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USF Didática
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É a partir da Didática que ocorre a mediação entre teoria e prática, desde o
planejamento até a execução e avaliação das ações pedagógicas. Assim, faz-se
essencial compreender e identificar os principais traços dos pensamentos sobre
a educação à luz de seus estudiosos e representantes.
Bordenave
Libâneo
Saviani
Mizukami
2.2.1 BORDENAVE
Juan Díaz Bordenave (1926) é um dos mais importantes estudiosos da
educação na América Latina, dedicando-se especialmente à educação de jovens
e adultos e de sujeitos em situações de vulnerabilidade.
Sua obra desenvolve-se em torno da ideia central de que os processos
educativos oriundos da pedagogia tradicional não são eficientes. Sendo assim,
sua obra apresenta três eixos de análise:
Didática 39
Pedagogia da transmissão: baseada na “transferência” do conhecimento
do docente para o estudante.
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Figura 2.1: Docente e estudantes construindo o conhecimento
Fonte: Plataforma Deduca (2019).
2.2.2 LIBÂNEO
José Carlos Libâneo (1945) é um dos maiores expoentes sobre a Didática
no Brasil. Suas obras destacam-se pelos estudos da pedagogia nas tendências
liberal e progressista.
Pedagogia Liberal
Didática 41
educativo voltado à conservação dos modelos, ampliando horizontes para
os mais abastados financeiramente e reduzindo-os aos menos favorecidos.
Pedagogia Progressista
2.2.3 SAVIANI
Dermeval Saviani (1943) é mais um dos grandes autores que são referência
no Brasil sobre a Pedagogia. Assim como Bordenave, Saviani analisa o
fenômeno educativo considerando premissas sociais, como a marginalização, a
vulnerabilidade e a divisão de classes no capitalismo.
Em Saviani, entende-se por “marginalização” a aproximação ou distanciamento
entre o sujeito e o conhecimento, estando marginalizado aquele à margem do
saber. Desse entroncamento, o autor elabora pareceres a partir das teorias críticas
e das teorias não críticas.
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Teorias não críticas
Teorias críticas
Didática 43
2.2.4 MIZUKAMI
Maria da Graça Nicoletti Mizukami é uma das autoras mais renomadas quando
o assunto é abordagem pedagógica. A estudiosa analisa o fenômeno educativo
a partir de três matrizes denominadas por ela como “primados”. Todos esses
primados partem da relação entre educação e sociedade, em que é analisado o
quanto se distanciam ou aproximam essas duas esferas.
Primado do sujeito
Primado do objeto
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2.3 ABORDAGENS
O modelo de sociedade, as correntes filosóficas e a globalização são
exemplos de alguns fatores que exercem grande impacto na educação. Dessa
forma, as abordagens pedagógicas carregam para o cotidiano escolar os reflexos
sociais, apresentando traços e perspectivas característicos do meio histórico.
São cinco as abordagens principais:
Tradicional
Comportamentalista
Humanista
Cognitivista
Sociocultural
Didática 45
2.3.1 ABORDAGEM TRADICIONAL
A abordagem tradicional considera, sobretudo, que o conhecimento é
transmitido do exterior para o interior dos sujeitos. Dessa forma, a ideia central é
de que o sujeito aprende a partir de todo o conhecimento que já existe no mundo,
e a inteligência é capacidade de armazenar uma quantidade surpreendente de
informações. Daí vem a premissa de valorizar demasiadamente a memorização e
a reprodução do conteúdo escolar.
Nessa abordagem, a educação é sinônimo de instrução, e a escola configura-
se como a grande instituição responsável pela sistematização de todo esse
conhecimento acumulado culturalmente (MIZUKAMI, 1986).
IMPORTANTE
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IMPORTANTE
Aprender não é o mesmo que acumular informações, é muito mais complexo.
O meio controla e
influencia o sujeito
O sujeito controla e
influencia o meio
Didática 47
A base do conhecimento está na experiência, mas não qualquer experiência e
sim aquela planejada, cujos resultados são analisados. Nessa abordagem, o sujeito
é uma série de consequências das forças do meio. Isso significa que o sujeito é
entendido como resultado do processo evolutivo da humanidade.
