Tesesdisponiveis88138tde 11112001 134010publico01tde PDF
Tesesdisponiveis88138tde 11112001 134010publico01tde PDF
Tesesdisponiveis88138tde 11112001 134010publico01tde PDF
mariliacanovas@uol.com.br
A EMIGRAÇÃO ESPANHOLA
ii
Para
José Pedro,
Heloisa, Maria
Fernanda e Isabella,
iii
A poesia da História repousa no fato quase
milagroso de que, por esta mesma terra, por este
mesmo chão familiar, já caminharam outros homens e
mulheres, tão reais quanto nós,
com pensamentos próprios, levados pelas próprias
paixões,
todos mortos agora, gerações e gerações,
completamente desaparecidas, da mesma forma que
nós
muito em breve desapareceremos
como fantasmas ao raiar do dia.
G.M.Trevelyan
Taiguara.
iv
Agradecimentos
v
Ao Dr. Célio Debes e ao Sr. Hernâni Donato, do
Instituto Histórico e Geográfico, pela generosa
acolhida e oferta de exemplares de suas obras.
vi
Em Vila Novais, a todos aqueles que demonstraram
entusiasmo pela nossa pesquisa, especialmente as
famílias de Seu Ildefonso Blasque Sanchez, Seu
Tercifon Cabrera, D.Teodora Dias, D.Ana Garcia, D. Ana
Crespo Moreno e D. Carmen Dueñas, sem cuja
colaboração e estímulo esse trabalho não seria
possível. Espero ter sido merecedora da confiança de
todos, em cujos depoimentos depositaram não apenas
relatos, mas sentimentos.
vii
RESUMO
espanhóis naquela localidade – Villa Novaes -, ofereceu campo para outra série de
integrado e orgânico.
ao lado das fontes documentais escritas, buscamos abrir espaço àqueles que, como
sociedade brasileira.
viii
Palavras-chave: Imigração, imigração espanhola e cafeicultura, emigração espanhola
em massa, Município de Novais, estudo de caso.
ix
A B S T R A C T
development of a community whose origins are linked to two factors, namely, the
series of wider formulations, whose fundamental variants derive from these immigrants'
mass emigration of Spaniards in its roots, and to investigate the expectations of these
immigrants concerning the country they were bound to as a whole, and, more
specifically, the aspects revealed by the community in which they settled down, and
which is the object of this thesis. Our aim was the one of setting up a referentially
With this aim, and considering the double nature of our study - the
open space for the investigation of the experiences of those who had actually lived all
that series of past episodes, casting them as protagonists rather than as minor
x
The combination of the two aforementioned types of sources aimed at
immigrants in Brazil in the focused period (1880-1930), and at understanding their role
Brazilian society.
xi
RESUMEN
ofreció oportunidad para otra serie de consideraciones más amplias, cuyas variables
desde sus raíces, así como establecer sus relaciones con los aspectos del país de
buscamos ceder espacio a aquellos que, como protagonistas, habían vivido los
xii
Por medio del análisis conducido entre las dos fuentes mencionadas,
intentamos recuperar aspectos del carácter singular del inmigrante español en Brasil
entre los años 1880 y 1930 y, así, reconstruir su significado en el marco general de las
xiii
S U M Á R I O
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
PARTE I
O PROCESSO EMIGRATÓRIO ESPANHOL EM MASSA (1880-
1930):
SEUS DESDOBRAMENTOS MAIS GERAIS E O CASO DO BRASIL
35
...
xiv
2. As diversas correntes oriundas da Península . . . . . . . . . . . . . 58
.......
3. A corrente que demandou o Estado de São Paulo . . . . . . . . . 68
.......
CAPÍTULO II : A Espanha invertebrada, seus descompassos
regionais 77
e os movimentos populacionais: Andaluzia, Extremadura, região do
Levante
PARTE I I
OS EMIGRANTES, OS PAÍSES DE DESTINO E O BRASIL:
QUESTÕES ESTATÍSTICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11
................
7
xv
1. A fazenda, as relações no colonato e as modalidades 17
contratuais . . . . 9
2. A itinerância do imigrante, a formação do pecúlio e a
pequena propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
.............. 8
xvi
PARTE I I I
PRIMÓRDIOS DE VILLA NOVAES: O DISTRITO DE SÃO
SEBASTIÃO DO TURVO, OS NÚCLEOS POPULACIONAIS E OS
IMIGRANTES ESPANHÓIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
.... 3
xvii
1. Casos ilustrativos e papéis desempenhados . . . . . . . . . . . . . 26
....... 8
2. A passagem da condição de colono à de pequeno
proprietário: condições e dificuldades iniciais . . . . . . . . . . . . . 28
.................. 7
3. O custo e a valorização das propriedades agrárias . . . . . . . . . 30
...... 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
.... 7
ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
...... 0
FONTES UTILIZADAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
... 1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
.. 7
xviii
Nome do arquivo: resumo
Pasta: A:
Modelo: C:\Documents and Settings\cliente\Dados de
aplicativos\Microsoft\Modelos\Normal.dot
Título: Texto II en español
Assunto:
Autor: Jose Pedro Canovas
Palavras-chave:
Comentários:
Data de criação: 19/7/2001 09:54
Número de alterações: 79
Última gravação: 2/2/2001 10:17
Gravado por: CCE - USP
Tempo total de edição: 565 Minutos
Última impressão: 4/2/2001 08:45
Como a última impressão
Número de páginas: 18
Número de palavras: 2.174 (aprox.)
Número de caracteres:12.392 (aprox.)
INTRODUÇÃO
_________________________________________________________________
1. O tema:
1
- “O café e a aceleração das transformações sociais do fim do século XIX até 1930 em São Paulo”,
ministrado no 2º semestre de 1978.
2
- Os principais locais consultados e a respectiva documentação examinada, nesse levantamento inicial
foram:
• Em S.Paulo, Capital:
- Hospedaria dos Imigrantes, hoje Memorial do Imigrante (para o inventário dos livros de Registro de
Entradas e das Listas de Bordo);
- Arquivo do Estado (com inúmeras latas de assuntos correlatos, como os Requerimentos Diversos da
Secretaria da Agricultura, nossa análise primeira recaiu sobre os Ofícios Diversos, classificados por
períodos e por local, mas ainda sobre Terras e Colonização, Colonização, Imigração e Despesas,
Estrangeiros (vindos), Movimento de Imigrantes, Sociedade Promotora de Imigração, Discriminação de
Terras e Colonização, Inspetoria Geral de Imigração, Livro de Débitos de Colonos, dentre outros).
- Secretaria da Promoção Social (com vasta documentação sobre imigração, donde destacamos os
Boletins de Agricultura, os Boletins do Departamento de Imigração e Colonização, Revista Brasileira de
Estatística, Revista Brasileira de Geografia, Revista do Instituto do Café e Revista Rural Brasileira);
- Museu Paulista (em cuja biblioteca, encontramos à época, inúmeras publicações oficiais, como Anuários
Estatísticos, Boletins de Agricultura, Revista Agrícola, Almanaque Agrícola, Anuários do Ministério da
Agricultura, Recenseamentos Agrícolas e Demográficos, os quais, em sua maioria completavam as séries
localizadas no Instituto Agronômico de Campinas, além de inúmeras obras raras, especialmente os
Almanaques (Garnier, Laemmert) e publicações do Departamento de Estatística do Estado de S.Paulo);
- IBGE (para a consulta ao Recenseamento de 1920);
- Instituto Histórico e Geográfico (onde consultamos especialmente a Hemeroteca);
Consultamos ainda as bibliotecas das seguintes instituições, para efeito de levantamento de documentação
de interesse:
Sociedade Hispano-Brasileira de Socorros Mútuos (de cujo acervo, não catalogado e de difícil
localização, quase nada pudemos dispor), Biblioteca Mário de Andrade, Biblioteca Kennedy, Biblioteca
da Faculdade Íbero Americana e da Cúria Metropolitana.
• Em Campinas, SP:
7
Nossa peregrinação se estendeu por alguns meses, resultando daí um
volume expressivo de dados coligidos, com o qual, entretanto, não logramos
estabelecer a tão necessária “liga” , o fio condutor que nos encorajasse a esboçar
a elaboração de um projeto. As alusões a este grupo, quando apareciam, eram
esporádicas, geralmente dispersas em maços de documentos ou publicações
oficiais, não tinham caráter serial, e não apresentavam relação ou analogia.
A primeira impressão não nos animou. Por onde começar? Lá não havia
sequer um museu, um arquivo e as informações eram díspares sobre a
possibilidade da existência de qualquer documentação que pudesse subsidiar uma
investigação.
3
- D. Olga Birolli González , já falecida, mãe de Adilson B. González, nosso amigo.
8
narrativas, mergulhadas na trajetória singular de que tinham sido protagonistas,
começaram a ganhar corpo e nexo, emoldurando um quadro referencial que
incitava nosso interêsse pela investigação, mesmo que essa ainda não se
revelasse exeqüível.
4
- Villa Novaes aparecerá oficialmente como distrito apenas em 1925, pertencendo ao Município de
Jaboticabal, até 1935; depois, passará a se reportar a Catanduva, de 1935 a 1938 e, finalmente, a
Tabapuã, de 1938 a 1997. O processo que redundou em seu aparecimento será objeto de apreciação no
decorrer dessa Monografia.
Nesta ocasião, concentramos sobretudo em Jaboticabal, SP (Centro de Cultura, Câmara Municipal e
Prefeitura Municipal) o foco da pesquisa.
9
do material por ambos os tabeliães, que exigiam, para tanto, autorização
judicial.
5
- Desnecessário nos estendermos nas dificuldades em que isto se revestiu. Não apenas pelo fato de tais
documentos estarem a 400 quilômetros da Capital, o que, pelo volume, nos obrigou a várias viagens, mas,
e sobretudo, pelas condições desfavoráveis em que foi realizada a sua microfilmagem; sem poder
deslocar o material para algum local com alguma condição operacional mínima, esta tarefa foi realizada
nos próprios Cartórios, em condições inadequadas e de pouca luminosidade.
Junto ao Cartório do Ofício de Notas do Município de Paraíso, microfilmamos um total de 53 livros (12
de Registros de Nascimento, 07 de Registros de Casamento, 06 de Registros de Óbitos e 28 livros de
Escrituras e Testamentos), referentes ao período de 1900-1915 (Distrito de S.Sebastião do Turvo) e de
1915-1925 (Distrito de Irupy), consituindo-se em 13 rolos de microfilmes.
No Cartório do Distrito de Vila Novais levamos a efeito a microfilmagem de 17 livros (06 de Registros de
Nascimento, 03 de Casamentos, 03 de Óbitos e 05 de Escrituras e Testamentos), correspondendo ao
período de 1925 a 1935 e que geraram 05 rolos de microfilmes.
Tal documentação será, no entanto, utilizada parcialmente, conforme se depreenderá no decorrer da
Monografia, em virtude de ter tido toda uma série - casamentos e óbitos -, extraviada no Setor de
Documentação do Departamento de História (hoje, Centro de Apoio à Pesquisa em História, CAPH),
onde estava conservada.
Os microfilmes que foram descartados, sem comunicação prévia e sob a alegação posterior de que
apresentavam defeitos, curiosamente foram acondicionados como os demais numa caixa própria,
identificada com o conteúdo e com nosso nome completo, depois de serem examinados pelo Sr. Alfredo
Crescente, funcionário que à época nos assessorou, não apenas cedendo o equipamento para a
microfilmagem, mas orientando seu manuseio e conferindo todos os filmes que produzimos. Exigente,
Seu Crescente nos obrigou a refazer alguns livros que tecnicamente não considerava aceitáveis e de
leitura comprometida.
Os registros descartados continham um manancial expressivo de informações, na identificação daquele
elemento, apenas para citar, os Registros de Óbito continham referências da causa mortis, do número de
filhos e dos bens deixados, informações potencialmente reveladoras na conjunção com outros dados.
10
divulgação da pesquisa junto aos demais membros da comunidade6, e cuja ação
catalizadora, incansavelmente promovia a ampliação dos nossos contatos com
eles.
6
- O termo é aqui empregado num sentido intermediário entre o do senso comum - qualquer
coletividade humana - e o conceito forjado pela teoria sociológica clássica para dar conta das formas de
associação e sociabilidade dissolvidas com a crise da tradição e a emergência e consolidação da
sociedade moderna. O tipo de associação comunitária predominante no mundo da tradição (durante a
vigência do feudalismo e do pré-capitalismo) envolve uma constelação de interesses materiais e morais,
percebidos como unidades interelacionadas entre si. O trabalho não está divorciado ou autonomizado
em relação as outras esferas da vida social, como o casamento, as festas, as hierarquias, o controle
político do poder. O tipo de associação societária é completamente distinto. Além de revelar tantas
outras importantes características, promove a autonomização relativa de múltiplas esferas sociais como
o trabalho, a propriedade, etc... Daí, porque o mundo moderno revela uma complexidade distinta do
mundo tradicional. Assim, comunidade e sociedade correspondem a tipos ideais - no sentido weberiano -
de relações e formas de associações sociais. Segundo os sociólogos, à medida em que a sociedade
moderna se consolidou, o tipo de associação societário tendeu a prevalecer sobre o comunitário. No
entanto, como mostram muitos estudos, inclusive recentes, a comunidade não desaparece completamente.
Em algumas circunstâncias, ocorre uma espécie de melange entre ambos tipos; em outras, traços
comunitários sobrevivem debaixo de relações societárias; em outros ainda, a comunidade sobrevive
como experiência utópica (moral), embora suas bases materiais (as formas concretas de organização
societária) tenham desaparecido e se subordinem às regras das relações societárias [...]. Conforme:
Sérgio ADORNO, comunicação pessoal, 02.11.1998.
É seguindo a trajetória acima traçada que esta pesquisa entenderá por “comunidade” um conjunto de
relações sociais fundadas em atributos morais e sociais, representados pela origem, parentesco, língua e
tradição e pretenderá esclarecer o sentido, as etapas, a importância das transformações operadas nas
relações comunitárias, bem assim as bases sobre as quais a comunidade se redefinirá.
Servimo-nos abundantemente do clássico estudo de José de Souza MARTINS, em A imigração e a crise
do Brasil agrário (S.Paulo, Livr. Pioneira Editora, 1973), obra na qual esse autor aborda essa questão,
esclarecendo que [...] a dinâmica da sociedade exprime-se não só pelas relações entre os sujeitos, mas
pelas relações dos sujeitos com as condições de produção da história. Assim sendo, não estamos apenas
diante de relações sociais entre imigrantes e nacionais ou imigrantes e imigrantes, mas estamos diante
de relações sociais decorrentes do modo como a imigração foi produzida e incorporada pela crise do
Brasil agrário (p. 18).
Esta ainda parece ser uma das preocupações centrais de correntes historiográficas que se debruçam sobre
questões imigratórias. Bruno RAMIREZ, em “Migraciones, etnicidad e Historia Mundial: perspectivas
desde la America del Norte” (In: Estudios migratorios latinoamericanos. Buenos Aires, CEMLA, Ano 8,
nº 25, 1993, p. 402), diz: Para afrontar mejor estos interrogantes, puede parecer útil identificar dentro
de lo que genéricamente se ha designado como ‘inmigration history’ tendencias o problemáticas
específicas en torno a las cuales se ha articulado la historiografia de estos últimos años. Esto es
necesario también porque el modelo que ha prevalecido durante los años 70 y 80 (el ‘community study’
entendido como estudio de un movimiento migratorio singular que implicaba a una sola etnia) parece
dejar hoy cada vez más espacio a los enfoques que sitúan los fenómenos migratorios en contextos
geopolíticos y sociales más vastos y complejos. Grifos nossos.
11
2. Metodologia, documentação e estrutura do trabalho:
Mi vida? Es que yo tengo vida? Estos mis años, todavia me parecen niños.
Las emociones de la infancia están en mí. Yo no he salido de ellas.
Contar mi vida sería hablar de lo que soy, y la vida de uno es el relato de
lo que se fue. Los recuerdos, hasta los de mi más alejada infancia, son en
mí un apasionado tiempo presente 7.
7
- Federico Garcia LORCA, andaluz de Granada, nascido em 05.06.1898. In: OBRAS
COMPLETAS. Tomo II. Madrid, Aguilar, 1954, p. 956.
8
- Luis BUÑUEL (1900-1983), cineasta espanhol, em suas memórias recém traduzidas. SACKS,
Oliver. “O marinheiro perdido”. In: O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. S.Paulo, Cia.
das Letras, 1997, p. 38
12
estabelecendo, assim, a necessária e recíproca articulação entre ambos; no caso
específico espanhol, era preciso buscar em suas raízes locais, as motivações que
determinaram com que a imensa onda humana atravessasse o oceano.
9
- SAYAD , Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade. S.Paulo, Edusp, 1998, p. 13.
10
- Esta opção metodológica inicial levou em conta a perspectiva, a abrangência e as conclusões que
se pode obter através do estudo de um caso particular em que a particularidade dos fenômenos
examinados contém as determinações mais gerais de uma sociedade. No caso específico da reconstrução
da comunidade espanhola de Villa Novaes, a adoção de tal procedimento metodológico, implicou, como
ficará explicitado, referências não apenas às condições histórico-sociais particulares que possibilitaram o
seu aparecimento e posterior desenvolvimento, como também referências às condições que presidiram o
fenômeno no país de origem.
Foram muitas as contribuições historiográficas ao entendimento desse procedimento metodológico,
porém, gostaríamos de registrar a lapidar contribuição de Juarez Rubens Brandão LOPES (Crise do Brasil
arcaico. S.Paulo, Difel, 1967), em que o autor estuda as relações de trabalho em duas comunidades na
zona da Mata mineira em processo de transformação social, sob a perspectiva de um estudo de caso.
Para promover a articulação que julgávamos indispensável nestes casos, e reafirmando nosso
entendimento de que “o imigrante antes de ‘nascer’ para a imigração, é primeiro um emigrante” e que
“de fato, o imigrante só existe na sociedade que assim o denomina a partir do momento em que atravessa
suas fronteiras e pisa seu território; o imigrante ‘nasce’ nesse dia para a sociedade que assim o
designa” (SAYAD, A. Op. cit., 1998, pp. 18 e 16 respectivamente), levamos a efeito uma apreciação
acerca do processo emigratório espanhol, o qual encontra-se explicitado na PARTE I, Cap. I e II dessa
Monografia.
Tal opção trouxe a necessidade de um recuo na periodização inicialmente proposta - de 1900 para 1880
-, marco que contempla a implantação de controles oficiais de saída do emigrante pelo Governo espanhol,
de cujas referências estaremos nos utilizando.
13
Na origem da imigração encontramos a emigração, ato inicial do
processo [...] pois o que chamamos de imigração, e que tratamos como
tal em um lugar e em uma sociedade dados, é chamado, em outro lugar,
em outra sociedade ou para outra sociedade, de emigração; como duas
faces de uma mesma realidade, a emigração fica como a outra vertente
da imigração, na qual se prolonga e sobrevive, e que continuará
acompanhando enquanto o imigrante, como duplo do emigrante, não
desaparecer ou não tiver sido definitivamente esquecido como tal 11.
11
- SAYAD, A. Op.cit., 1998, p. 14.
12
- MARTINS, J.S. Op.cit., 1973, pp. 42/3.
14
domínios distintos - documentos escritos, depoimentos orais -, buscando
recuperar as maneiras como se entrecruzam e se distendem.
15
- Memória e sociedade - lembrancas de velhos. S.Paulo, T.A. Queiróz, Editor, Ltda., 1979.
16
- Op. cit., 1979, p. 01.
15
História”17, e de que eram documentos ambulantes, cujos testemunhos, evocando
sua própria história, poderiam representar pontos de contato, numa articulação
com a História oficial.
17
- BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas I - Magia e técnica, arte e política. S.Paulo, Brasiliense,
1985, p. 223 (trad. de Sérgio Paulo Rouanet). Citado geralmente como ‘Teses’.
18
- Halbwachs, Maurice. A memória coletiva. S.Paulo, Ed. Vértice, 1990, p. 84.
19
- GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e narração em W. Benjamin . S.Paulo, Perspectiva,
FAPESP. Campinas, SP, Editora da Unicamp, 1994, p. 3.
20
- THOMSON, Alistair. “Recompondo a memória: Questões sobre a relação entre a História Oral
e as memórias”. In: Revista Projeto História. São Paulo: 15, abril/1997, p. 57.
16
consciência atual. Por mais nítida que nos pareça a lembrança de um
fato antigo, ela não é a mesma imagem que experimentamos na infância
porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção
alterou-se e, com ela, nossas idéias, nossos juízos de realidade e de valor.
O simples fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade
entre as imagens entre um e outro e propõe a sua diferença em termos de
ponto de vista 21.
21
- BOSI, E. Op. cit., 1979, p. 17
22
- BERTAUX, Wiame. “Mémoire et récits de vie”. In: Penelope (pour l’histoire de femme), nº 12,
1985, p. 51. Apud: FERNANDES, Maria Esther. “A ‘história de vida’ como instrumento de captação da
realidade social”. In: Cadernos CERU (Centro de Estudos Rurais e Urbanos), nº 6, série 2, 1995, p. 150.
23
- NANCY, Michel. “De las historias y relatos de vida a las prácticas antropológicas: indivíduos,
minorías y migrantes”. In: Estudios migratorios latinoamericanos. B.Aires, ano 8, nº 24, agosto/93, p.
207.
17
determinante no tratamento dedicado aos diversos suportes empíricos de matizes
distintas que nortearam a investigação.
24
- A propósito dessa problemática envolvendo a questão da construção de identidades, que ademais
foge ao âmbito dessa Monografia, poderíamos citar: HOBSBAWN, E. & RANGER, T. (orgs.) A
invenção das tradições. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984; ANDERSEN, Benedict. Nação e consciência
nacional. S.Paulo, Ática, 1989, p. 14 e ss. ; BENJAMIN, W. “Sobre o conceito de História”. In: Magia e
técnica. Arte e política.Obras escolhidas. Vol.I, S.Paulo, Brasiliense, 1985, pp. 222 e ss., dentre outros.
25
- OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, etnia e estrutura social. S.Paulo, Livraria Pioneira
Editora, 1976, pp.4-9. Embora não seja objeto de análise específica, a possibilidade da apreensão da
dimensão da identidade étnica do grupo em questão será tentada, ainda que apenas a nível exploratório.
18
Não nos escapou, evidentemente, a preocupação com a subjetividade nas
narrativas, porém, no caso dos imigrantes espanhóis, esse aspecto pôde ser
contornado pela recíproca da experiência concreta vivenciada pelo grupo, que
conformava, de certo modo, suas falas em territórios comuns.
Além disso, o ato pessoal de pensar o passado - de contar uma vida - está
enganchado na trama coletiva da existência social. E a memória pessoal
transforma-se em fonte histórica, justamente porque o indivíduo está
impregnado de elementos que ultrapassam os limites de seu próprio corpo
e que dizem respeito aos conteúdos comuns dos grupos ao qual pertence
ou pertenceu 26.
De qualquer modo, e citando a estudiosa Ecléa Bosi, é certo que seus erros
e lapsos foram menos graves em suas conseqüências do que as omissões da
História oficial 28.
26
- MALUF, Marina. Ruídos da Memória (A presença da mulher fazendeira na expansão da
cafeicultura paulista). Tese de doutoramento. Deptº de História da FFLCH- USP. S.Paulo, 1994, p. 96.
27
- MALUF, Marina. Op.cit., 1994, p. 80.
28
- BOSI, E. Op. cit., 1979, p. 1
19
Memória, História: longe de serem sinônimos, tomamos consciência que
tudo opõe uma à outra. A memória é a vida [...] e, nesse sentido, ela está
em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a
todos os usos e manipulações, suscetível de longas latências e de
repentinas revitalizações. A História é a reconstrução sempre
problemática e incompleta do que não existe mais. A memória é um
fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a História,
uma representação do passado. Porque é afetiva e mágica, a memória
não se acomoda a detalhes que a confortam; ela se alimenta de
lembranças vagas, telescópicas, globais ou flutuantes, particulares ou
simbólicas, sensível a todas as transferências, cenas, censura ou
projeções. A História, porque operação intelectual e laicizante, demanda
análise e discurso crítico [...]. A memória se enraiza no concreto, no
espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A História só se liga às
continuidades temporais, às evoluções, e às relações das coisas 29.
29
- NORA, Pierre. “Entre memória e História. A problemática dos lugares”. In: Les lieux de
mémoire. La République. Paris, Gallimard, 1984, pp. XVIII-XLII. Apud: Revista Projeto História.
S.Paulo: 10, dez/93, p. 9 (tradução: Yara Aun Khoury)
30
- LOWENTHAL, D. The Past is a foreign country. New York, Cambridge University Press, 1985,
p. 193. Apud: PINTO, Júlio Pimentel. “Os muitos tempos da memória”. In: Revista Projeto História.
S.Paulo: 17, nov/98, p. 205.
20
Se eu lembro? Eu acho que se eu chegasse lá hoje, onde eu tinha costume,
onde tinha roça, lá onde era dois rios, que tinha um de cada lado ... acho
que não precisava ninguém para ir lá 31.
Não fico pensando.... como te falei, não queria vir, até chorei ... 32.
O meu pai, ele tinha uma irmã aqui... já fazia oito anos, né? ... a mais
velha [...] e quando eles chegaram, essa irmã foi para a Espanha de novo.
Ela estava bem, tinham recolhido o café e tavam bem e chegaram na
Espanha e entrou ladrão mascarado, roubaram o que eles levaram, na
Espanha mesmo héin?, entrou gente mascarado, claro que era ladrão, né
[...]; e ela ficou a nada, coitada. Ele [o marido], do choque que levou,
daí um ano, morreu. Ficou com sangue pasmado...34.
31
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque Sanchez, quando interrogado de suas
lembranças da terra natal, deixada aos nove anos de idade. Vila Novais, 1980.
32
- Fragmento de depoimento. D. Carmem Dueñas. Vila Novais, 1981.
33
- SAYAD, A. Op.cit., 1998, p. 227.
34
- Fragmento de depoimento. D.Ana Garcia. Vila Novais, 1980. Grifos nossos, acentuando a
surpresa pelo fato do ocorrido ter se dado na Espanha.
21
...igual aos sinos que tinham na igreja...; o dono da fazenda, aqui, tocava
o sino às três horas da manhã .... e às seis horas tornava tocar outra vez
para ir à roça ... 35
35
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera, referindo-se à fazenda, onde sua mãe levantava
às três horas para preparar o café. Vila Novais, 1980.
36
- MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. “A História, cativa da memória?”. In: Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros. S.Paulo: 34, 1992, p.24.
37
- Sobretudo em: QUEIRÓZ, Maria Isaura P. de. “Introdução a dois estudos sobre a técnica das
histórias de vida”. In: Sociologia: 15 , nº 01, março/53, pp. 8-24.
38
- Seguimos, para tanto, à época, para preparo, coleta e utilização dos depoimentos gravados,
orientação fornecida por Carlos Humberto CORRÊA, em História Oral – teoria e técnica (Florianópolis,
UFSC, 1977), baseado em que elaboramos inicialmente, uma bateria de questões, onde procuramos, de
certa forma, abranger a gama de informações que pretendíamos obter. Tratou-se de um guia, um roteiro
que serviu para melhor orientar o colóquio, o qual tentamos conduzir dentro de um sentido, uma
continuidade, uma evolução, buscando apreender as conexões implícitas às várias etapas.
Foram ainda utilizados, como contribuição teórica, os trabalhos de: NOGUEIRA, Oracy. “A entrevista”.
In: Pesquisa social: introdução às suas técnicas. São Paulo, cia. Ed. Nacional, 1951, p.113 e ss.; ROY,
Teresa M. Malatian. “História Oral”. In: Estudos Históricos. Marília, 15: 123-130, 1976.
22
A operação que engendramos, entrelaçando depoimentos orais com
documentos escritos, justificada sobretudo pela especificidade do tema, nos
aproxima, de certo modo, ao procedimento que se tem convencionado chamar de
“História híbrida”.
39
- BOM MEIHY, J.C.Sebe (org.). (Re)introduzindo História Oral no Brasil. São Paulo, Xamã, 1996
(Série Eventos), p. 50.
40
- DIAS, Maria Odila Silva. “Hermenêutica do cotidiano na historiografia contemporânea”. In:
Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós Graduados em História e do Dep.História da PUC,
nº 17, nov/98, p. 232.
23
A opção de manter a literalidade das falas dos narradores nessa
monografia, é, pois, um pressuposto que vem ao encontro do que julgamos ser o
mais coerente, para este caso específico. Eticamente falando, é quase uma
exigência, a considerar que todos já faleceram. Por outro lado, proceder a
qualquer tratamento do texto como é prática na História Oral não seria
condinzente com aquele fato, além de desnecessário para o caso em questão.
Aos 85 anos, foi o mais idoso - também o mais crítico e eloqüente -, dos
imigrantes a narrar sua trajetória. Chegara ao Brasil aos nove anos, em 1905,
com sua família, procedente de Cáceres, na Extremadura 41.
41
- De acordo com o Livro de “Matrícula de Imigrantes” , da Hospedaria dos Imigrantes, de nº 076, p.
19, a família BLASQUEZ VELLO SANCHEZ, procedente do Porto de Málaga, teria desembarcado a
19.12.1905, pelo Vapor France e estava de passagem, com destino a Bebedouro, na Fazenda de Pedro
24
Casado com d. Maria Romero Sanchez, de Almería - cujo pai trabalhava
nas minas de carvão, antes de emigrar - , desde 1919, comunicava-se com ela
apenas em espanhol , “ a mulher não fala nada em brasileiro”, esclarecia
afirmando que, como ele, ela também tinha nove anos ao chegar.
Antunes. Compunha-se de: Bernabé (chefe), 43 anos, Pascuala, (mulher), 43 anos, Júlia (filha), 18 anos,
Ildefonso (filho), 9 anos e Ignácia, neta, 2 ½ anos.
42
- Consta do Livro de Matrícula de Imigrantes nº 074, p. 199 , da Hospedaria, que a Família
CABRERA REYES MÁS, composta por Manoel (chefe), 37 anos, Encarnación (mulher), 32 anos e José
(filho), 2 anos, procedentes igualmente do Porto de Málaga, teriam desembarcado pelo Vapor Orleanais a
10.07.1905, e tinham como destino a cidade de Bebedouro.
25
seu sogro trabalhara como camarada em uma de suas fazendas, a de Córrego
Rico.
D. Teodora, então com 75 anos, nascera no Brasil. Seu pai, Isaac Diaz
Bote, natural de Cáceres, na Extremadura (como a família de Seu Ildefonso),
havia chegado ao Brasil, pela primeira vez em 1899, deixando seus bens -
“alguma terra e duas casas”- , com parentes, e, depois de uma passagem de
seis anos por uma fazenda em Ribeirão Preto, resolvera retornar a Espanha, onde
sua primeira esposa falece, deixando-lhe três filhos. Então, lá mesmo, ele se casa
novamente, com D.Manuela, que viria ser mãe de D.Teodora, e resolve vir para o
Brasil “porque lá era tudo muito difícil, muito pobre”.
Aqui chega em 1905, ano em que D.Teodora nasce 43. Foram trabalhar
em Bebedouro, em colheita de café. Em seguida, para outra fazenda próxima,
onde foi colono por quatro anos e onde “era uma espanholada lá, a colônia era
muito grande”.
Em 1911 seu pai teria ido para Córrego Grande, onde “pegou um café a
meia” e já no segundo ano teria colhido 600 sacos, sendo que destes, 300 eram
43
- Decorrente do Livro de Matrícula nº 075, p. 267, de 27.11.1905, da Hospedaria dos Imigrantes,
a família DIAZ BOTE ALVAREZ que se compunha de: Isaac (chefe), 43 anos, Manuela (mulher), 24
anos, Maria (mulher), 10 anos, Saturnino, 8 anos e Balbina, 7 anos, filhos solteiros, teria embarcado no
Porto de Málaga, no Vapor Savoie e se dirigia a Bebedouro, para a Fazenda de Cherobim Campos.
26
seus, que foram vendidos por 10 mil réis por saca. Do montante da venda,
juntando mais suas economias, teriam adquirido, em 1912, no Córrego do Matão,
por três contos e quinhentos, um sítio de 25 alqueires. D.Teodora tinha, então,
sete anos.
Mudou-se, depois, para Vila Novais, onde um de seus oito filhos era
vereador.
Casou-se aos 17 anos com Luiz Fernandez Herrera, cujo pai havia
adquirido terras “na Noroeste”; seu marido havia levado “todo o período da
vida dele com uma úlcera no estômago, sempre em tratamento” , daí que nunca
puderam adquirir propriedade.
Ela dizia: “eles estariam melhor na Espanha. Meu pai, depois de estar
aqui no Brasil se arrependeu, ele nunca gostou daqui”
27
Nascida em Granada, em 1906, D.Carmem havia chegado com a família
ao Brasil já com doze anos, em 1918, a chamado de seu tio que era
administrador na fazenda de Ramón Sanchez - “onde todo mundo era espanhol”
e “tinha umas noventa casas de colonos, por essa época” -, e onde ficaram
trabalhando “com café de meia” por três anos.
Desta fazenda “onde o piso da casa era de chão batido”, seguiram para
outra, do espanhol Antonio Sanchez Parra, de Almería, que viria a ser seu sogro
e onde permaneceram por dezoito anos, quando só então conseguiram adquirir
propriedade em Vila Sabrina, na Noroeste.
Ela conta: “Eu não queria vir [ para o Brasil], chorava muito para não
vir, mas, graças a Deus, tive muita sorte”.
Nasceu em 1912, em São João da Bocaina, numa fazenda onde seus pais
eram colonos desde 1905, quando chegaram 44.
44
- De acordo com o Livro de Matrícula da Hospedaria dos Imigrantes, nº 042, p. 216, a família
CRESPO, composta por Bernardo (chefe), 23 anos, Ana (mulher), 22 anos e Ana (filha), 01 ano, teria
chegado a 28.09.1893 procedente de Santos, onde teria desembarcado no Vapor Aquitaine, não
constando o destino. Não sabemos se pode ter ocorrido algum equívoco na data do registro, o certo é que
os demais dados coincidem com as informações prestadas pela depoente.
28
Conforme Seu Manuel, Ramón Sánchez, também salamanquino como ele,
nada possuía quando chegou da Espanha, era solteiro e formou empreitada de
café. Não soube informar o ano em que isto teria se dado.
Não era, entretanto, quem mais produzia café na região. Era quem mais
negociava com o produto, intermediando negócios: “as carroças chegavam,
cheias de café e côco”, relembra.
Ele vendeu a fazenda no ano que deu aquela confusão política aí, perdeu
quase tudo. Ele entrou em um financiamento. O governo financiou, e ele
recebeu do governo os pagamentos e, em seguida, mudou para S.Paulo,
em 27 ou 28, passando a residir no Morro dos Ingleses, onde faleceu em
1935. Da sua fortuna, só restou a Fazenda de Bálsamo, onde deve viver
um filho seu.
Já Seu Manuel, teve que “ir lutar em Cuba, com 16 anos [...] onde
permaneceu quatro anos”, tendo inclusive trabalhado em uma companhia
americana.
29
Recém chegado ao Brasil, trabalhou durante um mês em um sítio,
“ajudando outros espanhóis salamanquinos”, mas, como não era acostumado ao
trabalho de roça, ao tentar mudar de ramo, encontrou emprego junto aos negócios
de Ramón Sanchez.
45
- Os registros iniciais referem-se ao Distrito de São Sebastião do Turvo. Estão compilados sob
essa denominação os registros civis de habitantes de diversas fazendas e sítios nos arredores, identificados
pela informação que antecede, em muitos casos, a denominação genérica desse Distrito. Com efeito, o
informe sobre a “residência” dos pais aparece regularmente até 1904, geralmente contendo a
denominação das fazendas onde habitavam. A partir de então, observa-se um corte, generalizando-se essa
informação para “S.S.do Turvo”, reaparecendo novamente em 1909 e seguindo regularmente até
junho/1911, tornando a reaparecer em novembro/1911, desaparecendo definitivamente em junho/1912,
até 1916.
Tal localidade, de acordo com informações baseadas em registros orais, teria sido dizimada por uma
epidemia, por volta do ano de 1916, quando, então, os registros passaram a ser realizados em Irupy,
localidade igualmente situada às margens do Rio Turvo, um pouco abaixo da anterior. A partir de 1916
todos os registros passam a se referir à localidade de Irupy, observada a interrupção de uma semana entre
as duas séries, provavelmente ocasionada pela ocorrência mencionada.
30
com aproximadamente 200 páginas cada. Destes livros, 12 referiam-se a
Registros de Nascimento, 28 de Escrituras, 06 de óbitos e 07 de casamentos.
Oficialmente, a localidade de S.Sebastião do Turvo aparece, pela primeira vez, em Mapa da Inspectoria
de Terras, Colonisação e Immigração, indicando a Situação dos nucleos coloniaes do Estado de S.Paulo -
ano 1896 (Vide ANEXOS, Mapa I, p.342). Este mesmo mapa nos indica que a estrada de ferro chegava
até Jaboticabal, e que, daí para frente, cruzando S.José do Rio Preto e seguindo até o Porto do Taboado,
no rio Paraná, só existiam estradas de rodagem.
Não sabemos exatamente o que eles denominavam como tal, de qualquer modo S.Sebastião do Turvo não
era cortado por essa estrada, que passava longe dalí.
Também não era atingida pela estrada de ferro que, de Jaboticabal chegaria a Bebedouro, a considerar o
Mappa Geral da Viação férrea, ano 1901 (Vide ANEXOS, Mapa II, p.343) organizado pela Inspectoria
de Estradas de Ferro e Navegação, para o ano de 1906.
Quanto a localidade de Irupy, somente a localizamos em um mapa datado de 1929, mais propriamente
uma Carta Geral, mostrando os trabalhos executados pela Commissão Geográphica e Geológica, ano
1929 (Vide ANEXOS, Mapa III, p.344).
31
- Obs.gerais (coluna criada para o registro de dados e informações
adicionais, que julgamos importantes, como por exemplo, se o registro foi
assinado pelo pai, ou se foi à rogo, por um declarante, provavelmente por
ser aquele analfabeto).
32
casos aportuguesada 46, comprometendo e inviabilizando o aproveitamento do
documento em muitos casos.
Outra dificuldade que encontramos para estabelecer as equivalências
nominais nesta operação casada entre os dois tipos de registros, disse respeito ao
hábito, típico naquele país, de se adotar o sobrenome da mãe após o sobrenome
do pai, nos registros de nascimento, cuja observância local, foi irregular no
período, verificando-se, muitas vezes, a tendência de se desprezar o último
sobrenome proveniente do lado materno.
Na Espanha, é tudo assim... era, não sei. O último era da mãe...; é que o
Cartório aqui, o escrivão que tinha aí [...] formou uma embrulheira
quando registrou...; quer dizer que esse é o sistema de registrar [dando
um exemplo], meus filhos alguns tem Romero [o sobrenome, ou
“apellido” da esposa], mas a maioria não tem...; não sei que enrolada
formou aí, que modificou o apellido, o último, não sei o que teve aí...47.
A sua adoção aleatória, dando margem a dúvidas, fêz com que tivéssemos
que descartar diversos registros por apresentarem sobrenomes incompletos e,
portanto, duvidosos.
Citaremos aqui, apenas a título de ilustração, um, desses casos mencionados, revelador da dificuldade na
identificação nominal desses imigrantes que, além da grafia alterada dos nomes próprios, ainda estavam
sujeitos, dependendo do escrivão, a não possuírem, como de hábito no registro civil espanhol, os dois
sobrenomes, o paterno seguido do materno. Essa prática provocou muita confusão, pois diferia
frontalmente da adotada em nossos registros civis, onde o sobrenome paterno invariavelmente era o
último.
Em seus sete registros de nascimento dos filhos, não há sequer um em que haja coincidência de grafia,
resultando que não sabemos como realmente deveria ser. Assim temos:
- Reg. nº 03 - ano 1900 (José Vilar e Rosa Pontes Gestos);
- Reg. nº 87 - ano 1901 (José Billar Açory e Rosa Pontes Gestal);
- Reg. nº 285 - ano 1904 (José Billar Asçorcy e Rosa Pontes Gestal);
- Reg. nº 399 - ano 1907 (José Villar Asorey e Rosa Pinto Gestal);
- Reg. nº 40 - ano 1910 (José Avillar Asorey e Roza P. Gestal);
- Reg. nº 95 - ano 1912 (José Villar Asurey e Rosa Pontes) e
- Reg. nº 14 - ano 1914 (Villar Azory e Roza Pontes Gutal).
47
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque Sanchez. Vila Novais, 1980.
33
sua utilização para efeito de outras análises, relativas a parentesco, mobilidade
familiar, etc...
34
recomendações eram dirigidas ao executivo (Presidente da Província) e daí
encaminhadas ao legislativo, traduzindo-se, muitas vezes, em medidas concretas,
configurando-se, portanto, não apenas como um órgão técnico, mas igualmente
político, situado entre a instância da produção e a da decisão política.
35
PARTE I
_________________________________________________________________
48
- Pronunciamento do Ministro de Trabajo y Seguridad Social, Sr. Luíz Martínez Noval, na
Apresentação da Edição Comemorativa dos 500 anos do descobrimento da América, Historia General de
la emigración española a Iberoamérica, 1492-1992, Madrid, CEDEAL - Fundación Centro Español de
Estudios de America Latina, 1992, p. XIII.
49
- Trata-se do Presidente da Comisión Nacional Quinto Centenario de España, na Apresentação da
Edição Comemorativa. Madrid, CEDEAL, 1992, p. XVIII. Com efeito, temos que reconhecer que houve
por parte da historiografia espanhola uma revalorização do argumento migratório, cuja produção
surpreendeu, quando comparada àquela existente na fase anterior de nossa pesquisa.
36
Comparativamente às outras correntes que demandaram o Brasil -
italianos, alemães, japoneses, sírios-libaneses -, pouco se produziu aqui acerca
desse contingente, que, conforme dados oficiais teria se constituído na terceira
corrente migratória em volume, proveniente da Europa, no período em pauta.
37
Nestes, e contemplando o caráter regional da emigração espanhola desse
período, destacam-se aqueles específicos, dedicados às regiões de onde
procederam as correntes que se encaminharam ao Brasil, dentre as quais a da
Andaluzia 54 - origem da maioria dos emigrantes que se dirigiram à lavoura
cafeeira do estado de São Paulo -, como a que mais tem apresentado importantes
e inéditas investigações historiográficas.
54
- A emigração deste período com destino a São Paulo, objeto desta investigação, também teria
sido proveniente da região do Levante (ou Mediterrâneo Oridental), de Múrcia, ao sudeste, e de algumas
localidades da Província da Extremadura, região mais central, ao norte da Andaluzia, conforme ficará
demonstrado no decorrer dessa monografia.
55
- SANTOS, Ricardo E. dos. “La evolución cuantitativa del proceso migratorio español a
Iberoamérica (1890-1950), con especial referencia a Brasil”. In: Revista de Economia y Sociologia del
Trabajo.Madrid, nº 19-20, março/junho 1993 e KUJAWSKI, Gilberto de Melo. “Brasil y lo español”. In:
Revista Cuenta y Razón. Madrid:8, 69-81, 1982.
56
- GONZÁLEZ MARTÍNEZ, Elda E. Café e inmigración: los españoles en São Paulo, 1880-1930.
Madrid, CEDEAL, 1990a; “Españoles en Brasil: características generales de un fenómeno emigratorio”.
In: Ciência e Cultura. Rev. da SBPC, 42 (5/6), junho 1990b, pp. 341-346; “La estructura ocupacional de
los gallegos en la ciudad de San Pablo (Brasil), 1893-1903”. In: Revista da Comisión Galega do Quinto
Centenario, nº 05, 1992b; “Los pequeños propietarios en los Núcleos Coloniales del Estado de São Paulo
- un intento frustrado de participación española”. In: Ciencia, pensamiento y cultura.Madrid,nº536-
537,1990c,pp.127-142;GONZÁLEZ, Elda & MARQUES, Rosario. “Andalucía y America: las
alternativas de una comunidad migrante”. In: VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús.
HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid,
Cedeal, 1992a, pp. 3-24.
38
Nosso propósito central, por suposto, e reconhecendo as limitações de
toda ordem com as quais deparamos, é, tão somente, sinalizar com alguns
aportes e subsídios a essa temática, revelando outras possibilidades de reflexão
sobre o fenômeno.
39
CAPÍTULO I
Adiós
57
- MACHADO, Antonio. Los Complementarios. Madrid, Catedra Letras Hispánicas, 1987, p.194.
(Soneto escrito em Córdoba, 1913).
40
Uma interessante e curiosa publicação, referindo-se às causas deste
movimento, informava, à época, que:
Para esos infelices labradores emigrar es vivir ... Los que los condenan
porque huyen de la miseria y de la esclavitud del suelo, dénles tierra fértil
que cultivar y arrendamientos ventajosos, dénles más estimación y menos
desdén, alivienlos del peso de los impuestos y disminuyan el precio del
arriendo: entonces la emigración disminuirá, porque nadie va a buscar
lejos lo que puede hallar en su hogar y los vínculos de la patria sólo los
rompen la necesidad o la ambición 59.
58
- BOTELLA, D.Cristóbal. El problema de la emigración. Madrid, Tipografia de los huérfanos,
1888, p.160. Consta ter sido esta obra agraciada com a premiação da Real Academia de Ciencias
Morales y Políticas, en el concurso ordinário de 1886. Grifo nosso.
59
- El Carbayón, Oviedo, 13 de enero de 1881. Apud: MIÑANBRES, Moises Llorden.
“Posicionamentos del Estado e de la opinión pública ante la emigración española ultramarina a lo largo
del siglo XIX”. In: Estudios Migratórios latinoamericanos. Buenos Aires: 7, nº 21, CEMLA, 1992, p.
283.
60
- Conforme explicitado na INTRODUÇÃO da monografia, tais depoimentos foram obtidos em
Vila Novais, durante os anos de 1980 e 1981.
61
- Pueblo: termo de origem latina, com várias acepções, dentre as mais correntes, massa, multidão,
público, população ou habitantes de um território, país ou nação. Em espanhól, conservou algumas delas,
representando, em primeiro lugar, um conjunto de pessoas, que vivem em um conglomerado urbano de
tamanho reduzido; pode ser também algo equivalente a lugar, aldeia ou vila, ou, ainda, a classe mais
humilde de uma sociedade urbana ou rural. A palavra aqui, terá na maioria dos casos o sentido de lugar e
aldeia. Conforme Diccionário de Historia de España. Tomo II - I-Z y Apendices. Madrid, Revista de
Occidente, 1952, p. 941.
41
Assim, é que:
62
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias. Vila Novais, 1981.
63
- Personagem do romance Don Gonzalo González de la Gonzalera, de José Maria de PEREDA,
escrito originalmente em 1888. Madrid, Espasa-Calpe S/A, 5ª ed., 1965, p. 61. Tal passagem expressa o
alto grau de expectativa do emigrante, sobretudo daquele oriundo das províncias do norte da Península,
quanto à possibilidade de fazer fortuna na América. Com efeito, muitos indianos - como eram chamados -
, retornavam ao seu lugar de origem e faziam questão de demonstrar sua prosperidade com a construção
obras faraônicas.
Exemplar a este respeito é o trabalho de Maria Cruz MORALES SALO “Las fundaciones de los indianos
en Asturias”. In: SÁNCHEZ ALBORNOZ, N (org.) Españoles hacia America. La emigración en masa,
1880-1930. Madrid, Alianza Ed., 1988, pp. 66-79.
Não consta, entretanto, que esse mesmo fenômeno tenha ocorrido no sul da Península, como ficará
demonstrado.
42
Porém, embora reconhecido e considerado como fato irreversível, era
visível que tal fenômeno, do qual muito se especulava e pouco ou quase nada se
sabia, não continha ainda, a finais do século XIX, parâmetros definidos a nível
de legislação ou política oficial, a considerar as seguintes ponderações de D.
Cristóbal Botella, na Apresentação do citado livro:
Referindo-se a eles, José M. de PEREDA assim revelava: ... por lo demás, en el tiempo à que me refiero,
no había em mi lugar más que un sólo García, de los Garcías temibles y manducones; pero este García
era alcalde casi perpetuo, y administrador y alcalde había sido su padre, y alcalde y administrador su
abuelo [...]; ninguno de ellos fué más malo que su antecessor... In: Pedro Sánchez. Madrid, Espasa-
Calpe, 1958, p. 15.
64
- Apenas R.O. daqui para frente.
65
- NIEVA, José M. de. Decretos, Leyes y Reales órdenes de la Reina Doña Isabel. Madrid, 1934,
tomo 19, p. 481-82 y tomo 20, p. 281-283. Apud: MIÑANBRES, M.L. Op. cit., 1992, p. 277. Grifo
nosso.
43
A deserção ao serviço militar, com efeito, consistirá na principal
preocupação do legislador espanhol e o único fator restritivo, até as primeiras
décadas do século XX.
Por esta R.O., que expressava pela primeira vez, a função tutelar e de
proteção do Estado sobre os emigrantes, ficavam, igualmente estabelecidos dois
tipos de controle; um, contendo as restrições habituais sobre os homens em
idade militar e sobre as emigrações coletivas por contrato, que se estabelecia pela
exigência do passaporte (que já existia), para cuja concessão havia uma série de
exigências 67 ; e o outro, inédito, sobre os contratantes e transportadores e os
meios de transporte, cujas expedições, a partir de então, necessitavam de uma
autorização real, para o que era necessária a limitação do número de passageiros
em função das características da embarcação.
66
- Parágrafo Quinto da Exposição de Motivos, R.O. de 16/09/1853. In: Coleção Legislativa, Tomo LX,
p. 87. Apud: MIÑANBRES, L. Op. cit., 1992, p. 279. Procurava-se, aqui, dificultar a emigração às
novas repúblicas, enquanto se incentivava o fluxo para as colônias do Caribe, sobretudo para Cuba que
necessitava de mão-de-obra, após a suspensão do tráfico de escravos a partir de 1817.
67
- Eram as seguintes: livre decisão para emigrar, autorizações para os menores de idade e para as
mulheres casadas e depósito pecuniário para aqueles em idade militar, isto é, daqueles que tivessem entre
18 e 23 anos se exigia o depósito de uma fiança de 6.000 reales. In: MIÑAMBRES, L. Op. cit., 1992,
p.279.
44
Minuciosa, esta R.O. exigia, por exemplo, que se declarasse as
características e quantidades dos alimentos que seriam servidos durante a
travessia, o prazo que sería dado ao emigrante para o pagamento de sua
passagem, nunca podendo ser inferior a dois anos, e, curiosamente, pretendia que
se concedesse ao emigrante a liberdade de ocupação quando em seu destino.
Como garantia do cumprimento de tudo o que era exigido nos contratos, o
responsável pelo transporte deveria depositar uma fiança de 320 reales por cada
passageiro que transportasse, ou o dobro, caso o depósito fosse efetuado em
fincas isto é, tendo por garantia alguma propriedade imóvel rural ou urbana.
Tais medidas, com pequenas variações vigirão durante todo o período das
emigrações em massa; em sua maioria, as modificações que vão ocorrer, serão
para reiterar o seu cumprimento, ou aumentar o controle aos transportadores e
contratadores de expedições, sobretudo quando estas se dirigissem ao Brasil,
como sucedeu com a R.O. de 12.01.1865, devido a “la precaria situación de
aquellos que abandonan su suelo natal, no sólo en dirección a aquel Imperio,
sino a otros diferentes puntos de América, en busca de un bienestar, por
desgracia ilusorio en la mayor parte de los casos” 68.
Para se ter uma idéia das exigências que eram colocadas pelos
Governadores das Províncias na obtenção da permissão para o embarque, tome-
se o caso de um jovem de 20 anos, o qual necessitava apresentar os seguintes
documentos: cédula de identidade, uma autorização dos seus pais ou tutores, uma
certidão de batismo, um certificado de encontrar-se livre de toda a
responsabilidade de quintas ou de haver efetuado o depósito de 1.500 pesetas em
espécie, um certificado de não estar processado e nem com alguma pendência
68
- MIÑAMBRES, L. Op. cit., 1992, p. 281. Grifo nosso.
45
judicial, expedido pelo juiz de instrução da comarca correspondente. Todos
esses documentos deveriam, ainda, ser vistados pelos alcalde ou pelo funcionário
responsável do seu pueblo, onde o interessado deveria ainda pagar 15 pesetas
para fazer frente ao custo do papel timbrado onde seria expedida a autorização
para embarque. Esta R.O., de 08.03.1888 recompilou o que fora legislado até
então e permaneceu em vigor até 1902 69.
69
- SÁNCHEZ ALONSO, Blanca. “La emigración española, 1882-1930”. In: Revista de Historia
Economica: 7, nº 01, Madrid, Centro de Estudios Constitucionales, 1990, p. 140. Por outro lado,
argumenta a autora, se considerarmos o custo de uma passagem, a mais cara, entre Vigo e o Rio da Prata,
na base de 250 pesetas, e mesmo acrescendo-se as 15 pesetas do imposto do timbre e mais outros gastos,
pode-se concluir que era grande a motivação para não se arcar com o custo do depósito da redenção,
decidindo-se, muitas vezes, pela via clandestina.
46
Por esta exposição de motivos criava-se uma comissão especial para
estudar a questão e estabelecia-se, igualmente, um questionário, que foi enviado
às dezessete províncias de maior fluxo emigratório (dentre elas Múrcia, Almería,
Granada, Málaga e Ilhas Canárias) , o qual deveria ser respondido “pelas
sociedades econômicas, ingenieros y otras personas ilustradas” 72.
72
- Tal questionário denominado “El estado y necesidades de la clase obrera”, procurava indagar
sobre o fluxo dos que emigravam, mas também dos que retornavam, a influência na demanda e na oferta
de trabalho e se os retornados obtiveram melhoria nas condições de vida. Conforme MIÑAMBRES.
M.L. Op. cit., 1992, p. 284.
73
- Real Decreto de 06.05.1882. In: Gaceta de Madrid, 10.05.1882. Apud: MIÑANBRES, M.L. Op.
cit., p.284.
74
- Ayuntamiento : Para o Diccionario Castellano Enciclopedico Ilustrado, de Manuel Gonzalez de
LA ROSA. Paris, Garnier, 1891, p. 101, seria a reunião de alcaldes que formam o governo municipal de
uma cidade ou pueblo (tradução nossa). Hoje em dia, Ayuntamientos são designativos das Prefeituras
Municipais das Províncias.
75
- O critério adotado constava da primeira edição: nele se explicava que o Instituto Geográfico y
Estadístico havia rechaçado as listas dos Ayuntamientos, pois poucos cumpriam a lei quanto ao
recenseamento da população a cada 5 anos, com retificações nos anos intermediários, o mesmo ocorrendo
com as normas para autorizações e passaportes; também eram incompletos os dados constantes das listas
de passageiros entregues pelos capitães dos navios às Capitanias dos Portos, restando, assim, o impresso
que obrigatoriamente deveria ser entregue pelos capitães à Direção da Sanidade Marítima.
47
sabe cualquiera que haya examinado cómo se realizaba la estadística o el sinfín
de disposiciones para evitar las salidas clandestinas” 76.
A este propósito:
Elas foram publicadas pelo Instituto, em volumes qüinqüenais e continham as seguintes informações:
saídas e entradas de passageiros por portos, última residência do embarcado (série incompleta), países de
destino e de procedência, sexo, idade e profissão. Conforme: SÁNCHEZ ALONSO, B. Op. cit., 1990,
p. 136.
Como veremos adiante, tal série é utilizada com parcimônia até mesmo pelos pesquisadores espanhóis,
razão que explica não apenas a brevidade da apreciação, mas a adoção, para o caso brasileiro, de
estatísticas locais.
48
debajo de la realidad debido a las salidas clandestinas y por puertos
extranjeros. La conclusión sería, por lo tanto, que las estadísticas
españolas son de dudosa fiabilidad 79.
79
- SÁNCHEZ ALONSO, B. Op. cit., 1990, pp.143/144. Grifos nossos.
Com efeito o total emigrado no período de 1882-1930 de acordo com as séries espanholas seria de
1.042.775. Já os números apresentados pelos países de destino são de 3.297.312 espanhóis emigrados
apenas para os países da América Latina (48,36% para a Argentina; 33,93% para Cuba; 7,07% para o
Brasil; 2,49% para o Uruguai e 8,12% para o restante).
Embora tenha seus números subestimados pelas razões antes assinaladas, é bastante provável que as
séries dos países receptores estejam superestimadas, a considerar as duplicacões de registros resultantes
do traslado do mesmo imigrante de um país para outro, sem passar pela Espanha. Consta ter sido
habitual, no período, este movimento entre o Brasil e a Argentina.
Para contornar tais discrepâncias, historiadores como Blanca SÁNCHEZ ALONSO, têm elaborado séries
corrigidas numa tentativa de aproximação a uma cifra do que teria se constituído a emigração espanhóla
no período.
A autora, em sua apreciação (Op. cit., 1990, pp. 159-170) , aplica equações de regressão às cifras
espanholas e americanas, na tentativa de obter coeficientes de correlação entre as séries; infelizmente, seu
trabalho apenas abrange os casos dos Estados Unidos, de Cuba e da Argentina; de qualquer modo, tal
procedimento tem permitido uma revalorização das séries espanholas, mesmo considerando suas cifras
inferiores às reais.
80
- Há casos curiosos relatados que bem o demonstram como os desdobramentos da viagem
poderiam ser inusitados: neste específico, o emigrante havia recebido uma carta de chamada de um
parente do Uruguai, na qual aquele lhe indicava que deveria desembarcar no terceiro porto das escalas, na
ordem, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéo. Porém, o navio em que viajava teve de fazer uma
quarentena em S.Sebastião por causa de uma epidemia, e, consequentemente, tal emigrante acabou
descendo em Santos!
