Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Fundamentos Da Educação Especial II

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 80

Universidade Federal de Santa Maria

Pró-Reitoria de Graduação
Centro de Educação
Curso de Graduação a Distância de Educação Especial

FUNDAMENTOS
DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL II
2º Semestre

1ªEdição, 2005
Elaboração do Conteúdo Direitos Autorais
Profa. Elisane Maria Rampelotto (Direitos Autorais | Núcleo de Inovação e de
Prof. José Luiz Padilha Damilano Transferência Técnológica | UFSM)
Profa. Melânia de Melo Casarin
Profa. Soraia Napoleão Freitas Projeto de Ilustração
Professores Pesquisadores (Conteudistas) (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)

Simoni Timm Hermes Prof. André Krusser Dalmazzo


Acadêmico Colaborador Coordenação
Paulo César Cipolatt de Oliveira
Desenvolvimento Vinícius de Sá Menezes
das Normas de Redação Técnico
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk Lilian Landvoigt da Rosa
Profa. Luciana Pellin Mielniczuk (Curso Marcus Vinicius Severo de Moura
de Comunicação Social | Jornalismo) Orlando Fonseca Júnior
Coordenação Tiago da Silva Krening
Profa. Maria Medianeira Padoin Vanessa Pinheiro Reyes
Professora Pesquisadora Colaboradora Acadêmicos Colaboradores
Danúbia Matos
Iuri Lammel Marques Fotografia da Capa
Acadêmicos Colaboradores (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Prof. Paulo Eugenio Kuhlmann
Revisão Pedagógica e de Estilo Coordenação
Profa. Ana Cláudia Pavão Siluk
Profa. Eunice Maria Mussoi Projeto Gráfico, Diagramação
Profa. Eliana da Costa Pereira de Menezes e Produção Gráfica
Profa. Cleidi Lovatto Pires (Curso de Desenho Industrial | Programação Visual)
Profa. Maria Medianeira Padoin Prof. Volnei Antonio Matté
Comissão Coordenação
Clarissa Felkl Prevedello
Revisão Textual Técnica
(Curso de Letras | Português)
Bruna Lora
Profa. Ceres Helena Ziegler Bevilaqua Filipe Borin da Silva
Coordenação Acadêmcos Colaboradores
Angelise Fagundes da Silva
Marta Azzolin Impressão
Acadêmicas Colaboradoras Gráfica e Editora Pallotti

* o texto produzido é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).

F981 Fundamentos da educação especial II : 2º semestre / [elaboração do conteúdo José Luiz


Padilha Damilano... [et al.] ; revisão pedagógica e de estilo Profa. Ana Cláudia Pavão
Siluk... [et al.]].- 1. ed. - Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, Pró-Reitoria
de Graduação, Centro de Educação,Curso de Graduação a Distância de Educação
Especial, 2006.
80 p. : il. ; 30 cm.

1. Educação 2. Ensino 3. Educação especial I. Damilano, José Luiz Padilha II. Siluk,
Ana Cláudia Pavão III. Universidade Federal de Santa Maria. Pró-Reitoria de Graduação.
Centro de Educação. Curso de Graduação a Distância de Educação Especial. IV. Título.

CDU: 376.1/.4

Ficha catalográfica elaborada por


Maristela Eckhardt CRB-10/737
Biblioteca Central - UFSM
Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva

Ministério da Educação
Tarso Genro
Ministro da Educação

Prof. Ronaldo Mota


Secretário de Educação a Distância

Profa. Cláudia Pereira Dutra


Secretária de Educação Especial

Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Paulo Jorge Sarkis Coordenação da Graduação


Reitor a Distância em Educação Especial

Prof. Clóvis Silva Lima Prof. José Luiz Padilha Damilano


Vice-Reitor Coordenador Geral

Prof. Roberto da Luz Júnior Profa. Vera Lúcia Marostega


Pró-Reitor de Planejamento Coordenadora Pedagógica e de Oferta

Prof. Hugo Tubal Schmitz Braibante Profa. Andréa Tonini


Pró-Reitor de Graduação Coordenadora de Tutorias e dos Pólos

Profa. Maria Medianeira Padoin Profa. Vera Lúcia Marostega


Coordenadora de Planejamento Acadêmico Coordenadora da Produção do Material do Curso
e de Educação a Distância

Prof. Alberi Vargas Coordenação Acadêmica do Projeto de


Pró-Reitor de Administração Produção do Material Didático - Edital MEC/
SEED 001/2004
Sr. Sérgio Limberger
Diretor do CPD Profa. Maria Medianeira Padoin
Coordenadora
Prof. Jorge Luiz da Cunha
Diretor do Centro de Educação Odone Denardin
Coordenador/Gestor Financeiro do Projeto
Prof. João Manoel Espinã Rossés
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Humanas Lígia Motta Reis
Assessora Técnica
Prof. Edemur Casanova
Diretor do Centro de Artes e Letras Genivaldo Gonçalves Pinto
Apoio Técnico

Prof. Luiz Antônio dos Santos Neto


Coordenador da Equipe Multidisciplinar de Apoio
Sumário
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 05

UNIDADE A
NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E O CONTEXTO
ESCOLAR NAS CATEGORIAS: SURDEZ, TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM E DÉFICIT COGNITIVO 07
1. Surdez 09
2. Transtornos / problemas/ dificuldades de aprendizagem 13
3. Déficit cognitivo 23

UNIDADE B
MODALIDADES DE ATENDIMENTO 43
1. Escola especial 45
2. Instituição especializada 46
3. Classe especial 47
4. Sala de recursos 49
5. Classe hospitalar 50
6. Ambiente domiciliar 51
7. Serviço Itinerante 53

UNIDADE C
A DINÂMICA FAMILIAR 59
1. A instituição família ao longo dos tempos 61
2. Ciclo vital da família 72

REFERÊNCIAS
Referências Bibliográficas 76

4
Apresentação
da Disciplina
FUNDAMENTOS
DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL II
2º Semestre

Nessa disciplina, esperamos que você conheça


alguns aspectos importantes da surdez, do transtorno
de aprendizagem e do déficit cognitivo. Também que
compreenda as características e a importância dos
modelos de atendimento educacional oferecidos aos
alunos com necessidades educacionais especiais, e
ainda, que perceba o papel da família dessas
crianças.
Diante disso, na primeira unidade,
abordaremos as causas, as características, as
implicações e intervenções educacionais da surdez,
do transtorno de aprendizagem e do déficit cognitivo.
Estas condições serão apresentadas individualmente.
Na segunda unidade, apresentaremos os modelos de
atendimento educacional, e na terceira , analisaremos
a constituição da família, especialmente daquela em
que há indivíduos com necessidades especiais.
Na avaliação, serão consideradas as atividades
propostas no caderno didático, participação on-line e
a prova presencial no final do semestre.

Esta disciplina será desenvolvida com uma carga horária


de setenta e cinco (75) horas/aula.
5
6
UNIDADE

Profa. Elisane Maria Rampelotto


Prof. José Luiz Padilha Damilano

NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS E O CONTEXTO
ESCOLAR NAS CATEGORIAS:
SURDEZ, TRANSTORNO DE
APRENDIZAGEM E
DÉFICIT COGNITIVO
Objetivos da Unidade
Após o estudo do conteúdo e a realização das
atividades propostas, esperamos que você alcance os
seguintes objetivos:
- conheça as causas da surdez, transtorno de
aprendizagem e déficit cognitivo;
- identifique as principais características das pessoas
surdas, com transtorno de aprendizagem e com déficit
cognitivo;
- reconheça as implicações e intervenções
educacionais no trabalho com pessoas surdas, com
transtorno de aprendizagem e com déficit cognitivo.
7
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
No semestre anterior, na disciplina de Funda- intervenções pedagógicas de cada categoria.
mentos da Educação Especial I, você estudou Nas temáticas como problemas de aprendizagem
algumas necessidades educacionais especiais, e déficit cognitivo foram acrescidas algumas
tais como: altas habilidades, deficiência visual, referências históricas e as definições mais
deficiência física, transtorno de déficit de aceitas atualmente.
atenção / hiperatividade, autismo e síndrome Certamente ao estudar essas áreas você
de Down. estabelecerá relações com as experiências tidas
Nessa unidade, daremos prosseguimento ao com pessoas surdas, com problemas de
estudo das necessidades educacionais especiais, aprendizagem ou com déficit cognitivo em sua
enfatizando a surdez, os problemas de comunidade. Essas relações, mais as leituras
aprendizagem e o déficit cognitivo - áreas indicadas no decorrer do texto e nas referências
específicas da sua formação acadêmica. Para bibliográficas, serão imprescindíveis para a
tal, organizamos a unidade apresentando as construção de conhecimentos sólidos em sua
causas, as características e as implicações / formação.

8
UNIDADE A

1 Surdez
Professora Elisane Maria Rampelotto

Por Língua de Sinais


(LS) entende-se um
A surdez pode ser entendida como um Diz ainda que o modelo educativo concreto sistema lingüístico
usado para a
fenômeno físico e pode também ser pensada dessa visão se baseia na construção de campos comunicação entre
como uma construção cultural. do conhecimento e de ação para os surdos. pessoas surdas e
adquirido, como
Se optarmos por compreendê-la como um Essa proposta tem como objetivo mudar a primeira língua, por
pessoas que não
fenômeno físico, ela se configura como um estrutura tradicional de aula, utilizando-se de podem ouvir nenhuma
língua falada e por
modelo clínico-terapêutico. Nesse modelo, a espaços criativos de informações e filhos de pais surdos
concepção de deficiência se relaciona com a comunicação, onde surdos, de diferentes locais, (STOKOE, 1980). É
conhecida no Brasil
patologia, com a doença, ou seja, o surdo é compartilham com professores ouvintes e como LIBRAS - Língua
Brasileira de Sinais.
considerado uma pessoa que não ouve, por isso, surdos, atividades como: brincadeiras, teatro,
não fala. A falta de audição converteu-se em história, cultura, ciências, computação, etc.
deficiência - uma patologia que necessita ser Outro destaque importante para o autor é que
curada para que o sujeito possa ser corrigido a participação na comunidade surda se define: Visão sócio-
antropológica da
da anormalidade e assim ele poderá ser - pelo uso comum da Língua de Sinais; surdez: segundo Skliar
integrado. - pelos sentimentos de identidade grupal; (2001) é uma idéia
que gera um modelo
Como uma construção cultural, a surdez nos - pelo auto-reconhecimento e identificação educativo novo,
utilizando o surdo e a
leva "à historicidade dos conceitos e aos modos como surdo; surdez para falar do
deficiente auditivo.
pelos quais seus sentidos se alteram segundo - pelo reconhecer-se como diferente e não
Ainda é uma
perspectivas teóricas e posições políticas" como deficiente; concepção na qual os
surdos têm um papel
(LULKIN, 2000, p.19). Aqui começa uma nova - como uma comunidade lingüistica importante na
construção de sua
visão, oposta ao modelo clínico-terapêutico, diferente e não como um desvio da própria educação. São
numa perspectiva sócio-antropológica da surdez. normalidade. os surdos adultos que
devem construir
O modelo sócio-antropológico da surdez Os surdos estão tentando falar por eles, modelos fundamentais
lingüísticos e
começa a ser pensado a partir da década de sobre eles, sem a visão dos médicos, pedagógicos para o
desenvolvimento das
60 quando antropólogos, lingüistas e sociólogos fonoaudiólogos, professores, que pensaram e crianças surdas.
se interessam pelas questões dos surdos. agiram na condução de sua educação, língua e
Skliar ( 2001) destaca que nessa visão a cultura. As comunidades surdas imprimiram e
comunidade surda se origina a partir de uma construíram uma cultura surda, marcada
atitude diferente frente ao déficit, pois não leva fortemente pelo uso da língua de sinais.
em consideração o grau de perda auditiva do Desejam ser vistos e narrados a partir dos
sujeito surdo. Assim, ressalta o autor, a surdez estudos culturais, como sujeitos que possuem
não deve ser encarada como uma deficiência uma história de lutas pelo reconhecimento de
e sim como uma diferença. sua diferença e de uma cultura própria.

9
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Estudos Culturais: A surdez, ao ser entendida como experiência Pós-natais:


Segundo Silva (1999,
p.133-134) os Estudos visual, e o sujeito surdo, como usuário da língua - meningite;
Culturais concedem a
cultura como amplo de sinais, abrem um espaço para problematizar - sarampo;
campo de lutas em a questão da patologia e reforçar as noções de - medicamentos ototóxicos;
torno da significação
social. A cultura é um identidade e cultura surda. Os estudos surdos, - caxumba;
campo de significados
no qual os diferentes fundamentados no campo dos estudos culturais, - otites.
grupos sociais, situados
em posições
percebem a surdez como uma diferença
diferenciadas de poder, política, de identidade e de diversas Alguns sintomas da surdez:
lutas pela imposição de
seus significados a representações. - a criança não movimenta a cabeça em
sociedade mais ampla.
A cultura é nessa Cabe dizer que, mesmo fazendo essas direção à fonte sonora;
concepção, um campo
considerações fundamentais acerca da cultura - a criança apresenta atraso na aquisição da
contestado de
significação. O que está surda, os documentos elaborados pelo MEC/ linguagem, com compreensão alterada da fala
centralmente envolvido
nesse jogo é a SEESP, ainda apresentam uma visão e emissões inadequadas;
definição de identidade
cultural e social dos
predominantemente clínica. - sente zumbido no ouvido;
diferentes grupos. - sente necessidade de aumentar o volume
Causas da surdez da TV ou rádio;
A surdez pode ser causada por três fatores: - sente dor de ouvido freqüente, coceira
Pré-natais: intensa, secreção inflamatória;
- infecções maternas (virais ou bacterianas, - tem necessidade de falar alto ou gritar;
tais como: rubéola, sífilis, caxumba, sarampo, - apresenta dificuldade de ouvir ao telefone,
etc); etc.
- uso de medicamento ototóxicos;
- hereditariedade; Prevenção da surdez:
- exposição à radiação; A surdez pode ser evitada tomando algumas
- diabetes; precauções como:
- desnutrição materna. - vacinando-se contra rubéola (mínimo seis
Peri-natais: meses antes da gravidez);
- eritroblastose fetal; - procurando acompanhamento médico
- peso inferior a 1K500g; antes e durante a gestação;
- expulsão muito rápida; - evitando a automedicação e uso de drogas;
- subnutrição; - vacinando seu filho, prevenindo doenças
- icterícia; como sarampo, caxumba, meningite, etc;
- prematuridade; - evitando uso de objetos pontiagudos nos
- parto prolongado (anóxia); ouvidos;
- anorexia; - orientações às gestantes sobre sífilis,
- hipóxia; diabetes, alcoolismo e sobre uso de drogas
- fórceps. ototóxicas.

10
UNIDADE A

Caracterização da surdez (MEC, SEESP, 2004).


As perdas auditivas são classificadas de acordo 2- Pessoa com surdez PROFUNDA - a partir
com o grau de surdez. Assim, a pessoa surda de 91 dB. Não percebe nem identifica a voz
pode ser considerada como: humana. Não adquire a língua oral, sendo
Parcialmente surda ou preciso conviver com a comunidade surda e
deficiência auditiva (DA): adquirir a LS. Por meio da LS, o surdo tem pleno
1- Pessoa com surdez LEVE - quando desenvolvimento lingüístico.
apresenta perda auditiva de 26 a 40 dB. A
pessoa adquire linguagem, mas pode ter Implicações e intervenções
dificuldades de fala, leitura e escrita, pois ela educacionais na surdez
não percebe da mesma forma todos os fonemas Em relação à surdez, é importante que "os
das palavras. Também não é ouvida a voz fraca sistemas de ensino se organizem de forma que
ou de longe. Geralmente é uma pessoa haja escolas em condições de oferecer aos
"considerada desatenta" tendo que repetir com surdos o ensino em língua brasileira de sinais e
freqüência o que lhe falam ( MEC, SEESP, em língua portuguesa" (MEC/SEESP, 2004).
2004). Nesse caso, é indicado uso de aparelho Conforme previsto na LDBEN 9394/96, o
auditivo. atendimento ao surdo na educação infantil é O decibél (abrevia-se
"dB") é uma unidade
2- Pessoa com surdez MODERADA - quando oferecido em creches e pré-escolas. A usada para medir a
apresenta perda auditiva de 41 a 70 dB. A aprendizagem deve favorecer "relações intensidade ou volume
dos sons. É uma forma
pessoa adquire a linguagem, mas também pode significativas da criança com seus pares e de notação
amplamente utilizada,
ter dificuldades de fala, leitura e escrita e, em consigo mesma". Deve, ainda, contar com a tornando assim a tarefa
de se calcular ganhos e
conseqüência, atraso de linguagem. Nesse caso, presença de um professor para o ensino da perdas com muito mais
a pessoa "tem maior dificuldade de língua portuguesa, e de outro professor - facilidade.
O decibél surgiu com a
discriminação auditiva em ambientes ruidosos". instrutor surdo - para que a criança tenha indústria telefônica para
descrever os ganhos e
Consegue "identificar as palavras mais contato diariamente com a LIBRAS a fim de perdas de sinais de
áudio nos circuitos de
significativas, tendo dificuldade em que desenvolva as competências lingüísticas
telefones. A
compreender certos termos de relação e/ou necessárias.(MEC, SEESP, 2004). denominação da
unidade original foi
formas gramaticais complexas" (MEC, SEESP, O atendimento educacional das creches e chamada de "bel" em
homenagem a
2004). Nesse caso, o uso do aparelho auditivo das pré-escolas pode ser organizados em: Alexandre Graham Bell,
pode ajudar a identificar alguns sons). - classes comuns inclusivas; o inventor do telefone.