O processo de ensino e aprendizagem parte de um núcleo da Psicologia
Comportamentalista, fundada em princípios como comportamento respondente,
estímulo-resposta e reforço positivo ou negativo, por exemplo. Acreditava-se que o
docente deveria planejar suas ações considerando os comportamentos esperados
por parte dos estudantes, que passaram a ganhar destaque nessa abordagem.
Os estudantes precisavam ser estimulados, ter sua potencialidade aumentada.
Nesse ponto, destacam-se duas práticas que também deixaram suas marcas nas
escolas até hoje: o reforço positivo ou estímulo positivo, na ação de premiar, e o
reforço negativo ou estímulo negativo, na ação de punir.
Foi a partir da abordagem comportamentalista que se iniciou o processo de
valorização e execução do planejamento escolar e considerações sobre a influência
do meio e do comportamento no processo de construção do conhecimento.
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A educação tem a função principal de contribuir com a formação desse
sujeito de modo integral, ou seja, deve considerar as emoções, o desenvolvimento
cognitivo, motor etc. Deixa-se de lado a concepção de que existem modelos e
padrões para o processo educativo, passando a compreendê-lo em sua essência
e complexidade.
O papel do docente começa a ser entendido como o de facilitador da
aprendizagem, sua atuação deve ser direcionada à mediação na construção do
conhecimento.
Didática 49
Um marco dessa abordagem está na afirmação de que o conhecimento é
construído, e não dado ou inato.
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A escola é vista como espaço privilegiado para a construção do conhecimento,
mas não só do cognitivo, como também do afetivo, emocional, psicológico,
corporal, entre outros. Assim, é preciso considerar todas essas características no
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem.
Uma das premissas principais da escola, nessa abordagem, é o sujeito social,
ou seja, os sujeitos fazem parte de um contexto social e a educação, por sua
vez, o empodera para a transformação desse meio, assim o sujeito faz parte do
processo histórico e não deve ser entendido como alienado.
A relação entre docente e estudantes é horizontal, baseada na ideia de
construir juntos.
2.4.1 A ESCOLA
A escola é a instituição responsável pela construção e difusão do
conhecimento. Mas a escola não foi sempre igual a esta que conhecemos hoje.
Muitos estudiosos já revelaram que a escola, em sua origem, tem raízes oriundas
da sociedade de classes. Por isso, as primeiras instituições eram apenas para a
burguesia, ou seja, a educação era entendida como um privilégio: o da acumulação
do saber. É facilmente perceptível que o objetivo era o de manter o conhecimento
na classe dominante, dividindo a sociedade não apenas por poder econômico,
mas também por ignorância.
Houve um longo período em que a educação era tarefa da Igreja Católica.
Apenas no início da década de 1920 é que surgiram alguns movimentos, nos
Estados Unidos e na Europa, indicando a necessidade de reformas educativas e
a responsabilização do Estado pela educação.
A partir de então, a escola seguiu transformando-se de acordo com o contexto
histórico-político-social até chegar ao modelo de escola e educação que vive em
nossas memórias e nas de nossos pais e avós.
Com o passar do tempo, com a evolução da humanidade e de seus modos
de vida, a escola continua sendo o espaço institucionalizado do conhecimento,
mas já se sabe que não se trata de conhecimentos isolados ou meramente
Didática 51
conceituais, são conhecimentos de mundo, de vida, de sociedade. A diversidade
de saberes e sua relação com a vida cotidiana dos sujeitos é o ponto-chave da
função da escola, sempre tendo em vista a formação de um sujeito capaz de atuar
e transformar o meio.
2.4.2 O ALUNO
Antes de qualquer coisa, é preciso compreender que o aluno é um sujeito
histórico, social, cultural etc. Posto isso, assim como aconteceu com a escola, a
visão de aluno também se modificou ao longo do tempo.
IMPORTANTE
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O aluno contemporâneo está imerso em um crescente universo
tecnológico impulsor de inúmeras possibilidades de interações
pedagógicas que extrapolam as técnicas tradicionais e,
certamente, não pode ficar preso ao livro didático como única
fonte de aprendizado. (SOUZA; SANTO, 2013, p. 70).
IMPORTANTE
2.4.3 O PROFESSOR
Seguindo a linha da história de representatividade dos elementos que
compõem a educação, o professor também teve seus papéis modificados ao
longo do tempo.
Quando a escola e a educação eram para poucos, os professores ocupavam
lugar de destaque e grande prestígio social, tendo sua imagem à semelhança de
uma grande autoridade, exemplo de conduta.
