prejudicial seria o uso das substncias
qumicas usada nos embalsamamentos onde includo o formaldedo, metanol, arsnico, solventes e vrios
outros metais, inclusive quando o corpo vem da funerria, est carregado de formaldedo, substancia
qumica que no degrada, permanecendo no solo e na gua por todo o tempo. Ainda na construo dos
caixes funerrios, normalmente so usados, laca, substncias de tingimento, cola, ferro e zinco, causando
grandes problemas para o meio ambiente.
O fato de a construo ser feita acima do solo, inicialmente foi como uma medida
econmica, tornando em uma medida de segurana pelo declive ideal existente de 10 a 15% para a
evacuao da gua da chuva, bem como preveno do lenol fretico, pois no havendo escavao, a
distncia da superfcie do solo at o lenol torna-se mais segura quanto as possibilidades de contaminao
da gua, verificada no Campo Santo da Paz, conforme verifica-se essa conformidade de projeto na figura 7.

Figura 7: Jazigos construdos acima do solo no Cemitrio Parque Santo da Paz. 2011.
Solos com mdia permeabilidade e nvel fretico profundo so ideais para sepultamentos,
pois favorecem a putrefao e a filtragem do necrochorume, o que significa baixa vulnerabilidade de
contaminao. Se o material geolgico tem pouca permeabilidade e o nvel fretico quase aflorante, o
solo extremamente vulnervel contaminao, pois favorece fenmenos como a saponificao. Tambm
podem ocorrer diversas situaes intermedirias: se, por exemplo, a permeabilidade do solo for alta e o
nvel fretico pouco profundo, a vulnerabilidade contaminao ser alta (SILVA e MALAGUTTI FILHO,
2009).
4.1.4 Contaminao das guas superficiais
Em cemitrios em que o terreno est impermeabilizado pelos tmulos e pela pavimentao
das ruas em torno, e onde o sistema de drenagem das guas das chuvas deficiente, estas podem escoar
superficialmente e inundar os tmulos mais vulnerveis. Aps atravessarem a rea dos cemitrios, essas
guas so em geral lanadas na rede pluvial urbana e canalizadas para os corpos dgua, contaminando-os
com substncias trazidas do interior do cemitrio.
Para minimizar esse problema, a Resoluo n 355 do CONAMA estabelece que a rea de
sepultamento deve ter um recuo mnimo de 5 m em relao ao permetro do cemitrio. Esse recuo deve
ser ampliado se as caractersticas do solo da rea forem desfavorveis, como permeabilidade reduzida,
distncia inadequada em relao ao nvel do lenol fretico e outras (SILVA e MALAGUTTI FILHO, 2009).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

788
4.1.5 Contaminao das guas subterrneas
Implantar cemitrios em locais onde as caractersticas geolgicas favorecem os fenmenos
conservativos dos corpos ou reduzem a reteno do contaminante na camada superficial, e onde o lenol
fretico pouco profundo, pode contaminar as guas subterrneas. Tmulos em runas ou com
rachaduras, problemas causados principalmente pela compactao do solo, por razes de rvores e pela
negligncia dos proprietrios, tambm favorecem a contaminao dessas guas.
Ao estabelecer que o lenol fretico deve estar, no mnimo, a 1,5 m do fundo das
sepulturas, a resoluo do CONAMA ainda prev que, se no for possvel manter essa distncia ou se as
condies do solo no forem apropriadas, os sepultamentos devem ser feitos acima do nvel natural do
terreno, para reduzir o risco de contaminao. A posio do lenol fretico, as caractersticas do solo e
outros aspectos (entre eles as rachaduras nas sepulturas) influenciam os riscos de contaminao das guas
subterrneas.
Quando o solo apresenta mdia permeabilidade e alta capacidade de adsoro e reteno
do material argiloso, associada grande distncia at o lenol fretico, o necrochorume move-se
lentamente e as substncias do contaminante so interceptadas na zona no saturada. Essa situao
classificada como de mdio risco de contaminao de guas subterrneas. Se a sepultura estiver abaixo do
nvel fretico, pode ser inundada, gerando uma situao de extremo risco, j que, em geral, os caixes no
so impermeveis. Quando o solo tem elevada permeabilidade, o que permite a infiltrao profunda do
necrochorume, ou a distncia para o lenol fretico inadequada, a situao de alto risco, porque os
contaminantes chegam facilmente s guas subterrneas. Nesses casos, para diminuir a possibilidade de
contaminao do aqufero, o sepultamento deve ocorrer acima do nvel natural do terreno.
4.1.6 Impactos Sobre a Qualidade do Ar
Levantou as seguintes possibilidades de impactos na qualidade do Ar que pode ocorrer no local,
que foi no momento da escavao, da terraplanagem do terreno, na abertura de vias de acesso e na
construo das edificaes, aumentando a concentrao de poeira fugitiva devido aos veculos, mquinas e
equipamentos, alm de em menos escala a emisso de gases, principalmente CO2, devido combusto
ocorrida nos motores dos veculos e mquinas.
Os rudos e vibraes foram considerados pouco significantes, por suas atividades ocorrerem em
rea de ar livre e realizado com pouca durao.
Nas reas onde iriam ocorrer as escavaes e terraplanagem, foram utilizados caminhes pipas
com gua, para minimizar o impacto diminuindo a concentrao da poeira fugitiva no Ar.
No momento da operao, ocorrero emisses de material particulado e xidos de carbono que
no afeta na qualidade do Ar.
Quanto ao crematrio que h uma preocupao com a liberao de material particulado, e
monxido de carbono (CO) na cremao, mas que devido boa manuteno do equipamento essa
liberao no ocorre.
Considerando o que foi visto no empreendimento, e, o que foi proposto pelo rgo ambiental
competente, notou-se que as suas atividades na fase de operao encontram-se dentro dos parmetros e
padres exigidos pela legislao.
4.2 Impacto Biolgico
4.2.1 Contaminao por Necrochorume
Vrios so os problemas que ocorrem quando um cemitrio encontra-se mal localizado.
Ao trmino da vida, anulam-se as trocas nutritivas das clulas e o meio acidifica-se,
iniciando-se o fenmeno transformativo de autlise. Enterrado o corpo (inumao ou entumulamento),
instalam-se os processos putrefativos de ordem fsico-qumica, em que atuam vrios microorganismos.
A putrefao dos cadveres influenciada por fatores intrnsecos e extrnsecos. Os
intrnsecos so pertencem ao prprio corpo, tais como: idade, constituio fsica e causa-mortis. Os
extrnsecos so pertinentes ao ambiente onde o corpo foi depositado, tais como: temperatura, umidade,
aerao, constituio mineralgica do solo, permeabilidade, entre outros...
O corpo humano, em sua constituio apresenta cerca de 65% de gua, com relao ao
peso. Os indivduos magros apresentam um contedo de at 75% de gua, enquanto que os indivduos
Joo Pessoa, outubro de 2011

789
gordos apresentam at 55% de gua. Dessa maneira um indivduo adulto que tenha 70 kg tem um
contedo da ordem de 46 Kg em gua, ou seja, 0,60 L/kg.
Com a decomposio dos corpos h a gerao dos chamados efluentes cadavricos,
gasosos e lquidos. Os primeiros que surgem so os gasosos, seguindo-se os lquidos.
O necrochorume no meio natural decompe-se e reduzido a substncias mais simples e
inofensivas, ao longo de determinado tempo. Em determinadas condies geolgicas, o necrochorume
atinge o lenol fretico praticamente ntegro, com suas cargas qumicas e microbiolgicas, desencadeando
a sua contaminao e poluio. Os vetores assim introduzidos no mbito do lenol fretico, graas ao seu
escoamento, podem ser disseminadas nos entornos imediato e mediato dos Cemitrios, podendo atingir
grandes distncias, caso as condies hidrogeolgicas assim o permitam.
5. CONCLUSES
No estudo feito nos dois cemitrios indicados identificou-se que apenas 01 deles (Campo
Santo da Paz) cumpre a legislao prevista pela Resoluo CONAMA 335 de 3 de Abril de 2003, sendo
assim, considerado como cemitrio sustentvel.
O municpio de Campina Grande-PB, possui nove cemitrios e destes 8 so pblicos. No
caso no Monte Santo, que pblico, por existir a mais de 110 anos, nenhuma das normas presentes nas
resolues so seguidas, o que caracteriza indcios de vrios impactos negativos (fsicos, qumicos,
biolgicos, antrpicos, estticos, cultural, econmico e social).
Em relao ao Cemitrio do Monte Santo, de acordo com os resultados obtidos, foram
identificadas condies de risco a sade da populao circunvizinha pela possibilidade de contaminao por
necrochorume.
Diferentemente dos cemitrios pblicos ou de outros que no tem a mesma preocupao
e/ou cuidado necessrio com o Meio Ambiente, o Cemitrio Parque Santo da Paz, que particular,
demonstra que ambientalmente correto e toma todas as precaues cabveis e possveis para que o meio
scio-ambiental no seja prejudicado por suas atividades.
Controlar os impactos ambientais urbanos constitui-se em grande desafio, pois j tempo
de comear a pensar como ser nosso futuro. preciso formular estratgias coerentes para evitar que
ocorram prejuzos ao Meio Ambiente.
Os cemitrios pblicos de Campina Grande-PB necessitam urgentemente de aes que
busquem adequar as resolues para minimizar os impactos ocasionados at o momento e compensar os
danos causados a populao e ao meio ambiente.
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
FELICIONI, F.. A ameaa dos mortos: cemitrios pem em risco a qualidade das guas subterrneas.
So Paulo: Maxprint, 2007. 68p.
FOFONKA, L; KUNT, PC. Cemitrios: potencias fontes geradoras de impactos ambientais. 2010.
LEOPOLD, L. B. et al. A procedure for evaluating environmental impact. U. S. Geol. Surv. Circ., 645,
Washington D. C., 1971
MATOS, B.A. (2001) Avaliao da Ocorrncia e do Transporte de Microrganismos no Aqfero
Fretico do Cemitrio de Vila Nova Cachoeirinha, Municpio de So Paulo. So Paulo, 172 p. Tese
(Doutorado). Instituto de Geocincias, Universidade de So Paulo.
MELO, D.B.G.; TUDOR, F.; BERNARDINO, V.R. Cemitrios Sustentveis. Campinas: ETECAP. 2010.
45p.
MOREIRA, I. V. D. Origem e Sntese dos Principais Mtodos de Avaliao de Impacto Ambiental
(AIA). In: MANUAL DE AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS. Curitiba: SEMA / IAP / GTZ, 1995.
PACHECO, A.; MENDES, J.M.B. Cemitrios e Meio Ambiente. Revista Tecnolgica do Ambiente.
Lisboa, Portugal, ano 7, n.33, p.13-15. 2000.
PEREIRA, J.B. Aspectos gerais sobre Direito Funerrio. Disponvel em: www.jefersonbotelho.com.br.
Acesso em: 21/05/2011.
SILVA, R. W. C; MALAGUTTI FILHO, W.. Cemitrios: Fonte de Contaminao. Cincia Hoje. Vol.44 n
263. pginas 24-29. Setembro de 2009.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

790

LIMITAES DO SISTEMA AGROPASTORIL NO ASSENTAMENTO PATATIVA


DO ASSAR, PATOS-PB
Aretuza Candeia de MELO
Professora do Departamento de Geografia do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual da
Paraba - Campus I - Campina Grande-PB. E-mail: tuzacm@gmail.com
Alana Candeia de MELO
Professora da Unidade Acadmica de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Campina Grand e - Campus II - PatosPB. E-mail: acmelopb@gmail.com

RESUMO
Este artigo se constitui de um estudo referente aos fatores determinantes para produo do espao
geogrfico no Assentamento Patativa do Assar, Patos-PB que, agregado aos fatores naturais, representam
uma integrao das aes e reaes do meio fsico, sendo uma relao geossistmica, tendo como principal
agente transformador o homem. A utilizao de tcnicas de manejo que no consideram as
particularidades do relevo, solo, clima, vegetao e os recursos hdricos contribuem para a extenso e
intensidade da degradao dos solos, com reduo crescente dos sistemas naturais e o aumento de reas
degradadas. Nessa pesquisa analisam-se as limitaes e confrontaes do sistema agropastoril, com vistas
a diagnosticar a vulnerabilidade frente aos processos de impactos ambientais ocasionado pelas aes
antrpicas.
Palavras-chave: degradao, agropastoril, antrpicas.
ABSTRACT
This paper is a study about the determinants for the production of geographical space in the
settlement of Patativa the Assar, Patos-PB, added to the natural factors, represent an integration of
actions and reactions of the physical environment, with a ratio geossystems, with the primary transforming
agent man. The use of management techniques that do not consider the peculiarities of topography, soil,
climate, vegetation and water resources contribute to the extent and intensity of land degradation, with a
progressive reduction of natural systems and the increase in degraded areas. In this research we analyze
the limitations and boundaries of agroecology system in the study area, in order to diagnose the
vulnerability to the processes of environmental impacts caused by human actions.
Keywords: degradation, agropastoral, anthropogenic.
Introduo
Com a introduo do homem no sistema Semirido aborda-se o problema da presso antrpica
sobre o meio natural, considerado como um geossistema. Este estudo refere-se ao Assentamento Patativa
do Assar, Patos-Paraba. Portanto, o presente espao deixa de ser simplesmente uma unidade bsica da
ecologia e um emaranhado complexo de relaes entre os seus componentes biticos e abiticos e se
transforma num sistema agropastoril que s um estudo sistemtico poder fornecer o sentido de sua
evoluo. Passa-se, desse modo, a estudar no mais o ecossistema em si, mas sim, o geossistema que um
complexo natural-histrico e social (GUERRA & CUNHA, 2006).
O princpio norteador do geossistema a conexo da natureza com a sociedade. Em outras
palavras, so os aspectos antrpicos e as ligaes diretas de feedback com todos os componentes biticos e
abiticos do sistema, que criam uma rede de organizaes cujas malhas se estendem at s esferas
econmicas e sociais. Para enfatizar a importncia da anlise geossistmica, Bertrand (2004) discorre que
nos estudos e nas anlises das paisagens devem ser destacadas as diferenas ocorridas no espao e no
tempo, entre os principais componentes do processo, tanto natural como o humano.
Pode-se afirmar que a degradao ambiental no Assentamento Patativa do Assar est bastante
evidenciada, como resultado de uma longa histria de sobrepastoreio, sobre um geossistema bastante
frgil, vulnervel e degradado, principalmente pelos antigos proprietrios da Fazenda Jac, que
posteriormente, passou a ser o Assentamento Patativa do Assar. A vegetao est sendo devastada pelas
aes antrpicas desde tempos pretritos. A forma de criao do gado e a cultura do algodo, pela
Empresa Wanderley Agropecuria, ocorrem de forma extensiva o que propiciou a retirada da vegetao
natural da Caatinga para dar lugar s pastagens e a abertura de caminhos para a passagem do gado,
Joo Pessoa, outubro de 2011

791
deixando assim, os solos desprotegidos e mais susceptveis a eroso, resultando na dificuldade e
rebrotamento da vegetao.
O presente estudo tem como objetivo analisar as limitaes e confrontaes do sistema
agropastoril e o seu potencial de degradao ambiental no Assentamento Patativa do Assar, distrito de
Santa Gertrudes, municpio de Patos-PB, atravs dos indicadores socioeconmicos e ambientais. Os
cenrios da rea objeto de estudo so provenientes de aes antrpicas, por meio deles procurou-se
resgatar o processo de transformao deste espao geossistmico, por meio do saber e percepo das
famlias assentadas, determinando as principais causas de explorao e degradao ambiental que afetam
a rea de estudo.
As tendncias naturais herdadas e intensificadas pelas condies de semiaridez, so acentuadas ou
aceleradas pela presso do homem atravs de suas atividades, principalmente a agricultura, a pecuria e o
extrativismo. As atividades humanas que contribuem para a retirada excessiva da vegetao natural e,
consequentemente para a degradao ambiental nos ambientes geossistmicos, so afetados pelo sistema
socioeconmico e intensificam a degradao fsica, qumica e biolgica do solo, conforme Christofoletti
(2004). Para Snchez (2004) a integralizao do geossistema representa organizao espacial resultante
da interao dos elementos fsicos e biolgicos da natureza e de transformaes socioeconmicas (ao
antrpica).
Metodologia
Caracterizao da rea de Estudo
O Projeto de Assentamento Patativa do Assar localiza-se no Estado da Paraba na mesorregio do
Serto Paraibano, no municpio de Patos, especificamente no distrito de Santa Gertrudes, distante 14 km
da sede municipal e cerca de 320 km de Joo Pessoa, capital do Estado da Paraba, integra a Bacia do Rio
Piranhas, inserido no bioma Caatinga, possui uma rea de 2.239,6 ha. Encontra-se s margens das Rodovias
Federais a BR-230, no trecho que liga Patos a Pombal e da BR-110 que liga Patos ao municpio de Serra
Negra do Norte RN, entre as coordenadas geogrficas de 6 56 13 Longitude S e 37 23 14 de
Longitude W, na divisa dos municpios de So Jos de Espinharas (Norte), Santa Terezinha (Sul), Malta
(Oeste) e Patos (Leste) INCRA, 2010 (Figura 01).
Figura 01: Localizao da rea do Assentamento Patativa do Assar

Fonte IBGE, 2007/ AESA, 2010, UFCG-UAEF, 2010

Do ponto de vista geolgico, de acordo com a CDRM (1982), a rea de estudo data
da era Paleoproterozica do perodo Pr-Cambriano, as quais Scheid e Ferreira (1991) classificam de
afloramento sobre rochas do Complexo Gnissico-Migmattico. Geomorfologicamente, o assentamento se
estende pelas reas aplainadas do Serto Paraibano, denominado de Depresso de Patos ou Depresso

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

792
Sertaneja, marcados por extensos pediplanos (ABSABER, 2003), que faz parte do conjunto de depresses
perifricas e interplanlticas semiridas que circundam o Planalto da Borborema na Paraba (MELO, 1998).
Segundo a classificao de Kppen o clima predominante do tipo BSh (quente e
seco). Conforme a classificao bioclimtica de Gaussen domina na maior parte da rea, o tipo 4ath
termoxeroquimnico acentuado (tropical quente de seca acentuada). A precipitao mdia anual oscila em
torno de 600 a 800 mm e a temperatura mdia anual de aproximadamente 26,5 C, variando entre 20,8
e 32,8 C (IDEME, 2000). Fitogeograficamente, com base em estudos realizados por Tricart (1997), trata-se
de uma poro do domnio das Caatingas hiperxerfila, formaes vegetais que resultam de uma longa
adaptao s condies de semiaridez e que atestam uma relativa estabilidade paleoclimtica que
compreende as formaes xerfilas lenhosas, em geral espinhosas entremeadas de plantas suculentas, com
tapete herbceo estacional.
De acordo com a EMBRAPA (2006), os solos mais representativos na paisagem do
assentamento so os LUVISSOLOS e NEOSSOLOS Litlicos eutrficos com A fraco. Os LUVISSOLOS
caracterizam-se pela sua fase pedregosa, pouco profunda, que se desenvolvem em relevos de declives
suaves, ondulados a fortemente ondulados, com forte susceptibilidade erosiva; os NEOSSOLOS Litlicos
eutrficos com A fraco, caracterizam-se por serem pouco desenvolvidos e rasos, textura arenosa, fase
pedregosa associada a afloramentos rochosos, apresentando uma srie de atributos favorveis a alta
vulnerabilidade de processos erosivos devido a sua pequena profundidade (tanto naturais como
antrpicos).
O assentamento encontra-se inserido na rea de abrangncia da Bacia do Rio
Piranhas, na Sub-bacia do Rio Espinharas, alm de ser cortado pelo Rio Panaty. O assentamento conta com
cinco audes Lama, Jacobina, Linha, Paus e Saquinho, todos esses cursos dgua so barrados pelo Riacho
Santa Gertrudes, ocupando uma rea de aproximadamente 37.000.000m3, alm de apresentar alguns
riachos intermitentes, sem nenhuma expresso hdrica para a rea (INCRA-PB, 2010).
Procedimentos Metodolgicos
A proposta metodolgica de estudo adotada a de caso mltiplo (holstico). Pode-se abordar este
tipo de estudo como estratgia de pesquisa para reas de estudos organizacionais como o caso dos
assentamentos rurais. O trabalho realizado de natureza qualitativa. A pesquisa foi norteada pela tcnica
exploratrio-participativa, realizada em uma rea em que h pouco conhecimento acumulado e
sistematizado. O trabalho foi iniciado com a pesquisa bibliogrfica, seguida de uma pesquisa documental
fornecido pelo INCRA-PB, com a finalidade de construir um embasamento terico e emprico do tema
proposto.
Paralelamente foi realizada a pesquisa de campo (in loco), que propiciou a observao direta da
rea de estudo. A amostra utilizada para o trabalho de campo compreendeu a aplicao de 60
questionrios/entrevistas semi-estruturadas, em cada lote visitado, sendo entrevistado o responsvel pela
unidade familiar (chefe de famlia). Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos:
observao direta, com visitas aos lotes. Nesta fase, foi realizado um registro fotogrfico para visualizao
das paisagens fsico-ambientais in loco (viso geral do assentamento), fase importante para registrar os
aspectos naturais, bem como as condies ambientais do Assentamento Patativa do Assar. Os dados
foram analisados medida que foram sendo coletados e a anlise compreendeu a triangulao da
descrio da investigao realizada.
3. Resultados e Discusso
O Assentamento Patativa do Assar, inserido em uma regio de ao antrpica secular, onde as
condies naturais desta rea so determinantes e elas so responsveis, desde o sculo XIX, por um
grande sistema agrcola conhecido como sistema gado-algodo, coadjuvado pela agricultura de
subsistncia. Caracterizada pela pecuria extensiva, cultura do algodo e lavoura de subsistncia. A
utilizao dos solos, com tcnicas inadequadas, tem provocado profundas alteraes no padro
hidrolgico, nas propriedades fsico-qumicas do solo e, principalmente, na flora. A interveno humana no
assentamento provocou a degradao do seu potencial vegetacional e acentuou os desequilbrios
ecolgicos. As tradies adquiridas desde o tempo da antiga Fazenda Jac, exercem uma forte influncia
em como a Caatinga est sendo utilizada atualmente, e at certo ponto, como ser usada no futuro. A

Joo Pessoa, outubro de 2011

793
utilizao ainda se fundamenta em processos meramente extrativistas para a produo de produtos de
origem pastoril, agrcola ou lenhosa.
A expanso da pecuria a partir de meados do sculo XIX ampliou as reas de pastagem por meio
dos cortes das rvores e pelo fogo para que pudessem crescer as gramneas. A cultura do algodo foi
tambm responsvel pela devastao de imensas extenses de terras desta rea, sobretudo, a partir da
segunda metade do sculo XX. A prtica da devastao de grandes espaos do assentamento, pelas
queimadas, fez realmente aumentar as reas de pastagem, mas provocou transformaes irreversveis
nesse geossistema.
O superpastoreio de caprinos, ovinos e bovinos tem modificado as composies vegetacionais do
estrato herbceo, tanto pelas grandes estiagens, quanto pela presso do pastejo. A explorao agrcola,
com prticas de agricultura itinerante que constam do desmatamento e da queimada desordenadamente,
tem modificado tanto o estrato herbceo como o arbustivo-arbreo. A explorao madeireira j tem
causado mais danos vegetao lenhosa da caatinga do que a agricultura migratria (roa itinerante).
Este geossistema bastante extensivo, em termos exploratrios. Ele se baseia atualmente na
rotao de culturas, utiliza pouco capital e emprega pouca mo-de-obra, d baixos rendimentos e se
utilizada a tcnica de queimadas com grande intensidade. As culturas agrcolas esto associadas de modo
rudimentar criao de gado. O sistema de culturas utiliza tcnicas primitivas que foram adaptados pelos
primeiros donos da antiga Fazenda Jac. As principais tcnicas agropastoris utilizadas pelos assentados nos
tempos atuais so as seguintes (Tabela 01):
Tabela 01: Tcnicas agropastoris utilizados pelos assentados
Tcnica
Utilizao
Antecede os cultivos e realizada com machado e foice. O primeiro para abater
as grandes rvores; a segunda para os arbustos e as capoeiras. Os troncos e
ramos grossos destinam-se construo de cercas, lenha e a fabricao do
carvo vegetal. Antes da queimada - processo que consiste em atear fogo
Broca
mata para elimin-la - feito o aceiramento que consiste na limpeza das
margens do terreno com a finalidade de evitar que o fogo se alastre para outros
lugares. Os ramos e galhos finos restantes so acumulados em montculos e
queimados novamente atravs do processo denominado encoivaramento.
Efetuado com a ajuda da picareta. Este processo se inicia com a retirada de
resto de rvores, uma tcnica agrcola de limpa da terra atravs da retirada
Destocamento
dos tocos ou restos de rvores, atravs dos procedimentos das queimadas ou
cortadas. Na maioria das vezes executado por trabalho manual com
instrumentos roais.
Operao muito superficial, geralmente executada com um arado atrelado. Os
torres de terra so quebrados e a superfcie dos solos uniformizada com a
Preparo do solo (lavra) enxada. Os assentados que dispem de maior renda utilizam o trator que
alugado, enquanto que outros no tm meios para adquirir a maquinaria
agrcola.
Realizada antes do incio das chuvas. Quando mecanizados, logo aps as
primeiras chuvas, que tornam os solos mais moles (friveis) e facilitam os
trabalhos do trator. Uma vez terminadas as colheitas agrcolas, o rebanho
solto nos campos para se alimentar dos restolhos. Depois do sexto ano de
culturas, as terras so deixadas em repouso. As capoeiras as invadem durante
Semeadura
cerca de oito anos. A falta de terras como solos frteis para a produo agrcola
obriga-os os assentados a reduzir cada vez mais o tempo de pousio. Depois
desses oito anos, em mdia, as capoeiras so derrubadas e queimadas e se
reinicia o ciclo produtivo, mas muitos vezes os solos cansados e erodidos obriga
os assentados a desmatarem novas reas de caatinga para que possam iniciar
novos plantios.
Fonte: Pesquisa direta, 2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

794
A consequncia desse modelo extrativista predatrio se faz sentir principalmente nos recursos
naturais do assentamento, como as formas de uso inadequado das terras e determinantemente os
impactos ambientais sobre estes. Assim, j se observam perdas irreparveis da diversidade vegetacional. A
destruio da camada vegetacional tem acelerado o processo de eroso do solo e a sedimentao da gua,
que traz como consequncia ltima, o assoreamento dos audes, rios e riachos, segundo a concepo dos
assentados (Figuras A e B).
Figuras A e B: (A) Presena de voorocas com dimetros considerveis. (B) Assoreamento do Aude
da Linha ocasionado pelo desmatamento para plantio de pastagens

Fonte: Aretuza Candeia de Melo, 2011.

Alm destas consequncias por aes antrpicas, ocorrem tambm por razes climticas. A
regenerao da vegetao ocorre essencialmente por rebrotamento, que so devorados pelas cabras,
ovelhas e bois. Alis, nos setores submetidos ao corte de rvores, verifica-se que os troncos cortados rente
ao solo se regeneram por esse processo. A fisionomia de uma formao constituda por um estrato
lenhoso baixo, com alguns indivduos arbreos remanescentes.
Apesar do efetivo do rebanho do Assentamento Patativa do Assar representar um nmero
considervel de espcies, diversidade, as pastagens so, na realidade, sobrecarregadas tendo em vista o
sistema de criao de gado adotado s condies geoambientais locais. Por outro lado, a criao de
bovinos, ovinos e caprinos, em grande escala, tem ocasionado a problemas srios de compactao dos
solos. A criao de gado exerce efeitos mltiplos sobre o geossistema do assentamento:
Ele procura sempre as melhores espcies, impondo assim vegetao uma ao seletiva negativa
que se traduz pela rarefao ou desaparecimento por super-explorao das espcies que lhes so mais
apetecveis, destrudas antes que possam se reproduzir, em detrimento daquelas que no o so e que se
multiplicam e tornam-se invasoras.
Ao se alimentar das germinaes e dos brotos das espcies lenhosas, o gado, especialmente o
caprino, compromete a reproduo destes e, por conseguinte, a recuperao dos estratos arbustivos e
arbreos da caatinga. Da mesma maneira, a utilizao de capoeiras de idades diferentes como pasto
natural vai retardar a evoluo e a constituio da vegetao.
O sobrepastoreio, que suprime o tapete herbceo e o excesso de pisoteio geram fenmenos de
eroso importantes em diferentes graus de intensidade: sulcos, ravinas, voorocas e decapagem dos solos,
alm de comprometer a capacidade hdrica dos solos, sobretudo por torn-los compactados, favorecendo o
escoamento superficial.
Afeta o sistema solo-gua atravs da diminuio da quantidade de matria seca residual, favorece a
invaso por espcies herbceas no pertencentes ao clmax, deteriora progressivamente os recursos do
solo e da vegetao, acentua os efeitos da seca climtica e, aumenta a extenso de reas em processo de
desertificao.
Essas diversas transformaes se conjugam e provocam uma reduo da biomassa vegetal utilizada
pelo gado, diminuindo, portanto, sua capacidade de carga. A tendncia aps anos seguidos de sobrecarga e
sobrepastoreio, que a vegetao definhe, os solos fiquem mais expostos s intempries naturais (chuva,
vento, temperatura, radiao), trazendo consequncias danosas para o comportamento hdrico
(permeabilidade e escoamento) (FERREIRA & LACERDA, 2009). Tanto nas reas de Caatinga arbreas como
nas arbustivas, os assentados passaram a usar a queima do pasto antes da estao das chuvas, para facilitar
Joo Pessoa, outubro de 2011

795
o brotamento do mesmo, lanando nas reas uma grande quantidade de animais, acima da capacidade
suporte das mesmas. A utilizao da Caatinga como pastagem extensiva vem causando degradaes fortes
e por vezes irreversveis do geossistema local (Figuras A e B).
Figuras A e B: (A) rea queimada para limpa com a finalidade do plantio de pastagens. (B) rea
aps queimada plantada com capim elefante para alimentar o gado

Fonte: Aretuza Candeia de Melo, 2011.

J so encontradas extensas reas com baixa cobertura de vegetao, tendo perdido a


diversificao vegetacional que lhe peculiar. As espcies herbceas, arbstivas e arbreas de potencial
forrageiro para o rebanho do Assentamento Patativa do Assarr so: angico, barana, catingueira, facheiro,
jurema preta, jurema branca, mandacaru, macambira, marmeleiro, pereiro, pinho-bravo, xique-xique.
Algumas espcies so comestveis aps da retirada dos espinhos e outras quando jovens. Como
consequncia desses processos, observa-se a perda da fertilidade do solo e queda da produo agrcola, a
necessidade de criar espaos para as culturas agrcolas e para a pecuria. A explorao desordenada da
vegetao intensifica as condies desfavorveis e dificulta a reconstituio da mesma nas estaes de
prolongadas estiagens.
Atualmente, a vegetao nativa vem sendo utilizada para atender a demanda de produtos e
subprodutos florestais, bem como para ceder espaos para as atividades agropecurias. Em decorrncia
das atividades antrpicas negativas sobre o geossistema do Assentamento Patativa do Assar, os
remanescentes encontram-se em estgios secundrios e tercirios com diversas espcies j apresentando
sinais de enfraquecimento. Percebe-se tambm, a ocorrncia de reas com riscos de degradao
acentuada, como nas reas de Reservas Legais e de Preservao Permanente, topo das serras e serrotes,
encostas de morros, matas ciliares e nas cercanias dos audes, rios e riachos. No assentamento existem
reas extensas onde a cobertura vegetal arbrea ou arbustiva encontra-se totalmente ausente,
evidenciando a formao, j sendo observados ncleos bem distintos de reas em processo de degradao
ambiental bem acentuado (Figuras A, B e C).
Figuras A, B e C: (A) Presena de afloramento rochoso ocasionado pela explorao da cultura do
algodo. (B) Exposio do solo na Serra dos Paus ocasionado pela retirada da vegetao lenhosa. (C) Efeito
de eroso de borda as margens do Aude Jacobina

Fonte: Aretuza Candeia de Melo, 2011.


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

796

Observando a paisagem na rea em estudo, constata-se uma gradativa deteriorao das condies
ambientais do ambiente natural na regio, em decorrncia da explorao irracional, da ausncia de
tcnicas adequadas de manejo, quebrando o equilbrio natural, manifestados pela escolha de usos de
intensidade superior admitida pela capacidade de aproveitamento do suporte fsico, especialmente
quando da utilizao para fins agropastoris. De forma geral, no assentamento encontram-se superfcies
considerveis que foram desmatadas sucessivas vezes num intervalo de tempo relativamente curto.
As prticas agrcolas muito extensivas, a reduo gradativa da fertilidade dos solos, a eroso
acelerada, somadas s condies climticas da regio, fazem com que a recomposio da vegetao seja
muito lenta ou impossvel. A consequncia desse sistema agropastoril utilizado que, efetivamente a cada
ano, as reas agrcolas esto se reduzindo; por outro lado, diante da infertilidade dos solos h uma
tendncia de se conseguir novas reas para plantio, o que implica em mais desmatamentos. Outro fato
que as reas antes ocupadas pela agricultura passam a ser ocupadas pela pecuria.
Os estudos de Panachuki et al. (2006), apontam que dentre os principais impactos ambientais
negativos intensificados pelas atividades agropastoris sobre o Assentamento Patativa do Assar, pode-se
destacar: a eliminao e/ou reduo da fauna e flora nativas, como consequncia do desmatamento de
reas para o cultivo agrcolas e de pastagens; - o aumento da degradao e perdas de nutrientes dos solos,
em especial devido ao pisoteio intensivo e utilizao do fogo; - a reduo na capacidade de infiltrao da
gua no solo devido compactao; - a degradao da vegetao e compactao dos solos, especialmente
expressiva no caso de superpastoreio; - a contaminao das fontes d gua e assoreamento dos recursos
hdricos.
O Assentamento Patativa do Assar foi classificado pelo INCRA-PB (2010) por meio da anlise
integrada dos planos e critrios de avaliao de informaes gerada pelas limitaes fsicas e a baixa
capacidade de uso das terras, nos quais os fatores mais limitantes so as reas de formao de carrascos,
tabuleiros, baixios e serras, que corresponde a uma rea de 2.239,6 h. O Assentamento Patativa do Assar
apresenta 46% de sua rea com reas de carrascos, abrangendo caatingas arbustivas de solos pedregosos,
capoeiras (vegetao secundria) e reas de vegetao aberta com arbustos de pequeno porte, raquticos
bastante ramificados, agregados, formando moitas, variando de uma fisionomia aberta a densa, em reas
com declividade suave. Encontra-se nesta formao uma vegetao denominada caatinga rala, com
frequncia da espcie jurema preta (Mimosa hostilis), sendo explorada para o pastoreio temporrio.
O assentamento dispe de 34% de reas definidas como tabuleiros, que em condies normais de
chuvas, podem ser cultivados com restries o milho, feijo, algodo, melancia, abbora (conhecido
regionalmente como jerimum), quiabo, maxixe, gergelim, amendoim, entre outros. Antes era explorado
nesta Classe o algodo arbreo, totalmente adaptado as condies fsicas da rea, que representou por
muito tempo a base da economia local e da regio de Patos. Entretanto, com o advento da praga do
Bicudo, a explorao desta cultura entrou em decadncia, e na atualidade, as famlias assentadas pouco ou
nada investem nesta cultura.
As terras de aluvies, classificadas como reas de baixios, representam 13%, e considerando que o
assentamento possui recursos hdricos satisfatrios, poderiam ser irrigadas, proporcionando as famlias
assentadas uma diversificao de culturas e colheitas, adequando-as ao prprio consumo como tambm ao
mercado consumidor. Entretanto, as reas de Projetos de Reforma Agrria, muitas vezes no so
contempladas com programas de polticas pblicas concernentes a projetos de irrigao com base na
dimenso sustentvel.
Nas terras com relevo acentuado, encontram-se terrenos compostos por serras e serrotes, que
representam 7% da rea do assentamento; os solos so do tipo NEOSSOLOS Litlicos Eutrficos com A fraco
e alto ndice de afloramento rochoso, inapto para cultura agrcola, pastagens e/ou reflorestamento, tpico
de geossistema destinado para a preservao permanente da flora e da fauna.
O estudo da viabilidade de capacidade de uso do solo, do assentamento, de acordo com as
distribuies de reas, em conformidade com as limitaes fsicas e capacidade de uso da terra, permite
verificar que as terras produtivas, denominadas de baixios ou represas, com aptides para a agricultura,
correspondem a 13% do total da rea, e as terras de tabuleiros que podem ser cultivadas com milho, feijo,
melancia, algodo entre outros, desde que haja distribuio normal de chuvas no perodo do inverno,
correspondem a 34% da rea total.
Joo Pessoa, outubro de 2011

797
O restante da rea formado por terrenos do tipo carrasco, serras e serrotes, corresponde a 53%,
podem ser explorados apenas com pastoreio, em carter temporrio, com a ovinocultura, caprinocultura e
bovinocultura, desde que haja implantao e armazenamento de plantas forrageiras para cobrir o dficit
alimentar no perodo da seca em substituio ao pasto natural. Como se v, a implantao de um Projeto
de Assentamento nos moldes dos praticados hoje pelo INCRA-BR, de forma individualizada, certamente no
obtm xito para todas as famlias assentadas, haja visto que aps o parcelamento da rea, a maioria dos
lotes demarcados est incluso nas reas de tabuleiros e carrasco, inviabilizando a sobrevivncia das famlias
que se encontram nestes terrenos, principalmente em pocas de grandes estiagens.
Portanto, o INCRA-PB viabilizou para o Assentamento Patativa do Assar, devido a 53% das terras
do assentamento encontram-se em reas de carrasco, serras e serrotes instituiu o tipo de explorao mista,
onde os baixios foram destinados a produo coletiva de culturas agrcolas e os tabuleiros e carrasco,
foram destinados a criao coletiva de animais, no regime semi-extensivo, principalmente de bovinos,
caprinos e ovinos. A anlise do uso destas terras mostra que as pastagens so as coberturas vegetais que
ocupam a maior parte do assentamento, representando 53%, revelando com isso, a predominncia da
baixa fertilidade dos solos e o alto ndice de afloramentos rochosos.
4. Consideraes Finais
Conclui-se que o processo continuado de reduo da cobertura vegetao do Assentamento
Patativa do Assar e o uso inadequado das terras causaram, historicamente, um aumento da degradao
ambiental, com a consequente reduo da fertilidade dos solos, assoreamento dos cursos d gua e o
intensivo avano do processo erosivo. Esses fatores em muito vem contribuindo para a reduo da
produtividade das lavouras de subsistncia e a estagnao de algumas culturas agrcolas, resultado do uso
inadequado das terras pelas atividades humanas de modo insustentvel.
A situao verificada no assentamento corrobora com a concepo de Meulman et al. (2002), que a
explorao da terra para o sustento das famlias assentadas, vem sendo realizada de forma desordenada e
sem planejamento, ocasionando o empobrecimento dos solos, levando-se a necessidade de se planejar o
uso da terra por meio de tcnicas que, quando aplicadas corretamente, protegem o solo e os recursos
hdricos, prolongando o seu potencial produtivo.
5. Referncias Bibliogrficas
ABSABER, A. N. O Domnio Morfoclimtico Semi-rido das Caatingas Brasileiras. Craton e
Intacraton. So Jos do Rio Preto: UNESP, 2003. 159p.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Fsica Global: esboo metodolgico. Curitiba: Caderno de
Cincias da Terra. V 13. So Paulo, 1972. In: R.RAEGA. Curitiba: Editora UFPR, n8, 2004, p.141-152.
CDRM. Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais do Estado da Paraba (CDRM). Mapa
Geolgico do Estado da Paraba, escala 1:500.000. CDRM/DNPM, 1982.
CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. 1 ed. So Paulo: Edcard Blcher, 2004.
240p.
EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecurias. Sistema Brasileiro de Classificao de
Solos. 2. ed. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306p.
FERREIRA, C. S. & LACERDA, M. P. C. Adequao agrcola do uso e ocupao das terras na Bacia do
Rio So Bartolomeu, Distrito Federal. In: XIV Simpsio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. Anais. NatalRN: 2009. p.183-189.
GOOGLE EARTH. Imagens em 3D do Assentamento Patativa do Assar. Disponvel:
http://wikimapia.org/#lat=-6.9388026&lon=-37.3968173&z=14&l=9&m=b Acesso: 22/09/2010.
GUERRA, A. J. T. & CUNHA, E. S. B.(Orgs.). Geomorfologia e meio ambiente. 3 ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2006. 393 p.
IDEME. Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraba. Anurio estatstico da
Paraba Verso 2000. Governo do Estado da Paraba. Atlas Geogrfico do Estado da Paraba. Secretaria da
Educao. IDEME, 2000. 187p.
INCRA-PB. Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria. Diagnstico de Projetos de
Assentamentos. Programao Operacional. Superintendncia Regional da Paraba SR/18PB. Joo Pessoa:
INCRA, 2010. 192p.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

798
MELO, A. S. Tavares de. Gographie et cologie de la Paraiba (Brsil). Talence: Centre dEtudes de
Gographie Tropicale, (Trav. et Doc. de Gogr. Tropicale, n. 41), 1998. 89p.
MEULMAN, P. M.; CAMPOS, S.; BARROS, Z. X. & CARDOSO, L. G. Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento Aplicado na Discriminao, Mapeamento e Quantificao do Uso da Terra da Bacia do
Ribeiro do Lobo Itatinga (SP). In: Reunio Cientfica em Cincias Agrrias do Lageado, 9. Botucatu-SP:
Faculdade de Cincias Agronmicas, Universidade Estadual Paulista, 2002.
PANACHUKI, E.; ALVES SOBRINHO, T.; VITORINO, A. C. T.; CARVALHO, D. F. de & URCHEI, M. A.
Parmetros fsicos do solo e eroso hdrica sob chuva simulada, em rea de integrao agricultura-pecuria.
Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e Ambiental. Campina Grande, v.10, n.2, p.261-268, 2006.
SNCHEZ, P. A. Linking climate change research with food security and poverty reduction in the
tropics. Agriculture, Ecosystems & Environment. V. 86, 2004. p. 371-383.
SCHEID, C. & FEREIRA, C. A. Programa Levantamentos Geolgicos Bsicos do Brasil: carta geolgica,
carta metalogentico-previsional (folha SB.24-Z-D-I Patos). Escala 1:100.000, Estados de Pernambuco e
Paraba. Braslia, DNPM/CPRM, 1991. 148p.
TRICART, J. Prcis de Geomorphologie Climatique. Paris, Masson, 1997. 190p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

799

SNTESE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS OCASIONADOS PELA OCUPAO


DO SOLO EM PARNAMIRIM-RN NO ENTORNO DO RIO PITIMB
Daniela Marques de OLIVEIRA
Graduada do Curso Tcnico de Controle Ambiental Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN e Graduanda do Curso
Engenharia Agronmica - Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA. Mossor-RN
E-mail: danielacefet@yahoo.com.br
Francisco Uberlnio da SILVA
Engenheiro Civil pela UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ps-graduao em Eng. de Segurana do
Trabalho e Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte IFRN, Mossor-RN.
E-mail:uberlanio@gmail.com

RESUMO
Para promover o desenvolvimento de uma regio, as sociedades humanas, normalmente causam
impactos ao ambiente em que vivem, tanto no meio bitico quanto no meio abitico. Exemplos desses
impactos so vistos no mau uso do solo e da gua, tendo como conseqncia, desmatamento, eroso,
poluio e contaminao dos lenis freticos, e demais corpos dgua. Neste contexto, torna-se necessrio
acompanhar o desenvolvimento de uma regio e apontar os aspectos do planejamento e da gesto das
reas degradadas, com o intuito de evitar a explorao dos bens disponveis e direcion-los a ocupao do
solo para fins adequados em funo de sua capacidade de explorao, com a perspectiva de preservar a
qualidade do ambiente. No entanto, este estudo tem como objetivo geral, elaborar uma sntese dos
impactos ambientais ocorridos na cidade de Parnamirim-RN no trecho prximo ao rio Pitimb, mediante a
crescente ocupao e uso do solo de forma desordenada. Os objetivos especficos caracterizar os
aspectos ambientais da rea; identificar os impactos ambientais nas adjacncias do rio Pitimb; caracterizar
a problemtica ambiental da ocupao urbana desordenada da rea; demonstrar a importncia da
preservao do ecossistema nativo e sugerir medidas atenuantes dos impactos ambientais no local em
estudo.
Palavras-chave: Meio ambiente, desmatamento, eroso, ocupao urbana.
INTRODUO
A mudana ambiental ocorrida no conjunto natural do espao brasileiro tambm tem se
processado no nvel urbano, e, sem dvida, tem sido mais visvel. reas submetidas s aes antrpicas,
independente da localizao geogrfica e do nvel de desenvolvimento que esto sujeitas. Essas alteraes
ambientais apresentam-se de forma acelerada em todos os recantos do pas, resultantes principalmente da
interferncia antrpica (BESERRA NETA, 1995).
Para promover o desenvolvimento de uma regio, as sociedades humanas, normalmente causam
impactos ao ambiente em que vivem, tanto no meio bitico quanto no meio abitico. Exemplos desses
impactos so vistos no mau uso do solo e da gua, tendo como conseqncia, desmatamento, eroso,
poluio e contaminao dos lenis freticos, e demais corpos dgua.
Neste contexto, torna-se necessrio acompanhar o desenvolvimento de uma regio e apontar os
aspectos do planejamento e da gesto das reas degradadas, com o intuito de evitar a explorao dos bens
disponveis e direcion-los a ocupao do solo para fins adequados em funo de sua capacidade de
explorao, com a perspectiva de preservar a qualidade do ambiente.
Durante o processo de urbanizao de uma localidade, h uma tendncia de ocupao rpida das
reas consideradas nobres para moradias, especialmente na regio central de uma cidade, e rapidamente o
custo da terra nessas reas aumenta drasticamente. Isto faz com que a parcela menos favorecida da
populao local seja forada a procurar outras regies, geralmente regio perifrica da cidade e onde o
valor do imvel ainda no tenha sofrido tamanha especulao imobiliria, ou mesmo invadindo reas
desocupadas de propriedade pblica ou privada. Em grandes centros urbanos tal presso ganha tamanha
magnitude que comumente so encontradas habitaes em reas totalmente imprprias para instalao
de moradias, no s do ponto de vista ambiental, mas tambm do ponto de vista geotcnico, inclusive com
risco para a vida do prprio morador, reas essas denominadas reas de risco (FIGUEIREDO, 1994).
Outra caracterstica tpica das reas de ocupao urbana industrial a intensa movimentao de
terra nas reas ocupadas, que vo desde o nvel dos assentamentos de lotes residenciais at implantao
de grandes obras, pblicas ou privadas, como conjuntos habitacionais, loteamentos industriais, entre
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

800
outras tantas que podem ser citadas. Essas intervenes, de maneira geral, caracterizam-se por partirem de
concepes que envolvem alteraes significativas da topografia para permitir o assentamento da obra e,
portanto, com a necessidade de cortes profundos e conseqentemente aterros de compensao. Esses
cortes podem deixar expostos s aes erosivas, substratos frgeis, acontecendo o mesmo nas reas de
aterro (LLORET RAMOS, 1995).
A eroso e o transporte de sedimentos superficiais de uma regio urbanizada diferem
significamente dos processos que ocorrem em regies onde o uso do solo predominantemente para fins
rurais. Nas reas urbanas, embora possam ocorrer modalidades de eroso semelhantes s reas rurais,
predominam aquelas decorrentes de construo de fluxo, principalmente em razo de deficincias do
sistema de drenagem (LLORET RAMOS, 1995).
Se por um lado estas reas se caracterizam pelo elevado potencial de seus recursos naturais, por
outro lado, apresentam uma estrutura com grande facilidade s interaes antrpicas inadequadas que
afetam profundamente o equilbrio do ecossistema local. Tal o que ocorre no litoral leste do Rio Grande
do Norte, ou mais precisamente no bairro de Nova Parnamirim/ Parnamirim-RN. Observa-se que a
ocupao humana na rea est cada vez mais desordenada, atravs das atividades de desmatamento,
queimadas, prticas agrcolas perniciosas, atividades extrativistas agressivas, ocupao urbana
generalizada, gerando o assoreamento do rio Pitimb, a eroso e impermeabilizao do solo, danos fauna
e a flora e a deteriorizao da qualidade da gua.
No entanto, este estudo tem como objetivo geral, elaborar uma sntese dos impactos ambientais
ocorridos na rea do bairro de Nova Parnamirim, Parnamirim / RN; no trecho prximo ao rio Pitimb,
mediante a crescente ocupao e uso do solo de forma desordenada.
METODOLOGIA
A rea em estudo situa-se no litoral oriental do Estado do Rio Grande do Norte, no trecho entre
Natal e Parnamirim, mais precisamente no bairro de Nova Parnamirim, no municpio de Parnamirim, no
entorno do rio Pitimb (Figura 1).

Figura 1- Localizao dos bairros de Parnamirim, destacando o bairro de Nova Parnamirim e rio
Pitimb.
Fonte:http://www.parnamirim.rn.gov.br/secretarias/emmapas/emmapas1.hph
A princpio foi feita uma delimitao da rea, que determinou o destino do nosso estudo,
resultando numa visita in loco, que proporcionou uma viso real e contribuiu significativamente com as
observaes e constataes da situao em que se encontrava o local do estudo.
Aps observaes e definies do trajeto a ser percorrido pelo ideal do projeto, fez-se necessrio
um inventrio que d acesso a todos observarem o que efetivamente encontrado em campo.
O trabalho passou por vrias etapas, e uma que exerceu grande contribuio, foi s pesquisas
bibliogrficas, que alm de fornecerem dados, nos possibilitou fundamentar nos pensamentos de vrios
autores respeitados na rea ambiental.
Joo Pessoa, outubro de 2011

801
A realizao deste trabalho deu-se com a avaliao e interpretao dos impactos ambientais. Desse
modo, foram obtidas todas as condies necessrias para o embasamento terico e prtico, possibilitando
assim, as discusses dos dados.
Ento, de posse das informaes necessrias, foi proporcionado um ambiente de discusses de
dados que contribuiu na formao de um consenso para reger o andamento das idias que dariam suporte
para a sistematizao do trabalho.
ASPECTOS AMBIENTAIS
Entre os elementos climticos, destacam-se a temperatura e as precipitaes. A temperatura
influencia nas variaes da umidade do solo e as precipitaes influenciam na quantidade de gua que
chega superfcie. Essa gua tem tambm uma forte influncia nos processos de escoamento superficial e
subsuperficial, de modo que a forma como as chuvas esto distribudas, ao longo do ano, tem correlao
direta com os mecanismos e processos relacionados ao escoamento e eroso (RAMALHO, 2003).
O vale do rio Pitimb, na classificao de Kppen (1948) corresponde ao tipo As, com estao seca
no vero e chuvas no outono-inverno e na classificao de Thornthwaite e Mather (1955) corresponde ao
tipo C1w2 seco sub-mido, com moderado excesso hdrico no inverno. As temperaturas so elevadas e
constantes, com mxima de 39,3C e mnima de 14,6C (RAMALHO, 2003).
As precipitaes so irregulares, os ndices pluviomtricos esto em torno de 1.600 mm anuais,
com chuvas concentradas no perodo de fevereiro a agosto, determinadas, segundo Nimer (1989), pela
dinmica de circulao atmosfrica regional.
Os ventos variam de dinmica em pocas diferentes do ano, com as menores velocidades entre o
outono e o inverno e as maiores entre o vero e a primavera, poca em que as chuvas so mais escassas e
o solo apresenta dficit hdrico, o que favorece um ambiente susceptvel ao das correntes
aerodinmicas, representando um srio problema para as reas que esto sendo desmatadas e
desmanchadas pela retirada de material das encostas e construo de estradas (RAMALHO, 2003).
Na referida rea, os aspectos fisionmicos da vegetao no so os mesmos do passado; foram
alterados atravs do tempo com a devastao da Mata Atlntica que, atualmente, apresenta-se em forma
de manchas esparsas. Hoje, a maior parte da cobertura vegetal de dunas e de tabuleiros (RAMALHO,
2003).
Segundo Freire (1990) e a fundao IDEC (1994), ocorrem o domnio de Areias Quartzosas onde se
encontram associaes de cobertura vegetal herbcea e arbustiva de pequeno porte (Mata de Restinga) e
Savana Florestada e Arborizada, sendo tambm encontradas associaes arbustivo-arbreas representados
por resqucios de mata atlntica.
Na relativa rea de estudo, a feio morfolgica dominante a dos tabuleiros costeiros, com as
bordas recobertas pelos depsitos elicos que constituem as dunas tpicas da regio. Eles so formas
tpicas da regio litornea, geralmente interrompidos pelos riachos, que nascendo na prpria rea, so os
principais responsveis pela dissecao do modelo atual (RAMALHO, 2003). Sua origem atribuise as
seqncias sedimentares do Tercirio ao Quaternrio, depositadas ao longo da costa, as quais so
correlacionadas aos depsitos da Formao Barreiras (CAMPO E SILVA, 1983; MABESOONE, 1984).
As diferentes altitudes, que definem o seu relevo, variam entre 20 e 50m, sendo as mais baixas
encontradas mais prximas do vale. Geralmente so de cores vermelha, creme e esbranquiada. As de
colorao vermelha e creme seriam mais antigas que as esbranquiadas caracterizadas como as mais
recentes e mveis (COSTA, 1971; PERRIN, 1981).
OCUPAO DA REA EM ESTUDO
A expanso das atividades agrcolas e o crescimento progressivo das cidades de Natal e Parnamirim
vm gradativamente reduzindo as reas ocupadas pela vegetao natural. A populao total do municpio
de Parnamirim foi de 124.690 habitantes no ano de 2000, sendo 48,5% de homens e 51,5% de mulheres. A
taxa de urbanizao foi de aproximadamente 88%, correspondendo cerca de 110.000 moradores
residindo na rea urbana do municpio (IBGE, 2000).
Na regio so muitas atividades que podem desencadear a eroso dos solos, tais como: os
loteamentos de stios e granjas, o desmatamento, principalmente das dunas estveis e a retirada de

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

802
material para construo. Essas atividades representam no conjunto, os problemas mais evidentes dessa
rea, entre os quais se incluem o assoreamento dos canais de drenagem.
A ocupao acelera o desmatamento e a destruio das dunas e encostas de tabuleiros. Nos locais
onde a devastao tem sido mais acentuada, comum o desenvolvimento de ravinas e voorocas, mais
freqentes em cortes de estradas e trilhas ou caminhos. Essas formas erosivas, sobretudo as voorocas, em
estgio avanado, quando so aterradas pelo trabalho de recuperao das estradas, reabrem-se com as
guas de enxurradas do perodo chuvoso.
Em vrios pontos so notrias as atividades antrpicas e denunciadas pelas marcas de degradao
da cobertura vegetal de dunas e tabuleiros, com as queimadas e derrubadas e tambm pelo acmulo de
lixo urbano, que deixado a cu aberto nas estradas e terrenos baldios.
Na rea, os fatos registrados provam que o processo erosivo comea a ser percebido quando as
diferentes formas de uso e ocupao do solo refletem modificaes no ambiente, a exemplo das formas de
eroso nas reas com atividades antrpicas e a acumulao de sedimentos nas calhas de drenagem.

Figura 02 - Abertura causada pela chuva, ocasionando o assoreamento do rio Pitimb. Fonte:
Pesquisa.
IDENTIFICAO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS
INTERFERNCIAS GERADAS PELO CRESCIMENTO URBANO
A formao das cidades brasileiras vem construindo um cenrio de contrastes tpicos das grandes
cidades. A maioria como se deu a criao dos municpios acabou atropelando os modelos de organizao
do territrio e gesto urbana tradicionalmente utilizada, e mostrou-se inadequada. O resultado tem sido
surgimento de cidades sem infra-estrutura e disponibilidade de servios urbanos capazes de comportar o
crescimento provocado pelo contingente populacional que migrou para as cidades.

Figura 03 Foto ampla do rio Pitimb, j assoreado. Fonte: Pesquisa.

Joo Pessoa, outubro de 2011

803
A urbanizao, com seus diversos usos do solo trs inmeras interferncias ambientais,
como grandes alteraes na cobertura vegetal, na topografia, nas caractersticas do solo e no movimento
das guas, resultando em problemas de eroso. comum, nas cidades, a ocupao de terrenos com
grandes declives, nas margens de recursos hdricos e de reas com solos desagregveis, o que contribui
para acelerar o processo de eroso, com graves conseqncias, como, por exemplo, o aterramento de
mananciais e as conseqentes inundaes, e os deslizamentos de encostas.
As aes que visam atender as necessidades e a resolver os problemas de uma cidade, de forma a
proporcionar uma melhor qualidade de vida para a sua populao compreendem o Planejamento Urbano,
um processo dinmico, permanente, abrangente e integrado, que deve desenvolver os aspectos
econmicos, sociais, fsico-territoriais, ambientais e administrativos.
A rea de Nova Parnamirim caracteriza-se por ser ambientalmente frgil, e, diante dos diversos
usos e ocupaes do solo, sobretudo com a forte presso urbana que hoje se configura, constata-se que
vem sofrendo um processo de degradao acentuado.
FATORES E MECANISMOS NO PROCESSO EROSIVO.
Vrios so os fatores que tem correlao com a erodibilidade dos solos, como a intensidade de
chuvas, as propriedades fsico-qumicas, a declividade das encostas, a cobertura vegetal e a ao antrpica.
Na rea em estudo, a intensidade das chuvas representa uma forte ferramenta no processo de
lixiviao, transporte e deposio de sedimentos. A concentrao das precipitaes, no perodo de outono
e inverno gera diferena entre a dinmica dos processos nas duas estaes: a chuvosa e a seca, implicando
em alteraes das condies hidrodinmica dos solos.
O desmonte de morros para aterros e estradas e construes uma forma de ativar o rastejamento
causado pelo desequilbrio do material solto, que quanto maior a inclinao, maior a ao da gravidade.
Um dos aspectos observados em relao erodibilidade o baixo percentual de argila e matria
orgnica, elementos ativos na agregabilidade do solo, cuja carncia pode ser um dos fatores mais
comprometedores no processo de remoo das partculas pelas gotas de chuvas e transporte pela eroso
laminar.
De conformidade com os estudos efetuados, presume-se que as causas da eroso estariam,
principalmente, ligadas s condies fsicas do ambiente, relacionadas aos agentes de transporte como
chuva e o vento e a interferncia do homem com o desmatamento, desmonte de morros e construes
sobre solos de textura arenosa e de fraca estabilidade.

Figura 04 Destruio do morro para a construo de casas e pequenos apartamentos. Fonte:


Pesquisa.
Conforme as caractersticas ambientais identificadas em suas relaes de estabilidade e
instabilidade, pode-se constatar que os processos erosivos que ocorrem na rea so resultantes da
interao de vrios fatores e mecanismos, sendo complicado caracterizar todos, quando so muito ainda
desconhecidos.
Na dinmica dos processos atuais atuam o vento e a gua, sendo o primeiro o principal agente
morfogentico, o que se traduz pela constante mobilizao de sedimentos resultantes da dissipao das
dunas e transporte do material arenoso, que so depositados sobre os tabuleiros, nas estradas e nas reas
deprimidas do relevo.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

804
A retirada da cobertura vegetal ativa a eroso elica principalmente no vero e a eroso pluvial no
perodo chuvoso, culminando com uma srie de processos erosivos, causadores do transporte de
sedimentos.
A gua das precipitaes, principalmente nas reas com cobertura vegetal, tem maior facilidade de
infiltrao ao encontrar a superfcie permevel e porosa dos solos arenosos, o que justifica a importncia
das chuvas de outono-inverno para o reabastecimento dos aqferos, que tambm facilitado pelas
caractersticas geomorfolgicas da superfcie plana e suavemente ondulada, formada pelos tabuleiros e
dunas.
A irregularidade do ritmo climtico, somada s variaes impostas pelo grau de susceptibilidade
dos solos e ao antrpica, explica os processos de mecanismos que ocorrem, refletindo na compactao
dos solos, no transporte de sedimentos, na capacidade de infiltrao e escoamento.
IMPACTOS AMBIENTAIS NA REA DE NOVA PARNAMIRIM
A rea se caracteriza por ser um local que possui tabuleiros e dunas elementos que caracterizam
por um relevo de topografia plana e suavemente ondulado de aspecto montono na paisagem. A natureza
das formaes superficiais, constituintes desse relevo, propicia uma maior degradao do solo quando a
superfcie desprotegida da cobertura vegetal, onde a friabilidade e a pouca coeso dos sedimentos de
textura arenosa facilitam a remoo e mobilizao pelos agentes de transporte, sobretudo o vento que na
rea exerce considervel efeito (RAMALHO, 1996).
Somente nas estradas no pavimentadas, trilhas ou caminhos que a gua tem maior poder de
eroso, que se traduz pela formao de ravinas onde se entalham e se aprofunda, acompanhando o declive
do terreno, podendo formar voorocas. Normalmente essas formas de eroso desaparecem
temporariamente quando as estradas so aterradas no vero, pelas obras municipais de recuperao das
vias de acesso, mas, no inverno, so outra vez escavadas pelas guas de enxurradas.
Diante desses aspectos, a identificao dos impactos ambientais, em conseqncia do uso e
ocupao do solo da rea, deu-se atravs de visita in loco realizada na rea.
Os impactos ambientais negativos identificados na rea foram elencados abaixo e registrados
somente alguns:
Fenmenos erosivos naturais, intensificados pela ao antrpica;
Destruio da cobertura vegetal nativa, com conseqente degradao da flora e da fauna;
Modificao no sistema natural de drenagem;
Degradao da paisagem;
Assoreamento do rio Pitimb;
Descaracterizao da paisagem para construo de residncias, condomnios, conjuntos
habitacionais, chcaras, acentuando os processos erosivos;
Disposio irregular dos resduos oriundos do bairro e empreendimentos da rea;

Figura 08 Abertura de
ruas causada pela gua das
chuvas que est servindo
de depsito para lixo.
Fonte: Pesquisa.

Figura 06 Areia trazida


pela chuva, causando a
mudana do curso do rio
Pitimb. Fonte: Pesquisa.

Figura 07 Destruio da
mata ciliar do rio Pitimb.
Fonte: Pesquisa.

CONSIDERAES E SUGESTES
Os aspectos reconhecidos pelas pesquisas ambientais indicam que as modificaes causadas ao
relevo podem acelerar a dinmica dos processos erosivos, sobretudo com a retirada da cobertura vegetal,
Joo Pessoa, outubro de 2011

805
onde conseqentemente, ocorre diminuio da infiltrao e aumento do escoamento superficial com a
impermeabilizao do solo que fica exposto insolao e ao impacto das gotas de chuva. O desmatamento
e a conseqente eroso acelerada condicionam a remoo de sedimentos e o transporte pelo fluxo
concentrado que se reflete na formao de ravinas e voorocas.
Na rea em estudo, a eroso continua sendo um fenmeno complexo, tendo em vista a ao de
fatores controladores, onde a influncia de cada um deles interfere nos diferentes aspectos da superfcie;
diante desses fatos, considera-se que: os solos esto com processos de eroso relativamente acelerados,
sendo que grande parte da eroso desencadeada pelo desmatamento, desmonte de morros e construo
de moradias; a intensidade de chuvas do tipo torrenciais e a presena de uma cobertura vegetal pouco
expressiva refletem na dinmica dos processos erosivos e nos seus efeitos sobre a superfcie dos solos; a
maior eroso ocorre por meio das enxurradas, quando a gua, em grande volume e velocidade, mobiliza os
sedimentos, desaguando e depositando o material transportado nas depresses do terreno; entre outros
impactos j relatados.
O municpio de Natal possui uma legislao prpria para conservao parcial da rea (Plano Diretor
e Cdigo do Meio Ambiente) e ressalta-se que um grande percentual da rea desse municpio, que
pertence ao local de estudo, constitui uma zona de proteo ambiental (ZPA-3). Entretanto, a carncia de
um sistema de captao de guas pluviais e controle do uso e ocupao do solo, esto contribuindo para
agravar a situao supramencionada, atravs do assoreamento e poluio do rio Pitimb; este juntamente
com a lagoa do Jiqui, forma a bacia hidrogrfica do rio Pitimb (BHRP), onde seu sistema aqutico
considerado um importante manancial de gua doce superficial para a grande Natal, no qual, cerca de 65%
da populao servida com guas provenientes das fontes subterrneas e os demais 35% so atendidos
por retiradas das Lagoas do Jiqui e Extremoz. Cumpre salientar que 75% das reas ao sul do rio Potengi so
atendidas por aqferos subterrneos e os demais 25%, provm da lagoa do Jiqui. Ademais, em termos
qualitativos, esta lagoa tem um papel fundamental no abastecimento dgua da grande Natal, sendo que o
rio Pitimb responsvel por desaguar na mesma.
importante ressaltar, sobretudo, o papel exercido pelo municpio de Parnamirim nesse contexto.
Primeiro, por possuir um parque industrial desde a dcada de 70, atraindo, desse modo, um contingente
populacional proveniente em sua maioria do Estado, somente recentemente passou a dispor de uma
legislao que possibilite o ordenamento do territrio do municpio (Plano Diretor), no se encontrando
alguma referncia na Lei Orgnica rea de proteo ambiental. Por conseguinte, alvo de especulaes
imobilirias, principalmente no bairro de Nova Parnamirim, inclusive, por estar no entorno da capital, e
esta por sua vez, palco de imigrao oriunda do Sudeste do Pas e at de outros pases.
Conclui-se, portanto, a necessidade dos rgos pblicos, sobretudo a prefeitura, de fiscalizar com
mais freqncia s irregularidades que vo alm do permitido das leis orgnicas do municpio, problemas
que devem ser resolvidos no apenas por imposies de leis, mas tambm por meio de programas de
educao ambiental nas escolas e comunidades do bairro e adjacncias. O fato de existir uma legislao
ambiental que protege e controla a preservao de dunas, rios e outros ecossistemas associados, entendese que deve haver cumprimento dessas leis, quando na realidade ficam restritas ao papel enquanto
prossegue a continua ocupao desses espaos fsicos, incentivando o desmatamento e desestabilizao
das reas vulnerveis; como os processos erosivos, acarretando conseqncias tambm para os canais de
drenagem, devido ao assoreamento.
Sugerem-se outros estudos que envolvam problemas de eroso e degradao do meio ambiente,
tendo em vista que o uso irracional dos recursos naturais, quando efetivado sem tcnica de proteo e
conservao, pode causar srios danos ambientais, inclusive aos solos, que erodem com mais freqncia
quando a eroso acelerada pelo homem.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BESERRA NETA, 1995 APUD em: LIMA, Bruno Luiz Felipe de; ALMEIDA, Ricardo Victor Machado de;
SANTANA, Nelyane Nayara Martins de. Avaliao Ambiental da Via Costeira RN. Natal/RN, 2004.
CAMPOS e SILVA, A. Contribuio ao estudo do Grupo Barreiras no Rio Grande do Norte. Mossor:
ESAM: FGD, 1983.p. 1 14. (Coleo Mossoroense, Srie B, 391).
COSTA, W.P. Consultoria tcnica de geologia e engenharia de estudos hidrolgicos em
Natal.RN.Natal: CAERN, 1971.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

806
FIGUEIREDO, 1994 APUD em: SILVA, Alexandre Marcos. Eroso e hidrosedimentao em bacias
hidrogrficas. Editora RIMA, 2003.
FREIRE, M.S.B. Levantamento florstico do parque estadual das dunas do Natal. Acta Botnica
Brasiliense.v. 4,n.2.p.41 51.1990.
FUNDAO IDEC. Diagnstico ambiental e socioeconmico do litoral oriental do Estado do Rio
Grande do Norte. Natal, 1994.v.1.
IBGE. Censo Demogrfico de 2000. Disponvel em <www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 de
janeiro de 2011.
KOPPEN, W. Climatologia. Mxico: Fundo de Cultura Econmica,1948.
LLORET RAMOS, 1995 APUD em: SILVA, Alexandre Marcos. Eroso e hidrosedimentao em bacias
hidrogrficas. Editora RIMA, 2003.
MABESOONE, J.M. Episdios tectnicos, seqncias deposicionais e sua integrao, com exemplo
do Nordeste brasileiro.In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 23, 1984, Rio de Janeiro. Anais...Rio de
Janeiro: SBG, 1984.v. 2, p.918 933.
NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: Fundao IBGE: SUPREN. 1989. 421p.
PARNAMIRIM.
Parnamirim
em
mapas:
informaes
bsicas.
Disponvel
em:
<http://www.parnamirim.rn.gov.br/secretarias/emmapas/emmapas1.php> Acesso em: 16 de janeiro de
2011.
PERRIN, P. Os sistemas de dunas litorneos na regio de Natal: granulometria e morfoscopia dos
gros de quartzo. Boletim do CCE. DG. Natal, n. 1, 1981.
RAMALHO, M. F. J. L. Geomorfologia e dinmica ambiental: vale do rio Pitimbu. Natal-RN. Imagem
grfica, 87p., 2003.
RAMALHO, M.F.J.L. Anlise geomorfolgica no estudo da erodibilidade dos solos: o caso da bacia do
rio Pirangi RN. Sociedade & Natureza, v.3, n.15,p.248 250, 1996.
THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. The water balance. Climatology, V.8, n.1, p.1-104, 1995.

Joo Pessoa, outubro de 2011

807

IMPACTOS AMBIENTAIS DA EXTRAO DE AREIA DESTINADA


CONSTRUO CIVIL: O CASO DE DOIS EMPREENDIMENTOS NO
MUNICPIO DE MOSSOR-RN
Alexandre Borja de FREITAS
Bacharel em Gesto Ambiental pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Email: allexandrefreittas@hotmail.com
Jorge Luis de Oliveira PINTO FILHO (Orientador)
Docente do Curso de Gesto Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte -(UERN)
Email: jorgefilho-uern@bol.com.br
Edna Guilherme dos SANTOS
Graduanda do Curso de Gesto Ambiental pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-(UERN).
Email: edna-gui@hotmail.com

RESUMO
A atividade de minerao constitui um importante setor para a economia mundial, uma vez que a
mesma fornece os mais variados tipos de recursos naturais para a sociedade. A problemtica a cerca dos
impactos ambientais da extrao da areia destinada construo civil, no est restrita apenas aos
empreendimentos de grandes centros urbanos. No Rio Grande do Norte, qualquer processo de
industrializao, no apenas as que realizam a atividade de extrao de areia carecem de estudos tcnicos
ambientais. Sendo assim, este trabalho teve como principal objetivo, verificar o processo de extrao de
areia para construo civil no municpio de Mossor-RN, bem como apontar os principais impactos
ambientais dessa atividade. Este estudo classifica-se quanto a sua finalidade como exploratrio, e quanto
aos meios, como pesquisa de campo e pesquisa bibliogrfica. Foram coletados dados por meio de pesquisa
bibliogrfica, documental e coletas de dados em campo, junto aos empreendimentos de extrao de areia
para construo civil do municpio de Mossor-RN. Foram realizadas visitas aos rgos responsveis pelo
licenciamento da extrao da areia no mbito municipal, estadual e federal. Constatou-se com base em
IDEMA (2009), que atualmente existem trs empreendimentos legalmente licenciados para exercerem suas
atividades de explorao de areia no Municpio de Mossor-RN. Percebe-se a necessidade de adotar-se a
implementao de Sistema de Gesto Ambiental-SGA, j que os empreendimentos investigados no
possuem uma Poltica Ambiental, bem como a elaborao de Planos de Recuperao de reas DegradadasPRADs.
PALAVRAS-CHAVES: Desenvolvimento econmico, minerao, danos ambientais.
1 INTRODUO
A atividade de minerao constitui um importante setor para a economia mundial, uma vez que a
mesma fornece os mais variados tipos de recursos naturais para a sociedade. No tocante a areia, recurso
natural de suma importncia s atividades humanas, Guerra et al. (1999) denomina esse produto como
sendo a desintegrao mecnica das rochas atravs de agentes exteriores. Ainda com base no referido
autor, a areia pode ser localizada em vrios depsitos, tais como: aluvies (quando o transporte dessas
partculas se d pela gua), coluvies (quando o transporte dessas partculas se d por gravidade) e
eluvies (quando o transporte dessas partculas se d por ao do vento).
Conforme Derisio (2000), define-se solo sob a tica da engenharia civil como sendo todo material
da crosta terrestre pouco resistente (>10 kg/cm) que no oferece resistncia intransponvel escavao
mecnica e que perde totalmente a resistncia quando em contato prolongado com a gua.
Diante dessa definio atribuda a solo sob o ponto de vista da engenharia civil, se faz necessrio
levantar as suas diversas utilidades, com isso, Derisio (2000), aponta que esse material a ser extrado pode
ser utilizado na rea da construo em geral e na manufatura de objetos diversos. importante mencionar
conforme a DNPM (2002), que cerca de 80% da areia produzida no pas utilizada na construo civil,
sendo diversos os tipos de areia.
Para a extrao da areia se faz necessrio o licenciamento Ambiental, sendo obrigatrio, segundo a
Lei Federal n 6.938, de 31, de agosto de 1981, com as modificaes introduzidas pela Lei Federal n 7.804,
de 18 de julho de 1984, artigo 10. (SOUZA, 1997).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

808
A extrao de areia causa srios danos ao meio ambiente, onde de acordo com Fogliatti (2004),
Impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e/ou biolgicas do meio
ambiente, provocada direta ou indiretamente por atividades humanas podendo afetar a sade, a segurana
e/ou a qualidade dos recursos naturais.
Silva (1999), ao investigar o histrico da Avaliao de Impactos Ambientais AIA constatou que o
primeiro dispositivo legal que o tema AIA nvel federal, foi a lei n 6.938, de 31 de agosto de 198 1, que
estabeleceu a Poltica Nacional de Meio Ambiente PNMA e criou, para sua execuo, o Sistema Nacional
do Meio Ambiente SISNAMA, sendo a sua regulamentao realizada aps dois anos, por meio do Decreto
Federal n 99.274, de 06 de junho de 1983, alterado posteriormente pelo Decreto Federal n 99.274, de 0 6
de junho de 1990.
Segundo Snchez (2008, p. 128), a Avaliao de Impacto Ambiental:
um conjunto estruturado de procedimentos que organicamente esta ligada entre si e devem ser
desenhados para atender aos objetivos da avaliao de impactos ambientais, regido por lei ou
regulamentao especifica, documentado, envolve diversos participantes e voltado para a anlise da
viabilidade ambiental de uma proposta. Incluindo planos, programas e polticas.

A problemtica a cerca dos impactos ambientais da extrao da areia destinada construo civil,
no est restrita apenas aos empreendimentos de grandes centros urbanos. No Rio Grande do Norte, onde
foi desenvolvido este estudo, qualquer processo de industrializao, no apenas as que realizam a
atividade de extrao de areia carecem de estudos tcnicos ambientais. No caso da atividade de extrao
de areia para construo civil no municpio de Mossor-RN, a questo que pretende-se responder com esta
investigao : quais os possveis impactos ambientais resultantes dessa atividade de minerao no
municpio de Mossor-RN?
Sendo assim, este trabalho teve como principal objetivo, verificar o processo de extrao de areia
para construo civil no municpio de Mossor-RN, bem como apontar os principais impactos ambientais
dessa atividade.
2 MATERIAL E MTODOS
2.1 Classificao da pesquisa
Conforme Gil (2006), este estudo classifica-se quanto a sua finalidade como exploratrio, e quanto
aos meios, como pesquisa de campo e pesquisa bibliogrfica. Foram coletados dados por meio de pesquisa
bibliogrfica, documental e coletas de dados em campo, junto aos empreendimentos de extrao de areia
para construo civil do municpio de Mossor-RN.
A investigao documental dessa pesquisa se deu pelas visitas aos rgos: Gerncia de Gesto
Ambiental - GGA da Prefeitura Municipal de Mossor, o Instituto de Desenvolvimento Econmico e Meio
Ambiente do Rio Grande do Norte-IDEMA e o Departamento Nacional de Produo Mineral - DNPM com a
finalidade de obter informaes a cerca da quantidade de empresas de extrao de areia licenciadas que
existe atualmente no municpio de Mossor-RN, a documentao necessria para o Licenciamento
Ambiental para a atividade de extrao e pesquisas de bens minerais - Extrao de areia, argila, cascalho e
similares, bem como os aspectos legais da atividade.
2.2 Obteno de dados em campo e amostragem nos Empreendimentos de extrao de areia
Constatou-se com base em IDEMA (2009), que atualmente existem trs empreendimentos
legalmente licenciados para exercerem suas atividades de explorao de areia no Municpio de MossorRN. No entanto, foram contemplados dois locais, onde se realizaram as pesquisas, uma vez que no foi
possvel abordar todos em virtude de fenmenos climatolgicos, j que as visitas aos empreendimentos
foram realizadas no perodo chuvoso, estando o acesso ao terceiro empreendimento impossibilitado.
2.3 Check-List
As listagens de controle, tambm denominada de check list para Philippi Jr. et al. (2004) constituem
uma variao do mtodo ad hoc, mas que garantem que uma lista de parmetros predefinidos seja
examinada durante a avaliao. Na concepo de Cunha e Guerra (2006), esse mtodo consiste na
identificao e enumerao dos impactos, a partir da diagnose ambiental realizada por especialistas dos
meios fsicos, bitico e socioeconmico. Com isso, nesta fase, adotou-se o mtodo de Check-List para
levantamento dos aspectos e impactos ambientais dos empreendimentos de extrao de areia para
construo civil no municpio de Mossor-RN, entre 04 de Maio de 2009 e 04 de Setembro de 2009.
Joo Pessoa, outubro de 2011

809

3 RESULTADOS E DISCUSSO
3.1 Caracterizao dos Empreendimentos
Ambos os empreendimentos localizam-se na zona Rural do municpio de Mossor. O primeiro,
localizado as margens da BR 304, sentido Mossor/Fortaleza-CE, km 30, cerca de 4,15 km
aproximadamente, adentrando sentido leste. (Distrito Industrial). O segundo, localizado as margens da BR
110, sentido Mossor/Areia Branca, km 44, cerca de 3,81 km aproximadamente, adentrando sentido leste.
Como ilustra as FIGURAS 01 e 02.

Figura 01 - Localizao Geogrfica do Empreendimento I da Extrao da Areia


para construo civil no municpio de Mossor-RN. Fonte: Google Earth, 2005.

Figura 02 - Localizao Geogrfica do Empreendimento II da Extrao da Areia


para construo civil no municpio de Mossor-RN. Fonte: Google Earth, 2005.

A licena para a extrao da areia de ambos os empreendimentos esto registrados em nome de


pessoa fsica. Enquadram-se Licena Simplificada (LS) - concedida para a localizao, instalao,
implantao e operao de empreendimentos de micro e pequeno portes e que no apresentem
significativo potencial poluidor, assim entendidos aqueles que na oportunidade do licenciamento possam
ser enquadrados na categoria de baixo potencial poluidor, segundo os critrios definidos na Lei
Complementar Estadual n 272, de 03/03/2004 e seus anexos, ou representem atividades ou
empreendimentos de carter temporrio, que no impliquem instalaes permanentes (IDEMA, 2003).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

810

3.2 Impactos Ambientais dos Empreendimentos


Diante da aplicao das listas de verificao aos empreendimentos de atividade de extrao de
areia, aponta-se como os principais impactos ambientais: o desmatamento, eroso pluvial, eroso elica,
compactao do solo e possivelmente contaminao do solo. Verificou-se como impacto ambiental na
vegetao nativa que, os empreendimentos investigados realizam supresso vegetal aparentemente sem
qualquer tipo de manejo florestal, j que as espcies da caatinga so retiradas sem obedecerem s ordens
do tipo da espcie e o seu respectivo porte, como ilustra a FIGURA 03.

Figura 03 rea de Supresso Vegetal no Empreendimento II, Mossor-RN, 2009.

Decorrente do desmatamento ainda se verifica o impacto visual, reduo de sementes, perda ou


alterao da qualidade do solo, bem como a acelerao de processos erosivos do solo e estabelecimento
de corredores como se observa na FIGURA 04.

Figura 04 Corredores de Acesso no Empreendimento II, Mossor-RN, 2009.

Corroborando com esta anlise, os empreendimentos possivelmente no esto atendendo a


legislao ambiental no tocante a averbao da reserva legal de 20%, uma vez que se constatou que no
existe nas instalaes da minerao da areia a rea para atender esse objetivo.
De acordo com Arajo (2005) a eroso hdrica se manifesta de diversas maneiras, com destaque
para a eroso pluvial, j que o impacto da gota de chuva comea o processo de eroso e pode progredir
finalmente para a formao de voorocas e causar a eroso de canais fluviais. Ainda com base em Arajo
(2005) geralmente a eroso pluvial ocorre, quando o solo est desprotegido da vegetao e em locais que
Joo Pessoa, outubro de 2011

811
no existe a prtica de controle de taludes; com isso percebe-se que supresso vegetal ocasiona uma maior
velocidade no escoamento superficial das guas (run-off), como ilustra a FIGURA 05.

Figura 05 Efeitos da Eroso Fluvial no Empreendimento II, Mossor-RN, 2009.

Constatou-se que os empreendimentos no obedecem regulamentao referente a declividade,


inclinao, dos taludes. Assim a rea fica susceptvel ao deslizamento destes, gerando risco aos
funcionrios e a biota, como ilustra FIGURA 06.

Figura 06 Talude susceptvel ao deslizamento no Empreendimento II, Mossor-RN, 2009.

Vale mencionar que devido supresso vegetal, o solo fica exposto a ao do vento, fazendo com
que a eroso elica atue como um fator indireto de degradao ambiental, como ilustra a FIGURA 07.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

812

Figura 07 rea susceptvel a eroso elica no Empreendimento I, Mossor-RN, 2009.

importante destacar outro fator de degradao ambiental nas instalaes da rea de estudo, que
diz respeito compactao do solo, uma vez que esse aspecto faz com que acontea a diminuio da
infiltrao do escoamento superficial. Sendo assim, Verifica-se a compactao do solo principalmente nas
vias de acesso aos empreendimentos, como ilustra a FIGURA 08.

Figura 08 Compactao do solo por mquinas pesadas no Empreendimento I, Mossor-RN, 2009.

Com isso, percebe-se que a compactao do solo (FIGURA 08) nos empreendimentos vem sendo
ocasionada principalmente pelo uso constante de mquinas pesadas, conforme se observa na FIGURA 09.

Joo Pessoa, outubro de 2011

813

Figura 09 Mquinas pesadas no Empreendimento II, Mossor-RN, 2009.

Evidencia-se que nem todos os impactos gerados pela atividade de extrao da areia so
considerados negativos, uma vez que se pode apontar tambm alguns impactos de ordem positiva, tais
como: gerao de emprego e renda; dinamizao do setor comercial, devido aquisio de fatores de
produo, proporcionando aquecimento da economia local; bem como melhorias para o desenvolvimento
regional, com o crescimento da malha viria.
Constata-se na FIGURA 10 o produto final dos empreendimentos analisados, servindo assim como
evidncia da oportunidade de otimizao da economia local.

Figura 10 Produto Final dos empreendimentos nas lojas de comercializao, Mossor-RN, 2009.

3.3 Prticas Ambientais adotas pelos Empreendimentos


Estes empreendimentos no apresentam uma poltica ambiental expressa, nem se quer um plano
adequado de manejo da fauna e da flora. Apesar de que os projetos requeiram plano de manejo florestal
aprovado pelo rgo ambiental competente, tendo que respeitar a averbao de 20% de reserva legal.
Vale destacar que atividades como as de educao ambiental voltadas para a comunidade ou seus
funcionrios, programa de segurana no trabalho, preveno de acidentes, treinamento e/ou
conscientizao para questes ambientais, ainda no foram desenvolvidas.
Cabe mencionar tambm que essa atividade econmica requer a implantao de um Plano de
Recuperao de rea Degradada-PRAD. Sendo este programa efetuado aps o encerramento das
atividades ou trmino da rea a ser explorada. Assim verificou-se nos empreendimentos que no h a
recuperao da rea.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

814
Apontar tambm outra no-conformidade detectada diz respeito ao manejo da camada superficial
do solo, j que os empreendimentos analisados no fazem o armazenamento desse produto, onde na
maioria das vezes so englobados com o produto final.
3.4 Aspectos Legais dos Empreendimentos
Verificou-se que ambos os empreendimentos esto devidamente licenciados, tendo passado pelas
seguintes etapas: autorizao da Unio, atravs do Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM),
Licenciamento Ambiental (LA), obrigatria para a localizao, instalao ou ampliao e operao de
qualquer atividade de minerao objeto dos regimes de concesso de lavra e licenciamento. Verificou-se
tambm a existncia da Licena Simplificada (LS) nos empreendimentos, sendo esse documento concedido
para a localizao, instalao, implantao e operao de empreendimentos de micro e pequeno portes e
que no apresentem significativo potencial poluidor.
4 CONSIDERAES FINAIS
Os empreendimentos de extrao de areia para construo civil no municpio de Mossor-RN so
considerados de pequeno e mdio porte, esto localizados na sua Zona Rural, sendo os mesmos
caracterizados por no estarem situados em APP, bem como no possurem restries da populao do seu
entorno.
No tocante a relao dos empreendimentos com os recursos naturais constatou-se impactos
ambientais relacionados supresso vegetal, compactao do solo, contaminao do solo, poluio sonora
e do ar. Tambm, verificou-se implicaes ambientais no que diz respeito ao manejo inadequado da fauna
e flora local, uma vez que as empresas no fazem estocagem da camada frtil do solo, com a finalidade de
posteriormente realizar um Plano de Recuperao de reas Degradadas PRADs.
Com relao s prticas ambientais percebe-se a necessidade de adotar-se a implementao de
Sistema de Gesto Ambiental SGA, j que os empreendimentos investigados no possuem uma Poltica
Ambiental, um setor especfico para tratar dos assuntos ambientais, um programa de treinamentos e
conscientizao dos funcionrios para as questes ambientais, um projeto de gerenciamento de resduos
slidos e lquidos, bem como um plano de atividades de educao ambiental voltada para a comunidade
e/ou seus funcionrios. A situao dos empreendimentos no que diz respeito aos aspectos legais, aponta
que estar conforme (de acordo com dados do IDEMA), porm constatou-se a falta de fiscalizao peridica
dos rgos ambientais na fase de operao (relatada pelos proprietrios de ambos os empreendimentos).
Com isso, observa-se a urgncia de tomadas de deciso por parte do poder pblico na fiscalizao dos
empreendimentos, j que mesmo estando conforme a legislao so necessrias fiscalizaes constantes,
com a finalidade de verificar o cumprimento de outros aspectos relevantes da legislao.
Sendo assim, apontam-se algumas iniciativas para amenizar a problemtica em questo, tais como:
elaborao de PRADs, manejo adequado da vegetao, maior fiscalizao por parte dos rgos
competentes, adoo de tcnicas de minimizao de usos de recursos naturais e incentivo (de origem
financeira, como iseno de impostos) para os empreendimentos investirem em Sistema de Gesto
Ambiental-SGA.
5 REFERNCIAS
ARAJO, G. H. S. Gesto ambiental de reas degradadas. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005. 320 p.
CUNHA, S. B e GERRA, A. J. T. Geomorfologia: uma atualizao de bases e conceitos. 7 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUO MINERAL DNPM. Extrao de areia. Braslia, 17 de
out., 2002. Disponvel em:< http://dnpm.gov.br/>. Acesso em: 20 abr. 2009.
DERISIO, J. C. Introduo ao controle de poluio ambiental. 2.ed. So Paulo: Signus, 2000. 164 p.
FOGLIATTI, M. C. Avaliao de impactos ambientais: aplicao aos sistemas de transporte. 1 ed. Rio
de Janeiro: Intercincia, 2004. 249 p.
GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, P. Eroso e conservao dos solos: conceitos, temas e
aplicaes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 340 p.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. So Paulo: Atlas, 2006.

Joo Pessoa, outubro de 2011

815
GOOGLE EARTH. 2005, MapLink/Tele Atlas. Disponvel em: <http:/www.googleearth.com>. Acesso
em: 16 jul. 2009
IDEMA. Instituto de Desenvolvimento Sustentvel e Meio Ambiente. Perfil do seu municpio.
Disponvel
em:
>http://www.idema.rn.gov.br/contentproducao/aplicacao/idema/socio_economicos/enviados/perfil_m.as
p< Acesso em: 01 de junho de 2009.
PHILIPPE JR. A. P. et al. Curso de Gesto Ambiental. Barueri SP. Ed. Manole, 2004.
SNCHEZ, Luiz Henrique. Avaliao de Impacto Ambiental: conceitos e mtodos;
So Paulo, Oficina de Textos, 2008.
SILVA, E. Tcnicas de avaliao de impactos ambientais. Viosa: CPT, 1999. 64 p. Vdeo curso, 1999).
SOUZA, M. R. M. Conflito e consenso na implementao e avaliao de impactos ambientais (AIA): o
setor de minerao do Estado de Minas Gerais. Viosa: UFV, 1997. 149 Dissertao (Mestrado em
Extenso Rural) Universidade Federal de Viosa, 1997.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

816

VARIVEIS DE CRESCIMENTO E PRODUO DO PINHO MANSO


IRRIGADO COM GUA SUPERFICIAL POLUDA
Eduardo Maciel Oliveira LAIME 1
Ricardo Pereira VERAS 2
Pedro Dantas FERNANDES 3
1Eng Agrnomo, Ps-Graduando em Engenharia Agrcola, CTRN-UFCG/Campina Grande-PB Brasil. E-mail:
edu_laime@hotmail.com
2Geografo, Ps-Graduando em Recursos Naturais, CTRN-UFCG/Campina Grande PB.
3Prof. Dr. do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Agrcola, CTRN-UFCG/Campina Grande PB. E-mail:
pdantas@pq.cnpq.br

RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a altura de planta, dimetro caulinar e produo da
cultura do pinho manso, sob diferentes nveis de reposio da evapotranspirao, utilizando gua
superficial poluda de esgoto domstico, em ambiente aberto. O experimento foi desenvolvido em
lismetros de drenagem, em campo, em instalaes da UFCG, campus de Campina Grande, no Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais da Unidade Acadmica de Engenharia Agrcola. O delineamento estatstico
foi em blocos casualizados, com quatro repeties, sendo estudados cinco nveis de reposio da
evapotranspirao - Nr (Nr1 = 0,25; Nr2 = 0,50; Nr3 = 0,75; Nr4 =1,00 e Nr5 = 1,25 da ETc). A unidade
experimental foi constituda de uma planta cultivada em cada lismetro. A semeadura foi realizada em
tubetes. O transplante para os lismetros ocorreu 30 dias aps germinao. A rea experimental total
utilizada (rea dos lismetros e reas vizinhas) de 120 m2 e as plantas foram espaadas em 3 x 2m. Como
concluso, temos que, as variveis de crescimento e a produo das plantas de pinho manso evoluem de
acordo com o incremento dos nveis de reposio de gua, em todos os perodos estudados.
PALAVRAS-CHAVES: Jatropha curcas, oleaginosa, estresse hdrico
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the plant height, stem diameter and production of cultivating Jatropha
curcas under different levels of evapotranspiration replacement, using surface water polluted sewage in
open environment. The experiment was conducted in drainage lysimeters in field installations of UFCG,
Campina Grande campus, the Center for Technology and Natural Resources of the Academic Department of
Agricultural Engineering. The statistical design was randomized blocks with four replications, with five levels
of evapotranspiration replacement - Nr (Nr1 = 0,25; Nr2 = 0,50; Nr3 = 0,75; Nr4= 1,00 and Nr5 = 1,25 ETc).
The experimental unit consisted of one plant grown in each lysimeter. The seeds were sown in plastic pots.
Transplantation for lysimeters occurred 30 days after germination. The total experimental area used (area
of the lysimeters and surrounding area) is 120m2 and the plants were spaced at 3 x 2m. In conclusion, we
have the variables of growth and yield of Jatropha evolve according to the increased levels of water
replacement in all periods.
KEYWORDS: Jatropha curcas, oleaginous, water stress
INTRODUO
O pinho-manso (Jatropha curcas L.) uma planta pertencente famlia Euphorbiaceae e
de origem desconhecida, considerando-a nativa do Brasil, mas conforme ABA (2007), seu mais provvel
local de origem a Amrica Central. Com escassez de guas de boa qualidade em todo mundo, tem-se que
ir em busca por alternativas racionais que viabilizem a irrigao, sendo assim, o reuso de guas residurias
se faz a cada dia mais indispensvel, tanto do ponto de vista ambiental como do ponto de vista econmico,
principalmente em regies ridas e semiridas onde os recursos hdricos so limitados, a exemplo do
Nordeste brasileiro.
Diante da preocupao atual com o efeito estufa, aquecimento global e com a limitao ao
uso das reservas de combustvel fssil, o pinho-manso, dentre outras oleaginosas, tem despertado
interesse dos produtores, do governo e das instituies de pesquisa, por sua rusticidade. Nesse contexto,
com a possibilidade do uso do leo de pinho-manso para a produo de biodiesel, abrem-se amplas
perspectivas para o aumento das reas de plantio com essa cultura no semirido nordestino (Arruda et al.,
2004).
Joo Pessoa, outubro de 2011

817
Pouco se conhece sobre a bioqumica e a fisiologia do pinho-manso, no existem
cultivares definidas e alguns aspectos agronmicos ainda carecem de investigao, como, por exemplo, a
populao de plantas ideal e a configurao de plantio (Beltro, 2006), outro aspecto a ser considerado por
pesquisadores a larga distribuio da colheita de sementes, onerando os custos de mo-de-obra.
Entretanto, com o possvel uso do leo do pinho-manso para a produo do biodiesel,
surgem novas perspectivas de estudos, imprescindveis para se ter tecnologia de suporte ao aumento das
reas de plantio com essa cultura, no semirido nordestino. As perspectivas favorveis do aumento de rea
plantada com essa cultura decorrem, no somente dos baixos custos de sua produo agrcola,
principalmente na agricultura familiar, com mo-de-obra prpria, mas, sobretudo, porque poder ocupar
solos pouco frteis e arenosos; em geral, tais solos so inaptos agricultura de subsistncia,
proporcionando, assim, uma nova opo econmica para as regies carentes do pas, principalmente na
agricultura familiar (Makkar et al., 1997).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar variveis de crescimento e de produo da
cultura do pinho manso, sob diferentes nveis de reposio da evapotranspirao, utilizando gua
superficial poluda de esgoto domstico, em ambiente aberto.
MATERIAL E MTODOS
O experimento foi conduzido na Unidade Acadmica de Engenharia Agrcola, Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais/UFCG, em Campina Grande - PB, com as coordenadas geogrficas 71518
de latitude Sul, 355228 de longitude Oeste do meridiano de Greenwich e altitude de 550m. O clima da
regio, de acordo com a classificao climtica de Koppen, adaptada ao Brasil (Pell et al., 2007; Nbrega,
2010), mesotrmico semimido, com vero quente e seco (4 a 5 meses) e chuvas de outono e inverno.
As plantas foram cultivadas em 20 lismetros de drenagem, construdos em fibra de vidro,
com paredes de 1 cm de espessura e dimenses de 1,60 m de comprimento, 0,90 m de largura e
profundidade de 0,70 m, totalizando 1,01 m3. A unidade experimental foi constituda de uma planta
cultivada em cada lismetro. Os lismetros foram nivelados recebendo, no fundo da caixa, uma camada de
brita zero e outra camada de areia lavada, revestidas por uma manta de Bidim OP-20. Na parte inferior
do lismetro, foi inserido um dreno de PVC, com dimetro de 25 mm conectado a uma sala de coleta de
todos os lismetros, atravs de registros, para avaliao da evapotranspirao. As sementes foram
fornecidas pelo Instituto Fazenda Tamandu, no municpio de Patos, Paraba, coletadas de uma nica
planta, para se diminuir a variabilidade gentica. A semeadura foi realizada em tubetes. O transplante para
os lismetros ocorreu 30 dias aps germinao.
A rea experimental total utilizada (rea dos lismetros e reas vizinhas) de 120 m 2 e as
plantas foram espaadas em 3 x 2m. As guas residurias utilizadas na irrigao so provenientes do Riacho
Bodocong, poludo com esgotos da cidade de Campina Grande, passando ao longo da rea experimental.
Foram testadas cinco nveis de reposio da evapotranspirao - Nr (Nr1 = 0,25; Nr2 = 0,50; Nr3 = 0,75; Nr4
=1,00 e Nr5 = 1,25 da ETc) com 4 repeties.
Os dados das variveis de crescimento foram obtidos em avaliao mensais, a partir de
12/09/2008. A altura da planta foi determinada em cm, adotando-se, como critrio, a distncia entre o colo
da planta e a extremidade do broto terminal do ramo principal; o dimetro caulinar das plantas foi
determinado a 5 cm acima do coleto, utilizando-se de um paqumetro digital. Foi avaliado, tambm, o
nmero de sementes por planta.
Ao trmino da fase experimental, os dados coletados foram tabulados e submetidos
anlise de varincia pelo teste F e regresso polinomial (Ferreira, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSO
Na Figura 1 ocorreu efeito significativo dos nveis de reposio da evapotranspirao (Nr),
na altura de plantas (AP), em todos os perodos avaliados. Com base nesses dados, constata-se ser sensvel
ao estresse hdrico a espcie Jatropha curcas. Aos 210 DAT, nos tratamentos de menor (0,25 da ETc) e
maior (1,25 da ETc) nvel de reposio da evapotranspirao, a altura das plantas chegou a 16,63 e 19,45
cm, respectivamente; ao final do ciclo (480 DAT), esses valores alcanaram 177,50 e 202,00 cm de altura,
respectivamente, nos tratamentos correspondentes a 0,25 e 1,25 da ETc. Silva (2009), estudando a cultura
do pinho manso, em ambiente protegido, verificou que a altura das plantas foi afetada em todos os
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

818
perodos estudados, quando foram irrigadas com laminas de gua, variando entre 0,25 e 1,25 da
evapotranspirao, no perodo de 10 meses

Figura 1: Curvas de evoluo da altura de plantas do pinho manso em vrias pocas de avaliao, em funo
de diferentes nveis de reposio da evapotranspirao.

De acordo com a Figura 2 no foram registrados efeitos significativos dos nveis de


reposio da evapotranspirao sobre a varivel de crescimento do dimetro caulinar (DC), em todos os
perodos avaliados. A Figura 2, que mostra a anlise de crescimento do dimetro caulinar do pinho manso,
no perodo de 210 a 480 dias aps transplante, podemos perceber que o comportamento dessa varivel foi
semelhante altura de plantas. O dimetro decresceu medida que diminuram os nveis de reposio da
evapotranspirao, como decorrncia natural das condies hdricas desfavorveis para diviso e
alongamento celular, afetando, possivelmente, o cmbio caulinar (Raven et al., 2001; Taiz & Zeiger, 2004).

Figura 2: Curvas de evoluo do dimetro caulinar do pinho manso em vrias pocas de avaliao, em
funo de diferentes nveis de reposio da evapotranspirao.

Os componentes de produo do pinho manso, apresentados na Tabela 1, foram avaliados


desde o incio da produo, aos 210 DAT, at o final do experimento, aos 480 DAT. Os tratamentos Nr da ETc
afetaram, significativamente, o nmero de frutos. Ocorreu uma elevada variao no nmero de frutos das
plantas, entre os tratamentos Nr1 e Nr5, principalmente entre 300 e 330 DAT. Para Avelar et al. (2005),
quanto maior o perodo de tempo disponvel para a planta, em condies ambientais favorveis, maior ser
o nmero de frutos formados e, portanto, maior a produtividade. Nesta pesquisa, foi observado que todas
Joo Pessoa, outubro de 2011

819
as plantas apresentavam produo contnua, at mesmo aquelas com estresse hdrico, porem a
produtividade foi maior, principalmente, naquelas sob situao de disponibilidade necessria de gua no
solo.

Fonte de variao
Nvel
Reposio
(Nr)
Regresso Linear
Regresso
Quadrtica
Regresso Cubica
Regresso 4 grau

GL

Quadrados Mdios
210DAT
240 DAT
Set/08
Out/08

270 DAT
Nov/08

300 DAT
Dez08

330 DAT
Jan/09

360 DAT
Fev/09

390 DAT
Ma/09

420 DAT
Abr/09

450 DAT
Maio/09

480 AT
Jun/09

363,07**

394,12*

2149,32**

5958,452*

2067,20*

2915,30**

1224,20**

636,32**

418,30**

356,57**

1392,40**

1060,90**

8294,40**

19184,40**

7022,50**

9922,50**

3763,60**

2030,62**

1334,02**

1040,40**

37,78 ns

2,57 ns

1,78 ns

2113,14 ns

833,14 ns

144,64 ns

391,14 ns

407,16*

335,16*

380,64**

ns

ns

722,50

ns

297,02 ns

0,62 ns

1,60 ns

4,22 ns

871,55

ns

445,03

ns

ns

1,03 ns

883,78

ns

274,73

ns

18,22
3,88

ns
ns

112,22
0,80

ns

ns

111,88

ns

260,98

ns

511,22

ns

2025,03

ns

1460,45

ns

360,00
53,15

ns

1000,20

ns

106,88

ns

144,85

ns

2,41

99,80

ns

94,98 ns

Blocos

82,18

Resduo

12

38,47

67,49

235,85

1493,61

398,03

300,36

184,40

84,89

51,46

36,44

32,91

31,00

29,91

21,39

21,43

26,64

31,51

28,93

30,27

35,83

CV(%)

51,53

ns

189,22

ns

Tratamentos

Mdias (nmero de frutos)

Nr1 (0,25 ETc)

9,25

18,25

25,00

148,25

71,75

30,75

25,00

22,25

16,75

12,25

Nr2 (0,50 ETc)

11,25

18,00

30,25

149,00

80,25

63,25

30,25

24,75

16,25

8,25

Nr3 (0,75 ETc)

16,50

25,75

55,50

184,50

88,00

51,25

41,25

22,75

18,25

12,00

Nr4 (1,00 ETc)

25,75

35,00

67,75

178,50

94,75

77,75

49,75

38,50

27,00

19,75

Nr5 (1,25 ETc)

31,50

35,50

78,25

243,00

130,75

102,25

69,25

51,00

40,25

32,00

Tabela 1: Resumos das anlises de varincia, com desdobramento dos nveis de reposio em componentes
de regresso polinomial para nmero de frutos de plantas do pinho manso, irrigado com gua superficial poluda, no
ciclo de produo de 210 aos 480 dias aps transplantio.

CONCLUSES
As variveis de crescimento das plantas de pinho manso evoluem de acordo com o
incremento dos nveis de reposio de gua; e a gua superficial poluda influencia positivamente na altura
das plantas e no dimetro caulinar de pinho-manso em todas as pocas avaliadas.
A produo do pinho manso foi afetada de maneira significativa pelos nveis de reposio
da evapotranspirao, em todos os perodos estudados. Porm, ocorreu uma elevada variao no nmero
de frutos aos 300 dias aps transplantio.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABA-ANURIO BRASILEIRO DE AGROENERGIA, Santa Cruz do Sul, Ed: Gazeta, 2007.
ARRUDA, F. P.; BELTRO, N. E. M.; ANDRADE, A. P.; PEREIRA, W. E.; SEVERINO, L. S. Cultivo de
pinhomanso (Jatropha curcas L.) como alternativa para o semi-rido nordestino. Revista de oleaginosas e
fibrosas, v. 8, p. 789-799, 2004.
AVELAR, R. C.; JNIOR, D.; APARECIDO, M.; CARVALHO, J. P. F. Produo de mudas de pinho manso
(Jatropha curcas L.) em tubetes. In: II CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, LEOS, GORDURAS E
BIODIESEL, 2005. Varginha. Resumos... Viosa, 2005
BELTRO, N. E. M. Consideraes gerais sobre o pinho manso (Jatrofha curcas L.) e a necessidade
urgente de pesquisas, desenvolvimento e inovaes tecnolgicas para esta planta nas condies brasileiras.
Campina Grande - PB, 2006.
FERREIRA, P. V. Estatstica experimental aplicado agronomia. 3.ed. Macei: UFAL. 2000. 604p.
MAKKAR H. P. S.; BECKER K.; SPORER, F.; AND WINK M. Studies on Nutritive Potential and Toxic
Constituents of Different Provenances of Jatropha curcas: J. Agric. Food Chem., 1997.
NBREGA, R. S. Um pensamento crtico sobre classificaes climticas: de Kppen at Strahler.
Revista Brasileira de Geografia Fsica, v.3, p.18-22, 2010.
PELL, M. C.; FINLAYSON, B. L.; MCMAHON, T. A. Updated world map of the Kppen-Geiger climate
classification. Hydrology and Earth System Sciences, v.11, p.1633-1644, 2007.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

820
RAVEN P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Movimento de gua e soluto nas plantas.In: Biologia Vegetal.
6 ed. Rio de Janeiro: Guanagara Koogan, 2001.
SILVA, M.B. RODRIGUES. Crescimento, desenvolvimento e produo do pinho manso irrigado com
gua residuria em funo da evapotranspirao. Campina Grande, 2009. Tese (Doutorado) UFCG.
TAIZ, L.; ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.449-484.

