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Helena Petrovna Blavatsky - A Chave Da Teosofia (Rev)
Helena Petrovna Blavatsky - A Chave Da Teosofia (Rev)
Helena Petrovna Blavatsky - A Chave Da Teosofia (Rev)
1
O que significa na realidade o aniquilamento ......................................................180
Palavras definidas para coisas determinadas......................................................189
NATUREZA DE NOSSO PRINCÍPIO PENSANTE..................................................196
DO MISTÉRIO DO EGO......................................................................................196
Natureza complexa de manas .............................................................................202
O evangelho de São João ensina esta doutrina ..................................................206
DOS MISTÉRIOS DA REENCARNAÇÃO ...........................................................217
OS RENASCIMENTOS PERIÓDICOS ................................................................217
Que é Karma? .....................................................................................................221
Quem são os que sabem?...................................................................................242
Diferença entre a fé e o conhecimento, ou a fé cega e a arrazoada ...................245
Deus tem o direito de perdoar? ...........................................................................250
O QUE É TEOSOFIA PRÁTICA..............................................................................256
DO DEVER ..........................................................................................................256
Relações da Sociedade Teosófica com as reformas políticas ................................261
Do próprio sacrifício.............................................................................................267
Da caridade .........................................................................................................272
Da Teosofia para as massas ...............................................................................275
Como os membros podem ajudar à Sociedade...................................................278
O que o teósofo não deve fazer...........................................................................280
CONCEITOS ERRÔNEOS SOBRE A SOCIEDADE TEOSÓFICA .........................289
TEOSOFIA E ASCETISMO .................................................................................289
A Teosofia e o matrimônio ...................................................................................293
A Teosofia e a educação .....................................................................................294
Por que existe tanta prevenção contra a Sociedade Teosófica? .........................303
A Sociedade Teosófica é um negócio para fazer dinheiro?.................................312
O núcleo ativo da Sociedade Teosófica ..............................................................318
OS MAHATMAS TEOSÓFICOS .............................................................................321
SÃO "ESPÍRITOS DE LUZ" OU DUENDES MALDITOS?...................................321
Abuso dos nomes e termos sagrados .................................................................333
CONCLUSÃO..........................................................................................................338
O futuro da Sociedade Teosófica ........................................................................338
2
BLAVATSKY E SUA OBRA
Petrovna Fadeef von Blavatsky. Nascida em 1831, madame Blavatsky (como é hoje
Isso não impediria que ela abandonasse o conforto dos palácios para conhecer de
Erivan, muito mais velho do que ela. O casamento duraria apenas alguns meses.
partir desse ponto, ela pôde visitar quase todos os países da Ásia Menor, estudando
passando a lecionar piano para sobreviver. Com apenas vinte anos de idade, ela já
pátria.
onde recebeu tantos ferimentos que foi dada como morta no campo de batalha.
3
Porém, em 1870, Blavatsky aparece no Cairo, onde funda uma sociedade espírita
cuja propaganda era feita por um órgão denominado Revista Espiritualista do Cairo.
Pouco tempo depois, desiludida com as fraudes observadas, ela abandona a prática
do Espiritismo.
Unidos. Essa viagem seria decisiva para sua atividade futura pois, em Nova York,
ela conheceria o coronel Henry Steele Olcott, recém-chegado da guerra civil e que
Sociedade Teosófica. Essa missão fora sugerida a Blavatsky, aos vinte anos de
idade, quando ainda residia na Inglaterra. Conta-se ainda que nessa época ela
conheceu um dos membros da Embaixada do Nepal, que lhe surgira várias vezes,
em suas primeiras visões, quando era criança. Não resta dúvida que Blavatsky era
iluminados da Ásia Central, descritos por Van Der Neilen em seu livro Nos Templos
Esse embaixador deve ter sido o guia espiritual de Blavatsky quando ela
publicou, em 1877, sua obra ísis sem Véu, em quatro volumes, que revolucionaria
4
materialistas e atacava o imperialismo jesuítico. A certeza de um "guia espiritual" nos
vem do fato de Blavatsky, na referida obra, ter feito citações de 1400 livros que lhe
eram desconhecidos e até ignorados. Esse fato foi cautelosamente investigado pelo
no ideal e humilde junto aos mestres. Ela fazia jus ao mérito de estranhas e belas
— católico e anglicano —, que naquela época andava de mãos dadas com a política
do navio em que ela viajava para o Oriente. Sabe-se que no ano de 1870, ao
viajantes foi reduzida a poeira tão fina que nem se achou mais vestígio de seus
miraculosamente.
5
Várias frentes decidiram lutar contra a fundadora da Sociedade Teosófica:
início do nosso século, surgem ainda duas obras contrárias ao valor da fundadora da
1929.
Mario Roso de Luna, Una Mártir dei Siglo XIX, Helena Petrovna Blavatsky. São
a verdade. As principais obras de madame Blavatsky são Isis sem Véu, 1877; A
Doutrina Secreta, síntese de filosofia, ciência e religião, em seis volumes, 1888; The
da sua morte.
6
Assim, o livro que estamos apresentando ao público é a última obra da
grande mestra. E também o mais acessível. Parece que no fim da vida ela sentiu
tem sido suprida por subsídios culturais, muitas vezes contrários à estrutura
resíduos do aforismo caduco: "Nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensu".
(reflexão).
por indicar aquela parte excelsa do saber humano que trata da essência última das
apriorístico, isto é, partindo do ser em si, do ente necessário e perfeito. Pode ser
entendida como o conhecimento que se obtém com a intuição direta das coisas.
7
"Para que o homem seja capaz de ver e conscientizar a realidade
metafísica em todas as factividades físicas, ele deve isolar-se por longo tempo na
pura metafísica, até que o último resquício do físico desapareça no horizonte de seu
sentindo em si o grande uno, longe de todo verso. Mas é precisamente aqui que
está o tremendo problema para quase todos os homens do Ocidente, que, em geral,
Neutralizar esse peso-morto é um problema de árdua solução" (in Sabedoria, n.° 81,
pág. 299).
nos seis volumes da Doutrina Secreta. Isto porque essa gigantesca obra não foi
ocidental. Pelo contrário, fruto de uma intuição direta, esse livro parece mais um jogo
Luna — o maior defensor de Blavatsky, seu discípulo mais fiel e criterioso biógrafo
que assim tenha sido feito deliberadamente, como parece deduzir-se até das frases
a Bíblia''.
essência da Doutrina Arcaica, obtida, não pelo exame do texto, mas por eliminação
tangente que resvala na sabedoria; também não ilumina a mente, porque não é um
caminho da liberação, pois esta só é alcançada de dentro para fora de nós mesmos.
Preferimos ver nela uma convocação de fora para dentro, para despertar em nosso
teria cumprido sua missão — que nos aproxime das portas da eternidade.
Edmundo Cardillo
9
PREFÁCIO DO AUTOR
completo de Teosofia, mas sim, unicamente, uma chave para abrir a porta que
Acreditar que conseguiria jazer a Teosofia inteligível, sem esforço mental por parte
do leitor, seria esperar demasiado; mas confiamos que a obscuridade que ainda
homem só progride por seus próprios esforços. O escritor não pode pensar pelo
leitor, e nem este tiraria qualquer proveito se isto fosse possível. Faz tempo que
tecnicismos, preencherá seu objetivo junto a muitas pessoas cuja curiosidade está
tempos foram causa da ira desencadeada contra a autora desta obra, preferindo os
espiritualistas, como muitos outros, acreditar mais no que lhes agrada do que no que
10
é certo, aborrecendo-se sobremaneira com tudo aquilo que vem destruir uma
agradável ilusão. Durante o ano passado a Teosofia foi o alvo dos ataques mais
perguntas, o que me ajudou muito a escrever esta obra, que resultará por ela
H. P. B.
11
H. P. BLAVATSKY
A CHAVE DA TEOSOFIA
Exposição clara
da
Dedicada por H. P. B.
12
TEOSOFIA E SOCIEDADE TEOSÓFICA
mas sim Sabedoria Divina, a possuída pelos deuses. O vocábulo tem milhares
de anos de existência.
aλ
ληθειa (aletheia) "verdade". O nome Teosofia data do terceiro século de nossa
1
Também chamados analogistas. Segundo o professor Alexandre Wilder, M.S.T., em seu
Neoplatonismo e Alquimia, eles eram chamados deste modo devido ao seu método para interpretar
13
P: Qual era o objetivo desse sistema?
todas as lendas sagradas e narrações, bem como os mitos e mistérios, por meio de uma regra ou
princípio de analogia e correspondência; de maneira que acontecimentos referidos como tendo se
passado no mundo externo, eram considerados como expressando operações e experiências da
alma humana. Eram também designados de neoplatônicos.
Ainda que se atribua geralmente a Teosofia — ou Sistema Eclético Teosófico — ao terceiro século,
dando crédito a Diógenes Laércio, sua origem é muito mais antiga, uma vez que atribuía o sistema a
um sacerdote egípcio, Pot-Amun, que viveu nos primeiros tempos da dinastia ptolemaica. O mesmo
autor nos diz que o nome é Copto, e significa "o que está consagrado a Amun, Deus da Sabedoria". A
Teosofia é o equivalente de Brahm-Vidya, o conhecimento divino.
2
A Teosofia Eclética compreendia três partes: 1ª — A crença é uma Divindade absoluta,
incompreensível e suprema, ou essência infinita, que é a raiz da natureza inteira e de tudo quanto
existe, visível e invisível. 2ª — A crença é a natureza eterna, imortal do homem, porque sendo este
uma radiação da alma universal, é de natureza idêntica a ela. 3ª — A Teurgia, ou "obra divina", ou o
ato de produzir uma obra dos deuses; de Theoi, "deuses", e ergein, "fazer alguma coisa".
O termo é muito antigo, mas não era de uso popular, apenas fazia parte do vocabulário dos
Mistérios. Era crença mística de que purificando-se a si mesmo, tanto quanto aos seres incorpóreos,
isto é, voltando a adquirir a própria pureza original da natureza, o homem podia conseguir que os
deuses lhe comunicassem mistérios divinos e até conseguir fazê-los visíveis em certas ocasiões, seja
subjetiva ou objetivamente. Isto era praticamente provado pelos adeptos iniciados e sacerdotes. Era o
aspecto transcendental do que agora se chama Espiritismo; mas tendo sido este profanado e mal
interpretado pela massa, chegou a ser considerado por alguns como magia negra, e foi proibido.
Ainda se conserva uma paródia da teurgia de Jâmblico na magia cerimonial de alguns cabalistas
modernos. A Teosofia atual evita e reprova esses tipos de magia e "necromancia", por serem por
demais perigosos. A teurgia verdadeira, divina, requer uma pureza e santidade de vida, quase sobre-
humanas, pois de outra forma podem degenerar em mediunismo ou magia negra. Os discípulos
próximos de Amônio Sakas, os chamados Theodidaktos ("ensinados por Deus"), como Plotino e seu
discípulo Porfírio, reprovaram a teurgia no início, mas posteriormente reconciliaram-se com ela,
graças a Jâmblico que escreveu uma obra com esse objetivo, intitulada De Misteriis, sob o nome de
seu próprio mestre, um famoso sacerdote egípcio chamado Abammon. Amônio Sakas nasceu de pais
cristãos; desgostoso do Cristianismo dogmático espiritual desde sua infância, converteu-se em
neoplatônico, e, como a J. Boehme e outros videntes e místicos célebres, atribui-se que a sabedoria
divina lhe foi revelada em sonhos e visões. Este foi o motivo pelo qual se lhe chamou Theodidakto.
Decidiu reconciliar todos os sistemas religiosos e, demonstrando sua identidade de origem,
estabelecer um credo universal baseado na ética. Tão pura era sua vida, tão profundo e vasto seu
saber, que vários padres da Igreja eram seus discípulos secretos. Clemente de Alexandria fala muito
alto a seu favor. Plotino, o "São João" de Amônio, também era um homem universalmente respeitado
e estimado, com uma instrução e integridade enormes. Aos 39 anos de idade, acompanhou o
imperador romano Gordiano e seu exército, ao Oriente, a fim de ser instruído pelos sábios da
Bactriana e da índia. Teve uma Escola de Filosofia em Roma. Seu discípulo Porfírio, cujo verdadeiro
nome era Malek (judeu, helenizado), reuniu todos os escritos de seu mestre. Porfírio também foi um
grande autor e deu uma interpretação alegórica a alguns fragmentos dos escritos de Homero. O
sistema de meditação empregado pelos filaleteianos conduzia ao êxtase; sistema parecido à prática
da yoga, na índia. O que se sabe sobre a Escola Eclética, deve-se a Orígenes, Longino e Plotino,
discípulos de Amônio. (Veja: Neoplatonismo e Alquimia, de A. Wilder.)
14
Sociedade Teosófica, ou seja, o de reconciliar sob um sistema de ética comum
de outro modo não poderia ser a verdadeira" (A. Wilder, obra citada).
Egito e Palestina, as seitas eram numerosas; como se pode reconciliá-las entre si?
15
Pentateuco com a filosofia pitagórica e platônica; e Josefo provava que os
Podemos provar a origem de cada religião, assim como de cada seita, até a
nascidas das maiores; mas umas e outras saem do mesmo tronco, a Religião
da Sabedoria.
Provar isto foi o objetivo de Amônio, que tentou fazer com que
para que pudessem perceber que todos estavam de posse da mesma verdade,
4
Mosheim, falando sobre Amônio, disse: "Compreendendo que não só os filósofos da Grécia, senão
também os das nações bárbaras estavam de perfeito acordo uns com os outros, com relação a cada
ponto essencial, propôs-se a expor os princípios de todas essas diferentes seitas, para demonstrar
que todas haviam nascido da mesma e única origem, e que todas tendiam a um mesmo e único fim".
Se o escritor que fala de Amônio na Enciclopédia de Edimburgo conhece a matéria que trata, nesse
caso descreve aos teósofos modernos, suas crenças e sua obra, porque afirma ao referir-se ao
Theodidaktos: "Adotou as doutrinas admitidas no Egito (as esotéricas eram as da índia),
concernentes ao universo e à divindade, considerados como constituindo um grande todo relativo à
eternidade do mundo. . . Estabeleceu também um sistema de disciplina moral, que permitia às
pessoas viverem segundo as leis de seu país e os preceitos da natureza, mas que exigia dos sábios
a exaltação de seu espírito por meio da contemplação".
16
"Amônio ensinou que a religião das massas
distintas religiões".
P: Não se pode encontrar a causa do apoio dado pela Igreja, pelo jato de
17
T: De modo nenhum. Ele nasceu cristão mas jamais aceitou o
Cristianismo da Igreja. Diz o dr. Wilder: "Só teve que expor suas doutrinas,
P: Uma vez que Amônio nunca escreveu suas idéias, como poderemos
Sócrates, nem mesmo Jesus, deixaram qualquer escrito atrás de si. Sem
última é tão histórica quanto os escritos apostólicos, senão mais. Além disso,
18
Zenóbia) deixaram abundantes dados sobre o Sistema Filaleteu, pelo menos
até onde podia ser conhecida publicamente sua profissão de fé, pois a escola
Central e na Pérsia.
19
Os rabinos hebreus chamavam as suas séries religiosas seculares, a Mercavah
(o corpo exterior), "o veículo" ou a coberta que oculta a alma, quer dizer, a sua
sua Gnose "o conhecimento das coisas que são" ou η γνωςις πωυ Ουπων, e
jurado guardar segredo; para aqueles que podiam assimilar esse alimento
segredo e o silêncio.
seus biógrafos, Amônio Sakas juramentava a seus discípulos para que não
por juramento.
20
Finalmente: não encontramos o mesmo costume no Cristianismo
mistérios do reino dos céus; mas aos de fora todas essas coisas se explicam
tivesse dito por meios metafísicos e alquímicos, teria sido uma definição
teósofos, assim como os modernos, sustentam que o infinito não pode ser
conhecido pelo finito, isto é, percebido pelo finito; mas que a essência divina
5
Veja: Neoplatonismo e Alquimia, de A. Wilder.
21
P: Como se explica isto?
infinito", Esta é a condição mais elevada — diz o professor Wilder — mas sua
Samadhi. Este é praticado pelos iogues, que o facilitam fisicamente pela maior
como diz Platão, "é o ardente desejo da alma até o divino; não para pedir
alguma graça ou favor particular (como sucede com a oração comum), senão
pelo bem em si, pelo Bem Supremo Universal" (do que somos na terra uma
guarda silêncio em presença dos seres divinos, até que se dissipem as nuvens
diante de teus olhos e te permitam ver com a luz que deles emana, não aquele
que se apresenta como bom, mas como aquele que é intrinsicamente bom”6.
6
Isto é o que o ilustre autor de Neoplatonismo, o professor A. Wilder, M.S.T., descreve como
fotografia espiritual: "A alma é a câmara onde todos os fatos e acontecimentos futuros, passados e
presentes estão fixados, e a mente chega a ter consciência deles. Mas além de nosso mundo
limitado, tudo é um só dia ou estado — o passado e o futuro compreendidos no presente. . . — A
morte é o último êxtase na terra. A alma então se vê livre das travas do corpo e sua parte mais
nobre une-se à natureza superior, participando assim da sabedoria e presença dos seres superiores.
A verdadeira Teosofia é para os místicos aquele estado que Apolônio de Tyana descreveu: "Posso
ver o presente e o futuro como em um claro espelho. O sábio não precisa contemplar os vapores da
terra e a corrupção do ar para prever os acontecimentos. . . Os theoi, ou deuses, vêem o futuro; os
homens comuns, o presente; os sábios, aquilo que vai ter lugar". A Teosofia dos sábios de que fala.
fica bem clara na afirmação: "O Reino de Deus está em nós mesmos".
22
T: Só gente ignorante pode considerá-la desta maneira. Em sua ética
nas nações do hemisfério ocidental? Por que foi um livro fechado para as raças, sem
motivam essa ignorância voluntária. Uma delas foi dita por São Paulo nos
do ritualismo.
23
degradação. Esta última foi a causa da perversão das verdades e símbolos
e a idolatria.
sem dúvida, contamos entre nós com muito mais hindus e brâmanes que
convertidos.
religião da Sabedoria.
24
T: Exatamente a que existe entre o ritualismo e a teologia dogmática
"os mistérios do Reino dos Céus". Buddha significa o "Iluminado" por Bodha
Mas Buddha foi o primeiro a fundir essa ética sublime com seus ensinamentos
25
consiste a imensa diferença que existe entre o Buddhismo exotérico e as
Buddhismo.
exotérico, este último representado pela Igreja do Sul, que nega por completo:
menos, a dou trina da Seita Siamesa, hoje considerada como a forma mais
depois da morte do Mestre, ensinam tudo o que se conhece hoje em dia com o
provando assim como foi sacrificada a verdade em altares de letra morta, pela
26
qualquer outra religião ou Igreja! Mas, sem dúvida, a Teosofia não é o
Buddhismo.
27
TEOSOFIA EXOTÉRICA E ESOTÉRICA
28
angélicas, poderes e outras prerrogativas da regeneração",
29
distinguem para o leitor comum, por sua enorme piedade e
30
Em todas as épocas existiram indivíduos que
31
consideraram a Teosofia como uma coisa nova no mundo,
e descuidem o essencial".
e sinceros teósofos.
necessário que se repita aqui que a Teosofia, como todos os sistemas antigos,
32
T: Em geral os membros da Sociedade Teosófica podem professar a
programa, pelo menos. De outra maneira, ingressar como "membro" não teria
não. São membros por pertencerem à Sociedade, mas esta não pode converter
em teósofo a uma pessoa que não tem o sentido das coisas divinas, ou que
faz generosamente" pode parafrasear este caso, e diríamos: "É Teósofo todo
7
"Membro ligado" é o que faz parte de uma Rama da S.T.; e "membro independente" é o que
pertence à S.T., tem seu diploma expedido pela sede central (Adyar, Madras), mas não está filiado a
nenhuma Rama ou Grupo.
33
Teósofos e membros da Sociedade Teosófica
externo; mas como é quanto aos que se dedicam ao estudo esotérico da Teosofia?
regras do círculo oculto. Esta é uma empresa difícil, uma vez que a primeira e
esotérico. Se pretende tirar proveito das instruções esotéricas, sua vida será
entre esses membros. Isto não quer dizer que fora da S.T. e do grupo interior
da Sociedade Teosófica.
34
T: Nenhum, exceto a vantagem de obter instruções esotéricas, as
de que falhará em sua empresa. Uma razão existe entre muitas outras, é a de
que não se encontram em nossos dias livros sobre Ocultismo ou Teurgia, que
não tiver um iniciado por mestre, melhor que abandone este perigoso estudo.
35
até no sobrenatural (!), mas cada um crê a sua maneira. Outros se atiram sem
que pensem da mesma forma nem que se ponham de acordo com relação a
que cada um interpreta a seu modo, segundo a letra morta dos métodos
36
T: Não diretamente. A presença pessoal desses mestres não é
necessária. Basta que dêem suas instruções a alguns dos que estudaram sob
sua direção durante anos e que consagraram sua vida inteira a seu serviço.
Estes podem, por sua vez, transmitir a ciência recebida aos que não
Jâmblico, ou fez coisas como as que se atribuem a São Germano, sem mestre
37
natureza; mas todos esses são especialistas. Um é inventor teórico; o outro
que nega tudo aquilo que está fora de sua ciência ou religião particular.
38
sofre. Nem também estudando apenas um ramo da filosofia esotérica poderá
alguém chegar a ser ocultista, mas somente estudando-os todos, ainda que
extensão do termo; de outra maneira, não será mais do que um mago negro,
consciente ou inconsciente.
