Assessoria em Serviço Social II
Assessoria em Serviço Social II
Assessoria em Serviço Social II
Unidade II
A consultoria como espaço qualificado de reflexão e intervenção do serviço social
Discutiremos acerca da relação estabelecida entre o serviço social e sua atuação prestando assessoria/
consultoria. Para isso, iniciamos com um breve percurso do desenvolvimento histórico de nossa profissão
no Brasil.
Observação
O serviço social surgiu no Brasil nos anos 1930 como formação técnica especializada, no ápice da
revolução industrial e urbana. A primeira escola de serviço social do país foi fundada em 1936, em São Paulo.
É interessante observar que a primeira turma dessa escola formou-se em 1938 e era composta somente por
mulheres. Isso não foi por acaso. Há que se ter presente a influência do repertório valorativo da Igreja Católica,
que, em relação à educação, por exemplo, não admitia a formação conjunta entre os sexos.
O discurso da oradora dessa turma, Lucy Pestana da Silva (1938, p. 29-30), já manifestava atenção
em relação à determinada condição de mulher e a implicação desta no campo do serviço social
naquele período.
A qualificação em serviço social, portanto, nem sempre era condição suficiente para o exercício da
profissão, pois se havia alguns setores especiais de atividade apropriadas às assistentes sociais femininas,
outros se constituiriam apropriados ao masculino, o que evidencia como as relações de gênero foram
constituintes desse campo profissional e esboroa, em parte, a “imagem feminina” de que foi revestido.
Em março de 1938, na cidade de São Paulo, à mesma época que se realizava a solenidade de colação
de grau das primeiras assistentes sociais diplomadas no Brasil, iniciava-se o ano letivo da primeira turma
mista da ESS/SP. Os cursos mistos foram criados para atender a uma solicitação do Departamento de
Serviço Social do Estado de São Paulo, que necessitava, para alguns de seus serviços, de assistentes
sociais masculinos.
Durante a formação dos assistentes sociais na ESS/SP, foi sendo gestada a constituição de um
espaço de formação exclusivamente masculino, o Instituto de Serviço Social de São Paulo, fundado
em março de 1940 – primeira unidade de ensino, desse campo profissional, masculina da América
Latina (BERTELLI, 2009).
Bertelli (2009) nos diz ainda que isso ocorreu para que homens pudessem compor a categoria
profissional sem preconceitos. O serviço social desvencilhava-se, assim, da ideologia católica para
formarem-se profissionais de ambos os sexos, mas continuou sendo uma profissão formada, em sua
maioria, por mulheres.
Mesmo com todo esse modelo histórico tradicional (prática burocratizada, empirista e paliativa),
o serviço social no Brasil, por meio de sua categoria profissional formada predominantemente por
mulheres, iniciou um processo de questionamento a essas bases tradicionalistas, ainda, infelizmente,
apreendidas pela sociedade. Com esse questionamento, a categoria procura distanciar-se desse modelo,
iniciando, assim, o processo de renovação crítica da profissão, apoiada na conjuntura sócio-histórica e
contextual, fundamentada na teoria e na prática do método dialético de Marx.
Para ocorrer esse processo histórico de renovação crítica da profissão, o serviço social pontuou e
denunciou o conservadorismo tradicionalista, entre as décadas de 1960 e 1980, sob a influência do
movimento da reconceituação latino-americana (GUIDORIZZI, 2008).
Desde então, a atuação dos assistentes sociais no primeiro, no segundo e no terceiro setores,
e também como prestadores de serviços, é orientada para formular, gestar e intervir nas políticas
públicas. Os profissionais também atuam como consultores e assessores, auxiliando gestores e
derrubando o mito de caridade e paternalismo, demonstrando, assim, que o profissional de serviço
social é um estrategista social.
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Unidade II
Vejamos as principais áreas de atuação em que o assistente social vem sendo requisitado a atuar,
inclusive por meio da prestação de assessoria/consultoria.
Nesse novo fazer, o assistente social vem sendo compreendido como um profissional de habilidades
que sabe identificar condicionantes internos e externos e como gestor que sabe diagnosticar e
enfrentar situações sociais de risco. Ele também sabe analisar ações integradas em rede apoiadas na
transdisciplinaridade, que significa transpassar e transitar pelas fronteiras disciplinares, isto é, colocar em
conexão os conhecimentos já produzidos e, por meio da articulação e da qualidade dialógica, produzir
novos conhecimentos.
Direito
Objeto de estudo
História Psicologia
Além disso, o assistente social precisa estar sempre atualizado, pois sua prática deve ser pautada em
pactos e normas globais, o que tem relação direta com a área social e ambiental sob o mesmo patamar.
Nas últimas décadas, temos nos deparado com o “despertar” de organizações para a cidadania
empresarial, de acordo com a gestão social. Referimo-nos às empresas privadas e às ONGs, que vêm
desempenhando responsabilidade social – sem segundas intenções e de forma séria e coerente –,
tendo em sua equipe técnica o profissional de serviço social, pois se trata de uma categoria profissional
socialmente responsável tanto em sua atuação com o público interno como também com o público
externo de interesse das organizações.
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Observação
Outro ponto importante a ser colocado aqui é que são alvos da ação dos profissionais de serviço
social tanto o terceiro setor como também o público-alvo, que demandaram ações inclusivas e efetivas
de projetos desenvolvidos. O profissional, para desempenhar o papel na gestão social em consultoria
e assessoria, necessita profissionalizar-se em gestão e em voluntariado, pois eles recebem assessoria e
consultoria na formulação de projetos sociais.
Desde a década de 1990, a consultoria e a assessoria vêm sendo abordadas e praticadas por
assistentes sociais para melhorar estrategicamente as políticas públicas e aperfeiçoar a profissão. Assim,
o profissional de serviço social se coloca no papel de executor, de gestor e elaborador de políticas sociais.
Na década de 1980, começaram a aparecer na literatura do serviço social questões sobre o tema
assessoria. Vieira (1981) escreveu o primeiro artigo que retratava a supervisão. Nesse artigo, a autora
apresentava experiências vivenciadas pelos cursos de serviço social do Brasil e a importância da assessoria
para os profissionais da área.
Somente após a promulgação da Constituição Federal de 1988 cresceu o interesse e se deu a devida
importância a esse tema, que afirma a política de assistência social como política social no Brasil, além
de fomentar a criação da LOAS, que oferece diretrizes para a profissão do serviço social.
Observação
Na atualidade, a temática continua presente, mas é pouco problematizada pelos profissionais que
atuam nessa área e estão inseridos nesses processos. Os profissionais que estão em outras atuações têm
apenas o conhecimento de que a assessoria e a consultoria se dão na perspectiva da política pública e
na política privada.
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Unidade II
Os temas assessoria e consultoria vêm crescendo, mas pouco se tem de literatura no serviço social.
Isso faz com que muitos profissionais que atuam nesse ramo procurem em outras literaturas das áreas
do saber, como administração, comunicação social, antropologia e sociologia, entre outras ciências,
informações para fundamentar sua ação.
