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Ciberpopulismo - Andrés Bruzzone
Ciberpopulismo - Andrés Bruzzone
Ciberpopulismo - Andrés Bruzzone
Sobre a obra:
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Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização escrita da
Editora. Os infratores estão sujeitos às penas da lei.
A Editora não é responsável pelo conteúdo deste livro. O Autor conhece os fatos narrados,
pelos quais é responsável, assim como se responsabiliza pelos juízos emitidos.
Coordenação de textos
Luciana Pinsky
Preparação de textos
Lilian Aquino
Revisão
Bia Mendes
Bibliografia
ISBN 978-65-5541-064-8
2021
EDITORA CONTEXTO
Diretor editorial: Jaime Pinsky
contexto@editoracontexto.com.br
www.editoracontexto.com.br
A Bernardo e Victoria. Porque são, porque estão. Devo a eles a força para
viver e escrever este livro.
Sumário
INTRODUÇÃO
HOMO COMMUNICANS
Ubuntu: sou porque somos
O tamanho do mundo
O novo ecossistema da mídia
Tiranossauro rex 2.0
Destinos em xeque
Usuário ou produto?
Uberizados
A fórmula Netflix
O AUTOR
AGRADECIMENTOS
Introdução
“[...] e a alma não pode existir sem sua outra parte que se encontra sempre
em um ‘você’.”
C. G. Jung
Uma convicção pode ser a mais perversa das prisões. Quando o que sei
não pode ser questionado, escuto apenas aquilo que confirma o que
acredito. O que é diferente recuso. Quando tenho toda a razão e o outro,
nenhuma, não existe diálogo. Preso às minhas convicções, reduzo a
possibilidade de pensar. Não há como aprender sem estar disposto a mudar
de ideia, e para mudar de ideia é preciso aceitar que minha convicção pode
estar errada.
Polarização é quando duas convicções opostas ocupam todos os espaços
do debate político. Quando a política se transforma em mero embate entre
posições que se excluem, sem pontos de encontro nem terreno comum.
Quando não há adversário, mas inimigo. As alternativas, aquelas posições
que não se encaixam em nenhum dos dois lados, são postergadas ou
negadas. O debate se faz impossível. É como se as mensagens transitassem
por canais paralelos ou fossem ditas em línguas diferentes: eu falo em
aramaico, você responde em sumério. Pior: a língua é a mesma, as palavras
são iguais – mas significam coisas diferentes dependendo de quem diz.
Paramos de escutar, não interessam os argumentos. Deixa de importar
o que é dito, importa quem disse: se foi alguém que é da minha posição,
vou defender sem questionar. Mas, se for do outro lado, nego e rebato.
Trocam-se palavras de ordem e memes, há menosprezo pelo argumento.
Quem não está alinhado com uma das duas posições dominantes não tem
voz: o que disser será entendido como apoio ou crítica a um dos dois polos.
“Se você não concorda comigo está fazendo o jogo de X”. “Você diz isso
porque no fundo você é Y”. As ideias se impõem por relação de força – não
a força da razão, mas a razão da força. Quem grita mais leva. As posições
são sempre no branco ou preto, não existem nuances. É a morte das ideias,
o fim da inteligência.
O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo: nunca
ninguém reclama de ter recebido pouco, disse o filósofo francês René
Descartes no início de seu Discurso do método. Com as ideologias ocorre
algo semelhante: nunca ninguém se queixa de ter o juízo distorcido pela
própria ideologia. O viés ideológico só afeta os outros. Jamais nos
questionamos: será que eu também não estou vendo a realidade? E se o que
para mim é tão óbvio for produto de uma ideologia que não me permite
ver diferente? É tão claro e tão evidente que não há espaço para dúvidas – e
isso é muito perigoso.
Pluralismo democrático exige confrontação e debate. Em toda
sociedade há necessidades contraditórias que precisam ser resolvidas, e a
democracia é o sistema de governo que permite encontrar soluções
negociadas aos conflitos. Como se distribui a carga de impostos, que
impacta na distribuição da renda; se é direito de uma mulher abortar ou se
cabe ao Estado a proteção de um feto; se haverá um pacote de ajuda ao
grupo mais prejudicado por uma crise ou se irá se apoiar um setor da
economia. É necessário estabelecer prioridades entre atividades essenciais:
fazer mais hospitais ou mais escolas, melhorar a infraestrutura logística para
exportações, promover a ciência, apoiar o desenvolvimento tecnológico...
Sociedades mais maduras têm acordos mais estáveis que aquelas onde as
tensões ainda precisam de muitos ajustes. Mas o sistema de regulação da
democracia é flexível e instável: as tensões nunca desaparecem e, por isso,
novas soluções são sempre necessárias. O debate pode ser acalorado e se
fazer visível em ruas ocupadas por manifestantes, em greves e em discussões
ou até mesmo brigas entre os representantes eleitos no congresso. Essa
fricção permanente, que pode parecer ruído e confusão, é a sustentação que
mantém vivas as sociedades democráticas. Onde não há debate, os conflitos
foram sepultados por uma força maior: a opressão de uma classe, um
modelo de controle político ou ambos os fatores combinados. Por isso,
democracias saudáveis são barulhentas e dinâmicas, nunca silenciosas ou
estáticas.