39
T: Já disse que um teósofo verdadeiro deve pôr em prática o ideal
inimigo do mundo e dos que o rodeiam, muito mais terrível que um simples
mortal.
outros?
pode fazer quase tudo o que lhe ocorrer: desde obrigar a um homem a se
40
até por meio de algum cúmplice do hipnotizador e em benefício deste. Não é
ignorância e superstição?
cegos - se atreverá a confessar sua crença nos milagres bíblicos? Aqui é onde
nasce a diferença. Existem teósofos muito bons e puros, que podem crer nos
mas cega. Qualquer teósofo ou espírita que intente cultivar um dos ramos da
embravecido.
41
Diferença entre a Teosofia e o Espiritismo
dos mortos -- geralmente seus parentes — que, segundo dizem, voltam à terra
para se comunicar com aqueles a quem estão unidos por afeto. Negamos isso
de forma absoluta. Afirmamos que os espíritos dos mortos não podem voltar à
terra -- salvo em casos raros e excepcionais, dos quais falarei mais adiante —;
dizendo, "espiritual".
"Davenport".
42
P: Foi dito "geralmente": o que é então que produz, o restante?
ignoro o que entendem os espíritas por esse termo; mas o que pretendem,
segundo entendo, é que os fenômenos físicos são produzidos pelo Ego que se
43
P: Então como se explica?
onisciente; mas, por seus impedimentos da matéria não pode manifestar seu
interior neste plano. Essa é nossa explicação sobre esses fenômenos de uma
que podemos agora dedicar ao assunto. Não pretendemos intervir nas crenças
dos espíritas, nem nas demais crenças. O ônus probandi deve recair nos que
inteira; mas enquanto isso, não temos o direito nem o desejo de convertê-los a
44
manifestações puramente psíquicas e espirituais, há comunicação mútua do
forças invisíveis e inteligentes. Com relação à sua filosofia, prefiro ler o que diz
o inteligente editor de Light (Luz), o defensor mais ardente e culto com que os
espíritas contam. Aqui está o que escreveu M.A. Oxon — um dos mais cotados
fanatismo:
8
Dizemos que em tais casos não são os espíritos dos mortos os que descem à terra, mas sim os
espíritos dos vivos que ascendem à região das almas espirituais puras. Na realidade não existem
nem a subida nem a descida, mas sim uma troca de estado ou condição para o médium. Quando este
entra em "transe", o Ego espiritual liberta-se de seus entraves e se encontra no mesmo plano de
consciência dos espíritos descarnados. Então, se houver alguma atração espiritual entre eles, podem-
se comunicar, como acontece freqüentemente durante o sonho. A diferença entre uma natureza
mediúnica e outra não sensitiva é a seguinte: o espírito do médium, em liberdade, passa a ter
faculdade e facilidade para influir sobre seus próprios órgãos — apesar do corpo físico estar em
letargia -- fazendo-os atuar, falar e escrever à vontade. O Ego pode fazer repetir, como um eco, em
linguagem humana, os pensamentos e idéias da entidade desencarnada. Mas o organismo não
receptor nem sensitivo não pode ser influído deste modo. Por isto, ainda que raro, é o ser humano
cujo Ego não tenha uma livre correspondência durante o sonho com aqueles a quem amou e perdeu,
sem dúvida — em virtude do positivo e não receptivo de seu invólucro físico e de seu cérebro —,
nenhuma recordação lhe sobra quando acorda, com exceção, às vezes, de alguma idéia obscura de
um sonho muito vago.
45
quais qualquer outro conhecimento resulta
46
Quando alguém se encontra frente a frente com
47
a sentença e age em conseqüência? Certamente não.
1889.)
espírita. Mesmo tendo que enfrentar uma maior hostilidade dos espíritas
48
simplesmente sua manifestação periódica), por chamá-lo assim, sustentamos
sentimento simples de que "Eu sou eu", e o pensamento complexo de que sou
o "sr. Smith" ou "a sra. Brown". Acreditando como acreditamos, em uma série
fundamental da idéia inteira. "Sr. Smith" na realidade significa uma longa série
aquilo que o sr. Smith chama de "meu eu". Mas nenhuma dessas
sensação de ser ele mesmo, pois esquece a maior parte de suas experiências
eu". Para nós, é este "eu sou eu" a verdadeira individualidade: e sustentamos
que este "Ego" ou individualidade representa como o ator nos palcos muitos
noite como Macbeth, na seguinte como Júlio César, depois será Romeu, na
9
Ver mais adiante, "Individualidade e Personalidade"
49
próxima Hamlet ou o Rei Lear, e assim sucessivamente, até que tenha
P: Entendo. Mas foi dito que aquele verdadeiro Ego não pode voltar à
cena onde desempenhou seus atos anteriores, se é que conservou o sentido de sua
individualidade?
sofre tantas e imerecidas penas e misérias durante sua vida, por culpa dos
demais com quem está relacionado, ou por causa do ambiente que o rodeia,
P: Entendo até certo ponto as doutrinas teosóficas, mas observo que são
50
comuns. Explique-me como o sistema da Teosofia despertou tanto interesse e tanta
T: Creio que existem várias razões para isso. Entre as várias causas
que podem ser citadas, em primeiro lugar figura a grande reação que existe,
filha das grosseiras teorias materialistas que prevalecem hoje entre os homens
teologia artificial das diferentes Igrejas cristãs, e o número cada vez maior de
ser verdadeiras, e que pré tensões não comprovadas não podem ser reais. A
de que deve existir em algum lugar um sistema filosófico e religioso, que seja
permitiram que pelo menos uma parte dessa verdade fosse divulgada. Se a
51
anos, metade das nações civilizadas seria declaradamente materialista, e a
revelação?
10
Está na moda, de uns tempos para cá, ridicularizar a noção de que houve alguma coisa além de
impostura sacerdotal nos mistérios de povos grandes e civilizados, tais como os egípcios, os gregos
ou os romanos. Pretende-se mesmo que os rosa-cruzes tenham sido uma espécie de lunáticos e
impostores. Numerosos livros foram escritos a respeito deles; e até principiantes, que mal tinham
acabado de conhecer esse nome, apresentaram-se como grandes críticos e gnósticos, sobre a
alquimia dos filósofos do fogo e do misticismo em geral. Sem dúvida sabe-se que uma longa série de
hierofantes do Egito, da índia, da Caldéia e da Arábia, assim como os maiores filósofos e sábios da
Grécia e do Ocidente, incluíram todo o conhecimento sob a designação de Sabedoria e ciência
divina, porque consideravam a base e a origem de toda arte e ciência, como essencialmente divina.
Platão tinha os mistérios por sagrados; e Clemente de Alexandria, que havia sido iniciado nos
mistérios eleusinianos, declarou "que as doutrinas que neles se ensinavam continham a meta de todo
o saber humano". Platão e Clemente eram dois impostores, dois loucos, ou ambas as coisas de uma
vez?
52
antiespiritual. Além disso deve-se levar em conta a índole especial dos
trabalho tão lento e rudimentar. Tem sido essencialmente a filosofia dos que
uma coroa de espinhos." Não se podem demolir antigos edifícios sem algum
perigo.
53
P: Também ouvi dizer que os membros que se desligaram não são mais
Como diz muito bem o Path (Senda), nosso órgão teosófico em Nova York,
ignorava, por haver sido claramente advertido sobre elas, o soldado transfere-
se para o inimigo onde começa a dar informações como espião ou traidor, para
a sua causa, em virtude do castigo que lhe deram". Você acredita que ele tem
razão, que está justificado? Não acha que ele deve ser considerado um homem
54
O TRABALHO DA SOCIEDADE TEOSÓFICA
FINS DA SOCIEDADE
T: Desde seu começo, três são seus fins: 1.°) Formar um núcleo da
55
T: Sabemos certamente que, excetuando dois restos de raças — os
causas que fazem a fraternidade universal parecer uma utopia nos dias que
correm.
humana. Em vez de ser combatido, esse egoísmo cada dia adquire maior força;
foram pervertidas por completo pela aceitação literal da Bíblia hebraica. Todo
em vão - incrustaram-se na vida mais íntima das nações ocidentais. "Olho por
olho e dente por dente" tornou-se a primeira máxima de suas leis. Pois bem:
56
declaro abertamente e sem temor que só a Teosofia pode extirpar a
P: Como?
tendo a humanidade uma mesma e única essência, e sendo essa essência una
todos os outros homens. Isto é tão certo e óbvio como uma pedra atirada a um
lago porá em movimento — mais cedo ou mais tarde -- cada gota de água ali
contida.
P: Mas esta não é uma doutrina de Cristo e sim uma noção panteísta.
aos outros" e "Amai a vossos inimigos, pois se amais só àqueles que vos
57
amam, que mérito tereis? Acaso os publicanos11 não o fazem? E se apenas
saudais a vossos irmãos, que mais fazeis que os outros? Não o fazem acaso
25, diz: "Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos". E a gente
cristã mas bíblica prefere a lei de Moisés à lei amorosa de Cristo. Apoiam no
a História pode nos dar uma idéia, mesmo imperfeita, dos crimes cometidos
P: Foi dito que a identidade de nossa origem física está provada pela
ciência, e a de nossa origem espiritual pela religião da Sabedoria. Mas, sem dúvida,
11
Publicanos: considerados naqueles tempos como ladrões e larápios. Tanto o nome como a
profissão de publicano eram para os judeus as coisas mais odiosas do mundo. Não se lhes permitia
entrar no templo, e Mateus (XVIII, 17) fala de um pagão e de um publicano, como sinônimos. Sem
dúvida eram apenas os arrecadadores de impostos romanos,e ocupavam a mesma posição que os
empregados oficiais ingleses ocupam hoje em dia na índia e outros países ocupados
12
"No fim da Idade Média, a escravidão dominada por forças morais havia desaparecido da Europa;
mas aconteceram dois episódios importantes que anularam o poder moral que trabalhava na
sociedade européia, e deram margem a uma série de calamidades que quase se pode dizer que
jamais se conheceram outras maiores. Um desses acontecimentos foi a primeira viagem à costa
populosa e bárbara onde os seres humanos eram artigo usual de tráfico; e o outro, o descobrimento
do Novo Mundo, onde se abriram mananciais de riqueza, para cuja exportação só faltava levar
braços que trabalhassem. Durante quatrocentos anos, homens, mulheres e crianças foram
separados de todos os que amavam e conheciam, para serem vendidos como escravos;
acorrentados nos porões dos navios (muitas vezes juntos — os mortos e os vivos — em terríveis
travessias); e conforme Bancroff — historiador imparcial — de mais de três milhões de seres, 250 mil
foram jogados à água nesta época, enquanto o resto era condenado a inenarrável miséria e
sofrimento cruel nas minas, ou a gemer sob o chicote nos canaviais e arrozais. A culpabilidade deste
grande crime recai sobre a Igreja cristã. O governo espanhol firmou mais de dez tratados autorizando
a venda de quinhentos mil seres humanos, "em nome da Santíssima Trindade". Em 1562, sir John
Hawkins se pôs ao mar para empreender a infernal viagem que tinha por objetivo comprar escravos
na África para vendê-los nas índias Ocidentais, em um navio que tinha o nome sagrado de Jesus; e
Isabel, a rainha protestante, recompensou-o por seu êxito nesta primeira aventura dos ingleses
naquele desumano tráfico, autorizando-o a usar como escudo de armas "um meio mouro em sua cor
natural, preso com uma corda", isto é, um escravo negro acorrentado" (Conquistas da Cruz - tirado
do Agnostic Journal).
58
T: Precisamente. Isto é o que demonstra a deficiência dos sistemas
nossa origem física não alcança nem estimula nossos sentimentos mais
divina, a matéria não pode falar ao coração humano. Mas uma vez provada e
espírito do homem real, imortal, conforme nos ensina a Teosofia, isto nos
fraternais.
absoluta de onde tudo vem e para onde tudo volta. Esta é a filosofia ariana,
estado de coisas que descreve só não alcança a perfeição porque ainda existe
59
o egoísmo no coração dos homens. Mas, em geral, o egoísmo e o
P: Deste modo, todo teósofo deve tomar parte em qualquer esforço que
publicação do livro de Bellamy? Vão ganhando terreno cada dia e com o tempo
irão ganhando muito mais. Esses clubes e esse partido foram criados no
é uma das verdades eternas que dirigem o progresso do mundo por caminhos
teosófico do que isto? Mas não basta: é necessário também imprimir nos
60
P: Isto se refere à origem comum das religiões. Mas como se pode aplicar
poderá ser um fato. A mesma coisa pode ser aplicada no mundo físico.
evidente que cada galho e cada folha serão afetados. Assim sucede com a
humanidade.
prejudica a humanidade? Você ignora que até a ciência materialista ensina que
qualquer prejuízo, por ligeiro que seja, causado a uma planta, vai afetá-la
61
completamente em seu desenvolvimento? Você está errado e a analogia é
perfeita. Leve em conta que um simples corte no dedo pode melindrar todo o
corpo e influir no sistema nervoso; e não esqueça que pode haver outras leis
humanidade.
planta. Entendida essa idéia, aplicando-a universalmente, logo ficará claro que,
na filosofia verdadeira, cada ação física tem seu efeito moral e eterno.
muito menos a homens de outras nações. Nós afirmamos que isto acontecerá
não só a nós mesmos como a toda humanidade, não são possíveis na Terra
62
T: Reunimos para a biblioteca de nossa sede geral de Adyar, Madras
conhecimentos.
63
de investigação, a Sociedade espera alargar o campo da observação científica
e filosófica.
64
de seus compromissos sagrados, contraídos sob palavra de honra e em nome
demitir ou, no caso de negar-se a isso, será expulso. Temos regras rigorosas
possui uma regra apresentada e adotada desde 1880: "Nenhum irmão poderá
servir-se para seu uso egoísta de nenhum conhecimento que lhe for dado por
qualquer membro de grau superior, sendo a violação desta regra punida com a
aspirante deve comprometer-se sob juramento solene a não fazer uso dos
mesmos com objetivos egoístas, nem a revelar nada do que lhe foi confiado,
65
P: Mas essa razão é justa?
mesmo neste plano físico. Como disse muito bem o Path (julho, 1889, Nova
e sempre que o façamos reagirá sobre nós a poderosa balança da Lei (do
Karma)".
66
RELAÇÕES DA SOCIEDADE TEOSÓFICA COM A TEOSOFIA
DO PRÓPRIO PROGRESSO
assim.
seu "Eu Superior", a levar a vida prescrita pela Teosofia. Têm que conseguir
que seu "Eu Divino" seja o guia de todo ato e pensamento, a cada dia e em
cada momento de suas vidas. Um verdadeiro teósofo deve "se conduzir com
The Theosophist: "O que cada homem necessita, antes de mais nada, é
67
alcançá-la com resolução verdadeira". Mas quantos o fazem? Todos estão
está dizendo algo de mais ou de menos, porque o que trabalha para si mesmo,
melhor seria não fazer nada); que, ao contrário, trabalhe para os demais, para
todos. Para cada flor de amor e caridade que plantar no jardim de seu vizinho,
é preciso uma nova revelação. Que cada homem seja para si mesmo uma
Sociedade seria, sem dúvida, um corpo de eleitos. Mas entre os que não fazem
68
nele sua luz divina. Isto é justo? Atacam uma associação que luta pela
desfrutando nos altos postos, como sob o Império Romano durante sua
em conta que o homem que faz tudo quanto pode, faz tanto quanto aquele que
entregues pelo amo: o servidor que dobrou seus dois talentos foi
sociais, políticas e até religiosas não somente não conseguiram pôr em prática
até agora seus preceitos, nem em seu espírito, nem sequer em sua letra
69
cristãos. Suprimam-se mesmo os tribunais, pois seguindo os mandamentos de
aos que esbofetearam a direita. "Não vos rebeleis contra o mal, amai a vossos
inimigos, bendizei aos que vos façam sofrer, façais o bem àqueles que vos
ensinar a fazer aos homens, será chamado o último no Reino dos Céus", e "o
que chama louco a seu irmão, estará no perigo do fogo infernal". Não julgue
nada se não quer ser julgado. Insistir que entre a Teosofia e a Sociedade
legisladores e Igrejas das nações ditas cristãs fazem o contrário. Até os piores
entre nossos membros não são piores que o cristão comum. Além disso, se os
teosófica, é porque são filhos de sua geração. Todos eram cristãos, educados
Sociedade com esse nome, já que nunca repetiremos o bastante, que existe
70
O abstrato e o concreto
ou por interesse passageiro, ou talvez porque algum amigo fazia parte dela.
Como se pode, portanto, julgar o sistema com o critério dos que querem
ostentar o nome sem nenhum direito a ele? Devemos julgar a poesia apenas
pelos que pretendem ser poetas mas só nos ferem os ouvidos? Somente em
encontrem nela; de outro modo a Sociedade não faria mais do que repetir o
71
Teosofia, enfim, é o sol fixo e eterno, e a Sociedade o cometa que trata de
atração do sol da verdade. Foi formada para ajudar a demonstrar aos homens
que existe uma coisa chamada Teosofia, dando meios de alcançá-la, elevando-
P: Mas não foi dito que não havia princípios ou doutrinas especiais?
72
seguidos, levando-se em conta o que sucede com o Sermão da Montanha).
verdade.
branco do espectro solar, e cada religião é somente uma das sete cores
reivindica a cada raio de cor a prioridade, como sustenta que é o raio branco
escuros — como heresias. Sem dúvida, como o sol da verdade se eleva cada
Teosofia, e que pela assimilação dela o mundo poderá por fim salvar-se de suas
73
enxertada na Árvore da Vida Eterna. Porque unicamente estudando as grandes
Uma máxima da obra persa Javidan Khirad diz: "A verdade é de duas classes -
- uma manifesta e evidente por si, e outra que requer constantemente novas
que optar por uma crença definida qualquer. Se a Sociedade não tem doutrinas
próprias, cada membro tem liberdade de crer o que lhe pareça, e aceitar aquilo que
74
T: Dizer que a Sociedade não tem doutrinas ou crenças próprias ou
75
ENSINAMENTOS FUNDAMENTAIS DA TEOSOFIA
P: Acreditam em Deus?
bíblico de Moisés.
P: Mostre razões.
não é certo?
para criar, um ser necessita pensar e projetar. Como se pode supor que o
76
Absoluto pense — isto é —, que tenha alguma relação com o limitado, finito e
tal idéia, e faz do princípio Uno Deífico Absoluto, uma unidade infinita
chamada Ain-Soph13. Para criar, o criador deve tornar-se ativo e como isto é
Cabala), da Sephiroth14.
Jehovah ou no Tetragrammaton?
dizem que dois mais dois nem sempre fazem quatro, uma vez que depende da
num Princípio Divino Universal, a raiz de Tudo, de onde tudo procede e onde
13
Ain-Soph igual a γo πaν ou επειρoν, o infinito, ou o limitado, em e com natureza; o não existente
que É, mas não é um Ser.
14
Como pode o princípio eterno não ativo emanar, ou emitir? Nada disto faz o Parabrahm dos
vedantinos; nem tampouco o Ain-Soph da Cabala caldaica. É uma lei eterna e periódica, a que faz
emanar uma força ativa e criadora (o Logos), do princípio uno, inteiramente oculto e incompreensível,
no começo de cada Maha-manvantara, ou novo ciclo de vida.
77
P: Isto é o que defende o antiqüíssimo panteísmo. Se são panteístas não
podem ser deístas; e, não sendo deístas, devem ser considerados como ateus.
muitos de que se tem abusado, e cuja significação real e primitiva foi falseada
vista. Se você aceita a etimologia cristã desta palavra composta, deve formá-la
de πaν, “todo” e σεoζ, "Deus", e acreditar e ensinar que isto significa que cada
pedra e cada árvore na natureza é um Deus ou o Deus Uno, e então é claro que
natureza?
universo.
P: Assim acredito.
78
T: Pois bem: nós não levamos em consideração esta natureza
palavra πaν tem para nós o significado de natureza, no sentido aceito de sua
à nossa Terra de lama, como seu banquinho. Nossa Divindade não se encontra
em toda parte, em cada átomo do Cosmo, tanto visível como invisível, dentro,
Pensamento Absoluto. Nem tampouco existe, pelo mesmo motivo, pois que é a
79
existência absoluta, é o Ser em Si, não um Ser. No magnífico poema
compreende-se isso, quando diz: "És um, a raiz de todos os números, mas não
pensamento meu pode fixar-te um limite ou definir-te. És, mas não como um
existente, porque nem a inteligência nem a visão dos mortais podem alcançar
essência, sem ser criado. Em seu simbolismo, é uma esfera sem limites, com
P: Certa vez ouvimos um dos membros da S.T. dizer que essa Deidade
forma que no puro, e, portanto, presente em cada átomo da cinza de seu cigarro.
80
T: Não acreditamos, porque dificilmente pode-se considerar a lógica
É necessário rezar?
somos — e temos muito a trabalhar - - não podemos perder tempo era dirigir
partes entre si; mas não tem existência quando se trata de relações finitas. A
popularizaram os fariseus.
