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Avaliação de Biodigestores Com O Uso de Dejetos de Suínos, em Braço Do Norte E em Concórdia
Avaliação de Biodigestores Com O Uso de Dejetos de Suínos, em Braço Do Norte E em Concórdia
Avaliação de Biodigestores Com O Uso de Dejetos de Suínos, em Braço Do Norte E em Concórdia
CENTRO TECNOLÓGICO
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA AMBIENTAL
Florianópolis (SC)
2009
ANIGELI DAL MAGO
Florianópolis (SC)
2009
DAL MAGO, Anigeli
Aprovado por:
_______________________________________
Dr. Paulo Armando Victória de Oliveira
_______________________________________
Profº Dr. Armando Borges de Castilhos Junior
_______________________________________ _______________________________________
Profº Dr. Flávio Rubens Lapolli Profº Dr. Paulo Belli Filho
(Coordenador PPGEA) (Orientador)
FLORIANÓPOLIS, SC - BRASIL
AGOSTO/2009
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela presença constante em minha vida, pelas bênçãos e proteções.
A toda minha família, pelo amor, compreensão e apoio. Agradeço aos meus pais Intelvino e
Iracy, por todo o incentivo; à minha irmã Diane, sempre presente, que realizou a revisão
gramatical deste trabalho; ao meu irmão Adilson e cunhada Tamine, por acompanharem toda
esta caminhada; aos sobrinhos Arthur e Gabriela, pelos momentos de descontração e alegria!
Ao Prof. Paulo Belli Filho, pela oportunidade e por ter me orientado ao longo deste trabalho.
À Embrapa Suínos e Aves pela parceria, aos pesquisadores Ricardo e Martha, pela
disponibilidade.
À amiga Iria Araujo, pelas discussões técnicas, pelo apoio e por ser prestativa, durante a
realização deste trabalho.
Aos colegas Wilian Sganzerla, que atuou como bolsista, Margarida e Rodrigo Mohedano;
pessoas sempre presentes que auxiliaram no campo e no laboratório, sempre disponíveis e
grandes amigos! E à todos do LABEFLU.
Aos amigos: Andreas, Angela, Bianca Coelho, Bianca Ranzi, Carla, Fernanda, Lola, Lucila,
Marina, Paola, Rodrigo Mohedano, Vanessa.
A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para que fosse possível realizar este
trabalho.
7
RESUMO
ABSTRACT
Among of environmental issues presented because of pollutant load of swine manure, is the
emission of gases that contribute to the greenhouse effect according to the types of anaerobic
treatment. The methane (CH4) and carbon dioxide (CO2) are the main gases causing the
greenhouse effect, and the CH4 features a power about 21 times greater than CO2. Biogas is a
mixture of gases formed from anaerobic conditions in which the conversion occurs of most
organic matter to the gas fraction. The origen of biogas is related to the conditions of the
effluent, like the concentration and loading of organic matter available (TS, VS, COD), linked
to environmental characteristics favorable to anaerobiosis (pH, temperature, redox potential).
So this way, we attempt to achieve good performance of these biodigesters in order to make
desirable efficiencies in the removal of organic matter and the conversion to biogas. The use
of a biodigesters treatment of swine manure, which allows storage and recovery of biogas.
And this can be used as a renewable source for power generation, and the effluent can be
applied to crops as biofertilizer. The general objective was to evaluate the biodigester of
swine manure in the cities of Braço do Norte and Concórdia, to the production of biogas
relacioned to determine their efficiencies. The methodology was to assess the physical and
chemical characteristics of swine manure and biogas production and composition of in twelve
biodigesters. The overall average efficiency of removal of organic matter found was 72% for
COD, 68% for TS and 75.5% for VS. The overall average concentration of CH4 biodigesters
studied was obtained in 61.5%, indicating a good quality of biogas. The average flow of
biogas was 5.69 m³/hour, where minimum flow was 1.10 m³/hour and the maximum 13.76
m³/hour. It was estimated a potential for the state of Santa Catarina around 556 million m³
biogas/year and 309 million m³ CH4/ano. For the Braço do Norte, the estimate was 15 million
m³ of biogas/year and 9 million m³ CH4/year. In Concordia, the estimated potential reached a
volume of 36 million m³ of biogas/year and 20 million m³ CH4/year. The organic load average
volumetric obtained was 0.8 kg SVappli/m3.day, found depending of biodigester with better
performance. For the parameter of the production of CH4 on the load removed from SV,
which were considered biodigester with better performance, the average obtained was 0.56 m3
CH4/kg SVremov. For the production of methane gas/animal, was made between the average
values of biodigester higher, reaching 0.53 m³ CH4/animal.day.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
B Biodigestor
CC Ciclo Completo
CT Crescimento e Terminação
mV mili Volt
O2 Oxigênio gasoso
15
pH Potencial hidrogeniônico
ST Sólidos Totais
SV Sólidos Voláteis
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 19
2. OBJETIVOS .................................................................................................. 21
2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................... 21
3. JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 22
5. METODOLOGIA ......................................................................................... 60
5.1 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................................ 60
1.INTRODUÇÃO
2. OBJETIVOS
3. JUSTIFICATIVA
4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 A SUINOCULTURA
O Brasil possui um efetivo de suínos com 35,945 milhões de cabeças, em que 47,5%
está localizado na região Sul, ocupando a terceira posição mundial, atrás da China e dos
Estados Unidos. No ano de 2007, o Brasil foi o quarto maior produtor mundial e exportador
de carcaça suína, em primeiro foi Estados Unidos seguido pela União Européia e Canadá
(IBGE, 2008). A suinocultura possui um rebanho mundial em torno 787 milhões de cabeças e
representa aproximadamente 40% do total da carne consumida, o que a coloca na condição da
principal fonte de proteína animal no mundo (MIRANDA, 2005).
O principal produtor de suínos brasileiro é o estado de Santa Catarina, possui 7,156
milhões de cabeças e representa 19,9% do efetivo nacional. Os municípios de Uberlândia
(MG), Concórdia (SC) e Toledo (PR) são os principais municípios em alojamento de suínos
(IBGE, 2008). Na Tabela 1 são apresentados os dez principais municípios brasileiros
produtores de suínos.
Efetivo de suínos
Município UF
(cabeças)
Uberlândia MG 645.843
Concórdia SC 465.653
Toledo PR 412.980
Seara SC 405.340
Rio Verde GO 345.000
Xavantina SC 246.340
Braço do Norte SC 198.646
Xaxim SC 179.855
Nova Mutum MT 168.740
Patos de Minas MG 160.057
Fonte: IBGE (2008).
24
No estado de Santa Catarina (de acordo com a Tabela 1), entre os cinco maiores
produtores, o município com maior efetivo é Concórdia, seguido por Seara, Xavantina, Braço
do Norte e Xaxim. A Figura 1 mostra o mapa da suinocultura em Santa Catarina de acordo
com o efetivo de suínos destacando as regiões de maior concentração.
podendo trazer conseqüências tanto à saúde física quanto ao bem-estar da população (SILVA,
2002; BELLI FILHO et. al., 2007).
A suinocultura é classificada como uma atividade com grande potencial poluidor
devido ao grande volume de dejetos produzido por suíno, ao sistema de criação por
confinamento (grande volume e concentração em pequenas áreas) e a concentração das
propriedades suinícolas em determinadas áreas, regionalizando a atividade (ROESLER;
CESCONETO, 2003). De acordo com Lindner (1999 apud MIRANDA, 2005) cada suíno
gera uma quantidade de dejetos equivalente (em carga poluente) a de 3,5 pessoas. Segundo
Oliveira et al. (1993), a DBO dos dejetos de suínos é cerca de 200 vezes maior à do esgoto
doméstico, caracterizando um alto poder poluente.
De acordo com Belli Filho et al. (2001), algumas avaliações preliminares indicam que
apenas 15% das propriedades catarinenses possuem metodologias de manejo adequadas para
a valorização e tratamento dos dejetos, sendo o restante destinado ao meio natural (solo,
corpos d’água). Além disso, parte das tecnologias empregadas para o tratamento não é
adequada em termos de projeto, construção e operação.
A produção de suínos em escala industrial proporcionou a redução de área agrícola por
suíno alojado, e mesmo assim, a forma de manejo predominante é a aplicação dos dejetos no
solo. Isso faz com que as culturas agrícolas percam as condições de assimilar totalmente os
nutrientes contidos nos dejetos produzidos na propriedade, o que torna crescente a degradação
da qualidade ambiental, podendo poluir o solo, o ar e a água. Os principais efeitos são devidos
à emissão de formas de nitrogênio, fósforo e outros minerais contidos nos dejetos
(MIRANDA, 2005). A lixiviação de nitratos e o escorrimento de fósforo são os componentes
impactantes que merecem destaque, principalmente o fósforo, o qual pode causar a
eutrofização (SIMIONI, 2001).
A Figura 2 ilustra algumas possíveis formas de contaminação do solo e da água.
26
O Ciclo Completo (CC) é uma unidade de produção em que existem todas as fases do
ciclo produtivo de suínos, desde o nascimento até a engorda. Na Unidade de Produção de
Leitões (UPL) existe somente a fase do ciclo produtivo com reprodutores, nascimento de
leitões (maternidade) e crescimento inicial (creche: 6 a 25 kg). A Unidade de Crescimento e
Terminação (CT) é uma unidade de produção com suínos na faixa de 25 a 100 kg, podendo,
em alguns casos, chegar a 120 kg (OLIVEIRA, 2005).
Segundo Oliveira (2002a), a produção de efluentes nas unidades de ciclo completo, em
condições normais, é estimada em 70 L/matriz.dia, 30 L/matriz.dia para unidade de produção
de leitões e 7,0 L/terminado.dia. Henn (2005) obteve uma média de 60 L/dia.matriz em uma
propriedade com sistema de produção tipo de ciclo completo.
O sistema de criação e a quantidade de dejetos produzidos estão diretamente
relacionados com as suas características físico-químicas. Segundo Silva (1996), que realizou
um estudo com suínos na fase de crescimento e terminação, as características físico-químicas
dos dejetos variam de acordo com as condições locais de cada estudo, como clima, tipo de
alimentação, método de amostragem e principalmente com quantidade de água utilizada, a
qual é responsável pelas diferentes diluições do efluente.
Na Tabela 4 são mostrados valores médios de alguns parâmetros físico-químicos
encontrados por diversos autores
29
De acordo com Lima e Nones (1999), os excrementos produzidos pelos suínos estão
relacionados com a quantidade e a digestibilidade dos nutrientes fornecidos na dieta. Os
principais fatores para a redução do potencial poluente dos dejetos são:
o excesso de água nos dejetos é que mais dificulta o seu tratamento e utilização;
a quantidade e a composição dos dejetos de suínos tendem a estar diretamente
relacionadas com a quantidade e composição do alimento que lhe é fornecido;
melhorar a eficiência alimentar dos animais, o que significa reduzir o poder poluente dos
dejetos;
o uso indiscriminado de quantidades de nutrientes acima do necessário para os animais
onera os custos de produção e aumenta a excreção de nutrientes;
os dejetos animais, quando adequadamente processados, constituem excelentes fontes de
nutrientes para adubação (biofertilizante), sendo fundamental o desenvolvimento da
suinocultura junto à produção de grãos, aumentando a reciclagem de nutrientes.
de higiene utilizado, porém, uma pequena goteira num bebedouro pode causar uma perda
diária de até 3,6 m³/dia (dependendo da pressão do bebedouro). O bebedouro ideal é aquele
que fornece um adequado volume de água na unidade de tempo, com baixa velocidade de
escoamento. Em termos de concepção e instalação, um bom bebedouro representa economia
de água por animal produzido (OLIVEIRA, 2002b).
