Versão Final Pós Defesa 05 - 2021
Versão Final Pós Defesa 05 - 2021
Versão Final Pós Defesa 05 - 2021
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SÃO PAULO
2021
ANGÉLICA DE ALMEIDA MERLI
SÃO PAULO
2021
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou
eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
MERLI, Angélica de A. A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental:
reflexões em encontros formativos integrados. 2021. 205 p. Tese (Doutorado em Educação) –
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021.
Banca examinadora
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade, alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
RESUMO
The present doctoral research aims to investigate the transition processes of young children
from Early Childhood Education to Fundamental School, in integrated training meetings
between professionals from both areas, in the defense that they are essential for the
problematization of pedagogical work peculiarities in each one of the stages and in what they
involve, unite, articulate, in construction of minor ruptures and greater continuities in Early
Childhood Education. The integrated training meetings analyzed prioritized the reflection of
conceptions and practices on transition process in two distinct contexts, in the Optative
Course of one of the Regional Education Directory from São Paulo, and in the Study Group
(coordinated by the researcher), with professionals who work in Early Childhood Education
and in the initial years of Fundamental School of Municipal Education Network of São Paulo.
These meetings were observed, monitored and/or coordinated by the researcher, looking for
sharing, interacting and building up new knowledge, know-how, the fields of the early
childhood pedagogy, from social studies of childhood and from municipal and national public
policies. With methodological inspiration in action-research, materials produced were
recorded in a field diary, audio recordings and records prepared by the research participants
and collaborators of research (upon authorization). Besides showing how normative and
curricular documents of the São Paulo and Brazilian educational networks have approached
transition, the joint analyses to speeches and reflections of professionals, during meetings,
reveal fundamental aspects that are placed for debate such as: the guidance and support to
educational units and to management and teaching teams, about necessary actions to reduce
ruptures in the passage of children and their families, from one stage to the other; the need to
expand spaces of integrated training among professionals of Early Childhood Education and
Fundamental School; the role of teaching and management teams in actions of articulation
between the two stages, with emphasis on pedagogical coordination; the guarantee of the right
to childhood, to play, to welcome and to protagonism of children and professionals in both;
besides the importance of building an education and a formation of entire bodies, which
recognize and value multiple languages and expressions of children and professionals from
childhood schools.
La presente pesquisa de doctorado tiene como objetivo general investigar los procesos de
transición de los niños pequeños de la Educación Infantil para la Educación Primaria, en
encuentros formativos integrados entre profisionales de ambas, en defensa de que son
fundamentales para problematización de peculiaridades del trabajo pedagógico, en cada una
de las etapas y en lo que las involucran, unen, articulan, en la construción de menores rupturas
y maiores continuidades en la Educación de las infancias. Los encuentros formativos
integrados analizados priorizaban la reflexión de concepciones y prácticas acerca del proceso
de transición en dos contextos diferentes, em el Curso optativo de una de las Direcciónes
Regionales de Enseñanza de São Paulo, y en el Grupo de estudios (coordinado por la
investigadora), con profesionales actuantes en la Educación Infantil y en los años iniciales de
la Educación Primaria da Red Municipal de Educación paulistana. Estes encuentros fueron
observados, acompañados y/o coordinados por la investigadora. En la búsqueda por
compartir, dialogar y construir nuevos conocimientos, saberes y haceres, a partir de los
campos de la Pedagogía Infantil, de los estudios sociales de la infancia y las políticas públicas
municipales y nacionales. Con inspiración metodológica en la investigación-acción, los
materiales producidos fueran registrados en diario de campo, grabación de audio y registros
elaborados por las participantes y colaboradoras/es de la investigación (com previa
autorización). Además de demonstrar como los documentos normativos y curriculares de las
redes paulistana y brasileña han abordado la transición, las análisis conjuntas de los discursos
y reflexiones de los/las profissionales, durante los encuentros, revelan aspectos fundamentales
que se ponen para el debate como: las orientaciones y el apoyo a las unidades educativas y a
los equipos directivos y docentes, sobre las acciones necesarias para reducir las rupturas en el
pasaje de los niños y sus familias, de una etapa a la seguiente; la necesidad de ampliar los
espacios de formación integrada entre los profisionales de la Educación Infantil y de la
Educación Primaria, el papel de los equipos docentes y directivos en las acciones de
articulación entre las dos etapas, con énfasis para la coordinación pedagógica; la garantia del
derecho a la infancia, al juego, la acogida y el protagonismo de los niños y profesionales, en
ambos; además de la importancia de construcción de una educación y una formación de
cuerpos enteros, que reconozcan y valoren los múltiples lenguajes y expresiones de niños y
profesionales de las escuelas infantiles.
INTRODUÇÃO....................................................................................................................................13
1 O CAMINHO QUE SE FAZ AO CAMINHAR: FORMAR-SE E PENSAR A FORMAÇÃO. 20
1.1 Levantamento de teses, dissertações e artigos: contribuições de pesquisas sobre o tema. . .23
1.2 Aprendendo em companhia: objetivos da pesquisa, contextos e colaboradoras/es..............34
2 MUDANÇA DE PLANOS: REPENSANDO OS CAMINHOS METODOLÓGICOS...............37
2.1 A escolha do(s) campo(s): ou sobre como um dos campos me escolheu................................38
2.2 Investigar para intervir e pesquisar na intervenção...............................................................42
2.3 Gerar e produzir dados: ampliar diálogos...............................................................................45
3 A BUSCA POR UM CURRÍCULO INTEGRADOR.....................................................................50
3.1 As crianças na Educação Infantil e no Ensino Fundamental: reflexões sobre a educação
das infâncias...............................................................................................................................61
3.2 A professora e o professor de crianças: da Educação Infantil ao Ensino Fundamental......67
3.3 Encontros de (trans)formação: de quem depende(m) as mudanças?....................................76
3.4 Educar na infância: o que as/os profissionais têm a nos dizer sobre isso?............................82
3.5 O Grupo de estudos Transições: partilha e abertura ao inédito-viável.................................91
4 AS TRANSIÇÕES: DAS CRIANÇAS E DAS/OS PROFISSIONAIS.........................................99
4.1 A transição na legislação: orientações para a garantia do direito à(s) continuidade(s) nos
processos educativos................................................................................................................105
4.2 A pesquisa no contexto da pandemia: outras-novas transições...........................................110
5 DOCUMENTAR PERCURSOS, FAVORECER CONTINUIDADES......................................116
5.1 Registros do cotidiano: revelando jornadas, favorecendo articulações...............................124
5.2 Registros de formação: revelando aprendizagens, reflexões e práticas..............................129
6 ESCREVER CARTAS: EXPRESSAR SABERES E SENTIR SABORES...............................139
CONSIDERAÇÕES FINAIS: OU SERIAM TRANSITÓRIAS?..................................................147
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................155
APÊNDICES.......................................................................................................................................172
APÊNDICE A – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Curso Optativo –
DRE/SP.....................................................................................................................................172
APÊNDICE B – Modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Grupo de estudos
Transições.................................................................................................................................173
APÊNDICE C – Modelo do Termo de Consentimento para Uso de Imagem e Voz................174
APÊNDICE D – Modelo de Carta de Apresentação para pedido de autorização para
realização de pesquisa científica – DRE/SP..........................................................................175
APÊNDICE E – Modelo de carta de apresentação para pedido de autorização para realização
de pesquisa científica – SME/SP............................................................................................176
APÊNDICE F – Modelo de Pedido de autorização para realização de pesquisa científica –
DRE/SP.....................................................................................................................................177
APÊNDICE G – Cronograma para realização da pesquisa – DRE/SP.....................................178
APÊNDICE H – Proposta e Cronograma do Grupo de estudos Transições/2018...................179
APÊNDICE I – Proposta e Cronograma do Grupo de estudos Transições/2019.....................182
APÊNDICE J – Proposta e Cronograma do Grupo de estudos Transições/2020....................185
APÊNDICE K – Quadro síntese do levantamento de Teses, Dissertações e Artigos produzidos
entre 2014 e 2020, sobre a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental.187
APÊNDICE L – Folder do Seminário “Infâncias e Educação: diálogos sobre a transição da
Educação Infantil para o Ensino Fundamental” – 05/10/2019............................................194
APÊNDICE M – Uma das cartas enviadas às colaboradoras e sua resposta...........................195
ANEXOS..............................................................................................................................................206
ANEXO A – Proposta Curso optativo DRE/SP...........................................................................206
ANEXO B – Parecer de autorização para realização da pesquisa – DRE/SP..........................207
ANEXO C – Parecer de autorização para realização da pesquisa – SME/SP..........................208
13
INTRODUÇÃO
1
Intitulada: O registro como instrumento de reflexão na formação docente: pesquisa-intervenção em
Escola Municipal de Educação Infantil. 2015. Dissertação (Mestrado) – Universidade Nove de Julho, São
Paulo, 2015.
14
meu próprio local de trabalho e isso contribuiu, sobremaneira, para meu crescimento
profissional, enquanto crescia também como pesquisadora.
Minha pesquisa de mestrado tinha como objeto de estudo “(...) o registro como
instrumento de reflexão sobre concepções e práticas educativas de docentes da Educação
Infantil (...)” (MERLI, 2015, p. 19). O objetivo da pesquisa-intervenção era “(...) criar espaços
coletivos de reflexão nos momentos de formação continuada em serviço de uma Escola
Municipal de Educação Infantil da cidade de São Paulo” (MERLI, 2015, p. 19).
Na época, eu coordenava uma EMEI na qual realizei a pesquisa e, quando ingressei no
mestrado, estávamos discutindo a ausência de registros pedagógicos na unidade. As
professoras tinham como único instrumento de registro o Diário de Classe (documento oficial
da Rede Municipal de Ensino de São Paulo – RME/SP), no qual descreviam as atividades
realizadas e os “Conteúdos trabalhados” diariamente, além de lançarem a frequência das
crianças. Mas, e o planejamento? E os processos vivenciados pelas crianças? E as
intervenções feitas pelas professoras? Os registros no Diário de Classe não retratavam esses
aspectos.
Além de reduzido espaço para registros escritos, o Diário de Classe organizava-se por
datas e bimestres. Os termos para designar os registros, como “Conteúdos trabalhados”,
também revelavam uma concepção conteudista e escolarizada como objetivo da Educação
Infantil2. Todavia, não apenas nesse instrumento, como em outros (semanários, diários de
bordo, etc.), são os “conteúdos” das práticas na Educação Infantil que importam3.
Começamos a utilizar o semanário, mas este apresentava apenas os registros semanais
do que seria proposto em cada turma de crianças – muitas vezes, em formato de tópicos.
Ainda não era um instrumento reflexivo e, embora eu recolhesse os semanários
semanalmente, as “devolutivas”4 às professoras não favoreciam o diálogo e a interlocução de
maneira a construirmos espaços de formação pautados na reflexão sobre as práticas por meio
dos registros de suas propostas. As devolutivas costumavam ser feitas utilizando pequenas
observações sobre as propostas apresentadas nos semanários, elogiando ou fazendo algumas
2
No ano de 2019, a partir de uma ação da Divisão de Educação Infantil (DIEI), da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo (SME/SP), os Diários de Classe da Educação Infantil passaram por mudanças, de
forma a permitir registros mais pertinentes às práticas que se pautam na concepção curricular da Rede
paulistana. Algumas alterações foram em relação ao espaço destinado aos registros (inclusão de folhas com
espaço para registro do acompanhamento do processo educativo) e à mudança de termos como: educandos,
no lugar de alunos, e resumo diário do trabalho desenvolvido, no lugar de conteúdos trabalhados.
3
Essa discussão foi feita na minha dissertação de mestrado (MERLI, 2015).
4
Escrevo devolutiva entre aspas, porque apenas hoje, após as formações das quais venho participando na
SME/SP, analiso criticamente os comentários que fazia nos registros das professoras e consigo perceber
falhas nos mesmos, no sentido de não serem disparadores de reflexões e diálogos acerca das práticas ali
registradas.
15
sugestões para a realização das atividades. Algumas vezes, apenas carimbava e colocava a
data. Não fazia questionamentos que ajudassem as professoras a refletirem acerca das
concepções por trás das práticas propostas, relacionando-as com o que é proposto nos
documentos da Rede Municipal de Ensino (RME/SP) para o trabalho na Educação Infantil.
Ao apresentar minha intenção de pesquisa ao grupo de professoras, seis delas
aceitaram contribuir com a mesma. Combinávamos uma proposta a ser observada e um foco
de observação. As professoras faziam registros mais detalhados antes e depois das atividades,
que eu observava em suas turmas. Reuníamo-nos após a observação para conversar sobre as
propostas, usando meus registros (escritos e fotográficos) e os das professoras. Por fim,
montávamos uma síntese dessa conversa, que era chamada de devolutiva, e compartilhávamos
com um grupo maior, nos momentos de formação na Jornada Especial Integral de Formação
(JEIF). As conversas eram todas gravadas e os áudios transcritos. A partir dos registros, foram
levantadas categorias de análise referentes às concepções e práticas docentes, e sobre a
formação continuada em serviço.
5
A RME/SP possibilita às/aos professoras/es optarem por uma jornada na qual são garantidas oito horas-aula
semanais de formação em sua carga horária e todas as unidades elaboram seus PEAs, partindo de temáticas
que sejam importantes para a formação docente de acordo com a realidade de cada escola. Portaria nº 901, de
24/01/2014, dispõe sobre Projetos Especiais de Ação, PEAs e dá outras providências (SÃO PAULO, 2014b).
16
pelas EMEIs da mesma Rede e isso me pareceu mais relevante para minha formação e
atuação profissional.
Ao cursar novas disciplinas na FEUSP e com os encontros de orientação, o projeto foi
sendo redimensionado e passou a ter como objetivo conhecer, investigar e analisar como
professoras/es e coordenadoras/es do primeiro ano do Ensino Fundamental (EF) avaliam o
trabalho que foi realizado junto às meninas e meninos pequenas/os, recém-chegadas/os da
Educação Infantil (EI) e planejam suas propostas, a partir da documentação pedagógica
encaminhada pela EMEI.
Aqui, trago novamente Mills (1965, p. 239), para tratar das mudanças de percurso:
9
Essa orientação mantém-se nas portarias com as diretrizes para elaboração do calendário de atividades nos
anos seguintes.
22
A inquietação inicial avançou dos questionamentos acerca do não uso dos registros
elaborados na EI por professoras/es do primeiro ano do EF, para possíveis formas de intervir
nessa situação. A ideia da intervenção surgiu como uma possibilidade decorrente da função
que ocupava desde fevereiro de 2017, na DIPED da DRE/SP. O contato com um número
ampliado de pessoas (professoras/es e coordenadoras/es) me permitiu confirmar que,
frequentemente, os registros elaborados na EI e encaminhados às escolas de EF eram
deixados de lado.
Novamente, assim como no mestrado, voltei-me à formação de professoras/es, agora
de maneira mais ampliada, pois a intervenção não foi restrita apenas a uma Unidade
Educacional, mas teve como público-alvo professoras/es e gestoras/es representantes de
diferentes Unidades/DREs, tanto de Educação Infantil como de Ensino Fundamental.
Também continuei investindo nos registros como instrumentos de formação, pois as
discussões nos encontros formativos partiram de registros de práticas e de avaliação
elaborados pelas/os colaboradoras/es da pesquisa; além de que os próprios encontros foram
23
Na busca por estudos anteriores sobre a temática desta pesquisa, foram utilizados os
descritores: “transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental”, “transição”,
“formação docente integrada” e “currículo integrador da infância”.
A busca foi realizada na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), na
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, no Banco de Teses e Dissertações da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e no Scielo
(Scientific Electronic Library Online).
O período de busca estabelecido foi entre 2014 e 2020 e essa escolha se deu tendo em
vista a publicação da Orientação Normativa nº 01 (SÃO PAULO, 2014a), no final do ano de
2013, e seus impactos nas discussões e nos encontros de formação continuada em serviço a
partir de 2014.
Essa Orientação Normativa é um marco importante na RME paulistana, no que se
refere à temática da transição entre Educação Infantil e Ensino Fundamental, pois apresenta
orientações acerca dos registros na EI e de sua expedição para o EF, enfatizando que “A
transição de uma etapa para a outra não pode romper com os benefícios da aprendizagem
construída pelas crianças”. (SÃO PAULO, 2014a, p. 26).
estudos portugueses, um foi publicado em uma revista brasileira. Entre os estudos brasileiros,
dois foram realizados no Distrito Federal, um no Ceará, um no Espírito Santo, três em Minas
Gerais, três em Santa Catarina, um no Paraná, um em Pernambuco, cinco no Rio Grande do
Sul, quatro no Rio de Janeiro e dezessete em São Paulo (quatorze na Capital e três no
Interior). Percebe-se, portanto, que a temática da transição vem sendo debatida em diversos
contextos, não sendo o debate uma necessidade apenas do Estado, ou do município de São
Paulo, contexto de realização dessa pesquisa, mas de todo o país10.
Grande parte dos estudos encontrados evidencia aspectos que serão abordados ao
longo deste trabalho, principalmente no que se refere aos olhares e sentidos que se fazem
presentes nas discussões acerca da transição da EI para o primeiro ano do EF. Quando se
pensa e se discute a temática da transição, independente do foco de discussão, inúmeros
fatores “entram na conversa”, tais como: as percepções de adultas/os e crianças sobre as
escolas da infância; a presença, ou a ausência do brincar; o currículo, a alfabetização e o
letramento; a avaliação; a documentação pedagógica; o papel da gestão nos processos de
transição; as concepções e propostas do trabalho educativo com as crianças e suas famílias; a
formação continuada e integrada de equipes docentes e gestoras – nas duas etapas; além da
elaboração e implementação de políticas públicas de transição.
Dentre os trabalhos encontrados, seis apresentam relações de semelhança com essa
pesquisa, no que se refere à metodologia (pesquisa-ação) e à proposição de ações de formação
e de criação de espaços-tempos para a discussão sobre a transição junto a docentes e
gestoras/es atuantes nas duas etapas. Os estudos de Corrêa (2016), Oliveira (2017), Fernandes
(2017), Souza (2018), Oliveira (2019) e Machado (2019) seguem nessa esteira.
