Fundamentos Da Educação Especial II
Fundamentos Da Educação Especial II
Fundamentos Da Educação Especial II
Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial
FUNDAMENTOS
DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL II
2º Semestre
1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Profa. Elisane Maria Rampelotto (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Prof. José Luiz Padilha Damilano Transferência Técnológica | UFSM)
Profa. Melânia de Melo Casarin
Profa. Soraia Napoleão Freitas Projeto de Ilustração
Professores Pesquisadores (Conteudistas) (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
1. Educação 2. Ensino 3. Educação especial I. Damilano, José Luiz Padilha II. Siluk,
Ana Cláudia Pavão III. Universidade Federal de Santa Maria. Pró-Reitoria de Graduação.
Centro de Educação. Curso de Graduação a Distância de Educação Especial. IV. Título.
CDU: 376.1/.4
Ministério da Educação
Tarso Genro
Ministro da Educação
UNIDADE A
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E O CONTEXTO
ESCOLAR NAS CATEGORIAS: SURDEZ, TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM E DÉFICIT COGNITIVO 07
1. Surdez 09
2. Transtornos / problemas/ dificuldades de aprendizagem 13
3. Déficit cognitivo 23
UNIDADE B
MODALIDADES DE ATENDIMENTO 43
1. Escola especial 45
2. Instituição especializada 46
3. Classe especial 47
4. Sala de recursos 49
5. Classe hospitalar 50
6. Ambiente domiciliar 51
7. Serviço Itinerante 53
UNIDADE C
A DINÂMICA FAMILIAR 59
1. A instituição família ao longo dos tempos 61
2. Ciclo vital da família 72
REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas 76
4
Apresentação
da Disciplina
FUNDAMENTOS
DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL II
2º Semestre
NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS E O CONTEXTO
ESCOLAR NAS CATEGORIAS:
SURDEZ, TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM E
DÉFICIT COGNITIVO
Objetivos da Unidade
Após o estudo do conteúdo e a realização das
atividades propostas, esperamos que você alcance os
seguintes objetivos:
- conheça as causas da surdez, transtorno de
aprendizagem e déficit cognitivo;
- identifique as principais características das pessoas
surdas, com transtorno de aprendizagem e com déficit
cognitivo;
- reconheça as implicações e intervenções
educacionais no trabalho com pessoas surdas, com
transtorno de aprendizagem e com déficit cognitivo.
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
No semestre anterior, na disciplina de Funda- intervenções pedagógicas de cada categoria.
mentos da Educação Especial I, você estudou Nas temáticas como problemas de aprendizagem
algumas necessidades educacionais especiais, e déficit cognitivo foram acrescidas algumas
tais como: altas habilidades, deficiência visual, referências históricas e as definições mais
deficiência física, transtorno de déficit de aceitas atualmente.
atenção / hiperatividade, autismo e síndrome Certamente ao estudar essas áreas você
de Down. estabelecerá relações com as experiências tidas
Nessa unidade, daremos prosseguimento ao com pessoas surdas, com problemas de
estudo das necessidades educacionais especiais, aprendizagem ou com déficit cognitivo em sua
enfatizando a surdez, os problemas de comunidade. Essas relações, mais as leituras
aprendizagem e o déficit cognitivo - áreas indicadas no decorrer do texto e nas referências
específicas da sua formação acadêmica. Para bibliográficas, serão imprescindíveis para a
tal, organizamos a unidade apresentando as construção de conhecimentos sólidos em sua
causas, as características e as implicações / formação.
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UNIDADE A
1 Surdez
Professora Elisane Maria Rampelotto
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
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UNIDADE A
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UNIDADE A
2 Transtornos / problemas/
dificuldades de aprendizagem
Professor José Luiz Padilha Damilano
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Vinícius de Sá Menezes
Podemos inferir que muito dessa confusão Ainda quanto à terminologia, há que se
deve-se, principalmente, às perspectivas quanto considerar a revisão bibliográfica feita por Casas
às causas que originam o problema. Educadores (apud CRUZ, 1999, p.13), "(...) é evidente a
e psicopedagogos inclinam-se para as causas ausência de acordo entre os profissionais na
pedagógicas, psicológicas ou sociais num sentido tarefa aparentemente simples de atribuir um
mais amplo, enquanto os neurologistas e nome ao grupo de crianças que manifestam
neuropsicólogos privilegiam causas neurológicas determinadas dificuldades nas suas aprendiza-
e fisiológicas como determinantes. gens (...)", tendo encontrado mais de quarenta
denominações referentes a essas crianças.
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UNIDADE A
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Vinícius de Sá Menezes
Figura A.3: Área da fala de Broca e área da linguagem
compreensiva de Wernicke
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UNIDADE A
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
pública (PL 894-142), aumento das confusões Maria, trazemos alguns fatores etiológicos
com respeito às dificuldades de aprendizagem defendidos por Marquezan (2000). Esse
e aumento do número de crianças com pesquisador postula a dificuldade de
dificuldades de aprendizagem. aprendizagem como uma alteração no sistema
Como vocês já perceberam, são definições de trocas entre o indivíduo e o seu meio. Dessa Você pode ler mais
sobre esse assunto no
elaboradas por órgãos e ou instituições dos maneira, "a alteração no sistema de trocas pode texto "Distúrbios,
Estados Unidos da América, que ainda ocorrer em função de comprometimento do transtornos,
dificuldades e
influenciam fortemente as pesquisas e os organismo, em função do meio ou pela problemas de
aprendizagem", de
modelos de intervenção no nosso País. Tal consideração entre ambos" (MARQUEZAN Juliana Zantutt Nutti. Ele
está disponível em
abordagem não significa que os estudos 2000, p. 07).
http://
europeus não tenham valor, porém, para Com relação ao organismo, o autor aponta www.psicopedagogia.com.br/
artigos/
apresentar essa temática, optamos pelas os fatores psicomotores, cognitivos e socio- artigo.asp?entrID=339
ou auditiva);
da globalização nos papéis desempenhados - evidenciar dificuldades perceptivas,
pelos indivíduos na sociedade. disparidades em vários aspectos de
comportamento e problemas no processa-
mento da informação, quer ao nível receptivo,
Caracterização dos quer integrativo e expressivo.
problemas de aprendizagem
Ao estudarmos as características da população, Essa caracterização não é definitiva, pois
considerada com dificuldades de aprendizagem, considera apenas os aspectos relacionados à
devemos nos reportar a algumas classificações, criança. Da mesma forma, há pesquisadores que
posto que não há aceitação de critério único chegam ao detalhamento de noventa e nove
para uma classificação que diminua a confusão características diferentes (CLEMENTS apud
conceitual (como já estudamos nos itens CRUZ, 1999).
anteriores) nessa área. Este mesmo autor, na sua revisão
Conforme Cruz (1999), as classificações bibliográfica, refere que os problemas mais
mais significativas levam em conta a abordagem freqüentes nessas crianças ocorrem no que ele
O estudo mais
detalhado dessas neuropsicológica em que se valorizam os chama de: níveis neurológicos, de atenção,
características você fará
mais adiante no curso aspectos de déficit na criança: perturbações na percepção, memória, cognitivo, psicolingüístico,
(disciplina do IV
linguagem, viso-espaciais, atenção, memória, atividade motora e psicomotora, emocional e
semestre).
percepção e desempenho acadêmico (leitura, socioemocional. De uma maneira geral, são
escrita e matemática). Outras classificações não esses aspectos (níveis) que os pesquisadores
identificam causa orgânica específica, valorizam consideram nas intervenções e formulações de
o conhecimento dos aspectos evolutivos do programas educacionais.
desenvolvimento psicológico e a relações entre
as "predisposições individuais e a natureza dos Implicações e intervenções
envolvimentos nos quais as crianças devem educacionais dos problemas
aprender e agir" (CRUZ, 1999, p. 98). de aprendizagem
Diante das definições apresentadas por As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
diferentes autores, podemos sugerir como na Educação Básica (apud MEC/SEESP, 2004,
características das pessoas com dificuldades de p. 14) destacam entre os educandos com
aprendizagem os seguintes aspectos definidos necessidades educacionais especiais aqueles
por Fonseca (1995, p. 196): que apresentarem
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UNIDADE A
3 Déficit cognitivo
Professor José Luiz Padilha Damilano
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Vinícius de Sá Menezes
Como podemos perceber, a medida do deficiente mental, além das outras duas
quociente intelectual ainda faz parte do condições presentes no conceito comum à
conceito de deficiência mental, porém o avanço OMS e AADM.