Saiba mais
Lembrete
Vimos, no início desta unidade, o conceito de assessoria e de consultoria, mas para fixação seguem
as distinções entre elas.
Consultoria é mais pontual, por assim dizer, que a assessoria que remete à ideia de auxiliar. Para
fundamentar os conceitos de consultoria, dialogamos com Vasconcelos (1998, p. 128-129), que expõe:
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Contudo, cabe aqui ressaltar que assessoria não é sinônimo de supervisão, não é um trabalho
hipotético ou temporário e não deixa de ser uma assistência social.
Logo, assessoria e consultoria em serviço social, segundo Mattos (2010, p. 31), constitui-se em “ação
desenvolvida por profissionais com conhecimentos na área, que toma a realidade como objeto de estudo
e detém uma intenção de alteração da realidade”.
Lembrete
O assistente social deve refletir e aprimorar-se constantemente sobre as particularidades que envolvem
o fazer profissional, levando em conta os condicionantes internos e externos, estudados anteriormente,
pois dizem respeito ao contexto social no qual o assistente social está inserido. O profissional deve
compreender que o exercício da profissão como trabalho exige mudanças de concepções devido às
transformações constantes que ocorrem no cenário contemporâneo, e ele precisa acompanhá-las.
Iamamoto (2001, p. 95) explica tal particularidade:
Mesmo ao desempenhar assessoria e consultoria, o assistente social intervém nas múltiplas questões
sociais em sua totalidade, carregadas de contradições que demandam sua ação profissional. Por isso
essa atividade requer que o profissional de serviço social apresente habilidades e estratégias focadas na
garantia de direitos, conforme nos mostra Vasconcelos (1998, p. 123) por meio de sua reflexão sobre o
agir e o pensar do serviço social nos processos de consultoria e assessoria:
A atuação em assessoria e consultoria vem sendo ampliada em seu espaço de trabalho e ação
profissional, pois suas ações estão relacionadas: à implantação e orientação de conselho nas três
esferas de governo de políticas públicas; à capacitação de conselheiros, que encontram nelas espaços
para fiscalizar e formular essas políticas; elaboração de planos, também nas três esferas de governo;
acompanhamento, monitoramento e avaliação de projetos e programas sociais. Esses trabalhos e
ações são resultados de exigências de qualificação profissional, tais como:
• capacidade de negociação.
Essa nova atividade de assessoria/consultoria contribui, por assim dizer, para a categoria profissional
de serviço social, pois ocorrem enfrentamentos diversos das questões sociais dentro desse universo,
o que auxiliará toda atividade de assessoria/consultoria. O profissional vai aprimorando seu trabalho,
técnica e, teoricamente, a cada ação desenvolvida vai qualificando as ações do profissional atuante e
também para a categoria.
A assessoria, nesse contexto, deve ser desenvolvida conforme a ação profissional também da equipe
que vem sendo assessorada, revelando competências de cada uma das partes. É necessário estar atento
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
às atividades de estratégias da assessoria, sem reduzi-las, para que o assessorado execute as ações de
acordo com o assessoramento. Por isso, as proposições de estratégias, a crítica, a busca das alternativas,
a formulação das políticas, a avaliação e o monitoramento desenvolvidos como ação pelo serviço social
são um processo de reflexão a ser elaborado pelo assessor e pelo assessorando.
Fica evidente que o profissional de serviço social que atua em assessoria e consultoria, segundo
Fonseca (2005, p. 14), vem sendo chamado para:
Ratifica-se que é necessário que o assistente social em sua atuação como assessor, e também como
consultor, se adeque às exigências do mercado e tenha habilidades teóricas e técnicas. O assistente
social deve apresentar competência para atuar na atividade de assessoria/consultoria para não se perder
na oportunidade de trabalho que poderá bater à sua porta tanto na sua área como em outras áreas que
podem se favorecer da particularidade do trabalho do assistente social.
fazendo crescer os trabalhos, as parcerias institucionais (tanto no setor privado quanto no público), e
agregam-se à assessoria os movimentos parlamentares e sociais e as organizações sindicais.
Para tanto, cabe ressaltar os fatores que determinam a assessoria/consultoria para ficarmos atentos
a essas demandas. Conforme nos expõe Fonseca (2005, p. 14):
Saiba mais
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Analisa-se ainda que a demanda de assessoria/consultoria do serviço social vem sendo um processo
de trabalho para a profissão, pois essas atividades são consideradas de forma indireta nas prestações de
serviços a órgãos governamentais, não governamentais e empresas privadas, conforme já citamos
anteriormente. O profissional responsável pela execução dessa atividade instrumental, normalmente,
não tem vínculo empregatício e atua como prestador de serviço para a organização demandatária.
Partindo disso, temos trabalhado com a perspectiva de que existem na atualidade três frentes de
assessoria, em potencial, a serem desenvolvidas e/ou aprofundadas pelos profissionais de serviço social
(MATTOS, 2009).
No campo das atribuições privativas, identificamos como importante reforçar e ampliar as atividades
de assessoria dos assistentes sociais aos profissionais da mesma profissão. Essa frente de assessoria visa
qualificar a intervenção profissional e traz o compromisso, em tese, da universidade com a formação
profissional continuada dos assistentes sociais.
Análise relevante sobre essa frente de assessoria é desenvolvida por Vasconcelos (1998). A partir de
uma reflexão sobre a dicotomia entre teoria e prática na profissão e preocupada com a viabilização
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Unidade II
de um projeto profissional competente que se posicione contra o avanço do projeto neoliberal, a autora
propõe como caminho uma articulação concreta entre a academia e o meio profissional.
Para tanto, segundo a autora, faz-se necessário romper com o raciocínio, na profissão, de que em
um espaço se elabora teoricamente e, em outro, aplica-se/intervém-se. É nessa perspectiva que a autora
propõe como caminho a assessoria e/ou consultoria como uma estratégia possível.
Almeida (2010) trata da experiência de assessoria aos profissionais de serviço social por meio da
disciplina “estágio supervisionado”, articulada ao projeto de extensão que coordena. Interessante, porque
nessa sua proposta os alunos de serviço social integram junto com o autor a equipe de assessoria.
Atualmente, várias são as experiências de assessoria prestadas por assistentes sociais aos diferentes
sujeitos envolvidos nessa área, como aos gestores públicos, privados e filantrópicos; aos conselhos
tutelares, conselhos de direitos e de políticas; aos profissionais que atuam nos setores públicos e
privados; aos movimentos sociais, entre outros.
É importante que os integrantes da categoria profissional tenham clareza dos objetivos e intenções
dessa demanda e sobre os contraditórios interesses de assessoria, desenvolvida por Freire (2010), por
meio da sua experiência de assessoria a empresas, gestores e trabalhadores.