Surdo: - classes especiais;


1- Pessoa com surdez SEVERA - 71 A 90 dB. - escolas especiais.
Poderá identificar somente ruídos familiares e Depois da educação infantil, a escolarização
perceber a voz forte, "podendo chegar até aos do aluno surdo pode acontecer em níveis e
quatro ou cinco anos sem aprender a falar. A modalidades de educação do ensino
compreensão verbal vai depender, em grande fundamental, do ensino médio, da educação
parte, de sua aptidão para utilizar a percepção profissional, da educação de jovens e adultos e
visual e para observar o contexto das situações" da educação superior. Uma educação que deve
11
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

se dar de forma diferenciada, respeitando as realizado no ensino regular, desde que se


diferenças culturais e lingüísticas do aluno surdo. garanta a presença do intérprete de Língua de
Como modelos de identificação da língua e Sinais.
da cultura, é de extrema importância que a Através da Portaria do MEC N.º 1.679, de
educação infantil e fundamental aconteça numa 02 de dezembro de 1999, em seus Art. 1º e
escola ou classe para surdos. 2º, parágrafo único, na educação superior é
O ensino médio, caso não seja possível assegurada a presença do intérprete de LIBRAS,
acontecer em escolas de surdos, pode ser desde o acesso até a conclusão do Curso.

12
UNIDADE A

2 Transtornos / problemas/
dificuldades de aprendizagem
Professor José Luiz Padilha Damilano

A temática transtorno de aprendizagem foi Como já afirmamos anteriormente, há falta


apresentada como parte do conteúdo a ser de consenso e, muitas vezes, divergências entre
desenvolvido nesta disciplina. E certamente diversos autores quanto ao uso e compreensão
você perceberá que esse título traz, além da dos termos: transtornos, problemas e
palavra transtorno, problemas e dificuldades de dificuldades de aprendizagem. A literatura
aprendizagem. Há diferentes concepções entre especializada também refere distúrbios e déficit
os pesquisadores e até mesmo no uso aleatório da aprendizagem tanto quanto os termos citados
desta terminologia tanto na literatura anteriormente. Ainda há expressões como
especializada, quanto entre os profissionais que dificuldades específicas de aprendizagem,
atuam na área. Apresentaremos a seguir algumas incapacidades para a aprendizagem, deficiências
definições e a evolução histórica dos estudos na aprendizagem, deficiências cognitivas, lesão
sobre o tema, bem como causas e intervenções cerebral, disfunção cerebral mínima,
educacionais. imaturidade orgânica, o que mostra a
Há que destacar que estes conteúdos serão diversidade de concepções, para não dizermos
meramente introdutórios, para situarmos o tema a "confusão" estabelecida entre os
dentro do contexto escolar e das necessidades pesquisadores e profissionais, aqui incluídos
educacionais especiais, pois, no quarto semestre professores, psicólogos, neurologistas,
do curso, vocês trabalharão com uma disciplina psiquiatras, psicopedagogos e tantos outros que
específica - Dificuldades de Aprendizagem - na trabalham com crianças e jovens e que se
qual aprofundarão os estudos e construirão incluem nessa categoria.
conhecimentos sistematizados nessa categoria.

13
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Vinícius de Sá Menezes

Figura A.1: Transtornos, problemas e dificuldades de aprendizagem.

Podemos inferir que muito dessa confusão Ainda quanto à terminologia, há que se
deve-se, principalmente, às perspectivas quanto considerar a revisão bibliográfica feita por Casas
às causas que originam o problema. Educadores (apud CRUZ, 1999, p.13), "(...) é evidente a
e psicopedagogos inclinam-se para as causas ausência de acordo entre os profissionais na
pedagógicas, psicológicas ou sociais num sentido tarefa aparentemente simples de atribuir um
mais amplo, enquanto os neurologistas e nome ao grupo de crianças que manifestam
neuropsicólogos privilegiam causas neurológicas determinadas dificuldades nas suas aprendiza-
e fisiológicas como determinantes. gens (...)", tendo encontrado mais de quarenta
denominações referentes a essas crianças.
14
UNIDADE A

Por ora, e nessa unidade, sugerimos o uso dependerá da compreensão e da intervenção


de "problemas de aprendizagem". Essa do professor na sala de aula; e distúrbios (ou
terminologia abrange dificuldades de transtornos) da aprendizagem que implicam
aprendizagem como uma condição que pode alterações biológicas específicas e/ou
ser transitória ou tornar-se um processo, o qual transtornos da leitura, matemática, escrita e
demandará uma atuação mais atualizada e linguagem.

Certamente você encontrará, como já Breves referências históricas


destacamos anteriormente, outras formas e/ou Em seus estudos, Cruz (1999) apresentou
outras concepções de dificuldades de quatro fases nessa evolução histórica: a fase de
aprendizagem. O que foi posto acima é uma fundação, a fase de transição, a fase de
de tantas e é a que nós usamos em sala de integração e a fase contemporânea.
aula. No quarto semestre do curso, na disciplina Na fase de fundação, que se estende
específica (a que nos referimos no início desta aproximadamente de 1800 a 1930,
Através do texto
subunidade) você terá a oportunidade de percebemos a grande influência das áreas de "Quando o problema
não é o aluno" você
imersão no tema e as conseqüentes discussões Medicina, Neurologia e Psiquiatria, ou seja, pode encontrar
experiências
para o devido aprofundamento. nessas áreas, iniciaram-se estudos a fim de vivenciadas por alunos
Antes de seguirmos adiante, gostaríamos de compreender as relações existentes entre que mostram algumas
abordagens do fracasso
fazer uma pequena referência à expressão cérebro, pensamento e linguagem. escolar. Esse texto está
disponível em http://
fracasso escolar, que tem como um de seus Embora a base de conceituação das www1.folha.uol.com.br/
folha/sinapse/
componentes os problemas de aprendizagem. dificuldades de aprendizagem nessa fase seja
ult1063u723.shtml
Isso significa que problemas de aprendizagem essencialmente organicista, ainda, atualmente,
e fracasso escolar não são simplesmente serve de referência para alguns estudos e
sinônimos, mas que um (problemas de abordagens. Haja vista que conceitos Frenologia
Essa disciplina
aprendizagem) pode ser uma das causas do importantes surgiram na época, alguns, como a especificaria a
localização, através do
outro (fracasso escolar). frenologia de Gall (1796), são hoje totalmente exame das
A seguir, apresentaremos algumas infe- rejeitados. protuberâncias do
crânio, das funções
rências de Cruz (1999) sobre a evolução da mentais (linguagem,
memória e
temática para então destacarmos as noções mais inteligência) e
identificaria a
aceitas atualmente. personalidade (CASAS
apud CRUZ, 1999).

15
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Vinícius de Sá Menezes
Figura A.3: Área da fala de Broca e área da linguagem

compreensiva de Wernicke

A contribuição maior desses pioneiros foi


Vanessa Pinheiro Reyes

estabelecer que lesões em áreas bem


delimitadas do cérebro ocasionam algumas
Figura A.2: Franz Joseph Gall alterações neuropsicológicas específicas.
A fase de transição traz à tona os estudos
Outros conceitos, como a dominância cere- de outras áreas do conhecimento: a Educação
Samuel Orton bral de Samuel Orton, ainda são considerados e a Psicologia. Essa fase se estende de 1930 a
Psiquiatra americano
que foi um dos no que concerne ao hemisfério esquerdo como 1963. Entre os estudiosos que mais se
pioneiros a considerar
a dislexia como uma dominante nas pessoas destras, porém não destacaram nesse período temos Heinz Werner,
alteração neuronal. quanto às dificuldades de leitura quando não Alfred Strauss, William Cruickshank, Newell C.
Alexia há uma dominância hemisférica estabelecida. Kephart, Marianne Frosting, Helmer Mykelbust,
Distúrbio em que o
indivíduo apresenta Alexia e dislexia, conceitos de Hinshelwood, Mildred McGinnis e Samuel Kirk (CRUZ, 1999).
perdas na capacidade
de leitura. A alexia
são também dessa fase, bem como o Nessa fase, ainda não há um campo
advém de uma lesão estabelecimento de áreas específicas de específico para as dificuldades de aprendizagem.
cerebral.
algumas funções neurológicas superiores: área As pesquisas mostravam vários problemas que
Dislexia
Dificuldade da fala, de Broca, situada no lobo frontal e área interferiam na aprendizagem de crianças com
caracterizada por
da linguagem compreensiva, de Wernicke, no inteligência considerada normal (TORGESEN
problemas na
decodificação lobo temporal esquerdo (CRUZ, 1999). apud CRUZ, 1999). Estes problemas foram
(correspondência entre
letra e som), na designados, na época, como lesão cerebral
soletração e na fluência
de palavras. A dislexia
mínima, deficiências perceptivas, afasia,
se divide em dislexia problemas perceptivo-visuais, percepto-motores
de desenvolvimento e
dislexia adquirida. e de atenção.

16
UNIDADE A

O importante nessa fase, além da aceito por valorizar o componente educacional


contribuição mais sistematizada de psicólogos e não mais o componente clínico. Incluíram-se
e educadores, foram os programas de aí todas aquelas crianças que, apesar de não
reeducação das chamadas funções neurológicas terem deficiências, não obtinham sucesso na
superiores, através do desenvolvimento das aprendizagem escolar.
habilidades viso-perceptivas, percepto-motores Assim, conforme Kirk (apud CRUZ, 1999,
e psicolinguísticas. p. 30) essas eram crianças:
A fase seguinte, denominada fase de
1 - que mostravam uma discrepância entre
integ ração (1963-1980), resultou dos
o seu potencial de aprendizagem e o de
conhecimentos construídos nas fases anteriores, execução;
2 - em que o atraso acadêmico não se devia
os quais levaram à facilitação nos diagnósticos
a outras deficiências sensoriais;
e a diversos modelos de intervenção. 3 - que não tinham aprendido pelos
Conforme Rebelo (apud CRUZ, 1999), métodos usuais e que necessitavam de
métodos especiais de instrução.
houve uma expansão rápida, nos Estados Unidos
da América, tanto de programas de intervenção
nas escolas quanto de cursos para formação de A partir desse momento, foi fundada a
professores na área. Área agora já identificada "Association for Children with Learning
pelo termo "dificuldade de aprendizagem" Disabilities". Com essa fundação, os problemas
(learning disability) popularizado em 1963, por de aprendizagem foram postulados através da
Samuel Kirk (apud CRUZ, 1999, p. 30) análise do próprio indivíduo e dos seus
contextos de interação (inclusive a escola).
(...) eu usei o termo 'dificuldades de
Entre autores que podem ser citados, estão
aprendizagem' para descrever um grupo de
crianças que têm desordens no Howard S. Adelman, A. O. Ross, F. R. Veluttino e
desenvolvimento da linguagem, da fala, da
Joseph K. Torgesen (CRUZ, 1999).
leitura e das habilidades associadas á
comunicação necessárias para a interacção Por fim, na fase contemporânea, desde
social. Neste grupo eu não incluo as crianças 1980 até os dias atuais, procura-se encontrar
que têm défices sensoriais tais como a
cegueira ou a surdez, porque temos uma definição sobre transtornos de
métodos para lidar e treinar os surdos e os aprendizagem. Ainda, através de modelos como
cegos, eu também excluo deste grupo as Essas abordagens, por
crianças que apresentam um atraso mental
a análise aplicada ao comportamento, o
serem mais atuais,
generalizado. processamento de informação e a certamente serão
aprofundadas na
neuropsicologia, traçam-se novas possibilidades disciplina Dificuldades
de Aprendizagem que,
Refere Cruz (1999), citando Garcia (1995), de intervenção no processo de aprendizagem como já referimos, faz
Hammil (1995), Cruickshank (1976) e Correia e nos fatores que o influenciam a fim de parte do elenco
curricular do quarto
(1991), que esta área de estudos e intervenção favorecer àquelas crianças que apresentam semestre do curso.

foi reconhecida e desenvolvida mormente pela dificuldades (CRUZ, 1999).


contribuição associada de pais e professores, e
o termo "dificuldade de aprendizagem" foi bem

17
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Algumas definições alguns aspectos das dificuldades de


Diante desse breve percurso histórico, aprendizagem de maneira incisiva. Dentre esses
poderíamos retirar inúmeras definições dos aspectos, temos: elas se apresentam como um
próprios autores citados. Entretanto, baseados grupo heterogêneo de desordens que incluem
em HAMMIL (apud CRUZ, 1990), apontaremos dificuldades para aquisição e utilização da
apenas aquelas que, na atualidade, se audição, da fala, da leitura, da escrita, do
apresentam viáveis na atividade profissional. Isso raciocínio, de habilidades matemáticas; são
não significa que são definitivas, pois a Ciência intrínsecas dos indivíduos; podem estar
é dinâmica, e a cada ano, surgem novos estudos relacionadas com disfunções do sistema
que, muitas vezes, se contrapõem ao que hoje nervoso central; não se constituem como
é aceito e utilizado. Essas são as definições da resultados de outras condições como, por
"U. S. Office of Education (USOE)"; do "National exemplo, distúrbios mentais ou diferenças
Joint Committee on Learning Disabilities culturais (NJCLD, 1991).
(NJCLD)"; da "Learning Disabilities Association A "Learning Disabilities Association of
of America (LDA)"; da "Interagency Committee America (LDA)" discordou da definição da
on Learning Disabilities (ICLD). USOE, em 1977. Para tal, propôs outra definição
A "U. S. Office of Education (USOE)", que abordava as dificuldades de aprendizagem
em 1977, propôs que como uma condição crônica que interferia no
desenvolvimento, integração e/ou
dificuldade de aprendizagem específica
demonstração de habilidades verbais ou não-
significa uma desordem num ou mais dos
processos psicológicos envolvidos na verbais e que poderia afetar outros setores da
compreensão ou no uso da linguagem, falada vida do indivíduo. Nesse sentido, não se pôs a
ou escrita, que se pode manifestar numa
habilidade imperfeita para ouvir, falar, ler, especificar os tipos de dificuldades de
escrever, soletrar, ou para fazer cálculos aprendizagem como nas definições expostas
matemáticos. O termo inclui condições tais
como desvantagens (handicaps) perceptivas, anteriormente. Além disso, não se abrangeu as
lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, questões relativas à concomitância ou não de
dislexia e afasia desenvolvimental. O termo
não inclui crianças que têm dificuldades de outros problemas.
aprendizagem que são primariamente o Na definição proposta pela "Interagency
resultado de desvantagens (handicaps),
Committee on Learning Disabilities (ICLD)",
visuais, auditivas, ou motoras, ou deficiência
mental, ou distúrbios emocionais, ou acrescentaram-se às dificuldades de aprendiza-
desvantagem envolvimental, cultural ou
gem listadas na NJCLD (dificuldades na aquisição
econômica (CRUZ, 1999, p. 57).
e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio,
Na definição proposta pela "National Joint habilidades matemáticas) as habilidades sociais.
Committee on Learning Disabilities (NJCLD)", Nas palavras de CRUZ (1999), esse acréscimo
podemos observar a preocupação em abordar não foi defendido por muitos autores, inclusive
pelo Departamento de Educação dos Estados
Unidos da América que apresentou três
possíveis conseqüências: mudanças na lei
18
UNIDADE A