Corrêa (2016) realizou um projeto de intervenção para discutir documentos que
norteiam a EI e o EF de 9 anos na Rede Municipal de Arroio Grande/RS e tinha como
objetivo subsidiar a construção colaborativa de uma proposta de transição entre as etapas no
município. Também coordenou e analisou oito rodas de conversas com dezenove professoras
de oito escolas (duas de EI e seis de EF) da referida rede para debater seis categorias
levantadas, a partir de entrevistas realizadas com professoras da EI e do EF, sendo elas: “(...)
lúdico X rotina; transição como momento conflituoso: ou brinca ou aprende; Educação
Infantil: caráter pedagógico da EI; preparação para o EF; letramento; percepção dos
professores em relação à prática pedagógica do EF” (CORRÊA, 2016, p. 7).
10
Os detalhes acerca dos estudos encontrados são apresentados no Quadro síntese do levantamento de Teses,
Dissertações e Artigos (APÊNDICE K).
25
Para Moss (2011), essa seria a relação de distanciamento entre sistemas, muitas vezes,
considerados como opostos, nos quais as dicotomias e fragmentações fazem com que as
crianças de 6 anos de idade sejam colocadas entre duas culturas escolares distintas.
A dissertação de mestrado de Bortolaci (2015) apresenta uma experiência coletiva de
pesquisa, que teve como objetivo articular as bases curriculares da alfabetização no EF de 9
anos, indicando a necessidade de elaboração de um plano que considere as transições e que
sustente as continuidades entre as etapas. As análises realizadas pela pesquisadora têm como
foco as políticas públicas para o ensino da leitura e da escrita nas séries iniciais do EF, nas
quais se considere “(...) a infância em seu encantamento lúdico” (BORTOLACI, 2015, p. 7).
Em sua pesquisa de mestrado, Soares (2017) faz uma análise da cultura dos resultados
das avaliações e sua influência no trabalho pedagógico com a leitura, na transição da EI para o
EF. A pesquisadora denuncia a presença de práticas de alfabetização que não contribuem para
a formação de crianças leitoras, que tenham oportunidades de vivenciarem a leitura como
fruição, mas que, ao contrário, são submetidas a um trabalho intenso de preparação para
avaliações externas.
Aspectos apresentados por Leme (2015), Bortolaci (2015) e Soares (2017) relacionam-
se com algumas das denúncias feitas pelas colaboradoras desta pesquisa, ao tratarem do
trabalho pedagógico com as crianças no primeiro ano do EF e das cobranças para que estas
sejam alfabetizadas no tempo estabelecido, no caso da RME/SP, até o final do segundo ano do
EF. Tais cobranças, bem como a preocupação constante com o desempenho apresentado pelas
crianças nas avaliações externas às quais são submetidas no EF, foram utilizadas em diversos
momentos como tentativas de justificar a diminuição do tempo e da presença do brincar nas
turmas de crianças do primeiro ano do EF.
Destaco que, 11 dos trabalhos encontrados nesse levantamento, mesmo com focos em
aspectos distintos ao brincar no EF, destacam elementos da cultura escolar de cada etapa, tais
como: a necessária valorização do brincar e das artes nos processos de continuidade
(DUTRA, 2014); a desvalorização do brincar nos anos iniciais do EF (FERRARESI, 2015); a
necessidade de considerar as crianças em sua integralidade (RIBEIRO, 2015); a relação
lúdico-rotina e dicotomia entre brincar e aprender (CORRÊA, 2016); o alinhamento dos
corpos e escolarização da infância (BEZERRA, 2016); o controle dos corpos, importância da
presença do brincar e do letramento na EI e no EF (FERNANDES, 2017); a ludicidade como
foco da jornada na EI e no EF (OLIVEIRA, 2017); a presença da brincadeira como atividade
principal na EI em contraposição às atividades de estudo no EF (ZANATTA, 2017); o brincar
28
Como apresentado anteriormente, Souza (2018) investiga a ação formativa das/os CPs
no processo de transição das crianças da EI para o EF e seu papel na proposição de reflexões
acerca de ações de articulação e continuidade entre as duas etapas.
A pesquisa de mestrado de Oliveira (2018) trata de uma transição “inversa” vivida por
coordenadoras/es pedagógicas/os que saem das escolas de EF e vão para unidades de EI.
Embora não trate da transição vivida pelas crianças ao ingressarem no primeiro ano, a
pesquisadora destaca a relevância das aprendizagens pela experiência e pela parceria com
professoras/es e outras/os coordenadoras/es que já atuam na EI, além de ressaltar “(...) a
importância de ofertar espaços de troca dentro e fora da escola para partilhar saberes e modos
de agir” (OLIVEIRA, 2018, p. 107), o que corrobora com a tese defendida nesse trabalho
sobre a necessidade de espaços formativos que integrem profissionais de ambas as etapas.
Cardoso (2018) ressalta a importância da formação integrada e de outras ações de
integração para o desenvolvimento de propostas adequadas de transição, destacando o papel
da coordenação pedagógica nos processos de qualificação dos relatórios descritivos escritos
por professoras/es da EMEI, bem como na promoção de momentos para sua análise por
professoras/es do primeiro ano do EF. A pesquisadora indica também a necessidade de
propostas formativas sobre a função da avaliação na EI e sobre a articulação do planejamento
do trabalho pedagógico com as crianças do primeiro ano do EF, com os relatórios
encaminhados pelas EMEIs às EMEFs.
Os relatórios descritivos individuais de avaliação também são foco das pesquisas de
Lamas (2014), Dutra (2014), Cardoso (2018) e Arakaki (2018).
Lamas (2014) realizou uma pesquisa cujo objetivo foi descrever e analisar como
ocorre a utilização da avaliação e do relatório descritivo no município de Juiz de Fora. Dentre
os problemas encontrados, o pesquisador aponta a ausência de uma cultura de transição, o que
impõe a necessidade de instituir a cultura da leitura dos relatórios no início do ano. Um dos
desdobramentos da pesquisa foi a elaboração de um Plano de Ação Educacional direcionado à
Secretaria de Educação com orientações para a elaboração dos relatórios descritivos.
A pesquisa de Dutra (2014) tem como foco analisar a relação curricular com relatórios
descritivos e vice-versa. A pesquisadora utiliza recursos da etnografia e propõe o que chama
de hibridização de palavras ao tratar da transição, sugerindo uma prática de “Educino
Fundamentil”, na qual as práticas de EI e EF possam efetivamente apresentar continuidades e
entrecruzamentos.
Cardoso (2018) buscou investigar em que medida os relatórios da EMEI subsidiam o
planejamento no 1º ano do EF, tendo como objeto de análise planejamentos docentes do 1º
30
Foram encontradas diversas pesquisas sobre transição que buscaram ouvir as crianças
e suas narrativas sobre a passagem entre as etapas e a chegada ao primeiro ano, o que
evidencia um importante avanço de concepção, em que as crianças são vistas como “(...)
capazes de contar o que lhes acontece e construir sentidos para suas experiências”
(FURLANETTO; MEDEIROS; BIASOLI, 2020, p. 1.230). Esse artigo, o mais recente entre
os encontrados no levantamento feito, analisa a compreensão das crianças sobre a passagem
da EI para o EF a partir de suas narrativas. Os resultados indicam tensões, pois as crianças se
sentem atraídas pelas inovações oferecidas pela nova escola, mas, ao mesmo tempo, sentem
temores, lutos e sofrimentos devido a questões como, por exemplo, a diminuição de
oportunidades para brincar.
Tensões semelhantes são encontradas no estudo de Dias (2014), que partiu de uma
etnografia realizada em escolas públicas de Joinville (SC), para analisar as perspectivas das
crianças sobre a transição. A pesquisa revelou que as crianças sentem vontade de ir para esse
novo lugar, o lugar de “ser grande” e de fazer parte da cultura letrada; mas que há uma grande
ruptura com a Educação Infantil revelada nas práticas cotidianas do EF.
No artigo publicado por Cardona (2014), sobre pesquisas realizadas em Portugal, com
o objetivo de ouvir crianças, educadoras e professoras11, evidencia-se a necessidade de
reflexão sobre o momento da passagem entre as etapas e de criação de condições para que
essa decorra de forma mais respeitosa com as crianças e suas infâncias.
Dias e Campos (2015) buscam compreender como as crianças vivenciam a transição e
também destacam as tensões reveladas por elas nesse processo. Elas querem ir para a escola e
aprender a ler, mas ao mesmo tempo “(...) indicam que, mesmo desejando entrar no Ensino
Fundamental, estar na escola é um desafio diário” (DIAS; CAMPOS, 2015, p. 635).
Bezerra (2016) buscou identificar o que dizem as crianças sobre o primeiro ano, o
espaço escolar e sobre si mesmas nesse espaço. A pesquisadora buscou compreender, a partir
das vozes das crianças, os lugares que a infância ocupa na sala de aula, problematizando a
entrada das crianças no EF de 9 anos e denunciando a escolarização da infância em uma
estrita reta, o alinhamento dos corpos e a negação de sua infinitude e multiplicidade.
O artigo de Martinati e Rocha (2015) apresenta perspectivas de crianças e
professoras/es sobre a transição e revela o pouco cuidado com esse processo, a desarticulação
e a descontinuidade entre as etapas. Diante desse cenário, as autoras afirmam a “(...)
11
Em Portugal denominam-se educadoras aquelas que trabalham na EI (pré-escola) e professoras, no EF
(chamado de escola obrigatória), com diferenças na formação exigida em cada caso.
32
planejamento e avaliação do trabalho educativo que desenvolvem, bem como dos processos
de transição. Assim como defende-se nesta tese: a proposição de espaços-tempos formativos
para a integração entre profissionais da EI e do EF, de forma que possam discutir as
especificidades de cada etapa e também os pontos de convergência e de articulação entre elas.
Nesse sentido, foram encontrados alguns estudos que buscaram ouvir equipes docentes
e/ou gestoras e suas concepções acerca da transição EI-EF: Fernandes (2014); Martinati e
Rocha (2015); Moreira, Micarello, Schapper e Santos (2015); Checconi (2016); Faria (2018) e
Machado (2019). Com exceção da pesquisa de Fernandes (2014), todas as demais já foram
brevemente apresentadas anteriormente.
Fernandes (2014) buscou investigar os significados sobre a pré-escola e a
obrigatoriedade da frequência nessa etapa, além de concepções sobre a transição presentes nas
narrativas de supervisores da SME (de um município no interior do Rio Grande do Sul),
equipe diretiva das escolas, professoras/es, crianças e famílias. A pesquisadora denuncia,
dentre outros aspectos presentes nas narrativas, o controle dos corpos e a subordinação da EI
ao EF.
O panorama apresentado evidenciou a crescente realização de pesquisas sobre a
temática da transição, com diferentes focos de olhar, mas partindo, de maneira geral, da
necessidade de construção de propostas curriculares e de ações de integração entre as
diferentes etapas da Educação Básica, respeitando as infâncias onde quer que elas estejam.
A ampliação do Ensino Fundamental trouxe à tona os olhares para o processo de
transição e para a chegada das crianças aos 6 anos no primeiro ano, o que lhes subtraiu um
ano de seu percurso na Educação Infantil e, tanto nas pesquisas brasileiras (nos diferentes
estados nos quais foram realizadas) como nas portuguesas, o que se denuncia é justamente o
desrespeito às crianças e às/aos profissionais quanto a essa nova “configuração” e tudo que
dela decorre no cotidiano das escolas de EF.
Alguns dos trabalhos encontrados apresentam pontos de articulação com essa pesquisa
e, portanto, serão retomados mais adiante. Este levantamento e a leitura dos trabalhos
encontrados permitiu o encontro com diferentes caminhos e possibilidades nesta busca pela
construção de uma relação entre as infâncias e a educação (Infantil e Fundamental) que
respeite os direitos das crianças e das/os profissionais que estão com elas nos diferentes
contextos educativos.
34
Os caminhos que foram sendo percorridos desde o início dessa pesquisa culminaram
no desejo de construção de espaços para o diálogo entre profissionais da Educação Infantil e
do Ensino Fundamental acerca da passagem das crianças de uma etapa à outra, porque se
percebeu como um problema a ausência de ações promovidas pela SME/SP, para reunir
profissionais da EI e do EF, pois os calendários de formação são específicos para profissionais
de cada etapa.
Diante do problema constatado, partiu-se do pressuposto de que reunir profissionais da
EI e do EF em encontros de formação permitiria trocas qualificadas entre ambos, de maneira a
repensar as práticas junto às crianças nas duas etapas, ampliando o debate e fazendo com que
as discussões não ficassem restritas à EI.
O objetivo geral da pesquisa foi investigar os processos de transição das crianças
pequenas da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, em encontros formativos
integrados entre profissionais de ambas, na defesa de que são essenciais para a
problematização das peculiaridades do trabalho pedagógico em cada uma das etapas e no que
as envolvem, unem, articulam, na construção de menores rupturas e maiores continuidades na
Educação das infâncias.
Os objetivos específicos foram: investigar e/ou propor encontros formativos
integrados que reunissem profissionais das duas etapas para dialogarem, compartilharem e
construírem conhecimentos, saberes e fazeres que envolvessem o trabalho educativo com
crianças na EI e no EF, problematizando concepções e práticas sobre os processos de
transição.
As reflexões feitas no decorrer da pesquisa foram permeadas por inúmeros
questionamentos acerca do trabalho com as crianças e suas infâncias em cada etapa, tais
35
como: o que muda e o que se mantém no trabalho realizado com crianças na EI e no EF? O
que nos ajuda a olhar para as infâncias nestes diferentes espaços? Que conhecimentos
necessitamos buscar e/ou construir a respeito da educação na infância? O que profissionais
das duas etapas podem ensinar umas/uns às/aos outras/os? Que olhares a respeito das crianças
e de sua educação podem ser trocados? Que reflexões são necessárias às/aos profissionais das
duas etapas? Como esses diálogos e reflexões podem favorecer a articulação e as
continuidades entre as etapas?
Os contextos investigados foram encontros formativos de um Curso optativo
promovido por uma DRE/SP e do Grupo de estudos Transições, criado e coordenado por
mim. Nos cinco encontros do Curso optativo, realizados em 2018, estive como pesquisadora,
acompanhando a efetivação daquilo que havia sido planejado em termos de estratégias e de
temáticas para discussão e reflexão.
No primeiro encontro do Curso optativo houve uma rodada de apresentações e havia
22 pessoas presentes: três coordenadoras pedagógicas (uma de CEI e duas de EMEI), 11
professoras (duas de CEI, duas de EMEI, sete de EMEF), três assistentes de direção (uma de
CEI e duas de EMEF), uma diretora de EMEI, um diretor de EMEF (único homem do grupo)
e três supervisoras escolares. As duas formadoras da DIPED são professoras de CEI. Muitas
das pessoas presentes, no momento da apresentação, relataram já terem transitado por
diferentes etapas da educação, por diferentes cargos, e também por redes de ensino pública e
privada de diferentes municípios. Todas as pessoas participantes do curso eram de escolas da
DRE/SP que estava promovendo a formação, pois essa era uma das especificidades do
público-alvo.
No Grupo de estudos, construímos, eu e participantes dos encontros, momentos de
reflexão, nos quais houve uma polifonia de vozes, e a mediação da aprendizagem de cada
pessoa se deu pela colaboração de todas, não apenas escutando, mas levando algumas
possíveis respostas e tantas outras perguntas. As vivências que cada participante compartilhou
e suas reflexões sobre o vivido se fundiam com as vivências e reflexões das outras pessoas. E
seguimos, em cada encontro, com a necessidade de continuidades, de nos encontrarmos mais
outras tantas vezes. Portanto, esse Grupo de estudos não teve data marcada para acabar, muito
pelo contrário, foi recebendo novas pessoas, com vivências diversas, o que enriqueceu ainda
mais as reflexões e discussões que fizemos. É nosso desejo continuarmos com os encontros,
mesmo após a defesa desta tese e a finalização do doutorado.
36
12
Indicadas pelo profundo envolvimento demonstrado como alunas especiais nas disciplinas do curso de
Pedagogia: “Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil, e “Artes e Educação Infantil II: dança e teatro”,
sob sua responsabilidade, junto ao Programa de Formação de Professoras/es da rede pública, da FEUSP.
13
Mais informações em: https://coronavirus.saude.gov.br/. Acesso em: 5 ago. 2020.
37
A proposta inicial para esta pesquisa era de conhecer, investigar e analisar como
professoras/es e coordenadoras/es do primeiro ano do EF paulistano avaliavam o trabalho
educativo realizado junto às meninas e meninos pequenas/os, recém-chegadas/os da Educação
Infantil, e planejavam suas propostas, a partir da documentação pedagógica. No entanto,
diante das dificuldades para encontrar unidades educacionais, ou DREs que realizassem tal
avaliação, foi reconhecida a necessidade de investir na proposição de encontros formativos
integrados com docentes e gestoras/es da EI e do EF, para tornar possível a discussão sobre as
potencialidades dos registros como instrumentos que podem contribuir para os processos de
transição em articulação entre ambas.
O documento Currículo Integrador da Infância Paulistana, publicado pela SME/SP, em
2015, apresenta “(...) concepções que embasam a implantação (...)” de um currículo
integrador (SÃO PAULO, 2015, p. 5) e é resultado de discussões em seminários que,
Este documento vinha passando por um processo de atualização, desde 2017, por meio
da composição de um Grupo de Estudos e Práticas Pedagógicas (GEPP), envolvendo
representantes das 13 Diretorias Regionais (professoras/es, gestoras/es, formadoras/es). O
grupo se encontrava mensalmente e tinha suas discussões conduzidas por quatro assessoras:
Suely Amaral Mello, Maria Carmen Silveira Barbosa, Cláudia Panizzolo (até o segundo
semestre de 2018), seguida de Maria da Graça Souza Horn e Maria Helena Pelizon.
As discussões tinham como foco as seguintes temáticas: “Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) X Currículo Integrador X Indicadores de Qualidade”; “A cultura escrita
na Educação Infantil”; “As concepções de criança ao longo dos currículos municipais”;
38
Venho pensando sobre a proposição de uma formação que coloque em diálogo as/os
profissionais da Educação Infantil e do primeiro ano do Ensino Fundamental, desde o final de
2017. Entendo que essa é uma forma potente de ampliar as discussões sobre a transição de
uma etapa para a outra, e de pensar e construir coletivamente formas para que ela ocorra de
maneira mais harmoniosa, entendida aqui num processo que não seja de rupturas que
distanciem as duas etapas, através da composição de propostas educativas que não sejam
antagônicas, nas quais as aprendizagens não se separem das brincadeiras, os tempos e ritmos
próprios das crianças do tempo institucional, os corpos das mentes, o ser criança do ser
aluna/o.