49
português, sobretudo com destino ao Brasil, mas também pelos portos franceses
pelos quais os bascos-navarros embarcavam com destino a outras localidades
americanas.
81
- Vide ANEXOS, Mapa V, Andaluzia e Norte da África, p.346.
82
- GONZÁLEZ MARTINEZ, Elda. Op.cit., 1990c, p. 129.
50
embarcava-se, assim, com documentos pertencentes a outra pessoa, expediente
simples numa época em que dos documentos não constava sequer a fotografia;
tal procedimento, embora fosse ilegal, não resultava em emigração clandestina, e,
para efeito de estatística eram igualmente contabilizados.
83
- SÁNCHEZ ALONSO, B. Op.cit., 1990, p. 141.
84
- VILAR, Juan. “Las emigraciones murcianas a Iberoamérica”. In: Historia General de la
emigración española a Iberoamérica. Vol. I, Madrid, CEDEAL, 1992, p. 390.
85
- BOTELLA, C. Op. cit., 1888, pp. 158/9. grifo nosso.
51
determinadas regiões andaluzas -, até mais ou menos o ano de 1895, facilitado
possivelmente pela proximidade geográfica das duas regiões, pelo baixo custo
da viagem, pelo clima, paisagem e ambiente similares e pela certeza de encontrar
trabalho 86 .
86
- Conforme VILAR, Juan. Op.cit., 1992, p. 388.
87
- NADAL, Jorge. “Historia de la poblacion española” (apéndice). In: REINHARD, M. &
ARMENGAUD, A. Historia de la población mundial. Barcelona, Ediciones Ariel, 1961, p. 683. Era
denominada emigração golondrina, isto é, andorinha, por suas características sazonais e suas saídas
geralmente ocorriam ente os meses de abril/maio, com retornos em junho/julho.
52
pasó por fases intermitentes....; la otra corriente, en dirección a América,
se inició un poco más tarde pero fue mucho más importante 88.
De qualquer modo, nas décadas finais do século XIX, três portos detinham
a primazia desse transporte: Alicante, Valencia e Barcelona, no Levante,
seguidos por Múrcia e Cádiz, no extremo sul da Península.
Las hazañas, éxitos, títulos y fortunas conseguidos por una escasa pero
privilegiada emigración (por el más alto componente social de ésta) en
los tres primeros siglos que siguieron al descubrimiento de América, ha
dado una aureola de aventura al proceso migratorio, que ha hecho
olvidar el que ha sido uno de los fenómenos más característicos de la
historia social de la región: el éxodo migratório contemporáneo que, al
menos cuantitativamente, mucho mayor, no tuvo nada de aventura. [...]
Aunque es lógico suponer que algunos hubo que salieron simplemente por
88
- NADAL, J. Op. cit., 1961, p. 683.
89
- No Capítulo “Aportaciones castellano-manchegas a la emigración española a Iberoamérica”. In:
VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN
ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, p. 196.
90
- Os 30% restantes provinham dos seguintes portos: Santander (Astúrias), Bilbao (País Basco),
Cádiz (Andaluzia), Málaga (Andaluzia), Las Palmas e S.Cruz Tenerife (Canárias), Valencia e Palma de
Maiórca. Pela R.O. de 06/03/1909, foram suspensas, mesmo que por pouco tempo, as habilitações de
Cartagena e Alicante. Conforme TABANERA, Nuria.. Op. cit., 1992, p. 196 e ss.
53
querer descubrir algo desconocido, la mayoría no escogó libremente su
destino, sino que se vio forzada a él 91.
La emigración es un triste remedio para los males económicos, políticos,
financieros y sociales que padecemos; el ciudadano que apela al
durísimo y violento recurso de emigrar es porque no encuentra otro a sua
alcance. Los aventureros, los ambiciosos, son los menos; los
necesitados, los miserables, son la masa, el número mayor de nuestros
emigrantes 92.
91
- SOLDEVILLA, Consuelo. “Cantabria: cién años de emigración a América, 1860-1960”. In:
VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN
ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, p. 147. Foge ao âmbito dessa
monografia a caracterização dessa corrente emigratória anterior ao período investigado. Resta-nos
observar, no entanto, as diferentes motivações que impulsionaram os dois momentos.
92
- Ponencia para el informe acerca del anteproyecto precedente (de Ley de Emigración, 1901),
redactada por el Vocal D.José Piernas Hurtado, en Instituto de Reformas Sociales: La emigración.
Información legislativa y bibliográfica..., pp. 89 e ss. Apud: NADAL, J. Op. cit., 1961, p. 682.
93
- BOTELLA, C. Op.cit., 1888, p. 156; Grifo nosso.
94
- Eram assim denominados os agentes de emigração, contratados pelas companhias de navegação
ou pelos próprios governos dos países receptores, que percorriam os pueblos tentando persuadir as
pessoas do campo, das vantagens da emigração; tais pessoas eram convencidas de que a sua gestão para
conseguir a passagem oferecia maiores garantias e, ademais, facilitavam aos emigrantes os trâmites para
obtenção da documentação e até mesmo a sua falsificação. Muitos encareciam os preços das passagens, e
outros ainda ofereciam empréstimos com juros elevados, pelos quais sugeriam a hipoteca de alguns bens
a seu favor.
54
enfim, condições que acabariam criando expectativas nem sempre tangíveis ao
emigrante quando no confronto com a realidade nos países de destino.
Atuavam como ganchos desde secretários das prefeituras e juizados locais, farmacêuticos, comerciantes e
até párocos, ou qualquer indivíduo que fosse bem relacionado. Muitos eram proprietários das pensões
próximas aos portos de embarque. Sua ação abusiva foi objeto de muitas reclamações aos cônsules dos
países de destino. In: CAGIAO, Pilar. “Cinco siglos de emigración gallega a América”. In: VIVES,
Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN
ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, pp. 300-301.
95
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque Sanchez. Vila Novais, 1980.
55
2. As diversas correntes oriundas da Península 96:
Proveniente da Galícia:
Teria sido um movimento bastante expressivo, representando entre 1887 e
1895, de 29 a 34% do movimento nacional de passageiros, chegando a alcançar
os 50% no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial. Até 1940, seu
número teria atingido 800.000 pessoas.
Meu pai veio para o Brasil devido que tinha três moços e aquele era um
tempo de muita guerra na Espanha e era obrigatório ir na guerra os que
eram sorteados. E nesse tempo veio muito imigrante devido a isso 99.
96
- As diversas Províncias e localidades adiante sendo citadas, constam do MAPA IV – Províncias
espanholas e MAPA V – Andaluzia e Norte da África.. In: ANEXOS, pp.345/346.
97
- Trata-se de uma rápida pincelada por esse movimento peninsular, que, aliás, foge ao âmbito dessa
monografia, mas que ilustra o seu alcance, neste pequeno período que caracteriza o fenômeno em massa.
98
- Desde 1909 havia-se implementado a ocupação militar de Marrocos por parte da Espanha,
conforme o acordo realizado com a França, fixando as respectivas zonas de protetorado. O principal
objetivo era garantir a exploração das minas de ferro próximas a Melilla (Vide Mapa V, p.346); choques
com os marroquíes eram comuns, como o ocorrido em 1893, durante as obras de fortificação de Melilla,
ratificando a política desconcertante do Governo espanhol na África, o que vai se constituir em motivo de
constante polêmica entre os oficiais, muitos dos quais propunham o abandono de Marrocos. Conforme
VIVES, V. (org.) Historia de España y América. Vol. V: Los siglos XIX e XX. América Independiente.
Barcelona, Editorial V.Vives, 2ª ed., 1971, pp. 330, 366/7.
Tanto as guerras coloniais na América, quanto a guerra do Marrocos, a mais longa (de 1909 a 1927),
representaram uma motivação para a emigração das famílias, tentanto evitar que seus filhos fossem
enviados para as frentes de batalha.
99
- Fragmento de depoimento. Sr. Eugenio Aguado Agudo, Toledo, 1912, prestado para Sônia
Maria de FREITAS. In: Falam os imigrantes: Armênios, chineses, espanhóis, húngaros, italianos de
Monte San Giacomo e Sanza, Lituanos, Okinawanos, poloneses, russos, ucranianos. Tese de
doutoramento. S.Paulo, FFLCH-USP, 2001, p. 6.
56
Olha, uma das razões [da vinda] é que naquele tempo existia uma guerra
da Espanha contra o Marrocos e a mocidade espanhola estava morrendo
toda, todos com 18 anos. Quando chegava a hora do serviço militar,
eram obrigados a ir para Marrocos. E poucos voltavam. Então, meu pai
tinha medo que aquilo nunca mais terminasse e por isso, foi uma das
razões 100.
Porém, foi na Bahia que o fenômeno da presença galega mais se fez notar,
e onde formaram as primeiras cadeias de imigrantes, cuja proveniência
majoritária era de Pontevedra. Alí fundaram, já em1884, a Real Sociedad
Española de Beneficencia, a mais antiga de Salvador, ainda hoje existente 102 .
Alí se iniciaram como pequenos empresários, com numerosos negócios nos
ramos de hotelaria e padarías.
100
- Idem. Sr. Manoel Pablo Moedano, Blasquez, 1912, p. 6.
101
- Consta, ainda, que a estrada de ferro que devia unir o rio boliviano Mamoré com o brasileiro
Madeira, com o fim de propiciar uma saída ao mar para os produtos bolivianos, teria igualmente
recrutado operários para as obras, não apenas na Espanha, mas também na colonia espalhada por Cuba,
Panamá, Colômbia, Argentina e Uruguai e que a mortandade entre eles era considerável, atingindo 1/3 do
total.
102
- Há alguns trabalhos enfocando o emigrante espanhol, especialmente o galego, na Bahia, como o
de BRAGA, Célia. Os espanhóis em Salvador. Análise sociológica das possibilidades de assimilação de
um grupo de imigrantes. Salvador, tese para concurso de professor assistente, UFBA, 1972 (mimeo) e o
de BACELAR, Jefferson. Galegos no paraíso racial. Salvador, Ianamá/CEAO/CED, 1994.
57
urbana de sua imigração e a preferência por determinados setores de serviços e
comércio 103.
103
- CAGIAO, Pilar. Op. cit., 1992, p. 293-316. EIRAS ROEL, A. & REY CASTELAO, Ofelia.
Los gallegos y América. Madrid, Editorial Mapfre, 1992. NARANJO OROVIO, Consuelo. “El proceso
inmigratorio gallego en Cuba en el siglo XX”. In: V Xornadas de Historia de Galicia. Orense, 1990b.
GONZÁLEZ MARTINEZ, Elda. “La estructura ocupacional de los gallegos en la ciudad de San Pablo
(Brasil),1893-1903” . In: Revista da Comision Galega do Quinto Centenário, nº 05, 1992b, dentre outros,
têm enfocado a emigração galega para a América, provavelmente o grupo mais privilegiado pela
historiografia espanhola. Também a poetisa galega Rosália de Castro deixou muitos escritos relatando a
trajetória desse emigrante.
104
- TABANERA, Nubia. Op.cit., 1992, p. 195. A autora também foi consultada para as demais
informações desse grupo emigrante. Grifos nossos.
58
Isto demonstra claramente que a emigração para o Brasil, no período
citado, foi inexpressiva; que, quando ocorreu, se dirigiu ao Estado de S.Paulo,
apenas em alguns anos, possivelmente por obra dos ganchos, que, vindos de
outra região – ela cita textualmente Cáceres, na Extremadura, localidade de
proveniência de contingentes que depois se estabeleceriam nos arredores de Villa
Novaes -, também não teriam representado uma constante nesta Província.
Proveniente da Cantabria:
Esta região localizada ao norte, no Mar Cantábrico, será uma das
principais protagonistas da corrente migratória de ultramar, especialmente neste
período das imigrações maciças.
105
- Sua pesquisa Panorámica de la emigración a Iberoamérica de las Islas Canarias. Siglos XVI-
XIX, baseou-se na comandatícia, que era o documento de embarque, previamente levado ao alcalde do
Ayuntamiento de onde residia o interessado, solicitando a autorização. Este documento, pelo menos no
que respeita aos Ayuntamientos locais, contém dados completos do emigrante, incluindo-se o país na
América para onde se dirigiam. In: VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA
GENERAL DE LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992,
p. 133.
106
- Tivemos oportunidade de localizar alguns Registros de Nascimento de pais de origem canária nos
Cartórios por nós pesquisados, não passíveis, entretanto, de serem computados, pela irregularidade da
informação. Havia canários na região de Vila Novais, a considerar os relatos dos emigrantes por nós
contatados.
59
Desde meados do século XIX verifica-se o fluxo de montanheses em
direção a América, alcançando, no biênio 1885-6 uma perda de 7,4 habitantes por
mil, cifra que crescerá atingindo 14 habitantes por mil em 1911.
Deste modo, entre 1875 e 1936, a região basca se converte em uma região
de atração para emigrantes do resto do país, ao mesmo tempo em que embarcava
seus emigrantes para a Califórnia, Cuba, Uruguai, Argentina e Paraguai.
107
- SOLDEVILLA, Consuelo. Op. cit., 1992, pp. 147-172, faz a análise completa dos fluxos durante
o período de cem anos.
108
- LHANDE, P. La emigración vasca. San Sebastian, 1971 (1ª ed. 1910). Apud: AZCONA, José
Manuel. “La participación vasca en la empresa migratoria americana”. In: VIVES, Pedro, VEGA, Pepa &
OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A
IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, p. 479.
60
disponíveis, o basco buscava na emigração uma saída, que se combinava
igualmente com a deserção permanente assinalada por José Manuel Azcona 109,
que se iniciara já no período da Restauração e prosseguiria até a Guerra Civil.
109
- Op.cit., 1992, p. 482. As estatísticas não apontam o Brasil como país privilegiado por essa
corrente, daí não nos estendermos nessa exposição.
110
- MORALES SARO, Maria Cruz. “La emigración asturiana a América”. In: VIVES, Pedro,
VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A
IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, p.51-85, demonstra as questões mais relevantes aqui
apresentadas.
61
Proveniente de Navarra:
Conquanto haja pesquisas comprovando se tratar esta de uma das zonas de
emigração relativa mais intensa de todo o período, não é possível, conforme
Ángel García-Sanz Marcotegui, precisar quantos se dirigiram a América.
Proveniente de Aragão:
A participação aragonesa no processo emigratório maciço em direção a
América foi bastante reduzida quando comparada aos fluxos das outras regiões.
111
- La emigración asturiana a América através de la publicística (1877-1915). In: VIVES, Pedro,
VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A
IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, p. 414 e ss. Nos cálculos apresentados pelo autor, os
subtotais, por região, não equivalem ao total apresentado. Não pretendemos estender a análise a esse
grupo específico, por não apresentar cifras relativas ao Brasil.
62
Barcelona, já então um grande centro industrial, ou para Saragoza, sua principal
cidade.
Proveniente de Valencia:
A emigração valenciana destaca-se, por sua proximidade geográfica, por
conter os mesmos ingredientes que motivaram a emigração de sua vizinha, a
Andaluzia.
112
- La emigración aragonesa a Iberoamerica. In: VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU,
Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2.
Madrid, Cedeal, 1992, p. 25-50.
113
- Jornaleros: significando literalmente o trabalhador a jornal, esta categoria será objeto de
apreciação especial, por sua significativa importância no processo que vimos examinando.
114
- Caciques eram geralmente grandes proprietários que, em troca de certos privilégios, organizavam o
distrito por conta do Governo; alí, controlavam grande quantidade de aldeias, e submetiam caciques
hierarquicamente inferiores as suas ordens. Era comum existirem dois caciques em uma mesma cidade,
um liberal e outro conservador. A origem do nome, proveniente da América, é claramente indígena, e
significa chefe. Os governadores civis desempenharam um papel decisivo, ao manipular, conjuntamente,
as forças do caciquismo e as da Guarda Civil, a qual era empregada, durante a Restauração, na suspensão
de garantias constitucionais e até na declaração de estado de guerra.
Conforme VICENS VIVES, J. Op. cit., 1971, pp. 325 e ss.
No me incumbe aprobar ni reprobar aquí el despotismo, aunque sea con ilustración, ni mostrarme
partidario o adversario del cacicazgo. Yo tomo y empleo el vocablo en cierta acepción como
generalmente se emplea, aunque siento que contenga implícita una injuria para las poblaciones en que
63
moradia e deficiência alimentar, significava elemento desestabilizador nas
camadas inferiores da população.
hay cacique, porque es suponerlas salvajes ... Él [ o cacique aqui referido, D. Andrés, de Villalegre]
había heredado este poder de su padre...
Conforme VALERA, Juan. Juanita La Larga. Madrid, Clásicos Castalia, 1992, p. 188 (publicado
inicialmente no Jornal madrilenho El Imparcial, durante os meses de outubro e novembro de 1895).
O caciquismo andaluz será objeto de abordagem especial.
115
- Sobre esse episódio escreveu PINOTTI, José Luis. “Valencianos en Iberoamerica. Identidad y
integración” In: VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA
EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, pp. 443-453
64
Deste modo:
Una de las escasas fuentes que nos indican en América el lugar de origen
de los inmigrantes, los inventários económicos, demográficos y culturales
de los distintos consulados españoles, elaborados a raíz de la orden
circular número 1.221 del 8 de enero de 1932, nos permite - junto a otro
tipo de información - afirmar que Brasil, y en concreto un estado, São
Paulo, fue el lugar escogido por millares de andaluces [...]. Los informes
nos muestran que el 60 por 100 de los españoles residentes en ese estado
eran oriundos de Andalucía, el 20 por 100 de Galícia, el 10 por 100 de
Castilla e el resto del Levante y otras províncias 116.
116
- GONZÁLEZ, Elda & MARQUES, Rosario. Op.cit., 1992a, p. 14.
117
- Justificadamente, a eles, de maneira geral, apenas se evidenciavam questões de ordem mais
imediata. Temos, como exemplo, o fragmento de relato da Sra.Teodora Dias, já antes referida: “...
naquele ano [1905] vinha muita espanholada da Espanha, porque era muito difícil prá ganhar prá
comer, muito pobre, muita pobreza, né?! [...]”.
Ou, como D.Ana Garcia, nascida em Bebedouro em 1910 e cuja família, proveniente de Almería,
também chegara em 1905: “... minha avó [...] tinha os filhos, acho que ela não queria que eles servissem
ao governo [...] aí ela se pôs de vir para o Brasil e os filhos se vieram todos com ela”.
Ou ainda, como D. Carmen Dueñas, natural de Granada, e chegada ao Brasil já com 12 anos de idade: “lá
tinha chuva de pedra, ficava um monte, demorava pr’a sumir”.
Ou Seu Tercifon, nascido no Brasil em 1905, logo depois da chegada da família, que era natural de
Almería, quando inquirido sobre os motivos que os fizeram vir para o Brasil: “[...] ali não dava prá
comer [...] era miséria de terra ...”.
65
processo global de expansão do sistema capitalista, cujas transformações
estruturais, relacionadas à configuração da economia a niveis mundiais, se
reproduziriam a nível local e seriam as responsáveis pelas causas apontadas.
118
- Conduzida pela Inglaterra, de evidente supremacia naval, tecnológica e financeira, a quem
interessava firmar a primazia inglesa no âmbito internacional através da expansão do seu comércio
exterior ao mesmo tempo em que dava suporte ao seu processo de industrialização.
119
- Tal teoria implicava novas posturas economicas e políticas, provocando, em última análise, a crise
do modelo mercantilista calcado nas teorias protecionistas, determinando não apenas o aumento do
comércio mundial, mas também a adoção de inovações técnicas, visando potencializar os níveis de
produtividade.
120
- SIEWERT, Wulf. El Atlántico. Geopolítica de un oceano. Barcelona, Editorial Labor, Sección
VII - Geografia nº 407, 1942, p. 124.
66
assim, como determinados, mas igualmente como sustentáculo dessa articulação
por condicionar a função distinta e específica exercida pela emigração. Como
exemplo, o movimento emigratório teria assumido para os países de economia
agrária, um caráter de persistência, baseado na subordinação financeira
decorrente das remessas provenientes do exterior 121.
67
total deslocado entre os anos de 1880 e 1921 e que, entre outras determinantes,
exigiria um aporte institucional tanto dos países emissores quanto dos receptores,
variável de acordo com o local e as necessidades específicas 125.
La emigración en masa de los siglos XIX y comienzos del XX es en primer
lugar un processo atlántico, en el que España participa junto con otros
países de la Europa septentrional, mediterránea y occidental. El éxodo
no le es, pues, exclusivo; su cronología, orientación y efectos revisten, en
cambio, trazos propios. Cabe, pues, hablar de una emigración española
con características distintas de las de otras zonas de Europa. La
situación geográfica de ésta, en el extremo occidental de la cuenca
mediterránea, no hace tanto la diferencia como el tiempo y modo como
llegaron al país y se difundieron por dentro los cambios que por toda
Europa venían a instaurar un sistema económico industrial y capitalista
126
.
125
- Diferentemente da emigração espontânea, de diversas motivações, a emigração em massa
assume este caráter por apresentar corrente caudalosa, padrão instituído para classes sociais inteiras,
exemplo de comportamento coletivo... Em tais casos, as motivações individuais vão perdendo
importância e pode ocorrer que os indivíduos que intervêm sejam incapazes de dar uma explicação
racional a sua decisão de emigrar. Os motivos alegados são provavelmente triviais,ou,mais provavel
ainda, generalidades .....
Conforme HANSEN, Marcus L. The immigrant in American History. Cambridge, Mass. Harvard Univ.
Press, 1940, pp. 77-78.
126
- SÁNCHEZ-ALBORNOZ, N. España hace un siglo. Madrid, Alianza Editorial, 1977, pp. 17-18.
127
- Destes, 71% aproximadamente teriam se dirigido para os Estados Unidos, 21% para a América
Latina, e apenas 7% para Austrália.
Destes 21%, ou 11 milhões de pessoas, que teriam como destino a América Latina, 5,5 milhões teriam
se dirigido para um único país, a Argentina, representando quase a metade deste movimento; 36% para o
Brasil e outros 5% para o Uruguai, totalizando, assim, esses três países, mais de 90% do total; o restante
9%, teria se distribuído entre todos os países menores situados ao sul dos Estados Unidos.
Destes 11 milhões de pessoas que se dirigiram a América Latina neste período, 38% eram italianos, 28%
espanhóis e 11% portugueses; franceses, com 2,8%; alemães, com 2,7% e os denominados de “russos”
(categoria difusa, representando aqueles procedentes da Europa Oriental, inclusive os poloneses), com
2,6% completam esta cifra.
Focalizando especificamente o caso espanhol, tem-se, portanto, uma cifra aproximada a três milhões de
pessoas no período. Sua representatividade, porém, é tardia, sendo que os italianos predominaram
durante o período de 1860 até 1905, a partir de quando, então, os espanhóis se converteram no grupo
mais expressivo.
Conforme: MÖRNER, Magnus. Aventureros y proletarios. Los emigrantes en Hispanoamerica. Madrid,
Editorial Mapfre, 1992, p. 76.
68
Deste modo e como dificilmente existiria um fator único com peso
suficiente para explicar esta imensa corrente, é preciso avançar na análise da
questão, atentando para a distinção que se evidencia entre determinantes mais
gerais da consolidação de uma economia-mundo, que podemos denominar de
macro-estruturais e os fatores de ordem local, tidos como de “expulsão” e
“atração”.
Integrando a primeira categoria de fatores, dentre todos os que se pode
considerar 128, destacaremos um, o crescimento demográfico 129, fenômeno este,
também conhecido como “revolução demográfica” resultante do progresso
econômico, mas igualmente da melhoria nas condições sanitárias e ambientais e
dos avanços da medicina, que fez dobrar a população mundial durante o século
XIX 130.
128
- A expansão do liberalismo, a revolução agrária na Europa e na América, a industrialização na
Europa e a evolução do sistema de transportes e comunicações, seja terrestre ou marítimo, dentre outros.
129
- O crescimento demográfico europeu do século XIX teve um duplo desdobramento: num
primeiro momento dando suporte aos primeiros focos de industrialização; depois, e com o crescente
aprimoramento tecnológico, registrando o aparecimento de um excedente populacional, geralmente
oriundo do campo e de uma reserva de mão-de-obra; tal contingente, não utilizável no mercado interno,
transforma-se em potencialmente suscetível de engrossar fluxos migratórios para outros países de
economias complementares. Adiante, fazemos uma apreciação específica desse fenômeno para o caso
espanhol.
130
- Esta atingiria a cifra de 1.600 milhões de pessoas, sendo que a Europa, a fins do século atingiria
26% da população mundial, ou o equivalente a 400 milhões de pessoas. Conforme BAHAMONDE,
Ángel. “Los dos lados de la migración transoceánica”. In: Historia General de la emigración española a
Iberoamérica. Vol. I, Madrid, CEDEAL, 1992, p. 98
131
- Há autores, como MARTÍNEZ MARTIN, J. e CASAUS, M. em “Planteamento general del
contexto socioeconomico: España e Iberoamérica”. In: História General de la emigración española a
Iberoamérica. Vol I, Madrid, CEDEAL, 1992, p.151, para quem a interpretação meramente economicista
do problema estaria encobrindo outros fatores, igualmente importantes e, dentre estes, destacam las
expectativas del hipotético emigrante acerca de una vida mejor fuera de su espacio habitual. Se
percibian las metas de destino como lugares de oportunidades, es decir, se vislumbraba una mejora
suficiente para superar el tradicional apego a la tierra y para decidirse a mudar de residencia .
69
representaram um atrativo e certamente realimentaram o fluxo, fazendo com que
muitas concentrações locais tivessem a mesma origem regional espanhola 132.
A este propósito, tanto o demógrafo catalão Jordi Nadal para quem “el
exceso demográfico ha sido la causa principal del fenómeno [emigratório]”135,
quanto Mörner136, que vê a industrialização e o desenvolvimento urbano como
processos demasiadamente lentos para absorver o excesso humano criado pela
explosão demográfica, que seria a principal razão das emigrações européias, têm
suas opiniões contestadas por pesquisas mais atuais que demonstraram que a
132
- Tal aspecto se confirma na análise dos relatos dos imigrantes, quando fica evidente que muitos
grupos, ademais de terem uma mesma origem regional, andaluza ou extremenha, também tinham um
conhecimento prévio no pueblo.
133
- Analogia utilizada com freqüência por VICENS VIVES, J. Op.cit., 1971, p. 20 especialmente para
designar a disposição ou propensão da população espanhola do período, com um movimento de expansão
do meio para as extremidades da Península.
134
- Neste período, 8 a cada 10 espanhóis em Buenos Aires eram provenientes da periferia nortenha,
sendo que a Galícia, sozinha, era responsável pela cifra de 40% do total emigrado, resultando daí o têrmo
galego como designativo genérico para todos os espanhóis. Conforme MOYA, J.C. “Aspectos
macroestruturales y microsociales de la emigración española a Argentina, 1850-1930”. In: Galícia y
América: el papel de la emigración. Madrid, Orense, 1990, p.141.
135
- NADAL, J. “La población española (siglos XVI-XX)”. In: Historia de la población mundial.
Barcelona, Ed. Ariel, 1973, p. 143.
136
- MÖRNER, Magnus. Op. cit., Madrid, Editorial Mapfre, 1992, p. 55.
70
cronologia do desenvolvimento demográfico não coincide com a cronologia de
emigração nestas regiões, a julgar a feição particular que assumiria o fenômeno
no sul do país, de onde provinham as levas com destino a S.Paulo.
QUADRO I
137
- Com efeito, o caráter tardio da emigração espanhola se evidencia quando comparado seu ritmo
com o dos outros países europeus, sobretudo o europeu ocidental (Inglaterra e Alemanha). Isto se deveu,
conforme BAHAMONDE, Ángel. Op. cit., 1992, p. 110, pela persistência das estuturas tradicionais e
pré-industriais, decorrentes da morosidade com que o sistema liberal teria se instalado, mas, também,
devido ao fato da ocorrência das migrações internas. Sua tese corresponde à da maioria dos historiadores
espanhóis contemporâneos, que associam a modernização econômica espanhola, dos finais do século
XIX, ao aumento dos fluxos emigratórios ultramarinos.
71
72
CAPÍTULO II
138
- José ORTEGA Y GASSET, um dos mais notáveis escritores espanhóis contemporâneos, assim
se referia a Espanha deste período, num claro reconhecimento do desmembramento, da desconexão, dos
descompassos e da desigualdade da sociedade espanhola. In: España Invertebrada: bosquejo de algunos
pensamientos históricos. Madrid, Calpe, 2ª ed., 1922; sobretudo pp. 177-178.
73
[...] basicamente agraria y escasamente industrializada [e] es incapaz de
generar el pleno empleo o la riqueza necesaria como para dar a todos sus
habitantes unas condiciones de vida dignas; este panorama se ve
empeorado en muchas ocasiones por el sistema de heredamiento de la
tierra, las formas de explotación, la presión fiscal, la falta de organismos
de crédito agrícola, o cualquier otro problema que afecte la producción
agraria 140.
140
- PALAZÓN FERRANDO, S. Los españoles en América Latina. Madrid, CEDEAL, 1995, p. 31.
141
- Em A cidade dos prodígios (S.Paulo, Cia. das Letras, 1987), o escritor barcelonês Eduardo
MENDOZA elabora uma crônica da cidade de Barcelona, capital da Catalunha, cuja ação é balizada pelas
duas Exposições Universais que lá tiveram lugar, a de 1888 e a de 1929. Nesses quarenta anos que
medeiam uma e outra, vemos o camponês Onofre Bouvila, metamorfosear-se de camponês humilde no
homem mais rico da Espanha, e assistimos também à ascenção fulgurante da cidade, que, de aldeota
amuralhada, vai aos poucos assumindo as características de metrópole. Barcelona, industrializada, e com
uma inquieta burguesia, é a representante mais bem acabada na Espanha deste período, dos
descompassos regionais mencionados.
142
- A denominada “desamortização eclesiástica” (na verdade levada a efeito em sucessivas etapas)
consistiu em desapropriações, por parte do Governo Central, das propriedades territoriais pertencentes à
determinadas ordens religiosas, igrejas e monastérios, as quais, pelo direito civil e canônico eram
perpétuas, de acordo com o qual os bens podiam ser incorporados aos organismos eclesiásticos, mas não
podiam sair dos mesmos por contrato ou qualquer outro título, oneroso ou lucrativo.
O governo espanhol estendeu a desamortização também às propriedades pertencentes aos municípios
calculadas em aproximadamente 5 milhões de hectares; tais terras foram posteriormente leiloadas e
arrematadas por quem as pudesse adquirir. Calcula-se que entre as desamortizações e os resgates de
pensões e rendas, o Estado tenha arrecadado 2.700 milhões de pesetas.
143
- Com efeito, se denomina de manos muertas aos proprietários (de imóvel) cuja posse sobre o
mesmo não pode ser alienada e, por extensão, também recebem a mesma denominação os bens de raíz
inalienáveis. Já no século XVIII se delineou na Espanha o problema das manos muertas que se encontra
em estreita relação com o da desamortização eclesiástica [...]; daí, a denominação ter sido estendida na
Idade Moderna e na época contemporânea aos proprietários cuja hacienda (herdade, fazenda) imóvel
constituía uma dotação permanente, como era o caso dos bens territoriais da Igreja e dos mayorasgos.
Conforme: DICCIONARIO DE HISTORIA DE ESPAÑA. Op. cit., 1952, p. 351. Tradução nossa.
144
- Juan VALERA, escritor cordobês da segunda metade do século XIX, em cujos romances
encontramos preciosas narrativas sobre a Andaluzia, assim descrevia a um mayorasgo : [...] El tal Don
Alvaro vivía aún con todo aparato y la pompa que suelen desplegar los nobles lugareños. Su casa era la
74
transferencia de bienes raíces no benefició a los labradores ni dio lugar a
la aparición del campesino propietario [...] , al contrario, robusteció el
latifundismo hasta extremos peligrosos para la economia y el bienestar
social del país.
mejor que había en Villalegre, con una puerta principal adornada, a un lado y a otro, de magníficas
columnas de piedra berroqueña, estriadas e con capiteles corintios. Sobre la puerta estava el escudo de
armas, de piedra también, donde figuraban leones y perros, calderas, barcos y castillos y multitud de
monstruos y de otros objetos simbólicos que para los versados en la utilísima ciencia del blasón daban
claro testimonio de la antigüedad y sublimidad de sua prosapia. [...]. Le servian muchos criados,
constantes unos y entrantes y salientos otros; y como era aficionadísimo a la caza, no le faltaban una
jauría de galgos, podencos y pachones, y dos hábiles, cazadores o escopetas negras que solían
acompañarle [...]; Doña Inés .. veneranda esposa... tenía también muchos costosos caprichos de varios
géneros. Se vestía con lujo y elegancia no comunes en los lugares; era golosísima y delicada de paladar
y los mejores platos de carne y los almíbares más apetitosos se comían en su mesa. El chocolate que se
elaboraba en su casa, dos vezes al año, gozaba de nombradía en toda la comarca. Como Don Álvaro
Roldán estaba ausente más de la mitad del tiempo, ya cazando conejos, perdices y liebres, ya en distantes
monterías, ya en las ferias más concurridas de los cuatro reinos andaluces...
In: Juanita La Larga, Madrid, Clásicos Castalia, 1992, pp. 76-77 (publicado pela primeira vez em 1895).
Conforme observamos, houve, a despeito das desamortizações, a persistência do modelo anterior.
prosapia : ascendência.
jauria de galgos : matilha de caça; eram guiados por um perrero.
podengos : cães para a caça de coelhos.
pachones : cães cuja raça se parece ao perdigueiro.
almíbares : caldas de açucar (para doces de fruta, por ex.)
145
- VIVES, J.Vicens (org). Op.cit., 1971, p. 84. Os especuladores das desamortizações fizeram,
assim, aumentar as grandes propriedades, enquanto a estrutura agrária permanecia imutável. Em outras
palavras, os camponeses pobres, os mais necessitados de terra, continuaram a não ter acesso a ela.
Trasiego é mudança, movimento; pode significar também revirar, deixar em desordem.
Yuntero é quem lavra a terra com uma junta ou parelha de animais. Grifos nossos.
75
rasgos la disolución del señorío ofreció dos esquemas distintos [...]. En
Castilla, Andalucía y Extremadura, los antiguos señores no sólo
continuaron conservando en forma de propiedad plena sus posesiones,
sino que salieron reforzados con el reconocimiento de propriedades sobre
las que hasta entonces sólo disfrutaban de derechos muy dudosos, todo
ello favorecido por la concesión de pleitos judiciales favorables. No hubo
cambios significativos en la estructura de la propiedad, en todo caso
concentrando la preexistente [...] 146.
76
agrária -, houve, em regiões como Andaluzia, Extremadura e determinadas
províncias do Levante, a permanência dos antigos padrões de posse e exploração
da terra, agora ainda mais concentrados em mãos dos terratenientes 148, que não
investiram e nem acumularam capitais na lavoura, devido a uma estrutura
fundiária de cultivo extenso e não produtivo. Tal concentração fundiária, ainda
mais acentuada pelas desamortizações, determinava, então, que:
148
- Terrateniente : proprietário de terra.
149
- VILAR, P. Historia de España. Lisboa, Livros Horizonte, 1992, p. 80.
Fanga:: terreno úmido, tipo lodaçal.
Sequeiros:terrenos não regadios, isto é, áridos.
Apenas para informação: um hectare corresponde a 10.000 m2.
77
tierra que produjese á su capricho, compensando lo débil de la cosecha
con la gran extensión de las propiedades y lo irrisório del jornal 150.
El recuerdo de los campos siempre verdes alegraba después de tantos
años al viejo Zarandilla [ apelido, significando “lagartixa” do outrora
capataz do cortijo, agora quase cego], pasando como una visión luminosa
ante sus ojos obscuros.
Después hablaba con tristeza de la tierra en que vivía. Inmensos campos
cuyo término perdíase en el horizonte; surcos que se juntaban y
confundían à lo lejos como las varillas de un abanico, sin que ningún
límite los cortase. Cuanto se abarcaba con la vista, tierras llanas ó
colinas, bancales labrados ó manchones para el pasto, todo era de un
amo . Podía un hombre caminar horas enteras sin salir de la propiedad
de un solo dueño. Aquellos campos no eran para hombres: eran
extensiones que sólo podían ser cultivadas por gigantes como los que
aparecían en los cuentos [...]; Y la soledad por todas partes: ni un pueblo,
ni otras viviendas que el cortijo. Había que caminar horas y más horas
hasta el límite de otras propiedades.
[...] Aqui sólo se veían siervos trabajando una tierra odiada que jamás
llegaría à ser suya; preparando unas cosechas de las que no tocarían un
solo grano 151.
Fue por el año 1906. Mi tierra, tierra de agricultores había sido siempre
arada por los viejos arados de madera, que apenas arañaban la
superfície. Y en aquel año, algunos labradores adquirieron los nuevos
arados Bravant – el nombre me há quedado para siempre en el recuerdo -
150
- BLASCO IBÁÑEZ, V. La bodega (novela) . Valencia, Prometeo, 1919, p. 193 (escrito
originalmente em 1904/5). Esta obra é considerada exemplar para o conhecimento das condições de vida
das camadas inferiores da baixa Andaluzia, dentre elas, a do jornalero.
Bodega: taberna
Cortijos: grandes propriedades agrícolas.
Abonos : fertilizantes
151
- BLASCO IBÁÑEZ, V. Op. cit., 1919, pp. 108/9 (escrito originalmente em 1904/5). Grifos nossos.
Abanico: Leque
Gazpacho: Espécie de sopa fria que se faz com pedaços de pão amanhecido, água fria, azeite,
vinagre, sal, alho e rodelas de cebola.
Gañanes: Lavradores, homens rudes.
78
, que habían sido premiados por su eficacia en la Exposición de Paris el
año 1900. Yo, niño curioso, seguía por todo el campo al vigoroso arado
de mi casa. Me gustaba ver cómo la enorme púa de acero abría un tajo
en la tierra, tajo del que brotaban raíces en lugar de sangre.
Una vez el arado se detuvo. Había tropezado en algo consistente. Un
segundo más tarde, la hoja brillante de acero sacaba de la tierra un
mosaico romano... 152
E mais:
152
- LORCA, F.G. Op.cit., 1954, p.959 (Entrevistas y declaraciones), comentando que suas primeiras
emoções estavam ligadas ao campo (andaluz).
Acero: Aço.
153
- LEMUS, Encarnación. “Extremeños hacia América: La emigración en la Edad Moderna”. In:
VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA EMIGRACIÓN
ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid, Cedeal, 1992, pp. 292.
79
Com respeito ao volume dessa corrente oriunda daquela região e de seu
efetivo papel nas estatísticas emigratórias,
Esta província, que em 1885, dividia com Valencia e Ilhas Baleares (no
Levante) e Almería (na Andaluzia) a cifra de 39% do total emigrado do país -
emigração ainda então de caráter temporal e com destino preferencial a Argélia, à
época colônia francesa -, já a partir dos anos iniciais do século XX, demonstra
certa inclinação a América, com preferência a Argentina e ao Brasil, sobretudo
entre os anos de 1900 a 1914 156 .
As causas então aventadas para este movimento, seriam:
154
- LEMUS, E. Op. cit., p. 292.
155
- Eram naturais de Cáceres, igualmente, as famílias do Sr. Ildefonso Blasque Sanchez e de
D.Teodora Dias, aos quais faremos menção no decorrer dessa monografia. Ambas as famílias haviam
embarcado no Porto de Málaga, na Andaluzia.
156
- Conforme: VILAR, Juan. Op. cit., 1992, p. 370-408. Neste trabalho, o autor apresenta uma visão
da emigração murciana a Iberoamérica desde os primórdios, no século XVI, até o século XX. Para o
período das emigrações em massa, entretanto, não apresenta análise mais aprofundada.
157
- ESTADÍSTICAS DE LA EMIGRACIÓN E INMIGRACIÓN DE ESPAÑA, 1891-1895, Madrid, 1898.
Apud: VILAR, Juan. Op. Cit., 1992, p. 393. Aqui, apresenta-se o mesmo diagnóstico, que tem
singularizado esta região no processo emigratório, razão pela qual assumiremos como sendo da mesma
natureza as variáveis que têm sido postas para as três regiões. Grifo nosso.
Esparto:um tipo de vegetal,com cujas fibras se fabricavam esteiras, capachos e cordas.
80
Retomando-se à região da Andaluzia - para onde, ao contrário, há uma
série de pesquisas referidas especialmente a este período das emigrações em
massa -, verifica-se que a renda média anual de um terrateniente era de 18.000
pesetas, enquanto a renda média anual de um pequeno proprietário (isto é, o que
possui menos de 10 hectares), de 161 pesetas.
158
- BRENAN, Gerald. El laberinto español: antecedentes sociales y politicos de la guerra civil.
Madrid, Ed. Ruedo Ibérico, 1962, p. 97; os grifos são nossos.
Parece ter sido bastante comum aos terratenientes ausentes o arrendamento ou a parcería, a considerar
este relato de PEREDA, J.M. , em El sabor de la tierruca. Buenos Aires, Espasa-Calpe, 1951, p. 30
(escrito originalmente em 1881): Juan, huérfano también poco después de volver de la Universidad [...]
puso en renta las tierras que cultivaba su padre, y en aparcería los ganados que halló en las cuadras
(partes mínimas de los bienes que heredó) y abrió en Cumbrales su estudio, por no aburrirse.
Na mesma categoria das famílias acima descritas se encontravam a dos imigrantes, em cujos relatos
também faziam alusão a esta prática. Com efeito, o Sr. Ildefonso B.Sanchez, quando inquirido sobre as
propriedades da família, na Espanha (Cáceres, Extremadura), respondeu: [...] nós tinha casinha pr’a
morar, tinha um pedaço de terra. [...]; E ele [o pai ] trabalhava todo ano [ o ano inteiro] plantava roça,
81
Lapidar é também este relato:
[no] terreno lá dos rico e davam a 20%; [...] o patrão dele plantava trigo, cevada, grão-de-bico, era
terreno grande...
Temos, ainda, o relato do Sr. Tercifon Cabrera, cuja família era proveniente de Almería (Andaluzia), o
qual, perguntado por que vieram para o Brasil, assim respondeu: ... alí [ na Espanha] não dava pr’a
comer; [era] miséria de terra , o patrão lá não é como aqui [...]; na Espanha , um quarto de terra era a
meia com o patrão, pr’a plantar e vender [...]. Então eles [ os emigrantes] ficaram aborrecidos e vieram
para o Brasil... Grifos nossos.
Granjas: Propriedades rústicas de cultura lucrativa ou finca para criação de animais de curral.
tiendas: comércio, loja ou venda.
alfarrerías : locais onde se fabricavam e vendiam louças de barro.
llevar em renta : arrendar.
Siega, escarda: retirada das ervas ruins, limpar, capinar, roçar.
159
- BLASCO IBÁÑEZ, V. Op. cit.,1919, p. 93.
160
- SÁNCHEZ ALBORNÓZ, N. Op. cit.,1977, p. 16.
82
Os contrastes impregnavam todo o cenário nacional. É deste período, em
que as regiões tinham entre si relação de hostilidade, que ocorrem reivindicações
de autonomia por parte de diversas cidades mediterrâneas do sul e do leste, como
resultado do embate entre a velha Espanha, ainda identificada com o Antigo
Regime e seus setores progressistas, que reivindicavam liberdade política e
protecionismo economico.
161
- VILAR, P. Op. cit., 1992, p. 90.
162
- [...] Baroja espezinha a tradição, mas repudia as lições vindas de fora. Antonio Machado,
jovem professor em Sória, dedica a sua meditação poética à paisagem de Castela-a-Velha, mas denuncia
[...] o “estômago vazio e a alma sem vida” do espanhol. [...] Unamuno pede para a sua pátria o
primeiro lugar nessa reação contra a fé na ciência e no progresso que se desenha um pouco por toda a
parte na mesma época.[...] E, contudo, como sempre em Espanha, a síntese realizar-se-á entre o alento
tradicional e o não conformismo. Mas, para isso, serão necessários alguns genios: Federico Garcia
Lorca, Miguel Hernandez e Pablo Picasso e um grande impulso popular: o de 1936. In: VILAR, P.
Op. cit., 1992, pp. 91/2.
163
- Poema “El mañana efímero” , escrito à época por Antonio MACHADO. In: SAHAGÚN, C. Op.cit.,
1966, p. 24.
charanga: banda de música
pandereta: diminutivo de pandera, instrumento musical rústico.
burlón: zombeteiro
bosteza: boceja
tahur: trapaceira
zaragatera: desordeira
embiste: pedinte (de esmolar)
cinzel: Termo não identificado. Consta cincel em diversos dicionários significando instrumento
de ferro, como um martelo, para golpear a pedras e metais.
maza: instrumento de madeira dura que serve para quebrar esparto ou linho.
83
cuando se digna usar de la cabeza,
aún tendrá luego parto de varones
amantes de sagradas tradiciones
y de sagradas formas y maneras.
Trabajar todo el día bajo el sol ó sufriendo frío, sin más jornal que dos
reales y cinco como retribución extraordinária e inaudita en la época de
la siega! Era verdad que el amo daba la comida, pero ¡ que comida para
unos cuerpos que de sol á sol [...]
Tres comidas hacían al dia los braceros, todas de pan: una alimentación
de perros. A las ocho de la mañana, cuando llevaban más de dos horas
trabajando, llegaba el gazpacho caliente, servido en un lebrillo. Lo
guisaban en el cortijo, llevándolo adonde estavan los gañanes [...].
84
Al morir en el cortijo alguna res cuya carne no podía aprovecharse, era
regalada á los braceros, y los cólicos de la intoxicación alteraban por la
noche el amontoamiento humano [...].
Cada año venían á los cortijos más mujeres de la sierra. Las hembras
eram sumisas; la debilidad femenil las hacía temer al arreador y se
esforzaban en su trabajo. Los manijeros, agentes reclutadores, bajaban
de la montaña al frente de sus bandas empujadas por el hambre.
Describian en los pueblos la campiña de Jerez como un lugar de
abundacia y las familias confiaban al manijero las hijas apenas entradas
en la puberdad ...165.
164
- BLASCO IBÁÑEZ, V. Op. cit.., 1919, pp. 104/6.
Garbanzo: Grão-de-bico
Cazuela: Guisado feito em caçarola
Lebrillo: Terrina
Zagales: Jovens, moços
Mendrugo: Pedaço de pão duro
165
- BLASCO IBÁÑEZ, V. Op. cit.., 1919, p. 146.
Manijero: ganchos ou recrutadores.
166
- PEREDA, José M. de. Op. cit., 1965, p. 53.
167
- A Restauração Monárquica consistiu, basicamente, em um golpe de Estado, onde se derrubava a
Primeira República espanhola, de pequena duração (1873-1874), abatida, sobretudo, pelo peso de uma
guerra colonial com Cuba.
85
de paradoxo, e sobre o qual ainda hoje debruçam-se em acirradas controvérsias
diversas vertentes acadêmicas daquele país.
Más que una auténtica restauración, que hubiera significado una vuelta a
la etapa anterior a la revolución, el golpe de Estado de 1874 fue una
corrección de la trayectoria seguida después de 1868 168. Cánovas
completaba y perfeccionaba la obra iniciada por los Prim, Sagasta y
compañia. Y el propio Sagasta le ayudaría decisivamente en esta tarea.
Al fin y al cabo, revolucionarios de 1868 y restauradores de 1874 (ni muy
revolucionarios, los unos, ni muy restauradores, los otros) se sentabam
juntos en los Consejos de administración de las mismas compañias y
tenían unos intereses comunes 169.
168
- Após a guerra de independência contra Napoleão, seguiram-se 26 anos de guerra civil e
selvageria, crise que culminou na sucessão de Isabel II; destronada, em 1868, é substituída por Amadeo
de Saboya que se vê obrigado a abdicar já em 1873.
169
- FONTANA, Josep. Cambio económico y actitudes políticas en la España del siglo XIX.
Barcelona, 1973, p. 141. Apud: TUÑON DE LARA, Manuel. (org.) Historia de España. Tomo VII -
Revolución burguesa, oligarquía y constitucionalismo (1834-1923). Barcelona, Ed. Labor, 1983, p. 255.
170
- Para conseguir isto, a máquina eleitoral transformou-se em um departamento do Ministério do
Governo; daqui, saíam os nomes indicados como candidatos do Governo aos Governadores civis
(Presidentes das Comunidades Autônomas) das Províncias, e muitas vezes também as cifras da maioría
pela qual pretendiam vencer. Mesclavam-se os candidatos, dando a falsa impressão de que a composição
fora casual, e inclusive sempre se colocava a algum republicano concorrendo.
Recebida a lista, cabia aos Governadores preparar os Ayuntamientos (Prefeituras), que, por sua vez,
preparavam a sua lista de votantes, onde figuravam, naturalmente, somente aqueles que se supunha
votariam nos candidatos oficiais; se seus nomes fossem insuficientes, repetia-se os mesmos algumas
vezes; até os mortos se transformavam em eleitores; a esta fraude eleitoral se denominava pucherazo.
Foram praticadas outra série de fraudes eleitorais neste período. Conforme VIVES, Vicens (org.). Op. cit.,
1971, pp. 321 e ss.
86
públicos nos pueblos, com os quais compactuavam toda série de irregularidades,
como a divisão da renda dos impostos, a isenção do seu pagamento, tanto para sí
como para seus amigos, a usurpação dos terrenos comunais, a invasão, com seus
rebanhos, de terras cultivadas pertencentes a terceiros, o desvio dos canais de
irrigação para seu próprio benefício, dentre outros 171.
171
- ¡ Cómo demónios había de conseguir yo arrancar a éstos una administración que conservaban
ellos tanto por cuestión de honra como por razón de provecho? Por eso dije antes que aunque la tal
administración tentaba mucho a mi padre, la consideraba tan difícil de alcanzar como acertar un terno
seco á la lotería primitiva, no obstante la intimidad de mi cuñado el procurador con el juez del partido;
la de éste con el regente de la Audiencia del territorio; el parentesco del regente con el marqués del
Perejil...
In: PEREDA, J.M. Op. cit., 1958, p. 17, cujo personagem referia-se ao ramo dos Garcias, tradicionais
caciques locais.
172
- SIEWERT, W. Op. cit., 1942, p. 119.
87
Neste período, registra-se um crescente êxodo ultramarino, impulsionado,
mais que tudo, pelo receio de ser enviado ou de ter algum filho ou parente
enviado para a Guerra de Cuba 173.
173
- Foi comum, entre os emigrantes com quem estivemos, citações de casos em que a razão alegada
para a vinda para o Brasil se daria basicamente para evitar que os filhos fossem enviados à guerra (vide
adiante o caso particular da família de D.Ana Garcia).
174
- MENDOZA, E. Op. cit., 1987, p. 156.
175
- MENDOZA, E. Op. cit., 1987, p. 187.
88
eram, em última análise, quem mais se via prejudicada pelo anacronismo
resultante de um sistema político local dominado e controlado pelos grandes
proprietários latifundiários, fenômeno este particularmente observado em
algumas regiões do país, como a Andaluzia e a Extremadura.
176
- MOLINA NAVARRO, M. Op. cit., 1992, pp. 28/9. Grifos nossos.
Parcela de propios: espaços de uso comum.
89
Es allí muy corriente la de emigrar durante el verano los hombres mozos
a provincias tan lejanas como las de Aragón, para ejercer el oficio de
asserradores de madera, o las de Castilla, con aperos de labor o con
castañas, para cambiarlos por trigo o por dinero 177.
178
- BAHAMONDE, A. e MARTÍNEZ, J. Op.cit., 1994, p. 476/7. De conformidade com esses autores,
a categoria de jornalero não se restringiu, portanto, apenas aos trabalhadores do campo.
90
especificidade no processo migratório ultramarino, ela teria fornecido, tal como
pretendemos demonstrar, o maior contingente emigratório espanhol para o
Estado de São Paulo no período investigado.
179
- Tal é o caso dos trabalhos de José C.MOYA (Op. cit., 1990) e Alejandro VÁZQUEZ, “Causas
de la emigración y tipologia de los emigrantes - 1. Factores de expulsion en las regiones de
procedencia”. In: Historia General de la Emigración Española a Iberomérica. Vol. 1, Madrid, CEDEAL,
1992, pp.201-218, os quais têm colocado em xeque alguns paradigmas tradicionalmente aceitos.
Especialmente para o caso andaluz, temos nas investigações de Antonio M. BERNAL (“La emigración
de Andalucía”. In: SÁNCHEZ-ALBORNÓZ, N.(comp). Españoles hacia America. La emigración en
masa, 1880-1930. Madrid, Alianza Editorial, 1988, pp. 143-165), notáveis reflexões para o
entendimento da questão emigratória espanhola, e, em particular, a andaluza, do período.
180
- BERNAL, A.M. Op. cit., 1988, p. 146.
91
Desta maneira, como resposta aos avanços impostos pela penetração do
capitalismo na agricultura, houve a diminuição das pequenas explorações
agrícolas, com a redução no contingente de trabalhadores. O êxodo rural que se
observa é como uma continuidade daquele iniciado com a industrialização de
princípios do século XIX; neste contexto, se vislumbra uma saída nos países
novos americanos. Além do mais, certos setores vinculados à exportação serão
seriamente prejudicados, tal como aconteceu como o setor de vinhos e azeites.
QUADRO II
Espanha e Andaluzia
Densidades médias (hab./km.) - 1877-1930
92
Analisando-se, contudo, os dados computados para cada província
andaluza particularmente, observa-se que somente Cádiz, Granada, Málaga e
Sevilha tiveram densidades superiores à média nacional no período, o que
denota, no mínimo, a existência de uma região com duas realidades
populacionais distintas.
QUADRO III
93
QUADRO IV
Por outro lado, como entender que Córdoba, Jaén e Sevilha, províncias de
agricultura tradicionalmente andaluza, conheçam um incremento populacional
considerável quando comparadas às províncias marítimas? E, portanto, como
continuar, a partir deles, responsabilizando a pressão demográfica como a causa
determinante da expulsão dos excedentes para ultramar?
94
que teria esvaziado as terras extremenhas, andaluzas orientais e castelhanas em
benefício de outras áreas mais urbanizadas e industrializadas (vide Quadro V).
QUADRO V
95
181
movimento desta para as áreas urbanas, andaluzas ou não , ou, até mesmo para
ultramar.
181
- A este propósito, BAHAMONDE, A. Op. cit., 1992, p. 107, esclarece que as desamortizações,
provocando a desesperança dos camponeses quanto a possibilidade de acesso à propriedade, trouxeram
como consequência o incremento dos movimentos migratórios internos. Exemplo lapidar seria o caso de
Madrid, cidade que apresentara até então crescimento vegetativo nulo ou negativo, mas que assiste, a
partir de 1865 uma aceleração desconhecida até então. Os 268.000 habitantes de 1860, se transformaram
em 397.816, em 1877. O mesmo autor, através da consulta aos inventários da época, pode diagnosticar
que a elite econômica residente na Capital teve um interêsse bastante especial pela compra de terras,
procedentes das desamortizações, mas também provenientes da nobreza decadente e da execução de
contratos de empréstimo. Ele atribui este fenômeno que ele denomina de hambre de tierra não apenas
dos camponeses, mas também da burguesia.
182
- Filoxera é o nome do inseto que atacou as videiras andaluzas, a partir de 1878-1880, proveniente
da França; tal denominação se estendeu também para o fenômeno.
96
passam a se deslocar quase que exclusivamente para Barcelona, País Basco ou
França.
Os peões provinham do campo e não sabiam fazer nada; tinham ido para
a cidade no desespero, expulsos de sua terra pela seca, pela desolação
causada pelas guerras e pragas ou simplesmente porque a riqueza local
era insuficiente para lhes assegurar a manutenção. Arrastavam suas
famílias e às vezes parentes distantes, ou agregados inválidos que não
haviam podido deixar para trás [...]; agora viviam em cabanas de folha-
de-flandres, madeira e papelão na praia que se estendia desde o
embarcadouro da Exposição [Universal, em Barcelona] até a fábrica de
gás. As mulheres e as crianças pululavam às centenas por este
acampamento surgido à sombra dos vigamentos e armações que
desenhavam já as silhuetas do que logo viriam a ser palácios e
pavilhões...
Este fenômeno relacionado à crise provocada pela filoxera parece ter tido
efeitos bem menos drásticos nas províncias ocidentais (Jerez, Córdoba, Huelva).
97
Desta maneira, e diante da impossibilidade em se estabelecer uma
tipologia na qual se situem as principais levas de imigrantes, relacionando
origem, momentos, expectativas, condição social e outras variáveis, resta-nos,
por ora, apenas reafirmar que as causas que provocaram a emigração espanhola
deste período para o Brasil não foram semelhantes, não ocorreram em um único
momento e não tiveram o mesmo efeito nas províncias com agriculturas e
condições sócio-econômicas distintas.
184
- SÁNCHEZ ALBORNÓZ, N. España hace un siglo: una economía dual. Península, Barcelona,
1968 e Los precios agrícolas durante la segunda mitad del siglo XIX. Banco de España, Madrid, 1975.
Apud: Bernal, A.M. Op. cit., 1992, p. 154.
185
- DIAS DEL MORAL , J. Historia de las agitaciones campesinas andaluzas. Madrid, Alianza, 1977.
Apud: BERNAL, A.M. Op. cit., 1992, p. 155.
186
- Relativo especificamente ao ano de 1882, BRENAN, G. Op. cit., 1962, p.127, informa que as
relações no campo estavam bastante tensas, sobretudo devido aos anos seguidos de seca e fome; assim é
que, no Congresso de 1882, realizado em Sevilha, haviam 50.000 trabalhadores, 30.000 dos quais
provenientes da Andaluzia. Estes, insatisfeitos com a condução das negociações relativas às greves (eles
eram partidários da ação violenta), e se auto-denominando los desheredados, se compunham
principalmente por trabalhadores das vinhas de Jerez y Arcos de la Frontera e acabaram por abandonar a
federação.