Os bebedouros que visam a reduzir o desperdício de água consumida pelos suínos são
chamados de “ecológicos”. Henn (2005) realizou um estudo e observou as diferenças obtidas
em relação aos dejetos de suínos produzidos após a implantação dos bebedouros ecológicos.
O mesmo autor constatou que, com a redução das perdas ou desperdícios de água, os dejetos
brutos ficaram menos diluídos, em função do menor volume de água utilizado, e com isso
houve um aumento na concentração e volume de sólidos. Ou seja, além de alterar a
quantidade de dejetos também foram alteradas as características físico-químicas melhorando a
qualidade para aplicação como biofertilizante.
ProdutosOrgânicos Complexos
BHF Hidrólise
Acidogênese
BHF
Acetogênese
BPOH
Homoacetogênese
H 2 + CO 2 Acetato
BHA
Metanogênese Metanogênese
CH 4 + CO 2
MH MA
a) Hidrólise
b) Acidogênese
34
c) Acetogênese
d) Metanogênese
CO2 + 4 H 2 → CH 4 + 3H 2 O (2)
De acordo com MAH et al.(1977, apud BELLI FILHO, 1995), o ácido acético pode
produzir pelo menos 67% do metano e 33% pode ser proveniente da redução de CO2.
Os principais grupos de bactérias da digestão anaeróbia são as fermentativas, as
acetogênicas e as metanogênicas. As bactérias fermentativas são responsáveis pelas duas
primeiras etapas do tratamento (hidrólise e acidogênese), e devido à formação de ácidos
graxos voláteis, na acidogênese, este grupo de bactérias pode ser chamado de acidogênicas.
As bactérias acetogênicas são responsáveis por transformar os compostos da acidogênese em
acetato, H2 e CO2. Podem ser produtoras obrigatórias de hidrogênio, ou utilizadoras de
hidrogênio. As primeiras promovem a oxidação dos ácidos graxos voláteis, e o segundo
produz acetato (além de propionato e butirato), a partir de CO2 e H2. As bactérias
metanogênicas finalizam a digestão anaeróbia convertendo o ácido acético e o H2+CO2 em
metano, que pode ocorrer pela ação das hidrogenotróficas (ou hidrogenotrófilas), utilizando o
hidrogênio, ou pelas acetocláticas (ou acetotrófilas), ao utilizarem o ácido acético,
controlando o pH (por não deixarem acumular ácido), além disso, produzem CO2, que se
dissolve no meio, formando uma solução tampão (CCE, 2000).
Em sistemas anaeróbios, a maior parte da matéria orgânica biodegradável presente no
despejo é convertida em biogás, ou seja, é convertida da fase líquida para a fase gasosa,
conforme a Figura 4.
BIOGÁS
(70 - 90%)
EFLUENTE
DQO REATOR (10 – 30%)
(100%) ANAERÓBIO
LODO (5 – 15%)
a) Nutrientes
sulfeto de hidrogênio (H2S). A degradação de aminoácidos também pode ser uma fonte de
enxofre. Porém, altas concentrações de sulfetos podem causar problemas operacionais no
digestor, como precipitação de metais necessários ao desenvolvimento das células e também
toxicidade (BELLI FILHO, 1995; GERARDI, 2003).
b) Temperatura
O valor do pH deve ser mantido a uma faixa próxima da neutralidade (MALINA JR;
POHLAND, 1992; OLIVEIRA, 1993; LA FARGE 1995; METCALF; EDDY, 2003). As
bactérias metanogênicas toleram pH entre 6,6 e 7,6, compreendendo a faixa de 6 a 8, com
valor ótimo de 7,0 (MAUNOIR, 1992 apud BELLI FILHO, 1995; LAGRANGE, 1979). Com
valores de pH abaixo de 6,2, a acidez aumenta rapidamente e a fermentação é interrompida.
Em um meio muito ácido a atividade enzimática das bactérias é bloqueada, e em um meio
muito alcalino, ocorre produção de gás sulfídrico (H2S) e hidrogênio (H2) (LAGRANGE,
1979).
Para Metcalf e Eddy (2003), valores abaixo de 6,8 podem inibir a atividade
metanogênica. Dessa forma, a um valor de pH baixo a fermentação ácida pode prevalecer
sobre a metanogênica, o que possibilita o “azedamento” do conteúdo do reator (VAN
HAANDEL; LETTINGA, 1994; CHERNICHARO, 1997). As bactérias acidogênicas podem
continuar produzindo ácidos graxos apesar da queda do pH, agravando ainda mais as
condições ambientais (MALINA JR; POHLAND, 1992).
Se a capacidade de tamponamento do meio não for eficaz, pode ocorrer a acidificação
do meio pelo acúmulo de ácidos graxos voláteis, bloqueando a produção de biogás. A
produção excessiva de gás carbônico também pode causar desequilíbrio no meio, alterando os
valores do pH (LA FARGE, 1995).
Segundo Van Haandel e Lettinga (1994), o valor do pH é estabelecido no reator após o
equilíbrio iônico dos diferentes sistemas ácido/base presentes, sendo que os sistemas de
ácidos fracos (não completamente ionizados) são considerados os mais importantes,
principalmente o sistema carbônico (CO2 – HCO3 – CO3).
De acordo com Lagrange (1979), quimicamente o equilíbrio do pH depende da
concentração do íon bicarbonato (HCO3-), o qual depende da concentração de gás carbônico
(H2CO3). O aumento da concentração dos ácidos voláteis é neutralizado pelo bicarbonato.
A alcalinidade está presente primeiramente na forma de bicarbonatos, que estão em
equilíbrio com o CO2 no biogás, a um dado pH, considerando que o CO2 é liberado quando
compostos orgânicos são degradados (GERARDI, 2003), como mostra e Equação 3:
d) Potencial de oxi-redução – Eh
De acordo com Atlas e Bartha (1993), o potencial redox é influenciado pela presença
ou ausência de oxigênio no meio, e é medido em milivolts (mV). O valor do potencial redox
pode ser medido por um aparelho medidor de pH (GERARDI, 2003). Valores positivos
indicam condições favoráveis para reações de oxidação, já os valores baixos negativos
indicam reações de redução (ATLAS; BARTHA, 1993). Segundo Henn (2005), na digestão
anaeróbia é necessário um ambiente de redução, sendo o valor de Eh negativo.
O potencial redox é a medida da quantidade relativa de material oxidado, como o íon
nitrato (NO3-) e o íon sulfato (SO42-), e material reduzido, como íons amônio (NH4+). Para
valores maiores que +50 mV, o oxigênio molecular (O2) está disponível e pode ser usado
pelas bactérias aeróbias ou anaeróbias facultativas, ocorrendo a degradação de compostos
orgânicos em condições oxidantes (GERARDI, 2003).
Para os valores entre +50 e –50 mV, o O2 não está presente, mas íons nitrato (NO3-) e
nitrito (NO2-) estão disponíveis, ocorrendo a degradação anaeróbia dos compostos orgânicos
em condições anóxicas, que é a desnitrificação. Quando valores de potencial redox são
menores do que –50 mV, íons nitrato e nitrito não estão disponíveis, porém, os íons sulfatos
se encontram para a degradação dos componentes orgânicos, ocorrendo a redução do sulfato e
a formação gás sulfídrico, assim como uma variedade de ácidos e álcoois (GERARDI, 2003).
40
Para sedimentos que são ricos em matéria orgânica, os valores do potencial redox
podem atingir valores tão baixos como -450 mV (ATLAS; BARTHA, 1993). Os valores
próximos a -500 mV sugerem elevado estado de anaerobiose e a capacidade redutora do meio.
Quando os valores são elevados para a ordem de -300 mV ocorre a predominância da fase
ácida nos digestores, o que indica a existência de anaerobiose e também a ocorrência de
substâncias não completamente reduzidas, como os ácidos voláteis (OLIVEIRA et. al., 1993).
Para Gerardi (2003), quando o potencial redox é menor que –300 mV, há degradação
anaeróbia de compostos orgânicos e ocorre produção de metano. Os compostos orgânicos
simples, como o acetato, são convertidos em metano, ocorrendo a combinação de dióxido de
carbono e hidrogênio também para formar metano.
Belli Filho (1995) mediu valores de potencial redox na faixa -40 e -400 mV,
considerando a condição adequada para as bactérias anaeróbias se reproduzirem.
A sobrevivência das bactérias anaeróbias e a degradação do substrato são mais
eficientes quando o potencial redox possui valores entre -200 e -400 mV. Qualquer
quantidade de oxigênio dissolvida em um digestor anaeróbio aumenta o potencial redox e
diminui a atividade anaeróbia (GERARDI, 2003).
e) Materiais tóxicos
4.4 BIOGÁS
4.4.1 Histórico
Somente em 1884 o biogás foi observado como uma possível fonte de energia, quando
Louis Pasteur apresentou os trabalhos de seu aluno Ulysse Gayon para a Academia de
Ciências, concluindo que esta fermentação poderia tornar-se uma fonte utilizável para
aquecimento e iluminação. Ulysse Gayon em 1883, junto à Sociedade das Ciências Físicas e
Naturais de Bordeux, realizou a fermentação anaeróbia de uma mistura de esterco e água a
35ºC e conseguiu produzir até 100 litros de gás por metro cúbico de matéria orgânica.
Experimentos com esterco também foram realizados por Schloesing, em 1890, porém, dessa
vez, o substrato foi fermentado em uma estufa a 52ºC, sobre a ação das bactérias termofílicas,
obtendo-se 27 litros de gás por quilograma de dejeto. Em 1894, Oméliansky, por meio de seus
experimentos, concluiu que a fermentação metanogênica é desativada a 75ºC e que a melhor
temperatura para a fermentação é de 37º C (LAGRANGE, 1979).
O mesmo autor ainda relata, que por volta de 1895, ocorreu a primeira experiência
européia utilizando o biogás proveniente de uma fossa séptica para iluminar algumas ruas da
cidade de Exeter, na Inglaterra (CCE, 2000). Dehèrain e Dupont, em 1899, analisaram o gás
coletado em uma porção de esterco na Escola Nacional de Agricultura de Grignon e
encontram gás a 50% de metano e 50% de gás carbônico.
Em l920, na Alemanha, após o desenvolvimento de alguns experimentos do
Engenheiro Karl Imnhoff, sobre lodos decantados de esgotos domésticos, o gás produzido
passou a ser utilizado no aquecimento das unidades das estações de esgoto e também como
combustível para motores existentes nessas estações (FAO, 1984 apud ZAGO, 2003).
O uso do biogás nas cozinhas e aquecimento de casas ocorreu nos anos 40, como
consequência da carência energética provocada pela II Guerra Mundial (COSTA, 2006). Logo
após a 2ª Guerra Mundial, devido à escassez de energia fóssil, o biogás foi utilizado com certa
intensidade em países como a França, a Argélia e a Alemanha, tanto para aquecimento como
para alimentação de motores de combustão interna. Após esse período, nas décadas de 50 e
60, os combustíveis fósseis voltaram a ser utilizados em função dos preços baixos,
diminuindo o interesse pela energia obtida em processos anaeróbios (CCE, 2000).