81
T: Sem dúvida: nós a chamamos de oração da vontade, e é muito
Pai que existe em segredo (leia e trate de compreender o Cap. VI, vers. 6, de
Deus que se pode conhecer. E como pode ser de outra maneira? Concede-nos
difundido. Nesse caso, como pode o homem não compenetrar-se com, por e
15
Nos escritos teosóficos se encontram, freqüentemente, afirmações contraditórias sobre o princípio
de Christos no homem. Alguns o chamam o sexto princípio (Buddhi); outros, o sétimo (Atmã). Se os
teósofos cristãos desejarem empregar semelhantes expressões — usando-as filosoficamente de
modo correto — devem seguir a analogia dos símbolos da antiga religião da Sabedoria. Dizemos que
não só Christos é um dos três princípios superiores, como os três podem ser considerados como
uma Trindade. Essa Trindade representa o Espírito Santo, o Pai e o Filho, já que responde ao espírito
82
antropomorfizar aquela essência que está nele. Se um teósofo quiser seguir a
verdade divina e não a humana, não deve dizer que esse "Deus em segredo"
porque todos são um. Nem tampouco que a oração é um pedido, como
desejos.
seu ego inferior, pessoal, o homem físico, disser a seu Ego Espiritual Superior
83
quando esses jogam dois exércitos um contra o outro, para que se destruam
judeus, por que não fazem o que disse Cristo? Ordena muito claramente para
não imitar "aos dos tempos antigos" ou da lei mosaica, e os convida a seguir o
que ele ensinava, advertindo aos que quisessem usar a espada, que por ela
nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores", coisa que nunca
fazem. Também lhes disse: Amai a vossos inimigos e jazei o bem àqueles que
rezar ao "Pai" para matar e vencer aos inimigos! Aí está por que repelimos
oração.
84
T: Explica-se pelo fato da oração, além do significado que lhe dão os
"Deuses". Uma oração pode ser um apelo ou encantamento para uma maldição
que se lhes dê o "pão nosso de cada dia", ao invés de trabalhar para consegui-
lo; e rogando que Deus não os deixe cair "em tentação", e os livre do mal (só
com a essência universal, sendo atraída para sua origem e centro; estado
negamos a orar ante seres criados e finitos: deuses, santos, anjos etc, porque
85
P: Os cristãos considerariam isto blasfêmia e orgulho. Estão
equivocados?
primeiro disse: "Não solicites nada dos deuses impotentes; não ores, ou
melhor, faze; pois a escuridão não se aclarará. Nada peças ao silêncio, pois
não pode nem falar, nem ouvir". E o outro - - Jesus - - disse: "Qualquer coisa
86
de cada um. De outro modo, identificando a Jesus com a divindade universal,
seria por demais ilógica e absurda a inevitável conclusão de que ele, "o
forças. Mas quando rezo a Jesus Cristo, sinto que me dá forças e que com sua
separado do que reza, é claro que tudo é e deve ser possível a "um Deus todo-
seu jornaleiro, se fizessem quase todo trabalho em seu lugar, enquanto ele
idéia de que alguém passe a vida inteira numa ociosidade moral, enquanto que
nos revolta em alto grau, pois é muito degradante para a dignidade humana.
E não há dúvida de que, subjetivamente, tal crença é eficaz, isto é, os que crêem
87
T: Tampouco se duvida de que alguns pacientes dos chamados
o fracasso entre os cristãos fanáticos, mesmo com toda sua cega fé?
teósofo o poder e a força necessários para dominar suas paixões e seu egoísmo?
seu Karma. Quantas vezes ainda precisaremos repetir que se conhece a árvore
por seus frutos, a natureza da causa pelos seus efeitos? Não fale do domínio
Cristo. Nós perguntamos: onde se encontra mais gente pura e virtuosa, que se
16
Seita de saneadores que, negando a existência de tudo o que não seja espírito, o qual não pode
nem sofrer nem ficar doente, pretendem curar todas as enfermidades, desde que o paciente tenha fé.
Uma nova forma de auto-hipnotismo.
88
desde o bispo Bigandet e o abade Huc, até sir William Hunter, e .todo
nem em recompensa futura fora deste mundo (pelo menos a verdadeira seita
Dhammapada, pois sabe que, "se qualquer homem, seja ou não instruído, se
89
T: Da Alma Universal; e não, certamente, concedidos por um Deus
alma vital, animal) com que Deus (nós dizemos "a natureza" e a lei imutável),
dota ao homem assim como aos animais. De modo nenhum é a alma que
acordo. Uma vez que não acreditamos em um Deus pessoal, como podemos
supondo-se um Deus que tome sobre si o risco de criar uma alma nova para
teológico.
90
T: Neste momento me ocorreu um argumento incontestável dirigido
para a discussão pública, como a em que foi apresentado este argumento. Era
padre, se o seu Deus havia dado os mandamentos a Moisés, para que fossem
cumpridos pelos homens, mas para serem violados por Ele próprio, Deus. O
nos que Deus não admite exceção a esta regra, e que não pode nascer
nenhuma alma sem sua vontade. Deus proíbe o adultério, entre outras coisas,
e, sem dúvida, afirmam ao mesmo tempo, que é Ele quem cria cada recém-
nascido, e o dota de uma alma. Temos que concluir, então, que é obra de seu
proíbe e castiga a violação de suas leis, e que, apesar disto, cria cada dia e
cada momento almas para essas mesmas criaturas? Conforme a lógica mais
elementar, esse Deus é cúmplice no crime uma vez que sem sua ajuda e
intervenção, aqueles filhos da luxúria não poderiam haver nascido. Onde está
a justiça, castigando não apenas aos pais culpados, mas até à inocente
criatura, feita por esse mesmo Deus, de quem vocês tiram toda a culpa?..." O
91
missionário olhou seu relógio e concluiu que já era tarde para continuar a
discussão.
expressar uma idéia falsa. Se cada coisa está sujeita a mudança, deve-se
incluir, então, ao homem, e cada parte material dele deve mudar. O que está
sujeito à troca não é permanente, portanto, uma coisa inconstante não pode
92
agregação de skandhas é também um novo ser, onde não restou nada do
último, lemos que: "Em determinado sentido, é um novo ser e em outro não é.
da alma.
93
T: Nós também não acreditamos nela, se você se refere por alma ao
ego pessoal ou alma de vida (Nephesh). Mas todo buddhista culto acredita no
da letra" de Jesus. Nem Buddha, nem Jesus, jamais escreveram coisa alguma,
aliás fizeram e farão ainda por muito tempo, todos os verdadeiros iniciados. As
não deixaria gemer a quem pudesse salvar" diz o príncipe mendigo, coberto de
94
cabeça. Ambos baseiam seus ensinamentos no amor ilimitado à humanidade,
riquezas e não fazem diferença entre meu e teu. O desejo era — mesmo sem
mais penosas. Mas o objetivo dos dois reformadores foi frustrado pelo
maioria dos sacerdotes que lhes sucederam não tinha sido iniciada, como
95
demais castas, o que acarretou a precipitação de milhares de homens na
depois. Mais vale um ateísmo filosófico do que tal culto ignorante, para
aqueles
nem atendidos"
extirpar os erros, antes de dar a conhecer a verdade. E por não poder dá-la a
conhecer toda, pelas mesmas boas razões que teve Jesus quando disse aos
discípulos que os Mistérios do Céu não eram para as massas ignorantes, mas
apenas para os eleitos, e por isso, "lhes falava em parábolas" (Mat. XIII, 10, 11),
também Buddha levou sua prudência até o extremo de ocultar demais. Até se
17
No diálogo traduzido por Oldenburg do Samyutaka Nikaya, Buddha dá a Ananda, seu discípulo
iniciado que lhe pergunta a razão deste silêncio, uma resposta clara e inequívoca: "Se eu, Ananda,
ao perguntar-me o monge errante Vacchagotta, 'existe o Ego?', tivesse respondido 'o Ego existe',
então, Ananda, isto teria confirmado a doutrina dos samanas e brâhmanes que crêem na
permanência. Se eu, Ananda, quando o monge errante Vacchagotta me perguntou 'não existe o
Ego?', tivesse respondido 'o Ego não existe', então, Ananda, isto teria confirmado a doutrina dos que
crêem na aniquilação. Se eu, Ananda, quando o monge errante Vacchagotta me perguntou 'existe o
Ego?', lhe tivesse respondido 'o Ego existe': teria isto servido a meu propósito, Ananda, produzindo
nele o conhecimento de que todas as existências (dhamma) são não-ego? Mas se eu, Ananda,
tivesse respondido 'o Ego não existe', então, Ananda, isto teria somente dado como resultado
produzir no monge errante Vacchagotta uma nova confusão. 'Meu Ego não existia antes? E agora eu
não existo!' " Isto demonstra melhor do que tudo que Gautama Buddha evitava dar às massas
semelhantes doutrinas metafísicas-difíceis, para não confundi-las ainda mais. Referiu-se era à
diferença que existe entre o Ego pessoal, temporal, e o Eu Supremo que verte sua luz sobre o Ego
imorredouro, o "Eu" espiritual do homem.
96
P: isto se refere a Gautama, mas que relação tem com os Evangelhos?
antropomórfico dos judeus, com suas sanguinárias leis de "olho por olho e
dente por dente", derramando sangue e sacrificando animais, teria que ser
seu próprio coração e alma, igual para o pobre e para o rico. Nem aqui, nem na
97
DOUTRINAS TEOSÓFICAS RELATIVAS À NATUREZA E AO
HOMEM
P: Uma vez explicado o que Deus, a alma e o homem não são, conforme
incognoscível, sobre a qual já falei. Não cremos na criação, mas sim nas
duração imensa.
correto, vamos usar como base o ano solar, e, como segunda comparação, as
duas metades desse mesmo ano, produzindo cada uma um dia e uma noite de
seis meses de duração, nos pólos. Pois bem: imagine, em vez de um ano solar
polares de seis meses são dias e noites que duram 182 trilhões ou quatrilhões
de anos, ao invés de 182 dias cada um. Assim como o Sol sai a cada manhã de
98
Vida", e da mesma forma que o Sol desaparece de nosso horizonte,
Evolução e ilusão
reflexo que você considera como o universo objetivo material, nós o vemos
99
P: Tudo isso não me explica como se origina esta ilusão chamada
dizer: "E a (absoluta) luz (que é a o homem dos bosques e o negro até o Apoio
ensinaram, sete deles; vai-se fazendo mais material e denso em cada plano,
natureza são uniformes, sem dúvida nosso sistema solar tem (assim como
cada sistema semelhante entre os milhões no cosmo), e até nossa terra, seu
homens, isto é, entidades que pensam, serão como nós. A imaginação dos
poetas, pintores e escultores sempre nos representa: até os anjos são cópias
bonitas do homem, mas de asas. Dizemos que tudo isto é um erro e uma
100
flora, fauna e humanidade — desde a alga marinha até o cedro do Líbano,
desde a água-viva até o elefante, desde o homem dos bosques e o negro até o
As mesmas leis mudam a ordem das coisas e dos seres, ale mesmo neste
nosso plano, incluindo nele todos os nossos planetas. Quanta diferença deve
as outras estrelas, mundos e seres humanos, por aquilo que somos, como faz
a ciência física!
aquilo que não era corroborado por uma experiência unânime e coletiva, era
das ciências psico-espirituais não diferem dos usados pelas ciências naturais
101
e do naturalista podem se decompor; o telescópio e os instrumentos do
las, nosso conhecimento nos permite somar à sua sabedoria somente aqueles
no "Buddhismo esotérico"?
círculo externo; mas sem dúvida são jatos na natureza, e se aproximam mais
102
T: Sim, é verdade. Mas as outras seis "terras", ou globos, não se
podemos vê-las.
estrelas muito mais distantes; mas, deve-se antes, a que esses seis globos se
nosso ser. Não é também porque sua densidade material, peso ou constituição
mas sim porque se encontram situados (para nós) em uma camada do espaço,
digamos, inteiramente diferente; uma camada que não pode ser percebida, ou
melhor, sentida por nossos sentidos físicos. E quando digo "camada", não
pois isto só nos levaria a um novo absurdo e novo erro. O que entendo por
"camada" é aquele plano do espaço infinito, que por sua própria natureza não
pode ser percebido por nossas faculdades comuns em estado de vigília, quer
sejam mentais ou físicas, mas sim que existe na natureza, fora de nossa
segundo a definição de Locke, não como nosso espaço finito —, tem sua
103
P: O que se entende por classe diferente de sentidos? No nosso plano
humano existe algo que pudesse ser apresentado como exemplo, para nos dar uma
respectivas?
argumento para se colocar contra nós. Acaso quando sonhamos, não temos
idealmente por nossa mente num momento. Pois bem: essa extrema rapidez
recordar e ter sua existência. Impossível enumerá-los aqui; para isso é preciso
104
cósmico e os estados de consciência relativos ao universo ou macrocosmo,
P: O que é isto?
sete no total.
"criados". Para ele, o homem é composto de: 1.°) um corpo mortal, 2.°) um
105
alma animal (o Nous e psiche). Esta mesma divisão foi adotada por São Paulo,
também iniciado, que defende a idéia de que existe um corpo psíquico (alma
confirma dizendo que a "sabedoria" (de nossa alma inferior) não vem de cima,
enquanto que a outra Sabedoria é celeste. Isto é tão claro que Platão e mesmo
QUATERNÁRIO INFERIOR
vida.
ao cérebro físico.
imortal.
106
A TRÍADE SUPERIOR IMORREDOURA
ao estado de felicidade
18
devakhânica .
universal.
Pois bem: o que nos ensina Platão? Ele fala do homem interno,
18
No Buddhismo Esotérico de Sinnett, d, e e f são chamados respectivamente a alma animal, a
humana e a espiritual. Embora os princípios estejam numerados no buddhismo esotérico, isto,
estritamente falando, é inútil. Só a Mônada dual (Atma-Buddhi) é suscetível de ser considerada como
os dois números superiores o sexto e o sétimo). Quanto a todos os demais, como apenas aquele
“princípio” que predomina em cada homem deve considerar-se como o primeiro e o principal,
nenhuma numeração é possível. Em alguns homens é a inteligência superior (manas ou o 5º) a que
domina o resto; em outros é a alma animal (Kama-rupa) quem reina completamente, manifestando os
instintos mais bestiais.
107
da mesma substância que a Deidade; e a outra, mortal e corruptível. Essas
Ele explica que quando a alma, psiche, "se une ao Nous (espírito ou
mas que sucede o contrário quando se deixa arrebatar por anoia (a loucura, ou
alma animal irracional). Percebemos então, aqui, manas (ou a alma) em seus
converte-se em imortal.
19
Paulo chama de "espírito" ao Nous de Platão mas, como esse espírito é "substância",
evidentemente, refere-se a Buddhi e não a Atmã, uma vez que, filosoficamente, este em nenhum
caso pode ser chamado de "substância". Incluímos Atma nos "princípios humanos" para não criar
maior confusão. Na realidade, não é princípio humano e sim o princípio Absoluto universal, do qual
Buddhi — o Espírito-alma — é veículo.
108
P: Você acabou de falar do completo aniquilamento da "psiche" quando
esta se soma à anoia. O que entendia Platão por isso, e qual a sua explicação?
animais e até sua vida física possam sobreviver juntos com o "Ego espiritual",
Teologia cristã posterior, tirada dos sistemas exotéricos gregos e egípcios dos
gnósticos?
109
T: Pode ser que o catecismo cristão e até a ciência moderna mostre
assim, mas para os espíritos livres isso não é exato. Os egípcios cultuavam ao
principal", o primum mobile de tudo. Para ele o Nous era Deus, e o logos, o
P: Sem dúvida vai ser muito difícil que vocês se livrem da acusação de
haver inventado uma nova divisão das partes constituintes do homem espiritual e
psíquico; porque nenhum filósofo fala delas, embora acreditem que Platão as
mencione.
20
"Platão e Pitágoras — diz Plutarco — dividem a alma em duas partes: a racional (noêtica) e a
irracional (agnoia); aquela parte do homem que é racional, é eterna, pois embora não seja Deus, sem
dúvida (produto de uma divindade eterna; mas aquela parte da alma privada da razão (agnoia),
morre." O moderno termo agnóstico provém de agnose, palavra similar. Estranho é que o autor da
palavra, Huxley, haja relacionando sua grande inteligência com "a alma privada de razão que morre".
Isto é humildade exagerada do materialista moderno?
110
movimenta por si mesma, composta de três elementos: o Nous (Espírito), o
como seu, esses cinco princípios que são: Agathon (Deidade ou Atmã), psiche
na partida, a alma (Ego) tinha que passar através de suas sete camadas ou
que nós damos mais forma e explicações mais detalhadas sobre esse assunto
do que eles. Embora ensinando ao mundo tanto quanto nos é permitido fazê-
lo, sem dúvida até mesmo em nossa doutrina vários pontos importantes são
111
reservados, e somente os que estudam a filosofia esotérica e prometeram
Os ensinamentos gregos
se explica que em suas tradições não se encontre nada do que vocês dizem?
místicos. Veja por exemplo Plutarco, e o que ele diz a respeito dos "princípios"
que aqueles que fazem da alma uma parte do corpo (isto é, da tríade uma parte
alma como esta sobrepuja em bondade e divindade ao corpo. Pois bem, esse
compactas entre si, a terra deu o corpo, a lua a alma e o sol o entendimento à
geração humana".
112
Esta última frase é puramente alegórica, e só aqueles que estão
tríplice inferior, que "foi tirada da terra e à terra voltará". Do princípio médio e
elementos átmicos e manásicos nela, faz uma emanação direta do sol, que
aqui representa Agathon, a Deidade Suprema. Isto fica provado pelo que ele
diz:
"Assim é que das mortes pelas quais passamos, uma faz ao homem,
Demeter, pelo que o nome dado aos mistérios, τελειν se assemelhava ao que
região de Persefona".
21
Os cabalistas que conhecem a relação que existe entre Jehovah, o produtor da vida e dos filhos,
com a lua, e a influência desta sobre a geração, compreenderam este ponto, assim como alguns
astrólogos.
113
quando os candidatos à iniciação representavam o drama completo da morte e
alma22. Por esta razão é chamada Monógenes, autogerada, ou melhor, que gera
a um só; porque a melhor parte do homem fica só, quando é separada por ela.
todas por igual, pela região que se estende entre a terra e a lua (Kama-Loka)23.
por suas culpas; mas os bons e virtuosos ficam aí detidos até que estejam
22
Proserpina ou Persefona, representa aqui o Karma post-mortem que se supõe reger ou regular
a separação dos "princípios" inferiores dos superiores, isto é, a alma, como nephesh, o hálito da
vida animal que permanece durante algum tempo em Kama-Loka, do Ego superior composto, que
entra em estado de Devakhan, ou bem-aventurança.
23
Até que tenha lugar a separação do "princípio" superior espiritual, dos inferiores, que permanecem
em Kama-Loka até a desintegração.
114
principalmente aqueles que são iniciados nos sagrados Mistérios, mesclada de
por sua consciência. Mas deve colocar-se em alerta contra o erro em que
muitos caem, até nossos teósofos. Não se imagine que pelo fato do homem
ser chamado setenário, depois quíntuplo, e depois tríade, seja por isto um
qualquer valor em nosso caso. Não negamos força a seu argumento, mas
estados da matéria, vocês que até agora só sabiam de três? Como sabem se
115
inferiores deste espírito-matéria fracionado durante suas manifestações
porém muito mais viva e real que o sonho mais vivo. É o estado da maioria dos
116
OS VÁRIOS ESTADOS POST-MORTEM
P: Qual é a diferença?
pois o que penetra nele e preenche seu corpo inteiro são apenas seus raios de
luz projetados por meio de Buddhi, seu veículo e emanação direta. Esta é a
24
A palavra "racional", em seu sentido genérico, significando algo que emana da Sabedoria Eterna.
117
completamente nele, mas que só o amparava por meio da alma irracional,
espiritual, ou Buddhi25".
divina.
P: Tenho lido muito sobre este assunto, e parece-me que as noções dos
antigos filósofos diferiam muito das dos cabalistas da Idade Média, embora tenham
pontos comuns.
25
Irracional no sentido de que, como pura encarnação da Mente Universal, não pode ter, neste plano
de matéria, nenhuma razão individual própria; mas como a lua, que recebe sua luz do sol e sua vida
da terra, assim também Buddhi, recebendo sua luz de sabedoria de Atma, alcança sua qualidades,
racionais de manas. Carece de qualquer atributo, como coisa homogênea per si.
118
P: E vocês o que dizem?
imortalidade por meio da ascensão até a unidade; que se tiverem êxito ficarão
absurdo se for aplicada literalmente a nossa essência imortal, pois sem dúvida
que ela é, como Ego individual, uma entidade diferente, imortal e eterna per si.
possível; criminosos que o foram durante uma longa série de vidas - é quando
entre o manas inferior ou pessoal, e o Ego individual que se reencarna não foi
efetuada durante a vida, então, o destino do primeiro será como o dos animais
aniquilada; mas ainda assim é o Ego um ser individual. Nesse caso apenas
perde um estado devakhânico (depois desta vida, o que por certo é inútil),
espírito planetário.
119
P: Em seu livro Isis Sem Véu está dito que esses espíritos planetários ou
anjos, "os deuses dos pagãos ou os arcanjos dos cristãos", jamais serão
T: Perfeitamente. Mas não são estes de que agora falamos, mas sim
anterior, e assim sendo, não podem voltar a ser homens nesta terra. Sem
perceber a diferença?
causa. Um Ego que ganhou sua vida imortal como espírito continuará sendo o
mesmo eu interno em todos os seus renascimentos na terra; mas isto não quer
26
Veja Doutrina Secreta, vol. II (Comentários) .
