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1.13. Técnicas Reestruturação Cognitiva

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MANUAL PRÁTICO

Terapia Cognitivo-
Comportamental
TÉCNICAS: REESTRUTURAÇÃO
COGNITIVA
Edivana Almeida

Reestruturação cognitiva
A maioria das pessoas experimenta padrões de pensamento negativos de vez em
quando, mas às vezes esses padrões se tornam tão arraigados que interferem nos
relacionamentos, nas realizações e até no bem-estar. A reestruturação cognitiva é
um grupo de técnicas terapêuticas que ajudam as pessoas a perceber e mudar seus
padrões de pensamento negativo. Quando os padrões de pensamento se tornam
destrutivos e autodestrutivos, é uma boa ideia explorar maneiras de interrompê
-los e redirecioná-los. Isso é o que a reestruturação cognitiva pode fazer.

Como funciona a reestruturação cognitiva?


A reestruturação cognitiva está no cerne da TCC, uma abordagem de psicoterapia
bem estruturada que pode ser eficaz no tratamento de muitas condições de saúde
mental, incluindo depressão e transtornos de ansiedade. Na TCC, o paciente e o
terapeuta trabalham juntos para identificar padrões de pensamento defeituosos
que estão contribuindo para um problema e praticar técnicas para ajudar a reestru-
turar os padrões de pensamento negativos.

Para o paciente pode ser difícil reconhecer imprecisões em seus próprios padrões
de pensamento. Por esse motivo, a maioria dos terapeutas recomendam inúmeras
técnicas para iniciar a reestruturação cognitiva. Como o nome sugere, as técnicas
de reestruturação cognitiva desconstroem pensamentos distorcidos/negativos e
os reconstroem de maneira mais equilibrada, adaptativa e precisa.

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No caso das crianças e adolescentes, muitas vezes elas experimentam distorções
cognitivas – padrões de pensamento que criam uma visão distorcida ou patológica
da realidade. As distorções cognitivas geralmente levam à sintomas depressivos,
de ansiedade, problemas de relacionamento e comportamentos autodestrutivos.

A reestruturação cognitiva oferece uma oportunidade de notar que os pensamen-


tos das crianças e dos adolescentes não são adaptativos à medida que ocorrem. A
criança pode então praticar a reconstrução desses pensamentos de maneiras mais
precisas e úteis. A hipótese é que se o paciente puder mudar a forma como percebe
e enfrenta certos eventos ou circunstâncias, poderá mudar os sentimentos que tem
e as ações que realiza. Então, como exatamente uma criança/adolescente pode re-
estruturar um pensamento distorcido/negativo?

Técnicas de reestruturação cognitiva

Bolas antiestresse: Embora o terapeuta possa comprar bolas antiestresse de for-


ma bem barata, fazer as suas próprias com o paciente pode ser interessante, é di-
vertido de fazer e serve como um excelente quebra-gelo no início da terapia. Dar às
crianças e aos adolescentes algo em que se concentrar vai ajudá-las a se sentirem
mais confortáveis e vão sair com uma ótima ferramenta que podem usar para aju-
dar a mudar os pensamentos distorcidos, acalmar a mente e o corpo quando os
sentimentos de ansiedade ameaçam tomar conta de si. Para fazer sua própria bola
antiestresse, tudo o que você precisa são bexigas, um funil e sua escolha de recheio
– farinha de arroz ou de trigo funcionam bem.

Figura 1. Bolas antiestresse

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/200058408435849771/

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Termômetro de sentimentos
Uma vez que a TCC visa ensinar crianças e adolescentes em como seus pensamen-
tos e sentimentos influenciam seus comportamentos, a criação de um termômetro
de sentimentos está no topo da lista de ideias a serem consideradas se o terapeuta
estiver procurando por atividades de TCC para crianças e adolescentes. Essa ativi-
dade permite que o terapeuta trabalhe com a criança para garantir que ela com-
preenda os sentimentos básicos e, em seguida, ajude-a a perceber que podemos
sentir cada emoção em intensidades diferentes. Um termômetro de sentimentos
é um ótimo recurso que o terapeuta pode criar com a criança a fim de ajudá-la a se
tornar mais consciente de suas emoções, entender como seus pensamentos, senti-
mentos e ações estão conectados, e ajudá-la a aprender como se autorregular. Os
termômetros ou escalas de sentimentos são uma ferramenta essencial para o tra-
balho terapêutico com crianças e adolescentes. Eles são ferramentas reutilizáveis
baseadas em pesquisas que ajudam os pacientes a colocar uma situação em pers-
pectiva, construir autoconsciência, desenvolver um plano de autogestão e conectar
pensamentos, sentimentos e ações.

