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Os Lobos de Esther - Livro 5 PDF

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PERIGOSAS

NACIONAIS-ACHERON
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NACIONAIS-ACHERON
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Copyright © 2017 Editora PL


Copyright © 2017 Janice Ghisleri

Capa: Denis Lenzi


Revisão: Carla Santos
Diagramação Digital: Carla Santos

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.


Nenhuma parte dessa obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma, meio eletrônico ou mecânico sem a permissão do autor e/ou editor.

NACIONAIS-ACHERON
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Capa
Folha de Rosto
Créditos
Prefácio
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11

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Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
NACIONAIS-ACHERON
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Epílogo
Em breve...
Biografia
Obras
Saiba mais sobre a Editora PL

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Na época do colégio, eu sempre fui fascinada por História, principalmente


sobre mitologia greco-romana e nórdica. Encantava-me cada vez que
descobria mais acerca desse universo, os templos, rituais, deuses e criaturas
— muitas vezes monstruosas —, acontecimentos e fenômenos. Infelizmente,
não havia quem me indicasse algum romance do gênero que abordasse esse
tema, talvez pelo fato de desconhecerem ou serem avessos a esse tipo de
leitura.

Muitos anos depois, ao ampliar meus horizontes como leitora, em meio a


tantas descobertas, qual não foi a minha surpresa ao ver muitos romances
contemporâneos focados em fantasia, entre eles: a série Os lobos de Ester.

No decorrer dos quatro volumes da série, acompanhamos a jornada de


cada membro de uma determinada alcateia, e depois do desfecho de O alfa de
Alamus, nós vimos o quanto Harley, o irmão de Petrus, abriu mão de sua
felicidade pelo amor, admiração e respeito que sentia pelo irmão e pelo dever
e lealdade com o seu povo. Por isso, ele teve o coração dilacerado diante dos
últimos acontecimentos ocorridos na Ilha de Alamus, que culminou em uma

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reviravolta em sua existência infeliz por não ter alguém que o amasse sem
medidas.

Sem saber havia alguém que estava predestinada a ele. Como sabemos,
com o passar do tempo, o amor torna-se irrestrito, até mesmo profundo.
Foram essas características desse sentimento tão sublime e incondicional que
vivenciei com os protagonistas durante a leitura de O regresso, cujo enredo é
permeado de drama, aventuras, ação, segredos a serem desvendados, pistas
misteriosas, fatos e fenômenos até mesmo chocantes, situações sombrias e
entremeadas de humor, ternura, emoção e, claro, muito romance com cenas
muy calientes.

Harley é um dos personagens mais intensos, altruístas e românticos à


moda antiga. Se doa por inteiro àqueles que ama, sem exigir nada em troca.

Mesmo sendo um romance de fantasia, Janice Ghisleri abordou muitas


questões que nos fazem refletir, com seu jeito peculiar de transportar as
emoções para as páginas. Nesta história, pude enxergar os erros que muitas
famílias — por conta de mal-entendidos, que levam a pré-julgamentos, sem
sequer darem uma chance de defesa a "vítima" — comumente cometem. Isso
os leva a um distanciamento, abalando a confiança, que muitas vezes é tão
frágil.

Porém, independente do tempo, o amor realmente é a força motriz que


rege tudo, porque é engrandecedor. Por outro lado, quem o vivencia também
sofre, crê, espera e suporta a todos os obstáculos que entram em seu caminho.
Vocês verão o quanto isso é pertinente ao personagem, que mostrará que sua
beleza transcende por sua generosidade e integridade.

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Assim como a idoneidade, em meio às suas qualidades e imperfeições,


nossos protagonistas carregam admiravelmente muitas particularidades entre
si que vai além dos sentimentos, pois, às vezes, terão que fazer escolhas
difíceis e ao mesmo tempo tomarão decisões dilacerantes que regerão
drasticamente seus destinos.

Embarque nesse universo fantástico regado de muita magia, guizos,


pedras, seres mitológicos, rituais, monstros e reviravoltas que deixarão você,
leitor, com o coração na mão e as emoções à flor da pele. De quebra, estará
tão envolvido pela magia da trama, que também se encantará pela
simplicidade do verdadeiro amor, que jamais acaba pela aura de poder que
emana, acalentando, trazendo um bem-estar e uma felicidade imensuráveis
como o dom da magia da vida. E esperança é algo que os lobos da Janice
Ghisleri têm de sobra mesmo tendo sofrido traumas por toda uma existência.

Convido-os a conhecerem, nas próximas páginas, o amor de uma maneira


especial. Que Harley e Pietra possam ensinar a vocês, leitores, como agir
diante de suas escolhas, sejam elas boas ou más, e como cultivar os
momentos especiais, em sua simplicidade, ao lado de quem vocês amam,
antes que seja tarde demais.

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Carla Santos

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Alcateia Scopelli, Roma, Itália.

Pietra entrou rapidamente em seu quarto e fechou a porta num baque, se


escorando nela. Estava respirando com dificuldade, tão nervosa que pensava
que desmaiaria.

Ela desembrulhou um papel amassado que estava na sua mão e, pela


milésima vez, leu a nota.

“Se não me der o que eu quero até a meia-noite contarei seu segredo sujo ao
seu pai e a todos da alcateia, então eu quero ver a loba do papai ser tratada
como uma traidora.”

Assustada, com os olhos arregalados, amassou a nota novamente. Havia


recebido muitas delas nos últimos dias e estava se vendo sem saída.
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Se não pagasse a quantia que o chantageador pedia, ele contaria a verdade


ao seu pai e ela estaria desgraçada para sempre.

— O que foi que eu fiz? O que faço agora? — sussurrou exasperada e


secou uma lágrima que escorreu e fechou os olhos para pensar.

Tinha se livrado de um problema e entrado em outro. Um pior.

Dessa vez, ninguém a salvaria.

Talvez a morte fosse o fim de tantas mentiras e sofrimentos, o que seria


um presente.

Estava lamentando por sua família, que a veriam de forma tão ruim, pelos
erros cometidos, pela sua fraqueza, mas havia algo que realmente estava
fazendo seu coração sangrar: nunca mais veria Harley.

Suas lágrimas rolaram soltas, porque a dor em seu coração era imensa.

Ilha de Alamus, Creta, Grécia.

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Naquele dia, a festa que Petrus havia preparado para Sami, para pedi-la
em casamento, havia rolado durante todo o dia e alguns lobos ainda estavam
pelo terraço e na praia jogando conversa fora, bebendo suas cervejas e
beliscando carne assada.

Harley realmente estava feliz por Petrus e por todos eles. Estavam felizes
comemorando regressos e recomeços.

Dois companheiros de alma estavam unidos, mas dois haviam se


separado.

Harley tinha estado insano por um período, os acontecimentos dos últimos


tempos estavam mexendo com sua cabeça e seu coração. Mas ele sabia que
precisava se abrandar. Se é que isso fosse possível.

Depois da festa, Harley foi para seu quarto e andava de um lado a outro.
Queria relaxar, acalmar seu lobo, mas algo dentro dele havia descarrilhado e
não conseguia colocar no lugar.

Ele não conseguia parar de pensar em Pietra e no fato de que ela não havia
mais atendido suas ligações desde o dia fatídico da sua cerimônia do
acasalamento com Petrus e tudo tinha sido uma grande bagunça e ela tinha
saído de sua vida de forma definitiva.

O decreto do rei de Kimera de que ninguém da alcateia dos italianos


pisasse em Alamus novamente e as palavras de Pietra em que dizia que as
duas alcateias não poderiam conviver, martelavam na sua cabeça como

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marretadas.

Ela estava certa, os gregos e os italianos jamais se entenderiam e não


poderiam conviver. A animosidade criada era irrevogável, o que o irritava
além do infinito.

Ele ainda estava com a raiva reverberando sob sua pele, mas tinha que se
acalmar.

Aquela sensação de agonia que afligia seu corpo seria um frenesi? Ele não
era acasalado, mas por que infernos aquela sensação estava o acometendo?

Mal conseguia conter que seus olhos ficassem cintilando de forma


permanente e suas presas sempre estavam doloridas, fora o fato que vivia
excitado cada vez que a imagem dela surgia na sua cabeça, o que era o tempo
todo.

Ele bebeu um gole da cerveja gelada e a colocou com uma batida sobre o
criado-mudo que quase quebrou a garrafa Long Neck. Ele tinha bebido várias
delas durante o dia e deveria estar bêbado, pois sua cabeça girava.

Ele olhou para a janela e ao longe viu a lua cheia brilhante no céu e seu
coração se entristeceu ainda mais.

Talvez nunca mais a visse. Talvez essa fosse a vontade dos deuses. Ele
não conseguia entender; se não podiam ficar juntos, por que ela tinha entrado
na sua vida? Porque tirá-la de seu coração era uma missão impossível.

Ele tinha encontrado sua loba e a tinha perdido.

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E ele somente queria que ela regressasse, queria a chance de poder amá-la
e cuidá-la.

Ele queria ser amado. Queria que ela cuidasse dele.

Mas ele não podia tê-la e como poderia esquecê-la?

Isso doía, doía demais.

E ali ficou por horas, tentando trabalhar para espairecer, mas ao mesmo
tempo em que digitava os comandos do jogo que estava trabalhando, seu
olhar de dois em dois minutos corria para o ícone de vídeo no canto da tela
até que ele clicou e a tela abriu, ele discou para ela e esperou.

— Vamos, minha Afrodite, atenda, por favor. Só dessa vez, por favor.

Mas ela não atendeu e ele desistiu de buscá-la.

Havia a perdido de vez e ele pensou que não podia haver escuridão maior
que esta que assolou sua alma.

Seu coração murchou e seu lobo foi tomado pela ira e tristeza.

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Ilha dos Lobos, Grécia.

Flanqueado de Julian e Erick, Noah entrou em uma sala vazia localizada


no Clube de Recreação e as luzes foram acesas. Eles estavam sérios,
carregados de uma aura feroz, com a raiva estampada em seus olhos e seus
músculos rígidos, tornando-os maiores e mais assustadores.

Eles se aproximaram de uma das paredes e Noah deu um sorriso lento e


sádico, mostrando suas presas alongadas.

Ele era aterrorizante quando fazia isso de forma premeditada.

— Pronto para conhecer seu inferno, Joan? — Noah perguntou


perigosamente.

Joan estava preso à parede com largos grilhões de ferro nos punhos,
tornozelos e com uma coleira de choque presa em seu pescoço e outro grilhão
de ferro embaixo.

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Noah havia o nocauteado na briga que tiveram em Las Vegas e com a


ajuda de outros lobos o haviam imobilizado e o levado para a ilha.

— O que vai fazer? Torturar-me? — Joan rosnou entredentes.

— É uma ideia tentadora, não acha, alfa? — Erick perguntou também


exalando fúria.

— Por que não me mata de uma vez e acaba logo com isso?

— Oh, mas eu não me privaria e também aos meus lobos de te ver sofrer,
bastardo! — Noah disse, encarando-o mais de perto. — Sabe o que é isso,
Joan?

Julian ergueu uma seringa cheia com um líquido amarelo e Joan arregalou
os olhos.

— Sim, bastardo! Essa é a droga paralisante que vocês injetaram em


tantos lobos, acometendo-os de uma paralisia corporal, paralisando seus
membros e sentidos, mas que não tem efeito anestésico. Ela deixa todos os
seus membros paralisados, mas a dor permanece, a consciência está clara e
vívida.

— Sim, podíamos sentir a dor e não podíamos reagir, lutar e nem nos
defender! — Julian rosnou com os olhos escuros de raiva.

Joan olhou Noah com os olhos arregalados.

— Sim, o Dr. Klaus me explicou o que era esta merda — Noah disse com
cara de êxtase fingido. — Uma droga chamada Tetrodoxina, retirada do
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fígado de um peixe do Pacífico. Eu te darei este presente. Não é maravilhoso,


Joan, receber um pouquinho do que você nos presenteou?

Julian cravou a agulha no pescoço de Joan e empurrou o êmbolo,


injetando todo o líquido e Joan rosnou alto pela dor, com os olhos cintilando
e mostrando suas presas alongadas, querendo se impor, mas seu rosnado foi
cortado por um soco de Noah, que quase lhe quebrou a mandíbula.

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Ilha de Alamus, Creta, Grécia.

Alguns meses depois...

Harley estava sentado no sofá da sala com Luca e eles se movimentavam,


seguindo com o corpo, o movimento das mãos nos botões e alavancas do
Joystick e gritavam, totalmente avessos ao que acontecia ao redor, pois
estavam muito compenetrados no jogo que estavam testando.

A imagem na tela de 60 polegadas da tevê mostrava o jogo, colorido e


agitado, com o som um tanto alto.

— Tome isso, seu alienígena, peguei você! — Luca gritou alto e girou a
alavanca do controle remoto com força, enquanto apertava diversas vezes a
tecla que fazia a arma de fogo disparar.

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Harley rosnou e girou o controle fazendo o alienígena desviar da rajada de


balas que o soldado, comandado por Luca, atirava contra ele.

— Mas que merda! — Harley rosnou aturdido.

— Rá! Não é páreo para mim, alienígena. Ei! De onde surgiu esta parede,
isso não vale!

— Vamos lá, moleque, quero ver me pegar. Toma isso.

O alienígena cuspiu uma rajada de gosma verde e derrubou o soldado.

— Eca, precisava ser esta coisa nojenta?

— Pare de reclamar e levante sua bunda daí, senão virará comida de


lagarto.

Luca bufou incrédulo.

— Vamos ver. Tome isso!

Então a tela da televisão mostrou uma grande explosão. Todos pararam


olhando para entender o que havia acontecido.

— Ei! O que aconteceu? O que é isso? Eu explodi? Eu explodi! — Luca


disse aturdido.

Harley soltou uma bela gargalhada e se jogou para trás.

— Opa, eu acho que encontrei um bug, primeiro você deve jogar a


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granada e depois explodi-la.

— Mas que droga! Eu morri por causa de seu bug?

Harley riu novamente e bagunçou os cabelos de Luca, longos cabelos


negros com uma mecha branca larga do lado direito.

— Vou consertar.

— Depois de eu morrer! — Luca disse novamente, inconformado.

Naya riu enquanto colocava uma pipoca na boca e tomava um gole do


refrigerante, sentada no outro sofá.

Ela não tirava os olhos deles, principalmente de Luca. Ronan, seu


companheiro, se aproximou e beijou sua testa e sentou ao seu lado, vestido
com uma calça cargo bege e uma camiseta branca e sandálias de couro e
Naya usava um confortável vestido de malha até os joelhos com uma
rasteirinha.

Sua pele estava deliciosamente bronzeada do sol, o que arrancou um


sorriso atraente e desejoso de Ronan.

— Não sei por que gosta de ficar vendo estes dois testarem esses jogos —
Ronan sorriu, pegou uma pipoca e levou à boca.

— Tudo que envolve Luca me deixa feliz e não posso deixá-lo sair
sozinho.

— Bem, não posso reclamar disso com você, querida, já que também faço
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questão de acompanhá-lo quando vem a Creta para testar os jogos de Harley,


mas não poderemos acompanhá-lo sempre, ainda mais quando começar a se
interessar por garotas.

— Eu sei, mas ainda tenho um tempo. Sinto-me mais segura assim.

Ele sorriu para ela e beijou sua mão.

— Ainda não matou sua falta dele por tantos anos.

— Não. Parece que nunca vou cansar de vê-lo. Sinto tanto que não pude
vê-lo crescer, ensiná-lo.

— Ei, isso acabou, o temos conosco agora e estamos juntos novamente,


livres, isso é o que importa.

— Eu sei, estou feliz por isso.

Ronan beijou Naya nos lábios e ela suspirou, tentando afastar sua
nostalgia e acariciou os cabelos longos dele e sorriu.

Depois de tantos anos, com o cabelo tão curto e irregular, usado nos
laboratórios, ele tinha deixado seu cabelo crescer novamente. Onde se
podiam ver as mechas multicoloridas que o deixavam mais atraente.

Ela bebeu um gole da Coca-Cola e ambos ficaram ali, comendo a pipoca e


observando Luca e Harley.

O jogo acabou e eles ficaram trocando ideias. Luca dizia o que tinha
gostado, o que não e Harley anotava os acertos que devia ser feito para poder
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finalizar mais um dos seus jogos que venderia na sua loja on-line.

— Pronto, eu acho que para esta fase já tenho tudo o que preciso. Depois
de arrumar isso, testaremos a próxima fase que estou quase terminando, ok,
soldado? — Harley disse com um sorriso.

— Ok, este jogo ficou fabuloso, Harley, gostei muito, menos a parte que
eu explodi.

— Mais um para ficar horas e horas no computador — Ronan disse e


Harley riu.

— Oh, amigo, isso quer dizer que meu trabalho é bom.

— Disso eu não duvido.

— E aquele RPG sobre lobisomens, você terminou?

— Ainda não, falta algumas fases e consertos.

— Estou ansioso por este, gostaria muito de, pelo menos, no jogo,
arrancar a cabeça de alguns humanos.

Harley riu.

— Bem, ainda bem que serão poucos ajustes.

Ronan levantou e rosnou para a porta e soltou suas presas e garras. Harley
levantou do sofá num salto e olhou para a porta.

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— Calma, Ronan! — Harley gritou.

Alexander apareceu na porta, dirigindo sua cadeira de rodas e estancou


quando viu Ronan rosnar para ele.

— Ronan, pare! — Harley gritou novamente.

— Ronan! — Naya gritou e o segurou pelo braço. — Se acalme, é apenas


o garoto humano, não vai nos ferir.

Ronan estava muito protetor com sua companheira e seu filho para ter
assimilado a imagem de Alexander e identificar seu cheiro tão rapidamente.

Harley saltou sobre o sofá e ficou entre Alexander e Ronan.

— Ei, amigo, tranquilo! Tudo está bem, veja, é Alexander, o primo de


Sami, não fará nada contra seu filhote e sua companheira.

Arfando, Ronan voltou a forma humana e olhou para Alexander, que


estava com os olhos arregalados e tinha parado de respirar.

Então ele olhou ao redor e todos o olhavam e se sentiu um pouco


envergonhado por ter agido tão violentamente, sem pensar nas
consequências.

Depois de tudo o que havia passado ainda estava arredio e com seus
instintos aflorados. O medo de que ainda pudesse machucar sua companheira
reverberava pela sua pele. O inferno pelo qual passara ainda queimava suas
veias e atiçava seu lobo.

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— Desculpe... perdi o controle. Esqueci-me do humano — Ronan disse,


nervoso.

— Está tudo bem, Ronan. Mas tem que se conter, não pode se transformar
na frente de nenhum humano, hã? Tranquilo.

— Não tenho convivido com humanos bondosos que merecem algo de


mim por muitos anos, Harley.

— Eu sei. E realmente sinto muito, mas não está mais nos laboratórios.
Precisa voltar a pensar quando morava na Irlanda e se lembrar das regras.

— Merda! Eu sei. Desculpe.

— Não precisa se desculpar comigo, eu entendo seu medo e o que se


passa em seu coração.

— Vou ser mais cauteloso.

— Desculpe, não queria interromper — Alexander disse. — É... melhor


eu ir.

— Está tudo bem, Alexander, nosso amigo Ronan somente está protetor
com sua fêmea e seus filhotes. Lobos atacam para proteger sua família.
Precisa de algo? — Harley disse.

— Hum... Posso fazê-lo para você...

— Fazer o quê? — Harley perguntou confuso.

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— O jogo... Eu posso arrumar o programa.

Harley o olhou seriamente, confuso e cruzou os braços no peito,


entendendo sua colocação.

— Ah, você pode?

— Eu sou bom nisso. Sabe, fazer os jogos... Se me deixar, posso trabalhar


para você. Estou um pouco aborrecido por não ter o que fazer.

Ele ergueu as sobrancelhas e olhou para Luca, que deu de ombros e depois
olhou para Ronan, que o olhou inquisitivo.

— Eu poderia jogar com ele, seria legal — Luca disse.

— Sabe mesmo fazer isso?

— Se me deixar testar o jogo posso consertar o que precisa. Sei


programar.

— Como sabe?

— Meu cérebro é bom.

Ronan rosnou e bufou. Quando ninguém respondeu, Alexander respirou


fundo.

— Olha, Harley, sei que talvez alguns lobos ainda não tenham se
acostumado ou aprovado minha presença, mas estou aqui por causa de Sami e
gostaria de poder trabalhar. Tenho prestado atenção no que você trabalha e
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posso ajudar.

— Entediado, Alexander? — Petrus perguntou, entrando na sala com


Sami.

— Tudo bem por aqui? — Sami olhou para todos e ficou ao lado de
Alexander, com a mão em seu ombro.

Ela era como um gavião cuidando de seu ninho quando se tratava de


Alexander, mesmo sabendo que ninguém o machucaria na ilha. Ai daquele
que ousasse fazê-lo.

— Está tudo bem, Sami, seu primo ainda tem a cabeça sobre os ombros —
Harley disse.

— Por pouco! — Ronan rosnou.

Sami olhou para Ronan e Naya com a sobrancelha erguida.

— Alexander? — Sami indagou tocando o ombro dele para que


respondesse e se acalmasse.

— Está tudo bem, Sami. Ronan apenas havia se esquecido de minha


presença na casa. E eu estava pedindo que Harley me deixasse trabalhar em
seus jogos, sou bom nisso e estou entediado e cansado de ver televisão e ler.
Tenho feito tudo o que me pedem, por meses. Sou vigiado e agora somente
peço que me deixem fazer o que gosto e sei fazer. Já provei que sou
confiável.

Sami olhou para Petrus e Harley.


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— Harley, poderia tentar? Olhe, todo este tempo vocês proibiram que
Alexander usasse o computador, porque ainda não confiavam nele para que
não entregasse sua localização ao seu pai. Como provou que é um bom rapaz
e fez tudo que pediram, agora deem uma oportunidade a ele.

— Por favor, estou só querendo conviver bem com vocês e trabalhar. Não
quero que me vejam como um inútil.

— Por favor, Petrus! — Sami olhou para ele.

— Pode permitir isso, Harley? — Petrus perguntou olhando para o irmão.


Depois de um minuto de silêncio, Harley suspirou. — Seria bom ter um
ajudante, pois você tem trabalhado demais ultimamente.

— Bem, eu posso permitir isso.

— Obrigado! Eu vou te mostrar que sou bom nisso — Alexander disse


animado.

Harley pegou suas coisas.

— Ok, venha comigo, vou te dar um computador. Ei, parceiro... — disse


olhando para Luca. — Eu vou finalizar a próxima fase em breve e te aviso
para vir e jogarmos juntos, ok?

— Ok. Este jogo está muito bom, Harley — Luca disse.

Os dois bateram as mãos fechadas em punho. Harley deu um abraço forte


em Ronan e beijou a mão de Naya, fazendo uma firula, como o bom
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galanteador que era.

— Bom vê-los de novo, amigos.

— O prazer foi nosso, Harley, e obrigado pelo que tem feito pelo nosso
menino.

— É um prazer, Ronan. Vamos, Alexander, me siga.

Harley saiu e Alexander virou sua cadeira de rodas computadorizada e ao


sair da sala para seguir Harley sua cadeira deu um giro e ele bateu na porta,
mas logo a arrumou.

Sami saltou rápido para ajudá-lo, mas parou quando ele arrumou a direção
rapidamente.

— Alexander, está tudo bem?

— Opa, sim, está tudo bem. Só bati no botão errado.

Sami ficou o olhando com o semblante preocupado enquanto Alexander


sumia pelo corredor e Petrus carinhosamente tocou em seu queixo, fazendo-a
olhar para ele.

— Tudo bem, preciosa?

— Sim.

— Não se preocupe, ele vai ficar bem.

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Ela assentiu, sorriu e se virou para Ronan e Naya.

— Vocês gostariam de tomar um refresco conosco na piscina?

— Seria agradável. — Naya sorriu.

— Posso entrar na piscina? — Luca perguntou.

— Claro que pode, Luca. Há toalhas no armário, você já sabe.

— Ok, obrigado.

Luca saiu correndo na frente, já retirando sua camiseta e todos seguiram


para o andar de baixo onde entraram na sala de estar panorâmica e podiam
avistar a piscina que iniciava dentro da sala, saía pela lateral e terminava
numa borda infinita pelo terraço, com vista para o mar azul do Mediterrâneo.

O dia estava quente e ensolarado, o que deixava a ilha mais bela do que
nunca. As árvores estavam vistosas e verdes e balançavam suavemente com o
vento e as floreiras e vasos estavam carregados de belas e frondosas flores
coloridas.

Eles riram quando somente ouviram um uivo e o barulho de água para


todo lado.

— Como está indo como alfa, Sami? — Naya perguntou.

— No começo todos me olhavam desconfiados, não muito amistosos, mas


acho que se acostumaram comigo. Agora me respeitam e me tratam bem.
Pelo menos se alguém tem alguma coisa a se opor, não deixam saber
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publicamente.

— Todos nós passamos por este mesmo escrutínio ao se adaptar à ilha,


inclusive eu por ser o alfa depois do que ocorreu com meu pai — Petrus
disse.

— Entendo. Não foi fácil para ninguém a situação que se armou aqui —
Ronan disse.

— Nem me diga.

— Mas também, com a carranca de Petrus ao se tratar de mim, duvido que


algum lobo tenha coragem de me falar grosseiramente.

— Petrus com carrancas, isso é novidade. — Ronan riu.

— Sim, mas quando se trata de minha companheira, ela é assustadora. —


Petrus riu.

— E os guerreiros de Kimera?

Petrus riu novamente.

— Bem, confesso que isso ajudou muito. As lobas estavam mais


preocupadas em manter os lobos entretidos e lhes ensinando as novidades do
nosso mundo moderno do que guerrear conosco.

— O período de luto passou e a ilha está em paz. Há até casais de


companheiros que se formaram — Sami disse, animada.

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— Oh, isso é maravilhoso! — Naya disse com um lindo sorriso.

Uma loba jovem trouxe uma bandeja com sucos de laranja gelados e
cervejas e colocou sobre a mesinha; em seguida, com uma mesura respeitável
aos alfas, deixou-os sozinhos.

Petrus e Ronan pegaram as cervejas e Sami e Naya o suco de laranja.

— Um brinde para o nosso bom momento de paz.

Todos brindaram e beberam.

— Eu cheirei uma novidade, amigo, gostaria de compartilhar? — Petrus


perguntou.

Ronan abriu um imenso sorriso, orgulhoso de si mesmo e pegou a mão de


Naya e a beijou.

— Bem, como já percebeu, Naya está prenhe. Vamos ter um lobinho.

— Ou uma lobinha — ela disse e riu.

— Oh, parabéns! Isso é perfeito.

— Sim, e dessa vez vou cuidar do meu bebê. Ninguém vai afastá-lo de
mim. Quero ensiná-lo a falar, andar e correr, estar presente quando se
transformar, embalá-lo em meus braços. Coisa que me foi roubada com Luca
— disse com a voz embargada.

Sami a olhou e respirou fundo, emocionada pela loba.


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— Fico feliz por você, Naya. Ester e Noah devem estar felizes com a
notícia.

— Sim, ficaram muito felizes por nós. São alfas maravilhosos, sempre
fazendo de tudo para que estejamos bem e a salvo.

— Sim, tenho orgulho dos alfas que se tornaram, inclusive respeito muito
Ester, por ser uma humana transformada e também por Kira, a companheira
do beta. São mulheres esplêndidas e fortes — Ronan disse.

— E sua loba, Sami, já se acostumou com ela? — Naya perguntou.

Petrus olhou para Sami para ver sua resposta e somente teve que sorrir
como um bobo, quando ela abriu o sorriso mais lindo, com os olhos
brilhantes e o olhou com todo o amor do mundo.

— Estou amando minha loba e também muito feliz. Quisera eu ter


conseguido lidar com a situação melhor para ter evitado tanto sofrimento.

— Tudo tem seu jeito e seu tempo, Sami. O importante é que acabou bem
— Naya disse.

— Sim, e sou grata a Petrus por me mostrar este lado dos lobos que
desconhecia.

Petrus a olhou maravilhado e sim, seu coração estava lotado de amor e


felicidade. Uma que ele nunca imaginou que pudesse sentir, mas ela havia
chegado.

Sami tinha entrado na sua vida de maneira tão torta e errada, sendo
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transformada em loba de forma tão brutal por um lobo que queria tomá-la à
força e ele a tinha amado desde o primeiro minuto, seu lobo quis reivindicá-la
desde o primeiro momento que a viu.

Eles tinham percorrido um longo caminho até aceitarem que eram um do


outro. Agora que a tinha, Petrus agradecia aos deuses todos os dias por isso e
faria de tudo por ela, para fazê-la feliz, para demonstrar o quanto ele também
estava feliz.

Parecia que uma boa temporada havia baixado sobre Creta.

Bem, isso era maravilhoso.

Talvez nem tudo.

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Harley girou entre os dedos a faca e com um movimento muito rápido


lançou-a e ela cravou no olho do guarda.

Ele correu o máximo que podia para alcançar o caminhão dirigido por
Nathan, que carregava os lobos salvos, e saltou mais de dois metros; e entre
um rosnado feroz, agarrou-se à porta da carroceria do caminhão, que bateu
contra a carroceria quase o derrubando, mas ele lutou bravamente para se
segurar.

Os tiros não cessavam atrás dele e ele recebeu mais de meia dúzia de
balas em seu corpo enquanto tentava desesperadamente se segurar na porta
do caminhão que, aberta, se balançava para frente e para trás,
desgovernada.

Quase não tinha mais forças para se segurar. Noah rosnou alto e saltou,
agarrando a porta com uma mão e Harley com a outra quando ele, quase
desacordado, soltou da porta.

Erick rosnou e saltou para a borda e agarrou Noah para ajudá-lo a puxar
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Harley e voltar para dentro do baú do caminhão.

Os três tombaram no chão em um baque dolorido e gemeram no


processo.

Noah saltou em alerta e olhou para Harley e Petrus, inquisitivo, querendo


saber o que eles estavam sentindo, as condições que se encontravam, seus
ferimentos.

Petrus soltou a metralhadora que segurava numa mão e examinou


Harley, mas também quase tombou, dolorido pelos próprios ferimentos.
Estava muito ferido, mas nada o impediria de tentar de todas as formas
ajudar seu irmão na fuga.

Enquanto Harley ofegava pela dor e tentava recobrar a visão e o resto de


seus sentidos, Sasha e mais dois de seus homens estavam em pé na porta,
descarregando suas potentes armas militares contra os carros que os
seguiam, e podia dizer...

Eles os fizeram de peneira e os viram capotar e explodir, como deveria


ser o destino dos vermes torturadores de lobos.

Sasha era implacável com o inimigo.

Ao mesmo tempo que vivia soltando piadas fazendo todos rirem, ele era
focado na missão de uma maneira que Noah admirava e faziam seus lobos
confiarem nele.

Ele sabia o que fazia. Ele era bruto e não tinha misericórdia, se fosse uma

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ameaça a um lobo, era facilmente morto pelo mercenário ou seus homens.