120
dizer necessariamente que tenha de continuar sendo o sr. Smith ou Brown que
sentir seu último ego pessoal (se não mereceu se elevar mais); e continuar
metafisicamente objetiva e mais nada, como pode ser de outra maneira mais que
eterna? E o que importa neste caso que um homem leve uma vida pura ou animal,
último dogma aliado com a falsa idéia de que todos somos imortais, tivesse
Portanto, nenhum desses "princípios" pode ser a essência pura, sem mistura,
121
do Monas pitagórico ou do nosso Atma-Buddhi; porque a Anima Mundi apenas
possuíam duas almas; e vemos que Aristóteles chama a uma a alma que
primordial. Dizemos que essa matéria é coeterna com o Espírito, e que não é
nossa matéria visível, tangível e divisível, mas sim, sua extrema sublimação. O
122
homem interno como imortal e, ao mesmo tempo considerá-lo como entidade
alguma nem existir, como ser, pelo menos em nenhuma filosofia oriental digna
desse nome. Uma "entidade" é imortal, mas só em sua essência última, não em
sua forma individual. Nesse último ponto de seu ciclo, é absorvida em sua
natureza primordial, e volta a ser espírito, quando então perde o seu nome de
entidade.
Universal, e não mais uma entidade separada. Quanto à alma pessoal (o que
ano. Como vocês podem limitar a infinidade que reclamam para seu Deus a
personalidade), não é imortal per si, nem eterna nem divina. Diz o Zohar: "A
alma, quando é enviada a esta terra, reveste-se de uma vestimenta terrena para
123
vestimenta que a torna capaz de olhar sem danos no espelho cuja luz procede
do Senhor da Luz". Além disso, o Zohar ensina que a alma não pode alcançar a
com a substância da qual emanou (o espírito). Todas as almas são duais, e são
corpo, o homem é uma trindade, a não ser que a sua corrupção seja tão
grande, que cause seu divórcio com o espírito. "Desgraçada a alma que
prefere o himeneu sensual com seu corpo terrestre, a seu divino esposo (o
espírito)", diz o texto de uma obra hermética, o Livro das Chaves. Pobre dela!
P: Mas como aquilo que foi dado por Deus ao homem — conforme sua
consciência pessoal pode durar mais tempo que a própria personalidade. Esta
depois na universal.
escrituras judaicas. Leiam a Bíblia se quiserem ter uma boa prova de que os
124
escritores do Pentateuco e do Gênesis, principalmente, jamais consideraram a
nephesh, o sopro com que Deus dotou a Adão como alma imortal (Gên. II, 7).
Eis aqui alguns exemplos: "E Deus criou. . . a cada nephesh (vida)
que se move" (Gên. I, 21) referindo-se aos animais; e diz (Gên. II, 7) "E o
homem foi feito uma nephesh (alma viva)", o que demonstra que a palavra
requererei a cada animal e ao homem" (Gên. IX, 5). "Escapa-te por tua
nephesh" (Gên. XIX, 17). "Não a matemos", diz a versão inglesa (XXXVII, 21).
"Não matemos a sua nephesh", diz o texto hebraico. "Nephesh por nephesh"
diz o Levítico. "Aquele que mata a qualquer homem, seguramente será morto",
literalmente: "Aquele que mata a nephesh de um homem" (Lev. XXIV, 17). "E o
que mata a um animal (nephesh) tem que pagá-lo. . . animal por animal", ao
invés do texto que diz: "nephesh por nephesh". Como poderia o homem matar
sobrevivência da alma.
Igrejas ortodoxas.
125
T: Não admitimos de forma alguma, pelo menos da forma como os
falta cometida"
Esta é uma regra para todos os homens, e uma regra justa. Podemos
amor e misericórdia, tem esses atributo? em menor grau que o homem mortal?
não admitimos a idéia da criação de uma nova alma para cada criança recém-
126
extracósmico e pessoal, em quem tantos deístas acreditam. É preciso não
confundir.
manifestado, não acreditam que a alma de cada novo ser é criada por aquele
cada novo ciclo ds vida, não se lhe pode atribuir a criação dos homens, com
para uma vida de breve duração, sem se preocupar se havia animado o corpo
do nascimento até a morte, sem haver feito nada para merecer seu destino
reencarnação.
27
Veja mais adiante "Da recompensa e castigo do Ego".
127
T: Seguramente. Fílon diz (De Somiis, pág. 455): "O ar está cheio
delas (de almas); as que se encontram mais perto da terra descem para ser
liberdade perante Deus: "Deus do Universo! - - diz - - sou feliz neste mundo e
não desejo ir a outro, onde serei uma serva exposta a toda sorte de
escuridão que a faz manifesta pelo contraste; o bem, não seria o bem, sem o
que é finito — seja porque teve um princípio ou deve ter um fim —, pode ficar
com seu espírito, único que pode conferir a imortalidade, terá de purificar-se
entre os buddhistas. E todos estes estados não são eternos mas temporais.
28
Zohar, vol. II, pág. 96.
29
Mishna, Aboth, vol. IV,pág.19.
128
T: Uma alma que suplica se lhe conceda permanecer onde se
encontra, deve ser preexistente, e não ter sido criada para aquela ocasião. Sem
dúvida há outra prova melhor no Zohar. Falando dos Egos que se reencarnam
completo, diz: "Todas as almas que não são inocentes neste mundo, no céu
momento em que terão de voltar (mais uma vez), à terra". "O Santo Único"
sinônimo de aniquilamento!
matéria diferenciada, sim, mas nunca de outro modo. Estas idéias sobre a
a causa que produziu tantas desavenças e erros. É também uma das muitas
razões por que Buddha, Plotino e tantos outros iniciados, são acusados
acordo com as idéias modernas. Supõe-se, desta forma, que a alma pessoal
tem que ser desintegrada em suas partículas, antes de que possa fundir para
sempre sua existência mais pura com o Espírito imortal. Mas os tradutores dos
129
Atos, bem como das Epístolas que apresentaram os fundamentos do Reino
que tenha alguma relação com a alma; e o efeito dessa confusão entre a alma e
o Espírito faz com que os que lêem a Bíblia só obtenham um falso sentido
espírito, sensível até nos animais que exercitam a memória, uma das
olhos; o mesmo ocorre com relação à forma. Antes de termos tempo de dar
então é que penetra no eterno e invariável Nirvana, vivendo tanto tempo como
hálito, existindo em espírito, não é nada porque é tudo; como forma, aparência
130
ou figura foi aniquilado por completo; como espírito absoluto ainda é, porque
usa quando se fala da alma como espírito, significa: união com. Jamais pode
mas ao que chamamos o Ego que se reencarna, manas, chama espírito, Nous
Ego (Nous) é eterno com a Deidade; que a alma só, passa por vários graus
para alcançar a excelência divina, enquanto que thumos volta à terra, e até o
phren, o manas inferior, acaba eliminado. Além disso, Platão define a alma
131
"A alma foi criada antes do corpo, e este é
Nenhuma Coisa, isto é, em nada que possa ser manifestado aos sentidos. Em
espírito, não em alma, a qual, embora sendo "a mais antiga de todas as coisas"
sem dúvida, é em união com todos os demais deuses, uma emanação finita,
132
P: Ainda não compreendi bem a idéia e agradeceria se a desenvolvesse
principalmente para quem foi educado nas idéias ortodoxas usuais da Igreja
oriental.
os "princípios" do Ego real. E é mais ainda, quando se pensa que existe uma
T: Realmente eles fazem isto; mas, sem querer discutir este ponto
com um vedantino instruído, posso dizer, como opinião minha particular, que
têm um motivo claro e evidente para agir assim. Para eles, o que se chama o
133
homem, é unicamente esse conjunto espiritual que consiste em vários
aspectos mentais, não merecendo o corpo físico, segundo eles, senão o mais
incluir dois princípios que são o espírito (Atmã) e o corpo físico, a que chama
"o cadáver". A escola Taraka Raja Yoga também só reconhece três princípios,
outra, são todos duais em seus aspectos, e desta maneira formam seis.
princípios30. Eles fazem bem em ater-se à sua divisão, assim como nós
conservamos a nossa.
todos eles coroados pelo espírito uno imortal. Em Ocultismo cada troca
30
Para uma explicação mais clara, veja Doutrina Secreta, vol. I.
134
recebe) um nome especial para distinguir entre o homem nesse estado
espiritual. Mas é tão grande o materialismo de nossa época, que parece que
que o considerem como um simples animal, não se pode fazê-lo por menos;
considere-se seu corpo objetivo e o princípio reflexivo que está nele (que
indivisível), ou Atma. Como este não pode ser localizado nem limitado em
135
Este ponto é tão imaginário quanto o próprio homem, e na realidade é uma
ilusão, ou maya; mas, para nós, assim como para os demais Egos pessoais,
somos uma realidade durante esse momento de ilusão chamado vida, pois
chama a esse sétimo princípio de síntese do sexto, e lhe dá por veículo a alma
espiritual, Buddhi. Pois bem: este último encerra um mistério que jamais é
quem se pode confiar sem nenhum temor. É evidente que se isto pudesse ser
dito, haveria menos confusão; mas como está diretamente relacionado com o
tendências animais.
136
P: Mas por que não se representa o homem por dois princípios, ou dois
aspectos?
(Buddhi); e o último, ou seu princípio instintivo, é atraído até Kama, centro dos
mencionados; nem sequer sabe nada sobre a glândula pineal, que descreve
mais claramente, que não inventamos esses sete princípios, e nem eles são
137
T: O Ego Espiritual pensante, o princípio permanente no homem,
Espiritual; e todas elas são uma só: alma. sob três aspectos. Pois bem: do
somente sobrevive sua essência divina se esta ficou sem mancha; enquanto
revista Light (Luz). Alguns são tão grosseiros e malévolos que nada os detém.
uma carta dirigida àquele periódico, em dois pontos tirados das conferências
138
"Os regressos prematuros à vida terrestre, quando isto ocorre,
homem estendesse a mão para impedir que uma pedra, em sua caída,
139
DA REENCARNAÇÃO OU RENASCIMENTO
mais difícil para vocês. Até agora nenhum teósofo conseguiu apresentar-me uma
prova capaz de quebrar meu ceticismo. Antes de tudo, têm contra essa teoria da
lembrasse de haver vivido antes, e muito menos de quem era durante sua vida
anterior.
Acredita que isto tira o valor de nossa doutrina? A isso respondo que não, e de
aquela objeção está baseada numa conclusão a priori, tirada de uma evidência
140
P: O que geralmente se entende por ela: a faculdade de nossa mente de
anteriores.
simplesmente um poder inato nos seres racionais, e até nos animais, para
141
idéia que buscou com trabalho e esforço, isto é reprodução". Mas o próprio
Locke deixa de nos dar uma definição clara da reminiscência, porque não é
uma faculdade ou atributo de nossa memória física, mas sim uma percepção
intuída à parte e fora de nosso cérebro físico; uma percepção que, ao ser posta
vivido anteriormente e de ter que viver de novo. Como muito bem disse
Wordesvorth:
vem de longe".
142
P: Se sua doutrina está baseada nessa classe de memória (poesia e
fantasias imaginárias, segundo sua própria confissão), neste caso acredito que não
fantasias, e é muito bem recebida tão "sábia" conclusão. Não nego que essas
visões do passado, esses rastros de luz passageira dos tempos que foram,
bom adversário deverá convir com o que diz Butler em suas Leituras Sobre a
de certas coisas ou homens, só porque não os viu com seus olhos físicos? O
31
Diz Olimpiodoro (In Platonis Phoedo): "A fantasia é um impedimento para nossos conceitos
intelectuais, e, portanto, quando estamos agitados pela influência inspiradora da Divindade, se a
fantasia intervém, cessa a energia entusiasta; porque o entusiasmo e o êxtase são contrários um ao
outro. Se se pergunta se a alma é capaz de produzir energia sem a fantasia, respondemos que sua
percepção dos universais prova que é capaz disso. Em conseqüência, tem percepções
independentes da fantasia; ao mesmo tempo, sem dúvida, a fantasia ajuda suas energias, da mesma
forma que a tempestade persegue o navegante".
143
testemunho coletivo de gerações passadas que o viram não é garantia
suficiente de haver existido Júlio César? Por que não se deve levar em
P: Mas estas não são distinções por demais sutis para que possam ser
débil para registrar todos os acontecimentos de uma vida. Com que freqüência
do homem, o fato de que a memória não registre nossas vidas anteriores não
32
A saber: o corpo, a vida, os instintos passionais e animais, e o fantasma astral — ou eidolon, de
cada homem, seja percebido em pensamento, por nosso olho mental, ou objetivamente e separado
do corpo físico; cujos princípios chamamos: Sthula sharira, Prana, Kama-rupa e Linga sharira.
Nenhum desses princípios é negado pela ciência, embora os chame de modo diferente.
144
constitutivos, e a memória junto com o cérebro. Essa memória desvanecida de
um corpo que desapareceu não pode recordar nem registrar coisa alguma na
posterior encarnação do Ego. Reencarnação significa que esse Ego deve ser
dotado de um novo corpo, novo cérebro e nova memória. Seria tão absurdo
esperar que essa memória se lembrasse daquilo que nunca pôde registrar,
em busca de manchas de sangue, se não era essa a roupa que ele vestia na
ocasião do crime. Não é a camisa limpa a que deve ser interrogada; mas, se a
P: Mas como pode uma pessoa acreditar naquilo que não sabe, nunca
que não viram, tocaram, cheiraram, ouviram nem provaram, por que não
145
próprio Ego permanente, "hipótese" muitíssimo mais lógica e importante que
qualquer outra?
Então por que não levamos conosco a recordação de nossas vidas passadas
33
Nas doutrinas buddhistas existem cinco skandhas, ou atributos: Rupa (forma ou corpo), qualidades
materiais; Vedana, sensação; Sanna, idéias abstratas; Sankhara, tendências da mente; Vinnana,
poderes mentais. Somos formados deles; por eles somos conscientes da existência, e por meio deles
nos comunicamos com o mundo que nos rodeia.
34
Por H. S. Olcott, presidente e fundador da Sociedade Teosófica. A exatidão da doutrina foi
sancionada pelo rev. H. Sumangala, Grão Sacerdote de Sripada e Gales, e Principal do Widyodaya
Parivena (Colégio), em Colombo, de acordo com o Cânone da Igreja Buddhista do Sul.
146
anteriores lhe foi revelada. . ., e quem quer que chegue a alcançar o estado de
efeitos kármicos mais marcantes), são tão passageiros como a luz dos
materialista absoluto, cuja natureza não tenha sido penetrada pelo menor raio
ator (o verdadeiro Ego), durante uma noite. Este é o motivo por que não nos
lembramos de nossas vidas passadas no plano físico, embora o Ego real que
35
Espiritual, em oposição ao eu pessoal. O estudante não deve confundir esse Ego Espiritual com o
"Eu Supremo", que é Atmã, o nosso Deus interno e inseparável do Espírito Universal (Veja no
capítulo IX).
147
T: Como puderam umas criadas de uma pobre herdade falar o
tão debatida questão. Fala-se de alma, e algumas pessoas perguntam: "O que
aos que são materialistas, mas ainda assim queria lhes dirigir esta pergunta:
que tenham vivido durante os primeiros dezoito meses ou dois anos de sua
existência? Por que, então, partindo do mesmo princípio, nos negam também
o ter vivido alguma vez como crianças?" Com relação a tudo isto concluímos
148
devakhânico unicamente a essência da experiência de sua vida terrestre
inativa, carecendo de órgãos que trabalhem nela, o que quer dizer: está sem
em primeiro lugar, o Ego Espiritual não é o Eu Supremo, que sendo uno com a
tocando violino. Isto não quer dizer que as explicações dadas pela medicina a
149
esses dois casos não tenham em si alguma verdade, pois uma das moças
ouviu, anos antes, seu professor, um pastor protestante, ler obras hebraicas
em voz alta, e a outra ouviu um artista tocar violino na casa de cômodos onde
morava. Mas nenhuma das duas poderia fazer nada disso com a perfeição com
que o fizeram, se não tivessem sido animadas por Aquele que -- em virtude da
Da individualidade e personalidade36
36
O coronel Olcott, em seu Catecismo Buddhista, obrigado pela lógica da filosofia esotérica, teve
necessidade de corrigir os erros de orientalistas anteriores que não fizeram essa diferença, e dar ao
leitor suas razões para isso. Diz: "As aparições sucessivas sobre a terra, ou descidas na geração das
partes tanhaicamente coerentes (skandhas) de um ser determinado, são uma sucessão de
personalidades A Personalidade difere em cada nascimento, tanto do anterior como do sucessivo.
Karma - o deus ex-machina, se oculta (diremos melhor, que se reflete?) a si mesmo, ora na
personalidade de um sábio, ora sob a forma de um artesão, e assim sucessivamente, através de toda
a série de existências. Mas embora as personalidades sempre mudem, a linha única de vida que as
enfia como as contas de um rosário permanece unida; é sempre essa linha particular, nenhuma
outra. Portanto, é uma ondulação individual e vital que principiou em Nirvana, o lado subjetivo da
Natureza, como a ondulação da luz ou do calor, propagada através do éter, nasceu numa origem
dinâmica; percorre o lado objetivo da Natureza sob o impulso de Karma e a direção criadora de tanha
(desejo de viver não satisfeito); e conduz através de muitas mudanças cíclicas, novamente ao
Nirvana”. O sr. Rhys-Davis chama àquilo que passa de personalidade a personalidade pela cadeia
individual, o "caráter" ou "ação". Uma vez que o "caráter" não é uma simples abstração metafísica,
mas sim a soma de nossas próprias qualidades mentais e propensões morais, não conviria repelir ou
desvanecer o que o sr. Rhys-Davis chama de "o desesperado expediente de um mistério"
(Buddhismo, pág. 101), e considerar a ondulação da vida como a individualidade e a cada uma de
suas manifestações natais, como uma personalidade separada? O indivíduo perfeito,
buddhisticamente falando, é um Buddha; mas Buddha não é mais do que a flor rara da humanidade,
sem a menor mistura sobrenatural. E como é necessário um sem-número de gerações, "quatro
asankheyyas e cem mil ciclos", segundo Fansböll e Rhys-Davis (Buddhist Birth Stories. pág. 13),
para converter um homem em Buddha, e a vontade de ferro para se converter em tal permanece
através de todos os nascimentos futuros, como chamaremos àquele que deste modo quer e
persevera? O caráter? “Nossa individualidade; uma individualidade apenas em parte manifestada em
qualquer nascimento nosso, mas constituída por fragmentos de todos os nascimentos?"
150
T: Esforço-me em explicar, mas, com alguns, é mais difícil consegui-
são:
II. Buddhi (a alma espiritual) é apenas seu veículo. Nem Atma, nem
Buddhi por si, nem os dois coletivamente, são mais úteis ao corpo do homem
seus raios, a menos que "a dualidade divina seja assimilada por alguma
consciência, e reflita nela". Nem Atma nem Buddhi poderão ser alcançados
por Karma, porque o primeiro é o mais elevado aspecto de Karma, seu próprio
151
III. Manas37 -- o derivado (ou produto), em forma reflexa, de
Espiritual, quando está inseparavelmente unido aos dois primeiros, bem como
inconsciente dela (uma vez que não tinha ciência), fez dessa forma -- humana
responsável, ainda, por todos os pecados cometidos por cada novo corpo ou
P: Mas isto é justo? Por que deve ser castigado esse Ego por fatos que já
esqueceu?
T: Não os esqueceu; sabe e recorda suas más ações, tão bem como
você se lembra do que fez ontem. Pelo fato de a memória desse conjunto de
37
Mahat, ou a Mente Universal, é a origem de Manas, e este é o mahat, isto é, a mente no homem.
Também se chama a Manas de Kshetrajña, espírito encarnado, porque, conforme nossa filosofia, os
Manasaputras, ou "Filhos da Mente Universal", são os que criaram, ou, dizendo melhor, produziram
ao homem pensador, manu, encarnado na terceira raça da humanidade em nossa Ronda. Por
conseguinte, Manas é o verdadeiro e permanente Ego Espiritual que se encarna, a Individualidade,
e, nossas inumeráveis e diferentes personalidades são apenas seus aspectos externos.
152
T: Lógico que há; mas jamais foram reconhecidos pelos modernos
demonstra até que ponto chega sua intuição em alguns de seus comentários!
ante cada alma humana a experiência coletiva de toda sua existência passada
P: Ouvi você dizer que o Ego — qualquer que tenha sido a vida da
vida anterior, então, também deveria haver recompensas para este Ego, seja aqui,
ou depois de desencarnado.
153
T: E assim sucede. Se não admitimos nenhum castigo fora desta
amor, justiça e misericórdia absolutos. E crendo nisto, dizemos: seja qual for o
nascimento. Ele não pede para nascer, nem elege os pais que lhe darão a vida.
sobre as quais não tem ação nem poder, e investigando imparcialmente cada
uma das suas transgressões, o resultado seria que nove em cada dez casos,
38
Sobre essa transgressão foi baseado o cruel e ilógico dogma dos anjos caídos, que está explicado
no vol. II da Doutrina Secreta. Todos os nossos Egos são entidades pensantes e racionais
(Manasaputras), que viveram sob forma humana ou outras, no ciclo de vida precedente (Manvantara),
e cujo Karma era o de encarnar-se no homem no presente ciclo. Ensinavam nos Mistérios que,
deixando de cumprir com esta lei (ou havendo se "negado a criar", como diz o hinduísmo dos Kumara
e a lenda cristã do arcanjo São Miguel), isto é, não tendo se encarnado no devido tempo, os corpos
que lhes estavam predestinados se corromperam (Veja Stanzas, VIII e IX, nas Slokas de Dzyan, Vol.