Durante os encontros semanais que tínhamos na SME/SP, as formadoras da DIPED de
outra DRE/SP me apontaram a intenção de propor uma formação sobre esta transição e
solicitaram meu auxílio na elaboração da proposta, principalmente no que se refere à
39
Neste contexto, estive como pesquisadora, não somente colhendo, como também
gerando e produzindo os dados por meio da observação, com registro em caderno de campo,
de registros escritos e fotográficos dos encontros formativos, que estariam sob a coordenação
das formadoras desta DRE/SP.
Apresentei uma proposta de formação com a temática da transição na DRE/SP em que
sou formadora, mas não houve interesse dentro do grupo de formadoras/es em levá-la adiante,
e a recusa se deu por conta de já estarem com outras formações em andamento e por sentirem
14
Foram feitas alterações na proposta publicada no Diário Oficial do Município, com o objetivo de preservar a
identidade da DRE e das pessoas envolvidas na formação.
40
Nesse sentido, Kishimoto (2002, p. 155) ressalta que “Novas concepções indicam que
a educação deve ter seu objeto centrado na prática profissional”. A autora afirma ainda que:
as/os CPs. Estas ações, inicialmente (em 2017), envolveram a reformulação e publicação do
Currículo da Cidade15 e, durante o primeiro semestre de 2018, trataram da implementação
deste currículo através da oferta de formação às/aos CPs e professoras/es.
No entanto, os encontros com formadoras/es das DIPEDs (SME/SP) e destas/es com
CPs e professoras/es, nas DREs/SP, não aconteciam e não acontecem de maneira a reunir
profissionais da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, havendo calendários específicos
para as ações junto às/aos profissionais de cada etapa. Discute-se o currículo e a avaliação em
cada uma das etapas, sem que as/os profissionais de cada uma delas dialoguem. Investe-se na
qualificação dos registros na Educação Infantil, mas não há ações para que professoras/es do
Ensino Fundamental analisem e façam uso destes registros. Tampouco existem ações para
que, também no EF, construa-se a prática de documentar de maneira qualificada. Havia aqui,
portanto, um campo fértil para a pesquisa e para intervenções nesta realidade.
15
Disponível em: http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Main/Noticia/Visualizar/PortalSMESP/Primeiro-
curriculo-da-rede-municipal-de-Sao-Paulo-tera-aulas-de-programacao. Acesso em: 5 ago. 2018.
43
Ninguém faz investigação só para ficar mais informado. Fá-la para que
também outros fiquem mais informados. Informar os outros deve ser algo
que acontece logo no início do processo de descoberta e não deve parar
nunca. (GRAUE; WALSH, 2003, p. 13).
Por que pensar uma formação que reúna professoras/es de EI e de primeiro ano do EF?
Por que nesta formação inquirir/problematizar práticas? O que se pretende (ou se pode)
alcançar com isso? A ideia de problematizar as práticas de professoras/es e gestoras/es destas
duas etapas da Educação Básica se sustenta em algo semelhante ao apresentado por Pinazza
(2014, p. 52), ao afirmar que a tematização da formação de profissionais para a educação:
Reunir profissionais que trabalham com crianças em diferentes etapas foi (e continua
sendo) uma ação considerada como uma possibilidade de que possam pensar a educação da
infância e não a educação fragmentada em duas etapas tão próximas e, ao mesmo tempo, que
são vivenciadas de maneiras tão distintas, tanto por profissionais como por meninas e
meninos.
foram exibidos slides, com textos e imagens, além de vídeos, que as formadoras utilizaram
como disparadores para as discussões das temáticas de cada encontro.
O Grupo de estudos Transições se reuniu em seis encontros, durante o segundo semestre
de 2018, seis encontros no segundo semestre de 2019 e cinco encontros no primeiro semestre de
2020, num total de 17 encontros. A presença das pessoas inscritas oscilou de um encontro ao
outro, numa média de seis presentes em cada um.
As temáticas discutidas no segundo semestre de 2018 foram: 1. Ser
professora/professor de crianças pequenas: na Educação Infantil e no Ensino Fundamental; 2.
O Ensino Fundamental de 9 anos: impactos nas propostas pedagógicas para/com crianças
pequenas (na EMEI e na EMEF); 3. Transição da Educação Infantil para o Ensino
Fundamental: qual o papel de cada uma/um?; 4. Documentações e registros pedagógicos
como instrumentos potentes para a articulação entre Educação Infantil e Ensino Fundamental;
5. Formação de professoras/es: o que é necessário e o que é possível; 6. Continuidades:
proposições práticas – para as unidades educacionais e para a formação (APÊNDICE H).
Durante o segundo semestre de 2019, debruçamo-nos sobre algumas grandes questões:
Por que é importante falar de transição? Que continuidades queremos? Que continuidades
temos?16 Como podemos compartilhar com outras pessoas e em outros espaços o que temos
discutido, a partir da escuta que fazemos de nós mesmas? (APÊNDICE I).
De acordo com Rinaldi (2012, p. 214), a:
Escuta das cem, das mil linguagens, símbolos e códigos que usamos para nos
expressar e nos comunicar, e com os quais a vida expressa a si mesma e se
comunica com aqueles que sabem ouvir. Escuta como tempo, tempo de
ouvir, um tempo situado fora do tempo cronológico – um tempo cheio de
silêncios, de longas pausas, um tempo interior. Escuta interior, escuta de nós
mesmos, como uma pausa, uma suspensão, um elemento que engendra ouvir
os outros, mas que também é gerado pelo escutar o que os outros têm de nós.
16
Questões feitas pela banca, em meu exame de qualificação, que considerei desde o primeiro encontro do
Grupo de estudos, retomando em 2019.
47
atualidade e pelas importantes contribuições para o campo investigado nesta pesquisa (como
na Proposta e Cronograma em APÊNDICE J).
Durante os encontros do Grupo de estudos, as colaboradoras eram constantemente
provocadas a fazerem registros que contemplassem as reflexões individuais e também as
coletivas, para que pudéssemos construir nosso “patrimônio pedagógico” (FOCHI, 2019) e
compartilhar nossas reflexões em outros espaços, com outras pessoas.
Com exceção do primeiro encontro do Curso optativo da DRE/SP e do primeiro
encontro do Grupo de estudos, ocorridos em 2018, todos os demais foram gravados em áudio,
além de terem sido feitas anotações em diário de campo 17. Nos registros em diário de campo
foram anotados, prioritariamente, depoimentos de participantes dos encontros formativos,
além de reflexões e questionamentos meus diante das discussões e trechos dos textos lidos
para os encontros do Grupo de estudos.
A análise dos registros dos encontros em áudio, do diário de campo e dos escritos das
colaboradoras da pesquisa, permitiu a busca por elementos que fossem recorrentes, padrões,
quebras de padrões, ou que aparentaram ser distintos. As formas assumidas pelos códigos
presentes nos materiais produzidos foram “(...) significantes das ideias – categorias analíticas
que o investigador identificou nos dados” (GRAUE; WALSH, 2003, p 194) e levaram aos
fios que foram os “(...) elementos interpretativos que o investigador entretece com os
acontecimentos e imagens no campo de investigação e que fornecem uma forma coerente de
pensar sobre o tópico de interesse da investigação” (GRAUE; WALSH, 2003, p. 195).
No relatório de qualificação desta tese havia um levantamento das temáticas abordadas
nos dois contextos investigados, com as saliências percebidas nas falas das colaboradoras ao
longo dos encontros, ocorridos em 2018. No entanto, a continuidade dos encontros do Grupo
de estudos, nos anos de 2019 e 2020, e a recorrente leitura e análise dos materiais produzidos,
levaram a mudanças significativas na catalogação, anteriormente apresentada no formato de
uma tabela e em tópicos. Como afirmam Graue e Walsh (2003), a vida humana é complexa
demais para ser catalogada e no processo de interpretação dos materiais é preciso ler, reler e
voltar a ler, construindo categorias e formas para a análise e interpretação.
Nesse sentido, as pessoas podem tentar:
17
Infelizmente, as gravações de áudio dos encontros do Grupo de estudos, ocorridos nos dias 11/11/2019 e
02/12/2019 foram perdidas, devido a problemas do gravador. A gravação do encontro virtual, ocorrido no dia
27/04/2020, não foi encontrada, provavelmente, porque não devo ter gravado como supus.
48
Lembro-me que, em 2010, eu havia assumido uma turma de primeira série (do Ensino
Fundamental de 8 anos) e durante o período de recesso escolar, em julho, a escola entrou em
contato para me dizer que haveria mudanças na distribuição das crianças nas turmas e que, a
primeira série, na qual eu era professora, seria transformada numa turma de segundo ano (do
Ensino Fundamental de 9 anos). As crianças “mais velhas” ficariam nessa turma e as mais
novas seriam transferidas para uma turma de primeiro ano. Após o período de recesso, retorno
à mesma escola, na mesma sala de aula, com praticamente as mesmas crianças, mas agora não
era mais primeira série, e sim segundo ano.
Não participei de nenhuma discussão ou formação a esse respeito e continuei
conduzindo as atividades como antes da mudança. Para minha prática, nesta turma, não houve
nenhuma consequência negativa, mas as crianças, após aquele segundo semestre, iriam para o
terceiro ano e não para o segundo, como se esperava ao fazer a matrícula na primeira série.
Avançaram compulsoriamente um ano em suas vidas escolares, porque tinham atingido a
chamada idade de corte e não eram, portanto, mais demanda para o primeiro ano.
Portanto,
Bebês e crianças (0-12 anos) constituem o eixo que une, congrega e justifica
a construção e a consolidação de um currículo integrador que supere
modelos curriculares fragmentados e descontínuos e considere bebês e
18
Parecer CNE/CEB nº 20/2009, aprovado em 11/11/2009 - Assunto: Revisão das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009b).
19
Poema “As cem linguagens da criança”, de Loris Malaguzzi, 1999. Disponível em: https://florescer.pt/cem-
linguagens-da-crian%C3%A7a. Acesso em: 5 ago. 2018.
53
crianças na sua integralidade (e não como pessoas a quem falta algo). (SÃO
PAULO, 2015, p. 9).
Por que consideramos que investir na formação docente é uma forma de intervenção?
Porque partimos do pressuposto, apresentado por Kishimoto (2002, p. 181), de que o
investimento na formação das/os profissionais “(...) possibilita a oferta de melhor qualidade
de educação às crianças”. Além disso, em meio às discussões e publicação de documentos
curriculares, é importante debatermos qual é o projeto para a educação da infância presente
nesses discursos e documentos, para reconhecer suas discrepâncias, muitas vezes existentes,
entre o que é proposto pelas políticas públicas, incluindo aquelas referentes a reformulações
curriculares e ao provimento das condições para sua efetivação. Portanto, “(...) é preciso
formar, orientar, apoiar e, sobretudo, valorizar esse profissional, para que ele se conscientize
54
cada vez mais de seu papel na educação das crianças e encontre condições concretas para
exercê-lo” (ROCHA; MARTINATI; SANTOS, 2012, p. 312). Encontrar essas condições
implica perceber que, por vezes, “(...) o poder público prescreve, mas não provê” (ROCHA;
MARTINATI; SANTOS, 2012, p. 313), e lutar contra isso.
A esse respeito, Kishimoto (2002, p. 194) afirma:
Portanto, um dos objetivos específicos desta pesquisa foi propor encontros nos quais
profissionais das duas etapas pudessem dialogar sobre o trabalho com crianças, pois
concordamos com Peres (2012, p. 67), ao destacar a proposição de experiências formativas,
em que se construa “(...) uma nova cultura escolar, na qual a educação infantil e o ensino
fundamental dialoguem mais e melhor”. Dessa forma, ampliam-se as possibilidades de que a
transição de uma etapa a outra não seja feita de rupturas, mas de continuidades.
A criação do Grupo de estudos decorreu da ideia defendida nesse trabalho de que a
integração de profissionais da EI e do EF é uma possibilidade e uma necessidade para se
pensar os processos de transição das crianças e o trabalho respeitoso com as infâncias onde
quer que elas estejam. A imersão nessas discussões e na realização da pesquisa, além do
contato, decorrente da minha função como formadora da DIPED, com professoras/es e
gestoras/es de diferentes contextos, também permitiu que outros espaços-tempos, além dos
encontros do Grupo de estudos, fossem propostos.
Ao longo da realização dessa investigação tive oportunidade de estar em diferentes
contextos formativos e educativos, compartilhando reflexões e dialogando sobre os processos
de transição, a partir do patrimônio pedagógico (FOCHI, 2019) que foi sendo construído
coletivamente no Grupo de estudos, buscando dar visibilidade às vozes das colaboradoras da
pesquisa e ao que vínhamos refletindo profundamente. Alguns desses outros espaços-tempos
de integração e discussão sobre os processos de transição foram em eventos acadêmicos,
outros em escolas, ou em DREs/SP, nos quais foi possível compartilhar o nosso “dizer
grupal” (DOWBOR, 2008, p. 84).
Em 2018, estive no 21º Seminário de Educação Infantil do Prisma – Centro de
Estudos do Colégio Santa Maria, e a conversa foi sobre “(Des)continuidades nos percursos
55
educativos: planejar, avaliar e aprimorar registros para superar rupturas”. Nesse encontro,
compartilhei algumas análises que vínhamos fazendo acerca da entrada das crianças aos 6
anos no EF e a necessidade de discussões e de ações para seu acolhimento. Alguns aspectos
sobre a transição presentes em documentos curriculares e em legislações nacionais e
municipais foram apresentados, para pautar a discussão sobre o que já se alcançou e os
desafios a serem superados para avançarmos dos discursos às práticas.
Na conversa após as apresentações foi possível perceber o desconhecimento de grande
parte das/os participantes acerca dos aspectos abordados. Uma delas me procurou ao final
para dizer que em sua cidade estavam estudando o Currículo Integrador da Infância Paulistana
(SÃO PAULO, 2015), por considerarem potente e inovador, sendo lamentável o
desconhecimento de tal documento por muitas pessoas da própria RME/SP.
Fiquei pensando muito tempo sobre essa conversa e comentei sobre ela no Grupo de
estudos. Esse desconhecimento das concepções e ações de integração propostas no Currículo
Integrador da Infância Paulistana (SÃO PAULO, 2015) é mais evidente quando se trata dos
contextos do EF, mas também, na EI. Isso revela, ainda mais, a necessidade de encontros de
integração entre profissionais das duas etapas, conforme destacado por Motta (2013, p. 171):
20
Disponível em: http://conave.fc.unesp.br/anais/index.php?t=TC2018101350286. Acesso em: 5 ago. 2020.
56
21
A UniCEU é composta por 47 Polos de Apoio Presencial e oferta cursos de Graduação e Especialização em
parceria com instituições públicas (UNIVESP e Universidade Aberta do Brasil), Universidade São Camilo e
instituições não governamentais. Disponível em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/ensino-superior/.
Acesso em 10 jan. 2020.
22
Folder em APÊNDICE L.
23
Nós nos conhecemos em alguns espaços formativos dos quais participamos e nos reencontramos na
disciplina “Sociologia da Infância e Educação Infantil”, ministrada na FEUSP, pela Profa. Dra. Maria Letícia
do Nascimento, em 2017, tendo realizado trabalhos juntas ao longo do semestre. O convite à ela foi
decorrente do conhecimento que tive acerca da sua pesquisa e de sua atuação como formadora na
Comunidade Educativa CEDAC, com a qual a SME/SP estabeleceu parceria no ano de 2019, para a formação
das equipes gestoras de CEIs da rede parceira.
57
presente, com escolas menos “lousais”, nas quais as crianças sejam bem-vindas. Assim como
as fotografias e narrativas das crianças foram disparadoras de possibilidades para pesquisas
futuras, a pesquisadora nos provocou a fotografarmos as escolas, seus espaços, salas, e
refletirmos sobre quais fotografias tiraríamos, quais espaços e propostas privilegiaríamos.
A supervisora convidada foi Eliana Scaravelli 24 e sua fala se centrou no papel da
supervisão e suas possibilidades de atuação nos processos de transição, revelando um olhar
sensível e acolhedor para as relações e demandas cotidianas das escolas. Foram
compartilhadas algumas de suas ações como supervisora para a integração entre as etapas e as
unidades educacionais que supervisiona, pautadas em alguns princípios, como o de que as
EMEFs precisa aprender o que acontece do outro lado da rua, nas escolas de EI vizinhas.
Reforço aqui que o movimento contrário é igualmente necessário, pois a EI também
precisa conhecer o trabalho do EF para que seja possível trocar, compartilhar ações e
concepções inerentes ao trabalho com as crianças em ambos os contextos. É importante, como
Eliana Scaravelli destacou, que os diferentes pontos de vista existentes sejam colocados em
diálogo.
Edicleide Lopes e Luiz Galdêncio 25, CPs convidada e convidado para o seminário,
compartilham a coordenação pedagógica de uma EMEF e nos contaram sobre a proposição de
momentos de formação continuada para trocas entre docentes do EF I, II e da Educação de
Jovens e Adultos (EJA). Destacaram que a história dos lugares e das pessoas seja observada e
considerada nos momentos formativos, partindo da sensibilização do olhar, da escuta e da
empatia. Também foram feitas considerações sobre a formação integral das crianças e da
equipe docente, que precisa conhecer as diferentes infâncias e suas linguagens, sendo o
trabalho formativo desenvolvido pela coordenação pedagógica essencial nesse sentido.
Por fim, nosso professor convidado foi José Rosemberg 26, que possui dois cargos
efetivos na RME/SP e transita entre as etapas, da EMEI à EMEF. Ele compartilhou suas
aprendizagens e práticas, ressaltando as possibilidades de estar junto com as crianças,
incluindo-as nos momentos de planejamento e avaliação, trabalhando com projetos nas duas
24
O convite à ela foi decorrente do conhecimento acerca do seu trabalho como supervisora escolar preocupada
com a proposição de ações de integração entre as escolas do setor que supervisiona, na época do seminário na
DRE Ipiranga e atualmente na DRE Santo Amaro.
25
Dupla parceira na Coordenação de uma EMEF da DRE Campo Limpo, que contempla nos momentos de
formação em serviço discussões sobre a integração entre os ciclos e a educação das crianças pautada em
práticas pedagógicas respeitosas com suas infâncias.
26
Professor da RME/SP que compartilha amplamente nas redes sociais seu trabalho com as crianças na EI e no
EF, estudioso dos princípios da Sociologia e da Pedagogia da Infância e defensor de uma educação respeitosa
com as crianças e suas infâncias nas duas etapas.
