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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
GRUPO DE PESQUISA EM SAÚDE MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Modelo Explicativo da Exclusão Social de Usuárias de Drogas com base no Preconceito e

nos Estereótipos de Gênero

Katruccy Tenório Medeiros

João Pessoa – PB
Agosto – 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
GRUPO DE PESQUISA EM SAÚDE MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Modelo Explicativo da Exclusão Social de Usuárias de Drogas com base no Preconceito e

nos Estereótipos de Gênero

Katruccy Tenório Medeiros (Doutoranda)

Profa. Dra. Silvana Carneiro Maciel (Orientadora)

João Pessoa – PB

Agosto – 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL
GRUPO DE PESQUISA EM SAÚDE MENTAL E DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Modelo Explicativo da Exclusão Social de Usuárias de Drogas com base no Preconceito e

nos Estereótipos de Gênero

Tese de doutorado submetida ao Programa de


Pós-Graduação em Psicologia Social da
Universidade Federal da Paraíba por Katruccy
Tenório Medeiros, sob a orientação da Profa. Dra.
Silvana Carneiro Maciel, como requisito parcial
para a obtenção do grau de Doutora em
Psicologia Social.

João Pessoa – PB

Agosto – 2018
Não

é a malignidade da droga, portanto,

que cria a prisão do vício,

Mas,

o abandono afetivo e social e

a experiência silenciosa de uma

humilhação ubíqua e sem

explicação palpável.

(Souza, 2016, p. 37)


Aos meus verdadeiros e eternos amigos,
meus anjinhos da guarda, Florêncio e Dilma (pais).
AGRADECIMENTOS

À Deus por me permitir viver mais este desafio. E que venham tantos outros!

Aos meus pais, Florêncio e Dilma, por cada momento de apoio incondicional durante

este percurso e durante TODA A MINHA EXISTÊNCIA. Meu maior combustível.

Aos meus irmãos, Petruccio e Petróvisk, por sempre acreditarem na minha capacidade

de superação.

Aos meus sobrinhos Rafael e Lara, por serem fontes de inspiração de um mundo

melhor.

À avó paterna Anunciada (in Memoriam), que sempre vibrou com minhas conquistas.

Essa sem dúvida seria para ela mais um motivo de felicidade.

À avó materna Adélia, por ser um sinônimo de mulher Forte. Fonte de amor,

acolhimento e simplicidade para toda família.

Às amigas irmãs de vida Sabrina e Jordanna, o meu mais profundo agradecimento por

cada momento de apoio e cada palavra de incentivo. Não há quem chegue muito longe sem o

amor concedido num ombro de amigo...

Aos mais que especiais amigos, Diogo, Aline, Dayane, Léo e Alécio, por estarem

presentes em tantos momentos ao longo dos últimos anos. Foram excepcionais.

Às amigas de infância, Villany e Fernanda, pelo valioso convívio do passado que

ainda se faz tão presente nos dias atuais.

Às amigas que a vida acadêmica me deu, Patricia e Juliana, por serem tão importantes

nos momentos mais difíceis e angustiantes. Vocês tiveram uma linda passagem durante esta

fase.

Aos amigos brasileiros conquistados em Portugal, Helen, Renata, Rafaela, Gustavo,

Paulo, Gláucia e Aline. Pelos momentos que nunca apagarão da memória!


Aos queridos amigos portugueses Marina, José, Zinha, Lina e Filipa, os quais foram

fontes de apoio emocional durante a fase no exterior.

Ao GPSMDQ, por despertar em mim o sentimento de pertença grupal no ambiente

acadêmico e por ser a minha “casa” durante esse período.

À convivência harmoniosa que o GPSMDQ me deu, Camila Dias, Camila Alencar,

Tátia, Giselli, Thaís Gomes, Thaís Menezes, Maria Theresa e Luã.

À professora Dra. Silvana Maciel, a qual fez parte de uma longa jornada durante toda

a minha vida acadêmica. Meus sinceros agradecimentos pelas orientações, pelos incentivos e,

principalmente, por contribuir com meu crescimento pessoal e profissional.

Ao professor Dr. Carlos Eduardo, pela grandiosa ajuda e pelas valiosas trocas de

conhecimentos.

Ao PPGPS-UFPB de modo geral pela prestação de serviços. Aos professores que

passaram pela minha formação, os quais sou muito grata.

Ao CNPq, pelo incentivo financeiro durante os três primeiros anos de doutorado.

À CAPES, por oportunizar a vivência de estagiar no exterior, momento de grande

valia na minha formação e no meu crescimento pessoal. Pela experiência magnífica!

Ao ISCTE-IUL, por aceitar ser a minha “morada” acadêmica em Portugal durante o

sanduíche.

À professora lusitana Dra. Joana Alexandre, por me receber com grande entusiasmo e

pelo valioso aprendizado durante o ano de sanduíche.

Aos participantes (estudantes universitários) que dedicaram seu tempo para contribuir

com este trabalho.

A todos e todas que incentivaram em alguma medida a realização deste projeto de

vida. Obrigada por acreditarem!


Finalizo, agradecendo à TODAS as Mulheres que ao longo da história,

desempenharam um papel extraordinário na luta e no enfrentamento do preconceito e da

discriminação de gênero. Espero também contribuir com o meu fazer profissional, na busca de

um mundo mais igualitário para homens e mulheres.


RESUMO

O preconceito frente às mulheres ainda permanece enquanto um fenômeno de impacto na


sociedade atual, especialmente quando estas são vistas enquanto “transgressoras”. As
mulheres ao serem visualizadas enquanto usuárias de drogas constituem um grupo alvo de
exclusão social, explicada pela percepção de ameaça, pela moralização e pelos estereótipos de
gênero. A partir de uma abordagem multimétodo, foram realizados quatro estudos cujo
objetivo geral concentrou-se em criar um modelo explicativo da exclusão social de usuárias
de drogas com base no preconceito e nos estereótipos de gênero. No Estudo 1, qualitativo,
foram realizadas duas pesquisas; a primeira, no contexto brasileiro, utilizando-se de 100
universitários, buscou conhecer e comparar os estereótipos das mulheres com os das mulheres
tidas como usuárias de drogas, por meio da Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP)
e analisados com o auxílio de um software IRAMUTEQ, utilizando o estímulo indutor
Mulher - o qual foi associado à conteúdos materno-familiares, e o estímulo Mulher Usuária
de Drogas – ligado à conteúdos de abandono e isolamento; e a segunda pesquisa, de caráter
comparativo e transcultural Brasil-Portugal, utilizando-se 100 participantes de cada país e
com uso da TALP, buscou comparar os indutores Mulher – o qual permaneceu o conteúdo
maternal em ambos os países, e Mulher usuária de drogas/mulher toxicodependente,
descrevendo expressividade negativa para os brasileiros, e para os portugueses, conteúdos
patológicos. O Estudo 2, de caráter correlacional e utilizando-se de 208 universitários,
objetivou criar a medida: Escala de Estereótipos Femininos frente às Usuárias de Drogas
(EEFMUD); e adaptar e validar os seguintes instrumentos: Escala de Percepção de Ameaça
frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD); Escala de Moralização frente às
Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD); Escala de Intenção de Contato Social frente às
Mulheres Usuárias de Drogas (EICSMUD); e Escala de Exclusão Social frente às Mulheres
Usuárias de Drogas (EESMUD). Os resultados apontaram bons indicadores de validade e de
precisão. Já o Estudo 3, reuniu evidências de aceitabilidade das medidas empregadas no
estudo anterior, utilizando-se de nova testagem com 200 universitários. Os resultados
asseguraram bons indicadores psicométricos. Já o Estudo 4, buscou dimensionar o efeito
preditivo dos estereótipos, da percepção de ameaça, da moralização e da intenção de contato
social na exclusão social, utilizando uma amostra de 400 universitários. Os resultados
mostraram um modelo de mediação simples estatisticamente significativo (λ = 0,55, IC 90%
= 0,51/0,03 p<0,01), por meio da predição dos Estereótipos λ = 0,21 (IC 90% = 0,17/0,03) p<
0,01, da Percepção de Ameaça λ = 0,53 (IC 90% = 0,50; 0,04) p< 0,01 e da Moralização λ =
0,15 (IC 90% = 0,08; 0,02) p< 0,01, na variável Exclusão Social, a partir da Intenção de
Contato Social enquanto mediadora. De modo geral, os resultados sustentam a presente tese e
empreenderam importantes contribuições no entendimento da associação dos estereótipos de
gênero e do preconceito com a manifestação da exclusão social frente às mulheres no
contexto de uso de drogas. Ademais, a comparação transcultural sobre a estereotipagem da
mulher e das usuárias de drogas elucidou alguns questionamentos sobre os elementos
culturais que emergem enquanto base de conhecimento social difundido sobre a temática nos
dois países.

Palavras-chave: Preconceito; Drogas; Exclusão social; Estereótipos de gênero; Mulheres.


ABSTRACT

The prejudice against women still remains as a phenomenon of impact on society, especially
when these are seen as "Swerve". Women to be viewed while drug users constitute a target
group of social exclusion, explained by the perception of threat, by moralizing and by gender
stereotypes. From a multimétodo approach, were conducted four studies whose overall
objective was to create an explanatory model of social exclusion of drug users based on
prejudice and gender stereotypes. In 1 Study, qualitative, two surveys were conducted; the
first, in the Brazilian context, using 100 college students, sought to know and compare the
stereotypes of women with those of women believed to be drug users, by means of the
technique of free association of Words (TALP) and analyzed with the assistance IRAMUTEQ
software, with the Woman-inducing stimulus which was associated with maternal-family
content, and stimulating Woman drug User-connected to the contents of abandonment and
isolation; and the second research, comparative and cross-cultural character Brazil-Portugal,
using 100 participants from each country and with use of TALP, sought to compare the
inductors Woman-which remained the maternal content in both countries, and drug-using
Women/ woman addict, describing expressiveness for the Brazilians, and the Portuguese,
pathological content. 2 study, correlational character and using of 208 students, aimed to
create the measure: female stereotypes against the Use of Drugs (EEFMUD); and adapt and
validate the following instruments: Perception of Threat to Women Drug Users (EPAMUD);
Scale of Moralization front women drug Users (EMMUD); Scale of intended Social contact
front women drug Users (EICSMUD); and scale of Social exclusion to Women Drug Users
(EESMUD). The results showed good indicators validity and accuracy. Already the 3 Study,
gathered evidence of acceptability of the measures employed in the previous study, using new
testing with 200 students. The results ensured good psychometric indicators. Already the
study 4, sought to scale the predictive effect of stereotypes, the perception of threat, of
moralizing and intention of social contact in social exclusion, using a sample of 400 students.
The results showed a simple mediation model statistically significant (λ = 0.55, 90% CI =
0.51/0.03 p < 0.01), through the prediction of Stereotypes λ = 0.21 (90% CI = 0.17/0.03) p
0.01, perception < Threat λ = 0.53 (90% CI = 0.50; 0.01 and 0.04 p < Moraliz λ = 0.15 action
(90% CI = 0.08; 0.02) 0.01, in variable < Social exclusion, from the intention to Contact
Social.

Keywords: Prejudice; Drugs; Social exclusion; Gender stereotypes; women.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 17
ENQUADRAMENTO TEÓRICO ........................................................................................... 13
CAPÍTULO 1. A Construção Social da Mulher: papéis sociais normativos e os discursos
acerca da perspectiva de gênero .............................................................................................. 20
1.1 A Construção Social da Mulher: historicidade e perspectivas sobre a feminilidade e seu
“ideal” ................................................................................................................................... 20
1.2 Os desdobramentos do Feminismo: mudanças na representação da Mulher e na sua
participação sociopolítica...................................................................................................... 31
1.3 A Perspectiva de Gênero: uma breve leitura analítica das estruturas hierárquicas de
poder ..................................................................................................................................... 35
CAPÍTULO 2. A Mulher e as Drogas: a perspectiva do desvio e as interfaces com a saúde
das usuárias ............................................................................................................................. 43
2.1 A Mulher e o uso de drogas enquanto comportamento transgressor .............................. 43
2.2 A Mulher no estigma da desviância e as interfaces com a saúde pública ....................... 52
CAPÍTULO 3. Estereótipos de gênero, Preconceito e suas implicações no processo de
Exclusão Social enfrentada pelas Usuárias de Drogas.......................................................... 58
3. 1 Sobre os Estereótipos ..................................................................................................... 59
3.1.1. O Conteúdo de gênero nos estereótipos e o controle normativo sobre o feminino . 66
3. 2 Sobre o Preconceito ....................................................................................................... 76
3.2.1 O Sexismo no Contexto do Uso de Drogas: hipóteses e articulações teóricas ........ 85
PARTE EMPÍRICA................................................................................................................. 91
CAPÍTULO 4. Apresentação dos Objetivos e dos Estudos Empíricos................................... 93
ESTUDO 1 ............................................................................................................................ 97
4.1.1 Pesquisa 1 – A Mulher e Mulher Usuária de Drogas: um estudo sobre os estereótipos
de gênero ............................................................................................................................... 97
Método .............................................................................................................................. 97
Resultados e Discussão Parcial ....................................................................................... 100
Considerações parciais .................................................................................................... 115
4.1.2 Pesquisa 2 – A Mulher e Mulher Toxicodependente: umv estudo comparativo dos
estereótipos de gênero no Brasil e em Portugal .................................................................. 116
Método ............................................................................................................................ 117
Resultados e Discussão Parcial ....................................................................................... 120
Considerações Parciais .................................................................................................... 127
ESTUDO 2 .......................................................................................................................... 130
4.2 Parâmetros psicométricos preliminares das medidas explícitas utilizadas ................... 130
4.2.1 Método ................................................................................................................... 131
4.2.2 Resultados .............................................................................................................. 134
4.2.3 Discussão Parcial.................................................................................................... 148
ESTUDO 3 .......................................................................................................................... 153
4.3 Análises confirmatórias das medidas psicométricas ..................................................... 153
4.3.1 Método ................................................................................................................... 153
4.3.2 Resultados .............................................................................................................. 156
4.3.3. Discussão parcial ................................................................................................... 167
ESTUDO 4 .......................................................................................................................... 171
4.4 Modelo Explicativo da Exclusão Social de Mulheres Usuárias de Drogas a partir das
medidas do preconceito e dos Estereótipos de Gênero ....................................................... 171
4.4.1 Método ................................................................................................................... 171
4.4.2 Resultados .............................................................................................................. 173
4.4.3 Discussão Geral ...................................................................................................... 179
CAPÍTULO 5. Considerações finais .................................................................................... 187
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 192
APÊNDICES.......................................................................................................................... 218
ANEXO .................................................................................................................................. 227
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Predição dos estereótipos a partir das combinações entre status e interdependência
.................................................................................................................................................. 70

Figura 2. Desenho metodológico da pesquisa ........................................................................ 94

Figura 3. Nuvem de Palavras referente às evocações dos Universitários sobre o estímulo


indutor “Mulher” ................................................................................................................... 101

Figura 4. Árvore de Similitude referente às evocações dos universitários sobre o estímulo


“Mulher” ................................................................................................................................ 102

Figura 5. Nuvem de Palavras referente às evocações dos Universitários sobre o estímulo


indutor “Mulher Usuária de Drogas”..................................................................................... 109

Figura 6. Árvore de Similitude referente às evocações dos universitários sobre o estímulo


“Mulher Usuária de Drogas” ................................................................................................. 110

Figura 7. Árvore de Similitude sobre o estímulo “Mulher” referente aos Universitários


Brasileiros e Portugueses ....................................................................................................... 122
Figura 8. Árvore de Similitude sobre o estímulo “Mulher Usuária de drogas/Mulher
toxicodependente” referente aos Universitários Brasileiros e Portugueses .......................... 124
Figura 9. Representação gráfica dos valores próprios da Escala de Estereótipos Femininos
frente às Mulheres Usuárias de Drogas ................................................................................ 136

Figura 10. Representação gráfica dos valores próprios da Escala de Percepção de ameaça
frente às Mulheres Usuárias de Drogas ................................................................................ 139

Figura 11. Representação gráfica do valor próprio da Escala de Moralização frente às


Mulheres Usuárias de Drogas ............................................................................................... 141

Figura 12. Representação gráfica dos valores próprios da Escala de Intenção de Contato
Social .................................................................................................................................... 143

Figura 13. Representação gráfica dos valores próprios da Escala de Exclusão Social frente às
Mulheres Usuárias de Drogas ............................................................................................... 146

Figura 14. Estrutura unifatorial do modelo da Escala de Estereótipos Femininos frente às


Mulheres Usuárias de Drogas ............................................................................................... 158

Figura 15. Estrutura fatorial do modelo unidimensional da Escala de Percepção de Ameaça


frente às Mulheres Usuárias de Drogas ................................................................................ 160

Figura 16. Estrutura fatorial da Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas
............................................................................................................................................... 162
Figura 17. Estrutura fatorial da Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres
Usuárias de Drogas ............................................................................................................... 164

Figura 18. Estrutura fatorial da Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de
Drogas ................................................................................................................................... 166

Figura 19. Efeitos diretos dos Estereótipos, Percepção de Ameaça e Moralização na Exclusão
Social .................................................................................................................................... 177
Figura 20. Efeitos diretos e indiretos dos Estereótipos, da Percepção de Ameaça e da
Moralização na Exclusão Social mediada pela Intenção de Contato Social ........................ 178
Figura 21. Mediação parcial dos Estereótipos, da Percepção de Ameaça e da Moralização na
Exclusão Social por meio da Intenção de Contato Social .................................................... 179
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Descrição dos universitários brasileiros e portugueses segundo os dados


sociodemográficos (N= 200) .............................. .................................................................. 121

Tabela 2. Distribuição dos fatores de acordo com o critério de Kaiser e análise paralela sobre
a Escala de Estereótipos Femininos frente à Mulher Usuária de Drogas ........................... 136

Tabela 3. Estrutura Fatorial da Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias


de Drogas .............................................................................................................................. 137

Tabela 4. Estrutura fatorial da Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias


de Drogas .............................................................................................................................. 139

Tabela 5. Estrutura fatorial da Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas


............................................................................................................................................... 142

Tabela 6. Distribuição dos fatores de acordo com o critério de Kaiser e análise paralela sobre
a Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas ................. 144

Tabela 7. Estrutura fatorial da Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres


Usuárias de Drogas ............................................................................................................... 144

Tabela 8. Distribuição dos fatores de acordo com o critério de Kaiser e análise paralela sobre
a Escala de Exclusão Social .................................................................................................. 147

Tabela 9. Estrutura fatorial da Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de


Drogas ................................................................................................................................... 147

Tabela 10. Índices de Ajuste de Modelo da Escala de Estereótipos Femininos frente às


Mulheres Usuária de Drogas ................................................................................................ 157

Tabela 11. Índices de Ajuste de Modelo da Escala de Percepção de Ameaça frente às


Mulheres Usuária de Drogas ................................................................................................ 160

Tabela 12. Índices de Ajuste do Modelo Testado da Escala de Intenção de Contato Social .....
............................................................................................................................................... 163
Tabela 13. Índices de Ajustes de Modelo da Escala de Exclusão Social frente às Mulheres
Usuárias de Drogas ............................................................................................................... 165
Tabela 14. Estatísticas descritivas e correlações bivariadas entre as variáveis do Estudo 4 (N
= 400) ................................................................................................................................... 174
INTRODUÇÃO
__________________________________________________________________________________
P á g i n a | 13

O debate acerca das questões relativas a gênero é objeto de estudo consolidado nas

mais diversas áreas do conhecimento, recebendo ênfase da Psicologia Social, por propiciar

um campo fértil de análise das hierarquias sociais suscitadas por esta temática. Localizar a

emergência das desigualdades enfrentadas pelas mulheres, é decodificar uma categoria

construída social e politicamente sob os pilares da vulnerabilidade e dos processos de

exclusão.

No percurso da contemporaneidade, tem-se observado uma diminuição da rigidez

social dos padrões normativos referentes aos homens e às mulheres, permitindo novas

conjecturas e o reconhecimento de outros modelos de integração social inclusivos ao mundo

feminino, impulsionado, sobretudo, a partir da ampliação dos direitos, garantias e

oportunidades das mulheres nos espaços em sociedade (Brasil, 2010; Constituição da

República Federativa do Brasil, 2006; Relatório de Direitos Humanos, ONU, 2000). Não

obstante, embora se tenha atualmente uma interpretação valorativa e mais igualitária dos

direitos das mulheres, estas ainda se defrontam com o preconceito como seu maior adversário,

arraigado, notadamente, no imaginário social vigente. É consenso entre diversos

pesquisadores da área, que o preconceito dirigido às mulheres, conceituado enquanto sexismo,

assim como o racismo e a homofobia, por exemplo, não se extinguiu, mas assumiu uma

diminuição quanto a manifestação direta, àquela remetida às crenças quanto à inferioridade do

grupo minoritário (Allport, 1954; Jones, 1972). Neste sentido, tem-se observado outros

esquemas mentais na forma do discriminar, salientando atitudes preconceituosas numa versão

mais disfarçada (Glick & Fiske, 1996; Mladinic et al., 1998; Pettigrew & Meertens, 1995).

Essa nova forma de expressão do preconceito se deve, sobretudo, ao efeito da norma

do antipreconceito, que faz com que as pessoas camuflem os sentimentos hostis acerca dos

membros dos grupos sociais excluídos, no caso desse estudo, as mulheres, através de um

suposto discurso de igualdade, na qual as atitudes sexistas flagrantes a elas dirigidas, tem se
P á g i n a | 14

expressado também de forma simbólica ou indireta (Ferreira, 2004; Formiga, Gouveia &

Santos, 2002). Com isso, no contexto atual imperativo de inclusão social e de normas e leis

igualitárias entre homens e mulheres, algumas questões reflexivas se destacam com relação às

mulheres e, mais especificamente, ao envolvimento destas com o campo das drogas. Em face

dessa problemática, argumenta-se: as mulheres ao se envolverem em comportamento

considerados “transgressores”, como o consumo abusivo de drogas, configuraria um grupo

alvo de rejeição social? E quais fatores estariam subjacentes a expressão do preconceito e a

exclusão desse grupo social?

A forma como se repercute a temática das mulheres no campo das drogas é minada

por crenças e representações negativas, uma vez que tal fenômeno incide sob, ora numa

condição de saúde indesejável ora numa perspectiva jurídica de ilegalidade e, em síntese, está

associado a um comportamento “transgressor”, entendido enquanto prejudicial à integração

sadia na sociedade e, portanto, fora da “normalidade” em relação a um padrão específico

(Becker; 2008; Malheiro & Macrae, 2011; Ronzani & Furtado, 2010). Essa problemática se

amplifica por meio das “marcas” ou “impressões” de desaprovação social, que se associam a

inferência de julgamentos negativos pelo suposto descumprimento de seus papéis de gênero

materno-familiares (Medeiros et al., 2015; Medeiros, Maciel & Sousa, 2017). Nesse sentido, a

injunção de estigma de “desviante” às mulheres, tende a ser objeto de reprovação da

sociedade e a fomentar o distanciamento social frente à esta população.

A literatura que trata sobre o tema do consumo abusivo de drogas, tem reunido

evidências de que esta é uma das condições de saúde mais moralizadas e estigmatizadas no

mundo (Gomide et al., 2010; Silveira et al., 2011; Soares et al., 2011). Ronzani e Furtado

(2010) destacam que a pertença ao grupo de usuários de drogas está associado a notáveis

consequências para os membros que o integram, podendo incluir uma coleção de atributos

negativos diferentes, as quais envolvem: o desejo de rejeição ao contato social a partir da


P á g i n a | 15

inferência de uma ameaça voltada para a periculosidade dos usuários (Blascovich et al., 2001;

Maciel et al., 2017, no prelo); e a culpabilização voltada para a atribuição moral dos usuários

(Corrigan et al., 2003; Palm, 2006; Soares et al., 2011); além de aumento da vulnerabilidade a

determinadas condições de saúde alvo de preocupação mundial (Barney, Griffiths, Jorm, &

Christensen, 2006; Link, 1987; Link & Phelan, 1999; 2001; 2006).

Aliado a essas questões associadas aos indivíduos que compõe o grupo de usuários de

drogas, a categoria de gênero também perpassa o entendimento da toxicodependência

feminina, onde se torna visível uma “carga social” permeada pelas construções socioculturais

assimétricas acerca dos sexos, que se reflete nas edificações simbólicas construídas sobre o

feminino e em suas relações com outros grupos sociais (Amâncio, 2003; 2010; Ressel, 2009).

Nesse sentido, assume-se como pressupostos que, embora haja a saliência da norma

antipreconceito frente às mulheres na sociedade e do discurso de inclusão das pessoas que

apresentam problemas decorrentes do abuso de drogas, as mulheres usuárias de drogas

constituem um grupo alvo de exclusão social. Confundem-se com os grupos de estigma e/ou

desvio, onde lhes são atribuídas características de periculosidade e moralização, estando

também associado à contramão dos papéis normativos esperados para o feminino –

estereótipos de sociabilidade, afetividade e feminilidade. Portanto, a tese defendida no

presente trabalho é a de que as usuárias de drogas são alvos de exclusão social explicada pela

percepção de ameaça, moralização e pelos estereótipos negativos de gênero.

Em face dessa problemática, justifica-se este estudo por ser a exclusão social de

usuárias de drogas um fenômeno que vem marcando negativamente o cotidiano dessas

mulheres, configurando-se enquanto uma temática pertinente a nível social e científico.

Apesar dos estudos documentarem as consequências físicas e/ou psicológicas do uso de

substâncias psicoativas na vida dessas pessoas, no cenário atual há um déficit de pesquisas e


P á g i n a | 16

investigações que permitam dar subsídios para o enfrentamento de mulheres que se deparam

com atitudes preconceituosas e atos discriminatórios advindos das relações sociais de gênero,

somado ao fato de pertencerem a um grupo socialmente estigmatizado, como os usuários de

drogas no Brasil.

Neste sentindo, pretende-se abrir um diálogo a partir do entendimento de que o conceito

“gênero” abordado neste trabalho, constitui-se um demarcador social, e quando aliado a

problemática das drogas, configuram-se enquanto contextos que imprimem marcas ou traços

negativos, frutos de diferenciação do endogrupo versus exogrupo. Na busca de estabelecer

uma visão mais integrada desta problemática, essa discussão se localizará no campo teórico

da Psicologia Social e está fundamentada no diálogo entre os seguintes aportes: a Teoria do

Conteúdo dos Estereótipos (Fiske et al., 2002, 2007) e a Teoria do Preconceito numa leitura

mais societal (Camino, 1996; Doise, 1982). Este entrecruzamento teórico justifica-se, por

ambas as abordagens assumirem um papel indispensável no entendimento dos fatores

subjacentes aos processos de exclusão social sobre o grupo alvo de investigação.

Procurando atender a finalidade da presente pesquisa, buscou-se estruturar este

trabalho em duas partes principais. A primeira diz respeito ao seu marco teórico, o qual reúne

três capítulos. No Capítulo I, intitulado: A construção social da mulher: papéis sociais

normativos e os discursos acerca da perspectiva de gênero, apresenta uma introdução

referente à construção social do sexo feminino e uma breve exposição narrativa acerca dos

conteúdos de gênero. O Capítulo II, A mulher e as drogas: a perspectiva do desvio e as

interfaces com a saúde das usuárias traceja a construção social da desviância feminina a

partir do consumo de drogas. Com relação ao Capítulo III, este traz a apresentação do

referencial teórico acerca dos Estereótipos de gênero, Preconceito e suas implicações no

processo da Exclusão Social enfrentada pelas Usuárias de Drogas, seguido das

articulações com os pressupostos teóricos e das hipóteses de pesquisa.


P á g i n a | 17

A segunda seção configura a parte empírica, na qual é abordada a apresentação dos

objetivos e dos estudos empíricos, seguido da discussão geral e considerações finais. Neste

seguimento, é descrito o Capítulo IV, composto pela Apresentação dos Objetivos e dos

Estudos Empíricos (1, 2, 3 e 4). O Estudo 1 é composto por duas pesquisas, uma no contexto

brasileiro que introduz uma investigação inicial exploratória sobre os traços estereotípicos

sobre a Mulher e sobre a Mulher Usuária de Drogas; e a segunda pesquisa traz uma

comparação transcultural entre Brasil-Portugal1, no sentido de identificar as semelhanças e

diferenças acerca dos estereótipos atribuídos à mulher e à mulher usuária de drogas no

contexto brasileiro e na sociedade portuguesa. O Estudo 2 traz as análises exploratórias

preliminares das medidas utilizadas no presente trabalho. Referente ao Estudo 3, este reúne as

evidências dos parâmetros psicométricos complementares dos instrumentos avaliados. O

Estudo 4 cumpre a função de expor a descrição dos correlatos entre as medidas avaliadas,

bem como a testagem do modelo explicativo proposto. E por último, segue o Capítulo V, o

qual cumpre o objetivo de expor as Considerações Finais.

1
Este estudo integra parte de atividades desenvolvidas no estágio de doutorado sanduíche no exterior financiado
pela CAPES (PDSE - Edital nº 19/2016, 88881.131938/2016-01)
SEÇÃO I
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
CAPÍTULO. 1
__________________________________________

A Construção Social da Mulher: papéis sociais normativos


e os discursos acerca da perspectiva de gênero
__________________________________________
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CAPÍTULO 1. A Construção Social da Mulher: papéis sociais normativos e os discursos

acerca da perspectiva de gênero

Como forma de estruturar o presente capítulo, decidiu-se apresentar enquanto enfoque

inicial a construção da categoria social Mulher, a representação discursiva da identidade

feminina e a sistematização dos comportamentos sociais normativos idealizados para a mulher

na sociedade e solidificados ao longo da história. Em um segundo momento, direciona-se as

reflexões teóricas para uma leitura acerca do conceito de gênero enquanto contexto

demarcador de desigualdades sociais, buscando delinear a influência do movimento feminista

e as mudanças na organização social, cultural e política acerca das relações de gênero na

sociedade atual.

1.1 A Construção Social da Mulher: historicidade e perspectivas sobre a feminilidade e

seu “ideal”

(...) a própria mulher reconhece que o universo em seu conjunto é


masculino; os homens modelaram-no, dirigiram-no e ainda hoje o
dominam; ela não se considera responsável; está entendido que é
inferior, dependente; não aprendeu as lições da violência, nunca
emergiu, como um sujeito, em face dos outros membros da
coletividade, fechada em sua carne, em sua casa, aprende-se como
passiva em face desses deuses de figura humana que definem fins e
valores.
(Beauvoir, 1949, p. 364)

A presente afirmação de Simone De Beauvoir, usada aqui como epígrafe para iniciar a

discussão que será apresentada, retrata as diferenças sexuais e, mais especificamente, como

estas distinções se transformaram ao longo do tempo em desigualdades de funções, de direitos

e desembocaram numa construção social hierárquica entre os sexos. Para o entendimento


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dessa realidade, é preciso resgatar a historicidade com que se constituiu o universo feminino

ao longo dos diversos períodos.

No decurso da história, o tema da diferença sexual entre homens e mulheres sempre se

fez presente, sendo fundamentado nos mais diversos discursos: filosófico, religioso,

biomédico, social, entre outros. Cada um, fundamentado por suas doutrinas ideológicas,

demarcou postos firmes, sólidos, e que por muito tempo se tornou verdades quase que

imutáveis sobre o feminino e o seu lugar na esfera social.

A filosofia por ser considerada a pioneira das ciências, teve notáveis contribuições

sobre as primeiras descrições do feminino. Aristóteles em seus manuscritos descrevia a

mulher como um homem incompleto, imperfeito, vista como um “desvio”, valendo-se da sua

ideia de que o corpo da mulher era mais fraco e, consequentemente, a alma também o seria.

Essa noção de inferioridade da alma feminina também foi concebida nas descrições de Platão.

As ideias propostas pela filosofia grega permearam a cultura ocidental, de forma que, é a

partir dessas clivagens simbólicas, que se justificou o mito da inferioridade feminina,

atribuindo-lhes qualidades negativas e associando-as ao desejo e a desordem; como um ser

inferior por natureza (Melo, 2013).

Com o Cristianismo e o Judaísmo, doutrinas religiosas que representaram grandes

narrativas do Ocidente, passou-se a consolidar o androcentrismo, ou seja, a valorização do

homem, fazendo-o persistir e radicalizar tais ideais ao longo de toda a idade média (Amâncio,

1998). No então período medieval, partia-se da ideia de que existia apenas um sexo, o

masculino. Este era descrito como perfeito e a distinção entre homem e mulher era feita pela

presença ou ausência do humor quente nos corpos, sendo que este estava presente no sexo

masculino e a ausência dele, no feminino. Exemplificando isto, Lycnh (2006, p.23) descreve

em seus textos: “haveria um sexo, mas dois pólos opostos: o masculino estaria ligado à ideia
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de luminosidade, de verdade, de exterioridade; e o feminino passa a ser símbolo da escuridão,

da não verdade, da subalternidade”.

Ainda em decorrência desse período histórico, Estramiana e Ruiz (2006) afirmam que

havia um imaginário coletivo que associava a mulher a um personagem polimorfo, vinculado

tanto à imagem de reprodução e fertilidade com marca de defeitos e falhas, como também a

uma representação de desvio e marginalidade. Em seu estudo no contexto espanhol, os autores

utilizaram como material de análise uma amostra de imagens femininas contidas na Biblioteca

Nacional e publicadas no Livro “Monstruos y Seres Imaginarios”. Os principais resultados

destacam uma galeria de imagens em que o corpo feminino tem sido o elemento imagético do

qual se simboliza tudo o que é fora da norma; a mulher recebe por excelência a missão

materna de estimular e cuidar das crianças, mas também é descrita com a sexualidade temível,

que dá a luz a todos os tipos de monstros e deformados física e moralmente, fonte de

desgraças e de perversões. Havia imagens em que o mal encarnado no corpo da mulher estava

presente nas raízes da mitologia grega – como a caixa de Pandora – a caixa entregue por Zeus

para Pandora, bloqueando todos os males, e esta movida por curiosidade abre a caixa,

deixando espalhar todos os males pelo mundo. Está presente também nas raízes bíblicas,

como o mal introduzido por Eva por ter partilhado com Adão o fruto da árvore proibida.

Pelas descrições dos textos bíblicos, segundo Melo (2013), durante séculos a igreja

pregou que a mulher era imperfeita, uma vez que foi derivada de uma costela defeituosa de

Adão e, como consequência disso, deveria submissão e obediência à figura masculina. Araújo

(2006) esclarece que era função das comunidades eclesiásticas adestrar a sexualidade das

mulheres por meio dos homens, que eram seus superiores e, portanto, cabia-lhes exercer a

autoridade. Ainda segundo a autora, concebia-se a mulher a partir de figuras ambíguas, tais

como: bruxa e santa, pura e mãe, e por essa razão, o ideal de Maria, virgem e mãe, era

estimulado nas mulheres.


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Com o surgimento da filosofia Iluminista, cujo discurso irá dar origem à ciência

moderna, o domínio das crenças, dos mitos e da irracionalidade dará lugar à razão, à

abstração, à teorização, ao método científico e a ruptura com a natureza (Amâncio, 1998).

Para os iluministas, o discurso sobre os sexos é pacífico, tinha-se a ideia de que as mulheres

ou não tem razão ou tem uma razão inferior; assumia-se o discurso da inferioridade intelectual

da mulher.

Entretanto, é no início do século XVII, na modernidade, que o masculino e o feminino

passam a serem vistos pela diferença sexual por meio dos aspectos biológicos (Araújo, 2006).

Retomando as ideias de Platão sobre maternidade e desejo, o útero era tido como órgão

“perigoso”, que pode agir de forma independente ao resto do corpo da mulher, levando-a a

histeria. Neste período, o discurso médico acaba por confirmar superstições diante de fatos

científicos contraditórios e, por isso, parte da descrição do corpo feminino como uma cópia

defeituosa do corpo do homem, para a crença de uma natureza frágil, sujeita às desordens

provenientes dos seus órgãos reprodutivos (Nogueira, 2001).

Nos períodos posteriores, esse debate acerca das diferenças entre os sexos ocorreu

arraigado, principalmente, entre duas perspectivas: a essencialista e a culturalista. Pode-se

compreender o discurso essencialista por meio da exaltação à diferença sexual, postulando

haver a existência de uma “essência feminina”. Neste pensamento, a tendência é de

psicologizar ou biologizar as diferenças percebidas, minimizando ou negando as constatações

sociológicas e culturais produzidas historicamente; por meio dessas crenças essencialistas,

realizam-se afirmações universais que enquadram a feminilidade em modelos estruturados e,

ainda que idelogicamente valorizados (mãe e esposa), tal pensamento supõe um ideal

feminino universal e determinista – são as mulheres responsáveis pela procriação e

continuidade da vida (Araújo, 2005).


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No que concerne a perspectiva culturalista, as diferenças sexuais advêm do processo

de socialização e dos fatores culturais. Para Pereira (2004), essa abordagem considera o

caráter social e simbólico não apenas como determinantes para a categoria, mas como

constituintes fundamentais desta. Em cada sociedade, homens e mulheres, assumem papéis

diferenciados, os quais são atribuídos um status a cada sexo, e ao ser internalizado, serve

como orientação de conduta adequada à identidade de gênero e as expectativas que lhes são

associadas (Amâncio, 1992). É neste contexto que se desenvolveram importantes correntes

teóricas no estudo das relações hierárquicas de gênero, que serão melhor detalhadas ao longo

do presente trabalho.

O que se percebe enquanto denominador comum entre ambas as perspectivas, a

essencialista e a culturalista, não é só o fato de que percepções, avaliações e expectativas de

comportamentos, suscitadas pela variável sexo são diferentes, sejam estas motivadas ora por

fatores individuais ora questões sociais, mas pelo fato de que tais diferenças assumem um

significado assimétrico. Nesse âmbito, torna-se necessário mostrar que os conteúdos

caracterizadores do gênero masculino e do feminino, as orientações normativas do

comportamento de homens e mulheres, e as dimensões explicativas desse comportamento,

estão interligados em representações e crenças que estabelecem uma assimetria entre os sexos,

e que essa forma de pensamento social, justifica e legitima posições específicas no sistema

social. Este pensamento é expresso de forma clara nos dizeres de Ferreira (2010, p. 75):

“A diversidade que envolve estes pares de opostos, mais do que uma diferença é um

diferendo. Se a oposição homem/mulher se justifica a partir do biológico, a diferença

masculino/feminino tem uma carga cultural muito forte, prendendo-se com um

imaginário, com uma ideologia, com representações que determinam nitidamente

aquilo que é característico de homens e aquilo que cabe às mulheres, identificando-se

com as normas dominantes (embora variadas) das diferentes sociedades”.


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Sobre essa lógica, a especificidade da pessoa feminina socialmente representada, se

constituiu enraizada em modelos tradicionais de relações de gênero ao longo do tempo, como

propõe Formiga e Camino (2001). Existiu, e ainda existe em alguma medida, um modelo que

contempla uma visão polarizada acerca dos gêneros – o masculino versus o feminino, sendo

que a cada um destes lados do polo, atribuíram-lhes seus papéis de gênero e as suas

respectivas representações.