Em democracia, o debate ocorre entre adversários, nunca entre
inimigos. A diferença é sutil e importante. O inimigo não tem
legitimidade, é aquele que deve ser aniquilado para que não me aniquile: a
sua existência me ameaça, mas sobretudo ameaça o espaço comum e a
possibilidade mesma de debater. Já entre adversários há um acordo de
preservação daquilo que é compartilhado, do lugar em que o debate ocorre,
e há um reconhecimento recíproco que é anterior às diferenças e que
precisa ser mantido.
O debate morre quando é substituído por uma lógica de inimigos que
se opõem. A única forma de preservá-lo é não se rendendo a essa lógica
binária dos polos opostos, desmontando a armadilha, expondo seu
mecanismo e praticando a escuta honesta e a explicação paciente. Não é
fácil quando uma força política se define pela morte do diálogo. A
sociedade democrática se pergunta: qual o limite da escuta quando o outro
quer me calar a qualquer custo? Partidos fascistas usam os mecanismos
democráticos para ocupar espaços de poder e, então, minar a democracia
de dentro dela. Regimes autoritários nascem e se desenvolvem usufruindo
da liberdade de expressar seu ideário de ódio e crescem e se alimentam da
polarização. Isso coloca os democratas numa situação paradoxal: a força
que ameaça a democracia deve ser contida. O perigo, quando as
democracias impõem limites aos autoritários, é se converterem naquilo que
estes querem fazer delas.
Uma sociedade polarizada se torna mais burra, mais autoritária, menos
democrática. O Brasil é exemplo disso. Um país rachado onde a polarização
colocou no poder um governo fascista que hoje a promove e cultiva. O
bolsonarismo nasceu da substituição de um debate político plural por uma
lógica PT/Anti-PT. O PT era o inimigo que devia ser tirado do poder, sem
importar que o preço fosse violentar as instituições ou mesmo votar em um
defensor confesso de regimes autoritários. A política passou a se definir por
dois polos que atraem e afastam com intensidades semelhantes: PT/Anti-
PT ou Bolsonaro/Anti-Bolsonaro. A dinâmica dos uns contra os outros
domina. Ficaram para trás o mito do país cordial, a gentileza, a agenda
comum capaz de elevar o país ao patamar de uma das grandes nações do
planeta. Perderam espaço o diálogo e a concordância. As vozes do meio são
abafadas pelos gritos do extremo. Liberou-se uma torrente de ódio, de
violência e de intolerância que arrasa com os espaços comuns de
pensamento.
O fenômeno não é apenas brasileiro: o mundo foi tomado por posições
extremas, toscas e primárias. As explicações e teorias sobre o porquê disso
levam em conta vários fatores: a evolução do capitalismo após a queda do
muro de Berlim, a mudança nas relações de produção fruto da tecnologia e
a precarização dos trabalhadores e dos movimentos operários; o fracasso das
promessas de progresso permanente do que se chamou “o sonho
americano”; os grandes deslocamentos populacionais e as tensões sociais
por eles provocadas em países centrais; a globalização e a entrada em cena
de pautas identitárias que questionam modelos e valores tradicionais. Isso
tudo alimentando sentimentos de insegurança e frustração, de perda de
garantias e de incerteza sobre o futuro. Os fatores são muitos e diferentes
teorias abundam. Mas o elemento primordial que ninguém pode ignorar é
a comunicação.
A capacidade de pensar e agir coletivamente é um dos grandes
diferenciais da espécie. Somos seres comunicantes e nossa vida com os
outros está definida pela forma como nos comunicamos, por isso a matéria-
prima da política sempre foi a comunicação. Cada avanço nas tecnologias
de comunicação teve consequências fortes na forma de organizar as
sociedades. Por exemplo, os jornais impressos estão na origem da
democracia e o advento da propaganda política está associado ao
nascimento do rádio. Mas nunca o papel da comunicação foi tão
determinante como é hoje.
Para um cidadão do século XXI, boa parte da vida transcorre no
mundo virtual e está ligada às novas tecnologias. Acordamos com o alarme
do celular. Consultamos mensagens antes de tomar o café da manhã.
Lemos as notícias no tablet. Treinamos na academia com os fones de
ouvido, olhando para a tela da TV. Fazemos reuniões virtuais. Criamos
documentos e os encaminhamos para nossos colegas, clientes, chefes. De
carro ou patinete solicitados por aplicativos, chegamos ao restaurante, para
ocupar a reserva feita com o atendente virtual. Por uma rede social,
compartilhamos fotos de nossa comida enquanto curtimos as paisagens
publicadas por amigos e nos alegramos pelos momentos felizes da família.
Numa outra rede social, nos indignamos, opinamos, participamos da vida
política. Atualizamos nosso perfil profissional acrescentando o curso on-
line que acabamos de fazer. Antes de chegar em casa, conectamos os
sistemas de luz, som e aquecimento pelo assistente que nos fala e nos
escuta. Pedimos comida, transporte, flores de presente... apenas apertando
botões virtuais de uma tela tátil. Assistimos a um seriado ou filme. Fazemos
amor com música que nos chega por um serviço de streaming e dormimos
com o som relaxante de um aplicativo de meditação.