58
etapas, de forma a romper com os modelos e concepções que não consideram as crianças, suas
vozes e desejos nos processos educativos, reforçando que precisamos investir nestas questões.
Ao final das falas, houve tempo para perguntas e comentários da plateia, com destaque
referente às possibilidades de integração e ao papel de cada pessoa nas ações de articulação,
algo que eu havia destacado na abertura do seminário, como momento para compartilharmos
possibilidades e pensarmos coletivamente sobre o papel que temos na garantia de uma
educação que respeite os direitos das crianças onde quer que estejam.
No dia 09/11/2019, estive na Reunião Pedagógica de uma EMEF, a convite de uma
das colaboradoras do Grupo de estudos e coordenadora pedagógica da escola. Falamos sobre
a transição da EI para o EF, mas por se tratar do contexto da EMEF, com a presença de
docentes dos anos iniciais e dos anos finais do EF, também refletimos sobre outras transições,
como a do 5º para o 6º ano do EF. Foi possível perceber que, também nesse caso, a integração
e o diálogo entre docentes dos dois ciclos são essenciais. Nesse sentido, evidencia-se o papel
da coordenação pedagógica nessa integração.
De acordo com Souza (2018, p. 81),
ação necessária aos processos de articulação entre as etapas e entre os anos escolares de cada
ciclo, além de destacar o papel da coordenação pedagógica nos processos formativos.
No encontro ocorrido na DRE Freguesia/Brasilândia, além da minha fala sobre os
processos de gestão e de transição, houve relatos importantes que tencionaram os Projetos
Político-Pedagógicos, a gestão democrática e suas relações com a equipe gestora, com a
equipe docente, com o currículo e com a comunidade.
As ações organizadas e promovidas pelas duas DREs/SP vão ao encontro do que
Souza (2018, p. 81) aponta como resultados encontrados em seu estudo:
Em março de 2020, fui convidada para outro momento de fala, no encontro mensal de
CPs da DRE Jaçanã/Tremembé, mas foi cancelado devido ao isolamento social imposto pela
pandemia. Contudo, esse novo contexto impôs a necessidade de novas formas de encontros,
que passaram a ocorrer virtualmente.
Organizei, desta forma, em 2020, três encontros em plataformas virtuais, abertos ao
público interessado na temática da transição e divulgados em redes sociais. No mês de março,
a temática foi “Por que falar de transição?” e houve a presença de 25 pessoas no encontro,
dentre elas professoras/es e gestoras/es da EI e do EF, estudantes e professoras da Pedagogia.
Foi uma primeira tentativa de proposição de discussão por meio virtual e que se desdobrou em
outros momentos, por solicitação de participantes que manifestaram interesse em continuar a
conversa.
No mês de julho de 2020, o encontro foi sobre as transições vividas na pandemia, do
presencial para o virtual, do coletivo para o individual, e cerca de 30 pessoas (profissionais da
RME/SP, formadoras, professoras da graduação e estudantes da Pedagogia) conversaram por
mais de duas horas sobre a temática 27. Esse foi um encontro com muitas angústias reveladas,
pois uma minuta de protocolo do retorno às aulas na Rede paulistana havia sido publicada e as
27
Gravação disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0sHu8O8cbP8&feature=youtu.be. Acesso em
15 jan. 2021.
60
DRE Ipiranga, o convite foi feito pelas formadoras da DIPED que acompanham o núcleo de
Educação Infantil e que consideraram importante levar essa discussão para o encontro mensal
de CPs.
Todos os espaços-tempos criados em diferentes contextos e pela ação de pessoas em
diferentes cargos e funções foram considerados, não apenas como oportunidades para
compartilhar reflexões e estudos sobre a transição, mas também como ações importantes para
efetivar aquilo que se defende nessa pesquisa: a integração de profissionais da EI e do EF.
Todos esses momentos foram, portanto, espaços para o diálogo sobre as possibilidades de
articulação entre as etapas, possibilidades essenciais à realização de um trabalho respeitoso
com as infâncias.
pertinentes a esse estágio da vida, bem como as características dos diferentes lugares em que a
infância está presente (aspectos sociais, geográficos, econômicos).
É importante esclarecer que, ao falarmos em infância, falamos de um lugar social no
qual a criança está inserida, portanto, a ideia de infância é diferente da ideia de criança. A
ideia de infância não parte de uma construção biológica, mas a de criança sim (SARMENTO,
2005). Algumas categorias são consideradas na definição do período de duração da infância,
são categorias arbitrárias, que variam de uma sociedade à outra: idade, legislação, tamanho,
atividades que lhes são permitidas realizar, entrada na escola/na puberdade/no mercado de
trabalho, fragilidades, etc.
A infância entendida como uma categoria geracional e estrutural (QVORTRUP, 2010)
se constitui a partir de uma abstração, havendo, portanto, falta de critérios claros na
delimitação da infância e, muitas vezes, as/os adultas/os a definem a partir de certo
“estranhamento”, de um olhar negativo para a infância: olha-se para aquilo que falta às
crianças e, consequentemente, à infância, como por exemplo: ausência da linguagem; não
trabalho, portanto, não produtiva do ponto de vista econômico; dependência em relação às/aos
adultas/os, etc.
Conforme aponta Sarmento (2005, p. 368),
Neste sentido, a presente pesquisa buscou contribuir com essa questão, ao propor
encontros de formação de professoras/es e gestoras/es da EI e do EF, nos quais se discutiu a
educação para a infância. Tais discussões se apoiaram na necessidade de superar a
fragmentação do ensino, o que consequentemente pressupõe superar também:
31
No trecho, Nascimento (2013) se refere à fala da Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Goulart de Faria, Coord.ª do Grupo
de estudos e Culturas Infantis (sub grupo do GEPEDISC), FE-UNICAMP, em entrevista realizada por
representantes do Grupo de Pesquisa Sociologia da Infância e Educação Infantil (GEPSI), FEUSP, durante
pesquisa sobre a relação entre Grupos de pesquisa e a Sociologia da Infância.
64
Refletir acerca da fragmentação do ensino e da divisão das crianças por faixas etárias
em instituições educativas faz emergir a necessidade de refletir também sobre questões como:
Quem são as crianças que estão na EI? Quem são as crianças que estão no EF? O que muda e
o que se mantém de uma etapa a outra na educação das crianças? O que nos ajuda a olhar para
estas infâncias nestes diferentes espaços? Que conhecimentos necessitamos buscar e construir
a respeito da educação da infância?
A esse respeito, Craidy e Barbosa (2012, p. 28-29) destacam que,
Quando se fala em crianças como sujeitos de direitos, fala-se em direitos que deveriam
ser garantidos tanto na EI como no EF. No entanto, um de seus direitos, que é o brincar, e que
65
também é uma de suas principais linguagens e formas de contato com os outros e com o
mundo, vai deixando de ser garantido conforme as crianças avançam nas etapas educativas.
Falas como: “agora acabou a brincadeira”, “você não está mais no prezinho”, “agora você
está na escola e vai aprender o que é importante”, são comumente proferidas por
professoras/es que recebem as crianças no EF e revelam concepções adultocêntricas acerca da
educação das crianças pequenas. Parte-se da ideia de que o tempo para brincar deve ser
diminuído porque há muitos conteúdos escolares importantes a serem aprendidos. E os
momentos para brincar são, muitas vezes, transformados em estratégias de ensino,
escolarizando/didatizando o brincar e a brincadeira, e destituindo suas múltiplas formas de
expressão.
O currículo do EF, pautado em conteúdos escolares e em processos de avaliação das
crianças que buscam medir “o quanto” elas aprenderam daquilo que lhes foi (supostamente)
ensinado, vai de encontro com o que se propõe numa concepção de currículo integrador da
infância, para a qual os “conteúdos” curriculares se pautam na organização de tempos,
espaços e materiais e na proposição de vivências que contemplam “(...) a importância do
brincar, a integração de saberes de diferentes componentes curriculares, as culturas infantis e
culturas da infância em permanente diálogo” (SÃO PAULO, 2015, p. 8).
De acordo com Craidy e Barbosa (2012, p. 33),
Em grande parte das escolas de EF, o que se vê são crianças confinadas nas salas de
aula, realizando atividades em folhas, livros e cadernos, interagindo pouco entre si, porque
precisam dar conta de tudo que foi preparado para que possam aprender e terem sucesso em
suas vidas escolares. Portanto, são submetidas à “cultura para a infância”, pautada em
atividades estéreis, em “fichas” que representam um modo de fazer pedagogia “(...)
simultaneamente alienante dos direitos das crianças a aprender e dos direitos dos professores a
ensinar” (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2016b, p. 89). Esse modo de fazer pedagogia também
66
não contribui para que as crianças ensinem e professoras/es aprendam com elas (ANSELMO,
2017; GOETTEMS, 2017; PAULA, 2020; PRADO, 2009, 2012, 2015).
Em contrapartida, a sintonia entre crianças e professoras/es, ao pensarem e
vivenciarem as situações educativas, conduz a outra cultura pedagógica: a cultura com a
infância (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2016b). Enquanto na cultura pedagógica para a
infância os registros que contam sobre o trabalho realizado são, muitas vezes, as próprias
atividades estéreis às quais são submetidas/os crianças e professoras/es; na cultura pedagógica
com a infância, constrói-se uma documentação pedagógica densa, que é interrogada para que
se pergunte o que ela diz sobre as jornadas educativas.
Uma educação das infâncias, seja na EI ou no EF, que busca a construção e efetivação
de um currículo integrador e de uma cultura pedagógica com a infância, precisa mudar o foco
dos conteúdos para as condições, “(...) como um elemento indispensável para que o conteúdo
não despenque nas cabeças das crianças, mas se desenvolvam dentro dos processos de
experiência nos quais elas mesmas ajam como protagonistas ativos” (FORTUNATI, 2016, p.
21). Portanto, esse seria “(...) um currículo aberto e flexível fundamentado sobre as
oportunidades e contextos oferecidos mais do que em resultados e êxitos padronizados”
(PAGNI, 2016, p. 55).
Nesse currículo caberiam, portanto, todos os “conteúdos”, dimensões humanas e
experiências de vida, com as artes, as brincadeiras, os campos de experiências e das diversas
interações e linguagens presentes no cotidiano das escolas da infância. Assim, torna-se
possível que “(...) a escola do saber encontre conexões com escola da expressão, abrindo as
portas (...) para as cem linguagens das crianças” (MALAGUZZI, 2016, p. 82, grifo do autor).
Barbosa e Delgado (2012, p. 118) ressaltam que as concepções e práticas que se
pautam na busca por transformar as crianças em alunas/os, fazem com que no processo de
escolarização se tenha,
As discussões acerca dos estudos sobre as infâncias, sobre os direitos das crianças,
suas especificidades e a importância de lhes garantir uma educação de qualidade, que
privilegie o brincar, as interações e as múltiplas linguagens das crianças, têm sido frequentes
em encontros formativos para profissionais que atuam na EI. Emerge, no entanto, a
necessidade de ampliar tais discussões de forma coletiva com as/os professoras/es dos anos
iniciais do EF, pois ambos são professoras/es de crianças e necessitam de propostas de
formação que considerem as crianças e seus direitos, independentemente do contexto
educacional em que se encontram.
De acordo com as DCNEI (BRASIL, 1998a), os eixos do trabalho na EI são o brincar
e as interações. O documento Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica
(BRASIL, 2013b) reafirma esses eixos e destaca sua importância também para o
desenvolvimento pessoal e profissional de docentes.
Por que algumas/alguns optam pela Educação Infantil e outras/os pelo Ensino Fundamental? Por
que dentre as/os que escolhem a EI, algumas/alguns optam por trabalhar com bebês (na creche) e
outras/os com as crianças na pré-escola? Por que algumas/alguns escolhem trabalhar com os anos
iniciais do EF, enquanto outras/os preferem os anos finais? Com certeza, há diversos fatores
intervenientes nestas escolhas e, embora não seja este o foco deste estudo, considero importante
refletir sobre as diferentes possibilidades de escolha e sobre como o nível/modalidade de atuação
fará emergir necessidades específicas na formação continuada destas/es profissionais.
De acordo com o artigo 62, da LDB 9394/96 (BRASIL, 1996),
As/os graduandas/os começam a fazer suas escolhas durante a realização dos estágios
curriculares obrigatórios. É no período de realização do estágio que a grande maioria entra em
contato com a realidade das escolas e começa a demonstrar interesse por uma ou outra etapa
69
da Educação Básica (EI, ou cinco primeiros anos do EF). Durante a realização do estágio
começam a enfrentar seus primeiros dilemas profissionais, ao se deparar com situações do
cotidiano das escolas e tentar encontrar respostas para resolver situações-problemas inerentes
à prática pedagógica. Ao se formarem, chega, então, o momento de ingressar na carreira,
sendo necessário escolher em qual nível/modalidade atuar.
Para que estas/es profissionais possam atuar de maneira qualificada,
independentemente do nível e/ou da modalidade de ensino que escolham, os cursos de
formação inicial devem:
Quando as/os professoras/es têm uma formação inicial que fomenta “(...) os processos
reflexivos sobre a educação e a realidade social por meio de diferentes experiências”
(IMBERNÓN, 2011, p. 66), é mais provável que, ao ingressar na carreira, não seja apenas
uma/um executora/or de ideias, programas e currículos criados por especialistas de fora da
escola. Esta/e professora/or construirá conhecimentos a partir da própria prática e de maneira
coletiva, superando o individualismo e o isolamento e, consequentemente, contribuindo para
inovações que extrapolam sua sala, sua turma, e atingem a instituição educativa como um
todo.
Sendo assim,
70
O que docentes da EI e do EF podem ensinar uns aos outros? Que reflexões são
necessárias a docentes das duas etapas? Que olhares a respeito das crianças e de sua educação
podem ser trocados? Como esses diálogos e essas reflexões podem favorecer a transição com
menos rupturas e mais continuidades de uma etapa à outra? O que as propostas de formação
destas/es profissionais precisam garantir? Esses são alguns dos questionamentos que
permearam as reflexões nos encontros do Grupo de estudos e do Curso optativo, que
75
aparecem nos registros gravados e escritos destes encontros, e que foram nos levando a outras
leituras e outras reflexões.
A ideia de formação defendida parte do pressuposto apresentado por Imbernón (2011,
p. 41), ao afirmar que,
Neste sentido, os registros (escritos, fotográficos e fílmicos) das práticas, dos espaços,
dos materiais, das vivências das crianças, etc. são considerados como instrumentos
importantes para que estas/es profissionais (incluindo-me também como pesquisadora)
possam se distanciar da prática, de maneira a melhor refletir sobre ela – possibilitando as
trocas a respeito do que consideram necessário à educação das crianças, em cada uma das
etapas, e como a prática pedagógica pode garantir o atendimento aos direitos de meninos e
76
meninas, e aos seus (nossos) próprios direitos, no contexto das instituições educativas e fora
delas.
“Se você não vai mudar nada, o que está fazendo aqui?”
(Depoimento de Professora de EF, no Curso optativo,
09/10/18).
A fala, colocada como epígrafe acima, de uma das professoras que participou do
Curso optativo aconteceu no quarto encontro, quando a discussão teve como foco “o espaço
como segundo educador” (ANEXO A). Foram feitos diversos questionamentos pelas
formadoras, tais como: Em qual espaço da escola as crianças mais aprendem? Quem é o
sujeito que faz do espaço um espaço de saber? Em qual espaço da escola as crianças mais
brincam? A partir destes questionamentos, as reflexões tiveram como foco a necessidade de
criação de espaços e tempos para o brincar, a intencionalidade docente na organização destes
momentos e como o brincar era visto nas escolas de EI e de EF.
Uma das professoras de EF perguntou: “Vocês abordam essa questão da importância
do brincar e dos espaços nas reuniões de formação com gestores de EMEF?” e
complementou dizendo: “Na EMEF eu brinco meio escondido, porque tenho medo de ser mal
interpretada”. Durante este e outros encontros, a mesma professora trouxe diversas
inquietações quanto às cobranças e pressões por resultados de aprendizagem no EF, medidos
em avaliações externas, para as quais se cobra que as crianças sejam preparadas.
Conforme afirmam Portilho e Tosatto (2014, p. 739), “(...) a escola é um dos contextos
produtores da infância que, tradicionalmente, vem negando a diversidade e impondo a
homogeneização ao lidar com as tantas crianças e infâncias que ali se fazem presentes”.
Disso, e de tantas outras formas de cerceamento das manifestações infantis, resulta a denúncia
feita pela professora no depoimento acima.
Quando a professora acima traz o questionamento acerca da abordagem da temática do
brincar com gestoras/es do EF, uma das formadoras disse que era preciso “Cavar espaços,
reflexões e questionamentos sobre o brincar no EF” e sua parceira de formação
complementou dizendo que “Todos os espaços têm que pensar o brincar”. Então, ao
pensarem sobre o papel de cada uma/um na proposição destas discussões e reflexões para
transformar práticas, outra professora do EF disse: “Se você não vai mudar nada, o que está
fazendo aqui?”. Esta fala traz implícito o papel da formação para a revisitação de teorias e
77
práticas de modo a buscar a transformação. Mas não se trata de uma formação prescritiva, que
coloca professoras/es como executoras/es de técnicas, gerando um processo de culpabilização
quando os resultados esperados não são alcançados. São espaços de formação, que tomam
como ponto de partida:
34
Portaria nº 8.947, de 30 de novembro de 2017, em seu artigo 2º, parágrafos 6º e 7º. Disponível em:
https://www.sinesp.org.br/179-saiu-no-doc/4704-portaria-n-8-947-de-30-11-2017-dispoe-sobre-as-diretrizes-
para-a-elaboracao-do-calendario-de-atividades-2018-nas-unidades-de-educacao-infantil-de-ensino-
fundamental-de-ensino-fundamental-e-medio-de-educacao-de-jovens-e-adultos-e-das-escolas-municipais-de-
educacao-bilingue-para-surdos-da-rede-municipal-de-ensino. Acesso em: 5 ago. 2018.
78
proposição de formação integrando profissionais das duas etapas; trocas de cartas entre as
unidades contando sobre o que fazem na escola e como ela é; atividades envolvendo as
unidades que compõem o Centro Educacional Unificado (CEU); visitas da coordenação das
EMEIs às EMEFs para análise dos relatórios etc.
