Anexos
Anexos
Anexos
Anexos
2. Trajetória familiar
3. Religião
4. Experiência escolar
5. Trabalho
6. Discriminação racial
7. Sociabilidade
8. Relacionamentos
9. Conjugalidade/parentalidade
Idade/Age:
Sexo/Sex:
Escolaridade/school background:
Religião/Religion:
Onde mora atualmente (há quanto tempo; circulação)/ Where lives nowadays (for
how long, you use to go to what places)
Nome/Name:
Idade/Age:
Sexo/Sex:
Escolaridade/scholl background:
Cor atribuída ao entrevistado/ the color you attribute to the interviewed person:
Sexo atribuído ao entrevistado/the sex you attribute to the interviewed person: (?)
Local/Place:
Data/Date:
May you tell us who do you currently live with? What kind of relation do you have
with those people? Do you know how much is the income of the housing nucleus?
Who is your family? (parents, brothers and sisters, relatives, fellows, partners,
affairs...)
Which is the social and geographic origin of your familiar nucleus? (State/city,
migrations, professional activity, education, socioeconomic mobility)
Are your parents still alive? Which is their professional activity? (formal/informal
job, pensioner)
Who is employed and unemployed in your familiar nucleus? For how long?
7) Agora vamos falar sobre a sua relação com sua família. Como é a sua relação
com o seu pai?
Now we will talk about your relation with your family. How is your relationship
with your father?
8) Como era a relação é a sua relação com a sua mãe?
10) Você poderia nos falar como é a sua relação com irmãos e irmãs (incluindo
agregados e/ou filhos de novos casamentos entre os pais)?
Could you tell us how is the relationship with your brothers and sisters? (including
half brothers and sisters)
11) Havia algum parente com o qual mantinha uma relação afetiva mais próxima?
Essa relação se mantém até hoje? Como é?
Have you had some relative with who you kept a nearest affective relation? Does
this relation go on until today? How is it?
13) Como foi a educação que recebeu dos pais? Havia diferenças na educação dada
por eles a meninos e meninas? Quais? O que você acha disso?
How was the education you received from your parents? Was the education of boys
and girls different? On what? What do you think about this?
RELIGIÃO - Religion
14) Em que religião você foi criado? A religião era algo importante na sua vivência
familiar?
On which religion did you grow up? Was religion something important in your
familiar experience?
16) Com que regularidade você tem freqüentado serviços ou atividades religiosas?
(sem contar casamentos, batizados , etc)
18) Fale-me sobre a sua trajetória escolar (ano de ingresso, repetição, interrupção,
conflito, freqüentou escolas públicas e/ou privadas, atividades extracurriculares)
19) Está estudando atualmente? (o que, onde, escola pública ou privada, está
defasado, quem arca com os custos)
Are you currently studying? (what, where, public or private school, is unbalanced,
who pays the costs)
20) Qual a importância da sua experiência escolar na sua vida social, familiar,
afetivo-sexual, etc?
Which is the importance of your school experience for your life project?
TRABALHO - Work
Do you currently work or have already worked? (Since what age, uninterruptedly,
how many people depend on your income today, Who are they)
24) Está empregado formalmente? (Onde? Há quanto tempo está nesse emprego?
Este emprego é na sua área de formação profissional? A renda obtida é suficiente para
subsistência ou conta com outras fontes de renda complementares? Quais?)
Are you formally employed? Where? For how long are you in this job? Is this
job in your professional area? Is the income enough for subsistence or you count on
other sources? Which ones?
25) Está satisfeito com o emprego atual? Por quê? O que deveria ser diferente?
Are you satisfied with your current job? Why? What should be different?
26) Em caso de desemprego, há quanto tempo está desempregado? O que tem feito
para garantir a subsistência?
In unemployment case, for how long have you been unemployed? What have you
been doing to guarantee the subsistence?
27) Em que você emprega a sua renda? Em que medida ela é suficiente para
satisfazer seus desejos de consumo e quais são eles?
What for do you use your income? Is it enough to satisfy your desires of
consumption? Which ones are they?
How much of your income do you use for leisure? Is that enough?
What is race for you? (When you hear this word, what ideas come to you mind:
ancestry, biology, color, phenotype, behavior, nation, etc)
30) Em termos de raça/cor, como você se define? Esse é um dado importante para
sua autodefinição?
In race/color terms, how do you define yourself? Is this an important data for your
self definition?
31) Como é a constituição racial da sua família? Como sua família lidava e/ou lida
com a questão da raça e da cor? (explorar relações inter-raciais na família e
conseqüências).
How is the racial constitution of your family? How do and did your family deal with
the matter of race and color? (Explore inter-racial relations in the family and their
consequences).
32) Há situações em que a sua raça/cor tem sido um dado positivo ou negativo nas
relações que as outras pessoas estabelecem com você? (escola, trabalho, família, relações
afetivo-sexuais).
Are there situations in which your race/color has been a positive or negative data in
the relations other people establish with you? (affective-sexual relations, school, work,
family).
35) Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as
mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas? E no esporte (quais)? E
nas artes (quais)? Por quê?
Do you think white, mestizo/colored, black, oriental/yellow and indigenous people
have the same abilities/qualities on academic activities? And on sportive ones (which
ones)? And on arts (which ones)? Why?
36) Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm
tendências diferentes a desenvolver certos tipos de doenças? Quais? Por quê?
37) Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as
mesmas chances no mercado de trabalho? Por quê?
40) Você já sofreu algum tipo de discriminação racial? Descreva sua experiência,
reações e encaminhamentos.
Have you ever suffered any type of racial discrimination? Describe your experience
and reactions.
41) Você acha que deveria haver políticas específicas para as chamadas minorias?
Do you believe that there should be specific politics for the so called minorities?
45) Qual desses países você acha que é melhor para se viver?
46) Qual é o melhor lugar para se viver? Qual é o pior? Por quê?
What is the best place to live in? What is the worse? Why?
47) Que lugares você freqüenta para se divertir, "paquerar", "azarar", etc?
Who usually go to those places with you? (Family members, friends, etc…)
49) Em relação aos seus amigos você tem alguma preferência relativa à: classe (a
mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a
mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans) cor
(mais escuro, igual, mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado,...), religião,
característica de personalidade. Por quê?
Relating to your friends, do you have any preference concerning with: social class
(same, poorer, richer), age (older, younger, same age), scholarship (higher, lower or same
level), sexual orientation (gay, lesbian, straight, bisexual, other), color of skin (black,
white, any other), body shape (thin, fat, muscular), personality. Why?
50) Como você definiria o seu estilo? Você se identifica com algum grupo, turma ou
“tribo” urbana? Qual? E com qual você menos se identifica? (explorar indumentária, gosto
musical, etc.).
How do you define your personal style? Do you identify yourself with some
group, or "urban tribe"? Which one? And with which one do you less identify
51) Para você, como são as pessoas que freqüentam o lugar onde convidei-o/a para
participar da pesquisa? (categorias de orientação sexual, gênero, classe; cor/raça, estilo)
How would you describe people that frequent that place? (In terms of sexual
orientation, gender, social class, color/race, style)
How is your approach style to contact people? (for flirting, making friends)?
54) Você já sofreu alguma violência nesse lugar (assalto, tiro, agressão, tortura)?
Have you ever suffered any kind of violence in this place (robbery, shots,
aggressions, torture)?
How was your reaction? Who did you appeal for help?
Have you ever provoked any sort of conflict? Who did you appeal to help you?
57) Você costuma acessar a Internet? Onde? (tem computador particular?) Com que
freqüência? Com que finalidade? Já conheceu pessoalmente algum (a) parceiro (a) ou
amigo (a) virtual?
Do you access Internet? Where? (Do you have a private PC?) How often? What
for? Have you ever date a virtual partner or met a virtual friend?
58) Você tem páginas pessoais na Internet, como blog ou fotolog? O que o motivou
a isso? Você pode fornecer o endereço?
Do you have a personal web page, like a blog or fotolog? What have motivated you
to do this? Can you tell me the web address?
59) Você esteve ou está envolvido com algum grupo, organização, ou movimento
social? Há quanto tempo? Qual? O que o motivou?
Have you ever been or are you nowadays involved with any social group,
organization or militancy? Which one? What motivated you to do this?
RELACIONAMENTOS - Relationships
60) Em relação aos seus parceiros/as você tem alguma preferência relativa à: classe
(a mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a
mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans),
atributo de gênero (mais masculino, mais feminino, como você), cor (mais escuro, igual,
mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado, peludo, alto/baixo...), religião,
característica de personalidade. Por quê?
Concerning with you partners, do you have any preference related to: social class
(same, poorer, richer), age (same, younger, older), school experience (someone who
studied more or less than you did), sexual orientation (straight, gay, lesbian, bisexual,
transgender), gender attribute (more feminine, more masculine, just like you), skin color
(darker, equal, clearer), body shape (thinner, fatter, muscular, hairy, tall/short...),
personality characteristics. Why?
61) Com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria? Por quê?
62) Que tipos de relacionamentos você normalmente busca? (apenas sexual, ficar,
namoro, casamento, relacionamentos monogâmicos ou poligâmicos, etc.). Por que prefere
os que mencionou?
What kind of relationships do you usually search? (sexual only, one night standing,
marriage, monogamous or polygamous, etc.). Why do you prefer those ones you
mentioned?
63) Você já foi paquerado (a) por pessoas do mesmo sexo? (explorar diferenças de
cor e classe). Como reagiu?
Have you ever been flirted by someone of your same sex? (explore differences
among race and color). How did you react?
64) Você já namorou ou teve algum tipo de relação afetiva com uma pessoa de
cor/raça diferente da sua? E classe? Orientação sexual? Escolaridade? Como foi?
Have you ever had a boy/girlfriend or any kind of affective relationship with
someone with another color/race than yours? And with different social class? Sexual
orientation? Education? How was it?
65) Como você descreveria uma pessoa atraente? Você acha que você é uma pessoa
atraente? Por quê?
How would you describe an attractive person for you? Do you think of yourself as
an attractive person? Why?
66) O que você espera em relação a um (a) parceiro (a)? (atributos físicos, morais,
éticos, sociais, etc.)
What do you expect from a partner? (physical, moral, ethical, social attributes,
etc.)
67) O que significa ficar para você? (abraçar, beijar, roçar, por a mão, a boca e
transar)
What does dating someone mean to you? (to hug, to kiss, to touch with hands, lips,
having sex)
68) Onde habitualmente você conhece as pessoas com quem fica, transa, namora?
Where do you usually meet people you date or have affair or sex with?
69) O que você faz para chamar a atenção de uma pessoa que você está interessada
em ficar/namorar/transar? Quem deve travar o primeiro contato? Por quê?
What do you do to get attention from a person you are interested in dating or having
affair or sex with? Who should take the first step to make contact? Why?
70) Você considera que há parceiros (as) para ficar e outros (as) para namorar? O que faz
com que alguém seja considerado por você uma ou outra coisa?
Do you think that there are kind of partners just for one night standing and others to
establish stable relationships? Which personal attributes makes you consider someone to
be one or another kind of partner?
71) O que você pensa sobre namoro entre pessoas de cor/raça diferentes. E
casamento?
72) O que você pensa sobre namoro entre pessoas do mesmo sexo. E casamento?
What do you think about same sex love affairs? And marriage?
73) Você transa no primeiro encontro? Você usa preservativo? Se usa, o que fazer se
o parceiro (a) não quiser usar camisinha? Se não usa, o que faz quando parceiro pede para
usar?
Do you have sex in first dates? Do you use condoms in these cases? If you do, what
would you do if your partner refuses to use a condom? If you don't use condom, what do
you do when your partner ask you to use it?
CONJUGALIDADE/PARENTALIDADE - Conjugality/Parenthood
74) Tem algum tipo de relação estável? Se não, qual o tipo de relação afetivo-sexual
que mantém atualmente? [caso não tenha relação atual, referir-se à última dos últimos 12
meses] Onde vocês se conheceram? Descreva algumas das características da pessoa (cor,
classe, sexo, escolaridade) e fale um pouco sobre esta relação (duração; fatos marcantes,
etc.).
Do you have any kind of stable relationship? If you don't, what kind of affective-
sexual relationship are you currently living? [In case you don't have a current relationship,
you can mention the last one in the last the 12 months]. Where did you and your partner
meet each other? Describe some of his/her characteristics (race/color, social class, sex,
education) and tell me a little about this relationship (for how long did you stay together;
memorable facts, etc)
How were you last stable relationships like (nice, traumatizing, long-lasting, ended
up quickly, compromised/very serious...)? How were your partners?
77) Você usava preservativos nesses relacionamentos? Com que freqüência (sempre,
nunca, às vezes)? Por quê (receio: DSTs/Aids, gravidez)?
Did you used to use condoms in these relationships? How often (always, never,
sometimes)? Why (afraid about STD/AIDS, pregnancy)?
78) Na sua atual relação, você usa preservativo? Com que freqüência (sempre,
nunca, às vezes)? Quem definiu a necessidade do uso (ou não uso)? Por que você acha que
deve ser assim?
In your current relationship, do you use condoms? How often (always, never,
sometimes)? Which one of you established it was necessary to use it (or don't use it)? Why
do you think it should be like that?
79) Em caso de relação estável e moradia conjunta: Como é a relação com seu
parceiro (a) atual em casa? Como as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos (caso
tenham) são vividos entre vocês?
In case partners have stable relationship and live together: How is the relationship
with your current partner at home? How do you share domestic tasks and children care (in
case they have children)?
80) Em caso de relação estável sem moradia conjunta: Como é a relação com seu
parceiro (a) atual? Como sua família se relaciona com ele/ela? Como seus amigos se
relacionam com ele/ela?
In case of steady relation without living together: How is the relationship with your
current partner? How is your family relationship with him/her? How is your friends
relationship with him/her?
81) Você tem filhos? Com que idade você foi pai/mãe? Como eles foram recebidos
pelo seu núcleo familiar de origem?
Do you have any children? How old were you when you became a mother/father?
How were the children received by your family?
82) Os seus filhos foram planejados? Já houve uma gravidez não desejada? Você
teve/assumiu o filho? Como se sentiu?
Was the pregnancy planned? Did you have already a non-desired pregnancy? Did
you assume this maternity/paternity? How did you fell about that?
84) Como ser pai ou mãe se encaixa na sua vida? Que mudanças isso ocasionou?
(explorar o stress social - abandono ou não dos estudos, dificuldade maior ou não de
encontrar trabalho, etc).
How does being a father or mother fit in your life? What changes had it caused?
(explore social stress - school desertion, difficulties to find a job, etc.).
85) Como você se relaciona com seus filhos? Tem diferenças entre filho e filha?
How are the relationships with your children? Is there any difference in your treat
with a son and a daughter?
88) Você acha importante um filho na vida de um homem? E de uma mulher? Tem
diferença em relação a homens e mulheres nesse assunto?
Do you think having a baby is import for a man's life? And for a woman's life? Is
this subject different between men and women?
89) Se você não pudesse ter filhos adotaria um? Por quê?
90) Qual a memória da sua infância em relação a suas vivências afetivas e sexuais?
Você tem lembranças significativas relacionadas à vivência da sua sexualidade?
How do you remind your childhood, related to your affective and sexual
experiences? Do you have any meaningful remembrance related to the experience of your
sexuality?
91) De que forma as informações sobre sexo chegaram e chegam até você? Que
pessoas (familiares, amigos) e/ou instituições (escola, igreja, meios de comunicação)
transmitiram e/ou transmitem tais informações? Quais os mais freqüentes e confiáveis para
você? Foram ou são suficientes para esclarecer suas dúvidas?
How did information on sex came to you? How do they come nowadays? Who
(familiar, friends) and/or which institution (school, church, medias) had transmitted and/or
currently transmit such information? Which ones are the most frequent and trustworthy for
you? Have they been or are they enough to clarify your doubts?
How have your relatives dealed and do deal nowadays with to your sexual life?
93) Fale-me sobre sua iniciação sexual: idade, parceiro (explorar se era amigo,
parente, vizinho, etc, idade, sexo, parceiro experiente ou não), práticas (carícias,
masturbação, relações completas), relação voluntária ou abuso, prazer, receios, uso e
motivos de uso de métodos contraceptivos/ DSTs/Aids (de quem foi a iniciativa?).
Tell me about your sexual initiation: age, partner (explore if it was a friend,
relative, neighbor, etc, age, sex, partner with or without experience), sexual practices
(masturbation, caresses, complete intercourse), voluntary relation or sexual abuse,
pleasures, fears, use of contraceptive methods STD/Aids and reasons to use them (Who
took the initiative to use them?).
94) Você acha que escolheu a pessoa e a hora certa? Por quê?
Se a iniciação for homossexual, como lidou com isso? Quais as conseqüências dessa
iniciação na sua vida sexual e afetiva?
Do you think you chose the right person and moment? Why?
If the first sexual expierence was homosexual, how did you deal with it? Which were
the consequences of this initiation in your sexual and affective life?
95) Você já teve ou tem relações sexuais com o intuito de obter algum tipo de
vantagem (financeira, familiar, escolar, profissional)? Em caso afirmativo, como lida ou
lidou com isso?
Have you already had or do you have any sexual relations intending to get some
kind of advantage (financial, familiar, pertaining to school, professional)? In affirmative
case, how did you or do you deal with that?
96) Você já foi constrangido (física ou psicologicamente) a ter relações sexuais com
alguém? Como isso ocorreu e quem o constrangeu? Como lidou com isso (denunciou ou
silenciou-se, quais as conseqüências para vida sexual atual, etc)?
have sexual relations with someone? How did this happen and who
did it? How did you deal with that (denounced or not, which are the consequences
for current sexual life, etc)?
98) Você acha importante ter envolvimento afetivo/amoroso com as pessoas com
quem você transa? Por quê?
Do you think it is important to have affective involvement with the person you have
sex with? Why?
99) O que significa relação sexual para você? (explorar as práticas que são vistas
como definidoras de relação sexual: carícias, beijos, toques, relações orais, penetração, etc.)
What defines a sexual relation for you? (Explore practices that set a sexual relation
and the others that are not seen like that: caresses, kisses, touches, oral relations,
penetration, etc.)
100) Você já teve atração por pessoas do mesmo sexo? Já teve algum tipo de relação
(completa ou apenas carícias) com pessoas do mesmo sexo? Como lidou com isso?
Have you ever felt attracted to a same sex person? Did you ever have any kind of
sexual relation (complete or only caresses) with a same sex person? How did you deal with
that?
101) Você já teve atração por pessoas do sexo oposto? Já teve algum tipo de relação
(completa ou apenas carícias) com pessoas do sexo oposto? Como lidou com isso?
Have you ever felt attracted to an opposite sex person? Did you ever have any kind
of sexual relation (complete or only caresses) with an opposite sex person? How did you
deal with that?
Which sexual practices have you already experienced and which ones you usually
practice with your partners? (anal, oral, vaginal intercourse [including during period?],
anal intercourse; do you use any kind of lubricant? Explore group sex, S&M, fetishes, etc.)
With who do you usually practice these ones, and with who you do not? Which practices
are more desirable for you?
104) Com relação a sua orientação sexual, com qual categoria você mais se
identifica (no caso de homo/bi/trans, explorar se assumiu sua orientação sexual e para
quem).
Concerning to your sexual orientation, which category do you feel more identified
with? (In case of non-heterosexual person, explore if he/she publicly assumes his/her
identity and to whom has already assumed it).
106) Que tipo de prática sexual pode acontecer durante uma relação que você se
sente mal, mas não consegue evitar?
What kind of practices can happen during a sex relation that make you feel bad
about them, but you cannot avoid?
107) Durante uma relação sexual, o que para você é arriscado, mas é gostoso de
fazer?
109) Você se sente satisfeito com sua vida sexual? O que gostaria de mudar e/ou
manter?
Are you satisfied with you sexual life? What would you like to change and/or
maintain?
110) No caso de gravidez não planejada, que atitude(s) você já tomou ou tomaria?
Talking about abortion, are you against or favorable to it, and in which specific
cases?
112) Já fez aborto ou teve alguma experiência de aborto com alguma mulher? Como
foi?
Have you ever done any abortion or experienced any abortion of a partner? How
was it for you?
115) Quais as vantagens de ser homem e ser mulher na nossa sociedade? E quais os
limites que cada um experimenta?
Which are the advantages of being a man and being a woman in our society? And
which limitations are experienced by each one of them?
And if those men and women were gays, lesbians, bisexuals or transgenders? How
these categories result in advantages and disadvantages?
How does your sexual orientation define the ways you establish relationships with
people?
118) O que seu pai e sua mãe lhe ensinaram sobre as diferenças entre homens e
mulheres? Eles têm opiniões concordantes ou discordantes entre si? E sobre as diferentes
orientações sexuais?
What did your parents teach you about the differences between men and women and
on the different sexual orientations? Do they share the same opinions? And what did they
teach you about different sexual orientations?
121) O que você pensa sobre as mudanças nas relações entre homens e mulheres
ocorridas nas últimas décadas, após as conquistas femininas (liberação sexual e acesso ao
mercado de trabalho)?
What do you think about the changes occurred in the last decades, related to
relations between men and women, after the feminine conquests (sexual release and access
to the work market)?
122) Tem algum sentimento que algum homem deve esconder de outro homem?
[Fazer mesma pergunta para mulheres, adequando gênero na questão].
Is there any feeling that a man should hide/don't express to another one? [Ask
women the same, adjusting gender in the question].
Have you ever had problems related to erection (own or partner's one), ejaculation
(own or partner's one), impotence/frigidity, lack of sexual satisfaction in any period of your
life? When? How did you deal with that? Did you look for some help? Whose help? Did
these problems interfere in your relationships?
124) Como você se sente e o que costuma fazer quando está sem interesse sexual
por um período longo? E quando, numa relação estável, o seu parceiro sem interesse sexual
por um período longo?
How do you feel and what do you do when you have a lack of sexual interest for a
long period? And when, in a stable relationship, your partner have a lack of sexual interest
for a long period?
125) Como você cuida da sua saúde? (explorar o histórico de doenças, exames,idas
periódicas a consultas médicas, alimentação, exercícios, etc)
What kind of healthcare do you usually take? (Ask for a personal historical track of
diseases, physical exams, regular visits to doctor, feeding, physical exercises, etc).
Tell me about your own experiences on public and private health services? How
were you attended in both?
127) Você já teve alguma doença transmitida por via sexual? (gonorréia, sífilis,
cancromole, hepatite B e C, herpes genital,verrugas genitais e corrimentos) Quando e
através de quem? Você já procurou o serviço de saúde para tratamento? De que tipo? Se
não, por quê? Você manteve relações sexuais nesse período?
Did you ever had any sexual transmitted disease? (Gonorrhea, syphilis, hepatitis B
and C, genital herpes, genital pimples [HPV], etc). When did you catch it and who
transmitted it to you? Have you ever looked for treatment in public health services? What
kind of treatment? If you didn't, tell me why? Did you have any sexual intercourse while
you were treating the disease?
128) Em caso de relação estável, seu (sua) parceiro (a) já teve alguma DST?
Procurou tratamento? Vocês tiveram relação nesse período?
In case of stable partnership, have your partner ever had any STD? Did he/she look
for treatment? Did you have sexual intercourses in that period?
Do you know someone who is HIV positive? (Ask for the kind of co-living with
this/these person/people).
131) Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Como? Por quê? Que tipo de
pessoa ou grupo está mais vulnerável para pegá-lo?
Do you think HIV can infect you? How? Why? What kind of people or group is
more vulnerable to be infected?
132) O que sabe dos remédios que atualmente são usados no tratamento das pessoas
com o vírus da Aids? (explorar percepção sobre o resultado do tratamento - se cura, se
melhora, etc., seus efeitos colaterais, preconceito, etc.) Essas informações mudaram seu
comportamento sexual?
What do you know about medicines available nowadays for HIV/Aids treatment?
(Ask for perceptions on treatment results - if thinks they cure, relief, etc, which side effects
produce, prejudices, etc). Have these information changed your sexual behavior?
133) Já fez teste anti-HIV? Quando? Onde? Quantas vezes? Por quê?
Have you ever been tested for HIV? When? Where? How many times? Why? Could
you comment the testing results?
134) Caso seja portador: Segue tratamento regular? Quem sabe sobre a sua
sorologia? Qual a reação das pessoas? Isso dificulta seus relacionamentos afetivo-sexuais?
Como?
If seropositive: Are you currently in treatment? Who knows you are seropositive?
Which kind of reaction do people have when you tell them you are seropositive? Does your
serologic status interfere in your affective-sexual relationships? How does it interfere?
135) Você usa preservativos com pessoas do mesmo sexo? E do sexo oposto? Se
Sim, Sempre? Nunca usa? Ou usa ás vezes? Para quem não usa todas as vezes, ou seja
sempre, perguntar em que circunstâncias e como define quando e com quem irá usar?
Do you use condom in sexual relations with same sex people? And with opposite sex
people? If you do, do you always use it? Never use it? Use it sometimes? For those who
don't always use it, ask in what circumstances the person use it and how the person defines
when and with who will use it?
136) Você usa preservativo em quais práticas sexuais? No caso do sexo oral, você
usa preservativo para fazer? E para receber?
In which sexual practices do you use condom? In case of oral sex, do you use
condom when you do it? And when someone does it in you?
Where do you get your condoms? Do you feel uncomfortable when you ask for/buy
condoms? Where do you feel more and less uncomfortable?
138) Você tem um preservativo com você nesse momento? Para quem é mais fácil
portar um preservativo: homem ou mulher? Por quê?
Do you have a condom with you right now? For who is it easier to carry a condom:
a man or a woman? Why?
Did you ever experience condom rupture while having sexual intercourse? How did
you react? Which procedures did you take (cleaning, tests, etc.)?
140) Você sabe quais os cuidados que se deve ter para não romper, rasgar, estourar a
camisinha?
Have you ever used a female condom? (Ask only for women)
Did you or your partner ever take emergency contraceptive methods? How did you
get it?
DROGAS - Drugs
144) Você fuma cigarro? Já fumou outra coisa? (Como, onde, em que contexto?)
Você já experimentou lança perfume?
Do you smoke cigarettes? Did you ever smoke something else? (How, when, etc.?)
Did you ever use poppers?
145) Você já usou alguma droga do tipo maconha, êxtase, ect. Em que situações?
Have you done any drugs like marijuana, ecstasy, etc? In which kind of
opportunities you did it?
146) Quais as drogas mais usadas nos lugares que você freqüenta? Você usa alguma
delas?
Which are the most usual drugs used in those places you go? Do you do any of
them?
147) Sexo e drogas combinam? (como, quando, com quem e por quê?)
Do sex and drugs match? (how, when, with who and why?)
148) Você fica mais solto quando está sob o efeito de álcool, e/ou drogas?
149) Como é o seu final de balada? (Se fuma maconha ou se toma algum remédio)
How is your chill out? (Ask if the person smokes marijuana or takes any medicine)
Have you ever forgotten using condom when under drugs effects?
154) Você usa/usou Viagra ou algum outro estimulante sexual (poppers)? Você
usaria algum medicamento dessa espécie ou gostaria que o seu parceiro usasse? Quando e
por que?
Do you use or did you ever use Viagra or another sexual stimulant substance
(poppers)? Would you ever use this kind of substance/medicine, or would like your partner
use it?
155) Qual é a sua relação com drogas?(se usa, com que freqüência, se já
interrompeu o uso e voltou a usar ou se largou definitivamente).
How do you deal with drugs? (Ask if uses, how often, if already stopped using and
started over or quitted definitely).
Have you ever used intravenous drugs? If yes, have you ever shared syringes and/or
needles while using intravenous drugs?
157) Já teve parceiros sexuais que usaram drogas injetáveis? E nas relações sexuais
com esse/essa parceiro/a você usou preservativo?
Did you ever have any partner who was an intravenous drugs user? Did you use
condoms when having sex with him/her?
Do you believe your plans can come true? How? What shall you do to make them
become real?
160) Onde você imagina que vai estar daqui a 10 anos? O que imagina que estará
fazendo? Sua vida estará melhor do que hoje? Por quê?
Where do you imagine you're going to be in 10 tears? What do you imagine you'll
be doing? Will your life be better than now? Why?
Relato A
C: Existe.
C: Existe.
C: Existe.
Ainda no item da discriminação, quando se pergunta qual dos países entre Brasil,
Estados Unidos e África do Sul é o melhor para se viver, pareceu um pouco sem sentido
para a entrevistada, na medida em que me diz que é difícil falar do que não se conhece.
Entrevistadora: Qual desses países você acha que é melhor para se viver?
C: Nossa que foda!!!(risos) acho que é a complexidade, não sei. Eu costumo olhar
para uma coisa e não questionar muito meu poder de questionar essas coisas.
Por fim, C parece possuir uma visão do gênero humano sem separações entre os
“sexos”, mas também parece, por outro lado, apropriar-se ao longo de toda a entrevista de
um discurso politicamente correto.
C: Pessoa firme com olhar penetrante e firme. Assim integro. Integridade. Daí
varia se é extrovertido ou tímido. Pode ser qualquer coisa com tanto que tenha
integridade. Esse olhar, essa vontade de olhar as coisas.
Relato B
- Bom, agora a gente vai mudar um pouquinho de assunto. O que você considera
como raça? Se você tivesse que definir, quais idéias surgem na sua cabeça?
Olha, raça eu acho que eu defino mais como cultura, eu acho que raça hoje em dia
é mau definida, as pessoas definem raça por cor, por cabelo – se o cabelo é crespo, se é
liso, se a pessoa é branca, ou preta, se ela é lésbica... Eu acho que tá mau definido, acho
que raça é definida por cultura, em geral. E as pessoas se chocam quando a pessoa é
diferente demais delas, assim, eu definiria raça por cultura. Por exemplo, uma pessoa que
mora no Japão, eu vou me assustar um pouco com ela não por ela ser amarela e ter o olho
puxado, mas porque ela tem costumes totalmente diferentes dos costumes que eu tenho. Eu
posso me adaptar, não sei, posso entender o hábito dele, se ele gosta de andar descalço na
casa dele, eu não vou discriminar ou entrar de sapato na casa dele porque na minha terra
a gente num tem esse hábito. Acho que a gente pode se adaptar a certas coisas, a outras
não, acho que as pessoas tem que entender. Eu não defino raça por cor, acho que nesse
ponto não faz a menor diferença, ser preto, branco, amarelo, não faz a menor diferença, se
o cabelo é bom, ruim, enrolado, liso, pra mim não tem diferença.
- E pra você, pra maneira que você define quem você é, qual a importância da sua
raça?
Putz, essa eu vou ter que pensar. A importância da minha raça, acho que eu nunca
pensei nisso.
- Mas você acha que é uma coisa importante pra sua autodefinição?
Não, não muito, não acho que não seja muito. Acho que na minha definição o que
conta não é raça, eu brinco muito que eu tenho um pezinho na senzala, porque eu sou
branca de cor, tenho o cabelo crespo, a bunda grande, o lábio carnudo, então tenho os
dois pés na senzala. Minha mãe é negra de pele, meu pai é que é, eu sou parda, sabe
aquela pessoa que não vai nem fica? Daí eles colocaram esse nome, é pardo. Não conta
muito isso pra mim, nunca pensei no que a raça influencia. Minha mãe me disse uma coisa
um dia desses, que ela fica muito feliz pelas filhas dela, minha mãe também é branca de
pele, e ela fica muito feliz por ter tido filhas brancas. Aí eu perguntei pra ela “mas por que
mãe?”, e ela disse que o negro hoje em dia ainda sofre muito preconceito, só que hoje em
dia tá uma coisa mais abafada né, tão sendo mais sutis, mas sofre preconceito do mesmo
jeito. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade, acho que por eu nunca ter
sofrido esse tipo de preconceito com relação a minha cor eu nunca tinha atentado pra esse
lado da coisa, mas a minha mãe falou que, por exemplo, minha mãe com a minha irmã na
rua, perguntaram se ela era babá da minha irmã, não passava pela cabeça que a minha
mãe era mãe de uma menininha branca, do cabelo liso, cacheado. O cabelo da minha irmã
é liso, cacheado, puxadinho pro loiro. Então acharam que ela fosse babá da minha irmã, já
olharam meio torto minha mãe entrando no ônibus, isso minha mãe contando assim...
Comigo não era tão diferente porque eu tenho cabelo crespo, então não é uma coisa tão,
né, mas a minha irmã não, além de ela ser branca de pele ela tem o cabelo liso, então as
pessoas ficam meio, já olharam meio torto, meio como quem diz assim “tá seqüestrando a
criança? O que uma mulher dessa cor tá fazendo com uma menininha tão branquinha,
bonitinha, né?”. Raça é... eu acho que tá por fora, acho que é besteira essa coisa de
pessoas... Eu não posso dizer que eu não sou uma pessoa preconceituosa, eu já me peguei
com preconceito, a gente acaba não encarando como preconceito, mas se você parar pra
pensar, você tem preconceito com uma pessoa feia, então você já olha pra ela meio assim,
isso é preconceito, todo mundo tem preconceito. Acho que as pessoas tão preocupadas em
dividir muito as coisas, assim, eu acho isso bobagem, acho que a gente perde muita coisa,
acho que a gente devia mais é se interessar em aprender, aprender os costumes, aprender a
conviver, aprender... Eu acho que nós seríamos seres humanos melhores. Mas é um
pensamento muito idealista, uma coisa meio sonhadora, isso nunca aconteceu, não vai
acontecer hoje, acho que não mudaria mais, infelizmente.
- Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as
mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas?
Acho que sim, eu acho que a cor da pele não vai influenciar em nada no QI da
pessoa.
- E no esporte?
Também, também, eu acho que é a mesma coisa. Eu acho que pode haver até uma
certa diferença porque alguns são mais fortes que os outros, pela descendência, pela forma
de criação... Por exemplo, o negro é uma pessoa um pouco mais, mais resistente, o índio
eu creio que sim também. O branco já é uma pessoa mais frágil. Não que todos sejam, não
é uma coisa assim, não é todo negro que tem porte atlético e não é todo branco que é
magrelo, mirradinho, mas eu acho que influencia pelas gerações, pelos antepassados,
pelas formas de vida também.
Eu não prefiro, eu só não sei como agir com homossexuais por não ter muitos
amigos homossexuais, não por ter alguma coisa contra, mas eu não sei como agir, eu não
sei o que falar, não sei se vou ofender em algum ponto, porque é uma classe tão
discriminada que eu fico com medo de falar uma coisa assim que, mesmo que eu esteja
falando sem maldade nenhuma a pessoa me interprete mal e fique chateada comigo. Então
eu fico um pouco sem ação assim, eu vou bem devagarzinho com eles, com as pessoas que
eu conheço que são homossexuais.
Olha, amigo, amigo assim, no sentido verdadeiro da palavra, eu não tenho muitos,
mas são mulheres. Mas eu me dou melhor com os homens, eu sei agir melhor com eles,
mulher é uma coisa muito complexa, muito complicada, e mulher é uma coisa assim, eu
acho que a gente tem inveja uma da outra, por mais que a gente gosta a gente acaba
invejando. Eu tive uma amiga, a Talita, que foi minha amiga nos tempos de escola,
inseparável, a gente se conheceu aos nove anos e se separou quando eu mudei de escola,
dos 14 pra 15, e foi assim, a gente viver esse período, dos nove aos 14, 15, grudadas, todas
as experiências que a gente passou, 1º beijo, é, 1ª decepção amorosa, essas coisas que
adolescente passa, então a gente tinha dia da gente se pegar porque eu tava bonita demais
e ela não gostava e vice versa, a gente não falava, mas sabia, tinha dia que o cabelo dela
tava bonito demais e eu já me sentia ofendida com a beleza dela, assim... Então é mais
fácil lidar com homem, eles são mais despreocupados e não ligam pra esse tipo de cosia, é
só você impor um certo limite e pronto, é muito mais fácil.
Hoje em dia eu prefiro que eles sejam heterossexuais, mas já tive a minha fase meio
confusa.
- O que você pensa sobre namoro ou casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Ah, isso é uma coisa que eu não tenho profundo conhecimento. Eu não ligo, mas eu
não acho normal. Eu não trataria mal uma pessoa que é homossexual, como eu disse lá no
começo eu fui criada numa família evangélica e no evangelho foi criado Adão e Eva, num
foi criado Adão e Adão, Eva e Eva. Acho que é uma coisa que a gente já quis mudar
demais e daí já ficou uma certa... É uma coisa que eu não compreendo muito, então não
tem como eu falar... Mas acho que quando a pessoa se gosta, se ela for homem, ou se ela
for mulher, eu acho que não tem problema, é ótimo, se tem amor, sentimento, não faz
diferença.
Ai, eu vou babar um ovo... A gente tá junto há um ano, mas na verdade a gente tem
um relacionamento meio complicado, porque e tinha acabado de terminar um
relacionamento com um cara que não tinha caráter nenhum, então eu tava arrasada,
despedaçada, diminuída, eu não sabia se queria homem ou queria mulher, eu tava meio
desiludida da vida, assim, e, era uma fase que eu falei que nunca mais ia me apaixonar por
ninguém. Aí ele apareceu e chegou de um jeito errado, assim, me abordou de um jeito
errado, porque a gente trabalhava junto e eu era, tinha muito poucas mulheres na
empresa, e homem quando quer ser sutil ele é, mas quando não quer é uma loucura, são os
mais grossos possíveis! Então ele vinha com brincadeiras muito vulgares, acho que uma
visão de mim, tinham passado uma visão de mim pra ele que eu era uma mulherzinha
qualquer, vamos dizer assim, e as pessoas nem me conheciam, isso que eu acho engraçado,
mas pensavam “ela é novinha, então o negócio dela é zoar!”. Então ele chegou em mim de
um jeito errado. Ele me contou, eu tava muito frágil, e um dia ele ligou no meu telefone e
perguntou se tava tudo bem...
Após contar sobre sua relação com o seu ex-namorado, a quem se refere como
"traste", a entrevistada ficou nervosa e fizemos uma pausa para tomar alguma coisa. Após a
pausa retomamos com questões sobre uso de preservativo e a conversa continuou no
mesmo rítmo, mas por volta de meia hora depois o rendimento foi caindo (um pouco pela
extensão da conversa e um pouco pelo cansaço em virtude do horário). Ainda assim, mais
questões/respostas me chamaram a atenção na segunda parte.
- E a camisinha você usava, ou quando você usa, você usa por que?
Na verdade a gente devia pensar mais nas doenças, o objetivo maior da camisinha
é esse, mas eu uso mais por conta da gravidez, acho que me assusta mais, engraçado isso
né, é idiota, mas me assusta mais ficar grávida do que pegar uma doença, é uma coisa que
eu penso mais.
- E no seu atual namoro, quem definiu que vocês iam usar o anticoncepcional e não
a camisinha, e por que?
Já, já.
- E como foi a relação ou as relações que você teve com essas pessoas? Você teve
relação sexual...?
Relação sexual eu já tive, foi estranho, eu nunca me apaixonei por uma pessoa do
mesmo sexo, eu me senti atraída já. Sei lá, era uma coisa de carne, pura assim... E um dia
eu tava com a pá meio virada e encontrei essa pessoa e aconteceu, a gente conversando e
falando um monte de besteiras, e rolou... Eu não gostei muito, assim, e não sei dizer
exatamente se foi porque a pessoa era do mesmo sexo ou porque eu não gostava da pessoa,
não, assim, não sentia nenhum afeto por ela. Não foi muito feliz.
Transar sem camisinha, transar sem camisinha é arriscado, mas é gostoso de fazer.