Esses conceitos ganham acentuada relevância quando se busca entender o que compõe

e o que naturaliza os papéis de gênero atribuídos a cada um dos sexos. Entende-se papéis de

gênero enquanto expectativas relacionadas com os papéis que os indivíduos de cada sexo

devem se comportar (Formiga & Camino, 2001); nesse sentido, pode-se encontrar um

conjunto de ideias concernentes à natureza das masculinidades e à natureza das feminilidades.

A literatura sobre a masculinidade e acerca da feminilidade tem mostrado que não há

um consenso sobre a definição desses conceitos. Contudo, é de comum acordo que a

identidade de gênero não se deve a um único fator; observam-se esforços de correntes teóricas

fundamentando as diferenças observáveis entre os sexos em dimensões independentes, sejam

estas em termos fisiológicos, psicológicos ou cognitivos, ou em processos informativos do

contexto social e político, que são capazes de desenvolver um esquema de gênero refletindo

as crenças existentes numa determinada sociedade. Estes fatores relacionam as características

de homens e de mulheres com uma autoimagem que direciona comportamentos, atitudes e as

características esperadas pela sociedade (Barros, Natividade & Hutz, 2013; Formiga &

Camino, 2013). Essa construção possui um dinamismo articulado e constante, que se faz

pensar que seria algo universal e natural.

Tendo em conta tais aspectos, pode-se argumentar que, levando-se em consideração os

aspectos físicos dos sexos ou os traços de personalidade, ao longo do tempo direcionou-se aos

homens um caráter de instrumentalidade, ritualizado como o lugar da ação, da decisão, da


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chefia de relações familiares e da paternidade como sinônimo de provimento material

(Minayo, 2005). Ademais, suas características se fundamentaram num sexo forte, assertivo,

independente, dominador e viril, e da mesma forma ou em consequência disso, tem-se na

pessoa do homem a posição social (e naturalizada) de agente de poder, havendo-se uma

relação direta entre as concepções vigentes de masculinidades e o exercício do domínio de

pessoas, das guerras e das conquistas.

Ao passo que para o feminino, considerou-se o lado frágil desse contínuo, nos moldes

de um papel secundário e marginal na sociedade, especialmente em termos de

produção/posição financeira e inserção no trabalho. À mulher foi dada a ênfase no traço de

expressividade e sociabilidade, por serem protetoras, sensíveis e empáticas. Delegou-se como

espaço de excelência o ambiente privado (o lar), a atenção e o cuidado com o outro, a

proteção da vida, a valorização da intimidade e do afetivo, daí, e com isso, são vistas como

mais aptas a exercerem atividades em que a sensibilidade e o cuidado pesem mais que a

competência (Araújo, 2005).

A partir dessa construção de instrumentalidade versus expressividade, e também por

meio da divisão dos papéis entre os sexos, se constituíram importantes conceitos os quais

traduzem a mulher como um objeto de subordinação e controle, sobretudo, nos aspectos

relacionados ao seu papel doméstico, maternal e da sua sexualidade.

Orientadas ao contato interpessoal no ambiente privado, à amabilidade com os outros,

à necessidade de afiliação e harmonia, um dos papéis de gênero mais significativos é o de que

apenas as mulheres podem desempenhar um eficaz papel doméstico no âmbito familiar. As

mulheres tornaram-se essenciais nesse contexto em que a ausência masculina era constante.

Sua importância era tanta que, não raro, eram consultadas pelos maridos antes de tomadas de

grandes decisões sobre o espaço do lar, embora sua vida fosse controlada e vigiada pelos seus

esposos, como fica evidente no fragmento trazido por Pedro, 2006, p. 288): “O emigrante
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necessita do auxílio de uma mulher e boa dona de casa [...] uma esposa aqui é tão necessária

como o pão de cada dia”. Além disso, procurava alerta-los: [...] procurem trazer uma esposa

com prendas domésticas e que não seja muito habituada a cidades grandes”.

Em recorte de texto acima, o autor incide sobre a divisão sexual do trabalho e a sua

discrepância de tarefas domésticas no período de colonização, especificamente na região sul

do Brasil. E ainda que atualmente se considere as mudanças sociais e culturais, as quais

buscam amenizar as disparidades entre os sexos no que diz respeito às divisões de trabalho,

percebe-se que a ênfase do feminino no trabalho doméstico ainda se mantém constante. Em

estudo realizado por Araújo e Scaflon (2005) em 2000 residências em 24 estados brasileiros,

apontaram que a maior parte do trabalho doméstico no país ainda continua sendo

majoritariamente uma atribuição da mulher. As autoras complementam afirmando que, ainda

que o ingresso das mulheres no mercado de trabalho tenha aumentado substancialmente no

Brasil nos últimos anos, esse crescimento não implicou numa divisão mais igualitária do

serviço doméstico, acentuando um acúmulo de funções e de tarefas. No contexto europeu,

nomeadamente Portugal, dados do último Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens

e Mulheres em 2015 (Perista et al., 2016), apontou algumas evidências no sentido de uma

crescente participação dos homens na vida familiar, especialmente quando comparado aos

anos anteriores; no entanto, quando analisado o tempo médio gastos por homens e mulheres

nas atividades domésticas, há sobreposição do tempo médio diário das mulheres às atividades

do lar e trabalhos de cuidado, mostrando-se uma distribuição ainda considerada injusta e

desigual.

Outro ponto-chave (senão o maior) no eventual modelo de subordinação e controle da

mulher se traduz por meio da maternidade. Tradicionalmente o fato de poder gerar filhos, e

assim dá continuidade ao processo da vida, sempre foi um aspecto intrínseco da mulher desde
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a história da humanidade até os dias atuais, podendo ser observado algumas mudanças de

valores e crenças no decorrer do tempo.

Desde o início das coletividades, a fertilidade é concebida como um presente divino,

dádiva dos deuses às mulheres, ao passo que a infertilidade era vista como um castigo. Na

antiguidade, a gravidez era considerada uma forma de integração da mulher na sociedade e

para isso eram realizados rituais; ao passo que mulheres grávidas e solteiras eram vistas como

impuras e sem dignidade. Em outras civilizações, como a grega, por exemplo, a residência em

que moravam mulheres grávidas era considerada um lugar inviolável, um santuário sagrado; e

na cultura romana, suspendiam-se grinaldas nas portas das casas onde residiam mulheres

grávidas como sinal de que não deveriam ser incomodadas. Em comunidades indígenas, a

gestação tinha toda uma conotação mística, concebiam-se as grávidas poderes mágicos, visto

que estavam ligadas ao filho e, consequentemente, ao mundo espiritual. Já em sociedades

rurais, associava-se reprodução à fecundidade da terra; nesse contexto as crianças apareciam

como necessárias para o trabalho e como segurança para o futuro dos pais na velhice e na

doença, embora, muitas vezes, representassem um encargo no presente (Scavone, 2001).

Scavone (2001) relata que a “invenção da maternidade” ocorreu a partir do final do

século XVIII em decorrência de um conjunto de influências que afetaram as mulheres, como

o surgimento da ideia de amor romântico, a criação do lar, e a modificação das relações

parentais, onde as mulheres foram assumindo o controle sobre a criação dos filhos,

deslocando a autoridade patriarcal de criação dos filhos para a afeição materna.

Esse novo período ensaia a forte associação da maternidade com a feminilidade, e

segundo Giddens (1993), consolidou-se em uma ideologia que passou a exaltar o papel

natural da “mulher-mãe” como principal destino social (Scavone, 2001). A maternidade

biológica se converteu em maternidade social, demarcando o lugar das mulheres na família e

na sociedade.
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No que tange a sexualidade feminina, os registros desse comportamento são ancorados

em raízes pré-históricas. A exploração do tema era aceita numa determinada fase histórica e

reprimida em outro período seguinte. Isso aconteceu tanto nas civilizações ocidentais quanto

nas do Oriente Médio e da Ásia, e em algumas situações, a imposição de novas restrições

sexuais era usada para reforçar uma identidade religiosa ou uma ideologia dominante.

Na Antiguidade, a sexualidade era tratada e vivida de uma forma mais livre, sem

grandes tabus. A civilização babilônica, considerada o nosso ancestral mais antigo, as práticas

sexuais eram tidas como atividade natural, retomada culturalmente com preces eróticas aos

deuses; reinava-se certa liberdade sexual em que eram proibidos o incesto, a violência sexual,

o desrespeito aos dias de jejum sexual previstos e a prática sexual com as sacerdotisas

reservadas aos deuses (Guedes, 2010).

Sabe-se por registros históricos e pela literatura que, com o advento do cristianismo,

algumas civilizações passaram a se interessar mais pelos ensinamentos que defendiam a

abominação de práticas pagãs e exacerbação de práticas sexuais. Segundo Guedes (2010), a

castidade e a noção do pecado passariam a reger o pensamento ocidental, propagando o ideal

ascético e o amor carnal condenado. Àquelas mulheres que mantivessem práticas sexuais

além da finalidade de procriação, deveriam ser perseguidas e mortas na fogueira.

Nesse contexto, o casamento passa a ser associado à noção ritualizada, onde a noiva

deveria ser virgem e não poderia haver intercurso sexual prazeroso, sendo a perpetuação da

espécie o fim maior. O coito deveria acontecer à noite e nunca se deveria orar ou comungar

após sua consumação no mesmo dia, uma vez que o sexo tornara-se um ato pecaminoso e a

castidade tornara-se um valor supremo. O medo de perder o controle sobre os impulsos

“desenfreados” das mulheres é o principal motivo pelo qual a vida íntima era vasculhada,

vigiada, denunciada e passível de condenação (Barreto, 2004).


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No Brasil, a repressão sexual fundamentada sobre princípios éticos e religiosos

também formatou a sexualidade feminina nos moldes moralistas e práticas perversas. Por

influência jesuíta, no período colonial, a prática sexual era bastante marcada pela repressão

social. A mulher das classes dominantes era confinada no interior da casa, sob as ordens de

um marido ou a figura do pai autoritário, onde o seu papel principal era o de reprodutora. O

marido tinha amplos poderes, inclusive o de explorar sexualmente as índias e as mulheres

negras, tratadas como objetos ao dispor de seus senhores (Barreto, 2004).

Esse conservadorismo acerca da sexualidade da mulher se manteve constante por

diversos períodos da história. Em épocas mais recentes, como final do século XX, ainda se via

presente um discurso normativo e institucional em defesa do matrimônio e da família

patriarcal tradicional.

É certo que muitas modificações já podem ser observadas no cenário atual com

relação à mulher na sociedade, especialmente sobre a sua sexualidade. No século XX, uma

série de transformações sociais e culturais modificou o palco e as condutas dos atores sociais

ante suas ideias e vivências da sexualidade. Mudanças iniciadas com a Revolução Industrial e

com o advento da primeira e segunda Guerras Mundiais, as mulheres assumiram atividades

realizadas somente por homens em vários setores de produção, e com isso houve uma

revolução no conceito e vivência do papel social e sexual feminino. Passaram a ser discutidas

a emancipação social e econômica da mulher e as disparidades com relação aos homens.

As mulheres passaram a reivindicar direitos semelhantes aos homens no âmbito

profissional. Passaram a exigir maior participação no mercado e, consequentemente, maior

independência financeira. Todo este contexto desembocou em um processo de independência

que as fizeram assumir outra dinâmica social perante a figura do homem. Os maridos

diminuíram a posição exclusiva de provedor. Da mesma forma, a independência financeira

das mulheres terminou por ser “aceita” socialmente, favorecendo maiores possibilidades de
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ascensão social, além de romper, parcialmente, com a ideologia sexual dominante, mesmo

que ainda se faça presente uma clara diferença entre homens e mulheres em variados campos

da sociedade ainda nos dias atuais (Barreto, 2004; Giddens, 1993).

Tais eventos sociais foram ponto de partida para um conjunto de mudanças que

atingem não só o âmbito sócio-político, mas também o contexto cultural das relações entre

homens e mulheres em suas variadas dimensões. Entra em cena os ideais feministas, as

constantes lutas das mulheres por igualdade de direitos e maiores possibilidades de inserção

social e política, que tinha como foco a resistência e a opressão causada da lógica da

masculinidade hegemônica enquanto estrutura ideológica de poder, tema que será discutido

no tópico da seguir.

1.2 Os desdobramentos do Feminismo: mudanças na representação da Mulher e na sua

participação sociopolítica

O feminismo surgiu como um movimento político, cuja finalidade é a equiparação dos

sexos relativamente ao exercício dos direitos civis e políticos, e da libertação de padrões

opressores patriarcais. Se expressa através de ideologias e políticas que questionam as

relações de poder e propõe uma transformação sócio-ideológica, procurando demonstrar o

empoderamento feminino de ir além da aceitação de permanecer desintegrada do mundo e da

realidade (Nogueira, 2001).

Desde as primeiras manifestações dos ideais feministas até os dias atuais, o objetivo

do movimento feminista e o foco das várias teorias sempre se deu de forma controversa, o que

originou diferentes posturas ou “feminismos” que ainda coexistem e que inclusive, por não

serem bem difundidas, confundem a população acerca do objetivo central. Para um melhor

entendimento, o feminismo será discutido a partir da existência de três fases no movimento,

conhecidas como “ondas do feminismo” (Nogueira, 2001). Essas diferentes fases ocorreram
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em épocas distintas, historicamente construídas conforme as necessidades políticas, o

contexto material e social, e as possibilidades pré-discursivas de cada tempo (Scott, 1986).

A sua primeira expressão ou a primeira “onda do feminismo” ocorreu por volta de

meados do século XX e configura-se o surgimento do movimento. Tem sua gênese nos ideais

liberais de luta das mulheres pela igualdade de direitos, pela emancipação de um estatuto civil

de dependente e subordinado e a reivindicação pela sua incorporação no estado moderno

industrializado como cidadãs nos mesmos termos que os homens (Nogueira, 2001). Podem-se

considerar como principais causas (históricas, políticas e sociais) desencadeadoras do

feminismo, a revolução Industrial, num primeiro momento, e as duas grandes guerras num

segundo contexto.

As feministas da era pós-Revolução Industrial tiveram grande importância na luta

pelas conquistas do movimento nessa primeira fase, sobretudo, a favor da concessão às

mulheres do direito ao voto, ficando conhecido como movimento “sufragista” (que se

estruturou na Inglaterra, na França, nos Estados Unidos e na Espanha). As sufragistas

questionavam o fato de as mulheres do final daquele século, serem consideradas capazes de

assumir postos de importância na sociedade como, por exemplo, o corpo diretivo das escolas

e o trabalho de educadoras em geral, mas serem vistas com desconfiança como

possíveis eleitoras. Ainda circunscritas nessa primeira fase do feminismo foram as

importantes guerras mundiais; esse período foi marcado pela saída dos homens aos campos de

batalha, e como consequência disso, foi pedido às mulheres que desempenhassem muitas das

funções antes atribuídas aos homens, constituindo um dos fatores importantes para a luta da

sua emancipação (Nogueira, 2001).

Quando se fala da segunda fase do feminismo, esta se situou nas décadas de 1960 e se

estendeu até os anos iniciais da década de 1980, em especial nos Estados Unidos e na França.

Considerado um período de grande atividade do movimento, vários fatores apontam para a


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eclosão dos ideais feministas neste segundo momento, como a euforia empresarial resultante

da expansão econômica ocasionada pelo pós-guerra. As mulheres foram chamadas a

desempenhar atividades no mercado de trabalho, sendo que este momento difere do convite

feito durante a segunda guerra mundial, já que para aquela época era solicitado às mulheres

apenas um trabalho circunstancial. Segundo Nogueira (2001), a grande crítica do feminismo

dessa fase é sobre a ideologia prevalente da família nuclear como instituição imutável, natural

e necessária, sugerindo que a glorificação da maternidade acarretava desigualdades de poder

entre os membros de um casal. Como consequência disso, intensificaram questionamentos

acerca do valor do casamento como uma instituição, a formalização do amor, assim como as

questões parentais. Em muitos países, a legislação não acompanhou estes desafios e as

reivindicações consequentes (divórcio, por exemplo), o que veio a dar origem a muitos

conflitos.

Foi, portanto, no auge da segunda fase que aconteceram diversos protestos visando

demonstrar a desvantagem do feminino, quer no trabalho, quer na família. Muitos dos

ativismos políticos tiveram grande visibilidade pelos meios de comunicação da época, como

por exemplo, a “queima dos sutiãs” em 1968 nos Estados Unidos; nome dado pela mídia para

o protesto das ativistas contra a ditadura de beleza imposta às mulheres da época. As

manifestantes se aproveitaram do concurso de beleza que era tido como uma visão arbitrária e

opressiva em relação às mulheres e levaram alguns símbolos da feminilidade ou instrumentos

de “tortura”: sapatos de salto alto, cílios postiços, maquiagens, espartilhos, cintas e, claro, os

sutiãs (Nogueira, 2001). Esses objetos foram reunidos e colocados em uma lata de lixo para

serem queimados, mas a prefeitura não autorizou o uso de fogo. O episódio tornou-se um

marco da luta feminista, e após essas manifestações, houve súbitas explosões de raiva,

discursos inflamados, expressões de solidariedade ao movimento, campanhas organizadas do

movimento, assim como atos de desobediência civil a fim de reduzir a credibilidade de certas
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leis, como foi com a lei do aborto. Esses acontecimentos foram importantes, não só pelo o que

representaram o próprio movimento, mas também porque foi através deles que a opinião

pública avaliou, sendo aprovado por algumas pessoas e em outros casos, condenado por

outras.

Esse período foi marcado também pela produção literária como forma de protesto das

feministas. Além da edição de jornais e folhetos que difundiam mensagens do movimento em

diversas partes do mundo, ganhou grande destaque a publicação da escritora francesa e

ativista política Simone de Beauvoir conhecida como “O segundo sexo”, de 1949, onde faz

uma análise detalhada da opressão das mulheres. Em sua célebre frase: “Não se nasce mulher,

torna-se mulher”, a autora evidenciou pela primeira vez, que ser mulher não é algo

naturalmente dado, mas uma construção social, histórica e cultural inscritos num dado sexo

(homem ou mulher). Essa obra tornou-se uma referência fundamental para o estudo da

história do feminismo contemporâneo.

É notável que a emergência do feminismo como força política fez emergir

significativas redefinições dos alinhamentos políticos e de acordos institucionais tradicionais.

Para Nogueira (2001), o feminismo pertenceu aos chamados “movimentos sociais do pós-

guerra”, que assim como os demais movimentos, questionavam o valor das hierarquias de

poder. Surge assim, o cenário propício para a terceira fase do movimento feminista nos anos

1980, que influenciado pelo pensamento pós-estruturalista na França, especialmente pelos

teóricos Micheal Foucault e Jacques Derrida, centrou seu foco na análise das diferenças, da

alteridade, da diversidade e da produção discursiva da subjetividade (Narvaz & Koller, 2006).

Neste terceiro momento do feminismo, observa-se intensamente a intersecção entre o

movimento político de luta das mulheres e o meio acadêmico, quando começam a ser criados

nas universidades, inclusive em algumas universidades brasileiras, centros de estudos sobre a

mulher, estudos de feminismos e de gênero (Louro, 1995; Scott, 1986). O desafio posto para
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essa fase é pensar, simultaneamente, a igualdade e a diferença na constituição das

subjetividades masculina e feminina.

De modo geral, resistir às normas opressoras é tarefa comum aos três períodos do

movimento feminista, no entanto, quer em seus aspectos políticos quer nos teórico-

epistemológicos, essas fases não podem ser entendidas numa perspectiva linear histórica. As

diferentes propostas, características de cada uma das fases do feminismo, sempre coexistiram

e ainda hoje coexistem. No entanto, as questões introduzidas pela terceira geração do

feminismo revisaram algumas categorias fixas e estáveis de gênero presentes nas gerações

anteriores do feminismo, e mobilizou uma serie de discussões que tiveram e ainda tem como

foco a constituição social e política da categoria de gênero.

1.3 A Perspectiva de Gênero: uma breve leitura analítica das estruturas hierárquicas de

poder

Gênero é um termo polissêmico e isso se deve principalmente as suas diversas

posições teóricas não homogêneas, e à coexistência de múltiplas perspectivas contrastantes e

mesmo opostas face das questões analisadas. Alguns utilizam o termo “gênero” em oposição a

“sexo” para distinguir o fato cultural do fator biológico; outros trocam um termo pelo outro,

tornando “gênero” como variável empírica e não como categoria de análise. É frequente

também o uso de “gênero” como substituto de “mulher”; ou, ainda, apenas para enfatizar a

dimensão relacional de gênero, sem levar em conta a desigualdade de poder, fundamento

central do conceito ainda bastante difundido na area, como propõe em Scott (1986).

Ainda que pouco difusa, sua utilidade conceitual pode ser empregada como uma

perspectiva interdisciplinar que visa contemplar uma análise narrativa e cultural dos valores

associados a masculinidade e feminilidade, mas também pode ser utilizada como uma

categoria política para analisar a questão da influência de gênero, tanto na constituição da


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ordem social quanto na produção de subjetividades do feminino e do masculino. É nessa

abordagem analítica que será inserida o debate sobre gênero que se segue.

Enquanto categoria política de análise, a abordagem de gênero surgiu na segunda fase

do feminismo como algo renovador nos estudos feministas e vem sendo identificada como

uma poderosa ferramenta, a qual permite uma releitura da realidade que o determinismo

biológico impôs. Além disso, alcança a ideia de construção social da identidade dos sujeitos

nas relações sociais, nos mais variados campos de expressão de poder. Consiste numa

perspectiva de interpretação e transformação da realidade social (Amâncio, 2010).

Nas primeiras articulações feministas, a noção de gênero como uma construção social

teve como objetivo analisar a relação de mulheres e homens em termos de desigualdade e

poder. A ideia foi que gênero aplicava-se a todos, que era um sistema de organização social,

que não havia ninguém fora disso (Scott, 1990). Gênero era sobre mulheres e homens e sobre

como os traços atribuídos para cada sexo justificavam os diferentes tratamentos que cada um

recebia, como eles naturalizavam o que era fato social, econômico e desigualdades políticas.

Era também como se condensavam variedades da feminilidade e masculinidade em um

sistema binário, hierarquicamente arranjado.

Contudo, o foco de muitas produções acadêmicas e políticas, feitas sob a temática de

gênero, foi durante muito tempo realizadas quase que exclusivamente sobre mulheres. Nesta

perspectiva, assumia-se que homens ou o patriarcado era a fonte de maus-tratos das mulheres;

no entanto a análise detalhada de como os sistemas de poder se operava ficava de lado na

questão. Entre historiadores, gênero, referia-se a títulos de livros e artigos em que relatavam a

situação social das mulheres e, similarmente, na linguagem de organizações internacionais

tais como as Nações Unidas e várias ONG’s (Organizações Não Governamentais), gênero se

referia ao feminino (Osterne & Silveira, 2012).


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A associação popular das palavras “gênero” e “mulher” foi por muito tempo, e ainda

hoje se faz presente em alguma medida. Contudo, em termos teóricos mais atuais, falar de

gênero não diz respeito apenas ao feminino, mas também ao masculino. A adoção dessas

concepções sobre gênero deu margem ao abandono das teorias essencialistas do sujeito, que

definem, entre outras, a categoria “mulher”. Não mais havendo sexo natural nem uma única

forma de ser mulher (ou de ser homem), Scott (1990) pontua que o termo “gênero”, além de

um substituto para o termo mulheres, é também utilizado para sugerir que qualquer

informação sobre as mulheres é necessariamente informação sobre os homens, que um

implica o estudo do outro.

Com a mudança na concepção do termo “gênero” ocorreu também alterações nos

elementos constitutivos de análise. Inicialmente voltado para determinadas prioridades e

necessidades vinculadas à saúde reprodutiva da mulher e, posteriormente, ampliada para os

direitos reprodutivos e a saúde sexual destas, os estudos sobre gênero passaram a incorporar

também ao seu conceito outros fatores, como as masculinidades e as diferenças relacionais

entre os gêneros e assimétricas de poder – elemento central no conceito proposto por Joan

Scott (1986).

Em seu conceito clássico, Scott (1995, p. 86) afirma que o núcleo da definição repousa

numa conexão integral entre duas proposições: a primeira afirma que “o gênero é um

elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os

sexos” e a segunda repousa na questão de que o “gênero é uma forma primária de dar

significado às relações de poder”.

Para a Oliveira e Amâncio (2017), o gênero exerce uma grande importância na

estruturação da vida social e dos sistemas simbólicos. As formas de representação do gênero

na sociedade, os símbolos, conceitos e metáforas contribuem para a formação da

personalidade do indivíduo. O ser humano, desde criança, assimila as normas, costumes e


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regras sociais e incorpora a visão naturalizada do poder masculino em detrimento do poder

feminino.

Desse modo, Osterne e Silveira (2012) parafraseando o conceito sobre gênero dado

por Scott, sugere que a primeira parte da definição do conceito se fundamenta a partir de

quatro elementos que não operam uns sem os outros. O primeiro diz respeito aos símbolos

culturais do que é ser homem ou ser mulher, e suas representações muitas vezes contraditórias

(forte/frágil/luz/escuridão); o segundo elemento fala sobre as normas que estabelecem o que é

apropriado socialmente para homens e mulheres; no terceiro elemento, a instituições que

exercem o papel de coerção social reproduzindo normas assimétricas de gênero; e por último,

a identidade subjetiva, uma vez que homens e mulheres são educados para incorporar as

identidades de gênero que lhes são atribuídas social e culturalmente.

Em relação ao gênero como forma primária de dar significado às relações de poder,

Scott (1995) apropria-se das reflexões do filósofo francês Michel Foucault, o qual aborda em

suas teorias a relação entre poder e conhecimento e como eles são usados como uma forma de

controle social por meio de instituições sociais. Para o filósofo, o poder não é considerado

algo unitário e global, mas sim como uma prática social construída historicamente. Os

poderes não estão localizados sem um ponto específico da estrutura social, uma vez que

funcionam como uma rede de dispositivos que engloba a tudo e a todos. Resulta daí a idéia de

que o poder não existe, o que existe são relações de poder nas quais todas as partes o exercem,

porém, não de forma igualitária (Osterne & Silveira, 2012).

Influenciada por Foucault, Scott (1995) entende o gênero como um saber sobre as

diferenças sexuais. E, havendo uma relação inseparável entre saber e poder, gênero estaria

imbricando a relações de poder, sendo, nas suas palavras, uma primeira forma de dar sentido a

estas relações.
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Cabe ressaltar a tendência atual de alguns pesquisadores em defender uma corrente

teórica e epistemológica que busca delinear as relações de poder não apenas pela ótica do

sexo, mas articulando-se a outros marcadores sociais, por exemplo a raça e classe. A essa

ideia designou-se o termo “interseccionalidade” (Oliveira & Amâncio, 2017). Segundo Hirata

(2014), é perceptível o interesse em alguns estudos realizados no Brasil (Guimarães, 2002;

Guimarães e Britto, 2008) em buscar compreender as diferenças não apenas entre homens e

mulheres, mas para os dinstintos aspectos que se configuram entre homens brancos e negros e

mulheres brancas e negras, por exemplo, na tentativa de abarcar a complexidade e fazer uma

leitura dos elementos indissociáveis para uma luta unitária que envolve as desigualdades

sociais e as relações hierárquicas estabelecidas.

Ao falar sobre sistemas de poder instituídos no seio das análises de gênero, convém

destacar o patriarcalismo. Definido como uma estrutura sobre as quais se assentam todas as

sociedades contemporâneas, caracteriza-se por uma autoridade imposta institucionalmente do

homem sobre as mulheres e filhos no ambiente familiar, estando presente em todos os espaços

sociais e se funda enquanto uma relação civil e não privada (Saffioti, 2004). Para a autora, ao

conceder direitos sexuais aos homens sobre as mulheres, o patriarcado ganha uma base

material e corporifica-se; e por ser uma estrutura de poder, tem por base a ideologia e a

violência.

Essa ideologia teria sido constituída para alimentar a estrutura de poder que situa os

homens hierarquicamente superiores que as mulheres, em todas as áreas, tanto no espaço

privado do lar quanto no espaço público das relações civis, impregnando toda a sociedade e o

Estado (Saffioti, 2004). Nesta lógica, os homens se apropriam da maior parcela de poder que

lhes cabe nas relações sociais e para a manutenção dessa hierarquia, se apoiam em discursos

com base nas diferenças físicas, sexuais e biológicas (Osterne & Silveira, 2012).
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É possível acrescentar que, a despeito dos avanços femininos impulsionados pelo

movimento feminista acerca da conquista de direitos, dos espaços públicos e de uma divisão

de papéis mais igualitária e de inserção nos espaços sociais, a ideologia patriarcal continua

bastante enraizada no imaginário coletivo e nas práticas sociais. Por isso, muitos homens têm

dificuldade de assimilar funções no âmbito familiar que culturalmente são destinadas às

mulheres, ao mesmo tempo, as mesmas encontram empecilhos na conquista de espaço no

âmbito público. A liberdade das mulheres de “ir” e “vir” não foi acompanhada pelo

imaginário coletivo que insiste em aprisioná-las em modelos fixos e reducionistas. A

construção sociocultural da identidade feminina e a definição de seus papéis enquanto figura

passiva e submissa cria o espaço propício para o exercício da dominação simbólica enquanto

uma máquina de opressão.

A sociedade permanece envolta por discriminações motivadas por desigualdades de

gênero, e o feminino ainda encontra certas resistências em ocupar espaços considerados

“essencialmente” masculinos, como por exemplo, os contextos que envolvem o abuso de

drogas – tema que será abordado no capítulo a seguir.


CAPÍTULO. 2
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A Mulher e as Drogas: a perspectiva do desvio e as


interfaces com a saúde das usuárias
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CAPÍTULO 2. A Mulher e as Drogas: a perspectiva do desvio e as interfaces com a

saúde das usuárias

Ao longo deste capítulo teórico, busca-se contextualizar de forma breve como as

drogas se associaram ao caráter de ilegalidade, bem como, a forma como esquemas

classificatórios aferem significados de “desvio” ao envolvimento das mulheres com as drogas,

a partir da ótica de transgressões às regras sociais. Em seguida, busca-se discutir como o

contexto das drogas se relaciona com o exercício da feminilidade e dos papéis sociais da

mulher na sociedade, causando um estranhamento social. Por fim, pretende-se abrir uma

discussão sobre a interface da estigmatização de “desviante” na constituição da

vulnerabilidade da saúde das mulheres usuárias de drogas.

2.1 A Mulher e o uso de drogas enquanto comportamento transgressor

A construção social do “problema” da droga é relativamente novo no curso da

humanidade, isto porque as substâncias nem sempre despertaram representações vinculadas a

malefícios ou à ilegalidade, tanto para homens quanto para mulheres (Bucher, 1992; Nunes &

Jólluskin, 2007; Toscano Jr., 2001). Considerando o caráter mutável das motivações e

finalidades do uso de drogas e influenciado por fatores culturais e sociais, o consumo de

substâncias passou de um contexto socialmente aceito com implicações ritualísticas,

medicinais, recreativas e controlado através de regras informais, para assumir a configuração

de uma “epidemia” que assola a vida em comunidade (Escohotado, 2004).

Tendo em mente o cenário atual de consumo de substâncias, a definição do que seja

droga não é uma tarefa fácil, sendo explorada por diversas áreas do conhecimento, cada qual

tendo uma visão distinta sobre o tema. Para a Organização Mundial de Saúde (2001), droga é

qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em


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mudanças fisiológicas ou de comportamento e, ancorado nisso, postula que o consumo de

drogas é um sério agravante na vida das pessoas (Pratta & Santos, 2009). Sob essa lógica,

consumir abusivamente drogas, tornou-se um fenômeno compreendido sob a insígnia de

problema de saúde pública, ou seja, um fenômeno sobre o qual algo deve-se fazer para

controlar tal “epidemia” (Barroso, 2013). Esta conceituação contribuiu para que recaísse sobre

a questão das drogas, a conotação de doença “perigosa” ou mal indesejável pelas sociedades.

Outros conceitos que ultrapassaram o âmbito da saúde também foram empreendidos

sobre a questão das drogas. O Estado, por meio do aparelho jurídico, o qual aciona aspectos

políticos, econômicos e ideológicos envoltos à oferta, produção e comercialização das

substâncias, assume a função de normatizar e legitimar a permissividade de algumas

substâncias consideradas lícitas, em detrimento da proibição e criminalização de outras,

recebendo o caráter de ilicitude, como reporta Trad (2009).

Cabe acrescentar que o Estado tem um importante papel na atribuição do que a

sociedade julga como “certo” ou “errado” para cada realidade social e cultural. No contexto

brasileiro, o entendimento acerca do uso de drogas se deve em grande medida pelas leis que

regem a questão das drogas no país. Umas das primeiras legislações, conhecida como lei de

entorpecentes, a Lei Federal nº 6.368/1976, considerava o usuário enquanto criminoso ou

traficante. Atualmente, concebe-se uma diferença entre “usuário” e “traficante”, e esta

diferenciação é regulamentada pela Lei Federal 11.343/2006 (Brasil, 2006), onde o usuário

passa a ser considerado “doente” por causa da dependência desencadeada pela doença e/ou

por problemas psíquicos; já o traficante, recebe a denominação de “criminoso”, que deve ser

autuado por suas ações malevolentes relativas aos lucros obtidos com a venda ilegal da

substâncias (Passos & Souza, 2011).

Portanto, ora por fatores de saúde ora por questões judiciais, para Mota (2008), o

usuário de drogas é visto como um agente que produz contínua desagregação à ordem social
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com significativas repercussões, especialmente, a nível familiar. Ainda segundo o autor, o uso

de drogas afastaria os jovens do convívio escolar, da religião, do mercado de trabalho e é

improdutivo segundo a lógica do capital; além disso, para o contexto feminino, a dependência

de drogas é uma ameaça concreta aos valores do modelo de feminilidade maternal-familiar.

Essa perspectiva que encara o consumo de drogas enquanto rompimento com os

obstáculos impostos pelo controle social foi inaugurada no campo da sociologia, sobretudo,

pelos estudos desencadeados pela Escola de Chicago sobre a Teoria Interacionista do desvio e

a questão do uso de drogas e seus usuários, proposta pelo sociólogo norte-americano Howard

Becker. Em sua obra clássica Outsiders, publicada em 1960, o autor enfatizava a

compreensão das dinâmicas de “coesão social” e da naturalização das regras para a produção

social das mesmas e os processos de imposição de rótulos sobre os que são designados como

desviantes. O autor também propôs deslocamentos da ideia essencializada de "crime" para o

termo “desvio”, que supõe uma relação social; do foco no indivíduo para o foco nas relações,

que são produtoras de regras e exigem seu cumprimento (Moura, 2009).

Segundo Becker (2008), regras, desvios e rótulos são sempre construídos em

processos políticos, nos quais alguns grupos conseguem impor seus pontos de vista como

mais legítimos que outros. O desvio, nesse sentido, é visto como “produto de uma transação

que tem lugar entre algum grupo social e alguém que é visto por esse grupo como infrator de

uma regra” (p. 22).

Considerando os padrões de comportamento desviante a partir da noção de que grupos

sociais estabelecem o que é considerado infração às regras, Becker (2008), realizou seus

estudos com usuários de maconha e músicos com ênfase no desenvolvimento de práticas,

valores e identidades, voltando-se a sua atenção para os processos de imposição de regras e

institucionalização dos outsiders ou grupos desviantes.


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Outro notável teórico na área das Ciências Humanas e Sociais na década de 1960 e

que contribuiu no avanço da discussão sobre grupos desviantes foi o sociólogo Erving

Goffman, o qual desenvolveu importantes estudos de campo em instituições psiquiátricas,

refletindo sobre a formação dos estigmas sociais e a identidade social dos internados. O autor

faz uma reflexão simbólica do estigma enquanto “marca” ou atributo indesejável, constituído

e imposto por uma sociedade que estabelece um modelo de categorias e tenta catalogar as

pessoas conforme os atributos considerados comuns e naturais pelos membros dessa

categoria.

Para Goffman (1993), o estigma, inicialmente se referia à marca de uma queimadura

na pele ou ainda um corte no corpo e significava algo indesejável para o convívio social;

podendo fazer referência à categoria de escravos ou criminosos, um rito de desonra. Tal

marca era concebida enquanto uma advertência ou um sinal para se evitar contatos íntimos no

contexto particular e, principalmente, nas relações institucionais de caráter público,

comprometendo as relações nos espaços sociais. Na época do cristianismo, havia um

significado metafórico para as marcas corporais, em que os sinais significavam “bênção

divina” expressa através da pele; nessa época tais sinais podiam fazer referência à medicina,

aludindo a alterações físicas nas pessoas. Já na atualidade, estas marcas ou sinais ganharam

toda uma envoltura social em sua gênese, passando a referir-se “estigmas”, que representa

algo ruim, que deve ser evitado, uma ameaça à sociedade, isto é, uma identidade deteriorada

por uma ação social. O estigma é, portanto, um atributo que produz ampla desvalorização na

vida do sujeito, sendo interpretado em situações extremas como "defeito", "falha" ou

desvantagem em relação ao outro.

Para os estigmatizados, acrescenta Goffman (1993), a sociedade atua enquanto um

agente perverso, reduzindo as oportunidades, esforços e movimentos, não atribui valor,

impondo a perda da identidade social e por determinar uma imagem deteriorada, de acordo
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com o modelo que convém à sociedade. O diferente passa a assumir a categoria de "nocivo",

"incapaz", fora do parâmetro que a sociedade toma como padrão, levando à rejeição, levando

também à perda da confiança em si e reforça o caráter simbólico da representação social

segundo a qual os sujeitos estigmatizados são considerados incapazes e prejudiciais à

interação sadia na comunidade. No campo da saúde e, notadamente, na área de dependência

de drogas, esse estigma social fortalece o imaginário social da doença e do "irrecuperável",

influenciando direta ou indiretamente no tratamento e na qualidade de vida das pessoas com

tal condição de saúde (Ronzani & Furtado, 2010).

Outro salto teórico nas Ciências Sociais ocorre nos anos 1970 a partir de alguns

antropólogos brasileiros, um deles é o estudioso Gilberto Velho, que reconheceu a influência

de Becker e Goffman, da Escola de Chicago, e avançou nas discussões sobre a análise do

cotidiano e das relações interpessoais a partir de pesquisas com ênfase interdisciplinar –

indivíduo e sociedade.

Velho (2002) também apostou em uma crítica à patologia social através da discussão

sobre o desvio na sociedade, enfatizando que o rótulo da “inadaptação” desconsidera padrões

e regularidades existentes, de leituras particulares sobre a vida e simplifica o entendimento da

realidade a partir da ideologia de um grupo de indivíduos – o grupo dominante. Para o autor, o

desviante é um indivíduo que faz uma “leitura” divergente dentro da sua cultura, sendo

considerado “anormal” em uma área de comportamento, mas podendo ser considerado

“normal” em outras áreas. A contribuição da análise feita por Velho (2002) para as Ciências

Sociais é de que através do “comportamento desviante” devem ser percebidos aspectos da

lógica do sistema sociocultural. A ênfase de análise é do “desvio” como categoria moral.

