(Enviado) Educação Popular (24-01-2023)
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participantes, ou educando. Pelo levantamento feito, eram escolhidas as
chamadas palavras geradoras para que fossem relacionadas à experiência
cotidiana do grupo e assim eram suscitados debates sobre a realidade social
que tinham como objetivo o incentivo do espírito crítico dos educandos. As
palavras eram então trabalhadas pelos educadores em alguns passos como a
decomposição das famílias fonêmicas, a formação de palavras novas, entre
outros2.
2
HECK, 2017. p. 14.
3
ELY, 2017, p. 41.
2
A educação popular preza pela intenção que guia a ação, considera
todas e todos como atores sociais e valoriza a diversidade dos saberes. Ela
constrói a autonomia pela reflexão crítica, pois através dela a pessoa pode se
apropriar de quem é no mundo, das suas potencialidades, e da sua formação
enquanto sujeito que questiona as opressões e as situações de desigualdades.
Além disso, o processo educativo é entendido enquanto um projeto coletivo e
não individual4.
As relações de aprendizado na educação popular são traçadas entre
educadores e educandos e são relações de troca que valorizam as
individualidades e trajetórias de vidas de cada um. Durante esses encontros,
geralmente as pessoas ficam organizadas em círculos para que possam se ver
e se escutar melhor, quebrando assim a disposição das salas de aula
tradicionais nas quais apenas uma pessoa pode falar todo o tempo enquanto
as outras devem somente ouvir. Nos círculos não há um lugar de destaque na
frente, todos estão na mesma posição em relação aos outros e isso é
extremamente importante para o diálogo que pretende dar a mesma
oportunidade para todos falarem e se entenderem.
Figura 1- Roda de conversa durante evento de formação do Mumbuca Futuro em dezembro de 2022
4
Cartilha para Multiplicadores e Multiplicadoras Inesc, 2018, p. 13.
3
Nesses espaços todos os saberes têm valor, merecem ser escutados e
respeitados. É o entendimento do educando enquanto agente e sujeito do
processo educativo que motiva essa construção de espaços de diálogo 5. Isso
se dá pois na educação popular acreditamos que é com o diálogo que
podemos transformar a realidade, já que é através dele que nos tornamos
cidadãos e cidadãs mais críticos, questionadores e podemos estabelecer
relações solidárias uns com os outros, assim como podemos agir
coletivamente.
Há também a ideia de que o conhecimento é algo que é construído
enquanto vivemos, não é uma coisa que absorvemos somente em algum
período específico como algo estático e terminado. Existe “nos educandos um
processo de saber mais”6 durante a vida, sendo sempre aprimorado e
revisitado.
É pela reflexão crítica que conseguimos ser capazes de ter
intencionalidade nas nossas ações, estando em um constante curso de ação-
reflexão-ação, na qual agimos, refletimos sobre como atuamos para podermos
então agir novamente com novas informações, questionamentos e intenções
em busca da construção de “novas relações econômicas, sociais, culturais,
ambientais, baseadas na igualdade, na fraternidade e na justiça”7.
Uma discussão importante para a educação popular é sobre a diferença
entre a educação libertadora e o que Paulo Freire (1965;1987) chama de
“educação bancária”. Freire elabora uma crítica à educação bancária uma vez
que ela reproduz estratégias de dominação da elite sobre as classes oprimidas.
Na educação bancária (que é o modelo de educação tradicional) cabe ao
professor e à professora o papel de transmissores de conteúdos, enquanto os
alunos e as alunas apenas recebem as informações. O ato se assemelha ao
depósito bancário, uma vez que os alunos são passivos nessa dinâmica,
enquanto os professores fazem “depósitos” de conteúdos, por serem eles que
detêm todo o saber, enquanto os alunos são apenas receptores dessas
informações. Esse modelo de educação não leva em consideração aquilo que
as pessoas já possuem de saberes, especialmente os saberes das classes
5
RAMBO, 2016, p. 4.
6
FREIRE, 1997. p. 17.
7
DIAS, 2017, p. 31
4
populares. É uma forma de educação extremamente hierarquizada e põe os
alunos como receptáculos a serem preenchidos pelos conteúdos através de
uma memorização mecânica, dócil8 e individualista.
A educação bancária adapta o ser humano à ordem social vigente, ao
capitalismo e, para Paulo Freire, “é puro treino, é pura transferência de
conteúdo, é quase adestramento, é puro exercício de adaptação ao mundo” 9.
Essa educação valoriza a repetição e memorização do conteúdo sem o
pensamento crítico, uma vez que não se deve questionar nem o professor e
muito menos o teor do que é passado. Não há o desenvolvimento de métodos
que incentivam a apropriação do conhecimento pelos estudantes e nem há a
estimulação da conscientização dos mesmos; há apenas a transmissão
unilateral do conteúdo cujo objetivo é a reprodução social. A reprodução social
se dá em um aspecto pois a realidade social é apresentada como algo estático,
alheia à interferência dos indivíduos, cabendo a eles a adaptação. Nesse
sentido, é importante destacar que a educação bancária é uma escolha
política, por mais que seja apresentada como neutra.
A educação libertadora é a contrapartida a essa educação tradicional
sugerida por Freire. Ela se preocupa com a conscientização dos educandos,
prezando pelo diálogo e pela construção coletiva entre pessoas consideradas
igualmente como sujeitos políticos. Ou seja, a educação libertadora preza pela
construção coletiva e pela reflexão que orienta a ação, que por sua vez, precisa
ser reflexiva: isso é o que chamamos de práxis10. Nesse sentido, a educação
libertadora é emancipadora uma vez que é através da luta democrática pela
transformação social que podemos combater as opressões e desigualdades
que nos damos conta a partir da reflexão crítica da sociedade.
É importante ter em mente que
a educação popular, por se firmar na realidade e buscar transformá-
la, precisa conhecer o mundo, ter uma visão crítica do capitalismo e
do Estado nacional. Ela precisa incorporar as dimensões diversas e
realidades possíveis, precisa pensar nas questões do campo, da
cidade e da floresta. Pensar o mundo em que vivemos, em como o
território brasileiro e mundial é organizado e dividido, quais são os
conflitos e as relações de poder nos contextos rurais e urbanos,
8
Cartilha Metodologia Orçamento & Direitos Inesc, 2017, p.22.
9
FREIRE, 2000, p. 101.
10
Cartilha Metodologia Orçamento & Direitos Inesc, 2017, p.23.
5
nos centros e nas periferias. Questionar o porquê da existência de
conflitos por moradia e transporte urbano, e pessoas viverem onde
vivem; a questão ambiental e os biomas, e quem procura transformar
a natureza em um negócio – o agronegócio e a extração de minérios
e de petróleo, entre outros. As diferentes culturas, e o direito de viver
de acordo com seus costumes e história, como os povos indígenas,
quilombolas e as comunidades tradicionais. As violências
relacionadas à raça e aos gêneros, e também a questão geracional
->Elaborar quadro:
Educação bancária x Educação libertadora
Individual Coletividade
Transmissão de conteúdo Construção de conhecimento
Fala “sobre” algo Fala “ a partir” das experiências
Opressora Transformadora
Professores como únicos atores Educandos também como atores
Verticalidade Diálogo/Horizontalidade
11
Cartilha para Multiplicadores e Multiplicadoras Inesc, 2018, p. 15.
6
Referências
Cadernos de Formação – Educação Popular e Direitos Humanos, 2015.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
GADOTTI, Moacir (org). Paulo Freire: Uma biobliografia. São Paulo: Cortez
Editora, 1996.