II da Doutrina Secreta). Daqui nasceu a idéia do pecado original nas formas sem entendimento, e do
castigo dos Egos. A lenda dos anjos rebeldes precipitados no inferno é explicada de forma muito
simples pelo fato desses Espíritos ou Egos puros verem-se aprisionados em corpos de matéria
impura (a carne).
154
ele foi o ofendido e não o ofensor ou pecador. Em essência a vida é um fogo
cruel, um mar borrascoso que deve ser cruzado e, às vezes, um peso muito
Significando nada..."
bom ou mau, culpado ou inocente, uma vez livre do peso da vida, o Manu
155
agora desencarnada, um longo período de descanso mental, isto é, o completo
feliz. Plotino, que afirmou ser nosso corpo o verdadeiro rio Leteu, porque "as
almas que nele submergem tudo esquecem", queria dizer alguma coisa além
do que disse. Porque assim como nosso corpo terrestre se assemelha ao rio
Leteu, o mesmo sucede com nosso corpo celeste em Devakhan, e muito mais.
T: Quem disse isso? Nossa filosofia tem uma doutrina de castigo tão
culpável, deixará de receber o seu castigo; mais severamente este último que
39
"Eu porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já cometeu adultério
com ela em seu coração" (Mateus, V, 28).
156
concedido uma compensação suficiente e até multiplicada à alma libertada dos
disposto por esta misteriosa Lei, inexorável mas infalível em sua eqüidade e
diabos com rabos e chifres, onde é precipitado o Ego, mas sim nesta terra,
plano e região de seus pecados, e onde terá que expiar cada mau pensamento
culpa da personalidade passada, mesmo que esta não tenha sido mais que um
que fosse feito em farrapos, quando arrancado das costas do homem que o
roubou, por aquele que foi roubado e reconheceu sua propriedade? A nova
"personalidade" é como uma roupa nova, com sua forma, cor e qualidades
157
"personalidade". Somente isto, e nada além disto, nos pode dar razão da
homem na vida. Nenhum filósofo moderno nos deu uma boa razão por que
sofrer durante toda sua vida; por que tantos nascem pobres a ponto de morrer
de fome nas ruas das grandes cidades, abandonados pela sorte e pelos
homens; por que uns nascem em casebres enquanto outros vêm à luz dos
palácios; por que acontece tão freqüentemente estar a nobreza e a fortuna nas
mãos dos homens piores, e raras vezes dos bons; por que existem mendigos,
cujo "eu interno" é igual ao dos homens superiores e nobres; só quando tudo
isto for satisfatoriamente explicado, quer por seus filósofos quer por seus
poetas entreviram essa verdade das verdades. Shelley acreditou nela, e deve
nascimento:
ascendente?
158
KAMA- LOKA E DEVAKHAN
abandonam para sempre; isto é: o corpo, a vida e o veículo dela, o corpo astral
enfim, uma localidade somente em um sentido relativo. Não tem área definida,
nem tampouco limites, mas existe dentro do espaço subjetivo, isto é, fora do
esperam sua segunda morte. Esta última vem, para os animais, com a
159
recebendo luz alguma da mente superior e sem cérebro físico para poder se
manifestar, desaparece.
P: De que modo?
nem mesmo em um plano animal inferior. Não é sequer o manas inferior, pois
sessões espíritas?
inconscientemente por um médium, reviveu por algum tempo e nele viveu por
viva, que tem uma aparência gelatinosa etérea enquanto está em seu próprio
aura do médium uma espécie de vida fictícia; e raciocina e fala, pelo cérebro
longe entrando em terreno alheio, que não desejo violar. Fiquemos no nosso
assunto, a reencarnação.
160
P: Quanto tempo permanece em estado devakhânico o Ego que se
encarna?
mortais, como acreditam os espíritas? Existe alguma razão que se oponha a que a
mãe se comunique com os filhos que deixou na terra, um marido com sua mulher
etc? Confesso que acho uma crença muito consoladora e não estranho que os que a
ficção, por "consoladora" que seja. Nossas doutrinas podem desgostar aos
espíritas, mas, sem dúvida, nada do que cremos e ensinamos é tão cruel e
lugar de felicidade (melhor dizendo estado), nos diz a lógica que nele não
promessas que "Deus enxugará todas as lágrimas dos olhos daqueles que
161
tudo o que está se passando sobre a terra, e especialmente em suas casas,
sentimentos que sua última personalidade teve — isto é, amor pelos filhos,
compaixão pelos que sofrem etc.; dizemos que então está inteiramente
pelo contrário, sustentam que eles se dão conta delas mais que antes, porque
consciência post-mortem espiritual da mãe a fará sentir e ver que vive rodeada
de seus filhos e de todos aqueles a quem amou; e não faltará nada que
o desgraçado ser humano não se livra das penas desta vida nem mesmo com
seus lábios; nolens volens, uma vez que agora vê tudo e há de apurá-lo até o
162
fim. Desse modo a esposa que durante sua vida esteve disposta a evitar
que derrama por sua perda. Pior ainda: pode observar que as lágrimas secam
demasiado rápido, e pode ver outra mulher junto ao pai dos seus filhos,
de mãe a uma mulher que não sente por eles mais que indiferença, e
acordo com esta doutrina "a tranqüila e doce ascensão à vida imortal"
mortos, os "queridos ausentes", que escrevem para avisar quão felizes todos
eles são! Esse conhecimento é compatível com o que sucede na terra, com a
P: E como sua teoria resolve este ponto? Como podem conciliar a teoria
163
conseguinte, seguem-no a Devakhan. Durante esse tempo o Ego converte-se
no reflexo ideal do ser humano que ultimamente existiu na terra; e este não é
direi que isto é assim porque, fora da verdade eterna, que não tem nem forma,
nem cor, nem limites, tudo é ilusão (maya). Aquele que se colocou fora do véu
de maya (como sucede com os adeptos e iniciados mais elevados), não pode
ter Devakhan. Enquanto que para o comum dos mortais, sua bem-aventurança
durante seu ciclo intermediário entre duas encarnações, rodeada por tudo
maior.
alucinações!
T: Sob seu ponto de vista, pode ser que seja assim, mas não o é,
dentro da filosofia. Ao lado disto: não é toda nossa vida terrestre cheia de tais
164
ilusões? Você nunca encontrou homens e mulheres que vivem durante anos
por ela amado, e igualmente se crê amada — , no entanto, a trai, você teria
alucinação de Devakhan — se você aceita esse nome — não são mais do que
perspectiva muito mais atraente do que a ortodoxa, com sua harpa dourada e
seu par de asas. Acreditar que "a alma vivente ascende com freqüência à
alucinação de caráter muito mais ilusório, porque todos sabemos que as mães
"terra de verão" (summer land), que descrevem (algo mais natural, mas
exatamente tão ridícula quanto a "nova Jerusalém"), bastaria para fazer perder
todo o respeito pelos seus "ausentes." Crer que um espírito puro pode ser feliz
165
mais bem que os queira, sem poder prestar-lhes auxílio, seria um pensamento
forma material, e muito, muito mais perto então, que quando estávamos vivos.
E isto não é apenas uma ilusão da entidade devakhânica, como possa parecer
a alguns, mas sim uma realidade. Porque o puro amor divino não é apenas a
flor de um coração humano, mas tem suas raízes na eternidade. O santo amor
espiritual é eterno, e cedo ou tarde Karma faz com que os que se amaram com
esse afeto espiritual, encarnem mais uma vez no mesmo grupo, ou família.
vivos. O amor que o Ego de uma mãe sente pelos filhos imaginários que vê
perto de si (ao viver uma felicidade que é tão real para ela como quando se
encontrava na terra), seus filhos sempre sentirão este amor durante a vida. Vai
limitado pelo espaço nem pelo tempo. O que acabamos de dizer com relação a
166
P: Então, em nenhum caso admitem a possibilidade de comunicação dos
Nirmanakayas.
P: Quem são estes? Que significado tem esse nome para vocês?
40
Não ao Devakhan, pois este é uma ilusão de nossa consciência, um sonho feliz; e os que são
dignos do Nirvana necessariamente perderam todo desejo, ou possibilidade de desejo, das alusões
do mundo.
167
seus princípios, até na vida astral de nossa esfera. Eles podem se comunicar
os médiuns comuns.
alemãs e outras que este era o nome dado nas doutrinas buddhistas do norte, às
e subjetivo.
T: Não muito, com relação aos indivíduos, uma vez que não têm o
o bem geral. Mas sem dúvida fazem maior número de ações benéficas do que
Para elas, nenhuma porção de nossa inteligência pode sobreviver ao cérebro físico.
perpetua depois que o corpo morre. Porque não é somente uma questão de
168
cérebro. . . Pelo que já sabemos, pode-se sustentar com a razão a
contidas em seu discurso de julho de 1884. Melhor dizer que este eminente
T:
1ª -- Que existe uma vida que coincide com a vida física do corpo e
41
Pag. 69 de Spirit Identity.
42
"Coisas que sei do Espiritismo, e outras que não sei."
169
3ª — Que existe comunicação entre os que vivem naquele estado de
alma animal possa fazê-lo. Mas vamos voltar ao nosso assunto principal, ou
seja, os skandhas.
170
Algumas palavras sobre os skandhas
T: São e não são; outro mistério metafísico e oculto para vocês. São
com acessos a nova glória, novo conhecimento e poder em cada ciclo, tal é o
destino de todo Ego, que deste modo se converte em seu próprio Salvador em
171
condena à perdição a todos aqueles que não aceitam o dogma. Precisamente
ou estado de Buddhi.
metafísicos?
produz uma inexplicável confusão na terra, e que quer, além do mais, que por
isso lhe demos graças; então, quanto antes cortarmos esta conversa, melhor.
da consciência que sobrevive à morte. Este é um ponto que interessa à maioria das
terrestre?
172
T: Num certo sentido podemos adquirir maiores conhecimentos, isto
prezamos e que nos esforçamos em fazer nossas durante a vida, contanto que
última encarnação. Assim é que, se refletir sobre o que já disse e enlaçar todos
mas sim uma continuação transcendente da vida pessoal que acaba de findar.
finda; que o corpo humano simplesmente se desintegra nos próprios elementos que
passageira, filha e produto indireto da ação orgânica, que se dissipará como o vapor.
173
Da consciência após a morte e após o nascimento43
de haver exceções?
nenhuma exceção. Mas existem leis para os que vêem, e leis para aqueles que
aberração do homem cego que nega a existência do sol porque não o vê. Mas,
depois da morte, seguramente seus olhos espirituais o obrigarão a ver. Não é isto o
43
Algumas partes deste capítulo e do anterior foram publicadas na revista Lúcifer, sob a forma de um
"Diálogo sobre os Mistérios da Vida Futura", no número de janeiro de 1889. O artigo não estava
assinado, como se fosse escrito pelo editor, mas era da autora do presente volume.
174
intervalo entre duas vidas ou nascimentos, como de um estado simplesmente
transitório, digo: quer seja que o intervalo entre dois atos do drama ilusório da
vida dure um ano ou um milhão deles, pode esse estado post-mortem — sem
universo que está baseada na evidência dessa inteligência; não pode dar-nos a
visão espiritual. A Escola Oriental diz que entre Buddhi e manas (o Ego), ou
44
Iswara é a consciência coletiva da Deidade manifestada, Brahma, isto é, a consciência coletiva da
Hoste dos Dhyan-Chohans (veja Doutrina Secreta); e Pragna é a sabedoria individual destes.
175
P: Se entendi bem, nesta comparação Buddhi representa o bosque e
com suas mudanças acidentais de forma. Tenha presente de que se pode dizer
com a luz de Buddhi refletida nele. Ao mesmo tempo, Buddhi, sozinho, seria
um espírito impessoal, sem este elemento emprestado pela alma humana que
o condiciona e faz dele, neste universo ilusório, como se fosse uma coisa
cuja alma humana não só não recebe nada da alma divina, como se nega a
45
Taijasa significa o radiante, em virtude de sua união com Buddhi; isto é, manas, a alma humana,
iluminada pela radiação da Alma divina. Por conseguinte, Manas-Taijasa pode ser descrita como a
mente radiante; a razão humana iluminada pela luz do espírito; e Buddhi-Manas é a revelação do
intelecto divino mais o intelecto e a própria consciência humana.
176
imortalidade aos atributos e qualidades da alma humana; pois seria o mesmo
que dizer que sendo sua alma divina imortal, é também imortal a frescura de
transitório.
alma humana só, reduz-se a uma mera questão de tempo, porque depois da
nossa vida, recolhemos somente o fruto daquilo que nós mesmos semeamos
nela.
Ego encontra o castigo kármico. Depois da morte, apenas recebe o prêmio dos
46
Alguns teósofos discordaram desta frase, mas as palavras são do Mestre, e seu sentido unido à
palavra "imerecidos", é o que foi dado antes. No folheto número 6, da T.P.S. (Sociedade Teosófica de
Publicações), empregava-se uma frase com a mesma idéia, de que depois se fez uma crítica em
Lúcifer. A palavra era "desgraçada" e se prestava à crítica que se fez dela; mas a idéia essencial era
que os homens sofrem freqüentemente por efeito de ações consumadas por outros; efeito que não
177
Todo o castigo depois da morte - - até para um materialista - - consiste,
espiritual, mas Karma é também a mãe carinhosa e eterna que cura as feridas
infligidas por ela durante a vida anterior, sem torturar aquele Ego, causando-
lhe novos sofrimentos. Se se pode dizer que não existe nenhum sofrimento - -
direta de algum pecado cometido em uma existência prévia; por outro lado, o
considera que não merece tal castigo e que está sofrendo por um crime que
não é seu. Basta isso para que a alma humana tenha direito ao consolo,
salvadora e amiga. Para o materialista, que não foi mau apesar de seu
que para o mortal comum, será um sonho tão vivo e animado como a própria
faz parte essencialmente de seu próprio Karma, e, como é natural, merecem a compensação desses
sofrimentos.
178
P: Então o homem pessoal continuará sempre sofrendo cegamente as
mesmo quando a morte for repentina — vê sua vida passada traçada inteira
ante seus olhos, em seus menores detalhes. Durante um rápido instante, o Ego
basta este instante para revelar toda a cadeia de causas postas em ação
espectador que dirige seu olhar para o mundo que está abandonando; e então
e bons não apenas vêem a vida que estão deixando, como até várias vidas
majestade e justiça.
179
o Ego recupera toda sua consciência manásica, e, por um momento, volta a
ser o Deus que era antes de que, em cumprimento da lei kármica — desceu
P: Isto não me parece muito claro e vou dizer por quê: para o homem que
desperta, começa outro dia — mas esse homem é, em corpo e alma, o mesmo do
dia anterior; ao passo que, em cada encarnação, há uma mudança completa, não só
antes. Mas nenhum de nós guarda a menor recordação de uma vida anterior ou de
180
qualquer jato ou acontecimento relacionado com ela. . . Posso de manhã ter
esquecido o que sonhei durante a noite, mas, sem dúvida, sei que dormi e tenho
segurança de que vivi enquanto dormia. Mas que recordação posso ter de minha
encarnações passadas.
caráter do sono e suas três classes. Tanto para o homem como para o animal,
o sono é uma lei geral e imutável; mas existem diferentes classes de sono,
que, embora não negue os sonhos — porque dificilmente poderia fazê-lo - - sem
manas, e para manas somente, não há imortalidade possível. Para poder viver
181
imortalidade post-mortem da alma, está baseada nesses aforismos da Ciência
mesmos durante a vigília, por que não se pode admitir o mesmo com relação
freqüência, foi composto por nós mesmos; a realização prática das crenças
insensatos, criado segundo o gosto de cada um. Estes são os frutos post-
realidade incondicionada do fato em si, uma vez que existe; mas a crença ou
independentes ou separadas, não pode deixar de dar cor àquele fato, em sua
P: Creio que sim. O materialista repelindo tudo aquilo que não pode ser
provado por meio de seus cinco sentidos, ou pelos arrazoados científicos, baseado
exclusivamente nos dados que esses sentidos podem lhe proporcionar, apesar de
182
como a única existência consciente. Portanto, sua vida futura corresponderá às suas
crenças. Perderá seu Ego pessoal e submergirá num sono vazio até um novo
nas quais — com exceção de seu protótipo espiritual — tudo está submetido a
refletiu Buddhi algum, como pode este levar sequer uma partícula daquela
183
T: A flor, como todas as flores passadas e futuras que brotaram ou
Buddhi, se converterá em pó. Seu presente "Eu", como você sabe, não é o
corpo que neste momento está diante de mim, nem mesmo o que eu chamaria
P: Mas isto de forma nenhuma explica por que chama de imortal, infinita e
real a vida que sucede a morte, e mero fantasma ou ilusão à vida terrestre, uma vez
que até essa vida post-mortem é limitada, mesmo sendo seus limites muito mais
e seu fim; por outro lado, o peregrino espiritual é eterno. Assim é que as horas
184
e sem eles o Ego divino jamais conseguiria alcançar sua meta. Já usei um
papéis que o desgostam e molestam. Mas assim como a abelha recolhe o mel
de cada flor, deixando o resto para alimento dos vermes da terra, da mesma
existente: para tudo o que existe como sat, ou emana de sat, a imortalidade e a
ambos não formam mais que um. A essência de tudo isto, quer dizer, o
Espírito, a Força e a Matéria, ou seja, os três em um, não tem fim, como
tampouco tem princípio; mas a forma adquirida por esta tríplice unidade
185
durante suas encarnações, sua exterioridade, seguramente não é mais que a
P: Mas neste caso, por que chamar realidade ao sonho e ilusão ao estado
de vigília?
muito correta.
que quando se trata dos materialistas — entre os quais se contam muitos homens
186
T: De forma nenhuma. Uma pessoa durante uma longa viagem de
trem pode dormir profundamente e deixar passar várias estações, sem a mais
continuar a viagem, passando por inumeráveis estações, até por fim chegar ao
término. Falei em três classes de sono: o sono sem sonhos, o caótico e o sono
acredita no último, por que não pode crer no primeiro? Conforme a crença que
o homem teve com relação à sua vida futura, e o que dela esperou, assim será
o que o aguarda. Quem não esperou vida futura alguma, encontrará um vazio
— programa traçado pelos próprios materialistas. Mas, como você disse bem,
portanto, sem nada que dar ao Sutratma, resulta que toda relação entre ambos
fica rota com o último suspiro. Como não existe nenhum Devakhan para essa
187
P: Não seria talvez mais correto dizer que a morte é o nascimento a uma
são fracassos da natureza. Aliás, dentro das idéias fixas ocidentais sobre a
filósofos - com exceção de alguns poucos não lidos pela maioria das pessoas -
ainda mais material de outra vida, formulado pelos espíritas em seu "país de
estio" (summer land), onde as almas dos homens comem, bebem, casam-se e
vivem num paraíso tão sensual como o de Mahoma, e ainda menos filosófico.
cristãos sem cultura, senão mais materialistas ainda, se isto for possível; pois
com seus anjos incompletos, suas trombetas de metal, suas harpas douradas
e seu fogo material do inferno, o céu cristão mais se parece a uma cena de
188
toda forma grosseira objetiva da vida terrestre, é que os filósofos orientais a
respectivas funções dos "princípios", é exatamente por que não existem termos
P: .É bom, para que se evite maior confusão daqui para a frente. Parece
que não se encontram dois escritores teosóficos que estejam de acordo em chamar
189
sobre o "Eu Supremo47", e também seu verdadeiro pensamento foi mal
interpretado por alguns, por empregar a palavra "alma" em sentido geral. Vou
47
Transcrições da London Lodge da Sociedade Teosófica, número 7, outubro 1885.
48
O "Ego que se reencarna", ou alma humana, como ele o chamava (o Corpo Causal para os
vedantinos).
190
gradual49; que na realidade, nenhuma linha de demarcação
49
A duração desta "transferência" sem dúvida depende do grau de espiritualidade da ex-
personalidade do Ego desencarnado. Para aqueles cujas vidas foram muito espirituais, essa
transferência, embora gradual, é muito rápida. A duração é maior para aqueles por demais inclinados
à matéria.
191
completa que passa toda ela de um estado de existência a
"objetivo", nem sequer para a percepção espiritual mais elevada. Porque Atmã,
deveria ser aplicado esse termo, exceto referindo-se ao Self (Eu) Único e
192
espiritual", não é o self, mas tão-somente o veículo do self. Todos os demais
Selves (Eus), como o Self ou "Eu Individual", e o Self ou "Eu pessoal", jamais
característicos.
ao sexto princípio ou Buddhi (em união com manas, já que sem essa união não
lugar a erros. A declaração que "uma criança não adquire seu sexto princípio -
Karma — até a idade de sete anos", prova o que se quis dizer com a expressão
sem estar bem preparado para esta confusão de termos metafísicos50, quando
50
"Confusão de termos metafísicos" aplica-se aqui unicamente na mudança de equivalentes
traduzidos das expressões orientais; até o momento jamais existiram termos semelhantes em inglês,
razão pela qual cada teósofo teve que criar seus próprios termos para expressar sua idéia. É .tempo,
portanto, de fixar-se uma nomenclatura definitiva.
193
manas, ou melhor, a Buddhi-manas, no citado "Ego espiritual". Como
Para evitar tais erros daqui para a frente, minha idéia é traduzir
emprego.
Único —, seu aspecto inferior, ou, dizendo melhor, mais físico em seus efeitos,
194
Atmã, o raio inseparável do Eu Uno e Universal. É o
O EU SUPREMO é Deus que está por cima melhor que dentro de nós. Feliz
o homem que consegue impregnar dele seu Ego interno!