Nesta perspectiva, entendendo o uso de drogas por mulheres enquanto um

comportamento diferente do que é esperado para o feminino, desvio da norma social vigente,

as mulheres usuárias de drogas seriam consideradas desviantes por efetivarem o uso de


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substâncias psicoativas na contramão do que proclamam as regras sociais atuais - sendo

considerado um sintoma de deficiência na saúde mental, uma vez que esta rotulação leva em

consideração o fato de que tais substâncias têm potencial para interferir na estabilidade, e

dessa forma, na funcionalidade da sociedade. Logo, essa concepção compreende que as

usuárias de drogas ameaçam os pontos de estabilidade social, e por isso são consideradas

outsiders, ou seja, aqueles que se desviam das regras estabelecidas pelos grupos.

Vargas (2011) acrescenta a essa discussão afirmando que, ao não permitir esses

comportamentos “divergentes”, essa mesma norma social acaba gerando uma

homogeneização ou “valas sociais”, destinando um lugar para a anormalidade existente no

funcionamento da sociedade. Ao nomear as mulheres que usam drogas, ou enquadrá-las na

categoria de “drogadas” ou “noiadas”, é dado um lugar para elas dentro dessa ordem, algo

similar a um “depósito”, não apenas de muros ou celas, mas mais caracterizado pela

segregação ancorada em concepções teóricas as quais não aceitam os divergentes.

Do ponto de vista social, essa vala comum, destinada às mulheres que fazem uso

abusivo de drogas, gera um perverso efeito – o preconceito – nos termos que se foi legado

pela lógica social e que está impregnado no pensamento da coletividade. Aliado a essa

perspectiva, verifica-se na sociedade atual a cultura do medo oriunda da violência, a qual

associa-se às drogas uma relação quase “simbiótica”, conduzindo a proliferação de sensações

sociais de perigo, vinculadas, sobretudo, pela mídia. Essa situação conduz a disseminação de

sentimento de distância social aos grupos minoritários (desviantes) os quais a sociedade

associa como responsáveis por essa onda de violência. Insere-se neste contexto os usuários de

drogas como verdadeiros bodes-expiatórios da atualidade.

Alguns estudiosos têm demonstrado que assim como outros grupos tidos como

minoritários, como os portadores de sofrimento mental, por exemplo, os usuários de drogas

também são alvos de representações distorcidas, crenças e estereótipos negativos e atos


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discriminatórios que os excluem, especialmente, do direito ao cuidado e à saúde (Corrigan,

Watson & Barr, 2006; Fortney, et al. 2005; Kulesza, Larimer & Rao, 2013). São comumente

vistos como perigosos, violentos e culpabilizados moralmente pela sua condição (Ronzani,

Noto & Silveira, 2014). Esta condenação social está relacionada, principalmente, a

comportamentos indesejáveis e a ligação do uso de drogas ao aumento da violência e da

criminalidade (Santos, Aciole Neto & Souza, 2012). Sob esta perspectiva, estariam as

mulheres usuárias de drogas na categoria de “desviantes” ou desacreditáveis, ou seja,

indivíduos que são sempre vistos com desconfiança, e por isso, evitados socialmente.

Considerando o impacto negativo na saúde que atitudes de inferiorização e

desvalorização social podem ocasionar na vida dos indivíduos (Link & Phelan, 2006;

Corrigan, 2005; Maciel et al, 2008), alguns autores tem enfatizado o estudo acerca do

processo de estereotipagem do grupo de usuários de drogas. Schomerus et al. (2011) a partir

de um estudo de revisão sistemática de literatura com artigos de pesquisas populacionais

publicados até 2010, examinou aspectos relacionados ao estigma do alcoolismo e

simultaneamente de outras condições mentais, médicas ou sociais na Europa, América do

Norte, Nova Zelândia, Brasil e Etiópia. Os resultados apontaram que em comparação com as

pessoas que sofrem de outros distúrbios mentais não relacionados com substâncias, as pessoas

dependentes do álcool frequentemente são mais responsabilizadas por sua condição.

Observou-se ainda que despertam mais rejeições sociais e emoções negativas; somente em

relação a questão da periculosidade, os alcoolistas são percebidos da mesma forma, ou em

menor grau do que as pessoas que sofrem de esquizofrenia.

Outro estudo realizado por Gomide et al. (2010) utilizando amostra de profissionais de

saúde de nível superior e técnico no Brasil (N=183), relatou que os participantes apresentaram

níveis altos significativos de estigmatização contra alcoolistas. Outro dado relevante desse
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estudo é a diferença significativa em relação ao nível de escolaridade dos participantes, onde

os profissionais de nível técnico apresentaram maior estigmatização com relação aos

alcoolistas, do que os profissionais de nível de escolaridade superior. Outros teóricos também

apontam a estigmatização dos usuários de drogas por parte dos profissionais da saúde,

relatando também falta de preparo e dificuldade para lidar com o tema, assim como a

percepção de culpa do usuário sobre usa condição (Laport et al., 2016; Oliveira & Ronzani,

2012; Ronzani, Higgins-Bidd, & Furtado, 2009).

Sobre a percepção de atribuição de responsabilidade imputada aos usuários de drogas,

Martins et al., (2010) ao conduzir um estudo com universitários dos cursos de Enfermagem,

Medicina, Psicologia e Serviço Social (N=138), observou que a dependência de maconha e

cocaína foram vistos como de maior responsabilidade dos indivíduos e sob seu controle, do

que outras condições de saúde como a SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida),

obtendo as médias de 94,04% e 39,5% respectivamente. Sobre esse aspecto, Corrigan et al.,

(2005) acrescenta que é mais provável que um grupo moralizado seja evitado em seu convívio

social ou mesmo não receba ajuda quando necessário.

Considerando o cenário de pesquisas abordando a temática de gênero no contexto das

drogas é notório tamanha escassez de dados publicados. O que se sabe, sobre as mulheres

usuárias de drogas enquanto membros de um grupo socialmente desvalorizado, é visualizado

em grande medida pela mídia, tendo em conta o papel de propagação de informações e ideias.

Cabe destacar que tal protagonismo midiático está a serviço dos aparelhos normatizadores e

ideológicos do Estado. Tem-se diariamente as discussões sobre as drogas em cenários que ora

engendram do senso comum, ora em discursos científicos que situam as drogas como

problemas de segurança pública na esfera da justiça ora no âmbito da saúde pública (Santos,

Aciole Neto & Sousa, 2012). Em todos estes debates, percebe-se uma motivação ideológica
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de situar a dependência química no plano individual, esquivando-se de debates que envolvam

aspectos sociais relacionados ao tema, contribuindo para uma culpabilização da mulher

usuária pela sua condição.

No campo da saúde mental, percorreu-se um longo caminho de reforma das práticas de

tratamento dos transtornos mentais (Maciel, 2012; Maciel et al, 2009), área em que é inserida

a abordagem de tratamento dos problemas decorrentes do abuso de substâncias. Contudo,

apesar dos avanços observados a partir do lançamento da Política de Atenção Integral a

Usuários de Álcool e outras Drogas (Brasil, 2004), historicamente, as práticas de cuidado à

saúde, dirigidas a esta população, oscilaram entre os cuidados de caráter religioso ou de

modelos hospitalocêntricos, não garantindo a efetividade e resolutividade no cuidado dessas

pessoas, reforçando o modelo excludente e segregador na sociedade, como ressalta Alves

(2009).

Há, portanto, uma variedade de motivos que levam à desvalorização de grupos sociais,

e em especial, que favoreçam a representação depreciativa acerca dos membros do grupo de

usuários de drogas, bem como a expressão do preconceito frente aos usuários, sejam estes

homens ou mulheres, idosos ou até mesmo crianças e adolescentes. No entanto, ainda que a

interpretação destes sujeitos tenha como pano de fundo a questão das drogas, as

características primárias como o gênero, especialmente, emergem contextos específicos que

moldam a interpretação que a sociedade atribui, dado o grupo de pertença.

Seguindo essa premissa, o presente trabalho pressupõe que o olhar social acerca da

mulher que consome drogas compõe um duplo desvio - seja pelo comportamento abusivo em

relação à substância, seja pelo descumprimento de padrões de comportamentos esperados para

o feminino, cuja compreensão desse fenômeno pela sociedade é feita através da desconstrução

da usuária enquanto 'mulher boa e virtuosa', abrindo espaço para a estereotipagem negativa, a
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expressão de atitudes preconceituosas e ocasionando o processo de exclusão social deste

grupo social.

2.2 A Mulher no estigma da desviância e as interfaces com a saúde pública

O fato de mulheres estarem presentes nos contextos de usos de drogas, antes tido

como majoritariamente masculino, abriga a complexidade do meio social e nos faz refletir

mudanças nas relações intersubjetivas entre os gêneros e no papel da mulher na sociedade

contemporânea.

Acreditava-se que os homens eram mais propícios ao abuso de drogas, principalmente

devido a aspectos sociais e culturais que associam o sexo masculino com a virilidade, o desejo

de sentir prazer com comportamentos de risco, violência e transgressão, e por isso, uma

demonstração de masculinidade em algumas sociedades (Medeiros et. al, 2015). Tais

suposições apareciam vinculadas a produções discursivas que reforçam o imaginário social

das habilidades masculinas para práticas que garantiam maior acesso às drogas, e por outro

lado, estimularam determinadas práticas para as mulheres, como exemplo, o espaço

doméstico como prioridade e os cuidados do lar, do marido e a maternidade, e com isso,

reforçando a imagem de fragilidade e docilidade acerca do feminino. Isso talvez explique o

porquê das mulheres consumirem menos drogas do que os homens ou de começarem ou não a

usar substâncias.

As aproximações dos papéis sociais de homens e mulheres têm sido apontadas pela

literatura como um dos fatores do aumento de mulheres que consomem drogas (Zilberman,

2003). No entanto, atualmente, ainda que a visibilidade social do feminino nesse contexto seja

notória, se comparado a outros períodos na história, a imagem de mulher “drogada” é vista

com ressalvas pela sociedade.


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Apesar de todas as conquistas das mulheres por direitos e espaços no meio social,

tornando-se donas de seus corpos e gerentes de seus comportamentos, o fenômeno das drogas

parece ser ainda um terreno minado por construções de gênero que deflagram hierarquias de

poder (Brasiliano, 2001; Hocgraf & Andrade, 2006). A condenação social da mulher que usa

drogas simbolizaria a submissão destas, sendo um modo de controle de seu corpo e seus

comportamentos. Esse julgamento social rígido estaria relacionado com os efeitos

indesejáveis socialmente que poderia resultar da intoxicação, como por exemplo, o apetite

sexual aumentado ou diminuído e uma maior vulnerabilidade para o abuso sexual (Brasiliano

& Bucaretchi, 2006; Yamaguchi et al. 2008).

A mulher ao ser marcada pelos seus papéis sociais historicamente constituídos, como a

imagem da mãe, dona de casa, esposa, e o estigma da docilidade e fragilidade, carrega

consigo uma carga muito grande, caracterizada por cobranças e imposições sociais,

mascarando a questão da dependência de drogas enquanto um problema de ordem moral e

configurando-a enquanto um espaço de produção de discriminação de gênero e da

vulnerabilização.

Sobre este aspecto, algumas pesquisas têm se dedicado a analisar o impacto dessa

construção na representação da mulher usuária de drogas na sociedade. Cruz (2012) em seu

estudo relata que as usuárias se vêem rotuladas pela sociedade enquanto mulher “sem valor”,

“prostituta” e “irresponsável’, sofrendo com situações de preconceito e exclusão social.

Medeiros et al. (2015) e Medeiros, Maciel e Sousa (2017) também evidenciaram que a figura

da mulher usuária é vista como um problema de ordem moral, ocasionando uma

representação depreciativa ligada sobretudo ao abandono ou afastamento das funções

femininas. Esses dados também coincidem com a literatura internacional em estudo realizado

por Bungay et al. (2010), onde ressaltam usuárias vivendo em precárias condições,
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apresentando envolvimento com o trabalho sexual e menos apoiadas pela divulgação de

serviços de saúde.

Esse processo de invisibilidade das mulheres nesse contexto força a adequação destas

aos modelos tipicamente masculinos, de modo que o problema das drogas tem sido enfocado

pelos homens e para os homens, gerando maior ocultação sobre as questões da mulher e da

dependência química feminina. A proposta de construir políticas públicas dirigidas

especificamente às mulheres usuárias de drogas como forma de possibilitar o processo de

equidade nas relações de gênero é recente em diversos países (Luchese & Aguiar, 2002).

A ausência da mulher, na agenda política, principalmente das ações voltadas para as

políticas sobre drogas destinadas ao gênero feminino, enseja preocupação, visto que a

seletividade negativa contribui para uma sociedade punitiva que reproduz hierarquias sociais,

ou seja, fazendo com que se endosse o preconceito frente à mulher usuária de drogas no

cenário público, constituindo a interface negativa do processo de exclusão social.

O foco do gênero na questão das drogas constitui um fenômeno social que tem

interfaces com a saúde pública, pois configura com uma contradição na vida das mulheres

gerando tensão e resultando em processos destrutivos do seu processo saúde-doença. Assim, a

luta pela ampliação dos espaços de liberdade e de produção social da vida das mulheres deve

ter como eixo norteador uma ruptura com a tradição do modelo de assistência hegemônico, de

modo que a superação dessa realidade implica em transformações e enfrentamento nos planos

políticos, ideológicos, técnicos, culturais e sociais (Ferreira, 2013; Medeiros et al., 2015).

A contínua força do “ideal de feminilidade” permanece como tributo intocável,

protegido por um discurso de uma suposta valorização da mulher através dos aspectos

maternos e de cuidadora. Ao adentrar no contexto de uso de abusivo de drogas, a sociedade

encara as mulheres como se estas tivessem fracassado no seu papel feminino. Essa mulher é

vista então como um duplo desvio, seja pelo descumprimento das funções maternos-
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familiares, seja pelo envolvimento com comportamentos considerados transgressores, como a

questão do uso e do abuso de drogas.

Posto isso, neste estudo, pretende-se trabalhar com o conceito de “desvio”, visto que

este se torna muito útil para se compreender como a sociedade, especialmente em países

ocidentais, atribuiu valor negativo ao consumo de drogas e, notadamente, às mulheres

usuárias. Faz-se útil também para entendermos o cenário de desigualdades enfrentadas pelas

usuárias de drogas, problematizar os eixos constitutivos do preconceito e os fatores

explicativos da exclusão social destas mulheres.


CAPÍTULO. 3
__________________________________________

Estereótipos de Gênero, Preconceito e suas implicações no


processo de Exclusão Social enfrentada pelas Usuárias de
Drogas
______________________________________
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CAPÍTULO 3. Estereótipos de gênero, Preconceito e suas implicações no processo de

Exclusão Social enfrentada pelas Usuárias de Drogas

Desde que iniciamos as primeiras relações em sociedade, somos imersos num sistema

de categorias ou grupos específicos, alguns mutuamente excludentes, como por exemplo,

mulheres e homens, brancos e negros; já outras categorias, se diferenciam pelo valor social

que lhes são atribuídos ao longo da vida. À medida que crescemos, essas etiquetas

psicológicas vão se tornando uma forma mais cristalizada e funcionam como marcas sociais

que orientam a construção da noção do que somos e qual lugar ocupamos no universo social.

Ao longo dos anos, nossa sociedade edificou em torno de si e arraigado no discurso do

senso comum, crenças compartilhadas socialmente e que podem ser definidas como

estereótipos. Estes quando relacionados ao gênero, e mais especificamente, ao caráter

negativo do sexo feminino, pode ser compreendido enquanto o primeiro passo para a

construção das bases constitutivas do preconceito e da discriminação frente à mulher na

sociedade.

Este capítulo teórico é composto das seguintes subseções: Sobre os Estereótipos e

Sobre o Preconceito, tendo ênfase na discussão destes construtos a constituição da Exclusão

Social enfrentada pelas mulheres em contexto de abuso de drogas. Em sua primeira parte, os

tópicos apresentarão as definições dos estereótipos, seus estudos, funções e o conteúdo de

gênero. Em seguida será apresentado o conceito de preconceito, as atuais formas de

manifestação e o sexismo, tendo como enfoque a problemática das drogas no universo

feminino. Por fim, será contextualizada a perspectiva de Exclusão Social adotada no presente

trabalho e as articulações dos pressupostos e hipóteses.


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3. 1 Sobre os Estereótipos

À luz da teoria das relações intergrupais, parte-se da ideia de que os estereótipos

respondem a um princípio sistemático de generalização. Etimologicamente, a palavra

estereótipo vem do grego stereos que quer dizer sólido ou rígido, e túpus, significa traço.

Portanto, o termo comporta em si uma referência ao que foi pré-determinado e encontra-se

fixado, cristalizado. Porém, a origem da palavra está associada à criação da técnica de

impressão do francês Firmin Didot, em 1794, que consiste em duplicar um molde padrão de

uma imagem ou figura em uma única página (Gonzáles-Castro & Ubillos, 2011). A

psiquiatria do século XIX designava o termo estereotipia para se referir aos frequentes

movimentos, gestos, posturas ou falas repetitivas de pacientes diagnosticados com demência

precoce; e as ciências sociais usavam esporadicamente a palavra estereótipos para indicar algo

difícil de mudar (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 2002).

Para Camino (1996), da concepção etimológica que traduz rigidez de traços à

extrapolação tipográfica que confere a ideia de repetição, o primeiro teórico a estruturar uma

definição contemporânea dos estereótipos e suas funções psicossociais foi o jornalista Walter

Lippman, na década de 1920. Este adaptou e passou a utilizar o termo estereótipo para referir-

se aos “moldes cognitivos” que reproduziriam mecanicamente a imagem de pessoas e

eventos, o que ele assinalava de “retratos da mente”, representações simplificadas da

realidade que dão significado às condutas.

Lippmann investigou o poder dos rótulos e os seus efeitos na percepção das pessoas.

Segundo ele, quando um sistema de estereótipos é bem fixado, nossa atenção é voltada para

aqueles fatores que os apoiam e desviada daqueles fatores que os contradizem. Para Marques

e Paéz (2013), as ideias de Lippmann eram inovadoras numa época em que os estereótipos

eram vistos com uma forma inferior de pensamento, situada no campo do patológico. Deste

modo, as concepções desenvolvidas por este teórico foram postas de lado pela maioria das
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investigações feitas nas três décadas seguintes, sendo recuperadas e desenvolvidas

posteriormente.

Retomando a perspectiva de Lippmann, Allport (1954), por exemplo, postulou que os

estereótipos são um processo não apenas normal como também necessário para organizar o

mundo em categorias mais fáceis de manejar. Para o autor, os estereótipos geralmente estão

associados a características como raça, gênero, aparência física, origem geográfica ou social,

assim como também se referem a outros marcadores sociais como religião e política (Marques

& Paéz, 2000). De acordo com Fernandes et al. (2011), os estereótipos geralmente se referem

às características dos grupos sociais. Foi também conceitualizado enquanto um fenômeno

coletivo que, por mais que não represente o mundo tal qual ele é real, podem guiar nossos

comportamentos e pensamentos (Gonzales-Catro & Ubillos, 2011). É entendido também

enquanto estruturas cognitivas ou esquemas organizados em torno de crenças e expectativas

acerca dos grupos humanos (Fiske & Taylor, 1984; Fiske, 1998).

É notável a referência dos estereótipos enquanto crenças sociais construídas e

socialmente compartilhadas. De aparente organização estruturada, as crenças fazem menção

aos conteúdos mentais de natureza simbólica, cuja influência na cognição é revelada através

dos esquemas perceptivos e na interpretação que o percebedor faz de sua experiência social

(Kruger, 2004). O autor ainda completa que existem dois vieses por meio dos quais as crenças

são conceituadas: o primeiro viés se refere que onde as crenças são pessoais e revelam um

julgamento a respeito de alguém, e o segundo, onde são consideradas crenças compartilhadas,

se encontram os estereótipos.

O estudo dos estereótipos, assim como outros conceitos dentro da psicologia social,

pode ser contemplado em duas vertentes: a individual e a sociológica. A abordagem

individual tem foco nos processos intrapsíquicos e recebe orientação da teoria da Cognição

Social, a qual atribui ênfase ao conceito de mediadores cognitivos e a maneira pela qual esses
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processos mentais intermediam o mundo dos estímulos sociais e os comportamentos (Pereira,

2011). Nessa linha de pensamento, os estereótipos são entendidos enquanto estruturas

cognitivas de conhecimento (crenças) sobre a realidade. Podem se manifestar por meio de

representações abstratas na mente das pessoas, e também pela visualização de exemplos

concretos ou espécie de protótipos (Willis, Bailón & Moya, 2011).

Já para a perspectiva sociológica, o pano de fundo para a interpretação dos

estereótipos é o cruzamento de fatores ligados à dinâmica social e as relações entre os grupos

(Marques & Paéz, 2000). Assim, considerando a base de conhecimento armazenado sobre

determinada realidade e adquirida na interação social, os estereótipos seriam as

representações de elementos culturais socialmente compartilhados. São os estereótipos um

tipo de informação pública construída e elaborada pela sociedade (Willis, Rodríguez-Bailón,

& Moya, 2011). Ainda que tenham o foco voltado para determinada área, as duas perspectivas

podem ser consideras complementares, uma vez que ao tentar explicar este fenômeno a partir

de uma única vertente, corre o risco de desembocar num reducionismo, como afirma Marques

e Paéz (2006).

Já no que concernem os processos e funções dos estereótipos, não há como não

recorrer à explicação dos processos de categorização, identidade social e comparação social

(Tajfel, 1978). Para Marques e Paéz (2006), esses dois últimos processos se diferenciam do

primeiro por adotarem uma perspectiva de variabilidade nos grupos, enquanto a categorização

contém um viés puramente cognitivista.

Entendida enquanto um processo cognitivo oriundo da percepção social, a

categorização é considerada um importante componente no processo de organização das

informações do meio social (Aronson, Wilson & Akert, 2002). Tajfel (1983) afirma que ao

categorizar qualquer objeto, seja ele físico, social ou abstrato, o indivíduo adota critérios

classificatórios e descritivos os quais irão orientar a diferenciação dos grupos distintos por
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meio de vários aspectos que se assemelham dentro de uma dada categoria. Esse processo

ajuda na ordenação, simplificação da informação precedente do meio social. Com base nisso,

os estereótipos se formam a partir do “encaixe” de indivíduos em determinadas categorias

sociais, o que assume não só a função de tornar a realidade social mais acessível, como

também facilitar a justificativa para a diferenciação entre os indivíduos e grupos, entre o

“nós” e “eles” (Amâncio, 2006).

Neste sentido, além de ser um processo automático e inevitável da percepção, os

estereótipos sociais permitem, por meio das funções política e social, estabelecer e garantir o

distanciamento social perante indivíduos e grupos. Com isso, o fato de perceber um indivíduo

como membro do grupo de usuários de drogas, por exemplo, como pertencente ao exogrupo

ou ao endogrupo, tem profundas consequências que vão além da mera percepção.

No que concerne a identidade social esta ocupa um lugar de destaque nas discussões

sobre a conceituação de grupo no campo da psicologia social (Brown, 2000). Foi por meio de

trabalhos pioneiros como o paradigma do grupo mínimo, como a consciência da pertença e a

importância associada a esta pertença (Tajfel & Turner, 1979; Tajfel, 1970; 1982), que a

identidade social passou a ser justificativa explicativa para o comportamento social

intergrupos. No processo de identidade social, os indivíduos pertencentes a uma determinada

categoria tendem a priorizar o próprio grupo, em detrimento a outros grupos aos quais não

pertencem em virtude da manutenção de um senso positivo, de uma alta estima grupal. Para

Tajfel (1970) e Tajfel e Turner (1979), essa identidade é construída a partir do sentimento de

pertença a um determinado grupo mais o valor desta pertença, o que leva os indivíduos a

salientarem os aspectos positivos do grupo de pertença, ao passo que depreciam os aspectos

negativos do grupo de comparação. A partir disso, é consenso entre diversos autores (Onorato

& Turner, 2004; Reynolds et al., 2007; Turner, 1980, 1988; Turner, Brown, & Tajfel, 1979;

Turner & Oakes, 1986), que a identidade social tem o papel primordial de dá realidade
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psicológica ao termo “grupo” para seus membros, e é o que permite àqueles membros

individuais serem unidos em suas percepções e comportamentos coletivos.

De acordo com Deaux (2000), a maioria das categorias de identidade não só existe

como um grupo ou o rótulo com que o indivíduo possa se identificar, mas também como um

reconhecimento social da categoria ou um estereótipo investido de significados

compartilhados.

Ainda assim, os processos que permitem a categorização de indivíduos e os

posicionamentos frente aos diversos grupos alcançados pela identidade social não operam

num vácuo social, distantes das implicações sociais e dos sentimentos associados a outros

grupos. O processo de comparação social nos auxilia a entender as consequências que a

preferência sobre o próprio grupo aporta às relações sociais, como também na formação dos

estereótipos.

A comparação social, por meio do seu princípio de diferenciação, tem suas primeiras

descrições a partir das citações de Tajfel (1982) sobre os estudos de Sumner sobre a temática

do etnocentrismo, apontando-o como precursor dos termos “endogrupo” e “exogrupo”. Para

ele, a diferenciação grupal é considerada um processo dinâmico, só podendo ser entendido no

contexto das relações entre grupos sociais e através das funções a que serviriam as

comparações sociais. Tem a função, segundo Torres e Camino (2011), de aumentar a coesão

intragrupal, possibilitando melhores condições de sobrevivência e, como consequência,

haveria a intensificação das peculiaridades do endogrupo em detrimento da diferenciação com

o exogrupo.

De acordo com o teórico Tajfel (1982), o processo de comparação social e a

consequente preferência pelo seu grupo é um fenômeno frequente. Aliando a isso, a criação

ou manutenção de diferenças entre os grupos seguiria o mesmo princípio para a manutenção

de alta autoestima, preconizada nos estudos sobre a identidade social, a qual afirma que os
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indivíduos procuram obter uma imagem positiva de si e esta imagem é obtida por meio da

diferenciação positiva dos outros grupos durante o processo de comparação social. Contudo,

percebeu-se que a comparação grupal não resultava necessariamente em uma avaliação

negativa do outro grupo, mas sim em uma tendência a avaliar mais positivamente o próprio

grupo.

Sendo assim, os três processos, categorização, identidade social e comparação social,

em conjunto, possibilitam explicar como grupos distintos estabelecem relações de

distanciamento social, justificando-as a partir das percepções de similitudes e diferenças em

relação aos grupos sociais e, em função dessa percepção, emitirem preferências ao próprio

grupo em virtude de sua pertença social. Não obstante, para se compreender os estereótipos,

se faz necessário entender quais as funções que estas crenças socialmente compartilhadas

exercem nas relações intergrupais.

Seguindo esse contexto, uma das perguntas mais frequentes entre estudiosos dessa

temática diz respeito a sua funcionalidade: para que servem os estereótipos? Quais as suas

funções? São vários os estudos que buscam dá resposta para esses questionamentos, e dentre

eles pode-se destacar os realizados por Tajfel (1981). Considerado um dos primeiros teóricos

a realizar análises sistemáticas sobre as funções dos estereótipos, Tajfel apontou que estes

exerciam funções individuais e sociais; apesar de inserir profundas criticas ao viés

individualista presente em muitos estudos da psicologia cognitiva (Techio, 2011).

Dentre as funções individuais dos estereótipos encontra-se o papel da economia

cognitiva que serve para ordenar, categorizar e estruturar a percepção da realidade

(categorização), acentuando as diferenças intergrupais e as semelhanças intragrupais (Techio,

2011). Outra função que os estereótipos desempenham seria a defesa dos valores individuais,

funcionando como proteção do “eu”, uma vez que os estereótipos ajudam que a pessoa se

sinta melhor acerca de si mesma e menos ameaça (Tajfel, 1981). Assim, os estereótipos em
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nível individual, além de tornarem a realidade mais acessível, ajudam na manutenção da

autoimagem positiva.

Atuando enquanto funções sociais, a teoria das relações intergrupais (Tajfel, 1981)

destaca três funções que desempenham os estereótipos, as quais são:

 Explicação e busca de causalidade – onde os estereótipos são usados para explicar os

acontecimentos ou eventos sociais que se caracterizam pela sua complexidade e caráter

negativo. Um exemplo disso é em situações de agravamento de crise econômica, atribui-se a

sua existência e responsabilidade a alguma categoria social minoritária, e os estereótipos

associados a elas.

 Diferenciação social – os estereótipos ajudam as pessoas a diferenciar positivamente o

endogrupo e minimizar os traços negativos, quando comparados ao exogrupo. Pode-se

associar, por exemplo, o fato de que os homens são ativos, agressivos e fortes, ao passo que as

mulheres são suaves e afetuosas.

 Justificação social – a divisão social, que explica e justifica as ações dirigidas a

determinados grupos é reforçada pelos estereótipos. Por exemplo, paga-se menos às mulheres

porque estariam menos motivadas para o trabalho, e por acreditarem que estas exercem

funções inferiores (cuidar da casa, das crianças, etc.).

Embora os estereótipos encorajem um conhecimento intuitivo do Outro,

desempenhando papel central na organização do discurso do senso comum, nem sempre os

estereótipos dos grupos dominantes são positivos e nem os do grupo dominado são negativos;

porém independente da conotação, então sempre a serviço da manutenção do sistema e status

quo. Nesse sentido, faz-se necessário analisar como se configuram os conteúdos atribuídos

aos estereótipos dentro da dinâmica social.


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3.1.1. O Conteúdo de gênero nos estereótipos e o controle normativo sobre o feminino

Os estereótipos comumente agrupam diversos tipos de características e não se limitam,

portanto, a identificar categorias gerais de pessoas. Fazem alusão à aparência física,

interesses, papéis sociais e profissionais, etc., mas também podem ir além de como são vistos

e atuam nos grupos. Os estereótipos podem estar relacionados a julgamentos e pressupostos

implícitos ou explícitos de como são os grupos sociais, sobre seu comportamento, que traços

de personalidade compartilham seus membros e sua visão de mundo ou sua história. Para

Techio (2011), os atributos que caracterizam um grupo podem ser positivos ou negativos,

serem precisos ou incertos e muitas vezes exagerados na diferenciação dos grupos.

Ao longo do tempo, demonstrar a importância dos estereótipos para a compreensão da

ênfase da justificação e das desigualdades sociais sempre foi interesse de boa parte dos

pesquisadores da área, desde estudos clássicos na década de 1990 aos mais recentes sobre as

diferentes categorias sociais, espcialmente àquelas tidas enquanto minoritárias.

O estudo clássico sobre o conteúdo dos estereótipos foi realizado por Katz e Braly

(1933) com estudantes da Universidade de Princeton. Neste, solicitou-se aos participantes que

construíssem uma lista de adjetivos ou atributos típicos de algumas categorias sociais:

Alemães, Judeus, Negros, Americanos, Irlandeses, Ingleses, Italianos, Chineses, Japoneses e

Turcos. Em um segundo momento, de posse de uma lista de 84 adjetivos elaboradas a partir

dos traços atribuídos anteriormente pelos estudantes, solicitou-se que outro grupo de

estudantes apontassem os cinco traços que melhor caracterizassem cada grupo em questão.

Após concluir esse estudo, os pesquisadores observaram que havia um grau elevado de

concordância entre os estudantes no que se referia aos dez grupos-alvo, principalmente para o

grupo de negros e dos judeus; observou-se um percentual de 75% do grau de concordância

entre os participantes.
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Contudo, esse estudo foi alvo de diversas críticas, apesar de sua notável importância.

As críticas se centraram no método utilizado, havia um viés na lista de atributos que não

contemplava certos adjetivos que normalmente caracterizam os grupos, e por ser uma amostra

que fazia parte de um discurso de universitários, homens brancos e de classe social média,

estaria enviesado.

A fim de ultrapassar essas críticas anteriormente mencionadas, e buscar alternativas

para o estudo dos conteúdos dos estereótipos, Niemann et al. (1994), conduziram dois estudos

utilizando o método da associação livre de palavras. Com esses estudos, percebeu-se que a

associação livre é um método válido e por ser sensível ao momento, permite detectar a

similaridade entre as características intracategoriais e as diferenças intercategoriais. Como

exemplo disso, observou-se que a categoria “afro-americano” era descrita como sendo um

grupo que fala alto, hostil, atlético e composto por pessoas de pele escura, ao passo que ao

analisar as diferenciações entre homens em mulheres afro-americanos, aos homens atribuíram

traços do tipo musculosos e criminosos, enquanto para as mulheres foram atribuídos traços do

tipo amigável, agradável e sociável (Niemann et al., 1994).

Outras pesquisas têm indicado certa constância e estabilidade dos traços no decorrer

do tempo (Cuddy, et al, 2009). Observa-se que algumas categorias sociais, como os idosos e

os portadores de deficiência, por exemplo, são alvos de estereótipos de incapacidade e

inutilidade, porém são concebidos como sociáveis e pouco ameaçantes; os europeus são vistos

como capazes, competentes e frios, quando comparados com os latinos; as mulheres donas de

casa recebem traços de dóceis, inofensivas e sociáveis. E apesar de haver certa estabilidade no

conteúdo dos estereótipos, é possível observar algumas mudanças em alguns traços grupais.

Isso de deve, em grande medida, a dinâmica sociocultural de inserção dos grupos e o modo

como as relações sociais estão sendo estruturadas. Com o passar dos anos, observa-se

mudanças sutis e periféricas nas atribuições de adjetivos para os grupos minoritários, no


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entanto, parece demonstrar pouca alteração nos crivos que os separam do grupo majoritário,

ou seja, no status quo.

Na perspectiva clássica do estudo do conteúdo dos estereótipos, os atributos que

classificam o próprio grupo eram em sua maioria traços positivos, enquanto os traços

atribuídos aos exogrupos apresentavam aspectos negativos, que serviam de indicadores para

os comportamentos intergrupais de preconceito e discriminação (Techio, 2011). O cenário

atual tem revelado que o conteúdo negativo dos estereótipos atribuídos ao exogrupo tem

diminuído, e tem-se observado também uma atribuição de traços positivos a estes; esse fato se

deve, em grande medida, às pressões sociais e lutas pela igualdade e pelos direitos humanos

(Smith & Mackie, 1997).

Essa ambivalência no conteúdo dos estereótipos já era estudada nos primeiros

trabalhos de Allport (1954). Para este autor, alguns adjetivos positivos associados a

determinadas categorias poderiam apresentar conotação contraditória. Por exemplo, os negros

eram percebidos como incompetentes ainda que fossem vistos como sensuais e sociáveis, e já

os judeus eram tidos enquanto competentes ainda que ambiciosos e orgulhosos. Apesar de ter

uma aparente caracterização positiva, segundo Allport (1954), o conteúdo dos estereótipos

pode ser desvirtuado e levar a atitudes preconceituosas.

Outro teórico que contribuiu com temática dos estereótipos afirmando a existência de

traços positivos e negativos ao exogrupo foi Solomon Asch. Em seus experimentos sobre

formação de impressão, Asch (1946) fez referência à importância de traços de sociabilidade e

competência para as atitudes intergrupais. Por exemplo, ele observou que variando um dos

adjetivos utilizados para descrever uma pessoa, sendo fria ou calorosa, era suficiente para

alterar a formação de impressão. Posteriormente, observou-se que a descrição de uma pessoa

como competente, no entanto fria, ou competente e sociável, sofria adaptação conforme a

percepção das pessoas com ou sem poder.


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É com base na orientação dos estudos conduzidos por Allport (1954) e Asch (1946),

que se tem centrado o estudo do conteúdo dos estereótipos em duas dimensões: Competência

e Sociabilidade. No que diz respeito a primeira dimensão, esta reúne aspectos como poder,

status e instrumentalidade, ao passo que a segunda congrega aspectos como expressividade e

afetividade. No entanto, esta dicotomização pode, dependendo do contexto, modificar a

semântica dos estereótipos, o que aponta para o seu caráter ambivalente. Esta dicotomia foi

melhor estrutura pelos estudos realizados por Fiske et al. (2002, 2007) ao proporem o Modelo

do Conteúdo dos Estereótipos (SCM). Esta categorização dicotômica reflete o posicionamento

ao apresentarem tal teoria sobre o conteúdo dos estereótipos.

De acordo com esta teoria, os grupos com baixo status são caracterizados com

atributos de baixa competência e alta sociabilidade e incitam atitudes de compaixão e o tipo

de preconceito paternalista; enquanto os grupos de alto status com atributos ligados à

competência e baixa sociabilidade suscitaria o preconceito associado a atitudes de inveja

(Techio, 2011). Fiske et al. (2007) apontam que os conteúdos dos estereótipos são produzidos

através das relações socioestruturais, baseando-se nas relações grupais de competitividade ou

cooperação. Esta teoria enfatiza que o status global prediz a competência, enquanto que a

interdependência prediz a sociabilidade; no primeiro caso, as atitudes associadas seriam de

admiração e aproximação, enquanto no segundo caso, atitudes de desprezo e evitação. Neste

sentido, os grupos de alto status são cobiçados, mas não queridos, e os grupos de alta

sociabilidade por terem baixo status, são queridos, mas não cobiçados, como é o caso das

mulheres dona de casa, por exemplo. Techio (2011) destaca que para a ameaça percebida na

relação entre os grupos os estereótipos, tem função de justificar e manter as diferenças.

A Figura 1 seguinte apresenta a predição dos estereótipos a partir das combinações

entre a percepção do status e da interdependência.


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Figura 1. Predição dos estereótipos a partir das combinações entre status e interdependência

É importante ressaltar que a combinação resultante da alta competência e alta

sociabilidade levaria a uma relação social de admiração e que tal combinação dificilmente

seria encontrada nos grupos sociais; enquanto que a combinação de baixa competência e baixa

sociabilidade despertaria o desprezo.

Essa teoria do preconceito a partir do status e da interdependência dos grupos na

sociedade teve impacto potencial nos estudos sobro o sexismo em diversos países. Mais

recentemente, Glick e Fiske (2011) realizaram revisões desse modelo.

A terminologia desse modelo pode ser utilizada para referir-se a características que

diferenciam diversos categoriais grupais, como por exemplo, para investigar os estereótipos

de gênero, que se referem aos traços atribuídos às mulheres na dinâmica sociocultural, bem

como os estereótipos atribuídos ao grupo de mulheres tidas enquato usuárias de drogas.

Historicamente, pode-se dizer que o modo de se pensar a classificação dos seres

humanos em duas categorias distintas – homens e mulheres – foi assentado nas diferenças

biológicas, o que determinou claramente uma normatização de como esses dois grupos

deveriam se relacionar. Desta maneira, a existência das diferenças a respeito dos sexos

aparece como justificativa para a construção de estereótipos e crenças acerca da natureza do

masculino e do feminino.
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Segundo D’Amorim (1997, p. 122), estereótipos de gênero podem ser entendidos

como “conjunto de crenças acerca dos atributos pessoais adequados a homens e mulheres,

sejam estas crenças individuais ou compartilhadas”.