pública (PL 894-142), aumento das confusões Maria, trazemos alguns fatores etiológicos
com respeito às dificuldades de aprendizagem defendidos por Marquezan (2000). Esse
e aumento do número de crianças com pesquisador postula a dificuldade de
dificuldades de aprendizagem. aprendizagem como uma alteração no sistema
Como vocês já perceberam, são definições de trocas entre o indivíduo e o seu meio. Dessa Você pode ler mais
sobre esse assunto no
elaboradas por órgãos e ou instituições dos maneira, "a alteração no sistema de trocas pode texto "Distúrbios,
Estados Unidos da América, que ainda ocorrer em função de comprometimento do transtornos,
dificuldades e
influenciam fortemente as pesquisas e os organismo, em função do meio ou pela problemas de
aprendizagem", de
modelos de intervenção no nosso País. Tal consideração entre ambos" (MARQUEZAN Juliana Zantutt Nutti. Ele
está disponível em
abordagem não significa que os estudos 2000, p. 07).
http://
europeus não tenham valor, porém, para Com relação ao organismo, o autor aponta www.psicopedagogia.com.br/
artigos/
apresentar essa temática, optamos pelas os fatores psicomotores, cognitivos e socio- artigo.asp?entrID=339

concepções aqui referidas. emocionais. Nos fatores psicomotores, temos


o esquema corporal, a coordenação motora, o
Causas dos problemas equilíbrio, a lateralidade, as orientações espacial
de aprendizagem e temporal, as discriminações visual e auditiva.
Podemos perceber que, assim como as Nos fatores cognitivos, revelam-se as funções
definições propostas sobre as dificuldades de psicológicas superiores (pensamento,
aprendizagem, as causas apontadas também se linguagem, percepção, atenção, memória,
originam de diferentes teorias e ou da formação imaginação). Já nos fatores socioemocionais,
e orientação de quem as formula. Nesse encontramos o desajuste social como, por
sentido, Cruz (1999) destaca as teorias exemplo, a delinqüência; e os distúrbios
neurofisiológicas, as teorias perceptivo-motoras emocionais que se manifestam através da
e as teorias psicolingüísticas e cognitivas. ansiedade, do afastamento e da agressão.
Nas teorias neurofisiológicas, procura-se Referente ao meio, o autor destaca os
relacionar as dificuldades de aprendizagem com fatores familiares, escolares, socioeconômicos
as lesões no Sistema Nervoso Central. Nas e culturais. Nos fatores familiares, estão
teorias perceptivo-motoras, as dificuldades de compreendidos as expectativas e os valores
aprendizagem derivam de deficiências implícitos na convivência familiar do indivíduo.
perceptivas e motoras existentes no indivíduo. Nos fatores escolares, Marquezan (2000, p. 17)
As teorias psicolingüísticas e cognitivas apresen- destaca alguns mediadores psicossociais e
tam, como causas das dificuldades de aprendiza- organizacionais, tais como: "a dinâmica de sala
gem, as falhas na recepção da informação, as de aula, expectativa do professor, imaginário
falhas na produção da informação e a escolar, conhecimento, senso comum, formação
apresentação de conteúdos irrelevantes na de professores, currículo, clima organizacional,
informação. poder, conflito, atribuição de causalidade e
Ainda considerando válido destacar estudos conformismo". Nos fatores socioeconômicos
desenvolvidos na Universidade Federal de Santa e culturais, o autor atenta para a interferência
19
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

ou auditiva);
da globalização nos papéis desempenhados - evidenciar dificuldades perceptivas,
pelos indivíduos na sociedade. disparidades em vários aspectos de
comportamento e problemas no processa-
mento da informação, quer ao nível receptivo,
Caracterização dos quer integrativo e expressivo.

problemas de aprendizagem
Ao estudarmos as características da população, Essa caracterização não é definitiva, pois
considerada com dificuldades de aprendizagem, considera apenas os aspectos relacionados à
devemos nos reportar a algumas classificações, criança. Da mesma forma, há pesquisadores que
posto que não há aceitação de critério único chegam ao detalhamento de noventa e nove
para uma classificação que diminua a confusão características diferentes (CLEMENTS apud
conceitual (como já estudamos nos itens CRUZ, 1999).
anteriores) nessa área. Este mesmo autor, na sua revisão
Conforme Cruz (1999), as classificações bibliográfica, refere que os problemas mais
mais significativas levam em conta a abordagem freqüentes nessas crianças ocorrem no que ele
O estudo mais
detalhado dessas neuropsicológica em que se valorizam os chama de: níveis neurológicos, de atenção,
características você fará
mais adiante no curso aspectos de déficit na criança: perturbações na percepção, memória, cognitivo, psicolingüístico,
(disciplina do IV
linguagem, viso-espaciais, atenção, memória, atividade motora e psicomotora, emocional e
semestre).
percepção e desempenho acadêmico (leitura, socioemocional. De uma maneira geral, são
escrita e matemática). Outras classificações não esses aspectos (níveis) que os pesquisadores
identificam causa orgânica específica, valorizam consideram nas intervenções e formulações de
o conhecimento dos aspectos evolutivos do programas educacionais.
desenvolvimento psicológico e a relações entre
as "predisposições individuais e a natureza dos Implicações e intervenções
envolvimentos nos quais as crianças devem educacionais dos problemas
aprender e agir" (CRUZ, 1999, p. 98). de aprendizagem
Diante das definições apresentadas por As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
diferentes autores, podemos sugerir como na Educação Básica (apud MEC/SEESP, 2004,
características das pessoas com dificuldades de p. 14) destacam entre os educandos com
aprendizagem os seguintes aspectos definidos necessidades educacionais especiais aqueles
por Fonseca (1995, p. 196): que apresentarem

- manifestar uma significativa discrepância I - dificuldades acentuadas de aprendizagem


entre o seu potencial intelectual estimado e ou limitações no processo de desenvolvi-
o seu atual nível de realização escolar; mento que dificultem o acompanhamento
- apresentar desordens básicas no processo das atividades curriculares, compreendidas
de aprendizagem; em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a
- apresentar uma disfunção ou não do uma causa orgânica específica; b) aquelas
sistema nervoso central (SNC); relacionadas a condições, disfunções,
- não apresentar sinais de: debilidade mental, limitações ou deficiências.
de privação cultural, de perturbações
emocionais ou de privação sensorial (visual
20
UNIDADE A

Nesse sentido, cabe às escolas regulares adequado às suas necessidades;


possibilitar a esses alunos ambientes de - os resultados escolares tendem a melhorar
se os métodos não forem expositivos, mas
aprendizagem propícios e o acesso às salas de
participando ao nível de interações: professor
recursos com professores especializados. Nessas - grande grupo; professor - pequeno grupo;
criança - professor; criança - pequeno grupo;
salas, os alunos terão a oportunidade de
criança - grande grupo;
complementarem seus estudos através de - a criança tende a melhorar as suas funções
metodologias e recursos condizentes com suas receptivas auditivas, visuais, quinestésicas se
se utilizarem processos hierarquizados,
necessidades. sistemáticos e intensivos de aprendizagem;
Compreendendo a necessidade desses - o professor não deve utilizar apenas a
palavra como recurso, deve utilizar projetos,
espaços na escola, torna-se necessário gravadores, jogos, fichas de trabalho, e
referenciar as afirmações de Fonseca (1995, igualmente deverá adotar estratégias
educacionais: puzzles, materiais de
p. 356): composição e de construção, exploração de
materiais de aprendizagem, cartões e fichas
- os professores que obtêm melhores coloridas, quadros magnéticos, lotos e
resultados são os que proporcionam às dominós simbólicos, blocos lógicos e
crianças um ensino individualizado e discriminativos, etc.
Marcus Vinicius Severo de Moura

Figura A.4: Intervenções educacionais


21
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Obrigatoriamente, deve-se considerar o apenas na criança, portanto há a necessidade


ambiente escolar e o entorno familiar ao de avaliar-se todas as variáveis que podem
planejar-se as intervenções educacionais. Muitas causar essas dificuldades para que se formule
vezes, como já referimos anteriormente, as o modelo de intervenção mais adequado.
dificuldades de aprendizagem não se situam

22
UNIDADE A

3 Déficit cognitivo
Professor José Luiz Padilha Damilano

Definição de déficit cognitivo mensuráveis e classificatórias (tipo: medidas de


Através dos espaços/tempos ocupados pelos quociente intelectual e níveis de deficiência).
sujeitos da Educação Especial, podemos Entretanto, nas últimas décadas, há uma
observar que esses sujeitos foram preponderância em considerar critérios
discursivamente produzidos de acordo com os psicossociais, legais e educacionais na
padrões e valores de determinado momento formulação de definições de deficiência mental.
histórico. Nesse sentido, Jannuzzi (1992) Conforme Fonseca (1987), já no I
apresenta as diferentes terminologias Congresso Mundial sobre o Futuro da Educação
empregadas para a pessoa com déficit cognitivo Especial, realizado em 1978, foi aprovada uma
no Brasil. Entre elas, podemos citar: definição de criança deficiente que identificava
excepcional, retardado mental, débeis mentais, as várias condições de deficiência e assinalava
anormal, instáveis, imbecil, entre outros. a necessidade de modificar as práticas
As Diretrizes Nacionais para a Educação educacionais, com o objetivo de desenvolver
Especial na Educação Básica (2001) referem ao máximo a capacidade dessas pessoas.
dificuldades acentuadas de aprendizagem ou Quanto à deficiência mental, as definições
limitações no processo de desenvolvimento que ainda mais aceitas são a da Organização Mundial
dificultem o acompanhamento das atividades da Saúde - OMS (1968) e a Associação
curriculares. Entre essas dificuldades acentuadas Americana para a Deficiência Mental - AADM
de aprendizagem, encontra-se o "déficit (1983), que embasam o conceito em três
cognitivo", sendo uma de suas representações condições, necessariamente presentes:
a "deficiência mental". Nesta subunidade, - funcionamento ou capacidade intelectual
usaremos a expressão deficiência mental, pois significativamente inferior à media (Q.I abaixo
ainda é a terminologia mais usada e encontrada de 70);
na maioria da bibliografia atualmente - origem durante o período do desenvolvi-
recomendada. Entendemos que o termo mento;
"deficiência mental" tem uma origem médica - déficit ou clara alteração dos comporta-
e geralmente é associado a síndromes e/ou mentos adaptativos.
sintomas orgânicos, com características

23
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Vinícius de Sá Menezes

Figura A.5: Modelos de avaliação

Como podemos perceber, a medida do deficiente mental, além das outras duas
quociente intelectual ainda faz parte do condições presentes no conceito comum à
conceito de deficiência mental, porém o avanço OMS e AADM.
é que não é mais apenas o Q.I que dá suporte Outra definição, apresentada por Pacheco
ao conceito. Outro avanço conceitual, com viés & Valencia (apud BAUTISTA, 1997), está
educacional, é a presença de alterações nas embasada no que ele chama de corrente
condutas adaptativas como condição para a pedagógica e considera a deficiência mental
identificação da deficiência mental. As condutas como uma dificuldade no processo regular de
adaptativas consideradas são: comunicação, aprendizagem, havendo, como conseqüência,
cuidados pessoais, vida escolar, habilidades uma necessidade de apoios e adaptações
sociais, desempenho na comunidade, curriculares para o processo regular de ensino.
independência na locomoção, saúde e Certamente você encontrará outras tantas
segurança, desempenho escolar, lazer, trabalho. definições de deficiência mental. Para encerrar
Para a Associação Americana de Retardo essa subunidade e sem fazer nenhum juízo de
Mental (AMRR, 1992), é preciso haver alteração valor, transcreveremos citação de Fonseca
em duas ou mais das condutas adaptativas (1987, p.44):
citadas acima para identificar alguém como

24
UNIDADE A

Não concordando com definições, pois


sentido da prevenção. Não se pode, em nome
normalmente são inúteis em termos de
direitos humanos, não restam dúvidas que de uma compreensão social da deficiência,
elas são necessárias para facilitar a ignorar possíveis situações (fome, doenças
comunicação, a investigação e a intervenção.
A maioria das definições são desnecessárias infecciosas ligadas à pobreza, falta de
e potencialmente negativistas face às saneamento básico, etc.) que a produzem.
expectativas que criam.
Na gênese da deficiência, é consensual a
importância de variáveis socioeconômicas e ou Medidas preventivas
devem fazer parte de
Causas do déficit cognitivo biológicas. Em qualquer dessas variáveis são todo e qualquer
No semestre passado, na disciplina Fundamen- possíveis ações preventivas que devem programa
governamental,
tos da Educação Especial I, foram apresentadas envolver, obrigatoriamente, órgãos estatais em privilegiando
sistematicamente os
causas e prevenção de situações que podem todas as suas esferas e, de forma voluntária, grupos populacionais
mais desfavorecidos.
ocasionar deficiências e ou necessidades profissionais das diversas áreas que se
Essas medidas devem
especiais. Embora com o risco de ser repetitivo, relacionem com populações de risco, acontecer em áreas
onde esses grupos
achamos conveniente apresentarmos outra principalmente quando do binômio mãe-filho. sofrem maiores
prejuízos - educação e
sistematização etiológica com as causas mais E, dentre esses profissionais, o mais importante saúde. Na área da
freqüentes do déficit cognitivo (deficiência seguramente é o professor. Nenhum outro saúde,
especificamente,
mental) e consideramos alguns aspectos da mantém uma interação tão constante com a identificam-se três tipos
de prevenção:
prevenção em que você, como educador criança e sua família e tem tanta significância prevenção primária -
ações utilizadas para
especial pode, e deve, ter uma participação social, apesar de toda a desvalorização que, nos impedir que
significativa. Outra observação que se faz últimos anos, a profissão de professor tem determinados danos
afetem grupos
necessária, e que vocês poderão constatar no sofrido. populacionais como,
por exemplo,
decorrer desse item, relacionada às possíveis Das populações de risco, o grupo materno- campanhas de
causas de deficiência mental, é que muitas infantil é o mais vulnerável nos segmentos vacinação; prevenção
secundária - são as
delas também podem provocar outras sociais menos favorecidos socioeconomica- medidas tomadas
quando a prevenção
deficiências. mente, pois é mais exposto a riscos que primária não for feita
ou não atingiu os
A preocupação com, ou a valorização dos interferem no processo de crescimento e objetivos (medidas
aspectos etiológicos da deficiência, não significa desenvolvimento. Nos primeiros cinco anos de curativas); prevenção
terciária - usada para
a legitimação da condição desviante, mas sim vida, há um desenvolvimento físico e cognitivo reabilitar ou recuperar
possíveis seqüelas
a sinalização para o educador especial atuar muito rápido e, ao mesmo tempo, o sistema instaladas no processo
combatido durante a
naqueles aspectos que produzem deficiências nervoso é mais susceptível a agressões externas.
prevenção secundária.
(fatores orgânicos, sociais e econômicos) no

25
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Tiago da Silva Krening

Figura A.6: População mais vulnerável aos fatores de risco de deficiência

No capítulo sobre a criança socialmente Toda vez que a criança sofre um prejuízo
desfavorecida, Dias e Reza (apud BAUTISTA, no seu corpo, intelecto ou personalidade, há a
1997) afirmaram ser constatado o prejuízo possibilidade de interferência no seu
cognitivo, afetivo e emocional em pessoas que crescimento, desenvolvimento, capacidade de
fazem parte das faixas sociais mais pobres. No aprendizagem, ou adaptação ao seu meio
mesmo capítulo, há referência sobre fatores de ambiente. Estando a criança inserida em um
privação cultural e uma categorização causal meio familiar do qual depende, podemos
envolvendo aspectos biológicos (pré-natais e afirmar que a família tem um papel gerador de
neonatais), familiares (nível cultural e saúde, e, por conseguinte, um protagonismo
ocupacional dos pais e nível socioeconomico na prevenção. Porém, apesar de algum avanço
da família) e socioculturais. Tais fatores serão nos últimos anos, o sistema de saúde, seja
considerados quando apresentarmos a preventivo seja curativo, não atende às
sistematização das possíveis causas da necessidades de todas as famílias brasileiras.
deficiência mental. Dever-se-á assegurar um sistema adequado de

26
UNIDADE A

tal forma que a cobertura aos grupos familiares A informação ainda, é a melhor maneira de
seja realmente efetiva. Esse é um papel do combater a discriminação e o preconceito que
Estado formulador de políticas públicas - agir as pessoas com deficiência sofrem.
incisivamente implantando um sistema As causas das deficiências, entre elas a
preventivo que priorize as populações de risco. deficiência mental, comumente são
Por outro lado, as agências formadoras de sistematizadas, considerando aspectos médicos, Agências formadoras
Instituições de Ensino
profissionais para a saúde devem prever, e e classificadas em fatores pré-natais, perinatais Superior, tipo
universidades, centros
valorizar, nos seus programas e currículos, e pós-natais. Nós usaremos uma sistematização universitários ou
disciplinas com conteúdos direcionados para a mais ampla na qual esses fatores estão contidos faculdades isoladas que
preparem profissionais
prevenção, principalmente a prevenção e a denominaremos de "fatores causais para as diversas áreas
do conhecimento.
primária. determinantes" ou "predispondentes de
Os aspectos sanitários, conforme Fonseca desvios no desenvolvimento". O título "desvios
(1987), relacionados com a saúde da no desenvolvimento", adaptado de Brizolara
população, devem levar em conta os riscos de (1981), pressupõe que alguns desses fatores
gestações em mulheres muito jovens ou de podem provocar desvios que não
idade superior aos quarenta anos, o obrigatoriamente sejam caracterizados como
aconselhamento genético, a realização do pré- deficiências, mas sim ocasionarem transtornos
natal, o planejamento familiar, as campanhas na aprendizagem, retardo no desenvolvimento
de vacinação e outras medidas, visando psicomotor, epilepsia ou qualquer outra
aspectos preventivos primários. Ainda, conforme condição que leve a uma alteração no
o autor, "um pouco de prevenção vale mais do desenvolvimento esperado da criança.
que muita terapia" (1987, p. 51). Quanto a fatores causais determinantes, são
Evidentemente você não terá uma formação aqueles que certamente provocam deficiências,
acadêmica voltada para a área da saúde, porém sendo o exemplo mais comum a Síndrome de
isso não impede que o educador especial, a Down.
partir do conhecimento construído acerca das Os fatores predisponentes são aqueles que
causas que podem levar a situações de risco, provocam riscos para o desenvolvimento,
tenha o seu protagonismo na prevenção da porém nem sempre esses riscos são
deficiência. concretizados em desvios ou deficiências, ou
A informação, na concepção de Fonseca seja, são situações que predispõem, mas não
(1987), é outro fator a ser considerado na obrigatoriamente levam à condição de
prevenção, principalmente para vencer deficiência. Como exemplo, temos doenças
"resistências, objeções, superstições e infecto-contagiosas, tipo a toxoplasmose na
escrúpulos, muitas vezes resultantes da falta de mulher grávida, que pode causar déficit em
esclarecimento das populações" (1987, p. 51). algumas crianças e em outras não.