Somente alguns países asiáticos, como Índia, Coréia e China, mantiveram o interesse
pelo uso do biogás devido às limitações dos recursos de capital e de energia, principalmente
ao nível de pequenos aglomerados rurais (CCE, 2000). Em 1950, Ram Bux Singh coordenou
pesquisas que conduziram a uma difusão do biodigestor chamado de modelo indiano, para
tratar o esterco e obter combustível sem perder o efeito fertilizante, onde foram construídas
43
meio milhão de unidades. Em 1972, na China, surge o modelo de biodigestor chinês, com a
instalação de 7,2 milhões de unidades (NOGUEIRA, 1986 apud HENN, 2005).
O uso dos combustíveis renováveis foi estimulado novamente a partir de 1973, devido
à crise energética (SANTOS, 2001), essa crise obrigou os países desenvolvidos a tomar
consciência da sua dependência de recursos naturais finitos, isso fez com que gás metano dos
digestores anaeróbios voltasse a ser tema da atualidade, assim como a pesquisa e o
desenvolvimento de tecnologias nessa área (CCE, 2000). Outro fator que contribuiu, para
retomada de pesquisas e tecnologias na área do biogás, foi a assinatura do Protocolo de
Quioto em 1997. Segundo Frondizi (2009), no setor da agricultura, uma das fontes de
emissões de GEE é o tratamento de dejetos que emite CH4, CO2 e N2O
O Protocolo de Quioto entrou em vigor em 2005 estabelecendo metas de redução ou
limitação das emissões antrópicas combinadas dos gases de efeito estufa, envolvendo os
países desenvolvidos e industrializados, considerados como Partes do Anexo I na Convenção
de Mudança do Clima, não estabelecendo compromissos adicionais para países em
desenvolvimento. (FRONDIZI, 2009).
O MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) é um dos três Mecanismos
Adicionais de Implementação previstos no Protocolo de Quioto, sendo este o único que
permite a participação de Partes não pertencentes ao Anexo I como é o caso do Brasil. O
MDL é considerado um instrumento econômico que visa a facilitar o cumprimento das metas
dos países no Anexo I, devido ao fato de muitas vezes a redução ou remoção fora das suas
fronteiras nacionais apresentarem menor custo. As atividades que compõem os projetos de
MDL, nos países em desenvolvimento, devem estar relacionadas com os gases de efeito
estufa, reduzindo as emissões ou aumentado a remoção de CO2 (benefícios ambientais). Com
isso podem ser adquiridas Reduções Certificadas de Emissões (RCEs), as quais são um ativo
financeiro, que podem ser vendidas pelo preço de mercado, obtendo os chamados “créditos de
carbono (FRONDIZI, 2009).
carbônico (CO2). Belli Fº (1995) obteve concentrações médias de 63% para o CH4 e de 22%
para o CO2.
As proporções desses gases dependem da natureza do substrato fermentado. É um gás
saturado de água, ou seja, contém umidade, que associada à presença de H2S e CO2 se torna
altamente corrosivo (LA FARGE, 1995). A Tabela 5 apresenta a composição do biogás de
acordo com diferentes autores.
pouco visível e muito quente, a Equação 4 mostra a reação de combustão. Este gás pode ser
utilizado como combustível e também como matéria-prima para a indústria química
(LAGRANGE, 1979).
De acordo com Lagrange (1979), o biogás com uma concentração de 60% de CH4
pode apresentar um poder calorífico inferior (PCI), de aproximadamente 5.130 kcal/m3.
Segundo Zago (2003), o poder calorífico do biogás pode oscilar de 5000 a 6000 kcal/m3, e
com capacidade de chegar a 12.000 kcal/m³, quando for retirado o CO2. A Tabela 4 mostra a
equivalência do biogás, com 70% de metano, a outros combustíveis (CCE, 2000). A Tabela 7
mostra a equivalência de 1 m³ de biogás em relação a outros combustíveis.
Equivalência do biogás
0,62 m3 de gás natural
0,26 m3 de propano
3 0,20 m3 de butano
1 m de biogás
1,6 kg de lenha
0,6 L de gasolina
6,5 kWh de eletricidade
Fonte: Adaptado, CCE (2000).
Tabela 8. Produção de dejeto e de biogás de acordo com o peso vivo de cada animal.
Animal
kgesterco/animal. dia m3biogás/kgesterco m3biogás/kg SV m3biogás/animal.dia
(peso vivo)
Bovino (500 kg) 10 - 15 0,038 0,094 - 0,31 0,36
Equino (400 kg) 10 - 12 0,022 0,082 0,28 0,2
Suínos (90 kg) 2,3 - 2,5 0,079 0,37 - 0,50 0,24
Aves(2,5 kg) 0,12 - 0,9 0,05 0,31 - 0,62 0,014
Ovinos (35 kg) 0,5 - 0,9 0,022 0,10 - 0,28 0,22
Fonte: NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 1977 apud OLIVEIRA et al., 1993.
Tabela 9. Produção de biogás e CH4 de acordo com os diferentes sistemas de criação de suínos.
Ferreira; Schoenhals;
Oliveira; Pereira- Campos Santana; Fernandes; Oliveira;
Amaral; Lourenço Frare; Souza et Gusmão et
Autor Foresti Ramirez et et al. Oliveira Oliveira Higarashi Costa (2007)
Lucas Jr. (2006) Sarmento al. (2008) al. (2008)*
(2004) al. (2004) (2005) (2005) (2006) (2006)
Experimento (2001) (2007)
Região Oeste
Jaboticabal São Carlos Lavras Jaboticabal Jaboticabal Concórdia Estado do Jaboticabal
Local Pelotas (RS) Lavras (MG) Lavras (MG) de Santa
(SP) (SP) (MG) (SP) (SP) (SC) Paraná (SP)
Catarina
2500 matrizes
Nº animais 400
(UPL)
m³ CH4/m³ 0,072 -
0,759 - 0,906 0,768
reator.dia 1,151
m³ CH4/kgDQO
CH4 0,030 - 0,099
adicionado
m³ CH4/kgDQO
0,10 - 0,18 0,01 0,156 - 0,289 0,039 - 0,078 0,428
removido
%CH4 75 - 80 70 -80 55 - 73 63,3
7.557 - 7.000 -
DQO (mg/L) 9.700 1.755
11.640 13.525
DQO Eficiência de
remoção DQO 62 - 85 78 86,6 - 93,1 83,3 máximo 40 71
(%)
ST (mg/L) 7.400 75.120
SV (mg/L) 4.810 56.310 69 - 96
ST/SV
Eficiência de
86 57
remoção SV (%)
Quadro 1. Dados de pesquisas realizadas no Brasil referentes ao tratamento dejetos de suínos e produção de biogás.
*Considerando valores médios.
50
Sánchez et al. Deng; Cai; Chen Feng et al. Massé; Croteau; Møller et al. Ndegwa et al. Chae et. al Liu et al.
Autor
Experimento (2005) (2007) (2007) Masse (2007) (2007) (2007) (2008) (2009)
Local Cuba China Japão Canadá Dinamarca EUA Coréia do Sul Japão
Nº animais 120.000 suínos
Biodigestor de 03 reatores
Tipo de reator Misto (UASB + 04 reatores tipo
Dados UASB 2 fases ASBR/bancada anaeróbios de
aneróbio SBR aerado) PASBR
Operacionais (Estágio 2) bancada
Volume 5 2,5 m³ 41 L cada 130 L 12 L 5,0 L cada
Temperatura (ºC) 30 - 35 17 50 - 52 20 - 35 25 / 30 / 35 37
TRH 8 dias 11 dias 22 - 24 24 h / 8h 3,2 dias
5.000 a 7.000
Produção biogás
(verão) / 2.500 - 0,0015 - 0,0021
(m³/dia)
3.500 (inverno)
Biogás m³ biogás/kgSV
0,579 0,46
adicionado
m³ biogás/kgSV
1,12
removido
m³ CH4/kgSV 0,317/ 0,397/
0,32 0,27
adicionado 0,437
m³ CH4/kgSV
0,516 0.72
removido
CH4
m³ CH4/kgDQO 0,114 / 0,143 /
0,12
adicionado 0,163
%CH4 66 76 69,2 71 70 - 75 44 / 55 / 61 58
DQO (mg/L) 10.189 9.194 131.300 4.816 45.350 89.000
DQO Eficiência de
85,4 96,7 59 68,1
remoção DQO (%)
ST (mg/L) 7.210 99.500 3.560 23.885 62.700
SV (mg/L) 5.122 81.600 2.752 16.310 49.900
Eficiência de
ST/SV 71,4
remoção ST (%)
Eficiência de
58 77,3 51,9 42
remoção SV (%)
Quadro 3. Dados de pesquisas internacionais referentes ao tratamento dejetos de suínos e produção de biogás realizadas entre 2005 e 2009.
52
4.5.1 Biodigestores
Este tipo de reator possui um separador de fases, o qual divide o reator em uma parte
inferior e outra superior; na primeira há um leito, que é a manta de lodo responsável pela
digestão anaeróbia (zona de digestão), já a parte superior é denominada zona de
sedimentação. O separador de fases permite que as partículas sólidas retornem para a manta
de lodo, evitando, assim, que o efluente arraste estas partículas; isso ocorre devido à
concepção do reator, que permite a diminuição da velocidade ascensional à medida que o
líquido se aproxima da superfície líquida. As bolhas de gás formadas são desviadas para o
separador de fases pela presença de obstáculos denominados defletores, os quais ficam logo
abaixo das aberturas do separador de fases, o gás é desprendido na interface líquido-gás do
separador de fases. (VAN HAANDEL; LETTINGA, 1994).
Um reator UASB em escala real foi operado na pesquisa realizada por Alves (2007),
para o tratamento de efluente suinícola em uma granja de ciclo completo com cerca de 200
matrizes. O reator possuía um volume útil de 15 m³, construído em concreto armado, com um
TDH de 1,5 dias. Porém, segundo Alves (2007), não houve um bom desempenho em função
dos valores de pH e da temperatura não apresentarem condições ideais e por existirem
elevadas concentrações de amônia nos dejetos.
Carmo Jr. (1998) também realizou uma pesquisa com a aplicação de um reator UASB
no tratamento de dejetos de suínos em duas fases, em escala piloto, com um volume útil de
136 L, obtendo uma remoção máxima de DQO total em torno 73%.
56
Segundo Pompermayer e Paula Jr. (2000) (apud Santos, 2001), a produção de metano
e o consequente aproveitamento do biogás é apenas uma das vantagens da biodigestão
anaeróbia, a qual visa a tratar o efluente. Outras vantagens apresentadas são: a produção de
biofertilizante, baixa produção de lodo, baixos custos de investimento e operação e
descentralização do tratamento de efluentes.
De acordo com Oliveira e Higarashi (2006) é importante salientar que os biodigestores
fazem parte do tratamento dos dejetos, porém, não devem ser vistos como uma solução
definitiva, pois há limitações quanto à eficiência de remoção de matéria orgânica e nutrientes.
O aproveitamento do biogás como uma fonte energética natural agrega valores aos dejetos,
podendo diminuir os custos com o tratamento.