Estudos acerca dos estereótipos de gênero tem sido por muito tempo o interesse de

diversos pesquisadores nas mais distintas localidades geográficas. Tais pesquisas têm

revelado certa estabilidade nos traços estereotípicos atribuídos aos gêneros, apesar de ser

verificado que em alguns contextos essas crenças perderam intensidade ou mesmo tiveram

pequenas alterações no conteúdo (Luque, 2000).

As pesquisas sobre os estereótipos de gênero mostram que os traços de

instrumentabilidade, independência e dominância são associados ao masculino, além destes

manterem uma implicação menor em atividades de cunho interpessoal. Já os traços de

expressividade, dependência e submissão são associados ao feminino, além destas serem

vinculadas mais em atividades interpessoais baseadas na harmonia (Amâncio, 1992; Cuddy et

al., 2009).

Em estudo sobre estereótipos de gênero na década de 1950 nos Estados Unidos com

universitários, Sherriffs e Mckee (1957) encontraram que os homens poderiam ser descritos

como assertivos, racionais, vigorosos e eficientes. As mulheres eram vistas como competentes

socialmente, graciosas, espiritualizadas, calorosas, emocionais e dispostas a prestar apoio. A

afetuosidade, gentileza e sensibilidade também descreviam atributos femininos no inventário

de Bem (Bem, 1974); enquanto a assertividade, dominância e agressividade eram descritores

de papéis masculinos.

Alguns experimentos clássicos ilustram essa disparidade entre traços masculinos e

femininos. Goldberg (1968) realizou um estudo onde solicitava a alunas universitárias que

avaliassem artigos acadêmicos em termos de competência, estilo, profundidade, etc. Para uma

parte da amostra foi fornecida a informação de que o autor dos artigos era um homem (John
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T. Mckay), ao passo que para a outra metade, se tratava de uma autora mulher (Joan T.

McKay). Apesar de o artigo ser o mesmo para ambos os grupos, àquele assinado por uma

mulher era invariavelmente menos elogiado que o supostamente escrito por um homem,

demonstrando uma suposta superioridade masculina.

Sobre essa questão, alguns psicólogos sociais (Deaux, 1984; Deaux & Emsweiler,

1974) demonstraram que diante de uma situação em que visualizamos comportamentos de

atores do sexo masculino e feminino, atribui-se explicações internas para o sucesso dos

homens em situações de desempenho, ao passo que para as mulheres o mesmo sucesso é

atribuído a causas externa e circunstâncias. Um exemplo disso seria, ao sermos apresentados a

um caso bem sucedido de um médico ou à sua contrapartida do sexo feminino, tendemos a

atribuir o sucesso da mulher a uma dose suplementar de motivação, ou ainda a “sorte”, nas

palavras dos autores (Deaux & Emsweiler, 1974), para supostas deficiências internas. Esses

fatores, segundo Rodrigues, Assmar & Jablonsky (2009), tem o poder de cristalizar os

estereótipos de inferioridade, ao ponto que ate o público alvo, como no caso as mulheres,

também incorporam tais ideias e se comportam de forma a endossá-las nas relações sociais.

Sobre o conteúdo dos estereótipos relacionados aos homens e mulheres, Amâncio

(1989; 1992) conduziu um conjunto de pesquisas no contexto português. Num primeiro

estudo, de base exploratória, a pesquisadora solicitou a estudantes universitários,

trabalhadores e não trabalhadores, de ambos os sexos, que descrevessem uma pessoa do

mesmo sexo e uma pessoa de sexo oposto. Os resultados confirmaram a associação dos traços

de instrumentabilidade e dominância aos estímulos masculinos e a associação dos traços de

submissão e expressividade nos estímulos femininos.

Com base nesses dados, a autora conduziu outro estudo a partir do campo semântico

obtido nesse primeiro estudo. Neste, selecionou-se 94 adjetivos em ordem alfabética que

representavam a variedade das palavras ditas por homens e mulheres. A lista dos traços foi
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apresentada aos participantes, também estudantes universitários, sendo que foi solicitada a

metade da amostra que classificassem os traços em masculinos e em femininos, de acordo

com o conhecimento que julgavam ser o da sociedade portuguesa acerca dos caracteres

sexuais; a outra metade da amostra foi pedido que classificassem os traços em positivos ou

negativos, baseando também na imagem de uma pessoa portuguesa (homem ou mulher). O

que se concluiu nessa investigação é que houve menos características tipicamente femininas

do que tipicamente masculinas, e a relação entre os traços positivos e negativos foi

considerada desfavorável no estereótipo feminino do que no masculino. Ao observar os

conteúdos, verificou-se que os estereótipos femininos incluem a própria designação da

categoria a qual se refere “feminina” e inclui também um traço orientado para função social

“maternal” – dado que não foi observado no estereótipo masculino. Ademais, os estereótipos

femininos englobaram traços físicos e afetivos, que apontam para o papel das mulheres na

família e que são considerados positivos; traços de dependência e submissão também

surgiram e foram avaliados enquanto negativos, e por último, traços relacionados às emoções

e expressão de sentimentos que não reuniram consenso quanto a sua avaliação.

Mais recentemente, no Brasil, Barros, Natividade e Hutz (2010), também com

universitários, identificaram diferenças nas descrições de características de homens e

mulheres. Os homens foram descritos como responsáveis pelo sustento, com disposição para

exercer o comando e para trabalhos pesados e com gosto por veículos e por jogos; e as

mulheres foram caracterizadas como responsáveis pelo cuidado da casa e dos filhos, como

afetuosas, caprichosas e vaidosas.

Pode-se argumentar que esses estereótipos ocorrem como parte de um discurso

proveniente de práticas historicamente construídas na sociedade. Discurso este que guarda

relações com as dinâmicas de poder exercido por um sexo em detrimento de outro. Nesse

sentido, os homens seriam vistos como dominantes e as mulheres como subjugadas.


P á g i n a | 74

Por meio de diversos estudos realizados sobre os estereótipos de gênero ao longo dos

anos, é possível distinguir uma estrutura bidimensional – competência e afetuosidade – que

também serve como fonte de interpretação para descrever estereótipos sobre diversos grupos

(Fiske, Cuddy, & Glick, 2007; Fiske, Xu, Cuddy, & Glick, 1999), que em geral o grupo com

maior status é visto como mais competente e o de menor como mais afetuoso. Fiske et al.

(2007) atribuem essa tendência encontrada em estudos sobre estereótipos a uma característica

adaptativa humana de perceber traços que indiquem possibilidade de ajuda e facilidade para

formar coalizões. No caso específico, as mulheres seriam menos instrumentais e mais afetivas

e sociáveis, despertando atitudes intergrupal de proteção. Essas crenças socialmente

compartilhadas servem para manter privilégios dos grupos dominantes (homens), enquanto

que os grupos tidos como de alto status, classificados como competentes e pouco sociáveis,

ajudariam a justificar o sistema social (Cuddy et al., 2009).

Para Freire Filho (2004), os estereótipos enquanto traços associados às categorias

sociais são representações multifacetadas, utilizadas consoante ideologias, convicções,

crenças, atitudes, ideias pré-concebidas, políticas ou até interesses escusos, que revelam o que

se pensa e em que se acredita, e muitas vezes revelam tensões e conflitos sociais subjacentes –

“a loira burra”, “o índio preguiçoso”, “o homossexual afeminado”, “o roqueiro drogado”, etc.

Tal qual atestam os exemplos supracitados, o estereótipo reduz toda a variedade de

características de um povo, uma raça, um gênero, uma classe social ou um “grupo desviante”

a alguns poucos atributos essenciais, tais como: traços de personalidade, as vestes, linguagem

verbal e corporal, comprometimento com certos objetivos ou comportamentos, entre outros.

Como forma influente de controle social, ajudam a demarcar e manter fronteiras

simbólicas entre o normal e o anormal, o integrado e o desviante, o aceitável e o inaceitável, o

natural e o patológico, o cidadão e o estrangeiro, os insiders e os outsiders, Nós e Eles.

Tonificam a autoestima e facilitam a união de todos “nós” que somos normais, em uma
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“comunidade imaginária”, ao mesmo tempo em que excluem, expelem, remetem a um exílio

simbólico tudo aquilo que não se encaixa, tudo aquilo que é diferente, desviante (Freire Filho,

2004).

Sob essa ótica do desvio se colocam o grupo de pessoas tidas como usuárias de drogas,

uma vez que envolve um comportamento ou condição indesejável, fora da “normalidade” em

relação a um padrão específico (Ronzani & Furtado, 2010). Em estudo realizado por Melo e

Maciel (2016) com usuários de drogas lícitas e ilícitas internos em hospitais psiquiátricos e

CAPSad, revelou que estes se veem rotulados por estereótipos de “drogado”, “viciado”, “não

confiável”, “sem valor” e “doente”.

Especialmente quando se trata de mulheres usuárias de drogas, a visão da sociedade

frente esse cenário é também bastante negativa. A mulher é considerada mais imoral, com

comportamento inadequado devido à ligação do uso de drogas a prostituição e o abandono das

funções materno-familiares (Medeiros et al., 2015; Oliveira et al., 2012). Alguns estudos

qualitativos realizados com usuárias de drogas lícitas e ilícitas revelam conteúdos

estereotípicos pejorativos, como a pesquisa realizada por Leal (2009), onde verificou que as

usuárias se diziam vítimas de expressões depreciativas como “sem vergonha” e “cachaceira”.

Noutro estudo conduzido por Cruz (2012), as mulheres relataram serem rotuladas pela

sociedade como mulher “sem valor”, “prostituta” e “irresponsável”, sofrendo com situações

de preconceito e exclusão social. Dados também verificados no estudo de Medeiros (2014),

onde se observou descrições como “noiada”, “vadia” e “abandona filhos”.

Esses estudos revelam que a mulher usuária de drogas é vista como problema de

ordem moral, alvo de estereótipos negativos e de conteúdos essencialistas acerca do

descumprimento dos papéis sociais da mulher relacionados ao contexto materno e familiar.

Para Medin (1989), a essencialização é tida enquanto processo psicológico, que de modo

geral, seria a tendência a agir e pensar como se todas as coisas possuíssem algo intrínseco que
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as tornam o que são, como, por exemplo, atribuir a maternidade como algo inerente a tidas as

mulheres. Assim, o grupo dos “outros” (mulheres usuárias de drogas) seria estereotipado de

acordo com a essência que lhe fosse atribuída. É assim que os estereótipos se tornam um dos

suportes cognitivos do preconceito (Tajfel, 1978) e da exclusão social, temas que serão

abordados em subseções no presente trabalho.

3. 2 Sobre o Preconceito

As primeiras explicações para a existência do preconceito enquanto um constructo

científico só emergiu a partir da década de 1920, relacionado principalmente a questão racial.

Segundo Duckitt (1992), antes desse período não se estudava o tema, partindo-se do princípio

de que as diferenças entre os grupos eras vistas simplesmente como diferenças naturais entre

raças e o pensamento científico da época aceitava a inferioridade racial, ou seja, que o

preconceito seria um fenômeno irracional ou injustificável (Lins, Lima-Nunes & Camino,

2014). A partir de então, os estudos que trataram do comportamento aversivo contra alguns

grupos passaram por diferentes influências.

Em épocas posteriores, como as décadas de 1920 e 1930, sobre forte influência do

movimento negro nos Estados Unidos, o preconceito passou a ser interpretado enquanto um

problema social; neste período, passou-se a se interpretar a categoria “raça” sem fundamento

científico devido ao avanço da biologia e, com isso, o preconceito deixou de ser uma questão

das disputas de raça e foi considerado como um processo inconsciente e irracional de

mecanismo de defesa. Já na década de 1950, com influência da ideologia nazista e pelo

holocausto, o preconceito passou a ser se visto a partir das diferenças individuais, explicado

por meio dos transtornos de personalidade. Já a partir da década de 1960 até o final da década

de 1970, marcaram os estudos do preconceito o viés sociocultural, o qual passou a considerar

a transmissão social do preconceito, assim como a sua dinâmica intergrupal. E após a década
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de 1980, o estudo do preconceito acontece inserido no desenvolvimento das duas perspectivas

da Psicologia Social, na sua vertente psicológica onde tem como foco as características

psicológicas intra-individuais dos sujeitos, nos seus aspectos cognitivos conscientes ou

automáticos do processo de categorização, e na sua vertente social, que tem o seu interesse

pelos processos sociais de exclusão e inclusão social; a partir deste viés social, a

discriminação é interpretada a partir de conflitos intergrupais e disputas ideológicas

desenvolvidas nas dinâmicas sociais (Duckitt, 1992; Tajfel, 1982).

Portanto, seja a partir de construções psicológicas ou por influência dos processos

sociais, ao longo do tempo coexistiram diversas teorias que tentam explicar a expressão do

preconceito. Essas perspectivas teóricas podem ser entendidas e organizadas a partir dos

níveis de análise das explicações dos fatos sociais propostos pelo psicólogo social Willem

Doise (2002), que são: o nível intraindividual, interindividual, intergrupal e societal; é por

meio destes níveis de análise que serão apresentadas as principais teorias desenvolvidas sobre

o preconceito.

O nível de análise intraindividual incorpora as explicações do comportamento ou

fenômeno social que se encontram no interior do sujeito. Com isso, o preconceito é

compreendido a partir da maneira que os indivíduos organizam internamente suas

experiências com o ambiente. Neste modelo, encontram-se a Teoria da Frustração-Agressão

(Dollard et al., 1939), a Teoria da Personalidade Autoritária (Adorno et a., 1950) e a Teoria do

Espírito Fechado (Rokeach, 1960).

Proposta por Dollard, Doob e Miller em 1939, a Teoria da Frustração-Agressão foi

influenciada pelo behaviorismo e pela psicanálise, e compreende o preconceito como

resultado da relação causal entre a frustração e a agressão (Álvaro & Garrido, 2006). O

preconceito se originaria através de uma frustração em determinadas circunstâncias e se

transformaria em raiva e hostilidade. Porém, diante da impossibilidade de se manifestar o


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preconceito contra o alvo adequado, os indivíduos deslocariam a raiva em direção àqueles que

estão na base da escala social, conhecidos como “bodes expiatórios” (Pereira, 2004). O

resultado, então, desse deslocamento funcional seria o preconceito e a discriminação contra

esses grupos.

Já para a teoria da personalidade autoritária (Adorno et al., 1950), o preconceito tem

sua origem relacionada às estruturas e características patológicas de personalidade do sujeito.

Segundo essa teoria, os aspectos relacionados à primeira infância, tais como repressões, pais

autoritários, rigidez, disciplina hierárquica, etc., estariam na base do preconceito, e assim, este

seria expresso por meio do redirecionamento da agressão a alvos alternativos, como as

minorias sociais, por exemplo. A personalidade autoritária seria a origem do preconceito

(Pereira, 2004).

Segundo Rokeach (1981), o preconceito pode também ser explicado através da sua

teoria do espírito fechado, a qual afirma que as diferenças entre os valores culturais estariam

subjacentes ao preconceito (Falcão et. al., 2004). Sendo assim, Rokeach (1981) centra-se na

hipótese de que as diferenças nas crenças entre os indivíduos são mais determinantes de

preconceito do que diferenças raciais e étnicas. Tem-se, por exemplo, que as pessoas tendem a

valorizar uma determinada crença, subsistema ou sistema de crenças na proporção do grau de

congruência com os seus próprios sistemas de crenças; além disso, as pessoas valorizam as

outras na proporção do grau em que essas outras apresentam crenças, subsistemas ou sistemas

de crenças congruentes com os seus (Rokeach & Rothman, 1965). Em função disso, o

preconceito se expressa por meio da diferença em relação a crenças em questões importantes,

a partir da dificuldade do indivíduo dogmático em conciliar pontos de vista diferentes do seu.

Cabe mencionar que a teoria do espírito fechado pode ser situada tanto no nível

intrapessoal, como no nível de análise interpessoal, pois além de considerar aspectos


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relacionados às estruturas psicológicas do sujeito, esta também faz menção a importância do

sistema de crenças e valores sociais como fatores explicativos do preconceito (Duckitt, 1992).

No que diz respeito ao nível interindividual de análise, este descreve os processos

interpessoais e situacionais, estabelecendo a interação como fator primordial para fatores

princípios explicativos das dinâmicas sociais. Insere-se neste nível a teoria da categorização

social de Allport (1954, 1962).

Allport (1954) foi um dos grandes teóricos da psicologia social a se dedicar aos

estudos do preconceito a partir da sua influente obra “The Nature of Prejudice”. Neste

trabalho, o autor define o preconceito como “uma atitude aversiva ou hostil dirigida a uma

pessoa que pertence a um grupo, simplesmente porque ela pertence àquele grupo, e se

presume que possua as qualidades desagradáveis desse grupo” (Allport, 1954, p.7). A

construção dessa atitude se constituiria por meio de dois componentes: um cognitivo, a

generalização categorial, e um disposicional, a hostilidade, que influenciaria comportamentos

discriminatórios (Jones, 1972). Em linhas gerais, a categorização, ocupa o lugar central na

expressão do preconceito, pois seria considerada a responsável natural pela generalização em

categoriais sociais e, por conseguinte, segregação de membros considerados como

minoritários. A categorização para Allport (1962) seria um processo natural que nos permite

organizar as informações do dia a dia, e segundo o autor, esta se daria a partir de cinco

importantes conceitos inerentes.

A primeira característica ao fato de que as classes e agrupamentos amplos serviriam de

guias para realizar ajustes diários na classificação dos objetos sociais. Outro conceito é o

processo de assimilação, ou seja, em situações de ambiguidade, a classificação se daria por

aproximação a uma categoria preexistente. Já a terceira característica está relacionada á

economia de energia cognitiva oferecida pela categorização, uma vez que este processo

permite a identificação rápida de um objeto por meio de seus traços comuns previamente
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classificados. Em relação ao quarto conceito, tem-se a saturação dos conteúdos em termos de

iguais conotações ideacionais e emocionais, ou seja, possibilita uma classificação em termos

conceituais e afetivos (gostar ou não gostar). E por último, a quinta característica concerne a

possível racionalidade ou ao grau de verdade pelo qual se constitui as categoriais, embora

Allport (1962) afirme que categorias “irracionais” podem se formar com a mesma facilidade.

Por possibilitar a classificação por meio da organização e interpretação dos fenômenos

no ambiente, o processo de categorização forçaria um “desvio perceptivo” relativo à

acentuação de características e traços entre membros de uma categoria social. Dessa forma, a

partir dessa teoria, o preconceito se expressaria a partir da atribuição de valores a esses

membros (Allport, 1962, Falcão, et. al., 2004). Essa conceituação construída por Allport ainda

continua sendo uma das mais utilizadas, e que apesar de centrar seu foco de análise nos

processos intrapessoais e interpessoais, também incorpora conceitos que apontam para o

contato intergrupal na dinâmica entre os grupos sociais, influenciando outras perspectivas que

intentam explicar o fenômeno do preconceito (Fleury & Torres, 2007; Lima & Vala, 2004).

O final da década de 1950 foi marcado por novos questionamentos acerca da

explicação do preconceito, sobretudo com o acirramento de conflitos raciais como o do

contexto norte americano e do sul da África. A tentativa de explicar o preconceito apenas por

meio da dinâmica da personalidade do indivíduo não dava conta de explicar contextos onde

boa parte da sociedade era considerada racista; essa perspectiva que considera diferenças

individuais do racismo, como a personalidade autoritária, parecia negligenciar aspectos

socioeconômicos, históricos e situacionais que influenciam, em grande parte, esse fenômeno

(Lins, Lima-Nunes & Camino, 2014).

Esse cenário de novos questionamentos acerca da origem do preconceito, torna-se

ambiente propício para outras teorias que buscavam explicar esse fenômeno a partir do viés

de disputas grupais de relações de poder, ganhando ênfase o aspecto normativo do


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preconceito. Inserem-se nesse contexto as teorias intergrupais e societais sobre a explicação

do preconceito.

O nível intergrupal reúne explicações para o preconceito a partir de uma orientação

sociocultural, as quais são expressas nas diferentes posições que os indivíduos ocupam nas

relações sociais e por meio da forma com que esses desníveis influenciam a dinâmica social.

As teorias que representam esse nível de análise são: a teoria do conflito real descrita por

Sherif et al. (1961) e a teoria da identidade social, proposta por Tajfel (1970, 1981) e Tajfel,

Billig, Bundy e Flament (1971).

A perspectiva teórica de Sherif et al. (1961) foi de grande importância para

compreensão dos conflitos sociais. Em seus experimentos, os autores apresentaram uma

crítica aos estudos experimentais de grupos que eram conduzidos em condições artificiais por

psicólogos sociais da época, e conduziram um estudo no qual se observou as dinâmicas

sociais e interações ocorridas no interior de um pequeno grupo em um ambiente social real em

contextos de cooperação e conflito. O preconceito teria sua gênese em situações de

acirramento de conflito de interesse e de rivalidade entre o endogrupo e o exogrupo (Álvaro &

Garrido, 2006).

Sob orientação da cognição social, a teoria da identidade social proposta por Tajfel

(1970, 1981) afirma que a simples consciência da pertença a grupos sociais, mesmo em

situações em que a interação entre os membros é mínima, seria o suficiente para despertar

sentimentos preconceituosos e comportamentos de discriminação a membros do exogrupo;

essa premissa foi demonstrada num conjunto de estudos realizados por Tajfel e seus

colaboradores, que ficou conhecido como o paradigma do grupo mínimo.

A partir dessa teoria, o comportamento intergrupal seria explicado pela mediação da

identidade social e o processo de categorização social, uma vez que esta produz uma

acentuação nas diferenças entre grupos, através da formação dos estereótipos, favorecendo o
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endogrupo e desfavorecendo o exogrupo (Tajfel, Billig, Bundy & Flament, 1971). Assim, a

expressão de atitudes preconceituosas e a discriminação seriam guiadas pelo favoritismo

inerente ao endogrupo, através da necessidade de manter uma imagem positiva de si e do seu

grupo, ou seja, a identidade social.

No entanto, ainda que imersa no nível de explicação intergrupal, a teoria da identidade

social tem sido alvo de críticas por desembocar num reducionismo psicológico semelhante ao

que ocorreu com as teorias da personalidade autoritária e na teoria da agressão-frustração

(Pereira et al., 2003). Ao tentar explicar o preconceito como resultado da necessidade do

indivíduo de obter e manter uma identidade positiva de si e do grupo, Tajfel (1982)

desconsidera outros fatores inerentes às relações intergrupais, como os fatores históricos e

políticos na dinâmica social. Por tal motivo, essa perspectiva de base cognitivista foi

considerada insuficiente para a explicação das relações entre o endogrupo e exogrupo, e por

isso não fornece explicações completas para o preconceito, como propõe Duckitt (1992).

Inserido no universo de elementos considerados suprassociais, a abordagem societal

para análise do preconceito tem seu foco de análise nos sistemas de crenças, representações,

avaliações e normas sociais como produtos ideológicos e culturais de uma sociedade que dão

a base e o suporte para as atitudes individuais, como também para as diferenciações entre os

grupos sociais (Falcão et. al., 2004).

Neste nível de análise as relações de poder entre os grupos explicam o favoritismo

endogrupal, o qual é justificado por ideologias que asseguram as assimetrias sociais existentes

(Lacerda, Pereira & Camino, 2002). Assim, a compreensão do preconceito para essa

abordagem exige uma análise mais politizada da dinâmica social, como sendo produto do

pensamento social, refletindo valores culturais, relações assimétricas de poder e ideologias

dominantes.
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Com base nisso, tem sido proposta uma teoria do preconceito que situa as noções

psicológicas da discriminação nos conflitos de exclusão/inclusão social frente a membros de

grupos sociais. Neste sentido, considera-se que o preconceito constitui-se na vertente

subjetiva dos conflitos reais de poder entre grupos e evolui, principalmente, no interior dos

grupos majoritários, podendo ser definido como “forma de relação intergrupal onde, no

quadro específico de relações assimétricas de poder, se desenvolvem no seio dos grupos

dominantes, atitudes depreciativas e, comportamentos hostis e discriminatórios em relação

aos membros de grupos minoritários por serem membros desses grupos” (Camino & Pereira,

2000, p.52).

Segundo essa teoria, o preconceito não seria uma tendência psicológica universal, mas

uma forma de consciência social que se desenvolve em situações históricas de dominância no

interior das relações intergrupais. Exercem influência na formação de atitudes negativas e

comportamentos discriminatórios contra grupos minoritários, os discursos ideológicos ou as

representações sociais que são expressas por meio dos estereótipos e das crenças

essencialistas sobre a natureza dos grupos sociais, os quais são ancorados em ideologias dos

grupos dominantes e nas normas sociais.

A ideologia pode ser interpretada como uma forma específica do imaginário social

moderno que busca legitimar as ações concretas de relações de poder, promovendo

desigualdades intergrupais nos planos econômico, social e político (Camino et al., 2001).

Segundo Chauí (1995), a ideologia dominante é um instrumento de dominação que se

manifesta em um conjunto de regras práticas numa sociedade, e se objetiva por meio de

procedimentos institucionais, jurídicos, políticos, morais e culturais para exercer e manter a

dominação. Além disso, também segue o conjunto de leis psicológicas que regem os

processos cognitivos e afetivos, como os processos de categorização e o de construção de

estereótipos (Camino et al., 2001; Lacerda et al., 2002). A ideologia enquanto construção
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mental pode promover o ocultamento ou a dissimulação do real, observado especialmente no

preconceito decorrente da condição de gênero, que será detalhado mais adiante no presente

trabalho.

Quanto às normas sociais, estas, segundo Lima e Vala (2004), têm o papel de designar

o funcionamento da sociedade em cada contexto por meio das crenças acerca dos grupos

sociais. É por meio da cultura que determinadas crenças são introjetadas na sociedade,

fornecendo uma versão social para os processos automáticos e intrapsíquicos e, assim, podem

agir como facilitadores ou inibidores de atitudes preconceituosas frente aos grupos alvos.

Portanto, pode-se afirmar que as ideologias e as normas sociais têm um importante

papel na definição do conteúdo do preconceito, bem como na forma como este se expressa

numa sociedade. Especialmente em relação às normas, segundo Lima et al. (2006), cabe a

função de instituir regras explícitas ou implícitas que descrevem e prescrevem

comportamento, seja valorizando a alguns comportamentos em detrimento da desvalorização

social de outros. Como exemplo disso, com o término da Segunda Guerra Mundial e como os

movimentos pela igualdade dos civis nas décadas posteriores, houve uma suposta diminuição

do preconceito devido ao estabelecimento de normas antidiscriminatórias. No entanto, alguns

autores apontam que, desde aquele período, ocorreram mudanças nas formas de expressão do

preconceito do que a sua diminuição propriamente dita (Gaertner & Dovidio, 1986; Pettigrew

& Meertens, 1995).

Com base no exposto, a presente tese de doutorado se insere numa perspectiva societal

para a compreensão do preconceito frente às mulheres usuárias de drogas, a qual concebe o

preconceito como uma forma de relação intergrupal organizada em volta das relações de

poder entre os grupos minoritários (grupo de mulheres usuárias de drogas) e o grupo

dominante (pessoas tidas como não usuárias de drogas). Nessa abordagem, a relação

assimétrica produz representações ideológicas expressas por meio de crenças e estereótipos,


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que assumem a função de justificar a manifestação de atitudes depreciativas e negativas

direcionados aos integrantes de grupos minoritários.

Essa relação de poder é fundamentada tanto nas questões de gênero, que se traduz

numa relação de dominação na qual as mulheres são desfavorecidas, como também é

viabilizada e naturalizada por ideologias que incorpora os indivíduos usuários de drogas numa

perspectiva patológica, de insanos, e por isso, oferece perigo para o funcionamento da

sociedade. Com isso, as mulheres usuárias ao fazerem parte desse grupo social minoritário,

constituem uma ameaça ao modelo “ideal de feminilidade”, o qual preconiza posições

reducionistas e cristalizadas acerca de seus papéis e estereótipos essencialistas – mãe, esposa,

dona do lar, dócil, frágil e afetuosa. Este imaginário social, é, portanto, impregnado por um

conjunto de representações socialmente partilhadas, de opiniões e práticas que desprezam,

desqualificam, desautorizam e oprimem as mulheres, tomadas como indivíduos de menor

prestígio social, tornando-se cenário propício para a expressão do sexismo na sua forma mais

aberta e hostilizante.

3.2.1 O Sexismo no Contexto do Uso de Drogas: hipóteses e articulações teóricas

Na atualidade, preconceitos relacionados ao gênero estão ligados à prática da

dominação e discriminação ao sexo considerado mais frágil dentro de uma situação de

subjugação real ou imaginária (Mesquista Filho, Eufrásio & Batista, 2011). O sexismo seria

então um conjunto de estereótipos sobre as avaliações cognitiva, afetiva e atitudinal acerca do

papel apropriado na sociedade em relação às pessoas de outro sexo, notadamente do outro

gênero social, legitimando a violência contra aqueles que são reconhecidos como tendo uma

posição inferior na dinâmica social. Entretanto, com base na situação diferenciada vivenciada

por homens e mulheres na maioria das sociedades, com um claro privilégio dos homens em

relação às mulheres, o sexismo é mais comumente direcionado à explicação de percepções


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negativas em relação à mulher (Amâncio, 1994; Expósito, Moya & Glick, 1998; Glick &

Fiske, 1996; Lips, 1993; Myers, 1999; Safiotti, 2004).

Em uma abordagem mais societal e também a visão adotada para a presente análise, o

sexismo é entendido como um resquício da cultura patriarcal, isto é, como um aparelho

ideológico utilizado pelo homem para garantir as diferenças de gênero que se legitima através

das atitudes de desvalorização do sexo feminino que vão se estruturando ao longo do curso do

desenvolvimento, apoiadas pelo poder estrutural como grupo dominante e mantidas por um

pensamento essencialista que atribui qualidades e defeitos que seriam inerentes e específicos

de cada sexo (Ferreira, 2004).

Cabe ressaltar que ao tratar da temática do preconceito frente às mulheres, é

importante situar diversos acontecimentos socioculturais que fomentaram as discussões sobre

as diferenças entre os gêneros e a luta das mulheres pela igualdade de direitos. Tendo como

recorte histórico, o século XIX foi palco de diversas mudanças ocorridas na economia e na

política que favoreceram o reconhecimento das desigualdades sofridas pelas mulheres e da

superioridade imposta pelos homens. No século posterior, surgem movimentos organizados

que defendem a igualdade dos direitos civis e políticos da mulher, como o feminismo

(Giddens, 1993), o qual proporcionou certa abertura das mulheres a diversos espaços sociais.

Outro marco histórico de mudança na sociedade civil brasileira consiste na alteração na

Constituição Brasileira de 1988, especificamente no que se refere aos direitos e deveres

individuais e coletivos, figura no artigo 5º do parágrafo 1º que homens e mulheres são iguais

em direitos e obrigações (Formiga, Gouveia & Santos, 2002). Esse fato simboliza um marco

constitucional na igualdade entre os sexos, enfatizando uma punição perante atitudes e

comportamentos notórios de discriminação contra as mulheres.

No entanto, apesar das mudanças quanto à igualdade entre homens e mulheres,

tomando-a como princípio geral, é possível perceber um avanço sim, mas não uma superação
P á g i n a | 87

dessa desigualdade. Da lei às teorias do senso comum, reconhecidas na sociedade, não se

pode deixar de crer que elas também estão impregnadas de ideologias capazes de guiarem e

justificarem os comportamentos do indivíduo tornando-os “comuns”, fazendo com que sirvam

de base para que homens e mulheres adotem esquemas psicológicos e ideologias que reflitam

condutas a respeito da formação discriminatória de papéis sexuais (Páez, Torres &

Echebarría, 1990).

Ressalta-se, neste domínio, que devido às mudanças sociais decorrentes da luta pela

igualdade de direitos entre homens e mulheres, funcionando assim como normas

“antipreconceitos”, as formas tradicionais de preconceito tendem a se modificar, dando lugar

a expressões mais sutis. Frente a esse aspecto, um conjunto de teorias emergiu no contexto do

racismo e da imigração, sobretudo, na tentativa de explicar as “novas” formas de preconceito

empregadas em oposição ao preconceito tradicional ou flagrante, por exemplo: o racismo

moderno na Austrália e nos EUA (Pedersen & Walker, 1997), o racismo simbólico nos EUA

(Kinder & Sears, 1981), o racismo aversivo também nos EUA (Gaertner & Dovidio, 1986), o

racismo ambivalente nos EUA (Katz & Hass, 1988), o racismo sutil na Europa (Pettigrew &

Meertens, 1995) e o racismo cordial no Brasil (Turra & Venturi, 1995), conforme aponta

Lima e Vala (2004). Para Camino et al., (2001), tais teorias trazem a ideia de que a

discriminação aberta, aquela remetida às crenças quanto à inferioridade do grupo minoritário

e o distanciamento social para com os membros do grupo excluído, estão sendo substituídas

por formas mais sutis no tratamento discriminatório.

Em relação às novas formas de sexismo, este construto foi proposto por Glick e Fiske

(1996) e vem enfatizar a existência de expressões de sexismo consideradas ambivalentes,

justamente por estas não serem tão diretas quando se considera sua prática e expressão

discriminatória tradicional, a qual está baseada na inferioridade ou diferença das mulheres

como um grupo minoritário. Não contempla apenas a definição tradicional de preconceito


P á g i n a | 88

como antipatia ou hostilidade em direção a membros de certos grupos sociais, refletido na

obra de Allport (1954), a qual impede apreender a verdadeira essência desse construto

(Mladinic et al., 1998), mas busca diferenciar de outras formas de intolerância social (por

exemplo, racial, religiosa, econômica), o preconceito em relação à mulher não é

uniformemente negativo, confundindo-se mesmo com estilos generosos e galanteadores de

uma suposta proteção em relação às mulheres (Glick; Diebold; & Bailey-Werner, 1997).

Segundo Glick e Fiske (1996), essas duas formas de preconceito se fundem no que se conhece

por Sexismo Ambivalente.

Desta maneira, o sexismo ambivalente apresenta duas formas principais: hostil e

benévola. A primeira forma consiste na expressão flagrante do preconceito, caracterizada por

rejeição ou antipatia, e evidencia crenças e práticas que consideram as mulheres inferiores aos

homens, aproximando-se da definição clássica deste atributo psicossocial apresentado por

Allport (1994). Neste sentido, segundo Formiga et al (2002, p. 241), o sexismo hostil “prima

por uma orientação vertical, com obediência aos padrões morais tradicionais que situam a

mulher no lar”, sendo mais claro e abertamente o comportamento discriminatório. Quanto à

segunda forma, a benévola, é caracterizada por sentimentos “positivos” que se expressam

através de atitudes de admiração e proteção e, na maioria das vezes, não são consideradas

como uma forma de discriminação contra a mulher por produzirem de forma subjetiva a

desqualificação do gênero feminino. O tipo benévolo de sexismo evidencia o sentido

paternalista que descreve a mulher como “pessoa frágil, que necessita de atenção, mas que

também pode completar o homem” (Formiga et al., 2004, p. 241).

Glick e Fiske (1996) propõe que essas duas formas principais, hostil e benévola, estão

interligadas por três subcomponente, os quais são:

- Paternalismo: Refere-se ao relacionamento que se estabelece com a mulher no mesmo

sentido em que um pai se relaciona com o seu filho, podendo ter um matiz tanto de domínio
P á g i n a | 89

(paternalismo dominante) como de afeto e proteção (paternalismo protetor). O primeiro tipo

corresponde ao sexismo hostil, caracterizando a mulher como uma pessoa geralmente incapaz,

que por isso necessita de uma figura masculina superior; o segundo cobre a expressão do

sexismo benévolo, assumindo que a mulher é um ser débil que necessita ser protegido e

mantido pelo homem.

- Diferenciação de gênero: no sexismo hostil esta diferenciação se apresenta como

competitiva, percebendo-se o homem como exclusivo possuidor de traços e habilidades que

são necessários para dirigir as instituições sociais mais importantes. No caso do sexismo

benévolo, tem lugar uma diferenciação complementar, onde são identificados atributos

positivos na mulher, mas que são complementares aos que possuem os homens.

- Heterossexualidade: destaca-se por um lado que a mulher usa seu atrativo e poder sexual

para dominar o homem, e a motivação sexual deste está associada a um desejo de intimidade

com a mulher (sexismo hostil); por outro lado, reconhece-se que tanto o homem como a

mulher não podem ser completamente felizes em suas vidas se carecem um do outro. A

crença, neste caso, válida principalmente para a mulher, é que sem um companheiro a pessoa

deve ser digna de compaixão e ajuda (sexismo benévolo).

De acordo com Belo et al. (2005), as formas de sexismo, tanto o sexismo hostil quanto

o benevolente, fortalecem a desqualificação do gênero feminino, assim sendo, o sexismo

independentemente de ser hostil ou benevolente contribui para o fortalecimento do sentimento

de aceitação da diferença entre os sexos, no que diz respeito a poder.

Apesar de coexistirem as duas formas de sexismo, em sociedades que primam pelo

igualitarismo em direitos e deveres entre os gêneros, o preconceito considerado benévolo

constitui atualmente a forma mais apropriada de justificar concessões e tratamentos

diferenciados entre homens em mulheres. Porém, levanta-se a hipótese de que a presença da

mulher em contextos tidos até pouco tempo como tipicamente masculinos, e, sobretudo,
P á g i n a | 90

caracterizado por comportamentos considerados “transgressores, ou seja, prejudiciais para o

equilíbrio social, como por exemplo, o uso abusivo de drogas, pode gerar atitudes declaradas

de condenação e de distanciamento social, semelhantes à expressão do sexismo na sua forma

mais hostil, expressas por meio da rejeição ao contato social, pela percepção de ameaça e

também pela culpabilização dos comportamentos. Assim, acredita-se que tais fatores

relacionados ao preconceito, somado aos estereótipos negativos de gênero, possam ser

variáveis explicativas da exclusão social de mulheres usuárias de drogas.

No que concerne ao conteúdo dos estereótipos de gênero, assume-se como

pressupostos, que embora as usuárias de drogas não sejam um grupo social formalmente

excluído de direitos, suas diferenças não são aceitas, e, por vezes, não toleradas. Confundem-

se assim, com os grupos de estigma, e ou desvio, sendo atribuídas características de um grupo

baixo status e poder, com traços de baixa competência e baixa sociabilidade, o qual

despertaria sentimentos negativos de desprezo e produz atitudes sexistas hostilizantes.

Neste sentido, a seção subsequente, irá delinear os estudos empíricos que subsidiarão a

discussão dos elementos trabalhados no aporte teórico e, nesta oportunidade, decidiu-se pela

realização de um conjunto de estudos de cunho qualitativo e quantitativo.