Nossa, que pergunta difícil! Eu acho que mulher, mulher é corpo, mulher é forte, na
sua grande maioria nós somos fortes, assim, a gente aguenta trancos muitos grandes, a
gente é mãe, a gente é pai muitas vezes, a gente é alicerce da família. Eu acho que mulher
é definida como força. Acho que mulher é um ser forte, acho que essa é a definição. A
gente aprende muita coisa pra poder suprir as necessidades dos outros, eu acho que
mulher se doa muito, porque na verdade eu acho que a gente foi criado nessa intenção né,
e por mais que a gente tente mudar isso, não é que a mulher tente crescer... Eu acho que é
burrice isso, eu tava pensando um dia desses, a mulher lutou, lutou, lutou pra chegar no
ponto onde o homem chegou, e pra que? Pra exercer os dois papéis? Porque a gente sim, a
gente faz o que o homem faz, mas não são todos os homens que fazem o que a gente faz,
então a gente tem uma, a gente tem que fazer duas coisas, fazer o papel de mulher, aquela
dona de casa, que cuida do marido, cuida dos filhos, e aquela empresária, que cuida da
empresa... Então a gente acabou se sobrecarregando com essa nossa idéia de igualdade.
Eu acho que o homem é protetor, assim, ele tem com o sua maior obrigação, não sei
se é essa a palavra, proteger. Ele se sente, esse é o papel dele, proteger. Ele tenta pôr a
ordem, na verdade ele "acha" que põe né, ele põe ordem, na verdade ele põe ordem e a
gente administra, ele dita a regra, mas a gente administra, a gente faz acontecer, eu acho
que é assim que funciona, os dois lados se completam. Eu acho que o homem também é
forte, eu acho que não tão forte quanto a mulher, acho que o homem não suportaria
pressões que uma mulher consegue suportar, mas acho que ele suporta certas coisas que
pra gente seria muito complicado.
- Quais as vantagens e os limites de ser homem ou de ser mulher na nossa
sociedade?
Ai, eu sou meio, eu acho que ser homem tem muitas vantagens e eu acho que ser
mulher não tem tantas, ainda hoje. Então eu acho que ser homem tem mais vantagens,
desde as masi bobas até as mais invisíveis, tem essa coisa de a mulher fazer a mesma coisa
que o homem e ganhar menos do que ele, e, homem faz xixi em pé, que é uma enorme
vantagem, é... Também pode ter várias namoradas que ele é o gostoso, e mulher se tem três
já é galinha, né, "ela não presta, essa daí, ó cuidado!". Por mais que as pessoas tentem
mostrar que não, que liberou geral, é mentira, uma mulher nunca vai ser vista como boa
coisa se ela beijar a boca de quem ela bem entender. Eu acho que tem várias coisas,
assim...
- Você costuma ir na rede pública ou rede privada? Quais foram suas experiências?
Nossa, eu já fui nas duas, na pública você se sente meio saco de batata. Eu tive
uma, uma vez eu fui ao médico porque tava com ujma dor de cabeça muito forte, e e fiquei
quase uma hora sentada sentindo que o mundo tava sobre minha cabeça e ninguém me
atendia. Pra ir no ginecologista você marca, você fica dois dias esperando, então você se
sente meia nada, assim. Acho que já na rede privada é outra coisa, a primeira vez que eu
fui eu achei um barato, quando eu fui no ginecologista eles me deram uma camisolinha pra
vestir, eu achei aquilo tão chique, aquele lençolzinho que cobre as tuas pernas e impede
que você veja o que o médico tá vendo, nossa, achei aquilo o máximo, o máximo, assim,
achei um espetáculo. E no médico, no hospital, eles pedirem os exames e você fazer os
exames ali mesmo, ótimo! É bem diferente, bem diferente, é triste, mas...
Acho que qualquer pessoa está sujeita, hoje em dia não existe mais o grupo de risco
que existia antes. O vírus tá por aí, tá dando nas pessoas mais normais, que você num
diria... Até criaram o ditado "quem vê cara não vê AIDS", né?
Relato C
F. é um homem branco e heterossexual. Tem o segundo grau completo, é solteiro e
acredita em Deus, embora não siga nenhuma religião. Mora no bairro do Jaraguá, mas
também circula pelo centro, onde trabalha e em Pirituba. Atualmente está empregado como
suporte técnico do Speedy e faz “bicos” como músico em casas noturnas. Nos conhecemos
numa tarde de sábado em frente a Galeria do Rock e na quarta-feira seguinte nos
encontramos no mesmo lugar no final da tarde para que ele fosse entrevistado.
Embora não siga nenhuma religião, F. teve uma criação católica, acredita em Deus
e nos valores transmitidos pela Igreja. Sua resposta sobre a influência de suas crenças na
decisão de ter ou não relações sexuais e com quem ter as mesmas é ilustrativa. Ele namorou
quatro anos uma moça com a qual teve a sua iniciação sexual no final do relacionamento,
pois ambos gostariam de casar virgens. Hoje ele tem um posicionamento diferente,
mostrando-se menos disposto a não ter relações sexuais.
F.: Agora eu já não penso mais dessa forma. Quer dizer, na verdade eu sei que isso
tá errado, mas eu faço. (ri)
Entrevistadora: (ri) Entendi. Você abriu mão de deixar de fazer mesmo... Mas você
acha que o certo é não ter relação antes do casamento?
F.: Não! Eu tenho certeza que o certo é esse. A gente tenta se enganar, eu acho. O
ser humano tenta se enganar mas isso é certo.
Como a maior parte dos outros entrevistados, F. associa a idéia de raça à de cultura e
conceitua racismo como algo mais amplo do que somente preconceito racial.
F.: Umas pergunta difícil, né?! Eu não sei. Realmente, é de onde a pessoa veio
mesmo. Não sei, pra mim, raça é uma coisa de cultura mesmo e não de cor, eu acho.
F.: Racismo?! Bom, existem racismos dentro do serviço, claro. E até com mulheres
existem racismos. Até com as mulheres existe racismo, a pessoa subiu daí dizem: ‘Ah, não.
Ela fez alguma coisa pra subir.’ Rola muito isso. Com meus amigos também. Dependendo
do que o cara fala ou , de repente, viu um outro cara ali, o pessoal se afasta. E umas coisas
desse tipo.
F. prefere namorar a ficar, mas afirma que atualmente está difícil encontrar alguém,
pois as pessoas em geral são infiéis na sua opinião.
F.: Varia da época, né?! (ri) Bom, na verdade, eu gosto de namorar mas, hoje em
dia, é difícil você encontrar uma pessoa que tenha as mesmas idéias que você e você fique
bem em ficar. Então, ultimamente, eu tô ficando e tendo relações sexuais.
Entrevistadora: Mas por que você acha que tá difícil encontrar alguém pra
namorar? Mesmo você preferindo namorar.
Conforme a sua educação católica, F. tem uma posição contrária ao casamento entre
pessoas do mesmo sexo.
F.: Hum. Bom, como eu te disse, eu acredito em Deus e tive uma pequena instrução
no sentido religioso. Não acho legal. Pelo que eu sei, Deus não aceita isso, então não acho
legal.
Entrevistadora: Ahan. Entendi.
F.: É complicado, né?! Porque casamento começou, eu acho, que à partir da bíblia
então... na bíblia também ta contra casamentos de pessoas do mesmo sexo.
F.: Cara, eu acho que essa é a mais difícil de todas. Como é que se define uma
mulher?! Hoje em dia as coisas tão juntas. Hoje melhorou bastante porque, antigamente, a
mulher queria se comparar, muito, ao homem. O mercado de trabalho já deu uma
igualada. Não totalmente mas são mais ou menos iguais. E... Hoje em dia a meta delas
mudou, né?! Não é mais alcançar o homem. Elas tentaram tanto isso que elas já estão
quase virando homem. Então, eu acho que a meta agora é, realmente, da mulher, hoje em
dia, é ficar mais bonita. Normalmente é isso. Eu acho que elas estão mais ligadas no corpo
e na área de trabalho delas, também. Mas tão mais ligadas no corpo. Agora, homem?!... A
meta no que mesmo?!
F.: Bom, é... Pros homens não mudou tanta coisa. Na verdade, as mulheres hoje
vivem mais com prazer. Antigamente, nem sempre todas as mulheres tinham isso. Hoje elas
têm mais essa opção de... Mas eu acho que hoje, pelo menos, entre os meus amigos, pelo
menos, pelo que a gente fala de tudo. Eu acho, realmente, interessante as mulheres sentir
prazer. É legal pro nosso ego, também. Então eu acho que essas mudanças fizeram bem.
F.: Não, eu acho que não. Não sei. É lógico que... não sei. Impotência?! Eu acho
que, talvez, sim. Teve dias que eu bebi demais e, realmente, foi difícil.
Como afirmado anteriormente, o entrevistado às vezes deixa de usar camisinha. Ele
afirma que a camisinha masculina prejudica a relação sexual e faz testes anti-hiv sempre
que deixa de usar. Segundo ele, a camisinha feminina é preferível por assemelha-se mais a
uma relação sem proteção.
F.: Não, eu tenho certeza que foi por causa da bebida, nesse caso, mas... Porque eu,
realmente, estava deselegante, mesmo.
F.: Deselegante... (ri) Então eu acho que eu sou muito novo, ainda... Mas é bem
provável que eu ainda tenha.
F.: Já.
Entrevistadora: Quando, quantas vezes, por quê que você fez...? Essas coisas...
F.: Então, eu tava namorando há quatro anos e a gente fez de seis em seis meses.
Então a gente fez oito vezes daquela vez. Depois disso que, como tem um ano... mais de um
ano que eu tô solteiro, sei lá, umas... quinze vezes.
Entrevistadora: Jura?!
Entrevistadora: (ri) Sim. E... Bom, sobre preservativo. você nunca teve relação com
alguém do mesmo sexo, né? Tá. Mas com as pessoas do sexo oposto você usa às vezes,
sempre, nunca?
F.: Quando eu tava namorando e quando realmente não dou pra comprar e,
também, não dou pra parar. (ri)
F.: Eu compro.
F.: Não.. É tranqüilo. Eu acho que é mais difícil pra mulher, até.
Entrevistadora: (ri) Tá... Um minuto. você acha que é mais fácil ter preservativo
pra um homem ou pra uma mulher?
Entrevistadora: É?! Por que você acha que é mais fácil pra homens?
F.: A gente compra e é tranqüilo. Normalmente uma mulher tem vergonha de entrar
numa farmácia e pedir preservativo. Apesar de eu achar que o preservativo feminino é
mais interessante.
F.: Já, já usei. Eu acho que, realmente, parece mais com o real. Tem um lance de
temperatura, né...
Entrevistadora: É?!
F.: Agora ecstasy não. Eu tenho certeza. Ecstasy eu sei que ajuda.
Entrevistadora: Por quê? Você chegou a ter uma relação onde você tinha tomado?
F.: É... Em posso dizer que ajuda. Agora...
Entrevistadora: E como foi ter uma relação assim? Você disse que tinha tomado
esctasy e teve uma relação. Como foi, qual a diferença?
F.: Bom, você não sente cansaço. Você não sente cansaço mas, realmente, você não
tem muito prazer também, né?!
O álcool, em sua opinião, pode ser um aliado da relação sexual quando consumido
moderadamente. Por outro lado, como já havia mencionado, em excesso ele dificulta a
mesma.
Entrevistadora: Como que você acha que o álcool afeta o seu desempenho sexual?
F.: Bom ,não sei. Na verdade eu não sei. Já tive vezes que, realmente, afetou muito,
quando você bebe demais. Quando você bebe pouco eu acho interessante, em vários
sentidos. Um dos sentidos é que, realmente, faz você demorar pra gozar. E isso também é
interessante pra mulher. Então quando você bebe pouco é, até, interessante. Agora, quando
você bebe muito... Deixa pra lá.
F.: Ainda não. Mas eu queria utilizar pra ver qual que é. Eu tenho curiosidade
mesmo. (ri) Eu queria saber como é trinta e duas horas...
Entrevistadora: Sério?! (ri) Mas por que você queria experimentar? Por ter um
efeito mais longo?
Com meus pais. Sou filho único. Minha mãe meu pai e eu.
São todos paulistas, mas, eu sou descendente de italiano né? Meus pais
nasceram aqui. Minha mãe tem faculdade de publicidade, mas ela não
trabalha, e meu pai terminou o terceiro colegial, mas é empresário. Minha mãe não quer
trabalhar.
Agora vamos falar sobre a sua relação com sua família. Como era a relação com seu
pai na sua infância? Como é hoje?
Ele foi meio ausente eu não me dou muito bem com o meu pai. E minha mãe é tudo.
Não.
Ah sei lá, minha mãe é muito atenciosa. com ele mas eu não sei se
existe amor entre eles.
Havia algum parente com o qual mantinha uma relação afetiva mais próxima? Essa
relação se mantém até hoje? Como é?
Brancos.
Como foi a educação que recebeu dos pais? Havia diferenças na educação dada por
eles a meninos e meninas? Quais? O que você acha disso?
Eu fazia o que eu queria era muito mimado. Eu acho isso uma bosta.
Sim.
RELIGIÃO - Religion
Em que religião você foi criado? A religião era algo importante na sua vivência
familiar? (explorar se o entrevistado tem outras crenças, por exemplo a crença em
astrologia, em duendes, etc.)
Nem fudendo.
Está estudando atualmente? (o que, onde, escola pública ou privada, está defasado,
quem arca com os custos)
Sim faço Turismo no Senac, meus pais que arcam com os custos.
Qual a importância da sua experiência escolar na sua vida social, familiar, afetivo-
sexual, etc?
Não.
O que é raça para você? (quando ouve o termo, que idéias surgem para você:
ancestralidade, biologia, cor, fenótipo, comportamento, nação, etc)
Como é a constituição racial da sua família? Como sua família lidava e/ou lida com
a questão da raça e da cor? (explorar relações inter-raciais na família e conseqüências).
Em termos de raça/cor, como você se define? Esse é um dado importante para sua
autodefinição?
Há situações em que a sua raça/cor tem sido um dado positivo ou negativo nas
relações que as outras pessoas estabelecem com você? (escola, trabalho, família, relações
afetivo-sexuais). Explorar se o entrevistado vê vantagens ou desvantagens associadas a
cor/raça e orientação sexual .
Lógico que existe. Eu não acho, tenho certeza, um dos países que mais tem.
Nenhuma, não tem conseqüência se a pessoa não denuncia não pega nada.
Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as
mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas? E no esporte (quais)? E
nas artes (quais)? Por quê?
Lógico meu, só depende das oportunidades que ela tem. No esporte os negros
geralmente são mais fortes. Só que também tem aquele
negócio dos orientais e dos amarelos eles tem aquela cultura de artes
marciais, mais depende varia da oportunidade. Se a pessoa tem uma
vontade treinou pra fazer, aí ela vai ser boa naquilo se ela quiser de
verdade.
Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm
tendências diferentes a desenvolver certos tipos de doenças? Quais? Por quê?
Você já sofreu algum tipo de discriminação? (local de moradia, ser jovem, modo de
se vestir, religião, orientação sexual, gênero, cor/raça, classe, origem, abordagem policial.
Descreva sua experiência e reações)
Bem menos do que aqui com certeza porque lá as leis são cumpridas e
executadas. Mas existe.
Em relação aos seus amigos você tem alguma preferência relativa à: classe (a
mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a
mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans) cor
(mais escuro, igual, mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado,...), religião,
característica de personalidade. Por quê?
Não. Jamais.
Não sei.
Como você definiria o seu estilo? Você se identifica com algum grupo, turma ou
“tribo” urbana? Qual? E com qual você menos se identifica? (explorar indumentária, gosto
musical, etc.).
Não defino.
Para você, como são as pessoas que freqüentam a Clato?
Quais os lugares em que você gostaria de ir mas não vai? Por quê?
Não. A balada é segura, eu vou lá a muito tempo. É tudo novo, mas esse é o
único problema por que a Clato é uma balada pequena mas enche. Se
tiver um incêndio lá...
Você costuma acessar a Internet? Onde? (tem computador particular?) Com que
freqüência? Com que finalidade? Já conheceu pessoalmente algum (a) parceiro (a) ou
amigo (a) virtual?
Na minha casa pra ver meus e-mails, ou no meu orkut só, Já conheci uma menina.
Só orkut. eu acho uma bosta porque todo mundo pode saber da sua vida.
Mas também é bom
E MSN? Eu nem uso muito, é meio chato por que as pessoas fazem
perguntas inúteis, tipo como você está? O que você está fazendo? Porra tô
na Internet, caralho!!!
Fui pixador.
RELACIONAMENTOS – Relationships
Em relação aos seus parceiros/as você tem alguma preferência relativa à: classe (a
mesma, mais pobre, mais rico), idade (a mesma, mais velho, mais novo), escolaridade (a
mesma, mais ou menos instruído), orientação sexual (hetero, gay, lésbica, bi, trans),
atributo de gênero (mais masculino, mais feminino, como você), cor (mais escuro, igual,
mais claro); tipo físico (magro, gordo, malhado, peludo, alto/baixo...), religião,
característica de personalidade. Por quê?
Com uma menina muito patricinha que faz chapinha. Tipo você vai pra
cama e ela vai te dizer ai! cuidado com o meu cabelo.
Relacionamento sussa, sem ciúmes. Monogamia, com certeza. Não gosto de traição
e nem de trair.Mas não
gosto de ciúme, eu saio sozinho e ela sai sozinha só que eu não perdôo
a traição.
Você já foi paquerado (a) por pessoas do mesmo sexo? (explorar diferenças de cor e
classe). Como reagiu?
Já pa caralho!!! Se o cara for educado eu vou ser educado, se ele não for vai levar
porrada, você não tem idéia já bati em vários.
Você já namorou ou teve algum tipo de relação afetiva com uma pessoa de cor/raça
diferente da sua? E classe? Como foi?
O que você espera de um (a) parceiro (a)? (atributos físicos, morais, éticos, sociais,
etc.)
Sinceridade, sinceridade, e não muita putaria, que ela não tenha feito muita putaria.
O que significa ficar para você? (abraçar, beijar, roçar, por a mão, a boca e transar)
Ficar uma noite. Depende, catar uma numa balada, mas eu nem acho isso legal.
Onde habitualmente você conhece as pessoas com quem fica, transa, namora?
O que você faz para chamar a atenção de uma pessoa que você está interessada em
ficar/namorar/transar?
Você considera que há parceiros (as) para ficar e outros (as) para namorar? O que
faz com que alguém seja considerado por você uma ou outra coisa?
Ah tem mina que você sabe que não vale nada, depende. O que faz a diferença
depende dela, meu. Da maneira dela ser.
O que você pensa sobre namoro entre pessoas de cor/raça diferentes. E casamento?
O que você pensa sobre namoro entre pessoas do mesmo sexo. E casamento?
Geralmente não por que eu não me relaciono com meninas fáceis. Mas depende às
vezes o amor, tipo, teve uma namorada minha que eu fui apaixonado e transei com ela na
primeira vez. Eu era doente por ela.
Você usa preservativo? Sim, sempre? Não, nunca? Por quê? Se usa, o que fazer se o
parceiro (a) não quiser usar camisinha? Se não usa, o que faz quando parceiro pede para
usar?
Sim eu uso, mas depois quando eu namoro eu acho a pampa fazer o exame, os dois
e daí fica de boa sem usar.
CONJUGALIDADE/PARENTALIDADE - Conjugality/Parenthood
Tem algum tipo de relação estável? Descreva algumas das características da pessoa
(cor, classe, sexo, escolaridade) e fale um pouco sobre esta relação (duração; fatos
marcantes, etc.).
Eu tenho. Ela é muito legal muito gente boa, branca, loira, bonita. Só que ela é
muito ciumenta. Um fato marcante que eu poderia dizer é que a gente fez amor uma vez e
ela gozou onze vezes.
Estável.
Minha macaca.
Lógico, você tem que por um filho no mundo pra dar uma vida igual ao que você
teve ou melhor. Como você imagina uma família ideal?
Deve ser muito legal. Eu quero muito ser pai, mas eu quero ser pai na hora certa..
Eu acho importante um filho na vida do homem, um só não, dois, se não vai ficar igual a
eu. A diferença em relação a mulher é que eu acho que a minha apanha menos do pai.
Como foi para você a descoberta da sua sexualidade neste período da vida?
Meus pais não falavam nada, mas eu brincava de médico com uma menina quando
eu tinha uns nove anos. Mas lembro muito pouco, quase nada.
De que forma as informações sobre sexo chegaram e chegam até você? Que pessoas
(familiares, amigos) e/ou instituições (escola, igreja, meios de comunicação) transmitiram
e/ou transmitem tais informações? Quais os mais freqüentes e confiáveis para você? Foram
ou são suficientes para esclarecer suas dúvidas?
Através dos meus pais, meu pai ficava falando dessas paradas de camisinha, e pela
televisão. E da escola né? Eu tinha um professor que comentava alguma coisa, chegando no
colegial. E foi suficiente.
Fale-me sobre sua iniciação sexual: idade, parceiro (explorar se era amigo, parente,
vizinho, etc, idade, sexo, parceiro experiente ou não), práticas (carícias, masturbação,
relações completas), relação voluntária ou abuso, prazer, receios, uso e motivos de uso de
métodos contraceptivos/ DSTs/Aids (de quem foi a iniciativa?).
Tinha treze anos e foi com uma prostituta. Com a prostituta foi só sexo, nada de
carícias, depois aí eu comecei a conhecer outras pessoas, e me envolver com a pessoa eu
sempre tive uma propensão a me envolver com pessoas mais velhas, ah! Sei lá!Não tem
muito o que falar. Usei camisinha que ante DST.
Você acha que escolheu a pessoa e a hora certa? Por quê?
A primeira vez não eu podia ter procurado uma menina mais decente, mais eu acho
que eu não posso me arrepender do que eu fiz, eu devo me arrepender do que eu não fiz.
Você já teve ou tem relações sexuais com o intuito de obter algum tipo de vantagem
(financeira, familiar, escolar, profissional)? Em caso afirmativo, como lida ou lidou com
isso?
Não.
Não.
Não.
O que é atração sexual para você? Ah é uma vontade de ter aquela pessoa pra você,
nem que seja por um momento.
A atração afetiva você procura um sentimento você não procura só o contato, mas
também o sentimento, algo que você deseja para aquela pessoa. Que você Reflete e você
chega a conclusão que aquela pessoa significa isso para você, já um relacionamento sexual
você só quer ter uma relação e já era, nada mais.
Você acha importante ter envolvimento afetivo/amoroso com as pessoas com quem
você transa? Por quê?
Depende o que você busca para você mesmo. É uma questão de objetivo.
O que significa relação sexual para você? (explorar as práticas que são vistas como
definidoras de relação sexual: carícias, beijos, toques, relações orais, penetração, etc.).
Você já teve atração por pessoas do sexo oposto? Já teve algum tipo de relação
(completa ou apenas carícias) com pessoas do sexo oposto? Como lidou com isso?
Foi com minha ex-namorada e com minha namorada atual, nenhuma outra.Acho
que ela tem que ser sincera, tem que fumar um beck, inteligente, tem que ser humilde, só.
Naquele momento eu me sinti muito satisfeito e agora me sinto.
Que práticas sexuais você faz/fez (anal, oral, vaginal [inclusive durante a
menstruação?]; usa algum tipo de lubrificante/preservativo? Explorar também sexo grupal,
sadomasoquismo, fetiches, etc.). Com quem faz ou deixa de fazer? Qual (is) as mais
prazerosas para você?
Já fiz sexo grupal com umas meninas da minha outra faculdade, e outra vez foi com
umas amigas minhas.
O que é aceitável? A mina não estar num dia bom. O que é inaceitável? A mina não
se limpar direito. Durante a relação....pode rolar....o que não pode rolar é um fio terra, nem
fudendo, eu não curto. Você ta lá e daí a mina vai lá e.... (nesse momento ele faz a mímica
com seu dedo indicador como se estivesse enfiando esse mesmo dedo no anus). Isso não me
dá prazer, eu brocho. Pode rolar tudo... eu não sei.... menos um fio terra.
Que tipo de prática sexual pode acontecer durante uma relação que você se sente
mal, mas não consegue evitar?
Durante uma relação sexual, o que para você é arriscado, mas é gostoso de fazer?
É mais gostoso fazer sem camisinha, mas é uma questão de escolha. É uma questão
de escolha
Umas cinco.
Você se sente satisfeito com sua vida sexual? O que gostaria de mudar e/ou manter?
Talvez aumentar.
Eu teria o filho porque seu fui homem pra dá uma, tenho que ser homem pra
assumir.Ele não tem culpa de ter culpa de ter aparecido aqui.
Ridículo, estúpido.
Já fez aborto ou teve alguma experiência de aborto com alguma mulher? Como foi?
Jamais
GÊNERO E SEXUALIDADE – Gender and sexuality
Com um homem nada. Eu não quero nada com homem. De um homem que ele
consiga mudar tudo que hoje é visto diante dos homens, tipo infidelidade, estupidez,
ignorância. E a mulher que elas acreditem mais na gente, que a gente pode mudar, que a
gente pode amar de verdade, depende da vontade de cada um.
Não muda. Acho que todo mundo sente prazer pelo buraco que quiser, pela pessoa
que quiser, eu não tenho nada a ver com isso, eu não sou ninguém para julgar. Eu sei o que
eu gosto e já tá bom.
O que seu pai e sua mãe lhe ensinaram sobre as diferenças entre homens e
mulheres? E sobre as diferentes orientações sexuais?
Eles nunca falaram nada, eles acham que cada um é cada um.
Acho que não influência nada, nenhuma menina deixa de ser pura por ser virgem ou
não. Acho que ela deixa de ser pura ou não pela vontade, pela maneira dela encarar o que é
se envolver com alguém, se deitar na cama com alguém. Acho que isso influência no
caráter, se ela é virgem ou não, não muda nada. È até melhor que não seja.
Ridículo, ridículo. Se você quer catar várias, se não namora, porque namorar e não
ser fiel é ridículo tá simplesmente fugindo de um problema. Acho que a infidelidade às
vezes tem a ver com cor e raça, depende do objetivo da pessoa, cada um sabe o que quer. Se
você não quer ser fiel, se você quer outras pesssoas, você não tem que estar traindo a
pessoa que não tem nada a ver com sua vontade. Acho que a sinceridade é tudo. Porque o
que a gente não quer pra gente a gente não quer para as pessoas, certo?
O que você pensa sobre as mudanças nas relações entre homens e mulheres
ocorridas nas últimas décadas, após as conquistas femininas (liberação sexual e acesso ao
mercado de trabalho)?
Acho que as pessoas estão querendo ser moderna demais e não estão sabendo
encontrar o caminho certo, então eu acho que se as pessoas não fossem com tanta sede ao
pote, transformasse as coisas, talvez as coisas acontecessem de um modo mais natural. No
mercado de trabalho eu acho que hoje é muita inveja, muito olho gordo, eu acho que os
homens com certeza têm mais vantagens. Mas mesmo assim os próprios homens entre eles,
eles se destroem, eles buscam derrubar um ao outro para poder chegar ao poder. Para gente
chegar no topo a gente não precisa pisar em cima de ninguém.
Tem algum sentimento que algum homem deve esconder de outro homem? [Fazer
mesma pergunta para mulheres, adequando gênero na questão].
Não.Pelo contrário
Não, nenhum problema de impotência ou frigidez. O que pode acontecer é você não se
sentir satisfeito com uma menina, ce acha ela zuada...ah tipo a mina não faz direito, é mô
cabaça, torta, aí se brocha. É tipo a mina parece um João bobo.
Como você se sente e o que costuma fazer quando está sem interesse sexual por um
período longo?
Não acho que é uma questão de necessidade, você não precisa dar uma para poder
ser feliz, ou para poder sobreviver.
E quando, numa relação estável, o seu parceiro sem interesse sexual por um período
longo?
Acho que a hora certa chega sempre. Acho que não adianta ficar se preocupando.
Você já teve alguma doença transmitida por via sexual? (gonorréia, sífilis,
cancromole, hepatite B e C, herpes genital,verrugas genitais e corrimentos) Quando e
através de quem? Você já procurou o serviço de saúde para tratamento? De que tipo? Se
não, por quê? Você manteve relações sexuais nesse período?
Em caso de relação estável, seu (sua) parceiro (a) já teve alguma DST? Procurou
tratamento? Vocês tiveram relação nesse período?
Nunca aconteceu.
Que é uma doença que se pega quando não se usa camisinha, que não tem cura, que
acaba com você aos poucos, e que só os otários que contraem.
Você conhece alguém com o vírus da AIDS? (explorar convivência)
Não.
Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Como? Por quê? Que tipo de pessoa ou
grupo está mais vulnerável para pegá-lo?
Acho que pegar aids é fazer sexo sem camisinha com qualquer um. Acho que as
pessoas podem pegar aids quem não se cuida, se torna mais vulneráveis.
Não.
O que sabe dos remédios que atualmente são usados no tratamento das pessoas com
o vírus da Aids? (explorar percepção sobre o resultado do tratamento - se cura, se melhora,
etc., seus efeitos colaterais, preconceito, etc.) Essas informações mudaram seu
comportamento?
Já fez teste anti-HIV? Quando? Onde? Quantas vezes? Por quê? Gostaria de
comentar o resultado?
Sim duas vezes para poder transar sem camisinha, comecei a namorar e a gente
queria transar sem camisinha e daí eu e minha namorada fizemos o texte.
Você usa preservativos com pessoas do mesmo sexo? E do sexo oposto? Se Sim,
Sempre? Nunca usa? Ou usa ás vezes? Para quem não usa todas às vezes, ou seja sempre,
perguntar em que circunstâncias e como define quando e com quem irá usar.
Você usa preservativo em quais práticas sexuais? No caso do sexo oral, você usa
preservativo para fazer? E para receber?
Camisinha.
Minha mãe quando vai para o mercado ela compra vários. Não me sinto
constrangido.
Não.
Para quem é mais fácil portar um preservativo: homem ou mulher? Por quê?
Nunca.
Você sabe quais os cuidados que se deve ter para não romper, rasgar, estourar a
camisinha?
Lógico.
Nunca.
DROGAS – Drugs
Você fuma cigarro? Já fumou outra coisa? (Como, onde, em que contexto?)
Muito.
Você usou já usou alguma droga do tipo maconha, êxtase, ect. Em que situações?
Maconha e êxtase.
Com certeza.
Antes.
As três.
Sexo e drogas combinam? (como, quando, com quem e por quê?)
Com certeza. Com quem você sinta vontade de estar. Nem sempre, é uma questão
de inspiração.
Você fica mais solto quando está sob o efeito de álcool, e/ou drogas?
Com certeza.
Como é o seu final de balada? (Se fuma maconha ou se toma algum remédio)
Não.
Me solta, só isso.
Não.
Você usa/usou Viagra ou algum outro estimulante sexual (poppers)? Você usaria
algum medicamento dessa espécie ou gostaria que o seu parceiro usasse?
Por que?
Qual é a sua relação com drogas?(se usa, com que freqüência, se já interrompeu o
uso e voltou a usar ou se largou definitivamente)
Nunca me piquei, já cherei para caralho, não cheiro mais. De vez em quando eu
tomo umas balas e uns doce, e fumo um beck todo dia.
Já fez uso de drogas injetáveis? Se sim, compartilhou seringas, agulhas?
Não.
Já teve parceiros sexuais que usaram drogas injetáveis? E nas relações sexuais com
esse/essa parceiro/a vc usou preservativo?
Nunca tive.
Não.
A galera que usa muita droga, gosta de muito sexo. Mas eu não curto me envolver
muito porque esse negócio te faz ficar com outro e com outro, a casa cai.
Lógico porque não são nenhum pouco impossíveis. Mesmo se fossem acho que só
depende acreditar.
Onde você imagina que vai estar daqui a 10 anos? O que imagina que estará
fazendo? Sua vida estará melhor do que hoje? Por quê?
Ah!!! espero que eu esteja com meus filhos com uma vida, estruturada, firmada.
Como deveriam ser as relações entre diferentes grupos (gênero, orientação sexual,
cor/raça, classe, etc.) no futuro?
Acho que os humanos, as pessoas tem que se respeitar mais. E aceitar o ponto de
vista de cada um. E não tentar impor a opinião como se fosse a forma mais soberana de
modo soberano.
Entrevistadora: Teste...
K.: K. Travasque Barbosa da Cunha. Eu não tenho apelido, mas o povo me chama
de Travasque.
K.: Feminino.
K.: Hetero.
K.: Negra.
K.: Casada.
Entrevistadora:E ,sem ser a Pompéia, por quais outros bairros você costuma passear
ou circular, assim, pra passear?
K.: Centro. Centro pra trabalhar. E, pra passear, São Paulo todo.
Entrevistadora: (ri) Bom, a gente vai falar sobre a sua trajetória familiar. Pode
comer se você quiser. Não precisa... É com quem você mora atualmente?
Entrevistadora: E quem que é a sua família de origem? Tipo, pai, você tem irmão,
mãe...
Entrevistadora: Ahan. Antes de você constituir a sua família com o seu marido...
K.: Ah, eu morava com a minha mãe, com meus dois irmãos, o meu padrasto e
depois de um tempo a minha vó veio morar com a gente.
K.: São.
Entrevistadora: São?! E o quê que eles fazem? Assim, com o quê que eles
trabalham?
K.: Minha mãe, ele é cabeleireira, trançadeira profissional. O meu pai também é formado,
ele é... Não formado, ele trabalha na Polícia Civil, chefe dos escrivães.
Entrevistadora: E como que é a sua relação com o seu pai e com a sua mãe?
K.: Hoje ela é complicada porque eu fui criada num mundo, meio familiar, que num
foi bem o que eu queria pra mim: pais separados, uma mãe que, com o decorrer do tempo,
arranjou um outro marido; então teve muitas divergências, né?! E eu não consegui ter uma
vida mais próxima do meu pai então hoje eu não tenho muita conversa com ele. Tenho
muita mágoa. E com a minha mãe, é que a gente conversava pouco. Porque tudo que a
gente conversava não tinha pensamentos iguais. A gente foi começar a se entender agora
que me casei. Então não é, assim, um relacionamento... não vou falar que é ruim porque eu
gosto do meu pai. Mas aquele negócio de amigos pra sempre entendeu...
Entrevistadora: Ahan. Hum. Ahan. Entendi. E a relação entre seu pai e a sua mãe.
Eles ainda se falam ou...?
K.: Eles falam o básico. Se é alguma coisa sobre mim, assim. Entre eles é só eu.
Não tem eu no meio, também não tem conversa.
K.: Ah. A gente se dá bem. Eu me dou bem com os meus irmãos mais próximos, que
são os menores, que é a Catrine e o Júnior, que sempre moraram comigo. É bom, eles
gostam do meu filho, de ir em casa, tudo... E os irmãos mais velhos a gente não se vê
porque eles são grandes, têm a vida deles. O meu irmão mais velho, ele já tá noivo então é
difícil a gente se ver. E o outro também, mas a relação é boa com todos. Nunca tem briga,
nada...
K.: Olha... É que eu preciso de contar. No todo... é porque mudou. É que a minha
mãe e o meu pai eles gostam muito de pegar crianças que não tem uma situação financeira
boa, crianças que o pai morreu e têm algum parentesco. Então, mas se for contar irmão de
sangue, hoje eu tenho: o Gustavo e o Vinícius, a Catrine e o Júnior e eu. Agora se for contar
num todo, são mais ou menos oito irmãos. Dois não estão mais aqui, outro tá nos Estados
Unidos, outro... também a gente não teve mais contato. E só sobrou nós.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. E, além dos seus pais, tinha algum parente com que
você tinha uma relação mais próxima? Tipo, seu padrasto, ou que você tinha...
K.: Parente que eu tenha, que eu sempre tive uma relação boa, é com a minha vó e
com a minha tia.
K.: Ahan. Mãe da minha mãe. A mãe do meu pai já faleceu. E a tia é a tia do meu
pai. Eu sempre tive relação boa com ela. Ela pra mim é como se fosse mãe, ela que me
ajudou em tudo, assim. Até hoje ela me ajuda. Minha vó também, minha vó sempre me
ajudou no que ela pôde. Agora ela não tem mais condição de me ajudar, mesmo. Ela ajuda
no que ela pode, hoje.
K.: Ah. Tem um primo de consideração. Porque, quando a minha mãe casou com o
meu padrasto, a gente acabou adotando a família dos outros, então eu tenho um primo que
depois de... que com dezenove anos ele foi assumir que ele era gay e hoje ele mora em
Mauá com uma... marido, né.... lá. Ele mora com... com menino.
Entrevistadora: Ahan... E como é que foi a educação, assim, que você recebeu?
Tinha diferença entre os meninos e as meninas, na criação?
K.: Não a minha mãe criou os filhos dela igual. A diferença é que ela foi muito mais
severa comigo do que ela é hoje com os meus irmãos.
K.: Não. Ela foi mais severa mesmo. Independente da idade, ela foi mais severa
comigo do quê com eles.
Entrevistadora: Mas por quê?
K.: Eu não sei, talvez ela... há um modo que ela tenha de adotar que não deu certo
na cabeça dela. Porque realmente eu tive muita coisa que qualquer pessoa não faria. Isso
não é de criação. Não é revolta é que você apanha por qualquer coisa quando você é
pequeno. Se quebrar um copo você apanha... Então você faz as coisas que você tem que
fazer e de qualquer jeito você vai apanhar. Entendeu? Então, no caso, a minha mãe cria os
meus irmãos de outro modo, já não batendo mais porque não adianta. É outro modo. Menos
severo do que ela me criou.
Entrevistadora: Ahan. E... Bom a gente vai falar sobre religião. Em qual religião
você foi criada?
Entrevistadora: Ahan. Então você já passou pela Espírita e pela Católica. Nenhuma
outra você chegou a freqüentar?
K.: Hoje eu freqüento com o meu marido, porque ele é evangélico, eu vou na Igreja
Renascer. Eu freqüento com ele, hoje.
K.: Ah, quase todo domingo. Quase todo domingo e quase durante... a semana.
Assim, uma vez na semana a gente sempre vai, que dá pra ir, a gente sempre vai.
Entrevistadora: Ahan. E qual que você acha que á importância da religião na sua
vida?
K.: É uma coisa que eu nem penso. É uma coisa muito difícil. Antigamente, quando
eu era menor, a religião tinha uma importância. Quando eu perdi o meu primeiro filho ela
passou a não ter mais importância e eu passei a ser descrente em relação a Deus. Mas hoje
eu vejo que, tudo o que nós vemos hoje é movido por ele. Você tem que ter Jesus no
coração sempre porque se você não tiver sua vida também não vai pra frente. Isso é uma
coisa... é óbvia. Se você não pensar em Deus a sua vida não vai pra frente. Então hoje,
importância é bem maior do que era antes. Mas ainda tem muita coisa pra entender, ainda.
Entrevistadora: Ahan... Bom, sobre sua experiência escolar, como foi a sua trajetória
na escola? Você estudou em escola particular ou pública?
K.: Eu comecei em escola particular, mas a minha situação de vida foi mudando e
minha mãe me colocou em escola pública, mesmo porque eu nunca me adaptei com
pessoas... pessoas de outras classes e nível social que não fosse o meu. Então, eu sempre... a
minha mãe me colocou em escola pública e eu sempre gostei de escola pública. Acho que
escola particular é só fachada. Os alunos são todos iguais, assim, pior que nós que
estudamos em escola pública.
Entrevistadora: Ahan. E como foi, assim? Você repetiu algum ano, chegou a parar
de estudar ou foi direto?
K.: Eu parei de estudar. Parei de estudar porque a minha mãe mudava muito e eu
perdi dois anos. Um foi mais... não foi repetência que eu tive. Foi problema com professora
e a professora não me passou por birra dela. E aí, eu repeti. Então eu perdi dois anos. Eu
terminei o colégio quando eu tinha dezessete anos.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. E, assim, como foi a sua experiência, você fazia,
além das aulas, você queria fazer outras coisas? Você tinha amigos na escola, mesmo você
tendo mudado?
K.: Eu tinha bastante amizades por causa da minha escola, em todas as escolas que
eu passei. Eu não fazia atividades depois da escola, teve um tempo que eu comecei a fazer
cursos, mas como eu me sentia muito cansada, porque eu comecei a trabalhar cedo pra
ajudar a minha mãe também, eu parei de fazer cursos só pra trabalhar e estudar. E agora que
eu terminei...
