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Carandiru

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Carandiru

Dráuzio Varella
Resenha

Todos conhecem o médico Drauzio Varella, aquele que sempre aparece no Fantástico alertando sobre os perigos do cigarro. Mas talvez nem todos
saibam que foi ele que escreveu o livro “Estação Carandiru”, mais tarde adaptado para o filme “Carandiru”. É um livro que relata histórias reais sobre a
época em que o dr. Drauzio Varella fez trabalho voluntário na Casa de Detenção, também chamada de Carandiru por se encontrar no bairro de mesmo
nome, em São Paulo nos anos 90.
Inicialmente, Drauzio Varella foi para o Carandiru com o intuito de fazer palestras de conscientização para a prevenção da AIDS. Naquela época, foi
constatado que uma parcela de 10 a 20% da população carcerária tinha o vírus HIV no organismo. A maioria contraía por causa da cocaína injetada com
seringa compartilhada, pois era muito comum o uso da droga na época. Após realizar algumas palestras no auditório, o médico começou a receber visitas
dos presos se queixando de outras coisas, como dores, tosse, febre, como se estivessem em um postinho de saúde. Drauzio então decidiu começar a
ajudar os outros médicos que atuavam na enfermaria da penitenciária. Ele inclusive relata a dificuldade que ele, como médico acostumado a ter à
disposição laboratórios bem equipados e uma equipe especializada para dar suporte, encontrou em atender àqueles pedidos de ajuda em um lugar
abandonado pelo Estado. Não havia como fazer raio-x ou como pedir um exame sem ter que passar por uma imensa burocracia. O jeito era ouvir o
paciente e, somente a partir disso, dar o diagnóstico.
A escrita do autor é bem objetiva e direta, mas ao mesmo tempo não dá um ar de distância. Muito pelo contrário, os relatos do autor demonstram como
a sua passagem pelo Carandiru o afetou também.
O livro é dividido em vários capítulos, cada capítulo com sua própria história independente. Alguns capítulos são interligados, mas no geral eles são
como contos, causos ou crônicas. Os capítulos iniciais são dedicados à descrição da estrutura e da rotina da penitenciária. Os demais capítulos contam
histórias sobre os presos, acontecimentos no Carandiru mas também há histórias voltadas quase exclusivamente para a vida passada do preso. Quase
sempre, quando surge um “personagem” novo, o autor conta brevemente o porquê do preso estar ali, se foi assalto, homicídio ou tráfico, por exemplo.
Uma coisa que eu achei interessante e deixou o livro com um ar mais humano e real foi que o Drauzio Varella deixou as falas dos presos exatamente
como eles falavam. As gírias, os modos de falar, as expressões, tudo isso foi mantido do jeito que o autor as ouviu.
Algumas edições edição possuem fotografias das celas e dos arredores, além de alguns cartazes que os presos criaram em uma competição para
conscientizar sobre os males do crack, uma droga que se popularizou rapidamente e substituiu a cocaína.
O livro começa e termina no mesmo tom objetivo e direto, mas te deixa pensando em todas aquelas histórias dos “personagens”. É um livro que
recomendo muito pra quem quer conhecer um pouco da realidade dos presídios e penitenciárias do Brasil. É um livro pra quem quer escutar o que
bandidos e assassinos têm a dizer, qual a história deles, o que eles pensam sobre o sistema, o que eles pensam sobre si mesmos, qual foi a série de
eventos que os levou a estar naquele lugar. Com certeza é um livro para nunca se esquecer.

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