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Extensão Universitaria: Moradia e Meio Ambiente
Extensão Universitaria: Moradia e Meio Ambiente
Extensão Universitaria: Moradia e Meio Ambiente
Conselho Editorial da Editora UTFPR. Titulares: Bertoldo Schneider Junior, Hieda Maria
Pagliosa Corona, Hypolito José Kalinowski, Isaura Alberton de Lima, Juliana Vitória Messias
Bittencourt, Karen Hylgemager Gongora Bariccatti, Luciana Furlaneto-Maia, Maclovia Corrêa da
Silva e Sani de Carvalho Rutz da Silva. Suplentes: Anna Silvia da Rocha, Christian Luiz da Silva,
José Antonio Andrés Velásquez Alegre, Ligia Patrícia Torino, Márcio Barreto Rodrigues, Maria de
Lourdes Bernartt, Mário Lopes Amorim, Ornella Maria Porcu e Rodrigo Lingnau.
Editora filiada a
Clarice Farian de Lemos
Claudionor Beatrice
Maria Luisa Carvalho
Marilene Zazula Beatriz
Simone Aparecida Polli
Stella Maris da Cruz Bezerra
CURITIBA
2015
© 2015 Editora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
ISBN 978-85-7014-128-6
Coordenação Editorial
Camila Lopes Ferreira
Emanuelle Torino
Ilustração da capa
Claudionor Beatrice
Normalização
Camila Lopes Ferreira
A
experiência relatada nesse livro é fruto do encontro da uni- Além de explicitar as profundas desigualdades que marcam
versidade, espaço de aprendizado, debate e produção de o cotidiano de nossa metrópole, a experiência revela o grande po-
conhecimento; com a cidade, espaço privilegiado de reali- tencial de transformação dos conflitos urbanos nela presentes, que
zação da vida em sociedade. aproximando Universidade e sociedade possibilitaram o surgimen-
Esse encontro foi possibilitado pela realização de dois Proje- to do novo, do alternativo e do criativo. Os conflitos apresentam-
tos de Extensão, desenvolvidos nos anos de 2013 e 2014, coorde- -se, portanto, como sementes para a concepção de novos métodos
nados pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade de intervenção e possibilitam a construção de uma cidade diferente
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), respectivamente. O presen- da que tem sido pensada e produzida ao longo de nossa história.
te livro registra o projeto desenvolvido pela UTFPR, embora tenha Necessidade e urgência, constatação de limites, superação
havido uma articulação e, em certos aspectos, continuidade entre de desafios, aproximação de diferentes, respeito e esperança, mar-
as duas experiências. cam o conteúdo do livro. Elementos essenciais para que o devir se
Lócus da vida em nossa sociedade, a cidade contemporânea apresente, o processo de ensino-aprendizagem se estabeleça e a
é um espaço marcado por desigualdades e disputas, elementos produção do conhecimento constitua um processo permanente e
que assumem uma expressão contundente quando observamos inovador, a realização do Projeto de Extensão reitera a importância
a dinâmica de produção dos espaços informais de moradia. Tal da participação ativa da Universidade na construção de uma socie-
dade mais igualitária e justa.
dinâmica desempenha uma função relevante na consolidação da
A experiência resgata o sentido de espaço urbano socialmen-
metropolização em Curitiba, embora este processo tenha sido mui-
te produzido, campo de lutas e pleno de possibilidades, cuja apre-
tas vezes obscurecido por uma interpretação parcial da realidade
ensão é essencial para a formação de urbanistas comprometidos
urbana local.
com a transformação das cidades em espaços com maior equida-
Como tem sido ao longo da história da urbanização brasilei-
de, mas conscientes dos desafios a serem enfrentados. A realidade
ra, os espaços de moradia popular ganham visibilidade, em geral,
urbana revela-se assim como um espaço rico de experiências e po-
pela emergência de conflitos. Assim não foi diferente com a Ilha,
tencialmente instigante para aguçar a capacidade criativa e crítica
favela cuja existência revela a luta cotidiana de seus moradores de alunos, educadores, cientistas e profissionais.
para viver e usufruir dos benefícios da grande cidade metropolita-
na, resistindo com persistência, esperança e consciência coletiva às Madianita Nunes da Silva
adversidades impostas por um modelo de urbanização que exclui Professora do Curso de Arquitetura e
desse direito a população de menor renda. Urbanismo da Universidade Federal do Paraná
9
APRESENTAÇÃO
O
fio condutor deste livro é a experiência realizada durante evitar a ação e obter melhores condições de trabalho, os cata-
o projeto de Extensão Universitária ‘Moradia e Meio Am- dores se organizaram e ocuparam um galpão fechado, referente
biente: a construção do diálogo na urbanização do assen- à massa falida de uma empresa, localizado nas proximidades da
tamento Pilarzinho – Ilha’, coordenado pela professora Simone Ilha, e pressionaram a Prefeitura Municipal de Almirante Taman-
Polli, que procurou intervir nas condições precárias de moradia daré para desapropriá-lo. Fruto dessa mobilização, o Poder Ju-
e urbanização de um assentamento na Região Metropolitana de diciário definiu que o terreno passaria a pertencer à prefeitura,
Curitiba (RMC). que, por sua vez, deveria conceder o uso para a Associação dos
O livro conta a trajetória das atividades de extensão, mos- Catadores de Material Reciclável de Almirante Tamandaré – Ilha.
trando como os objetivos inicialmente traçados foram mudando A intenção do CEFURIA, ao indicar o assentamento Ilha, era
com o tempo; as frustrações e os aprendizados ao longo deste ca- de poder realizar uma intervenção preventiva no que se refere à
minho, a partir da experiência dos professores e alunos da UTFPR questão da regularização fundiária, problema recorrente em Curi-
que participaram ativamente nas atividades de extensão. tiba e Região Metropolitana. Ou seja, a proposta era que, em vez
O projeto foi elaborado no desejo de, no âmbito da Ar- de os moradores serem surpreendidos por uma ordem de despe-
quitetura e Urbanismo, desenvolver um trabalho voltado às ne- jo, construíssem, antecipada e coletivamente, uma solução para
cessidades da sociedade, colaborando de forma concreta com as seus problemas de habitação, contando com o suporte técnico e
políticas públicas, especialmente na área de habitação de inte- científico da universidade.
resse social. O Laboratório de Urbanismo e Paisagismo (LUPA), Os moradores, mesmo não fazendo parte da construção
vinculado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR - Câm- prévia, anterior à aprovação oficial do projeto de extensão, acei-
pus Curitiba, serviu como local-base onde a ideia nasceu e foi taram participar, pois havia uma ansiedade pela regularização da
desenvolvida. posse da terra e pela solução das enchentes, outro problema que
Assim, no ano de 2013, com o lançamento do edital de afligia a comunidade.
financiamento federal para a realização de projetos de Extensão Com essa demanda, surgiu o embrião do projeto, que pre-
Universitária (PROEXT), a coordenadora do projeto entrou em cisava tomar forma: que objetivos pretendia-se alcançar? Quais
contato com as educadoras populares do Centro de Formação etapas e ações eram necessárias? Qual o orçamento preciso?