K.: Não, pretendo voltar o ano que vem pra fazer faculdade. Eu queria fazer
faculdade de Turismo, mas hoje eu to muito, assim, na corda bamba, eu não sei se eu faço
turismo ou se eu faço Administração, Contabilidade. Uma coisa que é mais voltada pro que
eu trabalho hoje. Eu sou operadora de telemarketing. Eu acho que Administração é uma
coisa mais voltada pra esse lado do que Turismo, Turismo é outra coisa, assim, nada haver.
Aí eu penso em fazer faculdade, mas não esse ano.
Entrevistadora: E qual que foi a importância da sua experiência na escola pra sua
vida como um todo? Pra sua vida social, pra sua vida afetiva?
K.: Assim, em matéria de social, hoje, hoje a gente não é nada se você não tem um
estudo. Você tendo um estudo você já é uma pessoa, até mesmo quando uma pessoa vai
presa, você vê se ela não tem uma faculdade ela não vai pra uma cadeia especial.
Entendeu?! Mesmo assim, você tem que... toda vez que a gente quer crescer na vida a gente
tem que estudar cada vez mais. E na minha vida sentimental, eu acho que é porque eu
conheci pessoas, aprendi a lidar com pessoas com tipos diferentes de amigos. E você sabe
selecionar quem é bom e quem não é. E na escola você aprende tudo isso.
K.: Ah. Tem importância muito grande porque eu planejo as coisas tudo com base
no que eu aprendi na escola, com base no que já fiz. Então a escola tem uma importância
grande. Eu faço muita coisa baseado no que eu aprendi.
K.: No quê que eu trabalho hoje?! Se eu tenho uma profissão ou se eu sou formada?
K.: Se eu tô empregada formalmente, com carteira registrada? É isso que você fala?
Tô. Hoje eu trabalho com carteira registrada numa multinacional, pelo Unibanco.
Entrevistadora: Uhm... E você acha que a renda que você ganha é suficiente pra
pagar as suas contas, e tal, ou você trabalha com outras coisas, às vezes, faz bico?
K.: Como operadora de telemarketing, a renda que eu ganho hoje não dá pra pagar
nem um sapato. (ri) Mas... Porque operadora de telemarketing, hoje, na minha área, é ativo,
não é receptivo. Então, pra eu poder ganhar um salário que eu pago a minhas contas, você
tem que fazer o seu salário como operador de telemarketing. Então hoje eu ganho, hoje, um
salário fixo, mas eu tenho que vender, bater a minha meta, senão eu não ganho... a
comissão.
K.: Ah, eu tô porque o meu sonho era trabalhar numa multinacional, que é onde
você pode crescer tanto profissionalmente, como espiritualmente, com pessoa, entendeu?!
Então a multinacional, pra mim, é tudo o que eu queria,mesmo gostando de dançar. Era
tudo o que eu queria era crescer. É uma empresa grande que eu puder... hoje que eu opero
telemarketing, amanhã chegar num cargo de supervisão. Alguma coisa.
Entrevistadora: Ahan. Hum. E... Em quê que você costuma empregar a sua renda?
K.: Olha, hoje eu pago todas as minhas contas, todas as contas e o que sobra eu
procuro gastar com a minha família que eu tenho hoje: meu marido, meu filho. Sempre. Em
primeiro lugar sempre vem a minha família. Então hoje eu gasto tudo com contas e passeio.
Entrevistadora: Uhum... Bom, a gente vai falar agora sobre discriminação racial e
preconceitos em geral. É.. Qual... O quê que e raça pra você? Assim, o quê que você define
quando você ouve isso, o quê que vem na sua cabeça?
Entrevistadora: Ahan... E... Você acha que essa definição de raça é importante pra
você? Pra maneira que você define quem você é?
K.: Acho que é. Você tem que saber o quê que é raça. Todo mundo pensa que é: ‘ Aí,
é raça, raça, raça no sangue...’ Não é isso. Raça são formas diferentes. É importante você
saber o quê que é isso. Na minha cabeça a definição é essa.
K.: Se tem misturas de raça na família? Não, na família não... Bom, tem mistura do
lado da minha vó, né?! Mas eu não sei explicar quais são as raças e as misturas que tem. Eu
sei que eu tenho um primo de Santa Catarina dos olhos verdes, loiro, branco. Então tem
uma mistura de raças, mas eu não sei explicar como é.
Entrevistadora: Ahan. E como que é que sua família lida com essa questão da raça,
da cor?
K.: Hoje nós temos uma mente muito aberta, então a gente lida com isso muito bem.
Mas, assim, a gente já passou por muitos preconceitos, né?! Eu, os meus irmãos, minha
mãe, entendeu?! Mas a gente não dá muita bola, a gente fica chateado porque é uma coisa
que o ser humano tem que saber que, aqui, todo mundo é igual, independente de raça, de
cor, de... Todo mundo é igual, entendeu?! A gente lida muito bem com isso. A gente sabe se
sobressair em cima das pessoa que, infelizmente, não tem uma cultura igual.
Entrevistadora: E você acha que têm situações em que a sua raça, ou a sua cor foi
algo positivo, ou negativo pra você? Foi algo que te favoreceu ou te prejudicou.
K.: Favorecer, olha assim, situação que eu seja favorecida teve desde que eu nasci.
Que eu gosto muito da minha cor, tô muito satisfeita com ela. Agora situações que me
diminuíram eu recebi bastante. Principalmente em serviço... Eu saí de um serviço, não por
que eu não era capaz, mas por causa da minha cor. A pessoa que tava lá no cargo,
assinando, não gostou de mim e eu pedi minhas contas e fui embora.
Entrevistadora: E o quê que você acha que é racismo?
K.: Uma hipocrisia. Uma falta de estudo uma falta de... Uma burrice. Uma pessoa
que é racista ela é burra. Ela não tem cultura, ela não tem sentimento, não tem nada.
Entrevistadora: E... Onde você acha que existe racismo? Tipo, em que situações,
assim.
K.: Que situações... Em todas! Se você é baixo tem quem não gosta. Se você é alto,
se você é preto, se você é branco, se você sai, se você não anda, se você é aleijado... Tudo,
hoje em dia, tem racismo.
Entrevistadora: Ahan. E você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas,
indígenas, assim, de diferentes cores, têm as mesmas atividades para atividades escolares?
Entrevistadora: E no esporte?
K.: Eu acho assim, não é dependente de cor, que a pessoa é diferente. E sim, pessoas
que são brancas, ou negras, ou sei lá que cor, que tem uma habilidade com um esporte mas
é o corpo da pessoa quem vai falar isso. Eu, por exemplo, não tenho pra correr, pra ser uma
atleta porque eu caio dura no chão. E eu sou negra, mas eu conheço amigos meus que eles
jogam basquete, e correm, e são atletas, e são negros. Têm pessoas brancas que correm.
Isso é o físico da pessoa que define, não a cor.
K.: Olha, eu acho assim, hoje eu não sei explicar direito este assunto. Mas hoje eu
acho que pessoas indígenas e as pessoas... Não é cor, assim, é a raça... é o modo que as
pessoas vivem hoje. Nós que moramos aqui, na cidade, somos negros, ou japoneses. Porque
os que moram em civilizações têm a tendência de não ter tanta doença como um povo que
mora no meio da mata. Que não tem a medicina, não tem o que a gente tem hoje. Acho que
a diferença aí não é em cor, são em culturas diferentes e modos de habitar diferentes de
vida hoje. Mas não na cor. Mas, a pessoa que mora no meio do mato tem muito mais
chance de ter uma doença do que uma pessoa que mora no meio da cidade. Que a pessoa tá
entrando em contato com algumas coisas... É o meu pensamento, assim. Claro que pode ser
que não seja bem isso mas o meu pensamento é esse.
Entrevistadora: Ahan... Ahn. Ahan... E você acha que pessoas brancas, pardas,
pretas, amarelas, indígenas têm as mesmas chances no mercado de trabalho?
K.: Não. Hoje uma pessoa branca que é formada numa... Um branco que ele pode
ser formado só com o segundo grau e chega um negro numa empresa, uma pessoa negra, ou
até mesmo uma pessoa indígena, que tem uma faculdade, que tem alguma coisa, o branco
sempre vai ficar no seu.. na frente. Porque a pessoa é branca. Entendeu?! A pessoa, ela é
branca, então ela é mais inteligente, ela se sobressai... e não é bem assim. Às vezes um
negro se sobressai muito mais que uma pessoa branca. Indígena também. Tem muita gente
indígena que, hoje, trabalha e tem a sua vida, tem uma classe social mais alta. Mas hoje em
dia o mundo não enxerga isso. Enxerga só o branco que é playboy, que é filhinho de papai,
que quando chegar numa empresa é por indicação. Nunca é por batalha, assim. Entendeu?
Isso não é cem porcento, é claro. Tem o...
Entrevistadora Você pode contar alguma coisa, assim, que aconteceu com você? Um
caso de discriminação e o que você fez? Além de ficar indignada você chegou a fazer
alguma coisa, tipo falar pra polícia, denunciar, etc?
K. É teve um caso aí no shopping. Que eu fui no shopping Iguatemi e, na época,
estava vendendo umas correntinhas, né?! E eu fui perguntar o preço da corrente e a menina
falou que eu não tinha dinheiro pra comprar e eu não entendi direito e perguntei de novo.
Como hoje eu sou filha de um policial, eu chamei o meu pai, falei pra ele, né?! Então o que
aconteceu com a mulher foi que ela perdeu o emprego e eu não dei parte dela porque eu não
quero me igualar a ela, eu só quero que ela entenda que eu não sou diferente dela. Então eu,
realmente, eu acabei chamando ele porque ele era meu pai, isso porque ele já era um
policial. Mas eu não dei parte dela porque eu achei que não... Só o fato da pessoa ficar sem
emprego já é triste saber que ela ficou... Até ela explicar que ela ficou sem emprego por
causa de um racismo, é uma vergonha, então... Foi só isso.
Entrevistadora E você acha que deveria ter políticas específicas pra minorias? Tipo
cotas em universidades ou outro tipo de política.
Entrevistadora Tá. Você acha que, assim, o governo devia fazer políticas pra
favorecer as pessoas que são excluídas, de alguma forma, por causa da cor, tipo cotas
raciais nas universidades ou alguma coisa assim?
K. É que assim. Teve uma época... teve um tempo atrás que tinha esses assuntos de
cotas na faculdade, entendeu?! Só que, do mesmo jeito, é um racismo. Porque você está
expondo as pessoas negras, você tá excluindo, você tá obrigando o estabelecimento a pôr
tanto porcento de negros, tanto porcento... E não é a política, isso é o ser humano que tem
que ter consciência própria de que hoje o branco, o preto, o azul, o amarelo têm os mesmos
direitos em faculdades, em televisão. E, hoje, você vê que até mesmo na televisão é assim.
São trinta bailarinas brancas e uma negra. O pessoal que já tá cheio de negra; tem uma já tá
bom. Modelos também, motorista de ônibus, motoristas de taxi, qualquer coisa., entendeu?!
Então eu acho que isso não é política que tem que ser feita é o ser humano que tem que se
conscientizar, então como isso não vai acontecer num futuro tão próximo, então quer dizer
que vai tudo ficar do mesmo jeito porque mesmo fazendo política as pessoas vão entender
que é o racismo deles do mesmo jeito. Porque a humanidade está obrigando a enfiar um
negro num lugar onde não é bem vindo. Então eu não acho legal.
Entrevistadora Ahan. É... E você acha então que existe racismo no Brasil?
K. Há muito, desde a raiz até lá em cima, no céu. É o que mais (ri) tem é racismo, hoje, no
Brasil. O Brasil tá perdido de racismo, não só no Brasil como fora também tem muitos
racismos. Eu acho que o Brasil é um pouco light de racismo, porque, no caso, lá fora, nos
Estados Unidos, o negócio pega bem mais pesado. Agora que té aparecendo uns loucos aí,
com um capuz na cabeça, matando todo mundo porque eles acha que têm o direito de bater
em todo mundo pelo fato de ser hetero, de ser gay, lésbica, branco ou preto, eles não estão
nem ligando. Mas tem racismo mesmo no Brasil, mesmo.
Entrevistadora E eu ia te perguntar no que você já tava entrando, você acha que tem
racismo nos Estados Unidos. Você também acha que tem?
K. Muito, muito. Eu já cheguei, assim... EU não vou falar que é uma coisa
comprovada porque eu não fui pra fora, mas eu conheço pessoas que foram e tem um lugar
nos Estados Unidos que chega a ser dividido a cidade entre a parte branca e a parte negra.
Hoje não é mais aquela explosão mas se um negro passar numa rua que só tem branco, ele
não é bem vindo. Então hoje, nos Estados Unidos, têm muito. E têm as cúpulas, tem o clã
não sei do quê, dos idiotas deve ser, né?! Então hoje tem muito isso que não acontece aqui
no Brasil porque não tem o clã, porque o clã é que vai preso, e nos Estados Unidos não.
Nos Estados Unidos negro mesmo é animal. Não presta, tanto que você vê muitos negros
hoje que tão numa classe social, que são até importantes, né?! Eu não vou citar o nome de
uma modelo porque ela fez uma coisa muito feia, né?! Que é a Naomi, que ela fez... ela foi
parar na delegacia por um pato de... que... de brigar com empregada, batido nela, não
entendi a coisa direito. Então... Mas ela é uma pessoa.. é um exemplo. Porque ela não é
daqui do Brasil e ela é uma pessoa que, hoje, tem uma classe social e está bem destacada. É
um dos poucos, né, que hoje, consegue se destacar.
Entrevistadora (ri) Ahan... E na África do Sul, você acha que também tem racismo?
K. Na África do Sul, pelo que eu entendo pouco de país... Só tem negros na África,
no geral, e não tem o que ter racismo, lá tem miséria, tem um miserê danado, mas racismo...
(ri) Só se for um racismo da própria cor, porque na África são muitos negros, negros
mesmo, né, de raiz lá. Então eu acho que lá não tem racismo. Eu acho que tem muita
podridão, muita pobreza lá.
Entrevistadora Ahan... É... Bom, a gente vai mudar um pouco de assunto, vai falar
um pouco sobre sociabilidade, lazer, essas coisas... Que lugares você costuma freqüentar
pra se divertir, pra paquerar, bom agora você tá casada, mas tanto pra isso, mas... (ri)? Mas
conta pode contar. É anônimo, é anônima a entrevista e ninguém vai saber.
Entrevistadora (ri) É. A gente tá casado, mas... o cavalo também pasta, não pasta?!
Essas coisas. (ri) Bom, a gente tá casado mas... eu costumo, gosto de sair com amigas, com
pessoas que sejam legais de sair. Eu costumo ir em baladas, sempre as mesmas baladas, eu
não sou muito de trocar, de ir pra longe de casa, mesmo que eu não gosto, eu não sei o
ambiente que eu tô me enfiando. Então eu gosto sempre de baladas na zona leste, na zona
oeste, né?! Não conheço baladas na Vila Olímpia, baladas cara, mesmo porque eu não gosto
de baladas caras, porque eu não acho legal.. Não acho! Por motivo de questão social,
questão de cor, também não acho que seja legal. Mas eu gosto de ir em barzinho, sair pra
baile, sair à tarde pra lanchonete, passear, ir em parques: Ibirapuera, Vila Lobos;
conversar... Paquerar, hoje em dia, cê não precisa sair, né?! Eu tô numa idade que paquerar
é em todo lugar, então você encontra um cara lindo no seu serviço, você tá paquerando
ele... e cê tá trabalhando, entendeu?! Mas se for pra paquerar é em todo lugar.
Entrevistadora: E quem costuma ir com você nesses lugares? Suas amigas, você
falou?
K.: É. Eu tenho amigas que vão comigo e a maioria da gente curte muita.. ir nos
lugares junto. Então a gente costuma ir. Ou amigas, ou até mesmo a minha mãe, a gente sai
às vezes também. Eu não tenho vergonha de sair com a minha mãe, então...
Entrevistadora: Uhum... E, em relação a suas amigas, cê tem alguma preferência de
classe? Que elas sejam mais ricas, mais pobres, a mesma coisa.
K.: Todos os meus amigos têm o mesmo ambiente que o meu. Todos da mesma
classe, todos com o mesmo conceito de pensar... Do mesmo jeito, muda algumas coisas,
alguns carateres, alguns... mas todo mundo pensa e age do mesmo jeito. E mora... e tem
uma situação igual a minha.
Entrevistadora: Ahan. E de idade. Você prefere que seja mais velho, mais novo, os
seus amigos, ou igual?
K.: Amigos eu prefiro que seja assim. Eu tenho amiguinhas de catorze anos, quinze
anos... São amiguinhas que eu saio... Você é um exemplo pra elas, hoje, entendeu?! Eu
convivi com uma amiga minha que hoje ela faz tudo de errado que eu fiz quando era nova.
E, hoje, eu falo coisa pra ela e ela não quer me ouvir. Eu tenho 22 e ela dezessete, dezoito
anos... e são muitas coisas erradas que eu fiz que ela teve como espelho. Então, hoje, eu
tenho uma amiga de catorze, quinze anos que eu procuro sempre falar pra elas conversar.
Mas eu prefiro ter amigos...
Entrevistadora:: Teste...
K.: É, como eu falei, os meus amigos eu respeito, todos os meus amigos. Mesmo
porque desde que eles me respeitam, porque, realmente, eu não gosto, que eu tive
experiências, só eu falar que eu não gosto mulher e... Não tenho. Desde que eles me
respeitem, eles podem ser qualquer coisa. [?] uma atitude de respeito. Eu sou [?] sua amiga
se você me respeitar.
Entrevistadora: Como você definiria o seu estilo? Assim, se vestir, música...
K.: Assim, hoje é marca americana porque sou negra, com trança. Então eu sou
como todo mundo fala, que gosta de andar 'na pegada' pra se aparecer... não pra se
aparecer, mas pra ficar bonito na foto, aquela coisa toda... Então, hoje, eu tenho esse estilo
e, com o pouco de dinheiro que eu tenho, eu procuro estar bem vestida [?] estilo.
Entrevistadora: E... Pra você, como que são as pessoas que freqüentam o lugar onde
a gente se conheceu? O Sambary. Pra você como que são as pessoas que freqüentam o
Sambary, o lugar onde a gente se conheceu?
K.: Olha, em baladas que eu vou, no geral, não só no Sambary... É que no Sambary
as pessoas são muito bem vestidas, são mais adultas. Mas, geralmente, tem balada que eu
vou que o pessoal é muito molecada, muito 'mino' que não sabe chegar numa mulher, umas
menina que não sabe chegar num homem chegando, e o Sambary não é bem assim. Sabe?!
A pessoa sabe se botar no lugar dela, porque tá tudo na mesma idade, tudo na mesma faixa;
não entra menor só entra maior de dezoito. Então, é tudo na mesma faixa, o pessoal é mais
vestido, é mais adulto, mas, mesmo assim, sempre tem a minoria que estraga o baile.
Entrevistadora: Uhum... E o quê que tem de bom e de ruim, assim, nesse lugar? No
Somebody, ou nas baladas, em geral, que você freqüenta?
K.: Tem tudo de bom e tudo de ruim. Têm pessoas ruins, [interrupção na gravação],
brigas no final da balada... E tem pessoas boas, que você pode fazer amizade, que cê pode
conversar. Então, tem a metade... metade, metade na balada.
K.: Isso é uma coisa muito chata de se falar (ri), mas eu briguei uma vez na minha
vida, na balada, com o meu ex-marido, que eu tava ficando com uma pessoa da balada, que
é um segurança. E ele (o ex-marido) era louco por mim, fascinado, queria até se matar e
daí, ele foi na balada e começou a me ameaçar. Como eu sou uma pessoa de pouca
paciência eu voltei e dei na cara dele. Ele tem um metro e noventa e eu com um metro e
cinqüenta e cinco, eu dei na cara dele, briguei com ele na balada. Me senti super mal, e não
voltei mais na balada. Tive uma briga com o meu marido também que ele saiu me batendo
por uma briga que aconteceu. Então são duas baladas que eu, hoje, eu vou, inclusive uma já
fechou que é o Clube da Cidade, e eu vou no [?] mas eu tenho muito receio porque eu
fiquei super envergonhada de saber que eu me envolvi numa briga pessoal num lugar
público. Muito chato.
Entrevistadora: Ahan... E como que você costuma se aproximar quando você quer
paquerar alguém, ou se aproximar pra fazer amigos?
K.: Olha, pra paquerar alguém é tudo no olhar. Tudo na base do olhar, a pessoa
chega, vai, conversa. Agora, pra fazer amigos eu vou pra conversar, pergunto que horas são,
como é o nome da pessoa, se ela tá sozinha, aí eu vou conversando. E quando a pessoa é
uma pessoa legal de conversar ela continua. Hoje, eu tenho uma amiga, que vai casar esse
ano, que eu fiz amizade com ela na balada. A gente ficou grávida ao mesmo tempo, eu fui
na casa dela, conheci o namorado dela na balada também, o... Enfim, conheci todo o
pessoal dela e a gente é amiga hoje mas a gente se conheceu na balada.
K.: Bastante, mesmo porque eu tenho Orkut, MSN... eu gosto bastante de mexer na
Internet, ficar fuçando, ver negócio de conta em banco, eu sei que hoje é perigoso mas eu
sempre mudo a minha senha. Eu vou, eu vejo na internet e eu sempre acabo mudando a
senha depois.
Entrevistadora: Onde que você acessa a Internet e, tipo, quantas vezes por semana,
mais ou menos?
K.: Quando eu tenho dinheiro, todos os dias, quando eu não tenho dinheiro, eu
costumo ir na casa da minha sogra porque o neto dela tem computador.
Entrevistadora: Ahan. E, quando você tem dinheiro, você vai em cyber café, é isso?
K.: É. Eu vou em Lan House. Vou sempre em Lan House, ou em telecentro também
que tem aqui perto de casa. Tem telecentro.
Entrevistadora: Uhum... Bom, a gente vai falar sobre os seus relacionamentos agora.
(ri) É, em relação a seus parceiros, você tem preferência de classe?
K.: Como eu falei, eu tenho. Gosto de namorar pessoas da minha classe, da minha
cor, do meu nível e com caráter.
Entrevistadora: E de idade?
K.: Pra namorar eu prefiro homens acima de vinte anos e no, no máximo, vinte e
oito anos. Vinte oito, não passa dos trinta porque eu já tive experiências com caras mais
velhos e já vi que não dá. A minha cabeça não é igual à deles, o assunto não é igual, nada é
igual. Então, eu não consigo me ver com uma pessoa mais muito velha que eu... mais velha
que eu.
Entrevistadora: E escolaridade?
K.: Não, não tenho preferência de namorar pessoas que sejam... que não tenham
estudo, ou que tenham estudo. Não tenho preferência disso aí...
Entrevistadora: É... E orientação sexual? Você namoraria alguém que não fosse
heterossexual?
K.: Eu já tive experiência com isso, há muito tempo atrás, né? Já fiquei com uma
menina oito meses [?] dezesseis anos. Foi uma experiência boa mas eu me vi que eu não
gosto de mulheres. Não foi um... Foi uma relação agradável. Hoje ela já não está mais aqui,
conosco. Foi uma relação agradável mas é que eu vi que, realmente, eu não sirvo pra
namorar com mulher, eu gosto mesmo é de namorar com homem.
K.: Eu gosto dos negões. Eu adoro os negros. Eu gosto mesmo dos negos, eles têm
um Q.I a mais, assim, faz a diferença hoje.
K.: Eu gosto de namorar com pessoas que respeitem a minha religião e que não seja
fanático, aquela coisa louca... porque não dá. A pessoa não respeita nada se ela é fanática.
Entrevistadora: Ahan... É... E com que tipo de pessoa você jamais se relacionaria?
Entrevistadora: Você... como você falou, você já foi paquerada por pessoas do
mesmo sexo, né?! E como que você reagiu, sem ser essa pessoa com quem você se
relacionou, como que você reage, normalmente, quando uma menina te paquera?
K.: Olha, hoje que eu sou casada, eu procuro relacionamentos que a gente fica e no
outro dia é amigo e ‘tchau, tudo bem...’; mas, assim, até agora, no meu casamento mesmo...
e/u já me envolvi com uma pessoa mas isso é motivo de chateação e foi um dia só e depois
a pessoa vira um amigo porque eu não consegui ficar mais. Eu não consegui, mais, ficar.
Entrevistadora: E você já namorou, ou teve uma relação afetiva, com alguma pessoa
de cor diferente da sua?
K.: Se eu já namorei com pessoas diferentes, de cor? Já. Já namorei, já, mas acabou.
(ri)
K.: Também... Já fiquei com pessoas que tinham escolaridade de uma faculdade. É
legal saber que tem umas pessoas que têm um conhecimento a mais. Foi legal, tudo,
assim...
K.: Uma pessoa atraente... O que me atrai, muito, na pessoa, é o que eu foco
sempre: o caráter dela. Mas se for físico, assim, um homem robusto, aqueles três... quatro
por quatro, aqueles armários, assim, aqueles homens fortes. Uma bundona, um corpo
definido, uma boca bonita, um olho bonito. Então, isso atrai bastante qualquer mulher, né?!
K.: Ah... Bastante, eu não tenho sossego na rua. Bastante. (ri) Quando você se veste
bem, bastante.
K.: Que ele me respeite. Que ele me respeite e, se ele tiver que fazer alguma coisa,
que ele faça muito bem feito, que eu não descubra. Mas, acima de tudo, que ele me respeite
como mulher, que ele saiba lidar comigo, que ele nunca levante a mão pra mim, que é bem
chato. É isso que eu espero de um parceiro.
K.: Ah! Saindo, balada, na rua, no serviço. Onde você sempre se relaciona com
pessoas.
Entrevistadora: Uhum. O que você costuma fazer pra chamar a atenção das pessoas
com quem você está interessada, assim, em ficar, namorar?
K.: Olhar muito e dançar. Quando eu começo a dançar as pessoas sempre olham e
você já tem em mente a intenção da pessoa. Mas olhar, olhar. Eu gosto bastante de olhar no
olho da pessoa, meio discretamente, não logo [?] na cara, com aquele olhar: ‘ow, olha! Eu
to aqui.’ Mas, meio que discreto, mas um olhar diferente.
Entrevistadora: Ahan. E quem que deve travar o primeiro contato? Você ou a outra
pessoa?
K.: Ah, eu não tenho preferência pra isso. A pessoa é muito tímida, você tem que
chegar. Se a pessoa... se você vê que a pessoa não vai chegar você chega. Se você vê que a
pessoa vai chegar você fica quieta esperando ela chegar.
Entrevistadora: Você considera que tem parceiros pra ficar e outros pra namorar?
K.: Tem. Tem caras que você jamais namoraria, pra... você só ficaria. E tem caras
que vê que é pra casar.
Entrevistadora: Mas, o quê que deixa eles diferentes? Assim, esse cara é pra ficar,
esse cara não...
K.: Ah, tem cara que é galinha, que é estúpido, que não respeita ninguém. Tem cara
que é bom nem ficar. Não sabe respeitar, só que a mulher é... submissa, ou o homem. E tem
os caras que chegam com você e conversam, respeitam. O cara que, geralmente, serve pra
casar, é sempre um amigo. Um amigo que conversa, que dá um ombro, que te elogia, que
convida você pra sair, tipo: ‘ Ah, vamos ali que eu vou lá no motel, não [?], vamos sair...’
E, geralmente, um cara que vai te respeitar, que vai casar com você, não vai chegando em
você: ‘ Ai, então! Eu vou comer, vou acontecer...’ Então você vê que tem uma diferença
entre os homens.
Entrevistadora: Ahan. É... O quê que você pensa de namoro entre pessoas de cor e
raça diferente? E casamento...
K.: Ah. Pra mim eu olho e acho bonito misturar as raças. Acho bem bonito, só que
comigo isso não funciona. É... Eu não vejo nenhum mal mas, comigo, não funciona.
K.: Ah. Normal. Eu acho bem legal, é diferente, é uma coisa que, hoje, ta em alta.
Todo... Tem mulher e mulher casando, homem com homem casando. Só não tenho
preconceito. Eu acho que é muito bonito de ver, eu acho engraçado, até, ver as pessoas do
mesmo sexo, andando na rua, conversando. Mas é legal.
K.: Com certeza. Sempre. Pode ser marido, namorado, amigo, vizinho, não
interessa. A cara não diz se a pessoa tem uma doença ou não.
Entrevistadora: Você, agora, ta casada, né?! Então, onde vocês se conheceram? E eu
queria que você falasse um pouco sobre ele, sobre a relação de vocês, essas coisas...
K.: É. Eu vou contar um... por cima. Nós nos conhecemos assim, porque...
Antigamente, eu era casada com um amigo dele, que hoje, inclusive, eles não são nem
amigos mais... e ele foi se interessando por mim e eu fui ficando com o amigo dele
enquanto a gente foi se interessando. A gente foi se envolver mesmo, mesmo porque ele era
amigo das minhas primas também, então a gente começou a se envolver numa balada. Ele
foi, por acaso eu estava na balada, assim, começou a ir, e a gente começou a se conhecer...
Fomos se envolvendo, mas eu tinha um namorado na época, então a gente foi se
conhecer... então, ele era meu amigo depois passou a ficar. Ele foi uma pessoa que sempre
me tratou bem, me tirou das piores situações que eu estava na vida, na época. E, hoje, ele é
uma pessoa pra mim, ele tem um significado importante na minha vida. Porque através dele
eu mudei, cresci um pouco mais, aprendi outras coisas, aprendi que nem sempre deve se dar
tudo pra receber nada. Ele é um homem, eu acho, que qualquer mulher, independente dos
defeitos que ele tenha, qualquer mulher gostaria de ter ele do lado porque ele é uma pessoa
que se respeita, entendeu?! Ele sempre age pela lógica e nunca pelo sentimento, ele sempre
age na razão. Ele não deixa o sentimento mover ele numa coisa séria. Ele é um bom pai pro
meu filho, tá sempre ali, presente... sempre faz as coisas pra ele, pra mim. Tem algumas
divergências, é uma pessoa muito ciumenta, muito de guardar e, quando ele explode, acaba
machucando, dificultando o relacionamento. Mas, com ele, eu aprendi bastante.
K.: Meu primeiro relacionamento estável foi uma coisa... foi uma experiência.
Porque eu era nova, comecei a namorar, comecei a ir pra balada e eu achava que eu tinha
que beijar todo mundo. Então eu acabei machucando a pessoa que estava comigo. E com
essa pessoa eu tive quatro gravidez, todas não bem sucedidas. Hoje, a gente não se fala
mais, por ter assim... por culpa minha mesmo, muita infantilidade da minha parte. Então
nesse relacionamento eu cresci, aprendi a sempre falar a verdade, jamais mentir, mesmo
que doa... doa a quem doer. Procurar sempre falar a verdade o relacionamento e nunca
mentira. E o meu segundo relacionamento foi péssimo. Porque eu convivi com uma pessoa
que a mãe não gostava de mim, ele não tinha pulso e eu amava muito ele. Eu cometi várias
divergências na minha saúde. Fui várias vezes parar no hospital, bebia... Enchia a cara,
passava por situações tristes, tive depressão. E, hoje, a pessoa não tá nem aí pra mim... hoje
eu sofro muito com isso, porque foi um relacionamento que eu , realmente, me dediquei. Eu
dei a minha vida e a pessoa, hoje, me deixou... sabe?! Me deixou. Eu fui bem agradável
com ela e ela me deixou, sem explicação.
K.: No primeiro... como... assim... Eu, no meu primeiro, quem tinha uma amizade
com o meu primeiro namorado fui eu, e eu já não era mais... e ele não gostava muito. E ele
era uma pessoa que quando se envolvia comigo ele não se envolvia com ninguém, né?!
Então ele não usava muito. Agora, o segundo namorado que eu tive, a gente sempre usava,
sempre, sempre. Porque ele não queria que eu engravidasse de maneira nenhuma, então ele
sempre usou. E o meu marido, ele não gosta de usar e, mesmo porque, eu tenho muita
confiança nele. Eu sei que ele não tem nada fora...
Entrevistadora: E... Bom, vocês estão morando juntos, né?! Você e o seu marido?
Como que é a relação com ele em casa? Vocês dividem as tarefas domésticas, o cuidado
com o seu filho?
K.: Ele divide tudo quando ele quer, quando ele não quer ele deita na cama e dorme,
e eu faço tudo. Mas em relação a filho, ele sempre me ajuda. Sempre ajuda, sempre fica um
pouquinho, quando eu tô com sono ele sempre cuida do nenê pra mim. Ele sai com o nenê,
passeia, volta. E eu arrumo a casa, ele vai passear. É sempre... algumas coisas são divididas
sim, mas não as tarefas de fazer comida, que eu sou eu quem faço; a casa, quando ele
resolve arrumar, ele quer arrumar a casa toda sozinho, e quando ele não quer, ele quer ficar
deitado, sabe?!
Entrevistadora: E com que idade que você teve seu filho e como que ele foi recebido
pela sua família?
K.: Essa é a minha quinta gravidez, que eu tive filhos muito cedo, eu comecei com
dezesseis anos esse negócio de engravidar toda hora mas, o meu filho ele tá com dez meses
então, quando eu tive ele, eu tava com vinte e um anos. Quando eu falei da minha gravidez,
no começo, todo mundo ficou bravo porque devida a eu ter problemas pra engravidar,
devido a gente não estar trabalhando naquela época, ficou aquela coisa... aquela situação
chata, mas foi tudo bem. Foi tudo bem. Hoje ele é muito querido na minha família.
K.: De certa forma não. Ele veio numa situação da minha vida que eu gostaria, hoje,
que ele não tivesse vindo. Porque futuramente eu vou ter que explicar pra ele tudo o que
aconteceu, pra que chegasse a ter esse pai que ele tem hoje, essa vida que ele tem hoje, pra
saber que tem uma pessoa que era pra ter amado... e rejeitou ele. Que, hoje, não tá nem aí
pra ele.
K.: É uma coisa, assim, que é coisa mais de mulher do que o povo falar que tem que
fazer DNA. Não preciso de fazer DNA pra saber de quem é o filho do meu pai... quem é o
pai do meu filho. Então... (ri) Então, hoje, assim, eu sei que o meu filho não é filho do meu
marido. Ele, no fundo, no fundo, sabe, mas ele prefere acreditar que o filho é dele. Mesmo
porque é dele porque desde o primeiro mês ele assumiu tudo, todas as despesas, todos os
trabalhos, todas as dor de cabeça. Mas ele, realmente, não é filho do meu marido. Ele é
filho dum cara que... nota zero pra ele. Ele rejeitou a paternidade... ele veio com o assunto
mas desviou o assunto e não quis nem saber.
Entrevistadora: Você chegou a falar pra esse outro cara que...?
K.: Cheguei a falar. E como ele ficou com muito negócio de: ' ai... mas tem que
fazer o DNA...' Porque na hora de fazer é tudo bom, mas na hora de pular fora... ele foi
primeiro. Eu fui mulher pra chegar e falar que eu tive um outro relacionamento que não
fosse o dele, porque ele mora com... Vários problemas. Ele me largou sozinha, eu tava
carente, conheci um cara mais importante. Cheguei nele e falei: '' Eu tô grávida e essa
hipótese desse filho ser seu é concreta, não precisa de DNA.'' Ele não quis nem saber e
porque eu fiquei chateada e, no começo, eu acabei falando que não era dele. 'Não era dele,
não era dele' – porque eu queria acreditar que não era dele, porque eu sofria bastante em
saber que o meu filho tinha um pai que num... que rejeitava, que queria fazer ele de cobaia.
Porque teste de DNA, hoje, numa criança hoje é cobaia. Sendo que a mãe sabe explicar o
pai... quem que é o pai e tal. A criança vira cobaia na mão da mãe e do pai, e da família. Por
a família dele querer que fizesse DNA eu acabei desiistido. Mas, hoje, todo mundo que me
pergunta, e que eu tenho a oportunidade de falar, sem machucar o meu marido, eu procuro
falar a verdade. Se ele assumiu, que ele é um homem hoje, e ele não admite que fale que o
filho não é dele porque é dele. O pai não é quem faz é quem cria.
Entrevistadora: Ahan. Hum... Ahan. Com certeza. E como que vc acha que ser mãe
se encaixa na sua vida? Como que mudou a sua vida ser mãe?
K.: Ah! Mudou bastante, porque ser mãe... Filho era tudo que eu queria, por eu ter
perdido muitos... Hoje o meu filho tem um significado na minha vida, assim, fundamental,
infinitamente, assim, sem explicação. Amor de mãe é uma coisa que não dá pra explicar...
Não resume. Hoje eu sou uma mulher realizada como mãe e o meu filho pra mim é a minha
vida. Ele é tudo pra mim. Ele é a primeira pessoa, independente de pai e mãe, ele é a
primeira pessoa. Ele é a pessoa mais importante pra mim. Meu mundo gira em torno dele.
Qualquer coisa que eu faço eu penso nele.
Entrevistadora: Ahan. Como que é a sua relação com ele, seu filhinho?
K.: Ah! Eu gosto bastante de brincar com ele. Eu chamo ele de 'carinha gorda'.
Engordou, porque... EU gosto bastante de brincar de estar sempre perto... fico triste de ter
uma situação financeira que eu não possa acompanhar todas as primeiras coisas que ele
fala, como a primeira vez que ele levantou sozinho, primeira vez que ele engatinhou eu não
pude estar lá pra ver. Eu vi depois, eu vi a primeira vez que ele dançou, que ele tava lá
batendo os pezinhos lá. Eu tenho uma relação muito boa com ele. Eu, sempre, procuro estar
perto pra que ele possa saber que eu sou a mãe.
K.: É uma coisa que tem que ser muito bem conversada com a criança. Pra que
ninguém crie preconceitos na cabeça da criança. Eu acho que a criança, que nem hoje, um
dia o pessoal acha que eu falo que a criança que cresce no meio gays e lésbicas, a tendência
é virar um gay ou uma lésbica; e a verdade não é essa. Eu conheço pessoas que têm o pai e
a mãe do mesmo sexo e são pessoas heteras; e não têm vergonha de falar que o pai é a mãe
e a mãe, ou é o pai e o pai é o pai. (ri)
K.: Uma família ideal é uma família que.... O meu sonho de vida, hoje, tanto
material quanto pessoa, assim, eu falo de ideal pra mim, é uma estabilidade boa, numa casa
dos meus sonhos, um carro, com a minha família... e a nossa comodidade, assim, todo
mundo junto. Porque o meu sonho nunca foi casar, sempre foi ser mãe solteira. Então eu
sempre me vi muito com o meu filho mas, como a gente é casada, a gente casa e não quer
separar tão cedo. Ninguém casa pensando em separar, porque não precisa casar, né?! Então,
hoje, eu penso em ter o meu filho e o meu marido sempre perto de mim, numa casa bonita,
grande, porque eu nunca tive oportunidade de ter... de morar em casa grande, ter uma vida
financeira boa e ter o meu filho muito bem educado, (ri) muito bem educado e muito bem
criado.
Entrevistadora: E, vc acha que é igualmente importante pro homem e pra mulher, o
filho? Ou é diferente?
K.: Não! É importante pra mulher. Que a mulher se sente mulher quando ela vira
mãe, ela se sente realizada... as mulheres que, hoje, pode ser chamadas de mãe. Porque tem
mulher que é bom ser chamada de outros nomes, né?... porque não é mãe. Mas, as mulheres
que podem ser chamadas de mãe, é realizante pra ela ver um filho crescer, saber que é mãe,
ouvir aquela pessoa te chamar de mãe: ‘ô mãe...’. Você é importante. Você é importante
na... hoje, como mãe. Então pra mulher é mais importante que pro homem. Têm homens
que querem ser pai de qualquer jeito mas não são todos. A minoria...
K.: Ah, com certeza. Têm muitas crianças hoje que precisam de um carinho de mãe,
carinho materno; e eu adotaria. Se eu pudesse, eu adotaria todo mundo.
Entrevistadora: (ri) Bom, continuando... Qual que é a sua memória, da sua infância,
das suas vivências afetivas e sexuais?