SEÇÃO II
PARTE EMPÍRICA
CAPÍTULO. 4
______________________________________________

Apresentação dos Objetivos e dos Estudos Empíricos


______________________________________________________________________
P á g i n a | 93

CAPÍTULO 4. Apresentação dos Objetivos e dos Estudos Empíricos

Ao longo dos capítulos anteriores, procurou-se construir o enquadramento e

clarificação dos pilares teóricos que serviram de base à delineação, articulação e

operacionalização dos estudos empíricos. Nesse seguimento, o presente capítulo integra um

conjunto de estudos baseados na triangulação intermétodos entre as abordagens qualitativa e

quantitativa. Parte-se do pressuposto de que, devido à complexidade do fenômeno

investigado, justifica-se a complementariedade de multimétodos que se aproximam e

convergem, na tentativa de facilitar a integração das análises dos resultados e o entendimento

dos construtos alvos de investigação (Günther, Elali & Pinheiro, 2004).

Para alcançar o objetivo geral, o qual propõe criar um modelo explicativo da exclusão

social de usuárias de drogas com base no preconceito e nos estereótipos de gênero, assume-se

o quantitativo de quatro estudos empíricos, tendo cada um, os objetivos específicos que serão

detalhados a seguir:

 Etapa 1: (a) Comparar os estereótipos de gênero sobre a Mulher e sobre a Mulher

Usuária de Drogas; (b) Comparar os conteúdos estereotípicos sobre a Mulher e sobre a

Mulher Usuária de Drogas no Brasil e em Portugal.

 Etapa 2: Descrever os parâmetros psicométricos preliminares das medidas explícitas

utilizadas;

 Etapa 3: Testar as medidas psicométricas por meio de análises confirmatórias;

 Etapa 4: Correlacionar e testar os preditores do modelo explicativo da exclusão social

de mulheres usuárias de drogas;


P á g i n a | 94

O desenho metodológico deste conjunto de estudos empíricos está ilustrado na Figura 2.

Qualitativo Quantitativo

ESTUDO I

Pesquisa 2 ESTUDO II ESTUDO III ESTUDO IV


Pesquisa 1
Os estereótipos Parâmetros Análises Correlatos e
A Mulher e
de Gênero psicométricos confirmatórias preditores
Mulher Usuária
sobre as preliminares das medidas explicativos da
de Drogas: um
Mulheres das medidas psicométricas Exclusão
estudo sobre os
Usuárias de explícitas Social de
estereótipos de
Drogas: estudo utilizadas Mulheres
gênero
comparativo no Usuárias de
Brasil e em Drogas
Portugal

Figura 2. Desenho metodológico da Pesquisa. João Pessoa, 2018.


P á g i n a | 95

Portanto, além de expor o percurso metodológico referente as investigações empíricas,

este capítulo cumpre ainda função de apresentar os resultados e as discussões parciais dos

dados, os quais fornecerão subsídios para responder a problemática levantada.


ESTUDO 1
P á g i n a | 97

ESTUDO 1

Este primeiro estudo foi composto por duas pesquisas de caráter exploratório. A

primeira foi realizada no contexto brasileiro, a fim de conhecer os estereótipos acerca da

Mulher e da Mulher Usuária de Drogas. Já a segunda pesquisa, de base comparativa e

transcultural envolvendo os dados do Brasil e os de Portugal acerca dos estereótipos sobre a

Mulher e a Mulher Usuária de Drogas/Mulher Toxicodependente nos dois países.

4.1.1 Pesquisa 1 – A Mulher e Mulher Usuária de Drogas: um estudo sobre os

estereótipos de gênero

Os dados apresentados neste primeiro estudo debruçam-se sobre os conteúdos

estereotípicos de gênero compartilhados por estudantes universitários sobre a Mulher e

também sobre a Mulher visualizada enquanto consumidora de drogas. Partindo do

pressuposto de que há particularidades no conteúdo dos estereótipos, referentes à desviância

feminina devido ao envolvimento com as drogas, buscou-se conhecer e comparar os

conteúdos estereotípicos atribuídos à Mulher e também à Mulher Usuária de Drogas.

Método

Tipo de Estudo

Para este estudo, optou-se por utilizar o delineamento de pesquisa segundo o plano

qualitativo, o qual favorece o aprofundar-se na complexidade envolta nos fenômenos, nos

fatos coletivos e nos processos particulares e específicos de grupos sociais (Minayo, 2012).

Além disso, consistiu ainda numa pesquisa de imersão em campo e de natureza exploratória,

descritiva e transversal.
P á g i n a | 98

Participantes e local

A seleção dos participantes foi possibilitada por meio da amostragem do tipo não

probabilística e por conveniência, o que resultou em 100 estudantes universitários. A maioria

dos participantes eram mulheres (67%), com idades entre 18 e 33 anos (M = 22,21; DP =

3,06) e provenientes dos cursos alocados nos seguintes centros: Ciências Humanas (42),

Ciências da Saúde (17) e Ciências Exatas (41) de uma Universidade pública na cidade de João

Pessoa- PB.

Instrumentos

Para obtenção dos dados utilizou-se como instrumentos: (a) Técnica de Associação

Livre de Palavras (TALP); e (b) questionário sociodemográfico com perguntas referentes ao

sexo, idade e curso para fins de caracterização da amostra.

No que concerne a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), esta tem sua

gênese nos trabalhos desenvolvidos por Jung em 1905 e, posteriormente, adaptado por Di

Giacomo (1981) para a área da psicologia social (Coutinho, 2017). Tem sua validação

conceitual consolidada, especialmente nos estudos que levam o aporte da Teoria da

Representações Sociais (TRS), por ser considerado um instrumento projetivo que favorece os

indivíduos a revelarem projeções mentais da memória em relação a um determinado objeto,

baseado numa produção verbal espontânea. Além disso, na medida em que se apoia em um

repertório conceitual, essa técnica permite a unificação dos universos semânticos e a saliência

de universos de palavras comuns, que podem convergir em adjetivos característicos ou traços

estereotípicos face ao objeto social alvo de investigação.

Nesse sentido, o uso da TALP ancorada na Teoria do Conteúdo dos Estereótipos

(Fiske & Glick, 2002), pode favorecer a apreensão de conteúdos estereotipados que poderiam

ser mascarados pela desejabilidade social, e assim permitirem, por meio das evocações, que
P á g i n a | 99

os participantes da pesquisa emitam ideias ou pensamentos frente ao estímulo indutor, de

forma simples, rápida, porém significativa. Para a investigação em questão, utilizou-se os

seguintes estímulos indutores: “Mulher” e “Mulher Usuária de Drogas”.

Procedimentos de coleta e análise dos dados

A coleta de dados foi operacionalizada nos próprios ambientes institucionais da

referida universidade, de forma coletiva e em horários previamente acordados com os

professores, conforme a disponibilidade e preferência dos mesmos.

Para a aplicação da TALP, foram feitos alguns esclarecimentos que permitissem a

melhor compreensão do solicitado. Antes de começar, forneciam-se (pela pesquisadora)

exemplos de estímulos indutores neutros, como por exemplo, “quais são as primeiras ideias

ou pensamentos que vem a sua mente quando você ouve a expressão “sala de aula”? A

pesquisadora então exemplificava alguns termos relacionados ao estímulo dito, como por

exemplo, as palavras “quadro”, “alunos” e “carteiras”. Feito isso, deu-se início a apresentação

dos dois estímulos indutores utilizados no presente estudo, os quais foram: “Mulher” e,

posteriormente, “Mulher Usuária de Drogas” (respectivamente), e assim, solicitando-se cinco

palavras as quais viessem à mente ao ser proferido cada estímulo. O tempo máximo para a

evocação das palavras associadas a cada estímulo indutor foi estipulado em um minuto,

perfazendo um total de aproximadamente de três a cinco minutos para cada participante

finalizar sua participação.

O tratamento dos dados obtidos pela TALP foi realizado por meio do software para

análises qualitativas de textos – IRAMUTEQ2 e interpretados por meio da Nuvem de

Palavras, a qual permite a visualização das palavras mais frequentemente evocadas, e também

2
O IRAMUTEQ 0.7 Alpha 2 (Interface de R pour analyses Multidimensionnelles de Textes et de
Questionneires) consiste num software gratuito e de fonte aberta desenvolvido por Pierre Ratinaud. (Ratinaud &
Marchand, 2012).
P á g i n a | 100

pela Análise de Similitude. Essa última técnica de análise, a Análise de Similitude, é baseada

na teoria dos grafos de Ramsey, na qual onde é possível identificar as coocorrências existentes

entre as palavras, indicando suas conexidades, onde o tamanho das palavras é proporcional à

sua frequência e as arestas indicam a força da coocorrência (ligação entre dois elementos

específicos) (Camargo & Justo, 2013).

Considerações éticas

Tendo como orientação a Resolução 466/201273 do Conselho Nacional de Saúde, este

estudo procurou seguir com rigor os cuidados éticos de pesquisa envolvendo seres humanos,

obtendo, portanto, a aprovaçao no comitê de Ética em Pesquisa, localizado no Centro de

Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (CEP/ CCS-UFPB), sob o protocolo de

nº 0232/14 (Anexo 1). Logo após ser estabelecido o rapport, como também ser clarificado o

propósito de tal investigação, solicitou-se aos participantes a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ver Apêndices), assegurando-lhes a sua

participação voluntária e salientando a confidencialidade e anonimato das respostas

fornecidas.

Resultados e Discussão Parcial

Para compor a seguinte análise, selecionaram-se os termos de maior saliência, ou seja,

aqueles que obtiveram uma evocação mais frequente, visando diminuir a dispersão dos termos

e possibilitar a convergência das palavras, levando a composição dos elementos mais

presentes nos discursos dos universitários. Com o propósito de expor os resultados registrados

pelo programa IRAMUTEQ face aos dois estímulos “Mulher” e “Mulher Usuária de Drogas”,

será apresentada inicialmente uma leitura visual acerca das palavras mais fortemente evocadas
P á g i n a | 101

por meio da Nuvem de Palavras e, posteriormente, seguirá a apresentação de um gráfico de

similitude, o qual permitirá a visualização do número de vezes em que as palavras foram

evocadas conjuntamente, identificadas por meio de um índice, isto é, quantas vezes houve a

co-ocorrência através de números escritos junto às arestas que conectam os vértices, nos

grafos traçados (árvores de similitude).

4.1.1.1 Os conteúdos estereotípicos sobre a Mulher

Para o estímulo indutor “Mulher” foram contabilizadas 270 palavras, destas 115

evocações eram consideradas distintas. No entanto, a fim de conhecer as palavras mais

fortemente presentes no imaginário dos participantes, considerou-se àquelas com frequência

igual ou acima de três, o que totalizou 40 palavras analisadas.

A Figura 3 corresponde aos termos mais evocados pelos univeristários, organizados

graficamente numa nuvem de palavras em função da sua frequência. Com isso, pode-se

visualizar de forma rápida as palavras-chaves presentes ao corpus:

Figura 3. Nuvem de Palavras referente às evocações dos Universitários sobre o estímulo


indutor “Mulher”
P á g i n a | 102

Nesta análise é possível ter acesso de forma visual a centralidade dos elementos em

função de sua frequência. Posteriormente, as evocações foram agrupadas pelo software em

categorias de acordo com proximidades semânticas, o que tornou possível a identificação dos

indicativos de conexidade e coocorrência entre os termos. Estas evocações podem ser

visualizadas por meio de um diagrama de similitude ou também chamada de árvore de

coocorrência, como mostra a Figura 4.

Figura 4. Árvore de Similitude referente às evocações dos universitários sobre o estímulo


“Mulher”
P á g i n a | 103

Conforme a representação gráfica de similitude das evocações sobre o estímulo

“mulher” (Figura 4), pode-se observar a ocorrência de um diagrama contendo sete ilhas no

seu total, sendo que a ilha localizada ao centro da figura revelou-se enquanto eixo organizador

dos conteúdos semânticos e das conexões entre as demais ilhas do diagrama.

As primeiras grandes visualizações de conexões se deu entre os pares de evocações:

mãe-forte, mãe-guerreira, mãe-vaidade, mãe-amável, mãe-casamento e mãe-

trabalhadora. Esses léxicos foram os mais frequentes nas evocações e também estão

associados aos contextos tipicamente ligados ao feminino, os quais estão interligados aos

conteúdos estereotípicos relacionados à mulher.

Merece destaque a palavra – mãe – uma vez que esta obteve a maior frequência e

também se apresenta como elemento central e organizador de todas as coocorrências do

diagrama. Junto a este termo e ainda presente na ilha central do diagrama, percebe-se o

predomínio dos elementos ligados aos papéis sociais femininos mais representativos, como as

palavras ligadas ao contexto familiar/maternal: “lar”, “família”, “esposa”, “cuidadora”; e

também as palavras associadas ao traço de sociabilidade: “feminina”, “beleza”, “bonita”,

“alegre”, “carinho” e “amigável”. Houve ainda léxicos antagônicos os quais estão associados

tanto ao contexto de interdependência, simbolizado pelas palavras “trabalhadora” e

“independente”, quanto ao contexto de aviltamento por meio das evocações “frágil” e

“desvalorizada”. O conteúdo desses termos traz à tona aspectos importantes observados na

constituição dos papéis sociais e dos espaços ocupados pela mulher na sociedade.

Sobre este aspecto, a narrativa histórica tem mostrado que ao longo do tempo e da

evolução humana, a maternidade foi e ainda é considerada, do ponto de vista biológico e

social, um lugar feminino por excelência. A forte evocação da palavra “mãe” demonstra haver

ainda uma primazia de um conjunto de ideias e crenças essencialistas e naturalizadoras sobre

a mulher e sua função reprodutora. Na direção destes achados, pesquisa conduzida por Barros,
P á g i n a | 104

Natividade e Hutz (2010), também com amostra de universitários, identificou descrições

femininas que perpassam o cuidado com os filhos, ressaltando o papel doméstico e reforçando

a identidade de mulher-mãe; posteriormente, esse resultado também foi encontrado em outra

amostra de pessoas de baixa escolaridade (N=224), demonstrando haver certa estabilidade

nestes conteúdos estereotípicos vinculados à mulher (Natividade et al., 2014).

Outra ramificação que apareceu fortemente associada ao conteúdo maternal foi a ilha

que tem como termo organizador a palavra – forte. Nesta, observou-se conteúdos

estereotípicos referentes ao campo de conflitos e interesses entre classes, especialmente por

decorrência da condição de gênero, visualizados pelas seguintes evocações: “feminismo”,

“gênero”, “emponderada”, “igualdade”, “direitos”. Sobre estas evocações, ficam evidentes

conteúdos que retomam os ideais dos movimentos políticos e militantes em prol dos direitos

femininos, como também as relações entre os dois gêneros enquanto categoria de análise

política sobre a resistência à ideologia patricarcal. Ressalta-se ainda, conteúdos que revelam

transformações sociais nas desigualdades políticas, econômicas, sexuais entre homens e

mulheres, reivindicadas, sobretudo, por ações de movimentos organizados em defesa das

minorias sociais, em especial, o movimento feminista; este movimento representou um salto

na condição feminina no mundo moderno, provocando grandes transformações e fazendo

emergir novos contextos definidores do “ser mulher”, enquanto sujeito de direitos e

participante nas esferas públicas e privadas (Silva, 2010). Estão presentes também nesta ilha,

palavras que associam a mulher ao conteúdo de vulnerabilidade e de reprodução

(“vulnerável” e “gravidez”, respectivamente), o que traz visibilizade às questões vinculadas às

dificuldades em atingir esse cenário de plena igualdade de gênero.

Ainda associado ao contexto de resistência e de luta por igualdade de gênero,

encontra-se outra ilha do diagrama que tem enquanto termo organizador o léxico – guerreira.

O conteúdo expresso nesta ramificação revela a vivência de desigualdades enfrentadas pelas


P á g i n a | 105

mulheres, sejam estas políticas, econômicas ou sexuais, simbolizadas pelas palavras

“preconceito” e “respeito”, as quais podem ser entendidas enquanto resultantes dos

desdobramentos e consequências do enfrentamento às leis imperativas de inferioridade

impostas ao feminino ao longo da história. Segundo Silva (2010), a esse processo de

desvalorização do outro ou da concepção de que esse outro, por algum motivo, é alguém

inferior, de menos valia, e, portanto, possui menos direitos, é justificado pela cristalização de

diversos conceitos; no caso das mulheres, a ideia de que o direito deveria estar a serviço dos

homens, denominado os mais fortes e mais aptos para exercer cargos de dominância, serviu

para construir falsas ideias e moldar muitos preconceitos contra o sexo feminino presentes até

os dias atuais. Mais recentemente, diversos estudos têm reportado que essa ideia de

inferioridade do gênero feminino tem dado espaço também, para outra forma de discriminar

numa perspectiva mais sutil, baseado numa suposta necessidade de “proteção” às mulheres

por serem mais frágeis. Esse aspecto é evidente na evocação “delicada”, a qual revela

conteúdos que expressam uma “natureza” feminina de docilidade, características comumente

associadas às mulheres (Schmitt et al., 2008).

O termo – vaidade – também se apresenta como elemento intimamente associado à

imagem da mulher, sendo também um componente organizador de uma ilha do diagrama,

conectando-se aos termos “moda” e “filho”. A vaidade do ponto de vista social, engloba

aspectos relacionados à preocupação com a imagem a ser transmitida ao outro (aparência),

como também, incorpora a preocupação com a realização e o alcance de objetivos e

conquistas na vida das mulheres (Durvasula, Lysonski & Watson, 2001; Strehlau, Claro &

Laban Neto, 2015). Ligado a essas questões, os léxicos “beleza” e “bonita”, que também

apareceram na ilha central vinculados ao papel materno, trazem à tona conteúdos que revelam

as raízes históricas do papel social da mulher vinculado às expectativas de padrões de beleza

aceitos socialmente (Souza, Oliveira, nascimento & Carvalho, 2013). Para Iannelli e Novaes
P á g i n a | 106

(2016) “ser bela” é indicativo de estar em consonância com o perfil estético vigente na

sociedade, vindo a ser fonte de inclusão ou exclusão, à medida que aponta para uma

desvalorização ou desconforto com relação a autoimagem, despertando sensações de

inadequação, gerando, portanto, uma sobrecarga ´para as mulheres.

Vale ressaltar que os desdobramentos do binômio “vaidade-beleza” é um

componente-chave do estereótipo de papel feminino na atualidade. Segundo Corbett,

Campana e Tavares (2013), estes termos revelam conteúdos tidos como indissociáveis da

expressão de feminilidade. Nas sociedades contemporâneas, e em especial a brasileira, alguns

autores tem apontado a beleza enquanto um capital erótico baseado na interação social e na

atratividade sexual, objetivada, principalmente, no corpo e na sexualidade da mulher,

tornando-se assim, expressões qualificantes da feminilidade (Hakim, 2010; Strehlau, Claro &

Laban Neto, 2015).

Seguindo ainda o contexto de expressividade afetiva, localiza-se outra ilha do

diagrama com o termo “amável”, a qual liga-se às palavras “determinada” e “responsável”.

As aproximações desses termos refletem conteúdos estereotípicos relacionados as habilidades

social e emocional, fatores estes reforçados por produções discursivas que afirmam ser as

mulheres dotadas de atributos mais afetivos e mais propensas à interações interpessoais,

sobretudo, quando designado para o cuidado do outro da esfera doméstica (Araújo, 2005;

Natividade et al., 2014).

O espaço doméstico, considerado indissociável do conteúdo de maternagem, foi

também representado por meio do termo – casamento, o qual se associa aos elementos “sexo”

e “sensualidade”. A evocação desse termo identifica uma complexa teia de relações montadas

a partir do espaço privado. A inclusão da mulher no âmbito do lar e na figura de “mulher-

esposa” evidencia alguns traços ainda presentes na estrutura social e cultural brasileira, como

a dimensão formal da instituição “família” e a definição feminina a partir de sua relação com
P á g i n a | 107

o homem, assumindo a figura de esposa. Sobre esse aspecto, cabe destacar que, apesar de se

considerar os processos de constante transformação nos modos de vida pessoal, social e

familiar nos últimos anos, o casamento reflete um componente de socialização que tem papéis

bem definidos destinados à mulher, sendo destinada a esta o lugar legítimo e normativo para a

sua atividade sexual e para a procriação (Scavone, 2001).

Outra ramificação da árvore pode ser observada por meio do termo – trabalhadora.

Nesta, é possível encontrar conteúdos que revelam mudanças na dinâmica social,

especialmente em relação a inserção das mulheres no mercado de trabalho e a diminuição das

barreiras sociais, sendo representada pelo léxico “batalhadora”; destaca-se ainda a ligação

com a palavra “maturidade”, a qual reforça o conteúdo de que as mulheres seriam hábeis e

competentes para exercer funções instrumentais, antes vinculadas com ênfase aos homens.

No que se refere à vinculação da mulher também a uma orientação para a

instrumentalidade, ainda que de maneira mais periférica nas evocações, é possível afirmar que

este resultado difere de outros estudos sobre estereótipos de gênero (Fiske et al., 2002; 2007;

Natividade et al., 2014), uma vez que de acordo com o quadro das grandes dimensões de

diferenciações de traços estereotípicos dos sexos, as mulheres sempre foram mais associadas

às orientações ligadas à expressividade e às funções normativas ancoradas na adequação de

modelo de “feminilidade”.

Em termos gerais, observou-se uma similaridade dos traços estereotípicos encontrados

no presente estudo com os estereótipos de gênero já estudados na literatura. Diversos estudos,

internacionais e nacionais, têm apontado a orientação à sociabilidade e afetividade enquanto

indicadores de conteúdo estereotípico feminino (Amâncio, 2010; Natividade et al, 2014;

Prentice & Carranza, 2014). No que concerne a acentuação do papel social materno e

doméstico observado neste estudo, refletem a internalização dos padrões e normas culturais

relacionados à feminilidade, sendo justificado socialmente por crenças que mantém uma
P á g i n a | 108

orientação ideológica tradicional dos papéis de gênero e uma visão essencialista referente à

esfera da “natureza” feninina.

Seguindo a classificação do modelo do conteúdo dos estereótipos (Fiske et al., 2002,

2007), o qual propõe uma estrutura que descreve e tenta predizer como os grupos são

ordenados em uma dada sociedade tendo por base as duas dimensões: sociabilidade e

competência, na tentativa de conferir significado a categoria “mulher”, as evocações

atribuídas a este grupo alvo revelaram uma avaliação aparentemente positiva e que recai sobre

um critério baseado na sociabilidade do grupo. Para a orientação de competência, observou-

se traços estereotípicos também positivos, porém em menor quantidade, como o exemplo das

evocações “trabalhadora” e “independente”, podendo estar associados à estratégia de

mobilidade desse grupo de ultrapassar uma imagem social cristalizada em torno dos seus

membros.

4.1.1.2 Os conteúdos estereotípicos sobre a Mulher Usuária de Drogas

A partir do estímulo indutor “Mulher Usuária de Drogas”, obteve-se 159 evocações

consideradas distintas, sendo que se considerou àquelas que tiveram uma frequência igual ou

maior que três, o que resultou em 52 palavras analisadas.

A primeira visualização dos temos mais frequentemente evocados pelos universitários

pode ser observada na nuvem de palavras, que segue apresentada na Figura 5.


P á g i n a | 109

Figura 5. Nuvem de Palavras referente às evocações dos universitários sobre o estímulo


indutor “Mulher Usuária de Drogas”

Esta análise possibilitou o conhecimento prévio na forma como os termos estão

organizados em função de sua maior frequência. Dando continuidade as análises, o software

permitiu o agrupamento das palavras em categorias de acordo com a proximidade semântica e

da conexidade e coocorrência com que foram evocados os termos, resultando num diagrama

de similitude exposto a seguir (Figura 6).


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Figura 6. Árvore de Similitude referente às evocações dos universitários sobre o estímulo


“Mulher Usuária de Drogas”

A Figura 6 mostra o diagrama de similitude referente às evocações do estímulo indutor

“Mulher Usuária de Drogas”. A partir da visualização da representação gráfica, é possível

identificar cinco ilhas organizadas ao redor da ilha central, demonstrando haver um conteúdo

mais forte e agregador ao centro e a existência de conexões entre as demais ilhas nas

extremidades.
P á g i n a | 111

Observa-se que emergiu da árvore de coocorrências os primeiros pares de associação

com maior conexidade, os quais foram entre os termos triste – sofredora, triste –

problemática, triste – dependente, triste – fragilizada e triste - descuidada. O léxico –

triste – aparece com maior centralidade e ainda apresenta relações importantes com

elementos que o complementam e lhe dão sustentação, imbricando na formação de várias

teias de desdobramentos interconectados com a questão da dependência química e do

vivenciar o sofrimento em decorrência do consumo abusivo de drogas. Considerada a palavra

mais frequente nas evocações e também o léxico mais agregador e organizador da árvore de

coocorrências, o termo triste liga-se as palavras “solidão”, “depressiva”, “dor”, “infelicidade”

e “abandonada”, indicando traços estereotípicos sobre a mulher usuária de drogas com

conteúdos mais subjetivos e afetivos, associados ao sentimento de desamparo e isolamento.

Indo ao encontro destes dados, Silva, Pereira e Penna (2018), ao realizarem um estudo

comparativo com profissionais de saúde (N = 17) sobre os atributos distintivos para usuários e

usuários, concluíram que as mulheres foram caracterizadas como mais sensíveis, carentes,

inseguras e dependentes afetivamente dos homens, colocando-as numa posição de vítima de

sua própria condição feminina.

Ainda neste contexto subjetivo, encontra-se a conexão como o elemento – sofredora –

que aparece como um dos eixos do desta ilha e apresenta uma perspectiva negativa e se

relaciona com experiências aversivas ligadas a situações que causam dor e sofrimento; neste

caso, destaca-se o consumo de drogas como a causa desse padecimento. Ainda nesta ilha do

diagrama, emergiu o elemento – problemática, o qual agrupa um conjunto de palavras que

caracterizam a mulher usuária de drogas enquanto agente causador de transtornos, e por isso,

encarada como um problema para a sociedade. Ao serem associadas às evocações

“inconfiável”, “imoral”, “prostituta” e “exclusão”, as usuárias de drogas são responsabilizadas

pela sua condição, devido a uma falha moral ou fraqueza de caráter, ao mesmo tempo em que
P á g i n a | 112

são visualizadas enquanto causadoras de desestabilização social. Ainda neste eixo, há a

presença do termo “desvio”, onde é possível identificar conteúdos que remetem a quebra de

padrões normativos esperados para a mulher. A partir disso, percebe-se que a concepção das

usuárias está associada ao potencial para interferir na estabilidade, e dessa forma, na

funcionalidade da sociedade, assim como propõe o estudo realizado por Medeiros et al.

(2017). Essa concepção compreende que a dependência de drogas é uma ameaça concreta aos

“valores sociais”, e por isso, visto como um “desvio”, ou seja, agente que produz contínua

desagregação à ordem social, com significativas repercussões, especialmente, a nível familiar.

A segunda ilha apresenta elementos que trazem à tona importantes aspectos da

dependência química feminina, sendo representada pelo termo – dependente. Imersa na

perspectiva social da questão das drogas, uma vez que se conecta aos termos “pobreza”,

“violência”, “vulnerável”, “fraqueza” e “marginalizada”, este elemento revela um conjunto de

opiniões coletivas que convergem com a associação das drogas à vulnerabilidade social. E

ainda inserido nesta ramificação da árvore de similitude, destaca-se o termo “preconceito”

enquanto um poderoso elemento que pode auxiliar no entendimento dos conteúdos

esteotípicos associados á mulher usuária de drogas; sua similitude com os termos que o ligam

a outra ilha do diagrama, como os léxicos organizadores “problemática” e “sofredora”,

apresenta características rotuladoras e com enfoque negativo de um grupo de mulheres tidas

como moralmente divergentes e que não apresentam conformidade com as normas sociais na

sociedade atual. Alguns autores reportam que o uso abusivo de drogas está intimamente

ligado a ideia de isolamento e falta de apoio, evidenciando uma questão de marginalidade e

exclusão social (Aciole Neto & Santos, 2016; Maciel & Medeiros, 2017).

Ainda neste contexto de exclusão, situa-se uma importante conexão encontrada a partir

da coocorrência entre os termos triste – fragilizada. Nesta ramificação denota-se uma

situação desfavorável das usuárias que faz alusão a situação de marginalização sofrida por
P á g i n a | 113

estas. Nesta ilha encontram-se os termos “feia”, “sexo”, “doenças”, “crime”, “perigosa”,

“risco” e “compulsiva”, e é possível identificar práticas ou comportamentos que se associam

tanto ao contexto patológico quanto de ilegalidade; cabe mencionar ainda que a associação

das usuárias ao conteúdo de cirminalidade e, consequentemente, de periculosidade, tráz à tona

questões importantes sobre a forma como a sociedade encara a problemática das drogas no

Brasil. Essa forma coletiva de pensar e representar as mulheres que consomem drogas no

crivo da periculosidade, cria espaço propício para a desvalorização social desse grupo, e

assim, cristalizar os conteúdos constitutivos do preconceito, assemelhando-se aos resultados

do estudo desenvolvido por Medeiros et al. (2015) e Medeiros et al. (2017) sobre os

conteúdos repesentacionais acerca da imagem das usuárias de drogas.

A última ramificação visualizada é a partir do termo – descuidada – na qual as

palavras evocadas carregam conteúdos que expressam a saliência de uma realidade retratada,

especialmente pela mídia, sobre as mulheres que consomem drogas, vinculando-as a

contextos de autonegligência e ausência de cuidados pessoais básicos. A presença dos termos

“solteira”, “magreza”, “viciada”, “fome” e “perdida”, demarcam traços estereotípicos que

reportam uma imagem de mulher destoante com as propostas estéticas e as expectativas dos

papéis de gênero propagadas enquanto socialmente desejáveis. É importante destacar que tais

conteúdos reforçam a noção de culpabilização das usuárias pela sua condição, cristalizando a

ideia de incurabilizade da dependência química, ao mesmo tempo em que perpetua a

desresponsabilização do aparato estatal nas intervenções junto a problemática das drogas.

Sobre o processo de culpabilização das usuárias por parte da população, e em especial por

parte dos profissionais de saúde, como tem revelado vários estudos (Martins et al., 2010;

Silva, Pereira & Penna, 2018), podem criar barreiras na qualidade do cuidado em saúde

dificultando o acesso, prejudicando o tratamento e restringindo as chances de inserção social

desta população.
P á g i n a | 114

A partir do consenso acerca dos conteúdos estereotípicos sobre a mulher usuária de

drogas, revelou-se uma acentuação nos significados associados a mulher imersa no contexto

específico das drogas, traduzidos por meio de orientações de traços negativos sobre a

expressividade, além da rejeição de uma identidade feminina. Esse achado aponta para a

ausência de sociabilidade do grupo e também para uma baixa competência, segundo o modelo

proposto por Fiske et al (2002, 2007), justificando o posicionamento de culpabilização e

distanciamento frente ao grupo de mulheres usuárias de drogas.

Observou-se, de modo geral, que os participantes do presente estudo, não atribuem

significados sociais distintivos as mulheres e as mulheres usuárias drogas meramente

perceptivo, mas exprime uma hierarquização, tanto a nível dos sexos, quanto a nível de grupo

visualizado a partir de orientações comportamentais socialmente indesejáveis, como o gupro

de usuários de drogas. É nesse quadro que se compreende a construção da distintividade entre

os grupos enquanto “normais” versus “desviantes”, somado ao fato das mulheres possuírem

uma identidade de grupo socialmente estigmatizado, e por isso, considerado a patir do viés de

dominação dentro do quadro do universo simbólico de poder entre os grupos sociais. O peso

dos siginificados associados a mulher usuária de drogas, neste estudo, encontra, portanto,

suporte na realidade brasileira, a qual faz alusão indiscriminadamente a questão das drogas

enquanto fenômeno desolador e desumano, recaindo em explicações de cunho moral e

patológico, interditando assim, a possibilidade de entender a real posição deste fenômeno

diante da totatidade social a qual ele emerge.

A discussão articulada dos resultados dos dois estímulos indutores, mulher e mulher

usuária de drogas, permite mostrar que a construção social dos modos de “ser mulher” e “ser

usuária de drogas”, é atravessada pela perspectiva de gênero e assenta numa relação de

desigualdade, seja ela pela dominação em que coloca homens e mulheres em posições

diferentes, ou seja pelo fato de que para ambos os sexos não há relação de aproximação ou
P á g i n a | 115

adimiração frente ao grupo socialmente indesejável (Amâncio, 2010; Oliveira & Amâncio,

2017). A tentativa de descaracterização por meio de distintividade negativa atribuída às

mulheres usuárias de drogas, é visualizada enquanto uma estratégia consensual pelos

participantes do presente estudo, especialmente por se tratar de 67% universitárias, de se

construir uma imagem positiva de si e um distanciamento por “qualquer uma” que carregue

esses predicados.

Considerações parciais

Este estudo teve como princípio fundamental debruçar-se sobre a complexidade da

temática do consumo de drogas por mulheres, buscando conhecer quais os conteúdos

estereotípicos atribuídos a este grupo social, elencando assim, futuras hispóteses e

desdobramentos que serão melhor explorados no decorrer deste trabalho de tese.

Por meio dos achados ora apresentados, pode-se concluir que as imagens eleitas para

representar as categorias Mulher e Mulher Usuária de Drogas, foram, e ainda são escolhidas

de acordo com necessidades políticas e ideológicas, que ganham legitimação através da

repetição desses discursos estereotipados relacionado ao sexo feminino, sendo considerado o

primeiro passo para a construção das bases do preconceito e da exclusão social.

A luz das relações socioestruturantes e considerando o estereótipo como lugar

privilegiado de observação, no seu papel de produtor de sentidos que circulam no imaginário

de uma sociedade, os estereótipos de gênero segundo Fiske e Stevens (1993), em comparação

com outros tipos de estereótipos, se fundamenta em um caráter prescritivo sobre os modos

como homens e mulheres devem ser e se comportarem. Nesta linha de pensamento, Prentice e

Carranza (2002) defendem que os estereótipos de género não são apenas prescritivos, mas

também proscritivos; isto é, fazem referência às características adequadas segundo o sexo,


P á g i n a | 116

mas também às não adequadas ou proibidas; a como “devem ser” e como “não devem ser”

homens e mulheres.

O sentido que os estudantes universitários atribuíram às mulheres usuárias de drogas

não está unicamente restrita ao consumo de substância per si, seja esta lícita ou ilícita, mas à

forma como as relações sociais entre homens-mulheres e normal-desviante se colocam na teia

de relações sociais entre os grupos, expressando determinados valores como norma e

difundindo-as através da cultura. É por meio dessas relações de classificação social que se

organizam e definem a distribuição de prestigio, legitimidade e poder entre os grupos sociais.

Neste sentido, é interessante pensar que o estudo sobre a forma como são

estereotipadas as minorias, neste caso as mulheres usuárias de drogas, não deve restringir-se

ao mero levantamento estático de representações e crenças estereotipadas, sem maior

embasamento histórico e teórico; faz necessário, sobretudo, se interrogar sobre a origem

destas imagens social e ideologicamente motivadas, e o porquê que elas perduram e são

produzidas, e, por fim, como estas vem se articulando com a expressão do preconceito e a

consequente exclusão social frente às mulheres usuárias de drogas.

4.1.2 Pesquisa 2 – A Mulher e Mulher Toxicodependente: um estudo comparativo dos

estereótipos de gênero no Brasil e em Portugal

Considerando as particularidades luso-brasileiras, bem como a escassez de estudos

transculturais sobre a temática das drogas, esta pesquisa buscou conhecer os conteúdos

estereotípicos compartilhados acerca da mulher e da mulher toxicodependente a partir de

contextos culturais diferentes, os quais podem apresentar, respectivamente, aproximações e

divergências culturais com a problemática investigada.


P á g i n a | 117

Método

Tipo de estudo

O delineamento metodológico que fundamenta este estudo é de caráter qualitativo.

Além disso, consiste numa pesquisa de imersão em campo e de natureza transcultural, o que

segundo Carvalho e Borges (2012), facilitam a comparação dos significados compartilhados

acerca das normas, crenças, valores e representações que caracterizam uma determinada

sociedade em seu conjunto e também sobre objetos específicos de análise. Os autores

acrescentam que é inegável que a inserção na cultural se expressa no comportamento humano

e na orientação social, tanto que determinados padrões de comportamento são aceitos e

praticados entre membros de uma dada cultura, ao passo que em outra sociedade pode haver

questionamentos sobre tais práticas.

Local e participantes

A seleção dos participantes deste estudo se deu por meio da amostragem do tipo não

probabilística (intencional) (Cozby, 2006), resultando em 200 estudantes universitários

selecionados por conveniência. A metade amostral é oriunda de uma universidade pública

brasileira localizada na cidade de João Pessoa – PB, e os outros 100 participantes estavam

vinculados a duas universidades portuguesas, uma pública e outra privada, na região de

Lisboa, Portugal. A faixa etária dos brasileiros compreendeu entre 18 e 33 anos (M = 22,21;

DP = 3,06), provenientes dos centros: Ciências Humanas (42%), Ciências Exatas (41%) e

Ciências da Saúde (17%), e a maioria eram mulheres (67%). Quanto aos universitários

portugueses, 59% eram do sexo masculino, variando entre 18 a 59 anos de idades (M= 22,46;

DP=5,55), distribuídos entre as áreas: Ciências Humanas (40%), Ciências da Saúde (32%) e

Ciências Exatas (28%). A inclusão dos participantes foi feita por conveniência e não houve

controle de gênero; no entanto, as aplicações foram distribuídas entre as grandes áreas de


P á g i n a | 118

conhecimentos (Ciências humanas; Ciências Exatas; e Ciências da Saúde), com alunos com

idades iguais ou superiores a 18 anos. No Brasil a coleta ocorreu com aqueles que estavam em

salas de aula no momento da abordagem, e em Portugal foi disponibilizado um instrumento

online para o acesso dos discentes e também por meio da coleta presencial (lápis e papel).

Instrumentos

Para obtenção dos dados, utilizou-se como instrumentos: (a) Técnica de Associação

Livre de Palavras (TALP); e (b) Questionário sociodemográfico com perguntas referentes ao

sexo, idade, curso e localidade dos participantes para fins de caracterização da amostra.

A Técnica de Associação Livre de Palavras tem sua origem nos trabalhos

desenvolvidos por Jung em 1905, e posteriormente foi adaptado por Di Giacomo (1981) para

a área da psicologia social (Nobrega & Coutinho, 2011). É considerado um instrumento

projetivo que favorece os indivíduos a revelarem projeções mentais da memória em relação a

um determinado objeto, baseado numa produção verbal espontânea. Além disso, na medida

em que se apoia em um repertório conceitual, essa técnica permite a unificação dos universos

semânticos e a saliência de um conjunto de palavras comuns, que pode convergir em crenças

e/ou traços estereotípicos face ao objeto social em investigação (Rodrigues & Cruz, 2008).