27
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Fatores causais determinantes Fatores pré-natais


ou predisponentes de São aqueles fatores causais determinantes ou
desvios no desenvolvimento predisponentes que ocorrem antes e/ou
Trabalharemos a sistematização dos fatores durante a gravidez da mulher.
causais conforme o esquema abaixo. Serão I - Fatores pré-concepcionais
detalhados aqueles que ocorrem com maior Em países como o nosso, esses fatores
frequência. predisponentes alinham-se entre os mais
significativos na gênese da deficiência. Eles pré-

Quem desejar
Fatores pré-natais existem à gestação. Fazem parte da história de
aprofundar-se nos I - Fatores pré-concepcionais: vida da mulher e exercem influências durante
demais fatores, poderá
recorrer à bibliografia 1 - socio-econômicos; todo o seu crescimento e desenvolvimento,
recomendada: Atlas de
Síndromes Clínicas 2 - biológicos. moldando condições que podem interferir na
Dismórficas, H. R.
II - Fatores congênitos: gravidez e futuro dos filhos.
Wiedemann, J. Kunze,
H. Dibbern - Ed. 1 - aberrações cromossômicas; 1 - Socioeconômicos: diversos estudos
Manole Ltda; Padrões
Reconhecíveis de 2 - alterações gênicas; (Masland apud Fonseca, MacMaun, Sowa, Baird,
Malformações
Congênitas, K. L. Jones
3 - malformações cerebrais. Ilsey e Fairweater, 1987) associam a deficiência,
- Ed. Manole Ltda; III - Fatores da gravidez: mais especificamente a deficiência mental, à
Manual de Psiquiatria
Infantil, J. de 1 - infecções maternas (intra-uterinas); condição de desenvolvimento e complicações
Ajuriaguerra - Ed. Toray
Masson; Síndromes 2 - drogas teratógenas; de gestação que aparecem com mais freqüência
Neurológicas, W. L.
Sanvito - Ed. Atheneu.
3 - outras condições. nas classes pobres. Outros pesquisadores como
Richarsdson, Bridges e Coler, citados por
Fatores perinatais Fonseca (1987), apontam variáveis que têm
I - Anóxia ou hipóxia. relação com a deficiência mental, tais como
II - Prematuridade. concepção pré-nupcial, lares desintegrados,
III - Hiperbilirrubinemias. superpopulação, elevada paridade, más
IV - Infecções. condições estruturais de habitação, pouco
tempo de interação mãe-filho, fraco índice
Fatores pós-natais nutricional, baixo nível de alfabetização, que
I - Infecções do Sistema Nervoso. aparecem mais nos segmentos populacionais
II - Outras condições. menos favorecidos.

28
UNIDADE A
Orlando Fonseca Júnior

Figura A.7: Falta de planejamento como fator de risco

Embora, como já vimos, pobreza e quer ou porque não se esforça o suficiente para
deficiência tenham uma relação muito próxima, obter melhores condições de vida. Não se pode
isso não pode significar um determinismo social responsabilizar os pobres pela sua pobreza. São
que nos leve a pensar que déficit é sinônimo as condições relacionadas ao entorno da
de condições socioeconômicas desfavorecidas pobreza que predispõem a condições de risco
e justificarmos a pobreza em si como única para a deficiência.
causa de deficiência. Ninguém é pobre porque

29
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

desenvolvem a síndrome. Embora não se tenha


A melhor prevenção ainda é oportunizar clareza absoluta de causas, a mais aceita é a
condições aos segmentos populacionais idade da mãe, com maior incidência em
desfavorecidos de emprego, saneamento mulheres com mais de 40 anos.
Cromossomos básico, educação de qualidade, acesso à
Unidade que contém
informação genética, informação. Enfim, dar oportunidade a que
eles são constituídos
por proteínas e ácido esta significativa parcela populacional seja
desoxiribonucleico senhora de seu destino.
(DNA).

Metabolismo
Conjunto dos
processos bioquímicos
que mantêm a vida dos
2 - Biológicos: entre os fatores que
seres. antecedem a gravidez, um dos mais importantes
Proteínas é a idade materna. Mulheres jovens, com menos
Substâncias compostas
por cadeias de de 18 anos, e mulheres com mais de 40 anos
aminoácidos. Elas
apresentam um risco maior, assim como o
compõem a estrutura
celular, ajudam a intervalo reduzido entre as gestações (menos Vinícius de Sá Menezes
combater infecções,
formam enzimas e de 2 anos). Antecedentes de doenças
hormônios e fornecem
energia ao organismo.
obstétricas pré-existentes também são fatores
que aumentam os riscos. Figura A.8: Genetograma representativo de Síndrome
Glicídios
Esse composto O melhor "remédio" para os fatores de risco de Down
orgânico era chamado
de carboidrato. Divide- pré-concepcionais é o planejamento familiar, Outras anomalias cromossômicas conhecidas
se em monossacarídios
que guarda uma relação direta com educação. são as síndromes de Turner e Klinefelter. Se
e polissacarídios.
E, atenção, planejamento familiar não é controle houver interesse, você encontrará subsídios na
Lipídios
Substância orgânica de natalidade, embora controle de natalidade bibliografia apontada anteriormente.
gordurosa que resulta
da combinação de
seja parte do planejamento familiar. 2- Alterações gênicas: entre as diversas
ácidos graxos e álcoois. II - Fatores congênitos alterações já passíveis de diagnóstico,
Entre suas funções no
organismo ressalta-se a São originados antes da gestação e ressaltaremos os erros inatos do metabolismo
reserva de energia.
determinados através da herança genética dos (EIM) que abarcam o metabolismo das
Encefalopatia
Quadro clínico
pais. Também são chamados de fatores proteínas, dos glicídios e dos lipídios e, dentre
resultante de lesão endógenos. eles, a fenilcetonúria. Os erros inatos do
maior ou menor do
encéfalo, podendo ou 1- Aberrações cromossômicas: também metabolismo também são conhecidos como
não levar à deficiência
mental (DIAMENT, denominadas de cromossomopatias ou encefalopatias crônicas da infância evolutivas,
1980, p.11). anomalias cromossômicas. A mais comum e pois há uma progressão da lesão encefálica.
Enzima conhecida é a síndrome de Down. Estão A fenilcetonúria é um erro inato do
Molécula que atua
como catalisador presentes 47 cromossomos em vez dos 46 metabolismo das proteínas, decorre da ausência
orgânico.
habituais na célula humana. Este cromossomo de uma enzima responsável pela transformação
suplementar é o responsável pelas alterações da fenilalanina em outro aminoácido, a tirosina.
físicas e cognitivas das pessoas que Se a fenilalanina não é transformada em
30
UNIDADE A

tirosina, torna-se tóxica para o sistema nervoso amamentação. É possível identificar este EIM Aminoácido
São compostos
central. por meio do "teste do pezinho" em recém- orgânicos naturais,
O tratamento é feito com dieta pobre em nascidos, e assim iniciar o tratamento no tempo componentes das
proteínas. Existem
fenilalanina e o diagnóstico deve ser feito o ideal, isto é, nas primeiras semanas de vida. Na cerca de 20
aminoácidos, sendo
mais rápido possível, pois uma grande variedade figura a seguir você pode acompanhar como é que os chamados
aminoácidos naturais,
de alimentos possui este aminoácido que realizado esse teste. em número de 8, são
inclusive pode passar ao bebê através da fornecidos pelos
alimentos, e os demais
podem ser sintetizados
pelo próprio
organismo.
Marcus Vinicius Severo de Moura

Figura A.9: Teste do pezinho utilizado para detectar fenilcetonúria

31
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Outra alteração gênica que também pode As causas da anencefalia não são claras,
ser detectada precocemente, através do teste embora alguns pesquisadores associem-na à
do pezinho, é o hipotireoidismo congênito, que carência de ácido fólico na dieta materna e,
Tireóide é uma deficiência da glândula tireóide e que principalmente, ao contato da gestante com
Glândula responsável
pela secreção interna também pode causar deficiência mental. O agrotóxicos, devido à maior incidência em
de hormônios com
importantes funções no tratamento é feito à base de hormônios regiões agrícolas com uso extensivo dessas
metabolismo. tireoidianos durante toda a vida. substâncias.
3- Malformações cerebrais: muitas das A partir da década passada, alguns magistra-
malformações cerebrais podem surgir dos começaram a autorizar o chamado aborto
associadas a quadros genéticos. Preferimos terapêutico naqueles casos em que havia a
apresentá-las em separado para destacarmos comprovação inquestionável de feto anencefáli-
uma delas, que tem recebido destaque e co. Em outras situações de gestação de fetos
mobilizado vários setores da sociedade: a com qualquer tipo de deficiência, o aborto não
anencefalia. Nessa malformação, há ausência é permitido, pois, atualmente, na legislação
parcial do encéfalo, muitas vezes restrito apenas brasileira, o aborto é permitido apenas naquelas
ao tronco encefálico. Disso resulta uma situações em que há risco de vida para a mãe
expectativa de vida, de, no máximo, algumas ou em casos de estupro.
semanas após o nascimento, sendo que a III - Fatores da gravidez
maioria dos recém-nascidos morre após Estes, dentre os fatores de risco, são os
algumas horas. responsáveis ainda, em nosso país, por um
grande número de casos de deficiência. Têm
relação direta com saúde pública, com
prevenção e condições socioeconômicas. A
prevenção pode ser feita através de vacinação,
da informação ao grande público, de
campanhas, envolvendo o binômio saúde-
educação e, principalmente, com a
universalização do pré-natal das gestantes.
1- Infecções intra-uterinas
- Rubéola congênita: a rubéola é uma
infecção viral, geralmente benigna, considerada
uma das doenças próprias da infância (DPI)
antes do advento das campanhas de vacinação.
Quando ocorre no primeiro trimestre de
Thiago da Silva Krening

gestação, pode ocasionar, em aproximadamente


50% dos casos, malformações cardíacas e
Figura A.10: Divisão do Sistema Nervoso Central oculares, surdez e deficiência mental, nessa
(SNC). seqüência de incidência. A prevenção deve ser
32
UNIDADE A

feita através da vacinação sistemática da - Outras doenças infecciosas: caxumba,


população. sarampo, varicela, hepatite, herpes, entre outras
- Citomegalovirose congênita: ou doença da infecções, também são fatores de risco para o
inclusão citomegálica, é provocada por vírus e desenvolvimento, mormente se acontecerem
pode ocasionar sérias alterações no durante o primeiro trimestre de gestação. Fazer
desenvolvimento, resultando em deficiência acompanhamento pré-natal e vacinas nas
mental, surdez, cegueira ou malformações épocas apropriadas são medidas preventivas
cardíacas. Acredita-se que até 2% das gestantes esperadas e adequadas.
sejam infectadas, porém menos da metade dos
recém-nascidos dessas mulheres apresentaram
deficiência.
- Toxoplasmose congênita: a toxoplasmose
é uma doença infecciosa causada por um
protozoário. A contaminação se dá pela ingestão
de carnes mal cozidas. O risco para o feto
ocorre durante a fase aguda da doença -
primeiro trimestre de gestação - e pode, em
aproximadamente 70% dos casos, causar
deficiência mental, cegueira, paralisia cerebral
ou surdez. O cozimento adequado de carnes e
Vinícius de Sá Menezes

pesquisa da toxoplasmose durante o pré-natal


são medidas preventivas corretas. Atualmente
há medicações contra a toxoplasmose que a Figura A.11: Fatores de risco na gravidez

gestante pode usar sem acarretar prejuízos para


o feto. 2- Drogas teratógenas: são substâncias
- Sífilis congênita: doença sexualmente químicas (medicamentos, agrotóxicos) ingeridas
transmissível era, em épocas anteriores, ou absorvidas pela gestante que podem
considerada a maior responsável pela deficiência interferir no desenvolvimento neurológico ou
mental. Hoje em dia, há controvérsias quanto produzir malformações no feto. O risco maior
à sífilis congênita como causadora de lesões para afetar o sistema nervoso acontece nas
no sistema nervoso central. Durante a gestação, primeiras semanas de gestação, quando há uma
pode causar, direta ou indiretamente, partos multiplicação celular acelerada. A maioria das
prematuros, crescimento intra-uterino drogas teratógenas tem grande facilidade para
retardado, meningites, e diante dessas atravessar a membrana da placenta.
decorrências, apresentar, como conseqüência, Nas palavras de Fontes (1990, p. 34)
deficiência mental ou surdez. A prevenção se
A automedicação, condenável, tão comum
dá pelo pré-natal adequado e uso de proteção
no Brasil, sem prescrição médica,
na atividade sexual. particularmente nos primeiros dias após a
33
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

ovulação (em momento ainda de estudamos até o momento, contidos dentro dos
desconhecimento do estado gravídico), no
Teratogênico
instante mais crítico a nível teratogênico, é
fatores da gravidez, se acontecerem no primeiro
Qualquer fator capaz
de provocar defeitos causa habitual de anomalias fetais nervosas, trimestre da gestação, podem ocasionar
congênitos graves.
malformações, abortamentos e/ou deficiências.
Inócuas Há um alerta que o educador especial pode, A partir do segundo trimestre, a ação
Algo que não fornece
perigos, inofensivo. e deve, multiplicar. A isso podemos acrescentar teratogênica parece não ocorrer, mas os riscos
o mesmo cuidado que se deve ter ao ingerir os citados acima permanecem.
tão comuns "chazinhos caseiros". Todas as - Radiações: o radiodiagnóstico (raio X) tem
plantas, mesmo aquelas a priori consideradas alto risco quando realizado no primeiro
inócuas, têm princípio ativo, muitas vezes não trimestre de gestação. Os isótopos e
conhecidos totalmente e que podem trazer desintegrações atômicas (militares - bombardeio
prejuízos, não só ao feto em formação, como de Nagasaki e Hiroshima pelos norte-americanos
também à saúde da gestante. na segunda guerra mundial; e industriais -
A seguir, apresentaremos algumas Chernobyl, cidade ucraniana onde houve vaza-
substâncias que podem provocar alterações no mento num reator nuclear na década de 1980)
desenvolvimento do bebê em gestação: também podem produzir graves alterações no
- álcool: alto risco para deficiência mental; feto. Quanto à radioterapia (radiação com fins
- antibióticos (gentamicina, estreptomicina): terapêuticos) há o risco para lesão dependendo
alto risco para a surdez; da intensidade e tempo de aplicação, porém é
- hidantoína: anticonvulsivo que apresenta uma situação que deve ser avaliada, quanto ao
risco para deficiência mental; risco e benefícios, entre a gestante e o médico,
- talidomida: malformações de órgãos, o qual deve esclarecer sempre sobre as
principalmente membros superiores; conseqüências de realizar ou não a terapia e
- drogas ilícitas ou ditas "de rua": cocaína, deve aceitar a decisão da mulher - a isso se
metadona, solventes, cola de sapateiro, chama consentimento informado. E sempre,
apresentam riscos de malformações no feto, em qualquer situação, o profissional da saúde
retardo no crescimento intra-uterino, lesões deve ter esta atitude - de informar, discutir e
cerebrais e abortamentos; quanto à maconha, acatar a decisão da família e do paciente.
há controvérsias quanto à teratogenidade, - Traumatismos: sofridos pela gestante,
porém mulheres usuárias gestam bebês de baixo ocasionados por acidentes ou agressões, são
peso, o que também é uma situação de risco. fatores de risco diretamente proporcionais ao
A prevenção para estes fatores é evitar a tempo de gestação - quanto mais no início,
automedicação. Isso não significa que a gestante maior o risco e mais graves as conseqüências.
não possa usar remédios, mas usá-los apenas e - Má nutrição materna: embora discutível
quando for indicação de médicos. quanto à intensidade necessária para que possa
3- Outras condições: neste item, listaremos provocar danos no feto, é um fator de risco
outros fatores que também apresentam riscos que não pode ser desconsiderado como causa
para o desenvolvimento e, como os que já de deficiência mental.
34
UNIDADE A