Uma professora do EF, participante do Curso optativo da DRE/SP comentou que
considera que o movimento de integração deve ocorrer dos dois lados, com ações propostas
por profissionais de ambas as etapas educativas:
[...] não deveria mais ser necessário na Rede, a prefeitura é tão avançada
nessas discussões. É por isso que eu peço a colaboração de vocês 35 na
formação de diretores, principalmente das EMEFs... justificar porque você
está brincando é uma energia que deveria ser poupada do professor, ter que
justificar, ter que militar, levantar a bandeira. (Depoimento Professora EF,
no Curso optativo, 09/10/2018).
também foi dito que “(...) o desafio da supervisão é o de fazer conversar as escolas; tentar a
implementação das políticas, do currículo, principalmente nas creches conveniadas; tentar
articular a EMEF” (Depoimento Supervisora Escolar, no Grupo de estudos, 24/06/19).
Dentro de cada UE, o trabalho em parceria da coordenação pedagógica com a direção
permite o fortalecimento das formações e das proposições práticas feitas ao grupo docente. A
coordenação pedagógica foi apontada, diversas vezes, como essencial para facilitar o processo
de transição através dos momentos de formação e discussão de temáticas relacionadas ao
trabalho com crianças, bem como para realizar a análise criteriosa e aprofundada dos registros
elaborados na EI. Para uma supervisora, é importante haver “(...) formações conjuntas com o
diretor para que este também entenda que ele precisa ir junto com o CP (...) o fim da escola
como um todo é pedagógico, mas há diretores que não entram junto com o CP ‘na briga’”
(Supervisora Escolar, Registro Grupo de estudos, 27/03/20, no chat).
As rupturas e divergências no trabalho realizado se fazem presentes não apenas na
transição de uma etapa à outra, mas também dentro da própria UE. De acordo com uma
professora de EF, “Muitas vezes, dentro da própria escola, não tem uma conversa entre os
professores, uma linha mais geral de trabalho, um alinhamento de ideias” (Depoimento
Professora EF, no Curso optativo, 28/09/18).
No penúltimo encontro do Grupo de estudos em 2018, quando a temática era a
formação de professoras/es, uma professora de EI disse que:
A uniformidade à qual a professora se referiu foi no sentido de não haver práticas tão
discrepantes dentro da mesma UE, como no caso de professoras que nem mesmo na EI
priorizam o brincar e fazem um trabalho escolarizado e de cunho preparatório para o EF.
Essa articulação é algo a ser abordado na formação continuada em serviço, pela qual a
coordenação pedagógica é principal responsável, mas a aproximação da direção com as
questões pedagógicas e formativas é algo que fortalece o trabalho da coordenação junto ao
grupo docente.
No segundo encontro do Grupo de estudos, foi dito que “Quando diretores não se
aproximam das coisas o coordenador fica sobrecarregado”, que “Um grupo fora de sintonia
adoece” e que “A formação é uma atividade solitária e individual” (Depoimento Profa. de
81
DRE, 18/09/18); “A discussão sobre a transição é muito recente e foi disparada pelo
documento Currículo Integrador” (Depoimento da Supervisora, no Curso optativo da DRE,
18/09/18).
Neste sentido, as propostas de formação do Curso optativo e do Grupo de estudos se
enquadram naquilo que Oliveira-Formosinho (2002, p. 59, grifo da autora) descreve como
“(...) modelo de desenvolvimento profissional do crescimento baseado na investigação e
reflexão contínua sobre a prática pessoal do ensino”. Esse modelo,
3.4 Educar na infância: o que as/os profissionais têm a nos dizer sobre isso?
Nossas reflexões sobre essas questões não se limitaram ao primeiro encontro, pois
ressurgiram diversas vezes, ao longo dos encontros seguintes e, em muitos desses diálogos, a
questão da formação integral das crianças, da importância de acolhê-las na chegada ao EF, do
papel dos registros elaborados na EI e encaminhados às EMEFs, no momento da transição, e a
importância da formação pautada nas discussões sobre as infâncias e sua educação. Embora,
“(...) as diferenças da matriz curricular e das normas de funcionamento podem implicar a
existência de culturas diferenciadas” (CARDONA, 2014, p. 314), na EI e no EF as crianças
84
são as mesmas e seus direitos devem ser garantidos em ambas. Dentre eles, os direitos de
brincar, participar, aprender (CIARDELLA, 2019; QUINTEIRO, CARVALHO, 2007), de
ensinar outras crianças e as/os adultas/os (ANSELMO, 2017), além de criar e inventar
(PRADO; SOUZA, 2017).
Oliveira-Formosinho (2002, p. 43-44) afirma que:
Todas essas falas evidenciam a relação direta que há entre os contextos nos quais
professoras/es estão inseridas/os, as culturas desses contextos, os discursos e as práticas
decorrentes delas. A criação de espaços-tempos para o diálogo sobre essas e tantas outras
85
Eu: Vocês querem saber isso porque esse é o foco do EF, mas não é o da EI
e, por isso, não deveriam encontrar essas informações nos relatórios
enviados às EMEFs.
Profa. de EF: Não pode ter as duas coisas? Esse movimento (de transição)
tem que ser das duas partes. Nesse curso estou percebendo que o
Fundamental tem que se adaptar mais ao Infantil. Estou fazendo um grande
esforço para entender, porque é isso que me falta como professora.
Supervisora escolar: Teria que ter uma aproximação do olhar daquilo que o
Fundamental espera da infância.
Profa. de EF: O contrário também.
Supervisora escolar: Não, porque não estamos (na EI) recebendo criança do
Fundamental.
Profa. de EF: Sim, porque é preparar para o futuro.
Supervisora escolar: A concepção de infância presente nos documentos
municipais não é preparar para o futuro, mas considerar a infância no que
ela é hoje. Existe pouco movimento do Fundamental em se aproximar do
Currículo Integrador, entender o que é a infância paulistana para vocês
criarem expectativas corretas no Fundamental.
Profa. de EF: É, isso não tem mesmo.
Eu: Esse movimento de discussão que temos feito com a EI falta no EF. EI é
uma etapa, EF é outra, mas a criança é a mesma.
Profa. de EF: E por mais que ela vá um dia ou outro conhecer a EMEF, é
totalmente diferente quando ela frequenta essa escola todos os dias. Mas é
uma forma de tornar mais fácil para o aluno, não é “emeizar” a EMEF,
mas é preparar para o futuro sim, porque a partir do momento que você
tentar integrar, levar os alunos para conhecer a EMEF e trazer alunos da
EMEF para trocar com alunos da EMEI, você está preparando para o
futuro sim. E nem tudo que está nos documentos tem que ser lido a ferro e
fogo
Eu: Isso não é preparo, porque a criança vivencia isso tudo agora, mas
quando chega no 1º ano vivencia coisas completamente diferentes, porque
se no 1º ano também não houver preocupação com o acolhimento da
criança não vai adiantar nada essas ações anteriores.
Profa. de EF: Por isso que eu falo que é uma via de duas mãos, porque ao
mesmo tempo que vocês têm que se esforçar lá (na EI), nós temos que nos
esforçar aqui.
Supervisora escolar: O que não dialoga com as normativas não nos atende,
não nos contempla. Esse olhar do que a gente faz e o que a gente deve fazer
cai na questão do pré-requisito e as crianças não chegam todas na mesma
condição de aprendizagem ao 1º ano.
Profa. de EF (outra): Essa preocupação leva ao risco de preparar a criança
no Infantil II.
Supervisora escolar: A discussão deve ir além dos conteúdos, mas olhar
para o que a criança sabe em relação às linguagens, à relação com os
outros, com o mundo... não colocar juízo de valor, fazer os relatórios de
acordo com a normativa.
Formadora: Quanto mais você conta a história do sujeito, menos você
rotula.
Supervisora escolar: Quantos momentos nós temos para sentar e discutir
com o Fundamental? Esse é um movimento tímido que esperamos que se
amplie, mas fazer essa aproximação é muito difícil. O currículo do EF está
separado por áreas e, na EI, estamos em outro caminho, não queremos
fragmentar.
88
Esse grande diálogo aconteceu no último encontro do Curso optativo da DRE (dia
16/10/18) e as falas que o compõem sintetizam muitas outras que foram ditas nos encontros
anteriores. Após ouvir o áudio e transcrever essa conversa, fiz uma observação ao lado,
escrevendo “esse diálogo diz muito”. Diz sobre o que cada profissional assume como
responsabilidade e compromisso na função que exerce. Diz sobre como as concepções e as
experiências que nos compõem como profissionais influenciam em nossas escolhas e em
nossas defesas. E diz, mais ainda, sobre a demanda emergente por espaços de diálogos entre
profissionais de ambas as etapas educacionais, para que se possa superar uma concepção do
processo educativo como preparação para o que virá depois, o que leva a práticas
antecipatórias, que não respeitam os tempos, as linguagens e as culturas das crianças
(ARELARO, 2005), não consideram as crianças em toda sua potência, capacidade,
necessidade e vontade de expressão.
Partindo da inspiração em Reggio Emilia, um caminho possível para reverter esse
estado de coisas seria “(...) produzir uma criança reintegrada, capaz de construir seus
próprios poderes de pensamento através de uma síntese de todas as linguagens expressivas,
comunicativas e cognitivas” (EDWARDS; FORMAN, 2016, p. 281, grifo dos autores). Desta
forma, “(...) a criança reintegrada não é um investigador solitário. Ao contrário, os sentidos e
a mente da criança precisam da ajuda de outros para perceberem a ordem e a mudança e
descobrirem os significados das novas relações. A criança é um protagonista” (EDWARDS;
FORMAN, 2016, p. 281, grifo dos autores).
Assim, os contextos vivenciais para o desenvolvimento das crianças e adultas/os
precisam considerar os processos educativos de mão dupla (BUFALO, 1997). Em outras
palavras, aquilo que se exige que professoras/os ofereçam às crianças, deve anteriormente, ser
oferecido a elas/es nos momentos formativos e também por meio das condições de trabalho.
De acordo com Oliveira-Formosinho (2002, p. 52),
37
E no Ensino Fundamental!
91
Uma das colaboradoras dessa pesquisa, que chegou ao Grupo de estudos em setembro
de 2019, fez o registro do encontro seguinte, evidenciando esse lugar dos diálogos, da
pesquisa, do aprofundamento teórico e da autoria docente:
Ainda sobre as inquietações que nos moveram, refletir continuadamente sobre nossas
próprias inquietações e participar deste Grupo foi uma tentativa “(...) de ampliar
possibilidades dentro e fora da unidade” (Depoimento Formadora da DIPED, no Grupo de
estudos, 24/06/2019). Embora não possamos resolver todos os problemas existentes nas
escolas, menos ainda, se pensarmos em toda a RME/SP, estamos nesse Grupo “(...) para
somar, ampliar nossa visão e crescer cada vez mais” (Depoimento Formadora da DIPED, no
Grupo de estudos, 24/06/2019).
Nesse sentido, corrobora-se com o ressaltado por Ramos (2020, p. 28-29):
Isso se manteve mesmo durante a pandemia, em nossos encontros virtuais, porque era
assim que o Grupo havia se consolidado.
Começo minha contribuição com esse texto, usando a frase final da reflexão
da M. “Precisamos olhar para dentro de nós e despertar tudo aquilo que
nos dá esperança e nos mantenha de pé”. Depois do nosso último encontro,
que foi o primeiro que realizamos virtualmente, fiquei pensando nas
potencialidades de um grupo como esse no sentido de nos fazer refletir como
forma de nos mover (SEMPRE), buscando realizar uma educação para
crianças que respeite seus direitos, que promova aprendizagens em todas as
suas linguagens, que lhes permita viver suas infâncias, que escute, que
observe, que dialogue, que entenda, que mude, que TRANSFORME!
(Pesquisadora, Registro Grupo de estudos, 27/03/2020).
Fomos nos tornando um grupo no qual as questões postas em discussão eram “(...)
levantadas de forma colaborativa”, em um espaço no qual todas eram “(...) protagonistas de
uma comunidade de aprendizagem” (RAMOS, 2020, p. 89).
41
Apontamento feito por Rosaura Soligo na live realizada dia 15/05/2020 e disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=eo9hgNrqwZs&list=WL&index=2&t=0s. Acesso em: 5 ago. 2020.
42
Zona de Desenvolvimento Proximal, termo desenvolvido por Vygotsky e que se refere à distância entre
aquilo que fazemos com autonomia e o que precisamos de mediação para realizar.
94
Esse grupo, nossos encontros são a materialização (do meu ponto de vista)
do conceito de EXPERIÊNCIA, do Jorge Larrosa, que a E. traz em seu
registro. Ao contrário do que ele afirma, sobre o oposto de experiência, de
que “tudo o que se passa está organizado para que nada nos aconteça”, nós
temos buscado ACONTECIMENTOS em nossas práticas. E acho que esse
grupo pode ser chamado de ACONTECIMENTO FORMATIVO
(Pesquisadora, Registro Grupo de estudos, 10/07/2020).
A espinha dorsal das discussões no Grupo de estudos foi a temática da transição das
crianças entre a EI e o EF, mas tratamos disso, pensando na formação das/os adultas/os que
com essas crianças trabalham nas duas etapas. Tratamos também de “saliências” 43, que
surgiam a partir dessa grande temática.
Portanto, ao pensarmos e dialogarmos sobre a transição da EI para o EF, também
refletimos e dialogamos sobre: o cuidar, o acolher, o corpo e sua disciplinarização, o corpo e o
brincar, o corpo e o movimento, o espaço das escolas, os percursos vividos, a documentação
dos percursos e seu papel na articulação entre as etapas, o papel da coordenação pedagógica,
da direção e da supervisão escolar – “saliências” que permearam as reflexões enquanto
pensávamos sobre a transição.
Quando a gente pensa e fala sobre transição, tantas outras coisas “entram”
na conversa... falamos sobre acolhimento, sobre infâncias, sobre respeito às
crianças e aos seus direitos, sobre respeito aos/às professores/as, sobre
práticas que precisam ser cuidadas, sobre parcerias, sobre continuidades e
sobre formas para superar as descontinuidades. (Pesquisadora, Registro
Grupo de estudos, 24/06/2019).
43
Ao tratar da codificação como um processo-chave para a interpretação de dados, Graue e Walsh (2003, p.
194-195, grifo dos autores) afirmam que: “Procurar coisas que aparentem ser salientes pode ser uma fonte de
informação para análise. A saliência é interpretativa (antes de mais é importante para o investigador), mas
deverá representar algo que possa ser reconhecido pelos participantes no campo de investigação. A saliência
poderá surgir em acontecimentos ou padrões recorrentes, mas também pode surgir inesperadamente”.
95
E sempre que temos profissionais que lidam com crianças, sobre o que
falamos? Sobre o BRINCAR! A discussão não foi apenas sobre a
importância dessa linguagem estar presente cotidianamente na vida das
crianças, mas também sobre o OLHAR DO/A PROFESSOR/A para isso.
Como ele/a olha? Qual o significado que atribui para o brincar? Também
conversamos sobre o CUIDAR; sobre como tem sido desvalorizado, porque
professores/as sentem-se menos valorizados/as quando lidam com situações
de cuidado. Ao falarmos sobre REGISTROS, a L. compartilhou conosco uma
experiência pessoal que lhe mostrou como é bom quando alguém lê o que
escrevemos e nos dá um “retorno”. Ela encontrou um caderno com
anotações que foi fazendo desde que o filho nasceu e estava com
comentários dele, que teve acesso aos registros e foi escrevendo suas
sensações ao vê-los! Uma situação cotidiana, em casa, que assim como na
escola (nos registros pedagógicos), nos mostra que estes são “LOCAIS DE
PESQUISA SOBRE O APRENDIZADO” de adultos e crianças, como nos
aponta Rinaldi (2012). Também é Rinaldi que reforça que, ao documentar,
devemos ter como foco os processos e não os produtos, tornando os
processos do aprendizado POSSÍVEIS e não apenas VISÍVEIS e construindo
com o outro uma BUSCA DE SIGNIFICADO (Pesquisadora, Registro Grupo
de estudos, 20/10/2018).
vividos pelas crianças antes de chegarem ao primeiro ano se constitui uma ação importante
para pensar e planejar o acolhimento de meninas e meninos que ingressam no EF. Empenhar-
se nessa ação implica considerar que, embora a EI e o EF sejam vistos separadamente, “(...)
do ponto de vista da criança não há fragmentação” (KRAMER, 2006, p. 810), tornando
essencial aos processos de adaptação e acolhimento “(...) lidar com as crianças como crianças
e não só como alunos” (KRAMER, 2006, p. 811).
Em diversos encontros tratamos da adaptação como um processo necessário na
chegada das crianças da EI ao primeiro ano do EF. Falamos da adaptação das crianças e
também da adaptação das/os adultas/os durante a transição.
44
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-46982014000400010&script=sci_abstract&tlng=pt.
Acesso em: 5 ago. 2020.
97
Não sei se era bem isso que você queria ou esperava, fiz o meu melhor...
mas, aguardo os seus comentários para que eu possa refletir junto... Estou
muito interessada nas duas perguntinhas que tínhamos na pauta: Que
continuidade temos? e Que continuidades queremos? Pensando,
evidentemente, no meu quadradinho do meu setor... A continuidade que
temos (ainda): nenhuma, ou melhor, tenho uma professora de 1º ano que já
foi de EMEI e que dá um show a parte... estou conseguindo instigar uma
outra professora para o lado bom da força também (E está dando certo!) e
tem uma outra que é a inflexibilidade em pessoa (Ela se recusou a levar as
crianças para passear no CEI, mesmo no CEI que é só atravessar a rua...!
Foi triste...!), mas fico pensando muito nesta questão das continuidades que
queremos: queria um ciclo de alfabetização mais brincante como um todo
(ainda estou no foco do 1º ano, porque é a faixa etária que ainda mais me
penaliza quando entro na EMEF....), queria uma garantia curricular do
brincar neste ciclo (poxa vida, poderíamos ter na matriz isso, nem que fosse
para obrigar as pessoas em um primeiro momento... as duas aulas de
educação física não cumprem isso, tínhamos que ter uma aula de brincar
talvez, mas não com esse nome rs!) melhor aula de brincar do que aquela de
educação empreendedora – novo lançamento terrível da SME –, queria que
os professores do ciclo de alfabetização tivessem alguns pré-requisitos –
realizar tais cursos para assumir as turmas, ou, preferencialmente, essas
turmas serem atribuídas a professores que fizessem tais cursos, queria que
as EMEFs todas tivessem parques, brinquedotecas, no mínimo!, e deveria
ter investimento da SME nessa questão... cobra-se um currículo, sem
estrutura adequada... Enfim, muitas coisas para pensar... Grata pela
oportunidade de refletir junto com você e com aquele grupo lindo pelas
tantas trocas que me fazem pensar muito... (Supervisora escolar, Registro
Grupo de estudos, 06/08/2019).