98
Ele informa, a respeito de 1905, que:
187
- DIAS DEL MORAL, J. Op. cit., 1977. Apud: BARRAGÁN, A., GONZÁLEZ, M y SEVILLA,
E. “Revueltas campesinas en Andalucía (1820-1939)”. In: Cuadernos Historia 16. Madrid, Consejeria
de Cultura, Dirección General Bienes Culturales, Junta de Andalucia, 1985, p.25.
Coincidentemente ou não, uma grande parcela dos imigrantes espanhóis contatados em Vila
Novais, alguns ainda remanescentes da leva original, outros filhos daqueles, pertencentes à primeira
geração, haviam ou tiveram suas famílias embarcadas para o Brasil entre os anos de 1905-1906.
Cebada: planta herbácea, de sementes mais largas que o trigo e que serve de alimento.
188
- Ilustrativo desta situação é o artigo publicado no jornal joco-serio Cascabeles, em 1916, sob cujo
título “La populacion aumenta”, inquiria-se aos camponeses, com a seguinte pergunta: ¿Dónde vas?, a
qual respondiam: “A buscar trabajo. A otras tierras donde se pueda vivir. Aquí sube el pan, sube la casa,
sube to y el trabajo, cuando lo hay no da ni pa medio comer”. Apud: BERNAL, A.M. Op. cit., 1988, p.
156.
99
BERNAL 189 argumenta que a condição de vida jornalera era bem pior que a dos
pequenos proprietários e que, portanto, aquele teria muito mais necessidade de
emigrar; no entanto, como é de se imaginar, a maioria deles sequer dispunha das
condições mínimas para tal, e, muito provavelmente, os poucos que o fizeram,
invariavelmente se serviram da passagem subsidiada que acompanhava aos
contratos de trabalho, cujos destinos prioritariamente eram Cuba ou o Brasil.
Este fenômeno parece restrito a Andaluzia, pois todas as pesquisas sobre as
outras regiões, sobretudo a Galícia, indicam que a maioria dos emigrantes não se
utilizavam do subsídio.
... Aquela gente foi loucura, porque eles, na vila que eles moravam, eles
tinham bastante terra...; eles tinham bastante azeitona, tinham parreira
de uva, eles plantavam mantimentos, engordavam porcos...; [lá] ele
vendia óleo, ele vendia toicinho, ele vendia batata, ele tinha bastante
cabrito, ele vendia leite ...
Agora, voce acha que uma gente dessa precisava vir para o Brasil? Fazer
o que? Comprar terreno aí, no mato, se matando, trabalhando, comendo
arroz, feijão e mandioca, largar de comer aquela azeitona, presunto,
vinho de primeira, pão de primeira, que era de farinha de trigo moída lá
no rio, lá no moinho; vir comer mandioca aí...; que aí não tinha aquele
presunto bom da Espanha, nem nada disso. Tinha aí uma pinga ...
189
- BERNAL,A.M. Op. cit., 1988, p. 156.
190
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque, chegado, como vimos, aos nove anos de idade,
em 1905. Vila Novais, 1980.
100
proveniência dos emigrantes, mas, também, quanto à declarada necessidade do
arrendamento de parcelas de terras alheias para plantação:
... é, e nós viemos pr’a cá todos. Porque o pai deu aquela besteira de vir
pr’o Brasil, porque nós não precisava vir pr´o Brasil [...]; nós tinha
casinha pr’a morar, tinha um pedaço de terra; já tinha oliveira dando
fruita, tinha um pedaço de uva dando, um terreninho pr’a plantar cebola,
alho, tinha pera, tinha maçã, figo [...]; e ele trabalhava todo ano,
plantava roça, terreno lá dos ricos e davam a 20%”[...]; o patrão dele
plantava trigo, cevada, grão-de-bico, era terreno grande; então eles
davam aquele terreno a 20% da produção e o pai plantava lá todo ano; e
podia levar lenha, podia ter criação lá, no campo. Criação não pagava
nada.
101
Uma das formas de conseguir algum montante para fazer frente aos gastos
de viagem, era negociando alguns bens, dentre eles, as suas pequenas
propriedades, fenômeno este que provocava reações adversas por parte de
expoentes da imprensa de lingua espanhola no Brasil:
191
- Jornal “La tribuna española”. S.Paulo, ano III, nº 104, de 09/01/1904, p.1.
192
- Os latifundiários constituiriam 41% da extensão total em Córdoba; 50% em Sevilha e 58% em
Cádiz. O valor capitalizável era de 49% em Sevilha e Córdoba e maior ainda em Cádiz. Em Sevilha, os
latifúndios produziam 49% da riqueza total; as médias propriedades, 33% e as pequenas não mais do que
18% (..) encontramos em Sevilha 2.344 grandes proprietários (aqueles que possuíam mais de 10
hectares), constituindo 5% do total e produzindo 72% da riqueza agrícola. Tomando-se a Andaluzia
como um todo, a média anual de um latifundiário era de 18.000 pesetas, enquanto que a de um pequeno
proprietário era de 161 pesetas. Para esta região constavam 4.101 grandes proprietários para 200.000
pequenos. Dados obtidos em VICENS VIVES, J. (org.) Op. cit., 1971, p. 84 e ss.
193
- Cf. BAHAMONDE, A. Op. cit., 1992, p. 110.
102
Assim, pode-se aceitar que o perfil que mais se aproxima do emigrante
que veio para o Brasil, e, especialmente para S.Paulo neste período, é aquele que
o identifica com o pequeno proprietário empobrecido, sem condições de
sobreviver e manter a sua família apenas da exploração da sua propriedade, ou
sequer de alimentar qualquer expectativa quanto a uma provável melhoria nas
condições de vida, e que, muito provavelmente já tivesse se utilizado
previamente de alguma estratégia, como o arriendo, ou até mesmo já tivesse
tentado alguma ocupação temporária como jornalero, em qualquer zona
latifundiária.
194
- Neste caso “la miséria aboluta , más que impulsar el abandono, le pone freno, porque el largo
viaje necesario aumentaba el coste de la decisión”. In: LEMUS, Encarnación. Op. cit., 1992, p. 292,
referindo-se a Região Extremenha, que guarda reconhecida similaridade com a região andaluza no tocante
à questão emigratória.
103
Esses dados, e mais o que ficou exposto, explicam e ilustram o fenômeno
espanhol, reforçando os indícios de que os contingentes majoritários que se
destinaram ao Estado de S.Paulo se compunham de pequenos proprietários ou
minifundiários a quem esta opção – ainda que indesejada na maioria dos casos,
se apresentava como a única possível.
195
- BARRAGAN, A. , GONZÁLEZ, M. & SEVILLA, E. Op.cit., 1985, p. 23.
104
En un reciente trabajo, hemos sacado a la luz la enorme conflictividad de
este tipo que se produjo entre 1875 e 1920 en toda Andalucia. Las
denuncias de la Guarda Civil, por hurto de madera y leña, corta de
árboles, robo de frutos, roturaciones ilegales e introducción de ganado en
terrenos acotados de monte público [...] era la respuesta campesina ante
la pérdida de las fuentes tradicionales de subsistencia, privatizadas de uso
como consecuencia de la intervención del Estado [...].
196
- MOLINA NAVARRO, M. González de. Op. cit., 1992, p. 38. Grifo nosso.
Neste trabalho, o autor examina o caráter, contexto histórico, objetivos, motivações, periodização e
confluência entre o anarquismo e o movimento camponês e a resistência frente às privatizações das terras
de uso comum.
Ratería: gatunice, ladroagem.
Roturaciones: Cultivos, arroteamentos.
105
siderúrgicas e extrativas -, revelando no período entre 1900-1930, uma
triplicação da renda per capita 197.
O setor agrário, por outro lado, sobretudo o de exportação, procurava
recuperar o descompasso e o relativo atraso frente a outros países europeus, ainda
que
197
- O panorama geral do desenvolvimento econômico espanhol deste período, é descrito por
VICENS VIVES, J. Op. cit., 1971, pp. 247 e ss.
198
- MARTÍNEZ MARTIN, J. Op.cit., 1992, p.159.
Coto: marco
106
resposta diferenciada, de modo que, considerar o fenômeno em escala nacional,
pressupondo uma distribuição de variáveis relativamente homogêneas, pode
resultar equivocado, pois tais ajustes, mesmo integrando um contexto mais amplo
de mundialização dos mercados de trabalho, obedeceram a variáveis regionais
específicas, e não raro, à situações bastante diversas mesmo a nível regional,
conforme ficou evidenciado.
199
- SÁNCHEZ ALBORNOZ, N. (Org.) . “Medio siglo de emigración masiva de España hacia
América”. In: Españoles hacia América - La emigración en masa, 1880-1930. Madrid, Alianza Edit.,
1988, p. 21.
bizca:: vesga.
107
PARTE II
200
- SÁNCHEZ ALBORNOZ, N. Op.cit., 1988, p. 25/26. Grifo nosso.
O período anterior, de 1820 a 1876, corresponde às várias iniciativas de colonização oficiais ou
particulares, ou mesmo à vinda de estrangeiros para os centros urbanos, especialmente para o Distrito
Federal, e foge ao âmbito deste trabalho.
108
Não foram todos os países latinoamericanos os beneficiados por esta
corrente; sua direção se norteava preferentemente para as últimas colônias
espanholas na América, caso de Cuba e Porto Rico; ou deslocava-se para
aqueles países que lhe acenavam com trabalho e lhes proporcionavam facilidades
de transporte, como é o caso da Argentina, do Brasil e do Uruguai.
QUADRO VI
109
QUADRO VII
A B C
Província População População População % %
total estrangeira espanhola C de A C de B
Paraná 126.772 2.654 18 0,01 0,68
Rio Gr. do Sul 446.962 27.075 282 0,06 1,04
S. Catarina 159.802 14.368 78 0,05 0,54
São Paulo 831.354 14.843 242 0,03 1,63
TOTAL 1.564.890 58.940 620 0,04 1,05
Elaborado por Palazón Ferrando, S. Op.cit., 1995, p.28, baseado no Recenseamento da População do
Império do Brasil de 1872. 201.
Tal constatação não é gratuita, e mesmo que se refira aos quatro estados
meridionais, é lícito supor que essa emigração crescia impulsionada pelas
facilidades oferecidas pelo Governo paulista.
201
- O autor preferiu utilizar para a elaboração deste quadro os dados censitários locais, já que neles
não há a distinção entre os que conservaram ou não a nacionalidade espanhola, como acontece com os
dados consulares, conforme esclarece o mesmo autor.
110
QUADRO VIII
202
- Estadística de la emigración e inmigración de España, 1882-1930. Dirección del Instituto
Geográfico y Estadístico (IGE), citada. Vide ANEXOS, Tabela I, Movimento bruto de passageiros por
mar, 1882-1930 – Saldo entre entradas e saídas, à p.349.
203
- BOTELLA, D. Cristóbal. Op.cit., 1888, p. 221.
111
Entretanto, se considerarmos a diferença entre saídas e entradas
computadas apenas para o período de 1882-1900, obteremos um saldo de
204.472 pessoas. Ora, esse número se apresenta muito aquém da cifra
aproximada de 500.000 pessoas que compunha a população espanhola residente
na América Latina no mesmo período, denotando, portanto, a enorme disparidade
existente entre as cifras espanholas e as cifras dos países de destino.
204
- Dados obtidos em: LEVY, Maria Stella. “O papel da migração internacional na evolução da
população brasileira (1872-1972)”. In: Revista Saúde Pública. S.Paulo, 8 (supl), 1974, p.54. A autora
teria utilizado, conforme informa, dados do DIC - Departamento de Imigração e Colonização, criado em
1935, órgão subordinado a Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo.
205
- O decréscimo da imigração italiana costuma ser atribuído ao Decreto do Governo italiano que
teria proibido a imigração para o Brasil, no ano de 1902, assim como à crise da cafeicultura nos inícios do
século. Com relação a este Decreto, no entanto, e às consequencias que provocou quanto ao fluxo dos
italianos, temos a opinião de ALVIM, Zuleika. Brava Gente!, S.Paulo, Brasiliense, 1986, pp. 53 e 58,
para quem o “Decreto Prinetti , que não foi decreto [e] não foi de Prinetti nem proibiu definitivamente a
emigração para o Brasil” tratou-se, efetivamente, de uma suspensão para a concessão de licenças de
alguns navios para o transporte gratuito de emigrantes quando o deputado Prinetti era ministro do
exterior.
112
de seu contingente se dirigindo para S.Paulo, os italianos e os espanhóis
apresentaram, respectivamente, 78 e 79%.
Como pudemos observar neste rápido painel contendo a evolução das três
principais correntes que demandaram o Brasil e, mais especificamente, o Estado
de S.Paulo no período das emigrações em massa, os números da emigração
espanhola revelam uma evolução tardia, cujos indicadores, já analisados,
sugerem e revelam singularidades na trajetória desse grupo no Brasil.
O Quadro IX abaixo, nos dá uma idéia desse movimento alternado entre as
principais correntes que se dirigiram ao Estado de S.Paulo, dos anos finais do
século e até 1929.
QUADRO IX
206
- A partir de 1908 uma outra corrente, porém não européia, a dos japoneses, demandará o Brasil,
sobretudo o Estado de S.Paulo e, após a crise de 1914-18, haverá um aumento dos contingentes
poloneses, russos, romenos e letonianos, provavelmente devido a Revolução Comunista na Rússia, além
de judeus.
113
1885-1889 167.664 137.367 18.486 4.843 --- 6.968
1890-1894 319.732 210.910 30.752 42.316 --- 20.899
1895-1899 415.253 219.333 28.259 44.678 --- 11.305
1900-1904 171.295 111.039 18.530 18.842 -- 11.191
1905-1909 196.539 63.595 38.567 69.682 825 23.870
1910-1914 362.898 88.692 111.491 108.154 14.465 40.096
1915-1919 83.684 17.142 21.191 27.172 12.649 5.530
1920-1924 197.312 45.306 48.200 36.502 6.591 60.713
1925-1929 289.941 29.472 65.166 27.312 50.573 17.418
Fonte: HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES.Imigrantes estrangeiros entrados no Estado de S.Paulo -
Período 1885/1961. Discriminação por qüinqüenios, das principais nacionalidades entradas no Estado, em
três quartos de século de existência da Hospedaria “Visconde de Parnaíba”. S.Paulo, 1978, s/nº. Foi
utilizada neste momento apenas parte da periodização de que se compõe o impresso. Deixamos de
relacionar, igualmente, os imigrantes constantes da coluna “não especificados” (2º, 3º e 4ºs, qüinqüenios),
razão pela qual, nos mesmos, a soma da coluna TOTAL, não coincide.
QUADRO X
EMIGRAÇÃO ESPANHOLA
PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO (1910-1915)
Fonte: IGE, Emigración Española Transoceánica, 1910-1915, Madrid, 1916. Apud: SANTOS, Ricardo
E. dos. “La evolución cuantitativa del proceso migratorio español a Iberoamérica (1890-1950), con
207
- O desdobramento desse caso, que culminará com o envio de um emissário especial do Conselho
Superior de Emigração espanhol, Sr. Angel Gamboa Navarro, será focalizado adiante. Por ora, resta-nos
examinar até que ponto tal proibição provocará a diminuição dos fluxos para o Brasil.
114
especial referencia a Brasil”. In: Revista de Economia y Sociologia del Trabajo. Madrid: 19-20, 1993,
p.145.
QUADRO XI
QUADRO COMPARATIVO
CIFRAS DE SAÍDAS POR PORTOS ESPANHÓIS E CIFRAS DE ENTRADAS NO
BRASIL DOS IMIGRANTES ESPANHÓIS
208
- Referimo-nos aqui não somente às cifras de saída (da Espanha) comparadas com as de entrada
no Brasil, constante desse Quadro comparativo, mas, sobretudo, queremos ressaltar os números de
ingressos, no mesmo período, na Hospedaria dos Imigrantes da Capital (Quadro IX), cuja discrepância,
proporcionalmente menor, mas ainda assim relevante, poderia resultar dos mesmos elementos já
apontados, mas, poderia ainda sinalizar para a eficiência da máquina recrutadora paulista, que, sobretudo
nos anos seguintes ao da proibição e vendo-se seriamente afetada por ela, lança mão da estratégia de
arregimentar colonos espanhóis na Argentina e no Uruguai; tal estratégia, com efeito, resultou tão
vantajosa que perdurou mesmo depois que a proibição do governo espanhol fosse revogada, em 1912.
115
EMIGRANTES IMIGRANTES
SAÍDOS POR PORTOS ENTRADOS NO BRASIL %
PERÍODO ESPANHÓIS Fonte: D.N.I. - Brasil DIFERENCIAL
Fonte: IGE - Espanha
209
- Tais Relatórios referem-se a publicações anuais que eram elaboradas e expedidas pelos
secretários da agricultura ao Presidente/Governador da Província/Estado, numa prestação de contas de
suas atividades. Sua abrangência e temática, com questões que vão desde agricultura, indústria e
comércio, até terras, imigração e colonização, com rico material estatístico, fez com que realizássemos a
consulta e a coleta integral dos dados que ora apresentamos e que serão objeto de exame no decorrer desta
monografia.
210
- Como é sabido, à Hospedaria dos Imigrantes de S.Paulo cabia recepcionar, dar alojamento e
encaminhar os imigrantes que se destinavam às fazendas de café, para onde eram transportados em trens
da S.Paulo Railway Company, depois de desembarcados no Porto de Santos; tais imigrantes eram
obrigados a se recolher na Hospedaria - caso não quisessem perder o direito à passagem e o despacho da
bagagem gratuitos para o interior. Tal exigência, estava certamente atrelada à tentativa de mantê-los à
disposição dos agentes oficiais que intermediavam os acordos entre eles e os fazendeiros. Tendo assim
ingressado, e após os rituais higiênicos de praxe (banho, desinfecção das roupas, vacinas), os imigrantes
116
duplicidade de registros para o caso dos reemigrados e dos repatriados,
resultantes do constante movimento de imigrantes que se estabeleceu entre os
três países do cone sul latinoamericano-, apresenta um mérito essencial, que se
traduz na sua periodicidade.
eram registrados. Tais registros constam hoje das séries emitidas pela Secretaria da Agricultura, a quem a
Hospedaria dos Imigrantes era subordinada, os quais consultamos para os anos de 1898 a 1928.
211
- HUTTER, Lucy Maffei. Imigração italiana em São Paulo de 1902 a 1914. O processo
imigratório. S.Paulo, IEB-USP, 1986, p. 189. Note-se que esse tipo de ocorrência não foi apanágio
apenas dos italianos.
212
- BOLETIM DA DIRETORIA DE TERRAS, COLONIZAÇÃO E IMMIGRAÇÃO, da Secretaria
da Agricultura, Industria e Commércio. Anno I, nº 1, 1937, p.161. Esta publicação oficial, reuniu, nesta
edição, dados anteriormente coletados pelo Departamento Estadual do Trabalho, por outros
departamentos, bibliotecas e arquivos oficiais.
117
por outro lado, como desconsiderar aqueles que, em trânsito pela capital,
geralmente em tratamento de saúde na Santa Casa, davam ingresso na
Hospedaria?
QUADRO XII
A B C
POPULAÇÃO POPULAÇÃO POPULAÇÃO % C de A % C deB
TOTAL ESTRANGEIRA ESPANHOLA
Elaborado por PALAZÓN FERRANDO, Op. cit., 1995, p. 97, baseado no RECENSEAMENTO GERAL
DO BRASIL, ano 1920. Neste mesmo Recenseamento, os italianos somaram mais de meio milhão
(558.405) e os portugueses quase duplicam aos espanhóis (433.577).
213
- Do restante, Rio de Janeiro, computava 10,37%; Minas Gerais, 3,14% e o Rio Grande do Sul,
2,44%.
118
cafeeiras, tendência esta que perdurou até o final da década de vinte,
conforme pode ser observado pelo Quadro XIII, abaixo:
QUADRO XIII
QUADRO XIV
PORCENTAGEM
PERÍODO QUANTIDADE SOBRE AS OUTRAS
PROCEDENCIAS 214
1885-1889 4.834 2,88%
1890-1894 42.316 13,23%
1895-1899 44.678 10,76%
1900-1904 18.842 10,99%
1905-1909 69.682 35,45%
1910-1914 108.154 29,80%
214
- Consideramos aqui somente aquelas de maior importância para o período, como os italianos e os
portugueses, até 1905-1909, e, a partir de 1910-1914, também os japoneses. Os dados foram obtidos,
conforme já dissemos, nos Relatórios da Secretaria da Agricultura.
119
1915-1919 27.172 32,47%
1920-1924 36.502 18,50%
1925-1929 27.312 9,42%
TOTAL 379.492
Fonte: RELATÓRIOS DA SECRETARIA DA AGRICULTURA. Imigrantes estrangeiros entrados no
Estado de S.Paulo - Período 1885/1961. Discriminação por qüinqüenios, das principais nacionalidades
entradas no Estado, em três quartos de século de existência da Hospedaria “Visconde de Parnaíba”. Os
cálculos das porcentagens são nossos e estão referidos à coluna TOTAL, Quadro IX, p. 123.
Sua preponderância parece concentrar-se no decênio 1905/14, quando já a
corrente italiana se retraía e a portuguesa não tinha como destino prioritário as
lavouras de café.
Quer-nos parecer que esse fator - a resistência inicial, que depois vai
revelar um movimento migratório ultramarino de natureza tardia -, pode ser um
forte indicativo do caráter distinto que tipificou essa imigração, quando a
comparamos com a italiana, por exemplo, que a antecedeu e pode sinalizar para
uma série de determinantes que consubstanciam a sua singularidade.
Não é ilícito supor que o interêsse que movia seu protagonizador - como
ademais a qualquer outro emigrante de outra procedência -, era a aspiração de
melhoria em suas condições de vida e nas de sua família.
Todo mundo que vinha de lá pensava isso [em ficar rico]; os conhecidos
que moravam aqui as vezes mandava carta com mentira, que ganhava,
assim, coisa, né... então, a turma dava aquela febre; tinha conhecido aqui
que mandava carta pr’a lá dizendo que aqui era muito bom e coisa e tal.
É, mas era tudo mentira. Vinha família até, enganada!
Ganhar dinheiro! Naquela fé que Brasil era só juntar dinheiro, né? Mas
veio todo mundo enganado; chegavam aí, chegavam nas fazendas que
não tinha nem estrangeiros, era aquela brasileirada, negros, né?! e uma
comida tudo diferente, arroz, feijão, mandioca, essa coisarada que lá não
tem. E serviço tudo diferente [...] carpir café [...] apanhar café, [nós] não
sabe apanhar, não sabe abanar... ; e a pessoa sofre, né ?! 215
215
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1980.
121
CAPÍTULO I
216
- MARTINS, José de Souza. Op.cit., 1989, p.9.
217
- Enquanto, no mesmo período, os espanhóis se apresentavam com apenas 11% e os portugueses,
com 8%. De 1900 a 1909, registra-se a contínua queda da imigração italiana, então com 48% do total,
enquanto os espanhóis aparecem com 24% e os portugueses, com 15%. No decênio 1910-20, a
porcentagem dos espanhóis continua crescendo atingindo 30% do total, a mesma cifra apresentada pelos
portugueses; os japoneses aparecem com 6%, enquanto os italianos despencam para 24%.
Conforme: KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem. A origem do trabalho livre no Brasil. S. Paulo,
Brasiliense, 1987, p. 96. Apud: LEVY, M.S. Op.cit., 1974, tabela 8.
218
- De fato, fora o seguinte o movimento emigratório no período referido:
ANOS ENTRADA SAÍDA
1898 46.939 30.007
1899 31.172 31.319 (déficit)
1900 22.802 27.917 (déficit).
In: BOLETIM DO DEPARTAMENTO ESTADUAL DO TRABALHO, Ano IX, nºs. 34/5. Apud:
BEIGUELMAN, Paula. A formação do povo no complexo cafeeiro: Aspectos políticos. S.Paulo,
Pioneira, 1968b, p. 110.
122
Em meados da década de 1880, a publicidade negativa que prejudicaria o
Brasil durante anos já se tornara um sério obstáculo ao maior
desenvolvimento da imigração européia. Italianos retornados ao seu
país haviam feito aos funcionários do governo críticas à vida em São
Paulo, e em 1885, o governo italiano distribuiu uma circular descrevendo
São Paulo como inóspito e insalubre e recomendando que se evitasse a
emigração para o Brasil. Outro problema resultou de abusos de agentes
independentes de recrutamento na Europa [...] 219.
219
- HOLLOWAY, Thomas H. Imigrantes para o café. Café e sociedade em S.Paulo, 1886-1934.
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1984, p.64.
220
- Costuma-se usar o designativo para identificar aquelas áreas situadas a Oeste da Capital, tendo
em Campinas e adjacências, cidades desbravadas pela onda verde do café, seu marco inicial e polo
irradiador.
123
calças. E assim trotava onze léguas de ida e outras onze de volta. Só no
córrego, diante da cidade, é que descia e vestia as calças... Agora, dizem
que o filho dele tem três automóveis e manda dois contos de réis por mês
para o filho farrear em São Paulo...221.
221
- DONATO, Hernâni. Filhos do destino. S.Paulo, Clube do Livro, 1980, pp.103/4.
222
- MONBEIG, Pierre. Le pionniers et planteurs de São Paulo. Paris, 1952, pp.123-4. Apud:
MERTZIG, Lia R.L. As dificuldades de adaptação do imigrante no Estado de São Paulo. Repatriação e
reemigração, 1889-1920.Dissertação de mestrado, FFLCH-USP, 1977, p. 47.
223
- Artigo 1º da Constituição da Sociedade Promotora de Imigração, que atuará até 31 de dezembro
de 1895, quando, uma vez consolidada a República, todas essas atribuições passam para a Secretaria de
Agricultura.
224
- HOLLOWAY, T. Op. cit., 1984, p. 67.
124
80.000 folhetos de propaganda, com sessenta páginas cada um, impressos em
português, alemão e italiano, para a divulgação das atrações e vantagens para as
famílias interessadas em imigrar para o Estado de São Paulo.
225
- O contrato de trabalho na fazenda de café paulista consistia, resumidamente, no pagamento
anual de uma certa quantia por cada mil pés de café tratados, geralmente com quatro carpas anuais,
sendo esse pagamento feito quase sempre parceladamente depois das carpas. O colono ainda recebia
uma quantia estipulada por alqueire (medida) de café colhido. A primeira retribuição era fixa e não
dependia do preço do café, a segunda, às vezes, sofria as interferências do preço do produto. Conforme:
PETRONE, M.T.S. “Imigração”. In: Sérgio B.Holanda (org). História Geral da Civilização Brasileira – O
Brasil Republicano, 1889/1930. Tomo III, vol. 2, 1978, pp. 109/110. A questão será detalhadamente
tratada adiante.
226
- A lei que regulamentou o serviço de transporte, de 02/1888, previa que o Governo pagaria à
Promotora, a título de indenização, pela passagem dos imigrantes, as seguintes quantias: 75$900 pelos
maiores de 12 anos; 37$500 pelos de 7 a 12 anos; 18$750 pelos de 3 a 7 anos. Em seu artigo 3º
estende esse auxílio aos imigrantes espontâneos que se destinassem à lavoura, às fazendas, aos núcleos
ou que fossem estabelecer-se por conta própria. In: MERTZIG, Lia R. Op.cit., 1977, p. 62.
227
- ARQUIVO DO MINISTERIO DE ASSUNTOS EXTERIORES, Leg. 721, exp. 29. Apud:
GONZÁLEZ MARTINEZ, E. Op. cit., 1992b, p. 14; a autora estava se referindo aos primórdios da
implantação do sistema de subsídios.
Legación : escritório da representação brasileira;
Escatimado: poupado.
228
- KOWARICK, L. Op.cit., 1987, p. 92.
125
O subsídio, em tese, consistia no pagamento da viagem para S.Paulo de
imigrantes que fossem agricultores e viessem constituídos em famílias, já que
essas, pensava-se, garantiriam uma maior fixação do trabalhador na fazenda de
café 229.
229
- PETRONE, M.T.S. Op. Cit. 1978, pp.108/9
230
- RELATÓRIO DA SECR. DA AGRICULTURA, 1902, p.167.
231
- CORREIO PAULISTANO, 01/04/1887. Apud: BEIGUELMAN, Op. cit., 1968, p.94.
232
- A partir da primeira década do século criaram-se alguns organismos com a finalidade de assistir
ao imigrante e proteger ao trabalhador rural. Aparece, assim, em 1906, a Organização de Colocação e
Trabalho (mais tarde Agência Oficial de Colocação), anexa à Hospedaria, que deveria disciplinar o
mercado de trabalho e os contratos que eram executados. É de 1907 a criação da Inspetoria da Imigração
do Porto de Santos, para recepcionar os imigrantes e de 1911 o Patronato Agrícola que tinha como
finalidade “tornar efetivas as leis decretadas pela União Federal e pelo Estado de S.Paulo em favor do
imigrante e outros operários agrícolas”. O Patronato deveria oferecer assistência jurídica gratuita aos
colonos a fim de conseguirem o cumprimento dos contratos de trabalho; deveria, ainda, levar às
autoridades competentes as queixas dos imigrantes a respeito de atentados contra sua honra, vida e bens.
Em 1911, as tentativas de institucionalizar os serviços de imigração e de trabalho culminaram com a
criação do DET – Departamento Estadual do Trabalho, que englobava a Inspetoria de Imigração no porto
de Santos, a Hospedaria dos Imigrantes e a Agênca Oficial de Colocação. Cf. PETRONE, M.T.S. Op.
Cit., 1978, pp. 113/4.
126
chamados imigrantes espontâneos - , com passagem de 2ª ou 3ª classe, bem como
para os imigrantes chamados por parentes já anteriormente empregados em
fazendas, os quais, pelo mecanismo da “carta de chamada” podiam requerer o
subsídio oficial ao interessado, desde que ficasse comprovada sua intenção de se
estabelecer na lavoura 233.
Além dos immigrantes subsidiados, transportados em lévas, mediante
contracto ou ajuste com o Estado, ou mediante subvenção deste às
companhias de navegação, também podiam ser introduzidos outros, por
bilhetes de chamada, concedidos por conta do Estado, a pedido de
proprietário agrícola estabelecido em São Paulo, ou de colonos
estabelecidos nas propriedades agrícolas ou em núcleos coloniaes 234.
[meu pai] tinha conhecido aqui que mandava carta pr’a lá dizendo que
aqui era muito bom e coisa e tal [...] que ganhava assim, coisa, né [...];
então a turma dava aquela febre [...]; todo mundo que vinha de lá
pensava isso [que iam ficar ricos]; é, mas era tudo mentira. Vinha
família até, enganada! 236.
Ou, ainda:
233
- Somente do ano de 1912 para frente é que constam dos Relatórios da Secretaria da Agricultura
as cifras do imigrantes que recebiam carta de chamada e dos que embarcavam através deste mecanismo.
Assim, temos: para 1912, das 677 famílias chamadas, vieram 170; em 1913, das 922, vieram 333; em
1914, das 326, vieram 163; em 1915, das 89, vieram 49; em 1916, das 687, vieram 568; em 1921, das
224, vieram 109; em 1922, das 380, vieram 127; em 1923, das 714, vieram 252; em 1924, só constam as
chamadas, em número de 403; em 1925, de 832, vieram 191 e em 1927, de 475 famílias chamadas,
vieram 254.
234
- LEFEVRE, Eugenio. A administração do Estado de São Paulo na República Velha. S.Paulo,
Typ. Cupolo, 1937, p. 295.
235
- ARQUIVO DO ESTADO DE S.PAULO. Secr. da Agricultura. Requerimentos diversos, 1906,
maço 12; 1908, maço 52; 1908, maço 53. Apud: HUTTER, L.M. Op. cit., 1986, p. 76.
236
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1980.
127
[Meu tio] morava aí, era o administrador aí [da Fazenda de Ramón
Sanchez]; mandou carta dizendo se nós queria vir aqui, que era muito
bom, tanta coisa...237.
Tal mão-de-obra, porém, era concorrida por outros países, sobretudo pela
Argentina, sobre quem, aliás, também recaíam, por razões até óbvias, como o
idioma, por exemplo, as preferências do imigrante espanhol.
128
subsistência entre os cafeeiros e a obtenção de um pedaço de terra com
essa finalidade, além de um pasto para alguns animais. Pelos relatos da
época, se percebe a importância que o imigrante dava à possibilidade de
poder ter culturas de subsistência e vender os excedentes. No início da
grande imigração para São Paulo, os fazendeiros queriam que os colonos
fizessem as culturas de subsistência a meia; com o tempo, entretanto,
percebendo que isso era um desestímulo para os colonos, desistiram, e,
não raro passaram a comprar os excedentes da produção. Era um forma
de conceder ao imigrante mais incentivos econômicos sem, no entanto,
terem que desembolsar somas maiores. Para o imigrante, mais
rendimentos eram de suma importância já que, em geral, sonhava em
poder se instalar um dia em terra própria 240.
240
- PETRONE, M.T.S. Op. cit., 1978, pp. 109/110.
241
- HUTTER, Lucy Maffei. Imigração italiana em São Paulo (1880-1889). S.Paulo, IEB/USP,
1972, p. 37.
242
- Jornal EL DIÁRIO ESPAÑOL. S.Paulo, 29.01.1913, p. 1.
129
O primeiro desses contratos exclusivos deu-se em 1893, com a empresa
italiana Ângelo Fiorita & Cia, que apresentou a proposta vencedora e ganhou a
licitação para o transporte de 50.000 imigrantes num prazo de dezoito meses 243.
243
- Realizava-se com as companhias de navegação o “chamado por agentes”, que era diferente
daquele denominado “contrato de destino certo”, em que o colono e sua família vinham munidos de uma
carta de chamada diretamente para um determinado local.
244
- Gibraltar, então porto inglês era passagem de muitas rotas, tanto do Mediterrâneo quanto do
Atlântico, porém, sua vantagem maior era a de eximir o candidato à imigração dos trâmites oficiais e das
exigências legais impostas pelo Governo espanhol, que, em vão, tentava barrar a clandestinidade. Vide
ANEXOS, Mapa V, Andaluzia e Norte da África, p. 346.
130
Tais procedimentos foram origem de muitos conflitos entre as autoridades
estaduais e as companhias contratadoras; encontramos diversos casos 245, onde
tais autoridades - sobretudo do Porto de Santos, encarregadas da inspeção
sanitária -, tentavam coibir o ingresso de imigrantes, alguns com graves
infecções, e, portanto, passíveis de serem repatriados, discordando frontalmente
dos critérios adotados pelas Companhias, a quem, ademais, interessava o
transporte do maior número possível de passageiros.
Ainda que não tenhamos como avaliar esse montante, imaginamos que o
volume dos clandestinos deveria ser considerável. Indicativo disto é que não raro
encontramos anúncios como este, no Jornal El Diário Español, na seção
Personas buscadas:
Não que o Brasil fosse o destino eleito, porém, acenava com uma
facilidade, que não era ofertada pelos outros países - o subsídio -, o qual, aliás,
também podia ser utilizado para finalmente se atingir o destino desejado.
245
- Tais casos encontram-se nos REQUERIMENTOS DIVERSOS, da SECRETARIA DA
AGRICULTURA, no Arquivo do Estado de S.Paulo.
246
- Jornal El Diário Español, 07.04.1913, p. 2.
247
- As questões envolvendo a emigração espanhola para a Argélia foram tratadas na PARTE I –
Capítulo I, Item 1, p. 53.
248
- Jornal El Diário Español, 13.04.1913, p. l.
131
Tal procedimento parecia, com efeito, remontar aos primórdios da
emigração espanhola em massa para São Paulo, a considerar uma petição enviada
ao diretor da Hospedaria dos Imigrantes, em 20.04.1891, onde o imigrante
espanhol José Pelaez Toledo, em nome de vários imigrantes, solicitava o subsídio
da passagem para o Rio Grande do Sul, conforme ele, seu destino original,
argumentando que foram desembarcados equivocadamente em S.Paulo; tal
pleito lhe foi negado, e no parecer emitido pela Inspetoria alegou-se que a
negativa se prendia ao fato de que muitos acabariam se dirigindo ao Uruguai 249.
QUADRO XV
PERÍODO %
1888-1890 63%
1891-1900 80%
1901-1910 40%
1911-1915 36%
Fonte: VILLELA, A.V. & Suzigan, W. Política do governo e crescimento da economia brasileira, 1889-
1945. Rio de Janeiro, IPEA/ANDES, 1975,nº 10, p. 249. Quadro elaboração própria.
132
Em contrapartida e no período em que se manteve - 1890 a 1927 -, o
percentual da receita do Estado de S.Paulo, destinado ao subsídio, chegou a
alcançar 14,5% em 1895, passando a 10,8%, em 1901 e oscilando entre 0,6% em
1903 e 8,5% em 1912 251.
251
- VACONCELOS, Henrique Dória de. “O problema da imigração”. In: Boletim da Directoria de
Terras, colonização e Immigração, da Secretaria da Agr. Ind. e Comº. S.Paulo, Anno I, nº 1, 1937, pp.
13-31.
252
- PETRONE, M.T.S. Op.cit., 1978, p. 109.
253
- BOLETIM DO DEPARTAMENTO ESTADUAL DO TRABALHO. São Paulo, ano VII;
números 34 e 35, 1919, pp. 340, 342 e 343. Apud: KOWARICK, L. Op. cit, 1987, p. 100.
133
entrado cerca de 750.000, a maioria dos quais destinados às áreas
cafeeiras de S.Paulo 254.
Ele [meu pai] quando veio, deixou tudo lá, com idéia de voltar; bom,
quer dizer, o dinheiro era pouco, [e os bens ] ele deixou tudo lá, com um
amigo, que tinha condição; o homem deu um dinheiro para ele; com dois
anos, se ele não voltasse ou mandasse o dinheiro, o homem era dono
daquilo, né? Mas se ele voltasse e trouxesse o dinheiro aí era obrigado
a entregar...256
É..., ele tinha duas casas, tinha um plantio, fazia vinho, mas ele
trabalhava no campo, né?! [...] na cidade não tinha mais serviço, ia
254
- SPINDEL, Cheywa R. Homens e máquinas na transição de uma economia cafeeira. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1979, p. 94, citando HOLLOWAY,1974, pp. 249-258 e HALL, 1969, pp. 165-166.
255
- Não conseguimos estabelecer a equivalência monetária entre o valor da taxa fixa paga às
Companhias de Navegação e o custo da passagem de terceira classe de então. Temos, a esse respeito,
apenas a publicação Relação da taxa cambial média anual do dólar e da libra à vista sobre Nova York,
em relação ao mil réis dos anos de 1894 a 1915, da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro – Vide
ANEXOS, Tabela IV, p. 353.
256
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1980.
134
trabalhar no campo[...]; ele deixou as terras lá, deixou as duas casas
com um irmão dele e a cunhada, deixou tudo la! 257.
Ou, então:
257
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias. Vila Novais, 1980.
258
- Jornal A TERRA LIVRE. S.Paulo, Ano I, nº 03, 7 de fevereiro de 1906, p. 3 - Seção Ecos da
Fazenda. Apud: BARRIGUELLI, José Cláudio. Subsídio à História das lutas no campo em São Paulo (
1870-1956). S.Carlos, Universidade Federal, 2º volume, 1981, pp. 50/51. Grifo nosso.
135
Na fazenda Santa Maria do Dr. Jacinto, em Córrego Rico, os colonos são
roubados na medida do café, além de maltratados. Quinze famílias de
espanhóis são explorados ao máximo. Em muitas fazendas é costume
medir o café com um meio hectolitro, mas em geral a medida é falsa, e o
administrador exige a acogulada, de modo que, em cada medida chega o
patrão a roubar 15 ou mais litros de café. Um espanhol não quiz dar o
café limpo dizendo que já era roubado e o administrador não tinha o
direito de reclamar. Foi morto com cinco tiros pelo administrador 259.
E mais:
Ou, ainda:
259
- Idem. Ano I, nº 15, 29 de agosto de 1906, p. 2, Seção Ecos da Fazenda. Apud: BARRIGUELLI,
J.C. Op. cit., 1981, p.57/8. Grifo nosso. “Acogular” significa encher a transbordar.
260
- Idem. Ano I, nº 21, 27 de novembro de 1906 - Seção Ecos da Fazenda. Apud: BARRIGUELLI,
J.C. Op. cit., 1981, p. 62. Grifo nosso.
261
- Idem. Ano II, nº 48, 5 de out. de 1907, p. 3 - Seção Ecos das Fazendas. Apud: BARRIGUELLI,
J.C. Op. cit., 1981, p. 67. Grifo nosso.
262
- Idem. Ano I, nº 1, 28 de junho de 1906, Seção Ecos da Fazenda. Apud: BARRIGUELLI, J.C.
Op. cit., 1981, p.55. Grifo nosso.
136
metade dos ingressos dos imigrantes italianos263, e confirma a sua natureza
majoritariamente subsidiada, pelo confronto com os dados disponíveis dos
espontâneos 264, sobretudo nos anos de grande afluxo, como 1905/06; também
apresenta a possibilidade do cotejamento daqueles que, uma vez espontâneos,
obtiveram a restituição prevista em lei.
QUADRO XVI
263
- No qüinqüênio 1905-1909, a corrente espanhola ultrapassará a italiana que sempre a suplantara,
apresentando, respectivamente os seguintes números: 69.682 e 63.595 ingressos.
264
- Os imigrantes espontâneos, isto é, os passageiros de terceira classe desembarcados em Santos,
porém sem o subsídio, também podiam usufruir do alojamento na Hospedaria dos Imigrantes. A lei 673,
de 09.09.1899, igualmente lhes facultava o benefício da restituição, bem como àqueles que já tivessem
estado no Brasil. Cf. RELATÓRIO DA SECRETARIA DA AGRICULTURA, Ano 1900, pp. 113 e ss.
Tal reembolso ocorria em vista da prova de ter-se localizado na lavoura, favor este que, em verdade, não
concorreu senão em pequena parte para incentivar a immigração espontânea, porque relativamente
pequeno era o número de immigrantes espontâneos agricultores, e que, portanto, podiam localizar-se na
lavoura. In: LEFEVRE, Eugênio. Op.cit., 1937, p. 301.
137
ordem de 63.104 pessoas, as quais poderemos acrescentar os que obtiveram a
restituição para os anos em que este dado está disponível (de 1904 a 1908), ou
seja, mais 488 pessoas, totalizando, assim 63.592 subsídios, em outras palavras,
86% do total ingressado.
Pela cessação, em março deste ano, dos contratos que haviam sido
celebrados no ano anterior para a introdução de imigrantes, tendo o
governo deliberado não só não fazer novos como até reduzir os subsídios
até então facultados, para restringir a corrente imigratória como
convinha e era indispensável diante da situação econômica e financeira
do Estado [...]. Os algarismos correspondentes às saídas de imigrantes,
durante o ano findo (1902), parecem indicar que não há risco iminente de
ficar a lavoura cafeeira privada de braços por efeito da redução das
entradas. Em todo o caso, no regime da Lei vigente sobre a introdução de
265
- ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Secretaria da Agricultura. Requerimentos
Diversos - Caixa 7376, pasta 2306, ano 1911. Como esta, encontramos várias petições encaminhadas
pelas autoridades consulares aos órgãos competentes no Brasil.
138
imigrantes o governo poderá agir, no momento oportuno, se for preciso
alargar a corrente 266.
A nosso ver, aqui poderia estar contida uma das diversas formas utilizadas
pelos imigrantes na tentativa de adquirir propriedade, indício este que poderia
explicar a existência de escrituras de compra e venda para o período, pertencendo
a compradores espanhóis 269.
266
- RELATÓRIOS DA SECRETARIA DA AGRICULTURA, Parecer do próprio secretário, Dr.
João Batista de Mello Peixoto ao Dr. Bernardino de Campos, Presidente do Estado. Ano1902. S.Paulo,
1903, p. 167 e 169.
267
- Idem. Apresentado pelo Secretário Dr. Luiz de Toledo Piza e Almeida. 1903, p. 65.
268
- deve-se notar, no entanto, que neste ano de 1902 o Governo italiano suspendia a autorização para
as viagens subsidiadas ao Brasil.
269
- Adiante voltaremos a essa questão pormenorizadamente.
139
dirigindo para o Estado, as quais culminariam nos anos de 1905 e 1906 com
22.128 e 20.349 entradas, respectivamente.
QUADRO XVII
QUADRO COMPARATIVO
PREÇO MÉDIO DO CAFÉ POR 10 KGS. E O VOLUME DA IMIGRAÇÃO
SUBSIDIADA NO MESMO EXERCÍCIO
270
- Cf. MERTZIG, L. Op. cit., 1977, p. 65.
140
O ano seguinte, de 1905 , representou um marco para a corrente que
procedia da Espanha, cujas cifras, pela primeira vez, superaram em volume
bruto aos italianos.
Por esta razão, tal lei foi recebida com reserva por parte das Companhias
de Navegação, sobretudo pela Antunes dos Santos “quejándose tanto del rigor
de la Ley de Emigración, como de la meticulosidad que los funcionarios
encargados de este servicio aplicaban cuando el país de destino era Brasil”272.
271
- Jornal A TERRA LIVRE. S.Paulo, ano I, nº 1, 20 de dezembro de 1905. Apud:
BARRIGUELLI, J. C. Op. cit., 1981, p.48. Grifos nossos.
272
- GONZÁLEZ MARTÍNEZ, E. Op. cit., 1990a, p. 173.
141
No entanto, enquanto o Governo espanhol procurava conter os abusos que
se praticavam, na sua origem, o problema estava longe de encontrar alguma
solução:
273
- Jornal LA VOZ DE ESPAÑA. Ano IX, nº 406. 19.03.1908, p. 5. Grifo nosso.
274
- ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SECRETARIA DA AGRICULTURA .
Requerimentos Diversos. Caixa 7.299, 1909.
275
- GONZÁLEZ MARTÍNEZ, Op. cit., 1990a, p. 175.
142
De pronto, o Sr. Gamboa, que fora recebido por um inspetor do porto de
Santos, seguiu para S.Paulo, onde sería aguardado pelo Diretor da Hospedaria,
para quem declarou que sua principal preocupação se prendia ao cumprimento
dos contratos de trabalho de seus compatriotas.
que se habían dirigido a Brasil seducidos por falsas promesas[...] que los
reclutadores propagaban de pueblo en pueblo y de aldea en aldea: que se
regalaban parcelas, ganado, aperos de labranza, entre otras; [relativo
aos contratos de trabalho] los definia como ilusorios ya que las garantías
no se respetaban y muchas cláusulas eran sustituidas según el capricho
del hacendado 276.
276
- GONZÁLEZ MARTÍNEZ, E. Op. cit., 1990a, p. 176.
143
Artículo 3. Las autoridades gubernativas, las Juntas locales de
Emigración y los Inspectores de Emigración, velarán especialmente por el
cumplimiento de lo dispuesto en este Decreto.
Alfonso.277
Polêmico, o relatório que teria motivado o Real Decreto proibindo a
imigração subsidiada para o Brasil (diga-se, para S.Paulo), vai provocar acirrados
debates que se travaram na Câmara dos Deputados, onde o Deputado Eloy
Chaves, em discurso, a 14 de setembro de 1910, dizia:
277
- ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SECRETARIA DA AGRICULTURA.
Requerimentos Diversos. Caixa 7381, 1910.
278
- ANNAES DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Transcrição da Ata da Seção de 14.09.1910,
pp.383/4.
144
Apesar da repercussão do Boletim Oficial e até mesmo da decretação da
proibição da imigração subsidiada para o Brasil, não se pode deixar de notar que
não se proibia a imigração indiscriminadamente, ou seja, o decreto recaía tão
somente sobre as subvenções que eram concedidas aos interessados. Em outras
palavras, o Governo espanhol, assim agindo, não se manifestava frontalmente
contra a imigração que se destinava ao Brasil, apenas lhe impunha algumas
restrições, que, de todo, não a impediam.
279
- SALLUM JR., Brasilio. Op.cit., 1982, p. 138, referindo-se à criação do Patronato Agrícola, que
limitava o arbítrio dos fazendeiros na elaboração e no cumprimento dos contratos de trabalho, bem como
patrocinava gratuitamente as ações judiciais que os colonos precisassem mover contra aqueles. A análise
apresentada por Thomas HOLLOWAY em “Condições do mercado de trabalho e organização do trabalho
nas plantações na economia cafeeira de São Paulo, 1885-1915”. In: Estudos Economicos. S.Paulo, 2, (6),
1972, p. 175, demonstra a eficácia do Patronato na solução dos impasses trabalhistas a partir de então.
145
corporais que sofrem e pelos serviços rudíssimos a que estão submetidos.
Muitos colonos, segundo narrativas dos jornais, padecem de fome e são
obrigados a aceitar a situação, pois que se protestam desaparecem 280 .
Havia, ainda, um outro fator que viria a interferir nesse fluxo, mais
especialmente daquele proveniente da Andaluzia, que concorria com o Brasil na
preferência dos espanhóis: tratava-se da rota para o Hawai, para onde partiam
naturais de Málaga, Granada, Almería e Jaén.
O que ocorria de distinto com o Brasil, nesse caso, é que, além de ser
gratuita, tal imigração, controlada pelos Estados Unidos, era mais ágil e
aparentemente mais vantajosa. Além da gratuidade na passagem, os imigrantes
recebiam ainda uma casa no valor de 4.000 pesetas e tinham direito a escola
gratuita para os filhos menores; tinham vencimentos mensais e, decorridos três
anos, se demonstrassem boa conduta e fossem bons lavradores, receberiam a casa
e um lote de terra, para o que se exigia, então, a sua naturalização 282.
280
- Jornal O ALPHA, Rio Claro, Ano X, nº 2.876, 4 de janeiro de 1911. Apud: BARRIGUELLI,
J.C. Op. cit., 1981, p. 77.
281
- HUTTER, L.M. Op. cit., 1986, p. 211.
282
- HUTTER, L.M. Op.cit., 1986, p. 212.
283
- Esta nota, publicada na imprensa local, denota que a questão com a Argentina podia revelar
várias nuances: Na fazenda Bela Aliança no município de Campinas um colono foi espancado pelo
administrador. E depois ainda querem atribuir o descrédito do Brasil à gente da Argentina. São estas
bestas que afugentam os colonos e não imaginários agentes. In: Jornal FÔLHA DO POVO, Ano I, nº 8, 7
de maio de 1908. Apud: BARRIGUELLI, J.C. Op. cit., 1981, p. 70.
146
jornal denominado Brasil en España, com o subtítulo Periódico defensor de los
intereses de ambos paises 284, em cuja edição de nº 32, de 25.09.1910, estabelece
uma comparação das saídas contabilizadas no Porto de Almería, para o Brasil e
para a Argentina - respectivamente 5.086 e 2.929 pessoas, no segundo semestre
de 1910 -, que revelava um aumento global das saídas para o Brasil, de um ano
para outro, isto é, de 1909 para 1910, da ordem de 3.978 pessoas.
Tal atitude do país vizinho não se justificaria até certo ponto, pois, sem
pretender empreender uma análise comparativa entre os ciclos econômicos
argentino e brasileiro, os quais, evidentemente, puderam garantir mais altos
índices de demanda a um ou outro país, a observância do Quadro XVIII indica
que, se de 1890 a 1898 a imigração bruta para o Brasil havia superado a
orientada para aquele país, o mesmo não vinha ocorrendo de 1899 em diante e
até 1913, quando, além de superarem os fluxos que vieram para o Brasil,
apresentaram, em alguns anos, significativas diferenças a maior, como no
período compreendido entre os anos de 1907 a 1910.
284
- In: GONZÁLEZ MARTÍNEZ, E. Op. Cit., 1990a, p. 180.
147
QUADRO XVIII
Pois bem, tomemos como exemplo o próprio ano de 1910, em cujo mês
de setembro – em que teria ocorrido a proibição da imigração subsidiada -, foram
148
registrados, por exemplo, 814 passageiros de terceira classe ingressando pelos
portos da Europa, aí considerado inclusive o porto de Gibraltar. Para outubro, e
considerando a mesma categoria de passageiros, saídos igualmente por portos
europeus, temos 297, evidenciando, sem dúvida, um declínio; porém, já para
novembro, temos 432, num claro sinal de reação 285.
QUADRO XIX
Europa 12.115
África (Tenerife e Las Palmas) 172
América do Norte 2
Argentina e Uruguai 883
Brasil 164
TOTAL 13.336
QUADRO XX
285
- Numa consulta aos dados mensais, pudemos observar que sua oscilação era bastante grande;
temos, como exemplo, 675 ingressos em janeiro, para 259 em fevereiro; porém, temos também 2.433
em maio, para 1.693 em junho.Cf. “Movimento de embarcações e passageiros” da Repartição da Polícia
do Porto de Santos. In: Arquivo do Estado de S.Paulo. Secretaria da Agricultura. Requerimentos
Diversos, Caixa 7317, ano 1910.
149
Almería 7.452
Vigo 1.244
Málaga 836
Barcelona 217
Cádiz 186
Valencia 30
Coruña 26
Villa Garcia 14
Bilbao 4
TOTAL 10.009
286
- Relatórios da Secretaria da Agricultura, 1908, p. 157.
150
para a América do Norte e também para os portos brasileiros, indicando, muito
provavelmente, alguma variável específica que teria incidido sobre esse fator,
nos anos iniciais dos fluxos maciços.
QUADRO XXI
QUADRO XXII
MOVIMENTO COMPARATIVO
SAÍDAS DE IMIGRANTES ESPANHÓIS PELO PORTO DE SANTOS
151
SAÍDAS
ANO ENTRADAS
EUROPA RIO DA PRATA
1911 17.862 1.913 2.278
1912 28.987 2.993 2.893
1913 33.066 3.604 3.985
1914 14.903 4.121 3.366
1915 4.369 2.374 2.330
1916 7.409 1.999 1.589
1917 9.691 1.383 1.940
1918 1.930 226 2.072
1919 3.773 1.697 2.004
TOTAIS 121.990 20.310 22.457
152
Savoia), para: Cristóbal Cano, 24 anos; Maria Cano, 22 anos;
Francisca, 2 anos e Catalina 4 anos.
c) Atestado do Juiz de Paz de Ariranha, datado de outubro de 1911,
confirmando que o imigrante havia trabalhado como colono agrícola
na fazenda Marcos pertencente ao Sr. Lorenzo Marcos Encinas, em
Ariranha, Município de Monte Alto, Comarca de Jaboticabal, onde
havia permanecido pelo espaço de 3 anos, até 1909, com a mulher e
um filho, de onde teria se ausentado, retornando em abril do corrente
ano.
d) Declaração do fazendeiro Lorenzo Marcos Encina (10/1911) atestando
que o imigrante teria trabalhado por 3 anos em sua fazenda, de onde
teria se retirado para a Argentina, de onde regressara em abril do
corrente ano.
e) Requerimento assinado pelo diretor do DET - Departamento Estadual
do Trabalho, datado de 12/12/1911, atestando que o imigrante
expontaneo procedia de Buenos Aires e assegurando estarem “os
documentos em regra e a localização de acordo com o regulamento
em vigor -, parece que o presente requerimento poderá ser deferido,
restituindo-se a importancia de 61,45 pesos [...]”.
Essa pode ser considerada uma versão, porém, há outras apontadas pelos
depoimentos e que sinalizam para impedimentos de toda ordem, inclusive de
nível pessoal e familiar, pois, é bom lembrar, o imigrante que constituía família
no Brasil, tinha filhos brasileiros, e esses, quase sempre, não revelavam interêsse
em viver na Espanha:
Eu tinha uns 20 anos... então ele [o pai] queria vender o sítio pr´a ir pr´a
Espanha...; sabe quanto davam no sítio dele? 100 contos! Nossa senhora!
O finado meu pai disse que com esse 100 conto lá na Espanha ele era o
153
mais rico do pueblo, ele falava assim pr´a nós...; e ele fava assim: ‘aí,
nós indo lá na Espanha, voces – nós era três moça já, a mais velha era eu
– vão casar com o homem mais rico que tiver lá!’. Eu disse: ´olha pai,
não me interessa, não quero saber da Espanha’ [risos] 288.
[Meu pai] ele nunca gostou do Brasil, se ele tivesse dinheiro, quando nós
viemos, ele não ficava seis meses no Brasil. Era pr’a ele ir embora, com
aquele dinheiro [que conseguiu, depois de trabalhar como colono], ele
queria ir, minha mãe não queria [...] daí ele veio aqui passear [arredores
de Villa Novaes], ele tinha aqui um conhecido [...] que já tinha sítio aí, e
aí chegou aí e o homem garrou por na cabeça dele que não fosse, que
comprasse:‘eu não vou comprar, eu vou embora pr’a Espanha, colho o
café, vendo - e nós era meeiro - e vou embora pr’a Espanha’...
[Muitos anos] depois que veio aqui [que adquiriu a propriedade e se
estabeleceu], tornou ir pr’a lá [ para a Espanha] e aí morreu lá e não
veio mais. Ele veio de lá pr’a cá, ficou dois anos, tornou ir pr’a lá e daí
sete anos que estava lá faleceu. Quando ele voltou pr’a lá, nós já
trabalhávamos os seis em Bebedouro, daí a quinze anos 289.
[Meu pai voltou para a Espanha] pr’a vender o casebre que ele tinha lá,
que ele deixou com mobília e tudo [...]; Era 1920, e lá tava pior do que
quando ele deixou! 290.
288
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias, nascida no Brasil poucos dias após seus pais terem
chegado da Espanha. Vila Novais, 1980.