Tanto esmero e status social agregavam poder, ordem e disciplina às tarefas
pedagógicas. Ensinar era sinônimo de controlar.
Didática 53
O professor, assim como o aluno, também precisa ter sua humanidade
reconhecida e respeitada. É essencial que se perceba que, atualmente, ser
professor envolve múltiplas inteligências, habilidades e estudos.
[...] a responsabilidade do professor, de que às vezes não nos
damos conta, é sempre grande. A natureza mesma de sua
prática, eminentemente formadora, sublinha a maneira como
realiza. Sua presença na sala é de tal maneira exemplar que
nenhum professor ou professora escapa ao juízo que dele ou dela
fazem os alunos. E o pior talvez dos juízos é o que se expressa
na “falta” de juízo. O pior juízo é o que considera o professor
uma ausência na sala. (FREIRE, 2011, p. 61).
A figura do professor, hoje, não carrega mais consigo o mesmo status de antes.
As teorias e diretrizes curriculares e de formação inicial de professores têm cada
vez mais destacado que a atuação docente deve ser voltada à mediação, esta-
belecendo, então, uma relação horizontal com os estudantes, numa interação de
construção colaborativa. É preciso deixar no passado a ideia de que o controle e o
autoritarismo representam garantia de ensino e aprendizagem.
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Mas o que é ensino?
O ensino é um processo, ou seja, caracteriza-se pelo
desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades
intelectuais dos alunos em direção ao domínio dos conhecimentos
e habilidades, e sua aplicação. Por isso, obedece a uma direção,
orientando-se para objetivos conscientemente definidos; implica
passos gradativos, de acordo com critérios de idade e preparo
dos alunos. O desdobramento desse processo tem um caráter
intencional e sistemático, em virtude do qual são requeridas
tarefas docentes de planejamento, direção das atividades de
ensino e aprendizagem e avaliação. (LIBÂNEO, 2013, p. 84).
Didática 55
Conforme já estudamos nesta unidade, o processo de ensino e aprendizagem
não é simultâneo, cada um acontece em um tempo específico e único para cada
sujeito. Porém, eles mantêm uma relação indissociável, existe uma unicidade,
são interdependentes.
Liberal Tradicional
Liberal Renovada
Liberal Tecnicista
Crítico-reprodutivista
Progressista Libertária
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Progressista Libertadora
Didática 57
2.5.2 PEDAGOGIA LIBERAL RENOVADA
Na Pedagogia Liberal Renovada, a função da escola é a de adequar as
precisões de cada estudante ao meio social, assim a escola deveria retratar a vida
comum, portanto, há necessidade de aproximação entre escola e meio social.
O conhecimento é organizado considerando as experiências vividas pelos
sujeitos envolvidos no processo educativo. Destaca-se a valorização dos processos
mentais, do desenvolvimento de habilidades cognitivas e da racionalidade.
O estudante é visto como um sujeito que deve ser exposto a diversas
situações estimulantes para promover a aprendizagem; para tanto, o docente
é visto como um auxiliador, atuando como um elo entre o conhecimento pelas
vivências e o conhecimento sistematizado.
Nessa pedagogia, a relação harmoniosa entre docente e estudantes é uma
das peças-chaves para o progresso do ensino e da aprendizagem. Assim, a sala
de aula deve ser um ambiente motivador e incentivador.
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2.5.4 TENDÊNCIA CRÍTICO-REPRODUTIVISTA
Na Tendência Crítico-reprodutivista é muito marcante a existência de
fundamentos pedagógicos relacionados ao sistema capitalista. A educação deve
acompanhar o desenvolvimento econômico, o que resultou na ênfase das divisões
sociais por classe. Em outras palavras, a escola servia aos interesses do capital
e, para isso, formava os sujeitos com o objetivo de conservar e cristalizar essa
divisão de classes. Havia os que estudavam para serem empregados e os que
estudavam para serem líderes.
A escola é determinada socialmente; a sociedade em que
vivemos, fundada no modo de produção capitalista, é dividida
em classes com interesses opostos; portanto, a escola sofre
a determinação do conflito de interesses que caracteriza a
sociedade. (SAVIANI, 2005, p. 35).
Didática 59
Figura 2.12: Reflexão coletiva
Fonte: Plataforma Deduca (2019).