Joo Pessoa, outubro de 2011

821

SUBSTITUIO DE FLORESTAS POR ESPCIES FRUTFERAS E SEUS


IMPACTOS NAS PROPRIEDADES FSICAS DO SOLO
Emanoela Pereira de PAIVA
Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA. Graduanda do Curso Engenharia Agronmica. Mossor-RN.
E-mail: emanuelappaiva@hotmail.com.br
Joo Paulo Nobre de ALMEIDA
Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA. Graduando do Curso Engenharia Agronmica. E-mail:
joaopaulonobre@yahoo.com.br
Vander MENDONA
Eng. Agr. Dr. Prof. Adjunto, Departamento de Cincias Vegetais, UFERSA, Mossor - RN
E-mail: vander@ufersa.edu.br

RESUMO
A adoo de uma agricultura convencional possui uma viso produtivista, que no computa na sua
produo, o desgaste proporcionado ao meio ambiente atravs do seu intenso uso, pois o objetivo desse
sistema agrcola cumprir com as regras de mercado, sem se preocupar com os aspectos sociais e
ambientais. A compreenso e a quantificao do impacto do uso e manejo do solo na sua qualidade fsica
so fundamentais no desenvolvimento de sistemas agrcolas sustentveis. O objetivo deste trabalho foi
avaliar algumas propriedades indicadoras da qualidade fsica de um Latossolo localizado na Fazenda
Experimental da UFERSA, cultivado com espcies frutferas, sendo avaliada como exemplos, a cultura da
Pinha (Annona squamosa L.) por um longo perodo de explorao agrcola (nove anos) e tendo como
testemunha rea de mata nativa. Foram coletadas amostras de solos na rea cultivada e em rea virgem,
ambas em duas profundidades (0-10 cm e 10-20 cm). Avaliaram-se a densidade do solo e de partculas,
porosidade total e gua disponvel. Os resultados obtidos indicam variaes significativas. A caracterizao
fsica dos solos amostrados constatou que, aps a retirada da cobertura vegetal, e com o uso antrpico,
houve degradao do mesmo, uma vez que ocorreu comprometimento de sua funcionalidade, predispondo
o solo a perder mais rapidamente a sua capacidade de uso agrcola. A partir da mudana em pequenas
atitudes acredita-se que possvel orientar o desenvolvimento de uma atividade agrcola condicionada
sustentabilidade do ambiente.
Palavras-chave: Degradao do solo, cultivo contnuo, compactao do solo, monocultura.
INTRODUO
A substituio de florestas por culturas agrcolas causa, invariavelmente, mudanas nas
caractersticas fsicas e qumicas do solo que, em muitos casos, levam a uma degradao e,
consequentemente, perdas na produtividade do sistema de produo agrcola (OLIVEIRA, 1995). Segundo
Godefroy & Jacquin (1975), eles afirmam tambm que a introduo de sistemas agrcolas em substituio
s florestas causa um desequilbrio no ecossistema, modificando as propriedades do solo, cuja intensidade
varia com as condies de clima, uso e manejos adotados e a natureza do solo.
A retirada da cobertura florestal e o uso inadequado do solo so os primeiros passos para o incio
do processo de degradao do solo. Ao retirar a cobertura vegetal que protege a superfcie, o solo fica
susceptvel, ao incio de um processo erosivo, por exemplo. No caso das atividades agrcolas, este solo
ainda sofre com as tcnicas de manejo empregadas e com a compactao do terreno, tanto pelo uso de
mquinas nas reas de cultivo, quanto pelo pisoteio provocado pelo pastoreio do gado (SILVA, 1995).
Vrios fatores concorrem para a degradao fsica do solo, como eroso, a reduo da matria
orgnica e a compactao (BLAINSKI et al., 2008). A densidade do solo pode indicar quando estes esto
compactados e, seu espao poroso reduzido. Silva et al. (2000), ressalta ainda que a compactao provoca
a degradao do solo e perca de produtividade. Fatores como a compactao do solo, ocorrem quase
sempre de maneira muito freqente em propriedades agrcolas que utilizam mquinas e implementos, ou
em reas onde o pisoteio dos animais intenso.
O cultivo contnuo e o preparo do solo para o plantio provocam diversas alteraes nas suas
propriedades fsicas, resultando na degradao da estrutura do solo. A velocidade dessa degradao pode
ser acelerada pelo uso intensivo do solo, sendo comum a presena de camada compactada em
subsuperfcie ou ocorrncia de crostas superficiais (CORREIA, 1985; CERRI et al, 1991; MEEK et al., 1992;
CORSINI, 1993; GOVES et al., 1994). Modificaes na densidade e na porosidade do solo podem variar
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

822
consideravelmente, dependendo da textura, dos teores de matria orgnica do solo (CURTIS & POST, 1964)
e da freqncia de cultivo (HAJABBASI et al., 1997).
A compreenso e a quantificao do impacto do uso e manejo do solo na sua qualidade fsica so
fundamentais no desenvolvimento de sistemas agrcolas sustentveis (DEXTER & YOUNGS, 1992). De
acordo com Sanchez (1981), avaliaes das modificaes no solo decorrentes do cultivo deveriam ser
feitas, submetendo um solo sob vegetao natural s exploraes agrcolas desejadas e analisando suas
propriedades periodicamente. Alternativamente, estes estudos podem ser feitos utilizando solos
cultivados e sob mata nativa, desde que mantidos os critrios genticos e topogrficos relacionados com a
formao dos solos. No Brasil, tm sido feitos alguns estudos avaliando as mudanas nas propriedades dos
solos utilizando o solo sob mata como referncia (SILVA & RIBEIRO, 1992; ARAJO et al., 1998; DIAS JUNIOR
& ESTANISLAU, 1999; SANCHES et al., 1999; BORGES et al., 1999).
A qualidade fsica do solo para o crescimento das plantas determinada no s pela
disponibilidade de gua, aerao e temperatura, mas tambm pela resistncia que a matriz do solo oferece
penetrao das razes (HAMBLIN, 1985; LETEY, 1985). Num solo degradado, alm da reduo da
quantidade de gua disponvel, a taxa de difuso de oxignio e a resistncia do solo penetrao podem
limitar o crescimento das plantas na faixa de potenciais que determina a disponibilidade de gua no solo.
Desta forma, a caracterizao dos efeitos dos sistemas de uso e manejo sobre a degradao e qualidade
fsica do solo mais bem quantificada por medidas integradoras destas modificaes.
No entanto, o uso agrcola intensivo e contnuo dos solos sob prticas convencionais de manejo, faz
com que as propriedades fsicas do solo mudem ao longo de vrios anos. Neste contexto, o objetivo desta
pesquisa foi avaliar as alteraes fsicas de um Latossolo utilizando como exemplo uma rea cultivada h
nove anos com a cultura da pinha (Annona squamosa L.) e comparada sob uma rea de mata nativa.
MATERIAL E MTODOS
O experimento foi realizado na Fazenda Experimental (Rafael Fernandes) da Universidade Federal
Rural do Semirido (UFERSA) na qual est situada no municpio de Mossor-RN (Latitude 5 11S e
Longitude 3720W), a 20 km da Universidade. O solo utilizado classificado como Latossolo e sua classe
textural franco-argilo-arenoso (Embrapa, 1999).

Figura 1: Cultivo da Pinha (Annona squamosa L.). Fonte: Pesquisa


Foram selecionadas duas reas prximas sob diferentes modalidades de uso e manejo do solo: uma
sob mata nativa e outra cultivada h nove anos com a cultura Pinha (Annona squamosa L.), utilizando o
sistema convencional de preparo do solo com arao e gradagem. Em cada rea foram coletadas amostras
em duas profundidades (0-10 cm e 10-20 cm) e trs repeties. As amostras foram analisadas no
laboratrio de Solos da Universidade Federal Rural do Semirido (Tabela1).

Joo Pessoa, outubro de 2011

823
Para a anlise granulomtrica foi utilizado o mtodo do densmetro, conhecido tambm como
mtodo do hidrmetro, proposto por Bouyoucos (1926). Baseia-se no princpio de que a matria em
suspenso (silte e argila) confere determinada densidade ao liqudo.
A densidade de partculas foi determinada utilizando o mtodo do balo volumtrico. a relao
existente entre a massa de uma amostra de solo (TFSE) e o volume ocupado pelas suas partculas slidas. A
densidade do solo foi verificada pelo mtodo do anel volumtrico (cilindro volumtrico-50cm3).
Fundamenta-se no uso de um anel de bordos cortantes com capacidade interna conhecida.
Para a determinao da porosidade total foram utilizados os valores da densidade do solo e
densidade de partculas (% P = (Dr-Da) 100/Dr). J a curva caracterstica de gua do solo foi obtida
utilizando a Cmara de Richards (1974).
Tabela 1 - Caractersticas fsicas dos perfis analisados.
FRAES
UMIDADE
GRANULOMTRICAS
(kg/kg)
(%)
0,01
1,5
Prof. Areia Silte
Argila
Mpa Mpa
. Cultiv. 10
83,56 0,91
15,53
0,11 0,016
. Cultiv. cm
82,13 0,91
16,96
0,11 0,018
. Nativa 20
81,11 1,37
17,51
0,11 0,019
. Nativa cm
79,89 1,29
18,82
0,12 0,02
10
cm
20
cm

DENSIDADE
(kg/dm3)
Aparent
e
1,33
1,3
1,28
1,28

POR.
GUA
TOTAL DISPONVEL

Real (%)
2,6
2,6
2,6
2,61

48,91
50,09
50,64
50,93

( (mm)
25,92
23,79
23,71
24,21

(mm/m
)
129,6
118,97
118,58
121,03

RESULTADOS E DISCUSSES
O aumento na produo de alimentos por meio da agricultura, com enfoque em sistemas agrcolas
convencionais, tem sido intensamente praticado no decorrer dos anos. O uso agrcola provoca alterao
nos atributos fsicos do solo. Normalmente, essa alterao induz uma deteriorao de sua qualidade, em
decorrncia da retirada da cobertura vegetal e o excessivo uso da mecanizao. Em funo da tcnica de
manejo utilizada ocorre um comprometimento da capacidade produtiva do solo em diferentes sistemas
agrcolas.
Os sistemas agrcolas analisados ao serem comparados com as reas de mata, afetaram a estrutura
do solo, principalmente no que se refere densidade aparente nas primeiras camadas analisadas (0-10
cm), sendo que os maiores valores foram encontrados na rea cultivada.
Na Tabela 2 so apresentados os valores mdios da densidade do solo obtidos nas duas reas
estudadas. Nota-se que, na rea sob mata nativa, a densidade do solo na regio superficial (0-10 cm) foi
bastante baixa, devido ao acmulo de razes e material orgnico em decomposio. Comparando-se os
perfis das reas cultivadas com o da mata, nota-se existir uma diferena de densidade bastante acentuada
na regio superficial e uma diferena menos acentuada nas regies mais profundas.
Conforme Belotti (2005), a densidade do solo varivel e depende da estrutura e da compactao
do solo. Assim, solos com baixa densidade correspondem a solos porosos que facilitam a infiltrao de
gua, j solos com elevadas densidades so menos estruturados e compactos, sendo menos permeveis
resultando em uma menor infiltrao de gua, portanto, ficando mais susceptveis eroso.
De acordo com Jorge et al., (1991), a compactao do solo agravada pela constante
movimentao de mquinas agrcolas sobre a sua superfcie, durante as fases de arao, gradagem, plantio,
pulverizao e colheita. A alterao da Ds mostra que a estrutura de um solo alterada em funo do seu
uso inadequado; tanto sob o aspecto fsico (mecanizao, pastoreio) quanto sob o ponto de vista qumico
(adubao desbalanceada).
Tabela 2. Valores mdios de densidade solo, porosidade total e gua disponvel, nas profundidades
de 0-10 e 10-20 cm.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

824
CATEGORIA
REA CULTIVADA

REA VIRGEM

Prof.
(cm)
0-10
1020
0-10
1020

DENSIDADE (Kg/dm)
Aparente
Real
1,33a
2,60a
1,26b
2,60a

POROSIDADE
TOTAL (%)
48,91b
51,66a

GUA DISPONVEL
(mm)
25,92a
20,96b

1,24a
1,27a

52,11a
52,07a

23,50b
26,21a

2,60b
2,64a

Como era esperado, com os resultados da densidade aparente, estar havendo uma alterao na
estrutura dos solos, levando sua compactao e consequentemente, causando uma diminuio de sua
porosidade conforme a Tabela 2. Os valores baixos de porosidade da rea de cultivo em relao rea de
mata nativa podem estar associados s praticas agrcolas aplicados nesse sistema, com o efeito do preparo
do solo e uso de implementos agrcolas. Resultados similares foram encontrados por Borges et al. (1999),
onde a drstica reduo da porosidade nos solos cultivados decorre do aumento da compactao do solo,
na qual evidenciada pelo aumento da densidade do solo, fator esse associado a camada analisada.
Por fim, atravs dos valores obtidos pela densidade aparente e porosidade total, obteve-se a mdia
da gua disponvel nas duas reas analisadas, onde os resultados indicaram que a quantidade de gua
disponvel (0-10 cm) foi menor na rea virgem comparada com a rea de cultivo (Tabela 2). Com relao s
camadas mais profundas (10-20 cm), o valor de gua disponvel foi bem menor na rea de cultivo em
comparao com a mata nativa. H, portanto, uma alterao nas condies fsicas dos solos, que se reflete
por um aumento na disponibilidade de gua para as plantas. Tal mudana nas caractersticas hdricas do
solo refletida atravs das alteraes na densidade, textura e porosidade dos solos. Segundo afirmam
Azevedo et al. (1993) em que, quanto maior a disponibilidade de gua no solo maior tambm a capacidade
de absoro de nutrientes pelas razes e maior, ainda, a eficincia fotossinttica das folhas, o que contribui
para uma expanso maior das estruturas de crescimento.
Em geral, considera-se que os solos que tenham uma menor mobilizao apresentam uma melhor
estrutura, resultado de um adequado planejamento agrcola sustentvel, ao contrrio de sistemas agrcolas
com o uso mais intensivo do solo, proporcionando uma maior mudana nas propriedades fsicas e qumicas
do mesmo.
PRINCIPAIS ALTERAES RELACIONADAS AO USO DO SOLO
As atividades agrcolas avaliadas na Fazenda Experimental (Rafael Fernandes) da Universidade
Federal Rural do Semirido (UFERSA), especificamente com o cultivo contnuo da pinha, afetaram as
caractersticas fsicas dos solos amostrados, como: densidade aparente, porosidade total e gua disponvel.
No Brasil, de maneira geral, as reas de vegetao natural vm sendo substitudas por diferentes
sistemas de uso, tais como culturas agrcolas, pastagens e reflorestamentos. De acordo com o Quadro 1,
essa mudana na utilizao do solo ocasiona um desequilbrio no ecossistema, uma vez que a tcnica de
manejo empregada influencia os processos fsicos, qumicos e biolgicos do mesmo, modificando suas
caractersticas e, muitas vezes, podem propiciar sua degradao inviabilizando sua utilizao ou
aproveitamento agrcola.

Joo Pessoa, outubro de 2011

825
Quadro 1 - Classificao dos tipos de degradao do solo

CONDICIONANTE

DEGRADAO DO SOLO
FSICA
Perdas ligadas forma (densidade,
porosidade, infiltrao, aerao...);
Perdas
ligadas

estabilidade
(resistncia dos agregados);
Alta resistncia a penetrao de
razes;
Limitaes de aerao;
Alta suscetibilidade eroso.

QUMICA
BIOLGICA
Retirada ou sada de nutrientes do Reduo da matria orgnica;
solo;
Reduo
da
atividade
e
Possibilidade
acmulo
de diversidade de microorganismos.
elementos txicos;
Desequilbrio
das
condies
qumicas que so prejudiciais ao
crescimento das plantas.

Fonte: Adaptado de REINERT (1998).


De acordo com Reinert (2001), as principais mudanas no ambiente solo esto relacionadas ao uso
e s prticas agrcolas. Juntamente com esses fatores, outros atributos esto condicionados a essas
alteraes que culminam na perda da sua qualidade agrcola inicial. A caracterizao fsica dos solos
amostrados constatou que, aps a retirada da cobertura vegetal, e com o uso antrpico, houve degradao
do mesmo, uma vez que ocorreu comprometimento de sua funcionalidade, predispondo o solo a perder
mais rapidamente a sua capacidade de uso agrcola.
A retirada da mata e o uso constante do solo, com a adoo de prticas convencionais, resultou em
um aumento dos valores de porosidade e reduo da densidade do solo. Os sistemas agrcolas analisados
ao serem comparados com as reas de mata, afetaram a estrutura do solo, principalmente no que se refere
ao tamanho dos agregados.
A necessidade de mudanas nas prticas de manejo adotadas, principalmente em espcies
frutferas urgente, uma vez que as condies encontradas neste estudo podem estar indicando que o uso
do solo para essa atividade j est comprometido. A escolha de tcnicas conservacionistas, como a rotao
de culturas/criaes, o cultivo associado (policultura), podem ser aplicadas no intuito de evitar um maior
desgaste deste solo e assim promover um manejo integrado entre o agricultor e o ambiente. O aumento da
diversidade de culturas facilita o processo de reciclagem de nutrientes e de controle de eroso, pragas e
doenas, melhorando a eficincia na utilizao dos recursos (FRANCIS & CLEGG, 1990). Prticas como
consorciao, intercalao e rotao de culturas, adubao verde e plantio em faixas, constituem formas
que podem ser implementadas.
CONSIDERAES FINAIS
A adoo de uma agricultura convencional possui uma viso produtivista, que no computa na sua
produo, o desgaste proporcionado ao meio ambiente atravs do seu intenso uso, pois o objetivo desse
sistema agrcola cumprir com as regras de mercado, sem se preocupar com os aspectos sociais e
ambientais. No entanto, quando um solo manejado corretamente, de forma a aumentar ou conservar a
sua qualidade, as conseqncias no iro somente aumentar a produtividade das culturas, como tambm
contribuir para manter a qualidade ambiental.
No desenvolvimento da atividade agrcola, muito difcil evitar pequenas presses que possam
compactar o solo; entretanto, possvel usar algumas alternativas no manejo, mquina e cultura, que
minimizem o efeito da degradao do solo e a consequentemente perda da sua produtividade.
A partir da mudana em pequenas atitudes acredita-se que possvel orientar o desenvolvimento
de uma atividade agrcola condicionada sustentabilidade do ambiente. Nesta perspectiva, considera-se
que o solo tem as funes de sustentar a produtividade biolgica, manter a qualidade ambiental e
promover a sade humana, animal e vegetal. Tal aspecto enfatiza a importncia no desenvolvimento de
estudo sobre solos, apoiada no fato de a atividade agrcola ser a base econmica da economia brasileira.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
AZEVEDO, P. V. el al. Necessidades hdricas da cultura do algodoeiro. Pesquisa Agropecuria
Brasileira, v. 28, n. 7, p. 863-870, 1993.
ARAUJO, et.al. Alteraes nas propriedades fsicas de um podzlico vermelho amarelo da regio
cacaueira da Bahia, sob diferentes coberturas vegetais. Agrotrpica. 10:69-78, 1998.BELOTTI, F. Perda de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

826
Solo por eroso na agricultura: a importncia das tcnicas de manejo e conservao dos solos. Instituto de
Geocincias. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. Dissertao de Mestrado. 2005.
BLAINSKI, E.; TORMENA, C. A.; FIDALSKI, J.; GUIMARES, R. M. L. Quantificao da degradao
fsica do solo por meio da curva de resistncia do solo penetrao. R. Bras. Ci. Solo,32: 975-983, 2008.
BORGES, A. L.; KIEHL, J. C.; SOUZA, L. S. Alterao de propriedades fsicas e atividade microbiana de
um latossolo amarelo lico aps o cultivo com fruteiras perenes e mandioca. R. Bras. Ci. Solo, 23:10191025, 1999.
CERRI, C.C.; FELLER, C. & CHAUVEL, A. Evoluo das principais propriedades de um latossolo
vermelho escuro aps desmatamento e cultivo por doze e cinquenta anos com cana-de-aucar. Cahiers
Orstom, sr. Pdologie, Bondy, 26:37-50, 1991.
CORREIA, J.C. Efeito de mtodos de cultivo em algumas propriedades fsicas de um Latossolo
Amarelo muito argiloso do Estado do Amazonas. Pesq. agrop. bras., Braslia, 20:1317-1322, 1985.
CORSINI, P.C. Problemas causados pela compactao dos solos. STAB: acar, lcool e subprodutos,
Piracicaba, 11:8-12, 1993.
CURTIS, R. O.; POST, B. W. Estimating bulk density from organic matter content in some Vermont
forest soils. Soil Scince Society America Proceedings, Madison v.28, p.285-286, 1964.
DEXTER, A.R. & YOUNGS, I.M. Soil physic toward 2000. Soil Till. Res., 24:101-106, 1992.
DIAS JUNIOR, M. S. & ESTANISLAU, W. T. Grau de compactao e reteno de gua de latossolos
submetidos a diferentes sistemas de manejo. R. Bras. Ci. Solo, 23:45-51, 1999.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA - EMBRAPA. 1997. Manual de mtodos de
anlises de solos. 2. ed. Rio de Janeiro, 212p.
FRANCIS, C. A.; CLEGG, M. D. Crop Rotatins in Sustainable Production Systems. IN: Sustainable
Agricultural Systems. Soil and Water Conservation EDWARDS, Clive A. et al (ed.). Society, Iowa, 1990. p.
107-122.
GOVES, G. et al. The role of tillage in soil edistribution on hillslopes. Europ. J. Soil Sci., Oxford,
45:469- 478, 1994.
HAMBLIN, A.P. The influence of soil structure on water movement, crop root growth and water
uptake. Adv. Agron., 38:95-158, 1985.
HAJABBASI, M.A.; JALALIAN, A. & KARIMZADEH, H.R. 1997. Deforestation effects on soil physical
and chemical properties, Lordegan, Iran. Plant Soil, 190:301-308.
JORGE, J.A.; CAMARGO, O.A. & VALADARES, J.M.A.S. Condies fsicas de um Latossolo vermelhoescuro quatro anos aps aplicao de lodo de esgoto e calcrio. R. Bras. Ci. Solo, 15:237-240, 1991.
LETEY, J. Relationship between soil physical properties and crop production. Adv. Soil Sci., 1:277294, 1985.
MEEK, B.D.; RECHEL, E.R.; CARTER, L.M. & DeTAR, W.R. Bulk density of a Sand Loam: traffic, tillage
and irrigation method effects. Soil Sci. Soc. Am. J., Madison, 56:562-565, 1992.
OLIVEIRA, J.C.M; VAZ, C.M.P; REICHARDT, K. Efeito do cultivo contnuo da Cana-de-acar em
propriedades fsicas de um latossolo vermelho escuro. Scinca Agrcola, Piracicaba, 52(1):50-55, jan./abr.
1995.
REINERT, D. J. Recuperao de solos em sistemas agropastoris: recuperao de reas degradadas.
Viosa: UFV. Departamento de solos, Sociedade Brasileira de Recuperao de reas Degradadas, 1998.
251p.
RICHARDS, L.A. 1974. Physical conditions of water in soil. In: Black, C.A. (ed.) Methods of soil
analysis. Madison: American Society of Agronomy, P.128-152. Agronomy 9, Part 1.
SILVA, I.F. & MIELNICZUK, J. Avaliao do estado de agregao do solo afetado pelo uso agrcola.
Revista Brasileira de Cincia do Solo, 21:313-319, 1995.
SILVA, V. R.; REINERT, D. J.; REICHERT, J. M. Suscetibilidade compactao de um Latossolo
Vermelho-Escuro e de um Podzlico Vermelho Amarelo. R. Bras. Ci. Solo, 4:239-249, 2000.
SILVA, M. S. L. & RIBEIRO, M. R. Influncia do cultivo contnuo da cana-de-acar em propriedades
morfolgicas e fsicas de solos argilosos de tabuleiro no estado de Alagoas. R. Bras. Ci. Solo, 16:397-402,
1992.

Joo Pessoa, outubro de 2011

827
SANCHES, A.C.; SILVA, A.P.; TORMENA, C.A. & RIGOLIN A.T. Impacto do cultivo de citros em
propriedades qumicas, densidade do solo e atividade microbiana de um Podzlico Vermelho-Amarelo. R.
Bras. Ci. Solo, 23:91-99, 1999.
SANCHEZ, P.A. Suelos del trpico - caractersticas y manejo. San Jos, Instituto Interamericano de
Cooperacion para La Agricultura, 1981. 645p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

828

ANLISE DO IMPACTO AMBIENTAL DA CARCINICULTURA NO ESTURIO


DO RIO JAGUARIBE-CE138
Autora: Eveline Andrade Mesquita, graduanda em Geografia bacharelado pela Universidade Estadual do Cear (ivi.lua@hotmail.com).
Co-autora: Valeska Lima Soares, graduanda em Geografia bacharelado pela Universidade Estadual do Cear (valeskalimasoares@yahoo.com.br).

RESUMO
A carcinicultura realizada no ambiente transitrio dos esturios em funo das especificidades
ambientais presentes nessas reas, como teor de salinidade, oferta hdrica e clima regional. A regio
estuarina do Rio Jaguaribe est localizada no litoral leste do Estado do Cear, rea que corresponde parte
do baixo curso, percorrendo os municpios de Fortim, Aracati e Itaiaba. O presente estudo tem como
objetivo realizar uma breve anlise do impacto ambiental das fazendas de camaro localizadas dentro da
bacia estuarina do Jaguaribe. A pesquisa desenvolvida atravs da utilizao do levantamento bibliogrfico
sobre o cultivo de camaro na zona costeira do Cear e sobre a regio do esturio referido, com o objetivo
de apresentar os tais prejuzos causados ao ecossistema.
Palavras - chaves: Impacto ambiental, Carcinicultura, Rio Jaguaribe.
INTRODUO
A questo ambiental, sob diferentes condies , sem dvida, o tema muito discutido e polmico
da atualidade, tendo ultrapassado os limites da comunidade cientfica. A forma predatria como ocorre
relao homem/natureza tem gerado profundos debates sob o ponto de vista da melhoria da qualidade de
vida do planeta.
Assim observa-se que funcionalidade dos ambientes naturais alterada pelas aes humanas e
comandada, de um lado, pela energia solar atravs da atmosfera e, por outro lado, pela energia do interior
da terra atravs da litosfera. Aliada a esses fenmenos naturais, cada vez mais significativa a apropriao
humana do territrio e de seus recursos naturais, causando com isso grandes alteraes na paisagem
natural com um ritmo muito mais intenso que aquele que normalmente a natureza transmite ao ambiente
(ROSS, 2006).
Dentro dessa analise da paisagem natural, Bertrand (1972) diz que paisagem pode ser conceituada,
em determinada amostra do espao, como o resultado da combinao dinmica, portanto instvel, de
elementos fsicos, biolgicos e antrpicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da
paisagem um conjunto nico e indissocivel em perptua evoluo (p.141).
O conceito de paisagem em uma abordagem sistmica, procura relacionar os fatores biticos e
abiticos num processo dinmico interagindo entre si. E para compreendermos a paisagem necessrio
entender o processo interativo dos fatores que modelam o meio. A ao antrpica atua intensificando o
processo de construo e desconstruo da paisagem.
Segundo Casseti (1995) o homem se apropria da natureza e a transforma, com isso pode acarreta
alteraes significativas na explorao biolgica, gerando gradativamente modificaes no potencial
ecolgico. Temos assim a sociedade como elemento produtor e modificador da paisagem trazendo
disparidades ao meio natural, ou seja, ocasionando tensores para a degradao ambiental.
O desenvolvimento urbano seguido do crescimento desordenado das cidades trouxe consequncias
indesejveis como o mau uso do solo e dos recursos hdricos. Os recursos naturais so extrados de forma
exagerada o que sinaliza o eminente processo de esgotabilidade. O desmatamento aumenta com a
expanso urbana e com isso eleva-se a produo de resduos e o consumo de gua e solo, fatores
determinantes para a degradao do meio ambiente.

138

Trabalho desenvolvido no curso de Geografia Bacharelado, na disciplina de Geomorfologia II, da


Universidade Estadual do Cear (Uece), sob orientao da professora Mestre. Patrcia Vasconcelos Frota, doutoranda
em Cincias Florestais Universidade de Braslia, professora do curso de Geografia naUniversidade Estadual do Cear.
(pfrota@unb.br).
.
Joo Pessoa, outubro de 2011

829
Para Guerra e Cunha (2006) o estudo da degradao ambiental no deve ser realizado apenas sob o
ponto de vista fsico. Na realidade, para que o problema possa ser entendido de forma global, integrada,
holstica, devem-se levar em conta as relaes existentes entre a degradao ambiental e a sociedade
causadora.
Com as discusses acima citadas observa-se que aproximadamente dois teros da populao
mundial vive atualmente a menos de 50 Km de distncia do mar. Essa populao litornea disputa um
mesmo espao geogrfico para as mais diversas atividades e finalidades, entre elas a habitao, a indstria,
o comrcio, o transporte, a agricultura, a pesca, o lazer e o turismo. A ocupao desse espao concorrido
est entre as principais causas de riscos ambientais na zona costeira (VASCONCELOS, 2005). A zona
litornea corresponde a uma rea cujas potencialidades vm convergindo num processo de ocupao, em
ritmo cada vez mais acelerado, associados ao desenvolvimento, industrializao, urbanizao e a
explorao turstica.
A zona costeira do Cear tem condies extremamente atrativas e privilegiadas para os mais
variados assentamentos humanos. No entanto, a fragilidade ambiental e a vulnerabilidade ao antropismo
justificam os cuidados legais para a sua preservao ou conservao (FUNCEME, 1989).
Estas relaes de uso e ocupao da zona costeira conduziram a um estado crtico de manuteno
da qualidade scio-ambiental. A relao sociedade-natureza, pautada na explorao dos recursos naturais
e na excluso social, ultrapassou os limites da sustentabilidade. Foram amplamente descaracterizadas as
conexes entre os fluxos de matria e energia que fundamentam a interdependncia entre as reaes
evolutivas que controlam a diversidade dos geossistemas e processos ecodinmicos associados (MEIRELES,
2005).
Desse modo, as plancies flvio-marinhas, ambientes onde ocorre com maior expresso a atividade
de carcinicultura, so observadas como o encontro entre a gua doce dos rios e a gua salgada do oceano,
formando as reas de esturios, apicuns e salgados. Nestas reas verificada a ocorrncia da vegetao de
mangue caracterizada como uma vegetao florestal de rea limosa ou palustre, pereniflia, sempre
localizada na interface dos meios martimo, fluvial e terrestre, na faixa de fluxo e refluxo das mars, junto
aos esturios ou aos baixos cursos fluviais litorneos (FERNANDES apud RODRIGUES & KELTING, 2011).
Pode-se considerar este ambiente sobre a perspectiva da paisagem, onde ocorre dinmica entrada e
sada de energia, fato que caracteriza um ambiente com um delicado equilbrio.
Os empreendimentos de carcinicultura esto na sua maioria localizada na faixa litornea,
principalmente nos mananciais com influncia das guas salinas, por apresentarem um ambiente favorvel
que apresenta caractersticas como solo, clima, e gua, dentro dos padres para o pleno desenvolvimento
da atividade, embora o cultivo da espcie em gua doce venha se desenvolvendo nas plancies fluviais de
alguns rios como o rio Jaguaribe. (SOARES et al, 2007)
A regio de estudo consiste no trecho do rio Jaguaribe que percorre os municpios de Fortim,
Aracati e Itaiaba. O presente estudo tem como objetivo analisar o impacto ambiental das fazendas de
camaro (carcinicultura) que esto localizadas dentro da bacia estuarina do Jaguaribe. Para o
desenvolvimento da pesquisa foi inicialmente levantados materiais bibliogrficos pertinentes ao objeto,
como trabalhos anteriormente publicados sobre a bacia do Jaguaribe, principalmente da regio do esturio
referido, sobre a zona costeira do Cear e de outros locais onde o cultivo de camaro tambm realizado,
a fim de analisar tais prejuzos causados ao ecossistema.
Assim o apanhado para a metodologia implantada no presente artigo a reviso de literatura do
tema, que esta centrada nos seguintes autores: Paula (2006); Casseti (1995); Guerra & Cunha (2006);
Rodrigues & Kelting (2001) e Vasconcelos (2005 e 2006); Soares (2007); Bertrand (1972) e Meireles (2007).
REA DE ESTUDO
A rea de estudo selecionada foi o esturio do rio Jaguaribe, que possui uma rea aproximada de
641.216 km e est localizado na Bacia Hidrogrfica do Rio Jaguaribe. O rio Jaguaribe percorre
aproximadamente 610 km desde suas nascentes, na serra da Joaninha (Tau), at a desembocadura no
litoral do Aracati, perfazendo um percurso com direo geral SW-NE do estado. O rio possui como
principais afluentes os rios Banabui e Salgado, cujas bacias so consideradas como parte de suas subbacias: Alto, Mdio e Baixo Jaguaribe (PAULA, 2006). O esturio se situa na latitude 427 e longitude 3740

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

830
pertence mesorregio Jaguaribe e a microrregio Aracati distante aproximadamente em linha reta 125
km de Fortaleza (IBGE, 2010).
O esturio do rio Jaguaribe possui grande expressividade no s pela rea que ocupa, mas pelo
grau de influncia que revela, cerca de 40 km desde a foz at o municpio de Itaiaba (figura 01). Isso se
deve em razo do fraco escoamento fluvial influenciado principalmente pelo sistema de regularizao
proporcionado pelos grandes audes dispersos na bacia, fazendo com que as influncias da mar se faam
sentir at o municpio de Itaiaba, onde ocorre o ltimo barramento do rio construdo em 1993 (PAULA,
2006).
Figura 01: Mapa de Localizao

Fonte: (IPECE, 2010).

Sob o ponto de vista Geoambiental, o esturio do Jaguaribe considerado uma subcompartimentao da zona costeira e esta inserida na plancie litornea com feies morfolgicas: faixa
praial e terraos; campos de dunas mveis; dunas fixas; paleodunas; espelho dgua lacustre e plancie
ribeirinha e plancie flvio marinha com manguezais. Compreende quatro unidades cronolitoestratificadas:
embasamento cristalino Pr-cambriano; rochas sedimentares cretceas pertencentes formao Au
(grupo Apodi); sedimentos incossolidados da formao barreira e sedimentos holocnicos marinho, fluviais
elicos e flviomarinhos que apresentam variedade granulomtrica e de composio. Os efeitos da mar
acarretam sedimentos fluviomarinhos argilosos que combinados matria orgnica em decomposio
formam os solos argilognicos da plancie flvio marinha sujeitos a inundaes peridicas e cobertos por
manguezais (SOARES et al, 2007).
REVISO DE LITERATURA
O dinmico crescimento da carcinicultura (criao de camares), cuja produo vem ganhando
fora no mundo pelo menos desde a dcada de 1970 constitui um importante agronegcio na economia
mundial. Na dcada de 1980, houve uma grande produo de camaro cultivada, e hoje a atividade est
modernizada e encontrada em mais de 50 pases. O camaro cultivado se concentra basicamente no
continente asitico, que contribuiu com 85,53% em 2008, o que representa cerca de 2.907.253 toneladas,
sendo que sua produo mundial corresponde a 3.399.105 toneladas. Em 2007, a produo do cultivo em
Joo Pessoa, outubro de 2011

831
fazendas passou a liderar o consumo mundial de camaro diante do montante oriundo da pesca.
(ASSOCIAO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARO, 2010).
O Brasil, com um litoral de aproximadamente 8.500 km de extenso, e sua localizao tropical
considerado um habitat ideal para a produo de camares. O Pas pode ser considerado como uma frente
recente de expanso da carcinicultura comercial. Ainda que a atividade tenha dado seus primeiros passos
no Brasil no incio da dcada de 1970, somente aps o desenvolvimento do pacote tecnolgico do camaro
do pacfico (Litopenaeus vannamei) entre 1996 e 1997, que um crescimento mais intenso ocorreu
principalmente no final dos anos 1990 e incio dos anos 2000 (IBAMA, 2005).
Os ambientes costeiros constituem-se reconhecidamente em reas de expressiva fragilidade
ambiental, onde os componentes que integram e regem o funcionamento e estabilidade dos sistemas que
formam a paisagem respondem a uma dinmica complexa, fruto da interao dos agentes continentais e
litornea. A criao de camaro, ento, nesse contexto, tem impactado, sobretudo, os ecossistemas
costeiros e bacias hidrogrficas.
No Cear, observa-se as condies dos baixos cursos dos rios, ou seja, reas estuarinas so
excepcionalmente favorveis s atividades de carcinicultura e desenvolvimento de empreendimentos
tursticos. No estado, h mais de 20 anos, ocorre o cultivo do camaro. De acordo com a Fundao
Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos (Funceme), em 1989 existiam nos esturios cearenses cerca
de 560 hectares de fazendas de camaro. J segundo dados da Superintendncia Estadual do meio
Ambiente (SEMACE), o ano de 2010 indica cerca de 180 fazendas de camaro em cativeiro e funcionando.
O litoral leste o maior produtor e detentor de fazendas instaladas no Estado. De acordo com os
dados disponibilizados pela Superintendncia Estadual do meio Ambiente (SEMACE, 2010), na regio
drenada pelo Rio Jaguaribe existem cerca de 140 empreendimentos instalados, licenciados e no
licenciados, sendo 122 somente na rea restrita a bacia do esturio, que envolve os municpios de Fortim,
Aracati e Itaiaba.
A carcinicultura , portanto, realizada no ambiente transitrio dos esturios em funo das
especificidades ambientais presentes nessas reas, como teor de salinidade, oferta hdrica e clima regional
(RODRIGUES & KELTING, 2010).
Os impactos cumulativos relacionados com a devastao do local principalmente das reas de
manguezal faz com que haja uma perca na qualidade da gua e diminuio da biodiversidade ao longo das
bacias hidrogrficas e zona costeira, principalmente no Nordeste brasileiro onde atingem nveis de elevada
degradao ambiental (MEIRELES, 2010).
Um dos limites implantao da carcinicultura em bases sustentveis deve-se ausncia de
informaes atualizadas, dos governos, sobre as reas de manguezais, sobre qualidade da gua, elementos
fundamentais para uma efetiva poltica de gesto ambiental. Este conhecimento traria possibilidades de
garantir o controle ambiental necessrio ao desenvolvimento da atividade.
CARCINICULTURA NO JAGUARIBE
Impactos ambientais podem ser avaliados como alteraes produzidas no meio ambiente,
provenientes das atividades socioeconmicas. A Resoluo 001/1986, do Conselho Nacional de Meio
Ambiente, define impacto ambiental como qualquer alterao das propriedades do meio ambiente causada
pela ao das atividades humanas.
Christofoletti (2001) conceitua impacto ambiental como uma mudana sensvel nas condies de
estabilidade de um ecossistema, a qual pode ser positiva ou negativa. Essas interferncias podem ser
acidentais ou planejadas, ocasionando efeitos variados, de forma direta e indireta.
As consequncias desses impactos ambientais podem ser em escala local, regional e global.
Podemos citar as seguintes: emisso de substncias poluentes nos corpos hdricos, aquecimento global,
alteraes climticas, assoreamento dos rios, destruio da fauna e da flora, perda da biodiversidade
dentre outros.
Os principais impactos na regio do Baixo Jaguaribe esto relacionados instalao de fazendas de
camaro em reas de preservao permanente com alteraes na paisagem dos sertes, ao elevado
consumo de gua doce, concorrendo com outros usos, ao lanamento de efluentes diretamente nos corpos
dgua, contribuindo para a eutrofizao e contaminao da gua, e manipulao de produtos qumicos
sem a utilizao de equipamentos de proteo individual (tabela01) (SEMACE, 2010).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

832

Tabela 1: Quadro de analise dos impactos da carcinicultura nos esturio do Jaguaribe


Impactos
Causas
Consequncias
Desmatamento
manguezal.

do

Desmatamento
mata ciliar.

da

Extino de setores
de apicum.

Contaminao da
gua por efluentes
dos viveiros.
Biodiversidade
ameaada

-Fundao e ampliao dos viveiros.

-Danos ambientais em reas de


preservao permanente (ecossistema
manguezal).

-Instalao das vias de acesso dos


viveiros e demais equipamentos de infra
estrutura
- Ampliao dos viveiros e canais de
efluentes.

-Desaparecimento e diminuio de
ecossistema constituindo ameaa a
biodiversidade.
-Eroso do solo

-Implantao dos equipamentos de infra


estrutura
-Piscinas para a produo de camaro.

-Mortalidade de peixes e caranguejos.


-Risco de contaminao do lenol
fretico
-Alteraes na qualidade da gua para o
consumo humano
-Elevada densidade de fazendas de
camaro concentradas nos baixos cursos
fluviais.

-Impermeabilizao do solo
-Salinizao do lenol fretico
-Supresso de setores do ecossistema
manguezal utilizados para pesca e
mariscagem.
-Eliminao dos canais de mar que
atuavam como indutores da revegetao
do apicum.
-Contaminao da gua por metabissulfito.
-Infiltrao dos efluentes alcanando o
aqufero
-Extino de reas de alimentao
-Refgio para a fauna marinha.

Adaptado de Paula (2006).


A carcinicultura tem provocado alteraes profundas nas funes e servios socioambientais
prestados pelo ecossistema manguezal. Os recursos marinho-costeiros de relevante importncia para a
sociedade e, em primeiro lugar, para a vida comunitria, foram afetados por esta atividade industrial.
(MEIRELES, 2010).
Segundo estudos realizados pela Superintendncia Estadual do Meio Ambiente (SEMACE, 2010) os
empreendimentos de carcinicultura geram impactos ambientais negativos e positivos. Os impactos
negativos so temporrios, principalmente durante as obras de implantao, so eles: destruio vegetal;
alterao do fluxo da gua, em face de possvel reduo de oferta de gua para outros fins (irrigao de
culturas, abastecimento geral da populao); lanamento de efluentes provenientes dos viveiros; alterao
na dinmica atual, bem como na paisagem; riscos de processos erosivos e de assoreamento; alterao na
qualidade da gua. Os impactos positivos so: gerao e manuteno de empregos e renda de
trabalhadores; elevao da umidade relativa do ar; arrecadao de impostos e taxas; diminuio da presso
sobre as espcies de camares nativos, que so pescados na forma extrativa irracional.
Levando em conta as influencias dos elementos citados e na tabela, pode-se considerar que a ao
antrpica o fator crucial para a degradao ambiental no esturio do rio Jaguaribe, tendo como
consequncia quase imediata a degradao do manguezal, pois esse o que mais sofre os efeitos do
desenvolvimento da carcinicultura.
Dessa maneira, e considerando toda a populao no entorno dos manguezais que se beneficia com
a pesca ou a coleta de mariscos, pode-se afirmar que h gerao de trabalho, mas que concomitante a isso
ocorre um colapso das pescarias locais que se d pela degradao ambiental dos ecossistemas costeiros.
CONSIDERAES FINAS
Foram identificados na rea estuarina do baixo Jaguaribe fazendas de camaro como uma prtica
econmica de monocultura, tal modelo representa um cultivo industrial e em larga escala. No caso da
Joo Pessoa, outubro de 2011

833
carcinicultura as fazendas localizam-se em reas de preservao permanente com isso os problemas
levantados neste trabalho esto essencialmente relacionados falta de planejamento sustentvel dos
municpios e suas respectivas atividades econmicas.
A carcinicultura uma atividade que vem degradando o esturio do Jaguaribe e principalmente as
reas de mangue e apicuns com isso contribuindo para a modificao da paisagem local. A expanso da
atividade representa um negcio altamente lucrativo e com significativo impacto ambiental, contudo,
quando aliada a prticas de manejo apropriadas, possui capacidade de suporte que integra o
desenvolvimento econmico e a sustentabilidade ambiental das reas estuarinas.
BIBLIOGRAFIA
ABCC. ASSOCIAO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARO. Anlise da Produo e do Mercado
Interno e Externo do camaro Cultivado. 2010. Disponvel em : < http://www.abccam.com.br>. Acesso em
maio de 2011.
ABCC. ASSOCIAO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAMARO. Histria da Carcinicultura no Brasil.
Disponvel em: <http://www.abccam.com.br/historico2.html>. Acesso setembro de 2009.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Fsica global - Esboo Metodolgico 13 Caderno de Cincias
da Terra. So Paulo, Instituto de Geografia, USP, 1972.
BRASIL. Resoluo do CONAMA N 001, de 23 de janeiro de 1986. Dispe estabelecer s definies
a elaborao de estudo prvia de impacto ambiental e relatrio de impacto ambiental. Braslia, DF: Dirio
Oficial da Unio, 17 de fevereiro,1986.
CASSETI, V. Ambiente e Apropriao do Relevo. So Paulo: Contexto, 2 Ed. 1995.
CHRISTOFOLETTI, Antonio. Aplicabilidade do Conhecimento Geomorfolgico nos projetos de
Planejamento. In GUERRA, A. J. T. e CUNHA, S. B da org. Geomorfologia uma Atualizao de Bases e
Conceitos. 4 edio. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 200.
CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. Degradao Ambiental. In: CUNHA, S. B. da.; GUERRA, A. J. T. (Org.).
Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil 6 Ed, 2006, p. 291- 336.
FUNCEME. Mapeamento, Levantamento e Caracterizao das reas Potenciais para a Implantao
de Projetos de Carcinicultura no Norte e Nordeste do Brasil. Fortaleza-Ce. 1989.
IBAMA- INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVVEIS.
Diagnstico da atividade de carcinicultura no Estado do Cear. Fortaleza-Ce, 2005. p 240.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE, 2007. Cidades. Disponvel no
endereo <http://www.ibge.gov.br> Acesso em maio de 2011.
MEIRELES, A. J. A. Riscos scio-ambientais ao longo da zona costeira. In: simpsio SBPC- Sociedade
Brasileira para o progresso da cincia. Riscos naturais e antropicos na zona costeira. Registros dos debates
da 57 reunio anual. Fortaleza-Ce, 2005.
MEIRELES, A. J. A. ; QUEIROZ, L.S. A monocultura do camaro: danos socioambientais base da vida
comunitria tradicional no litoral do Nordeste brasileiro. In: Andra ZlnourI; Klemens Laschefski. (Org.).
Desenvolvimento e Conflitos Ambientais. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
2010, v., p. 224-249.
PAULA, D P.. Elaborao de Paisagens Contguas ao Esturio do Rio Jaguaribe-Ce. 2006, 200p.
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado acadmico em Geografia do Centro de Cincias e
Tecnologia, da Universidade Estadual do Cear. Fortaleza-Ce.
PAULA, D. P. de; Morais, J. O.; Pinheiro, L. S. Analise geoambiental do esturio do rio Jaguaribe-ce
tensores naturais e antrpicos. VI Simpsio Nacional de Geomorfologia/ Regional Conference on
Geomorphology. Goiania, Brasil, 6 10 setembro 2006, p 51 A 65.
RODRIGUES, F. G. de S.; KELTING F. M. S. Paisagem e Carcinicultura Marinha no Esturio do Rio
Jaguaribe Aracati Cear. Geonordeste2010, n1, Sergipe. 2 de Setembro de 2010.
ROSS, J. L. S. Geomorfologia aplicada a os Eias-Rimas In: CUNHA, S. B. da.; GUERRA, A. J. T. (Org.).
Geomorfologia e Meio Amnbiente. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil 6 Ed, 2006, p. 291- 336.
SEMACE. Demonstrativo das aes de ordenamento, controle e monitoramento ambiental da
atividade de carcinicultura no Estado do Cear. Fortaleza-Ce: SEMACE/SOMA, 2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

834
SOARES, A. M. L.; CARVALHO, S. B de S; BARRETO, R. N da C. et al. Analise temporal do crescimento
da carcinicultura marinha no esturio do rio Jaguaribe Cear; Anais XIII Simpsio Brasileiro de
Sensoriamento Remoto. Florianpolis, Brasil, 21- 26 abril 2007, INPE, p 4267 4274.
VASCONCELOS, F. P. Geografia: Popularizao X litoralizao. In: CADERNOS SBPC - Sociedade
Brasileira para o Progresso da Cincia. Olhando o Mar e o Meio Ambiente. Registro dos debates da 57
reunio anual. Fortaleza - CE, 2005.

Joo Pessoa, outubro de 2011

835

CARACTERIZAO AMBIENTAL DA REA DE IMPLANTAO DE UM


CAMPUS UNIVERSITRIO
Felipe Cordeiro de LIMA1
Jos Cleidimrio Arajo LEITE2
Thmara Martins Ismael de SOUSA3
1 e 3 - alunos do curso de graduao em Engenharia Ambiental, da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental
da UFCG, Campus de Pombal. E-mail: cordeiro.flp@gmail.com; thamaraismael@hotmail.com
2 - Orientador - Professor da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental da UFCG, Campus de Pombal. E -mail:
cleidimario@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
Esta pesquisa apresenta uma caracterizao ambiental da rea de implantao do Campus
Universitrio da UFCG no municpio de Pombal - PB. A caracterizao da rea de estudo foi realizada por
meio de visitas, onde foram coletadas e catalogadas diversas informaes dos fatores ambientais: solo,
gua, vegetao, bem como do meio antrpico e suas condies ambientais. Para anlise dos dados, foram
utilizados tambm ferramentas de georreferenciamento, fotografias digitais e imagens de satlite para
contribuir na caracterizao. De acordo com os resultados, verificou-se que todos os fatores ambientais da
rea tm sido comprometidos pelas atividades de implantao e operao do empreendimento, j que este
ainda se encontra em fase de construo. Entre os fatores ambientais analisados, o solo, a gua e a
vegetao foram os fatores mais comprometidos, respectivamente. Observou-se ainda que a falta de
conscientizao ambiental da comunidade universitria contribui para a ocorrncia dos impactos
ambientais na rea de estudo, principalmente, impactos relacionadas ao manejo no sustentvel dos
resduos slidos na rea do referido Campus Universitrio.
Palavras-chave: alteraes ambientais, impacto ambiental, meio ambiente.
ENVIRONMENTAL CHARACTERIZATION IN THE DEPLOYMENT AREA OF A UNIVERSITY CAMPUS
ABSTRACT
This research presents an environmental characterization of the deployment area of a University
Campus of UFCG in the municipality of Pombal - PB. The characterization of the study area was conducted
through field visits, which were collected and cataloged some information from several environmental
factors such as soil, water, vegetation, and the anthropic environment and its environmental conditions.
For data analysis, were also used geo-referencing tools, digital photography and satellite images to
contribute to the characterization. According to the results, it was found that all the environmental factors
of the area have been compromised by the activities of implementation and operation of the University
Campus, since this is still under construction. Among the environmental factors examined, the soil, water
and vegetation were the main factors damaged, respectively. It was also observed that the lack of
environmental awareness of the university community contributes to the occurrence of environmental
impacts in the study area, mainly that impacts related to unsustainable management of solid waste in the
University Campus.
Keywords: environmental change, environmental impact, environment.
INTRODUO
Nas ltimas dcadas a preocupao com relao disponibilidade e utilizao sustentada dos
recursos naturais tem crescido de forma significativa no Brasil e no mundo. Alm disso, outra preocupao
constante diz respeito aos impactos ambientais gerados pelas diversas atividades humanas. Fogliatti et al.
(2004) e Braga et al. (2005) asseveram que a sociedade, em nvel mundial, passou a se preocupar mais com
a preservao ambiental, uma vez que, o homem finalmente entendeu que os recursos naturais so finitos
e que a capacidade de suporte do meio ambiente, bem como a sua capacidade de absorver os resduos
resultantes das atividades humanas, tambm limitada.
O desenvolvimento de nossa sociedade urbana e industrial ocorreu de forma desordenada com a
utilizao indiscriminada dos recursos naturais e custa de nveis crescentes de poluio e degradao
ambiental acarretando o que se conhece como crise ambiental (Braga et al., 2005).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

836
Leite (2000) afirma que atualmente estamos vivendo uma intensa crise ambiental, proveniente de
uma sociedade de risco, deflagrada, principalmente, a partir da constatao de que as condies
tecnolgicas, industriais e formas de organizao e gestes econmicas da sociedade esto em conflito
com a qualidade de vida. Parece que esta falta de controle da qualidade de vida tem muito a ver com a
racionalidade do desenvolvimento econmico do Estado, que marginalizou a proteo do meio ambiente.
A partir desta problemtica surgiu a necessidade de se desenvolver estudos de avaliao de
impactos ambientais oriundos da implantao de empreendimentos. Os primeiros pases a adotar uma
poltica voltada avaliao de impactos ambientais foram os Estados Unidos da Amrica e a Frana, no final
da dcada de 1960 (Fogliatti et al 2004).
No Brasil, somente na dcada de 1980 foi expandida a preocupao com os problemas ambientais,
a partir da criao da Poltica Nacional do Meio Ambiente, que foi instituda a partir da Lei No 6.938, de 31
de agosto de 1981, criando o SISAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), que tem por objetivo o
estabelecimento de padres que tornem possvel o desenvolvimento sustentvel, atravs de mecanismos e
instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteo. No entanto apenas em 1986,
com a Resoluo CONAMA No 001/86, que foram definidos os procedimentos para a elaborao do
estudo de impacto ambiental no Brasil (Mota, 1997).
De acordo com a Resoluo CONAMA No 001/86 considera- se impacto ambiental qualquer
alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a sade, a
segurana e o bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a biota; as condies estticas e
sanitrias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais.
Portanto, impacto ambiental pode ser visto como qualquer alterao nos fatores ambientais do
meio fsico, bitico e antrpico, ocasionada por uma atividade humana que afetem principalmente a
qualidade ambiental e a qualidade de vida humana.
A caracterizao ambiental e uma ferramenta de um estudo de impacto ambiental com objetivo de
relacionar as aes de projeto e os fatores ambientais, identificando e analisando os efeitos das aes de
projeto potencialmente impactantes sobre os fatores ambientais (Torres et al., 2005).
Desde o ano de 2007, no municpio de Pombal, Paraba, por meio do programa de ampliao das
Instituies Federais de Ensino Superior (IFEs), empreendido pelo Ministrio da Educao, est sendo
implantado um Campus Universitrio Federal, que se encontra em fase de construo e de operao. Em
sua implantao, ao que consta na prpria instituio at o momento, no foi elaborado nenhum estudo de
avaliao de impactos ambientais, sendo assim, no se conhece os impactos negativos ou positivos,
advindos da implantao de um empreendimento deste porte, no apenas na rea do prprio campus
como tambm no municpio onde est em fase de implantao.
Neste contexto, esta pesquisa tem por objetivo analisar e caracterizar as condies atuais dos
componentes ambientais (solo, gua e vegetao) da rea de implantao de um Campus Universitrio
localizado no municpio de Pombal, Paraba.
MATERIAL E MTODOS
O presente trabalho foi no curso de graduao em Engenharia Ambiental, da Unidade Acadmica
de Cincias e Tecnologia Ambiental (UACTA), do Centro de Cincias e Tecnologia Agroalimentar (CCTA), da
Universidade Federal de Campina Grande.
Localizao e caracterizao da rea de estudo
O Campus Universitrio Federal abordado neste estudo est localizado no municpio de Pombal PB (Figura 1), que est situado na regio oeste do Estado da Paraba, Meso-Regio do Serto Paraibano e
Micro-Regio Sousa. O referido municpio est localizado a 377 km de Joo Pessoa-PB, 373 km de Natal-RN
e 450 km de Fortaleza-CE, a uma altitude de 184 m em relao ao nvel do mar, entre as coordenadas
0604612S e 3704807W, possuindo uma rea de 892,70 Km.

Joo Pessoa, outubro de 2011

837

Figura 1. Localizao do Campus Universitrio da UFCG em Pombal.


Fonte: Google earth
A populao do municpio de 32.117 habitantes, onde 47,9% so homens e 52,1% mulheres. Do
total 25.760 habitantes residem na zona urbana e 6.357 habitantes na rural, resultado inferior a 2007, onde
22,8% da populao residiam na zona rural (IBGE, 2010).
O clima local, de acordo com a classificao climtica de Koppen do tipo Aw (clima tropical com
estaes secas de inverno) denominado clima de savanas, com inverno seco e chuvas mximas no vero.
De acordo com Agncia Executiva e Gesto das guas do Estado da Paraba a precipitao mdia anual
varia entre 600 e 800 mm, com perodo chuvoso entre novembro e abril. Apresenta temperatura mnima
de 21,3C e mxima de 33,2C, com temperatura mdia de 27C.
O municpio coberto por Caatinga Hiperxerfila e por trechos de Floresta Caduciflia (CPRM,
2005). Esta unidade geoambiental est inserida no domnio da Bacia Hidrogrfica do Rio Piranhas, regio do
Mdio Piranhas.
Os solos apresentam predominncia da Classe Luvissolos Crmicos em localidades que apresentam
relevo ondulado. So caracterizados principalmente pela pouca profundidade, por boa fertilidade e alta
erodibilidade, sendo tambm representados pelos Argissolos Vermelhos Eutrficos, pelos Planossolos
Ntricos e pelos Neossolos Litlicos. Outra caracterstica dos solos o afloramento de rochas (EMBRAPA,
2006).
Metodologia adotada
A caracterizao ambiental da rea do Campus Universitrio da UFCG em Pombal foi realizada a
partir de visitas de campo na rea de estudo, bem como por meio de fotografias digitais, imagens de
satlites, pesquisas em fontes bibliogrficas e Instituies Locais e Regionais.
Para a identificao e catalogao dos fatores ambientais da rea de estudo, realizada de acordo
com metodologia apresentada na literatura (Rocha, 1997; Snchez, 2008), fez-se uma primeira visita de
campo para coleta de dados, onde houve o reconhecimento de toda a rea por meio de fotografias e
anotaes descrevendo as caractersticas de interesse de estudo, relacionadas ao solo, gua e
vegetao.
Ainda se fez o georreferenciamento da rea utilizando um GPS profissional, em que se anotaram as
coordenadas de pontos localizados no permetro da rea para serem utilizados no seu mapeamento com o
auxlio de imagens de satlite. Com base nessas imagens tambm se verificaram as condies ambientais
da rea antes da construo do Campus Universitrio.
RESULTADOS E DISCUSSO
Na Figura 2 apresenta-se uma imagem area com destaque para a rea de implantao do Campus
da UFCG em Pombal antes da construo desse empreendimento.
Atualmente, parte da rea do empreendimento ainda composta por vegetao tpica da Caatinga,
onde maior parte foi removida para a construo de blocos de salas de aula, biblioteca, laboratrios, ruas

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

838
pavimentadas, rea de estacionamento, galerias de acesso aos diversos setores e casas de vegetao. Na
Figura 3 encontra-se apresentada uma imagem area da rea com destaque para estas construes.

Figura 2. rea do Campus Universitrio antes da construo


Fonte: Google earth

Figura 3. rea do Campus Universitrio aps a construo


Fonte: Google earth
A descrio e caracterizao mais detalhada dos fatores e condies ambientais existentes na rea
do empreendimento estar apresentadas a seguir para o solo, gua, vegetao e meio antrpico,
respectivamente.
- Solos
Os solos so rasos, com alta declividade, pedregosos, rochosos, de colorao avermelhada e com
afloramento de rochas. Outra caracterstica a exposio do solo, onde antes mesmo da implantao da
rea construda, com base em imagens de satlite da rea (Figura 2) e observaes das localidades
prximas ao referido Campus Universitrio, os solos apresentavam-se parcialmente expostos e com
afloramento de rochas.
Com a remoo da cobertura vegetal para a execuo das construes provocou intensas
alteraes no solo, principalmente pela sua exposio (Figura 4a), assim como pela retirada do solo da
prpria rea para construo e abertura de caminhos, por meio de tratores acarretando a compactao,
impermeabilizao e alterao da estrutura do solo.
Percebem-se ainda na rea que o solo altamente susceptvel eroso, apresentando eroso
superficial, por sulcos (Figura 2b), principalmente no perodo chuvoso, devido intensidade das chuvas da
regio, e tambm fissuras, provavelmente associadas alta temperatura local e exposio do solo. As
condies naturais da rea contribuem para agravar ainda mais os processos erosivos, que afetam
Joo Pessoa, outubro de 2011

839
diretamente os regimes de escoamento e causam interferncias diretamente na fauna, flora, qualidade da
gua, etc.

(a)
(b)
Figura 4. Caracterizao do solo na rea do Campus Universitrio.
A topografia da rea de estudo pouco ondulada, com alturas variando em torno de 181 a 190 m
em relao ao nvel do mar, com maior incidncia de canais naturais de drenagem nas partes inferiores
desta declividade.
O conhecimento do tipo e caractersticas do solo fundamental para evitar seu uso inadequado e
possvel degradao deste, o que contribui para o processo de degradao ambiental da rea estudada,
devido grande importncia ambiental deste fator que est diretamente relacionado com os demais
fatores ambientais.
- Vegetao
A cobertura vegetal apresenta caracterstica de vegetao rala (Figura 5a) e vegetao semi-densa
(Figura 5b), com dominncia de espcies pioneiras como jurema-preta (Mimosa tenuiflora), comuns em
reas antropizadas, assim como pereiro, catingueira marmeleiro e pinho-bravo (Maracaj et al., 2003;
Andrade et al., 2005, citados por Costa, 2009).
De acordo com o reconhecimento de campo realizado na rea, as espcies vegetais na rea no
construda, e que predominavam em parte da rea construda so: jurema-preta (Mimosa hostilis), Juremabranca (Piptadenea stipulacea), marmeleiro (Croton blanchatianus Baill), alm de outras em menor
proporo: angico (Anadenanthera macrocarpa), catingueira (Caesalpinia pyramidalis), aroeira (Astronium
urendeuva), brana (Schinopsis brasiliensis), pereiro (Aspidosperma pyrifolium), mofumbo (Combretum
lepros um), craibeira (Tabebuia caraiba), quixabeira (Bumelia sartorum), juazeiro (Ziziphus joazeiro),
faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus), pau-ferro (Ceasalpinia ferrea), manioba (Manihot sp.), pinho
(Jatropha heterophylla) facheiro (Pilosocereus piauhyensis), malva (Sida sp.), xique-xique (P. gounelleii),
mandacaru (Cereus jamacaru), moror (Bauhinia cheilantha (Bong.). Steud).

(a)
Figura 5. Cobertura vegetal da rea do Campus.

(b)

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

840
A cobertura vegetal serve de habitat para diversas espcies de aves, como: Coruja (Tyto alba),
anum-preto (Crotophaga ani), canc (Cyanocorax cyanopogon), bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), papalagarta (Coccyzus melacoryphus), golado (Sporophila albogularis), rolinha, tu-tu (Vanellus chilensis), etc.,
bem como para alguns rpteis, a exemplo de lagartixa (Tropidurus torquatus), calango (Cnemidophorus
ocellifer), tejo (Tupinambis merianae), etc., e ainda insetos de variadas espcies, representados
principalmente por formigas e cupins.
- gua
A rea de vegetao natural cortada por um riacho intermitente de porte mdio, com vegetao
ciliar (Figura 6a) abrangendo maior parte do comprimento do riacho, composta basicamente de espcies
tpicas da regio, como o capim-panasco (Aristida sp.), oiticica (Licania rigida), bom-nome (Maytenus
rigida), catingueira (Caesalpinia pyramidalis). No perodo de cheia o riacho apresenta algumas espcies
aquticas, a exemplo de peixes e plantas. Este riacho, assim como os demais canais de drenagem dessa
rea, desgua no rio Pianc, situado a cerca de 1 km de distncia.
Foi observado ainda que no perodo de estiagem a gua fica depositada em alguns pontos do riacho
(Figura 6b), enquanto que no perodo de cheia ocorre um aumento considerado no volume de gua do
riacho (Figura 6c). Alm disso, verificou-se a ocorrncia de assoreamento em parte dos canais de drenagem
natural, mesmo na rea de vegetao natural.

(a)
(b)
(c)
Figura 6. Caracterizao dos corpos hdricos existentes na rea de estudo
- Meio antrpico
Durante as visitas de campo na rea de estudo, observou-se que a realizao das atividades de
implantao e operao do empreendimento causam varias alteraes nos fatores naturais, que so
facilmente percebidas pela comunidade acadmica. Entre estas atividades citam-se a utilizao de
mquinas e equipamentos na construo, que provocam a compactao, impermeabilizao e alterao da
estrutura do solo; e atividades agrcolas para fins experimentais, desenvolvidas no curso de curso de
graduao em Agronomia, porm com menores impactos, j que estas atividades so realizadas com
acompanhamento de professores e alunos que realizam um manejo sustentado na produo.
Foi possvel perceber ainda que os resduos slidos advindos das construes, tais como tijolos,
concreto, plsticos, papel, etc. (Figura 7a), e resduos vegetais, em sua maioria, so lanados diretamente
na rea, prximo aos blocos construdos e instalaes de uso comum pela comunidade acadmica,
causando impactos visuais e afetando a esttica da referida rea. A gerao desses resduos est
relacionada s perdas e desperdcios na fase de construo do empreendimento, assim como na demolio
de canteiros de obra.
No perodo chuvoso, os resduos slidos e lquidos espalhados pela rea provavelmente so
carreados para os canais de drenagem natural, alterando a qualidade das guas superficiais e subterrneas.
J os resduos slidos produzidos pela comunidade acadmica (Figura 7b) so coletados pela Prefeitura
Municipal de Pombal e levados diretamente para lixo a cu aberto. Apesar disso, observou-se a presena
de lixo de diversos tipos espalhado pela rea do Campus, o que indica necessidade de uma coleta mais
suficiente. Apesar de existir lixeiras de coleta seletiva, na comunidade acadmica h dificuldade de
operacionalizao e conscientizao com relao coleta seletiva.

Joo Pessoa, outubro de 2011

841

(a)
(b)
Figura 7. Resduos slidos espalhados pela rea em estudo.
CONCLUSO
A partir da anlise dos resultados, observou-se que a rea de implantao do Campus Universitrio
estudado abrange um conjunto de alteraes que comprometem todos os fatores ambientais,
principalmente o solo, a gua e a vegetao. O uso dos fatores naturais de forma inconveniente, a formas
de ocupao do solo e no conscientizao ambiental da comunidade universitria provavelmente so as
causas principais dessas alteraes.
Contudo, o conhecimento sobre os fatores ambientais de importncia relevante para
compreender as caractersticas naturais da rea e assim evitar ou mitigar os efeitos das aes que colocam
em risco a sua qualidade ambiental.
AGRADECIMENTOS
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em especial ao curso de graduao em
Engenharia Ambiental, da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental da UFCG, Campus de
Pombal-PB
Ao Grupo de Pesquisa Ncleo de guas e Meio Ambiente (NAMA), vinculado
UACTA/CCTA/UFCG.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRAGA, B. et al. Introduo Engenharia Ambiental: O desafio do desenvolvimento sustentvel. 2
ed. So Paulo. Pearson, Prentice Hall, 2005.
BRASIL. Resoluo do CONAMA N 01, de 23 de Janeiro de 1986. Dispe sobre procedimentos
relativos Estudo de Impacto Ambiental. Dirio Oficial da Unio em 17 de Fevereiro de 1986.
COSTA, T. C. C.; OLIVEIRA, M. A. J.; ACCIOLY, L. J. O.; SILVA, F. H. B. B. Anlise da degradao da
caatinga no ncleo de desertificao do Serid (RN/PB). Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e
Ambiental. v.13, Campina Grande, Paraba, 2009, p. 961-974.
CPRM - Servio Geolgico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por gua
subterrnea. Diagnstico do municpio de Pombal, Estado da Paraba. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.
EMBRAPA; Sistema Brasileiro de Classificao de Solos. Embrapa Solos UEP - Recife, 2006.
Disponvel em: www.cnps.embrapa.br/index.html, acessado em agosto de 2010.
FOGLIATTI, M. C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliao de Impactos Ambientais: Aplicao aos
sistemas de Transporte. Rio de Janeiro: Intercincia, 2004.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Disponvel em: www.ibge.gov.br/cidadesat,
acessado em 11 de fevereiro de 2011.
LEITE, J. R. M.. Inovaes em direito ambiental. Florianpolis: Fundao Boiteux, 2000.
ROCHA, J. S. M. Manual de Projetos Ambientais. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria,
Rio Grande do Sul, 1997, 423p.
SNCHEZ, L. E. Avaliao de Impacto Ambiental: Conceitos e Mtodos. So Paulo: Oficina de Textos,
2006, 495p.
TORRES, V. F. L; GAMA, C. D.; C, R . Engenharia Ambiental Subterrnea e Aplicaes. Rio de Janeiro.
Villas Bas, 2005, 550p.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

842

ABORDAGEM TERICA SOBRE A EROSO DO SOLO: CAUSAS,


CONSEQUNCIAS E PRTICAS DE CONTROLE
ISMAEL, Fernanda Carolina Monteiro1
LEITE, Jos Cleidimrio Arajo2
OLIVEIRA, Raissa Borges3
1 e 3 - alunas do curso de graduao em Engenharia Ambiental da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental
da UFCG, Campus de Pombal. E-mail: fernnanda_monyeiro@hotmail.com, raissa_borges3@hotmail.com;
2 - Orientador - Professor da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental da UFCG, Campus de Pombal. E -mail:
cleidimario@ccta.ufcg.edu.br.

RESUMO
A eroso citada na literatura como uma das principais causas de degradao do solo no mundo,
sendo responsvel de forma significante pela deteriorao da qualidade fsica, qumica e biolgica do solo,
comprometendo a sua qualidade produtiva e ambiental, e, consequentemente, limitando o seu uso para
diversos fins. No meio cientfico so encontrados poucos estudos tericos que tratam diretamente da
eroso, de suas causas, consequncias e forma de controle. Neste contexto, este trabalho tem por objetivo
apresentar um estudo terico sobre a eroso, destacando alguns conceitos, as principais causas e
consequncias de sua ocorrncia, bem como algumas prticas eficientes para sua preveno e/ou controle.
A metodologia adotada consistiu em pesquisas bibliogrficas em livros e peridicos cientficos. Com os
resultados dessa pesquisa, constatou-se que a eroso um fenmeno natural com potencial de alterao
das caractersticas do solo, mas que tem uma intensificao deste potencial erosivo em virtude das
atividades antrpicas que causam um aumento da erodibilidade do solo. Adicionalmente, verificou-se que
h vrias formas de preveno e controle da eroso e que elas podem ser utilizadas com eficincia,
proporcionando uma atenuao dos efeitos dos processos erosivos.
Palavras-chave: eroso, perda de solo, degradao do solo, desertificao, qualidade da gua.
ABSTRACT: The erosion is cited in the literature as a major cause of soil degradation in the world,
being significantly responsible for the deterioration physical, chemical and biological of soil, affecting the
production and environmental quality, and thus limiting its use for various purposes. The literature
presents few theoretical studies about erosion, its causes, consequences and means of control. In this
context, this paper aims to present a theoretical study on soil erosion, highlighting some of the concepts,
the main causes and consequences of its occurrence, as well as some effective practices for prevention
and/or control. The utilized methodology consisted of literature searches in scientific journals and books.
With the results of this research, it was found that erosion is a natural phenomenon with potential to
change soil characteristics, but which has intensified this potential erosion due to human activities that
cause an increase in soil erodibility. Additionally, it was found that there are several ways to prevent and
control erosion and that they can be used effectively, providing an attenuation of the effects of erosion.
Keywords: erosion, soil loss, soil degradation, desertification, water quality.
1. INTRODUO
Sabe-se que a eroso do solo apresenta-se como uma das principais causas de sua degradao e do
comprometimento da qualidade de diversos fatores ambientais, alm do solo, como, por exemplo, a gua,
a flora, o ar, etc.
A ao de fatores naturais sobre o solo, que tem ocorrido desde a sua formao e permanece at a
atualidade, constitui o tipo de eroso denominada eroso geolgica ou eroso natural. Essa forma de
eroso, apesar de desagregar, arrastar e depositar as partculas de solo, no a causadora de sua
degradao, uma vez que estas perdas de solo ocorrem de forma bastante lenta e em perodos longos, o
que permite que a prpria natureza, a partir dos processos de formao do solo, o reconstitua.
No entanto, ao longo de sua histria, o homem tem intensificado as diversas formas de uso e
ocupao do solo a partir de manejos inadequados que causam a exposio, a compactao e/ou a
desagregao do solo, acelerando assim a ao dos fatores naturais sobre este, e consequentemente
aumentando os efeitos da eroso. Esse tipo de eroso, que intensificado pela ao antrpica, conhecido

Joo Pessoa, outubro de 2011

843
como eroso acelerada ou eroso antrpica, sendo considerada na literatura a principal causa de
degradao do solo no mundo (ARAJO et al., 2008).
Segundo BERTONI e LOMBARDI NETO (2008), a eroso tem suas razes no passado, desde a
supremacia do perodo babilnico, onde o mau uso do solo foi responsvel pelo aumento nos problemas de
enchente e sedimentao dos rios Eufrates e Tigre. O histrico da eroso tambm remete a outras
civilizaes como, os persas, assrios, gregos, romanos, fencios, hebreus, entre outros. Os fencios se
destacaram por fazerem uso de prticas de controle de eroso, como, por exemplo, os terraos de
irrigao.
No Brasil, o processo de eroso acelerada, teve sua intensificao com a colonizao, onde houve,
inicialmente, a explorao dos recursos naturais das reas costeiras. Atividades como o desmatamento,
para extrao de madeira, a plantao de cana-de-acar e outras prticas antrpicas foram as
responsveis pioneiras nos processos erosivos no pas.
De acordo com LEPSCH (2002), a partir da poca da colonizao do Brasil, deu-se incio ao seu
povoamento por imigrantes de outros continentes. Com isso, os solos comearam, pouco a pouco, a ser
conhecidos e utilizados pelos lavradores e pecuaristas. A partir dessa relao com o solo, esses povos
passaram a utilizar tal recurso, causando, muitas vezes, problemticas ambientais, tais como a eroso.
Atualmente, muitas regies brasileiras, e no mundo, tm apresentado alteraes ambientais
resultantes de atividades antrpicas, sendo a eroso uma das alteraes mais preocupantes nas condies
naturais do solo.
As perdas de solo no Brasil e no mundo, causadas por processos erosivos, so bem preocupantes.
De acordo com GUERRA et al. (2007), 56% da degradao dos solos no mundo causada pela eroso
hdrica, enquanto que 28% desta degradao resulta da eroso elica. Essa problemtica tambm
evidenciada nos solos brasileiros, onde grandes reas encontram-se degradadas, a exemplo de parte da
regio do semirido.
A degradao dos solos pode ocorrer em virtude do empobrecimento do solo causado pela eroso.
RIBEIRO et al. (2009) relatam que a eroso responsvel por remover a camada superficial do solo,
acarretando uma reduo nos teores de matria orgnica e disponibilidade de nutrientes, afetando a
atividade biolgica a eles associada, favorecendo, assim, a modificao da estrutura do solo.
Esse empobrecimento do solo est relacionado a diversos fatores que dificultam o
desenvolvimento dos organismos no solo, sobretudo o crescimento vegetal. ARAJO et al. (2008) afirma
que a perda da camada superficial reduz a fertilidade do solo, uma vez que, ao ficar mais denso e fino, o
solo torna-se menos penetrvel s razes das plantas, como tambm h uma reduo na capacidade do
solo em reter gua, alm de diminuir os nutrientes disponveis para as plantas.
Diversas prticas e formas de combate eroso do solo, conhecidas por prticas
conservacionistas, tm sido utilizadas, desde as civilizaes antigas, com o objetivo principal de prevenir
ou controlar os processos erosivos. De forma geral, essas prticas podem ser divididas em vegetativas,
edficas e mecnicas (LEPSCH, 2002; BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008), e sero abordadas adiante neste
trabalho.
As alteraes ambientais ocasionadas pela eroso podem ser minimizadas ou evitadas por meio da
utilizao de prticas de conservao do solo que se tornam indispensveis para a preveno e controle dos
processos erosivos, bem como para a manuteno da qualidade produtiva e ambiental do solo e da gua,
possibilitando a viabilidade dos aspectos sociais, econmicos e ambientais das atividades antrpicas sobre
o solo.
Neste contexto, esta pesquisa tem por objetivo desenvolver uma abordagem terica que apresente
os conceitos, mecanismos, causas, consequncias e prticas de controle da eroso. A contribuio deste
trabalho consiste em disponibilizar na literatura algumas informaes sobre este tema para serem
utilizadas por pesquisadores e empreendedores de atividades que possam causar a eroso e a degradao
do solo e outros fatores ambientais.
A metodologia adotada nesta pesquisa consistiu em um levantamento bibliogrfico na literatura,
no qual se fez uso de livros, artigos e outros trabalhos cientficos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

844
2. DESENVOLVIMENTO DO TEMA
2.1. Eroso: conceitos, mecanismos e classificao
De forma geral, a eroso do solo pode ser definida como o desgaste ou desagregao, arraste e
deposio dos elementos que constituem o solo. Segundo LEPSCH (2002), o solo composto basicamente
por: minerais (46%), matria orgnica (4%), gua (25%) e ar (25%).
O processo erosivo do solo descrito por MORGAN (2005), citado por PRADO et al. (2010), como
sendo constitudo de trs fases: desagregao, transporte, e, quando no existe energia cintica suficiente
para o transporte das partculas desagregadas, ocorre a deposio destas. Isso acontece porque a energia
transferida para o solo no impacto da gota de chuva, associado ao salpicamento das gotas, acarretam a
desagregao, o transporte e a deposio do solo.
O mecanismo da eroso, ilustrado na Figura 1, sempre o mesmo em todos os casos, o que se
altera apenas o agente causador, que quando provocada pela gua denominada eroso hdrica e
quando causada pelo vento dita eroso elica.
Agente
causador

Desagregao
das partculas

Transporte
das partculas

Deposio
das partculas

Figura 1. Mecanismos da eroso.


A eroso do solo um processo geomrfico natural, em que o equilbrio natural do solo desfeito
quando a ocupao das terras e as prticas de uso e manejo de solo so inadequadas (PRADO et al., 2010).
A eroso pode ser classificada de acordo com a intensidade que os agentes naturais chuva e vento
atuam, ou seja, quando os mesmos agem de forma lenta e sem interveno antrpica, a eroso dita
eroso geolgica ou natural, j quando h influncias das aes humanas esses processos so
intensificados, dando origem chamada eroso acelerada (LEPSCH, 2002; BERTONI e LOMBARDI NETO,
2008), como ilustrado na Figura 2.

Fatores
naturais

Ao
antrpica

Eroso
acelerada

Figura 2. Ilustrao do mecanismo da eroso acelerada ou antrpica.


Segundo PRUSKI (2006), a eroso geolgica originada de fenmenos naturais que tm atuao
contnua na crosta terrestre, sendo um processo benfico para a formao do prprio solo. Porm, as
aes antrpicas, quando realizadas de forma inadequada, afetam este equilbrio, dando origem a eroso
acelerada.
De maneira geral, dois fatores so determinantes para que o solo sofra eroso: a erodibilidade do
solo e a erosividade da chuva. A erodibildade est relacionada s caractersticas do solo, tais como: relevo,
composio, permeabilidade, estrutura entre outras. Para ALMEIDA FILHO (2001), citado por CARDOSO
(2010), estes fatores, agindo conjuntamente, indicam maior ou menor susceptibilidade do solo eroso,
fenmeno conhecido como erodibilidade. J a erosividade est diretamente ligada intensidade,
frequncia e distribuio das chuvas.
A eroso do solo pode ser classificada quanto a sua origem e quanto ao agente causador. No que
diz respeito origem ela pode ser do tipo geolgica, ou natural, e acelerada. J no que se refere ao agente
causador a mesma pode ser do tipo hdrica ou elica.
A eroso geolgica ocorre naturalmente na Terra e responsvel pelas modificaes da crosta
terrestre, tais como: a formao de colinas suaves, plancies extensas e vales frteis. Essas alteraes s so
percebidas com o decorrer de longos perodos de atividade (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008). Quando
essas modificaes so intensificadas pela ao antrpica esse fenmeno denominado de eroso
acelerada.
Joo Pessoa, outubro de 2011

845
Segundo LEPSCH (2002) a eroso hdrica se divide em trs tipos: eroso laminar, que compreende a
remoo uniforme de uma fina camada superior de todo o terreno; eroso em sulcos, ocasionada quando
uma enxurrada atinge a superfcie de terrenos com certa irregularidade; e a eroso em voorocas, que
ocorre quando a eroso em sulcos no controlada, levando a um aprofundamento desses sulcos
formando grandes cavidades onde estas so denominadas voorocas ou boorocas.
Para GUERRA et al. (2007), o surgimento da eroso do tipo vooroca pode est relacionado tanto
com as caractersticas hidrulicas dos materiais de zona de percolao das guas superficiais e
subsuperficiais, quanto s caractersticas do gradiente hidrulico do lenol fretico.
A eroso elica consiste na remoo e deposio de partculas do solo pela ao dos ventos,
formando grandes nuvens de poeira (LEPSCH, 2002) que geralmente so depositadas em locais
inadequados. Esse tipo de eroso tem grande importncia em reas onde a cobertura vegetal torna-se
insuficiente para proteger o solo, como em regies ridas e semiridas, e ainda em locais onde o solo
muito arenoso, principalmente aqueles em que se estabelecem atividades agrcolas (SEIXAS, 1984).
De acordo com RIBEIRO et al. (2009), a eroso hdrica e a elica esto relacionadas com o desgaste
fsico da superfcie do solo, sendo citadas na literatura como responsveis pelos processos de degradao
em regies ridas e semiridas.
2.2. Causas e consequncias dos processos erosivos
Como j visto anteriormente, os principais agentes causadores da eroso so a chuva e o vento.
Para SEIXAS (1984), a eroso hdrica pode ser classificada de acordo com o agente mecnico, sendo esse
tipo de eroso subdividido em eroso pluvial (por impacto ou por arrastamento), eroso por percolao,
eroso por ao das ondas e eroso fluvial. A eroso pluvial por arrastamento ainda classificada em
eroso laminar, em sulcos e em voorocas. J quando a eroso for provocada pelo vento, tem-se a eroso
elica que subdividida em eroso massiva e seletiva.
As causas da eroso dos solos podem ser classificadas como ativas ou passivas. As primeiras
englobam as caractersticas das chuvas, a declividade e o comprimento do declive e a capacidade de
absoro de gua do solo. J as causas passivas esto relacionadas capacidade de resistncia do solo
ao erosiva da gua da chuva, e densidade da cobertura vegetal (BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008).
Os riscos de eroso so dependentes de diversas variveis, dentre elas, os fatores naturais e os
modelos de uso e ocupao da terra. No que se refere aos fenmenos naturais, o clima tem grande
influncia nos processos erosivos, dando-se destaque para as caractersticas da chuva. As caractersticas
das encostas, a vegetao e a natureza do solo tambm so relevantes nos estudos de eroso. J no que se
refere ao uso da terra, qualquer atividade humana que remova a cobertura vegetal que protege o solo,
poder causar eroso (ARAJO et al., 2008).
Sabe-se que as causas naturais da eroso so intensificadas por aes antrpicas que, por sua vez,
aceleram os processos erosivos e aumentam os efeitos e impactos ambientais negativos sobre o solo e
demais fatores ambientais, entre estes a gua.
SANTOS (2008) afirma em seus estudos que a ao antrpica por meio da agricultura considerada
uma das principais causas para a ocorrncia dos processos erosivos acelerados, com destaque para o
desmatamento e o uso do solo sem nenhuma prtica conservacionista.
VALLE (2002) tambm afirma que o desmatamento e o uso agrcola inadequado do solo so fatores
responsveis por intensificar processos erosivos e de degradao dos solos.
So diversas as prticas que contribuem para acelerar os processos erosivos e de degradao dos
solos, entre elas, LEPSCH (2002) cita as tarefas rotineiras de explorao inadequada das terras, com
destaque para: o revolvimento do solo com arado, o plantio e cultivo no sentido morro abaixo, as
queimadas intensas e o pisoteio excessivo do gado em pastagens. Alm disso, este autor acrescenta ainda
as contribuies resultantes das atividades dos madeireiros, lenhadores, carvoeiros e mineradores.
No Brasil o cultivo intenso e inadequado dos solos indicado como uma das causas que contribuem
para que grandes reas cultivadas sofram eroso e, posteriormente passem a ser degradadas. Essas regies
quando se tornam saturadas, devido ao intenso uso, geralmente so abandonadas e, por esse motivo, a
agricultura brasileira caminha rumo ao Oeste e Norte do Pas, uma vez que as reas dessas regies ainda
so pouco exploradas (LEPSCH, 2002).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

846
Entre as principais consequncias dos processos erosivos esto a diminuio da fertilidade do solo,
devido s perdas de nutrientes, a reduo da profundidade do solo, bem como o assoreamento de audes,
rios e riachos, provocando a poluio dos recursos hdricos.
Alm disso, CRUZ (2006) afirma que o equilbrio ecolgico dos corpos hdricos afetado, uma vez
que os processos erosivos provocam o assoreamento desses reservatrios como tambm reduz sua
capacidade e proporciona o arraste de nutrientes para os corpos dgua. Nessas condies poder ser
consolidado o processo de desertificao em reas susceptveis eroso.
Essa preocupao tambm citada por SANTOS (2008) que afirma ser uma das consequncias dos
processos erosivos a reduo da capacidade produtiva nas culturas, alm dos danos ambientais, entre eles
o assoreamento de corpos hdricos.
NUNES e CASSOL (2011) tambm afirmam que os sedimentos produzidos pela eroso hdrica em
reas agrcolas podem contaminar o solo e gua, e ainda causar o assoreamento de cursos e reservatrios
de gua.
PIMENTEL et al. (1995), citado por TELLES et al. (2010), afirmam que em ltima anlise os processos
erosivos acarretam uma grande reduo nas receitas e lucros do agricultor, levando a um menor valor da
terra.
2.3. Prticas de controle da eroso
Na Literatura so encontradas vrias prticas, tcnicas e mtodos que so indicados para a
preveno e controle da eroso (LEPSCH, 2002; ARAJO et al., 2008; BERTONI e LOMBARDI NETO, 2008;
TAVARES, 2008).
Para BERTONI e LOMBARDI NETO (2008), todas as tcnicas utilizadas a fim de aumentar a
resistncia do solo ou diminuir as foras dos processos erosivos so denominadas de prticas
conservacionistas, que podem ser dividas em: vegetativas, edficas e mecnicas. Nessas prticas so
utilizados a vegetao, modificaes nos sistemas de cultivo e alteraes na estrutura de pores de terra,
respectivamente, para defender o solo contra a eroso.
A adoo dessas prticas deve diminuir ou minimizar os efeitos dos processos erosivos sempre
conciliando a explorao econmica com a preservao dos recursos naturais solo e gua (WADT, 2003)
As prticas de carter vegetativo so aquelas que aumentam a cobertura vegetal do solo para
controlar a eroso. As mais usadas so: reflorestamento, manejo de pastagens, plantas de cobertura,
cultivo em faixas, cordes de vegetao permanente, controle das capinas, ceifa do mato, faixas de rvores
formando quebra-ventos e cobertura do solo com palha (LEPSCH, 2002; BERTONI e LOMBARDI NETO,
2008).
As prticas conservacionistas de carter edfico so aquelas que fazem uso de modificaes no
sistema de cultivo para controlar a eroso e manter, ou melhorar, a fertilidade do solo. Entre as mais
usadas destacam-se o controle do fogo; as adubaes verde, qumica e orgnica; e a calagem (BERTONI e
LOMBARDI NETO, 2008).
Quando a utilizao das prticas conservacionistas vegetativas e edficas no suficiente faz-se
necessrio a adoo das prticas mecnicas, estas que consistem na construo de estruturas artificiais
com objetivo de reduzir a velocidade de escoamento da enxurrada. Isso pode ser feito por meio de
barreiras mecnicas, como terraos, canais escoadouros, bacias de captao de guas pluviais, barragens
para a conteno da gua decorrente do escoamento superficial, entre outras prticas (PRUSKI, 2006).
3. CONSIDERAES FINAIS
A eroso do solo um fenmeno natural que ocorre desde a formao dos solos e ocasionada
pela atuao simultnea de alguns agentes naturais, como, por exemplo, a chuva, a topografia, a cobertura
vegetal, a natureza do solo e o preparo do solo. No entanto, os processos erosivos podem ser intensificados
a partir da utilizao inadequada do solo por meio das aes antrpicas, o que ocasiona a chamada eroso
acelerada ou antrpica.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a principal causa que faz da eroso um dos principais processos
de degradao dos solos no mundo a exposio do solo resultante do seu uso, manejo e ocupao
inadequados por parte das atividades humanas no planejadas. Entre as principais consequncias da

Joo Pessoa, outubro de 2011

847
eroso citam-se: a perda da fertilidade dos solos, modificaes no relevo, reduo na produtividade do
solo, prejuzos econmicos e comprometimento da qualidade dos recursos hdricos.
Dessa forma, a utilizao de prticas conservacionistas para evitar ou controlar a ao da eroso
antrpica essencial para possibilitar a utilizao adequada do solo, a conservao deste e demais fatores
ambientais e contribuir de forma direta para promover o desenvolvimento sustentvel.
4. AGRADECIMENTOS
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em especial ao curso de graduao em
Engenharia Ambiental, da Unidade de Cincias e Tecnologia Ambiental da UFCG, Campus de Pombal-PB, e
ao Grupo de Pesquisa Ncleo de guas e Meio Ambiente (NAMA), vinculado ao CCTA/UFCG.
Ao Professor Lauter Silva Souto, do curso de graduao em Agronomia da UFCG, Campus de
Pombal-PB, pela colaborao com o fornecimento de material bibliogrfico.
5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARAJO, G. H. S.; GUERRA, A. J. T.; ALMEIDA, J. R. Gesto Ambiental de reas Degradadas. 3. ed.
Rio de Janeiro: Bertrand, 2008, 320 p.
BERTONI, J.;LOMBARDI NETO, F.L. Conservao do solo. 4 ed. So Paulo: cone, 2008, 355 p.
CARDOSO, R. C. Impactos ambientais causados por processos erosivos no parque Campo Bernardes
no municpio de Goinia, Gois. 1 Congresso Brasileiro de Gesto Ambiental. Bauru-SP, 2010, 09 p.
CRUZ, E. S. Influncia do preparo do solo e de Plantas de cobertura na eroso hdrica de um
argissolo vermelho-amarelo. UFRRJ, Rio de janeiro, 2006.
GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S.; BOTELHO, R. G. M.. Eroso e conservao dos solos: conceitos, temas
e aplicaes. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, 340 p.
LEPSCH, I. F. Formao e Conservao dos Solos. So Paulo: Oficina de Textos, 2002, 178 p.
NUNES, M. C. M.; CASSOL, E. A. Produo de sedimentos pela eroso em entressulcos em trs
latossolos do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e Ambiental, Campina Grande-PB,
UAEA/UFCG, 2011, p. 541-547.
PRADO, R. B.; TURETTA, A. P. D.; ANDRADE, A. G. Manejo e conservao do solo e da gua no
contexto das mudanas ambientais. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2010, 486 p.
PRUSKI, F. F. Conservao do solo e gua: prticas mecnicas para o controle da eroso hdrica. 1
reimpresso Viosa, MG: Editora UFV, 2006. 279 p.
RIBEIRO, M. R.; NASCIMENTO, C. W.; RIBEIRO FILHO, M. R.; CANTALICE, J. R. B. Tpicos em cincia
do solo. v. 6. Viosa, Minas Gerais: Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, 2009, 497 p.
SANTOS, R. F S. Eroso hdrica e conservao de uso do solo do Rio Titara na localidade gua Fria
Campo Maior Piau Brasil. UFPI, 2008, 12 p.
SEIXAS, B. L. Sampaio. Fundamentos do manejo e da conservao do solo. Salvador: Centro Editorial
e didtico da UFBA, 1984, 275 p.
TAVARES, S. R. L. Curso de recuperao de reas degradadas: A viso da cincia do solo no contexto
do diagnstico, manejo, indicadores de monitoramento e estratgias de recuperao. Dados eletrnicos.
Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2008, 228 p.
TELLES, T. S.; GUIMARES, M. de F.; DECHEN, S. C. F. Avaliao dos custos da eroso do solo. 48
Congresso SOBER: Sociedade Brasileira de Economia, Administrao e Sociologia Rural. Campo Grande,
2010, 14 p.
VALLE, C. E. Qualidade ambiental: ISO 14000. 7 ed.So Paulo, Editora Senac , 2002, 205 p.
WADT, P. G. S. Prticas de conservao do solo e recuperao de reas degradadas. Embrapa Acre,
Rio Branco, 2003, 29 p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

848

IMPACTO SOCIOAMBIENTAL DOS RESDUOS SLIDOS E SUA IMPLICAO


NO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NA CIDADE DE PARNABA - PI
Francisco Pereira da SILVA FILHO
Graduando. Curso de Turismo. Universidade Federal do Piau-UFPI
Pereira_ufpi@hotmail.com
Jos Pedro DA ROS
MSc. Em Engenharia de Produo - UFSC. Professor do Curso de Turismo. Universidade Federal do Piau
ros@ufpi.edu.br
Edvania Gomes de ASSIS
Dra. Em Geografia - UFPE. Professora do Curso de Turismo. Universidade Federal do Piau.
edvania@ufpi.edu.br

RESUMO
A sustentabilidade socioambiental est em discusso com temas relacionados gesto ambiental e
o turismo para que se desenvolvam de forma sustentada. Localizada em uma das regies com maior
potencial turstico do Estado do Piau, a cidade de Parnaba tem se tornado um local de discusso sobre o
problema do armazenamento, coleta e disposio final do lixo, da extino do lixo, do gerenciamento dos
planos de gesto pblica que tratem deste tema e minimize os impactos dos resduos slidos no meio
ambiente. Este artigo apresenta uma avaliao da situao dos impactos socioambientais dos resduos
slidos e sua implicao para o desenvolvimento do turismo na cidade de Parnaba. A metodologia se
definiu em pesquisa de campo com um registro fotogrfico e entrevistas para o diagnstico das
circunstncias do lixo na cidade, verificando as implicaes dos mesmos no desenvolvimento da
comunidade e do turismo, alm disso, foram aplicados questionrios para os visitantes e a populao local
para avaliar as questes de infraestrutura no que diz respeito ao armazenamento, coleta e destinao finais
dos resduos slidos. No entanto a pesquisa apontou que as questes estruturais na cidade de Parnaba
ainda se apresentam de forma ineficiente, fato que contribui de certa forma no desenvolvimento da
mesma e no bem estar da sociedade. Portanto, o estudo mostrou que os habitantes da comunidade,
juntamente com o poder pblico, esto interessados em desenvolver aes que minimizem os impactos
negativos do lixo no ambiente como tambm os setores ligados ao turismo se mostraram interessados em
buscar solues para a coleta, destino e armazenamento dos resduos slidos urbanos.
Palavras-chave: Resduos Slidos Urbanos. Turismo. Meio Ambiente. Poder Pblico.
INTRODUO
O mundo est vivendo atualmente uma crise ambiental, causada por diversos fatores ligados ao
desenvolvimento econmico, impulsionado pelo sistema capitalista, a revoluo tecnolgica e ao
consumismo. Por este motivo, ha uma grande produo dos resduos slidos e seus descartes de maneira
irregular, que est cada vez mais evidente em vrias partes do planeta, principalmente nos pases
subdesenvolvido e em desenvolvimento por ainda no apresentarem uma gesto adequada e
investimentos mais eficientes que minimizem seus impactos.
Este problema uma constante no Brasil, em praticamente todos os estados da federao,
principalmente nos estados com menor poder aquisitivo. O Estado do Piau no foge a regra com o terceiro
pior ndice de desenvolvimento humano (IDH) do Pas, vm tendo dificuldades para enfrentar
adequadamente este problema e dessa forma com a falta de investimentos anteriores no pde
desenvolver ainda polticas pblicas que minimizem os impactos do lixo.
Na cidade de Parnaba, rea objeto de estudo, esta situao pode ser presenciada pelos inmeros
problemas de ordem sanitria, tais como: acmulo de lixo nas caladas, transporte e coleta de forma
inadequada, presena de urubus, entre outros, causados pelo acmulo do lixo em toda a rea urbana que
proporciona aos moradores, visitantes e gestores um ambiente inadequado.
No entanto, existem algumas alternativas sustentveis que podem ajudar a reverter este processo
negativo dos resduos slidos no meio ambiente, entre elas, pode-se citar a coleta seletiva do lixo e a
reciclagem. Estas medidas j so tomadas por vrias empresas da esfera privada, assim como por muitos
rgos pblicos em varias cidades do pas que alm de serem essenciais para a gesto ambiental, ainda
podem absorver de forma sustentveis estes resduos para serem reutilizados.

Joo Pessoa, outubro de 2011

849
Para embasar terica e tecnicamente o trabalho, este artigo se ancora, na gesto pbica atravs da
Constituio Federal do Brasil de 1988 e a Legislao Ambiental Brasileira. Para dar apoio aos informes e
conceitos sobre os resduos slidos e suas especificidades, a Lei n 12.305, de 2 de agosto de 2010 que
trata dos Resduos Slidos, a Lei 6.938 da Poltica Nacional do Meio Ambiente, na Lei 9.605/2000 a Lei de
Crimes Ambientais, a Resoluo 313/2002 do CONAMA, que dispe sobre o Inventrio Nacional de
Resduos Slidos Industriais, na NBR 10004 que trata exclusivamente dos resduos Slidos e os classifica
quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e sade pblica, para que estes resduos possam ter
manuseio e destinao adequados, seguindo tambm a Lei N. 2.296/2007 institui o Plano Diretor da
Cidade de Parnaba.
Estas leis vo direcionar ao objetivo central deste estudo que Avaliar a situao dos impactos
socioambientais dos resduos slidos e sua implicao para o desenvolvimento do turismo na cidade de
Parnaba, assim como aos objetivos especficos que se direcionam na identificao dos problemas
socioambientais existentes em relao aos resduos slidos, conhecer a opinio da populao e dos
visitantes a respeito do assunto, verificar as interferncias do lixo no desenvolvimento do turismo, e por
fim, investigar as aes do poder pblico na gesto dos resduos slidos no municpio de Parnaba que
ajudaro a entender a real situao da problemtica.
METODOLOGIA
A caracterstica desta pesquisa foi descritiva, exploratria, bibliogrfica, documental e de campo de
acordo com os objetivos propostas e do tema. De acordo com Faria, Cunha e Felipe (2008, p. 34) a pesquisa
descritiva: tem como proposta identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a
ocorrncia dos fenmenos e procuram explicar a razo do por qu das coisas, j a pesquisa de campo de
acordo com Faria, Cunha e Felipe (2008, p. 34 ):
(...) possuem semelhanas com os levantamentos amostrais e sua principal caracterstica, o
envolvimento de seres humanos ou animais na coleta de dados como fonte de informao. Nesse caso, os
projetos de pesquisa precisam ter aprovao de um Comit de tica. (...) a pesquisa de campo trabalham com
amostragem que representam uma parte da populao que se pretende alcanar (...).

A pesquisa bibliogrfica se desenvolveu junto com as demais j citadas, pois a literatura foi parte
integrante do tema que resultou na pesquisa e que compreendeu a anlise descritiva. (livros e peridicos
em geral, bancos de dados de dissertaes e teses) (MARCONI e LAKATOS, 2001; GIL, 2002).
Como universo da pesquisa foram escolhidos os habitantes da cidade de Parnaba e turistas em
visita ao municpio. Buscou-se ento, as opinies dos comerciantes formais e informais, trabalhadores da
rede pblica e iniciativa privada, professores, estudantes, gestores do meio ambiente e do turismo, enfim,
uma amostra significativa da sociedade local em relao ao problema apresentado.
A amostra foi do tipo aleatrio e no-probabilstico que de acordo com Faria, Cunha e Felipe (2008
p. 35) serve para delimitar os grupos a serem pesquisados e representados estatisticamente que iro
compor a amostra. Podem ser divididos em grupos e quando isso acontece com seres humanos se chama
de participantes. Para esta pesquisa foi definida uma amostra de 200 participantes assim divididos: 105
moradores, 95 visitantes, que dentre eles esto os dois gestores: gestor da Secretaria de Turismo (01), (ST),
gestor da Secretaria de Meio Ambiente (01), (SMA).
Para a coleta de dados foram aplicados questionrios com perguntas abertas e fechadas. Os
questionrios contem cada um 20 questes (mistas) com questionamentos a respeito do tema em
discusso. Foram aplicados seguindo um calendrio de campo e nos meses do ano em que h maior fluxo
turismo na cidade, se concentrando nos finais de semana dos meses de janeiro a junho (2011). No entanto
para os gestores, Secretrio de Meio Ambiente e Turismo, foi aplicado um roteiro de entrevista, contendo
14 questes que foram feitas de maneira sistematizada.
Com a tabulao e anlise dos dados apresentados estatisticamente atravs de planilha do
programa do Excel dispostos em grficos, para posterior discusso terica dos resultados obtidos. Esta
anlise envolveu a descrio dos procedimentos a serem adotados tanto para anlise quantitativa, quanto
qualitativa que ocorreu durante a discusso descritivamente que auxiliou na correlao dos mesmos.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

850
MEIO AMBIENTE, CONSUMO e TURISMO
A forma como se vem apresentando a explorao do meio ambiente no mundo tambm acontece
por uma questo cultural, onde cada povo, dependendo de sua cultua, religio e poltica adotada por seu
pas, apresenta um determinado comportamento em relao preservao ou no do meio natural. Na sua
maioria apresenta-se o homem como o dominador do planeta e conseqentemente sobre a natureza, mas
este pensamento vem mudando timidamente nos ltimos tempos.
Fazendo uma reflexo histrica, esta preocupao com o meio ambiente associada explorao
desenfreada dos bens naturais e os danos provocados no mesmo, s veio surgir no sculo XX com a
Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano CNUMAD, realizada em Estocolmo na
Sucia no ano de 1972, onde na discusso surge o termo desenvolvimento sustentado (OLIVEIRA e
GUIMARES, 2004). Desde ento, com a ajuda da mdia, esta aes tomaram propores mundiais, assim
internacionalizando o bem ambiental como um problema de todos e no s de uma nao isoladamente, o
que fez surgir em muitos pases vrios atos em prol do meio ambiente, causado justamente pela
problemtica ambiental que gerou crises econmicas e sociais na explorao exacerbada da natureza
No Brasil em 1988, esta preocupao com o bem natural, intensificou com o surgimento da Carta
Constitucional - a primeira a tratar da questo ambiental no pas devido grande discusso do tema no
mundo - que atravs do poder pblico nacional amparou o problema com aes judiciais e administrativas
na tentativa de amenizar os impactos negativos provocado pelo o homem a natureza, devido ao
consumismo exagerado, prprio de uma sociedade capitalista.
Para Trigueiro (2005, p. 22) O lado perverso desse consumo excessivo que ele se restringe a
uma minoria concentrada principalmente nos pases ricos. Apenas 1,7 bilhes dos atuais 6,3 bilhes de
pessoas que habitam o planeta tm hoje condies de consumir alm das necessidades bsicas.
Apesar desta realidade de consumo excessivo dos pases ricos, nos quais obtm uma parcela maior
de culpa no processo do consumismo e no descarte dos resduos slidos no mais utilizveis no meio
ambiente, os mesmos apresentam um trabalho bem desenvolvido no recolhimento, armazenamentos e
destinao final do lixo. Outro ponto o problema que envolve a presena do lixo tambm em ambientes
tursticos, quando no feito de forma sustentvel podem causar impacto em todos os nveis da sociedade,
o que compromete o desenvolvimento do turismo.
Outro ponto de destaque est na discusso sobre o ordenamento urbano e das atividades tursticas
nas cidades, importante ressaltar, que as mesmas possuem grandes diferenas, devido suas diversas
caractersticas de funcionalidades, onde cada uma delas se desenvolve com suas particularidades, e do
cotidiano das pessoas que nelas vivem. Como afirma Carlos (2007, p. 11):
A cidade, enquanto construo humana um produto histrico-social e nesta dimenso aparece
como trabalho materializado, acumulado ao longo do processo histrico de uma srie de geraes. Expresso
e significao da vida humana, obra e produto, processo histrico acumulativo, a cidade contm e revela
aes passadas, ao mesmo tempo em que o futuro, que se constri nas tramas do presente o que nos
coloca diante da impossibilidade de pensar a cidade separada da sociedade e do momento histrico
analisado.

