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Os Pulps Brasileiros
Os Pulps Brasileiros
Os Pulps Brasileiros
Revista académica de
ciencia ficción y fantasía / Jornal
acadêmico de ficção científica e
fantasía
Recommended Citation
de Sousa Causo, Roberto (2014) "Os Pulps Brasileiros e o Estatuto do Escritor de Ficção de
Gênero no Brasil," Alambique. Revista académica de ciencia ficción y fantasía / Jornal
acadêmico de ficção científica e fantasía: Vol. 2 : Iss. 1 , Article 5.
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acadêmico de ficção científica e fantasía: https://digitalcommons.usf.edu/alambique/vol2/iss1/5
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ANTECEDENTES
NO BRASIL
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OS MELHORES ROMANCES
POLICIAES
DE AVENTURAS
SENTIMENTAES
PHANTASTICOS
HISTORICOS
ESPORTIVOS
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e desaparecem, exilando o autor local dos dois campos.) Estão lá, nas
edições posteriores, Alessandro Varaldo e Karl May (N.º 14; capa e
ilustrações de Koetz); May, Mansfield, Dumas, Huxley, Wallace, Oscar
Wilde e G. K. Chesterton (N.º 15; capa e ilustrações de Gastão Hofstätter);
Annemarie Land, Claude Farrere, Dumas, Wallace, Conrad, Prosper
Merimée, Villiers de L’Isle Adam e Selma Lagerlöf (N.º 16; capa de
Edgar Koetz). Koetz também fez capa e ilustrações internas para um
romance de crime por Sintair & Steeman no N.º 17, que publicou ainda O
Médico e o Monstro, de Stevenson, e um conto de Huxley. O artista
reaparece na capa do N.º 18, com Hugo Wast, Pearl S. Buck, H. Berndorff
(história de espionagem), Florentz Shortluh, Chamby Chambers,
Katherine Mansfield e John Russel. O importante autor gaúcho e poeta
laureado Mário Quintana traduziu o romance de W. MacLeod Raine, “Um
Cow-Boy em Nova-York” no N.º 19 (Koetz), também com Konrad
Barkovici, Nikolai Gógol, Rabindranath Tagore e Roy Patterson
(gangsters). E Hamilcar de Garcia, autor do romance O Rei do Mundo
Perdido (1944, pela mesma Editora da Livraria o Globo), traduziu a
narrativa de Hamilton Gray, “O Feitiço de Pupo-Aba”, no N.º 21 (Koetz),
completado por Roy Paterson, George Barton, Leônidas Andreiev,
Chekov, Michael Y. Saltykov, Paul Koch, Claude Ferrère e Chesterton.5
O Conde de Orlano, Wallace, Poe (“A Queda da Casa de Usher”), Charles
de Coster, Milward Kennedy (ficção de crime), Archmed Abdullah,
Valentine Gregory (crime). H. C. Nac Neile e Suzanne Normand estão no
N.º 23 (Fahrion); Wast, Russel, Gilbert Stiller, Corlieu Jouve, Ernest
Hemingway e Georges Duhamel no N.º 24 (Fahrion novamente). A.
Boysivon, F. Scott Fitzgerald, Williams Hines, Henri-Robert, Nika
George, Máximo Gorki e Mainsfield no N.º 25 (Koetz).
Cardoso observa ainda que o sucesso de coleções populares como
a Coleção Amarela da Globo, e as da Companhia Editora Nacional de
Monteiro Lobato – Biblioteca das Moças, Terramarear, Para Todos e Série
Negra, a partir de 1933 –, teria estimulado a aventura das revistas de
emoção. Tal vínculo me parece especialmente claro no caso de A Novela.
AVENTURAS OU COSTUMES?
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tablóide de mistério Contos, que mais tarde viraria revista” (2004: 52).
Essa revista foi a quinzenal Contos Magazine, que costumava trazer uma
novela policial completa na abertura. Os textos eram extraídos de
publicações americanas como o general pulp Blue Book, e da mais
respeitável The Saturday Evening Post, entre outras. Athos Cardoso
afirmava que ela “copiava em boa parte, além da capa, os contos da revista
americana Adventure” (Cardoso, 2009: 9).