60
5. METODOLOGIA
BRASIL
Santa
Catarina
Concórdia
Braço do
Norte
Concórdia
Braço do Norte
Localização GPS
Sistema de
Biodigestor Longitude Município
criação Latitude (Sul) Altitude (m)
(Oeste)
Braço do
B1 28º13'57,3" 49º06'28,5" 416
Norte
CC
Braço do
B2 28º14'13,43" 49º13'43" 290
Norte
B3 27º12'27,5" 51º52'36" 716 Concórdia
B4 27º10'59" 51º53'59,6" 762 Concórdia
UPL B5 27º12'18,7" 52º5'49,5" 607 Concórdia
B6 27º12'43,2" 52º7'22,5" 504 Concórdia
B7 27º12'29,2" 52º7'58,6" 480 Concórdia
B8 27º11'22,3" 52º09'01,7" 590 Concórdia
B9 27º11'24,6" 52º06'29" 601 Concórdia
CT B10 27º11'21,6" 52º06'33,3" 607 Concórdia
B11 27º12'12,9" 52º06'58,5" 553 Concórdia
B12 27º12'12,5" 52º07'11,1" 572 Concórdia
Dos biodigestores avaliados, dois (B1 e B2) pertencem ao sistema de criação Ciclo
Completo (CC), cinco (B3 ao B7) fazem parte do tipo Unidade de Produção de Leitões (UPL)
63
(a) (b)
Figura 11. Biodigestor B1: (a) biodigestor; (b) lagoa de armazenamento do efluente.
O biodigestor B2 (Figura 13) apresenta o maior volume entre os avaliados, o que está
relacionado também ao maior número de suínos na propriedade.
(a) (b)
Figura 14. Biodigestor B5: (a) biodigestor e caixa de passagem; (b) lagoa e tubulação do efluente.
(a) (b)
Figura 15. (a) Biodigestor B11 seguido da lagoa; (b) detalhe da tubulação de efluente na lagoa do B10.
(a) (b)
Figura 16. Biodigestor B10: (a) detalhe da tubulação de saída do biogás; (b) queimador do
biogás.
determinados gases (Figura 18). As leituras são obtidas através da detecção simultânea e
contínua dos gases por meio de sensores independentes entre si.
O aparelho é um detector modular em que foram utilizados quatro sensores: CH4, CO2,
H2S e O2, onde cada um apresenta uma faixa de leitura conforme é mostrado na Tabela 13.
Para o gás chegar aos sensores é acionada uma bomba interna conectada a uma
mangueira com comprimento de 50 cm. O aparelho registra os dados a cada 30 (trinta)
segundos em um dattaloger, em que após cada medição são transferidos para um
microcomputador onde as leituras podem ser analisadas.
A leitura da composição do biogás era realizada durante trinta minutos, no período da
manhã e igualmente no da tarde, gerando uma leitura de 60 (sessenta) dados para cada gás,
em cada amostragem, e totalizando 120 (cento e vinte) dados para um dia, sendo esse
considerado para o cálculo da média da concentração. Para a determinação da composição do
biogás em cada biodigestor, foram considerados os valores da média aritmética dos dados
obtidos para cada gás nos períodos de medição.
69
Pelo fato dos sensores de cada gás serem independentes entre si, e em função do erro
de cada um, a soma de todos os gases detectados ultrapassava 100%, chegando a valores
máximos de 110%. Deste modo, foi realizada uma correção, aplicando-se uma regra de três
simples.
Para obter as velocidades (m/s) e temperaturas (ºC) do biogás foi utilizado um termo-
anemômetro Airflow modelo TA45 (Figura 19), é um aparelho portátil que detecta os
parâmetros através de um sensor de fio quente. A haste que contém os sensores é posicionada
perpendicularmente à passagem do fluxo de biogás.
6 cm
Saída do
Orifício para a
Redução da biogás
mangueira do
tubulação
detector de gases
Figura 20. Representação esquemática da tubulação adaptada para a passagem e medição do
biogás.
Fonte: GUSMÃO (2008).
(a) (b)
Figura 21. Sistema de adaptação: (a) conexão de saída do biogás interligada à
mangueira; (b) sistema: tubulação e mangueira.
(a) (b)
Figura 22. (a) Sistema de padronização das medições de biogás; (b) uso do termo- anemômetro
no sistema.
Equipamento Descrição
Marca HANNA instruments modelo
Digestor
HI839800 COD Reactor
DQO
Espectrofotômetro Marca HACH® modelo DR4000
273,15
Q = (V × A) × ×P
273,15 + T (6)
C×Q
CO = (7)
1000
C ×Q
COV = (8)
V × 1000
Em que:
COV – Carga orgânica volumétrica (Kg/m3. dia), considerando g/L = kg/m³;
C – Concentração de SV afluente (mg/L);
Q – Vazão dos dejetos (m3/dia);
V – Volume do biodigestor (m3);
Para calcular a COV removida, basta aplicar a equação 8 para a concentração afluente
e para a efluente, e posteriormente fazer a diferença entre as duas.
75
C − Ce (9)
E = a × 100
Ca
Em que:
E – Eficiência de remoção (%);
Ca – Concentração afluente (g/L);
Ce– Concentração efluente (g/L).
CO
Pesp.biogas = (10)
Qbiogás
Em que:
Pesp.biogas – Produção específica de biogás (m³ biogás/kg SVremov) ou m³ biogás/kg DQOremov);
CO - Carga orgânica de SV removida (Kg SV/dia) ou carga orgânica de DQO removida (Kg
DQO/dia);
Qbiogás – Vazão de biogás (m³ biogás/dia).
Qbiogas
Pesp.biogas = (11)
V
Em que:
Pesp.biogas – Produção específica de biogás (m³ biogás/m³ biodigestor.dia);
Qbiogás – Vazão de biogás (m³ biogás/dia);
V – Volume útil do biodigestor (m³).
Qbiogas
Pesp.biogas = (12)
N
Em que:
Para efetuar o tratamento dos dados, tanto do biogás quanto do efluente, foi utilizado o
software Microsoft Excel para efetuar os cálculos, tabelas e gráficos, os quais constituem as
ferramentas para expor e discutir os dados.
Foi utilizado também o software Statistica 6.0 para fazer a análise descritiva e de
variância dos dados de concentração de metano presentes no biogás, para os sistemas de
criação de suínos nas diferentes épocas do ano.
A análise descritiva consiste em mostrar o comportamento da distribuição dos dados,
neste caso, foi verificada a distribuição dos dados dos sistemas de criação (CC, UPL, CT) em
cada época do ano (verão, inverno, primavera). Para isso, foram feitos os gráficos do tipo box
plot (também chamados diagramas de caixa) que permitem observar a dispersão dos dados de
cada grupo. O gráfico é dividido em quartis, apresenta mediana, máximo e mínimo (conforme
apresentado na legenda dos gráficos), que ainda estão dentro do intervalo de confiança dos
dados, além dos outliers (valores discrepantes). A “caixa” corresponde a uma faixa entre 25 e
75% dos dados e também a mediana (OGLIARI; PACHECO, 2004).
A análise de variância (ANOVA) é um teste de hipóteses que serve para verificar se há
diferença entre as médias dos grupos (ou tratamentos). É baseado em duas hipóteses:
H0: as médias dos tratamentos são todas iguais;
H1: as médias dos tratamentos são diferentes.
78
O objetivo do teste é determinar a probabilidade (p) que permite aceitar ou rejeitar H0.
Se p > α, se aceita H0; se p < α, rejeita-se H0 (OGLIARI e ANDRADE, 2004).
Nos casos em que há diferença significativa é realizado o teste de Tukey que faz uma
comparação entre as médias para verificar quais diferem entre si. O Tukey é um teste de
comparação múltipla, o qual é usado para determinar as diferenças significativas entre médias
de grupos em uma análise de variância (OGLIARI; PACHECO, 2004). Considerou-se um
nível de significância igual a 5% (α=0,05), para verificar as diferenças significativas entre as
concentrações de metano presentes no biogás.
79
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
CC UPL CT
Figura 23. Vazão dos dejetos para cada biodigestor nas diferentes épocas.
Devido ao fato de não existirem hidrômetros instalados nas propriedades, não foi
possível controlar o volume de água utilizado e a estimativa da vazão de dejetos para cada
biodigestor foi realizada de forma teórica, baseada na literatura. A Tabela 15 mostra o
número de animais, o sistema de criação e a vazão de dejetos que alimenta cada biodigestor,
80
conforme o cálculo teórico descrito no capítulo anterior (seção 5.4.2), considerando 7,0
L/suíno.dia para o sistema Crescimento e Terminação, e a média de 21,5 L/matriz.dia para os
sistemas de Unidade de Produção de Leitões e de Ciclo Completo, conforme Oliveira et al.
(1993). Apesar de graficamente não ficar evidente a diferença de vazão entre os mesmos
biodigestores nas diferentes épocas avaliadas, foi possível notar que, no período do inverno, a
consistência dos dejetos brutos se manteve menos líquida e as concentrações de matéria
orgânica se mostraram mais elevadas, como será descrito mais adiante. A partir das
observações feitas, nas características dos dejetos brutos, pode-se inferir que no período do
inverno ocorreram menor consumo e desperdício de água, quando comparado com outras
épocas do ano.
Outro fator que está associado ao volume de dejetos produzido é o tipo de bebedouro
adotado nas granjas. Os bebedouros ecológicos, que não causam o desperdício de água, estão
presentes nas granjas correspondentes ao B1, B3, B7, B10, B11 e B12. Em relação ao B4, B5
e B6, uma parte possui bebedouros ecológicos e a outra, os convencionais. Nas granjas em
que estão presentes o B2, B8 e o B9 não há bebedouros ecológicos.
Em relação ao manejo dos dejetos, de acordo com um levantamento realizado por
Gusmão (2008), as granjas correspondentes ao B3 e B5 possuem sistema de raspagem com
água. Em relação ao B5, juntamente ao B6, B10, B11 e B12, existe piso com lâmina d’água
em parte das instalações.
81
Tabela 15. Número de suínos e produção de dejetos correspondente aos biodigestores para cada época do ano.
Verão Inverno Primavera
6.2.1 Temperatura
CC UPL CT
Figura 24. Temperatura ambiente para as diferentes épocas do ano em relação a cada
biodigestor.
Temperatura afluente ( C)
30
25
20
15
10
5
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
Figura 25. Temperaturas afluentes de cada biodigestor para cada período analisado.
84
CC UPL CT
Figura 26. Temperaturas efluentes de cada biodigestor para as diferentes épocas do ano.
Na época do verão, as temperaturas afluentes oscilaram entre 21,7 (B6) e 27,3ºC (B5),
sendo esta faixa compreendida pela atividade microbiana anaeróbia mesófila, que de acordo
com Lagrange (1979) varia entre 20 e 45ºC e é a mais empregada na digestão anaeróbia.
Segundo Belli Filho (1995), as condições ótimas para a digestão anaeróbia são obtidas na
faixa mesófila entre 30 e 35ºC. Porém, nos estados do sul do Brasil a temperatura média
observada na biomassa de biodigestores é inferior, mantendo-se valores entre 20 e 25ºC
(OLIVEIRA, 2005).
No inverno, a temperatura mínima afluente foi de 10,1 (B6) e a máxima de 22,3ºC
(B2). Dessa forma, o desempenho da atividade anaeróbia conseguiu manter-se na estação
mais fria do ano, pois a atividade enzimática das bactérias é estritamente dependente da
temperatura, sendo, no entanto, muito fraca quando a temperatura está próxima a 10ºC
(LAGRANGE.1979). Alves (2007), estudando um biodigestor em Braço do Norte, obteve a
temperatura mínima de 13,1 ºC para os dejetos brutos, valor próximo à faixa mínima da época
da primavera neste estudo. A atividade metanogênica ainda poderá manter-se, Massé; Masse;
Croteau (2003) concluíram que os dejetos de suínos podem ser tratados a uma temperatura de
10ºC, no entanto, será exigido um elevado volume do biodigestor, e estas temperaturas baixas
causam efeitos temporários sobre o desempenho e estabilidade do processo, sendo possível
recuperar com aumento da temperatura novamente.