Apesar das cidades terem um papel relevante ao longo da histria no desenvolvimento das
sociedades, as mesmas possuem (em sua maioria do terceiro mundo), grandes dificuldades em resolver
problemas do mundo contemporneo, entretanto, nas cidades um problema acarreta outros resultando
assim, na importncia de se planejar aes que combata de forma mais abrangente as pendncias em
questo, para que as solues criativas se apresentem com a participao efetiva da sociedade e do poder
pblico (WALDMAN, 2010).
Assim, s existir uma sociedade se esta for de alguma forma organizada, com suas funcionalidades
prprias e regida por suas leis. Evento que instiga dizer, que s ser considerada uma cidade, se esta
estabelecer uma sociedade constituda, ou seja, organizada e levando em considerao tambm sua
estrutura fsica e seus fatores econmicos, polticos e sociais.
No Brasil a gerao de resduos slidos urbanos um problema grave para as cidades e para o
poder pblico, principalmente quando este se estabelece no nvel municipal, devido maioria deles no
existir uma infraestrutura que auxilia na resoluo do problema. Mais de 250 mil toneladas desses resduos
so produzidas diariamente no pas. No entanto, para agravar mais esta situao, segundo dados oficiais,
apenas 63% dos domiclios contam com coleta regular de lixo. Para Philippi et. al, 1999 (apud MARTINS ,
Joo Pessoa, outubro de 2011

851
p.17 2009) [...] percebe-se a incapacidade dos municpios em refletir sobre os problemas ambientais de
sua responsabilidade, notadamente em relao questo dos resduos slidos.
Os resduos slidos possuem diversas origens e vrios aspectos, sendo originados sempre nas reas
urbanas em decorrncia da ao do homem, que na maioria das vezes descartado pelo o mesmo de
qualquer maneira sem nenhum cuidado, e dependendo do lixo jogado fora, este, pode ate voltar para vidas
cotidianas das pessoas causando transtornos, como doenas, enchentes, dentre outros, ou em outras
formas de utilizao atravs de procedimentos de reaproveitamento. Isto mostra que cada tipo de lixo,
dependendo do estado que encontrado, tm seu valor e que pode na maioria das vezes ser reaproveitado
para reciclagem e assim providenciar de alguma forma a reduo do mesmo nos ambientes.
A NBR-10004 (2004) estabelece critrios de periculosidade para a classificao dos resduos, tal
como se segue:
Resduos classe I perigosos - so aqueles que apresentam periculosidade, quando, em funo de
suas caractersticas fsicas, qumicas ou infecto-contagiosas, apresentam risco sade pblica ou ao meio
ambiente, ou uma das caractersticas seguintes: Inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade.
Resduos classe II no inertes - so aqueles que no se enquadram nas classificaes de resduos
classe I, perigosos ou de resduos classe III, inertes. Podem apresentar propriedades, tais como:
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em gua. Exemplos: papis, papelo, matria vegetal e
outros.
Resduos classe III inertes aqueles que submetidos ao teste de solubilizao, no tiveram
nenhum de seus constituintes solubilizados em concentraes superiores aos padres de potabilidade da
gua. Exemplos rocha, vidro, tijolo, certos plsticos e borrachas.

Diante destas explicaes acima se pode observar vrias definies aos resduos slidos, levandose em considerao sua formao e periculosidade. Esta classificao demonstra os perigos em que a
sociedade est submetida e exposta diariamente, devido todo o lixo produzido indiscriminadamente e
liberado no ambiente sem um mnimo de cuidado por parte da populao e em muitos casos pelo o
descaso do poder pblico que no oferece um sistema adequado de tratamento aos resduos slidos, que
podem ser despejado corretamente em aterros sanitrios.
Outra forma de ordenar o lixo a implantao da coleta seletiva de resduos slidos urbanos nas
cidades, que uma sada para o reaproveitamento do lixo nas sociedades, assim como um alivio para o
aumento dos inmeros lixes a cu aberto espalhados pelo o pas. Uma das aes da gesto ambiental hoje
conseguir implantar ao mximo nos municpios brasileiros a coleta seletiva, assim como uma estrutura
para a sua reciclagem (TRIGUEIRO, 2005).
Segundo dados do IBGE (2010), no Brasil, 7% dos municpios possuem programas de coleta seletiva,
neste percentual esto 405 cidades onde vivem 26 milhes de habitantes e representam 14% da populao
brasileira. Sem dvidas ainda considerado um nmero muito pequeno, se consideradas as dimenses
territoriais do pas assim como a enorme quantidade de municpios existentes.
Seguindo esta mesma linha, existe outro principio que pode est auxiliando nestas questes, o uso
dos 3 Rs que na prtica procurar reduzir, reutilizar e reciclar o lixo que se produz de maneira geral no
mundo. Este conceito que foi citado aps a Conferncia das Naes Unidas para Meio ambiente, Rio 92
ou Eco-92 previsto no 21 captulo da Agenda 21 prevendo a reduo ao mnimo dos resduos slidos no
ambiente, veio para contribuir com o imenso desafio que o mundo capitalista tem pela frente. Desta forma,
vrios empreendimentos e indstrias tm procurado se adequar a estes novos mtodos para obter
inclusive maior produtividade, tentando seguir as idias da coleta seletiva, reciclagem e praticando os
princpios dos 3 Rs, que tambm importante para incluir a sociedade e a industria contra o desrespeito
ao meio ambiente e assim resguardar adequadamente o destino final do lixo139. De acordo com Trigueiro
(2005) os 3 Rs definido como:
Reduzir: diminuir a quantidade de lixo residual que produzimos essencial. Os consumidores devem
adoptar hbitos de adquirir produtos que sejam reutilizveis, como exemplo: guardanapos de pano, sacos de
pano para fazer suas compras dirias, embalagens reutilizveis para armazenar alimentos ao invs dos
descartveis.
139

Mais informaes em Mousinho, Patrcia. Glossrio. In: TRIGUEIRO, Andr. (Coord.). Meio Ambiente no
Sculo 21. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

852
Reutilizar: utilizar vrias vezes a mesma embalagem, com um pouco de imaginao e criatividade
podemos aproveitar sobras de materiais para outras funcionalidades, exemplo: garrafas de plstico/vidro
para armazenamento de lquidos e recipientes diversos para organizar os materiais de escritrio.
Reciclar: transformar o resduo antes intil em matrias-primas ou novos produtos, um benefcio
tanto para o aspecto ambiental como energtico

Alm da reciclagem, existem outros mecanismos que auxiliam na diminuio das grandes
quantidades dos resduos slidos em aterros e lixes, so eles: a compostagem, que nada mais do que os
restos de comidas, cascas de frutas, podas de jardins, que podem ser encaminhados para os biodigestores
para gerao de energia eltrica, ou triturados e peneirados para serem utilizados como adubos na
agricultura ou jardins pblicos. J o outro a incinerao, que consiste na queima do lixo, no qual
reduzido a cinzas para logo em seguida serem despejados nos aterros sanitrios. Este processo de
incinerao deve ser conduzido somente por pessoas capacitadas e aparelhagem correta, pois se o
procedimento no acontecer em local adequado, o mesmo podem ocasionar a liberao de gases txicos
prejudiciais ao meio ambiente (BRAGA et. al, 2003).
Esta discusso importante para o bem estar social, bem como para proporcionar o equilbrio do
meio ambiente e sua possvel sustentabilidade e imprescindvel para o desenvolvimento do turismo. O
poder pblico tem o papel fundamental da gesto neste segmento, com o embasamento nas leis e nos
recursos financeiros provenientes dos impostos cobrados da populao, que devem ser investido na
educao da comunidade, fazendo com que os mesmos participem deste processo como colaborador em
todo o processo seletivo do lixo ate chegar reciclagem destes materiais e nos locais adequados para o
destino final dos mesmos.
A CIDADE DE PARNABA, OS RESDUOS SLIDOS, OS IMPACTOS AMBIENTAIS E A
SUSTENTABILIDADE TURSTICA
A cidade de Parnaba est localizada ao Norte do Estado do Piau, estando a 10km do litoral e a
340km da capital Teresina. a principal cidade do Plo Costa do Delta e o principal porto de entra do
turismo na regio. A cidade banhada pelo Rio Igarau, um dos afluentes do Rio Parnaba, e hoje, conta
com uma populao de mais 145 mil habitantes (IBGE, 2010). A cidade a de maior estrutura da regio
esse situa no centro do roteiro turstico integrado Rota das Emoes, considerada pelo Ministrio do
Turismo o melhor roteiro do Brasil (2009). O destino compreende a rea de Preservao Ambiental Delta
do Parnaba, no Piau, Parque Nacional de Jericoacoara, no Cear e o Parque Nacional dos Lenis no
Maranho.
Na organizao da cidade de Parnaba a situao do destino dos resduos slidos urbanos de uma
forma geral incipiente, ao mesmo tempo, que surge um ponto em destaque que a necessidade de se
manter uma cidade limpa para o desenvolvimento do turismo e do bem-estar das pessoas que nela reside.
Para reforar esta afirmativa preciso que acontea o recolhimento e a forma de armazenamento dos
resduos slidos de maneira correta.
A falta de infraestrutura em relao ao manejo adequado dos resduos slidos, a mesma ainda
apresenta problemas relacionados ao saneamento bsico, principalmente em relao rede de esgoto
tanto dos dejetos humanos, quanto os que se destinam ao escoamento de guas fluviais na cidade.
A gesto do Poder Pblico atravs da Prefeitura Municipal de Parnaba est atualmente
trabalhando com secretarias que esto frente das discusses que envolvem as questes ambientais,
principalmente com a criao de planos, projetos e encaminhamentos em prol da gesto ambiental e ao
mesmo tempo proporcionar uma qualidade de vida de forma sustentvel na cidade, so elas: Secretaria
Municipal de Meio Ambiente (SEMAR), Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMAR-PI), que
participaram desta investigao direta e contriburam para as informaes contidas nestes documentos.
Para a gesto publica municipal evidencia-se ainda a importncia de trabalhar com outras
secretarias, que possuem uma relao mais direta e com as cidades vizinhas principalmente no que diz
respeito sobre a Lei Federal da Poltica Nacional dos Resduos Slidos, que coloca como obrigatoriedade a
criao de consrcios para construes de Aterros Sanitrios at o final de 2014 com a sua regionalizao,
acabando de vez com os lixes a cu aberto, dessa forma seguindo tambm a Poltica Estadual de Resduos
Slidos, no Plano Diretor do Municpio de Parnaba (2007), tambm chamada de LEI N. 2.296/2007 que
anterior a Lei Federal dos Resduos Slidos.
Joo Pessoa, outubro de 2011

853
A investigao sobre a questo ambiental, em particular o estudo da interao entre a gesto
pblica, a populao local, o turismo e a discusso dos resduos slidos urbanos na cidade de Parnaba,
apontou os seguintes resultados da pesquisa realizada durante o primeiro semestre de 2011, que buscou
uma viso geral da problemtica do lixo e sua relao entre os 52% de moradores e 48% dos visitantes da
cidade.
Este equilbrio aconteceu devido aplicao dos questionrios terem se concentrado mais nos
finais de semana e feriados, dessa forma favorecendo a pesquisa, j que a mesma considera importantes as
explanaes de dois grupos na discusso dos problemas relacionados aos resduos slidos, do mesmo
modo, que procura investigar a relao com as aes entre poder pblico, a estrutura da cidade e a
comunidade. Quando perguntado se a cidade de Parnaba est preparada para receber turistas, 70%
responderam que no e 30% responderam que sim.
Sobre os que responderam no, foi perguntado o porqu da resposta negativa, os mesmos
responderam qualitativamente como a principal causa, a falta de infraestrutura. Seguindo a ordem dos
pontos negativos citados ainda esto a falta de qualificao profissional, restaurantes e hotis, organizao
dos servios prestados a comunidade, limpeza pblica, segurana, receptividade, sade, administrao
municipal, despreparo no atendimento comercial (lojas, restaurantes, hotis, etc.) e nos pontos tursticos,
atrativos culturais, transporte pblico, a falta de infraestrutura como saneamento bsico (rede de esgoto e
de guas pluviais), coleta regular do lixo e inexistncia de coleta seletiva.
Em relao aos 30% que responderam de forma positiva que a cidade de Parnaba estava
preparada para receber turistas e quanto acomodao da populao local, os destaques foram
respectivamente para a boa infraestrutura hoteleira e de restaurantes, seguida da organizao, variedades
de pontos tursticos, boa receptividade, praias bonitas e segurana. Neste sentido, se pode avaliar nestes
resultados que as pessoas tm vises diferenciadas sobre a cidade de Parnaba, mas infelizmente a forma
mais negativa foi predominante, cabendo ao poder pblico e os segmentos privados rever as polticas
pblicas e projetos de empreendimentos atuais e futuros para o desenvolvimento do turismo de modo que
satisfaa tanto a populao local quanto aos visitantes.
Os resultados obtidos sobre os pontos tursticos mais visitados na cidade na opinio de moradores
e visitantes foi o seguinte: 30% dos entrevistados disseram que visitam o Porto das Barcas, 24%
responderam que freguenta a Praia Pedra do sal, 19% a Av. Beira Rio, 17% a Praa da Graa e 10% visitam
outros pontos tursticos.
Como se pode perceber, o Porto das Barcas ponto turstico mais visitado da cidade de Parnaba,
apesar do resultado ter evidenciado certo equilbrio, porm, este resultado se configurou dessa forma
devido a anlise dos dados ter levado em considerao a opinio de todos os entrevistados, tanto
moradores, quanto turistas da cidade de Parnaba.
A anlise ainda enfoca sobre os pontos tursticos, nas vises dos moradores e visitantes, se
encontram com facilidade nestes locais coletores de lixo. Neste sentido, o resultado foi o seguinte: 75%
responderam que no encontram com facilidades coletoras e 25% afirmaram que encontro sim coletores
de lixo disponveis nestes locais.
O resultado da pesquisa mostra que na avaliao de moradores e turistas, a cidades de Parnaba
ainda apresenta deficincia na questo estrutural, principalmente em relao s quantidades disponveis
de coletores de lixo nos pontos tursticos e quando existem no so bem conservados.
CONSIDERAES FINAIS
O estudo levou em considerao a localizao da cidade de Parnaba, que est no extremo Norte do
Estado do Piau, sua dimenso populacional e fsica, onde o segundo municpio em nmero de habitantes.
Seu potencial em relao atividade turstica verificado com a crescente demanda de visitantes, atrados
a cidade por est localizada prximo ao nico Delta das Amricas em mar aberto, no nordeste brasileiro.
No entanto, como foi observado nesta pesquisa, a cidade ainda no apresenta uma boa infraestrutura
urbana que resguarde de forma eficaz a comunidade local e os turistas nas questes que envolvem o
tratamento adequado dos resduos slidos.
Neste sentido foi atribuda a questo de como amenizar os impactos socioambientais provocados
pelos os resduos slidos na cidade de Parnaba, do mesmo modo que apreende o fenmeno do turismo. E

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

854
com a realizao dos estudos, atravs das entrevistas a moradores e visitantes, assim como aos gestores
municipais, a visita in loco e a utilizao de autores que embasam o estudo.
Foi verificado na cidade uma falta de infraestrutura bsica que atenda a comunidade, que apesar
de significativa melhora, ainda no recebe de forma eficiente e igualitria a sociedade e muito menos os
visitantes. Este fato est diretamente ligado a problematizao dos impactos dos resduos slidos, que
apesar da simplria atuao do poder municipal, mostra que a cidade no oferece tambm uma estrutura
que auxilia no armazenamento, coleta e destinao final do lixo.
Outro ponto levantado na pesquisa que os ambientes naturais como solo e os mananciais so
constantemente poludos pelos resduos slidos, principalmente os solos do lixo a cu aberto e suas
proximidades, que outro erro na gesto pblica dos resduos. Do mesmo modo o Rio Igarau que um
dos afluentes do Rio Parnaba e passa ao lado da cidade e sofre com o indiscriminado descarte de lixo
constante. Estas aes contribuem diretamente para a proliferao de doenas, assim como a
contaminao humana que tem contato com estas reas.
Foi constado que os impactos dos resduos slidos provocam um efeito de repulso para os turistas
e tambm para a comunidade, que apontam a disposio dos resduos nas vias pblicas uma agresso a
prpria sociedade e meio ambiente, dessa forma os afastando da cidade. Este fato indica uma influencia
negativa que dificulta o desenvolvimento do turismo, entre outros problemas como a falta de saneamento
bsico observado tanto por moradores como por turistas.
As aes do poder pblico, no que diz respeito ao tratamento adequado dos resduos, ainda se
encontram de forma deficitria, principalmente em relao aos recursos financeiros destinados as
secretarias, assim como a disponibilidade de material que auxilie nas questes ambientais e sua proteo.
Sugere-se, neste sentido, que os rgos pblicos responsveis providenciem e organizem aes e
campanhas que informem, orientem e auxiliem a populao no combate a disposio inadequada dos
resduos no ambiente, dessa forma convocando toda a comunidade a participar de forma direta dos atos e
discusses desta problemtica. E ainda buscar parcerias com as empresas da cidade que auxiliem na
manuteno do lixo, j que a maioria destes resduos descartados parte destes empreendimentos.
Assim, em relao atividade turstica, um ponto em discusso se volta para as questes
ambientais que abrange tanto moradores quanto turistas, seriam os postos de informaes tursticas, que
alm de fornecer dados sobre os atrativos tursticos locais, poderiam estar sensibilizando sobre as questes
ambientais, principalmente no que se refere s discusses dos resduos slidos descartados de forma
irregular no meio ambiente e a busca da sustentabilidade. Portanto, estima-se que a discusso dos resduos
slidos e o turismo na cidade de Parnaba e em outros destinos, somente ser percebido como bom para o
turista, se antes de qualquer coisa, for bom para as pessoas que nele vivem.
REFERNCIAS
ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 10004. Resduos Slidos: classificao. Rio
de Janeiro, 2004. Disponvel em: <http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_pagina=1233>. Acesso em: 23 set.
2010.
BRAGA, R, A. O Impacto dos Resduos Slidos. In: __________, BRAGA, R, A.; GRABHER C.; LAHZ C.
C. F.; GOTARDI, K. R. Educao Ambiental para a Gesto dos Recursos Hdricos. Livro de Orientao ao
Educador. Americana, SP: Consrcio PCI, 2003. 251 p.: il.;
BRASIL. Lei n 12.305 de 2 de Agosto de 2010. Institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos, altera
a Lei n 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF.
Cmara dos deputados.
______. GOVERNO FEDERAL DO. INSTITUTO BRASILIERO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. 2010.
Disponvel
em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/defaulttab_hist.sh
tm. Acesso em: 15 fev. 2011.
CARLOS. A. F. A. Uma Leitura sobre a Cidade. In: CARLOS. A. F. A. O espao urbano: Novos escritos
sobre a cidade. So Paulo: Labur Edioes, 2007. p. 11.
Disponvel em: <http://www2.camara.gov.br/>. Acesso em: 21 out. 2010.
em transformao. 2. ed. So Paulo SP . Ed. Globo, 2005. 302 p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

855
FARIA, A. C. de.; CUNHA, I. da.; FELIPE, Y. X. Manual Prtico para Elaborao de Monografias:
Trabalhos de Concluso de Curso, Dissertaes e Teses. 3. ed. Petrpolis, RJ: Vozes; So Paulo: Editora
Universidade So Judas Tadeu, 2008.
GIL. A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. So PaulO: Atlas, 2002.
IPHAN. Instituto do Patrimnio Histrico Artstico Nacional. Conjunto Histrico e Paisagstico de
Parnaba. Teresina: IPHAH, 2008 40p.
MARCONI, M. de A ;LAKATOS, E. M. Metodologia do Trabalho Cientfico: procedimentos bsicos,
pesquisa bibliogrfica, projeto e relatrio, publicaes e trabalhos cientficos. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2001.
MARTINS, B. L. Anlise do Plano Integrado de Gesto, Gerenciamento e Manejo dos Resduos
Slidos Urbanos no Municpio de Lenis Paulista. 2009. 146 p. Orientador: Jair Wagner de Souza
Manfrinato. Dissertao (Mestrado). Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de produo
. Bauru, 2009.146f.
OLIVEIRA, F. de P. M.; GUIMARES, F. R. Direito, Meio Ambiente e Cidadania: uma abordagem
interdisciplinar. So Paulo: Madras, 2004. 141p.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARNABA. PLANO DIRETOR DO MUNICPIO DE PARNABA. LEI N.
2.296/2007. Dispe sobre o Plano Diretor do Municpio da Cidade de Parnaba. Parnaba, 2007.
TRIGUEIRO, A. Mundo Sustentvel: abrindo espao na mdia para um planeta
WALDMAN, M. Lixo: cenrios e desafios. So Paulo: Cortez, 2010. 231 p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

856

CARACTERIZAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS DE INDSTRIAS


CERMICAS NA COMUNIDADE DE POO REDONDO, RUSSAS - CE
Francisco Uberlnio da SILVA
Engenheiro Civil pela UFRN- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Ps-graduao em Eng. de Segurana do
Trabalho e Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte IFRN, Mossor-RN.
E-mail:uberlanio@gmail.com
talo Gualberto ARRAIS
Universidade Federal Rural do Semirido UFERSA. Graduando do Curso Engenharia Agronmica.
E-mail:talo_arraes@hotmail.com

RESUMO:
A transformao que a indstria da cermica vem causando no meio ambiente em busca de
crescimento econmico mostra os danos causados natureza e para a sociedade em geral. Em sntese, as
atividades ceramistas intensificam os graves problemas registrados no meio ambiente, principalmente os
referentes ao desgaste dos solos, retirada da vegetao nativa, etc. Diante do exposto, o presente trabalho
visa identificar os impactos scio-ambientais gerados pela indstria ceramista na Comunidade Poo
Redondo, Russas-CE. O objetivo caracterizar os principais impactos envolvidos nessa cadeia, visando
apontar iniciativas ambientais adotadas e melhorias a serem incorporadas. Alm disso, esse trabalho visa
tambm relacionar os impactos e as caractersticas como magnitude, importncia e durao, e se o
impacto positivo ou negativo. Na busca por respostas sobre os impactos desse setor na comunidade e as
conseqncias da produo, se fez necessrio primeiramente um estudo bibliogrfico sobre as atividades
ceramista na regio, bem como foram feitas pesquisa no municpio na busca de entender e coletar dados
de como essa indstria vem se desenvolvendo. Constatam-se, com essa pesquisa, vrios problemas
socioambientais gerados em decorrncia da indstria ceramista gerados no decorrer do seu processo
produtivo como, o desgaste acelerado dos solos de onde retirado o barro, matria prima para a produo
dos tijolos e telhas, alm do desmatamento e da poluio do ar, decorrentes da queima de lenha para
gerao de energia. Faz-se necessrio, portanto, a busca pela sustentabilidade e a implementao de
programas e projetos visando utilizao das tecnologias e das tcnicas sugeridas, de polticas gerenciais e
de preservao ambiental.
INTRODUO
A indstria da cermica vermelha no estado do Cear tem grande importncia
socioeconmica por gerar renda, emprego e propiciar produtos com preos acessveis para a construo
civil, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida, principalmente por estar presente em
todas as regies do estado. Por outro lado, o setor industrial em questo ocasiona geralmente grande
impacto ambiental ao realizar a extrao das matrias-primas (argila) sem planejamento tcnico prvio e
fazer uso intensivo de lenha em fornos com baixa eficincia energtica, o que contribui significativamente
para a desertificao, a eroso, a poluio, a reduo da biodiversidade, o esgotamento das reservas
minerais e florestais, a descaracterizao da paisagem e a reduo dos solos agricultveis (PESSOA, 2004).
No estado do Cear, a indstria cermica notadamente voltada para a produo de telhas e
tijolos vermelhos, tem grande importncia socioeconmica por gerar cerca de 8.000 empregos diretos e
renda correspondente comercializao de aproximadamente 123.000 milheiros de peas cermicas por
ms, destinadas ao prprio estado e a outros da regio Nordeste (SINDCERMICA-CE et al., 2002). Alm
disso, contribui para a melhoria da qualidade de vida da populao, ao reduzir os custos da construo civil,
estando presente em 85 municpios integrantes de todas as regies do estado, de acordo com a Figura 1
abaixo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

857

Figura 1. Distribuio da indstria cermica no estado do Cear.


Fonte: SINDCERMICA-CE et al. (2002).
Sabe-se que para o funcionamento desse setor industrial, faz-se necessrio o processo de
extrao de barro para a obteno da matria-prima, a mistura, a moldagem, a secagem, a queima do
produto e seu destino final. Vemos que nessa produo ainda utilizado lenha para queima dos
produtos, em que esse arcaico procedimento vem sendo apontado como um dos principais fatores que
contribuem para a ocorrncia do fenmeno de desgaste do solo e, conseqentemente, a desertificao.
(SILVA, 2007).
A degradao ambiental decorrente da extrao de argila tem sido tema de estudos,
valendo destacar os realizados no Cear por Carneiro Filho (1999), Parahyba et al. (2000) e Pinheiro (2002),
que constataram a gravidade do problema, apresentando sugestes para a sua soluo. Os efeitos
negativos dessa atividade, quando realizada desordenadamente, sem planejamento prvio so os mais
adversos, sobressaindo-se a eroso e a conseqente destruio do solo, o que acarreta perdas de hbitats
e da biodiversidade, alm da descaracterizao da paisagem natural.
Por se tratar de uma prtica com maior poder de alterao do meio ambiente local e
regional, embora no se torne to visvel, a atividade de fabricao de artefatos de argila provoca
conseqncias negativas do ponto de vista fsico, uma vez que a utilizao da madeira que ainda passa a ser
considerada com um processo degradante, no s pelo corte das rvores, mas tambm pela queima do
produto que libera gs carbnico na atmosfera, interfere no meio bitico. Tradicionalmente, a indstria da
cermica vermelha do estado do Cear tem usado a lenha como fonte de energia trmica para os fornos,
no processo de queima das peas cermicas conformadas, sem que haja, em geral, preocupao com a
reposio dos estoques florestais, fato constatado por Pontes (1995).
Os fornos utilizados apresentam geralmente baixa eficincia trmica, o que implica em
maior consumo de lenha. Levando-se em conta a fragilidade da caatinga e a sua propenso a processos de
desertificao, conforme Viana & Rodrigues (1999), o desmatamento desordenado para o fornecimento de
lenha certamente est ocasionando uma grande degradao ambiental.
Considerando que os impactos negativos no meio ambiente ocasionados pela indstria
cermica so conseqncia da falta de planejamento, bem como do uso inadequado de tecnologias e
tcnicas, prope-se a realizar um levantamento dos impactos relacionados aos empreendimentos das
cermicas levando em conta aspectos socioeconmicos e ambientais, tendo em vista a grande
concentrao de cermicas nesse municpio, de acordo com a Tabela 1.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

858

Tabela 1. Estado do Cear Os dez mais importantes municpios, por produo de peas cermicas.
Municpios
Russas
Caucaia
Aquiraz
Crato
Alto Santo
Limoeiro do Norte
Sobral
Maracana
Cascavel
Palhano
Total
Total Estadual
(85 municpios)

Produo mensal de
cermicas
Milheiro
%
43.080
35,1
7.418
6
7.315
5,9
4.843
3,9
4.582
3,7
3.506
2,8
3.141
2,6
2.850
2,3
2.445
2
2.180
1,8
81.360
66,3
122.642

100

peas
Empresas
N
86
17
10
9
10
12
4
5
7
6
160

%
26,5
5,2
3,1
2,8
3,1
3,7
1,2
1,5
2,2
1,9
44,4

Empregos
N
2.229
396
339
264
261
301
350
354
206
87
4787

%
27,8
5,3
4,2
3,3
3,2
3,7
4,3
4,4
2,6
1,1
59,6

324

100

8031

100

Fonte: SINDCERMICA-CE et al. (2002).


Sabendo-se que as tcnicas utilizadas na produo de cermica no municpio de Russas no
so as mais aconselhveis do ponto de vista econmico e ambiental, o crescimento populacional e o
desenvolvimento da cidade, em termos locais, tm gerado um acmulo em larga escala de resduos
produzidos pelo homem, tendo como conseqncias o agravamento do quadro ambiental, uma vez que a
falta de novas tecnologias, de polticas gerenciais e de preservao ambiental proporcionam a disposio
de resduos, sendo que esta alm de consumirem grande parte das reservas de argila contribui de certa
forma errnea para o acmulo de resduos.
Diante do exposto, pretende-se apontar e detalhar, na medida do possvel, os
levantamentos dos impactos ambientais relacionados aos empreendimentos das cermicas na comunidade
de Poo Redondo, Russas - CE, relacionando os impactos e as caractersticas como magnitude, importncia
e durao, e se o impacto positivo ou negativo.
METODOLOGIA
Foi utilizado para o referente estudo dos impactos causados pelos empreendimentos das
cermicas, meios de avaliao baseados numa visita in loco, que proporcionou uma viso real e contribuiu
significativamente com as observaes e constataes da situao em que se encontrava o local do estudo.
O trabalho passou por vrias etapas, e uma que exerceu grande contribuio, foi s pesquisas
bibliogrficas, que alm de fornecerem dados, nos possibilitou avaliar e interpretar os impactos ambientais.

Figura 2. Localizao da cidade de Russas.


Joo Pessoa, outubro de 2011

859

A cidade de Russas (Figura 2) localizada no estado do Cear tem uma populao de 69.880
habitantes (IBGE, 2010) e est localizado no Vale do Rio Jaguaribe, especificamente no Baixo Jaguaribe. O
municpio de Russas dista 162 km de Fortaleza (via BR 116) e possui uma rea de 1.614,3 km, fazendo parte
da microrregio administrativa do Baixo Jaguaribe. Limita-se ao norte com os municpios de Morada Nova,
Beberibe e Palhano; ao sul com Morada Nova, Limoeiro do Norte e Quixer; a leste com Quixer,
Jaguaruana e Palhano e a oeste com Morada Nova (IPLANCE, 2000). Tem clima tropical quente semi-rido
com pluviometria mdia de 829,8 mm com chuvas concentradas de janeiro a abril. Suas principais fontes
hdricas so Rio Jaguaribe; Riachos Araib, Umburanas, Crrego da Bananeira, Lagoa da Caiara e os Audes
Altamira, Santo Antnio e das Melancias.
Possui vrias comunidades, dentre elas a comunidade de Poo Redondo (Figura 3) localizada na
zona rural do municpio na qual ser o alvo de estudo deste trabalho. A comunidade tem pouco mais de
800 habitantes, com uma vila central chamada vila Lino Gonalves, tem uma escola de ensino fundamental
com o mesmo nome, uma quadra de esportes e a capela de Nossa Senhora Rosa Mstica, a comunidade
no tem acesso gua encanada e sistema de esgoto.

Figura 3. Comunidade de Poo Redondo. Fonte: Pesquisa

Figura 4. Fbrica de Telhas. Fonte: Pesquisa


Pela comunidade passa um trecho da rodovia estadual CE-356, a estrada da fruta,
construda pelo Governo do Estado do Cear, com a finalidade de escoar a produo frutfera da regio e
do Rio Grande do Norte mais rapidamente para o Porto do Pecm. As atividades na comunidade giram em
torno da agricultura, principalmente a produo de cebolinha e a indstria da cermica (Figura 4), com a
fabricao de tijolos e telhas, para a qual a extrao de argila e desmatamento intenso. Est no bioma
caatinga, com uma grande variedade de plantas arbreas, at pequenos arbustos e semi-arbustos. E entre
sua fauna encontram-se diversas espcies, com predominncia de aves e de rpteis. O solo bastante
argiloso e um pouco arenoso.
Na comunidade passa um riacho, chamado Araib, mas no perene, ficando cheio apenas
na poca das chuvas. Dele extrada areia ilegalmente para a construo de casas. A 5 km de Poo
Redondo passa o Rio Jaguaribe, sendo aproveitado pela comunidade apenas para lazer.
Na plancie fluvial do municpio de Russas, onde esto os depsitos aluviais explorados para
a obteno de matrias-primas cermicas, a cobertura vegetal constitui-se de vegetao subcaduciflia de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

860
vrzea, havendo o domnio da carnaubeira (Copernicia prunifera). De acordo com Elias et al. (2002), a
abundncia da carnaubeira deve-se ao antrpica que, devido importncia comercial dessa rvore no
passado, sacrificou, ao longo dos anos, os outros vegetais lenhosos, a fim de evitar a competio
interpopulacional, facilitando tambm o trnsito dentro das reas de extrativismo.
O municpio de Russas, de acordo com a SEFAZ, possui atualmente cerca de 170 empresas
industriais ativas, das quais 82 so indstrias cermicas, o que comprova a importncia desse segmento
industrial para o municpio.
Vale ressaltar que o crescimento do plo cermico de Russas e do nmero de cermicas em
outros municpios situados ao longo do rio Jaguaribe e de seus principais afluentes ocorreu em funo da
excelente qualidade e da abundncia dos depsitos de argila, bem como do fato de a regio ser bem
servida por rodovias, o que facilita o escoamento da produo. Pela rodovia BR-116, em cuja margem se
situa a cidade de Russas, telhas coloniais so transportadas para outros estados da regio Nordeste,
considerando que por essa rodovia chegam os produtos provenientes de outros estados nordestinos e das
regies Sudeste e Sul do pas e que a telha se constitui em um produto atrativo para ser transportado no
retorno dos caminhes (PESSOA, 2004).
FLORA
A flora composta por espcies da caatinga, prevalecendo a Carnaba, Oiticica e uma
planta conhecido popularmente como leiteiro.
A carnaba um dos principais tesouros da flora local, dela pode-se extrair a madeira no qual
usada em construes, da sua palha se extrai um p usado na fabricao de cera que chega at a ser
exportada, esta cera usada principalmente na ps-colheita de frutas, para evitar a perca de gua e dar um
aspecto melhor. Sua palha triturada tambm usada como cobertura vegetal para os canteiros de
cebolinha.
Outras plantas de grande ocorrncia so Pau Branco, uma rvore de grande porte, que d nome a
outra comunidade de Russas, a Hortncia um arbusto com poucas folhas e grande quantidade de seiva, no
qual pode ser observado em toda regio nordeste. Tambm se encontra em Poo Redondo, o Peo umas
das mais abundantes, usado na crena popular pelas rezadeiras na cura de doenas.
Os moradores tambm implantaram variedades de plantas que no so tpicas da caatinga, como
plantas ornamentais e frutferas. Observam-se na comunidade, plantas como Cajueiro de onde se extrai a
castanha para vender, Mangueira e Coqueiro. A planta que se pode observar em todos os quintais das
casas dos moradores o Nim onde a planta tem sido adotada devido ao rpido crescimento, pequeno
comprimento das razes e bom sombreamento.
FAUNA
H uma variedade significativa de mamferos, aves e rpteis, principalmente aves. Quanto
aos mamferos foram observadas poucas espcies. Tambm existem muitos animais domsticos como
vacas, ovelhas e galinhas, usadas para subsistncia dos moradores. Alguns animais no so mais vistos no
local devido intensa caa predatria, como o caso das Avoantes. Dentre os mamferos encontram-se
Guaxinim, animal de habito noturno, passa a manh dormindo em cima das Carnabas ou Oiticicas. Os
rpteis de maior ocorrncia so o Tei ou Tejo e a Iguana, que os moradores chamam de camaleo.
Definitivamente as aves compreendem o maior nmero de espcies na localidade. As
Avoantes, uma espcie que habitava a regio, agora raramente vista, devido caa predatria. Outra
espcie que vem sofrendo com os caadores so as rolinhas, mas essa vem conseguindo se preservar. As
aves de rapina tambm so comuns na regio, so elas carcar e o gavio pega-pinto. O Anu Preto e o Anu
Branco popularmente chamado de Alma-de-gato so bastante vistos nas rvores e em arbustos nos quais
gostam de ficar, fazendo vos curtos de uma planta para outra. Aves canouras tambm habitam a
comunidade de Poo Redondo, o Canrio-da-terra e o Galo de campina so grande alvo dos caadores.
Devido beleza de seu canto, so bastante caados e vendidos de forma ilegal em pleno mercado no
centro da cidade de Russas.
A populao local, tambm vive da criao de animais da fazenda, com a criao de vacas,
no qual vendem o leite no comrcio local. Alguns tambm criam ovelhas para a produo de carne e couro,

Joo Pessoa, outubro de 2011

861
e a criao de galinhas. Todos os criadores da comunidade tm apenas pequenos rebanhos, ningum vive
apenas da produo animal, todos tm outra atividade.
LISTAGEM DOS IMPACTOS AMBIENTAIS
As tabelas a seguir contm informaes sobre os impactos ambientais da comunidade de
Poo Redondo. Nelas esto relacionados os impactos e as caractersticas como magnitude, importncia e
durao, e se o impacto positivo ou negativo. Os meios afetados tambm esto inclusos na tabela.
Tabela 2. Especificaes dos impactos.
LOCAL/AGENTE

IMPACTOS
- Poluio pro liberao de CO2
- Doenas respiratrias
- Desmatamento
- Eroso
- Compactao do solo
- Escorrimento da gua
- Disposio inadequada de entulho
- Poluio sonora
- Poluio visual
- Perca da fauna
- Fuligem
- Uso de agrotxicos
- Uso exagerado de fertilizantes qumicos
- Desgaste do solo
- Compactao do solo
- Perca da fauna
- Desmatamento

FBRICA DE TELHAS

AGRICULTURA

Tabela 3. Quantificao dos impactos conforme sinal, magnitude, importncia e durao.


IMPACTOS AMBIENTAIS

SINAL
+
X
X
X
X
X
X

1-Doenas respiratrias
2-Poluio por liberao de CO2
3-Desmatamento
4-Eroso
5-Compactao do solo
6-Escorrimento da gua
7-Disposio inadequada de entulho
8-Poluio sonora
9-Poluio visual
10-Perca da fauna
11-Fuligem
12-Gerao de empregos

X
X
X
X
X
X

13-Uso de agrotxicos
14-Uso exagerado de fertilizantes qumicos
15-Desgaste do solo
16-Acidentes com veculos e pedestres
17-Roubos
18-Pessoas retiradas de casa
19-Escoamento da produo agrcola mais
rpido
20-Aumento na qualidade de vida
TOTAL

X
X
X
X
X
X

MAGNITUDE
P
M
G
X
X
X
X
X
X

IMPORTNCIA
1
2
3
X
X
X
X
X
X

DURAO
4
5
6
X
X
X
X
X
X

X
X

X
X

X
X
X
X

19

X
X
X
X

X
X
X
X

X
X
X

X
X

X
X
X

X
X
2

X
13

X
X

X
X
X
X
X
X

X
X

X
12

X
7

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

862
Tabela 4. Quantificao dos impactos, meio fsico, bitico e antrpico.
MEIO
AFETADO
FSICO
BITICO
ANTRPICO
TOTAL

COMPONENTE

TOTAL

GUA
AR
SOLO
FLORA
FAUNA
SOCIAL

2
3
5
7
4
11
32

SINAL

MAGNITUDE

IMPORTNCIA

DURAO

x
1

X
X
x
x
x
x
6

G
x
x
x
x

x
x
2

3
x
x

x
x

x
x

x
x
x
1

x
x
3

Tabela 5. Matriz por meio afetado, para os impactos registrados, conforme sinal, magnitude e
importncia.
MEIO
AFETADO

FSICO

COMPO
NENTE

ASPECTO/IMPACTO
1

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

GUA

-1
4

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-2
5

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

AR

-3
6

-3
6

-2
5

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-2
5

-1
4

-3
6

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

SOLO

-1
4

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-3
6

-2
5

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

FLORA

-2
5

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-3
6

-1
4

-1
4

-1
4

-3
5

-2
5

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

FAUNA

-2
5

-3
6

-3
6

-2
5

-2
5

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-3
6

-2
5

-1
4

-3
6

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

-1
4

SOCIAL

-3
6

-3
6

-2
5

-2
5

-1
4

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

-2
4

-3
6

-3
6

-2
5

-1
4

-3
6

-3
6

-3
6

12

12

16

14

13

11

11

+
3
6
8

18

13

12

+
3
6
8

+
3
6
8

26

36

31

30

24

24

24

24

24

BITICO

ANTRPICO

TOTAL

11
30

30

34

32

31

29

27

26

26

27
29

Onde: +/- = Positivo ou Negativo; M = Magnitude; I = Importncia.


MAGNITUDE: 0 Nulo; 1 Pequena; 2 Mdia; 3 Grande.
IMPORTNCIA: 4 No significativa; 5 Moderada; 6 Significativa.
MANEJO E GESTO DOS IMPACTOS GERADOS
Os impactos observados na comunidade so principalmente gerados pela indstria, no caso
as fbricas de cermicas. O impacto mais relevante a poluio pela queima da madeira liberando CO2 e
fuligem, este problema poderia ser resolvido com a instalao de filtros na chamin. Outro grande impacto
provocado pelas cermicas o desmatamento, muitas vezes ilegal, de mata nativa, as cermicas teriam que
elaborar um plano de avaliao e recuperao de reas degradadas, j existe vrios estudos relacionados
recuperao dessas reas. A agricultura tambm vem causando grandes impactos devido ao uso de
agrotxicos, isso poderia ser resolvido com assistncia tcnica, atravs de cursos e palestras sobre cultivo
orgnico de frutas e hortalias, com isso eles deixariam de utilizar agrotxicos ou reduzi-los. Quanto
compactao e o desgaste, a assistncia tcnica tambm podia resolver, conscientizando os agricultores
sobre manejo correto do solo.
MANEJO FLORESTAL SUSTENTVEL
O manejo florestal sustentvel constitui-se na tcnica adequada para se fazer a explorao
racional da mata nativa visando ao fornecimento de lenha para a Indstria cermica do Cear, bem como
conservao da biodiversidade, passando a lenha a ser um recurso renovvel (LOPES et al., 2001).

Joo Pessoa, outubro de 2011

863
A elaborao de um plano de manejo florestal sustentvel deve ser feita por engenheiro
florestal, podendo o mesmo ser submetido aprovao do IBAMA ou da SEMACE.
Inicialmente, necessrio fazer um inventrio florestal que contenha o levantamento das
espcies vegetais e o volume de madeira existente, atravs de amostragem. Em seguida, deve-se proceder
diviso da rea em talhes a serem explorados em sistema de rotao, fazendo-se o corte seqenciado
de um talho a cada ano, de tal maneira que, ao completar um ciclo, tenha havido a regenerao natural e
autgena das rvores cortadas no incio, devendo ser preservadas as espcies protegidas, como a aroeira
(Myracrodruon urundeuva), (PESSOA, 2004).
CONSIDERAES FINAIS
As discusses sobre as questes ambientais vm tomando grandes dimenses e,
proporcionalmente, assumindo-se como desafios frente os impactos negativos gerados pelas atividades
humanas no meio socioambiental. Em sntese, as atividades ceramistas intensificam os graves problemas
registrados no meio ambiente, principalmente os referentes ao desgaste dos solos, retirada da vegetao
nativa, etc.
A transformao que essa indstria vem causando no meio ambiente em busca de
crescimento econmico mostra os danos causados natureza e para a sociedade em geral. Aps analisar os
impactos causados pelos empreendimentos das atividades ceramistas na comunidade de Poo Redondo
(Russas-CE), pode-se constatar que sua sustentabilidade est comprometida em termos sociais,
econmicos e ambientais.
Vale salientar, que um padro de produo e desenvolvimento, no qual o crescimento da
economia e consequentemente a gerao de riquezas, tem que estar em harmonia com a preservao
ambiental, bem como o manejo dos recursos naturais e uma melhor qualidade de vida para os cidados.
Para isso, necessrio a implementao de programas e projetos visando utilizao das tecnologias e das
tcnicas sugeridas, de polticas gerenciais e de preservao ambiental. necessrio que haja
conscientizao por parte dos empresrios e populaes.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CARNEIRO FILHO, A. Impactos da minerao e procedimentos tcnicos de reabilitao de reas
degradadas na regio metropolitana de Fortaleza, Estado do Cear. 1999. 167f. Dissertao (mestrado em
geografia) Centro de Cincia e Tecnologia, Universidade Estadual do Cear - UECE, Cear, 1999.
ELIAS, D. (org.). O novo espao da produo globalizada: o Baixo Jaguaribe - CE. Fortaleza: FUNECE,
2002. 366p.
INSTITUTO DE PLANEJAMENTO DO CEARA. Anurio estatstico do Cear. Fortaleza: IPLANCE, 2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA IBGE. Censo demogrfico - Cear. Rio de
Janeiro, 2010.
LOPES, I. V. et al. (orgs.). Gesto Ambiental no Brasil: experincia e sucesso. 4 ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2001. 401p.
PARAHYBA, R. E. R.; CAVALCANTI, V. M. M; MEDEIROS, M. F. Projeto TECMO Tecnologia em
cermica. Aes para a modernidade e competitividade. Atividades 11, 12, 13, 14, 15. (Relatrio
preliminar). Fortaleza, 2000. 35p.
PESSOA, J. M. A. P. Tecnologias e tcnicas apropriadas para o desenvolvimento sustentvel: o caso
da indstria cermica de Russas - CE. Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado em Desenvolvimento
e Meio Ambiente da Universidade Federal do Cear, UFC. 2004.
PINHEIRO, F. S. A. Impactos da extrao de argila na plancie aluvial do rio Jaguaribe. Fortaleza,
2002, 87f. Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente), UFC, Fortaleza, 2002.
PONTES, F. S. T. O Consumo de lenha da indstria cermica: da ameaa ambiental essencialidade
da industrializao (Um Estudo de Caso) 1995, 67p. Dissertao (Mestrado em Economia Rural), UFC,
Fortaleza, 1995.
SINDICATO DA INDSTRIA CERMICA DO CEAR SINDCERMICA-CE et al. Diagnstico setorial da
indstria cermica do Cear. Fortaleza, 2002. 74p.
SILVA, V. P. Impactos ambientais da expanso da cermica vermelha em. 2007

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

864
VIANA, M. O. L.; RODRIGUES, M. I. V. Um ndice interdisciplinar de propenso desertificao (IPD):
Instrumento de Planejamento. Revista Econmica do Nordeste, Fortaleza, v. 30, n 3, p.264-294, jul-set.
1999.

Joo Pessoa, outubro de 2011

865

EDUCAO AMBIENTAL COM NFASE NA CONTENO DE ENCOSTAS


PARA ALUNOS DE ESCOLAS PBLICAS EM RECIFE
Helena Caf de Moura MENDES
Graduanda em Engenharia Agrcola e Ambiental- UFRPE
helenacafe@yahoo.com.br
Gledson Luiz Pontes de ALMEIDA
Professor do Departamento de Tecnologia Rural UFRPE
gledson81@hotmail.com
Irenilson Machado da SILVA
Engenheiro Agrcola e Ambiental
irenilsonmachado@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de proporcionar aos alunos de escolas pblicas o
senso crtico em relao aos problemas ambientais e importncia da insero da Educao Ambiental no
currculo escolar frente s questes relativas conservao e preservao de recursos naturais e qualidade
de vida. Verifica-se, segundo estudos atravs do projeto de extenso, a importncia da educao ambiental
para conscientizao e mobilizao social nas escolas pblicas do governo do Estado de Pernambuco.
Explanam-se conceitos importantes para o desenvolvimento da perceptiva ambiental, como: caractersticas
do solo, tipo de cobertura vegetal, onde estas esto correlacionadas com o deslizamento de encostas. A
disseminao do projeto nas escolas foi feita atravs de palestras, oficinas e atividades ldicas para
melhorar a percepo do assunto abordado. A anlise dos dados feita atravs da aplicao de
questionrios prvios e ps- apresentaes feitas nas escolas e, por conseguinte sua catalogao que aps
as palestra os alunos aumentaram seu grau de conhecimento quanto ao assunto abordado.
Palavras Chaves: deslizamento de encostas, desenvolvimento sustentvel, projeto de extenso,
mobilizao social
INTRODUO
A Educao Ambiental no Brasil est regulamentada pela Lei 9.795/99, que instituiu a Poltica
Nacional de Educao Ambiental (PNEA), sendo compreendida como os processos por meio dos quais o
indivduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competncias
voltadas para a conservao do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 2001)
A Educao Ambiental tem sido amplamente discutida e valorizada, sendo apontada como
elemento integrador dos sistemas educativos de que dispe a sociedade para fazer com que a comunidade
tome conscincia do fenmeno do desenvolvimento e de suas implicaes ambientais. Devendo para isso,
no s privilegiar a transmisso de informaes, mas, focalizar tambm, o desenvolvimento de habilidades
e atitudes que garantam a manuteno do equilbrio ambiental e da qualidade de vida condizente com as
necessidades e aspiraes da comunidade (KRASILCHICK, 1986).
A importncia emergente da Educao Ambiental nos dias contemporneos um fato consolidado
em todas as esferas sociais, a tal ponto que, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao, Lei 9.394/96, no
que diz respeito aos objetivos do ensino fundamental, no inciso II do Art. 32, aponta para a compreenso
do ambiente natural e social, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade (BRASIL, 1999).
A ocupao nos morros de Recife foi feita de maneira desordenada, e hoje densamente povoados,
com uma populao aproximada de 469.242 correspondendo a 33% da populao total da cidade que de
1.421.947, de acordo com dados obtidos pela Comisso Municipal de Defesa Civil do Recife (CODECIR,
2006). A densidade demogrfica mdia equivalente a 64,8 hab/km no Recife como um todo, sobe para
196,3 habitantes nas reas pobres. Dos 3.357 hectares ocupados por reas pobres no Recife, 57,6 %
localizam-se nos morros, 37,4 na plancie e 5% nos alagados. Estima-se que, anualmente, milhares de
pessoas morrem devido aos deslizamentos no mundo, ocasionando dezenas de bilhes de dlares de
prejuzos (BRABB, 1991).
Em Recife no ano de 1984 ocorreram 12 mortes e em 1989, 8 mortes. No ano de 2000, no segundo
semestre, 150 casas desmoronaram de uma s vez, na Vila Boa Vista. Baseado na quantidade alarmante de
acidentes ocasionados pelo deslizamento de encostas no Estado de Pernambuco, esta sendo desenvolvido
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

866
nas Escolas pblicas do Governo do Estado, mais precisamente com alunos no ensino mdio, um projeto de
extenso da UFRPE com enfoque na ocupao de encostas.
Deslizamentos so deslocamentos de massas de solo sobre um embasamento saturado de gua.
Neste sentido os deslizamentos dependem na essncia de vrios fatores como expostos a seguir: inclinao
das vertentes, quantidade e frequncia das precipitaes, presena ou no da vegetao, consolidao do
material. A autora opta por consolidar a pesquisa considerando a proposta de Guerra para o conceito de
deslizamento. A ao humana muitas vezes pode acelerar os deslizamentos, atravs da utilizao
irracional de reas acidentadas (GUERRA, 2006).
O interesse em se estudar o controle dos deslizamentos, principalmente em encostas de reas
urbanas, vem crescendo, pois no mais se trata de um problema s natural e catastrfico, mas um
problema socioeconmico do pas, pela quantidade de casos com vtimas e perdas materiais nos diversos
Estados.
Assim, este trabalho consiste numa experincia de extenso universitria para a educao
ambiental no currculo da escola de ensino fundamental e mdio, junto a professores e alunos, tendo como
ponto de partida suas representaes sobre as questes ambientais e suas consequncias; incentivando a
formao e manuteno de um vnculo afetivo individual e coletivo com o meio ambiente local.
Objetivou-se com este trabalho proporcionar aos alunos de escolas pblicas o senso crtico em
relao aos problemas ambientais e importncia da insero da Educao Ambiental no currculo escolar
frente s questes relativas conservao e preservao de recursos naturais e qualidade de vida.
MATERIAIS E METODOS
Para catequizao do projeto foram feitas pesquisas secundrias para formulao das
atividades ldicas, maquete com perfil do solo para facilitar o entendimento do comportamento do solo na
presena de chuva, dinmicas com os jovens e elaborao das apresentaes em escolas pblicas de ensino
mdio.
As pesquisas secundrias se basearam em projetos relacionados educao ambiental para jovens,
estas feitas em livros, apostilas e sites correlacionados. Assim como, artigos e trabalhos relacionados com o
deslizamento de encostas, abordando temas como: Eroso, infiltrao da gua no solo, tipo corretos de
moradia, riscos existentes nas encostas, e assuntos afins.
Foram
confeccionadas
apresentaes
referentes ocupao de encostas para serem apresentadas nas escolas, com a utilizao de data show.
Para construo da maquete, tambm utilizada nas apresentaes, foi usada uma estrutura de
vidro onde foi exposto o perfil do solo, dividido em duas situaes: a primeira com cobertura vegetal e a
outra sem cobertura. Ambas as situaes foram submetidas a uma simulao de chuva, onde foi possvel
demonstrar a importncia da cobertura vegetal e os impactos causados pela chuva no solo.
Para diagnstico do conhecimento prvio dos alunos foi aplicado um questionrios antes da
apresentao composto de questes, em sua maioria objetivas, conforme quadro 1. No qual se avaliou o
atual nvel de conhecimento sobre a temtica abordada.

Joo Pessoa, outubro de 2011

867
Quadro1. Questes aplicadas antes das apresentaes
Questes
1
2
3
4
5
6
7

9
10

Enunciados
Voc mora em morro ou nas proximidades?
Conhece ou j visitou algum morro?
Do que voc conhece sobre morro, pode-se afirmar que morar no morro: ( ) Apresenta grande
risco; ( ) Apresenta pouco risco; ( ) No apresenta nenhum risco
Na questo de deslizamentos de encostas, qual a influncia do solo; ( ) Muito importante; ( )
Pequena importncia; ( ) Nenhuma importncia.
Assinale quais fatores interferem no deslizamento de encostas: ( ) chuva; ( ) Radiao solar; ( )
Vento; ( ) Rede eltrica; ( ) Moradia no topo das encostas; ( ) Moradia no p das encostas; ( ) Tipo
de solo.
Qual o grau de importncia possui o lixo no deslizamento de encostas: ( ) Pouca importncia; ( )
Grande importncia; ( ) Nenhuma importncia.
Quais medidas podero ser adotadas para minimizar os riscos de deslizamento de encostas? ( )
Conteno da encosta; ( ) Qualquer tipo de cobertura vegetal; ( ) Drenagem da rea (interna e
superficial); ( ) Alguns tipos de cobertura vegetal; ( ) Retirada de cargas do topo da encosta.
Quais culturas podem ser desenvolvidas nas encostas? ( ) Banana, goiaba e pitanga; ( ) Mamo,
fruta po e carambola; ( ) Jambo, laranja e manga; ( ) Banana, jaca e pinha; ( ) Acerola, goiaba e
pitanga.
Assinale quais cuidados devemos ter para construo de moradia nas encostas: ( ) Procurar um
lugar seguro; ( ) Fazer corte no p das encostas; ( ) Deixar livre os caminhos da gua da chuva; ( )
Construir casas em qualquer lugar; ( ) Construir obras coletivas: escadarias, canais
Em trs linhas explique por que necessrio o estudo da ocupao nas encostas

Para avaliar o grau de conhecimento proporcionado pela apresentao com o data show e maquete
com o perfil do solo, aplicou-se um segundo questionrio contendo perguntas semelhantes com o primeiro,
porm com um nmero maior de questes subjetivas, conforme quadro 2.
Quadro 2. Questes aplicadas aps as apresentaes
Questes
1
2
3
4
5
6
7

8
9
10

Enunciados
Pode-se afirmar que morar pode ser seguro e agradvel? ( ) Sim; ( ) No; Se sim, explique por qu
Na questo de deslizamentos de encostas, qual a influncia do solo: ( ) Muito importante; ( ) Pequena
importncia; ( ) Nenhuma importncia.
Cite 3 cuidados que devemos ter para evitarmos o deslizamento de encostas
Qual destino correto para o lixo nas encostas?
( ) Colocar o lixo em depsitos; ( ) Deixar o lixo e
qualquer lugar; ( ) Pr o lixo em depsitos e deixar-los em fcil acesso para o caminho recolhe-lo.
Quais medidas podero ser adotadas para minimizar os riscos de deslizamento de encostas? ( )
Conteno da encosta; ( ) Qualquer tipo de cobertura vegetal; ( ) Drenagem da rea (interna e
superficial); ( ) Alguns tipos de cobertura vegetal; ( ) Retirada de cargas do topo da encosta.
Quais culturas podem ser desenvolvidas nas encostas? ( ) Banana, goiaba e pitanga; ( ) Mamo, fruta
po e carambola; ( ) Jambo, laranja e manga; ( ) Banana, jaca e pinha; ( ) Acerola, goiaba e pitanga.
Assinale quais cuidados devemos ter para construo de moradia nas encostas: ( ) Procurar um lugar
seguro; ( ) Fazer corte no p das encostas; ( ) Deixar livre os caminhos da gua da chuva; ( ) Construir
casas em qualquer lugar; ( ) Construir obras coletivas: escadarias, canais e canaletas.
Se as barreiras no forem protegidas, quais os danos que a gua da chuva pode causar? ( )
Deslizamentos de morros; ( ) Queda de postes e arvores; ( ) Rachaduras nas paredes; ( ) Destruio de
casas; ( ) Todas as opes
correto afirmar que pode ser plantado no morro qualquer tipo de cultura? Explique sua resposta.
Em poucas linhas explique por que necessrio o estudo da ocupao nas encostas

Por conseguinte, foram catalogados os dados obtidos atravs dos questionrios e utilizou-se o
Microsoft Office Excel para confeco dos grficos representativos aos percentuais das respostas corretas e
incorretas.
RESULTADOS E DISCUSSO

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

868
A realizao desse trabalho com alunos do Ensino Mdio de escolas da rede pblica do Recife
localizada nas proximidades de rea de encostas propiciou uma ao de Educao Ambiental sobre o tema
Educao Ambiental na Conteno de Encostas propiciando uma participao ativa dos alunos.
A utilizao de questionrios com perguntas objetivas e subjetivas para avaliar a percepo
ambiental dos alunos sobre o mesmo demonstrou ser muito eficaz, por resgatar seus conhecimentos
prvios sobre o assunto e poder investir na formao durante as aulas e nas atividades desenvolvida.
Rodrigues et al. (2008), realizaram trabalho semelhante com a aplicao de questionrios, antes e aps as
apresentaes educativas em escolas pblicas de ensino mdio em Recife, com o tema Ecossistema de
Manguezais.
Observam-se na figura 1, as respostas dos questionrios prvios e verifica-se que, 48% das
respostas estavam erradas e apenas 52% das respostas estava certa, isso mostra um conhecimento relativo
sobre o assunto.
Figura 1. Respostas dos alunos antes das apresentaes

A anlise dos questionrios sobre a concepo dos alunos quanto ao tema Educao Ambiental na
Conteno de Encostas aps a ao educativa, usando o questionrio do quadro 2, demonstrou, atravs
dos indicadores de avaliao, sobretudo das respostas Satisfatrias, que a maioria dos conceitos
transmitidos foi bem absorvida pelos alunos.
Quando se observam os dados apresentados na figura 2, verifica-se que 22% das respostas estavam
erradas e 78% estavam certas. Quando se compara o percentual de respostas certas, antes e aps a ao
educativa, verifica-se que, houve um acrscimo no grau de conhecimento dos alunos de 26%. Pode-se
assim dizer que houve um aumento significativo na quantidade de respostas certas dadas pelos alunos, isso
intensifica a importncia da educao ambiental nas escolas.
Figura 2- Respostas dos alunos depois das apresentaes

Joo Pessoa, outubro de 2011

869

Quanto ao desenvolvimento dos alunos durante e aps a ao educativa percebeu-se que boa
parte dos alunos participantes da ao educativa apresentou uma aprendizagem crescentemente
satisfatria sobre a importncia da Educao Ambiental na Conteno de Encostas. As apresentaes
tericas e das oficinas com maquetes, realizadas manifestaram-se como sendo uma atividade educativa
que surte efeito positivo e complementar, devendo ser usadas para futuras aes educacionais que
envolvam aquisies de novas concepes sobre o ambiente.
Para Rodrigues et al. (2008), de fundamental importncia que o educador utilize todos os
materiais didticos para trabalhar alm dos contedos, competncias, como a formao do esprito crtico,
alm do desenvolvimento do pensamento hipottico e dedutivo ao aprofundar a reflexo e a capacidade
de observao e associao.
Segundo Sato & Santos (1996), o processo educacional pode despertar a preocupao tica e
ambientalista dos seres humanos, modificando os valores e as atitudes, propiciando a construo de
habilidades e mecanismos necessrios ao desenvolvimento sustentvel. Este tambm o pensamento de
Frattolillo et al. (2004), ao afirmarem que a Escola ao participar dos problemas de sua comunidade poder
dar instrumentos para que o aluno se torne um cidado reflexivo, participativo e transformador do seu
ambiente.
Soares et al. (2002) afirmaram que uma prtica de educao ambiental coerente e bem aplicada
pode derrubar preconceitos e levar informaes necessrias s diversas camadas da populao e, dessa
forma, as pessoas podem expressar e compreender a realidade ambiental, sobretudo das regies onde
moram, e assim podem tomar atitudes diante da sociedade e dos governos para resolver os problemas
ambientais de suas comunidades.
CONCLUSES
1. Conclui-se que atravs das palestras e atividade ldicas pode-se aumentar o grau de informao
dos jovens sobre os conceitos de deslizamento de encostas, de forma mais interativa e de fcil percepo
dos mesmos.
2. A utilizao de questionrios uma forma muito eficiente para anlise dos dados por ser mais
dinmica e objetiva.
3. O uso da educao ambiental proporcionou aos jovens das escolas publicas maior conhecimento
sobre as questes ambiental envolvidas no deslizamento de encostas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRABB, E. E. The world landslide problem. Episode. v. 14, p.52-61, 1991.
BRASIL. Educao ambiental: curso bsico distncia: documentos e legislao da educao
ambiental. 2. ed. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2001. v. 5.
BRASIL. Parmetros Curriculares Nacionais: ensino mdio: bases legais. Braslia, DF: MEC/SEF, 1999,
188 p
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

870
CODECIR 2006- Comisso Municipal de Defesa Civil do Recife .
FRATTOLILLO, A.B.R.; MOROZESK, R.;S.; AMARAL, I. Quando o contexto social e ambiental do
ecossistema manguezal invade a escola: Experincia de construo coletiva de programa de educao
ambiental e ecoturismo em escolas de Santa Cruz e Mangue-Seco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
GEGRAFOS, 4, 2004, Goinia. Anais... Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2004. 7 p.
GUERRA, A. J. T.; Geomorfologia: exerccios, tcnicas e aplicaes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1996.
KRASILCHIK, M. Prtica de ensino de Biologia. 2. ed. So Paulo: Harper & Row, 1986. 195p.
RODRIGUES, L. L.; FARRAPEIRA, C. M. R.; RODRIGUES, R. O. L. Percepo e educao ambiental
sobre o ecossistema manguezal incrementando as disciplinas de cincias e biologia em escola pblica do
Recife-PE. Investigaes em Ensino de Cincias, v.13, n.1, p.79-93, 2008.
SATO, M.; SANTOS, J.E. Agenda 21 em Sinopse. So Carlos: PPG-ERN/UFSCAR, 1996. 50p.
SOARES, M.G.; PEDROZA-JNIOR, H.S ; MELO-JNIOR, M.; BARROS, H.M.; SOARES, A. Extenso de
educao ambiental na Colnia de Pesca Z-10, Itapissuma - PE (Projeto Manguezal em Nossa Casa - UNISOL
2002). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSO UNIVERSITRIA, 1, 2002, Joo Pessoa. Anais... Joo
Pessoa: Universidade Federal da Paraba, 2002. p. 1-7

Joo Pessoa, outubro de 2011

871

PROCESSOS EROSIVOS DECORRENTES DE AES ANTRPICAS EM


VERTENTES CRISTALINAS NA BACIA DOS RIOS MEIRIM-MUZUMBA,
ITAMB/PE
Jean Carlos Ferreira de LIMA
Mestre em Geografia pelo Programa de Ps-Graduao em Geografia da UFPB.
Cidade Universitria, Joo Pessoa-PB, Brasil, CEP 58059-900. E-mail: atha2005@hotmail.com
Saulo Roberto de Oliveira VITAL
Estudante de Doutorado do Programa de Ps-Graduao em Geocincias da UFPE. Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade
Universitria, Recife - PE - CEP: 50670-901. E-mail: srovital@gmail.com
Belarmino Carneiro da Silva Neto
Estudante do Curso de Mestrado pelo Programa de Ps-Graduao em Ecologia da UFRPE. Rua Dom Manoel de Medeiros,
s/n - Dois Irmos - Recife PE - CEP: 52171-900. E-mail: netobiologic@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho busca analisar a influncia antrpica, principalmente o uso agrcola, no
desenvolvimento de feies erosivas em vertentes de litologia cristalina na bacia dos rios MeirimMuzumba. Para tanto, foram desenvolvidas as cartas clinogrfica e hipsomtrica da rea de estudo, com
base na carta topogrfica SB.25-Y-C-II-4-SE, na escala de 1:25.000 (BRASIL, 1974), atravs da utilizao do
software SPRING 5.1.7, para nortear a investigao a respeito dos processos morfodinmicos nas vertentes
da bacia analisada. Buscou-se na metodologia de Ross (1990), que apresenta uma proposta para
mapeamento geomorfolgico voltado para o planejamento ambiental, os subsdios necessrios para a
elaborao das cartas e interpretao dos resultados. As informaes obtidas com as cartas foram de
grande importncia para este estudo. Contudo, a confirmao em campo do que foi superficialmente
revelado pelo mapeamento geomorfolgico proporcionou uma viso mais detalhada das formas de relevo
que so causadas pela ao antrpica e que equivalem ao sexto txon na metodologia de Ross (1992).
Foram observados processos erosivos do tipo ravinas, voorocas, terracetes de pisoteio de gado e
pequenos deslizamentos de massa, corroborando a interferncia antrpica sobre o compartimento das
vertentes.
Palavras-chave: Processos Erosivos. Aes Antrpicas. Rios Meirim-Muzumba
INTRODUO
A geomorfologia de uma bacia hidrogrfica o resultado de uma sucesso de episdios de
interferncias climticas e de processos geolgicos. Pesquisadores da Geomorfologia como Tricart (1977),
Christofoletti (1979), Douglas e Spencer (1985), entre outros, tm destacado que os condicionantes das
estruturas de uma determinada paisagem compreendem, dentre outros fatores, as foras tectnicas, a
natureza dos substratos e os diferentes graus de resistncia de seus componentes aos processos de
intemperismo e eroso, alm da interferncia das aes antrpicas sobre o meio.
A bacia dos rios Meirim-Muzumba apresenta-se como um excelente laboratrio para a anlise das
caractersticas geomorfolgicas estruturais que nitidamente aparecem nela como um resultado fiel das
interaes ocorridas entre os fatores morfogenticos endgenos e exgenos, somados aos fatores
antrpicos.
As atividades antrpicas, principalmente aquelas ligadas produo de alimentos (agricultura e
pecuria) e outros bens de consumo, tm levado a uma degradao progressiva, no s do prprio solo
(induzindo a perda de massa e contaminando-o por agrotxicos), mas do meio ambiente como um todo,
criando situaes crticas cada vez mais complexas.
Os processos erosivos geralmente so potencializados pelas aes do homem. Embora a grande
maioria da perda de massa seja resultante de um processo natural, ou da soma de mltiplos processos
tambm de comportamento natural, os seres humanos podem provocar deslizamentos de terra, ou tornlos mais provveis em reas j vulnerveis, por meio de atividades que alteram e/ou no obedecem s
inclinaes naturais do terreno, principalmente em reas de encostas.
O uso do solo nas encostas influencia os processos erosivos que podero promover a alterao da
dinmica evolutiva do relevo. Por exemplo, o desmatamento ou o cultivo inadequado nas encostas reduz
a capacidade de infiltrao e aumenta o escoamento superficial, promovendo a eroso hdrica nas encostas
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

872
e fornecendo maior volume de sedimentos para a calha fluvial, o que pode resultar no assoreamento do
leito e enchentes na plancie de inundao (CUNHA; GUERRA, 2009).
Sabe-se que o desenho metodolgico descritivo, aplicado para a caracterizao de uma bacia
hidrogrfica, implica no entendimento do processo da dinmica natural do meio ambiente com ou sem a
interveno antrpica. Entretanto, na pesquisa proposta para esse trabalho, alm de serem descritas as
caractersticas de conexo entre as aes tectnicas e climticas, levar-se- em conta os reflexos das aes
antrpicas na modificao do relevo. Para tanto, prope-se a anlise dessa influncia nos processos
erosivos de encostas declivosas, tendo em vista a sua ocupao inadequada para a prtica da agricultura.
A anlise geomorfolgica de paisagens antropicamente transformadas, atravs da aplicao do
conhecimento cientfico, tcnico e de anlises de resultados, serve para resolver problemas de
planejamento e/ou manejo ambiental. Assim, a aplicao da Geomorfologia est diretamente ligada
manuteno, conservao e restabelecimento dos sistemas ambientais (NUNES; ROCHA, 2008).
Localizao e caracterizao da rea de estudo
A bacia dos rios Meirim-Muzumba (Figura 1) est localizada na poro nordeste do territrio
municipal de Itamb/PE, na Mesorregio da Mata Pernambucana, ocupando a Microrregio da Mata
Setentrional. Esse sistema de drenagem segue preferencialmente uma orientao NW-SE. Geologicamente
est inserida na bacia sedimentar Pernambuco-Paraba, mais especificamente na Sub-bacia de Alhandra.
Sua litologia compreende o embasamento cristalino exposto do Terreno Rio Capibaribe, composto
principalmente por rochas supracrustais xistosas, quartzitos, com intercalaes de rochas calciosilicticas e
carbonticas (RODRIGUES; BRITO NEVES, 2008), j em avanado estado de meteorizao decorrente do
clima mais chuvoso e mido do litoral, que favorece a decomposio qumica da rocha, acarretando sua
transformao e consequente formao de manto de intemperismo, s vezes muito profundo, cuja
espessura em muitos locais chega a mais de 40 m. O Terreno Rio Capibaribe ocorre na divisa da borda
oriental sul da Paraba com Pernambuco.
A morfologia da dessa bacia corresponde aos seguintes Padres de Formas de Relevo: formas de
acumulao, como talvegues, plancies fluviais e terraos de colvio; alm de formas resultantes de
processos denudacionais, como morrotes, morros e colinas. nesse txon de dimenso inferior, embutido
numa determinada unidade morfoescultural, que processos morfoclimticos e antrpicos atuais comeam
a ser percebidos.

Joo Pessoa, outubro de 2011

873

Figura 1 Localizao da bacia dos rios Meirim-Muzumba.

A rea de estudo est includa em uma zona de produo agrcola muito importante do ponto de
vista econmico para a Regio Nordeste desde o incio da sua organizao social no sculo XVI. Destacamse na sua rea de abrangncia e adjacncias as atividades do setor agroindustrial sucroalcooleiro. A
atividade pecuria existe, porm em menores propores.
METODOLOGIA
Para atingir as metas propostas neste trabalho, foram aplicados procedimentos metodolgicos que
consistiram inicialmente na vetorizao das curvas de nvel e da rede de drenagem. Em seguida, a seleo
bibliogrfica correspondente aos estudos aos estudos gerais de evoluo geomorfolgica do relevo e aos
dados geolgicos publicados sobre o embasamento e a estratigrafia de uma pequena poro da Bacia
Pernambuco-Paraba, correspondente rea em apreo, alm dos tipos de padres de drenagem dos
dados cartogrficos disponveis, como imagens de satlite e cartas temticas. Com a utilizao do software
SPRING 5.1.7, foram confeccionadas a partir da carta topogrfica SB.25-Y-C-II-4-SE (1:25.000) as cartas
clinogrfica e hipsomtrica da rea da bacia analisada.
Uma das principais funes das cartas geomorfolgicas proporcionar uma ideia precisa dos
processos dinmicos que se estabelecem sobre o relevo, facilitando uma reconstruo hipottica de sua
morfologia atravs da avaliao de possveis fatores e processos responsveis por sua origem e
transformao. A cartografia geomorfolgica tambm importante para o planejamento ambiental e
ordenamento do territrio, sobretudo nas fases iniciais desses estudos.
A metodologia de Ross (1990) tem como princpio as concepes de Penck (1953) sobre as foras
geradoras do relevo e dos seus modelados: os processos endgenos e exgenos; e nos conceitos de
morfoestrutura e morfoescultura desenvolvidos por Mescerjakov (1968), definidos pela ao dinmica
desses dois processos. Baseando-se nas concepes e fundamentaes terico-metodolgicas citadas, Ross
(1992), apoiado na interpretao gentica, estabeleceu seis nveis hierrquicos ou Unidades Taxonmicas
para um melhor entendimento de relevo: Unidade Morfoestrutural; Unidades Morfoesculturais; Padres
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

874
de Formas de Relevo; Tipos de Formas de Relevo; Tipos de Vertentes; e Formas de Processos Atuais
Naturais e Antrpicos.
Devido sua grande capacidade em detalhar de maneira prtica e, de certa forma, simplificada
vrias informaes do relevo que abrangem desde a rea de uma bacia sedimentar, por exemplo, at
formas sutis geradas por processos erosivos, como pequenos depsitos aluvionares de induo antrpica, a
metodologia desenvolvida e empregada por Ross (1992) norteou todo o mapeamento geomorfolgico
desenvolvido neste trabalho. Aqui so focalizados mais especificamente os txons: Tipos de Vertentes; e
Formas de Processos Atuais Naturais e Antrpicos. Graas escala trabalhada e aos dados disponveis,
foram identificados detalhadamente diversos compartimentos geomorfolgicos na rea de estudo.
A delimitao dos intervalos de declividade presentes na carta clinogrfica da bacia dos rios
Meirim-Muzumba teve por base a metodologia de Herz e De Biasi (1989), que as padronizaram com limites
internacionais, alm de equipar-las aos padres de institutos de pesquisa nacionais e s leis brasileiras
vigentes. Essas classes de declividade acham-se delimitadas e especificadas da seguinte forma:
12% - Faixa que define o limite mximo para o emprego da mecanizao da agricultura (CHIARINI;
DONZELLI, 1973 apud HERZ; DE BIASI, 1989);
12-30% - A Lei Federal 6.766/79 limita em 30% de declividade a urbanizao sem restries;
30-47% - A Lei Federal 4.771/65 (Cdigo Florestal) limita em 47% de declividade o corte raso da
vegetao;
47-100% - Neste intervalo de declividade, o Cdigo Florestal probe a derrubada de floresta sem um
regime de utilizao racional que vise a rendimentos permanentes;
100% - considerada, pelo Cdigo Florestal, rea de preservao permanente, apenas sendo
permitida a supresso total ou parcial da vegetao com prvia autorizao do Poder Pblico Federal, quando
for necessria a execuo de obras, planos, atividades ou projetos de utilizao pblica ou interesse social.

RESULTADOS
Na carta clinogrfica (Figura 2), conforme se pode observar por toda a rede de drenagem, a maioria
das cabeceiras dos afluentes est sofrendo um processo acelerado de eroso, devido ao possvel
soerguimento recente dos interflvios, o que ocasiona a existncia de muitas reas com declividades
acentuadas, superiores a 100%. As declividades mais baixas ocorrem nas reas dos topos de algumas
colinas, enquanto que as declividades mais elevadas ocorrem nas cabeceiras de drenagem.
O regime erosional ocorrido nos afluentes da vasta rede drenagem intensifica o processo de
entalhamento das vertentes desses planaltos provocando em suas superfcies processos de perda de
massa, tais como ravinamentos (Foto 1) e voorocamentos, ocasionados, na maioria das vezes, por
carreamento hidrulico dos sedimentos (Mudflows) e por queda ou deslizamento de blocos
(Landslip/Lanslide Blocks) casos tpicos de recuo acelerado de cabeceiras.
Existem indicaes de ocorrncia de fatores climticos influenciando nas caractersticas das
vertentes da rea de estudo. Esse processo de ajustamento morfodinmico est desenvolvendo novas
feies no modelado da rea de estudo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

875

Figura 2 Carta Clinogrfica da bacia dos rios Meirim-Muzumba (Org. Jean Lima).

Foto 1 Setas indicando a formao de ravinas em vertentes da rea de estudo ocupadas com cana-deacar (Foto:
Jean Lima, 2011).

Foram identificados em campo alguns movimentos de massa rpidos, tais como: fluxo de terra ou
lama (Foto 2) e desmoronamentos. H tambm uma probabilidade muito grande de esses movimentos de
regolito terem sido potencializados por aes antrpicas, pois perto das reas onde esses movimentos
foram identificados existem plantaes de cana-de-acar e tambm existiu a explorao de argila para
construo civil.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

876

Foto 2 Formao de leque coluvial em ravina (Foto: Jean Lima, 2011).

Movimentos gravitacionais promovem a mobilizao de partculas ou partes do regolito


encharcado pela encosta abaixo. Os detritos desprendidos das vertentes pela fora da gravidade so
geralmente em grande quantidade.
De acordo com a carta hipsomtrica da bacia em estudo (Figura 3), as altitudes diminuem
de Oeste para Leste acompanhando a orientao do desnvel continental. Essa rea apresenta uma srie de
feies distintas no seu seguimento. A oeste aparecem dois morros residuais isolados apresentando
altitude superior a 180 m.
A rea de estudo encontra-se inserida na unidade geoambiental da Depresso Sublitornea, e seu
relevo, de modo geral, envolve plats residuais de origem sedimentar margeando a bacia, que apresentam
graus de entalhamento variveis, ora com vales estreitos e vertentes abruptas, ora abertos com encostas
suaves e fundos com amplas vrzeas; alm da predominncia de formas colinosas com vales encaixados.
Sobre o alto curso dos rios Meirim-Muzumba prevalece pela superfcie do relevo um padro de
dissecao diferente, mais intenso, devido ao maior nmero de canais intermitentes e perenes da sua rede
de drenagem e tambm por conta das caractersticas genticas da parte cristalina da rea, a Depresso
Sublitornea.

Joo Pessoa, outubro de 2011

877

Figura 3 Carta Hipsomtrica da rea de estudo (Org. Jean Lima).

CONSIDERAES FINAIS
Mesmo a carta clinogrfica tendo sido confeccionada com base em uma carta topogrfica em
escala de detalhe (1:25.000), cabe ressalvar, no entanto, que sua impresso foi em 1974, fato esse que
pode ocasionar uma perda de qualidade na percepo de inclinao das vertentes, tendo em vista que as
vrias observaes de campo permitiram inferir que se trata de uma rea bastante declivosa e que a
mesma est passando atualmente por um perodo de forte ajustamento dinmico. Em funo disto, os
ndices apresentados na carta clinogrfica devem ser considerados ainda como incipientes e merecem nova
considerao aps uma anlise mais detalhada a posteriori para fornecer um maior detalhamento de reas
mais ngremes.
Acredita-se que h muito tempo, sem se poder aqui determinar com exatido em qual
poca geolgica, devido aos limitados recursos de anlise (possivelmente do Plioceno para o Pleistoceno,
segundo a idade da principal camada estratigrfica), toda a rea de estudo encontrava-se completamente
capeada por sedimentos do Grupo Barreiras, enquanto reativaes tectnicas de falhas e lineamentos
(atestadas pelas altitudes elevadas dos tabuleiros e pela presena muito comum de estruturas dmicas na
regio da carta) provocaram um soerguimento com inclinao para leste.
O estado em que se encontram as rochas do embasamento Pr-Cambriano sugere que sua
exumao deve remontar a um passado bem distante. Esta concluso est apoiada no elevado grau de
alterao mineral existente nas rochas desse embasamento. As formas do relevo da rea, principalmente
as bordas dos tabuleiros e as vertentes do cristalino, indicam que ela ainda sofre a influncia desse novo
ciclo de ajustamento dinmico.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
Brasil. Ministrio do Interior. Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste SUDENE. Folha
Pedras de Fogo. Recife: SUDENE, 1974. Escala 1:25.000.
CHRISTOFOLETTI, A. Anlise de Sistemas em Geografia. So Paulo: Hucitec, 1979.
CUNHA, S. B.; GUERRA, J. A. T. Degradao ambiental. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Orgs.).
Geomorfologia e meio ambiente. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. p. 337-376.
Douglas, I.; Spencer, T. Environmental change and tropical geomorphology. London: Allen & Unwin,
1985. 378p.
HERZ, R.; DE BIASI, M. Critrios e legendas para macrozoneamento costeiro. Ministrio da
Marinha/Comisso Interministerial para Recursos do Mar. Braslia: MM, 1989.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

878
MESCERJAKOV, J. P. Les conceito de morphostruture et de morphosculture: um noveau
instrumente de lanalyse geomorphologique. Annales de Geographie. Paris, 77 annes, n. 423, p. 532-539,
1968.
NUNES, J. O. R.; ROCHA, P. C. Geomorfologia: aplicao e metedologias. 1. ed. So Paulo: Expresso
Popular: UNESP. Programa de Ps-Graduao em Geografia, 2008. 192 p.
PENCK, W. Morphological analysis of landforms. London: Macmillan and Co, 1953. 350p.
Rodrigues, S. W. O.; Brito Neves, B. B. Padres isotpicos Sm-Nd no limite entre os terrenos Alto
Paje e Alto Moxot (PB). Revista Brasileira de Geocincias. 38(1): 209-225, 2008.
Ross, J. L. S. Geomorfologia: ambiente e planejamento. So Paulo: Contexto, 1990. 85p.
Ross, J. L. S. O registro dos fatos geomrficos e a questo da taxonomia do relevo. Revista do
Departamento de Geografia da FFLCH/USP, So Paulo, n. 6, p. 17-29, 1992.
TRICART, J. Ecodinmica. Rio de Janeiro: IBGE, SUPREN, 1977. 91p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

879

AGRICULTURA CAMPONESA EM ITAPORANGA - PB: DEGRADAO


AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE
Jossandra Gonalves dos SANTOS
Mestranda em Geografia UFPB, jossandraufpb@hotmail.com
Emilia de Rodat Fernandes MOREIRA
Professora do Departamento de Geocincias e do PPGG, erodat @hotmail.com

RESUMO
No Serto Paraibano a agricultura, especialmente a de carter camponesa, convive no decorrer de
sua histria com condies edafoclimticas que limitam a sua produo. Entretanto, as maiores
dificuldades por ela encontrada residem na ineficcia de polticas pblicas de desenvolvimento voltadas
para a mesma e na concentrao dos meios de produo em mos de poucos. O trabalho tem como
objetivo geral analisar as prticas agrcolas adotadas pela agricultura camponesa no municpio de
Itaporanga/PB e sua relao com os processos de degradao ou preservao do ambiente. Para a sua
realizao foi necessrio pesquisa bibliogrfica, trabalho de campo e levantamento de dados estatsticos no
site do IBGE. Atravs dos estudos de campo constatou-se a degradao dos solos pela eroso nas pequenas
unidades camponesas de produo visitadas, conseqncia das atividades humanas sem planejamento de
uso e ocupao do solo, carentes de polticas pblicas que se aproximam das verdadeiras aspiraes
camponesas, ao longo do processo histrico de ocupao do espao agrrio municipal.
PALAVRAS-CHAVE: prticas agrcolas; ambiente; produo camponesa.
INTRODUO
No Serto Paraibano a agricultura, especialmente a de carter camponesa, convive historicamente
com condies edafoclimticas que limitam a sua produo. Entretanto, as maiores dificuldades por ela
encontrada residem na ineficcia de polticas pblicas de desenvolvimento voltadas para a mesma e na
concentrao dos meios de produo em mos de poucos. Mesmo assim ela sobrevive ao longo dos anos, o
que evidencia a sua importncia econmica, social e ambiental e a necessidade de estudos que levem a
uma melhor compreenso da sua lgica e dinmica especficas.
Segundo Duque (2006), a agricultura camponesa por sua lgica prpria naturalmente orientada
para a conservao do ambiente. Isto porque ela tem por meta a reproduo da unidade familiar e no o
lucro. Por conseguinte a terra um patrimnio que passa de pai para filhos e preserv-la a nica forma de
garantir a segurana alimentar, a autonomia do agricultor e a sua transferncia para filhos e netos.
Tradicionalmente, as prticas agrcolas desenvolvidas pelos camponeses compreendiam a
diversificao de culturas, o consrcio de plantas que se beneficiam mutuamente, a integrao entre
culturas e criaes, prticas estas que esto na base de uma gesto racional do uso da terra, favorecendo o
equilbrio na relao do homem com a natureza.
Esses processos tradicionais vm ao longo do tempo sofrendo fortes modificaes decorrentes: a)
da reduo do tamanho dos estabelecimentos provocada pela fragmentao por motivo de herana; b) da
falta de uma reforma agrria que permitisse o acesso terra s novas geraes; c) da disseminao do uso
de insumos qumicos propagados pela revoluo verde.
O que tem se observado como decorrncia desses processos a adoo pela agricultura
camponesa de novas prticas que s contribuem para a degradao das terras e a destruio da vegetao
nativa, que podem inviabilizar a segurana alimentar das famlias. Assiste-se ao uso cada vez mais intensivo
do solo, a ausncia de pousio, a utilizao macia e indiscriminada de agrotxicos, a substituio das
lavouras alimentares por pasto plantado, o desmatamento da caatinga e das matas ciliares contribuindo
para a intensificao dos processos de degradao ambiental das pequenas unidades produtivas.
Em contraposio a essa realidade verificam-se experincias exitosas em pequenas unidades de
produo agropecuria situadas na regio semi-rida, de resgate da tradio camponesa, da busca de uma
relao mais harmoniosa entre o homem e a natureza. Estas aes tm sido conduzidas pela Articulao do
Semi-rido (ASA Brasil) que corresponde a um frum hbrido, reunindo organizaes diversas e pessoas
em torno de um mesmo objetivo: trabalhar em prol do desenvolvimento do semi-rido (DUQUE, 2006,
p.88). A ao da ASA tem como foco a convivncia da agricultura camponesa com o semi-rido atravs da

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

880
adoo de tecnologias apropriadas na linha do manejo racional dos recursos hdricos e da prtica
agroecolgica.
Percebe-se, portanto uma disputa entre o paradigma da agricultura capitalista e o paradigma da
agroecologia.
Nesse processo o Estado tem se feito presente de modo contraditrio, seja porque de um lado cria
polticas pblicas de fortalecimento das aes demandadas pela ASA seja porque continua a divulgar e a
implementar junto aos camponeses as polticas prprias de sustentao da revoluo verde atravs de
organismos estaduais e federais a exemplo da Emater, da Embrapa e das polticas de crdito agrcola.
Com relao ao municpio de Itaporanga constata-se a inexistncia de reas de reforma agrria e a
presena de um grande nmero de pequenos estabelecimentos agropecurios. At que ponto as prticas
agrcolas por eles utilizadas esto atreladas tradio camponesa ou a lgica da revoluo verde? Quais as
conseqncias ambientais da decorrentes? Essas so algumas questes que procuraremos responder
neste trabalho.
O trabalho tem como objetivo geral analisar as prticas agrcolas adotadas pela agricultura
camponesa no municpio de Itaporanga/PB e sua relao com os processos de degradao ou preservao
do ambiente. Nos objetivos especficos procuraremos identificar e apreender as prticas e tcnicas
agrcolas adotadas pela agricultura camponesa no municpio estudado; Identificar e analisar os diversos
processos de degradao ou de recuperao/preservao ambiental no interior das unidades produtivas
pesquisadas; Estabelecer a relao entre as prticas e tcnicas agrcolas adotadas e os processos de
degradao e/ou de preservao do ambiente.
2. AGRICULTURA CAMPONESA E AMBIENTE: UMA ANLISE TERICO- CONCEITUAL
Na Geografia, o meio natural sempre permeou os seus debates, porm, na atualidade com o
surgimento de novos paradigmas, esta e outras cincias so influenciadas, levando ao ressurgimento mais
intenso do debate a cerca dessa questo.
Apesar da preocupao com o ambiente ser antiga segundo Enrique Leff (2006), ela emergiu
somente ao final dos anos 60 como uma crise de civilizao, promovendo importantes mudanas na viso
do mundo. A humanidade se atinou pela primeira vez para o fato dos recursos naturais serem finitos e que
seu uso incorreto pode representar o fim de sua prpria existncia. Sendo assim, a cincia e a tecnologia
passam a ser questionados.
A verdade, porm, que a ateno para os problemas relacionados ao meio ambiente s tomou
corpo a partir de um evento histrico, a Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano
realizada em Estocolmo, na Sucia, em 1972. Este pode ser considerado como o primeiro momento de
tomada de conscincia mundial da fragilidade dos ecossistemas que sustentam a vida no planeta bem
como da necessidade de se realizar esforos para melhorar a qualidade da vida das espcies que habitam
esse meio ameaado.
Num estudo feito por Bernardes e Ferreira (2008), estes autores fazem uma anlise da obra
de Marx, em que este considerou a produo como um processo pelo qual se altera a forma da natureza,
atravs do trabalho. Por meio deste, o homem modifica a natureza para melhor satisfazer suas
necessidades.
Visto por este prisma, os estudos de Marx j sinalizavam para uma possvel crise ambiental,
embora no de forma explcita. Mas, se considerarmos a evoluo e transformao das foras produtivas e
tambm o fato de que nas relaes sociedade/natureza os homens so condicionados por um determinado
nvel de desenvolvimento das suas foras produtivas, no fica difcil entendermos o desenrolar desse
processo e seus resultados no ambiente.
No nosso estudo o ambiente ser tratado de forma diferenciada da percepo que a geografia,
outras cincias e a sociedade concebiam at meados do sculo XX, qual seja pelo veis naturalista
(Mendona, 2005). Sendo assim, ser visto como o resultado material da ao humana, da natureza
transformada pelo trabalho social, pela ao humana historicamente contextualizada, que incorpora os
conflitos sociais de cada perodo e o desenvolvimento das foras produtivas (Corra, 2005).
Na discusso de espao geogrfico, Suertegaray (2000), entende o ambiente como um conceito,
dentre outros (territrio, lugar e paisagem), que do sustentao a geografia, que expressa possibilidades
analticas dessa cincia relativas questo ambiental. Para esta autora, embora na atualidade os gegrafos
Joo Pessoa, outubro de 2011

881
compartilhem de conceitos diferentes de ambiente, ela considera que a geografia tem pensado o ambiente
com a incluso do homem, sobretudo, como um ser social produto e produtor de vrias tenses
ambientais.
No Brasil, com o advento da Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, observa-se
uma mudana de conscincia em relao preocupao com a proteo do meio ambiente. Este
documento traz em seu bojo um captulo dedicado natureza.
O dispositivo legal faz uma associao entre o direito ao ambiente equilibrado e a qualidade de vida
alm de anunciar as responsabilidades tambm da sociedade e no mais apenas do Estado, quebrando o
monoplio deste em relao defesa da natureza. Tambm os meios judiciais de proteo ambiental,
agora so legtimos instrumentos para esse fim.
No seio destas preocupaes, reflexo das atividades humanas no ambiente, Arajo (2008), destaca
a importncia da geografia para o elucidamento das questes ambientais por meio de percias tcnicas:
Essas questes s podero ser tecnicamente elucidadas com o exerccio da interdisciplinaridade e,
nesse contexto, destaca-se a rea de conhecimento da Geografia, em especial da Geomorfologia, no trato das
questes de degradao ambiental provocadas pelas atividades humanas, como desmatamentos e eroso
dos solos (p. 110).

Porm, s a partir da realizao da Conferncia da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento


realizada em junho de 1992, no Rio de Janeiro, em conjunto com a ECO-92, que o Brasil ir incorporar de
modo mais significativo a preocupao com as questes de conservao-preservao do meio ambiente.
A partir dessa Conferncia difundiu-se o conceito de desenvolvimento sustentvel redefinindo os
rumos de uma abordagem ambientalista at ento ecolgica/biolgica para uma abordagem que entendia
que a humanidade uma parte importante. Este conceito muito amplo, pois contempla as necessidades
do presente sem comprometer a sobrevivncia das geraes futuras. Tambm ainda no h um consenso a
cerca do que venha a ser de fato este desenvolvimento e a sua eficcia.
A preocupao com o desenvolvimento sustentvel tem despertado a discusso, entre outros,
sobre os sistemas de produo rural. Questiona-se de que modo esses sistemas podem satisfazer as
necessidades humanas, mantendo uma relao equilibrada com o meio ambiente. Essa preocupao
importante na medida em que a produo agropecuria responsabilizada por graves problemas
ambientais como a contaminao das guas, o comprometimento do solo, desequilbrios ecolgicos e
alteraes nas condies climticas globais.
No Brasil podem-se distinguir sistemas de produo rural que se diferenciam entre si.
Merece destaque o sistema convencional da grande empresa ou da grande propriedade agropecuria e o
de base familiar camponesa.
O sistema convencional de carter tipicamente capitalista que predomina no mundo, apesar de
apresentar especificidades locais, constitudo geralmente por grandes unidades produtivas voltadas para
a atividade monocultora ou pecuria intensiva em capital, depende fortemente do mercado financeiro, e a
explorao da fora de trabalho volta-se para a maximizao de lucros.
Os objetivos da agricultura capitalista (o aumento da produtividade visando a maximizao do
lucro) e sua dependncia do mercado financeiro reduzem a sua capacidade de se tornar uma atividade
sustentvel (GOLD, 1999).
Percebe-se assim que esta forma de praticar agricultura est fortemente influenciada por um
modelo desenvolvimentista, com caractersticas inerentes de degradao ambiental. A importncia maior
dada aos interesses econmicos, deixando em plano secundrio o ambiente.
J o sistema de base familiar campons formado por ncleos familiares que exploram
pequenos estabelecimentos agropecurios, praticam uma agricultura no necessariamente voltada
exclusivamente para a subsistncia, mas aquela de base familiar, em que a famlia no s detm os meios
de produo, mas est diretamente envolvida na organizao e execuo do trabalho. Pode produzir uma
ou mais culturas voltadas para a comercializao, recorrer eventualmente ao assalariamento temporrio ou
permanente e mesmo contratar mo-de-obra para auxiliar em algumas etapas do processo produtivo
(WANDERLEY, 1990).
Diferentemente do modelo convencional, o sistema de base familiar campons, baseia-se
na lgica da reproduo da unidade camponesa que , ao mesmo tempo, segundo Chayanov (1981),
unidade de consumo e de produo.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

882
Para Ploeg (2008, p. 37), os camponeses tm sua especificidade:
Os camponeses, onde quer que vivam, relacionam-se com a natureza em formas que diferem
radicalmente das relaes implcitas noutros modos de fazer agricultura. Da mesma forma, os camponeses
formulam e reformulam os processos de produo agrcola em realidades que contrastam significativamente
com aquelas criadas por agricultores empresariais e capitalistas. Finalmente, eles moldam e desenvolvem
seus recursos, tanto materiais como sociais, de modos distintos.

Com base no exposto pressupe-se que no sistema de produo agrcola de base familiar
campons a relao do homem com a natureza mais equilibrada e os processos e prticas de cultivos
utilizados so menos agressivos ao ambiente do que o que se verifica nos sistemas de produo
convencionais, ou seja, constitui-se um sistema de produo sustentvel.
Acreditamos que esse caso se concretiza quando as condies de explorao da terra, as prprias
limitaes e potencialidades do meio e o tamanho dos lotes permitem um uso racional dos mesmos.
Mas o que dizer da agricultura camponesa praticada por proprietrios de pequenos lotes em regio
sujeita a semiaridez, com limitaes de solo, submetida a secas peridicas e onde a assistncia tcnica
quase inexistente? Quais as prticas agrcolas utilizadas por estes camponeses que buscam o equilbrio
com a natureza e as que impactam negativamente sobre o meio.
Quando da realizao do estudo monogrfico alguns desses elementos nos chamaram ateno.
Neste, estudamos 17 unidades produtivas camponesas menores de 50 hectares pertencentes a agricultores
parceiros, proprietrios e arrendatrios que trabalham em unidades de produo prprias ou de terceiros e
embora tenha constatado prticas de preservao do patrimnio o que mais nos impressionou foi a
substituio da agricultura pela pecuria e a ocorrncia de forte degradao na maioria das propriedades
visitadas.
Ao mesmo tempo acompanhamos estudos em outras reas do semi-rido paraibano que
identificavam prticas exitosas de convivncia com o semi-rido por parte da pequena produo
agropecuria. No caso de Itaporanga no ficou ntida a existncia dessas experincias. O que observamos
foi exatamente o abandono do campons a sua prpria sorte e a tentativa do mesmo retirar de um
pequeno pedao de terra o necessrio a sobrevivncia da famlia custa muitas vezes da degradao da
prpria razo de sua subsistncia que a terra. A necessidade de conhecer com mais profundidade esta
realidade justifica esta pesquisa.
3. METODOLOGIA
Com o objetivo de levar a diante o nosso estudo, alguns procedimentos metodolgicos foram
necessrios.
A pesquisa bibliogrfica preocupou-se com a reviso da literatura que enfocasse: a) agricultura
camponesa Chayanov (1981), Duque (2006), Oliveira (1990), Paulino (2006), Ploeg (2008). b) meio
ambiente Corra (2005), Leff (2006), Suertegaray (2000), (Veiga, 2008), visando realizao de uma
anlise terica sobre esses elementos e o despertar para as alteraes ambientais provocadas pela
pequena produo agropecuria camponesa.
Para o acesso a essas leituras recorreu-se a Biblioteca Central da UFPB, a biblioteca pessoal
da orientadora, a vrios stios da internet que abordavam a temtica de interesse, a revistas eletrnicas
especializadas, a teses e dissertaes no intuito de coletar material suficiente para embasar o estudo.
Para o levantamento de dados estatsticos recorremos ao stio do IBGE no intuito de obtermos
informaes sobre dados do Censo agropecurio do ano 2006.
Esta etapa da pesquisa buscou levantar informaes referentes a quantidade dos estabelecimentos
e a rea por eles ocupada em relao ao conjunto geral e sobre a estrutura fundiria do municpio.
A pesquisa de campo compreendeu: a) visitas a pequenas unidades de produo camponesas; b)
estudo ou levantamento das prticas agrcolas adotadas nas unidades visitadas que levam a processos de
degradao do solo e da vegetao; c) identificao das prticas conservacionistas e de preservao do
ambiente utilizada pelos camponeses que apontam para a sustentabilidade da produo agrcola; d)
entrevista etnogrfica no estruturada realizada atravs de conversas informais mantidas entre o
pesquisador e o campons durante visita s unidades produtivas;
4. RESULTADOS ALCANADOS
Joo Pessoa, outubro de 2011

883
O municpio de Itaporanga integra a mesorregio do Serto Paraibano e a microrregio de
Itaporanga, sendo no s o mais importante dessa microrregio como o centro polarizador dos municpios
que compem o Vale do Pianc. A sede do municpio est localizada a 289 metros de altitude. O relevo
municipal, modelado em rochas cristalinas, formado por serras e serrotes. cortado pelo rio Pianc e
alguns dos afluentes que formam sua bacia hidrogrfica, todos de carter temporrio. Os solos so do tipo
Podzlicos vermelho-amarelo equivalente Eutrfico, Bruno no-clcicos e Regossolos Distrficos. A
temperatura mdia anual situa-se em torno de 23C, com pequena amplitude trmica, cerca de 3C,
significando que em qualquer ms predominam temperaturas de moderadas a elevadas. A umidade
relativa do ar de aproximadamente 75%. Seguindo as Caractersticas da mesorregio na qual est inserida
a vegetao tpica de caatinga do tipo arbreo-arbustivo, no entanto, encontra-se bastante
descaracterizada.
Para entendermos a integrao desses processos ao longo do processo histrico de ocupao e sua
interao com a sociedade na conformao do espao social, citarei Bernardes e Ferreira (2008):
No espao desenvolve-se uma teia complexa de relaes sociais e ocorre uma acumulao histrica
de trabalhos em que se sobrepem realizaes dos tempos mais remotos, num permanente ciclo de criao e
transformao dos objetos da superfcie terrestre. O espao reflete dessa forma os resultados dos processos
naturais e sociais que coexistiram at o tempo presente (p. 22).

No municpio de Itaporanga, as prticas e tcnicas agrcolas utilizadas pelos camponeses,


tendo como base um ambiente natural com caractersticas vulnerveis degradao tanto dos aspectos
fsicos quanto scio-econmicos, imprimiram no espao rural uma paisagem que tende a formas variadas
de degradao, uma vez que no so acompanhadas de uma orientao que vise o seu combate ou formas
alternativas de convivncia com tais caractersticas naturais.
Dessa forma os ritmos e padres de degradao ambiental esto refletidos nas unidades
visitadas, tendo a eroso dos solos como uma das principais causas da degradao ambiental advinda dos
tipos de atividades praticadas.
Mudanas no uso do solo nas margens dos riachos que cortam as unidades produtivas
visitadas tm influenciado no comportamento diferenciado da dinmica desses corpos dagua, levando ao
assoreamento de grandes partes dos seus trechos, onde a vegetao nativa foi retirada para dar espao a
cultivos, propiciando a chegada de maior volume de sedimentos. Sendo assim a velocidade de escoamento
da gua se intensifica, levando a intensa eroso das margens e fazendo com que esses riachos busquem um
novo equilbrio atravs do corte de outras reas, sendo a topografia do fundo do leito atual modificada.
Recentemente tanto as reas que haviam se recuperado aps a cultura do algodo, quanto as reas
que viraram carrasco140, esto sofrendo ameaas pela intensificao da pecuria, atravs da plantao de
capim de variadas espcies. Nos meses de dezembro e janeiro so intensas as queimadas, as chamadas
brocas. At mesmo as reas de topo de serra esto includas nesse processo.
Com a destinao dessas reas para a plantao de capim, inicialmente feito o corte da terra com
tratores, o que tambm constitui um agravante para a degradao do solo. Por se tratar de reas em
declive, de solos rasos do tipo Luvissolo crmico, vulnerveis por natureza, com a remoo do solo atravs
do corte da terra da forma que feito, sem o respeito s curvas de nvel e com a incidncia das primeiras
chuvas o solo recm removido carreado para as partes mais baixas provocando acumulao dos detritos
nas reas de baixios. Esta ganha de solo prejudica a produo de alimentos, uma vez que pode soterrar as
culturas agrcolas, sendo necessrio um novo plantio. Nas partes altas onde ocorre a perda de solo, so
acentuados os processos erosivos com a formao de sulcos que tem suas dimenses agravadas
principalmente com a incidncia das primeiras chuvas, pois no houve tempo suficiente para o crescimento
das pastagens e a conseqente proteo do solo por estas.
O processo de degradao da caatinga tem toda uma relao com o processo de produo de
algodo que se inicia no sculo XVII, mas que vai ter realmente uma forte expanso no sculo XVIII quando
no auge do boom algodoeiro.
O municpio de Itaporanga tem hoje sua base econmica na produo de arroz, feijo e milho. A
economia da rea se apresenta como um complexo de pecuria bovina semi-intensiva, agricultura de
140

Denominao local para as reas de terreno elevado, sem cobertura vegetal, de solos predominantemente
Bruno no-clcicos e que apresentam dificuldades para o desenvolvimento de produo de alimentos.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

884
alimentos, lavoura permanente e pastagem cultivada, todas de baixo rendimento sendo, porm,
comercializadas para o atendimento de necessidades no cobertas pela unidade produtiva.
Raramente o nico tipo de adubo que se usa o estrume do gado, quando do preparo do solo para
o plantio de capim. Nas reas de baixio, de solo renovado, se planta arroz e milho nas bordas. Para que se
viabilize o acmulo de gua nessas reas construda uma espcie de parede do prprio barro da rea e
para que estas paredes se tornem mais resistentes fora das chuvas plantada sobre elas capim da
espcie sempre-verde.
O espao agrrio do municpio reproduz o trao essencial da estrutura fundiria brasileira, isto , o
carter concentrado da terra. De fato, segundo o censo de 2006, 84,8% dos estabelecimentos existentes
eram menores de 50 hectares e ocupavam apenas 31,4% da rea agrcola. J as unidades produtivas com
dimenso igual ou superior a 100 hectares, apesar de representarem apenas 7,5% do nmero de
estabelecimentos total, detinham 48,6% da rea agrcola total. Esses nmeros demonstram de um lado, a
importncia dos pequenos estabelecimentos agrcolas no municpio, e de outro, a persistncia de uma
estrutura fundiria concentrada.
Um fato que chama ateno tem a ver com os estabelecimentos com menos de 10 hectares, que
correspondem a 52% do total dos estabelecimentos e ocupam apenas 6% da rea agrcola municipal. Isso
significa uma grande fragmentao da terra. Esse tamanho diminuto da propriedade alm de inviabilizar a
produo familiar responsvel pelo uso intensivo dos recursos da unidade produtiva, levando a um
escasseamento ou degradao dos mesmos.
A importncia de se ter a propriedade da terra ressaltada por Paulino (2006) em seu livro Por
uma Geografia dos Camponeses. Para esta autora a sua posse, mesmo que precria, que afasta o
assalariamento e permite a reafirmao da autonomia do trabalho (p. 36). Tal assertiva, defendida pela
estudiosa, se vista sem nenhuma anlise mais aprofundada, esquece que a posse da terra de forma
insatisfatria, precria, acarreta outros problemas de ordem social, tais como a migrao e problemas de
ordem ambiental, como os apontados no pargrafo anterior.
A forte presena dos pequenos estabelecimentos agrcolas de base familiar em Itaporanga (1.017
com menos de 50 hectares e 1.110 com menos de 100 hectares de um total de 1.214 estabelecimentos)
por si s j suficiente para demonstrar a importncia de um estudo que busque relacionar as formas de
sua organizao e gesto com o ambiente.
CONSIDERAES FINAIS
Atravs dos estudos de campo constatou-se a degradao dos solos pela eroso nas pequenas
unidades camponesas de produo visitadas, conseqncia das atividades humanas sem planejamento de
uso e ocupao do solo, carentes de polticas pblicas que se aproximam das verdadeiras aspiraes
camponesas, ao longo do processo histrico de ocupao do espao agrrio municipal.
Tecnicamente j absorve certas tecnologias, sobretudo para manejo da agropecuria. H rodzio de
pasto. Nas reas de pasto nativo o gado fica solto, mas onde o capim cultivado, vai retirando a cada dia o
necessrio a alimentao do rebanho que cortado na mquina forrageira para posteriormente distribuir
em cocheiras para os animais. No capim buffel os animais so colocados aps a coleta das sementes que
so guardadas de um ano para outro e que tambm vendida. Isso porque se o rebanho ficar solto dentro
da pastagem, no possvel a sua renovao.
A conscincia da importncia da necessidade de uma agricultura sustentvel vem ganhando
adeptos, no intuito de minimizar seus efeitos negativos e fortalecer aqueles que caminham para a
conservao do ambiente e fortalecimento da justia social.
BIBLIOGRAFIA
ARAJO, L. A. Percia ambiental. In: A questo ambiental: diferentes abordagens. CUNHA, S.B;
GUERRA, A. J. T. (orgs.). 4 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008, p. 107-151.
CHAYANOV, Alexander V. Sobre a teoria dos sistemas econmicos no capitalistas. In: Graziano da
Silva; Stolcke, Verena. A questo agrria. So Paulo: Brasiliense, 1981.
CORRA, L. R. Meio ambiente e a metrpole. In: CORRA, L. R. Trajetrias Geogrficas. 3. Ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 153-70.