Fatores perinatais sofrimento respiratório, infecções, icterícia, Bilirrubina


Considerado um dos
O período perinatal ou neonatal, conforme traumatismos crânio-encefálicos e anóxia, que mais importantes
pigmentos biliares cuja
Ruggia (1982), compreende do nascimento até podem levar, mas não obrigatoriamente cor é amarelo-
os 28 dias de idade. Com o avanço tecnológico causam, à deficiência. avermelhado.

nos cuidados perinatais, houve uma diminuição Outra possível conseqüência da prematuri- Icterícia
Sintoma do má
acentuada na mortalidade nesse período, dade, embora possa ocorrer em bebês nascidos funcionamento do
sistema biliar,
principalmente nos países desenvolvidos. O que no tempo adequado (39 a 42 semanas de resultando cor
permitiu que bebês com sérios problemas de gestação), é o baixo peso - igual ou inferior a amarelada na pele e
nas conjuntivas
saúde sobrevivessem, muitos com seqüelas que 2.500g. O que também é um fator de risco, oculares.

ocasionam algum tipo de deficiência. agravado pela incidência maior em famílias de


A prevenção adequada dos fatores nível socioeconômico e cultural menos
perinatais, que estudaremos a seguir, deve ser favorecidas.
feita através do acompanhamento pré-natal e III - Hiperbilirrubinemias: aumento dos níveis
parto no hospital, preferencialmente, onde as de bilirrubina no sangue, produzindo icterícia,
ações para evitar possíveis conseqüências são que pode ser fisiológica (o "amarelão" do
mais rápidas e adequadamente estabelecidas. recém-nascido) ou levar a uma grave patologia
I - Anóxia ou hipóxia: os termos anóxia e (Kernicterus) passível de comprometer
hipóxia muitas vezes são confundidos no uso seriamente o sistema nervoso central, levando
comum. Anóxia significa privação total de a deficiências (mental, visual, paralisia cerebral)
oxigênio na célula, o que ocasionará sua morte e/ou surdez.
em poucos minutos. Hipóxia é a diminuição Várias causas podem levar a hiperbilirrubine-
acentuada do oxigênio em nível celular. As mias: incompatibilidade Rh, infecções
causas são relacionadas a parto demorado ou (toxoplasmose, sífilis, rubéola, citomegalia,
muito rápido, contratilidade uterina insuficiente, herpes simples), hipotireoidismo são algumas
descolamento prematuro de placenta, anestesia delas.
obstétrica, entre outras. Todas essas situações O Kernicterus decorre de uma impregnação
podem levar à lesão cerebral no recém-nascido maciça de bilirrubina no tecido nervoso, com
e conseqüentes deficiências. graves danos encefálicos, levando às condições
II - Prematuridade: considera-se bebê citadas anteriormente.
prematuro aquele que tem idade gestacional
de menos de 37 semanas. Conforme Fontes Fatores pós-natais
(1990), aproximadamente a metade dos casos I - Infecções no sistema nervoso: das
de prematuridade não tem causa definida e a infecções do sistema nervoso, a mais comum
outra metade tem relação com desnutrição e que pode deixar seqüelas é a meningite.
materna, parto gemelar, hipertensão da grávida, Quanto menor a idade da criança, mais graves
entre as causas mais comuns. podem ser as conseqüências: deficiência
Entre os comprometimentos possíveis de mental, surdez e paralisia cerebral. Porém,
acontecer pela prematuridade estão o atualmente, com o diagnóstico precoce e o
35
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

avanço da terapia com antibióticos, os prejuízos usadas para pintar brinquedos artesanais. O
para a criança, em decorrência da meningite, manuseio e a ingestão pela criança (é natural
diminuíram em muito se comparados com os levar à boca objetos que estejam ao alcance
de algumas décadas atrás. das mãos) provoca, dependendo da
A meningite pode ser causada por bactérias, concentração de chumbo no organismo,
vírus, parasitas (cisticercose, toxoplasmose) e seqüelas do tipo deficiência mental, alterações
fungos. motoras e visuais ou epilepsia.
II - Outras condições: A intoxicação, tanto pelo dióxido quanto pelo
2.1 - Intoxicações exógenas: provocadas por monóxido de carbono, é geralmente mortail.
chumbo e óxidos de carbono. O chumbo é Em caso de sobrevivência, o dano cerebral é
componente de tintas, que, muitas vezes, são intenso.
Vinícius de Sá Menezes

Figura A.12: Fator de risco para intoxicação por chumbo

2.2 - Traumatismos cranianos: relacionados mica: esses fatores, também denominados de


a acidentes domésticos ou de trânsito, ou a ambientais, conforme Pacheco e Valencia (apud
agressões pelos adultos, que vem aumentando BAUTISTA, 1997) são responsáveis pela maioria
a incidência nos últimos anos. Embora não seja dos casos de deficiência mental leve ou
comum, a deficiência mental como conseqüên- deficientes culturais-familiares, quando não se
cia do traumatismo pode ocorrer. Mais graves relacionam a causas orgânicas definidas e
são as seqüelas na área psicológica quando o provêm de famílias de baixo nível cultural e
traumatismo craniano é resultante de agressões socioeconômico.
por parte dos pais ou familiares muito próximos. Pesquisadores (Steim Susser, Cordier,
2.3 - Subnutrição e privação socioeconô- Cyntrin), citados por Ajuriaguerra (1976),
36
UNIDADE A

apontam uma incidência maior de deficiência cidade para toda e qualquer aprendizagem.
mental nas camadas sociais menos favorecidas. Feita essa ressalva, apresentaremos,
Nos fatores pré-concepcionais, já foram baseados em Pacheco & Valência (apud
abordadas algumas variáveis contidas em BAUTISTA, 1997), algumas características
condições socioeconômicas deficitárias, e cabe conforme os níveis de deficiência mental,
reafirmar que não podemos, a priori, considerar lembrando que se classificam comportamentos
como determinantes para a deficiência essa e não pessoas.
situação de déficit em alguns segmentos - deficiência mental ligeira (ou leve): é
populacionais. identificada na escola devido a dificuldades na
Isso não significa "menosprezar", "tirar a aprendizagem apresentadas pelo aluno. O No encerramento
desse item, em que
importância" da subnutrição como um fator de atraso é mínimo nas áreas perceptivas e foram apresentadas
risco para a deficiência. Porém, novamente motoras. As pessoas desenvolvem aprendiza- algumas possíveis
causas (as mais
cabe o alerta, não se pode afirmar que toda gens sociais e de comunicação, com capacidade comuns) de desvios
no desenvolvimento,
criança subnutrida, obrigatoriamente, desenvol- de adaptação e integração no mundo trabalho. queremos ressaltar que
a presença de
verá um déficit cognitivo, ou deficiência, ou A grande maioria das pessoas com deficiência
situações de risco não
problemas de aprendizagem, ou qualquer outra mental encontra-se nesse grupo. significam,
obrigatoriamente, o
condição que venha interferir no seu - deficiência mental moderada (ou média): determinismo da
deficiência mental.
desenvolvimento. as pessoas com essa deficiência, embora
apresentem dificuldades na expressão oral,
Caracterização do podem comunicar-se pela fala. Podem adquirir
déficit cognitivo hábitos de autonomia pessoal e social.
Usualmente à caracterização da deficiência Desenvolvem habilidades motoras que
mental, seguem parâmetros pisicométricos, permitem realizar trabalhos simples.
conforme Pacheco & Valência (apud BAUTISTA, - deficiência mental grave: as pessoas com
1997),em que o quociente intelectual (Q.I) essa deficiência, apresentam capacidade de
determina os níveis: ligeiro (leve), moderado, comunicação apesar da fala deficitária. Também
grave e profundo. Baseados nesses critérios, são podem apresentar dificuldades psicomotoras
agrupadas pessoas que pressupostamente significativas, o que não impede o aprendizado
tenham características semelhantes, com de algumas atividades básicas de vida diária.
valorização, geralmente de suas pretensas Necessitam geralmente de proteção pois sua
incapacidades. Deve-se ressaltar que incapaci- autonomia pessoal e social é muito pobre.
dades não são próprias apenas de pessoas com - deficiência mental profunda: as pessoas
deficiência. Qualquer um de nós tem suas com essa deficiência, dependentes em
incapacidades, como também temos dificulda- praticamente todas as funções e atividades, pois
des para uma variedade de ações e/ou aprendi- apresentam um grande comprometimento físico
zagens. Nas pessoas com deficiência mental, e cognitivo. Raramente desenvolvem
as dificuldades são mais significativas na capaci- autonomia para responder a estímulos externos.
dade cognitiva, porém isso não significa incapa- A seguir, reproduziremos o quadro "níveis
37
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

de comportamento adaptativo" de Sloan e Birch apresenta características da deficiência mental,


(apud FONSECA, 1987, p. 46), que também considerando faixa etária e níveis de deficiência.

38
UNIDADE A

Quadro A1
Fonte: Sloan e Birch apud FONSECA, Vitor da. Educação Especial. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991, p. 46.

39
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

A personalidade da pessoa com deficiência apud BAUTISTA, 1997); atitudes de piedade e


mental apresenta algumas características que dependência intersocial (FONSECA, 1987);
são mais comuns a esse grupo, porém não são frustrações mais freqüentes frente as exigências
originadas da deficiência, mas podem ser do meio social, podendo ocasionar ansiedade,
produzidas pela condição da deficiência. depressão e/ou agressividade.
Com isso, queremos dizer que não há
características de personalidade próprias, que Implicações e intervenções
sejam únicas da pessoa com deficiência mental, educacionais no déficit cognitivo
mas que a condição da deficiência pode Das alternativas educacionais para a pessoa com
favorecer o aparecimento de comportamentos déficit cognitivo, o MEC / SEESP (1995)
mais comuns a este grupo de pessoas. Não há propõe ações desde o seu nascimento até os
um tipo de personalidade que só apareça no quatorze anos. Essas ações devem contemplar
deficiente mental. Como também não há as necessidades apresentadas por esses
alterações de comportamento que sejam educandos através de uma proposta pedagógica,
exclusivas dessas pessoas, bem como o metodologias e profissionais com formação
deficiente mental, obrigatoriamente, apresenta- adequada que garantam o acesso, a
rá distúrbios no comportamento. Existe um permanência e o sucesso escolar desses alunos.
número significativo de pessoas com deficiência Assim, dos zero aos três anos, destacam-se
mental perfeitamente adaptadas ao meio social, os serviços de estimulação essencial. Esses
sem apresentar alterações significativas de serviços devem ser organizados nas creches,
comportamento. escolas especiais, entre outros. Dos quatro aos
Entre os problemas que podem interferir no seis anos, a criança com déficit cognitivo deve
desenvolvimento da personalidade, estão a ingressar na pré-escola tanto em escolas
dificuldade de estruturar suas experiências; regulares quanto em escolas especiais.
superproteção dos pais (PACHECO & VALENCIA

40
UNIDADE A
Marcus Vinicius Severo de Moura

Figura A.13: Estimulação essencial

A partir dos sete anos até aproximadamente Na unidade seguinte, serão detalhadas e
os quatorze anos, a criança deve participar dos aprofundadas as possibilidades educacionais
espaços das escolas regulares tendo acesso à dessas pessoas.
sala de recursos ou classes especiais, ou de
escolas especiais, instituições especializadas,
entre outros.

41
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Nessa atividade, você deverá, usando o


conhecimento construído na disciplina do
semestre anterior - Produção Midiática para
a Educação - organizar uma campanha, na
mídia disponível em suas cidades, de
prevenção a uma das condições estudadas:
surdez, problemas de aprendizagem ou
déficit cognitivo. Após, deverá ser
disponibilizada no ambiente virtual
conforme orientações do professor da
disciplina.

42
UNIDADE

MODALIDADES
DE ATENDIMENTO
Profa. Soraia Napoleão Freitas

Objetivo da Unidade
Após o estudo do conteúdo e a realização das
atividades propostas, esperamos que você alcance
os seguintes objetivos:
- reconheça os modelos de atendimento
educacional às pessoas com necessidades especiais;
- identifique as características da escola especial,
instituição especializada, classe especial, sala de
recursos, classe hospitalar, ambiente domiciliar e
serviço itinerante.

43
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
A educação inclusiva deve ser efetivada prefe- O atendimento educacional especializado
rencialmente na rede regular de qualquer nível ocorre em espaços escolares e também fora
ou modalidade de ensino, viabilizando a dele. Assim, os itens abaixo são considerados
inclusão de alunos com necessidades especiais, alternativas de procedimentos didáticos
promovendo a organização de classes comuns específicos e adequados às necessidades
e de serviços de apoio pedagógico especiali- educacionais do aluno da educação especial.
zados. Nesse sentido, na inclusão de alunos com Além disso, implicam espaços físicos, recursos
necessidades educacionais especiais em classes humanos e materiais diferenciados. São eles:
comuns do ensino regular, como objetivo das escola especial, instituição especializada, classe
políticas públicas de educação, exige constante especial, sala de recursos, classe hospitalar,
interação entre os professores da classe comum ambiente domiciliar e serviço itinerante.
e os dos serviços de apoio pedagógico
especializados.
Vinícius de Sá Menezes

Figura B.1: Modelos de atendimento educacional às pessoas com necessidades especiais.

44
UNIDADE B

1 Escola especial
Essa modalidade de atendimento caracteriza- Educação Especial no Sistema Estadual de
se como uma Ensino do Estado do Rio Grande do Sul, "a
escola credenciada será autorizada a oferecer
instituição especializada, destinada a prestar
(...) um ou mais níveis da educação básica na
atendimento psicopedagógico a educandos
portadores de deficiências e de condutas modalidade de educação especial." (Art.
típicas, onde são desenvolvidos e utilizados, 3°§1°). Dessa forma, as escolas especiais
por profissionais qualificados, currículos
adaptados, programas e materiais didáticos credenciadas devem contemplar em sua
específicos (Política Nacional de Educação organização: matrícula e atendimento
Especial, 1994, p. 20).
educacional especializado nas etapas e
modalidades da Educação Básica previstas em
Segundo a Resolução n°02/01, a qual lei e no seu rendimento escolar;
institui as Diretrizes Nacionais para a Educação encaminhamento de alunos para a educação
Especial na Educação Básica, serão os alunos regular, inclusive para a educação de jovens e
da escola especial: indivíduos que apresentem adultos, que deve ser decidido conjuntamente
necessidades educacionais especiais e que com a equipe pedagógica da escola e a família
"requeiram atenção individualizada nas do aluno (Resolução N°02/01 - Art. 10° §3);
atividades da vida autônoma e social, recursos, parcerias com escolas das redes regulares
ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como públicas ou privadas de educação profissional;
adaptações curriculares tão significativas que a conclusão e certificação de educação escolar,
escola comum não consiga prover" (Art. 10°). incluindo terminalidade específica, para alunos
Esses alunos poderão ser atendidos, em caráter com deficiência mental e múltipla; professores
extraordinário, em escolas especiais, as quais especializados e equipe técnica de apoio;
devem oferecer uma educação escolar de flexibilização e adaptação do currículo previsto
qualidade. na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Conforme consta na Resolução N°267/02, Nacional, nos Referenciais e nos Parâmetros
a qual fixa os parâmetros para a oferta da Curriculares Nacionais.