195
NATUREZA DE NOSSO PRINCÍPIO PENSANTE
DO MISTÉRIO DO EGO
uma divergência que gostaria de ver explicada. Diz ele que os skandhas — inclusive
a memória — mudam a cada nova encarnação, e nos assegura que o reflexo das
integradas pelos skandhas. Neste momento não vejo claramente o que sobrevive e
desejo saber. O que é? Tão somente aquele "reflexo", são esses skandhas, ou é
indestrutível como entidade que pensa e até como forma etérea. O "reflexo"
o Ego durante aquele período. Como este período devakhânico não é mais que
identificar, ele mesmo, com a consciência pessoal dessa vida, se é que restará
algo dela.
P: Isto significa que o Ego, apesar de sua natureza divina, passa cada
passageiro.
196
T: Você pode dar a apreciação que quiser. Acreditando, como
cremos, que fora da Única Realidade, tudo o mais não passa de uma ilusão
nossa juventude geralmente nos entusiasmamos por um ideal, por algum herói
cinqüenta anos que é o mesmo ser de quando tinha vinte? O homem interno é
197
pelos sentidos físicos, e como depende deles, deve desvanecer-se e morrer,
198
"Estas não são as plantas verdadeiras; relativamente não
momento".
que encontramos a raiz da consciência, essa raiz que se acha fora de toda
diretamente daquela raiz invisível superior, ou está ligado a ela, pode participar
de sua vida imortal. Daí que todo pensamento, idéia e aspiração elevados da
199
P: Mas como se explica que manas — apesar de o chamarem Nous —
um "Deus", seja tão débil durante suas encarnações que permaneça vencido e
prisioneiro de um corpo?
aquele a quem consideram como o Deus dos Deuses e o Único Deus vivo, é
tão débil que permite ao mal (ou ao Diabo), que possa vencê-lo assim como a
todas as suas criaturas, tanto enquanto estava no céu, como quando estava
religiosa não nos proíbe, respondo sua pergunta dizendo que, exceto no caso
encontram-se adormecidos em todo ser humano; e quanto mais ampla for sua
visão espiritual mais poderoso será seu Deus interno. Mas poucos são os
ela, arraigados em nós desde a meninice. Por estas razões é tão difícil
200
ou "nosso Pai Secreto", é o que chamamos o "Eu Supremo", Atmã. Nosso Ego
seu fim, já não é um Deus livre e feliz, mas sim um pobre peregrino que tenta
o que disse sobre o Homem Interno em Ísis sem Véu (volume II, pág. 593, ed.
inglesa):
201
Karma, pois que o homem - - tal como a aranha — tece fio
202
T: Essa natureza misteriosa, mutável, fora de todo alcance, quase
tido por responsável, e a cada uma das quais tem de sofrer. Tudo isto parece
que nome se lhe dê — divino em sua natureza essencial, mas não bastante
puro para ser uno com o Todo, necessitando purificar sua natureza para
mais na escala do Ser, tem que passar por todas as experiências dos planos
203
Egos que se encarnam animando a massa de matéria animal chamada
inclinado à Kama, ou manas inferior. Um gravita até Buddhi, o outro tende para
baixo, até o centro das paixões e dos desejos animais. Para estes últimos não
há lugar em Devakhan, nem podem associar-se com a Tríade divina que, como
corpo, não se disse tudo. O corpo, que só era o símbolo objetivo do sr. A. ou
da sra. B., extingue-se com todos seus skandhas materiais, que são as
expressões visíveis dele. Mas todo aquele que durante a vida constituiu um
entidade terrestre que desapareceu de nossa vista. O ator está tão imbuído do
papel que acaba de representar, que sonha com ele durante a noite
204
devakhânica inteira; e essa visão dura até que soa para ele a hora de voltar ao
P: Mas como se explica que esta doutrina, que conforme sua afirmação é
tão antiga quanto o pensamento humano, não tenha penetrado na Teologia cristã?
modo, que ficou desconhecida, como sucede com muitas outras doutrinas. A
Teologia chama ao Ego o anjo que Deus nos dá no momento de nascer, para
alma, o Hálito imaterial de Deus e sua pretensa criação, a que, graças a um dos
"anjo", depois de dobrar suas brancas asas, que umedece com algumas
lágrimas, escapa ileso. Sim, desta forma são nossos "espíritos defensores", os
51
Já que é de uma "natureza como o amianto, ou asbesto", conforme a eloqüente e fogosa
expressão de um moderno Tertuliano inglês.
205
Sem dúvida fica evidente que se pedirmos a todos os bispos do
mundo inteiro, uma definição clara e terminante sobre o que entendem por
arrepender até o último momento. Além disso, não ensina o aniquilamento, ou perda
"vara". "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai o lavrador. Toda a vara em
mim, que não dá fruto, a arranca... Como a vara de si mesma não pode dar
206
fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
Eu sou a videira, vós as varas. Se alguém não estiver em mim, será lançado
arbitrária?
isto é, que criou a humanidade. Vemos na cabala que o Ancião dos Anciões,
cepa ou videira, que significa a vida. Por esta razão, o espírito do "rei Mesiah"
52
Durante os Mistérios, o Hierofante era o "Pai" que plantava a vinha. Cada símbolo tem suas
sete chaves. O revelador do Pleroma, sempre era chamado "Pai".
53
Zohar, XL, 10.
207
Codex nazareno. Sete são os troncos ou videiras criadas — que são nossas
Sete Raças, com seus sete Salvadores, ou Buddhas — que nascem de Jukabar
de São João.
uma obra oculta. Ele é o "homem Deus" de Platão, que se crucifica a si mesmo
caso fortuito, muito raro, de perder uma de suas personalidades — por carecer
progresso individual.
54
Codex Nazareus, Liber Adami Appellatus, III, 60, 61.
55
Ibid, II, 281.
208
T: De maneira nenhuma, a não ser que nada tenha feito para impedir
essa horrível sorte. Mas se apesar de todos seus esforços, sua voz — a da
— opõe-se com as teorias ideais tanto dos cristãos como dos espíritos, embora, até
harmonia. Como já disse em Ísis sem Véu, a força centrípeta não poderia se
todas as formas e seu progresso, são produtos dessa força dual na natureza.
centrípeto da alma terrestre que tende ao centro que a atrai; detenha seu
209
harmonia do conjunto. Somente pode continuar a vida pessoal ou, talvez
melhor, seu reflexo ideal, por meio da dupla força, isto é, pela união íntima de
mais e mais desse raio, o Ego espiritual, ou manas, uma vez livre dos laços da
Hades, que nós chamamos de Kama-Loka. Estas são as "varas secas" que
teatro espírita das "materializações". Mas você pode estar seguro de que não
210
são elas que se encarnam; e por isto tão poucos entre os "queridos ausentes"
erros.
P: Mas a autora de Ísis sem Véu não foi acusada de pregar contra a
reencarnação?
T: Sim, por aqueles que não compreenderam o que foi dito. Na época
obra sobre reencarnação era dirigido aos espíritas franceses, cuja teoria é tão
própria filha ainda por nascer, e assim sucessivamente. Não existe nem
entre mil e mil e quinhentos anos, se esta é a crença fundamental tanto dos
respectivas crenças fundamentais. Uns e outros confiam no que lhes diz seus
211
discordamos de uns e outros. A verdade é una; e quando vemos os espectros
"espíritos dos mortos", assim como também na comunicação direta nas "sessões"
espíritas, pode me inteirar de outro ponto? Por que alguns teósofos não se cansam
de meio século com essas "influências" invisíveis (mas, sem dúvida, bastante
P: Pode dar-me algum exemplo que demonstre o perigo que tais práticas
encerram?
212
T: Isto necessitaria mais tempo do que posso dedicar a esse ponto.
Toda causa deve ser julgada pelos efeitos que produz. Repasse a história do
América neste século, e julgue você mesmo sobre o resultado bom ou mau,
verdadeiro Espiritismo, mas sim contra o movimento moderno que leva esse
neles e que (salvo em alguns casos de engano deliberado) sei que são tão
certos como você e eu estarmos vivos, é porque meu ser inteiro se rebela
contra eles. Repito que falo somente dos fenômenos físicos e não dos
anos de sua vida sob a direção imediata, e até sob a proteção de "espíritos"
pertencem ao tipo dos "John Kings" e dos "Ernestos" que figuram nas
213
Este enobrece e santifica; a natureza do primeiro pertence exatamente aos
pecaminosa e cruel por todas as nações inteligentes, uma vez que perturba o
214
epilético; Eglinton (hoje em dia o melhor médium da Inglaterra), sujeito à
áspero e amargurado, que jamais teve uma palavra boa para aqueles que
Washington Irving Bishop. Conheci-o em Nova York quando ele tinha quatorze
anos, e sem dúvida alguma era um verdadeiro médium. Verdade que o pobre
homem pregou uma peça "a seus espíritos", batizando-os com o nome de
sábios e cientistas tolos, ao mesmo tempo que enchia seu bolso. Mas de
mortuis nil nisi bonum; sua morte foi má. Ocultou tenazmente seus ataques
Reuter, seus pacientes insistem em que estava vivo. Enfim considere as mais
como sua filosofia, são total engano. Agora pergunto: que classe de
215
T: Se os melhores alunos de uma escola especial de canto
tiraria desse fato? Seguramente a de que o método seguido não era bom. Por
como inimigos. Como estamos de posse de uma filosofia mais antiga tratamos
seriamente de suas crenças, dizem exatamente o mesmo que nós. Ouça o sr.
Daqui para frente não queremos ter nada com o Espiritismo. Agora voltemos à
reencarnação.
56
Segunda Vista — introdução.
216
DOS MISTÉRIOS DA REENCARNAÇÃO
OS RENASCIMENTOS PERIÓDICOS
ronda e quinta raça, é mais fácil imaginar sua duração do que expressá-la.
o tempo?
pode muito bem ser comparado com a vida humana. Como cada vida é
devakhânico.
reencarnação?
pode ser atingido o progresso perpétuo dos inumeráveis milhões de Egos até
217
a perfeição, e um descanso final por tanto tempo quanto haja durado o período
de atividade.
encarnações?
regula a ordem das coisas, e todas as demais leis da natureza como forças
cegas e leis mecânicas, não há dúvida de que Karma será uma lei ou
capaz de descrever o que é impessoal, o que não é uma entidade, mas sim
que existe nisso, responderei que não sei. Mas se deseja que defina seus
efeitos e que, segundo nossas crenças, diga quais são, posso dizer que a
da natureza, e corrige os erros com estrita justiça; é uma lei retributiva que
respeita a pessoa alguma", e, por outro lado, não se deixa aplacar nem
modificar por meio da oração. Esta crença é comum aos hindus e aos
218
P: Os dogmas cristãos contradizem a ambos, e duvido que algum cristão
T: Não; e faz muitos anos que Inman nos explicou o porquê. Como
disse muito bem: "Os cristãos admitirão qualquer contra-senso, sempre que a
nada que esteja em contradição com a razão, pode ser uma verdadeira
partes prejudicadas.
ato, palavra ou pensamento produz sua conseqüência, que mais cedo ou mais
tarde há de surgir, seja nesta vida, seja em um estado futuro. As más ações
no sangue que ele ofereceu pela expiação dos pecados da humanidade inteira,
219
mais insignificante por nenhum Deus, ainda que fosse "pessoal Absoluto" ou
representada por Karma, é a de um poder que não pode errar e que não pode,
sentença de Jesus: "Com a mesma medida com que medirdes sereis medidos"
(Mateus, VII, 2), não faz alusão nem pela expressão da frase, nem
das ofensas. "Não resista ao mal", e "Devolve o bem pelo mal", são preceitos
justiça por suas próprias mãos é sempre um ato de orgulho sacrílego. A lei
humana pode usar de medidas restritivas, não de castigos; pois aquele que
intervém no castigo por sua própria conta, pois com isso cria uma causa de
renascimento seguinte.
220
P: Podemos, portanto, inferir o estado passado de um homem pelo seu
presente?
comuns, não podemos conhecer o que foram esses pecados; assim como,
pelos poucos dados de que dispomos, nos é impossível determinar o que deve
Que é Karma?
Lei infalível que ajusta o efeito à causa, nos planos físico, mental e espiritual
do ser. Como nenhuma causa deixa de produzir seu devido efeito — desde a
sua causa, fazendo esta remontar até seu produtor. Embora incognoscível sua
ação é perceptível.
221
P: Neste caso nos encontramos com o "absoluto", o "incognoscível", e
sua essência, sabemos como age, e podemos definir com exatidão sua forma
"classes inferiores"?
T: Não; seus efeitos não podem ser definidos tão estritamente que
particulares de vida em que cada pessoa se encontra, não sejam outra coisa
senão Karma retributivo, gerado pelo indivíduo em uma vida anterior. Não se
pode perder de vista o fato de que cada átomo está sujeito à lei geral que rege
todo o corpo de que faz parte; e aqui entramos mais de cheio na lei kármica.
222
Não vê que o agregado de Karma individual converte-se no da nação
uniforme.
P: Isto quer dizer que a Lei de Karma não é necessariamente uma lei
individual?
T: Isto é o que digo. Se Karma não tivesse uma esfera de ação ampla
sofrimento coletivo e de seu alívio. Além disso, uma lei oculta ensina que
nenhum homem pode sobrepor-se a seus defeitos individuais, sem elevar, por
pouco que seja, à toda a corporação de que faz parte integrante. Da mesma
por assim dizer, o Karma distribuüvo ou nacional, e levá-lo à sua realização natural e
223
T: Por regra geral, e dentro de certos limites que marcam a época a
que pertencemos, não se pode precipitar nem conter a Lei de Karma. Mas
nenhum dos dois sentidos. Atente para a seguinte relação sobre uma fase de
se esses males em geral. O que vou ler foi escrito por um salvador nacional;
de uma pessoa que, tendo vencido ao eu e livre para eleger, escolheu servir à
224
um, mau-cheiro indescritível que exalavam os peixes, a
225
degradação brutal, que é a um tempo seu resultado e sua
às brincadeiras e ao escárnio.)
P: Esta é uma carta bem, triste, embora bonita, e creio que apresenta com
Mas não vemos nenhuma esperança imediata de alívio fora dê algum terremoto, ou
que sofrem seus semelhantes? Quando cada indivíduo haja contribuído com
tudo o que possa para o bem geral, com seu dinheiro, seu trabalho e seus
nacional; e até então não temos o direito, nem razão alguma, para dizer que há
mais vidas sobre a terra do que as que a natureza pode manter. Às almas
226
afundamento moral mil vezes mais desastroso e funesto que a mesma
catástrofe física em que você parece ver a única saída possível para tanta
miséria acumulada.
P: Pois bem: diga-me em termos gerais como vocês descrevem esta Lei
de Karma.
moral. Dizemos que Karma não age sempre neste ou naquele sentido
particular, mas sim que sempre o faz de maneira que restabeleça a harmonia e
P: Dê-me um exemplo.
pedra na água e produz ondas que perturbam sua tranqüilidade. Essas ondas
oscilam para trás e para frente até que ao fim, graças à operação que os físicos
deste modo continuarão oscilando para trás e para frente, se sua área é
limitada, até que se restabeleça o equilíbrio. Mas como cada uma dessas
227
pensamentos, devem reagir todas sobre ele mesmo com a mesma força com
P: Mas não encontro nessa Lei nenhum caráter moral. Parece-me igual à
T: Não me surpreende ouvir você dizer isto. Como está gravado nos
ou imposto por um Deus pessoal! Mas nós, os teósofos, dizemos que "bem" e
conseqüências precisas de seus próprios atos, sem levar em conta para nada
seu caráter moral; mas uma vez que recebe o que lhe é devido por tudo, é
evidente que terá que expiar todos os sofrimentos que haja causado,
harmonia que contribuiu para produzir. O melhor benefício que posso fazer
para vocês é citar trechos de livros e escritos de alguns teósofos que têm uma
P: Muito bem lembrado, uma vez que sua literatura com relação a este
228
"Admitindo-se que a doutrina da Teosofia seja
pode fazer com "que a máquina teosófica siga o mesmo rumo que a teológica".
Diz assim:
229
sentimento de responsabilidade pessoal, e o sentimento
230
ocasionado aos demais por sua iniqüidade, não se apagou.
explicação:
232
doutrinas religiosas da remissão dos pecados, da
a humanidade".
233
Ambos guiam o homem externo, mas um deles há de
aos bons e vela por eles nesta vida e nas futuras, e que
234
intrincados, enquanto outra vê neles a ação de um
235
aliviar tanto sofrimento imerecido, somente o
suposto Criador...
como tal, posto que nenhum ato pode ser co-igual com a
236
de confundir e perturbai-os homens, nem também
237
que como são doenças hereditárias, não têm nada que ver
238
homem, impedindo-o de voltar a cair em suas faltas; mas
renascimento".
E conclui F. H. Conelly:
diz:
239
Esses anjos e esses homens assim
fazer nada melhor para terminar este assunto, que imitá-lo, citando um trecho
240
Que o "Eu" teceu com trama de tempo sem fim
..............................................................................
241
E, agora, aconselho-os a que comparem nosso ponto de vista
vez que não somos videntes ou iniciados, não podemos saber coisa alguma
242
que, se as coisas para nós pudessem ter sido diferentes, elas teriam sido; que
uma lei justa de retribuição, é o que mais facilmente desperta no homem todos
mais por um castigo ou mesmo por uma reprimenda que julgam imerecida, do
em Karma é a razão mais alta para que um homem se conforme com sua sorte
se supuséssemos que nossa sorte é resultado de algo que não fosse a lei
lei kármica impõe-se ante a razão, a justiça e o sentido moral. Mas se é assim, não é
parcialidade com relação aos demais; e uma lei que pudesse evitar-se graças à
que benefícios. Leve também em conta que não administramos a lei, uma vez
243
que criamos causas para seus efeitos; ela se administra a si própria; e, além
ignorância geral. Realmente eles sabem mais do que nós sobre a reencarnação e os
estados futuros?
idades mais remotas, uma geração de adeptos atrás da outra, vêm estudando
adepto nas ciências secretas, durante apenas uma vida; muitas encarnações
lado, aqueles que, em efeito das ilusões pessoais da vida presente, ou por
244
ignorar o fato, estão perdendo toda probabilidade de progresso nesta
superior, mas ainda são, sem dúvida, por demais pessoais e apegados às suas
não fazem parte desses adeptos de que acabou de falar, têm que aceitar suas
também. O que você chama de "fé", e que em realidade é fé cega com relação
245
doutrinas estão baseadas na interpretação, e, portanto, no testemunho de
uma criação de Deus, composta de três partes: corpo, alma e espírito, todas
para sua constituição eterna, deste modo tendo cada homem uma existência
aniquilamento?
por isso aniquilado? Quão satânico não será nosso orgulho, quando
246
P: Resulta daí, então, que de fato não existe o homem, mas sim que tudo
é espírito?
uma vez que são os dois pólos opostos da substância universal manifestada, o
espírito perde seu direito a esse nome, enquanto a menor partícula e átomo de
chegar, melhor será que diga desde logo que consideramos a fé — tal como
247
T: Quero dizer, se é que deseja saber qual a diferença que há entre
P: Qual é?
jogo a essência que o governa; porque para fazê-lo têm que reclamar seu
P: E por acaso é essa "intuição" que os obriga a repelir a Deus como Pai
248
natureza pode errar em seus detalhes e nas manifestações externas de seus
todos os seus deuses eram finitos. O autor siamês de Roda da Lei, expressa,
tal como nós o fazemos, a mesma idéia sobre o Deus pessoal, quando diz:
calma que nada pudesse alterar. Respeitaria a um Deus semelhante, não pelo
desejo de comprazer o temor de lhe ofender, mas por veneração natural; mas
humanos; a um Deus que ama e odeia, e que se deixa, dominar pela ira; uma
comum".
57
Refere-se aqui aos brâmanes sectários. O Parabrahm dos vedantinos, é a Deidade que aceitamos
e na qual cremos.
249
T: Já que lhe agrada, continue a chamar nossa crença de "fé". Mas,
já que voltamos a esta eterna questão, por minha vez pergunto: fé por fé, não é
melhor a que está baseada estritamente na lógica e,na razão, do que a que está
possui toda a força lógica da verdade aritmética de que dois e dois serão
de quem disse Tourgenyeff que para elas dois e dois dão geralmente cinco, ou
um pouco mais. Além disso, essa fé é também uma fé que não só choca com
perigoso em que acreditam, e que nos ensina que, por maiores que sejam
de Jesus pela salvação da humanidade, para que seu sangue nos deixe livres
de toda mancha. Faz vinte anos que combato esta doutrina, e chamo a atenção
sobre um parágrafo de Ísis sem Véu, escrito em 1875. Eis o que ensina o
250
"A compaixão de Deus é ilimitada e insondável. É impossível
conceber um pecado humano tão imenso que não possa apagá-lo o preço
pago de antemão pela redenção do pecador, ainda que fosse mil vezes maior.
pecador espere até o último minuto da última hora do último dia de sua vida
mortal, para que seus lábios frios pronunciem a confissão de fé, pode entrar
bramânico?
cruel. Mas conduz mais facilmente à beira de todo crime concebível àqueles
que ainda acreditam nele, do que qualquer outro dos que conheço. Permita-me
251
elementar de justiça, contra a doutrina da expiação por
252
gota empurra a gota, até que as margens e o fundo sentem
conste nos anais do tempo o haver tido lugar tal ato, então
lógica humanas."
são felizes.
