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Os Conceitos de Educacao e Sua Historicidade

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PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO E DA DOCÊNCIA

OS CONCEITOS DE EDUCAÇÃO
E SUA HISTORICIDADE
Prof. Dr. Wagner S Chagas
ETIMOLOGIA DA PALAVRA EDUCAÇÃO
A palavra “educação” tem origem em termos latinos, tais como os
verbos “educare” e “educere”. Este último vem de “ex –ducere”, que
significa, literalmente, conduzir (à força) para fora; o primeiro,vem de
“educare”que significa amamentar, criar, alimentar, por isso mesmo se
aproxima do vocábulo latino “cuore”(coração). Daí, a palavra “caridade”:
oferecer algo que vem do coração. É possível, então, chegar a
duas expressões práticas da ação de “educar”: de um lado, a idéia de
conduzir, impondo uma direção, o que a aproxima de “ensino” – introjetar
a sina, o destino de alguém; de outro lado, a idéia de oferta, dádiva que
alimenta, possibilitando o crescimento (SAMPAIO, SANTOS E
MESQUITA, 2002. p. 1 e 2).
ETIMOLOGIA DA PALAVRA PEDAGOGO

Na Grécia, a “paidagogía” (paidós agein) era atividade exercida pelo


“paidagogós”– aquele que conduz as crianças (o espanhol antigo
usava a palavra “crianza”para significar a tarefa de educar. Denotava
a ação de alimentar, proteger os filhos que não podiam alimentar-se
ou proteger-se por si mesmos, precisando do auxílio de um adulto).
Por esse motivo, escrevia VARRÓN: “Educit obstetrix,educat nutrix,
instituit pedagogus, docet magister” (“A parteira traz à luz, a ama de
leite alimenta, o pedagogo instrui, o mestre ensina”). (SAMPAIO,
SANTOS E MESQUITA, 2002. p. 2).
A EDUCAÇÃO E SUA HISTORICIDADE