45
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 Instituição especializada
Segundo a Resolução 130/77, da Lei 5692/ psicológica e pedagógica e que se acham
71, instituições especializadas "são destinadas impedidos de se beneficiar da educação nas
às crianças e adolescentes que necessitam de escolas comuns, em classes especiais ou não".
tratamento especial nas áreas médica,
Vinícius de Sá Menezes

Figura B.2: Instituição especializada

46
UNIDADE B

3 Classe especial
Vinícius de Sá Menezes

Figura B.3: Classe especial

A classe especial constitui-se como uma "alunos que apresentem dificuldades


acentuadas de aprendizagem ou condições de
sala de aula em escolas de ensino regular,
comunicação e sinalização diferenciadas dos
organizada de forma a se constituir em
ambiente próprio e adequado ao processo demais alunos e demandem ajudas e apoios
ensino/aprendizagem do alunado da intensos e contínuos" (Art.9°).
educação especial. Nesse tipo de sala
especial, os professores capacitados, Conforme consta nas Diretrizes para a
selecionados para essa função, utilizam Implantação e Funcionamento de Classes
métodos, técnicas e recursos pedagógicos
especializados e, quando necessário Especiais do Estado do Rio Grande do Sul
equipamento e materiais didáticos (classes para estudantes com deficiência
específicos. (Política Nacional de Educação
Especial, 1994, p.19) mental), o encaminhamento de alunos para essa
modalidade de atendimento deve ocorrer após
As Diretrizes Nacionais para a Educação análise realizada pela Coordenadoria Regional
Especial na Educação Básica (2001) dispõem de Educação, juntamente com a escola,
que as escolas podem criar, extraordinariamente, mediante avaliação pedagógica e laudo de
classes especiais para o atendimento de equipe interdisciplinar.
47
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

O atendimento em classes especiais deve - o professor deve participar dos momentos


assegurar os seguintes critérios: de planejamento e formação da escola;
- organização das classes através das - o aluno deve ter acesso às atividades
necessidades educacionais apresentadas pelos realizadas pela escola.
alunos, ou seja, sem agrupar alunos com As Diretrizes Nacionais para a Educação
diferentes tipos de deficiência; Especial na Educação Básica (2001) garantem,
- construção de conhecimento e garantia da ainda, aos alunos atendidos nessa modalidade,
aprendizagem e desenvolvimento do aluno; o desenvolvimento, quando necessário, de
- número de alunos por sala: máximo: 15; "atividades de vida autônoma e social no turno
mínimo: 8; inverso" (Art. 9°- §1°), bem como, o seu retorno
- plano de trabalho: construído a partir do à classe comum. Esse retorno deve ser decidido
plano de Estudos da Educação Infantil, dos Anos conjuntamente com a equipe pedagógica da
Iniciais do Ensino Fundamental, ou da Educação escola e a família do aluno (Art. 9°- §2), visto
de Jovens e Adultos; que essa modalidade de atendimento deve ser
- professores especializados em Educação de "caráter transitório" e, portanto, se constituir
Especial; como uma ponte para a futura inclusão do aluno
- equipamentos e materiais específicos; com necessidades educacionais especiais no
- adaptações curriculares; ensino regular.

48
UNIDADE B

4 Sala de recursos
De acordo com as Diretrizes Nacionais para a e apresentação, pela família, de laudo de
Educação Especial na Educação Básica (2001, avaliação realizada por equipe interdisciplinar;
p. 50), a sala de recursos é um serviço: caso o aluno seja egresso de classe especial é
suficiente a apresentação do parecer
de natureza pedagógica, conduzido por
pedagógico.
professor especializado, que suplementa (no
caso dos superdotados) e complementa O atendimento em sala de recursos deve
(para os demais alunos) o atendimento assegurar os seguintes critérios:
educacional realizado em classes comuns
da rede regular de ensino. Esse serviço - atendimento individualizado e/ou
realiza-se em escolas, em local dotado de pequenos grupos;
equipamentos e recursos pedagógicos
adequados às necessidades educacionais - carga horária máxima: três horas semanais;
especiais dos alunos, podendo estender-se - no mínimo deve ser realizado um
a alunos de escolas próximas, nas quais ainda
não exista esse atendimento. Pode ser atendimento semanal;
realizado individualmente ou em pequenos - o atendimento deve ocorrer sempre em
grupos, para alunos que apresentem
necessidades educacionais especiais
turno diferente da classe comum.
semelhantes, em horário diferente daquele É de responsabilidade do professor de sala
em que freqüenta a classe.
de recursos:
- dar apoio pedagógico aos alunos em sala
Ainda, as Diretrizes para a Implantação e de recursos;
Funcionamento de Salas de Recursos na Rede - prestar assessoria e suporte teórico-prático
Pública Estadual do Estado do Rio Grande do aos professores do ensino regular;
Sul (área da deficiência mental), estabelecem - realizar entrevistas com as famílias dos
critérios para o encaminhamento de alunos, alunos;
para o atendimento e as responsabilidades do - deslocar-se às escolas de origem de seus
professor da sala de recursos. alunos;
O encaminhamento dos alunos para essa - participar do processo de avaliação
modalidade de atendimento pode ocorrer de pedagógica na escola.
três formas: pela Coordenadoria Regional de Cabe ainda ressaltar que o atendimento em
Educação, no caso do aluno necessitar desse sala de recursos não isenta a freqüência do
atendimento e ser oriundo de uma escola da aluno em classe regular, pois esta modalidade
região que não possua sala de recursos; pelo é um recurso para favorecer a inclusão do aluno
professor, quando o aluno for da escola, e não uma modalidade de substituição do
mediante avaliação pedagógica realizada por ele ensino regular.

49
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

5 Classe hospitalar
Essa modalidade constitui-se como um especial e que estejam em tratamento
"ambiente hospitalar que possibilite o hospitalar" (Política Nacional de Educação
atendimento educacional de crianças e jovens Especial, 1994, p. 20).
internados que necessitem de educação

Sabemos que, na
classe hospitalar e no
atendimento
pedagógico domiciliar,
o processo de
integração com o
sistema de saúde se dá
através de condições
clínicas como
Vanessa Pinheiro Reyes

dificuldades de
locomoção, imobilidade
parcial ou total, horários
para a administração de
medicamentos, efeitos
colaterais a Figura B.4: Classe hospitalar
determinados fármacos,
efeitos de dores
localizadas ou Conforme o documento Estratégias e temporária ou permanente". Para o atendimento
generalizadas,
indisposição geral Orientações para Classes Hospitalares e em classe hospitalar, poderá ser organizada uma
decorrente de
determinado quadro de
Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL, sala específica ou utilizarem-se os espaços para
adoecimento; e de 2002, p. 15), os alunos das classes hospitalares atendimento educacional. Cabe ressaltar, ainda,
condições individuais
tais como o repouso são "(...) educandos cuja condição clínica ou que, em virtude das restrições da condição
relativo ou absoluto, a
necessidade de estar cujas exigências de cuidado em saúde clínica ou do tratamento do aluno, o
acamado e a utilização
interferem na permanência escolar ou nas atendimento poderá ocorrer na enfermaria, no
constante de
equipamentos de condições de construção do conhecimento ou, leito ou no quarto de isolamento.
suporte à vida.
ainda, que impedem a freqüência escolar,

50
UNIDADE B

6 Ambiente domiciliar
De acordo com o documento de Estratégias e Diante disso, entende-se que o processo de
Orientações para Classes Hospitalares e integração com o sistema de saúde se efetuará
Atendimento Pedagógico Domiciliar (BRASIL, mediante condições clínicas, tais como:
2002, p. 13), os alunos do atendimento dificuldades de locomoção, imobilidade parcial
domiciliar são ou total, horários para administração de

(...) alunos matriculados nos sistemas de


medicamentos, efeitos colaterais a determina-
ensino, cuja condição clínica ou exigência de dos fármacos, efeitos de dores localizadas ou
atenção integral à saúde, considerados os
generalizadas, indisposição geral decorrente de
aspectos psicossociais, interfiram na
permanência escolar ou nas condições de determinado quadro de adoecimento. Ainda,
construção do conhecimento, impedindo
poderaá se efetivar derivado de condições
temporariamente a freqüência escolar.
individuais: repouso relativo ou absoluto,
Nesse sentido, deve-se estabelecer parcerias necessidade de estar acamado, utilização
com serviços de saúde e de assistência social constante de equipamentos de suporte à vida.
para providenciar a adaptação do ambiente Considerando essas condições, o documen-
domiciliar, de acordo com as necessidades do to Estratégias e Orientações para Classes
educando (cama especial, cadeira de rodas, Hospitalares e Atendimento Pedagógico
eliminação de barreiras para favorecer o acesso Domiciliar (BRASIL, 2002) mostra que essas
a outros ambientes da casa, entre outros). modalidades de atendimento devem prever:
a) adaptações de recursos e instrumentos
didático-pedagógicos, tais como jogos e
As Diretrizes Nacionais para a Educação materiais de apoio pedagógico, utilização de
Especial na Educação Básica (2001, p. 52), pranchas com presilhas e suporte para lápis e
expressam que os objetivos das classes papel, entre outros;
hospitalares e do atendimento em b) orientação dos aspectos pedagógicos pelo
ambiente domiciliar são: correspondente à Educação Básica, de forma
dar continuidade ao processo de flexibilizada, sempre que necessário;
desenvolvimento e ao processo de
c) facilitação do processo de reintegração
aprendizagem de alunos matriculados em
escolas da Educação Básica, contribuindo ao espaço escolar do aluno que ficou
para seu retorno e reintegração ao grupo
temporariamente impedido de freqüentá-lo.
escolar; e desenvolver currículo
flexibilizado com crianças, jovens e adultos Sugere-se manutenção do vínculo com a escola
não matriculados no sistema educacional durante o período de afastamento por meio
local, facilitando seu posterior acesso à
escola regular. de: espaços específicos de convivência escolar;
visitas dos professores ou colegas da escola;

51
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

interlocução com os familiares do educando; d) inclusão do professor junto à equipe


elaboração de referência entre atendimentos que coordena o projeto terapêutico individual.
e escola de origem.
Vinícius de Sá Menezes

Figura B.5: Ambiente domiciliar

52
UNIDADE B

7 Serviço Itinerante
A itinerância consiste no necessidades educacionais especiais e com
serviço de orientação e supervisão pedagógi- seus respectivos professores de classe
ca desenvolvida por professores especializa- comum da rede regular de ensino. (Diretrizes
dos que fazem visitas periódicas às escolas Nacionais para a Educação Especial na
para trabalhar com os alunos que apresentem Educação Básica, 2001, p. 50).
Vinícius de Sá Menezes

Figura B.6: Serviço itinerante


53
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

54
UNIDADE B

Texto complementar
Para você saber mais
Escolha um dos modelos de atendimento Atendimento educacional no Hospital sobre esse assunto
acesse
educacional apresentados e realize Universitário de Santa Maria / RS www.mec.gov.br,
Secretaria de Educação
observações. Para isso, torna-se importante Leodi Conceição Meireles Ortiz Especial, Catálogo de
Publicações, e leia na
que estabeleçamos alguns tópicos principais Profª. Ms. Coordenadora do Setor Educacional do
integra os documentos
a serem analisados. De acordo com os Serviço de Hemato-Oncologia/HUSM/UFSM "Diretrizes Nacionais
para a Educação
temas abordados nessa unidade, os Soraia Napoleão Freitas Especial na Educação
Básica" e "Classe
aspectos selecionados são: Profª. Drª. Orientadora de Projetos de Pesquisa/Curso
Hospitalar e
- como a modalidade de atendimento está de Educação Especial/Centro de Educação/UFSM Atendimento
Pedagógico Domiciliar".
estruturada;
- está de acordo com as definições Trazer a história de criação do atendimento
estudadas; educacional do Hospital Universitário de Santa
- aspectos que para você podem ser Maria (HUSM), órgão suplementar central da
diferentes; Universidade Federal de Santa Maria(UFSM),
- como funciona o voluntariado, estágio, faz retroceder o tempo em 14 anos,
trabalho para os educadores especiais. relembrando sentimentos corajosos e utópicos
Após a visita/observação disponibilize seus de implantar a escola, com sua cor e som, no
registros no ambiente virtual, conforme as mundo branco hospitalar, para que, finalmente,
orientações do professor da disciplina. inspiradas à luz da memória, o sentido docente
revolucionário ressurja com a certeza de que a
utopia tornou-se realidade vivida.
Há uma obrigatoriedade, neste momento,
de lançarmos mão de algumas passagens
vivenciadas a serem utilizadas como escopo
para demarcarmos a história da construção
coletiva do atendimento escolar hospitalar do
HUSM.
Com o intuito de legitimar o primeiro olhar
no contexto supra citado, de 1991 a 1992,
houve, no Setor de Pediatria, o lançamento do
projeto de pesquisa "O papel do educador
especial no ambiente hospitalar". Logo a seguir,
introduz-se o projeto de extensão "Promoção
das condições de vida infantil através da
intervenção pedagógica em ambiente
hospitalar" no período de 1993 a início de
1995. Dessa forma, cristalizam-se as bases para
55
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

o diálogo entre a teoria e a prática. educacional; recreação e sociabilização;


Este projeto teve, dentre os seus objetivos, psicomotricidade, alongamentos e dança;
viabilizar, através de princípios lúdicos, o expressão artística e musical; formação do leitor;
atendimento pedagógico, sinalizando o acompanhamento escolar personalizado;
brinquedo, desenhos e histórias como recursos contadoras de histórias no leito; "atelier"
para exteriorizar medos, angústias e significados pedagógico e produção/divulgação do Jornal de
sobre a doença, saúde, família, escola e Brincadeira - publicação anual da classe
hospitalização. Logo, a busca de saúde, através hospitalar.
do lúdico, oportunizou oficinas de alfabetização, É importante vivenciar que o conhecimento
artes plásticas e expressão dramática a cerca pode ser percebido como um jogo para o infantil
de 820 crianças. e que a educação tem poder, quando cumpre
Tais dados demarcam a concepção de que seu papel de transformar o mundo que está
a criança hospitalizada deve ser pensada/ posto a ele, um mundo singular, repleto de
atendida, não pela lógica da falta, mas como medo, de distanciamento, de dor, para
pura diferença no mundo dos acontecimentos presentificar a sensibilidade, o diálogo e instituir
sempre singulares, sendo ela tão plena como o respeito à linguagem simbólica do enfermo.
todas as outras e o que lhe resta, não é atingir Em 2003, o projeto de pesquisa "Inteligên-
o que lhe falta ser, adquirir um desempenho cias múltiplas: desenvolvendo potencialidades
compatível com as normas da sociedade, mas em classe hospitalar" perseguiu o objetivo de
expandir o que é, ou seja, afirmar-se em sua analisar as dificuldades e habilidades dos
diversidade. pacientes-alunos, utilizando atividades de cunho
Em 1995, o projeto de extensão "Educação pedagógico para desenvolver a cognição, tendo
e saúde: uma proposta para o Serviço de como supor te a Teoria das Inteligências
Hemato-Oncologia" firma, definitivamente, a Múltiplas de Howard Gardner.
aposta no atendimento de cunho Ao serem planificadas as etapas desta ação
essencialmente educativo, com identidade pedagógica, por decisão dos pacientes, foi
lúdica e interdisciplinar. O plano de ensino foi escolhido o teatro circense como atividade de
aos poucos sendo gestado, primeiro foi pensada referência. Tal ação evoluiu em momentos
a atenção educativa para a maioria dos definidos, sempre pontuando que as atividades
pacientes, os ambulatoriais; em seguida, fez-se foram moduladas e executadas pelos pacientes-
uma chamada para verificar a situação de alunos: tomada de decisão sobre o tema da
escolaridade das crianças, encaminhando-as à peça e discussão quanto aos personagens;
escola regular ou ao regime de estudos desenho do personagem escolhido e seu
domiciliares, para, finalmente, atender os respectivo traje; confecção das fantasias e
pacientes internados na unidade de tratamento. adereços; estabelecimento das falas e ações dos
Ao longo de 1995 a 2002, a assistência personagens; escolha das músicas, sonoplastia
escolar hospitalar primou pelo advento de e coreografia da peça; ensaios e apresentação
oficinas pedagógicas: hora do conto; informática final.
56
UNIDADE B

Com base nos achados da referente pesquisa, Atualmente, esta modalidade de ensino
em 2004 optou-se por estimular as apresenta uma abordagem de trabalho
inteligências inter e intrapessoais das crianças multifacetado, com o cuidado de aglutinar
em tratamento no Serviço de Hemato- diversos olhares à ambiência, sem perder de
Oncologia. Para tanto foi preciso focar o olhar vista a sua função precípua que é a ação
nas manifestações relacionadas a auto-estima, educativa. O fato educativo - programa de
auto-imagem e autoconceito. A metodologia educação personalizada com contornos de
desta prática privilegiou atividades como investimento no potencial de educabilidade do
desenho do auto-retrato, brincadeiras ensinante hospitalizado - desenha uma
envolvendo esquema corporal, jogos com humanização da assistência em saúde pincelada
espelhos, exercícios posturais e técnicas de com matizes de atenção à alteridade.
desempenho em passarela para, finalmente,
chegar à culminância da proposta: o desfile de
modas.