K.: Ah, eu não... eu acho que... Eu num me lembro muito bem dessa fase de me
descobrir. Lembro que foi legal ver que tava crescendo tudo em mim, porque eu comecei a
me desenvolver com oito anos. Então com oito anos eu tinha pêlos, eu tinha peito... e com
dez anos eu era uma mulher formada de corpo. Com dez anos eu fiquei menstruada, então
eu fiquei mulher muito cedo. E me desenvolvi cedo, então, aquilo, pra mim, foi uma
bomba, foi um espanto. [?] que minhas amigas eram crianças e eu já era tachada como
mulher pela humanidade.
K.: Através da minha mãe, sempre. Minha mãe sempre passou todas as informações
pra mim. Ela sempre passou tudo. Ela conversou comigo tudo desde o primeiro dia que eu
fiquei mocinha, ela conversou tudo. Sempre me explicou todas as coisas pra mim. Foi
através dela que eu sei tudo hoje.
K.: É ela e o médico. São as pessoas mais confiáveis, de assuntos mais confiáveis,
que eu tenho hoje.
K.: Bom, no começo era um espanto. Como eu fiquei... eu perdi essa virgindade
muito cedo, aos treze anos, no começo foi aquela coisa: ‘ Menininha do pai, da mãe...
Deixou de ser menina e virou mulher.’ Eles tinham muito... a humanidade tem preconceito
em relação a você... Não. Não é bem preconceito, porque hoje eu acho que não é normal
uma menina de onze anos, dez anos, doze anos, ficar grávida, perder a virgindade ou, até
mesmo, virar mãe. Aí eu vejo isso e... mas eu vejo isso assim, a menina [?] tá se
descobrindo [?] falta de assunto. Eu acho que é isso.
Entrevistadora: E... Sua primeira vez, sua iniciação sexual, foi com treze anos,
então? Conta um pouquinho como foi ou se teve uma experiência antes disso, sem ser a
relação sexual completa.
K.: Não. Eu só... a minha primeira vez foi só com treze anos com o meu professor
de natação, foi horrível, foi péssimo, é uma coisa que eu não gosto nem de lembrar. Foi
extremamente horrível. Eu não gostei mesmo e depois eu fiquei, praticamente, eu fiquei
quase dois anos sem fazer nada.
Entrevistadora: Uhum... É... E você já teve relação... algum tipo de relação sexual
pra obter alguma vantagem? Tipo financeira, familiar, escolar...
K.: Já. Quando a minha amiga... quando a minha mãe estava passando por situações
difíceis. Que eu via que, no caso, a minha mãe precisava mesmo, entendeu?! Foram duas
vezes mas eu não me arrependo, porque pela minha família, pela minha mãe, pelos meus
irmãos eu dou a minha vida.
Entrevistadora: E você já foi constrangida, alguma vez, a ter relações com alguém?
K.: Sem querer?! Já, eu já passei por isso. É assim, eu pouco falo nisso, pouco
gostaria de falar, porque é uma situação muito difícil. E... É muito chato. Não vou falar
que... os outros falam assim: ‘ Que uma mulher fica louca’ – Num fica, num fica. Mas a
lembrança e a... é dolorosa. Mesmo porque você num pode contar pra muita gente e eu
contei, na época, e ninguém acreditou.
Entrevistadora: Sério?!
K.: Então eu convivo com isso e eu sou uma pessoa normal. Passou, acabou! Mas
eu tenho trauma de homem andando atrás de você, te olhando, você procura ver bem com
quem se envolve pra não passar por isso de novo. Porque foi uma situação muito
desagradável se você num... foram seis pessoas, então foram... foi uma coisa bem chata.
Hoje, claro, que é uma coisa assim, como o fato de eu ter uma relação com pessoas
diferentes de nível social, todas as pessoas que fizeram isso comigo, felizmente, elas estão
debaixo da terra. Todas. Todas mesmo.
K.: Eram pessoas que viviam no mesmo meio que eu. Que me viam e eu não via
elas. Então... entendeu?! Como elas eram conhecidas pelos meus amigos, todas elas, pra
melhor no mundo, elas foram embora. Que era bem melhor, né?!
K.: Nunca! Deus me livre. Longe de mim um negócio desse. Nunca, pode deixar a
pessoa sem querer nada mesmo... (ri) Só se... se ela quiser tudo bem, se ela quiser não tem
nada não.
K.: Ah. Hoje em dia, esse negócio de relação homem – mulher na cama... Hoje em
dia não existe mais namoro, existe uma química. Hoje é mais corporal, não tem... não rola
mais um sentimento. Pra mim é importante que, quando você se envolva com uma pessoa...
Entrevistadora: Teste...
Entrevistadora: Continuando. É... O quê que significa uma relação sexual pra você?
K.: Ahn?
Entrevistadora: O quê que signif... Ah, tipo, que práticas você classi.. acha que tem
que ter? É... carícias, beijos, etc?
K.: Tem que ter uma prática, respeito, muito respeito e muito respeito. Independente
de ter carícias e amor, tem que ter muito respeito um como outro. Os dois tem que saber
entender um o lado do outro.
Entrevistadora: Ahan. E... Você já teve atração por pessoas do mesmo sexo? Conta
um pouco da sua experiência nesse sentido.
K.: Ah, eu já tinha me envolvido com uma menina mas eu não tive atração, ela tinha
atração comigo e eu tive mais curiosidade. Eu nunca tive atração por mulher, assim, ver
uma mulher na rua e falar: ‘ Nossa...’ Não. Nunca tive esse problema. Não é nem um... Não
é um problema, nunca tive isso.
Entrevistadora: Sim. É... Bom, sobre as suas últimas relações afetivas e sexuais,
como assim, foi, mais ou menos? Tipo, a relação, quem eram os parceiros, em geral...
K.: Como foi minhas relações em parceiros... Num todo e não de cada um?! Todas
foram legais, claro que com algumas divergências, mas todas foram legais, só mesmo da
primeira vez que não foi legal. Mas as outras foram boas.
Entrevistadora: E quais práticas você costuma fazer, assim, com os seus parceiros?
Assim, você costuma ter alguma restrição ou normal se...?
K.: Eu acho que assim, hoje em dia, nas minhas relações sempre há restrição
daquelas coisas de sexo anal, essas coisas assim. Se Deus deu a frente pra quê dar atrás. (ri)
Isso sempre funciona. Isso é extremamente nojento. Eu acho que, hoje num casamento, a
mulher tem que ser o máximo possível mulher com o marido na cama, porque hoje, cê vê
que tem muita competições de mulheres na rua, que ganham dinheiro com isso e que fazem
tudo o que cê pode imaginar. Então, com o meu marido, eu não tenho restrição, agora, com
outras pessoas que eu me relacione, que eu venha a me relacionar futuramente, tem sempre
uma restrição. Toda regra tem uma...
Entrevistadora: E quais são as práticas que você acha, assim, mais prazerosas?
K.: As normais. Que não seja nada anal. As normais [?]... As normais que eu falo,
assim, nem que seja oral, é normal, mas anal é só coisa pra louco. Coisa pra louco,
definitivamente. É fora do normal, esse negócio.
Entrevistadora: (ri) É... O quê que você acha inaceitável numa relação?
K.: Numa relação, assim, os dois numa... Inaceitável é uma pessoa trocar o seu
nome. Isso é inaceitável, é uma falta de respeito. Uma coisa, totalmente constrangedora. E
você aceita tudo que esteja dentro do que você gosta e te dê prazer.
Entrevistadora: E... Que tipo de prática que pode acontecer durante a relação mas
que você não gosta? Assim, você não consegue evitar mas acontece.
K.: Fazer acrobacia, na relação. Botar a perna no teto, ficar de cabeça pra baixo...
(ri) Essas coisas aí não são legais, porque é desconfortável. Totalmente o pescoço lá no pé,
essas coisas, assim, que os homens inventam. É muito engraçado. (ri)
Entrevistadora: (ri) Durante uma relação, o quê que pra você é arriscado, mas é bom
de fazer?
K.: O quê que é arriscado?! Você entrar numas posições que, tantos pelos, médicos...
como você costuma ir no médico conversar, tem posições que não são agradáveis, que dão
no problemas no útero da mulher, até mesmo. Ou aquela coisa com muita violência, com
muita... com muito gás, não é nem saudável pra uma pessoa.
Entrevistadora: É... Quantas vezes você transa por semana, atualmente?
K.: Eu tô satisfeita com a minha vida desse jeito. Não tem nada pra mudar nem
acrescentar.
K.: Como eu... Eu sou assim, o aborto é um assunto mio complicado hoje na
sociedade. Então, assim, eu sou a favor desde que seja um aborto, assim, uma violência
sexual, ou a mãe não tem... tudo bem, tem que se prevenir... mas a mãe ficou grávida e não
tem como botar uma criança no mundo, ou é pra dar ou jogar no mundo, eu prefiro que tire.
Você não tem condições financeiras e vai deixar a criança passando fome, eu prefiro que
tire. Agora, se for por safadeza, ou só porque: ‘ Não quero... Fiquei mas eu não quero.’ – Eu
acho que, aí, a pessoa tem que ter mesmo, pra sentir na pele como que é a responsabilidade
que você teve. Tem que assumir.
K.: Eu fiz uma vez, quando eu tinha dezesseis anos porque, realmente, eu fique
imuito assustada. Eu não me cuidei mas eu não tinha condições de ter um nenê naquele
momento.
Entrevistadora: E... Como que foi? Assim, pra quem você pediu ajuda, essas coisas,
onde foi, mais ou menos?
K.: Eu pedia ajuda pra minha tia e aí, eu tomeio o remédio que, hoje, ele é... não é...
é ilegal na sociedade, que é o [?] que todo mundo toma, geralmente. E não foi legal, porque
você sente dor, você sente remorso, você fica pensando: ‘ Hoje, se eu tivesse um filho, eu
tenho vinte e dois anos e ele estaria, basicamente com... sente ou oito anos.’ Ele já estaria
grande hoje, mas eu não condições de botar uma criança no mundo pra sofrer, então eu
preferi tirar. Mas hoje, eu penso que, se seu tivesse me cuidado é melhor, se não eu teria [?]
filhos.
K.: Mulher, ela tem que ser mulher. Ela tem que assumir, não define nem o que
define só a mulher, mas o que define o ser humano hoje.. A mulher tem que assumir tudo o
que ela faz, todos os campos que ela atua ela tem que ser mulher. Tem que ter um caráter,
uma personalidade, tem que se valorizar como mulher. Porque hoje as mulheres não se
valorizam mais, elas estão muito expostas no mundo, elas tão igual ao homem, totalmente,
entendeu?! Então elas não têm nem mais o respeito... Tem mulher que não pode mais ser
mulher, mais... Eu acho que uma mulher, ela tem que se valorizar. Basicamente...
K.: Homem tem que ter caráter, tem que ter a personalidade dele. Tem que assumir o
que ele faz, Tem que ter um... tem que ser uma pessoa de caráter de sociabilidade. Eu
acredito num homem, sempre, é que ele tem ser homem, tem que assumir as coisas dele,
muito mais do que a mulher. Porque, hoje, um homem é um chefe de família, a pessoa que
cuida da mulher do filho, então ele tem que ter uma posição.
Entrevistadora: E quais que são as vantagens, que você acha, de ser homem e de ser
mulher, na nossa sociedade? E os limites, assim...
K.: Hoje em dia, o homem e a mulher, eles têm as mesmas vantagens. Mas tem
aquele preconceito que o homem pode isso, a mulher não pode aquilo, o homem faz... E eu
acho que é tudo igual. Se o homem pode ter um dinheiro e uma mulher também pode. Se o
homem pode sair com várias mulheres, a mulher também pode. Porque os dois estão
agindo, nesse casso, pelo errado. Eles levam uma fama igual. Não sei se ela é igual, então...
Nada define a diferença entre homem e mulher, os dois são iguais e são ser humanos da
mesma forma.
K.: A sociedade pensa que o homossexualismo, as lésbicas, elas têm que ter um
limite pra entrar nos lugar, elas não podem se beijar porque hoje todo mundo pensa que: ‘
Ai, quê que passa na cabeça de uma criança que vê uma mulher com outra mulher se
beijando?!’ Nada! Nada. O pai e a mãe têm que conversar, isso é do mundo, a pessoa já
nasceu assim, a pessoa é assim e não vai mudar. Eu acho que isso é preconceito, pra mim
eles não têm limitações. Eles são ser humanos iguais. A criança vê e: ‘ Ai, mãe, um homem
tava beijando um homem.’ – ‘ Tudo bem, é um homem é a... é o que ele quis pra vida dele.’
. Então não tem limitações pra ele. Eles ser humanos iguais. Essa hipocrisia da sociedade,
pensar que o homem que é gay, e a mulher que é lésbica não é mulher, é preconceito, isso.
É uma burrice, uma falta de cultura. Eu acho que o homem, gostando de homem ou sendo
mulher gostando de mulher, ou coisas parecidas, é igual. Não tão matando ninguém, eles
tão cuidando da vida deles.
Entrevistadora: E... O quê que seu pai e a sua mãe ensinaram pra você sobre as
diferenças entre os homens e as mulheres?
K.: Que você seja o que você escolha ser o que você quiser, desde que você tenha
um caráter. Que pessoa, ela pode ser lésbica, ela pode ser hetero, mas se ela não tem
caráter, pra mim, na minha família, a pessoa é um animal. Uma pessoa burra, sem cultura.
Entrevistadora: E o que você pensa sobre a virgindade?
K.: Virgindade é uma coisa... É que é assim, a minha mãe me ensinou que
virgindade pra mulher é um ouro. Tudo o que você tem é a virgindade e quando você perde
ela você tá entregando na mão de uma pessoa uma.. uma coisa importante, que é você ser
virgem, você tá entregando esse ouro. Então isso tem uma importância porque , à partir
desse momento, você passa a ser uma mulher e você entregou tudo de mais importante que
você tinha na mão de uma pessoa.
K.: É que, a infidelidade, tem várias maneiras de você caracterizar ela. Tem
infidelidade porque o relacionamento não tá bom, tem infidelidade porque a pessoa não
consegue ser fiel, ela ama o parceiro mas ela não consegue, ela não quer, ela não tem meio,
ela não se segura, a carne é fraca. Então eu acho que a infidelidade é assim, se você vai
casar com uma pessoa pra você trair, então é melhor não casar. Se você vai casar pra você
se machucar, pra você enganar, não casa, fica solteiro. Se o seu relacionamento não tá bem,
conversar, conversa, conversa, conversa. Porque de modo que não houver meios, aí você
faça o que você achar melhor.
K.: Ah, penso que é muito bom, porque, hoje, a mulher e o homem são valor... são
vistos como iguais na humanidade. São vistos hoje, no mundo, como igual. A mulher e o
homem, em matéria de trabalho, conquistaram, no meio de trabalho delas, no espaço delas,
que elas vêm conquistando cada dia mais, elas passam a ser iguais para o homem.
Entrevistadora: É... Como que você se sente, e o que você costuma fazer, quando
você está sem interesse sexual por um período longo?
K.: Eu me sinto normal, muito bem, não tenho problemas de: ‘ Ai, vou subir pelas
paredes...’ Essas coisas todas. Eu me sinto bem.
Entrevistadora: E quando o seu parceiro tá sem interesse sexual por bastante tempo,
o que cê faz, como cê se sente?
K.: Quando o meu parceiro não tem interesse sexual eu procuro saber o quê que é,
fico meio chateada, de saber que ele não tem algum interesse. Mas, da mesma maneira, eu
procuro conversar pra ver se é algum problema de sentimento.
Entrevistadora: Como que você cuida da sua saúde, assim? Você costuma ir bastante
ao médico, você se alimenta bem, faz exercícios?
K.: Eu não gosto muito de fazer exercícios que eu sou muito preguiçosa. Eu não
gosto muito de ir ao médico, porque devido de eu ter muitos problemas, que eu tenho, eu
prefiro não procurar. Mas eu procuro me cuidar bem na altura do meu limite, o quanto eu
posso.
K.: Ah. Os dois é igual. Mesmo particular e um SUS, hoje, você espera do mesmo
jeito. Hoje têm médicos e médicos, têm médicos bons e ruins, tanto no SUS quanto no
particular. Têm médicos ruins do mesmo jeito, eu tive experiências boas e ruins dos dois,
nas duas partes.
Entrevistadora: E você já teve alguma doença transmitida por via sexual?
K.: Eu tenho um vírus, mas é por... hereditário, de paternidade. Meu pai pegou um
vírus que chama Sífilis, é a Sífilis, e é negativo. E nesse caso, foi um dos problemas que eu
tive na minha gravidez. Eu vi que era negativo, mas é uma coisa que não passa, tá
estacionado. É hereditário, talvez o meu filho também tenha no sangue dele assim como o
meu irmão tem, eu também tenho, mas não passa e não faz mal pra ninguém.
K.: Nunca. Nunca mesmo, porque ele só teve dois... duas parceiras sexuais, então
ele não tem. Não tem esse problema. Nunca.
K.: O quê que eu sei sobre a AIDS?! Que é uma doença sexualmente transmissível,
que é um... eu não sei explicar mas, aquela coisa... O vírus ele não passa, o vírus da AIDS
ele não passa tem como curar. Agora, se eu não me engano, a doença é o que passa... É
alguma coisa assim, é um a informação meio vaga ainda pra mim, eu não consegui
assimilar mesmo tendo muita.. bastante explicação, eu não consegui assimilar ainda.
K.: Conheço bastante gente. Conheço bastante gente, a maioria são gays e lésbicas
hoje, então eles se cuidam, mas não tanto, e já conheci uma... minha amiga, que ela morreu
faz anos já, que ela pegou essa doença.
Entrevistadora: Ahan... E você acha que você pode pegar o vírus da AIDS?
K.: Todo mundo pode pegar desde que não se cuide. Então todo mundo aqui dentro
pode pegar.
Entrevistadora: Mas você acha que tem algum tipo de pessoa, ou grupo, que tá mais
vulnerável pra pegar?
K.: Os gays, lésbicas eles estão mais dispostos hoje. Entendeu?! Eles estão mais
disposto. Eu acho!
Entrevistadora: Uhum. É... O que você sabe sobre os remédios que são usados no
tratamento das pessoas que têm AIDS?
K.: AH. Eu não sei muito sobre remédios, eu conheço coquetéis mas eu não sei
explicar não.
K.: Já. Na gravidez a gente faz teste de todas as doenças e todas são negativas.
K.: Ah. Como o meu marido eu não uso. Porque ele não quer e porque eu tenho
confiança nele. Agora, com outras pessoas eu uso... se eu tiver relacionamento com outras
pessoas, como eu não tenho então não uso.
Entrevistadora: E você usa em todas as práticas sexuais, inclusive sexo oral ou não?
K.: Não. Só.. No sexo oral não, só... é... como é que fala?! Penetração.
Entrevistadora: Ahan. E quando você usa preservativo, onde que você consegue?
Entrevistadora: E... Agora, nesse momento, você tem um preservativo com você?
K.: Já.
K.: Tomei um outro remédio, e procurei ir no médico no dia seguinte, pra ver se
teve algum problema, fazer os exames direitinho.
K.: Nunca. Não é confortável, eu acho que não é confortável. E eu também, mesmo
explicando, eu não sei colocar, eu tenho medo.
Entrevistadora: Uhum. E a masculina? Que Cuidados que você toma pra colocar?
Pra não romper...
K.: Cuidados que explicam pra segurar a ponta pra não deixar entrar ar, colocar do
jeito que tá na explicação.
K.: Mais baladas. É como a gente diz, a gente bebe socialmente mas, quando bebe,
enche a cara. Vai pra casa cambaleando, quase numa perna só, mas vai...
K.: Já. Machona e não gostei. Tanto que, hoje, eu já tenho até alergia do cheiro, eu
tenho rinite. Então isso me deixa muito nervosa, alguém do meu lado fumo drogas, ou
cheirando, isso me irrita.
K.: Só maconha. E teve é... como é que fala?! Drogas injetáveis, foi uma vez na
minha vida e eu fui parar no hospital por causa disso. Mas eu não fiz pra experimentar, eu
fiz porque eu queria mesmo ir embora, morrer, porque eu tava com depressão e não foi uma
experiência agradável. Então nunca mais na minha vida eu quero ver esse negócio de
injetar nada no meu braço, nem em lugar nenhum.
Entrevistadora: Quais que são as drogas mais usadas nos lugares que você vai?
K.: Maconha, sempre. Sempre maconha e ecstasy. Sempre. São as drogas mais
vendidas e mais usadas hoje. A cocaína ela é... Pra gente que é adolescente, que já é acima
de uma idade assim, de vinte e dois anos, é jovem, a maconha, a cocaína, o ecstasy tão em
auge. Mas o ecstasy é que tá... ele tá meio que encapuzado, mas se você for numa balada
Vila Olímpia, aqui mesmo na Vila Madalena, têm bastante venda mesmo. Mas
principalmente em balada, tá cheio. Agora, maconha é liberado. Podia até liberar, fazer uma
lei assim ‘Libera-se maconha.’ Todo mundo fuma. Porque isso é liberado, tá na cara de todo
mundo.
Entrevistadora: E você acha que sexo e drogas combinam? Quando, com quem?
K.: Não combinam com ninguém. Inclusive você só faz besteira. Uma pessoa, ela
não consegue ter uma ralação sexual.
Entrevistadora: E você fica mais solta quando você tá sobre o efeito de álcool?
K.: Eu fico, eu choro, eu dou risada. Mas eu não faço nada além disso.
Entrevistadora: O quê que você costuma fazer no final da balada? Fuma alguma
coisa, toma algum remédio, ou...?
K.: Não. Eu não tomo nada, Vou embora pra casa sempre fumando o meu
cigarrinho. E volto pra casa.
Entrevistadora: Você já deixou de usar camisinha por estar sobre o efeito do álcool?
Entrevistadora: Bom, você já contou da sua relação com as drogas, mais ou menos.
Drogas injetáveis, da vez que você usou, você compartilhou seringa ou foi só você quem
usou?
K.: Não. Foi sozinho. Mesmo assim fui parar no hospital. Porque mesmo quando
você cai sozinha, as pessoas que estão ao seu lado, na hora, elas sabem tanto o que é, o
tanto que pode. E eu passei, extravagantemente, do tanto e fiquei mesmo... tive um começo
de overdose e fui parar no hospital, tive problema no coração, fiquei quinze dias internada.
Fiquei quinze dias mesmo.
Entrevistadora: Quais que são os seus projetos de vida? Pro futuro, assim...
K.: Com certeza. Desde que eu batalhe pra isso, com certeza. Com certeza sim.
Tudo é possível.
Entrevistadora: E onde que você imagina que você vai estar daqui a dez anos?
K.: Na minha casa, é... num cargo bom, com as minha coisas, o meu filho. Morando
aqui mesmo. Morando aqui mesmo no Brasil, aqui mesmo no meu bairro, muito bem de
vida feliz e contente.
Entrevistadora: Cê acha que a sua vida vai estar melhor, igual ou pior que hoje?
K.: Eu espero que ela esteja bem melhor, porque se piorar eu vou me internar num
manicômio. Ela tem que estar bem melhor, com certeza, ela vai estar bem melhor do que
hoje.
Bom, vamos lá, começar, qual que é seu nome e seu apelido?
Dezenove
Feminino
Heterossexual
Colegial completo
Eu sou solteira
Quatro anos.
Eu não vou muito longe, não vou muito longe do Butantã, no máximo eu venho até
a Paulista pra estudar.
Quem era mais próximo, convivia com você quando você era menor?
Quando eu era menor eu tive duas tias muito próximas, até fico meio chateada
porque depois que eu cresci essa proximidade foi acabando. E depois uma tia com os dois
filhos dela, e o marido dela, a outra é solteira. Mas minha família de maior convivência é
minha mãe e minha irmã.
E a sua mãe?
42.
Conheci. Convivi com meu pai até os meus seis anos de idade, depois não vi mais.
A sua mãe e o seu pai são de São Paulo mesmo ou vieram de outro lugar?
Não sei exatamente quando eles vieram. A minha mãe veio pra cá, acho que ela
tinha uns quinze anos de idade, com a irmã dela que resolveu trazer a família toda pra cá,
pra tentar a vida em São Paulo. Ela conheceu meu pai lá. Eu acredito que ela tenha voltado
pra lá num determinado, numa determinada época, depois veio pra cá novamente, depois
foi pra lá, uma coisa complicada.
O meu pai eu não sei exatamente, minha mãe veio por causa da família, foi pra lá
com meu pai, depois não queria vir para cá, a minha mãe, ela é bem do interior, ela curte
cidadezinha pequena, vidinha pacata, ela gosta. Mas meu pai quis voltar, e ela acompanhou
e ta aqui até hoje.
É minha mãe.
Putz, quando eu tava trabalhando eu acho que era juntando o meu e da minha mãe
acho que dava uns mil reais, hoje em dia, só com o da minha mãe, acho que são quinhentos
reais.
Não faz tempo, acho que não chegou a completar nem um ano que ela trabalha lá.
E sobre a sua relação com sua família, como é a sua relação com sua mãe?
A minha relação com a minha mãe é muito boa, é muito boa mesmo, assim, vendo
outros filhos com outras mães até mesmo na minha família eu acho que nós duas somos
privilegiadas. A gente conversa sobre tudo, a gente costuma dizer que sou eu pro ela e ela
por mim. Eu sou meio marido da minha mãe, eu acho engraçado que a gente vai resolver
alguma coisa e tem que ter a opinião das duas. Chega no mercado, pra comprar alguma
coisa, ela pergunta “você quer levar isso?”, eu acho engraçado, acho engraçado que ela...
Eu até brinco, “mãe, você é minha esposa, por isso que você lava, cozinha...”, ela fica
muito brava, claro, mas eu chego tirando esse sarro. Mas a gente tem uma relação muito
boa, a gente conversa sobre problemas de ambas, a gente se dá bem, bem, tem umas brigas
como toda família, mas a gente tem uma relação boa.
Não... Quando eu era pequena eu tinha uma relação muito boa, minha mãe sempre
foi uma pessoa compreensiva. Quando a minha irmã nasceu, aí já abalou um pouco as
estruturas, eu tinha muito ciúmes, eu fui filha única até dez anos de idade, então quando a
minha irmã nasceu eu tive aquela perda de território, ninguém mais ligava pra mim, as tias
que me amavam só queriam saber da minha irmã, minha mãe... Até eu entender que a
minha irmã era um bebê e que ela precisava de muito mais atenção que eu que já era
grandinha e podia me virar sozinha demorou um pouco. Eu não soube lidar muito bem com
o fato de a minha irmã precisar de mais atenção, mais carinho, então eu me senti muito
rejeitada, então eu brigava, teve uma fase, até os meus quinze anos, assim, a gente não tinha
uma relação muito boa não, não rolava confiança, foi uma coisa, complicada, foi uma fase
complicada, essa fase foi complicada. Até eu começar a trabalhar, quando eu comecei a
trabalhar o nosso relacionamento mudou da água pro vinho. Na verdade mudou um tempo
depois do trabalho, porque a gente ficou separada, porque quando eu comecei a trabalhar a
minha mãe, a minha mãe morava no Ipiranga e eu vim pro Butantã pra trabalhar, e eu fiquei
trabalhando aqui, então isso fez com que a gente se aproximasse mais, como a gente ficou
distante, a gente tentou valorizar mais o tempo de ficar junto. Quando a minha mãe mudou
pra cá a situação ficou bem mais complicada porque eu fui despedida, e a minha mãe
acabou de chegar num lugar onde a gente não tinha nenhum alicerce, não tinha nenhuma
base, não tinha... A minha mãe não tinha trabalho e eu fiquei desempregada, tinha que pagar
aluguel, tinha minha irmã pequena, criança gasta pra caramba, então precisava de dinheiro,
e aí a gente entrou em crise profunda, assim, nossa relação foi lá pra baixo. A gente
discutia, eu sentia que ela minha culpava, era bobagem minha, mas eu sentia que ela me
culpava pela situação do momento, porque eu fui... E eu culpava ela porque eu vim pra cá
meio que obrigada, porque ela achava que era, puta, a, a oportunidade. O fato de eu vir
trabalhar, era pra uma tia minha que tinha uma história complicada com a gente também,
ela meio que se isolou da família durante vinte anos, então, a minha mãe achou que ela
apareceu bancando a redentora, "pô,vou salvar a vida de todo mundo agora", e contou uma
história muito triste, muito feliz alias pra minha mãe, que ia me encaminhar na vida, que se
eu fosse fazer uma faculdade ela me ajudaria, uma história linda, maravilhosa e então
minha mãe falou "você vai". Eu não tinha como falar assim, "pô, não vou", e daqui a alguns
anos me arrepender profundamente. E muitas coisas boas aconteceram a partir desse
momento...
E como é a sua relação com a sua irmã? Ela é sua irmã por parte de mãe ou por
parte de pai?
Ela minha irmã por parte de mãe, por parte de mãe, mas na verdade isso não conta
muito, a gente nunca fala "ela é minha irmã por parte de pai, por parte de mãe"... A minha
relação com a minha irmã é um pouco complicada, porque eu sou meio impaciente, assim,
eu amo ela, amo, amo, amo, o que eu puder fazer por ela eu faço, mas... Eu brigo muito
com ela, às vezes eu sonho que eu tô brigando com ela, é um negocio incrível! Eu acordo
me sentindo mau, tipo, "nossa, eu sou tão megera que até no sonho eu brigo com a criança".
Porque a minha irmã é assim, ela é, ela é extremamente agitada, eu acho que é o nome,
porque a menininha que a minha mãe cuida também se chama Vitória, que é o nome da
minha irmã, e a minha mãe diz que ela também é super danada. Ela é extremamente
inteligente, e ela quer mexer em tudo, pegar em tudo, perguntar sobre tudo, e, e isso me
irrita um pouco. Eu gosto do meu espaço, do meu lugar, das minhas coisas, e ela invade
muito esse meu espaço assim, então a gente quebra o pau. Mas eu sinto que ela sabe que eu
gosto muito dela, e acho que é recíproco, ela também gosta muito de mim. Às vezes ela até
me assusta porque ela vê em mim um exemplo, as vezes ela se descreve daqui a alguns
anos, que se você para pra pensar sou eu. Ela fala que ela quer ser alta, quer fazer um
piercing no umbigo, que é o piercing que eu tenho, uma tatuagem, e ela pergunta se a
minha mãe vai deixar porque eu também tenho a tatuagem. E as coisas que ela fala, dá pra
ver que ela me admira muito, e eu tenho um pouco de medo porque se ela me admira eu
posso decepcioná-la, e é uma coisa que eu não queria, é que essa admiração toda um dia
deixasse de existir. Ah, eu acho que a nossa relação é normal entre irmãos com tanta
diferença de idade, eu acho que é comum, eu acho que todos irmãos que tem essa diferença
grande de idade, eu viro meio que mãe, assim, eu faço a linha de uma mãe neurótica,
daquela que fica medo de criança na rua, que bate um vento e já quer pôr casaco, eu sou
meio chata, eu meio que impeço ela de ser criança, eu falo que ela tem sorte de ser filha da
nossa mãe e não minha, senão ela tava ferrada, ela tava ferrada. A gente foi viajar no final
do ano, e no ônibus ela falou assim, e a gente sai no pau quando a minha mãe tá perto, ela
se transforma. A gente foi viajar só eu e ela, e no ônibus ela falou assim "ai Nê, é mô legal
viajar com você, é muito bom viajar com você, tô gostando, você tá mais legal". Porque eu
cuido demais, porque na estação, a gente foi pegar o ônibus e eu ficava desesperada, com
aquele monte de malas e com a minha irmã, eu falava "segura no cós da minha calça, pelo
amor de Deus, segura no cós da minha calça", que era pra não perder ela no meio da
multidão. Nessas a gente se dá melhor, eu lembro que eu era assim, quando a minha mãe
chegava na casa das minha tias eu me transformava, eu era chata pra caramba, e a minha
irmã faz a mesma coisa, ela segue a mesma linha. Eu acho que eu não vejo a nossa relação
como uma relação anormal, é claro que eu queria dizer "ai, vamos fazer não sei o que" e
levar, mas eu não sei, as crianças fazem muitas coisas assim, que aos meus olhos são
perigosas. Eu penso "e se ela tá brincando, correndo, e se machuca!?" eu fico meio
paranóica, eu tenho bastante medo e acho que isso atrapalha um pouco no meu
relacionamento com ela.
Mas vocês são bem próximas então, não é? Você, ela, a sua mãe. Quem é o seu
parente mais próximo?
Agora é uma tia minha que mora no Butantã também, e antigamente ela não era tão
próxima, ela é a irmã preferida da minha mãe, como ela mesmo diz, mas tem um pequeno
problema, elas gostam muito de cuidar da vida dos outros, sabe? Aquela parenta que adora
cuidar da sua vida? Elas têm esse lado assim, elas julgam demais. E essa minha tia, a tia Jô,
que mora aqui no Butantã, ela não é assim, ela é muito assim "você cuida da sua vida e da
minha vida cuido eu", e a minha mãe adora isso, porque... Alias quem não adora né, todo
mundo curte uma pessoa que, te dá o teu espaço, assim, a liberdade dela termina quando a
tua começa, todo mundo gosta disso. Então minha mãe lida muito bem com ela, e eu
também gosto bastante dela. Meu primo, que é meio nômade, que mora na casa de todo
mundo, inclusive na minha, mas a gente não tem muita proximidade, porque eu vejo ele
entre meia noite e uma hora, é o horário que a gente se vê, então num tem tanto convívio.
Estranho né? Família tão grande e só fala da mãe e da irmã, a mãe e a irmã, mas é, meu
convívio maior é com a minha mãe e a minha irmã.
E com o pai da sua irmã e o seu pai? Vocês não têm tanto contato...?
Bom, o meu pai, eu nunca mais vi. O pai da minha irmã, eu tenho uma relação
complicada com o pai da minha irmã, eu sempre tive. Eu não gosto dele, ele não gosta de
mim, a gente não se gosta. Quando ele conheceu a minha mãe eu devia ter uns 7 ou 8 anos
e eu não gostava dele porque eu tinha ciúme da minha mãe, eu tinha um ciúme meio doente
da minha mãe quando eu era criança, e eu não gostava dele. Criança quando não gosta de
alguém, por mais que a pessoa tente agradar, é mau sinal. Eu não gostava e não gosto até
hoje. Eu não acho que ele seja um bom pai, eu não acho que ele foi um bom namorado pra
minha mãe, eu não acho que ele seja um bom homem. Eu não gosto, eu não acho que ele
tem caráter, dá pra perceber que eu sou bem, né, eu adoro a pessoa, eu não gosto dele e
ponto. A minha mãe as vezes, quando ela não tem tempo ou não consegue, ela me pede pra
ligar, hoje em dia isso já acabou, porque ele disse que não queria mais que eu ligasse e eu
disse que não ia mais ligar. Porque a ultima vez que eu liguei pra ele, ele me ofendeu aos
palavrões no telefone, desligou o telefone na minha cara! Então assim, eu acho que ele é
um péssimo pai, ele aparece a cada seis meses dizendo que á com saudade da minha irmã,
leva a minha irmã pra casa dele a minha irmã chega falando que não quer mais ir... Fora ela
a minha irmã tem mais quatro irmãos, nós somos cinco irmãos, ela tem cinco irmãos no
total comigo, ele tem mais quatro filhos todos homens, e eu achei que por ele ter tido tantos
filhos todos homens, é, ele ia dar, puta, o céu pra minha irmã, por ela ser a menininha, a
menininha dele, a única menininha dele, mas não foi bem assim... Eu acho que eu senti o
que é não ter pai, e eu acho que no meu caso não foi tão doloroso porque o meu pai não
tava aqui, então eu fixei uma imagem dele e pronto, essa imagem foi a que eu tive dele
durante muitos anos. E ela não, ela tem um infeliz lá pra ir destruindo a imagem que ela
tem. Porque uma criança idealiza, né, pô, o meu pai é o super herói, ele é isso, ele é aquilo,
é aquilo outro, e se o pai tá lá pra ir mostrando que ele num é aquele super herói conforme a
criança vai crescendo e ela vai entendendo melhor a situação, um dia ela vai chegar e vai
falar assim "pô, o meu pai não gosta de mim, porque se ele gostasse, ele compareceria
como pai". Ele dá acho que R$ 70 por mês e todo mês é uma luta, e como se R$ 70 fosse
suprir todas as necessidades da minha irmã, tudo que ela precisa, e a minha irmã come,
minha irmã veste, ela estuda, minha irmã precisa de material, minha irmã adoece, minha
irmã precisa de um monte de coisa: xampu, condicionador, sabonete, pasta de dente, todas
essas coisas que criança precisa, adulto também e que R$ 70 não pagam de jeito nenhum,
assim. Então eu não curto, eu não curto o pai da minha irmã. Já com o meu pai, eu acho que
o meu pai é uma pessoa meio, sei lá, eu não num eu não posso dizer que eu não goste do
meu pai, mas também não posso dizer que eu amo porque eu não convivi o suficiente, eu
lembro vagamente do meu pai. O meu pai era alcoólatra. Minha mãe é ótima pra escolher
homem, eu falo isso pra ela, "mãe, você tem um dedinho que é incrível!". Então assim, as
poucas lembranças que eu tenho do meu pai ele tava bêbado. Eu lembro de uma vez meu
pai sóbrio, assim, do tempo que eu convivi com ele eu lembro de ter visto ele uma vez
sóbrio. Então, assim, eu tinha uma imagem bem diferente do meu pai, depois que eu fiquei
adulta, e minha mãe tem uma coisa muito boa assim, ela nunca jogou filho contra pai, por
pior que o pai tivesse sido e por mais que ela tivesse sofrido, ela não fez isso comigo e ela
não faz com a minha irmã, ela tenta mostrar o lado melhor, pelo menos enquanto criança,
depois ela disso ela até começou a me contar mais, as vezes a gente conversando ela me
contava umas histórias do meu pai e eu fui percebendo que ele não era o homem que eu
imaginei que ele fosse, eu achava que ele era um homem doente e eu percebi que não é só
uma doença, era uma falha de caráter mesmo, assim, ele não estava só doente, ele era
alcoólatra, era dependente da bebida, ele gostava de ser dependente, ele bebia no café da
manhã, no almoço, na janta, e ele gostava, pra ele tava bom. Quando faltava dinheiro ele
trabalhava e ia reabrir as continhas nos botecos da vida pra continuar bebendo. Então era
uma falha de caráter mesmo, todas as pessoas que estenderam a mão pra ele, ele não
aceitou. E eu acho que eu não valia muita coisa pra ele, porque acho que se eu valesse ele
teria lutado mais pra ajudar a minha mãe, pra cuidar de mim.
Bom, a gente vai seguir, a gente vai mudar um pouco de assunto agora, a gente vai
falar sobre religião. Em que religião você foi criada?
Eu vou numa igreja, titulo nunca me importou muito, acho que o que me importa é a
pessoa que tá lá em cima, então se você sent que ela tá fazendo diferença na tua vida, então
foi lá que eu fiquei. Essa igreja passa na televisão, passa no canal 21, e a minha mãe
conheceu, ela tá ficando conhecida como a igreja dos milagres, e, paralítico anda, e cego
enxerga, é um negocio assim, você assistindo pela televisão não me emocionava tanto, eu
ate falava assim, "nossa mãe, esse bispo é muito chato", que ele começa a contar umas
historias que eu achava que não tinha nada a ver. Ai um dia eu resolvi que eu ia com ela, e
você sente o poder de Deus ali, aquele homem, ele é super simples, assim, ele fala que ele é
simples, acho que por isso ele sai as vezes um pouco assim do rumo, mas você sente que
Deus usa, que o que ele faz ele faz realmente por amor a Deus e que Deus ouve, quando ele
pede por você, quando ele intercede por você, você sente que Deus vai responder, eu gosto.
