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Manifesto Por Um Pensamento Da Diferença em Educação

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Copyright © 2003 by Sandra Corazza e Tomas Tadeu Capa Jairo Alvarenga Fonseca Editoragio eleerdniea Waldénia Alvarenga Santos Ataide Revisto de textos ‘Ana Elisa Ribeiro (C788 Composigdes/ Sandra Corazsa Tomas Tadeu.— Belo Horizonte: Auténtica, 2003 Bip. ISBN 85-7526-098-7 |LBducagio. 2.Flosofia. Tadeu, Tomas. I:Tieulo. cpu 37 1 By a: 2003 ‘Todos os direitos reservados pela Auténtica Editora Nenhuma parte desta publicagio poderé ser eproduzida, seja por meios mecinicos, eletrénicos, seja via c6pia xerogrifica, sem a autorizagio prévia da editora, Auténtica Editora Rua Sio Bartolomeu, 160 ~ Nova Floresta 31140-290 — Belo Horizonte ~ MG PARX: (55 31) 3423 3022 - Televendas. 0000-2631322 worw autenticaeditora.com.br e-mail: autentica@aucenticaeditora.com.br E preciso ser dois para ser louco, somos sempre loucos em dupla. Gilles Deleuze, Légica do sentido Componha. (Nenhuma ideia a nao ser nas coisas). Invente! Saxifeaga € minha flor que racha as rochas. Williams Carlos Williams, The Collected Poems Manifesto por um pensamento da diferenca em educacao Dispersar. Disseminar. Proliferar. Multiplicar. Descentrar. Desestruturar. Desconstruir. O significado. O sentido. O tex- to. O desejo. O sujeito. A subjetividade. O saber. A cultura. A transmissio. O didlogo. A comunicagao. O curriculo. A pedagogia Interromper. © Uno. A identidade. O todo. A toralida- de. A plenitude. A completude. © integro. A dialética. A negaglo. A rasio. A verdade. O progresso. A evolugdo. A ori gem. A teleologia. O sujeito Desconfiar de qualquer nostalgia por uma origem perdi- da: subjetividades inteiricas, consciéncias licidas, saberes ima- culados, comunidades solidévias, sociedades integradas. Nao existe nenhuma origem perdida a ser recuperada, nenhum passado mitico ao qual regressar, nenhum tempo feliz a ser revivido. Resistir a qualquer anseio por um estado de graga antes da queda ~ no capitalismo, no patriarcado, no Nome- do-Pai, Renunciat a qualquer ilusio de regresso a um estado de idflica inocéncia, de edénica virtude, de universal comu- nhio. Nenhuma fantasia de restaurago de uma unio rompi- da ~ com 0 cosmo, com a natureza, com o Eu, com 0 Outro. Desconfiar igualmente de qualquer teleologia, de qual- quer fim para o qual a hist6ria inevitavelmente se encami- nharia. A historia nao obedece a nenhuma logica, anenhuma dialécica, a nenhuma racionalidade. Nao hi nenhum destino comporigaes inscrito desde sempre nalgum firmamento & espera de, algum dia, ser cumprido. Nao estamos presos ao desenrolar de um script. A histéria no é nenhuma procissdo posta em uma tra- jetéria de evolugao, progresso ¢ aperfeigoamento. Toda con- tinuidade € apenas o efeito de uma interpretago apés o fato. © que temos, em ver disso, sho falhas, quebras, hesitacces, movimentos inesperados, arranques ¢ paradas abruptas. Nao uma ldgica, nem uma teleologia, mas 0 movimento ertético do acaso. Preferiradiferenga a dentidade. A positividade & negati- vidade. A afirmagio a contradigéo. A singularidade & totali- dade. A contingéncia a causalidade. O evento ao predicado. A performatividade & qualidade. O verbo ao adjetivo. O“ver- dejar" ao “verde”. A linha ao ponto. A espiral a seta. O tizoma a drvore. A disseminagao a polissemia. A ambigiidade a cla- reza. © movimento a forma. A metamorfose A metéfora. O acontecimento go conceito. O impensado ao bom senso. ° simulacto ao original. Estimular a invencao em vez da revelagao. A criaggo em vex da descoberta. A fetichizagio em ver da desfefichizagao. A fabricagdo de “coisas” em vez da des-reificago. A “arte” em vez da “ciéncia”, O artificio em vez do genusno. O attefato em ver do fato. O feito em vez do achado. Fugir da tentaglo da dialética. Recusar-se a conceber 0 mundo em termos de negagdes que afirmam omesmoe o idén- tico. Sair da érbita da contradigao. Reprimir ou liberar. Natu reza ou cultura. Individuo ou sociedade. Sujeito ou objeto Realidade ou aparéncia. Desejo ou civilizagao. Poder ou re. sisténcia, “Para libertar a diferenga precisamos de um pensa. mento sem contradigio, sem dialética, sem negacdo: um Pensamento