57
58
UNIDADE

A DINÂMICA
FAMILIAR
Profa. Melânia de Melo Casarin

Objetivo da Unidade
Após o estudo do conteúdo e a realização das
atividades propostas, esperamos que você alcance
os seguintes objetivos:
- situe a família como esfera geradora de valores, de
comportamentos e passível de mudanças ao longo
do tempo;
- identifique as etapas que a família vive, ou seja,
seu ciclo vital;
- compreenda o papel da família de crianças com
necessidades educacionais especiais.

59
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Introdução
A árdua e complexa tarefa de educar os filhos construção efetiva-se muito mais nos modelos
imprime um desafio cotidiano aos pais. Muitas percebidos na célula familiar, isto é, nos valores
vezes, ao procurarem por um profissional para que permeiam as atitudes do pai e da mãe.
auxiliá-los sentem-se inseguros ou ameaçados Considerando esses pressupostos, temos
pela possibilidade de serem julgados pelos seus que, ao longo dos tempos, a família tem se
erros e pela má condução na solução de diferenciado muito, evidenciando as
problemas ou, até mesmo, nos tensos e transformações que o mundo vem vivendo.
sublimes envolvimentos com seus filhos. Nessa unidade da disciplina, abordaremos a
Tanto os envolvimentos mais tensos como família como esfera geradora de valores, de
os mais sublimes exigem reflexão, tolerância e comportamentos e passível de mudanças ao
muita dedicação por parte dos pais. Porém, longo dos tempos: núcleo gerador de
sabemos que por mais complexa que seja a arte identidades doentes ou sadias.
de educar os filhos ela é imprescindível e Ainda, mostraremos como esse grupo,
apresenta-se como fundamental para a chamado família, se organiza, destacando as
construção de um novo ser. Sabemos que essa etapas que a instituição família vive, ou seja, o
construção se dá num processo dinâmico e ciclo vital, e as relações existentes com a
permanente nas minúsculas cenas do cotidiano dinâmica familiar.
familiar. Nesse processo educador, emergem a Para finalizar, abordaremos aspectos vividos
liberdade dos filhos e a necessidade de preparo na dinâmica de uma família que possui pessoas
por parte dos pais para enfrentar o papel que a com necessidades educacionais especiais,
paternidade lhes impõe. destacando seu papel no desenvolvimento
Nesse conjunto de dinâmicas relações, pais desse ser e enfocando o envolvimento parental
e filhos interagem numa sucessão de eventos como fator de sucesso dessa criança.
compartilhados e compartilháveis, tornando as Cabe salientar que, apesar de não estar
vivências, instâncias de cumplicidade e de sendo apresentada conforme a ordem do
construção individual e social. Contudo, programa da disciplina, esta unidade contempla
sabemos que no iniciar de nossas vidas essa todos os itens aí relacionados.

60
UNIDADE C

1 A instituição família
ao longo dos tempos
O conceito de família tem variado muito através O sociólogo francês citou o clã totêmico
dos tempos. Esse conceito pode significar como origem da família primitiva, e que todas

Paulo César Cipolatt de Oliveira


indivíduos que têm o mesmo sangue, que usam as sociedades dele partiram.
o mesmo nome / teto ou indivíduos que se Para Spencer, a família teve a seguinte
acham reunidos pela vizinhança. evolução: promiscuidade, matriarcado, patriar-
Hoje, a família é o grupo social formado cado, monogâmica. Émile Durkhein
Sociólogo francês que
pelo pai, mãe e filhos, constituindo-se elemento - Promiscuidade: a fase em que o homem viveu entre 1858 a
básico da sociedade. É o conjunto de pessoas mais se aproximou dos animais, desconhecendo 1917. Para ler mais
sobre o autor acesse o
unidas pelos laços sangüíneos, sendo, portanto, totalmente a instituição da família. As reuniões site www.mundoda
ciencia.com.br/
instituição de natureza biológica, psicológica, eram momentâneas, obedecendo simplesmen- sociologia/durkein.htm.
Leia também o caderno
econômica, moral e espiritual. te ao instinto sexual.
da disciplina
Como instituição, o conceito de família - Matriarcado: essa fase já dava maior Fundamentos
Históricos, Filosóficos e
perde-se na história dos tempos, não se estabilidade à família, sendo a mãe o cabeça Sociológicos da
Educação II.
podendo estabelecer quando teve início. do grupo, administrando e determinando tudo
Inicialmente, o homem vivia em bandos, até que se referia à família.
que, através de outros momentos, o bando Patriarcado: é o regime que teve Clã Totêmico
Grupo de indivíduos
começou a dividir-se em famílias. continuidade até o século passado, no qual o que se consideravam
parentes,
De acordo com a Escola Sociológica de pai, todo poderoso, tinha autoridade absoluta reconhecendo esse
Émile Durkhein, desde o inicio da humanidade sobre todos os membros. Seus poderes eram parentesco por um
sinal particular
houve família. Essa família, num sentido ilimitados, tinha o direito de vida e de morte chamado totem, o qual
podia ser algo animado
totalmente diverso, sem nenhuma ligação de sobre seus parentes. Todos viviam sob o regime ou inanimado.
Geralmente, era um
parentesco, baseada apenas em uma crença patriarcal no qual o pai era visto e respeitado vegetal ou animal do
comum, num sentimento comum. Tal como o chefe, com autoridade absoluta dando qual o grupo supunha-
se descendente,
grupamento era chamado de clã totêmico. ordens a todos. servindo de emblema
ou nome coletivo. Por
exemplo, se o totem
fosse um lobo, todos
os membros do clã
acreditavam ter um
lobo como sua origem,
seu primeiro
antepassado,
conservando sua
descendência de lobos.
Assim, o totem era o
pai ancestral do clã.

61
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

políticas, sociais e econômicas ocorridas ao


longo da evolução da espécie humana. Por isso,
o desenvolvimento do grupo familiar está
premiado de mudanças. A família, como um
sistema organizado, não apresenta um
desenvolvimento uniforme (MUNHÓZ, 2003).
Nos primeiros registros existentes, tratava-
se como elo principal da família a procriação
com supremacia do homem sobre a mulher. As
mulheres estavam submetidas aos seus maridos,
não tinham direitos políticos ou jurídicos,
Vanessa Pinheiro Reyes

vivendo grande parte da vida reclusas. Isso


caracterizava o sistema patriarcal vigente nesse
Figura C.1: Regime patriarcal período. Com o passar dos tempos e mudanças
nas sociedades antigas, a família foi constituindo-
Monogâmica: é considerada a última fase se como a mais sólida instituição social.
evolutiva da família e que permanece até nos- De acordo com Osório (2002), é entre os
sos dias. O Estado começa a sentir a importância romanos que a família consolidou-se como
e o valor da família, considerando-a coluna mes- instituição e apresentou as mais significativas
tra da sociedade e, quanto mais forte a família, variações e transformações.
conseqüentemente, mais forte será o Estado. Segundo o mesmo autor, é no "fim da Idade
A família monogâmica é mais estável, mais Média, com o nascimento da industrialização,
unida, seus membros mais responsáveis entre o espírito de iniciativa individual insurge-se
si e com mais responsabilidade social. A família contra a estrutura patriarcal (...) e dá origem a
monogâmica surgiu como produto da evolução social. novos contextos familiares, pela escolha
A família ao longo dos tempos sofreu severas recíproca de parceiros para a união
alterações. Para Munhóz, (2003, p. 32): matrimonial" (OSÓRIO, 2002, p. 44). A
autoridade patriarcal permanece, ainda que
A instituição família é tão antiga quanto a
externa ao núcleo familiar.
humanidade, tendo se modificado ao longo
dos tempos, A família, no percurso da história Segundo Munhóz (2003, p. 33-34),
tem a característica de ajustamento, não
tendo permanecido a mesma; muito pelo
Até então o casamento segundo a ordem
contrário; sua constante evolução tem patriarcal, objetivava a transmissão e manu-
mostrado um ritmo incessantemente rápido tenção dos bens constituídos do patrimônio.
que acompanha a característica social da
Sua realização ocorria em função da
sociedade desse tempo. manutenção do status do poder. Assim, a
organização familiar servia para a
As mudanças ocorridas na sociedade estão continuidade da manutenção do sistema de
dominação político econômico.
diretamente relacionadas com alterações

62
UNIDADE C

Na época contemporânea, ao escolher o que surgissem problemas como: deslocamentos


parceiro não se vivencia valores que constatam das famílias dos pequenos para os grandes
desejos familiares, é uma opção pessoal muito centros urbanos, enfrentando sérias dificuldades
mais individual do que uma iniciativa de cunho de moradia, condução, poluição e desemprego.
social. Principalmente, a mulher tem a liberdade Esses fatos causaram uma inversão de
de escolher seu marido. valores e, conseqüentemente, provocaram um
Para caracterizar a família contemporânea desgaste na família. Não se pode negar a
podemos lembrar que, após a 1ª Guerra modificação que a família sofreu em sua
Mundial, inicia-se a libertação da mulher, tanto significação e estrutura nesses últimos anos. É
da esposa como das filhas. A mulher não vê difícil fazer uma comparação entre a família de
mais o marido como amo e senhor. A mulher hoje e a de 30 ou 40 anos atrás.
adquire o direito de ser eleitora, de trabalhar Devido à grande importância do lar, na
fora de casa, ocupar cargos públicos, surgindo formação da personalidade da criança, essa nova
assim as suas grandes conquistas. estrutura familiar deve ser considerada pela
escola. Os educadores devem estar conscientes
das mudanças que têm ocorrido na estrutura
familiar como: a diminuição do número de
filhos; maiores encargos laborais assumidos
pelos pais incorrendo na ausência no ambiente
do lar, incorrendo também no declínio do
trabalho feito em casa; ampliação da jornada
da criança na escola; aumento das atribuições
de formação dessa criança por parte da
instituição escolar.
Para melhor explicitar o perfil das
transformações ocorridas no núcleo familiar nos
Vanessa Pinheiro Reyes

diferentes momentos da história, usaremos


uma divisão apresentada por Osório (2002, p.
Figura C. 2: Família contemporânea 45), que aponta quatro modelos de família: a
aristocrática dos séculos XVI E XVII, a camponesa
A ciência e a tecnologia construíram, em dos séculos XVI e XVII, a burguesa do século
poucos anos, um novo mundo, o mundo da XIX, a operária do século XIX e a família da
velocidade, das comunicações, das descobertas, "Aldeia Global".
das invenções e realizações. Tudo isso fez com

63
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Ilustrações: Vinícius de Sá Menezes

Quadro C1
Fonte: Adaptado de OSÓRIO, L. C. Casais e Família : uma visão contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2002, p.45.
64
UNIDADE C

65
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Percebemos, assim, as mudanças na família é considerada nosso principal ponto de


estrutura familiar identificando a influência que referência. Iniciamos nossa história dentro da
os aspectos sócioculturais da humanidade história da nossa família.
exercem sobre a instituição família. Nicoloso (1997, p. 29), ao falar sobre a
Considerando esta como "produzida e família elucida:
produtora, reflexo e refletora das relações sociais
Esta pode ser a mais variada possível. Com
mais amplas" (D' ANTINO, 1988, p. 30).
arranjos por parte de parentesco
consangüíneo ou não, o que interessa e o
Função da família que legitima como tal é a qualidade dos laços
afetivos (que constituem a base de
Sabendo-se que existem vários tipos de sustentação desses grupos que
família coexistentes em nossa sociedade (pais compartilham a vida quotidiana) e o espaço
que iremos conquistar neste grupo ao longo
casados, recasados, solteiros ou viúvos, várias de nossa existência (fundamental para o
gerações vivendo na mesma casa, pais desenvolvimento da personalidade e da
individualidade).
biológicos e adotivos, grupos de amigas que
vivem juntas com os filhos de todas...),
percebemos que as estruturas familiares, por Macedo (apud Nicoloso, 1997, p. 29) diz
mais diversificadas que sejam, existem devido ainda que
a inerente necessidade de o homem viver em
O que define a família, ao nosso ver, são as
grupos, consideram essa uma necessidade
funções desempenhadas por seus membros
humana fundamental, requisito básico para seu em suas inter-relações, podendo assim
apresentar-se como família um cem número
desenvolvimento.
de arranjos entre membros como tais
É quase impossível pensarmos em um características de lealdade, afeição e
indivíduo crescendo e desenvolvendo-se durabilidade de pertinência (...) onde a
pertinência a uma família é algo permanente.
isoladamente dos demais, ou seja, na ausência Não é possível demitir-se da família.
das relações dos grupos sociais e, nesse caso,
da família (NICOLOSO, 1997 ). Através desses estudos, podemos perceber
Nesse momento, devemos pensar na família a impressão fundamental que uma família
como um grupo social composto por pessoas exerce na construção do ser humano. Aí
que se relacionam, ligadas por um forte tratamos da instituição família como um todo,
elemento afetivo, que entram nesse grupo pelo desde as mais tenras necessidades que ela
nascimento, ou adoção e somente deixam de supre, como as estruturas emocionais
fazer parte no momento da morte. responsáveis na construção da identidade e da
Todo o ser humano necessita de um ponto personalidade dos familiares.
de referência. Ao nascermos, somos frágeis, A função da família é possibilitar a
dependentes, necessitamos dos cuidados dos sobrevivência dos membros familiares, assim
familiares, principalmente dos maternos. como contribuir para o desenvolvimento de
Necessitamos de alguém que nos cuide, zele todos de forma harmoniosa e saudável,
por nossa saúde física e emocional. Por isso, a envolvendo todos os que ali pertencem,
66
UNIDADE C

constituindo essa interação uma complexa teia Enquanto microestrutura social, a família foi,
e continuará a ser, o primeiro e mais
de relações, através dos diferentes familiares importante" berço "do indivíduo, tendo como
como: avó, avô, mãe, pai, filho, filha, irmão, função original satisfazer as necessidades,
físicas, afetivas e sociais da criança. Como
irmã. "berço" cumpre , também, a função de
Segundo D'Antino (1988, p. 31), mediadora original entre a criança e o mundo
sociaL. Esta microestrutura social funciona,
ao mesmo tempo, como representante e
É através da teia de relações vividas em intermediária das relações sociais mais
família; do estabelecimento e entendimento
amplas , possibilitando à criança a formação
dos papéis desempenhados pelos seus de sua primeira identidade social (D'
membros; dos valores, das normas e regras ANTINO, 1988, p. 31).
familiares; que a criança aprende a se
relacionar com o meio extrafamiliar. Ou seja,
o núcleo familiar tem, dentre outras, uma Percebendo a família como maior
função sócio-emocional apresentando-se ao
indivíduo como o modelo de ser e estar no responsável pela formação dos indivíduos, como
mundo. meio norteador da história da humanidade, e
por isso grande responsável pelas mudanças
Para que os educadores tenham uma melhor ocorridas, Osório (2002) identifica que o grupo
compressão sobre a dinâmica familiar, citamos familiar possui funções, que serão as
aportes teóricos sobre o funcionamento e a responsáveis tanto pelo seu destino quanto por
organização desse grupo. sua origem, descrevendo-as de forma separada,
Existem diferentes tipos de estrutura mas considerando-as como interdependentes.
familiar. Esta surge e se adapta conforme o De acordo com o autor (2002), essas
desenvolvimento e mudanças de toda a funções são: biológicas, psicológicas e sociais.
sociedade. A partir de sua estrutura, a família Na biológica, a função da família não está
vai efetuar suas funções, sejam estas sociais, relacionada única e puramente com a
sejam pessoais, tornando-se responsável pelos reprodução, mas "sim no assegurar-se à
indivíduos que origina. sobrevivência dos seres através dos cuidados"
Considerando a família como uma (OSÓRIO, 2002, p.19), ou seja, a função
microestrutura, D'Antino (1998, p. 30) primordial da família no aspecto biológico é " a
descreve-a como de garantir não a "reprodução " e sim a
"sobrevivência " da espécie através dos
A união de pai, mãe e filhos que se inter-
cuidados ministrados aos recém-nascidos
relacionam afetiva e economicamente,
apresentando umas dinâmicas próprias de (OSÓRIO, 2002, p. 20).
funcionamento, cada qual desempenhando A função psicológica, por sua vez, abrange a
um papel determinado, dentro dos padrões,
normas e valores por ela estabelecidos e de questão afetiva, tão importante quanto os
conformidade com os socialmente aceitos. cuidados dados ao recém-nascido. É a partir
desse afeto que o sujeito irá desenvolver seus
Portanto, o grupo familiar será o espaço aspectos psíquicos, seu emocional. Segundo
imediato de evolução do sujeito. Para o autor: Osório (2002, p. 20),

67
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Poder-se-ia assim dizer que uma primeira e a dinâmica familiar repousa em quem exerce
fundamental função psíquica da família é os papéis parentais, os quais seriam os
prover o alimento afetivo indispensável à responsáveis pela formação biopsicossocial
sobrevivência emocional dos recém- da descendência de acordo com um modelo
nascidos. que por sua vez, provém das gerações
anteriores (...).