Noah alertou seus lobos para que confiasse neles, pois não eram homens
comuns, eram homens afastados das Forças Armadas dos Estados Unidos,
por ainda possuírem problemas psicológicos sobre a guerra, e por
carregarem medalhas de honra e agora se tornaram mercenários em busca
de fazer justiça com as próprias mãos.

E haviam tomado a causa dos lobos com suas próprias vidas.

Antes de perder a consciência, perdido na dor horrenda que dilacerava


seu sistema, pensando que aquele seria seu último momento de vida, Harley
viu Sasha jogar uma granada no carro que insistiu em segui-los.

Harley sentia o peito queimar, a respiração falhar e olhou os dois


buracos de bala em seu peito que sangravam e suas vistas escureceram;
porém, a última coisa que ouviu foram as múltiplas explosões que fizeram o
laboratório, que havia o aprisionado por tanto tempo, sucumbir além dos
gritos de Petrus.

— Irmão, fique comigo, por favor! Harley, aguente, você vai conseguir,
estamos indo para casa. Harley! Harley!

— Harley!

Com custo, Harley despertou do seu sonho, abriu um olho e viu a imagem
turva de Petrus no pé de sua cama e soltou um gemido misturado com um
grunhido.
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Todos seus músculos estavam doloridos e sua cabeça doía como se


tivessem várias facas fincadas nela.

Talvez fosse uma ressaca.

— O quê? Ainda é cedo! — Harley rosnou com um gemido.

Ele se moveu, puxando o lençol que escorregou, deixando a loba que


estava ao seu lado, nua, descoberta e, então, Petrus viu outra perna e outra
loba do outro lado.

Os três, descaradamente, estavam nus na frente de Petrus.

— Quer se juntar a nós, irmão? — Harley resmungou.

— Está muito vestido, alfa — Katra sussurrou dengosa e fez menção de


engatinhar até Petrus.

Petrus rosnou e deu um passo para trás.

— Fique onde está, Katra. Não vim para jogar nenhum jogo sexual. Sabe
que não pode tocar em mim.

— Petrus, o lobo quente da Grécia, renunciou às suas amantes — Katra


disse com um sorriso malicioso.

— Sim, uma companheira muito linda e briguenta o domou — Harley riu


junto com as lobas.

— Harley, se não calar a boca, quebro seus dentes e vocês, senhoritas,


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respeitem seus alfas, me poupando de suas fantasias e palavras luxuriosas.


Não sou contra elas, contanto que eu não esteja nelas. Eu somente tenho
olhos para a minha companheira.

— Como desejar, alfa.

— Pensei que tínhamos combinado que estes jogos sexuais deveriam


somente ser feitos fora da casa, Harley.

— Desculpe, estava muito bêbado para sair.

— Que lástima! Então fique sóbrio, levante daí e atenda a porra do seu
telefone que há alguém lhe chamando.

— Quem é?

— Não sei, não estava com vontade de atender suas chamadas, mas deve
ser algo importante, ou não.

— Não há nada interessante que eu queira ouvir no momento.

— Só quero lembrar que as lobas nuas não são permitidas fora desta ala
da casa.

— Antes era sua ala da casa.

— Bem, agora que eu e Sami mudamos de quarto, para a outra ala, esta é
exclusivamente sua e de hóspedes, então sabe seus limites.

— Eu sei, Sami chutaria meu traseiro.


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— Sim, ela faria e nossa mãe também não gostaria.

— A alfa deve se acostumar com a nudez dos lobos — Katra disse.

— Ela está se acostumando, mas era uma humana e tem ciúmes de ver
outra loba andando nua dentro de sua casa, principalmente na minha frente.
Até ela se acostumar, devem evitar tais situações. Sami deve ser respeitada
acima de tudo. Isso é uma ordem e não vou repeti-la.

— Ok, entendido.

— Levanta daí, Harley.

— Não estou a fim de seus sermões, minha cabeça está doendo.

— Bem, vai doer mais se eu esmurrá-la, então se mexa e faça estes


alarmes de suas mensagens calarem-se.

— Obrigado, oh alfa, pela gentileza de me trazer a informação crucial


para minha sobrevivência.

Com um rosnado, Harley levantou.

— Olhe, irmão, não sei o que há de errado com você, mas está meio
desgovernado, não acha? — Petrus cochichou para Harley quando ele saltou
ao seu lado.

— Estou bem.

Petrus suspirou e olhou para o cabelo de Harley, que estava longo até sua
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cintura e sua barba estava mais longa do que sempre usava, seus olhos
estavam vermelhos, tinha olheiras fundas e escuras e a alegria tão evidente,
que ele sempre exalava, havia ido embora, nem o brilho dos seus olhos
existia.

— Você não está bem, Harley.

— Estou bem.

— Pode conversar comigo, sabe disso, irmão. Se está com um problema


podemos resolver. O que te molesta?

Apenas tinha perdido a gana de viver. Simples. Os seus dias estavam


cinzentos e respirar doía.

Isso foi o que teve vontade de responder.

A dor que sentia em seu coração já parecia aguda e nunca cessaria. As


lembranças do sonho, que na verdade eram suas memórias do dia que eles
fugiram dos laboratórios, não era o que estava lhe causando esta angústia.

A dor do peito não era das balas e sim seu coração machucado por não ter
sua companheira.

Ele tinha entrado numa espécie de surto, seu lobo estava em fúria o tempo
todo e ele tinha se jogado numa vida boêmia regada à bebida, sexo e trabalho
para ver se conseguia se desligar de Pietra, se conseguia afastar seus
sentimentos por ela e seus pensamentos. Mas nada surtia efeito.

O trabalho o cansava, a bebida o atordoava e o sexo parecia cada vez mais


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sem sentido e sem prazer.

Parecia que nada sem ela por perto fazia algum sentido na sua vida.

Ele achava que não estava certo se sentir tão miserável e tão dependente,
mas a questão era que ele não sabia como se livrar daqueles sentimentos.

Ele a amava e a queria, o problema é que não sabia como tê-la.

Talvez só precisasse de um pouco mais de tempo. Ele conseguiria.

— Não se preocupe comigo e nada me molesta. Somente preciso de um


banho e de um café.

— Assim espero.

Depois que todos saíram e finalmente o deixaram em paz, Harley foi


tomar banho, respirou fundo e sentou no chão do boxe.

Sim, Petrus estava com a razão, ele havia sucumbido, havia deixado sua
tristeza tomá-lo, sua raiva turvar sua mente.

Tinha feito várias chamadas e Pietra não tinha atendido e nem respondido
suas mensagens.

Estaria zangada com ele? Mas não tinha motivo para estar. Bem, ela tinha.
Tinha sido humilhada publicamente por sua família. O quanto isso era
perdoável?

Uma loba com sua estirpe ser rejeitada publicamente era imperdoável.
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Mas na altura dos acontecimentos daquela tarde fatídica, o que havia a


fazer?

Seu pai, bastardo, tinha feito aquelas armadilhas e sido desmascarado; no


fim, ela tinha sido manchada por causa de lobos estúpidos.

Ele era um beta, o segundo no comando, e tinha pedido sua mão, mas ela
era filha de alfas e seu pai o tinha negado.

Ele a pediu e ela havia o negado.

O quanto tinha ficado desesperado naquele dia maluco?

Harley ficou ali até que sentiu sua pele enrugar pelo tempo excessivo na
água.

Ele respirou fundo várias vezes, para acalmar seu lobo.

Possuir um lobo interior requeria muito equilíbrio emocional. Era preciso


saber lidar com suas personalidades e com o meio que vivia.

Era difícil de conter o lado animal quando estava rosnando por dentro,
pedindo para agir.

O homem-lobo precisava conhecer a si mesmo, saber aquietar sua mente


para ter uma vida serena e sábia e precisava soltar seu lado animal quando
precisava se proteger ou salvar sua vida.

Harley havia vivido seus piores anos de tormenta, com a raiva


reverberando sob sua pele, quando esteve preso nos cativeiros, lutando pelo
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seu irmão, pela sua vida.

Com muito custo havia encontrado seu equilíbrio emocional, acalmando


seu lobo. Havia conseguido ser tranquilo. Tinha sido muito difícil, mas ele
havia encontrado a calmaria.

E então, seu mundo tinha virado de cabeça para baixo, sua mente havia
ficado confusa, seu coração pesado e sangrando e suas atitudes haviam sido
questionáveis.

Pensou que tinha sido pelo fato de ter perdido a liderança de seu pai e alfa
e, Petrus, seu irmão, ter assumido o seu lugar, o que o tornou seu beta com
muitas responsabilidades e ter que lidar com um clima um tanto peculiar e
hostil em sua ilha.

Sim, isso tinha causado um grande impacto na sua vida, mas o que
realmente o tinha tirado do prumo e de sua tranquilidade mental, foi uma
linda e formosa loba italiana, uma filha de Afrodite, que o tinha enfeitiçado e
tomado todos seus pensamentos: a prometida de seu irmão.

Harley tocou seu peito porque havia uma dor constante cravada ali.

E ele sofria em silêncio.

Amar não doía, o que doía era não ter a pessoa amada ao seu lado. Não
poder tocar, cuidar, e proteger. Fazê-la rir, abraçá-la, amá-la nas noites longas
e solitárias. Desfrutar das coisas lindas que a vida podia oferecer, ter seu lar,
juntos.

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Mas e se ele falasse com ela pessoalmente, surpreendendo-a em uma


visita sorrateira?

Ele poderia ir para Roma, encontrar um jeito de encontrá-la sozinha e


surpreendê-la e, então, saber de seus sentimentos.

E se ele a sequestrasse?

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Triste, Pietra abriu sua caixa com a chave que retirou do cofre e suspirou
cansada. Não havia mais nenhum diamante ou rubi ali, e sua conta bancária
estava vazia.

Não tinha mais de onde tirar dinheiro para pagar o chantagista que a tinha
torturado por meses, extorquindo-a e ameaçando entregá-la ao seu pai.

Talvez seu destino tivesse chegado ao limite. Mas o lobo teria coragem de
contar ao seu pai? Ele não gostaria de saber que um lobo seria capaz de
chantagear sua filha.

Ora, mas quando seu pai soubesse da verdade, todos estariam condenados
de qualquer maneira, principalmente ela. Sua vida seria terrível. Mas
esperava que ele a entendesse e a perdoasse.

Tinha que se livrar do lobo chantagista, arrumaria dinheiro e pagaria


alguns lobos mercenários para matá-lo, ou o envenenaria e usaria qualquer
outro meio que fosse, mas se livraria dele.

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E se ela pedisse ajuda...

Suspirou cansada com os pensamentos assassinos que tomavam sua mente


e olhou para a janela. Ficou perdida em devaneios, até que uma forte batida
na porta de seu quarto a assustou.

Seu coração apertou quando viu dois lobos enormes olhando-a como se
fosse uma pulga.

— É melhor nos seguir, Srta. Scopelli — disse um deles, sério.

Ela sentiu medo, porque tinha um mau pressentimento que vinha lhe
afligindo durante toda a semana.

— Posso trocar de roupa?

— Não, senhorita, o alfa pediu que a levasse imediatamente.

Ela franziu o cenho, pois ele sempre se referia ao seu pai e agora ao alfa.
Seu coração ficou ainda mais oprimido, porque a sensação de que algo ruim
estava vindo não deixava de pinicar na sua nuca.

— Ok.

Ela não discutiu e seguiu pelo corredor da mansão, flanqueada pelos


capangas do seu pai, vestidos de ternos negros impecáveis, como se fossem
mafiosos.

E ela odiava porque estava cansada de ser sempre seguida por guarda-
costas, não era uma celebridade e se já era difícil de andar despercebida pelos
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humanos, com sua beleza e sua altura, ainda andava sempre com dois gorilas
vestindo ternos caros e óculos escuros.

Havia sempre alguém querendo se aproximar achando que era filha de


alguém importante, rica, uma celebridade ou uma modelo famosa.

Sua temporada em Milão para cursar a faculdade tinha sido uma aventura
e uma provação, mas ela tinha amado aprender a profissão de designer de
joias, que no fim não lhe servia para nada.

Ela seguiu-os e, quando entrou no salão de reuniões da alcateia, viu algo


que fez seu coração saltar novamente: seu pai não estava sozinho, junto dele
estavam sua mãe, seu beta e irmão Marcello além de seus outros irmãos e... o
conselho de anciões. Isso significava que o negócio era sério demais para
manter sua sanidade.

Pietra odiava aqueles velhos, pois pareciam sempre carrancudos e


antiquados.

Ficou diante de seu pai e sua mãe, sentados em cadeiras antigas e ornadas,
estilo trono. Ambos tinham o semblante sério e olharam para ela como se
fosse uma mosca a ser abatida.

Mesmo sentindo um terror sem fim em seu coração, procurou ficar


tranquila, como sempre fora.

— Estou aqui, meu pai. Mandou me chamar?

— Sim. E, como pode ver, isso não é uma reunião amistosa.

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— O que está acontecendo?

— Sabe, Pietra, eu me pergunto o mesmo para ter sido traído pela minha
própria filha.

Ela arregalou os olhos e apertou as mãos, mas tentou manter-se calma.

— Não entendo.

— Oh, claro que entende. Fui informado por um de meus lobos que você
teria agido de má-fé comigo e com toda a alcateia.

— Não, meu pai, não fiz isso.

— Verdade? Como posso acreditar em você?

— Papai...

— Cale-se! De agora em diante somente abrirá a boca quando eu lhe fizer


uma pergunta e lhe der permissão para falar. Fui claro?

Ela assentiu e ficou muda, enquanto seu pai, bufando com uma fera,
levantou e andou calado de um lado a outro.

— Você devia ter sido morta quando nasceu!

Pietra arfou e arregalou os olhos, olhando-o com assombro e, então, para o


conselho, que estavam com aquelas carrancas que fariam uma montanha
tremer. Ela olhou para sua mãe, que fitava o chão.

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Sua garganta embargou e sentiu vontade de chorar, porque este era o seu
fim.

— Tendo nascida defeituosa, e com as marcas de nossa desgraça, você


deveria ter sido morta e evitado tudo isso, inclusive que a nossa alcateia fosse
punida, mas não... Eu fui um velho de coração fraco e ao atender as súplicas
de sua mãe de que não deveria matar sua filha, eu permiti que vivesse, porque
me encantei com a pequena e delicada loba. Fui um bom pai pra você, te dei
do bom e do melhor: sua conta bancária sempre esteve cheia de dinheiro para
suas roupas de grife; fez o que gostava; enchi sua biblioteca com os livros
que tanto amava ler; permiti que fizesse sua faculdade de História da Arte,
porque amava a arte e seus museus. Agora permiti que fizesse essa faculdade
de design de joias que tanto queria, mesmo que não fosse trabalhar. Eu lhe
dei amor, proteção e a única coisa que lhe pedi nesta vida é que cumprisse
suas obrigações quando elas fossem pedidas, que honrasse essa alcateia mais
do que sua própria vida, que se acasalasse com o alfa de Alamus quando
chegasse a hora, que nos desse um herdeiro varão, mas você fez isso, Pietra?

Ela não conseguia respirar, pois estava muito chocada para assimilar tudo.

— Responda!

Ela precisou engolir o nó da garganta para conseguir responder.

— Não — sussurrou.

— Era pedir demais para se acasalar e me dar um herdeiro? Somente isso


que pedi, o futuro de nossa alcateia estava em suas mãos e falhou
miseravelmente, nos envergonhou!

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— Fiz tudo o que pediu, papai, estava lá para a cerimônia. Aceitei até o
desafio da companheira do alfa.

— Não minta na minha cara, Pietra. Você fez, não é? Queria matar aquela
loba?

— Não.

— Queria se acasalar com o alfa?

— Não, mas iria, como prometi.

— Mesmo?

— Sim.

Seu pai se aproximou dela, que pareceu o dobro de seu tamanho e a


olhava com aqueles olhos assassinos que ela morreu de medo. E ele falou,
desafiando-a mentir, com as palavras pausadas.

— Você convidou o rei para aquela maldita cerimônia?

Ela engoliu outro nó.

— Sim, convidei, porque achei que seria importante ter uma boa relação
com ele. E... o alfa Petrus tinha... uma boa relação com ele... Vi isso no
torneio.

O velho olhou seriamente para ela, acariciou sua longa barba branca, que
o temeu, porque conhecia aquele olhar e aquele gesto de quando ele estava
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muito zangado.

— Custei a acreditar no lobo que te vigiava quando me contou a verdade


do que aconteceu e te chamei aqui somente para que tenha a oportunidade de
negar. Terá somente uma oportunidade, Pietra.

O lobo que a vigiava? Ela tremeu e viu seu fim. O chantagista havia
cumprido a ameaça e tinha dedurado-a.

— Foi por sua causa que a cerimônia foi impedida?

Ela olhou para todos e pensou em negar, mas não podia porque era
verdade. Se fosse sincera talvez seu pai a perdoasse. Mas devia encarar seu
destino porque não era uma mentirosa.

— Sim.

— Sim? Você pediu para o rei intervir?

Negue. Negue!

Pietra sentiu que o rosto avermelhava e esquentava até seus miolos


fritarem de pensar. O temor fez com que os músculos do estômago se
endurecessem a ponto de lhe provocar cãibras. Mal conseguia respirar.

— Eu não sabia que o rei veria aquelas coisas, que o senhor havia
manipulado o alfa de Alamus, papai. Eu juro que não sabia que a rainha
podia ver aquelas coisas do passado com a sua magia, juro!

Seu pai se aproximou mais dela olhando-a como se fosse uma barata.
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Estava tão furioso que seus olhos cintilavam, mas o pior era o gelo que vinha
deles. Ela nunca o tinha visto daquele jeito e somente podia esperar o pior.

— Mas ele veio por sua causa, porque você pediu que interferisse e
impedisse o acasalamento.

Ela queria negar, mas não adiantaria. Sua garganta embargou e viu toda
sua vida ruir bem na sua frente.

— Sim.

Houve uma balbúrdia e os anciões começaram a rosnar e falar ao mesmo


tempo e ela olhou aturdida ao redor e aterrorizada para o pai.

— Papai, por favor, eu não sabia que as coisas seriam daquela maneira.
Perdoe-me, por favor.

— Como pôde fazer tal coisa? Depois de todo trabalho que tivemos, você
me trai desta maneira, jogando meus planos por água abaixo.

— Eu teria ido em frente com o seu plano, aceitei minha obrigação,


prometi que faria tudo que me pediu, mas quando vi a dor e a tristeza nos
olhos de Petrus, não pude.

— Que dor?

— De abrir mão de sua companheira. Ele estava acasalado, papai, Sami


era sua companheira, como poderia abrir mão dela para se acasalar comigo?
Não pude permitir tal coisa.

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— Oh, Pietra, um lobo alfa sabe que a alcateia vem na frente de qualquer
sentimento tolo por uma fêmea e nem tu deverias se deixar enredar por essa
tolice.

— Eles eram companheiros de alma. Você viu como se amavam, como


aquela loba lutou por ele.

— Tolice, Pietra! — gritou.

— Não é tolice, não se pode separar companheiros de alma. É o desejo


dos deuses.

— O amor supervalorizado, uma lenda de trovadores. Todos os lobos têm


companheiros, suas responsabilidades, devoção à sua companheira e lhe
devem lealdade, mas não pode abrir mão de suas responsabilidades com a
alcateia! Companheiros de alma não existem, é uma idiotice romântica.

Ela chorou, porque acreditava naquilo.

— Eu vi nos olhos dele. Petrus jamais me olharia como olhou para Sami.
Eu quero ser arrebatada, quero esse amor, quero o meu companheiro
verdadeiro e não essa vida de mentiras, papai. Por favor, tente me entender.

— Tola, sempre tão romântica e sonhadora. Sinto que você tenha jogado
fora não só a oportunidade de ter uma alcateia e ser alfa, como também a sua
vida. Por isso poderia te perdoar, afinal, ser estúpida não te faz uma traidora,
mas por ter condenado toda sua alcateia, isso sim, não tem perdão e a sua
condenação é inevitável.

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— Por que condenado à alcateia? O senhor pode arrumar outra para que
possa me acasalar com seu alfa, pois ninguém vai ficar sabendo disso, pode
ser abafado. Quanto aos negócios podem ser consertados, papai. O senhor
tem tanto dinheiro que não pode pensar que seja tão prejudicado.

— Seu comportamento é vergonhoso.

— Vergonhoso é o que o senhor fez! Enganou a mim e a Petrus!

Enrico esbofeteou-a no rosto e ela gritou olhando-o com os olhos


arregalados. Com a face ardendo, e sem poder segurar as lágrimas, Pietra
cobriu a bochecha ardendo com a mão.

— Você trocou sua honra e lealdade, sua responsabilidade por uma


fantasia, um amor que não existe. Não existe esta porcaria de companheiros
de alma e não poderei te proteger por sua tolice.

— Papai...

— Você me envergonhou, me traiu e condenou nossa alcateia. Por sua


causa, nós sofreremos e perderemos tudo que construímos ao longo dos
séculos. Você faz parte de uma família, é filha de um alfa e deve pensar não
em si, mas nos outros. Essa união não é para você e sim para todos. Era sua
obrigação. Agora minha honra está no chão. Por sua causa, das malditas
bruxas, por causa dos malditos gregos! Eu devia ter matado você quando
nasceu, para ter evitado tudo isso.

Aquilo quebrou o coração de Pietra e ela recomeçou a chorar.

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— Eu sinto muito.

— Enrico, devia contar a verdade... — Sua mãe levantou e começou a


falar.

— Cale-se! Está proibida de abrir a boca, Sibila.

Com os olhos cintilantes, o velho encarou furioso a esposa, que se calou e


depois dirigiu-se para Pietra: — Desde quando se vai contra a palavra de seu
pai, seu alfa? Minha palavra é lei. Você a desobedeceu. Trouxe a vergonha
para nossa família. Não é mais digna de carregar nosso sobrenome. Por sua
traição, por ter levado esta alcateia à desgraça, eu te condeno a uma Spurga.
Será banida e morta. Você não é mais uma Scopelli.

Pietra arregalou os olhos e parou de respirar, olhou horrorizada para sua


mãe e irmãos e nenhum deles disse nada. Todos abaixaram a cabeça fitando o
chão.

— Papai! Não pode fazer isso, por favor! — Pietra implorou.

— Se todos concordam, deem seu voto.

Ela olhou horrorizada ao redor e todos os lobos se levantaram; um a um


viravam as costas para ela, incluindo seus irmãos. A única que não fez isso
foi sua mãe. Por fim, seu pai deu-lhe as costas, o que significava que estava a
abandonando à própria sorte. Dando seu sim ao julgamento, dando-a como
culpada das acusações.

Ela não conseguia respirar.

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— Levem-na e apliquem a sentença.

— Papai, mamãe, por favor, não podem fazer isso, eu não sabia, por
favor! Mamãe! Mamãe! Marcello!

Mas nenhum deles ajudou-a.

Dois lobos a levaram arrastada, enquanto tentava se soltar e esperneava,


debatendo-se aos gritos desesperados.

A dor que sentia em seu coração era tão grande que ela pensou que
desfaleceria antes que pudessem matá-la.

— Mamãe! Ajude-me, por favor! Mamãe!

Os gritos foram sumindo à medida que ela se afastava da sala com os


olhos marejados. Com o ódio reverberando por suas veias, o alfa Enrico
Scopelli se virou.

— Enrico... — a alfa tentou falar, com a voz embargada.

— Eu não quero ouvir nenhuma palavra, mulher! Suas súplicas para que
não a mate desta vez não serão ouvidas. Se ela não morrer, todos nós iremos.

— Devia ter contado a verdade a ela. Se soubesse disso, não teria feito o
que fez.

— Pai, talvez essa maldita lenda não seja verdade... — Marcello tentou
intervir.

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— Pietra não devia ter me traído. Devia ter feito o que eu mandei! Ela
merece a morte, pois condenou a todos. Talvez a matando, ainda possamos
evitar uma tragédia.

— Se tem coragem de matar sua própria filha, talvez o amaldiçoado seja


você, meu alfa — Sibila disse entredentes.

Ela saiu às pressas do salão, não dando ouvidos aos rosnados furiosos do
alfa.

Enrico olhou furioso para Marcello, com os olhos cintilando e com as


presas à mostra, e com a voz gutural de seu lobo feroz pediu: — Mande os
executores aprendizes cumprirem a pena.

— Pai! Não pode fazer isso...

— Cale-se!

— Pelo menos lhe dê uma morte rápida e digna.

— Ela não é digna e merece sofrer. Faça o que eu mando, senão você será
punido também, Marcello! Tirarei sua posição de beta se me desobedecer.
Quero Pietra morta.

O alfa saiu do salão e Marcello suspirou, pesaroso, mas foi cumprir sua
árdua tarefa.

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Ilha de Alamus, Creta, Grécia.

— Ei, chapa, obrigado por ter consertado isso para mim. Minha ruivinha é
um zero à esquerda com computadores e não consegui entender como ela
conseguiu dar pau no meu notebook novinho — Liam agradeceu.

— Foi um prazer, instalei um antivírus mais potente, assim pode estar


mais seguro quando entrarem em sites e baixarem alguma coisa que queiram
e o problema não foi nada de mais — Harley disse.

— Ok, eu vi, levou dois minutos para consertá-lo. — Liam riu. — Então,
quanto te devo?

— Nada, somente me pague uma cerveja um dia destes.

— Ok, quando quiser ir a minha casa, as portas estão sempre abertas, a


carne assada e a cerveja gelada.

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— Muito bom, eu irei.

— Agora vou para casa.

Harley esfregou novamente o peito, sobre o coração.

— O que tem que está a todo o momento esfregando o peito, está com
pulgas?

— Engraçadinho. Não sei, estou com uma sensação esquisita, é uma dor
no peito. Há tempos está ali, mas hoje está pior.

— Ei, talvez devesse ver Ester.

— Não preciso de uma veterinária — disse irritado.

— Ok. Não está mais aqui quem falou. Precisa melhorar seu humor e nem
vou perguntar sobre ter deixado de cortar o cabelo e se barbear.

Harley rosnou, mas foi interrompido pelo toque do seu celular. Ele
atendeu enquanto ambos andavam no jardim em direção às escadas que
levariam ao teto da mansão e ao helicóptero de Noah, no qual Liam havia ido
até a Ilha de Alamus.

— Alô — Harley atendeu franzindo o cenho quando viu que a ligação era
privada.

— Sr. Nico Papolus? Harley?

— Sim, sou eu.


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— Precisa vir, precisa ajudar! — pediu uma voz feminina em pânico.

— Quem é? Ajudar no quê?

Desconfortável, Harley sentiu um arrepio cruzar sua espinha e parou de


andar. Olhando-o, Liam fez o mesmo.

— Pietra! Sou Sibila, a mãe dela. Precisa ajudá-la. Por favor, eles vão
matá-la. Ela está na Floresta De Gamo. Por favor!

— Pietra? O que houve com ela?

— Por favor, ajude-a! Salve minha filha!

Harley desligou o celular e olhou para Liam, que o olhava preocupado.

— O que foi?

— Essa geringonça tem combustível para viajar até Roma?

— Roma? Quer que o leve para Roma? Agora?

Harley correu e Liam o seguiu.

— Sim, agora, Liam! Tem combustível?

— Sim, estou com o tanque cheio, acabei de abastecer em Atenas, mas


não posso viajar para Roma sem pedir autorização do alfa.

— Me entendo com Noah depois, agora sobe seu traseiro e pilote rápido

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antes que eu mesmo o faça!

Liam entrou, colocou os fones e ligou as hélices.

— Ok. O que exatamente estamos indo fazer em Roma?

— Preciso salvar minha companheira!

Liam olhou para Harley com os olhos arregalados.

— Sua o quê?

— Minha companheira! Eu matarei o bastardo que ousar machucá-la.

Harley rosnou e Liam assobiou sem entender muito, mas no próximo


minuto o helicóptero cruzava o oceano a toda velocidade.

— Quanto tempo demora a chegar? — Harley perguntou.

— Não sei ao certo, mas acredito que uns quarenta minutos.

— Tem que ser mais rápido!

— Calmo, amigo, eu estarei indo o mais rápido possível.

Liam ligou o rádio.

— Alfa, aqui é o Lobo Voador, tenho uma mudança de rota.

Logo Noah atendeu e retornou a mensagem com um rosnado.

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— Que mudança?

— Estamos indo para Roma.

— Roma? O que diabos vai fazer em Roma?

— Bem, não tenho muita certeza, mas anote isso, estou indo com Harley
buscar um problema e parece ser dos grandes.

Liam olhou para Harley, sentado ao seu lado, avesso à conversa, pois
estava muito ocupado segurando seu lobo para não se transformar.

Liam suspirou quando viu as suas longas garras transformadas e cravadas


no jeans, em suas coxas, e suas presas estavam salientes enquanto arfava
raivoso.

— Liam, volte imediatamente! Sei bem onde estão se enfiando e não


quero você metido em confusão! — Noah disse ameaçador.

Liam conhecia este tom e sabia que o alfa devia estar com aquele olhar
sombrio e assassino e suspirou.

— Entendo, alfa, mas é uma emergência.

— Liam, é uma ordem. Volte para a ilha imediatamente!

Liam olhou para Harley e para frente, pensou por um minuto e suspirou
novamente.

— Sinto muito, alfa.


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Liam desligou o rádio, cortando a transmissão e respirou fundo.

— Tem certeza do que está fazendo, Harley? Porque Noah vai arrancar
minhas vísceras, mastigar e cuspir fora por não obedecê-lo. Isso se eu voltar
vivo dessa... sei lá o quê.

— Se eu não chegar a tempo, eles matarão minha companheira.

— E quem infernos é sua companheira?

— Pietra Scopelli.

Liam se encolheu e gemeu. Houve um silêncio e então suspirou quase


desalentado.

— Pode ser uma armadilha dos italianos, Harley.

— Seja o que for. Eu não voltarei para a Grécia sem Pietra. Se não quiser
se meter em encrenca, pode me deixar na Floresta De Gamo e levantar voo,
que eu a pegarei e darei um jeito de voltar.

— Não seja idiota. Não deixarei você sozinho na toca do lobo. O que
disseram?

— Era sua mãe e disse que eles matariam Pietra.

Liam olhou para frente com o coração pesado. A angústia presente na voz
do amigo causou-lhe tristeza. Não precisava dizer mais nada, ele estava junto.

— Então que os deuses nos protejam!


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O helicóptero pousou um pouco afastado da floresta, em uma clareira, e


Harley saltou do aparelho e deu a volta. Olhando para o bosque, aguçando
todos seus sentidos, fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o cheiro dela,
e de muitos lobos. Seus instintos assassinos afloraram.

— É hora de caçar!

Seus olhos cintilaram e ele se transformou em lobo, pois assim correria


mais rápido.

Não era a primeira vez que eles lutariam juntos, mas a primeira que Liam
ouviu a voz de Harley soar tão sinistra. Seus olhos estavam cheios de malícia,
de raiva.

— Siga-me! — Harley ordenou.