A Educação é um fenômeno carregado de historicidade, bem como,


seus contornos conceituais são polissêmicos. Ou seja, o conceito de
Educação, dependendo do tempo e do lugar, ganha significados
diversos.
EDUCAÇÃO NO ALVORECER DA HUMANIDADE
EDUCAÇÃO NA GRÉCIA
EDUCAÇÃO NA GRÉCIA
O mundo grego foi pródigo em tendências educacionais, mas os ensinamentos de
Sócrates, Platão e Aristóteles prevaleceram, sem dúvida, sobre os demais pensadores
daquela época. Duas cidades-estado rivalizavam-se: Esparta e Atenas. Elas
representavam dois paradigmas de organização social, duas concepções de educação.
Esparta, uma sociedade guerreira, glorificava, sobretudo, os heróis guerreiros. Defendia
uma educação totalitária, uma educação militar e cívica repressiva, em que todos os
interesses eram sacrificados à razão do Estado. Atenas, uma cidade-estado democrática,
nos moldes daquela época, usava o processo educativo como um meio para que o
indivíduo alcançasse o conhecimento da verdade, do belo e do bem. Sócrates inventou o
método pedagógico do diálogo, envolvendo a ironia e a maiêutica. Desse modo,
distanciava-se tanto de Esparta, onde a educação atendia aos interesses do Estado,
quanto dos sofistas, com a sua educação voltada apenas para o sucesso individual.
Sócrates foi pioneiro em reconhecer, como fim da educação, o valor da personalidade
humana, não a individual subjetiva, mas a de caráter universal.
EDUCAÇÃO EM ROMA
EDUCAÇÃO EM ROMA
Em Roma, vamos encontrar muitos pontos de convergência e de divergência com o ideal
educacional dos gregos. De acordo com Lorenzo Luzuriaga (1983), a cultura e a educação
romanas destacavam-se pelo apego aos seguintes princípios:
• Necessidade do estudo individual, psicológico do aluno.
• Consideração da vida familial, sobretudo, do pai no exercício da educação.
• Humanos: valorização da ação, da vontade, sobre a reflexão e a contemplação.
Políticos: acentuação do poder, do afã de domínio, de império.
• Sociais: afirmação do individual e da vida familial, ante ou junto ao Estado.
• Culturais: falta de filosofia, de investigação desinteressada, mas, em compensação,
criação das normas jurídicas, do direito.
• Educacionais: acentuação do poder volitivo do hábito e do exercício, como atitude
realista, ante a intelectual e idealista grega.
EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA
EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA
A comunidade cristã primitiva é o meio pelo qual se desenvolve o processo
educacional. Este, pouco a pouco, vai se convertendo na organização da Igreja
de um lado e da família de outro. Estes são os dois núcleos básicos fundantes do
processo educacional, à medida que o Cristianismo se institucionaliza em Igreja.
Trata-se de uma educação elementar catequista. Mas pouco a pouco vão
surgindo os primeiros educadores cristãos. No início, os educadores eram os
Padres da Igreja que constituíam a chamada PATRÍSTICA, entre eles, merece
destaque Santo Agostinho.
Distinguem-se duas fases na pedagogia de Santo Agostinho. Na primeira,
acentua o valor da formação humanística. Na segunda, persegue o ideal do
ascetismo. Mas, em ambosos momentos, o fundamental é o desenvolvimento da
consciência moral, “a profundeza espiritual, que nos ilumina a inteligência e faz
reconhecer a lei divina eterna” (LUZURIAGA, 1983, p. 76). Entretanto, sua
pedagogia não ignora o valor da cultura física, dos exercícios corporais, assim
como da eloquência e da retórica.
EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA
De acordo com Gadotti, os “Padres da Igreja” obtiveram pleno êxito no seu mister
educacional e “Criaram ao mesmo tempo uma educação para o povo, que
consistia numa educação catequética, dogmática, e uma educação para o clérigo,
humanista e filosófico teológica” (1996, p. 52). Quanto ao conteúdo, os estudos
medievais compreendiam: - o trivium (gramática, dialética e retórica) e o
quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música).

A partir do século IX, sob a inspiração de Carlos Magno, o sistema educacional


apresenta-se organizado em três níveis: I - Educação Elementar, ministrada pelos
sacerdotes em escola paroquiais. Essa educação tem por finalidade mais
doutrinar as massas camponesas do que instruí-las; II – Educação Secundária,
ministrada nos conventos; e III - Educação Superior, ministrada nas Escolas
Imperiais, onde eram formados os funcionários do Império.
EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