Joo Pessoa, outubro de 2011

885
BERNARDES, J. A.; FERREIRA, F.P. de M. Sociedade e natureza. In: A questo ambiental: diferentes
abordagens. CUNHA, S.B; GUERRA, A. J. T. (orgs.). 4 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008, p. 17-42.
DUQUE, G. (Org.). Agricultura familiar, meio ambiente e desenvolvimento: ensaios e pesquisas em
sociologia. Joo Pessoa: Ed. da UFPB, 2006.
GOLD, Mary V. Sustainable Agriculture: Definitions and Terms. National Agriculture Library.
Beltsvile, 1999.
IBGE. Censo Agropecurio da Paraba, 2006.
LEFF, E. Epistemologia ambiental. Traduo de Sandra Valenzuela; reviso tcnica de Paulo Freire
Vieira. 4. Ed. So Paulo: Cortez, 2006.
MENDONA, F. Geografia e meio ambiente. 8 ed. So Paulo: Contexto, 2005.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo capitalista de produo e agricultura. 3. Ed. So Paulo: tica,
1990.
PAULINO, Eliane Tomiase. Por uma geografia dos camponeses. So Paulo: UNESP, 2006.
PLOEG, Jan Douwe Van der. O que , ento, campesinato? In: Camponeses e Imprios Alimentares:
lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalizao. Porto Alegre. Editora UFRGS. Nov. 2008.
Srie Estudos Rurais.
SILVA, Manoel Vieira. Do stio Caboclo ao assentamento Nossa Senhora das Graas: territrio de
explorao versus territrio de esperana. Dissertao de Mestrado. Universidade Federal da Paraba.
Departamento de Geocincias. Joo Pessoa PB, fevereiro de 2011.
SUERTEGARAY, D. M. A. Espao geogrfico uno e mltiplo. In: SUERTEGARAY, D. M. A.; BASSO, L. A.;
VERDUM, R. (Orgs.). Ambiente e lugar no urbano- a grande Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS, 2000. P. 1334.
WANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Razes histricas do campesinato brasileiro. In:
WOORTMANN, Klaas. Com parente no se neguceia: o campesinato como ordem moral. Braslia: UNB,
1990.
VEIGA, Jos Eli. Desenvolvimento sustentvel- desafio para o sculo XXI.. Rio de Janeiro, Garamond,
2005. Ambiente & Sociedade - Vol. VII n 2 jul./dez. 2004.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

886

RISCOS E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS: CONTEXTUALIZAO A


PARTIR DE UM ESTUDO DE ANLISE DE CONTEDO
Juliana da Silva IBIAPINA CAVALCANTE
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/UFRN
juliana.ibiapina@hotmail.com
Magdi Ahmed Ibrahim ALOUFA
Professor - UFRN
magdi-aloufa@bol.com.br

RESUMO
As pesquisas qualitativas tem tido uma crescente importncia no mundo acadmico e as anlises
textuais se mostram de grande utilidade como ferramenta metodolgica neste tipo de estudo. Entra em
cena, ento, a anlise de contedo, um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes que se utiliza de
procedimentos sistemticos a fim de descrever o contedo de mensagens. Dessa forma, a anlise de
contedo um instrumento de grande valia nos estudos de riscos e vulnerabilidades socioambientais, visto
que a produo cientfica atual traz uma abordagem significativa das temticas socioambientais. A
discusso desse assunto se torna cada dia mais intensa em virtude da ocorrncia freqente de eventos de
crises e catstrofes que envolvem diferentes situaes. Sendo assim, foi aplicado o mtodo da anlise
temtica no presente estudo a fim de identificar as situaes de riscos e vulnerabilidades socioambientais
citadas numa amostra de 30 (trinta) artigos ligados SCIELO (Scientific Eletronic Library On Line). A busca
pelos artigos deu-se atravs dos termos vulnerabilidade, vulnerabilidade social, vulnerabilidade
socioambiental e riscos socioambientais. Utilizou-se como unidades de registro os termos
vulnerabilidades e riscos. As unidades de contexto so vulnerabilidade e risco socioeconmico,
vulnerabilidade e risco ambiental e vulnerabilidade e risco tecnolgico. Constatou-se, portanto que as
vulnerabilidades tratadas nos artigos vo desde as estritamente social, ambiental e tecnolgica, at as de
interao entre essas esferas. E , justamente as vulnerabilidades e riscos de interao socioambiental as
mais presentes nesses estudos.
Palavras-chave: perigos; degradao; sociedade; meio ambiente.
INTRODUO
Considerando a crescente importncia das pesquisas qualitativas, nota-se a grande
utilidade das anlises textuais como ferramenta metodolgica nesse tipo de estudo. A anlise de contedo
, ento, um conjunto de tcnicas de anlise das comunicaes que se utiliza de procedimentos
sistemticos a fim de descrever o contedo de mensagens (Bardin, 2006). Essa sistematizao refere-se
decomposio da mensagem identificando as unidades de anlise para uma categorizao dos fenmenos
e a posterior reconstruo de significados que nos permitem compreender e interpretar mais
aprofundadamente a realidade do assunto estudado.
Percebe-se, ento, que a anlise de contedo um instrumento de grande valia nos
estudos de riscos e vulnerabilidades socioambientais. A produo cientfica atual traz uma abordagem
significativa das temticas socioambientais, principalmente em estudos sobre populao e ambiente. A
discusso desse assunto se torna cada dia mais intensa em virtude da ocorrncia freqente de eventos de
crises e catstrofes que envolvem diferentes situaes (Gamba, 2010). E, em grande parcela das cidades
brasileiras, parte dessas situaes deve-se ao processo de urbanizao desordenado trazendo consigo
inmeros e complexos problemas para a compreenso e gesto dos espaos urbanos, com destaque para
aqueles de ordem socioambiental (Mendona, 2004).
Dessa forma, foi aplicado o mtodo da anlise temtica no presente estudo a fim de
identificar as situaes de riscos e vulnerabilidades socioambientais citadas numa amostra de 30 (trinta)
artigos ligados SCIELO (Scientific Eletronic Library On Line), uma biblioteca eletrnica desenvolvida pela
FAPESP (Fundo de Amparo Pesquisa de So Paulo) em parceria com a BIREME (Centro Latino-Americano e
do Caribe de Informao em Cincias da Sade) que abrange uma coleo selecionada de peridicos
cientficos.

Joo Pessoa, outubro de 2011

887
REFERENCIAL TERICO
No Brasil, o processo de urbanizao tem se caracterizado por problemas recorrentes, tais
como: ocupaes irregulares em encostas ou nas margens dos corpos de gua; precariedade de
abastecimento de gua potvel e de saneamento bsico, entre outros elementos indicativos de
inadequao e de m distribuio dos servios e da infra-estrutura no meio urbano (Ribeiro, 2008; Carmo,
2009; Silva, 2006).
Esse padro de urbanizao traz uma situao de insustentabilidade urbana caracterizada
pela prevalncia de um processo de expanso e ocupao dos espaos intra-urbanos, onde se encontram
baixa qualidade de vida e parcela significativa da populao (Jacobi, 2006). Nesse cenrio surge a
desigualdade ambiental que, segundo Alves (2007), pode ser definida como a exposio diferenciada de
indivduos e grupos sociais a amenidades e riscos ambientais. Para o autor, a desigualdade ambiental pode
ser relacionada com outras formas de desigualdade presentes na sociedade, tais como entre raas, sexo,
grupos de renda, etc. Neste caso, os indivduos so desiguais ambientalmente porque so desiguais de
outras maneiras.
A partir de ento, para Torres et al. (2003), surgem espaos urbanos caracterizados como
periferias. Para ele, estes espaos se constituem de loteamentos irregulares, geralmente auto-construdos,
aonde os servios e os investimentos estatais no chegam de forma satisfatria.
Dentro desse contexto, surgem termos ainda imprecisos. A falta de consenso sobre
definies apropriadas tem levado muitos pesquisadores a ampliar o seu enfoque (Hogan, 2005). No campo
das anlises socioambientais, um dos primeiros desafios o desenvolvimento de conceitos apropriados. O
autor nos alerta, ainda, que inevitvel tomar conceitos do discurso no-cientfico, agregando significados
a eles. Este o caso de riscos e vulnerabilidades. A utilizao desses termos, de acordo com Hogan (2005),
permite associar caractersticas do mundo natural e social, exigncias dos estudos ambientais. Dessa forma,
a compreenso das vulnerabilidades e riscos envolve o entendimento de um processo que compreende a
dinmica social e a dimenso ambiental.
Beck (2010) traz tona a noo de riscos contemporneos, explicitando os limites e as
conseqncias das prticas sociais, trazendo o elemento da reflexividade. A sociedade a produtora dos
riscos, trazendo problemas para si prpria. Essa sociedade reflexiva se v obrigada a lidar com os resultados
positivos e negativos de suas prprias aes.
A partir dessa discusso, entra em cena o conceito de hazards que nos debates atuais
incorpora outras dimenses alm da sua designao inicial. Conforme Marandola Jr. e Hogan (2004), na
tradio entre os gegrafos desde 1920 est o estudo dos natural hazards ou riscos naturais. Segundo os
autores, a origem destes estudos possui como marco o ano de 1927, quando o governo dos Estados Unidos
solicitou ao Corpo de Engenheiros dos EUA pesquisas e proposies de medidas para solucionar o
problema das inundaes que afligiam tanto reas rurais como urbanas. Entende-se ento, que hazards so
eventos que se relacionam ou ocorrem em reas ocupadas pelo homem, gerando danos, perdas e
colocando em perigo estas populaes. Dessa forma, hazard um evento que ocorre na interface
sociedade-natureza (White, 1974).
Surge em seguida ao desenvolvimento desses estudos, os environmental hazards. Esse
panorama traz a preocupao com os reflexos das dinmicas naturais na gerao de danos s populaes.
Aliado a isso est a concepo de que os danos so causados pela forma de ocupao do territrio e pela
no considerao dos impactos e riscos que tal uso ou o prprio local podem gerar a si mesmas (Marandola
Jr e Hogan, 2004). Assim, percebem-se os diferentes nveis de vulnerabilidade aos hazards e a interao
sociedade-natureza-tecnologia.
Dessa forma, pode-se identificar as diferentes variedades de hazards: natural hazards,
environmental hazards, social hazards e technological hazards. Atualmente eles possuem uma maior
complexidade principalmente, se levado em considerao as suas interaes, cada vez mais presentes,
contribuindo para a gerao das vulnerabilidades de um modo geral. (Marandola Jr. e Hogan, 2004)
Eakin e Luers (2006) afirmam que a vulnerabilidade freqentemente caracterizada como
uma exposio e sensibilidade de um sistema a estresses e sua capacidade de absorver ou lidar com esse
estresse; podendo ela resultar de processos polticos, sociais, econmicos e ambientais, isoladamente ou
em conjunto. Visto isso, entende-se que a concepo de vulnerabilidade geralmente definida como uma
situao em que esto presentes a exposio ao risco, a incapacidade de reao e a dificuldade de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

888
adaptao diante do risco (Alves, 2006). Assim, a vulnerabilidade pode ser definida como a sobreposio
entre o risco existente em um determinado lugar e as caractersticas e o grau de exposio da referida
populao.
METODOLOGIA
A anlise de contedo efetuada neste estudo foi realizada atravs da anlise temtica ou
categrica, segundo Bardin (2006), consiste na decomposio dos textos em unidades seguindo-se de suas
classificaes por agrupamento. Essa seqncia, para Moraes (2003) :
Fase de leituras flutuantes:
Aps selecionar-se o corpus textual, procede-se s leituras flutuantes, objetivando apreender de
uma forma global as idias principais e os seus significados gerais e organizar alguns aspectos importantes
para as prximas fases da anlise.
Desmontagem dos textos e seleo das unidades de anlise
Nesta fase os textos so fragmentados no sentido de atingir unidades constituintes referentes aos
fenmenos estudados. A seleo das unidades de anlise segue-se de acordo com um processo dinmico e
indutivo de ateno mensagem e s significaes no aparentes do contexto.
Processo de categorizao:
Estabelecimento de relaes entre as unidades para compreenso dos elementos unitrios rumo
ao entendimento do todo. As categorias podem ser caracterizadas como grandes enunciados que abarcam
um nmero varivel de temas, segundo seu grau de intimidade ou proximidade. Elas podem traduzir
significados e elaboraes importantes que atendam aos objetivos de estudo, criando novos
conhecimentos e proporcionando uma viso diferenciada sobre os temas propostos.
Captao da compreenso emergente.
Para se seguir a estas etapas, inicialmente realizou-se a determinao da amostra de
artigos a serem analisados. A busca pelos artigos deu-se atravs dos termos vulnerabilidade,
vulnerabilidade social, vulnerabilidade socioambiental e riscos socioambientais no site da SCIELO
(Scientific Eletronic Library On Line). Selecionou-se, ento 30 artigos dentre os quais a temtica dos riscos e
vulnerabilidades social, ambiental e/ou socioambiental estivesse entre as principais.
Utilizou-se como unidades de registro os termos vulnerabilidades e riscos. As unidades
de contexto so vulnerabilidade e risco socioeconmico, vulnerabilidade e risco ambiental e
vulnerabilidade e risco tecnolgico. Dessa forma, seguiu-se classificao dos textos dentro das unidades
de contexto, identificando-se, tambm, as subunidades (situaes especificamente citadas em cada artigo
como os eventos causadores dos riscos e vulnerabilidades).
Essa pesquisa foi desenvolvida como proposta de investigao terica acerca de contedos
abordados em dissertao de Mestrado, com fins de ilustrar essa metodologia no percurso de uma
disciplina Complementar do Programa de Ps Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN), A Comunicao Cientfica, no momento
ministrado pela Profa. Eline Arajo141.
RESULTADOS E DISCUSSO
As vulnerabilidades e riscos nos artigos analisados esto divididos entre as interaes das
unidades de contexto: social, ambiental, ambiental-tecnolgico, socioambiental e social-ambientaltecnolgica.
A distribuio divide-se da seguinte forma:

141

A Profa. Eline Arajo-de-Almeida, docente e orientadora no PRODEMA/UFRN, vem ministrando parte do


componente curricular A Comunicao Cientfica, incluindo, como pesquisa para os alunos, o enfoque da anlise de
contedo aplicada ao entendimento de questes emergentes em investigaes diversas relacionadas aos temas das
dissertaes dos mestrandos. A proposta otimizar o momento da sala de aula para a prtica da construo e
perspectiva de divulgao do conhecimentos produzido sobre meio ambiente.
Joo Pessoa, outubro de 2011

889

Temticas
Social
Ambiental

Ambiental-tecnologico

Grfico 01: Distribuio das vulnerabilidades


Percebe-se, portanto que as vulnerabilidades e os riscos de ordem socioambiental so os
mais presentes nos artigos analisados. De acordo com Marandola Jr. e Hogan (2004) o meio ambiente um
conjunto fsico-social que influencia e influenciado pela populao. Dessa forma, as vulnerabilidades se
apresentam com maior nfase nesse contexto. Sobre isso, Alves e Torres (2006) fazem uma reflexo sobre
o que denominou de favelas em reas de risco que se caracteriza como grupos populacionais
particularmente marginalizados que seriam tambm afetados pelo risco ambiental. Isso porque, para
Torres (2000), as reas de risco ambiental, muitas vezes, so as nicas acessveis populaes de baixa
renda. Dentro desse contexto, diversos estudos tm observado a existncia de expressivo contingente
populacional de baixa renda residindo em reas de risco ambiental, o que se configura como
vulnerabilidade socioambiental.
Quanto s vulnerabilidades identificadas dentro de cada unidade de contexto tem-se:
Quadro 01: Identificao das vulnerabilidades
Unidades de context
1. Vulnerabilidades e riscos
sociais e econmicos

2. Vulnerabilidades e riscos
ambientais

Situao de pobreza

Degradao ambiental

Sade pblica

Transformao do espao
Poluio
Atmosfrica
Metais pesados
Hdrica
Eutrofizao
Metais pesados
Sonora
Saneamento bsico
Abastecimento de gua
Coleta de lixo
Tratamento de esgoto
Enchentes

Favelizao

Criminalidade
Trabalho infantil
Subunidades de contexto

Desemprego

3.
Vulnerabilidades
e
riscos
tecnolgicos
Industrializao
Petroqumica/Nuclear
Exploses
vazamentos
armazenamento/disposio/transpor
te de resduos perigosos
Agrotxico

Deslizamentos
Areas de risco
Ocupaes irregulares
Ocupaes de reas de
proteo ambiental
Esgotamento dos recursos
naturais
Desmatamento
Eroso

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

890
Percebe-se, portanto, que no contexto da vulnerabilidade scio-econmica, muitas
situaes se relacionam intimamente com a desigual distribuio de renda. Atrelado isto, desenvolve-se o
processo de periferizao e favelizao, combinado com a migrao de pessoas do campo para a cidade em
busca de melhores condies de vida. Nesse cenrio, surgem tambm altos ndices de desemprego,
criminalidade, trabalho infantil, entre outros, visto que as cidades no conseguem atender s demandas de
todo esse contingente populacional.
Alm disso, muitas dessas situaes se correlacionam com a exposio s vulnerabilidades
ambientais identificadas, pois, assim como j foi dito, h uma tendncia de os grupos de mais baixa renda
residirem em reas com ms condies urbansticas e sanitrias e em situaes de risco e degradao
ambiental (Alves et al., 2010). Essas situaes caracterizam-se, freqentemente, com ocupao de reas de
risco (margens de corpos dgua, encostas de morros, etc.), alm da ausncia de saneamento bsico, o que
traz srias implicaes sade pblica em geral. Sobre isso, Jacobi (2006) afirma que esse processo de
periferizao tem contribudo para uma significativa degradao dos recursos hdricos, do solo, das
condies de sade, ampliando, tambm, o alcance dos conflitos e dos problemas socioambientais.
Quanto aos riscos tecnolgicos, estes surgem em face s tecnologias contemporneas,
principalmente relacionados ao desenvolvimento das indstrias de diversos tipos que, quando realizado
sem a devida preocupao e responsabilidade trazem srias implicaes sade da populao e do meio
ambiente, decorrentes, principalmente de despejos de efluentes industriais, liberao de gases poluentes e
outros acidentes envolvendo resduos perigosos. Dessa forma, a industrializao e os avanos tecnolgicos
trazem vastas implicaes para o bem-estar das pessoas e para a qualidade do meio ambiente medida
que fazem aumentar vertiginosamente a quantidade e a variedade de contaminantes qumicos eliminados
no meio (Beck, 2010).
CONCLUSO
Devido ao processo de urbanizao desordenado, grande nmero de cidades de todo o
mundo se caracterizam por problemas de ordem socioambiental. Soma-se a isso, o processo de
desenvolvimento industrial que trazem tambm consigo os riscos tecnolgicos. Dessa forma, surge a
questo da cumulatividade dos riscos de diferentes origens, tornando as pessoas e o meio vulnerveis s
diversas situaes de perigos.
A partir desta anlise de contedo, evidenciou-se uma maior significncia de estudos
voltados aos riscos e vulnerabilidades no contexto socioambiental. Percebe-se ainda, que as situaes de
risco e vulnerabilidades na esfera social se relacionam, muito intimamente com a desigual distribuio de
renda, o que acaba produzindo diversas outras situaes de perigos. No mbito das vulnerabilidades
ambientais, muitos dos riscos identificados relacionam-se com o processo de expanso urbana
desordenada e ocupao de reas de risco, alm de sua relao com os riscos tecnolgicos advindos do
desenvolvimento industrial, uso de agrotxicos no meio rural, entre outros.
Portanto, as situaes de vulnerabilidades e riscos evidenciam-se mais claramente no
ambiente urbano. Deve-se a isto o fato de as cidades concentrarem a maior parcela da populao mundial.
Alm disso, o desenvolvimento da infra-estrutura urbana no se desenvolveu no mesmo ritmo em que a
populao, surgindo, ento a sobreposio espacial entre os riscos sociais e ambientais.
REFERNCIAS
ALVES, H. P. F. Vulnerabilidade socioambiental na metrpole paulistana: uma anlise
sociodemogrfica das situaes de sobreposio espacial de problemas e riscos sociais e ambientais. Rev.
bras. estud. popul. v. 23, n. 1, p. 43-59, 2006.
ALVES, H. P. F. Desigualdade ambiental no municpio de So Paulo: anlise da exposio
diferenciada de grupos sociais a situaes de risco ambiental atravs do uso de metodologias de
geoprocessamento. Rev. bras. estud. popul. vol. 24, n. 2, p. 301-316, 2007.
ALVES, H. P. F.; TORRES, H. G. Vulnerabilidade socioambiental na cidade de So Paulo: uma anlise
de famlias e domiclios em situao de pobreza e risco ambiental. So Paulo em Perspectiva, So Paulo,
Fundao Seade, v. 20, n. 1, p. 44-60, 2006.
ALVES, H. P. F.; ALVES, C. D.; PEREIRA, M. N.; MONTEIRO, A. M. V. Dinmicas de urbanizao na
hiperperiferia da metrpole de So Paulo: anlise dos processos de expanso urbana e das situaes de

Joo Pessoa, outubro de 2011

891
vulnerabilidade socioambiental em escala intraurbana. Rev. bras. estud. popul. [online]. vol. 27, n. 1, pp.
141-159, 2010.
BARDIN, L. Anlise do contedo. Lisboa: Edies 70 LDA, 2006.
BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Traduo de Sebastio Nascimento.
So Paulo: Editora 34, 2010.
CARMO, R. M. Um olhar sobre a pobreza: vulnerabilidade e excluso social no Portugal
contemporneo. Sociologia. n. 59, p. 163-167, 2009.
EAKIN, H; LUERS, A. L. Assessing the vulnerability of social-environmental systems. Annu. Rev.
Environ. Resourc. n. 31. p. 365-394, 2006.
GAMBA, C. Avaliao da Vulnerabilidade Socioambiental no Municpio de So Paulo. In: V Encontro
Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Meio Ambiente e Sociedade, Florianpolis, 2010.
HOGAN, D. J. Mobilidade populacional, sustentabilidade ambiental e vulnerabilidade social. Rev.
bras. estud. popul. v.22, n.2, p. 323-338, 2005.
JACOBI, P. R. Dilemas socioambientais na gesto metropolitana: do risco busca da
sustentabilidade urbana. Poltica e Trabalho, Revista de Cincias Sociais, n. 25. p. 115-134, 2006.
MARANDOLA JR., E.; HOGAN, D. J. Natural hazards: o estudo geogrfico dos riscos e perigos.
Ambient. soc. v. 7, n. 2, p. 95-110, 2004.
MENDONA, F. Riscos, vulnerabilidade e abordagem socioambiental urbana: uma reflexo a partir
da RMC e de Curitiba. Rev. Desenvolvimento e Meio ambiente, n.1 0, p. 139-148, 2004.
MORAES, R. Uma tempestade de luz: a compreenso possibilitada pela anlise textual discursiva.
Cincia & Educao. v. 9, n. 2, p. 191-211, 2003.
RIBEIRO, W. C. Impacto das mudanas climticas em cidades no Brasil. Parcerias estratgicas,
Distrito Federal, n. 27, p. 297-321, 2008.
SILVA, V. A. C. A. (in) sustentabilidade da metrpole contempornea. O programa de despoluio
da Bahia da Guanabara sob a tica das intersees entre Justia Ambiental e Projeto Ecolgico. Tese de
Doutorado. UFRJ/PROURB, Rio de Janeiro, 2006.
TORRES, H. A demografia do risco ambiental. In: TORRES, H.;COSTA, H. (Org). Populao e Meio
Ambiente: debates e desafios. So Paulo: Senac. p. 53-73, 2000.
TORRES, H. G.; MARQUES, E.; FERREIRA, M. P.; BITAR, S. Pobreza e espao: padres de segregao
em So Paulo. Estud. av. v. 17, n. 47, p. 97-128, 2003.
WHITE, G. F. Natural hazards research: concepts, methods, and policy implications. In: ______. (ed.)
Natural hazards: local, national, global. New York: Oxford University Press, 1974.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

892

PERCEPO DOS AGRICULTORES DA COMUNIDADE CAIARA, ING-PB, A


CERCA DA UTILIZAO DE AGROTXICOS E SEUS DANOS AO MEIO
AMBIENTE
Leandro Calixto Henriques; Stella Pereira Leite; Rodrigo Lelis da Silva.
1. Graduando em Licenciatura em Biologia, UNAVIDA;
nando-henrique10@hotmail.com
2. Administradora. Especializanda em Desenvolvimento e Meio Ambiente, UNIP/FURNE;
stella.pb@hotmail.com
3. Graduando em Licenciatura Plena em Qumica, UEPB;
rlelis84@gmail.com

RESUMO
A contaminao de alimentos, poluio de rios, eroso de solos e desertificao, intoxicao e
morte de agricultores e extino de espcies animais, so algumas da mais graves consequncias da
agricultura qumica industrial e do uso indiscriminado de agrotxicos largamente estimulados nos ltimos
25 anos. A agricultura brasileira cada vez mais tem feito uso de insumos qumicos, principalmente de
agrotxicos, e isso acarreta numa serie de problemas ecolgicos O objetivo deste trabalho buscar a
percepo dos agricultores na comunidade caiara, zona rural do municpio de Ing, PB, onde se buscou
verificar a relao trabalho, sade e ambiente, com a utilizao de agrotxicos. Os estudos foram realizados
com 38 trabalhadores na comunidade. Os agricultores ainda esto sem conhecer outros meios de
combates a pragas, principalmente agroecolgicos. E esto longe de praticar a agricultura orgnica. Falta
por parte do setor publico uma assistncia tcnica para mostrar a melhor condio de trabalho para os
agricultores, de modo que isso lhe traga um melhor retorno financeiro. H um conhecimento sobre
danosos causados pelos agrotxicos nos seres humanos. O descarte das embalagens vazias, no est
ocorrendo de maneira correta, s mesmas esto sendo jogadas no lixo e queimadas. O desconhecimento
de que as embalagens devem retornar aos fabricantes muito grande ainda.
Palavras-Chave: Agricultura, Agricultores, Alimentos.
ABSTRACT
Contamination of food, pollution of rivers, soil erosion and desertification, poisoning and death of
farmers and extinction of animal species, are some of the most serious consequences of the industrial
chemical agriculture and the indiscriminate use of pesticides greatly stimulated in the last 25 years.
Brazilian agriculture has increasingly made use of chemicals, mainly pesticides, and this entails a series of
ecological problems The aim of this paper is to seek the perceptions of farmers in the community caiara,
rural city of Inga, PB, where sought to investigate the relationship work, health and environment with the
use of pesticides. The studies were conducted with 38 workers in the community. Farmers are still without
some different ways of fighting pests, mainly agro-ecological. And they are far from practicing organic
agriculture. Failure by the public sector technical assistance to show the best working conditions for
farmers, so that it will bring a better financial return. There is an awareness of damage caused by pesticides
in humans. Disposal of empty containers, is not occurring properly, they are being thrown out and burned.
Not knowing that the packaging should be returned to manufacturers is still very large.
Keywords: Agriculture, Farmers, Food.
1. INTRODUO
A agricultura brasileira cada vez mais tem feito uso de insumos qumicos, principalmente de
agrotxicos, e isso acarreta numa serie de problemas ecolgicos. Segundo Ferrari (1985), "ate os anos 50 as
atividades da agricultura estavam direcionadas para gerao de produtos (caf e algodo, principalmente)
para o auto-consumo da populao residente no meio rural e alguns poucos ncleos urbanos", mas com o
aumento da populao urbana houve a necessidade de aumentar a produo agrcola para abastecer os
centros urbanos, utilizando agrotxicos para combater as pragas mesmo sem saber quais as consequncias
que poderiam ser geradas por estes produtos.
De acordo com Ferrari (1985) contaminao de alimentos, poluio de rios, eroso de solos e
desertificao, intoxicao e morte de agricultores e extino de espcies animais, so algumas da mais
Joo Pessoa, outubro de 2011

893
graves consequncias da agricultura qumica industrial e do uso indiscriminado de agrotxicos largamente
estimulados nos ltimos 25 anos. Agrotxico um nome genrico dado aos venenos utilizados na
agricultura sob o pretexto de exterminar pragas e doenas. Existe o eufemismo "defensivo" utilizado pelos
que lucram com eles, que longe de defender, envenenam e poluem o meio ambiente.
Devido contaminao ambiental e aos resduos de agrotxicos nos alimentos, podemos tambm
estimar que as populaes residentes prximas a reas de cultivo e os moradores urbanos tambm esto
significativamente expostos aos efeitos nocivos destes agentes qumicos (Carvalho et al, 2005).
Ferrari 1985 disse "os agrotxicos atuam de duas maneiras no comprometimento da sade da
populao: atravs das intoxicaes dos agricultores durante a aplicao desses produtos ou atravs do
consumo de alimentos contaminados com resduos de veneno. Alm disso, os organoclorados (aldrin,
clorobenzilato e heptacloro) so cancergenos em animais de laboratrio", ou seja, podem causar cncer.
Segundo Carvalho, et. al, (2005), a magnitude do impacto resultante do uso de agrotxico sobre o
homem do campo, no Brasil pode ser depreendida a partir dos dados do ministrio da sade. De acordo
com estes dados, em 2003 houve aproximadamente 8000 casos de intoxicaes por agrotxicos, dos quais
30% foram observadas em reas rurais. Estes dados, entretanto, no refletem a real dimenso do
problema, uma vez que os mesmos advm de centros de controle de intoxicaes, situados em centros
urbanos, inexistentes em varias regies produtoras importantes ou de difcil acesso para muitas populaes
rurais.
De acordo com a ANVISA (Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria) em Nota Tcnica sobre Livre
Comrcio de Agrotxicos, (2005) o Brasil o terceiro maior consumidor de produtos agrotxicos no mundo
e o primeiro no mbito da Amrica Latina e, embora tenha logrado avanos considerveis no controle da
produo e consumo desses produtos nos ltimos tempos, ainda apresenta condies scio-sanitrias
compatveis quelas de pases em desenvolvimento. A exposio por esses produtos pode ocorrer devido
tanto ao seu uso ocupacional quanto a contaminao
2. MATERIAL E MTODOS
O projeto foi realizado na comunidade caiara, zona rural do municpio de Ing, PB
localizado na Mesorregio Agreste Paraibano com as coordenadas geogrficas 07 16' 04" S 35 36' 46"
encontra-se aproximadamente a 95,6 km da capital Joo Pessoa figura 1, (IBGE, 2008). O municpio est
includo na rea geogrfica de abrangncia do semirido brasileiro, definida pelo Ministrio da Integrao
Nacional em 2005. Esta delimitao tem como critrios o ndice pluviomtrico, o ndice de aridez e o risco
de seca. A sua principal fonte de economia e a agricultura familiar. O municpio de Ing conhecido por
suas Itacoatiaras, inscries rupestres feitas em pedras, provavelmente, pelos indgenas, muito antes dos
europeus chegarem ao continente americano. No se conseguiu ainda decifrar o significado de tais
inscries.

Figura 1. Mapa do Estado da Paraba em destaque o municpio de Ing na Paraba

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

894
Para saber a realidade da comunidade em estudo, realizou-se uma entrevista com 38
agricultores/as com perguntas semi-estruturadas, visa obter o conhecimento dos agricultores/as em
relao do trabalho com sade e ambiente, em meio ao uso dos agrotxicos. Na realizao das entrevistas
houve a participao como entrevistadores dos alunos do 7 e 9 ano do Ensino Fundamental II da Escola.
Municipal Ensino Fundamental FREI HERCULANO Figura 2, localizado no Distrito de Pontina, Ing, PB. Aps
esta entrevista foi realizada uma oficina, com a temtica: agrotxicos o veneno de cada dia, aberta para
toda a comunidade e teve a participao dos alunos citados acima.
As variveis foram: Nvel de escolaridade; Conhecimento sobre agrotxicos; Danos causados a
sade humana pelos os agrotxicos e Destino final das embalagens vazias dos agrotxicos.
As estatsticas foram realizadas atravs do programa Microsoft Office Excel 2010.

Figura 2. Alunos do 7 e 9 ano do Ensino Fundamental II da Escola Municipal Ensino Fundamental


FREI HERCULANO, Distrito de Pontina, Ing, PB.
3. RESULTADOS E DISCUSSO
Observa-se na Figura 3 que ao nvel de escolaridade dos 38 entrevistados 12 so analfabetos, com
esse resultado podemos afirmar que uma dificuldade por parte desses agricultores no manuseio dos
agrotxicos devido s informaes contidas nos rtulos e como prepar-los.

Nvel de escolaridade
0
ensino mdio 0
ensino fundamnetal
analfabetos

7
8
11
12

Figura 3. Nvel de escolaridade dos agricultores/as na comunidade caiara, zona rural, do municpio
de Ing, PB.
Foi perguntado por que utilizar os agrotxicos, ento grande parte dos entrevistados disseram:
para combater pragas, isso ocorre segundo os agricultores por no haver um outro meio que satisfaam as
suas necessidades .
A maioria dos entrevistados encontra-se na faixa etria da populao economicamente ativa entre
21 a 62 anos. Em relao renda familiar, mais de 50% das famlias vivem com menos de um salrio
Joo Pessoa, outubro de 2011

895
mnimo. A principal fonte de renda desta comunidade a atividade da agricultura familiar, distribuda por
todos os membros da famlia nas funes de capinar, pulverizar o agrotxico, plantar, arar e colher, na qual
aproximadamente 80% trabalham a mais de dez anos nesta atividade.
Em relao produo agrcola, os resultados revelaram que o uso de assistncia tcnica oferecida,
pouco presente na regio; apenas 16% referiram j ter usado algum tipo de assistncia. Com relao ao
uso de agrotxicos, cerca de 95% dos entrevistados afirmaram que utilizam agrotxicos na produo
agrcola; as justificativas so o controle de pragas, o aumento da produo e a tradio familiar. Segundo a
percepo da comunidade, entende-se por tradio familiar os conhecimentos passados atravs das
geraes. Os 5% restantes desenvolvem a agricultura sem nenhum agrotxico devido falta de recursos
para adquirir o produto. A palavra "veneno" foi a mais utilizada pelos entrevistados para se referirem aos
agrotxicos.
Na Figura 4, podemos verificar atravs dos dados obtidos que 95% dos 38 entrevistados temos
conhecimento sobre o que agrotxico, e mesmo assim continuam utilizando nas culturas e sem os
Equipamentos de Proteo Individual (EPI).

Figura 4. Conhecimento dos agricultores/as da comunidade caiara, zona rural


do municpio de Ing, PB sobre agrotxicos.
Figura 5, quando perguntado aos 38 entrevistados sobre os possveis danos causados a sade
humana pelos agrotxicos 15 responderam que tinha conhecimento sobre intoxicao, enquanto que, 12
responderam que tinha informaes sobre alguns tipos de cncer como tambm de 12 responderam ter
conhecimento de problemas respiratrios e 4 citaram como um grave dano a morte por usos continuo de
agrotxico.

20

Quais so os possiveis danos a sade que os


agrotxicos trazem para o homem?

morte

15

intoxicao

10

cncer

5
0
1

problemas
respiratrios

Figura 5. Os danos causados a sade humana pelos os agrotxicos.


De acordo com a Figura 6, observamos dos 38 agricultores entrevistados 16 responderam que
queimam as embalagens dos agrotxicos nos seus terrenos e 13 responderam que jogam no lixo. Atravs
dessas informaes podemos afirmar que os impactos ambientais so cada vez mais frequentes nas
comunidades rurais.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

896

O que voc faz com as embalagens vazias?


20
15
10
5
0
joga no lixo

queima

deixa
leva de
guardado volta para
em um
onde
quartinho comprou

outros

Figura 6. Destino final das embalagens vazias dos agrotxicos da comunidade caiara, zona rural do
municpio de Ing, PB
Verifica-se na Figura 7, dos 38 entrevistados 15 utilizando agrotxicos para combater as pragas
existem nas culturas dentre delas as mais citadas foram Cigarrinhas (Peregrinus maidis e Dalbulus maidis):
Cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta); Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): Cigarrinha-verde
(Empoasca kraemeri), podemos citar que a falta de assistncia tcnica leva os agricultores que no tem o
conhecimento mais profundo dos agrotxicos acabam usando os mesmo de maneira errada.

Pra que voc utiliza agrotoxico?


para eliminar as pragas
para combater as pragas
Por que necessario

10

15

20

Figura 7. Utilizao de agrotoxico pelos os agricultores da comunidade caiara, zona rural do


municpio de Ing, PB
Ao observamos a Figura 8, constatamos atravs das entrevistas que dos 37 agricultores 27 no tem
conhecimento sobre os denfensivos agroecolgicos e nem como us-los, com essa informao deve-se
haver mais trabalhos com os agricultores com os defensivos agroecolgicos visando uma melhor qualidade
de vida e um meio ambiente cada vez mais protegido.

Voc j trabalho com defencivo agroecologico?


30
25
20
15
10
5
0
1

Figura 8. Conhecimento sobre denfencivos agroecologicos pelos os agricultores da comunidade


caiara, zona rural do municpio de Ing, PB
Joo Pessoa, outubro de 2011

897

4. CONCLUSES
Os resultados forneceram bases para concluir que:
Os agricultores ainda esto sem conhecer outros meios de combates a pragas, principalmente
agroecolgicos. E esto longe de praticar a agricultura orgnica.
Falta por parte do setor pblico, uma assistncia tcnica para mostrar a melhor condio de
trabalho para os agricultores, de modo que isso lhe traga um melhor retorno financeiro.
Os agricultores esto pulverizando suas plantaes com carrapaticida, que no se encaixa nos tipos
de agrotxicos, sendo desconhecidos seus efeitos na agricultura.
O descarte das embalagens vazias, no est ocorrendo de maneira correta, onde foi citado que
muitos jogam no lixo, queimam ou guardam, acarretando em alguns problemas principalmente ambientais.
O desconhecimento de que as embalagens devem retornar aos fabricantes muito grande ainda.
Esta cultura com os agrotxicos pode ser considerada tambm como uma aquisio familiar, onde
os filhos aprendem com seus familiares como manusear, e assim vai passando adiante.
Nesta comunidade a um grande percentual de mulheres manuseando agrotxicos, isto ocorre
devido ausncia de seus maridos, que saem para trabalhar fora, como na regio sul e sudeste, em busca
de melhores condies de vida. Sendo assim as mulheres se vem na condio de manusear os agrotxicos
no intuito de combater as pragas presentes na lavoura.
Muitos ainda desconhecem que os agrotxicos so danosos ao ser humano.
Diante de todo esse levantamento de informaes, necessrio nessa comunidade, trabalhos de
conscientizao dos agricultores, contando com a participao da sociedade civil e organizada, onde juntos
pode ser mudado a realidade desta comunidade.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter dado condies fsicas e psicolgicas para realizao desta pesquisa. E a todos que
influenciaram direta ou indiretamente na realizao deste trabalho, principalmente aos agricultores e
alunos do 7 e 9, pelas suas colaboraes.
REFERNCIAS
Agncia
Nacional
de
Vigilncia
Sanitria.
Disponvel
em:
<http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/index.htm> Acesso em: 05 de nov. 2010.
Armas ED, Monteiro RT, Amncio AV, Correa RML, Guercio M. A. Uso de agrotxicos em cana-deacar na bacia do Rio Corumbata e o risco de poluio hdrica. Quim Nova 2005.
CARTILHA: BRASIL, Ministrio da Sade; RIO GRANDE DO SUL Conselho Estadual de Sade. A sade
no trabalho: a exposio a agrotxicos. 4 ed. 2005.
Chist AMD, C WLO. Percepo ambiental de uma comunidade pomerana em relao ao uso de
agrotxicos. Natureza on line 2003. Disponvel em: <http://www.naturezaonline.com.br> Acesso em: 19 de
nov. 2010.
FERRARI, Antenor. Agrotxico: a praga a dominao. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Censo Demogrfico 2000. Disponvel em:
<http://www.ibge.gov.br> Acesso em: 19 de out. 2010.
PERES, Frederico; SILVA, Jefferson Jos Oliveira; DELLA-ROSA, Henrique Vicente; LUCCA, Srgio
Roberto de. Desafios ao estudo da contaminao humana e ambiental por agrotxicos, 2004.
Sistema
Nacional
de
Informaes
Txico-Farmacolgicas.
Disponvel
em:
<http://www.fiocruz.br/sinitox/agrotoxicos/agrotoxicos.htm> Acesso em: 19 de nvo. 2010.
SOBREIRA, Antnio Elsio Garcia; ADISSI, Paulo Jos. Agrotxicos: falsas premissas e debates, 2003.
<Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php> Acesso em 19 de set. 2010.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

898

UMA BREVE REFLEXO SOBRE O MITO E A VERDADE ENVOLVENDO OS


IMPACTOS AMBIENTAIS DOS EUCALIPTOS EM MONTES CLAROS, NORTE
DE MINAS GERAIS
VELOSO, Lrica Mendes-UNIMONTES.
Graduanda de Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros
lericammveloso@yahoo.com.br
BELM, Ronaldo Alves
Professor do Departamento de Geocincias da Unimontes e Doutorando em Geografia pela UFMG
ronaldobelem@hotmail.com

RESUMO
Os impactos socioeconmicos e ambientais decorrentes da implantao da silvicultura do gnero
Eucalyptus tm sido pauta de polemicas, discusses em vrias partes do mundo, abrangendo diversas
cincias como agronomia, sociologia, economia e em especial profissionais da rea da Geografia. Todavia
percebem-se ainda muitas anlises embasadas apenas no censo comum, provocando alguns mitos
relacionados monocultura do eucalipto. Nesta perspectiva verifica-se a importncia de se desenvolver um
estudo que vise compreender os mitos e verdades sobre impactos associados a esse tipo de cultivo. Nesse
sentido, o trabalho tem como objetivo fazer uma discusso terica que possa elucidar a polmica
ambiental que envolve o eucalipto no Norte de Minas e no Brasil levando-se em considerao a realidade
observada em um eucaliptal localizado no Distrito de Nova Esperana, Montes Claros, Minas Gerais. Para
isso este trabalho adota como procedimento metodolgico a reviso bibliogrfica, pesquisa de campo com
finalidade de conhecer e analisar a rea de estudos e aplicao de planilhas amostrais que resultou na
caracterizao dos impactos ambientais presentes na rea, bem como no seu entorno. Concluiu-se que a
rea de estudo apresenta alguns impactos ambientais causados principalmente na biodiversidade local
devido substituio da vegetao natural (bioma Cerrado) pela monocultura de eucalipto. Considera-se
que essa substituio acarreta danos irreversveis na vida de espcies animais e vegetais, e tambm
prejuzos para a populao local que sobrevivia do bioma Cerrado, sendo a monocultura do eucalipto
incapaz de fornecer condies favorveis que garantam renda para todos e o equilbrio do ciclo natural da
biodiversidade local.
Palavras Chaves: Eucalyptus, Bioma Cerrado, Impactos ambientais.
INTRODUO
A polmica associada aos impactos ambientais provocados pelo plantio da monocultura de
eucalipto no Brasil tem despertado interesses de vrios pesquisadores que buscam encontrar uma resposta
ou soluo para os problemas causados pela silvicultura implantada em grande escala em nosso no pas a
partir da dcada de 1970. Nesta direo, destacam-se as abordagens relacionadas monocultura de
eucalipto que na maioria das vezes, esto associadas s crticas que apontam o eucalipto como uma rvore
que consome elevada quantidade de gua, alm do esgotamento de nutrientes, eroso e ressecamento do
solo.
As conseqncias ambientais da monocultura de eucalipto so abordadas em nvel local, nacional e
mundial, tornando-se fonte de debates, especulaes, sendo assim, motivo de preocupao de diversas
reas do conhecimento, tais como, Agronomia, Sociologia, Economia, Direito e em especial Geografia.
Nesta perspectiva, vrios estudos foram realizados contando com a contribuio de diversos autores do
mundo todo. De acordo com Lima (1996, p.19), na ndia, em 1984, durante a realizao do Simpsio a
respeito de plantaes de eucalipto, foram abordados eixos temticos como A controvrsia do eucalipto
(RAO, 1984), Efeitos Alopticos do Eucalipto (RUDRAPA, 1984), Impactos de plantaes de Eucalipto
sobre fatores do Meio (SUBBA ROE, 1984), entre outros. Percebe-se, atravs destes estudos, a busca
para compreender os impactos causados pela monocultura do eucalipto. No entanto, as dvidas ainda
persistem e acredita-se que as respostas para as mesmas ainda estejam longe de serem sanadas. Diante
disso, observa-se a importncia de abordar esse assunto nos dias atuais, devido s analises em geral apenas
confirmam as crticas indiscriminveis em relao a essa monocultura.
Por tudo isso, a comunidade cientfica ligada s questes socioeconmicas e ambientais deve
investigar se o eucalipto realmente importante para a economia do Norte de Minas e mostrar at que
Joo Pessoa, outubro de 2011

899
ponto as monoculturas realmente impactaram o meio ambiente da regio. Sabe-se que existem muitos
trabalhos questionando a viabilidade ambiental das monoculturas de eucalipto no Brasil. Na verdade,
existem muitas verdades, meias-verdades e mitos sendo propagados sobre o eucalipto. Neste contexto,
faz-se necessrio questionar com imparcialidade todos os valores que norteiam essas idias e crticas
relacionadas s monoculturas de eucalipto em nosso pas de modo que a verdade cientfica seja posta em
evidncia. Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo fazer uma discusso terica que possa elucidar
toda a polmica ambiental que envolve o eucalipto no Norte de Minas e no Brasil levando-se em
considerao a realidade observada em um eucaliptal localizado no Distrito de Nova Esperana, Montes
Claros, Minas Gerais.
MATERIAL E METODOS
O trabalho foi realizado no Distrito de Nova Esperana, municpio de Montes Claros, Norte de
Minas Gerais. Conforme mostra o mapa um o municpio de Montes Claros est situado entre as
coordenadas 16 44 06S e 44 51 43 W e se insere na Mesorregio do Norte de Minas.

Nova Esperana localiza-se na poro Centro-Noroeste de Montes Claros destacando-se como um


dos mais importantes distritos do municpio. O trabalho foi desenvolvido especificamente no interior e no
entorno de um eucaliptal que se localiza na borda oeste do distrito de Nova Esperana.
Nesse sentido, importante ressaltar que o presente estudo desenvolveu-se em uma rea de
cultivo de eucalipto das espcies Eucalyptus grandis, Eucalyptus uro-grandis (hbrida) e Eucalytus Globulus.
Essas espcies so muito comuns no Brasil devido a elevada capacidade dessas plantas para a produo de
madeira, sendo consideradas integrantes das oito espcies mais cultivadas em territrio nacional (MARIO.
FILHO, 1985, p.25).
A espcie Eucalytus grandis natural da Atherton, Queensland, Austrlia e uma das suas principais
finalidades a produo de carvo vegetal (EMBRAPA FLORESTA 2000). Esta espcie como algumas outras
do gnero apresenta sistema radicular pivotante que auxilia na captura de gua e nutrientes pela planta.
Segundo o glossrio da EMBRAPA (2011), esse tipo de raiz apresenta crescimento vertical e possui uma
estrutura alongada que se constitui a continuao do eixo da planta. Os lados dessa estrutura alongada so
formados por diversas ramificaes finas que desempenham importante papel no processo de absoro de
gua e nutrientes dos solos, como demonstrado na Figura 01.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

900

Figura 01: Sistema radicular de eucalipto, provavelmente da espcie Eucaliptus Grandis, plantado
em rea da Aracruz Celulose no Sul da Bahia.
Fonte: www.aracruz.com.br
J o eucalipto da espcie Eucaliptus globulus originria da Tanznia, frica, mas tambm
encontrada na Austrlia. Esse tipo de eucalipto apresenta caractersticas de madeira pouco resistente,
sendo utilizada principalmente como postes, dormentes e carvo vegetal. A altura dessa rvore varia
bastante, podendo alcanar um porte de pequenos arbustos ou at mesmo de rvores de 70 metros de
altura (VITTI & BRITO, 2003, p. 8).
Para desenvolver esta pesquisa pensou-se inicialmente em uma metodologia baseada em etapas
que alcanassem os objetivos propostos. Assim, o trabalho foi dividido nas seguintes etapas: trabalho de
campo preliminar para reconhecimento da rea, reviso literria que possibilitou subsdios tericos para a
anlise dos dados, trabalho de campo para aplicao das planilhas de caracterizao ambiental da rea,
organizao dos dados levantados, anlise comparativa das informaes verificadas na reviso de literatura
com os dados obtidos no campo e por fim, uma quarta e ltima etapa voltada para anlise e discusso final
dos resultados alcanados.
O EUCALIPTO E SEUS IMPACTOS
A discusso envolvendo o plantio gnero Eucaliptus vem se propagando por toda a literatura
mundial. Neste sentido, muitos estudos foram realizados visando entender quais as principais implicaes
desse tipo de monocultura em relao ao meio ambiente. Alguns desses autores associam o eucalipto a
vrios impactos socioeconmicos e ambientais, tais como a diminuio da renda da populao que garantia
sua renda por meio do extrativismo, do modo de vida, migrao campo/cidade, etc.
No que se refere ao aspecto ambiental, a partir desses estudos verifica-se analises que apontam
alguns impactos direcionados ao meio ambiente, como eroso, assoreamento dos cursos de gua,
rebaixamento do lenol fretico, desertificao do solo entre outros. Neste sentido, ressalta-se que uma
das principais implicaes geradas pelo eucalipto est associada substituio da vegetao natural pela
silvicultura. Nesta perspectiva, percebe-se a importncia de se realizar uma anlise comparativa dos
impactos socioeconmicos e ambientais do eucalipto encontrados em pesquisas e a realidade presente no
eucaliptal localizado no Distrito de Nova Esperana.
A partir da dcada de 1970 a degradao do bioma Cerrado se acentuou de forma elevada. Isso
ocorreu devido ao fato de muitas empresas de carvo vegetal terem sido beneficiadas pelos incentivos dos
programas governamentais e pela oferta de terras com baixo valor econmico. Estas empresas se
instalaram no Norte de Minas com intuito de aumentar seus lucros, derrubando, assim, a vegetao natural
existente para a implantao da monocultura de eucalipto, Calixto (2006). Com esse processo de
substituio do bioma natural pelas florestas plantadas, muitas espcies da flora e fauna local morreram e
desapareceram da rea de estudo, o que acarretou uma interrupo do ciclo de sobrevivncia da flora e
fauna local.
Na respectiva rea, constatamos que os principais impactos ambientais observados no eucaliptal
so os desmatamentos, pisoteio do gado, desequilbrio na flora com poucas espcies de plantas nativas
sobrevivendo no seu interior. No que tange fauna verificamos a total ausncia de estruturas especiais
Joo Pessoa, outubro de 2011

901
como ninhos, teias de aranha e tocas no interior do eucaliptal, o que reflete a ausncia de diversidade de
ambientes e a reduo da fauna local.
Em relao aos impactos provocados pelas florestas plantadas na rea pesquisada ressalta-se que
para se compreender ambientes artificiais como os eucaliptais fazem-se necessrio, antes de tudo, analisar
a espcie do gnero eucalyptus que predomina na rea que estamos abordando e quais as suas implicaes
para o meio ambiente. No estudo em questo, sabe-se que a espcie predominante a Eucalyptus grandis.
De acordo com a Revista Mensal de Tcnica de Celulose e Papel (2009), essa espcie, juntamente com
outras espcies de valor comercial, possui um sistema radicular que atinge em mdia 1,5 a 2,5 metros de
profundidade e grande parte da estrutura deste sistema radicular formado por partes finas que se
concentram nos primeiros 60 cm do solo. As razes das espcies do gnero Eucalytus implantadas no Norte
de Minas realmente no ultrapassam 2,0 ou 2,5 metros de comprimento e existem muitas informaes
distorcidas em relao a essas espcies e sua relao com os recursos hdricos da regio.
Devido s caractersticas particulares da rea de estudo, tais como a localizao e o tipo de bioma,
a pesquisa se baseou na aplicao de dois tipos de planilha: a primeira se refere a caracterizao ambiental
em reas de cultivo de eucalipto (Planilha de caracterizao - PC) e a segunda est associada
caracterizao ambiental do entorno do eucaliptal( Planilha de impacto -PI). Foram considerados 12 pontos
amostrais: seis no eucaliptal e seis no seu entorno. Nestas amostras considerou-se um crculo com raio de 5
metros a partir do ponto aleatrio escolhido para anlise. Nestes pontos amostrais verificamos alguns
aspectos considerados relevantes: Localizao, tipo de bioma e suas fitofisionomias, clima, classe de solo,
caracterstica de relevo, estrutura do solo, presena de galhos e troncos no solo, estratos da vegetao e a
estruturas especiais como ninhos, tocas e teias de aranha.
O clima existente no local o Tropical semi-mido (BELM, 2002). Em relao ao relevo,
predominou o aspecto plano, a geologia marcada pelo predomnio de arenitos que favoreceram o
desenvolvimento da classe dos Latossolos.
Neste contexto, todos os pontos esto inseridos na classe dos Latossolos por apresentarem
colorao vermelho/amarelada, alm de possurem textura arenosa. Esses solos ainda possuem grau de
permeabilidade considerado alto. Esse aspecto favorece um grau alto de infiltrao da gua das chuvas o
que propicia o abastecimento do lenol fretico da regio. Percebe-se ainda no ponto amostral 02, uma
presena considervel de galhos e troncos na superfcie da rea (grau mdio). No que tange estrutura
vegetacional verificamos a ausncia de herbceas e a presena de um Sub-bosque aberto. J no quesito
estruturas especiais no se constatou a presena de ninhos, colmias, tocas e nem mesmo teias. Porem a
maioria das reas se assemelham no tocante a ausncia da estruturas especiais. No que tange
caracterizao ambiental no entorno do eucaliptal (Figuras 02 e 03), todas as reas apresentaram algum
tipo de estrutura especial. Isso se deve ao fato dessas reas no serem homogneas.

Figura 02: Interior do eucaliptal


Autor: VELOSO, L. M. M; 2011

Figura 03: Entorno do eucaliptal


Autor: VELOSO, L. M. M; 2011

A caracterstica ausncia de estruturas especiais se confirma com a pesquisa realizada por Santos &
Silva (2004, p.22). Esses autores observam os impactos ambientais na produo de celulose no sul Baiano.
Os mesmos expem que atravs da colheita mecanizada a silvicultura coloca em risco a vida dos pssaros
que constroem seus ninhos nesses ambientes. Alm dos animais menores que utilizam dos troncos do
eucalipto como moradia. Lima, (1996, p.176), ratifica essa caracterstica expondo que a quantidade de
espcies da fauna em um conjunto florestal depender da quantidade de habitats disponveis no mesmo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

902
Assim, as monoculturas, se comparadas ao ambiente natural pr-existente, possuem menor capacidade de
abrigar uma elevada biodiversidade. Em relao a essa questo, Lima (1996) ressalta que:
[...] a quantidade e a diversidade de espcies animais que podem ser encontrados num dado
ecossistema florestal dependem do nmero de nichos disponveis do hbitat. [...] uma monocultura, quer de
eucalipto ou de qualquer outra espcie, reconhecidamente menos incapaz de suportar uma alta
diversidade de fauna (LIMA, 1996, p. 176).

Neste contexto, salienta-se que cada espcie de animal depende de recursos e atributos que
garantam sua sobrevivncia, tais como habitat, energia, espao, habitao, nutrientes, gua, abrigo,
alimento, etc (LIMA, 1996). Desse modo, percebe-se que as silviculturas e/ou monoculturas de uma forma
geral reduzem a presena desses elementos necessrios que garantem o ciclo vital da fauna,
principalmente em quesito de alimentao. Alm do mais, a folha das espcies do gnero Eucaliptus
considerada indigesta por possuir elevada concentrao de taninos. Assim, a maioria dos animais no
usufrui da mesma como alimento, com exceo de alguns pequenos insetos (LIMA, 1996). Os efeitos
negativos do eucaliptal vo alm dos seus limites e em grande parte das vezes os seus impactos chegam s
reas de entorno. Neste sentido, Lima (1996) apud Avery (1989), expe:
Alm dos impactos diretos, o efeito do reflorestamento pode tambm ser sentido alm dos limites
da rea plantada, atravs de efeitos indiretos. [...] a alterao da qualidade da gua, que por sua vez pode
afetar a populao de invertebrados, ou mudanas esperadas na flora superficial, como resultado da
interao espcie/ solo. [...] ou mudana da predao , uma vez que o novo meio pode meio pode facilitar a
ocorrncia de espcies originalmente ausentes, ou ate efeito psicolgicos sofridos por algumas e sociais, que
puderam evitar a procriao ns proximidades de plantaes florestais ( AVERY, 1989)

Diante do exposto, considera-se que os impactos provenientes da silvicultura do eucalipto no se


restringem apenas a rea de cultivo e este fato pode ser percebido a partir da coleta de dados da planilha
de caracterizao dos impactos do entorno do eucaliptal. No entanto, vale lembrar que a silvicultura, ao
mesmo tempo que degrada, pode realizar efeitos contrrios, dependendo do manejo adequado e/ou da
rea de implantao da mesma. Em reas de pastagens, a monocultura pode auxiliar na reduo da eroso.
Em relao ao manejo adequado, Almeida (1979) acredita que em meio ao cultivo do eucaliptal devem-se
introduzir corredores ecolgicos (faixas de vegetao natural) com espcies frutferas que possibilitem
alimento para a vida animal. interessante lembrar que mtodos como esses propiciam a presena de
muitas espcies de animais nos locais prximos s monoculturas.
Outro aspecto analisado na pesquisa se refere estrutura vegetacional e os estratos da vegetao.
Foi constatada, principalmente no ponto trs, a presena de um sub-bosque muito desenvolvido, o que
reflete o aumento da presena de vegetais no interior do eucalipto. Lima (1996, p. 170), afirma que nestas
reas a criao dos sub-bosques s possvel quando a idade do eucalipto alcana a fase adulta. Nesta
fase, as copas das rvores comeam a permitir a penetrao de luz, possibilitando, assim, a luminosidade
satisfatria para o desenvolvimento de outros tipos de espcies e consequentemente, o aparecimento e
manuteno dos sub-bosques. Avalia-se que alm da penetrao dos raios solares, o desenvolvimento dos
sub-bosques tambm est associado acumulao de matria orgnica produzida por galhos, troncos e
folhas deixadas no local. Nesse caso, vale ressaltar que neste ponto a espessura da serrapilheira esteve
prxima de 05 cm. Todos esses aspectos positivos tambm foram observados no ponto 03. No entanto, a
rea no apresentou vegetao herbcea e nem mesmo as estruturas especiais como ninhos, colmias e
teias de aranha.
O ponto 04 apresentou uma situao ambiental inferior em relao ao ponto ao ponto 03, uma vez
que a rea apresentou um sub-bosque aberto e com poucas espcies arbustivas associada ao relevo plano
fez com que essa rea no apresentasse eroso e altos nveis de escoamento da gua das chuvas. Alm do
mais, o ponto 04 no apresentou estrato herbceo e nem estruturas especiais, porm, o grau de
permeabilidade do solo foi considerado alto e a drenagem moderada. Essa drenagem o est tambm
vinculada ao espaamento e alinhamento dos eucaliptos, sendo que essa prtica diminui expressivamente
as perdas de solo atravs a eroso.
O ponto 05, com o relevo inclinado constitui um local com alta permeabilidade e boa drenagem. O
sub-bosque aberto, mas com a presena expressiva de gramneas exticas introduzidas na rea para
conter a eroso. A ausncia da eroso nessa rea representou inicialmente uma descoberta
Joo Pessoa, outubro de 2011

903
impressionante, haja vista que a topografia da rea totalmente favorvel aos processos erosivos
acelerados. Deve-se ressaltar que essa prtica representa um aspecto muito positivo no tocante ao manejo
empregado no eucaliptal em estudo, pois se percebe que o escoamento superficial tem apresentado uma
reduo no local. Por outro lado, na estrada que margeia o eucaliptal as marcas da eroso so visveis, uma
vez o nmero de ravinas muito grande na superfcie da rea. Para Lima (1996), existe outra prtica muito
til para a conteno da eroso do solo em eucaliptais implantados em reas inclinadas. Esse autor destaca
que:
(...) pode-se prevenir que os sedimentos cheguem aos cursos d gua atravs de um planejamento
adequado do uso da terra, o qual inclui a adoo de prticas, tais como faixas ciliares de proteo,
terraceamento, plantio em nvel, cultura em faixas e outras prticas similares de conservao dos solos
(LIMA, 1996, p.23).

Ainda em relao s praticas citadas por Lima (1996), deve-se ressaltar que no ponto cinco
percebe-se a adoo do mtodo de terraceamento e que o mesmo tem sido eficiente na conteno dos
processos erosivos.
Seguindo a mesma linha de raciocnio, o ponto 06 possui um relevo plano, com alta permeabilidade
e boa drenagem. No entanto, nota-se uma inexpressiva presena de galhos e troncos deixados no solo. A
serrapinheira apresenta uma espessura de aproximadamente 05 cm e o ndice de herbceas nulo na
amostra. O sub-bosque aberto e as estruturas especiais esto ausentes.
Em relao caracterizao do eucaliptal, infere-se que grande parte das amostras analisadas
possui um relevo plano, drenagem boa a moderada, permeabilidade alta e/ou mdia, presena baixa e/ou
media de folhas e troncos no solo, presena de sub-bosques abertos e/ou densos, falta de herbceas e
fraca presena de estruturas especiais, sem considerar que o prprio eucaliptal em si pode ser considerado
uma implicao negativa para o bioma Cerrado na rea. Consideram-se a ausncia de sub-bosque
desenvolvido e de estruturas especiais como as principais implicaes negativas do eucaliptal em estudo.
Portanto, todos esses aspectos comprovam a reduo da biodiversidade e a quebra do equilbrio ecolgico
que existia na interao fauna/flora.
A partir das anlises do eucaliptal percebe-se a necessidade de se avaliar as reas de Cerrado tpico
localizadas no seu entorno. Neste sentido, esta pesquisa buscou avaliar seis pontos especficos, sendo
analisados dados obtidos atravs da Planilha de Impacto (PI). Nesta planilha foram considerados aspectos
semelhantes aos estudados a planilha anterior, como o relevo, a estrutura do solo, a estrutura
vegetacional, as estrutura especiais e os impactos ambientais.
No que tange ao aspecto impacto ambiental, a planilha (P.I.1) apresentou caractersticas de
impactos relacionados ao desmatamento e pisoteio do gado. O relevo da rea plano, a estrutura do solo e
o seu grau de permeabilidade so altos, a drenagem moderada. Em relao estrutura vegetacional, a rea
apresentou estrato arbreo aberto, estrato abusivo aberto e estrato herbceo intermedirio. A superfcie
se destacou com uma serrapilheira de espessura inexpressiva, caracterizando, assim, uma rea de Cerrado
em regenerao. A diferenciao dessas reas, como dito a priori, est na composio das estruturas
especiais, pois a amostra do ponto 01 apresentou presena significativa de tocas, no entanto, o nmero de
ninhos, colmias e teias foi precrio.
No ponto amostral P.I 02, se destacou os impactos relacionados ao desmatamento. Acredita-se que
o desmatamento se desenvolveu com o intuito de utilizar a terra para a criao de gado. Este, por sua vez,
promoveu outro impacto: o pisoteio do gado. Neste local percebe-se a alta permeabilidade da gua. No
que se refere vegetao observa-se um estrato arbreo e arbustivo aberto, com herbceas de
intensidade intermediria. As rvores foram consideradas como de pequeno porte, com ausncia de ninhos
na copa das mesmas. Pontua-se tambm que neste ponto do entorno do eucaliptal s se observam as teias
de aranhas, no havendo resqucios de outros tipos de animais associados s estruturas especiais: marcas
de uma vegetao degradada.
Na rea do ponto amostral trs contata-se desmatamento, pasto abandonado e pisoteio de gado.
Nesta amostra, como nas demais do entorno, percebe-se a presena de um cerrado tpico bastante
degradado. A superfcie do solo considerada como de herbceas/solo exposto, com infiltrao da gua
considerada boa, devido ao alto grau de permeabilidade. J nos pontos amostrais 04 e 06, a realidade das
estruturas especiais se modifica um pouco com a presena de pequenas tocas e teias. Em contrapartida, as
colmias no foram identificadas. Em relao ao relevo, este continua plano e os solos possuem boa
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

904
permeabilidade. Ainda neste ponto amostral no verifica-se o pisoteio do gado, mas sim o desmatamento.
A amostra 05 se mostrou bastante desmatada e com espaamentos mais longos entre as rvores do
cerrado. Nessa amostra, como as demais do entorno, verifica-se a dificuldade do cerrado em se regenerar.
No ponto amostral 06 percebe-se um aumento da presena de estruturas especiais, sendo maior o
nmero de tocas. Neste ponto, as rvores possuem pouco espaamento e o principal impacto ambiental
encontrado foi o desmatamento.
Em funo dos resultados aqui apresentados confirma-se, obviamente, que tanto a rea de
silvicultura como as do entorno apresentam caractersticas semelhantes no tocante ao relevo, clima, classe
e estrutura do solo. Entretanto, chegou-se concluso de que as implicaes consideradas como mais
graves esto relacionadas s estruturas especiais praticamente inexistentes nos eucaliptais, o que
comprova a reduo da biodiversidade local. Ressalta-se que um dos aspectos mais marcantes do trabalho
se refere descoberta de medidas preventivas que busca conter o processo erosivo em reas inclinadas.
Contudo, considera-se que a substituio da rea de vegetao nativa, com vrios ecossistemas existentes,
por uma floresta plantada homognea, um erro grave, uma vez que uma nica espcie vegetal incapaz
de fornecer elementos essenciais que garantam a manuteno da flora e da fauna presentes no bioma
natural. Tambm vale lembrar que a vegetao homognea no assegura a sobrevivncia das pequenas
populaes tradicionais consideradas como parte da biodiversidade local.
CONSIDERAES FINAIS
Temas relacionados ao eucalipto se tornaram palco de intensos debates e calorosas discusses nas
ltimas dcadas e a cada dia a discusso sobre os impactos ambientais associados a essas monoculturas
ganham novos enfoques a serem abordados, tais como, a emisso e o seqestro de carbono, implicaes
sobre as populaes que vivem em seu entorno, eroso do solo, alm de muitos outros estudos. Contudo,
algumas dessas abordagens so realizadas apenas com base no censo comum, o que acarreta alguns mitos
e verdades sobre essa rvore. Nesta direo, percebe-se a importncia de se realizar um estudo de cunho
cientfico que vise analisar os impactos socioeconmicos e ambientais decorrentes deste cultivo,
desvendando algumas questes relevantes em relao ao eucalipto.
Em relao aos impactos, este trabalho constatou que a rea de eucaliptal localizado no Distrito de
Nova Esperana apresenta caractersticas de degradao ambiental relacionadas ao desmatamento e
perda de biodiversidade devido substituio do bioma Cerrado pela monocultura. Por fim, o trabalho
deixa a certeza de que os eucaliptais produzem mudanas ambientais e socioeconmicas significativas. No
entanto, ressalta-se que o valor econmico no deve se sobrepor ao valor ambiental. No caso da
substituio da vegetao natural do bioma Cerrado pela monocultura , isso sendo considerado um erro
grave, e deixa clara a importncia das anlises ambientais se basearem em dados confiveis e isentos de
padres de pensamento sectrios e imbudos de senso-comum.
Referencias:
ALMEIDA, A. F. Influncia do tipo de vegetao nas populaes de aves em uma floresta
implantada de Pinus spp, na regio de Agudos-SP. Ipef,n. 18, jun. 1979.
BELEM, R. A. Projeto Caminhadas no Parque: uma proposta de educao ambiental para o Parque
Municipal da Sapucaia Montes Claros -MG. 2002. 55f. Monografia (Especializao em Geografia, Ensino e
Meio Ambiente) Departamento de Geocincias, Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTESMontes Claros/ MG, 2002.
CALIXTO, Juliana Sena. Reflorestamento, Terra E Trabalho: Anlise Da Ocupao Fundiria E Da
Fora De Trabalho No Alto Jequitinhonha, MG. Lavras: UFLA, 2006. Dissertao (Mestrado) Programa de
Ps- Graduao, Universidade Federal de Lavras, 2006.
EMBRAPA - EMBRAPA FLORESTA; Sistema de Produo, 4 -2 edio INSSN 1678-8281-Cultivo de
eucalipto - Verso Eletrnica. Agosto/ 2010. Acessado em 25/01/2011.
EMBRPA FLORESTA.Caractersticas da madeira de algumas espcies de eucalipto plantadas no
Brasil.(2000), P.135.
LIMA, Walter de Paula. Impactos Ambientais do Eucalipto.- 2 . ed. So Paulo: Editora da
Universidade de So Paulo, 1996.302.p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

905
MARIO, Tomazello Filho , IEF. Estrutura anatmica da madeira de oito espcies de eucalipto
cultivadas no brasil. ESALQ/USP, Depto. de Silvicultura, Piracicaba-SP n.29, p.25-36, abr.1985.
VITTI, Andria M. Silveira e BRITO, Jose Otavio. leos Essenciais, Documentos Florestais. N 17 ISSN
0103- 47015. (2003).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

906

UMA ANLISE BIBLIOGRFICA DO PROCESSO DE DEGRADAO


AMBIENTAL EM SO JOO DO CARIRI-PB
1

Luciano de Melo SILVA


1
Ana Flvia Alves de LIMA
1
Maria da Conceio Marcelino PATRICIO
1
Mestrandos em Recursos Naturais
Universidade Federal de Campina Grande UFCG
Centro de Tecnologias e Recursos Naturais - CTRN
Caixa Postal 10078 - 58109-970 - Campina Grande - PB, Brasil.
Email: lucianomelo_kbca@hotmail.com; anaflavia@ufcg.edu.br; ceicca@gmail.com.

RESUMO
Partindo de anlises bibliogrficas com caractersticas geoambientais da regio denominada Cariris
Velhos, localizada no centro-sul da Paraba, foi feito um estudo contextualizado com a insero do tema
sobre o processo de degradao ambiental do municpio de So Joo do Cariri-PB. Este artigo tem o
objetivo de fornecer uma viso das atuais condies ambientais e socioeconmicas desse municpio, bem
como, sugerir possveis caminhos que permitam situar as questes ligadas ao antrpica, com a
degradao ambiental na regio.
Palavras-chave: Cariris Velhos, Degradao Ambiental, Ao antrpica.
ABSTRACT
Based on literature analysis with geo-environmental characteristics of the region called Cariris
Velhos, located in south-central Paraba, a study was done in context with the inclusion of context on the
process of environmental degradation in the municipality of So Joo do Cariri-PB. This article aims to
provide an overview of current environmental and socioeconomic conditions in this municipality, as well as
suggest possible ways that would put the issues related to human action, environmental degradation in the
region.
Keywords: "Cariris Velhos," Environmental Degradation, Anthropic Action.
1-.INTRODUO
O processo de degradao ambiental ocorre em vrias regies do Brasil, dentre elas a
regio Nordeste, principalmente a parte semirida, cujas causas esto associadas ao desmatamento,
minerao, ao sobrepastoreio, ao cultivo excessivo, a irrigao inadequada e ao latifndio. Os danos
ambientais produzidos resultam em eroso dos solos, empobrecimento da caatinga e degradao dos
recursos hdricos, com efeitos diretos sobre a qualidade de vida da populao (PATRCIO et al apud
SUERTEGARY, 1996).
Com caractersticas naturais de clima, relevo e solo, propcias degradao natural, a ao
antrpica tem frequentemente contribudo para a acelerao desse processo. Assim, fatores climticos e
antrpicos, combinados, aceleraram o processo de desertificao na regio. Do ponto de vista
socioeconmico Celso Furtado (1957) constatou que a causa do atraso do Nordeste brasileiro est na sua
formao histrica. Ou se mexe nas estruturas, ou no se enfrenta a questo nordestina, dizia Furtado.
Afirmar que a seca no a causa do problema nordestino fazia Furtado se chocar com o ncleo da poltica
regional, na poca, mais importante para o Nordeste que era a poltica hidrulica climtica. So Joo do
Cariri encontra-se numa regio denominada Cariri Oriental, que somado ao Cariri Ocidental, formam uma
das regies classificadas pelas Naes Unidas sobre Desertificao (1977), como propcias desertificao e
segundo Vasconcelos (1978a), est inserida no Polgono das Secas.
O municpio possui clima submido seco, com precipitao anual mdia de 390,2 mm (SOUZA,
1999). Conforme Bartolomeu (2008), vrios autores, quais sejam, Joffily (1892), Tavares (1909), Luetzelburg
(1922) e AbSaber (1977), ao longo desses dois ltimos sculos, tm documentado essa transformao que
o Cariri Paraibano vem sofrendo. Terras antes frteis e produtivas, atualmente so abandonadas, o que
provoca a misria da populao mais carente (FERNANDES, 2004).
O xodo rural fato, como mostrado na figura 01. Poucos so os que insistem em ficar. Diante do
cenrio do processo de degradao ambiental e consequentemente de desertificao e suas conseqncias
Joo Pessoa, outubro de 2011

907
para a natureza, economia e a populao da regio (PATRICIO, 2009), a migrao ainda permanece
existindo. Este artigo tem como objetivo expor as causas e as conseqncias deste processo na regio. Bem
como, alertar e divulgar comunidade cientifica a atual situao em que se encontra a regio.
Nesse tocante, este artigo est assim organizado: na seo 2 feita uma breve contextualizao do
problema, atravs de uma reviso bibliogrfica sobre a regio. Na seo 3 o foco so os problemas que
afetam a regio de So Joo do Cariri. Na seo 4 so destacadas as reas circunvizinhas em risco de
desertificao. Por fim, na seo 5 so tecidas consideraes finais e as perspectivas de trabalhos futuros.
2-REVISO BIBLIOGRFICA
Ao longo da existncia do planeta Terra fatores como terremotos, vulces, chuvas, ventos e secas,
tm provocado mudanas constantes no planeta. Uma dessas mudanas a transformao de regies de
florestas em desertos. Um exemplo de tal fenmeno natural foi formao do deserto do Saara que surgiu
onde um dia existiu uma floresta tropical como a amaznica. (SOUZA, 2008 et al apud PATRICIO, 2009)
Entretanto, a desertificao de reas ou regies nem sempre ocorre como consequncia de fatores
naturais. A interveno do homem na natureza outra freqente causa de desertificao. Neste caso, dizse que o processo de desertificao antrpico, isto , causado pelo homem. Exemplo de desertificao
provocada pela interveno humana o deserto que existe na regio onde hoje fica o Iraque, antiga
Mesopotmia. A qual, cerca de trs mil anos atrs, era considerada uma das regies mais frteis do planeta
e era um dos celeiros do mundo antigo (SOUSA, 1985 et al apud PATRICIO, 2009).
A desertificao dos seus solos ocorreu devido intensa irrigao, que provocou ao longo dos
tempos a salinizao do solo e consequentemente sua desertificao (SOUSA, 1985). Uma das reas mais
castigadas pelo processo de desertificao do planeta est localizada no Brasil. Trata-se justamente da
regio localizada na microrregio do Cariri Oriental da Paraba. Essa regio circundada pelos municpios
de Gurjo, Barra de Santana, So Joo do Cariri, Caturit, Alcantil, Boqueiro, So Domingos do Cariri,
Riacho de Santo Antnio, Cabaceiras, Barra de So Miguel, Carnabas e Santo Andr.
Em relao ao aspecto climtico, a regio do Cariri paraibano chama ateno pelo seu alto
ndice de aridez. Dentre os municpios circunvizinhos, So Joo do Cariri apresenta um dos menores ndices
de pluviosidade da regio, de acordo com Souza (1999). Para o municpio de So Joo do Cariri, este
indicador corresponde a 0,22. Levando-se em considerao que, nos climas ridos, o ndice de Aridez varia
de 0,05 a 0,20, a proximidade do resultado obtido para So Joo do Cariri, em relao a essas reas,
demonstra a severidade climtica dessa regio (SOUZA, 2008).
Dessa maneira, conforme observa Nimer (1980), em relao influncia das variaes
pluviomtricas e da instabilidade climtica como elementos de autodefesa ambiental e de recuperao em
relao aos processos de degradao gerados pela desertificao, as caractersticas encontradas no Cariri
acabam refletindo para essa regio condies muito severas de degradao das suas terras. Para Josu de
Castro (1984) a caracterstica fundamental desta rea geogrfica o seu clima semirido, clima tropical,
seco, com chuvas escassas e principalmente irregulares.
O gegrafo Absaber (1977), publicou importante trabalho intitulado Problemtica da
Desertificao e da Savanizao no Brasil Intertropical, no qual define como processos parciais de
desertificao, todos aqueles fatos pontuais ou areolares, suficientemente radicais para criar degradaes
irreversveis da paisagem e dos tecidos ecolgicos naturais. Mesmo reconhecendo que as reas midas e
faixas de transio sofreram mais degradao ambiental, no Nordeste seco que aparecem feies de
degradao pontuais facilmente reconhecveis (SALES, 2002).
Pelo que se expe at o momento, a existncia da desertificao no Cariri condicionada
pela presena de um clima semirido que, em determinados setores, poderia mesmo ser classificada como
rido moderado, dada a severidade com que este se manifesta, ultrapassando assim o limite relativo que
separa essas duas categorias (ABSABER, 1974). Entretanto, entendemos que a dominncia, por si s,
dessas caractersticas climticas, embora desempenhem papel importante para o estabelecimento da
desertificao nessa regio, no a determinam, mas as formas seculares com que essas terras foram e so
ocupadas, estas sim, so desencadeadoras do processo de desertificao do Cariri Paraibano (SOUZA,
2008). E justamente isso que afirma o economista Celso Furtado, em A Operao Nordeste (1959).
Onde ele diz que: A causa do atraso do Nordeste est na sua formao histrica, ou seja, o problema real

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

908
da seca no Nordeste brasileiro existe devido maneira como essa regio foi e ainda vem sendo ocupada, e
no apenas pela ao da natureza.
2.1-Localizao Geogrfica
Localizado na Microrregio do Cariri Oriental, So Joo do Cariri um antigo municpio
paraibano, situado no Planalto da Borborema, apresentando-se nas seguintes coordenadas geogrficas:
072327 ao Sul e 363158 a Oeste e a cerca de 216 km da capital Joo Pessoa, com rea aproximada de
701,856 km2 (IBGE, 2010) e possui uma regio que considerada ncleo de desertificao no Estado da
Paraba. Devido a sua localizao geogrfica, o municpio est includo na rea geogrfica de abrangncia
do semirido brasileiro, definida pelo Ministrio da Integrao Nacional em 2005. Esta delimitao tem
como critrios o ndice pluviomtrico, o ndice de aridez e o risco de seca. A figura 01 mostra a localizao
geogrfica do municpio de So Joo do Cariri, que teve sua fundao em 1669, como povoao, e
estabelecida como Vila Real, do ento reino de Portugal, em 1800. So Joo do Cariri est a 458m de
altitude, tendo em 2007, segundo o IBGE uma populao com 4.344 habitantes e densidade demogrfica
de 6,65hab./km2.

Figura 01. Localizao dos Cariris Velhos, na Paraba, em destaque o municpio


de So Joo do Cariri. Adaptado de BARTOLOMEU ( 2008).

2.2-Aspectos Histricos e Econmicos do Municpio de So Joo do Cariri-PB


A regio territorial de So Joo do Cariri encontra-se localizada no centro-sul da Paraba,
num eixo que se distancia de 180 a pouco mais de 300 km de Joo Pessoa (capital), perfazendo um vasto
territrio com rea de 11.192,01 km2 (SOUZA, 2008).
At os meados do sculo XVII, o territrio era ocupado pela grande famlia dos Indios
Cariris, a qual deu origem ao nome de toda regio fisiogrfica. Ainda no mesmo sculo, o alferes Custdio
Alves Martis, morador da Capitania de Pernambuco, descobriu algumas terras na cabeceira do Rio Paraiba,
e ali fundou um stio a que deu o nome de So Joo. Colonizadores chegaram a regio ainda no sculo XVII.
o que se deduz de uma sesmaria concedida em 17 de dezembro de 1669. Em 1775, foi o aldeamento
elevado categoria de julgado, com o nome de Cariri Velho ou Cariri de Fora, para distinguir-se de uma
outra aldeia, com o mesmo nome em Pilar. Sua emancipao poltica foi conseguida em 15 de novembro de
1831. Aos nascidos em So Joo do Cariri recebem o gentlico de: caririense ou caririseiro ou so-joanense
A atividade socioeconmica da maioria da populao da zona rural a agrcola com produo de
culturas tradicionais como milho e feijo para consumo familiar. A produo pecuria reduzida, com
Joo Pessoa, outubro de 2011

909
predomnio de rebanhos bovino, ovino e caprino sem padro de raa definida. O cultivo de plantas
forrageiras da caatinga como lavoura xerfila regular, em reas de dficit hdrico, pode ser a opo
mais vantajosa para a agricultura do semirido.
O distrito foi criado com a denominao de So Joo do Cariri, em 06 de outubro de 1857 e elevado
a categoria de Vila com a denominao de So Joo do Cariri, por Carta Regia, de 22 de maro de 1800. O
mesmo foi elevado condio de cidade e sede municipal com a denominao de So Joo do Cariri, pela
lei estadual n 540, de 18 de novembro de 1921. Em diviso territorial datada de 2003, o municpio
constitudo do distrito sede, assim permanecendo em diviso territorial datada de 2007 (IBGE, 2011).
3-OS GRAVES PROBLEMAS QUE AFETAM A REGIO DOS CARIRIS VELHOS
O processo de desertificao ocorre em vrias regies do Brasil, dentre elas a regio
Nordeste, principalmente a parte semirida, cujas causas esto associadas ao desmatamento, minerao,
ao sobrepastoreio, ao cultivo excessivo, a irrigao inadequada e ao latifndio. Os danos ambientais
produzidos resultam na eroso dos solos, empobrecimento da caatinga e degradao dos recursos hdricos,
com efeitos diretos sobre a qualidade de vida da populao (SUERTEGARY, 1996). O Municpio de So Joo
do Cariri est inserido na regio denominada Cariris Velhos como sendo uma das reas em processo de
desertificao, como visto na figura 02.

Figura 02. rea rural de So Joo do Cariri. Foto: Paulo Romero,


Fonte: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://2.bp.blogspot.com,

A eroso, causada pelo processo de desertificao, alm de prejudicar a agricultura de subsistncia,


ameaa as casas dos moradores. A terra avermelhada, e quase sem cobertura vegetal, ganha espaa a cada
dia sobre a cidade, ampliando a misria da populao mais carente (FERNANDES, 2004). A desertificao
em So Joo do Cariri traz outra ameaa grave aos moradores da cidade. A eroso dos solos como
mostrada nas figuras 03 e 04, provoca o assoreamento dos rios, numa intensidade que compromete os
principais leitos e mananciais do municpio e seus vizinhos. As fortes chuvas que ocorrem tambm
contribuem para levar os sedimentos do solo com a consequente abertura de voorocas. A rea cortada
por vrios rios e riachos, todos de carter intermitente, sendo o principal, o rio Tapero, (figura 04) o qual
faz parte da bacia do mdio Paraba que converge suas guas para o aude Epitcio Pessoa (SOUSA, 2007).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

910

Figura 03. Zona rural de So Joo do Cariri.


do xodo rural. Foto: (SOUSA, 2008).

Figura 04. Rio Tapero, So Joo do Cariri. Foto: Conrad


Rosa. Fonte: http://www.google.com.br/search?, pesquisa
realizada em: 23/07/2011.

J no perodo de estiagem, que vai do final de abril ao incio de outubro, ventos comumente
varrem a superfcie e transportam os gros de areia de um local para o outro. Uma das causas de tamanha
degradao tem sido ao longo do tempo devido ao tipo de ocupao da regio expressa no modelo de
povoamento desse territrio. Para Souza (2008), toda essa regio que compreende os Cariris Velhos, teve
seu processo de ocupao iniciado atravs das margens dos rios.
So Joo do Cariri apresenta-se bastante desmatado com extenses preocupantes de
manchas de solo exposto que se mostraram presentes em toda rea. Alm do mais, esses solos continuam
sendo usados pela pecuria extensiva, principalmente a caprino e ovinocultura, atividades de maior
potencial para o municpio, por oferecer maior adaptabilidade s condies ambientais. Contudo, devem-se
adotar cuidados, pois, em especial a caprinocultura, se alimenta de quase tudo que a caatinga oferece at
mesmo a folhagem seca que poderia ser incorporada ao solo como matria orgnica e proporcionar uma
recuperao da vegetao em longo prazo.
4. REA DE ESTUDO
A rea de estudo est inserida numa regio localizada no Planalto da Borborema
denominada Cariris Velhos, no centro-sul do estado da Paraba. Atualmente o Planalto da Borborema
possui superfcies que esto submetidas a um principio de dissecao predominante em interflvios
tabulares, com ocorrncia ocasional de alinhamentos de cristas, inselbergs e amontoados de blocos (BRASIL,
1981). A rea de estudo compreende o municpio paraibano de So Joo do Cariri, com uma extenso
aproximada de 701,856 km2, possui uma regio que considerada ncleo de desertificao no estado da
Paraba e uma populao de aproximadamente 68 mil habitantes.
Outro fato preocupante de acordo com a SUDEMA (2004) a inconsistncia das chuvas no
Cariri que contribui para que a maior parte de seus rios e crregos sejam intermitentes ou temporrios. As
atividades humanas tambm so responsveis pelo processo de desertificao dos Cariris Velhos na
Paraba, como afirma Conti (1998). Segundo ele, A ao do homem quase sempre est na origem dessa
modalidade de desertificao atravs da retirada predatria e em grande escala dos recursos, da
porque tambm chamada de desertificao antrpica.
A maior parte da populao que est situada nos Cariris Velhos possui limitaes
econmicas devido carncia e falta de renda adequada, grande parte dessas famlias dispe de uma
renda extra, vinda de programas assistenciais, tais como aposentadorias e principalmente o programa do
governo federal, bolsa famlia. Insuficiencia de acesso a crditos bancrios, falta de tecnologia hdrica para
contornar o problema da seca, carncia de politicas pblicas, todos esses fatores contribuem para todo
esse cenrio em que a maioria da populao de So Joo do Cariri, enfrenta no seu cotidiano.

Joo Pessoa, outubro de 2011

911
5. CONSIDERAES FINAIS
O presente trabalho consistiu em um estudo bibliogrfico que levanta as questes
relacionadas ao processo de desertificao da regio centrada no municpio de So Joo do Cariri,
localizado no centro-sul paraibano, onde podemos concluir que tal regio apresenta-se como uma das mais
secas do estado. Os solos pedregosos com reduzida capacidade de reteno hdrica, o ndice pluviomtrico
baixo, as altas temperaturas, taxas de insolao anuais e a rala vegetao que ali se desenvolve, de
Caatinga, tipo arbustivo-arbrea aberta, j explicam por si s, a fragilidade e vulnerabilidade desta zona
fisiogrfica paraibana. A pr-disposio natural desta rea desertificao, somada as atividades humanas
desenvolvidas, atravs do desmatamento, da pecuria, da agricultura e das atividades de minerao, s
tendem a agravar a semiaridez no Cariri. Ainda de acordo com o relatrio do IPCC (2007), as regies
semiridas do nordeste brasileiro podero futuramente ser atingidas por secas severas, que resultaro em
situaes de desastre scio-ambiental. Deste modo, de fundamental importncia que se conhea a
realidade fsica do Cariri paraibano visando uma convivncia sustentvel das comunidades locais,
assegurando a preservao ambiental e evitando provveis cenrios catastrficos para a regio.
necessrio desenvolver, o quanto antes, campanhas pblicas de sensibilizao destinada populao em
geral.
O trabalho de combate desertificao no uma ao isolada. Trata-se de uma questo
scio-ambiental, que deve envolver os mais diversos setores, governamentais e principalmente os
habitantes da regio. So indispensveis a urgente conscientizao atravs da educao ambiental nas
escolas em relao s causas da desertificao e tambm programas que orientem a populao do grave
perigo. necessrio ainda definir urgentemente um programa de estudo e recuperao para a rea
degradada.
Pelos motivos expostos nesse trabalho, o entendimento desse processo de desertificao
imperativo para sua conteno e/ou minimizao. Pois, ele afeta socialmente, economicamente e
ecologicamente cerca de 70% do Estado da Paraba e estados circunvizinhos, tais como: Pernambuco, Rio
Grande do Norte, Cear entre outros.
Para trabalhos futuros diversos, so os possveis focos de estudo: fazer um estudo
geolgico da regio; fazer um levantamento histrico evolutivo do processo de desertificao; avaliar os
possveis efeitos do aquecimento global sobre a regio bem como do processo de desertificao.
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABSABER, A, N. Participao das superfcies aplainadas nas paisagens do Nordeste brasileiro.
Geomorfologia, n19, So Paulo: IGEOG, 1969.
BRASIL, Projeto RADAM BRASIL. Levantamento de Recursos Naturais. Folha SB.24/25
Jaguaribe/Natal, v. 23 Rio de Janeiro: Ministrio das Minas e Energia, 1981.
CASTRO, Josu, Geografia da Fome: O Dilema Brasileiro: po ou ao. Rio de Janeiro: Ed Antares,
1984.
CONTI, J. B. Clima e Meio Ambiente, So Paulo: Atual, 1998.
FERNANDES, K. Deserto pode afetar 16% da rea do pas. Folha de So Paulo, Folha cotidiano, 12 de
dezembro de 2004, p. c3.
FURTADO, C. A Operao Nordeste. Rio de Janeiro, ISEB, 1959.
_____________. Uma poltica de desenvolvimento econmico para o Nordeste. GTDN Grupo de
Trabalho para o Desenvolvimento Econmico do Nordeste. Recife, Min. Interior-Sudene, 1967, 2. ed. (texto
no assinado pelo autor mas de autoria confessa).
____________. Formao econmica do Brasil. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1961, 4a ed..
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Cidades: Disponvel em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?. Acesso em: 22/06/2011.
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change. Mudana do Clima 2007: Base das Cincias
Fsicas. Disponvel em: http://www.natbrasil.org/Docs/ipcc_2007.pdf. Acesso em 01 dez. 2007.
NIMER, E. Pluviometria e recursos hdricos de Pernambuco e Paraba. Rio de Janeiro: IBGE/SUPREN,
1979.
PATRICIO, Maria da Conceio M., SILVA, Vicente de P. Rodrigues, RAMOS Maria das Graas O. O
PROCESSO DE DEGRADAO AMBIENTAL EM GILBUIS-PI, UFCG CTRN, Campina
Grande, PB. 2010.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

912
Rio Tapero, So Joo do Cariri. Foto: Conrad Rosa Fonte: http://www.google.com.br/search?,
Acesso em. 23/07/2011.
SALES, Marta Celina L. GEOUSP_Espao e Tempo, So Paulo, N 11, pp.115-126.2002.
SOUSA, O. R. Histria Geral: da pr-histria aos ltimos fatos dos nossos dias, 24 ed. So Paulo,
tica, p. 5-375, 1985.
SOUSA, R. F. de. Terras agrcolas e o processo de desertificao em municpios do semirido
paraibano. 2007. 180p.: il, Tese (Doutorado Engenharia Agrcola) Universidade Federal de Campina
Grande, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais, Campina Grande, 2007.
SOUZA, B, I. Contribuio ao estudo da desertificao na bacia do Tapero -PB. 120p. Dissertao
de Mestrado. PRODEMA-UFPB, Joo Pessoa, 1999.
SOUZA, Bartolomeu Israel de: Cariri Paraibano: do silncio do lugar desertificao. Bartolomeu
Israel de Souza, _ Porto Alegre: UFRGS, 2008 [198 f.], il. p.49.
SUDEMA. Atualizao do diagnstico florestal do estado da Paraba. Joo Pessoa: SUDEMA, 2004.
SUERTEGARY, D. M. A. Desertificao: Recuperao e Desenvolvimento Sustentvel. In: CUNHA, S.B.
& GUERRA, AJ.T. Geomorfologia e Meio Ambiente. RJ: Bertrand Brasil, 1996.
VASCOCELOS SOBRINHO, J. Identificao de processos de desertificao no Polgono das Secas do
Nordeste Brasileiro. Recife, SUDENE. 1978a.

Joo Pessoa, outubro de 2011

913

IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DE MICROEMPRESAS DE LAVAGENS DE


VECULOS
Luciene Gonalves ROSA 1; Jos Tavares de SOUSA 2; Vera Lcia Antunes de LIMA (3);
1 Biloga, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA/UFPB/UEPB e Doutoranda em Recursos Naturais pela
Universidade Federal de Campina Grande UFCG
E-mail: luciene-cg@hotmail.com
2 Mestre em Engenharia Civil, UFPB (1986), Doutor em Hidrulica e Saneamento, USP (1996)Professor do Departamento de
Engenharia Ambiental Centro de Cincias e Tecnologia da Universidade Estadual da Paraba - UEPB.
3 Mestre em Recursos Hdricos e Doutora em Engenharia Agrcola. Professora do Departamento de Engenharia Agrcola da
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG

RESUMO
O trabalho objetivou analisar os impactos socioambientais das empresas de lavagem de veculos da
cidade de Campina Grande-PB, no intuito de contribuir para a insero da gesto ambiental nesse setor
empresarial. O universo amostral consistiu de 20 empresas de lavagem de veculos, correspondendo a 33%
das microempresas existente na cidade. Constatou-se que as microempresas de lavagem de veculos
pesquisadas apresentam potencial em termos de gerao de empregos e renda, porm provocam impactos
ambientais negativos, tais como: elevado consumo de gua e uso de insumos derivados do petrleo,
gerando guas residurias potencialmente poluidoras. 82% das empresas identificadas no apresentam
licena ambiental, estando em desacordo com a legislao ambiental, e 25% no tm sistema de
tratamento das guas residurias originadas nesses empreendimentos denotando a iminente necessidade
de implantar um sistema de gesto ambiental nesse setor, para a qual, a Educao Ambiental mostra-se
indispensvel.
Palavras-chave: Microempresas de lavagem de veculos; impacto socioambiental; Educao
Ambiental e Gesto ambiental.
INTRODUO
A problemtica ambiental tem gerado a necessidade de mudanas de percepo em diversos
setores da sociedade, inclusive no setor empresarial. Neste norte, Donaire (2009) enfatiza que as
constantes presses exercidas pela sociedade civil, pelas organizaes governamentais exigem uma nova
postura de interao entre as empresas e o meio ambiente, de forma que considerem no apenas as
questes de ordem econmica, mas incluam os aspectos de ordem poltico-social e ecolgica.
A inflexo das empresas no sentido da gesto ambiental, de acordo com Borger (2006) exige uma
viso integrada da empresa e o envolvimento de todos os segmentos. Quintas (2008) acrescenta que a
insero da gesto ambiental transpassa o processo produtivo, requerendo mudanas na percepo
ambiental de empresrios e funcionrios, e a Educao Ambiental torna-se uma ferramenta fundamental
por apresentar-se como prtica emancipatria e transformadora, comprometida com a construo de um
futuro sustentvel.
De tal modo, autores como Simons (2006), Jacobi et al. (2009) ressalvam a relevncia de se inserir a
Educao Ambiental como estratgia para gesto ambiental, por favorecer mudanas de ordem
socioambiental, pautando-se inclusive em questes de foro poltico. Layrargues (2004) enfatiza ainda que,
a realizao da Educao Ambiental nessas organizaes adquire ntida visibilidade medida que a ao
educativa ganha um foco privilegiado, que gira em torno da disseminao do critrio da ecoeficincia, no
sentido de mover o metabolismo industrial na direo da sustentabilidade.
Nesse contexto, o desempenho das microempresas e empresas de pequeno porte de
lavagem de veculos motiva a reflexo a cerca de suas prticas, por apresentar vertentes paradoxais,
medida que contribuem para o crescimento econmico local, com gerao de emprego e renda, tambm
so consideradas atividades impactantes ao meio ambiente, por conterem derivados do petrleo, como
leos e graxas, substncias surfactantes, alta concentrao de matria orgnica, slidos suspensos e metais
pesados (BROWN, 2006). Outro impacto de igual dimenso refere-se ao elevado consumo de gua da
atividade, pois estimativas registradas em pases como Mxico, Japo e China pelos autores Smith e Shilley
(2009) e Fall et al. (2007), mostram que so utilizados de 50 a 378 litros de gua por veculo, dependendo
do tipo de sistema operacional adotado.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

914
importante destacar que, conforme Rubio et al. (2007), por ser uma atividade que vem se
desenvolvendo recentemente, existe ainda poucos trabalhos voltados para essa temtica. Considerando,
ainda que, as limitaes das pesquisas nessa rea implicam especialmente em desconhecimento dos
impactos decorrentes e de alternativas tecnolgicas voltadas mitigao ou eliminao dos poluentes
produzidos pelas atividades desses empreendimentos objetivou-se com este trabalho analisar os impactos
socioambientais das empresas de lavagem de veculos da cidade de Campina Grande-PB e a percepo
ambiental dos empresrios, no intuito de contribuir para a implantao de sistema de gesto ambiental
nesse setor.
2. PROCEDIMENTO METODOLGICO
2.1 Caracterizao da pesquisa
O trabalho foi realizado no perodo de novembro de 2009 a julho de 2010 na cidade de Campina
Grande PB, consistindo de uma pesquisa participante como retratam Thiollent e Silva (2007).
2.2 Caracterizao da rea de estudo
O municpio de Campina Grande, localizado na microrregio e na mesorregio do agreste
paraibano, apresenta populao de 385 mil habitantes, sendo considerado como um municpio de mdio
porte (IBGE, 2010), exercendo forte influncia poltica e econmica sobre os demais municpios do Estado.
De acordo com Costa et al. (2007) no ano de 2006 j havia em torno de 40 empresas de lavagem de
veculos, as quais 57,5% no apresentavam licenciamento ambiental e a maioria dessas empresas no fazia
nenhum tratamento prvio das guas residurias.
2.3 Procedimento de coleta de dados e Anlise de dados
A pesquisa foi desenvolvida em trs etapas: a primeira etapa consistiu no levantamento geogrfico
das empresas de lavagem de veculos de Campina Grande-PB; na segunda, analisou-se o nmero de
empresas legalizado, e o cadastro da JUCEP - Junta Comercial da Paraba (PARAIBA, 2009) e realizaram-se
visitas aos proprietrios desses empreendimentos, com o intuito de reconhecimento da rea de estudo, o
que permitiu delinear o universo amostral de 20 empreendimentos, corresponde a 33,4% dos
empreendimentos desse setor na cidade; e na terceira etapa ocorreu a elaborao e aplicao de
entrevista semiestruturada com os proprietrios das empresas de lavagem de veculos que constituam o
universo amostral, e por ltimo, aplicou-se o tratamento estatstico.
Para a entrevista semiestruturada foram considerados os impactos socioambientais, tomando-se
por base os indicadores apresentados por Fall et al. (2007), organizando-a da seguinte forma: quantificao
do consumo de gua usada para lavagem de cada veculo em relao ao tempo de servio, origem da gua
utilizada (subterrnea, pluvial ou da rede pblica), quantificao dos insumos empregados em cada
procedimento.
Para a organizao dos dados foi utilizado como instrumento o programa estatstico Statistical
Package for Social Sciences SPSS 17.0 for Windows . Quanto anlise, os dados foram tratados de forma
quantitativa e qualitativa, utilizando-se da triangulao, que conforme Thiollent e Silva (2007) permite que
os resultados apresentem maior credibilidade, por serem apreciados de forma quantitativa e descritivas, de
forma a valorizar a viso dos atores sociais envolvidos.
3. RESULTADOS E DISCUSSO
3.1.1 Situao atual das empresas de lavagem de veculos pesquisadas
A identificao da situao atual das empresas de lavagem de veculos de Campina Grande-PB foi
iniciada atravs de um levantamento geogrfico desses empreendimentos. O resultado do censo realizado
demonstrou que existem atualmente cerca de 60 agncias de lavagem de veculos, localizadas nos bairros
que apresentam perfil comercial. No entanto, conforme relatrio da Junta Comercial da Paraba (PARABA,
2009), apenas 20 destas empresas apresentam licena de funcionamento, as quais foram foco da pesquisa
e encontram-se localizadas, no mapa da cidade de Campina Grande-PB, na Figura 1.

Joo Pessoa, outubro de 2011

915
Empr
esas de lavagem
de veculos.

Figura 1. Mapa da cidade de Campina Grande-PB, com a localizao das 20 empresas


de lavagem de veculos pesquisadas.
Fonte: SEPLAN/ 2010.

No caso das 20 agncias de lavagem de veculos pesquisadas (100% das empresas legalizadas),
constatou-se que a maioria desses empreendimentos conta com quatro pessoas em seu quadro de
funcionrios. De acordo com a classificao do Servio Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa
esses empreendimentos classificam-se como microempresa e empregam 70% das pessoas
economicamente ativas do pas, contribuindo com um fator de estabilidade social e de desenvolvimento
regional (SEBRAE, 2010).
No Estado da Paraba, atualmente h 82 mil microempresas, sendo as empresas de servios as que
mais tm se desenvolvido (SEBRAE, 2010). No municpio de Campina Grande segundo dados do IBGE (2010)
h 7.402 estabelecimentos atuando, correspondendo a 18,86% dos empregos formais do Estado (BRASIL,
2010).
Wu e Young (2002) destacam que apesar das dificuldades para as microempresas e empresas de
pequeno porte se manter em funcionamento, h reconhecimento da importncia desse setor empresarial
para a dinamizao da economia em diversos pases do mundo. Isto ocorre em razo do desenvolvimento
empresarial est diretamente relacionado com a funo social que as empresas exercem, atravs da
gerao de empregos e renda, proporcionando melhorias econmicas e sociais a comunidades
(AGYAPONG; 2010).
Foi verificado que a maioria das empresas pesquisadas apresenta tempo de atuao no mercado
inferior a oito anos (60%), demonstrando estarem iniciando suas atividades no mercado, embora existam
alguns desses empreendimentos (40%) que prestam seus servios a comunidade a mais de 11 anos,
participando efetivamente da gerao de emprego e distribuio de renda.
A permanncia das microempresas no mercado associa-se a atividade produtiva em relao ao
mercado (KHALIL; RODRIGUEZ, 2007). Em se tratando das microempresas de lavagem de veculos
pesquisadas a permanncia no mercado depende da quantidade de veculos lavados por semana, cujos
resultados demonstram que a maioria (75%) desses empreendimentos lavam acima de 40 veculos e 25%
lavam de 7 a 30 veculos semanalmente. As diferenas na atuao dessas microempresas pesquisadas
envolvem principalmente a localizao, quanto mais prximo aos bairros com perfil comercial, maior ser a
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

916
movimentao comercial; associados tambm a eficincia no atendimento e a qualidade no servio
prestado, como enfatiza um proprietrio entrevistado nesse trabalho:
A qualidade do servio fundamental, mesmo que os funcionrios faam bem feito, estou sempre
olhando e atendo os clientes no que for possvel.