Se esse retrato reflete a vida de alguém bastante tecnológico e
privilegiado, o impacto das tecnologias de comunicação não é menor no
campo, no deserto, nas regiões mais afastadas – talvez seja até maior.
Pescadores artesanais têm sua navegação orientada por aplicativos, as
previsões meteorológicas por satélite auxiliam os camponeses do altiplano
peruano, os massais usam seus smartphones enquanto percorrem com suas
vacas as longas distâncias da savana africana. Mais próximos de nossa
realidade, entregadores de pizza, motoristas de Uber, professores de
ginástica, vendedores, prestadores de serviços domiciliares dependem hoje
de dispositivos de comunicação. Não existe atividade humana que não
tenha sido alterada pelas novas tecnologias e hoje é inconcebível alguém
não possuir um endereço de e-mail, um número de celular ou acesso à
rede.
As novas tecnologias da comunicação mudaram radicalmente também
a forma de nos relacionarmos com a política. Desde o modo como
acompanhamos as notícias – por sites e/ou aplicativos – até os meios
disponíveis para manifestar descontentamento ou fazer petições, o mundo
digital abriu novas formas de participação e mudou – e está mudando – as
regras do jogo de poder. Algumas mudanças foram positivas, outras não.
Entre as inovações que a comunicação digital em rede incorporou na
política está o ciberpopulismo. A combinação eficiente de técnicas de
propaganda do século XX com as possibilidades abertas pela tecnologia no
século XXI já mostrou sua capacidade de causar alterações estruturais nos
países e na geopolítica.
A base do ciberpopulismo é o populismo, que na essência é um
esquema narrativo a serviço da tomada e da manutenção do poder. O
modelo é simples: há um inimigo que deve ser derrotado, um povo que
deve ser salvo e um líder capaz de fazer isso. No relato populista, quem é o
inimigo pode mudar de acordo com a necessidade: podem ser os
imigrantes, os judeus, os esquerdistas; ou o império ianque, as oligarquias,
o establishment… Este relato é antigo e tem servido a muitos demagogos,
independentemente da ideologia: o populismo serve bem a governos de
direita e de esquerda. Mas ainda que não seja uma ideologia, é filho de uma
posição ideológica em que algumas formas da direita se encontram com
algumas formas da esquerda: a dos opostos que se excluem, uma visão
binária do mundo em que há somente amigos e inimigos. Quem tenta
pensar fora dos polos dificilmente será ouvido e certamente não terá espaço
nos grandes debates. Em um mundo em preto e branco, não há lugar para
o cinza – nem para o rosa, o verde, o azul…
O mantra de um populista é: nós temos toda a razão, eles não têm
nenhuma. Não apenas os populistas pensam assim – mas eles é que fazem
desse mantra o sustento de uma forma de fazer política. O contrário do
populismo é o pluralismo, a crença de que não há duas visões únicas do
mundo. Pluralista é quem entende que a verdade não se obtém derrotando
um inimigo, mas que é o resultado de um processo construído a muitas
vozes. Ser pluralista é aceitar que a verdade nunca é definitiva, que está
sempre em construção. Mentes simples exigem explicações simplistas em
que não cabe a complexidade de um mundo cheio de nuanças e em
mudança constante. Por isso, o mundo de um democrata é mais rico que o
de um populista.
***
O TAMANHO DO MUNDO
Toda mídia opera sobre nós de uma forma total. Os meios têm
consequências pessoais, políticas, econômicas, estéticas,
psicológicas, morais, éticas e sociais tão intensas que não deixam
nenhuma parte nossa intocada, não afetada, inalterada. O meio é a
mensagem. É impossível qualquer compreensão sobre mudanças
sociais e culturais sem um conhecimento do modo como a mídia
funciona como contexto.3
Durante uma entrevista nos anos 50, Albert Einstein declarou que
três grandes bombas haviam explodido durante o século XX: a
bomba demográfica, a bomba atômica e a bomba das
telecomunicações. Aquilo que Einstein chamou de bomba das
telecomunicações foi chamado por Roy Ascott (um dos pioneiros e
principais teóricos da arte em rede) de segundo dilúvio, o das
informações. As telecomunicações geram esse novo dilúvio por
conta da natureza exponencial, explosiva e caótica de seu
crescimento. A quantidade bruta de dados disponíveis se multiplica
e se acelera. A densidade dos links entre as informações aumenta
vertiginosamente nos bancos de dados, nos hipertextos e nas redes.
Os contatos transversais entre os indivíduos proliferam de forma
anárquica. É o transbordamento caótico das informações, a
inundação de dados, as águas tumultuosas e os turbilhões da
comunicação, a cacofonia e o psitacismo ensurdecedor das mídias, a
guerra das imagens, as propagandas e as contrapropagandas, a
confusão dos espíritos.6
DESTINOS EM XEQUE
USUÁRIO OU PRODUTO?
UBERIZADOS
A FÓRMULA NETFLIX
Notas
1
Esta é a visão do filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers.