Esse aspecto emocional abrange não apenas O ambiente familiar é formado, então, pelas
a criança, mas toda a família, que apresenta ao influências de comportamento entre pais e
longo de sua formação as chamadas "crises filhos. É a partir dessa interação que as relações
vitais". A família, possuindo um bom suporte familiares irão se estabelecer, influenciando
emocional, conseguirá superar essas crises e não diretamente as funções e os papéis que filhos
se desestabilizará. e pais irão assumir, num contínuo processo de
Transmitir as experiências e favorecer o troca.
ambiente para o aprendizado, além de ser uma
função psicológica da família também adentra Influência da família na
na esfera pedagógica. O primeiro, segundo formação da personalidade
Osório (2002, p. 20), "se insere no contexto da criança
da socialização e suas raízes ideológicas e o Sabe-se que é nos primeiros anos de vida que
segundo baliza o processo cognitivo do ser a personalidade é construída. Durante esse
humano, bem como facilita o intercâmbio de processo, os fatos externos são decididamente
informações com o universo circunjacente". responsáveis, exercendo um papel
Já na função social da família, entram como determinante. Nesse sentido, a posição dos pais,
centrais as questões culturais. O autor (2002, seus comportamentos, suas atitudes têm grande
p. 21) diz ainda que "outra das importantes influência.
funções sociais da família, e que a ela é As principais atitudes observadas no
delegada pela sociedade, é a preparação para relacionamento entre pais e filhos, são: rejeição,
o exercício da cidadania". superproteção, perfeccionismo, aceitação.
Essas funções são determinadas e
influenciadas de forma direta pelos pais. De
acordo com Osório (2002, p. 21),

68
UNIDADE C

Lilian Landvoigt da Rosa


Lilian Landvoigt da Rosa

Figura C.3: Rejeição Figura C.4: Superproteção

Rejeição Superproteção
É uma atitude de hostilidade e antagonismo O adulto assume uma atitude de proteção e
que os pais, mais comumente a mãe, assumem preocupação com a criança, atraindo a atenção
em relação à criança. Algumas causas da geral pelo exagero. As causas principais são; filho
rejeição podem ser citadas: incompatibilidade único, filho tardio ou adotivo, morte de irmão,
social dos pais, medo ou desgosto com a moléstia grave, defeitos físicos ou mentais e
gravidez, filhos de pais não casados legalmente, outras. Sua principal manifestação é a
criança de sexo diferente daquele esperado. infantilização, pois o adulto não permite que a
A rejeição traz como conseqüência para a criança cresça psicologicamente. A mãe está
criança agressividade contra o meio ambiente sempre junto da criança e alega que o filho
e os pais; sentimento de insegurança; temores não a deixa. Todas as decisões são tomadas
noturnos; incapacidade de emoção afetiva. pelos adultos. Essas manifestações trazem à
criança um retardo na maturação emocional e
social, acarretando sentimentos de insegurança,
por falta de oportunidade para iniciativa e
independência.

69
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Lilian Landvoigt da Rosa

Lilian Landvoigt da Rosa

Figura C.5: Perfeccionismo Figura C.6: Aceitação

Perfeccionismo Aceitação
É uma forma disfarçada de rejeição. Os pais É uma atitude compreensiva, amorosa e de
não apenas sentem aversão e hostilidade pelos carinho com a criança, em que os pais
filhos, como ainda pretendem modificá-los, demonstram compreender, prestig iar e
refazê-los, deixá-los da maneira como gostariam estimular a personalidade infantil. Reconhece
que fossem. na criança um ser vivo, digno de carinho e de
O adulto procura desenvolver na criança respeito, procurando sempre respeitar acima de
sentimentos a aptidões, tendências e desejos tudo a independência de caráter e iniciativa.
que a criança não sente. Os pais estão dispostos O que leva os pais a uma aceitação é
a fazer nascer essas qualidades, custe o que geralmente o desejo de ter filhos, amor mútuo
custar. Essas qualidades devem ser perfeitas, e compreensão conjugal, conhecimentos de
caso contrário os pais não se satisfazem e levam psicologia e pedagogia infantil.
a criança a frustrações, inseguranças, desânimos Essas manifestações trazem segurança e
e outras atitudes conseqüentes. confiança em si e em suas habilidades,
desenvolvimento satisfatório da personalidade
e do seu equilíbrio emocional, capacidade de
tolerância, estima, interesse e alegria de viver.

70
UNIDADE C

Uma vez aceito o fato de que o ambiente É de fácil constatação que muitos pais
familiar influencia profundamente, modifica e chegam a apresentar verdadeiras crises de
sugestiona, molda e transforma a personalidade angústias em relação à educação dos filhos.
infantil, tão acessível nos primeiros seis anos Tornam-se confusos, ansiosos, pouco objetivos
de vida aos condicionamentos do ambiente, no uso de medidas corretivas, utilizando para
pode-se dizer que o êxito da educação infantil isso castigos físicos, sanções desproporcionais.
é, em síntese, a resposta adequada dos pais as Esquecem, muitas vezes, que dessa forma estão
duas exigências básicas: preservar a vida e o gerando, desenvolvendo na criança ansiedade
crescimento do filho e infundir-lhe amor à vida infantil e insegurança. A ausência da
e ao seu tempo e satisfação pelo fato de ser autoridade paterna, sentida em muitos lares,
menino ou menina. por vários motivos como separação dos pais,
Mas o propósito de preservar a vida e necessidade que o pai passe o dia todo fora de
o crescimento do filho pode conduzir a casa e até algumas horas da noite no trabalho,
resultados opostos. É o caso dos pais faz com que a mãe assuma uma posição
superprotetores. Em seu excessivo zelo, dominante no lar, tomando as decisões sozinha.
pensando e agindo pelo filho, impedem-no de Enfim a influência da família na
tomar iniciativas e construir sua formação da personalidade do indivíduo é básica,
autodeterminação. Tirando-lhe a oportunidade essencial e profundamente significativa. A
de explorar, descobrir, conhecer segundo os comunicação, os valores e a interação social
interesses e recursos de sua própria idade, vivida pela família é que vão, de uma forma ou Apesar de tudo que foi
falado aqui, a verdade
bloqueiam seu crescimento emocional. de outra, determinar o futuro da vida é que muita abnegação
Retido na infância, tímido e dependente, emocional da criança. O lar é essencial e e muita coragem
precisam ter os pais,
cabe ao filho apenas a possibilidade de insubstituível. Somente a afeição familiar dá a especialmente a mãe,
para conseguir a
desenvolver suas capacidades físicas e criança um afetivo sentimento de segurança. emancipação
emocional do filho e
intelectuais. Prepara-se assim um adulto Num ambiente positivo e harmônico, a criança
ajudá-lo a tornar-se
emocionalmente imaturo, ou desajustado tem certeza de que é amada. independente e
responsável pelos seus
socialmente, sofrendo e fazendo sofrer aqueles próprios atos.

que dele se aproximam.

71
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

2 Ciclo vital da família


Vinícius de Sá Menezes

Figura C.7: A família e a pessoa com necessidades especiais

O grupo familiar constitui-se dentro de um ordem não é fixa, pode ser alterada; por um
contexto evolutivo. Durante essa evolução é divórcio, por exemplo, que é a saída de um
que a família irá desempenhar suas funções, dos cônjuges da casa, o que ocasiona o fim do
dando continuidade à espécie e desenvolvendo ciclo vital dessa família.
todos os aspectos dos sujeitos que a formam. Não se pode esquecer que o núcleo familiar
Esse processo determina o ciclo vital da família. é o responsável por transmitir a seus
A idéia do ciclo vital é muito antiga, e está descendentes as regras mínimas para uma
incorporada à religião, mitologia e lenda. Para futura convivência na sociedade. As interações
Pincus & Dare (1981, p.09), os marcos mais vivenciadas na família auxiliarão diretamente no
importantes no ciclo vital da família são os crescimento individual dos sujeitos que a forma.
mistérios universais do nascimento, sexo e Por isso, devemos perceber o ciclo vital da
morte. família como um processo sujeito a mudanças,
Esse ciclo abrange toda a formação familiar, mas que basicamente serve para perpetuar as
desde a união do casal, nascimento e condições mínimas do convívio em sociedade,
crescimento dos filhos, até a morte dos pais, e porque, ao mesmo tempo em que desenvolve
conseqüente dispersão dos descendentes, o seus descendentes, propicia a aprendizagem da
que origina novos núcleos familiares. Essa interação social.
72
UNIDADE C

No caso das famílias que apresentam Adaptando-se a essas mudanças, a família


crianças com necessidades educacionais que tem uma criança com necessidades Para você saber mais
sobre esse assunto
especiais, a questão da relação familiar e do educacionais especiais resolverá os problemas acesse www.ufsm.br/
ciclo vital é muito relevante, pois é dentro dele específicos que surgem, conseguindo efetuar, ce/revista e procure no
caderno edição 2000,
que ocorrerá o principal desenvolvimento dessa ou não, seu papel eficazmente. nº 15 o artigo "O
envolvimento da família
criança. Para Correia (1999, p.150), "as reações dos no processo de
integração / inclusão
Devemos considerar que o ciclo dessa pais à informação de que seu filho é uma criança
do aluno com
família é todo influenciado e modificado pelas com necessidades educativas especiais tem necessidades
especiais" da autoria
reações que a descoberta da deficiência causa sido comparadas às experiências de perda de de Renato Paula Vieira
Lopes e Reinoldo
nos pais e pessoas que participam e convivem alguém amado, por morte ou separação". Marquezan.
com esse núcleo. Elas abrangem o choque, Podemos dizer que os pais também
seguido da rejeição, sentimento de culpa e atravessam um período de luto pela perda do
mágoa, até uma adaptação e aceitação da filho "idealizado". Os vários modelos de
realidade. Então, a criança vai se desenvolvendo processo de luto hipotetizam uma seqüência
dentro de todos esses aspectos da construção de estágios que vão do choque inicial à
parental. aceitação da realidade. O quadro a seguir
elucida a seqüência desses estágios.

Quadro C2
Fonte: Adaptado de CORREIA, Luís de Miranda. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares.
Portugal: Porto Editora, 1999, p.150.
73
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

O desenvolvimento dos membros da membros da família também irão mudar.


família, nessa constante interação, irá mudar A seguir, mostraremos, segundo Correia
conforme as novas exigências e necessidades (1999), uma descrição dos estágios do ciclo
que vão surgindo. Conseqüentemente, em cada vital:
estágio, os papéis e responsabilidades dos

74
UNIDADE C

Quadro C3
Fonte: Adaptado de CORREIA, Luís de Miranda. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares.
Portugal: Porto Editora, 1999, p.151.

Muitos autores concordam em dizer que o utilizar uma linguagem que proporcione
profissional desempenha um papel fundamental compreensão não dificultando o processo;
no que toca ao apoio aos familiares de crianças oportunizar a interação entre os pais, com vistas
com necessidades educacionais especiais. Isso ao apoio entre famílias; respeitar a vontade da
é chamado de estratégia externa de apoio família.
(CORREIA, 1999). Esses são comportamentos que só irão
Sabemos que, ao longo da vida das pessoas facilitar a interação entre familiares e
com necessidades educacionais especiais, vários profissionais na busca de uma intervenção de
profissionais entram em contato com a criança qualidade.
e com sua família, participando desde o
diagnóstico até nas intervenções médicas e
educacionais. Nessa relação, é necessário
respeito mútuo, partilha de informações, O Ministério da Educação / Secretaria de
responsabilidade, aptidões, entre outros. Educação Especial publicou "Educação
Nesse sentido, entendemos que a Inclusiva - A família". Nesse material,
comunicação institui-se como uma ferramenta disponibilizado em http://portal.mec.gov.br/
capaz de proporcionar todas essa trocas da seesp/arquivos/pdf/familia1.pdf podemos
melhor forma possível, visando a um contato encontrar algumas ações consideradas
saudável e harmonioso com os familiares. Para importantes para a construção de uma
isso, alguns estudiosos apontam sociedade inclusiva. Nesse sentido, baseado
comportamentos e atitudes que devem ser no quadro de indicadores que se encontra
consideradas pelos profissionais ao interagir no final do documento, procure analisar
com a família: estabelecer um clima de quais indicadores já existem no seu
cumplicidade; favorecer e facilitar o município. Em seguida, disponibilize suas
envolvimento e participação da família no considerações no ambiente virtual, a partir
processo de intervenção da criança em questão; das orientações do professor da disciplina.

75
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

Referências
Referências Bibliográficas CORREIA, Luís de Miranda. Alunos com

Necessidades Educativas Especiais nas classes


AJURIAGUERRA, J. de. Manual de Psiquiatria regulares. Portugal: Porto Editora L.D.A, 1999.
Infantil. Barcelona: Toray, Masson, 1976.

CRUZ, Vitor. Dificuldades de aprendizagem:


BAUTISTA, Rafael. Necessidades Educativas fundamentos. Portugal: Porto Editora, 1999.
Especiais. Lisboa: DINALIVRO, 1997.

D'ANTINO, Maria Eloísa Famá. A máscara e o rosto


BRASIL. MEC/SEESP. Política Nacional de Educação da instituição especializada: marcas que o passado
Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994. abriga e o presente esconde. São Paulo: Mennon,

1988.
___. MEC/SEESP. Direito a Educação: subsídios para
a gestão dos sistemas educacionais: orientações DIAMENT, Aron J. O diagnóstico neuropediátrico

gerais e marcos legais. Organização e coordenação em deficiência mental. pp. 07-35. In: Anais Nestle:
Marlene de Oliveira Gotti [et. al.]. Brasília: MEC, SEESP, Deficiência mental na criança. São Paulo, 1980.
2004.
FONSECA, Vítor da. Educação Especial. Porto Alegre:

___. MEC/SEESP. Diretrizes Curriculares Nacionais Artes Médicas Sul, 1991.


para a Educação Especial na Educação Básica.
Brasília: MEC/SEESP, 2001. ___. Introdução às dificuldades de

aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.


___. MEC/SEESP. Produção editorial da educação
especial [on-line].Disponível na Internet via http:// FONTES, José Américo. Lesão cerebral: causas e

www.mec.gov.br/seesp/publicaçoes. Arquivo prevenção. CORDE: Ministério da Ação Social, 1990.


capturado em 10 de janeiro de 2001.
GRUSPUN, Haim. Autoridade dos pais e educação

___. MEC/SEESP. Saberes e práticas da inclusão: da liberdade. Rio de Janeiro: Wak, 2004.
surdez. Brasília, 2004 (Educação Infantil; 7).
JANNUZZI, Gilberta. A luta pela educação do

BRIZOLARA, Ana G. Fatores causais e precipitantes deficiente mental. Campinas, São Paulo: Autores
que determinam os desvios do desenvolvimento. In: Associados, 1992.
Anais do Encontro Estadual sobre Prevenção à

Excepcionalidade. Porto Alegre, 1981.

76
REFERÊNCIAS

LULKIN, Sérgio A. O silêncio disciplinado: A SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de

invenção dos surdos a partir de representações identidade: uma introdução as teorias do currículo.
ouvintes. Dissertação de mestrado, Faculdade de Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
Educação/UFRGS, 2000.

STOKOE, William C. Sing language structure. Annual


MARQUEZAN, Reinoldo. Aprendizagem e review of anthropology, v.9, p.365-390, 1980.
dificuldade de aprendizagem. Santa Maria: Centro

de Educação, 2000. ZAGURY, Tania. Escola sem conflito: parceira com os


pais. Rio de Janeiro: Record, 2002.
MUNHÓZ, Maria Alcione. A contribuição da família

para as possibilidades de inclusão das crianças


com Síndrome de Down. Tese de Doutorado. Porto
Alegre: UFRGS, 2003.

NICOLOSO, Adriana. A dinâmica das relações


familiares Frente a criança Portadora de

Necessidades Especiais. Monografia de


Especialização, UFSM, 1997.

OSÓRIO, L. C. Casais e Família : uma visão

contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2002.

PINCUS, Lily; DARE, Cristopher. Psicodinâmica da

família. Porto Alegre, Artes Médicas, 1981.

RUGGIA, Raul. Concepto de alto riesgo de origen

biologico y socio-cultural. In: Revista Brasileira de


Deficiência Mental. Vol 17, n° 02, pp. 07-24. Julho/
Dezembro, 1982.

SANTOS, Tereza M. Momensohn. A prática da


audiologia clínica. São Paulo: Cortez, 1993.

SKLIAR, Carlos B. Abordagens sócio-


antropológicas em educação especial. In. _____.

(Org). Educação e exclusão. Porto Alegre: Mediação,


2001.

77
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

78
REFERÊNCIAS

79
CURSO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL | UFSM

80

Você também pode gostar