Urbano Rural Irmã Araújo1 (CEFURIA) para trocarem ideias sobre o Quem seriam os integrantes da equipe técnica?
desenvolvimento de uma atividade na área de regularização fun- Pensamos em trabalhar dentro da perspectiva de reabili-
diária. tação e permanência da população no local, com a garantia da
As educadoras populares sugeriram então o assentamen- diversidade sócio espacial e mitigação das fragilidades ambien-
to Ilha, no qual já realizavam um trabalho com os catadores de tais. Ou seja, o objetivo inicial do projeto era realizar um estudo
materiais recicláveis. Naquela ocasião, os catadores enfrentavam técnico sobre a viabilidade de os moradores permanecerem no
a ameaça de uma ação civil pública impetrada pelo Instituto Am- local, incluindo propostas de urbanização e de edificação para a
biental do Paraná (IAP), que questionava a quantidade de lixo e a área a fim de que, posteriormente, lutassem pela regularização
degradação ambiental de áreas de preservação permanente nas fundiária. Definiram-se, então, as ações necessárias, o cronogra-
quais o assentamento Ilha estava inserido. Como estratégia de ma, os recursos físicos e os financeiros necessários, dentre outros.
A troca de saberes popular e científico, rompendo a hie-
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1 Organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1981, cujas ações baseiam-se na Educação rarquização existente na academia, foi um dos pilares pensados
Popular (FREIRE, 1983) e tem por objetivo promover a formação política e fortalecer a organização popular.
para o projeto. Assim, propor-se uma metodologia participativa, o acesso à Arquitetura e Urbanismo com qualidade para toda a
pautada na Educação Popular (FREIRE, 1983), por meio da qual população, independente de sua classe social.
os moradores seriam os sujeitos do processo - uma vez que sua O projeto então foi redigido, enviado e aprovado pelo edi-
organização foi um dos pontos centrais para a existência e con- tal de financiamento do PROEXT 2014. A execução ocorreu esse
tinuidade do projeto. A construção coletiva visava proporcionar ano. Seus protagonistas foram os moradores do assentamento
um debate mais amplo sobre o lugar, sobre o conflito moradia e Ilha em Almirante Tamandaré, professores e alunos da UTFPR
meio ambiente, num permanente processo de educação popular (Câmpus Curitiba) e educadoras populares da Rede de Educação
e de formação política. Cidadã (RECID) e do CEFURIA.
Para alcançar esses objetivos privilegiou-se construir uma Neste livro contaremos a trajetória da realização do projeto
equipe interdisciplinar com profissionais das áreas da Psicologia, a partir da experiência dos professores e alunos da UTFPR que
do Direito, do Saneamento Ambiental, da Engenharia Civil, da participaram ativamente nas atividades de extensão. Apresenta-
Arquitetura e Urbanismo, bem como da Educação Popular, uma remos resultados técnicos do diagnóstico realizado para avaliar
vez que se compreendia a complexidade envolvida na questão da a viabilidade da regularização fundiária do local; a descrição e a
regularização fundiária. análise da tipologia arquitetônica das casas. Falaremos também
Alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR das alegrias e das dores, dos tropeços e dos aprendizados que nos
(Câmpus Curitiba) foram incluídos no projeto, com o intuito de acompanharam nesse desafio de construir coletivamente, com os
moradores, alternativas para a questão moradia e meio ambiente.
que a experiência lhes oportunizasse romper com a noção do Ar-
quiteto e Urbanista ‘estrela’, que trabalha para algumas classes
sociais. Promover sociedades mais justas significa democratizar Os autores
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Capítulo 1
Figura 2 - Os grandes muros dos condomínios fechados pela Rua Prof. Alberto Krauze Figura 3 - Vistas do acesso a Almirante Tamandaré pela Rua Prof. Alberto Krauze
Fonte: Autoria própria (2014). Fonte: Autoria própria (2014).
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3 Os números citados correspondem a valores médios comparados em sites das principais imobiliárias da região
em agosto de 2014.
Capítulo 2
A CHEGADA À ILHA:
Aproximações para construir um processo participativo
19
A
construção do trabalho participativo perpassa pelo conta- no assentamento. Sentimo-nos como peixes fora d’água querendo
to direto com dada realidade, realidade esta, muitas vezes, entrar nela e, aos poucos, fomos conseguindo, nos afeiçoando, nos
distinta daquela em que o pesquisador, o professor e os es- aproximando.
tudantes universitários vivem. Então, é necessário compreendê-la, Descobrimos que o local foi batizado pelos moradores com
mergulhando em suas entranhas: uma espécie de imersão no local o nome Ilha porque, antigamente, era rodeado pelos rios Barigui e
para conhecermos melhor os pensamentos, os sentimentos, as cren- Tanguá. Passamos então a adotar também esse nome, pois, grada-
ças e as ações das pessoas. tivamente, compreendemos que, para além de sua condição físico-
Foi assim que iniciamos nossa aproximação ao assentamento -espacial, o nome Ilha dizia mais do lugar e do seu isolamento social,
Ilha em uma tarde quente de verão, em fevereiro de 2014. Chega- econômico, político, cultural e ambiental.
mos devagarzinho, com a delicadeza de quem chega em um lugar Ao longo do projeto, voltamos várias vezes à comunidade
desconhecido, de quem está entrando num lugar que não lhe per- para tirar fotos, chamar os moradores a participar das assembleias,
tence, na intimidade de outras pessoas. Chegamos, também, com perguntar sobre o abastecimento de água, medir suas casas e terre-
certos receios: como seríamos acolhidos? É um lugar com tráfico? nos e verificar quão perto estavam do rio e de seus perigos.
A nossa presença foi recebida com um misto de acolhimento Após algumas assembleias (e, por mais que deixássemos
por parte de uns (como a senhora que nos ofereceu um copo de claro que não conseguiríamos, necessariamente, responder a tais
água gelada para amenizar a sede; e a outra que emprestou seu expectativas), as pessoas ficaram animadas na expectativa de que
boné naquele dia tão quente) e desconfiança por outros. Ao mesmo iríamos lhes trazer uma resposta definitiva e adequada em termos
tempo, havia os olhares distantes, os que faziam de conta que não de regularização fundiária e, também, de fazer projetos de urbani-
estavam em casa quando tentávamos uma aproximação maior. Aos zação, de pavimentação das ruas, de iluminação pública, de rede
poucos, nas conversas com os moradores, essa desconfiança se fez de esgoto, de áreas de lazer, dentre outros. Aos poucos fomos gra-
compreensível, uma vez que tanta gente aparecia ali, não raro para vando os nomes dos moradores, onde moravam e um pouco da
aproveitar-se das mazelas dos moradores, fazendo promessas vãs vida de cada um. A cada visita sentíamos mais próximos e ligados
com o intuito apenas de obter algum ganho pessoal e político. à comunidade.