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2.5.7 PEDAGOGIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL DOS
CONTEÚDOS
A função da escola, nessa pedagogia, é a de difundir os conteúdos para que
seja valorizada a apropriação dos diferentes saberes. A escola é entendida como
meio para a transformação social.
Os conteúdos escolares devem ter conexão com a realidade dos estudantes,
pois, nessa premissa, a educação deve ser uma ferramenta para a formação de
cidadãos participativos e atuantes no meio social.
Cabe ao docente identificar quais são os centros de interesse dos estudantes
para que, a partir daí, prepararem-se as aulas estabelecendo um desafio possível
entre aquilo que já foi consolidado e a inserção gradativa de novos conhecimentos.
Por fim, a criticidade em relação aos conteúdos manifesta-se na construção
do conhecimento por meio da interação entre os próprios sujeitos, os sujeitos e
a sociedade, os sujeitos e os objetos de conhecimento.
Didática 61
SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta unidade, conhecemos temas essenciais à compreensão do processo
de ensino e aprendizagem. Para tanto, partimos da conceituação sobre o próprio
processo, identificamos os principais elementos que o caracterizam para que,
enfim, pudéssemos ter condições de identificar os traços que se relacionam às
tendências ou pedagogias e aos principais teóricos sobre o assunto. Sendo assim,
estudamos temas importantes, destacando o que segue:
▪▪ As abordagens do processo de ensino e aprendizagem, de acordo com os
principais teóricos do tema.
▪▪ Nos estudos de Bordenave, pudemos perceber as fragilidades da pedagogia
tradicional por meio da análise do autor em suas três linhas de pensamento:
a pedagogia da transmissão, a pedagogia do conhecimento e a pedagogia
da problematização.
▪▪ Nos estudos de Libâneo, é possível identificar traços mais globais que
caracterizam a pedagogia em libertária e progressista, sendo a primeira
relacionada ao tradicionalismo e a segunda à formação crítica do sujeito.
▪▪ Nos estudos de Saviani, a proposta foi perceber e compreender como a
educação e as demais esferas sociais estão inter-relacionadas. A partir dessa
premissa, o autor discorre e diferencia a pedagogia em teorias críticas e teorias
não críticas.
▪▪ Nos estudos de Mizukami, as classificações da pedagogia são determinadas
de acordo com seu preceito sobre os primados. São eles: primado do sujeito,
primado do objeto e primado da interação entre sujeito e objeto.
▪▪ A concepção e conceituação sobre os elementos básicos do processo de ensino
e aprendizagem: a escola, o aluno, o professor.
▪▪ As características das correntes pedagógicas: Pedagogia Liberal Tradicional,
Pedagogia Liberal Renovada, Pedagogia Liberal Tecnicista, Tendência Crítico-
reprodutivista, Pedagogia Progressista Libertária, Pedagogia Progressista
Libertadora e, por fim, a Pedagogia Progressista Crítico-social dos Conteúdos.
▪▪ Pedagogia Liberal Tradicional: escola como espaço destinado aos
privilegiados e dedicada à preparação para a vida em sociedade dentro dos
padrões esperados.
▪▪ Pedagogia Liberal Renovada: começa-se a reconhecer que o meio social
deve ser considerado na escola. Portanto, tenta-se articular os interesses dos
sujeitos com as necessidades de aprendizagem para a vida em sociedade.
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▪ Pedagogia Liberal Tecnicista: marcada pela atenção dispensada à adequação
e “modelagem” dos comportamentos humanos.
▪ Tendência Crítico-reprodutivista: forte vinculação entre escola e interesses
do capitalismo.
▪ Pedagogia Progressista Libertária: fortalecimento da concepção de que a
função da escola é formar sujeitos capazes para atuar e transformar o meio
social.
▪ Pedagogia Progressista Libertadora: valorização dos saberes não escolares e
reconhecimento da necessidade de os currículos considerarem e incorporarem
à prática educativa as realidades, saberes e necessidades dos sujeitos. Aquilo
que a escola se propuser a ensinar deve partir do sentido de reconhecimento
e significado que os estudantes tenham.
▪ Pedagogia Progressista Crítico-social dos Conteúdos: maior articulação e
envolvimento entre o conhecimento sistematizado e científico com as realidades
sociais e saberes não escolarizados. Busca-se que o currículo escolar tenha
sentido e utilidade à vida.
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REFERÊNCIAS
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