Liam, que estava em pé na beirada do helicóptero, olhando para o bosque


fechado, deslizou pelo ar em forma de lobo e caiu sobre a grama úmida,
rosnando em entendimento.

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Eles correram a toda velocidade pela clareira e se embrenharam no bosque


cheio de árvores e arbustos e seguiam o som de uivos e rosnados ao longe.

Logo avistaram lobos correndo por todos os lados e cheiro de sangue.

Harley observou-os, mas eram muitos e estavam caçando, isso significava


que estavam acuando Pietra. O lobo perseguido ia à frente e os outros
corriam atrás até alcançá-lo e a luta começaria.

Cansar o oponente era covardia e Harley se enfureceu, ainda mais sendo


uma fêmea. Ele não a viu, mas sabia como as coisas funcionavam; ela estava
longe de suas vistas, mas a alcançaria e rezava para que não fosse tarde
demais.

Ele uivou, chamando toda a atenção dos lobos inimigos para si, pois
precisava que parassem de persegui-la e não a ferissem. Quanto a si, a sorte
estava lançada e não sentia medo da morte, somente temia por ela.

Os lobos pareciam confusos no início, sem saber quem era que ousava
interferir na missão dada pelo seu alfa. Afinal, não eram de questionar ordem
do alfa e as seguiam fielmente, sem piedade, não importando quem fosse o
condenado. Geralmente os mais ferozes e assassinos, de sangue frio, se
tornavam os executores.

Quando Harley viu que eles pararam e seus olhos caíram sobre ele, os
pelos de suas costas se eriçaram e ele rosnou poderosamente.

Finalmente, após o choque de ver a invasão de seu território, o maior dos


três lobos, que estava mais próximo, saltou no ar.

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Harley saltou também, chocando-se com ele no ar, o pegou facilmente


pelo pescoço, abocanhando e cravando suas presas afiadas. Ele colocou as
patas firmemente em torno da garganta do animal e com um giro o virou,
tombou e segurou-o contra o chão, cravando as presas mais fundo em sua
garganta e o levantou no ar.

O lobo arfou e grunhiu, seus dentes rangiam no ar vazio e seu corpo se


contorcia para se libertar. Harley mordeu com mais força e suas presas
atravessaram a pele e a carne, indo diretamente na veia jugular.

O animal gritou alto, as patas traseiras ainda chutaram o ar tentando se


libertar e Harley agarrou-se a ele enquanto o líquido quente e pegajoso
encharcava sua boca. Depois que soltou o lobo morto no chão e arreganhou a
boca ensanguentada para os outros, que o olhavam, ele podia ouvir o som de
seu próprio coração, batendo contra o peito.

Harley não perdeu tempo, correu, saltou e derrubou outro lobo.

O terceiro tentou fugir, mas não conseguiu escapar, pois Liam o


interceptou.

Sobre um monte, avistou outro lobo e correu. O lobo tentou fugir para
avisar os outros, mas Harley era muito rápido e saltou sobre suas costas e o
mordeu, destroncando seu pescoço com um forte puxão. Olhou para o
cadáver do lobo e o poder subiu-lhe pelas veias. Ele se sentiu vivo e muito
zangado. Em seguida, correu ao lado de Liam que também havia matado o
lobo e o sangue escorria através do seu pelo branco de lobo.

Eles precisavam chegar até Pietra e tudo o que conhecia era sua sede de

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vingança e o medo por sua fêmea: ninguém sobreviveria. Então ele avistou
mais lobos à frente.

Harley correu em forma de lobo, saltou e se chocou no ar com outro, eles


caíram rolando pelo chão e um rasgava a carne do outro com as garras e
mordidas. O beta cravou os dentes no pescoço do lobo e com um grunhido
ele caiu morto.

Então, ele a viu ao longe.

Ele se transformou na forma intermediária e rosnou alto, furioso, quando


viu lobos agredindo Pietra, que em forma de loba corria, rosnava e mordia,
tentando se defender do ataque e fugir.

Aquilo fez o sangue de Harley ferver e sua fúria era indescritível.


Ninguém deveria machucar sua companheira.

Ele correu o mais rápido que pôde, saltou mais de dois metros pelo bosque
e pousou entre a briga, soltando patadas, socos e rasgando todos.

A luta foi travada e Liam, veio ao seu encontro, agredindo e mordendo


todos os lobos que tentavam impedi-lo de chegar à Pietra.

O seu lobo branco era feroz e enorme e, os italianos, mesmo estando em


vantagem em número, não eram páreo para a fúria daqueles dois.

Harley apontou suas garras contra eles, encontrando dificuldade de atingir


todos, mas nunca havia lutado com tanta ferocidade e destreza.

Os lobos saltavam de todos os lados, ele nem havia reparado que havia
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tantos, o que o irritou ainda mais.

Quanta covardia, tantos lobos ferindo uma loba indefesa: sua loba.

Harley ia mordendo, rosnando e o arranhando, assim como Liam, que


lutava bravamente ao seu lado, mostrando uma ferocidade que até então
desconhecia.

A impressão de Liam era pior, porque nunca tinha visto um lobo tão
enlouquecido como Harley estava, por isso teve certeza de que estava mesmo
lutando pela vida de sua companheira, e isso só tornava o amigo ainda mais
feroz e violento do que o normal.

Com o instinto de salvar sua loba era possível aflorar muitas partes
adormecidas de um lobo.

Ali não existia nenhuma misericórdia, perdão, tolerância ou perguntas a


serem feitas. Isso não importava em nada.

Era o ódio aflorado, era o instinto do lobo liberto, tentando salvar sua
companheira.

Liam agora via a dimensão da coisa e estava estupefato, e viu a tamanha


loucura que haviam feito, mas somente apoiou seu amigo e lutou com ele.

Ele não permitiria que aquela loba fosse morta.

Harley tentava avançar e chegar até Pietra, mas a luta estava travada e era
feroz contra ele.

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Ele viu ao longe um lobo negro morder sua companheira e lhe dar uma
patada, que a fez rolar pelos arbustos e seu grunhido de dor quase o deixou
louco.

Ele rosnou e se transformou na sua forma intermediária e rosnou alto,


ecoando pelo bosque na noite.

Com a visão turva pelo sangue escorrendo em seus olhos, Pietra avistou
ao longe o lobo nu no meio do bosque. A barba longa suja de sangue e o
cabelo solto se esparramado em suas costas que caía sobre sua bunda, as
coxas musculosas, os ombros largos e musculosos e as longas garras
ensanguentadas.

Com seus olhos cintilantes e as presas arrebanhadas, rosnando


furiosamente, ele era uma visão aterradora. Ela pensou que fosse ele, mas
estava muito atordoada e confusa para saber tão prontamente.

Mas sua loba e seu nariz não a confundiram.

Era ele.

Harley estava ali, lutando contra os lobos.

Pietra arfou, com o coração descompassado, desesperada e tentou gritar


por ele, correr em sua direção, mas outros lobos estavam chegando e um
enorme lobo cinza saltou sobre ela novamente, que arfou pela dor.

Ela lutou bravamente, com todas as suas forças, mas o sangue vermelho
brilhante começou a jorrar de suas feridas abertas e infiltrar-se em suas

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entranhas e ela sentiu que seu mundo estava terminado, sua visão ficou turva
e as patas titubearam.

A dor era insuportável.

— Harley... — sussurrou, perdendo as forças, o gosto metálico de sangue


em sua boca a fazia engasgar.

Sobre a relva ensanguentada ela sentiu seu corpo tombar e ao tentar uivar,
ela sentiu novamente dentes afiados afundarem em seu rosto e gritou pela
dor.

Harley ouviu o seu chamado em sua cabeça. A voz dela, de desespero, um


pedido de socorro e ele viu suas vistas enxergarem tudo vermelho.

Ele rosnou com toda sua raiva e avançou dando patadas, jogando um lobo
para cada lado, com as vísceras expostas, ergueu outro do chão sobre sua
cabeça e com um puxão desmembrou o lobo, cujo sangue escorreu totalmente
sobre ele, mas isso não o parou.

Ele correu e juntando as duas mãos arremessou um violento golpe no lobo


cinza, que a mordia sem piedade e o lobo voou pelo bosque, chocando-se
contra uma árvore e ele ouviu seus ossos quebrarem e o lobo caiu morto.

Mais um lobo cruzou seu caminho e Harley deu um cruzado de golpes


rasgando-o.

Pietra não conseguia mais respirar, reagir, sequer com um gesto fraco e
sabia disso. Ela ia morrer. Estava perdendo rapidamente o sangue e a

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consciência.

Ele se abaixou e juntou Pietra do chão, quase desacordada, lutando com a


inconsciência.

— Pietra! Eu te tenho, meu amor. Aguente, por favor.

“Meu amor.”

E isso foi tudo o que ela ouviu antes que o mundo ficasse preto.

Harley sentiu um baque em suas costas, um lobo havia se jogado contra


ele.

Ele cambaleou e caiu sobre um joelho, rosnou e levantou. Com um braço


sobre sua cabeça, agarrou o lobo pelo pescoço e com um rosnado, usando
toda sua força, o puxou.

O lobo girou sobre ele e tombou no chão, num baque seco. Harley gritou e
cravou o pé com toda força em sua garganta, quebrando seu pescoço.

Ele agarrou Pietra que quase havia escorregado de seu agarre e se


levantou. Viu mais lobos correrem ao longe, vindo em sua direção.

Precisava tirá-la dali o mais rápido possível, senão não conseguiriam


sobreviver, pois até suas forças estavam se esgotando e seus ferimentos o
estavam debilitando demais.

— Liam! — ele gritou, com sua voz animalesca, ecoando pelo bosque.

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Liam, que mais ao longe lutava com três lobos ao mesmo tempo, soltando
golpes certeiros e violentos, rosnou alto, olhou para Harley e correu em sua
direção.

Os olhos cintilantes de Liam, em forma intermediária, eram como a prata


líquida, brilhante e única.

Harley pouco tinha visto tal beleza na vida. Nem os olhos de Petrus, que
também eram brancos, se igualavam aos dele: monstruoso, assustador, mas
extremamente belo.

Um lobo saltou sobre Liam, mordendo-o violentamente, e ele gritou. Liam


rosnou e agarrou-o; dando um giro, com toda sua força o jogou longe,
fazendo-o se chocar contra uma árvore e ele não soube dizer que era a
madeira quebrando ou seus ossos, não lhe importava, muito menos Harley
que queria todos mortos por ousar tocar Pietra.

Ela foi agredida novamente, mesmo estando nos braços de Harley, que ao
mesmo tempo teve garras cravadas em sua coxa, o que derrubou os dois e ela
foi jogada longe com uma patada e rolou pelo gramado.

O lobo correu sobre ela novamente, mas antes que ele a mordesse, Harley
se colocou na sua frente, agredindo o lobo. Assim que rosnou, agarrou a
mandíbula do lobo, abriu sua boca com as mãos e com raiva a escancarou,
rasgando-a e jogou o lobo longe.

Quando todos estavam mortos e tombados, Harley, arfando de cansaço,


tentando ignorar sua própria dor dos ferimentos, pegou Pietra no colo
novamente e se virou para Liam, que estava bem ferido e respirava com

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dificuldade pelo cansaço e também pela dor.

Mais lobos, vindos não se sabia de onde, avançaram.

— Harley, pegue-a e leve-a para o helicóptero! Vou atrasá-los.

— Venha logo atrás de mim.

— Vá!

Sem perder tempo, Harley pegou a loba e saiu correndo.

Liam voltou à briga com três lobos que haviam chegado. Eram novos e
desajeitados e ele não teve piedade em rasgar suas gargantas.

O que era aquilo? Uma alcateia inteira estava ali?

Ele não sabia e não havia tempo para pensar, somente lutar.

Quando Harley chegou ao helicóptero, colocou Pietra deitada nos bancos


traseiros e olhou para trás procurando por Liam.

— Merda. Liam! — gritou.

Ele começou a ficar nervoso ao ver que ele não vinha e pensou em voltar.
Não podia deixar Liam para trás, pois se o matassem não se perdoaria. Talvez
estivesse ferido gravemente.

Ele olhou para Pietra desmaiada e rosnou com raiva, uivando alto,
chamando-o.
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Então olhou para a floresta e o lobo branco saltou sobre os arbustos,


correndo o mais rápido que podia, mesmo estando mancando de uma pata e
seu pelo antes tão branco como a neve estava sujo, ensanguentado e cheio de
terra.

Quando Liam chegou ao helicóptero, ele se transformou em humano e


entraram no aparelho. Ele rosnou pelos ferimentos e cuspiu sangue.

— Está bem para pilotar? — Harley perguntou arfando.

— Acredito que estou um tanto avariado, mas eu consigo.

Liam gemeu ligando o aparelho e as hélices começaram a girar, fazendo o


vento violento dobrar os galhos das árvores e o barulho quase o fez gemer,
pois seus ouvidos zuniam.

Rapidamente, ele colocou os fones e suas mãos tremiam, ao segurar o


manche. Quando o aparelho levantou, dois lobos vieram correndo, saltaram
nos pés do aparelho, e tentaram abrir a porta.

Liam manejou o helicóptero numa guinada brusca contra o topo de uma


árvore e um dos lobos caiu. O outro abriu a porta e rosnou para Harley e
agarrou a pata de Pietra, puxando-a.

Harley cravou suas garras no pescoço do lobo e com o pé o empurrou


longe e ele caiu.

Ele fechou a porta e suspirou e Liam conseguiu tomar altitude e se afastar.

A dor em seu corpo era excruciante e gemeu ao manobrar o aparelho, mas


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teria que pilotar mesmo assim.

Harley se ajeitou no banco de trás e colocou a cabeça de Pietra em seu


colo. Estavam nus e ensanguentados, sujando tudo de sangue, mas isso não
importava.

— Pietra, pode me ouvir?

— Como ela está? — Liam perguntou.

— Nada bem. Olhe esses cortes, estas mordidas! Voe rápido, Liam, por
favor, sua respiração está muito fraca e está perdendo muito sangue.

— Estou indo o mais rápido que posso. Não se preocupe, chegaremos e


ela ficará bem. Tem uma caixa de primeiros socorros debaixo do banco, terá
que ir ajudando-a até chegarmos, Harley. Precisa estancar o sangue.

Harley rosnou, a colocou sobre o banco e puxou uma caixa grande


debaixo do banco e a abriu num solavanco.

Olhou tantas coisas ali que não sabia o que fazer com elas. Ele pegou uma
máscara e um pequeno cilindro de oxigênio, o abriu e colocou em seu
focinho, arrumando o elástico em sua cabeça.

Ele pegou várias gazes e tentou estancar o sangue de seus ferimentos. Ela
estava inconsciente, e tão machucada, que ele a olhou desesperado.

— Por favor, viva, viva por mim — sussurrava em desalento e assim a


viagem para Creta seguiu e o coração de Harley, a cada minuto que passava
se tornava mais oprimido.
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— Ela está perdendo muito sangue!

— Harley, dentro da maleta há vários envelopes de pó hemostático, abra-


os e jogue isso em suas feridas, vai ajudar a estancar o sangue.

— Pó hemostático? Ok.

Ele revirou a maleta e encontrou os envelopes, os rasgou e colocou o pó


branco em suas feridas.

Ele chegara tarde, devia ter chegado antes, devia tê-la impedido de ir
embora daquela maldita festa, devia tê-la salvo.

Se ela morresse, ele não sobreviveria.

Ele respirava com dificuldade e não tinha forças para retrair seu lobo que
estava agitado e desesperado. Suas mãos tremiam enquanto despejava o pó e
envolvia seus cortes com as bandagens.

— Por favor, por favor, fique comigo. Respire. Não me deixe, Pietra. Vou
cuidar de você, vou cuidar de você.

Liam gemeu pela dor em seus próprios ferimentos.

— Você está bem, Liam?

— Vou viver, mas poderia jogar esta porra branca na minha barriga antes
que minhas tripas saiam?

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— Merda!

Harley o fez, rasgou os envelopes, foi para frente e jogou nos ferimentos,
o que fez Liam rosnar.

Harley tentou ajudar nos ferimentos de Liam, colocando o pó, colocando


gazes e esparadrapos, mas então voltou para sua loba. Ele estava transtornado
demais para ficar longe dela e nem sequer cuidou de seus próprios
ferimentos.

Liam olhou para trás, pois a onda de dor que ele sentiu não veio dele e
nem dela, veio de Harley.

A dor em seu coração de ver sua loba quase morta e sangrando tanto, fazia
o desespero dele transformá-la em algo tão forte que exalava de seu corpo
como uma onda de energia, o que fez Liam piscar aturdido.

Um companheiro ver sua companheira naquele estado partia o coração de


forma tão intensa que o lobo quase se perdia.

Harley estava sentindo uma dor e desespero em sua alma que seu amigo
nem podia imaginar.

Liam engoliu em seco e colocou mais pressão na aeronave para que


voasse mais rápido. Ele não deixaria que o amigo perdesse sua companheira,
porque imaginava que ele não suportaria tal dor.

Harley seguiu fazendo os curativos por instinto, porque na verdade não


sabia exatamente o que estava fazendo, mas seus lábios não conseguiam

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parar de sussurrar implorativamente em orações para que ela não morresse.

Para que não o deixasse, que aguentasse.

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Ilha dos lobos, Grécia.

Ester saiu da sala cirúrgica e tirou sua touca, respirou fundo e esfregou os
olhos que ardiam. Estava esgotada.

Ela respirou fundo e parou na frente de Harley, que estava parado no


corredor e olhava fixamente para a porta.

Ela falou com ele, mas Harley não se moveu.

— Harley, querido, será que você poderia se acalmar e olhar para baixo?

Ele rosnou e, com dificuldade, tirou os olhos da porta atrás de Ester e


olhou para baixo e a viu, com sua roupa médica, com os olhos arregalados.

— O que disse? — perguntou com a voz rouca e animalesca.

— Eu disse que a operação foi bem-sucedida, acredito que está fora de


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perigo. Consegui estabilizá-la e só depende de como reagirá às próximas


horas, mas vai se recuperar. Agora o que eu preciso é que você, docinho, se
acalme e pare de rosnar, recolha suas garras e seus caninos afiados para longe
de mim, pois realmente está me assustando.

Ele piscou aturdido e olhou para suas mãos.

— Está transformado na sua forma intermediária, Harley, seus olhos


parecem duas lâmpadas, está rosnando e suas presas parecem bem grandes e
afiadas.

— Merda!

Ele deu um passo atrás e se transformou, arfando como se estivesse muito


cansado.

— Isso, calma, fique tranquilo, porque ela não está correndo perigo de
morte, estou fazendo de tudo para curá-la. Tranquilo.

— Desculpe, Ester, eu não...

— Não percebeu que se transformou? Está muito nervoso.

— Sim, me preocupo com ela.

— Hum, já vejo. E quem é ela, exatamente? Você disse Pietra. Que


Pietra?

— Pietra Scopelli.

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— Quer dizer... que esta loba é a Pietra Scopelli? — perguntou abismada.

— Sim.

— Oh, que merda! — ela arfou espantada. — Quem fez isso com ela?

— Aqueles bastardos italianos, carcamanos. Eu devia exterminar com


aquela alcateia maldita! Como a tratam assim, como podem ter feito algo
assim a ela?

— Eu não sei, mas precisa se acalmar, Harley, precisa me deixar ver seus
ferimentos. Por que não me segue até a outra sala e verei se o tanto de sangue
que tem sobre você é seu.

— Não preciso de curativos, preciso ficar ao lado dela.

— Ela está estável, sedada e não há nada que possa fazer por ela agora,
pois temos que esperar as próximas horas para ver se nada acontece. Teve
dificuldade de respirar durante a operação e uma parada cardíaca, mas
consegui estabilizá-la. Seus batimentos ainda não estão regulados, mas agora
está melhor, ouviu-me? O que precisa fazer é me deixar que te costure para
que esteja forte e curado logo, assim poderá ajudar a cuidar dela. Está prestes
a cair, Harley.

— Estou bem.

— Sou a médica, eu digo se está bem ou não. Se não fizer o que peço serei
obrigada a chamar reforço e meter um tranquilizante em você, mas preciso
remendá-lo. Sabe que o farei, portanto não seria mais adequado evitarmos a

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confusão para não prejudicar esta loba que precisa de repouso e me seguir
aqui do lado?

— Não sei...

— Vamos, Harley, por favor, faça isso por mim, é bem aqui do lado,
Virna e Jessy estão com ela, e qualquer coisa nos chamarão e, em menos de
um segundo, estaremos ali por ela.

Ele rosnou, mas não se moveu.

— Querido, você vai cair em cinco segundos.

— Por quê?

— Porque tem uma poça de sangue no chão e você vai desmaiar em 3...
2...

Ele rosnou novamente e tombou, mas antes que batesse no chão, Noah
saltou, Ester não viu de onde, e o segurou, levantando-o no colo.

Ester respirou fundo e olhou para Noah, que rosnou.

— Obrigada. Por aqui, querido.

Ela caminhou pelo corredor e entrou na outra sala enquanto Noah a seguiu
com um Harley desmaiado e ferido.

— Ele vai ficar bem? — Noah perguntou.

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— Sim, vou consertá-lo.

Ester entrou em uma das salas da clínica e suspirou, cansada, retirando sua
roupa cirúrgica e colocando num balaio de roupas sujas.

— Como ela está? — Noah perguntou preocupado.

— A cirurgia foi bem, pois ela está reagindo e estável. Acredito que se
recuperará, se conseguir reagir às primeiras horas. Eu tive que lhe dar muito
sangue, pois havia perdido muito porque tinha tantos rasgos e mordidas pelo
corpo que até fiquei em choque. Não teremos o mesmo problema que você
teve quando recebeu sangue de Erick e Jessy, não é?

Noah rosnou fazendo uma careta.

— Aquilo nunca tinha acontecido antes. Sei lá o que aqueles malditos


fizeram a mim para ficar doente daquele jeito. Você está bem, doçura? Está
muito cansada.

— Eu estou bem.

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— Harley está lá com ela?

— Sim. Eu o costurei e ele acordou, mas ele não quis ficar no outro
quarto. Está lá, zelando por ela, com aqueles olhos esbugalhados e temerosos.

— Inferno. Ela ainda está em forma de loba?

— Sim. É mesmo Pietra?

— Sim. Pietra Scopelli.

— Uau, é uma linda loba, e lamento pelos tantos ferimentos. Alguém pode
me explicar o que aconteceu com ela? Tentei conversar com Harley, mas ele
não disse nada muito significativo, está um tanto fora de si.

— Sim, o vi e sei que está muito alterado.

— E por que vocês estão gritando? Ela precisa de repouso e esta gritaria
não está ajudando e Harley pode ouvir.

Ester olhou para Noah, depois para Virna e Liam, esperando a resposta.

Liam suspirou e abaixou a cabeça que doía e seu ouvido zumbia. Ele não
sabia se doía mais a cabeça, seu corpo ou seu coração.

Ele se questionava se todos poderiam parar de gritar e deixá-lo em paz.


Seria pedir muito? Mas Noah estava muito zangado para isso e sua
companheira Virna, então, nem se fala.

Ele olhou para o braço, que ela acabava de costurar e cortou o fio da
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sutura.

— Você tem sequer ideia do que fizeram, Liam? — Noah rosnou.

— Eu sei, alfa — Liam disse, cansado.

— Sabe? Vocês dois podiam ter morrido. Se eles descobrirem quem eram
vocês que invadiram seu território, podem querer vingança.

— Eu sei.

— Sabia e mesmo assim se enfiou numa briga de alcateia adversária.


Raptaram uma loba!

— Nós a resgatamos.

— A filha do alfa! E trouxeram uma loba sequestrada para minha ilha!

— Ele disse que a resgatou, Noah. E, realmente, se eu não tivesse a


ajudado rapidamente, ela teria morrido. Ainda não sei como resistiu a esta
viagem com tantos ferimentos expostos — Ester disse, tentando amenizar o
surto nervoso de Noah.

— Desculpe, alfa, mas no momento pensei somente em descer aqui para


que Ester a ajudasse, seria mais rápido e não sabia se Sami, a alfa de Petrus,
poderia ajudá-la. Harley estava muito atordoado para opinar. Tomei a decisão
e aqui viemos.

— Entendo o ponto, mas ela é uma loba de outra alcateia que estava no
seu território. Talvez tenha cometido um delito grave para ser punida e vocês
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não poderiam interferir dessa maneira.

— Nenhuma loba deveria ser punida daquela maneira. Ela podia estar
morta.

— Entendeu o que eu quis dizer, Liam, não se faça de bobo comigo. Não
estou defendendo que a machucassem. Estou dizendo que isso pode trazer
uma guerra entre as alcateias novamente!

— Você que podia estar morto, Liam, não pensou em mim? — Virna
disse, nervosa.

— Sim, eu pensei, Virna.

— Pensou e se meteu numa briga daquelas para salvar alguém que você
não conhece.

Liam rosnou furioso.

— Harley é meu amigo e me pediu ajuda, eu não podia negar. E não era
somente uma loba qualquer, era a companheira dele. Ele me pediu para
ajudar a salvar a companheira dele! — gritou.

Houve um silêncio tenebroso na sala.

— Companheira dele? Mas ela... era a prometida de Petrus — Erick disse


espantado, que até então, somente tinha observado a briga sem dizer uma
palavra.

— Bem, as coisas podem se embolar, não é? — Liam disse.


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— Eu sabia que havia algo errado naquela reação de Harley. Uau, Pietra é
sua companheira? A filha do carcamano, velhaco, infeliz? — Ester disse com
os olhos arregalados.

— Ele estava machucando sua própria filha? O que ela fez de tão errado?
— Erick perguntou espantado.

— Não sei o que ela fez, mas não estavam simplesmente a machucando,
estavam tentando matá-la.

— Os lobos com os quais lutaram eram executores?

— Sim e se sobrevivemos foi porque tivemos sorte, havia uma quantidade


enorme de lobos a maltratando, mas de segunda linha, muitos em quantidade,
mas ruins em qualidade. Se fosse a elite, nós estaríamos mortos e mesmo
assim eu tinha que ajudar. Aquilo que aconteceu na Floresta De Gamo não
era um simples castigo por um delito, era uma pena de morte.

— Pena de morte? — Virna perguntou, assustada.

— Sim, uma Spurga — Liam disse.

— O quê? — Noah perguntou com um rosnado.

— Merda! — Erick xingou.

— O que é isso? — Ester perguntou, sem entender.

— Pietra foi levada ao bosque para ser morta, e se não fosse eu e Harley, é
como ela estaria agora. O senhor sabe muito bem o que significa, certo, alfa?
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Sinto muito ter desobedecido a uma ordem sua. Não vai acontecer de novo,
mas, naquele momento, eu não podia deixar Harley e não pude deixar a loba
ser morta.

Ele não ouviu mais nada e saiu da clínica, sem terminar seus curativos.

— Liam! — Virna o chamou.

Virna olhou para Noah e Ester com a boca aberta.

— Do que ele está falando? O que é Spurga?

— Spurga é como chamam o castigo extremo para um lobo expulso de


sua alcateia.

— Expulso? Quer dizer que Pietra foi expulsa? Você quer dizer...
Renegada? Banida?

— Como ela sobreviveu, o que não era para acontecer, já que, como ele
disse, eles a teriam matado. Agora todos os lobos deveriam virar as costas
para ela — Erick continuou. — É como se ela estivesse morta para os lobos.
Uma vergonha para a alcateia. Nenhum lobo poderia ajudá-la. O fato de a
acolhermos já é contra as leis.

— Sim, mas essa lei é antiga e muitas alcateias já não a seguem mais.

— Liam se meteu na briga para salvar Pietra porque ele mesmo passou
por isso. Pietra agora é uma pária, como Liam.

— Oh merda! — Ester disse espantada.


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Virna arregalou os olhos e olhou para a porta onde Liam tinha saído e
entendeu sua dor e raiva.

Virna foi para casa e Liam não estava em nenhum lugar, mas, pela
varanda, ela pôde ver que ele estava em forma de lobo, sentado na beira do
mar, olhando-o, paralisado.

Ela suspirou e pensou se deveria interrompê-lo ou deixá-lo, mas saber que


estava triste machucava seu coração. Ele era a coisa mais preciosa que tinha
na vida e somente queria vê-lo sorrindo.

Então tirou seu vestido e se transformou em loba, foi para a praia e


lentamente foi se aproximando dele, que a percebeu quando estava longe e
ficou olhando-a se aproximar.

Liam sentiu seu coração inflar. Virna era magnífica como loba, era
marrom mesclada de vários tons mais claros e em suas costas seu pelo era
avermelhado, como seus cabelos.

Virna tinha o dom de acalmar seu coração, era como ter uma dor e quando

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ela o tocava a dor passava. Ele se comoveu, porque agora, a vendo como
loba, soube que ela escolheu esta forma para acalmá-lo, para dizer que o
amava e que estava do lado dele.

Ela sentou na sua frente e ficou ali, quietinha, por um longo momento, até
que perguntou mentalmente: — Você está bem?

— Estou bem.

— Pode conversar comigo?

— Não quero conversar.

— O alfa não está mais zangado com você. Quer dizer, pode ainda rosnar
e gritar, mas ele é muito inteligente para ficar bravo contigo por muito
tempo.

— Ele tem razão de estar zangado.

— Apesar de querer quebrar sua cara, eu admiro você. Sempre querendo


ajudar todos, tão honrado.

— Não podia deixar Harley. Não podia deixar que a matassem.

— Eu sei. Amo você por isso, mas pensar que podia te perder me assustou
muito.

Liam suspirou e se transformou em humano e sentou na areia e abriu os


braços. Virna se transformou e ele sorriu automaticamente vendo seu lindo
cabelo liso e ruivo, com mechas loiras, cair pelas laterais de seu rosto. Ele os
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tocou delicadamente, sentindo sua textura.

Virna engatinhou na areia e se aninhou em seus braços.

— Não vai me perder, meu amor.

— Desculpe se eu fiquei nervosa.

— Não precisa se desculpar, eu entendo. Se fosse com você, eu também


teria surtado.

— Ela é mesmo a companheira de Harley?

— Bem, ele não saiu do lado dela, não é?

— Não.

— Espero que ela melhore.

— Seus ferimentos vão sarar, ela ficará bem. Creio nisso.

— Pelo menos fisicamente.

— Sim, agora do seu coração já não posso assegurar.

— Harley vai ajudá-la, mas não sei como isso poderia funcionar agora
para eles.

— Por quê?

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— Talvez a alcateia de Petrus não aceite sua união com o beta.

— Mas e se for sua companheira?

— Não aceitariam.

— Mas os lobos da alcateia de Noah aceitaram você.

— Poucas pessoas sabiam de mim.

— Quer dizer que a maioria dos lobos não sabem?

— Não, Virna, e se souberam não me negaram como parte da alcateia ou


viraram as costas para mim. Mas os anciões não sabiam, como o velho
Cifraz. Mas isso foi antes dos laboratórios, agora isso não importa mais para
eles, pois Noah proibiu diversas leis de serem seguidas aqui, mas não sei se
na alcateia de Petrus isso seria assim.