Hoje em dia eu vou só de domingo, cedo pra caramba, domingo passado eu acordei três
horas da manha, é uma igreja enorme, e a igreja lota, e um calor danado, mas você sente
que vale muito a pena, é muito importante, não é nem que a igreja tenha uma importância
muito grande na minha vida, o poder de Deus tem uma importância enorme da minha vida,
porque todas as dificuldades que eu passei,todas as lutas que eu chorei, clamei, pedi, ele
veio e disse, calma, vai passar, vai dar tudo certo, e dava tudo certo. Na hora a gente olhava
pra trás e tinha aprendido muito com aquele turbilhão que tinha passado e tinha conseguido
coisas que não imaginava que ia conseguir.
Bom, vamos continuar, eu queria saber um pouco sobre a sua experiência escolar.
Como foi a sua trajetória escolar, assim, quando você começou, se você já repetiu, se você
estudou numa escola pública ou privada, o que você fazia na escola além das aulas
obrigatórias...
A escola foi um dos momentos mais saudosos da minha vida. Eu comecei, eu nunca
fui a melhor aluna da sala, a mais estudiosa, era elogiada nos primeiros dias de aula, mas
depois... No começo do ano meu caderno era o melhor, eu era a mais aplicada, mas depois
já não era mais tudo aquilo, eu era aquela que levava bilhetinho pra casa porque não tinha
feito dever de casa... O que eu gostava muito da escola é que eu gosto muito de aprender,
eu gosto muito de aprender, mas não gosto muito de estudar, eu queria encontrar uma
maneira mais fácil de fazer isso, aprender sem estudar, ia ser lindo, os cursinho todos iam
falir, as faculdades também, mas ia ser muito bom. É, eu gostava muito de ver as
professoras, quando eu era pequena, pequena eu não gostava muito de escola não, porque
criança é um ser maldoso... Assim, eu vou me descrever quando eu tinha uns sete anos: eu
era maior que todo mundo, cegueta, porque eu sou míope e tenho astigmatismo, quando eu
era criança eu já tinha tudo isso, num grau menor, claro, e eu tinha que sentar lá atrás
porque senão atrapalhava a visão dos pequenininhos. Meu cabelo crespo, curtinho, a minha
mãe cortava curtinho na época porque as crianças tinham muito piolho, então ter cabelo
cumprido, crespo, não era muito legal, não era muito higiênico. Então eu era magrela,
grande, e as crianças não me perdoavam, elas era muito maldosas. Eu tinha os mais
diversos apelidos e eu era, tinha um negocio assim, e na frente das crianças eu fingia não
ligar, é melhor eles rirem comigo do que rirem de mim, né? Eu tirava um sarro, arrumava
um apelido ainda melhor pra mim mesma, mas chegava em casa e eu chorava, porque me
chamaram de não sei o que, porque eu sou feia... Eu nunca fui a mais popular, era uma
coisa impressionante. Eu tinha amigos, assim, eu sou uma pessoa bem sociável, eu tinha
muitos amigos, eu gostava muito das brincadeiras de escola, eu gostava de educação
artística, eu era a melhor aluna, só tirava a nota mais alta, gostava de pintar, desenhar,
cortar, essas firulas todas que a gente faz em arte eu gostava de fazer. Depois na quarta série
eu quase repeti, eu só não repeti de ano nenhuma vez graças ao governo, eu sempre estudei
em escola estadual, então você passa de ano semi-analfabeto que tá tudo bem. Eu nunca
passei semi-analfabera, mas fiz muitas coisas pra repetir de ano, e não repeti, passava sem
problemas. Acho que os anos que eu mais gostei da escola foi uma coisa assim de transição
né, eu tava virando adolescente, que foram os momentos mais marcantes de projetos, querer
mudar o mundo, os hormônio já tavam entrando em ebulição, as meninas olhando pros
meninos, os meninos olhando pras meninas. Fiz bastante amigos, alguns eu tenho contato
até hoje. Senti muitas saudades, na oitava série a gente tava, eua ia ter que sair do colégio
porque eu ia ter que sair do colégio, ele era municipal, e era muito bom, inclusive chamava
Francisco Meireles, apesar dos pesares eles faziam de tudo pra que o aluno passasse assim,
com o mínimo pelo menos de aprendizado, e ai eu fui transferida pra um colégio chamado
Nossa Senhora Aparecida, e fui fazer o colegial lá. E era um colégio muito mal falado,
trocaram a direção, e o diretor chegou lá botando banca. Por ser um colégio de periferia,
tem, isso tem em todos lugares, porque depois que eu mudei, na metade do primeiro
colegial, eu fui transferida pra cá pro Butantã, foi quando eu comecei a trabalhar, eu tava
com 15 pra 16 anos. E o colégio de lá, de periferia, coladinho com a favela, era 10.000
vezes melhor do que o daqui do Butantã, do Jd Bonfiglioli, aqui do Butantã, que é assim
um pessoal de classe média, de uma renda um pouco mais alta. Era horrível, o Emidio aqui
do Butantã era terrível, assim, você não tinha aula, os alunos tomavam conta da escola, e os
professores obedeciam, assim, era um negócio trash. O meu colegial não foi uma coisa
muito boa, da oitava série pra trás foi legal, eu aprendi muita coisa, descobri muita coisa,
comecei a namorar, minha mãe começou a me, esse negócio de trabalhar começou mesmo,
porque eu já era mocinha, já tava crescendo, precisava ajudar, então... Esse negócio de
estudo, com a minha mãe, dia desses a gente tava conversando e ela me disse que a
realização dela é me ver formada, ela me vendo formada vai ser uma realização dela. Eu
nunca tinha pensado nisso. Putz, se eu me formar a minha mãe vai tá se realizando vendo
eu me formar, recebendo um diploma... “Você é a fulana de tal que faz tal coisa”, pra ela é a
realização e eu nunca tinha pensado nisso, hoje em dia até me sinto mais pressionada...
E você acha que isso ajuda no seu projeto de vida? A escola, e...
Acho, acho que, muitas pessoas me disseram que não valia a pena se não fosse pra
prestar USP, e eu acho que não, acho que com o preparo que eu tive nos colégios anteriores,
principalmente durante o colegial, que foi um preparo muito fraco. Eu não me sentiria
nunca segura pra entrar numa sala de vestibular e fazer uma prova, um vestibular, eu não
conseguir nem abrir, nem ler, era muita insegurança, eu não tive base, eu não estudei, não
tinha coragem nem de tentar. Eu acho que o cursinho vai me ajudar nisso, vai me dar
segurança, mesmo que eu não vire uma Einstein, não aprenda tudo, que eu num vira uma
gênia, nossa, bitolada nos livros, assim, louca estudando desesperadamente, mesmo que eu
não passe na USP eu acho que eu vou ter condições de seguir qualquer outra faculdade, e
prestar o vestibular com o mínimo de segurança que é preciso pra prestar vestibular. Eu
acho que ajuda sim, eu acho que é bobagem essa coisa de que não vale a pena fazer
cursinho, eu posso pelo menos conseguir uma bolsa numa faculdade paga se eu tiver o
preparo necessário, posso conseguir uma bolsa de 50, 60, 70, integral, não precisa ser a
USP, preciso só estar preparada, pra seja lá qual for.
Não. Na verdade faz pouco tempo, eu tava como auxiliar de administração, mas só
da cobrança, eu emitia notas fiscais, boletos e cobrava mesmo as pessoas, eu ligava pra
cobrar os valores que não tinham sido acusados na nossa folha de pagamento. Foi bem né,
subi de cargo, saí da recepção e fui fazer outra coisa.
E você está sem trabalhar há quanto tempo? E como tá a coisa do cursinho? Você
paga o cursinho, você tem bolsa?
Ah, faz pouquíssimo tempo, não faz nem um mês, uma semana e alguns dias. Eu
pago o cursinho. Eu paguei a primeira mensalidade. Tá tão cedo, eu fiquei desempregada
faz tão pouco tempo que nem parei pra pensar muito nisso. Eu guardei um dinheiro, pensei
e vou conversar na direção do cursinho se esse dinheiro do cursinho é menos do que o total,
mas pra ver se eles fazem pra mim por esse valor, porque provavelmente eu não vou ter o
dinheiro. Talvez meu namorado me ajude a pagar, se for preciso, provavelmente vai ser...
Mas se eu conseguir fazer o acordo com o Objetivo vai ser melhor, né? Pra mim pelo
menos vai ser ótimo. Mas senão acho que o meu namorado vai me ajudar a pagar o curso. E
o dinheiro que eu tenho guardado também vai dar um apoio, mesmo que eles não abatam
tudo, até pelo menos quase o fim do ano eu consigo pagar.
Bom, agora a gente vai mudar um pouquinho de assunto. O que você considera
como raça? Se você tivesse que definir, quais idéias surgem na sua cabeça?
Olha, raça eu acho que eu defino mais como cultura, eu acho que raça hoje em dia é
mau definida, as pessoas definem raça por cor, por cabelo – se o cabelo é crespo, se é liso,
se a pessoa é branca, ou preta, se ela é lésbica... Eu acho que tá mau definido, acho que raça
é definida por cultura, em geral. E as pessoas se chocam quando a pessoa é diferente
demais delas, assim, eu definiria raça por cultura. Por exemplo, uma pessoa que mora no
Japão, eu vou me assustar um pouco com ela não por ela ser amarela e ter o olho puxado,
mas porque ela tem costumes totalmente diferentes dos costumes que eu tenho. Eu posso
me adaptar, não sei, posso entender o hábito dele, se ele gosta de andar descalço na casa
dele, eu não vou discriminar ou entrar de sapato na casa dele porque na minha terra a gente
num tem esse hábito. Acho que a gente pode se adaptar a certas coisas, a outras não, acho
que as pessoas tem que entender. Eu não defino raça por cor, acho que nesse ponto não faz
a menor diferença, ser preto, branco, amarelo, não faz a menor diferença, se o cabelo é
bom, ruim, enrolado, liso, pra mim não tem diferença.
E pra você, pra maneira que você define quem você é, qual a importância da sua
raça?
Putz, essa eu vou ter que pensar. A importância da minha raça, acho
que eu nunca pensei nisso.
Mas você acha que é uma coisa importante pra sua autodefinição?
Não, não muito, não acho que não seja muito. Acho que na minha
definição o que conta não é raça, eu brinco muito que eu tenho um pezinho na senzala,
porque eu sou branca de cor, tenho o cabelo crespo, a bunda grande, o lábio carnudo, então
tenho os dois pés na senzala. Minha mãe é negra de pele, meu pai é que é, eu sou parda,
sabe aquela pessoa que não vai nem fica? Daí eles colocaram esse nome, é pardo. Não
conta muito isso pra mim, nunca pensei no que a raça influencia. Minha mãe me disse uma
coisa um dia desses, que ela fica muito feliz pelas filhas dela, minha mãe também é branca
de pele, e ela fica muito feliz por ter tido filhas brancas. Aí eu perguntei pra ela “mas por
que mãe?”, e ela disse que o negro hoje em dia ainda sofre muito preconceito, só que hoje
em dia tá uma coisa mais abafada né, tão sendo mais sutis, mas sofre preconceito do mesmo
jeito. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade, acho que por eu nunca ter sofrido
esse tipo de preconceito com relação a minha cor eu nunca tinha atentado pra esse lado da
coisa, mas a minha mãe falou que, por exemplo, minha mãe com a minha irmã na rua,
perguntaram se ela era babá da minha irmã, não passava pela cabeça que a minha mãe era
mãe de uma menininha branca, do cabelo liso, cacheado. O cabelo da minha irmã é liso,
cacheado, puxadinho pro loiro. Então acharam que ela fosse babá da minha irmã, já
olharam meio torto minha mãe entrando no ônibus, isso minha mãe contando assim...
Comigo não era tão diferente porque eu tenho cabelo crespo, então não é uma coisa tão, né,
mas a minha irmã não, além de ela ser branca de pele ela tem o cabelo liso, então as
pessoas ficam meio, já olharam meio torto, meio como quem diz assim “tá seqüestrando a
criança? O que uma mulher dessa cor tá fazendo com uma menininha tão branquinha,
bonitinha, né?”. Raça é... eu acho que tá por fora, acho que é besteira essa coisa de
pessoas... Eu não posso dizer que eu não sou uma pessoa preconceituosa, eu já me peguei
com preconceito, a gente acaba não encarando como preconceito, mas se você parar pra
pensar, você tem preconceito com uma pessoa feia, então você já olha pra ela meio assim,
isso é preconceito, todo mundo tem preconceito. Acho que as pessoas tão preocupadas em
dividir muito as coisas, assim, eu acho isso bobagem, acho que a gente perde muita coisa,
acho que a gente devia mais é se interessar em aprender, aprender os costumes, aprender a
conviver, aprender... Eu acho que nós seríamos seres humanos melhores. Mas é um
pensamento muito idealista, uma coisa meio sonhadora, isso nunca aconteceu, não vai
acontecer hoje, acho que não mudaria mais, infelizmente.
O que é racismo para você? Se você tivesse que definir, em que situações você acha
que existe racismo?
Em todas, acho que racismo é uma palavra horrível, mas acho que em
todas, todas tem racismo. Tem racismo com cor, com diferenças em geral, com diferença de
classe, com diferença sexual, com tudo você tem racismo. A minha definição de racismo é
ignorância. Eu nem sei definir direito, é uma coisa que eu não consigo entender muito bem,
por que uma pessoa não dá uma chance pra outra porque ela é preta, porque ela é pobre,
porque ela é branca... Porque tem muito negro, falam que só tem preconceito com preto,
por causa da nossa história, e tal, mas o preto também tem muito preconceito com branco.
Às vezes cria o preconceito em si mesmo, um branco olha, isso eu já presenciei, uma
pessoa branca olha pra ele ou comenta alguma coisa... Na escola tinha uma menina negra e
a professora, eu não sei o que ela tava fazendo, se era comendo alguma coisa na sala, e a
diretora entrou, e brigou com ela, e ela disse que aquela bronca era porque ela era negra,
porque se fosse uma pessoa branca ela num faria aquilo. Eu acho que preconceito tem em
todo o lugar, racismo alias, tem em todo lugar.
Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm as
mesmas aptidões/habilidades para atividades escolares/acadêmicas?
Acho que sim, eu acho que a cor da pele não vai influenciar em nada no QI da
pessoa.
E no esporte?
Também, também, eu acho que é a mesma coisa. Eu acho que pode haver até uma
certa diferença porque alguns são mais fortes que os outros, pela descendência, pela forma
de criação... Por exemplo, o negro é uma pessoa um pouco mais, mais resistente, o índio eu
creio que sim também. O branco já é uma pessoa mais frágil. Não que todos sejam, não é
uma coisa assim, não é todo negro que tem porte atlético e não é todo branco que é
magrelo, mirradinho, mas eu acho que influencia pelas gerações, pelos antepassados, pelas
formas de vida também.
Ah, eu acho que sim. Nesse ponto intelectual eu acho que num influencia nada você
ser branco, preto, azul, amarelo verde, acho que não muda muita coisa. Não muda nada.
Você acha que as pessoas brancas, pardas, pretas, amarelas e indígenas têm
tendências diferentes a desenvolver certos tipos de doenças?
Ah, isso eles provaram cientificamente, que esse povo não tem muito o que fazer e
ficam vendo se preto fica doente mais do que branco, se branco fica mais do que preto... E
assim pro diante. Provaram cientificamente que os negros tem mais resistência certas
doenças, o negro envelhece menos, o negro tem menos probabilidade de ter câncer de pele
do que o branco, acho que só essas que eu tenho conhecimento, mas acho que deve ter
outras que uns sejam mais resistentes que os outros. Mas isso não muda muita coisa porque
tem doença em que o homem é mais resistente que a mulher, independentemente de cor.
Eu não achava que tivesse diferença, mas me mostraram que tem diferença, eu acho
que as chances não são as mesmas pra um negro, um branco, um índio... O branco, ainda
hoje, eu acho que o branco é mais privilegiado na sociedade. Uma pessoa bonita, porque a
beleza também conta muito hoje em dia, estamos num mundo onde a beleza conta muito, a
aparência conta demais, então chega lá um pretinho feio, com aquele nariz de batatinha e
beição, ele nunca vai ser chamado. Se chegar uma negra bonitinha, ainda pode ser que role,
mas é mais difícil, se uma branquinha mais ajeitada chegar, a branquinha mais ajeitada
ganha da mulata linda, maravilhosa.
De cor? Acho que nesse ponto não faz diferença porque, ainda bem, o coração ainda
não vê cor, nem beleza, o coração é uma coisa interessante, você se apaixona por pessoas
feias também, isso é muito bom. Há alguma parte que salva em nós ser humanos, em alguns
pelo menos, em outros nem isso mais.
Olha, relatos já ouvi vários, esse da minha mãe que eu contei com a minha irmã,
meu primo me contou uma vez, que... Como chama aquela pessoa que é bem branca, bem
branca mesmo?
Albina?
É, albina! Ele conheceu um albino, o cara veio dar um abraço nele e ele recuou,
porque ele se assustou com a pessoa, ele não conseguiu abraçar. Ele falou que ficou mal
depois de pensar, mas foi uma coisa que ele não conseguiu evitar, foi um preconceito que
ele não conseguiu evitar, ele não conseguiu abraçar o cara porque ele era branco demais,
branco que assustou ele assim...
Você acha que existe racismo, bom, no Brasil, você já falou que acha que sim... E na
África do Sul e nos EUA?
Na África do Sul eu acho que deve existir sim, mas eu não tenho certeza, acho que
existe sim, mas é porque lá é um país composto basicamente por uma raça só, né? Acho que
lá não tem essa miscigenação que tem aqui. Nos EUA eu acho que o bicho pega. Eu tive
uma professora que disse que foi até lá, e tinha uma menininha negra np supermercado com
o cabelo trançado, lá as pessoas são muito bonitas, assim, o negro principalmente. Tem uma
competição acirrada, porque se o branco tem o negro tem que ter, então se o branco é
cheiroso, limpinho, arrumadinho o negro vai ser limpinho e arrumadinho, não tem esse
lance de ficar mais pra baixo, tem que tá ali, juntinho um com o outro. Se um sobe um
degrau o outro sobe junto, não pode tá um abaixo do outro. Daí ela disse que ela foi elogiar,
e que foi agredida pela mãe, olhou pra ela com cara feia... Lá eles são divididos por bairros
negros, bairros brancos, lá acho que o bicho pega...
Aqui eu acho que rola uma certa, eu acho que as pessoas tentam, tentam, uns acho
que não conseguem, outros acho que fingem, e realmente não vêem a menor diferença... Eu
acho que é bom, acho que é bom. Eu só não gosto da hipocrisia, ou você gosta, ou não
gosta, mas acho que você não precisa destratar uma pessoa ou humilhar, pisar, tratar como
se ela não tivesse sentimentos, não fosse uma pessoa, só por causa da cor da pele dela. Eu
acho que isso não deve ser feito. Acho que aqui hoje em dia isso existe num nível um pouco
mais baixo, mas acho que pra falar mesmo só vivendo, só sentindo mesmo o preconceito na
pele eu saberia dizer mais ao fundo. Eu nunca fui vítima de preconceito, não por cor, já fui
vítima de preconceito por idade, por classe social, por ser pobre, por ser uma pessoa vinda
de uma favela, já fui vítima de preconceito nesse ponto. De as pessoas não me darem muito
crédito por eu ser mais nova. De repente eu tava com uma ótima idéia, mas as pessoas não
queriam ouvir a minha idéia porque eu era jovem e eles eram mais velhos, “magina que
essa garota vai ter alguma idéia”, ou, ou por eu ser mais nova. As pessoas desconhecem, as
pessoas na maioria desconhecem que a pobreza tem vários, várias vertentes, assim. Uns vão
pro tráfico, pro crime, outros aprendem muito. Eu fui uma pessoa que aprendeu muito com
a pobreza, eu aprendi a lutar, e que com isso eu ia correr atrás, fazer o máximo que eu
pudesse, pra que se um dia eu fosse ter filhos os meus filhos não passassem pelo que eu
passei, não tivessem as dificuldades que eu tive. Isso também é um tipo de preconceito
muito grande e que eu sofri, racial não, mas preconceito por classe social eu sofri muito, de
me aproximar de uma pessoa e dizerem que eu era uma oportunista, do meu namorado
mesmo, pra algumas pessoas eu me aproximei dele pelo dinheiro, porque ele tem. Na
verdade eu nem sei se tem, a vida que ele tem não é uma vida de rico, pra mim a vida que
ele tem eu acho que é uma vida digna, eu acho que todas as pessoas deviam ter o padrão de
vida que ele tem. Eu acho que todo mundo devia ter a sua casa, o seu carro, o seu trabalho,
viver dignamente, pagar contas e conseguir parar numa padaria e tomar um sorvete, ou se
ao invés de tomar um sorvete querer ir num restaurante mais chique, refinado, poder ir, o
filho pedir um brinquedo e ele poder dar. Acho que todo mundo devia ter esse estilo de vida
e eu luto pra ter por mim, pelo suor. Claro que ajuda é muito bom sempre, sozinho as
chances de conseguir são muito menores, sem dúvida.
Bom, a gente tá falando agora de acesso às coisas, e a gente vai falar mais ou menos
sobre isso. Sobre lazer, sociabilidade. A que lugares você costuma ir pra se divertir?
Bom, eu sou, eu virei meio bicho do mato, eu fiquei muito, muito caseira, mas
quando eu quero me divertir eu gosto muito de ir pra bar, de conversar com amigos, gosto
muito de conversar. Então qualquer lugar tá bom pra eu me divertir, tendo uma pessoa pra
conversar comigo. Eu gosto muito de praia, de festa, de festas com pessoas que eu conheço.
Não sou muito chegada em balada, eu até curto, mas sair pra um lugar onde eu não conheço
ninguém, eu não me sinto muito a vontade. Eu gosto mais de chegar na casa de uma amiga,
onde a gente tem outros amigos em comum, todo mundo tem alguma coisa pra conversar,
todo mundo conhece todo mundo, isso me diverte.
E quando você sai pra paquerar, você vai a esses lugares que você falou?
Eu nunca saio pra paquerar, de vez em quando acontece, mas eu nunca saí de casa
“hoje eu vou paquerar”. Eu, normalmente a gente sai e se acontecer legal né, quando você
tá sozinho, é legal, mas eu nunca saí pra paquerar. Acho que não tem um lugar certo pra
você procurar alguém pra ficar junto, acontece. Na escola, no clubinho, na esquina, no
ponto de ônibus... Acontece.
E quanto aos seus amigos você prefere em relação à: classe que sejam mais ricos,
mais pobres...
E de idade?
De idade já é um problema, porque eu tenho 19 anos, mas eu sou meio velha assim,
antiquada, então as vezes eu sento com pessoas da minha idade e os assuntos me irritam.
Sabe aquele papinho meio histérico, meio despreocupado demais, assim, me irrita um
pouco. Não é só uma diferença de idade, eu tenho amigos da minha idade e até me divirto
com eles, assim, (troca de fita).
Então Vanessa, você falou das suas preferências de idade quanto aos amigos, e sobre
escolaridade, você prefere que seja a mesma, que sejam mais instruídos do que você,
menos...?
Ah, eu gosto de pessoas mais instruídas, eu num discrimino, pra conversar, pra
conversa, alguém que tenha um bom papo, precisa ter cultura, não cultura, é, não cultura de
escolaridade, bagagem seria a palavra, pessoas que tenham o que falar, eu gosto muito
dessa coisa de troca, de trocar experiência, idéias, eu num gosto daquela pessoa que não
tem nada pra te dizer, que só fala bobagem, só porcaria, me irrita um pouco.
E com relação à orientação sexual, você prefere que sejam heterossexuais, homo...?
Eu não prefiro, eu só não sei como agir com homossexuais por não ter muitos
amigos homossexuais, não por ter alguma coisa contra, mas eu não sei como agir, eu não
sei o que falar, não sei se vou ofender em algum ponto, porque é uma classe tão
discriminada que eu fico com medo de falar uma coisa assim que, mesmo que eu esteja
falando sem maldade nenhuma a pessoa me interprete mal e fique chateada comigo. Então
eu fico um pouco sem ação assim, eu vou bem devagarzinho com eles, com as pessoas que
eu conheço que são homossexuais.
E cor relação à cor, você prefere que sejam mais claros, mais escuro, tanto faz...?
Tanto faz, não faz diferença ser mais claro ou mais escuro.
Não, não, isso conta também? Tem gente que escolhe amigo assim? Ia ser
engraçado, “meus amigos só serão fortes, sarados, barriga de tanquinho, as moças com
bumbum com tudo em cima...” Ia ser engraçado.
Olha, amigo, amigo assim, no sentido verdadeiro da palavra, eu não tenho muitos,
mas são mulheres. Mas eu me dou melhor com os homens, eu sei agir melhor com eles,
mulher é uma coisa muito complexa, muito complicada, e mulher é uma coisa assim, eu
acho que a gente tem inveja uma da outra, por mais que a gente gosta a gente acaba
invejando. Eu tive uma amiga, a Talita, que foi minha amiga nos tempos de escola,
inseparável, a gente se conheceu aos nove anos e se separou quando eu mudei de escola,
dos 14 pra 15, e foi assim, a gente viver esse período, dos nove aos 14, 15, grudadas, todas
as experiências que a gente passou, 1º beijo, é, 1ª decepção amorosa, essas coisas que
adolescente passa, então a gente tinha dia da gente se pegar porque eu tava bonita demais e
ela não gostava e vice versa, a gente não falava, mas sabia, tinha dia que o cabelo dela tava
bonito demais e eu já me sentia ofendida com a beleza dela, assim... Então é mais fácil lidar
com homem, eles são mais despreocupados e não ligam pra esse tipo de cosia, é só você
impor um certo limite e pronto, é muito mais fácil.
Não, eu queria, mas eu não me identifico. Eu fico olhando essas pessoas cheias de
estilo, essas pessoas ousadas, eu queria ser ousada, eu queria pintar o meu cabelo de roxo e
sair na rua achando o máximo estar com o cabelo roxo, como se fosse a coisa mais normal,
mais comum, mais linda do mundo, assim, sem ter problema nenhum com todo mundo me
olhando com todo mundo me olhando. Eu acho que eu faço o estilo discreto. Eu tenho
quase 1,80m de altura, então se a pessoa não me notar, porque eu sou muito grande, a
pessoa pode nem quer, mas ela me vê, e pode não parecer, mas eu sou tímida, sou uma
pessoa muito tímida, eu não gosto de ser o centro das atenções, me dá taquicardia ser o
centro das atenções! Se você me colocar pra falar com uma pessoa eu me saio super bem,
mas se você me colocar pra falar com várias pessoas eu num falo, então eu começo a
tropeçar as palavras. Então eu faço o estilo discreto, assim, uma sainha, um decote... Um
amigo meu disse que, eu briguei com ele porque ele num olha nunca na linha dos meus
olhos, eu brinquei com ele que ele tá sempre abaixo, e aí ele falou assim que eu é que tava
complexada, que eu mostrava só que não queria que olhassem. Eu fiquei constrangida
ouvindo isso, né?
E sobre o Rock Brasil, o lugar onde eu convidei você para participar da pesquisa,
você costuma ir sempre lá?
Não, na verdade é a primeira vez, eu vim só pra conhecer, eu num sou muito fã de
rock, assim, eu até acho legal, mas não muito, eu tenho momentos rock and roll, sabe?
Momentos rock and roll, mas não é um lugar onde eu vá sempre.
Para você, como são as pessoas que freqüentam um lugar como o Rock Brasil?
Como você definiria o tipo de pessoa que vai lá?
Maluca. Malucas, assim, eu acho que rock é uma maneira muito aberta de se
expressar, porque é um negócio barulhento, aí você grita, tem aqueles, aquele negócio que
as pessoas se batem, como é, eu esqueci o nome, que empurram...
Fazer rodinha?
É, tem um nome que eu não me lembro qual é. Mas, então, você vai lá pra soltar
suas pestes, é um negocio agressivo assim, o jeito de você dançar o rock é um negócio
agressivo, assim, você dança, você fica berrando, é libera geral mesmo pra sair de lá de
alma lavada, assim...
E quando você vai se aproximar de alguém, um amigo ou amiga, paquera, como
você costuma agir?
Não... Não.
Não, sossegado.
Costumo.
E onde você acessa? Com que finalidade? Já conheceu alguém pela Internet?
Não, acho que esse negócio de conhecer pessoa pela Internet uma coisa perigosa e
estranha também né, você fica lá conversando com a pessoa e ela diz que é o Gianecchini, e
é o Corcunda de Notredame, é essa é a melhor das hipóteses, ou quando não é um
assassino, ou coisa do tipo. Eu acesso a Internet mais com finalidade de pesquisar,
descobrir coisas assim, o mundo tá lá dentro, é impressionante. Acho que a minha
finalidade maior é essa, não sou uma pessoa viciada em Internet, não é uma coisa que tenha
falta a fazer.
Você esteve ou está envolvido com algum grupo, ONG, ou movimento social?
Não, não.
Bom, agora a gente vai falar sobre relacionamento. Em relação aos seus parceiros/as
você tem alguma preferência relativa à: classe?
Não, não, acho que não. Como eu disse a coisa boa é que o coração não escolhe
muito isso. Se você gosta você gosta, se ele tem dinheiro, bom, se ele não tem, legal, a
gente consegue junto, não faz muita diferença.
E idade?
Idade eu tenho, eu não gosto de gente, muito, num é nem idade, é cabeça, se a
pessoa for madura e tiver 18 anos eu vou gostar dela, se ela for imatura e tiver 38 eu não
vou gostar dela. Meu negócio é mais com maturidade.
E escolaridade?
Não, não, acho que não. Se eu me apaixonasse por uma pessoa que não tivesse
completado os estudos eu a incentivaria a completar, porque, pras coisas ficarem um pouco
mais fáceis pra ela conseguir, mas não que faça tanta diferença, no gostar da pessoa não faz
diferença.
Hoje em dia eu prefiro que eles sejam heterossexuais, mas já tive a minha fase meio
confusa.
A gente vai falar sobre isso a seguir. Sobre atributo de gênero, seria mais masculino,
mais feminino...?
Você diz um homem que tenha isso? Tipo meio machão, você diz, ou...?
Parceiros/as em geral.
A tipo físico?
Também não faz, fez diferença quando eu era menininha, que eu queria que fosse
mais alto que eu, fortão, aquela coisa da idade, hoje em dia não faz diferença.
E religião?
Religião, não sei, desde que respeite a minha eu não vou criticar a dele.
E característica de personalidade?
Não, eu sou uma pessoa de namoro, eu sempre namorei, desde os onze anos até
hoje, assim, eu construo relacionamentos muito sólidos. Se eu amo, e vejo que há futuro eu
penso em casar, já pensei em casar quatro vezes. Quatro vezes eu to pra casar e nunca caso.
Ficar não faz meu estilo, eu fiquei pouquíssimas vezes, não faz meu estilo. Ficar com uma
pessoa por sexo, então, piorou, eu acho que pra fazer sexo você precisa gostar, precisa ter
sentimento.
Você já foi paquerado (a) por pessoas do mesmo sexo? (explorar diferenças de cor e
classe). Como reagiu?
Já, já. Eu fiquei com a pessoa, foi a minha fase meio mal feita, não sei pra onde vou,
essas coisas. Aí eu resolvi experimentar.
E você já teve alguma relação afetiva com uma pessoa de cor/raça diferente da sua?
Já.
E classe?
Já também.
Orientação sexual?
Escolaridade?
Já.
Na maioria foram boas. Meu primeiro namorado era loiro de olhos verdes, e eu
brinco que eu tenho o pé na senzala... E foi, foi aquela coisa de conto de fadas meu
primeiro namorado. Meu segundo namorado era moreno de pele, e também foi legal, foi
uma relação muito legal, foi um dos meus relacionamentos mais divertidos, assim, eu
brincava que devia ter ficado só na amizade porque daria mais certo e a gente taria se
falando até hoje se a gente tivesse sido só amigo, né? E minha ficada com uma pessoa do
mesmo sexo que eu não foi muito legal, eu não curti muito a idéia, descobri que eu não dou
pra coisa.
Era bissexual.
Da mesma cor sim, da mesma classe não. Ah, acho que dá pra colocar da mesma
classe.
Pra mim tem que ser inteligente, tem que ser segura, o oposto de mim em algumas
coisas. Eu sou um pouco insegura, então eu procuro segurança numa outra pessoa.
Inteligência me atrai muito, uma pessoa que saiba o que falar, na hora que tem que falar,
assim, me atrai muito. Me atrai uma pessoa decidida, uma pessoa que pensa a decisão e faz
a decisão, atenciosa, tem que ser atenciosa. Decidido, inteligente, mais que isso é perfeito,
né?
Ficar, hoje em dia tá tudo liberado! Agora ficar inclui tudo, barba cabelo e bigode.
Agora pra mim no máximo um beijinho na boca, é até onde pode ir, baixou a mão demais já
leva um tapa, já leva um safanão, opa! Num rola.
Quando você gosta de alguém ou tá interessada em alguém pra ficar, namorar, o que
você faz para chamar a atenção?
O homem ou a mulher?
Ah, você ou a pessoa em quem você tá interessada...
Olha, eu, é mais fácil quando a outra pessoa chega, é mais conveniente pra você,
mas se embaçam demais assim eu chego, eu vou lá dar a cara pra bater. Pode ser que dê
certo, pode ser que não, agora com a dúvida eu num volto pra casa, assim, “será...?”, eu não
tenho muita paciência.
Você considera que há parceiros/as para ficar e outros/as para namorar? O que faz
com que alguém seja considerado por você uma coisa ou outra?
Ah, eu acho que depende do momento da pessoa, porque tem pessoas que tão no seu
momento de “não quero um compromisso sério, mas não quero ficar sozinho”, então essa
pessoa seria denominada a escolha certa pra ficar, pra dar uns beijinhos, o que a gente
chama de step, vou ligar pra fulano/a e vai rolar uns beijinhos, abraços, carinhos e vou ficar
resolvida. E tem aquelas pessoas que no momento querem o cobertor de orelha fixo, aquele
que vai tá ali do meu lado, então acho que dá sim pra classificar, pessoas pra ficar ou pra
namorar.
O que você pensa sobre namoro entre pessoas de cor/raça diferentes. E sobre
casamento?
Ah, eu acho o máximo,acho que é uma prova de que não tem nada a ver a cor da
pessoa, não faz a menor diferença você ser branco, negro, índio, japonês, não influencia em
nada, você pode ter o relacionamento e ser feliz ou infeliz tanto quanto duas pessoas da
mesma cor.
O que você pensa sobre namoro ou casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Ah, isso é uma coisa que eu não tenho profundo conhecimento. Eu não ligo, mas eu
não acho normal. Eu não trataria mal uma pessoa que é homossexual, como eu disse lá no
começo eu fui criada numa família evangélica e no evangelho foi criado Adão e Eva, num
foi criado Adão e Adão, Eva e Eva. Acho que é uma coisa que a gente já quis mudar demais
e daí já ficou uma certa... É uma coisa que eu não compreendo muito, então não tem como
eu falar... Mas acho que quando a pessoa se gosta, se ela for homem, ou se ela for mulher,
eu acho que não tem problema, é ótimo, se tem amor, sentimento, não faz diferença.
Quando você sai com alguém você costuma transar no primeiro encontro?
Acho que já aconteceu, mas não que eu tenha o costume. Não acho que no primeiro
não, nunca aconteceu comigo, mas assim, transar só por transar... Normalmente eu transei
com pessoas que eu sabia, sentia que ia dar pé, assim, e realmente deu, eu comecei a
namorar. No segundo encontro serve? No segundo eu já transei, no primeiro não, mas no
segundo já.
Você tá namorando como você falou, né? E vocês se conheceram no trabalho, como
você disse... Fala pra mim algumas características dessa pessoa com quem você namora e
um pouquinho sobre essa relação, há quando tempo vocês estão juntos coisas que marcaram
e tudo mais que você quiser contar...
Ai, eu vou babar um ovo... A gente tá junto há um ano, mas na verdade a gente tem
um relacionamento meio complicado, porque e tinha acabado de terminar um
relacionamento com um cara que não tinha caráter nenhum, então eu tava arrasada,
despedaçada, diminuída, eu não sabia se queria homem ou queria mulher, eu tava meio
desiludida da vida, assim, e, era uma fase que eu falei que nunca mais ia me apaixonar por
ninguém. Aí ele apareceu e chegou de um jeito errado, assim, me abordou de um jeito
errado, porque a gente trabalhava junto e eu era, tinha muito poucas mulheres na empresa, e
homem quando quer ser sutil ele é, mas quando não quer é uma loucura, são os mais
grossos possíveis! Então ele vinha com brincadeiras muito vulgares, acho que uma visão de
mim, tinham passado uma visão de mim pra ele que eu era uma mulherzinha qualquer,
vamos dizer assim, e as pessoas nem me conheciam, isso que eu acho engraçado, mas
pensavam “ela é novinha, então o negócio dela é zoar!”. Então ele chegou em mim de um
jeito errado. Ele me contou, eu tava muito frágil, e um dia ele ligou no meu telefone e
perguntou se tava tudo bem...
Na sua casa?
Não, no telefone da empresa, da minha sala. Então ele perguntou se tava tudo bem,
se eu tinha me desentendido com a minha mãe, e tudo que ele tinha falado antes não tinha
surtido o menor efeito, mas o fato de ele ter se preocupado com meu estado de espírito fez
com que eu olhasse pra ele com outros olhos, opa, será que merece uma chance, será que
rola... Aí aos poucos ele foi me conquistando, ele tem todas as características que eu
procuro num homem, ele é inteligente, decidido, é seguro, não é perfeito, é inseguro
também, ele é normal, ele é humano como todo mundo né, não é super seguro, super
decidido, a gente tem inseguranças e decisões, mas ele me completa, assim, aonde eu sou
fraca ele é forte, aonde ele é fraco eu sou forte.
O que mais você contaria sobre coisas que marcaram a relação? Dificuldades, ou
coisas que são legais...?
Dificuldades a gente tem até hoje. Jura que eu posso falar isso? É, na verdade, ele é
casado, por isso que eu não queria ficar com ele no começo, foi uma das coisas que
comprometeu, uma das dificuldades, só de falar isso já é uma imensa dificuldade. Uma
coisa que tenha marcado muito na nossa relação pra eu ter certeza de que ele gosta de mim
é a forma como ele me trata, a forma como ele me olha, são coisas que, o fato de ele ter
falado pra família dele inteira que eu existo mesmo estando casado eu acho que foi uma
coisa muito importante pra mim, ele num faria isso se a intenção dele não fosse ficar
comigo, então foi uma coisa que me marcou muito, de ele ter estado comigo nos momentos
mais complicados da minha vida, assim. Ele esteve comigo quando eu tava um caquinho,
ele me ensinou muita coisa. Quando eu era a menininha, ingênua num vou dizer que eu era,
mas muito insegura, muito assim, a ponto de não conseguir dar praticamente um passo, tive
que ser muito forte, guerreira porque eu fui criada guerreira, mas depois eu fiquei
estagnada, eu parei, então ele me ensinou a ver que eu sou bonita, que eu sou inteligente,
que eu sou capaz, assim, isso marcou muito. A segurança que eu tenho pra falar, todas as
minhas convicções eu devo a ele. São coisas pra mim muito marcantes, assim.
