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O Menino Que Podia Sonhar - Jonas Gervazio
O Menino Que Podia Sonhar - Jonas Gervazio
O Menino Que Podia Sonhar - Jonas Gervazio
1
Quem não gosta de sonhar? Nos sonhos,
tudo é possível, as coisas parecem tão simples e
boas. Nossa imaginação cria momentos que
seriam perfeitos se fossem reais.
No entanto, passar muito tempo sonhando
e não viver no mundo real pode ser um perigo.
É isso o que acontece com nosso
personagem, que é um tanto... digamos...
diferente.
Ele possui a habilidade de transitar entre
o mundo dos sonhos e da realidade, e tudo o
que ele faz na imaginação, tem um efeito no
mundo real.
Curioso para conhecê-lo? Então comece a
ler (óbvio), mas não faça igual o garoto que
podia sonhar, não passe o tempo todo aqui...
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Capítulo 1
O velho
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Ele tinha 15 anos quando descobriu que
conseguia vivenciar momentos diferentes. Certa
noite, "acordou" e viu uma praia muito linda.
As ondas chegavam à areia de forma
graciosa e tranquila, causando um efeito
revigorador em qualquer pessoa que via.
Ele caminhou mais um pouco, chegou até
a água, tão transparente que dava para ver o
próprio reflexo, e viu o rosto de um homem
carrancudo, de cabelos brancos e ar de sabichão.
O velho era metido a poeta. Assim que
viu o menino, falou:
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“Menino sonhador, menino sonhador,
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“- Isso não é uma praia, é uma pintura.
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“Este velho sabe o que diz, sabe o que faz
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O garoto logo percebeu que de poeta o
velho não tinha nada, pois nem rimar sabia.
Entrou na água e começou a nadar, pois
aqui nesse mundo ele sabia perfeitamente.
Mais a frente, viu novamente o reflexo do
velho, que, dessa vez, gritando, falou:
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Dessa vez o menino percebeu que ele
conseguiu encaixar rimas e até se divertiu com
aquilo.
Nesse momento, escutou a voz de seu pai,
que também gritava:
- Filho! Acorda!
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Capítulo 2
Foi real?
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"Acordou" novamente.
- Pai! O senhor não vai acreditar no
sonho que eu tive. Eu estava em uma praia.
- Então você fugiu de casa, hein!? - disse o
pai, com olhar inquisitivo.
- Eu não fugi, pai, eu fui... como posso
dizer?
- Diga.
- Não sei dizer.
- Então fugiu.
- Bom, pensando bem, sim, eu fugi, mas
ao mesmo tempo, não.
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O pai já começava a se enfurecer aos
poucos, suspeitando que o menino o estava
fazendo de bobo.
- Preste atenção, garoto, não tenho tempo
para as suas brincadeiras, então vá logo
dizendo onde estava.
- Mas eu já disse - falou o menino, cheio
de razão.
- Você disse que estava em uma praia.
- Exatamente. Mas não pra valer, já disse
que foi um sonho.
- Um sonho? Mas você nem aqui estava.
Quer dizer, num minuto estava, e no outro, não.
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Foi aí que o menino se tocou de que não
fora apenas um sonho. Tudo aconteceu de
verdade.
- Pai, por acaso existe uma praia que tem
um velho nas águas?
- Bom, muitas praias tem, filho. Mas,
pensando bem, ontem no jornal eu vi uma
repórter anunciando um local que apareceu do
nada na costa Sul da cidade. Ela entrevistou um
idoso muito engraçado.
- Esse velho recitava poemas?
- Sim. Mas como sabe?
O menino não conteve a emoção:
- Foi real? Foi real! Meu sonho se tornou
realidade! Finalmente fui a uma praia.
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Mais uma vez, escutou o pai gritando.
- Doutor! Faça alguma coisa! Quero meu
filho de volta!
- Senhor, já estamos fazendo tudo o que
está ao nosso alcance.
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Capítulo 3
A ideia
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Foi aí que tudo ficou claro: tudo o que ele
sonhava acontecia de verdade.