— O que vão fazer com ela? O que dizem as antigas leis?

— Não sei, por nossas antigas leis Noah deveria mandá-la embora e
Harley não poderia levá-la para Creta.

— Isso é horrível! Deixariam-na sozinha no mundo? Sem ter para onde ir?

— Sim.

— Sabia que têm certas leis que são uma merda?

— Sim, eu sei, ruivinha, agora faz um favor para mim?


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— O que quiser.

— Não falemos mais sobre isso.

Ela suspirou e acariciou seu peito, olhando para o feio corte de seu ombro.

— Quando vai me contar sua história, Liam?

— Um dia, minha ruivinha, mas não hoje. Já tive o suficiente sobre essa
merda de párias, ok?

Ela assentiu e o beijou.

— Ok, só não quero te ver sofrer.

— Só ficar assim, com você, já me faz esquecer todas essas coisas tristes.

— Vejo que está animando... — disse sorrindo e fazendo-o rosnar quando


tomou seu membro excitado na mão e acariciou-o.

— Veja bem, acho que necessito de uma boa temporada de sexo para me
acalmar.

— Jura? Seus olhos estão cintilando, isso seria o tal frenesi de novo? Deu
um bocado de trabalho depois daquela luta nos Estados Unidos, tenho sorte
de ainda andar.

Ele riu lindamente e beijou seus lábios.

— Isso é uma reclamação?


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— Foi divertido. Adoro quando fica selvagem.

— Estava me segurando, mas com você nua em cima de mim e me


tocando assim descaradamente, fica difícil.

Liam rosnou quando a água do mar subiu e cobriu sua perna com um
ferimento, o sal da água fez o corte arder. Ele se levantou com ela nos braços
e rosnou novamente pelas dores e todas as suas sensações. Cambaleou e
rosnou se erguendo.

— Solte-me, andarei.

— Não, eu posso levá-la.

— Sinto muito que esteja com dores, talvez devêssemos adiar isso.

— Não. Vai ter que me dar muito sexo para conseguir me acalmar.

— Oh, que dura tarefa, acho que tenho uma dor de cabeça.

Ele soltou uma gargalhada.

— Você não faria uma maldade dessas com seu companheiro, não é?

— Deveria, depois do susto que me fez passar, mas serei boazinha e vou
cuidar bem de você. Está bem para isso? Tem muitos machucados e nem me
deixou cuidar de todos eles.

— Para você sempre estou bem, nem sinto nada.

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— Então eu o levarei para nossa cama, mas somente depois de me deixar


cuidar de seus ferimentos como deve ser. Sei que é um lobo forte e corajoso,
mas preciso cuidar de você.

Ele suspirou e beijou seus lábios.

— Sim, companheira, eu deixarei que cuide de mim, dos dois jeitos que
necessito, porque não quero que se preocupe.

— Sim, me preocupo porque não consigo viver sem ti e não gosto que
sinta dores, depois vamos para nossa cama e esqueceremos todo este
sofrimento de hoje. Está vivo e bem, de volta em casa, e isso é o que me
importa.

— Seu pedido é uma ordem.

Ele girou com ela nos braços e foram para casa.

Harley havia adormecido na cadeira e gemeu quando se levantou, ouvindo


seu celular vibrar no bolso.

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Cada centímetro de seu corpo doía. Ester tinha tratado de seus ferimentos
e lhe dado analgésico, mas parecia que seu corpo todo latejava e todas as suas
feridas estavam abertas.

Sua cabeça pesava uma tonelada e seus ouvidos zuniam. Os pontos nos
seus cortes e rasgos pelo corpo estavam pinicando, o que o deixava irritado e
ele colocou a mão sobre a costela quebrada. Teve muita sorte de não ter mais
danos, mas gemeu quando seu lábio cortado abriu; ele passou a língua e
rosnou quando sentiu uma presença na sala.

Ele olhou para a porta e viu Clere, que claramente estava com o semblante
preocupado. Ela ficou olhando a loba na cama e Harley. Ele a olhou, mas se
virou para frente novamente, sem dizer nada. Ela se lembrou de como aquilo
tudo tinha virado uma merda total.

“Harley, como sempre, fora gentil e estava ensinando-a pilotar a moto, e


ela o tinha beijado quando ele se aproximou demais.

Ele piscou aturdido e se afastou.

— Clere...

— Só um beijo, Harley.

— Não, isso não está certo, somos amigos, somente isso.

— Pensei que gostava de mim.

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— Eu gosto, mas não assim. Você não é garota pra mim.

Nossa, ela nunca sentira como se tivesse levado um soco na cara, seu
coração partiu e ela viu a realidade, os sonhos de que ele gostava dela como
mulher não era verdade, os sentimentos eram só dela.

— Não que não seja linda e...

— Pare, Harley. Não diga mais nada.

— Acho melhor a gente se afastar.

— O quê? Mas por quê?

— Não quero alimentar nenhuma esperança de relacionamento, sinto


muito, mas está confundindo minha amizade, Clere.

— Sei que sou nova e inexperiente, mas podemos dar uma chance.

— Desculpe, mas não posso, gosto de outra pessoa.

Aturdido, virou as costas e saiu e ela ficou ali, boquiaberta e perdida,


com o coração partido.

Harley tinha desprezado-a e partido seu coração.

Ela não era mulher para ele, claro, era uma criança, uma problemática.

Então a dor e a melancolia tinha tomado conta dela e seu muro protetor
tinha ruído.
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Clere suspirou, tomou coragem e se aproximou lentamente.

— Oi.

— Oi.

— Como ela está? — ela perguntou baixinho.

— Não muito bem.

— Você também não me parece muito bem.

— Estou bem.

— Harley... sei que temos nos estranhado nos últimos tempos, mas quero
que saiba que se necessitar de algo...

— Não se preocupe, estou bem.

— Você parece se preocupar muito com esta loba.

— Sim. Pensei que você estava zangada comigo, não tem querido mais
minha companhia.

— Pensei que foi você que se afastou.

— Talvez tenha sido eu — disse meio perdido.

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— As coisas ficaram um pouco complicadas, mas não estou zangada.

Ele suspirou desalentado. Ele sabia que ela gostava dele de forma
inadequada e não soube lidar com a situação, pois sua cabeça somente tinha
Pietra e sua derrocada ladeira abaixo.

— Só queria dizer isso, que quero que fique bem, se precisar de algo...

— Ficarei, obrigado.

Ela assentiu, um tanto perdida e sem saber o que fazer ou dizer. Ele
também não parecia estar aberto à conversa, então saiu e ele suspirou.

— Que merda! — Harley xingou baixinho.

As coisas podiam ficar ruins, bem ruins.

Nunca planejou magoar Clere, pensou que sua amizade era pura e não
sabia que ela levaria para outro lado. Eles tinham ficado bem unidos e, de
repente, as coisas tinham desandado. Mas quem domina o coração?

Nada era tão ruim que podia piorar.

Ele rosnou e gemeu pela dor nas costelas quando o celular tocou e o
atendeu rapidamente.

Mancando, saiu da sala para não fazer barulho perto de Pietra.

— Oi.

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— Harley! Você está bem? — Petrus gritou do outro lado e Harley afastou
o telefone do ouvido fazendo uma careta.

— Estou bem, apenas um pouco avariado, mas não estou surdo.

— Traga seu traseiro aqui, agora!

— Não quero deixar Pietra, ela está muito ferida.

— Eu sei que ela está ferida, Noah me avisou de sua estúpida aventura
com Liam em Roma, coisa que, você, meu irmão e meu beta, deveria ter me
avisado! Agora traga seu traseiro aqui imediatamente e me coloque a par do
que está havendo ou arranco seus dentes a murros e te garanto que Ester ou
Virna não vão ter nada para remendar.

— Petrus, eu posso te explicar quando ela estiver boa.

— Não, Harley, você vai vir agora. Ester me disse a situação de Pietra e
que ela não vai acordar até amanhã, portanto volte para Creta agora mesmo
e isso é uma ordem.

Harley pensou em negar, mas sabia que devia explicações a Petrus, o que
tinha feito poderia sim lhe causar problemas e Petrus não era o cara que
queria contra ele nesse momento.

— Sim, alfa, estou indo.

Harley desligou e suspirou, entrou de volta no quarto e ficou por alguns


minutos olhando para a loba deitada na cama.

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— Não se preocupe, eu cuidarei bem dela, Harley, ela só acordará amanhã


— Ester disse entrando no quarto e o olhando.

— Não posso movê-la e levá-la para Creta?

— Não. Por enquanto é bom que ela não seja movida. Assim que puder,
eu a libero para que a leve. Inclusive vou fazer mais alguns exames nela para
ver seu progresso e sobre os problemas que teve. Ela está segura aqui e juro
que não tirarei os olhos dela. Eu ligarei para você se houver alguma mudança
em seu quadro, prometo.

Ele assentiu e acariciou a cabeça da loba.

— Amanhã estarei de volta, Pietra, te prometo.

Ele saiu mancando e sem olhar para trás, pois isso poderia fazê-lo mudar
de ideia e não sair do lado dela.

Marcello Scopelli fez uma reverência cordial e respeitosa e Noah


respondeu com o mesmo movimento, depois cruzou os braços no peito,

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olhando-o como se fosse ninguém. Pronto para arrancar sua cabeça.

Marcello, mesmo tendo entrado sozinho na ilha, pois não teve permissão
de nenhum outro lobo para descer do helicóptero, quando Thorman, Konan e
mais um lobo os bloqueou no heliporto, por ordem de Noah.

— Em que posso ajudá-lo, Marcello Scopelli? Não diria que é uma honra
tê-lo na minha ilha, mas não aguentei de curiosidade para saber o que um
romano estava querendo na minha propriedade, portanto, fale rápido.

Marcello olhou para Ester, que estava ao lado de Noah e somente o olhava
atentamente.

— Eu estou procurando minha irmã, Pietra Scopelli — Marcello disse,


finalmente.

— Você a perdeu?

Marcello quase rosnou com o deboche de Noah, mas não estava ali para
brigar.

— Eu soube que alguns de seus lobos estiveram na minha alcateia e a


levaram.

Marcello ficou olhando atentamente as fisionomias de Ester e Noah e para


Erick, que estava do outro lado de Noah, com os braços cruzados, ao lado de
Liam, encarando-o como se ele fosse uma barata, prestes a ser esmagada.

— Sério? Meus lobos não estiveram na sua alcateia. Por que diabos fariam
tal coisa? — Noah disse.
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— Seu lobo branco.

Marcello olhou para Liam, que estava mais ao lado, sério.

— Há muitos lobos brancos por aí, não era o meu.

— Alfa, eu não quero uma briga, nem com vocês, nem com a alcateia de
Petrus, mas eu quero Pietra de volta.

— E eu quero que as árvores voem. Não tenho sua loba, mas se tivesse,
não devolveria, porque se estivesse aqui, sem seu consentimento, é porque
não quer voltar para casa, não é? Por que ela fugiria com meu lobo branco?
Ele é um lobo acasalado, não iria atrás de uma loba de outra alcateia.

— Ela foi levada, meus lobos foram mortos e eu a quero de volta. Eu vou
mantê-la segura.

Mantê-la segura?

Isso espantou Noah, mas ele não demonstrou.

— Não temos sua loba.

— Me entregue a loba e eu irei embora em paz.

Noah rosnou e soltou suas presas e seus olhos cintilaram e, num salto,
chegou à frente de Marcello arreganhando os dentes.

— Diga-me, lobo, se é tão parvo para não conseguir manter suas lobas no
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seu território, perdendo-a por somente dois lobos contra uma alcateia inteira,
é porque é um inútil e, como seu pai já demonstrou, é arrogante e um péssimo
alfa, corrupto e mentiroso. Eu teria o direito de arrancar sua cabeça pelo que
fez à minha alcateia, com aquela guerra dos infernos. Mas vou te dar uma
chance, só essa de continuar respirando e sair daqui com a cabeça sobre o
pescoço e o coração no peito. Se pisar na minha ilha novamente, voltará para
seu pai, sem a cabeça e os membros. Fui claro?

— Se estiver mentindo, terá problemas, alfa.

— Uhhh, estou morrendo de medo — disse tremendo as mãos. — Agora


tire suas patas sujas da minha ilha.

Erick, Liam e Konan deram um passo à frente cintilando seus olhos em


ameaça.

Marcello olhou para cada um deles e olhou bem para Liam, que o encarou
sem um piscar de olhos, e depois o italiano olhou para uma atadura que ele
tinha na mão, que aparecia sob a manga comprida de sua camisa.

— Onde conseguiu seus ferimentos, lobo? — perguntou para Liam.

— Luta de espadas, como os antigos irlandeses, ele é muito bom nisso,


mesmo sendo um canadense — Noah respondeu. — Não é páreo para mim,
que posso arrancar todas suas tripas com minha espada em um só golpe e
depois posso mastigá-las e cuspi-las. Não sabia que era surdo que ainda não
escutou minha advertência. Não sou assim paciente para avisar duas vezes.

Noah olhou ameaçadoramente para Marcello, dando mais um passo à

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frente.

— Tudo bem, eu estou partindo.

— E não volte, pois não é bem-vindo aqui.

Marcello virou e saiu da casa de Noah, escoltado por dois lobos e logo
saiu da ilha.

Noah rosnou, suspirou e se virou, olhando para Liam.

— Acho que precisa trocar seus curativos, lobo.

Liam olhou sua atadura e estava manchada de sangue.

— Obrigado, alfa. E... Eu sinto muito ter desobedecido as suas ordens. Se


desejar, posso ir embora da ilha.

— Por mais estúpida que tenha sido sua atitude, Liam, eu ainda confio em
você e não vai a lugar nenhum, sua casa é aqui.

— Obrigado — disse surpreso.

— Ligue para Harley e Petrus, fale que os italianos estão procurando


Pietra e deixem todos os lobos alertas. E... obrigado por ter salvado a vida da
companheira de Harley, foi muito corajoso.

Liam abriu a boca e fechou, espantado.

Noah saiu, seguido de Erick e Ester, mas antes de ela sair da sala, olhou
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seriamente para Liam e, então, lhe deu um sorrisinho no canto da boca.

Liam ficou ali, pasmo, parado e respirou fundo.

Noah sempre conseguia surpreendê-lo.

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O celular de Petrus tocou e ele atendeu, já imaginando o que seria depois


de receber a ligação de Liam.

— Sim?

— Alfa, Marcello Scopelli está chegando de helicóptero, está pedindo


autorização para descer na ilha.

— Ele desce, os outros lobos ficam no aparelho e serão vigiados.


Ninguém além de Marcello entra na casa. Avise Harley para vir aqui.

— Sim, alfa.

Petrus desligou o celular, levantou do sofá e beijou a mão de Sami, que o


acompanhava. Cruzou os braços no peito e ficou ereto, imponente e
ameaçador, olhando para a porta.

Não demorou muito para Marcello entrar na sala, escoltado por dois lobos
de Petrus, que ficaram de guarda um pouco atrás dele.
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Bem, uma coisa era de se admitir: o italiano tinha classe. Vestido com um
bem cortado terno Armani, gravata e colete, com óculos escuros da mesma
marca, que foi retirado assim que entrou na sala, revelando seus belos olhos
verdes, semelhantes aos de Pietra.

Seu sapato era tão lustroso que podia se espelhar nele.

Ele tinha os cabelos escuros penteados para trás com gel e eles caíam até a
altura de seu pescoço, com uma bela barba por fazer.

E mais uma coisa que o carcamano tinha: coragem.

— Como vai, alfa Petrus? — cumprimentou fazendo uma reverência


formal.

— Estou muito bem, obrigado. Espero que sua visita seja breve, já que
deve ter esquecido que os Scopelli não são bem-vindos em Alamus.

— Olha, Petrus, eu não estou aqui para confusão, minha visita é amistosa.
Somente tenho assuntos sérios a tratar.

— Jura? E que assuntos sérios seriam estes que faria você vir até aqui?
Qualquer assunto referente aos negócios é tratado com meu advogado.

— Estou aqui por causa de minha irmã, Pietra.

— Lamento os constrangimentos que ela passou naquela cerimônia


lamentável, é uma boa loba e não merecia todo aquele circo armado pelo seu
pai.

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Marcello respirou fundo e Petrus viu que ele estava cansado.

— Sim, foi um golpe para ela e as coisas ficaram um pouco complicadas.

— Ela está bem?

— Na verdade, eu a estou buscando.

— Oh, perdeu sua loba?

Dessa vez, perante a mesma pergunta debochada, ele rosnou.

— Pietra foi banida.

Bem, o espanto de Petrus foi genuíno.

— Banida pelas burradas de seu pai? Pensei que ela era uma pessoa ilustre
e merecedora de proteção e cuidados por ser uma fêmea e a filha dos alfas. É
assim que tratam suas lobas? Por que inferno faria algo assim?

— Pietra traiu nossa alcateia e meu pai não a perdoou e ela foi julgada e
condenada.

— Por Zeus! E o que é que eu tenho a ver com isso? O que ela fez,
exatamente?

— O motivo é privado, mas o que me traz aqui é que Pietra foi levada.

— E? Se ela foi banida deve ter saído de sua alcateia e vocês não têm
porquê buscá-la.
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— Minhas fontes dizem que quem levou Pietra foram dois lobos num
helicóptero. Vários dos nossos lobos foram mortos por um lobo branco, que
posso jurar ser Liam, um dos capachos de Noah, e o outro, loiro de cabelos
longos até a cintura e de barba, seu beta, Nico Papolus.

— Eles mataram muitos dos seus lobos?

— Sim, muitos, mais do que pensei que somente dois lobos poderiam
matar e sair vivos. O que devo confessar, achei impressionante. Talvez
seguindo ordens suas.

Petrus sentiu uma pontada de orgulho de Harley e Liam pelo feito, mas
disfarçou a vontade de rir e continuou sua farsa de não saber de nada.

— Minhas ordens? Eu estou acasalado com minha companheira, Sami,


não teria motivos para sequestrar sua irmã. O que eu faria com ela?

— Nico Papolus propôs casamento a ela na festa.

— Nico não esteve em Roma, pelo mesmo motivo que você deve manter
suas patas fora da minha ilha, por isso, as patas de Harley também não
pisariam ali. Nossas alcateias não interagem mais, por minha vontade e por
ordem do rei. Sob pena de punição. Você iria contra a ordem do rei? Eu não
aconselharia.

— Onde ele está?

— Fazendo suas tarefas, creio.

— Estou aqui.
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Petrus e Sami olharam curiosos para Harley e viram o motivo de Marcello


ter arfado, espantado.

— Mas que merda! — Petrus sussurrou para si mesmo, mas disfarçou seu
choque.

Marcello deu um leve rosnado e Petrus o olhou somente erguendo uma


sobrancelha, depois olhou novamente para Harley.

— Qual o problema? — Harley disse vindo e ficando ao lado de Petrus.

Harley estava sentindo a dor terrível na perna, mas não estava mancando,
para evitar se entregar.

Ele estava com os cabelos curtos, com um lado mais comprido que a
outro, com uma franja longa caindo sobre os olhos, e estava sem barba. Ele
ergueu uma sobrancelha e ficou olhando inquisitivo, segurando sua vontade
de rir, pela cara que Marcello fez.

— O que ele faz aqui? Fui informado de sua chegada — Harley disse
despreocupadamente.

— Este lobo está procurando Pietra, disse que ela foi sequestrada.

— Sequestrada? Pelos deuses, que escrutínio. E por que pensa em vir


aqui?

— Este imbecil acha que foi você e Liam que o fizeram.

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— Liam? E por que eu e Liam faríamos tal coisa?

— Meus lobos disseram ter visto um lobo branco e um dos gregos, loiros
de cabelos longos.

Harley então sorriu, tão safado que até Petrus sentiu vontade de esmurrar
sua cara. O safado mentiroso passou a mão pelos cabelos curtos e depois em
seu rosto barbeado.

— Bem, acredito que pode tirar suas patas imundas de minha ilha, porque,
como pode ver, não tenho os cabelos longos e nem barba.

Marcello rosnou em advertência, segurando sua raiva.

— Fez isso agora.

— Fiz isso vários dias após a cerimônia que escorraçamos você e sua
corja italiana, ainda respirando daqui, portanto, não fui eu quem sequestrei
sua irmã.

— Ele disse que ela foi banida — Petrus disse.

— Banida? Por que infernos baniriam essa loba? Por causa de ela não ter
acasalado com Petrus? Devo lembrar, que a culpa não foi nossa, pois meu
irmão o faria e a culpa dessa merda toda foi do seu pai, que só demonstra que
é um calhorda, porque, além de todos os problemas que causaram a nós,
ainda bane sua única filha. É um bastardo.

— Meu pai teve suas razões. Pietra errou e teve que pagar o preço.

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— Bem, se ela é uma pária, por que a busca? Ela não faz mais parte de sua
alcateia e não tem nenhum poder sobre ela. Talvez ela tenha ido para longe
com pessoas que se importam com ela.

— Boa pergunta — disse Petrus e os dois ficaram encarando Marcello. —


Se a baniu, não é mais de sua incumbência, ela é livre para ir onde queira.

— As coisas não são assim tão simples.

— Saia, Marcello, pois talvez eu não garanta que possa ser um bom
anfitrião dessa vez e você saia daqui em uma caixa.

Marcello respirou fundo.

— Olhe, estou preocupado com Pietra, somente quero encontrá-la.

— Pra quê?

— Porque quero mantê-la a salvo.

Harley rosnou antes que Petrus intervisse e saltou contra Marcello


segurando sua garganta, trombando com ele contra a parede, fazendo o gesso
estilhaçar e rosnou com as presas arreganhadas em sua cara.

— Seus conceitos de manter Pietra segura parecem bem distorcidos para


mim.

— O que sabe dela? Diga-me — Marcello disse sufocado.

— O que sei é que ela não está nessa ilha, mas se estivesse, não entregaria
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a você, porque a última coisa que sua família sabe fazer é proteger suas
fêmeas.

Harley rosnou novamente e empurrou Marcello para o lado, que caiu no


chão e estava com os olhos verdes cintilando, segurando sua raiva, mas
suspirou e se levantou, tossindo e arrumando seu elegante paletó.

— Vou perdoar sua agressão apenas por um único motivo: por ela. Faça
isso de novo e está morto.

— Saia da minha ilha, bastardo, e avise seu pai que se outro italiano dos
infernos ousar pisar aqui, o matarei. Dessa vez, não haverá nenhuma
misericórdia. Arrancarei sua pele e farei um tapete.

— Meu pai não sabe de minhas verdadeiras intensões, pois não desejo a
morte de minha irmã. Seus erros não foram tantos para ser condenada à
morte, mas ainda não sou alfa para ter poder de impedir as decisões de meu
pai.

— Saia.

— Todo o conselho a condenou.

— Saia!

— Mantenha-a segura. É só o que peço! — gritou.

Bem, isso espantou Harley e Petrus que se olharam, confusos.

Marcello colocou a mão no bolso interno do paletó e tirou um saco com


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alguns frascos de comprimidos e estendeu para Harley.

— O que é isso? — Harley perguntou.

— Ela precisa tomar estes remédios. A informação que darei ao meu pai é
que os gregos não foram responsáveis pelo ataque na Floresta De Gamo.

Marcello entregou os vidros a Harley, girou nos calcanhares e saiu com os


dois lobos de Petrus o escoltando.

Todos na sala ficaram ali, parados e aturdidos.

Sami, que até então estava calada, somente assistindo a cena também
estava aturdida.

— Que diabos foi isso? — Harley perguntou.

— Essa gente é louca! — Petrus disse zangado, olhou para Harley e


rosnou. — O que diabos você fez? Eu quase sou pego de surpresa por ele, por
você não me contar o que anda fazendo! — gritou.

— Fiz o que tinha que fazer.

— Por que cortou seu cabelo e fez sua barba?

— Que pergunta idiota, os italianos agora sabem que meu cabelo não é
comprido e não estou usando barba, por isso não fui eu que estive na Floresta
De Gamo.

— Mas esteve e sequestrou uma loba.


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— Eu também não fiz. — Deu de ombros despreocupadamente. — Eu a


salvei daqueles bastardos.

— Onde está Pietra?

Harley suspirou e olhou para a porta prestando atenção para ver se


Marcello tinha realmente se afastado e olhou para Petrus.

— Ela está na clínica de Ester. Não pude movê-la ainda.

— Está muito ferida?

— Sim, está muito ferida. Ela foi operada e costurada, porque este
bastardo e seu pai aplicaram uma Spurga nela!

— O quê? — perguntou espantado.

— Eu não a sequestrei, eu a salvei de ser morta por eles.

— Ela é uma pária e aplicaram uma Spurga? Por Zeus! Por que infernos
aplicariam um castigo dessa magnitude numa fêmea e ainda sendo a filha do
alfa?

— Eu não sei, mas quando ela puder falar, eu saberei.

— Por que não pode falar?

— Está sedada e em forma de loba. Ester disse que ficará bem, mas seus
machucados eram bem graves.

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— Liam estava com você?

— Sim, Liam me ajudou, ele estava pilotando o helicóptero de Noah.

— Que merda! Estes bastardos estão a querendo de volta, por que fariam
isso?

— Talvez porque me meti em seus assuntos e impedi que a matassem e


agora estejam querendo terminar o que começaram.

— Ele disse que queria protegê-la.

— Sim, eu vi como sua alcateia a estava protegendo, você mesmo viu


como seu pai bateu nela na frente de todos.

— Harley, eu não quero confusão novamente com os italianos, se ela é


uma pária não pode ficar aqui, é contra a lei e espero que hoje seja a última
vez que vejo um Scopelli na minha casa.

— Bem, não devolverei Pietra.

— Por que não?

— Porque ela sendo uma pária ou não, está sob minha proteção... como
minha companheira.

Petrus quase engasgou com a própria saliva.

— Puta que pariu!

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— Você vai tomar Pietra como sua companheira? — Sami perguntou


espantada.

Petrus suspirou e os dois ficaram pensativos por um minuto.

— Ficou louco de vez, Harley?

— Sim, estou louco.

— Mas ela era prometida de seu irmão — Sami sussurrou e Harley olhou
para ela.

— Sim, e veja, quase que ele se acasalou com ela. E pelo bem da alcateia
teria permitido. Agora não tem obrigação nenhuma com ninguém, está livre
para mim. Ela é minha.

— Pensa que a escolheu, Harley... ou bem, pensa que ela é sua


companheira de alma?

Harley esfregou o rosto com força e respirou fundo.

— Ela é tudo de extremo que há, então não estou a escolhendo, ela foi
feita para mim, é meu presente e não deixarei que a machuquem novamente,
já aguentei o suficiente. Primeiro abrindo mão dela para que se acasalasse
contigo e agora estes filhos de uma cadela quase a matam. Quem ousar tocar
nela será transformado em paçoca. Passarei por cima de tudo e todos, mas ela
é minha.

Petrus piscou, aturdido.

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— Por isso estava tão fora de si desde que ela chegou, por isso ficou tão
louco.

— Sim.

Petrus olhou para ele, horrorizado.

— Sabia que tinha sentimentos por ela, Harley, mas isso? Quando soube
disso?

— Na primeira vez que ela entrou nessa sala como sua prometida.

— Que merda! — Houve outro silêncio absurdo na sala. — Está certo


disso?

— Sim. — Outro silêncio. — Olhe, Petrus... sei que tem toda essa merda
de leis, mas que se dane, você é o alfa desta ilha e segue as leis que bem
quiser, faz suas próprias regras. Pode permitir que ela viva aqui em segurança
e eu continuarei sendo seu beta. Mas se não aceitá-la, se ela tiver que ir
embora de Alamus, eu irei com ela.

Petrus olhou para Harley com os olhos arregalados e viu sua fisionomia
serena e séria e, pelo que conhecia de seu irmão, ele estava falando muito
sério.

— Sabe que isso pode nos causar problemas?

— Sei. Portanto, quero que tome um lado agora, irmão. Se quiser que ela
não entre nessa ilha, porque é italiana e é uma pária, então irei embora com
ela. Se aceitar que devemos dar-lhe nossa proteção, então eu me acasalarei
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com ela, continuarei como seu beta e a manteremos a salvo. Ela será uma de
nós.

— Você sabe o que ela fez?

— Não, mas eu não acredito que tenha cometido um crime para ter
recebido tal punição.

— Precisamos saber.

— Eu saberei quando ela me contar. Só peço que confie em mim. Eu


acredito que ela foi injustiçada. Sinto aqui, no meu coração.

Harley bateu com o punho fechado no peito e Petrus suspirou.

— Como tudo em seu comportamento se esclarece agora.

— Eu sempre a amei.

— E teria permitido que me acasalasse com sua companheira.

— Meu coração estaria quebrado para sempre, mas era nossa obrigação.
Eu sofri, vendo-o tocar nela — sussurrou quase somente para si.

Petrus olhou embasbacado para Harley e andou até sua frente, olhando
profundamente em seus olhos.

— Você dormiu com ela e vai colocá-la dentro de nossa casa? — Sami
perguntou, assombrada.

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— Desculpe, Sami, não devia ter disto isso. — Harley suspirou cansado,
seu cérebro estava frito, que não pensava mais direito.

Petrus gemeu e olhou para o teto.

— Misericórdia, o que eu fiz para merecer isso?

— Petrus?! — Sami perguntou.

— Não fiz nada disso.

Petrus rosnou, zangado.

— Sim, o fez, eu vi — Harley disse.

— Viu uma merda! Nunca dormi com Pietra.

Sami o olhou com as sobrancelhas erguidas e com as mãos na cintura.

— Eu a vi uma noite indo ao seu quarto, o dia do torneio — Harley


argumentou, confuso.

Petrus rosnou.

— Ela foi ao meu quarto para levar o gelo que você, imbecil, pediu, mas
não me deitei com ela. Nunca fiz sexo com Pietra.

Petrus sentiu todos olharem para ele como se fosse uma besta.

— Palavra de lobo? — Harley perguntou fazendo uma expressão teatral e

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depois rosnou.

Sami arfou e ergueu uma sobrancelha, inquisitiva.

— Parem com esta merda, senão socarei suas caras! — Petrus disse
zangado.

Harley suspirou e Sami também o fez.

— Meus deuses do Panteão, eu acredito nesse idiota e quase morri de


desespero pensando que a tinha tomado — Harley disse.

— A ama, realmente! A ponto de reclamar por eu, supostamente, ter


dormido com minha prometida. Bem, pois não o fiz.

— Ah, mas eu gostei de saber a verdade — Sami disse.

— Podemos parar com esta conversa ridícula, pelo amor de Zeus?

— Sim. Desculpe, eu estava com ciúmes. Tenho feito um monte de tolices


desde que ela entrou na minha vida. E continuarei fazendo, pois não posso
perdê-la, não dessa vez — Harley exasperou-se.

— Oh, Harley! — Sami disse espantada e compadecida.

Depois de um silêncio que pareceu engolir a todos, Harley olhou para


Sami, que o olhava consternada.

— Sami, quero saber se a aceitaria na ilha, sei que deve ser complicado
para você, mas ela não tem nada com Petrus, pois nunca quis este
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acasalamento. Ela é minha e eu cuidarei dela.