Duradouros eles sempre são, é impressionante! Minha mãe fala que eu tenho que
ficar sozinha um pouco porque eu namoro muito e é engatilhado, meus namoros, assim, eu
termino e começo outro, antes desse meu namorado foi o período mais longo que eu fiquei
solteira, três ou quatro meses que eu fiquei sozinha, porque normalmente eu terminava hoje
e amanhã já tava namorando, é uma coisa estranha até, né, mas assim que acontecia. Eu tive
quatro relacionamentos, os dois primeiros foi uma coisa assim fofa né, coisa de menininha,
foi o meu 1º namorado com quem eu perdi a virgindade, era aquela coisa mágica né, então
ele era meu príncipe encantado, eu ia casar com ele, ter muitos filhinhos, na na na na na na,
essa coisa assim de meio que brincar de casinha. Aí como a gente cresce né, as coisas
mudam e esse meu 2º namorado surgiu. Meu 1º namorado era super pacato, uma coisa de
estar ali, curtir a fase e eu tinha algo dentro de mim, meus hormônios, que eu queria sair,
queria curtir e foi quando eu conheci meu 2º namorado, que ele era o que eu tava
procurando no momento, gostava de sair, namorar, era muito cheio de amigos, dormia
muito tarde, a farra né? Aí a gente começou a namorar e foi aquela coisa né, muito
divertido, ele era meu namoramigo assim, a gente brincava mesmo que nem criança, a
gente se divertia bastante. Meu terceiro namorado foi a minha primeira desilusão assim,
quando a gente era mais nova a gente achava que aquele menininho que a gente mandou o
bilhetinho e não respondeu era uma desilusão amorosa, mas aí a gente cresce e aparece um
traste na nossa vida e a gente vê que o buraco é bem mais embaixo. Ele era bem mais velho
que eu, 19 anos mais velho que eu, ele era cafajeste assim, ele me usou, hoje em dia eu olho
e eu era um troféu, a menininha novinha que ficava com o tiozão e que aparentava gostar
do tiozão, ele era o bambambam, que catava as menininhas, ele tinha 37 e eu tinha 17, e ele
me iludiu. Eu digo que ele era canalha porque ele era canalha, ele chegou contando aquela
história do príncipe encantada. Então você era novinha, daí de repente chega um cara que te
dá flores, abre a porta do carro, e oferece musicas a você, e todas essas coisas que a gente
vê na novela e queria tanto um dia que acontecesse com a gente, foi o que ele fez e depois
de pouquíssimo tempo mudou a água pro vinho. Eu boba, fiquei ali do lado, dei o meu
apoio, porque eu achava que era a minha, eu achava que era meu trabalho, eu tinha que
fazer isso, tinha que ficar ali, era minha obrigação, tinha que dar apoio pra ele. Quando a
gente começou a namorar a minha vida sexual era maravilhosa, era uma loucura, sempre
que podia, até quando não podia... Três, três meses ou quatro depois a coisa foi cessando e
pô, eu com 17 anos, com 17 anos você tá no auge, é uma loucura, os hormônios estão todos
atacados, você quer porque quer. E de repente o cara num queria mais e, falei, pronto, to
com algum problema, defeito, num to fazendo direito, e ia tentar conversar com ele, porque
pra mim era um problema. A mãe dele me detestava, a irmã dele me detestava, e eu num
sabia porque, e eu pensava, poxa, o que eu to fazendo de errado? A princípio era porque eu
era nova demais, aí o lance da discriminação por idade, que eu queria dar o golpe da
barriga, que era irresponsável... Num era nem o golpe, por eu ser jovem eu era
irresponsável, eu num tinha capacidade de usar camisinha e me cuidar pra não engravidar, e
elas não pensavam que ele podia me largar e eu ia arcar com as conseqüências sozinhas,
porque eu já vi isso acontecer com a minha mãe... Mas ninguém nunca me perguntou o que
eu achava sobre isso. Então a mãe dele teve umas doenças e a culpa caiu sobre mim, pela
minha idade, por tudo isso ele falava que ela tinha tido aqueles piripaques todos por causa
disso, e que ele tava se sentindo pressionado por isso não transava mais comigo. Eu, como
uma santa praticamente, tentei compreender né, não, poxa vida... Daí depois a mãe dele
ficou boa e nada, e eu “que que tá acontecendo, você num quer procurar um médico, eu te
ajudo...”, né? Aí ele me contava umas histórias, assim, uns contos da carochinha, uma coisa
assim... Na verdade depois que eu terminei com ele eu descobri que ele fazia isso com
todas as outras. Ele amava, amava, amava no começo, a namorada era a vida dele, ele
queria casar, ter filhos pra sempre, e depois ele descobria que não. Mas quando ele
descobria, o problema não era esse, a pessoa tem esse direito, ele num era obrigado a ficar
comigo. O problema era: por que ele num chegou e me falou? Poxa, desculpa, eu ia sofrer,
claro que ia sofrer, mas ia sofrer bem menos, eu ia me sentir muito melhor, assim, em saber
que ele foi honesto comigo, mas ele me diminuía, eu me sentia humilhada, fiquei muito
tempo rejeitada, eu queria ficar junto com ele, não só fazer sexo, e ele não queria ficar
comigo. Depois ele fumava maconha o dia inteiro, todos os dias, e não era viciado, pra ele,
ele num era viciado. E ele fumava todos os dias e eu não podia fumar, eu achava isso
engraçado... E ele tinha um filho de 13 anos. Então olha como a relação era complicada, ele
usava droga, ele tinha um filho de 13 anos com o qual eu tinha que dividir a atenção dele,
porque ele não morava com o filho, então quando o filho tava com ele eu tinha que me
anular totalmente. Eu me anulava não porque ele pedia, mas eu sei como não é ter pai,
então eu pensava assim, pô, garoto num vê nunca o pai, daí quando vê o pai a namorada
fica roubando a cena? Eu pensava, pô, deixa ele, então quando ele falava que ia buscar o
Gui na casa da mãe dele eu já falava que tudo bem, se ele num quisesse me ver, curte o
final de semana com ele, mas ele num curtia o final de semana com o filho, ele largava o
menino com a avó e a tia, a mãe e a irmã dele, e ia pra pracinha ali perto da casa dele fumar
maconha com os amigos.
Quase um ano. Aí eu resolvi que num agüentava mais a situação, por mais que eu
gostasse, eu gostei profundamente, não sei se é gostar, eu gostei, me iludi tanto que acabei
gostando, acabei criando um sentimento que eu não sei descrever bem qual era. Hoje em
dia eu digo que eu amo, porque é uma coisa totalmente diferente, por mais que seja difícil a
nossa relação, eu me sinto bem com ele, de pensar nele , eu me sinto feliz de estar com ele
ou ter estado com ele e com o antigo namorado era o oposto, assim, com ele eu me sentia
oprimida, sem ele eu me sentia mais oprimida ainda... Quando eu terminei com ele, ele era
tão cafajeste, que eu liguei pra ele, eu tinha sido rejeitada mais uma vez na cama no dia
anterior, na verdade eu não tinha sido rejeitada, pela primeira vez ele veio e eu não quis,
porque vez por outra ele vinha fazer uma coisa bem mal feita por desencargo de
consciência, eu sentia que ele tava fazendo aquilo pra eu parar de encher o saco, então era
uma coisa sem sentimento, sem nada, assim, era muito mal feito, daí eu não quis. E eu
liguei pra ele, na verdade ele me ligou eu acho, e eu disse, “a gente precisa conversar”, ele
falou “ah, eu sei até sobre o que é, eu sei, é sobre a nossa situação sexual, eu decidi que eu
vou procurar um médico, não sei o que...”. Mas eu falei “não, hoje o buraco é mais
embaixo e a gente precisa conversar. Aí ele disse “você quer terminar comigo, é isso?!” e
eu disse que não queria falar com ele por telefone, mas eu sei que ele encheu tanto o meu
saco que eu terminei com ele por telefone, ele pediu um tempo pra saber o que sentia por
mim, e eu falei “a gente tá há quase um ano e você não sabe o que sente por mim?! Não vai
descobrir mais.”. Ele pediu tempo, tempo, eu dei uma semana e ele nem me ligou, nem
procurou, daí eu fui pra uma balada e o primeiro que apareceu eu beijei mesmo, ele deu piti
depois como se tivesse namorando comigo e tempos depois eu ainda descobri que ele tava
namorando com outra e comigo e ainda se fazia de vítima, então ele era filha da puta
mesmo, bem canalha.
Eu quero. /pausa/
No primeiro eu usei bem as vezes, no segundo eu tentei pegar um pouco mais firme,
mas tinha sempre aquelas escorregadelas, aí eu tentei tomar anticoncepcional, mas com os
efeitos colaterais dele eu acabei parando, aí eu comecei a tomar outra pílula que tinha efeito
colateral bem menor, mas era bem mais cara, daí eu deixei de tomar. Com o terceiro a gente
usava camisinha sempre, menos mal né? Ele sabia que não prestava então não fazia eu
correr risco. Todas as vezes quase que, todas que eu lembre, a gente transou com camisinha.
E esse último namorado, eu uso pílula.
E a camisinha você usava, ou quando você usa, você usa por que?
Na verdade a gente devia pensar mais nas doenças, o objetivo maior da camisinha é
esse, mas eu uso mais por conta da gravidez, acho que me assusta mais, engraçado isso né,
é idiota, mas me assusta mais ficar grávida do que pegar uma doença, é uma coisa que eu
penso mais.
E no seu atual namoro, quem definiu que vocês iam usar o anticoncepcional e não a
camisinha, e por que?
Não.
Bom, na verdade a gente vai continuar falando sobre as suas experiência sexuais.
Qual a memória da sua infância em relação a suas vivências afetivas e sexuais?
Bom quando a gente é criança acho que a gente se apaixona por todo mundo né,
acho que até ela mãe da gente a gente fica apaixonada numa fase, é impressionante. Eu me
lembro dos meus namoradinhos de pegar na mão, só pegava na mão. Minhas experiências
sexuais como criança são aquelas experiências sexuais como criança, a gente fica se
pegando, descobre que aqui é legal, aqui já não é legal, daí quando você descobre onde é
legal mexe mais um pouquinho porque é legal, acho que nada anormal, assim, nada demais.
Eu gostava de ver filmes adultos quando eu era criança, tinha certa curiosidade por isso,
então, cine prive eu adorava quando eu era menor, e minha mãe num deixava eu ver nem
novela das oito, ele falava pra eu fechar o olho, ela faz isso com a minha irmã hoje, “fecha
o olho que isso não é cena pra criança ver”. Obviamente ela atiçava ainda mais a minha
curiosidade... Não tinha, nunca tive muita coisa assim com sexualidade, acho que é uma
coisa normal, que vai acontecendo, a gente vai querendo descobrir.
Pela minha mãe. Quando eu era criança eu brincava de Barbie, e Barbie é uma
reprodução humana, né? Então minha Barbie e meu Ken transavam e um dia minha mãe
viu eles transando e ficou chocada, pô, eu tinha oito anos. “Filha, o que você tá fazendo!?”,
daí eu falei, não lembro a palavra que eu usei, fiquei muito sem graça, lembro do meu
constrangimento, lembro de como eu me senti, eu me senti constrangida. Aí ela perguntou
pra mim o que era sexo, e eu falei, “ah, mãe, um homem e uma mulher pelados um em
cima do outro”, essa era minha definição de sexo, não tinha nem notado que tinha
penetração, essas coisas, espermatozóde, óvulo, toda essa coisa que rola eu num imaginava.
Daí nessa época minha mãe trabalhava pra uma psicóloga e ela foi falar com a psicóloga,
“ai que que eu faço, a minha filha tá me fazendo perguntas que eu não sei responder”, e a
psicóloga me mandou um baú de livros educativos pra criança de educação sexual, e a
minha mamãe leu esses livros pra mim. Era muito engraçado porque ela fiava chocada com
os desenhos, e não era nem fotografia, eram desenhos, era uma coisa pra criança mesmo,
desenhado o pênis, desenhada a vagina, o que era o que, aonde servia. Eu lembro que uma
vez um menino falou alguma coisa querendo me ofender em relação a sexo e eu falei,
tirando ele, “é, você não sabe nem o que e um espermatozóide!”, me achando inteligente,
né? Tirei um sarro, ele realmente não sabia o que era um espermatozóide. Hoje em dia
informação de sexo você tira em qualquer lugar, eu vou a o ginecologista e pergunto, se eu
tenho alguma dúvida eu pergunto pra ele, meu médico me instrui, diz o que eu tenho que
fazer, o que eu tenho que usar, hoje em dia é bem mais fácil, antes era mais complicado.
Eles não sabem, só quem sabe é a minha mãe. Eles sabem, lógico, imagina, da
família sou a mais namoradeira, na verdade eu não sou a mais namoradeira, eu sou a mais
sincera, a menos hipócrita com eles assim, eu não devo nada pra ninguém, não tenho o que
esconder. Então... Mas nunca toquei em assuntos, na verdade eu sou até bem respeitadora,
eu não falo desses assuntos, eu nunca beijei na boca na frente da minha mãe, nela nunca me
viu beijando nenhum namorado, então nesse ponto eu sou meio caretona, assim, eu acho
que eu chocaria as minhas tias. Eu tenho uma tia que tinha 30 anos e casou virgem e diz
isso com a boca cheia, e ela queria que eu seguisse a mesma coisa. Mal sabe ela que já rola
há muito tempo...
E me conta sobre a sua iniciação sexual, quantos anos você tinha, com quem foi...?
Eu tinha 15 anos, foi com o meu primeiro namorado, e foi, pra mim foi lindo, uma
coisa bem assim, alias eu não esperava muita coisa né, porque as pessoas normalmente
descrevem isso como uma coisa trágica, dolorosa, horrível, péssima... Foi um pouquinho
frustrante, normalmente é muito rápido, a coisa acontece, mas foi bonitinha a minha
primeira vez, porque o meu namorado era bonitinho, ele foi todo atencioso, todo carinhoso,
cheio de cuidados pra não me machucar, não avançar além do que eu queria ir, minha
primeira vez, minha iniciação sexual foi legal.
E antes disso, você com ele ou com outro parceiro trocava carícias...?
Com ele já aconteceu, foi com ele. É uma coisa engraçada, começa com os seios,
daí você beija, e chaga no pescoço. Daí você para e pensa uns dois dias se vai deixar a
pessoa descer. Aí tinha carícias, uns afagos mais quentes, assim, mão naquilo, aquilo na
mão, teve, teve todo um preparo, a gente conversou muito, porque eu era virgem e ele não
era mais. Teve todo um, eu conversei, eu decidi que eu queria, ele não me pressionou em
nada, assim, como acontece na maioria das vezes. Eu não fui pressionada a perder a minha
virgindade, a ser tocada, eu decidia, eu queria que acontecesse e eu deixava.
A pessoa certa? Pode ser que sim. A hora certa eu acredito que não, eu gostaria de
ter esperado mais, mas a gente nunca sabe na verdade, a primeira vez é sempre a primeira
vez, não saber, não conhecer uma coisa é sempre igual independente da idade que você
tem, mas eu acho que eu podia ta um pouco mais preparada, mas eu também gosto de ter
tido... É complicado dizer, eu acho que foi sim com a pessoa certa, na hora certa eu já não
tenho certeza.
Se a iniciação for homossexual, como lidou com isso? Quais as conseqüências dessa
iniciação na sua vida sexual e afetiva?
Você já teve relações sexuais com o intuito de obter algum tipo de vantagem,
vantagem financeira, familiar, escolar?
Não, nunca. Não, eu acho que pra mim sexo vai muito além de penetração ou
vantagens, pra mim sexo é uma coisa de, é puro sentimento pra mim, transar com alguém é
sentimento assim... Quando eu transei sem sentir nada eu me senti meio objeto, eu senti que
tava me fazendo passar por objeto, uma coisa...
O que é atração sexual para você? Qual a diferença (se houver) entre atração sexual
e atração afetiva/amorosa? (separação entre sexo e amor)
Você acha importante ter envolvimento afetivo/amoroso com as pessoas com quem
você transa? Por quê?
O que significa relação sexual para você? (explorar as práticas que são vistas como
definidoras de relação sexual: carícias, beijos, toques, relações orais, penetração, etc.)
Você já teve atração por pessoas do sexo oposto? Já teve algum tipo de relação
(completa ou apenas carícias) com pessoas do sexo oposto? Como lidou com isso?
Que práticas sexuais você faz/fez (anal, oral, vaginal [inclusive durante a
menstruação?]; usa algum tipo de lubrificante? Explorar também sexo grupal,
sadomasoquismo, fetiches, etc.). Com quem faz ou deixa de fazer? Qual (is) as mais
prazerosas para você?
/Troca de fita/ Continuando... Que tipo de prática sexual pode acontecer durante
uma relação que você se um pouco sente mal, mas não consegue evitar? Nenhuma, porque
se eu nao gosto eu nao faço, eu sou bem assim, ja parei no meio da coisa porque algo
aconteceu de um jeito que eu nao gostei e eu nao quis fazer e pronto. Ja tive que falar, falar,
falar ate o parceiro entender, mas se eu nao gosto eu nao faço.
E durante a relação sexual, o que é arriscado, mas é gostoso de fazer? Transar sem
camisinha, transar sem camisinha é arriscado, mas é gostoso de fazer.
Quantas vezes você transa por semana? Ah, depende, depende do seu estado de
espírito isso, não tem uma coisa, assim, uma formula, "ai, eu transo cinco vezes por
semana", não tem, depende do seu estado de espirito, voce pode estar super cansado e nao
estar a fim de transar, transar uma vez por semana, uma vez por duas semanas, depende do
seu estado de espirito, voce pode transar cinco vezes por semana, a semana inteira, todos os
dias, depende.
Mas o que você gostaria de mudar ou de manter? Eu gostaria de ter menos pudor, as
vezes eu acho que a gente tem vergonha de certas coisas e eu gostaria de me liberar,
assim...
De que tipo de coisas você tem vergonha? Ah, eu tenho vergonha do meu corpo,
assim, eu acho que eu queria me ver como o homem vê nós mulheres. Eu acho que é muito
diferente, a gente tá preocupada com aquela marquinah que tem na sua nadega direita e ele
nem viu que ela existe, entendeu? Ele nem notou a existencia dela lá mas você tá achando
que aquilo vai atrapalhar tudo. Eu queria não ter essa coisa, eu queria ter coragem de fazer
um striptease, coragem de falar certas coisas... Eventualmente você acaba falando porque
perde o controle, e eu queria me descontrolar bem mais do que eu me descontrolo.
Se você ficasse grávida sem planejadar, o que você faria, que atitude você tomaria?
Não sei se isso já aconteceu com você, o que você pensa...? Não, isso nunca aconteceu, mas
se acontecesse primeiro eu ia arrrancar os meus cabelos, chorar descontroladamente, agora,
se isso acontecesse agora... E depois eu ia planejar, ia pensar, dar um rumo pra minha vida
pra que uma criança pudesse participar dela. Mas é uma coisa que eu não esperaria, assim...
E o que você acha sobre o aborto? Eu acho isso uma coisa tão dificil, assim, de
responder. Eu não sei, eu não sei dizer, eu acho que é errado, disso eu tenho convicção que
é errado, mas tem momentos em que você acaba até parando e pensando. Imagina uma
garota de 15 anos com a renda super baixa que engravida. Eu acho que é burrice da parte
dela, eu acho que ela deveria criar sim, mas não por ela, acho que pela criança viver numa
família sem nenhuma estrutura, com uma mãe que vai te fazer de boneca, porque ela vai tá
aprendendo né, ela não vai ter noção do que tá fazendo, então ela vai errar muito mais do
que de costume, do que uma mulher adulta erraria, uma mulher estruturada. Eu acho que é
uma coisa a se pensar. Imagina você ter sofrido um abuso sexual e ter que conviver com o
fruto desse abuso... É uma coisa a se pensar, assim... Na verdade o bom seria se esse tipo de
coisa não acontecesse e a gente não tivesse que optar por ter ou não o filho.
O que você espera de um homem e o que você espera de uma mulher? Que
assumam seus atos, eu espero isso do ser humano, assumir, assumir cada ato, cada frase, o
que falou, o que fez, eu acho que é isso, eu espero que assumam sem ficar jogando a culpa
pro outro, ficar dizendo "fulano fez isso, aquilo", assume, você fez, você errou, então
assume, conserte, e não faça mais, assim, uma coisa novamente. É isso que eu espero de um
homem e de uma mulher.
Quais as vantagens e os limites de ser homem ou de ser mulher na nossa sociedade?
Ai, eu sou meio, eu acho que ser homem tem muitas vantagens e eu acho que ser mulher
não tem tantas, ainda hoje. Então eu acho que ser homem tem mais vantagens, desde as
masi bobas até as mais invisíveis, tem essa coisa de a mulher fazer a mesma coisa que o
homem e ganhar menos do que ele, e, homem faz xixi em pé, que é uma enorme vantagem,
é... Também pode ter várias namoradas que ele é o gostoso, e mulher se tem três já é
galinha, né, "ela não presta, essa daí, ó cuidado!". Por mais que as pessoas tentem mostrar
que não, que liberou geral, é mentira, uma mulher nunca vai ser vista como boa coisa se ela
beijar a boca de quem ela bem entender. Eu acho que tem várias coisas, assim...
Em que medida orientação sexual que você tem define como você se relaciona com
as outras pessoas? Em que medida... Eu acho que a gente fica um pouco, é, a gente acaba
se, se barrando um pouco por não conhecer, por não saber como é, por exemplo, eu ser
heterossexual eu não vou nunca conseguir entender uma pessoa homossexual. Acho que a
gente fica um pouco limitado, assim, eu acho que eu tenho umas certas limitações.
O que a sua mãe ensinou pra você sobre as diferenças entre homens e mulheres e
sobre as diferentes orientações sexuais? Não, sobre orientação sexual acho que a minha
mãe nunca conversou muito comigo. Ela não tem nada contra, mas ela tem a seguinte
opinião: ela não acha certo, ela nunca vai discriminar uma pessoa, mas não é uma coisa que
ela tenha incluído, que ela que vale a pena incluir dentro da educação. Acho que é uma
coisa que nunca passou pela cabeça dela, assim... Tipo...
O que você pensa sobre a virgindade? Ah, eu acho que as pessoas acabaram um
pouco com essa fantasia, não era nem fantasia, era uma coisa de cultura, da gente ser
virgem, casar virgem, era uma coisa bíblica, eu ia falar machista, mas é uma coisa bíblica
de casar virgem. Mas eu não sei se chega a dizer se é pro homem ou pra mulher, eu não sei
se chega a dizer isso, mas é bíblico casar virgem. Eu gostaria de ter casado virgem e por
outro lado eu não gostaria. Eu gostaria pelo lado de achar que é certo, das pessoas
mostrarem pra gente, de você ter sido criada com essa coisa, assim, "ai, casar virgem é que
é o legal", mas não gostaria porque acho que talvez eu tivesse a dúvida "pô, mas como será
com outro homem", imagina você estar casada pensando nisso, acho que dá uma abalada.
É mais fácil demonstrá-lo para pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto? Amor
você diz em relacionamento ou sentimento no geral?
Tem algum sentimento que algum uma mulher tem que esconder de uma outra
mulher? Não, acho que não de mulher, que mulher tem que esconder de mulher, mas assim,
a gente acaba tendo que esconder sentimentos de todos. Me disseram uma vez uma coisa
que eu fiquei indignada, "que a felicidade incomoda os outros". Eu acho isso um absurdo,
como é que alguém vai se sentir incomodado ao me ver feliz? Então você acaba tendo que
esconder um pouquinho a sua felicidade de dterminado ser que via te prejudicar porque não
consegue ser feliz e não quer que ninguém seja. Eu acho que isso é independente de ser
homem ou mulher. Eu particulamente não gosto e nem consigo muito, eu até tento as vezes,
mas eu não consigo muito esconder algum sentimento, seja ele qual for, por alguma pessoa.
Como você se sente e o que costuma fazer quando está sem interesse sexual por um
período longo? Ou quando, numa relação estável, o seu parceirose sente desse jeito?
Quando é comigo é um pouco mais facil, porque tem a pressão do outro, tem aquela coisa
de ligar se não transa não me ama mais, é uma coisa incrivel. Primeiro eu fico um pouco
preocupada quando demora muito, eu falo "pô, será que aconteceu alguma coisa? Depois eu
paro, penso, vejo como anda a vida, os problemas, as situações, e tento entender meu
parceiro também. Primeiro eu dou um piti básico, ele num tá com tesão e eu tô louca de
tesão, você meio que fica sem raciocinar direito quando você tá com tesão, é um negocio
incrivel, parece que o seu cérebro para de funcionar, uma grande parte dele, assim, e só
pensa em sexo, aí você não consegue entender. Mas depois que passa eu paro pra pensar no
que tá acontecendo, eu tento entender, tento ser compreensiva, acho que é necessário.
Sobre a sua saúde, como você cuida da sua saúde? Sexual, você diz?
Sua saúde no geral, você costuma ir ao médico, você se preocupa com a sua
alimentação, você faz exercícios? Não, eu sou a pessoa mais sedentária do planeta! Eu não
me exercito, eu como razoavelmente bem, eu não vou dizer que eu como mal, mal, mas
também não posso dizer que eu como bem. Eu até tento comer direitinho, salada, legume,
fazer uma alimentação mais saudável, assim... Exercícios eu não faço nenhum, nenhum,
nenhum. Médico, o médico que eu vou periodicamente é o gincologista, os outros eu fujo
deles, eu sou vou quando estou ruim, muito ruim mesmo, preciso estar muito doente.
Você costuma ir na rede pública ou rede privada? Quais foram suas experiências?
Nossa, eu já fui nas duas, na pública você se sente meio saco de batata. Eu tive uma, uma
vez eu fui ao médico porque tava com ujma dor de cabeça muito forte, e e fiquei quase uma
hora sentada sentindo que o mundo tava sobre minha cabeça e ninguém me atendia. Pra ir
no ginecologista você marca, você fica dois dias esperando, então você se sente meia nada,
assim. Acho que já na rede privada é outra coisa, a primeira vez que eu fui eu achei um
barato, quando eu fui no ginecologista eles me deram uma camisolinha pra vestir, eu achei
aquilo tão chique, aquele lençolzinho que cobre as tuas pernas e impede que você veja o
que o médico tá vendo, nossa, achei aquilo o máximo, o máximo, assim, achei um
espetáculo. E no médico, no hospital, eles pedirem os exames e você fazer os exames ali
mesmo, ótimo! É bem diferente, bem diferente, é triste, mas...
E você já teve alguma doença transmitida por via sexual? Eu tive HPV, que a
médica me disse que era transmitido sexualmente.
E você sabe através de quem...? Não, eu imagino que possa ter sido através do meu
segundo namorado, talvez ou do terceiro, foi esse o malvado da história, mas eu não tenho
certeza, eu nem procurei saber muito, assim, porque o HPV é um negócio que parece
prejudicar bem mais a mulher do que o homem se ele não for tratado. No homem, pelo
menos é o que médica me disse, ao lado do meu namorado da época, foi isso, foi que o
HPV, ele perguntou se ele tinha que fazer um tratamento, mas ela disse que não, que
normalmente no homem some, então não prejudica muito. Já na mulher se ela não cuidar, e
ela disse assim, se não cuidar mesmo, se for uma pessoa bem relaxada, pode virar câncer.
Pode vir a virar câncer. Mas eu fiz tudo bonitinho e já não tenho mais.
E agora você está namorando né, o seu parceiro já teve alguma DST? Eu não sei, eu
nunca perguntei. Eu vou perguntar, eu fiquei curiosa agora. Mas eu nunca perguntei.
O que você sabe sobre Aids? Ah, eu acho que eu só sei o que todo mundo sabe, que
é uma doença sexualmente transmissível, que acaba com o seu sistema imunológico, que
você fica frágil, fraco, que hoje em dia ela é bem controlada e uma pessoa consegue viver
por um bom tempo e bem tendo o vírus do HIV... Eu acho que eu sei o que é bem
divulgado, assim, eu sei bem por alto, nunca investiguei muito a AIDS.
Você conhece alguém com o vírus da AIDS? Eu conheci, uma pessoa pra quem a
minha mãe trabalhou que teve o vírus da AIDS e descobriu numa gravidez, e o filho dela, o
vírus foi adormecido eles chamam, tem uma palavra lá, é um tratamento feito durante a
gravidez. Eu não sei se a criança não nasce com o vírus ou se ela nasce com o vírus
digamos que impotente, ele não pode se desenvolver. Eu não sei exatamente como é, mas
ela teve. Parecia uma pessoa normal, sofrida, porque tinha uns remédios que se você
esquecia de tomar a dosagem pode prejudicar muito, se você esquecer que você já tomou e
tomar novamente você pode até morrer porque são muitos remédios e muito fortes, então se
você tomar uam dosagem muito alta você pode ate morrer... Então é um negócio
complicado, né, tem que viver sob uma pressão imensa, assim, você tem que ter uma vida
extremamente regrada pra você poder viver bem.
Você acha que pode pegar o vírus da AIDS? Acho que qualquer pessoa está sujeita,
hoje em dia não existe mais o grupo de risco que existia antes. O vírus tá por aí, tá dando
nas pessoas mais normais, que você num diria... Até criaram o ditado "quem vê cara não vê
AIDS", né?
Já fez teste anti-HIV? Não, não, eu marquei os exames, mas ainda não fui fazer.
E com esse atual namorado ocê usa preservativo em nenhuma práticas sexual, ou
em alguma você usa? Em nenhuma. Na que eu usaria, eu acho que eu usaria se eu fizesse
sexo anal, eu usaria sem dúvida, mas como eu não faço, em nenhuma outra eu uso.
Você usa algum método de prevenção a DST? Não. Eu nem sei se existe além da
camisinha.
E o que você fez? Eu entrei em pânico, eu entrei em pânico! Meu parceiro enfiou o
dedo lá dentro e puxou, eu achei que eu ia ter que ir pro hospital com uma camisinha dentro
de mim e que iam me fazer uma micro cirurgia pra tirar a camisinha lá de dentro, mas acho
que não foi tão profundo e ele tirou com o dedo de dentro de mim.
Mas você tomava pílula na época? Não, ainda não tomava, ainda não tinha
começado a tomar pílula na época.
Você sabe quais os cuidados que se deve ter para não romper, rasgar, estourar a
camisinha? Ah, aquele negócio de não deixar entrar ar, que eu acho que todo mundo sabe,
não colocar mais de uma... Eu nunca vi ninguém que tenha colocado mais de uma
camisinha, isso não é o certo. Acho que só esses que eu conheço, são esses que eu conheço.
E contracepção de emergência você já usou né? Sim, já usei a pílula do dia seguinte.
E como você obteve? Na farmácia. É bem fácil obter a pílula do dia seguinte, é só
chegar la e pedir.
Bom, a gente vai mudar um pouco de assunto, a gente vai falar sobre drogas agora...
Você costuma beber?
Não, quando eu saio, quando eu saio eu, é quando eu costumo beber. Quando eu
saio de balada, quando eu vou pra um barzinho é que eu costumo beber.
Infelizmente.
Já experimentei maconha.
Deixa eu me lembrar... Foi com uma vizinha de uma amiga minha, pra mim foi
péssimo, foram sensações horríveis que eu não, não gostei e não entendo como tem pessoas
que gostam, que acham legal sentir o barato que a maconha dá. Não curti e não faria de
novo.
Não!
Nos lugares que você costuma frequentar quais são as drogas mais usadas?
Que eu tenha visto maconha, as outras eu não sei nem dizer se são usadas ou não, eu
não conheço, não sei distinguir, assim, eu não sei dizer o que que é o lança perfume, o que
que é o extase, a não ser que alguém me fale. Mas nos lugares que eu frequentava acho que
é maconha, a maconha tá presente em tudo, até no colégio onde eu estudei tinha gente
fumando maconha no intervalo. Acho que se legalizasse não seria tão usada quanto é...
De maneira alguma. Eu acho que não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Sim, acho que todo mundo fica, né? O álcool amortece você de vários sentidos,
inclusive da vergonha, você não sente vergonha quando você tá bêbado. Você faz o que te
dá na telha.
Como é o seu final de balada? Você fuma alguma coisa, bebe alguma coisa...?
Não, no fim de baladas normalmente eu não faço nada disso, mesmo sendo fumante
eu acabo às vezes nem fumando. Tô me curando do porre se ele aconteceu, então não bebo
mais. Final de balada é final de tudo pra mim.
Não, algumas vezes já fiz pra tentar me soltar mais, mas na é uma coisa que eu
goste ou costume, acho que tira muito coisa.
Não, acho que não, o álcool nunca teve nada a ver com o fato de eu não usar a
camisinha ou usar.
Já teve algum parceiro sexuais que usava drogas injetáveis ou já tinha usado?
PROJETO DE VIDA
Bom, agora a gente vai pro nosso último assunto que é projeto de vida. Quais são os
seus projetos de vida?
Onde você imagina que vai estar daqui a 10 anos? O que imagina que estará
fazendo? Sua vida estará melhor do que hoje?
Melhor, eu espero que esteja melhor. Daqui a dez anos, caraca, não sei!
Provavelmente vou estar em casa com filhos, na minha casa, minha casa própria, com
filhos, com uma situação financeira boa o suficiente pra dar um estudo razoável pros
filhos... Uma moradia razoável, uma vida razoável.
Como você imagina a sua vida afetiva, sexual e reprodutiva futuramente? Eu acho
que ela vai ta ótima, no auge! Claro que não dá pra gente imaginar né, não tem como saber,
isso é uma coisa difícil de se pensar.
Eu acho que deveriam ser honestas acima de qualquer coisa. E honestidade não é
estupidez, muita gente acha que ser honesto é ser estúpido, é magoar o outro, e não é bem
assim, é só você escolher as palavras certas, tem o jeito certo de fazer. Eu acho que
honestidade não ta ligada a magoar pessoas. Acho que os homens e mulheres tem que ser
honestos uns com os outros. O mundo ia ser mundo melhor assim, com as pessoas bem
amadas.
Entrevistadora: Bom, vamos lá. Agora está tudo certo. (ri) Qual que é o seu nome e
o seu apelido?
Felipe: Masculino.
Felipe: Solteiro.
Felipe: Não sei direito, mas eu acredito em Deus. Eu não sigo nenhuma religião.
Entrevistadora: E onde você mora atualmente?
Entrevistadora: E quais os lugares que você costuma circular, sem ser o Jaraguá?
Entrevistadora: Entendi. Bom,a gente vai falar um pouco sobre a sua trajetória
familiar, agora. Com quem que você mora, atualmente?
Entrevistadora: E como que é a sua relação com o seu pai e com a sua mãe?
Felipe: Conversam bastante, com o meu pai algumas coisas e com a minha mãe
outras. Eu divido. Os dois não sabem de tudo...
Felipe: Porque ela era muito nova pra gente conversar. Eu era um adolescente e ela
era uma criança. Hoje ela é uma adolescente, um pouquinho mais que adolescente, sou
quase uma criança também... Sei lá.
Entrevistadora: (ri) E além dos seus pais e da sua irmã tem mais algum parente que
você tem uma relação...?
Felipe: Tem... Tem. Tem um. Meu tio que tem 5 anos de diferença, só, então a gente
cresceu junto e é quase irmão.
Entrevistadora: E... Alguém da sua família é gay, ou lésbica ou bissexual?
Entrevistadora: E como é que foi a educação que você recebeu dos seus pais? Tem
diferença entre você e sua irmã, você acha?
Felipe: Acho que, assim, a minha mãe, realmente, sempre dava mais liberdade pra
mim do que pra minha irmã e, de qualquer maneira, a parte que eu sofri no começo, agora,
com minha irmã está melhorada. Eu reconheço. Principalmente, eu era mais novo e tinha
mais liberdade mas hoje... A liberdade que ela tem hoje é muito maior, também, do que a
que eu tinha antes.
Entrevistadora: Continuando, a gente vai falar sobre religião, agora. Em que religião
que você foi criado?
Felipe: Em duas, na verdade. Meu pai é evangélico e minha mãe é católica. Só que
eu freqüentei os dois e não sigo nenhum dois dois. (ri)
Entrevistadora: Mas era uma coisa importante, assim, na sua família, religião?
Entrevistadora: Entendi. E você acha que o fato de você acreditar em Deus, mesmo
você não tendo religião, tem alguma importância, assim, nas suas decisões sobre com quem
você se relaciona, esse tipo de coisa?
Felipe: Então... Hoje em dia eu tenho muito cuidado, já namorei muito, mas,
antigamente, acho, realmente, eu me desliguei mais com isso. Eu tive uma namorada e a
gente ficou junto 4 anos e quase não teve relação porque ela acreditava nisso e eu também.
Mas eu mudei.
Felipe: Agora eu já não penso mais dessa forma. Quer dizer, na verdade eu sei que
isso tá errado,mas eu faço. (ri)
Entrevistadora: (ri) Entendi. Você abriu mão de deixar de fazer mesmo... Mas você
acha que o certo é não ter relação antes do casamento?
Felipe: Não! Eu tenho certeza que o certo é esse. A gente tenta se enganar, eu acho.
O ser humano tenta se enganar mas isso é certo.
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar, um pouquinho, sobre experiência escolar,
agora. Como foi a sua trajetória escolar. Assim, quando você começou, quando você
terminou, se você repetiu, parou em algum momento de estudar?
Felipe: Não, eu não repeti mas eu passei, desde a quinta série, todos os anos na
U.T.I., eu diria.
Felipe: Assim, eu não gostava de estudar mas ia. Aí, quando passou disso, você
começa a conhecer as meninas e tal, aí eu comecei à escola por causa de relacionamento.
Então eu melhorei. Quando chegou no colégio que eu queria entrar na faculdade, daí sim eu
comecei a estudar.
Felipe: Pública
Entrevistadora: E, além das aulas obrigatórias você fazia alguma outra atividade,
esporte, teatro?
Felipe: Música.
Entrevistadora: E quê que som, assim, o que era. Era uma banda...?
Felipe: Eu não sei, eu acho que, na época da escola, eu era um pouco tímido ainda.
Na escola não mudou muito. Eu tinha amigos que, realmente, são amigos até hoje... Na
escola, eu acho que, não interferiu muito isso. Só depois que eu comecei a trabalhar, mas...
Entrevistadora: E pro seu projeto de vida? Qual que você acha que é a importância
que é a sua experiência na escola?
Felipe: A experiência na escola eu não sei. Eu acho que o ensino foi bem fraco. Eu,
realmente, não sei. Foi mais estudando sozinho pra você aprender as coisas. A escola do
ensino público é um pouco fraco realmente.
Felipe: Não. Na verdade não. Na verdade eu estudei um ano e prestei USP, passei na
primeira fase e não passei na segunda mas, acabei não entrando em nenhuma faculdade,
que na época não dava pra pagar.
Entrevistadora: Entendi. E você pretende fazer alguma?
Entrevistadora: Bacana. Nós vamos falar sobre o seu trabalho agora. Você tem
alguma profissão?
Entrevistadora: Além da música. Tem certeza que você não quer mais um
pouquinho?
Felipe: Não, não. Obrigado . Eu trabalhei sempre na área de ‘telenet’ não sei se
tenho uma profissão na vida. Eu trabalhei uns seis anos e meio nessa área. Eu conheço
muito o que eu tô fazendo agora. Engenharia de suporte, na verdade. Suporte técnico.
Felipe: No Speedy.
Entrevistadora: Ahan. E você acha que essa renda que você tem nesse emprego é
suficiente ou você trabalha em outro emprego, ou faz um bico...?
Felipe: É, eu trabalho em outras coisas também. Eu toco, às vezes, à noite, em
termos de música. Às vezes, porque o serviço não dá muito. E monto computadores,
também, pra outras pessoas. Então só essa renda, realmente, a renda não daria.
Felipe: Não.
Entrevistadora: Por que que você acha que tinha que ser diferente?
Felipe: Muita dor de cabeça pra ganhar muito pouco, eu acho... (ri)
Felipe: Empregar a minha renda?! Eu diria que sessenta por cento em casa. O resto
só comida. Em termos de...
Entrevistadora: Sessenta por cento pra sua família e o resto pra você?
Entrevistadora: E, assim, a parte que fica com você é suficiente pra você fazer o que
você quer?
Felipe: Boa parte. Até o dia dez, uns dez dias dá pra fazer e o resto do mês eu fico
sem fazer nada.
Entrevistadora: Mas você usa, assim, pra lazer ou pra outras coisas?
Felipe: Não. Pra lazer, né?! Pra curtir, sair com os amigos.
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar de discriminação racial e preconceito de
modo geral. O quê que é raça, pra você? Assim, quando você ouve essa palavra quais são as
idéias que surgem na sua cabeça?