Por meio da configuração dos elementos que constituem a rede associativa dos

conteúdos evocados em relação a estímulos indutores, para este estudo a utilização da TALP

será ancorada no Modelo do Conteúdo dos Estereótipos proposto por Fiske et al. (2002), que

pode ser de grande relevância para o estudo das crenças e dos conteúdos estereotípicos, pois

pode favorecer a apreensão de conceitos que poderiam ser mascarados pela desejabilidade

social e, por meio das evocações, permite-se ter acesso a ideias ou pensamentos frente ao

estímulo indutor, de forma rápida e simples, porém significativa.


P á g i n a | 119

Nesta investigação utilizaram-se dois estímulos indutores, em que se perguntou a

ambos os participantes: O que lhe vem à mente quando ouve a expressão “Mulher” (estímulo

1) e, posteriormente, “Mulher usuária de Drogas” (estímulo 2). Para o contexto português, a

fim de realizar a equivalência cultural dos termos, foram consultados documentos oficiais

sobre a temática, como também, sites e blogs que divulgam matérias jornalísticas sobre

consumo de drogas no país, o que resultou na escolha de permanecer o primeiro estímulo

(Mulher) e na adaptação do segundo termo para “Mulher toxicodependente”. Além disso,

perguntou-se aos entrevistados o sexo, a idade, o curso e a localidade.

Procedimentos de coleta e análise dos dados

Operacionalmente, os dados foram coletados em dois contextos internacionais.

Inicialmente, realizou-se em ambos os países um estudo piloto com 10 participantes, com

vistas a avaliar a compreensão dos termos indutores.

No Brasil, a aplicação foi possível de forma presencial e coletiva entre os meses de

agosto a dezembro de 2016 nas salas de aula da referida universidade, com aqueles que

concordaram participar. Desta forma, foram instruídos a responder o instrumento seguindo a

ordem original de apresentação das folhas, estímulo 1 e estímulo 2, respectivamente. Já em

Portugal, a recolha de dados ocorreu de forma individual e virtual nos meses de maio a

outubro de 2017, possibilitada pelo Qualtrics Research Suite3, o qual consiste num

questionário online de baixo custo, rapidez e que permite o monitoramento dos dados

recebidos e do público alvo de interesse.

Para análise dos dados, procedeu-se a junção do material coletado oriundo dos dois

países, e com o auxílio do software gratuito IRAMUTEQ (Interface de R pour analyses

Multidimensionnelles de Textes et de Questionneires), foi realizada a Análise de Similitude.

3
O Qualtrics é uma da ferramenta online e gratuita da Web 2.0 e está disponível em http://www.qualtrics.com/
P á g i n a | 120

Esta análise permite identificar as coocorrências e conexidades entre as palavras evocadas,

indiciando a força com que os elementos se ligam aos outros. Além disso, baseia-se na teoria

dos grafos e auxilia a identificação da estrutura da representação social do objeto em análise.

Com os dados sociodemográficos, utilizou-se análises de estatística descritiva. O tempo

médio de cada aplicação correspondeu a 5 minutos em ambas as recolhas de dados.

Considerações éticas

Respeitaram-se todos os cuidados éticos com pesquisa que envolve seres humanos,

segundo a Resolução 466/201273 do Conselho Nacional de Saúde, tendo obtido a aprovação

do Comitê de Ética em Pesquisa, localizado no Centro de Ciências da Saúde da Universidade

Federal da Paraíba (CEP/ CCS-UFPB), sob o protocolo de nº 0349/14. Depois de estabelecido

o rapport e o propósito da pesquisa, solicitou-se aos participantes a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assegurando-lhes a sua participação voluntária e

a confidencialidade e anonimato das respostas, bem como a possibilidade de desistência a

qualquer momento.

Resultados e Discussão Parcial

No presente estudo, foram analisadas as evocações referentes aos universitários

brasileiros e portugueses. Inicialmente, com o objetivo de caracterizar a amostra, a seguir é

apresentada a Tabela 1 com a distribuição dos participantes segundo os dados

sociodemográficos.
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Tabela 1. Distribuição dos universitários brasileiros e portugueses segundo os dados


sociodemográficos

Variáveis Brasil Portugal Total


Sexo
Masculino 33 59 92
Feminino 67 41 108
Idade
Média (M) 22,21 22,46
Desvio padrão (DP) 3,06 5,55
Cursos (grandes áreas)
Humanas 42 40 82
Exatas 41 28 69
Saúde 17 32 49

Com base nos dados supracitados, observou-se que no contexto brasileiro

predominaram as participantes do sexo feminino (67%), enquanto que no cenário português,

os homens sobressaíram, assumindo o quantitativo de 59% da amostra. No tocante à idade, foi

possível visualizar uma homogeinização dos universitários provenientes das duas localidades.

Sobre a procedência dos cursos, a área de humanas obteve maior expressividade entre os luso-

brasileiros. Nessse sentido, pode-se concluir que o grupo estudado, considerado na sua

totalidade, é composto por universitários jovens, de ambos os sexos e oriundos de cursos de

conhecimento em que permite aproximação teórica e prática com a temática das drogas.

Sobre as evocações apreendidas pela TALP acerca dos dois países (Brasil-Portugal)

sobre a palavra-estímulo “Mulher”, estas serão expressas por meio de um diagrama de

similitude, considerando de forma comparativa a frequência das evocações provenientes das

duas localidades. Para o contexto brasileiro, sobre o estímulo Mulher, foram consideradas 115

palavras distintas, tal como mencionado na Pesquisa 1 deste Estudo. No entanto, a fim de

tornarem ainda mais homogêneos os conteúdos expressos, considerou-se para este estudo a

frequência mínima de quatro, resultando em 34 palavras analisadas. Já em Portugal,

permanecendo a frequência mímina de quatro repetições dos termos, o banco foi composto
P á g i n a | 122

por 39 palavras analisadas, de um total de 145 vocábulos distintos. Esta análise comparativa

pode ser visualizada na Figura 7.

Figura 7. Árvore de Similitude sobre o estímulo “Mulher” referente aos universitários


brasileiros e portugueses

De acordo com o diagrama acima, é possível observar de forma comparativa os termos

mais evocados entre os universitários luso-brasileiros. Inicialmente, sobre os dados

brasileiros, as palavras mais fortemente evocadas foram: mãe (51); forte (32); guerreira (26);

vaidade (18); beleza (17); bonita (14); amável (14); casamento (10); e trabalhadora (9). No

que concerne aos resultados referentes aos universitários portugueses, observou-se enquanto
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palavras mais frequentemente evocadas os seguintes termos: mãe (45); forte (28); beleza (23);

independente (19); moda (18); poder (15); inteligência (15); decisão (14); trabalhadora (13); e

vaidade (12).

Referente ao campo semântico mais fortemente associado ao primeiro estímulo,

percebeu-se uma conformidade intercultural entre brasileiros e portugueses. Existe uma

percentagem significativa de traços que foram consensualmente considerados como

estereótipos sobre a mulher, como por exemplo, os temos: mãe, forte, vaidade, beleza e

trabalhadora. Assim, sobre o conteúdo das palavras evocadas, sugere-se uma imagem do

sexo feminino a partir dos traços de expressividade, recaindo, portanto, na dimensão de

sociabilidade sobre o grupo feminino (Amâncio, 2010; Fiske et al., 1999; Fiske & Glick,

2002, 2007). Os resultados apontaram a persistência de visões estereotipadas contra as

mulheres, tanto através da saliência do contexto materno quanto da expressividade da

feminilidade em ambos os países.

No entanto, salienta-se os traços que remeteram à instrumentabilidade mais fortemente

entre os universitários portugueses. Exemplos disso são os temos: independente, inteligência,

poder, decisão e trabalhadora. Cabe acrescentar que estes termos, os quais expressam

habilidades instrumentais, são comumente associados aos homens. Esse dado difere de outros

resultados encontrados em pesquisas envolvendo o cenário português, no que concerne aos

tracos destinados aos homens e mulheres na presente nacionalidade. Em estudo conduzido por

Amâncio (2010) com estudantes e trabalhados portugueses, revelou que os universos

semânticos associados às mulheres são caracterizados pela submissão e pela expressividade.

Algumas diferenciações são elencadas no que diz respeito às discussões de igualdade

de gênero no Brasil e em Portugal, apesar de apresentarem alguns elementos semelhantes

entre os dois contextos. Destacam-se ações governamentais no cenário português em que

torna obrigatória a execução de políticas públicas ligadas aos direitos humanos e à igualdade
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de gênero (Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, 2017). Já a atual realidade

brasileira, o debate sobre a as questões de gênero vem recebendo pouca atenção na agenda

pública e, mais especificamente, no que concerne às abordagens de gênero na prevenção e no

tratamento ao abuso de drogas (Souza, Oliveira & Nascimento, 2014). Sugere-se por meio dos

dados observados que essa contextualização influenciou no conteúdo expressos pelos

universitários.

No que diz respeito às evocações referente ao estímulo “mulher usuária de

drogas/mulher toxicodependente”, estas estão dispostas no gráfico de similitude, conforme

pode ser visualizado na Figura 8.

Figura 8. Árvore de Similitude sobre o estímulo “Mulher Usuária de drogas/Mulher


toxicodependente” referente aos Universitários Brasileiros e Portugueses
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De acordo com a Figura 8 é possível observar crenças e adjetivações que dizem

respeito a forma como os universitários caracterizam o objeto social em questão. Com relação

aos brasileiros, foram relatados um total de 489 termos, e destes, 222 foram classificados

como distintos. Para esta análise, selecionou-se as palavras com frequência igual ou superior a

quatro, o que resultou um total de 42 termos analisados, destacando as seguintes: Triste (27);

Dependente (18); problemática (18); sofredora (17); fragilizada (13); descuidada (10). Já no

contexto português, 128 palavras foram consideradas distintas, de um total de 498 evocações.

Na ocasião, selecionou-se as palavras com frequência igual ou superior a quatro, resultando

em 45 termos. Nesta análise emergiram os seguintes vocábulos: Descuidada (20); Drogas

(19); vício (19); magra (18); doença (17); seringa (15); fraqueza (15); e ajuda (13).

Esse resultado revela que, na atribuição de atributos estereotípicos à mulher usuária de

drogas, se construiu uma concepção parcialmente consensual, onde emergiu apenas o termo

“descuidada” compartilhado de forma mútua para ambos os grupos.

Quanto às evocações específicas dos universitários brasileiros, emergiu um campo

semântico relativos à imagem de expressividade emocional negativa, de submissão e

composta por traços de passividade. De modo particular, tendo com mente a saliência da

categoria de gênero e também pelo envolvimento feminino com comportamentos considerado

“transgressor”, percebe-se que os universitários brasileiros associam atributos mais negativos

vinculados à “pessoa usuária”, estando esta pessoa associada à agentes causadores de

instabilidade social, como propõe os estudos realizados por Medeiros et al. (2017) e Bungay

et al. (2010).

Quanto às evocações referentes aos portugueses, estas podem ser visualizadas tendo

em mente o cenário atual de enfretamento à toxicodependência em Portugal, o qual se insere

no paradigma psicossocial de saúde, incorporando além das dimensões orgânicas, as esferas

contextuais e ambientais (Ventura & Benetti, 2014). No entanto, observou-se entre os


P á g i n a | 126

universitários portugueses, discursos que dão destaque ao poder farmacológico das

substâncias, sugerindo a visualização do modelo unifatorial, onde a substância é o principal

elemento de explicação da dependência. Observa-se também o termo “seringa”, e associa-se a

visualização dos consumidores de heroína intravenosa – alvo de grande preocupação e

intervenção da sociedade portuguesa na década de 1990. Para este grupo de universitários

lusitanos, a estereotipagem da mulher toxicodependente aparece associada ao paradigma da

doença, sendo a usuária estereotipada enquanto um “sujeito-doença”. Apesar disso, cabe

mencionar a evocação do termo “ajuda” enquanto reflexo do avanço das políticas públicas de

enfrentamento às toxicodependências, onde a mulher toxicodependente também é visualizada

a partir da ótica do cuidado e da proteção à saúde.

Por meio de classificações orientadas pela categoria primitiva “sexo” e também por

meio de uma categoria ligada à artefatos humanos, como o uso de drogas, foi possível

apreender imagens estereotípicas relacionadas às duas categorias em análise. Estas imagens

dizem respeito a forma como cada grupo, brasileiros e portugueses, simplificam o pensamento

social acerca da mulher e sua relação com o “mundo do desvio”. Este processo implica num

processo de generalização, que não raras vezes, pode incorrer em certo nível de distorção

informativa, uma vez que opera através de filtragens, exacerbações e coisificações (Techio,

2011). O estereótipo negativo é, portanto, um grande motivador para o preconceito e

discriminação, uma vez que está diretamente associado a um "juízo preconcebido”.

Esse dado, sugere que o paradigma da segurança pública está associado ao contexto

produtor de estigmatização e exclusão social das usuárias, uma vez que esse contexto acentua

o caráter de “desviância”. Nesse sentido, a experiência de Portugal, ainda que longe de ser a

ideal, pois desconsidera em partes os fatores sociais envoltos a questão das

toxicodependências, direcionando à patologização e unicausalidade, pode trazer elementos


P á g i n a | 127

interessantes para a construção de um modelo brasileiro menos marginalizante e excludente

frente às mulheres dependentes químicas.

Considerações Parciais

Este estudo buscou conhecer e comparar o conteúdo estereotípico sobre a Mulher e a

Mulher Toxicodependente no Brasil e em Portugal, a partir de amostras de universitários de

diversas áreas localizados nos dois países.

Julga-se que os resultados obtidos contribuíram para aumentar o conhecimento

relativo a esta temática e fornecer material para ser utilizado em investigações subsequentes.

Em primeiro lugar, permitem a discriminação dos atributos estereotípicos associados à mulher

e também com a saliência do consumo de drogas. Em segundo lugar, contemplam uma análise

comparativa das questões de gênero e como vem sendo estruturado o pensamento social

acerca das drogas no Brasil e em Portugal.

Sobre a análise transcultural, ainda que de caráter complementar ao objetivo geral da

presente tese, forneceu importantes reflexões na interpretação da problemática das drogas,

pois ficou evidente que o contexto sócio-cultural presente nas sociedades brasileira e

portuguesa, exerceram influências no conteúdo dos estereótipos frente às mulheres usuárias

de drogas. Os tratamentos dispensados ao usuário ou dependente no Brasil e em Portugal

possuem algumas semelhanças, no entanto, juridicamente, no Brasil, o uso de drogas continua

sendo um crime, ao passo que Portugal, a pessoa detida consumindo drogas é levada para uma

comissão formada por pessoas habilitadas tecnicamente para identificar os problemas dos

usuários e submetê-los a tratamento.

Apesar das modificações legais e da introdução de diferentes políticas públicas

relacionadas às drogas no país, o Brasil ainda focaliza o uso de drogas com base no paradigma

da segurança pública, não priorizando ações mais efetivas de saúde pública que atendam o
P á g i n a | 128

usuário e o dependente de drogas com base em uma perspectiva multidimensional e que

contempla os diversos grupos de usuários, notadamente, a mulheres usuárias de drogas.


ESTUDO 2
P á g i n a | 130

ESTUDO 2

4.2 Parâmetros psicométricos preliminares das medidas explícitas utilizadas

Como apontado pelo levantamento literário descrito anteriormente, o estudo

sistemático dos estereótipos e do preconceito associados ao contexto de exclusão social de

mulheres usuárias de drogas, tem sido pouco explorado em estudos nacionais e também no

contexto internacional. Em face disso, localiza-se a necessidade de ampliar o conhecimento

acerca dos instrumentos psicométricos que permitam mensurar tais contrutos supracitados.

Deste modo, faz necessário dispor de medidas que reúnam evidências de validade e

precisão – condições imprescindíveis para a utilização de instrumentos em estudos empíricos

(Dancey & Reidy, 2013; Pasquali, 2003). A fim de estabelecer tais medidas padronizadas que

forneçam uma mensuração objetiva no contexto feminino de uso de drogas, o objetivo do

presente estudo consiste em construir, validar e explicitar os parâmetros psicométricos

preliminares das medidas para o contexto univeristário, com o propósito de avaliar a estrutura

fatorial e a consistência interna de seus itens.

Para atingir a finalidade mencionada, este estudo objetivou, especificamente, a

elaboração e validação da Escala de Estereótipos Femininos frente à Mulher Usuárias de

Drogas (EEFMUD), considerando que na literatura nacional e internacional, não haviam

instrumentos que permitissem a mensuração dos estereótipos para o contexto foco do presente

trabalho. Ademais, buscou-se adaptar e validar para o contexto feminino de uso de drogas os

seguintes instrumentos já utilizados em contexto nacional: Escala de Percepção de Ameaça

frente aos Usuários de Drogas (EPAUD); a Escala de Moralização sobre o Uso de Drogas

(EMUD); a Escala de Exclusão Social para contexto da Saúde Mental (EESSM); e adaptar

para o contexto brasileiro de interesse, a Escala de Intenção de Contato Social (EICS).


P á g i n a | 131

4.2.1 Método

Tipo de estudo

Trata-se de um estudo de cunho quantitativo e de natureza correlacional. A ênfase

consistiu na testagem psicométrica das medidas utilizadas em questão, visando reunir

evidências preliminares acerca da validade e fidedignidade para o contexto universitário.

Participantes e local

Foram selecionados de forma não-probabilística e por conveniência, 208 estudantes

universitários provenientes de instituições públicas e privadas nas cidades de João Pessoa e

Campina Grande no Estado da Paraíba. As idades variaram de 18 a 45 anos (M= 23,32; DP=

4,76), a maioria mulheres (68%) e provenientes das áreas de Humanas (39%), de Saúde (20%)

e de Exatas (41%). Do total da amostra, 15% afirmou ser usuário/usuária de drogas e entre as

drogas relatadas foram: álcool (11%) e maconha (2%). Outro dado relevante foi quanto a

convivência com usuários e/ou usuárias de drogas, o que revelou que 28% dos participantes

afirmou conviver com usuário/usuária de drogas, destes, 50% relataram ser os amigos,

seguido pelo pai/padrastro (30%) e por último os irmãos (10%).

Instrumentos

Os participantes responderam um questionário com perguntas sociodemográficas

(sexo, idade e curso) e foi perguntado se consideravam usuário/usuária de drogas, e em caso

afirmativo, qual substância de maior consumo; também foram perguntados se conviviam com

usuário/usuária de drogas e, consequentemente, qual o grau de aproximação. Além disso,

foram utilizadas as seguintes medidas:

a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EEFMUD) – Este instrumento foi desenvolvido pelas autoras do presente estudo, e avalia os
P á g i n a | 132

estereótipos frente à mulher no contexto de uso de drogas, composta por 14 itens por meio da

técnica de diferencial semântico.

b) Escala de Percepção de Ameaça frente aos Usuários de Drogas (EPAUD) - Esta

escala foi elaborada por Maciel et al. (2016, no prelo) e avalia a percepção de ameaça frente

aos usuários de drogas por meio do fator de periculosidade. Composto por 12 itens, o

instrumento possui escala de resposta do tipo likert variando de (1) “Discordo totalmente” a

(5) “Concordo totalmente”.

c) Escala de Moralização ao Uso de Drogas (EMUD) – A presente escala é derivada

da Escala Marcus, desenvolvida para avaliar crenças e estereótipos sobre usuários de álcool

(Babor et al., 1986). Foi adaptada para o contexto brasileiro por Ronzani, Furtado e Higgins

(Biddle, 2009) e apresenta pontuação de 5 a 35, contendo variação de respostas do tipo Likert,

que vai de (1) “Discordo totalmente” a (5) “Concordo Totalmente”.

d) Escala de Intenção de Contato Social (EICS) – Este instrumento foi elaborado por

Martínez e Vera (1994) no contexto espanhol para avaliar a intenção em manter contato social

superficial ou relações íntimas com imigrantes. Possui escala de resposta do tipo Likert que

variam de (1) “Discordo totalmente” a (5) “Concordo Totalmente”.

e) Escala de Exclusão Social frente à Doença Mental – Essa escala foi desenvolvida

por Maciel et al., (2016, no prelo) para avaliar a exclusão social no contexto de tratamento da

doença mental. A escala de resposta é do tipo likert, variando de (1) “Discordo totalmente” a

(5) “Concordo Totalmente”.

Procedimento de elaboração do instrumento

A escala construída para o presente estudo (Escala de Estereótipos Femininos para o

contexto de Uso de Drogas), teve seus itens elaborados a partir do primeiro estudo (Estudo 1)

envolvendo a evocação livre de conteúdo estereotípicos acerca das mulheres usuárias de


P á g i n a | 133

drogas. Além disso, buscou-se dados na literatura que tratam sobre a temática dos estereótipos

de gênero e do uso de drogas na sociedade brasileira.

Inicialmente, foi criada uma lista de adjetivos os quais caracterizam mais fortemente o

construto a ser avaliado (com base na maior frequência e coocorrência nas evocações livres

do Estudo 1). A escala foi composta por 14 itens que traduziam adjetivos opostos do tipo

diferencial semântico, onde é colocado um adjetivo positivo de um lado e o outro polar oposto

um negativo, por meio dos quais os sujeitos avaliam o conceito colocando uma marca na

posição que mais se aproxima de sua percepção em relação às mulheres usuárias de drogas. A

etapa seguinte consistiu numa análise teórica da escala por três profissionais pós-graduandos

na área da saúde mental e da dependência química, os quais se propuseram a avaliar a

coerência entre a definição do traço latente (dimensão) e os comportamentos (itens) que os

representariam empiricamente. Nesse processo foram feitas algumas modificações e, em

seguida, a escala foi apresentada a uma amostra de conveniência composta por dez

graduandos do primeiro período de psicologia, que de modo individual opinaram sobre o

entendimento e a clareza dos itens. Nessa fase, foram feitas modificações de algumas palavras

por seus sinônimos, visando uma melhor compreensão e um melhor entendimento do

instrumento.

Considerações éticas e procedimento de coleta de dados

O presente estudo está ancorado nas determinações da Resolução 466/12, do Conselho

Nacional de Saúde, que orienta as diretrizes e normas reguladoras de pesquisas envolvendo

seres humanos. Foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da

Saúde da Universidade Federal da Paraíba – CEP/CCS, obtendo a aprovação sob o Protocolo

nº. 0232/14. O certificado encontra-se em anexo.


P á g i n a | 134

A fase da coleta de dados ocorreu nos próprios ambientes institucionais, sendo

administrados de forma coletiva e nas salas de aula, mediante o acordo com as datas e

horários definidos pelos professores contatados de antemão. Para a administração dos

questionários, foram treinados previamente alunos de iniciação científica para tal

procedimento. De início, eram fornecidas informações sobre o propósito da pesquisa, a

inexistência de respostas erradas ou corretas, assim como o direito assegurado de desistir a

qualquer momento de sua participação na pesquisa e a garantia de sigilo e anonimato das

informações fornecidas. Mediante tais esclarecimentos, solicitou-se a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O tempo médio para conclusão da participação

no estudo foi de 20 minutos.

Análise dos dados

Para a análise dos instrumentos, utilizou-se o Pacote Estatístico para Ciências Sociais

(SPSS-PASW) para Windows na sua versão 21. Inicialmente, foram realizadas análises

descritivas com o intuito de caracterizar o perfil da amostra estudada. Com o intuito de

conhecer a adequação de utilizar análises fatoriais, levou-se em consideração os critérios de

Kaiser-Meyer-Olkim (KMO) e o Teste de Esfericidade de Bartlett (Pasquali, 2010). Em

seguida, foram realizadas análises fatoriais exploratórias por meio do método dos eixos

principais, sendo esta técnica considerada mais criteriosa e a rotação do tipo oblíqua (direct

oblimin) a qual permite que seja verificada a correlação entre os fatores (Field, 2009).

Utilizou-se ainda o coneficiente Alfa de Cronbach na verificação da consistência interna.

4.2.2 Resultados

Os resultados das medidas seguirão expostos separadamente, tendo como ordem a

seguinte apresentação: a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de


P á g i n a | 135

Drogas (EEFMUD); b) Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de

Drogas (EPAMUD); c) Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EMMUD); d) Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EICSMUD); e e) Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EESMUD).

a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EEFMUD)

Inicialmente, optou-se por conhecer a adequação em realizar uma análise fatorial,

tendo sido observados os seguintes índices adequados: KMO = 0,91 e o Teste de Esfericidade

de Bartlett, χ² (91) = 1465,39; p < 0,001. Deste modo, a fim de conhecer o número de fatores da

presente medida, seguiu-se a análise sem fixar de antemão o número de componentes a

extrair, bem como o tipo de rotação. Os resultados apontaram a presença de dois fatores com

valores superiores a 1 (Critério de Kaiser), explicando 50% da variância, com os seguintes

valores: 6,699 e 1,286. No entanto, outro indicador de dimensionalidade, o Critério de Cattell

(distribuição gráfica dos valores próprios, desprezando aqueles a partir da configuração do

“cotovelo”) sugeriu a existência de apenas um fator na estrutura da escala, sendo possível

constatar na Figura 9.

.
P á g i n a | 136

Figura 9. Representação gráfica dos valores próprios da


Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres
Usuárias de Drogas

Com base nos indicadores relatados acima, entre o Critério de Kaiser e o Critério de

Cattell, é possível observar uma aparente contradição quanto a natureza dimensional do

presente instrumento. Visando estabelecer a decisão mais confiável e parcimoniosa acerca da

extração dos fatores, foi realizada a Análise de Horn (preponderância dos valores próprios

observados em relação aos simulados; comumente conhecida por Análise Paralela). Esta

análise assumiu os mesmos parâmetros do banco de dados original, isto é, os 208

participantes e quatorze variáveis (Ver Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição dos fatores de acordo com o critério de Kaiser e análise


paralela sobre a Escala de Estereótipos Femininos frente à Mulher Usuária de Drogas

Critério de Kaiser Análise Paralela


6,699 1,458
1,286 1,352
P á g i n a | 137

Como é possível constatar na Tabela 2, o critério de Kaiser apresentou valor superior

ao valor simulado, o qual nos sugere que há apenas um componente na estrutura fatorial da

presente escala. Realizou-se novamente uma análise exploratória com o método dos eixos

principais, fixando-se desta vez um fator a extrair. Utilizou-se o ponto de saturação 0,40 para

que o item pudesse compor o fator. Estes valores estão explicitados na Tabela 3.

Tabela 3. Estrutura Fatorial da Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias


de Drogas (N= 208)

Fator h2
Itens
único
1. Bonita/Feia 0,60 0,36
2. Forte/ Frágil 0,48 0,23
3. Afetuosa/ Fria 0,73 0,53
4. Alegre/Triste 0,51 0,26
5. Confiável/ Não confiável 0,79 0,63
6. Impulsiva/ Não impulsiva 0,60 0,37
7. Competente/ Incompetente 0,76 0,58
8. Responsável/ Irresponsável 0,79 0,63
9. Dócil/ Agressiva 0,79 0,62
10. Feminina/Não Feminina 0,55 0,31
11. Recatada/ Promíscua 0,63 0,40
12. Maternal/ Não maternal 0,67 0,45
13. Independente/ Submissa 0,52 0,27
14. Familiar/ Não familiar 0,69 0,48
Número de itens 14
Valor próprio 6,181
Variância explicada (%) 44
Alfa de Cronbach (α) 0,91
.

De acordo com a Tabela 3, o fator único visualizado explica 44% da variância total e

foi interpretado de acordo com as cargas fatoriais dos itens, os quais apresentaram valores

superiores a 0,40. Por meio do coeficiente de consistência interna (Alfa de Cronbach) pode-se

afirmar que o valor obtido é considerado aceitável, assumindo valor superior ao preconizado

pela literatura (0,70).


P á g i n a | 138

Esta análise exploratória mostrou-se satisfatória e reúne argumentos estatísticos que

embasam a escolha em manter a unidimensionalidade da natureza do presente instrumento,

agrupando todos os quatorze itens num componente geral (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12, 12,

13, e 14). O fator geral da escala avalia os estereótipos relacionados à mulher no contexto de

uso de drogas, onde maiores pontuações na escala indicam a atribuição de estereótipos

considerados negativos.

Com o objetivo de melhorar a interpretabilidade da medida, parece justificável a

replicabilidade da estrutura fatorial aqui proposta, a fim de testar em uma outra amostra

similar a adequação unifatorial ora apresentada. Esta validação será descrita no estudo

subsequente (Estudo 3).

b) Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD)

Em relação à primeira fase de análise, verificou-se a adequação da amostra à análise

fatorial pelos testes indicativos de Kaiser-Meye-Olkin (KMO) e o de Esfericidade de Barlett.

O primeiro trabalha com as correlações parciais das variáveis, devendo ter índices iguais ou

superiores a 0,6, demonstrando a viabilidade dos dados ao procedimento da análise fatorial.

O segundo comprova a hipótese de que a matriz de covariâncias é de identidade. Na

amostra do presente estudo, o KMO obteve o valor de 0,92 e o Teste de Esfericidade de

Bartlett, χ² (66) = 1590,752; p< 0,001, mostrando-se adequados a utilização de análises

fatoriais.

Seguiu-se com a análise fatorial com o método dos eixos principais, sem estabelecer, a

priori, o número de extração de componentes ou o tipo de rotação. Foi identificado um

componente com valor próprio igual ou superior a 1 (Critério de Kaiser), assumindo o valor

de 6,928 e explicando 53% da variância total. A estrutura unifatorial também foi sugerida pela

distribuição gráfica dos valores próprios (scree plot) observada na Figura 10:
P á g i n a | 139

Figura 10. Representação gráfica dos valores próprios da


Escala de Percepção de ameaça frente às Mulheres Usuárias de
Drogas

.
A partir da distribuição gráfica, se visualiza claramente a solução unifatorial da

referida medida. Em seguida, utilizou-se como ponto de saturação para o item fazer parte do

fator o valor de 0,40. A estrutura encontra-se resumida na Tabela 4 a seguir:

Tabela 4. Estrutura fatorial da Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias


de Drogas

Itens Cargas h²
Fatoriais
1. As mulheres usuárias de drogas oferecem perigo à sociedade. 0,71 0,60
2. Prefiro manter distância de uma mulher usuária de drogas. 0,71 0,59
3. A mulher usuária de drogas é uma marginal. 0,75 0,60
4. Tenho medo das mulheres usuárias de drogas. 0,76 0,61
5. A mulher usuária de drogas é capaz de cometer qualquer ato 0,63 0,43
para manter o vício.
6. Quando uma mulher usuária de drogas se aproxima tenho 0,73 0,58
vontade de fugir.
7. As mulheres usuárias de drogas são pessoas perigosas. 0,82 0,67
8. As mulheres usuárias de drogas não merecem confiança 0,76 0,62
9. As mulheres usuárias de drogas oferecem risco para a 0,79 0,70
sociedade.
10. É perigoso conviver com mulheres usuárias de drogas. 0,77 0,62
11. As mulheres usuárias de drogas podem agir agressivamente a 0,65 0,52
P á g i n a | 140

qualquer momento.
12. As mulheres usuárias de drogas roubam para manter o vício. 0,67 0,57

Número de itens 12
Valor próprio 6,928
Variância explicada (%) 53%
Alfa de Cronbach (α) 0,93

Com base nos resultados expostos na Tabela 4, observou-se a variância explicada de

53% da solução unifatorial da Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de

Drogas, agrupando todos os itens num mesmo fator, os quais se referem a ideia de ameaça

voltada para a periculosidade atribuída às mulheres que fazem uso de drogas. A presente

análise mostrou-se similar a escala original proposta para o contexto de usuários de drogas

sem especificação do gênero, proposta por Maciel et al. (2016, no prelo), a qual também

apresenta uma solução unifatorial.

Portanto, fazendo uso dos indicadores da análise fatorial exploratória relatados acima,

e no cálculo do Alfa de Cronbach para conhecer a consistência interna (precisão) da estrutura

fatorial resultante, na qual espera-se que este indicador seja de ao menos 0,70 para que o

instrumento possa ser considerado como psicometricamente adequado (Pasquali, 2003), é

possível concluir que a presente escala de natureza unidimensional reúne resultados

consistentes e bons índices psicométricos para o contexto universitário.

A despeito de possibilidades futuras e reconhecendo o caráter exploratório da medida

empregada, pontua-se a importância de realizar procedimentos de modelagem por equações

estruturais com o propósito de confirmar a estrutura unifatorial da EPAMUD. Em face disto,

o estudo seguinte (Estudo 3) terá como foco a validação confirmatória deste instrumento em

amostras similares no ambiente acadêmico.

c) Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD)


P á g i n a | 141

Antes de efetuar a análise fatorial exploratória, procurou-se averiguar a fatoração da

matriz de correlações entre os itens do instrumento em questão, por meio do KMO (Kaiser-

Meyer-Olkin) e do Teste de Esfericidade de Bartlett. Corroborou-se a adequação de

prosseguir a uma análise fatorial, observando os seguintes índices: KMO = 0,80 e Teste de

Esfericidade, de Bartlett, χ² (10) = 326,183; p < 0,001.

Neste sentido, optou-se por efetuar uma análise com método dos eixos principais, sem

fixar rotação ou número de dimensões a extrair. Foi identificado um fator com valor próprio

superior a 1 (Critério de Kaiser), o qual equivale ao valor: 2,868, explicando 47% da

variância total. O Critério de Cattell também oferece indicações acerca da dimensionalidade

unifatorial deste instrumento, conforme pode ser observado na distribuição gráfica (scree

plot) da Figura 11.

Figura 11. Representação gráfica do valor próprio da Escala de


Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas

Ao comparar os indicadores observados entre o critério de Kaiser e o Critério de

Cattell, é possível haver uma concordância entre tais indicadores, não restando dúvidas

quanto a interpretação de uma estrutura unifatorial da presente escala. Com base nisso,
P á g i n a | 142

realizou-se uma nova análise fatorial com método dos eixos principais, desta vez fixando-se

um fator e elegendo o ponto de saturação de 0,40 para que o item faça parte do componente.

Estes dados podem ser observados na Tabela 5.

Tabela 5. Estrutura fatorial da Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas

Cargas
Itens h2
Fatoriais
1. O consumo de drogas é um sinal de fraqueza de caráter. 0,72 0,44
2. As mulheres usuárias de drogas não se preocupam com seus 0,68
problemas; 0,38
3. As mulheres usuárias de drogas são pessoas moralmente 0,80
fracas. 0,53
4. As mulheres usuárias de drogas são pessoas sem 0,72 0,45
determinação.
5. As mulheres usuárias não querem parar de consumir drogas.
0,45 0,18

Número de itens 5
Valor próprio 2,868
Variância explicada (%) 47
Alfa de Cronbach (α) 0,81
.

Portanto, pode-se afirmar, com base na análise fatorial exploratória e no cálculo do

Alfa de Cronbach, que este instrumento apresenta evidências de validade fatorial e bons

indicadores de consistência interna, com identificação de um fator principal com variância de

47% e altas pontuações de cargas fatoriais presentes nos cinco itens do componente geral,

denominando de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas.

No entanto, ainda que sejam satisfatórios os parâmetros psicométricos ora

apresentados, reconhece-se a importância de uma replicabilidade da estrutura fatorial

proposta, por meio de uma nova análise com fins confirmatórios, que será exposta no Estudo

3.
P á g i n a | 143

d) Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EICSMUD)

Primeiramente, procurou-se comprovar a fatorabilidade da matriz de correlações entre

os itens da escala. Os resultados apoiaram a adequação de se utilizar uma análise fatorial

exploratória, tendo sido observados os seguintes índices que se mostraram adequados: KMO

= 0,88 e o Teste de Esfericidade de Bartlett, χ²(91) = 848,872; p < 0,001.

Realizou-se uma análise com o método dos eixos principais sem fixar, a priori, o

número de componentes a extrair ou o tipo de rotação; dessa forma, foram identificados três

componentes com valores próprios superiores a 1 (Critério de Kaiser), explicando 42% da

variância total com os seguintes valores: 5,064, 1,449 e 1,237. Porém, considerando o

Critério de Cattell, pode-se observar uma estrutura fatorial ambígua, conforme a distribuição

gráfica (scree plot) observada na Figura 12.

Figura 12. Representação gráfica dos valores próprios da Escala de Intenção de Contato
Social.
P á g i n a | 144

Tendo em vista essa ambiguidade, realizou-se a análise paralela visando não deixar

dúvidas quanto ao número de fatores a extrair; nesta análise, foram assumidos os mesmos

parâmetros do banco de dados original, isto é, 208 participantes e quatorze variáveis (ver

Tabela 6).

Tabela 6. Distribuição dos fatores de acordo com o critério de Kaiser e análise paralela sobre
a Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

Critério de Kaiser Análise Paralela


5,089 1,474
1,288 1,359
1,237 1,268

Contrastando os valores entre o critério de Kaiser e a Análise paralela, observou-se

que o critério de Kaiser apresentou valores superiores aos simulados, permitindo assim, a

identificação de apenas um fator pertencente a medida. Desse modo, optou-se por realizar

nova análise fatorial exploratória com o método dos eixos principais e dessa vez fixando-se

um único fator, tendo como ponto de saturação 0,40 para o item fazer parte do fator. Os

resultados são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7. Estrutura fatorial da Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres


Usuárias de Drogas

Itens Cargas h²
Fatoriais
1. Penso que o desemprego não se agravaria pela presença das 0,39 0,25
usuárias de drogas no Brasil.
2. Teria dificuldade em admitir como chefe de trabalho uma 0,63 0,41
usuária de drogas.
3. De modo geral, eu gosto do jeito de ser das mulheres usuárias 0,67 0,41
de drogas.
4. Ainda que não se fale, a presença de uma usuária de drogas 0,49 0,26
produz medo.
5. Acredito que os mesmos direitos que nós temos, as usuárias 0,28 0,09
de drogas também possuem
6. Por certas razões, não é aconselhado manter relacionamentos 0,61 0,38
com usuárias de drogas.
7. Teria amiga usuária de drogas. 0,63 0,37
8. No meu negócio, não contrataria mulheres usuárias de drogas. 0,74 0,54
9. Eu não gostaria que alguém da minha família se casasse com 0,76 0,59
P á g i n a | 145

uma mulher usuária de drogas.


10. Acho desnecessário o gasto de dinheiro público com 0,34 0,27
mulheres usuárias de drogas.
11. Não houve aumento da insegurança e do crime devido às 0,37 0,16
mulheres usuárias de drogas.
12. Não gostaria de ter como vizinha uma mulher usuária de 0,70 0,47
drogas.
13. Não seria bem visto (a) por meus amigos se me vissem sair 0,61 0,40
com uma mulher usuária de drogas
14. Certamente temos coisas para aprender com as usuárias de 0,40 0,29
drogas
Número de itens 13
Valor próprio 5,089
Variância explicada (%) 32%
Alfa de Cronbach (α) 0,85

A partir dessa solução unifatorial, percebe-se que o item 1 (Penso que o desemprego

não se agravaria pela presença das usuárias de drogas no Brasil), o item 5 (Acredito que os

mesmos direitos que nós temos, as usuárias de drogas também possuem), o item 10 (Acho

desnecessário o gasto de dinheiro público com mulheres usuárias de drogas) e por último o

item 11 (Não houve aumento da insegurança e do crime devido às mulheres usuárias de

drogas), foram excluídos da escala por não atingir a carga fatorial de 0,40, indicando que há

pouca correspondência com o fator geral da escala.