289
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981.
290
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1981.
154
arrumar documento e uma coisa e outra, né?! E cada vez pior, e aí eu
parei, não fui; mas se continuasse tudo como tava, tudo calmo, eu ia 291.
QUADRO XXIII
DADOS COMPARATIVOS
IMIGRAÇÃO ESPANHOLA, ITALIANA E PORTUGUESA
ANO 1908
291
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981.
155
tantos outros, o dado referente aos indivíduos sem família, na amostragem,
merece destaque e consideração especiais no referente ao caso espanhol.
292
- Somente a partir de 1913, pelo Decreto nº 2400, de 09/07, também os emigrantes espontâneos
poderiam requerer à Secretaria da Agricultura a restituição do preço das passagens, desde que fossem
constituídos por famílias, com pelo menos 3 pessoas aptas para o trabalho, maiores de doze anos (Artigo
101). Tal restituição foi suspensa pelo decreto 2533, de 16/09/1914. Cf. COLLECÇÃO DAS LEIS E
DECRETOS DO ESTADO DE SÃO PAULO DE 1914. Tomo 24. S.Paulo, Typ. do Diário Oficial,
1915, p. 91, 92. Apud: HUTTER, L.M. Op. cit., 1986, p. 76.
Também o imigrante solteiro, com menos de 21 anos de idade, que viesse juntar-se a seus pais na lavoura,
podia beneficar-se desse decreto (Parágrafo único). DECRETO nº 2400, DE 9 DE JULHO DE 1913
(manda observar a consolidação das leis, decretos e decisões sobre a immigração, colonização e patronato
agrícola). S.Paulo, Typ. “Diário Official”, 1913.
293
- As outras nacionalidades européias pagavam 6 libras e 10 shillings (103$460). In: Decreto 542,
de 17.12.1907 (Collecção das Leis e Decretos do Estado de S.Paulo de 1907. S.Paulo, 1908, t. 17, p.516).
Apud: NOGUEIRA, Arlinda Rocha. A imigração japonesa para a lavoura paulista, 1908-1922. S.Paulo,
IEB/USP, 1973, p.128.
156
157
CAPÍTULO II
Meu pai era uma irmandade, e a mãe deles se pôs de vir para o Brasil, a
minha avó Joana, e os filhos se vieram todos com ela...; eles eram da
Província de Almería, meus pais já vieram casados, ele chegou com 26
anos e a minha mãe, com 25.
Minha avó quis vir para o Brasil, porque ela tinha os filhos, acho que ela
não queria que servissem o Governo, ela tinha cinco [filhos] homens;
quando ela se veio, não tinha nenhum prá servir o Governo, mas já
tinham iniciado viagem, né?!
Vieram 19 dias de navio [...], minha mãe ela não podia viajar, ela veio
com o rosto tampado, diz que não podia ver nada, sem poder comer,
criando um menino de cinco meses que ela não deu de mamar pr’a esse
menino; ele mamou de todas as mulheres que vinham amamentando no
navio; minha avó nem punha ele pr’a mamar, ela [a mãe] tava tão ruim,
ela quase morreu. Por fim, diz que já quase jogavam ela no mar! [risos]
294
.
Com efeito, tal crise, que culminara com el desastre, já referida nos
capítulos precedentes, relacionava-se especialmente à política colonial e à perda
sucessiva das colonias de ultramar - Porto Rico, Cuba, Filipinas -, e suas
consequências mais imediatas, como a guerra com os Estados Unidos. Referia-se
também à questão de Marrocos, cuja recuperação se tentava há muito. Isto
redundava
294
- D. Ana Garcia, cujos pais e avós chegaram em 1906. Ela teria nascido no Brasil, em 1910.
Fragmento de depoimento. Vila Novais, 1981.
158
En el desastre real sufrido por el pueblo español en sus capas
económicamente más débiles en ocasión de la guerra y como
consecuencia de la misma (famílias diezmadas por el envío, irremisible
del hijo a ultramar, bajas en la contienda, crisis de subsistencias en la
Península; situación sanitaria y merma de la capacidad laboral en buena
parte de los repatriados) [...]. Pero hubo un desastre-realidad social,
multiplicado innumerables veces a escala personal y familiar, que no ha
sido, hasta la fecha, suficientemente analisado 295.
295
- TUÑON DE LARA, Manuel (org.). Op.cit., 1983, p. 386. Grifos nossos.
Mermar: perder, esgotar.
296
- ARQUIVO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Secretaria da Agricultura. Colonização, imigração
e despesas. Caixa 4309, 1898.
159
passagem e uma declaração de que se encontrava empregado numa fazenda.
297
- Vide ANEXOS, Mapa V – Andaluzia e norte da África, p. 346.
298
- LA EMIGRACIÓN ESPAÑOLA TRANSOCEÁNICA. 1911-1915. Madrid. Hijos de
T.Minuesa de los Ríos. 1916, p. 118. Apud: MARTÍNEZ GONZÁLEZ, E. Op. cit., 1990a, p. 94/5.
160
[...]. Chegou a nossa vez. À tarde o navio partia. E lá íamos nós para a
América – a engrossar os milhares de imigrantes que iriam substituir o
braço escravo do negro, há pouco “libertos” no Brasil.
Lançados no porão do navio, chamado terceira classe, houve a separação
de homens e mulheres. Estas ficaram todas juntas em um salão e os
homens em outro. Só faltavam as correntes, o resto era igual.
A comida era intragável. Nos primeiros dias todos vomitavam. A diarréia
era uma constante.
Vários dias depois chegamos a Dacar, capital do Senegal, na costa
africana. Ali, pela primeira vez, vi os negros...299.
299
- DIAS, Eduardo. Um imigrante e a revolução, memórias de um militante operário, 1934-1951.
S.Paulo, Brasiliense, 1983, p.16.
300
- ARQUIVO DO ESTADO DE SÂO PAULO. Secretaria da Agricultura. Requerimentos
Diversos, Caixa 7496, 1916. Esse cardápio pertencia à Vapores Correos Pinillos Izquierdo & Cia.,
empresa espanhola.
301
- Assim se referia o Sr.Ildefonso Blasque Sánchez, 85 anos, que, em 1905, aos nove anos de idade
chegara com sua família proveniente de Cáceres (Extremadura). Fragmento de depoimento. Vila Novais,
1981.
161
gritando... mais parecia um “canil” [...]; ficava-se ali três dias. Não
mais. Era preciso dar lugar aos outros que vinham 302.
De 1893 a 1930, mais de 60% dos imigrantes para S.Paulo passaram pela
Hospedaria, distribuídos nas categorias de subsidiados e espontâneos, mas
também nela se instalavam os migrantes brasileiros e mesmo os estrangeiros que
chegavam pela ferrovia. Havia ainda a categoria dos retornados, uma categoria
meio difusa, que não implicava em registro anterior na Hospedaria, composta de
pessoas interessadas, no mais das vezes, em conseguir emprego, podendo ser
estrangeiras ou mesmo brasileiras.
302
- DIAS, E. Op.cit., 1983, p.16.
162
Vigias patrulhavam os prédios dia e noite para reduzir a incidência de
roubo, e guardas nas entradas cuidavam para que ninguém saísse sem
autorização e ninguém entrasse senão a serviço oficial.
Nós viemos direto num parente; ele mandava carta, então meu pai já
sabia o endereço certo, então nós viemos para Bebedouro, para a casa
dele 304; depois que estávamos na casa dele, passamos uns dias, e meu
pai arrumou serviço com Querubim; o parente lá, levou ele para arrumar
serviço; depois nós mudamos para o Querubim, ele deu uma casa pr’a
nós, casinha de tijolo. Naquele tempo não tinha nada de conforto, nem o
fazendeiro tinha.
Ele pagava por mil de café, pagava cada três meses; era um brasileiro,
mas muito bom, pagava bem. Aquilo que ele pagava a cada três meses
era o pagamento que ele fazia do trato do café.
Na colheita, nós ganhávamos um mil réis por cem litros; nós colhía,
entregava para a fazenda e ele pagava.
Quando acabava o ano, ele pagava o último pagamento do café por mil e
pagava o café que nós colhia 305.
303
- HOLLOWAY, T. Op. Cit., 1984, pp. 85/89.
304
- Com efeito, e apenas para relembrar, conforme o Livro de Matrícula nº 076, p. 19, da Hospedaria
dos Imigrantes, Seu Ildefonso, então com 9 anos, teria desembarcado em Santos, a 19.12.1905, pelo
Vapor France, procedente do Porto de Málaga, com destino a Bebedouro, juntamente com sua família,
composta de: Bernabé Blasquez Vello, chefe, com 43 anos; Pascuala Sanchez, 43 anos, mulher; Júlia, 18
anos, filha e Ignácia, 2 anos e meio, neta..
305
- Esta fazenda a que se refere Seu Ildefonso, certamente se constituiria por cultura de café já
formada, pois, além do trato propriamente dito, sua família também teria sido contratada para a colheita,
que pressupõe, no mínimo, uma cultura de quatro anos.
Os contratos de locação de serviços, e, dentre eles, os contratos mistos - modalidade que ilutra o caso da
família de Seu Ildefonso -, acabaram se tornando a forma básica de contratar os imigrantes e os
trabalhadores livres da cafeicultura. Tais contratos, verbais, limitavam-se, na verdade, a um acordo entre
as partes, e isto vai durar até os primeiros anos do século XX, sendo, portanto, o tipo de contrato a que se
163
Nós era em quatro [o pai, a mãe, uma irmã e ele], não contínuo, porque a
mãe as vezes ficava em casa; agora, três trabalhava todo dia no campo,
no café.
[Naquela fazenda] era tudo brasileiro, o que não era negro, era escuro,
tinha umas trinta famílias, tudo camarada.
Alí era o administrador da fazenda que mandava em todo mundo, né?
Estrangeiros e deles lá; bom, o administrador tomava conta, agora tinha
os fiscais para mandar no pessoal; o patrão não se envolvia em nada 306.
Ficamo dois anos nessa fazenda, depois mudamo pr´uma outra, mais dois
[anos]. Foi com empenho de formar café, com um espanhol. Era um tal
de Antonio, mas o homem era muito ruim. E não vencemo, saímo antes de
vencer [o contrato]. Ganhamo só o mantimento que plantamo! 307.
Aí fomos para esse português, fomos tratar café, em Bebedouro, café a
meia. Patrão levava metade e dava metade pr’a nós. Precisava entregar
seco pr’a ele; isso demora ... começava a tratar em outubro e acabava
em fim de setembro. Um ano ... quer dizer, a colheita começava antes,
começa em maio, junho, mas só acabava em setembro, que era bastante
café 308.
Ficamos lá dois anos.
Do português, meu pai comprou aí e viemos para cá; lá juntamos um
dinheirinho, fizemos um pé de meia e viemos aí, comprar o terreno.
Lá, o nome que tinha lá, quando fomos, era Taperão. O ano foi ... viemos
em cinco [1905], trabalhamo seis, 1911! lá era uma “materia” de criar
bicho. Não só Novais, tudo por aqui, até Catanduva!
viam submetidos os imigrantes espanhóis ingressados neste período. Depois, e principalmente a partir de
1908, houve um aumento dos contratos por escrito, por determinação legal, já que a partir do decreto
1.355 de 10.04.1906, o governo estadual passa a estabelecer normas que deveriam ser seguidas na
contratação dos imigrantes.
306
- O administrador era o cargo mais importante de uma fazenda. Ele tinha autonomia para decidir
no lugar do fazendeiro, quanto a contratações, dispensas , designação de tarefas ; para tanto, residia na
fazenda, recebia salário mensal, tinha os produtos da fazenda para consumo próprio e podia utilizar-se,
para o controle dos trabalhadores, da ajuda de fiscais e feitores. Há muitas indicações de enfrentamentos,
até de assassinatos, entre colonos e administradores, das quais faremos referência adiante.
307
- Conforme expresso, a família Blasque Sanchez fazia uma tentativa de contrato de formação,
modalidade esta que se estendia pelo prazo de 4 a 6 anos.
308
- Evidencia-se, aqui, uma variação do trato ou cultivo do café. Provavelmente, neste caso, a
família não recebesse, como era usual, um salário anual pela quantidade “tratada”, mas, em
contrapartida, dispunha da metade da colheita. Essa modalidade já era praticada nos arredores a partir de
1908 (Vide ANEXOS - Contrato I, Escritura Pública de Arrendamento de cafezal, ano 1908, p.358).
Evitando a repetição das informações padrão, típicas a esse tipo de documento e, dependendo do aspecto
a ser ressaltado, ele será transcrito no ANEXO na íntegra ou em partes.
164
Nossa Senhora! Uma mata que dava medo, o largo aí [referindo-se à
praça central da Vila] era uma mata que dava medo, a gente tirava pau
aí que ia que nem daqui lá naquelas laranjas, de grande 309.
ooOoo
Meu pai, a primeira vez que veio para o Brasil com a outra mulher dele,
não a minha mãe [...] ele formou empreita de café em Ribeirão Preto, que
tava começando a funcionar, começando a descobrir[...]; teve lá seis
anos, e nasceram 3 irmãos meus; aí, a mulher ficou doente, com
bronquite muito forte. Meu pai disse: Ah.. eu vou embora pr’a Espanha,
porque ela queria ir pr’a Espanha, achava que ia melhorar...; então,
chegando lá, em poucos tempos, a mulher faleceu.
Aí, minha mãe era moça, estava empregada em Trujillo, tinha 24 anos, e
ela tinha as irmãs no pueblo, e aí as irmãs dela combinaram com meu pai
[...] daí, ele casou com a minha mãe e quando fazia um ano mais ou
menos que já ia começar a ter filhos - já tinha três -, lá era muito ruim
pr’a tratar, muito pobre, difícil tudo, disse, agora eu vou para o Brasil
que lá é mais fácil para tratar... 310.
ooOoo
Meu pai veio para a Fazenda Dona Luisa, em Monte Azul; ficou lá sete
anos. O fazendeiro foi e pegou ele lá [na Hospedaria], veio sete famílias,
veio junto o irmão dele casado, a irmã casada, todos de Almería, viveram
todos sete anos lá, o fazendeiro pegou todo mundo 311. Eu nasci no Brasil,
309
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque Sanchez, 85 anos. Vila de Novais, 1980,
relatando as primeiras experiências de sua família como colonos em fazenda de café, logo depois de
haverem chegado da Espanha, em 1905. Grifos nossos.
310
- Fragmento de depoimento. D. Teodora Dias, 75 anos. Vila Novais, 1981.
Com efeito, conseguimos identificar o retono ao Brasil do pai de D.Teodora, cujo desembarque
ocorreu em 27.11.1905. A família se compunha então de: Isaac, chefe, 43 anos; Manuela, mulher, 24
anos (que viria a ser a mãe de D.Teodora) e os filhos do primeiro casamento de seu pai: Maria, 10 anos;
Saturnino, 8 anos e Balbina 7 anos. Teriam embarcado em Málaga, no Vapor Savoie. Seu destino era
Bebedouro, na Fazenda de Cherobim Campos. Cf. Livro de Matrícula de Imigrantes nº 075, p. 267, da
HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES, citado.
Note-se que, pelo contrato de formação, com duração de seis anos, que seu pai fizera na primeira
vez que estivera no Brasil, a família, composta de cinco pessoas, pode retornar a Espanha.
311
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera, 75 anos. Córrego Seco, Vila Novais, 1981.
Grifos nossos.
Sua família, o pai, 37 anos (Manoel), a mãe, 32 anos (Encarnación) e o filho do casal, 2 anos
(José), o irmão mais velho de Seu Tercifon que teria nascido na Espanha (os demais, a começar por ele,
nasceriam no Brasil), desembarcaram em Santos, pelo Vapor Orleanais, em 10.07.1905, procedentes do
Porto de Málaga, com destino a Bebedouro. Na passagem pela Hospedaria realizaram o contrato de
locação de serviços, ao qual se refere.
165
dois meses depois que tinham chegado, em 1905. Depois de sete anos,
juntaram umas sessenta famílias lá [na fazenda D.Luisa], espanhol e
italiano. Nós recebia por mês do trato do café [...]; podia plantar
mantimento, e criar galinha e vender ovo, tudo. E as sete famílias de lá,
vendendo ovos a 200 réis a dúzia do ovo, deu 1.500$000 [um conto e
quinhentos mil réis], cada família 312.
ooOoo
Meus pais já vieram casados; meu pai tinha uma irmã aqui... já fazia oito
anos, a mais velha; não sei se a mãe dele veio iludida com essa filha .....
[Quando chegaram, em 1906] foram trabalhar em Cravinhos. De lá eles
se foram para Bebedouro, que é onde eu sou nascida né?! Sei que nasci
em Bebedouro [em 1910] e , de quatro meses de nascida, eles se
mudaram, que eu não conheço Bebedouro, não conheço minha terra
natal...;
De lá, eles se mudaram para a fazenda do Malheiros, retirado 4 kms. de
Catanduva, foram tratar café, fazer plantação de café; [...] a gente trata o
café, recebe um pagamento todo mês, mas o patrão é dono de tudo. Pode
plantar mantimento que a fazenda ordenar, né? E depois o café o colono
recolhe, mas o produto é do fazendeiro 313.
166
Assim se refere Pierre Denis quanto à forma de contratação de mão-de-
obra antes e depois de 1906:
das flutuações da taxa cambial, algumas fazendas começam a pagar um valor determinado, uma cota fixa
por unidade de volume de café colhido, cujo pagamento era uma porção estimada do previsto valor
futuro do café que cada trabalhador colhia, presumindo-se um volume médio de cerejas colhidas para
cada quilograma de grãos beneficiados prontos para o mercado (sistema denominado por ajuste ou
contrato de preço marcado); aqui também o fazendeiro desistia da metade da lavoura de subsistência e
ainda pagava uma diária em separado pelas tarefas extras em que fosse contratado o colono.
O que os fazendeiros ainda consideravam uma variante da parceria, era, de fato, um sistema por
empreitada, passo importante para o contrato de colono.
No entanto, esse sistema não dava ao trabalhador uma renda anual contratualmente fixa, nem lhe
assegurava um certo salário por dia, cabendo-lhe os riscos que envolviam geada, seca e a delicada
natureza do café.
Num passo seguinte, e procurando reduzir a incerteza dos rendimentos do trabalhador, muitas
fazendas separaram a cota da colheita do pagamento anual pelo trato. Esse é considerado o passo final na
evolução da parceria para o contrato de colono.
Esta modalidade, conforme pudemos observar, era igualmente praticada na região objeto dessa
monografia (Ver ANEXOS, Contrato II, Escritura pública de Contrato para trato e colheita, p.359).
315
- In: O Brasil no século XX. Lisboa, Antiga Casa Bertrand - José Bastos & Cia. Editores, s/d
publicação, pp. 175/7.
316
- O texto oficial do Contrato da Agência de Colonização e Trabalho, criada pelo Decreto 1.772, de
07.04.1909, em suas linhas gerais, dizia:
Art. 1º - O proprietário fornecerá gratuitamente ao colono meios de transporte para elle, para
sua família e bagagens, desde a estação do caminho de ferro mais próxima da fazenda (é o governo que
paga o trajecto em caminho de ferro); e fornecer-lhe-ha também a casa de habitação, pastagem para um
ou vários animaes, e terreno para n’elle fazer as culturas alimentares.
167
eram impressas em cadernetas entregues aos trabalhadores e, em geral,
eram padronizadas em parte por insistência do governo. O prazo era de
um ano, de safra a safra. A família recebia uma certa quantidade de pés
para cuidar, em geral 2.000 por adulto. Era paga uma quantia fixa pela
capina de cada 1 mil pés e pela colheita de cada alqueire de fruto 317.
[...] a cessão de terras, pastos e benfeitorias para os colonos implicava numa redução dos salários
que teriam sem o seu usufruto. Sintetizando: a cessão temporária de terras e benfeitorias não consistia
num pagamento pela força de trabalho usada no cafezal; consistia em arrendamento por um ano de parte
da propriedade do fazendeiro, entende Brasílio Sallum Jr. (Op. cit., 1982, p. 169).
317
- In: DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura 1820-1920. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1977, p. 162, destacando algumas caracteristicas do contrato de colono, o qual ainda
podia conter a prestação de serviços extraordinários, à parte do trato do cafezal e da colheita, pelos quais
recebiam conforme o tempo gasto em sua realização ou conforme a tarefa executada. Conforme
observamos, e o teor dos contratos analisados parece indicar, os contratos de colono eram praticados na
maior parte das vezes com “variações” como se deu, por exemplo, com a família de Seu Ildefonso (trato
com colheita à meia, na terceira experiência).
O valor pago por essas atividades de trato e colheita oscilava de fazenda a fazenda, dependendo de
outras variáveis não monetárias que eram atreladas ao contrato, como a possibilidade de o colono receber
terras para cultivo de mantimentos.
168
aqueles realizados com as Companhias de Navegação, as quais eram contratadas
pela Província, depois Estado de S.Paulo, através de licitação.
318
- MAISTRELLO, Guido. “Fazendas de café - costumes (S.Paulo), (1922)”. In: RAMOS,
Augusto. O café, no Brasil e no estrangeiro. Rio de Janeiro, Pap. Santa Helena, 1923, pp. 555/6. Grifos
nossos.
319
- Verena Stolcke em “A família que não é sagrada” (In: Colcha de retalhos, estudos sobre a
família no Brasil. S.Paulo, Brasiliense, 1982, pp. 39-90), explora as razões da preferência dos
fazendeiros pelo trabalho familiar e os efeitos que a organização do trabalho por eles adotada teve sobre a
estrutura familiar dos trabalhadores e sua divisão sexual do trabalho.
169
Por este sistema, o colono - e a sua família -, se obrigava a cuidar de uma
determinada quantidade de pés de café, denominado de trato, que consistia da
limpeza dos cafezais, que deveriam ser carpidos de 4 a 6 vezes por ano,
demandando, cada uma, um período de quinze dias; do reimplante ou
substituição dos pés que fossem necessários, além do espalhamento do cisco, do
roçamento do pasto, do conserto de cercas e da manutenção do caminho entre a
fazenda e a estrada de ferro, além de combater os focos de incêncio, que
poderiam ocorrer em cercas ou casas da fazenda.
O processo produtivo do café compreendia várias etapas distintas, ainda
que articuladas entre si. As operações agrícolas propriamente ditas, como a
formação do cafezal, o cultivo ou trato da lavoura e a colheita eram
complementadas por tarefas não diretamente relacionadas com a lida no cafezal,
como serviços de motorista, de pedreiro na construção de um galpão, etc., pelos
quais o colono recebia por dia de serviço prestado.
170
Na área mais nova (do Oeste paulista) o elemento nacional se
especializará como camarada ou jornalero reservando-se o colonato à
família imigrante. Aliás, era noção corrente de que o imigrante rejeitaria
as tarefas mais penosas da lavoura tropical 322.
322
- BEIGUELMAN, P. Op. cit., 1968, p. 130/1.
323
- MAISTRELLO, G. Op. cit., 1923, pp. 554/5, engenheiro italiano residente à época há mais de
35 anos no Brasil, agora escrevendo sobre os costumes e o funcionamento das fazendas.
Consta, entretanto, que a recíproca era verdadeira:
Carcamano pé de chumbo
Carcanhá de frigidera
Quem é que te deu licença
De noivá com brasileira?
171
Lá [na primeira fazenda, quando chegaram] era tudo brasileiro, o que
não era negro, era escuro... tinha umas trinta famílias de camaradas.
Ihh... quase todos eles tinham terreno [os brasileiros que viviam nos
arredores da propriedade que adquiriram mais tarde, em 1911] mas não
plantavam, não trabalhavam, era só caçar e pescar, não cuidavam de
nada, foram vendendo e indo embora para mais sertão...; eles gostavam
era de mato... [risos]; era que nem bicho eh eh eh..., tinha uma porção
deles por aí, mas não tinham o que comer, todos eles tinham terreno, o
que comer, não tinham! Não plantavam nada...; abriam um pedaço em
volta da casa, um ranchinho de sapé, plantavam uns pés de milho, umas
abóboras, uns quiabos e uns pés de mandioca e iam passando com
aquilo...; caça, matar um bicho no mato para comer... 325.
172
manter limpas de mato as ruas do café, arrumar as cercas, cuidar do pasto e
construir sua própria moradia. O contrato de formador, que consubstanciava
acordos dessa natureza, era uma variante do contrato de colono 329.
329
- Vide ANEXOS – Contrato III - Escritura pública de contrato sobre formação de café, p.360.
330
- RAMOS, A. Op. cit., 1923, p. 207. Observamos ser igualmente muito comum, nos contratos
analisados, o prazo de seis anos, para a empreita..
331
- MERTZIG, L. Op. cit., 1977, p. 99.
173
O colono ainda podia, eventualmente, usufruir de outras fontes de receita
monetária provenientes de trabalhos ocasionais, como instalações de
beneficiamento de café, transporte do café em carroças para a estação de trem,
consertos de casas e cercas, etc.., trabalhos estes que, geralmente, eram
realizados pelos camaradas nacionais.
332
- O Contrato I, Escritura Pública de Arrendamento de cafezal, ano 1908, que transcrevemos no
ANEXOS, p.358, revela algumas particularidades de tais tratativas.
333
- No entanto, a existência de lavoura de café naquela região remonta aos primeiros registros
cartoriais. Assim é que pela Escritura Pública de Compra e Venda de 11.02.1901, vendia-se 15 alqueires
de terras cultivadas que os vendedores receberam em herança de Maria Candida de Carvalho (sogra),
na Fazenda Boa Vista, contando com as seguintes benfeitorias: 5.000 pés de café de 02 a 05 anos [...].
Cartório do Registro Civil do Município de Paraíso, Livro de Escrituras e Testamentos, nº de página
ilegível..
334
- Antes desse primeiro contrato, datado do ano de 1908 (Contrato I, p.358), referido
especificamente à lavoura de café, registramos a existência de alguns poucos contratos, os quais, porém,
não se referiam ainda à cultura de café, e sim a de cana-de-açucar. No ANEXOS , Contrato IV ,
Escritura Pública de declaração e contrato, de 1902, p.363 e Contrato V – Contrato Público de
empreitada, de 1907, p.364, revelam não apenas os acordos que então eram oficialmente firmados, mas,
através do seu conteúdo, permitem divisar parcelas dos usos e costumes locais.
335
- Vide ANEXOS, Contrato III, Escritura pública de contrato sobre formação de café, p.360.
174
pequenas colheitas. Porém, o mais importante para o colono, era a permissão de
usar o espaço entre as fileiras do café, conforme já enunciado.
175
dependendo da sua experiência com a carpa), mantendo limpa a
lavoura;
b) o replante de todas as mudas de cafeeiros que morressem;
c) o preparo do solo, isto é, o ajuntamento do cisco ao redor de cada pé,
após a última carpida, em preparação para a colheita; e
d) o espalhamento do cisco, após a colheita.
339
- LAPA, José Roberto do Amaral. A economia cafeeira. S.Paulo, Brasiliense, 1986, p. 58.
340
- O alqueire é uma velha unidade de medida agrícola portuguesa, usada tanto para área, como
para volume. Depois da adoção do sistema métrico o termo foi aplicado para unidades de volume
variando entre 40 e 70 litros. O alqueire padrão usado na colheita do café em S.Paulo era igual a 50
litros [...].
Conforme HOLLOWAY, T. Op. cit., 1972, p. 162.
176
A colheita propriamente mobiliza toda a força de trabalho disponível, por
fazer-se em curto lapso de tempo, pois uma vez secos no pé, os frutos
caem, sendo necessário então ajuntá-los e recolhê-los, antes das chuvas
ou outras ocorrências prejudiciais.
Um dos processos tradicionais de colheita é a derriça, arrancamento com
as mãos dos grãos presos a cada galho. Chama-se derriça natural deixar
que o grão seco caia do pé sobre um pano de que se coloca no chão com
antecedência. Finalmente, catação é a colheita manual, grão a grão, que,
embora mais demorada, seleciona melhor; procedida a colheita, o café
passa por um tratamento industrial, que pode ser por “via seca”(no
terreiro) e “via úmida” (nos lavadores) 341.
341
- In: LAPA, José R. do Amaral. Op.cit., 1986, p. 59-60.
342
- O cafeeiro, de maneira geral, produzia fartamente nos anos de condições climáticas favoráveis,
porém, depois de uma grande colheita, seguia-se um período de dois ou mais anos de descanso, para novo
reinício. Geadas e granizos também afetavam o volume da colheita.
343
- PETRONE, M.Thereza S. “Imigração assalariada”. In: HOLLANDA,S.B. História Geral da
Civilização Brasileira. S.Paulo, Difel, 1969 - tomo II - vol. 3, p. 275. Apud: MERTZIG, L. Op. cit., 1977,
p. 92.
177
com um braço quebrado e a cabeça partida pela surra. É levado para
exame na cidade e o fazendeiro é multado pela agressão em 60$000 344.
...um sítio na Fazenda das Posses, deste distrito, com 6.000 pés de café,
entrega a [...] para zelar, conservar, fazer colheita, secagem e
replantação desse cafezal, cujos lucros dividirão. Como garantia de
trabalho, fornece ele também para o segundo, casa de moradia, pastos
para alimentação de seus animais e cobertura nas despesas oriundas
desse trabalho, bem como a título de gratificação 500$000 (quinhentos
réis) na manutenção de cada pé de café que fôr conservado na sua idade
[...] 347.
344
- Jornal A TERRA LIVRE. S.Paulo, Ano I, nº 21, 27 de nov. de 1906 - Secção Ecos das Fazendas.
Apud: BARRIGUELLI, J.C. Op. cit., 1981, vol. II, pp. 60/1.
345
- RELATÓRIOS DA SECRETARIA DA AGRICULTURA. S.Paulo, 1913, p. 200.
346
- A esta modalidade teria se submetido a família de Seu Ildefonso, entre os anos de 1909/11, na
terceira fazenda em que se empregavam. Vide ANEXOS , Contrato VI, Escritura Pública de trato e
colheita à meia, p.365.
Observe-se que por essa modalidade de contrato, o fazendeiro se desobrigava de qualquer
pagamento pelo trato ou carpa, restando ao colono a cota estabelecida pela colheita, neste caso, a metade.
347
- Escritura Pública de Contrato de trabalho, de 05.07.1911. CARTÓRIO DE PARAÍSO. Note-se
a alusão à modalidade de colheita à meia.
178
Constatamos, no exame dos contratos localizados, a existência de outras
adaptações que eram realizadas, às quais, muito provavelmente, buscassem
acomodar condições e interesses específicos, ajustando-se ao contexto local.
348
- Vide ANEXOS, Contrato VII, Exemplo de Contrato Misto: trato, colheita e uma variante da
formação, p.366, pelo qual também se evidencia a evolução dos valores então pagos na segunda década
do século, sendo: para o trato, 100$000 réis (cem mil réis) por mil pés, representando o dobro do que se
pagava há dez anos e o valor estipulado para a colheita, 1$000 réis (um mil réis), para cada alqueire de
100 litros, também configurando um acréscimo percentual considerável.
179
no Córrego do Matão, 25 alqueires, pagou 3.500$OOO [três contos e
quinhentos], eu tava com sete anos, era 1913 349.
349
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias. Vila Novais, 1981.
350
- O uso da caderneta torna-se obrigatório a partir de 1907, pelo Decreto 1458, e em se tratando de
trabalhador rural cujos serviços tivessem sido contratados pela Agencia Oficial de Colonização e
Trabalho. Sabe-se no entanto que, embora somente a Agência pudesse mandar confeccionar tais
cadernetas e também entregá-las aos colonos por ela contratados, uma tipografia da Capital começou a
imprimi-la e a vendê-la aos fazendeiros. Esse fato vai gerar inúmeros mal entendidos entre os colonos
que, munidos da sua caderneta, vinham a Agência prestar reclamações, a qual não podia acatá-las, visto
não terem sido eles por ali contratados. In: HUTTER, L.M. Op. cit., 1986, p. 103 e ss.
351
- JORNAL EL DIÁRIO ESPAÑOL. S.Paulo, 18.01.1913, p. 4. Grifos nossos.
180
Exploração no armazém e trabalho excessivo. Na fazenda de Henrique
Tibério em Córrego Rico, os colonos levantam-se às 4 da manhã e
labutam bestialmente até às 7 da noite, dormindo em abjectas pocilgas.
Para comer, uma família de 3 ou 4 pessoas recebe semanalmente do
fazendeiro 2 k. de farinha, 1 garrafa de azeite e 1 k. de sal; uma família
de 5 ou 6 pessoas recebe 3 k. de farinha e o resto em proporção. Os
colonos pagam por esses gêneros por um preço exorbitante, ficando assim
sempre em débito e não podendo abandonar a penitenciária. Não podem
vender nada fora, nem milho, nem feijão e se criam um porco o patrão
fica com ele dando em troca uma insignificância 352.
352
- Jornal A TERRA LIVRE. S.Paulo, ano I, nº 21, 27 de nov. de 1906 - Secção Ecos das Fazendas.
Apud: BARRIGUELLI, J.C. Op. cit., 1981, vol. II, p. 61.
181
Via de regra, as reclamações que surgissem eram encaminhadas ao
Patronato Agrícola, o qual, a partir da sua criação, patrocinava gratuitamente as
ações judiciais movidas pelos colonos.
353
- Cf. : HOLLOWAY, Thomas. Op.cit., 1972, p. 175.
354
- RELATÓRIO DA SECRETARIA DA AGRICULTURA, ano 1922, p. 758, consoante aos dados
do ano anterior.
182
exige muito trabalho e dá pouca alimentação, fora a violência que impera
na fazenda 355.
355
- Jornal A TERRA LIVRE. S.Paulo, Ano I, nº 1, 28 de jun de 1906 - Secção Ecos das Fazendas.
Apud: BARRIGUELLI, J.C. Op. cit., 1981, vol. II, p. 56.
356
- Jornal A TERRA LIVRE. S.Paulo, Ano I, nº 2, 13 de jan. de 1906, Secção Ecos das Fazendas.
Apud: BARRIGUELLI, J.C. Op. cit., 1981, vol. II, p. 50.
357
- Jornal LA VOZ DE ESPAÑA, nº 406, de 19.03.1908, p. 1. Adail é cabo de guerra.
183
pedir sua interseção na libertação do colono. A polícia revistou todo
mundo e apreendeu as armas que portavam. Falou em nome dos colonos
junto ao agente consular o Sr. Barracchini que solicitou do agente sua
ação na soltura do colono e que intercedesse junto ao fazendeiro para que
esse pagasse os salários atrasados. O agente pediu para os colonos
sossegarem que o fazendeiro cumpriria a promessa. Quando na rua
solicitaram a soltura do colono a polícia reprimiu violentamente com
forte pancadaria. Até o próprio agente consular acabou apanhando 358.
Ou, então:
184
com visível paciência que o colono, todo humilde, se resolva a passar por
entre eles.
Da porteira à colônia medeia quase meio quilômetro. A corda que o feitor
lhe atou à cintura tira a Gabriel a vontade de correr. O próprio feitor
segura firme a ponta da corda enquanto os dois homens manejam o relho.
Até a porta da casa onde se apinham em desespero a mulher, as filhas e o
menino, os dois relhos, compassadamente, caem sobre as costas, os
ombros, as pernas de Gabriel. A boca de Gabriel, porém, não se abriu,
não se moveu.
É quase noite e toda gente da colônia está com os olhos tão grandes como
nunca.
Na manhã seguinte, sem dizer palavra, sem verter uma lágrima, sem olhar
para os lados, sem descerrar os dentes que fendem a carne rubra dos
lábios feridos, Gabriel arranca, um a um, os pés de milho. Atrás dele,
Mateus, o filho 360.
QUADRO XXIV
360
- DONATO, H. Op.cit., 1980, pp.78/9.
185
Outra posibilidad del reclamante era acudir al director del único
periódico en español desde principios de siglo, La voz de España, Sr.
Eiras Garcia. La voz, atacada tanto por los representantes consulares
como por las autoridades del Estado, cargaba sus tintas por la situación a
la que veían sometidos sus paisanos y la escasa o nula protección que les
brindaba el consulado. Em 1917, el periódico desató una campaña
desacreditando a los representantes españoles por el desamparo de la
colonia en San Pablo 361.
QUADRO XXV
361
- GONZÁLEZ MARTINEZ, E. Op. cit., 1990 a, p.156. Consta que por conta dessa e de outras
iniciativas na defesa de membros da colonia e do enfrentamento direto que promovia junto às autoridades
consulares, estes se defendiam denegrindo sua imagem. La Voz de España, editado desde inícios do
século em São Paulo, passou a designar-se posteriormente El Diário Español, cuja série cobrindo os anos
de 1912 a 1922 microfilmamos e pretendemos analisar numa fase posterior.
186
Com efeito, na década anterior, do após guerra, os mercados estrangeiros
haviam recuperado o poder de compra do café brasileiro, e inclusive os Estados
Unidos, o nosso maior comprador, aumentara sua demanda. Se no período de
1914-15, os preços do café eram inferiores a 500 réis por quilo, passam logo
depois a 1$600 (um mil e seiscentos réis), patamar em que se conserva até 1920,
conhecendo uma baixa em 1920-21, e reagindo novamente, para atingir
patamares de 4$000 (quatro mil réis) em 1924-1925 362.
A primeira família que nós pegamo foi em 14; veio uma família
espanhola que chamava Modesto, eram de Cáceres; Pegamos eles por
seis anos, tudo que desse era pr’a eles [referia-se à concessão de plantar
e vender mantimentos], naqueles dois alqueires aí do Córrego Seco pr’a
lá; dois alqueires, 4.000 pés de café .
Depois veio um tal de Juan Pérez, esse plantou e dava aula 363, esse daí
pegou tudo que dava pr’a ele, por seis anos; quando venceu [o prazo] ele
já tinha juntado 5$500 (cinco contos e quinhentos mil réis), pegou e
comprou 50 alqueires em Presidente Prudente, e meu pai, sócio com ele,
mais 50 alqueires [...]; porque aqui era mais caro no, e lá com 5 contos
ele comprava 50 alqueires....
Depois que compramo mais [propriedades], pegamo mais famílias pr’a
trabalhar; de 1912 para cá chegamo a ter 50.000 ou 60.000 pés de café.
362
- Conforme MONBEIG, P. Op. Cit., 1984, p. 114.
363
- O interessante episódio do colono espanhol que, além de formar empreita na fazenda do pai de
Seu Tercifon, ainda ministrada aulas aos familiares, colonos e filhos desses, primeiramente em um único
turno, depois ampliado para dois, no início da manhã e depois do expediente, e que chegou a reunir 70
alunos, será relatado detalhadamente adiante.
364
- O caso particular envolvendo a trajetória de Ramón Sanchez será explorado oportunamente.
187
muito grande, todo mundo era espanhol; tinha umas noventa casas de
colonos por essa época, é tudo igual as casinhas aí, nós morava aqui
desse lado da entrada [indicando]. Nós ficamo três anos lá. Depois, meu
pai pegou uma empleita boa nos Cabrera, daí largou o Ramón. Ficamos
18, 20 anos no Córrego Seco. Eu me casei lá, na fazenda do meu sogro
[Antonio Sanchez Parra].
[Meu pai] depois de algum tempo que ele formou um pouquinho de café,
já pegou duas famílias, fez duas casas, antigamente de barro e madeira,
chão de terra, e pegou duas famílias, uma teve oito anos, eram da
Provincia de Almería[...]; eles moravam por ali, foram pedir serviço,
meu pai derrubou o mato que tinha, mandou derrubar e plantaram café.
188
QUADRO XXVI
Com efeito, parece não restar dúvida do caráter das primeiras aquisições
dos imigrantes, geralmente propriedades de pequenas dimensões, onde, após se
instalarem precariamente e procederem ao desmatamento necessário, buscavam
famílias de formadores para dar início ao cultivo do café.
365
- O Contrato IX, Escritura pública de contrato sobre plantio, tratamento e formação de café em
ANEXOS, p.370, firmado entre fazendeiro e colono, ambos espanhóis, contém, em tese, as mesmas
cláusulas e privilegia as mesmas condições que regiam os acordos verbais praticados entre os espanhóis,
proprietários de um lado, e colonos, do outro, anteriormente mencionados.
189
A tentativa de abordagem dos salários que eram percebidos no colonato -
para o trato e a colheita -, pela própria dinâmica estabelecida pela economia
cafeeira, afigura-se uma prática reconhecidamente espinhosa:
Quanto às despesas não podem ellas ser calculadas com exactidão. Uma
família economica redul-as quasi a nada, se tem a fortuna de não ser
accomettida pela doença, de passar sem médico, sem pharmácia, sem
padre 366.
366
- DENIS, Pierre. Op. cit., s/d, pp. 182/3.
367
- Na esteira dos casos de aquisição de pequenas propriedades por parte dos imigrantes espanhóis,
identificados na documentação aqui investigada – e reafirmados pelos depoimentos -, surgem algumas
indagações, tentando relacioná-los à diversas variáveis, como o provável aproveitamento das
oportunidades surgidas, ensejadas quer por fatores de ordem local – como retalhamento de glebas virgens
-, quer relacionando-os às oscilações de mercado, que poderiam determinar com que proprietários
190
Sabemos que qualquer discussão entre salários (receita) e custo de vida
(despesa) deve levar em conta a importância da renda não monetária de que
dispunha o imigrante no colonato. Tais rendas não monetárias traduziam-se pela
moradia, que ele recebia do fazendeiro, isso em qualquer modalidade de contrato,
mas também no usufruto dos alimentos que lhe era permitido plantar, os quais,
muitas vezes, não se prestavam apenas a alimentar a si e sua família, sendo
também comercializados.
utilizassem da estratégia de vender parte de sua propriedade – geralmente terras impróprias ao cultivo do
café -, para levantar fundos em ocasiões específicas.
Outra possibilidade, aliás aventada em um depoimento, referia-se ao custo da passagem de volta
como proibitivo, porém, confrontado-se essa afirmação às estatísticas de repatriação e de reemigração, e,
considerando alguns dados relativos aos preços que eram praticados pelas companhias de navegação
quando comparados àqueles pagos por determinados lotes adquiridos, a questão fica ainda mais difícil de
ser respondida e requer outras leituras.
368
- HOLLOWAY, T. Op. cit., 1972, p. 168.
369
- Temos, para comprovar essa afirmação, as taxas praticadas por uma fazenda dos anos de 1901 a
1930, contendo a evolução salarial para o trato por 1.000 pés anuais, e, na colheita, a cota que era paga
por alqueire colhido, além dos ganhos diários por trabalhos ocasionais e dos salários diários que eram
pagos aos camaradas, as quais reproduzimos na Tabela V , Salário dos colonos e camaradas da Fazenda
de Café Estrela do Oeste, Município de São Simão, SP, 1901-1930, em ANEXOS , p. 354.
370
- MAISTRELLO, Guido. Op.cit., 1923, p. 558.
191
De modo geral, pelo contrato padrão – baseado no trato, na colheita e em
tarefas ocasionais-, e sem qualquer regalia extra, o montante
371
- MAISTRELLO, G. Op. cit., 1923, pp.558/9.
372
- MAISTRELLO, G. Op. cit., 1923, p.559. Neste caso, a receita com os extraordinários
representou 75% dos ganhos totais, justificando mais uma vez a preferência do colono por contratos
mistos, ou os de formação, onde as lavouras de mantimentos eram permitidas.
192
revelador do desgaste sofrido pelo salário real no decorrer dos anos (vide Quadro
XXVII) 373:
373
- Apenas como ilustração, apresentamos, no ANEXOS, Tabela VI, p.355, uma relação dos Preços
a vista de gêneros alimentícios que eram praticados no ano de 1913. Ressalte-se que os preços sofriam
enorme variação, de local para local, e, sobretudo, de fazenda para fazenda.
A questão do desgaste sofrido pelo salário real aqui demonstrada, pode remeter e, até certo ponto
justificar, a prática observada entre os colonos espanhóis, de contratos que privilegiavam o sistema à
meia, o qual, conforme observamos, detinha a sua preferência.
193
QUADRO XXVII
O colono espanhol instalado nessa região, ao que consta, fazia seu pé-de-
meia em mil réis, geralmente resultado de trabalho familiar, obtido através de
modalidades de contrato de colono que combinavam o salário anual/fixo, no
caso, para o trato por mil pés, e a parte variável que dependia da quantidade em
medidas de alqueires que a família conseguisse colher.
Porém, esse contrato “padrão” de trato/colheita, no caso dos espanhóis,
tanto se considerarmos os depoimentos, quanto analisando os casos de contratos
de trabalho registrados em cartório - já ilustrados anteriormente -, apresenta-se,
quase sempre, “combinado” com outras possibilidades, especialmente com a
estratégia de plantar mantimentos e fazer criação de animais, para consumo e
venda e, não raro, facultando-lhes a colheita à meia.
374
- DENIS, P. Op. cit., s/d, pp. 196/7.
375
- Estamos nos referindo ao trabalho de GARCIA LÓPEZ, J.Ramón. Las remesas de los
emigrantes españoles en América. Siglos XIX e XX. Astúrias, Ediciones Jucar, 1992. Nele, o autor
estabelece para o período a tipologia do fenômeno das remessas, quantias e modalidades, e identifica os
mecanismos e instituições utilizados para o envio, bem como o destino, ressaltando, nesse processo, a
figura do indiano que designa o imigrante enriquecido. Utiliza-se para tal da documentação contábil de
organizações bancárias, bem como da correspondência comercial e pessoal dos emigrados e de escrituras
cartoriais.
Os imigrantes espanhóis no Brasil recebem poucas menções em todo o trabalho, exceção ao ano
de 1920/1, em que, juntamente com Argentina, Cuba, México, Chile e Porto Rico, compõe um quadro
discriminando número de giros (operações) e o valor em miles de pesetas (p. 128), pelo qual se observa
que a média das remessas por giro não diferia daqueles provenientes da Argentina ou Cuba, sugerindo,
portanto, modelos semelhantes de pequenas poupanças para ambos os países, mas que, no caso brasileiro,
seu volume era proporcionalmente inferior em relação à população existente quando comparada à
existente naqueles países.
O Banco Español de la Plata, fundado em Buenos Aires em 1886, com filiais em Madrid,
Barcelona, Bilbao, La Coruña, Valencia e Vigo, com 39 sucursais na Argentina e 15 agências urbanas só
em Buenos Aires, outras 3 no Uruguai, aparece como possuindo 3 agências no Brasil (p.118).
195
Tais prerrogativas, não previstas no texto oficialmente proposto para o
contrato de prestação de serviços, mas existente no âmbito das relações concretas
de trabalho nas fazendas, passaram a representar a concessão quase obrigatória
feita pelos fazendeiros, resultante da reivindicação dos colonos, que claramente
se posicionavam a favor de tais contratos.
Essa questão, no entanto, pode ser avaliada sob outro ângulo, segundo o
qual
Não nos parece, contudo, que o aumento do pagamento pelo trato e pela
colheita seduzisse o colono e o convencesse a permanecer na fazenda. Os casos
aqui consultados demonstram claramente que o colono, mesmo o recém chegado,
conhecia o que lhe era mais conveniente e não relutava em trasladar-se,
geralmente para uma fazenda em formação ou em expansão, onde pudesse
realizar sua lavoura entre as fileiras do café, ou, ainda, conforme vimos em
muitos casos, em usufruir de uma parcela da colheita, geralmente a metade.
376
- STOLCKE, Verena. Cafeicultura. Homens, mulheres e capital (1850-1980). S.Paulo, Brasiliense,
1986, p. 54. Grifo nosso.
377
- Assim se expressa Augusto RAMOS (Op. cit., 1923, pp. 212), referindo-se às fazendas onde não
era possivel expandir o cultivo do café, e, consequentemente, onde havia falta de cafezais novos para o
plantio intercalar. Grifo nosso.
196
Para ter a possibilidade de comprar uma pequena propriedade e fundar
um empreendimento agrícola independente, o trabalhador não direciona
as próprias preferências para um aumento de retribuição pelo trato e pelo
alqueire [colheita], mas sobretudo para um aumento das terras a ele
concedidas 378.
197
parecem todos agora concordar que os imigrantes tinham um único
desejo, a saber, sair das fazendas.
Os pessimistas afirmam coerentemente que os colonos queriam
abandonar as fazendas devido às condições miseráveis, mas tinham pouca
oportunidade de fazê-lo.
Os otimistas contrapõem que as condições de trabalho não eram muito
ruins. Elas permitiam que uma proporção significativa de colonos
economizasse o suficiente para comprar terra própria, de modo que
poderiam abandonar o sistema de trabalho que supostamente lhes
recompensava.
De acordo com os pessimistas, os níveis de renda e as condições gerais de
vida das famílias de colonos eram miseráveis e provavelmente pioraram
na primeira década deste século. Por essa razão, os trabalhadores faziam
todos os esforços imagináveis, até o de fugirem à noite, para se mudarem
[...] para as fazendas mais novas na fronteira; poucos conseguiram se
tornar proprietários [...] pois era mais fácil economizar o dinheiro
necessário para a repatriação do que a maior quantidade exigida para a
compra de uma propriedade familiar 380.
[...] o imigrante que foi trabalhar como colono não era um conformado
com os ganhos monetários reduzidos. Estava de passagem pela fazenda.
Ela era apenas uma etapa no movimento pela autonomia que o próprio
capital lhe havia tirado no país de origem [...]. Ao migrar, não estava
indo de um lugar a outro pura e simplesmente. Estava dando direção a
esse movimento no rumo do trabalho autônomo.
atestam opinião contrária, vem encabeçada por Michael Hall (1969), Warren Dean (1976) e Verena
Stolcke (1986), historiadores, e por José de Souza Martins (1979), sociólogo, dentre outros.
No Capítulo “A questão da mobilidade social” (In: Historiografia da imigração para São Paulo.
S.Paulo, Sumaré/Fapesp, 1991, pp. 15 e ss), Bóris FAUSTO apresenta um posicionamento dos estudos
até então realizados sobre essa questão, destacando que “a tendência geral de ímpeto crescente da
imobilidade dos imigrantes, acarretando uma grande mudança social no campo, me parece, hoje,
plenamente constatada” , interrogando-se, a seguir, sobre as motivações do que ele considera o equívoco
dos “pessimistas” (p. 24).
380
- STOLCKE, V. Op.cit., 1986, pp. 78-80, manifestando-se claramente ao lado dos pessimistas.
Grifos nossos.
198
Essa inquietação conformista, essa mobilidade, teve contrapartida na
economia do café: a contínua oferta de mão-de-obra subvencionada pelo
governo, condição da também contínua ocupação de terras novas. A
reposição cíclica da força de trabalho ficava vinculada à reprodução
extensiva do capital cafeeiro 381.
381
- MARTINS, J.S. O cativeiro da terra. S.Paulo, Livr. Ed. Ciências Humanas, 1979, pp. 91/2.
Grifo nosso.
382
- PETRONE, M.T.S. Op.cit., 1978, p. 117.
A criação dos núcleos coloniais oficiais próximos à grande lavoura, como as colônias de Nova
Odessa, Tibiriçá, Nova Europa, Nova Paulicéia, Gavião Peixoto e Campos Sales, fundados entre 1905 e
1907 - com exceção do de Campos Sales, em 1897 -, fundados na esteira da grande crise cafeeira, e logo a
seguir relegados a plano secundário - já que o fundamental era suprir a grande lavoura- , será referido
aqui apenas circunstancialmente e somente quando fizer referência a questões de contexto.
199
característica não era exclusividade dos italianos, a que se refere a maioria das
investigações.
384
- Nos RELATÓRIOS DA SECRETARIA DA AGRICULTURA que consultamos, sucedem-se,
ano a ano, os diagnósticos e as propostas de solução a respeito da instabilidade do trabalhador, juntamente
com a discussão sobre a política de imigração e a política de terras e colonização, enfocando,
especialmente dois problemas: a produção do café e a produção de alimentos. A questão da produção de
alimentos, aliás, leva o poder público a questionar a política orientada basicamente pelas necessidades de
expansão da cafeicultura, porém, o alcance dessa preocupação e das medidas concretas para colocá-lo em
prática, era limitado pela efetiva importância da economia do café e pelo poder dos fazendeiros. Assim,
o que vimos, foram propostas oficiais no sentido de conciliar os interesses do café com os interesses
particulares dos colonos (que, em última análise, era o de transformarem-se em proprietários).
200
Conforme evidenciamos atrás, o imigrante espanhol que se dirigiu às
lavouras do oeste paulista, oriundo da Andaluzia e da Extremadura, não
representava a camada mais baixa da hierarquia social - composta sobretudo
pelos jornaleros -, e estava, no seu próprio dizer, remediado, entendendo-se por
isso que era possuidor de casa no pueblo, alguma terra para plantar e animais,
alguns deles admitindo, inclusive, ter embarcado com algum dinheirinho,
resultado, ou de empréstimos efetuados, ou da venda ou consignação de alguns
bens, à véspera do embarque.
A crueza da realidade local, não muito diversa daquela que havia deixado
para trás em seu país de origem, e que de pronto se insinuaria, muitas vezes antes
mesmo do desembarque, deve ter-lhe imposto dilemas pessoais e familiares de
toda sorte, ainda mais considerando a distância abissal entre aquela e as
expectativas que haviam motivado a decisão.
Contudo, uma vez imigrado, e com família, pouco lhe restava, a não ser
arregaçar as mangas e tentar encurtar o tempo na consecução do seu projeto que,
certamente, incluía prosperar o suficiente para retornar a seu país numa condição
menos desfavorecida ou adquirir uma propriedade, que lhe restabeleceria, pelo
menos em teoria, sua antiga condição de pequeno proprietário.
A considerar os casos envolvendo imigrantes espanhóis que investigamos,
sua trajetória inscrita nos relatos e na documentação analisada, indica-nos que,
ele próprio, não tinha bem definidas essas prioridades: era certo que buscava
fazer uma poupança e, para tanto, não se importava em peregrinar de fazenda a
fazenda com sua família, na tentativa de obter condições mais favoráveis.
386
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981.
201
Teodora -, comparando-os depois, com a trajetória da família de Seu Tercifon,
casos representativos que tipificam e exemplificam o itinerário desse imigrante.
Essa prática, é certo, talvez lhes garantisse maior segurança, posto que não
vinculava sua receita ao volume da colheita e nem aos preços de mercado;
ancourado apenas em sua roça de mantimentos, essa receita, numa época em que
faltavam produtos alimentares básicos, era garantida.
387
- A família de Seu Ildefonso, após o período de seis anos nessa mesma fazenda teria obtido, como
resusltado da venda da colheita, o valor de 3:800$000 (três contos e oitocentos mil réis), com os quais
teria conseguido adquirir 30 alqueires, em 1911, no Córrego Taperão, pelo qual pagaram 3:000$000 réis.
A família de D.Teodora, com contrato similar em outra fazenda, pegou um café de meia e
quando fazia dois anos que estava trabalhando naquele café, tirou 600 sacos de café, 300 pr’o patrão,
300 pr’a ele [...] e ele vendeu o saco do café a 10$000 réis, e daí ganhou pr’a comprar um sitinho[...]
aqui no Córrego do Matão, 25 alqueires, pagou 3:500$000 [três contos e quinhentos mil réis]...; eu tava
com sete anos, 1913.
388
- A família teria obtido, juntamente com as outras sete famílias (todos irmãos e primos) também
contratadas, uma poupança da ordem de 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis], depois de 7 anos,
proveniente “da venda de frango e ovos a 200 réis a dúzia”, com o qual teriam adquirido,
conjuntamente, uma propriedade de 100 alqueires no Córrego Seco, por 10:000$000 [dez contos de
réis], depois dividida, cujo rateio teria dado 10 alqueires à família de Seu Tercifon.
202
Conduzindo, no entanto, nossa avaliação por entre as escrituras de
contrato de locação de mão-de-obra - obtidas junto aos registros de escrituras e
testamentos -, pudemos observar que
elas, a par de reproduzirem as cláusulas contratuais de praxe, referidas às
questões mais gerais, permitem perceber uma clara inclinação pela eleição do
sistema denominado à meia.
389
- CARTORIO DO MUNICIPIO DE PARAÍSO. Registro de 06.09.1916. Livro de Escrituras nº
18, p. 1 e ss. Observa-se aqui, pelo teor desse Contrato, a confirmação da modalidade a que se referiram
nossos depoentes. Grifos nossos, realçando detalhes anteriormente apontados.
390
- Na Parte seguinte, examinaremos mais amiúde a questão da valorização dos preços do café,
neste período. Por ora, basta-nos reter que, de certa forma isso se confirma quando verificamos a grande
incidência de casos em que a própria colheita configurava-se, nos contratos, como garantia do
pagamento, podendo o colono “vender a colheita se não for pago no final de 4 anos” . Conforme:
Escritura de Contrato para formação e tratamento, de 11.03.1912. CARTÓRIO DO MUN. DE
PARAÍSO.
203
A existência, neste período, de contratos privilegiando determinadas
tratativas pouco usuais, devem, evidentemente, ter representado, do ponto de
vista do fazendeiro, acostumado ao constante desfalque de mão-de-obra, uma
estratégia que lhe assegurava uma certa garantia, pois, como observamos, tais
contratos modificados passaram a ser utilizados com freqüência, naquele local
391
.
Verificamos que, em condições normais, isto é, desde que não houvessem
contratempos, como por exemplo casos de doença grave envolvendo elementos
da família 392, que acabavam por minar os recursos obtidos pelo trabalho, após
391
- A rigor, os elementos necessários ao exame do caráter itinerante do colono espanhol deste
período - que, evidentemente, encerram outra série de questões a ele atreladas -, poderiam, neste caso
específico, ser obtidos na consulta à “residência” (dos pais) constantes dos registros de nascimento
coletados, através de cujo levantamento estaríamos habilitados a acompanhar seus deslocamentos pelas
diversas fazendas.