Andamos pelas ruas e ruelas que as pessoas criaram durante Percebemos que as construções das casas seguiam uma
os mais de 35 anos de existência do assentamento Ilha. Conversa- espécie de loteamento. Algumas eram mais antigas; outras nem
mos com algumas pessoas, conhecemos outras, várias crianças nos tanto. Algumas construídas ‘do jeito que deu’; outras de maneira
rodearam para saber o que fazíamos ali. Realizamos nossa primeira planejada e caprichada. O curioso era que, praticamente a cada
assembleia na garagem da casa de uma das moradoras, que gentil- visita, encontrávamos uma novidade, quando não uma nova casa
mente cedeu seu espaço. Esta reunião de aproximação foi animada começando, um novo aterro, novos murros. Havia até uma casa
por um contador de histórias que nos fez refletir sobre a relevância construída com jeito de ‘Arca de Noé’: orgulho de seus morado-
de nos importarmos uns com os outros, de que o problema de um res e admirada pelos demais, inclusive pela equipe. Havia também
é problema de todos. A educadora popular do CEFURIA conduziu uma ponte ‘derrubadora de gente’, construída pelos próprios mo-
o processo, buscando nos fazer refletir sobre qual seria nosso pa- radores, como meio de acesso ao local de trabalho (galpão de re- 21
pel e nossos objetivos durante a execução do projeto de extensão ciclagem): ‘Quem não cai no rio, cai dentro do buraco’ (Figura 4).
Figura 4 - Casa ‘Arca de Noé’ e ponte de acesso da Ilha à Associação dos Catadores de Material Reciclável
Fonte: Autoria própria (2014).
Nestas andanças, descobrimos que os moradores tinham um dos moradores no projeto, modificando dias e locais das assem-
time de futebol, o União da Ilha, que os homens jogavam futebol nas bleias a fim de nos adequarmos às suas rotinas e modo de ser.
quintas-feiras à noite e, por isso, quando havia assembleia, ‘saiam Mas também soubemos, pelas conversas com os moradores,
de fininho’ para não serem notados. O time tinha uniforme e um que havia gente que não cuidava do lugar, que botava fogo na ca-
brasão criados pelos moradores, além de uma página no Facebook! çamba do lixo, que jogava o lixo e a sucata na frente de casa, no
Dependendo de onde jogavam, as mulheres iam junto formar torci- mato e nas ruas. Por isso, havia até ‘rato do tamanho de uma capi-
da: ‘É torcida organizada, levam até latinhas!’. Havia um ‘pesque & vara’, que ameaça a saúde de todos. Havia quem danificava a ilumi-
pesque’, porque até então não se transformara num pesque & pa- nação pública, ou seja, enquanto uns cuidavam do lugar, outros o
gue. Tinha diversão e alegria. As pessoas também se reuniam no bar depredavam.
de um dos moradores para ouvir música, dançar e arrumar um jeito Houve dificuldades para envolver todas as pessoas do assen-
gostoso de estar com a turma. As crianças construíam suas próprias tamento nas assembleias, devido a conflitos mal resolvidos entre
pipas. Ali ninguém nunca foi assaltado, apesar de viverem em um eles. Além disso, como já vimos, havia moradores que não partici-
município com um dos maiores índices de violência do Estado do Pa- pavam das assembleias, pois não se importavam com as melhorias
raná, pois ‘na Ilha todos eram trabalhadores’. No Natal, cada adulto para o bem comum. Havia também certa divisão de grupos no as-
apadrinhava uma criança e lhe dava um presente; faziam uma festa sentamento, entre os que se reuniam para resolver os problemas da
coletiva, para a qual cada um colaborava como podia. Soubemos Associação de Catadores de Material Reciclável e os demais morado-
que, em tempos idos, costumavam fazer festa junina na rua. Assim, res. Então, parecia que as reuniões eram sempre para resolver pro-
percebemos que, apesar de todas as adversidades, aquelas pessoas blemas de um determinado grupo e não de todos, como era o caso
foram criando suas soluções, suas formas de lazer, suas formas de de nossas assembleias. Assim, em alguns momentos a Ilha parecia
22 (sobre)viver. Descobrir essa dinâmica do cotidiano do assentamento se transformar num arquipélago: havia um núcleo mais próximo,
foi importante para pensar ações de participação e envolvimento formado principalmente pelos moradores mais antigos, por pessoas
que ali nasceram e que sonhavam com uma Ilha melhor para seus (móveis, roupas, louças, comida, ...), mas vidas, como já ocorrera
filhos; porém, havia, também, um grupo cuja aproximação foi difícil, com duas crianças. A Figura 5 mostra algumas fotos da enchente
apesar dos vários convites e que, ao que pareceu, residia a menos de 2012 no assentamento Ilha.
tempo ali e não tinha vínculos afetivos com o local. Após abordar a questão da enchente, em visitas a cada casa
Na ilha, apesar das dificuldades de toda ordem, a natureza no intuito de mobilizar as pessoas para as assembleias, a equipe
era exuberante. Rodeados por dois grandes rios, o Barigui e o Tan- percebeu que essa era a principal preocupação dos moradores,
guá, era privilegiada com um bosque de araucárias e um tanque mais ainda do que a regularização, pois era o problema que en-
com peixes. frentavam todo ano e que, pairando como ameaça a cada chuva
A proximidade dos rios era ambivalente para os moradores. forte, poderia afetar sua permanência no local. Tocar nesse tema
Mesmo poluídos, eram vistos como uma das belezas da Ilha. Neles levou os moradores a entender melhor o que fazíamos ali, e que o
as crianças se refrescavam no verão e uma moradora disse que re- assunto era do seu interesse, levando novas pessoas a frequentar
alizava seus rituais religiosos de purificação. as assembleias.
No entanto, algo parecia comum a todos: o medo ‘de quan- A preocupação dos moradores estava posta: ‘Então, profes-
do começa a chover forte’, ‘das enchentes’, ‘do rio quando sobe’, sora, quem tem direito aqui: o meio ambiente ou as pessoas?’ Era
‘dos dias que chove sem parar’, o medo de ter de conviver com isso possível encontrar uma solução para as enchentes e permanecer ali,
permanentemente, de que o rio não levasse embora apenas coisas lutando para regularizar e urbanizar o local? Ou teriam que deixar
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o ‘Jardim do Éden’? As Figuras 6 e 7 mostram o meio ambiente Visando responder a essas questões, a equipe buscou infor-
retratado pelas moradoras na oficina de fotografia realizada no mações diversas para construir um diagnóstico de caráter técnico e
assentamento. baseado em estudos e planos cedidos por órgãos públicos.
Figura 6 - Vegetação às margens do Rio Barigui Figura 7 - Vista da vegetação existente na Ilha
Fonte: Oliveira (2014). Fonte: Mariano (2014).
24
Capítulo 3
25
Q
uando começamos a trabalhar no assentamento Ilha, não condomínios horizontais fechados, que se caracterizavam como
sabíamos o que iríamos encontrar. Tínhamos ouvido falar frações ideais, mas apresentavam lotes e ruas internas, resguar-
das enchentes, mas não sabíamos suas características (fre- dados da malha urbana por muros altos e complexos esquemas
quência, intensidade, abrangência, entre outras). A expectativa era de segurança; condomínios verticais com quatro pavimentos den-
de regularizar a área para possibilitar moradia mais digna, num tro dos padrões do Programa Habitacional do Governo Federal
processo pautado na metodologia de Freire (1983), entendendo ‘Minha Casa, Minha Vida’ (MCMV); ocupações irregulares nas
que os moradores são os autores de sua própria história. margens dos rios; e, por fim, glebas derivadas das sobras das
Em janeiro de 2014, iniciamos as primeiras visitas para o re- morfologias anteriores (Figura 8).
conhecimento da área, e na sequência, contamos com a participa- Com uma topografia ondulada, as áreas ocupadas do en-
ção dos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR. A torno (loteamentos e condomínios) apresentam relevo bastante
metodologia das atividades de extensão foi dividida em módulos recortado, marcando o percurso dos rios Tanguá e Barigui e, o
com oficinas com os moradores, visitas e levanta-
mentos de campo, pesquisa bibliográfica, interpre-
tação de legislação e seminários. Nossos contatos
com os moradores sempre foram intermediados pe-
las educadoras populares do CEFURIA e da RECID.