Sobre a revista, que chegou a publicar histórias da série do herói
pulp “O Sombra”, de Maxwell Grant (Walter Gibson), Cardoso também
afirma: “Contos Magazine, que nos números finais apresentou capas
desenhadas por Sávio e Antonio Euzébio, foi uma das melhores, senão a
melhor revista de emoção brasileira.” (2009: 9) Os exemplares que
examinei tinham formato “de bolso” (13 x 18 cm, 5 x 7 pol. aprox.) e 190
páginas, e as ilustrações internas eram frequentemente creditadas – a
Virgil Finlay, I. Perkins, Richard Flanagan, John Clymer, P. R. Maxwell e
Austin Briggs, entre outros. Seu conteúdo cabia no contínuo da
“aventura”, todo um campo de gêneros diversos que emergiram da cultura
popular em fins do século XIX, e que foram ganhando na primeira metade
do século XX status de gêneros segmentados: histórias de capa e espada
(cloak and dagger), faroeste (western), aventuras coloniais ou de piratas,
histórias da legião estrangeira (ficção militar), contos de náufragos que
chegam a cidades perdidas. Emoção violenta, incomum, extraordinária.
O N.º 14 (Ano II, agosto 1938) traz a primeira parte de “Escorpião
sobre a Lua”, de M. H. Rogers, enquanto conclui “A Cidade Perdida”, de
J. F. Dwyer com ilustrações de Flanagan. Há um conto brasileiro, “O
Último Regasso”, de Virgílio Varzea – história de regionalismo gaúcho,
plotless e sem personagens ponto de vista. O N.º 20 (Ano III, novembro
1938) abre com o início de um seriado de Grant protagonizado por “A
Sombra” [sic], “A Foenix Rubra” [sic], seguido da noveleta brasileira
“Uma Escrava”, de Magalhães de Azeredo (com boas ilustrações de
Humberto Barreiros). Azeredo (1872-1963) já era então um poeta
consagrado, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (em
1896). Sua história é sobre uma escrava que teve o filho do seu senhor.
Segue o fim do seriado “Perigo no Panamá”, de Robert Mill (Briggs
ilustrou); a noveleta “O Rosto no Espelho”, de Frogier Herbertson (arte de
Maxwell); o conto “O Fantasma”, de Ernest Poole; a aventura na Austrália
“A Água Está Onde se Ela se Esconde”, de Robert R. Wetjen; a noveleta
“O ‘Coração de Safo’”, de J. F. Dwyer (aventura nos Mares do Sul); e
conto do português Fernando Pamplona, “Rainha Heroica”. Especialmente
interessante é a presença da ficção científica de visor do tempo do habitué
H. Bedford-Jones, “O Monstro do Mar de Sargaços”, e do conto brasileiro
“Sherlock Juca” (arte de Barreiros), cujo título já diz muito desse texto
humorístico de pontuação exagerada; o autor é Antonio D’Elia, saudado
com certo entusiasmo por Nogueira Porto no editorial (7), e que vinte anos
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Argumento que parece, por um lado, tomar a parte (ficção de crime) pelo
todo (o complexo campo literário da aventura ou da ficção pulp), e por
outro desprezar, no comentário sobre a Amazônia, uma substancial
linhagem de obras de ficção científica do tipo mundo ou raça perdida que
vinha de 1925 com o clássico nacional A Amazônia Misteriosa de Gastão
Cruls (1888-1959), passando, apenas na primeira metade do século XX,
por obras de Menotti del Picchia, Hamilcar de Castro e Jerônymo
Monteiro.8 Do mesmo modo, havia já uma tradição de narrativas de horror
gótico que registra obras de interesse considerável como Esfinge (1908),
de Coelho Netto, e contos de Machado de Assis, Humberto de Campos,
Cruls, etc. Ficção militar também fazia parte do campo da aventura, e, sem
precisar recorrer à Legião Estrangeira, basta lembrar que o Brasil possui
longa história de conflitos internos de baixa intensidade,9 e foi o único
país sul-americano a participar da I e II Guerras Mundiais. Igualmente, o
país possuía marinha mercante, aviação pioneira (desde Alberto Santos
Dumont no século XIX), conflitos e banditismo rural (Canudos e o
cangaço), ferrovias (assunto de revistas pulp americanas especializadas),
intensas ações ideológico-militares (Tenentismo, Coluna Prestes e
Intentona Comunista) e bizarras narrativas de true crime (outro campo
editorial pulp) que poderiam inspirar uma ficção de gênero intensa e
ajustada ao contexto local, sem recorrer-se aos tipos e costumes
cotidianos.