Felipe: Umas pergunta difícil, né?! Eu não sei. Realmente, é de onde a pessoa veio
mesmo. Não sei, pra mim, raça é uma coisa de cultura mesmo e não de cor, eu acho.
Felipe: Ah. Eu não sei. Eu acho que eu sou, praticamente híbrido. (ri)
Entrevistadora: (ri) E você acha que isso é importante pra definição, assim, do que
você é?
Felipe: Então, é exatamente por isso que eu acho que eu sou índio. Porque varia.
Varia com... Realmente, da parte do meu pai a família, realmente, é toda branca mas, da
parte da minha mãe, varia. Varia muito. A avó da minha bisavó, a minha tataravó, era índia
e minha vó não é. Meu vô era negro e... E eu cheguei desse jeito. (ri) Então, eu acho, que
tem de tudo lá em casa.
Entrevistadora: E você acha que tem momentos em que a tua raça, ou a sua cor, tem
sido importe na sua relação que você tem com as outras pessoas?
Felipe: Racismo?! Bom, existem racismos dentro do serviço, claro. E até com
mulheres existem racismos. Até com as mulheres existe racismo, a pessoa subiu daí dizem:
‘Ah, não. Ela fez alguma coisa pra subir.’ Rola muito isso. Com meus amigos também.
Dependendo do que o cara fala ou , de repente, viu um outro cara ali, o pessoal se afasta. E
umas coisas desse tipo.
Entrevistadora: Ahan. E você acha que, assim, as pessoas de cores diferentes, têm as
mesmas habilidades escolares?
Entrevistadora: E no esporte?
Entrevistadora: E nas artes? Você também acha que é a mesma coisa ser negro,
branco?
Entrevistadora: Ahan. Bom, você acha que as pessoas negras, brancas, amarelas e
indígenas tem tendências diferentes a ter alguma doença?
Felipe: Não, eu acho que não.
Felipe: Não. Geralmente, eu acho que não. Eu acho que tem alguma diferença,
realmente.
Felipe: Porque eu acho que ainda existe preconceito, nesse sentido. Em termo de cor
também, mas eu acho que é em outro sentido. Dependendo da maneira como você se porta,
às vezes, você é um ótimo funcionário mas você veste uma camisa diferente da que a sua
empresa quer e eles não te contratam.
Entrevistadora: Ahan. E nos encontros amorosos, você acha que essas pessoas têm
as mesmas chances? Negras, brancas, pardas e amarelas?
Felipe: É, eu acho que sim, mas depende da outra pessoa, né?! Não dá pra dizer. (ri)
Entrevistadora: (ri) E você já presenciou algum caso, ou já ouviu falar, algum caso
de discriminação?
Felipe: Eu acho que presenciar, presenciar... Bom, não lembro, também. Não
lembro. Mas eu já ouvi falar de alguns casos, sim.
Entrevistadora: Você acha que devia haver políticas específicas pra minorias?
Felipe: Eu acho que não. Porque já seria uma discriminação. Depende de que tipo
de políticas, entendeu? Algum incentivo, sim, mas se você der tudo na mão a pessoa
desvaloriza. Tipo, você tem que lutar pelo que você quer.
Felipe: Eu acho que também existe. Aliás, tem uma quantidade de brancos grande
lá, também.
Felipe: Eu também acho que existe. (ri) Principalmente deles com o resto do mundo.
Entrevistadora: Qual desses três países, você acha, que é melhor pra se viver?
Felipe: O Brasil.
Felipe: Pera! Pera! É difícil. O melhor, eu acho que, realmente, é o Brasil. Onde eu
moro atualmente... Não onde eu moro não, o nordeste é bem melhor. (ri) E um lugar... Não
sei, acho que Estados Unidos. EU acho que o preconceito lá é muito grande com o pessoal
de fora. Pra mim seria o pior lugar.
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar sobre sociabilidade, relações e tudo mais.
Felipe: Cara, não sei. Eu vou em qualquer lugar, na verdade. Posso ir no barzinho
ali, da esquina ou, realmente, numa balada grande. Mas eu prefiro lugares mais calmos.
Felipe: Nome?!
Felipe: Então... Eu gosto ali de Pinheiros, uns barzinhos, tipo, Bora-Bora, que tem
videokê, eu acho legal. Ou algum lugar com música ao vivo.
Felipe: Não, mas eu prefiro que eles sejam da mesma classe que eu, assim.
Entrevistadora: Ahan. E que idade? Alguma preferência? Mais velho, mais novo,
igual?
Felipe: Mesmo sendo mais uma discriminação, eu prefiro que tenha, mais ou menos,
a minha idade porque, às vezes, o povo sai conversando com gente mais nova... É muita
encrenca.
Felipe: Não.
Entrevistadora: E orientação sexual?
Felipe: Pra mim, tanto faz. Eu tenho vários amigos homossexuais, héteros,
bissexuais.
Entrevistadora: Físico?
Entrevistadora: E de religião?
Felipe: Menos ainda. A não ser que isso, realmente, interfira na maneira de ele agir,
entendeu? Porque, se não...
Entrevistadora: Assim, você se identifica com uma tribo, um grupo, sei lá, alguma
turma?
Entrevistadora: Mas do que você não gosta, é o estilo de se vestir, o quê que você
acha que é?
Entrevistadora: Pra você, qual que são as pessoas que freqüentam a Galeria do
Rock?
Entrevistadora: Ahan. E você acha que tem mais mulheres ou homens, negros ou
brancos, que estilo você acha que tem lá?
Felipe: Não... Realmente eu acho que tem mais homens. Tem algumas mulheres mas
tem mais homens. Tem mais brancos e o estilo que mais vê lá é headbangers.
Felipe: Uma calça que a gente chama de ‘estoura bolas’ (ri) e um sapato branco. Um
tênis branco, normalmente. Eles são headbangers, normalmente cabeludos, também.
Entrevistadora: Headbangers? Eu acho que eu não vi ainda pessoas assim, onde elas
costumam ir?
Felipe: Umas balada rock, tipo Dimitri, Red Slake e na Galeria do Rock.
Entrevistadora: E o quê que você acha que tem de bom e de ruim na Galeria do
Rock?
Felipe: Tem de bom... Bom, realmente... É que pra mim, na minha opinião, é que eu
conheço muita gente lá então eu tenho muitos amigos mas, a melhor parte. E o que tem de
ruim é que rola muita briga.
Entrevistadora: Rola muita briga?! Mas por que quê você acha que rola muita briga?
Felipe: Porque é exatamente por isso. Tem várias tribos diferentes e eles não
aceitam umas com as outras.
Entrevistadora: Entendi. Como que você costuma se aproximar dos seus amigos ou
das suas paqueras?
Felipe: De repente.
Entrevistadora: Ah. Em geral...
Felipe: Em geral. Em geral eu não gosto de pensar muito, se eu pensar muito eu não
faço. (ri)
Entrevistadora: (ri) E em algum momento você falou que tem muita briga lá, mas
você já sofreu algum tipo de violência nesse lugar? Já foi assaltado, entrou numa briga?
Felipe: Assaltado não, mas tem um colega nosso que, realmente, aquilo sempre é
lugar de assaltado, aí lá na frente da galeria, a gente quase arrumou um briga com monte de
gente que veio junto pra assaltar ele porque achava que ele tava sozinho, só que a gente
tava em mais. Aí a gente foi e voltou, não brigamos mas a gente botou medo neles naquela
hora. Depois eles voltaram com muito mais do que a gente tava, aí um cara quase começou
a brigar mas eu vi que todo mundo tava armado mas aí a gente segurou e não partimos pra
briga.
Entrevistadora: Bom, isso foi com o seu amigo, mas você já provocou algum tipo de
conflito, assim...?
Entrevistadora: E... Bom, você falou que trabalha com Speedy, você costuma
acessar a internet, normalmente?
Felipe: Lá no serviço que não pode, na verdade. Eu trabalho com Speedy e não
posso mexer na internet. Mas, de qualquer maneira, em casa eu acesso, às vezes. Mas tô
meio enjoado.
Entrevistadora: E, quando você acessa, você costuma fazer o quê, assim?
Felipe: Normalmente puxar músicas e filmes, ou ler algum artigo que interesse,
mesmo. Sobre música ou sobre alguma...
Entrevistadora: Mas você já conheceu pessoas, pessoalmente, que... com quem falou
pela internet antes?
Felipe: Hoje, eu não conheço gente faz tempo mas, quando eu tinha dezesseis anos,
há uns anos, seis anos atrás, eu conhecia muita gente. Ou sei lá, mais de dez.
Felipe: Nossa... Tinha falado muita besteira, já, e na hora que eu cheguei lá eu tive
que fazer o que eu falava. (ri)
Felipe: Não.
Felipe: Não.
Entrevistadora: E... Bom, a gente vai falar, agora, sobre relacionamento. Em relação
às suas parceiras, você tem alguma preferência em relação à classe? Que seja mais rica ou
mais ou menos igual?
Entrevistadora: E idade?
Felipe: Idade eu acho que sim. Acho que acima de acima de dezessete. Não sei.
Agora, mais velha, eu não sei. Depende da pessoa. Menos que sessenta... (ri) Tô brincando
Entrevistadora: Ah! Que ela seja heterossexual, ou tudo bem de ser bissexual...?
Felipe: Não. Eu gosto das outras também, mas rola uma preferência.
Felipe: Bom, religião?! É complicado isso. Prefiro menina que acredita em Deus.
Senão, não dá. Tipo, cê vai ficar com uma pessoa que é... tem pensamento diferente de
você.
Entrevistadora: Mas ela não precisa ter uma religião específica... Se for cristã ou se
for uma religião afro-brasileira, também tudo bem?
Felipe: Hum... Bom, mais ou menos. Eu não curto macumba, também. Não sei... Se
fosse cristã, tá ótimo.
Felipe: Hum. A gente já colocou alguns termos das últimas. Que não seja... Não!
Jamais se relacionaria eu tava pensando em alguma coisa mais séria. Jamais se relacionaria
é, assim, muito vago. Bom... Sei lá. Acho que, nunca, com uma prostituta, por exemplo.
Felipe: Eu acho que... Bom, eu não tenho nada contra a prostituição. Mas essa de,
realmente, você vende o corpo... Muito horrível! Eu não venderia meu corpo por preço
nenhum, então eu acho que não estaria com alguém que fizesse isso.
Felipe: Varia da época, né?! (ri) Bom, na verdade, eu gosto de namorar mas, hoje
em dia, é difícil você encontrar uma pessoa que tenha as mesmas idéias que você e você
fique bem em ficar. Então, ultimamente, eu tô ficando e tendo relações sexuais.
Entrevistadora: Mas por que você acha que tá difícil encontrar alguém pra namorar?
Mesmo você preferindo namorar.
Felipe: Não. Namoro eu acho que é um negócio sério. Relacionamento pra mim é
ficar. Ficar...
Entrevistadora: É.
Entrevistadora: Já?!
Felipe: Também.
Felipe: Não sei, não sei. Vou contar um recente, então. Tem uma menina, que a
gente saiu na sexta-feira, que ela era bissexual. quis, já, com nós dois.
Felipe: Caramba, difícil. Acho que é muito mais... Não é nem corpo, acho que é
muito mais o jeito mesmo. Eu gosto de menina com jeito meio maluquinho e com um
sorriso bonito, de preferência.
Entrevistadora: Ahan... E como que... Você acha que você é uma pessoa atraente?
Felipe: Tem dia que... Quando eu tô bem humorado eu acho que sim.
Entrevistadora: O que envolve uma relação de ficar? Abraçar, beijar, mais que
isso...?
Felipe: Pode rolar mais que isso. Pode envolver só beijar. Você pode ter ficado com
uma pessoa só por ter beijado ou, pode ser, de ter tido uma relação sexual também. É bem
amplo esse ficar.
Entrevistadora: Ahan... (ri) E onde, normalmente, você conhece as pessoas com que
você fica, ou transa?
Entrevistadora: E o quê que você costuma fazer pra chamar a atenção de uma
pessoa por quem você está interessada?
Felipe: Eu não sei. Acho que eu não costumo chamar a atenção. Acho que eu
costumo conhecer a pessoa, não chamar a atenção. Aí, se ela se interessar em alguma coisa
que eu tenha de bom, quem sabe?!
Entrevistadora: E quem que você acha que deve travar o primeiro contato? É você
ou a outra pessoa?
Felipe: Ótimo.
Entrevistadora: Assim, você que tem parceiras pra ficar e outras pra namorar?
Entrevistadora: E o quê que você pensa sobre namoro ou casamento entre pessoas
de raça, ou cores, diferentes?
Felipe: Não tem nenhum problema. Eu acho que não tem nenhum problema.
Felipe: Hum. Bom, como eu te disse, eu acredito em Deus e tive uma pequena
instrução no sentido religioso. Não acho legal. Pelo que eu sei, Deus não aceita isso, então
não acho legal.
Entrevistadora: E, mas quando você deixou de usar, é porquê o sua parceira não
queria usar?
Felipe: Não. Nunca. Sempre deixei de usar porque,bom... porque a gente esqueceu
de comprar e... não dava.
Entrevistadora: Entendi. Ahan... Bom a gente vai falar agora sobre parentalidade,
conjugalidade. As relações mais estáveis assim. Você tem algum tipo de relação mais
estável com alguém? Você falou que não tá namorando, né?!
Felipe: Bom, foi só um, eu acho. Porque eu sou meio louco e o meu último
relacionamento teve quatro anos. Foi legal até ela mudar pro Rio de Janeiro.
Felipe: A gente ficou dois anos aqui em São Paulo e continuou mais dois anos com
ela no Rio.
Felipe: Não. Realmente, eu gostava muito dela, foi bem legal. Mas namorar à
distância é louco.
Entrevistadora: Complicado?!
Entrevistadora: E como que era a sua parceira? Sua namorada que você ficou quatro
anos...
Felipe: No geral?! Ela era maravilhosa. (ri)
Felipe: É... Então, não tem uma religião fixa, mas ela acreditava nas mesmas coisas
que eu.
Felipe: Não. A gente nunca usou camisinha. Ela tomava anticoncepcional . Só que
mesmo a gente confiando um no outro, a gente fazia exames de seis em seis meses pra ter
certeza que não tinhanada errado. (ri) A gente fazia junto. A gente ia junto fazer os exames.
Entrevistadora: (ri) Entendi. E... Bom, essa daqui é pra se você tivesse... Você tem
filhos?
Felipe: Não que eu saiba. Não, eu tenho certeza que não... (ri)
Entrevistadora: (ri) Não, é porque, agora, eram perguntas se você fosse pai. A gente
vai... Bom, tem duas aqui que dá pra gente fazer. O quê que você acha da paternidade gay
ou da maternidade lésbica?
Felipe: Caramba. É... Eu não sei. Acho que essa pergunta difícil... Uma família
ideal?! Uma família que, realmente, tem uma... que ainda consiga fazer o que ela quer e que
as pessoas se amem e que consiga sustentar os filhos. (ri)
Felipe: Claro. Eu acho que ter dinheiro pra isso tudo e pros filhos é a parte mais
importante. Se ele quiser...
Entrevistadora: Desculpa...
Felipe: Eu falei de um homem, sim, de um jovem, não. Eu acho que você tem que
ter maturidade, tem que ter consciência... Tipo assim, não tem como você cuidar disso. É
muita responsabilidade.
Felipe: É diferente.
Felipe: Eu acho que mulher se envolve mais com o filho. O homem tem aquele
sentido de tá, sempre, um pouco mais longe, entendeu? Só olhando por trás as coisas.
Entrevistadora: (ri) E... Bom, agora a gente vai falar sobre experiência sexual.
Felipe: Bom, sexuais eu acho que eu não tive vivências sexuais na infância. Mas
afetivas... É como eu te disse, eu era tímido e acho que, quando eu era bem mais novo, eu
não pensava nesse tipo de coisa.
Felipe: Chegaram, com certeza, com o meu pai. Porque eu era chato e sempre
perguntei tudo. Com os amigos, assim, mas eles mentem muito. (ri)
Felipe: Eles mentem muito, eles inventam demais. (ri) Bom... Eles falam coisas que
não existem.
Entrevistadora: Você pesquisa, agora, quando você quer saber alguma coisa?
Entrevistadora: Seu tio?! E antes, qual que você costumava confiar pra tirar suas
dúvidas?
Entrevistadora: Mas por quê que você acha que eles mentiam, assim?
Felipe: Não, muitos amigos, homens na verdade, sempre quer dizer que fez alguma
coisa, quando você é muito novo, você não fez. Então, tem várias coisas que você ouvia
que hoje cê fala: ‘Não, não existe aquilo.’.
Entrevistadora: Ahan...
Felipe: Bom, eu moro com a minha mãe e com meu pai e eles... Meu pai não gosta
muito mesmo e a gente não fala muito sobre isso. E com minha mãe, tranqüilamente, bem.
Felipe: Posso levar uma namorada em casa que ela não fala nada, a não ser que eu
faça muito barulho. (ri) Mas, geralmente, não acontece nada. A gente conversa muito sobre
isso.
Entrevistadora: E como foi a sua iniciação sexual? Você falou que foi com...
Felipe: Com dezesseis, eu demorei um pouquinho. Com dezesseis foi com a minha
última namorada.
Entrevistadora: Ahan. Mas antes disso você teve alguma outra experiência com
alguma outra menina? Que não fosse dar numa relação mas...
Felipe: Bom, realmente, relação de fato, não, mas algumas brincadeiras, sim...
Felipe: Caramba...
Entrevistadora: Não precisa ficar sem graça... (ri) Todo mundo faz. (ri)
Felipe: Eu diria que... Eu não diria sexo, sexo. Mas sexo oral.
Entrevistadora: Ahan. você já tinha feito antes de chegar a ser relação. Mas foi com
uma namorada... ?
Felipe: Com treze. À partir dos treze até os dezesseis eu comecei a segurar isso, a
fazer só isso.
Entrevistadora: Ahan, (ri) E... Bom. Quando... Cê já respondeu isso. você acha que
você escolheu a hora e a pessoa certa pra sua primeira vez?
Entrevistadora: você já teve alguma relação sexual com o intuito de obter alguma
vantagem?
Felipe: Psicologicamente?! Eu diria que sim, diria que sim. Quando a gente é mais
jovem, principalmente, seus amigos interferem. Às vezes, você nem quer ficar com uma
pessoa e, pô, a menina tá te dando mole os caras fazem uma lavagem cerebral aí você:
‘Tudo bem, eu vou fazer’.
Entrevistadora: Entendi. E aí, como você lidou com isso? você acabava...
Entrevistadora: Entendi. E o quê que significa uma relação sexual pra você? O quê
que tem que envolver? Alguma tipo, sei lá, carícia, beijo, ou outras coisas...
Felipe: Eu acho que isso varia de dia pra dia, uma relação de dia pra dia, também.
Eu acho que, de vez em quando, tem todas. Por isso que eu falei antes que não estaria com
uma prostituta porque... ela também não beija. (ri) Entendeu? Daí cê tem que, realmente,
em todas. Mas, o que você vai fazer na relação varia muito do dia, do que a outra pessoa
quer fazer também. Sei lá.
Entrevistadora: E você já sentiu atração, alguma vez, por alguma pessoa do mesmo
sexo seu?
Felipe: Eu não.
Entrevistadora: Não?! Tá tranqüilo...? É... Fala pra mim sobre as suas últimas
relações afetivas, ou sexuais, que foram significativas, pra você.
Felipe: Significativas, pra mim, foram quatro anos, que eu terminei o ano passado.
Acho que foi só essa.
Entrevistadora: Foi ano passado que cê terminou. Então é recente, né?!
Felipe: É recente. Foi só, realmente, amorosa. Agora, qual que era o resto da
pergunta que eu me esqueci?
Entrevistadora: Não... Era isso mesmo. Como foram as suas últimas relações
significativas?
Entrevistadora: Então, mas daí, desde então, você só tá ficando... e tudo mais?!
Felipe: Tô sossegado.
Entrevistadora: Na gandaia.
Entrevistadora: E... Bom, o quê que você acha que é aceitável e inaceitável numa
relação sexual?
Felipe: Bom, eu acho, que tem lugar que é só pra sair... Eu não acho que esse lugar é
aceitável qualquer tipo de brincadeira. (ri)
Entrevistadora: (ri) E que tipo de prática sexual pode acontecer com alguém que
você tá transando, mas que você não gosta? Daí acaba acontecendo mesmo assim. Tem
alguma coisa que você não gosta muito de fazer mas acaba acontecendo?
Felipe: Sei lá. Eu acho que tudo o que eu faço, eu gosto. Eu acho que não tem essa...
Entrevistadora: Ahan. E o quê que, durante uma relação sexual, é arriscado mas é
bom fazer? (ri)
Felipe: Transar sem camisinha, por exemplo. (ri)
Entrevistadora: (ri) Ahan. Em geral, quantas vezes você transa por semana,
atualmente?
Felipe: Nossa. Sei lá. Isso varia de semana pra semana, né?! Mas é uma média. Ah!
Uma vez semana.
Entrevistadora: E você tá satisfeito com a sua vida sexual? Tem alguma coisa que
você queria manter ou mudar?
Entrevistadora: (ri) Já aconteceu com você... com você não, né, com uma parceira
sua, uma gravidez indesejada?
Entrevistadora: E... Você nunca teve uma experiência de aborto com uma parceira?
Felipe: Não.
Entrevistadora: É... Na sua opinião, quais são as qualidades, as características de
comportamento, que definem um homem e quais que são, essas coisas, que definem uma
mulher?
Felipe: Cara, eu acho que essa é a mais difícil de todas. Como é que se define uma
mulher?! Hoje em dia as coisas tão juntas. Hoje melhorou bastante porque, antigamente, a
mulher queria se comparar, muito, ao homem. O mercado de trabalho já deu uma igualada.
Não totalmente mas são mais ou menos iguais. E... Hoje em dia a meta delas mudou, né?!
Não é mais alcançar o homem. Elas tentaram tanto isso que elas já estão quase virando
homem. Então, eu acho que a meta agora é, realmente, da mulher, hoje em dia, é ficar mais
bonita. Normalmente é isso. Eu acho que elas estão mais ligadas no corpo e na área de
trabalho delas, também. Mas tão mais ligadas no corpo. Agora, homem?!... A meta no que
mesmo?!
Entrevistadora: Não. É assim, quais são os comportamentos é... Agora eu vou fazer
uma outra. O quê que você admira numa mulher? Quais comportamentos, características
que fazem você admirar uma mulher?
Felipe: Bom, principalmente, assim... Eu vou procurar uma mulher de atitude. Fale
o que, realmente, pensa que não fica enrolando, fica tentando fazer você entender o quer
que você... o que ela quer dizer. Isso, realmente, é complicado, às vezes. Nem sempre dá
pra você entender. Tava, de repente, ela ta no orkut com o namorado que ela conhecia há
muitos anos aí, você não vai saber disso.
Entrevistadora: Isso já aconteceu com você?
Felipe: Já, já... Isso é comum, ela quer que você adivinhe o que ela quer.
Entrevistadora: Por que você acha mais difícil definir o homem do que a mulher?
Felipe: Que eu admiro em um homem? Tem que ser diferente das da mulher? Bom,
não é comportamento, é como se fosse um... O homem tem um pouco de estudo do que as
mulheres ainda hoje, acho isso interessante.
Entrevistadora: Quais que são as vantagens, que você acha, de ser homem e de ser
mulher na nossa sociedade?
Felipe: Ser homem, pô, eu não fico menstruado, eu não engravido, eu não tenho
cólicas... Eu acho que é isso. Ser homem você não pode deixar de dizer umas cantadas bem
bestas. Mulheres, realmente, não fazem isso. É, eu acho que essas são as vantagens de ser
homem. Mas as vantagens de ser mulher?! Eu tenho uma posição: Mulher, se realmente ela
quiser, ela ta em uma posição onde ela consegue as coisas com mais facilidade.
Entrevistadora: E limites? Quais que você acha que são os limites de ser homem e
de ser mulher? Desvantagens...
Felipe: Desvantagens... Sei lá, eu não vejo desvantagem de ser homem. Agora, a
desvantagem de ser mulher... Sei lá! Eu não consigo pensar nessa alternativa. Sinceramente
eu não sei.
Felipe: Acho que vantagem, não. Porque existe um preconceito muito grande sobre
eles.
Entrevistadora: Ahan. Ahan... E em que medida que você acha que a sua orientação
sexual, no caso heterossexual, define a sua maneira de se relacionar?
Felipe: Eu acho que depende da criação. Assim, eu tenho muitas amizades mas eu
tenho sempre limites. Eu tenho uns amigos meus, que são muito próximos, que brincam.
Mas tem outros amigos meus que andam, com a gente, sempre, comigo e com o Eduardo
por companhia, ce não pode fingir que ele não ta. Mas é mais de criação, mas eu não posso
fazer isso. Não tem como eu fazer uma coisa dessa. Impossível.
Entrevistadora: Ahan. Ahan... Entendí. Cê não aceita. Entendi. E o quê que o seu pai
e a sua mãe ensinaram pra você sobre a diferença entre os homens e as mulheres?
Felipe: Han... Bom, sei lá! O que meus pais ensinaram sobre os homens... a
diferença entre os homens e as mulheres?! Bom, vou ter que pegar um pouquinho sobre a
criação da minha irmã, então, também, já que ela é mulher. Realmente minha mãe disse pra
você todo que tem que fazer assim: ir pra guerra, mexer com as mulheres à noite, não se
envolver com homens; com a minha irmã é totalmente diferente.
Entrevistadora: É?!
Felipe: Claro. A minha mãe já fala com ela assim: ‘ Não! Tem que segurar esse
negócio aí. Não pode ir com mais de uma pessoa.
Entrevistadora: E você acha que seu pai e a sua mãe tinham a mesma opinião sobre
essas diferenças entre homens e mulheres?
Felipe: Bom a gente, até então, não conversou tanto sobre isso. Eles pediam pra
mim sempre usar a camisinha, conhecer a pessoa melhor antes de sair, sempre esse tipo de
coisa. Agora, sobre o que fazer na hora eu nunca conversei sobre isso com eles.
Entrevistadora: E o quê que você pensa sobre virgindade?
Felipe: Eu acho importante, eu acho importante, na verdade. Pelo menos, tirar isso,
tem que ser uma pessoa interessante, uma pessoa que, realmente, você goste.
Principalmente isso, você tem que gostar mesmo.
Felipe: Pra mim é igual. Nos dois é abominável. Os dois. Eu acho que quando duas
pessoas estão juntas, realmente, é a pior falha que se pode ter.
Felipe: Bom, é... Pros homens não mudou tanta coisa. Na verdade, as mulheres hoje
vivem mais com prazer. Antigamente, nem sempre todas as mulheres tinham isso. Hoje elas
têm mais essa opção de... Mas eu acho que hoje, pelo menos, entre os meus amigos, pelo
menos, pelo que a gente fala de tudo. Eu acho, realmente, interessante as mulheres sentir
prazer. É legal pro nosso ego, também. Então eu acho que essas mudanças fizeram bem.
Entrevistadora: Ahn... É... Na sua opinião tem algum sentimento que um homem
tem que esconder de outros homens?
Felipe: Acho que não. Acho que não. A não ser que ele ser que ele esteja interessado
na namorada dele.
Felipe: Não, eu acho que não. Não sei. É lógico que... não sei. Impotência?! Eu acho
que, talvez, sim. Teve dias que eu bebi demais e, realmente, foi difícil.
Felipe: Não, eu tenho certeza que foi por causa da bebida, nesse caso, mas... Porque
eu, realmente, estava deselegante, mesmo.
Felipe: Deselegante... (ri) Então eu acho que eu sou muito novo, ainda... Mas é bem
provável que eu ainda tenha.
Entrevistadora: E... Quando... O quê que você costumam fazer quando você, ou a
sua parceira, estão sem interesse sexual por um período razoável?
Entrevistadora: Não?!. Bom, a gente vai falar sobre saúde, agora. Como que você
cuida da sua saúde? Cê costuma fazer exames? Médicos com freqüência?
Felipe: Isso, isso. Mas eu nunca fiz um check up total mas eu passo no médico
realmente, não com muita freqüência, eu diria, vez por ano. A não ser que tenha que fazer
algum tipo de outro exame, aí eu vou no médico. Esse ano ainda não, mas... Todo ano eu
faço academia três meses e paro.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. É sério?
Felipe: É sério. Eu faço três meses e paro. Quer dizer, dá dois meses, eu começo a
faltar no terceiro e paro no outro, entendeu?!
Entrevistadora: E daí você não faz exercício no resto do ano... (ri) os outros nove
meses. (ri)
Felipe: Ah... A não ser um futebol com os amigos mas, em termos de ir direto, não.
Depende do exercício.
Entrevistadora: É verdade.
Felipe: Na verdade, eu lembro que, sábado agora, eu estava com dores abdominais.
(ri)
Entrevistadora: (ri) Por causa de sexta-feira que você saiu com a menina?!
Felipe: É... Não só por ter saído com ela. Naquela noite eu não dormi.
Felipe: Ah. Teve uma vez, no domingo passado, que eu fiquei com dor de dente. Eu
tenho um plano médico, ainda. Cada vez as empresa vão pedir, porque eu fiquei três anos
em outro emprego e nunca utilizei. Pagava trinta reais por mês e nunca utilizei.. Aí eu
precisei ir no dentista, daí eu fui no pronto-socorro e demoram três horas pra me atender,
mas ainda assim me deram um atestado pro dia que eu faltei, no outro dia. Fizeram um
atestado lá. E a moça também foi... falou pra mim que não tinha como... era um dente do
ciso, não arrancam dente. Aí tinha um canal meu que abriu um pouco e ela falou também
que não faz tratamento de canal. Quer dizer, não fazem nada lá. O povo ta lá só pra olhar e
falar e falar pro povo 'toma tal remédio'. Então eu acho que o serviço público não é muito
bom...
Entrevistadora: Ahan... E você já teve alguma doença transmitida por via sexual?
Entrevistadora:E... Alguma parceira sua já teve alguma doença transmitida por via
sexual?
Felipe: Bom, sobre AIDS?! Sei lá. Na verdade, o que eu sei sobre AIDS é que, na
verdade, é uma doença que se esconde. E depois ela ataca mais a parte de anti-corpeos
então... Geralmente ela te deixa frágil durante... Deixa com gripe e tudo mais. Sei lá, eu
acho que é sobre isso, né?! É isso que era pra falar sobre AIDS?
Felipe: Conheço.
Felipe: Não, não é próxima. Eu conheço. Às vezes eu converso mas não é próxima.
Entrevistadora: você acha que você pode pegar o vírus da AIDS?
Felipe: Posso.
Felipe: Posso. Com uma besteira dessa que nem da sexta-feira aí... Puta daí... Então,
na verdade, se eu transar sem camisinha, der uma vacilada dessa, posso pegar o vírus da
AIDS.
Entrevistadora: Ahan. E... (ri) você acha que tem algum grupo, ou tipo de pessoa,
que tá mais vulnerável a pegar o vírus da AIDS?
Felipe: Não. Na verdade sim, na verdade sim. O pessoal que... Os moleques que não
tem... e vivem na rua, realmente, usam drogas, usam drogas com seringa, realmente tem
mais possibilidade.
Entrevistadora: Ahan... Entendi. você sabe alguma coisa sobre os remédios que são
usados, atualmente, pelas pessoas que têm AIDS?
Felipe: Não. Só ouvi falar em coquetel, realmente, pra o pessoal não pegar outras
doenças mas... Não conheço.
Felipe: Já.
Entrevistadora: Quando, quantas vezes, por quê que você fez...? Essas coisas...
Felipe: Então, eu tava namorando há quatro anos e a gente fez de seis em seis
meses. Então a gente fez oito vezes daquela vez. Depois disso que, como tem um ano...
mais de um ano que eu tô solteiro, sei lá, umas... quinze vezes.
Entrevistadora: Jura?!
Entrevistadora: (ri) Sim. E... Bom, sobre preservativo. você nunca teve relação com
alguém do mesmo sexo, né? Tá. Mas com as pessoas do sexo oposto você usa às vezes,
sempre, nunca?
Entrevistadora: (ri) Em que circunstâncias que você não usa? Só quando você tava
namorando?
Felipe: Quando eu tava namorando e quando realmente não dou pra comprar e,
também, não dou pra parar. (ri)
Entrevistadora: Entendi. E... Em que práticas sexuais você usa? Em todas ou tem
alguma que você deixa de usar
Felipe: Não era pra deixar, né?! Mas sexo oral, às vezes, eu não uso. Não era pra
deixar. Eu acho que pouca gente usa.
Entrevistadora: É... Mas você não usa no sexo oral pra fazer ou pra receber?
Felipe: Os dois.
Felipe: Não.. É tranqüilo. Eu acho que é mais difícil pra mulher, até.
Entrevistadora: (ri) Tá... Um minuto. você acha que é mais fácil ter preservativo pra
um homem ou pra uma mulher?
Entrevistadora: É?! Por que você acha que é mais fácil pra homens?
Felipe: Já, já usei. Eu acho que, realmente, parece mais com o real. Tem um lance de
temperatura, né...
Entrevistadora: Entendi. E daí, o que você fez depois que ela rompeu? Cê fez algum
teste...?
Felipe: Não, eu fiz um teste primeiro. 'vou tirar'. Até poderia ter percebido antes
mas, também..
Entrevistadora: E que cuidados que você sabe que você tem que tomar pra
camisinha não romper, não rasgar, nem estourar?
Felipe: Bom, primeiro é tirar bem o ar dela, sem dúvidas. Não deixar ela na carteira
porque ela seca, já aconteceu isso comigo e não dá pra usar de jeito nenhum. E... Bom, tem
que ser um lugar fresco. Só, realmente, levar algumas. É bom que tem uma mochila... Só
isso.
Entrevistadora: Você ou... Quer dizer, no caso, a sua parceira, né? Alguma parceira
sua já utilizou contracepção de emergência?
Felipe: Já.
Felipe: Na farmácia.
Felipe: É simples...
Entrevistadora: Ahan. E... Onde você bebe? Antes ou depois de sair você bebe, ou
vai sair pra beber, como vocês fazem?
Felipe: A gente não precisa. Às vezes a gente bebe antes de sair na balada ou
depois... Não,não. Depois não. Ou então na balada mesmo. Geralmente aqui no centro
mesmo ou numa balada.
Felipe: Fumo.
Entrevistadora: Ahan... E como foi, onde, com que freqüência você fuma?
Felipe: Bom, foi logo quando eu terminei, eu tava mó mal, aí eu... também aquele
dia eu bebi demais, fumei maconha, sentei... Na verdade não é muito legal. Não gostei
muito. Não dá barato nenhuma como dizem.
Felipe: Não.
Entrevistadora: E lança-perfume, você já experimentou?
Felipe: Já.
Felipe: Foi numa balada mas, na verdade... Um cara tava com balinha e eu queria
saber como é que era. E na balada eu pedi e o cara misturou. Pedi com um cara amigo meu
que era um pouco mais nóia (ri) e falou pra eu tomar com água e eu nem bebi bebida
alcóolica junto. Cê fica muito alegre, muito alegre.
Entrevistadora: Ahan. Ahan. É?! Entendi. Você só tomou ectasy uma vez depois cê
num...?
Felipe: Era caro, eu falei na verdade o cara tinha me roubado, né?! Hoje em dia tem
pessoas que vende trinta e cinco, vinte e cinco, vinte... Sei lá! Varia.
Felipe: Foi horrível. Horrível. Bem, na verdade, eu bebi muito naquele dia, fumei
maconha e cheirei cocaína também. Então eu direi que eu fiquei bem mal. Fui pra casa
sozinho, ainda, cada amigo foi prum lado. Eu lembro que a gente tava lá na ponta de cima,
de um bairro chamado BH, eu lembro que descendo eu caí três vezes no chão. Eu cheguei
no final da Augusta e eu não lembro de ter entrado no ônibus e eu falei pro motorista me
acordar. Não sei como eu cheguei lá. Então, quer dizer, não foi uma experiência muito
interessante. Eu acho que eu passei do limite, naquele dia.
Entrevistadora: Cê não repetiu nenhuma das drogas que você falou antes, além do
álcool? Não rolou depois?
Felipe: Não. Além do álcool e do cigarro, que também é uma droga, não.
Entrevistadora: É... E nos lugares que você freqüenta quais são as drogas mais
usadas?
Felipe: Todas essas. Em qualquer lugar aqui você arruma todas elas.
Felipe: Não. Cocaína eu nunca precisei usar. Acho que todo mundo de que brocha.
Entrevistadora: É?!
Felipe: Agora ecstasy não. Eu tenho certeza. Ecstasy eu sei que ajuda.
Entrevistadora: Por quê? Você chegou a ter uma relação onde você tinha tomado?
Felipe: Bom, você não sente cansaço. Você não sente cansaço mas, realmente, você
não tem muito prazer também, né?!
Entrevistadora: E você fica mais solto quando você tá sobre o efeito de álcool ou
alguma droga?
Entrevistadora: (ri) E como é o seu final de balada? Cê falou que só fumou maconha
aquela vez mas, cê toma algum remédio ou cê só vai pra casa e...?
Entrevistadora: (ri) E você usa algum calmante ou qualquer outro tipo de remédio?
Entrevistadora: Você costuma beber ou usar alguma droga antes de fazer sexo?
Felipe: Não.
Entrevistadora: Como que você acha que o álcool afeta o seu desempenho sexual?
Felipe: Bom ,não sei. Na verdade eu não sei. Já tive vezes que, realmente, afetou
muito, quando você bebe demais. Quando você bebe pouco eu acho interessante, em vários
sentidos. Um dos sentidos é que, realmente, faz você demorar pra gozar. E isso também é
interessante pra mulher. Então quando você bebe pouco é, até, interessante. Agora, quando
você bebe muito... Deixa pra lá.
Entrevistadora: Ahan... (ri) Vc já deixou de usar camisinha, seja ela masculina ou
feminina, quando você estava sobre o efeito de drogas?
Felipe: Não, eu acho que não foi isso que interferiu. Eu sempre lembrei, eu sempre
lembrei dela.
Felipe: Bom, já aconteceu de a gente combinar de ela levar e ela não levou.
Felipe: Ainda não. Mas eu queria utilizar pra ver qual que é. Eu tenho curiosidade
mesmo. (ri) Eu queria saber como é trinta e duas horas...
Entrevistadora: Sério?! (ri) Mas por que você queria experimentar? Por ter um
efeito mais longo?
Entrevistadora: (ri) E... Bom. Você já usou algum tipo de droga injetável?
Entrevistadora: Não que você saiba. E.. Bom, agora a gente tá terminando e a gente
vai falar sobre os seus projetos em geral. Quais são os seus projetos de vida?
Felipe: Podem, todos eles podem. Porque eu acho que tudo não depende só de você.
Entrevistadora: E onde que você imagina que vai estar daqui a dez anos?
Felipe: Ah, projeto eu vou estar, tipo, trabalhando num outro lugar, realmente, abrir
uma clínica minha. Com uma vida razoável. Agora o sonho é ganhar na Mega-sena, né?!
Ganhar na Mega-sena hoje, daqui a uns dez anos estar sossegado, sem fazer nada. (ri)
Entrevistadora: (ri) Então você acha que a sua vida vai estar melhor do que hoje
daqui a dez anos?
Felipe: Com certeza. Na verdade eu não sei dizer... A juventude é uma época que vai
passar e você vai sentir falta mesmo. Não sei se vai estar melhor que hoje mas vai estar...
diferente.
Entrevistadora: Teste, teste. Bom, vamos começar, qual que é o seu nome e o seu
apelido?
D.: Então eu me chamo Maria das Dores, e o pessoal me conhece por D..
D.: Feminino.
D.: É lésbica.
D.: Solteira.
D.: Bom, na verdade eu acredito em Deus, sabe?! Quem faz a religião é nós
mesmos.
D.: No Sacomã
Entrevistadora: É... Sem ser o Sacomã, em quais outros bairros você circula de São
Paulo?
D.: Assim, de tudo um pouco. Eu ando mais na parte do Ipiranga, né?! Porque é onde eu
estudo e nada mais.