A outra frente de assessoria das competências profissionais é a assessoria à organização política dos
usuários. Essa rica frente pode ser desenvolvida no bojo das atividades que os profissionais de serviço
social desenvolvem nos seus locais de trabalho. Ela tem potencial, mas é pouco explorada.
Para que a assessoria não seja uma ação eventual ou um acúmulo de trabalho, é necessário que
haja um grande debate sobre seu exercício profissional. Essa frente de assessoria pode aprovar uma
contribuição concreta da categoria por meio do seu exercício profissional, para a rearticulação e/ou
fortalecimento dos movimentos sociais.
A assessoria deve privilegiar os usuários dos serviços das organizações, buscando seu fortalecimento,
como um desdobramento da natureza do serviço social, que é buscar a viabilização dos direitos dos
usuários e intermediar seu acesso aos serviços e políticas sociais.
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
A demanda por assessoria/consultoria aos assistentes sociais deriva de sua própria dinâmica na
atuação profissional, que também interage com constantes e novas necessidades reivindicadas pela
população ou instituição.
O momento atual exige um profissional que apresente propostas e não apenas tenha o papel
de executor, que seja capaz de desenvolver projetos de trabalho, negociá-los com empregadores
e seja apto a defender seus espaços ocupacionais em um mercado cada vez mais competitivo,
conforme destaca Iamamoto (2001). Ou seja, o profissional deve estar capacitado para formular,
gerir, programar, monitorar e avaliar políticas e projetos sociais, elaborar estudos e pesquisas, e
assessorar movimentos sociais e conselhos de políticas sociais e de defesa de direitos, contribuindo
para a implantação e o funcionamento do processo de acessibilidade às políticas sociais.
A demanda por assessoria à gestão das políticas sociais é solicitada por diversos sujeitos representantes
do Estado, dos poderes executivo, legislativo e judiciário, conselheiros de direitos e de política, gestores
empresariais, profissionais que atuam nos setores públicos e privados etc.
Nesse caso, o profissional deve saber gestar por competência – gestão organizacional –, tendo como
referência a estratégia da organização, que direciona as ações, o treinamento e o fortalecimento com as
parcerias, as alianças e fundamentando a rede para alcançar os objetivos organizacionais. É a competência
que define o conjunto de habilidades, conhecimentos e experiências acumulados pelo profissional. Eles
devem ser reconhecidos pela liderança e empregados de forma a oferecer resultados positivos para
espaços de atuação de assessoria e consultoria.
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Unidade II
O serviço social é uma profissão regulamentada como liberal e tem autonomia, conforme vimos
anteriormente, para gerir seu atendimento aos públicos-alvo, sejam eles indivíduos ou grupos sociais.
Iamamoto (1999) ainda aponta que mesmo que os assistentes sociais estejam inseridos nesses
espaços de processo de trabalho coletivo, eles precisam se questionar sobre como devem atuar sem
perder sua particularidade e identidade profissional.
Por serem diversos os espaços onde os profissionais de serviço social, sem perder sua identidade
profissional, podem desenvolver a atividade de assessor/consultor, esta se apresenta como recurso
estratégico de intervenção profissional.
No espaço universitário, o profissional intervirá por meio da sólida base teórico-metodológica e uma
experiência prática diversificada e consistente, pois é o lugar onde ocorrem reflexões e discussões que
possibilitam o aprofundamento da teoria-prática. O acesso a esses debates contemporâneos da categoria
profissional oferece oportunidade à implementação das atividades de assessoria/consultoria, proporcionando
a articulação dos conteúdos teórico-empíricos, as atividades de pesquisa, ensino e extensão.
Então cabe dizer que a assessoria/consultoria no espaço acadêmico acontece como forma de
articulação teoria/prática no âmbito da universidade; e por meio das atividades de pesquisa, ensino e
extensão para que o discente desenvolva e entenda os conteúdos teóricos que o habilitarão e ampliarão
o seu conhecimento teórico para prestar a atividade de assessoria/consultoria.
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Significa, então, dizer que as atividades no espaço acadêmico propiciam, segundo Fonseca
(2005, p. 23):
É importante ainda colocar que o distanciamento dos assistentes sociais já formados da universidade
faz com que, muitas vezes, se desqualifiquem por não acompanharem as literaturas, que vão surgindo
decorrentes das necessidades da realidade social que estão em constante movimento.
Segundo Fonseca (2005), esse espaço de conhecimento fornece capacitação continuada, além
de ofertar aos alunos e aos novos alunos de pós-graduação a possibilidade de reger o conhecimento
que, coligado à longa investigação da proposta apresentada pela universidade, produzirá resultados
anteriormente imaginados. Essa perspectiva é manifestada na legislação das Diretrizes Curriculares
Nacionais do curso de Serviço Social:
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Unidade II
Portanto, o serviço social proporciona uma dinâmica na vida social dos alunos por meio do
ensino‑aprendizagem, e estabelece parâmetros curriculares para que esses alunos estejam preparados
e implicados na capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, para melhor
“enfrentar” o tão exigente mercado de trabalho.
Os espaços públicos, hoje descentralizados da política social e que também servem para
implementação do controle social na gestão da política, admitem a introdução de novos sujeitos sociais,
como os conselheiros; é outro espaço para desenvolver a assessoria e a consultoria.
Nesses espaços, a atuação do assistente social está ligada aos movimentos sociais. A assessoria
surge como uma nova demanda a ser enfrentada por esses profissionais na luta pela defesa e pela
efetivação dos direitos de cidadania e da democracia, em conformidade com os princípios do código
de ética profissional.
A ampliação e as conquistas no campo dos direitos sociais implementadas nesse bojo se apresentam
como novas possibilidades que necessitam serem apropriadas, decifradas e desenvolvidas por diversos
profissionais que lidam com a garantia dos direitos e requerem, portanto, ir além da rotina da instituição
e apreender as tendências e possibilidades presentes na realidade.
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Verifica-se que há a necessidade de ter conhecimento desse espaço de controle, no que diz respeito
às suas principais questões, assim como estar atento aos desafios a serem enfrentados. Assim, o
profissional em serviço social assume também esse papel tendo em vista seu conhecimento crítico
acerca da dinâmica da sociedade, uma vez que se encontra em contato direto com as políticas públicas.
Citamos o exemplo de uma pesquisa realizada no Conselho Municipal de Saúde de Maceió, no ano
de 2004, por Freire e Silva (apud TORRES, 2001), na qual foi observado que a inserção de assistente social
na assessoria técnica desse órgão colegiado se dá de forma bastante significativa. Destacam-se, dentre
outros avanços, a obtenção da revisão do Regimento Interno que legalizou a assessoria técnica como
atividade própria do serviço social e a formação de grupos de estudo com conselheiros para discutir
e avaliar o impacto causado na política de saúde municipal resultante de ações do conselho, como
deliberações e conferências municipais, além de manter a articulação com/entre conselheiros (FREIRE;
SILVA apud TORRES, 2001).