Muito repetido, o argumento da inadequação brasileira à ficção de
gênero persiste na atualidade, mesmo quando encontramos entre os
brasileiros autores best-sellers como Luiz Alfredo Garcia-Roza e Tony
Bellotto na ficção de crime, Eduardo Spohr na fantasia contemporânea, e
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livro (havia sido lançado como seriado em 1948; outro romance, Meu
Destino É Pecar, havia sido publicado dessa mesma maneira em 1944). O
caso de Pagu e Rodrigues evoca a afirmativa do pesquisador inglês Clive
Bloom, de que “pulp é o ilícito vestido como o respeitável, mas que não
disfarça, nem esconde do consumidor a sua verdadeira natureza. Assim ele
se torna um tipo de jogo codificado: uma sedução concordada por ambas
as partes mas não-mencionada por nenhuma. O prazer pulp é um prazer
ilícito. Tal prazer vem de ler [e escrever] conscientemente pelas razões
erradas.” (Bloom, 1998: 134) Os editoriais examinados acima, das revistas
Romance Mensal e A Novela, empenhados em marcar a ficção de gênero
nas suas páginas como respeitável e edificante, mesmo enquanto
expressam tal jogo codificado, caem numa chave inversa de intenções,
muito comuns no contexto brasileiro no qual se atribui grande valor à alta
literatura ou mainstream na formação da cultura nacional – ou como
Antonio Candido declarou, num contexto em que a ciência e a técnica não
tinham espaço para se desenvolverem, “a literatura contribuiu com
eficácia maior do que se supõe para a formar uma consciência nacional e
pesquisar a vida e os problemas brasileiros”, pois teria sido “menos um
empecilho à formação do espírito científico e técnico [...] do que um
paliativo à sua fraqueza” (Candido, 2000: 121). Vale mencionar ainda R.
F. Lucchetti, que começou publicando contos de horror e suspense nas
revistas X-9, Detective, Suspense (norte-americana), Contos Magazine,
Policial em Revista, Meia-Noite, etc., durante a década de 1950. Ainda em
atividade, Lucchetti tem, ao contrário de Pagu e Rodrigues, uma
identidade forte com a ficção de gênero, sendo o decano dos escritores
pulp do Brasil. Sua atividade, apesar dos seus inúmeros pseudônimos,
assume abertamente um ethos pulp: “[M]e chamar de escritor é como
colocar um elevador num alpendre. Não combina. Prefiro ficcionista.”12
(Lucchetti & Ferreira, 2008: 60)
Outro título da época foi Mistérios, aparentemente lançada em
maio de 1938 pela Editora “LU”, do Rio de Janeiro, tendo Rubey
Wanderley como editor. Também publicou histórias do Sombra, segundo
Athos Cardoso, numa época em que o personagem aparecia em
radionovelas da Rádio Nacional. E finalmente, no início da década
seguinte surgiria a quinzenal X-9 (18 x 26,5 cm ou 7 x 10,5 pol. aprox.),
pela empresa que se tornaria as organizações Roberto Marinho (famosas
pela Rede Globo de Televisão). A revista extraía seu material de
publicações estrangeiras como Black Book Detective, The Phantom
Detective e G-Men Detective. Um sucesso que durou de 1941 a 1962, e
que, segundo Cardoso, teria sido tão difundida, a ponto de se tornar
sinônimo de “revista de emoção” ou “pulp magazine” (2009: 10-11). O
nome da revista teria vindo do personagem de quadrinhos “Secret Agent
X-9”, criado Dashiell Hammett e Alex Raymond.13 X-9 e Detetive usavam
fotos nas capas. Meia-Noite foi outra revista de Roberto Marinho, na
ESPECIALIZADAS
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Não obstante, por três décadas, a visão de Muniz Sodré, que se tornou
canônica na crítica universitária brasileira, seguiu sem ser
significativamente contestada, algo que só viria a ocorrer nos primeiros
anos do século XXI, por uma nova geração de pesquisadores.