é que não é mais apenas o Q.I que dá suporte Outra definição, apresentada por Pacheco
ao conceito. Outro avanço conceitual, com viés & Valencia (apud BAUTISTA, 1997), está
educacional, é a presença de alterações nas embasada no que ele chama de corrente
condutas adaptativas como condição para a pedagógica e considera a deficiência mental
identificação da deficiência mental. As condutas como uma dificuldade no processo regular de
adaptativas consideradas são: comunicação, aprendizagem, havendo, como conseqüência,
cuidados pessoais, vida escolar, habilidades uma necessidade de apoios e adaptações
sociais, desempenho na comunidade, curriculares para o processo regular de ensino.
independência na locomoção, saúde e Certamente você encontrará outras tantas
segurança, desempenho escolar, lazer, trabalho. definições de deficiência mental. Para encerrar
Para a Associação Americana de Retardo essa subunidade e sem fazer nenhum juízo de
Mental (AMRR, 1992), é preciso haver alteração valor, transcreveremos citação de Fonseca
em duas ou mais das condutas adaptativas (1987, p.44):
citadas acima para identificar alguém como
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UNIDADE A
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
No capítulo sobre a criança socialmente Toda vez que a criança sofre um prejuízo
desfavorecida, Dias e Reza (apud BAUTISTA, no seu corpo, intelecto ou personalidade, há a
1997) afirmaram ser constatado o prejuízo possibilidade de interferência no seu
cognitivo, afetivo e emocional em pessoas que crescimento, desenvolvimento, capacidade de
fazem parte das faixas sociais mais pobres. No aprendizagem, ou adaptação ao seu meio
mesmo capítulo, há referência sobre fatores de ambiente. Estando a criança inserida em um
privação cultural e uma categorização causal meio familiar do qual depende, podemos
envolvendo aspectos biológicos (pré-natais e afirmar que a família tem um papel gerador de
neonatais), familiares (nível cultural e saúde, e, por conseguinte, um protagonismo
ocupacional dos pais e nível socioeconomico na prevenção. Porém, apesar de algum avanço
da família) e socioculturais. Tais fatores serão nos últimos anos, o sistema de saúde, seja
considerados quando apresentarmos a preventivo seja curativo, não atende às
sistematização das possíveis causas da necessidades de todas as famílias brasileiras.
deficiência mental. Dever-se-á assegurar um sistema adequado de
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UNIDADE A
tal forma que a cobertura aos grupos familiares A informação ainda, é a melhor maneira de
seja realmente efetiva. Esse é um papel do combater a discriminação e o preconceito que
Estado formulador de políticas públicas - agir as pessoas com deficiência sofrem.
incisivamente implantando um sistema As causas das deficiências, entre elas a
preventivo que priorize as populações de risco. deficiência mental, comumente são
Por outro lado, as agências formadoras de sistematizadas, considerando aspectos médicos, Agências formadoras
Instituições de Ensino
profissionais para a saúde devem prever, e e classificadas em fatores pré-natais, perinatais Superior, tipo
universidades, centros
valorizar, nos seus programas e currículos, e pós-natais. Nós usaremos uma sistematização universitários ou
disciplinas com conteúdos direcionados para a mais ampla na qual esses fatores estão contidos faculdades isoladas que
preparem profissionais
prevenção, principalmente a prevenção e a denominaremos de "fatores causais para as diversas áreas
do conhecimento.
primária. determinantes" ou "predispondentes de
Os aspectos sanitários, conforme Fonseca desvios no desenvolvimento". O título "desvios
(1987), relacionados com a saúde da no desenvolvimento", adaptado de Brizolara
população, devem levar em conta os riscos de (1981), pressupõe que alguns desses fatores
gestações em mulheres muito jovens ou de podem provocar desvios que não
idade superior aos quarenta anos, o obrigatoriamente sejam caracterizados como
aconselhamento genético, a realização do pré- deficiências, mas sim ocasionarem transtornos
natal, o planejamento familiar, as campanhas na aprendizagem, retardo no desenvolvimento
de vacinação e outras medidas, visando psicomotor, epilepsia ou qualquer outra
aspectos preventivos primários. Ainda, conforme condição que leve a uma alteração no
o autor, "um pouco de prevenção vale mais do desenvolvimento esperado da criança.
que muita terapia" (1987, p. 51). Quanto a fatores causais determinantes, são
Evidentemente você não terá uma formação aqueles que certamente provocam deficiências,
acadêmica voltada para a área da saúde, porém sendo o exemplo mais comum a Síndrome de
isso não impede que o educador especial, a Down.
partir do conhecimento construído acerca das Os fatores predisponentes são aqueles que
causas que podem levar a situações de risco, provocam riscos para o desenvolvimento,
tenha o seu protagonismo na prevenção da porém nem sempre esses riscos são
deficiência. concretizados em desvios ou deficiências, ou
A informação, na concepção de Fonseca seja, são situações que predispõem, mas não
(1987), é outro fator a ser considerado na obrigatoriamente levam à condição de
prevenção, principalmente para vencer deficiência. Como exemplo, temos doenças
"resistências, objeções, superstições e infecto-contagiosas, tipo a toxoplasmose na
escrúpulos, muitas vezes resultantes da falta de mulher grávida, que pode causar déficit em
esclarecimento das populações" (1987, p. 51). algumas crianças e em outras não.
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Quem desejar
Fatores pré-natais existem à gestação. Fazem parte da história de
aprofundar-se nos I - Fatores pré-concepcionais: vida da mulher e exercem influências durante
demais fatores, poderá
recorrer à bibliografia 1 - socio-econômicos; todo o seu crescimento e desenvolvimento,
recomendada: Atlas de
Síndromes Clínicas 2 - biológicos. moldando condições que podem interferir na
Dismórficas, H. R.
II - Fatores congênitos: gravidez e futuro dos filhos.
Wiedemann, J. Kunze,
H. Dibbern - Ed. 1 - aberrações cromossômicas; 1 - Socioeconômicos: diversos estudos
Manole Ltda; Padrões
Reconhecíveis de 2 - alterações gênicas; (Masland apud Fonseca, MacMaun, Sowa, Baird,
Malformações
Congênitas, K. L. Jones
3 - malformações cerebrais. Ilsey e Fairweater, 1987) associam a deficiência,
- Ed. Manole Ltda; III - Fatores da gravidez: mais especificamente a deficiência mental, à
Manual de Psiquiatria
Infantil, J. de 1 - infecções maternas (intra-uterinas); condição de desenvolvimento e complicações
Ajuriaguerra - Ed. Toray
Masson; Síndromes 2 - drogas teratógenas; de gestação que aparecem com mais freqüência
Neurológicas, W. L.
Sanvito - Ed. Atheneu.