D.: Então, eu moro com a minha tia. Tá?! Eu moro com os meus primos e não moro
com os meus pais.
Entrevistadora: Ahan... E.. Assim, quem que é a sua família de origem, tipo, seus
pais, cê tem irmãos?
D.: É...
D.: [?]
Entrevistadora: Não. É, tipo, seus pais são vivos? Você tem irmãos além de você?
D.: Ah. Sim. Então, meus pais estão vivos, tá?! Meu pai mora no interior e a minha
mãe tem problema na cabeça. Então eu tenho uma irmã mais nova que eu. Então ela se
juntou, assim, só eu que tô de solteira. Graças a Deus.
D.: Então, agora, no mês que vem, ela vai fazer dezessete. Só um aninho de
diferença.
Entrevistadora: Ahan. Entendi. E seus pais são de São Paulo? Cê falou que seu pai
tá no interior, ele é de lá?
D.: Isso. A minha família é do nordeste, tá?! Aí, o pessoal vieram tudo pra cá, aí nós
estamos aqui. Meus tios foram se casar, conheceram as futuras esposas, vivem aqui até
hoje e tô aqui com a minha tia.
Entrevistadora: Entendi. E, no lugar onde você mora agora, quem que tá empregado
e quem tá desempregado?
D.: Então, no momento, fez um mês que eu tô desempregada porque fechou a loja.
Então, eu e os meus dois primos, mas a minha tia, o meu tio e a minha prima estão com
emprego.
Entrevistadora: Ahan. E você sabe me dizer qual que é a renda do seu núcleo de
moradia atual? Mais ou menos, somado, quanto todo mundo recebe?
D.: Ah. Não... Sei lá. Uns... Não sei. Mil e alguma coisa, deve ser por aí.
D.: Na verdade, eu nunca morei com o meu pai. E... Só morei com a minha mãe...
[interrupção na gravação]
Entrevistadora: Então, tava falando sobre a sua relação com o seu pai. Como é que
é, mais ou menos?
D.: Então eu nunca morei como meu pai, e sim, morei um tempo, assim, com a
minha mãe. Né?! Então eu nunca tive, assim, um contato com o meu pai. Eu conheci ele
uma vez quando eu tinha doze anos, tá?! E agora eu tô com a minha tia.
Entrevistadora: E... Com a sua mãe, como que é a relação hoje? Assim, você falou
que ela tá doente, né?! Mas, antes vocês moraram juntas. Como é que é?
D.: Só quando eu era pequeninha, até os meus doze, treze anos eu morei com ela. Aí
depois eu resolvi... Porque, na verdade, eu morei lá no nordeste um ano e meio, por causa
da minha avó, que ela ficou doente. Quando ela faleceu eu resolvi voltar pra São Paulo.
Então, foi mais ou menos esse período, um ano e meio, que eu conheci o meu pai. Então, na
verdade, ele mora lá. Aí, quando eu vim, eu vim sozinha e fiquei, assim, pode dizer assim...
acho que cinco anos é... com a minha tia. E a minha mãe veio e tá na casa do meu tio.
Então, normal. Às vezes ela vai em casa e eu vejo ela, às vezes eu vou até ela, ver ela. Mas,
normal.
Entrevistadora: Ahan. E... Sem ser... E com o seus irmãos, como é a relação? Cê tem
uma irmã mais nova, né?! Sua relação com ela, como é que é?
D.: Sim, tudo bem. Na verdade ela não sabe de mim, certo?! Ela tem o marido dela
e ela fica na casa dela. Então eu não tenho muito contato com ela. Só isso.
Entrevistadora: Ahan. E sem ser os seus pais e a sua irmã. Sua tia e o seu tio são os
parentes com quem você tem uma relação mais próxima, ou tem outros parentes também?
D.: Só com quem eu convivo mesmo. Uma relação, assim, mais próxima.
D.: Sim. A minha prima, na época, agora ela tá com vinte e três anos, quando ela
tinha por volta de dezoito, dezenove, vinte, ela curtia saunas. Hoje eu não sei te falar se ela
ficaria ainda com menina, ou não, se ela dá uns beijinhos. Não sei. Só ela que sabe de mim.
E, no mês passado, eu acabei desabafando isso com a minha tia porque eu tive uma
oportunidade com ela no ônibus e acabei falando pra ela.
Entrevistadora: Entendi. E como que foi a educação que você recebeu da sua
família?
Entrevistadora: Como que foi a educação que você recebeu como um todo?
D.: Então, em geral, tipo assim, pra mim ter cuidado com as pessoas. Desde
pequenininha que eu , sabe, não aceitar bala de gente desconhecido. É... Se alguém ficar
atrás de você, ir atrás de uma autoridade pra... no lugar e tal, disfarçar. Pra você não ser [?].
Foi isso, assim. Respeitar as pessoas e tudo mais. Mas nunca falaram comigo que existia
gays e tudo mais, piercing, tatuagens... Isso... Nunca falaram isso pra mim. Mas eles não
gostam disso, nem de piercing, nem de tatuagem. Pelo que eu percebi, a [?] da minha tia,
ela... que ela tenha passado pra mim, ela tem totalmente preconceito. É uma coisa que tem
na minha família, só eu mesma e minha prima. E ninguém sabe da minha prima, eu acabei
falando mesmo, pra mim isso menos importa.
Entrevistadora: Ahan. Bom, a gente vai falar agora sobre religião. Em que religião
que você foi criada? E a religião era uma coisa, assim, importante na sua vivência com a
sua família?
D.: Não, não é aquela coisa não. É... Antigamente, eu freqüentava mais, a igreja
Católica. Só que, pra mim, eu não vi nenhuma diferença não. Hoje eu tô muito bem.
Entrevistadora: É... Você já mudou de religião, então, né?! Porque hoje você parece
que não freqüenta. Por quais religiões você passou ?
D.: Não.
Entrevistadora: E qual que você acha que é a importância da religião pra suas
decisões afetivas e sexuais, assim? Pra você decidir com quem você se relaciona ou não se
relaciona, se tem relação sexual antes de ter compromisso ou não... Como é que é?
D.: Não, pelo que eu seu, eu acho que todas as religiões... acho que eles não curtem,
assim, gays e tudo mais. E eu sei que quem faz religião é a própria pessoa. A pessoa pode
entrar numa igreja Espírita, e a gente gostar do mesmo sexo. Isso eu acho que é o de menos,
eu acho que é importante a gente estar com Deus. Sempre fazer o bem e nada de tentar
prejudicar as pessoas. Então o que eu penso é isso. Quem faz a religião somos nós
mesmos, mas no caso, se a gente quiser descansar um pouco a mente, se ela tiver bem
consigo mesma, se a gente tá satisfeito da porta pra fora, a gente entra num espaço
espiritual pra gente estar bem consigo mesmo. Mas se a gente estiver se sentindo mal, ou
alguma coisa assim...
Entrevistadora: Bom, agora a gente sua experiência escolar. Como que tem sido a
sua trajetória escolar? Cê já interrompeu os estudos, já já repetiu algum ano, ou foi direto?
Como é?
D.: É.. Quando eu estudei a quarta série, na verdade eu não gostava da professora.
E, eu não sei se era por causa da idade dela, que era uma senhora; todo dia eu ia pra escola
e não entrava na sala de aula. Então eu ficava na educação física, com o pessoal da sétima,
oitava, primeiro e segundo, eu era o cupido da escola. Mas eu nunca deixei de ir pra escola
por causa de algum relacionamento, por causa de algum amigo, nem nada. Mas isso já
houve pessoas querendo que eu cabulasse naquele dia, e eu nunca fiz isso. Só esse ano que,
hoje, eu peguei [?] ...
Entrevistadora: Além das aulas obrigatórias, você faz alguma atividade extra-
curricular? Você tá no terceiro colegial agora, né?! Cê faz alguma atividade tipo esporte,
teatro, ou já fez na escola?
D.: Não, não. Quando eu fiz a quarta série sempre eu participava de comemoração,
Natal, Dia das mães fazendo teatrinho, cantava uma música e tal. Só na quarta série, mas
depois eu nunca mais fiz, mais nada.
D.: Ah, na escola?! Ah, é tudo de bom. Porque cada dia que vai passando, a gente
vai crescendo e vai conhecendo pessoas novas, né?! Então isso é muito bom. Ver o
desenvolvimento das pessoas. Vai crescendo e vai conhecendo muito mais. Você vai tendo
muito mais criatividade, a pessoa vai tendo muito mais conhecimento. Além das escola que
passa informações pra a gente aprender. Ah, é tudo de bom, a gente acaba sabendo [?] de
cada pessoa.
Entrevistadora: E pra sua vida social, familiar, afetiva, sexual, qual que você acha
que é a importância da sua experiência na escola?
Entrevistadora: Ah. Sei lá. Pros amigos, que você faz ou deixa dxe fazer, paqueras.
Como que isso funciona?
D.: Ah, entendi. Assim, em relação a escola, a gente sabe... Toda escola tem muita
gente com preconceito e tudo, então, dentro da escola eu tenho algumas amizades que
sabem de mim. Então que eles acham super legal, e tudo, sempre convidam pra gente sair
num dia de balada... e eu nunca vou. Mas tudo bem, por causa da minha tia. E... Mas na
minha casa, só tem a minha tia e ela fala que eu preciso de um psicólogo; mas tudo bem, o
que eu posso fazer?! Todo mundo acha que precisa [?] horas de [?]. E é isso aí. Minha
prima ela não tem nenhum tipo de preconceito nem nada. Cada qual vive a sua vida, cada
qual paga as suas contas. Eu penso isso.
D.: Não.
D.: Ahan.
Entrevistadora: É... Bom, e como que você tem garantido a sua subsistência? Seus
tios estão pagando, ajudando você, como é que é?
D.: Me ajudando. Ainda bem que esse daí é o de menos, né?! Porque eu já recebo
[?], é meus direitos e tal, minhas férias vencidas e tal. E, também tô pra receber meu fundo
de garantia, então eu não quero ficar dependendo deles. Então eu não vejo a hora de
arrumar emprego mais rápido possível senão o dinheiro acaba, eu tô indo pra escola a pé
voltando pra casa de ônibus; então tem que ficar todo dia com dois Reais no bolso pra
pegar um ônibus.
Entrevistadora: Entendi. Em quê que você gasta a sua renda agora que... o dinheiro
que você guardou, né, mais ou menos?
D.: Então, o que eu gasto, o que eu gastei, foi em roupas... comprando sapato, calça,
e blusa de frio, agora tá frio... e às vezes, que eu sei que alguém tá fazendo aniversário, eu
compro uma lembrancinha, aquela coisa toda. Então é tão... Eu fui ao dentista, né?! Eu
pretendo continuar o tratamento dos meus dentes. Futuramente, eu pretendo colocar
aparelho logo que possível. Não é muito o dinheiro.
D.: Raça, eu acho que talvez, seja cor, né?! Cor das pessoas. Raça... Sei lá.
Entrevistadora: E, em termos de raça ou cor, você acha que a sua definição como
parda, que você deu, é importante pra você? pra maneira como você se define?
D.: Eu sei lá. Eu acho que todo mundo é igual. Viu?! Eu acho que não tem essa não.
Se a pessoa pode ser morena escura, pode ser queimadinha, pode ser branquinha...
branquinha que até precisa de um guarda-chuva pra cobrir do sol. Mas não tem essa não.
Então, sei lá, eu tô bem. Eu não tenho preconceito nenhum, tanto opção sexual... a pessoa
pode ser... Eu posso conhecer uma pessoa pode ser macumbeira, alguém espírita, alguém
evangélica. Eu acho que vou tratar igual, pode ter cor, pode ser deficiente, andar na cadeira
de rodas, muletas e tudo mais. Pra mim não tem essa não.
Entrevistadora: Qual a opinião deles sobre a questão, assim, da raça... e qual é a cor
deles? Tipo, como você classificaria eles?
D.: A minha tia, ela é branquinha. A minha prima branquinha. Meu... O marido dela,
assim, meio queimadinho, e os meus dois primos são, assim, meio queimadinhos...
moreninhos.
Entrevistadora: E você acha que tem situações em que a sua raça/cor é positivo, ou
negativo, nas relações que você tem com as outras pessoas?
D.: Ah, eu nunca ouvi nenhuma reclamação sobre isso. Se eu sou... que cor que eu
tenho. (ri) Pelo o que eu sei não.
D.: Racismo... Quando não gosta da cor de alguém... Sei lá. Eu acho que não tenho
[?] nem consigo mesmo. Sei lá.
Entrevistadora: Onde você acha que existe racismo? Tipo, em que tipo de situação?
D.: Sim. Cada qual tem uma inteligência. Cada pessoa tem um pensamento
diferente, cada pessoa tem opiniões diferentes. Então esse que é o bom. Cada dia que passa
a gente acaba conhecendo mais pessoas de quem a gente acaba recebendo informações
diferentes.
Entrevistadora: E nas artes, você acha que as pessoas de cores diferentes têm as
mesmas habilidades?
D.: Então, todo mundo tem uma arte diferente, tem uma criatividade diferente. E
cada pessoa tem uma capacidade diferente, assim, um do outro. Tem gente que tem mais
capacidade de jogar futebol, tem outras pessoas que têm uma capacidade de uma natação.
Então, são esportes diferentes... Na arte, tem gente que já nasce com o dom de pintar, com o
dom de fazer alguma escultura, então são artes diferentes. Todo mundo é artista.
D.: Não. Infelizmente. Porque, hoje em dia, a gente vê na televisão uma mulher
linda e maravilhosa, com dentes perfeitos, olhos claros, cabelo lindo e maravilhoso. Então,
esses programas de televisão, lojas, shoppings também, eles costumam pegar pessoas
jovens, branquinha, tudo mais; lindas e perfeitas. E, muitas vezes, essas lindas e perfeitas,
ou perfeitos também, nunca sabe falar um ‘a’,. E muitos lá fora, que se quer oportunidade
de estar trabalhando, e não aceitam por causa da cor, e também da idade, essas pessoas são
discriminadas, e tal, pela cor. O que vale, eu acho, pra eles é a propaganda, a beleza, os
dentes perfeitos e tudo mais. Vá colocar alguém com dente torto na televisão, cheio de
espinha na cara, nenhum programa [?] pra pôr. Assim, na televisão pra fazer, assim,
alguma novela alguma propaganda de algum lugar, ou até mesmo loja. Eu acho que o que
vale é a experiência, não é a cor, não.
D.: Já. Sim, eu já conheci pessoas [?] e falam, assim: ‘ Ah, eu sou branquinha, linda
e maravilhosa, pra quê que eu vou ficar com um negro?’ - ‘Ah eu sou lindo e gostoso,
porque que eu vou ficar com uma gorda?’ Tipo, assim, nunca se sabe o dia de amanhã. Às
vezes, pode até se apaixonar por alguém que a gente pega e fala: ‘ EU não fazer isso.’ – mas
amanhã nunca se sabe.
D.: Eu particular? Não. Ninguém nunca falou pra mim se eu era feia, sardenta. Sei
lá. Não.
Entrevistadora: E você acha que devia haver políticas específicas pra minorias?
Como cotas raciais, assim, nas universidades?
D.: Não ia ajudar não, viu. Eu acho que deveria ter... eu acho que hoje tem até,
assim, uma lei né, que fala se moreno é preto pode ser até processado, né?! Tem, né, uma
lei assim? Se chamar que é preto, pode até processar essa pessoa. Eu não sei se ia melhorar
não. Eu acho que sim, vai, põe sim.
D.: Tem.
Entrevistadora: E na África do Sul?
Entrevistadora: Bom, a gente vai falar sobre sociabilidade, lazer, essas coisas todas.
É... que lugares que você freqüenta pra se divertir, pra paquerar...?
D.: Então, é... como eu falei, assim, da minha tia, que ela é uó. Tudo bem, não posso
fazer merda. Então, se eu pudesse, eu gostaria de estar saindo todo final de semana. Um
pra cada lugar diferente. Então, por enquanto, esse ano, eu saí umas duas, três vezes. Eu
acho que já [?] é o de menos. Então, no futuro, quando eu tiver a minha casa, aí eu poderei
sair muito mais, algo que eu não aproveitei, né, agora eu tô com dezoito. Mas tudo bem.
Entrevistadora: Mas, quando você sai, pra quais lugares você vai? Tipo, a gente se
conheceu na alameda Itu, você vai sempre pra lá?
D.: Então, foi pra lá mesmo. Eu fui umas duas, três vezes esse ano.
Entrevistadora: E você vai lá pra paquerar, ou pra fazer amigos, como que é?
D.: Assim, mais pra se divertir, sabe?! Principalmente pra descansar a cabeça, tal.
Mas, quando houve uma oportunidade, eu fiquei.
D.: São meus amigos da escola. O meu amigo Rodrigo, dessa vez foi a Tiara, a
Suhay[?].
D.: Não, não. O importante é eles... o importante é a amizade. Não importa se cata
latinha durante o dia e vai pra escola a noite, porque eu estudo a noite, não importa se um
deles numa empresa e estuda a noite. Não importa.
D.: Então, o meu amigo Rodrigo é da minha sala do terceiro ano colegial. E as duas,
tem uma que tá no terceiro, assim, do lado da minha sala, e a outra no primeiro ano.
Entrevistadora: E orientação sexual? Você prefere que os seus amigos tenham qual
orientação? A mesma, tanto faz...
D.: Ah, tanto faz. Eu acho que é importante é os amigos continuarem a serem
sinceros, e mesmo assim tem que ficar de olho, né?! E, não importa se eles são ou não, o
importante é se divertir e curtir.
Entrevistadora: E cor, você tem alguma preferência para os seus amigos ou tanto
faz?
D.: Não, não. Por exemplo, a Suhay. Ela tem uma cor mais escura que eu. Você até,
eu acho, que a conheceu lá...
D.: Então, na verdade eu não tenho muito amizade com ela não mas tudo bem, a
gente fica na hora do intervalo batendo um papo. Eu acho que o importante é o coração da
pessoa. Não interessa a idade... o importante é a cabeça.
D.: Meu estilo. Ah, depende viu. Depende porque tem dias que eu tô meia, assim,
meia maloqueirinha, tem dia que eu tô meia, assim, social ou meia pati. Mas tudo bem, meu
estilo é assim, meio variado.
Entrevistadora: É... Tem alguma tribo urbana com a qual você se identifica? Tipo,
alguma turma, um estilo que você, sei lá, acha mais bacana, ou não?
D.: Não, não. Mas, na verdade, eu quero estar bem distante pra quem curte aqueles
negócio de RAP, Black e tal, porque eles costumam usar corrente, aquelas calças folgadas,
querem ser mais que as pessoas, gostam de zuar, pichar; e isso não é pra mim. A pode ter
qualquer tipo de estilo. Pode andar todo social, pode andar todo roqueiro, né, e isso não
importa. O importante é a educação, onde que eu tô eu me sentir bem.
Entrevistadora: E pra você, como que são as pessoas que frequentam a alameda Itu?
Assim, em relação a orientação sexual, classe social, cor, estilo?
D.: Então, essa parte aí, tudo bem. Não tenho, assim... vou te falar, é uma situação,
assim, legal porque lá, tipo, a gente chega lá e a gente vê tantas pessoas... beijando o
mesmo sexo, né?! Então ali não tem ninguém pra interferir como se fosse... poderia
acontecer dentro de uma escola, ia gerar muita polêmica; na rua, tem alguém conhecido,
um vizinho, por exemplo... vai haver uma polêmica. Então, ali não. Ali é um lugar mais
liberal, tem todo o tipo de gente, pessoas mais velhas, pessoas novinhas, né?! Então eu acho
tudo de bom.
Entrevistadora: Ahan. O que você diria mais que tem de bom e de ruim, lá na
alameda Itu?
Entrevistadora: E como que você costuma se aproximar das pessoas com quem você
quer ficar, ou fazer amizade?
Entrevistadora: É?!
D.: Sou tímida. Dessa vez quando eu fui, as duas pararam eu, dentro do ônibus, eu
conversei com o meu amigo e ele foi conversar, daí a menina ficou interessada. Eu não
costumo chegar não.
Entrevistadora: Ahan. E você já sofreu algum tipo de violência nesse lugar? Na
alameda Itu?
Entrevistadora: E.. Você já provocou algum conflito lá? Alguma briga, ou coisa
assim?
D.: Não. E apesar que eu não gosto de briga. Eu, acho que, se alguém fosse me [?]
eu ia desmontar inteira.
Entrevistadora: Bom, a gente tava falando sobre Internet, né?! Cê falou que cê não
costuma acessar muito...
D.: Não, não. Porque até o ano passado não me interesse em possuir um computador
e nem celular. Então, esse ano que eu me interessei a fazer informática, lógico que eu já
mexi em computador da minha prima quando eu era pequenininha e já tive um computador
somente pra fazer desenhos. Mas não pra ir fundo, negócio de pesquisa, entrar na Internet,
nada disso, né?! Então, eu não sei o que é que houve em mim, mas a minha tia acabou
vendendo o computador, não sei pra quem, e o da minha prima eu já mexi e tal, com ela,
tal. E esse ano eu comecei a fazer informática, faço dia de terça-feira, mas eu prefiro
comprar um celular.
[interrupção na gravação]
D.: Aí, eu não sei. Acho que depende da pessoa. Se eu gostar da pessoa, tudo bem.
Mas a minha preferência é que seja uma pessoa, assim, educada, tipo, pessoa interessada,
pessoa responsável.
Entrevistadora: E orientação sexual? Ah, você prefere que seja hetero, bi, é...
lésbica, ou como é?
D.: Ah, pra mim tanto faz, né?! Pode ser bi, pode ser... hetero não dá. E... pode ser
só preferência menina, tudo bem... Pra mim tanto faz.
D.: Então, a respeito de cor, a minha preferência, a minha preferência mesmo é... eu
tenho que bater o olho e gostar. Já aconteceu de eu bater o olho numa moreninha, e tal, e
gostar. É só bater o olho e gostar, não importa a cor.
D.: Não sei. Não sei te falar isso. Porque eu sou muito de bater o olho e dizer se
gostou ou não. E depende da conversa também, também tem isso.
Entrevistadora: (ri) Ahan... você já foi paquerada por pessoas do mesmo sexo?
D.: Já.
Entrevistadora: (ri) E você já namorou, ou teve algum tipo de relação afetiva, com
uma pessoa de cor diferente da sua?
D.: Não.
Entrevistadora: E classe?
D.: Não
D.: Já...
Entrevistadora: E escolaridade?
D.: Não, as pessoas com quem eu me relacionei, são da mesma escola, né?! também
eu tô ficando com uma menina lá, mas tem namorado... Tudo bem. E eu já fiquei com
menina que já terminou o segundo grau completo, tal e é só profissão.
D.: Atraente... Acho que depende. Agora eu não sei... talvez pode ser... É no olhar,
no jeito de ser, no jeito de falar, ou talvez o cabelo. Eu acho que depende, eu acho que só
bater o olho e gostar.
D.: O que eu espero?! Acho que muita sinceridade, sabe, ser fiel. É sim ou não. tá?!
Entrevistadora: E o quê que significa ficar pra você? Tipo, o quê que tem numa
ficada?
D.: Numa ficada, eu acho que é quando fica só um dia, assim, sabe?! E, dependendo
do caso... ficar um dia, né?!... dependendo do caso, retornar e continuar ficando. Aí, no
caso, daí, pode surgir um namoro, e tal, daí compromete muito mais.
Entrevistadora: E o quê que você costuma fazer pra chamar a atenção de alguém em
quem você está interessada?
D.: Ah, depende do momento, porque... já aconteceu de, quando eu fui na parada
gay do ano passado... E no ano passado eu cheguei na... com o meu amigo e uma amiga
minha, não lembro se foi a Renata ou se foi a Luana, a Luana eu já fiquei. Aí eu cheguei: '
Nossa e tal, eu acho bonita aquela menininha e tal. ' Aí eu, por acaso, a Luana... eu acho
que foi a Luana, eu acho que a Renata tava com a Dani. É, a Renata estava com a Dani, elas
são namoradas há muito tempo. Aí a Luana deu uns perdidos e, quando eu penso que não, a
Luana tava trazendo a menina até mim. Porque eu só comentei, né?! Então, são esses os
casos que eu acabo conhecendo, se for até eu chegar na pessoa eu acho que não consigo. Só
se, até eu entender, assim, tipo, dar um sorrisinho e tal, dar um tchauzinho e a pessoa
corresponder... Aí tudo bem.
Entrevistadora: E você considera que há pessoas pra namorar e outras pra ficar?
Entrevistadora: E o quê que divide essas pessoas? Tipo, ah essa é pra ficar, essa, eu
acho que eu namoraria...
D.: Ah, olhando assim pra pessoa, assim, e tal, a gente pode ficar sim e tudo bem. E,
dependendo da pessoa... Nossa, já passou, assim, até em meu pensamento, né?! - ' Ah, com
essa pessoa eu já namoraria, mas com essa não.' Ou talvez: ' Mora muito distante' ou ' Essa
eu não ficaria por causa dessa atitude.' Assim, que eu não gosto e não tem como eu corrigir,
né?! Cada um com a sua personalidade diferente. Às vezes acontece, até eu mesma, [?] e
tal, a pessoa tem que ser consciente do que faz. Cada qual ou tem a consciência pesada [?]
Entrevistadora: O quê que você pensa sobre [?] de cor ou raça diferentes?
D.: Difícil. Eu acho que o importante é o amor, né?! Acho que não importa a cor, a
idade, eu acho que o importante é o amor, a sinceridade.
Entrevistadora: E casamento?
D.: Casamento. Nossa. Casamento é uma coisa muito séria. Hoje a gente vê vários
relacionamentos, tal, foram até... chegaram até lá, o altar, e mês depois até se separa. Então,
casamento é uma coisa muito séria, muito compromisso.
Entrevistadora: Ahan!
D.: Ah, eu acho que não importa. Raça e nem nada, cor, tamanho...
D.: Tudo de bom ,viu?! Eu acho que a opção, mesmo, sexo, eu acho isso aí muito
bom. Eu acho que se respeita muito mais do que entre um homem e uma mulher. Acho que
depende da combinação.
D.: Eu acho tudo de bom. Acho que sim, né?! Porque eu nunca vou [?]
Entrevistadora: Bom, deixa eu ver... Agora você não tá namorando, né, como você
falou, só tá ficando, né?!
D.: Isso.
D.: Já. Eu já fiquei com uma menina, fazia seis... sete meses. E eu nunca transei. (ri)
Engraçado isso, né?! E depois, antes dessa menina, eu fiquei... no ano passado isso, foi
junho, foi antes do dia dos namorados. Junho é o dia dos namorados, né?! Então, eu fiquei
quase um mês com a menina, fiquei quase um mês mas ela queria... eu acho que eu não
tava preparada pra isso , eu não sei o que aconteceu, assim, na minha cabeça. Eu não sei.
Eu acho que toda a primeira vez dá um pouquinho, assim, de medo.
Entrevistadora: Ahan... Ahn... Tá. Agora é só pra quem tem filhos, então a gente vai
pular.
Entrevistadora: E como que você... Não. Calma. O quê que você acha da
paternidade/maternidade gay/lésbica?
D.: Bom, depende do caso, né?! Porque se duas mulheres forem criar um filho, ou
uma filha, tem que criar de uma [?] mas, tipo, não tendo preconceito, lógico, né?! Eu acho
assim, tem que criar uma vida normal, com um pai e uma mãe que nem o seu filho mas,
tendo um ensinamento, assim, ter o cuidado com as pessoas, não dentro de uma [?], tal, é
cuidado nos lugares que andam, ter mais cuidado consigo mesmo, né?! Tem que ir
orientando dessa forma. E não, tipo assim, se os pais, ou as mamães, vão sempre num
barzinho e ficar levando, levando o filho até lá e talvez, pode ser, não sei... pode ser um
incentivo pro filho, ou filho, que esteja criando. Mas aí tudo bem, mas criando de uma
forma normal. Cada qual tem a sua opção, diferente uma da outra. Então eu acho assim, se
eu tivesse um filho, ou uma filha: ' Filha eu sou e escolha o que você quiser.' Sabe?! Me
respeitando e fazendo maldade a ninguém, tudo bem.
D.: Acharia legal. Cada qual tem o seu modo de viver, cada qual tenta procurar o
melhor pra si. Se sentindo bem ,sendo... tendo uma segurança, tendo um capital pra ter um
filho, ou uma filha, adotivo e morar com o meu futuro, ou futura, esposa ou marido. Que eu
tenha um capital legal, assim, pra morar e viver a minha vida sossegada, me sentindo bem,
com o meu emprego e tudo mais.
D.: Um filho...
Entrevistadora: E na vida de uma mulher, você acha importante ter filhos, ou filhas?
D.: Ai sim, aí eu acho que a mamãe seria muito mais cuidadosa com o filho, ou
filha. Eu acho que a mulher tem mais jeitinho, talvez, que o gay, né?! Se tiver um lado bem
feminino e tiver uma capacidade de criar um filho, ou uma filha, de uma forma que
respeite, tudo bem.
Entrevistadora: Quais memórias que você tem, da sua infância, de vivências afetivas
e sexuais?
D.: Nenhuma. Porque o meu primeiro beijo foi com treze anos. Eu tinha amizade
com uma menina é a única coisa que eu não sentia. Eu só fui querer ficar com uma menina
quando eu completei os meus quinze, dezesseis anos. Mas nenhuma lembrança...
Entrevistadora: Ahan. Mas o primeiro beijo foi com uma menina também?
Entrevistadora: Ah, entendi. E depois, quando você tinha quinze anos, você
começou mesmo a ficar com mais pessoas.
Entrevistadora: Ahan. Mas quais são as fontes mais confiáveis pra você? Tipo, tirar
suas dúvidas... Família, amigos, meios de comunicação, escola, igreja?
D.: Ó, referente a amigos, eu vejo que não é confiável, nunca se sabe o dia de
amanhã. É uma coisa que pode até virar um jornal. Eu acho que a melhor fonte é a gente ler
jornal e procurar livros e revistas... dar uma procurada muito mais.
Entrevistadora: E... Como que seus familiares se comportavam, e se comportam, em
relação a sua vida sexual?
D.: Então, no momento, quem sabe, é só são... só as pessoas que convivam comigo.
Então, a única pessoa que critica sobre isso é a minha tia, mesmo, porque os meus primos,
os meus dois, né, o henrique e william, eles pegam e falam assim: 'Ah, vai, tem que catar
mesmo.' Sabe?! Eles são, assim, zoeiras. Mas a minha prima só fala: ' Faz o que você quiser
da tua vida, e tal, e no futuro você vai ter a sua casa, a vida é tua e você vai fazer o que
você quiser sendo que você respeitando aqui.' Além disso, outras pessoas, dos meus
familiares, não sabem não, viu?!
D.: Não.
Entrevistadora: Você acha importante ter... Bom, nesse caso não, calma. Deixa eu
ver. Ahn... você já teve atração por pessoas do mesmo sexo?
D.: Sim.
Entrevistadora: Conta um pouquinho mais sobre isso. Tipo, quais tipos de práticas
você já teve com pessoas do mesmo sexo, como você lida com isso? [?] relação física
mesmo... você disse que nunca teve uma relação completa, mas outras coisas já rolaram?
Como é que é?
D.: Então, assim, é mais. Bom... É... Como posso dizer? Acho que as pessoas
acabam se identificando. Como eu sou um tipo de pessoa : bateu o olho e gostei; tipo, eu
mesmo acabei me identificando com aquela pessoa quando... se a gente pega e fica, e tal.
Eu acho que a gente se tinha entendido muito mais... Assim, não só batendo papo, tem
umas idéias legais, assim... Sei lá.
Entrevistadora: E quais foram... com as meninas que você já ficou, o quê que rolou?
Carícias, beijos, toque, relação oral, etc?
D.: Então, assim, foi mais assim, carinho, beijo, abraço... Algo muito mais, assim,
acho que bem delicado, bem cuidadoso. Acho que cuidar muito. Muito carinho...
Entrevistadora: E você já teve atração por pessoas do sexo oposto?
D.: Ahan.
Entrevistadora: Já?! E... Que tipo de relação você já teve com pessoas do sexo
oposto? Só ficar...
D.: Assim, tipo, assim, tipo... Só ficar, assim, tipo, assim... Por algum tempo e tal.
D.: EU sou contra o aborto, viu?! Porque, assim, se na hora de fazer é bom, por que
não assume?! Então, eu sou contra o aborto pode ser, assim, qualquer situação. Porque a
gente sabe que vestir camisinha, tal, em posto aí de saúde, gratuito... e tem essas pessoas,
hoje, que tem pernas e braços e capacidade de chegar até lá e pegar o preservativo e
prevenir isso, viu?!... porque é uma vida.
D.: [?]
D.: A atenção, é... ficar... sei lá. Ser uma pessoa dedicada, aquilo que você assume.
Não ser uma pessoa, assim, tipo assim: ‘ Ah, não quero saber de nada e tudo mais.’ Porque
também eu tô fora, né?! Ser uma pessoa mais, assim, dedicada, ser uma pessoa mais
carinhosa e tudo mais.
D.: Ser uma pessoa educada, ser uma pessoa, assim, sincera.
Entrevistadora: E quais que são as vantagens, que você acha, de ser homem ou
mulher na nossa sociedade?
Entrevistadora: Você quem sabe. Na sua opinião, tipo, quais são os limites e as
vantagens de você ser uma menina, no caso, e não ser um menino?
D.: Ó, ser menina é uma responsabilidade, assim, muito grande. Sabe?! Acho que
cuida mais da casa. E os homens é mais relaxado. E olhe lá se encontrar, por milagre, um
cara cuidadoso. Não sei...
D.: Então, como eu tinha falado, cada qual escolhe aquilo... aquela opção desejada
e... não sei. Eu acho que o mundo é gay, não sei... Porque cada qual deve ter, assim, um
olhar... por exemplo, um cara, um homem mesmo, às vezes... por acaso vê outro, acha isso
lindo nele e quer fazer um igual. Acho... Não sei.
D.: Virgindade, eu acho que é uma coisa que você tem que estar preparada pra ir...
Eu acho que não é pra qualquer hora, qualquer idade, sabe?! Acho que tudo tem um
momento certo. Acho que fica difícil, né, uma pessoa perder por volta de doze, treze anos.
Eu acho isso um absurdo. Pelo o que eu sei, por volta de dezoito, vinte, vinte e dois, é... o
corpo feminino está formado pra isso. Mas, tudo bem , às vezes acontece quando tem
quinze, dezesseis anos. Eu acho que a pessoa se sente preparada, confiada naquilo que tá
fazendo.
Entrevistadora: E o quê que você pensa das mudanças entre as relações entre os
homens e as mulheres nas últimas décadas? Assim, depois que a mulher teve mais liberação
sexual, entrou no mercado de trabalho...
D.: Acho isso super legal. Porque a pessoa está descobrindo aquilo que você quer,
porque muitas vezes se a menina namora um homem, é... a menina, ou o homem, não está
feliz com aquilo. Então tem essa outra opção. E isso é muito bom. E no mercado de
trabalho, eu creio, que isso não interfere de jeito nenhum. Acho que vale é o que você sabe,
é o que você está fazendo, sabe?! Eu creio que isso não atrapalhe em nada não.
Entrevistadora: E... Tem algum sentimento que uma mulher tem que esconder de
outra mulher?
Entrevistadora: É. Existe algum tipo de sentimento que uma mulher deve esconder
de outra mulher, assim?
D.: Esconder?! Acho que depende da pessoa, né?! Por exemplo, eu sou uma pessoa
mais liberal, né?! Eu falo mesmo, não tô nem aí. Mas existe pessoas que acaba, até,
escondendo mais aquilo que você já fez no passado ou, às vezes, que você não quer falar
pra aquela outra pessoa que você tá ficando, pra não acabar essa relação.
Entrevistadora: Uhum. E como que você cuida da sua saúde? Tipo você faz exames
com freqüência, você vai ao médico, se alimenta bem, faz exercícios. Quais são as suas
preocupações, assim, seus cuidados?
D.: Não. |Não me preocupo não. É difícil eu ficar doente. Apesar que eu preciso
estar fazendo exames pra ver se eu tenho alguma coisa... Eu não me alimento bem, meu
almoço é [?], sabe?! EU como super pouco, mas tem dia em que eu como bastante, eu não
sei porque isso. Mas eu preciso ter mais cuidado comigo mesma.
D.: Eu vou no público. EU sei que é um horror isso, então é por isso que eu não vou
atrás de nenhum médico, só dentista mesmo.
D.: AIDS?!
Entrevistadora: Isso.
Entrevistadora: O que você quiser, assim. O que você sabe sobre AIDS? O que vem
na sua cabeça quando te falam sobre esse assunto...
D.: AIDS? Mesmo as pessoas sabendo, ou não, se o parceiro tem , ou não, AIDS
você se prevenir. Tem camisinha, tem remédio e tudo mais. Só se prevenir pra não pegar.
D.: Acho que é só se ter alguma relação sexual sem camisinha, tal...
Entrevistadora: Ahan. Ahan. E você acha que tem algum grupo mais vulnerável a
pegar?
D.: Não.
Entrevistadora: O quê que você sabe sobre os remédios usados, hoje, pra tratar
pessoas com o vírus da AIDS?
D.: Não.
Entrevistadora: Ahan. É... Bom, essas perguntas são pra quem já teve relação, então
a gente vai pular. Tá. Você bebe?
D.: Fumo de vez em quando. Malrboro Light. Só quando eu peço cigarrinho pra
alguém, aí é de outra marca.
Entrevistadora: Ahan (ri). E você já fumou outra coisa sem ser cigarro comum?
D.: Não. Não é pra mim não. Assim, algum outro tipo de droga, né?! Tipo,
maconha, cocaína. Isso não é pra mim não. Eu sempre dispenso, nunca quero.
Entrevistadora: Ahan. (ri). Quais são as drogas mais usadas nos luigares que você
costuma ir?
Entrevistadora: E... Você acha que você fica mais solta quando você tá sobre o efeito
do álcool?
D.: Não, porque eu fico mais, eu tento ficar muito mais no meu equilíbrio, assim, e
tal. Eu fico mais na minha mas dá um pouquinho, assim, de tontura, mas tudo bem.
Entrevistadora: E... Como que é o seu final de balada? Você toma algum remédio?
D.: Não.
D.: É.
Entrevistadora: É... Qual é a sua relação com as drogas, assim, você diria?
D.: Relação às drogas. Então, eu tenho alguns amigos que eles, às vezes, até fumam
uma maconha, assim depois da escola. E eu acho que o importante... Ó, se você quiser
fumar isso tem que ser no final de semana, sabe?! Não tem que ficar exagerando numa
coisa... é aquilo, você acaba sendo dependente daquilo, todo dia, toda noite, Deus o livre e
guarde, pode até roubar da família, roubar lá fora. Isso eu não quero nem pra mim, graças a
Deus eu não curto isso, eu também não quero pros meus amigos e pras outras pessoas.
Entrevistadora: E... Bom, a gente tá terminando. Quais são os seus projetos de vida?
D.: É... Meus projetos de vida?! Que tudo corra em paz, sabe, que eu desejo tudo de
bom, assim, pr mim mesma ou, talvez, a minha futura parceira. E... Ter o meu emprego, a
minha casa e uma faculdade, assim, quem sabe, né?! E uma profissão pra mim poder me
manter.
D.: Sim. Eu esperto... Se a gente pensa, assim, tudo positivo, tudo de bom que vai
dar certo, eu creio que vai dar tudo certo.
Entrevistadora: E onde você se imagina daqui a dez anos? O quê que você vai tá
fazendo, sua vida vai estar melhor que agora? Como que você imagina?
D.: Agora eu não sei porque eu não sei o dia de amanhã. Eu nunca... Não sei se eu
vou decair, eu não sei se eu vou subir. Eu não sei. Eu espero tudo de bom, que eu tenha a
minha futura casa, meu futuro carro, meu emprego fixo e uma ótima profissão pra me
manter.