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RECOMEÇO MODESTO
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Notas:
1
A série só seria vista no Brasil em 2010, com a publicação de A Princess of Mars (1912)
como Uma Princesa de Marte pela Editora Aleph.
2
Segundo John Locke (in Pulp Fictioneers: Adventures in the Storytelling Business. Silver
Spring: Adventure House, 2004), “julgando a partir de cerca de vinte artigos [nas primeiras
revistas para escritores, como Writer’s Digest (iniciada em 1919) e The Student Writer
(iniciada em 1922)], parece que os pulps demoraram para serem diferenciados como uma
categoria separa de revistas. De modo revelador, por um longo tempo eles não tiveram um
rótulo firmemente estabelecido. A referência mais antiga que descobri em que eram realmente
chamados de pulps ocorre na edição de agosto de 1929 de Writers’ Markets and Methods,
com o termo entre aspas, para indicá-lo como uma gíria interna para ‘woodpulps’, referindo-se
ao papel grosseiro em que eram impressas. Também no final dos anos vinte, eram rotuladas
como “all-fictions” e “pulp-paper magazines”, uma expressão comum até os anos quarenta.
[...] Ao longo dos anos trinta, o papel e o tipo de ficção nele impresso fundiram-se em
significado.” (Locke, 2004: 12)
3
No Prefácio à edição americana de Books in Brazil: A History of the Publishing Trade,
Laurence Hallewell, dirigindo-se ao público leitor anglo-americano, com ironia atribui a
chegada do aparato cultural da corte portuguesa ao Brasil, e a consequente unidade política no
vasto território brasileiro, à vitória do Almirante Horatio Nelson (1758-1805) sobre as
armadas francesa e espanhola na Batalha de Trafalgar (1805): “[S]em uma armada vitoriosa
para escoltá-los, os Braganças dificilmente teriam pensado em partir para o Brasil,
transformando, com isso, a colônia em metrópole [...].” (Hallewell, 2005: 41).
4
Veja sobre Lobato o livro de Hallewell (2005: 309-48), e sobre Aizen o de Gonçalo Junior
(2004).
5
Essa edição (junho 1938) traz um raro editorial (7) comentando o estado atual da literatura
brasileira, reclamando de uma queda na quantidade e qualidade da produção literária de
ficção, após 1935, que teria sido “o grande ano da ficção brasileira”. Já 1938 é visto como
promissor, com obras de Graciliano Ramos, José Lins do Rego, João Alphonsus, Marques
Rebello, Telmo Vergara, Athos Damasceno Ferreira e Damaso Rocha.
6
D’Elia tem um conto na antologia Além do Tempo e do Espaço: 13 Contos de Ciencificção
(São Paulo: EdArt, 1965).
7
Na coluna “Correspondência” do N.º 149 (abril 1944), Nogueira Porto abre dizendo a um
leitor que havia submetido um conto à revista: “Não posso atender o seu pedido de lhe mandar
em carta as impressões sobre o conto que enviou. A correspondência desta revista é feita nesta
página.” E procede a desancar o conto candidato, concluindo que “na sua mão, a pena é um
utensílio algo estranho” e recomendando que ele mude de ferramenta que lhe corresponda à
vocação (2).