2
A publicação, que ainda existe, é o Bell System Technical Journal, um órgão interno da empresa de
telefonia Bell.
3
Marshall McLuhan, The Medium is the Message: an Inventory of Effects, Harmondsworth, Penguin
Books, 1967, p. 26 [tradução minha].
4
Marshall McLuhan (1911-1980), filósofo canadense.
5
Umberto Eco (1932-2016), pensador e escritor italiano.
6
Pierre Lévy, Cibercultura, São Paulo, Editora 34, 2003, p. 13.
7
Pierre Lévy, Cibercultura, São Paulo, Editora 34, 2003, p. 128.
8
Idem, p. 142.
9
“Johan Carolus’s ‘Relation’, the First Printed European Newspaper”, em History of information,
2015. Disponível em <http://www.historyofinformation.com/detail.php?id=34>, acesso em 10
nov. 2019 [tradução minha].
10
Apud Chong Celena, “The inventor that inspired Elon Musk and Larry Page predicted
smartphones nearly 100 years ago”, em Business insider, 2015. Disponível em
<https://www.businessinsider.com/tesla-predicted-smartphones-in-1926-2015-7>, acesso em 20
nov. 2019 [tradução minha].
11
O conceito tem pai: Chris Anderson é autor de A cauda longa: a nova dinâmica de marketing e
vendas: como lucrar com a fragmentação dos mercados (Rio de Janeiro, Elsevier Brasil, 2006).
Ciberpopulismo, o novo nome da
política
“A ciberpolítica trata do que sempre trata a política, isto é, de como se
consegue, se preserva e se perde o poder, segundo o delineava Maquiavel;
ou do who, do what, do when e do how, do mais pragmático Lasswell; ou
de quem toma as decisões, de Schmitt; enfim, de quem manda. Mas o faz
com meios novos, capazes de mudar as regras do jogo.”
Ramón Cotarelo e José Antonio Olmeda, em La democracia del siglo
XXI
DEMOCRACIA E COMUNICAÇÃO
Os Estados devem pôr limites, mas não querem e muitas vezes não
podem: quando se trata de empresas globais, há um desafio em fazer
cumprir as regras e as leis de uma nação. Os usuários talvez não queiram:
poderiam querer se soubessem das consequências, mas não é certo. Quem
disse que não queremos ser estudados, enganados, controlados? Talvez a
nossa privacidade tenha um preço e estejamos achando a troca justa:
entregamos nossa intimidade, recebemos ferramentas e serviços que nos
satisfazem.
No filme Matrix, de 1999, uma conspiração de máquinas inteligentes
subjugou a humanidade e usa seus corpos como fonte de calor e
eletricidade. Para isso, coloca as pessoas em cápsulas como úteros e as
mantém conectadas a sistemas que lhes fornecem a ilusão de uma vida feliz.
É a Matrix. O hacker Neo se depara com uma organização terrorista
encabeçada por Morpheus e Trinity, que o confrontam com a decisão de
desfazer a ilusão ou seguir vivendo nela. Quem assistiu provavelmente se
lembra da pílula azul e da pílula vermelha: eram a escolha entre querer
saber e se confrontar com uma realidade triste e sem esperança ou
continuar a viver no engano.
Muito se escreveu sobre o filme. Ele ilustra as teorias mais diversas, e
podemos aqui nos perguntar se não serve como metáfora do nosso estado
de aceitação passiva de um poder exercido sobre nós. Deveríamos nos
questionar se não estamos sendo vítimas de uma ilusão e ainda sendo
cúmplices de quem nos ilude. Se não estamos praticando essa forma radical
da escravidão que é a do escravo que aceita e aplaude a cessão de sua
liberdade. A pergunta é até que ponto somos e podemos ser
verdadeiramente livres frente a um poder invisível que atua nos alicerces
mesmos de nossas crenças.
Está aqui a chave para entender a força das fake news. Sabendo usar o
Facebook, existe a possibilidade de detectar quem é mais suscetível ao
engano: há um perfil de quem acredita mais facilmente em teorias
conspiratórias. É nessas pessoas que as usinas de fake news focam seus
esforços, sabendo que haverá uma predisposição maior em acreditar nelas.
Na entrevista, Wylie trata da questão:
Uma das coisas que fazíamos nos Estados Unidos era pesquisar essa
noção de deep state e a paranoia com o governo. Coisas como o que
acontece se chegarem e levarem as suas armas. Você pode traçar o
perfil de um grupo de pessoas muito receptivas a essas teorias
conspiratórias, do tipo de que Obama mandou tropas para o Texas
porque não está disposto a sair. Então você fabrica blogs ou sites
que parecem notícias e os mostra o tempo todo às pessoas mais
receptivas a esse pensamento conspiratório. Depois elas assistem à
CNN e lá não há nada do que eles veem o tempo todo na Internet,
e pensam que a CNN esconde alguma coisa.12
O que este antigo funcionário de uma empresa criada para nos enganar
de maneira sistemática revela é o mecanismo para nos iludir e como evitar
que possamos perceber a operação. Simplesmente não podemos querer
deixar de ser enganados porque não temos informações suficientes para
decidir: não enxergamos o truque. Aceitamos a troca porque, com a
informação insuficiente que temos, achamos justa, conveniente ou
confortável. Não temos como ter clareza do grau de enganação à que
estamos sendo submetidos. Como quando a indústria do tabaco vendia
cigarro argumentando que fumar fazia bem à saúde: o fumante não podia
decidir sobre o risco que corria. Ou, como ficou evidente há menos tempo,
como as indústrias do açúcar ou do amianto, que usaram todas as
ferramentas disponíveis para esconder o dano à saúde que seus produtos
causam. É então dever do Estado proteger os cidadãos, expor aqueles que
os estão iludindo e colocar limites legais.