Na primavera, a oscilação da temperatura da biomassa foi de 16,9 (B7) a 23ºC (B2),
sendo esta faixa semelhante à encontrado por Monteiro (2005), o qual monitorou por um
período 246 dias o biodigestor B1 (no período de janeiro a setembro), em que a temperatura
85
mínima média para o afluente do biodigestor foi 16ºC e a máxima de 26,6ºC. O autor
observou que apenas em duas coletas a temperatura ficou abaixo do 15ºC, de modo que não
houve uma interferência ao ponto de prejudicar a atividade anaeróbia.
No caso dos biodigestores avaliados, o TDH pode ser considerado elevado (cerca de
40 dias), com exceção do B1 (30 dias), o que garante a remoção da matéria orgânica e,
conseqüente formação do biogás com boas concentrações de metano. Este fato foi também
observado por Gusmão (2008) em sua pesquisa com biodigestores. Porém, o fator limitante
no dimensionamento dos biodigestores, no caso de dejetos de suínos, é carga volumétrica de
sólidos voláteis aplicada, levando em conta que a concentração de matéria no efluente
produzido varia muito de uma granja para outra, o que influencia também no TDH de cada
digestor.
Do mesmo modo, as temperaturas efluentes permaneceram nas seguintes faixas: na
época do verão variou de 22 (B6) a 26,4 ºC (B4 e B8); no inverno oscilou entre 11,3 (B6) e
20,7 ºC (B2) e na primavera a faixa de variação foi de 16,6 (B7) a 23,5ºC (B11).
As temperaturas tanto afluentes quanto efluentes, para os biodigestores estudados,
permaneceram em média de 24ºC no verão, 16ºC no inverno e 19ºC na primavera. Estes
valores podem ser considerados como temperatura média da biomassa, pois são mantidos
valores idênticos na entrada e saída de cada biodigestor. Monteiro (2005) também verificou
que o comportamento das temperaturas, nas diferentes unidades do sistema que operou, não
apresentou discrepâncias, obedecendo a uma constante muito semelhante. O mesmo autor
destaca também a importância clima em um sistema anaeróbio, pois, influencia diretamente
na temperatura dos dejetos, devido à semelhança apresentada entre a evolução da temperatura
do ambiente e dos dejetos.
pH afluente
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
pH efluente
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
Quanto ao pH efluente, no verão foram atingidos valores entre 7,24 (B5) e 8,21 (B7),
nos biodigestores B1, B2, B3, B4, B5 e B6 os valores obtidos permaneceram entre 6,6 e 7,6.
No inverno a faixa dos valores de pH ficou de 6,81 (B11) a 7,77 (B2), ou seja, muito
próximos da faixa recomendada para a digestão anaeróbia e, próximos da neutralidade, sendo
que o B1 e o B2 ficaram acima de 7,6. Oliveira e Higarashi (2006) encontraram uma faixa 7,2
a 7,6 para o efluente do biodigestor que observaram.
No período da primavera a variação de pH foi de 6,65 (B6) a 7,92 (B3), e, assim
como no inverno, a maior parte dos valores se manteve próximo do recomendado em
literatura, em que o B3 e o B4 ficaram acima de 7,6.
A média encontrada para os afluentes dos biodigestores foi -369 mV. Os valores
médios do afluente no verão, inverno e primavera foram respectivamente: -351, -372 e -387
mV. No período do verão, a variação de valores foi de -207 (B5) a -451 mV (B8); no inverno
a faixa ficou entre -336 (B1) e -408 (B7); e na primavera foi de -305 (B1) a -437 mV (B2).
Henn (2005), monitorando o B1, encontrou valores inferiores, uma média -23,3 mV. Da
mesma forma, a faixa encontrada por Monteiro (2005) foi de -21 a +30 mV, em que autor
justifica os valores mais elevados devido a inserção de oxigênio na caixa de passagem nos
dias de vazões menores.
Quanto ao efluente, os valores médios obtidos nas três diferentes épocas do ano foram:
-350, -337 e -327 mV para verão, inverno e primavera, respectivamente. No verão, no
biodigestor B7 foi obtido um valor mais elevado de -71 mV, que pode ser atribuído a alguma
interferência na amostragem, como homogeneização insuficiente do efluente no ponto de
coleta (GUSMÃO, 2008). Com exceção do B7, nos demais biodigestores avaliados no verão,
os valores ficaram entre -308 (B6) e -414 mV (B3). No inverno houve uma variação de -287
(B6) a -363 mV (B1). No período da primavera os valores ficaram entre -170 (B1) e -365 mV
(B12), em que o B1 foi o único valor que ficou acima de -300 mV. Monteiro (2005)
encontrou no efluente valores entre -75 e -8 mV, o que, segundo o autor, apresenta baixa
anaerobiose.
De um modo geral os valores encontrados para o potencial redox garantem um bom
desempenho, pois de acordo com Gerardi (2003), para a sobrevivência das bactérias
anaeróbias e degradação do substrato, as maiores eficiências são alcançadas quando o
potencial redox apresenta valores entre -200 e -400 mV.
CC UPL CT
g/L, enquanto a média no período foi de 85 g/L, ficando abaixo da concentrações encontradas
na presente pesquisa. O valor de pico observado pelo autor está acima dos obtidos neste
estudo, este aumento ocorreu no início de decaimento das temperaturas (final de outono) no
período de monitoramento, o que evidencia a influência da sazonalidade, principalmente em
relação ao consumo de água. É importante destacar que as coletas realizadas neste trabalho
foram pontuais, ao longo das três épocas avaliadas, o que diferencia da pesquisa de Monteiro
(2005) que consistiu em um monitoramento com intervalos de tempo constantes.
No biodigestor B2 não há bebedouros ecológicos, o que faz com que os valores de
concentração de DQO afluente sejam de duas a dez vezes menores em relação ao B1, embora
o número de suínos na granja correspondente ao B2 seja aproximadamente dezesseis vezes
maior. Para o B2 a concentração de DQO diminuiu nas demais épocas, a partir do verão, o
que pode estar relacionado a um possível aumento do consumo de água e/ou características do
manejo das instalações de alojamento dos suínos, aumentando a diluição das concentrações.
As concentrações do inverno e primavera ficam abaixo da máxima obtida Alves (2007) que
foi 23,60 g/L, o qual monitorou um biodigestor localizado também em Braço do Norte.
Na Tabela 18 são mostrados os valores médios de DQO e o seu respectivo desvio
padrão para os sistemas de criação tipo UPL e CT nas diferentes épocas do ano. Observa-se
que as concentrações mais elevadas predominaram no inverno, período que pode ser
caracterizado por menor desperdício de água, devido ao menor consumo por parte dos
animais e menor freqüência de higienização das instalações. Conforme já comentado
anteriormente, as concentrações de DQO apresentam variações nos diferentes biodigestores e
épocas avaliadas, que pode ser evidenciado pelos valores de desvio padrão apresentados na
Tabela 18.
Os valores de DQO afluente variaram de 7,59 (B4) a 112,46 g/L (B1) no verão.
Valores envolvendo a concentração encontrada no B4 foram obtidos por Schoenhals, Frare e
Sarmento (2007), em um sistema de criação também do tipo UPL situado na região Oeste do
Paraná, os quais atingiram uma faixa entre 7,0 e 13,5 g/L de DQO; Fernandes e Oliveira
(2006), em um trabalho realizado em escala-piloto na UNESP, obtiveram valores de DQO
entre 7,5 e 11,6 g/L. Alves (2007), em um biodigestor em escala real para sistema de criação
do tipo CC , encontrou valores na ordem de 12 g/L, acima do que foi encontrado para o B4.
Pereira-Ramirez et al. (2004), analisando um reator UASB em Pelotas (RS), também
obtiveram valores superiores, em média 9,7 g/L de DQO. No inverno, a DQO ficou entre
18,75 (B2) e 110,59 g/L (B1). Na primavera, os valores permaneceram na faixa compreendida
entre 12,31 (B4) e 158,10 g/L (B1).
No sistema de criação tipo UPL, o valor mínimo e máximo da concentração de DQO
no verão foram 7,59 (B4), e 65,74 g/L no B7, respectivamente, e, a média encontrada foi de
26,97 g/L. No inverno, esta média elevou-se para 77,64 g/L, cujo valor é inferior a
concentração média de 85 g/L encontrada por Monteiro (2005) operando um biodigestor em
escala real, e ao valor obtido por Liu et al. (2009), que encontrou 89 g/L operando um reator
anaeróbio em escala laboratorial. A faixa de variação da concentração de DQO do sistema
UPL para o período de inverno foi de 52,22 (B5) a 104,59 g/L (B3). Para o B5, cujo valor
igual a 52,22 g/L, a concentração foi superior aos valores obtidos por Massé, Masse e Croteau
(2003), que operaram reatores em batelada e encontraram em torno de 48 g/L; e por Chae et
al. (2008) que obtiveram cerca de 45 g/L, operando reatores anaeróbios de bancada.
Na primavera, os valores de DQO no sistema UPL variaram entre 12,31 g/L (B4) e
76,72 g/L (B5), com valores médios de 43,42 g/L. Essa média de concentração é muito
próxima a obtida por Henn (2005), que operou um biodigestor em escala real, para o qual
obteve o valor de 43,40 g/L. Gosmann (1997), avaliando sistemas de armazenamento de
dejetos de suínos, encontrou uma concentração de 44,0 g/L para DQO. Oliveira e Higarashi
(2006) realizaram um estudo durante os meses de novembro e dezembro no município de
Concórdia, em que foram atingidos valores médios de DQO afluente de 42,5 g/L, aproximado
da média do sistema UPL.
Em relação ao sistema de criação tipo CT, no verão a variação da concentração de
DQO ocorreu entre 23,28 (B8) e 92,91 g/L (B11). O valor médio obtido para a concentração
de DQO (46,68g/l) é próximo ao encontrado nos dejetos de suínos caracterizados por Massé,
Masse e Croteau (2003), cujo valor foi 48,8 g/L. No período do inverno, os valores oscilaram
entre 48,20 (B9) e 105,38 g/L (B11), e a concentração média de 74,74 g/L. Na época da
92
primavera, houve uma variação dos valores entre 35,40 (B10) e 75,35 g/L (B12) e a média
encontrada foi de 51,08 g/L, havendo uma queda em relação ao período do inverno (74,74
g/L) e se aproximando à média obtida no verão (48,68 g/L).
A Figura 30 mostra a DQO efluente nos diferentes biodigestores nas diferentes épocas
do ano.
CC UPL CT
apresentou valores de saída superiores caracterizando assim uma menor eficiência para
remoção de DQO. No entanto, em relação a outros parâmetros (pH, Eh), não foram
observados valores fora dos limites recomendados pela literatura. Foi obtida uma média geral
para remoção de DQO em 72%. Na Figura 31 é apresentada a eficiência em termos de
remoção de DQO nos biodigestores para as diferentes épocas.
CC UPL CT
Em relação ao sistema tipo UPL, as maiores eficiências foram obtidas no B3, B6 e B7,
cujos valores foram acima de 90%, com exceção do B7 no período do inverno que foi 77,2%.