Tal rastreamento espacial, no entanto, embora parcial - a “residência” constará de 1900 a 1905
sistematicamente, ficando quatro anos sem constar, retornando em 1909, seguindo até 1912, ocasião em
que se generaliza para S.Sebastião do Turvo -, seria passível de ser realizado, não houvesse a ocorrência
de uma outra variável relacionada à profissão declarada dos pais, “lavrador”, que, conforme pudemos
observar, era aplicada indistintamente quer aos colonos ou àqueles já proprietários.
Tal constatação só viria a ocorrer quando, familiarizados com os livros de escrituras e
testamentos, pudemos cotejar os titulares de ambos os registros, concluindo, então, que muitos colonos, já
então proprietários, ao realizarem os registros de nascimento de seus filhos, continuavam a ser
“lavrador(es)”.
Desse modo, embora não possamos quantificar o nível de ocorrências, nada impede que as
qualifiquemos, pela identificação dos casos relatados nos depoimentos.
392
- Não é difícil de imaginar as dificuldades que essa população, imigrante ou não, encontrava para
realizar um tratamento médico, a considerar as distâncias e a falta de recursos. Há evidências de que
muitos vinham das fazendas para tratamento médico na Santa Casa de Misericórdia, na Capital.
As doenças geralmente comprometiam os planos das famílias, e, nos casos dos depoentes,
verificamos a ocorrência de úlcera em dois casos relatados: no caso de D.Ana Garcia, nascida no Brasil
em 1910, e casada aos 17 anos, com Luis Fernandez Herrera, espanhól de Almería, que assim se referia à
doença do marido: meu marido também nunca comprou terrreno [...] porque ele era um homem muito
trabalhador e muito direito, mas ele levou todo o período da vida dele com uma úlcera no estômago.
Essa úlcera se vê que começou quando ele era mocinho, se veio a manifestar depois de casado, né?!; e
ele sempre trabalhando, sempre trabalhando, não queria se operar enquanto tivesse os filhos pequenos,
que tinha medo que os filhos ficassem em abandono...; Não dava pr’a comprar, porque ele tinha sempre,
quase sempre, que estar em tratamento e no caso de D.Carmem Dueñas, granadina, chegada ao Brasil em
1918 aos 12 anos de idade e casada aos 18 anos, em 1924, cujo marido, espanhol de Almería, teria
falecido da doença aos 39 anos.
Estas questões parecem não ter recebido a merecida atenção dos estudiosos; há evidências, no
entanto, de que o simples fato de que os distúrbios psíquicos, tão frequentes no emigrado, sejam causa de
perturbações fisiológicas, especialmente no aparelho digestivo e no circulatório ...; muitos casos
conhecidos autorizam a admitir que, nos emigrados, frequentemente as afecções fisiológicas ou
somáticas têm origem psíquica, hipótese sabidamente admitida pela ciência médica. Por exemplo,
falando de algumas doenças, como a úlcera, a asma, a colite ulcerosa.. In: IANNI, Constantino.
Homens sem paz, os conflitos e os bastidores da emigração italiana. São Paulo, Difel, 1972, p. 107.
Apenas para fechar a questão, gostaríamos de salientar que a primeira esposa do pai de
D.Teodora morreria de bronquite na Espanha, logo após retornar do Brasil e a mãe de Seu Ildefonso que
sofria de asma, faleceria de pneumonia, depois de uma gripe forte. Foram inúmeros, por outro lado, os
casos relatados de falecimento de crianças recém nascidas ou com poucos meses de vida.
204
uma passagem como colonos pelas fazendas, esses imigrantes acabavam
acumulando, de uma maneira ou de outra, algumas economias.
[Meu pai] quando veio deixou tudo lá, com idéia de voltar; bom, quer
dizer, o dinheiro era pouco e ele deixou lá [os bens da família] com um
amigo, que tinha condição; o homem deu um dinheiro pr’a ele; com dois
anos, se ele não voltasse ou mandasse o dinheiro de volta, o homem era
dono daquilo, né? Mas, se ele voltasse e trouxesse o dinheiro aí era
obrigado a entregar. Aí, o pai arrumou dinheiro e mandou.
[Meu pai] nunca gostou do Brasil, se ele tivesse dinheiro, quando nós
viemos, ele não ficava seis meses no Brasil...
Era pr’a ir embora, com aquele dinheiro [poupança] ele queria ir, minha
mãe não queria; [...] ele veio aqui passear [nos sítios nos arredores de
Villa Novaes], ele tinha aqui um conhecido, o pai do Eduardo Fernandez,
que morava aí, e o Eduardo já tinha sítio aí, e era lá da terra, aí ele se
destinou de vir passear aí e chegou aí, o homem “garrou” pôr na cabeça
dele que não fosse [ embora para a Espanha], que comprasse. ‘Eu não
vou comprar, eu vou embora pr’a Espanha, colho o café, vendo - e nós
era meeiro -, e vou embora pr’a Espanha!’; Aí, ele “garrou” aconselhar
que não fosse e tal e levou nós pr’a ver um par de sítio, era barato e
convenceu ele, aí fomos lá, compramos, depois formou o café , que ele fez
dinheiro...393
393
- Essa intenção declaradamente transitória da passagem pelo Brasil pôde ser apreendida em outros
discursos, mas está fortemente concentrada nas falas de Seu Ildefonso, quando referidas a sua família.
Ele próprio rejeitará, anos mais tarde, a naturalização, numa manifesta atitude de resistência.
Questões dessa natureza, como ainda o fato de sua esposa jamais ter aprendido a falar português,
sinalizam para algumas reflexões que serão retomadas adiante.
Por ora, e remetando à questão da elevada expectativa de retorno, que apreendemos em seus discursos,
percebemos que ela apresenta uma natureza paradoxal, quando verificamos que, no concreto, tão logo
amealhavam economias suficientes, eles adquiriam propriedade, demolindo, portanto, a tese anterior.
Acreditamos que esses grupos ou indivíduos não fariam inversões estruturais no país de adoção (como é o
caso de compra de propriedades), movidos apenas pelo interêsse de retornar, a menos que essa
possibilidade estivesse absolutamente descartada, o que não é o caso, quando analisamos o curto espaço
de tempo médio com que concretizavam suas aquisições (6 anos).
De qualquer modo, essa ambiguidade quase inconsciente, expressa em atitudes sem coerência, revelam,
obviamente, alguns traços singulares do caráter desse imigrante, aos quais nos deteremos mais adiante.
205
Quando ele voltou [para a Espanha], nós já trabalhava os seis, foi daí há
quinze anos, quer dizer, ficamos seis anos trabalhando [como colono],
depois mais oito anos com o sítio, depois foi para a Espanha [o pai].
Ficou dois anos lá, da primeira vez, e depois voltou. Depois, tornou a ir,
sete anos que estava lá e faleceu; então minha mãe ficou viúva lá...
Tive vontade [de ir para a Espanha], mas, no tempo que eu podia ir,
formou aquela guerra mundial, tem lembrança? E a coisa daí pr’a cá foi
piorando, foi ficando difícil viajar, arrumar documento e uma coisa e
outra né?! Mas se continuasse tudo calmo como tava, eu ia passear;
morar lá não, porque a rapaziada já era nascida aqui, habituaram aqui
394
.
Sua grande ambição é possuir um lote de terras que por sua conta e risco
possa cultivar e legar a sua prole. O pecúlio necessário para satisfazer
essa aspiração, o colono o reúne aos poucos, no trabalho das fazendas
onde aprende também a conhecer a qualidade das terras e os melhores
methodos e fazel-as produzir. Foi por esse caminho que dezenas de
milhar de colonos se tornaram lavradores por conta própria e têm seus
nomes registrados nas estatísticas, como outros tantos fazendeiros 395.
394
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque, 85 anos. Vila Novais, 1981.
Essa paradoxal questão do “ir” ou do “ficar” e toda a problemática psicológica envolvida em
qualquer das decisões, é objeto do capítulo “A consciência da paz perdida”, de Constantino Ianni (In:
Op.cit., 1972), onde afirma:
... a volta ao país de emigração é triste, talvez mais triste do que a primeira partida, porque
agora alguma coisa desmorona dentro dele, e um novo equilíbrio mais sereno substituirá a nostalgia a
partir do momento em que, ainda a bordo do navio, começar a ver a terra de além-mar, a única terra na
qual não é mais “estrangeiro” , na qual não o chamarão mais “americano” [...] é a pátria que os filhos
lhe deram (p. 116);
Não são raros os casos de velhos emigrados que voltam com a intenção de passar o resto da
vida na sua terra natal, depois de vender tudo no país de imigração: não conseguem. Sentem-se
estrangeiros e partem de novo (p.115).
395
- RAMOS, A. Op. cit., 1923, p. 207.
206
quais não se conhece com exatidão o número de retornados e, dentre esses, os
daqueles que, uma vez retornados, reemigravam, faz com que empreendamos a
análise utilizando de indicadores menos objetivos, ainda que não menos
ilustrativos 396.
396
- Com efeito, haveremos de continuar, no decorrer dessa Monografia, a nos reportar
indiretamente aos casos dos retornados, sempre que nossa análise remeter à questão da aquisição da
pequena propriedade, posto que ambas são, a nosso ver, interelacionadas e ainda que isso não remeta à
crucial questão do desajuste do imigrante.
397
- PETRONE, M.T.S. O imigrante e a pequena propriedade, 1824-1930. S.Paulo, Brasiliense,
1982, p.47/8.
207
terra e teve que sair; a segunda, quando necessitou da caridade do
governo para voltar para sua terra, totalmente fracassado 398.
depois de dois anos [...] pagando uma cota mensal de dois mil réis [...]
tinham direito à repatriação até seu “pueblo” natal, quando por doença
do sócio ou de seus familiares. As viúvas, com filhos menores, também
tinham direito à repatriação 401.
398
- GALLEGO, A. M. Op.cit., 1995, p. 51.
399
- Desconhecemos como eram processados os casos de expulsão de estrangeiros. A este propósito,
chegou-nos uma listagem, recolhida no Arquivo Nacional cobrindo as duas primeiras décadas do século
XX, onde constam os processos de expulsão de vários cidadãos espanhóis. In: FERREIRA, Marco
Antonio da Costa (in memorian). A imigração espanhola e suas relações com o movimento operário em
São Paulo (1900-1920). Relatório anual de pesquisa. S.Paulo, FFLCH- USP, 1992.
400
- Fragmento de depoimento concedido por César Rúa Fernandes. In: FREITAS, Sonia M. de.
Op.cit., 2001, p. 18 (mimeo).
401
- GALLEGO, A.M. Op.cit., 1995, p. 51.
208
O processo oficial de solicitação, por parte do interessado, demandava
algum tempo, e, dependendo do caso, era moroso. A praxe consistia em
encaminhar o pedido inicialmente ao vice-cônsul, que, depois, enviava a
solicitação ao secretário da agricultura. Porém, haviam exceções.
402
- No ARQUIVO DO ESTADO DE S.PAULO, constam vários processos de repatriação de
imigrantes espanhóis. Em Secretaria da Agricultura, Requerimentos Diversos, Ordem 7219, Caixa 3,
Maço 2, nº 740, prot. 2, folhas 389, datado de 03.09.1906.
209
210
PARTE III
403
- Moça tomando café, de Cassiano Ricardo. In: Poesias Completas. Rio de Janeiro, José Olympio
Editora, 1957, pp. 208-9.
211
Os primórdios de sua ocupação espacial, inscritos nos registros cartoriais
que ora analisamos, remontam oficialmente ao ano de 1900 e se referem à
freguesia, depois Vila e Distrito, de S.Sebastião do Turvo 405, pertencente à
Comarca de Jaboticabal, a que, de certo modo se circunscreverá aquela
localidade, então ainda inexistente 406.
404
- Pelo ANNUÁRIO ESTATÍSTICO DE SÃO PAULO,1922 a 1926 (S.Paulo, Casa Vanorden,
1929, à p. 9), Villa Novaes aparece como Distrito de Paz do Município de Jaboticabal. Evidência do
impulso promovido pela economia cafeeira, neste mesmo Annuário constam ainda a elevação para
distrito de: Córrego Rico, Irupy, Pirangy, Tayaçú, Tayúva e Guariba.
405
- Nos estágios iniciais de ocupação, tais vilas ficavam sob a jurisdição administrativa do centro
municipal mais próximo, localizado na direção da Capital. O território do município mais antigo incluía
o povoamento fronteiriço menor, bem como todo o território além da linha pioneira, muitas vezes
estendendo-se aos principais rios que formam os limites norte e oeste do Estado. Na medida em que a
cidade de fronteira crescia de importância, ela e o território em torno seriam desmembrados do
município mais velho. Com freqüência, na ocasião já crescera outra “boca do sertão”na nova fase
pioneira. Alguns anos ou décadas mais tarde, o processo se repetiria penetrando mais para oeste.
Dentro da fronteira, na medida em que a população crescia e a economia se diversificava, os distritos
afastados da sede municipal seriam desmembrados, formando novos municípios dentro do território do
mais antigo. A subdivisão de municípios mais antigos é similarmente análoga à crescente complexidade
interna a que se chega pela divisão celular. HOLLOWAY , T. Op. cit., 1984, p. 32.
Pelo ANNUÁRIO ESTATÍSTICO DE SÃO PAULO, (S.Paulo, Typ. do Diário Oficial, 1905, p.
86), São Sebastião do Turvo é o único Distrito de Paz então pertencente ao Município/Comarca de
Jaboticabal; à época, o distrito de Paz de Rio Preto, pertencente ao Município do mesmo nome, também
pertencia à Comarca de Jaboticabal, como S.Sebastião do Turvo.
A criação da Comarca de Jaboticabal, como de tantas outras, pode estar na origem da exigência
legal para a regulamentação das terras devolutas, que, em 1900 exigiu a instalação de Registros Públicos
de Terra, que deveriam ser instalados em todas as comarcas, cuja lei concedia o prazo de um ano para se
requerer e três anos para se legitimar e revalidar as posses e concessões, após a instalação da Comarca.
Utilizou-se à época até um artifício para obrigar o registro: um imposto sobre as terras não registradas,
que seria lançado com base nas que estivessem registradas no Registro Geral e nas Hipotecas.
Conforme: “Terras, Imigração e Colonização”. In: RELATÓRIO DA SECRETARIA DA
AGRICULTURA, Ano 1900, p. 95.
Constatamos muitos casos reais de propriedade fundiária, adquiridas no período que nos ocupa e
cujos registros correspondentes não foram localizados na documentação cartorial local. Interrogados,
anteriormente sobre a ocorrência, os depoentes nos informaram que, muitas vezes, preferiam fazê-lo
diretamente no Cartório da Comarca, ou seja, em Jaboticabal, onde já se registrava o imóvel.
O caso da família de Seu Ildefonso é exemplar. Ele esclarecia, a respeito do sítio adquirido no
Córrego do Taperão, quando ainda seu pai trabalhava em Bebedouro de colono:
Nós morava lá em Bebedouro, quando meu pai comprou; então, quando comprou, combinou
com o homem [ que vendeu o sítio]; o homem ia daqui a Bebedouro à cavalo, levava um dia de
cavalo, então lá pegavam o trem, o homem e o pai, iam no trem até Jaboticabal [...].
406
- S.Sebastião do Turvo, depois Irupy, era o Distrito de Paz que congregava toda uma vasta região
inicialmente constituída por propriedades agrárias esparsas e mata virgem, paulatinamente
desmembradas, resultando novas denominações de sítios e fazendas, depois povoados e vilas, dentre os
quais a depois denominada Villa de Novaes, uma das células iniciais de que se compunha.
Nosso estudo se baseará nos dados cartoriais contidos nos registros alí efetuados, a partir do ano
de 1900, que contemplaram a fixação progressiva da população - interessando-nos sobretudo a de
procedência espanhola -, nos arredores, nas fazendas e sítios que iam surgindo naquele local.
212
Contudo,
a divisão territorial brasileira, baseada o mais das vezes nas necessidades politicas do
momento, é muito pouco satisfatória e não abre grandes horizontes nem mesmo aos olhos mais
perpicazes. Arbitrária e instável, ergue-se como uma barreira intransponível diante do
estudioso. Na apreciação dos grupos totais, dos conjuntos [entretanto] não representa
dificuldade insuperável, porque o fim visado é o próprio grupo, como unidade [...]; no estudo
do roteiro do café [...] , podemos contentar-nos com unidades territoriais mais vastas ...
In: Roteiro do café e outros ensaios. S.Paulo, BIPA Ed., 1946, pp.9-10.
407
- BRENHA, M.Amorim. Jaboticabal, notas históricas e estatísticas. S.Paulo, Est. Gráfico Edanee,
1925, p.27.
408
- Na zona do café, pelos distritos nascidos da noite para o dia, os cartórios de registro civil se
repetem, se copiam. São a expressão máxima do poder político. Pelas prateleiras, os livros negros estão
dispostos a mobilizar legiões de Lázaros ao som das trombetas eleitorais [...]. Esses livros contam a
história das terras que mudam de dono, dos que se conluiam em empreitadas arriscadas, dos que se
associam na aventura. O cartório é a um tempo o registro civil, posto de alistamento eleitoral, sede
eventual do partido dominante, juizado de paz. O homem que faz correr a pena vagarosa arrasta nos
seus dedos o destino da gente da roça.
In: DONATO, Hernâni.. Op.cit., 1980, p. 47. Grifo nosso.
409
- Ao Distrito de S.Sebastião do Turvo pertencerão os registros cartoriais do período de 1900-
1915, quando, então, surge uma nova localidade - Irupy -, por razões atribuídas, conforme a tradição
local, a uma epidemia que, por volta do ano de 1915/6 o teria dizimado. Hoje, as séries cartoriais alí
produzidas encontram-se conservadas no Cartório do Ofício de Notas do Município de Paraíso - daqui
para adiante apenas CARTÓRIO DE PARAÍSO -, bem como aquelas pertencentes a Irupy que o
sucedeu, até a criação de Villa Novaes, em 1924. Os registros realizados a partir de então encontravam-
se conservados no Cartório local, em Vila Novais, onde ambos foram microfilmados.
Villa Novaes pertencerá como distrito à Jaboticabal, zona tributária da Paulista, de sua criação
até 1935; depois, e até 1938, a Catanduva, zona tributária da Araraquarense. Desta data e até 1997
quando passa a Município se filiará a Tabapuã, cidade a 13 kms. de distância.
213
Seus antigos habitantes, oriundos em grande parte da província de Minas,
em vista da difficuldade de transporte pela falta de boas estradas [os
quais] não cogitaram da lavoura do café, entregaram-se exclusivamente,
e hoje em grande escala, à criação do gado vaccum e cavallar; mas a
proporção que a ferro-via da companhia Rio-Claro foi-se aproximando
do município, nelle foi-se introduzindo a cultura do café, canna de açucar
e fumo, etc... 410.
Assim, e a despeito de não haver ainda uma linha férrea que àquela altura
atingisse Jaboticabal 413, que então era considerada “a última baliza do mundo
agrárias, imigratórias, cafeeiras e ferroviárias, dentre outros; porém, nosso foco se centrará,
privilegiando nosso objeto de investigação, para efeito da análise da documentação empírica, escrita e
oral, às fontes locais, inicialmente de S.Sebastião do Turvo, depois de Irupy e de Villa Novaes por
último.
No entanto, pudemos observar, pelo cotejamento de informações com os dados coletados na
documentação oficial, que as transações, sobretudo aquelas relacionadas a imóveis, muitas vezes eram
realizadas diretamente no Cartório da Comarca - e não no Cartório do Distrito -, no caso, em Jaboticabal,
onde já se efetivava o registro do imóvel, obrigatório em ambos os casos.
214
civilizado [onde] a floresta virgem começa vinte quilômetros adiante” 414 , não
deixa de surpreender a existência de uma povoação tão promissora, constituída
por inúmeras propriedades agrícolas rurais e fazendas de café e para onde
afluíam pessoas de várias procedências e muitos imigrantes.
Toda essa problemática relatada por tais inspetores, referida aos entraves e
problemas com respeito aos cafezais - pragas, clima local, estradas -, podem, de
certo modo, estar na origem do volume das transações envolvendo compra e
venda de propriedades rurais que constatamos nos registros cartoriais desse início
de século, cujos indicadores, poderiam eventualmente sugerir um custo
comparativamente mais baixo do alqueire nesta região, de precária infra-
estrutura.
imigrantes, com destino às fazendas vizinhas. Cf. RELATÓRIO SECRETARIA AGRICULTURA. Ano
1901, p.167.(Vide ANEXOS, Mapa II, Mapa Geral da Viação Férrea, ano 1901, p.343).
414
- Visão do viajante De Racourt, que teria percorrido a região em 1900. Apud: MONBEIG, P. Op.
cit., 1998, p. 176.
415
- Tais relatórios constam dos BOLETIM DE AGRICULTURA, publicação mensal da Secretaria
da Agricultura, e abrangiam desde a publicação de atos oficiais de interesse para a agricultura até o
calendário agrícola, e mesmo informações específicas sobre determinado distrito agrícola prestadas por
seus inspetores, a quem cabia percorrer as localidades delimitadas pelo seu distrito. Circulou até 1908.
416
- Boletim de Agricultura. Fevereiro de 1901, p. 101.
417
- Idem. Abril de 1901, p. 260/1.
418
- Idem. Setembro de 1901, p. 589.
419
- Idem. Dezembro de 1901, p. 805.
215
Tal fenômeno também poderia estar associado ao fato de os preços do
café, que haviam subido vertiginosamente após 1885, mantendo-se em alta até
1886, haverem despencado - em função das altas safras, sobretudo a de 1898 -,
para cerca de um terço da média do começo da década de 1890 420.
Assim,
420
- HOLLOWAY, T. Op. cit., 1984, p. 27.
421
- MONBEIG, P. Op.cit., 1998, p. 183. Grifo nosso.
422
- Escritura Pública de Permuta, de 21.08.1903. CARTORIO DE PARAÍSO. Grifos nossos.
Mangueiro: pequeno curral.
Monjolo: engenho tosco movido à água, usado para pilar milho, e, primitivamente, para
descascar café.
423
- “Mapa do eleitorado Estadual”. In: ANNUÁRIO ESTATÍSTICO DE SÃO PAULO. S.Paulo,
Repartição de Estatística e do Archivo do Estado. Ano 1901, p.86.
Por sua vez, pela ATA DA ELEIÇÃO DA QUINTA SEÇÃO ELEITORAL DE SÃO
SEBASTIÃO DO TURVO, de 16.12.1901, que ocorreu no Salão da Escola Pública Municipal, realizava-
se a votação para o triênio 1902/05, para um senador estadual, vereadores e juízes de paz, revelando um
total de 141 eleitores.CARTORIO DE PARAÍSO.
216
Entrementes, se nos fixarmos especificamente na freguesia de São
Sebastião do Turvo, objeto de nossa investigação, podemos verificar que esta já
se constituía, na virada do século - quando, justificando o seu progresso passou a
ser a sede de um distrito de paz -, de uma população heterogênea, etnicamente
falando, basicamente assentada nas propriedades rurais 424, identificadas em sua
maioria como pertencentes a brasileiros, muitos dos quais ali instalados em
grandes glebas 425.
O pai comprou 25 alqueires [...] e aquele que vendeu pr’a nós aquela
terra, [do total] 15 alqueires ele tinha comprado d’uma viúva a troco de um
garrafão de pinga e um cavalo velho! 426.
Ou, ainda:
... o resto que morava aqui era tudo brasileiro [...]; quase todos eles
tinham terreno, mas não plantavam, não trabalhavam, era só caçar e
pescar, não cuidavam de nada [...]; tinha uma porção deles por aí, mas
não tinham o que comer; todos tinham terreno, o que comer, não
tinham!; não plantavam nada...; abriam um pedaço em volta da casa,
424
- Não deixa de ser surpreendente que encontremos, neste período, entre 1900 e 1901, arrolados
como a “residência” dos pais nos registros de nascimento, uma variada denominação de fazenda, a saber:
Fazenda Córrego Grande, Fazenda Laranjal (Monte Alto), Faz. Bebedouro do Turvo, Faz. Cordão Escuro
(Monte Alto), Faz. Baixada, Faz. Cachoeira, Faz. do Borá, Faz. Papagaio, Faz. Água Parada, Faz.
Macahubas, Faz. Cachoeirinha da B.Vista e Vila de Pitangueiras.
425
- Quais os limites em área, da pequena, da média da grande propriedade? [...] essa redução
quantitativa é particularmente difícil nas condições de países ou regiões como S.Paulo [...]; a
agricultura no Estado de S.Paulo já atingiu o desenvolvimento necessário para que em linhas gerais, a
área de uma propriedade corresponda ao sistema de exploração nele empregado e ao caráter econômico
e social do proprietário [...]; as áreas que, parece-nos, melhor correspondem às categorias acima
referidas, são: para a pequena propriedade, até 25 alqueires; para a média, até 100; para a grande,
acima de 100”.
In: PRADO JR. , Caio. “Distribuição da propriedade fundiária rural no Estado de São Paulo”. In:
REV. GEOGRAFIA. S.Paulo, 3(1), 1935, p. 52 .
426
- Fragmento de depoimento. D. Teodora Dias, referindo à compra da primeira propriedade da
família, pela qual teriam pago 3:500$000 (três contos e quinhentos mil réis), cuja Escritura Pública de
Compra e Venda lavrada no dia 17.01.1912, encontra-se microfilmada e transcrita como as demais.
Grifos nossos.
217
plantavam uns pés de milho, umas abóboras, uns quiabos e uns pés de
mandioca e iam passando com aquilo [...] 427.
427
- Fragmento de depoimento. Sr. Hidifonso Blasque, 85 anos, referindo-se aos habitantes do local
antes da chegada dos imigrantes. Vila Novais, 1980.
428
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Idem. Vila Novais, 1981.
429
- Escritura Pública de Permuta. Abril de 1900. CARTORIO DE PARAÍSO.
430
- Escritura Pública de Compra e Venda, de 30.04.1900. Idem.
431
- Escritura Pública de Permuta, de 04.02.1901. Idem.
432
- Idem, de 15.02.1901. Idem.
218
11 alqueires de terras comuns, 01 casa coberta de telhas e parte de
capim; 01 rancho coberto de sapé; um monjolo e árvores frutíferas na
Faz. Rancharia [por] 60 alqueires de terras de primeira na Faz. São
Domingos [...] sendo parte comprada de [nome do vendedor anterior] e
parte de herança... 433.
Noutra, permutava-se
uma gleba de terras, sem ônus, na Fazenda Boa Vista da Tubarana, com
217 hectares e 685 m2 , com as seguintes benfeitorias: uma casa de
moradia coberta de telhas, rego de água tirada do monjolo, pasto fechado
por cercas de arame e mais plantações existentes [por] uma gleba de
terras dividida judicialmente e julgada por sentença na mesma Fazenda
B.V.Tubarana, contendo 32 alqueires 435.
433
- Idem, de 04.02.1902. Idem.
434
- Idem, de 14.04.1902. Idem.
435
- Idem, de 08.11.1902. Idem.
436
- Idem, de 10.12.1903. Em todos esses registros, embora não conste a nacionalidade das partes
envolvidas, apenas seus nomes próprios, não nos parece que haja algum envolvendo estrangeiros.
437
- A produção agrícola oficial daquele município, que congregava o distrito de S.Sebastião do
Turvo, restringia-se à pipas de aguardente e à litros de arroz, e sua criação, à de porcos. Não localizamos
qualquer referência de indústria extrativa (madeiras/carvão), e nem de produção cafeeira, sequer em
formação.
Dados extraídos do ANNUÁRIO ESTATÍSTICO DE S.PAULO. S.Paulo, Repartição de
Estatística do Archivo do Estado, 1901, pp. 614/629.
438
- No ANEXOS, Tabela VII, p. 357, uma relação dos Pesos e medidas de superfície mais usadas
no Brasil. Uma légua sesmaria equivalia a 6.600 metros. Apenas para ilustrar, esclarecemos que S.S.do
Turvo está de Jaboticabal a uma distância de aproximadamente 87 kms e de Bebedouro a
aproximadamente 40 kms.
219
intrigante a comparação do volume e da natureza das operações então reveladas
pela documentação cartorial com os dados obtidos para o Município de
Jaboticabal, a quem o distrito de S.S.Turvo se filiava.
[nome] vendia a [nome] casa coberta de telhas [...] na rua Coronel Vaz
[...] mais dois quarteirões de terras que reservou particularmente no
centro do Patrimônio de S.S. do Turvo, tendo construído nestes quarterões
duas casas, sendo uma coberta de telhas com a frente em tijolos e o resto
em madeira [...] fazendo essas casas frente para a rua do comércio 439.
José de Faria entrega a José Luiz de Arruda [...] terras de primeira sorte
na Fazenda Cachoeirinha da Boa Vista, distrito de S.S. do Turvo,
comarca de Jaboticabal [...] , com as seguintes benfeitorias: 8.000 (oito
mil) pés de café, mais ou menos, formados de 7 (sete) anos...440.
439
- Tal fenômeno poderia estar relacionado ao que Pierre Monbeig denominou de “franja”, isto é, o
avanço irregular da lavoura cafeeira. Por outro lado, Rio Preto fora uma boca de sertão por muitos anos,
e algum café crescera ao longo das terras altas entre os rios Tietê e Turvo, mas a zona Araraquarense
ainda era em grande parte território virgem antes da construção da ferrovia.. In: HOLLOWAY, T. Op.
cit., 1984, p. 41. Grifos nossos.
440
- Datada de 10.07.1903, a informação contida nesta ESCRITURA PÚBLICA DE PERMUTA faz
pressupor que o cafezal remontava ao ano de 1896. Registro nº 114. CARTÓRIO DE PARAÍSO. Grifos
nossos.
220
referente a 20 (vinte) alqueires de terras comuns na Fazenda dos
Venâncios [...], juntamente com as seguintes benfeitorias: 05 (cinco) mil
pés de café de diversas idades ...441.
Ou:
...o devedor diante de testemunhas declarou-se devedor do Major José
Pinto Machado, da importância de 2:400$000 (dois contos e quatrocentos
mil réis), recebidos em moeda corrente [...] dando como garantia seus
cafezais, futuras safras da importância devida, que passará a pagar
mensalmente com juros de 2% (dois por cento) ao mês, cafezais este que
estão no sítio da Fazenda Generoso [...] sujeitando-se para isso ao
penhor agrícola que lhe fôra imposto 443.
...vieram para São Paulo e se localizaram onde não havia gente ainda.
Sim, porque a grande expansão cafeeira, na sua fase inicial, tinha se
limitado a um avanço até 150 e 200 quilometros mais ou menos, na frente
da estrada de ferro. Assim, os elementos mineiros e nordestinos tomaram
parte em não pequena proporção, no povoamento do interior paulista [...]
se fixaram nos latifúndios, que localizavam nas grandes manchas de
terras roxas, abrindo lavouras de café [...] , além de Ribeirão Preto,
Jaboticabal , etc..444.
441
- ESCRITURA PÚBLICA DE COMPROMISSO. Registro nº 73, de 08.11.1902. CARTÓRIO
DE PARAÍSO. Grifos nossos.
442
- Registro nº 36, de 20.08.1901. ESCRITURA PÚBLICA DE PENHOR DE FRUTOS DE CAFÉ.
CARTÓRIO DO MUNICIPIO DE PARAÍSO. Interessante observar que já se atribuía um valor à futura
safra denotando que tais avaliações eram exeqüíveis.
443
- Escritura Pública de Penhor Agrícola, de 30.04.1900. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
444
- ELLIS JR., Alfredo. O café e a paulistânia. Boletim nº 141 - História da Civ. Brasileira nº 13.
S.Paulo, USP, 1951, p. 368.
A considerar o cômputo dos dados obtidos dos Registros Cartoriais (Nascimentos) locais,
entretanto, dos anos de 1900 a 1910, a população local se constituiria, em sua grande maioria de
paulistas (62%) , seguidos de mineiros (27%), e, em menor proporção, fluminenses e baianos. A partir
221
Entrementes, o elemento estrangeiro já atingira tais paragens, passando a
representar a significativa cifra de 25% em 1905, liderados pelos portugueses
(55%) 445, seguidos pelos italianos (29%) e os espanhóis (15%), os quais vemos
constituídos em família e distribuídos por quatro fazendas 446.
do registro 247, de agosto de 1903, temos a informação da cor do registrado, e aparecem muitos casos de
“pardo”, “preto” e mesmo “moreno”.
A média de habitantes por fazenda ainda era baixa, variando de 01 a 14 famílias até 1901, sendo,
em sua grande maioria constituída por analfabetos.
Já consta dos registros desse período inicial a categoria “filho natural” para alguns casos de mãe
brasileira, além de inúmeros casos de registros múltiplos - numa só vez contabilizamos nove (9) registros
sendo efetuados conjuntamente (Reg. 130/138, ano 1903), além de um curioso registro onde um mesmo
pai, porém com duas mães distintas, realizava, no mesmo dia, três registros distintos (Reg. 185/6/7, de
1903).
Esses brasileiros chegaram a constituir na já citada FAZENDA BEBEDOURO DO TURVO
vinte e sete (27) famílias, algumas delas numerosas (com até 9 filhos), os quais, em sua maioria detinham
o mesmo sobrenome “de Jesus” e “do Espírito Santo”.
445
- Provenientes das Ilhas da Madeira e de S.Miguel em maior número e concentrados em uma
única fazenda, de nome Cachoeira.
446
- São elas: Bebedouro do Turvo, Córrego Grande, Fazenda do Laranjal e Cordão Escuro.
Não podemos precisar se tais imigrantes espanhóis, que oficializavam o nascimento de seus
filhos no Cartório de S.S. do Turvo neste período, eram colonos ou proprietários, pelas razões já
acenadas e que nos obrigaram a realizar o cotejamento de múltiplos recursos documentais
complementares.
ROMÃO LOPES (certamente, RAMÓN!) registrará seus filhos gêmeos pelos nºs 79 e 80, de
05.09.1901, constando de sua residência a FAZENDA LARANJAL. Seu caso, diferente dos anteriores,
é passível de estatística. Com efeito, pela Escritura Pública de Compra e Venda nº 308, de 11.08.1905,
vemos esse imigrante adquirir, por 500$000 (quinhentos mil réis) uma propriedade de 30 alqueires de
terra na Fazenda S.Domingos, assim como localizamos, no Livro de Registros 064, p. 03, da Hospedaria
222
Esta cifra de 15% representada pelos elementos de procedência espanhola
é significativa, a considerar que eles representavam até então, no cômputo geral
dos estrangeiros ingressados no país, a pequena parcela de 10%.
Por outro lado, um fato que nos chamou a atenção refere-se à incidência
de lotes de dimensões relativamente pequenas sendo vendidos em uma mesma
fazenda e para diversos compradores em sucessivas ocasiões 447.
Embora não possamos precisar com absoluto rigor as razões para que o
fenômeno se repetisse, é bastante provável que se possa atribuir o crescente
retalhamento das propriedades às questões anteriormente formuladas, porém, é
provável que, além daquelas houvessem outras, de conformidade com a
necessidade de ajustamento à conjunturas locais, relacionadas possivelmente ao
levantamento de capital para investimentos em áreas ainda mais novas ou
motivadas por um desinterêsse em integrar esta área a uma economia de
mercado, fenômeno inevitável pelo avanço dos cafezais 448.
dos Imigrantes, o seu ingresso, a 16.03.1899, então com 29 anos, acompanhado de Francisca (mulher, 25
anos), Isabel (filha, 4 anos) e Vicente (filho, 1 ano), dirigindo-se a Jaboticabal.
O dado nacionalidade consta da maioria dos registros efetuados entre 1900/5, não constando
apenas em alguns casos que não ultrapassam 10% do total.
Muito provavelmente essas famílias, cuja fixação, no primeiro lustro do século foi revelada
pelos Registros de Nascimento, tivessem embarcado com a José Antunes dos Santos, pelo acordo dessa
empresa com o Estado, pelo qual se facultava , em 1897, a vinda de 20.000 imigrantes, devendo 10.000
ser espanhóis. Cf. RELATÓRIO SECRETARIA DA AGRICULTURA, Ano 1897, pp. 77-78.
447
- Vamos nos reportar aqui a apenas um desses casos: Na FAZENDA ÁGUA PARADA, , cuja
extensão não temos como precisar, constatamos, por exemplo, a venda de 10 alqueires em 1900 por
1:000$000 (um conto de réis); mais 25 alqueires, em 1901, por 800$000 (oitocentos mil réis); Neste
mesmo ano, mais 25 alqueires, por 900$000 (novecentos mil réis);
Em 1902, a venda de 08 alqueires, por 300$000 (trezentos mil réis) , mais 30 alqueires por 300$000
(trezentos mil réis) e 40 alqueires por 1:000$000 (um conto de réis).
Em 1903, levantamos mais oito (8) operações de venda nesta fazenda e, em 1904, apenas até o mês de
fevereiro, mais nove (9), das quais em algumas delas temos apenas a informação de que eram “uma
parte de terras no comum...”, não constando a extensão.
Cf. Escrituras de Compra e venda de: 03.08.1900; 23.03. e 25.03.1901; 22.10. e 27.12.1902; 14.01,
11.04 (2 escrituras), 03.06, 12.10, 03.11 (2 escrituras), e 21.12.1903; 03.02 (2 escrituras), 08.02 (4
escrituras), 18.02, 19.02 e 25.02.1904. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
448
- Os exemplos de escrituras de compra e venda de propriedade agrícola se avolumam, bem assim
das novas denominações de fazendas que vemos “emergir” desses registros.
223
Com relação aos preços que então se praticavam, trata-se de um indicador
sobre o qual não se pode estabelecer deduções, ficando demonstrado que podiam
variar muito, dependendo de fatores diversos como a localização das terras em
questão e a natureza das benfeitorias constantes na propriedade, tendo ainda,
como agravante, os casos de permutas que se praticavam 449.
A origem dessas terras então vendidas, declarada pelos vendedores, era, em sua maioria, “
terras neste distrito, havidas por herança, por falecimento de seu pai....”. Cf. Registro Escritura de
Compra e Venda nº 188, de 14.03.1904, e outros.
224
De qualquer modo, é curioso registrar dois casos de emigrantes espanhóis
com áreas de grande porte - Valdomiro & Irmão, com 100 alqueires e Vasquez &
Irmão, com 300 alqueires, dos quais 1/3 dedicado à cultura do café, ambos
apresentando uma produção de 1.200 e 3.000 arrobas respectivamente -, dentre
outras propriedades também pertencentes a espanhóis, porém menores e com
produção inferior 454.
É significativo o avanço que se dará nessa região daí por diante; com a
marcha dos cafezais, vemos multiplicar as fazendas, e nelas, os indivíduos
captados para o trabalho, vindos de toda parte.
Com efeito,
... toda a região de Jaboticabal [...] continua a progredir. Aqui o
progresso começa em 1886 (40.000 arrobas, 2.885 h.) e vai num
crescendo contínuo, que se comprova pelas inúmeras subdivisões da área
primitiva...455.
em alqueires e a respectiva produção. Traz ainda o número de trabalhadores divididos entre nacionais e
estrangeiros, o valor total das propriedades em mil réis e o valor do solo por alqueire.
Em 1901, havia no Estado de S.Paulo, 1057 fazendeiros italianos enquanto que em 1906, o
número de proprietários agrícolas italianos tinha-se elevado para 5.197. Entre os portugueses,
havia 1607 proprietários; entre os alemães, 675; entre os espanhóis, 470, entre os austríacos,
117; entre os franceses, 76; entre os ingleses, 25; afora 255 de outras nacionalidades.
In: CENNI, Franco. Italianos no Brasil. S.Paulo, Livr. Martins, 1961, p. 182. Grifos nossos.
454
- Contudo, nenhum desses proprietários espanhóis, aqui identificados como produtores de café
para o município de Jaboticabal, coincide com aqueles constantes dos Registros de escrituras
inventariados para S.Sebastião do Turvo, provavelmente porque, nesse caso, essa propriedade,
inicialmente de muito pequeno porte, não representasse, ainda, uma unidade produtora para mercado, e,
portanto, passível de estatística. Tal constatação fará sentido quando analisarmos as condições peculiares
e o período em que se deram essas primeiras aquisições.
455
- MILLIET, Sérgio. Op.cit., 1946, p. 53. Grifo nosso. Uma arroba equivale a 14,689 quilos.
456
- Carta de Antonio Prado publicada na GAZETA DE NOTÍCIAS e transcrita no CORREIO
PAULISTANO, 20.08.1899. Apud: BEIGUELMAN, P. Op. cit., 1968b, p. 97.
225
praticada majoritariamente por e entre nacionais, sendo pouco representativa a
participação do imigrante nessa fase inicial, fenômeno que se comprova até
mesmo pela pouca familiaridade dos escrivães na grafia de determinados
sobrenomes (apellidos, em espanhol), preferindo, muitas vezes identificá-los
evocando sua origem, como no exemplo: “[referindo-se à divisa dos lotes]
por um lado com Fernando italiano, por outros dois lados com terras de [...] e
pelos fundos com terras de [...]” ou “confrontando com Máximo espanhol,
José Eduardo de Souza [...]” 457.
... no comum da Fazenda Água Parada [...] terras havidas por compra a
diversos e também por herança [do vendedor] situadas nas cabeceiras do
Córrego Papagaio, no lugar onde o comprador fez cultivo [...] por
1:000$000 (hum conto de réis)462.
226
mesma fazenda, pagando pelos mesmos também 1:000$000 (um conto de réis) e
a outra, de 08.04.1911, onde complementava com a compra de mais 05 alqueires,
também na mesma fazenda, pelo preço de 500$000 (quinhentos mil réis),
salientando-se que, nos três casos, os vendedores foram os mesmos 463.
463
- Os dados obtidos dos Registros de Nascimento são reveladores. De 1909 a 1912 - quando a
informação de residência aparece ininterruptamente - , levantamos, para a Fazenda Papagaio, a ele
pertencente, registros de nascimentos diversos, envolvendo nove famílias brasileiras, lá instaladas, muito
provavelmente exercendo a função de camaradas ou colonos.
464
- Livro de Registro de Entradas nº 061, p. 291.HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES.
465
- Escritura Pública de Compra e Venda nº 261, de 19.11.1904. CARTÓRIO DE PARAÍSO. Há
outros dois registros, no caso de nascimento, dos anos de 1910 e 1914, em que o casal aparece como
“avós paternos”.
466
- Registros de Nascimento nsº 79 e 80 (gêmeos) de 05.09.1901. Aqui consta a residência dos pais
como “Fazenda Laranjal”. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
467
- Escritura Pública de Compra e Venda, de 11.08.1905. CARTORIO DE PARAÍSO.
227
Pedro Parron Maldonado, almeriense de Berja, e sua mulher Francisca
Blasque Sanchez, também adquirem propriedade nos arredores, já no ano de
1906, constando de
468
- Registros de Nascimento nºs. 359, de 03.11.1906 e 388, de 27.07.1907. CARTÓRIO DE
PARAÍSO.
469
- No primeiro caso, por exemplo, tudo indica que o imigrante tenha se instalado previamente no
local como colono, e que estivesse se aproveitando do sistemático fracionamento que se verificava nesta
Fazenda (Água Parada) desde o ano de 1900, já que as quantias pagas nas três ocasiões não fogem à
média das demais então praticadas.
No caso seguinte, imaginamos que a situação tenha sido similar - já que constava, no Registro
da Hospedaria, o nome do fazendeiro para onde o imigrante se dirigia, Francisco Crespo -, e pudemos,
portanto, confrontar, no teor do registro da escritura, que a propriedade fora vendida anteriormente por
esse mesmo personagem ao então vendedor. Deduzimos, assim, que o imigrante trabalhara na Fazenda
de F.Crespo como colono, e que, muito provavelmente durante sua estadia no local, a fazenda tivesse sido
comercializada ao atual proprietário de quem, agora, adquiria uma parcela.
O terceiro caso revela-se distinto dos demais. Foi possível, pelo estabelecimento de conexões,
verificar que não se tratava, nem de um caso de aquisição de propriedade no mesmo local onde o colono
antes trabalhara, nem um caso típico de sistemático retalhamento.
Observando as transações que envolveram essa fazenda (S.Domingos), encontramos apenas uma
anterior, datada de 1902 (portanto três anos antes) em que se comprava 57 alqueires por 1:000$000 (um
conto de réis), não constando que tenha representado, portanto, um caso de custo inferior ao que se
praticava nem nas fazendas adjacentes, nem que se praticara nesta.
228
O mais típico e comum, no entanto, neste período inicial, é avistarmos,
através da documentação consultada, com transações envolvendo elementos
nacionais, muitos deles adquirindo propriedades agrárias, outros incorporando
lotes à propriedade pré existente. Muitos deles foram mencionados nos
depoimentos, e em alguns casos foi possível levantar a documentação que
oficializava tais transações, bem como acompanhar todas as fases, a de compra e
a posterior, de venda.
470
- Escrituras Públicas de Compra e Venda, nºs. 48, 155 e 188, respectivamente. CARTÓRIO DE
PARAÍSO.
471
- Escrituras de Compra e Venda nºs. 199, 245 e 690, respectivamente. Deixamos de mencionar
uma outra, de nº 527, datada de 07.11.1908, por referir-se à venda de um imóvel “urbano”.
229
apontado como outro dos antigos residindo com a família no Córrego Seco na
ocasião em que a família de Seu Ildefonso se estabelecia nos arredores, em 1911,
em seu sítio recém adquirido.
A estação de IBARRA (hoje, Catiguá) passa a funcionar como conseqüência dessa expansão da
Araraquarense até Rio Preto e representará o contato ferroviário mais próximo de S.Sebastião do Turvo,
a mais ou menos 12 kms. do povoado inicial (Vide ANEXOS , Mapa III, Carta Geral mostrando todos os
trabalhos..., p.344).
Informações obtidas de: MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias. S.Paulo, Coleção
Monografias, Ed. Arquivo do Estado, 1981, pp. 123-133.
230
Consta terem chegado ao Brasil, neste período entre 1905 e 1909, 90.086
imigrantes espanhóis, dos quais 69.682 teriam se dirigido para as lavouras
cafeeiras do Oeste Paulista, numa porcentagem de 78% 474.
Nessa cidade, nasceria D.Teodora em 1905 “nove meses e dois dias depois
da chegada” de seus pais, provenientes de Cáceres na Extremadura, de onde
também provinha a família de Seu Ildefonso, então com nove anos de idade,
chegada no mesmo ano de 1905 e proveniente da mesma província, e do mesmo
pueblo. Lá também nasceria D.Ana Garcia, em 1910, cujos pais haviam
desembarcado em 1906, provenientes de Almería.
Para D. Teodora,
474
- LEVY, M.S. Op. cit., 1974, p. 83 - Tabela 8.
475
- DADOS PARA A HISTÓRIA DA IMMIGRAÇÃO E DA COLONIZAÇÃO EM SÃO PAULO.
Enviados pela Secção de Informações do Deptº Estadual do Trabalho à Directoria do Serviço de
Povoamento. S.Paulo, Typ. Brasil de Rothschild & Cia., 1916, p. 10.
476
- 42.477 imigrantes espanhóis, conforme dados da Hospedaria dos Imigrantes.
231
procedências que se dirigiam para Jaboticabal e Bebedouro no mesmo período, o
elemento espanhol representará 69% 477.
Quanto a Bebedouro:
477
- Levantamento realizado nos ANUÁRIOS ESTATÍSTICOS de 1904/5, de acordo com dados da
Hospedaria dos Imigrantes.
478
- MILLIET, S. Op.cit., 1941, pp. 52/3.
479
- BOLETIM DE AGRICULTURA. Ano 1908, p. 549.
480
- MONBEIG, P. Op. cit., 1998, p. 170. Grifos nossos.
A produção de todo Estado de S.Paulo, no mesmo biênio (1904/5) foi de 10.597.000 arrobas,
quando então a exportação do café representava 50,6% do total das exportações.
Conforme: TOPIK, Steven. A presença do Estado na economia política do Brasil, de 1889 a
1930. R.Janeiro, Ed. Record, 1987, p. 97 - Tabela 7.
Uma arroba corresponde a aproximadamente 15 quilos.
232
Não seria de estranhar, portanto, que esse oceano de café então
produzido, e do qual o Município de Jaboticabal ainda representasse – a despeito
dos recentes desmembramentos - 10% do total, desaguasse em uma crise de
superprodução.
481
- FRAGA, Constantino. “Resenha histórica do café no Brasil”. In: Agricultura em S.Paulo. Ano
10, nº 01. S.Paulo, Empresa Gráfica Carioca, jan. 1963, p. 8.
482
- Escritura pública de compra e venda, de 31.01.1907. CARTÓRIO DE PARAÍSO. Um palmo
equivale a 22 cms.
233
CAPÍTULO I
... posse sobre um trato de terras que, de comum, se limitava nos espigões
divisores de águas de um córrego, não lhes importava o domínio do que
ainda havia deshabitado em redor. Que, alhures, outros se instalassem.
Originariamente, cada família fez posse sobre uma aguada. As “posses”
483
- A nossa constatação, referida apenas àquele Distrito, no que se concerne à propriedade dos
brasileiros, coincide com o mapeamento realizado pela Secretaria da Agricultura, referente ao ano de
1906, pelo qual, no município de Jaboticabal, os brasileiros eram possuidores de 343 propriedades (65%
do total), no valor de 3.725:830$000 (três milhões, setecentos e vinte e cinco mil e oitocentos e trinta
contos de réis), o que representava, numa comparação com as demais etnias ali arroladas (italianos,
portugueses, espanhóis, alemães, suiços, franceses, austríacos e diversos), a porcentagem de 86%.
Cf. “Distribuição das propriedades agrícolas por nacionalidades” e “Valor das propriedades
agricolas e sua distibuição por nacionalidade”. Quadros II e III. Relatório da Secretaria da Agricultura,
ano 1906.
234
que depois apareceram em escrituras aforadas para ações divisórias,
derramando-se em dezenas de milhares de alqueires, nunca existiram.
Criou-se a técnica solerte do “grilo”. A verdadeira posse primitiva era
comedida em suas lindes 484.
484
- ALMEIDA, A. Tavares de. OESTE PAULISTA, a experiência etnográfica e cultural. Rio de
Janeiro, Alba Editora, 1943, p. 21.
485
- DEFFONTAINES, Pierre. “Regiões e paisagens do Estado de S.Paulo: primeiro esboço de
divisão regional”. In: Geografia. S.Paulo, ano 1, nº 2, 1935, p.164. Grifos nossos.
235
O sistema brasileiro de divisão de terras refletiu-se nas incertezas do
direito de propriedade legal. Historicamente, houve pequeno esforço
para aplicar um sistema de levantamento baseado em pontos de partida
constantes.
Em vez disso, aspectos exteriores, como espigões e riachos, foram
anotados como pontos de referência [...]; não eram dadas as distâncias
entre os pontos, muito menos orientação com os pontos cardeais [...].
Limites efêmeros e irregulares, combinados com a falta de levantamentos,
freqüentemente tornavam os títulos de terras ambíguos, mesmo quando
registrados em cartório. Esta situação reforçou a importância da
ocupação de fato [...] 486.
486
- HOLLOWAY, T. Op.cit., 1984, pp. 183-185. Grifos nossos.
487
- Chegando ao local, as sete famílias se cotizaram e acabaram adquirindo a propriedade em
conjunto, pela qual a família de Seu Tercifon teria pago 1:500$000 (um conto e quinhentos mil réis).
236
A documentação cartorial consultada, a propósito desse personagem, faz
algumas referências que podem, de certo modo, esclarecer a maneira como teria
obtido tais propriedades: paulista, analfabeto (em todas as escrituras, a sua
assinatura é à rogo), Ignocêncio Bráz aparece, pela primeira vez, a 01.08.1906,
efetuando, juntamente com outros dezenove lavradores então ali inventariados,
um contrato público com Thomaz Cimini, agrimensor 488, para que procedesse
... para missão amigável para subdividir no quinhão deixado pelo finado
José Antonio dos Santos, e não havendo entre si pessoas menores, mas
todos com capacidades jurídicas e de comum acordo, solicitaram que
fosse procedida [...] conforme os dizeres do contrato desse quinhão [738
alqueires] baseado nos princípios do direito e da justiça [...] 490.
488
- Este profissional era muito requisitado, para demarcar as divisões e subdivisões de terras;
naquele local, haviam dois deles: Thomaz Cimini, residente em Jaboticabal e Roberto Todd Lock, em
Araraquara, cujos contratos de serviços eram freqüentes. Em muitas ocasiões, eles aparecem como
“procuradores” dos contratantes.
489
- Contrato público entre José Martins de Arruda e outros e Thomaz Cimini, nº 360, de
01.08.1906. CARTÓRIO DE PARAÍSO. Grifos nossos.
490
- Escritura Pública de Contrato de Divisões de terras, na casa de Joaquim Cassiano de Sant’Anna,
nº 386, de 16.11.1906. CARTÓRIO DE PARAÍSO. Grifo nosso.
491
- Escritura Pública de Compra e venda, nº 377, de 01.10.1906. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
Restringimo-nos aqui apenas aos livros de escrituras, posto que Ignocêncio Braz aparece em outras quatro
ocasiões realizando registros de nascimento, a saber: Registo nº 80, de 03.06.1911; nº 160 e 161, de
08.12.1911, reportando-se a dois nascimentos anteriores ocorridos em Bebedouro e nº 125, de
12.07.1914.
237
Esse talvez pudesse representar mais um dos procedimentos pelos quais
se formalizava o acesso às grandes extensões de terra, que depois, retalhadas,
eram vendidas e adquiridas, em pequenos lotes, pelos imigrantes.
492
- O dado residência (denominando fazendas e córregos, em geral), aparece regularmente até
1904, generalizando-se depois, até 1909, para, simplesmente S.Sebastião do Turvo, reaparecendo
novamente nos registros, e seguindo de 1909 a 1912.
Deste modo, a avaliação que realizamos se refere a esse período, numa tentativa de confrontar
com os dados iniciais, pelos quais chegamos até 1904.
Provocado possivelmente pelo lapso de cinco anos, vimos, assim, avultar o número de registros
para fazendas com denominações até então desconhecidas, fato esse também atestado pela média anual
de registros que cresce consideravelmente. Apenas como ilustração, constatamos de 1909 para 1910,
dezesseis novas fazendas sendo citadas nos registros, bem como um elevado aumento de sua população,
que passa a adquirir características distintas daquelas anteriormente verificadas.
Assim, por um lado, continua existindo um grande número de famílias brasileiras alí instaladas
(72% de paulistas, 17% de mineiros, 6% de fluminenses, 5% de baianos), cuja parcela crescente
identificando a cor do registrado como parda, preta e mesmo morena, em 1904, eram apenas dois casos,
de crianças parda e morena, em 1905/06, também dois, de parda. Porém, em 1908, identificamos
dezenove registros para parda ( Reg. 415, 417, 418, 421, 425, 427, 440, 447, 461, 479, 482, 486, 11, 23,
28 e 34) e oito para preta (Reg. 438, 455, 460, 487, 05, 06, 17 e 42).
Há, por outro lado, um aumento crescente do elemento imigrante, dentre estes o espanhol, o
qual pudemos esquadrinhar nas seguintes localidades:
- Fazenda BEBEDOURO DO TURVO, com três registros para 1911 e quatro para 1912 ( 1911:
Reg. 02 - João Gil e Francisca Martins/ Reg. 03 - João Obregón e M.Fernandez/ Reg.137 - Graciano Gil e
Máxima Alonso; 1912: Reg. 133 - Miguel Barrionuevo Hurtado/ Reg. 134: João Gil e Francisca
Martins/ Reg. 169 - Benito Acosta/ Reg. 39 - Isaac Dias Dote).
- Fazenda MATÃO, onde habitavam duas famílias de brasileiros de cor parda e três de
espanhóis para 1912 , a saber: Reg. 04 - Julian Acosta e Máxima Fernandes Avilla/ Reg. 58 - José Pelayo
e Maria Hernandez/ Reg. 96 - Manoel Vicente Barrenha e Jacova Versocana Dias.
- Fazenda BARRO PRETO, para 1909, com o Reg. 140 - Francisco Manzano e Carmem
Origuella e para 1912, com o Reg. 64 - José Rodriguez Manzano e Encarnação Origuella Gonçalves.
238
O casal Ramón Perez e Plácida Baleero 493, ilustram em parte o
dinamismo que se imprimiu àquela localidade a partir da primeira década, e as
práticas alternativas de concretização de negócios que então ali se realizavam.
possuía um sítio na Fazenda das Posses, com 6.000 pés de café e entrega
a [nome do contratado] para zelar, conservar, fazer colheita, secagem e
replantação desse cafezal, cujos lucros dividirão...; [Fornecia ele ao
contratado] casa de moradia, pastos para alimentação de seus animais,
bem como, a título de gratificação 500$000 (quinhentos mil réis) na
manutenção de cada pé que for conservado na sua idade 497.
493
- Cujo registro de ingresso pela Hospedaria não conseguimos localizar, não tendo, portanto, como
determinar a data da chegada.
494
- Reg. de Nascimento nº 362, de 19.12.1906. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
495
- Escritura Pública de Compra e Venda nº 339, de 09.01.1907. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
496
- Registro de Compra e Venda nº 680, de 28.06.1911. CARTORIO DE PARAÍSO.
497
- Nº 681, de 05.07.1911. CARTORIO DE PARAÍSO. Tratava-se da modalidade usualmente
praticada entre os espanhóis de trato com colheita à meia.
498
- Nº 683, de 06.07.1911.
239
benfeitorias existentes [sendo] 1.500 pés de café, quase formados , por
3:000$000 (três contos de réis).
Há, a par desses casos mais corriqueiros – ainda que representativos -, aos
quais temos feito referência, outros que merecem destaque especial, e dos quais
conseguimos reunir, de diversas fontes, um conjunto de dados mais apreciável e
diretamente proporcionais às conexões concretas que ensejaram na comunidade.