"Vou testar", pensou.
Fechou os olhos e começou a imaginar um
avião, um outro sonho que ele tinha. Quando
abriu os olhos, estava voando, dentro do avião.
"Agora quero conhecer a Torre Eiffel",
pensou ele com os olhos fechados.
Dito e feito. Lá estava ele na França.
Quando "acordou" novamente, teve uma
sensação estranha. Perdeu um pouco a noção do
que era real ou não. Mas aos poucos foi
voltando ao normal, e foi contar a novidade ao
pai.
Descreveu a Torre Eiffel e o avião com
tamanha precisão que o pai ficou
impressionado.
- E desde quando você tem o poder de
criar coisas?
Após dizer isso, o pai passou uns vinte
segundos quieto.
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“Olha só o meu, avião, meu pássaro que voa
18
“Cidade das luzes, cidade das pinturas
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O menino rompeu o silêncio.
- O que houve, pai?
- Filho, eu estava aqui pensando.
- Sim, todos fazem isso.
- Você consegue tornar todos os seus
sonhos em coisas reais, né?
- Sim.
- Então, sonhe que estamos ricos! Assim
poderemos sair deste lugar, conhecer o mundo
e sair dessa situação.
O menino ficou um pouco decepcionado
com a sugestão do pai. Então falou:
- Pai, não quero sair daqui. Aqui eu vivi
todos os melhores momentos da minha vida. Eu
amo minha cidade e minha casa. Vou usar meus
poderes para visitar os outros locais do mundo,
e sempre voltar pra cá.
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O pai também ficou decepcionado.
- Mas filho, estamos em uma situação
financeira muito complicada.
- O senhor é médico e ganha bem. Já
tenho quase 16, daqui a pouco tempo irei
concluir os estudos e também arrumar um
emprego. Ficará tudo bem.
O pai saiu da decepção para o orgulho,
ao ver a maturidade que seu filho atingia.
O momento foi interrompido por uma
conversa.
- Doutor, eu também sou médico. Sei que
a situação está complicada. Me fale a verdade.
Não quero que me dê esperanças, quero que me
coloque a par de tudo.
- Pois bem. Seu filho está tendo uma...
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“Hospital bonito, hospital legal
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Capítulo 4
O velho?
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Caro leitor, sabe aqueles sonhos em que
se tem plena convicção de que estamos em um
sonho? Como se quebrássemos a quarta parede
no cinema (inclusive estou quebrando a quarta
parede do livro).
No outro dia, o menino "acordou", mas
sentia que estava em um sonho. Logo em
seguida, "acordou" de novo, e dessa vez pensava
que estava de fato acordado, mas estava
redondamente enganado.
Também já aconteceu com você, leitor, de
"acordar" duas vezes no mesmo sonho? Um
sonho de duas camadas.
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Ele estava na segunda camada. Mas qual
delas era real? Provavelmente todas, tendo em
vista que ele tinha a habilidade de vivenciar os
sonhos.
Porém, dessa vez, estava mais para um
pesadelo. Lembra-se do velho da praia, o
metido a besta? O metido a sabichão e poeta?
O menino estava em uma cachoeira. E
mais uma vez o reflexo poético apareceu e
lançou:
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Mas o que isso tem de pesadelo?
Bem, é que agora o poema do velho tocou
em um ponto muito importante da vida do
menino.
Ás vezes, ele se esquecia de fazer as
tarefas da escola, de sair de casa, de falar com os
amigos, de fazer coisas "normais". Passava o dia
inteiro sonhando acordado, imaginando coisas
que poderia estar vivenciando de verdade, mas
a realidade tendia a ser decepcionante. Então
preferia sonhar.
O menino disse:
- Não é da sua conta! Eu faço o que
quiser.
O poeta respondeu:
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Lá no fundo, ouviu-se:
- Entendi, doutor. Mas continue, faça o
que puder.
- Estou tentando, mas seu filho não se
ajuda.
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“Pessoas iguais, mesma aparência
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Diferentes pessoas, mesma influência.