Alm desses fatores diferenciais verificados nas microempresas de lavagem de veculos


pesquisadas, Zimmermann (2008) enfatiza que a quantidade de veculos lavados semanalmente nessas
empresas pode ainda ser influenciada por aspectos como: perodo sazonal, o procedimento de lavagem e
cotao de mercado.
3.1.2 Consumo e origem da gua utilizada na lavagem de veculos
Segundo Brown (2006) as empresas de lavagem de veculos podem consumir elevada quantidade
de gua, com variaes de acordo com o tipo de lavagem (manual ou mecnico), acessrios empregados
(bomba, compressor, bico de atomizao). H ainda fatores como a situao do veculo e o tamanho de
veculo (veculos de passeio, veculos de carga)
Na Tabela 1 esto expostos os resultados referentes ao consumo e a origem da gua utilizada na
lavagem de veculo das empresas pesquisadas.
Tabela 1. Quantidade e origem da gua utilizada em lavagem de veculo. Campina
Novembro de 2009 a julho de 2010.
Quantidade
de
gua (%)
Origem da gua
(%)
utilizada (L)
30 a 50

35

51 a 80

30

gua de saneamento 8,7


CAGEPA
gua de carro pipa
8,7

81 a 100

gua de poo

101 a 120

10

No soube responder

20

Total

100

Grande-PB.

73,9

gua de chuva

8,7

Total

100

L: litros

Segundo o relato dos proprietrios, 35% desses empreendimentos utilizam de 30 a 50 litros de


gua por veculo, no entanto, um percentual significativo chega a consumir 120 litros de gua por veculo, e
20% alegaram no saber quantos litros de gua so gastos na lavagem.
Os impactos ocasionados pelo consumo excessivo de gua nas empresas de lavagem de veculos na
cidade de Campina Grande envolvem dimenses ambientais, sociais e econmicas, haja vista que, a cidade
localiza-se em uma regio semirida com restries no uso de gua, tendo um nico reservatrio para
abastec-la, o qual j passou por perodos com baixos volumes que quase entrou em colapso total. A
produo de guas residurias da lavagem de veculos pode causar srios impactos ambientais se forem
lanados no meio ambiente sem tratamento adequado, a exemplo das concentraes de leos e graxas e
surfactantes, que podem provocar a formao de camada de leo e escumas que dificultam as trocas
gasosas necessrias respirao e fotossntese da biota aqutica; ou ainda, se forem encaminhados para o
sistema de tratamento de esgoto do municpio, podem causar entupimentos nas tubulaes das redes
coletoras (JORDO; PESSA, 2009), implicando em prejuzos econmicos e sociais a medida que os custos
financeiros para manuteno da estao de tratamento poderia ser aplicados em outros setores, a exemplo
da educao.
Segundo Magalhes et al. (2002), as guas residurias produzidas na cidade de Campina Grande,
juntamente com o efluente final da Estao de Tratamento de Esgotos, so lanadas na bacia do rio
Bodocong, que atravessa a cidade, e consequentemente encontra-se intensamente poludo.
Segundo Rubio et al. (2007) a lavagem de veculos (passeio e transporte) consome
aproximadamente 3,7 milhes de m. ano-1 no Brasil, o equivalente ao gasto mensal de uma cidade com
600 mil habitantes.
Joo Pessoa, outubro de 2011

917
Esses impactos socioambientais demonstram a ausncia de responsabilidade social empresarial
dessas empresas de lavagem de veculos, que segundo Santos (2003) deve visar manuteno e melhoria
das condies ambientais, minimizando aes potencialmente agressivas ao meio ambiente e
disseminando as prticas e conhecimentos adquiridos. Os proprietrios das microempresas pesquisadas
encontram-se distantes dos princpios da sustentabilidade.
Quanto aos resultados referentes procedncia da gua utilizada na lavagem de veculos nas
microempresas pesquisadas (Tabela 1), observou-se que a maioria (85%) faz uso de gua de poos
artesianos para a realizao de suas atividades, salientando que 15% dos proprietrios informaram que
usam gua de mais de uma fonte, a exemplo das guas de chuva. A captao dessa gua, conforme
Zimmermann (2008) uma opo economicamente vivel e sustentvel, por reduz a extrao de guas
subterrneas.
No estado da Paraba, a captao e uso de gua de poo artesiano, inclusive para o uso nas
empresas de lavagem de veculos, requer a outorga de direito de uso da gua que est disciplinada pelo
Decreto n 19.260/97, expedida pela Agncia de Gesto das guas do Estado da Paraba (PARABA, 1997).
A comprovao do Termo de outorga do uso da gua um dos diplomas legais exigidos para que as
empresas de lavagem de veculos obtenham a licena ambiental, consequentemente, todas as empresas
pesquisadas (100% licenciadas) apresentam o Termo de outorga de direito de uso da gua. No entanto,
verifica-se que no h fiscalizaes que controlem o uso excessivo dessas guas subterrneas, como
tambm, nas demais empresas de lavagem de veculos da cidade (66,6%) que no apresentam licena
ambiental e provavelmente faz uso de gua de poos artesianos sem a devida outorga.
Constatou-se que h necessidade de polticas pblicas que atuem de forma preventiva e de
controle da poluio dos recursos hdricos, assim como, na sensibilizao da populao sobre a importncia
do uso dos recursos naturais de forma sustentvel.
3.1.3 Insumos utilizados na lavagem de veculos nas microempresas pesquisadas
Na Tabela 2 esto expostos os resultados referentes aos materiais usados na lavagem, limpeza e
lubrificao dos veculos. Verifica-se que os insumos mais utilizados pelas empresas de lavagem
pesquisadas so compostos derivados do petrleo, os quais so formados principalmente por
hidrocarbonetos aromticos e poliaromticos que apresentam elevado potencial de toxicidade (TIBURTIUS
et al., 2005). Os leos e graxos presentes em guas residurias descartadas, ao alcanarem crregos ou rios
tendem a ser absorvidos pelos vegetais aquticos, como tambm pelos que crescem as margens,
interagindo com os sedimentos, podendo afetar os organismos que habitam esses ambientes, ou que se
alimentam destes sedimentos (BERTI et al., 2009).
Tabela 2. Insumos utilizados para a lavagem dos veculos. Campina Grande-PB. Novembro de 2009
a julho de 2010.
Insumos utilizados
(%)
Detergente
Xampu
Cera de polimento
leos lubrificantes
Outros materiais de limpeza
Total

15,9
28,6
28,6
7,9
19,0
100

Percebe-se a necessidade de um gerenciamento adequado das atividades que envolvam a


presena de derivados do petrleo, como a lavagem de veculos, como ferramenta indispensvel para
minimizar a poluio dos recursos hdricos, haja vista que podem ser fontes potenciais de poluio.
3.1.4 Aspectos legais e as microempresas de lavagem de veculos pesquisadas
Considerando as 20 empresas de lavagem de veculos foco da pesquisada, foi verificado que
embora apresentasse a licena administrativa, conforme os dados fornecidos pela Junta Comercial da
Paraba (PARABA, 2009), os resultados demonstram que 15% no apresentam licena ambiental. Esse fato
preocupante, pois demonstra descaso dos rgos responsveis, haja vista que a solicitao da licena
administrativa requer o preenchimento dos requisitos legais exigidos (MELLO, 2006) que este tipo de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

918
licena, a qual composta pela licena prvia (LP), licena de instalao (LI) e de operao (LO), sendo
requisitos dentre outros aspectos a instalao de sistema de tratamento das guas residurias.
Considerando-se que a cidade de Campina Grande apresenta 60 microempresas de lavagem de veculos,
sendo que 40 dessas (66,6%) esto trabalhando informalmente, ou seja, sem a licena administrativa, e
consequentemente sem a licena ambiental, associando-se aos resultados verificados nessa pesquisa podese concluir que aproximadamente 82% dessas microempresas esto no mercado trabalhando
informalmente, sem licena ambiental.
Mediante esses aspectos, foi questionado aos proprietrios que apontassem as dificuldades para a
no legalizao, os quais destacaram principalmente: a burocracia (50%, falta de credibilidade no ramo de
empresas de lavagens de veculos (25%) e dificuldades financeiras (25%).
O meu maior motivo a burocracia excessiva, grande nmeros de documentos.
No sei se irei permanecer nesse ramo.
Percebe-se que existem srios entraves legalizao dessas empresas, um dos maiores motivos
segundo os proprietrios referente a burocracia, que envolve o cumprimento dos requisitos necessrios a
cada uma das trs etapas que compem o licenciamento, tais como: o termo de outorga de uso da gua, o
projeto e instalao de sistema de tratamento da guas residurias e dos resduos; o laudo tcnico das
anlises fsico-qumica das guas residurias que esto sendo lanadas na rede pblica de esgoto sanitrio.
Esses procedimentos so extremamente necessrios para se reduzir os impactos ambientais negativos das
empresas de lavagem de veculos, no entanto, conforme os proprietrios isso requer investimentos
financeiros, tornando-se outro obstculo a petio da licena ambiental para as empresas pesquisadas.
Com relao existncia de sistema de tratamento das guas residurias geradas nas empresas de
lavagem de veculos pesquisadas, pode-se verificar que a maioria (75%) apresenta o sistema de caixa de
areia como tratamento dessas guas residurias, o que implica diretamente na concentrao de leos e
graxas a serem eliminados no ambiente.
Esse tipo de tratamento requer constante manuteno, principalmente em dias de maior
movimento e de chuvas, evitando-se o processo de ressuspenso e carregamento de slidos e a saturao
da areia usada na remoo do leo (GROBRIO et al., 2004). Esse sistema de tratamento envolve outra
problemtica, que o destino final da areia impregnada de leo, que conforme os proprietrios
entrevistados (100%) so descartados em qualquer terreno baldio, tornando-a um passivo ambiental de
alta periculosidade (SNCHEZ, 2001).
Quanto s empresas pesquisadas que no realizam qualquer tratamento das guas residurias
(25%), essas guas so lanadas diretamente na rede coletora de esgotos, conforme relato dos
proprietrios dessas empresas, denotando descaso e descumprimento da legislao ambiental.
A ausncia de tratamento dessas guas residurias implica em problemas de ordem social,
econmico e ambiental, haja vista que a excessiva carga de matria orgnica e inorgnica causa poluio
dos recursos hdricos e do solo, provocando desequilbrios aos ecossistemas, alm de afetar os mananciais
ocasionando inadequao para seus mltiplos usos, afetando a qualidade de vida (PHILIPPI JR.; MARTINS,
G., 2005). Tambm podem ocorrer riscos sade, tendo em vista a contaminao desses corpos hdricos,
por metais pesados contidos nessas guas residurias, implicando em custos financeiros com a
manuteno da sade pblica, e recuperao dos sistemas aquticos e edficos.
A necessidade de gerenciamento das atividades nas empresas de lavagem de veculos torna-se
ntido, assim como, a necessidade de investimento em Educao Ambiental, no intuito de sensibilizar os
empresrios na tomada de uma nova postura de responsabilidade social empresarial.
4. CONCLUSES
As microempresas de lavagem de veculos pesquisadas que atuam em Campina Grande-PB
apresentam potencial em termos de gerao de emprego e renda, informais e formais, participando de
forma efetiva do desenvolvimento local.
A maioria das microempresas de lavagem de veculos de Campina Grande-PB (66,6%) no
apresenta licena administrativa, atuando na ilegalidade.
Observou-se que as microempresas de lavagem de veculos de Campina Grande-PB, causam
diferentes impactos negativos, dentre os quais: elevado consumo de gua (de 30 a 120 litros por veculo) e
de insumos como detergentes (tendo mdia de consumo 16,2 litros por semanal), leos lubrificantes
Joo Pessoa, outubro de 2011

919
(tendo mdia de consumo 8,5 litros por semana), e consequentemente, gerao de guas residurias
potencialmente poluidoras.
Conforme, os resultados 25% dessas empresas no tm sistema de tratamento das guas
residurias geradas; e aquelas que tm sistemas de caixa de areia, lanam a areia impregnada com o leo
em terreno baldio, acarretando diferentes impactos negativos e transformando-se dessa forma, em um
passivo ambiental, desobedecendo a legislao ambiental e desrespeitando a sua responsabilidade social
e ambiental.
Portanto, os resultados denotam iminente necessidade de investimento em Educao
ambiental, de forma a contribuir para a implantao de gesto ambiental nesse setor empresarial, reduzir
os impactos ambientais negativos e colaborar para a sustentabilidade local.
5. REFERNCIAS
AGYAPONG, D. Micro, Small and Medium Enterprises Activities, Income Level and Poverty
Reduction in Ghana A Synthesis of Related Literature. International Journal of Business and Management.
Ghana, v. 5, n.12; p.196 209, 2010.
BERTI, A. P.; DSMAN, E.; SOARES, L. C.; GRASSI, L. E. A. Efeitos da contaminao do ambiente
aqutico por leos e agrotxicos. SaBios: Rev. Sade e Biol., Campo Mouro, v. 4, n. 1, p. 45-51, jan./jun.
2009.
BORGER, Fernanda Gabriela. Responsabilidade corporativa: A dimenso tica, social e ambiental na
gesto das organizaes. In JNIOR VILLELA, A.; DEMAJORIVIC, J. (Org) Modelos e Ferramentas de Gesto
Ambiental, desafios e perspectivas para as organizaes. So Paulo: Senac, So Paulo, 2006. 401 p.
BROWN, C. Vehicle wash Systems. International Carwash Association, 2006.
BRASIL, Ministrio do Trabalho. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), Perfil
do
Municpio
2010.
Disponvel
em:
http://perfildomunicipio.caged.gov.br/seleciona_uf_consulta.asp?uf=pb. Acesso em: 10 de maro de 2011.
COSTA, M. J. C.; SOUSA, J. T.; LEITE, V. D.; LOPES, W. S.; SANTOS, K. D. Impactos Socioambientais
dos lava-jatos em uma cidade de mdio porte. Sade e Ambiente - Health and Environment Journal.
Joinville-SC. v. 8, n 1, p. 32 38, jun. 2007.
DONAIRE, D. Gesto ambiental na empresa. Rio de janeiro: Atlas, 2009.176 p.
FALL, C.; VZQUEZ, C. M. L.; MOLEON, M. C. J.; B, M. K.; DELGADO, C. D.; PULIDO, D. G.; CHAVEZ,
M. L. Carwash wastewater: characteristic, volume, and treatability by gravity oil separation. Revista
Mexicana de Ingeniera Qumica. Mexico. v. 6, n. 002, p.174 - 184, 2007.
GROBRIO, F.; BRAGA, F. S.; SOUZA M. R.; BERTOLDE, A. I.; NASCIMENTO, D. I. Caracterizao De
Resduos Slidos Oleosos de Postos de Servio Automotivo da Cidade de Vitria-Es. In: 22 Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitria e Ambiental. Joinville/SC. Anais Joinville/SC: ABES, 2004.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica Censo Demogrfico 2010. Disponvel em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em: 10 de maro de 2011.
IBGE, Cadastro Central de Empresas 2008. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponvel em:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1.
JACOBI, P. R. TRISTO, M.; FRANCO, M. I. G. C. A funo social da educao ambiental nas prticas
colaborativas: participao e engajamento. Caderno CEDES, Campinas- SP, v. 29, n. 77, 63-79 p., 2009.
JORDO; E. P.; PESSOA, C. A. Tratamento de Esgotos Domsticos. ABES: Rio de janeiro, 5 ed., 2009.
940 p.
KHALIL, R. O.; RODRIGUEZ, M. V. R. Responsabilidade social nas Microempresas: estudo de caso de
microempresas da Baixada Litornea e regio dos Lagos do estado do Rio de Janeiro. Boletim Tcnico
Organizao & Estratgia. Rio de Janeiro, v. 3 n. 2 p. 178 189, 2007.
LAYRARGUES, P. P. Identidade da Educao Ambiental brasileira. Ministrio do meio ambiente,
Braslia, 2004, 156 p.
MAGALHES, N. F.; CEBALLOS, B. S. O. NUNES, A. B. A., GHEYI, H. R.; KONIG, A. Principais impactos
nas margens do Baixo Rio Bodocong - PB, decorrentes da irrigao com guas poludas com esgoto.
Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e Ambiental, v.6, n.1, p.128-135, 2002.
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 21 ed. So Paulo: Malheiros, 2006. p. 418.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

920
PARAIBA (Estado), Junta Comercial do Estado da Paraba JUCEP. Relatrio do Cadastro Atividades selecionadas: Servios de lavagem, lubrificao e polimento de veculos automotores, 2009.
PARABA (Estado), Decreto n 19.260 de junho de 1997 - Regulamenta a outorga de direito de uso
dos recursos hdricos. 1997. Disponvel em: http://www.aesa.pb.gov.br/outorga/. Acesso em: 10 de maro
de 2011.
PHILIPPI JR, A.; MARTINS, G. guas de abastecimento. In: Saneamento, sade e ambiente.
Fundamentos para um desenvolvimento sustentvel. Barueri, SP: Manole, 118 180 p, 2005.
QUINTAS, J. S. A educao no processo de gesto ambiental. In: educao ambiental no Brasil. Um
salto para o futuro. Ano XVIII boletim 01 - Maro de 2008.
RUBIO, J. ZANETI, R. N.; ALVARES, C. L. A. Reuso de gua de lavagem de nibus via floculao flotao. Revista de Saneamento Ambiental, n. 132, 37- 42 p., 2007.
SNCHEZ, L. E. Desengenharia. O passivo ambiental na desativao de empreendimentos
industriais. So Paulo: Edusp/Fapesp, 2001, 256 p.
SANTOS, M. A. Empresas, meio ambiente e responsabilidade social: Um olhar sobre o Rio de
Janeiro. 2003. Trabalho de Concluso de Cursos. (Monografia) Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Instituto de Economia, Rio de Janeiro, 2003.
SEBRAE- Servio Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Org.) Anurio do trabalho na
micro e pequena empresa: 2009. 3. ed. Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos
Socioeconmicos [responsvel pela elaborao da pesquisa, dos textos, tabelas e grficos]. Braslia; So
Paulo: SEBRAE; DIEESE, 2010. Disponvel em: http://www.dieese.org.br/anu/Sebrae_completo2009.pdf.
Acesso em: 10 de janeiro de 2011.
SIMONS, M. O.; JNIOR, V.; DEMAJOROVIC, J. Educao Ambiental na empresa: mudando uma
cultura. In: Modelos e Ferramentas de Gesto Ambiental, desafios e perspectivas para as organizaes. So
Paulo: Senac, 2006.
SMITH, D. J.; SHILLEY, H. Residential Car Washwater Monitoring Study. City of Federal Way,
Washington,
Public
Works,
Surface
Water
Management,
2009.Disponvel
em
http://www.carwash.org/SiteCollectionDocuments/2009%20FW%20CarWash%20water%20Monitoring%20
Study.pdf . Acesso em: 20 de setembro de 2009.
TIBURTIUS, E. R. L.; PERALTA-ZAMORA, Patrcio. Degradao de BTXS via processos oxidativos
avanados. In: Quim. Nova, So Paulo, v. 28, n. 1, jan- Fev, 61 64 p., 2005.
THIOLLENT, M.; SILVA, G. de O. Metodologia de pesquisa-ao na rea de gesto de problemas
ambientais. Revista eletrnica de comunicao, informao e inovao em sade, Rio de Janeiro, v.1, n.1.
Jan/Jun, 93-100 p., 2007.
WU, C.; YOUNG, A. Critical operating problems and survival rates in small firms: a look at small
business institute clients. Journal of Developmental Entrepreneurship. New York, v. 7, n.1, 1 23 p., Apr.
2002.
ZIMMERMANN, V. E. Desenvolvimento de tecnologia alternativa para tratamento de efluentes
visando a reutilizao da gua de postos de lavagem de veculos. 2008. Dissertao (Mestrado em
Engenharia Qumica). Universidade Estadual do Oeste do Paran. Toledo, 138 p., 2008.

Joo Pessoa, outubro de 2011

921

INFLUNCIA DAS OCUPAES HUMANAS EM UM FRAGMENTO DE MATA


ATLNTICA NA LOCALIDADE DE COVA DE ONA, CURADO III, JABOATO
DOS GUARARAPES PE
Maria Carolina SOTERO 142
Centro de Filosofia e Cincias Humanas, 6 andar, Sala 607, Cidade Universitria Recife-PE. CEP: 50.670-90,
carol.sotero@ibest.com.br
Elisabeth CRDULA 143
Campus Universitrio da Funeso. Jardim Fragoso s/n - Olinda - PE Brasil, CEP. 53060-770
Ceclia COSTA 144
Centro de Cincias Biolgicas. Cidade Universitria Recife, PE. CEP: 50670-420.

RESUMO
A Mata Atlntica apresenta-se como um dos biomas mais diversos e ameaados de desaparecer,
devido s fortes presses antrpicas que sofre at hoje. Para manter a integridade e a perpetuao de
ambientes naturais, no Brasil criou-se o Sistema Nacional de Unidades de Conservao. Nas reas urbanas,
bordejando estas reas protegidas encontram-se ocupaes humanas de diversos tipos. O objetivo do
trabalho foi diagnosticar a influncia das ocupaes da Comunidade de Cova de Ona de Cima, localizada
no Bairro do Curado III, Jaboato dos Guararapes PE em um fragmento de mata atlntica que ela margeia.
Para tal, foram realizadas 13 entrevistas com os moradores do local, alm de visitas ao fragmento e aos
quintais das residncias. Os imveis apresentavam caractersticas semelhantes quanto estrutura,
abastecimento de gua (retirada da mata), destinao do lixo (a maioria queimado) e do esgoto (fossas
spticas), e presena de quintais que aumentam a rea verde do local. O fragmento encontrava-se com
vrias clareiras e acmulo de lixo, existe caa e extrao de madeira. De modo geral, verificou-se que a
comunidade atua de forma negativa no fragmento, fato ligado a falta de um plano de manejo que ordene
as atividades desenvolvidas no fragmento e crie e mantenha atividades que ajudem no bem-estar da
comunidade e na sua atuao para a conservao deste fragmento.
Palavras-Chave: Mata Atlntica. Unidade de Conservao. Ocupaes Humanas
1. INTRODUO
A Mata Atlntica em funo de caractersticas abiticas (de solo, relevo e climticas) apresenta-se
como um mosaico diversificado de ecossistemas, apresentando estruturas e composies florsticas
diferenciadas (IBAMA, 2009).
Segundo o SOS Mata Atlntica (2009), este bioma j ocupou cerca de 15% do territrio nacional
(cerca de 1.300.000 Km), distribudo em 17 estados brasileiros, alm do Paraguai e Argentina. Porm,
cerca de 93% de sua formao original j foi devastada, sendo identificada como a quinta rea mais
ameaada e rica em espcies endmicas do mundo (IBAMA, 2009). Segundo o Hotspots Revisitados a Mata
Atlntica junto as Montanhas do Centro Sul da China ocupam a terceira posio entre os menores
percentuais de habitats remanescentes com apenas 8% (Conservao Internacional, 2005).
A explorao predatria deste bioma ocorre desde a colonizao europia, onde inicialmente o
produto retirado foi o pau-brasil (explorao to intensa que chegou a quase extino desta espcie
arbrea) seguida por diversos outros ciclos econmicos, sempre baseados no corte raso das florestas para
dar lugar a monoculturas, como, por exemplo, a de cana-de-accar, caf, pastagens para a pecuria, dentre
outros. Outros motivos importantes foram o crescimento das cidades, em um severo e predatrio processo
de urbanizao com a construo de rodovias, moradias e grandes centros industriais e comerciais, sendo
que o bioma abriga hoje cerca de 60% da populao e responde por cerca de 70% do Produto Interno Bruto
(PIB) do pas (SOS Mata Atlntica, 2009).
142

Biloga, Especialista em Cincias Ambientais, Mestranda do Programa de Desenvolvimento e Meio


Ambiente PRODEMA/UFPE.
143
Biloga, Mestre em Biologia Vegetal, Professora da Especializao em Cincias Ambientais da FUNESO
PE.
144
Biloga, Doutora em Ecologia, Professora do Programa de Desenvolvimento e Meio Ambiente
PRODEMA/UFPE.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

922
As oportunidades de emprego geradas em decorrncia do crescimento urbanstico e econmico em
certos municpios acarretaram um intenso xodo rural, de modo que a populao urbana que 31,24% em
1940, passou a ser de 67,59% em 1970 e, atualmente, segundo o ltimo censo (2010) de 84,35% (IBGE,
2011a; IBGE, 2011b).
Uma das estratgias de proteo para a manuteno dos processos naturais e recursos da
biodiversidade no bioma Mata Atlntica, bem como em outros biomas brasileiros, a criao de Unidades
de Conservao - UC, que segundo a legislao brasileira so definidas como:
Espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas
naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e limites
definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo
(BRASIL, Lei 9.985/2000, art. 2., I).

O Sistema Nacional de Unidades de Conservao SNUC dividiu as Unidades de Conservao em


dois tipos: Unidades de Proteo integral (que tem como objetivo a manuteno dos ecossistemas livres de
alteraes causadas pela interferncia humana, admitindo apenas o uso indireto de seus atributos naturais)
e de Uso Sustentvel (onde existe uma compatibilizao entre a conservao da natureza com o uso
sustentvel de parcela dos seus recursos naturais) (BRASIL, 2000).
Segundo a Agncia Estadual de Meio ambiente CPRH (2010) o estado de Pernambuco apresenta
66 Unidades de Conservao Estaduais (25 de Proteo Integral, 41 de Uso Sustentvel), sendo que 21
pertencem s categorias descritas pelo Sistema Estadual de Unidades de Conservao da Natureza - SEUC;
32 a serem recategorizadas (as reservas ecolgicas); e 13 foram criadas para proteger os esturios
pernambucanos. Atravs da Lei n 14.324, de 03 de junho de 2011, as 32 unidades foram recategorizadas
formando 31 classificadas da seguinte forma: 21 Refgios da Vida Silvestre (RVS), oito Reservas de Floresta
Urbana (FURB) e dois Parques Estaduais (PE) (PERNAMBUCO, 2011).
Uma das deficincias das UC para a conservao da Mata Atlntica a extenso dos fragmentos. As
unidades de conservao geralmente so muito pequenas e isoladas e os habitats remanescentes, no
protegidos por lei, encontram-se fragmentados e sob forte presso e ameaa (BRASIL). Hauff (2004),
citando Milano (1991, p. 19), afirma que as unidades situadas em territrios povoados tm se constitudo
em ilhas isoladas e cercadas por sistemas antropizados que, quando no produzem fortes presses, no
mnimo inviabilizam parcialmente certos objetivos de conservao. A autora coloca ainda que, segundo
Milano (1991), as presses de ocupao e explorao ilegal de recursos (caa, pesca, desmatamento e
minerao) so os principais problemas das unidades de conservao de regies povoadas, especialmente
nos pases em desenvolvimento.
Assim, as reas perifricas ou de entorno das unidades de conservao devem, alm de voltar-se
para proteo dos recursos essenciais, constituir-se em espaos voltados a atividades economicamente
viveis, culturalmente aceitveis e ecologicamente compatveis (HAUFF, 2004).
Geralmente, as bordas dos fragmentos de mata atlntica, devido as suas condies edficas e
microclimticas e pela proximidade com a cobertura vegetal, so ocupadas por pequenas propriedades
rurais, mesmo dentro das grandes cidades, estando seus moradores em contato direto com os recursos
naturais do local. Tal proximidade acarreta muitas vezes em prejuzos ao fragmento, ao passo que a
populao retira recursos de forma indiscriminada e predatria, realiza desmatamento para aumento de
suas propriedades ou realiza atividades no condizentes com reas de proteo como, por exemplo, a caa.
O objetivo do trabalho foi avaliar a influncia das ocupaes humanas rurais (pequenos stios e
chcaras) em fragmentos de Mata Atlntica, atravs de anlises histricas de ocupao, estudos in loco e
identificao das principais formas de uso dos recursos naturais pela populao, a fim de contribuir para
futuras intervenes de melhoramento da qualidade ambiental de remanescentes de Mata Atlntica,
atravs do planejamento de uso e ocupao do solo no entorno dos mesmos.
2. MATERIAIS E MTODOS
2.1 rea de estudo
O Municpio do Jaboato dos Guararapes est situado na poro centro-leste da Regio
Metropolitana do Recife RMR. A localidade Curado, na poro jaboatanense, tem uma populao de
44.723 habitantes e dividida em cinco unidades: Curado I, II, III, IV e V (JABOATO DOS GUARARAPES,
2008).
Joo Pessoa, outubro de 2011

923
Dentro da unidade do Curado III, localiza-se a comunidade Cova de Ona, que segundo o Centro de
Referncia em Assistncia Social CREAS, Regional III, dividida em trs partes: de cima, do meio e do
baixo. A rea de estudo abrangeu apenas a Cova de Ona de Cima (Figura 01).

Figura 1. Imagem de satlite da rea de estudo, Comunidade Cova de Ona de Cima, Jaboato dos
Guararapes PE em destaque. Fonte: www.mapsgoogle.com.br (2010).
A Comunidade de Cova de Ona de Cima tem como acesso a estrada da Granja Bela Vista, distando
4 km da parte mais urbanizada mais prxima. Na localidade existem cerca de 50 pequenas propriedades
particulares rurais, como stios e chcaras e algumas propriedades com extenses maiores.
A regio apresenta clima mido a sub mido e temperatura de 25 a 26C (PERNAMBUCO, 2006),
relevo ondulado a fortemente ondulado (FIDEM, 1987).
Ecologicamente a rea importante por se tratar de uma espcie de zona de amortecimento (j
que no existe esta definio oficialmente) entre um pequeno fragmento de mata atlntica do tipo
capoeira (extenso Reserva de Floresta Urbana - FURB de Manassu) e uma rea bastante urbanizada do
Curado III.
Segundo o Atlas de Bacias Hidrogrficas de Pernambuco (PERNAMBUCO, 2006), a Reserva Ecolgica
de Manassu (antiga denominao da FURB de Manassu) foi criada pela lei estadual 9.989/87, de domnio
privado e possui 84,68 ha de rea.
A Lei complementar n 002/08 que institui o Plano Diretor do Municpio de Jaboato dos
Guararapes e estabelece as diretrizes para a sua implantao, Cova de Ona classificada como Zona
Especial e de Imveis Especiais, se distinguindo das demais zonas por possuir caractersticas especiais que
demandam tratamento especfico e dentro desta constitui a ZLT6 - Zona Especial de Lazer e Turismo que
tem a finalidade de proteger reas que, tendo em vista seus atributos ambientais, oferecem
potencialidades para atividades recreativas e tursticas (JABOATO DOS GUARARAPES, 2008).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

924

2.2 Coleta e anlise de dados


Foram realizadas trs campanhas de campo: uma de reconhecimento e as demais de obteno de
dados, onde nesta oportunidade foram realizadas observaes diretas da influncia das propriedades rurais
e de seus habitantes no pequeno fragmento, com registros fotogrficos digitais e entrevistas semiestruturadas, para a identificao dos atores sociais mais prximos do fragmento.
Por meio destas entrevistas, objetivou-se ter informaes sobre o perfil dos atores locais,
caractersticas dos imveis e sua relao com o fragmento.
Aps a organizao dos dados, os resultados foram complementados e analisados
(quantitativamente ou qualitativamente de acordo com suas caractersticas) com base em bibliografias e na
observao in loco.
3. RESULTADOS E DISCUSSES
3.1 Perfil dos moradores e caracterizao dos imveis
Foram entrevistados 13 moradores, a maioria na faixa dos 18 a 29 anos, seis deles; seguidos da
faixa de 40 a 59 anos e acima dos 60 anos, ambas com trs indivduos e apenas um indivduo na faixa de 30
a 39 anos; de diferentes graus de escolaridade, a maioria concluiu o Ensino Mdio, cinco entrevistados,
seguidos por um grupo de quatro pessoas sem escolaridade, duas com Ensino Superior e duas com Ensino
Fundamental.
Quanto ao local de origem sete deles (53,8%), afirmaram que Cova de Ona foi o seu local de
origem, no sabendo, portanto a origem de antepassados distantes, pois seus pais e avs j moravam na
rea. Todos os entrevistados so proprietrios, ou descendentes diretos destes. Os imveis apresentam
caractersticas semelhantes, a maioria so casas mdias e simples, com apenas um pavimento, todas
contando com grandes quintais.

Figura 2. Diferentes tipos de imveis caractersticos da Comunidade de Cova de Ona de Cima,


Jaboato dos Guararapes - PE. Fonte: Sotero (2010).
O abastecimento de todas as residncias feito por poos artesianos e o esgotamento atravs de
fossas. Segundo a Agenda 21 do Estado de Pernambuco (2002), cerca de 2 milhes de pessoas no so
atendidas por sistemas de abastecimento de gua e o abastecimento no regulamentado tem efeitos
negativos sobre a sade da populao, entre eles, a ocorrncia de doenas de veiculao hdrica,
principalmente entre a populao mais pobre.

Joo Pessoa, outubro de 2011

925

Figura 3. Cisternas e encanaes utilizadas pela comunidade de Cova de Ona de Cima, Jaboato
dos Guararapes - PE. Fonte: Sotero (2010).
A falta de manuteno das fossas utilizadas pela comunidade um potencial agente de
contaminao e poluio do solo e dos recursos hdricos presentes na rea, faz-se necessrio um estudo
detalhado das condies da qualidade hdrica e edfica da regio em relao presena de agentes
contaminantes e de poluio.
O lixo gerado pela comunidade no coletado pela prefeitura, desta forma os moradores
encontram diferentes maneiras de destinar o lixo, citando mais de uma durante a entrevista. Dos 13
moradores entrevistados, 11 afirmam queimar o lixo gerado, outros destinos citados foram levar o lixo para
locais onde a coleta passa, quatro citaes; jogar ou enterrar na mata, trs citaes; e vender (no caso os
reciclveis), apenas uma citao. Durante as visitas foi comum observar vrios focos de lixo na beira da
estrada e na borda da mata de acesso a comunidade, dentro dos fragmentos, aps os quintais das casas e
principalmente no fundo dos quintais. Os moradores lamentavam o fato de no destinar o lixo para coleta,
mas nenhum citou j ter solicitado a realizao deste servio junto a algum rgo competente.

Figura 4. Diferentes destinos dados ao lixo pela comunidade de Cova de Ona de Cima, Jaboato
dos Guararapes. PE. A) lixo queimado nos fundos do quintal; B) lixo abandonado junto ao fragmento de
mata; C) lixo despejado na subida para a comunidade e D) lixo encontrado dentro do fragmento de mata
atlntica. Fonte: Sotero (2010).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

926

Situao semelhante, quanto a queima de lixo, foi encontrada por Silva et al. (2006) em um
trabalho desenvolvido em um remanescente de Mata Atlntica na Mesorregio do Agreste Paraibano, no
municpio de Areia, onde atravs entrevistas com moradores do interior e da periferia da Reserva Ecolgica
Estadual Mata do Pau-Ferro, verificaram que 63% do lixo gerado por eles era queimado, 27% descartado
em terrenos baldios, 1% descartado na reserva e 1% enterrado.
Todas as propriedades apresentam quintais amplos, limitados pelo fragmento de mata da RURB de
Manassu, nestes quintais algumas famlias cultivam pequenos roados de macaxeira (Manihot sp.) e muitas
fruteiras. A preservao destas reas verdes em contato com a mata amplia o microclima gerado pelo
fragmento, dando a sensao de que as casas esto cravadas dentro do mesmo, porm o crescimento das
famlias, a falta de manejo e de atividades produtoras viveis econmica e ecologicamente nestas reas
caracteriza um potencial agente de destruio do fragmento, uma vez que o crescimento das propriedades
para a construo de novas casas poder de dar com a derrubada de vegetao do fragmento de mata,
segundo Nora et al (2009) as mudanas demogrficas, econmicas e sociais exercem considervel presso
na reduo da cobertura vegetal da paisagem.
Caracterizao do fragmento de mata da Reserva de Floresta Urbana de Manassu
O fragmento, assim como muitos prximos a reas antropizadas e histrico de desmatamento,
apresenta-se com vrias clareiras, indcios de corte e lixo. No foi observado, nem relatado pelos
entrevistados, a explorao de areia e argila, ao contrrio da caa de animais silvestres, relatada de forma
direta ou indireta pelos moradores. Os moradores so cientes de quais membros da comunidade praticam
a caa, mas afirmam que a maioria dos caadores vem de fora e atuam durante a noite.
De acordo com os moradores, o fragmento ainda habitado por vrias espcies de animais, mais o
nmero deles vem diminuindo significativamente com o tempo. O animal com maior nmero de citaes
pelos moradores foi a preguia (Bradypus variegatus). De acordo com os relatos, o fragmento ainda capaz
de abrigar animais como raposas (Cerdocyon sp.), jacars-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), pacas
(Agouti paca), cutias (Dasyprocta sp.), quatis (Nasua sp.), cuandus (Coendu prehensilis) e gatos-do-mato
(Leopardus tigrinus), alm de outros que comumente so encontrados em diversos fragmentos, at mesmo
nos mais degradados como: saguins (Callithrix sp.), timbus (Didelphis albiventris), cobras de vrias espcies
no discriminadas, tatus (Dasypus sp.) e tejus (Tupinambis merianae).
De acordo com a populao no fragmento possvel encontrar vrias espcies de pssaros. A
avifauna de fragmentos prximos a ambientes antropizados bastante prejudicada, aonde muitas pessoas
vo a estes ambientes, munidos de armadilhas para capturar exemplares que ainda restam nas matas, por
questes culturais e/ou de lazer. O Diagnstico da Biodiversidade de Pernambuco aponta que dos 63
txons de aves ameaados de extino no estado, 74,60% deles, ou seja, 47 ocorrem na Floresta Atlntica
(RODA, 2002).
Os pssaros foram citados pela populao de maneira genrica, mas especificados alguns
exemplares como o choro (Sporophila leucoptera), curi (Sporophila angolensis), juriti (Leptotila sp.),
lambu (Crypturellus sp.) e o sabi (Turdus sp.). No trabalho de Lau (2008) com uma populao do entorno
do Parque Estadual Xixov-Japu, a autora destacou que o fato dos entrevistados especificarem algumas
espcies de pssaros estava diretamente ligado ao fato destes serem alvo de caa, associados ao ambiente
urbano e/ou freqentemente criados. Pereira e Brito (2005) visitaram vrias feiras da Regio Metropolitana
do Recife, durante cinco anos, com o objetivo de verificar a diversidade de aves encontrada nestes locais e
identificaram 106 espcies de aves brasileiras sendo comercializadas; na lista deste trabalho foram
encontradas as aves choro, curi, juriti e sabi, citadas pela populao entrevistada de Cova de Ona de
Cima.
Em relao vegetao, as rvores mais citadas foram a imbiriba (Eschweilera ovata), o murici
(Byrsonima sericea) e o pau-pombo (Tapirira guianensis). Outras rvores citadas foram: lacre (Vismia
guianensis), praiba (Simarouba amara), barbatenom (Pithecellobium sp.), embaba (Cecropia sp.), ing
(Inga sp.), ingapoico (Inga bahienses), jaguarana (Macrosamanea pedicellaris), pau ferro (Dialium
guianense), pau mole (Aegiphila sp.), sabiazeira (Miconia prasina), sambaqui (Schefflera morototoni),
sucupira (Bowdichia virgilioides) e visgueiro (Parkia pendula).

Joo Pessoa, outubro de 2011

927
A extrao de madeira segundo eles pouco realizada pela comunidade, sendo realizada
esporadicamente para utilizar galhos secos para cozinhar, porm nas casas no foi difcil observar lenha
cortada.
4. CONSIDERAES FINAIS
Tomando por base os dados obtidos neste trabalho, de acordo com os elementos revelados pelas
entrevistas e com as observaes feitas no local, fica claro que a relao entre a Comunidade de Cova de
Ona de Cima e o fragmento de mata esta ocorrendo de forma negativa.
Podem-se destacar pontos positivos quanto interao da comunidade com o fragmento como:
inibidora de ocupaes irregulares (de moradores vindos de outras localidades, pois os descendentes dos
habitantes atuais formam um grupo potencial para o aumento da ocupao do local); observadora e
protetora de certos recursos que por ventura so extrados do fragmento; ampliadoras da cobertura
vegetal (quando seus quintais oferecem locais de abrigo e no ameaam a fauna e flora local) e a
afetividade dos moradores com a rea. Porm, os pontos negativos desta interao formam uma lista
maior: a gua utilizada sem parcimnia e no existe tratamento de esgoto; o lixo destinado de forma
irregular, sendo na maioria das vezes queimado, acumulado nos quintais ou jogado na mata; a caa est
sendo praticada por alguns moradores do local, assim como a extrao de pequenas quantidades de
madeira para uso domstico.
A falta de plano de manejo desta unidade de conservao agrava a m interao da comunidade do
local com o fragmento, pois com a criao deste e levando em considerao que a comunidade existente
deve estar contemplada na gesto de uma UC, os moradores poderiam receber assistncia quanto a
informaes sobre a importncia ecolgica e ambiental do lugar, capacitaes sobre atuaes coerentes
com as caractersticas de uma rea de proteo integral, como atividades de lazer e turismo sustentveis,
organizao na utilizao de recursos como a gua e destinao adequada de esgoto e lixo.
5. REFERNCIAS
BRASIL. Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, 1o, incisos I, II, III e VII da
Constituio Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza e d outras
providncias. Disponvel em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm>. Acessada em 12 de
dezembro de 2009.
BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente. O corredor central da Mata Atlntica: uma nova escala de
conservao da biodiversidade. Conservao Internacional e Fundao SOS Mata Atlntica. Braslia:
Ministrio do Meio Ambiente, 2006.
FUNDAO DE DESENVOLVIMENTO DA REGIO METROPOLITANA DO RECIFE FIDEM. Regio
Metropolitana do Recife: Reservas Ecolgicas. Srie de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Recife:
FIDEM, 1987.
HAUFF, S. N. Relaes entre comunidades rurais locais e administraes de parques no Brasil:
subsdios ao estabelecimento de zonas de amortecimento. 2004. 225f. Tese (Doutorado em Engenharia
Florestal)
Universidade
Federal
do
Paran,
Curitiba,
2004.
Disponvel
em
<http://www.floresta.ufpr.br/pos-graduacao/defesas/pdf_dr/2004/t163_0183-D.pdf>. Acessada em: 10 de
dezembro de 2009.
IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis. Ecossistemas
Brasileiros: Mata Atlntica. Disponvel em <http://www.ibama.gov.br/ecossistemas/mata_atlantica.htm>.
Acessado em 22 de outubro de 2010.
JABOATO DOS GUARARAPES. Dirio Oficial. Ano XVIII - N 163, 18 A 24 de fevereiro de 2008.
JABOATO DOS GUARARAPES. Secretaria de Planejamento. Plano Diretor do Jaboato dos
Guararapes.
Diviso
de
Distritos
e
Bairros,
2008.
Disponvel
em
<
http://www.jaboatao.pe.gov.br/imagens/mapas/mapa_pol_adm_dist.pdf>. Acessada em 12 de dezembro
de 2009.
NORA, E. L. D. et al. Caracterizao ambiental dos usos e ocupao da terra em zonas de
amortecimento de uma rea natural legalmente protegida. Estudo de caso: Estao Ecolgica de Itirapina.
Anais XIV Simpsio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 5733-5740.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

928
PEREIRA, G. A.; BRITO, M. T. DE. Diversidade de aves silvestres brasileiras comercializadas nas feiras
livres da Regio Metropolitana do Recife, Pernambuco. Atualidades Ornitolgicas, Ivaipor-PR, n. 126, 14 20. Disponvel em <http://www.ao.com.br/download/glauco.pdf>. Acessado em 10 de agosto de 2010.
PERNAMBUCO. Dirio Oficial de Unio. Ano LXXXVIII, n. 107. Recife, sbado, 4 de junho de 2011.
PERNAMBUCO. SECRETARIA DE CINCIA, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE. Atlas de bacias
hidrogrficas de Pernambuco. SILVA, S. R (Coord. Tcnica). Recife: A Secretaria, 2006.104p.
PERNAMBUCO. Secretaria Executiva do Frum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco. Agenda 21
do Estado de Pernambuco. Recife: A Secretaria, 2002.
PORTAL
SOS
MATA
ATLNTICA.
Mata
Atlntica.
Disponvel
em
<http://www.sosmatatlantica.org.br/index.php?section=info&action=mata>. Acessado em 20 de outubro
de 2010.
RODA, S. A. Aves endmicas e ameaadas de extino no estado de Pernambuco. In: TABARELLI, M
& SILVA, J. M. C (orgs.). Diagnstico da biodiversidade de Pernambuco. Recife: Massangana, 2004. v 1, p.
537-555.
SILVA, M. C. DA. Descarte de lixo em rea de Preservao Ambiental: o caso da Reserva Ecolgica
Estadual da Mata do Pau Ferro, Areia PB. Revista Geoambiente On-line, Jata - GO, n. 6, p. 13 21, 2006.
SOS MATA ATLNTICA; INSTITUTO NASCIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS INPE. Atlas dos
remanescentes florestais da Mata Atlntica - perodo 2005-2008/ relatrio parcial. So Paulo: SOS MATA
ATLNTICA/INPE, 2001. 156p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

929

IMPACTOS AMBIENTAIS X OCUPAO IRREGULAR NO CANAL DE


DRENAGEM SANTA TERESA EM BOA VISTA-RR.
PINHEIRO, Maria das Neves Magalhes
Universidade Estadual de Roraima badelneves.geog@uerr.edu.br Professora.
ALVES, Raquel
Universidade Estadual de Roraima raquelwemam@yahoo.com.br - Discente.
OLIVEIRA, Sandra Kariny Saldanha de
Universidade Estadual de Roraima; sandrakariny@oi.com.br Professora.

RESUMO
A crescente problemtica ambiental, aliada ao crescimento populacional da cidade de Boa Vista/RR
nas ltimas dcadas, tem causado uma verdadeira crise nos recursos hdricos, to essenciais para o ser
humano. O canal de drenagem Santa Teresa um indicador dessa problemtica, nele o processo de
urbanizao intenso. Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo evidenciar a situao
ambiental desse recurso hdrico, revelando os diversos impactos sofridos com a ocupao irregular nas suas
margens. Para tanto foi utilizado o protocolo, de avaliao rpida de diversidade de habitats, proposto por
Callisto et al., (2002) (modificado de HANNAFORD et al., 1997), que teve como objetivo avaliar as
caractersticas, os nveis de conservao e as condies naturais do Canal estudado. Assim, esse trabalho
contribui tanto para alertar o poder pblico e a populao para intensificao da degradao nesse corpo
hdrico, como tambm contribui com a comunidade cientfica com informaes a respeito da temtica.
Palavras-chave: Urbanizao; Recursos Hdricos; Impacto Ambiental.
INTRODUO
A ocupao antrpica em reas de igaraps urbanos, gerada pela expanso das cidades, so
algumas das principais causas da degradao ambiental nos espaos urbanos. Os conflitos ambientais
envolvem diferentes atores sociais como as entidades pblicas, responsveis pelo planejamento adequado
da cidade e os moradores das reas agredidas, que na verdade, so pessoas mais carentes que acabam por
ocupar essas reas onde construindo habitaes geram grandes impactos, tanto para a populao, quanto
para o meio fsico.
Nesse contexto, os seres humanos ao se concentrarem num determinado espao fsico, aceleram
inevitavelmente os processos de impacto ambiental, assim, a degradao desses ambientes tende a crescer
na proporo em que a concentrao populacional aumenta.
Neste cenrio, os igaraps urbanos aparecem como recurso cada vez mais vulnervel s aes
antrpicas, tornando as relaes entre recursos hdricos e urbanizao verdadeiros conflitos ambientais,
causados pelo descomprometimento com o ambiente, em especial com as guas urbanas, que poder
comprometer a qualidade de vida da sociedade, e do meio ambiente como um todo.
Assim, partindo do pressuposto de que os estudos sobre os recursos hdricos so de extrema
importncia para o desenvolvimento urbano, a relevncia desta pesquisa reside em propiciar maior
conhecimento sobre as implicaes ambientais decorrentes da ocupao s margens dos cursos d'gua,
tendo como objetivo, analisar as condies ambientais no Canal de Drenagem Santa Teresa no sentido de
fomentar a criao de aes que possam minimizar os problemas ambientais do municpio de Boa Vista-RR.
1. Processo de Ocupao e Crescimento Urbano em Boa Vista
Assim como nos outros Estados da regio Norte, o Estado de Roraima teve e ainda tem um fluxo
migratrio muito grande e apresenta, a partir dos anos de 1980, um expressivo crescimento populacional,
justificado pela intensa absoro de uma populao imigrante, principalmente de nordestinos e nortistas
na rea urbana de Boa Vista (VALE, 2007).
Pinheiro, Falco e Oliveira (2008, p. 200) destacam que:
Entre 1950 e 2007, a populao do Estado de Roraima saltou de 17.247 para 395.725 habitantes, um
crescimento populacional superior a 1000%. O crescimento demogrfico ocorreu custa de ondas sucessivas
de migraes. As mais expressivas ocorreram nas dcadas de 70 e 80, com adescoberta do garimpo e com a
entrega da BR 174 que interliga o Brasil Venezuela, totalmente pavimentada, extrapolando as tendncias da
dinmica socioambiental.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

930
Neste cenrio as imigraes desempenharam papel fundamental, pois foi atravs destas que o
crescimento das taxas de urbanizao aumentou significativamente na capital (SOUZA; SILVA, 2006).
A cidade Boa Vista teve sua formao ao longo de inmeros lagos e igaraps que cortam seu
interior, no entanto, esta vasta rede hidrogrfica encontra-se ameaada, tendo em vista que sua ocupao
ocorreu e ainda ocorre de forma desordenada principalmente as margens desses mananciais, facilitando o
aumento da degradao desses recursos, sendo este reflexo direto da falta de poltica habitacional
adequada para regio (FALCO et al, 2008).
No que diz respeito a essa ocupao, Vale (2007) destaca que:
At metade dos anos de 1980, a urbanizao de Boa Vista foi programada pelo Governo que, visando
segurana nacional, promoveu o crescimento do Territrio atravs de uma poltica urbana concentrada
na capital, realizando obras infra-estruturais fsicas e scio-econmicas. Contudo, devido ao intenso
crescimento populacional, com o agravamento de dficit habitacional, ampliou significativamente reas
ocupadas por habitaes, construdas de improviso, em locais geralmente inadequados e sem obedecer aos
requisitos mnimos de habitabilidade.

O crescimento de Boa Vista como afirma Souza e Silva (2006), ocorre de maneira desordenada e
desigual, em decorrncia desse processo de urbanizao rpida e intensa, multiplicaram-se os bairros
perifricos sem as mnimas condies de habitao, ocorrendo uma ocupao desenfreada de reas de
proteo e de riscos ambientais.
No tocante Pinheiro, Falco e Oliveira (2008), relatam que falta de um planejamento urbano eficaz
compromete a qualidade de vida da populao urbana, pois o crescimento desordenado das cidades gera a
ocupao de locais inadequados para moradia tais como: margens dos crregos, vrzeas inundveis, reas
de proteo dos igaraps urbanos, considerados como reas ambientalmente frgeis, sendo que, dentre as
principais conseqncia dessa falta de alternativa de moradia est a agresso ambiental.
Nessa problemtica tais autoras completam que o crescimento de Boa Vista, tem ocorrido
indiferente s caractersticas naturais, levando a cidade a uma descaracterizao e desvalorizao
ambiental, destacando como um dos principais fatores desse processo a desigualdade econmico-social,
que para elas necessita de melhor compreenso para que se possa promover um desenvolvimento urbano
sustentvel.
3 Metodologia
A rea de estudo localiza-se na cidade de Boa Vista-RR, entre as coordenadas 02 49 35,7 N e 60
44 10,9W, no permetro urbano na zona oeste do municpio, mais precisamente no bairro Santa Teresa. O
Canal de drenagem Santa Teresa abrange tambm os bairros, Piscicultura e Jardim Primavera, com rea
parcialmente canalizada, sendo um afluente do igarap Caran. Contribui para seu curso natural que, que
por sua vez faz parte a bacia hidrogrfica do Rio Branco, principal rio de Roraima que possui cerca de 584
km de extenso sendo um dos principais afluentes a esquerda do rio Negro logo este afluente do rio
Amazonas (Figura 1).

Joo Pessoa, outubro de 2011

931

Figura 1 Localizao da cidade Boa Vista-RR

Para realizao do estudo, foram selecionados trs pontos que caracterizam a intensa e
inadequada ocupao humana ao longo do Canal Santa Teresa evidenciando o processo de ocupao
desordenada na cidade.
As ferramentas utilizadas no desenvolvimento da pesquisa foi o registro fotogrfico da rea, a
delimitao da bacia em estudo atravs de GPS (Sistema de Posicionamento Global), e o mapeamento com
o uso de imagem de satlite ikonos obtida de forma gratuita atravs do Google Earth.
Foram realizadas tambm, entrevistas nos rgos competentes como, Secretaria Municipal de
Gesto Participativa (SEMGP), Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo (SEMOU), Secretaria Municipal
de Gesto Ambiental e Assuntos Indgenas (SMGAI), Empresa Municipal de Habitao Urbana (EMUHR), e a
aplicao in loco do mtodo de avaliao rpida de diversidade de habitats proposto por Callisto et al
(2002) (modificado de HANNAFORD et al., ( 1997), que teve como objetivo avaliar as caractersticas fsicas
da microbacia e mensurar seu estado de conservao.
3.1 Procedimentos
Para realizao da pesquisa, foi realizada a aplicao in loco do protocolo, de avaliao rpida de
diversidade de habitats proposto por Callisto et al., (2002) (modificado de HANNAFORD et al., 1997), que
baseia-se na quantificao de 22 parmetros que referem-se a avaliao das caractersticas dos trechos e
dos impactos ambientais decorrentes de atividades humanas e as condies de habitat, os nveis de
conservao e as condies naturais do canal. A quantidade de dados obtidos resultou na anlise
qualitativa dos resultados.
A lista de checagem foi aplicada em 3 pontos distintos, com distncia aproximada de 200 metros
uma da outra, e analisados 20 parmetros, devido a baixa declividade da bacia em foco foram excludos os
parmetros 12 e 13 da checagem.
Com base na observao das condies de habitats, cada parmetro forneceu pontuao que pode
variar de 0 a 5, ou seja, os primeiros 10 parmetros foram pontuados de 0 a 4 e os demais de 0 a 5 pontos .
Os primeiros 10 parmetros (1-tipo de ocupao das margens do corpo dgua, 2-eroso prxima
e/ou nas margens do rio e assoreamento em seu leito, 3- alteraes antrpicas, 4-cobertura vegetal no
leito, 5-odor da gua, 6-oleosidade da gua, 7-transparncia da gua, 8-odor do sedimento de fundo, 9oleosidade do fundo e 10-tipo de fundo) procurou avaliar as caractersticas dos trechos e os impactos
ambientais presentes em decorrncia de atividades antrpicas.
Os parmetros restantes (11-diversidade de hbitats, 12-extenso das corredeiras, 13-freqncia
das corredeiras, 14-tipos de substrato, 15-deposio de lama, 16-depsitos sedimentares, 17-alteraes no
canal do rio, 18-presena de fluxo das guas, 19-presena de vegetao ripria, 20-estabilidade das
margens, 21-extenso da vegetao ripria e 22 presena de plantas aquticas). Esses parmetros foram
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

932
adaptados do protocolo utilizado por Hannaford et al. (1997) e teve como objetivo avaliar as condies do
hbitat e os nveis de conservao das condies naturais da bacia.
Assim, o valor final do protocolo foi obtido a partir dos somatrios dos valores atribudos a cada
parmetro, refletindo na pontuao final que apontou as condies de preservao e condies ecolgicas
do igarap do Canal Santa Teresa. Callisto et al (2002) definem trs nveis de preservao: 0 a 40 pontos
indicam trechos impactados, 41 a 60 trechos alterados e superior a 61 pontos trechos naturais (FALCO;
PINHEIRO; OLIVEIRA, 2008).
4- Implicaes Ambientais no Canal de Drenagem Santa Teresa.
O levantamento de campo foi feito a partir de observaes in loco e anlise nos trs pontos
demarcados para a aplicao da lista de checagem, os resultados da pesquisa apontam para intensa
ocupao desordenada em direo ao curso do Canal de Drenagem Santa Teresa e para grande
concentrao de poluio das guas dessa microbacia, o que vem comprometendo a qualidade da gua e
de vida da populao (Figura 2).

Figura 2: Delimitao da rea de Estudo. Fonte: imagem de satlite ikonos obtida de forma gratuita atravs
de site de imagem Google Earth. Maio 2010.

O primeiro ponto localizado nas coordenadas 02 49 35,7, de latitude N e 60 43 55 de


longitude W teve como resultado: impactado com pontuao 27, caracterizado pela intensa ocupao de
suas margens, a ausncia da mata ciliar, a eroso das margens, o acumulo de sedimentos e o descarrego de
lixo domstico e esgoto in natura no seu leito (Figura 3).

Figura 3: Ponto 1, Ocupao as margens do Canal Santa Teresa. Fonte: Raquel Arajo (2010)

Nesse contexto Pinheiro, Falco e Oliveira (2008), ressaltam que a procura por espaos para
habitao multiplicou de tal forma os conflitos sociais na cidade, empurrando a maioria da populao para
locais menos privilegiados de servios de infra-estrutura, e onde o formal e o informal disputam espao no
meio fsico, como o caso do Canal Santa Teresa.

Joo Pessoa, outubro de 2011

933
Dessa forma, o crescimento urbano desordenado aliado a falta de educao ambiental, muito
contribuem para a falta de sensibilizao da sociedade na preservao do meio ambiente. Desse modo, os
crescentes nveis de urbanizao implicam fatores que compromete no s a qualidade do ambiente
natural, mas as condies de vida do ser humano, fatores como: desigualdade social, m distribuio de
renda, sobrecarga de infra-estrutura, entre outras dificuldades sociais, levam os indivduos a utilizar de
forma comprometedora os recursos naturais ao longo das cidades, o que resulta em grandes impactos
nesses recursos.
No segundo ponto, localizado nas coordenadas 02 49 43, 4, de latitude Norte e 60 44 02,8 de
longitude W, teve como resultado: impactado com pontuao 27, nesse ponto, foi observado intenso
nvel de eroso e sedimentao do fundo e no leito do canal (Figura 4).

Figura 4: Intenso nvel de eroso e sedimentao no fundo do Canal Santa Teresa. Fonte: Raquel Arajo
(2010).

Tambm foi notvel neste trecho a presena de unidades habitacionais s suas margens, inclusive
no seu leito, com grandes alteraes na mata nativa substituda por mata secundaria, com a presena de
plantaes de algumas culturas como banana, manga, caju. Observou-se que pequena faixa de mata ciliar
ainda mantida, no entanto, j comprometida com a interferncia humana (Figura 5).
Corroborando com Andreoli e Bollmann (2005), esse tipo de alterao caracterstico nos
ambientes naturais dos centros urbanos, porm, a diminuio da rea coberta por vegetao original,
para introduo de espcies exticas, altera definitivamente as caractersticas naturais do ecossistema, e
podem ter como conseqncia a extino da fauna e da flora desses ambientes.
A

Figura 4: Seta (A) Resqucio de mata ciliar no Canal; Seta(B) presena de cultura de banana no leito do Canal.
Fonte: Raquel Arajo (2010).

No terceiro ponto localizado na coordenada 02 50 02,4, de latitude N e 60 44 10,9 de


longitude W teve como resultado: natural com pontuao 75, caracterizado pela quase ausncia de
alteraes antrpicas nas suas margens. No entanto, nessa rea est localizada uma propriedade particular
na qual realiza atividade de piscicultura, porm no foi observada a utilizao do igarap para o
abastecimento dos tanques, de acordo com os proprietrios a gua utilizada para essa atividade provm de
poos artesianos (Figura 4).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

934
Tanques
Piscicultura

de
C
anal

Figura 4: (A) Canal ao lado dos Tanques de Piscicultura. (B) Canal. Foto: Raquel Arajo (2010).

Entretanto, em grande parte do curso do igarap foi observado que este vem sendo alterado pela
populao que utiliza e ocupa a rea, pois a ocupao intensa das suas margens acabou conduzindo a
regio a um cenrio de insalubridade do ambiente, comprometendo no s o meio fsico, mas a sade da
populao que habita o local, pois o Canal de Drenagem Santa Teresa passou a ser deposito de resduos
slidos, o que preocupa pois logo podem surgir problemas que afetam diretamente o ambiente e a
sociedade como o agravamento da sade da populao local (Figura 5).

Figura 5: (A/B) Deposio de lixo domstico e outros resduos slidos no leito do Canal Santa Teresa. Fonte:
Raquel Arajo (2010).

Em conformidade com Leff (2008), a degradao ambiental est diretamente associada


deteriorao das condies sociais nas quais se produzem e se propagam epidemias e doenas da pobreza
provocadas pelas inadequadas condies de saneamento em que vivem as populaes. Corroborando com
Bastos e Freitas (2006), alertam que o lixo jogado em locais no apropriados, acarreta em perigo de
contaminao da populao, inclusive, por doenas de veiculao hdrica, como a hepatite, o tifo e as
doenas gastrintestinais.
Na imagem acima percebe que vrios tipos de detritos so destinados s margens e leito do canal,
aumentando o grau de poluio da rea, refletindo a condies sanitrias e o descaso com que o Canal de
Drenagem Santa Teresa vem sendo tratado pelos habitantes do seu entorno, evidenciando que a
degradao ambiental dos igaraps de Boa Vista provocada principalmente pela falta de sensibilidade
ambiental das pessoas que ocupam essas reas e pela falta de poltica habitacional adequada, bem como a
falta de fiscalizao para conservao desses mananciais.
O Canal de Drenagem Santa Teresa possui diversos efluentes que so lanados direta e
indiretamente no canal como exemplo os resduos lquidos que possuem produtos qumicos, ou tem o
destino de esgotos e fossas lanados diretamente por aes de moradores que moram prximo a sua
margem (Figura 6).

Joo Pessoa, outubro de 2011

935

Figura 6: (A) Presena esgotos clandestinos (B) Lanamento de resduos diretamente no Canal (C) Presena de
banheiros nas margens do Canal. Foto: Raquel Araujo (2010)

De acordo com Ruivo (2003), os maiores problemas das cidades da regio amaznica, a falta de
saneamento bsico, a coleta e armazenamento e falta de beneficiamento do lixo, o que conforme Dias
(2004) deteriora o meio ambiente atravs da poluio do solo e das guas inclusive as subterrneas e
trazem srios riscos a qualidade de vida da populao como a proliferao de doenas.
Na rea da microbacia, alm da poluio por toda parte, no perodo chuvoso o transbordamento de
suas guas provoca enchentes, e se configura num espao problemtico, onde esto presentes, a
populao, como principais agentes causadores dos problemas ambientais na rea e tambm uma das
principais vtimas desse processo (Figura 7)

Figura - 7: A) Rua alagada prximo do Canal de Drenagem Santa Teresa no perodo de cheia. B) Canal de
Drenagem Santa Teresa perodo de cheia Fonte: Secretaria Municipal de Obras e Urbanismo Superintendncia de
Projetos e Urbanizao (2009).

Assim, Pinheiro, Falco e Oliveira (2008) destacam que se o solo for usado de forma intensa, sem
um planejamento voltado s atividades urbanas gerar distrbios no espao habitado pelo homem, como
tambm problemas ambientais, refletindo na sua qualidade de vida que acontece de forma diferente, onde
a classe mais atingida a de baixa renda, que por falta de alternativas, ocupa reas inadequadas para
habitao.
Ressalta-se, que devido ao processo de urbanizao, o Canal de Drenagem Santa Teresa apresentase descaracterizado do ponto de vista ambiental a ocupao antrpica desordenada causou a degradao
desse recurso hdrico.
CONSIDERAES FINAIS
Neste estudo, pde-se observar que na medida em que o processo de urbanizao aumenta, traz
consigo os problemas ambientais, principalmente nas reservas de gua doce, sendo esta problemtica
considerada de grande relevncia no contexto mundial, pois em determinadas reas como no Canal Santa
Teresa j so ntidos os efeitos negativos que a ao humana est trazendo aos recursos hdricos.
Neste compasso, o Canal de Drenagem Santa Teresa, encontra-se com um nvel de degradao
ambiental manifestado por processos como: a intensa ocupao de suas margens, a retirada da mata ciliar,
a eroso do solo, o acumulo de sedimentos no fundo e o descarrego de lixo domstico e esgoto in natura

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

936
no seu leito, bem como, a poluio de suas guas que servem de abastecimento para importantes rios da
cidade.
Esses resultados tm demonstrado que em Boa Vista, a importncia ambiental e social dos
igaraps, no est sendo levada em considerao como deveria, pois na cidade crescente a existncia de
moradias ou atividades em reas imprprias, em sua grande maioria em reas inundveis, devido
abundncia e complexidade hdrica do municpio. Dessa forma, a ocupao dessas reas preocupante,
pois afeta diretamente esses cursos dgua, comprometendo a qualidade e distribuio da gua, inclusive a
qualidade de vida da populao.
Ou seja, se o processo de urbanizao irreversvel, o que se deve buscar tornar este ambiente
urbano o mais prximo possvel do ambiente natural, compatibilizando o desenvolvimento com a
conservao ambiental e proporcionando uma melhor qualidade de vida populao.
Para tanto se faz necessrio grandes investimentos, como a implantao de projetos de educao
ambiental para populao, para que se possa contribuir para formao de valores ticos voltados para
proteo desses mananciais; o envolvimento e fiscalizao do poder pblico; aes de revitalizao bem
como o controle dos processos de degradao ambiental dessas reas; aes essas, que poderiam mitigar
ou at mesmo, solucionar os problemas verificados na microbacia estudada.
REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ANDREOLI, O.; BOLLMANN, H. gua no Sistema Urbano In: ANDREOLI, C.; CARNEIRO, C. Gesto
Integrada de Mananciais de Abastecimento Eutrofizados. Curitiba: Sanepar Finep, 2005. p.85.
BASTOS, A C S.; FREITAS, AC. Agentes e Processos de interferncia, Degradao e Dano Ambiental.
In: CUNHA, S.B.; GUERRA, A.T.; Avaliao e Percia Ambiental. 7.ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006
p.18.
BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, N001/86. Disponvel em
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html Acesso em 28 de Abril 2010.
CALLISTO, M.; FERREIRA,W.R.; MORENO, P.; GLOULART, M.; PETRUCIO, M. Aplicao de um
protocolo de avaliao rpida da diversidade de habitats em atividades de ensino e pesquisa (MG-RJ). In:
Acta Limnolgica Brasilensia, Rio Claro, V. IIV N 1:, Jan/Jun de 2002. p. 91-98.
completos/eixo3/066.pdf. Acesso em 04 de Abril de 2010.
DIAS, G. F. Ecopercepo: um resultado didtico dos desafios socioambientais. So Paulo: Gaia,
2004.
FALCO, M.T.; PINHEIRO, M.N.M.; OLIVEIRA, S.K.S. A Ocupao e Crescimento irregular em Boa
Vista-RR e Suas Implicaes na Sade Ambiental: Estudo de Caso no Bairro so Bento. In: SILVA, Paulo
Rogrio; OLIVEIRA, Rafael da Silva. (Org.). Roraima 20 anos As Geografias de um novo Estado Boa Vista:
UFRR Boa Vista, 2008.
FALCO, M.T.; PINHEIRO, M.N.M.; Rodrigues, R. F.; Souza, K. J. M. A. Implicaes Ambientais
Urbanas Decorrentes das Ocupaes em Fundo de Vales: um Estudo de Caso na Microbacia do Igarap
Pricum
em
Boa
Vista/RR.
2009.
Disponvel
em:
http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/trabalhos/trabalhos_
LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrpolis:
Vozes, 2008. p. 16-20; 281.
PINHEIRO, M.N.M.; FALCO, M.T.; OLIVEIRA, S.K.S. Processos de urbanizao e mudanas na
paisagem da cidade de Boa Vista /RR. In: SILVA, Paulo Rogrio; OLIVEIRA, Rafael da Silva. (Org.). Roraima 20
anos As Geografias de um novo Estado Boa Vista: UFRR, Boa Vista, 2008
RUIVO, M, ; Uso da gua na Amaznia Fonte de Poluio, Riscos, Conseqncias e Alternativas. In:
Problemtica do uso Local e Global da gua da Amaznia. ARAGON. L.; CLSENER-GODT. M (Org), Belm:
Unesco/Brasil/ NEA/UFPA, 2003
SEMGP Secretaria Municipal de Gesto Participativa e Cidadania. Relatrio Analtico Pesquisa
Censitria. Boa Vista, 2009.
SMGAI. Secretaria Municipal de Gesto Ambiental e Assuntos Indgenas Superintendncia de
roteo Ambiental. Aspectos Fisiogrficos de Boa Vista-RR. Boa Vista, 2009. Disponvel em:
http://www.boavista.rr.gov.br/igarapecarana/ documentos/aspectos_fisiograficos.pdf. Acesso em 03 de
Maro, 2010.
Joo Pessoa, outubro de 2011

937
SOUZA, C.M, SILVA, R.G (orgs). Migrantes e Migraes em Boa Vista: Os Bairros Senador Hlio
Campos, Raiar do Sol e Cauam. Boa Vista: UFRR, 2006.
VALE, A. Migrao e Territorialidade: As Dimenses Territoriais dos Nordestinos em Boa Vista / RR.
Tese (Ps- Graduao em Geografia) - Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Estadual Presidente Prudente, 2007. p. 96- 115.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

938

ANLISE DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO LIXO, NO


MUNICPIO DE QUEIMADAS PB.
Maria Vernica de ANDRADE
Licenciada em Geografia, pela UEPB. Mestre em Manejo e Conservao do Solo e gua, pela UFPB. Doutoranda em
Recursos Naturais pela UFCG.
E-mail: veronica.geografia@gmail.com
Nathalya Marillya de Andrade SILVA
Graduanda em Cincias Biolgicas pela Universidade Estadual da Paraba.
E-mail: nathalya_marillya@hotmail.com
Flvia Morgana MONTEIRO
Graduanda em Cincias Biolgicas pela Universidade Estadual da Paraba.
E-mail: morganinha18@hotmail.com

RESUMO
O crescimento desordenado das cidades vem provocando uma srie de problemas
socioeconmicos e ambientais, dentre esses alguns problemas esto relacionados disposio inadequada
dos resduos slidos que, devido falta de alternativas polticas e tecnolgicas destinadas ao tratamento
e/ou disposio final, esto causando impactos ambientais de diferentes magnitudes. No Brasil a grande
maioria dos resduos slidos produzidos so dispostos em lixes. E isto tem como conseqncia a poluio
do ar, do solo e dos corpos aquticos, alm de contaminar a todos os tipos de seres vivos. A cidade de
Queimadas localizada na mesorregio do Agreste paraibano tem uma populao em torno de 41 mil
habitantes e produz diariamente aproximadamente 30 toneladas de resduos slidos urbanos que so
depositados em sua totalidade num lixo localizado na zona rural do municpio, denominado de Stio Z
Velho. Alm dos resduos slidos urbanos tambm so descarregados no lixo diariamente resduos slidos
industriais e hospitalares o que agrava a situao no local. Neste contexto, este trabalho teve o propsito
de avaliar o ndice do impacto ambiental causado pelo lixo da cidade de Queimadas, utilizando para tal
finalidade uma listagem de controle. Os resultados demonstraram a gravidade dos problemas causados,
visto que numa escala variando de -5 a +5, sendo que -5 atribudo ao impacto negativo mais intenso, o
ndice do impacto ambiental encontrado para o caso em estudo foi de -4,15 .
PALAVRAS-CHAVE: Degradao ambiental, resduos slidos e contaminao.
INTRODUO
Com o avano econmico e tecnolgico, o ser humano vem se desvinculando de si, dos outros
seres humanos e da prpria natureza, consequentemente acelera a degradao ambiental, fomentando a
crise em todos os aspectos.
Impacto ambiental uma alterao fsica ou funcional em qualquer um dos componentes
ambientais. Essa alterao pode ser qualificada e, muitas vezes, quantificada. Pode ser favorvel ou
desfavorvel ao ecossistema ou sociedade humana (TOMMASI, 1994, p. 12).
A resoluo n 001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) de 23/01/1986 em seu art.
1 considera impacto ambiental como qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do
meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que
direta ou indiretamente, afetam: a sade, a segurana e o bem-estar da populao; as atividades
econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; a qualidade dos recursos
ambientais.
Segundo Leite e Lopes (2000: 57), a avaliao de impacto ambiental uma atividade projetada para
identificar e predizer o impacto de dispositivos legais, polticas, programas, projetos e procedimentos
operacionais no meio biogeogrfico, na sade humana e no bem estar do cidado.
O crescimento desordenado das cidades, especialmente das grandes metrpoles, tem provocado
uma srie de problemas scio-econmicos e ambientais. Atualmente so vrias as atividades humanas que
causam impactos ambientais, dentre elas pode-se destacar a disposio inadequada dos resduos slidos
que provocam alteraes na qualidade do solo, do ar e dos corpos aquticos alm de representar um risco
para a sade pblica.
Os impactos decorrentes da falta de gesto de resduos slidos so classificados por Ferreira e
Anjos (2001: 42) em fsicos, qumicos e biolgicos. Os fsicos correspondem ao odor, mal estar, cefalia e
Joo Pessoa, outubro de 2011

939
nuseas nos trabalhadores e populaes prximas. Os qumicos referem-se aos metais pesados como
chumbo, cdmio e mercrio que podem ser incorporados cadeia alimentar e provocar vrias doenas,
especialmente, distrbios no sistema nervoso. Os biolgicos compreendem as doenas transmitidas por
vetores ou pelo contato direto com o material contaminado, os quais podem desencadear impactos sob a
sade humana (MORAES, 2007, p. 15).
Um dos problemas que mais afeta a sociedade atualmente a produo excessiva de resduos
slidos, estes quase sempre tm acondicionamento e destino inadequados. O acmulo exacerbado de
resduos slidos gerados diariamente em nosso planeta, alm do destino final incorreto prejudica o meio
ambiente e acarretam doenas que muitas vezes podem levar o indivduo morte, pois de acordo com Flor
(2000: 7), o lixo oferece gua, alimento, d condies para o desenvolvimento de vrios agentes
transmissores de doenas.
Todos estes problemas esto relacionados com a viso antropocntrica dominadora do ser
humano, isto , h a viso que o ser humano superior aos demais elementos do meio ambiente. ento,
imprescindvel a busca de alternativas, para assim vencer o desafio de criar uma sociedade sustentvel, que
observe a prudncia ecolgica.
A responsabilidade pela disposio final dos resduos slidos urbanos das prefeituras e os
resduos slidos industriais, de servios de sade e agrcola so do prprio gerador. No entanto, a grande
maioria dos resduos slidos gerados no Brasil so dispostos em lixes causando srios problemas
ambientais.
A lei n 9.605 (Lei da Natureza: lei dos crimes ambientais) de 12/02/1998 em seu art. 54 diz que
crime ambiental causar poluio de qualquer natureza em nveis tais que possam resultar em danos
sade humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruio significativa da flora. Se o
crime ocorrer por lanamento de resduos slidos, lquidos ou gasosos, ou detritos, leos ou substncias
oleosas em desacordo com as exigncias estabelecidas em leis ou regulamentos: pena de recluso de 1 a 5
anos.
A disposio dos resduos slidos em reas imprprias e sem os devidos estudos do local provoca
srios problemas ambientais, sociais (CALIJURI et al., 2007: 10) e de sade pblica (SHARHOLY et al., 2008:
11). Por favorecer a ao de microrganismos anaerbios, so gerados gases e chorume. Alguns desses
gases, alm de produzir odores indesejveis, formam parte do grupo de gases do efeito estufa,
contribuindo com o aquecimento global (CAMPOS, 2006: 17).
Apesar das leis existirem, as prprias prefeituras no as cumprem, haja visto, cerca de 80% das
mais de 100.000 toneladas de resduos slidos urbanos produzida diariamente no Brasil serem depositadas
diretamente em lixes.
A maior parte dos resduos slidos produzida no Brasil e em outros pases tem potencial para
reutilizao ou reciclagem. Este procedimento, porm, no se efetiva, refletindo-se na disposio final
inadequada e em consequentes impactos socioambientais negativos.
De acordo com os Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel publicado no Brasil, apenas 46,6%
dos resduos slidos urbanos coletados tm destinao correta. No estado da Paraba, este percentual
representa apenas 3,6% (BRASIL, 2008, p. 25).
Dos 5.566 municpios brasileiros, apenas 8,2% desenvolvem programas de coleta seletiva (RIBEIRO;
BESEN, 2007, p.21) que habitualmente, funcionam de forma ineficiente (SIMONETTO; BORENSTEIN, 2006,
p.13).
O municpio de Queimadas est localizado no Planalto da Borborema na mesorregio do agreste do
Estado da Paraba, a uma altitude mdia de 450 m, possui uma rea total de 410 km2. A cidade produz
diariamente em torno de 30 toneladas de resduos slidos urbanos que so dispostos de forma inadequada
em um lixo.
O presente trabalho teve o propsito de avaliar o ndice do impacto ambiental causado pelo lixo
da cidade de Queimadas - PB, atravs da utilizao de uma listagem de controle.
METODOLOGIA
O trabalho foi realizado no lixo de Queimadas, municpio paraibano localizado no Planalto da
Borborema, na mesorregio do Agreste Paraibano, com aproximadamente 40 mil habitantes. O lixo do

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

940
municpio est localizado na zona rural denominada de Stio Z Velho, a uma distncia de apenas de 2Km
ao norte da sede do municpio.
A avaliao do impacto ambiental foi realizada atravs da visita in locu e da utilizao do mtodo da
listagem de controle. Neste mtodo as aes efetuadas na rea do estudo so apresentadas em colunas e
as consequncias decorrentes da ao nas linhas da listagem.
Na Tabela 1 mostra-se o esquema geral de uma listagem de controle utilizada para avaliao de
impactos ambientais.
TABELA 1. Esquema geral de uma listagem de controle.
Peso
Ao
Nota
P1
ao 1
N1
P2
ao 2
N2
P3
ao 3
N3
...
...
...
Pn
ao n
Nn
De acordo com metodologia descrita por TOMMASI (1994), a cada ao foi atribuda um peso
variando de 1 a 5 de acordo com a importncia relacionada aos princpios da anlise. As conseqncias
foram atribudas notas variando de -5 a +5, sendo que -5 o valor para o impacto negativo mais intenso, 0
(zero) quando o impacto for ausente e +5 para o impacto positivo mais intenso.
As notas e os pesos foram atribudos aps visitas e anlises dos efeitos de cada ao sobre o meio
ambiente realizada in loco.
Depois de obtidos os pesos e notas, o ndice de impacto foi calculado utilizando-se a equao 1:
Equao (1), onde:
IMPACTO = ndice de impacto
PA = peso das aes
NC = nota das consequncias
O ndice de impacto um valor que se situa entre -5 e +5 obedecendo a escala descrita
anteriormente para as notas das consequncias.
RESULTADOS E DISCUSSES
O lixo do stio Z Velho est localizado a aproximadamente 2 km da sede da cidade de Queimadas,
que fica a 128 quilmetros da capital, onde so depositadas diariamente, toneladas de resduos slidos
urbanos e hospitalares, sem nenhuma preparao do local para receber este material. A coleta e o depsito
so realizados por dois caminhes e uma caamba coletora.
De acordo com a pesquisa elaborada, podemos constatar que o depsito dos resduos vem sem
nenhum pr-tratamento. um sistema de proteo bastante precrio, no existindo nenhum plano de
controle para depsito do lixo que dispem no local. At mesmo um feto morto foi encontrado pelo
catador Joselito de Jesus, na manh de quinta-feira, 12 de maio de 2011.

Figuras 1 e 2: Feto morto encontrado no lixo do Z Velho, Queimadas PB.

Joo Pessoa, outubro de 2011

941
Assim como a maioria dos municpios paraibanos, em Queimadas a produo per capita diria de
resduos slidos domiciliares variou de 0,49 a 0,54 kg/hab.dia. A maior parte destes resduos corresponde a
orgnicos (58,00 a 71,43%).
O valor mdio de produo diria de resduos slidos por habitante neste municpio situa-se na
faixa mencionada para diferentes municpios brasileiros, 0,35 a 1,22 kg/hab.dia (ATHAYDE JR. et al., 2007,
p.21). Todavia, a produo per capita nas cidades de Queimadas inferior quela informada pelos
Indicadores de Sustentabilidade para a regio Nordeste do Brasil, de 0,83kg/hab.dia (BRASIL, 2008, p.15). A
ausncia de uniformizao dos mtodos para a caracterizao gravimtrica e a caracterstica
socioeconmica dos municpios estudados, provavelmente foram os fatores determinantes das variaes
observadas em relao produo per capta de resduos slidos.
De acordo com a pesquisa em questo, foi possvel observarmos diversos impactos ocasionados
direta e indiretamente pela presena do lixo na localidade Z Velho, os quais podem destacar foram
classificados como: ambiental e socioeconmico, analisando os impactos negativos e tambm positivos,
como podem ver a seguir:
a) De mbito ambiental:
- A contaminao da gua, pois observarmos que existem dois barreiros, ambos contaminados pela
gua que escoa do lixo durante as chuvas (lixiviao). Esses reservatrios dgua j apresentam sinais de
contaminao pelo chorume produzido pela frao orgnica dos resduos slidos;

Figura 3: Lixo recobrindo o lago presente no lixo.


- A contaminao do solo, j que os resduos slidos so depositados diretamente no mesmo, sem
que haja nenhuma proteo ou tratamento;

Figura 4: Lixo depositado diretamente no solo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

942
- A emisso de partculas poluentes, por meio da queima dos resduos que no so utilizadas pelos
catadores;
- A emisso de odor, por parte da decomposio dos resduos, onde liberado o gs metano.
Outro aspecto a ser e que muitas vezes ignorado, a degradao da paisagem, que ocorre por
meio da agresso esteticamente e sofre um processo de marginalizao da rea e do entorno de forma
generalizada.
b) De mbito socioeconmico
Existem no local moradores, pessoas que no tem outra opo e que decidem morar no Lixo. So
em mdia doze famlias, entre eles encontram-se homens (em sua maioria), mulheres (tambm gestantes)
e crianas.
O nico aspecto positivo encontrado com a presena do lixo foi a gerao de renda, a qual
acontece por meio da comercializao de parte dos produtos encontrados na rea., que dependem
diretamente da renda obtida atravs do material recolhido no lixo, como podemos ver na Tabela 2:
Tabela 2: Valor mdio dos produtos comercializados pelos catadores do Lixo do Z Velho:
Produtos
Preo/Kg
Plstico fino

R$ 0,50

Garrafas PET's

R$ 0,60

Carina

R$ 0,70-1,00

Cobre

R$ 11,00

Ferro

R$ 0,15

Catemba

R$ 0,40-0,50

Estes produtos so comercializados em sucatas na cidade de Campina Grande, renda familiar que
varia entre R$ 200,00 e R$ 450,00 por quinzena; alm do frete que os mesmos tm que pagar para levar o
material s sucatas, frete este de R$ 60,00 individualmente duas vezes ao ms.
Os resduos que no aproveitado, denominados de lixo queimado, e a fumaa atinge os
moradores do outro lado da BR, prximo ao local.
As famlias de catadores moram em barracos no prprio lixo. H famlias que h 6 anos esto no
local e outras que esto h 23 anos; estes so analfabetos e analfabetos funcionais, uma minoria
desenvolveram outro tipo de atividade com carteira assinada e outros vieram de outros estados, como
Recife- PE por exemplo.
Mesmo em situao to precria, os moradores ainda criam porcos, cachorros, gatos e galinhas,
agravando ainda mais as condies sanitrias do local.
Outro agravante que os catadores que moram no lixo utilizam a gua dos barreiros, que esto
contaminadas, para higiene pessoal, cozinhar, beber, entre outros.
Outro aspecto que deve foi observado que a presena desse Lixo ocasiona um processo de
depreciao da rea e do seu entorno, com uma desvalorizao imobiliria devida o processo de
marginalizao generalizada, concepo imposta pela discriminao presente na sociedade.
No h nenhum tipo de assistncia aos moradores, nem de infraestrutura no local para diminuir os
impactos ambientais. Apenas o representante de uma igreja evanglica do Z Velho forneceu assistncia,
com a construo de um espao para realizao de cultos, e ao lado construiu uma cisterna, ainda no
acabada, mas este espao para os cultos est sendo ocupado, por uma das famlias.
Por parte do Estado, a prefeitura, rgo responsvel por esse servio, o descaso total, a Justia
Federal condenou o ex-prefeito de Queimadas (PB) Saulo Leal Ernesto de Melo por omisso administrativa
e descumprimento de acordo judicial firmado em ao civil pblica, ajuizada em 2006, para realizar
medidas emergenciais no lixo da referida cidade e construir um aterro sanitrio. E com o atual prefeito
no foi diferente a 4 Vara da Justia Federal na Paraba realizou audincia sobre o agravamento de
problemas causados pelo lixo de Queimadas (PB), foi imposta ao prefeito Jos Carlos de Sousa Rgo uma
multa diria de R$ 1 mil, a ser contada do prazo de 60 dias da intimao dele, igualmente devido ao
Joo Pessoa, outubro de 2011

943
descumprimento de medidas anteriores. Determinou-se, ainda, o bloqueio das verbas destinadas no
oramento 2009 para a realizao de publicidade, eventos e shows no municpio.
Os resduos slidos gerados no hospital da cidade e dos postos mdicos so coletados pela
prefeitura e conduzidos para o lixo. Teoricamente esses resduos deveriam ser despejados em valas
separadas e aterrados imediatamente, mas, comum presenciar no lixo material hospitalar exposto a cu
aberto. At o presente no foi possvel quantificar os resduos slidos industriais e hospitalares que so
dispostos no lixo.
Dos resduos slidos dispostos no lixo a grande maioria fica exposta a cu aberto favorecendo a
proliferao de micro e macrovetores. Esses vetores podem ser vias de acesso de agentes patognicos para
os catadores que realizam as atividades de catao sem nenhum tipo de equipamento de proteo.
A realidade que na maioria dos municpios de pequeno e mdio porte do semi-rido paraibano a
quantidade de resduos gerada significativa, principalmente em relao aos gneros orgnicos. Alm de
representar desperdcio de matria e de energia, constitui fonte potencial de contaminao e de poluio.
Este por sua vez, segundo a literatura e algumas prticas pode ser utilizado como fertilizantes ou
condicionantes do solo quando gerenciado adequadamente, o que seria uma importante estratgia
minimizao e preveno de impactos negativos.
Com base nos fatos citados anteriormente foi realizado um levantamento das aes causadas pelo
lixo ao meio ambiente e a cada uma delas foram atribudos seus respectivos pesos e notas. Na Tabela 3
mostrada a listagem de controle utilizada para avaliar os impactos ambientais causado pelo lixo da cidade
de Queimadas, PB.
Tabela 3: Listagem de controle utilizada para avaliar os impactos ambientais causados pelo lixo da
cidade de Queimadas, PB.
Peso Ao
Nota Peso x Nota
5
Exposio de resduos slidos cu aberto
-5
-25
4
Poluio de reas circunvizinhas pelos resduos
-3
-12
5
Lanamento de resduos slidos industriais
-4
-20
5
Lanamento de resduos slidos hospitalares
-5
-25
5
Lanamento de percolado
-5
-25
5
Lanamento de biogs
-5
-25
5
Fumaa produzida pela queima dos resduos
-4
-20
3
Aspectos estticos
-3
-9
4
Proliferao de microvetores
-5
-20
4
Proliferao de macrovetores
-5
-20
5
Contaminao e poluio do solo
-5
-25
5
Contaminao e poluio do ar
-5
-25
5
Contaminao e poluio dos corpos aquticos
0
0
5
Contaminao dos catadores
-5
-25
5
Gerao de renda para os catadores
+5
+25
3
Gerao de renda para o municpio
+1
+5
2
Restrio da deposio dos resduos em um nico ponto
+1
+2
75
Somatrio
-244
4,25
Na Tabela 3 esto mostrados os principais problemas ambientais identificados no local
durante o trabalho e as possveis vias de contaminao dos catadores que freqentam o lixo. E depois de
analisada pode-se observar que o ndice do impacto ambiental encontrado para o lixo da cidade de
Queimadas situou-se em torno de 4,35 numa escala que varia de 5 a +5, sendo 5 atribudo aos impactos
negativos mais intensos, amortecidos 0,20 dos impactos positivos decorrente da gerao de renda,
principalmente para as famlias envolvidas.
CONSIDERAES FINAIS
Isto vem a demonstrar a intensidade dos problemas ambientais que os resduos slidos
podem causar quando dispostos inadequadamente no meio ambiente, e que para mitigar os seus efeitos
diversas aes necessitam sem desenvolvidas, desde a conscientizao da sociedade que produzem os seus
resduos desacertadamente e o despejam sem nenhuma seleo prvia, aos catadores que os manuseiam
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

944
sem os cuidados necessrios e as prticas adequadas, at os rgos competentes que esto sendo
negligentes.
Como impacto positivo, foi possvel identificar a gerao de renda, principalmente no que
diz respeito ao sustento das famlias presentes na rea, como principal e para alguns, nica fonte de renda
para os catadores, que em sua maioria no so qualificados ou est h muito tempo fora do mercado de
trabalho.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ATHAYDE JNIOR, G. B. et al. Sobre a gerao de resduos slidos domiciliares em bairros de classe
mdia e alta de Joo Pessoa-PB. Revista de Estudos Ambientais, Joo Pessoa, v. 9, n. 2, p. 73-88, 2007.
BRASIL. Indicadores de desenvolvimento sustentvel. Saneamento ambiental, Braslia: Ministrio
das Cidades, 2008. 479p.
BRASIL. Leis, Decretos, etc. Resoluo CONAMA n 001, de 23 de janeiro de 1986. In: Dirio Oficial
da Unio. Distrito Federal, 1986.
CALIJURI, M. L. et al. Identificao de reas alternativas para disposio de resduos slidos na
regio do baixo ribeira no Iguap-SP. Revista de Engenharia Sanitria e Ambiental, Rio de Janeiro, v. 12, n.
3, p. 335-342, 2007.
CAMPOS, P. C. Meio ambiente; a sustentabilidade passa pela educao (em todos os nveis,
inclusive pela mdia). Revista em Questo, Porto Alegre, v. 12, n. 2, p. 387-419, 2006.
FERREIRA, J. A.; ANJOS, L. A. Aspectos de sade coletiva e ocupacional associados gesto dos
resduos slidos municipais. Cadernos de Sade Pblica, Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 689-696, 2001.
FLOR, Aida Maria Abrantes & SILVA, Monica Maria Pereira da & LEITE, Valderi Duarte.
Caracterizao de resduos slidos em uma escola pblica municipal da cidade de Campina Grande PB. In
Anais do 21 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitria e Ambiental. Joo Pessoa, 2001.
LEITE, V. D. & LOPES, W. S. Avaliao dos aspectos sociais, econmicos e ambientais causados pelo
lixo da cidade de Campina Grande - PB. In: IX Simpsio Luso - Brasileiro de Engenharia Sanitria e
Ambiental. Porto Seguro - Brasil, 2000, p. 1534-1540.
LOPES, Antnio Carlos Ferreira. Queimadas seu povo sua terra, 2001
MORAES, L. R. S. Acondicionamento e coleta de resduos slidos domiciliares e impactos na sade de
crianas residentes em assentamento periurbanos de Salvador, Bahia, Brasil. Caderno de Sade Pblica, Rio
de Janeiro, v. 23, suplemento 4, p. 5643-5649, 2007.
RIBEIRO, H.; BESEN, G. R. Panorama da coleta seletiva no Brasil: desafios e perspectivas e partir de
trs estudos de caso. Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente, So Paulo, v. 2,
n. 4, p. 1-6, 2007.
SCARLATO, F.C. & PONTIN, J.A.- Do nicho ao lixo: ambiente , sociedade e educao. Atual, So
Paulo, 1992.
SHARHOLY, M. et al. Municipal solid waste management in India cities - a review. Waste
Management, v. 28, n. 2, p. 459-467, 2008.
SIMONETTO, E. O.; BORENSTEIN, D. Gesto operacional da coleta seletiva de resduos slidos
urbanos; abordagem utilizando um sistema de apio deciso. Revista Gesto & Produo, So Carlos, v.
13, n. 3, p. 449-461, 2006.
TOMMASI, L. R.. Estudos de Impacto Ambiental. CETESB: Terragraph Artes e Informtica. So Paulo,
1994.

Joo Pessoa, outubro de 2011

945

OS IMPACTOS AMBIENTAIS DO LIXO NA CIDADE DE COD-MA


1

Mayara OLIVEIRA SOUSA


2
Emanuel M. SRVIO JUNIOR
C. E. Lda Tajra Tv. Mangueira Centro. CEP: 65415-000. Coroat-MA. mayaramicro@gmail.com (professora).
UESPI Rua Joo Cabral, 2231 Piraj. CEP: 64.002-150. Teresina-PI. emservio@hotmail.com (professor).

RESUMO
O municpio de Cod encontra-se situado na regio do cerrado maranhense, com populao de
118.072 habitantes. O municpio banhado por trs rios: Itapecuru, Codozinho e Saco e considerado o
maior e mais diversificado centro comercial e prestao de servios da regio. A produo de lixo nas
cidades de tal intensidade que no possvel conceber uma cidade sem considerar a problemtica gerada
pelos resduos slidos, desde a etapa da gerao at a disposio final. Este trabalho teve o objetivo de
diagnosticar os impactos ambientais negativos e positivos do lixo na cidade de Cod-MA. Iniciou-se a
investigao dos impactos ambientais do lixo com a pesquisa bibliogrfica e a reviso da literatura,
entrevistas e o tratamento dos dados coletados. Pde-se constatar que no municpio de Cod-MA o lixo
gera impactos ambientais positivos e negativos, numa proporo de 25% para os impactos positivos e 75%
para os negativos. Percebeu-se ento a ineficincia das polticas pblicas e a insipiente percepo dos
moradores da cidade quanto ao lixo. Como conseqncia temos os impactos ambientais que recomendam
uma maior valorizao da reciclagem e coleta seletiva no municpio, construo de um aterro sanitrio e
investimentos em trabalhos de educao ambiental.
Palavras-chaves: lixo, impactos ambientais, reciclagem.
1. Introduo
O municpio de Cod encontra-se situado na regio do cerrado maranhense, com uma extenso
territorial de 4.361,32 km2 e populao de 118.072 habitantes, sendo que 51,36% da populao feminina
e 48,64% masculina. O municpio foi criado atravs da Lei n 13 de 16 de abril de 1896 (IBGE, 2010).
O municpio de Cod banhado por trs rios: Itapecuru, Codozinho e Saco, que se constituem em
excelente manancial hdrico. Distingue-se a cidade alta e a cidade baixa, sendo linha divisria entre elas, o
Riacho gua Fria, hoje extinto, servindo apenas como canal para escoamentos das guas de chuvas e
dejetos humanos (Enciclopdia do Maranho Cod, 2000, p. 02). O clima predominante em Cod o
tropical mido, com precipitao pluviomtrica variando de 1.400 a 1.700 mm/ano.
O municpio apresenta, em sua cobertura vegetal, predominncia da mata dos cocais; agricultura
de subsistncia; campos cerrados com vegetao natural; cerrado e rea urbana. Esta variedade reflete, de
modo geral, aspectos sociais e econmicos para a populao que vive diretamente da agricultura, e do
extrativismo do coco babau (SOUSA, 2006 p.45).
Cod considerado o maior e mais diversificado centro comercial e prestao de servios da
regio, com um total de 572 empresas ativas sendo 37 industriais, fornecendo tambm equipamentos e
insumos agrcolas para atender o mercado interno e municpios da regio (MARANHO, 2006).
Os resduos slidos so materiais heterogneos (inertes, minerais e orgnicos) resultantes das
atividades humanas e da natureza, os quais podem ser parcialmente utilizados, gerando, entre outros
aspectos, proteo sade pblica e economia de recursos naturais. Os resduos slidos constituem
problemas sanitrios, econmico e principalmente esttico (BRASIL, 2006, p. 227).
O consumo cotidiano de produtos industrializados responsvel pela contnua produo de lixo. A
produo de lixo nas cidades de tal intensidade que no possvel conceber uma cidade sem considerar a
problemtica gerada pelos resduos slidos, desde a etapa da gerao at a disposio final. Nas cidades
brasileiras, geralmente esses resduos so destinados a cu aberto (IBGE, 2006).
Entre os impactos ambientais negativos que podem ser originados a partir do lixo urbano produzido
esto os efeitos decorrentes da prtica de disposio inadequada de resduos slidos em fundos de vale, s
margens de ruas ou cursos dgua. Essas prticas habituais podem provocar, entre outras coisas,
contaminao de corpos dgua, assoreamento, enchentes, proliferao de vetores transmissores de
doenas, tais como ces, gatos, ratos, baratas, moscas, vermes, entre outros. Some-se a isso a poluio
visual, mau cheiro e contaminao do ambiente (Mucelin & Bellini, 2006, p. 03).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

946
Devido ao fato de o lixo ser cada vez mais um instrumento gerador de impactos ambientais e da
insuficincia de dados sobre o gerenciamento dos resduos slidos urbanos da cidade de Cod-MA foi
proposto este trabalho, a fim de investigar qual o tratamento dado ao lixo no municpio e diagnosticar os
impactos ambientais dos resduos slidos urbanos.
2. Materiais e mtodos
Iniciou-se a investigao dos impactos ambientais do lixo com a pesquisa bibliogrfica e a reviso
da literatura. Em seguida realizou-se pesquisa de campo, entrevistas e o tratamento dos dados coletados,
os quais foram obtidos a partir de documentos formais e publicados sobre o municpio e dados
quantitativos dos rgos governamentais.
A pesquisa bibliogrfica e reviso da literatura foram utilizadas como referencial terico para a
elaborao do artigo.
Para coleta dos dados utilizou-se a pesquisa de campo, observao dos impactos ambientais e
formulrio de entrevista, com o qual buscou-se, construir um diagnstico dos impactos ambientais
oriundos do inadequado gerenciamento dos resduos slidos urbanos do municpio.
Assim, pde-se ento realizar a identificao dos impactos ambientais da cidade, bem como a
percepo da populao quanto ao lixo e sugerir medidas mitigadoras dos impactos negativos e
intensificao dos impactos positivos.
As fases adotadas e realizadas da coleta de dados foram:
Visitas de campo para identificao dos impactos ambientais, sendo realizadas 03 visitas ao Lixo,
para apreciao do local da disposio dos resduos slidos urbanos, 01 indstria de reciclagem FC
Oliveira, 01 empresa LIMPAMAR, responsvel pela coleta e disposio final do lixo no municpio, e 01
visita ONG Plan, para investigao sobre os trabalhos de educao ambiental que desenvolve na cidade.
Estudo e pesquisa de referenciais sobre o municpio de Cod-MA.
Estudo e pesquisa sobre o gerenciamento dos resduos slidos urbanos do municpio de Cod-MA.
Entrevistas formais com a aplicao de 30 formulrios de entrevistas.
Observao, anlise e registro dos impactos ambientais do lixo.
3. Resultados e discusso
Constatou-se que no municpio de Cod-MA o lixo gera impactos ambientais positivos e negativos,
numa proporo de 25% para os impactos positivos e 75% para os negativos.
Dentre os impactos ambientais negativos pode-se citar:
Poluio dos rios e das guas subterrneas;
Problemas de sade pblica;
Ausncia de um aterro sanitrio;
Falta da coleta seletiva do lixo;
Ausncia da percepo da populao quanto problemtica do lixo;
Ausncia de polticas pblicas efetivas quanto ao gerenciamento dos resduos slidos urbanos da
cidade.
Os impactos ambientais positivos percebidos no municpio so:
Presena de uma indstria de reciclagem na cidade;
Trabalhos de educao ambiental desenvolvidos pela ONG Plan com os catadores de lixo e
comunidade em geral do municpio.
A cidade de Cod no possui um sistema de gerenciamento dos resduos slidos urbanos
adequado. O servio de coleta do lixo no municpio terceirizado. A empresa LIMPAMAR responsvel
pela coleta e transporte dos resduos slidos at sua disposio final. So 17 caambas coletando o lixo
domstico, industrial, comercial, hospitalar, da construo civil e da limpeza pblica; e 23 carroas que
recolhem o lixo do bairro Cod Novo. A empresa que realiza a coleta no possui dados sobre a quantidade
de lixo coletada no municpio. A coleta realizada semanalmente e alguns bairros perifricos no possuem
sistema de coleta do lixo devido ao difcil acesso. O lixo coletado no separado, sendo que o lixo
hospitalar incinerado. As pessoas que recolhem o lixo da cidade no utilizam nenhum tipo de
equipamento de proteo individual. O lixo depositado em um lixo a cu aberto que fica localizado no
bairro Cod Novo, na periferia da cidade.
Joo Pessoa, outubro de 2011

947
No lixo identificou-se a presena de catadores que retiram do lixo o seu sustento. Para essas
pessoas o lixo no apenas um objeto sem utilidade, mas sim um meio de sobrevivncia. O lixo possui
uma mdia de 15 catadores. Atualmente os catadores trabalham de forma aleatria sem nenhum sistema
de cooperativa. Aps a coleta do lixo, os catadores queimam o que no pode ser recolhido para diminuir o
volume, a presena dos animais e o odor ftido dos resduos no lixo.
Os rios do municpio apresentam situaes de degradao e poluio como o caso do riacho gua
Fria, em estado de degradao, em virtude da ocupao em suas margens e da deposio de resduos
slidos urbanos e esgotos domsticos, desde a nascente at a sua foz. Tornou-se um canal de esgoto a cu
aberto, devendo ressaltar que a sua nascente encontra-se incrustada, no centro do Lixo da cidade, e que o
mesmo faz parte da bacia hidrogrfica do rio Itapecuru (Flix, 2008, p. 49).
O lixo, quando disposto de forma inadequada, pode transmitir doenas por meio de macrovetores
e reservatrio (Brasil, 2006, p. 229-230).
O municpio no possui um local de disposio dos resduos slidos urbanos adequado. Todo o lixo
da cidade depositado em um lixo a cu aberto.
De acordo com a Lei n 12.305 de 02 de agosto de 2010, art. 03, incisos VII e VIII, a destinao de
resduos inclui a reutilizao, a reciclagem, a compostagem, a recuperao e o aproveitamento energtico
ou outras destinaes admitidas pelos rgos competentes, observando normas operacionais especficas
de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e segurana e a minimizar os impactos ambientais
adversos. A disposio final ambientalmente adequada inclui a distribuio ordenada de rejeitos em
aterros, observando normas operacionais especficas de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e
segurana e a minimizar os impactos ambientais adversos.
Na cidade de Cod no se realiza a coleta seletiva do lixo. De acordo com a Lei n 12.305 de 02 de
agosto de 2010, art. 03, inciso V, com a coleta seletiva os resduos slidos so previamente segregados
conforme sua constituio ou composio.
A coleta seletiva e a reciclagem de lixo tm um papel muito importante para o meio ambiente. Por
meio delas, recuperam-se matrias-primas que, de outro modo, seriam tiradas da natureza. A ameaa de
exausto dos recursos naturais no-renovveis aumenta a necessidade de reaproveitamento dos materiais
reciclveis, que so separados na coleta seletiva de lixo (SEMA,2001 p. 24).
Por meio das entrevistas formais realizadas com 30 moradores da cidade de Cod, pessoas das
mais diversas idades e classes sociais, pde-se constatar a insipiente percepo de algumas pessoas quanto
ao problema dos resduos slidos urbanos.
Na pesquisa, questionou-se o que a palavra lixo significava para as pessoas entrevistadas. A maioria
delas respondeu ser algo que no tem mais utilidade. Outros disseram ser um conjunto de materiais com
valor econmico agregado, ou ainda, aquilo que as pessoas desejam jogar fora, algo vinculado sujeira,
imundcie, ao mau cheiro, uma sobra de material descartvel (Grfico 02).
Todas as pessoas afirmaram produzir lixo diariamente em uma mdia de 500g a 3 kg/dia, sendo
que aproximadamente 63% dessa produo de lixo seco (embalagens de papel, metal, plstico e vidro) e
36% de lixo orgnico (restos de comidas).
Os entrevistados afirmaram que o lixo no apenas uma coisa ruim, mas nenhum deles realiza a
coleta seletiva dos resduos slidos.
Quando perguntados sobre qual o melhor lugar para a disposio final do lixo, afirmaram que o lixo
deve ser reciclado ou ainda depositado no lixo ou nos aterros sanitrios. (Grfico 03).
E por ltimo, questionou-se que cor poderia representar o lixo e 53% das pessoas entrevistadas
optaram pelas cores claras e alegres representando coisas boas e/ou a preservao da natureza (verde,
colorido, branco, azul), e 47% preferiram cores escuras que representam coisas ruins, a sujeira e o mau
cheiro (preto, roxo e vermelho).
Segundo Tuan (1980 p. 26): As cores, que desempenham um papel importante nas emoes
humanas, podem constituir os primeiros smbolos do homem. Em nossa investigao, registramos uma
grande variedade de cores escolhidas pelos atores locais para simbolizar o lixo. Porm, as cores escuras
foram utilizadas para representar o lado ruim do lixo e sua problemtica, enquanto as cores claras apontam
para o lado bom, o lixo reciclvel.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

948

Grfico 02: Significado da palavra lixo para os entrevistados.