A partir do final do primeiro milênio da era cristã surge a ESCOLÁSTICA que buscou
conciliar a razão filosófica grega com a fé cristã. São Tomás de Aquino procura
elaborar uma síntese entre a educação cristã e a educação greco-romana,
procurando, desse modo, estabelecer uma educação integral que favoreça o
desabrochar de todas as potencialidades do indivíduo. Ou seja, para São Tomás de
Aquino, o ensino era uma atividade em virtude da qual os dons potenciais se
tornavam realidade.
Embora nunca tenha tratado expressamente da questão educacional, a escolástica
influiu decisivamente sobre toda a pedagogia católica, sendo inclusive transplantada
para o Brasil pelos Jesuítas que aqui chegaram, em 1549, com o primeiro
Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza. Trata-se de um método de ensino que,
até hoje, exerce influência na sala de aula tradicional.
EDUCAÇÃO NO PERÍODO DO RENASCIMENTO
EDUCAÇÃO NO PERÍODO DO RENASCIMENTO
Há, então, um aprofundamento do Humanismo, só que com feição laica.
Destacam-se, nesse quadro, os ensaios de Michel de Montaigne “Da educação
das crianças” e do “Pedantismo”. Todavia, é uma educação que não atinge as
grandes massas que permanecem analfabetas e incultas. Trata-se de uma
educação, basicamente, voltada para a formação do homem burguês que atinge,
principalmente, o clero, a nobreza e a burguesia. Esta, que emerge como nova
classe social, a partir do Renascimento, disputará com a Igreja e a nobreza o
poder político que, finalmente, conquistará, no século XVIII, com o advento da
Revolução Francesa.
De fato, a primeira grande revolução burguesa fora iniciada pelo monge agostiniano
Martinho Lutero (1483-1546). A principal consequência da Reforma Protestante foi a
transferência da escola para as mãos do Estado nos países protestantes. Mas, como
acentua Gadotti (1996, p.64), a escola pública defendida por Lutero não é laica, mas sim
religiosa e também não perde o seu caráter elitista, uma vez que o mesmo entendia que “a
educação pública destinava-se em primeiro lugar às classes superiores burguesas e
secundariamente às classes populares, as quais deveriam ser ensinados apenas os
elementos imprescindíveis, entre os quais a doutrina cristã reformada”. Como se sabe, a
Igreja católica reagiu com a Contra-Reforma encabeçada no terreno cultural e educacional
pela Companhia de Jesus que, para orientar a sua prática no campo educacional, escreveu
o manual de estudos “Ratio atque Institutio Studiorum”. A partir de 1599, esse manual
passou a fornecer aos sacerdotes-professores os planos, os programas e os métodos de
educação católica. No Brasil, com a morte do Padre Manuel da Nóbrega, os jesuítas
passaram a seguir fielmente os preceitos educacionais da Companhia de Jesus, a partir de
1600, consubstanciados na “Ratio Studiorum” e, desse modo, desenvolveram uma
educação que atuava em duas frentes: a formação de elites dirigentes e a formação
catequética das populações indígenas”.
O século XVII marca o surgimento da pedagogia realista que estabelece um
momento de transição entre a pedagogia do renascimento e a pedagogia
iluminista do século XVIII. A pedagogia realista é fortemente influenciada pelo
empirismo de Francis Bacon e pelo racionalismo de Descartes. A pedagogia
realista, que tem Ratke, Comenius e Locke como principais expoentes, busca
substituir o conhecimento verbalista anterior pelo conhecimento das coisas. Para
tanto, procura criar uma nova didática. Segue reafirmando com mais ênfase ainda
a individualidade do educando e, na ordem social e moral, advoga o princípio da
tolerância, do respeito à personalidade e de fraternidade entre os homens.
Ratke introduziu na educação as ideias de Bacon. Muitos dos princípios
pedagógicos enunciados por ele, Locke e, principalmente, Comenius mostram
ainda atualidade, tendo sido, em grande parte, incorporados no fim do século XIX
e início do século XX pelo movimento da Escola Nova
EDUCAÇÃO COMO UM PROJETO DOS ESTADOS NACIONAIS
No século XVIII, as preocupações de reis, pensadores e políticos estão voltadas
para as questões educacionais (LUZURIAGA, 1983, p. 149). Duas figuras
sobressaem-se: Jean Jacques Rousseau e Johann Heinrich. O mesmo processo
ocorre com a figura dos revolucionários de 1789, representada por Condorcet e
Lepelletier. Estes, durante a Revolução Francesa, apresentaram planos para a
organização de um sistema nacional de educação. A partir desse momento,
desenvolve-se a educação pública estatal e inicia-se a educação nacional.