As menores eficiências alcançadas foram em relação ao B4, com 42,4% no verão e 58,4% na
primavera. No inverno, o menor valor o sistema UPL, foi no B5 (76,9%).
O biodigestor B1 apresentou eficiência de remoção entre 90 e 97% nas três épocas.
Operando este mesmo biodigestor, Henn (2005) obteve uma média de remoção, durante o
período de setembro a janeiro, em torno de 92%, já Monteiro (2005) observou eficiências de
até 98% quando as temperaturas ambientes foram mais elevadas e em torno de 65% quando
registradas as temperaturas mais baixas. Esta constatação pode justificar o fato de certos
biodigestores desta pesquisa terem apresentado menores eficiências no inverno, devido à
interferência da temperatura ambiente. No entanto, como neste trabalho foram feitas análises
pontuais, pode haver outros fatores não diagnosticados que interferiram nestas constatações.
Já em relação ao B2, a maior eficiência foi obtida no verão (93,2%) ficando cerca de
52,1% e 48,3%, no inverno e primavera, respectivamente. Quanto à DQO efluente, para o B2,
no verão foram encontradas concentrações médias de 3,41 g/L, aumentando para valores
94
próximos de 9 g/L nas demais estações, o que também justifica a queda na eficiência de
remoção.
Quanto aos biodigestores B5, B6 e B9, estes não apresentaram eficiência de remoção
no verão, conforme constatado por Gusmão (2008).
ST afluente (g/L)
160
140
120
100
80
60
40
20
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
diferentes experimentos, encontraram concentrações nos dejetos brutos que estão dentro da
faixa de variação obtida no B4; Pereira-Ramirez et al. (2004) obteve 7,4 g/L, e, Alves (2007)
encontrou uma concentração média de ST correspondente a 8,5 g/L em um experimento em
escala real. No inverno, o menor valor obtido corresponde ao B2, com 17,73 g/L, aproximado
ao valor alcançado por Medri (1997) igual a 17,24 g/L, e superior a 14,32 g/L encontrado por
Cazarré (2000). A baixa concentração de sólidos pode estar relacionada a uma diluição que é
perceptível nos dejetos produzidos, devido ao uso inadequado da água nas instalações e pelo
fato de não haver bebedouros ecológicos.
Os valores mais elevados em cada época foram encontrados no B11 no verão, B3 no
inverno e B1 na primavera, com 152,18 g/L, 158,65 g/L e 142,17 g/L, respectivamente, os
quais são inferiores ao valor máximo encontrado por Monteiro (2005), ao monitorar o B1, que
encontrou 191 g ST/L. Esses valores, mais elevados em relação aos demais, podem estar
relacionados com o manejo de água nas instalações, sendo que nas granjas correspondentes
aos três biodigestores há somente bebedouros do tipo ecológico, os quais evitam o desperdício
de água, tornando a concentração afluente menos diluída.
As grandes variações nas concentrações de ST são encontradas na literatura e podem
estar associadas principalmente ao manejo e uso da água nos sistemas de criação de suínos.
Como já mencionado anteriormente, os biodigestores B1 e B2 possuem características das
propriedades suinícolas bem distintas, tanto em relação ao número de animais quanto ao
manejo adotado, apesar de ambos serem do sistema de criação tipo CC.
Dos dez biodigestores avaliados, observou-se que em nove destes houve aumento da
concentração de ST no inverno, baseado no que foi encontrado no verão. Na primavera, esse
aumento ocorreu em oito biodigestores, e em apenas um em relação ao inverno, o que
evidencia a probabilidade do menor consumo de água nos períodos mais frios.
Quanto ao efluente, o predomínio dos valores mais elevados de ST foi observado no
B11. Assim como os valores ST afluente, as concentrações de ST efluente (Figura 33) foram
mais elevadas no período do inverno, com destaque para o B11 seguido pelo B8, cujos
valores em eficiência de remoção foram de 50,1% e 35,5%, respectivamente. Porém a menor
eficiência de remoção de ST ocorreu no inverno e foi 15,7% para o B2, o que pode ser
caracterizado pela maior diluição do dejeto bruto em relação aos demais biodigestores que
apresentaram, em geral, o afluente menos diluído nessa época do ano. Esta observação foi
feita no momento das coletas das amostras, tanto pela consistência dos dejetos quanto pela
coloração. A diluição observada no afluente do biodigestor indica uma menor concentração de
sólidos, o que influencia o desempenho do mesmo para a remoção da matéria orgânica.
96
ST efluente (g/L)
80
70
60
50
40
30
20
10
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
Observa-se que no verão a menor eficiência (Figura 34) foi de 38,9% (B5), enquanto
no inverno e na primavera foi de 15,7% (B2) e 17,3% (B10), respectivamente. No caso do B5
é possível observar que a concentração de ST afluente foi menor em relação às outras
estações, ou seja, houve diminuição na carga de sólidos e, por conseqüência, isso interferiu na
eficiência de remoção do biodigestor. Em relação ao B2, conforme já explicado, pode-se
atribuir uma maior diluição dos dejetos brutos nas épocas do inverno e primavera. No B10, o
que ocorreu foi o mesmo fato do B5 (decréscimo da concentração de sólidos). É possível
notar, em alguns casos, que quando ocorre uma diminuição na concentração afluente (ou
carga), há um decréscimo na eficiência do sistema.
Remoção de ST (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
O sistema que se mostrou mais eficiente em todas as épocas foi o B1, com eficiências
acima de 90%, e ainda superiores às obtidas por Henn (2005) e Monteiro (2005) que
operaram este biodigestor com eficiências de remoção de 88 e 85%, respectivamente. O
aumento da eficiência pode ser atribuído a uma melhor adaptação da biomassa presente, e
também pelo aumento das concentrações médias de ST no afluente, sendo, dessa forma, as
cargas aplicadas superiores.
Os biodigestores B3 e B6 apresentaram eficiências acima de 73% no decorrer das três
estações, e no B7 os valores de remoção de ST foram superiores a 87% em todas as épocas.
Alves (2007), operando um biodigestor em escala real obteve uma faixa de eficiências médias
com valores inferiores, entre 62 e 74%. A média geral das eficiências de remoção atingidas,
nos biodigestores avaliados, é igual a 68%.
O B2 apresentou uma elevada remoção de ST no verão (85,1%), aproximadamente
cinco vezes maior que nas demais estações. Na remoção de DQO também houve uma maior
eficiência no verão. Como o afluente demonstrava estar diluído em relação aos demais,
apresentou uma baixa concentração de matéria orgânica, que dificultou a atividade anaeróbia,
principalmente nos períodos de menores temperaturas.
SV afluente (g/L)
120
100
80
60
40
20
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
SV afluente (g/L)
Biodigestor
Verão Inverno Primavera
B1 41,01 66,48 106,76
B2 12,50 13,03 10,15
SV efluente (g/L)
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
Remoção de SV (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 B11 B12
CC UPL CT
No sistema de criação tipo UPL, a média de remoção mais elevada de SV foi 92,8% na
época do inverno, ficando entre 76 e 84% para as demais épocas, sendo esta faixa superior a
obtida por Alves (2007) 63,5 a 78% em sua pesquisa com biodigestor. No Sistema UPL, no
verão, a eficiência variou de 42,1% (B5) a 95,6% (B7). Já no inverno, as eficiências de
remoção para o sistema UPL ficaram acima de 87% para todos os biodigestores analisados, ou
seja, superiores à eficiência média obtida por Monteiro (2005) que foi 87%. Na primavera, a
faixa de variação ficou entre 56,5% (B4) e 96,1% (B6).
Da mesma forma que as concentrações de matéria orgânica variaram, as eficiências de
remoção também oscilaram entre os diferentes biodigestores. No sistema de criação tipo CT, a
maior eficiência média de remoção de SV foi obtida no verão chegando a 77,8%. No inverno,
a média de remoção foi de 64,2% e na primavera 54,8%, para o sistema CT. No verão variou
de 68,7% (B8) a 89,4% (B10); no inverno a remoção ficou entre 37,2% (B8) e 92,2% (B10) e
na primavera, oscilou de 23,6% (B10) a 67,9% (B9). É possível observar que no B10, o qual
atingiu a máxima eficiência no inverno, houve um decaimento para a menor eficiência na
primavera, este fato foi acompanhado pela diminuição da concentração de SV afluente (92
g/L para 17 g/L), ou seja, neste caso fica evidente que o aumento da carga orgânica influencia
no desempenho no biodigestor em termos de eficiência. Pelo fato das amostragens terem sido
102
pontuais, não é possível identificar outros fatores intervenientes que possam ter contribuído
para estas alterações no decorrer do período em que foram realizadas as análises.
O elevado TDH de 40 dias auxilia na remoção orgânica, porém, o fator limitante para
remover matéria orgânica no tratamento de dejetos de suínos não é hidráulico, e sim baseado
carga orgânica de sólidos que alimenta o biodigestor, ou seja, os critérios de dimensionamento
e operacionais devem levar em conta a carga de sólidos aplicada.
Relação SV/ST
Quanto à relação SV/ST efluente (Figura 39), na época do verão, apenas no B4, B5,
B8 e B11 foi acima de 40%. No inverno, em todos os biodigestores o percentual foi acima de
40%. Na primavera, apenas o B3 (39%) e o B6 (23%) atingiram percentuais abaixo de 40%.
Apesar do B3 e B6 terem apresentado concentrações de sólidos inferiores ao período do
inverno, obtiveram uma boa relação SV/ST efluente, o que indica que ocorreu mineralização
da matéria orgânica do afluente e/ou sedimentação dos sólidos, havendo também a conversão
de SV a biogás.
SV/m³.dia, sendo que este valor ocorreu para os casos em que a concentração de SV esteve
acima de 60 g/L; dessa forma, o valor mínimo de carga orgânica obtida foi 1,66 kg SV/m³.dia.
Metcalf e Eddy (1982) recomendam que seja aplicada uma carga de 0,5 a 1,6 kg
SV/m³.dia para os digestores anaeróbios de baixa carga; e de 1,6 a 6,4 kg SV/m³.dia para os
digestores de alta carga (otimizados com agitação e aquecimento da biomassa).
O valor de carga orgânica volumétrica mínima obtido no presente estudo foi 0,03 kg
SV/m³.dia no B2, que pode ser atribuído ao valor da concentração de SV estar abaixo do que
é recomendado, e pelo fato do biodigestor possuir um volume elevado em relação aos demais,
cerca de 4.000 m³. O B4 (0,03 kg SV/m³.dia) também atingiu este mesmo valor em função da
concentração de SV.
As cargas mais elevadas foram encontradas no B11, 3,92 e 3,90 kg SV/m³.dia nos
períodos do verão e inverno respectivamente, acima do recomenda a literatura, o que pode
indicar a necessidade de um volume maior do biodigestor para reduzir a carga. Estas
concentrações podem ser justificadas pelas elevadas concentrações de SV e pelo volume do
biodigestor (123 m³). Esses valores estão acima da carga máxima sugerida por La Farge
(1995), para reatores anaeróbios com aquecimento que é 2,5 kg SV/m³.dia, e também estão na
faixa de digestores de alta carga recomendada por Metcalf e Eddy (1982).