Mucelin e Bellini (2006, p. 04) enfatizam que, no contexto urbano, as condies apresentadas pelo
ambiente [...] so influenciadas, entre outros fatores, pela percepo de seus moradores, que estimulam e
engendram a imagem ambiental determinando a formao das crenas e hbitos que conformam o uso.
As atividades cotidianas condicionam o morador urbano a observar determinados fragmentos do ambiente
e no perceber situaes com graves impactos ambientais condenveis. Casos de agresses ambientais
como poluio visual e disposio inadequada de lixo refletem hbitos cotidianos em que o observador
compelido a conceber tais situaes como normais.

Grfico 03: Local adequado para disposio final do lixo.


Em trabalho feito por Mucelin e Bellini (2006, p. 09), registrou-se que 62,5% dos participantes da
pesquisa acreditavam que o aterro sanitrio era o melhor lugar para a disposio final e 23% que o lixo
deveria passar por um sistema de tratamento adequado, com o reaproveitamento dos resduos. Estes
dados indicaram que a maior parte dos atores entrevistados tem uma percepo de que o lixo produzido
pela cidade deveria ser adequadamente tratado e disposto.
No entanto, as pessoas no colaboram para que, de fato, o lixo possa ser reaproveitado e disposto
de forma adequada.

Joo Pessoa, outubro de 2011

949
O municpio de Cod-MA dispe do Plano Diretor Participativo, Projeto de Lei Complementar n 01,
de 09 de maro de 2007, considerado como instrumento principal de poltica territorial para garantir o
bem-estar de seus habitantes por meio do acesso a todos de terra urbanizada e regularizada. Esse plano
estabelece mecanismos de gesto eficazes articulando sade, meio ambiente, educao e saneamento
bsico. O que se pde observar no municpio a ineficincia desse projeto de lei. Ele no de fato
executado, como mostra o diagnstico dos impactos ambientais.
A indstria de reciclagem, instalada h trs anos no bairro Trizidela, no municpio de Cod-MA
pertence a uma empresa de produtos de limpeza. Essa indstria compra lixo reaproveitvel de cidades dos
Estados do Maranho, Piau, Cear, Par e Pernambuco. Todas as garrafas usadas para armazenar os
produtos de limpeza so reutilizadas. Na indstria de reciclagem, os materiais so separados por cores,
lavados e picotados. Depois passam por uma mquina que os transforma em fio e em seguida so
picotados e embalados. Logo aps esse processo so levados para a indstria que fabrica os produtos de
limpeza para confeco de novas garrafas a serem utilizadas posteriormente.
So 70 toneladas de lixo reciclado por ms. Todo esse material se depositado de forma irregular no
meio ambiente certamente aumentaria o risco dos lixes num Brasil, que produz mais de 240 mil
toneladas, por ano, de resduos oriundos da atividade humana.
Com a utilizao da coleta sistemtica do lixo obtm-se a reciclagem de materiais que retornam aos
consumidores como um novo produto, enviando um mnimo de lixo para os aterros e/ou lixes, poupando
os j escassos recursos da natureza (SEMA, 2001, p. 20).
A Plan uma organizao no-governamental que trabalha pela proteo contra a violncia e
abusos de todo tipo, contra a pobreza, a desigualdade e a degradao do meio ambiente, sade e
educao. Nesse contexto, a Plan desenvolve, freqentemente, trabalhos de educao ambiental no
municpio de Cod-MA, com o intuito de orientar os catadores de lixo, o poder pblico e demais moradores
da cidade, quanto aos problemas de sade e meio ambiente, advindos do gerenciamento inadequado dos
resduos slidos urbanos.
4. Concluses
Por meio da investigao sobre o gerenciamento dos resduos slidos urbanos da cidade de CodMA pde-se averiguar a presena de impactos ambientais negativos e positivos oriundos do inadequado
manuseio e destinao final do lixo. Percebe-se ento a ineficincia das polticas pblicas e a deficiente
percepo dos moradores da cidade quanto ao lixo. Como conseqncia temos os impactos ambientais que
sugerem uma maior valorizao da reciclagem e coleta seletiva no municpio, construo de um aterro
sanitrio, para disposio final adequada do lixo, efetividade das polticas pblicas de gerenciamento dos
resduos slidos e trabalhos de educao ambiental, a fim de intensificar a ainda insipiente percepo da
populao codoense quanto ao lixo e seus impactos ambientais.
5. Referncias bibliogrficas
BRASIL, Fundao Nacional de Sade. Manual de Saneamento. 4. ed. rev. Braslia: Fundao
Nacional de Sade, 2006, p. 227-230.
COD, Enciclopdia do Maranho. Revista Leia Hoje. Ano VI N 49 Ano 2000, p. 02.
FLIX, Wagno S. Pinheiro. Diagnstico scio-produtivo-econmico da comunidade de catadores de
resduos slidos do municpio de Cod-MA: um estudo de caso/Wagno S. P. Flix. Natal, RN, 2008 p. 49.
INDSTRIA DE RECICLAGEM. Meio Ambiente FC Oliveira transforma lixo em emprego.
Disponvel em: < http://www.fcoliveira.com.br/noticias/meio-ambiente-%E2%80%93-fc-oliveiratransforma-lixo-em-emprego >. Acesso em: 02 de janeiro de 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA - IBGE. Censo 2000. Indicadores de
desenvolvimento sustentvel: disposio de resduos slidos urbanos. Disponvel em: <http://
www.Ibge.gov.br>. Acesso em: 10 de janeiro de 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA IBGE. Censo demogrfico, 2010. Disponvel
em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/primeiros_dados_divulgados/index.php?uf=21. Acesso em:
10 de janeiro de 2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

950
LEI N 12.305, de 02 de agosto de 2010 sobre a Poltica Nacional de Resduos Slidos. Disponvel
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm >. Acesso em: 02 de
janeiro de 2011.
MARANHO, Secretaria de Estado e Planejamento, Oramento e Gesto. Secretaria Adjunta de
Planejamento, Coordenao, Acompanhamento e Avaliao. Superintendncia de Estudos e Pesquisas
Econmicas e Sociais. Perfil scio-econmico dos municpios do Maranho. So Luis, 2006. Disponvel em: <
http://www.seplan.ma.gov.br >. Acesso em: 27 de dezembro de 2010.
MUCELIN, C. A., BELLINI, L. M. A percepo de impactos ambientais no ecossistema urbano de
Medianeira. UTFPR, 2006 p. 03-09.
PERFEITURA MUNICIPAL DE COD. Projeto de Lei Plano Diretor Participativo. Cod-MA, 2007.
Disponvel em: <http://www.camaradecodo.ma.gov.br>. Acesso em: 04 de janeiro de 2011.
SEMA - Secretaria de Estado do Meio Ambiente (2001). Guia Pedaggico do Lixo. 2 ed. So Paulo p.
20-24.
SOUSA, Joo de Deus Lima. Cod: uma cidade para todos. Cod: Prefeitura Municipal de Cod,
2006 p. 45.
TUAN, Y. F. Topofilia: um estudo da percepo, atitudes e valores do meio ambiente. Traduo de
Lvia de Oliveira. So Paulo; Rio de Janeiro: Difel, 1980 p. 26.

Joo Pessoa, outubro de 2011

951

SUSTENTABILIDADE EM REAS DEGRADADAS: PRTICAS DE EDUCAO


AMBIENTAL PARA O SEMIRIDO
Graziela Gonalves Souza e SILVA
Universidade Estadual do Cear UECE. deli3@bol.com.br. Estudante.
Orientadora: Msc. Patrcia Vasconcelos FROTA
Universidade Estadual do Cear UECE. pfrota@unb.br. Orientadora.

RESUMO
A Educao Ambiental considerada como uma das principais ferramentas para alcance de um
desenvolvimento que possibilite a sustentabilidade do ambiente, haja vista suas prticas educativas
propiciarem uma mudana no pensamento e na postura do homem em sua relao com a natureza e com a
sociedade. Atingir a sustentabilidade ambiental e social em reas degradadas do semirido um desafio,
pois as prticas adotadas devem equilibrar a demanda e a capacidade de suporte da regio. Este trabalho
pretende apresentar o conceito de educao ambiental e enfatizar a importncia de algumas prticas
desenvolvidas em regies semiridas.
Palavras-chave: Educao Ambiental; Sustentabilidade; Semirido.
INTRODUO
O modelo de desenvolvimento hoje praticado apoiado no pressuposto fundamental de que a
natureza um objeto a ser apropriado, consumido e depois descartado. pela capacidade de realizar em
maior ou menor escala essas operaes que se costuma medir o grau de desenvolvimento de cada
sociedade. Quanto mais progride e se expande a sociedade tecnolgica, mais ntimos e exigentes se tornam
os nexos entre sociedade e a natureza. Quanto mais estreitos os vnculos entre o crescimento da populao
e a disponibilidade de recursos para satisfazer suas necessidades bsicas, mais a humanidade experimenta
os resultados desse descompasso.
A Educao Ambiental considerada como uma das principais ferramentas na luta contra a
explorao exacerbada dos recursos naturais do planeta, haja vista suas prticas educativas propiciarem
uma mudana no pensamento e na postura do homem em sua relao com a natureza e com a sociedade.
Conforme Rodriguez (2009:176), a educao ambiental surge como uma necessidade no processo
de salvar a humanidade de seu prprio desaparecimento e de ultrapassar a crise ambiental
contempornea. Esta afirmao pode soar um tanto quanto alarmista para alguns pelo fato de falar na
extino da humanidade, mas o que acontecer caso no seja revertido o quadro atual de degradao
ambiental e social. Num ritmo cada vez mais acelerado, a humanidade est destruindo a base de recursos
naturais imprescindveis sua sobrevivncia.
As reas semi-ridas so caracterizadas pelo desequilbrio entre oferta e demanda de recursos
naturais e, por condies variadas, sendo submetidas a condies particulares de clima, solo, vegetao,
relaes sociais de produo e, em conseqncia, a distintos modos de vida.
As condies de semi-aridez so uma das grandes dificuldades para a utilizao e manejo dos
recursos naturais, fato agravado pela ao antrpica que tem como resultado a eliminao da cobertura
vegetal original e perda do solo por fenmenos fsicos ou qumicos, alm de outras conseqncias que
aliadas as citadas contribuem para reduo da biodiversidade.
Com relao ao clima, o semirido pode ser caracterizado em geral como uma regio com
precipitao mdia anual, igual ou inferior a 800 mm/ano concentrado geralmente em apenas trs meses,
temperaturas mdias anuais de 23 a 28C, insolao mdia de 2800h/ano, evaporao de 2.000 mm/ano e
umidade relativa do ar mdia girando em torno de 50%. O semirido nordestino tem ainda como trao
principal as freqentes secas que tanto podem ser caracterizadas pela ausncia, escassez, pouca freqncia
e limitada quantidade, quanto pela simples m distribuio das chuvas durante o perodo do inverno.
(PARAHYBA, 2007).
EDUCAO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE
Dentro da perspectiva de que os recursos naturais so finitos e que o homem o seu principal
agente predatrio e levando em considerao tambm que o homem necessita destes recursos para
sobreviver, que se faz necessrio a atuao de uma educao que abra o caminho que possibilite um
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

952
desenvolvimento sustentvel. Segundo Jacobi (2003), isto pode acontecer atravs da funo
transformadora da educao ambiental, na qual a co-responsabilizao dos indivduos um objetivo
essencial para promover o desenvolvimento sustentvel.
A idia de sustentabilidade implica a prevalncia da premissa de que preciso definir limites s possibilidades
de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas que levem em conta a existncia de interlocutores e
participantes sociais relevantes e ativos por meio de prticas educativas e de um processo de dilogo informado, o
que refora um sentimento de co-responsabilidade e de constituio de valores ticos (JACOBI, 2003, pg. 195).

Nesta busca pela sustentabilidade ambiental, econmica e social a Educao Ambiental tem um
papel fundamental:
A educao ambiental dever ter um papel fundamental na mudana das mentalidades e na
incorporao dos fundamentos do pensamento ambientalista, como tambm do pensamento sustentabilista,
considerando a sustentabilidade como uma propriedade integradora e uma emergncia dos sistemas
ambientais e socioeconmico-culturais (RODRIGUEZ, 2009, pg. 197).
Na construo dos cenrios subjetivos para a incorporao da sustentabilidade ambiental aos
processos de desenvolvimento, a educao tem um papel protagnico (ibid, pg. 199).

Em muitos projetos de Educao Ambiental falta este carter transformador. No conseguem


transformar verdadeiramente a postura dos indivduos porque lhes falta o vis crtico. Pode-se perceber
que muitos projetos pretendem apenas amenizar a degradao da localidade na qual so implantados, algo
bem pontual. No so crticos ao ponto de promoverem a mudana dos valores, padres e costumes da
comunidade que habitam tais comunidades. Segundo Guimares (2008), ... a Educao Ambiental crtica
volta-se para uma prxis de transformaes da sociedade em busca de uma sustentabilidade calcada em
novos paradigmas (GUIMARES, 2008, pg. 83).
Ao referir-se ao uso generalizado do termo Educao Ambiental em vrios projetos e programas,
Carvalho (2005) faz um alerta para o uso ingnuo e simplista que vem sendo feito do termo:
Com freqncia se dissemina a idia simplista de que, cada vez que essas palavras quase mgicas so
mencionadas ou inseridas em um projeto ou programa de ao, imediatamente est garantido um campo de
alianas e de compreenso comuns a unir todos os educadores de boa vontade desejosos de ensinar as
pessoas a ser mais gentis e cuidadosas com a natureza. (...) A viso de EA como espao de convergncia de
boas intenes ambientais parece silenciar (...) a complexidade dos conflitos sociais que se constituem em
torno dos diferentes modos de acesso aos bens ambientais e de uso desses bens (CARVALHO, 2005, pg.
153).

Para superar esta viso distorcida da Educao Ambiental, preciso um projeto poltico-pedaggico
de uma EA crtica que poderia ser sintetizado na inteno de contribuir para uma mudana de valores e
atitudes formando um sujeito ecolgico capaz de identificar e problematizar as questes socioambientais e
agir sobre elas (CARVALHO, 2005, pg. 157).
Pinto (2004) afirma que
O Semi-rido brasileiro uma regio que guarda uma grande especificidade, expressa por sua
diversidade de paisagens, e exige conhecimentos, adoo de tecnologias e definio de prioridades
apropriadas a sua realidade, para que se alcance um nvel de desenvolvimento sustentvel suficiente que
garanta um padro de qualidade de vida a sua populao (PINTO, 2004, pg. 54)

SEMIRIDO CEARENSE: PRTICAS DE EDUCAO AMBIENTAL


A Educao Ambiental age no sentido de mudar a realidade que originam os problemas
ambientais, desta forma importante a implementao de projetos que envolvam uma educao crtica e
consistente e principalmente, que apresentem o carter transformador o que ir proporcionar uma
mudana de comportamento e perspectiva nas formas de ocupao do territrio.
Pode-se citar como experincias exitosas desenvolvidas no semi-rido brasileiro que
auxiliam na busca e alcance da sustentabilidade: o IRPAA (Instituto Regional da Pequena Agropecuria
Apropriada), na Bahia; a Escola Famlia Agrcola Dom Fragoso, em Independncia no Cear; o SERTA
(Servio de Tecnologia Alternativa), em Pernambuco; o PRODHAM (Projeto de Desenvolvimento
Hidroambiental), no Cear.
Segundo Pinto (2004), o Instituto Regional da Pequena Agropecuria Apropriada (IRPAA)
surgiu em abril de 1990 com a proposta de trabalhar a agropecuria apropriada numa pequena
Joo Pessoa, outubro de 2011

953
propriedade, ou seja, buscar um jeito apropriado de produzir no semi-rido. A seguir os passos do
desenvolvimento da proposta do IRPAA no municpio de Cura na Bahia.
Iniciando o processo de construo da proposta de convivncia com o Semi-rido, o primeiro passo
foi identificar as questes bsicas que impediam o desenvolvimento e contrapor com alternativas que fossem
apropriadas a regio. O passo seguinte foi trabalhar a metodologia de como fazer para que a famlia
absorvesse aquele conhecimento e compartilhasse com seus pares. Surgiu dai a idia de se trabalhar com
multiplicadores. Nos seus primeiros anos de existncia, o Irpaa comeou a desenvolver seu trabalho
localmente, em algumas parquias, s mantendo contato com os lavradores e criadores. [...] E, assim, o Irpaa
pode identificar o conhecimento dos lavradores e criadores e perceber o que faltava para eles aprenderem.
[...] Os anos de convivncia exclusiva com os lavradores e criadores propiciaram identificar que algumas das
praticas utilizadas pelos lavradores eram prejudiciais a natureza e, conseqentemente, a eles prprios
(PINTO, 2004, pg. 68).

Aps a realizao deste trabalho, o IRPAA iniciou a atuao na linha da Educao. Criou sua
proposta poltica-pedaggica para as escolas municipais de Cura, ampliando o alcance de sua atuao
contribuindo para o desenvolvimento no semi-rido.
Uma experincia bastante exitosa a das E.F.A.s (Escola Famlia Agrcola) que no Brasil
esto presentes em 18 estados com um total de 180 escolas. Mas como o foco deste trabalho um
municpio inserido no semi-rido brasileiro usaremos como exemplo uma E.F.A. localizado tambm neste
contexto.
A E.F.A Dom Fragoso est localizada no municpio de Independncia no estado do Cear,
mas atende jovens de municpios vizinhos. O comeo do seu processo de criao foi em novembro de 2001.
Iniciou-se a partir do sonho dos trabalhadores do campo da Diocese de Crates que reivindicaram CPT
uma formao continuada e sistematizada que lhes permitisse ter uma prtica de agricultura e pecuria
adequadas ao semi-rido. Os objetivos da E.F.A. Dom Fragoso so:
Cuidar da formao integral de adolescentes e jovens da roa para a roa; estimular a convivncia
com o semi-rido atravs de prticas apropriadas; contribuir para o desenvolvimento sustentvel do meio
rural, integrando famlias e comunidades; juntar a sabedoria prtica com a terica, criando condies aos
educandos (as) de serem protagonistas de uma nova sociedade em transformao (ARAJO, 2004, pg. 177).

A EFA adota como metodologia de ensino a Pedagogia da Alternncia que bastante eficaz.
Os educandos passam duas semanas na EFA estudando as disciplinas comuns, orando, praticando esportes,
convivendo harmoniosamente com os demais, cuidando da horta e dos animais. As outras duas semanas
passam em casa disseminando as experincias que aprendeu na EFA para os familiares e a comunidade em
que vive. Alm disto, os educandos ainda estudam, desenvolvem o plano de estudo, pesquisam, levantam
dados e problemas. A experincia tem mostrado-se como sendo bem-sucedida, pois alm de contribuir
com desenvolvimento sustentvel na regio tem contribuindo ainda para a diminuio do xodo rural. Os
jovens que estudam na EFA agora vem uma razo para permanecer no serto, pois vem que atravs de
prticas sustentveis possvel produzir no semi-rido sem esgotar seus recursos naturais.

FIGURA 01: Alunas da E.F.A. Dom Fragoso.


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

954
FONTE: JORNAL DIRIO DO NORDESTE (2006).

O SERTA (Servio de Tecnologia Alternativa) foi fundado em 1989 e uma Organizao da


Sociedade Civil de Interesse Pblico (Oscip) que tem como misso formar jovens, educadores/as e
produtores/as familiares, para atuarem na transformao das circunstncias econmicas, sociais,
ambientais, culturais e polticas, na promoo do desenvolvimento sustentvel do campo. Desde seu incio,
teve como foco o desenvolvimento e reconhecimento da importncia da agricultura familiar. O SERTA vem
contribuindo para a formao e a mobilizao das potencialidades de pessoas, das organizaes e dos
negcios. Criou condies para facilitar processos de apropriao de competncias complexas - saber ser,
saber conhecer, saber conviver e saber fazer - reunindo jovens, produtores, artistas, educadores, gestores,
conselheiros e lideranas em torno dos desafios do desenvolvimento local (SERTA, 2011).
O SERTA possui ainda a Peads (Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento
Sustentvel). A Peads trabalha simultaneamente o ensino, a pesquisa e a extenso como instrumentos de
inovao, transformao e incluso social. O processo educativo consiste em investigar as atividades
econmicas e as variveis governantes que inibem o desenvolvimento local dos territrios onde os jovens e
os
educadores
atuam
e
vivem.
uma metodologia que promove o desenvolvimento de diversas competncias atravs de aes de
sensibilizao, pesquisa, problematizao, desdobramentos e intervenes capazes de transformar a
realidade existente estimulando a autonomia e o protagonismo dos sujeitos sociais da comunidade (SERTA,
2011).

FIGURA 02: Capacitao de tcnicos.


FONTE: SERTA (2011).

FIGURA 03: Aula na Propriedade de Referncia.


FONTE: SERTA (2011).

Outra experincia interessante a do PRODHAM (Projeto de Desenvolvimento Hidroambiental),


um projeto da Secretaria de Recursos Hdricos do estado do Cear. Durante o perodo de 2001 a 2008,
foram realizados por este projeto 79 eventos de educao ambiental. Segundo Cear (2010a),
O PRODHAM tem em sua concepo o objetivo de transferir tcnicas e prticas hidroambientais s
famlias rurais do semirido cearense para a melhoria da qualidade de vida e dos recursos naturais.
Entre os componentes do PRODHAM, a educao ambiental teve papel fundamental para seu xito.
Assim, o conhecimento da natureza esteve lado a lado com as tecnologias difundidas no mbito do Projeto.
As aes do PRODHAM, focadas na educao ambiental, se propuseram a desenvolver nas
comunidades residentes nas microbacias selecionadas a conscincia e o posicionamento quanto o meio
ambiente (CEAR, 2010a, pg. 07).

Esta experincia do PRODHAM mostrou que a populao tem grande importncia no


processo de conservao dos recursos naturais. A realizao de cursos, implementando atividades de
mobilizao e capacitao de recursos humanos das associaes, com vistas a induzir pequenas iniciativas
comunitrias no domnio socioambiental e produtivo possibilitou o despertar da conscincia crtica dos

Joo Pessoa, outubro de 2011

955
tcnicos envolvidos e da comunidade local para os problemas ambientais e a procura por solues para o
mesmo (CEAR, 2010a).
CONSIDERAES FINAIS

A educao ambiental tem um sentido fundamentalmente poltico, j que visa


transformao da sociedade em busca de um presente e de um futuro melhor. uma educao
para o exerccio da cidadania, que se prope a formar cidados que adotem uma atitude
participativa e crtica nas decises que afetam a sua vida cotidiana.
Os projetos mencionados foram implantados em regies do semi-rido brasileiro, pois
existe uma latente necessidade de se conciliar produo com sustentabilidade, pois as tcnicas que
estavam sendo utilizadas configuravam-se como promotoras de degradao ambiental nestas regies.
importante a adoo destes projetos para que o pensamento da populao possa mudar, evoluir.
Para que as pessoas no se conforme com o que est posto, para que parem de procurar algo ou algum
para atribuir a culpa pela situao em que se encontram e partam para o caminho da mudana, da busca
por solues.
... essas pessoas normalmente atribuem culpa dos riscos ao governo , aos polticos, natureza ou
mesmo castigos de Deus e, sempre se julgam isentos de responsabilidade pela ocorrncia do risco, jogando
a culpa aos outros moradores, nunca a eles mesmos (XAVIER, 2099, pg. 120).
Nesse caso devero ser indicadas medidas educativas para a eliminao de certas resistncias
culturais que fazem com que os moradores de reas vulnerveis se sintam incapazes de evitar o risco,
atribuindo a responsabilidade do mesmo a terceiros: governantes, outros moradores e vontade divina
(XAVIER, 2099, pg. 135).

A sociedade, produtora de riscos, se torna crescentemente reflexiva, o que significa dizer que ela se
torna um tema e um problema. Para que estes problemas sejam superados o mundo pode contar com o
auxlio eficaz da Educao Ambiental, no a que em como um passe de mgica resolve o problema, mas a
que atravs de uma prtica crtica muda a postura dos indivduos tornando-o cidados dispostos a exercer
seus direitos e deveres em prol de uma melhoria na qualidade ambiental e nos padres de vida.
A educao ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um estimulante espao para repensar
prticas sociais e o papel dos professores como mediadores e transmissores de um conhecimento necessrio
para que os alunos adquiram uma base adequada de compreenso essencial do meio ambiente global e local,
da interdependncia dos problemas e solues e da importncia da responsabilidade de cada um para
construir uma sociedade planetria mais eqitativa e ambientalmente sustentvel (JACOBI, 2003, pg. 204).

A estratgia de desenvolvimento mais adequada atravs do dilogo entre os que possuem o


saber emprico e os que possuem o saber cientifico. na juno do conhecimento de vrios atores, que
ocupam, consomem e produzem o espao que se ter uma prtica de educao ambiental adequada s
necessidades socioambientais da regio semirida.
As prticas mencionadas assim como outras adotadas devem preconizar a importncia no
despertar da conscincia crtica dos atores envolvidos assim como a importncia do pensamento coletivo e
transformador, com a tomada de deciso de forma participativa, coletiva e contnua. O sentido de educar
ambientalmente vai alm de sensibilizar a populao. preciso incorporar questo ambiental como
prioridade no cotidiano de nossas aes. A proposta da adoo de prticas para o semiarido que antes de
tudo, elas tragam a ruptura de paradigmas, e uma educao crtica, que compreende a sociedade como um
sistema em uma realidade complexa e em transformao.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ARAJO, A. M. A. A experincia da Escola Famlia Agrcola Dom Fragoso. In: Educao no contexto
do semi-rido brasileiro / [organizadores: Angela Kster, Beatriz Helena Oliveira de Mello Mattos].
Fortaleza: Fundao Konrad Adenauer, 2004. 175-183p.
BRAGA, O. R. Educao e convivncia com o semi-rido: introduo aos fundamentos do trabalho
poltico-educativo no semi-rido brasileiro. In: Educao no contexto do semi-rido brasileiro /
[organizadores: Angela Kster, Beatriz Helena Oliveira de Mello Mattos]. Fortaleza: Fundao Konrad
Adenauer, 2004. 25-44p.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

956
CARVALHO, I. C. de M. Educao ambiental: a formao do sujeito ecolgico. 1 Ed. So Paulo:
Cortez, 2005. 258 p.
CEAR. S.R.H. Educao Ambiental para o semirido do Cear / Francisco Mavignier Cavalcante
Frana, Ana Zenaide Quezado de Figueiredo. Fortaleza: Secretaria dos Recursos Hdricos, 2010a.
____, Secretaria dos Recursos Hdricos. Programa de Ao Estadual de Combate Desertificao e
Mitigao dos Efeitos da Seca, PAE-CE, Fortaleza: Ministrio do Meio Ambiente / Secretaria dos Recursos
Hdricas, 2010b. 372p.
GUIMARES, M. Sustentabilidade e Educao Ambiental. In: GUERRA, A. J. T. G.; CUNHA, B. da C.
(orgs.). A Questo Ambiental - Diferentes Abordagens. 4 ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2008. 81-183 p.
JACOBI, P. R. Educao Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. 2003. Disponvel em:
<http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf Acessado em: 27/05/2011, s 18:53hrs>
____. Educar na sociedade de risco: o desafio de construir alternativas. 2007. Disponvel em:
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/pea/v2n2/04.pdf Acessado em: 27/05/2011, s 10:05hrs>
NASCIMENTO, F. R. do. Degradao ambiental e desertificao no Nordeste brasileiro: O contexto
da Bacia do Rio Acara. 2006. 340f. Tese (Doutorado em Geografia) Universidade Federal Fluminense,
Niteri, 2006.
____. Identificao e caracterizao de reas degradadas/desertificadas em bacia hidrogrfica:
Bacia
Hidrogrfica
do
Acara.
2010.
Disponvel
em:
<http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema3/flavio_nascimento Acessado em: 12/05/2011s 12
hrs>
PARAHYBA, R. E. R. (org.). Minerao no semirido brasileiro. Ministrio de Minas e Energia. Braslia
DF, 2009, 201 p.
PINTO, E. B. A Educao Ambiental em rea semi-rida da Bahia: uma contribuio para a gesto.
Recife: 2004. Disponvel em:<http:// http://www.irpaa.org/publicacoes/artigos/edilene-disserta-o-finaldep-sito7-1-.pdf Acessado em: 04/07/2011, s 17:40 hrs>
RODRIGUEZ, J. M. M. Educao Ambiental e desenvolvimento sustentvel: problemtica,
tendncias e desafios. / Jos Manuel Mateo Rodriguez e Edson Vicente da Silva. Fortaleza: Edies UFC,
2009. 241 p.: il.
XAVIER, H. Educao ambiental para populaes em reas de risco da natureza. In: SEABRA, G.
(org.). Educao Ambiental / Giovani Seabra (Organizador). Joo Pessoa: Editora Universitria da UFPB,
2009. 119-137p.
<http://www.serta.org.br/propostaeducacional.php Acessado em:05/07/2011, s 12:22 hrs>
<http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=347123 Acessado em: 05/07/2011, s
14:11 hrs>

Joo Pessoa, outubro de 2011

957

O GEOPROCESSAMENTO EM ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL


LIMA, Priscila Pereira Souza
Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Geoprocessamento do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia
da Paraba-IFPB
pris_psl@hotmail.com
RGO, Shirley Coutinho Alves
Graduada do Curso Superior de Tecnologia em Geoprocessamento do Instituto Federal de Educao Cincia e Tecnologia
da Paraba-IFPB
Aluna Especial do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal da Paraba-UFPB
shirley_coutinho@hotmail.com

RESUMO
As transformaes sofridas pelo meio ambiente em conseqncia da ao humana no nosso
planeta tm ganhado destaque nas ultimas dcadas e necessitam ser compreendidas e diagnosticadas. O
desenvolvimento de ferramentas que proporcionem a compreenso e o inter-relacionamento dos impactos
ambientais ocorridos no nosso territrio so informaes essencialmente necessrias para o planejamento
ambiental. O geoprocessamento tem subsidiado estudos ambientais, auxiliando na compreenso dos
fenmenos ocorridos no meio ambiente e suas implicaes. O objetivo do presente trabalho
proporcionar o conhecimento de algumas contribuies de geotecnologias em estudos ambientais, com o
intuito de disseminar informaes e tecnologias que ajudem na preservao do meio ambiente.
Palavras Chaves: Preservao, Impacto Ambiental e Geoprocessamento
ABSTRACT
The transformations suffered by the environment as a result of human activity on our planet have
gained prominence in recent decades and need to be understood and diagnosed. The development of tools
that provide understanding and interrelationship of environmental impacts occurring in our territory are
essentially necessary information for environmental planning. The geoprocessing has supported
environmental studies, aiding in understanding the phenomena occurring in the environment and its
implications. The objective of this study is to provide knowledge of some geotechnologies contributions in
environmental studies with the aim of disseminating information and technologies that help the
preservation of the environment.
Keywords: Conservation, Environmental Impact and Geoprocessing
INTRODUO
As modificaes no meio ambiente decorrentes das aes antrpicas indiscriminadas, afetaram o
cenrio natural trazendo conseqncias para atuais e futuras geraes. Muitas destas modificaes
aconteceram sem o equilbrio necessrio entre o homem e a natureza, provocando assim problemas
ambientais cada vez mais graves. O desequilbrio ecolgico implica, dentre outros fatores, na destruio da
biodiversidade, no progresso dos processos de eroso, assoreamento de rios e lagos, enchentes e elevao
das temperaturas locais e regionais.
No podemos deixar de fazer analogias entre a conquista do espao pelo espao, em busca
ilimitada pelo crescimento econmico e o desequilbrio ecolgico em escala global. A falta de planejamento
ou ineficincia do mesmo, no desenvolvimento da humanidade compromete no s a qualidade de vida de
uma populao, mas tambm a sua subsistncia, colocando o Planeta Terra como alvo de ns mesmos, pois
todas as aes provocam ou viro a provocar reaes ao prprio homem. Deste modo, faz-se necessrio a
criao de mecanismos de controle e gerenciamento das atividades humanas, a fim de minimizar seus
efeitos para o meio ambiente (GIOVANI, 2011).
Uma ferramenta que vem sendo usada com xito em vrias reas do conhecimento o
geoprocessamento, ressaltando as contribuies em estudos no meio ambiente, destinando-se a tratar os
problemas ambientais levando em considerao a localizao, a extenso e as relaes espaciais dos
fenmenos analisados, visando a contribuio para a sua presente explicao e para o acompanhamento
de sua evoluo passada e futura (XAVIER-DA-SILVA, 2004, p.48).
Segundo Cmara (2001), o geoprocessamento a rea de conhecimento que utiliza tcnicas
matemticas e computacionais para o tratamento da informao geogrfica e que vem influenciando de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

958
maneira crescente as reas de Cartografia, Anlise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicaes,
Energia e Planejamento Urbano e Regional.
Estudos Ambientais esto utilizando cada vez mais tcnicas de sensoriamento remoto e Sistemas
de Informaes Geogrficas, levando em considerao a facilidade da representao da espacialidade
cartogrfica do fenmeno analisado e a integrao dos dados pelo mapeamento temtico. O potencial de
informaes que podem ser abstradas dessa anlise torna-se cada vez mais uma prtica imprescindvel
para os estudos dessa natureza, tendo em vista a necessidade de monitoramento de reas que esto
sujeitas as constantes intervenes humanas. (RAMALHO, 2002)
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho proporcionar o conhecimento de algumas
contribuies do uso de tcnicas de geoprocessamento em estudos ambientais, com o intuito de
disseminar informaes e tecnologias que ajudem na preservao do meio ambiente. O material utilizado
para esse estudo baseia-se em artigos, livros, teses e material disposto em meio digital.
GEOPROCESSAMENTO NO CONTEXTO AMBIENTAL
Atualmente observa-se que o crescimento populacional acarreta em uma dinmica urbana de
ocupao bastante expressiva, ao ponto que o meio ambiente vem sofrendo grandes alteraes. reas
destinadas proteo e ao uso sustentvel vm sendo invadidas por esta dinmica de crescimento, que
tem por base pensamentos arcaico de progresso. (LIMA, 2009)
No contexto de desenvolvimento, o mundo criou mitos em relao a sua forma de progredir.
Segundo Young (2004), reas de florestas eram vistas como uma fonte de crescimento no pela riqueza de
sua vegetao, mas pela imensa rea que se escondia em meio ao verde. Ento essas reas deveriam ser
desmatadas.
Nesta tica a degradao ambiental tornou-se inevitvel, pois os argumentos para o incio do
desmatamento eram o crescimento demogrfico nas reas rurais, desenvolvimento da economia, gerao
de emprego e garantia de melhores condies de vida da populao. Tais argumentos, esto ligados a uma
viso histrica de que a perda de reas florestadas inerente ocupao territorial e ao modo de
produo estabelecidos no Brasil rural desde a era colonial (YOUNG, 2004).
O inchao das reas urbanas tornou-se eminente, assim como o desflorestamento da Mata
Atlntica, presente em grande parte das cidades da regio litornea do Brasil (YOUNG, 2004). O aumento
da populao, relacionado ao crescimento acelerado das cidades, fez aumentar a criminalidade e a
pobreza, bem como problemas ambientais de ordem pblica: poluio de rios, aumento na produo de
lixo, contaminao do solo e desapropriao de reas destinadas preservao.
Desta forma, a necessidade de gerenciar o meio ambiente de forma a atender tanto os anseios da
populao, quanto s reas propcias proteo torna-se cada vez mais urgente, [...], pois no possvel se
pensar em ambientes intocveis e sim em ambientes que sejam utilizados sustentavelmente [...]
(SERVILHA, 2006)
A expresso Desenvolvimento Sustentvel usualmente nova, e entende-se que o
desenvolvimento que atende s necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as
geraes futuras atenderem s suas prprias necessidades (CMMAD, 1988).
A falta de um desenvolvimento com viso de sustentabilidade entre o homem e a natureza acarreta
impactos ambientais, prejudicando a qualidade de vida do ser humano e de todas as espcies viventes na
Terra.
Considera-se impacto ambiental qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas
do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante de atividades humanas
que, direta ou indiretamente, afetam: a sade, a segurana e o bem-estar da populao; as atividades
sociais e econmicas; a biota; as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; a qualidade dos
recursos ambientais. (CONAMA, 1996)
O padro de consumo do ser humano tem se acentuado cada vez mais. A necessidade de comprar,
consumir, ter e reter algo extremamente presente em pases desenvolvidos e em desenvolvimento, como
o Brasil. No Estado da Paraba, principalmente na capital do Joo Pessoa, observa-se a dinmica do
mercado imobilirio, que busca padres internacionais em suas construes, para atrair um pblico
interessado em uma melhor qualidade de vida.

Joo Pessoa, outubro de 2011

959
Com isso, reas verdes e, em especial, as prximas ao litoral so alvos dos sonhos de se viver bem
em cidades urbanizadas, onde se concentra predominantemente a populao de renda mais elevada. No
entanto, essas reas so tratadas apenas como uma forma de desenvolvimento econmico, onde os
impactos ambientais no so levados em considerao na maioria das vezes.
O desmatamento um dos impactos ambientais mais presentes na atualidade. Dele surgem outros
problemas de ordem ambiental e, por consequncia, de ordem social. De acordo com Silva, (2009) apud
Lopes (?) A primeira conseqncia do desmatamento a destruio da biodiversidade, como resultado da
diminuio ou, muitas vezes, da extino de espcies vegetais e animais. [...].
O desmatamento tambm agrava o processo erosivo natural. De forma natural a eroso
absorvida pelos ecossistemas sem nenhum tipo de desequilbrio. A vegetao uma protetora do solo,
reduzindo a ao da chuva sobre o mesmo. Mas o que ocorre a retirada da cobertura vegetal para
atividades humanas indiscriminadas, tornando o solo vulnervel ao impacto da chuva. Como consequncia,
rios so assoreados, o solo passa por um processo de empobrecimento, favorecendo enchentes e
deslizamentos (SILVA, 2009)
Nesta realidade o geoprocessamento, sendo uma tecnologia transdisciplinar, que, atravs da
sistemtica da localizao e do processamento de dados geogrficos, integra vrias disciplinas,
equipamentos, programas, processos, entidades, dados, metodologias e pessoas para coleta, tratamento,
anlise e apresentao de informaes associadas a mapas digitais georreferenciados (ROCHA, C., 2007),
apresenta-se como tecnologia de extrema importncia, tendo em vista sua abrangncia.
A difuso desta tecnologia vem ganhando espao medida que a cincia na rea tecnolgica
avana. As primeiras tentativas de automatizar parte do processamento de dados com caractersticas
espaciais aconteceram na Inglaterra e nos Estados Unidos, nos anos 50,com o objetivo principal de reduzir
os custos de produo e manuteno de mapas, fazendo surgir vrias ferramentas para a captura,
armazenamento, processamento e apresentao de informaes espaciais georreferenciadas retiradas
desses dados.
Informaes georreferenciadas permitem-nos realizar investigaes que nos oferece produtos
digitais bsicos aplicados para as anlises de cada situao, seja ambiental ou urbana, [...] uma vez que o
espao geogrfico um ambiente produzido pela relao sociedade/natureza, tendo como funo
transformar materiais disponveis na superfcie terrestre em recursos (COSTA, 2003).
Essa relao da tecnologia de geoprocessamento e o meio ambiente vm da tentativa do homem enquanto ser social, que interfere na paisagem natural criando novas situaes ao reordenar o espao,
alterando assim o equilbrio da natureza que no esttica e sim dinmica - de criar solues para as
causas de suas aes, que interfere nocivamente no curso natural de sua vida, de forma a provocar
consequncias desastrosas, que implicam muitas vezes em perdas humanas e de patrimnio (SILVA, 2009)
SENSORIAMENTO REMOTO E SISTEMAS DE INFORMAES GEOGRFICAS EM ESTUDOS
AMBIENTAIS
Para Novo (2008), o sensoriamento remoto pode ser entendido como a utilizao conjunta de
sensores e equipamentos para a transmisso e processamentos de dados com o objetivo de estudar
eventos, fenmenos e processos que ocorrem na superfcie do planeta Terra a partir do registro e da
anlise das interaes entre a radiao eletromagntica e as substncias que o compem em suas mais
diversas manifestaes.
A tcnica permite analisar diferentes alvos a partir da energia eletromagntica emitida ou refletida
por eles, captada por diferentes sensores que operam em diferentes comprimentos de onda (faixas
espectrais) e em diferentes plataformas (NOVO,2008). O comportamento espectral relaciona a energia
refletida, absorvida e transmitida por um determinado objeto e varia de acordo com o alvo analisado. Os
principais alvos estudados em comportamento espectral so: vegetao, solo e gua (RODRIGUES, 2000).
Os produtos de sensoriamento remoto possibilitam o estudo e o monitoramento de fenmenos
naturais dinmicos do meio ambiente (eroso do solo, inundao, vulcanismo, etc.) e antrpicos como o
desmatamento, por exemplo. Fenmenos como estes modificam a paisagem, de tal forma, que so
captados pelas imagens de sensores remotos.
A utilizao de imagens de satlites torna possvel a identificao, o clculo e o monitoramento de
reas desmatadas, atingidas pelas queimadas, reas impermeabilizadas, reas em processo de eroso e
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

960
reas inundadas, pois essas imagens proporcionam uma viso de conjunto (sinptica) e multitemporal (de
dinmica), facilitando, assim, as anlises dessas reas.
O desenvolvimento dos produtos de sensoriamento remoto e suas anlises em sistemas de
informao geogrfica fornecem subsdios para o estudo de diferentes ambientes (Semirido, Amaznia,
Pantanal, Mata Atlntica, por exemplo). A compreenso dos processos que atuam para a formao das
paisagens dentro desses ambientes, evidenciada basicamente pelo comportamento da vegetao e a
utilizao do solo, e necessitam desses produtos e anlises para uma avaliao mais precisa (RODRIGUES,
2000).
O termo Sistemas de Informao Geogrfica (SIG) aplicado para sistemas que realizam o
tratamento computacional de dados geogrficos e recuperam informaes no apenas com base em suas
caractersticas alfanumricas, mas tambm atravs de sua localizao espacial. (CMARA, 2002)
As imagens de satlite, juntamente com os sistemas de informaes geogrficas podem realizar
diferentes anlises atravs de camadas de informaes que podem ser geradas e integradas a partir de
imagens orbitais e fotografias areas visando o planejamento e gerenciamento ambiental, viabilizando
estudos que determinem a administrao de recursos para remediar problemas ou preservar do meio
ambiente.
CONSIDERAES FINAIS
Nos ltimos anos podemos observar uma disseminao das geotecnologias no Brasil,
principalmente no que diz respeito utilizao de produtos de Sensoriamento Remoto e Sistemas de
Informaes Geogrficas. Estudos significativos esto sendo desenvolvidos utilizando ferramentas de
geoprocessamento para estudos de impacto ambiental, comprovando o potencial de informaes que
podem ser abstradas com a utilizao de geotecnologias em anlises do meio ambiente. Muitos trabalhos
podem ser encontrados em sites da internet, ratificando os benefcios de sua aplicao na preservao
ambiental.
O grande potencial do uso de geotecnologias para elaborao de mapeamentos e diagnstico
ambiental, est ligado ao uso de suas ferramentas de grande utilidade e eficincia, a fim de subsidiar
atividades de planejamento territorial que visem adequao do uso do solo.
Durante todo o trabalho, procurou-se mostrar que h uma tecnologia que pode garantir um
monitoramento sistemtico e confivel dos recursos naturais ou do que sobrou deles. O que torna essa
ferramenta ainda mais importante e vital para a preservao do que ainda existe no planeta terra.
O Geoprocessamento se constitui numa tecnologia e ao mesmo tempo numa estratgia vivel e
fundamental para a resoluo das questes ambientais. Contudo factvel que a tecnologia sozinha no
provoca nenhuma transformao, ela apenas o instrumento a ferramenta para a transformao que se
comprovam necessria ao estabelecimento de um desenvolvimento sustentvel. A ao vir por meio de
polticas publicas que sero subsidiadas pelas informaes e dados obtidos pelas ferramentas dessa
tecnologia, mas imprescindvel que se diga aqui que polticas pblicas e a vontade polticas dos rgos
federais, estaduais e municipais que faro dessa to importante ferramenta uma ferramenta vivel a
execuo de objetivos de longo prazo, ou apenas ser mais uma tecnologia desenvolvida, como tantas
outras.
5-BIBLIOGRAFIA
BRASIL. CONAMA n. 001, de 23 de janeiro de 1986.
CMARA ,Gilberto ; DAVIS, Clodoveu ; MONTEIRO, A M V.Introduo Cincia da Geoinformao.
INPE So Jos dos Campos, 2001.
CMARA, G. MONTEIRO, A.M. DRUCK S.F. CARVALHO, M.S. Anlise Espacial e Geoprocessamento.
So Jos dos Campos. INPE. 2002. 27p.
CMMAD (Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso Futuro Comum. Rio
de Janeiro: FGV, 1988.
COSTA, R A. O Estudo Geomorfolgico como Subsdio ao Ordenamento Territorial. In: Simpsio
Regional de Geografia Perspectiva para o cerrado no sculo XXI, 2., 2003, Uberlndia. Anais. Uberlndia:
UFU, 2003.

Joo Pessoa, outubro de 2011

961
FLORENZANO, T G. Imagens de Satlite para Estudos Ambientais. So Paulo: Oficina de Textos,
2002.
GIOVANI,J. S. Geoprocessamento Aplicado no Diagnostico do Meio Ambiente. Monografia (Curso
superior-tcnologia em geoprocessamento) Universidade Federal de Santa Maria Colegio Politcnico- Santa
Maria, RS, Brasil 2011.
LIMA, M. N. S. Conflitos de uso do solo da rea de Proteo Ambiental Tambaba - PB: o
caso dos loteamentos urbanos. Monografia-(Curso Superior de Tcnologia em geoprocessamento)

Instituto Federal de Educao de Educao Cincia e Tecnologia da Paraba-2009.


LUBENOW, AUGUSTO TOMAZZONI; FILHO, PAULO COSTA DE OLIVEIRA. Aplicaes de Tcnicas de
Geoprocessamento em Estudos de Uso e Ocupao da Terra em Bacias Hidrogrficas- Anais VII Semana de
Engenharia Ambiental 01 a 04 de junho 2009 Campus Irati.
LOPES,
R
B.
Meio
Ambiente.
Disponvel
em:
<pessoal.educacional.com.br/up/4770001/1306260/t137.asp>. Acessado em: 10 dez. 2010.
NOVO, E. M. L. de Moraes. Sensoriamento Remoto - Principios e aplicaes. So Paulo,
Bucher,2008. p363.
ROCHA, C H B. Geoprocessamento: Tecnologia Transdisciplinar. 3. ed. Juiz de Fora: UFJF, 2007.
SENA, J N. O Uso de Sistema de Informao Geogrfica na Avaliao de Diferentes Alternativas de
Gerao de Cartas de Suscetibilidade Eroso. Dissertao (mestrado) Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. rea de conhecimento: Recursos Hdricos e Tecnologias
Ambientais, 2008.
SERVILHA, E R; RUTKOWSKI, E W; DEMANTOVA, G C. Conflitos na Proteo Legal das reas de
Preservao Permanentes Urbanas. In: Seminrio do Laboratrio Fluxus FEC, 1., 2006, So Paulo. Anais
eletrnicos...
So
Paulo:
UNICAMP,
2006.
Disponvel
em:
<www.cori.unicamp.br/.../CONFLITOS%20NA%20PROTEcaO%20LEGAL%20...>. Acesso: 13 julho. 2011.
SILVA, A B. Sistemas de Informaes Geo-Referenciadas: conceitos e fundamentos. Campinas:
Editora UNICAMP, 2003.
SILVA, J X; ZAINDAN, R T. Geoprocessamento e Anlise Ambiental: Aplicaes. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2004.
YOUNG, C E F. Desenvolvimento e meio ambiente: uma falsa incompatibilidade. Revista Cincia
Hoje. V. 36, N. 211. So Paulo: SBPC. Dez. 2004, p. 30 - 34.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

962

CONTRIBUIO DO AGENTE ANTRPICO NO ASSOREAMENTO DO RIO


ARAAGI, CIDADE DE CUITEGI/PB
SOUZA, Ramon Santos
Aluno do curso de Geografia da UEPB/CH/DG
ramongeography@gmail.com
TUMA, Lanusse Salim Rocha
Profo. Dr. UEPB/CH/DG/Grupo de Pesquisa Terra
lanussetuma@yahoo.com.br
VILAR, Maria Juliana Leopoldina
Profa. Esp. UEPB/CH/DG e IFPB
julianalspd@yahoo.com.br

RESUMO
A urbanizao, atividades industrial e agropecuria sem planejamento e estratgias preventivas de
proteo ambiental podem originar e acelerar diversos impactos no meio fsico entre eles o assoreamento,
que se refere ao processo de obstruo de um rio, canal, esturio ou qualquer corpo dgua, pelo acmulo
de partculas inorgnicas (areia, argila etc.) ou orgnicas (restos de vegetais e animais), ocasionado por
perda da velocidade da correnteza devido, principalmente, pela retirada da mata ciliar. O objetivo central
desta pesquisa, que se desenvolve de forma voluntria, visa analisar o patamar de assoreamento do rio
Araagi resultante da ao antrpica. A rea de pesquisa localiza-se na Mesorregio do Agreste,
pertencente Unidade Geoambiental do Planalto da Borborema, com um relevo acidentado, contendo
vales profundos, estreitos e bastante dissecados, recortado por cursos perenes, porm de pequena vazo e
que tem por principal corpo dgua o rio Araagi, afluente da Bacia Hidrogrfica do Mamanguape. Entre as
diretrizes metodolgicas adotadas nesta pesquisa esto: reviso bibliogrfica, trabalhos de campo,
registros fotogrficos e complementados com anlise ttil-visual dos sedimentos de corrente. Como a
pesquisa est em andamento, diz-se previamente que o rio Araagi apresenta uma expressiva ao
antrpica na extrao de areia para construo civil, j a degradao ambiental frequente na rea como
um todo visto o tipo de destinao final dos dejetos e resduos slidos; o desmatamento da mata ciliar
resulta da agricultura intensiva e criao de animais sunos, caprinos e equinos nas margens do curso fluvial
aumentando ainda mais a problemtica fsica e ambiental. Almeja-se ao final desta pesquisa, que
continuar em andamento, aprofundar a questo do desmatamento, os impactos adversos observados e o
tipo de parcelamento do uso e ocupao do solo na rea.
Palavras-chave: Assoreamento, impactos, planejamento.
ABSTRACT
Urbanization, industrial and agricultural activities without planning and preventive strategies can
lead to environmental protection and accelerate various impacts on wildlife including the silting, which
refers to the process of obstruction of a river, canal, estuary or any water body, by the accumulation of
inorganic particles (sand, clay etc.) on the other hand, organic (remains of plants and animals, etc) caused
by loss of speed of the current mainly due to the removal of riparian vegetation. The goal of this research is
to analyze the level of siltation of the river Araagi resulting from human activities. The study area is
located in the Greater Region of the Wasteland, belonging to the unit Geoenvironmental Borborema
Plateau, with an emphasis busy containing deep valleys, narrow and much dissected, cut by perennial
courses, but small flow and main water body of Araagi the river water, a tributary of the river Basin
Mamanguape. Among the methodological guidelines are adopted in this research: literature review,
fieldwork, photographic records, complemented by visual-tactile examination of the sediment supply. As
research is ongoing, it is said previously that the river presents a significant Araagi human action in the
extraction of sand for construction, environmental degradation is already common in the area as a whole
since the type of waste and final disposal of solid waste, and deforestation of the riparian forest results
from intensive farming and breeding pigs, goats and horses on the banks of river course further increasing
physical environmental issues. One hopes the end of this research extend the issue of deforestation, the
adverse effects observed and the type of parceling of land use and soil in the area.
Key-words: sedimentation, impacts, planning.

Joo Pessoa, outubro de 2011

963
1. INTRODUO
O homem desde seu surgimento assumiu o papel de agente geolgico-geomorfolgico no processo
de alterao dos componentes da superfcie terrestre. O agente antrpico distinguiu-se por sua dinmica
populacional e produtiva, expressa na maioria das cidades brasileiras, geralmente desrespeitando o meio
fsico ao ocupar as encostas de rios que pertencem rea de Preservao Permanente (APP) para
urbanizar, cultivar e depositar seus rejeitos, fatores que acarretam o crescimento dos riscos geolgicos.
Nas encostas de bacias hidrogrficas, geralmente, so cultivadas monoculturas, como cana-deacar e produes agropastoris atravs de mtodos de manejo imprprio do solo, que aumentam a rea
desmatada da bacia de drenagem e acarretando maior transporte de carga sedimentar para os corpos
fluviais. Quando essas reas so reflorestadas com vegetaes exticas invasoras (p. ex. eucaliptos),
surgem efeitos que contribuem para diversos impactos ambientais sobre o sistema fluvial, com nfase na
intensificao do processo natural de assoreamento em rios e crregos.
O municpio de Cuitegi, rea de estudo desta pesquisa, est localizado na Microrregio de
Guarabira e na Mesorregio do Agreste Paraibano, cujo principal curso fluvial o rio Araagi afluente da
Bacia do rio Mamanguape, e encontra-se inserido na Unidade Geoambiental do Planalto da Borborema que
formada por macios e outeiros altos, com altitudes variando entre 650 a 1000 metros. Ocupa uma rea
de arco que se estende do sul de Alagoas at o Rio Grande do Norte. O relevo geralmente movimentado,
com vales profundos e estreitos dissecados. (CPRM, 2005)
Os sistemas naturais da terra, em destaque o fluvial, so autorreguladores, porm as atividades
desencadeadas pelo homem usualmente ocasionam alguma tragdia ambiental, devido o grau de energia
lanado sobre esse geosistema que podem desencadear danos socioeconmicos e at mesmo chegar
mortandade de grupos populacionais destas reas.
Christofoletti (1980) menciona que o estado de estabilidade atingido quando h equacionamento
entre a importao, exportao de energia e matria atravs do sistema, exprimindo-se por meio do ajuste
das formas do prprio sistema. Nesse estgio, o sistema autorregulador e qualquer alterao nas
condies ambientais resulta em modificao compensatria por parte do sistema.
O estudo da participao do homem como agente intensificador no assoreamento do rio Araagi,
traz tambm uma rpida abordagem em alguns tpicos deste artigo da possvel potencialidade quanto a
riscos geolgicos acarretados pelo aumento da deposio de sedimentos, tal como a possibilidade de
transbordamento e enchentes que provocam grandes prejuzos materiais para os moradores ribeirinhos.
O objetivo proposto nesta pesquisa de iniciao cientfica voluntria visa analisar a contribuio da
ao antrpica para o patamar de assoreamento do rio Araagi nos limites territoriais da cidade de Cuitegi.
2. FUNDAMENTAO TERICA
Segundo Teixeira (2000), os rios dados a sua capacidade de eroso, transporte e deposio, so os
principais agentes de transformao da paisagem, agindo continuamente no modelado do relevo. So
importantes para a atividade humana, seja como vias de transporte de fontes de energia hidreltrica e de
gua potvel, seja como supridores de recursos alimentares atravs da pesca e da gua para irrigao.
Alm disso, a existncia de terras frteis nas plancies de inundao situadas s suas margens permite o
cultivo em larga escala.
Para Bloom (1996) os rios carregam sua carga de sedimentos intemperizados de trs maneiras
diferentes. Algumas partculas145 so to pequenas que se conservam em suspenso pelo fluxo de gua
turbulenta. Estas partculas constituem a carga de sedimentos em suspenso146. Partculas maiores, do
tamanho de areia147 e cascalho, ou pesados fragmentos de rocha, rolam, deslizam ou saltam ao longo do
leito do curso fluvial, e eles formam a carga do leito148 do rio. Os constituintes intemperizados das rochas,
145

BLOOM, A. L. Superfcie da Terra, 1970 p. 77: Silte e argila, coletivamente chamados de lama, quando
midas, e poeira, quando secas.
146
CARVALHO, N O. Hidrossedimentologia Prtica, 2008 p. 539: Sedimentos que suportado por componentes
ascendentes de correntes turbulentas e que permanece em suspeno por aprecivel durao de tempo.
147
________, N. O. Hidrossedimentologia Prtica, 2008 p. 537: [...] de acordo com ABNT, so partculas com
a granulometria compreendida entre 0,05 a 4,8 mm.
148
________. Hidrossedimentologia Prtica, 2008 p. 538: sedimentos que movem por salto, rolando
deslizando, sobre ou prximo ao leito do curso dgua.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

964
que so transportados em soluo qumica, perfazem a carga dissolvida. Esses processos podem gerar a
sedimentao.
O assoreamento149, segundo Cabral (2005), o principal fator que afeta o curso fluvial implicando
na diminuio do volume hdrico, tendo como causa principal a gua da chuva que transportam sedimentos
em suspenso ou diluio e que so retirados atravs da sedimentao e pelo atrito com a superfcie de
fundo. Esses sedimentos so originados do solo exposto e ocasionam o aumento da bacia de drenagem
devido retirada da vegetao e esgotamento do mesmo pelo uso inadequado, ocasionado nos canais
fluviais.
Conforme Guerra e Maral (2006), apesar de no ser percebida, essa feio erosiva tem sria
repercusso porque, alm de reduzir a produtividade na agricultura, os materiais erodidos podem ser
transportados para rios, lagos e reservatrios, causando o assoreamento e, muitas vezes a poluio desses
corpos lquidos, quando doses elevadas de agrotxicos so utilizadas.
De acordo com Cunha e Guerra (2000), a ocupao desordenada do solo em bacias hidrogrficas,
com rpidas mudanas decorrentes das polticas e dos incentivos governamentais, agrava seus
desequilbrios. Dentre as atividades que causam degradao podem ser citadas: as prticas agrcolas,
desmatamento, minerao, superpastoreiro e urbanizao. O mau uso da terra, mecanizao intensa,
monocultura, descalamento e corte das encostas150 para a construo de casas, prdios e ruas so
exemplos de atividades humanas que desestabilizam as encostas e promovem ravinas151, voorocas152 e
movimentos de massas.
J para Cunha e Guerra (2003), os desmatamentos indevidos, no controlados pela legislao, e o
crescimento de reas urbanas sem as necessrias condies de manuteno de reas verdes, para permitir
o equilbrio do ciclo hidrolgico, sem as mnimas condies de saneamento (resduos slidos, sedimentos e
esgotos), alm das extremas mudanas no uso do solo tm influenciado nas alteraes da dinmica fluvial,
fornecendo maior volume de vazo e/ou carga excessiva de sedimentos para os rios e canais aumentando
as condies ao assoreamento.
3. PROCEDIMENTOS TERICO-METODOLGICOS
O direcionamento metodolgico utilizado nesta pesquisa baseado nos procedimentos e mtodos
indicados por Jatob e Lins (2003), onde afirma que o trabalho geogrfico deve ser realizado em dois
aspectos: gabinete e campo. Para o trabalho de gabinete que precede a fase de campo este deve abranger
uma ampla reviso bibliogrfica, levantamento do material cartogrfico disponvel, anlise do material
cartogrfico levantado e esboo de um roteiro para pesquisa in loco.
A pesquisa bibliogrfica consolidou-se no embasamento terico dos seguintes autores:
CHRISTOFOLETTI (1980), BLOOM (1996), CARVALHO (2008), CUNHA e GUERRA (2003) dentre outros. Estes
autores foram importantes para o entendimento da dinmica fluvial e a atividade antrpica para alteraes
destes corpos.
O arcabouo cartogrfico desta pesquisa constitui-se em mapas e cartas fornecidos pela Agncia
Executiva de Gesto das guas do Estado da Paraba (AESA) e Companhia de Pesquisa dos Recursos
Minerais (CPRM), que sistematiza as seguintes feies: o nvel de ocupao antrpica e os riscos de
poluio no estado da Paraba; geologia e geomorfologia da regio; rea de abrangncia da bacia
hidrogrfica do rio Mamanguape e seu afluente o rio Araagi. Esses materiais foram importantes para
demarcao dos pontos visitados e para a implantao do roteiro da pesquisa de campo (Fig. 1).
149

CURI. N. (et al) Vocabulrio de Cincia do Solo. 1993 p. 10: depsitos de sedimentos transportados pela
gua nos leitos das correntes, lagos, reservatrios ou nos campos de inundao, geralmente em consequncia do
decrscimo da velocidade da gua.
150
GUERRA. A. T. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico, 1993 p. 148: Declive nos flancos de um morro, de
uma colina ou de uma serra.
151
________. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico, 1993 p. 349: Sulcos produzidos nos terrenos, devido ao
trabalho erosivo das guas de escoamento.
152
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservao do solo, 2010 p. 77: a forma espetacular da eroso,
ocasionada por grandes concentraes de enxurrada que passam, ano aps ano, no mesmo sulco, que vai se
ampliando, pelo deslocamento de grandes massas de solo, e formando grandes cavidades em extenso e em
profundidade.
Joo Pessoa, outubro de 2011

965

Figura 1 Localizao geogrfica da rea de estudo inserida na bacia hidrogrfica do rio


Mamanguape.
Fonte: AESA (2004) Adaptada do Autor, 2011.
De acordo com Jatob e Lins (2003) o trabalho de campo extremamente rico para a pesquisa e
dever elaborar: desenhos e esboos da paisagem e descrever os aspectos fsico da rea de estudo, que
compreende os domnios territoriais. Foram elaboradas fotografias com o auxlio de uma cmera
fotogrfica digital direcionada para o registro das alteraes fluviais, alm da utilizao da caderneta de
campo para o registro do quadro geral da rea de estudo, e a elaborao de croquis atravs do Software
CorelDraw X5 com o apontamento dos pontos da ocupao antrpica irregular encontrados.
A complementao sedimentolgica, constituiu-se em amostras de sedimentos de corrente
contidos no aluvio153do rio em questo, transportados em embalagens lacradas e etiquetadas para
posterior anlise ttil-visual, com a aplicao do mtodo comparativo dos detritos encontrados no percurso
inicial do rio Araagi j que essas reas so menos ocupadas, e amostras do permetro urbano do
municpio.
Foram obtidos os devidos posicionamentos geogrficos atravs do Sistema de Posicionamento
Global (GPS) em coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator).
4. RESULTADOS E DISCUSSES
As atividades econmicas ocorrem com planejamento precrio na rea da pesquisa, ou seja, sendo
o desmatamento da mata ciliar visivelmente crescente, visto a quantidade de terrenos limpos para o cultivo
da pecuria e de bosques particulares de eucaliptos, contendo espcie extica invasora cultivada para
suprimir grandes quantidades de recursos florestais utilizados em olarias, para a alimentao de fornalhas
na fabricao de tijolos e telhas usadas na construo civil.
Os terraos fluviais do rio Araagi formados a partir de depsitos de detritos ao longo do tempo
tornaram-se pontos de aglomerao antrpica de classes populacionais menos favorecidas e susceptveis
aos riscos geolgico-geomorfolgicos. Encontram-se grandes quantidades de sedimentos aluvionares nos
setores desses terraos, favorecendo a obstruo do canal e com potencial para enchentes, que resulta na
153

GUERRA. A. T. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico, 1993 p. 22: Detritos ou sedimentos clsticos de


qualquer natureza carregados e depositados pelos rios.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

966
alterao da dinmica fluvial. Essas reas nas faixas de rio medidas a partir do leito maior mencionado pelo
Cdigo Florestal Brasileiro, Lei N 4.771, de 15 de Setembro de 1965, tem por definio:
Art. 1 2 II rea de Preservao Permanente: rea protegida nos termos dos art. 2 e 3 desta Lei,
coberta ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem,
a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnicos de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populaes humanas. Art. 2 Consideram-se de preservao permanente, pelo o efeito desta
Lei, as florestas e demais formas de vegetao natural situada: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso
dgua desde o seu nvel mais alto em faixa marginal cuja largura mnima seja: 1) de 30 (trinta) metros para
os cursos dgua de menos de 10 (dez) metros de largura [...].

Segundo a Cmara dos Deputados (2011) a aprovao do novo Cdigo Florestal (PL 1876/99) pelo
Plenrio, permite o uso das reas de preservao permanente (APPs) j ocupadas com atividades
agrossilvipastoris, ecoturismo e turismo rural. Esse desmatamento deve ter ocorrido at 22 de julho de
2008. O texto, que ainda ser votado pelo Senado, revoga o cdigo em vigor. As faixas de proteo em rios
continuam as mesmas de hoje (30 a 500 metros em torno dos rios), mas passam a serem medidas a partir
do leito regular e no do leito maior. A exceo para os rios de at dez metros de largura, para os quais
permitida a recomposio de metade da faixa (15 metros) se ela j tiver sido desmatada.
A monocultura de cana-de-acar e a produo agropastoril crescente na encosta do Planalto da
Borborema, em Cuitegi, contribuem para o processo de retirada da vegetao ribeirinha, que tem como
consequncia o aumento da exposio dos solos, tambm degradados por desmatamentos e queimadas,
alm de pisoteio de animais (Fig. 2).

Figura 2 Eutrofizao do rio Araagi em rea de Preservao Permanente e possveis reas de


acidentes geologico-geomorfologicos (p. ex. enchentes).
Fonte: SILVA, Simone da; DANTAS, Wellington Miguel (2010).
De acordo com Bastos e Freitas (2009), os mecanismos de transporte fluviais esto susceptveis s
transformaes de agente geomrfico, por exemplo, quando se utiliza retroescavadeira utilizada na
construo civil para terraplenagem e outros diversos fins. Estes cortes criam novas formas de relevo e
destroem as existentes. Em reas de agricultura intensiva ou em processo de urbanizao, a carga de
Joo Pessoa, outubro de 2011

967
sedimentos que alcana os rios aumenta significativamente, deste modo, o homem intensifica o efeito
dessas mudanas.
A areia um dos principais elementos utilizado na construo civil no processo de urbanizao do
municpio. A necessidade dessa matria-prima condiciona sua extrao ao longo do curso do rio Araagi.
Esse processo de extrao de areias torna-se fator intensificador da eroso e represamento fluvial,
alterando a calha154 do rio e dando origem a meandros abandonados (Fig. 3).

Figura 3 Draga de suco para retirada de areia usada na construo civil.


Fonte: arquivo pessoal do autor, 2011.
O rio Araagi encontra-se mais assoreado no permetro urbano da rea, cujas consequncias
observadas apresentam os seguintes aspectos: formao de bancos de areia; desenvolvimento de ilhas
fluviais; transbordamento do leito do rio intensificado no perodo chuvoso, com possibilidade de desastres
naturais pela ocupao irregular em um raio de 27 metros a partir do afluente; poluio decorrente dos
dejetos despejados em seu leito e margens; empobrecimento do solo e o desenvolvimento da
eutrofizao 155 , que gera a mortandade de espcies aquticas; assoreamento do leito do rio pela
acumulao dos detritos e resduos slidos (Fig. 4).

154

GUERRA. A. T. Dicionrio Geolgico-Geomorfolgico, 1993 p. 68: termo usado nas descries da paisagem
fsica como sinmino de lveo, vale, etc.
155
IBGE. Vocabulrio Bsico de Recursos Naturais e Meio Ambiente, 2004: Aumento da concentrao de
nutrientes nas guas naturais, decorrentes de um processo de intensificao do fornecimento de nutrientes
(principalmente nitratos e fosfatos), o que acelera o crescimento de algas e outros vegetais, e a deteriorao da
qualidade das guas. Embora seja um processo natural de maturao de uma massa d gua, pode ser causado ou
intensificado pela ao humana (lanamento de esgotos e outros efluentes, lixiviao de fertilizantes do solo, etc.)
(Fig. 2).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

968

Figura 4 Croqui do curso fluvial do rio Araagi analisado no permetro urbano do municpio de
Cuitegi.
Fonte: arquivo pessoal do autor, 2011.
O aglomerado de rejeitos no ambiente fluvial comum em cidades brasileiras com nfase na
cidade pesquisada, pela precariedade de saneamento bsico, coleta seletiva e o destino final dos resduos
slidos, alm de sedimentos orgnicos e inorgnicos transportados pelos afluentes. A carga despejada no
rio gera acumulao dos sedimentos clsticos156 que intensifica o processo de assoreamento (Fig. 5).

Figura 5 - Viso parcial do processo de assoreamento com formao de meandros abandonados,


com o consequente desmatamento da mata ciliar.
Fonte: arquivo pessoal do autor, 2011.

156

CURI. N. (et al.) Vocabulrio de Cincia do Solo. 1993 p. 72: So constitudos por fragmentos desagregados
de diversas rochas, os quais so transportados e depositados em estratos.
Joo Pessoa, outubro de 2011

969
De acordo com Carvalho (2008), os problemas gerados pelos sedimentos so diversos, e a eroso
que o processo inicial da sedimentao tem como principais adversidades: remoo da camada frtil,
alterao das condies de escoamento da gua na superfcie, desdobramentos em rios modificaram a
calha e provocam depsitos no leito, dentre outros. Entre os problemas ocorridos devido o transporte de
sedimentos esto: as partculas em suspenso degradam o uso da gua, aumentando o custo de
tratamento, reduzindo a qualidade esttica do seu curso, cujo sedimento em suspenso impede a
penetrao da luz e do calor e diminuindo a atividade da fotossntese necessria salubridade dos corpos
dgua. A deposio reduz o volume e a vida til do curso fluvial, pois prejudica a sade dos animais
aquticos e das reas produtivas impedindo o crescimento das plantas etc.
Os sedimentos de correntes analisados no curso inicial do rio Araagi atravs do procedimento
ttil-visual constituem-se basicamente de granulometria argila e silte decorrentes dos ataques
intempricos de minerais e rochas aflorantes no trecho em questo. Nos permetros onde est escassa a
cobertura da mata ciliar com, consequente, perda da velocidade do fluxo hdrico h presena de diversos
tipos de sedimentos concentrados no aluvio, dentre eles partculas do tamanho de areia fina at cascalhos
grosseiros.
5. CONSIDERAES FINAIS
Mediante os resultados iniciais obtidos constata-se a intensa participao do agente antrpico e do
seu modo de produo econmica no aceleramento do processo natural de assoreamento do rio Araagi
em Cuitegi. H necessidade de um planejamento adequado em relao ao parcelamento do solo e
preservao dos limites dos principais trechos fluviais.
O potencial de risco geolgico na rea constante, porque a mesma encontra-se vulnervel a
constantes interferncias no meio fsico. Destarte, o respeito pelo Cdigo Florestal Brasileiro e demais leis
ambientais vigentes tornam-se o ponto de partida para minimizar danos socioambientais para moradores
ribeirinhos no municpio de Cuitegi. A partir do diagnstico ambiental na regio, sugerem-se a revitalizao
da mata ciliar e remanejamento de vegetaes exticas invasoras (eucaliptos) para o hbitat adequado,
alm de empregar mtodos de cultivo agropecurio menos impactantes na perspectiva do
desenvolvimento do manejo sustentvel.
Portanto, necessria a participao mtua entre o poder pblico e a populao (Associaes,
Sindicatos, ONGs, Ribeirinhos etc.) para minimizar os efeitos do homem sobre o rio Araagi e todo o
geosistema da rea de estudo, com o auxlio de campanhas e mobilizao sociais e o emprego da Educao
Ambiental de forma coletiva, bem como a criao de comits para discusses dessas problemticas e a
aplicao da Legislao Ambiental no municpio.
REFERNCIAS
AESA. Agncia Executiva de Gesto das guas do Estado da Paraba. Proposta de Instituio do
Comit das Bacias Hidrogrficas do Litoral Norte. Conforme Resoluo n 1 de 31 de Agosto de 2003, do
Conselho
Estadual
da
Paraba,
2004.
Disponvel
em:
<www.aesa.pb.gov.br/comites/litoral_norte/proposta.pdf > Acesso em: 12/04/2011.
BASTOS, A. C. S; FREITAS, A. C. F. Agentes e Processos de Interferncia, Degradao e Dano
Ambiental. IN: CUNHA, S. B. da; GUERRA. A. J. T. Avaliao e Pericia Ambiental. 9 ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2009. p. 25-6.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservao do solo. 7 ed. So Paulo: cone, 2010. p. 75-77.
BLOOM, A. L. Superfcie da Terra. So Paulo: Edgard Blcher Ltda, 1970. (trad. Sergio Estanisleu do
Amaral). p. 71-89.
BRASIL. Lei n 4.771, de 15 de Setembro de 1965.
CABRAL, J. B. P. Estudo do Processo de Assoreamento em Reservatrios. Uberlndia: Revista
Caminhos
de
Geografia.
vol.
6
(14)
p.
62-69,
2005
disponvel
em:
<http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/viewFile/10185/6054>
acesso
em:
21/06/2011.
CMARA DOS DEPUTADOS. Cmara aprova novo Cdigo Florestal com mudanas em regras para
APPs. 2011 Disponivel em: <http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/197560.html> Acesso em:
29/07/2011.
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

970
CARVALHO, N. O. (et al.). Guia de prticas sedimentomtricas. Braslia: ANEEL, 2000. p. 6-8
________. Hidrossedimentologia prtica. 2 ed. Rio de Janeiro: Intercincia, 2008. p. 7-9; 145-182;
219; 537-9.
CHRISTROFOLETTI, A. Geomorfologia. So Paulo: Edgard Blcher, 1980. p. 1-121.
COMPANHIA DE PESQUISA E RECURSOS MINERAIS-CPRM. Projeto cadastro de fontes de
abastecimento por gua subterrnea. Diagnstico do municpio de Cuitegi estado da Paraba/ Organizado
[por] Joo de Castro Mascarenhas, Breno Augusto Beltro, Luiz Carlos de Souza Junior, Franklin de Morais,
Vanildo Almeida Mendes, Jorge Luiz Fortunato de Miranda. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005. p. 3-4
CUNHA, S. B. da. Canais Fluviais e a Questo Ambiental. IN: CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. A
questo ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. p. 220-4.
CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. Degradao Ambiental in: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da.
Geomorfologia e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000. p. 337-361.
GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da. Geomorfologia: uma atualizao de bases e conceitos. 8 ed. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. p. 93-242.
GUERRA, A. J. T.; MARAL, M. dos S. Geomorfologia ambiental. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2006. p. 28-52.
GUERRA, A. T. Dicionrio Geologico-Geomorfologico. 8 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993. p. 22; p. 68;
p. 148; p. 349.
JATOB, L; LINS, R. C. Introduo a Geomorfologia. 4 ed. Recife: Bagao, 2003. p. 15; 105-6.
TEIXEIRA, W. (et. al). Decifrando a Terra. So Paulo: Oficina de Textos, 2000. p. 192-213.

Joo Pessoa, outubro de 2011

971

A EROSO HDRICA NOS SOLOS DO MUNICPIO DE INDEPENDNCIA - CE


157

Raul Carneiro GOMES


158
Vldia Pinto Vidal de OLIVEIRA

RESUMO
Os solos so um dos recursos naturais que mais sofrem presso pela explorao social, uma vez
que neles so desenvolvidas diversas atividades produtivas, destacando a agricultura, caprinocultura,
pecuria, extrao de minerais e madeira. nesse contexto que se insere o Municpio de Independncia
com a explorao secular de forma indiscriminada de seus solos. Essas prticas tm sido realizadas com
ausncias de plano de manejo e com sistemas tecnolgicos rudimentares, contribuindo para a
intensificao da eroso hdrica nos seus solos. Diante disso, este trabalho pretende destacar as formas
principais de ocorrncias dos processos da eroso dos solos do Municpio de Independncia, identificando
suas causas e propor medidas para mitig-las. Para tanto, foram realizados: levantamento bibliogrfico e
cartogrfico; trabalhos exploratrios nas zonas rurais e perifricas da sede do municpio supracitado, bem
como observaes de perfis de solos em cortes de estradas. Assim, com base nos dados obtidos, percebeuse que: 1. H uma grande ao e diversidade de processos erosivos nos solos avaliados; 2. As formas da
eroso hdrica predominantes so laminar profundas tendendo a sulcos; 3. A problemtica da eroso no
desperta grande preocupaes nos proprietrios dos estabelecimentos visitados, devido falta de
informaes dessa problemtica; 4. As causas dos processos erosivos detectados tm suas gneses
vinculadas s atividades econmicas como a agropecuria e a produo de carvo; 5. As medidas
mitigadoras sugeridas trata-se da produo, agroflorestal, turismo cientfico, abandono de queimadas e uso
de esterco para fertilizao dos solos degradados.
Palavras chaves: Extrativismo; Solos; Eroso; Municpio de Independncia - Cear
INTRODUO
A grande busca pela produo de capital, no atual sistema capitalista tem criado situaes as quais
tm comprometido o ambiente (natural e social). Essas so decorrentes da super explorao dos recursos
naturais a qual, empreendida com uso de sistemas tecnolgicos rudimentares (ausncia de manejo,
desmatamento excessivo, queimadas, poucos utenslios tecnolgicos modernos e etc.). Enfim, contribuindo
para a exausto e destruio dos recursos naturais, portanto impactando diretamente na sociedade e nos
ecossistemas.
Dentre os recursos naturais mais utilizados, destaca-se o solo o qual conceituado como:
um sistema natural, tridimensional, dinmico com a presena de matria orgnica e ao de organismos
vivos dentro ou sobre sua estrutura (PALMIERI; LARACH, 1966; PEREIRA; SILVA, 2007). Os solos surgem
atravs dos processos pedogenticos, que segundo Guerra; Guerra (2001) o processo que trata da origem
e evoluo dos solos. Ele realizado por meio da ao combinada dos fatores de formao (clima, relevo,
tempo, material de origem e matria orgnica) e dos processos pedogenticos (adio, remoo,
translocao, transformao e salinizao) os quais dependendo das condies geoecolgicas em que
atuam, repercutem no surgimento de solos diferenciados no planeta Terra. Vale ressaltar que a
pedognese ocorre em ambientes com tendncias estabilidade ou nela propriamente dita, ou seja, onde
as condies geoecolgicas, principalmente, a morfodinmica favorece o desenvolvimento de manto de
intemperismo e posteriormente dos solos, evitando sua eroso (TRICART, 1977).
O processo formativo dos solos requer muito tempo, de acordo Strahler (1977), no se
podendo determinar a idade dos solos porque esse depende muito de seus fatores e processos de
formao, mas cita que alguns solos de regies midas e classes arenosas podem ser formados em 100 a
200 anos, ainda que com frequncia sejam necessrios milnios para ter-se um solo maduro. Apesar deles
necessitarem muitos anos ou at milnios para sua formao e maturao, a sociedade os tem alterado,

157

Graduando de Licenciatura em Geografia (Universidade Federal do Cear- UFC) e Monitor da disciplina de


Pedologia geral I. E-mail: raulcarneiro89@hotmail.com
158
Professora Associada do departamento de Geografia (Universidade Federal do Cear- UFC). E-mail:
vladia.ufc@gmail.com
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

972
atravs da intensificao dos processos erosivos, atravs do uso indiscriminado, sem normas
conservacionistas.
A eroso um processo natural muito importante na modelao do relevo e para a
manuteno do balano de sedimentos nos ecossistemas. Ela definida como o processo de
desprendimento e transporte do material particulado do solo por meio da ao da gua ou do vento,
consistindo-se na principal causa da degradao dos solos e desencadeando prejuzos para os mbitos
sociais e ambientais (AMORIM et al., 2001). Normalmente, os trabalhos relacionados eroso costumam
dividi-la em: hdrica e elica. Pois, a gua e o vento so as foras ativas da eroso; atuam de modos
diferentes, contudo seus efeitos so semelhantes, tendo suas eficincias de transportes potencializadas
com o aumento da velocidade do material (DUQUE, 2001).
Cabe lembrar que os dois tipos de eroso ocorrem em funo de seus agentes, abrangendo
processos diversificados, mas normalmente agem simultaneamente, variando as intensidades de cada um
(GUERRA, 1999; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2008).
Atualmente, h um grande agravamento do processo erosivo porque os solos tm sido
utilizados de forma insustentvel. Nessa perspectiva, o Municpio de Independncia- CE um exemplo,
pois est enfrentando grandes dificuldades ambientais e econmicas tais como: perda de fertilidade dos
solos, perda da biodiversidade, baixa disponibilidade dos recursos hdricos nos sistemas naturais,
diminuio da produo agrcola e outros. Tudo isso, por conta de fatores variveis que intensificam a
eroso dos solos, uma vez que neles so realizadas produes agropecurias, construo civil, estradas e
extrao de minerais de forma insustentvel. Outra varivel importante para o desencadeamento da
eroso dos solos a falta de conhecimento sobre os processos erosivos e sua gravidade por parte da
populao. Logo, a ausncia de conhecimentos bsicos, envolvendo tcnicas de manejo de solos so
fatores que tm corroborado diretamente para sua antropizao (FALCO SOBRINHO; FALCO, 2006;
OLIVEIRA, 2006; SOUZA, 2007; TRIGUEIRO; OLIVEIRA; BEZERRA, 2009; CEAR, 2010a).
Dentre os tipos de eroso presentes no territrio do municpio em questo, destaca-se a
eroso hdrica a qual pode ser compreendida como o processo erosivo no qual a gua o principal agente,
ou seja, por meio dela h o desprendimento, transporte e deposio do material particulado proveniente
dos solos. Portanto, este trabalho tem como objetivo indicar quais os tipos de processos de eroso hdrica
predominantes, existentes nos solos do Municpio de Independncia- CE, bem como suas causas e medidas
mitigadoras para tal problemtica. Este trabalho faz-se relevante por difundir os problemas relacionados
eroso dos solos no municpio supracitado, visa fundamentar trabalhos que busquem incentivos
governamentais para programas de manejo dos solos no mbito municipal, bem como relatar resultados de
pesquisas, desenvolvidas no projeto intitulado Mapeamento de Solos para Optimizao do
Aproveitamento da Produtividade Agrcola nas reas de Influncia do PRONAF: Regio dos Inhamuns.
O MUNICPIO DE INDEPENDNCIA- CE

Joo Pessoa, outubro de 2011

973

Mapa 1: Localizao do Municpio de Independncia- CE.


Autor: Narclio de S Pereira Filho, 2011.

O Municpio de Independncia (ver mapa 1) situa-se no Estado do Cear- Brasil,


notadamente, na microrregio dos Sertes de Crates, tendo como coordenadas geogrficas 5 23 47 de
latitude Sul e 40 18 31 de longitude Oeste (CEAR, 2010). Conforme a fonte citada anteriormente, o
municpio localiza-se no centro oeste do Estado do Cear com altimetria de 343 metros, distando 309 km
de Fortaleza. Os municpios limtrofes so: ao Norte- Boa Viagem, Tamboril, Monsenhor Tabosa, Crates;
Sul- Quiterianpolis e Tau; Leste- Tau, Pedra Branca, Boa Viagem; Oeste- Crates, Novo Oriente,
Quiterianpolis. Em relao s medidas territoriais, o Municpio de Independncia tem uma rea de
3.218,64 km.
O municpio em questo est inserido no Estado do Cear,
predominantemente, em uma regio com litologia cristalina pr-cambriana composta por granitos,
gnaisses e calcrios cristalinos; relevo representado por depresso sertaneja e alguns macios cristalinos
residuais; sob o clima semi-rido (chuvas irregulares, com pluviometria em torno de 608 mm anuais e
concentrados, normalmente, em quatro meses do ano (fevereiro, maro, abril e maio); sua vegetao a
Caatinga com diferentes portes os quais podem variar de fisionomia arbustiva a arbreas; no que concerne
aos solos, so representados por, Luvissolos (Bruno- no clcico), o mais abundante, seguido por
Planossolos, Neossolo Litlico e Argissolo Vermelho/ Amarelo, de forma geral so eutrficos e de texturas
arenosas, mdias e argilosas (BRASIL, 1973; EMBRAPA, 1973; BRASIL, 1981; PEREIRA; SILVA, 2007; CEAR,
2010).
No mbito dos aspectos sociais, a populao de Independncia- CE
composta por 25.573 pessoas (IBGE, 2011). Sendo que esta , predominantemente, catlica; tem como
cultura a nordestina (Nordeste do Brasil), muito embora esta esteja, paulatinamente descaracterizada com
a insero das influncias externas atravs dos meios de comunicao, ou seja, de processos do mundo
globalizado. No que tange s atividades econmicas, elas so diversificadas, dentre as quais se destacam,
segundo Cear (2010), os servios com 66,7 %, agropecuria com 19,7% e indstria 13,6%. A maioria das
pessoas residentes na zona rural, normalmente, tm a pecuria extensiva de corte e agricultura de
subsistncia de culturas temporrias (milho, feijo, abobora e melancia) como suas principais atividades
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

974
econmicas e geradoras de renda, enquanto que a populao situada na zona urbana desenvolve
atividades industriais e de servios.
PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
Para a realizao deste trabalho foi necessrio previamente conhecer o contexto ambiental
e socioeconmico do Municpio de Independncia- CE. Isso foi realizado a partir do conhecimento e
experincia dos autores com respeito rea de estudo, dos levantamentos bibliogrficos e cartogrficos os
quais contriburam para o desenvolvimento dessa pesquisa. Vale acrescenta que h uma grande carncia
de trabalhos cientficos sobre o municpio em questo, por isso utilizou-se publicaes desde mbito local
at internacional, pois todos esses abordam processos e condies semelhantes aos observados nos
trabalhos exploratrios realizados em zonas rurais e perifricas da cidade de Independncia.
Assim, dentre as principais referencias utilizadas esto: Brasil (1973); EMBRAPA (1973)
Tricart (1977); Brasil (1981); Galeti (1985); Brady (1989); Guerra (1999); Amorim et al. (2001); Duque
(2001); Lima; Oliveira; Aquino (2002); Falco Sobrinho; Falco (2006); Guerra; Botelho (2006); Oliveira
(2006); Souza (2007); Pereira; Silva (2007); Bertoni; Lombardi Neto (2008); Pedrotti; Mllo Junior (2009);
Andrade et al. (2010); Cear (2010); Cear (2010a); Gariglio et al. (2010); Guerra (2011); (IBGE, 2011);
Ramos et al. (2011) e dentre outros.
A partir das referencias consultadas, buscou-se indicadores os quais denotassem a
ocorrncia de eroso dos solos. Pois, a qualidade dos solos estimada pelo estado de conservao. Assim,
a seleo de indicadores deve ser baseada no uso da terra, relao solo-planta para fins de avaliao
(PEDROTTI; MLLO JUNIOR, 2009). Nesta perspectiva, utilizou-se indicadores biofsicos dos solos (cobertura
vegetal, inclinao do relevo, afloramento de minerais e rochas, suscetibilidade do tipo solo eroso e
presena dos processos erosivos), associando-os com a forma de uso ocupao dos destes pela populao
independenciana.
Portanto, a etapa seguinte consistiu na realizao de trabalhos exploratrios em fazendas e
na periferia da cidade de Independncia, tendo em vista localizar os tipos de processos erosivos nos solos.
Aps detectar as eroses, foram fotografadas e tomado algumas medidas. No que tange as coordenadas e
toponmias das ocorrncias erosivas, preferiu-se ocult-las, pois os proprietrios pediram para no as
identificarem. Convm destacar que este trabalho faz uma abordagem geral da problemtica, visto que no
h investimentos substanciais para a realizao de uma pesquisa minuciosa.
A EROSO HDRICA NOS SOLOS DO MUNICPIO DE INDEPENDNCIA- CE: AS FORMAS, CAUSAS E
MEDIDAS PARA MITIG-LAS.
Durante os trabalhos exploratrios foram analisados (morfologicamente) perfis de solos em
cortes de estradas e observadas diversas formas da eroso hdrica. Assim, observou-se o local de
ocorrncias das feies erosivas, medindo algumas e buscando seus agentes ou prticas causadoras.
Posteriormente, foram formuladas algumas solues para mitigao da ocorrncia dos problemas
relacionados eroso. Diante disso, segue uma breve exposio dos resultados obtidos durante a
realizao da pesquisa.
Os tipos, preponderantes, de processos da eroso hdrica presentes nos solos do Municpio
de Independncia- CE so: 1.) a eroso por salpicamento- splash; 2.) eroso laminar- sheetflow (ver figura
2); 3.) eroso por fluxos lineares ou sulcos erosivos- flowline (ver figuras 3 e 4); 4.) eroso fluvial; 5.)
eroso em pedestal demoiselles (ver figura 1).

Joo Pessoa, outubro de 2011

975

Figura 1: Eroso em pedestal em Luvissolo


Figura 2: Quartzo sobre pequena quantidade de
na margem de estrada carroal.
solo protegido da eroso laminar.
Autor: R. C. Gomes, 2011.
Autor: R. C. Gomes, 2011.

Figura 3: Sulcos erosivos em Luvissolo


Bruno No- clcico.
Autor: R. C. Gomes, 2011.

Figura 4: Sulcos erosivos em Planossolo.


Autor: R. C. Gomes, 2010.

A eroso por salpicamento (splash) o estagio inicial da eroso hdrica e provocada pelo
impacto da gota de gua da chuva sobre um solo desprotegido (de cobertura vegetal ou materiais
orgnicos), fragmentando seus agregados e transportando, devido fora do impacto da gota de gua,
pequenas partculas dos solos para reas circunvizinhas, posteriormente provocando a selagem dos poros
superficiais dos solos e ento favorecendo o escoamento superficial (GUERRA, 1999; RAMOS et. al., 2011).
Tal processo erosivo o que deu inicio aos demais e surge devido s seguintes caractersticas: a) grandes
partes dos solos possuem textura mdia a argilosa; b) esto desprovidos de vegetao ou de serrapilheira
para proteg-los dos impactos da gota de gua das chuvas, c) esse tipo de eroso no necessita de
declividades acentuadas para ocorrer, d) alm do mais comum a ocorrncia de chuvas torrenciais no
municpio. De modo geral todos os solos com as caractersticas anteriormente citadas so vulnerveis a
eroso, mas com o trabalho exploratrio percebeu-se que os mais afetados por esse processo o
Planossolo, ocorrem em relevo plano a suave ondulado, possui espessura mdia a rasa, e horizontes B
arglico e caractersticas fsico-qumicas propicias para as atividades agropecurias.
A forma de eroso mais predominantemente detectada foi a laminar (sheetflow) a qual
(...) remoo de camadas delgadas de solo sobre toda uma rea a forma de eroso menos notada, e por
isso mais perigosa (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2008). Ela costuma ocorrer quando a gua acumulada, em
pequenas depresses no solo, suplanta ou rompe as barreiras as quais a impediam de escoar, dessa forma
gua desce a vertente de forma difusa ou de lenol, transportando pequenas partculas do solo.
Acredita-se que esse tipo de eroso intensificado quanto sua atuao no municpio alvo
devido grande atividade agropecuria no passado e no presente. No obstante, por no predominar
relevo muito acidentado na rea de estudo, h a limitao de atuao e a ampliao desse tipo de
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

976
processo. Vale ressaltar que, a consistncia dos solos contribuem, significativamente, para mitigar as aes
da eroso laminar. Entretanto, isso no tornam os solos absolutamente imunes a tal processo, pois
variveis como: retirada da vegetao, excesso de arao e compactao dos solos vo diminuir sua
resistncia a esse tipo de eroso. No campo ele foi perceptvel atravs da disposio de matria orgnica
transportada em forma de lenis sobre os solos e tambm por meio da acumulao de pequenas
partculas de areia sob minerais localizados em solos situados em relevos de baixa a mdia declividade (ver
figura 2) e truncamento da tipologia dos solos.
A terceira forma encontrada foi o tipo de eroso em fluxos lineares ou sulcos erosivosflowline (ver figuras 3 e 4), este processo ocorre em terrenos com declive mais forte de modo a concentrar
guas ou torrentes, provenientes das chuvas, em pequenas irregularidades do relevo o qual
gradativamente vai expandindo-se pelo aumento de concentrao de gua em seus canal e transporte das
partculas de solos ao seu derredor, portanto progredindo at destruir solos, expondo as rochas do
embasamento cristalino (GUERRA, 1999; BERTONI; LOMBARDI NETO, 2008).
Esse tipo de processo erosivo o que mais chama ateno dos trabalhadores rurais e
algumas pessoas residentes da zona perifrica da cidade, pois so chamados de grotas por conta de sua
gnese est atrelada a passagem de guas das chuvas em solos desprotegidos. De modo geral, ocorrem nos
terrenos agrcolas ou pastos os quais so utilizados sem manejo ou com excesso de arao, entretanto
podem incidir nas reas perifricas da cidade de Independncia, pois no h saneamento bsico (esgoto),
logo estes so despejados na rua e criam sulcos erosivos, porm os casos mais graves esto ao longo de
estradas carroais alguns ocupam reas de, aproximadamente, 285 m e tendo 70 cm de profundidade,
expondo a rocha pr-cambriana. Grosso modo, os solos mais atingidos so: o Luvissolos (Bruno no-Clcico)
associados aos Planossolos Soldicos. O primeiro por desenvolverem-se em solos ondulados e possurem
mdia a rasa profundidade; a segunda classe de solos por situarem em reas planas e deprimidas propicias
a acumulao de gua no perodo chuvoso. Logo, a pecuria e o desmatamento da cobertura vegetal
acarretaram os processos erosivos em sulcos ou eroso fluvial nos solos acima referidos.
A quarta forma de eroso mais expressiva foi a fluvial. A eroso fluvial ocorre pela eroso
dos solos das margens dos rios pela ao das guas dos rios. O solo mais atingido Planossolo Soldico,
pois se localiza nas margens dos cursos dgua ou nas suas imediaes, apesar de sua textura argilosaconsistncia, normalmente, dura; estando desprotegidos pela vegetao da mata ciliar so vulnerveis a
ao erosiva dos rios. Outra varivel importante que em consequncia do regime pluviomtrico ter forte
expresso das chuvas torrenciais associadas ao desmatamento ou ausncia de matria orgnica sobre os
solos, a quantidade de gua e a velocidade do escoamento superficial tendem a aumentar sua velocidade,
inundando novas reas e erodindo substancialmente os Planossolos, associados aos Neossolos Flvicos e
Neossolos Litlicos. Tal eroso pode ser perceptvel com: a exposio de razes de plantas nas aluvies das
margens dos rios, com a queda da biodiversidade e disponibilidade de recursos hdricos armazenados.
Dentre as formas mais comuns ocorridas nas bordas de estradas carroais est a eroso em
pedestal- demoiselles (ver figura 1) formada quando um solo de grande suscetibilidade a eroso
protegido da ao do salpicamento devido presena de minerais, rochas ou razes, portanto produzindo
pedestais de solo sob seu material protetor, logo a eroso predominante ao se redor o salpicamento, pois
no h comprometimento significativo da base dos pedestais (BERTONI; LOMBARDI NETO, 2008). Esse tipo
de processo erosivo muito tpico de parcelas de solos das margens de estradas carroais, visto que
quando a mquina (caterpillar) passa fazendo a estrada o ajeitando-a ela deposita materiais na borda da
referida, logo alguns minerais, razes e folhas presentes nos sedimentos dos solos remexidos protegem
parcela daqueles da ao do salpicamento, formando pedestais.
Diante da diversidade de processos erosivos presentes no Municpio de Independncia- CE
encontrou-se muitas causas para o surgimento e agravamento de tais problemticas. Dentre elas esto:
O desmatamento empreendido em prol de atividades como a criao de gado, produo agrcola
ou de carvo os quais requerem, com o sistema tecnolgico rudimentar tradicional do nordeste brasileiro,
o desmatamento de grandes reas antes florestadas e a utilizao do fogo (queimada) para limpa o
terreno, ou seja, queimar a serrapilheira, galhos e matar animais residentes rea desejada para
explorao. Inicialmente, tal prtica ajuda a mineralizar os solos com suas cinzas e, s vezes, ajuda na
quebra da dormncia de sementes de algumas espcies vegetais locais, mas evidente que traz mais
prejuzos que benefcios.
Joo Pessoa, outubro de 2011

977
Outra ao frequente de alguns fazendeiros relacionada concesso de um terreno florestado
para algum trabalhador rural desmat-lo (para a pecuria e/ou agricultura), tendo em troca sua lenha para
produo de carvo ou estacas para confeco de cercas. Posteriormente, quando chove, o terreno vira
plantaes de culturas agrcolas temporrias e/ou pasto. Convm lembrar que o desmatamento e
queimada tambm so usados, pois possibilitam o surgimento do estrato herbceo (forragem) o que
importante para alimentao do gado.
Alm disso, o desmatamento das matas ciliares e uso das reas aluvionais baixios para plantio
de culturas temporrias corroboram diretamente para alterao e destruio dos Planossolos,
conseguintemente, dos aquferos aluvionais os quais so de fundamental importncia para
armazenamento de gua de qualidade, muito embora haja, em certos locais, alta concentrao de sais na
gua.
A prtica de pousio muito utilizada Municpio de independecia- CE, juntamente com rotao
cultura ou plantio de associao entre milho e feijo. Mas, no que tange a primeira prtica, convm
ressaltar que a vegetao secundria, aps os desmatamentos, queima, plantio de culturas e trs anos de
pousio, ainda est longe de reciclar eficientemente os nutrientes depositados por ocasio da queima (...)
(RESENDE; CURI; SANTANA, 1988). Enfim, diante da perda por eroso dos nutrientes do solo e decrscimo
na disponibilidade de gua do terreno, ele abandonado e outra rea florestada desmatada e segue
novamente uma lgica muito semelhante com a descrita acima.
5. As estradas carroais so importantes fatores para o desencadeamento da eroso em sulcos
porque grande parte delas no possuem canaletas de escoamento de gua, suas margens so desmatadas
e tambm h ocorrncia de desnveis no terreno criados por sua construo. Logo, esses so os principais
fatores que geram sulcos erosivos nas margens das estradas. Alm disso, so realizados poucos esforos
para a conteno dos sulcos nas proximidades dos caminhos, portanto comprometendo a qualidade dos
referidos no perodo chuvoso.
6. A retirada de pores dos solos para seu uso na construo civil ou de estradas tambm
responsvel pelo surgimento de processos erosivos por sulcos erosivos.
7. No que tange a eroso na periferia da cidade de Independncia, sua gnese est associada ao
crescimento desordenado da cidade, ao desmatamento de reas inclinadas e aos esgotos lanados nas
ruas. A eroso e problemas correlatos, normalmente, esto presentes nas reas de expanso desordenadas
das cidades, vindo a decrescer com a melhora no ordenamento e infra-estrutura urbana (GUERRA, 2011).
8. A causa seguir parece ser a de maior importncia para o surgimento da eroso hdrica e
desencadeamento de seus processos nos solos do Municpio de independncia- CE, consiste na falta de
informaes a cerca de manejo dos recursos naturais ou planejamento ambiental, em especial dos solos, na
populao. Todos os fatores, diretamente ou indiretamente so oriundos desse.
Portanto, os fatores anteriormente expostos so os principais causadores para o
surgimento e desenvolvimento da eroso hdrica no Municpio de Independncia- CE.
Diante da problemtica e suas causas acima expostas, propem-se as seguintes medidas
para mitig-las: 1.) difundir conhecimentos de uso e ocupao dos solos atravs de palestras, cursos sobre
manejo e educao ambiental; 2.) adotar prticas de cultivos agroflorestais; 3.) usar mandalas nas unidades
produtivas; 4.) buscar cultivar culturas agrcolas que requerem baixas reas espaciais para sua produo e
tenham valores comerciais rentveis; 5.) evitar ao mximo usar as reas aluvionais para o cultivo de
culturas agrcolas ou pastos; 6.) replantar as matas ciliares, afim de utilizar o potencial hdrico dos aluvies
para culturas irrigadas por gotejamento; 7.) abandonar uso de queimadas; 8.) excluir prticas agrcolas em
relevos com declividade acentuada; 9.) usar esterco dos pastos para adubar ou reabilitar terrenos
degradados; 10.) explorar lenha com prticas de manejo de rebrota; 11.) fomentar a produo de mel; 12.)
construir barragens subterrneas; 13.) construir canaletas ao longo das estradas carroais; 14.) investir no
saneamento bsico e em infraestrutura na periferia da cidade e se possvel na zonal rural; 15.) usar vegetais
apropriados para estabilizar e recuperar reas degradas por sulcos erosivo; 16.) difundir e desenvolver o
turismo cientfico e etc.
CONSIDERAES FINAIS
Diante do exposto na discusso acima, conclui-se que h uma grande ao e diversidade de
processos erosivos nos solos analisados do Municpio de Independncia- CE sendo que as formas erosivas,
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

978
majoritariamente, encontradas foram: o laminar e em sulcos. Notou-se tambm que a problemtica da
eroso no desperta grande preocupaes nos proprietrios dos estabelecimentos visitados, devido falta
de informaes sobre ela e que os tipos de processos erosivos detectados todos tm suas gneses
vinculadas s aes sociais para produo agropecuria ou de carvo. Logo, a diversidade de processos
erosivos requer um pacote de medidas as quais devem ser diversificadas. Assim, para o inicio da soluo da
problemtica necessrio primeiro que haja a difuso do que eroso, como ela surge e desenvolve-se,
expondo suas repercusses na sociedade e ao ambiente. Alm disso, faz importante a introduo de novas
prticas, tcnicas e racionalidade de uso dos recursos naturais, em especial dos solos.
REFERNCIAS
AMORIM, R. S. S. et al. Influncia da declividade do solo e da energia cintica de chuvas simuladas
no processo de eroso entre sulcos. Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e Ambiental. Campina
Grande- PB: v.5, n.1, p.124-130, 2001
ANDRADE, E. M. de. et al. (Orgs.). Semirido e o manejo dos recursos naturais: uma proposta de uso
adequado do capital natural. Fortaleza: Imprensa Universitria, 2010.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservao do solo. 6. ed. So Paulo: cone Editora, 2008.
BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. 5.ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1989.
BRASIL. Ministrio de Minas e Energia. Projeto RADAMBRASIL: folhas sb. 24/25 Jaguaribe/Natal. Rio
de Janeiro: MME, 1981.
______. SUDENE/EMBRAPA. Levantamento exploratrio de reconhecimento de solos do Estado do
Cear. Recife: Bol. Tc. N 28, Srie Pedologia, 1973.
CEAR. Instituto de Pesquisas e Estratgia Econmica do Cear (IPECE). Perfil Bsico Municipal,
Independncia- CE. Fortaleza: SEPLAN, 2010.
______. Secretria dos Recursos Hdricos. Programa de ao estadual de combate a desertificao
e mitigao dos efeitos da seca- PAE, CE. Fortaleza: Ministrio do Meio Ambiente, 2010 a.
DUQUE, J. G. Solo e gua no polgono das secas. 6. ed. Mossor: Fundao Guimares Duque, 2001.
EMBRAPA. Mapa Exploratrio-Reconhecimento de solos do Municpio de Independncia- CE. Recife:
EMBRAPA, 1973.
FALCO SOBRINHO, J.; FALCO, C. L. da Costa . Agricultura no semi-rido cearense e tcnicas de
monitoramento do processo erosivo. In: FALCO SOBRINHO, J.; FALCO, C. L. da Costa (Orgs.). Semi-rido:
diversidade, fragilidades e potencialidades. Sobral: Sobral Grfica, 2006. p. 144-165.
GARIGLIO, M. A. et al. (Orgs.). Uso sustentvel e conservao dos recursos florestais da caatinga.
Braslia: Servio Florestal Brasileiro, 2010.
GUERRA, A. J. T. O incio do processo erosivo. In: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S. da; BOTELLHO, R. G.
M. (Ogs.). Eroso e conservao dos solos: conceitos, temas e aplicaes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1999. p. 17-56.
GUERRA, A. J. T.; BOTELHO, R. G. M. Eroso dos solos. In: CUNHA, S. B. da; GUERRA, A. J. T. (Orgs.).
Geomorfologia do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 181-220.
GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Dicionrio geolgico-geomorfolgico. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2001.
______. Encostas urbanas. In: GUERRA, A. J. T (Org.). Geomorfologia urbana. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2011. p.13-39.
13/11/2010.
GALETI, P. A. Prticas de controle eroso. Campinas: Instituto Campeiro de Ensino Agrcola, 1984.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica. Cidades. Disponvel em:
<http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> acessado em 28.07.2011.
LIMA, A.A.C.; OLIVEIRA, F.N.S.; AQUINO, A.R.L. de. Limitaes do uso dos solos do Estado do Cear
por suscetibilidade eroso. Fortaleza: Embrapa Agroindstria Tropical, 2002. 19p. (Embrapa Agroindstria
Tropical. Documentos, 54).
OLIVEIRA, V. P. V. de. A problemtica da degradao dos recursos naturais no domnio dos sertes
secos do Estado do Cear-Brasil. In: SILVA, J. B. da; DANTAS, E. W. C.; ZANELLA, M. E.; MEIRELES, A. J. de A.
(Orgs.). Litoral e Serto: natureza e sociedade no nordeste brasileiro. Expresso Grfica, 2006. p. 209-225.