3 - outras condições. nas classes pobres. Outros pesquisadores como
Richarsdson, Bridges e Coler, citados por
Fatores perinatais Fonseca (1987), apontam variáveis que têm
I - Anóxia ou hipóxia. relação com a deficiência mental, tais como
II - Prematuridade. concepção pré-nupcial, lares desintegrados,
III - Hiperbilirrubinemias. superpopulação, elevada paridade, más
IV - Infecções. condições estruturais de habitação, pouco
tempo de interação mãe-filho, fraco índice
Fatores pós-natais nutricional, baixo nível de alfabetização, que
I - Infecções do Sistema Nervoso. aparecem mais nos segmentos populacionais
II - Outras condições. menos favorecidos.
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UNIDADE A
Orlando Fonseca Júnior
Embora, como já vimos, pobreza e quer ou porque não se esforça o suficiente para
deficiência tenham uma relação muito próxima, obter melhores condições de vida. Não se pode
isso não pode significar um determinismo social responsabilizar os pobres pela sua pobreza. São
que nos leve a pensar que déficit é sinônimo as condições relacionadas ao entorno da
de condições socioeconômicas desfavorecidas pobreza que predispõem a condições de risco
e justificarmos a pobreza em si como única para a deficiência.
causa de deficiência. Ninguém é pobre porque
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Metabolismo
Conjunto dos
processos bioquímicos
que mantêm a vida dos
2 - Biológicos: entre os fatores que
seres. antecedem a gravidez, um dos mais importantes
Proteínas é a idade materna. Mulheres jovens, com menos
Substâncias compostas
por cadeias de de 18 anos, e mulheres com mais de 40 anos
aminoácidos. Elas
apresentam um risco maior, assim como o
compõem a estrutura
celular, ajudam a intervalo reduzido entre as gestações (menos Vinícius de Sá Menezes
combater infecções,
formam enzimas e de 2 anos). Antecedentes de doenças
hormônios e fornecem
energia ao organismo.
obstétricas pré-existentes também são fatores
que aumentam os riscos. Figura A.8: Genetograma representativo de Síndrome
Glicídios
Esse composto O melhor "remédio" para os fatores de risco de Down
orgânico era chamado
de carboidrato. Divide- pré-concepcionais é o planejamento familiar, Outras anomalias cromossômicas conhecidas
se em monossacarídios
que guarda uma relação direta com educação. são as síndromes de Turner e Klinefelter. Se
e polissacarídios.
E, atenção, planejamento familiar não é controle houver interesse, você encontrará subsídios na
Lipídios
Substância orgânica de natalidade, embora controle de natalidade bibliografia apontada anteriormente.
gordurosa que resulta
da combinação de
seja parte do planejamento familiar. 2- Alterações gênicas: entre as diversas
ácidos graxos e álcoois. II - Fatores congênitos alterações já passíveis de diagnóstico,
Entre suas funções no
organismo ressalta-se a São originados antes da gestação e ressaltaremos os erros inatos do metabolismo
reserva de energia.
determinados através da herança genética dos (EIM) que abarcam o metabolismo das
Encefalopatia
Quadro clínico
pais. Também são chamados de fatores proteínas, dos glicídios e dos lipídios e, dentre
resultante de lesão endógenos. eles, a fenilcetonúria. Os erros inatos do
maior ou menor do
encéfalo, podendo ou 1- Aberrações cromossômicas: também metabolismo também são conhecidos como
não levar à deficiência
mental (DIAMENT, denominadas de cromossomopatias ou encefalopatias crônicas da infância evolutivas,
1980, p.11). anomalias cromossômicas. A mais comum e pois há uma progressão da lesão encefálica.
Enzima conhecida é a síndrome de Down. Estão A fenilcetonúria é um erro inato do
Molécula que atua
como catalisador presentes 47 cromossomos em vez dos 46 metabolismo das proteínas, decorre da ausência
orgânico.
habituais na célula humana. Este cromossomo de uma enzima responsável pela transformação
suplementar é o responsável pelas alterações da fenilalanina em outro aminoácido, a tirosina.
físicas e cognitivas das pessoas que Se a fenilalanina não é transformada em
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UNIDADE A
tirosina, torna-se tóxica para o sistema nervoso amamentação. É possível identificar este EIM Aminoácido
São compostos
central. por meio do "teste do pezinho" em recém- orgânicos naturais,
O tratamento é feito com dieta pobre em nascidos, e assim iniciar o tratamento no tempo componentes das
proteínas. Existem
fenilalanina e o diagnóstico deve ser feito o ideal, isto é, nas primeiras semanas de vida. Na cerca de 20
aminoácidos, sendo
mais rápido possível, pois uma grande variedade figura a seguir você pode acompanhar como é que os chamados
aminoácidos naturais,
de alimentos possui este aminoácido que realizado esse teste. em número de 8, são
inclusive pode passar ao bebê através da fornecidos pelos
alimentos, e os demais
podem ser sintetizados
pelo próprio
organismo.
Marcus Vinicius Severo de Moura
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Outra alteração gênica que também pode As causas da anencefalia não são claras,
ser detectada precocemente, através do teste embora alguns pesquisadores associem-na à
do pezinho, é o hipotireoidismo congênito, que carência de ácido fólico na dieta materna e,
Tireóide é uma deficiência da glândula tireóide e que principalmente, ao contato da gestante com
Glândula responsável
pela secreção interna também pode causar deficiência mental. O agrotóxicos, devido à maior incidência em
de hormônios com
importantes funções no tratamento é feito à base de hormônios regiões agrícolas com uso extensivo dessas
metabolismo. tireoidianos durante toda a vida. substâncias.
3- Malformações cerebrais: muitas das A partir da década passada, alguns magistra-
malformações cerebrais podem surgir dos começaram a autorizar o chamado aborto
associadas a quadros genéticos. Preferimos terapêutico naqueles casos em que havia a
apresentá-las em separado para destacarmos comprovação inquestionável de feto anencefáli-
uma delas, que tem recebido destaque e co. Em outras situações de gestação de fetos
mobilizado vários setores da sociedade: a com qualquer tipo de deficiência, o aborto não
anencefalia. Nessa malformação, há ausência é permitido, pois, atualmente, na legislação
parcial do encéfalo, muitas vezes restrito apenas brasileira, o aborto é permitido apenas naquelas
ao tronco encefálico. Disso resulta uma situações em que há risco de vida para a mãe
expectativa de vida, de, no máximo, algumas ou em casos de estupro.
semanas após o nascimento, sendo que a III - Fatores da gravidez
maioria dos recém-nascidos morre após Estes, dentre os fatores de risco, são os
algumas horas. responsáveis ainda, em nosso país, por um
grande número de casos de deficiência. Têm
relação direta com saúde pública, com
prevenção e condições socioeconômicas. A
prevenção pode ser feita através de vacinação,
da informação ao grande público, de
campanhas, envolvendo o binômio saúde-
educação e, principalmente, com a
universalização do pré-natal das gestantes.
1- Infecções intra-uterinas
- Rubéola congênita: a rubéola é uma
infecção viral, geralmente benigna, considerada
uma das doenças próprias da infância (DPI)
antes do advento das campanhas de vacinação.
Quando ocorre no primeiro trimestre de
Thiago da Silva Krening
ovulação (em momento ainda de estudamos até o momento, contidos dentro dos
desconhecimento do estado gravídico), no
Teratogênico
instante mais crítico a nível teratogênico, é
fatores da gravidez, se acontecerem no primeiro
Qualquer fator capaz
de provocar defeitos causa habitual de anomalias fetais nervosas, trimestre da gestação, podem ocasionar
congênitos graves.
malformações, abortamentos e/ou deficiências.