Figura 2. Termômetro de sentimentos

Fonte: https://www.pinterest.pt/pin/774619204641003700e

Potinhos da calma
A técnica dos potinhos da calma também tem sido muito eficaz na TCC para crian-
ças e adolescentes. Eles são fáceis de fazer e podem ser extremamente calmantes,
pois ajudam a diminuir a ansiedade e o medo, ao mesmo tempo que ajudam no
controle da raiva. O ato de sacudir e observar o conteúdo de um potinho de calma
leva o paciente a se concentrar, o que, por sua vez, permite que as crianças organi-
zem seus pensamentos e relaxem. A ideia é que, à medida que os itens dentro do

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potinho caem, o mesmo ocorre com a frequência cardíaca e a respiração acelerada
da criança, permitindo que ela ganhe controle sobre suas emoções.

Figura 3. Potinhos da calma

Para fazer seu próprio potinho de calma, misture cola-glitter com água quente,
adicione algumas gotas de corante alimentício e bata vigorosamente até que a cola
“derreta” e se misture bem com a água. Em seguida, adicione glitter adicional, bata
vigorosamente mais uma vez, transfira a mistura para um frasco transparente e
encha a garrafa com água para que fique completamente cheia. Deixe a água es-
friar até a temperatura ambiente antes de prender a tampa com cola, é importante
garantir que esteja devidamente vedada e não vaze.

A autoinstrução
O treinamento de autoinstrução é uma abordagem cognitivo-comportamental
para o autocontrole em que crianças e adolescentes são ensinados a usar a fala
para modificar seu próprio comportamento. O treinamento de autoinstrução é
uma estratégia de tratamento baseada em evidências, cuja ênfase é colocada em
ensinar ao indivíduo uma variedade de autoafirmações que podem ser usadas pela
criança/adolescente para controlar seu comportamento ou realizar certas tarefas.

O treinamento de autoinstrução trabalha também o autocontrole para melhorar


o comportamento em seus diversos ambitos (familiar, social, escolar), abordando
questões práticas de como, quando e com quem usar essa estratégia.

Ler juntos
Existem muitos livros fabulosos, adequados à idade, que podem ser usados como
um acompanhamento das propostas de intervenção e tarefas ensinadas durante o

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processo terapêutico. O livro, revista, texto, site, entre outros, deve ser escolhido em
um trabalho colaborativo com o paciente.

Conclusão
Essas são apenas algumas sugestões de técnicas reestruturação cognitiva com
crianças e adolescentes, mas a TCC dispõe de inúmeras técnicas que devem ser se-
lecionadas pelo terapeuta e adaptadas dependendo das demandas dos pacientes.
A base dessas técnicas é identificar primeiro as distorções cognitivas que desen-
cadeiam respostas mal adaptativas da criança. Enquanto a maioria das crianças e
adolescentes evita distorções cognitivas facilmente, crianças e adolescentes com
problemas de ansiedade, depressão, ou outros transtornos psicológicos, se ape-
gam aos pensamentos negativos, resultando em um comportamento indesejado.

A criança terá então que contestar os pensamentos racionalmente para determinar


se a resposta é apropriada. Por exemplo, ele pode se perguntar "Meus pensamen-
tos são baseados em fatos ou sentimentos?" ou “Estou percebendo esta situação
corretamente?”.

A última etapa da terapia é substituir cada pensamento disfuncional/negativo por um


pensamento, comportamento ou resposta adaptativa. A reestruturação cognitiva pode
ajudar as crianças e adolescentes a encontrar novas maneiras de perceber as situações
que acontecem com elas. Parte da prática envolve chegar a explicações alternativas que
sejam racionais e positivas para substituir as distorções que foram adotadas.

EXEMPLO PRÁTICO[1]

JS é um menino que completou 7 anos de idade durante seu contato com a equipe de
tratamento. A mãe de JS levou a criança a uma clínica-escola da universidade para obter
assistência com seus sintomas de desatenção, hiperatividade, oposição e ansiedade. JS
residia com sua mãe e seu irmão mais novo na época do tratamento. O pai dele vivia fora
do estado e não tinha contato direto com os filhos em razão da alegada perpetração de
violência doméstica contra a mãe e episódios de abuso físico contra JS.