8
Note-se ainda que a Amazônia Brasileira já figurava na literatura de aventura há algum
tempo, incluindo obras como A Jangada (La jangada: huit cents lieues sur l’Amazone; 1881)
de Jules Verne; “The Empire of the Ants” (1905), noveleta de H. G. Wells; e O Mundo
Perdido (The Lost World; 1912), de Arthur Conan Doyle.
9
Veja Causo, 2003: 196, para uma breve extensão do argumento.
10
Detective também teve uma fase, na década de 1950, em que se transformou em uma revista
de true crime.
11
O índice do N.º 201 (setembro 1944), por exemplo, era dividido em “eletrizante”,
“empolgante”, “romance policial”, “surpreendente”, “fantástico”, “formidável”, “terrível”,
“sensacional”, “trágico”, “inédito”, “incomparável”, “arrepiante” e “maldição” – talvez vindo
daí o apelido.
12
É interessante lembrar que alguns escritores pulp americanos da década de 1930
costumavam chamar a si mesmos de “pulpsters” (p. ex.: “Quantity Production”, de Arthur J.
Burks in Pulp Fictioneers, John Locke, ed. Silver Springs: Adventure House, 2004: 76-9) ou
“fictioneers”.
13
Recentemente republicado no Brasil pela Devir Livraria, de São Paulo.
14
Muitas das discussões sobre os pulps brasileiros, presentes nesse capítulo intitulado “A Pulp
Era que Não Houve” (pp. 233-98), baseiam a minha discussão das revistas brasileiras de
ficção científica neste ensaio.
15
A expressão “ficção especulativa” veio a designar o coletivo ficção científica, fantasia e
horror (Clute & Nicholls, 1993: 1145).
16
De melhor revista em 1958, 1959, 1960, 1963, 1969, 1970, 1971, e 1972, e de melhor editor
em 1981, 1982 e 1983.
17
As Edições O Cruzeiro também publicaram uma coleção de livros com o mesmo nome, que
durou de 1967 a 1971 e produziu dezessete títulos.
18
Os formatos eram muito variados: 10,5 x 16 cm; 11,5 x 16,5; etc. A única editora brasileira
hoje a publicar no formato atual do paperback americano ou inglês (10,5 x 17 com) é a
Harlequim Brasil, do Rio de Janeiro.
19
Uma marca da Tecnoprint Gráfica. Segundo Hallewell, o “empreendimento mais duradouro
no campo do livro de bolso de qualidade foi, sem dúvida, o da Tecnoprint Gráfica” (673),
iniciado no começo da década de 1960.
20
Gonçalo Junior publicou uma biografia do artista, E Benicio Criou a Mulher...: A Biografia
do Mestre das Pin-Ups e dos Cartazes de Cinema (Opera Graphica Editora; 2012), e a editora
Reference Press publicou dois livros com seus trabalhos (rara honraria no Brasil): Sex &
Crime: The Book Cover Art of Benicio Volume One (2012) e Volume Two (2013).
21
O capítulo “Brazilian Distopian Fiction”, em Brazilian Science Fiction: Cultural Myths and
Nationhood in the Land of the Future, de Ginway (89-136), é o melhor estudo até o momento,
dessa corrente da FC brasileira na década de 1970.
Nesse que chamei de Ciclo ou Onda de Utopias ou Distopias (1972-1983), surgem obras como
Fazenda Modelo (1974; contrafábula distópica em diálogo com A Revolução dos Bichos, de
George Orwell), do cantor e compositor Chico Buarque; Adaptação do Funcionário Ruam
(1975), de Mauro Chaves; Um Dia Vamos Rir disso Tudo (1976), de Maria Alice Barroso; O
Fruto do Vosso Ventre (1976; premiado romance sobre superpopulação e controle social), de
Herberto Sales; Umbra (1977), de Plínio Cabral; Asilo nas Torres (1979; sobre uma sociedade
distópica em Saturno), de Ruth Bueno; a distopia Piscina Livre (1980), de André Carneiro; o
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famoso romance de angústia ambiental, Não Verás País Nenhum (1981), de Ignácio de Loyola
Brandão; e o satírico A Ordem do Dia (1983), de Márcio Souza – até o tardio e
excepcionalmente irônico e metaficcional O Outro Lado do Protocolo (1985), de Paulo de
Sousa Ramos.