Figura 19 - Sistema viário e retornos do assentamento Ilha Figura 20 - Planta de ordenamento de ocupação do solo
Fonte: Autoria própria (2014). Fonte: Autoria própria (2014).
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a) Face lindeira ao rio Barigui: os lotes são parcelados de for- para os terrenos mais estreitos, este é na ordem de 2m enquanto
ma a garantir a mesma proporção em termos de área total, nos terrenos mais largos na faixa de 5m. A exceção se dá na edi-
sendo que os terrenos de menor profundidade têm testada ficação comercial que doa à rua o seu recuo, configurando-se em
mais larga e vice e versa; um largo.
b) Face lindeira ao rio Tanguá: os lotes são parcelados ten- O parcelamento do solo, embora predominantemente regu-
do as divisas laterais paralelas ao estabelecido pelo traçado lar, apresentou inflexões não paralelas em dois casos. Esses casos
inicial, são de menor testada e maior profundidade. Nessa condicionam os limites dos terrenos às casas e não o contrário.
área ocorre um tipo de subdivisão de lotes no sentido da Não se percebeu, nesses casos, nenhum litígio entre vizinhos e sim,
profundidade. a aceitação de que a obra, em sua fase de alocação, apresentou
A delimitação de lotes é marcada, normalmente, pela cons- problema de esquadro. O traçado do parcelamento é apresentado
trução de muros ou cercas, exceto na área inicial que é ocupada na Figura 21.
por aparentados. Com relação aos recuos da via principal, as casas Há apenas três casos de lotes desocupados no assentamen-
obedecem a um posicionamento afastado das testadas sendo que, to, conforme mostra a Figura 22. Os terrenos encontram-se deli-
são construídas paulatinamente no mesmo terreno e, em sua fase As áreas de encontro do assentamento acontecem principal-
final, usa-se o material da moradia anterior. mente ao longo da via de acesso principal, do lado do rio Barigui e
A ameaça de enchentes fazia com que os moradores preca- na área alargada próxima ao espaço comercial (Figura 27). Embora
vidos providenciassem aterros em seus terrenos. Os aterros, feitos esse comércio só funcione depois do horário de expediente conven-
por despejo simples de terra e de entulhos de obras demolidas, cional (após as 18 horas), o alargamento espacial dessa área geome-
eram depositados nas vias de acesso comuns e, depois, transpor- tricamente central favorece o encontro, o espaço para a recreação
das crianças e, também, para as conversas entre amigos.
tados aos terrenos. Notou-se que, depois de uma enchente, es-
Com esse descritivo físico-territorial realizado por meio de
tas ações se aceleraram, contando-se cerca de 40 cargas de terra
minuciosos levantamentos, com visitas in loco, medições de casa
(15m³ cada). Houve casos de aterros externos aos terrenos e ca- a casa e do entorno imediato, procurou-se estabelecer as relações
sas, constituindo-se de pequenos diques contra as enchentes. No analíticas entre o conjunto de edificações e o lugar de moradia. Esse
entanto, essas ações, que num primeiro momento parecem como levantamento também é revelador da forma de organização territo-
soluções ou tentam retardar as enchentes, podem provocar seu rial do assentamento, das suas potencialidades e suas fragilidades,
efeito contrário, com o carreamento desses materiais para o rio, colaborando numa leitura espacial e construtiva que pode favorecer
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contribuindo para o assoreamento e enchentes maiores. futuras intervenções ou diretrizes para as políticas públicas.
Figura 26 - Planta de edificações em processo de substituição Figura 27 - Planta de localização de áreas de encontro
Fonte: Autoria própria (2014). Fonte: Autoria própria (2014).
levantamento altimétrico tomou como marco zero a Ponte Vila Quando iniciamos as atividades de extensão, não tínhamos
Martha (Ponto P0), seguindo em direção ao assentamento, pas- informações sobre o comportamento das enchentes: sua frequên-
sando pelos pontos P1 a P8, até o fim da Avenida Pilarzinho (P9), cia, área de abrangência, intensidade, dentre outras. Algumas des-
conforme a Figura 35. sas informações surgiram durante uma cheia ocorrida em junho de
Ao inserir na estação total, a medida da altura do equipa- 2014. Na ocasião, pudemos compreender que as águas não provi-
mento, em cada ponto estacionado, e a do bastão com o prisma, nham do extravasamento do rio Barigui. Com frequência, as águas
foi possível obter as distâncias horizontais (DH) e os desníveis verti- que inundavam a Ilha provinham do rio Tanguá, da enxurrada que
cais (DV), em metros, dos pontos percorridos. Com as informações vinha ‘detrás’ do assentamento, inundando a área do tanque de
dos desníveis verticais, calculamos as cotas de todos os pontos e, peixes e as demais áreas, até encontrar com as águas do rio Barigui.
com isso, foi possível desenhar o perfil do terreno (Gráfico 2). Segundo os moradores, em episódios mais fortes, o rio Ba-
Com esse estudo verificou-se que o desnível entre a Pon- rigui também extravasava, encontrando as águas do rio Tanguá.
te Vila Martha e o assentamento Ilha era menor que 1,773m, ou
Essas informações, obtidas pelo relato dos moradores, revelam um
seja, a declividade do terreno era de 0,33%, e a inclinação, de
comportamento hídrico da bacia que não constava nos mapas ou
0°11’23,87”. Portanto, nas enchentes em que o nível do rio Barigui
ultrapassava a cota dessa ponte, o assentamento Ilha ficava quase estudos dos órgãos técnicos e que, para nós, era importante, a fim
2m embaixo da água, o que reforçou os dados do Plano Diretor de de determinar se alguma parte do assentamento estaria livre dos
episódios de inundações. Assim, esse episódio indicou que a área,
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Drenagem (SUDERHSA, 2002) e do especialista em hidrologia, que
apontaram a região como área sujeita a inundações periódicas. anteriormente julgada livre da inundação, era igualmente atingida.
Ao longo da trajetória da construção do diagnóstico, houve
também informações desencontradas, sendo uma das mais impor-
tantes a indefinição dos limites administrativos do assentamento
Ilha, devido às obras de retificação do rio Barigui. Desencontros
nas informações recebidas não esclareciam se a área pertencia ao
Município de Curitiba ou a Almirante Tamandaré. O esclarecimento
dessa questão era muito importante, pois poderia mudar o rumo
das propostas no assentamento, uma vez que as políticas urbanas
no Brasil são territorializadas e, como tais, é bastante distinta a
capacidade administrativa de intervenção de um e de outro muni-
cípio. Caso a Ilha pertencesse a Curitiba, poder-se-iam prever solu-
ções dentro do projeto ‘Viva Barigui’ ou obras pelo Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), com planos de reassentamento
ou remanejamento, como estava em curso com a ocupação irregu-
lar no Jardim Bracatinga, área vizinha da margem esquerda do rio
Barigui. Essa possibilidade trouxe grandes expectativas à equipe do
projeto, que preferiu não a comunicar aos moradores, uma vez que
as informações eram desencontradas.