Outro fato importante ocorrido devido à ação da assessoria técnica do assistente social no Conselho
Municipal de Saúde, foi a elaboração, em 2002, de uma normatização para eleição dos conselheiros para
2003-2004. Essa normatização definia regras como a de que conselheiro usuário não pode ter vínculo
empregatício com a mesma esfera de governo (como aprovado na 5ª Conferência Municipal de Saúde)
para participação dos fóruns de eleição de usuários e trabalhadores de saúde. A normatização baseada
nas deliberações das conferências e em solicitações dos próprios conselheiros foi aprovada em reunião
e transformada em resolução.
Hoje o Conselho Municipal de Saúde de Maceió conta com quatro assistentes sociais para assessorá-
lo, que desenvolvem ações por meio das seguintes atividades: elaboração, coordenação, execução e
avaliação, juntamente com conselheiros, dos planos de trabalhos do conselho; prestação de assessoria
técnico-consultiva aos conselheiros e comissões do conselho; elaboração de relatório de atividades do
conselho; organização da documentação do conselho; facilitação do fluxo de comunicação do conselho
e outros setores da Secretaria Municipal de Saúde e entre o conselho e outras instituições; organização
de Conferências de Saúde Municipais e de cursos de capacitação de conselheiros; realização de grupos
de estudos com conselheiros, demais profissionais da saúde e Ministério Público Estadual.
Podemos considerar vários avanços obtidos no Conselho Municipal de Saúde de Maceió, ocorridos
após a intervenção da assessoria técnica do assistente social, mas o maior deles sem dúvida foi a posse
de um usuário como presidente do Conselho Municipal de Saúde de Maceió. Hoje, o Conselho possui
uma mesa diretora composta da seguinte forma: Presidente – Usuário – Representante da Associação
Força Jovem do Vergel, Vice-Presidente – Usuário – Representante da Associação dos Moradores do
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Unidade II
Para finalizar os espaços públicos, apoiamo-nos em Gomes (2000 apud TORRES, 2001), que
expõe que nesses espaços de políticas sociais desenvolve-se um trabalho coletivo que não pode
prescindir das articulações, alianças e parcerias com os diversos atores envolvidos. Há que exercitar
a capacidade política de agregar parceiros e adesões a uma agenda comum, valendo-se de sua
bagagem profissional. É necessário que o assistente social possua um bom conhecimento da legislação
para viabilizar o exercício do controle social, de forma a possibilitar a participação da população de fato
e de direito.
Portanto, o trabalho de assessoria/consultoria nos espaços dos conselhos deve se revestir de um caráter
muito mais político e técnico por ser um espaço inserido na esfera política, garantindo um posicionamento
ético do profissional, democratizando a relação entre os sujeitos/atores que estão envolvidos,
aprofundando‑se no exercício da cidadania e estabelecendo um diálogo constante entre os diferentes
segmentos sociais envolvidos nessa relação.
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
No entanto, como assistentes sociais, nossa intervenção sempre deverá estar voltada para a atenção
das necessidades apresentadas pelos segmentos vulneráveis, buscando dar visibilidade às demandas
desses grupos, independente do grupo que esteja no poder da empresa privada.
Saiba mais
http://www.fundacaosemear.org.br/
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Unidade II
social vem sendo cada vez mais inserido e exigido em relação à qualificação, competência, criatividade,
dinamismo e flexibilidade.
São exigências essenciais para que o profissional desenvolva um trabalho qualificado com estudo
social sobre o público-alvo, conhecimento de políticas sociais da assistência social, saúde e educação e
de questões administrativo-financeiras, o que explica a cobrança crescente de profissionais para gestar
e coordenar esses espaços.
Além dessas exigências, espera-se que os profissionais saibam atuar em equipe multidisciplinar,
analisar orçamentos públicos, identificar alvos e metas, captar recursos, realizar prestação de
contas, elaborar, planejar, executar, monitorar e avaliar ações e projetos, além de ter visão crítica
da realidade.
Os profissionais que apresentarem essas competências e habilidades são os que possuem perfil para
gestar, coordenar e até mesmo para ser um assessor/consultor desse espaço denominado organização
não governamental, as ONGs.
Não podemos deixar de esquecer que para tanto, há, segundo Iamamoto (2001, p. 352),
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Nós, como assistentes sociais, em qualquer área de atuação, precisamos sempre ter em mente
que estamos transitando entre as necessidades de nossos contradores e a população usuária de
nossos serviços.
Na sequência, indicaremos quais são as estratégias a serem consideradas, de forma genérica, para
assistentes sociais que irão atuar com assessoria e/ou consultoria.
O primeiro ponto a ser tratado pelos assessores é o esclarecimento da razão da assessoria. Em geral,
uma assessoria, quando solicitada, é porque o profissional, a equipe ou o movimento social identifica a
necessidade de alguma mudança.
Por isso, Vieira (1981), na concepção tradicional, trata da importância da assessoria na mudança de
hábitos e depois de congelamento das ações julgadas corretas para aquelas equipes assessoradas.
Assim, o assessor propõe a solução por meio da correção de problemas. Contudo, a assessoria pode
ser entendida como um processo que gera mudança, mas a partir de uma relação em que assessores
e assessorados possuem distintas contribuições a serem dadas. Isso fica claro no texto de Vasconcelos
(1998), quando a autora propõe que a universidade desenvolva assessoria às equipes de serviço social
por meio do estágio supervisionado.
Esse processo se dá como uma troca de saberes diferenciados, em que a universidade tem, ou teria,
um papel na formação profissional continuada. Portanto, não necessariamente a assessoria é apenas
para aqueles sujeitos ou equipes com problemas e sim um processo, que pode ser continuado, de
aperfeiçoamento da ação desenvolvida pelos assessorados.
O assessor, na sua privilegiada posição de agente externo e a partir da sua capacidade profissional,
pode contribuir apontando caminhos e auxiliando no desvelamento de questões que a equipe e o
profissional, sozinhos, não podem identificar. Assim, esse primeiro passo não é pouca coisa, é um
momento em que o assessor, ou a equipe da assessoria, clareiam para si, na realidade, a concepção
política e teórica de assessoria.
Contudo, não basta estar claro isso para o assessor, é necessário também que esteja claro para
quem irá ser assessorado. Ou seja, é fundamental que seja cuidadosamente avaliada a realidade,
preferencialmente em conjunto com a equipe assessorada.
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Unidade II
Só a partir daí é que se poderá construir um projeto de assessoria, no qual aquelas demandas
originais e outras serão debatidas, pactuadas e apresentadas.
Esse processo de estudo da realidade pode ser desenvolvido por meio de diferentes procedimentos.
Somente a partir da proposta de assessoria, da pesquisa sobre a instituição ou dos movimentos sociais
que se poderá iniciar o assessoramento ou consultoria e consequente apresentação e discussão do
processo junto ao assessorado.