499
- Pela escritura de compra e venda nº 50, de 18.01.1912. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
500
- Pela escritura de Compra e venda nº 153, de 27.08.1912. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
501
- Pela escritura de Compra e venda nº 178, de 07.12.1912. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
240
Um desses casos refere-se à trajetória de D. Ramón Sánchez, de quem se
reportou inicialmente D.Carmen Dueñas, referindo-se a seu tio, então
administrador de uma de suas fazendas e que enviara carta de chamada pela qual
sua família embarcara para o Brasil, aqui chegando em 1918, quando ela tinha 12
anos, para lá se dirigindo.
241
Também Seu Ildefonso, em seu relato, fez referência a esse personagem, o
qual, perguntado como se oficializavam as cerimônias religiosas nos primórdios
da chegada de sua família ao Córrego do Taperão, no sítio recém adquirido em
1911, respondeu:
... Quando nós viemos, era tudo cheio no Ramón, [...] não lembro quantas
casas eram, devia ter umas noventa casas, que existem ainda; nós
ficamos três anos trabalhando com café de meia na fazenda 503.
503
- Fragmento de depoimento. D. Carmem Dueñas, Vila Novais, 1981.
242
Mais tarde essas referências seriam complementadas por Seu Manuel
Martinez 504, 79 anos, que fora seu empregado e com quem iniciara, pouco depois
de ter chegado ao Brasil, na sacaria, depois teria sido balanceiro, moedeiro e, por
fim, maquinista das duas máquinas de beneficiamento que aquele possuía, uma
em Catanduva e outra em Villa Novaes.
243
Posteriormente, pela documentação oficial, pudemos reunir outros
subsídios para o delineamento dessa trajetória singular.
Este dado, no entanto, não informa a data a partir da qual esse imigrante
passara a possuir tal propriedade, e, embora não tenhamos localizado a escritura,
que certamente não foi lavrada no Cartório de S.S. do Turvo, mas diretamente no
Cartório da Comarca, em Jaboticabal, consta que lá já estivesse desde 1908, a
considerar uma outra escritura de compra e venda cuja propriedade transacionada
aparece “fazendo divisa com Romão Sanchez” em um dos lados 507.
505
- Registro de Nascimento nº 143, de 13.05.1909, como pais do registrado.
506
- Registro nº 122, de 27.07.1910, como pais do registrado. Os demais registros inventariados
seriam: Reg. nº 129, de 23.07.1912 e Reg. nº 225, de 23.12.1913, como pais dos registrados; Reg. nº 184,
de 16.10.1914, como avós maternos e Reg. 113, de 17.07.1915, novamente como pais.
507
- Registro nº 248, de 30.08.1908. Ocorre-nos, no entanto, a hipótese de ele ter tido uma ascenção
social muito rápida, pois, como vimos, é de data recente o estabelecimento das lavouras cafeeiras
naqueles arredores. Essa hipótese remete à outra da qual já nos referimos, a do senso de oportunidade
revelado pelos espanhóis, já demonstrado através das mais variadas transações comerciais que
praticavam.
508
- Escritura Pública de compra e venda, de 31.07.1916, p. 29 e ss. CARTORIO DE PARAÍSO.
244
Villa Adolpho, com efeito, era como à época se denominava o futuro
Município de Catanduva 509 - que antes já se chamara Cerradinho -, e o
estabelecimento que Ramón Sanchez lá possuía, em 1916, data dessa transação,
referia-se com certeza ao “negócio que ele tinha aqui na rua S.Paulo, que vendia
a atacado e varejo e era o melhor negócio de café aqui de Catanduva ”510.
245
imigrante, a considerar a natureza dos negócios ali inscrita , a saber, armazém a
30%, compra de café, etc..
Ele vendeu a fazenda no ano que deu aquela confusão política aí, perdeu
quase tudo. Em 1930 o tombo foi grande, muitos fazendeiros ficaram sem
nada [...]; Ele era metido em política [...]; ele entrou em um
financiamento. O Governo financiou a ele, ele recebeu do governo os
pagamentos e em seguida mudou para S.Paulo, em 27 ou 28, indo morar
no Morro dos Ingleses, onde morreu em 35. Ficou administrando a
fazenda dele aqui, tomando conta, uma filha dele, D. Béces. Ela tinha um
filho que estudava para médico. Hoje só sobrou a fazenda de Bálsamo,
onde mora um outro filho dela 513.
Aquela gente foi loucura, porque eles, na vila, tinham bastante terra!;
eles tinham azeitona, parreira de uva, plantavam muito mantimento,
engordava porco, criava porco, ele tinha animal muito bom e tinha
dinheiro. O velho (Manuel Fernandez] vendia óleo, vendia toicinho,
513
- Os motivos que o teriam levado à bancarrota financeira parecem claramente relacionados à
questões políticas, mais propriamente ligados ao partido a que se filiava, o qual, tendo perdido as eleições
deixara de fornecer o apoio financeiro e logístico para a propaganda por ele levada a efeito do café
brasileiro na Espanha. A concessão para a propaganda, a partir de então, passaria a ser realizada pela
empresa Meirelles & Cia.
A última injeção que ele tomou fui eu que apliquei. Eu trabalhava lá na Santa Casa, depois
trabalhei num Sanatório em Pinheiros, e na minha folga, às quartas-feiras eu ia sempre na casa
dele. Ia jogar baralho [...].
Um dia ele me perguntou aonde eu estava trabalhando: ‘na Santa Casa’ , respondi, e quanto eu
ganhava: ‘60$000 réis por mes’. Ele disse: Ihh... isso não dá pr’a nada, eu te vou arranjar
emprego [...].
Telefonou [inaudível], então passei a ganhar 180$000 réis como ajudante de enfermagem; dia
24 eu passei a ajudante e dia 28 passei a encarregado, ganhando 240$000 réis [...]; trabalhei
catorze anos, depois que me casei, vim embora [para Catanduva], naquele tempo enfermeiro
trabalhava dia e noite; aí, me casei, comprei uma farmácia [...].
246
vendia batata, ele tinha bastante cabrito, ele vendia leite. Era só um casal
de velho e dois filhos moços que tinha lá com ele...; a filha tinha casado, e
o Eduardo que era filho, também tinha casado e veio pr’a Ribeirão Preto
antes que o pai 514; agora, voce acha que uma gente dessa precisava vir
para o Brasil? Fazer o que? Comprar terreno aí, no mato, se matando,
trabalhando, comendo arroz, feijão e mandioca, largar de comer aquela
azeitona, presunto, vinho de primeira, pão de primeira, que era de farinha
de trigo moída lá no rio, lá no moinho; vir comer mandioca aí e mamão
[risos]. Que aí não tinha aquele presunto bom da Espanha, nem nada
disso. Tinha uma pinga aí... 515.
Complementa D.Teodora:
Quando fazia três anos que meu sogro tava no Brasil [referindo-se a
Eduardo Fernandez], os pais vieram também para cá, aí trouxeram ele
[referia-se, agora, a seu marido, que ficara com os avós na Espanha e era
o filho mais velho de E.Fernandez]; eles eram da mesma vila que meu pai,
Castañal Ribon e já se conheciam de lá.
514
- Consta que sua primeira ocupação, recém chegado a R.Preto, tinha sido trabalhar na estrada de
ferro.
515
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque Sanchez. Vila de Novais, 1981, recriminando
a, conforme ele, injustificada vinda da família Fernandez.
516
- Reafirma-se aqui, pela negativa de D.Teodora, o hábito da prática da colheita à meia, que
detinha a preferência dos espanhóis e que aqui aparece, claramente, como uma concessão compulsória,
que, no caso de Eduardo Fernandez, não era feita.
247
Na fazenda 517 [do sogro] o gasto era muito, lá se matava um porco por
mês [...] depois a mulherada se virava; fazia lingüiça, fritava, mas se
comia outra mistura também, frango, abóbora, também se comia
mandioca [...] batata doce, tinha muita fartura, e leite [...]; eu me
alembro [..] minha sogra tinha uma panelona assim, ela fazia 4 litros de
arroz no almoço e três na janta [...]; então ela pegava, às vezes tinha no
quintal uma abóbora, não tava nem madura, nem mole demais, ela
cascava, e bem limpinha, picava, fritava, ponhava cebola, pimenta do
reino, salsinha, ia fritando devagar, devagar, devagar; depois ponhava
aquela pratada na mesa, o arroz, o feijão, aquela pratada de abóbora,
assim, ficava um cheiro, bem temperada [...]; a senhora pensa que
falava? Ninguém falava nada! [reclamando da abóbora, que, ao que
fomos informados, não gostavam].
Pegava seu prato, pegava cada um aquela colher que tava lá e forrava o
prato por cima daquela abóbora e vai pr’a “drento”; e o pão... o pão
nosso de cada dia , não faltava na mesa[...].
Pão de trigo, farinha boa, naqueles tempos; tinha uma farinha que falava
farinha da Argentina, mas que farinha branquinha, saía cada pão [...];
Nós tinha vaca de leite, e meu sogro vendia muito leite por lá pr’a
cima[...]; e requeijão, eu fazia um requeijão que só a senhora vendo, todo
mundo procurava o requeijão que eu fazia [...].
... filho dele não casava na igreja, só no civil [...] e não tirava fotografia
de casamento devido a maçonaria que ele pegou em Catanduva, mas ele
era católico, ele ia na igreja.
Ele teve derrame do lado direito, mas aturou 11 anos, ele tinha muito
dinheiro, quando não ia para Olímpia, fazer estação lá com os médicos,
ia para Ribeirão Preto, ia para S.Paulo... 518
248
primeiro deles em 1912, já então residindo na Fazenda Extremadura, no Córrego
Grande 519.
Vemos assim que, lado a lado com os casos mais comuns - como aqueles
das famílias de Seu Tercifon, Seu Ildefonso, D. Teodora, D. Ana Garcia,
D.Carmem Dueñas e D. Crespo Moreno e das demais famílias que ali se fixaram
-, ocorriam trajetórias singulares que foram destacadas, reconhecidas e reveladas
pela comunidade.
519
- Os demais registros foram: Nº 59, de 27.03.1914 e nº 215, de 30.12.1915, porém tais registros já
se referiam a filhos que tivera com D. ANTONIA HERRERA, com quem estivemos brevemente na
cidade de Catanduva, onde residia, à época com 86 anos de idade.
520
- Como vimos anteriormente, tais livros privilegiam apenas o período posterior à elevação de
Novais à categoria de Distrito, ou seja, de 1925 em diante e até 1935, quando Vila Novais passa a ser
distrito de Catanduva, data que ultrapassa nossa periodização. Assim, temos:
521
- ANO HISTÓRICO VALOR
249
Cáceres, na Extremadura 522, teria sido o responsável pelo loteamento que daria
início a Villa Novaes, “por volta do ano de 1911” 523.
O patrimônio 524 de 11 alqueires doado por um dos fazendeiros vizinhos, o
Sr. Miguel Ruiz, determinou logo a venda de grande quantidade de datas
e lotes de terreno, começando ahí uma verdadeira febre de construções
que ainda continua, apesar de já contar a villa mais de cem casas. Os
terrenos subiram espantosamente de preço, e hoje não há mais uma data
em grande perímetro, à roda do centro povoado [...].
Para serviço especial de V..Novaes, há uma esplêndida estrada de
automóveis para Pirangy que pode ser considerada a melhor do
município, com um traçado lindo por entre grandes cafezais [...]; a volta
há muitas lavouras bem cuidadas de pequenos situantes [e] há uma
importante fazenda pertencente ao abastado capitalista e industrial Sr.
Ramón Sanchez.
A Câmara de Jaboticabal mandou à Câmara de Deputados um pedido de
creação do Distrito de Paz de Villa Novaes, referendando, assim, o de
muitos moradores da Villa e arredores 525.
No ANEXOS, Mapa VI, Vila Novais, povoados, bairros e fazendas a ela pertencentes, p.347,
uma panorâmica do núcleo central, circundado por algumas das localidades citadas nessa monografia.
524
- ... terra que, na época colonial era dada a um santo, por um rico proprietário. Construía-se
uma capela no centro deste terreno e os caboclos se instalavam em volta. O doador lhes concedia
autorização para residir aí e construir, mediante juros módicos que teoricamente eram pagos ao santo
proprietário. Era o ponto de partida de uma aglomeração de caráter urbano. A instituição foi
progressivamente laicizada, mas a porção do solo consagrado a um loteamento urbano recebe o nome de
patrimônio.
Veja-se: MONBEIG, Pierre. Novos estudos de Geografia humana brasileira. S.Paulo, Difel, 1957, p. 113.
525
- BRENHA, M.A. Op.cit., 1925, pp. 28-9.
250
ou palacetes; para lá se dirigiam aos domingos e dias de festa, afim de
assistirem aos ofícios religiosos e levar ali uma vida de ostentação e de
convívio social [...]; o essencial da aglomeração era a praça ou “largo”
, em que por vezes quasi se resumia a localidade que com o nome da
praça era conhecida 526.
Para muitas dessas aglomerações é costume dizer-se “ir a praça” e não
“ir a cidade”. Os fazendeiros tinham duas habitações: casa da fazenda e
casa da praça. Essas cidades só tinham atividade, e mesmo habitantes,
aos domingos; era, por assim dizer, cidades dominicais, “vilas de
domingo”.
Em breve, artífices e representantes das profissões liberais, instalavam-se
nas ruas adjacentes, sempre dispostas em xadres 527.
Quando ele [Miguel Ruiz] fez o loteamento, já estava quase todo o café
formado. Depois que nós entramos aí [compraram o sítio, 1911] ele
começou a fazer o loteamento e foi vendendo a quem quizesse comprar.
Os lotes eram uma data de 20 de frente e 40 de fundo [...]; a finalidade
era formar um povoado para o pessoal morar e desenvolver suas
plantações fora da cidade. E foi assim que começou: uma casa hoje nessa
rua, amanhã, na outra.
E prosseguia:
526
- Neste “largo” ainda existem os tradicionais bancos de praça, onde constam os nomes das
famílias mais proeminentes: Dyonisio Blasques, Ubaldo Fernandes Dias, José Hernandes Soler,
Adalberto Cáceres Gil, Aureliano Trujilho Paschoal, Pedro Antonio Cabrera Lopes, Wilson Fernandes
Ruiz, Florencio Caceres Dias, Simão Blasque, dentre outros.
527
- DEFFONTAINES, Pierre. Geografia Humana do Brasil. Rio de Janeiro, Livr. Ed. da Casa do
Estudante, 1940, pp. 122/3.
528
- JOSÉ ALEXANDRE DE SOUZA, mineiro, analfabeto, aparece nos Registros de Nascimento,
como pai, em três ocasiões: Reg. nº 54, de 15.04.1911, residindo no Córrego Grande; Reg. nº 203, de
02.11.1912 e Reg. nº 109, de 13.07.1915.
Nos Livros de Escrituras e Testamentos, o localizamos em duas ocasiões, a primeira delas em
20.06.1908, ocasião em que adquiria de Ignácia Lourença Gertrudes, que havia recebido por herança de
seu pai “terras na Faz. Rio Claro, já divididas judicialmente [...] pelo preço de 200$000 (duzentos mil
251
córrego; nessa época os Alexandre eram milionários, mas acabaram
vendendo tudo e ficando sem nada [...]; o preço da terra aqui ou em
Taperão era a mesma coisa. Por aqui era tudo um preço só. Ali [ onde
seria Villa Novaes] ele [ o Miguel Ruiz] comprou direto pr’a vender, já
picou em data e foi vendendo 529.
...puro mato, tudo peroba, naquele tempo não existia Novais; aqui,
quando meu pai pegou formar o sítio, nem cemitério não tinha [...].
... tratamento e formação de 9.600 cafeeiros [...] por cinco anos [...]
independente de pagamento algum, pertencendo aos outorgados apenas o
fruto que produzir o mesmo café, até o vencimento do presente contrato,
isto é, comprehendendo-se somente até a florada do quarto ano 530.
réis) e, na outra, pela qual adquiria “10 alqueires de terras sem ônus na Faz. Bebedouro do Turvo [...]”,
pelo mesmo valor.
Os descendentes de José Alexandre trabalhavam à época - anos de 1980/1 -, como camaradas
nas fazendas da região.
529
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981. No ANEXOS, Mapa II,
Carta Geral..., ano 1901, p.343, aparecem muitas dessas localidades citadas: Córrego Taperão,
Tabarana, Tenentes, Cordão Escuro, etc...
530
- “Escritura pública de contrato sobre tractamento e formação de café que faz como outorgante
proprietário Joaquim Pedro Firmiano [...] e de outra parte José Ruiz e Miguel S.Ruiz”, de 26.12.1914.
CARTÓRIO DE PARAÍSO. Observar, novamente aqui, a prática do cultivo à meia.
252
... com as confrontações seguintes: por um lado com Manoel Fernandes,
por outro com Ramón Sanchez e por outro com Pedro Cantarera 531 [ pelo
preço de 1:000$000 (um conto de réis)] com as seguintes benfeitorias;
uma caza de moradia, construída de madeiras e coberta de telhas, um mil
pés de cafeeiros novos [...] 532.
É o chefe político local, desde 1914, após a morte de Juca Quito. Sem
dúvida possível, é o major João Baptista Novaes, de então para cá, a
531
- Manoel Fernandez, como vimos, era o pai de Eduardo Fernandez, sogro de D.Teodora, que,
como Miguel Ruiz era do mesmo pueblo, em Cáceres, na Extremadura.
532
- Escritura Pública de Compra e Venda, de 09.08.1917. Livro 019, pp. 30 e ss. CARTÓRIO DE
PARAÍSO. Observar, aqui, a “vizinhança” de espanhóis.
533
- Provavelmente o comprador, neste caso, também fosse espanhol. O confronto das duas escrituras
deixa claro que ele, aqui, vendia menos da metade da propriedade recém adquirida, pelo mesmo valor que
acabara de pagar!
253
figura central, que se destaca com singular relevo em toda a vida política,
social e administrativa do município 534.
534
- Jornal DIÁRIO DA NOITE, de 30.07.1928, no Primeiro Centenário da Fundação de
Jaboticabal, p. 01.
535
- Depoimento a nós concedido, em maio de 1999, por D. Maria Cecília França Monteiro da Silva,
residente na cidade de S.Paulo e neta do Major João Batista Novaes, por quem fora criada.
O Major fora casado com Evangelina de Oliveira Ferraz Novaes, sobrinha de Juca Quito (José Augusto
de Oliveira).
254
Para Seu Ildefonso, por exemplo,
536
- Informação confirmada no “Têrmo de Abertura” dos Livros da Câmara Municipal de
Jaboticabal, onde fora presidente de 1905 a 1912. ARQUIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DE
JABOTICABAL.
537
- O CAFÉ, ESTATÍSTICA DE PRODUCÇÃO E COMMERCIO. Secr. Agricultura, Indústria e
Commércio. Diretoria Estatística Ind. e Commércio. S.Paulo, Typ. Garraux, Ano 1919, p.92. O número
total de cafeeiros então produzindo era de 22.207.500.
538
- O CAFÉ, ESTATÍSTICA DE PRODUÇÃO E COMMERCIO, citado, 1925, p. 90.
539
- Possuímos as estatísticas anuais referidas aos 1928/9/30; as estatísticas seguintes são bianuais,
sendo assim 1932/33; 1935/36; 1937/38.
540
- O CAFÉ, ESTATÍSTICAS DE PRODUÇÃO E COMMERCIO, citado, Ano 1932-33, p. 126.
255
Já em 1913, um editorial do Jornal El Diário Español registrava, a
propósito de uma “Excursión por la línea Araraquarense”, em sua secção
“Apuntes de viaje” que:
... Y todo eso es obra de españoles que aún no hace 6 años arribaron a
estos lugares en demanda de tierras que entonces se vendían baratas y
hoy alcanza precios fabulosos. Fueron ellos quienes, hacha en mano,
penetraron en la maleza, construyeron una cabaña, y lanzaron las
primeras simientes de un futuro promisor que hoy compensa con larguesa
su sacrificio de otras épocas.
Al verlos hoy, dueños de pequenas haciendas, surtiendo los mercados con
la producción de sus tierras, interviniendo en el comercio, procurando el
desarrollo de la industria, trabajando por el progreso de este país, en el
cual tienen radicada su fortuna, se enorgullece el alma 541.
Nós mesmos colocamos o nome daqui de Córrego Seco, porque não tinha
água; água era lá embaixo, quando chegamos aqui não tinha esse nome;
agora tem água, naquele tempo não tinha, a gente fazia um poço para
tirar a água no balde. Tirar a água para dar pr’a vaca, a gente fazia um
cocho de pau, para a vaca tomar água 543.
256
Ela, porém, expressa apenas uma perspectiva e reconstitui só parcialmente
uma realidade.
Foram dois dias de mudança! [com] dois carros de boi, dois dias de
mudança [...]; tivemos que cruzar um córrego, o Córrego dos Coqueiros
de noite; noutro dia, vai e vai, cantando, cantando esses carros, cantando
... e viemos aqui, perto de Novais, uns 6 quilometros daqui.
Mas tinha mato! cada tora, cada peroba ... Quem vendeu pr’o meu pai o
sítio morava numa tapera de chão, as paredes de coqueiro...; ele tinha
aquela tapera largada, os porcos entravam por um lado, saíam por outro,
e meus pais foram com minhas irmãs e limparam e encheram de terra, e
arrumaram para a gente poder entrar; depois, não tinham muitas
madeiras, meu pai arrumou dois homens, foram no estaleiro, eles foram
serrar na serraria, eles punham as toras embaixo e encima, aí fez a casa.
Depois cercou tudo, limpou, queimou, depois plantou pr’a formar o pasto,
que era tudo sarogo [...] e depois, de uns tempos, que ganhou um
dinheirinho, fez a tulha, fez o terreiro pr’o tijolo, o pomar de laranja.
Meu pai trabalhou, viu?! 544.
544
- Fragmento de depoimento. D. Teodora relembrando a mudança da família, de Bebedouro para o
sítio, no Córrego do Matão.
257
Guarda-roupa? [risos]; Guarda-roupa eu só tive o primeiro quando
casou o meu filho José!
Fomos morar debaixo de uma árvore, até construir a casa, cada família a
sua...; demorou dois meses...; nós tinha cuidado com os bichos, botava
fogo aí, que naquele tempo tinha muito bicho. A casa era de madeira, de
pau a pique, não existe mais [...] põe quatro esteio [explicando]...;
E a porta, como não tinha serraria pr’a serrar madeira, quer dizer que
põe assim um pau pregado do lado de cá, outro de lá..., lascas, assim e
pronto [demonstrando]. Só dava para entrar abaixado, senão tinha que
tirar tudo...
A senhora sabe cozinhar sem panela?! Põe dois pau, assim, põe calor
embaixo, faz uma cruz... aqui passa um gancho e pendura...
No córrego não tinha água [ Córrego Seco!]; nós fazia poço, uma
cisterna de 12 palmo de fundura no mesmo córrego...
Novais era puro mato, tudo peroba...;
Catanduva tinha quatro casas; naquele tempo era Cerradinho, depois
passou para Vila Adolpho, agora não mudou mais faz cinquenta anos 545.
A via crucis relatada pelos três depoentes, cujas famílias se fixaram nos
arredores de Villa Novaes, no sítio recém adquirido nos inícios da segunda
década, não deve ter representado uma exceção; ao contrário, as agruras e as
circunstâncias de absoluta precariedade relatadas devem ter constituído a tônica
palmilhada por todas as famílias imigrantes na sua passagem da condição de
colonos para a de pequenos proprietários.
545
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1981.
546
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque Sanchez. Idem.
258
nas fazendas pertencentes ao Distrito, como vemos crescer o número de cafezais
plantados e aumentar a produção para o Município de Jaboticabal.
547
- O CAFÉ, ESTATÍSTICAS DE PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO. Secretaria Agr. Comm. Obras
Públicas. S.Paulo, Escolas Profissionaes do Lyceu Salesiano Sagrado Coração de Jesus. Anos 1915, p. 97
e 1917, p. 86.
548
- Reafirmando essa hipótese, temos informação segundo a qual as terras do Município de
Jaboticabal seriam “argilosas roxas e brancas, havendo arenosas. Bôas em parte, regulares e inferiores
na maioria”. Conforme: O CAFÉ, ESTATÍSTICAS, citado, Ano 1915, p. 97. Grifo nosso.
Tal informação muito provavelmente possa explicar uma prática, revelada pelos registros de
escrituras de compra e venda locais, onde freqüentemente se verificou que a transação se realizava “no
local onde o comprador fez cultivo”. Ambas reforçam a hipótese acima.
549
- O preço do hectare de terra nessa região era de “80$000 (oitenta mil réis) e mais as terras bôas”
. Cf. O CAFÉ, ESTATÍSTICAS, citado, Ano 1917, p. 86.
550
- RELATÓRIO DE AGRICULTURA, citado. Ano 1923, p. 128.
259
Jaboticabal, nesta década já destacava-se como um dos dez destinos
preferenciais dos imigrantes espanhóis no Estado de S.Paulo encaminhandos pela
Hospedaria, cuja maioria estabelecia-se em municípios dos arredores como
Catanduva, Santa Adélia, São José do Rio Preto, etc..; no ano de 1920,
excetuando os brasileiros, eles representariam a corrente majoritária naquele
município, seguidos pelos portugueses e por pequeno número de japoneses e
italianos 551.
551
- “Destino, por municípios, dos immigrantes entrados e reentrados na Hospedaria da Capital,
durante o anno”. In: ANNUÁRIO ESTATÍSTICO DE SÃO PAULO. Repartição de Estatística e Archivo
do Estado. S.Paulo, Typ. Piratininga. Ano 1920, Vol. I, pp. 60-62 .
Como já informamos anteriormente, os anos de 1912/3 foram de aceleração nos fluxos de
espanhóis desembarcados no Brasil.
552
- ANNUÁRIO ESTATÍSTICO. Citado. Ano 1920, p. 60 e ss; Ano 1929 ref. aos anos de 1922 a
1926. S.Paulo, Casa Vanorden, p. 240 e ss.
260
em alguns municípios, os estrangeiros estão em maioria como
proprietários de cafeeiros 553.
QUADRO XXVIII
261
cidades: São José do Rio Preto, com 95 propriedades; Santa Adélia, com 54;
Jaboticabal, com 51; Tabapuã, com 50; Monte Alto, com 40; Monte Azul, com
38; Catanduva, com 30 e Bebedouro, com 11 556.
556
- “Quadro Estatístico da lavoura de café do Estado de S.Paulo por nacionalidades”. In:
RELATÓRIO DE AGRICULTURA, citado. Ano 1923, pp. 117-123.
557
- Tais estatísticas consistem da relação dos 20 maiores produtores por município e da quantidade
de pés de café pertencente a cada um deles.
Assim temos:
⇒ Para o ano de 1915:
- Manoel Pontes Gestal, Mun. de Monte Alto, em 16º lugar, com 68.000 pés;
- José Rodriguez Garcia, com 14.000 pés, em 4º lugar, Município de Rio Preto;
Cf. O CAFÉ - ESTATÍSTICAS DE PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO, Anos 1915, pp. 113 e 138; 1917,
pp. 102-103; 1920, p. 59; 1923, pp. 107 e 168; 1924, pp. 108-9 e 168 e 1930, p. 219.
262
pequenos proprietários também investiam na economia do café, evidentemente
que em menor escala e é bastante provável que sua produção, de pequeno porte,
fosse adquirida pelos atacadistas que futuramente a colocava no mercado.
Nós trouxemos semente e plantemo ... arroz, milho, feijão [...]; perdemo
tudo na seca do primeiro ano, arroz não deu pr’a recolher um saco...; em
1914, plantemo café, aí veio uma família espanhola lá de Cáceres, pegou
dois alqueires de terra; eles vieram pegando serviço e pegamo eles por
seis anos, tudo que desse era pr’a eles naqueles dois alqueires aí do
Córrego para lá [apontando]; Depois, veio um homem lá de Santa
Adélia, veio sozinho, veio pr’a ver se dava serviço, aí ele trazia a família
pr’a morar. Pai disse: ‘eu dou, 3 alqueires, tudo de lá é teu, por seis
anos’ , com trato de nós fazer aula [...] 560.
Não senhora, não pegava, bem no início, não [gente de “fora” para
trabalhar]; depois, já com uns tempos, que ele formou um pouquinho de
café, pegou duas famílias, fez duas casas, antigamente de barro e
madeira, chão de terra, uma teve oito anos, era da Província de Almería.
558
- Fragmento de depoimento, anteriormente citado. Sr. Manuel Martinez. Catanduva, 1982. Essa
informação, como vimos atrás, foi confirmada pelos livros fiscais do Município, onde seu
estabelecimento, passível de imposto, foi inventariado.
559
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981. Novamente aqui a
evidência da modalidade então mais praticada, ou seja, à meia.
560
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Fazenda do Córrego Seco, em Vila Novais,
1981.
263
Meu pai mandou derrubar o mato que tinha e plantaram café; quando
meu pai morreu, tínhamos 9 ou 10.000 pés de café, mas, naquele tempo
não se adubava o café, às vezes não se tratava direito[...] 561.
Do lado de lá, era Córrego das Perobas ... mas tinha uma espanholada
lá...; um tinha sítio e ponhava os outros, prá tocar serviço, né?; e
plantavam café, e pegavam à meia...ihhh, mas aqui, aí do Novais pr’a lá,
aí tinha gente muito rica, sítio alto...; espanhol, tudo espanhol ! 562.
561
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias. Vila Novais, 1981.
562
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias, 1981. Novamente aqui a alusão à prática do sistema
à meia.
563
- A mulher, Maria Dolores Rodriguez, então com 31 anos, e seus quatro filhos (Miguel, 12; Juan,
6; Gines, 4 e Diego, 2) e a sogra, Maria Parra Martinez, viúva, então com 70 anos.
564
- Conforme LIVRO DE REGISTRO DE ENTRADA nº 077, p. 021, da HOSPEDARIA DOS
IMIGRANTES.
264
Diego Cabrera, tio de Seu Tercifon, que, ao relatar o périplo das sete famílias que
se cotizaram na compra do lote de 100 alqueires no Córrego Seco, esclarecia que
se tratavam das famílias de “Pedro Lopez Cabrera, José Cabrera, Diogo
Cabrera, irmào dele e primo do meu pai, Rene Parra e Miguel Parra”.
Quando eu tinha uns vinte anos, então ele [o pai de D. Teodora] queria
vender o sítio para ir para a Espanha...; sabe quanto davam no sítio?
100:000$000 (cem contos) ! .
Minha mãe levava comida pr’a nós na roça e dizia: ‘é sim, o teu pai falou
que vai vender [...]; sim, porque o Miguel Parra dá 100 contos pr’a teu
pai e teu pai vai vender o sítio’.
Pai comprou por 3:500$000 (três contos e quinhentos mil réis), com
escritura, talão de cisa e tudo 565.
Ele dizia que com esse 100 conto lá na Espanha ele era o mais rico do
pueblo, ele falava assim pr’a nós: ‘aí, nós indo lá na Espanha, voces - nós
era três moça já -, vão casar com o homem mais rico que tiver lá’; eu
dizia: ‘olha pai, não me interessa’ [...], eu já namorava meu marido.
565
- A propriedade de 25 alqueires mencionada teria sido adquirida pelo pai de D.Teodora pela
Escritura de Compra e Venda de 17.01.1912, conforme a qual ele teria pago 1:500$000 ( e não 3:500$000
como ela afirmara). Pode ocorrer que o valor total, por ela citado esteja incluindo as depesas citada.
566
- Não fosse pelo hábito dos sobrenomes maternos serem colocados depois do paterno – com
grande dificuldade e mesmo impossibilidade na identificação das famílias -, certamente teríamos
realizado um melhor aproveitamento da documentação levantada, no rastreamento dessas trajetórias
familiares. A família de Miguel Parra Villar pôde, aliás, ser reconhecida em outras ocasiões, utilizando-
se apenas do sobrenome materno (Rodriguez), que, por ser um sobrenome extremamente comum, não nos
encorajou a proceder as conexões que seriam desejadas.
Desconhecemos durante quanto tempo foi feita a observância à forma de registro à maneira
espanhola. Seu Ildefonso, contrariado, denunciava:
Minha mulher é Maria Romero Sanchez, mas só alguns filhos meus que tiveram Romero. O
Paschoal [ proprietário do Cartório, à época em V. Novais] mesmo, é só Paschoal Blasque, não
265
Para Seu Ildefonso, com 15 anos à época, em 1911, quando sua família se
instalara como proprietária no local, a chegada ao Córrego do Taperão, não era
decorrente nem da vontade de seu pai e nem de um projeto familiar.
Meu pai , com aquele dinheiro, ele queria ir [embora pr’a Espanha],
minha mãe não queria, e daí, nós morava lá em Bebedouro, e ele veio
aqui passear, ele tinha aqui um conhecido, o pai desse Eduardo
Fernandez, o pai dele morava aí, e o Eduardo já tinha sítio aí; pai
chegou aí e o homem “garrou” pôr na cabeça dele que não fosse, que
comprasse; ‘eu não vou comprar, eu vou embora pr’a Espanha, colho o
café, vendo’ - e nós era meeiro -, ‘e vou embora pr’a Espanha’.
Aí ele “garrou” aconselhar que não fosse e tal e levou nós pr’a ver um
par de sítio, era barato e convenceu ele [...] aí fomos lá e compramos.
Depois, já veio muita gente diretamente lá da Espanha [...]; um era
parente, outro era amigo, então mandava carta contando do jeito que era
[...] então veio muita gente[...] antes da guerra.
Teve muita gente que veio com dinheiro dele mesmo, já não era mais
imigração, já tinha que pagar ...;
Teve conhecido que mandou perguntar [se devia vir para o Brasil]; Ah...
falávamos, aqui é assim..., não vem pensando que chega aí e enche o saco
de dinheiro não... que precisa suar; senão, fica aí, que é melhor do que
aqui!.
leva o “Romero” da mãe. É que o escrivão que tinha aí, não sei o que deu, que lei que teve, que
já não ocupava o Sanchez [...]; uns têm Blasque Romero, mas não sei que enrolada formou aí
que modificou o apellido, o último, não sei o que teve aí...
Apellido: sobrenome.
266
família para plantar café e dai foi criando filhos, foram casando, foi
aumentando aquela espanholada... né?
Só por aqui tinha dez ou doze [famílias espanholas] só nesse pedacinho;
depois lá no Córrego Grande juntou mais 30, 40 famílias.
Tinha aí o finado Julian Gil, tinha fazenda, tinha café dando fruita, tinha
invernada de gado, tinha olaria de telha; eles vieram [da Espanha] antes
de que nós, vieram pr’a Ribeirão Preto pr’a formar empreita de café.
Eles eram da mesma vila que nós [Cáceres, Extremadura].
Nós morava lá em Bebedouro, eles iam à cavalo e chegavam lá e pediam
pr’o pai: ‘óh ... vai lá passear, lá em casa, vai lá, lá é mato, mas é bom’;
e pai veio a cavalo, aí, uma ocasião 567.
Aqui nessa banda, tinha o Gregório Gil, aqui para cima, já estava aí
morando quando chegamos, desde 1902/3. Era espanhol e já era
proprietário, tinha pouco, 7, 8 alqueires, plantava café. Depois, ia
aumentando, ia plantando e hoje tem mais de 1.500 alqueires. Ele já
morreu e deixou tudo com o filho.
567
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novaes, 1981.
568
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1981. Esse caso revela não
apenas uma curiosa forma de realização de negócios, mas pode igualmente ilustrar o modo como se
aproveitavam as oportunidades surgidas.
267
Julian Fernandez Gil, por exemplo, cuja propriedade, citada por Seu
Ildefonso constava de “10 alqueires na Fazenda Bebedouro do Turvo, no local
denominado Correguinho [...] começando em uma cova, nas divisas das terras
de Manoel Fernandes [...]”569, chegara com sua família um ano antes dos
demais, em 04.11.1904, tendo Bebedouro como destino. Tinha então 41 anos,
vinha acompanhado da mulher (provavelmente a segunda) Emília Bote, então
com 29 anos e quatro filhos 570.
569
- Escritura Pública de Compra e Venda nº 013, de 20.16.1910. CARTORIO DE PARAÍSO. Os
Registros de nascimento apontam duas passagens desse personagem: a primeira, de 13.05.1914, tendo
como declarante Eduardo Fernandez; a segunda, de 30.12.1915, agora como avô materno, tendo
realizado o registro de nascimento do neto, filho de sua filha Clementa.
570
- Maximina, 18 anos, Félix, 8 anos, Clementa, 6 anos e Julia, 1 ano. Conforme: LIVRO DE
REGISTRO DE ENTRADA nº 073, p. 320. HOSPEDARIA DOS IMIGRANTES.
571
- Trazia sua esposa, Allala, de 24 anos, um filho de 11, Pedro, e outro de 5 anos, chamado
Petruccio. Cf. LIVRO DE REGISTRO DE ENTRADAS nº 069, p. 258. HOSPEDARIA DOS
IMIGRANTES.
572
- Nº 105, de 08.07.1915. CARTÓRIO DE PARAÍSO.
573
- Escritura Pública, citada, de 06.09.1916. Idem. Observe-se aqui novamente a modalidade
praticada, à meia.
574
- ⇒LIVRO LANÇAMENTO DO IMPOSTO DE INDÚSTRIAS E PROFISSÕES:
268
desembarcado com a família) com o pai, Diogo, constando dos livros de
“Imposto Predial Rústico” 575.
Destes, como dos demais, temos buscado extrair, pelos casos aqui
revelados, e com base nas fontes inventariadas, uma trajetória que singularize e
tipifique o caráter particular configurado por esse imigrante na sociedade local.
575
- ⇒LIVROS IMPOSTO PREDIAL RÚSTICO:
19 hectares e 62 ares de 4ª e 5 ª sorte, que perfaz o valor retro da Fazenda das Posses, com as
seguintes benfeitorias [...] com as divisas com [...] e finalmente com os próprios compradores,
por 400$000 (quatrocentos mil réis); e, em 21.03.1914, apenas Antonio Cáceres adquirindo
uma casa [...] com 5 cômodos assoalhados [...] na Rua José Bonifácio, em S.S. Turvo, por
600$000 (seiscentos mil réis). CARTÓRIO DE PARAÍSO.
269
3. O custo e a valorização das propriedades agrárias:
Entrementes,
576
- KLEIN, Herbert. Op.cit., 1994, pp.67/8. Pelos cálculos apresentados pelo autor, com base no
Recenseamento de 1920, o tamanho médio e o valor das propriedades dos espanhóis de primeira geração
no Estado de S.Paulo era de 59 hectares (ou 23.6 alqueires), ou 255$ (duzentos e cinquenta e cinco réis
por hectare) enquanto que a dos portugueses era de 113 hectares (ou 277$) e a dos italianos era de 78 (ou
281$).
270
ou sem, ou, ainda, distinguindo a propriedade em terras de 1ª sorte, 2ª sorte ou
3ª sorte, tentaremos verificar através de um cálculo aproximativo, de qual monta
teria sido a valorização das propriedades locais.
Temos, ainda, uma outra publicação 580 que pode concorrer para essa
tentativa, porém, de todo modo, esclarecemos que trata-se tão somente de uma
aproximação, e nosso objetivo maior é verificar até que ponto o preço
relativamente mais baixo que era inicialmente praticado naquela região pôde ser
considerado um fator adicional, um estímulo, que, na conjunção com outras
variáveis, de parentesco e vizinhança, por exemplo, pudesse ser responsabilizado
pelo afluxo crescente de imigrantes espanhóis fixando-se nos arredores como
pequenos proprietários.
577
- têrmo bastante genérico, que em geral designava uma casa de moradia, coberta de sapé ou uma
casa coberta de telhas e assoalhada juntamente com pomar , engenho de madeira, pasto fechado com
arame farpado, monjolo, mas podia igualmente englobar a lavoura existente, como 7000 pés de café ou
1.500 pés de café quase formados com mais ou menos 10 anos de idade.
578
- A medida mais comumente utilizada era o alqueire, que, no caso de S.Paulo, corresponde a 24.200
m2. Além desta medida, ainda foram registradas aquisições utilizando glebas, ares, hectares, quinhão, e,
para áreas menores, como lotes mais centrais, localizados na Vila, ainda vimos: sorte, datas, palmos e
claros.
579
- “Área e valor das terras do Estado de São Paulo”. In: BOLETIM DE AGRICULTURA. Série
26º. S.Paulo, Secretaria da Agricultura, Commércio e Obras Públicas do Estado de S.Paulo, 1925,
pp.557-561.
580
- Refiro-me aqui à publicação O CAFÉ ESTATÍSTICAS DE PRODUÇÃO E COMMÉRCIO,
anteriormente citada, a qual, a partir de 1915, apresenta o preço das terras de todos os municípios do
Estado, tendo por medida, o hectare. Desse modo, como a medida de superfície da maioria das escrituras
de compra e venda analisadas foi o alqueire, para efeito desses cálculos, buscamos estabelecer a
equivalência, reduzindo o alqueire paulista (24.200) para o hectare (10.000 metros quadrados).
581
- Fragmento de depoimento. Seu Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1980.
271
... [os conterrâneos] vieram para Novais porque moravam em
Bebedouro, nesses lugares por aí né ... e ganharam dinheiro, terra era
muito barata, e, como já tinha alguns conhecidos, então vieram passear
[...] então um depois ia chamando o outro, e aí juntou aquela
espanholada aqui 582.
Depois que eles [seus pais] vieram aqui na fazenda do meu sogro [
Eduardo Fernandez] foi que eles arrumaram um dinheirinho,
trabalharam seis anos, formaram empreita. Aí meu pai, Bernardo Crespo
[...] comprou na Noroeste, pr’a lá do rio, em Vila Sabrina, não sei se foi
15 alqueires. Eu já era casada [final dos anos 20] 584.
quando venceu o ano aqui, deu o fim do ano [isto é, quando se encerrou o
prazo de seis anos, por volta de 1920] eles se mudaram. Ele tinha
juntado 5:500$000 (cinco contos e quinhentos) ... era dinheiro, né?
Pegou e comprou 50 alqueires em Presidente Prudente [...] e meu pai,
sócio com ele, mais 50 [...] pr’a tocar café [...];
582
- Sr. Ildefonso, explicando a crescente afluência de espanhóis naquele trecho, por volta dos anos
1911-1915, período em que a sua família, a de Seu Tercifon e a de D.Teodora haviam adquirido a
primeira propriedade.
583
- D.Carmen Dueñas, nascida em Granada em 1906 e cuja família teria chegado ao Brasil somente
em 1918, explicando porque sua família não pudera adquirir terras no local. Fragmento de depoimento.
Vila Novais, 1981.
584
- Relembrava D. Ana Crespo Moreno, nascida no Brasil em 1912. Fragmento de depoimento. Vila
Novais, 1981.
585
- Esse compatrício fora contratado com a incumbência de dar aulas para a sua família.
... pegamos eles, por seis anos, demos 3 alqueires, tudo que desse era deles [...] ; e como nós era
burro, era moleque e era burro, porque não sabia ler nem escrever, ninguem sabia nada, meus
pais também não sabia nada, pai deu 3 alqueires por seis anos, com o trato de nós fazer aula
[...]; então juntou 60 alunos, tudo da família da gente; os pequenos, das 6 da manhã até as 9 e
os grandes, das 7 da tarde até as 9 da noite; dois turnos [...]; em seis anos, ele juntou 5$500...
272
Daí, ele escrevia pr’a nós, como eu já sabia ler, ele escrevia, ele dizia que
nunca vendesse aqui, que queria voltar pr’a trás, alí não era bom, que lá
dava ferida no corpo inteiro 586.
... É por isso que o hespanhol, ao sentir o seu pé de meia um tanto mais
pesado, preferiu deixar de ser o assalariado agrícola dos latifúndios, cujo
regimen de disciplina e de obediencia lhe repugnava e tornar-se
proprietário de pequenos sitios, geralmente nas zonas novas. Dahi, as
maiores proporções dessa gente na Noroeste [...] onde impera a pequena
propriedade [...] retalhadas em lotes pelos latifundiários e pelos grileiros.
Como sitiante, a formar seus 2,5,10 ou 20 mil pés de café, com suas
abundantes plantações de cereaes, seu gadinho bovino, muar, suino e
caprino, seu bom animal de sella, com o qual elle vae a cidade em trajes
domingueiros, o hespanhol chefe de familia se sente um potentado feudal
e se lhe acorda toda a ancestralidade rumorosa que no mundo pintou o
hespanhol, um eterno Dom Quixote, esse typo soberbo de “comunero”
[...] 588.
586
- A propósito das experiências dos colonos na zona tributária da Noroeste, especialmente quanto
as epidemias e as enfermidades – a ferida brava a que se referia Seu Tercifon -, ver: ANDRADE, Edgard
Lage de. Sertões da Noroeste, 1850-1945. S/local publicação, 1945.
587
- Fragmento de depoimento. Sr.Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1981. Essa informação reafirma
dados do Recenseamento de 1920, atrás citado, pelo qual se estimava em 255$ (duzentos e cinquenta e
cinco mil réis) o valor médio por hectare pertencente ao imigrante espanhol no Estado de S.Paulo.
Lembramos que 14 alqueires correspondem a 338.800 m2 ou 33,88 hectares.
588
- ELLIS JR., Alfredo. Populações paulistas. S.Paulo, Cia.Ed.Nacional, 1934, pp. 161 e ss.
273
A esse propósito, registramos esse anúncio em um jornal de língua
espanhola, onde, ao lado do mapa da região, podia-se ler:
Se venden óptimas tierras, según ele plano [mapa] entre las estaciones de
General Glycerio y Biriguy, de la línea de hierro Noroeste, propias para
plantar café y cereales, en lotes de 40 “alqueires”o más si lo desean, a
precios baratisimos en la margen del camino de hierro. Tenemos otras
tierras en Biriguy que también se venden con titulos de propiedad
perfectos. Las tierras están libres de heladas, clima superior. Para
informarse sobre la venta de estos lotes [...] 589.
589
- Jornal EL DIÁRIO ESPAÑOL nº 1.360, de 08.05.1913, p. 3. Grifos nossos.
590
- RELATÓRIO DE AGRICULTURA. Ano 1918, p. 137.
274
que se iria propor a divisão da fazenda em que estavam suas terras. Na
sede da comarca, o advogado lhe explicaria as razões do condomínio de
que era sócio ou lhe ofereceria carta de agregação em que, reconhecendo
o direito de outrem, se indenizaria com a ratificação, por escritura habil,
do que possuia há longos anos. O causídico mostrava as vantagens da
proposta que sempre fazia em nome do terceiro, o grileiro, tipo que
chegou em primeiro lugar para a vida nova no sertão 591.
Episódios envolvendo imigrantes espanhóis com questões de propriedade
de terra foram registrados pelos Relatórios da Secretaria da Agricultura, num dos
quais
275
réis), na Fazenda Córrego Grande, ou seja, 11$90 o hectare e uma outra, de
1908, onde se adquiria 22 hectares na mesma Fazenda do Córrego Grande,
porém, “com benfeitorias [...] pasto fechado com arame farpado com dois
alqueires, uma casa coberta de sapé, um rancho velho”, por 56$82 o hectare.
276
A Estação de Ibarra 594, hoje denominada Catiguá, localizada na cidade do
mesmo nome, que passa a funcionar como consequência da expansão da
E.F.Araraquarense até S.José do Rio Preto, em 1912, veio a representar o contato
ferroviário mais próximo de Novaes, ficando a mais ou menos 12 quilômetros do
povoado inicial 595.
594
- IBARRA, curiosamente era também o nome de uma das duas Companhias espanholas que
mantinham contato com a América; a outra, chamava-se Transatlântica.
595
- No ANEXOS, Mapa III, Carta Geral do Estado de São Paulo, ano 1929, p.344,
é possível identificar todas as localidades mencionadas.
596
- Fragmento de relato. Sr. Ildefonso Blasque. Villa de Novaes, 1980.
597
- RELATÓRIO DE AGRICULTURA. Ano 1925, p. 234
598
- OS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. INFORMAÇÕES INTERESSANTES.
Colligidas por Marcello Piza, do Departamento Estadual do Trabalho. S.Paulo, 1924, p.124.
277
na venda das propriedades, especialmente naquelas que contivessem café já
formado.
Temos, assim, por exemplo, para 1913, 12 alqueires com 16 mil pés de
café sendo comercializados a 3.000$000 (três contos de réis), ou a 104$16 o
hectare, e para o ano de 1914, temos 12 alqueires na Fazenda Água Parada, com
7.000 pés de café e 5 casas de moradia, sendo comercializados por 5.000$000
(cinco contos de réis), ou seja, 178$570 o hectare.
QUADRO XXIX
599
- O CAFÉ, ESTATÍSTICAS DE PRODUÇÃO. 1915, p. 97; 1917, p. 86; 1918, p.92; 1919, p.94;
1920, p.87; 1921, p. 83; 1922, p. 93; 1923, p. 89; 1930, p. 112.
278
A propósito dessa super valorização, muitos imigrantes instalados há
pouco mais de uma década, acabavam recebendo pela compra de suas
propriedades, propostas tentadoras, como a que foi ofertada ao pai de D.Teodora,
no ano de 1926, por outro espanhol, seu vizinho, Miguel Parra, interessado em
adquirir sua propriedade de 25 alqueires - pela qual houvera pago, em 1912 a
quantia de 1:500$000 (hum conto e quinhentos mil réis) -, pela qual oferecia
100:000$000 (cem contos de réis).
Relembrando:
Eu já estava com uns vinte anos; então ele queria vender o sítio, para ir
para a Espanha...; sabe quanto davam no sítio? 100 contos! [...] o finado
meu pai disse que com esses 100 contos lá na Espanha ele era o mais rico
do pueblo [...]. E minha mãe dizia: sim, porque o Miguel Parra dá 100
contos pr’a teu pai e teu pai vai vender o sítio...
600
- TAUNAY, Affonso de E. Pequena História do café no Brasil. S.Paulo, Inst. Bras. Café, s/d, p.
19.
601
- A localização de Villa Novaes é bastante singular. Encravada entre as duas áreas, vê as fazendas
ao seu redor, entrelaçarem-se entre a Paulista e a Araraquarense, beneficiando-se, de certo modo, da
influência de ambas. Pertencerá, como distrito à Jaboticabal, município tributário da Paulista, até 1935, e
à Catanduva, pertencente a Araraquarense, a 18 kms. de distância, de 1935-38.
602
- Dados extraídos de: MILLIET, Sérgio. Op.cit., 1946, pp. 18 e ss. Pelo Mapa VII, Carta do
Estado de S.Paulo, mostrando a lavoura de café, ano 1922 , em ANEXOS, p. 348, uma visão geral da
expansão da lavoura cafeeira de então.
603
- Perdendo apenas para S.Carlos, com 960.000 em lº lugar e para Campinas, em segundo, com
820.000 arrobas. Toda a Paulista produzia, então, 3.340.000 sacas. In: O CAFÉ, ESTATÍSTICA, citado,
Ano 1921, p. 12.
279
Tributária da Araraquarense e vizinha de Villa Novaes, Catanduva,
município recém desmembrado de Rio Preto, já detinha, na relação dos
“Principais produtores” e com 50% de proprietários espanhóis, nomes familiares
ocupando as primeiras vinte posições 604, o mesmo ocorrendo com o Município
de Monte Azul, recém desmembrado de Bebedouro, servido pela E.F. Paulista
(S.Paulo-Goiás) 605 e Tabapuã, município recém criado, desmembrado de Monte
Alto, a apenas 8 quilômetros da estação de Ibarra 606.
QUADRO XXX
604
- Temos, assim, para CATANDUVA:
- Francisco Sanchez Garçon, com 25.000 cafeeiros;
- João Rodrigues Lunares, com 22.000;
- João León, com 21.000;
- João Sanches Parra, com 21.000;
- Benito Sanches Revuelto, com 20.000;
- Miguel Prieto, com 19.000 e
- João Martins Manzano, com 18.000.
605
- Para MONTE AZUL, seriam:
- Francisco Morales Calvo, com 115.0000 cafeeiros;
- Sebastião Sevilhano, com 65.000;
- Severiano Arroyo, com 60.000 e
- Facundo Arroyo, com 57.000.
Dados obtidos em: O CAFÉ, ESTATÍSTICAS, citado, Ano 1921, p. 59 e 105, respectivamente.
606
- Em TABAPUÀ, temos:
- F. Perez, com 130.000 cafeeiros produzindo;
- Santos Sanchez, com 100.000;
- Braz Parra, com 56.000;
- Benito Sanchez, com 40.000 e
- José Barrionuevo, com 40.000.
280
Noroeste 19,672 1,973 1,401 3,287
Fonte: Departamento Estadual do Trabalho, nºs. 50-51. Apud: HOLLOWAY, T. Op.cit., 1984, p. 234.
Adaptação própria.
281
CAPÍTULO II
607
- BRENHA, M. Amorim. Op. cit., 1925, pp. 28-29. Portugues de nascimento, Brenha teria
residido no Rio Janeiro antes de vir para Jaboticabal, onde foi promotor público, inspetor literário e de
ensino e autor de um hino e duas Poliantéias de Jaboticabal. Cf. JABOTICABAL, edição do
Sesquicentenário. S.Paulo, Ed. Populares, 1978, p. 47.
282
possibilidade de alí reunir algumas comodidades que pudessem concorrer na
melhoria das condições materiais de vida
QUADRO XXXII
Total 26.502.550 4.379.193 18.176.993 12.808.750 6.122 18.855 21.290 45.903 1.598.401
A vila tinha, assim, uma função; fora criada por um bem sucedido
imigrante espanhol, e seja qual tenha sido sua intenção nessa iniciativa, para
todos ela tinha uma vocação estratégica: a de proporcionar algum conforto
material na satisfação de algumas necessidades elementares a todos que a ela
precisassem recorrer, concentrando alguns serviços essenciais à comunidade.
Uma tia minha ficou doente, de pneumonia, então fomos buscar dois
cavaleiros, para irem na estradinha de terra que tinha até Tabapuã,
procurar uma farmacinha...
283
O meu filho Antonio teve duas meninas, a Pascoala e a Guadalupe, elas
nasceram e aturaram pouco tempo, não tinha recurso, todas morreram
antes de completar um ano. O Antonio morreu no campo. Tava
carpindo, caiu e morreu; tinha 49 anos, era véspera do Ano Novo .
Minha mãe teve doze filhos, criou seis e morreram seis. Porque era
assim, nascia e morria, nascia e morria. Morreram seis encarreirados;
Eu sou a segunda [nascida no Brasil] , antes de mim nasceu outra menina
e morreu.
Eu trabalhei, vige! Com meu pai e depois de casada, quando ele morreu
porque eu fiquei com seis filhos pequenos, eu tinha 32 anos quando
morreu meu marido. Ele tinha 39 anos [...] e morreu de úlcera, naquele
tempo não é que nem agora ... 608.
Quien eres tu, que por el mundo anda, tan pujante y tan gallardo?
[Dizia o doente]: Jo soy la rosa vermella, que te como la carne y te bebo
la sangre;
Del cielo te mandaré fuego, que te queme y te abrase, [continuava o
benzedor];
Non me mande fuego que me queme ni me abrase, que jo me retiraré
por los clavos de Cristo [respondia o paciente]; Amén, encerrava o
benzedor , constituía-se um benzimento para erisipela 610.
608
- Fragmentos de depoimentos. Na ordem: Seu Tercifon, Seu Ildefonso, D. Ana Garcia e D. Carmem
Dueñas. Vila Novais, 1981. A questão da mortalidade infantil, expressa aqui apenas na fala de D.Ana
Garcia fora vivenciada por todos. Seu Tercifon teve nove filhos, dos quais sobreviveram apenas seis; Seu
Ildefonso, de dez filhos, restaram-lhe sete; D. Teodora, tivera nove filhos, e apenas sete viveram.
609
- As consultas realizadas fora do expediente normal do médico eram muito caras: entre 1910-
1920 elas custavam cerca de R$ 50$000, isto é, o equivalente a 25 dias de trabalho avulso ou o
correspondente a 70% do trato anual de 1000 pés de café ou ainda a 100 alqueires de café colhido. In:
BASSANEZZI, M.S.B. “Família Colona: italianos e seus descendentes numa fazenda de café paulista:
1895-1930”, mimeo, p. 285.
610
- RANGEL, Wellman Galvão de França. “Algumas contribuições espanholas ao folclore
paulista”. In: RAMSP, vol. CXLIV, ano XVIII, nov-dez/1951, p. 404. O autor recolheu farto material,
numa pesquisa que desenvolveu na cidade de Catanduva, na década de quarenta, junto aos membros mais
antigos da comunidade espanhola ali residentes.
284
“Quando chegamos aqui, quem ´servia´ as mulheres daqui era a minha
mãe”, relembrava Seu Ildefonso, referindo-se à assistência aos partos, cujas
péssimas condições de higiene acarretava uma enorme mortalidade ao recém
nascido, acometido pelo “mal dos sete dias” (tétano).
Consta que a falta de assistência não era primazia apenas das camadas
menos privilegiadas. Do ano de 1912, e referindo-se a uma família instalada em
Córrego Grande, nos arredores, informava o El Diário Español 611:
El dia 6 de los corrientes dió a luz una hermosa niña la esposa de D.José
Larios Buendia, Dna. Angeles Colombar [...]; la parturiente estuvo de
algún peligro durante algunas horas, pero salió felizmente del lance,
debido a los cuidados de la venerable anciana D.Ana Carmona y de las
hermanas de D.José, D. Carlota y D.Isabel.