Inócuas Há um alerta que o educador especial pode, A partir do segundo trimestre, a ação
Algo que não fornece
perigos, inofensivo. e deve, multiplicar. A isso podemos acrescentar teratogênica parece não ocorrer, mas os riscos
o mesmo cuidado que se deve ter ao ingerir os citados acima permanecem.
tão comuns "chazinhos caseiros". Todas as - Radiações: o radiodiagnóstico (raio X) tem
plantas, mesmo aquelas a priori consideradas alto risco quando realizado no primeiro
inócuas, têm princípio ativo, muitas vezes não trimestre de gestação. Os isótopos e
conhecidos totalmente e que podem trazer desintegrações atômicas (militares - bombardeio
prejuízos, não só ao feto em formação, como de Nagasaki e Hiroshima pelos norte-americanos
também à saúde da gestante. na segunda guerra mundial; e industriais -
A seguir, apresentaremos algumas Chernobyl, cidade ucraniana onde houve vaza-
substâncias que podem provocar alterações no mento num reator nuclear na década de 1980)
desenvolvimento do bebê em gestação: também podem produzir graves alterações no
- álcool: alto risco para deficiência mental; feto. Quanto à radioterapia (radiação com fins
- antibióticos (gentamicina, estreptomicina): terapêuticos) há o risco para lesão dependendo
alto risco para a surdez; da intensidade e tempo de aplicação, porém é
- hidantoína: anticonvulsivo que apresenta uma situação que deve ser avaliada, quanto ao
risco para deficiência mental; risco e benefícios, entre a gestante e o médico,
- talidomida: malformações de órgãos, o qual deve esclarecer sempre sobre as
principalmente membros superiores; conseqüências de realizar ou não a terapia e
- drogas ilícitas ou ditas "de rua": cocaína, deve aceitar a decisão da mulher - a isso se
metadona, solventes, cola de sapateiro, chama consentimento informado. E sempre,
apresentam riscos de malformações no feto, em qualquer situação, o profissional da saúde
retardo no crescimento intra-uterino, lesões deve ter esta atitude - de informar, discutir e
cerebrais e abortamentos; quanto à maconha, acatar a decisão da família e do paciente.
há controvérsias quanto à teratogenidade, - Traumatismos: sofridos pela gestante,
porém mulheres usuárias gestam bebês de baixo ocasionados por acidentes ou agressões, são
peso, o que também é uma situação de risco. fatores de risco diretamente proporcionais ao
A prevenção para estes fatores é evitar a tempo de gestação - quanto mais no início,
automedicação. Isso não significa que a gestante maior o risco e mais graves as conseqüências.
não possa usar remédios, mas usá-los apenas e - Má nutrição materna: embora discutível
quando for indicação de médicos. quanto à intensidade necessária para que possa
3- Outras condições: neste item, listaremos provocar danos no feto, é um fator de risco
outros fatores que também apresentam riscos que não pode ser desconsiderado como causa
para o desenvolvimento e, como os que já de deficiência mental.
34
UNIDADE A
nos cuidados perinatais, houve uma diminuição Outra possível conseqüência da prematuri- Icterícia
Sintoma do má
acentuada na mortalidade nesse período, dade, embora possa ocorrer em bebês nascidos funcionamento do
sistema biliar,
principalmente nos países desenvolvidos. O que no tempo adequado (39 a 42 semanas de resultando cor
permitiu que bebês com sérios problemas de gestação), é o baixo peso - igual ou inferior a amarelada na pele e
nas conjuntivas
saúde sobrevivessem, muitos com seqüelas que 2.500g. O que também é um fator de risco, oculares.
avanço da terapia com antibióticos, os prejuízos usadas para pintar brinquedos artesanais. O
para a criança, em decorrência da meningite, manuseio e a ingestão pela criança (é natural
diminuíram em muito se comparados com os levar à boca objetos que estejam ao alcance
de algumas décadas atrás. das mãos) provoca, dependendo da
A meningite pode ser causada por bactérias, concentração de chumbo no organismo,
vírus, parasitas (cisticercose, toxoplasmose) e seqüelas do tipo deficiência mental, alterações
fungos. motoras e visuais ou epilepsia.
II - Outras condições: A intoxicação, tanto pelo dióxido quanto pelo
2.1 - Intoxicações exógenas: provocadas por monóxido de carbono, é geralmente mortail.
chumbo e óxidos de carbono. O chumbo é Em caso de sobrevivência, o dano cerebral é
componente de tintas, que, muitas vezes, são intenso.
Vinícius de Sá Menezes
apontam uma incidência maior de deficiência cidade para toda e qualquer aprendizagem.
mental nas camadas sociais menos favorecidas. Feita essa ressalva, apresentaremos,
Nos fatores pré-concepcionais, já foram baseados em Pacheco & Valência (apud
abordadas algumas variáveis contidas em BAUTISTA, 1997), algumas características
condições socioeconômicas deficitárias, e cabe conforme os níveis de deficiência mental,
reafirmar que não podemos, a priori, considerar lembrando que se classificam comportamentos
como determinantes para a deficiência essa e não pessoas.
situação de déficit em alguns segmentos - deficiência mental ligeira (ou leve): é
populacionais. identificada na escola devido a dificuldades na
Isso não significa "menosprezar", "tirar a aprendizagem apresentadas pelo aluno. O No encerramento
desse item, em que
importância" da subnutrição como um fator de atraso é mínimo nas áreas perceptivas e foram apresentadas
risco para a deficiência. Porém, novamente motoras. As pessoas desenvolvem aprendiza- algumas possíveis
causas (as mais
cabe o alerta, não se pode afirmar que toda gens sociais e de comunicação, com capacidade comuns) de desvios
no desenvolvimento,
criança subnutrida, obrigatoriamente, desenvol- de adaptação e integração no mundo trabalho. queremos ressaltar que
a presença de
verá um déficit cognitivo, ou deficiência, ou A grande maioria das pessoas com deficiência
situações de risco não
problemas de aprendizagem, ou qualquer outra mental encontra-se nesse grupo. significam,
obrigatoriamente, o
condição que venha interferir no seu - deficiência mental moderada (ou média): determinismo da
deficiência mental.
desenvolvimento. as pessoas com essa deficiência, embora
apresentem dificuldades na expressão oral,
Caracterização do podem comunicar-se pela fala. Podem adquirir
déficit cognitivo hábitos de autonomia pessoal e social.
Usualmente à caracterização da deficiência Desenvolvem habilidades motoras que
mental, seguem parâmetros pisicométricos, permitem realizar trabalhos simples.
conforme Pacheco & Valência (apud BAUTISTA, - deficiência mental grave: as pessoas com
1997),em que o quociente intelectual (Q.I) essa deficiência, apresentam capacidade de
determina os níveis: ligeiro (leve), moderado, comunicação apesar da fala deficitária. Também
grave e profundo. Baseados nesses critérios, são podem apresentar dificuldades psicomotoras
agrupadas pessoas que pressupostamente significativas, o que não impede o aprendizado
tenham características semelhantes, com de algumas atividades básicas de vida diária.
valorização, geralmente de suas pretensas Necessitam geralmente de proteção pois sua
incapacidades. Deve-se ressaltar que incapaci- autonomia pessoal e social é muito pobre.
dades não são próprias apenas de pessoas com - deficiência mental profunda: as pessoas
deficiência. Qualquer um de nós tem suas com essa deficiência, dependentes em
incapacidades, como também temos dificulda- praticamente todas as funções e atividades, pois
des para uma variedade de ações e/ou aprendi- apresentam um grande comprometimento físico
zagens. Nas pessoas com deficiência mental, e cognitivo. Raramente desenvolvem
as dificuldades são mais significativas na capaci- autonomia para responder a estímulos externos.
dade cognitiva, porém isso não significa incapa- A seguir, reproduziremos o quadro "níveis
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CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
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UNIDADE A
Quadro A1
Fonte: Sloan e Birch apud FONSECA, Vitor da. Educação Especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991, p. 46.