Joo Pessoa, outubro de 2011

979
PALMIERI, F.; LARACH, J. O. I. In: Pedologia e Geomorfologia. GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. da.
Geomorfologia e pedologia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1966. p. 59-118.
PEDROTTI, A.; MLLO JUNIOR, A. V. Avanos em Cincias do solo: a fsica do solo na produo
agrcola e qualidade ambiental. So Cristovo: Editora UFS, Aracaju: Fapitec, 2009.
PEREIRA, R. C. M.; SILVA, E. V. da. Solos e vegetao do Cear: caractersticas gerais. In: SILVA, J. B.
da; DANTAS, E. W. C.; CAVALCANTE, T. C. (Orgs.). Cear: novo olhar geogrfico. 2 ed.. Fortaleza: Edio
Demcrito Rocha, 2007. p. 189-210.
RAMOS, F. T. et al. Eroso por salpicamento sob diferentes sistemas de manejo em
RESENDE, M.; CURI, N.; SANTANA. D. P. Pedologia e fertilidade do solo: interaes e aplicaes.
Braslia: Ministrio da Educao; Lavras; ESAL; Piracicaba, POTAFOS, 1988.
SOUZA, M. J. N. de. Compartimentao geoambiental do Cear. In: SILVA, J. B. da; DANTAS, E. W.
C.; CAVALCANTE, T. C. (Orgs.). Cear: novo olhar geogrfico. 2 ed. Fortaleza: Edio Demcrito Rocha, 2007.
p. 127-140.
STRAHLER, A. N. El suelo. In: STRAHLER, A. N. Geografia Fsica. Barcelona: Ediciones Omega, S.A.,
1975. p. 319- 333.
TRICART, J. Ecodinmica. Rio de Janeiro: Superintendncia de Recursos Naturais e Meio Ambiente,
1977.
TRIGUEIRO, E. R. da Cunha; OLIVEIRA, V. P. V. de; BEZERRA, C. L. F. Indicadores biofsicos e a
dinmica da degradao/ desertificao no bioma caatinga: estudo de caso no Municpio de Tau, Cear.
Rede.
Fortaleza,
V.3,
N.
1,
jun.
2009.
Disponvel
em
<http://www.prodema.ufc.br/revista/index.php/rede/article/viewFile/20/18> acessado em
um Neossolo Quartzarnico em Cceres (MT). Global science and technology. [sine loco]: v. 04, n.
01, p.38 50, jan/abr. 2011.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

980

TCNICAS EMPREGADAS NA RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS NA


REGIO SEMI-RIDA DE MOSSOR-RN
Raul Martins de FARIAS
Universidade Federal Rural do Semi-rido UFERSA. Graduando do Curso de Agronomia
raul-farias@hotmail.com
Jos Rivanildo de Souza PINTO
Universidade Federal Rural do Semi-rido UFERSA. Graduando do Curso de Agronomia
rivanildo.ufersa@gmail.com
Maiele Leandro da SILVA
Universidade Federal Rural do Semi-rido UFERSA. Professora do Departamento de Cincias Vegetais
maiele@ufersa.edu.br

RESUMO
Uma rea degradada pode ser entendida como uma extenso de terra que sofreu alteraes, em
suas caractersticas naturais, perdendo sua capacidade produtiva devido a explorao irracional de
atividades degradadoras. As principais atividades envolvidas no processo de degradao so: agricultura,
minerao, desertificao e urbanizao. De acordo com um planejamento anteriormente estabelecido
para uso do solo, entende-se por recuperao de uma rea o retorno utilizao do local, em condies
estveis, conforme os valores sociais, ambientais e econmicos da circunvizinhana. Os principais meios
empregados na recuperao do meio ambiente so a educao ambiental, a agricultura orgnica e os
sistemas agroflorestais. A principal metodologia empregada para se recuperar uma rea consiste no uso de
espcies nativas adaptadas as condies oferecidas pelo meio. De acordo com o exposto, o objetivo deste
trabalho reunir informaes para construo de um texto de reviso que aborde tcnicas para a
recuperao de reas degradadas na regio semi-rida do municpio de Mossor-RN.
PALAVRAS-CHAVE: Degradao, ao antrpica, educao ambiental, sistemas agroflorestais,
ecossistemas.
INTRODUO
rea degradada aquela que sofreu alterao de suas caractersticas originais, em decorrncia de
causas naturais ou oriundas de ao antrpica. Em algumas dessas reas ocorre eliminao dos meios
biticos, e estas apresentam baixa resilincia (REICHMANN NETO, 1993; CRESTANA et al., 2006). Snchez
(2001) define a degradao do solo, como um termo mais amplo do que poluio (do solo), englobando: a
perda de matria devido eroso ou a movimentos de massa, o acmulo de matria alctone (de fora do
local) recobrindo o solo, a alterao negativa de suas propriedades fsicas, tais como sua estrutura ou grau
de compacidade, a alterao das caractersticas qumicas, a morte ou alterao das comunidades de
organismos vivos do solo. J Sabesp (2003) define degradao ambiental, como sendo as modificaes
impostas pela sociedade aos ecossistemas naturais, alterando (degradando) as suas caractersticas fsicas,
qumicas e biolgicas, comprometendo, assim, a qualidade de vida dos seres humanos.
Essas reas referem-se a ecossistemas alterados, onde perdas ou excessos so as formas mais
comuns de perturbaes e degradaes ambientais. A retirada da cobertura vegetal, dependendo da
intensidade, pode ser considerada uma degradao ou uma perturbao ambiental (RODRIGUES et al.,
2007). Segundo Corra & Melo (1998) caso o ambiente no se recupere, diz-se que est degradado e
necessita de intervenes, mas se mantm sua capacidade de regenerao, diz-se que o ambiente est
perturbado e intervenes podero acelerar o processo de recuperao.
O objetivo do presente trabalho elaborar uma reviso literria sobre degradao ambiental e
algumas tcnicas empregadas na recuperao de uma rea degradada na regio semi-rida do municpio
de Mossor-RN, afim de, contribuir com a educao ambiental no que se diz respeito ao do homem e
os seus impactos no meio ambiente.
MATERIAL E MTODO
A reviso bibliogrfica, da temtica em questo, foi realizada por meio de consultas em artigos,
apostilas, manuais e cartilhas tcnicas disponibilizados em bancos de dados da rede mundial de
computadores (internet): Google acadmico, peridicos da capes e scielo, e nos acervos das bibliotecas da

Joo Pessoa, outubro de 2011

981
Universidade Federal Rural do Semi-rido - UFERSA e da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
UERN.
O municpio de Mossor-RN localiza-se nas coordenadas geogrficas 5o11' de latitude sul, 37o20'
de longitude W. Gr., com 18 m de altitude, com uma temperatura mdia anual em torno de 27,50C,
umidade relativa de 68,9%, nebulosidade mdia anual de 4,4 dcimos e precipitao mdia anual de 673,9
mm, com clima quente e seco, localizada na regio semi-rida do nordeste brasileiro (LIMA e SILVA et al.,
2004). Com uma rea de 2.110,207 km, possui uma populao de 259.815 habitantes, densidade 123,15
hab./km (IBGE, 2010).
Na construo do texto de reviso foi analisado e selecionado referencial terico abordando a
degradao ambiental e tcnicas de recuperao para a regio semi-rida no municpio de Mossor-RN,
com o propsito de contribuir com a educao ambiental na temtica proposta.
DEGRADAO AMBIENTAL
Para Silva et al., (2009) degradao ambiental um assunto de grande relevncia para o meio
ambiente e que diversos autores afirmam que degradao ambiental todo processo decorrente de
impactos negativos que afetam a qualidade de determinados ambientes modificando seu estado original e
preservado para uma alterao adversa das caractersticas do meio ambiente. Snchez (2006) conceitua
degradao ambiental como qualquer alterao adversa dos processos, funes ou componentes
ambientais, ou como alterao adversa da qualidade ambiental.
CAUSAS DA DEGRADAO AMBIENTAL
H muito tem se discutido os impactos negativos das atividades agrcolas resultantes da chamada
Revoluo Verde. Nesse modelo agrcola, o uso de adubos industriais, herbicidas e inseticidas tem poludo
o ambiente, alm de contaminar os alimentos com substncias txicas. A monocultura, adotada nesse
modelo, alm de ser dependente de constantes intervenes geradoras de poluio e eroso do solo,
provoca a reduo da biodiversidade local e em muitos casos comprometem o patrimnio gentico da
agricultura (PIOLLI et al., 2004).
Os desmatamentos, seguidos de queimadas e a falta de manejo adequado das culturas e do solo,
ocasionam uma degradao mltipla como a eroso fsica, qumica e microbiolgica, levando a uma
drstica reduo da capacidade de reabilitao natural da rea (BARBOSA et al., 2003).
O problema da eroso quase sempre resultante de algum tipo de degradao ambiental pode
gerar mais degradao na medida em que se desenvolve, como, por exemplo, o assoreamento de rios e
perda de rea agrcola. Prticas agrcolas incorretas e desmatamento indiscriminado podem ser apontados
como os principais responsveis pelos processos erosivos (PIOLLI et al., 2004).
Kobiyama et al., (2001) relata que so vrias as atividades degradadoras, entretanto algumas se
sobressaem a agricultura atravs do preparo inadequado do solo, compactao, monocultivo, irrigao
inadequada, inadequao do uso da terra, superpastejo e cobertura inadequada do solo.
RECUPERAO AMBIENTAL
A recuperao ambiental um termo que designa a aplicao de tcnicas de manejo visando tornar
o ambiente degradado apto para um novo uso produtivo, desde que sustentvel. Dentre as variantes de
recuperao ambiental esto restaurao e reabilitao. A restaurao entendida como retorno de uma
rea degradada as condies existentes antes da degradao (SNCHEZ 2006). J a reabilitao a
modalidade que estabelece que a rea degradada dever ter uma forma de utilizao (RODRIGUES &
GONDOLFI, 2001 citado por SNCHEZ, 2006).
Silva et al., (2009) relata que, de acordo com o Decreto Federal n 97.632/89, a recuperao
ambiental tem como objetivo o retorno do stio degradado a uma forma de utilizao de acordo com o
plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obteno de uma estabilidade do meio ambiente.
O processo de recuperao de um ecossistema natural, perturbado pela ao antrpica, pode ser
feito mediante: restaurao que realizada atravs de prticas ecolgicas e silviculturais do ecossistema,
onde so recuperadas a forma e funo original dos ambientes antes de sua degradao, restabelecendo-se
sua composio e diversidade de espcies, estrutura trfica, fisionomia e dinmica original; reabilitao
aquela em que uma nova funo e, ou, forma biolgica diferente da original so aceitveis, desde que seja
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

982
estabelecida uma nova condio biolgica estvel em conformidade com os valores ambientais, estticos e
sociais da circunvizinhana; e redefinio a transformao do ambiente degradado a uma nova forma e
funo no biolgica (MAJER, 1989; BRASIL, 1990; ENGEL & PARROTA, 2003 citado por COSTA et al., 2010).
A reabilitao de reas degradadas deve envolver um conjunto de fatores ambientais, de tal forma
que propicie condies para que os processos ambientais, sejam similares ao de uma vegetao secundria
da regio, tanto nos aspectos hidrolgicos, fitossociolgico, ciclagem de nutrientes, construo de solo,
filtragem de radiao solar, umidade, microclima e meso-fauna dos compartimentos do ecossistema: parte
area, serrapilheira e substrato (VALCARCEL & SILVA, 1997).
Na ecologia da restaurao busca-se restabelecer um ecossistema que ocupava originalmente um
determinado local, atravs da recuperao de suas funes (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
A reabilitao de reas degradadas no consiste de aes isoladas, e sim de um conjunto de
atividades que tm por objetivo recompor a paisagem que foi perturbada, e so raras as pesquisas que
procuram avaliar a qualidade do solo sob o enfoque de degradao (ALVES & SOUZA, 2008).
TCNICAS DE RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS
O uso da cobertura vegetal como medida mitigadora dos impactos ambientais uma opo prtica,
econmica e coerente para a recuperao de reas degradadas (DALTERIO & VALCARCEL, 1996).
O aumento da fertilidade do solo, por meio da adubao orgnica, pode provocar alteraes no
solo, ajudando a sua recuperao. Nesse sentido, o aguap (Eichornia crassipes (Mart.) Solms.) tem
mostrado potencial (CALGARO, 2008).
Em reas degradadas pela remoo da vegetao e do solo ou de parte de suas camadas, levando
exposio do horizonte C ou, ainda, do subsolo, tem-se buscado a recuperao por meio da revegetao,
pois de amplo conhecimento a inter-relao da vegetao com a morfologia, a qumica e a biologia do
solo (ALVES & SOUZA, 2008).
O sistema baseado na sucesso florestal o que vem obtendo mais xito, porque favorece a rpida
cobertura do solo e garante a auto-renovao da floresta (BARBOSA et al., 2003).
A utilizao de sistemas agroflorestais tem sido, nas ltimas dcadas, bastante difundida como
alternativa para recuperao de reas degradadas, atribuindo-se combinao de espcies arbreas com
culturas agrcolas e, ou, animais a melhoria nas propriedades fsico-qumicas de solos degradados, bem
como na atividade de microrganismos, considerando a possibilidade de um grande nmero de fontes de
matria orgnica (REINERT, 1998; MENDONA et al., 2001).
O primeiro passo para o desenvolvimento de um trabalho de reflorestamento o levantamento das
caractersticas da vegetao e do ambiente fsico do local a ser recuperado. Com essas informaes
consultar, na listagem, aquelas espcies que pertencem ao tipo de vegetao local, de acordo com o estudo
prvio da regio e anlise de mapas (PIOLLI et al., 2004). As espcies devem ser selecionadas,
preferencialmente, entre as que ocorrem na mesma regio climtica e de solo do local do plantio, devido a
interao que ocorre entre as espcies e o ambiente (BOTELHO et al., 1995). Reis et al. (2003) e Bechara et
al. (2007) defendem que os projetos de recuperao devem priorizar a revitalizao de processos criadores
de condies especficas para a estabilizao de espcies autctones no ambiente perturbado, a partir da
criao de ncleos de regenerao e no apenas o plantio de espcies.
TCNICAS DE RECUPERAO AMBIENTAL PARA MOSSOR-RN
O uso de leguminosas para adubao verde promove modificaes na dinmica de sucesso das
espcies espontneas (FAVERO et al., 2001). De acordo com Linhares (2009) a jitirana (Merremia aegyptia
L.), o mata-pasto (Senna Uniflora (Mill.) e flor-de-seda podem ser empregados com eficincia na adubao
verde na regio semi-rida de Mossor RN. Entre os adubos verdes promissores para a prtica da adubao
verde destacam-se a mucuna-preta (Stizolobium aterrimum Piper & Tracy.), a crotalaria juncea (Crotalaria
juncea L.) e o feijo-de-porco (Canavalia ensiformis DC.), por serem plantas rsticas, de eficiente
desenvolvimento vegetativo, adaptadas as condies de baixa fertilidade e elevada temperatura
(FONTANTTI et al., 2006), como as condies do municpio em questo.
Em projetos de reflorestamento devem-se escolher espcies adaptadas as condies climticas do
municpio. Dombroski et al., (2011) estudando relaes hdricas e condutncia estomtica em plantas
adultas de Mimosa caesalpiniifolia Benth. (sabi), Caesalpinia pyramidalis Tul. (catingueira), Auxemma
Joo Pessoa, outubro de 2011

983
oncocalyx (Allemo) Taub. (pau-branco), Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. (Juc), Calliandra spinosa Ducke
(marizeira), e Tabebuia caraiba (Mart.) Bureau (craibeira), no parque zoobotnico da Universidade Federal
Rural do Semi-rido no municpio de Mossor-RN, verificou que essas espcies apresentaram um potencial
hdrico de -2,90; -2,30; -2,60; -1,00; -1,50 e -0,60 MPa s 07:30hs, respectivamente, e -3,30; -3,45; -3,60; - 2,00; -2,95 e -1,00 MPa s 12:00hs respectivamente. Essas espcies apresentaram uma mxima
condutncia estomtica de 100, 150, 115, 245, 110 e 175 (mmol.m2s1), respectivamente. Esses resultados
caracterizam essas espcies como adaptadas e indicadas para serem usadas em reflorestamento de reas
degradadas no municpio de Mossor-RN.
CONSIDERAES FINAIS
A degradao ambiental resulta de diversos impactos negativos causados pela ao do homem que
modifica as caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas de um ambiente. A melhor e mais barata forma de
recuperao de uma rea degradada a no necessidade de faz-la. Trabalhos de educao ambiental
envolvem poucos recursos e trazem resultados duradouros, representando a melhor forma por evitar o
efeito da degradao e eliminar a causa, que, na maioria das vezes, a falta de conhecimento.
No entanto, para reas j afetadas existem prticas que o homem pode empregar afim, de
restabelecer o seu potencial produtivo, tais como: cobertura vegetal, reflorestamento, adubao verde,
sistemas agroflorestais entre outros. No reflorestamento de uma rea a escolha das espcies a serem
plantadas, baseia-se nas caractersticas da vegetao original, no modelo de reflorestamento escolhido e
na adaptabilidade da espcie as caractersticas locais do ambiente.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ALVES, M.C. & SOUZA, Z.M. Recuperao de rea degradada por construo de hidroeltrica com
adubao verde e corretivo. Revista Brasileira de Cincia do Solo, Viosa-MG, v.32, n.6, p. 2505-2516, 2008.
BARBOSA, A.P.; CAMPOS, M.A.A.; SAMPAIO, P.T.B.; NAKAMURA, S. e GONALVES, C.Q.B. O
crescimento de duas espcies florestais pioneiras, pau-de-balsa (Ochroma lagopus sw.) e caroba (Jacaranda
copaia d. don), usadas para recuperao de reas degradadas pela agricultura na Amaznia central, Brasil.
Acta Amaznica, v.33, 3ed. P. 477-482, 2003.
BECHARA, F.C.; CAMPOS FILHO, E.M.; BARRETTO, K.D.; GABRIEL, V.A.; ANTUNES, A.Z. e REIS, A.
Unidades Demonstrativas de Restaurao Ecolgica atravs de Tcnicas Nucleadoras de Biodiversidade.
Revista Brasileira de Biocincias, Porto Alegre, v.5, supl.1, p. 9-11, jul. 2007. (Nota cientfica).
BOTELHO, S. A; DAVIDE, A.C.; PRADO, N.J.S. e FONSECA, E.M.B. Implantao de mata ciliar.
Companhia Energtica de Minas Gerais. Belo Horizonte: CEMIG. Lavras/UFLA. 28p. 1995.
BRASIL. Ministrio do Interior. Manual de recuperao de reas degradadas pela minerao:
Tcnica de Revegetao. IBAMA. Braslia, DF, 96p., 1990.
CALGARO, H.F.; VALRIO FILHO, W.V.; AQUINO, S.S.; MALTONI, K.L. & CASSIOLATO, A.M.R.
Adubao qumica e orgnica na recuperao da fertilidade de subsolo degradado e na micorrizao do
Stryphnodendron polyphyllum. Revista Brasileira de Cincia do Solo, Viosa-MG, v.32, n.6, p. 13371347, 2008.
CORRA, R. S. & MELO, B. F. Ecologia da revegetao em reas escavadas. In: Corra, R. S.; Melo, B.
F. (ed.). Ecologia e recuperao de reas degradadas no Cerrado. Braslia: Paralelo 15, p.65-99, 1998.
COSTA, M.P.; NAPPO, M.E.; CAADOR, F.R.D. e BARROS, H.H.D. Avaliao do processo de
reabilitao de um trecho de floresta ciliar na bacia do rio Itapemirim-ES. Revista rvore, Viosa-MG, v.34,
n.5, p.835-851, 2010.
CRESTANA, M.S.M.; FERRETTI, A.R.; TOLETO FILHO, D.V.; RBOCZ, G.F.; SHIMIDT, H.A. e GUARDIA,
J.F.C. Espcies arbreas nativas do Estado de So Paulo recomendadas para reflorestamentos. In:
CRESTANA, M.S.M.; FERRETTI, A.R.; TOLETO FILHO, D.V.; RBOCZ, G.F.; SHIMIDT, H.A. e GUARDIA, J.F.C.
Florestas: Sistemas de recuperao com essncias nativas, produo de mudas e legislao. So Paulo,
Imprensa oficial, p.49-84, 2006.
DALTERIO, C. F. V. & VALCARCEL, R. Medidas fisico-biolgicas de recuperao de reas degradadas:
Avaliao das modificaes edficas e fitossociolgicas. In: Jornada de iniciao cientifica, 6., 1996,
Seropdica. Resumos... Seropdica: Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 1996. p.52.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

984
DOMBROSKI, J.L.D.; PRAXEDES, S.C.; FREITAS, R.M.O. e PONTES, F.M. Water relations of Caatinga
trees in the dry season. South African Journal of Botany, v.77, n.2, p. 430-434, 2011.
ENGEL, V.L. & PARROTTA, J.A. Definindo a restaurao ecolgica: tendncias e perspectivas
mundiais. In: Kageyama, P.Y.; Oliveira, R.E.; Moraes, L.F.D.; Engel, V.L.; Gandara, F.B. (eds.) Restaurao
Ecolgica de Ecossistemas Naturais. FEPAF, Botucatu. 340p., 2003.
FAVERO, C.; JUCKSCH, I.; ALVARENGA, R. C. Modificaes na populao de plantas espontneas na
presena de adubos verdes. Pesq. agropec. bras., nov. vol.36, no.11, p.1355-1362, 2001.
FONTANTTI, A; CARVALHO, G. J. de; GOMES, L. A. A; ALMEIDA, K. e TEIXEIRA, C. M. Adubao
verde na produo orgnica de alface americana e repolho. Horticultura Brasileira, Braslia, v. 24, n. 2, p.
146-150, 2006.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, Censo Demogrfico 2010. Disponvel em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/Brasil_tab_1_14.pdf Acesso
em 20/07/2011.
KOBIYAMA, M.; MINELLA, J.P.G. e FABRIS, R. reas Degradadas e sua Recuperao. Informe
Agropecurio, Belo Horizonte, v.22, n.210, p. 10-17, 2001.
LINHARES, P.C.F. Vegetao espontnea como adubo verde no desempenho agro-econmico de
hortalias folhosas. Tese (Universidade Federal Rural do Semi-rido). Mossor-RN, 109p. 2009.
MAJER, J. D. Animals in primary sucession: the role of fauna in reclaimed lands. Cambridge
University Press, Cambridge, U. K. 1989.
MENDONA, E.S.; LEITE, L.F.C. e FERREIRA NETO, P.S. Cultivo de caf em sistema agroflorestal: uma
opo para recuperao de solos degradados. Revista rvore, v. 25, n. 3, p. 375-383, 2001.
PIOLLI, A.L.; CELESTINI, R.M. e MAGON, R. Teoria e Prtica em Recuperao de reas Degradadas:
Plantando a semente de um mundo melhor. PLANETA GUA Associao de Defesa do Meio Ambiente,
Serra Negra SP, p. 55, 2004.
PRIMACK, R. B. & RODRIGUES, E. Biologia da conservao. Londrina: E. Rodrigues, 327 p., 2001.
RODRIGUES, R.R. & GANDOLFI, S. Restaurao de florestas tropicais: subsdios para uma definio
metodolgica e indicadores de avaliao e monitoramento. In: DIAS, L. E.; MELLO, J. W. V. (Eds.).
Recuperao de reas degradadas. Viosa: UFV, SOBRADE, p. 203-215, 2001.
RODRIGUES, G.B.; MALTONI, K.L. e CASSIOLATO, A.M.R. Dinmica da regenerao do subsolo de
reas degradadas dentro do bioma Cerrado. Revista Brasileira de Engenharia Agrcola e Ambiental v.11, n.1,
p.7380, 2007.
REICHMANN NETO, F. Recuperao de reas degradadas na Regio Sul. In: CONGRESSO FLORESTAL
PANAMERICANO, 1., CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 7., Curitiba, 1993. Anais. Curitiba, SBS/ SBEF,
p.102-107, 1993.
REINERT, D.J. Recuperao de solos em sistemas agropastoris. In: DIAS, L.E.: GRIFFITH, J.J. (Ed.).
Recuperao de reas degradadas, Viosa: UFV, p.163-176, 1998.
REIS A.; BECHARA, F.C.; ESPNDOLA, M.B. e VIEIRA, N.K. Restaurao de reas Degradadas: A
Nucleao como Base para os Processos Sucessionais. Ver. Nat. e Conserv., v.1, n.1, p.85-92, 2003.
SABESP. Guia de recuperao de reas degradadas. Edson Jos Andrigueti (superintendente). So
Paulo: SABESP, 2003. (Cadernos Ligao).
SNCHEZ, Luis Enrique. Desengenharia: o passivo ambiental na desativao de empreendimentos
industriais. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2001.
SNCHEZ, L.E. Conceitos e definies. In: Avaliao de impacto ambiental, conceitos e mtodos. So
Paulo: Oficina de textos. P. 17-42. 2006.
SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T. e LINS, L. V. (orgs.) Biodiversidade da Caatinga:
reas e aes prioritrias para a conservao. Ministrio do Meio Ambiente/ Universidade Federal de
Pernambuco, Braslia, p. 7, 2004.
SILVA, M.A.R.; SILVA, P.M.Q. e PINTO FILHO, J.L.O. Tcnicas de Recupeerao de reas Degradadas
por Voorocas. Edito Universitria da Universidade Federal da Paraba, Livro CNEA, v. IV., 2ed., p. 202-205.
Joo Pessoa, PB, 2009.
VALCARCEL, R. & SILVA, Z.S. A eficincia conservacionista de medidas de recuperao de reas
degradadas: proposta metodolgica. Revista Floresta, PR, v.27, n.12, p. 101-114, 1997.

Joo Pessoa, outubro de 2011

985

IMPACTOS AMBIENTAIS PROVENIENTES DA RETIRADA DA COBERTURA


VEGETAL NAS ENCOSTAS DE BANANEIRAS/PB
Renata de Sousa Cordeiro
Graduada em Geografia-UEPB-Guarabira-PB, e-mail: renata.sousa12@yahoo.com.br
Roberlndia da Costa Rodrigues
Graduada em Geografia-UEPB-Guarabira-PB, e-mail: roberll22@hotmail.com
Luciene Vieira de Arruda
Prof.Dra. do Curso de Geografia-UEPB-Guarabira-PB, e-mail: luciviar@hotmail.com

RESUMO
A interveno humana sobre o relevo terrestre, que seja em reas urbanas ou rurais, demanda a
ocupao e a transformao da superfcie do terreno. Dependendo do tamanho dessa interveno, das
prticas conservacionistas utilizadas e dos riscos geomorfolgicos envolvidos, os impactos ambientais
associados podero causar grandes prejuzos ao meio e aos seres humanos (Guerra, 2003). O objetivo
desse trabalho foi realizar um diagnstico da diversidade vegetal nas encostas e plats de Bananeiras - PB,
para conhecer os nveis de degradao de sua cobertura vegetal, a partir da intensificao da ao
antrpica. A pesquisa foi elaborada a partir de levantamentos bibliogrficos e trabalhos de campo. Foram
realizadas visitas tcnicas a cada setor estudado, onde se observou os espaos livres e ocupados, as
transformaes ocorridas nas encostas, e a delimitao das reas de expanso urbana e as reas com um
maior ndice de degradao ambiental, como tambm os processos morfodinmicos ocorridos,
conseqncia dos impactos ambientais. Considera-se para efeitos de discusso, os comentrios e
observaes realizadas pelo pesquisador, sendo assim registrados, analisados e fotografados os diversos
fatores atuantes na modificao do espao geogrfico, ou seja, da geomorfologia da cidade. As
instabilidades ocorridas nas encostas urbanas da cidade de Bananeiras/PB so provenientes de fatores
naturais como a chuva e o clima, mas principalmente de causas antrpicas, como a retirada da cobertura
vegetal original para construo de residncias e conseqentemente a exposio dos solos, queimadas da
vegetao, concentrao de guas pluviais, influenciando ao lanamento dessas guas de forma
inadequada ao meio ambiente, lanamento do lixo em reas elevadas, vazamento da rede de
abastecimento de gua de esgoto e de fossas sanitrias, quando existe a falta de um planejamento urbano,
mudanas na declividade e altura das encostas. A preservao dos recursos naturais garantia de
qualidade de vida para geraes atuais e futuras. Alm da beleza paisagstica, as formaes florestais
equilibram o clima, a diversidade florstica, abriga a fauna, protege os mananciais, promove a estabilizao
de encostas e diminui os impactos causados pelas aes antrpicas.
Palavras chaves: encostas, cobertura vegetal, ao antrpica, instabilidades.
INTRODUO
A interveno humana sobre o relevo terrestre, que seja em reas urbanas ou rurais, demanda a
ocupao e a transformao da superfcie do terreno. Dependendo do tamanho dessa interveno, das
prticas conservacionistas utilizadas e dos riscos geomorfolgicos envolvidos, os impactos ambientais
associados podero causar grandes prejuzos ao meio e aos seres humanos (Guerra, 2003).
O conhecimento sobre a dinmica das comunidades vegetais de grande importncia para a
conservao biolgica, pois esses remanescentes florestais contm populaes de animais e plantas que
atualmente se tornaram raros ou esto em vias de extino. Cada vez mais so necessrios levantamentos
e estudos especficos sobre o seu comportamento, estrutura e dinmica para o estabelecimento de
trabalhos de conservao de espcies, principalmente in situ.
O Brasil um pas de dimenses continentais e detm cerca de 13% de toda a biota do planeta
segundo as estimativas mais conservadoras (BRANDON, K. et al., 2005; LEWINSOHN & PRADO, 2005 apud
MEDEIROS, 2006). Segundo Lewinsohn & Prado (2005), o nmero total de espcies existentes no Brasil
estimado em cerca de 2 milhes. Deste total, apenas 10%, ou seja, algo em torno de 200.000 espcies j
foram identificadas. No entanto, essa cobertura vegetal vem passando por vrias intervenes, por isso a
sua conservao representa um dos maiores desafios do novo milnio.
A necessidade de se buscar a conservao e a preservao da biodiversidade tem se
tornado uma questo prioritria. Nesse contexto, significativa a proteo de reas que venham abranger
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

986
os diversos tipos de ecossistemas, principalmente aqueles que ocupam ambientes serranos, com
declividades acentuadas, onde a perda da cobertura vegetal poder desencadear diversas instabilidades
ambientais.
Sabe-se ainda que os processos de degradao mais freqentes so aqueles causados pela ao da
gua e do vento. Porm as conseqncias se tornam mais srias quando a ao antrpica passa a acelerar
esses processos.
baseada nessa problemtica ambiental que reside a importncia dessa pesquisa, e busca, atravs
de um estudo integrado, analisar e refletir o ambiente como fruto da m utilizao do espao e dos
recursos naturais pela sociedade.
O conhecimento sobre a dinmica das comunidades vegetais de grande importncia para a
conservao biolgica, pois esses remanescentes florestais contm populaes de animais e plantas que
atualmente se tornaram raros ou esto em vias de extino. Cada vez mais so necessrios levantamentos
e estudos especficos sobre seu comportamento, estrutura e dinmica para o estabelecimento de trabalhos
de conservao de espcies, principalmente in situ (GONALVES & SANTOS, 2010).
O objetivo desse trabalho foi realizar um diagnstico da diversidade vegetal nas encostas e plats
de Bananeiras - PB, para conhecer os nveis de degradao de sua cobertura vegetal, a partir da
intensificao da ao antrpica.
Apesar de contriburem para a amenizao do clima, manuteno de florestas e animais, e para a
produo agrcola, as serras do nordeste se apresentam com fortes limitaes e instabilidades por conta da
disposio do relevo, que se apresenta com declives bastante acentuados, bem como pela
impermeabilidade de seus solos. Esse fato condiciona essas reas a constantes processos erosivos, que se
intensificam a partir da presso antrpica sobre essas reas verdes.
Com os intensos desmatamentos sobre os plats e as reas de maior declividade, a
expanso urbana, assim como a agricultura, vai tomando os espaos anteriormente ocupados pela mata
caduciflia acabam por impedir que a vegetao natural se desenvolva.
Nesse contexto, a manuteno de uma cobertura vegetal que impea a intensificao de
processos erosivos e que mantenha os nveis de umidade necessrios reproduo das espcies de vital
importncia.
PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A pesquisa foi elaborada a partir de levantamentos bibliogrficos e trabalhos de campo. Para
atingir o objetivo proposto, iniciou-se o levantamento de dados e uma reviso literria de obras de autores
renomeados da Geografia como primeiro momento, com referencias e diagnstico da diversidade vegetal
nas encostas e plats de Bananeiras - PB, para conhecer os principais nveis de degradao ambiental, a
partir da intensificao da ao antrpica
Aps essa etapa foi realizada uma pesquisa exploratria para se ter um melhor conhecimento de
maneira aprofundada do assunto, e para esclarecer melhor o problema da pesquisa utilizando dos fatos e
fenmenos estudados, tendo como objetivo do trabalho a diversidade vegetal nas encostas e plats de
Bananeiras - PB, para conhecer os nveis de degradao de sua cobertura vegetal, a partir da ao do
homem nas reas mais elevadas da cidade.
Foram realizadas visitas tcnicas a cada setor estudado, onde se observou os espaos livres e
ocupados, as transformaes ocorridas nas encostas, e a delimitao das reas de expanso urbana e as
reas com um maior ndice de degradao ambiental, como tambm os processos morfodinmicos
ocorridos, conseqncia dos impactos ambientais. Considera-se para efeitos de discusso, os comentrios e
observaes realizadas pelo pesquisador, sendo assim registrados, analisados e fotografados os diversos
fatores atuantes na modificao do espao geogrfico, ou seja, da geomorfologia da cidade.
Analisado o material disponvel foi realizado o percurso em toda a rea estudada para uma melhor
compreenso do processo evolutivo no tempo e espao geogrfico referente diversidade vegetal como
tambm a degradao nessas reas.
RESULTADOS E DISCUSSO
As caminhadas e observaes permitiram a visualizao e comprovao de diversas aes
impactantes no solo e na vegetao, principalmente decorrente do fluxo turstico, na qual com a expanso
Joo Pessoa, outubro de 2011

987
dos condomnios construdo no topo das encostas e plats da cidade, destacaram-se assim as queimadas, a
eroso presente em grande parte da serra, o lixo que jogado pelos turistas, como tambm pelos
moradores locais, sem nenhuma preocupao ambiental, plantao de varias culturas em reas de declive
acentuado sem a utilizao de tcnicas adequadas como plantao em curvas de nvel que diminui a eroso
do solo. Tudo isso vai interferir negativamente no desenvolvimento florestal e contribui na fragilidade de
espcies vegetais mais vulnerveis ao antrpica.
O quadro 01 faz referncia s principais espcies vegetais presente nas encostas da cidade de
Bananeiras/PB. Enquanto que o quadro 02 representa as espcies frutferas na qual esto em pequena
quantidade, geralmente oriundas de cultivo para subsistncia.
Quadro 01: Espcies Vegetais Relevantes nas Vertentes-Bananeiras/PB
Nome
Vulgar

Nome cientfico

Famlia

tno-Botnica

Aroeira

Myracrodruon urundeuva Fr
Allemo

Anacardiaceae

Lenha,estaca,carvo,medicina(cas
ca),construo civil.

Bambu

Bambusa vulgaris

Poaceae

Varas ornamentao,construo

Gobiraba

Campomanesia
xanthocarpa.

Mirtaceae

Jatob

Hymenaea courbaril

Caesalpineaceae

Jenipapo

Genipa americana L

Rubiaceae

Juc
Marmeleiro

Caesalpinia ferrea Mart. Ex


Tul. var. Ferrea
Croton
sonderianus
Mll.Arg.

Lenha,alimentao(fruto),medicinal
(folhas).
Lenha,estaca,carvo,construo
civil
Lenha,estaca,carvo,construo
civil

Caesapinoideae

Lenha,estaca,carvo

Euphorbiaceae

Lenha,estaca,carvo,varas.

Pau darco

Tabebuia sp.

Bignoniaceae
Mimosoideae

Lenha,estaca,carvo,construo
civil

Sabi

Mimosa caesalpinifolia

Mimosoideae

Lenha,estaca,carvo.

Vassourinha

Baccharis intermixta

compositae

Lenha,estaca,carvo,
civil.

construo

Fonte: Dados de campo. Julho/2010.

Quadro 02: Espcies Vegetais Frutferas nas Vertentes - Bananeiras/PB


Nome Vulgar

Nome cientfico

Famlia

tno-Botnica

Banana

Musasp
Anacardium
Occidentale

Musaceae

Castanhola

Terminalia catappa L.

Lutjanidae

Coco

Cocos Nucifera

Arecaceae

Goiaba

Psidium guajava

Myrtaceae

Jaca

Artocarpus
Integriflia

Moraceae

Laranja

Citrus Sinensis

Rutaceae

Mamo

Carica Papaya

Ccaricaceae

Manga

Mangifera Indica

Anacardiaceae

Alimentao (fruto).
Alimentao
(fruto),lenha.
Alimentao (fruto),
lenha.
Alimentao
(fruto),lenha.
Alimentao
(fruto),lenha.
Alimentao
(fruto),lenha.
Alimentao
(fruto),lenha.
Alimentao (fruto).
Alimentao
(fruto),lenha.
Alimentao
(fruto),lenha.

Caju

Eugenia
Iuschnathiana Berg
Fonte: Dados de campo. Julho/2010

Pitomba

Anacardiaceae

Myrtaceae

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

988
O quadro 03 apresenta o relevo e suas categorias de comportamento morfodinmico, na qual
aponta suas principais instabilidades ambientais, nas encostas e plats da cidade de Bananeiras/PB.
Quadro 03 - Anlise do relevo de Bananeiras/PB e suas categorias de comportamento
morfodinmico
reas de estabilidade morfodinmica natural
representada

reas de estabilidade morfodinmica de origem


antrpica
reas de estabilidade morfodinmica moderada
rea com alto grau de instabilidade
morfodinmica
rea com alto grau de instabilidade
morfodinmica

-Cobertura vegetal;
-Relevo em forma de patamar e vertentes
cncava e convexa, e declividade de forte
ondulado a montanhoso (45% a 75%);
-Litologia em rochas cristalinas e sedimentares;
-Alta pluviosidade anual, concentradas nos meses
de Abril a Agosto.
- Aumento da urbanizao;
- Terreno impermeabilizado pela construo de
estradas.
- Uso da terra pela agricultura
- reas em processo de urbanizao com
loteamentos nas encostas e plats;
- Processos de voorocamento.
- Terrenos sujeitos a inundaes freqentes;
- Acumulo de entulhos e lixos no curso do Rio
Bananeiras.

Existe uma preocupao constante em como explorar recursos naturais e ao mesmo tempo,
conseguir atingir o desenvolvimento sustentvel (KELLER, 1996 apud CUNHA e GUERRA, 2009).
As florestas protegem as encostas contra a ao dos processos erosivos e dos movimentos de
massa. O desmatamento uma ao bastante impactante, desde fins de utilizao agropastoril, para a
explorao de um determinado recurso natural, como ainda para a expanso de uma cidade. Ficou
enfatizado tambm o papel dos seres humanos na desestabilizao das encostas, quando fazem cortes de
taludes para construrem casas, ruas, prdios, em especial numa cidade que possu morros em quase toda a
sua extenso e um regime de chuvas com freqentes temporais nos meses de vero (CUNHA e GUERRA,
2009).
A cobertura vegetal no intocvel, no entanto, seu corte precisa decididamente ser precedido de
um diagnstico das condies ecolgicas, pedolgicas, geomorfolgicas e geolgicas locais, ou seja,
preciso conhecer os riscos de deslizamentos associados ao uso das encostas (FERNANDES e AMARAL, 1996
apud CUNHA e GUERRA, 2009).
As caractersticas das encostas so importantes para os processos erosivos, no apenas quanto
declividade, como tambm quanto ao comprimento e forma. Observa-se que a natureza da vegetao
(altura, estrutura e espaamento) de extrema relevncia no controle dos processos erosivos, reduzindo
mais ou menos a quantidade de chuva que chega aos solos, bem como diminuindo correspondentemente o
efeito do impacto das gotas de chuva sobre a superfcie (GOUDIE, 1995 apud CUNHA e GUERRA, 2009).
Localizao e caracterizao geoambiental do municpio de Bananeiras/PB
O estado da Paraba tem uma rea de 56.372 km, que se alonga por 443 km em sentido lesteoeste e uma faixa litornea de 133 km. Situa entre os meridianos de 344554 e 384545 a oeste de
Greenwich, e os paralelos de 60212 e 81918 latitude sul, no nordeste oriental do Brasil, limitando-se ao
norte com o estado do Rio Grande do Norte, ao sul com Pernambuco, ao oeste com o Cear e ao leste com
o oceano atlntico (SUDEMA, 2004).
A Paraba est dividida em quatro mesorregies (Mata Paraibana, Agreste Paraibano,
Borborema e Serto Paraibano) e 23 microrregies, totalizando 223 municpios, sendo que a maior parte de
sua rea total (97,78 %) fica situada no que se convencionou chamar de Polgono das Secas, um territrio
onde h grandes chances de serem presenciados prolongados perodos de estiagem, do qual a Paraba
ocupa 5,88 % (Brasil, 1972).
Joo Pessoa, outubro de 2011

989

Fonte: Atlas Geogrfica da Paraba, 2000

O Municpio de Bananeiras est localizado na regio natural do Planalto da Borborema, na


messoregio do Agreste Paraibano e na microrregio do Brejo, seu geossistema a vertente oriental da
Borborema, e como geofcie destaca-se a Serra de Bananeiras, apresenta uma altitude aproximadamente
de 520 metros, distando 94, 1236 km da capital Joo Pessoa. Ocupa uma rea de 258 km e sua populao
de 22.316, suas coordenadas geogrficas em UTM 0209249 e 9251836 (CPRM, 2005).
Os seus limites esto estabelecidos da seguinte forma: limita-se ao Norte com o municpio de Dona
Ins e Campo de Santana, ao Sul com o municpio de Borborema e Pirpirituba, a Leste com o municpio de
Belm, e a Oeste com o municpio de Solnea (IBGE, 2000).
Os terrenos de Bananeiras so dotados de rochas cristalinas e sedimentares, sua unidade
litoestratigrfica do Pr-Cambriano (Neoproterozico e Paleoproterozico) e o Cenozico. Com uma
topografia montanhosa e um relevo dissecado em morros e colinas, o relevo compartimentado com
macios e outeiros do Planalto da Borborema, com uma altitude variando de entre 650 a 1.000 metros,
sendo assim bastante diversificado apresentando classes de declividade, de forte ondulado (20-45%), a
montanhoso (45-75%), suas vertentes so cncavo-convexo forma de patamar, com um relevo dissecado,
na qual a dissecao resulta nas feies de lombada, colina e morro, enquanto as feies residuais
destacam-se os escarpamentos residuais, coberto por uma vegetao subcaduciflia e caduciflia na qual
apresenta assim uma transio para o Agreste (CPRM, 2005).
O municpio de Bananeiras vem sofrendo modificaes quanto aos diferentes tipos de uso da terra,
com a diminuio da proteo do solo e retirada da vegetao natural como a intensificao dos processos
de aplainao e de esculturao do relevo e eroso acelerada derivada da expanso urbana.
A instabilidade de encostas pode ser definida como o grau e freqncia de perda do solo e
movimentos de massa para atingir determinadas reas, os quais so problemas para o desenvolvimento de
atividades humanas, ou tem o potencial para influir na deciso quanto ao uso da terra das reas de
encostas, demandando estudos relativos instabilidade em encostas localizadas em reas urbanas que
envolvem no s uma avaliao do significado da instabilidade, mas tambm um entendimento da interrelao dos fatores naturais e sociais controladores da forma na paisagem (GIRO, 2007).
Para BIGARELLA (2003) a rarefao da vegetao ou o desmatamento, alm da alta pluviosidade,
constitui outro fator condicionante do inicio dos processos de movimentos de massa nas vertentes, onde a
presena da floresta controla o escoamento superficial e a infiltrao das guas no manto de
intemperismo, diminuindo a penetrao excessiva da gua no subsolo.
A perda da vegetao expe o solo eroso permitindo, aps chuvas prolongadas, a penetrao de
um excesso de gua no subsolo, favorecendo o relaxamento dos esforos internos atravs da lubrificao dos
planos de cisalhamento e, conseqentemente, dando inicio aos movimentos de massa (BIGARELLA, 2003, p.
1034).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

990

Figura 01: Derrubada da mata com a conseqente eroso do solo e a lixiviao da matria nutritiva, acelerada pelas
queimadas sucessivas. A eroso tanto mais intensa quanto mais acidentada for topografia, sendo mxima nas regies
montanhosas (BIGARELLA, 1974, 2003).

As instabilidades ocorridas nas encostas urbanas da cidade de Bananeiras/PB so provenientes de


fatores naturais como a chuva e o clima, mas principalmente de causas antrpicas, como a retirada da
cobertura vegetal original para construo de residncias e conseqentemente a exposio dos solos,
queimadas da vegetao, concentrao de guas pluviais, influenciando ao lanamento dessas guas de
forma inadequada ao meio ambiente, lanamento do lixo em reas elevadas, vazamento da rede de
abastecimento de gua de esgoto e de fossas sanitrias, quando existe a falta de um planejamento urbano,
mudanas na declividade e altura das encostas. Todos esses fatores vo influenciar em conseqncias tipo
processos erosivos, voorocas e movimentos de massa em reas de encostas da cidade.
CONCLUSES
No se pode negar a instabilidade ambiental natural, caracterstica das encostas de Bananeiras e
que gera diversas modificaes no meio. No entanto, perceptvel que a degradao da vegetao decorre
do intenso uso do solo, seja pela retirada de matas para o cultivo, pastagens e habitao, intensificados nos
ltimos anos pelo processo de urbanizao e principalmente pela construo de condomnios e
loteamentos fechados.
Para minimizar ou reverter os efeitos negativos da ao antrpica sobre a cobertura vegetal das
encostas e plats de Bananeiras, necessrio alertar os rgos gestores para a necessidade de uma
estratgia de manejo que preserve espcies vegetais importantes da biodiversidade local, sob o risco de
comprometer todo o ecossistema.
Assim, pode-se afirmar que as modificaes ocorridas na cobertura vegetal das encostas de
Bananeiras so intensificadas pela ao antrpica, que sem nenhum planejamento ambiental adequado, se
apropria dos espaos, sem levar em considerao as suas fragilidades naturais.
A ocupao das vertentes da cidade de Bananeiras/PB nos ltimos anos caracterizada por um
considervel aumento populacional, intensificando sua apropriao, pela agricultura, habitaes, e
atualmente a obras, com o objetivo de atender ao turismo rural. Sendo assim, bastante modificado pela
ao social, o relevo apropriado, tornando o solo vulnervel aos processos erosivos, intensificados atravs
da ocupao urbana desordenada, especificamente nas elevaes da cidade.
Para GUERRA e CUNHA (2009) A cidade, que ameaada por processos erosivos acelerados,
agravados por desmatamentos, queimadas, poluio, desvio dos cursos dos rios e fortes alteraes dos
recursos hdricos, precisa encontrar solues para tais problemas que exijam prticas inovadoras de gesto
urbana, com a participao da comunidade (atravs de comits de bairros, por exemplo) na discusso de
prioridades e na definio das medidas de controle.

Joo Pessoa, outubro de 2011

991
No entanto necessrio que se tenha cuidado com o meio ambiente, para que este no venha
sofrer determinados impactos ao meio natural fsico, comprometendo assim a natureza, como j
constatada na pesquisa trabalhada.
O resultado de um trabalho de pesquisa serve, portanto, para mostrar que o dilema est no campo
de valores. De um lado interesses cada vez mais a servio da especulao financeira. De outro a luta para
que os interesses sociais e ecolgicos sejam ferramentas para atingir uma melhor qualidade de vida.
A preservao dos recursos naturais garantia de qualidade de vida para geraes atuais e futuras.
Alm da beleza paisagstica, as formaes florestais equilibram o clima, a diversidade florstica, abriga a
fauna, protege os mananciais, promove a estabilizao de encostas e diminui os impactos causados pelas
aes antrpicas.
Referencias Bibliogrficas
BIGARELLA, Joo Jos. Contribuio de PASSOS, Everton... [et.al.] Estrutura e origem das
paisagens tropicais e subtropicais. Florianpolis: editora da UFSC, 2003. V3 (p.877 1.436): il.
BRASIL. Programa Nacional de Conservao e Desenvolvimento Florestal Sustentado. SENAM IBAMA - Projeto PNUD/FAO/IBAMA-BRA.87/007.Braslia-DF.1991.
CPRM Servio Geolgico do Brasil: Diagnstico do Municpio de Bananeiras PB, Recife, 2005
11p.
CUNHA, Sandra Baptista da. / GUERRA, Antonio Jos Teixeira. (org.) Avaliao e pericia ambiental
9 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009 286p.
GIRO, O; CORRA, A.C.B; GUERRA, A.J.T. Encostas urbanas como Unidades de Gesto e
Planejamento, a partir do estudo de reas a Sudoeste da cidade do Recife PE Revista de Geografia.
Recife: VFPE DCG/NAPA, v. 24, n3, set/dez.2007.
GONALVES, E. O.; SANTOS, C. A. dos. Composio Florstica e Fitossociolgica da Reserva Legal
Riacho Pau-Brasil, Miriri Alimentos e Bioenergia SA Paraba. Guarabira, 2010.
GUERRA, Antonio Jos Teixeira / CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia e Meio Ambiente 7ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009 396p.
GUERRA, Antnio Jos Teixeira / CUNHA, Sandra Baptista da.(org.). Impactos Ambientais Urbanos
no Brasil 5ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009 416p.
GUERRA, Antonio Jos Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista da. A questo ambiental: diferentes
abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
LEWINSOHN, T. M. & PRADO, P. I. How Many Species Are There in Brazil? Conservation Biology,
2005.
MEDEIROS, R. Desafios gesto sustentvel da biodiversidade no Brasil. Floresta e Ambiente, 2006.
SUDEMA Superintendncia de Administrao do Meio Ambiente. Atualizao do diagnstico
florestal do Estado da Paraba Joo Pessoa: SUDEMA, 2004. 268p.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

992

OS PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS NO ENTORNO DO IGARAP MELGAO


E LAGO DO IRIPIXI (ORIXIMIN-PA)
Rodrigo AMARO DA FONSECA E SILVA*
Ruan CARLO STUPEN VEIGA
Adriana QUINTELLA LOBO (Orientadora)
Universidade Federal Fluminense (UFF), Departamento de Biologia Geral, Setor Botnica. Outeiro So Joo Batista, s/n.
Campus do Valonguinho. Centro, Niteri-RJ. CEP: 24020-150
*E-mail: amaro.rodrigo@gmail.com

RESUMO
A Amaznia Brasileira, apesar da sua importncia, vem sendo degradada cada vez mais. O avano
do desmatamento causa inmeros problemas para a humanidade, como a perda de espcies, recursos e
culturas alm do desequilbrio climtico. Este trabalho buscou levantar e descrever os problemas
socioambientais do Igarap Melgao e Lago do Iripixi, Oriximin, Par. O municpio de Oriximin apresenta
grande diversidade biolgica e cultural amaznica, com boa parte de seu territrio contendo Floresta
Ombrfila Densa primria e abrigando tribos indgenas, comunidades quilombolas, ribeirinhos, entre
outros. Entretanto, a populao vem crescendo, acentuando os problemas ambientais que ameaam os
ecossistemas locais como ocorre no Igarap Melgao e Lago do Iripixi e entorno. Os problemas foram
observados de maneira participativa nos arredores do lago e em seguida descritos. Este trabalho apontou o
lixo, esgoto, o desmatamento e o crescimento populacional desordenado como os principais problemas
locais. Uma educao ambiental efetiva importante para a conscientizao da populao e fortalecimento
da cidadania e consequente melhoria ambiental e conservao da biodiversidade.
Palavras chave: desmatamento, lixo, esgoto, educao ambiental, cidadania.
INTRODUO
O bioma amaznico constitui imenso patrimnio de terras e de recursos naturais (Becker, 2005).
Ele abriga diversos ecossistemas que vo do cerrado a floresta densa, da mata de vrzea aos campos
alagados ou inmeras regies de lagos (Pasquis, 2001). Alm disso, apresenta uma enorme diversidade
cultural, convivendo neste territrio em conflito ou harmonia, populaes indgenas com seringueiros,
colonos vindos do sul ou nordeste do pas com caboclos e ribeirinhos, megaempreendimentos agrcolas
com uma produo familiar incipiente e o extrativismo que h sculos se pratica na regio (Ibid.). Alm
dessa biodiversidade e riqueza cultural, a Amaznia provm diversos benefcios gerados pela manuteno
da floresta. Um exemplo disso a importncia na ciclagem da gua e manuteno climtica tanto para o
Brasil como para os pases vizinhos (Fearnside, 2003). A Floresta Amaznica provedora, por exemplo, de
chuvas para amplas reas do Sul e Sudeste, bem como outras reas da Amrica do Sul (Verissimo, 2010).
Alm disso, o papel da floresta na reduo das emisses de gases do efeito estufa estratgico,
contribuindo com pelo menos da meta de reduo de 36% que o pas se comprometeu at 2020 na 15
Conferncia das Partes sobre Clima (COP 15) em Copenhagen (Ibid.).
Atividades como a minerao e os grandes latifndios pecuaristas e monoculturas agrcolas
geralmente so as grandes responsveis pelo desmatamento (Fearnside, 2005). Alm disso, essas
atividades so acompanhadas de investimento macio do governo em infraestrutura, como hidrovias,
ferrovias e rodovias (Ibid.) o que desata uma cadeia traioeira de investimento e explorao que pode
destruir mais florestas do que as prprias plantaes (Fearnside, 2001). Essas atividades e estruturas
incentivam o xodo populacional para a regio, acompanhado de mais desmatamento. Hoje, segundo o
censo realizado em 2010, a populao amaznica j ultrapassa 24 milhes de habitantes (IBGE, 2010).
Embora reas extensas ainda permaneam intactas, a taxa de perda da floresta dramtica, em especial no
arco do desmatamento, ao longo das bordas sul e leste (de Paragominas-PA at Rio Branco-AC)
(Celentano & Verssimo, 2007).
Portanto, so muitos os problemas que ameaam a diversidade biolgica e cultural da Amaznia.
Nas reas florestadas, mais distantes do arco de desmatamento, onde a influncia antrpica ainda
pequena, preciso intensificar a adoo de polticas pblicas para conter o avano do desmatamento
como, por exemplo, a criao de reas Protegidas (Celentano & Verissimo, 2007). Mas a populao no
deve ser excluda dessas reas protegidas, devem agir como protetores da biodiversidade. Iniciativas para o
Joo Pessoa, outubro de 2011

993
manejo sustentvel das reas florestais ocupadas, como a conservao da agrobiodiversidade159 devem ser
estimuladas, fortalecendo as atividades tradicionais e garantindo a perpetuao de culturas antes
degradadas, devido a modelos insustentveis que levavam a padronizao dos modos de produo (MMA,
2004).
Porm, o isolamento da Amaznia e a distncia dos grandes centros polticos do pas fazem
com que a populao seja excluda nos processos de deciso sobre a conservao local. neste sentido que
a educao se mostra imperativa. Primeiramente, aproximando realidades, com a realizao de atividades
acadmicas em formatos participativos, de maneira a apresentar tais realidades ao mundo acadmico,
assim como disseminar dos conhecimentos produzidos nas universidades para auxiliar o fortalecimento
socioambiental (Rodrigues & Silva, 2002). O Programa Nacional de Educao Ambiental (ProNEA) considera
a educao ambiental como um dos instrumentos fundamentais da gesto ambiental, desempenhando um
importante papel na orientao de agentes pblicos e privados para a reflexo, construo e
implementao de polticas pblicas que possibilitem solucionar questes estruturais, almejando a
sustentabilidade socioambiental. Assim, propicia-se a oportunidade de ressaltar o bom exemplo das
prticas e experincias que tiveram xito, como a integrao entre professores e tcnicos ambientais com a
populao e governos (MMA & MEC, 2005). O texto do programa destaca:
A democracia e a participao social permeiam as estratgias e aes sob a perspectiva da
universalizao dos direitos e da incluso social por intermdio da gerao e disponibilizao de
informaes que garantam a participao social na discusso, formulao, implementao, fiscalizao e
avaliao das polticas ambientais voltadas construo de valores culturais comprometidos com a
qualidade ambiental e a justia social; e de apoio sociedade na busca de um modelo socioeconmico
sustentvel (Ibid., p. 34).
Sendo assim, necessrio o conhecimento da realidade e qualidade local na Amaznia,
sendo fundamental para avaliao ambiental estratgica, e para o planejamento de polticas pblicas que
auxiliem no alcance da sustentabilidade local, garantindo a manuteno da biodiversidade (Rodrigues &
Silva, 2002). Segundo Milar (2007), a ao local fundamental para a conservao da biodiversidade em
nveis superiores. Diante desse cenrio, o presente trabalho buscou levantar e descrever os problemas
socioambientais de uma regio impactada na Amaznia Brasileira.
MATERIAL E MTODOS
O trabalho foi realizado no entorno do Igarap Melgao e Lago do Iripixi, localizado na Cidade e
Municpio e de Oriximin, regio norte do Estado do Par, territrio Amaznico Oriental (Figura 1).

159

Nesta diversidade, observam-se mltiplas adaptaes s mais diferentes condies ambientais (solo e
clima, por exemplo) em associao com as mais diversas e prticas culturais. Prticas e saberes associados permitiram
a contnua adaptao desse patrimnio biolgico s modificaes dos contextos ecolgicos e socioeconmicos locais e
nacionais e foram elementos decisivos para a autonomia e a segurana alimentar das comunidades tradicionais e dos
pequenos agricultores (MMA, 2004).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

994

Figura 1: Localizao do Municpio de Oriximin (em destaque, em amarelo), no Estado do Par.


Coordenadas do centro administrativo: 14600 S; 555130 O (Fonte: Oriximin, 2006).
O municpio faz fronteiras com os Estados do Amazonas e Roraima, com Suriname e Guiana e com
outros municpios do estado, como Terra Santa, Juruti, bidos e Faro (MS/UFPA, 2009). O rio Trombetas
corta todo o municpio (Figura 2), sendo extremamente importante como fonte de recursos para a
populao (Oriximin, 2006). Oriximin um municpio que reflete toda a diversidade cultural e biolgica
da Amaznia. Esto presentes comunidades indgenas, quilombolas, ribeirinhos, castanheiros, produtores
de farinha, etc. Alm disso, por possuir mais de 90% de suas terras cobertas por Floresta Ombrfila Densa
nativas e primrias, um excelente abrigo da biodiversidade amaznica (Oriximin, 2006).
O Lago do Iripixi (Figuras 2 a 4), localiza-se na regio sul do municpio, prximo ao centro
urbano da cidade de Oriximin. O Lago possui ligao com diversos igaraps, entre eles o Melgao,
localizado prximo ao bairro Cidade Nova (Figura 3). A regio sudoeste do lago se liga ao Rio Trombetas. O
lago possui aproximadamente 2 km de extenso, com cerca de 200 m de largura. O acesso ao lago se d
atravs dos igaraps. Entre eles o Igarap Melgao, localizado prximo ao bairro Cidade Nova, com cerca
de 200 m de extenso.

Joo Pessoa, outubro de 2011

995

Figura 2: Municpio de Oriximin, Par e seu Patrimnio Natural, onde se pode perceber o Rio
Trombetas (o maior curso d`gua), que corta todo o municpio, as Unidades de Conservao Nacional e as
terras indgenas. Em destaque, encontra-se a rea urbana de Oriximin, onde se localiza ao sul o Lago do
Iripixi (Fonte: modificado de Oriximin, 2006).

Figura 3: Vista area do Lago do Iripixi, Oriximin, Par. A esquerda da imagem localiza-se o
centro urbano de Oriximin (Fonte: INPE: Satlite - CB2; Instrumento CCD; Trajeto - 169/102; Data:
16/07/2008).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

996

Figura 4: Igarap Melgao, Oriximin, Par em poca de baixa do rio.


O trabalho de campo foi realizado entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011. Durante esse
perodo, foram realizadas 8 visitas ao igarap, ao lago e entorno.
Para o levantamento e entendimento dos problemas socioambientais locais, foi utilizada a
metodologia da observao participante, que consiste no apenas na observao ambiental e das
atividades sociais do local, mas tambm a vivncia dessas atividades, junto a entrevistas abertas e
conversas. Esse mtodo permite que se busque entender o local e deixar que os moradores locais
entendam o que se est fazendo (Foote-Whyte, 1977). Em paralelo, foi utilizada a metodologia de
caminhada transversal, na qual percorre-se as reas determinadas junto ao morador ou algum informante,
observado todo o agrossistema e ecossistema indagando sobre questes pertinentes aquele local, situao
no passado, realidade presente, perspectivas, potencialidades problemas e limitaes (Sousa, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSO
O Igarap Melgao e Lago do Iripixi, por sua proximidade com a rea mais populosa e urbanizada
do municpio, recebem grande influncia antrpica o que causa diversos problemas ambientais. Tais
problemas esto descritos a seguir.
- Desmatamento do Igarap Melgao e outras reas do entorno do Lago.
O Igarap Melgao, que liga o Bairro Cidade Nova ao Lago do Iripixi, passa por um processo de
desmatamento de suas margens, assim como algumas outras reas do entorno do lago. Muitas das rvores
foram retiradas para a produo de lenha e explorao de madeira, principalmente pela madeireira e
serralheria localizada nas margens do lago (Figura 5A e B).
Alm disso, existem reas de agricultura no entorno do lago, que utilizam queimadas em seu
processo de preparo da terra para o cultivo (Figura 6). Alguns agricultores admitem que em alguns
momentos, as chamas perdem o controle e atingem reas de floresta. Porm, dizem que falta investimento
e auxilio da prefeitura para a utilizao de maquinrio adequado para que o processo de produo no
inclua a queima do terreno. A Secretaria de Agricultura tambm admite o problema, mas ressalta que em
algumas reas, a mecanizao dos modos de produo subsidiada pela prefeitura vem ocorrendo, porm
de maneira gradual e conforme a demanda, e que em breve, os produtores do lago tambm podero ser
beneficiados. O Secretrio ainda se colocou a disposio para discutir o assunto com os agricultores do
lago.

Joo Pessoa, outubro de 2011

997

A
B
Figura 5: A-B A: rvore cortada para a produo de lenha nas margens do Igarap do Melgao,
Oriximin, Par. B: madeireira e serralheria localizada nas margens do Lago do Iripixi, Oriximin, Par junto
ao rio Trombetas.

Figura 6: Terras queimadas, preparadas para o plantio de mandioca, em uma propriedade


localizada as margens do Lago do Iripixi, Oriximin, Par.
- Lixo
Nas margens do Igarap do Melgao, existe uma rea onde muito lixo era despejado pelos
moradores locais (Figura 7A). Apesar de no ser mais utilizado como destino do lixo local, que agora
recolhido pela companhia local, o local ainda recebe e acumula o lixo. Como o recolhimento de lixo no
regular, o lixo tambm acumula na porta das casas (Figura 7B). Devido s chuvas torrenciais que acontece
toda tarde na cidade, esses resduos so levados para o rio. Muitos moradores se mostraram preocupados
com esse problema. intensificado pelo turismo predatrio. Devido a proximidade com o centro urbano de
Oriximin, o lago do Iripixi um dos locais mais frequentados nos finais de semana e feriados. Com a falta
de fiscalizao e de educao de muitos frequentadores, muito lixo acaba sendo jogado no local. Alm
disso, muitos barcos vindos do rio Trombetas descarregam suas cargas no Melgao, onde tambm h o
transito de gado para as fazendas. E existe muito pouco cuidado com a limpeza durante o embarque e
desembarque de cargas, com muitos resduos sendo destinados no igarap.

A
B
Figura 7: A: resduos do antigo lixo localizado no Melgao, Oriximin, Par. B: lixo acumulado na
porta de uma casa, Melgao, Oriximin, Par.
- Esgoto
Outro problema o despejo de esgoto no rio e no Melgao. Nesse local, assim como em outras
regies do rio Trombetas, existem sadas de canaletas, componentes da rede de drenagem municipal, que
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

998
levam a gua da chuva para o rio. A gua dos chuveiros e pias lanada diretamente nessas valas, levando
detergentes e resduos para o local. Alm disso, segundo o plano diretor do municpio, menos de 30% das
casas possuem fossas spticas (Oriximin, 2006) e, com isso, em algumas das residncias, principalmente
nos locais mais pobres (como o caso da Cidade Nova), o esgoto sanitrio lanado diretamente nas
canaletas. Consequentemente ocorre contaminao das guas do rio e do lago (Figura 8 A e B).

A
B
Figura 8: A: sada de esgoto no Melgao. B: canaleta levando lixo e esgoto para o igarap.
- Assoreamento do igarap e do lago
O desmatamento do entorno e o despejo de resduos no lago causam o assoreamento do lago
como j abordado. Esse assoreamento acelerado porque o lago est localizado em rea mais baixa que a
cidade, que possui ruas asfaltadas. Assim, as guas da chuva correm com mais rapidez para o rio e lago
carregando lixo e outros resduos.
O problema do assoreamento to srio, que em pocas de baixa do rio (entre julho e janeiro) a
ligao entre o lago e o Rio Trombetas chega a ser interrompido, como ocorreu em 2010, em uma das secas
mais extremas da regio amaznica. A empresa de madeira e serraria, localizada no lago realizou a
dragagem do local, refazendo a ligao com o rio.
- Minerao e seus problemas indiretos no igarap Melgao e Lago do Iripixi
O municpio de Oriximin abriga a Mineradora de bauxita Rio do Norte (MRN) desde a dcada de
70, o que atraiu muitos imigrantes para a regio em busca de novas oportunidades de trabalho (Silva,
2000). A minerao causa muitos impactos ambientais, desde o desmatamento e contaminao do solo, ar
e gua at problemas indiretos, relacionados principalmente com o desenvolvimento desordenado das
infraestruturas e o crescimento populacional (Karr, 1993). Segundo o ltimo Censo realizado pelo IBGE
(2010), a populao da Amaznia maior do que 60 mil habitantes, com um aumento superior a 10% nos
ltimos 5 anos (IBGE, 2010). Com o aumento da populao e a ocupao desordenada a presso sobre a
natureza aumenta, seja para ocupao ou retirada de recursos. Assim, apesar de estar localizado em uma
regio distante do Igarap Melgao e Lago do Iripixi, a atividade mineradora da MRN gera impactos
indiretos sobre o ambiente do lago. O crescimento populacional de Oriximin foi acompanhado pela maior
ocupao do igarap e lago de maneira desordenada, o que intensifica os impactos ambientais no local.
Calcula-se que a viabilidade de explorao de bauxita dure cerca de 60 ou 70 anos (Coelho &
Monteiro, 2003). Quando essa atividade se extinguir, e com a populao crescendo no ritmo atual, fortes
presses s florestas ocorrero caso uma atividade complementar a minerao no seja sustentavelmente
desenvolvida. Assim, apesar de estar distante das bordas do arco do desmatamento, Oriximin deve
receber ateno especial para que no se equiparem s outras reas degradadas, com o desenvolvimento
de atividades sustentveis em nvel local, que garanta a harmonia entre as atividades humanas e a
conservao biolgica (Fearnside, 2003).
Os problemas descritos anteriormente podem causar srios impactos para o Lago do Iripixi, seus
igaraps e ao municpio. Os efeitos da dinmica natural, combinados com as perturbaes antrpicas,
podem levar a uma desestabilizao da integridade do ambiente do lago, induzindo mudanas profundas
das unidades fisiogrficas, quase sempre com uma significativa reduo na biodiversidade (Portz, 2010). A
entrada excessiva de resduos pode levar ao fechamento do canal de ligao do lago com o rio, por
exemplo, podendo gerar mudanas profundas nas caractersticas ambientais do ecossistema e a morte de
muitos organismos.
A soluo desses problemas ambientais fundamental para a manuteno da biodiversidade local.
Para isso, o governo local, educadores e a populao devem agir em conjunto. Atividades no entorno do
lago devem ser monitoradas e o manejo sustentvel deve ser estimulado. importante que a populao do
Joo Pessoa, outubro de 2011

999
entorno, com o devido apoio do Poder Pblico, auxilie na conservao biolgica, servindo como guardies
da Natureza. Segundo Oliveira, et al. (2008, p. 58):
(...) comunidades rurais podem se tornar fortes aliados no processo de conservao da Amaznia.
Estes atores sociais, em sua maioria, dependem diretamente dos recursos naturais para sua sobrevivncia e
sua ligao com recursos naturais se caracteriza por relaes que vo alm da dependncia econmica,
incluindo tambm os valores de subsistncia, os valores culturais e relaes socioambientais.
Portanto, importante para a conservao da biodiversidade, a conscientizao da
populao e do governo sobre a importncia de um manejo adequado dos recursos e da diminuio dos
impactos ambientais sobre o ecossistema do Igarap Melgao e Lago do Iripixi. Neste sentido, o
fortalecimento da educao ambiental para a conscientizao sobre a importncia da conservao, assim
como para cidadania dos moradores, de extrema importncia. Nesse contexto, a educao ambiental
aponta para propostas pedaggicas centradas na conscientizao, mudana de comportamento,
desenvolvimento de competncias, capacidade de avaliao e participao da populao (Reihota, 1998).
Alm disso, a educao ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudana de valores e
aperfeioamento de habilidades, condies bsicas para estimular maior integrao e harmonia dos
indivduos com o meio ambiente (Pdua & Tabanez, 1998). Dessa maneira, possvel garantir o alcance dos
objetivos sustentveis em nvel local, primeiro passo para que se alcance a esses objetivos em maiores
escalas, at que se atinja um nvel global ideal na relao homem/natureza.
AGRADECIMENTOS
UAJV (Unidade Avanada Jos Verssimo) e PROEX-CIAEX (UFF) e seus funcionrios.
Agradecemos tambm aos moradores do Lago do Iripixi (Oriximin-PA).
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BECKER, BK. (2005). Geopoltica da Amaznia. Arquivos do Instituto de Estudos Avanados da USP
v. 19, n. 53: 71-86.
CELENTANO, DA &. Verissimo JM (2007). O avano da fronteira na Amaznia: do boom ao colapso.
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia Belm, PA. 44pp.
COELHO, MCN & Monteiro, MA (2003). Verticalizao da produo e variedade de situaes sociais
no espao funcional do alumnio nos baixos vales do Amazonas e Tocantins. Revista Territrio v. 7, n. 11:
12-25.
KARR, JR, (1993). Measuring biological integrity: lessons from streams. In: Woodley S, Kay J, Francis
G (eds). Ecological integrity and the management of ecosystems. St. Lucie Press, Ottawa, Canada. p. 83-104.
FEARNSIDE, PM. (2001) Soybean cultivation as a threat to the environmental in Brazil.
Environmental Conservation v. 28: 23-38.
FEARNSIDE, PM. (2003). A Floresta Amaznica nas Mudanas Globais. Instituto Nacional de
Pesquisas da Amaznia- INPA, Manaus, AM. 134pp.
FEARNSIDE, PM. (2005). Desmatamento na Amaznia brasileira: histria, ndices e consequncias.
Megadiversidade v. 1, n. 1: 113-123.
FOOTE-WHYTE, W. (1977). Treinando a observao participante. In: Zaluar, A (org.), Desvendando
Mscaras Sociais. Francisco Alves, Rio de Janeiro, RJ. pp. 77-86.
IBGE. Censo (2010). Disponvel em: censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=15.
Acessado em: 21 de julho de 2011.
MILAR, E. (2007) Direito do Ambiente: A Gesto Ambiental em Foco. Editora Revista dos Tribunais,
So Paulo, SP. 5 Ed. 1280pp.
MMA (2004) Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Programa Nacional da Diversidade Biolgica
PRONABIO. Encontro Nacional Sobre Agrobiodiversidade e Diversidade Cultural.
MMA & MEC. (2005). ProNEA: Programa nacional de educao ambiental. Braslia. Presente em:
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/pronea3.pdf. Acessado em: 21 de
Julho de 2011.
MS/UFPA. (2009). Diagnstico Local Do Municpio De Oriximin/PA. Arquivos da UFPA, 196pp.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1000
OLIVEIRA, ACM, Nepstad, DC, MacGrath, DG & Silva, AF. (2008) Impactos ecolgicos do manejo
comunitrio de recursos naturais em comunidades ribeirinhas de vrzea e terra firme na regio de Tef-AM.
Novos Cadernos NAEA v. 11, n. 2: 57-84.
ORIXIMIN. (2006). Lei Complementar n. 6.924 de 06/10/2006- Plano diretor municipal
participativo cidade de todos: Relatrio de leitura tcnica da realidade municipal. 59pp.
PDUA, S & Tabanez, M. (1998) Educao ambiental: caminhos trilhados no Brasil. Editora Ip, So
Paulo, SP. 286pp.
PASQUIS, R. (2001) Diagnsticos dos formatos de ocupao do espao Amaznico. NAPIAm
Ncleo de Apoio s Polticas Integradas para a Amaznia. Braslia, DF. 62pp.
PORTZ, LA. (2010) Turismo e degradao na orla do Rio Grande do Sul: conflitos e gerenciamento.
Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente n. 22: 153-166.
REIHOTA, M. (1998) Desafios educao ambiental escolar. In: Jacobi, P. (org.). Educao, meio
ambiente e cidadania: reflexes e experincias. SMA, So Paulo, SP. p. 43-50.
RODRIGUES, JMM & Silva, EV. (2002). A Classificao das Paisagens a partir de uma viso
geossistmica. Revista Mercator v. 1, n. 1: 95-112.
SILVA, MAR. (2000). Royalties da Minerao: Instrumento de Promoo do Desenvolvimento
Sustentvel de Regies Mineradoras na Amaznia Oriental? Cadernos IG v. 8, n. 1/2: 3-21.
SOUSA, MMO. (2009). A Utilizao de metodologias de diagnstico e planejamento Participativo em
assentamentos rurais: o diagnstico rural/Rpido participativo (DRP). Revista Em Extenso v. 8, n. 1: 34-47.
VERISSIMO, R. (2010) A Amaznia em 2020. Revista poca n. 657: 96-97.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1001

O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL E O AMBIENTE DO TRABALHO NA


EXTRAO DE OPALA EM PEDRO II (PIAU)
Sheila Oliveira de FREITAS
Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente/ sheilafreitas83@hotmail.com
Jara Maria Alcobaa GOMES
Professora do Departamento de Cincias Econmicas/UFPI; E-mail: jairamag@uol.com.br

RESUMO
O presente trabalho prope anlise breve do setor mineral no Brasil por meio de aspectos como
participao no PIB, empregabilidade, assim como as mudanas promovidas pela relao de governana
entre os atores que compem o Arranjo Produtivo Local (APL) da opala em Pedro II - Piau. Na organizao
desse Arranjo, em 2005, predominava a informalidade do setor gerando acidentes de trabalho e impactos
ambientais na regio. O objetivo geral verificar que mudanas foram promovidas no ambiente do
trabalho desde a organizao do projeto em Arranjo Produtivo Local da Opala. A pesquisa foi realizada com
base na metodologia de estudo de caso compreendendo etapas como pesquisa em documentos
administrativos de parceiros do APL, pesquisa de campo para verificao das atuais condies de trabalho
nas minas Boi Morto, Mamoeiro e Roa e entrevista a integrantes da Cooperativa de Garimpeiros de Pedro
II. A escolha dos garimpos mencionados ocorreu em razo da produo anual dos mesmos, considerados
por isso mais importantes da regio pela COOGP. Observaram-se mudanas quanto ao uso de ferramentas
de trabalho, como decorrncia da consolidao do Projeto APL da Opala na regio que tem gerado
conseqncias positivas para os trabalhadores dos garimpos a partir do momento em que diminui os riscos
de acidente de trabalho, atenua aspectos como exposio ao sol com o uso de vestimentas doadas pela
cooperativa e incentiva o uso de botas e mscaras pelos trabalhadores.
Palavras-chaves: Minerao, Opala, Governana, Cooperativa
1 INTRODUO
Necessria em atividades bsicas como habitao, transporte, saneamento bsico, alm do seu uso
em reas como a tecnologia de ponta e medicina, a minerao uma atividade imprescindvel a
sobrevivncia do homem moderno (Dias, 1999). Em razo disso, uma das tarefas mais relevantes para a
formulao de uma polcia mineral racional a quantificao dos recursos e reservas minerais de um pas
e/ou de uma regio (MACHADO, 1989).
Ainda no mbito da importncia dos recursos naturais, torna-se importante ressaltar que
minerao de gemas se constitui como uma atividade de grande importncia econmica na qual o Brasil
chega a responder por 1/3 do volume de gemas comercializadas no mundo, sendo o nico produtor da
"Opala Pedro II" (no estado do Piau), "topzio Imperial" e "Turmalina Paraba" (RODRIGUES, 2009).
A minerao no municpio de Pedro II (PI) tem sido realizada desde a dcada 1960, quando o
governo estadual comea a atuar na pesquisa e explorao de recursos minerais (FUNDAO CEPRO,
2005). Contudo, foi somente na dcada de 1980 que configurou-se uma preocupao maior com a
formalidade do setor mineral nesse municpio, partir da organizao de instituies privadas e pblicas com
o objetivo tentar fortalecer a cadeia produtiva da opala (MILANEZ; PUPPIM, 2009).
De acordo com Piau (2008) a atividade mineratria passou a ser regulamentada na regio a partir
do ano de 2005 com apoio governamental e de empresas privadas caracterizando a organizao e gesto
do Arranjo Produtivo Local da Opala (APL). Esse Arranjo possui entre outros objetivos a consolidao da
cadeia produtiva dessa gema por meio de uma abordagem sistmica e integrada dos atores que a compe
(PIAU, 2008).
por considerar o importante papel desempenhado pela minerao, capaz de promover o
desenvolvimento de reas que se torna importante investigar que mudanas ocorreram no mbito da
minerao de gemas praticada em Pedro II a partir da organizao do APL da opala, j que pressupe-se
que com a formalizao da atividade no municpio mencionado e a instituio da Cooperativa de
Garimpeiros, o grau de fiscalizao por parte dos rgos governamentais e dos parceiros do Arranjo, assim
como o comprometimento com o uso de ferramentas de trabalho aumentou nos ltimos anos.
Dessa maneira, tem-se com objetivo geral a anlise das condies no ambiente do trabalho nos
garimpos Boi Morto, Roa e Mamoeiro, localizados no municpio de Pedro II, especificamente quanto ao
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1002
uso equipamentos bsicos que auxiliem a explorao da gema, dificulte a ocorrncia de acidentes de
trabalho, atenue a exposio ao sol e a inalao de partculas de slica, o que torna relevante a anlise para
fins de informao sobre as mudanas estimuladas pela organizao e consolidao do APL nessa rea.
2 OS RECURSOS MINERAIS NO BRASIL
Guerra (2008) chama de mineral uma massa inorgnica natural de composio qumica definida
que sofreu um ou vrios tipos de cristalizao, contudo, esse mesmo autor define minrio como aquele
mineral ou associao de minerais, metlicos ou no metlicos, podem ser explorados comercialmente em
razo do valor econmico que possuem.
O territrio nacional apresenta uma riqueza preponderante a nvel internacional vis-a-vis as
conseqncias impactantes geradas ao meio ambiente como degradao visual da paisagem, do relevo, do
solo, alm de transtornos gerados as populaes que habitam a rea circundante de projetos minerrios e
comprometimento da sade de pessoas envolvidas na execuo das atividades (BARRETO, 2001; DIAS,
1999).
O Instituto Brasileiro de Minerao concluiu a partir da anlise das perspectivas de crescimento no
setor em 2010, que essa seo da economia responsvel por cerca de 50% do saldo da balana comercial,
ressaltando-se a relevncia do minrio de ferro como produto que gera as maiores rendas, ocupando em
razo disso, o primeiro lugar na lista de exportaes (IBRAM, 2010). Alm disso, esse setor manteve nesse
mesmo ano, no que se refere empregabilidade, cerca de dois milhes de trabalhadores diretos, sem
mencionar os indiretos e aqueles empregos gerados nas reas de pesquisa, prospeco e planejamento e
mo-de-obra ocupada nos garimpos (IBRAM, 2010).
O potencial de exportao de algumas dessas substncias demonstrada na Tabela 01, na qual
evidenciado o potencial de participao do Brasil no cenrio mundial como detentor do primeiro lugar em
exportao de nibio, segundo na exportao de minrio de ferro e mangans, o terceiro em bauxita e o
sexto em caulim (IBRAM, 2010).
Tabela 1 Participao na pauta de exportaes brasileiras de substncias minerais no ano de 2010
Representao na produo
Substncia mineral
Posio ocupada pelo Brasil
mundial (%)
Nibio
96,0
Minrio de Ferro
16,0
Mangans
18,0
Bauxita
14,0
Caulim
7,8
Fonte: Dados bsicos IBRAM (2010).

1
2
2
3
6

2.1 Condies para a explorao mineral


A minerao no Brasil est submetida a um conjunto de normas que tratam do aproveitamento dos
recursos naturais, hierarquizadas a nvel federal, estadual e municipal que disciplinam desde a
dominialidade e competncia para legislar at a previso dos regimes utilizados para efetivar a atividade
(Brasil, 2008).
A constituio Federal brasileira de 1988 afirma que os recursos minerais inclusive os do subsolo
pertencem a Unio, cabendo a mesma estabelecer as condies e as reas para o efetivo exerccio da
atividade de garimpagem em forma associativa, sendo relevante frisar que compete a ela legislar
privativamente sobre as jazidas, minas e outros recursos minerais e metalurgia (art. 20,21 e 22). Sobre isso
torna-se relevante fazer aluso as afirmaes de Viana (2007) que menciona os rgos responsveis em
nvel federal, entre os quais esto o Ministrio do Meio Ambiente (MMA), Ministrio das Minas e Energia
(MME), Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM), Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis (IBAMA).
Conforme Dias (1999) a atividade mineratria representa um verdadeiro desafio para as
autoridades ambientais, haja vista que a minerao nos Estados Brasileiros o setor que mais demanda
pedidos de licenciamento ambiental.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1003
Associada a legalizao da atividade, tem-se o cooperativismo mineral, previsto na constituio de
1988, e caracterizado como aquele formado por cooperativas cujo principal intuito segundo Brasil (2008, p.
22) o de: "[...] extrair, lavrar, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais [...]".
Ainda segundo Brasil (2008), o cooperativismo sistema organizado, e as cooperativas so
definidas como associaes de cunho autnomo, formadas por quotas de participao de pessoas que se
unem de forma voluntria, objetivando satisfazer suas necessidades comuns, sejam elas sociais,
econmicas ou culturais (BRASIL, 2008).
O sistema cooperativista era regulamentado pela Lei n 5.764/71, contudo, com a instituio do
novo cdigo civil em 2002, esse sistema sofreu algumas alteraes passando a ser regulamentado pela Lei
n 10.406/2002, que dentre outras alteraes destaca a ausncia do nmero mnimo de associados, que
anteriormente era limitado em 20, e a dispensa da variabilidade do capital social, representado na Lei
anterior por quotas-partes (BRASIL, 2008).
2.2 A minerao no Piau
O Estado do Piau possui significativa importncia no cenrio nacional com sua maior produo
voltada para minerais usados na construo civil, contudo, foi a partir de um relevante nmero de
trabalhos desenvolvidos nas ltimas dcadas, relacionados a geologia do territrio, que se constatou que o
potencial desse estado bastante diversificado, principalmente no que se refere aos recursos gemolgicos
como opala, diamante, variedades de quartzo, turmalina e esmeralda, alm dos j mencionados minerais
de uso na construo civil como aqueles demonstrados no Quadro 01 (FUDAO CEPRO, 2005).
Atividade
Minerao

Municpios Onde Ocorre(m) a(s) Explorao(es)


Pedro II, Capito Gervsio, Buriti dos Lopes,
Monte Alegre, Santa Filomena, Juazeiro, Curral
Novo,
Castelo do Piau, Antnio Almeida, Oairas e Lagoa
Alegre
Explorao de Brita
Monsenhor Gil, Lagoa Alegre
Explorao de Argila (Cermica) So Joo do Piau, Parnagu,Campo Grande, Campo
Maior, Lus Correia, Tereina
Explorao de areia
Patos do Piau
Extrao/Pesquisa de Opala
Pedro II
Explorao de Pedreira
Picos, Patos do Piau
Lavagem de Brita e Seixo
Teresina
Explorao de Calcrio
Antnio Almeida, Fronteiras, Crimat, Porto Alegre
do Piau
Explorao de Diamante
Gilbus
Quadro 01. Principais atividades minerrias no Piau e municpios onde so executadas
Fonte: Adaptado de FUNDAO CEPRO (2005).
2.3 A extrao de opala em Pedro II
Sobre os recursos gemolgicos torna-se importante ressaltar as observaes de Guerra (2008) que
define como gemas ou pedras preciosas, aquelas substncias minerais que podem ser transformadas em
jias, objetos de arte e ornamentos, possuindo caractersticas diversas como dureza, cores e nuances que
lhe conferem valores econmicos diferenciados. Considerando a riqueza gemolgica apresentada pelo
Brasil, pode-se destacar Piau com a produo de opala, gema que configura esse Estado como o segundo
maior produtor mundial (CEPRO, 2005) perdendo espao no mercado internacional apenas para a Austrlia,
possuidor de gemas com maior jogo de cores, porm com potencial de dureza inferior ao das opalas
piauienses em razo do menor teor de gua apresentada pelas mesmas (OLIVEIRA, 1998).
IBGM (2009) define a opala como um mineral pertencente a classe dos silicatos com sistema de
cristalizao amorfo representada pela frmula qumica SiO2nH2O. Essa gema pode possui nvel de brilho
varivel de vtreo a resinoso, no apresenta clivagem e, entre suas caractersticas de identificao esto as
vrias incluses naturais que garantem o jogo de cores presente na mesma (IBGM, 2009).
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1004
Oliveira (1998) expe o Brasil como o segundo maior produtor mundial, sendo o Piau o nico
estado brasileiro a produzir essa gema com a classificao preciosa, alm das outras variedades,
encontradas nos municpios Pedro II e Buriti do Montes - PI, sendo importante esclarecer que a diversidade
de cores na opala se deve interferncia da luz em esferas de cristobalita ou regularmente dispostas, que
constituem a estrutura do mineral, alm da presena de impurezas como xido de ferro (opala em tom
amarelado ou vermelho) e mangans (tom que varia de cinza a preto), matria orgnica e ainda cavidades
preenchidas por gases (responsveis pelo aspecto leitoso de algumas dessas gemas).
A partir da classificao da opala segundo seu jogo de cores, em comum ou preciosa, afirma-se que
o primeiro tipo encontrado de forma abundante no municpio de Buriti dos Montes (PI) geralmente
usado na confeco de adornos artesanais ou mesmo como pedras para colees. Todavia, o segundo tipo,
identificado a partir da combinao de cores que se assemelham ao arco-ris, variando de acordo com o
ngulo em que se observa bastante encontrado em Pedro II (PI).
Considerados tradicionais, os garimpos de opala na regio de Pedro II esto em atividade desde a
dcada de 1960 quando a atividade de garimpagem fez florescer pequenas indstrias de lapidao e
artesanato mineral (FUNDAO CEPRO, 2005)
A Mina do Boi Morto, onde a atividade garimpeira s foi iniciada por volta de 1961, se constitui
como o jazimento mais importante da regio localizando-se a 3 km ao norte da sede do municpio de Pedro
II. Nessa rea a opala forma veios e vnulas, preenchendo fraturas nos arenitos mdios e grosseiros
intensamente silicificados, nos diabsios e nas argilas (OLIVEIRA, 1998).
A Mina da Roa, na qual a opala ocorre sempre como veios e vnulas associados ao diabsio,
localiza-se a 7 km a sudoeste da cidade de Pedro II, foi descoberta por volta de 1960 (OLIVEIRA, 1998),
entretanto, a minerao primria foi lavrada somente na dcada de 1970 atravs de parcerias e
arrendamento entre diversas empresas (FUNDAO CEPRO, 2005).
Localizada a 5 km da sede municipal de Pedro II, est Mina Mamoeiro, cujas opalas apresentamse em forma de veios preenchendo fraturas e fendas nos arenitos, no topo dos diabsios e em nvel
argiloso no qual a gema ocorre em forma de fragmentos irregulares, distribudos em bolses isolados e
errticos (SOUZA, 1985; OLIVEIRA, 1998).
2.4 A importncia do arranjo produtivo local da opala
Dada a importncia da gema no mercado nacional e internacional, torna-se necessrio esclarecer
que a cadeia produtiva dessa gema sofreu grandes alteraes quando foi organizado nos municpios de
Pedro II e Buriti dos Montes o Arranjo Produtivo Local da Opala a partir do ano de 2005, chamado no
presente trabalho de APL e organizado com o objetivo primordial de aumentar a produtividade e consolidar
a cadeia produtiva dessa gema por meio de uma abordagem sistmica e cooperativa, que incluam etapas
de agregao como pesquisa mineral, lavra beneficiamento, lapidao, design e outras (PIAU, 2008). Esse
arranjo caracteriza-se por ser uma cadeia de produo compartilhada e especializada, em que o nvel de
colaborao, cooperao e comprometimento entre os empreendimentos e outros agentes se diferencia
muito das aglomeraes empresariais (BRASIL 2005).
Os APLs podem ser classificados segundo o tamanho e nmero de empreendedores, nvel de
desenvolvimento tecnolgico e o sistema de Governana (PEITER et. Al. 2007). Entende-se como
governana os diferentes modos de interveno, coordenao participao nos processos de deciso dos
diferentes atores nas diversas atividades que envolvam os fluxos de organizao e comercializao,
gerao, uso e disseminao de conhecimentos (LASTRES; CASSIOLATO, 2005). No APL da Opala ocorre a
parceria entre governo e empresas de forma articulada (figura 01) caracterizando o sistema de governana,
com objetivo de promover alm do crescimento econmico da regio atravs da arrecadao da CFEM
(Compensao Financeira Pela Explorao de Recursos Minerais), o desenvolvimento da mesma com o
respectivo respeito as normas ambientais e trabalhistas.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1005

Figura 01. Interao organizacional entre os


vrios agentes que compe o APL da opala
Fonte: MIDIC, 2008

3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
O municpio de Pedro II est localizado na microrregio de Campo Maior (PI), a cerca de 200 km da
capital Teresina. Esse municpio contava com uma populao de 37.496 habitantes em 2010, distribudos
em uma rea territorial de 1.518,225 km2, apresentando uma densidade demogrfica de 24,70 hab/km2
(IBGE, 2011). A regio est localizada na rea do semi-rido brasileiro, fato que explica a concomitncia
com que praticada a minerao da gema opala e a agropecuria com fins de complementao de renda
(MILANEZ; PUPPIM, 2009).
Segundo Piau (2008), o Projeto em Arranjo Produtivo Local da Opala desenvolvido abrangendo os
municpios de Pedro II e Buriti dos Montes PI. Entretanto a rea de estudo limita-se aos garimpos Boi
Morto, Mamoeiro e da Roa, localizados no municpio de Pedro II em razo da produo anual superior ao
de outros garimpos na rea.
Para compreender o ambiente do trabalho, sero analisados nessas minas, aspectos como a carga
horria de trabalho, uso de ferramentas e conforto dos trabalhadores durante o processo de extrao da
gema opala.
A pesquisa foi realizada no municpio mencionado onde em 2005 foi organizado o Arranjo
produtivo local da opala objetivando consolidar a cadeia produtiva dessa gema a partir da interao entre
agentes econmicos, sociais que tendem a efetivar de maneira gradativa o desenvolvimento econmico da
regio.
importante frisar que alm do pouco investimento econmico no setor mineral, o municpio de
Pedro II passou a exercer essa atividade com as exigncias legais em relao ao ambiente do trabalho com
o uso das ferramentas adequadas h pouco tempo, pois foi com a organizao do APL na regio que o grau
de fiscalizao e comprometimento passou a aumentar gradativamente (MILANEZ; PUPPIM DE OLIVEIRA,
2009).
Durante a pesquisa foi aplicada a metodologia de estudo de caso Yin (2005) com a utilizao de
documentos administrativos de parceiros do APL como fonte de informaes. Entre esses parceiros esto a
Cooperativa de Garimpeiros de Pedro II (COOGP), o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos
(IBGM), o Departamento Nacional de Produo Mineral (DNPM), o servio de apoio a micro e pequenas
empresas (SEBRAE), a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econmico e Tecnolgico (SEDET) e o
Servio Geolgico do Brasil (CPRM), assim como a concomitante pesquisa de campo para observao direta
da rea de estudo para anlise das mudanas nas condies de trabalho nos garimpos Boi Morto,
Mamoeiro e Roa.
4. RESULTADOS E DISCUSSO
De acordo com Piau (2008), a minerao em Pedro II caracteriza-se pelo baixo nvel tecnolgico, no
qual predomina o uso de tcnicas rudimentares, a informalidade e a falta de qualificao dos atores
envolvidos no processo vis--vis a prtica da agricultura e pecuria com fins de complementao da renda.
A realidade da regio comea a sofrer mudanas positivas a partir da organizao e coordenao de atores

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1006
cujo objetivo principal desenvolver a cadeia produtiva da gema por meio de uma abordagem sistmica e
cooperativa.
Fundada em 2004 por incentivo do DNPM, a Cooperativa de Garimpeiros de Pedro II conta
atualmente com 150 associados dos cerca de 350 garimpeiros atuantes na rea por essa razo, cerca de
200 trabalhadores ainda trabalham de forma autnoma, peridica e sem o apoio da COOGP. Entre as
exigncias para se associar, esto o curso de cooperativismo realizado pelo SEBRAE e o pagamento do valor
de R$ 400,00 parcelado em at 20 vezes para aquisio da cota-parte da cooperativa, alm do pagamento
de 10% do valor encontrado em gemas para manuteno da mesma.
De acordo com COOGP, no municpio de Pedro II os garimpeiros e compradores costumam
classificar a opala em seis tipos, que so respectivamente:
Opala super extra (quando apresenta seis das sete cores do arco-ris de maneira intensa); Opala
extra (apresenta pelo menos cinco cores das sete do arco-ris, principalmente verde, azul e lils); Opala boa
(semelhante opala extra, apresentando quatro ou cinco cores, porm, com menos intensidade de brilho);
Opala mdia (cerca de duas ou trs cores, porm com menor intensidade de brilho do que a opala extra);
Opala fraca (apresenta mais cores que a leitosa, mas sem intensidade de brilho); Leitosa (quando apresenta
apenas uma cor de maneira uniforme - totalmente azul, branca, amarelo ou lils).
Entre as dificuldades encontradas atualmente est a gradativa diminuio da mo-de-obra
empregada no setor, cuja mdia de idade est entre 30 e 45 anos, tornando-se cada vez mais difcil
encontrar garimpeiros com idade inferior a 25 anos em razo do nvel mais elevado de instruo desses
jovens, das condies exaustivas de trabalho e da baixa remunerao j que a mdia salarial de
aproximadamente um salrio mnimo (em torno de R$ 545,00).
De acordo com Milanez; Puppim (2009) um dos grandes problemas relacionados ao ambiente do
trabalho, a falta de conscientizao por parte dos trabalhadores no uso adequado de ferramentas de
trabalho. Todavia, durante pesquisa de campo foi observado um maior cuidado em relao a esse aspecto.
Esse fato vem ocorrendo com a distribuio de unidades de camisas manga longa, personalizadas com os
nomes dos referidos trabalhadores, pela Cooperativa de garimpeiros a seus cooperativados. As cores
variam de acordo com os garimpos onde so executadas as atividades. Dessa forma a cor verde
padronizada para a mina Mamoeiro, a vermelha para Roa e azul para o garimpo Boi morto. Salienta-se que
a diretoria da COOGP usa a camisa plo vermelha.
Observou-se o uso de mscaras pelos trabalhadores, alm de capacetes, luvas e botas em todas as
minas visitadas onde se realiza a atividade de extrao pelos cooperativados, com exceo do garimpo Boi
Morto que no faz uso dessa ltima ferramenta em razo do afloramento de lenol fretico na rea de
rejeito, que dificulta a mobilizao dos trabalhadores.
Entende-se como rejeito ou ganga, os minerais ou rochas inaproveitveis que acompanham os
minerais teis ou um minrio especfico, sendo quase sempre diferente da substncia que acompanha
(GUERRA, 2008).
Considera-se como outra vantagem do APL na regio, o apoio de mquinas retro escavadeiras
(figura 12) para retirada de material das camadas de solo anteriores aquela em que se encontra a opala (no
caso da mina Mamoeiro e Roa, pois na mina do Boi Morto a extrao ocorre em rea de rejeito) e a
desativao da Mina do Boi Morto (figura 02), durante o perodo chuvoso em razo do risco de
desmoronamento. Antes da implantao do Arranjo os desmoronamentos nesse garimpo, onde a gema
encontrada em material de rejeito, eram constantes.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1007

Figura 02. Mina do Boi Morto


Fonte: Autora, 2011

A partir da observao direta das minas visitadas constatou-se mudanas significativas com a
organizao do APL na regio de Pedro II, sendo importante ressaltar, que tais mudanas ocorreram de
forma gradativa em razo das exigncias por parte COOGP quanto uso de ferramentas de trabalho pelos
garimpeiros cooperativados.
A extrao atual no garimpo Mamoeiro ocorre com o uso parcial de mquinas, no qual so
utilizados retro escavadeiras de pequeno (figura 03) e mdio porte para a retirada de material, em menos
tempo, para que se possa encontrar os veios propcios a formao de opala. A carga-horria de trabalho
varia nos garimpos estudados, sendo cerca de sete horas dirias a mdia no garimpo Mamoeiro, quatro
horas no garimpo Roa e Boi Morto.

Figura 03. Foto de retro escavadeira (Mamoeiro)

Fonte: Autora, 2011.