A primeira gripe forte que deu aqui foi essa gripe espanhola, que foi
devido aquela guerra grande, né?; diz que aquela gripe começou na
Itália [...] eu mesmo passei aquela gripe aqui no sítio [...], mas, naquele
tempo, veio o médico. Tinha dois! Tinha aquele preto lá, não lembro o
nome, como chamava... não sei se era Cido. Antes do Cido, teve um;
depois foi o Cido, depois esse foi embora e teve o Dr. Spineli, que era
italiano; tivemos também um farmacêutico muito bom aí, formado, depois
ficou velho, foi embora pr’a Catanduva 612.
285
As Escolas Reunidas, acima mencionadas, então existentes em Tabapuã,
a 13 kms. de Villa Novaes, foram criadas em 1909 e dirigiam-se inicialmente
apenas ao sexo masculino.
Enquanto isso, na primeira década, não havia nos sítios e fazendas aos
arredores de Villa Novaes nada comparável a esse avanço da vila vizinha, tanto
que
Nós era burro, era moleque e era burro, não sabia ler nem escrever ...
isso aí; meus pais também não sabia nada. Ninguém sabia nada. Tudo
éramo burro. Então o homem, o tal de Juan, era espanhol [...] ele veio
sozinho lá de Santa Adélia, ele sabia leitura, veio pr’a ver se dava
serviço, aí ele trazia a família pr’a morar. Pai disse: ‘eu dou três
alqueires, tudo de lá é teu por seis anos’ , com trato de nós fazer aula,
ensinar a todos os meus irmãos a ler e a escrever, tudo por conta. Ele
disse: ‘eu pego’. Então ele não perdeu tempo, um derrubou o mato, o
outro fez a casa. ‘Já que vou fazer uma casa grande, vou dar aula pr’a
roça toda’, era tudo família por alí.
Então, ele juntou 70 alunos, tudo da nossa família, moço, velho, tudo
junto, e ele deu o curso de meio ano, das 6 da manhã até as 9 horas, que
tinha que levar almoço pr’a meu pai, no?!
Depois que eu tinha 13 anos, depois de seis meses, já mudou o horário
dele [...]; os pequenos das 6 da manhã até as 9 e os grandes [...] das 7 da
tarde até as 9 da noite, já virou o horário porque a gente tinha que
trabalhar na roça 615.
614
- Mensagem do presidente da Província à Assembléia Legislativa, em 1912. In: LEFEVRE,
Eugenio. A Administração do Estado de S.Paulo na República Velha. S.Paulo, Typ. Cupolo, 1937, p.
232/3.
615
- As crianças entre 7 e 11 anos, prestavam alguns serviços domésticos, como por exemplo: cuidar
dos irmãos menores, levar comida para a roça, ajudar nos serviços da casa, cuidar da horta e tratar dos
animais, participar da colheita do café e ajudar na lavoura de subsistência.
Jovens de 12-16 anos - os “meia-enxadas”, estavam incluídos oficialmente na força de trabalho
embora não tivessem ainda atingido a plenitude de sua capacidade física para o trato do café [...];
Os adultos dividiam-se em dois grupos: o primeiro, formado por trabalhadores adultos entre 17-
45 anos - “enxadas”- com plena capacidade [...]. BASSANEZI, Maria Silvia Beozzo. “Família e
286
Então a gente trabalhava até uma hora dessas [até de tardinha], se
lavava, jantava e ia pr’a escola até as 9 da noite. Ele deu aula seis anos
pr’a nós 616.
De maioria analfabeta,
... o hespanhol é bem menos instruido que o italiano; sob esse ponto de
vista a sua inferioridade é patente, mesmo em confronto com todos os
demais elementos immigratorios localisados em S.Paulo. De acordo com
o Relatório da Secretaria da Agricultura de 1928 [...] a porcentagem de
analphabetos entre os immigrantes hespanhois, sóbe, com effeito, a nada
menos de 53,71% 617.
Tive dois meses [de aula] na Espanha, depois meu pai me tirou da escola
pr’a cuidar dos porquinhos do campo; depois pensou de vir aqui pr’o
Brasil, viemos, nunca moramos em lugar que tinha escola.
O pouquinho que aprendi, foi na escola particular, pessoas que sabiam,
vizinhos, ia de noite, então aprendi um pouquinho, a assinar e a ler.
Ela [a esposa] não sabe nada de leitura[...]; os filhos sabem todos, todos
aprenderam. Primeiro não tinha escola aqui [na vila], mas tinha escola
no sítio, professor que dava no sítio, então eles iam lá. Depois, começou
a escola aqui, vinham aqui.
D. Teodora, aqui nascida, conta que não aprendeu a ler, nem a escrever,
que, enfim, não havia ido à escola e que seus irmãos aprenderam porque “depois
que meu pai pôs família no sítio [empregados], tinha um velhinho que ensinou a
eles” 618
imigração internacional no Brasil” (versão preliminar). In: CADERNOS CEDHAL, Série Cursos e
Eventos nº 7. S.Paulo, USP, 1996, p. 30.
616
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1981. Desafortunadamente, não
nos ocorreu perguntar a Seu Tercifon se tais aulas eram ministradas em portugues ou espanhol,
considerando que o professor era espanhol, bem como todos os “velhos” mencionados por Seu Tercifon.
617
- ELLIS JR., Alfredo. Op.cit., 1934, p. 167.
618
- A esse propósito, registramos a existência de “03 escolas isoladas” com “108 alunos” para
“Villa Novaes” no Quadro Demonstrativo das escolas nos Disctrictos de Jaboticabal. In: O Escudo,
citado, 1928, p.124.
287
Elementos como a alfabetização [...] que faziam parte da bagagem
cultural do imigrante pesaram de diferentes modos - facilitando,
retardando e dificultando - no processo de integração dos imigrantes.
Por exemplo, a organização do trabalho em bases familiares na sociedade
camponesa européia facilitou o desempenho dos trabalhadores no café e
na pequena propriedade das áreas de colonização; a língua favoreceu os
espanhóis e prejudicou os japoneses e alemães; a identidade religiosa
beneficiou os católicos em detrimento dos outros grupos; o alto índice de
alfabetizados entre os japoneses propiciou um intercâmbio de
informações através dos jornais, correspondência, etc.., o alto grau de
analfabetismo dificultou a preservação da memória escrita entre os
espanhóis 619.
619
- BASSANEZZI, M.Silvia Beozzo. Op. cit., 1996, p. 34/5.
620
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981. Grifos nossos.
288
O que é mais surpreendente ainda, no entanto, é o alto índice de
endogamia marital entre os espanhóis, tornando-os únicos entre os
imigrantes europeus [...].
Embora o casamento fora do grupo fosse comum entre os homens
estrangeiros (apenas 34% dos italianos casaram-se com italianas e
somente 43% dos portugueses fizeram o mesmo com suas compatriotas),
ele era menos freqüente entre as estrangeiras.
No caso dos espanhóis, no entanto, tanto homens como mulheres
casaram-se dentro do seu grupo étnico com quase a mesma freqüência:
62% dos homens casaram-se com espanholas e 69% das mulheres, com
espanhóis, argumenta o autor 621, referindo-se à década de 1910.
Eu casei na casa de minha mãe, vestida de noiva, tudo bem; Nós era 9
irmãos, eu era a mais velha de todos. Casei tarde ... com 25 anos, porque,
sabe, quando era pr’a casar, espanhol acostumava assim... morria um tio
dele [do noivo]; morreu ... agora nós vamos passar uns tempos...;
depois, morreu o avô, depois foi indo, foi indo, e morreu meu pai. Eu
fiquei com 25 anos quando morreu meu pai. Aí, daí um ano, o finado meu
marido queria casar. Mas minha mãe disse: ‘não, voce não é viúva pr’a
casar de luto!’ e até que não fazia dois anos que o pai faleceu ‘voces não
vão tirar o luto’... 622.
621
- KLEIN, H. Op. cit., 1994, p. 82 e ss., com base no Annuário Demographico, ano XXIII (1916) e
XXIV (1917), da Directoria do Serviço Sanitário do Estado, Secção de Estatística Demógrapho-sanitária.
622
- Fragmento de depoimento. D. Teodora. Vila Novais, 1981.
623
- BASSANEZI, M.S.B. Op. cit., 1996, p. 18. Dos casos relatados ou das referências feitas a outras
situações, observamos que, de maneira geral, no período que nos toca, os casamentos se processavam
preferentemente entre pessoas com a mesma origem étnica espanhola, com quem se mantinha vínculos de
vizinhança, amizade e mesmo profissionais. Veja-se, por exemplo, os casos de D.Teodora e D.Ana
Crespo Moreno, ambas casadas com dois irmãos, na fazenda de cujo pai (Eduardo Fernandez) suas
famílias haviam previamente se empregado; temos também o caso de D. Ana Garcia, casada com o filho
do fazendeiro onde seu pai fora empreiteiro.
Como vimos, as escolhas matrimoniais não se restringiam aos da mesma posição social, sendo
que as diferenças sócio-econômicas dos parceiros e de seus pais pareciam não representar impeditivo,
como também não o foi o fato de um dos cônjuges pertencer à primeira geração, já nascida no Brasil.
Essa observância deve ser relativizada para as gerações seguintes, onde passam a ocorrer uniões mistas
em termos étnicos.
289
A comida e os hábitos alimentares locais foram alvo de indisfarçada
aversão por parte dos imigrantes espanhóis, cujas restrições se apoiavam nas
comparações que faziam com a alimentação nativa:
Aqui não tem comida que não leve veneno [...] porque senão não cresce,
encoranguja ali e morre. Agora, se põe veneno, daí a tanto tempo torna a
passar veneno, aí ela vai..; a mulher planta aí, num pedacinho de terra
uma beringela, pimentão; cresce, fica bonito, dá flor, dá fruita, mas ela
tem medo do veneno, não quer pôr; acaba não pegando uma fruita pr’a
comer!
Não é cansada do café [a terra], é o clima, que não há frio, não há gêlo,
então o inseto está aumentando sempre, né? Agora, se fosse que geasse
mesmo, desse geada, mata isso tudo. Dum frio pr’o outro, não dá pr’a
criar logo inseto. Que é o que acontece com a Espanha, Argentina [...];
Esse ano, fez tres dias de frio! 624.
Meu sogro [Eduardo Fernandez], se não tinha o pão...; o pão não faltava
na mesa... pão feito em casa, pão de trigo, farinha boa, naqueles tempos;
tinha uma farinha, que falava farinha da Argentina, mas... ái que farinha
branquinha, saía cada pão...625.
Ahora los panaderos
nos venden el pán
con el noventa por ciento
de puro fubá
Como es costumbre
que ya tenemos
aunque sea malo
624
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981.
625
- Fragmento de depoimento. D. Teodora. Vila Novais, 1981.
290
nos lo comemos
Y podeis creer
que nos parecemos
con un tico-tico
comiendo farelo 626.
A primeira geração, ao que consta, conservou a tradição paterna em alguns
aspectos possíveis, porém incorporou novos hábitos locais à mesa, cuja
abundância não se fartava de enaltecer.
Entrementes,
626
- Trecho de música composta pela “Murga de Doutores”, grupo popular de músicos que visavam
inicialmente satirizar os médicos e suas habilidades, evoluindo, posteriormente, para um tipo de bloco de
carnaval na cidade de Catanduva que, segundo o autor, traduzia, igualmente uma
investida dissimulada contra representantes de classes superiores, [além de] a adesão dos
“murguistas” [ter] uma significação política espanhola; a de celebração do espírito
democrático que se impôs ao totalitário, portanto, a vitória dos ideais republicanos sobre os da
falange espanhola do general Franco [...]; quando subiu ao poder espanhol a falange
franquista, a colonia espanhola catanduvense se separou em dois grupos, um pró, outro contra,
favorável aos republicanos; em consequencia, quando se tratou de pôr-se o retrato do caudilho
numa sala do “Centro Español” local, tremenda disputa....
291
isso mesmo, sobrecarregados de sentido. Extraídos de seu contexto
original, eles adquirem significações que transbordam das primitivas 629.
Lá [no sítio do meu pai] tinha muita fartura, nós era pobre, o sítio era
pequeno, mas [tinha] fartura de verdura.... a cada três meses meu pai
matava um cerdo de 7, 8 arrobas, que enchia três latas de gordura de 20
litros e minha mãe fazia aquelas baciadas de lingüiça que dava gosto,
espanhola legítima! [...] lombo de porco, ela temperava, enchia aquelas
tripas grossas, bem lavadas com limão, com vinagre [..]; nossa casa
tinha fartura pr’a comer...; tinha dez alqueires de pasto, tinha sempre
80/90 rês. Eu tirava leite diário de 8/9 vacas e minha mãe fazia queijo...
Nós tinha vaca de leite, e meu sogro vendia muito leite [...] eu fazia um
requeijão, que só a senhora vendo... todo mundo procurava...
Lá o gasto era muito, era um saco de farinha de 50/60 kgs. em 15 dias,
porque era camarada, era filhos casados, era tudo...
Matava um porco por mês... depois a mulherada se virava, fazia lingüiça,
fritava..., mas se comia outra mistura também, frango, abóbora, também
se comia mandioca... se comia... batata-doce... tinha muita fartura! 630.
629
- CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil, mito, História, etnicidade. S.Paulo,
Brasiliense, 1987, p. 101/2, considerando a cultura como algo constantemente reelaborado. Grifos
nossos.
630
- Fragmento de depoimento. D.Teodora, referindo-se aos hábitos alimentares e à fartura que havia,
tanto na casa de seu pai quanto na de seu sogro. Vila Novais, 1981.
631
- BASSANEZI, M.S.B. Op. cit., 1975, p. 289. Apud: MARTINS, J.S. “Do escravo ao assalariado
nas fazendas de café, 1880-1914. A gênese do trabalhador volante”. In: VIII CONGRESSO DE
HISTÓRIA ECONÔMICA. Espanha, 1982.
292
Não causa estranheza, a propósito, se tivermos em mente que a própria
decisão de emigrar - lembrando do requisito exigido para a obtenção da
subvenção -, envolvia de certo modo a participação e a anuência de todos os
membros da família, que viria a se constituir, no colonato, como uma unidade
de trabalho, cujos contratos, apesar de realizados com o chefe, subentendiam
todo o grupo familiar 632.
Uma trajetória compartilhada por todos parece ter sido o elo fundamental
e a plataforma sob a qual transcorria a vida cotidiana, conformando uma unidade
afetiva e econômica, muitas vezes pautada em um projeto, que necessariamente
passava pela acumulação de um pecúlio, o qual se destinava ao retorno ao país
natal ou a aquisição de alguma propriedade.
Com muitos pontos de contato com os resultados aqui sugeridos, esse estudo, no entanto, não considera
os anos de 1905/6, de grande afluxo dessa corrente, e se estende até 1936, quando essa corrente já
houvera escasseado há muito.
293
Os cuidados com os cafezais e a roça de subsistência, o trato dos animais
e a colheita do café eram tarefas nas quais toda a família participava,
contribuindo cada elemento com a sua capacidade, que dependia mais da
fase do ciclo vital em que se encontrava a família e o indivíduo.
O regime de colonato, apesar dos mecanismos de disciplina impostos ao
colono, ao permitir à família um certo domínio do processo de produção,
possibilitava ao chefe comandar a intensidade e o ritmo das tarefas
alocando adequadamente a força de trabalho nas diferentes atividades
[...].
Cabia essencialmente ao homem assinar o contrato com a fazenda,
negociar o excedente da cultura de subsistência, executar o trabalho
avulso quando requisitado pela fazenda e à mulher as tarefas domésticas
[...].
O trabalho doméstico era geralmente conciliado com trabalho de roça,
porque o colonato, ao garantir uma certa flexibilidade na alocação da
mão-de-obra familiar, dava margem à participação produtiva da mulher
que podia se movimentar entre a “casa”e a “roça” 633.
Nós era em quatro, não contínuo, porque a mãe ficava algumas vezes em
casa. Agora, três trabalhava tudo no campo, no café 634.
Minha mãe dizia que aqui era pior que na Espanha. Porque na Espanha
não tinha o sino, igual ao sino que tinha na igreja [...]; o dono da
fazenda aqui tocava o sino às três horas da manhã, pr´a mãe levantar e
fazer o café...; o almoço era às nove e meia, dez horas. Minha mãe que
fazia tudo pr´a todo mundo.
Primeiro, éramo as sete família, depois de sete anos juntaram umas
sessenta família [na fazenda]; meu pai não falava tanto em ir embora,
mais era a minha mãe...; ela até pagou promessa porque ela não queria
ver os filhos dela passando pelo que ela estava passando 635.
633
- BASSANEZI, M.S.B. Op. cit. 1996, p. 30.
634
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981.
635
- Fragmento de depoimento. Sr. Tercifon Cabrera. Vila de Novais, 1981.
294
636
local, no pueblo ou na vila , as quais tiveram uma função muito importante na
integração do imigrante.
636
- Para isto concorreu a emigração em conjunto, quando várias famílias ou conhecidos emigravam
de uma só vez. No caso que nos toca, revelou-se comum o conhecimento prévio baseado na vizinhança,
assim como as relações de parentesco.
637
- EISENSTADT, S.N. The absorption of immigrants. Londres, Routledge and Kegan Paul, 1954,
p. 258.
295
artilharia era descarregada sobre a Vila, popularizando um chiste 638, segundo o
qual o nome a ela concedido era auto explicativo: No vaes, grafado em separado,
resumia a sua contrariedade quanto aos benefícios que a almejada autonomia não
obtida, lhes poderia conferir.
É... o patrão lá [na Espanha] não era como aqui, tudo patrão camarada,
né? Lá não dava pr’a comer...; lá não ganhava salário, porque quem
trabalha por conta não ganha salário, né? ; lá plantava pr’a comer...
Porque, no fim das contas, pai não tava mal, né? Por que lá
[trabalhando de colono, na fazenda] em 7 anos, ganhou um conto e
quinhentos! 639
Lá na Espanha... meu pai contava né, que tinha gente que trabalhava hoje
pr’a comer o pão amanhã; trabalhava às vezes a troco de um pão...; era
muita pobreza. E aí, tinha gente que tava mais remediadinho, não? E
sempre ele contava as coisas...; diz que tinha dois vizinhos, casou a filha
de um, e aqueles tavam remediados, né... e os outros, coitados, que não
tinham jantado naquela noite, foram dormir sem janta, e tavam devendo
um dinheiro pr’o outro que tinha casado a filha e tava mais remediado,
tinha uma terrinha, o outro era jornalero, trabalhava por dia [...], aí, diz
que bateram na porta [...] e ele disse: ‘bom, olha, disse, tenho certeza de
que vieram trazer janta pr’a nós, de certo que sobrou do casamento’. E
foi até a porta. ‘Óhh, vim ver se o senhor me arruma metade do que me
deve, se usted me arruma ...’. Disse: ‘Ai mi hombre, no tenemos o que
comer...!’. Disse: ‘Não tenho nada com isso, preciso do que está me
devendo!’
638
- Chiste: ditado pequeno e eloqüente, pode representar igualmente um trocadilho, como neste
caso.
639
- Fragmento de depoimento. Sr.Tercifon Cabrera. Vila Novais, 1981.
640
- Fragmento de depoimento. D.Teodora Dias. Vila Novais, 1981.
296
D.Carmem Dueñas e Seu Ildefonso Blasque, sobretudo ele,
demonstravam uma acentuada diferença de tom, onde predominava quase sempre
a insatisfação:
Teve conhecido que mandou perguntar.. falávamos óhhh aqui é assim ...
não vem pensando que chega aí e enche o saco de dinheiro não... que
precisa suar; Senão, fica aí, que é melhor do que aqui!
Embora evite dizê-lo em voz alta, o emigrante sabe - por experiência - que
a emigração é a origem das contradições nas quais se encontra
encerrado. Assim, sente-se inclinado, não sem alguma razão, a
considerá-la responsável por todas as suas desgraças. Mas como acusar
e condenar assim a emigração sem colocar a si mesmo em acusação e
sem pronunciar dessa forma sua própria condenação? [...]; aos motivos
iniciais para detestá-la, o emigrante acrescenta novos motivos que vai
descobrindo na medida em que dura sua experiência da emigração 642.
Meu pai, ele nunca gostou do Brasil; se ele tivesse dinheiro quando nós
viemos, ele não ficava seis meses no Brasil! ‘tá louco, na hora que eu vim
pr’o Brasil, não tenho dinheiro, se tivesse, amanhã saía pr’a Espanha.
Que Brasil, que ganhar dinheiro!’
641
- Fragmento de depoimento. Seu Ildefonso Balsque. Vila Novais, 1981.
642
- SAYAD, Abdelmalek. Op.cit., 1998, p. 225.
643
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque, aqui chegado em 1905 e que nunca tornou a
voltar para a Espanha. Vila Novais, 1981.
297
ou, ao contrário, se se trata de um estado mais duradouro, mas que se
gosta de viver com intenso sentimento de provisoriedade 644.
Ouça voce, nós que viemos para a América, estamos mortos e bem mortos
para aqueles que deixamos na Espanha. Fizeram para a gente um enterro
de terceira. E se, por acaso, voltamos, não passamos de mortos
ressucitados. Se vamos com dinheiro, somos santos milagrosos, porém,
se voltamos pobres, por azar da sorte, fogem da gente como da peste 646.
Quando cheguemo aqui, aquele pessoal ‘de fora’ [sic] até achava ruim,
porque era só lingua espanhola, não compreendiam [risos].
644
- SAYAD, A. Op. cit., 1998, p. 45. Grifos nossos.
645
- SAYAD, A. Op. cit., 1998, p. 269. Grifos nossos.
646
- GUILLÉN, Mario Garcia. Op.cit., 1975, p. 30.
298
A mulher não fala nada em brasileiro [risos], eu vim com nove anos da
Espanha e ela veio com nove!
Não adianta ela [a esposa dele] ficar aí pr’a conversar. Porque a metade
não vai compreender... 647
647
- Fragmento de depoimento. Sr. Ildefonso Blasque. Vila Novais, 1981. Sua esposa, que
chegamos a conhecer, e que, com efeito, não pronunciava uma palavra sequer em portugues, respondeu:
“Afonso lo disse tudo aí, sabe, yo me voy que tengo que cuidar de la cocina. Tu te aplicas aí, yo me voy”
648
- Fragmento de depoimento. D.Carmem Dueñas. Vila Novais, 1981.
649
- “Nascimento – Mapa I – Anno de 1927”. In: ANNUÁRIO ESTATÍSTICO. Citado, 1927, p.78.
650
- In: ANNUÁRIO ESTATÍSTICO. Citado, 1927, p. 261.
651
- BRENHA, M. Op.cit., 1925, p. 30.
299
CONSIDERAÇÕES FINAIS
652
- SAYAD, A. Op. cit., 1998, p. 15.
300
teriam tido um único efeito num indivíduo bem alimentado: uma ótima
digestão 653.
A nível local, por conseguinte, aliamos ao exame dos fatos objetivos que
contemplam a dimensão de caráter coletivo do fenômeno, envolvendo
circunstâncias históricas e determinações sócio-econômicas, culturais e
demográficas, seu itinerário individual, de experiência humana, cujos pontos de
contato evidenciaram-se no decorrer da monografia, em que a série de
parâmetros exteriores restituiu a cada história particular um “sentido” que,
provavelmente sozinhas, não lograssem expressar, dada a imbricação que lhes é
intrínsica e que, na realidade, emergiu e se estabeleceu entre os fatos objetivos e
as interpretações subjetivas.
653
- TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico. Um século de imigração italiana no Brasil.
S.Paulo, Nobel, Instituto Italiano di Cultura di San Paolo, Instituto Cultural Ítalo Brasileiro, 1989, p. 30.
Apud: GREGORI, G. Studio sull’Emigrazione dei Contadini dal Veneto. Treviso, 1897, pp. 32-33.
301
Através dessa dupla abordagem, a nosso ver privilegiada, pelos
componentes de riqueza empírica que apresentou, não se pretendeu apenas
quantificar dados, mas delinear a trama das relações sociais esboçada pelo grupo
em seu conjunto de estratégias interativas e/ou acomodativas à sociedade de
adoção, bem como os mecanismos recíprocos que se estabeleceram e o conjunto
de representações mutuamente construídas.
302
ANEXOS
304
MAPA I
305
MAPA II
306
MAPA III
307
MAPA IV
PROVÍNCIAS ESPANHOLAS
308
MAPA V
309
MAPA VI
310
MAPA VII
311
TABELA I
312
TABELA II
313
1926 58.088 33.588 2.892 13.694 2.683 5.231
1927 58.592 34.017 2.428 13.747 2.584 5.816
1928 62.465 38.768 3.124 11.616 3.677 5.280
1929 67.118 42.964 3.152 11.932 2.954 6.116
1930 56.353 37.145 2.196 8.284 2.984 5.744
Total 3.297.312
Elaborado por NARANJO, Consuelo. “Análisis cuantitativo”. In: História General de la emigración
española a Iberoamérica. Vol. I, Madrid, CEDEAL, 1992, pp. 185-6.
314
TABELA III
Fonte: Departamento de Estadistica “Estadística de pasajeros por mar”, Madrid, 1919, en: FERENCZI, I.
International Migrations, vol. I, Statistics, editado por WILLCOX, Walter. Gordon and Breach Sciense
Publishers Inc., Nueva York, 1969, p. 848-862. In: GALINDO, A.M.Chaves. “L’émigration espagnole:
retrospective, causes et conséquences”. Apud : SANTOS R.E. dos. Op.cit., 1993, p. 141.
315
TABELA IV
316
TABELA V
317
TABELA VI
ANO 1913
PRODUTO CUSTO
318
Fósforos maço $400
Papel em caixa $800
Papel Diplomata 1$500
Sapólio $700
Barbante kilo 1$800
Sal em vidro 1$000
Molho picles 1$700
Molho inglês 1$600
Chícaras a todo preço
Vassouras lº 1$500
Vassouras 2º $800
Pomada para calçado dúzia 1$800
Copos inquebráveis 8$000
Copos I. 4$000
Escovas para casa l 1$000
Goma brilhante $350
Ameixa lata 1$200
Tâmaras 1$500
Goiabada pesqueira 1$300
Goiabada Colombo 1$400
Marmelada ½ kilo $800
Pecego Leal Santos 2$000
Figo marmelo Leal Santos 2$000
Leite condensado $800
Ervilha francesa 1$000
Azeitonas $900
Biscoutos ingleses lata 3$100
Biscoutos Leal Santos 1$900
Biscoutos Duchen 1$700
Manteiga de Magny Francesa 2$500
Manteiga mineira suiça 1$750
Manteiga favorita 1$600
Sardinha Canã lata grande 1$854
Sardinha portuguesa lata grande $960
Doces portugueses 1$500
Canella em pó $800
Abacaxi nitino 2$300
Mortadela lata 200 gramas 1$300
Mortadela lata 125 gramas $850
Aveia lata grande 1$300
Caixa velinha uma dúzia de caixas 2$700
Massa de tomate italiana ½ kilo 1$200
Cacau lata 1$100
Chocolate lata 4640
Camarão 1$500
Água Caxambú caixa 33$000
Cebola portuguesa kilo $800
Fonte: Jornal NOTÍCIAS DO COMÉRCIO DE JAÚ. 05/05/1913.
Apud: BARRIGUELLI, J.C. Op. cit., 1981, pp.96/98.
319
TABELA VII
1 palmo 22 cms.
1 arroba 14,689 quilos
1 quintal 58,328 quilos
1 alqueire mineiro 48.400 m2
1 alqueire do norte 27.225 m2
1 alqueire paulista 24.200 m2
1 légua sesmaria 6.600 m
1 légua marítima 5.555,55 m
Braça quadrada 4.84 m2
1 hectare 10.000 m2
Palmo de sesmaria 1.452 m2
Braça de sesmaria 14.520 m2
Quadra quadrada 17.424 m2
Quadra de sesmaria 871.200 m2
Milhão 1.000.000 m2
Data de campo 2.722.500 m2
Data de mato 5.445.000 m2
Sesmaria de mato 10.890.000 m2
Légua de sesmaria 43.560.000 m2
Sesmaria de campo 130.680.000 m2
Fonte: Almanaque Vick. S/d. Elaboração própria.
320
CONTRATO I
_________________________________________________________________
321
CONTRATO II
_________________________________________________________________
322
CONTRATO III
(transcrição integral)
_________________________________________________________________
Saibam quantos este público instrumento de contracto virem que nos vinte dias
do mes de março do anno de mil novecentos e quatorze, nesta Villa de
S.Sebastião do Turvo, Comarca de Jaboticabal, Estado de S.Paulo, em Cartório
pertencente a mim, compareceram as partes entre si justas e contractadas sendo
de uma parte como outorgante empleitador, José Ignácio Ribeiro, e de outra
parte, como outorgado empleiteiro, Francisco Peres Linares, ambos lavradores,
domiciliados neste Distrito, reconhecidos pelos próprios, de mim ajudante
habilitado, do escrivão de paz e tabelião, por lei que esta subscreve, bem como
das testemunhas adiante nomeadas e no fim assignadas do que dou fé.
Perante as quais pelo outorgante empleitador, foi dito que sendo seu sogro João
de Cairós possuidor livre e dezembaraçado de quaisquer ônus ou
responsabilidades uma propriedade agrícola, na Fazenda Barra da Onça ou Pintos
deste Districto, tem elle outorgante empleitador pela prezente escriptura e na
melhor forma de direito, com o consentimento do mesmo contractado com o
outorgado empleiteiro sobre o plantio, tractamento e formação de 5.200 pés de
cafeeiros em referida propriedade por quatro annos a razão de 400$000
(quatrocentos réis) cada cafeeiro, sugeitando-se ambos as seguintes condições do
prezente contracto:
Primeira: Deverá o outorgado empleiteiro tractar dos referidos cinco mil e
duzentos pés de cafeeiros, que foi por si plantados em o mez de outubro do anno
proximo passado, em referida propriedade, trazendo-o sempre bem tractados,
fazendo [ilegível] em tempo opportuno os replantes precisos, durante quatro anos
a contar-se do tempo em que fôra plantado o mesmo café.
Segunda: Será mais obrigado a ajudar na limpa do pasto em que estiver suas
criações, que não poderá exceder de duas, seja cavalar ou não; bem como a
ajudar na estinção de formigueiros encontrados no café, sendo a formecida por
conta delle outorgante.
323
Terceira: Poderá o mesmo plantar sereais no terreno ocupado pelo café pelo
modo seguinte: até o segundo anno de tractamento, quatro carreiras de arroz,
feijão e milho, porém, de modo a não prejudicar o café; e do segundo anno em
diante somente uma carreira de milho, quatro de arroz e quatro de feijão.
Quarta: ao outorgado empleiteiro pertencerá o fruto que produzir o mesmo café
do terceiro para o quarto anno de tractamento, e no vencimento do prezente
contracto deverá receber quatrocentos réis por cada cafeeiro que haja formado e
pelos replantos a que tiver direito relactivamente aos tamanhos dos mesmos; se
porém, por qualquer circunstancia não podendo ele outorgante effectuar o
pagamento ao outorgado continuará este a tractar do mesmo café, como colono,
até se pagar com a metade do produto que render do mesmo, recebendo, além
disso, o que tiver direito como colono, cujo contracto deverá ser feito de acordo
com a base da ocazião, sendo que o cerviço deverá ser fiscalizado por elle
outorgante ou por pessoa por si proposta.
Quinta: Não poderá o empleiteiro ter porcos ou cabritos soltos.
Sexta: Será obrigado, ele outorgante a fornecer o [ilegível] ao outorgado, durante
o primeiro anno do prezente contracto e a importancia despendida, deverá lhe ser
paga pelo mesmo com os sereais que colher pela base em que os mesmos
estiverem na colheita.
Sétima: Se o café for víctima de geada, até o segundo anno de tractamento, o
prejuízo cauzado será excluzivamente por conta do outorgado; se porém for
victima do segundo anno em diante, seram prejudicados igualmente.
Oitava: Obriga-se elle outorgante a dar caza para moradia ao outorgado em a
referida propriedade durante o tempo do prezente contracto, o qual prevalecerá
por quatro annos a contar-se do primeiro dia de outubro do anno próximo
passado.
Nona: Nada receberá o outorgado pelas falhas ou árvores seccas que forem
encontradas na occasião da entrega do café.
Décima: Se por qualquer motivo justo como seja o de doença na pessoa do
outorgado o de sua família, não possa elle fazer algum serviço indispençavel no
café, elle outorgante fará o mesmo por sua conta pagando-lhe o outorgado logo
que possa.
Décima primeira: Se por qualquer motivo deixar o outorgado de cumprir o
compromisso assumido pelo prezente contracto, será despedido da mesma
propriedade perdendo todo serviço feito e será ainda responçavel pela multa
adiante estipulada.
Décima segunda: Se por qualquer motivo sem justa causa deixar elle outorgante
de cumprir as responçabilidades assumidas por este, pagará allém da importância
da empleitada a mesma multa.
Décima terceira: Fica finalmente combinado entre elle outorgante e outorgado a
multa recíproca de 500$000 (quinhentos mil réis) pela falta ao comprimento do
prezente contracto em todos pontos e clauzulas.
Pelo outorgado empleiteiro foi dito em prezença das mencionadas testemunhas
que na verdade acha-se contractado com outorgante empleitador sobre a referida
324
empleitada, acentando a prezente escriptura como nella se contem e declara e
aprezentou-me tres mil e duzentos reis em estampilhas da União que [ilegível]
na presente escriptura e legalmente inutilizadas.
Pelo proprietário João de Cairos, que também acha-va prezente foi declarado em
prezença das mesmas testemunhas que na verdade de sua livre e espontânea
vontade tem sedido ao outorgante empleitador, em sua propriedade já referida, o
terreno preciso para o plantio de cinco mil e duzentos pés de café que
pertenceram exclusivamente a elle outorgante em todo tempo.
E de como assim disseram e outorgaram do que dou fé, me pediram que lhes
lavrasse a prezente escriptura que lhes sendo por mim lida e achada estan
conforme, aceitaram outorgaram e assignaram com as testemunhas [ os nomes],
assignando a rogo do outorgado empleiteiro por ter declarado não saber lêr nem
escrever, o cidadão Antonio Cáceres e pelo mesmo motivo do proprietario
assignam a seu rogo Antonio Péres, tendo perante mim do que dou fé [seguem-se
as assinaturas] 654.
654
- CARTÓRIO DO REGISTRO CIVIL DE PARAÍSO. Livros de Escrituras e Testamentos. Ano
1914, pp. 51 a 53 (frente e verso) e 54. Pelo enunciado, percebe-se que esse contrato foi formalizado
pelas partes depois de iniciado o prazo para a formação, que provavelmente se dera por acordo verbal. Os
grifos são nossos.
325
CONTRATO IV
_________________________________________________________________
O outorgante contratante declara nesta data que entregou por 4 (quatro) anos o
engenho e os utensílios, a saber 03 (três) burros para trabalho no engenho;
alambique; tachos de cobre; formas para açucar, para beneficiamento e apuração
da cana; casa coberta de telhas com moradia; uma vaca de leite; dois cavalos
serventuários; pastos fechdos; uma boiada de carro; ajuda no plantio da cana-de-
açucar; uma soqueira de cana regulando três e meio quartéis, que o contratado se
obriga a tratar.
Dá ainda mata para a tiragem de lenha. A despesa de reparos do engenho nesta
data será de 50% (cinquenta por cento) cada um; daí por diante, tudo ficará por
conta do contratado, inclusive conservar tudo limpo.
[multas, estampilhas e assinaturas].
326
CONTRATO V
_________________________________________________________________
327
CONTRATO VI
ESCRITURA PÚBLICA DE
TRATO E COLHEITA À MEIA
19.10.1908
(transcrição parcial)
328
CONTRATO VII
Deve ainda o empleiteiro replantar 4.500 pés e cuidá-los por quatro anos, a
partir de setembro, pagando 400 réis por pé plantado, a ele pertencendo os frutos
obtidos.
Se o café que foi apenas cuidado pelo empleiteiro sofrer geadas, combinarào o
que fazer na ocasião.
Dão os empleitadores casa de moradia e pasto tendo o empleiteiro que cuidar
manter tais benfeitorias...
Multa de 1$000 conto de réis.
329
CONTRATO VIII
29.04.1914
Que faz Segundo Garcia Moreira com João Figueira Sanches [assinou Juan
Figuera Sanchez], e outros, como abaixo se declara.
Saibam quantos este público instrumento de contracto virem, que no anno de mil
novecentos e quatorze, aos vinte e nove dias do mez de abril, do dito anno, neste
districto de S.Sebastião do Turvo, comarca de Jaboticabal, Estado de S.Paulo,
em a fazenda “Bebedouro do Turvo” em caza da residencia do cidadão Segundo
Garcia Moreira, onde, eu, ajudante habilitado de escrivão, fui chamado e vindo,
ahi perante mim compareceram, partes entre si justas e contractadas, sendo de
uma parte como outorgante proprietário [...] e de outra parte, como outorgados
empleiteiros João Figueira Sanches, José Campos Marfil, Francisco Salazar
Trujillo, Francisco Garcia Martim e Francisco Salazar Campos. Todos
lavradores, domiciliados neste districto, reconhecidos por mim
[...] pelo outorgante proprietário foi dito, que a justo título, é senhor e legítimo
possuidor, de uma propriedade agrícolla, constituida de terras e benfeitorias nesta
fazenda denominada Bebedouro do Turvo [...] , declara, que tem contractado
com os outorgados empleiteiros sobre o plantio, tractamento e formação de
44.000 cafeeiros em sua propriedade referida por seis anos, pelo modo que se
segue:
330
O empleiteiro José Campos Marfil tem plantado 7.200 cafeeiros em o anno de
mil novecentos e dez e 1.500 mais em o anno de mil novecentos e onze,
obrigando-se a contractar à meias por mais um ano, o que fora plantado em o
anno de mil novecentos e dez, para fazer delle entrega juntamente com o que fora
plantado em mil novecentos e onze.
Terceira: Dará elle outorgante pasto fechado para os animais dos empleiteiros,
isto é, para o que possam têr, relactivamente ao café que tractam e que deverá ser
comprehendidos do seguinte modo: poderam ter cada um dos outorgados
animaes cavallar ou muar segundo ao café que trate, sendo comprehendido sete
cabeças por cada 10.000 cafeeiros.
331
Quinta: Tem elles outorgados, feito cazas para suas moradias e nellas
permaneceram até o vencimento do prezente contracto, porem nesse tempo
perderam o direito dos mesmos e de mais benfectorias que fassam.
655
- CARTÓRIO DO MUNICÍPIO DE PARAÍSO. Livros de Escrituras, ano 1914, pp. 63/65 (frente
e verso) e 66.
332
CONTRATO IX
Saibam quanto esse público instrumento [...] que [Máximo Gil] é possuidor de uma
propriedade agrícola constituida de terras e benfeitorias na Fazenda Bebedouro do
Turvo [...] , declara haver contractado com o outorgado empleiteiro Julian Dias o
plantio, o tractamento e a formação de 5.000 péz de café em sua propriedade por tres
annos [...] independentemente de pagamento algum, sujeitando ambos as condições do
seguinte contracto.
Primeira: Nesta data entrega ele outorgante proprietário ao outorgado empleiteiro em
sua mencionada propriedade o terreno próprio para o plantio dos 5.000 pés de café que
seram feitos a sua custa.
Segunda: Ao empleiteiro compete fazer a plantação dos 5.000 pés de café e tratallos
convinientemente [...] fazendo os replantes anualmente em tempo opportuno.
Terceira: Os formigueiros encontrados no terreno [...] deverá ser extinto por ele
outorgado [...] ficando o proprietário obrigado a fornecer uma lata de formicida [...].
Quarta: Poderá o empleiteiro plantar no terreno do café uma carreira de milho e aros
que deverá ficar distante do café tres palmos [...].
Quinta: Pela falta do cumprimento das cláusulas [...] multa de 500$000 réis a cada um
[...]
Assignam a rogo do outorgante proprietário por não saber ler [...] e assignam a rogo do
outorgado empleiteiro por não saber ler, nem escrever, nem assignar.
[ Assinaturas] 657
656
- O Registro de Nascimento nº 073, de 21.06.1901, evidenciado como o primeiro registro
pertencente a um imigrante espanhol no Distrito de S.Sebastião do Turvo era pertencente a este imigrante;
naquela ocasião, ele lavrador, e sua mulher, Narcisa Roda Bote, residentes na Fazenda Bebedouro do
Turvo, registravam o nascimento de seu filho Isidro, nascido em 15.06 p.passado. In: CARTÓRIO DO
REGISTRO CIVIL DO MUNICIPIO DE PARAÍSO.
657
- CARTÓRIO DO DISTRITO DE PARAÍSO. Livros de Escrituras, ano 1914, p. 117 (frente e
verso) e 118 (frente e verso.
333
F O N T E S U TILIZ A D A S
_________________________________________________________________
FONTES PRIMÁRIAS:
Depoimentos gravados:
Vila Novais, SP, 1980/1:
- Sr. Ildefonso Blasque Sanchez, 85 anos.
- Sr. Manuel Martinez, 78 anos.
334
- Sr. Tercifon Cabrera, 76 anos.
- D. Teodora Dias, 75 anos
- D. Carmem Dueñas, 74 anos
- D. Ana Garcia, 70 anos
- D. Ana Crespo Moreno, 68 anos
335
Arquivo da Câmara Municipal de Jaboticabal:
Atas da vereança (1900-1930)
336
- (1854, 1856, 1858-1863, 1866, 1869, 1870-1876,
1880-1882, 1883-1884), latas 51 a 53 e 80 T.I. e T.I.R.
Livro de Chamada – Paraíso:
- Livro 125 (1916-17)
Recenseamento:
- Livro 1772 (1900); Livro 60 (1901) – Secr.
Agricultura.
Movimento de imigrantes:
- Livro 66 (1895-1896)
Sociedade Promotora de Imigração:
- nºordem 1409 (1887-92)
Discriminação de terras e colonização:
- nº ordem 1727 (1919-1922)
Inspetoria Geral de Imigração:
- nº de ordem 1410 (1888-1892)
Terras, colonização e imigração (Inspetoria):
- nº ordem 1412 a 1429 (1892-1900), 1750 a 1752
(1892-96, 1904)
Colonização e imigração - S.Paulo:
- nº ordem 1778/9 (1921/22); 1789 (1921).
Terras, colonização e imigração:
- nº ordem 1781/82 (1918 e 1923).
Livro de débitos dos colonos:
- nº ordem 1743 (1914, s/ local).
337
- O Democrata (fund 1897), circulação semanal.
Anos 1917 a 1930, com falhas.
- Combate (fund. 1904), circulação semanal. Anos
1905 a 1930, com falhas.
Museu Paulista:
Arquivo Aguirra:
- Fichas manuscritas nominativas referentes a
Jaboticabal, Ibarra, Tabapuã, Rio Preto, Bebedouro, etc.
338
- Documentos publicados e periódicos:
339
Annuário Estatístico de São Paulo. Repartição de Estatística e
Archivo do Estado. São Paulo, Typografia Piratininga, 1920.
Annuário Estatístico de São Paulo. Repartição de Estatística e
Archivo do Estado. São Paulo, Casa Vanorden, 1922 a 1926.
Annuário Estatístico de São Paulo. Repartição de Estatística e
Archivo do Estado. São Paulo, Typografia do Diário Oficial, 1927.
Atlas Geográfico Mundial y Especial de España. Bosch, Casa Editorial,
Barcelona, 1957.
Boletim da Agricultura. Secretaria da Agricultura, Commércio e Obras
Públicas
do Estado de São Paulo. São Paulo, Redação da Revista Agrícola,
1900- 1908.
Boletim de Agricultura. Série 26ª. S.Paulo, Secretaria da Agricultura,
Commércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo, 1925.
Boletim da Directoria de Terras, Colonização e Immigração. D.T.C.I. -
S.Paulo, Secr. Agricultura, Ind. e Commércio. Ano I - nº 01, outubro
1937.
Boletim do Departamento Estadual do Trabalho, VI, nº 23. S.Paulo, 1917.
O Café, Estatísticas de Produção e Commércio, 1915-1930 (anuais) e
1932-33, 1935-36, 1937-38 (bianuais). Secret. Agricultura, Indústria e
Commércio. Diret. Estatística Indústria e Commercio. S.Paulo, Typ.
Garraux.
340
O Café: Estatísticas de Produção e Exportação. Secretaria da
Agricultura, Commércio e Obras Públicas. São Paulo, Escolas Profissionaes
do Lyceu Salesiano Sagrado C. de Jesus, 1915 a 1937-1938.
O Café- Informações referentes a 1937-1938. S.Paulo, Secr. Agricultura,
Indústria
e Comm. Diretoria de Estatística, Ind. e Comº. Secção de Estatística
Agrícola e Zootecnica. Typ. Siqueira, 1939.
Coleção de Leis e Decretos do Estado de São Paulo. São Paulo, Secr. da
Agricultura, 1907.
Coleção de Leis da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de
Janeiro, 1891-1930.
Como nasce uma cidade. Edição Comemorativa. Câmara Municipal,
Jaboticabal,
1972.
Condições do trabalho na lavoura cafeeira do Estado de São Paulo.
Bol. Deptº
Est. do Trabalho (1):19-33,1911/12.
Dados para a Hist. da Immigração e Colonização em S.Paulo. Deptº
Estadual do
Trabalho, Secção de Informações. S.Paulo, Typ. Brasil de Rothschild
& Cia., 1916.
Decreto nº 2400, de 09.07.1913. S.Paulo, Typ. Diário Official, 1913.
A Imigração e as Condições do Trabalho em São Paulo Deptº
Estadual do Trabalho. S.Paulo, Rotschild, 1915.
O Escudo. Jaboticabal no primeiro centenário de sua fundação:
histórico e
Estatístico. Organizado por Arthur de Aguiar Pequeroby Whitaker.
São Paulo, Typ Rio Branco, 1928.
Estatística Agrícola e Zootechnica. Org. pela Directoria de Estatística,
341
Ind. e
Commércio. Secretaria Agricutura, Ind. e Commércio. São Paulo,
Imprensa Oficial. Anos 1930-1940.
Estatística Agrícola. Org. pelo Serviço de Inspeção e Fomento
Agrícolas no 1º
semestre de 1924. Rio de Janeiro. Minis tério da Agricultura, Ind. e
Comércio, 1925.
Estatística Agrícola e Zootechnica de Jaboticabal no Anno Agrícola
de 1904-
1905. São Paulo, Typ. Brazil, Carlos Gerke & Rothschild, 1908.
Jaboticabal, notas históricas e estatísticas. Propaganda do ensino,
commércio,
industria e artes do município. Documentos, contos, literatura. Org.
por M.Amorim Brenha. São Paulo, Est.Gráphico “Edanee”,1925.
Jaboticabal. Edição do Sesquicentenário, 1828-1978. S.Paulo,
Ed.Populares, 1978.
Legislação brasileira relativa aos estrangeiros, a partir de 28.01.1808
(até 1930).
In: Estatística e Legislação Imigratória de 1952. Rio de Janeiro. Min.
Trabalho, Ind. e Commércio. Serv. Est.da Previdência e Trabalho,
1955.
Migração rural-urbana: aspectos da convergência de população do
interior e
outras localidades para a capital do Estado de S.Paulo. Com um
estudo sobre zonas de colonização do Estado de S.Paulo. Org. por
Vicente U. Almeida e Octávio Teixeira Mendes Sobrinho. S.Paulo,
Secret. Agric.do Est. S.Paulo, Dir. de Publicidade Agrícola, 1951.
Periódicos:
- O Araraquara - Araraquara, 1903/04
342
- A Atalaia - Jaboticabal, 1903/08
- Cidade de Bebedouro - Bebedouro, 1903
- O Combate - Jaboticabal, 1903/08/16
- Diário de Noite - Jaboticabal
- Gazeta de Bebedouro - Bebedouro, 1904
- A Imprensa - Araraquara, 1906
- Jornal de Bebedouro - Bebedouro, 1908
- Jornal de Notícias - Araraquara, 1908
- Jornal do Povo - Jaboticabal, 1901
- La voz de E spaña - Capital, SP
Números avulsos: Ano V, nº 188, de 07.01.1904
Ano IX, nº 406, de 19.03.1908.
- El Diário E spañol - Capital, SP
Período: 1912 a 1914, constituindo três rolos de microfilmes, a
saber:
08.01.1912 a 30.08.1913
01.09.1913 a 28.02.1914
02.03.1914 a 05.01.1915
- La Tribuna E spañola - Capital, SP, 1904
- O Monte Azul - Monte Azul, 1908
- Pitangueirense - Pitangueiras, 1904/08
- O Popular - Araraquara, 1904/08
- O Ribeirãozinho - Ribeirãozinho,
1904
- O Taquaritinga - Taquaritinga, 1908
- O Tayúva - Tayúva, 1908
- O Tentamen - Jaboticabal, 1903
- O Trabalho - Pitangueiras, 1908
- A Verdade - Jaboticabal, 1906
343
Os Municípios do Estado de S. Paulo, informações interessantes.
Colligidas por Marcello Pizza. Deptº Est. do Trabalho. S.Paulo,
Secr.Agricultura, Comm. e Obras Públicas. Serv. de Publicações,
1924.
Recenseamento Geral do Brasil. Min. Agricultura. Rio de Janeiro, Dir.
Geral de Estatística. Anos 1900 e 1920.
Relatórios da Secretaria da Agricultura, Commércio e Obras
Públicas.
São Paulo, Secr. Agricultura. Anos 1894 a 1928.
SCHATTAN, Salomão. “Aprimoramento das estatísticas agrícolas no
Brasil”. In:
Agricultura em S.Paulo. S.Paulo, 18 (9/10), 64-84,1971.
344
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
_________________________________________________________________
345
paulista. Rio
de Janeiro, Civilização Brasileira, 1932.
AMARAL, José B. de Souza. Os efeitos negativos da imigração. São
Paulo,
s.l.p.,1952.
AMERICANO, Jorge. São Paulo naquele tempo (1895/1915). São
Paulo,
Saraiva, 1957.
ANDERSEN, Benedict. Nação e consciência nacional. S.Paulo, Ática,
1989.
ANDRADE, Edgard Laje de. Sertões da Noroeste, 1850-1945. S/l, 1945.
ANTONACCI, M. Antonieta M. e MACIEL, Laura Antunes.
“ Espanhóis em S.Paulo: modos de vida e experiências de
associação”. In: Revista Projeto História - PUC. S.Paulo, 12: 173-192,
1995.
ARANTES, Antonio Augusto. Produzindo o passado - estratégias de
construção
do patrimônio cultural. S.Paulo, Brasiliense, 1984.
ARAÚJO, Fº, J. R. de. . “ O café, riqueza paulista”. In: Boletim
Paulista de
Geografia. São Paulo, 23: 78-135, 1956.
ARENSBERG, Conrad M. “The community – study method”. In:
The
American_Journal of Sociology. Chicago, 60 (2), 1954.
ARRIGUCCI Jr., Davi. “Móbile da memória”. In: Enigma e comentário:
ensaios
sobre literatura e experiência. S.Paulo, Cia Letras,1987.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS . Problemas de
Imigração no Brasil. São Paulo, 1954 (Col. Est. Brasileiros, 2).
346
AUDERA, V. La población y la inmigración en Hispanoamérica.
Madrid,
Hispánica, 1954.
347
AZCONA, José Manuel. “La participación vasca en la empresa
migratoria
americana”. In: VIVES, Pedro, VEGA, Pepa & OYAMBURU,
Jesús. Historia General de la Emigración Española a Iberoamérica.
Vol. 2, Madrid, Cedeal, 1992.
AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra , medo branco: o
negro no
imaginário das elites, século XIX. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
AZEVEDO, Fernando de. Um trem corre para o oeste.S.Paulo, Ed.
Martins,1950.
AZEVEDO,Sálvio de Almeida. “Imigração e colonização no Estado de
S.Paulo”.
In:Revista do Arq. Municipal. S.Paulo, vol.LXXV, 1941.
BACELAR. Jeferson Afonso. Negros e espanhóis. Salvador, UFBA,
1983.
________________________. Galegos no paraíso racial. Salvador,
Ianamá/CEAO/CED, 1994.
BAENIGER, Rosana. A imigração estrangeira na cidade de S.Paulo: os
registros
da Hospedaria dos Imigrantes. S/l, 17º Congresso Internacional de
Ciências Históricas, Nepo-Unicamp, 1990.
BAHAMONDE, Ángel. “Los dos lados de la migración
transoceánica”. In:
História General de la emigración española a Iberoamérica. Vol. I,
Madrid, CEDEAL, 1992.
BAHAMONDE, A. & MARTINEZ, Jesus. História de España, siglo XIX.
Madrid, Ediciones Cátedra, 1994.
BARRAGAN, Antonio, GONZÁLEZ, M. y SEVILLA, E. “Las revueltas
campesinas en Andalucía (1820-1939)”. In: Cuadernos História 16,
348
Madrid, Consejeria de Cultura, Dirección General Bienes Culturales,
Junta de Andalucia, 1985.
BARREIRO, José Carlos. O cotidiano e o discurso dos viajantes:
criminalidade, ideologia e luta social no Brasil do século XIX, tese de
doutoramento, UNESP.
BARREIRO, José Carlos. Campesinato e capitalismo. Campinas, Ed.
Unicamp, Série Teses, s/d.
BARRIGUELLI, José Cláudio. Subsídios a História das lutas no campo em
S.Paulo (1870-1956). S.Carlos, Arq. Hist. Contemporânea , UFSC,
198l.
__________________________. A questão agrária no Brasil, 1870-1975.
S.Carlos, UFSC, 1979.
__________________________. O pensamento político da classe dominante
paulista (1873-1928). S.Carlos, UFSC, 1986.
BARROS, Fausto Ribeiro de. “ Esboço na marcha do povoamento do
Estado de São Paulo”. In: São Paulo em quatro séculos. S. Paulo,
Inst. Histórico e Geográfico, 1954.
BARROS, Gilberto Leite de. A cidade e o planalto, processo de
dominância da cidade de São Paulo. São Paulo, Martins, 1967.
BARROS, Myriam Moraes Lins de. “Memória e família”. In: Estudos
Históricos. Vol. 2, nº 3, R.Janeiro, Vértice, 1989.
349
BASSANEZI, Mª Silvia Beozzo. “Absorção e mobilidade da força de
trabalho numa propriedade rural paulista (1895/1930). In: O café:
Anais do II Congresso de História de São Paulo. Revista de História
LIX, Araraquara, 1975.
_________________________. “ Família e imigração internacional no Brasil”.
In: “Série Cursos e Eventos - CEDHAL. S.Paulo, 7: 1996.
________________________. “ Família colona: italianos e seus
descendentes numa fazenda de café paulista, 1895-1930, mimeo.
BASSETO, Sylvia. Política de mão-de-obra na economia cafeeira do
Oeste Paulista (período de transição).Tese de doutoramento em
História, USP,1982.
BASTIDE, R. “Introdução a dois estudos sobre a técnica das histórias
devida”. In: Sociologia: 15 (l), março 1953, pp.8-24.
BATISTA Fº, Olavo. A fazenda de café em São Paulo. Rio de Janeiro,
Serviço de Informação Agrícola do Min. Agricultura, 1952.
BAUM, Willa K. Oral history for the local historical society. Nashville,
American Association for State Local History, 1972.
BEAUREPAIRE-ROHAN, Henrique P.Carlos. O futuro da grande lavoura
e da grande propriedade do Brazil. Rio de Janeiro, Nacional, 1878.
BEIGUELMAN, Paula. A crise do escravismo e a grande imigração.
S.Paulo, Brasiliense, 1987.
___________________. “A grande imigração em São Paulo”. In: Revista do
Instituto de Estudos Brasileiros. São Paulo, 1969.
___________________. “Alguns aspectos demográficos na evolução do
desenvolvimento de São Paulo”. In: MARCONDES, J.V. Freitas. São
Paulo, espírito, povo, instituições. S. Paulo, 1968a, pp.43-53.
___________________. A formação do povo no complexo cafeeiro:
aspectos políticos. São Paulo, Pioneira, 1968b.
BENJAMIN, Walter. “Sobre alguns temas em Baudelaire”.In: Obras
350
escolhidas vol. 3, S.Paulo, Brasiliense, 1989.
________________. “Sobre o conceito de História”. In: Magia e Técnica.
Arte e Política. Obras escolhidas. Vol.1, 4ª ed., São Paulo,
Brasiliense, 1985.
________________. “A imagem de Proust”. In: Obras escolhidas. Vol.1,
4ª ed., São Paulo, Brasiliense, s/d.
________________. “ O Narrador. Consideraçòes sobre a obra de Nikolai
Leskov”. In: Obras escolhidas. Vol. 1, 4ª ed., São Paulo, Brasiliense,
s/d.
________________. “Rua de mão única”. In: Obras escolhidas. Vol. 2, 2ª
ed., São Paulo, Brasiliense, s/d.
BERNAL, Antonio M. “La emigración de Andalucía”. In: SANCHEZ
ALBORNOZ, N (comp.). Españoles hacia América. La emigración en
masa, 1880-1930. Madrid, Alianza Editorial, 1988, pp.143-165.
BINZER, Inna Von. Os meus romanos - alegrias e tristezas de uma
educadora alemã no Brasil. 3ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1982.
BLASCO IBAÑEZ, V. La bodega (novela). Valencia, Prometeo, 1919.
BLOCH, Marc. Introdução à História (apologie pour l’Histoire ou metier
d”Historien). Lisboa, Publ. Europa-América, 1965.
BOM MEIHY, J.C.Sebe. (org.) (Re)introduzindo História Oral no Brasil.
São Paulo, Xamã, 1996 (Série Eventos).
BORELLI, Silvia Helena Simões. “Memória e temporalidade: diálogo entre
Walter Benjamin e Henri Bergson”. In: Margem, nº 1, S.Paulo, Fac.
de Ciências Sociais da PUC, EDUC, março 1992.