[1] Para acessar ao caso completo: Lowell A, Renk K. Cognitive-behavioral treatment of PTSD with a young boy
and his mother following the experience of chronic domestic violence. Article in Clinical Case Studies. June 2018,
DOI: 10.1177/1534650118771220

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Os sintomas de JS supostamente começaram após essas experiências e foram se tornando
progressivamente mais danosos. Na época do tratamento, o menino estava matriculado
no primeiro ano do ensino fundamental e demonstrava dificuldades com problemas
emocionais e comportamentais, relações familiares, interações sociais e desempenho
escolar. Sua mãe relatou que a gravidez de JS não foi planejada, mas bem-vinda e sem
complicações. A criança nasceu de uma cesariana após uma gravidez a termo. O paciente
atingiu seus marcos de desenvolvimento dentro dos limites esperados para sua idade. Ao
longo de sua infância, o menino testemunhou muitos episódios de violência doméstica
entre a mãe e o pai.

JS participou de uma avaliação, que consistia em observações comportamentais, medidas


de relatos da mãe e professores, entrevista diagnóstica e medidas de comportamento
adaptativo, inteligência e desempenho. E sua mãe participou de um protocolo de cuidados
aos pais. JS foi encaminhado para o tratamento individual assim como sua mãe para tratar
sintomas de Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT).

JS participou de 1 sessões, nas quais foram trabalhadas diversas técnicas, dentre estas de
reestruturação cognitiva. Por exemplo, o objetivo da quinta sessão era começar a reestru-
turação cognitiva em relação aos lembretes indiretos de JS de seu trauma. Na sessão, a
mãe observou que ele teve uma semana inteira de comportamento “verde” (ou seja, bom)
na escola. Na sexta sessão, o objetivo foi conduzir exposições e reestruturação cognitiva
com o paciente a respeito de lembretes diretos de seu trauma. Apesar de alguma evitação,

JS desenhou o item listado na parte inferior de sua hierarquia. Um layout de história em


quadrinhos foi usado, e o menino foi convidado a descrever o conteúdo, pensamentos e
intensidade das emoções que ele estava experimentando durante o trauma retratado. Em
seguida, a reestruturação cognitiva foi usada.

O objetivo da sétima sessão era continuar a exposição e reestruturação cognitiva para


o trauma de JS. O paciente trabalhou suas lembranças menos assustadoras do trauma
novamente em forma de história em quadrinhos. Ele observou que incorporou as habili-
dades de enfrentamento aprendidas na terapia ao recontar sua narrativa para controlar
suas emoções negativas.

Independentemente de suas lembranças, o paciente se beneficiou da reestruturação


cognitiva, do diálogo interno positivo e do planejamento de segurança no contexto de
seu trauma.

Esse estudo de caso demonstrou como os tratamentos baseados em evidências para


crianças podem ser implementados com sucesso quando aplicados no mesmo período
que sua mãe, considerando que embora a mãe fosse afetada diretamente pela violência
do ex-marido, o filho foi atingido por testemunhar e também por ser vítima.

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Sistematizando: Técnicas – reestruturação cognitiva

Potinhos da calma: diminuir


a ansiedade e o medo, ao
Técnicas: Reestruturação Autoinstrução: modificar o
mesmo tempo que ajudam
cognitiva próprio comportamento.
no controle da raiva.

Termômetro de
sentimentos: pode garantir Ler juntos:
Como funciona a
que a criança compreenda acompanhamento das
reestruturação cognitiva?
os sentimentos e propostas de intervenção.
emoções básicos.

Se o paciente puder mudar Bolas antiestresse:


a forma como percebe e ajuda a mudar os A reestruturação cognitiva
enfrenta certos eventos pensamentos distorcidos auxiliar o pacinete...
ou circunstâncias... acalmando as emoções.

... A encontrar novas


... Poderá mudar os maneiras de perceber
Técnicas de reestruturação
sentimentos que tem e as situações que
cognitiva
as ações que realiza. acontecem com elas.

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REFERÊNCIAS

1. Cole M, Cole SR. Desenvolvimento da criança e do adolescente. 4. ed. Porto


Alegre (RS): Artmed; 2004.
2. Lima A, Cardoso AMP. Orientação e treinamento de pais: uma vivência
clínica. Doxa: Revista Brasileira de Psicologia e Educação, 2018;20(1):6-19.
3. Stallard P. Guia do terapeuta para os bons pensamentos – bons sentimentos:
utilizando a Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças e
adolescentes. Porto Alegre (RS): Artmed; 2007.

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