que diga sim a divergéncia” (Foucault). Um Pensamento nio-identirsrio. A dialética circunscreve o van. po da vida e do pensamento a um “isto e ndo-isto” que acaba voltando, pela asticia da contradicao, ao simplesmente “isto”, 10 A diferenga propde, em ver disso, 0 “isto € aquilo e mais aquilo. O sujeito nfio existe. O sujeito & um efeito da linguager. O sujeito & um efeito do discurso. O sujeito é um efeito do texto. O sujeito é um efeito da gramitica. O sujeitoé o efeitode uma ilusio. O sujeita é 0 efeito de uma interpelagéo. O sujeito €0 efeito da enunciagdo. O sujeito € 0 efeito dos processos de subjetivago. O sujeito é 0 efeito de um enderegamento. O su- jeito € o efeito de um posicionamento. O sujeito € 0 efeito da historia. O sujeito € o efeito da différance. O sujeito € uma derivada. O sujeito € uma fiego. O sujeito € um efeito. Dissolver 0 mito da interioridade. A interioridade & a ex- pressiio topol6gica, geografica, do sujeito ausénomo e sobe~ rano. O pressuposto da interioridade esté na base do sujeito cartesiano. Nenhuma das pedagogias modernas ~ das huma- nistas e tradicionais as construtivistas ¢ liberais, pasando pelas criticas € emancipat6rias — subsistiria sem a nogio de interioridade. O mito da interioridade & essencial nos diver- 505 avatares do sujeito que povoam os territérios das pedago- gias contemporaneas: 0 cidadao participante, a pessoa integral, 0 individuo eritico. A filosofia da interioridade € 0 correlato da metafisica da presenga. A interioridade tem negécios com a conscigncia, com a representago, com a in- tencionalidade. Privilegiar, em vez da interioridade e suas fi- guras, as conexées e as superficies de contato, as dobras e as flexes, os poros e as fendas, os fluxos e as trocas. Prefert, sempre, a exterioridade a interioridade. Suspeitar das idéias de didlogo e de aco comunicativa. Suspeitar, sobretudo, da obrigago do dilogo. A aco comu- nicativa representa a restaurac&o do sujeito consciente e so- berano. A ago comunicativa tradus a fantasia de um mundo regido pelo bom senso, pelo consenso e pela convergéncia. A idéia de didlogo re-instaura a presenca da consciéncia, a pre- senga do significado, a presenga das boas intenges. O didlogo Breer be composigdes €.um sonho de bom-mocismo. A ago comunicativa é um de- Uirio logocéntrico, uma utopia da comunicagao transparente. A aco comunicativa & permanentemente assombrada pela volta daquilo que reprime: poder, 0 desejo, o inconsciente, © itracional, a ambiguidade, a indecerminago. O didlogo no & menos representacional erealista do que as prticas pedagé.- gicas que condena. Acdvogar, em vez disso, 6 dissenso inconcilidvel, adiferen- $a trredutivel, o desencontro irremedisvel, a comunicagéo im- Possivel. Inventar uma intersubjetividade vulnerivel ¢ Permedvel as contingéncias da linguagem, 20 indizivel, a0 in- Comunicével, aasacidentes do desejo, Reivindicar o direito uni. versal e inalienavel a recusa a0 dislogo. Proclamar o direito & improbabilidade ¢ & impossibilidade da comunicagdo. Reser. vvar-se, no reino da tirania do entendimento, o direito ao desen. tendimento. “Parar de pensar apenas em termos de unidade, fazendo das relages entre as palavras um campo essencialimen. te dissimétrico, regido pela descontinuidade” (Blanchot) Nao conceder qualquer trégua ao humanism, a0 antopo- centrismo. O corpa da Homem: mutivel, clondvel, intensifica- vel, desmontével-montavel, desmembravel-remembrivel. O deslocamento, o descentramento, o desalojamento do Homem. A diminuigio ou apagamento das fronteiras e distingGes entre © Homem ea méquina (ciborgues), entre o Homem eo animal, ae ‘© Homem e os seres inanimados: ‘um ser entre outros: setes € no um ser em um ambiente desfrutével. Em seu lugar, um homem (uma mulher) sem qualidades (antropol6gicas) e sem brivilégios (antropocéntricos). Celebrat os prazeres —e até mes. ‘mo os perigos ~ da confusto de fronteiras. Nenhuma tentativa de recompor um Uno cindido, fragmentado, corrompido. Esti- tnular, em ver disso, a divisto, a multiplicagdo, a proliferagao, Em vez da recomposigato de integriducles e rotalidades perdidas, Privilegiar as operagGes de desmontagem e remontagem, de de. composi¢do e recomposigao, Quantos? Um. £ muito pouco. Dois. Talvez. Muitos. E