De acordo com os moradores, no endereço de correio apa-
recia o Município de Almirante Tamandaré, porém, no documento
consultado pela equipe no cartório de registro de imóveis, grande
Figura 35 - Trajeto percorrido no levantamento topográfico altimétrico parte da área do assentamento Ilha pertencia oficialmente à Com-
Fonte: Adaptado do Google Earth (2014). panhia de Habitação de Curitiba (COHAB-CT). Apenas depois das
visitas e conversas com técnicos da COHAB-CT e com a Secretaria
de Urbanismo de Almirante Tamandaré, com o mapeamento do
registro de imóveis e outras plantas cadastrais, essa dúvida foi
sanada: a Ilha pertencia a Almirante Ta-
mandaré. Pelas investigações realizadas,
chegamos à conclusão de que a priori-
dade dos órgãos públicos era seguir o
limite administrativo imposto pelo novo
curso do rio Barigui após sua retificação.
Segundo os técnicos da COHAB-CT, o re-
gistro de imóveis seria atualizado com a
inclusão dessa informação, e a Ilha esta-
ria totalmente inserida no município de
Almirante Tamandaré. Apesar de os mo-
radores já se considerarem pertencentes
44 a essa cidade, a definição poderia trazer
Gráfico 2 - Perfil longitudinal do terreno resultante do levantado topográfico altimétrico maior capacidade de intervenção e
Fonte: Autoria própria (2014).
acesso a serviços públicos, devido às melhores condições quan- nos rios Barigui e Tanguá, este cenário pode mudar e apresentar
to aos recursos disponíveis no município de Curitiba. Por isso, a novas possibilidades. Salientamos que o espaço urbano sofre cons-
equipe se dedicou a esclarecer a que município de fato o assen- tantes mudanças empreendidas por diferentes atores sociais, apon-
tamento pertencia. tando que essa leitura necessita estar em constante reavaliação, pois
Quanto à condição fundiária da terra, para a Secretaria de se podem descobrir novas variáveis e outros rumos.
Urbanismo da Prefeitura de Almirante Tamandaré, parte da área A construção do diagnóstico foi sempre permeada de dúvi-
pertencia a uma tradicional família da região, parte dos moradores das e esperanças, mas a impossibilidade de regularização naquelas
tinha direito de posse por um mandato de reintegração, parte da circunstâncias e momento caiu como um ‘balde de água fria’ sobre
área não tinha inscrição fiscal (porque ainda era considerada como toda a equipe e ainda mais sobre os moradores, esperançosos de
área rural na planta cadastral desatualizada de Almirante Taman- alternativas. A Figura 36 ilustra as condicionantes físico-ambien-
daré) e, por fim, grande parte era compreendida como APP segun- tais do assentamento Ilha, como a cota de nível mais baixa do seu
do a legislação ambiental. entorno imediato, o lago na área livre de moradia e a proximidade
Dentro deste contexto - de informações imprecisas, das difi- dos rios, características que contribuem com as inundações fre-
culdades encontradas, da capacidade técnica e temporal da equipe quentes no local.
de extensão, dos técnicos e especialistas com
quem conseguimos conversar nos órgãos pú-
blicos, dos estudos disponíveis – os dados le-
vantados indicaram que, com as condições do
assentamento Ilha naquele momento (declivi-
dades, proximidade das casas dos rios Barigui
e Tanguá, ocupação de áreas legalmente pro-
tegidas) -, não era possível propor um projeto
de regularização fundiária e urbanística das
famílias no território ocupado, como inicial-
mente se imaginara.
O principal motivo dessa decisão foi não
se poder assumir a permanência das famílias em
locais que ofereciam riscos aos moradores, nes-
te caso, o das enchentes. O mapeamento das
cotas de inundação, associado aos episódios
de inundação, ao levantamento altimétrico e à
localização específica no encontro de dois rios
(formando um ‘V’), levou-nos a concluir que a
Ilha funciona como uma bacia de contenção
das águas das chuvas do seu entorno imediato,
não havendo condições de encaminhar, naque-
le momento, ações de regularização.
Entendemos, porém, que esse diagnósti-
co não é estanque, e que, caso novas ações ou 45
obras de contenção de cheias sejam realizadas Figura 36 - Croqui do assentamento mostrando os condicionantes ambientais
Fonte: Autoria própria (2014).
Capítulo 4
E AGORA, JOSÉ?
Repensando novos rumos do projeto
47
C
onforme já apontado, quando começamos o projeto de ex- Então, percebemos que muitas vezes falávamos em meto-
tensão, não sabíamos bem onde tudo isto iria dar. Tínhamos dologia participativa e trabalhávamos de forma convencional: aca-
objetivos, mas a própria realidade foi nos mostrando outros bávamos envolvidos em atividades, relatórios e reuniões no LUPA e
vieses. Havia a dúvida se a regularização seria possível, mas, igual- perdíamos a dimensão do envolvimento dos moradores. Percebe-
mente, havia a forte esperança de encontrar uma solução para os mos que uma metodologia participativa dava muito mais trabalho,
problemas dos conflitos entre moradia e meio ambiente presen- porque tínhamos de nos desdobrar em horários que fugiam ao de
nosso trabalho, pois o tempo da Ilha era outro. Deu trabalho, por-
tes na Ilha. Preocupávamo-nos tanto em não criar expectativas nos
que exigia muitas explicações técnicas e que deviam ser dialogadas
moradores, mas, ao que parece, nós mesmos relutamos e lutamos
de forma que os moradores pudessem entender claramente o que
em aceitar o diagnóstico. Relutamos pelo compromisso que tínha- tais questões significavam. Deu trabalho, porque exigiu um esforço
mos com os moradores, e tentamos checar as informações, de di- de transposição de valores, ou seja, o que era certo para mim podia
ferentes óticas, a fim de não corrermos o risco de apresentar da- não o ser para o outro. Enquanto para nós a Ilha poderia repre-
dos errôneos ou mesmo informações que causassem expectativas sentar um local de más condições de moradia, de risco, para eles
que não poderíamos cumprir. Não aceitar também motivou novas era um ‘Jardim do Éden’, conforme apareceu nas falas de alguns
pesquisas mais aprofundadas, mas que acabaram por corroborar moradores: ‘porque, claro, se fosse um lugar ruim, ninguém tava
a impossibilidade da regularização naquele momento, devido aos morando’ e ‘ninguém quer sair daqui’.
prognósticos das enchentes e à inexistência de ações viáveis, na- Em uma metodologia participativa, é preciso aprender a
compreender o conceito local do que é importante, que pode ser
quele cenário, para contenção das mesmas.
diametralmente oposto para nós da Universidade. Colocar-se no lu-
Aos poucos, notamos que não havíamos envolvido comple-
gar do outro, compreender seus desejos, suas ânsias e sofrimentos
tamente os moradores no processo, que, durante as dificuldades podem ser questões das mais difíceis de um profissional conquis-
encontradas na elaboração do diagnóstico, ficamos algum tempo tar e, infelizmente, são pouco debatidas e vivenciadas nos cursos
em reuniões na universidade, sem insistir no convite para que al- universitários. Parece muito mais razoável permanecer no campo
guns moradores viessem à UTFPR para juntos discutirmos a ques- técnico (no qual tenho expertise e que me dá segurança de trazer
tão dos entraves encontrados. respostas prontas para tudo), do que sair da zona de conforto para
Nesse momento, tivemos várias reuniões com a educadora construir juntos as questões que afetarão sobremaneira a vida das
social do CEFURIA. Parecia que ela também estava tentando nos pessoas e do seu lugar.