22
Veja também o verbete sobre “Absurdist SF” in Clute & Nicholls, 1993: 2-3.
23
É interessante notar que Dragão Brasil (1994), a primeira revista brasileira de role playing
games, e sua publicação-irmã, Só Aventuras (1995), da Editora Trama, de São Paulo, ao
passar a publicar um conto por edição com o N.º 4 (janeiro de 1995) de Dragão Brasil, foram
singularmente inspiradoras (talvez mais do que as especializadas Isaac Asimov Magazine ou
Quark) para toda uma geração de escritores e fãs de fantasia e ficção científica. As revistas
publicaram apenas autores brasileiros, e constituíram o primeiro passo profissional de
escritores como Marcelo Cassaro, J. Mauro Trevisan e Leonel Caldela – este o principal nome
da alta fantasia escrita no Brasil.
24
Aqui se faz por bem discutir brevemente a situação do material brasileiro, literário e
iconográfico, das revistas de emoção. Primeiro, o caráter muitas vezes amadorístico dessas
publicações o torna de difícil recuperação. Não foi o caso com as primeiras antologias
americanas de FC pulp – como Famous Science-Fiction Stories: Adventures in Time and
Space (1946) de Raymond J. Healy & J. Francis McComas, eds., e The Astounding Science
Fiction Anthology (1952), de John W. Campbell, Jr., ed. –, que podiam negociar diretamente
com empresas detentoras de direitos (como a Street & Smith Publications, nos dois casos). No
Brasil, a dispersão do material torna difícil a pesquisa, a identificação dos autores e a
negociação de direitos. Ao mesmo tempo, seu interesse junto ao meio acadêmico ainda é
pequeno, tornando difícil justificar esforços de pesquisa, recuperação e compilação. (Por
exemplo, o melhor levantamento da ficção científica curta em periódicos foi feito por um
pesquisador-fã, Ruby Felisbino Medeiros.) São quase inexistentes bibliotecas universitárias
que abriguem coleções substanciais desse material. Enfim, o interesse editorial por sua
recuperação – salvo por nomes de peso como o caso de Patrícia Galvão e Nelson Rodrigues, e,
mais recentemente, João Guimarães Rosa – é pequeno, lembrando ainda que apenas a revista
Ficção (longe de ser uma revista de emoção) mereceu uma antologia retrospectiva. Além
destes exemplos, umas poucas narrativas de Gerson Lodi-Ribeiro, Jorge Luiz Calife, Fausto
Cunha, André Carneiro e Rubens Teixeira Scavone, vistas nas revistas de emoção entre 1970
e 1993 reapareceram ou têm reaparecido em coletâneas desses autores. Ninguém ainda
produziu uma iconografia abrangente dos artistas brasileiros que atuaram em tais publicações.
Enfim, o único programa de recuperação e valorização histórica da FC brasileira foi
empreitado por mim e pelo editor Douglas Quinta Reis, da Devir Livraria, de São Paulo, com
as antologias Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (2007), Os Melhores
Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras (2009) e As Melhores Novelas Brasileiras
de Ficção Científica (2011), mas não pôde recuar muito no campo das revistas de emoção.
25
Veja em http://www.perry-rhodan.com.br/.
26
A inspiração parece que se torna uma confluência, já que o projeto Lama deu origem
recentemente ao livro Lama: Antologia 1 (http://revistalama.blogspot.com.br/).
OBRAS CITADAS
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de Sousa Causo: Os Pulps Brasileiros
PAES, José Paulo. A Aventura Literária: Ensaios sobre Ficção e Ficções. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
SANCHES NETO, Miguel. “Acima de Tudo Contistas”. In SANCHES NETO,
Miguel, ed. Ficção: Histórias para o Prazer da Leitura: Uma Antologia.
Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007, pp. 5-13.
SCHOLES, Robert. Structural Fabulations: An Essay on Fiction of the Future.
Notre Damme: University of Notre Damme, 1975.