Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Cesário Verde - Binómio Campo Cidade

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 1

Cesrio Verde - Binmio campo / cidade A poesia de Cesrio Verde debrua-se sobre o real: o seu deambular constante pela

cidade, as suas estadas no campo, a sua experincia de comerciante e de agricultor, aliados ao seu modo particular de olhar o que o rodeia - " A mim o que me rodeia que me preocupa" - so os motivos de inspirao da sua poesia. A dicotomia campo /cidade O binmio campo/cidade aparece nos poemas de Cesrio Verde, fruto, certamente, da sua experincia de vida. Ele oscila entre a exaltao e/ou crtica da cidade e o elogio do campo. O espao confinado da cidade ope-se sistematicamente ao espao amplo do campo. Isto deve-se dupla vivncia que este poeta teve: passou a sua infncia no campo e esse contacto determina a viso que ele nos d. O curioso podermos constatar que o campo de Cesrio no tem o aspeto idlico, paradisaco que teve para os poetas anteriores: este espao no aparece associado ao bucolismo ou ao devaneio potico, um espao real onde se podem observar os camponeses nas suas tarefas dirias, onde as alegrias se manifestam face aos prazeres da vida, e onde as tristezas ocorrem quando os acontecimentos no seguem um curso normal. o quotidiano concreto, autntico e real, aquele com que Cesrio contacta e do qual nos d conta de uma forma realista, mas onde tambm est presente a sua subjetividade, percetvel na preferncia que manifesta por este local. Cesrio Verde associa o campo vida, fertilidade, vitalidade, ao rejuvenescimento, porque nele no h misria constrangedora, o sofrimento, a poluio aterradora, os cheiros nauseabundos, os seres humanos dbios, os exploradores, os ricos pretensiosos que desprezam os mais humildes. Estes seres, estranhos ao campo, pode o sujeito potico encontrar na cidade. O campo confere, pois, libertao. Na cidade, o sujeito potico sente-se sufocado, encarcerado, impossibilitado de escapar de uma exiguidade de espaos que no so apenas fsicos, mas tambm sociais - "Muram-me as construes retas, iguais, crescidas" (O Sentimento dum Ocidental). A cidade incomoda-o, do mesmo modo que incomoda os pobres trabalhadores que a procuram para a encontrarem melhores condies de vida. Estes deparam-se com as mais acentuadas injustias, com a subservincia a que so votados, mas no tm medo do trabalho e enfrentam as lutas dirias com determinao, fora e coragem. Por isso, os pobres so ricos aos olhos de Cesrio, pois este sabia bem que, sem eles, os cosmopolitas teriam poucas hipteses de sobrevivncia. No poema "De Tarde" visvel o tom irnico em relao aos citadinos, que calmamente esperam o "leiteiro", cujo "prego" os tira do sono, mas onde o tom eufrico tambm sobressai ao relembrar momentos vividos, ao lado da sua "companheira", ao percorrer os lugares campestres e ao deparar com os aspetos s a ele inerentes. Se o elogio ao campo est presente em poemas como o atrs referido, tambm o poema "Ns" no deixa de o focalizar, articulando-se com a recordao da famlia. Contudo, sendo este o poema mais longo do poeta, a tambm percetvel uma crtica cerrada cidade, capital maldita, devoradora de vidas, inclusive a dos irmos, local onde os sinos tocam a rebate, anunciando a morte de mais um dos seus habitantes; a cidade desertificada, onde os transeuntes se restringem aos padres e aos mdicos que socorrem as vtimas da peste. Todavia, a composio potica que melhor traduz o ambiente citadino "O Sentimento dum Ocidental". Aqui a cidade descrita em vrias fases do dia, com incio no final da tarde ("Av-Marias") e a terminar em "Horas Mortas", e onde o forte visualismo de Cesrio no deixa de captar os seres que aqui circulam. A poesia de Cesrio nica, autntica, reveladora de uma preocupao social sentida, que nos chega a comover pela sua veracidade e pormenor descritivo, transportando-nos para o mundo dele, com as suas imperfeies e as suas virtudes. A fora inspiradora de Cesrio a terra-me, sendo nela que o poeta encontra os seus temas e o estmulo para escrever. talvez por isso que, habitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu, porque tambm este ia buscar a sua fora terra, sua me, para derrotar os que da costa se aproximassem. Anteu - figura da mitologia greco-romana, filho da deusa Terra, onde ia buscar foras para derrotar todos quantos se aproximassem da costa Lbia. Foi derrotado por Hracles, que, tendo descoberto a origem da sua fora e valentia, o ergueu do cho, durante uma luta, impedindo, deste modo, que este "sugasse" a energia que o alimentava.

Você também pode gostar