Tantas perguntas foram permeando os encontros do Grupo: Por que é importante falar
de transição? Que continuidades temos? Que continuidades queremos? Essas foram algumas
“saliências”, que inquietaram esse Grupo e levaram suas integrantes a permanecerem
questionando, refletindo coletivamente e buscando possibilidades para a construção de uma
educação com/para a infância, mais respeitosa com quem dela faz parte.
Por tudo isso, pelo lugar especial desse Grupo nesta pesquisa, sem o qual não teria
seguido os caminhos que seguiu, reiteramos a potência formativa dos encontros e das pessoas
que o fizeram existir e que continuam desejando sua continuidade.
Madalena Freire (2008) escreveu sobre o que é um grupo e como ele se constrói:
Parece até que ela escreveu sobre nós, sobre o nosso Grupo...
99
trabalhando de acordo com o primeiro e/ou com o segundo modelo. Há ainda, a terceira
alternativa, na qual as escolas de EF se preparariam para receber as crianças e dar
continuidade ao trabalho realizado na EI; no entanto, essa tem sido uma ação pouco frequente,
tendo em vista que há especificidades no trabalho realizado em cada uma das etapas.
No entanto, embora essa possibilidade se sustente na ideia de a escola se adaptar às
crianças e haver condições para que docentes de ambos os segmentos possam trabalhar em
parceria, a proposta esbarraria em questões de ordem estrutural como: horário de trabalho
diferenciado de professoras/es nas unidades de EI e de EF, o sistema de avaliação em cada
etapa, a infraestrutura dos prédios escolares (diferem bastante a depender de qual etapa
atende), o próprio currículo de cada etapa e as bases nas quais se sustentam.
Portanto, diante das possibilidades apresentadas por Moss (2011), o quarto modelo
seria o ideal por se pautar no trabalho coletivo e na busca pela criação “(...) de uma nova e
compartilhada compreensão de criança, aprendizagem e conhecimento” (MOSS, 2011, p.
155). Essa convergência pedagógica se constitui a partir de uma relação na qual uma cultura
escolar não supera a outra, mas há a criação e a prática de uma cultura comum.
A busca por essa convergência pedagógica poderia ocorrer em espaços formativos que
integrem profissionais de ambas as etapas, para discutir as peculiaridades do trabalho em cada
uma delas e, ao mesmo tempo, refletir sobre os pontos que as unem, pontos de articulação que
podem favorecer uma transição das crianças com menos rupturas de um segmento ao outro.
Todavia, será que experiências formativas que reúnam profissionais da EI e do EF são
propostas férteis para que haja mais integração? O que mais, além do investimento na
formação das/os profissionais, seria necessário para garantir essa integração? A necessidade
de integração entre profissionais das etapas foi discutida, recorrentemente, nos encontros do
Grupo de estudo e, de maneira unânime, os espaços formativos integrados foram considerados
essenciais, nesse sentido, além de ações promovidas por órgãos centrais, para que haja
condições na efetivação de um currículo integrador da infância.
As ações possíveis para atingir esse fim são muitas. Corsaro e Molinari
(2005b) apontam várias: maior proximidade com as famílias, momentos de
integração entre as equipes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental,
visitas às escolas ou turmas nas quais estarão quando ingressarem no Ensino
Fundamental e conhecimento dos novos professores, adequação dos espaços
da escola, revisão de rotinas e horários, valorização da brincadeira como
atividade infantil por excelência, formações conjuntas para as equipes das
duas etapas da educação, suporte das secretarias de educação, entre tantas
outras. O que não se pode esquecer é que as crianças de seis, sete ou mesmo
de dez anos são ainda crianças, estejam mais ou menos escolarizadas.
Crianças e alunos e não mais crianças ou alunos. (MOTTA, 2013, p. 172).
102
46
Os microssistemas (como a casa, ou a sala de atividades) se constituem nos padrões de atividades e relações
que nele são experienciados. O mesossistema, como o centro infantil ou a escola, promove e envolve as
interrelações entre os microssistemas (entre as várias salas, entre a escola e a família). Acontecimentos num
dos microssistemas podem afetar o que acontece no outro. O exossistema se refere a contextos que não são
diretamente experienciados pela criança em desenvolvimento, mas que afetam ou podem afetar a criança e o
que acontece no microssistema de pertença. Como exemplo, pode se apresentar o local de trabalho dos pais.
O macrossistema se refere às crenças, valores, ideologias e rituais que existem numa cultura. (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; LIMA; SOUSA, 2016, p. 58).
103
indivíduos mudam, mudando o próprio contexto em que trabalham”. No que tange à formação
nesse processo, afirma que,
Diante de tal denúncia, a necessidade que se impõe é a de que a infância também seja
privilegiada no Ensino Fundamental (BARBOSA; DELGADO, 2012). Se assim o fosse, as
possibilidades de que a transição de uma etapa a outra não fosse tão brusca se ampliariam.
Os anos de 2020 e 2021 ficarão marcados na vida de pessoas do mundo inteiro, como
aqueles em que milhares de vidas foram ceifadas em decorrência da pandemia da COVID-19.
No Brasil, e no mundo, os números são alarmantes 47. Na cidade de São Paulo, as ações de
combate ao Coronavírus tiveram início no mês de março de 2020 e, dentre elas, ocorreu o
fechamento das escolas, tanto da rede pública como da rede privada. A partir daí, as ações da
SME paulistana se constituíram no sentido de manter o vínculo de crianças e estudantes com a
escola para que pudessem continuar aprendendo.
Foram elaborados materiais impressos48 e estes serviram como base para as atividades
remotas propostas por docentes em plataformas e meios digitais. As escolas buscaram formas
de acompanhar crianças/estudantes que não tinham acesso às atividades postadas em tais
plataformas devido à falta de equipamentos e de rede de internet. Embora a SME/SP tenha
feito uma parceria com a Google, que disponibilizou recursos para realização de atividades
remotas a todas as UEs da RME/SP, outros meios tiveram que ser utilizados, como redes
sociais e blogs, além do Whatsapp, pois o acesso a essas plataformas era mais viável em
muitos casos nos quais não era possível acessar as propostas enviadas pela plataforma Google
Sala de Aula.
Foram (e ainda têm sido) meses de atividades remotas e de buscas, por parte das
escolas, para se manterem conectadas com o maior número possível de estudantes e famílias.
Um trabalho árduo, que tem exigido muito esforço por parte de todas as equipes nas escolas e
nos órgãos centrais. Por vezes, foi possível alcançar êxito. Por outro lado, muitas dificuldades
têm sido encontradas no caminho.
A pandemia escancarou desigualdades, vulnerabilidades e dificuldades das mais
diversas, vividas por estudantes e suas famílias, e também por docentes e gestoras/es. Quanta
busca! Quanta aprendizagem! Quanta luta! Não foram dias nada fáceis, mas muitas coisas
boas nasceram nesse momento. Parcerias, escuta, aumento de vínculo entre escolas e famílias,
solidariedade, aprendizagens cotidianas para todos e todas.
47
Para acompanhar os dados da pandemia no Brasil acesse: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 5 ago.
2020.
48
Disponíveis em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/trilhas-de-aprendizagens/. Acesso em: 5 ago.
2020.
111
Escrever uma tarefa simples, mas um tanto desafiadora pra mim. Nos
encontrarmos online foi um alívio para a dor da separação dos corpos
diante da pandemia que nos obriga a ficar isolados. Porém, estar isolado
não é sinônimo de estar sozinho, como muitos vêm dizendo e a gente vem
aprendendo a acreditar. O poema de Irene Villa “E a primavera não
sabia” nos desperta a refletir de que sempre há esperança. Me apeguei
em um trecho que diz “Se concentrar em outros valores”. Para mim
nossa reunião traz essa ideia como plano central. De que possamos nos
concentrar em outros valores. (Professora de EI e EF, Registro Grupo de
estudos, 27/03/2020).
49
COLECTIVO FILOSOFARCONCHICXS. Pedagogia del Caos: pensar la escuela más allá de lo
(im)posible. Buenos Aires: Seisdedos, 2016.
113
50
LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira da Educação, n.
19, Rio de Janeiro: ANPED, jan./abr. 2002. Disponível em:
http://www.anped.org,br/rbe/rbedigital/RBDE19/RBDE19_04_LARROSA_BONDIA.PDF. Acesso em: 15
jan. 2021.
115
Em recente artigo escrito por mim em parceria com minha orientadora (PRADO;
MERLI, 2018), analisamos as concepções de avaliação presentes em diversos documentos
normativos nacionais e, em especial, da SME da cidade de São Paulo, que evidenciam
conceitos e princípios da avaliação formativa, considerada como aquela que é construída
coletivamente e que permite a superação de práticas avaliativas da Educação Infantil que
ainda ocorrem de maneira classificatória e seletiva, importando modelos do Ensino
Fundamental.
A retomada de concepções presentes na Constituição Federal/88, na LDB/96, nas
DCNEI/10 e em documentos da RME de São Paulo (SÃO PAULO, 2015, 2016), propiciou a
reflexão acerca de ações necessárias para que as práticas cotidianas de avaliação nas escolas
de Educação Infantil estejam alinhadas àquilo que é proposto nos documentos oficiais. Neste
sentido, nossas análises se aproximam e complementam as reflexões apresentadas neste
trabalho.
A LDB/96, em seu artigo 31, define que “(...) a avaliação na educação infantil far-se-á
mediante acompanhamento e registro de seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção,
mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (BRASIL, 1996).
118
Godoi (2004) faz uma crítica à avaliação que julga, compara e classifica crianças,
tanto na EI como no EF, pois estas são formas de avaliar a partir da concepção de uma criança
ideal, abstrata, definida por meio de parâmetros preestabelecidos. Essa imagem de criança é
estabelecida pelo “(...) olhar adultocêntrico e psicologizante que estratifica por idades, que
atribui capacidades e fazeres aos ‘não adultos’ para se tornarem adultos no futuro” (FARIA et
al., 2015, p. 14). De acordo com Abramowicz e Cruz (2015, p. 165),
A imagem de criança ideal limita o olhar adulto para as crianças reais e concretas.
Embora, muitas vezes, o discurso possa apresentar as crianças como potentes, protagonistas,
construtoras de culturas e sujeitos de direitos, práticas escolarizantes, de uma educação
colonizadora retificadora (MIGUEL, 2015), partem de uma concepção de criança frágil,
pequena, dependente, incompleta, a qual necessita transformar-se em “algo melhor” através
da educação. Nesse sentido, a escola passa a ser considerada como um espaço privilegiado
para a transformação dessa criança que, muitas vezes, é vista como uma ameaça social
(QUINTEIRO, 2009) e, portanto, precisa ser dominada, reprimida, controlada, colonizada.
Além de repensar essa educação colonizadora, para descolonizá-la 51, é fundamental
conhecer as crianças, suas realidades, seus contextos de vida, enfrentando o desafio de
produzir diferenças nas práticas educacionais (ABRAMOWICZ; CRUZ, 2015) e de construir
uma educação emancipatória para a infância (FARIA et al., 2015). Assim, a avaliação, a partir
do olhar e da escuta atenta de professoras/es pode contribuir para a compreensão de quem são
as crianças que estão nas escolas de EI e de EF.
Em que pese a avaliação realizada nas unidades educacionais, Godoi (2004, p. 20)
assevera:
Não somos contra a avaliação. Acreditamos que ela não precisa ser negativa
e prejudicial, mas usada a favor da criança e do professor, como um
instrumento auxiliar no seu trabalho. No momento em que este a usar como
um meio para conhecer as crianças, não para julgá-las e classificá-las como
boas, fracas, obedientes, desobedientes, etc., colocando rótulos e criando
imagens a respeito das mesmas, mas para propor desafios, novas descobertas
e experiências e orientar seu trabalho, a avaliação estará promovendo o
desenvolvimento delas e não as cerceando e, nesse sentido, será positiva.
51
Alguns estudos recentes (GOETTEMS, 2019; PAULA, 2020) têm utilizado o termo decolonizar, sem o “s”,
buscando não negar o processo de colonização e considerar, igualmente, que suas marcas precisam ser
desconstruídas.
122
Neste sentido, a documentação pedagógica pode ser um meio para alcançar uma
avaliação que considera o contexto, as vivências e as aprendizagens das crianças e de
suas/seus professoras/es.
Os registros elaborados na Educação Infantil são instrumentos potentes para revelar as
aprendizagens, percursos e vivências em diferentes contextos e, quando encaminhados ao
Ensino Fundamental, possibilitam que essas informações cruzem fronteiras (PARENTE,
2014). Sobre isso, Dahlberg, Moss e Pence (2003, p. 200) afirmam que,
temática da pesquisa, numa busca por contribuir com o campo, conhecer e construir percursos
de respeito e defesa das infâncias, das crianças e de sua educação, de suas famílias, das/os
profissionais e da sociedade.
Quando escrevi o projeto para o processo seletivo de ingresso no doutorado, o foco era
analisar como os relatórios e demais registros elaborados na EMEI eram utilizados pelas/os
professoras/es da EMEF, quando as crianças egressas da EI ingressavam no 1º ano do EF.
Contudo, percebi que essa prática ainda era muito incipiente na Diretoria Regional de
Educação em que eu estava como formadora (na DIPED) e onde pretendia realizar a pesquisa.
Essa percepção adveio das conversas e discussões com professoras/es e
coordenadoras/es durante os encontros formativos conduzidos por mim e pela minha parceira
de trabalho, no ano de 2017. Diante de tal cenário, comecei a pensar na importância de tratar
desse e de tantos outros aspectos referentes à transição das crianças da EI para o EF, com
profissionais de ambas as etapas. Assim, esta pesquisa foi tomando outros rumos e se
configurando da forma como se apresenta agora.
No contexto das unidades de EI, a temática do registro e dos relatórios descritivos
permeava os momentos de formação, nos horários coletivos, nas reuniões pedagógicas e
orientações dadas pela coordenação ao grupo docente (o que ainda acontece). Contudo, os
registros que são encaminhados às EMEFs quando as crianças fazem a transição para o
primeiro ano, cumprirão a função de comunicar os percursos vividos por elas somente se
houver uma “cultura de leitura dos relatórios” (LAMAS, 2014), na qual se analise
coletivamente esses instrumentos, na busca por compreender os processos vividos na EI, e
utilizando-os como ponto de partida para o planejamento do trabalho pedagógico
(CARDOSO, 2018).
No início do ano de 2019, a SME/SP publicou a Instrução Normativa nº 02, de
06/02/2019, tendo como foco os registros na EI. Essa Instrução Normativa (IN) (SÃO
PAULO, 2019a, p. 1) considera a “(...) pertinência de orientar os registros relacionados ao
desenvolvimento das crianças, principalmente, daquelas que se encontram concluindo a
125
primeira Etapa da Educação Básica” e aponta as finalidades dos instrumentos de registro dos
processos pedagógicos:
[...] ainda há muito que avançar neste sentido para a consolidação de uma
cultura de avaliação e para que cumpra com suas funções diagnósticas e
formativas. Não basta, portanto, a existência da lei estabelecendo a forma de
avaliação das aprendizagens, é preciso investir na formação continuada das
126
Por outro lado, nesse mesmo registro, denuncia-se que “O copia e cola que vemos nos
relatórios costuma ser justificado pelas próprias professoras que os escrevem como sendo
52
Avaliação de Aprendizagem em Processo (AAP).
127
decorrente da pouca importância que se dá a eles e, portanto, podem ser feitos de qualquer
jeito” (Registro da pesquisadora, Grupo de estudos, 24/06/2019).
Tivemos, também, discussões em alguns encontros sobre a busca e a possibilidade do
uso de modelos na escrita dos relatórios, bem como sobre a relação direta entre a qualidade
das práticas e a qualidade dos relatórios descritivos. No registro sobre o encontro do Grupo de
estudos, realizado no dia 04/10/2018, escrevi:
Foi feita uma reflexão sobre a relação entre a qualidade das práticas e
como isso reflete também na qualidade dos relatórios descritivos de
avaliação. Há uma busca por parte de professores/as (e eu diria de CPs
também) por modelos que “digam” o que colocar nos relatórios e como.
Mas “é possível usar um modelo diante da diversidade das crianças que
frequentam as unidades de Educação Infantil?”. Outro ponto discutido foi
sobre “como estamos nos referindo às crianças nos registros?”. E neste
aspecto não falamos apenas sobre os registros da EI, mas também dos que
são feitos no EF... inclusive houve um relato (mais um) sobre professores/as
de primeiro ano que rejeitam os relatórios e falam para o CP “ficar com
eles” (Pesquisadora, Registro Grupo de estudos, 04/10/2018).
Para a análise dos relatórios, Arakaki (2018) propõe questões norteadoras para as
seguintes categorias de análise: percurso do grupo, percurso individual da criança, parecer do
educador, parecer da família e frequência da criança.
A necessidade de qualificação dos relatórios se fez presente nas discussões do Grupo
de estudos, nas quais:
No encontro do Grupo, dia 08/09/2018, essa mesma CP relatou que uma professora
lhe entregou os relatórios descritivos individuais e disse que era para “(...) ler tudo, porque dá
trabalho para fazer e é importante”. No registro que fiz desse encontro, ao escrever sobre
esse relato e essa fala da professora para a coordenadora, acrescentei que,
[...] concordo com ela. E digo que esse investimento nos registros
pedagógicos por meio da formação, tão presente nas unidades de Educação
Infantil, precisa alcançar também as EMEFs. Porque quem escreve esses
registros, escreve para alguém, para alguém que pode conhecer as
trajetórias das crianças ao ler os relatórios e partir de seus percursos para
favorecer continuidades e superar rupturas no processo de transição.
(Pesquisadora, Registro Grupo de estudos, 08/09/2018).
duas DREs/SP diferentes, falando sobre a transição, e ouvir um relato de uma coordenadora
de uma EMEF, na qual professoras/es do Ciclo Autoral (7º, 8º e 9º anos) estavam discutindo
os relatórios enviados pela EMEI, para qualificar as práticas junto ao grupo de estudantes.