Silêncio.

Sami até parou de respirar e como alfa devia levar aquilo bem em conta.
Mas, apesar de ter ficado com ciúme de Pietra, ela sabia que eles estavam
falando a verdade.

Petrus nunca a trairia com ela e Harley estava realmente em uma


confusão. Sami sabia e confiava no amor que Petrus lhe tinha.

No fim, com toda a confusão que se armou naquele dia, se sentia um


pouco culpada pelo infortúnio da loba, pois tinha interrompido seu
casamento.

A desafiado.

Quão ruim isso era? Mas negar aquilo a Harley? Não queria que ele fosse
embora, pois Petrus sofreria. Não sabia o que fazer.

— Sami, não tenho nenhum sentimento por Pietra, lhe asseguro. Ela é
uma boa loba e não teve culpa de ter sido prometida a mim, não me queria —
Petrus disse.

Ela olhou para Petrus, que acariciou seu rosto suavemente e beijou seus
dedos.

Ela assentiu.

— Está tudo bem.


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Petrus beijou seus lábios e suspirou e, então, olhou para Harley.

— Pois bem. Vamos levar as coisas devagar e cuidar de sua recuperação.


Que ela se adapte à ilha e à sua nova condição. Manteremos segredo sobre o
resto. Pelo menos por enquanto. O que os outros lobos saberão é que ela é sua
hóspede agora e deve ser tratada como tal.

— Era o que eu tinha em mente. Ela terá muito com o que se acostumar e
será difícil para ela.

— Acha que Marcello engoliu essa história de que não a temos?

— Não. Ele parece um lobo inteligente e, além do mais, deixou esses


remédios. Obviamente porque sabe que ela está aqui ou com Noah.

— Que remédios são estes?

— Não faço ideia, mas vou levar para Ester ver sobre isso.

— Traga-a o quanto antes, não quero deixar o perigo na porta de Noah.

— Sim, o farei.

— A questão é: por que Marcello deixaria remédios para ela e estava


preocupado se tentaram matá-la e a baniram?

Harley suspirou cansado.

— Talvez ele realmente não estivesse de acordo com seu pai no que
fizeram — disse Samira da porta. — É sua única irmã. Como vocês bem
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sabem, nem sempre os filhos concordam com as atitudes dos seus alfas.

Petrus e Harley olharam para ela, que suspirou e se aproximou.

— Não quando são dementes.

— Já sabe o que está havendo, mãe?

— Eu desconfiava, mas orei aos deuses que não fosse verdade. Acredito
que tudo esteja acontecendo de forma equivocada e novamente estamos
metidos com os italianos.

— Sim, mãe, mas há uma força maior nisso tudo e alguns membros de sua
família parecem não estar de acordo com o que seu pai fez.

— Então a vinda de Marcello e ocultar que supostamente sabe que ela se


encontra aqui e não notificará seu pai, também seria uma traição — disse
Petrus.

— Seria. E foi sua mãe que me chamou pedindo que a salvasse.

— Sua mãe o chamou? — Petrus perguntou espantado.

— Sim.

— Oh, as Górgonas devem estar eriçadas esta manhã! — Samira


sussurrou, espantada.

Petrus esfregou a têmpora com os dedos, sentindo uma dor ali.

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— Bem, acho que o estrago está feito.

— Sei que talvez seja pedir demais a vocês, agora que a ilha está em paz.
Talvez seja melhor partir e evitar uma confusão. Não quero que ela sofra
mais do que terá que suportar e nem vocês.

Samira olhou para Harley e suspirou.

— Está seguro de seus sentimentos, Nico?

— Nunca estive tão seguro. Sei que não era isso que desejava para mim,
minha mãe, mas ela é minha companheira e ouso dizer que é de alma, porque
acredito que não há nesta vida algo mais forte que possa tomar meu coração.

Petrus olhou para Harley.

— Como podemos saber?

— Mesmo quando Sami estava perdida para você, você lutou por ela,
porque em seu coração e sua alma sabiam que ela era sua. Pois bem, eu
também sei. A única coisa que quero saber é se estará ao meu lado.

Após um minuto de silêncio, que pareceu uma eternidade, Petrus respirou


fundo.

— A partir de hoje, nenhum carcamano entra mais em Alamus, pois


devemos impedir que saibam que ela vive aqui. Se Marcello não contar,
ninguém saberá. — Petrus foi até Harley e o segurou pela nuca. — Estarei
com você, irmão.

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Os dois se abraçaram fortemente e então Harley olhou para sua mãe, que
estava séria e com os olhos preocupados.

Então ela ergueu o queixo e respirou fundo.

— Sim, este é um passo perigoso que está dando, Nico. Está preparado
para assumir as consequências?

— Sim.

— Nem sabe o crime que ela cometeu.

— Não me importa, não acredito que tenha sido tão grave que não
possamos perdoá-la.

— Mas uma Spurga não é para qualquer crime, Nico.

— Eu sei em meu coração que ela é inocente. Se ela fez algo de errado,
aposto que foi para tentar se safar dos desmandos de seu pai. A senhora a
conheceu, ela esteve aqui e não era uma loba má.

— Isso está muito estranho, mãe, mas também não acredito que seja tão
má a ponto de nos trair se a acolhermos.

— Estão dispostos a assumir o risco?

— Eu estou.

— E eu não posso abandonar Harley.

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Ela suspirou e houve um silêncio.

— Bem, você é o alfa, Petrus, se está disposto a tomar esta briga, então
vou apoiar. Também não consigo crer que aquela loba seja uma bandida.
Indo contra seu pai, talvez, mas criminosa, não.

— Também acho que seja algo assim.

— Então este será nosso segredo, por enquanto. Traga-a para Alamus e
cuidaremos dela. Eu a aceitarei como sua companheira, filho, será muito bem
tratada aqui, como a companheira do beta e como parte da nossa família.

Harley soltou a respiração presa, emocionado e abraçou sua mãe.

— Todos nós já conhecemos o que o pai dela é capaz de fazer.

— Sim, mãe, eu acredito nisso e com o tempo, ela me dirá.

— Mas deve ficar alerta, porque se ela não foi leal a sua família, pode não
ser leal a você.

— Ela será, porque acredito que ela seja minha companheira de alma e, se
assim for, ela sentirá o mesmo por mim, pois é recíproco e então será leal a
mim.

— Zeus! — Petrus resmungou.

— Uma companheira de alma jamais trairia seu companheiro.

— Não trairia.
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— E... ela sabe que são companheiros?

— Não sei, mas saberá.

— Companheiros de alma, como a lenda cita, traz um amor muito forte, se


assim o for, então ela saberá e o honrará, lutará ao seu lado.

— Logo saberemos.

Outro silêncio. Petrus respirou fundo e olhou para Harley.

— Bem. A partir de agora Pietra será uma Papolus e será acolhida por
nós. É minha palavra como alfa e como seu irmão.

— Obrigado, irmão. Então que nos preparemos e estaremos mais alertas


com a segurança da ilha. Tomarei conta disso.

— Os lobos estão usando as armas que Sasha enviou?

— Todos já estão adaptados e os lobos que vieram de Kimera começarão


o treinamento. Sasha está vindo para iniciar o treinamento deles.

— Bom. Porque se não tivemos uma guerra antes, estaremos preparados


para uma que poderá vir agora.

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Ester saiu da sala médica e quase se chocou com a montanha de músculos


que estava escorado no batente da porta.

— Harley! Santo Deus, você me assustou!

— Como ela está?

— Primeiramente, bom dia — disse com um sorriso.

— Bom dia, alfa, desculpe minha indelicadeza.

Harley fez uma reverência respeitosa e beijou o dorso de sua mão, como
era seu costume, o que fez Ester sorrir mais para ele.

— Está tudo bem. Eu não imaginei que viria tão rápido, não faz nem uma
hora que te liguei por ela ter acordado.

— Saí de Alamus no momento que desliguei o telefone. Não queria que


ela ficasse assustada por acordar num lugar estranho.

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— Claro. Bem, ela esteve assustada quando acordou e demorou um pouco


a me reconhecer e saber que estava na minha clínica, aqui na nossa ilha e a
salvo. Aos poucos, ela foi recobrando a consciência e se lembrou de que você
a salvou, etc. Apesar de seu susto e ter rosnado e quase me mordido e
arrancado as agulhas com os fluídos médicos, ela se acalmou. Ela continua
assustada, mas pelo menos sabe que não a machucaremos aqui.

— E seus ferimentos?

— Já está melhor e fora de risco, a cicatrização está correndo bem, apesar


de achar que está lenta demais comparando com os outros lobos, mas acredito
que daqui a alguns dias esteja recuperada, mas psicologicamente, ainda está
muito abalada, apesar de algo ainda me preocupar.

— Ela disse alguma coisa?

— Nenhuma palavra. Apenas chorou quando me reconheceu, mas ela não


disse uma palavra quando lhe fiz perguntas. Acho que precisa de tempo para
se recuperar do choque.

— Ela já pode ser removida?

— Pode, se for com cuidado, mas peço que a deixe aqui mais um dia pelo
menos para que a monitore mais um pouco, para que recupere as forças e
comece a confiar em mim para conversar comigo ou com você. Quero refazer
alguns exames.

— Estou com alguns problemas na ilha que exigem minha presença, tenho
que ajudar Petrus e queria levá-la, não queria deixá-la aqui.

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— Se está preocupado com sua segurança e que alguém vai maltratá-la,


pode ficar sossegado, eu lhe dou minha palavra de que está segura aqui.

— É que não quero incomodá-los mais.

— Noah deu sua permissão para que fique, está tudo bem. E você como
está? Seus ferimentos estão cicatrizando?

— Bem, sim.

— Suas mãos estão trêmulas e sua voz está grossa.

— Estou no frenesi — disse quase rosnando.

— Senhor! Mais essa.

Ele rosnou.

— Devia dormir até que passe.

— Não, prefiro correr e gastar esta adrenalina no bosque e dando uns


murros na academia.

Ester suspirou e cruzou os braços.

— Sim, claro, já conheço o discurso dos machos.

Harley suspirou e olhou para Ester e para Pietra através da janela e


novamente para Ester.

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— O irmão dela veio nos ver na ilha — sussurrou.

— Oh, ele esteve aqui também, mas não se preocupe, Noah não disse uma
palavra sobre ela e o expulsou daqui. Mas eu o achei estranho, Harley.

— Por quê?

— Parecia preocupado. Legitimamente preocupado.

Harley rosnou.

— Ele é seu irmão e deixou que a machucassem. Para mim somente quer
terminar o que começou. Devia ter rasgado sua garganta quando esteve na
ilha.

— Com isso concordo, se tudo o que você e Liam disseram é realmente o


que pareceu. Mas não sabemos exatamente o que houve, até que ela fale. E
não o fará com medo que a machuquemos também.

Harley suspirou e abriu a bolsa que havia trazido.

— Marcello me entregou isso. Disse que devia dar a ela, que ela necessita
deles.

Ester pegou e arfou olhando os vidros.

— Oh, santo Deus!

— O quê?

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— Eu... Eu ainda tive que deixá-la no respirador.

— Ela não consegue respirar?

— Bem, estava com dificuldade e precisei medicá-la e colocar no


respirador durante a cirurgia. Mas já havia retirado o oxigênio, mas esteve tão
alterada quando acordou que tive que devolver e seus batimentos cardíacos
estavam muito alterados.

— Sabe o que são estes remédios?

— Bem, são remédios para quem tem problemas cardíacos e respiratórios.

Ele franziu o cenho.

— Eu não entendo por que ele me deu isso e disse que precisava dar a ela.
Fui ler a bula, mas esta porcaria parece um livro.

Ester olhou para a loba ao fundo, usando a máscara de oxigênio e puxou


Harley pelo braço, para que, caso Pietra estivesse acordada, não os ouvisse.

— Vou analisar estes remédios com mais atenção e examinar Pietra


novamente e depois eu te digo, ok? As radiografias que tirei dela foram
inconclusivas, não entendi o que está havendo.

— Por quê?

— Bem, as radiografas apresentavam manchas estranhas e tenho que


refazê-las.

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— Será que por isso teve problemas durante a cirurgia? Tem alguma
doença?

— Pietra está no respirador porque estava com dificuldade de respirar, eu


pensei que fosse pelos seus ferimentos e por estar assustada, mas agora vendo
estes remédios... isso é estranho. Lobos tem asma ou arritmia cardíaca?

Harley franziu o cenho.

— Nunca ouvi falar disso. Lobos raramente têm doenças de humanos.

— Nunca? Lobos comuns, quer dizer, não shifters, possuem deficiências e


algumas doenças iguais aos humanos?

— Bem, é possível, mas isso seria raro, porque sabe como nos curamos,
mas não somos imortais. Geralmente doenças assim os lobos já nasceriam
com elas.

— Ok, eu vou estudar sobre isso e falar com Noah, ok?

— Ok.

— Quer ficar com ela um pouco?

— Sim, por favor.

— Claro. Ela precisa de um amigo agora... ou de seu companheiro.

Harley olhou para ela muito rápido e Ester quase riu.

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— Só checando, meu bem, agora vá lá e fique com ela, como amigo ou


como companheiro. Ela precisa se sentir segura e aposto que somente você
tem poder de conseguir isso como ninguém mais.

Harley ficou nervoso, entrou na sala e puxou a cadeira para ficar perto da
cama.

Jessy sorriu para ele e tirou a cânula nasal que lhe enviava oxigênio. Ela
examinou sua respiração e quando viu que ela respirava normalmente, a
deixou ao lado.

— Se ela se debater por causa da respiração difícil, coloque a cânula de


volta em seu nariz e aperte este botão. Estamos vendo se ela se normaliza ou
precisa disso por mais tempo, ok?

— Ok, eu cuidarei dela.

— Eu estarei aqui na sala ao lado, se precisar, pode me chamar.

— Para quando é seu bebê?

— Pode nascer a qualquer momento.

Harley sorriu e Jessy sorriu de volta, o que o deixou feliz, pois ela nunca
havia devolvido seus sorrisos.

— Eu estou muito feliz por você, Jessy.

— Eu também estou feliz, Harley. E sei que você vai ajudá-la a passar por
esta fase difícil.
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— Eu irei.

Ele esperou que Jessy saísse e suspirou olhando para Pietra. Ficou
espantado ao ver que ela estava com os olhos abertos e olhava para ele.

— Oi... Oi — sussurrou, sem jeito. — Eu vim ver como está, e Ester disse
que vai se recuperar. Se sente bem? Sente alguma dor? — Nenhum
movimento e nenhuma palavra. — Está segura aqui e ninguém vai te
machucar. Está entre amigos.

A loba piscou e ele pôde ver a tristeza em seu olhar e o machucado de seu
rosto quase o fez rosnar. Queria poder matar aqueles lobos malditos
novamente. Ele não sabia o que fazer e meio ressabiado, tocou seu pelo no
pescoço e a loba deu um longo suspiro e fechou os olhos.

— Desculpe não estar aqui quando acordou. Pode me dizer o que


aconteceu?

Silêncio.

— Assim que Ester te der alta, eu a levarei comigo para Creta.

O peito dela aspirou bruscamente e abriu os olhos. Ele pôde ver o medo
neles e isso o incomodou como o inferno. Ele a tocou suavemente.

— Shhh, fique tranquila, eu prometo que será bem cuidada em minha


casa. Confie em mim, eu não faria nada para machucá-la.

A loba soltou um choramingo.

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— Petrus vai te receber e oferecerá sua proteção, mas precisamos saber o


que aconteceu exatamente.

Ela baixou a cabeça e parou de olhá-lo.

— Liam disse que aquilo foi uma Spurga, que você foi declarada pária.

A loba choramingou e fechou os olhos e baixou mais a cabeça. Harley não


estava sendo delicado e a estava assustando. Não sabia como falar com ela.

Imbecil!

— Se pensou que, porque foi declarada pária, eu viraria as costas para


você, está enganada, não o farei nunca e Petrus também não. Entende?

A loba ergueu a pata ferida que estava com uma bandagem branca
protegendo uma tala e o olhou e Harley pôde ver seu espanto.

— Sim, não se espante, eu e Petrus somos peritos em quebrar regras e terá


nossa proteção. Eu entendo que esteja triste e com medo, mas fique tranquila.

Uma lágrima escorreu dos olhos da loba e o coração de Harley se partiu.


Doía-lhe que não falasse com ele, sinal que estava muito ferida e não
confiava nele ainda. Ela tinha se fechado e ele daria tempo para ela.

Sabia muito bem como era o sentimento de se sentir impotente e perdido,


sofrendo, sem saber como seria seu futuro.

— Precisa me contar o que houve, Afrodite, preciso saber para poder te


proteger.
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Ele viu a confusão no seu olhar e sorriu.

— Oh, sei, desculpe, a chamei de Afrodite, mas sabe o que penso?


Quando te vi pela primeira vez, pensei que estava tendo uma visão, uma da
deusa Afrodite, a deusa mais linda que dizem viver no nosso Panteão dos
gregos. Nunca tinha visto uma loba tão formosa, graciosa e meu coração
reagiu a você. Eu sabia que, a partir daquele momento, faria qualquer coisa
por você, mesmo que fosse companheira de meu irmão. Eu a protegeria com
minha vida, se fosse necessário.

A loba fechou os olhos e ele parou de falar, se dando conta das coisas
inapropriadas.

Que tolo. Estava tão afoito que estava atropelando os pensamentos. As


coisas estavam complicadas, como sempre estiveram, mas com o tempo ele
colocaria tudo em ordem. Tinha que ter paciência.

— Eu só quero que saiba que estarei aqui por você.

Queria dizer mais um milhão de coisas, que pensava que ela era sua
companheira e que a queria para ele, que queria reivindicá-la, que os deuses
tinham a mandado de volta para ele. Devia fechar a boca e não assustá-la, era
demais para ela assimilar depois de tudo.

Ele acariciou seu pelo macio e sentiu-se emocionado por tocá-la.

— Tudo vai ficar bem. Agora que regressou para onde pertence —
sussurrou.

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O silêncio tomou conta da sala e Harley calou-se por um momento.

— Você toma remédios de asma? Ou é alguma outra deficiência? Tem


também pílulas para o coração. Ester disse que teve complicações. Talvez
agora ela consiga te ajudar.

Harley viu o susto nos olhos dela, que choramingou fechando os olhos,
baixou a cabeça, e percebeu que ela não queria falar disso.

— Ok, tudo bem se precisa tomar, mas pode falar com Ester sobre isso?
Ela está preocupada com você e a alfa quer te curar. Sabia que ela é uma
veterinária? Coitada, essa foi a desculpa para trazê-la para a alcateia de Noah,
cuidar dos lobos, agora ela cuida de um bando de marmanjos.

Ele riu e chamou a atenção dela, que abriu os olhos o olhando novamente.

— Noah estava apaixonado por ela e não sabia como fazê-la ficar e Erick
aproveitou que Luca, nosso filhote, se machucou e a jogou no meio dos
lobos. Foi divertido, mas, coitadinha, ela quase surtou quando soube como
nós éramos. Agora ela é tão loba quanto nós. Pode confiar nela, Pietra.

Ele viu um brilho de curiosidade nos seus olhos e ele beijou sua pata, o
que a espantou genuinamente.

— Você precisa melhorar logo.

A loba choramingou e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Por que não me responde? Está com medo?

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Ela choramingou.

— Descanse, loba, que ficarei aqui e prometo que ninguém chegará perto
de você.

Ele segurou sua pata gentilmente.

— Isso, veja, ficarei segurando sua bela pata, e saberá que estou aqui.

Naquela noite, deitada na cama, por onde avistava a lua cheia pela janela
do quarto da clínica, Pietra chorou e lamentou seu infortúnio.

Harley esteve na varanda da clínica, ora andando de um lado a outro, ora


em seu quarto, olhando-a, mas ele tentou não intervir e deixá-la passar por
aquele momento onde a realidade de sua nova vida caiu sobre si de forma
devastadora, onde ela se deu conta do que havia perdido e do que havia se
tornado.

Mas, quando suas forças acabaram, Harley foi até ela, abraçou-a a
embalou e a deixou chorar, até cansar, até esgotar todas as lágrimas, até ela

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adormecer de cansaço.

A lamúria de sua loba ecoou pela ilha e não houve quem não ouviu. Mas
ninguém teve coragem de se aproximar ou interferir, mas Harley sabia que
todos estavam ali por ele.

Quando amanheceu, Harley estava sentado na cadeira, com a cabeça


deitada na beirada da cama e segurava sua pata, acariciando levemente com o
polegar. Ele estava muito cansado, mas não queria se afastar.

Pietra acordou e não abriu os olhos, mas sabia que ele estava ali. E ficou
daquela maneira, somente sentindo seu carinho. Um doce alento para uma
dor tão profunda, um sopro de carinho para um lamento tão forte que pensava
não se recuperar. Soltou um longo suspiro e abriu os olhos e, então, os lindos
olhos verdes de Harley se encontraram com os dela.

— Olá — ele sussurrou. — Se sente melhor?

Silêncio.

— Eu sei que se sente derrotada, conheço o sentimento. Os primeiros


momentos são devastadores. É compreensível. Acredite, eu conheço a
sensação, passei por isso com meu pai.

Ela o olhou e piscou várias vezes, e ele viu que entendeu o que estava
dizendo e o olhou indagativa.

— Estive contra meu pai durante a guerra, uma que inclusive seu pai
apoiou, na ilha de Noah. Ele nos virou as costas e nos condenou, a mim e a

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Petrus.

Ela choramingou.

— Sim, sei como é e você com seu coração sensível deve estar sofrendo
muito, mas não tema, deve ser forte. Você pode estar hoje no chão, mas
amanhã algo vai brilhar em algum lugar. Pode ser só um flash, uma pontinha
de vida nova e deve se agarrar a ela. Precisa agarrar essa pontinha, porque
sou eu ali e vou te segurar, eu juro. As coisas ruins ficarão para trás.

Ela suspirou novamente e ele beijou sua pata.

— Sabe de uma notícia boa? Assim que Ester te dar alta, vou te levar para
Alamus. Ela disse que seria hoje.

Um brilho cintilou nos olhos da loba.

— Sim, é verdade. Petrus já autorizou sua estada e, ali, conhecerá seu


novo lar. Será bem-vinda.

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Ilha de Alamus, Creta.

Dias depois...

— O quê? — Harley perguntou espantado.

— Juro pra você, olhei as diversas radiografias, várias vezes, e Virna fez
o mesmo, não consigo entender que tipo de anomalia ela tem, nunca vi algo
desse tipo na minha vida — Ester disse ao telefone.

— Pode ser um tumor ou algo?

— Olha, pra falar a verdade o que me parece é que uma parte de seu
pulmão e uma parte de seu coração está como um... mármore.

— Como?

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— Bem isso que ouviu, uma pedra. Mas seria humanamente ou


lupinamente impossível.

— Pode verificar novamente?

— Sim, o farei, mas qualquer coisa que se alterar, me chame e não pode
ficar sem tomar aqueles remédios, como está no papel que mandei.

— O farei.

— Ela te disse algo sobre isso?

— Não, ela ainda não fala. E esse assunto parece incomodá-la, porque
quando toco nele ela se fecha.

Ester suspirou.

— Bem, ela precisa de tempo, acredito que tudo que ela passou foi muito
traumatizante.

— Obrigado, alfa, tem sido de grande ajuda.

— Estarei sempre aqui por ti e sua companheira.

— Obrigado.

Harley desligou o celular e andou pelo corredor, parou na porta do quarto


de Pietra e se encontrou com sua mãe.

Ele havia tomado banho e ainda estava com os cabelos molhados,


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vestindo uma calça jeans preta e uma camiseta da mesma cor justa no corpo.

— Como ela está? — ele perguntou e Samira respirou fundo.

— Ainda não está respondendo, não disse uma palavra, não come e não
bebe água. Sami disse que terá que colocá-la no soro novamente e seus
ferimentos estão demorando mais do que o normal para cicatrizarem. Se não
se alimentar não se recuperará. Ester lhe disse algo sobre as novas
radiografias?

— Ela continua sem entender o que as manchas significam. Sami também


não conseguiu diagnosticar seu problema, nem Virna.

— Já viu algo assim?

— Não.

Harley respirou fundo e esfregou o queixo. Sua cabeça estava muito


confusa.

— O pai de Sami queria fazer testes com ela, examiná-la mais a fundo.

— Você permitiu?

— Não. Nenhum cientista vai colocar as mãos nela — ele disse com um
rosnado nervoso.

— Não creio que ele fará mal a ela, Nico.

— Hum, não.
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— Ok, então é não. Lindas flores, filho.

— Eu... Eu sei que ela gosta de flores, e rosas em especial, pensei que a
alegraria.

— Tenho certeza de que gostará. Muito gentil de sua parte.

Ele assentiu, um tanto sem jeito.

— Nico, ela está perdida na sua dor, uma dor profunda assim mata a alma
e o coração.

— Eu sei.

— Há muitas maneiras de morrer, mas a pior delas é quando morremos


em vida, quando a esperança e o sopro de vida se esvaem. Quando se entra
nesta treva, muitas pessoas não conseguem voltar.

— Ela voltará.

— Seu amor por ela pode trazê-la de volta.

Samira sorriu de como essa frase atingiu Harley. Ficou totalmente


desconsertado.

— Não queira tentar esconder de mim que a ama, pois está muito claro em
seus olhos e em suas atitudes, filho. Está tudo bem, mostre seu amor a ela,
isso pode ajudar e muito, mas ela precisa recuperar algo que perdeu.

— O quê?
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— O amor-próprio. Ninguém pode dar amor se não ama a si mesma. Faça-


a se sentir amada e protegida aqui, ao seu lado, mas faça-a ver como ainda é
preciosa. Ela deve vir para compartilhar e não estar dependente. Pietra
sempre foi uma loba valorosa e forte, eu sei disso e ela vai ter forças para
voltar a ser aquela loba que era, mas precisa confiar novamente, sentir que
não é uma excluída. Ela precisará de seu amor e não de sua pena.

— Obrigado por sua ajuda e por não condená-la, mãe. Sabe que ela é uma
pária, e ainda assim não se importa.

Samira suspirou.

— Se ela fez algo que desagradou aquele velho carcamano do pai dela,
então acredito que fez a coisa certa.

Harley rosnou e assentiu.

— Somente as pessoas da mansão sabem quem ela é, manteremos assim


por mais um tempo.

— Sim.

— Vá e dê suas rosas e seu amor a ela. Quem sabe você a convence a


comer.

Quando ela estava saindo, Harley chamou-a: — Mãe?

— Sim?

Harley pegou uma rosa branca e deu a ela.


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— Obrigado, por tudo.

Ela pegou a rosa, sorriu lindamente e beijou sua bochecha.

— Sempre estarei contigo.

Ele entrou, fechou a porta e foi até a sua frente. Ela estava imóvel, deitada
na cama, com o olhar perdido em algum ponto da parede.

Isso quebrava o coração de Harley em milhões de pedacinhos.

— Oi, olhe o que eu trouxe para você — disse se abaixando na direção de


seu olhar. — Havia uma feira de flores raras em Atenas e fui lá especialmente
para encontrar uma para você. Esta é a Rosa Baccarat, é cultivada na
Holanda. Sua cor é intensa e sua textura aveludada. Rara como você.

Ela focou nele e piscou olhando as rosas e seus olhos marejaram.

Era a rosa mais linda que já havia visto.

Harley sentiu seu peito inflar, porque soube que tinha captado sua atenção
e atingido seu coração.

— Comprei as brancas e as vermelhas. Dizem que as brancas significam


paz, inocência e pureza, e as vermelhas significam amor e paixão, mas
também respeito e coragem, admiração.

E isso era tudo o que ele queria dar a ela.

E foi assim que ela o olhou, com admiração.


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Harley teria uma longa caminhada, mas estava disposto a lutar por ela.
Perdê-la estava completamente fora de cogitação. Ele entendia sua dor e não
a deixaria sucumbir. Um passo e um dia de cada vez, e ele a teria de volta.

Harley deslizou o dedo pelas pétalas da rosa.

— Nunca tinha imaginado como seria tocar a pétala de uma rosa como
essa, mas tenho certeza de que a sensação se tornará pífia ao ser comparada
ao tocar a suavidade da sua pele. — Ela piscou olhando para ele. — Gostaria
de um dia tocar sua pele, Pietra. Sonho com este momento há muito tempo.
Espero o dia que te transforme e que permita tal toque.

Ele ficou olhando para ele e seus olhares fixos eram quase demais para
suportar. Pietra sentiu seu mundo dar uma volta drástica.

Seu coração palpitou no peito dolorido.

— Hum... vejo que gostou, vou colocá-las aqui, para que possa vê-las e
pedirei que tragam um vaso com água.

Ele foi até a mesinha e colocou o ramalhete ali, voltou e se escorou na


cama novamente.

— Falando em água, minha mãe disse que não tem se alimentado e nem
bebido água. Precisa. Se não se alimentar voltará para o soro e alimentação
endovenosa e seus ferimentos não curarão, Pietra. Já devia estar curada
completamente, não sei por que está demorando tanto.

Silêncio.

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— Poderia comer, só um pouquinho?

Silêncio.

— Deve estar aborrecido ficar aqui no quarto, eu trouxe este livro sobre
mitologia grega. Lembro que ficou encantada com nossa vasta biblioteca e
passou um tempo ali, lendo. Este estava no seu quarto quando partiu e...
encontrei isso.

Ele abriu o livro e tirou uma flor seca que estava marcando uma página.

— Pensei se esta flor era a que eu lhe dei um dia, quando fizemos um
passeio pelo jardim. Guardou a flor que eu te dei, Pietra?

Silêncio, mas ela fechou os olhos por um minuto e respirou fundo.

Sim, ele sabia que era e se emocionou. Uma lágrima solitária escorreu dos
olhos dela e se embrenhou em seu pelo e ele, gentilmente, passou o polegar e
a secou e acariciou sua cabeça.

— Quando melhorar nós poderemos passear pelo jardim novamente.

Ele passou a língua nos lábios e ficou um pouco sem saber o que fazer,
pois ela tinha fechado os olhos e não os abriu novamente. Como havia se
afastado, Harley precisava fazer algo para trazer sua atenção novamente.

— Gostaria que eu lesse para você, minha theá?

Silêncio.

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— Ok.

Ele sentou no chão, ao lado da cama e colocou o livro sobre ela e com
uma mão folheava as páginas e com a outra, acariciava seu pelo, suavemente,
para que se acalmasse, para saber que ele queria tocá-la, que estava
inteiramente ali por ela.

— Você tinha lido até aqui, lerei a seguinte. Oh, olhe isso. A história da
deusa Afrodite, vê que é uma coincidência? Já que sou muito interessado
sobre ela, vejo que gosta também. Sabia que temos um pequeno templo de
devoção a ela na ilha de Alamus? Sim, quando puder andar a levarei ali. E
temos outro templo, que se remete às Górgonas. Não sei por que os antigos as
reverenciavam tanto aqui, mas, enfim, depois o mostrarei. Bem, vejamos o
que diz aqui sobre Afrodite: Ele suspirou e sorriu para ela, sem interromper
seu carinho e viu que ela abriu os olhos e o olhava, sem emitir um único som.