A utilizao da retro escavadeira (figura 03) tem propiciado maior rapidez na retirada de material
at os veios onde se encontra a opala. Esse tipo de maquinrio alugado com preo da hora de aluguel
variando em entre R$ 120,00 para a de tamanho pequeno e R$ 200,00 para aquela de tamanho mdio.
Outra forma usada na rea a parceria, na qual 50% do valor encontrado em gemas repassado ao dono
do maquinrio. Torna-se importante destacar que a parceria a forma acordada entre trabalhadores, pois
comum acontecerem situaes em que cerca de 30 horas de uso do maquinrio no representar sucesso
na garimpagem da gema opala.
5. CONSIDERAES FINAIS
notrio que a organizao de Arranjos Produtivos Locais em regies com elevado grau de
pobreza tende a promover o desenvolvimento das mesmas na medida em que consolidam as atividades
inter-relacionadas da cadeia produtiva.
Observam-se mudanas gradativas na minerao de opala em Pedro II/PI a partir da consolidao e
organizao do Arranjo Produtivo Local da Opala. Entre as mudanas, destaca-se o maior cuidado quanto
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1008
ao uso de ferramentas de trabalho, fato que repercute diretamente na segurana dos trabalhadores
atuantes nos garimpos Boi Morto, Roa e Mamoeiro, apontados pela COOGP como aqueles de maior
produo anual.
Torna-se importante ressaltar que o sistema de governana atuante na regio, definida no presente
trabalho como a organizao e coordenao de atividades entre os atores que compe o APL, tem se
tornado cada vez mais forte a partir do crescimento do grau de enraizamento entre os integrantes do
arranjo.
Dessa forma, conclui-se que a organizao do Arranjo Produtivo Local da Opala vem promovendo,
gradativamente, mudanas significativas no ambiente do trabalho, especificamente no que se refere ao uso
de ferramentas adequadas durante a prtica da minerao nos garimpos, configurando, dessa maneira, a
consolidao do arranjo e a formalidade adquirida pelo setor.
REFERNCIAS
BRASIL. Departamento Nacional de Produo Mineral. Cooperativismo Mineral no Brasil: o caminho
das pedras, passo a passo/ Ministrio de Minas e Energia. Coordenao, Antonio Fernando da Silva
Rodrigues Braslia: DNPM/DIDEM 2008.
_______. Ministrio do Desenvolvimento Indstria E Comrcio Exterior. Plano de Desenvolvimento
Provisrio
APL
Opala
do
Piau.
2008.
Disponvel
em:
<http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1214595682.pdf > acesso em: 02 mai. 2011.
______. Constituio Federal Brasileira de !988. Braslia, DF, 1988. Disponvel em:
FUNDAO CEPRO. Diagnstico e Diretrizes para o setor mineral do Estado do Piau. Teresina:
Fundao Centro de Pesquisas econmicas e Sociais. 2005.
GUERRA, Antnio Jos Teixeira; GUERRA, Antnio Teixeira. Novo dicionrio geolgicogeomorfolgico. 6 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
HENRIQUES, H. S; SOARES, M. M. (Coord.). Polticas e Aes Para Cadeia produtiva de Gemas e
Jias. Braslia, DF: IBGM, 2005. Disponvel em:
http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1196865342.pdf. Acesso em: 16 jun. 2011.
IBGE. Cidades@. Disponvel em < http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 15 jun. 2011
IBGM. Manual Tcnico de Gemas IBGM/ DNPM. 3 ed. Ver. E atual./ Consultoria, superviso e
reviso tcnica desta edio, Jane Leo N. da Gama. Braslia, 2009.
IBRAM. Informaes e Anlises da Economia Mineral Brasileira. 5 edio. Disponvel em <
http://www.ibram.org.br> Acesso em 02 fev. 2011.
impactos ambientais e seus processos modificadores. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 2000.
KOPEZINSKI, I. Minerao x Ambiente: consideraes legais, principais
LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. Glossrio de Arranjos e Sistemas produtivos e Inovativos
Locais. Oitava reviso. 2005. Disponvel em: <http://redesist.ie.ufrj.br/glossario.php > Acesso em 16 jun.
2011
LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E. Glossrio de Arranjos e Sistemas produtivos e Inovativos
Locais. 2003. Disponvel em: <http://www.loures.ecn.br/td_redesist/glossario.pdf>. Acesso em 02 fev.
2011.
MILANEZ, Bruno; PUPPIM, Jos Antonio. Ambiente, pessoas e labor: APLs alm do desenvolvimento
econmico na minerao de opalas em Pedro II no Piau. Cadernos Ebape. BR, v.7, n 4. 2009. Disponvel em
<www.ebape.fgv/cadernosebape> acesso em: 16 jun. 2011
MINRIOS & MINERALES (2010), 200 Maiores Minas Brasileiras. Revista Minrios e Minerales. Ed
316.
Junho
2009.
Disponvel
em
<http://www.minerios.com.br/index.php?page=materia.php&id=2233 > Acesso em 15/02/2011.
OLIVEIRA, Joo Cavalcante de. Recursos Gemolgicos dos Estados do Maranho e Piau. Teresina:
CPRM, 1998. 36p. (Informe de Recursos Minerais. Srie Pedras Preciosas, 4).
PEITER, C. C.; VIDAL, Francisco Hollanda ; Oliveira, S.A. . Transferncia de tecnologia nos arranjos
produtivos de base mineral. In: XXII Encontro Nacional de Tecnologia Mineral e Metalurgia Extrativa, 2007,
Ouro Preto. Anais do XXII Encontro de Tratamento de Minrios e Metalurgia Extrativa. Ouro:
UFOP:CDTN:UFMG, 2007. v. II. p. 854-859.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1009
PIAU. Grupo Gestor de Arranjos produtivos Locais. Plano de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo
da
Opala
na
Regio
de
Pedro
II

PI.
2008.
Disponvel
em:
<www.mdic.gov.br/portalmdic/arquivos/dwnl_1247146958.pdf>. Acesso em:
29 nov. 2009.
RODRIGUES, A. F. S. Minerao de Metais e Pedras Preciosas (Eplogo). In: RODRIGUES, A. F. S.;
FERRAZ, C. P. (Org.). Economia Mineral do Brasil. Braslia-DF: Cidade Editora e Grfica Ltda., 2009, v. 01.
SOUZA, Valdemir Cavalcanti de. Perfil analtico da opala. Braslia: DNPM, 1985. 49 p. il., tab.
(Boletim DNPM, 58). Colaborao de: Isabelle Freire de Souza; Maria Helia Aquino Duarte.
TEIXEIRA, Antonio Carlos; CALAES, Gilberto Dias; ALBUQUERQUE, Gildo S Cavalcanti de; WEISZ,
Joel. Anlise comparativa da minerao frica do Sul, Austrlia, Brasil, Canad e Estados Unidos. Braslia:
DNPM, 1997. 124p.
VIANA, Bartira Arajo da Silva. Minerao de materiais para construo civil em reas urbanas:
impactos socioambientais dessa atividade em Teresina, PI / Brasil. Teresina, 2007. Dissertao (Mestrado) Programa Regional de Ps-Graduao em desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do
Piau, Teresina, 2007.
WAGNER, A. et. al. A eleio presidencial e a minerao. Gazeta Mercantil 20 de setembro de 2002.
p. A.3.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1010

IMPACTOS SOCIAIS E A PERCEPO AMBIENTAL DOS TRABALHADORES


DA PEDREIRA NOSSA SENHORA DA PENHA, NO MUNICPIO DE
MAMANGUAPE, PARABA, BRASIL
Tarcianne Maria de Lima OLIVEIRA
Ana Raquel Fernandes PERAZZO
Anderson Alves dos SANTOS
Graduao Bacharelado em Ecologia, Universidade Federal da Paraba.
Professor Mestre da Universidade Federal da Paraba.
tarci_ecologia@hotmail.com

RESUMO
O meio ambiente percebido de distintas maneiras pelas pessoas, em razo das diferentes
realidades que coexistem. Assim, o objetivo deste trabalho foi compreender como os trabalhadores da
Pedreira Nossa Senhora da Penha, localizado no municpio de Mamanguape, situado no estado da Paraba,
percebem o ambiente em que trabalham diariamente, bem como suas transformaes devido atividade
de explorao desenvolvida por eles, considerando-se suas condies de trabalho e de vida. Para melhor
compreenso do objeto de estudo, foram realizadas visitas em campo e a aplicao de entrevista com os
pedreiros que trabalham no local. Com base nos resultados obtidos, conclui-se que os pedreiros tm
conscincia da existncia de problemas ambientais, das mudanas que o trabalho desenvolvido por eles
vem causando no ambiente, assim como tambm em sua prpria vida, ao ponto que eles mesmos relatam
que os jovens no tem mais demonstrado interesse em aprender a desenvolver esta atividade, devido as
condies de vida em que seus familiares vivem, porm esses que ali ainda trabalham mesmo conscientes
destas situaes no podem deixar de trabalhar, pois desta atividade que eles tiram seu sustento.
Palavras-chave: Percepo Ambiental; Impactos Sociais; Explorao Mineral.
INTRODUAO
A relao entre sociedade e meio ambiente vem se afirmando como uma das principais
preocupaes, tanto no campo das polticas pblicas quanto no da produo de conhecimento e, estudar
esta relao do homem com o ambiente inclui principalmente, entender o comportamento humano sob
variveis ambientais.
A explorao abusiva dos recursos naturais em decorrncia da necessidade de produtividade
combinada com superpopulao que acaba levando ao esgotamento desses recursos sem que possamos
reconstitu-los, porm existem grupos sociais que reconhecem as leis da ecologia como guia para o
comportamento humano, enquanto outras derivam de argumentos que refletem, em parte, a falta de
informao sobre as questes ambientais.
Em qualquer dos fatos, a natureza no pode ser considerada como algo externo a que a sociedade
humana se adapta, mas sim como uma coevoluo, no qual cada atividade antrpica implica na emergncia
de dinmicas prprias e independentes na natureza, evitando assim a produo de impactos sobre a
mesma. Pois o conceito de natureza, que exclui as relaes entre os seres humanos, faz com que os
problemas ambientais aparentem ser comuns a esta espcie, sem considerar as prprias relaes e
contradies no interior da sociedade.
Vemos ento a importncia do conhecimento prtico e do conhecimento local, no apenas com
respeito a uma melhor abordagem do diagnstico ambiental, mas tambm no exerccio da democracia na
produo de conhecimento. O que contribui tambm em permitir o acesso, no somente ao conhecimento
que uma sociedade adquiriu sobre o meio natural no qual ela vive, mas igualmente sua viso de mundo.
Sendo desse modo, o estudo da percepo ambiental se torna uma ferramenta fundamental por
fornecer as bases para uma melhor compreenso das inter-relaes entre o homem e o ambiente, suas
expectativas, satisfaes e insatisfaes, julgamentos e condutas, onde atravs desta percepo so
estabelecidas as relaes de afetividade do indivduo para com o ambiente, e, a partir da formao de laos
afetivos positivos, pode acontecer modificao dos valores ambientais atribudos pelas pessoas. (Ferrara,
1996).
A percepo ambiental construda por meio de interpretaes mediadas pela cultura e por
estmulos sensoriais que auxiliam na compreenso das inter-relaes entre ser humano e meio ambiente.
Joo Pessoa, outubro de 2011

1011
Desta forma, h um reconhecimento das condies ambientais por meio dos estmulos sensoriais, obtidos
atravs dos processos perceptivos, e da cultura, de modo que, cada indivduo, atravs de sua prpria
percepo, constri uma compreenso diferente diante de cada experincia vivenciada (Guimares, 2004).
Porm a Percepo Ambiental deve estar atenta e centrada nas inmeras diferenas relacionadas
s percepes, aos valores existentes entre os indivduos que compem o cenrio, pois as diversas culturas,
grupos socioeconmicos, desigualdades e realidades urbanas iro influenciar diretamente na anlise da
percepo que se tem em relao conservao do meio natural. (Melazo, 2005)
A principal conseqncia desta representao o fechamento das possibilidades de construo de
alternativas conservacionistas no interior do espao de ocupao humana. A negao sistemtica do
humano frente ao no-humano, ou seja, de que a presena humana sempre destrutiva, e que no lhe
cabe um espao de ato cultural, e transformador na representao ambiental, sendo assim, este o principal
elemento destruidor da relao homem/natureza.
Levando em conta este pensamento de interao antrpica com o ambiente natural, tomamos
como objeto para esta pesquisa os pedreiros que extraem o granito na Pedreira Nossa Senhora da Penha,
localizada no Bairro Engenho Novo, no municpio de Mamanguape, estado da Paraba, um exemplo prtico
de interao destrutiva do homem com o ambiente, com o objetivo de conhecer qual a percepo
ambiental dessas pessoas que executam este trabalho de grande impacto ambiental, levando em conta as
relaes culturais e humanas.
METODOLOGIA
Os procedimentos adotados para a viabilizao do objetivo proposto efetivaram-se por meio da
aplicao de entrevistas formuladas a partir de um questionrio composto por 15 perguntas. O trabalho de
campo foi realizado no dia 28 de junho de 2011, onde foram entrevistados 10% do total de 60 (sessenta)
pedreiros que ali desenvolvem suas atividades.
O principal objetivo da aplicao do questionrio foi identificar as prticas sociais existentes, sob o
enfoque scio-ambiental, e suas influncias e conseqncias tanto para a identificao de problemas scioambientais, como para a sua soluo. A aplicao deste questionrio no foi embasada em um mtodo
estatstico que fornea uma porcentagem de resposta de acordo com o nmero total de pedreiros que
trabalham naquela pedreira, optou-se por adotar o mtodo qualitativo, com a seleo aleatria dos
pedreiros que figuraro como exemplo de um processo perceptivo.
Neste aspecto, procuramos interpretar, a partir de aspectos qualitativos, a percepo dos pedreiros
sobre as suas atividades desenvolvidas na pedreira vinculadas no apenas questo ambiental, mas
tambm a questo social, pois eles tambm fazem parte daquele ambiente, e assim, possibilitar uma
abordagem ampla sobre os diversos aspectos que norteiam a relao entre os pedreiros e o ambiente em
que eles trabalham diariamente.
RESULTADOS
Poucas pessoas se do conta que no Brasil h um segmento de produo, do que popularmente se
conhece por paraleleppedos, cubo de granito utilizado para o revestimento de ruas, cuja produo
envolve milhares de trabalhadores informais, em todo pas. No municpio de Mamanguape ao longo da
rodovia estadual PB-041 que se encontra o afloramento grantico, onde muitos moradores se utilizam da
explorao como sua fonte de subsistncia.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1012

Figura 1: Pedreira Nossa Senhora da Penha, Mamanguape PB

A Pedreira Nossa Senhora da Penha, antigamente de propriedade da Companhia de Tecidos


Ludgreen, atualmente de propriedade do INCRA, pois por motivos de dvidas da Companhia de Tecidos
Ludgreen, o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria a confiscou e deixou para a comunidade,
que desde ento tira seu sustento das atividades de extrao, alm dos trabalhos prestados, pela maioria,
para as usinas canavieiras da regio nos perodos de safra, para auxiliar nas despesas dos mesmos, pois
cada milheiro de paraleleppedo vendido para os atravessadores por R$ 250,00.
Todos os entrevistados variaram sua faixa etria entre 30 e 60 anos de idade, possuindo de 20 a 30
anos de trabalho na pedreira, tendo assim alguns deles iniciado essas atividades ainda com 16 anos de
idade, no possuindo uma carga horria diria regular de trabalho, porm devido ao baixo valor
empregado ao paraleleppedo pelos atravessadores, citado anteriormente, muitas vezes necessrio
trabalhar at nos finais de semana.
Observou-se que os indivduos estudados esto submetidos a situaes precrias de trabalho, e
ainda diante do baixo valor obtidos por eles as ferramentas de trabalho que eles utilizam na extrao so
adquiridos com recursos prprios.
A falta de equipamentos de segurana uma escolha dos prprios pedreiros, pois todos os
entrevistados relataram que os equipamentos atrapalham o servio e ainda os submetem a riscos de
acidentes, em exemplos citados por eles, o uso de luva as ferramentas escorregam das mos, com botas
eles escorregam, pois a pedra lisa. Porm apesar da falta de equipamentos de segurana no freqente
a ocorrncia de acidentes, tendo ocorrido apenas um, segundo relato de um entrevistado, onde aps
exploso um bloco de pedra ficou solto, e um dos pedreiros no percebeu e ficou trabalhando em baixo de
mesmo que caiu sobre o pedreiro, mas no aconteceu nada grave, pois o pedreiro conseguiu entrar em um
buraco rapidamente e a pedra no o atingiu diretamente, evidenciando a importncia de capacetes.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1013

Figura 2: As condies de trabalho em que os pedreiros esto expostos diariamente


Quando interrogados sobre as questes ambientais observou-se que eles possuem conscincia que
a atividade desenvolvida por eles causam problemas ambientais, sendo at relatado por um dos
entrevistados que em um ano de seca na regio foi possvel observar por ele muitos rejeitos de pedras
dentro do aude jangada que abastece a cidade de Mamanguape, localizado bem prximo ao afloramento
explorado, os demais entrevistados possuem conscincia de que esto causando problemas ambientais,
pois eles esto tirando recursos e alterando a natureza, mas eles precisam trabalhar para se alimentarem.
E quando perguntados o que eles imaginam que vai acontecer quando os recursos que eles
exploram acabarem na paisagem da comunidade do Engenho Novo, alguns relataram que possuem
conscincia que realmente um dia aquele granito vai acabar, mas que ainda ir demorar muitos anos para
isso acontecer, j outros entrevistados complementaram que talvez nem chegue a acabar, pois no ter
mais pessoas para trabalhar por que os jovens atualmente no tem se interessado em aprender a quebrar
pedra.
CONCLUSES
De maneira geral, foi possvel perceber que os pedreiros tm conscincia da existncia de
problemas ambientais, das mudanas que o trabalho desenvolvido por eles vem causando no ambiente,
assim como tambm em sua prpria vida, ao ponto que eles mesmos relatam que os jovens no tm mais
demonstrado interesse em aprender a desenvolver esta atividade, devido s condies de vida em que
seus familiares vivem, porm esses que ali ainda trabalham mesmo conscientes destas situaes no
podem deixar de trabalhar, pois desta atividade que eles tiram seu sustento.
Assim, observa-se a necessidade quanto ao desenvolvimento de programas de conscientizao
ambiental destinados populao que trabalha com minerao que utiliza diretamente os recursos
naturais, principalmente nas reas em que as formas de ocupao so intensivas, como no caso da rea de
estudo desta pesquisa.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1014
Apresentando a esses trabalhadores, que dependem atualmente desta atividade de explorao,
novas alternativas de trabalho sustentvel e com melhores condies de trabalho, que proporcionem a eles
uma melhor condio de vida, alm de conscientiz-los ambientalmente.
Concluindo, portanto que as experincias ambientais so vivenciadas e representadas por cada
pessoa de forma diferente, e por serem tratadas pela afetividade pessoal geram sentimentos e respostas
emocionais que variam quanto ao tipo e intensidade e so proporcionais ao significado que a pessoa atribui
aos fatos.
REFERNCIAS
FOLADORI , Guillermo e TAK, Javier . Um olhar antropolgico sobre a questo ambiental. MANA 10
(2):323-348, 2004.
LEACKY, R., e R. Lewin. La sexta extincin: el futuro de la vida y de La humanidad. Barcelona:
Tusquets. 1998.
FERRARA, L. D. A. As Cidades Ilegveis. Percepo Ambiental e Cidadania. In: DEL RIO, V. &
OLIVEIRA, L. (orgs.) Percepo Ambiental: a experincia brasileira. So Paulo: Universidade de So Carlos
(SP)/Studio Nobel, 1996.
MELAZO, G. C. Percepo ambiental e educao ambiental: uma reflexo sobre as relaes
interpessoais e ambientais no espao urbano. Olhares & Trilhas, Uberlndia, n. 6, p. 45-51, 2005.
GUIMARES, Mauro. Educao Ambiental Crtica. In: LAYRARGUES, Philippe Pomier (coord.).
Identidades da educao ambiental brasileira. Braslia: Ministrio do Meio Ambiente, 2004. p.25-34.
MORIN, Edgar. A cabea bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 9.ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 128p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1015

IDENTIFICAO DOS PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS NA REA


CONSTRUDA DE UM CAMPUS UNIVERSITRIO FEDERAL
SOUSA, Valcemir Ribeiro1
ARRUDA, Valmir Marques Cristiano2
SILVA, Valquria Cordeiro 3
1 e 3 - alunos do curso de graduao em Engenharia Ambiental da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental
da UFCG, Campus de Pombal. E-mail: cemirribeiro@hotmail.com
2 - Orientador - Professor da Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental da UFCG, Campus de Pombal. E -mail:
valmir.marques@ccta.ufcg.edu.br

RESUMO
Esta pesquisa apresenta um estudo de identificao dos principais impactos ambientais causados
na rea de construo do Campus Universitrio da UFCG no municpio de Pombal - PB. Para a identificao
dos impactos ambientais, fez-se inicialmente a caracterizao do empreendimento. Os mtodos utilizados
na identificao dos impactos foram o Check List e a Matriz de Interao. Depois de identificados, os
impactos foram classificados de acordo com a literatura. A partir dos resultados, verificou-se que a maior
parte dos impactos ambientais ocorreu na fase de construo do empreendimento, em que o solo e os
recursos hdricos foram os fatores ambientais abiticos mais afetados pelas aes de projeto, e a
biodiversidade foi o fator bitico mais alterado por estas aes. Observou-se ainda que o fator
socioeconmico apresentou o maior nmero de impactos ambientais positivos.
Palavras-chave: impacto ambiental, diagnstico ambiental, meio ambiente.
ABSTRACT
This research presents a study to identify the main environmental impacts in the construction of a
University Campus of UFCG in Pombal-PB. For identification of environmental impacts, It was initially done
the characterization of the enterprise. The methods used in identifying the impacts were the "Check List"
and Matrix of Interaction. Once identified, the impacts were classified according to the literature. According
to results, it was found that most of environmental impacts occurred during the construction phase of the
project, where land and water resources were the abiotic environmental factors most affected by the
actions of the project, and biodiversity was the biotic factor most changed by these actions. It was also
observed that the socioeconomic factor had the highest number of positive environmental impacts.
Keywords: environmental impact, environmental assessment, environment.
INTRODUO
A partir da metade do sculo 20, observa-se maior preocupao da populao mundial frente s
alteraes ambientais causadas, principalmente, pelas atividades antrpicas.
Essa crescente preocupao com o meio ambiente decorrida consequncia da substituio do
ambiente natural (gua, ar, solo, flora, etc.) pelo ambiente artificial (conjunto de edificaes, ruas, praas,
etc.) (FOGLIATTI et al., 2004) que vem gerando cada vez mais presses aos ecossistemas. A manuteno
desse ambiente artificial provoca modificaes denominadas impacto ambiental.
De acordo com o CONAMA (1986), impacto ambiental qualquer alterao das propriedades
fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:
I- a sade, a segurana e o bem-estar da populao;
II- as atividades sociais e econmicas;
III- a biota;
IV- as condies estticas e sanitrias do meio ambiente;
V- a qualidade dos recursos ambientais.

Entre os impactos ambientais, destacam-se os impactos significativos. De acordo com SNCHEZ


(2008), o impacto ambiental significativo um impacto considervel, suficientemente grande, ou ainda
importante. Este autor acrescenta que esta denominao subjetiva, j que a importncia a ser atribuda
pelas pessoas s alteraes ambientais depende de seu entendimento, valores e percepo.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1016
Segundo VERDUM e MEDEIROS (2006), a anlise dos impactos ambientais inclui, necessariamente,
a identificao, previso de magnitude e interpretao da importncia de cada um deles, possibilitando
uma apreciao abrangente das repercusses do empreendimento sobre os fatores ambientais.
Para se fazer uma identificao mais abrangente das alteraes no meio ambiente, interessante
que se faa uso de ferramentas e mtodos de avaliao de impacto ambiental (AIA). De acordo com COSTA
et. al. (2005), as linhas metodolgicas de avaliao so mecanismos estruturados para comparar, organizar
e analisar informaes sobre os impactos ambientais, incluindo os meios de apresentao escrita e visual
dessas informaes. No entanto, face diversidade de mtodos de AIA, muitos dos quais incompatveis
com as condies socioeconmicas e polticas do Brasil, necessrio seleo criteriosa e adaptaes, para
que sejam realmente teis na tomada de deciso dos projetos.
Outra forma de avaliar as alteraes ambientais causadas por atividades antrpicas a elaborao
do diagnstico ambiental. VERDUM e MEDEIROS (2006); citam que no diagnstico ambiental da rea de
influncia do empreendimento deve-se ter a descrio e anlise dos fatores ambientais e suas interaes,
caracterizando a situao ambiental da rea de influncia, antes da implantao do empreendimento.
Neste contexto, o presente trabalho tem por objetivo identificar os principais impactos ambientais
resultantes da construo de um Campus Universitrio no municpio de Pombal.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Centro de Cincias
e Tecnologia Agroalimentar (CCTA), Unidade Acadmica de Cincias e Tecnologia Ambiental, por
professores e alunos do curso de graduao em Engenharia Ambiental, Campus de Pombal.
Localizao e descrio geral da rea de estudo
O Campus da UFCG em estudo localiza-se no municpio de Pombal, situado na regio oeste do
Estado da Paraba. Limita-se ao norte com os municpios de Santa Cruz, Lagoa e Paulista; ao sul com So
Bentinho, Cajazeirinhas, Coremas e So Jos da Lagoa Tapada; ao leste, com Condado, e a oeste com So
Domingos de Pombal, Aparecida e So Francisco (CPRM, 2005).
O municpio de Pombal est inserido na Unidade Geoambiental da Depresso Sertaneja, com relevo
predominantemente suave-ondulado, cortado por vales estreitos, com vertentes dissecadas. A vegetao
basicamente composta por Caatinga Hiperxerfila com trechos de Floresta Caduciflia (CPRM, 2005).
Identificao dos impactos ambientais
Para a identificao dos impactos ambientais, fez-se inicialmente visitas de campo, em que se
identificaram as condies atuais dos fatores ambientais biticos e abiticos da rea de estudo.
Posteriormente, realizou-se um levantamento das principais aes de projeto realizadas na
construo do Campus Universitrio estudado para cada fase do empreendimento: planejamento,
implantao e operao. Este levantamento foi realizado na prpria instituio, UFCG, e a partir da
consulta a empreendimentos similares encontrados na literatura, como recomendado por FOGLIATTI et al.
(2004) e SNCHEZ (2008).
A partir dos levantamentos das caractersticas ambientais da rea de estudo, por meio das visitas
de campo, e das principais aes de projeto realizadas em cada etapa da construo do Campus
Universitrio, fez-se a identificao dos impactos por meio da formulao de hipteses sobre as
modificaes ambientais a serem direta ou indiretamente induzidas pelo empreendimento em questo. A
analogia com situaes similares (outros empreendimentos com as mesmas caractersticas do aqui
estudado) e o emprego conjunto do raciocnio dedutivo foram alguns dos procedimentos empregados na
identificao preliminar dos impactos (SNCHEZ, 2008).
Na identificao dos impactos ambientais foram adotados como ferramentas os modelos de
avaliao de impacto ambiental para deduzir quais as consequncias provveis de determinadas aes do
projeto sobre um ou mais fatores ambientais.
Foram utilizadas adaptaes dos mtodos de avaliao Check - List e Matriz de Interao, de
acordo com FOGLIATTI (2004) e SNCHEZ (2008), respectivamente.
Para aplicao do mtodo Check-List fez-se uso de uma listagem simples de atividades
impactantes, ou aes de projeto, decorrentes do empreendimento, de acordo com a literatura (FOGLIATTI
Joo Pessoa, outubro de 2011

1017
et al., 2004; LELLES, 2004; SNCHEZ, 2008). As principais atividades foram selecionadas e distribudas para
cada fase do empreendimento.
No caso da Matriz de Interao, fez-se a interao entre ao de projeto e os respectivos efeitos
destas sobre os fatores ambientais: gua, solo, vegetao, etc, dando-se maior nfase aos impactos mais
relevantes, que devem ser passivos de medidas de mitigao.
Classificao dos impactos ambientais
A classificao qualitativa dos impactos ambientais foi realizada a partir de metodologia de SILVA
(1994) citada por LELLES (2004), que apresenta a seguinte classificao de critrios:
- Critrio de Valor: o impacto pode ser positivo ou negativo (um apresenta efeitos favorveis
melhoria do fator ambiental e o outro malefcio ao mesmo, respectivamente);
- Critrio de Ordem: o impacto pode ser direto ou indireto (um afeta as zonas de influncia direta e
indireta e o outro estendido para fora dessa rea de abrangncia, respectivamente).
- Critrio de Espao: o impacto pode ser local, regional e estratgico (quando atinge as imediaes,
quando excede o entorno das imediaes e quando se propaga por extenses nacionais ou internacionais,
respectivamente).
- Critrio de Tempo: impacto a curto prazo (surge imediatamente), impacto a mdio prazo (surge
aps a implantao do empreendimento) e impacto a longo prazo (surge aps um longo perodo de
tempo).
- Critrio de Dinmica: impacto temporrio (dura um determinado tempo e depois cessa), impacto
cclico (o efeito ocorre em determinado intervalo de tempo formando ciclos) e impacto permanente (o
efeito no cessa depois de executada a ao).
- Critrio de Plstica: impacto reversvel (quando existe uma recuperao das condies ambientais
anteriores ao) e impacto irreversvel (ocorre quando o dano nas condies ambientais permanente).
RESULTADOS E DISCUSSO
Na Tabela 1 encontram-se apresentadas 16 (dezesseis) atividades do empreendimento, distribudas
nas trs etapas do projeto - trs atividades na fase de planejamento, dez na implantao e trs na operao
- em que se tem a identificao da ocorrncia dos impactos ambientais em cada fase do empreendimento,
de acordo com o mtodo Check List, adaptado de FLOGLIATTI et. al. (2004).
Tabela 1. Identificao da ocorrncia dos impactos ambientais nas etapas do projeto.
Aes de projeto
Divulgao
Aquisio de terras e benfeitorias
Valorizao do terreno
Desmatamento
Terraplenagem
Recrutamento de mo-de-obra
Implantao de canteiro de obras
Gerao de resduos slidos
Operao de mquinas e equipamentos
Implantao de sistema de captao e
armazenamento de gua
Desmontagem do canteiro de obras
Construo ou servios de melhoria das
vias de acesso
Contratao de servios de terceiros
Liberao de efluentes

Etapas do projeto
Planejamento
x
x
x

Implantao

Operao

x
x
x
x
x
x
x

x
x
x

x
x

Contratao de profissionais

Implantao de viveiro de mudas

x - ocorrncia do impacto a ser indicado e classificado.


Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1018

A partir dos resultados apresentados na Tabela 1, verifica-se que a maior parte dos impactos
ambientais na rea de estudo, ocorre na fase de implantao do empreendimento, sendo a fase de
planejamento a que apresenta menor quantidade de impactos.
Na Tabela 2 apresenta-se a Matriz de Interao com os impactos ambientais identificados e a
respectiva classificao destes, de acordo como LELLES (2004), para cada fase do empreendimento. A
apresentao da Matriz de Interao foi adaptada de SNCHEZ (2008).
De acordo com a Tabela 2, observa-se o solo e os recursos hdricos so os fatores ambientais fsicos
mais afetados pelas aes de projeto, enquanto que o fator bitico mais afetado foi a biodiversidade, em
especial as espcies nativas. Apesar de no ser apresentada diretamente nos resultados da Tabela 2, a flora
tambm foi um fator bitico bastante afetado, principalmente em decorrncia das alteraes no solo, a
exemplo do desmatamento. J no fator ambiental socioeconmico, a maior parte dos impactos ambientais
constituda por impactos positivos, que favoreceram a rea do Campus Universitrio estudado, bem
como o municpio de Pombal e regies circunvizinhas.
Verifica-se ainda na Tabela 2 que a fase de implantao do empreendimento a que apresenta o
maior numero de impactos negativos nos fatores ambientais fsicos e biticos. Considerando este aspecto,
o desmatamento, a terraplanagem, as operaes com mquinas e equipamentos e a construo de vias de
acesso foram as aes de projeto mais impactantes sobre os referidos fatores ambientais.
Com relao classificao dos impactos ambientais, nota-se na Tabela 2 que a maioria destes
negativo, com incidncia direta, abrangncia local, com ocorrncia de curto e mdio prazo, temporrio e
permanente, e reversvel.
Diante dos resultados identificados, verifica-se que h uma necessidade de elaborao de medidas
de mitigao e programas de monitoramento e acompanhamento dessas medidas com a finalidade de
reduzir o efeito das alteraes ambientais causadas pelas aes de projeto.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1019
Tabela 2. Matriz de Interao com os impactos ambientais e respectiva classificao.

Planejamento

Aquisio
de
benfeitorias

terras

Paisagem
(ambiente)
Comportamento
da
sociocultural
comunidade local
Atividades
comerciais e de
servios
Uso e ocupao do
solo
PDL
CAS
PDL
CAS

Valorizao do terreno
NDL
CAS
NDL
CAS

NIL
MYV
NDL
MAS

Operao de mquinas e
equipamentos
Implantao de sistema de
captao e armazenamento
de gua
Desmontagem do canteiro de
obras
Construo ou servios de
melhoria das vias de acesso
Contratao de servios de
terceiros

Contratao de profissionais

NDL
MAS
NDL
CAS

NDL
CAS
NDL
MAS

NDL
CAS
NDL
LoAS

NDL
CAS
NDL
CAS
PIR
MTV

NDL
CTV

NDL
CTV

PDL
CAS
NDL
CAS
NDL
CAS

PIR
MAS

NDL
CTV

NDL
MTV

NIL
CTV

NDL
MYV

NDL
MYV

NDL
MTV

NDL
MTV

NDL
CAS

NDL
MTV

NDL
CTV

NDL
CTV

NDL
CTV

NDL
CTV

NDL
MAS

PDL
LoAS

Gerao de resduos slidos

Liberao de efluentes

PIR
CAS

Recrutamento de mo-deobra
Implantao de canteiro de
obras

Implantao

Biodiversidade

PIR
MAS

Terraplenagem

Operao

Socioeconmico

Divulgao

Desmatamento

Principais etapas do empreendimento

Caractersticas
do
dinmicas
relevo
rea de ocorrncia
de espcies nativas

Recursos hdricos

Estrutura do solo

Componentes ambientais
Fsico
Bitico

PDL
LoAS

PDL
LoTV
NDL
CAS

NDL
CAS

NDL
MAS

NDL
MAS

PDL
MAS

PDL
MAS

PDL
MAS

NDL
MAS

NDL
MAS

NDL
MAS

NDL
MTV

NDL
MTV

NDL
MAS
PDL
MAS

PIL
MAS

PIL
CAS

PIR
MYV

PIR
MYV

NDL
MTV

PDL
CAS

NDL
MAS
PDL
MAS

PDL
MAS

Implantao de viveiro de
NDL
NDL
NDL
PDL
MTV
MTV
MTV
MTV
mudas
Valor: positiva (P) ou negativa (N); Ordem: direto (D) ou Indireto (I); Espao: local (L), regional (R) ou
estratgico (E); Tempo: curto prazo (C), mdio prazo (M) e longo prazo (Lo); Dinmica: temporrio (T), cclico (Y) ou
permanente (A); Plstica: reversvel (V) ou irreversvel (S).

CONCLUSO
De acordo com os resultados obtidos, verificou-se que o solo e os recursos hdricos foram os
fatores ambientais abiticos mais afetados pelas aes de projeto, enquanto que a biodiversidade foi o
fator bitico mais alterado por estas aes. J o fator socioeconmico apresentou o maior nmero de
impactos ambientais positivos, no significando que os impactos negativos no so importantes.
Com relao s etapas do empreendimento, a implantao foi a etapa onde se identificou o maior
nmero de impactos negativos, principalmente para as aes de desmatamento, terraplanagem e
construo de vias de acesso na rea de estudo.
A classificao dos impactos ambientais indicou um alto percentual de impactos negativos, o que
sugere a necessidade de elaborao de medidas mitigadoras para os impactos ambientais, e tambm a
indicao de programas e planos de monitoramento e acompanhamento dessas medidas, possibilitando

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1020
assim a realizao de todas as fases do empreendimento com o mnimo possvel de impactos e maior
harmonizao entre os fatores ambientais e as aes antrpicas.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CONAMA, Resoluo do CONAMA, No 001, de 23 de Janeiro de 1986, publicada no Dirio Oficial da
Unio em 17 de fevereiro de 1986.
COSTA, M. V.; CHAVES, P. S. V; OLIVEIRA, F. C. de. Uso das tcnicas de avaliao de impacto
ambiental em estudos realizados no Cear. Trabalho apresentado ao NP 09 Comunicao Cientfica e
Ambiental, do V Encontro dos Ncleos de Pesquisa da Inercom, XXVIII Congresso Brasileiro de Cincia da
Comunicao, Rio de Janeiro - RJ. 2005, 15p.
CPRM - Servio Geolgico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por gua
subterrnea. Diagnstico do municpio de Pombal, Estado da Paraba. Recife: CPRM/PRODEEM, 2005.
FOGLIATTI, M. C.; FILIPPO, S.; GOUDARD, B. Avaliao de Impactos Ambientais: Aplicao aos
Sistemas de Transporte. Rio de Janeiro: Intercincia. 2004, p.
LELLES, Leandro Camilo de. Avaliao qualitativa de impactos ambientais oriundos da extrao de
areia em cursos dagua. Dissertao (Mestrado). Universidade Federal de Viosa. Viosa, Minas Gerais,
2004, 78p.
SNCHEZ, L. E. Avaliao de Impacto Ambiental: Conceitos e Mtodos. So Paulo: Oficina de Textos,
2008, 495p.
VERDUM, R.; MEDEIROS, R. M. V. RIMA: Relatrio de Impacto Ambiental. 5 ed. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2006, 252p.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1021

IMPACTOS DA EXPLORAO DE AREIA NO LEITO DO RIO PARABA DO


NORTE: UM ESTUDO DE CASO NO MDIO PARABA
Wellington Alves ARAGO
Jalson Rodrigues CHAVES
Licenciado em Geografia. Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Paraba UFPB.
Bilogo. Membro pesquisador do Grupo de Estudos de Educao Ambiental e Ensino de Cincias da Universidade Federal
da Paraba UFPB.
Belarmino Carneiro da S. NETO. Bilogo. Mestrando em Ecologia pela Universidade Federal de Pernambuco UFPE.

RESUMO
O Rio Paraba do Norte sem dvida, o mais importante do estado da Paraba, nasce no municpio
de Monteiro, em pleno Cariri paraibano, que se caracteriza climaticamente por ser uma das regies mais
secas do nosso estado. Sua extenso considervel, j que corta cerca de metade do nosso Estado e
desgua no litoral paraibano, uma mesorregio de elevado ndice pluviomtrico, caracterizada pela
perenidade dos rios que a cortam. A importncia econmica, ambiental e cultural desse rio imensurvel,
j que nossa histria de colonizao permeia suas margens. No caso do Mdio Paraba, temos os seguintes
municpios que so cortados pelas guas do Rio Paraba do Norte: Barra de Santana, Gado Bravo,
Umbuzeiro, Aroeiras, Natuba, Salgado de So Flix, Mogeiro e Itabaiana, sendo este ltimo, o foco principal
da nossa pesquisa, por ser a cidade com maior contingente populacional da microrregio em anlise, por
proporcionar os maiores danos ambientais em seu curso atravs da extrao de areia que ocorre no seu
leito h vrios anos e tambm por danificar gravemente sua vegetao ciliar, alm da poluio proveniente
do leo dos motores e outros resduos dos veculos que trafegam dentro do leito desse importante rio.
Palavras-Chave: Rio Paraba. Extrao de areia. Danos ambientais. Poluio
INTRODUO
Na pesquisa sobre a degradao ambiental proporcionada pela extrao de areia no leito do rio
Paraba do Norte que compreende os trechos entre os municpios paraibanos de Barra de Santa Rosa e
Itabaiana, sendo que neste ltimo, constatamos srios problemas ambientais devido a extrao de areia
por meio de mquinas pesadas ou dragas de suco que culminam numa srie de crateras no leito do Rio
Paraba, gerando assim, a existncia de vrios impactos negativos causados ao ecossistema local desse rio.
Verificamos que a extrao ocorre de forma bastante impactante sobre a vegetao ciliar, pois os tratores
Michigan amontoam a areia para encher os caminhes caamba que tambm adentram no seu leito para
realizar diariamente a retirada de toneladas de areia por trajetos que cortam o rio de uma extremidade
outra. A extrao tambm ocorre em outras cidades do Vale do Paraba, entretanto, destacamos a cidade
de Itabaiana por ser conhecida como a Rainha do Vale do Paraba, em aluso ao longo trecho do seu
territrio que margeado pelo rio. Nosso trabalho observou os seguintes encaminhamentos:
Levantamento das condies da mata ciliar: Fazer um levantamento das reas mais crticas
das margens do rio onde sua mata ciliar encontra-se drasticamente reduzida ou totalmente
eliminada;
Poluio das margens e do leito do rio: Realizar um levantamento sobre as reais condies
da poluio das margens e do leito do rio em seu trecho mdio, j que so muitas as
cidades que esto situadas em reas muito prximas s suas margens, o que de certa
forma, tm contribudo com sua degradao ambiental por meio do descarte de resduos
slidos e lquidos em suas margens e leitos.
Degradao ambiental: Analisar a degradao do leito do rio promovida pela extrao de
areia que vem ocorrendo principalmente no municpio de Itabaiana, onde cerca de 60
caminhes tipo caamba transportam diariamente toneladas de areia lavada para Recife.
Destacamos prioritariamente estes trs encaminhamentos para incio da nossa pesquisa,
entretanto, nada impediu que outros encaminhamentos pudessem ser acrescentados durante a execuo
da pesquisa tanto terica quanto prtica, tendo em vista que outras variveis poderiam compor nosso
estudo de caso sobre a degradao ambiental do leito do Rio Paraba do Norte.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1022
METODOLOGIA E PESQUISA DE CAMPO
Inicialmente realizamos uma ampla pesquisa bibliogrfica e documental referente ao tema em
discusso. Esta etapa da pesquisa se concretizar com o levantamento bibliogrfico, leitura e
sistematizao das referncias que tm relao direta com a preservao ambiental de reas ribeirinhas.
Alm da utilizao de outras fontes disponveis como filmes (documentrios e vdeos em geral abordando a
temtica ambiental), jornais impressos, levantamento de dados ambientais do trecho do rio em estudo,
alm da anlise de documentos e dados oficiais que retratam o tema em estudo. Aps selecionadas as
fontes bibliogrficas, entendemos que o prximo passo seria iniciar a fundamentao terica da mesma, e
que de forma indispensvel seria dado incio ao trabalho de pesquisa de campo, que por sua vez,
representou um importante passo para este trabalho de investigao geogrfica e ambiental, concordando
com Suertegaray (2002), quando afirma que o trabalho de campo
Faz parte de um processo de investigao que permite a insero do gegrafo pesquisador na
sociedade, reconstruindo o sujeito e, por consequncia, a prtica social [...] ele permite o aprendizado de
uma realidade, a medida que oportuniza a vivncia em local do que deseja estudar. O trabalho de campo
tambm possibilita um maior domnio da instrumentalizao na possibilidade construo do conhecimento
(SUERTEGARAY, 2002, p. 110).

De acordo com Rodrigues (2001), o campo para o gegrafo muito mais do que uma simples busca
de informaes, sendo seu resultado de grande interesse para a Geografia, que por sua vez, descarta
qualquer tipo de fragmentao do saber, segundo ela
mister salientar que o campo coloca-se para o gegrafo como um laboratrio, onde se busca
atravs da descrio e da interpretao, contribuir com mais rigor para o fortalecimento do corpo de
enunciados da Geografia. Interessa, portanto, a essa cincia, o registro de acontecimentos, prticas culturais
e questes ambientais que traduzam a relao sociedade-natureza em sua diversidade e particularidades,
no cabendo, neste exerccio, nenhum tipo de diviso do saber (RODRIGUES, 2001, p. 37).

Baseados nestes entendimentos, nosso trabalho de pesquisa de campo ocorreu no primeiro


semestre de 2011, onde nos dirigimos aos municpios de Salgado de So Flix, Mogeiro e Itabaiana. Na
pesquisa de campo, demos prioridade aos dados qualitativos que foram obtidos atravs da realizao de
entrevistas semi-estruturadas com membros das comunidades ribeirinhas, com representantes dos
Conselhos Municipais de Meio Ambiente, com representantes das Secretarias Municipais de Meio
Ambiente dos municpios envolvidos na Microrregio de Itabaiana, alm pesquisas documentais da AESA e
SUDEMA. Posteriormente, registramos imagens das reas abandonadas aps a explorao da areia do leito
do rio e das reas que ainda esto em pleno processo de explorao.
LOCALIZAO DA NASCENTE DO RIO PARABA DO NORTE
O Rio Paraba nasce no municpio de Monteiro no Cariri Ocidental paraibano, faz divisa com o
Estado de Pernambuco e est localizado no sul do Estado e formado por 29 cidades, dentre as quais,
destacam-se Sum, Monteiro, Tapero, Serra Branca e Cabaceiras, abrigando uma populao de mais 160
mil pessoas. Seu clima tipicamente semi-rido, caracterizado pela baixa ocorrncia de chuvas e por
possuir elevada temperatura durante o dia. Suas guas transcorrem a maior parte do territrio da
Mesorregio do Agreste paraibano, servindo principalmente para o consumo humano, sendo tambm
utilizada para o consumo animal e para fins agrcolas.
As populaes residentes em suas margens fazem uso de suas guas para suprir suas necessidades
bsicas e tambm a utilizam para a irrigao de lavouras de subsistncia e comercial.
Silva (2003) apresenta algumas das principais caractersticas da nascente e da extenso do Rio
Paraba do Norte, vejamos:
O rio Paraba do Norte o mais importante rio da Paraba. Com aproximadamente 300 km de
extenso, nasce na Serra Jabitac, no Municpio de Monteiro, com o nome de rio do Meio, sendo sua mais
alta vertente originria do Pico da Bolandeira, a 1.079 metros de altitude (SILVA, 2003, p. 6).

Ainda de acordo com Silva (2003), a Bacia do Rio Paraba do Norte importante por ocupar uma
significativa poro do nosso estado, vejamos:
A bacia do rio Paraba corresponde a 18.000 km e representa 32% da rea territorial do estado, que
tem mais de 60% de suas fronteiras constitudas de divisores de guas, sendo que o contorno sul quase
Joo Pessoa, outubro de 2011

1023
reproduz em escala maior a bacia do rio Paraba, que deu o nome ao estado. O rio nasce numa das regies
mais secas, o Cariri, e desgua numa regio de grande riqueza, a regio canavieira, na plancie litornea. A
maior parte de seu percurso se d no alto da Serra da Borborema. De l, desce passando pelo Agreste,
atingindo o litoral (SILVA, 2003, p. 6).

Da obtm-se a importncia na preservao de sua nascente, j que ela representa o incio da vida
do rio. Sobre a importncia do cuidado com as bacias hidrogrficas, Leal; Guimares (2009) destacam que
as aes educativas so imprescindveis na manuteno das mesmas, alm de apresentar os vrios
aspectos que envolvem uma ao educativa, eles afirmam que a situao em que um rio possa se
encontrar, nada mais que o reflexo daquilo que a sociedade lhe proporciona:
A bacia hidrogrfica como unidade de estudos e de ao educativa revela uma rede de relaes
entre diferentes aspectos tais como os fsicos, econmicos, sociais, polticos e culturais. A situao do rio o
reflexo das aes humanas. Quando educadores, alunos e a comunidade comeam a buscar explicaes para
a degradao dos rios, estes cidados vo incorporando a noo de bacia hidrogrfica, porque o que
acontece na bacia vai se refletir no rio (LEAL; GUIMARES, 2009, p. 102).

As relaes entre preservao e a prtica educativa no podem ser dissociadas, mesmo que os
critrios econmicos sejam relevantes, faz-se necessrio perceber que a prpria existncia de um rio e de
sua respectiva nascente carece de estudos e aes protecionistas que envolvam toda a comunidade, seja
do grupo de moradores locais, de educadores ou de agentes polticos, devem empenhar-se na proteo
desses ambientes naturais que proporcionam inmeros benefcios s populaes no s locais, mas as
distantes tambm, como o caso do Rio Paraba do Norte, que nasce em Monteiro, mas favorece grande
parte da populao do Agreste e desgua na Regio Metropolitana de Joo Pessoa.
Esse rio est dividido da seguinte maneira: Alto Paraba, que compreende os trechos entre os
municpios de Monteiro (nascente) e Boqueiro; o Meio Paraba, que compreende os trechos entre o
municpios de Barra de Santana e Itabaiana; e o Baixo Paraba, que compreende os trechos entre os
municpios de Pilar a Cabedelo. Ver figura 1 na pgina seguinte.

Figura 1: rea de abrangncia do Rio Paraba do Norte


Fonte: www.ibge.gov.br/mapas_ibge/atlas_juv_estaduais.php. Acesso em: 22/03/2011

A linha vermelha indica o percurso aproximado do Rio Paraba, importante salientar que
ela parte de uma regio semi-rida do nosso estado e alcana o litoral paraibano, nesse percurso,
elencamos que no trecho mdio do rio, ocorre uma diminuio considervel de suas guas, chegando
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1024
inclusive, a ser considerado temporrio, mas to logo o perodo de inverno incida sobre a regio do Mdio
Paraba, suas guas tornam-se abundantes ao ponto de ocupar toda sua margem durante algumas
semanas.
Embora no seja to frequente como no passado, ainda possvel ver o Rio Paraba lavar a
antiga ponte de Itabaiana, mas numa circunstncia propiciada apenas no perodo da grande vazo das
guas da Barragem de Acau, que advindas dos altos ndices pluviomtricos que no perodo de inverno (de
abril julho) incidem sobre a regio, sendo assim, suas comportas so parcialmente abertas para o
escoamento dessas guas .
REGISTRO DE DESMATAMENTO AO LONGO DO MDIO PARABA
No so raras as imagens de trechos completamente desmatados ao longo do Mdio Paraba. So
muitos os trechos que foram destrudos para dar lugar s pastagens para os animais domsticos e outras
grandes vrzeas so cercadas por moradores ribeirinhos que acabam transformando-as em verdadeiras
propriedades particulares, impedindo inclusive, a passagem de pessoas e animais por entre as margens do
rio.
Esta situao faz supor que o desmatamento tem contribudo sistematicamente para o
assoreamento do leito do Rio Paraba. Alm disso, destacamos que o modelo urbanstico brasileiro, que
no respeita o limite das reas das bacias hidrogrficas e dos cursos dos rios menores, tem transformado
diversas reas j potencialmente frgeis, em reas de grande risco ambiental para as populaes pobres
que por falta de ordenamento urbano se instalam em suas proximidades, ocupando e degradando
definitivamente a vegetao ciliar ribeirinha ali existente.
Este quadro similar ao encontrado por FIORIO et al (2000) em uma microbacia hidrogrfica do
municpio de Piracicaba SP, no perodo 1962 a 1995, ele onde conclui que a expanso desordenada da
cana-de-acar (que no o caso em questo) causou um impacto ambiental negativo a essa microbacia,
na medida em que desmataram a vegetao ciliar para substitu-la por cana-de-acar, levando em
considerao apenas aspectos econmicos, sem preocupao alguma com os danos que estavam causando
ao meio ambiente local.
Na maioria dos casos de degradao das matas ciliares prximas aos centro urbanos, nota-se que a
expanso das cidades ribeirinhas se deu de forma intensiva sobre reas de mata ciliar nativa,
caracterizando um contnuo processo de desmatamento, apesar de j existirem leis coibindo este processo,
como o caso do Cdigo Florestal (Lei Federal 4771/65) que dispunha das seguintes exigncias no seu
Artigo 2, vejamos:
a) Ao longo dos rios ou de qualquer curso d'gua desde o seu nvel mais alto em faixa marginal cuja
largura mnima seja:
I- de 30 m (trinta metros) para os cursos d'gua de menos de 10 m (dez metros) de largura;
II- de 50 m (cinqenta metros) para os cursos d'gua que tenham de 10 (dez) a 50 m (cinqenta
metros) de largura;
III- de 100 m (cem metros) para os cursos d'gua que tenham de 50 (cinqenta) a 200 m (duzentos
metros) de largura;
IV- de 200 m (duzentos metros) para os cursos d'gua que tenham de 200 (duzentos) a 600 m
(seiscentos metros) de largura;
V- de 500 m (quinhentos metros) para os cursos d'gua que tenham largura superior a 600 m
(seiscentos metros);
b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatrios d'gua naturais ou artificiais;
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'gua", qualquer que seja a sua
situao topogrfica, num raio mnimo de 50 m (cinqenta metros) de largura;
d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;
e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45, equivalente a 100% na linha de
maior declive.
esse mesmo Cdigo Florestal quem determina que se considere rea de preservao permanente
as florestas e as demais formas de vegetao natural situadas nas reas de nascentes e de cursos dos rios
(vegetao ciliar).

Joo Pessoa, outubro de 2011

1025
MDIO PARABA ALGUMAS CONSIDERAES IMPORTANTES
O trecho que compreende o Mdio Paraba que compreende os municpios de Barra de Santa Rosa
Itabaiana, no instante em que se aproxima deste ltimo, o regime de suas guas diminui
consideravelmente, passando a ser um rio temporrio. Segundo alguns relatos verbais, esse trecho do rio
recebe o nome de Paraibinha, em aluso sua pouca gua no perodo de estiagem, em contraste
tambm com sua grande vazo dgua nas proximidades da cidade de Salgado de So Flix, onde fora
construda a Barragem de Acau, que por receber alguns afluentes, passa a ter uma lmina dgua muito
vasta. No seu trecho que compreende o Baixo Paraba, de Pilar Cabedelo, essa mesma circunstncia se
repete, tendo em vista que muitos afluentes situados no litoral paraibano desguam no leito do Paraba.
importante destacarmos que essa caracterstica de temporrio do Mdio Paraba implica em
alguns prejuzos, tanto social quanto ambiental. No quesito social, temos o problema do abastecimento das
cidades circunvizinhas ao rio, que em perodos de estiagem ou de baixo ndice pluviomtrico, as populaes
locais sofrem com a falta dgua. Mas fundamental destacarmos que depois da construo da Barragem
de Acau, essa precariedade vem diminuindo consideravelmente, j que as guas represadas durante o
inverno servem para o abastecimento dessas populaes durante todo o ano.
Quando nos reportamos ao quesito ambiental, necessrio destacarmos que ocorre a degradao
da mata ciliar, que cede espao principalmente para a plantao do capim-elefante (Pennisetum
purpureum) que serve para alimentar o rebanho leiteiro que durante o dia solto nas margens do
Paraibinha (Rio Paraba do Norte). Alm deste relato, destacamos tambm a extrao em larga escala da
areia do Paraibinha, principalmente no municpio de Itabaiana, onde desde muito tempo, mesmo em
perodos intercalados, ocorre a extrao dessa areia. Na dcada de 2000, ocorreu a extrao por meio de
dragas que eram postas no leito do rio para a captao de areia, nos dias atuais, a extrao vem ocorrendo
por meio de 2 tratores tipo enchedeira (Michigan), que segundo relatos de moradores prximos ao rio, o
trabalho de extrao e transporte da areia adentra at madrugada. Nas imagens 1 e 2, apresentamos esse
trabalho de extrao:
Imagens 1 e 2: Captao de areia no leito do Mdio Paraba por tratores michigan

Fonte: Acervo pessoal dos autores.

No se sabe ao certo o destino final dessa areia, algumas informaes no oficiais do conta que
so levadas ao Recife, para servir construo civil, j outros relatos tambm no oficiais do conta que
so levadas ao Porto de Suape, Regio Metropolitana do Recife, para de l, ser transportada de navio
pases da Europa, tendo em vista que esse tipo de areia (lavada) muito valiosa para a construo civil.
O que se sabe, com certeza, que no leito do Mdio Paraba j se encontram reas que foram
totalmente modificadas pelo trabalho dessas mquinas, em alguns casos, so encontradas reas
totalmente danificadas, chegando, inclusive, a desviar e represar a pouca gua que corre no seu leito,

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1026
dando origem aos piscines, que no perodo das cheias do rio, se tornam um grande problema para os
ribeirinhos que precisam de deslocar de uma margem outra, conforme a imagem 3 abaixo:

Imagem 3: gua represada devido ao trabalho de escavao das mquinas.


Fonte: Acervo pessoal dos autores.

Alm da degradao do leito do rio por meio das escavaes, os tratores Michigan e os caminhes
caamba esto fazendo estradas dentro do leito do rio, provocando o compactamento da areia e
destruindo a vegetao rasteira que serve para preservar o ambiente natural do rio e reduz drasticamente
a fauna marinha j bastante debilitada.
Nas imagens a seguir (fotos 4 e 5), vemos o compactamento do leito do rio, bem como o caminho
que foi construdo para facilitar a passagem dos cerca de 60 caminhes que diariamente transportam a
areia, contribuindo negativamente para o desequilbrio ambiental nos pontos onde ocorrem a extrao da
areia.

Imagens 4 e 5: Passagens construdas no leito do Rio Paraba


Fonte: Acervo pessoal dos autores.

De acordo com Lelles et al (2005), a extrao de areia em cursos dgua pode gerar os seguintes
impactos negativos ao meio ambiente marinho, vejamos alguns desses impactos elencados por ele:

Joo Pessoa, outubro de 2011

1027
[...]Contaminao do curso dgua causada pelos resduos (leos, graxas, lubrificantes) provenientes
de maquinarias utilizadas nos diferentes tipos de operaes [...] Alterao da calha original dos cursos d
gua, em virtude do uso de equipamentos de extrao de areia nos leitos dos rios (LELLES, 2005, p. 442).

Dentre outros impactos que tambm so apontados por Lelles (2005), esses dois
anteriormente citados so os que pudemos constatar na rea explorada junto ao leito do rio, destacamos
que houve o deslocamento original da calha do leito do rio, promovendo assim, uma brusca mudana no
curso natural do rio, levando em alguns casos ao assoreamento e ao desaparecimento do mesmo, outro
fator negativo ocorre pela presena de resduos de leo diesel sobre o solo, o que contribui diretamente
para a contaminao do mesmo, gerando em muitos casos, prejuzo ambiental para as populaes
ribeirinhas que utilizam a gua do rio para suprimento de suas necessidades bsicas.
CONSIDERAES FINAIS
No caso em anlise, destacamos que a explorao mais intensa no momento ocorre no
distrito de Guarita, no municpio de Itabaiana, sendo que em outras reas ribeirinhas de municpios
prximos tambm ocorrem a retirada da areia do leito desse rio, embora que em escala menor. Devido
uma srie de denncias publicadas em sites locais e com a utilizao de uma importante rdio da regio,
algumas medidas j foram tomadas no sentido de coibir essa extrao e ocorreram casos em que as
mquinas foram apreendidas pelo IBAMA/PB., entretanto, o fato que aps um perodo de calmaria, a
explorao retomada sem maiores problemas, trazendo srios problemas ambientais ao leito do Rio
Paraba na regio polarizada por Itabaiana. Destacamos inclusive, que a promotoria da Comarca de
Itabaiana j se prontificou para apurar o caso da legalidade da licena expedida pela Secretaria Municipal
de Meio Ambiente de Itabaiana-PB.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BRASIL. Cdigo Florestal Brasileiro. LEI N 4.771, de 15 de Setembro de 1965. Disponvel em:
http://www.enge.com.br/lei4771_65.pdf. Acesso em: 22 de fev. de 2011.
CADERNOS DE RESUMOS do 5 CBA - Uso e Conservao de Recursos Naturais. Rev. Brasileira de
Agroecologia/out. 2007 Vol. II N 2.
FIORIO, P.R. et al. Cronologia e impacto ambiental do uso da terra na microbacia hidrogrfica do
ceveiro, em Piracicaba, SP. Pesquisa Agropecuria Brasileira, Braslia, v.35, n.4, p.671-679, abr. 2000.
LEAL, Antonio Cezar; GUIMARES, Eliana. Gesto das guas e educao ambiental. In: Educao
Ambiental. Org: Giovani Seabra. Joo Pessoa: Editora Universitria da UFPB, 2009. 228 p.
RODRIGUES, Maria de Ftima Ferreira. Serto no plural: da linguagem geogrfica ao territrio da
diferena. Tese de Doutorado Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas Departamento de
Geografia da Universidade de So Paulo. So Paulo, 2001. 300 p.
SILVA,Lgia Maria Tavares da. Nas margens do Rio Paraba do Norte. In: Revista Cadernos do
Logepa. Departamento de Geocincias da UFPB Srie Texto Didtico. Ano 2, Nmero 4 - Jul/Dez de 2003 ISSN 1677-1125.
SUERTEGARAI, Dirce Maria Antunes. Geografia fsica e geomorfologia: uma (re) leitura. Iju: Editora
Uniju, 2002. 112 p. (Coleo cincias sociais).

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1028

IMPACTOS AMBIENTAIS DE UMA PONTE NO ESTURIO DO RIO APODIMOSSOR, RIO GRANDE DO NORTE (NORDESTE DO BRASIL)
Wendson Dantas de Arajo MEDEIROS
Doutorando em Geografia, Universidade de Coimbra
wendson.medeiros@gmail.com

RESUMO
O presente artigo trata de um estudo envolvendo a identificao e previso de impactos ambientais
numa rea estuarina situada no estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil, abrangendo reas dos
municpios de Areia Branca e Grossos. Inicialmente, realizou-se a identificao de impactos ambientais prexistentes no municpio de Areia Branca, onde foram identificados 9 impactos, os quais estavam
relacionados s atividades predominantes no municpio, como a salineira e a petrolfera. Em seguida,
efetuou-se uma previso dos impactos gerados a partir do projeto de construo de uma ponte sobre o
esturio do Rio Apodi-Mossor, sendo identificados tambm 9 impactos ambientais. Por fim, considera-se
que os impactos a serem gerados pelo empreendimento intensificam o quadro de degradao da rea de
estudo, o que resulta em perda da qualidade ambiental.
Palavras-chave: Areia Branca-RN, Grossos-RN, gesto ambiental, degradao ambiental.
INTRODUO
O municpio de Areia Branca, situado na mesorregio Oeste e litoral Norte do Estado do Rio Grande
do Norte, Nordeste do Brasil, apresenta um quadro de degradao ambiental decorrente das atividades
tradicionais e recentes que nesse municpio se instalaram em funo das caractersticas naturais favorveis.
Entre estas se destacam as atividades salineira e a petrolfera, que so as principais responsveis
por tal quadro. Alm destas, recentemente, a implantao da carcinicultura marinha e as expectativas em
torno do turismo tm contribudo para uma intensificao da degradao previamente instalada.
Tais atividades tm gerado, e continuam a gerar, impactos ambientais de ordem e magnitudes
diversas, onde alguns apresentam status de irreversibilidade, enquanto outros podem ainda ser mitigados a
partir de aes coordenadas de gesto e monitoramento ambientais.
Diante desse contexto, este estudo realizou um breve levantamento dos impactos ambientais prexistentes no municpio de Areia Branca e, em seguida, uma previso aproximada dos impactos a serem
gerados em funo da construo de uma ponte sobre o esturio do rio Apodi-Mossor, considerada uma
obra estruturante para a implementao da atividade turstica.
Esta obra visa ligar os municpios de Areia Branca e Grossos, possibilitando uma maior facilidade de
acesso s praias situadas nas duas localidades, quer por turistas provenientes do eixo rodovirio do estado
do Rio Grande do Norte, quer do estado do Cear, bem como pela populao residente que, diariamente,
utiliza-se de duas balsas (ferryboat) com horrios predeterminados e capacidade limitada de transporte.
Como envolve um esturio, a rea de influncia de um empreendimento como este, para fins de
Avaliao de Impactos Ambientais AIA, deveria envolver, conforme a Resoluo do Conselho Nacional de
Meio Ambiente CONAMA n 01/1986, a bacia hidrogrfica em questo. De acordo com essa mesma
norma, deveria, ainda, ser realizado por uma equipe multidisciplinar.
Contudo, como esse estudo no tem o carter e nem a profundidade de uma AIA, a rea de estudo
ser de mbito local, delimitada entre o trecho do esturio que abrange os dois municpios ora citados. E a
sua elaborao dar-se- sob a ptica da Geografia, no se constituindo num estudo multidisciplinar.
METODOLOGIA
Os procedimentos metodolgicos que nortearam a execuo deste estudo baseiam-se,
fundamentalmente, numa concepo sistmica do ambiente afetado a partir da ptica da Geografia.
A concepo de impacto adoptada neste estudo baseia-se na Resoluo CONAMA n 01/1986, que
define impacto ambiental como sendo
qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam: I a sade, a segurana e o bem-estar da populao; II as atividades sociais e econmicas; III a

Joo Pessoa, outubro de 2011

1029
biota; IV as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; V a qualidade dos recursos ambientais
(Resoluo CONAMA n 01/1986).

A partir dessa concepo, o processo de identificao dos impactos dividiu-se em duas partes, onde
uma refere-se aos impactos existentes no municpio de Areia Branca, antes da construo da ponte e, a
outra, trata-se da previso dos impactos advindos deste empreendimento. A primeira serve de subsdios
segunda.
No primeiro caso, apoiou-se nas observaes e registros de campo realizados pelo autor em
diversas visitas in loco durante os anos de 2007 e 2009. J no segundo, fez-se a previso tomando por base
as relaes de causa-efeito no ambiente, de modo a pensar a interao entre os processos tecnolgicos
envolvidos na construo do empreendimento e os processos do meio fsico atuantes no local.
importante ressaltar que o processo de previso dos impactos no se baseou em dados oficiais,
visto no se ter conseguido acesso aos dados tcnicos acerca do projeto de execuo, como as alternativas
de traado e os processos tecnolgicos a serem empregados. Estes dados permitiriam uma anlise mais
prxima da realidade, permitindo, inclusive, comparar os impactos de todas as alternativas locacionais
previstas.
No que concerne forma de apresentao dos impactos, optou-se por listagem simples
acompanhada de breves comentrios explicativos, muitas vezes enfatizando a relao causa-efeito e
alguma valorao subjetiva.
Convm ressaltar, nesse sentido, que todo o processo de identificao de impactos de um dado
empreendimento deve ser constantemente revisto, uma vez que pode haver novos factos e abordagens
diferentes para um mesmo empreendimento (SANCHEZ, 2006). Portanto, um estudo inacabado,
preliminar, a ser sempre revisado e atualizado.
BREVE CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO
O esturio do rio Apodi-Mossor est situado na mesorregio oeste do estado do Rio Grande do
Norte, em sua poro setentrional, e abrange reas dos municpios de Grossos, Areia Branca e Mossor
(Figura 1).

Figura 1 Localizao da rea de estudo.


O clima desta rea do tipo semirido quente, onde ocorrem duas estaes bem definidas: uma
chuvosa, entre os meses de Fevereiro e Maio; e, outra seca, prolongando-se pelo resto do ano. As
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1030
temperaturas mdias anuais oscilam entre 21C e 33C, apresentando 2.700 horas de insolao por ano e
humidade relativa mdia de 69% (IDEMA, 2000).
A geologia marcada pelo domnio da Bacia Potiguar, de idade Cretcea, caracterizada
basicamente por calcrios (Formao Jandara) e arenitos consolidados (Formao Au). Sobreposta a estas
unidades, observam-se sedimentos recentes associados Formao Barreiras e s dunas mveis.
O relevo suavemente ondulado, caracterizado pelos Tabuleiros Costeiros, que tem como ponto
notvel a Serra Vermelha; as dunas mveis e as falsias, ocorrendo paralelamente linha de costa; a
plancie flvio-marinha do rio Apodi-Mossor, que abrange a maior parte da rea de estudo; e os terraos
fluviais. As altitudes variam de 2 metros (sede do municpio de Areia Branca) a 58 metros (Serra Vermelha),
produzindo uma topografia suavemente ondulada.
Os solos dominantes so do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo Eutrfico (ocupado com a cultura
permanente do caju, em especial na rea da Serra Vermelha), os solos aluvionares (ocupados quase que
totalmente pelas salinas), os Neossolos Quartzarnicos (Areias Quartzosas Marinhas) e os Solonchack
Sdico (solos salinizados).
A hidrologia marcada pelo rio Apodi-Mossor e seu afluente (rio do Carmo) e pelos aquferos
Jandara (tipicamente fissural), aluvio e dunas-barreiras (mais superficiais, podendo ocorrer ressurgncia
na rea das plancies de deflao).
A vegetao dominante a Caatinga, onde ocorre grande diversidade de espcies adaptadas
seca. Porm, na faixa estuarina destaca-se o manguezal, que se apresenta em estreitas faixas (resqucios
florestais). Estas formaes vegetais se encontram muito degradadas, sendo a primeira em funo da
atividade petrolfera (para instalar uma unidade de produo, desmata cerca de 10.000 m2) e, a segunda,
em funo da atividade salineira.
Na fauna, os elementos mais representativos so os pequenos mamferos de hbitos noturnos na
rea da Caatinga (raposas - Vulpes vulpes; pres - Galea spixii spixxi; guaxinins - Procyon cancryvorus),
lagartos e rpteis diversos (tejuau - Tupinambis sp.; jiboia - Boa constrictor; sapo cururu - Bufo ictericus),
aves (galos da campina - Paroaria dominicana; sabis - Mimus sp.; carcar - Polyborus plancus). Na rea do
manguezal, diversas espcies de peixes de pequeno porte (tainha - Mugil sp.; caranguejos - Ucides
cordatus, siris Callinectes sp.; sururus e ostras), aves diversas (soc -Tigrisoma sp.; garas brancas Egretta thula) e aves migratrias.
As caractersticas naturais consorciadas fizeram esta regio assumir grande importncia para a
economia do Rio Grande do Norte com o favorecimento instalao de salinas e explorao petrolfera.
No que diz respeito atividade salineira, a produo dos municpios de Mossor, Grossos e Areia
Branca, somada a dos municpios de Macau e Galinhos (a sudeste da rea de estudo) responde por cerca de
90% do sal marinho produzido no Brasil.
J a atividade petrolfera marcada pela existncia de um dos maiores campos de petrleo onshore
do Estado e do Brasil o Canto do Amaro, situado entre os limites municipais de Mossor e Areia Branca.
A ocupao da rea de estudo, do ponto de vista humano, est relacionada s atividades
econmicas aqui tratadas. Porm, a ocorre um cenrio bastante peculiar no RN provocado pelo encontro
do serto com o mar. Isto propiciou uma ocupao diferente de outras reas do estado, pois convivem de
forma harmnica a pecuria e a agricultura (atividades tpicas dos sertes secos) com a pesca artesanal
(tpica dos litorais hmidos).
No caso de Areia Branca, estas atividades de subsistncia, ao contrastarem com as dunas de sal
(pilhas de sal) e os cavalos-de-pau (tambm chamados cavalos mecnicos, usados para bombear o leo),
tipificam a paisagem daquela regio, tornando-a objeto de explorao turstica quando isto se rene com
belas praias e formaes do relevo, como as falsias de Ponta do Mel e as dunas do Rosado e do Cristvo,
importantes atrativos tursticos.
IMPACTOS AMBIENTAIS PR-EXISTENTES IDENTIFICADOS
1. Devastao dos manguezais
O processo de devastao dos manguezais na rea de estudo no recente. Data do incio do
sculo XX e est associado ocupao da plancie flvio-marinha com as salinas, que intensificaram a sua
produo na dcada de 60 em funo da instalao de indstrias de refino do sal.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1031
O mangue foi devastado para abrigar os tanques armazenadores e evaporadores das salinas, mas
tambm para dar lugar aos canais de captao de gua e de descarga de efluentes.
Este impacto de carter negativo foi responsvel por um desequilbrio ecolgico de grandes
propores, visto o manguezal se constituir num importante berrio natural de espcies aquticas
(marinhas e dulccolas) e terrestres. A reduo de sua rea influenciou negativamente toda a cadeia
alimentar, a partir da alterao dos processos de ciclagem de nutrientes, o que interferiu no processo da
manuteno da vida aqutica e terrestre como um todo.
Atualmente, os manguezais do esturio do rio Apodi-Mossor, embora ainda tenha relevncia do
ponto de vista bitico e humano, perdeu muito de sua produtividade. considerado pobre em espcies,
principalmente se comparado ao que deveria existir antes da introduo da atividade salineira.
Alm da importncia bitica, os manguezais funcionam como uma barreira entrada de
sedimentos do continente, impedindo o processo de assoreamento e o soterramento de comunidades
bentnicas.
Este impacto considerado de forte significncia e irreversvel.
2. Assoreamento do rio Apodi-Mossor
Este impacto, de carter eminentemente negativo, de consequncias danosas para o ambiente,
tem origens diversas. Todavia, a devastao dos manguezais tem sido apontada como uma das suas
principais causas. Alm desta, o desflorestamento e ocupao das dunas, contribuiu para um incremento
deste processo, uma vez que as areias passaram a invadir o leito do rio devido ausncia de vegetao
protetora em suas margens manguezal.
Atualmente, as principais consequncias deste processo esto associadas ao soterramento da
comunidade bentnica; alargamento do espelho dgua do rio, que intensifica a eroso nas margens e
inundao de salinas e reas urbanas; a formao de bancos de areias no canal navegvel, prejudicando o
escoamento do sal por meio das barcaas para o Porto Ilha, situado em mar aberto; e reduo do potencial
piscoso, afetando a comunidade de pescadores que depende, em parte, do esturio para fins de
subsistncia.
Apesar de ser um impacto significante, pode ser reversvel caso sejam realizadas dragagens
controladas e peridicas.
3. Salinizao dos solos e dos corpos dgua superficiais e subterrneos
Este impacto est intimamente relacionado ao descarte das guas-mes das salinas no leito dos
rios e tambm em plancies utilizadas como lagoas de despejo. No primeiro caso, tem sido responsvel pela
elevao dos teores de salinidade do esturio e, tambm, pela mortandade de peixes, como ocorreu com o
rio do Carmo, um dos tributrios do rio Apodi-Mossor, no final dos anos 1990. Este rio teve a sua
populao de peixes totalmente dizimada em decorrncia da combinao de escassez de chuvas (perodo
de seca) com descarte contnuo das guas-mes. Tal facto foi bastante divulgado nos noticirios locais
como um dos maiores desastres ambientais do estado.
Alm deste, frequente a reclamao, por parte da populao, em relao salinidade de poos
artesianos situados nas proximidades das salinas, que antes eram utilizados para todo o fim e, hoje, j no
se presta para o consumo humano. Contudo, preciso estudar com maior profundidade esta questo para
que se possa identificar a sua verdadeira causa.
H tambm, a salinizao dos solos. Nesse caso, o lanamento de guas-mes em plancies de
deflao, utilizadas como lagoas de despejo, propiciou, ao longo dos anos, a formao de crostas de sais no
solo (Figura 2a), tornando-os imprestveis para atividades como a agropecuria e, potencializando os riscos
de contaminao dos aquferos.
Este impacto tem grande relevncia e possui carter de reversibilidade (caso do Rio do Carmo, que
est sendo recuperado por ao do Governo Estadual) e irreversibilidade (maior parte dos poos artesianos
e dos solos).
4. Alagamento das ruas na cidade de Areia Branca
As diversas alteraes na plancie flvio-marinha, em funo da sua ocupao com as salinas,
alterou todo o processo de drenagem das guas pluviais, condicionando grande parte do seu fluxo para a
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1032
cidade. Esta, por estar numa rea de baixa altitude (2-10 metros em mdia) e por no possuir um sistema
de drenagem eficiente, frequentemente inundada nos perodos de chuva. Outro fator que contribui com
essa situao a extensa rea impermeabilizada na cidade, onde a maioria das casas no dispe de reas
permeveis para infiltrao das guas pluviais.
5. Degradao das dunas
As dunas, atualmente, vm sendo alvo de degradao, seja em funo de sua ocupao
desordenada atravs da populao tradicional, seja em funo da especulao imobiliria causada com a
expectativa gerada em torno do turismo. Comumente, se observam registros de deposio de lixo e de
queimadas nas reas de dunas. Isso sem citar as construes residenciais nesta reas frgeis que,
paradoxalmente, constituem espaos protegidos por lei.
A ocupao das dunas provoca uma interferncia negativa no ambiente, visto que contribui para a
diminuio das reas de recarga do aqufero dunas-barreiras; propicia um maior movimento de areias que
chegam a atingir o leito do rio, contribuindo para o assoreamento; potencializa a contaminao dos
aquferos, principalmente em funo da ausncia de um sistema de saneamento bsico nas unidades
residenciais. A sua impermeabilizao contribui, ainda, para um aumento do escoamento superficial, vindo
a ocasionar eroso nas reas de tabuleiros costeiros.
6. Processos erosivos diversos
Estes esto associados ao desmatamento na rea de dunas e nos tabuleiros costeiros, do
manguezal, bem como aos processos erosivos na costa.
Os tabuleiros costeiros, desprovidos de vegetao e compactados para instalao de vias de acesso,
so facilmente erodidos com o escoamento superficial em pocas de chuva (Figura 2b). O material erodido,
geralmente intensifica o assoreamento de cursos dgua e o soterramento de vertentes e plancies de
deflao, interferindo na drenagem natural e propiciando alagamento de reas prximas destas.
Em relao eroso costeira, percebe-se um processo de deriva litornea, de direo preferencial
SE-NW, que promove a reduo de reas de praia nos municpios de Grossos e Areia Branca. Este um
processo que denota forte instabilidade ambiental, podendo inclusive estar interferindo no processo de
assoreamento da foz do rio e no recuo das dunas frontais de Grossos.
7. Poluio do rio Apodi-Mossor
Este rio se encontra poludo tendo em vista receber todos os tipos de efluentes da cidade, devido
ausncia de saneamento bsico. Boa parte desses efluentes lanada, primeiramente, numa vala (canal
artificial construdo pelas salinas) que circunda as salinas da cidade em sua poro sul (Figura 2c). Esta vala
desagua no rio Apodi-Mossor sem que os efluentes sejam tratados.
Apesar de promover a poluio do rio, h defensores da ideia de que a salinidade elevada das
guas-mes tem ajudado a diminuir os ndices de poluio, por funcionar como um depurador de resduos.
Alm disso, frequente o lanamento constante de guas servidas in natura, oriunda de
estabelecimentos comerciais (Figura 2d), especialmente os situados na margem direita do esturio. Tudo
isto contribui para uma maior degradao deste ambiente estuarino.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1033

Fonte: Todas as fotos so do prprio autor do artigo e registradas em 2008.

Figura 2 - Registros de impactos identificados in loco: a) solo com crosta de sal e leo (asfalto cru?)
por baixo, provavelmente indicando o seu uso para descarte de guas-mes; b) eroso dos solos em rea
de tabuleiros costeiros, desprovido de vegetao; c) vala que recebe os efluentes das salinas e urbanos; d)
pontos de lanamento de guas servidas diretamente no esturio.
8. Gerao de emprego e renda
As atividades responsveis pelo quadro de degradao ambiental hoje percebido no municpio so
as que empregam a maior parte da populao local e as maiores geradoras de receita para os cofres
pblicos municipais. Isto se torna um impacto positivo de grande relevncia e faz dos municpios desta
rea, refns destas atividades. Isso justifica, muitas vezes, a ineficincia da fiscalizao ambiental por parte
do poder pblico frente a estas atividades.
9. Diversificao da economia e dos servios
Estas atividades trazem consigo todo um suporte necessrio ao seu desenvolvimento. No caso, por
exemplo, da atividades petrolfera, h uma srie de empresas prestadoras de servio em diversas reas de
apoio produo que esto instaladas nos municpios da rea de estudo. O mesmo ocorre com a salineira,
que tem todo um setor voltado navegao desenvolvido no municpio. Isto tem trazido benefcios do
ponto de vista econmico e tem diversificado a oferta de empregos na regio.
PREVISO DE IMPACTOS COM A CONSTRUO DA PONTE
A construo de uma ponte sobre um ambiente estuarino resulta, obviamente, em impactos de
escalas e magnitudes diversas, tanto no meio fsico, quanto nos bitico e antrpico. Estes esto
relacionados s diversas aes executadas nas fases de planejamento, implantao e operao do
empreendimento. Entretanto, tendo em vista o carter sinttico deste artigo, os impactos sero
apresentados sem levar em conta a compartimentao em suas fases, isto , sero apresentados como
impactos do empreendimento, de modo global e genrico.
Neste sentido, listam-se aqui os impactos considerados mais relevantes, no mbito local, seguidos
de uma breve discusso acerca de sua importncia, causas e efeitos.
1. Devastao dos manguezais
Um importante impacto de carter negativo e de grande magnitude est relacionado devastao
dos manguezais. Como j se discutiu aqui a importncia deste ecossistema, cabe aqui enfatizar as
alteraes provocadas desta obra.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1034
Como este ecossistema existe apenas sob a forma de resqucios, a construo da ponte poder por
em risco a sua continuidade florestal, uma vez que haver a necessidade de desmate para a construo dos
pilares de sustentao da ponte, como tambm para a instalao do canteiro de obras.
Isso ir interferir no processo de mobilidade de espcies terrestres, como por exemplo os
caranguejos e siris, que se movimentam constantemente nas faixas residuais de mangue, o seu habitat
natural. Com isso, estas espcies correm o risco de diminurem suas populaes de forma a interferir em
todo o equilbrio ecolgico atual.
Ressalta-se que, alm de serem espcies apreciadas pelos pescadores, para fins de subsistncia,
so tambm alimento de inmeras aves que a habitam, inclusive algumas espcies migratrias.
Logo, como consequncia direta da interveno nos manguezais, h todo um desencadeamento de
consequncias negativas na cadeia alimentar local, implicando impactos significativos fauna.
Pode-se ainda mencionar a contribuio para intensificao de processos erosivos a existentes,
sobre os quais ir se discutir a posteriori, bem como outros impactos associados.
2. Intensificao do assoreamento do rio Apodi-Mossor
Este impacto tende a ser intensificado com as obras de terraplenagem e pavimentao asfltica
durante as fases de implantao e operao do empreendimento.
No primeiro caso, a movimentao de terra deixar sedimentos disponveis ao constante dos
ventos litorneos, carreando-os para o leito do rio. No caso da pavimentao asfltica, tendo em vista o
modelo utilizado para estradas em toda a regio, incluindo pontes, aumentar as reas impermeveis, o
que contribuir para um maior escoamento superficial na poca das chuvas e, consequentemente, eroso
dos taludes e assoreamento do rio.
Como o rio j se encontra bastante assoreado, prejudicando toda a manuteno da vida aqutica e,
tambm, o desenvolvimento da navegao, esse impacto assume grande relevncia, apesar de poder ser
revertido com a prtica de dragagens controladas e peridicas. Embora, esta prtica possa ser danosa face
situao de poluio hdrica, mas isso outra questo e no ser tratada aqui.
3. Degradao das dunas
Por haver a necessidade de obras de terraplenagem em reas de dunas costeiras, especialmente na
margem esquerda do esturio, esta obra resultar em impactos negativos bastante significativos. Primeiro,
por alterar por completo a topografia da rea, o que pode vir a desencadear a atuao de outros processos
do meio fsico, como eroso e instabilidade do terreno. Segundo, pelo fato de esta rea estar sujeita a uma
deriva litornea, onde o mar pode vir a avanar em busca de sedimentos que no lhe so mais fornecidos
naturalmente pelo rio, face s vrias alteraes sofridas neste montante, com a construo de diversos
barramentos.
4. Processos erosivos diversos
Este um impacto secundrio, diretamente relacionado ao desmatamento do manguezal e s
alteraes topogrficas e devastao das dunas. Alm desses, porm, a construo de vias pavimentadas
para acesso a ponte (dependendo do traado escolhido), provocar um maior escoamento superficial e
eroso laminar, especialmente, nas margens da estrada, face ao aterro compactado apresentar uma baixa
resistncia eroso.
Contribuir, ainda, para o assoreamento do rio e a instabilidade da estrutura rodoviria,
especialmente, em detrimento do avano das dunas sobre as vias de acesso ponte.
5. Poluio do rio, dos solos e do ar
Este tambm apresenta carter negativo e ser intensificado devido ao aumento do fluxo de
veculos a utilizar a ponte.
Isto resultar no lanamento de gases e material particulado eliminados pelos escapamentos dos
veculos, de modo a gerar poluio atmosfrica diretamente. Aliado a isso, o material particulado pode vir a
se depositar no rio e/ou nos solos, contribuindo para a poluio desses recursos ambientais com
substncias qumicas, como o ocorrido no esturio do rio Curimata no litoral sul do RN (MEDEIROS, 2001).

Joo Pessoa, outubro de 2011

1035
Este fato se torna preocupante, tendo em vista a possibilidade de absoro destas partculas, entre
as quais metais pesados, na cadeia alimentar aqutica, provocando um grave desequilbrio ecolgico e
afetando o homem que ainda utiliza o esturio como fonte de pesca e lazer.
6. Perturbao e fuga da fauna
Durante a fase de implantao, a presena constante do homem, de mquinas e o nvel de rudo
geram um ambiente de perturbao, obrigando os elementos da fauna local a migrarem constantemente
procura de lugares seguros. Isto produz um quadro de competio em outras reas e contribui para a
diminuio de espcies e possvel reduo da diversidade de espcies.
Com a operao da ponte, o trfego de veculos constantemente se constitui num fator de
perturbao permanente, alterando o comportamento da fauna e at possibilitando a fuga de espcies
para outras reas, inclusive a rea urbana, o que pode causar novos desequilbrios.
Tendo em vista os impactos j existentes, a execuo do projeto da ponte ampliar os efeitos
negativos na fauna, assumindo, em razo da diminuio da rea de manguezais, um carter irreversvel.
7. Gerao de emprego e renda e diversificao da economia
Em relao ao emprego, como se trata de uma obra estruturante para a atividades turstica,
acredita-se que haver uma maior oferta na localidade, de modo a absorver parte da populao nesse
setor da economia. Contudo, como o turismo anda junto com, pelo menos, outros 55 setores (construo
civil, transportes, alimentos e bebidas entre outros) os impactos nesse sentido podem ser bastante
benficos, promovendo uma diversificao na oferta de servios.
Em relao renda local, alm desta ser dinamizada diretamente pelo turismo, esta ter um
incremento, tendo em vista que permitir um maior fluxo de veculos e, por conseguinte, visitantes e
turistas s praias da regio, potencializando o comrcio local.
8. Maior deslocamento de pessoas, mercadorias e servios
A considerar que, atualmente, o trajeto entre os dois municpios feito mediante a travessia de
duas balsas (ferryboat), com capacidade limitada de transporte e horrios predeterminados, a construo
da ponte permitir uma maior circulao de pessoas, mercadorias e servios, dinamizando os dois
municpios, do ponto de vista econmico e de integrao social.
Apesar de ser um impacto benfico, a intensificao do trfego pode resultar na necessidade de
adequao de outras estruturas urbanas, como vias de acessos locais, exercendo novas presses sobre os
recursos naturais, bem como pode intensificar os riscos de acidentes rodovirios.
9. Induo ocupao de reas de risco
Como todo empreendimento rodovirio, este vir acompanhado de forte especulao imobiliria,
especialmente, por estar situado numa zona turstica. Por isso, prev-se um adensamento imobilirio em
reas de risco e de proteo ambiental, notadamente nas faixas de praia e reas de dunas do municpio de
Grossos.
Embora seja ilegal a ocupao destas reas, h atualmente algumas j demarcadas, o que exige dos
rgos pblicos uma ao mais eficaz no controle desta ocupao.
CONSIDERAES FINAIS
A realizao deste estudo permitiu a identificao de uma srie de impactos ambientais
decorrentes das atividades j existentes na rea de estudo, sendo apresentados 9 (nove) impactos
significativos. Destes, 2 (dois) so notoriamente benficos e 7 (sete) negativos.
Isto reflete o quadro atual da situao ambiental da rea, o que deve se levar em conta num
processo de avaliao de impactos ambientais de empreendimentos futuros, visto ser o impacto ambiental
o resultado da diferena entre a situao inicial e a situao futura do ambiente, com a implementao do
empreendimento.
Portanto, a partir da situao inicial identificada, previu-se 9 (nove) impactos ambientais
decorrentes do processo de construo da ponte, sendo que alguns destes coincidiram com os
identificados previamente. Com isto, pode-se deduzir que o empreendimento no gera tantos novos
Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1036
impactos significativos, contudo a situao inicial no se mantm, visto que os impactos so amplificados
em funo do seu carter sinergtico e cumulativo. Tal fato resulta, no geral, em perda da qualidade
ambiental da rea de estudo.
Tais resultados so importantes para a construo de um processo slido de gesto ambiental e
territorial a nvel municipal e/ou intermunicipal, pois possibilitam o estudo de alternativas de mitigao dos
impactos, de modo a executar o empreendimento com o mnimo de impactos ambientais negativos, bem
como planejar aes de recuperao de reas degradadas sempre com o objetivo de melhoria das
condies ambientais, a garantir uma melhor qualidade de vida populao residente a partir de uma
concepo de desenvolvimento sustentvel.
BIBLIOGRAFIA
IDEMA Instituto de Desenvolvimento Econmico e Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do
Norte (2000) - Perfil dos municpios. IDEMA, Natal.
MEDEIROS, J. S. (2001) Degradao do ecossistema manguezal no Estado do Rio Grande do
Norte. Da Vinci Cincia e Tecnologia, Dirio de Natal, Natal, p. 4.
SANCHEZ, L. E. (2006) Avaliao de impacto ambiental: conceitos e mtodos. Oficina de Textos,
So Paulo.

Joo Pessoa, outubro de 2011

1037

PRTICAS DE EDUCAO AMBIENTAL NA RESEX MARINHA DE SO JOO


DA PONTA-PA
Ana Paula Pereira COSTA - Universidade Federal do Par
ana.costa@ifch.ufpa.br
Wellingtton Augusto Andrade FERNANDES - Universidade Federal do Par
Wellingtton.fernandes@ifch.ufpa.br
Orientadora: Prof Dr Mrcia Aparecida da Silva Pimentel UFPA.
mapimentel@ufpa.br
Coordenadora do Programa Educao Ambiental na RESEX marinha de So Joo da Ponta PA, Proext/MEC.

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo tratar das experincias vividas durante o andamento do
Programa Educao Ambiental na RESEX marinha de So Joo da Ponta PA, Proext/MEC, alm de
divulgar as metodologias resultantes dessa experincia para o ensino da educao ambiental. O interesse
em trabalhar a temtica da EA surgiu em decorrncia de um diagnstico realizado na RESEX, que verificou a
existncia de problemas ambientais, tais como o lixo e poluio das guas dos rios que cortam a resex.
Visando contribuir com o despertar de uma conscincia ambiental crtica entre os alunos do ensino
fundamental da rede pblica municipal da Reserva Extrativa de So Joo da Ponta, foram desenvolvidas
prticas educacionais (oficinas) voltados para as necessidades e interesses mais especficos dos alunos,
pautados nos seguintes objetivos: evitar que materiais que possam ser reaproveitados se misturem ao lixo
comum; incentivo a produo de brinquedos com material reciclvel (garrafa PET) e estimular os alunos a
se reconhecerem como responsveis pela construo e manuteno desse meio (sua casa, rua, escola,
comunidade). Sendo assim, partimos do pressuposto que considera a educao ambiental como elemento
de fundamental importncia para a formao e o exerccio da cidadania, uma vez que a mesma se
apresenta como um processo contnuo de aprendizagem em diversos campos do saber.
PALAVRAS-CHAVE: Educao ambiental, conscientizao, mobilizao social, resex, So Joo da
Ponta.
INTRODUO
A Reserva Extrativa de So Joo da Ponta PA, criada pelo Decreto de 13 de dezembro de 2002,
publicado no D.O.U. de 16.12.2002, localizada a nordeste paraense, estipulada em 31, 9711 km, bioma
Amaznia, e que tambm abrange os municpios vizinhos de Curu e So Caetano de Odivelas.

Graduanda em Geografia pela UFPA, bolsista do Laboratrio de Ensino de geografia(LABENGEO-PROINT).


Graduando Geografia pela UFPA, bolsista Proext /MEC .

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1038

Figura 01: Mapa dos limites municipais da Reserva Extrativista de So Joo da Ponta.
A RESEX foi criada com o objetivo de assegurar o uso sustentvel e a conservao dos recursos
naturais, protegendo os meios de vida e a cultura da populao extrativista local. No entanto, a RESEX em
questo vem sofrendo muitos problemas no que diz respeito ao bom uso e a preservao dos recursos
existentes na reserva. A problemtica estaria ligada a fatores como: poluio dos rios, mangues,
assoreamento e depsitos irregulares de lixo na rea da RESEX. Nesse sentido o Programa Educao
Ambiental nas RESEXS Marinhas de So Joo da Ponta e Me Grande de Curu-PA sob Coordenao da
Prof Dr Mrcia Aparecida da Silva Pimentel procurou em conjunto com os representantes da comunidade
local, intervi nessa situao, mobilizando a populao com palestras e oficinas, abordando a temtica de
preservao e educao ambiental a fim de garantir a conservao de seus recursos e que promova, de
fato, a conciliao entre os interesses ecolgicos e sociais no interior da RESEX.
DA CRISE AMBIENTAL S ALTERNATIVAS SUTENTVEIS
A conservao da biodiversidade, dos ecossistemas e o manejo sustentvel dos recursos naturais se
configuram como elementos fundamentais para a criao das unidades de conservao. Levando em
considerao a preocupao da sociedade com o atual modelo de crescimento econmico, no qual se
revelou insustentvel em virtude da constatao da limitao dos recursos naturais, novos discursos e
paradigmas foram levantados em conferncias nacionais e internacionais questionando o presente modelo
de desenvolvimento.
Mediante a verificao de uma crise ambiental, provocada pela presso das atividades humanas
(processos de urbanizao, industrializao, intensificao das atividades agrcolas, etc.)sob o meio
ambiente, emergiu no mundo, principalmente no decorrer do sculo XX, o despertar de uma nova
conscincia ambiental e ecolgica, visto que, as alteraes dos ecossistemas tornaram-se mais visveis e
com grandes impactos para a populao, especialmente nos pases, hoje, desenvolvidos como Estados
Joo Pessoa, outubro de 2011

1039
Unidos e alguns pases europeus. nesse contexto que a idia de conservao ganha o sentido de bom
uso dos recursos naturais.
Contudo, at chegarmos ao atual estgio de preocupao, consolidao das leis ambientais e o
prprio desenvolvimento de uma educao ambiental, muitas discusses foram realizadas, por exemplo:
1972- Conferncia das Naes Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo; 1987- Congresso
Internacional sobre a Educao e Formao Relativa ao Meio Ambiente, Moscou; 1992 - Conferncia das
Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) Rio 92- Rio de Janeiro, Brasil; 2002
Cpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentvel - Rio + 10 Johannesburgo, frica do Sul). Porm, foi a
partir da dcada de 80 que as discusses sobre sustentabilidade tornaram-se foco de grandes reunies
internacionais, incluindo a construo de conceitos e aplicabilidade.
Nesse primeiro momento a idia de desenvolvimento sustentvel estava intimamente atrelada ao
crescimento econmico e a sua relao com o meio ambiente. O relatrio de Brundtland (1987) definiu o
conceito de desenvolvimento sustentvel como aquele que atende s necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das geraes futuras. Trazendo essas discusses para a questo ambiental no
Brasil, claro, temos um longo histrico de conquistas e consolidao de polticas ambientais, com
destaque: Em 1934, para a Realizao da conferencia Brasileira de proteo natureza; criao do Cdigo
de caa e pesca, o cdigo florestal e o cdigo das guas, alm da criao via decreto, em 1937 do 1 parque
nacional, o de Itatiaia, sendo este, um marco para as polticas ambientais no Brasil e conseqentemente
projetos que envolvam a educao ambiental.
O PROCESSO DE CONSTITUIO DAS RESEXS NO BRASIL
O conceito de Reserva Extrativista (RESEX) surgiu entre os anos 1985 e 1988, a partir dos habitantes
da Amaznia, mais precisamente no Acre, atravs do Conselho Nacional de Seringueiros, que o props
como um sistema inovador de direito de propriedade e uso da terra como alternativa de conservao e
desenvolvimento sustentvel (Allegretti, 1990), sustentando a idia de unio entre o desenvolvimento
econmico e social dado os conflitos ocasionados pelos diversos usos de uma mesma regio (extrativismo,
projetos agropecurios, madeireiros etc.). A proposta da RESEX consiste na combinao de um regime de
propriedade assentado na atribuio de direitos de uso coletividades tradicionais, com um regime de
gesto baseado na regulamentao dos direitos de uso atravs de planos de manejo e regulamentos de
uso (Almeida, 1994). Esta proposta foi o resultado de um movimento social de moradores florestais
organizados, combinando um regime de manejo e de direitos de propriedade na Amaznia brasileira
(Silberling, 1991).
Destacamos os principais fatos que serviram de base para a constituio atual das Unidades de
conservao:
1934: realizao da Conferncia Brasileira de Proteo a Natureza, que pode ser considerada a
primeira tentativa dentro do Estado brasileiro de criao das Unidades de conservao;
1973: criao da SEMA, que ficou responsvel pela elaborao e execuo de parte da poltica
ambiental e como base para a criao do MMA.
1989: Criao do IBAMA, com o objetivo de executar os planos de conservao se tornando o
responsvel pela UCs.
E, em 1989, atravs da Lei n. 804 de 18 de julho e do Decreto n. 98. 897/90, as reservas
extrativistas so legitimadas no mbito da poltica nacional do meio ambiente.
2000: SNUC, grande instrumento jurdico que possibilitou a gesto mais eficaz das RESEXs, devido
criao de um sistema de planejamento coletivo e a existncia de conselhos dentro das reas
protegidas.
Vale ressaltar o papel do SNUC como instrumento jurdico que mesmo demorando oito anos
tramitando no congresso nacional, teve seu reconhecimento e foi incorporado s polticas de proteo
ambiental que dentre outros elementos envolvem: a conservao da biodiversidade, das populaes e dos
seus conhecimentos tradicionais etc. Afinal, um dos principais objetivos do SNUC a preservao de reas
e a criao de mecanismos de desenvolvimento que alterem o mnimo possvel o meio ambiente. Nesse
sentido, as reservas extrativistas como poltica ambiental, de acordo com o que dispe o decreto de 90, se
constituem como espaos territoriais destinados a explorao autossustentvel e conservao dos

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1040
recursos naturais renovveis, por populao extrativista, sendo estes espaos voltados ao interesse de
cunho ecolgico e social, protegidas pelo poder pblico (Cunha e Coelho, 2003).
SOBRE A EDUCAO AMBIENTAL
Levando-se em considerao o histrico, a evoluo da preocupao ambiental, conferncias, a
constituio das UCS e as leis implantadas que visam a proteo e a conservao do meio ambiente,
existem, porm, muitos obstculos para alcanarmos a famigerada sustentabilidade. Como base nesses
obstculos e nas dificuldades enfrentadas para a consolidao dos objetivos das UCs surge chamada
Educao Ambiental.
Os problemas mundiais e os locais em cada nao no podero ser resolvidos somente com
educao, visto que a educao uma prtica social e, portanto, se dene em sociedade. Porm, no ser
possvel solucionar problemas que se manifestam poltica e economicamente em todo o mundo sem uma
educao, mesmo com a presena de um aparato jurdico e poltico (Instituto Brasileiro de Anlises Sociais
e Econmicas, 2006).
A educao ambiental nesse trabalho vista a partir de uma concepo crtica, no qual envolve
todos os indivduos sendo as dimenses ticas e polticas essenciais para a materialidade da educao
ambiental na sociedade. A educao ambiental- poltica prope a necessidade de uma conscincia cidad,
no qual os indivduos saibam quais seus direitos e deveres perante a sociedade e a natureza. A EA no tem
limites de idade, podendo ser executada em qualquer faixa etria de idade por se tratar de uma prtica
permanente, afinal ela pode se fazer presente em todos os lugares.
Perante a problemtica ambiental vivenciada, gerada por nossas prprias aes que comprometem
seriamente a qualidade de vida, tanto no espao urbano, quanto no espao rural, percebe-se, contudo, que
grande parte da populao tem pouca clareza e falta de orientao sobre as aes que proporcionem uma
mudana de atitude em relao ao meio. No decorre de nosso trabalho, destacamos alguns avanos que
culminaram no atual paradigma de desenvolvimento de nossa sociedade (a industrializao, intensificao
das atividades agrcolas etc.), tais processos caracterizam a sociedade urbano-industrial que atribui
natureza valores de acordo com suas necessidades, ou seja, a prpria percepo da natureza variou ao
longo do tempo, antes era vista somente a partir da apropriao de seus recursos naturais, atualmente
concebida a partir de sua megadiversidade como uma questo estratgica que precisa de uma poltica de
conservao adequada e uma gesto eficiente dos seus recursos naturais.
Mas onde se encaixa a Educao Ambiental? justamente nessa nova lgica de apropriao da
natureza, de questionamentos sobre o modelo de desenvolvimento, alm difuso de que os recursos
naturais so esgotveis e o reconhecimento da crise ambiental que despertou discusses acerca do futuro
do planeta, caso nenhuma mobilizao fosse feita.
A primeira vez em que se usou o termo educao ambiental foi na Universidade de Keele, no Reino
Unido, em 1965. J a primeira definio que se teve para a Educao Ambiental foi em 1971, pela
Internacional Union for the Conservation of Nature. Somente em 1975, fez-se algo mais elaborado a
respeito, com a realizao do I Seminrio Internacional de Educao Ambiental, em Belgrado (na antiga
Iugoslvia). A Conferncia de Estocolmo ampliou sua definio a outras esferas do conhecimento, e a
Conferncia de Tbilisi definiu o conceito de Educao Ambiental,
um processo de reconhecimento de valores e clarificao de
conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as
atitudes em relao ao meio, para entender e apreciar as inter-relaes
entre os seres humanos suas culturas e seus meios biofsicos. A Educao
Ambiental tambm est relacionada com a prtica das tomadas de decises
e a tica que conduzem para a melhoria da qualidade de vida (Conferncia
de Tbilisi, 1977).
Em suma, a Educao Ambiental surge como aquela que pretende contribuir com o surgimento de
uma nova mentalidade, em outras palavras, o despertar da conscincia ecolgica, principio e fim da
educao ambiental, substanciada por uma razo critica (Guimares, 2003). necessria a aproximao da
prpria sociedade com o seu meio, antes de tudo, preciso que a populao se reconhea no processo,
Joo Pessoa, outubro de 2011

1041
para que se sinta includo na discusso, no se considerando externo s questes ambientais. No estamos
aqui atribuindo todas as causas da degradao ambiental sociedade civil, mas a um conjunto de variveis
interconexas, derivadas das categorias: capitalismo-modernidade-industrializao-urbanizao-tecnocracia
(Loureiro, apud Guimares).
SUSTENTABILIDADE EM SALA DE AULA: USO DE GARRAFAS PET PARA CONFECO DE BRINQUEDOS
NA RESEX
Na tentativa de auxiliar e debater as questes que podem trazer algum tipo de dano RESEX de
So Joo da Ponta (o lixo, por exemplo), foi promovida nos dias 10 e 11 de junho de 2011, uma oficina a
qual teve por nome ECO-BRINQUEDOS: UMA ALTERNATIVA DE REAPROVEITAMENTO DAS GARRAFAS
PET, no primeiro dia as atividades foram promovidas na Escola de Ensino Fundamental Prof Antnia
Rosa situada na sede do municpio e no segundo dia na Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof
Felipe Romano de Nazar localizada na comunidade Guarajuba interior do municpio.
Esta Oficina objetivou conscientizar a comunidade local da importncia manuteno do lixo, que
todos os dias produzido pela populao local e por muitas vezes no tem em seu destino um local
adequado para seu depsito ou no h irregularidades em suas coletas, muitos dos materiais os quais
perdem sua utilidade principal so postos ao lixo. No entanto vrios destes materiais poderiam ser
transformados em algo que venha a ter uma utilidade, fazendo assim a reutilizao. Sendo assim, um dos
grandes objetivos desta oficina foi de demonstrar para as crianas e jovens de diversas comunidades do
Municpio de So Joo da Ponta, que a Educao Ambiental no traz apenas benefcios para a natureza,
mas tambm traz consigo um salto na qualidade de vida, diminuindo o acumulo de lixo desordenado h
uma diminuio significativa dos casos de doenas relacionadas aos depsitos irregulares de lixo.
A problemtica do lixo pode ser explicada por meio da anlise da importncia dos vrios fatores e
mecanismos que influenciam no processo de produo, manejo, tratamento e destino final de resduos. O
conhecimento destes fatores essencial para que o (a) citadino (a) possa promover a busca de solues e
tornar-se agente atuante no processo de manuteno da qualidade de vida (LIMA, 2002).
A participao de todo (a)s os envolvidos (a)s na luta pela qualidade de
vida local a forma ideal para a resoluo dos problemas decorrentes do
processo civilizatrio. Entretanto, para que tal participao seja
efetivamente vlida, relevante salientar a necessidade de que a
populao esteja bem informada sobre as temticas a serem debatidas,
caso contrrio seus (suas) integrantes no apenas tero dificuldade de
emitir juzos sobre a realidade discutida, mas tambm sero mais
facilmente manipulado (a)s e induzido (a)s pela opinio de outro (a)s.
(Silveira, 2001)
A oficina proporcionou aos seus participantes, question-los em relao aos conceitos bsicos de
Educao Ambiental, tentando descobrir o que seria reciclagem, reutilizao, reduo, em suas concepes
iniciais, para posteriormente discutir e apresentar esses conceitos.
Nossas atividades foram divididas em dois momentos: primeiro o momento terico, com debates e
questionamentos em relao aos conceitos bsicos de Educao Ambiental, com destaque para os
problemas socioambientais encontrados nas comunidades em decorrncia da produo e acumulao do
lixo, em um segundo momento a parte prtica consistindo na produo de brinquedos a partir das garrafas
PET (com material coletado pelos prprios estudantes), com demonstrao do passo-a-passo e distribuio
de um manual com as orientaes necessrias para os alunos tanto para a confeco dos brinquedos
quando aos conceitos bsicos de EA.
Tambm aplicamos a metodologia dos MAPAS MENTAIS os quais consistiram em facilitar a
localizao de cada participante em sua comunidade tornando dessa forma a fcil localizao de seus
problemas ambientais. Localizando o impacto ambiental para posteriormente diagnostic-lo e por ultimo a
tentativa de solucionar ou usar de medidas mitigadoras para evitar maiores prejuzos natureza da regio
de maneira simples, utilizando da PERCEPO AMBIENTAL.

Educao ambiental: Responsabilidade para a conservao da sociobiodiversidade

1042
CONSIDERAES
Para a realizao desse trabalho partimos do pressuposto que considera a educao ambiental
como elemento de fundamental importncia para a formao e o exerccio da cidadania, uma vez que a
mesma se apresenta como um processo contnuo de aprendizagem em diversos campos do saber. Nesse
sentido, prticas como a oficina realizada, visaram contribuir para tal propsito, fortalecendo a conscincia
ambiental e tornando-os atuantes na preservao da fauna, flora e do saber local. Desta forma, a oficina
tentou demonstrar para as crianas e jovens das comunidades do Municpio de So Joo da Ponta que a
Educao Ambiental no traz apenas benefcios para a natureza, mas traz consigo um salto na qualidade de
vida das comunidades que so diretamente afetadas por qualquer tipo de impacto ambiental que a RESEX
venha sofrer. Alm disso, os alunos puderam colaborar como multiplicadores das ideias que envolvem a
educao ambiental, atravs da reutilizao de garrafas PET como brinquedos.
REFERENCIAS:
ALMEIDA, M. W. B. de. Direitos floresta e ambientalismo: seringueiros e suas lutas. In: Revista
Brasileira de Cincias Sociais, v.19, n.55, p.33-53, junho/2004.
ALLEGRETTI, M. H. Reservas extrativistas: uma proposta de desenvolvimento da floresta amaznica.
In: Par Desenvolvimento, n.25, p.3-29, jan/dez. 1989.
BERNADES, J. A. FERREIRA, F. P. de M. Sociedade e Natureza. In: A Questo Ambiental: diferentes
abordagens. S. B. CUNHA & A. J. T. GUERRA (orgs.). Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2003.
Brasil. Ministrio da Educao e Cultura. PRONEA Programa nacional de Educao Ambiental.
Braslia, 1997.
COELHO, M. C. N. CUNHA, L.H. MONTEIRO, Maurlio. Unidade de conservao: populaes, recursos
e territrios. Abordagens da geografia e da ecologia poltica. In: GUERRA, Antonio Jos Teixeira; COELHO,
Maria Clia Nunes. (Orgs.). Unidades de Conservao: abordagens e caractersticas geogrficas. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
Conferncia Internacional Amaznia 21: uma Agenda para um mundo Sustentvel, 1.,1997, Braslia
Anais...Braslia: UNAMAZ, Secretaria de coordenao da Amaznia., 1998.
CUNHA, L. H. COELHO, M. C. N. poltica e gesto ambiental. In: A Questo Ambiental: diferentes
abordagens. S. B. CUNHA & A. J. T. GUERRA (orgs.). Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2003.
GUIMARES, M. sustentabilidade e educao ambiental. In: A Questo Ambiental: diferentes
abordagens. S. B. CUNHA & A. J. T. GUERRA (orgs.). Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2003.
JNIOR, E de C. COUTINHO, B. H. FREITAS, L. E. de. Gesto da biodiversidade e reas protegidas.In:
GUERRA, Antonio Jos Teixeira; COELHO, Maria Clia Nunes. (Orgs.). Unidades de Conservao: abordagens
e caractersticas geogrficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
LIMA, L. Biorremediao dos lixes. Belo Horizonte: Grupo LM, 2002.
SILBERLING, L. Self Manage and Property Rights: the Rubber Tappersoj Acre. Cornell, 1991. PhD.
Thesis
SILVEIRA, C. Educao Ambiental: Melhorando a qualidade de vida nas Cidades. In: Revista
Eletrnica do Mestrado em Educao Ambiental. Programa de Ps-graduao em Educao Ambiental.
Disponvel
em:
<http://www.sf.dfis.furg.br/mea/remea/congress/artigos/comunicacao02.Pdf>
Acesso:20/12/2001.

Joo Pessoa, outubro de 2011

Você também pode gostar