Sobre isso, uma formadora da DIPED escreveu em seu registro do encontro:
Emociona-me pensar que embora muitas vezes os Relatórios passem por nós da
Educação Infantil como um documento a mais a ser feito, uma mera
burocracia, há unidades inteiras se debruçando para tentar entender quem são
esses sujeitos de direitos que ocupam nossas unidades públicas de ensino. E
mais, o que os profissionais da infância têm a nos contar sobre esses sujeitos.
Embora tenha ocorrido somente no final do encontro, acho oportuno comentar
neste momento a provocação que a V. nos trouxe, ao questionar se o grupo
entendia qual era a função real do relatório. A Angélica resumiu em uma frase
que ficou martelando meus pensamentos: “O relatório é para a gente mesmo!”.
Ora, claro que o relatório é para a gente mesmo, para trazer todo o percurso
que junto com o grupo trilhamos ao longo dos semestres, para corrigirmos
rotas e para mostrarmos o quanto de evolução essa criança em especial
alcançou participando de todas as nossas propostas. E fica para mim uma
provocação no sentido de como qualificar esses Relatórios, de modo que eles
possam de fato contribuir para que as transições que as crianças passam
durante a infância sejam o menos impactante possível. Como tirar desse
relatório o caráter meramente burocrático e torná-lo efetivo? Fica uma
provocação para que eu estude mais sobre o assunto e consiga, talvez, pensar
uma possibilidade. (Formadora da DIPED, Registro Grupo de estudos,
11/11/2019).
Embora, nas discussões do grupo, tenham emergido reflexões e falas sobre o papel de
diferentes agentes nesse processo, concordamos com Arakaki (2018) sobre a necessidade de
políticas públicas que reforcem tanto os processos de qualificação dos registros/relatórios como
os de valorização e uso dos mesmos nas ações de integração entre as etapas, durante a transição
das crianças entre elas. Caso contrário, as ações nesse sentido correm o risco de ficarem restritas
a contextos nos quais algumas pessoas tenham um olhar mais cuidadoso para isso. Esse
trabalho, tão essencial aos processos de transição, que respeitem as infâncias, não pode
acontecer por ações pontuais aqui e acolá, mas, sim, necessitam constituir-se como um trabalho
da RME/SP.
Quando uma ideia é dita, ela é para a pessoa a quem foi dita um
fato e, não, uma ideia. (DEWEY, 1959, p. 175).
Os registros de formação aos quais se refere essa parte do trabalho são aqueles que
foram construídos a partir dos encontros do Grupo de estudos Transições. Esse grupo foi
130
Ela escreve “obrigatoriedade” e “obriga” entre aspas e agradecendo, porque era uma
constante, nos encontros, minhas falas sobre a importância de registrarmos nossos fazeres
cotidianos e nossas reflexões sobre eles. Que os registros das discussões do grupo também
poderiam se constituir como “patrimônio pedagógico” (FOCHI, 2019, p. 145), podendo ser
partilhados em outros espaços-tempos, com outras pessoas, de forma a ampliar para além do
grupo aquilo que nele discutíamos e construíamos de saberes e fazeres.
131
Em outro registro, agora do encontro do dia 24/06/2019, essa questão aparece novamente:
Três colaboradoras enviaram as cenas que escreveram. Dentre elas, uma supervisora
fez um texto dissertando sobre suas reflexões durante o encontro do dia 06/08/2019 e enviou
por e-mail (um trecho foi citado anteriormente). Uma professora do CEI e do primeiro ano
elaborou uma mini-história54 e uma CP da EMEF enviou imagens de um projeto realizado na
escola.
As três cenas citadas foram compartilhadas durante o encontro do dia 09/09/2019 e se
somaram a um vídeo “Currículo da Cidade EMEI – EMEF” 55, elaborado pela SME/SP, e
exibido pela pesquisadora, e à cena compartilhada por duas formadoras da DIPED, que até o
53
Depoimento da professora do CEI e do 1º ano do EF, no Grupo de estudos, realizado no dia 24/06/2019.
54
“O conceito das mini-histórias surgiu nos anos oitenta, em Reggio Emilia, quando Malaguzzi convida as
pessoas a narrar sobre os percursos de aprendizagem das crianças através de breves relatos visuais e textuais”
(FOCHI, 2019, p. 16).
55
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=v8V8Sdby6wo&t=1s. Acesso em: 5 ago. 2020.
132
ano de 2018 eram coordenadoras na EI e em 2019 foram convidadas para trabalhar como
formadoras na DRE.
O registro feito pela supervisora foi lido no início do encontro e seguido por seus
comentários sobre a não implementação de políticas públicas, por parte da supervisão que, em
muitos casos, acaba por ter que administrar situações em que se busca “resolver a vida dos
adultos”, sem pensar nas crianças. Alguns exemplos disso são a construção dos horários nas UEs
e a atribuição de turmas – processos que tendem a seguir de forma a atender interesses de
adultas/os não havendo, necessariamente, reflexões e questionamentos sobre aspectos
pedagógicos.
A cena compartilhada pela professora do CEI e do 1º ano deixou as participantes do
encontro admiradas com tanta sensibilidade e com o olhar cuidadoso para as crianças. A
professora comentou que está “(...) aprendendo a ser professora de bebês”. No texto escrito em
sua mini-história compartilha olhares e reflexões sobre as relações das/os bebês com as
linguagens e expressões da arte, o lugar em que se encontram, as relações entre elas/es, como
formas de organizarem “ (...) suas experiências e se compreender, criando um sentido para sua
vida a partir de seu meio e dos materiais de que dispõe” (Trecho da mini-história compartilhada
pela professora do CEI e do 1º ano, no Grupo de estudos, 09/09/2019). O grupo concorda que ela
realiza um trabalho que respeita bebês e crianças, e também os princípios curriculares da
RME/SP.
A cena registrada em sua mini-história, assim como outros relatos e registros dessa
professora durante os encontros do Grupo de estudos evidenciam que, em suas turmas,
O registro feito pela professora indica também sua busca por narrar o vivido por ela e
pela bebê protagonista da cena registrada, usando as linguagens verbal e visual “(...) não
somente em modo narrativo e argumentativo, mas também em modo poético, metafórico,
musical, gestual, cenográfico” (RINALDI, 2014, p. 152). No tocante a isso, destaca-se a
importância de propiciar a professoras/es processos formativos isomórficos, que impliquem,
de acordo com Oliveira-Formosinho e Formosinho (2013, p. 11), “(...) um quotidiano
coerente que analise a práxis à luz dos princípios que a devem sustentar, tanto no que se refere
à aprendizagem das crianças como à aprendizagem dos adultos”.
133
A gente precisa partir de uma coisa positiva para avançar, porque se não a
gente vai lá só para julgar. É formativo! A gente não vai pra dizer “isso
presta, isso não presta, isso precisa arrumar”. A gente parte de onde a UE
está e como juntas nós avançamos daqui pra frente (Depoimento Formadora
da DIPED, no Grupo de estudos, 09/09/2019).
Essa estratégia ressoou no Grupo de forma positiva, pois outras pessoas concordaram
que “(...) é importante dar visibilidade a coisas boas, porque o que é ruim se sobressai, a
gente só ‘vê falar’ de coisa ruim de primeira infância” (Depoimento Professora de EI e EF,
no Grupo de estudos, 09/09/2019). Seria mais uma proposta que nasce na EI e poderia inspirar
o EF!
56
A assessora da SME, Silvana Lapietra, apresenta explicações sobre a visita pedagógica como estratégia
formativa no vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UhstKpKNgIA. Acesso em: 5 ago.
2020.
134
57
O nome da escola será mantido em sigilo.
135
O que me chamou muito a atenção foi a troca, uma ler o texto da outra. A
gente não tem isso, não tem quem leia nossas produções, a não ser aqui. É
triste porque você nunca sabe em que medida está acertando. Estamos
escrevendo mais, mas ninguém está lendo, e a gente fica numa ausência de
encaminhamentos (Depoimento Professora de EI e EF, no Grupo de estudos,
09/09/2019, grifo nosso).
Por mais que, ao registrar, os registros construídos sirvam à/ao própria/o professora/or
como instrumento para refletir sobre sua prática, avaliá-la e buscar as mudanças que se fazem
necessárias, as interlocuções que emergem do compartilhamento desses registros permitem
avançar de um processo de reflexão individual para um processo de reflexão coletiva. Na
reflexão coletiva e nas trocas por meio dos registros compartilhados, os olhares se ampliam e
as possibilidades de mudanças também.
Conforme afirma Madalena Freire (2008, p. 60),
[...] não basta registrar e guardar para si o que foi pensando, é fundamental
socializar os conteúdos da reflexão de cada um para todos. É fundamental a
oferta do entendimento individual para a construção do acervo coletivo.
Como bem pontuava Paulo Freire, o registro da reflexão e sua socialização
num grupo são “fundadores da consciência” e assim sendo (sem risco de nos
enganarmos) são também instrumentos para a construção de conhecimento.
58
Para saber mais, consulte: https://site.carandavivavida.com.br/madalena.php?Categ=2&contentID=319.
Acesso em: 15 jan. 2021.
136
Cleusa Watanabe. Este Grupo tem como objetivo “(...) criar espaços (presenciais e virtuais)
para o encontro com e entre educadores sobre processos de ensinar e aprender”59.
Em nossos reencontros, soube que Renata Araújo estava pesquisando e participando
do Project Zero (Harvard University), sobre a Visibilidade do Pensamento e a documentação
pedagógica como ferramentas que propiciam o aprofundamento do olhar docente em relação
às suas próprias aprendizagens e às aprendizagens de meninas e meninos no cotidiano das
escolas. Então, a convidei para uma conversa sobre registros, formação e visibilidade das
aprendizagens de adultas/os que trabalham com crianças.
As pesquisas do Project Zero se referem a possibilidades de que os pensamentos se
tornem visíveis à/ao própria/o pensante, de forma que seja possível ter consciência sobre o
próprio pensar. Nesse sentido, os registros ocupam lugar de destaque, pois permitem a tomada
de consciência sobre o próprio fazer e a construção de conhecimentos acerca das práticas, a
partir da reflexão sobre elas, em articulação com as teorias que as embasam, não em um
processo de mera reprodução, mas por meio da confrontação entre teoria e cotidiano. Nesta
lógica, é importante ter disposição para se perguntar sobre as coisas e colocar os registros ao
alcance das/os pensantes, conforme destacou Renata Araújo.
Em um dos registros feitos desse encontro, foi ressaltado o lugar importante dos
registros nos processos formativos.
Em sua fala, Renata Araújo também aponta para o registro como resistência e
possibilidade para formarmo-nos juntas/os, num movimento de pensar individual e
coletivamente sobre o próprio trabalho, sendo o registro considerado experiência de encontro
59
Disponível em: https://www.composicaoformacao.com/. Acesso em: 5 ago. 2020.
137
A Renata também nos leva a refletir sobre os registros, assim, como uma
FORMA DE RESISTÊNCIA. Eu não poderia deixar de destacar essa frase em
tempos tão carentes de resistência. E refletimos novamente sobre os que vieram
antes de nós. (Professora de EI, Registro Grupo de estudos, 08/10/2019).
Contudo, para que o registro se configure dessa forma, como resistência e como
experiência, necessita ser compartilhado. Os espaços formativos são momentos potentes para
esse compartilhamento, essas reflexões coletivas e de resistência às práticas impostas e
prescritivas, que ferem os direitos de meninas, meninos e professoras/es. Também discutimos
sobre as divergências existentes entre aquilo que se defende na formação continuada em
serviço e aquilo que acontece nos momentos formativos, com modelos de formação
alicerçados na reprodução da visão das/os professoras/os como alunas/os, que sentam e
escutam (que não façam isso com as crianças).
Nesta contradição, quais seriam as memórias que professoras/es têm de quando eram
crianças e de suas escolas? E de quando eram jovens? E de quando estavam na graduação? E
quais são suas vivências nos momentos de formação continuada dos quais participam
cotidianamente? Exige-se que docentes ensinem de um jeito que não lhes foi ensinado e que
tampouco tiveram oportunidade de vivenciar ao longo de sua formação.
De acordo com Dowbor (2008, p. 93),
Para que o educador possa criar no corpo do outro essa ou qualquer outra
demanda, seu corpo, no entanto, também teria de estar, diria eu, “habitado”
pela demanda. Ou seja, é preciso que o educador possua certa “relação de
intimidade” com a demanda que deseja gestar no corpo do educando.
(DOWBOR, 2008, p. 93).
[...] modo formativo que os inspire na forma como educar as crianças porque o
respeito que vivem enquanto formando é o respeito que se deseja que tenham
pelas crianças com quem trabalham. Estamos perante o valor isomórfico dos
processos formativos respeitadores. (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2016b, p.
95).
No registro que fiz do encontro ocorrido dia 08/10/2019, inseri ao final a pergunta:
“O que estamos dispostas a compartilhar?”. O Grupo de estudos Transições tem se
constituído como uma “(...) comunidade reflexiva para a vivência de processos
transformativos (...)” entre e com pessoas que “Intuem, sentem, descobrem que se deseja
criar colaborativamente novas oportunidades para aprendizagem profissional” (OLIVEIRA-
FORMOSINHO, 2016b, p. 99).
Nosso desejo é que possamos seguir refletindo e registrando nossas reflexões sobre a
transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, juntamente com todos os aspectos
que emergem nessa reflexão, e compartilhar esses registros em diferentes contextos e com
profissionais de ambas as etapas, para que nossa busca por uma educação das infâncias que
respeite os direitos das crianças, professoras/es e gestoras/es possa ser partilhada,
contribuindo para que outras pessoas se engajem nessa luta.
139
Acabei de receber sua carta! Estou lendo! Agora que li sua carta quero
muuuiittooo60 (Formadora DIPED EF, Mensagem pelo Whatsapp,
05/01/2021).
As 13 cartas enviadas foram também um novo convite para minha escrita e para cada
uma das colaboradoras que, ao recebê-las, poderiam ser encorajadas, inspiradas, a escrever
60
Referindo-se ao desejo de voltar a participar dos encontros do grupo.
140
cartas-respostas, além contarem um pouco mais sobre cada colaboradora da pesquisa, seus
percursos reflexivos individuais e suas contribuições para a construção do percurso reflexivo
do Grupo (como uma delas, no APÊNDICE M). Seria possível, então, termos outras
narrativas sobre nossos encontros e diálogos, pois,
De acordo com Graue e Walsh (2003, p. 263), “Escrever é uma atividade complexa
que cria ou interrompe o trabalho interpretativo”. Neste caso, escrever as cartas foi uma nova
possibilidade de retomar os acontecimentos vividos e de ressignificá-los no presente.
Nesse processo de escrita das cartas voltei aos registros dos nossos
encontros e fui encontrando as preocupações, reflexões e os
questionamentos de cada pessoa. Separei algumas de suas falas, nos
encontros e/ou nos seus registros (e também nos meus e das nossas
parceiras). (Pesquisadora, Trecho da carta escrita a uma das colaboradoras,
22/12/2020).
Angel, muitíssimo obrigada por me trazer lembranças tão boas e tão cheias
de significados em minhas transições. (Professora de EF, Mensagem pelo
Whatsapp, 08/01/2021).
[...] uma cartona! Linda e recheada com as melhores memórias dos nossos
momentos de estudos, trocas de práticas, experiências e o registro autêntico
da nossa parceria. Fiquei por alguns momentos tentando resgatar o
encontro em relação à fala. Nossa! Falei coisas que nem me lembrava mais.
(Formadora DIPED EI, Mensagem pelo Whatsapp, 30/12/2020).
Recebi minha carta e li, reli, li de novo. É de uma sensibilidade, Angel. Que
documento preciso, gostoso de ler, reviver cada linha do que foi registrado.
(Formadora DIPED EI, Mensagem pelo Whatsapp, 20/01/2021).
Obrigada, obrigada pelo tempo compartilhado comigo, com todas nós.... Que
delícia foi poder ler tudo o que vc escreveu.... Fiquei pensando no que você
disse que eu disse rs, tentando puxar pela memória... Viu só como é bom o
registro?! Essa carta despertou em mim tantas, tantas, tantas coisas que não
conseguiria expressar em uma curta mensagem de texto.... Também vou
responder por carta... (Supervisora escolar, Mensagem pelo Whatsapp,
04/01/2021).
Quero que registre o quão maravilhada você me deixou com este presente
tão singelo, mas carregado de detalhes. Somente uma profissional da sua
categoria seria capaz de traduzir ‘os meus pensamentos pedagógicos’, com
142
Esses agradecimentos seguem por uma via de mão dupla, porque a escrita da escuta só
foi possível porque construímos conhecimentos e reflexões coletivas e, sobretudo, porque
construímos parcerias. Refiro-me à parceria no sentido traçado por Dowbor (2008, p. 50):
[...] nossas reflexões sobre os relatórios sempre nos levam a esse lugar de
pensar sobre as concepções, as práticas, os olhares e as aprendizagens que
eles (não) revelam. Por que registrar alguns aspectos e não outros? Que
instrumentos ‘alimentam’ essa escrita? (Pesquisadora, Trecho da carta
escrita a uma das colaboradoras, 21/12/2020).
Outras discussões acerca dos relatórios e sua relação com os processos de transição
foram recorrentes durante os encontros dos dois contextos investigados nesta pesquisa. Por
exemplo, com a presença de uma professora de primeiro ano da rede estadual de ensino no
144
Grupo de estudos, tornou-se evidente a necessária e urgente discussão sobre a transição das
crianças entre duas redes de ensino (municipal e estadual). As falas desta colaboradora
salientaram as fragilidades na escrita dos relatórios e as dificuldades de diálogo entre as redes
de ensino, como ocorre com,
Esse não foi um aspecto analisado durante essa pesquisa, mas aponta-se a necessidade
de estudos futuros.
A formação de profissionais da EI e do EF também foi tema de destaque de nossas
reflexões. Todas as colaboradoras, independentemente de cargo/função, demonstraram ao
longo dos encontros preocupações acerca da necessária articulação entre as formações
oferecidas e as exigências feitas às equipes docentes e gestoras no trabalho educativo com as
crianças.
Enquanto CP da EI, uma das colaboradoras manifestava suas preocupações acerca da
formação dizendo que “(...) trabalhar com professores é um ato investigativo” (Depoimento
CP EI, no Grupo de estudos, 08/09/2018) e que “(...) a melhor maneira de atingir as pessoas
é através do exemplo” (Depoimento CP EI, no Grupo de estudos, 13/11/2018). Ao assumir a
função de formadora da DIPED (frente de EI) continua suas reflexões nesse sentido, mas estas
se ampliam, pois passa a lidar também com a formação de CPs: “(...) a primeira semente que
a gente pode plantar é no CP, porque ele consegue atingir a escola” (Depoimento Formadora
DIPED EI62, no Grupo de estudos, 24/06/2019)63.