Isso era um começo, pois antes ela não o fitava, somente ficava ali, inerte
e com os olhos fechados ou contemplando o vazio.

Harley tinha medo que ela se perdesse em sua mente e não retornasse, mas
não permitiria.

— Afrodite... Na mitologia grega, a versão mais famosa do seu


nascimento contada por Hesíodo é que ela nasceu quando Cronos cortou os
órgãos genitais de Urano e arremessou-os no mar; da espuma surgida ergueu-
se Afrodite, ela seria a Afrodite celeste, representando o amor divino. No
entanto, para Homero, ela era filha de Zeus e Dione, deusa do amor
denominada Afrodite Pandemos de onde emanava o amor físico e desejos
lascivos.
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Ele riu e olhou para Pietra.

— Eu aprecio mais a versão de Homero, pois esse negócio de cortar bolas


é meio bizarro; e você, o que acha?

Silêncio, como sempre, mas ele sorriu ao ver sua fisionomia mudar e um
brilho surgiu em seu olhar. Ela estava apreciando a história, tinha captado sua
atenção em algo que ela amava. Ponto para ele.

— Bem, continuando aqui... Venerada como a deusa do mar e da


navegação. Os piratas a veneravam, e quando partiam em suas viagens,
sonhavam em encontrar a deusa em uma de suas navegações, esperavam que
ela emergisse pelas ondas no mar, assim como nasceu. A beleza de Afrodite
inspirava os antigos artistas, e sua récita embalava o sonho dos apaixonados.
De acordo com a crença popular dos gregos ela era a deusa do amor e da
beleza, que colocou a paixão nos corações dos deuses e dos homens.

Ele a olhou, sorrindo, e fechou o livro.

— Eu gosto de pensar nela assim, uma mulher de beleza descomunal e


sensualidade natural. Encantadora como o cântico das sereias — sussurrou e
acariciou sua face. — Ela era bela e forte, minha theá... assim como você.

Ele sorriu lindamente e continuou a ler e assim ficaram por uma hora
inteira até que ele a fez tomar os seus comprimidos e com isso, tomou um
pouco de água.

Logo ela adormeceu e Harley ficou ali, sentado no chão, com o queixo
escorado sobre os braços, na cama, olhando-a. Seu coração se compadecia e

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sofria por ela.

— Eu amo você, Pietra, volte para mim, por favor... — sussurrou


inaudívelmente.

Mas a esperança tinha brotado, ela estava reagindo e foi a primeira reação
que teve em uma semana inteira deitada naquela cama depois de chegar a ilha
de Alamus.

Harley deu duas pequenas batidas na porta do quarto de Pietra e entrou.

Ela estava deitada na cama olhando para a varanda, que estava com a
porta aberta e as cortinas balançavam suavemente com o vento.

Ele olhou para ela e para a porta e suspirou, estava na mesma posição que
a havia deixado pela manhã. Ele olhou a bandeja sobre a cama e a comida
estava intacta.

Por dias ele tinha ido ao seu quarto, conversado com ela, lido, tentado
fazê-la comer e beber.

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Sami tinha voltado com o soro, pois ela estava fraca, e a alimentado via
endovenosa.

Ele andou até sua frente, tapando o local que ela olhava, com o olhar
parado, perdido no vazio.

Somente aquela visão quase o fez chorar. Queria tanto abraçá-la, salvá-la,
ajudá-la, mas não sabia mais o que fazer.

— Pietra. Como está, querida? Está se sentindo bem hoje?

Ela o olhou e afastou a névoa de lágrimas que embaçavam sua visão. Ele
se abaixou na sua frente para ter mais acesso a ela e escorou os cotovelos
sobre a cama.

Ele estava barbeado e ela olhou para seus cabelos curtos no qual penteava
para trás e quando ele abaixou a cabeça para focar mais em seu olhar, as
mechas loiras e belas, com seus fios multicoloridos, caíram sobre seus olhos,
mas ele não piscou, não retirou e continuou olhando para ela, entre os fios.
Intensos olhos verdes muito claros, que a fascinavam.

Ela achou aquilo tão bonito e queria perguntar por que ele tinha cortado
seus cabelos e feito a barba, mas não ousou.

Harley sorriu docemente e levou o dorso de sua mão em seu focinho para
que o cheirasse, o que a fez se sentir melhor, pois ela necessitava do cheiro
dele, como se fosse seu bálsamo que poderia lhe curar as feridas. Acariciou a
cabeça e o rosto dela suavemente.

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Ele era tão bonito, assim como todos os lobos, mas tinha algo que apenas
seus olhos podiam ver. Parecia uma aura, suave, ela via mais dele do que os
outros, porque sua energia planava sobre ela de forma tranquila e suave,
quase como uma carícia.

Ah, mas ele tinha um poder inegável. Como lobo sabia que era muito
forte, pois tinha o visto lutar por ela na floresta contra tantos lobos de uma
vez, demonstrando uma fúria que nunca sequer imaginara.

Em muitos momentos, ela havia visto lutas entre lobos, treinamentos entre
os guerreiros de seu pai, mas ali havia algo mais, havia uma raiva crua,
poderosa, seus rosnados ainda ecoavam em seus ouvidos.

Ele estava tão furioso e havia estraçalhado os lobos como se fossem de


papéis, tinha rasgado suas gargantas como se fossem trapos velhos. E havia
tanto sangue por todo lado.

Harley era assustador em sua forma intermediária e tinha curiosidade de


saber como era seu lobo, imaginava que era grande e poderoso, mas ela não
havia tido tempo de admirar sua beleza, mas se espantou ao ver seu cabelo e
barba extremamente longos.

Porém, não tinha medo dele. Tinha tido de Petrus, porque ficou zangado
com ela por um período, e não sabia como seria sua vida de alfa ao seu lado.
E somente depois, ela pôde ver como ele era bom, amável e digno e, então,
isso também tinha a impulsionado a não machucá-lo.

Mas Harley?

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Sentia-se protegida perto dele. Havia uma necessidade estranha, nova e


acalentadora que estava queimando no peito.

Ela o olhou bem, agora, ali na sua frente, usando somente uma calça de
agasalho preta, descalço e sem camisa.

Ele tinha 1,98m de altura, mais alto que ela, que media 1,85m. Tinha os
ombros largos, músculos fortes e definidos. Tinha uma tatuagem no braço,
uma corrente celta, que o rodeava, e no peito havia algumas letras em grego
que não entendia. Um corpo tão másculo e sedutor como nenhum outro que
já vira, pois tinha um dourado do sol. O sol maravilhoso da Grécia.

Todos eram lindos sim e ela tinha orgulho disso na sua raça, homens e
mulheres deslumbrantes, de tamanhos e beleza ímpar, mas ele era perfeito,
pelo menos para ela.

E a maneira como a olhava? Com tanta admiração, com prazer e sabia que
ele a apreciava, pois a fome que sempre havia em seus olhos a tinham feito
suspirar e sonhar com ele por noites a fio.

Era a primeira vez que um lobo realmente a impressionou e mexeu com


seu coração.

Ainda era uma loba nova, tinha apenas oitenta anos, mas se sentia muito
velha agora, como se o peso do mundo inteiro estivesse sobre seus ombros.

Precisava tirar o mundo de seus ombros e respirar novamente, se sentir


livre, mas era quase impossível de digerir a carga negativa daquilo tudo.

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Ela se sentia perdida e insegura e olhando para ele parecia o único sopro
de ar que lhe restava.

Mas antes Harley ficava feliz em estar com ela, mas agora as coisas eram
diferentes, ele não sabia o que havia acontecido e quando soubesse, a
mandaria embora.

Nenhum lobo deveria dar-lhe abrigo, pois um pária não deveria interagir
com a elite dos lobos, pois agora era considerado de baixa estima.

Algumas alcateias os chamavam de Ômegas e os permitiam permanecer


com elas para resolver os problemas sujos ou servindo de bode expiatório, ou
eram impedidos de entrar na sua ou em outra.

E assim, eram ignorados, indo viver sozinhos, sem a ajuda e a proteção de


uma alcateia.

Ela era isso agora.

Deveria partir, porque não suportaria ficar na ilha com Harley, pois um
dia ele tomaria uma companheira digna dele e ela não suportaria.

O que ela faria ali, afinal? Trabalharia como uma das criadas?

Ela quase não suportava olhar para ele e sentir o peso de sua desgraça
sobre seus ombros.

Pietra piscou, saindo de seus pensamentos, quando sentiu Harley tocar sua
bochecha e ela se fixou nele novamente.

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— Ei, como se sente? Não gostaria de ir um pouco ao terraço para tomar


um pouco de ar fresco?

Silêncio.

— Olha, seria bom para fortalecê-la. Ela ainda dói?

Ela negou.

— Ótimo. Suas costelas doem ou talvez a cirurgia?

Negou novamente, sem uma palavra.

Mas sim, doía como o inferno.

— Ok... — Ele ficou pensativo por um minuto. — Você gostaria de


conversar com a Ester? Ela disse que podia chamá-la a hora que quisesse,
talvez falar sobre tudo te ajude.

Não.

— Querida, você está tomando estes remédios porque tem um problema.


Gostaria de falar comigo sobre isso?

Ela fechou os olhos e Harley se xingou mentalmente. Não devia ter tocado
nesse assunto, pois talvez aquilo fosse um problema.

Geralmente alfas não admitiam filhos defeituosos e eram mortos ao


nascer, mas talvez ela tenha sido acometida destas doenças com o passar dos
anos teria que saber.
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Ele franziu o cenho. Isso não havia sido mencionado à Petrus no contrato
de casamento. O carcamano fez mais um embuste contra Petrus, empurrando
uma loba perfeita se ela tinha doenças graves.

Harley quase rosnou de raiva.

— Tudo bem, eu não conto para ninguém, eu juro.

Surpreendentemente, abriu os olhos e o olhou e lá estavam novamente as


lágrimas.

Ele tinha trazido algo mau à tona e se bateu mentalmente por isso.

Harley suspirou fundo e deu um beijo no dorso de sua pata.

— Sabe o quê? Eu deixarei a sua bandeja aqui para que coma quando
estiver pronta para fazê-lo. Eu vou para meu quarto tomar um banho, pois
devo estar cheirando a cachorro molhado.

Ele sorriu e esperou sua reação com sua piada, mas Pietra não se moveu.
Harley piscou, pensando que viu um brilho de divertimento no seu olhar.

— Estarei no meu quarto, farei minha refeição ali e estarei ouvindo


música, verei uns filmes na tevê, se quiser me acompanhar é só me chamar,
ok? Eu realmente apreciaria um pouco de companhia esta noite para uma
sessão de cinema.

Harley a olhou e viu em seus olhos que ela estava prestando muita atenção
nele agora e que estava de certa forma espantada pelo seu convite.

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— Então, se quiser me fazer um pouquinho de companhia para o filme


estarei ali.

Enquanto ela soltou um gemido muito baixo, colocou sua pata, ainda
enfaixada, de maneira mais cômoda e deitou a cabeça, fechando os olhos,
Harley soube que sua tentativa estava frustrada e que o assunto tinha
acabado.

Como não iria para seu quarto, ele a acariciou suavemente na cabeça.

— Gostaria muito de ver você feliz e inteira novamente, Pietra —


sussurrou e, em seguida, levantou e saiu fechando a porta.

Pietra chorou até que não havia mais lágrimas para caírem.

Tudo estava tão cinza, tão dolorido, tão distante. Era difícil parar de
chorar, era difícil parar de pensar no que havia sofrido. Sempre esteve se
sentindo como uma loba no cio perto dele, sempre quente, sempre sentindo
um desejo quase desesperado, e agora, apesar de ainda sentir seu corpo reagir
por causa dele, estava se sentindo tão murcha que até seu desejo havia sido
alterado.

Mas o que a maltratava agora era a dor em seu coração sobre ter perdido
sua família, sua alcateia. As acusações, o olhar furioso de seu pai. O olhar de
condenação e desprezo pelos anciões. Os lobos caçando-a pela floresta como
se fosse uma criminosa. Era tudo muito vívido na sua mente para conseguir
empurrar para longe. Respirar doía.

Ela ficou ali, por um longo tempo e seu quarto começou a engoli-la como

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a um grande buraco negro, novamente.

Não deveria aceitar o convite de Harley, porque não seria certo. Ela era
uma pária e jamais poderia ir ao seu quarto, nem frequentar nenhuma parte da
casa do alfa. Nem sabia como ele havia permitido tal coisa. E nem sabia
como a alfa Sami tinha cuidado dela, pois devia odiá-la depois que tudo que
tinha acontecido no seu casamento.

Que bagunça. Como uma alfa aceitaria na sua casa uma ex-prometida de
seu companheiro e ainda uma reles pária relegada ao exílio.

As horas foram passando e queria ouvir sua voz, porque a acalmava.

Se continuasse naquele ritmo e não reagisse, morreria.

Bem, talvez se ficasse ali, fechasse os olhos, um dia a morte a levaria e


sua miséria acabaria.

Mas deixaria Harley...

Esse talvez fosse o pensamento mais triste. Não ter Harley.

Seria certo que poderia ficar ali na ilha sem ser tratada como um lixo? Ele
estaria falando sério? Não via falsidade nas palavras dele e a maneira que a
cuidava e a olhava.

Ela sentiu sua garganta embargar novamente. Queria tanto poder ter
momentos bons com ele. Sentir sua alegria. Sua vida tão forte e vibrante. Não
sabia se poderia sair do fundo do poço e usufruir um pouquinho de sua
companhia de forma adequada.
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Ele era a única coisa que restara, pelo pouquinho que fosse.

Tinha duas opções, ficar deitada ali e esperar a morte vir buscá-la, ou
aproveitar alguns minutos com ele.

Apenas dormir... e não acordar mais...

Mas a imagem dele veio à sua mente, seus lindos olhos verdes e aquele
sorriso que podia encher um ambiente inteiro com sua luz.

Sua voz acalmava seu coração.

Mas ela só queria dormir...

Alguma coisa dentro dela se agitou, sua loba tentou erguer as forças e as
imagens dele começaram a pipocar na sua mente e uma centelha de esperança
de que poderia continuar sua jornada surgiu.

As palavras dele surgiram na sua mente, lhe dando força.

Ele era sua única oportunidade de recomeçar.

E mesmo que não tivesse noção de como recomeçaria ou pudesse sair


daquilo tudo, sua loba precisava dele, ela precisava dele.

Então respirou profundamente e ergueu a cabeça.

Com um pouco de dificuldade, retirou a agulha de sua pata com a boca,


levantou e desceu para o chão.
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Seu corpo todo doeu e ela gemeu, mas com passos cuidadosos foi até a
porta, que havia uma fresta, e com o focinho a abriu e espiou no corredor.

Estava calmo, sem nenhum movimento e somente havia as luzes de spots


menores que os lustres. Receosa, ela foi andando pelo corredor, se
espreitando pelos cantos para que ninguém a visse.

Ela parou na frente da porta do quarto de Harley e sentou ali, parada, sem
saber se ia para frente ou para trás.

Ela sentiu o cheiro forte dele e choramingou, pois seu corpo todo reagiu,
com um enorme calafrio.

Antes que ela pudesse pensar novamente no que fazer, a porta se abriu e
aquele gigante, lindo como um deus, estava na sua frente.

Oh, Senhor!

Ele deu um enorme e lindo sorriso.

— Boa noite, Afrodite, gostaria de entrar?

Sempre que a chamava de Afrodite seu peito inflava.

Ela ainda estava chocada de ver como ele agora a tratava da mesma forma
lisonjeira e carinhosa de antes.

Mesmo sabendo porque ela estava ali daquela maneira, pois mesmo que
não tenha contado que fora banida, ele sabia, pois era inteligente.

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Ele deu um passo para o lado e deu-lhe espaço e, como se estivesse em


piloto automático, Pietra entrou mancando no quarto e olhou ao redor.

— Por favor, pode ficar à vontade e subir na cama, pois assim ficará
confortável.

Ela se virou e ficou olhando para ele e deitou no tapete, ao lado da cama.

Harley suspirou, mas sorriu, tinha conseguido um grande feito de fazê-la


sair do quarto e vir até ele.

Não forçaria nada, iria devagar, nem que isso custasse sua sanidade.

Seu corpo recebeu uma onda de formigamento e ele trincou os dentes e


rosnou baixinho.

Sua companheira estava no seu quarto.

Jesus, como sobreviver a isso e controlar-se para não saltar sobre ela,
beijá-la e fazê-la sua de uma vez. Só este pensamento fez seu corpo reagir.
Seu membro, que obviamente já possuía uma ereção permanente, agora tinha
revigorado mais ainda.

— A senhorita comeu seu jantar?

Ela choramingou e deitou o queixo em suas patas.

— Bem, pelo visto não. Você me daria a honra de comer comigo?

Ela não respondeu.


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Ele foi até à mesa, pegou a bandeja de comida e levou até o tapete, e
colocou ali.

— Bem, eu acredito que aqui tem o suficiente para nós dois, meu filé está
quente e muito macio. É do melhor açougue de Creta. É filé de ovelha. E
enquanto comemos, podemos assistir a um filme, o que acha?

Ela somente deu um leve choramingo que ele entendeu que seria um sim.

Harley ligou a tevê e achou um filme interessante e, então, com as pernas


cruzadas, cortou um pequeno pedaço de filé e colocou em sua mão e colocou
na frente de sua boca.

— Olha, querida, pode comer, está muito macia e acredito que os


ferimentos de sua boca já estão melhores e não vai te machucar. Prove. —
Ela olhou-o e não pegou. — Por favor, faz este favor para mim, coma só um
pouco.

Lentamente, ela foi até sua mão, pegou o pedaço e mastigou e ele sorriu
lindamente.

— Está gostoso? Muito bem, pode sempre vir comer comigo se desejar.
Pode fazer isso por mim?

Pietra o olhou e assentiu, porque faria um esforço já que ele salvou sua
vida e ainda a respeitava.

A partir daquele dia, ela se apegou a Harley como se ele fosse a sua tábua
de salvação, o único ar que existia para respirar.

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Ela resistiria àqueles que tentaram contra sua vida e, um dia, seria a loba
forte que devia ser. E queria.

Era noite e Harley saiu do banheiro, assobiando, secando os cabelos,


usando somente uma bermuda curta que revelava quase todo seu corpo.
Franziu o cenho, olhando para a loba que estava ali, fitando-o sedutoramente
e deixou o penhoar cair, ficando nua. Assim que olhou ao redor, quase rosnou
indignado.

— Katra, o que faz no meu quarto?

— Ora, meu beta, vim para satisfazê-lo, como sempre. Faz muito tempo
que não me chama, e penso que anda muito atarefado ultimamente, então eu
vim e tomei a liberdade de entrar.

Quando ela foi subir na cama, ele rosnou alto, assustando-a.

— Não toque nessa cama!

Katra se afastou.

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— Oh, prefere o sofá? Ou podemos voltar para o chuveiro, adoro quando


me toma no chuveiro.

Ele rosnou novamente, havia pedido uma faxina geral no seu quarto, pois
não queria nenhum resquício de cheiro de outra loba ali, não queria que
Pietra se sentisse desconfortável em seu quarto. Sabia que esteve no outro dia
e não aconteceria novamente. Harley estava tendo trabalho para conseguir a
confiança dela e não deixaria que ninguém estragasse seus esforços.

— Primeiro: não a chamei, porque não a queria aqui. Segundo: não quero
seu cheiro na minha cama e em nenhuma parte de meu quarto. Terceiro: saia.

— Mas, senhor, eu...

— Eu já disse da última vez, mas vou repetir pela última vez. Não quero
mais que venha ao meu quarto, Katra, agora as coisas mudaram.

— Ora, não pode estar falando sério, o fato de ter essa loba na nossa ilha
não pode estar o afetando dessa maneira, a ponto de rechaçar suas lobas que
estão com o senhor por tantos anos. Não pode estar levando a sério esta
amante.

Harley ficou ainda mais zangado.

— Ela não é uma amante, é uma convidada de honra que está se


recuperando de um acidente e deve ser respeitada por você e todos os lobos.
Ninguém toca nela ou dirige-lhe palavras ofensivas. E sabe que não deve vir
ao meu quarto sem ser chamada. Conhece as regras.

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— Sim, beta, desculpe, pensei que precisava de mim.

— Olhe, Katra, não é o caso de não precisar mais, mas sim porque agora
tenho outras coisas que preciso cuidar.

— Oh, o lobo mais sensual que conheci vai virar celibatário? —


perguntou com um sorriso zombeteiro, tentando brincar com ele e abrandar a
sua ira.

— Bom, não um eunuco, mas agora é diferente.

— É diferente porque pensa que a loba ficará na sua cama.

— Não foi isso que eu disse. Ela é uma moça que não toma amantes
indiscriminadamente.

— Está nos menosprezando?

— Não, de maneira nenhuma, sabe que eu penso que todos são livres para
ter sua sexualidade da maneira que desejam, que a busca do prazer é da nossa
natureza. Mas agora é diferente, só isso. Não estou querendo ser rude com
você nem com ninguém, mas isso entre nós... — apontou para ambos. — não
vai mais acontecer e espero que fique tudo bem, mesmo porque tivemos uma
relação saudável há muito tempo, mas agora isso acabou. Cada um vai cuidar
da sua vida, portanto gostaria que me deixasse só.

Ela, então, o olhou com os olhos arregalados.

— Vai tomá-la como sua companheira?

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Ele suspirou, cansado.

— Isso não é da sua conta. Agora saia, Katra, por favor. Não quero me
zangar com você, mas essa conversa está saindo do que eu quero falar no
momento e já dei uma ordem e espero que seja obedecida, antes que eu me
zangue.

Katra trincou os dentes e colocou seu penhoar novamente e quando foi


sair do quarto, ele a chamou: — Katra?

— Sim, beta?

— Nenhuma das lobas devem se aproximar de mim de forma sexual


novamente. Não mais.

— Mas beta...

— Somente faça e avise as outras. Não mais. E em meus aposentos


somente entram as criadas para a limpeza. Não quero surpresas como as de
hoje.

— Sim, beta, como desejar.

Ela saiu do quarto e Harley rosnou e atirou a toalha através do quarto e ela
caiu no chão do banheiro. Foi até a varanda e escancarou as portas para entrar
ar e arejar o quarto, não queria que Pietra sentisse cheiro de outra loba em seu
quarto.

Mas que droga! Por que Katra era inconveniente dessa maneira?

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E por que, infernos, Pietra ainda não tinha vindo para seu quarto? Onde
estaria?

Então ele ouviu murmúrios, sentiu o cheiro dela e rosnou.

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Pietra andava calmamente, quase se arrastando pela parede do corredor


escuro e precisava estar perto de Harley, porque necessitava de sua
companhia.

Tinha medo de andar pela casa. Era um medo infundado, sabia, pois ele
jurou que ninguém a atacaria, mas tinha a sensação de que, de repente, algum
lobo fosse saltar sobre ela e machucá-la.

Era uma lástima e estranhamente havia algo mais, pensava que sempre
tinha alguém a observando.

Ir ao quarto dele era uma tortura, porque somente podia estar louca, mas
iria porque precisava e porque desejava.

Então, quando virou o corredor, e estava quase em frente ao quarto dele,


ela viu a porta se abrir, mas em vez de ser ele a aparecer, foi uma loba usando
um penhoar sensual e estava descalça.

O que essa loba fazia no quarto dele?


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Automaticamente sua loba se empertigou e rosnou.

A loba que se chamava Katra, ou algo do tipo, olhou para ela e lhe deu um
sorriso zombeteiro e falou, em um tom mais baixo, como se não quisesse que
alguém, além dela ouvisse, empinando seus grandes seios, e mostrando suas
pernas nuas.

Seria permitido às lobas andarem daquele jeito pela casa? A alfa mãe não
se importava? A alfa Sami não se importava? Ela não parecia muito amigável
para este tipo de comportamento que seu macho pudesse trombar.

Pelo que sabia da alfa Sami, ela amava seu companheiro profundamente e
não permitiria que nenhuma loba se aproximasse dele, mesmo porque tinha
sido humana e era diferente.

E também pensou que Petrus não aprovaria, porque ele parecia muito
focado na sua adorada loba.

— Oh, chegou atrasada, porque poderia ter se juntado a nós na cama. O


beta é sempre insaciável, adora sexo com mais de uma loba. E a mim ele
nunca negará em sua cama, porque sou sua predileta. Ele me venera e não
resiste aos meus encantos, nunca. Se pensa que ele é só seu, engana-se. Mas
deve estar acostumada a compartilhar, não é? Já que foi para a cama do alfa e
agora a do beta. Talvez algum dia possa marcar um encontro, nós três.

Pietra quase saltou sobre ela, mastigou sua garganta e cuspiu fora.
Rosnou, mas antes que a descarada, com aquele sorriso de triunfo sobre sua
miséria, a pisoteasse novamente, Harley abriu a porta num solavanco e olhou
de uma a outra.

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— O que ainda faz aqui, Katra?

— Já estava de saída, beta. Boa noite — disse dengosa e saiu rebolando


exageradamente.

Ele soube que aquilo era uma provocação descarada, pois conhecia as
mulheres, pelo menos algumas de suas artimanhas e não gostou do que viu.

Harley olhou aturdido para Pietra, que deu meia volta para ir embora e a
onda de dor que veio dela quase o fez tombar no chão.

Uma coisa que ele tinha percebido era que as sensações que os lobos
podiam sentir dos outros era forte, mas com ela era mais forte ainda. Ele
sentia coisas que jamais tinha sentido antes.

Era quase como se pudesse sentir sua dor ou seus sentimentos. Era
atordoante, mas era somente mais uma tese de que ele estava correto em seu
julgamento: de que ela era sua companheira de alma.

E vê-la ir embora quase o sufocou.

— Pietra, espere!

Ela parou, mas não se virou.

— Ouvi uma parte do que ela disse e não é verdade. Não me deitei com
ela.

Pietra deu mais dois passos para ir embora.

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— Eu lhe disse ontem que nenhuma loba estaria na minha cama a não ser
você, então minha palavra ainda está de pé. O que viu não é o que ela disse
ou o que parece.

Pietra parou novamente.

— Acredite em mim, minha loba, estava esperando que você viesse.


Somente você tem permissão de entrar em meus aposentos. Eu não convidei
Katra para vir e ela não vai voltar.

Era estranho, mas sua loba saberia se ele estivesse mentindo.

“Vamos lá, moça, vai deixar aquela loba arrogante e nojenta tirar seu
lugar? Não!”, pensou.

Ela deu a volta e olhou para ele. Sim, a verdade estava ali, bem estampada
nos olhos dele.

Então suas patinhas fizeram o caminho para seu quarto, entrou e deitou no
tapete ao lado da cama.

Ele suspirou aliviado. Estava tentando adquirir sua confiança e não


permitiria que ninguém atrapalhasse seu intento. Assim que fechou a porta,
deitou na cama e ligou a tevê.

— Sabe, meus lençóis não têm cheiro de outra loba.

Sim, ela tinha cheirado, e apesar de ainda ter o cheiro da mostrenga no


quarto, sua cama não estava desarrumada e seus lençóis somente tinham
cheiro de roupa recém-lavada e perfumada e o cheiro dele. A loba realmente
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tinha mentido.

— Jamais mentirei para você, Pietra.

Ela o olhou, enquanto ele a fitava sério, e assentiu. Sentiu-se bem e foi a
primeira vez que se sentiu forte depois de tudo.

A voz maravilhosa de Harley cortou seus pensamentos e todo o resto foi


esquecido, agora somente estavam eles dois ali e o mundo poderia cair lá fora
que ela não ligava.

— Lembra-se, querida, daquela vez que ficamos conversando pela


internet? Numa de nossas conversas você me disse que gostava dos filmes
antigos. Então comprei alguns DVDs em Creta. Olhe, acho que podemos
escolher um e assistir juntos. O que acha?

Ela piscou e olhou os três DVDs que mostrava: Casablanca, A princesa e


o plebeu e Bonequinha de luxo.

Ele sorriu quando ela arfou e abanou o rabo, animada.

— Ah, gostou? Diga-me, qual deles quer assistir.

Ela olhou de um a outro e ele viu que parecia indecisa.

— Que tal a Princesa e o plebeu? Recordo-me o dia que fui ao cinema


para assisti-lo, em seu lançamento, foi uma comoção na época. Foi em 1953 e
as moças eram loucas por Gregory Peck e amavam Audrey Hepburn. Não
posso negar que eu também era fã dela. Você deve gostar desse, não?

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Ela assentiu e ele sorriu ao ver o brilho nos seus olhos.

— A fotografia é incrível, com muitos lugares belos de Roma. Ah, isso


não vai deixá-la triste, não é?

Ela negou, mas sentiu uma pontada no coração. Sim, sentiria saudade e
nostalgia.

Quando é que voltaria a ver Roma novamente? Sendo uma banida, uma
pária, não seria seguro estar ao redor de sua alcateia novamente e no mais,
teria que ser escondido, pois se descobrissem que estava ali, a caçariam
novamente.

Harley chamou, interrompendo seus pensamentos.

— Pietra, um dia te levarei para qualquer lugar para ver coisas novas. Ok?
Faremos muitos passeios.

Ela assentiu, emocionada com suas palavras, de como ele queria fazer as
coisas para agradá-la. Ele colocou o DVD e se jogou na cama, arrumando os
travesseiros.

Isso a fez sorrir. O grandalhão brutamontes tinha um lado romântico e


doce e ia assistir A Princesa e o plebeu com ela, para agradá-la.

Ele deveria gostar mais de filmes de guerra, de ficção científica ou algo


assim, mas amar era isso, compartilhar as coisas um do outro, ceder de forma
madura e sem sofrimentos, sem sacrifícios que doíam, pois ela também
poderia compartilhar de seus gostos. Sim, iria. Em outro momento assistiria

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ao seu lado um filme de seu gosto. E eles estariam juntos, pois era o que mais
importava.

— Venha, querida, deite ao meu lado e fique mais confortável, não precisa
ficar aí no chão.

Misericórdia, deitar em sua cama? Ela sentiu um arrepio atravessar toda


sua espinha.

Deveria? Sim, não?

— Olhe o que tenho aqui, um delicioso carpaccio de carne, que você


adora, e pãezinhos com patê de carne. Hum, veja como está delicioso.

Ele comeu um pedaço e serviu uma taça de vinho, bebeu e suspirou. O


que a fez salivar.

— Quer vinho também? Não gostaria de se transformar e tomar na sua


taça, Pietra?

Ela negou novamente.

— Ok. Deite aqui, tranquila, que iremos ver o filme. Tudo a seu tempo,
quando se sentir segura e quiser se transformar está bem.

Um tanto relutante, ela subiu na cama e deitou ao seu lado, mas evitou
olhar para ele. E deu graças a Deus que estava em forma de loba, porque
senão ele veria que suas bochechas estariam vermelhas como uma pimenta.