39
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
40
UNIDADE A
Marcus Vinicius Severo de Moura
A partir dos sete anos até aproximadamente Na unidade seguinte, serão detalhadas e
os quatorze anos, a criança deve participar dos aprofundadas as possibilidades educacionais
espaços das escolas regulares tendo acesso à dessas pessoas.
sala de recursos ou classes especiais, ou de
escolas especiais, instituições especializadas,
entre outros.
41
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
42
UNIDADE
MODALIDADES
DE ATENDIMENTO
Profa. Soraia Napoleão Freitas
Objetivo da Unidade
Após o estudo do conteúdo e a realização das
atividades propostas, esperamos que você alcance
os seguintes objetivos:
- reconheça os modelos de atendimento
educacional às pessoas com necessidades especiais;
- identifique as características da escola especial,
instituição especializada, classe especial, sala de
recursos, classe hospitalar, ambiente domiciliar e
serviço itinerante.
43
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
A educação inclusiva deve ser efetivada prefe- O atendimento educacional especializado
rencialmente na rede regular de qualquer nível ocorre em espaços escolares e também fora
ou modalidade de ensino, viabilizando a dele. Assim, os itens abaixo são considerados
inclusão de alunos com necessidades especiais, alternativas de procedimentos didáticos
promovendo a organização de classes comuns específicos e adequados às necessidades
e de serviços de apoio pedagógico especiali- educacionais do aluno da educação especial.
zados. Nesse sentido, na inclusão de alunos com Além disso, implicam espaços físicos, recursos
necessidades educacionais especiais em classes humanos e materiais diferenciados. São eles:
comuns do ensino regular, como objetivo das escola especial, instituição especializada, classe
políticas públicas de educação, exige constante especial, sala de recursos, classe hospitalar,
interação entre os professores da classe comum ambiente domiciliar e serviço itinerante.
e os dos serviços de apoio pedagógico
especializados.
Vinícius de Sá Menezes
44
UNIDADE B
1 Escola especial
Essa modalidade de atendimento caracteriza- Educação Especial no Sistema Estadual de
se como uma Ensino do Estado do Rio Grande do Sul, "a
escola credenciada será autorizada a oferecer
instituição especializada, destinada a prestar
(...) um ou mais níveis da educação básica na
atendimento psicopedagógico a educandos
portadores de deficiências e de condutas modalidade de educação especial." (Art.
típicas, onde são desenvolvidos e utilizados, 3°§1°). Dessa forma, as escolas especiais
por profissionais qualificados, currículos
adaptados, programas e materiais didáticos credenciadas devem contemplar em sua
específicos (Política Nacional de Educação organização: matrícula e atendimento
Especial, 1994, p. 20).
educacional especializado nas etapas e
modalidades da Educação Básica previstas em
Segundo a Resolução n°02/01, a qual lei e no seu rendimento escolar;
institui as Diretrizes Nacionais para a Educação encaminhamento de alunos para a educação
Especial na Educação Básica, serão os alunos regular, inclusive para a educação de jovens e
da escola especial: indivíduos que apresentem adultos, que deve ser decidido conjuntamente
necessidades educacionais especiais e que com a equipe pedagógica da escola e a família
"requeiram atenção individualizada nas do aluno (Resolução N°02/01 - Art. 10° §3);
atividades da vida autônoma e social, recursos, parcerias com escolas das redes regulares
ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como públicas ou privadas de educação profissional;
adaptações curriculares tão significativas que a conclusão e certificação de educação escolar,
escola comum não consiga prover" (Art. 10°). incluindo terminalidade específica, para alunos
Esses alunos poderão ser atendidos, em caráter com deficiência mental e múltipla; professores
extraordinário, em escolas especiais, as quais especializados e equipe técnica de apoio;
devem oferecer uma educação escolar de flexibilização e adaptação do currículo previsto
qualidade. na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Conforme consta na Resolução N°267/02, Nacional, nos Referenciais e nos Parâmetros
a qual fixa os parâmetros para a oferta da Curriculares Nacionais.
45
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
2 Instituição especializada
Segundo a Resolução 130/77, da Lei 5692/ psicológica e pedagógica e que se acham
71, instituições especializadas "são destinadas impedidos de se beneficiar da educação nas
às crianças e adolescentes que necessitam de escolas comuns, em classes especiais ou não".
tratamento especial nas áreas médica,
Vinícius de Sá Menezes
46
UNIDADE B
3 Classe especial
Vinícius de Sá Menezes
48
UNIDADE B
4 Sala de recursos
De acordo com as Diretrizes Nacionais para a e apresentação, pela família, de laudo de
Educação Especial na Educação Básica (2001, avaliação realizada por equipe interdisciplinar;
p. 50), a sala de recursos é um serviço: caso o aluno seja egresso de classe especial é
suficiente a apresentação do parecer
de natureza pedagógica, conduzido por
pedagógico.
professor especializado, que suplementa (no
caso dos superdotados) e complementa O atendimento em sala de recursos deve
(para os demais alunos) o atendimento assegurar os seguintes critérios:
educacional realizado em classes comuns
da rede regular de ensino. Esse serviço - atendimento individualizado e/ou
realiza-se em escolas, em local dotado de pequenos grupos;
equipamentos e recursos pedagógicos
adequados às necessidades educacionais - carga horária máxima: três horas semanais;
especiais dos alunos, podendo estender-se - no mínimo deve ser realizado um
a alunos de escolas próximas, nas quais ainda
não exista esse atendimento. Pode ser atendimento semanal;
realizado individualmente ou em pequenos - o atendimento deve ocorrer sempre em
grupos, para alunos que apresentem
necessidades educacionais especiais
turno diferente da classe comum.
semelhantes, em horário diferente daquele É de responsabilidade do professor de sala
em que freqüenta a classe.
de recursos:
- dar apoio pedagógico aos alunos em sala
Ainda, as Diretrizes para a Implantação e de recursos;
Funcionamento de Salas de Recursos na Rede - prestar assessoria e suporte teórico-prático
Pública Estadual do Estado do Rio Grande do aos professores do ensino regular;
Sul (área da deficiência mental), estabelecem - realizar entrevistas com as famílias dos
critérios para o encaminhamento de alunos, alunos;
para o atendimento e as responsabilidades do - deslocar-se às escolas de origem de seus
professor da sala de recursos. alunos;
O encaminhamento dos alunos para essa - participar do processo de avaliação
modalidade de atendimento pode ocorrer de pedagógica na escola.
três formas: pela Coordenadoria Regional de Cabe ainda ressaltar que o atendimento em
Educação, no caso do aluno necessitar desse sala de recursos não isenta a freqüência do
atendimento e ser oriundo de uma escola da aluno em classe regular, pois esta modalidade
região que não possua sala de recursos; pelo é um recurso para favorecer a inclusão do aluno
professor, quando o aluno for da escola, e não uma modalidade de substituição do
mediante avaliação pedagógica realizada por ele ensino regular.