BOSI, Alfredo. “Tempo e História”. In: NOVAIS, Adauto (org.). Seminário
Funarte, S.Paulo, Cia. das letras, s/d.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembanças de velhos. S.Paulo, T.A.
Queiróz/ EDUSP, 1979.
351
BOTELLA, D. Cristóbal. El problema de la emigración. Madrid, Tip. de los
huérfanos, 1888.
BOUCHER Fº, A. O problema economico paulista. S.Paulo, Typ. Nápoli,
1933.
BRAGA, Célia M. Leal. Os espanhóis em Salvador. Análise sociológica
das possibilidades de assimilação de um grupo de imigrantes.
Salvador, FFCH- UFBA, 1972.
BRAUDEL, F. História e Ciências Sociais. Lisboa, Ed.Presença, s/d.
_________. Escritos sobre a História. S.Paulo, Ed. Perspectiva, 1978.
BRENAN, Gerald. El laberinto español: antecedentes sociales y politicos
de la guerra civil. Madrid Ed. Ruedo Ibérico, 1962.
BRENHA, M.Amorim. Jaboticabal. Notas históricas e estatísticas.
Propaganda do ensino, comércio, industria e artes do município.
Documentos, contos, literatura. S.Paulo, Ed. Graphico Edanee, 1925.
CAGIAO, Pilar. “ Cinco siglos de emigración gallega a América”. In: VIVES,
P., VEGA, P. & OYAMBURU, J. Historia General de la emigración
española a Iberoamérica. Vol. 2, Madrid, CEDEAL, 1992, pp. 293-
316.
CAMARGO, José Francisco de.Crescimento da população no Estado de
São Paulo e seus aspectos econômicos. São Paulo, FFCL-USP,
Boletim nº 153, Ec.Política e Hist. Doutrinas Econômicas nº 1, 1952.
CANABRAVA, Alice. “A grande lavoura”. In: HGCB. Org. Sérgio
B.Holanda. 6ª ed., 4º vol., tomo II, S.Paulo, Difel, 1971.
CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito. São Paulo, Duas
Cidades, 2ªed., 1979.
CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. São
Paulo, Difel, 1977.
CARDOSO, Ciro F. e BRIGNOLI, Hector. Os métodos da História. Rio de
Janeiro, 3ª ed., Ed. Graal, 1983.
352
CARNEIRO, J.Fernando. Imigração e colonização no Brasil. Rio de
Janeiro, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950.
___________________. “História da imigração no Brasil: uma interpretação”.
In: Boletim Geográfico. Rio de Janeiro, 1948.
CASTRO, Américo. Los españoles: como llegaron a serlo. Madrid, Taurus
Ediciones, 1965.
CATELLI, Nora. El espacio autobiográfico. Barcelona, Editorial Lumen,
1991.
CECCHI, C. “ O fluxo migratório e o problema do retorno”. In: Sociologia.
22 (3): 262-277, 1960.
CERTEAU, Michel de. A escrita da História. R.Janeiro, Forense,1982.
__________________. “A operação histórica”. In: História: Novos
problemas. Org. Jacques Le Goff. Rio de Janeiro, Francisco Alves,
1976.
COBRA, Amador Nogueira. “ Em um recanto do sertão paulista”.São
Paulo, Typ. Hennies Irmãos, 1923.
COHEN, Y. História Oral: uma metodologia, um modo de pensar, um
modo de transformar as Ciências Sociais? In: Ciências Sociais Hoje.
S.Paulo, Hucitec/Anpocs, pp. 266-74, 1993.
CONSOLMAGNO, Marina. Fanfulla: Perfil de um jornal de colônia (1893-
1915). S.Paulo, Dissertação de mestrado FFLCH-USP, 1993.
CORREA, Ana Maria Martinez. História social de Araraquara.: 1817-1930.
S.Paulo, Dissertação de mestrado FFLCH-USP, 1967.
CORRÊA, Carlos Humberto. História Oral - teoria e técnica. Florianópolis,
UFSC, 1977.
________________________. O documento de História oral como fonte
histórica. Florianópolis, UFSC, 1977.
CORTÁZAR, Fernando Garcia de y VESGA, José M.G. Breve História de
España. Madrid, Alianza Edit., 1994.
353
CORTES, Geraldo de Menezes. Migração e colonização no Brasil. Rio de
Janeiro, José Olympio, 1958.
COSTA, Emilia Viotti da. “Política de terras no Brasil e nos Estados
Unidos” e “Colonias de Parceria na lavoura de café: primeiras
experiências” In: Da monarquia à República: momentos decisivos.
São Paulo, Brasiliense, 1977, pp.139-193.
COUTY, Louis. Pequena propriedade e imigração europea. Rio de
Janeiro, Imprensa Nacional, 1887.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Antropologia do Brasil - mito, história,
etnicidade. S.Paulo, Brasiliense, 1987.
DAFERT, F. “ A falta de trabalhadores agrícolas em São Paulo”. In:
Relatório. Instituto Agronômico, 1892.
DAVATZ, Thomas. Memórias de um colono no Brasil: 1850. S.Paulo,
Martins, 1941.
DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo. S. Paulo, Difel,1971.
____________ . Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura
(1820/1920). Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.
_____________. “A pequena propriedade dentro do complexo cafeeiro:
sitiantes no município de Rio Claro, 1870-1920”. In: Revista de
História. S.Paulo, vol. LIII, nº 106, ano XXVII, 1976, pp. 487-494.
DEBES, Célio. A caminho do Oeste. Subsídios para a História da
Cia.Paulista de Estr.de Ferro e das ferrovias de São Paulo. S.Paulo,
Bentivegna Ed., 1968.
DECRESCENZO, Paschoal. Reminiscências de Tabapuã. mimeo, 1975.
DE DECCA, Edgar S. O silêncio dos vencidos. S.Paulo, Brasiliense, 1984.
DEFFONTAINES, Pierre. Geografia Humana do Brasil. Rio de
Janeiro,Livr. Ed. da Casa do Estudante, 1940.
____________________. “Regiões e Paisagens do Estado de São Paulo: 1º
esboço de divisão regional”. In: Geografia. São Paulo, ano 1, nº 2,
354
1935.
DE LUCA, Tânia Maria. O sonho do futuro assegurado (o mutualismo em
São Paulo). São Paulo, Ed. Contexto, 1990.
DENIS, Pierre. O Brazil no século XX. Lisboa, Antiga Casa Bertrand, José
Bastos & Cia.Ed., s/d.
DEVOTO, Fernando. En torno a la historiografia reciente sobre las
migraciones españolas e italianas a Latinoamérica. In: Rev. Estudios
Migratorios. Buenos Aires: 8, nº 25, 1993, pp. 441-474. Universidade
de B.Aires y Mar del Plata, s/d, version preliminar.
DIAS, Ana Maria da Silva. “ Família e trabalho na cafeicultura”. In:
Cadernos de Pesquisa, 37 (26-38), 1981.
DIAS, Eduardo. Um imigrante e a Revolução. Memórias de um militante
operário, 1934-51. S. Paulo, Brasiliense, 1983.
DIAS, Everardo. História das lutas sociais no Brasil. S.Paulo, Ed. Alfa
Ômega, 1977.
DIAS, Maria Odila Silva. “Hermenêutica do cotidiano na historiografia
contemporânea”. In: Projeto História: 17, PUC-SP, novembro 1998.
DIAS, R. Araújo. “Problemas atuais da economia cafeeira”. In: Agricultura
em São Paulo, vol. 16, nºs. 1/2, 1969, pp.35-37.
DICCIONARIO CASTELLANO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO. Org. por
Manuel Gonzalez de La Rosa. Paris, Garnier, 1891.
DICCIONARIO DE HISTORIA DE ESPAÑA. Tomo II – I-Z y Apéndices.
Madrid, Revista de Occidente, 1952.
DIEGUES JR., Manuel. Imigração, urbanização e industrialização.
Estudos sobre alguns aspectos da contribuição cultural do imigrante
no Brasil. Rio de Janeiro, Centro Bras.Pesquisas Educacionais, 1964.
__________________. Etnias e culturas no Brasil. Coleção Cadernos de
Cultura. Rio de Janeiro, Serv. Document. Min. Educação e Cultura,
1952.
355
__________________. Estudos de relações de cultura no Brasil. Rio de
Janeiro, Serv.Document. Min. Ed. Cultura, 1953.
__________________. População e propriedade da terra no Brasil.
Washington DC, União Panamericana, Secr. Geral OEA, 1959.
DONATO, Hernâni. Filhos do Destino: história do café e do imigrante em
São Paulo, 3ª ed., S.Paulo, Clube do Livro, 1980.
DORO, Norma Marinovic. A imigração iugoslava no Brasil. Tese de
doutoramento, FFLCH-USP, 1987.
DOSSE, François. A História em migalhas, dos Annales à Nova História.
S.Paulo, Ensaio, 1992.
DUBY, Georges. “A memória e o que ela esquece”. In: Diálogos sobre a
nova História. Lisboa, Publicações D.Quixote, 1989.
DURHAM, Eunice Ribeiro. Assimilação e mobilidade - a história do
imigrante italiano num município paulista. São Paulo, IEB/USP, 1966.
EGAS, Eugênio. Os municipios paulistas. São Paulo.Publ. oficial de São
Paulo. Seção de obras de “ O Estado de São Paulo”, 1925.
_____________.Brasil histórico - estudos e documentos e reimpressões.
São Paulo, Typ. Brasil, Rothschild, 1916.
EIRAS ROEL, A. & REY CASTELAO, Ofelia. Los gallegos y América.
Madrid, Editorial Mapfre, 1992.
EISENSTADT, S.N. The absorption of immigrants. Londres, Routledge
and Kegan Paul, 1954.
ELLIS, Alfredo. Populações paulistas. São Paulo, Cia.Ed. Nacional,1934.
____________. O café e a paulistânia. São Paulo, Boletim da FFLCH nº
141, de 1951.
____________. A evolução da economia paulista e suas causas. S.Paulo,
Cia. Editora Nacional, 1937.
EISENBERG, Peter. “A mentalidade dos fazendeiros no Congresso
Agrícola de1878”. In: J.R.Amaral Lapa (org.), Modos de produção e
356
realidade brasileira, Petrópolis, Vozes, 1980, pp.167-94.
________________. Homens esquecidos - escravos e trabalhadores livres
no Brasil século XIX e XX. Campinas, Ed. da Unicamp, 1989.
ESCRIBANO, Antonio Izquierdo. Españoles en América Latina. Vol.I.
Madrid, Centro Publicaciones Min.Trabajo y Seguridad Social,1992.
FAUSTO, Bóris. “ Expansão do café e a política cafeeira”. In: HGCB. Org.
Bóris Fausto. São Paulo, Difel, 1975, tomo III, vol. 1, livro 8, pp.194-
248.
_____________. Historiografia da imigração para São Paulo. São Paulo,
Série Imigração, Sumaré/FAPESP/Instituto de Estudos Econômicos,
Sociais e Políticos de S.Paulo, 1991.
_____________. Trabalho urbano e conflito social, 1880-1920. S.Paulo,
DIFEL, 1983.
FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa, Ed.Presença, 1952.
FERNANDES, Antonio R. “Propriedade rural em São Paulo”. In: O
observador economico e financeiro. Rio de Janeiro, 54, 1940.
FERNANDES, Elóy y PINILLA, Vicente. “La emigración aragonesa a
Iberoamérica”. In: VIVES, VEGA & OYAMBURU. Historia General de
la emigración española a Iberoamérica. Vol. II, Madrid, CEDEAL,
1992, pp. 25-50.
FERNANDES, Florestan. Comunidade e sociedade: leituras sobre
problemas metodológicos e de aplicação. S.Paulo, Nacional, 1973.
FERNANDES, Maria Esther. “ A história de vida como instrumento de
captação da realidade social”. In: Cadernos Ceru (Centro de Estudos
rurais e urbanos), nº 6, série 2, 1995.
FERREIRA, Marco Antonio da Costa. A imigração espanhola e suas
relações com o movimento operário em São Paulo (1900-1920).
Relatório Anual de Pesquisa. S.Paulo, Deptº História, USP, 1992.
FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). Entre-vistas: abordagens e usos da
História Oral. Rio de Janeiro, Ed. da Fundação Getúlio Vargas,1994.
357
História Oral. Rio de Janeiro, Ed. da Fundação Getúlio Vargas,1994.
359
FREITAS, Sonia Maria de. Falam os imigrantes: armênios, chineses,
espanhóis, húngaros, italianos de Monte San Giacomo e Sanza,
lituanos, okinawanos, poloneses, russos, ucranianos. Tese de
doutoramento. S.Paulo, FFLCH-USP, 2001.
FRUTUOSO, Maria Suzel Gil. A emigração portuguesa e sua influência no
Brasil. O caso de Santos, 1850 a 1950. Dissertação mestrado,
FFLCH-USP, 1989.
FURET, François. A oficina da História. Lisboa, Gradiva, s/d.
FURTADO, Celso. Formação Economica do Brasil. Rio de Janeiro,Ed.
Fundo de Cultura, 1959.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. “Por que um mundo todo nos detalhes do
cotidiano?” In: Revista USP, nº 15, S.Paulo, set/out/nov 1992.
______________________. História e narração em Walter Benjamin. São
Paulo: Perspectiva/FAPESP; Campinas: Editora da Universidade
Estadual de Campinas, 1994.
GALLEGO, Avelina M. Espanhóis em São Paulo: presença e
invisibilidade. Dissertação de mestrado. Fac. Ciências Sociais, PUC-
SP, mimeo, 1993.
___________________. “ Espanhóis”. In: Cadernos de migração: 5. São
Paulo, CEM- Centro Estudos Migratórios, 1995.
GARCIA DE CORTÁZAR, F. e GONZÁLEZ VESGA, J. Breve Historia de
España. Madrid, Alianza Editorial, 1994.
GARCIA FERNANDEZ, Jesus. La emigración exterior de España.
Barcelona, Ariel, 1965.
GARCIA-GUILLÉN, Mário. Os espanhóis no Brasil. Mimeo, s/d.
______________________ . Máquinas para o progresso. S.Paulo, Ed. do
Escritor, 1975.
GARCIA LÓPEZ, J. Ramón. Las remesas de los emigrantes españoles en
América. Siglos XIX e XX. Astúrias, Ediciones Jucar, 1992.
360
GARCIA-SANZ MARCOTEGUI, Angel. “La emigración asturiana a
América através de la publicística (1877-1915).In: VIVES, Pedro,
VEGA, Pepa & OYAMBURU, Jesús. Historia general de la emigración
española a Iberoamérica. Vol II. Madrid, CEDEAL, 1992, p. 414.
GATTAZ, André. Braços da resistência: uma história oral da imigração
espanhóla. S.Paulo, Xamã, 1996.
GAY, Peter. A experiência burguesa da rainha Vitória a Freud: a
educação dos sentidos. São Paulo, Cia. das Letras, 1989.
_________. Freud para historiadores. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
GEBARA, Ademir. O mercado de trabalho livre no Brasil (1871-1888). São
Paulo, Brasiliense, 1986.
GERMANI, Gino. Sociologia de la modernización. Buenos Aires,
Ed.Paidos, 1971.
GERMER, Klaus Magno. Análise histórica das relações entre
desenvolvimento econômico e estrutura fundiária. Piracicaba,
dissertação mestrado ESA Luiz de Queiróz-USP, 1976.
GIL, Bonifácio (recopilación). Cancionero del campo (Antologia). Madrid,
Taurus, 1966.
GODOY, Oscar de. “Imigração e criminalidade”. In: Rev. Arquivo
Municipal. São Paulo, ano VI, vol. LXVII, 1940, pp.149-163.
GONZÁLEZ MARTÍNEZ, Elda E. Café e inmigración: los españoles en
São Paulo, 1880-1930. Madrid, CEDEAL, 1990a;
_______________________________ . “ Españoles en Brasil: características
generales de un fenómeno emigratorio”. In: Ciência e Cultura. Rev.
da SBPC, 42 (5/6), junho 1990b, pp. 341-346;
______________________________ . “La estructura ocupacional de los
gallegos en la ciudad de San Pablo (Brasil), 1893-1903”. In: Revista
da Comisión Galega do Quinto Centenario, nº 05, 1992b;
_____________________________. “Los pequeños propietarios en los
361
Núcleos Coloniales del Estado de São Paulo - un intento frustrado de
participación española”. In: Ciencia, pensamiento y cultura. Madrid,
Arbor, nº 536-537, 1990c, pp. 127-142;
GONZÁLEZ, Elda & MARQUES, Rosario. “Andalucía y America: las
alternativas de una comunidad migrante”. In: VIVES, Pedro, VEGA,
Pepa & OYAMBURU, Jesús. HISTORIA GENERAL DE LA
EMIGRACIÓN ESPAÑOLA A IBEROAMERICA. Vol. 2. Madrid,
Cedeal, 1992a, pp. 3-24.
GORENDER, Jacob. “ O conceito do modo-de-produção e a pesquisa
histórica”. In: LAPA, J.R do Amaral (org.), Modos de produção e
realidade brasileira. Petrópolis, Vozes, 1980.
________________. “ Correntes sociológicas no Brasil”. In: Estudos
Sociais. Rio de Janeiro, 1958, nº 3/4, pp.351.
________________. “ Gênese e desenvolvimento do capitalismo no campo
brasileiro”. In: MORAIS FILHO, E. de et alii. Trabalhadores,
sindicatos e política. S.Paulo, 1980.
________________. A burguesia brasileira. S.Paulo, Brasiliense, 1981.
GRAHAM, Douglas. “Migração estrangeira e a questão da oferta de mão-
de-obra no crescimento economico brasileiro, 1880-1930”. In:
Estudos Economicos, 3 (1): 7-64, 1973.
GRELE, R.J. “La História y sus lenguajes en la entrevista de Hist. Oral:
?quién contesta a las preguntas de quién y por que? In: Historia y
Fuente Oral. nº 5, 1991, pp.111-29.
GUIMARÃES, A.Passos. Quatro séculos de latifúndio. S.Paulo, 1964.
GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Espanhóis no Rio de Janeiro (1880-
1914). Contribuição à historiografia da imigração. Rio de
Janeiro,Tese de concurso à Livre Docência, IFCH-Unerj, 1988.
HALBWACHS, M. A memória coletiva. S.Paulo, Ed. Vértice, 1990.
HALL, Michel.The origins of mass immigration in Brazil, 1871-1914. PHD
362
Th., Columbia University, 1969.
HANSEN, Marcus L. The immigrant in American History. Cambridge,Mass.
Harvard Univ.Press, 1940.
HENRY, Louis. Técnicas de análise em demografia histórica. Trad. de
Altiva Balhana e J. Cardoso. Curitiba, Univ.Federal Paraná, 1977.
HERNANDEZ GARCIA, Julio. “Panorámica de la emigración a
Iberoamérica de las Islas Canarias, siglos XVI-XIX”. In: VIVES,
VEGA, OYAMBURU. Historia General de la emigración española a
Iberoamérica. Vol. 2, Madrid, CEDEAL, 1992, p.133.
HOBSBAWM, Eric. O ressurgimento da narrativa. In: Past and Present nº
86. Trad. Denise Bottmann, 1980.
_______________ . A era do capital: 1848-75. R.Janeiro, Paz e Terra, 1982.
HOBSBAWM E. & RANGER, T. (orgs.) A invenção das tradições. Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1984.
HOLANDA, Sérgio B. de. “As províncias do Sul”. In: HGCB. Org. Sérgio
Buarque de Holanda. 5ª ed., São Paulo, Difel, tomo II, vol. 2.
____________________. “Do Império à República”. In: HGCB . Org. Sérgio
B. de Holanda. São Paulo, DIFEL, 1972, tomo II, vol. 5.
____________________. Raízes do Brasil. R. de Janeiro, José Olympio,
1956.
HOLLOWAY, Thomas H. “ Condições do mercado de trabalho e
organização de trabalho nas plantações na economia cafeeira de
S.Paulo, 1885-1915: uma análise preliminar”. In: Estudos
Economicos. São Paulo, 2 (6), 1972, pp. 145-180.
____________________. Imigrantes para o café: café e sociedade em São
Paulo -1886/1934. R. de Janeiro, Paz e Terra,1984.
HOYOS SAINZ, Luis de. La densidad de población y el acrecentamiento
en España. Madrid, I. Juan S.Elcano, 1952.
HUTCHINSON, Bertram. “Mobilidade de estrutura e de intercâmbio na
363
assimilação de imigrantes no Brasil”. In: Educação e Ciências
Sociais. Ano 4, vol. 5, nº 11 (7-22), 1959.
HUTTER, Lucy M. Imigração italiana em São Paulo, 1880-89: os primeiros
contatos do imigrante com o Brasil. São Paulo, IEB, 1972.
________________. Imigração italiana em São Paulo de 1902 a 1914 - O
processo imigratório. S.Paulo, IEB/USP, 1986.
IANNI, Constantino. “ Capitalismo, escravidão e trabalho livre”. In:
Fernandes, Florestan (org.). Comunidade e sociedade no Brasil. 2ª
ed., S.Paulo, Ed. Nacional, 1975.
________________. Homens sem paz. Os conflitos e os bastidores da
emigração italiana. São Paulo, Civ. Brasileira, 1972.
IANNI, Octávio. “ Estudo de comunidade e conhecimento científico”. In:
Revista de Antropologia. São Paulo, 9 (1,2), 1961.
JAGUARIBE Fº , Domingos. Algumas palavras sobre a emigração.
S.Paulo, 1877.
_______________________. Imigração e colonização. S.Paulo, Magalhães,
1911.
JORDÃO NETO, A. “Barreiras no controle da mobilidade ocupacional do
imigrante espanhól” In: Sociologia. S.Paulo, 24 (2), junho 1962, pp.
117-179.
______________. “ O imigrante espanhól em São Paulo: principais
conclusões de uma pesquisa”. In: Sociologia. S.Paulo, 26 (2), junho
1964, pp. 243-252.
JORDÃO NETO, Antonio e BOSCO, S. Helena. O imigrante espanhól em
São Paulo. Secr. Promoção Social, 1953.
JOUTARD, Philippe. Esas voces que nos llegan del pasado. Mexico,
Fondo de Cultura Economica, 1983.
JUNIUS. Notas de viagem em São Paulo. São Paulo, Typ. de Jorge
Sekler, 1882.
364
KAGEYAMA, A.A. Crise e estrutura agrária, a agricultura paulista na
década de 30”, tese de mestrado, ESA Luiz de Queiróz, USP, 1979.
KLEIN, Herbert .S. “A integração social e econômica dos imigrantes
espanhóis no Brasil”. In: Estudos Econômicos. S. Paulo, (19), nº 3,
1989.
_______________. A emigração espanhola no Brasil. S.Paulo, Ed.
Sumaré:FAPESP, 1994 (Série Imigração).
______________. Os homens livres de cor na sociedade escravista. In:
Revista Dados, 17, Rio de Janeiro, Instituto Universitário de
Pesquisas, 1978.
KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem: a origem do trabalho livre no
Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1987.
KUJAWSKI, Gilberto de Mello. “Brasil y lo español”. In: Revista Cuenta y
razón. Madrid, 8, 1982, pp. 69-81.
LACAMBRA, Luis Legaz. “Las ideas politico-sociales de Ricardo Macias
Picavea y su visión del problema nacional”. In: Estudios de Historia
Social de España, II. Madrid, CSIC, 1952.
LACERDA, Cândido Franco de. Estudo da meação, parceria, etc..e das
suas vantagens: propaganda para lavradores e colonos. 2ª ed., São
Paulo, Typ. Brasil, 1903.
LAMBERG, Maurício. O Brazil. Rio de Janeiro, Lombaertz, 1896.
LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. São Paulo, INEP, Min Ed.Cultura,
1959.
LAMOUNIER, Maria Lúcia. Formas da transição da escravidão ao trabalho
livre: a lei de locação de serviços de 1879. Dissertação de mestrado
em História. UNICAMP, 1986 ou Da escravidão ao trabalho livre: a
lei de ....., Campinas, Papirus, 1988.
LANGENBUCH, Juergen R. “ Os núcleos de colonização oficial
implantados no Planalto Paulistano em fins do século XIX”. In:
365
Boletim Paulista de Geografia, 46:80-105, 1971.
LAPA, José R. do Amaral. A economia cafeeira. S.Paulo, Brasiliense,
1986.
LAZZARI, B.M. Imigração e Ideologia - Reação do Parlamento Brasileiro à
política de colonização e imigração (1850-1875). Porto Alegre, Esc.
Superior Teologia S.Lourenço Brindes, Caxias do Sul, Univ. de
Caxias do Sul, 1980.
LAZZARO, Agostino. Lembranças camponesas - a tradição oral dos
descendentes de italianos em Venda Nova do Imigrante. ES, UFES,
1992.
LECLERC, Max. Cartas do Brasil. Trad., prefácio e notas de Sergio
Milliet. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1942.
LEFEVRE, Eugênio. A administração do Estado de São Paulo na Rep.
Velha. São Paulo, Ed. Cupolo, 1937.
LE GOFF, J. História e Memória. Campinas, Ed. Unicamp, 1990.
366
LE GOFF, J. e NORA, Pierre. “As mentalidades”. In: História: Novos
Objetos. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1990, pp.68-83.
LEMUS, Encarnación. “ Extremeños hacia América: la emigración en la
edad moderna”. In: VIVES,VEGA,OYAMBURU. Historia General de
la emigración española a Iberoamérica. Vol. 2, Madrid, CEDEAL,
1992, p.292.
LEVY, Maria Stella Ferreira. “ O papel da migração internacional na
evolução da população brasileira”. In: Revista Saúde Pública.
S.Paulo, 8 (supl.): 1974, pp. 49-90.
LIMA, Ruy Cirne. Pequena história territorial do Brasil. Sesmarias e terras
devolutas. S.Paulo, Secr.Estado Cultura, 1991.
LIMA, Sandra Lúcia L. O Oeste Paulista e a República. S.Paulo, Vértice,
1986.
LIRA, A. Tavares de. “Imigração e colonização”. In: Dicionário Histórico,
Geográfico e etnográfico do Brasil. Rio de Janeiro, 1922.
LOBO, T. de Souza. S.Paulo na federação - problemas sociais e questões
raciais - política imigrantista. São Paulo, s.c.p., 1924.
LOPES, Juarez Rubens Brandão. Crise do Brasil arcaico. S.Paulo, Difel,
1967.
LORCA, Federico Garcia. Obras completas. Tomo II, Madrid, Aguillar,
1954.
LOUREIRO, M.R.G . Parceria e capitalismo. S.Paulo, Zahar, 1977.
LOWRIE, Samuel Harman. Imigração e crescimento da população no Est.
de São Paulo. São Paulo, Ed. da Escola Livre de Sociologia e
Política, 1938.
MACHADO, Alcântara. Vida e morte do bandeirante. S.Paulo, 1930.
MACHADO, Antônio. Los complementarios. Madrid, Cátedra Letras
Hispánicas, 1987.
MAIA, Carlos da. Excursão pelo interior paulista, visitando algumas
367
cidades da Araraquara. São Paulo, Impr. Metodista, s.d.p.
MAISTRELLO, Guido. “ Fazendas de café - costumes (São Paulo) 1922”.
In: O café, no Brasil e no estrangeiro. Org. Augusto Ramos. Rio de
Janeiro, Papelaria Santa Helena, 1923.
MALINOWSKI, Bronislaw. Uma teoria científica da cultura. R.Janeiro,
Zahar, 1962.
MALUF, Marina. Ruídos da memória: a presença da mulher fazendeira na
expansão da cafeicultura paulista. São Paulo, FFLCH USP, Tese,
1994.
MANCUSO, Maria Inês Rauter. O fenômeno da permanência no sistema
social rural. Tese de mestrado, ESA Luis de Queiros, 1975, mimeo.
MARGULIS, Mario. “ Estudio de las migraciones en su lugar de origem”. In:
América Latina. Rio de Janeiro, 4:41-72, 1966.
MARQUES, Manuel Eufrásio. Apontamentos históricos, geográficos,
biográficos estatísticos e noticiosos da Província de S.Paulo. S.Paulo,
Comissão do IV Centenário, 1954.
MARTINS, José de Souza. Os camponeses e a política no Brasil.
Petrópolis, Vozes, 1983.
______________________. O cativeiro da terra. S.Paulo,
Livr.Ed.C.Humanas, 1979.
______________________.“ Frente Pioneira: contribuição para uma
caracterização sociológica”. In: Cadernos CERU . S.Paulo, nº 05, 1ª
série, junho/1972, pp. 103-112.
______________________. A imigração e a crise do Brasil agrário. São
Paulo, Pioneira, 1973.
______________________. “A imigração espanhola para o Brasil e a
formação da força de trabalho na economia cafeeira: 1880-1930”. In:
Revista de História. São Paulo, 121,1989, pp.5-26.
______________________. “Del esclavo al asalariado en las haciendas de
368
café, 1880-1914. La génesis del trabajador volante”. In: SANCHEZ-
ALBORNÓZ, N. (comp.) Población y mano de obra en América
Latina. Madrid, Alianza Edit., 1985.
MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente. São Paulo, Ed. Anhembi, 1955.
MARTÍNEZ MARTÍN, J. & CASAUS, M. “Planteamento general del
contexto socioeconomico: España e Iberoamérica”. In: Historia
general de la emigración española a Iberoamérica. Vol.I, Madrid,
CEDEAL, 1992.
MARX, Karl. “ Formas que preceden a la producción capitalista”. In:
Elementos fundamentales para la crítica de la economia política -
1857-58. B. Aires, Siglo Veintiuno, Argentina Ed., 1971, vol.1.
MATOS, Odilon N. de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de S.Paulo
e o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo, Coleção
Monografias, Ed.Arq. do Estado, 1981.
MEIHY, José C.S.B. Manual de História Oral. S.Paulo, Ed. Loyola,1996.
________________. “Definindo História Oral e Memória”. In: Cadernos
CERU. S.Paulo, nº 5, série 2, 1994.
MELLO, Astrogildo. “Imigração e colonização”. In: Rev. de Geografia. São
Paulo, 4:25-49, 1935.
MELLO, Zélia Cardoso de. Metamorfoses da riqueza: São Paulo -
1845/1895. S.Paulo, HUCITEC/Secr. Municipal Cultura, 1985.
MEMÓRIA, HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA. In: Revista Brasileira de
História. S.Paulo, (25/26), ANPUH, 1991/3.
MENDES,J.E.Teixeira. “A pequena propriedade cafeeira”. In: Bol.
Superintendencia do Serviço do Café. São Paulo, 196, 1943.
MENDOZA, Eduardo. A cidade dos prodígios. S.Paulo, Cia. das Letras,
1987.
MENESES, Ulpiano T. B. de. “A história, cativa da memória?”. In: Revista
do Instituto de estudos brasileiros. S.Paulo, 34: 9-24, 1992.
369
MERTZIG, L. R. As dificuldades de adaptação do imigrante no Estado de
São Paulo: repatriação e reemigração, 1889-1920. FFLCH-USP,
1977, mimeo.
MESGRAVIS, Laima. “A elite cafeicultora e a estrutura social paulista”. In:
Revista de História nº LIX. Anais do II Congresso de História de
S.Paulo (Araraquara, 1975).
MEYER, Eugenia & BONFIL, Alicia O. de. La História oral: origem,
metodologia, desenvolvimento y perspectivas. México, Inah, 1971.
370
MIGUEZ, Eduardo José. “La movilidad social de los nativos e inmigrantes
en la frontera bonaerense en el siglo XIX: datos, problemas,
perspectivas”. In: Estudios migratorios latinoamericamos. Ano 8, nº
24. Buenos Aires, CEMLA – Centro de Estudos migratórios
latinoamericanos, agosto/93, p. 142.
MILLIET, Sérgio. “A queda do latifúndio”. In: O observador economico e o
financeiro. XLI, Rio de Janeiro, 1939, pp. 15-24.
______________. Roteiro do café e outros ensaios: contribuição para o
estudo da História economica e social do Brasil. S. Paulo, BIPA Ed.,
1946.
MILLS, Theodore M. Sociologia dos pequenos grupos. S.Paulo, Bibl.
Pioneira de Ciências Humanas, , Trad.Dante M.Leite, 1970.
MIÑAMBRES, Moises Llorden. “Posicionamentos del Estado y de la
opinión pública ante la emigración española ultramarina a lo largo, del
siglo XIX”. In: Rev. Estudios Migratorios latinoamericanos.
Buenos Aires: 7, nº 21, CEMLA, 1992, pp. 275-289.
MOLINA NAVARRO, Manuel González de. “Siete problemas en la
interpretación tradicional sobre el movimiento campesino andaluz”. In:
Historia y fuente oral. Barcelona, Universitat de Barcelona, Nº 08,
1992.
MONBEIG, Pierre . Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. S.Paulo,
Geografia e Realidade, HUCITEC/Pólis, 1998.
________________. “A alta Paulista e a Alta Araraquarense, duas regiões
novas”. In: Boletim Geografia. Rio de Janeiro, C.N.B., nº 40, 1946.
________________. “As estruturas agrárias da faixa pioneira paulista”.
In:Boletim Geográfico. R. Janeiro. Cons. Nac. Geografia, 116: 455-
465, 1950.
________________. “As zonas pioneiras do Estado de São Paulo”. In:
Ensaios de Geografia Humana brasileira. S.Paulo, Livr.Martins, 1940,
371
pp. 21-86.
________________. Novos estudos de geografia humana brasileira.
S.Paulo, Difel, 1957.
MONTEIRO, Norma de Góes. Imigração e colonização em Minas,1889-
1930. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1974.
MONTENEGRO, Antonio Torres. História Oral e Memória: A cultura
popular revisitada. S.Paulo, Contexto, 1992.
____________________________. “Memória e História: desafios da
contemporaneidade”. In: Anais do Encontro de História e Doc.Oral.
Brasilia, UnB/FA/CID, 1994, pp.12-7.
____________________________. “A construção da memória e as reflexões
da física e da psicologia”. In: Cadernos CERU nº 6, série 2, 1995, pp.
137-155.
MORALES SARO, Maria Cruz. “Las fundaciones de los indianos en
Asturias”. In: SÁNCHEZ ALBORNOZ, N. (org). Españoles hacia
America. La emigración en masa, 1880-1930. Madrid, Alianza
América,1988.
___________________________. “La emigración asturiana a América”.
In:VIVES,VEGA,OYAMBURU. Historia General de la emigración
española a Iberoamérica. Vol. 2, Madrid, CEDEAL, 1992.
MOREIRA, Nicolau. Indicações agrícolas para os imigrantes que se
dirigem ao Brasil. Rio de Janeiro, Imperial Instituto Artístico, 1875.
MÖRNER, Magnus. Aventureros y proletarios. Los emigrantes en
Hispanoamérica. Madrid, Ed. Mapfre, 1992.
MOSS, William . Oral history program manual. New York, Praeger
Publishers, 1974.
MOURA, Esmeralda B.B. de. “ O processo de imigração em São Paulo nas
primeiras décadas republicanas: questões em aberto”. Série Cursos e
Eventos CEDHAL - USP. São Paulo (8) , 1996.
372
MOYA, José C. “Aspectos macroestructurales y microsociales de la
emigración española a la Argentina, 1850-1930. In: Galícia y
América: el papel de la emigración. Madrid, Orense, 1990.
MÜLLER, Geraldo. Estado, estrutura agrária e população.
Petrópolis/R.Janeiro, Ed. Vozes/CEBRAP, 1980.
NADAL, Jorge. “Historia de la población española” (apéndice). In:
REINHARD, M. & ARMENGAUD, A. Historia de la población
mundial. Barcelona, Ediciones Ariel, 1961.
____________. “La población española (siglos XVI-XX)”. In: Historia de la
población mundial. Barcelona, Ed. Ariel, 1973.
NANCY, Michel. “De las historias e relatos de vida a las prácticas
antropológicas: indivíduos,minorías y migrantes”. In: Rev. Estudios
migratórios latinoamericanos. Buenos Aires: 8, nº 24, 1993.
NARANJO OROVIO, Consuelo. “Hacer la America: un sueño continuado”.
In: Ciencia, pensamiento y Cultura, 536-537. Madrid, CSIC,
agosto/setembro/1990a.
___________________________. “Análisis cuantitativo”. In: Historia General
de la emigración española a Iberoamérica. Vol. I, Madrid, CEDEAL,
1992, pp. 177-201.
___________________________. “ El proceso inmigratorio gallego en Cuba
en el siglo XX”. In: V Xornadas de Historia de Galícia. Orense,
1990b.
NASCIMENTO, José Leonardo. Trabalho e prestígio social: os espanhóis
em São Paulo (mimeo, 1993).
NEIVA, Artur Hehl. “ O problema imigratório brasileiro. In: Rev. de
imigração e colonização. Rio de Janeiro, 53:468-491, 1944.
________________. “Aspectos geográficos da imigração e colonização do
Brasil”. In: Rev. Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, 2: 249-270,
1947.
373
________________. “A imigração na política brasileira de povoamento”. In:
Revista Brasileira de Municípios. R. Janeiro, ano II, nº 6, abril-junho
1949.
NISBET, Robert. La formación del pensamiento sociológico. Enrique
Molina de Vedia, trad. (título original The Sociological Tradition).
Buenos Aires, Amorrortu, 1977, sobretudo pp. 112.
NOGUEIRA, Arlinda R. A imigração japonesa para a lavoura paulista,
1908-1922. S.Paulo, IEB/USP, 1973.
374
NOGUEIRA, Oracy. Desenvolvimento de S.Paulo: imigração estrangeira e
nacional e índices demográficos, demógrafo-sanitários e
educacionais. S.Paulo, CIBPU, 1964.
_________________. Pesquisa social. Introdução às suas técnicas.
S.Paulo, Ed. Nacional, 1951.
_________________. Família e comunidade. R.Janeiro, Cebrap, 1962.
NORA, Pierre. “ Entre memória e História. A problemática dos lugares”. In:
Les lieux de mémoire. La Republique. Paris, Gallimard, 1984, pp.
XVIII-XLII. Apud: Revista Projeto História. S.Paulo: 10, dezembro
1993.
OLIVEIRA, M.Coleta. Produção de vida: a mulher nas estratégias de
sobrevivência da família trabalhadora na agricultura. Tese
doutoramento, FFLCH-USP, 1981.
________________ e MADEIRA, Felícia. “Población y fuerza de trabajo: el
caso de la cafeicultura en el oeste paulista”. In: SANCHEZ-ALBOR-
NÓZ, N.(comp.) Población y mano de obra en América Latina.
Alianza Edit., 1985.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, etnia e estrutura social.
S.Paulo, Pioneira, 1976.
OLIVEIRA, Xavier de. O problema imigratório na constituição brasileira.
Rio de Janeiro, A. Coelho Branco, 1937.
ORTEGA Y GASSET, José. España invertebrada: bosquejo de algunos
pensamientos históricos. Madrid, Calpe, 2ª ed., 1922.
OTERO, Hernán. “Asociacionismo, trabajo e identidad étnica (a propósito
de un libro reciente)” . In: Rev. Estudios Migratorios latinoamericanos.
Buenos Aires: 8, 1993.
PALAZÓN FERRANDO, Salvador. Los españoles en America Latina,
1850-1990. Madrid, CEDEAL, 1995.
PELAYO, Marcelino Menendez. Textos sobre España. Madrid, Ed. Rialp,
375
1962.
PEREDA, José M. de. Don Gonzalo González de la Gonzalera. Madrid,
Espasa-Calpe S/A, 5ª ed., 1965.
__________________. Pedro Sánchez. Madrid, Espasa-Calpe, 1958.
__________________. El sabor de la tirrueca. B.Aires, Espasa-Calpe, 1951.
__________________. Peñas arriba. Madrid, Espasa-Calpe, 5ª ed., 1969.
PERRELLA, Nicola. Entre as tórbas de São Caetano. S.Paulo,
Ed.Alarico,1961.
PESTANA, Paulo. O café em São Paulo (notas históricas). S.Paulo, Secr.
Agricultura, Typ. Levi, 1927.
PETRONE, Pasquale. “ O homem paulista”. In: Boletim Paulista de
Geografia. São Paulo, 23:39-77, 1956.
PETRONE, Maria Theresa S. “A imigração assalariada”. In: HGCB tomo
II - O Brasil monárquico,3º vol.,org. por Sérgio B.Holanda. São Paulo,
Difel, 1960.
________________________. “Imigração”. In: H.G.C.B - O Brasil
Republicano, 2º vol., Tomo III, org. Sérgio Buarque Holanda. S.
Paulo, Difel, 1978, p. 95.
_______________________. “ O imigrante e a pequena propriedade,
1824-1930”. In: Tudo é História. S.Paulo (38), Brasiliense, 1982.
________________________. A lavoura canavieira em São Paulo, expansão
e declínio (1765-1851) .S.Paulo, Difel, 1968.
PINOTTI, José Luis. “Valencianos en iberoamerica. Identidad y
integración”. In: VIVES,VEGA,OYAMBURU. Historia General de la
emigración española a Iberoamérica. Vol. 2, Madrid, CEDEAL, 1992,
pp.443-453.
PINTO, Adolfo A. História da Viação Pública de São Paulo. São Paulo, 2ª
edição, Governo do Estado, 1977.
PINTO, Júlio Pimentel. “ Os muitos tempos da História”. In: Revista Projeto
376
História. S.Paulo: 17, Col. Paulística vol. II, novembro 1998, pp. 203-
212.
PINTO, Maria Ines Machado Borges. Cotidiano e sobrevivência: a vida do
trabalhador pobre na cidade de S.Paulo (1890-1914). S.Paulo,
Edusp, 1994.
POLLAK, M. “Memória, esquecimento, silêncio”. In: Estudos Históricos.
vol. 2, nº 3, Rio de Janeiro, Vértice, 1989.
__________. “Memória e Identidade” In: Estudos Históricos. R.Janeiro, (5-
10): 200-212, 1992.
PONS, Marcial. España Contemporanea, 1808-1986 – aproximación
bibliográfica. Madrid, M.P.Librero, 1985.
____________. América. Una reseña bibliográfica. Madrid, M.P.Librero,
1992.
PRADO JR.,Caio. História economica do Brasil. S.Paulo, Brasiliense, 4ª
ed.,1956.
_____________ . “Problemas de povoamento e a divisão da propriedade
rural”. In: Evolução política do Brasil. 6ª ed., S.Paulo, Brasiliense,
1969.
______________. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo, Silveira
Martins Ed., 1956.
______________. “Distribuição da propriedade fundiária rural no Estado
de São Paulo”. In: Geografia. São Paulo, 3 (1), 1935.
______________. A questão agrária. S. Paulo, Brasiliense, 1979.
______________. A revolução brasileira. S.Paulo, 1966.
QUEIRÓZ, Mª Isaura P. de. O mandonismo local na vida política brasileira
e outros ensaios. S.Paulo, Alfa-Ômega, 1976.
_______________________. “Relatos Orais: do “indizível” ao “dizível”. In:
Enciclopédia aberta de Ciências Sociais. Experimentos com histórias
de vida (Itália-Brasil). 1988.
377
_______________________. “ Os estudos de comunidade no Brasil”.
Primeira reunião brasileira de Antropologia. Rio de Janeiro, 8 a
14.11.1953. In: Memórias do I Painél nipo-brasileiro. São Paulo,
Escola de Sociologia e Política, 1956.
_______________________. “História de vida e depoimentos pessoais” e
“Introdução a dois estudos sobre a técnica das histórias de vida”. In:
Sociologia, 15 (l) março 1953, pp. 8-24.
RAFFARD, Henrique. “Alguns dias na paulicéia”. In: Rev. trimensal do I.
Histórico Geográfico Brasileiro. R.Janeiro, tomo IV, parte II, 1892.
RAMIREZ, Bruno. “Migraciones, etnicidad e Historia Mundial: perspectivas
desde la America del Norte”. In: Estudios migratorios latino-
americanos. B.Aires, CEMLA, ano 8, nº 25, 1993, pp. 399-413.
RAMOS, Artur. Introdução à antropologia brasileira. Rio de Janeiro, Casa
do Estudante do Brasil, 1947.
_____________. O café. Rio de Janeiro, s.c.p., 1923.
RAMOS, Augusto. O café no Brasil e no estrangeiro. Rio de Janeiro,
Papelaria Santa Helena, 1923.
______________ . “ Questões agrícolas”. In: Revista Agrícola . S.Paulo,
1902.
RANGEL, Welman G. de França. “Algumas contribuições espanhólas ao
folclore paulista”. In: RAMSP, vol. CXLIV, ano XVIII, nov-dez 1951,
pp. 395-446.
REINHARD, M. & ARMENGAUD, A. Historia de la población mundial.
Barcelona, Ediciones Ariel, 1961.
REIS, P. Pereira dos. “ Algumas considerações sobre a imigração no
Brasil”. In: Revista Sociologia. São Paulo, 23 (1): 72-89, 1961.
RENAULT, Delso. A vida brasileira no final do século XIX ( visão sócio-
cultural e política de 1890 a 1901). Rio de Janeiro, José Olympio,
1987.
378
RICARDO, Cassiano. Poesias completas. Rio de Janeiro, José Olympio
Ed., 1957.
RIZZO, Paulo Licia. Pedro Maneta. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional,
1942.
REVOREDO, Julio de. Immigração. S.Paulo, Emp.Gráphica
Rev.Tribunais, 1934.
ROCHA, Frances. “ Conflito social e dominação: um estudo sobre as leis
de regulação das relações de trabalho na empresa agrícola - 1897 a
1930”. Dissertação de mestrado, PUC/SP, 1982.
RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil. 3ª ed.
S.Paulo, Cia.Ed.Nacional, 1978.
________________________. Teoria da História do Brasil (introd.
metodológica). 2ª ed. S.Paulo, Cia. Edit. Nacional, 1957.
ROMERO, S. “A immigração e o futuro do povo brasileiro” In: Ensaios de
Sociologia e Litteratura. Rio de Janeiro, Garnier, 1901.
ROY, Teresa M.Malatian. “História Oral”. In: Estudos Históricos. Marília,
15:123-130, 1976.
SACKS, Oliver. “ O marinheiro perdido”. In: O homem que confundiu sua
mulher com um chapéu. S.Paulo, Cia. das Letras, 1997.
SAEZ, Flávio Azevedo Marques de. As ferrovias de São Paulo -
1870/1940. S.Paulo, Hucitec/INL/MEC, 1981.
SAHAGÚN, C. Siete poetas españoles. Madrid, Taurus, 3ª ed., 1966.
SALGADO, P. O estrangeiro. Rio de Janeiro, 8ª ed., J.Olympio, 1972.
SALLUM, Jr. B. Capitalismo e cafeicultura (Oeste Paulista, 1888-1930).
São Paulo, Duas Cidades, 1982.
SANCHEZ ALONSO, Blanca. “La emigración española, 1882-1930”. In:
Revista de Historia Economica: 7 nº 1. Madrid, Centro de Estudios
Constitucionales, 1990, pp. 133-170.
________________________. “La emigración española a la Argentina”. In:
379
Españoles hacia América. La emigración en masa, 1880-1930.
Madrid, Alianza Editorial, 1988.
SANCHEZ-ALBORNÓZ,Nicolás. “Las etapas de la migración española a
America Latina”.In: Ciência, pensamiento y cultura. Madrid, nº
536/7,1990, pp.15-24.
___________________________. España hace un siglo. Madrid, Alianza
Editorial, 1977.
___________________________. Población y mano de obra en América
Latina. Madrid, Alianza Ed., 1985.
___________________________ (org). “Medio siglo de emigración masiva
de España hacia América”. In: Españoles hacia América – La
emigración en masa, 1880-1930. Madrid, Alianza Edit., 1988.
SANTOS, Corcino Medeiros dos. “ O trabalho nas frentes pioneiras”. In:
Anais do VI Simpósio Nacional dos Prof. Universitários de História.
S.Paulo,1973.
SANTOS, Ricardo Evaristo dos. “La evolución cuantitativa del proceso
migratorio español a Iberoamérica (1890-1950), con especial
referencia a Brasil”. In: Revista de Economia y Sociologia del Trabajo.
Madrid: 19-20, 1993.
SAPIENZA,Vitor. Café amargo: resistência e luta dos italianos na
formação de S.Paulo. S.Paulo, Meta, 1991.
SARTRE, Jean-Paul. As palavras. 6ª ed., Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1990.
SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da alteridade. S.Paulo,
Edusp, 1998.
SCANTIMBURGO, João de. Os paulistas: evolução social, politica e
economica do povo paulista. S.Paulo, Governo do Estado, 1983.
SCARANO, Júlia Maria e CASTRO, Jeanne. “A mão de obra escrava e
estrangeira numa região de economia cafeeira”. In: Anais do VI
380
Simpósio Nacional dos Professores univ. de História. S.Paulo, 1973.
SCHAFF, Adam. História e verdade. Lisboa, Ed. Estampa, 1974.
SCHATTAN, Salomão. “Aprimoramento das estatísticas agrícolas no
Brasil”. In: Agricultura em São Paulo. São Paulo, 18 (9/10), 64-84,
1971.
SCHMIDT, Carlos Borges. O meio rural: investigações e estudos de suas
condições economicas. São Paulo, Diret. Publ. Agrícola, 1946.
______________________. A vida rural no Brasil. São Paulo, Diretoria
publ.agrícola, 1951.
SEGALA, Amos. “Memória textual e identidade cultural”. In: Revista do
Instituto Estudos Brasileiros. S.Paulo, nº 31, 1990, pp. 5-14.
SIEWERT, Wulf. El Atlântico. Geopolítica de un oceano. Barcelona,
Editorial Labor, Sección VII – Geografia nº 407, 1942.
SILVA, A.M. da. “ Família e trabalho na cafeicultura”. In: Cadernos de
Pesquisa, 37, S.Paulo, 1981.
SILVA, J.F.Graziano da. Estrutura agrária e produção de subsistência na
agricultura brasileira. S.Paulo, Hucitec, 1978.
SILVA, Lígia Osório. Terras devolutas e latifúndio. Efeitos da Lei de 1850.
Campinas, Ed. da Unicamp, 1996.
SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da industrialização. São
Paulo, Alfa-Ômega, 1975.
____________. “Agricultura e capitalismo no Brasil”. In: Contexto nº 1,
1976, pp.31.
381
SINGER, Paul. “ O Brasil no contexto do capitalismo internacional - 1889-
1930”. In: HGCB. Org. Bóris Fausto. S.Paulo, Difel, 1989, tomo III, 1º
vol., pp. 345-390. -
SPINDEL, Cheywa R. Homens e máquinas na transição de uma economia
cafeeira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
SIMONSEN, Roberto. “Aspectos da História Economica do Café”. In:
Revista do Arquivo Municipal. S. Paulo, 6 (65): 149-229, 1940.
SOBOUL, Albert. “Descrição e medida em História Social”. In: GODINHO,
V.M.(org.). A História social, problemas, fontes e métodos. Lisboa,
Cosmos, 1973, pp. 25-44.
SODRÉ, Nelson Werneck. Ofício de escrito - dialética da literatura. Rio de
Janeiro, Civil. Brasileira, 1965.
SOLDEVILLA, Consuelo. “ Cantabria: cién años de emigración a América,
1860-1960”. In: VIVES, P., VEGA, P. & OYAMBURU, J. Historia
General de la emigración española a Iberoamérica. Vol.II, Madrid,
CEDEAL, 1992, pp.147-172.
SOUZA, A. Estudos demográficos: a população de S.Paulo no último
decênio, 1907-1916. S.Paulo, Tip. Piratininga, 1917.
SOUZA, T.Oscar Marcondes. O Estado de São Paulo físico, político,
econômico e administrativo. São Paulo, Estabelecimento Gráfico
Universal, 1915.
STOLCKE, Verena. Cafeicultura: homens, mulheres e capital (1850/1980).
S.Paulo, Brasiliense, 1986.
______________ et alli. Colcha de retalhos - estudos sobre a família no
Brasil.. São Paulo, Brasiliense, 1982.
STOLCKE, V. e HALL, M. “A introdução do trabalho livre nas fazendas de
café de São Paulo”. In: Revista de História, 6, trad. Célia M.de
Azevedo, S.Paulo, Marco Zero, 1984, pp.80-120.
STONE, Lawrence. O ressurgimento da narrativa. Reflexões sobre uma
382
velha História. Mimeo, s/d.
SYLOS, Honório de. “A lavoura e o imigrante”. In: Revista do Inst. do Café
do Estado de São Paulo. São Paulo, 95, 1934, pp. 1525-1529.
________________. “ Meio século de imigração e o predominio dos latinos”.
In: Rev. Inst. café do Est. São Paulo. S.Paulo (109), 1935.
TABANERA, Nuria. “Aportaciones castellano-manchegas a la emigración
española a Iberoamérica”. In: VIVES, VEGA & OYAMBURU. Historia
general de la emigración española a Iberoamérica. Madrid,
CEDEAL, 1992, pp. 173-204.
TAUNAY, Affonso de. História do café no Brasil: no Brasil República. Rio
de Janeiro, Dep. Nacional Café, 1941.
___________________. Pequena história do café no Brasil. S.Paulo,
Instituto Brasileiro do Café, s/d.
TELES, A. de Queiróz. “Lavoura e Imigração”. In: Rev.da Sociedade
Rural Brasileira. (102): 331-334, 1928.
THOMPSON, Alistair. “Recompondo a memória: questões sobre a relação
entre a História Oral e as memórias”. In: Revista Projeto História.
S.Paulo:15,abril 1997.
THOMPSON, Paul. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma
crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.
________________. A voz do passado.: História Oral. R. de Janeiro, Paz e
Terra, 1992.
________________. “Tiempo, disciplina del trabajo y capitalismo industrial”.
In: Tradición y consciencia de clase. Barcelona, Ed. Critica, 1979, pp.
257-8.
TÖNNIES, F. Community and society. Charles Loomis, trad. e comp. New
York, Harper Torchbook, 1963.
TOPIK, Steven. A presença do Estado na economia política do Brasil, de
1889 a 1930. Rio de Janeiro, Record, 1987.
383
TORRES, João Batista de V. Movimentos migratórios das populações
rurais brasileiras. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1957.
TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração
italiana no Brasil. São Paulo, Nobel/Inst. Italiano di Cultura,1989.
TRIGO, Maria Helena Bueno. “Ser e parecer: estudos sobre as práticas de
reprodução social do grupo cafeicultor paulista”. Tese de mestrado.
FFLCH/USP, 1989, mimeo.
TRUZZI, Oswaldo. De mascates a doutores: sírios e libaneses em
S.Paulo. S.Paulo, Ed.Sumaré, 1991.
TUÑON DE LARA, Manuel (org.). Historia de España. Tomo VII.
Barcelona, Ed. Labor, 1983.
VALERA, Juan. Juanita La Larga. Madrid, Clasicos Castalia, 1992.
VANGELISTA, Chiara. Braços da Lavoura: Imigrantes e “caipiras”na
formação do mercado de trabalho paulista(1850-1930). S.Paulo,
HUCITEC, 1991.
VASCONCELOS, Henrique D. “Alguns aspectos da imigração no Brasil”.
In: Boletim da Dir. de terras, colonização e imigração. São Paulo,
1:13, 1937.
_________________________. “ O problema da imigração”. In: Boletim da
Diretoria de Terras, Col. e Imigração. São Paulo, Ano l, nº 01, 1937.
_________________________. “Imigração para a lavoura”. In: Boletim Deptº
Imigr. e Colonização. São Paulo, 5, 1950.
VÁZQUEZ, A. & ESTRADA, B. “ Causas de la emigración y tipología de los
emigrantes”. In: Historia General de la emigración española a
Iberoamérica. Vol. I, Madrid, CEDEAL, 1992.
VERGUEIRO, J. Memorial acerca de colonização e cultivo de café.
Campinas, 1874.
VEYNE, Paul. Como se escreve a História. Lisboa, Edições 70, 1983.
VIEIRA, Francisca Isabel. O japonês na frente de expansão paulista: o
384
processo de absorção dos japoneses em Marília. S.Paulo, Pioneira,
Edusp, 1973.
VILAR, Juan Bautista. “Las emigraciones murcianas a Iberoamérica”. In:
VIVES, VEJA & OYAMBURU. Historia general de la emigración
española a Iberoamérica. Vol. II, Madrid, CEDEAL, pp. 371-408.
VILAR, Pierre. Historia de España. Lisboa, Livros Horizonte, 1992.
VINHAS, M. Problemas agrário-camponeses do Brasil. S.Paulo,
Civ.Bras., 1972.
VIVES, J. Vicens (org.) Historia de España y America. Vol. V: Los siglos
XIX e XX. América Independiente. Barcelona, Ed. V.Vives, 2ª ed.,
1971.
VIVES, Pedro A. , VEGA, Pepa y OYAMBURU, Jesus (coord.) Historia
general de la emigración española a iberoamérica. Madrid, Min.
Trabajo y Seguridad Social. Dirección General de Migraciones.
Quinto Centenário, CEDEAL, 1992, VOL. I e II.
WAIBEL, Léo. “As zonas pioneiras do Brasil”. In: Rev.Bras. de Geografia.
Rio de Janeiro, 4:389, 1955.
___________. “Principios de colonização européia no sul do Brasil”. In:
Rev. Bras. de Geografia. Rio de Janeiro, 9 (2), 1950.
WILLEMS, Emílio. Assimilação e populações marginais no Brasil.
S.Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1949.
_______________. Vila brasileira - tradição e transição. S.Paulo, Difel,
1961.
WITTER, José Sebastião. “Imigração maciça e as estatísticas”. In:
Inmigración y estadísticas en el Cono Sur de América . Montevideo,
1990.
_________________ e PETRONE, M.Thereza. “ Estudo bibliográfico do
impacto do processo imigratório maciço no cone sul (Brasil 1830-
1930)”. In: Bibliografia sobre el impacto del proceso inmigratorio
385
masivo en el Cono Sur de América. Mexico. Inst. Panamericano de
Geografia e História, 1984.
386