253
T: É efeito de um sentimentalismo que se sobrepõe às suas
pregações públicos.
sangue, que muitas vezes matam as suas vítimas sem lhes dar tempo para
patíbulo redimido por Jesus. A não ser pelo assassinato, ninguém teria rezado
com ele, nem se lhe teria redimido nem perdoado. Evidentemente, este homem
fez bem em matar, porque desse modo alcançou a felicidade eterna! E o que
sucede com a vítima, com sua família, com seus parentes, com seus amigos
íntimos e com as relações sociais? A justiça não tem recompensa alguma para
254
lhes causou o dano está sentado ao lado do 'bom ladrão' do Calvário, bendito
cuja esperança é a justiça para todos, tanto no céu como na terra (e o Karma) -,
espírito?
período de prova sobre a terra. Sem dúvida não é um mal completo, uma vez
nossa natureza espiritual nunca podem ser satisfeitas por outros meios que
que ocorrem durante a vida. Portanto, e para atenuar isto, adquirimos ao fim o
futuro melhor.
58
Ísis sem Véu, ibid.
255
O QUE É TEOSOFIA PRÁTICA
DO DEVER
eles que podemos aprender. Os gozos e os prazeres nada podem nos ensinar;
claramente nos demonstra que estas só podem ser satisfeitas em seu próprio
natural disto?
256
que nos incumbiram, assim como a intenção de evitar as responsabilidades
mas sim a dos demais: o cumprimento do bem pelo bem, não pelo que possa
resultar do cumprimento do dever, mas não é nem deve ser o motivo para isso.
ser os deveres pregados por Jesus e seus apóstolos, uma vez que não reconhecem
a nenhum deles.
púlpito, tal como hoje em dia, mas também se praticava, às vezes por nações
257
antes de Pedro. Sem dúvida é enorme a ética do Cristianismo, mas também é
inegável que não é nova, e que nasceu da mesma maneira que os deveres
"pagãos".
entendimento?
aqueles que são mais pobres e desamparados que nós. Esta é uma dívida que
quintessência do dever.
uma ética da boca para fora. Os que praticam seu dever perante todos, e
apenas pelo dever em si, são poucos; e são menos ainda os que cumprem
ética moderna é bela, para ser lida e discutida, mas, que são as palavras se
258
posso responder que nosso dever é beber, sem uma queixa, até a última gota,
rosas da vida apenas pelo aroma que possam exalar para os demais, e
P: Tudo isto é muito vago. Que mais fazem que não façam os cristãos?
fazemos — embora alguns entre nós façam quanto podem —, trata-se de saber
palavras! Um homem pode ser o que lhe apetece, o mais mundano, egoísta e
chamar-se cristão, nem mesmo a outro considerá-lo como tal. Mas nenhum
teósofo tem direito a este nome, enquanto não estiver imbuído da exatidão do
embora este fosse o mais nobre"; e enquanto não amoldar sua vida diária a
da mesma; e quanto maior e mais bela pareça, quanto mais se fale da virtude e
259
T: O completo reconhecimento de direitos e privilégios iguais para
patrão, tal criado", e deveriam concluir: "Tal política nacional, tais cidadãos".
humana é o mesmo que botar vinho novo em odres velhos. Conseguir que os
las pela raiz, é um louco. Não se pode alcançar jamais nenhuma reforma
260
Relações da Sociedade Teosófica com as reformas políticas
vez que conta, entre seus membros, homens e mulheres de todas as raças,
P: Por quê?
si, e seguem sua linha particular de ação e opinião política, desde que não
Teosófica.
261
T: Os próprios princípios da Sociedade Teosófica são uma prova de
que ela não as ignorará. Se apenas atacando antes de tudo as leis fisiológicas
da humanidade, o dever de todos os que lutam por esse progresso é fazer tudo
quanto possam para que aquelas leis sejam aplicadas de uma maneira geral.
ocidentais, o estado social das massas torna impossível educar como se deve
possui sua panacéia especial, e cada um acredita que apenas a sua pode melhorar
e salvar a humanidade.
panacéias não existe realmente nenhum princípio que sirva de guia e, com
segurança, nem um só que as una a todas entre si. Deste modo, perde-se
uns contra os outros, muitas vezes talvez mais para alcançar fama e
262
P: Como devem ser aplicados os princípios teosóficos a fim de que se
da sociedade?
Estes são os quatros elos da corrente dourada que deveria unir a humanidade,
P: Como?
inativas. Por outro lado, muitas pessoas que ocupam o extremo oposto da
Ambas são efeito das condições que rodeiam aos que a elas estão
263
praticando diariamente a verdadeira irmandade, é como se poderá alcançar a
mútua, esta verdadeira irmandade, em que cada um deve viver por todos e
vida.
P: Como princípio geral, tudo isto me parece muito bom, mas como se
ser sob condições mais sãs e nobres, em que dominassem por completo a
Pois bem: a verdadeira evolução nos ensina que, alterando-se o meio ambiente
264
fazer quanto lhe seja possível para contribuir a todo esforço social razoável
que tenha por objetivo melhorar as condições dos pobres. Estes esforços
e dele e de sua vida diária devem emanar forças espirituais elevadas, as únicas
ele quanto os demais não estão condicionados por seu Karma, e Karma não deve
265
indivíduo. A Lei de Karma aplica-se a todos por igual, embora nem todos
o teósofo acredita que não só os ajuda a cumprir seu Karma, como ele
elevado do seu ser, não só o atrasa em sua marcha progressiva, mas a todos
os demais.
Com suas ações pode fazer com que seja mais difícil ou mais fácil
P: Como isto se relaciona com o quarto princípio de que falou, isto é, com
a reencarnação?
uma existência anterior nos deixou, a lei é exata quanto ao futuro. Uma vez
presente, mas sim passada, presente e futura, e que cada ação encontra em
nos impulsiona para trás e não para a frente, e todo pensamento nobre e todo
ato generoso são escalões que conduzem aos planos mais elevados e
gloriosos do ser. Se esta vida fosse tudo, então, por muitos conceitos, seria
266
esfera imediata da existência, pode servir de porta dourada por onde
Do próprio sacrifício
T: O dar aos outros mais que a si mesmo; o próprio sacrifício. Isto foi
gerações que lhes sucederam. Sem dúvida dizemos que o próprio sacrifício
mesmo for efetuado sem levar em conta a justiça, cegamente, sem considerar
beneficiar a muitos.
267
P: Pode esclarecer melhor sua idéia através de um exemplo?
sacrifício próprio pelo bem prático de muitos, como superior à abnegação por
Na nossa opinião, o padre Damião (aquele jovem de trinta anos que sacrificou
sua vida inteira para aliviar os sofrimentos dos leprosos de Molokai, vivendo
dezoito anos somente com eles, sendo no fim atacado pela mesma moléstia,
da qual morreu) não morreu em vão. Ele aliviou e proporcionou uma relativa
cuja amargura não encontra paralelo nos anais do sofrimento humano. Era um
sacrificam suas vidas nas ilhas dos mares do Sul ou na China. Que bem
fizeram? Nas ilhas travaram contato com seres que ainda não estavam aptos a
outra localidade dessas que param e apodrecem sob o sol brilhante de nossa
o bem verdadeiro e ter conservado suas vidas para uma causa melhor e mais
digna.
268
P: Mas os cristãos não pensam o mesmo?
outro, beatifica e levanta estátuas a homens como Labro, que sacrificou seu
corpo durante quarenta anos apenas em benefício dos imundos insetos que
homem tem direito de deixar-se morrer de fome para que outro possa se
alimentar, a não ser que a vida deste seja, de maneira evidente, mais útil a
muitos que a sua própria. Mas é seu dever sacrificar seu próprio bem-estar e
seu dever dar o que lhe pertence, se ninguém mais aproveita além dele
269
obedecendo à opinião do que chamamos "a tranqüila e suave voz" de nossa
consciência, que é a de nosso Ego, e fala mais alto em nós que os terremotos
deveres de família?
sua própria consciência. Não fazer jamais uma coisa pela metade, isto é, se
acredita fazer uma coisa boa, deve fazê-la aberta e francamente, e se é má,
270
pensando no sábio aforismo de Epíteto, que diz: "Não te deixes afastar de teu
dever por qualquer reflexão vã que de ti possa fazer o mundo néscio, porque
em teu poder não estão suas censuras, e, por conseguinte, não devem
importar-te nada".
que "a caridade começa em si mesmo"; e alegando que está demasiado ocupado,
T: Nenhum homem tem direito de dizer que nada pode fazer pelos
mais digno que dúzias de alimentos dados sem oportunidade a quem possa
pagá-los. Um homem que não sinta isto jamais será teósofo; mas, sem dúvida,
deseja sê-lo.
antecipados sobre uma pessoa, ainda que toda uma comunidade se manifeste
contra, e direi por quê. Em nossos tempos, a vox populi (pelo menos no que se
refere às classes cultas), já não é a vox dei, mas sim a da preocupação, a dos
271
motivos egoístas, e, freqüentemente, a da impopularidade. Nosso dever é
semear semente abundante para o futuro, e tratar de que seja boa; não nos
deter em averiguar por que temos de fazer assim, nem como e para que vamos
perder nosso tempo, uma vez que não seremos nós os que hão de recolher a
Da caridade
Sermão da Montanha?
P: Precisamente.
caridade!
272
T: Sim, com as sobras de suas grandes fortunas. Mas mostre-me um
faminto que roube seu abrigo, ou a apresentar sua face direita ao que o
em parábolas.
T: Neste caso, por que a Igreja não diz que a doutrina da condenação
e do fogo do inferno também deve ser entendida como parábola? Por que
T: Oh, sim! A metade fica entre as mãos por que passa, antes de
273
profissionais, demasiado folgados para trabalhar, não favorecendo de modo
nenhum aos que realmente sofrem ou estão na miséria. Não sabe que o
Whitechapel?
pessoa)." "Nunca dês tempo ao sol para secar uma lágrima, antes de havê-la
enxugado tu." "Não dês jamais, por meio de teus criados, dinheiro ao pobre ou
alimento ao sacerdote que pede em tua porta; não fora teu dinheiro a minorar o
dinheiro e sua eficácia, por nosso contato e simpatia pessoais com os que o
porque o agradecimento faz um bem maior ao homem que o sente, que ao que
274
o fez sentir. Aonde está o agradecimento que seus milhões de libras esterlinas
sistema "do suor", obrigadas a andar pelas ruas para ganhar a subsistência?
fábricas que lhes dão trabalho, ou os pobres pelas casas insalubres em que
entregue por gente boa e caridosa, cai como uma desgraça em vez de uma
bênção sobre o pobre a quem deveria aliviar. A isto chamamos criar Karma
nacional, e terríveis serão seus resultados no dia em que tiver que render
contas.
275
P: De que maneira? Pensa que poderiam plantar sua doutrina entre as
massas ignorantes, sendo tão abstrata e difícil que somente pessoas instruídas
podem compreendê-la?
são realidades, somente porque sua mente jamais foi forçada ou torcida por
perdoados, por haver sido morto outro homem por eles. E note que os
buddhistas vivem cumprindo suas crenças, sem proferir uma queixa contra
Karma, ou o que consideram como justo castigo; enquanto a plebe cristã não
cumpre seu ideal moral, nem aceita sua sorte com satisfação. Daí as queixas, o
ocidentais.
deferia o progresso.
tanto se vangloriam não são mais que fogos-fátuos que flutuam em cima de
276
egoísmo, o crime, a imoralidade e todos os males imagináveis, caindo sobre a
civilização material. A este preço, mais vale a inércia e a inatividade dos países
tanto se ocupam?
apenas necessitam uma direção e ajuda prática; mas são da maior importância
para as pessoas cultas, chefes naturais dessas massas; para aquelas cujo
modo de pensar e agir será cedo ou tarde adotado por essas mesmas massas.
alguma". Emerson, com muito acerto, diz que "todo movimento grande e
estável, tão lógica e que de tal modo abranja tudo, como nossas doutrinas
orientais?
277
P: Mas sem dúvida são muito numerosos seus inimigos, e cada dia a
de jogar por terra o que não é uma ameaça nem se eleva por cima da
mediocridade.
T: E por que não? Já que a história nos diz, que as massas adotaram
para que assim possam ensinar aos demais, especialmente aos jovens.
278
Teosofia, explicando o que é e o que não é, dissipando erros e alimentando o
Sociedade contra todo ataque injusto, por todos os meios legítimos que
caridade prática.
que não podiam formular, produz um bem real e substancial. Quanto ao que
fazemos o pouco que podemos; mas, como já disse, a maior parte de nossos
irmãos é pobre, e a Sociedade por si mesmo não tem recursos para pagar
279
caritativas. Antes de mais nada, todo teósofo deve esquecer sua
personalidade.
a Sociedade Teosófica.
mais fácil do mundo evitar certas coisas. Exporei uma série de semelhantes
59
Membro da Sociedade Teosófica.
280
P: Mas suponha que o que ouça seja verdade, ou possa ser certo sem
às duas partes, antes de permitir que a acusação fique impune. Não tem direito
afirmado.
consiste em não ofender a ser vivente algum; mas também nos impõe não
281
T: Nenhum teósofo deve contentar-se com uma vida ociosa ou
frívola, que não o conduza a nenhum bem verdadeiro e não o produza aos
muito difícil.
navegar sob uma falsa bandeira. A ninguém se exige dar mais do que possa,
P: Que mais?
trabalhar com todas as forças pelos outros. Não deve deixar que uns poucos
teosófico. Cada membro deveria considerar como seu dever o participar como
possa da obra comum, e contribuir nela por todos os meios que estejam a seu
alcance.
282
pessoais, não se deveria consentir continuassem na Sociedade. Um membro
ocioso, com a desculpa de que sabe muito pouco para ensinar. Porque sempre
deve estar seguro de que encontrará outros que sabem ainda menos do que
ele. Até que um homem não comece a ensinar aos demais, não descobre sua
cláusula secundária.
faltas. Melhor pecar por um exagerado louvor dos esforços do nosso próximo,
do que por uma apreciação insuficiente dos mesmos. Não difamar pelas
costas ou caluniar pessoa que não está presente. Dizer sempre aberta e
eco de qualquer coisa que se ouviu contra uma pessoa, nem alimentar
283
T: Destes tivemos muitos. Nenhum membro - seja importante ou
declarado.
parecem-se com, aquele homem da fábula antiga que tendo a cara torta,
da Sociedade Teosófica, dirigindo-se tanto aos teósofos como aos de fora sob
mesmo estava sempre fazendo. Por fim saiu da Sociedade, alegando sua
284
impostores! Outro, depois de haver tentado por todos os meios possíveis que
um daqueles, simplesmente porque não pôde, nem quis impô-lo aos membros.
praticar magia negra e virtualmente assim o fez, isto é, exercer ilicitamente sua
difamação da crítica justa? Não é nosso dever colocar nossos amigos e próximos
exata ou falsa, jamais se deve propagar entre o público uma acusação contra
285
outra pessoa. Se é certa, e quando apenas o pecador resulta prejudicado,
a essas coisas, com toda pessoa que não esteja diretamente interessada
ao dever".
esperam.
"Veja quanto se querem esses teósofos uns aos outros!", pode-se dizer agora
Seus membros não são santos, são pecadores que tratam de agir melhor e
estão expostos a cair por sua debilidade pessoal. Donde se conclui que nossa
286
"irmandade" não é uma corporação reconhecida ou sancionada, e que se
encontra, por assim dizer, à margem da ação jurídica. Além disso, encontra-se
praticar seu ideal vão em busca de proteção simpática entre nossos inimigos,
por absurdas que sejam, que lhes convenha lançar contra a Sociedade
espelho que com demasiada fidelidade refletiu suas faces. Uma pessoa jamais
ante sua própria consciência. Ao mundo falta tempo para crer qualquer coisa
que se lhes conte contra uma Sociedade que odeia. E, quanto à própria
demasia.
T: Efetivamente não é. Mas não acredita que algo muito nobre, muito
filosofia, quando ainda continuam trabalhando por ela com todas as suas
estar, toda prosperidade mundana, todo êxito, seu bom nome e reputação, e
até sua própria honra, para ser em troca objeto de murmurações incessantes,
287
da perseguição implacável, da calúnia obstinada, da ingratidão constante; para
ver que seus mais nobres esforços são mal interpretados, e para receber
novo ataque.
bons resultados, e seu próprio sacrifício não terá sido em vão. Agora, o
corações dos homens, sementes que podem germinar a seu tempo, e, sob
288
CONCEITOS ERRÔNEOS SOBRE A SOCIEDADE
TEOSÓFICA
TEOSOFIA E ASCETISMO
P: Ouvi certas pessoas dizerem que suas regras exigem que todos os
membros sejam vegetarianos, solteiros e ascetas rigorosos. Mas até agora não
de seus membros — que sejam ascetas de modo algum, a não ser que você
chame ascetismo o esforçar-se em fazer o bem aos demais e a não ser egoísta.
obra da Sociedade.
falei.
será melhor explicar nosso ponto de vista com relação ao ascetismo em geral,
289
Como já disse, muitos dos que se convertem realmente em
poder para ajudar os outros de forma eficaz e justa, ao invés de agir às cegas e
P: Mas acabou de dizer que nem mesmo nessa Seção Interna são
ascetismo cego e não inteligente é uma loucura; que conduzir-se como São
queimam e mortificam seu corpo do modo mais cruel e horrível, não é mais
que um tormento próprio para alcançar fins egoístas, isto é, para desenvolver
moral. Ê como um meio para um fim, sendo este fim o perfeito equilíbrio da natureza
290
interna do homem, e a consecução do domínio completo sobre o corpo, com todas
exercita e se prepara para uma grande luta, não como o avarento que se mata
de fome até ficar doente, para poder satisfazer sua paixão de ouro.
características do corpo de que fez parte, e que podem ser reconhecidas. Além
disso, todos sabemos, pelo gosto, que tipo de carne estamos comendo. Nós
vamos mais longe e provamos que, quando a carne dos animais é assimilada
vegetais.
291
escolham o alimento que tenha influência menos pesada sobre seu cérebro e
geralmente os vegetarianos?
elas, que tanto se vem observando em nossa época, são devidas em grande
carne, que não se abstenha dela de modo nenhum. Não é um crime: apenas
292
têm muito menos importância que o que o homem pensa e sente, que os
carne, porque o álcool tem uma influência direta, marcada e muito deletéria na
A Teosofia e o matrimônio
solteiro?
daquele que se propõe viver no mundo, daquele que embora sendo um teósofo
mundo por suas obrigações e desejos; daquele que, em uma palavra, sente
que não concluiu para sempre com o que os homens chamam vida, e somente
deseja conhecer a verdade e ser capaz de ajudar aos outros — então, digo que
não há motivo para que não se case, se quer correr os riscos dessa loteria
onde tão poucos saem premiados. Suponho que você não nos creia absurdos
293
P: Mas por que não se pode adquirir esses poderes e essa sabedoria na
vida matrimonial?
explicará as razões morais que temos para isso. Pode um homem servir a dois
senhores? Não. Portanto, é impossível para ele dividir sua atenção entre o
antes de tudo — para alcançar seu objetivo. Mas isto não se aplica aos
mais elevada. Muitos dos que entram em nossa Seção Interna, se não todos,
são apenas principiantes que se preparam nesta vida para entrar realmente
A Teosofia e a educação
formas de religião existentes no Ocidente, como também até certo ponto sobre a
filosofia materialista, — tão popular agora — mas que parece considerar como uma
294
se fez e se está jazendo para remediar este estado de coisas, por meio da
P: Tem que nos dar tempo: faz poucos anos que começamos a educar o
povo.
T: Podia por favor me dizer o que fez a religião cristã desde o século
15, já que reconhece que não se havia empreendido a educação das massas -
mais amplo e provarei que, com muitas de suas decantadas melhoras, fizeram
mal e não bem. As escolas para crianças pobres, embora muito menos úteis
do que deveriam ser, são boas, comparadas com a corrupção que as rodeia e à
Teosofia prática aliviaria cem vezes mais a vida das classes pobres que
P: Mas realmente...
295
inteiramente a grande vantagem que há para uma criança criada nas ruas,
falam-lhe com um sorriso e não com uma ameaça, castigam-lhe ou lhe dão
morais. As escolas não são o que poderiam e deveriam ser, mas, comparadas
com suas casas são paraísos, e pouco a pouco deixam sentir sua ação nelas.
Mas, se bem que isto é certo em muitas escolas públicas, o sistema é pior que
por certo esbanjam palavras sonoras sobre o assunto. Mas qual é o resultado
prático de sua ação? Qualquer jovem, mais ainda, qualquer daqueles que
educação moderna é passar nos exames", sistema que não tende a produzir e
296
inveja, quase o ódio, e a prepará-los para uma vida de egoísmo feroz e de luta
ação mecânica da substância do cérebro; assim pois, é lógico que seja quase
e racional é simplesmente impossível, uma vez que tudo será julgado pelos
meio do exemplo prático e da experiência, como pelo ensino direto, até que se
pessoal e animal, é o fim único e objetivo da vida, de onde provém a fonte que
297
origina todos os sofrimentos, crimes e desapiedado egoísmo, facilmente
P: Falando em termos gerais, tudo isto está muito certo, mas gostaria que
298
sistematicamente a devorar seus semelhantes e a aproveitar-se da ignorância
P: De acordo; mas, em todo caso, isto não pode ser dito de nossas
eclesiásticos e teólogos.