49
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
5 Classe hospitalar
Essa modalidade constitui-se como um especial e que estejam em tratamento
"ambiente hospitalar que possibilite o hospitalar" (Política Nacional de Educação
atendimento educacional de crianças e jovens Especial, 1994, p. 20).
internados que necessitem de educação
Sabemos que, na
classe hospitalar e no
atendimento
pedagógico domiciliar,
o processo de
integração com o
sistema de saúde se dá
através de condições
clínicas como
Vanessa Pinheiro Reyes
dificuldades de
locomoção, imobilidade
parcial ou total, horários
para a administração de
medicamentos, efeitos
colaterais a Figura B.4: Classe hospitalar
determinados fármacos,
efeitos de dores
localizadas ou Conforme o documento Estratégias e temporária ou permanente". Para o atendimento
generalizadas,
indisposição geral Orientações para Classes Hospitalares e em classe hospitalar, poderá ser organizada uma
decorrente de
determinado quadro de
Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL, sala específica ou utilizarem-se os espaços para
adoecimento; e de 2002, p. 15), os alunos das classes hospitalares atendimento educacional. Cabe ressaltar, ainda,
condições individuais
tais como o repouso são "(...) educandos cuja condição clínica ou que, em virtude das restrições da condição
relativo ou absoluto, a
necessidade de estar cujas exigências de cuidado em saúde clínica ou do tratamento do aluno, o
acamado e a utilização
interferem na permanência escolar ou nas atendimento poderá ocorrer na enfermaria, no
constante de
equipamentos de condições de construção do conhecimento ou, leito ou no quarto de isolamento.
suporte à vida.
ainda, que impedem a freqüência escolar,
50
UNIDADE B
6 Ambiente domiciliar
De acordo com o documento de Estratégias e Diante disso, entende-se que o processo de
Orientações para Classes Hospitalares e integração com o sistema de saúde se efetuará
Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL, mediante condições clínicas, tais como:
2002, p. 13), os alunos do atendimento dificuldades de locomoção, imobilidade parcial
domiciliar são ou total, horários para administração de
51
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
52
UNIDADE B
7 Serviço Itinerante
A itinerância consiste no necessidades educacionais especiais e com
serviço de orientação e supervisão pedagógi- seus respectivos professores de classe
ca desenvolvida por professores especializa- comum da rede regular de ensino. (Diretrizes
dos que fazem visitas periódicas às escolas Nacionais para a Educação Especial na
para trabalhar com os alunos que apresentem Educação Básica, 2001, p. 50).
Vinícius de Sá Menezes
54
UNIDADE B
Texto complementar
Para você saber mais
Escolha um dos modelos de atendimento Atendimento educacional no Hospital sobre esse assunto
acesse
educacional apresentados e realize Universitário de Santa Maria / RS www.mec.gov.br,
Secretaria de Educação
observações. Para isso, torna-se importante Leodi Conceição Meireles Ortiz Especial, Catálogo de
Publicações, e leia na
que estabeleçamos alguns tópicos principais Profª. Ms. Coordenadora do Setor Educacional do
integra os documentos
a serem analisados. De acordo com os Serviço de Hemato-Oncologia/HUSM/UFSM "Diretrizes Nacionais
para a Educação
temas abordados nessa unidade, os Soraia Napoleão Freitas Especial na Educação
Básica" e "Classe
aspectos selecionados são: Profª. Drª. Orientadora de Projetos de Pesquisa/Curso
Hospitalar e
- como a modalidade de atendimento está de Educação Especial/Centro de Educação/UFSM Atendimento
Pedagógico Domiciliar".
estruturada;
- está de acordo com as definições Trazer a história de criação do atendimento
estudadas; educacional do Hospital Universitário de Santa
- aspectos que para você podem ser Maria (HUSM), órgão suplementar central da
diferentes; Universidade Federal de Santa Maria(UFSM),
- como funciona o voluntariado, estágio, faz retroceder o tempo em 14 anos,
trabalho para os educadores especiais. relembrando sentimentos corajosos e utópicos
Após a visita/observação disponibilize seus de implantar a escola, com sua cor e som, no
registros no ambiente virtual, conforme as mundo branco hospitalar, para que, finalmente,
orientações do professor da disciplina. inspiradas à luz da memória, o sentido docente
revolucionário ressurja com a certeza de que a
utopia tornou-se realidade vivida.
Há uma obrigatoriedade, neste momento,
de lançarmos mão de algumas passagens
vivenciadas a serem utilizadas como escopo
para demarcarmos a história da construção
coletiva do atendimento escolar hospitalar do
HUSM.
Com o intuito de legitimar o primeiro olhar
no contexto supra citado, de 1991 a 1992,
houve, no Setor de Pediatria, o lançamento do
projeto de pesquisa "O papel do educador
especial no ambiente hospitalar". Logo a seguir,
introduz-se o projeto de extensão "Promoção
das condições de vida infantil através da
intervenção pedagógica em ambiente
hospitalar" no período de 1993 a início de
1995. Dessa forma, cristalizam-se as bases para
55
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Com base nos achados da referente pesquisa, Atualmente, esta modalidade de ensino
em 2004 optou-se por estimular as apresenta uma abordagem de trabalho
inteligências inter e intrapessoais das crianças multifacetado, com o cuidado de aglutinar
em tratamento no Serviço de Hemato- diversos olhares à ambiência, sem perder de
Oncologia. Para tanto foi preciso focar o olhar vista a sua função precípua que é a ação
nas manifestações relacionadas a auto-estima, educativa. O fato educativo - programa de
auto-imagem e autoconceito. A metodologia educação personalizada com contornos de
desta prática privilegiou atividades como investimento no potencial de educabilidade do
desenho do auto-retrato, brincadeiras ensinante hospitalizado - desenha uma
envolvendo esquema corporal, jogos com humanização da assistência em saúde pincelada
espelhos, exercícios posturais e técnicas de com matizes de atenção à alteridade.
desempenho em passarela para, finalmente,
chegar à culminância da proposta: o desfile de
modas.
57
58
UNIDADE
A DINÂMICA
FAMILIAR
Profa. Melânia de Melo Casarin
Objetivo da Unidade
Após o estudo do conteúdo e a realização das
atividades propostas, esperamos que você alcance
os seguintes objetivos:
- situe a família como esfera geradora de valores, de
comportamentos e passível de mudanças ao longo
do tempo;
- identifique as etapas que a família vive, ou seja,
seu ciclo vital;
- compreenda o papel da família de crianças com
necessidades educacionais especiais.
59
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Introdução
A árdua e complexa tarefa de educar os filhos construção efetiva-se muito mais nos modelos
imprime um desafio cotidiano aos pais. Muitas percebidos na célula familiar, isto é, nos valores
vezes, ao procurarem por um profissional para que permeiam as atitudes do pai e da mãe.
auxiliá-los sentem-se inseguros ou ameaçados Considerando esses pressupostos, temos
pela possibilidade de serem julgados pelos seus que, ao longo dos tempos, a família tem se
erros e pela má condução na solução de diferenciado muito, evidenciando as
problemas ou, até mesmo, nos tensos e transformações que o mundo vem vivendo.
sublimes envolvimentos com seus filhos. Nessa unidade da disciplina, abordaremos a
Tanto os envolvimentos mais tensos como família como esfera geradora de valores, de
os mais sublimes exigem reflexão, tolerância e comportamentos e passível de mudanças ao
muita dedicação por parte dos pais. Porém, longo dos tempos: núcleo gerador de
sabemos que por mais complexa que seja a arte identidades doentes ou sadias.
de educar os filhos ela é imprescindível e Ainda, mostraremos como esse grupo,
apresenta-se como fundamental para a chamado família, se organiza, destacando as
construção de um novo ser. Sabemos que essa etapas que a instituição família vive, ou seja, o
construção se dá num processo dinâmico e ciclo vital, e as relações existentes com a
permanente nas minúsculas cenas do cotidiano dinâmica familiar.
familiar. Nesse processo educador, emergem a Para finalizar, abordaremos aspectos vividos
liberdade dos filhos e a necessidade de preparo na dinâmica de uma família que possui pessoas
por parte dos pais para enfrentar o papel que a com necessidades educacionais especiais,
paternidade lhes impõe. destacando seu papel no desenvolvimento
Nesse conjunto de dinâmicas relações, pais desse ser e enfocando o envolvimento parental
e filhos interagem numa sucessão de eventos como fator de sucesso dessa criança.
compartilhados e compartilháveis, tornando as Cabe salientar que, apesar de não estar
vivências, instâncias de cumplicidade e de sendo apresentada conforme a ordem do
construção individual e social. Contudo, programa da disciplina, esta unidade contempla
sabemos que no iniciar de nossas vidas essa todos os itens aí relacionados.