Por vezes, há a tentação de “pôr logo a mão na massa”, ou seja, iniciar logo a assessoria, sobretudo
pela habitual ansiedade de quem será assessorado. Contudo, essa fase inicial é fundamental, pois,
invariavelmente, os assessorados apresentam demandas de assessoria que não são as reais, como nos
casos em que as equipes solicitam a assessoria para elaboração de pesquisas, mas sequer fizeram uma
discussão sobre o trabalho profissional e sobre a relevância de sistematização da prática profissional
(ALMEIDA, 2010).
• empresas solicitam assessoria para a adesão dos trabalhadores à mudança, quando no fundo é
importante uma discussão sobre a reestruturação produtiva, e assim desvelar o impacto do atual
forma de produção na vida do trabalhador (FREIRE, 2010);
Esta etapa, talvez a mais importante, é a operacionalização das intenções. É preciso ter claro que o
assessor não é um porta-voz do que deve ou não ser feito. Não está em cena aqui a figura de um assessor
que estuda a realidade, ouve e acolhe as sugestões de quem o contratou, que propõe alterações do fluxo de
trabalho e depois busca convencer a quem assessora congelar as suas ações para que assim possa ter
o perfeito desempenho. Ao contrário, o processo de assessoria é cotidianamente construído com os
sujeitos fundamentais – os assessorados – e estes têm autonomia em acatar ou não as proposições
da assessoria.
Esse processo deve ser franco e aberto, por ambos os lados. O assessor é um sujeito propositivo, mas
que só terá êxito nessa atividade se tiver interlocução com quem assessora. Para tanto, fundamental é
a adoção de estratégias de trabalho participativas.
Pouco tem se produzido no serviço social sobre práticas participativas. As experiências de assessorias
– as pautadas nos princípios do atual projeto ético-político do serviço social – têm frequentemente
lançado mão dessas estratégias.
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ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Almeida (2006), na sua experiência de assessor de equipes de serviço social, ao encontrar com
a demanda de pesquisa, tem provocado uma reflexão sobre o trabalho profissional. Ele constrói
um fluxograma da trajetória do usuário nos serviços. Assim, o autor identifica – junto com a
equipe que assessora – as diferentes lacunas do trabalho coletivo (portanto, não só da atuação
profissional dos assistentes sociais) que, em geral, impactam negativamente a vida do usuário
e que devem ser tratadas antes mesmo da constituição de equipes de pesquisa. Nesse processo,
segundo o autor, várias das lacunas são enfrentadas por meio da capacitação, no bojo do processo
de assessoria.
Freire (2006) toma como referência as solicitações de empresas para assessoria na implantação
de novos projetos ou de reestruturações, em que a demanda está na busca de adesão dos
trabalhadores ou na construção de um controle diferenciado, muitas vezes aparentando um
controle social de fato.
Nesse tipo de assessoria é também importante que o assessor desvele a demanda original (por
exemplo, a suposta busca de participação dos trabalhadores). Essa assessoria se dá, explicitamente, num
espaço contraditório, tendo empresários e trabalhadores com interesses distintos e, como tal, passível
de conflitos e de consensos, a partir da aliança ou tensão em determinados pontos, que podem ou não
ser negociados.
A par de sua capacidade profissional, mesmo com a relativa autonomia que aqui detém, o assistente
social assessor poderá contribuir efetivamente para o favorecimento dos interesses dos trabalhadores.
Bravo e Matos (2010) relatam que a partir da demanda, que geralmente gira em torno da
solicitação de capacitação de conselheiros, inicia junto com os solicitantes uma problematização
sobre o tema. O que está no cerne é a desmistificação de que a capacitação resolveria problemas
que são de ordem política.
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Unidade II
Em geral, o curso é uma estratégia de articulação entre os militantes, tanto que, não por acaso, em
geral no seu encerramento, tem se criado fóruns populares de políticas públicas. Muitos não vão à frente,
mas isso está vinculado ao potencial da participação política na atualidade. Os exemplos anteriores
demonstram a riqueza das possibilidades de estratégias participativas. Estas devem ser criativas e não
normativas, sendo a realidade e os objetivos que determinam como e de que forma o referencial teórico
e os objetivos determinam a escolha de uma ou outra técnica.
Esse raciocínio fica claro com os aportes de Guerra (2006), quando lembra que, a partir da
necessidade de transformar a natureza, o homem define por quais meios constrói os instrumentos
de trabalho. Analogia que podemos tomar para a reflexão sobre o porquê de determinada
técnica ou metodologia. Contudo, é importante que os profissionais saibam das possibilidades
existentes e é por isso que elas aqui são socializadas. Sim, a centralidade cai sobre o sujeito que
a empreende.
Uma vez atingido o objetivo, principal ou não, da assessoria, esta, necessariamente, não se
acaba. Entendemos que o processo pode ter continuidade ou não. Afinal, na nossa concepção
não está em cena uma adaptação a um modelo ideal de atuação. A realidade é dinâmica e
apresenta permanentemente desafios, que podem ser mais bem encarados por meio da troca de
conhecimentos que a assessoria propicia. Importantes espaços para isso são as avaliações que
devem ser periodicamente realizadas.
Mas isso não quer dizer que o assessor seja um sujeito neutro. Ao contrário, se o profissional é
credenciado para ser assessor é porque há um reconhecimento da sua capacidade.
O profissional que atua com assessoria e consultoria não deve abrir mão do que referendamos
como uma garantia constitucional – a liberdade de expressão – não omitindo ou minimizando sua
avaliação sobre a viabilidade ou não de cada ação, abrindo espaço e estimulando o debate entre assessor
e assessorado.
Assim, se o assessor estiver atento, pode, em conjunto com quem assessora, construir documentos
com diferentes perfis e profundidades, como textos educativos, panfletos, artigos.
Esse material deve alimentar o conhecimento acadêmico, mas, em especial, deve ser socializado com
os sujeitos fundamentais desse processo, que são as equipes ou profissionais assessorados.
86
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Saiba mais
No Brasil, a responsabilidade social surge por meio de movimentos empresariais que tinham como
objetivo estudar as atividades econômicas e sociais do meio empresarial na década de 1960 e 1970.
Da década de 1990 até os dias atuais, a responsabilidade social vem se fortalecendo por meio de
movimentos de grupos e instituições que objetivam transformar o interesse empresarial em investimento
social privado.
No decorrer da história, o Brasil vivenciou inúmeras crises sociais, econômicas e políticas. Uma delas
ocorreu no período de 1980 a 1994, com os seguintes acontecimentos:
• prostração do poder tributário do Estado que, somado ao endividamento interno, reduz sua
disponibilidade de recursos e possibilidade de intervenção;
87
Unidade II
• aumento da máquina estatal de forma desordenada e ineficiente, buscando fazer frente aos
baixos índices de crescimento econômico;
• aumento da marginalidade por ineficiência das intervenções estatais e absorção da força de trabalho.
Decorrente dessas crises, a partir de 1997, o sociólogo Betinho lançou o modelo de balanço social e,
em parceria com a empresa de mídia Gazeta Mercantil, criou o “selo do balanço social“, com a “Campanha
nacional de ação da cidadania contra a fome e a miséria e pela vida“, apoiada pelo Pensamento Nacional
das Bases Empresariais (PNBE).