Não é fácil, mas as empresas de tecnologia e dados são entidades
formais, com estatutos, e que devem seguir as leis dos países em que estão
sediadas e em que atuam. Têm poder real, na forma de dinheiro, lobby e
capacidade de influenciar as pessoas. Porém, dificilmente poderiam resistir
a uma decisão firme e coordenada de Estados dispostos a colocar limites,
criar regras e fazer com que elas sejam respeitadas. Sempre haverá entidades
invisíveis, operadores da escuridão, mas as próprias entidades oficiais legais,
donas das grandes marcas, poderiam fazer muito para combatê-la. Não há
uma ação decisiva nesse sentido, e os governos parecem contar com a boa
vontade dos empresários e as suas promessas de autorregulação enquanto
implantam medidas de controle de monopólio e de controle de acesso aos
dados dos indivíduos sempre atrasadas, sempre insuficientes.
Nesse sentido, se a União Europeia parece marcar a linha de frente em
matéria de legislação, desde o direito constitucional à privacidade dos
dados pessoais, o Brasil caminha, junto com o restante da América Latina,
muito atrasado na matéria. Não é um desafio pequeno quando limites
devem ser impostos a gigantes que funcionam em todos os países do
mundo, que têm rios de dinheiro e capacidade de adaptação enorme. Está
claro que se deve começar por restringir o tamanho das companhias, mas
também intervir na essência das operações e na maneira como elas agem
junto aos usuários.
Deixar nas mãos dos empresários a regulação do uso do próprio poder,
sem contrapoderes, soa voluntarista. Seria como pedir à indústria do tabaco
para reduzir os esforços por fazer seus produtos mais viciantes, a do açúcar
para evitar o consumo precoce e excessivo, aos bancos para ensinar seus
clientes a não gastarem mais do que ganham. No caso do tabaco e do
açúcar, o que está em risco é a vida das pessoas e o orçamento das nações,
que devem arcar com os custos médicos de populações doentes. No das
redes sociais, coloca-se em perigo a democracia. A comparação com tabaco
e açúcar não é gratuita e logo veremos por quê.
INDIGNADOS.COM
VALORES
PARADOXOS DA LIBERDADE
Nossa visão ainda é curta demais para saber como será o mundo no
final do processo de mudanças. Projetamos o futuro a partir de nosso
presente, ampliado e distorcido pelos medos e pelas esperanças. Basta olhar
para o que nos anos 1960 e 1970 se vislumbrava sobre o que seria o ano
2000. É bom lembrar quando escutarmos os profetas do caos vaticinando a
morte da democracia. Ela já sobreviveu a catástrofes e desafios e continua,
imperfeita e muitas vezes mancando, sempre avante. Não significa que os
riscos não existam: existem e são sérios e muitos também são novos e por
isso não os conhecemos suficientemente. Quando tudo está sendo
redefinido pela comunicação digital, a democracia deve ser entendida,
pensada e aparelhada.
A democracia verdadeira só existe se está sempre encaminhada em
direção àquilo que deveria ser, afirma o filósofo alemão Jürgen Habermas.
Não basta ter eleições formais para que exista democracia: é preciso andar
em direção à justiça e à igualdade de direitos. Esse argumento é forte e
perigoso: pode justificar o abuso das instituições. O debate em relação à
Venezuela é exatamente esse: Chávez e Maduro disseram resgatar a essência
da democracia desmontando os mecanismos de equilíbrio e controle entre
poderes. A mesma coisa aconteceu na Bolívia: Evo Morales justificou na
vontade popular a sua reeleição em 2019, fora dos termos constitucionais;
de igual maneira, quem o destituiu disse agir na defesa da democracia. Em
nome da democracia invocam-se manobras e golpes mais ou menos legais
pelo mundo: Rússia, Turquia e Brasil são alguns exemplos de um
fenômeno mais extenso.
A indignação, já vimos, está na origem dos movimentos que revertem o
status quo, muitas vezes a partir das redes sociais. Esses protestos podem
resultar em mais democracia ou em menos democracia. Por exemplo, os
movimentos de junho de 2013, contra o aumento no preço do transporte e
outras causas. Ainda que possa haver disputas acerca das consequências
positivas ou negativas para a democracia, é inquestionável que esses
movimentos mudaram o mapa político, econômico e social do Brasil.
O poder da indignação, potencializado pela capilaridade das redes
sociais, está na capacidade de nos reunir em torno de uma causa. Já não sou
mais apenas “eu”: somos “nós”. E, juntos, podemos. Podemos exigir,
podemos mudar o rumo. Podemos até mudar o mundo. A força do “nós” é
espantosa. Especialmente forte quando se faz identidade coletiva: quando
olhamos ao redor e vemos que somos parte de algo maior.