60
UNIDADE C
1 A instituição família
ao longo dos tempos
O conceito de família tem variado muito através O sociólogo francês citou o clã totêmico
dos tempos. Esse conceito pode significar como origem da família primitiva, e que todas
61
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
62
UNIDADE C
63
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Quadro C1
Fonte: Adaptado de OSÓRIO, L. C. Casais e Família : uma visão contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2002, p.45.
64
UNIDADE C
65
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
constituindo essa interação uma complexa teia Enquanto microestrutura social, a família foi,
e continuará a ser, o primeiro e mais
de relações, através dos diferentes familiares importante" berço "do indivíduo, tendo como
como: avó, avô, mãe, pai, filho, filha, irmão, função original satisfazer as necessidades,
físicas, afetivas e sociais da criança. Como
irmã. "berço" cumpre , também, a função de
Segundo D'Antino (1988, p. 31), mediadora original entre a criança e o mundo
sociaL. Esta microestrutura social funciona,
ao mesmo tempo, como representante e
É através da teia de relações vividas em intermediária das relações sociais mais
família; do estabelecimento e entendimento
amplas , possibilitando à criança a formação
dos papéis desempenhados pelos seus de sua primeira identidade social (D'
membros; dos valores, das normas e regras ANTINO, 1988, p. 31).
familiares; que a criança aprende a se
relacionar com o meio extrafamiliar. Ou seja,
o núcleo familiar tem, dentre outras, uma Percebendo a família como maior
função sócio-emocional apresentando-se ao
indivíduo como o modelo de ser e estar no responsável pela formação dos indivíduos, como
mundo. meio norteador da história da humanidade, e
por isso grande responsável pelas mudanças
Para que os educadores tenham uma melhor ocorridas, Osório (2002) identifica que o grupo
compressão sobre a dinâmica familiar, citamos familiar possui funções, que serão as
aportes teóricos sobre o funcionamento e a responsáveis tanto pelo seu destino quanto por
organização desse grupo. sua origem, descrevendo-as de forma separada,
Existem diferentes tipos de estrutura mas considerando-as como interdependentes.
familiar. Esta surge e se adapta conforme o De acordo com o autor (2002), essas
desenvolvimento e mudanças de toda a funções são: biológicas, psicológicas e sociais.
sociedade. A partir de sua estrutura, a família Na biológica, a função da família não está
vai efetuar suas funções, sejam estas sociais, relacionada única e puramente com a
sejam pessoais, tornando-se responsável pelos reprodução, mas "sim no assegurar-se à
indivíduos que origina. sobrevivência dos seres através dos cuidados"
Considerando a família como uma (OSÓRIO, 2002, p.19), ou seja, a função
microestrutura, D'Antino (1998, p. 30) primordial da família no aspecto biológico é " a
descreve-a como de garantir não a "reprodução " e sim a
"sobrevivência " da espécie através dos
A união de pai, mãe e filhos que se inter-
cuidados ministrados aos recém-nascidos
relacionam afetiva e economicamente,
apresentando umas dinâmicas próprias de (OSÓRIO, 2002, p. 20).
funcionamento, cada qual desempenhando A função psicológica, por sua vez, abrange a
um papel determinado, dentro dos padrões,
normas e valores por ela estabelecidos e de questão afetiva, tão importante quanto os
conformidade com os socialmente aceitos. cuidados dados ao recém-nascido. É a partir
desse afeto que o sujeito irá desenvolver seus
Portanto, o grupo familiar será o espaço aspectos psíquicos, seu emocional. Segundo
imediato de evolução do sujeito. Para o autor: Osório (2002, p. 20),
67
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Poder-se-ia assim dizer que uma primeira e a dinâmica familiar repousa em quem exerce
fundamental função psíquica da família é os papéis parentais, os quais seriam os
prover o alimento afetivo indispensável à responsáveis pela formação biopsicossocial
sobrevivência emocional dos recém- da descendência de acordo com um modelo
nascidos. que por sua vez, provém das gerações
anteriores (...).
Esse aspecto emocional abrange não apenas O ambiente familiar é formado, então, pelas
a criança, mas toda a família, que apresenta ao influências de comportamento entre pais e
longo de sua formação as chamadas "crises filhos. É a partir dessa interação que as relações
vitais". A família, possuindo um bom suporte familiares irão se estabelecer, influenciando
emocional, conseguirá superar essas crises e não diretamente as funções e os papéis que filhos
se desestabilizará. e pais irão assumir, num contínuo processo de
Transmitir as experiências e favorecer o troca.
ambiente para o aprendizado, além de ser uma
função psicológica da família também adentra Influência da família na
na esfera pedagógica. O primeiro, segundo formação da personalidade
Osório (2002, p. 20), "se insere no contexto da criança
da socialização e suas raízes ideológicas e o Sabe-se que é nos primeiros anos de vida que
segundo baliza o processo cognitivo do ser a personalidade é construída. Durante esse
humano, bem como facilita o intercâmbio de processo, os fatos externos são decididamente
informações com o universo circunjacente". responsáveis, exercendo um papel
Já na função social da família, entram como determinante. Nesse sentido, a posição dos pais,
centrais as questões culturais. O autor (2002, seus comportamentos, suas atitudes têm grande
p. 21) diz ainda que "outra das importantes influência.
funções sociais da família, e que a ela é As principais atitudes observadas no
delegada pela sociedade, é a preparação para relacionamento entre pais e filhos, são: rejeição,
o exercício da cidadania". superproteção, perfeccionismo, aceitação.
Essas funções são determinadas e
influenciadas de forma direta pelos pais. De
acordo com Osório (2002, p. 21),
68
UNIDADE C
Rejeição Superproteção
É uma atitude de hostilidade e antagonismo O adulto assume uma atitude de proteção e
que os pais, mais comumente a mãe, assumem preocupação com a criança, atraindo a atenção
em relação à criança. Algumas causas da geral pelo exagero. As causas principais são; filho
rejeição podem ser citadas: incompatibilidade único, filho tardio ou adotivo, morte de irmão,
social dos pais, medo ou desgosto com a moléstia grave, defeitos físicos ou mentais e
gravidez, filhos de pais não casados legalmente, outras. Sua principal manifestação é a
criança de sexo diferente daquele esperado. infantilização, pois o adulto não permite que a
A rejeição traz como conseqüência para a criança cresça psicologicamente. A mãe está
criança agressividade contra o meio ambiente sempre junto da criança e alega que o filho
e os pais; sentimento de insegurança; temores não a deixa. Todas as decisões são tomadas
noturnos; incapacidade de emoção afetiva. pelos adultos. Essas manifestações trazem à
criança um retardo na maturação emocional e
social, acarretando sentimentos de insegurança,
por falta de oportunidade para iniciativa e
independência.
69
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Perfeccionismo Aceitação
É uma forma disfarçada de rejeição. Os pais É uma atitude compreensiva, amorosa e de
não apenas sentem aversão e hostilidade pelos carinho com a criança, em que os pais
filhos, como ainda pretendem modificá-los, demonstram compreender, prestig iar e
refazê-los, deixá-los da maneira como gostariam estimular a personalidade infantil. Reconhece
que fossem. na criança um ser vivo, digno de carinho e de
O adulto procura desenvolver na criança respeito, procurando sempre respeitar acima de
sentimentos a aptidões, tendências e desejos tudo a independência de caráter e iniciativa.
que a criança não sente. Os pais estão dispostos O que leva os pais a uma aceitação é
a fazer nascer essas qualidades, custe o que geralmente o desejo de ter filhos, amor mútuo
custar. Essas qualidades devem ser perfeitas, e compreensão conjugal, conhecimentos de
caso contrário os pais não se satisfazem e levam psicologia e pedagogia infantil.
a criança a frustrações, inseguranças, desânimos Essas manifestações trazem segurança e
e outras atitudes conseqüentes. confiança em si e em suas habilidades,
desenvolvimento satisfatório da personalidade
e do seu equilíbrio emocional, capacidade de
tolerância, estima, interesse e alegria de viver.