muito melhor. Celebrar a multiplicidade e a singularidade. A divisio 20 infinito, “Sou grande. Contenho multiddes" (Walt Whitman). “Como cada um de nés era varios, jé era muita gente” (Deleuze e Guattari). “Um € muito pouco, dois é ape- ras uma possibilidade” (Donna Haraway) Privilegiar a multiplicidade em ver da diversidade. Fazer proliferar o sinal de multiplicagio. A diversidade é estatica, & um estado, € estéril. A multiplicidade € ativa, € um fluxo, € produtiva. A multiplicidade € uma maquina de produzr dife: rengas~ diferencas que sto irredurfveis identidade. A diver- sidade limita-se ao existente. A multiplicidade estende e mulkiplica, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado — da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um movimento. A diversidade reafirma o idéntico. A multiplicidade estimula a diferenga que se recusa a se fundir com o id2ntico. ‘Olhar com simpatia o mundo das aparéncias e dos simu- lacros. “Destruir os modelos e as cépias para instaurar 0 caos que cria, que faz marchar os simulacros” (Deleuze). Falsificar. Confundir o reference e a representagio, o original e a c6pia, a copia eo simulacro. Desestabilizar a exclusividade do origi- nal, do real e do verdadeiro. Renunciar a desvelar, desmasca- rat, desmistificar. Renunciar as idéias de libertago, emancipagio e auto- rnomia. Nao existe nenhuma pedagogia emancipatéria. A pro- messa de autonomia re-introduz, pela porta dos fundos, a fantasia de um sujeito soberano no pleno comando de seus atos. Libertar significa restaurar uma esséncia que foi aliena- da, corrompida ou pervertida. Libertar ou reprimir: a eterna dialética que se resolve na re-instauracio do mesmo —a cons- ciéncia plena. A expressio “pedagogia emancipatéria” é um oxfmoro: “voc® deve se emancipar”. E essa incompatibilidade intrinseca entre, de um lado, as nocoes de autonomla, liberta- 80 e emancipagiioe, de outro, a idéia mesma de pedagogia, que cortéi por dentro 0 edificio do projeto educativo iluminista PEE ox composigses Borrar a transparéncia: da consciéncia para s; da lingua- gem; da sociedade para uma consciéncia supostamente hicida O sonho da transparéncia guarda afinidades com a artogancia do sujeito soberano. Traduzem, ambos, a mesma dnsia de con. trole absoluto ¢ total. A transparéncia esté no fundamento do Projeto critico: sem transparncia ndo existe pedagogia critica, A transparéncia abomina a incerteza, a indeterminacdo, o indi. Zivel, as zonas sombrias. A trangparéncia no admite dscrepan. cias entre 0 mundo ¢ a linguagem, entre © mundo ¢ a “consciéneia", entre a “consciéncia” ea linguagem, A transpa. réncia evita as fends, as rachaduras, as dobras, os limiares. A transparéncia ama a nitidez, a visibilidade, a certeza. A trane- Paréncta vinga ali onde reina a certeza da iluminagio, Pensare viver sem fundagses tltimas, sem princfpiostrans- cendentais, sem critérios universais. Nenhuma fundacao é re. almente ima; nenhum principio realmente transcendental nenhum critério realmente universal. As fundag&es, os rans. cendentais, os universais sdo estreitamente dependentes dos Atos que os enunciam e das posigdes de onde so enunciados Nao existem antes da linguagem e do discurso, nem fora da hisréria e da politica, nem inlependentemente da sociedade © da cultura. Sao circulates: aquilo que eles supostamente so tem como tinico fundamento 0 ato que os definiu como tais Nao existem universais ‘que no estejam baseados em um ato de exclusio. Nao existem fundacSes que dispensem a forca da retGrica que as funda, Nao existem transcendentais que nao derivem de mundanos atos de forsa. Pensar e viver sem cles ‘do significa simplesmente que “tudo vale”, mas que aquilo Que vale ndo esté antecipada e definitivamente decidide Abandonar as concepeses miméticas, representacionais, realistas, de conhecimento e curriculo. Nao ha nenhuma co, nexdo direta, nao-mediada, entre conhecimento ¢ “realids. de”. A lnguagem no é um simples meio transparente, colocado entre a “consciéncia” e o “teal”. O conheciment, i no €simpesmenteo reflex, a expresso mimics, de un mundo de referéncia que esteja em posigao de reivindicar di- retos de precedéncia, Nao existe qualquer coincidénca ente oconceito ¢ 0 “real”, entre o conceito ea “consciéncia”, entre © conceito € a sua inscrigéo. “O conhecimento no € 0 espe tho da natureza”. Desligar-se da idéia de representacdo como identidade, como mimese, como reflexo. Deixar de ver 0 co- nhecimento e 0 curriculo como superficies especulares para passar a vé-los como supetficies de inscri¢ao. Deslocar todo tipo de essencialismo. © ser autfatico. A identidade genufna. O conhecimento incorrompido. O sujei- to imaculado. A existéncia inocente. A cultura pura. A co- rmunidade primitiva. A verdadeira democracia. O ntcleo, 0 ceme, a esséncia das coisas e dos seres; sua localizago no fir- mamento etéreo e transcendental das formas ideais. Trazer para 0 jogo, em ver disso, o fabricado, o construtdo, o inventa- do, Exaltar 0 cariter humano, profano, terreno, de nossos ob- jetos. Assumir nossa responsabilidade na sua criagao. Dar as costas is epistemologias da verdade e do verdadei- ro, A verdade nfo é uma coisa a ser descoberta. A verdade no € uma questio de identidade com o “real” ou coma natu reza. Fundar, em vee disso, uma epistemologia do veridico: © ue conta como verdad ou como verdadeiro? Como se define © que é verdadero, quem o define e sob que condigées? Cen- trar-se no na verdade, mas nos seus efeitos. Buscar no a ver- dade, masas elagées de poder que possibilitam sua existéncia. Destacar nao as condigées légicas e empfricas, mas as condi- «Bes hist6ricas e politicas de produgao da verdade. Buscar des- crever nfo a “verdade”, mas os seus regimes. No lugar de uma ontologia, instaurar uma “ciéncia” dos ‘eventos. Buscar nao a esséncia e o que €, mas 0 devir, 0 viva ser, 0 tomar-se. “O que é primeiro no € a plenitude do ser, € a fenda e a fissure, a eroso eo esgargamento, a intermiténcia e a privago mordente” (Blanchot). Dar importincia nao a0 comporigaes significado, mas & produgdo. Em ver de perguntar “o que é isto?", perguntar “o que posso fazer com isto". Em ver de per- guntar “é verdade?”, perguntar “como funciona”. Nao inter- pretar, mas experimentar. Exaltar, sob qualquer circunstancia, a diferenca. Afirmar a superioridade da diferenca sobre a identidade. Negar-se a reduzir a diferenca a negagdo e & contradiggo. Defender os direitos da variagio, da diferenciagzo, da singularidade e da multiplicidade, diante das reivindicagdes da semelhanga, da equivaléncia, da analogia e da unicidade. “Guerra ao todo, testemunhemos em favor do impresentificavel’, ativemos os diferendos” (Lyotard). Nao deixar que o pesado e amarrado “trabalho da dialética” prevaleca sobre o leve e livre “jogo da diferenga". “A dialética nao liberta o diferente; ela garante, 420 contrario, que ele serd sempre recuperado” (Foucault). “A oposisao [adialética]interrompe seu trabalho, a diferenga ini- cia seus jogos” (Deleuze). Nenhuma “nostalgia do todo e do uno, da reconciliagao do conceito e do sensivel, da experigncia transparente ¢ co- municdvel” (Lyotard). “Nenhum espftito na busca laboriosa de sua unidade, mas a erosio infinita do lado de fora; nao a verdade enfim se iluminando, mas a irrupgdo e a afligao de uma linguagem sempre e ja comegada" (Foucault). Nenhuma palavra de ordem, nenhum partido de vanguarda, nenhuma frente unida, nenhum intelectual organico. Finalmente, ¢ so- bretudo, nenhum manifesto. Referéncias hog de Banchot whe a recent sini ds rela de rte de Maurice Blanchot. L'entretieninfini. Paris: Gallimard, 1969, PIO, Ass cinges de Fouche alts so exer ia Sade “Thevtm apn De Pe Galina 194 p75.9. O "ma get” de Dee « Gata ve pip de ils Dele Flix Gunter Milphth Caplio cen tei 1. Ri Et 3,195.4 cago de Donon Harway etm ese eye hae eves chet ttm deuda Siva (Oi). Antopologin do cig. Ax verges do poh inne Bl roe: Ae, 200. Atte Je Wat Whitan€ {Smee ckwe mp e Lames gD eect ey el he, [cardi pl alg ~ contin le ceric d Doe se smc lg i ce Gls Del. A Taga do ena. io Pa: Pepe 1998. A cing de Dee, so penulme pagal de Nese et pileup, PUF, 199.218 A Cog de Blnchoe abe “a lente do se” maca de eter Pal Pl, “Ounismoextemado dua corel de ster Fob de, Po, Gene Act erodes © pemodern exe en, Ls: Ds Que, 187, p27 ‘Aina lm pariah oval €de "Lape da deh tts Pe Cali 1,9 STE apg eno a SSD) neat eee veri ented ave wpe compte oyrigafo reo" sunt econbecis

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