Uma nação é uma identidade narrativa plural que age a partir de sua
história, de seu caráter encarnado nas suas instituições: na Constituição,
nas leis, nos seus representantes escolhidos pela vontade coletiva, nos seus
heróis. O nacionalismo é uma narrativa que apela a emoções positivas
(pertencimento, amor) e negativas (medo, ódio). São positivas e negativas
não em termos de julgamento moral, mas como signos: a pertença nos atrai
(aos semelhantes) e o medo nos afasta (dos diferentes).
Algumas formas de “nós” reduzem o “eu”: o preço de pertencer é
entregar o próprio ser ao grupo; não se pensa mais por si, não se age fora
do que o coletivo manda ou permite. Encontramos exemplos em alguns
movimentos políticos (de direita e de esquerda), que exigem uma adesão
acrítica ao líder: não se questiona a doutrina, quem pensa é quem está no
alto, as bases somente apoiam e obedecem. É como algumas religiões são
vividas e impostas a uma sociedade ou a um grupo: quem questiona a
autoridade é queimado, apedrejado, expulso da comunidade e do acesso à
salvação. Em instituições como as forças armadas, o indivíduo serve apenas
como peça numa estrutura maior. Em ambientes corporativos, onde a
sobrevivência exige não se destacar do conjunto e o terno é um uniforme.
Em toda identidade há um lugar para os outros, porque eu não me faço
sozinho nem estou sozinho no mundo. Quando se trata de uma identidade
individual, todos os que não são “eu” são o outro: os próximos, os amigos,
os familiares, os amados. Mas também estão os inimigos, os adversários, os
desconhecidos. Numa identidade coletiva, o outro é aquele que está fora do
limite marcado pelo que chamo de “nós”.
O outro como inimigo, como ameaça, é muito útil para unir e dar
força a uma identidade plural. Reforçar os laços para se defender: é o
diferencial do humano em relação a outros animais. Quando o que está em
jogo é a sobrevivência do grupo, o individual perde relevância e a
submissão ao coletivo parece uma necessidade evidente; até os mais
individualistas depõem as suas restrições para servir à causa comum. Está
na base do nacionalismo: vamos todos juntos contra o inimigo. Resulta
uma identidade plural de aspecto forte e sólido, sem fraturas nem dúvidas.
Uma família, um povo, uma nação sob ameaça juntam forças, se
aglutinam. Um sentimento de solidariedade, de estar e de ser juntos se
impõe sobre as diferenças menores ou mesmo as maiores: numa guerra, o
Estado deixa de atender aos interesses da classe dominante, nacionaliza as
empresas para produzir armas, põe no campo de batalha oficiais vindos das
elites, emprega artistas para produzir propaganda. As liberdades individuais
são postergadas quando o que manda é o interesse geral de uma identidade
coletiva maior. Numa guerra ou numa pandemia, como bem lembra o
filósofo francês Alain Badiou.
O inimigo externo serviu para sustentar a ditadura argentina das
décadas dos anos 1970 e 1980. As coisas não iam bem sob o governo dos
militares, então eles decidiram recuperar as ilhas Malvinas do ocupante
inglês. Multidões de argentinos bem-intencionados saíram às ruas para
manifestar seu apoio ao presidente, um general com fama de alcoólatra e
um discurso tosco, Leopoldo Fortunato Galtieri. O nacionalismo
desenfreado abafou e postergou as críticas e os questionamentos que
vinham ganhando a sociedade. Algo semelhante acontecera poucos anos
antes, quando sob o governo de um outro general, Jorge Rafael Videla, a
Argentina organizou e ganhou (quase certamente de maneira espúria) a
Copa do Mundo de futebol: políticos sequestrados ouviram do interior de
suas prisões clandestinas o bramar de uma nação que se dizia unida e feliz.
Os militares argentinos, porém, provaram-se mais eficazes para assassinar
estudantes e torturar mulheres grávidas do que para lutar no campo de
batalha: as forças armadas argentinas foram derrotadas rapidamente pela
Grã-Bretanha. A humilhação ocupou o lugar do triunfalismo e então veio a
ressaca que iria desaguar na volta da democracia. Como teria sido a história
se as Malvinas não tivessem voltado a ser Falkland? Se a premiê Margaret
Thatcher não tivesse visto ela mesma a oportunidade de unir o povo
britânico em torno de uma causa bélica e assim ganhar mais poder para
impor sua agenda ultraliberal? Quem não tem um inimigo externo o
inventa. Um presidente francês culto e defensor do republicanismo pode
servir como alvo para um sujeito que faz da própria tosquidade e do
desrespeito pelo diferente uma bandeira – seja ele presidente dos EUA ou
do Brasil. Uma hipótese de guerra ou uma guerra declarada, uma potência
hegemônica, cumprem a função de aglutinar um povo. A China ocupa
hoje o lugar que já foi da Rússia e a covid-19 rendeu um bom arsenal nesse
sentido.