70
UNIDADE C
Uma vez aceito o fato de que o ambiente É de fácil constatação que muitos pais
familiar influencia profundamente, modifica e chegam a apresentar verdadeiras crises de
sugestiona, molda e transforma a personalidade angústias em relação à educação dos filhos.
infantil, tão acessível nos primeiros seis anos Tornam-se confusos, ansiosos, pouco objetivos
de vida aos condicionamentos do ambiente, no uso de medidas corretivas, utilizando para
pode-se dizer que o êxito da educação infantil isso castigos físicos, sanções desproporcionais.
é, em síntese, a resposta adequada dos pais as Esquecem, muitas vezes, que dessa forma estão
duas exigências básicas: preservar a vida e o gerando, desenvolvendo na criança ansiedade
crescimento do filho e infundir-lhe amor à vida infantil e insegurança. A ausência da
e ao seu tempo e satisfação pelo fato de ser autoridade paterna, sentida em muitos lares,
menino ou menina. por vários motivos como separação dos pais,
Mas o propósito de preservar a vida e necessidade que o pai passe o dia todo fora de
o crescimento do filho pode conduzir a casa e até algumas horas da noite no trabalho,
resultados opostos. É o caso dos pais faz com que a mãe assuma uma posição
superprotetores. Em seu excessivo zelo, dominante no lar, tomando as decisões sozinha.
pensando e agindo pelo filho, impedem-no de Enfim a influência da família na
tomar iniciativas e construir sua formação da personalidade do indivíduo é básica,
autodeterminação. Tirando-lhe a oportunidade essencial e profundamente significativa. A
de explorar, descobrir, conhecer segundo os comunicação, os valores e a interação social
interesses e recursos de sua própria idade, vivida pela família é que vão, de uma forma ou Apesar de tudo que foi
falado aqui, a verdade
bloqueiam seu crescimento emocional. de outra, determinar o futuro da vida é que muita abnegação
Retido na infância, tímido e dependente, emocional da criança. O lar é essencial e e muita coragem
precisam ter os pais,
cabe ao filho apenas a possibilidade de insubstituível. Somente a afeição familiar dá a especialmente a mãe,
para conseguir a
desenvolver suas capacidades físicas e criança um afetivo sentimento de segurança. emancipação
emocional do filho e
intelectuais. Prepara-se assim um adulto Num ambiente positivo e harmônico, a criança
ajudá-lo a tornar-se
emocionalmente imaturo, ou desajustado tem certeza de que é amada. independente e
responsável pelos seus
socialmente, sofrendo e fazendo sofrer aqueles próprios atos.
71
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
O grupo familiar constitui-se dentro de um ordem não é fixa, pode ser alterada; por um
contexto evolutivo. Durante essa evolução é divórcio, por exemplo, que é a saída de um
que a família irá desempenhar suas funções, dos cônjuges da casa, o que ocasiona o fim do
dando continuidade à espécie e desenvolvendo ciclo vital dessa família.
todos os aspectos dos sujeitos que a formam. Não se pode esquecer que o núcleo familiar
Esse processo determina o ciclo vital da família. é o responsável por transmitir a seus
A idéia do ciclo vital é muito antiga, e está descendentes as regras mínimas para uma
incorporada à religião, mitologia e lenda. Para futura convivência na sociedade. As interações
Pincus & Dare (1981, p.09), os marcos mais vivenciadas na família auxiliarão diretamente no
importantes no ciclo vital da família são os crescimento individual dos sujeitos que a forma.
mistérios universais do nascimento, sexo e Por isso, devemos perceber o ciclo vital da
morte. família como um processo sujeito a mudanças,
Esse ciclo abrange toda a formação familiar, mas que basicamente serve para perpetuar as
desde a união do casal, nascimento e condições mínimas do convívio em sociedade,
crescimento dos filhos, até a morte dos pais, e porque, ao mesmo tempo em que desenvolve
conseqüente dispersão dos descendentes, o seus descendentes, propicia a aprendizagem da
que origina novos núcleos familiares. Essa interação social.
72
UNIDADE C
Quadro C2
Fonte: Adaptado de CORREIA, Luís de Miranda. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares.
Portugal: Porto Editora, 1999, p.150.
73
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
74
UNIDADE C
Quadro C3
Fonte: Adaptado de CORREIA, Luís de Miranda. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares.
Portugal: Porto Editora, 1999, p.151.
Muitos autores concordam em dizer que o utilizar uma linguagem que proporcione
profissional desempenha um papel fundamental compreensão não dificultando o processo;
no que toca ao apoio aos familiares de crianças oportunizar a interação entre os pais, com vistas
com necessidades educacionais especiais. Isso ao apoio entre famílias; respeitar a vontade da
é chamado de estratégia externa de apoio família.
(CORREIA, 1999). Esses são comportamentos que só irão
Sabemos que, ao longo da vida das pessoas facilitar a interação entre familiares e
com necessidades educacionais especiais, vários profissionais na busca de uma intervenção de
profissionais entram em contato com a criança qualidade.
e com sua família, participando desde o
diagnóstico até nas intervenções médicas e
educacionais. Nessa relação, é necessário
respeito mútuo, partilha de informações, O Ministério da Educação / Secretaria de
responsabilidade, aptidões, entre outros. Educação Especial publicou "Educação
Nesse sentido, entendemos que a Inclusiva - A família". Nesse material,
comunicação institui-se como uma ferramenta disponibilizado em http://portal.mec.gov.br/
capaz de proporcionar todas essa trocas da seesp/arquivos/pdf/familia1.pdf podemos
melhor forma possível, visando a um contato encontrar algumas ações consideradas
saudável e harmonioso com os familiares. Para importantes para a construção de uma
isso, alguns estudiosos apontam sociedade inclusiva. Nesse sentido, baseado
comportamentos e atitudes que devem ser no quadro de indicadores que se encontra
consideradas pelos profissionais ao interagir no final do documento, procure analisar
com a família: estabelecer um clima de quais indicadores já existem no seu
cumplicidade; favorecer e facilitar o município. Em seguida, disponibilize suas
envolvimento e participação da família no considerações no ambiente virtual, a partir
processo de intervenção da criança em questão; das orientações do professor da disciplina.
75
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM
Referências
Referências Bibliográficas CORREIA, Luís de Miranda. Alunos com
1988.
___. MEC/SEESP. Direito a Educação: subsídios para
a gestão dos sistemas educacionais: orientações DIAMENT, Aron J. O diagnóstico neuropediátrico
gerais e marcos legais. Organização e coordenação em deficiência mental. pp. 07-35. In: Anais Nestle:
Marlene de Oliveira Gotti [et. al.]. Brasília: MEC, SEESP, Deficiência mental na criança. São Paulo, 1980.
2004.
FONSECA, Vítor da. Educação Especial. Porto Alegre:
___. MEC/SEESP. Saberes e práticas da inclusão: da liberdade. Rio de Janeiro: Wak, 2004.
surdez. Brasília, 2004 (Educação Infantil; 7).
JANNUZZI, Gilberta. A luta pela educação do
BRIZOLARA, Ana G. Fatores causais e precipitantes deficiente mental. Campinas, São Paulo: Autores
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