Depois desse evento começaram a surgir outros selos e institutos, como o Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social, em 1998, fundamentado na ética, na cidadania, na transparência e
na qualidade das relações da empresa com seus stakeholders. Esse instituto foi criado com o objetivo de
promover a responsabilidade social de forma agregada de diversas empresas privadas.
A partir disso, muitos outros institutos e grupos foram criados no cenário empresarial, com intuito
de difundir a responsabilidade social.
Para melhor compreensão do que se trata a responsabilidade social, Ashley (2002, p. 6) define
responsabilidade social como:
A responsabilidade social, no limiar desta década, passa a ser utilizada frequentemente por empresas
”cidadãs” e ”socialmente responsáveis”, decorrente do significativo crescimento do marketing social
no Brasil.
Uma empresa ”socialmente responsável”, isto é, que desenvolve atividade de responsabilidade social,
é uma empresa que realiza ações para uma comunidade na áreas da assistência social, educação, saúde
e meio ambiente.
Criado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, em 1981, tem se destacado por valorizar os
movimentos de responsabilidade social empresarial no Brasil por meio do balanço social, isto é, tem como
finalidade evidenciar a conduta empresarial brasileira nas ações de responsabilidade social empresarial.
Surgiu no final da década de 1980 e tem como finalidade a troca de experiência e incentivo às ações
filantrópicas. O Gife é pioneiro, na América Latina, em reunir empresas, institutos e fundações de origem
privada que têm exercícios voltados ao repasse de recursos privados para fins públicos, por meio de
projetos sociais, culturais e ambientais.
Uma de suas atribuições é estimular parcerias entre o setor privado, o Estado e a sociedade civil
organizada e, ainda, é um espaço considerado, por muitas multinacionais instaladas no Brasil, como
braço filantrópico de empresas multinacionais e fundações de grandes empresas nacionais, o que lhe
confere caráter proeminente no cenário brasileiro e faz com que seus associados tenham popularidade
ao possuir uma qualidade bem-definida na área da responsabilidade social.
Saiba mais
http://www.gife.org.br
O Instituto Ethos
Criado em 1999, tem como objetivo ”constituir parâmetros para as empresas interessadas em
desenvolver ações de responsabilidade social”, abrangendo em seu caráter a mobilização, a promoção, a
disseminação e a contenda a respeito da gestão socialmente responsável.
89
Unidade II
Merece ser apontado que esse instituto investe em campanhas publicitárias, e a sua aproximação do
meio político e acadêmico acontece, principalmente, por meio de cursos de administração e marketing.
Cabe ressaltar que o Instituto Ethos defende que independe se a empresa é de grande, médio ou
pequeno porte e, até mesmo, se é nacional ou multinacional, pois o que importa é que suas ações
estejam voltadas para a responsabilidade social, bastando apenas que tenham vontade política.
Há, ainda, outras empresas multinacionais, de diversos ramos de atuação, instaladas no Brasil que
vem desenvolvendo institutos para desenvolver responsabilidade social, tais como: Bosch e seu Instituto
Robert Bosch; C&A e o Instituto C&A e muitos outros.
Decorrente dessa expansão de empresas que vêm atuando com responsabilidade social, citamos
alguns autores, que fazem a seguinte análise sobre o tema:
Em 2000, o Ipea realizou uma pesquisa, no estado do Espírito Santo, intitulada: “Iniciativa privada e
o espírito público: ação social das empresas privadas no Brasil”, na qual pode-se constatar
O Ipea também identificou os fatores de motivação dos empresários quando estabelecem suas empresas
como socialmente responsáveis para desenvolverem ações sociais, ressaltando o lado filantrópico:
• motivos humanitários;
• razões religiosas;
• visibilidade da marca;
• saúde;
• educação;
• cultura;
• segurança.
O principal foco foram os segmentos família, criança e adolescente, mas as doenças graves, como
aids, tuberculose e câncer, foram quase que deixadas de fora, pois as empresas não querem seu logo
associado a esse tipo de projeto que poderia reverter-se de forma conflitante aos seus negócios. Um
exemplo grotesco é imaginarmos a Souza Cruz (fabricante de cigarros) investindo em projetos de ações
sociais de combate ao câncer.
Apesar do exemplo anterior, não há limites para a responsabilidade social empresarial. A motivação
para ser uma empresa ”cidadã” vem do espaço aberto por conta do repasse de incentivos dados pelo
Estado. Isso leva à intensa atuação da empresa na área social.
91
Unidade II
Para compreender a responsabilidade social no primeiro setor, precisamos entender que as ações
do Estado nessa área são realizadas com os recursos financeiros arrecadados na forma de impostos e
contribuições da sociedade civil nas três esferas de governo.
Três são os princípios que condicionam a política de ação social do primeiro setor:
• integração;
• descentralização;
• interação.
O princípio da integração, ou melhor, a ação integrada diz respeito ao esboço de ações proferidas
entre ministérios, instituições, autarquias, entre outros. Como exemplos dessa ação, temos:
o Programa Comunidade Solidária, criado em 1995 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso;
e o Programa Fome Zero, criado em 2002 pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que tem como
finalidade a erradicação da pobreza e da fome no cenário brasileiro.
Observa-se que o condescendente papel das organizações civis como intermediárias entre
o Estado e a sociedade vem auxiliando na organização comunitária e na implementação dos
92
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
projetos sociais. Cabe ressaltar que a Secretaria da Assistência Social, vinculada ao Ministério
do Desenvolvimento e Fome Zero, com a implementação do SUAS, estabeleceu normas, critérios
de priorização e de elegibilidade, além de estabelecer os padrões de qualidade na prestação dos
benefícios, serviços, programas e projetos sociais, que são ações de parcerias entre o setor público
e civil.
Com a responsabilidade social, a empresa deixou de enxergar somente seu ambiente organizacional
interno e passou a perceber o ambiente externo, desenvolvendo uma visão metódica, na qual
a organização é um sistema fincado dentro de um sistema maior, atribuindo a responsabilidade às
transformações econômicas, políticas, culturais e sociais, inclusive.
Tais práticas se encontram em um estágio evolutivo e podemos observar isso por meio dos
modelos de:
• política de doações – sistêmica ou não, mantém a organização distante do objetivo filantrópico atendido;
• investimento – aplicação de recursos em projetos próprios que retratam alto grau de envolvimento
com o objetivo filantrópico.
Já vimos que o objetivo principal das empresas é o lucro, mas as atividades de responsabilidade social
incorporam a cidadania e a sustentabilidade em prol das causas sociais, objetivando o investimento,
valorizando sua marca e, consequentemente, aumentando seu mercado e refletindo credibilidade aos
seus consumidores.