Quando o inimigo externo não é suficiente, há sempre a possibilidade
de se construir um interno. Hitler fez isso bem, mas não foi o único. Para o
déspota, as vantagens do inimigo interno são incontáveis. Tensionar a
sociedade para controlá-la é o truque desse jogo.
Ditadores sabem desde sempre. Demagogos, também: o outro é a
ferramenta básica do populismo. Ter um bom inimigo a quem odiar é
fundamental para construir uma massa, um povo ao qual se deve conduzir.
Esse é o primeiro grande risco do populismo: quando não há uma guerra,
quando o inimigo externo não basta, ele procura ou constrói um inimigo
interno. É aí que nasce a polarização. O populismo leva necessariamente à
polarização e polarização é ruptura, é divisão.
O segundo risco do populismo é que ele exige uma diminuição do
indivíduo em prol da causa comum. Cada indivíduo sente sobre si a força
redutora: os que não estão comigo estão contra mim. Todo pensamento
crítico e todo matiz devem ser postergados se não servem para o objetivo
central, que é o de derrotar o adversário ou o inimigo. Populismo e
polarização matam o pensamento e a inteligência, acabam com o diálogo e
reduzem a democracia.
Dialogar é pensar a dois; sem diálogo pensa-se menos, pensa-se pior.
Democracia é o sistema concebido para dar lugar a interesses conflitantes
por meio de acordos, balanços, contrapesos. Uma democracia é feita de
conflitos sempre em resolução, e as soluções nunca são definitivas. Por isso,
a democracia é caótica, barulhenta e imperfeita: ela precisa se ajustar ao
constante jogo de forças entre demandas contrapostas. Quando um grupo
ganha excessiva força para impor as suas demandas, a democracia fica
reduzida; se são duas as forças poderosas que se opõem, então há um
equilíbrio, mas é um equilíbrio feito na base do abandono das terceiras,
quartas, quintas posições. Tudo é subordinado a esses polos, não há
diversidade nem nuanças possíveis.
Ser caótica e barulhenta é uma característica positiva da democracia,
não um defeito. Uma democracia saudável deve promover as identidades
coletivas que contêm e as identidades individuais que conformam ambas.
Dentro da democracia devemos encontrar espaço para ser mais e de
maneira mais verdadeira, e para isso o sistema deve permitir e regular o
conflito entre muitas diversidades, encontrar os mecanismos e os espaços de
acordo. Não se trata de eliminar os conflitos (muitos deles são estruturais),
mas de evitar que eles destruam o tecido comum, sem esmagar nesse
esforço aquilo que é diferente. Querer uma democracia ordenada é querer
menos democracia. Devemos suspeitar de uma democracia que não treme,
que não ruge: por trás da ordem existe, sempre, um caos escondido. E
quando o caos não se faz visível, quando os conflitos são negados, a
consequência é o sofrimento e a ruptura. A polarização se alimenta de
conflitos não resolvidos pela via de uma democracia autêntica.
Quando a identidade (coletiva, plural) de uma nação se fratura por
causa da polarização, todos perdem. O indivíduo, as identidades coletivas
que compõem a nação e a própria nação, que fica diminuída, enrijecida e
mais frágil. Basta olhar para o exemplo de grandes ditaduras de aparência
forte que caíram da noite para o dia. As trincas, ainda que invisíveis, vão
enfraquecendo a estrutura, que uma chacoalhada interna ou externa pode
fazer desabar.
O BRASIL PARTIDO
Notas
1
A questão é muito bem trabalhada em As origens do totalitarismo, da filósofa Hannah Arendt
(1906-1975).
2
Glenn Kessler, “Trump made 30,573 false or misleading claims as president. Nearly half came in
his final year”, em The Washington Post, 23 de janeiro 2021. Disponível em
<https://www.washingtonpost.com/politics/how-fact-checker-tracked-trump-
claims/2021/01/23/ad04b69a-5c1d-11eb-a976-bad6431e03e2_story.html>, acesso em 24 jan.
2021.
3
No site Aos Fatos, contabilizavam-se mais de 2.000 mentiras nos dois primeiros anos de
Bolsonaro como presidente do Brasil. Disponível em <https://www.aosfatos.org/todas-as-
declara%C3%A7%C3%B5es-de-bolsonaro/>, acesso em 24 jan. 2021.
4
Cristóbal Rovira Kaltwasser e Cas Mudde, Populismo: uma brevíssima introdução, Lisboa, Gradiva,
2017.
5
Ernesto Laclau, A razão populista, São Paulo, Três Estrelas, 2013.
6
Explica isso muito bem Maria Esperanza Casullo, pesquisadora argentina, que escreveu ¿Por qué
funciona el populismo? El discurso que sabe construir explicaciones convincentes de un mundo en crisis,
Buenos Aires, Siglo XXI, 2018.
7
Giuliano da Empoli, Os engenheiros do caos, São Paulo, Vestígio, 2019.
8
É o título de uma coluna assinada pelo antropólogo Juliano Spyer, pelo professor da Universidade
de Kentucky David Nemer e por Mauricio Moura, fundador do IDEIA Big Data.