convencer sobre a visão política de um assentamento. Enquanto Ficamos algumas semanas remoendo as questões até conse-
guirmos marcar nova assembleia para apresentar o diagnóstico. Fi-
falávamos de questões técnicas, de conhecimentos elaborados, ela
camos tristes também, porque nos afeiçoamos aos moradores; tris-
nos falava da prática, da experiência vivida e sentida; de estar no
tes por não podermos trazer boas notícias. Somente conseguimos
meio dos moradores, da vontade que eles tinham de resolver tudo falar disso mais tarde, quando a educadora popular refletiu que o
aquilo, mas que não sabiam ao certo como fazer. Ela nos ensinava ideal é, sim, unir o conhecimento acadêmico ao saber popular. Mas
sobre a possibilidade de mudanças (nós sabíamos sobre isso, mas como fazer isso, já que não é uma linha reta? “Somos um coletivo
só na teoria), sobre a necessidade de as pessoas se mexerem, de 49
de apoiadores. Não vivemos aqui, mas entendemos que vocês não
buscarem seus direitos, de se apropriarem de sua cidadania. precisam viver isto”.
Depois de algum tempo, após digerir a frustração, conse-
guimos realizar a assembleia para relatar aos moradores as conclu-
sões. Eles, que inicialmente nos receberam com certa expectativa,
acabaram por ficar mais quietos e meio desanimados. Trouxemos
uma pessoa de outro assentamento para falar sobre suas experi-
ências.
A educadora popular questionou o grupo de moradores, no
sentido de tomarem uma posição se queriam ou não prosseguir
com o movimento da busca de melhor moradia, e pensar numa
alternativa em outro local, pois não adiantaria ‘esquecer’ da re-
alidade, apesar de dura, pois, mais cedo ou mais tarde, alguém
poderia ameaçá-los, tirá-los dali, e, além disso, eles continuariam a
ter que enfrentar as enchentes enquanto ali permanecessem. Sen-
timos que alguns poucos se animaram para traçar algumas metas;
outros nem tanto.
De fato, conforme já comentado, a participação dos mora-
dores ao longo de todo o projeto foi menor que o esperado, sendo
praticamente os mesmos que compareciam às assembleias. Com
a apresentação do diagnóstico, houve uma nova queda na par-
ticipação, o que criava uma sensação de injustiça e irritação nos
moradores participantes, pois sabiam que abriam mão de seu tem-
po de descanso e de outras ocupações, para discutir assuntos de
interesse de todos.
Ante o diagnóstico, surgiu a questão: o que faremos já que
a regularização fundiária e a urbanização do local já não são pos-
síveis neste momento? Os vínculos afetivos com os moradores já
estavam criados, de modo que, apesar de os prazos formais para o
projeto já estarem se esgotando, a equipe se mobilizou para pen-
sar alternativas a curto, médio e logo prazo para a Ilha. Não se
tratava de um compromisso acadêmico, nem apenas ético, mas
de um compromisso de pessoas que viveram uma história juntas e
construíram laços.
50
Capítulo 5
NAVEGAR É PRECISO:
Em busca de alternativas para o assentamento Ilha
51
E
mbora o diagnóstico tenha apontado que, considerando as tes visava evitar perdas humanas e reduzir os danos e prejuízos
condições daquele momento, não seria possível a regulariza- materiais dos moradores do assentamento Ilha.
ção fundiária das famílias no assentamento Ilha, cabe lembrar Entramos em contato com a Defesa Civil de Almirante Taman-
que um número expressivo de famílias morava havia mais de 20 daré e de Curitiba, sendo que ambas atuam apenas na assistência
anos no local, o que assegurava o direito à posse da terra e aos e ajuda à população atingida quando da ocorrência de chuvas in-
recursos dos moradores investidos na construção das casas. O di- tensas, não sendo possível obter nenhum apoio naquele momento
reito à moradia está contemplado por diversas normas, desde a no âmbito preventivo. Uma das professoras fez uma visita à Defesa
Declaração Universal dos Direitos do Homem (A FRANÇA NO BRA- Civil de Itajaí (SC). Seu excelente sistema de monitoramento de rios
SIL, 2015), a Carta Mundial pelo Direito à Cidade (CARTA MUNDIAL possibilita uma ação preventiva e de evacuação dos locais antes de
PELO DIREITO À CIDADE, 2006), a Carta de Recife por um Brasil as enchentes ocorrerem. Essa visita, muito importante, permitiu
Sem Despejos (INSTITUTO PÓLIS, 2006), reforçado pelo Estatuto da perceber a complexidade da questão do monitoramento dos rios e
Cidade (Lei Federal 10.257/2001) (BRASIL, 2001) e outras leis espe- da elaboração de um plano de contingência para enchentes. Além
cíficas no Brasil. No artigo 6º da Constituição Brasileira, consta que disso, o contato foi proveitoso, pois recebemos doação de cartilhas
a moradia é um direito social, de modo que compete ao Estado e educativas, e o coordenador da Defesa Civil se dispôs a fazer uma
à sociedade implementá-la, porque, “[...] sem um lugar adequado visita e palestra informativa na Ilha no ano de 2015.
para se viver, é difícil manter a educação e o emprego, a saúde fica Com base nessas informações, ocorreu-nos iniciar as ativi-
precária e a participação social fica impedida” (MARRA, 2010, p. dades com uma assembleia visando conhecer a realidade dos mo-
6353). radores durante e após os eventos de enchentes, os seus dramas
Com a impossibilidade de atingir os objetivos iniciais do pro- e o que faziam para minimizar esse problema. Convidamos todos
jeto, nossa preocupação concentrou-se em saber como poderíamos os moradores para participar da assembleia, que aconteceu num
contribuir com os moradores, visto que as atividades de extensão e sábado à tarde. De início, nos apresentamos, esclarecendo o ob-
o Curso de Arquitetura e Urbanismo se propõem a trabalhar dentro jetivo daquele encontro. Na sequência, destacamos a importância
de um caráter propositivo, de elaboração de projetos. Igualmen- do planejamento, de traçar um plano de ação prévio preparatório e
te, procuramos a contribuição de outras áreas do conhecimento, da organização coletiva necessária para enfrentar os momentos de
visando proporcionar condições mais dignas de vida para aquelas enchentes. Falamos sobre as medidas que deveriam ser tomadas
pessoas. antes, durante e depois, para evitar perdas materiais e humanas,
Pensou-se então em dois grupos de alternativas: as de curto contaminações, contração de doenças e acidentes domésticos, en-
e médio prazo referentes a ações de enfrentamento das enchentes tre outros. Esse encontro foi enriquecido com o depoimento de
e, outras ações mais complexas, de médio e longo prazo, que se uma das moradoras. Relatou ter um filho deficiente físico e, por
referiam à busca de alternativas de moradia em outro local, prefe- isso, seu marido havia construído uma rampa para poder removê-
rencialmente nas redondezas. -lo facilmente de casa, além de já terem instalado diversas pratelei-
Em relação às ações de curto e médio prazo referentes às ras altas para proteger roupas, alimentos e outros objetos, no caso
enchentes, uma das professoras e uma bolsista, em pesquisas na de enchentes. Ao fim, entregamos, aos moradores as cartilhas com
internet, descobriram um pluviômetro caseiro e diversos materiais orientações sobre as enchentes, doadas pela Defesa Civil de Itajaí
informativos sobre como agir antes, durante e após as enchentes. (SC). Aproveitamos, também, para fornecer um folder informativo
Elaborar um plano de contingências para a prevenção de enchen- sobre o assunto, elaborado pela equipe do PROEXT/2014, junta- 53
mente com os telefones dos órgãos que deveriam ser acionados
em situações de emergência.