Ele colocou o carpaccio na mão e ela comeu junto com um pãozinho.


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O filme começou e tentou se concentrar na tela ao invés das longas pernas


desnudas dele espichadas ao seu lado, com os tornozelos cruzados.

Santo Cristo, ele tinha coxas poderosas, musculosas e perfeitas, lindas


pernas de um guerreiro, que ela quase salivou e queria tocar.

Pietra virou a cara e olhou para a tevê novamente, mas deve ter feito
alguma coisa que ele percebeu, porque soltou uma leve risadinha meio
sufocada. Descarado!

Como estava gostando daquilo, suspirou e deitou o queixo sobre as suas


patas cruzadas e pensou que estava bem demais e merecia estar ali com ele.
Ela era quem ele desejava que estivesse ali.

Seu coração, maltratado e ferido, abrandou-se e amou o gesto dele,


pegando o filme e comidas que ela gostava.

Ninguém nunca tinha feito isso por ela. Ninguém nunca realmente havia
se importado com as coisas que ela gostava, além de sua mãe e Marcello.

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Ilha dos Lobos, Grécia.

Ester estava indo ao restaurante no Clube de Recreação, mas ao chegar à


escada, ouviu barulhos e mudou a direção, entrou no enorme prédio e seguiu
por um corredor.

Ao final dele, parou à porta e com os olhos arregalados ficou observando


a cena.

Muitos lobos estavam reunidos ali e ela arfou quando olhou Joan preso na
parede por grossos grilhões de ferro, seu cabelo loiro estava desgrenhado e
tinha marcas arroxeadas e cortes pelo rosto e corpo que sangravam.

Ela olhou para Julian segurando Logan, que parecia enfurecido, estava
com os olhos cintilando e os nós de seus dedos estavam ensanguentados.

Ela sabia que Logan estava com sérios problemas e isso deixava seu

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coração partido. Era um lobo notável, mas realmente quebrado. Joan havia
conseguido ferrar com a cabeça de Julian e Logan. Julian tinha lapsos de
memória e Logan, além de sua voz não ter voltado ao normal, vivia à beira da
violência.

Ester entendeu toda a cena e engoliu em seco.

— Este é... Joan?

— Sim — Noah respondeu.

— Pensei que estivesse morto!

— Ele é um lobo morto. Só que ainda respira.

Noah olhou para ela e soube o que se passava em sua mente.

— Sei o que está pensando, doçura, que nos vingando desta besta estamos
sendo cruéis e nos nivelando a ele.

— Estão torturando-o...

— Sim, uma pequena vingança do que todos nós sofremos.

— Não sei se concordo com isso, sei que talvez seja coisa de lobos, mas...

— Você desaprova.

— Uma parte de mim queria que você arrebentasse esse maldito, mas
outra queria bater nele para lhe causar dor, mas agora vendo-o assim...
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— Pensa que isso é errado.

Ela suspirou e o olhou.

— Sim.

— Eu sei o que quer dizer, querida, você é muito boa para querer
machucar alguém friamente.

— Lobos pensam diferente, eu sei.

— Isso vai acabar.

— Vai matá-lo?

— Vou desafiá-lo.

— O quê? — disse espantada e arfou.

— Não matarei um lobo drogado, preso a uma parede. Eu o matarei num


desafio, como eu mereço ganhar dele. Com honra.

— Por que não fez isso quando estava em Las Vegas e o estava
confrontando?

— Porque eu queria que ele sofresse. Eu não sou um santo e nem tão
bonzinho assim, doçura.

Ester ficou um pouco chocada, mas sabia que Noah era feroz e não era de
brincadeira quando se tratava de sua alcateia, de honra e todo o negócio de
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alfa.

Ela olhou para todos os lobos que estavam ali e com os olhares sérios
sobre ela. Sentiu-se uma formiga, mas sabia agora como as coisas
funcionavam, mas em certos momentos tinha dificuldade de digerir.

Queria fazer tudo certo, pois não queria desapontá-los, ou envergonhar


Noah, mas, às vezes, era difícil tomar certas decisões.

Mas agora que os conhecia bem, e conhecia suas histórias individuais,


realmente entendia que a dor e a raiva podiam desencadear o instinto de
vingança. E pior, ela sabia que ele merecia.

Noah passou o dedo carinhosamente em sua bochecha e ela assentiu,


compreendendo o que ele estava fazendo.

— Oh... que tocante! É a companheira de Noah... Quem diria que ele


conseguiria outra mulher, era tão apaixonado por sua Laila — Joan disse com
a voz arrastada e sorrindo, então cuspiu sangue no chão.

Ester arfou e olhou para ele, se aproximando mais de Noah.

O lobo era venenoso, carregado de tanto ódio e loucura que Ester sentiu
um frio percorrer sua espinha.

Bem, para fazer tudo o que ele fez, somente poderia esperar isso vindo
dele, aquela onda ruim que chegava a embrulhar o estômago.

— Volte para casa, meu bem, você é valente, mas seu coração é muito
puro para tal cena — Noah disse tentando aparentar calma para ela.
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— Uma alfa fraca? Que miséria, Noah!

— Cale-se, Joan, ou arrancarei suas vísceras! — Noah rosnou.

Joan riu zombando dele e isso irritou Ester. Ela desviou de Noah e foi até
a frente de Joan e sentiu uma mistura de nojo com sentimentos conflitantes.

Seu coração ainda não conseguia distinguir se concordava com aquilo,


mas, então, ela olhou bem para o rosto dele, seus olhos, e apesar de estar
extremamente ferido por todo o corpo, seu olhar não possuía um pingo de
sentimentos, nem por aqueles lobos, ou por qualquer um.

Era frio e mau.

— Como pôde fazer isso ao seu povo? — ela perguntou.

Ele somente sacudiu a cabeça.

— Você não é uma loba de raça, é uma humana fraca que ele transformou
em loba, ainda posso cheirar seu lado humano medíocre. Este alfa tão
poderoso, soberbo e cheio de orgulho transformou uma humana fraca e
raquítica em sua alfa e companheira? Seu pai, o velho MacCarthy, deve estar
se revirando na cova rasa que foi enterrado. Que tipo de herdeiros terá para
honrar essa alcateia? Terá um herdeiro tão fraco e medíocre que não será
capaz nem de comandar esta alcateia, cheia de lobos covardes, mestiços,
chorões e fracos.

Joan soltou uma gargalhada, mas ela foi cortada por um soco que Ester lhe
cravou bem no meio do rosto.
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Foi tão forte que ele bateu a cabeça contra a parede e pedaços dela
voaram. O sangue do lobo começou a escorrer de sua cabeça e de seu nariz
quebrado e Joan sufocou, quase desmaiando pela dor.

Todos os lobos ofegaram, mas ninguém disse sequer um “a”.

O silêncio foi tão absurdo que Noah piscou várias vezes para ver se tinha
visto realmente a cena.

— Posso ter nascido humana e ser menor que os lobos, mas não sou fraca
e sou a alfa desta alcateia honrada, com lobos e lobas maravilhosos e
companheiros para toda hora. Noah é o homem-lobo mais formidável e forte
que já conheci e ele tem razão, você merece sofrer pelo que fez. E nunca
coloque meu precioso filho na sua boca suja, seu covarde imbecil! — Ester
disse.

Noah rosnou tão alto que os vidros tremeram e todos rosnaram logo após,
o que causou um enorme barulho e fez Joan ofegar. Ester sorriu e foi ao lado
de Noah.

Orgulhoso, ele beijou sua testa e lhe sorriu; em seguida, ele olhou furioso
para Joan fazendo seu brilhante sorriso desaparecer.

— Eu, Noah MacCarthy, alfa da Ilha dos Lobos, desafio você, Joan
MacTuh, a lutar até a morte e, dessa vez, não terei misericórdia de você.

Ester olhou para Noah com os olhos arregalados e o medo a afligiu, medo
que ele se ferisse, mas sabia em seu coração o quanto era valoroso e forte.

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Joan cuspiu sangue no chão novamente, olhando-o com nojo.

— Isso, seu covarde! Depois de me deixar desnutrido, desidratado e


machucado, me desafia. Assim pode vencer.

— Acha que sou covarde como você? Não, bastardo! Terá tempo para se
curar, será alimentado e estará são, porque, quando eu arrancar a sua cabeça,
a espetarei numa estaca e uivarei com orgulho.

Os lobos uivaram e Joan rosnou.

Então, de repente, houve um silêncio na sala e Ester e Noah se viraram


para ver o que os lobos estavam olhando atrás deles. Jessy e Sasha estavam
parados na porta.

Ela estava serena, olhando para Joan, e Ester arfou.

Jessy estava com sua barriga de nove meses perfeitamente ornada com um
vestido de malha, dos modelos que no geral as lobas usavam na ilha que ela
gostava sempre de usar. Continuava linda e magra e somente sua barriga e
seus seios haviam inchado.

Sasha estava com o olhar assassino para Joan, acompanhando sua


companheira. Protetor como um gavião, olhou o homem com raiva e
desprezo.

Ela sempre soube que Joan estava ali, mas não tinha ido vê-lo. Até este
dia.

— Jessy, o que faz aqui? — Noah perguntou.


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— Queria vê-lo, antes que o mate, irmão — respondeu andando,


lentamente, e todos abriram caminho para que passasse até chegar na frente
de Joan.

— Olá, primo — Jessy sussurrou e empinou seu fino e bonito nariz.

— Jessyka...

Ela respirou fundo ao ouvir seu nome, que odiava, e suas forças deram
uma fraquejada.

— Até isso você conseguiu fazer, que eu odiasse meu próprio nome. Um
nome tão bonito e valoroso, escolhido pelo meu pai e que não existe mais —
sussurrou e depois respirou fundo e o olhou. Estava altiva e segura de si
novamente. — Você se lembra de quando eu espiava você? Você me deixava
fazer tranças nos seus cabelos, como os antigos guerreiros usavam. Eu amava
você, admirava o guerreiro que era, amava o seu lobo.

Joan piscou aturdido para ela.

Ela tocou sua bochecha, suavemente, e o olhou tão tranquila que Sasha
franziu os olhos e olhou para Noah, que também estava aturdido. Ninguém
esperava tal coisa, mas ninguém ousaria dizer uma palavra. Alguns nem
respiravam.

— Você... era uma linda garotinha — Joan disse, engasgando,


visivelmente atordoado por ela.

Bem, isso foi uma surpresa estrondosa.


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— Eu era. Então cresci e me tornei uma mulher, mas continuei admirando


você. Não o conhecia bem, pelo que vi. Depois meu pai morreu, pensei que
estaria ao lado de meu irmão para honrá-lo, mas você desafiou Noah para
obter seu lugar, que era dele por direito, e fiquei tão decepcionada. Mas segui
em frente, acasalei com um lobo valoroso e planejei ter uma bonita família,
ter uma vida feliz e tranquila no país que eu amava. Mas então minha família
foi arrancada de mim, fui presa e estuprada, drogada e cortada tantas vezes
que perdi a conta, inclusive minha sanidade.

Joan piscou e respirou, ele se recompôs para não demonstrar que aquela
loba lhe tinha algum afeto e agora demonstrava seu desprezo e estava o
desestabilizando ainda mais.

— Meu pai dizia que havia um velho ditado... — ela continuou, com a
mesma serenidade. — Todos os shifter de lobos têm o bem e o mal dentro
deles e se tornam o que quiserem alimentar. Podem ser maus ou bons. E
saberão o momento certo de ser os dois. Os lobos agem por instinto e
sobrevivência, somente matam para caçar seu alimento ou para proteger os
seus dos perigos e ameaças. Os humanos lutam e matam pela ganância e
poder, assim como por prazer. Quando um lobo é subtraído pelo seu lado
humano, ele se torna isso, igual você se tornou. Você não tem um lado bom
dentro de si, foi totalmente tomado pelo mal, porque o que fez não tem
desculpa, perdão ou algo que poderemos um dia sequer compreender, mas...
eu perdoo você.

— Perdoa? — Alguém que ela não identificou perguntou espantado, atrás


dela.

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Houve vários arfares e sussurros espantados, mas Jessy não olhou para
trás, ela não tirou os olhos de Joan, que parecia tão espantado quanto os
outros.

— Sim, eu perdoo, porque quero viver em paz, sem lembranças. A partir


de hoje, eu não vou mais pensar em você, nem com ódio ou carinho, porque
você será apagado de minha vida, mente e coração. Será apagado assim como
sua história, sua índole, seu nome. Você não será nada. Nada mais que um
lobo maldito que arderá no inferno. Eu te perdoo, Joan, mas antes vou te dar
um pouquinho do que você me deu.

Inesperadamente, Jessy cravou as suas garras afiadas no peito dele, que


rosnou pela dor, e todos ofegaram.

Ela baixou suas garras num solavanco e elas cortaram seu peito, de cima a
baixo até a barriga, e depois tirou as garras à mostra e as cravou em suas
bolas.

Joan gritou novamente, se debatendo pela dor intensa contra as suas


correntes e grilhões, e Jessy se afastou, olhando para ele com desprezo, com
o sangue espirrando para todo lado.

— Queria eu mesma te matar, mas não tirarei este gosto de meu valoroso
e verdadeiro alfa, sempre Noah, porque ele é digno de ser um, porque ele é o
lobo que você sempre invejou e nunca vai conseguir ser. Agora eu te perdoo.
Tenha uma boa morte. Adeus, primo.

Jessy se virou e tranquilamente andou até a porta e Sasha, aturdido para


dizer algo, somente uivou alto.

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Noah uivou em honra que o companheiro de Jessy estava clamando e ele a


honrou e todos fizeram o mesmo, causando um barulho estrondoso que
somente deixou Joan mais derrotado e humilhado que nunca e seus gemidos
de dor desapareceram diante da sua humilhação.

Depois Sasha olhou para Joan.

— Isso é por Jessy, pelos lobos que resgatei e pelos que não pude resgatar.

Sasha passou as unhas afiadas de suas garras em sua bochecha, fazendo


quatro rasgos que ensanguentaram: o corte da vergonha. Depois se virou e
saiu.

Ester arfou, espantada, e pensou que suas pernas não suportariam seu
corpo, pois achava que nunca se acostumaria com tanto sangue, e sussurrou:
— Eu... vou para casa, vou aguardá-lo lá, meu alfa.

Noah assentiu, beijou o topo de sua cabeça e ela saiu. Em seguida, o alfa
olhou para Joan e suspirou, demonstrando estar espantado, e então riu.

— Bem, Joan, ser socado e rasgado por minhas lobas devem te encher o
saco, né? Opa, seu saco está meio furado agora.

Alguns gargalharam e Joan olhou com ódio para Noah, mas não disse
nada, pois a dor o estava sufocando.

— Terá alguns dias para se curar, Joan, e é o tempo que ainda vai respirar.
Vamos, alcateia, já estivemos tempo demais perto desse verme. Pode sentir o
cheio de carne assada, Joan? É o belo churrasco que Kirian e sua

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companheira estão preparando para nós. Vamos comer, beber e dançar bem
aqui em cima, no restaurante, e você somente poderá sentir o cheiro da
comida boa e ouvir nossas risadas, porque é esse o som que vai ouvir antes de
descer para o inferno, que é o seu lugar. Depois mandarei os ossos para você
roer.

— Noah, maldito! Vou te matar, bastardo, vou te matar, Noah!

Joan ia começar a gritar novamente, mas Konan pregou uma larga fita
crepe na sua boca.

— Vou para casa agora, tomar um banho, tirar este cheiro de lixo e
acompanhar minha doce e perfumada companheira, junto de meu lindo
filhote, para usufruirmos da festa — Noah disse zombeteiro. — Adeus, Joan.

Todos os lobos rosnaram em apreciação.

— Harley, Petrus, estou honrado que aceitaram nosso convite para o


churrasco.

— É sempre uma honra, Noah — Petrus disse e Harley assentiu com um


rosnado.

Petrus se aproximou de Joan e cuspiu no chão e Harley fez o mesmo.

Todos saíram e as luzes foram apagadas e Joan foi esquecido.

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Noah entrou em casa e não ouviu nenhum barulho, seu coração estava
descompassado, havia tido uns momentos estranhos e intensos com Joan, e
sentia seu sangue correr quente nas veias.

Ele olhou na sala, mas a casa parecia silenciosa, subiu as escadas


correndo, espiou no quarto e Lucian estava dormindo no berço e Clere, que
estava com ele, estava sentada na poltrona com fones no ouvido, ouvindo
música e lendo uma revista.

Noah respirou fundo e foi para a sua suíte e Ester estava no banho. Ele
tirou suas roupas rapidamente, entrou no boxe e ela estava debaixo do
chuveiro com os olhos fechados e com a testa encostada na parede, ele entrou
e ela respirou fundo quando ele a abraçou por trás.

— Está zangada comigo?

— Não, estou meio chocada, desesperada e assustada por não ter me


contado que ele estava ali e por tê-lo desafiado a uma luta até a morte.

— Desculpe.

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Ela suspirou e se virou e o abraçou forte pela cintura, encostando sua face
em seu peito. Os dois ficaram assim por alguns segundos deixando a água
quente banhá-los.

— Muitas coisas ainda me chocam.

— Eu sei, por isso quis poupá-la.

— Mas preciso aprender e por isso não pode me poupar.

— Sinto muito.

— Está tudo bem. Eu aguento, contanto que ganhe esse desafio.

— Eu vou.

Ela se afastou e olhou.

— Eu confio em você, mas poderia parar de me dar sustos?

Ele sorriu lindamente e ela morreu mais de amor por ele, porque era
sempre assim, o amava mais e mais. Ester colocou seu cabelo comprido e
molhado para trás e o puxou para um beijo, molhado e intenso, regado à água
quente e paixão desesperada.

Noah rosnou em seus lábios, a ergueu, fazendo-a entrelaçar as pernas em


sua cintura e imprensou-a contra a parede de azulejos. A parede gelada contra
seu corpo quente causou um choque que fez Ester ofegar e Noah somente se
excitou mais por isso e a beijou intensamente, como se o mundo fosse acabar.

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Ele a tocou com os dedos, estimulando-a, acariciando-a, penetrando-a e


isso a deixou excitada, louca por ele, desejando que a tomasse, porque estava
alucinada de desejo.

Ela arfou e gritou quando Noah mordeu seu peito, raspando seus dentes
em seu mamilo eriçado e dolorido, e sugou-a, lambeu-a fortemente com
gosto, e ele gemeu forte e seus dedos sentiram o calor dentro dela, queimando
como fogo e escorregadia e pronta para ele.

Ele a olhou, com os olhos carregados de desejo e os dois ficaram se


fitando e arfando quando Noah penetrou-a de uma vez, preenchendo-a
totalmente e Ester abriu a boca buscando ar, porque a sensação era
maravilhosa demais para aguentar.

— Minha, minha Ester, minha companheira. Amo você.

— Noah... Amo você, não pode me deixar nunca, entendeu?

— Nunca... Nunca...

Ele a beijou novamente e aí somente houve rosnados, arfados e gemidos


de prazer e seus movimentos intensos.

Noah rosnou em seu ouvido, e ela pôde sentir suas presas pressionarem
seu pescoço, mas sem mordê-la, e gemeu pela sensação que as lambidas
provocavam em sua pele quente.

Ele moveu-se rapidamente, imprensando-a ainda mais contra a parede do


boxe, e a água que batia neles parecia somente aumentar mais o desespero, a

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sensação de formigamento pela pele. Uma e outra vez, ele se moveu dentro
dela.

Ester gritou quando ele tocou seu clitóris, estimulando-a mais, juntamente
com seus movimentos intensos e um forte espasmo a afligiu, fazendo-a gritar
e ter o seu orgasmo, enquanto Noah rosnou ainda mais alto pelo prazer que
isso causou.

Ele seguiu-a e teve sua liberação poderosa e quente dentro dela e tomou
sua boca em outro beijo. Quando soltou de seus lábios, ele enterrou seu rosto
em seu pescoço e ficou ali, tentando respirar e voltar ao normal.

Depois girou, ainda se mantendo dentro dela, e sentou numa bancada que
havia num dos cantos do boxe enquanto ela ficou escarranchada em seu
quadril.

Os dois ficaram agarrados, ofegantes e abraçados fortemente.

Com os olhos fechados, Noah acariciava suas costas e seus longos cabelos
que estavam esparramados até seu traseiro.

— Temos um churrasco para ir — ele sussurrou.

— Sim, mas poderia me jogar na cama com você e não sair mais de lá.

— Vamos, tenha coragem.

Ester riu, o beijou e acariciou seu rosto. Ficaram ali por alguns minutos
somente se tocando suavemente com as pontas dos dedos, se beijando e
trocando muitos carinhos.
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Então eles terminaram de se banhar e saíram, se secaram e estavam no


quarto se vestindo. De repente, ambos olharam rápido para a porta quando
ouviram um barulho estranho, captado pelas suas audições sensíveis.

— O que foi isso? — Ester perguntou.

— Alfas! — Clere gritou.

Noah e Ester saltaram assustados, pularam para fora do quarto e correram


até o quarto de Lucian.

— O quê? O que foi?

— Algo está acontecendo com ele — Clere respondeu assustada.

Eles foram até o berço e Lucian estava sentado e choramingou quando os


viu, um pouco assustado. Ele deu uma arfada como se tivesse espirrado e
Ester rapidamente o pegou no colo.

— O que foi, meu amor? Está engasgado?

Noah o olhou atentamente, passando a mão na sua cabecinha.

— Lucian, olhe para o papai.

O bebê o olhou e seus lindos olhos azuis cintilaram.

— Coloque-o no chão, Ester.

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Aturdida, sem saber o que estava acontecendo, Ester se ajoelhou no tapete


peludo e macio e colocou Lucian ali. Noah se ajoelhou na frente dele e
rosnou algo. E falou na sua língua antiga e Ester ficou ali, somente olhando.

— O que há?

Estava assustada e, então, ela piscou, quando Noah sorriu e rosnou para
seu filho e, antes que Ester fizesse outra pergunta para saber o que estava
acontecendo, a mágica aconteceu bem diante de seus olhos: Lucian se
transformou em lobo.

— Oh! Oh, Santo Deus! — ela exclamou com os olhos arregalados.

Noah riu, emocionado; e, de quatro, se abaixou e roçou sua bochecha na


do lobinho e falou novamente para acalmá-lo, pois estava assustado.

— Noah, fale inglês, porque não entendo esse seu irlandês antigo ou o que
diacho esteja falando!

— São palavras na antiga língua. Para dar as boas-vindas ao lobo.

— Oh sim. Que ele seja bem-vindo. Oh, meu Deus, tenho que me
acostumar a isso. É tão... espantoso. Meu filho é um filhote!

— Sim, meu amor. E você é lindo, Lucian, um lindo e perfeito lobo —


Noah disse com um imenso sorriso com a voz carregada de emoção e
orgulho, acariciando seu filhote, tocando-o em todas as partes, vendo que era
perfeitinho.

Lucian cambaleou em suas patinhas e caiu, e Ester, com as lágrimas de


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emoção rolando pela face, o ergueu tentando ajudá-lo a ficar em pé e ele deu
uns latidos esganiçados em meio a um uivo desafinado, que arrancou risadas
emocionadas dos pais.

O lobinho se firmou nas patinhas e ia até eles, com curtos uivos e


rosnados. Com seus lindos olhos azuis, claros como o céu em dia de sol,
emoldurando um lindo e curto focinho. Seu pelo era todo marrom, brilhante
como se fosse lustrado e muito macio, e Noah o olhou atentamente,
procurando mesclas no seu pelo.

— Ester, olhe isso, ele possui só uma cor! — disse espantado e orgulhoso.

— Sim, estou vendo, não vejo mechas.

— Um lobo de uma cor só é raro e você me deu um!

— O que isso significa?

— Que ele é especial. É forte e um grande lobo. E um dia será um grande


alfa.

Ela riu, mais emocionada ainda, acariciou sua bochecha e depois olhou
seu filhote, o acariciando.

— Nosso filho se transformou, Noah. Olhe isso, oh, meu Deus! Como ele
vai saber voltar?

— É natural, meu amor, ele vai ir e voltar sem querer, até aprender a
controlar e desejar ser um ou outro. Como foi com Lili, só que para ela foi
mais fácil porque já era maiorzinha.
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Os dois ficaram ali, emocionados, tocando, beijando e acariciando seu


pequeno lobo, o herdeiro de Noah, o seu sucessor, um forte e valoroso
lobinho.

Noah estava tão orgulhoso, que olhou para Ester com as emoções
transbordando e beijou seus lábios.

— Obrigado, meu amor, por este presente — ele disse com a voz
embargada.

Ester sabia que ele estava tentando não chorar para parecer forte, mas seus
olhos marejados e sua garganta embargada não negavam sua emoção e isso
tocou ainda mais seu coração, e ela chorou livremente como uma mãe
trasbordando de alegria.

Ele rosnou baixo, piscou e espremeu os lábios.

— Noah... — Ester segurou seu rosto entre as mãos. — Não precisa se


segurar. Chorar de alegria ou tristeza não é vergonha, pode se abrir para mim,
pois saber que está tão feliz, a ponto de chorar, me deixa muito feliz. Não se
oprima, está tudo bem — disse com suas próprias lágrimas escorrendo.

Noah ergueu o olhar e seus lindos olhos azuis estavam brilhantes pelas
lágrimas, que rolaram por sua face, e isso somente fez Ester amá-lo mais.

— Eu senti tanta dor em meu corpo e minha alma além do ódio por tantos
anos, que tinha me acostumado. E agora que se foram, estas novas sensações
são...

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— Diferentes e boas.

Ele assentiu.

— É felicidade.

— Obrigado por me dar tanta felicidade.

Ela riu, chorou e beijou suas lágrimas e seus lábios.

— Amo você, Noah.

— Amo você.

— E eu nunca imaginei que teria um filho que viraria um filhote de lobo.

— Imagino que não.

— E agora, o que faço? Coloco fraldas nele para não fazer xixi no tapete?

Noah riu, fungou e a beijou. Depois rosnou e olhou para baixo, para seu
filhote, que deu um rosnado e um pequeno latido, que tentava escalar suas
coxas, chamando a atenção para si.

Ester riu e beijou sua cabeça, acariciando seu pelo e ele parecia muito
feliz.

Noah secou suas lágrimas, levantou, pegou seu filhote e foi até a sacada
do quarto e uivou alto e forte, anunciando para toda a ilha que seu filho havia
se transformado.
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Ester riu e chorou, ao seu lado, quando, um a um, os lobos, começaram a


uivar em resposta, até que toda a ilha virou uma grande sinfonia de uivos.

Os dois ficaram ali, abraçados, com o filhote no colo de Noah, como uma
família forte, feliz e completa.

Lucian havia feito seu ciclo, e voltaria à forma de bebê e lobo muitas
vezes, involuntariamente, até crescer e comandar suas vontades.

Ester não podia acreditar naquela magia maravilhosa, e mesmo espantada


com a experiência de ver seu bebê virar um lobo, estava tão feliz, que pensou
que nada no mundo poderia ser mais perfeito: era mãe de um lobo.

Todos esqueceram Joan e sua vingança, sua justiça e o que fosse, pois a
festa rolou o resto do dia e todos os lobos da ilha vieram parabenizar os alfas
pela transição de seu pequeno lobo e conhecê-lo; dançaram e cantaram,
agradecendo aos deuses pela magia do dom da vida.

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Harley havia ido para Creta resolver assuntos da alcateia e Pietra, havia
saído para se exercitar, andar um pouco pelo bosque e ver a praia. Ela
adorava praia.

Ester havia retirado a tala, mas sua pata ainda doía, pois havia sido muito
machucada, por isso resolveu começar os exercícios para se recuperar. Algo
dentro dela realmente estava dando sinal de força, ela queria melhorar.
Andando sem que ninguém a visse, se embrenhou por um lado do bosque que
rodeava a mansão.

Sua curiosidade a impeliu a enfrentar o medo de encontrar outros lobos.


Era hora de ser mais forte que sua vergonha e seus medos.

Em forma de loba, Pietra espiou entre as árvores e viu um imenso deque e


não havia ninguém, somente o cavalete largado e uma mesa. Farejou e
aguçou o ouvido para ver se sentia e ouvia algo, mas não havia nada.

Olhando à esquerda podia ver o solar que pertencia à alfa mãe, Samira.
Era lindo, todo de vidro na parte que tinha a vista para a praia e o teto. Havia
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nele muitas estátuas gregas de mármore branco, muitas plantas e flores que
ela mesma cuidava com esmero todos os dias, regando, podando e tirando as
ervas daninhas.

Pelo que podia ver através do vidro, e o que se recordava da vez que
esteve ali, tinha um sofá, uma tevê, um aparelho de som onde ela ouvia na
maioria das vezes música clássica e muitos quadros, com pinturas espalhadas
por todos os lados.

No deque, que tinha do lado de fora, estava uma mesa com várias
poltronas e o dito cavalete com uma tela em branco, somente esperando que
as cores fossem beijá-la.

O aroma da alfa mãe estava fraco, o que dizia que fazia horas que esteve
ali e estava longe agora, e pelos longos minutos que se encontrava espiando a
pequena enseada, parecia que ninguém voltaria ali tão cedo.

Ela devia sair dali, pois sendo o refúgio da mãe do alfa e do beta, seria um
pecado grande entrar sem ser convidada. Ela tinha ouvido que Samira
adorava seu cantinho e que ninguém tinha permissão de entrar sem ser
convidado.

Tinha sido convidada uma vez, quando esteve ali, antes dos eventos
fatídicos, quando era a prometida de Petrus, mas agora achava que não seria
bem-vinda.

Aliás, em que lugar seria bem-vinda ainda? Teria que aprender e cuidar de
sua vida, sem os lobos protetores e guarda-costas que sempre esteve na sua
vida, cercando-a cuidando de todos seus passos.

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As coisas tinham mudado drasticamente e ela era intolerável nas alcateias


agora.

Queria tanto acreditar que estava segura e poderia recomeçar.

Ao olhar para a mesa e a tela, seu corpo todo estava formigando com
vontade de pintar, pois havia uma necessidade absurda de fazer suas coisas,
coisas que a acalmavam.

Sua loba estava um tanto insana, tinha dificuldade de controlar sua magia
e suas presas doíam que tinha dificuldade de comer e quando Harley se
aproximava, a sensação ficava mais forte. Tudo nela podia doer, mas
precisava estar perto dele.

Deu mais um passo e, apreensiva, olhou a tela em branco. A paleta estava


sobre uma pequena mesinha e as bisnagas de tinta estavam espalhadas,
chamando-a.

Ela se transformou de loba à humana e gemeu pela dor que isso causou.
Depois de tanto tempo seus ferimentos não deveriam doer assim, mas doíam
porque não era igual às outras lobas.

Ela arfou e esticou seu corpo, ficando ereta, respirou fundo e ignorou suas
dores, foi até a tela, pegou o pincel e as tintas e começou a pintar.

Pintou a paisagem a sua frente, nada muito complicado, era a visão do mar
e da pequena enseada que se encontrava e com pinceladas rápidas a bela
paisagem se transportou para a tela.