9
Wu Youyou, Michal Kosinski e David Stillwell, “Computer-based personality judgments are
more accurate than those made by humans”, em PNAS, 2015. Disponível em
<https://doi.org/10.1073/pnas.1418680112>, acesso em 29 nov. 2019 [tradução minha].
10
Christopher Wylie, apud Pablo Guimón, “O ‘Brexit’ não teria acontecido sem a Cambridge
Analytica”, em El País, 28 mar. 2028. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/26/internacional/1522058765_703094.html>, acesso
em 25 out. 2020.
11
Christopher Wylie, apud Pablo Guimón, “O ‘Brexit’ não teria acontecido sem a Cambridge
Analytica”, em El País, 28 mar. 2018. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/26/internacional/1522058765_703094.html>, acesso
em 25 out. 2020.
12
Christopher Wylie, apud Pablo Guimón, “O ‘Brexit’ não teria acontecido sem a Cambridge
Analytica”, em El País, 28 mar. 2018. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/03/26/internacional/1522058765_703094.html>, acesso
em 25 out. 2020.
13
Sófocles, A trilogia tebana: Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona, Rio de Janeiro, Zahar [e-
book].
14
Eliane Brum, “O homem mediano assume o poder: O que significa transformar o ordinário em
‘mito’ e dar a ele o Governo do país?”, em El País, fev. 2019. Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/02/opinion/1546450311_448043.html>, acesso em 4
abr. 2020.
15
Theófilo Machado Rodriguês, “Populismo de esquerda versus Populismo de direita no início do
século XXI: o conflito político nos EUA, Inglaterra, França e Alemanha”, em Revista Estudos
Políticos: a publicação semestral do Laboratório de Estudos Hum(e)anos (UFF), Rio de Janeiro, v. 9,
n. 1, pp. 70-85, jul. 2018. Disponível em <http://revistaestudospoliticos.com/>, acesso em 13
dez. 2019.
16
Luc Rouban, La matière noire de la démocratie, Paris, Les Presses de SciencesPo, 2019 [e-book].
17
“‘Vocês estão vivendo um novo tipo de ditadura’, diz sociólogo Manuel Castells”, em O Globo,
17 jul. 2019. Disponível em <https://oglobo.globo.com/sociedade/voces-estao-vivendo-um-novo-
tipo-de-ditadura-diz-sociologo-manuel-castells-23812733>, acesso em 12 jul. 2020.
18
“O novo populismo de América Latina, um movimento mais vivo do que nunca”, em IdeasBr,
15 set. 2017. Disponível em <https://ideasbr.llorenteycuenca.com/2017/09/15/o-novo-
populismo-de-america-latina-um-movimento-mais-vivo-do-que-nunca/>, acesso em 12 jul. 2020.
19
Os dez valores que Schwartz detectou como presentes em todas as culturas são:
1. Poder: status social e prestígio, controle e domínio sobre pessoas e recursos;
2. Realização: sucesso pessoal pela demonstração de competência segundo os padrões sociais;
3. Hedonismo: prazer e gratificação sensual para si;
4. Estímulo: excitação, novidade e desafios;
5. Autodirecionamento: pensamento e ação independentes (escolher, criar, explorar);
6. Universalismo: compreensão, apreciação e tolerância em relação ao bem-estar de todos os
povos e da natureza;
7. Benevolência: preservação e incentivo do bem-estar das pessoas com as quais se está em contato
pessoal frequente;
8. Tradição: respeito, compromisso e aceitação dos costumes e das ideias da cultura e da religião;
9. Conformidade: limitação das ações, inclinações e impulsos que possam incomodar ou
machucar os outros e violar normas e expectativas sociais;
10. Segurança: harmonia, estabilidade da sociedade, das relações e de si.
20
Alemanha, Austrália, Brasil, Chile, Eslováquia, EUA, Finlândia, Grã-Bretanha, Grécia, Israel,
Itália, Polônia, Espanha, Turquia e Ucrânia. Michele Vecchione et al., Guido. (2014). Personal
Values and Political Activism: a Cross-national Study. British journal of psychology, London, 1953,
mar. 2014. Disponível em
<https://www.researchgate.net/publication/260608026_Personal_values_and_political_activism_
A_cross-national_study >, acesso em 27 jun. 2020.
21
“Plano de quebrar o oligopólio do Facebook e do Google ganha peso nos EUA”, em El País, 5
out. 2019. Disponível em
<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/04/internacional/1570189971_000536.html>, acesso
em 13 jul. 2020.
22
Vladimir Safatle, “O que é fascismo?”, em Revista Cult, 22 out. 2018. Disponível em
<https://revistacult.uol.com.br/home/o-que-e-fascismo/>, acesso em nov. 2020.
23
André Singer et al., “Por que assistimos a uma volta do fascismo à brasileira?”, em Folha de
S.Paulo, 09/06/2020. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/06/por-
que-assistimos-a-uma-volta-do-fascismo-a-brasileira.shtml>, acesso em nov. 2020.
24
É a proposta da pesquisadora belga Chantal Mouffe no livro Por un populismo de izquierda
(Buenos Aires, Siglo Veintiuno Editores, 2018).
Conclusão – A liberdade é plural