Capítulo 5
Teimoso
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A mãe do menino sempre brigava com ele,
por causa de sua personalidade forte. Não
mudava de opinião por nada nesse mundo, e
por isso, deixou de ouvir e pôr em prática
muitos conselhos dela.
Ele amava a cultura japonesa, mais
especificamente os animes. Sabia tudo sobre
Dragon Ball, Naruto e afins.
Se o Goku dizia que fazer uma coisa era
bom, então ele fazia. Mas quando sua mãe dizia
a mesmíssima coisa? Não importava. Vivia
sempre no seu mundinho, tão cheio de
personagens, mas vazio de pessoas.
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Decidiu então criar mais um sonho. Dessa
vez imaginou todos os heróis de todos os
animes que conhecia. Criou um verdadeiro
multiverso. Na sua frente, estavam os maiores
nomes já inventados para as animações
japonesas.
Porém, infelizmente, um pouco atrás
estava toda a sua vida, que mais uma vez
gritava:
- Filho! Acorde!
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O que seria mais importante do que voar,
ter poderes e muita força? Poder fazer
literalmente qualquer coisa. Literalmente
mesmo, pois tudo o que ele fazia era real, não?
Só ligava para aquelas sombras na sua
frente, aquelas pessoas incríveis. Nada mais
existia.
.................
- Filho! Só sairemos daqui com você bem!
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“Mito da caverna, mito de Platão
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Olá, leitor, sou eu de novo. Quem? Quem
você quiser que seja.
"Como assim?", você me pergunta. E
como eu te considero muito, já te respondo na
lata.
Quando se lê um livro, a voz na sua
cabeça pode ser a de quem você quiser. Você
pode ler com a voz do Goku, ou com a do
Batman. Ou com a sua. Você decide.
E pra que tanta enrolação? Para dizer que
o menino era exatamente assim. Ele podia
escolher o que quisesse na sua imaginação, e
sempre se imaginava sendo outra pessoa, fosse
um super-heroi ou uma pessoa famosa. Ele
queria ser todos, menos ele.
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E isso se tornou um problemão para ele.
Porque não é nada legal viver a vida dos outros
e se esquecer de viver a própria.
Por mais bem de vida que estivermos,
nunca nos sentimos satisfeitos, sempre
queremos mais. Sempre tem alguém que tem
algo que não temos. E queremos isso também.
Se o menino tivesse pensado nisso tudo
antes, nada disso teria acontecido com ele.
"Mas o que aconteceu?", você mais uma
vez me pergunta. E mais uma vez te respondo:
leia e descubra por si mesmo.
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“Quem é esse menino, que está no Japão?
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Não me pergunte, isso é só imaginação.”
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Capítulo 7
O que aconteceu?
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estudar e até mesmo andar na rua, certo? (agora
não tenho certeza se essa última parte eu disse,
mas enfim, agora está dito. Na verdade, fica até
subentendido né).
Será que eu gosto de enrolar? *risos*
Enfim, após todos esses sonhos, o menino
"acordou" novamente e decidiu ir andar um
pouco na rua. Mas, como sempre, todo
desorientado, sem olhar direito para lugar
algum, nem ninguém, absorto em seus
pensamentos.
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Capítulo 8
O menino que podia sonhar
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"Acordou" em uma chácara, e lá na
piscina viu seu pai, sua mãe, e seu irmão.
Em uma mesinha, viu dois boletins da
escola, um com notas muito bonitas e outro com
notas um tanto quanto displicentes.
Viu também que em um boletim estava
escrito "Jairo da Silva Mendes", e no outro
"James da Silva Mendes".
Eles o viram e gritaram:
- Vem logo pra cá!
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"Ele desaprendeu a rimar", pensou o
menino. Quando olhou novamente para a
piscina, nem piscina tinha mais.
Pensando bem, não havia mais nada,
estava tudo escuro. Sua primeira reação foi a
mais óbvia possível: saiu correndo sem direção.
Parou, e lembrou-se do poder que tinha.