As ações filantrópicas de uma empresa não dizem somente sobre as ações de sustentabilidade
em meio ambiente, ou festas para as comunidades no final do ano; contudo, também desenvolvem
ações voluntárias para seus funcionários e voltadas à comunidade que agregam energia e boa vontade.
93
Unidade II
É dessa forma que as empresas passam a possuir resultados para avaliação crítica e mensuração dos
projetos, enquadrando neles os objetivos de acordo com sua missão e metas.
Os investimentos realizados pelas empresas de ação social necessitam ser transparentes. A sociedade
civil vem cobrando essa prestação de contas, motivando as empresas a publicar seu balanço social para
que seu público saiba onde são gastos os recursos referentes a sua atuação socialmente responsável,
demonstrando seu perfil social. Outra certificação também importante é se a empresa possui o certificado
social pelas normas AS 8000.
Mesmo com o crescimento de investimentos em áreas sociais, sendo elas um espaço promissor, não
são todas as empresas que preenchem os requisitos para ser uma ”empresa cidadã”. Segundo nos expõe
Stephen Kanitz:
Portanto, o investimento em ações sociais ainda é pequeno no Brasil se comparado a outros países,
e tem se restringido a empresas de grande porte nacionais e multinacionais.
Primeiro, traremos o conceito de terceiro setor, de acordo com Thompson (1994, p. 44):
Isso significa dizer que muitas ONGs encontram-se afincas nos valores morais da solidariedade e
voluntariedade, isto é, atuam ainda nas formas tradicionais de ajuda mútua, movimentos sociais
e associações civis e filantropia empresarial.
É nesse cenário que as empresas ditas cidadãs, que atuam com responsabilidade social, apresentam‑se
e ganham espaço, atuando e investindo em áreas que são de responsabilidade do Estado.
94
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
As OSCIPs, assim como as ONGs, têm a finalidade de promover assistência social, cultura, educação,
saúde, voluntariado, ética, paz, cidadania, direitos humanos, democracia e direitos universais preconizados
na Constituição Federal de 1988. Entretanto, o que difere as OSCIPs das ONGs é que as primeiras
possuem objetivos de lucro e geram benefícios privados, enquanto as segundas são organizações sem
fins econômicos e têm como missão gerar o social.
Kanitz (s.d.) expõe que a maioria das empresas está disposta a investir em filantropia, mas a imagem
negativa criada por algumas instituições e a falta de informações sobre o setor têm inibido essa iniciativa.
Isso fez com que ONGs e OSCIPs procurassem profissionalizar seu recurso humano, investindo em cursos
e seminários nas áreas financeiras e de marketing, como forma de demonstrar interesse na mudança
cultural que as cerca.
Resumindo, segue um esquema para melhor compreender como e por que ocorre a responsabilidade
social nas organizações de primeiro, segundo e terceiro setores:
95
Unidade II
Na sequência, vamos discutir sobre o conceito de balanço social, que também é um espaço de
atuação de consultoria e assessoria do serviço social.
Balanço social, segundo Froes e Neto (1999), é uma prestação de contas que pode ser oferecida a
uma comunidade. Algumas empresas utilizam essa modalidade de prestação de contas para divulgarem
os recursos destinados à área social e também à área ambiental. De acordo com os autores, a empresa
não é obrigada a fazer essas divulgações.
De acordo com esse retrospecto histórico, nota-se que o balanço social no Brasil surge
concomitantemente com as transformações do pensamento capitalista.
E destaca ainda:
96
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Após sua estruturação, várias propostas foram feitas em proveito do balanço social:
• Projeto de Lei nº 3.116/97, que pretendia estabelecer a obrigatoriedade do balanço social para as
entidades públicas de modo geral e às empresas privadas com mais de cem empregados, tendo
por base o modelo francês de balanço social, instituído em 1977, que foi arquivado.
• Projeto nº 39/97, do município de São Paulo, que criou o dia e o “Selo Empresa Cidadã”.
• Lei nº 8.118/98, do município de Porto Alegre, que instituiu o balanço social para as empresas
estabelecidas em nível municipal com mais de vinte funcionários.
• Lei nº 11.440/00, em nível estadual, do Rio Grande do Sul, que busca incentivar a publicação do
balanço social, bem como difundir a responsabilidade social entre as entidades estabelecidas no
Estado, criando também o Certificado de Responsabilidade Social e o Troféu Responsabilidade
Social − Destaque RS para as empresas que apresentarem o seu balanço social.
Essas são as principais legislações que devem nortear a atuação do assistente social em intervenções
de assessoria ou consultoria.
É grande o surgimento de empresas cidadãs, isto é, empresas que buscam certificados sociais, além
de buscarem certificados de ISO 9000 e ISO 14000 (que garantem controles de qualidade e qualidade
ambiental dentro de parâmetros éticos, respectivamente).
Esses certificados sociais também instituem uma avaliação e o compromisso das empresas que atuam
como responsáveis socialmente com um padrão ético. Essas normas são denominadas de SA 8000: Normas
de Gerenciamento Social. Elas fornecem o primeiro certificado internacional, foram baseadas nas normas
da Organização Internacional do Trabalho e estabelecidas com base nos seguintes princípios:
A Social Accountability – (SA) 8000 é uma norma uniforme e auditável que permite uma verificação
por uma terceira parte, além de ser um padrão internacional de aferição utilizado pelas empresas
socialmente responsáveis.
No Brasil, as SA 8000 ainda devem cumprir as leis nacionais: Constituição Federal de 1988 e a
Consolidação das Leis do Trabalho, as Normas Regulamentadores (NRs) que completam a Lei nº 3.214,
97
Unidade II
A autora destaca, entre os vários elementos que compõem a prática social do empresariado, dois
aspectos que estão diretamente relacionados à implantação e desenvolvimento do serviço social. O
primeiro refere-se à crítica do empresariado à inexistência de mecanismos de socialização do proletariado.
O segundo aspecto, apontado por Iamamoto (1999), diz respeito ao conteúdo da política
assistencialista desenvolvida pelo empresariado no âmbito da empresa: o não reconhecimento das
organizações sindicais e a não aceitação do operariado como capaz de participar das decisões que
lhe dizem respeito, ou seja, a prática normal de usar a repressão como forma mais eficaz de apoio aos
mecanismos econômicos de dominação. É esse o comportamento mais evidente dos empresários na
Primeira República.
98
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
O importante é ter presente que tais benefícios, apesar de aparecerem sob uma aura paternalista e
benemerente, buscam realizar o controle social e aumentar a produtividade e a exploração. Diferem do
assistencialismo realizado pelas elites tradicionais da Primeira República, cujas atitudes de benemerência
consistiam na busca da salvação pela porta estreita da caridade, representando assim, um custo derivado
da sua posição social.
Afirma-se com frequência que o setor privado deverá desempenhar um papel cada vez maior
na prestação de serviços que hoje são oferecidos pelo Estado, seja em bases comerciais, seja como
investimento social e atuação filantrópica.