Harrow?
favorito em nossas grandes escolas públicas, onde se pode obter não apenas
"sangue" e do dinheiro. Mas até para a entrada existe uma grande rivalidade:
299
T: Assim é. Mas o curioso é que os fiéis ao culto da sobrevivência do
mais apto não praticam sua crença, porque todos os esforços são dirigidos
inutilmente de gente.
saias da ama, cai no trabalho forçado de uma escola preparatória para filhos
P: Mas também lhe ensinam algo além dos "vocábulos mortos", e muito
daquilo que o pode levar direto à Teosofia, se bem que não à Sociedade Teosófica.
300
ódio e nos sentimentos sanguinários nacionais históricos. Certamente não
educa sob o sistema que está atacando tão vigorosamente, mas aprende a pensar e
agnóstico está sempre aberta à verdade, enquanto que esta cega ao fanático,
ateus (não crêem em um Deus pessoal). Mas não existem meninos e meninas
301
filhos, dizendo-lhes que acreditem nos milagres da Bíblia nos domingos,
enquanto lhes ensinam nos seis dias restantes da semana, que tais coisas são
cientificamente impossíveis?
302
Por que existe tanta prevenção contra a Sociedade Teosófica?
existir uma aversão tão terrível contra ela? Este é um problema ainda mais difícil do
dele, como o fazem agora os que ainda não compreendem seu verdadeiro
disso, movimento que ameaça a existência da maior parte das farsas antigas,
fazem felizes aos poucos que estão em cima, assim como a seus imitadores e
conseqüentemente a temem.
ao bem, seguramente não deve lançar tão tremenda acusação de crueldade desleal
303
T: Pelo contrário, estou disposta a isto. Não chamo poderosos ou
anos de existência da Sociedade, mas unicamente aos que nos têm atacado
nestes três ou quatro últimos anos. E estes não falam, nem escrevem, nem
bonecos, que atuam como fantoches. Embora invisíveis para muitos dos
fundadores e protetores. Mas, por certos motivos por enquanto convém calar
seus nomes.
que existem, é o quanto basta; e os desafio a que façam o mal que desejam.
Pode ser que consigam propagar muito dano e semear a confusão em nossas
dúvida somente "perigosos" para aqueles teósofos indignos deste nome, cujo
P: Pode pelo menos nomear a estes, já que não quer falar dos outros?
304
missionários na índia, que deram lugar ao ruidoso e infame ataque a nossa
ataque instigado por uma conspiração organizada por eles. Por último,
razões que já expliquei, o que contribuiu para aumentar a prevenção que existe
contra nós.
Desde o princípio, o mundo não viu na Teosofia mais que certos fenômenos
maravilhosos em que não crêem dois terços dos que não são espiritualistas.
305
requisitos usuais. Desgraçadamente, este falso conceito se arraigou e
esta obra fez bastante para fazer brilhar a Sociedade, atraiu sobre os
posto em guarda, mas não fez caso da profecia, que o era, embora velada60.
comunicações com os espíritos dos mortos, mas sim que olhava aos
durante muitos anos. Isto começou no ano de 1875 e continua hoje em dia. Em
60
O leitor pode consultar com proveito a obra mencionada, assim como a do mesmo autor Incidentes
na Vida de Madama Blavatskv, e a História Autêntica da Sociedade Teosófica (Old Diary
Leaves), de H. S. Olcott. — (E.)
306
P: Mas por que razão encontram hostilidade no clero, quando, depois de
"Aquele que não está comigo, está contra mim". Como a Teosofia não
na índia nos odiaram e trataram de nos destruir, porque viram que a mais
dúvida, à parte esse ódio geral de classe, a Sociedade Teosófica conta com
assim foi que tiveram que eleger entre conservar esta posição, sacrificando a
61
Sociedade de Investigações Psíquicas. — (E.)
307
opinião dos saduceus do grande mundo, com os "crédulos" teósofos e
espíritas. O dilema não tinha escapatória e optaram pelo nosso sacrifício. Para
eles foi uma necessidade cruel. Tinham tanto desejo de encontrar algum
essa abnegação. Mas o antigo refrão que diz que "o sangue dos mártires é a
semente da Igreja", mais uma vez resultou exato. Depois do primeiro choque
encore, il en restera toujours quelque chose". Por isso são tão comuns as
oportunidade para apresentar sua obra, assim como a si mesma sob o verdadeiro
aspecto.
pública. Seu sistema sempre foi o de "de vemos deixar correr" e "que importa
308
demasiado pobre para servir-se de oradores públicos, e, em conseqüência, a
ainda estão proibidos; nossas obras literárias são ignoradas, e até esta data,
esotéricos", seja qual for a significação deste termo. Tem sido inútil que dia
inconcebíveis que circulam sobre nós; porque apenas havia cessado um,
nascia outro das cinzas do primeiro, ainda mas absurdo e pior intencionado.
diz de uma pessoa, esquece-se e não se volta a repetir. Mas basta proferir uma
calúnia ou inventar uma história - - por absurda, falsa ou incrível que seja,
contanto que se relacione com um nome impopular - - para que tenha êxito e
D. Basílio, surge o rumor, no princípio ligeiro como a brisa suave que nasce
onde ninguém sabe e que apenas agita a erva que pisamos; transforma-se em
309
mente humana, da mais elevada à mais baixa, se não estiver prevenida, não
foram precipitados em seus juízos, nem dispostos a acreditar no que falam, e nossa
nação é conhecida por seu proverbial amor à lealdade. Uma mentira não se sustem
voar e voam muito longe, e abrangem um círculo maior que qualquer outra
ouviu falar de nós, quer fazer perguntas sobre todos aqueles rumores de que
relação ao que agora nos ocupamos. Alguns escritores tacharam suas doutrinas de
310
sexual em suas várias formas, os acusam de não ensinar outra coisa além do culto
fálico. Dizem que, uma vez que a Teosofia moderna relaciona-se tão intimamente
mancha. Em alguns casos chegam até o ponto de acusar aos teósofos europeus de
ressuscitar as práticas que vêm unidas àquele culto. O que há sobre isso?
inventada nem propagada calúnia mais infundada. Diz um provérbio russo: "os
tolos somente podem ter sonhos tolos". Revolta ouvir acusações tão baixas,
Sociedade Teosófica, se alguma vez lhes foi ensinado algum preceito imoral
suas páginas denuncia aos judeus e outras nações, precisamente por essa
P: Mas sem dúvida não pode negar que existe o elemento fálico nas
religiões do Oriente.
T: Não o nego; apenas sustento que isto não prova nada, como
simbolismo fálico é talvez mais cru no Oriente, porque é mais fiel à natureza,
ou mais ingênuo e sincero que no Ocidente. Mas não é mais licencioso, nem
311
sugere à mente oriental as mesmas idéias grosseiras e indecentes que à
entender que os discípulos dessa seita são teósofos, e que "pretendem possuir o
nem menos. Tal seita é desprezada por todos os outros hindus. Mas na
ela para explicações mais minuciosas. Em conclusão, direi que a própria alma
alguns jornais?
312
T: Nem um só centavo. Os jornais mentem. Ambos, ao contrário,
desde 1879. O total recebido por todas as formas (direitos de entrada, doações
etc.), durante esses dez anos, não chega a 6 mil libras; e grande parte desta
deles, demasiado velho e enfermo para trabalhar como fazia antes, sem poder
teosófica; o outro continua trabalhando por ela como antes, sem receber
sequer agradecimento.
313
P: Mas pelo menos madame Blavatsky não poderia tirar o necessário para
rupias anuais por artigos escritos para jornais russos e outros, mas entregou
tudo à Sociedade.
P: Artigos políticos?
Há dois anos recusei vários contratos que poderiam dar uns 1.200
para a Sociedade, que necessitava de todo meu tempo e energia. Posso provar
com documentos.
P: Mas por que não puderam ambos jazer o que fazem tantos teósofos,
Sociedade?
dará?
314
P: E são muitos os que o seguem?
tributo anual foram suprimidos, não sabemos se o pessoal que vive na sede
o fizemos jamais, nem seguimos o exemplo das Igrejas e seitas "que recorrem
doações voluntárias.
que há uns quatro anos recebeu 5 mil libras esterlinas de um membro jovem e rico
que foi à Índia, e 10 mil libras esterlinas de um senhor americano, rico e conhecido,
T: Diga a quem lhe contou tal coisa, que formula ou repete uma
desses senhores, nem o recebeu deles nem de ninguém, desde que se fundou
será mais fácil provar que o Banco da Inglaterra está à falência, do que
315
demonstrar que a citada fundadora tirou dinheiro da Teosofia. Estas calúnias
da maledicência.
inglês excêntrico que nem sequer pertencia à Sociedade. O outro (3 ou 4 mil libras),
316
P: Baseando-se na autoridade de seu próprio jornal — o Theosophist —
há um rajá da índia que doou 25 mil rupias à Sociedade. Não o agradeceu por sua
mil rupias aos fundos da Sociedade". As graças foram enviadas a tempo, mas
central.
317
O núcleo ativo da Sociedade Teosófica
podem transformar o chumbo em ouro e fazer tanto dinheiro quanto queiram, além
de todo tipo de milagres, conforme a obra de Sinnet, O Mundo Oculto, por que não
neles, por meio de seus próprios esforços e méritos. Porque seja o que for que
consigam produzir com relação a fenômenos, não são falsos moedeiros, nem
jamais recebeu nenhum salário, seja por parte dos Mestres ou da Sociedade.
aqueles que carecem de meios pessoais e dedicam todo o seu tempo à obra da
serão retribuídos, se é que se pode empregar esta palavra com relação aos
casos de que se trata. Porque cada um deles, pronto a dedicar todo seu tempo
318
à Sociedade, abandona boas situações e seu futuro, para trabalhar por nós por
dinheiro.
está absorvendo dinheiro lenta, mas constantemente, pois até agora não
cobre seus gastos o Path de Nova York e a Revue Theosophique que acaba de
entregue à Sociedade.
coisas absurdas e contraditórias são ditas a respeito deles, que lá não se sabe em
319
quem crer, pois toda sorte de histórias ridículas são admitidas como opiniões
correntes.
320
OS MAHATMAS TEOSÓFICOS
P: Quem são enfim esses que chamam de seus "Mestres"? Uns dizem
que são "espíritos" ou outro tipo qualquer de seres sobrenaturais, enquanto que
T: Não são nem uma coisa nem outra. Certa vez ouvi uma pessoa
coisa desse estilo. Mas se você levar em conta o que as pessoas dizem, jamais
poderá formar um conceito exato deles. Em primeiro lugar, são homens vivos,
que como nós nasceram e estão condenados a morrer como qualquer mortal.
P: Sim, mas dizem que alguns deles têm mil anos. . . É certo?
até hoje. Apesar de nossas negações, e por mais que nos esforcemos em
convencer as pessoas, cada dia as invenções são mais absurdas. Ouvi falar de
Matusalém que tinha 969 anos; mas não tendo obrigação de acreditar nisso, ri-
me desta afirmação, pelo que fui considerada por muitos, desde aquele dia,
P: Mas falando seriamente, a vida deles é mais longa que a vida comum
dos homens?
321
T: O que você chama de vida comum? Lembro-me de ter lido no
Lancei o caso de um mexicano que tinha 190 anos, mas jamais soube de
algum mortal - profano ou adepto - que conseguiu viver pelo menos a metade
que você chama de vida comum, sem dúvida, mas isto nada tem de milagroso,
como Alexandre, por que não haveremos de chamar "grandes" àqueles que
Alexandre nos campos de batalha? Além disso, esse nome é uma palavra
322
T: Onde está o egoísmo? A situação criada para a Sociedade
Teosófica não prova sobejamente que o mundo não está preparado para os
pessoas.
teria sido queimado junto com seu invento, atribuindo tudo ao demônio. Os
que muitas das obras teosóficas foram escritas sob sua orientação?
verbatim; mas na maioria dos casos apenas inspiram as idéias, deixando aos
podem jazê-lo?
323
T: Você está cometendo um erro enorme e a própria ciência se
realidade não existe nada superior ou fora da natureza e de suas leis. Entre as
ciência se verá obrigado a reconhecer que existe a mesma ação entre uma
mente e outra -— seja qual for a distância que as separe — que há entre dois
não é uma coisa tangível que possa ser separada do objeto de sua
contemplação pela distância, resulta que a única diferença que pode existir
P: Sem dúvida admitirá que o hipnotismo não faz nada que seja tão
324
pensamento sejam pouco numerosos até agora, presumo que ninguém
quererá se comprometer a assinalar até que ponto sua ação pode estender-se
de suas leis?
segundo lugar, porque devem fracassar por enquanto, até que se vejam
cérebro.
62
Como por exemplo, o professor Bernhein e o dr. C. Lloyd Tuckey, na Inglaterra; os professores
Beaunis e Liogeois em Nancy; Delboeuf, de Lieja; Burot e Bourru, de Rochefort; Fontain e Sigard, de
Bordeaux; Forel, de Zurique; os drs. Despine, de Marselha; Van Renterghem e Van Eeden, de
Amsterdam, Weterstrand, de Estocolmo; Schrenck-Natzing, de Leipzig; e muitos outros médicos e
escritores eminentes.
325
T: Não, ao contrário, a muito poucos. Semelhantes operações
"Irmãos da sombra" e Dugpas, "bruxos"), sem lei espiritual alguma que limite
seus atos, obtém com grande facilidade o domínio sobre qualquer mente,
submetendo-a por completo a seus maus poderes. Mas nossos Mestres jamais
farão coisa semelhante. Não têm o direito de obter completo domínio sobre o
sujeito, não intervindo o mínimo em seu livre arbítrio. A não ser que uma
penetrar no nebuloso caos da esfera de tal pessoa. Mas aqui não é lugar para
tratar de assunto de tal natureza. Basta dizer que se este poder existe, existem
326
Paris, que consiste em uma repugnante injeção animal no sangue humano —
que assusta, por causa da palavra "superstição" unida a ele. A lei não
"bruxaria" evidente. Você não pode crer na eficácia e na realidade dos poderes
acreditar nestes mesmos poderes, quando são empregados para fins maus. Se
crê neles, acredita na "bruxaria". Não pode crer no bem e negar o mal, aceitar a
falsa. Nada pode existir sem seu contraste; e nem o dia, nem a luz, nem o bem,
oposição.
327
P: Conheci homens que apesar de acreditarem completamente no que
e feitiçaria.
tanto pior para eles. Nós que conhecemos a existência de bons e santos
Dugpas.
todos os homens para refutar de uma vez e para sempre os pesos que se dirigem
T: Que pesos?
alguma vez dinheiro, benefício ou fama dessa suposta existência? Afirmo que
apenas recolhi insultos, desprezos e calúnias, que teriam sido muito dolorosos
328
Deve ser inventado toda a filosofia exposta até agora na literatura
vão, como o verá dentro de uns cem anos. Ao afirmar o que dizem,
diz, posto que deve tê-los enganado a todos! Se diz a verdade, ela representa a
caixas chinesas, uma vez que entre as chamadas "cartas dos Mahatmas"
P: Isso é precisamente o que dizem, mas não é muito doloroso para ela
ser denunciada publicamente como "a mais perfeita impostora do século, cujo
Investigações Psíquicas?
329
T: É bastante fácil pretendê-lo quando uma pessoa se constitui em
assunto?
Um jurisconsulto, que leu seu informe, disse a um amigo meu que em sua
longa carreira jamais havia visto um documento mais ridículo nem que mais se
P: Sem dúvida fez um grande mal à Sociedade. Por que não se justificou
madame Blavatsky não tinham dinheiro para uma demanda; e, por último,
P: Bom cumprimento lhes faz! Mas não acredita que ter refutado
autorizadamente toda essa questão, teria produzido um bem real à causa teosófica,
330
T: Talvez. Mas acredita que um tribunal ou um juiz inglês admitiriam
calúnias lançadas na nossa conta, verá que a intenção de obter justiça perante
nossas custas.
existência dos Mahatmas. Diz que do começo ao fim tudo isso não passa de uma
do que esta. De qualquer maneira não faço a menor objeção a esta teoria. Digo
agora que quase prefiro que as pessoas não acreditem nos Mestres. Declaro
abertamente que quisera que as pessoas cressem que o único país dos
nomes e seu grande ideal a uma profanação infame, como agora sucede.
o que quiserem.
331
T: Afirmamos que existem. Embora de pouco sirva nossa afirmação.
jamais tiveram provas de sua existência. Está muito bem. Neste caso, madame
se é assim, que importa que existam ou não, uma vez que ela mesma está
eles são intrinsecamente bons, e são aceitos como tal por muitas pessoas de
questão? Jamais se provou que fosse uma impostora, e este ponto sempre
ficará sub-judice; enquanto que um fato certo e inegável é que, seja quem for o
inventor da filosofia pregada pelos Mestres, esta é uma das filosofias mais
frustrada), não parecem dar-se conta de que estão pagando o maior tributo a
seus poderes intelectuais. Assim seja, já que esses loucos infelizes o querem.
repugnância que sente ante seus próprios olhos -- como a vestir-se de plumas
332
T: Os Mestres não dirigem a Sociedade, nem sequer os fundadores;
e ninguém jamais afirmou que assim o fizessem: apenas velam sobre ela e a
protegem. Isto fica bem provado pelo fato de que nenhum dos erros cometidos
jamais a pôde ferir; e nenhum dos escândalos internos nem os ataques mais
Aquele outro "Mestre" que enviou o homem com os cinco talentos, não lhe
disse como deveria fazer para dobrá-los, nem tampouco impediu que o
servidor tolo escondesse seu único talento na terra (São Mateus, XXV; 14-30).
Espírito Santo, têm sido e são culpáveis não só de "erros" mas de uma série
nenhum cristão negará por isso sua crença naquele "Mestre", embora sua
existência seja muito mais hipotética do que a dos Mahatmas, pois ninguém
jamais viu o Espírito Santo nem presenciou como dirige a Igreja. Além disso,
pretendem ter sido inspirados por esses Mestres, ou que os viram e falaram com
333
evidente, ou estavam alucinados ao vangloriar-se de semelhante inspiração;
conhece pelo fruto; e como todos os teósofos serão julgados por seus atos e
não pelo que escrevem ou dizem, todos os livros teosóficos devem ser aceitos
conforme seus méritos e não como regra à pretensão de autoridade que possa
alegar.
P: Sem dúvida, madame Blavatsky faz isto com relação a suas próprias
livros. Com poucas exceções, a maioria dessas obras não só é imperfeita, mas
que não pretende tê-los visto. Existem sociedades com fins lucrativos que
agora pretendem provar que são dirigidos por Mestres muito mais elevados do
que os nossos! Numerosos e graves são os pecados daqueles que afirmam tal
têm sido arrastados nesse lodo asqueroso, manchados pelo fato de se verem
334
associados com motivos sórdidos e práticas imorais, impedindo que milhares
todo teósofo sincero sente hoje no fundo de seu coração que esses nomes e
lembro de ter ouvido jamais falar de tais Mestres, até muito recentemente.
ouvíamos, não teria tido lugar semelhante profanação. Observe que 14 anos
do Ocultismo era apenas suspeitada por muito poucos. Agora tudo isto
de nomes e coisas santas. Tudo o que agora se encontra sobre essas matérias
na literatura corrente — que não é pouca — tudo deve ser atribuído ao impulso
335
inimigos aproveitam-se de nosso erro. O mais recente livro lançado contra
nossas doutrinas, diz-se que foi escrito por um adepto que fazia já vinte anos
ignorante para ter escrito algo deste gênero). Esses "inspiradores" são
intelectuais; e esses falsos adeptos não são um, mas vários. O ciclo dos
começou há doze anos com o "Luís" da sra. Emma Hardinge Britten, da Arte
Luz do Egito, obra escrita pelos espíritas contra a Teosofia e suas doutrinas.
de que nossas indiscrições possam ter facilitado algo aos demais no encontrar
o caminho que conduz aos Mestres, cujos nomes tomam em vão em toda
nossos inimigos. A autora espírita da Arte Mágica pode ou não ter conhecido
muito menos do que essa senhora disse e escreveu contra nós e a Teosofia
Inglaterra, por meio do telescópio de lord Rosse, que foi construído por
336
Parsonstown, Irlanda63 e que jamais se moveu dali, bem posso me permitir
ensinamentos daqueles!
63
Veja Ghost Land (Terra dos Fantasmas), na primeira parte.
337
CONCLUSÃO
fundadores.
entendo como seus conhecimentos possam ser fatores tão vitais nesta questão,
embora este seja de suma importância; falava mais do muito de juízo claro e
338
perdendo dessa maneira, por graus imperceptíveis, aquela vitalidade que
apenas a verdade viva pode dar. Deve não esquecer que todos os nossos
banco de areia mental, ficando ali como casco de navio à mercê das ondas.
entre os homens. Por meio de seus ensinamentos, por meio de sua filosofia,
339
um foco de egoísmo e más paixões. O desenvolvimento mental e psíquico do
homem se efetuará em harmonia com seu progresso moral, enquanto que seu
ambiente material refletirá a paz e o bom desejo fraternal que então reinará em
sua mente, em vez da discórdia e das lutas que hoje em dia o rodeiam por toda
parte.
remontando-os ao passado, século por século, tão longe quanto nos permitem
conseguir melhor resultado que seus antecessores, então existirá como corpo
século 20. A condição geral das mentes e corações dos homens terá
340
certo ponto. E não apenas isto, mas que, além de uma vasta literatura
idioma preparado para ele, no qual poderá expressar as novas verdades que
missão e a seus primitivos impulsos, através dos próximos cem anos; diga-
me, repito, se vou demasiado longe ao afirmar que a Terra, no século 21, será
341