Fechou os olhos e pensou: "quero estar de volta
em casa". Abriu os olhos sorrindo, mas logo o
sorriso também desapareceu. Continuava no
mesmo lugar.
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Começou a chorar, sem entender nada.
Então percebeu que nem lágrimas ele tinha.
Que lugar era aquele? Não conseguia ver,
nem andar, nem correr, nem chorar, nem gritar.
Só conseguia ficar parado, sem se mexer.
Pensando bem, onde estava seu oxigênio? Será
que conseguia ficar desesperado também? Só o
que conseguiu ver foi o velho, sussurrando:
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O mundo onde o menino estava começou
a tomar vida, cores e sentido.
Viu o rosto do seu pai e correu em direção
a ele. Mas, ops, ele ainda não conseguia sair do
lugar.
Foi aí que entendeu o que precisava fazer.
Limpou a mente, ficou tranquilo, pensou
apenas em sua família, seu único elo entre
aquele mundo e o dele. A coisa mais real que
ele tinha na vida. Era o que realmente
importava.
Aos poucos, começou a escutar gritos. Mas
não gritos de desespero, igual das outras vezes.
Agora eram gritos de felicidade. Olhou ao redor
e viu vários rostos familiares.
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Capítulo 9
Acordou
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O menino acordou.
Estava um pouco debilitado, mas acordou.
Nada podia ser mais real do que aquilo.
Finalmente havia acordado.
Quantas metáforas são necessárias para
dizer o que se quer dizer? Aliás, é realmente
necessário usar metáforas?
Só para tornar as coisas mais bonitas,
talvez. E realmente funciona. Porque tem horas
que a maior metáfora está bem debaixo do
nosso nariz, e não percebemos.
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Às vezes, é preciso acordar para a vida.
Tomar um rumo. Pertencer a algo. Fazer algo.
Se sentir útil. Deixar sua marca. Não se faz nada
disso sonhando, imaginando. Quer dizer, todas
as ideias começam na nossa mente, mas sem
colocá-las em prática, nada tem efeito.
Nosso menino foi feliz daí em diante?
Quem sabe? A felicidade é subjetiva. Mas fato é
que ele encontrou seu lugar no mundo.
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Terminou diferente do que começou. O
ser humano é assim, mutável. Adaptável. Ele se
adequa ao momento/situação/lugar. E ele
precisava se adaptar, sair daquele sonho. Do
grande sonho.
Saiu. E agora tem uma longa e difícil
jornada pela frente. Mas tem pessoas
importantes ao seu lado.
Fim*
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“Menino bonito, cheio de emoção
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*Fim?
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Epílogo
Acordou?
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O maior cego é aquele que não quer ver?
Escutar e ouvir são a mesma coisa? Para um
bom entendedor, meia palavra basta?
O menino de fato acordou, abriu os olhos,
literalmente literal, realmente real.
Mas ainda não havia acordado para a vida,
que é uma metáfora muito usada pelos pais
para dizer que o filho precisa tomar um rumo.
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“Cidade bonita, cidade natal
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Coleção de poemas do velho
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Aqui não é seu lugar
Essas águas são reais
Isso não é um sonho
Saia daqui e rápido
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Garoto, volta pro teu
sonho!
Volta a dormir!
Deixa de ser teimoso!
Não vá se iludir!
Vá ficar de molho
E procurar uma solução!
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O menino continua
achando
Que está vivendo, mas não
Está apenas tentando
Fugir da realidade em vão
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Eu dizia a mesma ladainha
Sempre me achando dono da razão
Mas na verdade não sabia nadinha
Sobre o céu ou sobre o chão
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Você é mesmo desprovido de inteligência
Caia logo na real, saia daqui e lute
Você precisa voltar para seu pai
Dê a ele a chance que ele merece
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Você está quase lá
Aguente mais um pouco
Seu pai está te tirando
daqui
Ele está te salvando
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Agradecimentos
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Agradeço àqueles que me apoiaram e me
deram forças para desenvolver este livro e
publicá-lo:
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