Portanto, constatou-se a identificação de um único componente contendo 10 itens (2,

3, 4, 6, 7, 8, 9, 12, 13 e 14) com saturações variando entre 0,40 a 0,76, sendo que os itens 3, 7

e 14 são invertidos. O presente fator geral foi denominado de Intenção de Contato Social

frente às Mulheres Usuárias de Drogas, e com base na análise fatorial exploratória e no

cálculo do Alfa de Cronbach, considerou-se os parâmetros satisfatórios e adequados para o

contexto universitário.

Contudo, reconhece-se aqui o caráter essencialmente exploratório da técnica estatística

empregada. Com isso, optou-se pela realização de uma nova análise de caráter confirmatório

para fins de testagem da estrutura da medida que será descrita no Estudo 3.


P á g i n a | 146

e) Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD)

Procurou-se primeiramente comprovar a fatorabilidade da matriz de correlações entre

os itens da escala. Os resultados apoiaram a adequação de se utilizar uma análise fatorial

exploratória, tendo sido observados os seguintes índices que se mostraram adequados: KMO

= 0,76 e o Teste de Esfericidade de Bartlett, χ²(36) = 407,18; p < 0,001.

Primeiramente, realizou-se uma análise com o método dos Eixos Principais sem fixar

o número de componentes a extrair ou o tipo de rotação, identificando-se dois componentes

com valor próprio superior a 1 (Critério de Kaiser), explicando 40% da variância total e com

os seguintes valores próprios: 3,321 e 1,430. Em concordância com o critério de Kaiser, o

critério de Cattell confirma a solução bifatorial, conforme a distribuição gráfica (scree plot)

observada na Figura 13.

Figura 13. Representação gráfica dos valores próprios da Escala de Exclusão Social frente às
Mulheres Usuárias de Drogas
P á g i n a | 147

Tendo em vista a comprovação da estrutura bifatorial da escala, realizou-se a análise

paralela visando não deixar dúvidas quanto ao número de fatores a extrair; nesta análise foram

assumidos os mesmos parâmetros do banco de dados original, isto é, 208 participantes e nove

variáveis (ver Tabela 8).

Tabela 8. Distribuição dos fatores de acordo com o critério de Kaiser e análise paralela
sobre a Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

Critério de Kaiser Análise Paralela


3,321 1,334
1,430 1,226

Ao se realizar um contraste ente o critério de Kaiser e a Análise paralela, observou-se

que o critério de Kaiser apresentou valores superiores aos simulados, identificando-se apenas

um fator pertencente a escala. Desse modo, optou-se pela realização de uma nova análise

fatorial exploratória com o método dos eixos principais e dessa vez fixando-se um fator, tendo

como ponto de saturação para o item fazer parte do fator 0,40. Os resultados são apresentados

na Tabela 9.

Tabela 9. Estrutura fatorial da Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de


Drogas

Itens Cargas h²
Fatoriais
1. A mulher usuária de drogas deve ser afastada da sociedade 0,59 0,35
2. As mulheres usuárias de drogas precisam ser tratadas em 0,72 0,52
hospitais fechados
3. As mulheres usuárias de drogas devem conviver livremente 0,66 0,38
na comunidade
4. As mulheres usuárias de drogas devem ser tratadas nos 0,40 0,25
serviços de saúde da comunidade
5. A internação em hospitais fechados deve ser o tratamento 0,59 0,35
priorizado para as usuárias de drogas.
6. Doentes mentais devem ser tratados em hospitais gerais. 0,42 0,17
7. As mulheres usuárias de drogas precisam viver com suas 0,56 0,33
famílias, em casa.
8. As mulheres usuárias de drogas devem ser internadas 0,60 0,30
P á g i n a | 148

compulsoriamente.
9. Os serviços substitutivos de saúde na comunidade CAPSad- 0,09 0,07
Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas são os
mais adequados para tratar as mulheres usuárias de drogas.
Número de itens 9
Valor próprio 3,338
Variância explicada (%) 37%
Alfa de Cronbach (α) 0,76
Nota: Elaborada pela pesquisadora.

Como pode ser observado na Tabela 8, o item 9 (Os serviços substitutivos de saúde na

comunidade CAPSad- Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e drogas, são os mais

adequados para tratar as mulheres usuárias de drogas) foi desconsiderado da escala, por não

atingir o ponto de saturação mínima de 0,40. A solução unifatorial da medida agrupou oito

itens com cargas fatoriais variando de 0,40 a 0,72, explicando 37% da variância total. Além

disso, o fator geral apresentou consistência interna (alfa de Cronbach) de 0,76 e foi

denominado de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas.

Em função do caráter essencialmente exploratório da presente análise, reconhece-se a

necessidade da realização de análises de validação confirmatória desta escala, a qual será

descrita a seguir no próximo estudo (Estudo 3).

4.2.3 Discussão Parcial

O estudo do preconceito e da discriminação frente à grupos considerados minoritários,

caracterizou-se pela pluralidade e multiplicidade de abordagens teóricas nas mais diversas

áreas, a exemplo da psicologia social, esta entendida enquanto referencial legítimo à análise

dos graves problemas sociais que assola a vida em sociedade (Álvaro & Garrido, 2006;

Ferreira, 2010). Imerso num contexto a nível macrossocial, vale destacar o consumo abusivo

de drogas por mulheres enquanto um fenômeno que carrega em suas entranhas signos e
P á g i n a | 149

símbolos que denotam relações de poder e hierarquias sociais; no entanto, o estudo acerca

deste tema de investigação, tem recebido pouca atenção de publicações nacionais e

estrangeiras, não sendo encontrado nenhum instrumento direcionado a mensuração do

preconceito e dos estereótipos de gênero frente a este grupo social. Neste sentido, este estudo

buscou de modo preliminar, reunir evidências de validade e precisão das medidas ora

empregadas, para que possam ser utilizadas no estudo subsequente e, assim, comprovar as

estruturas fatoriais encontradas nesta análise.

As medidas utilizadas neste estudo foram as seguintes: a Escala de Estereótipos

Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EEFMUD); a Escala de Percepção de

Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD); a Escala de Moralização frente

às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD); a Escala de Intenção de Contato Social frente

às Mulheres Usuárias de Drogas (EICSMUD); e por último a Escala de Exclusão Social

frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD).

No primeiro momento, foi realizada a construção da EEFMUD e as análises fatoriais

revelaram uma dimensão unifatorial da medida, tendo esta obtido índices psicométricos

superiores ao preconizado pela literatura, como por exemplo, o alfa de Cronbach superior a

0,70 e todas as cargas fatoriais superiores a 0,40 (Pasquali, 2003). Em face desses resultados,

sugere-se que tal instrumento concentra critérios adequados de utilização, no que visa

mensurar os estereótipos atribuídos às mulheres usuárias de drogas. No entanto, cabe

acrescentar que, ainda que o presente instrumento não tenha sido desenvolvido levando-se em

consideração uma teoria específica a respeito, os itens averiguados traduzem atributos

próximos da realidade brasileira, considerando que o conteúdo destes itens pode variar entre

culturas diferentes.
P á g i n a | 150

As análises subsequentes dizem respeito às adaptações das medidas ao contexto de

mensuração. No que se refere a EPAMUD, os parâmetros psicométricos observados se

comportaram de forma similar ou superior ao observado na versão original da medida (Maciel

et al., 2016), corroborando a dimensão unifatorial e apresentando excelentes índices de

consistência interna (α = 0,93).

Sobre as análises fatoriais referentes à EMMUD, estas sugeriram a

unidimensionalidade da medida. A estrutura fatorial ora encontrada, explica quase metade da

variância total das respostas aos itens e apresentou índices de consistência interna acima do

ponto de corte preconizado pela literatura (Pasquali, 2010). Com relação a EICSMUD, a

presente adaptação admitiu uma estrutura unifatorial, indicando haver apenas uma dimensão

para mensurar a intenção em manter contato social frente às mulheres usuárias de drogas.

Ademais, os índices observados na presente adaptação, considerando a versão proposta

contendo 10 itens, mostram-se como aceitáveis para fins de pesquisa com universitários, com

cargas superiores a 0,40, explicando quase um terço da variância total (33%) e valor de Alfa

de Cronbach considerado razoável.

Por último, as análises referentes a EESMUD mostrou parâmetros considerados

aceitáveis, como o cálculo da consistência interna (α = 0,76) atingindo pouco mais que o

limite considerado adequado pela literatura. Além disso, verificou-se um único fator

explicando 37% da variância, sendo a versão adaptada proposta composta por oito itens.

Embora alguns desses coeficientes não possam ser tidos enquanto ideais, segundo Nunnally

(1991), estes indicadores podem ser considerados adequados para fins de pesquisa, devido a

natureza “ampla” do construto avaliado e também pelo reduzido número de itens utilizados

para dimensiona-los (Clark & Watson, 1995).

É possível mencionar ainda que tais instrumentos apresentaram parâmetros de

validade satisfatórias, onde observou-se altas correlações entre os escores das medidas
P á g i n a | 151

EEFMUD, EPAMUD, EMMUD, EICSMUD e a EESMUD, corroborando a hipótese de que

estes construtos estariam associados ao contexto do preconceito e da exclusão social.

De modo geral e endossando os achados descritos, parece justificável afirmar que, ao

menos para o contexto universitário paraibano, as medidas ora analisadas apresentam

evidências de aceitabilidade dos parâmetros psicométricos. No entanto, estas análises prévias

carecem de maiores investigações quanto a natureza confirmatória das estruturas fatoriais,

tema este que será debatido no estudo subsequente.


ESTUDO 3
P á g i n a | 153

ESTUDO 3

4.3 Análises confirmatórias das medidas psicométricas

Após a conclusão do Estudo 3, o qual apontou indícios prévios de validade e precisão

das medidas empregas no presente trabalho, este estudo subsequente propõe comprovar tais

estruturas fatoriais encontradas. Com isso, objetiva-se testar as versões propostas dos

seguintes instrumentos: a Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de

Drogas (EEFMUD); a Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de

Drogas (EPAMUD); a Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EMMUD); a Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EICSMUD); e a Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EESMUD). Os achados referentes a testagem de tais medidas encontram-se descritos a

seguir.

4.3.1 Método

Tipo de estudo

A presente pesquisa é de cunho quantitativo, do tipo correlacional, enfatizando a

abordagem psicométrica dos dados. Considerando a natureza exploratória do estudo anterior

(Estudo 2), objetivou-se nesta pesquisa, reunir evidências mais robustas sobre os parâmentros

psicométricos das medidas previamente utilizadas.

Participantes e local

A amostra foi selecionada por conveniência, do tipo não probabilística e intencional,

totalizando 200 estudantes universitários de instituições públicas e privadas no Estado da

Paraíba. A idade dos participantes variou entre 17 e 51 anos (M= 21,98; DP= 4,76), sendo a
P á g i n a | 154

maioria do sexo feminino (59%). Os graduandos eram provenientes dos cursos de Ciências

Humanas (86%), Ciências Exatas (10,5%) e Ciências da Saúde (3,5%).

Instrumentos

Este estudo contou com cinco instrumentos psicométricos os quais foram detalhados

no estudo anterior:

a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EEFMUD);

b) Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EPAMUD);

c) Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD);

d) Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EICSMUD);

e) Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD);

Além disso, solicitou-se os dados dos universitários acerca do sexo, idade, curso e se

consideravam ou não usuários de algum tipo de droga (lícita ou ilícita), e ainda se conviviam

com pessoas próximas usuárias de drogas. Tais perguntas foram somente para caracterizar a

amostra do estudo.

Procedimento de coleta de dados e considerações éticas

Este estudo possui os mesmos procedimentos de coleta de dados e cuidados éticos

descritos no Estudo 2.
P á g i n a | 155

Análise dos dados

As análises foram possibilitadas por meio dos programas estatísticos SPSS - PASW

(Pacote Estatístico para Ciências Sociais) para Windows versão 21.0, para o cálculo de

estatísticas descritivas para caracterização da amostra; e o programa AMOS versão 18.0, o

qual foi empregado para realizar análises fatoriais confirmatórias, tendo em conta a matriz de

covariância como entrada e adotando o estimador Maximum Likelihood (ML). Os casos

omissos (missing data) foram substituídos pela média das respostas obtidas em cada item.

Para verificar a qualidade e o ajuste do modelo proposto e compará-lo com modelos

alternativos, tiveram-se em conta os seguintes indicadores (Pilati & Laros, 2007; Tabachnick

& Fidell, 2013):

- χ² (qui-quadrado) = Testa a probabilidade de o modelo teórico se ajustar aos dados;

quanto maior este valor, pior o ajustamento. Este, por ser sensível ao tamanho da amostra

(amostras grandes, isto é, n>200, podem favorecer descartar um modelo adequado), deve ser

interpretado com alguma reserva, valendo-se de sua razão em relação aos graus de liberdade

(χ²/gl). Este valor precisará ser preferencialmente entre 2 e 3, admitindo-se até 5.

- Goodness-of-Fit Index (GFI) = Este indicador, como sua versão ponderada (Adjusted

Goodness-of-Fit Index, AGFI), funciona como a estatística R2 na análise de regressão,

representando o quanto da matriz de variância-covariância dos dados pode ser explicada pelo

modelo teórico testado. Seus valores oscilam entre 0 (zero; ajuste nulo) e 1 (um; ajuste

perfeito), admitindo-se como aceitáveis aqueles próximos ou superiores a 0,90.

- Comparative Fit Index (CFI) = Compreende um indicador comparativo adicional de

ajuste do modelo. Seus valores variam de 0 (zero; ajuste nulo) e 1 (um; ajuste perfeito), sendo

admitidos os que são próximos ou superiores a 0,95 como indicativo de ajuste aceitável.

- Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA) = Este tem em conta intervalo

de confiança de 90% (IC90%), referindo-se aos residuais entre o modelo teórico estimado e os
P á g i n a | 156

dados empíricos obtidos. Valores altos são indicativos de um modelo não ajustado,

recomendando-se valores próximos ou inferiores a 0,05; 0,08 é um valor comumente aceito,

admitindo-se até 0,10 como referência de um modelo aceitável.

Na comparação dos modelos alternativos, além dos indicadores de ajuste apresentados

acima, também foram considerados os indicadores: CAIC (Consistent Akaike Information

Criterion) e ECVI (Expected Cross Validation Index); valores menores de CAIC e ECVI

sugerem um modelo mais adequado conforme De Bem et al. (2011).

4.3.2 Resultados

Para facilitar a compreensão dos leitores, os resultados referentes aos parâmetros

psicométricos complementares das medidas são apresentados de forma sistemática, a fim de

checar as evidências de adequação das estruturas fatoriais encontradas no estudo anterior.

Estes dados dizem respeito aos achados obtidos a partir das Análises Fatoriais Confirmatórias

(AFC), além da testagem de diferentes modelos alternativos na intenção de propor versões das

medidas pscicometricamente adequadas no contexto para o qual se desenvolve a presente tese.

Nesta seção, os dados seguem distribuídos na seguinte sequência: a Escala de Estereótipos

Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EEFMUD); a Escala de Percepção de

Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD); a Escala de Moralização frente

às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD); a Escala de Intenção de Contato Social frente às

Mulheres Usuárias de Drogas (EICSMUD); e a Escala de Exclusão Social frente às Mulheres

Usuárias de Drogas (EESMUD). Além disso, será apresentada uma discussão parcial acerca

destes resultados complementares para então dar seguimento ao Estudo 4, no qual serão

conhecidas as relações entre as variáveis investigadas e a testagem do modelo.


P á g i n a | 157

a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EEFMUD)

A estrutura unifatorial da Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres

Usuárias de Drogas foi submetida a uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC) pelo método

de estimação Maximum Likelihood (ML), procurando verificar sua qualidade de ajuste.

Inicialmente testou-se o modelo unidimensional, o qual emergiu na Análise Fatorial

Exploratória (AFE) do Estudo 2 (Modelo 1), sendo observado índices de ajustes considerados

não aceitáveis, o que motivou a testagem com outro modelo alternativo, comparando-o ao

modelo de referência. Tal modelo foi testado mantendo-se a estrutura unifatorial conhecida

empiricamente no estudo anterior, no entanto recorreu-se a redução dos itens 2 (forte/frágil),4

(alegre/triste), 12 (maternal/não maternal) e o item 14 (familiar/não familiar), denominado de

Modelo 2, composto por 10 itens; o critério usado para exclusão dos itens foi a menor carga

fatorial apresentada na análise fatorial exploratória (Tabachnick & Fidell, 2013). Essas

análises comparativas entre os modelos podem ser visualizadas na Tabela 10.

Tabela 10. Índices de bondade de ajuste para os modelos testados da Escala de


Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas

χ² χ²/gl GFI AGFI CFI RMSEA ECVI CAIC


(gl) (IC -90%)
Modelo 262,15 3,40 0,84 0,78 0,86 0,10 1,53 439,60
1 (77) (0,09-0,12)

Modelo 96,98 2,77 0,91 0,86 0,93 0,09 0,66 223,79


2 (35) (0,07-0,11)
Nota. Modelo 1= Unifatorial; Modelo 2 = Sem os itens 2, 4, 12 e 13.

De acordo com os índices de ajuste apresentados na Tabela 9, tendo em mente a

comparação com o modelo principal sugerido pela análise exploratória (Modelo 1), o Modelo

2 apresentou melhores indicadores de ajuste que os demais [χ²/gl = 2,77, GFI = 0,91, AGFI =

0,86, CFI = 0,93 e RMSEA = 0,09 (IC90% = 0,07 – 0,11)]. Cabe acrescentar que os índices

complementares ECVI e CAIC, cuja literatura aponta que menores valores denotam melhor ajuste
P á g i n a | 158

do modelo aos dados (Tabachnick & Fidell, 2013), também foram considerados aceitáveis para

fins de pesquisa.

A fim de verificar se há diferença significativa de qualidade do ajustamento dos

modelos, optou-se por efetuar o teste da diferença de qui-quadrado (Δχ²). Os resultados

obtidos ∆χ² (1) = 115,17, (p<0,01) na comparação dos modelos 1 e 2 evidenciam uma

superioridade estatisticamente significativa para o Modelo 2, assumindo o pressuposto de

invariância do modelo (Damásio, 2013). Na Figura 14 é apresentada a estrutura fatorial deste

modelo.

Figura 14. Estrutura unifatorial do modelo da Escala de Estereótipos Femininos frente às


Mulheres Usuárias de Drogas

Observou-se que todas as saturações (λ, lambdas) foram estatisticamente diferentes de

zero (λ≠ 0; z>1,96, p<0,05), variando de 0,55 a 0,83, com uma saturação média de 0,69.

Diante dos resultados apresentados, verificou-se a adequabilidade do modelo unidimensional


P á g i n a | 159

da Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas, a qual apresenta

indicadores satisfatórios de validade de construto e consistência interna (α = 0,91).

Com vistas a corroborar a qualidade da medida no que concerne a precisão,

empreendeu-se o cáculo da confiabilidade composta – CC (Composite Reliability), sendo este

aceitável quando atinge pelo menos o ponto de corte de 0,70 (> 0,70) (Hair et al., 2009). O

valor CC obtido foi superior ao mínimo proposto o qual foi 0,90, indicando uma boa

confiabilidade do construto.

b) Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD)

Levando-se em conta os achados da análise exploratória realizada no Estudo 2,

procedeu-se uma análise fatorial confirmatória, com vistas a dirimir dúvidas quanto a

estrutura dimensional da presente medida. Considerando a matriz de covariância e adotando-

se o estimador Maximum Likelihood, testou-se a estrutura unifatorial da EPAMUD, isto é,

com todos os doze itens saturando em um único fator.

Os indicadores de ajuste apresentados para o modelo de referência (Modelo 1), isto é,

aquele obtido a partir da análise exploratória, contendo 12 itens, mostraram-se insatisfatórios

no que se refere a aceitabilidade dos parâmetros psicométricos, o que motivou a comparação

com outros modelos alternativos. Optou-se por comparar com um modelo contendo 10 itens

(Modelo 2), excluindo-se dois itens de menor carga fatorial: o item 5 (A mulher usuária de

drogas é capaz de cometer qualquer ato para manter o vício) e o item 12 (As mulheres

usuárias de drogas roubam para manter o vício). Comparou-se ainda com o Modelo 3,

seguindo a estrutura de 10 itens e considerando a alta covariação de erro de medida (Deltas, δ)

entre os itens 4 (Tenho medo das mulheres usuárias de drogas) e 6 (Quando uma mulher
P á g i n a | 160

usuária de drogas se aproxima tenho vontade de fugir). Estas análises estão dispostas de

modo comparativo na Tabela 11.

Tabela 11. Índices de Ajuste de Modelo da Escala de Percepção de Ameaça frente às


Mulheres Usuárias de Drogas

χ² χ²/gl GFI AGFI CFI RMSEA ECVI CAIC


(gl) (IC - 90%)
Modelo 1 192,89 3,57 0,85 0,79 0,89 0,14 1,211 344,05
(24) (0,09 - 0,13)

Modelo 2 131,09 3,74 0,88 0,81 0,90 0,11 0,860 257,063


(35) (0,09 - 0,13)

Modelo 3 101,71 2,99 0,90 0,85 0,93 0,10 0,722 233,97


34 (0,07 - 0,12)
Nota. Modelo 1 = Unifatorial com 12 itens; Modelo 2 = Unifatorial sem os itens 5 e 12; Modelo 3 =
Unifatorial com 10 itens e covariação entre os itens 4 e 5.

Tomando como base os índices visualizados na Tabela 11, o Modelo 3 foi o que

apresentou melhor adequação de ajuste de bondade para a presente medida: χ² (34) = 101,7 p

< 0,05, χ²/gl = 2,99, GFI = 0,90, AGFI = 0,85; CFI = 0,93; RMSEA = 0,10 (IC90% = 0,07 -

0,12), ECVI = 0,722 e CAIC = 233,97. Na Figura 15 é apresentada a estrutura fatorial:


P á g i n a | 161

Figura 15. Estrutura fatorial do modelo unidimensional da Escala de Percepção de Ameaça


frente às Mulheres Usuárias de Drogas.

Todas as saturações (λ, lambdas) foram estatisticamente diferentes de zero (λ≠ 0;

z>1,96, p<0,05), variando de 0,57 a 0,80, com uma saturação média de λ = 0,70. Ademais, foi

apresentado indicadores de consistência interna superiores ao indicado pela literatura, com

alfa de Cronbach α = 0,91. Outro indicador de validade de construto foi verificado por meio

do cálculo da confiabilidade composta, onde o índice observado (= 0,91) foi superior ao valor

mínimo aceito pela literatura, comprovando haver qualidade na medida ora analisada. Diante

destes resultados, o presente modelo unidimensional da EPAMUD mostrou-se mais

parcimonioso, possibilitando a sua utilização em análises subsequentes.

c) Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD)

Com base nos achados da análise exploratória descrita anteriormente (Estudo 2),

procedeu-se uma análise fatorial confirmatória considerando a matriz de covariância e

empregando o estimador Maximum Likelihood. Os indicadores de ajuste de bondade

apresentados pelo modelo unifatorial não deixou dúvidas quanto à adequabilidade da estrutura

fatorial proposta, evidenciando os seguintes índices: χ² (10) = 7,595 p < 0,05, χ²/gl = 1,51;

GFI = 0,98; AGFI = 0,95; CFI = 0,99; RMSEA = 0,05 (IC90% = 0,000-0,119),]. Um resumo

desse modelo pode ser observado na Figura 16.


P á g i n a | 162

Figura 16. Estrutura unifatorial da Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias


de Drogas

Analisando os resultados, percebe-se que o modelo unifatorial, como esperado,

mostrou indicadores de ajuste de bondade considerado satisfatórios, com todos os itens da

escala obtendo saturações (peso fatorial, λ) estatisticamente diferentes de zero (λ≠ 0; z>1,96,

p<0,05), variando entre 0,54 a 0,82 (média de λ = 0,74). Ademais, os indicadores de validade

de construto e de consistência interna obtidos foram consideradas aceitáveis (α = 0,85), assim

como o cáculo de confiabilidade composta, tendo apresentado o valor de 0,86, considerado

acima do índice mínimo preconizado (> 0,70) (Hair et al., 2009). Estes achados nos permitem

concluir que a presente medida se apresentou adequada para o contexto de pesquisa

universitário.

d) Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EICSMUD)

Para testar a estrutura unidimensional previamente descrita para a EICSMUD,

efetuou-se uma Análise Fatorial Confirmatória (CFA) considerando a matriz de covariância e


P á g i n a | 163

empregando o estimador Maximum Likelihood. Inicialmente, teve-se em conta a estrutura

sugerida no Estudo 2, denominado de Modelo 1, onde foi possível observar índices

considerados aceitáveis, porém os itens 3 (λ =0,39) e o item 12 (λ= 0,37), apresentaram

saturações abaixo do preconizado pela literatura (Bichler-Robertson et al., 2003). Para fins de

comparação, optou-se pela testagem do modelo sugerido retirando os itens 3 e 12, chamado

de Modelo 2. Os índices de ajuste para os dois modelos testados são apresentados na Tabela

12.

Tabela 12. Índices de Ajuste do Modelo Testado da Escala de Intenção de Contato


Social

χ² χ²/gl GFI AGFI CFI RMSEA ECVI CAIC


(gl) (IC - 90%)
Modelo 103,90 2,96 0,90 0,84 0,90 0,09 0,720 229,97
1 (35) (0,078-0,122)
Modelo 52,90 2,64 0,93 0,88 0,94 0,09 0,425 153,75
2 (20) (0,061-0,121)
Nota: Modelo 1 = Unifatorial; Modelo 2 = Unifatorial sem os itens 3 e 12;

Os índices observados na Tabela 11 revelam a melhor adequação de bondade de ajuste

para o Modelo 2, tendo obtido resultados superiores ao modelo de referência: χ² (20) = 52,90

p < 0,05, χ²/gl = 2,64, GFI = 0,93, AGFI = 0,88; CFI = 0,94; RMSEA = 0,09 (IC90% = 0,061

- 0,121), ECVI = 0,425 e CAIC = 153,75; sendo ainda significativa a diferença de qui-

quadrado entre os modelos (Δχ² (1) = 51; p < 0,001). A estrutura fatorial referente a este

modelo é apresentada a seguir, na Figura 17.


P á g i n a | 164

Figura 17. Estrutura fatorial da Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres
Usuárias de Drogas

A visualização acima (Figura 15) revela uma estrutura unidimensional da EICSMUD,

composta por oito itens, tendo as saturações (λ, lambdas) variando entre 0,48 à 0,82, ambas

estatisticamente diferentes de zero (λ≠ 0; z>1,96, p<0,05) e atingindo a média de λ = 0,66. O

coeficiente de consistência interna, alfa de Cronbach (α = 0,86), foi considerado aceitável de

acordo com o valor preconizado pela literatura. Um segundo indicador de validade foi

empreendido, o cáculo de confiabilidade composta, e neste, o coeficiente obtido (= 0,86)

revelou superioridade ao ponto de corte estabelecido pela literatura, o qual propõem valores

acima de 0,70 (Hair et al., 2009). Neste sentido, conclui-se o presente instrumento satisfaz os

critérios de aceitabilidade, demarcando bons índices de validade de construto e de

consistência interna.
P á g i n a | 165

e) Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD)

Para realizar a Análise Fatorial Confirmatória, considerou-se a matriz de covariância,

adotando-se o estimador ML. De acordo com os resultados obtidos, o modelo de referência

(Modelo 1) anteriormente descrito no Estudo 2, apresentou índices de ajuste considerados

insatisfatórios, o que motivo a comparação com outro modelo alternativo. Para o Modelo 2,

optou-se pela retirada do item 4 (As mulheres usuárias de drogas devem ser tratadas nos

serviços de saúde da comunidade), pois apresentou baixa carga de saturação (λ = 0,36). A

comparação dos indicadores de ajustes para os dois modelos está disposta na Tabela 13.

Tabela 13. Índices de ajuste do modelo testado da Escala de Exclusão Social frente às
Mulheres Usuárias de Drogas

χ² χ²/gl GFI AGFI CFI RMSEA ECVI CAIC


(gl) (IC - 90%)
Modelo 1 67,35 3,36 0,90 0,83 0,87 0,109 0,497 168,20
(20) (0,081-0,138)
Modelo 2 41,95 2,99 0,93 0,87 0,91 0,100 0,350 130,19
14 (0,066-0,135)
Nota: Modelo 1 = unifatorial com 8 itens; Modelo 2 = unifaotiral com 7 itens.

Como observado nos dados relatados na Tabela 13, o Modelo 2 mostrou-se superior ao

modelo de referência, levando-se a aceitar a estrutura unifatorial da EESMUD, composta por

sete itens, sendo os itens 3, 6 e 7 são invertidos. Além disso, todos os itens saturaram

estatisticamente diferentes de zero (λ ≠ 0; z > 1,96, p < 0,001), situando-se no intervalo de

0,40 a 0,75, com coeficiente médio de 0,59. Os lambdas ou as saturações dos valores podem

ser verificados na Figura 18.


P á g i n a | 166

Figura 18. Estrutura fatorial da Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de
Drogas

De acordo com estes achados, parece existir evidências favoráveis para se aceitar a

estrutura unifatorial da EESMUD, tendo em conta os indicadores considerados aceitáveis

apresentados pela presente análise (por exemplo, χ² (14) = 41,95 p < 0,05, χ²/gl = 2,99, GFI =

0,93, AGFI = 0,87; CFI = 0,91; RMSEA = 0,10 (IC90% = 0,066 - 0,135). Teve-se em conta

ainda os indicadores ECVI = 0,350 e CAIC = 130,19, cuja literatura aponta que os menores

valores denotam melhor ajuste do modelo aos dados (Tabachnick & Fidell, 2013), sendo

observada ainda uma diferença significativa na comparação de qui-quadrado entre os dois

modelos (Δχ² (1) = 25,4; p < 0,001), compravando a superioridade do segundo modelo.

Ademais, a estrutura unifatorial contendo sete itens obteve índice de confiabilidade

considerado aceitável, como o alfa de Crombach de 0,75, além do coeficiente de

confiabilidade composta (= 0,79) também aceitável pela literatura (Hair et al., 2009). De

posse destes dados, conclui-se, que a EESMUD consiste numa medida psicometricamente
P á g i n a | 167

adequada para avaliação da exclusão social frente às mulheres usuárias de drogas no contexto

universitário paraibano.

4.3.3. Discussão parcial

Este estudo teve como objetivo principal replicar os achados descritos no Estudo 2,

considerando a testagem em outra amostra diferente de estudantes universitários no contexto

paraibano. De modo particular, procurou reunir evidências confirmatórias acerca dos

parâmetros psicométricos dos seguintes instrumentos: a Escala de Estereótipos Femininos

frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EEFMUD); a Escala de Percepção de Ameaça

frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD); a Escala de Moralização frente às

Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD); a Escala de Intenção de Contato Social frente às

Mulheres Usuárias de Drogas (EICSMUD); e por último a Escala de Exclusão Social frente

às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD). Estes resultados dizem respeito aos dados

obtidos utilizando a Modelagem por Equações Estruturais (MEE).

A respeito da testagem fatorial da EEFMUD apresentada neste estudo, os resultados

dão suporte para a versão inicialmente proposta, no que concerne a unidimensionalidade da

medida. O instrumento composto por 10 itens, culminou numa versão mais parcimoniosa,

com melhores indicadores de ajuste e confiabilidade, considerados adequados para o contexto

desta pesquisa. A construção e validação fatorial da presente escala, representa um avanço na

diminuição da lacuna existente acerca da temática dos estereótipos sobre a mulher no contexto

de uso de drogas. Além disso, constitui-se enquanto um contributo importante nos estudos da

estereotipização de gênero, considerando que tais traços estereotípicos estão associados às

expectativas de comportamentos considerados aceitáveis para o feminino na sociedade

(Amâncio, 2010; Natividade et al., 2014), e por isso podem influenciar de maneira

significativa na expressão do preconceito frente às mulheres usuária de drogas, tendo impacto


P á g i n a | 168

na imagem que se tem dessas mulheres, relativamente à sua incapacidade para assumir os seus

papéis sociais e a sua própria subjetividade feminina.

Com relação às evidências de validade de construto e consistência interna da

EPAMUD, constatou-se que os índices da presente adaptação se mostraram estáveis, quando

comparado com a versão original da medida, proposta por Maciel et al. (2016, no prelo),

permanecendo bons indicadores de adequabilidade psicométrica à pesquisa no contexto de

universitários brasileiros. O estudo sobre a percepção de ameaça física, voltada para

periculosidade das pessoas usuárias de drogas, tem sido alvo de diversos estudiosos da área

(Fortney et al., 2004; Shomerus et. Al., 2010). Sobre esse aspecto, cabe destacar que a

presente medida apresenta suporte de mensuração para se testar a hipótese de que o

preconceito direcionado às mulheres usuárias de drogas também se expressaria por meio da

percepção de ameaça realista, provocando comportamento de distanciamento social à fonte de

ameaça (Cottrell & Neuberg, 2005)

Quanto à dimensionalidade da EMMUD, tanto as técnicas de análises fatoriais

exploratórias quanto confirmatórias atestaram a adequabilidade do modelo unifatorial

composto por cinco itens, mostrando-se consistentes com a versão original da escala proposta

para o contexto de moralização ao uso de álcool (Ronzani, Furtado & Higgins Biddle, 2009).

Neste sentido, o presente instrumento apresenta índices psicométricos satisfatórios para fins

de pesquisa, e além disso, mostra-se em consonância com outros estudos que apontam para

evidência de que o uso de drogas é uma das condições mais moralizadas, quando comparada a

outros problemas de saúde (Corrigan et al., 2005; Palm, 2006).

Outra medida alvo de testagem confirmatória no que confere a validade fatorial foi a

adaptação da EICSMUD. Como previamente descrito pela análise exploratória, a estrutura

unidimensional da presente medida foi comprovada na análise confirmatória subsequente,


P á g i n a | 169

tendo este instrumento oferecido suporte de aceitabilidade dos indicadores psicométricos no

contexto universitário. Não obstante, embora os autores originais da escala (Martínez & Vera,

1994) tenham criado os itens tendo por base dois fatores distintos, inspirados na Escala de

Bogardus, os quais avaliam a intenção em manter contato social superficial ou relações

íntimas no contexto da imigração, a presente adaptação para o contexto das mulheres usuárias

de drogas demonstrada neste estudo, mostrou-se mais parcimoniosa no tocante a estrutura, a

qual sugeriu a unidimensionalidade da EICSMUD, composta por oito itens, os quais

mensuram de modo geral a intenção de manter contato frente este grupo social.

Por fim, as análises fatoriais confirmatórias referentes à EESMUD possibilitaram

comprovar evidências da adequação da estrutura unifatorial para mensurar a exclusão social

frente às mulheres usuárias de drogas, uma vez que originalmente esta medida foi

desenvolvida por Maciel et al., (2016, no prelo) para avaliar a exclusão social no contexto da

doença mental. A versão ora adaptada apontou um modelo mais parcimonioso, com reduzido

número de itens, os quais reuniram evidências de adequabilidade ao presente contexto de

pesquisa.

Diante do exposto, os resultados apontaram evidências complementares de validade e

precisão das medidas empregadas, e de posse desses achados, o Estudo 4 permitirá conhecer

as relações entre esses construtos com as variáveis de interesse.


ESTUDO 4
P á g i n a | 171

ESTUDO 4

4.4 Modelo Explicativo da Exclusão Social de Mulheres Usuárias de Drogas a partir das

medidas do preconceito e dos Estereótipos de Gênero

Ainda que significativos estudos evidenciem uma clara associação entre consumo de

drogas por mulheres e uma produção massiva de categorias que hostilizam, por meio de

insultos e estigmas (Bungay et al., 2010; Cardoso & Manita, 2004; Marangoni & Oliveira,

2013; Medeiros et al., 2015; Medeiros et al., 2017), é escasso o conhecimento sobre os fatores

subjacentes às dificuldades de inserção e/ou reinserção social das mulheres

toxicodependentes, processo esse concebido como exclusão social. Neste sentido, a rejeiço

social frente este grupo social parece ter um papel preponderante nesse processo, amplificada

pelas imagens pouco positivas veiculadas. Portanto, torna-se pertinente conhecer a relação

entre os estereótipos de gênero e as atitudes frente à percepção de ameaça, à moralização, à

intenção de contato social e com o contruto da exclusão social. Por sua vez, objetiva-se

dimensionar o quanto as medidas de estereótipos de gênero, as atitudes frente à percepção de

ameaça, à moralização e à intenção de contato social explicam a Exclusão Social. Busca-se

por meio dessas associações, propor um modelo explicativo da exclusão social de mulheres

usuárias de drogas com base no preconceito e nos estereótipos de gênero.

4.4.1 Método

Delineamento e Hipóteses

Consiste em um estudo de cunho quantitativo e do tipo correlacional, considerando

medidas ex post facto. Considerou-se enquanto variável critério as atitudes frente à exclusão

social de mulheres usuárias de drogas, e como variáveis antecedentes foram: os estereótipos


P á g i n a | 172

femininos; atitudes frente à percepção de ameaça; atitudes frente à moralização; e a

disposição em manter contato social. A partir da contextualização teórica lançada no marco

teórico deste trabalho de tese, foram formuladas duas principais hipóteses de pesquisa:

 H1: As pontuações nas medidas de estereótipos de gênero, de percepção de ameaça, de

moralização e de intenção de contato social se correlacionarão positivamente com a

exclusão social;

 H2: As variáveis de estereótipos de gênero, a percepção de ameça, a moralização e a

intenção de contato social irão predizer significativamente a exclusão social;

Participantes e local

A amostra foi selecionada por conveniência, do tipo não probabilística e intencional,

totalizando 400 estudantes universitários de instituições públicas e privadas no Estado da

Paraíba. A idade dos participantes variou entre 18 e 51 anos (M= 22,20; DP= 5,22), sendo a

maioria do sexo feminino (61,5%). Os graduandos eram provenientes dos cursos de Humanas

(70,8%), Exatas (16,8%) e Saúde (14,3%). 17% se auto considera usuário de drogas e deste

10% afirma ser o álcool a substância de uso; ademais, 34,5% afirmou conviver com parentes

de primeiro grau usuários de drogas.

Instrumentos

Os participantes responderam perguntas com características sociodemográficas (como

idade, sexo, curso e se auto consideravam usuários de algum tipo de droga, lícita ou ilícita).

Além disso, contou com cinco medidas psicométricas descritas no Estudo 3:


P á g i n a | 173

a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EEFMUD);

b) Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EPAMUD);

c) Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD);

d) Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas

(EICSMUD);

e) Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD);

Procedimento de coleta de dados e considerações éticas

Este estudo possui os mesmos procedimentos de coleta de dados e cuidados éticos

descritos nos estudos anteriores (Estudos 2 e 3).