No sistema UPL, a carga orgânica média aplicada foi de 0,10 kg SV/m³.dia para o
verão; 0,58 kg SV/m³.dia para o inverno e 0,22 kg SV/m³.dia para a primavera. Para a época
do verão o valor obtido (0,10 kg/SVm³) ficou mais próximo de 0,07 kg SV/m³.dia,
encontrado por Alves (2007) no estudo de uma lagoa anaeróbia (lembrando que a
configuração do biodigestor é do tipo lagoa anaeróbia coberta). Nos períodos do inverno e
primavera os valores obtidos ficaram acima da média encontrada Medri (1997) em uma lagoa
anaeróbia que foi 0,14 kg SV/m³.dia.
No sistema de criação tipo CT, a média obtida para o período de verão foi 1,24 kg
SV/m³.dia, no inverno chegou a 1,68 kg SV/m³.dia e na primavera reduziu para 0,49 kg
SV/m³.dia.
É possível notar que a maior parte dos biodigestores analisados no verão e primavera
estão operando com uma COVapli abaixo do limite mínimo, 0,5 kg SV/m³.dia, indicado por
Metcalf e Eddy (1982) para digestores que não são otimizados. No verão, foi apenas o B10
que atingiu a faixa citada (0,63 kg SV/m³.dia) e na primavera, o B1 atingiu 1,02 kg SV/m³.dia
e o B12 alcançou 0,88 kg SV/m³.dia.
No inverno, as médias das concentrações de SV foram maiores, resultando em cargas
mais elevadas. No biodigestor B9 a carga foi 0,54 kg SV/m³.dia, nos biodigestores B1, B3,
106
B5, B6 e B8 a faixa, das cargas orgânicas volumétricas aplicadas, ficou entre 0,62 e 0,69 kg
SV/m³.dia. O B1 e B8 foram os que apresentaram cargas adequadas tanto no inverno como na
primavera. No B10, no período do inverno foi alcançada uma carga de 1,66 kg SV/m³.dia,
aproximadamente igual ao limite máximo (1,6 kg SV/m³.dia) estabelecido por Metcalf e Eddy
(1982) para digestores de baixa carga.
Nos biodigestores em que as cargas estão abaixo do que é recomendado na literatura,
significa que estes poderiam receber uma COVapli maior, ou seja, maiores concentrações de
ST e SV poderiam ser aplicadas, o que reflete em melhorias no manejo dos dejetos
produzidos e uso da água. Dessa forma, estes critérios poderiam ser levados em conta no
momento de dimensionar os biodigestores, o que resultaria em melhores condições
operacionais.
CC UPL CT
Figura 40. Concentração média de CH4 (%) nos biodigestores nas diferentes épocas.
107
Tabela 22. Médias de CH4 e desvio padrão de cada biodigestor e época do ano.
Verão Inverno Primavera
Sistema
de Biodigestor Média Desvio Média Desvio Média Desvio
Criação CH4 (%) padrão (±) CH4 (%) padrão (±) CH4 (%) padrão (±)
B1 66,3 0,64 67,8 0,51 69,0 0,98
CC
B2 61,0 0,41 62,9 0,49 62,6 0,75
B3 67,7 0,45 65,9 0,77 68,7 0,68
B4 70,4 0,41 * 69,2 0,60
UPL B5 49,2 0,31 59,0 0,72 65,0 0,67
B6 67,6 0,43 67,9 0,67 68,7 0,62
B7 66,7 0,50 68,0 0,71 68,9 0,73
B8 64,3 0,87 56,5 0,71 59,7 0,82
B9 61,1 0,36 60,0 0,81 63,9 0,88
CT B10 69,1 0,49 52,7 0,55 53,7 0,68
B11 53,3 0,74 23,6 0,71 40,6 0,64
B12 62,2 2,64 * 59,1 0,99
*Dados faltantes devido a problemas operacionais dos biodigestores.
No sistema UPL, os valores mais baixos de concentração de CH4 foram obtidos no B5,
com 49,2% no verão, 59% no inverno e 65% na primavera, estando, ainda assim, de acordo
108
com os dados de literatura. Sánchez et al. (2005) obteve, em um reator UASB de laboratório,
a concentração de 66% de CH4.
Os valores máximos obtidos nos biodigestores do sistema UPL foram: 70,4% (B4) no
verão, 68% (B7) no inverno e 69,2% (B4) na primavera, com destaque do B4 para duas
épocas. Os pesquisadores De Sutter e Ham (2005), em uma granja com aproximadamente dez
mil suínos em fase de crescimento terminação, com sistema de tratamento dos dejetos em
lagoa anaeróbia, atingiram um percentual de 71% de CH4, próximo à faixa máxima obtida no
sistema UPL da presente pesquisa. Ndegwa et al. (2007) obtiveram valores superiores às
concentrações encontradas nesta pesquisa; cerca de 70 e 75% de metano, trabalhando com
um reator de batelada em escala laboratorial tratando dejetos de suínos
Em relação ao sistema de CT, as menores concentrações de CH4 foram obtidas no
biodigestor B11, 53,3% no verão, 23,6% no inverno e 40,6% na primavera. Estes valores
apresentaram-se abaixo do esperado, nas épocas do inverno e primavera. A concentração de
metano encontrada no inverno é inferior aos valores mínimos encontrados na literatura, que
geralmente estão em torno de 40%. Na época do inverno, pode ter havido a contribuição das
baixas temperaturas na formação do metano.
A relação entre produção de maiores concentrações de metano no biogás, e a
influência das temperaturas, pode ser vista no estudo de Chae et al. (2008), que obteve
percentuais de CH4 de 44%, 55% e 71% em seus reatores anaeróbios de bancada na Coréia
do Sul, com as temperaturas variando de 25, 30 e 35 ºC respectivamente, o que mostra que ao
aumentar a temperatura ocorre também um aumento na concentração de metano no biogás.
No entanto, o estudo realizado por Hansen, Angelidaki, Ahring (1998) mostra que este
aumento ocorre até um limite. Os autores obtiveram 40, 51, 69 e 71% de metano, em reator de
bancada na Dinamarca, com as respectivas temperaturas de 60, 55, 45 e 37 ºC, comprovando
que temperaturas muito elevadas inibem as bactérias metanogênicas. Estes autores
trabalharam com sistema de aquecimento e controle de temperatura nos digestores.
A baixa concentração de metano no inverno, no B11, também ficou evidenciada pelo
fato do queimador (“flare”) não estar em funcionamento. Este fato ocorre devido à baixa
relação CH4/O2, que em função da elevada concentração de CO2 é incapaz de provocar a
combustão do gás. De acordo com informações do proprietário (B11), no período de inverno,
já havia duas semanas que o queimador não estava funcionando adequadamente, ou seja, não
estava queimando gás. A causa destas baixas concentrações deve estar relacionada a
problemas operacionais no biodigestor, não identificados nesta pesquisa. Quanto à baixa
concentração na primavera, infere-se que o motivo para os baixos valores de CH4 seja o
109
“vazio sanitário” entre um lote de suínos e outro, em que já havia duas semanas que a granja
não recebia animais, o que causaria um desequilíbrio em relação à carga orgânica necessária
para a produção de metano.
Os valores máximos obtidos no sistema CT foram 69,1% (B10) no verão, 60% (B9)
no inverno e 63,9% (B9) na primavera. Assim como no sistema UPL, a maior concentração
foi obtida no verão e o B9 destacou-se em duas épocas. Um percentual próximo ao obtido no
B10 foi encontrado por Massé, Croteau, Masse (2007), 69,2% de CH4, tratando os dejetos de
suínos na fase de crescimento e terminação em reatores anaeróbios de bancada.
Concentrações de metano aproximadas à da faixa encontrada no sistema CT foram obtidas em
estudos realizados pelo Greeenhouse Technology Center (2002), em que alcançou 66,3% de
CH4 no biogás do digestor anaeróbio (lagoa coberta) em uma granja, nos Estados Unidos,
com aproximadamente cinco mil matrizes.
No entanto, foi possível observar que as concentrações médias da série de sólidos e
DQO no efluente dos biodigestores do sistema CT foram superiores em relação aos demais
sistemas, com destaque para o B11, em que praticamente todas estas concentrações foram
maiores em relação aos demais biodigestores em todas as épocas. Este fato aponta para uma
maior probabilidade destes biodigestores apresentarem problemas técnicos e operacionais, os
quais estariam interferindo na eficiência de remoção e na conversão da matéria orgânica em
metano. Dessa forma, a concentração de CO2 foi elevada no B11, fazendo com que o biogás
assumisse características de baixa qualidade em termos de valorização energética. A baixa
qualidade do biogás em termos de metano no B11 pode estar relacionada com essas elevadas
concentrações da série de sólidos e DQO no efluente, as quais resultaram de um desempenho
não satisfatório do biodigestor em termos de remoção da matéria orgânica e atividade
metanogênica da biomassa.
(valores discrepantes). A “caixa” concentra entre 25 e 75% dos dados analisados, onde fica
também a mediana.
Também foi realizada a análise de variância (ANOVA) e o teste de Tukey para fazer a
comparação entre as médias e verificar quais diferem entre si.
Para o sistema CC foi utilizado n=244, em que “n” é igual ao número de repetições
(leituras feitas no aparelho medidor de gases), abrangendo todos os biodigestores do sistema e
todas as estações, nos sistemas UPL e CT utilizou-se n=610 no verão e na primavera, e n=488
no inverno.
Na Figura 41, pode-se observar que o sistema CC não apresentou outliers. O sistema
CT apresentou o maior número de outliers, os quais apresentaram valores das concentrações
de CH4 entre 48 e 54%. As medianas da concentração de metano foram 62,7% para CT,
62,8% para CC e 67,4%, em relação ao sistema UPL. Observa-se que no período do verão, o
predomínio das maiores concentrações de metano se manteve no sistema UPL.
Verão
60
58
56
54
52
50
48
46
CC UPL CT
Sistemas de criação
Figura 41. Box plot representando distribuição dos dados de CH4 no verão.
(os valores seguidos da mesma letra, no grupo Tukey, não diferem entre si ao nível de 5% de
significância).
As médias dos sistemas CC e UPL não possuem diferença significativa, podendo ser
consideradas iguais pelo teste de Tukey. O sistema CT possui uma média com diferença
significativa em relação às demais.
Em relação à época do inverno (Figura 42) os gráficos box plot não apresentaram
pontos outliers, o que significa que para cada sistema de criação todos os dados estão dentro
do intervalo de confiança. As medianas do percentual de metano no biogás ficaram entre
53,7% (CT) e 66,7% (UPL), no sistema CC foi 65,2%.
O sistema CT foi o que apresentou uma maior amplitude do intervalo de confiança,
porém, abrangeu uma faixa de concentração contendo dados abaixo de 50% de CH4, que é
mínimo recomendado pela literatura, o que é atribuído aos valores atípicos de concentração
encontrados no B11 (23,6% no inverno).
112
Inverno
70
60
50
CH4 (%)
40
30
20
10
CC UPL CT
Sistemas de criação
Figura 42. Box plot representando distribuição dos dados de CH4 no inverno.
Em relação ao teste de Tukey realizado para a época do inverno (Tabela 24), assim
como no verão, as médias dos sistemas CC e UPL não apresentaram diferença significativa,
sendo que apenas a média do CT se diferenciou, a qual foi influenciada principalmente pelo
B11.
A distribuição dos dados na primavera (Figura 43) mostra que os sistemas UPL e CT
apresentaram valores discrepantes (outliers). As medianas obtidas variaram entre 58,9 e
68,7%, para os sistemas CT e UPL respectivamente e 64,3% no sistema CC.
113
Primavera
70
65
60
CH4 (%)
55
50
45
40
35
CC UPL CT
Sistemas de criação
Figura 43. Box plot representando distribuição dos dados de CH4 na primavera.