Sobre a formação, outra colaboradora que mudou de função, indo da coordenação da
EI para a formação na DIPED (frente de EI) evidencia em suas falas e reflexões a ampliação
de olhar e de questionamentos a partir da sua transição. Enquanto CP demonstrava grande
preocupação com a integração entre profissionais por meio da formação. Como formadora da
DIPED, suas reflexões se ampliam e focam-se nas ações de implementação das propostas
curriculares e a proposição de políticas públicas de formação.
Em sua carta, escrevi “(...) você pensou numa integração que partisse dos professores
para então poder chegar às crianças. Isso é essencial e é o que temos defendido no Grupo”
62
Essa colaboradora ingressou no mestrado, no ano de 2020, e pretende fazer sua pesquisa sobre grupos
colaborativos e as possibilidades de articulação entre os diferentes setores da DRE, o que considera essencial
para demais processos de integração, inclusive aquele que foi foco deste estudo.
63
Todas estas falas também compuseram a carta enviada a esta colaboradora.
145
64
E as/os adultas/os.
146
Dentre as mensagens enviadas por aplicativo após o recebimento das cartas, algumas
colaboradoras escreveram que irão responder as cartas da mesma forma, o que demonstra,
novamente, a generosidade e a disponibilidade em continuar os diálogos e as trocas sobre
nossas práticas, buscas, lutas pela educação das infâncias respeitosa com as crianças e as/os
profissionais que estão cotidianamente com elas nas escolas de EI e de EF.
Soligo (2007b, p. 360) afirma que,
Ensino Fundamental I (PEIEF I) são ocupados por docentes que podem estar tanto nas EMEIs
com as crianças de 4-5 anos de idade, como nas EMEFs com crianças de 6 a 10 anos (do 1º ao
5º ano).
Portanto, a RME/SP tem professoras/es que trabalham com crianças no contexto da EI
e também do EF, e ao longo das discussões acompanhadas durante esta pesquisa, vários foram
os apontamentos feitos acerca das diferenças e semelhanças no trabalho de professoras/es das
infâncias em uma ou em outra etapa, além de questionamentos como: O que afinal determina
a escolha pelo nível e/ou modalidade da Educação Básica no qual se deseja atuar? Por que
algumas pessoas optam pela EI e outras pelo EF? Por que, dentre as que escolhem a EI,
algumas optam por trabalhar com bebês (na creche) e outros com crianças da pré-escola? Por
que, dentre as que escolhem o EF, algumas escolhem trabalhar com os anos iniciais e outras
preferem os anos finais?
Percebe-se que, na maioria das vezes, as escolhas estão relacionadas com as vivências,
principalmente as formativas, e com as afinidades com elementos característicos de cada
etapa, pois nossas escolhas profissionais são marcadas pelos “lugares” por onde passamos.
Conforme destacado por Dowbor (2008, p. 30), “O lugar de origem é algo de muito
importante na vida de uma pessoa. Somos todos, de certa forma, determinados, alimentados e
norteados por esse lugar. A origem dorme um sono gostoso no nosso corpo”.
Assim também acontece quando decidimos fazer pesquisa, pois “(...) o conjunto
particular de características e experiências em que nos reconhecemos constitui uma série de
contextos muito poderosos para nossa pesquisa” (GRAUE; WALSH, 2003, p. 96). E, como
ressaltam Kohan e Berle (2019, p. 240), “(...) a pesquisa que se faz também é a pesquisa que
me faz; o passo que caminho é passo que me caminha: quem caminha, também é caminhado”.
As transições entre as etapas vividas por profissionais são determinadas por suas
escolhas, ao mesmo tempo em que as determinam, constituindo as práticas de docentes e
gestoras/es, conforme foi possível perceber durante essa pesquisa, bem como nas pesquisas de
Bonamigo (2010, 2012) e Furlanetto, Medeiros e Biasoli (2020).
Ressalta-se, portanto, uma das ideias defendidas ao longo dessa pesquisa, a de que as
transições vividas por profissionais podem, ao mesmo tempo, fazer com que proponham
momentos formativos integrados (como aconteceu no meu caso); e também potencializá-los,
pois esses momentos de integração entre profissionais das duas etapas permitem o diálogo
sobre as especificidades de atuação em cada uma, bem como sobre os pontos de articulação
entre elas, além de permitir que se amplie a visão acerca do trabalho na EI/no EF e o respeito
por elementos que compõem a prática docente e gestora em cada etapa. O Curso optativo e
149
Grupo de estudos Transições se constituíram como espaços para essa integração, pautada no
conhecimento e no respeito pelo trabalho em ambas as etapas e pela valorização e busca por
práticas que respeitem as infâncias na EI e no EF.
Nesse sentido, corroboramos com os apontamentos feitos por Oliveira (2017) acerca
das possibilidades de integração que o grupo colaborativo oferece. Em seu estudo, revelou
que:
O processo de atualização do currículo da EI, pelo qual a SME da cidade de São Paulo
passou, desde 2017, resultou na escrita de um documento curricular publicado em março de
2019, o Currículo da Cidade – Educação Infantil (SÃO PAULO, 2019b). O documento
aborda a temática das transições e destaca a necessidade de que políticas públicas tenham
como foco a integração curricular, propiciando formações integradas e coletivas de
professoras/es de crianças. Contudo, ainda não houve, por parte da SME/SP, ações de
integração e implementação de uma política de transição entre as etapas da Educação Básica.
As ações realizadas partem de olhares e iniciativas pontuais, em algumas escolas/DREs,
conforme relatos compartilhados nos contextos investigados nessa pesquisa, e também
aqueles presentes em formato de cenas, no referido documento publicado pela SME (SÃO
PAULO, 2019b).
As ações planejadas e propostas por profissionais das UEs e/ou das DREs são
importantes, pois favorecem a criação de espaços para o diálogo e a reflexão sobre a educação
das crianças, quer seja na EI ou no EF, além de favorecerem a emergência de demandas que
podem despertar olhares e novas ações em outros contextos. Contudo, reafirmamos a
necessária proposição de ações formativas e de políticas de transição por parte da SME/SP,
tendo em vista que se trata de considerar um aspecto importante na educação da infância,
apontado inclusive nos documentos da própria Rede (SÃO PAULO, 2014a, 2015, 2019b).
Para a efetivação das ações de articulação em nível municipal, é urgente que a
SME/SP assuma seu compromisso na busca pela integração, conforme apontado no Currículo
da Cidade (SÃO PAULO, 2019b, p. 162):
150
As linhas de continuidade citadas no documento têm sido elevadas por equipes das
UEs e das DREs/SP, mas a busca por uma cultura compartilhada (MOSS, 2011; MOTTA,
2013) implica envolvimento e iniciativas por parte da SME/SP, efetivando um trabalho em
nível de Rede. A elaboração de um plano de transições para o território (SÃO PAULO, 2019)
é importante, mas não exime a SME/SP de oferecer condições para a efetivação desses planos
territoriais, como também de um plano em nível municipal, efetivando aquilo que está no
discurso e nos documentos curriculares dessa RME.
Acerca dos planos e das políticas de transição, cumpre ressaltar que devem ter como
foco preparar a transição e não apenas propor ações de preparação para a transição. Em
outras palavras, as ações para a garantia de momentos de transição com menos rupturas e
mais continuidades, devem considerar “(...) a transição como um processo intencionalmente
educativo, de construção participada e desenvolvido ao longo dos anos” (OLIVEIRA-
FORMOSINHO, 2016a, p. 31).
Por esse motivo, as visitas das crianças da EI às suas futuras escolas de EF são
momentos importantes, mas não suficientes para a efetivação da integração se, durante essas
visitas, as crianças vivenciarem propostas que não lhe serão oportunizadas quando estiverem
frequentando o primeiro ano, pois não haverá articulações ou continuidades efetivas entre as
etapas.
Um plano de transição que tenha como foco a integração entre as etapas para a
continuidade dos processos educativos se pauta em propostas de preparo da transição e não
das crianças, envolvendo ações para a efetivação de concepções referentes ao trabalho com as
infâncias, onde quer que estejam. São ações importantes nesse processo: reuniões entre
profissionais, visitas das crianças da EMEI à EMEF e vice-versa, a realização de atividades
conjuntas e o conhecimento e contato entre profissionais envolvidas/os no trabalho com as
crianças da EI e do EF (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2016a).
Não contribuem com os planos de transição, ações pautadas em princípios da
“pedagogia dos pré-requisitos” (MEIRIEU, 2006), ou seja, antecipar práticas do EF,
65
E de gestoras/es.
66
E de gestoras/es.
151
escolarizando a EI, para que as crianças cheguem “mais preparadas” ao primeiro ano e se
adaptem rapidamente ao novo contexto. Sobre o pensamento envolvido na “pedagogia dos
pré-requisitos”, Meirieu (2006, p. 57, grifo do autor) diz:
[...] seria preciso saber nadar para entrar na piscina. Saber ler para poder
abrir um livro. Saber escrever perfeitamente e sem erro para rabiscar sua
primeira carta de amor [...]. Na realidade, a “pedagogia dos pré-requisitos”
coloca sempre “saberes” ou “os saberes” como uma condição indispensável
de acesso aos conhecimentos e à cultura. Ela sempre encontra pretexto para
adiar o momento do confronto com a cultura: “Ele não tem base; é preciso
primeiro consolidar suas aquisições; é preciso tempo, e é preferível
concentrar-se no fundamental...”. Há um erro de cálculo! A “pedagogia dos
pré-requisitos”, na realidade, rompe as pontes que pretende construir. Ela
impede as crianças de verem a vida crescer por trás de conhecimentos
fossilizados que a Escola lhe ensina. Ela fabrica a morte com o vivo...
quando, evidentemente, seria preciso fazer o contrário: restituir o projeto
cultural que deu origem aos saberes.
ombros de todos os participantes nos processos que se sabem ser interativos e comunicativos”
(OLIVEIRA-FORMOSINHO; LIMA; SOUSA, 2016, p. 60). Portanto,
Considera-se, nesta pesquisa, como esses atores citados pelas autoras, professoras/es,
gestoras/es, profissionais que atuam em órgãos centrais (DRE, SME) e famílias, assim como o
papel das equipes gestoras das UEs (diretoras/es e coordenadoras/es), da supervisão escolar e
de equipes das DIPEDs/DREs nas ações de integração entre as etapas e de transição de uma à
outra, foram amplamente debatidos nos encontros formativos do Curso optativo da DRE e do
Grupo de estudos.
Muitas falas apontaram para a necessidade de propor momentos formativos para
discussão das transições e da educação de crianças, tanto no contexto da EI como do EF, que
envolvam também as equipes gestoras, partindo do princípio de que quem atua na gestão tem
papel fundamental na construção de uma educação que atenda aos direitos das crianças e de
quem com elas trabalha. É preciso, contudo, que as equipes tenham condições para efetivar
tais ações de integração, que muitas vezes ficam em segundo plano, diante de outras
demandas impostas e cobradas, como, por exemplo, o grande foco dado às avaliações
externas, que ocupam excessivamente equipes docentes e gestoras.
Uma das condições amplamente debatida nos contextos investigados durante essa
pesquisa foi o acolhimento às crianças, na chegada ao primeiro ano. O acolhimento das
crianças em sua integralidade pressupõe acolher suas linguagens, suas formas de comunicação
e expressão, seus corpos, movimentos, formas de se relacionar entre si, com adultas/os, com
as propostas, espaços e tempos educativos.
Esse acolhimento das crianças pressupõe também, como discutido e afirmado ao longo
da pesquisa, o acolhimento das/os adultas/os que as acompanham nos contextos da EI e do
EF. Acolher as/os adultas/os impõe, dentre outras ações, propiciar a elas/es aquilo que se
deseja que propiciem às crianças. Em outras palavras, para que professoras/es e gestoras/es
acolham as crianças integralmente, torna-se necessária a construção de uma formação que
também considere os corpos inteiros das/os adultas/os, as marcas e dimensões que carregam
ou não, especialmente a dimensão brincalhona.
153
No tocante a isso, embora nos encontros dos contextos investigados, tenhamos sido
provocadas a fazer reflexões através de várias linguagens, formas de escrita, conversas,
escutas, imagens, registros, poemas, desenhos; além da construção das relações entre nós por
meio de nossos corpos, olhares, risos, choro, abraços, toques, silêncios, falas, gritos (em
posicionamentos mais exaltados), sabores (sempre levávamos lanche); ainda é preciso ampliar
os momentos para nos expressarmos e nos manifestarmos em outras tantas linguagens e
dimensões humanas, como a do movimento, do gesto, da brincadeira, na interface com as
artes na educação e na formação das infâncias, por exemplo, considerados como limites desta
pesquisa.
Continuo, por isso, no processo de inquirição de práticas (DEWEY, 1979), mas não
somente das práticas de profissionais da EI e do EF, como das minhas próprias práticas como
formadora e pesquisadora. Também me constituí nesses lugares a partir de uma formação
pautada no cerceamento do meu corpo, de valorização da linguagem escrita e de poucas
oportunidades para me expressar em todas as outras. Portanto, na continuidade do Grupo de
estudos Transições e de outros espaços-tempos formativos que acontecerão daqui em diante, a
busca será por essa formação de corpo inteiro, a minha própria e a das parceiras que estiverem
dispostas a seguir comigo por esse caminho.
Vislumbro que um novo percurso se iniciará e transitaremos para uma etapa de
superação de práticas de cerceamento e dicotomização dos (nossos) corpos, descolonizando
com eles nossas práticas formativas e os próprios processos de transição na EI e no EF.
Destaco a importância das pesquisas realizadas por integrantes do Grupo Pesquisa e Primeira
Infância: Linguagens e Culturas Infantis, coordenado por minha orientadora (FEUSP), para
que esse novo percurso pudesse ser vislumbrado.
Portanto, iniciaremos uma nova etapa de nossa formação, assim como desejamos à
educação das crianças, com menos rupturas e mais continuidades. Que nossas vozes e as das
crianças possam ser ouvidas e contribuam para a implementação das ações de transição
presentes nos discursos e nos documentos curriculares da Rede Municipal de Educação de
São Paulo.
154
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APÊNDICES
_______________________________
Profa. Dra. Patrícia Dias Prado (FEUSP/SP)
175
Atenciosamente,
____________________________________
Angélica de Almeida Merli
São Paulo, agosto de 2018
177
CRONOGRAMA
DATA TEMÁTICA PROPOSTA PRÁTICA REFERENCIAL/
BIBLIOGRAFIA
1º Ser professora/ - Apresentar OLIVEIRA-FORMOSINHO,
encontro professor de detalhadamente a Júlia; KISHIMOTO, Tizuko M.
crianças proposta do grupo. (org.). Formação em contexto:
08/09/18 pequenas: na - Apresentação das/os uma estratégia de integração.
Educação Infantil participantes e São Paulo: Pioneira Thomson
e no Ensino percursos profissionais. Learning, 2002. Capítulo 2: O
Fundamental. Que escolhas foram desenvolvimento profissional
feitas e por que? das educadoras de infância: entre
- Uma/um participante os saberes e os afetos, entre a
que seja da EI e outra/o sala e o mundo (OLIVEIRA-
que seja do EF FORMOSINHO).
registrará apenas falas
que considerar
relevantes.
2º O Ensino - Retomar as falas BARBOSA, Maria Carmem S.;
encontro Fundamental de 9 registradas no encontro DELGADO, Ana Cristina C. et
anos: impactos anterior e discutir os al. A infância no Ensino
15/09/18 nas propostas focos escolhidos Fundamental de 9 anos. Porto
pedagógicas pelas/os participantes Alegre: Penso, 2012. Capítulo 1:
para/com crianças da EI e do EF - há Ingresso obrigatório no Ensino
pequenas (na diferenças? Fundamental aos 6 anos: falsa
EMEI e na Semelhanças? Refletir solução para um falso problema
EMEF) acerca das concepções (CRAIDY; BARBOSA) e
de infância e de sua Capítulo 5: A Educação Infantil,
educação a partir do a criança e o Ensino
lugar que ocupam, Fundamental de nove anos:
EMEI e/ou EMEF. ampliando o debate (LOBO).
67
Somente o primeiro encontro foi realizado na FEUSP; os demais ocorreram virtualmente devido ao
isolamento social imposto pela pandemia da COVID-19.
185
INSTITUIÇÃO/
ANO TÍTULO/AUTOR(A) LOCAL
PERIÓDICO
A IDENTIDADE DA PRÉ-ESCOLA:
ENTRE A TRANSIÇÃO PARA O ENSINO
FUNDAMENTAL E A
2014 OBRIGATORIEDADE DA FREQUÊNCIA RS UFRS
(TESE)
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO: A
RUPTURA DA LUDICIDADE NOS
PRIMEIROS ANOS DO ENSINO
2014 SP UMESP
FUNDAMENTAL (DISSERTAÇÃO)
BORTOLACI, Natalia
DESENVOLVIMENTO DAS
INTERPRETAÇÕES DE SI, DO OUTRO E
DO MUNDO POR CRIANÇAS NA
TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO
2015 DF UnB
INFANTIL PARA O ENSINO
FUNDAMENTAL (TESE)
CAMPOS-RAMOS, Patrícia C.
ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE
ANOS: UMA AMPLIAÇÃO DE
2015 DIREITOS? (DISSERTAÇÃO) SP FFCLRP/USP
FERRÃO, Fernando
GRUPO COLABORATIVO COMO
ESTRATÉGIA FORMATIVA DE
ARTICULAÇÃO DA EDUCAÇÃO
2017 INFANTIL COM O ENSINO SP PUC
FUNDAMENTAL I (DISSERTAÇÃO)
FERNANDES, Nathana
2017 O TRABALHO PEDAGÓGICO COM A CE UFC
LEITURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E
NO ENSINO FUNDAMENTAL:
INVESTIGAÇÕES SOBRE ENSINO E
AVALIAÇÃO (DISSERTAÇÃO)
190
ZANATTA, Joana
A AÇÃO FORMATIVA DO
COORDENADOR PEDAGÓGICO NA
TRANSIÇÃO DAS CRIANÇAS DA
EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O
2018 SP PUC
ENSINO FUNDAMENTAL
(DISSERTAÇÃO)
CRIANÇAS (ARTIGO)
ANEXOS