O primeiro passo havia sido dado com essa assembleia. En-
tretanto, para que o plano emergencial, no caso de enchentes,
fosse eficaz, entendíamos que o acompanhamento das condições
climáticas e o monitoramento das chuvas realizados por alguns
moradores eram primordiais. Assim sendo, uma das medidas era
compartilhar com os moradores conhecimentos e instrumentos
que os auxiliassem a reconhecer a chegada de chuvas intensas e
prever situações emergenciais de enchentes, a fim de não mais se-
rem surpreendidos, nem terem que passar as noites em claro, ‘vi-
giando o rio’. Entre as soluções encontradas, estava a confecção
de pluviômetros (Figura 37) e a instalação e leituras de réguas de
medição da profundidade, nos rios Barigui e Tanguá (Figura 38).
Desse modo, prosseguimos com a ideia de dar condições
aos moradores de confeccionarem os próprios pluviômetros e de
capacitarmos alguns voluntários para avaliação das chuvas e lei-
turas das réguas, com o objetivo de identificarem e monitorarem
situações de iminência de risco de enchente. Essa ação visou fa-
zê-los se apropriar de conhecimentos que lhes proporcionassem
mais recursos para enfrentar sua situação de habitação precária,
e que não ficassem na dependência da equipe do projeto ou de Figura 38 - Régua para leitura do nível do rio
outro agente externo. Fonte: Ambrosio (2015).
59
E
ntre acertos e erros, alegrias e frustrações, o projeto propor-
cionou à equipe importantes aprendizados, dentre os quais
o de que o problema habitacional da Ilha não está contido
apenas na escala do assentamento, mas das transformações urba-
nas do entorno imediato, a exemplo do estudo aprofundado do
comportamento hidrológico dos rios e com obras de grande porte
na contenção das cheias. Com isso, a perspectiva da abordagem
centrou-se na ótica das políticas públicas municipais e regionais,
envolvendo os municípios de Almirante Tamandaré e Curitiba, visto
que o assentamento se encontra numa zona de fronteira, no limi-
te administrativo dos dois municípios, às margens de importantes
rios como o Barigui e Tanguá.
Com isso, a melhoria no assentamento Ilha requer que a
esfera pública assuma, de forma prioritária e integrada, políticas
públicas nas áreas da habitação e do meio ambiente, drenagem
urbana e prevenção de enchentes, políticas que venham a mudar
o cenário atualmente imposto: área que se transformou numa
bacia de contenção das águas das chuvas do entorno. Não veri-
ficamos ações integradas no projeto ‘Viva Barigui’, porque esse
projeto contempla ações em apenas uma das margens do Rio,
muito menos ações da Prefeitura Municipal de Almirante Taman-
daré nesse sentido.
Queremos, com isso, salientar a importância da dimensão
das políticas públicas urbanas para a solução de problemas com-
plexos e que, apesar das várias normativas e planos existentes,
coletados nos órgãos públicos, sua gestão ainda é fracionada e,
quando realizada, feita ao sabor das urgências.
A integração das políticas públicas e o compromisso sério
com o problema habitacional do Município, entendendo que este é
parte da forma de produção da cidade, são algumas das bandeiras
de reivindicação para promover ações mais comprometidas com a
realidade social da população em espaços informais de moradia.
Em dezembro de 2014, realizamos a assembleia de encerra-
Figura 43 - Assembleia de encerramento das atividades de extensão
mento das atividades do projeto de Extensão (Figura 43), visando Fotos: Autoria própria (2014).
fazer uma retrospectiva, avaliar a validade do projeto e planejar os
novos passos. 61
Iniciou-se o encontro com a apresentação de fantoches de de procurar novas alternativas habitacionais fora da Ilha, devido ao
bonecos, que contaram a história do assentamento, atraindo, de trabalho, às burocracias, ao tempo, à localização, às exigências da
forma lúdica e descontraída, muitas crianças e adultos. Em se- organização coletiva, ao tamanho da casa, aos recursos já inves-
guida, fez-se um retrospecto das principais decisões tomadas ao tidos no local, que, bem ou mal, representam para os moradores
longo da trajetória do projeto, explicando novamente os motivos uma vida de dedicação.
determinantes que nos levaram à conclusão de que, no momento, A educadora popular chamou nossa atenção para o fato de
a área não era passível de regularização fundiária: estudos técnicos que o crescimento das pessoas em comunidade não necessaria-
revelaram que, conforme a intensidade pluviométrica, a área sofre- mente se apresenta de forma evidente, linear e imediata, mas sim
ria constantes inundações, não sobrando lugar para relocação ou a de forma qualitativa. Destacou, ainda, que, apesar de nossa sensa-
construção de casas de maneira segura. ção de fracasso, pela impossibilidade da regularização fundiária e
Os novos rumos tomados foram encontrar mecanismos de pela pouca participação dos moradores nas assembleias, a atuação
prevenção de riscos e formas seguras de acesso a outros locais, na Ilha tinha feito diferença para os moradores. Citou o exemplo
em caso de inundação. Instalaram-se pluviômetros e réguas de rio de um morador, que ligou para uma das educadoras, dizendo que
para a medição das chuvas e para estudar, no caso específico, quais um dos vizinhos estava construindo um muro que poderia agravar
seriam os indicadores de risco para o assentamento. Solicitou-se, o risco de enchentes. Segundo a educadora, com o projeto, ‘eles
para instalação na Ilha, ao CEMADEN, um pluviômetro semiauto- começaram a entender que estão em uma área de risco e que tem
mático, que faria medições e controle constante das chuvas da pessoas e situações que podem acirrar os riscos’.