Nas três diferentes épocas, a mediana (assim como a média) do percentual de metano
do sistema UPL foi superior à dos demais sistemas, seguida pelas medianas do CC e CT. O
comportamento do sistema CT está relacionado, principalmente, aos valores de CH4 mais
baixos obtidos no B11.
Na Tabela 25 é mostrada a síntese do teste de Tukey para os diferentes sistemas de
criação no período da primavera. As médias dos três sistemas de criação apresentaram
diferenças significativas entre si.
Os maiores percentuais de CO2 foram registrados no B11 com 46% no verão, 75,1%
no inverno e 58,5% na primavera, com desvio padrão entre 0,37 e 0,78. Os percentuais de gás
carbônico, no B11, estão incompatíveis com os recomendados na literatura que são no
máximo de 40% (LAGRANGE, 1979; LA FARGE (1995); PIRES (2000 apud PINTO,
2006)). Pode-se supor que os elevados percentuais de CO2, ocorreram devido a problemas
operacionais que comprometeram a remoção de matéria orgânica e prejudicou o desempenho
do biodigestor, o que poderia ter inibido a atividade metanogênica das bactérias,
predominando a concentração do gás carbônico. A produção excessiva deste gás pode causar
115
CC UPL CT
Figura 44. Concentração de CO2 em relação a cada biodigestor nas diferentes épocas.
De acordo com La Frage (1995), a concentração de H2S no biogás pode variar entre
0,1 e 0,5%. No entanto, não foi possível medir a concentração de gás sulfídrico nos
116
biodigestores, pois as leituras registradas superaram o limite do sensor (1000 ppm) instalado
no aparelho medidor de gases, o que seria equivalente a um percentual de 0,1%.
Com relação às concentrações de oxigênio presentes nas amostras de biogás analisadas
(Tabela D1, APÊNDICE D), os valores ficaram entre 0,43 e 1,99% de oxigênio no biogás, em
que o maior valor foi obtido no B1, na época do inverno. Lagrange (1979) e Pires (2000 apud
Pinto, 2006) recomendam que a concentração de O2 deve permanecer entre 0,1 e 1%. No
período do verão, os percentuais de O2 permaneceram, em sua maioria, inferiores a 1%
conforme indica a literatura, apenas o B1 e o B2 apresentaram concentrações acima deste
percentual. No inverno, o B1, B2, B9 e B11 atingiram valores acima de 1%; na primavera foi
o B1, B2, B7, B8, B9 e B12, porém o valor mais elevado foi 1,50% no B1, nos demais não
ultrapassou de 1,18%.
função de melhores condições de desempenho para estes digestores nesta época, em que
foram apresentadas as maiores eficiências em termos de remoção de DQO, sólidos totais e
voláteis.
As vazões de metano apresentaram um comportamento proporcional as suas
concentrações no biogás. Na Tabela 28 são mostradas as vazões de metano para cada
biodigestor nas diferentes épocas.
As oscilações de vazão nos mesmos biodigestores e/ou sistemas podem ser atribuídas
não só a problemas operacionais e metodológicos no momento da amostragem, mas também
ao fato destas medições serem obtidas de forma pontual, isto é, sem um monitoramento capaz
de identificar as possíveis interferências e alterações que podem contribuir na formação do
gás. No entanto, este estudo se justifica pelo levantamento de dados que podem servir de base
para o desenvolvimento de outras pesquisas.
A produção do biogás, bem como a formação metano, está relacionada com a
temperatura, a qual faz parte do cálculo para a estimativa da vazão. Na Figura 45 são
mostradas as temperaturas médias do biogás obtidas para cada biodigestor no momento da
amostragem em campo.
119
CC UPL CT
CC UPL CT CC UPL CT
(a) (b)
Figura 46. (a) Relação da produção de biogás e carga de SV removida. (b) Relação da produção de metano e
carga de SV removida.
121
CC UPL CT CC UPL CT
(a) (b)
Figura 47. (a) Relação da produção de biogás e carga de DQO removida. (b) Relação da produção de metano e
carga de DQO removida.
De acordo com Malina Jr. e Pohland (1992), a produção teórica de biogás em relação à
carga de DQO é igual 0,5 m³ biogás/kg DQOremov. Os biodigestores que apresentaram valores
mais aproximados do indicado na literatura foram: o B1 no verão e o B6 no inverno, ambos
com 0,42 m³ biogás/kg DQOremov; o B10 no verão, 0,47 m³ biogás/kg DQOremov e o B12 na
primavera com 0,40 m³ biogás/kg DQOremov. O B1 no inverno e primavera, o B2 e o B10 no
inverno apresentaram valores inferiores a 0,40 m³ biogás/kg DQOremov, chegando a 0,20 m³
biogás/kg DQOremov . Os valores do B1 e B2 estão apresentados na Tabela 33.
O B4, que apresentou 11,67 m³ biogás/kg DQOremov, está entre os biodigestores que
apresentaram uma concentração de DQO afluente e eficiência de remoção mais baixas em
relação aos demais, o que coincide com esta elevada relação entre produção de biogás e carga
124
de DQO removida (Tabela C3, APÊNDICE C), de forma semelhante ao que ocorreu na
produção de biogás em função da carga de SV removida. Lembrando que as medições foram
pontuais, não sendo possível determinar quais as variáveis de interferência, podendo ser de
natureza operacional ou dos fatores ambientais relativos à digestão anaeróbia.
Dos valores médios indicados na Tabela 34 apenas o sistema UPL, no período do
inverno, atingiu um valor mais aproximado do que é indicado na literatura.
Verão 4,44
UPL Inverno 0,64
Primavera 2,22
Verão 1,53
CT Inverno 1,07
Primavera 1,70
m³CH4/kg DQOremov
Biodigestor
Verão Inverno Primavera
B1 0,28 0,27 0,14
B2 0,14 2,06 1,98
(a) (b)
Figura 48. (a) Relação da produção de biogás e volume do biodigestor. (b) Relação da produção de metano e
volume do biodigestor.
126
relação ao B2 e aos demais valores, estes foram inferiores ao recomendado pelo CCE (2000)
para uma matriz de ciclo completo, que é 0,036 m³biogás/matriz.h (0,866 m³/animal.dia).
m³biogás/matriz.hora m³biogás/matriz.dia
Biodigestor
Verão Inverno Primavera Verão Inverno Primavera
B1 0,041 0,035 0,028 0,984 0,846 0,660
B2 0,010 0,029 0,023 0,232 0,688 0,563
m³CH4/matriz.hora m³CH4/matriz.dia
Biodigestor
Verão Inverno Primavera Verão Inverno Primavera
B1 0,027 0,024 0,019 0,652 0,574 0,455
B2 0,006 0,018 0,015 0,141 0,433 0,353
A partir dos resultados obtidos da relação da produção de biogás e metano (Tabela D6,
APÊNDICE D) em função do número animais abrangidos neste estudo, há a possibilidade de
ser feita uma estimativa dessa produção para os municípios (Braço do Norte e Concórdia) em
que foi realizada a pesquisa e para o Estado, que será abordado no item 6.9.1.
129
Para realizar esta estimativa considerou-se o número total de suínos (efetivo) em Santa
Catarina levantado pelo IBGE (2007) que corresponde a 7,156 milhões. Também foi
considerado o número de suínos para os municípios de Braço do Norte e Concórdia, 198,65 e
465,65 mil cabeças, respectivamente.
A partir das médias obtidas (item 6.8), em relação à produção de biogás e metano,
foram consideradas apenas aquelas obtidas para o sistema CT, cujo cálculo é baseado no
número total de suínos, pois nos outros sistemas é em função do número de matrizes.
As Tabelas 41, 42 e 43 mostram as estimativas referentes à regionalização dos
parâmetros, em termos de produção de biogás e metano, baseados no efetivo de suínos nos
municípios de Braço do Norte, Concórdia e para o estado de Santa Catarina.
A partir dos resultados dos biodigestores que apresentaram o melhor desempenho foi
realizada a análise dos aspectos operacionais, como descrito nas proposições a seguir:
a) Carga orgânica volumétrica (COV) de sólidos voláteis aplicada (Kg SV/ m3. dia)
Baseado na literatura, foi considerado o valor 0,45 m3 CH4/ kg SVremov (LA FARGE,
1995) e a faixa entre 0,50 e 0,70 m³ CH4/kg SVremov (PAGILLA; KIM; CHEUBARN, 2000;
HILL; TAYLOR; GRIFT, 2001; MØLLER et al., 2007; CHAE et al., 2008). Os biodigestores
que apresentaram a produção de metano dentro de uma faixa mais aproximada do que é
indicado na literatura são descritos a seguir:
• Verão: B1, B2 e B10;
• Inverno: B1, B6 e B9;
• Primavera: B5.
Os valores extremos considerados para os biodigestores selecionados foram 0,40 (B6)
e 0,75 m3 CH4/ kg SVremov (B1), em que a média obtida entre estes valores foi 0,56 m3 CH4/
kg SVremov.
Em alguns dos biodigestores (B1, B5, B6, B9, B10) aqui apresentados, houve
coincidência com o parâmetro da carga orgânica volumétrica de SV aplicada (descrito acima),
em termos de melhor desempenho.
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
7.1 CONLUSÕES
7.2 RECOMENDAÇÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APÊNDICES
145
Tabela C1. Carga orgânica volumétrica (COV) aplicada e removida, em termos de SV.
Sistema Carga orgânica volumétrica (kg SV/m³.dia)
de Biodigestor Aplicada Removida
criação Verão Inverno Primavera Verão Inverno Primavera
B1 0,39 0,64 1,02 0,38 0,60 0,81
CC
B2 0,03 0,03 0,03 0,03 0,01 0,01
B3 0,10 0,68 0,10 0,08 0,65 0,08
B4 0,03 - 0,09 - - 0,05
UPL B5 0,12 0,64 0,47 0,05 0,56 0,43
B6 0,08 0,69 0,25 0,07 0,67 0,24
B7 0,20 0,29 0,21 0,19 0,26 0,19
B8 0,25 0,62 0,54 0,17 0,23 0,32
B9 - 0,54 0,24 0,36 0,16
CT B10 0,63 1,66 0,31 0,56 1,53 0,07
B11 3,92 3,90 - 2,91 2,34 -
B12 0,16 - 0,88 0,12 - 0,60
Tabela D5. Produção específica de biogás e CH4 em função do volume útil do biodigestor.
Sistema de m³ biogás / m³ biodigestor.dia m³ CH4 / m³ biodigestor.dia
Biodigestor
criação Verão Inverno Primavera Verão Inverno Primavera
B1 0,44 0,38 0,29 0,29 0,25 0,20
CC
B2 0,028 0,083 0,068 0,02 0,05 0,04
B3 0,14 0,22 0,48 0,10 0,15 0,33
B4 0,47 - 0,42 0,33 - 0,29
UPL B5 0,26 0,30 0,41 0,13 0,17 0,26
B6 0,37 0,40 0,49 0,25 0,27 0,34
B7 0,40 0,34 0,54 0,27 0,23 0,37
B8 0,78 0,65 0,79 0,50 0,37 0,47
B9 0,72 0,45 0,56 0,44 0,27 0,36
CT B10 0,36 0,45 0,51 0,25 0,24 0,27
B11 1,29 0,86 0,90 0,69 0,20 0,37
B12 0,37 - 0,36 0,23 - 0,21
152