Análise dos dados

As análises foram possibilitadas por meio dos programas estatísticos PASW para

Windows versão 21.0, o qual permitiu calcular estatísticas descritivas (média, desvio padrão,

análise de frequência) além das análises de correlações de Pearson; e o programa AMOS

versão 18.0, o qual permitiu realizar Path Analysis (análise de caminhos) a fim de testar os

modelos explicativos da exclusão social frente às mulheres usuárias de drogas.

4.4.2 Resultados

Os resultados são apresentados seguindo a ordem das análises realizadas, bem como a

ordem das hipóteses levantadas neste estudo. Inicialmente seguem os dados referentes a

estatísticas descritivas e os correlatos entre as medidas de estereótipos de gEnero e as atitudes

frente à percepção de ameaça, a moralização, a intenção de contato social e a de exclusão


P á g i n a | 174

social frente às mulheres usuárias de drogas. Em um segundo momento, serão apresentados os

dados provenientes da testagem do modelo explicativo

4.3.2.1 Estatísticas descritivas e Correlatos das medidas de Estereótipos femininos,

Percepção de Ameaça, Moralização e Intenção de Contato social com a medida de Exclusão

social

De modo inicial, calculou-se a estatística descritiva das medidas empregadas no

presente estudo (médias e desvios padrão), sendo os dados reportados na Tabela 14. Como

visto, os Estereótipos de gênero (M=4,96; DP=0,98) e a Moralização (M=3,35; DP=1,39),

foram, respectivamente, as variáveis que obtiveram maior pontuação média dos respondentes,

enquanto que a Exclusão Social (M=2,52; DP= 0,75) foi a menos endossada pelos

participantes.

Tabela 14. Estatísticas descritivas e correlações bivariadas entre as variáveis do Estudo 4 (N


= 400).

Variáveis M DP 1 2 3 4 5
1. Estereótipos femininos 4,96 0,98 1
2. Percepção de ameaça 2,87 0,84 0,58** 1
3. Moralização 3,35 1,39 0,49** 0,62** 1
4. Intenção de contato social 3,16 0,80 0,59** 0,74** 0,58** 1
5. Exclusão social 2,52 0,75 0,46** 0,62** 0,62** 0,55** 1

Nota. ** p < 0,01. Identificação das variáveis: 1 = Estereótipos Femininos; 2= Percepção de ameaça; 3=
Moralização; 4= Intenção de Contato Social; 5= Exclusão Social.

No que diz respeito aos dados da Tabela 14, como preconizado a partir das teorias

subjacentes expressas no presente trabalho, observaram-se correlações (r de Pearson)

estatisticamente significativas entre todas as variáveis do estudo. Com referência ao escore

global da medida de exclusão social (variável critério), este correlacionou-se positivamente


P á g i n a | 175

com ambas as variáveis preditoras: estereótipos femininos (r = 0,46; p< 0,01); a percepção de

ameaça (r = 0,62; p< 0,01); a moralização (r = 0,62; p< 0,01); e a intenção de contato social (r

= 0,55; p< 0,01); ademais, a força das correlações observadas foi considerada de moderada a

alta, reunindo, portanto, evidências conclusivas sobre a associação entre as variáveis,

corroborando a primeira hipótese de pesquisa (H1), de que as medidas (estereótipos

femininos; percepção de ameaça; moralização; intenção de contato social) estariam associadas

ao construto da exclusão social frente às mulheres usuárias de drogas.

Em um segundo momento, decidiu-se buscar evidências mais robustas de explicação

do fenômeno levantado e, tomando por base as correlações realizadas, decidiu-se avaliar em

que medida tais variáveis preditoras explicaria a exclusão social das mulheres usuárias de

drogas. Deste modo, procedeu-se uma análise de regressão múltipla, tendo como variáveis

preditoras os Estereótipos femininos, a Percepção de ameaça, a moralização e a Intenção de

contato social, e como variável critério, a exclusão social. A propósito, tal modelo preditivo

revelou que apenas os estereótipos femininos, a percepção de ameaça e a moralização

mostraram-se preditores estatisticamente significativos da exclusão social, obtendo 48% da

variabilidade explicada pelas variáveis antecedentes [F (3, 126) = 0,48, p < 0,01], apresentado

os seguintes pesos de regressão: ß = 0,08 (Estereótipos femininos, p< 0,01); ß = 0,34

(Percepção de ameaça, p< 0,01); e ß = 0,37 (Moralização, p< 0,01).

Tendo em conta tais achados e considerando os resultados anteriores, os quais

revelaram correlações moderadas da variável intenção de contato social com todas as demais

medidas do presente estudo, decidiu-se testar a hipótese de possível relação de mediação da

variável mencionada, com vistas a testar o melhor modelo preditivo da Exclusão Social frente

às Mulheres Usuárias de Drogas, por meio da Structural Equation Modeling (SEM).


P á g i n a | 176

4.3.2.2 Testagem do modelo explicativo da Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de

Drogas com base no Preconceito e nos Estereótipos de Gênero

Com base nas hipóteses formuladas, é possível pensar num modelo explicativo da

exclusão social frente mulheres usuárias de drogas com base nas evidências levantadas

anteriormente no presente estudo, por meio do método Path Analysis (Análises de caminho).

Para tanto, decidiu-se verificar a adequação de um modelo mais parcimonioso a partir da

testagem de três alternativas explicativas: (1) Efeitos diretos dos Estereótipos, da Moralização

e da Percepção de Ameaça na Exclusão Social; (2) Efeitos diretos e indiretos dos

Estereótipos, da Moralização e da Percepção de Ameaça na Exclusão Social, por meio da

mediadora Intenção de Contato Social; e (3) Efeito de mediação simples dos Estereótipos, da

Percepção de Ameaça e da Moralização na variável Exclusão Social, a partir da Intenção de

Contato Social. As análises referentes aos modelos seguem apresentadas adiante.

Inicialmente verificaram-se efeitos diretos dos Estereótipos, da Percepção de Ameaça

e da Moralização na variável Exclusão Social. As análises mostraram que apenas a Percepção

de Ameaça λ = 0,35 (IC 90% = 0,31/ 0,04) p< 0,001 e da Moralização λ = 0,37 (IC 90% =

0,20/ 0,02) apresentaram efeito significativamente estatístico na Exclusão social. O modelo

correspondente é apresentado na Figura 19 abaixo.


P á g i n a | 177

Figura 19. Efeitos diretos dos Estereótipos femininos, Percepção de Ameaça e Moralização
na Exclusão Social das Usuárias de Drogas

Em seguida, testou-se o modelo com efeitos diretos e indiretos dos Estereótipos, da

Percepção de Ameaça e Moralização na Exclusão Social, a partir da mediação da Intenção de

Contato Social. Com relação aos efeitos diretos na exclusão social, foram estatisticamente

significativos o efeito da Percepção de Ameaça λ = 0,32 (IC 90% = 0,28; 0,05) p< 0,001 e da

moralização λ = 0,36 (IC 90% = 0,19; 0,02) p< 0,001. Posteriormente, verificou-se

paralelamente o efeito indireto dos Estereótipos, da Percepção de Ameaça e da Moralização,

inserindo a variável mediadora (Intenção de Contato Social), não sendo observado valor

estatisticamente significativo. O modelo é apresentado na Figura 20 a seguir.


P á g i n a | 178

Figura 20. Efeitos diretos e indiretos dos Estereótipos, da Percepção de Ameaça e da


Moralização na Exclusão Social mediada pela Intenção de Contato Social

Em continuidade, testou-se o modelo de mediação simples, tendo a Intenção de

Contato Social como mediadora dos efeitos dos Estereótipos, da Percepção de Ameaça e da

Moralização na variável Exclusão Social. A partir desse modelo proposto, e considerando o

método de Bootstrap com 5000 re-amostragens, verificou-se que todos os valores foram

estatisticamente significativos, obtendo os seguintes efeitos indireto dos Estereótipos, da

Percepção de Ameaça e da Moralização na variável critério (Exclusão social): λ = 0,55, IC

90% = 0,51/ 0,03, p < 0,01; observou-se ainda os seguintes valores de efeitos direto

estatisticamente significativos dos Estereótipos (λ = 0,21, IC 90% = 0,17/ 0,03, p < 0,01); da

Percepção de Ameaça (λ = 0,53, IC 90% = 0,50/ 0,04, p < 0,01); e da Moralização (λ = 0,15,

IC 90% = 0,08/ 0,02, p < 0,01). Além disso, o efeito da mediadora – Intenção de Contato

Social – na variável critério foi λ = 0,55, IC 90% = 0,51/ 0,03, p < 0,001. Estes valores podem

ser visualizados na Figura 21.


P á g i n a | 179

Figura 20. Modelo de mediação dos Estereótipos femininos, da Percepção de Ameaça e da


Moralização na Exclusão Social por meio da Intenção de Contato Social

Diante do exposto e considerando os índices observados entre os três modelos, o

modelo de mediação simples (Modelo 3) teve o melhor ajustamento, pois se deu na direção

esperada, expressando alta aptidão e compatibilidade com as relações que foram elaboradas

baseadas na teoria, o que pode ser considerada uma explicação plausível para as relações

encontradas entre as variáveis abordadas no presente estudo.

Neste sentido, é possível afirmar que o presente modelo explicativo da Exclusão

Social obteve efeitos estatisticamente significativos dos Estereótipos, da Percepção de

Ameaça e da Moralização na Exclusão Social de usuárias de drogas, mediada pela Intenção de

Contato Social.

4.4.3 Discussão Geral

Como todos os assuntos que exigem imersão na realidade social, o tema da exclusão

social vivenciada pelas mulheres usuárias de drogas, para ser compreensível do modo mais
P á g i n a | 180

amplo e profundo possível, exige o conhecimento do modo como os mecanismos operantes de

“classificação/desclassificação” são empreendidos e naturalizados nas relações

socioestruturantes. Em um país marcado pela desigualdade abissal como o Brasil, além da

distinção pela ótica hierárquica e naturalizadora da categoria primitiva do sexo, em homens e

mulheres, tem-se acrescida uma outra forma de perceber e sentir o feminino na questão das

drogas, a qual é visualizada a partir da fronteiriça distinção entre “normal” e “patológico” e

entre a lógica de “mulher boa e virtuosa” e àquela considerada “desviante”. Este arcabouço

implícito de reconhecimento do comportamento desviante é fundamentado pelo o que Souza

(2016) chama de “hierarquia moral” – que diz respeito a forma como a sociedade organiza os

indivíduos em grupos, não por aptidões individuais, mas por serem enquadrados em grupos

divergentes para a sociedade atual, os outsiders (Becker, 2008).

Um pouco fora da fronteira da psicologia social de base individualista, mas com

pertinência sociológia, o uso do conceito de “desviância”, inicialmente empreendido por

Becker (2008), consiste numa importante ferramenta de análise das formulações arquetípicas

produzidas pelo senso comum sobre o grupo de mulheres usuárias de drogas, atribuindo-lhes

então uma valoração negativa. Tal valoração tenderia a encontrar o seu nincho privilegiado de

aplicação, no historicamente conhecido processo de culpabilização da vítima ou na

legitimação da exclusão às camadas sociais consideradas “perigosas” ao convívio em

sociedade.

Para demonstrar a existência de pré-noções estigmatizantes das pessoas que

consomem drogas, especialmente no que tange às mulheres, analisou-se o discurso de

estudantes universitários paraibanos, os quais orientaram suas ações e decisões baseando-se

num saber prático que reconhece o primado de uma “patologia social” que aflinge estas

mulheres, que a partir de uma concepção individualizante e moralizante, atribui culpa às más

escolhas destas. Nesta oportunidade, e tendo em conta o objetivo da presente tese, o qual
P á g i n a | 181

propõe criar um modelo explicativo da exclusão social de mulheres usuárias de drogas a partir

dos estereótipos e das variáveis do preconceito (percepção de ameaça, moralização e da

intenção de contato social), realizou-se quatro estudos empíricos considerados substanciais ao

entendimento da exclusão social enfrentada pelas usuárias, cujos objetivos foram

satisfatoriamente alcançados.

Na dimensão das crenças estereotípicas cotidianas, que não se guiam pelo rigor

intelectual no esclarecimento de seus pressupostos de existência, e tomando como exemplo os

elementos evidenciados no primeiro estudo, acionados para compor e descrever a categoria

“mulheres usuárias de drogas”, tornou-se evidente um sistema classificatório apoiado nos

componentes afetivos, comumente associados às mulheres como foi demonstrado, no entanto,

quando aplicado às mulheres que consomem drogas, este conteúdo tornou-se ressignificado

por um expectro afetivo altamente negativo, aliado à orientação comportamental de

marginalidade e vulnerabilização.

Essa interpretação, segundo o Modelo de Conteúdo dos Estereótipos (Fiske et al.,

2002, 2007), está vinculada a visualização das mulheres usuárias de drogas enquanto um

grupo de baixa sociabilidade e baixa competência, e por isso percebidas como grupo

“indesejável”, despertando o sentimento de desprezo, o qual justificaria o distanciamento

social desse grupo. Esse resultado difere, por exemplo, dos estudos que comparam as

dimensões estereotípicas de homens e mulheres, que de acordo com diversos autores (Cuddy,

Fiske & Glick, 2007; Cuddy et al., 2009; Garaigordobil & Aliri, 2013; Fiske et al., 2002,

2009; Formiga, Araújo & Cavalcante, 2007; Jost, Banaji & Nosek, 2004), há um consenso de

que as mulheres são visualizadas como pertencentes aos grupos subordinados e incompetentes

ou de baixo status, ao mesmo tempo em que são atribuídos altos valores em sociabilidade, tais

como os sentimentos de ternura, compaixão, simpatia e defesa dos direitos, devido à sua

atitude de cooperação calorosa. Verificou-se, então, que o fato das mulheres consumir drogas,
P á g i n a | 182

modifica o universo simbólico intracategorial, distinguindo-as conforme o plano ideológico

valorativo da sociedade vigente.

Por conta dessa visão dominante de que as mulheres têm uma “natureza” demarcada

pela fragilidade, há influência direta na relação no acesso que estas mulheres possuem a

recursos culturais, afetivo-morais e institucionais, como aponta os estudos de Silva, Pereira e

Penna (2018) realizado com profissionais de CAPSad sobre a percepção do cuidado

psicossocial frente às usuárias de cocaína e crack, como também o estudo realizado por

Bungay et al. (2010) no contexto canadense, no qual também aponta a dificuldade de acesso

das usuárias aos serviços de reabilitação. Cabe mencionar que indivíduos atingidos pela

privação de recursos e pela consequente marginalização social, tem menor capacidade de

reconhecer-se como cidadãos e correm riscos de serem mais afetados pelos efeitos físico-

químicos destrutivos proporcionados pelo uso abusivo de drogas (Dutra & Henrique, 2016).

Assim, ressalta-se que tais conteúdos estereotípicos observados neste estudo, possui

implicações na subjetividade destas mulheres usuárias, nas formas que refletem sobre si

mesmas e na sua relação com o mundo, tal como reportam os estudos realizados com usuárias

de drogas conduzidos por Capilla-Llisto, Cuquerella-Benaventa e Gimenez-Orts (2015) e

Medeiros et al. (2017).

Um passo seguinte consistiu no desenvolvimento e adaptação de instrumentos

psicométricos, a fim de viabilizar a mensuração dos construtos de interesse. Neste segmento,

foi possível alcançar índices considerados satisfatórios de confiabilidade e precisão das

medidas, conforme preconizado pela literatura especializada da área (Pasquali, 2010;

Tabachnick & Fidell, 2013).

Na etapa de análise das possíveis correlações existentes entre as variáveis de interesse

(a exclusão social, os estereótipos de gênero, a percepção de ameaça, a moralização e intenção

de contato social), verificou-se valores considerados moderados entre todas as medidas,


P á g i n a | 183

permitindo assim, corroborar a hipótese de que tais variáveis estariam associadas ao contexto

alvo de investigação – a exclusão social (H1). No entanto, esses dados apenas trouxeram

indicativos favoráveis de se pensar então num modelo preditivo, o qual foi testado num passo

posterior.

Analisando, portanto, o peso preditivo de cada variável no modelo explicativo

(regressão múltipla), observou-se que, de antemão, apenas a intenção de contato social e os

estereótipos não foram estatisticamente significativos enquanto vairáveis preditoras do

modelo, o que permitiu corroborar particalmente a segunda hipótese de pesquisa (H2). Com

isso, prosseguiu-se, então, a testagem comparativa de modelos explicativos alternativos por

meio da técnica Path Analysis usando os efeitos de mediação (Maroco, 2010). Neste aspecto,

ao verificar a estrutura e os indicadores de três modelos alternativos, comprovou-se que o

modelo de mediação simples (Modelo 3) foi considerado o que melhor obteve adequação dos

dados ao modelo teórico, o qual propõe que a intenção de contato medeia a relação das

variáveis da percepção de ameaça, dos estereótipos de gênero e da moralização na explicação

da exclusão social. Na testagem do modelo mais adequado, percebeu-se que a variável

intenção de contato social afeta a relação das três medidas (estereótipos de gênero, percepção

de ameaça e moralização) frente a exclusão social. Esse resultado é considerado

substancialmente importante, na medida que abre caminhos para o entendimento dos fatores

propulsores de desigualdade e marginalização do grupo de mulheres usuárias de drogas,

suscitando discussões sobre o modo como são concebidas e tratadas na sociedade.

A característica principal deste modelo está em verificar o efeito mediador da intenção

de contato social na relação entre os estereótipos, a percepção de amaeça e a moralização na

exclusão social de usuárias de drogas. A comparação dos resultados ora obtidos entre os

alcançados por outros estudiosos, confirma a relação das atitudes enquanto mediadoras na

predição de comportamentos específicos, como por exemplo, o estudo realizado por Medeiros
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et al. (2015), no qual buscou conhecer a relação entre os valores enquanto preditores do

consumo declarado de álcool por meio do papel mediador das atitudes frente ao álcool. Em

outro estudo realizado por Maciel et al. (2017, no prelo) sobre os doentes mentais, revelou

que a exclusão é motivada pelo preconceito contra o doente mental, sendo o impacto do

preconceito mediado pela percepção de ameaça.

Neste sentido, o modelo supracitado neste trabalho postula que existem influências dos

estereótipos e das atitudes no comportamento discriminatório. Concretamente, para que haja

um comportamento discriminatório expresso abertamente frente a algum grupo social, é

preciso que este seja percebido enquanto possuidor de traços ou características que o

diferenciam enquanto “divergente” da norma social vigente ou tido ainda como “perigoso” ao

convívio sadio em sociedade, tal qual reportam os estudos sobre as algumas categorias, como

por exemplo, os ciganos (Lima & Santos, 2016), os skinheads (Macrae, Milne, &

Bodenhausen, 1994) e os doentes mentais (Maciel et al., 2008; Rusch et al., 2005).

Sobre os usuários de drogas de modo geral, as crenças e avaliações sobre os membros

deste grupo, estão associadas com as relações de dominação e de conflitos intergrupais, os

normais versus os desviantes. Por isso, a “rotulação social” envolve não apenas apontar esta

ou aquela mulher como usuária de drogas, mas, além disso, indica dentro da dinâmica social

um lugar para estas mulheres, o da anormalidade. Sobre esse aspecto, segundo Velho (2002),

sobre esta “patologia social” designada para as mulheres usuárias de drogas se amplifica

devido a associação com determinadas práticas de comportamento que põe em risco a vida

humana, se pode pensar que, de acordo a lógica dominante, além de interferirem na

instabilidade social seriam culpabilizadas por estarem nesta condição, escapam, portanto, do

controle social como propõe Gofman (2006).

Este estudo dá apoio empírico à Teoria do Precocneito (Camino & Pereira, 2000), a

qual permite se pensar que a exclusão social é construída em processos políticos, nos quais
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alguns grupos conseguem impor seus pontos de vista como mais legítimos que outros,

gerando, conflitos intergrupais e disputas ideológicas desenvolvidas na dinâmica social. Esta

classificação de indivíduos é, portanto, uma construção arbitrária que leva em consideração

alguns marcadores sociais, entre eles, o efeito específico da condição de gênero e o

pertencimento a uma classe marginalizada, como os usuários de drogas de modo geral.

Compreender a força concreta e material do preconceito e da exclusão frente às

mulheres que consonem drogas, é tornar visível as formas de classificações morais –

necessariamente sociais – as quais estas mulheres são submetidas. E ainda que o “sexo” seja a

forma primária de percebê-las, o dado fundamental da presente pesquisa é que estas mulheres

passaram a ser visualizadas como uma classe sem condições emocionais e morais de

incorporar a sociedade, precisamente no desempenho de seus papéis sociais e de sua

subetividade feminina.

Em termos gerais, este conjunto de estudos reuniram contribuições substanciais para o

entendimento do preconceito e dos processos de exclusão social no contexto da

toxicodependência feminina. Cabe mencionar, portanto, que são muitos os obstáculos que as

pesquisas empíricas enfrentam ao tentar mensurar o preconceito e a exclusão social devido à

ampla magnitude destes construtos sociais. Verificou-se, o uso problemático de drogas por

mulheres, enquanto fenômeno socialmente expressivo, tem sua gênese nas trajetórias

descendentes de exclusão social que incide sobre a grande maioria das mulheres afetadas por

esta problemática. Sustentado pelo paradigma da “hierarquia moral” da sociedade atual,

hegemonizam os discursos e imagens no campo da droga e também por conceitos que

traduzem hierarquias de poder, e não raras vezes, servem para ocultar o problema da

dependência química feminina – fator considerado preponderante no agravamento dos

processos de exclusão frente este grupo social.


CAPÍTULO. 5
______________________________________________

Considerações finais
_____________________________________________________________________
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CAPÍTULO 5. Considerações finais

Este trabalho objetivou criar um modelo explicativo da exclusão social frente às

mulheres usuárias de drogas com base no preconceito e nos estereótipos de gênero. Neste

estudo, a exclusão social frente às mulheres usuárias de drogas foi mensurada por meio da

percepção de ameaça, da moralização, da intenção de contato social e também por meio dos

estereótipos de gênero negativos, baseados nas imagens construídas sobre esta categoria

social.

No Estudo 1, a primeira pesquisa contemplou as respostas dadas pelos universitários

por meio de evocações livres sobre a Mulher e também sobre a Mulher Usuária de Drogas,

permitiu-nos refletir sobre as desvantagens sociais geradas pela divisão de gênero e as

concepções normativas que incidem sobre a identidade social das mulheres. A análise

dimensional sobre os conteúdos evocados sobre a Mulher foi ao encontro da literatura, no que

concerne à saliência de conteúdos da dimensão de sociabilidade para este grupo; apesar de se

considerar, de forma periférica, alguns conteúdos que remetem a uma possível mobilidade

para alguns conteúdos instrumentais. Ao passo que, referente à categoria Mulher Usuária de

Drogas, ocorreu uma desconstrução da imagem de mulher “boa” e “amável”, tornando visível

uma demarcada diferença entre exercer a “feminilidade” e o fato de consumir drogas.

Exemplo paradigmático disso é a forma antagônica com que se posicionaram os conteúdos

expressos (amável/triste; forte/fragilizada; vaidade/descuidada).

Neste sentido, o que se pretendeu demonstrar neste primeiro estudo, é que a

visualização de comportamentos considerados “transgressores” pode mudar a concepção

social dentro da própria categoria; além disso, buscou-se conhecer quais os estereótipos

estariam associados ao contexto do preconceito e da exclusão social frente às usuárias. Tais

estereótipos são baseados nos processos de desvalorização social desse grupo, sobretudo pelo
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histórico marcado por ideologias que excluem e estigmatizam o que é considerado

“divergente” da norma social. Saleinta-se que em futuros estudos buscar-se-á utilizar uma

lista de adjetivos, a fim de balizar a positividade e valoração de cada adjetivo.

E quanto a pesquisa transcultural, é importante ressaltar que a imersão cultural em

outra nacionalidade, no caso a portuguesa, consubstanciou importantes contribuições tanto a

nível acadêmico e profissional, por meio de leituras, diálogos e trocas de saberes, quanto a

nível pessoal, pelo amadurecimento e crescimento a partir da vivência com os aspectos

culturais e sociais que só uma experiência antropológica como esta pode proporcionar.

Ademais, cabe mencionar que inserção cultural propriciou o despertar de novos horizontes

nos que confere a outras inquietações e futuros desdobramentos os quais farão parte de uma

nova etapa que se seguirá num futuro breve.

No que concerne aos Estudos 2 e 3, estes se dispuseram a fornecer evidências

exploratórias e confirmatórias das medidas utilizadas nesta pesquisa. O alcance de bons

indicadores psicométricos atestou sua aplicabilidade com universitários no contexto

paraibano. A despeito disso, parece justificável a validação futura destes instrumentos com

outras amostras e em outros países para melhor verificação da consistência dos fatores e da

validade preditiva.

Na análise das relações entre as variáveis e na testagem do modelo explicativo

proposto (Estudo 4), pode-se comprovar que o preconceito e os estereótipos estão na base de

explicação dos comportamentos discriminatórios. Como hipotetizado para o modelo, a

exclusão social frente às mulheres usuárias de drogas é demonstrada por meio da atribuição

de estereótipos de gênero negativos, pela percepção de ameaça e pela moralização, sendo esta

relação mediada pela intenção de manter contato social.

O preconceito investigado, se manisfesta, portanto, pela substantivação de que este

grupo social (mulheres usuárias de drogas) impõe uma ameaça à sociedade, devido a sua
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condição de suposta “insanidade”, associada ainda ao suposto “livre arbítrio” de escolha no

que re refere ao consumo de drogas. Sobre esse aspecto, salienta-se que a injunção de

periculosidade e a culpabilização das usuárias exercem um impacto negativo na formulação

de atitudes de se manter relações de proximidade com o grupo alvo; fatores estes

considerados a base da exclusão social.

Compreende-se que estes resultados trazem contribuições importantes para a pesquisa

nas Ciências Sociais e para o campo da Saúde, especialmente no contexto das políticas

públicas de reabilitação e inclusão social de mulheres dependentes químicas. Uma vez que a

injunção de crenças e representações generalizadas e depreciativas acerca das mulheres

usuárias de drogas contribuem para instituir atitudes preconceituosas e, consequentemente

comportamentos discriminatórios, faz-se importante empreender a construção de novos

olhares e discursos sobre as drogas e seus diversos grupos heterogênios de usuários, em

especial as mulheres. É preciso instituir direcionamentos mais éticos e humanitários sobre a

iniquidade do abandono social que polariza a questão das drogas. Um dos primeiros passos

que acredito ser de grande valia, é insistir na crítica sobre a patologização e criminalização

das pessoas que fazem uso de drogas, e tornar visível os as especificidades e os

atravessamentos dos diversos elementos que fazem parte deste complexo comportamento

humano, como por exemplo o gênero, a raça, a classe e os fatores socioeconômicos.

É indispensável referir, no entanto, que esta pesquisa como qualquer outra, não se

isenta de limitações, dada a impossibilidade de apreender a totalidade do objeto de estudo em

questão. Alguns pontos merecem ser enfatizados, como por exemplo, o fato das amostras dos

estudos (2, 3 e 4) aqui mencionados serem em sua maioria de estudantes universitários

paraibanos, coletados de forma aleatória, o que não permite a representatividade da população

da qual foi retirada, restringindo quaisquer possibilidades de generalizações. Além disso, não

foi levado em consideração enquanto variável no modelo, o fato dos universitários se


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identificarem ou não como usuários ou usuárias de drogas, apesar de ter sido questionado esse

dado apenas para caracterização da amostra. Esse aspecto em especial, talvez possa vir a gerar

perfis atitudinais diferenciados.

Existe um ponto que não se configura exatamente como uma limitação, mas que ainda

assim precisa ser ressaltado devido à complexidade ao abordar o tema das drogas. Trata-se da

questão da legalidade ou ilegalidade das substâncias. Sabe-se que a depender da classificação

de como estão organizadas as substâncias nas diversas sociedades, em moldes de consumo

permitido ou não permitido, pode-se refletir em variadas formas de interpretação deste

comportamento de consumo, bem como na relação da sociedade com os seus usuários e

usuárias, conforme foi ressaltado no estudo 1.

Contudo, julga-se necessário que tais resultados possam orientar programas de

intervenção e de reabilitação para mulheres dependente químicas. De modo imprescindível,

pontua-se a necessidade de programas sociais voltados para elevar/melhorar os vínculos dos

indivíduos-usuários com a sociedade. Os instrumentos considerados neste estudo, bem como

o modelo explicativo da exclusão social, não permitirão acabar com as atitudes

discriminatórias, mas pelo menos oferecerão base para se conhecer a extensão desta

problemática e antecipar consequências futuras, o que vem a ser útil nos estudos que tratam

da questão do preconceito contra as mulheres, especialmente no contexto da dependência

química.

Por isso, torna-se imperativo que a psicologia social revele as assimetrias entre os

gêneros referente à distribuição das chances de inclusão social, que foram e são construídas e

reconstruídas incessantemente pela sociedade ao longo do tempo, para que não recorramos a

explicações equivocadas e simplistas que reivindicam diferenças entre homens e mulheres e

entre o próprio grupo feminino.


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E por fim, conclui-se que esta pesquisa alcançou sua relevância científica e social,

devido não só ao arcabouço teórico e metodológico a qual se insere, mas principalmente por

produzir novos conhecimentos. Acredita-se ter alcançado os objetivos ora prospostos, mas

com a plena clareza de que não se esgotam neles mesmos, e, portanto, considera-se a

possibilidade de avançar nos estudos futuros sobre o preconceito frente às mulheres usuárias

de drogas.
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APÊNDICES
APÊNDICES

APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) colaborador (a),

Esta pesquisa intitula-se ATITUDES FRENTE À MULHER USUÁRIA DE


DROGAS e está sendo desenvolvida pela aluna de doutorado Katruccy Tenório Medeiros sob
a orientação da Profª Drª Silvana Carneiro Maciel.
Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, o(a) senhor(a)
não é obrigado(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo
Pesquisador(a). Caso decida não participar do estudo, ou resolver a qualquer momento desistir
do mesmo, não sofrerá nenhum dano.
Os pesquisadores estarão a sua disposição para qualquer esclarecimento que considere
necessário em qualquer etapa da pesquisa.
Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido (a) e dou o meu
consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados.

Desde já, agradecemos sua colaboração.


____________________________________________
Assinatura do participante

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Assinando este termo, estou concordando em participar do estudo acima mencionado,


sob a coordenação da Prof. Silvana Carneiro Maciel. Caso necessite de alguma informação
sobre o presente estudo entre em contato com:
Katruccy Tenório Medeiros
Fone: (083) 99942-0801
E-mail: katruccy_22@yahoo.com.br

____________________________________________

_________________________________________________
Assinatura do participante
APÊNDICE 2

INSTRUMENTOS – ESTUDO 1

a) BRASIL - TALP (Técnica de Associação Livre de Palavras)

Local: _______________________ Idade:________

Curso:_______________________ Período:_______

MULHER
1. ____________________________

2. ____________________________

3. ____________________________

4. ____________________________

5. ____________________________

MULHER USUÁRIA DE DROGAS

1. ____________________________

2. ____________________________

3. ____________________________

4. ____________________________

5. ____________________________

TEMPO MÉDIO 1min PARA CADA PALAVRA


PORTUGAL - TALP (Técnica de Associação Livre de Palavras)

Local: _______________________ Idade:________

Curso:_______________________ Período:_______

MULHER

1. _____________________________

2. _____________________________

3. _____________________________

4. _____________________________

5. _____________________________

MULHER TOXICODEPENDENTE

1. ____________________________

2. ____________________________

3. ____________________________

4. ____________________________

5. ____________________________

TEMPO MÉDIO 1min PARA CADA PALAVRA


INSTRUMENTOS – ESTUDOS 2 e 3

a) Escala de Estereótipos Femininos frente às Mulheres Usuárias de Drogas


(EEFMUD)

INSTRUÇÃO: Em relação aos pares de palavras abaixo, você deve marcar para cada linha de
características, apenas com um X o espaço que melhor correspondente à sua opinião acerca da
mulher usuária de drogas dentro dos dois polos.

MULHER USUÁRIA DE DROGAS

+ +
3 2 1 0 1 2 3
Bonita ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Feia
Forte ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Frágil
Afetuosa ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Fria
Alegre ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Triste
Confiável ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Não confiável
Não impulsiva ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Impulsiva
Competente ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Incompetente
Responsável ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Irresponsável
Dócil ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Agressiva
Feminina ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Não feminina
Recatada ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Promíscua
Maternal ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Não maternal
Independente ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Submissa
Familiar ___ ___ ___ ___ ___ ___ ___ Não familiar
b) Escala de Intenção de Contato Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas
(ICSMUD)

INSTRUÇÃO: A seguir se encontram alguns tipos de relações interpessoais em que você


poderia ter com uma mulher usuária de drogas. Indique o quanto concorda ou discorda das
afirmações.

Discorda Nem concorda\ Concorda


Discorda Concorda
Totalmente nem discorda Totalmente
1 2 3 4 5

1. Penso que o desemprego não se agravaria pela presença


das usuárias de drogas no Brasil. 1 2 3 4 5

2. Teria dificuldade em admitir como chefe de trabalho uma


usuária de drogas 1 2 3 4 5
3. De modo geral, eu gosto do jeito de ser das mulheres
usuárias de drogas. 1 2 3 4 5
4. Ainda que não se fale, a presença de uma usuária de
drogas produz medo 1 2 3 4 5
5.Acredito que os mesmos direitos que nós temos, as
usuárias de drogas também possuem 1 2 3 4 5
6. Por certas razões, não é aconselhado manter
relacionamentos com usuárias de drogas 1 2 3 4 5
7. Teria amiga usuária de drogas 1 2 3 4 5
8. No meu negócio, não contrataria mulheres usuárias de
drogas. 1 2 3 4 5
9. Eu não gostaria que alguém da minha família se casasse
com uma mulher usuária de drogas 1 2 3 4 5
10. Acho desnecessário o gasto de dinheiro público com
mulheres usuárias de drogas 1 2 3 4 5
11. Não houve aumento da insegurança e do crime devido às
mulheres usuárias de drogas 1 2 3 4 5
12. Não gostaria de ter como vizinha uma mulher usuária de
drogas 1 2 3 4 5
13. Não seria bem visto(a) por meus amigos se me vissem
sair com uma mulher usuária de drogas 1 2 3 4 5
14. Certamente temos coisas para aprender com as usuárias
de drogas 1 2 3 4 5
c) Escala de Moralização frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EMMUD)

INSTRUÇÕES: Tendo em mente o caso descrito acima, gostaríamos de saber em que


medida você concorda ou discorda com as situações descritas abaixo.

Nem
Discordo Discordo concordo Concordo Concordo
totalmente parcialmente Discordo nem Concordo parcialmente totalmente
discordo
1 2 3 4 5 6 7

1. O consumo de drogas é um sinal de fraqueza de caráter


1 2 3 4 5 6 7
2. As mulheres usuárias de drogas não se preocupam com seus problemas
1 2 3 4 5 6 7
3. As mulheres usuárias de drogas são pessoas moralmente fracas
1 2 3 4 5 6 7
4. As mulheres usuárias de drogas são pessoas sem determinação
1 2 3 4 5 6 7
5. As mulheres usuárias não querem parar de consumir drogas
1 2 3 4 5 6 7
d) Escala de Percepção de Ameaça frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EPAMUD)

INSTRUÇÃO: Indique as respostas que caracterizam a sua percepção em relação às


mulheres usuárias de drogas, marcando o número correspondente.

Discorda Nem concorda\ Concorda


Discorda Concorda
Totalmente nem discorda Totalmente
1 2 3 4 5

1. As mulheres usuárias de drogas oferecem perigo à


sociedade 1 2 3 4 5

2. 2. Prefiro manter distância de uma mulher usuária de drogas


1 2 3 4 5

3. A mulher usuária de droga é uma marginal 1 2 3 4 5


1. 4. Tenho medo das mulheres usuárias de drogas 1 2 3 4 5
2. 5. A mulher usuária de drogas é capaz de cometer qualquer
1 2 3 4 5
ato para manter o vício
3. 6. Quando uma mulher usuária de drogas se aproxima tenho
1 2 3 4 5
vontade de fugir
4. 7. As mulheres usuárias de drogas são pessoas perigosas 1 2 3 4 5
5. 8. As mulheres usuárias de drogas não merecem confiança 1 2 3 4 5
6. 9. As mulheres usuárias oferecem risco para a sociedade 1 2 3 4 5
7. 10. É perigoso conviver com as mulheres usuárias 1 2 3 4 5
11. As mulheres usuárias podem agir agressivamente a
qualquer momento 1 2 3 4 5

12. As mulheres usuárias roubam para manter o vício 1 2 3 4 5


e) Escala de Exclusão Social frente às Mulheres Usuárias de Drogas (EESMUD)

INSTRUÇÕES: Agora circule o número que melhor representa a sua resposta para cada uma
das frases abaixo, variando de “discorda totalmente” a “concorda totalmente”.

Discordo Nem concordo Concordo


Discordo nem discordo Concordo
totalmente totalmente
1 2 3 4 5

1. A mulher usuária de drogas deve ser afastada da


1 2 3 4 5
sociedade
2. As mulheres usuárias de drogas precisam ser
1 2 3 4 5
tratadas em hospitais fechados
3. As mulheres usuárias de drogas devem conviver
livremente na comunidade 1 2 3 4 5

4. As mulheres usuárias de drogas devem ser tratadas


1 2 3 4 5
nos serviços de saúde da comunidade
5. A internação em hospitais fechados deve ser o
tratamento priorizado para as usuárias de drogas
6. As mulheres usuárias de drogas devem ser tratadas
em hospitais gerais 1 2 3 4 5

7. As mulheres usuárias de drogas precisam viver com


1 2 3 4 5
suas famílias, em casa
8. As mulheres usuárias de drogas devem ser
internadas compulsoriamente 1 2 3 4 5

9. Os serviços substitutivos de saúde na comunidade


(CAPSad- Centros de Atenção Psicossocial para
Álcool e drogas) são os mais adequados para tratar as 1 2 3 4 5
mulheres usuárias de drogas
QUESTIONÁRIO SÓCIODEMOGRÁFICO

Com a finalidade de obter uma descrição sociodemográfica dos (as) participantes da pesquisa,
solicitamos que responda as perguntas a seguir.

USUÁRIO (a) DE DROGA (qualquer substância psicoativa)?

SIM NÃO

SE SIM, QUAL? ______________________

IDADE: ____________

SEXO: F M F

CURSO: _____________________________________

PERÍODO: __________________

CONVIVE COM USUÁRIOS DE DROGAS?

SIM NÃO

SE SIM, QUAL O TEMPO DE CONVIVÊNCIA? __________________________

E QUAL GRAU DE PARENTESCO? _____________________


ANEXO

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