área de forma mais precisa. Da reunião, também participou uma Entendemos que o tempo de apreensão do assentamento
moradora de Almirante Tamandaré, líder do Movimento de Luta era diferente do tempo de execução de um projeto de extensão
por Moradia. A moradora explicou como eles têm trabalhado com universitária. Até mesmo a equipe técnica demorou muito para
os programas do MCMV-E. começar a entender as necessidades dos moradores e a realidade
Ficou combinado que os professores da UTFPR envolvidos concreta da Ilha. Quando isso aconteceu, o ano acadêmico se apro-
no projeto permaneceriam à disposição dos moradores, caso estes ximava do fim, e fomos obrigados a ‘encerrar’ o projeto quando
sentissem necessidade de dar continuidade ao monitoramento das da exigência da elaboração de um relatório oficial a ser entregue
chuvas ou para ações referentes à Associação de Catadores de Ma- às fontes de financiamento dos Ministérios envolvidos. Os tempos,
terial Reciclável e futuras alternativas habitacionais. efetivamente, são distintos: os tempos de integração com o assen-
Nesta assembleia, foram entregues aos moradores as carti- tamento, entre a própria equipe técnica, das prefeituras e órgãos
lhas produzidas pela equipe, com as principais conclusões do pro- governamentais que precisaram ser consultadas e que demonstra-
jeto de extensão, o livro Lixo Extraordinário, de Vik Muniz, e o filme ram falta de dados para as necessidades do projeto, de compreen-
homônimo, com a direção de Karen Harley, João Jardim e Lucy são das demandas dos moradores e, também, das possíveis solu-
Walker. Os moradores demonstraram alegria e espanto, pois não ções. Como sincronizar tudo isso? São perguntas que infelizmente
esperavam a surpresa. só conseguimos responder depois que o tempo passou.
Na cartilha ilustrada, reconheceram-se nas fotos e procura- A dimensão interdisciplinar também foi um aspecto interes-
vam os desenhos de suas casas. Nos rostos, os sentimentos eram sante do projeto. Essa interdisciplinaridade fez com que novos as-
muitos diversos: dúvidas quanto a um futuro incerto, mas a certeza pectos sob a ótica do morador, da academia e da educação popular
de que, organizados, poderiam realizar mais ações. A triste consta- fossem levados em consideração, mudando, em vários momentos,
tação: não era possível regularizar o local e que a Prefeitura de Al- os rumos inicialmente traçados. Houve de fato uma troca de sabe-
mirante Tamandaré não realizaria ações em prol dos moradores da res dentro da equipe: psicólogas aprendendo termos técnicos da
Ilha, porque não existe, no Município, uma política habitacional, Engenharia Civil, da Arquitetura e Urbanismo; e, engenheiros e ar-
nem estrutura organizada para ações da Defesa Civil; e, ainda, que, quitetos descobrindo formas de se comunicar com os moradores.
no momento, não havia lugar melhor para se instalar do que o que Como já assinalado, o projeto também propiciou troca de
eles ocupavam, próximo a Curitiba e aproveitando a infraestrutura saberes populares e acadêmicos, de modo democrático e não hie-
62 da Capital, mesmo tendo de virar-se como podem nas enchentes, rarquizado, consoante a Educação Popular Freiriana, a exemplo das
que, talvez para alguns, não represente um risco. Havia certo receio informações dos moradores sobre a retificação do rio Barigui - da-
dos que não encontramos em nenhum documento oficial pesquisa- riscos de acidente de trabalho. Além disso, avaliaram as condi-
do - e das oficinas de prevenção de enchentes e de construção dos ções ambientais e elaboraram propostas para adequação do lo-
pluviômetros, nas quais possibilitamos o acesso à conhecimentos e cal. Os resultados obtidos poderão ser utilizados pela associação
à tecnologia que promovessem maior conhecimento da dinâmica dos catadores para participar de editais e pleitear financiamentos
das enchentes e das chuvas e ações de enfrentamento dos riscos. para a implantação das melhorias.
As atividades realizadas pela universidade no assentamento Além do projeto de extensão, outra ação foi a criação, no cur-
ultrapassaram o escopo do projeto. Foram levadas para as prá- so de Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, de disciplinas optativas, na
ticas de ensino nas disciplinas de Saneamento do Curso de Ar- área de Habitação Social e de Intervenções em assentamentos pre-
quitetura e Urbanismo. Os alunos se envolveram plenamente nas cários, que poderão futuramente fazer parte da grade permanente;
atividades do barracão, para dar suporte à Associação de Cata- disciplinas essas que promovam a reflexão crítica e propositiva do es-
dores de Materiais Recicláveis da Ilha. Uma das atividades foi a tudante com relação à temática da produção da cidade e à habitação
elaboração de projeto arquitetônico preliminar (Figura 44), para de interesse social. Ainda há muito a avançar no que tange ao papel
a melhoria das condições de trabalho e avaliação das condições da Universidade Pública, no perfil do aluno egresso em Arquitetura e
de abastecimento de água potável e de coleta de esgoto para os Urbanismo, nas iniciativas de promoção social e nas propostas mais
moradores do assentamento. humanas para as cidades, embora o curso tenha se mostrado aberto
Os estudantes do Curso de Técnico em Segurança do Traba- a discutir essas questões. Quem sabe possamos avançar nos rumos de
lho (disciplina Saneamento Básico) também participaram de ati- uma educação mais libertadora, na construção do ‘Arquiteto e Urba-
vidades relacionadas ao barracão da Associação de Catadores de nista Popular’, aquele que olha detidamente para a realidade e reflete
Material Reciclável. Esses estudantes elaboraram uma relação de sobre como suas proposições podem colaborar na construção de ci-
equipamentos de proteção individual necessários para minimizar dades justas e democráticas.
Ao término do projeto, permaneceu o vínculo com os mo-
radores, vínculo formado ao longo das inúmeras visitas e as-
sembleias, alimentado pela acolhida dos moradores, que não só
abriram suas casas para a realização das atividades, mas nos re-
ceberam com carinho: como esquecer o bolinho de chuva que a
esposa de um morador fez para servir em uma assembleia, o fato
de terem aberto sua casa de piso branco, num dia de chuva e bar-
ro, o bolo de coco para a assembleia final, os apertos de mão, os
sorrisos? Conhecimentos, aromas, paladares, afetos... tudo isso
fez parte dessa experiência.
Assim, não era possível encerrar de forma brusca essa rela-
ção estabelecida. Embora não mais vinculado oficialmente a um
projeto de extensão, continuamos a caminhar junto com a Ilha.
Compartilhamos de suas conquistas e também de suas dores:
quando chovia forte, ligávamos para algum morador, para saber
se estava tudo bem. Infelizmente, na véspera do Natal de 2014,
uma forte chuva gerou um alagamento. Telefonamos, aflitos. Uma
professora foi ao local, e mais uma vez os moradores nos ensina-
ram sobre sua força: ao invés de tristeza e lágrimas, vimos a alegria
Figura 44 - Proposta de leiaute para o galpão da Associação de Catadores de de uma criança que veio agradecer as bonecas que um professor
Materiais Recicláveis Ilha havia lhe dado (Fala para aquele professor que eu o amo muito!), e
Fonte: Autoria própria (2014). recebemos os votos de um feliz Natal da moradora, que procurou
nos tranquilizar de que tudo estava bem na Ilha.
63
Até o momento da conclusão deste livro, continuamos a
acompanhar o andamento do pedido do pluviômetro semiauto-
mático solicitado ao CEMADEN (Figura 45), sem definições claras
de sua instalação.
A associação dos catadores será incluída no projeto de incuba-
ção de empreendimentos econômicos solidários, o qual terá início em
2015 na universidade e que concorrerá ao edital do PROEXT 2016.
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66
Capa: Papel Triplex 250 gramas
Miolo: Papel Offset 90 gramas
Fontes: Minion Pro (subtítulos e texto) e Century Gothic (títulos)
Tiragem: 500 exemplares
Livro impresso na JZ Cópias e Impressões Ltda.
Curitiba
2015
Impresso no Brasil
Printed in Brazil