O ideal educacional dos iluministas está no reconhecimento em grau máximo da


razão humana. Luzuriaga assim sintetiza os princípios consagrados pelo ideal
iluminista no século XVIII:
a) desenvolvimento da educação estatal, da educação do Estado, com maior
participação das autoridades oficiais no ensino;
b) começo da educação nacional, da educação do povo pelo povo ou por seus
representantes políticos;
c) princípio da educação universal, gratuita e obrigatória, no grau da escola primária,
que fica estabelecida em linhas gerais;
d) iniciação do laicismo no ensino, com a substituição do ensino religioso pela instrução
moral e cívica;
e) organização da instrução pública em unidade orgânica, da escola primária à
universidade;
f) acentuação do espírito cosmopolita, universalista, que une pensadores e educadores
de todos os países;
g) primazia da razão, crença no poder racional e na vida dos indivíduos e dos povos; e
h) reconhecimento da natureza e da intuição na educação. (LUZURIAGA, 1983, p.
150-151).
EDUCAÇÃO NO SÉCULO XX E XXI
Para Dewey, educação era ação (learning by doing). Desse modo, o aspecto instrucional
da educação ficava relegado a um segundo plano. Dewey imaginava o processo
educacional como algo contínuo, no qual, permanentemente, reconstruía-se a
experiência concreta, ativa e produtiva de cada ser humano. Para ele, a escola não
deveria preparar para a vida, pois a escola deveria ser a própria vida. Na sua obra
“Como pensamos” (1979), apresenta os cinco estágios do ato de pensar que sempre
ocorre diante de um problema. Os estágios são:
a) necessidade sentida;
b) análise da dificuldade;
c) as alternativas de solução do problema;
d) a experimentação de várias soluções, até que o teste mental aprove uma delas; e
e) ação como prova final para a solução proposta que deve ser verificada de modo
científico.
Pode-se concluir que, para Dewey, a educação, antes de qualquer coisa, é processo e
não produto, ou seja, o importante é ensinar a pensar.
Trata-se do famoso princípio do “aprender a aprender” que, esquecido durante
algumas décadas, retorna valorizado neste início de milênio. Além desses dois
pensadores da educação, outros nomes se destacaram no movimento. Entre
eles, Ovide Decroly que formulou a metodologia dos centros de interesse; Maria
Montessori, grande nome da pedagogia do pré-escolar, que revolucionou com seu
método de trabalho o ambiente de aprendizagem; Édouard Claparède, para quem
atividade educativa era aquela que correspondia a uma necessidade humana, daí
chamá-la de educação funcional; Jean Piaget que concentrou a sua atenção de
pesquisador no estudo da natureza do desenvolvimento da inteligência na criança
e forneceu as bases para a construção da pedagogia construtivista, ao lado de
Vygotsky e Wallon.
As transformações a que estamos assistindo, nos dias atuais, com o avanço das
tecnologias de comunicação e de informação, estão levando-nos a repensar as
práticas pedagógicas que, enquanto práticas sociais, não ficam imunes a esse
conjunto de transformações. Os efeitos da terceira revolução industrial (a da
informática e da microeletrônica e da engenharia genética) são até mais
profundos do que o impacto que as duas primeiras causaram. Com as duas
primeiras, vimos emergir a preocupação com a educação das massas populares
que desembocou, principalmente a partir do século XIX, na construção dos
grandes sistemas educacionais de massa, impulsionados pelo novo modo de
produção industrial e pela urbanização. Neste início de século, condicionada
pelas consequências da globalização, a preocupação passa a ser com a
construção de uma educação planetária. Esta tem nos quatro pilares a seguir
enunciados a sua base de sustentação:
1) Aprender a conhecer. 2) Aprender a fazer. 3) Aprender a viver juntos, aprender
a viver com os outros. 4) Aprender a ser (UNESCO, 1998).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SAMPAIO, C. M. A.; DOS SANTOS, M. do S.; MESQUIDA, P. DO CONCEITO DE EDUCAÇÃO À


EDUCAÇÃO NO NEOLIBERALISMO. Revista Diálogo Educacional, [S. l.], v. 3, n. 7, p. 165–178, 2002.
DOI: 10.7213/rde.v3i7.4921.

FILHO, João Cardoso Palma A Educação Através Dos Tempos - Disciplina História da Educação,
Módulo Educação, Cultura e Desenvolvimento. UNESP. 2010
https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/173/1/01d06t01.pdf

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