Com esse cenário atual, em que as empresas vêm discursando sobre responsabilidade, surge também
para o serviço social um nova forma de gestão, que tem como função social o desenvolvimento humano.
Nesse contexto de responsabilidade social, aparecem duas dimensões de atuação para o serviço
social na área de recursos humanos: a dimensão interna e a dimensão externa. A primeira foca no
público interno da empresa e a segunda foca na comunidade regional e/ou local (dependendo do raio
que a empresa quer atingir sua ação social). É ainda nesse contexto que o assistente social é convidado
a atuar no intuito de se colocar como agente integrante e compromissado, desde que esteja adequado
à missão, ao objetivo e à meta da organização.
Significa dizer que o profissional de serviço social em sua atribuição garantirá a veracidade e a
essência do balanço social ao construí-lo fornecendo informações transparentes e verdadeiras e, ainda,
contribuirá para difundir o conceito de responsabilidade social. Atuando como auditor, somado às demais
exigências do espaço organizacional, o assistente social deve ampliar sua formação, especializando-se.
É o que as empresas vêm buscando na sua evolução, novas tecnologias e maneiras de gerir seus
negócios, sempre envolvendo e comprometendo seus funcionários com sua missão de atuação. Devido
a isso, exigem profissionais que saibam nortear sua ação e que se capacitem, pois não se satisfazem com
profissionais que tenham apenas a formação acadêmica de graduação.
Significa dizer que devemos perceber as exigências impostas para adequarmo-nos, para que
tenhamos expertise, para saber qual a contribuição do serviço social na dinâmica da responsabilidade
social, independendo do seu campo de atuação.
É na aproximação desses interesses que o assistente social encontrará os fundamentos da sua prática
e apoiará o desenvolvimento de sua ação em responsabilidade social, em parceria com vários agentes de
variados ambientes organizacionais.
Primeiro, o profissional consultor/assessor social deve entender que o seu exercício profissional deve
estar pautado em um planejamento, numa investigação, numa comunicação sistemática, para elevar
o nível de entendimento e colaboração entre uma unidade pública ou privada e os grupos sociais que
nelas estão vinculados. Esse processo de integração entre a organização e o usuário é de interesse real
de ambas as partes, para que saibam como vêm sendo desenvolvidas as ações.
Num segundo momento, o profissional deve compreender que a responsabilidade social incide na
soma de atitudes assumidas pelos agentes sociais-cidadãos, pelas organizações privadas – sejam
elas empresas, OSCIPs ou ONGs —, públicas que estão vinculadas ao dever ético e voltadas para a
ampliação dos direitos dos cidadãos. Por isso, é necessário que o profissional tenha atitudes éticas
e saiba realizar planejamentos.
É a partir desses dois contextos apresentados anteriormente que os objetivos das organizações
(públicas ou privadas) se cruzam com os objetivos dos cidadãos. Ainda cabe ressaltar que, mesmo que
esses objetivos se entrelacem, cada organização possui poderes, interesses e desejos que divergem
decorrentes da sua missão, metas e ambiente social, político e econômico em que estão inseridos.
Por isso, o assistente social deve saber reordenar ações de responsabilidade social, utilizando o
planejamento estratégico como ação planejada, apoiar o profissional a desenvolver uma atuação
competente de natureza inter e, até mesmo, transdisciplinar, conforme requer a interação entre os
espaços organizacionais em que se desenvolve a ação social que almeja. Também deve estabelecer
um bom relacionamento entre a organização e o público, atuando como mediador e promovendo
a comunicação.
100
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
Resumo
101
Unidade II
Exercícios
102
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o processo de assessoria deve ser acessível ao entendimento dos sujeitos envolvidos
(equipe assessorada e assessor), mas não à sociedade civil, pois envolve conhecimentos técnicos, e
algumas vezes sigilosos, que não podem ser divulgados publicamente.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: o processo de supervisão em serviço social é um momento que o aluno tem para vivenciar
e experimentar a realidade prática da profissão. Com o estágio, o aluno confronta a teoria estudada com
a realidade diária no campo de atuação, permitindo um aprimoramento dos seus conhecimentos.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa correta.
Justificativa: é preciso haver uma interação do saber da equipe assessorada com o saber do assessor,
dentro de uma visão horizontal do conhecimento produzido, para que o processo de assessoria possa
ter resultados positivos.
Questão 2. (Enade 2007) Nas requisições de assessoria e consultoria aos assistentes sociais, surgem,
hoje, as demandas das etnias, que travam uma luta permanente pelos seus direitos e pela promoção da
igualdade étnico-racial. Sobre esse assunto, analise as afirmações a seguir:
A compreensão das questões étnicas exige mais que uma consciência da defesa dos direitos como
um imperativo legal e ético.
Porque
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: as duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda não justifica a primeira.
B) Alternativa correta.
VIII – prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas
privadas e outras entidades.
IX – prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no
exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade (Lei Nº 8.662/93, Regulamenta
a Profissão do Assistente Social).
Esses balizamentos legais e éticos são fundamentais para o desenvolvimento do trabalho profissional
e estão, diretamente, associados à atual configuração do objeto da profissão, pois:
104
ASSESSORIA EM SERVIÇO SOCIAL
“Na atualidade, a ‘questão social’ diz respeito ao conjunto multifacetado das expressões das
desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação
do Estado. A ‘questão social’ expressa desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais,
mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais,
colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização.
As políticas étnicas no Brasil passaram a ser reconhecidas como políticas públicas, em 2003, quando
o governo criou a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PNPIR. A PNPIR tem como
objetivo a: “Redução das desigualdades raciais no Brasil, com ênfase na população negra, mediante a
realização de ações exequíveis a longo, médio e curto prazos, com reconhecimento das demandas mais
imediatas, bem como das áreas de atuação prioritárias” (Decreto Nº 4.886, de 20 de novembro de 2003).
Nesse sentido, o assistente social, ao atuar como assessor/consultor dos grupos que compõem
as minorias sociais deverá observar além das questões legais e éticas, pois sabemos que a trajetória
histórica de luta e garantia dos direitos sociais impõe o reconhecimento das particularidades, no caso
da pergunta em análise, das questões étnico-raciais que se retratam na luta dos movimentos que as
representam pela garantia da igualdade étnico-racial.
Assim, retomamos as afirmações feitas com relação à questão formulada: “A compreensão das
questões étnicas exige mais que uma consciência da defesa dos direitos como um imperativo legal e
ético porque a implementação de políticas étnicas não pode simplesmente obedecer a padrões gerais de
políticas públicas”, pois deve abarcar as lutas dos grupos que as representam. Nesse sentido, a resposta
correta indica que as duas afirmações são verdadeiras, mas que a segunda não justifica a primeira, pois o
que a justifica é o caráter de disputa pela garantia da igualdade racial, e não a mera garantia de políticas
públicas. E, ainda, as questões de soberania alimentar, organização política e autossustentabilidade não
interferem nesse processo de disputa, pois a ênfase é na igualdade racial.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
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