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De repente, ela ouviu uma espécie de guizo, como o que uma cobra
cascavel tem na cauda, se assustou e derrubou o pincel. Pietra olhou ao redor
e para o chão, pensando que havia uma cobra ali, mas não viu nada. Um
arrepio atravessou sua espinha e sentiu medo.

Um tanto confusa e perdida, pegou o pincel do chão, e então, ouviu uma


risada maliciosa de mulher que pareceu ecoar dentro de sua cabeça e se
assustou, olhou ao redor e sentiu uma pontada em seu coração. Ela gemeu,
colocou a mão no peito e respirou com dificuldade. Seus ouvidos zuniram e
ela não entendeu o que estava acontecendo.

Ela arfou, olhou para o solar e ouviu vozes se aproximando. Devia ser
Samira, mas a risada que ouvira... não era dela.

Nervosa, Pietra colocou tudo sobre a mesa, se transformou em loba e saiu


correndo.

Após alguns minutos, Samira entrou na sua área particular com uma
criada e a sua professora de pintura, uma humana muito querida e gentil que
vivia em Creta. Ela ofegou quando olhou a tela. Olhou ao redor e não havia
ninguém, mas o cheiro...

— Samira, que maravilha de pintura! Foi você quem pintou?

— Não, a tela estava em branco, preparei tudo para nossa aula. Alguém a
pintou, mas quem?

— É maravilhoso, olhe estas pinceladas, a maneira perfeita que ela captou


a paisagem. Há um prodígio aqui na sua ilha, senhora, e não sabe.

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— Realmente não sei quem foi e me perturba saber que alguém entrou
aqui sem avisar e pintou uma tela.

Ela farejou e parou quando viu que a moça olhava atenta para ela.

— Está cheirando?

— Hã, bem... senti um perfume e estava tentando identificar.

Hum, seria quem ela estava pensando que era?

Mas teve que parar, ficar farejando na frente da humana não era uma boa
coisa.

— Oh, é sua área privada, entendo que é perturbador que alguém tenha
invadido sua casa para pintar uma tela e com essa graça.

— Não conheço ninguém na ilha que pinte, Fedra.

— Bem, seu passarinho pintor não teve tempo de terminar a tela, quem
sabe ela te dê a oportunidade em outro momento.

— Bem, um mistério em Alamus, que excitante!

— Não que sua ilha já não seja bem conhecida pelos mistérios, hã?

Samira olhou com a sobrancelha erguida para a mulher, que não teve nem
o descaramento de ruborizar e lhe oferecia um sorriso.

— Pensei que já havia se acostumado ao fato de os segredos de Alamus


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ficarem em Alamus, Fedra.

— Nunca é tarde para tentar, querida amiga. Mas cumprindo nosso


acordo, sem excursões e sem perguntas enxeridas. Estamos aqui para uma
simples e inocente aula de pintura.

— Bom. Vou pegar outra tela.

Harley esteve procurando por ela e se espantou ao ver que não estava no
quarto. E algo sobre a mesa do canto chamou sua atenção.

Pietra não tinha pertences, somente algumas roupas e calçados e produtos


de toalete que tinham comprado, mesmo que ainda se recusasse a se
transformar em humana, e isso lhe causou um pouco de tristeza, porque tudo
que ela tinha não podia tomar de volta de Roma.

Ela sentiria muita falta de suas coisas?

Ele bisbilhotou e pegou uma espécie de colar. Era de arame


cuidadosamente retorcido, em um trançado trincado e havia uma espécie de

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medalhão pendurado.

Viu que o arame trançado foi feito para agarrar pequenas pedras
transparentes e algumas rajadas com rosa, eram lisas e pareciam ter sido
escolhidas para serem as mais perfeitas.

O espantoso era que eram as pedrinhas de areia da praia. E nas laterais, as


minúsculas conchas perfeitamente coladas no aro. Era lindo e artesanal.

Pietra tinha as catado e estava fazendo suas joias, mesmo sem ter material.
Ela tinha perdido tudo, e agora Harley viu o quanto ela amava fazer aquilo,
pois mesmo sem ter suas ferramentas e as pedras preciosas, o ouro para
fundir e talhar, ela tinha usado materiais da natureza.

Havia um alicate que usava para consertar suas motos e um alicate de


unha que ela deve ter usado para cortar e torcer. Não sabia quando ela tinha
pegado aquilo nem de onde, mas não importava, e sim o resultado daquilo.

Engenhoso.

O fio era um fino e dourado e o outro era um fio de cobre e que ela
deveria ter encontrado também em algum lugar.

Um pequeno roubo desesperado.

Assim como os livros da biblioteca que estavam sobre a mesa. Os livros


de arte, história e mitos da Grécia.

Ela estava se transformando em humana, escondida da vista dos outros.

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Mas já era um começo.

Harley sentiu algo em seu peito, o vislumbre de uma chance de resgatar


sua preciosa companheira, devolver suas coisas.

Depois da excitação de ter descoberto um meio de alcançá-la, rosnou pela


raiva que o assolou, por terem arrancado os prazeres dela, por terem
destruído a vida dela.

Tinha que descobrir o que houve.

Ele colocou o colar no lugar e abriu uma caixinha e ali havia outras
pedrinhas coloridas. Rosnou novamente, girou nos calcanhares e saiu de seu
quarto. Suspirando, Harley foi falar com Petrus.

— Não sei se percebeu, mas isso deve ser caro, comprar diamantes, rubis
e ouro e prata, e esse torno e tudo o mais dessa lista.

— Não pedi sua opinião, Petrus, pedi que me devolva o dinheiro que lhe
dei para colocar naquela aplicação.

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— Lamento, irmão, mas o dinheiro já foi aplicado.

— Merda! — disse com um rosnado frustrado.

— Por que quer comprar essas coisas, que mal lhe pergunte?

Harley olhou para Petrus, que o olhava, quase com um sorriso no rosto,
pois sabia a resposta, mas o bastardo queria ouvir de sua boca.

— Quero montar uma ourivesaria para Pietra, ela tem retorcido arames e
colado pedras montando bijuterias, escondida. Acredito que é uma grande
alegria de sua vida fazer isso, então, se der isso a ela, pode ajudar a trazê-la
de volta.

— Louvável. E caro.

Harley suspirou.

— Estou tentando, irmão.

— Harley, tenho em alta conta sua tentativa de salvar Pietra de sua


depressão e sua negação em voltar a ser humana e em falar, mas isso é um
pouco demais, não acha? — Ele suspirou. — Mas vou pensar e ver se posso
lhe arrumar este dinheiro.

— Obrigado.

— Talvez sua loba possa fazer joias menos dispendiosas, meu filho.

Petrus e Harley olharam para sua mãe, que entrou na sala.


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— Ouvindo atrás da porta, mãe?

— Oh, longe de mim tal coisa, acha que sou bisbilhoteira? — respondeu
com um lindo sorriso de inocência fingida e eles sorriram para ela. — Foi um
acaso que não pude deixar de ouvir e achei a ideia magnífica, mas realmente
dispendioso. Talvez se ela está fazendo com pedras da praia, ela não ficaria
feliz em fazer com pedras menos nobres do que rubis e diamantes?

— Quais?

— Pode investir mais na prata ou pedras mais baratas, semipreciosas,


bijuterias podem também ser bem requintadas, coloque isso na sua pesquisa.
Pelo menos, por enquanto.

— Ok, obrigado pela dica, mãe, verei isso.

— E também acho que há outra coisa a considerar sobre esta sua amiga.

Ele quase rosnou pelo “amiga”, mas não era hora de discutir outras
situações mais profundas, primeiro queria salvar sua loba.

— O que é?

— Alguém entrou na minha área privada e pintou uma de minhas telas.

Harley e Petrus olharam aturdidos para sua mãe.

— Um lobo invadiu sua área privada? Ora essa.

— Bem, não tenho conhecimento de nenhum lobo na nossa ilha que goste
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ou tenha talento para pintar uma tela perfeitamente como foi pintada e em tão
pouco tempo, na verdade.

— O que quer dizer?

— A única estranha na ilha é... Pietra.

— Acha que Pietra invadiu seus aposentos para pintar uma tela a óleo?

— Não sei, foi uma suspeita. Tenho a impressão de que foi seu cheiro que
captei, mas como não podia farejar na frente de minha professora humana e o
cheiro de tinta estava forte, não tenho certeza, mas era uma loba.

— Ora essa. Não sei se ela sabe pintar.

— Bem, talvez seja uma tarefa para você descobrir.

— Quer repreendê-la?

— Não, quero que ela melhore, Nico, e se pintar é um de seus dons, que
pelo que vejo há muitos, isso pode ajudá-la a se soltar. A pintura é muita
utilizada em tratamento para depressivos, para acalmar o estresse e, enfim,
muitas outras dádivas que pode oferecer. Pintar abre as janelas da alma, filho,
e pode ajudar a trazer sua amiga de volta.

Ele suspirou e ficou calado por um minuto, estava impressionado.

— Obrigado, mãe, e tenho pensado seriamente em outra coisa.

— Algo que envolva a casa da colina? Pediu aos empregados que a


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limpasse e levasse suas coisas para lá — Petrus disse com uma sobrancelha
erguida.

— Sim. As coisas estão acontecendo, principalmente depois dos


acontecimentos da outra noite.

— O quê? — Petrus perguntou.

— Eu vou me mudar para a casa do beta de meu pai. Ela está vazia e eu,
como detentor de seu posto, vou usá-la.

— Oh, algo está o aborrecendo aqui, filho?

— Não, mãe, na verdade, eu penso que se eu criar um lar para Pietra, ela
irá se adaptar melhor e não ficará se esgueirando pelos cantos. Ela não está à
vontade aqui por causa de Petrus e Sami e acho que isso vai ajudá-la a se
soltar.

— Você quer ir viver na mesma casa que ela? — Petrus perguntou.

— Já moramos na mesma casa aqui.

— Não se faça de besta comigo! — Petrus rosnou.

— Não estou. Pense, irmão, esta aqui teria sido sua casa, como alfa, se
tivesse se acasalado com você. Não creio que esteja confortável morar na
mesma casa que vocês e, além disso, quero que se sinta mais à vontade, que
tenha suas coisas.

— Bem, isso pode ser verdade. Pode relembrá-la a todo o momento do


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que perdeu.

— Tudo a lembra do que perdeu, Petrus, ela não tem absolutamente nada.
Quero que comece a ter coisas que sejam suas.

— Sim, entendi esta parte, mas minha pergunta não foi essa.

— Não?

— Perguntei se vai morar com ela.

— Bem... sim.

Petrus e Samira ficaram mudos o olhando, até que Harley os olhou, sério,
e cruzou os braços no peito, impondo suas palavras e que não estava aberto a
discussão sobre o assunto.

— Mas acha que ela ficaria na mesma casa que você?

— Ela está apegada a mim e tem dormido no meu quarto.

— É mesmo? — Petrus questionou com a sobrancelha levantada.

— Sim, e abaixe esta sobrancelha, pois ela tem ficado ainda na sua forma
de loba e tem dormido no tapete.

Omitiu a parte de ela ter saltado na sua cama, mas ele não precisava saber
disso.

— Ainda se recusa a falar e se transformar em humana?


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— Sim, mas estamos evoluindo e estou adquirindo sua confiança e sua


tristeza está se dissipando, mas ainda está calada e não a vi em forma
humana.

— Bem, mas quem pintou aquela tela não estava em forma de loba — sua
mãe disse, sorrindo, olhando para Harley com o olhar significativo.

Ele a olhou e então sorriu.

Sim, se foi ela que havia pintado, então tinha se transformado, e tinha as
bijuterias que somente poderiam ter sido feitas em sua forma humana.

— Eu espero que com isso a convença de voltar a falar conosco, pois


ainda não sabemos qual o motivo de ela ter sido banida, Harley. Para que
possa oferecer minha proteção é primordial que eu saiba. Acho que sabe
disso, não sabe? — Petrus disse.

— Seja o que for, ela falará no seu tempo. De qualquer maneira, os


carcamanos nunca saberão que ela está aqui e estão proibidos de entrar, então
ela está segura.

— Acredito que está no caminho certo, filho.

O peito de Harley inflou e ele realmente sentiu a esperança brilhar e faria


de tudo que estivesse ao seu alcance para que ela fosse a loba deslumbrante
que sempre foi.

E fosse dele.

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Depois de mais uma noite jantando com ele no seu quarto e comendo na
sua mão, ela havia adormecido na sua cama. Harley pensou em levá-la para
seu quarto, mas não conseguiu se separar dela e adormeceu ao seu lado.

No dia seguinte, o sol estava nascendo forte como sempre sobre o


Mediterrâneo, e o único barulho que se podia ouvir era o canto das gaivotas
sobrevoando a ilha, os pássaros que entoavam sua feliz cantiga matinal sobre
os galhos verdes das árvores e a respiração de Pietra.

Harley abriu os olhos e viu a loba esticada ao seu lado, adormecida e


serena.

Ela era tão linda como loba, que sorriu e deitou sobre seu braço dobrado e,
suavemente, começou a acariciar seu pelo.

Não queria acordá-la e não queria que aquele momento acabasse.

Ele embrenhou seus dedos no pelo macio de seu pescoço e olhou bem
para ela.

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Seu corpo era inteiro de cor pérola, um pouco mais amarelado em suas
costas e mais esbranquiçados no peito, sem nenhuma mecha escura e ele
franziu o cenho ao ver sua pelagem, então cuidadosamente procurou mechas
marrons, pois nem nas pontas das orelhas ou sobre o rabo, que era onde
sempre o tom forçava e podia descaracterizar um lobo completamente de uma
cor só, o que era bem raro.

Nem os fios de cabelos que ela tinha, mais escuros entre os seus fios
loiros, quando estava em sua forma humana, se apresentavam em sua
pelagem de loba.

Muito rara e bela.

Seu pelo era macio e suave como a seda e o prazer de tocá-la era tão
esplêndido que ele não conhecia uma palavra forte o suficiente para descrever
a sensação.

Seu coração inflou de emoção, de ternura e de amor.

Harley tinha agora a leve sensação do que era ter sua companheira, o que
seu irmão e seus amigos tinham sentido e o medo que tinham de perdê-las.
Tudo era tão claro agora na sua cabeça.

Eles tinham lutado por elas com todas as armas que conheciam, tinham
corrido perigos e dissabores, mas tinham lutado, mesmo que aquilo os levasse
à morte.

E era exatamente o que ele faria só para ter o privilégio de estar como
agora, ali, deitado confortavelmente em sua cama, ouvindo a respiração

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pausada, cadenciada e suave de sua fêmea. Senti-la, tocá-la. Alimentá-la e vê-


la feliz.

Ainda tocava seus pelos quando sentiu a respiração dela mudar, com um
suspiro e ele segurou um arfado, pois ela se transformou em humana.

Pietra estava sonhando e transformou-se sem querer e ele piscou aturdido


a vendo ali, plácida e mais bela que nunca, nua na sua cama.

Ele olhou-a como se estivesse vendo a própria deusa Afrodite e, Zeus, ela
era linda e podia ver ainda a cicatriz em sua barriga e em sua coxa, que ainda
insistiam em aparecer.

Na sua bochecha havia apenas pequenos pontos das marcas da mordida do


maldito lobo cinza, os rasgos mais superficiais haviam sumido.

Seu corpo reagiu e ele gemeu excitando-se ao vê-la. Nunca uma loba nua
o tinha enfeitiçado como ela. Nunca tinha sentido tanto prazer em admirar o
corpo de uma mulher.

Sua mente se perdeu na fantasia e prazer que seria tocá-la, lambê-la e


sentir o gosto de sua pele. Queria beijá-la inteira. Amá-la. Queria beijar seu
pescoço, sua clavícula, que ele tinha olhado como um animal com fome, com
vontade de morder e tocar seus seios, tomá-los na sua boca, devorá-los e
deslizar suas mãos por todo seu corpo delicioso. Tocar seu sexo.

Ele gemeu, pois estava tendo um ataque erótico. Ele ergueu a mão para
tocar seu rosto e a acariciou sua mandíbula com a ponta dos dedos, os lábios
tão perfeitos que ele morria para beijar. Como sonhava com um beijo dela.

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Seus longos e lindos cabelos estavam esparramados em seu travesseiro e


ele pegou uma mecha, cheirou e sentiu sua suavidade.

Ela suspirou e... transformou-se em loba novamente.

Harley piscou aturdido e então sorriu e a olhou inteira e quando ergueu os


olhos para sua face, lindos olhos verdes o olhavam. Ficou calado por um
minuto, somente olhando para ela.

Pensou em questioná-la, dizer o que tinha feito dormindo, mas preferiu


calar-se, pois não queria constrangê-la, guardar para si aquela visão era o
suficiente. Ela ainda não estava preparada para estar em forma humana na sua
frente e ele esperaria o dia que estivesse.

Talvez fosse uma maneira de se proteger de seus próprios sentimentos,


fugir de seus desejos.

— Bom dia, bela adormecida, espero que tenha descansado e dormido


bem — sussurrou. — Eu acho que você se virou durante a noite, pois quando
despertei você estava virada para mim.

Ela suspirou e baixou o olhar e deu a entender que estava envergonhada e


ele juraria que se estivesse na sua forma humana, estaria com as bochechas
vermelhas. Simplesmente amava, porque ficava encantadora.

Ela era controversa e adorável e ele simplesmente amava o jeitinho dela,


um tanto inocente com vergonha de se mostrar a ele.

Ele queria desvendar todas as suas faces.

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Queria descobrir todos os tipos de sorrisos e todas as maneiras que


poderia fazê-la sorrir e ruborizar.

Uma deliciosa loba, tímida e envergonhada. Mas ele sabia que por baixo
daquela casca tinha uma loba quente e maravilhosa.

Amava a primeira, mas queria despertar a segunda. Ela estava ali,


dormente, ele sabia. Queria que ela falasse novamente.

— Sinto falta de ouvir sua voz — sussurrou e ela o olhou tristemente.

Assim que gemeu, ele viu que estava emocionada.

— Ei, que tal um banho de banheira antes do café? Minha mãe comprou
uns sais de banho, que disse serem relaxantes. Já que seu quarto não tem
banheira, pode usar a minha. Um banho pode fazer milagres. Você vai se
sentir melhor, mais relaxada, e vai diminuir a tensão dos seus músculos, o
que pode melhorar a dor que ainda possa estar sentindo. Então, posso
preparar a banheira? Eu te ajudarei, se me permitir.

Ela choramingou levemente.

O melhor seria se ele parasse de ser fofo e que ficasse longe dela, pois
aquela sensação de formigamento, aquela excitação, estava a matando.

Ele levantou para providenciar o banho e depois da banheira estar cheia,


ele a pegou no colo, a colocou na água e começou a lavá-la.

— Depois podemos dar um passeio lá fora, está um lindo dia para passear
e gostaria de lhe mostrar algumas coisas.
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Cuidadosamente ele lavou seu pelo. E ficou ali, quieto por um tempo,
deixando-a relaxar na água morna com os sais.

Depois a enxaguou com a ducha, pegou-a no colo e a colocou sobre o


tapete, e de joelhos, com uma toalha macia, a secou e escovou seu pelo.

Quando ele terminou de escovar seu pelo macio, ele olhou-a e acariciou
sua bochecha com carinho.

Ela estava surpresa com tanta gentileza, com tanto carinho. Ele não se
importava com sua posição.

— Obrigada, Harley.

Harley, ouviu-a dentro de sua cabeça, com sua voz suave, arfou e a olhou
com os olhos arregalados.

Depois de tantos dias sem ela dizer uma palavra, ele sufocou um gemido e
acariciou seu rosto, com o coração saltando no peito.

— De nada, querida.

Sua alegria era tamanha que sentiu sua garganta embargar e quase podia
uivar e saltitar como um tolo.

Ele pigarreou para espantar seu susto e sua emoção.

— Por que cortou seu cabelo e sua barba? — ela sussurrou.

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— Foi necessário, bem, um pouco fracassado, mas foi a intenção de


despistar sua alcateia.

— Eu gostava dos seus cabelos compridos, mas também está muito bonito
assim.

Ela suspirou.

— Obrigada por tudo o que tem feito por mim, por não virar as costas
para mim. Você é um lobo muito valoroso.

— Tudo vai ficar bem, querida, eu prometo.

Ela o surpreendeu mais, veio para frente e colocou o focinho em seu


pescoço, encaixando-se nele e Harley gemeu e a abraçou.

Sim, nesse momento ele sentiu o coração tombar e a garganta embargar


mais, quase arrancando suas lágrimas. E ele a abraçou com todo o amor do
mundo.

Ela tinha falado! Estava lhe fazendo carinho!

— O tempo ajuda a curar as feridas. Do coração demora mais tempo, mas


elas acabam cicatrizando. Como lobos, temos que ser fortes.

— Estou tentando.

— Eu sei, querida, eu sei.

Harley engoliu o nó de sua garganta e piscou para evitar que suas lágrimas
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caíssem quando ela chorou em seu ombro. Ele somente a abraçou.

Outro grau entre eles havia sido atingido.

— Ninguém vai te ferir aqui, prometo.

Ela assentiu e se afastou.

— Boa garota. Vamos até a cozinha comer, então vamos andar um pouco.
Creio que já devem ter recolhido a mesa do dejejum, pois está um pouco
tarde. Quer ir?

Ela assentiu.

— Ok, meu bem, então vamos.

Assim que levantou e saiu do quarto, Harley a olhou e sorriu no canto da


boca, porque ela, notavelmente, o seguiu. Percorreu a mansão com sua loba
ao seu lado, e estava pleno de felicidade. Quando foi entrar na cozinha,
encontrou Sami.

— Oh, bom dia, Harley.

— Bom dia, alfa.

Harley ouviu um choramingo, olhou para baixo e não viu Pietra. Ele se
virou e ela havia recuado e se encostado na parede.

Ela olhou para o corredor e ele pensou que correria.

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— Pietra! Está tudo bem, garota — Harley falou. — Sami não vai te ferir,
ela ajudou a cuidar de você quando esteve aqui esses dias.

Ela o olhou e, então, olhou para Sami.

— Bom dia, Pietra, vejo que está mais recuperada, fico feliz. Sim, é bem-
vinda aqui, não há rancores entre nós. Não precisa ficar apreensiva na minha
presença. Está tudo bem — Sami disse com um sorriso sincero.

Não tinha se sentido tão mal até agora, mas encontrando com Sami, na sua
cozinha, foi um momento constrangedor.

Só não sabia ainda como que a alfa não tinha vindo por ela e a mandado
embora. Quem em sã consciência aceitaria a ex-prometida do seu
companheiro embaixo do mesmo teto?

— Se precisar de qualquer coisa pode me chamar. Terei muita honra de


ajudá-la e espero que possamos ser amigas.

Harley olhou para Sami, espantado, afinal, ela teria todos os motivos para
não querer Pietra ali, mas parecia dizer isso de coração porque não sentia
animosidade nenhuma vindo dela. Por isso, ele sempre conseguia se
surpreender com ela.

E uma coisa que Sami havia revelado de si mesma era que tinha um
coração imenso e se preocupava verdadeiramente com o bem-estar dos lobos.

Após tanto tempo com uma ideia equivocada sobre eles, sua posição havia
mudado, seu amor por Petrus e sua vida feliz ao seu lado, convivendo com

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eles em Alamus, tinha transformado-a e Harley estava muito feliz com isso.

E agora estava comovido e surpreso com sua bondade para com Pietra.

Petrus, que chegava atrás de Sami e ouviu a conversa, soltou um leve


rosnado de aprovação, pois a atitude de sua companheira comoveu seu
coração.

Harley podia perceber como aquela situação tinha deixado Petrus nervoso
e não queria trazer problemas para seu irmão, ele já tinha sofrido o suficiente.

Ele suspirou e olhou para Sami.

— Isso é muito louvável de sua parte, alfa. Obrigado.

— Isso vem de minha parte também, Pietra. É bem-vinda em nossa casa


— disse Petrus se aproximando e abraçando Sami.

Pietra ficou ali, como uma estátua, e não sabia se corria ou agradecia. Ver
Petrus depois de tudo era atordoante, ainda mais naquelas circunstâncias.

Isso somente demonstrava o quanto eles eram bons e honrados e lhe dava
a certeza de que tinha feito o certo.

— Viu, Pietra? Eu te disse que os alfas a receberam bem aqui.

Pietra estava aturdida, estupefata e seu coração acelerado no peito.

Ela olhou de um a outro e viu a sinceridade em seus olhares.

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Talvez pudesse realmente viver ali e ter um pouco de paz. Se os alfas não
a estavam rechaçando e a mandando ir para longe, estaria bem.

Então deu um suspiro cansado.

— Obrigada, alfas — disse mentalmente.

— Tem minha palavra, Pietra. É bem-vinda, terá seu tempo para se


recompor, se curar e, quando estiver confortável, pode falar livremente
comigo sobre o que houve. Sabe que preciso saber sobre isso, não sabe?

Ela assentiu.

Sim, sabia e então tudo acabaria.

— Muito bem. Creio que devam ir fazer o desjejum, já que não o tomaram
ainda. Vamos, agápi mou, vamos deixá-los a sós para que fiquem à vontade
— Petrus disse e ele e Sami saíram.

— Venha, querida, vamos encontrar algo para comer.

Harley deu dois passos para entrar na enorme cozinha, parou, a olhou e,
então, deu um passo para o lado, fazendo menção com a mão para que ela
entrasse na sua frente.

Uma coisa que sempre prestou atenção nele é que era diferente, um
cavalheiro: abria a porta, puxava a cadeira, andava com a mão em suas costas
ou fazia enganchar no seu braço, como nos séculos passados. Ela achava
aquilo tão encantador. Estava saudosa disso. Talvez, se virasse humana
novamente, teria isso de novo.
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— Bom dia, Calista — Harley disse para a velha loba que estava na
cozinha.

— Bom dia, beta. Oh, que alegria, vejo que a bela loba está se
recuperando e já pode andar.

— Sim, ainda manca, mas é bom andar para fortalecer os músculos. Pode
nos preparar algo para comer, por favor?

— Imediatamente, beta. Já estava preparando uma bandeja para levar ao


seu quarto.

Ele pegou a bandeja e foi para o terraço que tinha uma enorme porta de
vidro na cozinha e ela o seguiu. Ele sentou numa mesa de ferro pintada de
branco com um enorme sombrero.

Ela foi ao seu lado e sentou no chão e ele sorriu e acariciou sua cabeça.

— Certo, vejamos aqui o que Calista colocou nessa bandeja. Sabe, meu
apetite está de leão, mas há muita comida e, olha, aqui tem bastante das
coisas que sei que você gosta.

Ela o olhou e sentiu vontade de sorrir. Ele estava tão lindo, com seu
cabelo um tanto despenteado, vestindo uma calça cargo bege e uma camiseta
branca justa e um mocassim.

Ela não estava com fome, mas para não desagradá-lo e reconhecendo seu
esforço, ela comeu os pedacinhos de pão de pita com patê que ele oferecia e
gentilmente segurava na palma de sua mão.
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E devorou os pedaços de presunto, tomou o chá que ele derramou no pires


e comeu cada pedacinho de fruta que ele ofereceu.

Quando ela viu o sorriso de prazer que havia em seu lindo rosto ao
alimentá-la, somente sentiu forças de lutar.

Mesmo que ainda não vislumbrasse um bonito futuro pela frente, não
queria ver Harley triste, pois isso a deixava mal, então queria agradá-lo.

Havia uma força que emanava dele, parecia um abraço invisível e ela
precisava disso desesperadamente.

Somente não queria que seu lobo sofresse ou se preocupasse com ela.
Aquela ruga acentuada de preocupação em sua testa a desagradava.

Havia algo claro e bom na sua situação desgraçada.

Harley era a pessoa mais incrível que já havia conhecido e a sensação, a


cada segundo que passava, assolava seu coração e ela tinha mais certeza: ela
o amava.

Bem, que coisa linda. Uma pária amando um beta.

Sua situação estava cada dia pior.

O mundo girava e ninguém poderia dizer o que o futuro guardava para os


lobos.

Num dia você era uma princesa; no outro, uma pária.


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Eles saíram da mansão e vagarosamente foram andando pela ilha. Pietra,


em forma de loba andava ao seu lado, muito próxima a ele, como se estivesse
com medo de andar entre outros lobos.

Ele entendia seu medo e andou calmamente e foi conversando com ela,
sempre contando uma história alegre ou mostrando alguma coisa. Pietra
quase não falava, mas ele sabia que estava atenta, assimilando cada palavra
que dizia.

Harley passou por um pequeno restaurante perto da praia e viu que os


lobos dali vieram discretamente espiá-los e ele acenou com um sorriso,
cumprimentando todos, mas não tomou caso de suas curiosidades sobre a
bela loba que estava com ele.

— Um dia vou trazê-la para comer aqui, eles fazem um camarão muito
bom. Este é um lado da ilha que mais gosto, sempre vinha correr por aqui ou
nadar. — Ele acenou para o lobo do restaurante. — Bom dia, Igor, como
estão as coisas por aqui?

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— Bom dia. Tudo está bem, beta. Os lobos que vieram de Kimera
gostaram da minha comida, vêm sempre comer aqui.

— Fico contente que as coisas tenham melhorado para ti. Um dia virei
para o jantar e trarei esta bela companhia.

O lobo sorriu e olhou para a loba e Pietra baixou a cabeça numa saudação
um tanto tímida.

— Oh, serão muito bem-vindos. Vejo que a loba se encontra melhor, já


pode sair de suas habitações.

— Hum, vejo que sua estadia aqui já não é nenhum segredo.

— Era um segredo? Toda a ilha já sabe que tinham uma convidada ferida,
mas não sabíamos quem era.

Harley olhou para Pietra, que o olhou com os olhos arregalados. Ele não
podia dizer quem ela era.

Podia?

“Não!”, ela quase gritou.

— Bem, esta é a senhorita Pietra e agora vai estar uma longa temporada
conosco. Deve ser muito bem tratada por todos.

O lobo arregalou os olhos.

— Senhorita Pietra? A loba italiana que era a prometida do alfa? —


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perguntou espantado.

Harley soltou um rosnado de advertência e o lobo o olhou aturdido e


entendeu que deveria ficar calado.

— Sim, ela mesma. Pietra é minha convidada e é a única loba da alcateia


italiana que tem permissão e livre acesso a esta ilha. Sua estada é meu
assunto e não quero fuxicos e nem que seja comentado com lobos fora da
ilha. Isto está claro?

— Sim, beta. Como deseja. Minha boca está fechada como uma ostra.
Aliás, vou preparar suas ostras preferidas quando vierem jantar e os
camarões. Terão tudo do melhor, será uma honra tê-los jantando aqui.
Senhorita, é muito bem-vinda, espero que sua estada aqui seja agradável.

Ela baixou a cabeça em agradecimento.

Harley bateu em seu ombro com um sorriso.

— Obrigado, Igor. Se precisar de algo, basta vir a mim.

— Obrigado, beta.

Eles continuaram sua caminhada e ele olhou para ela.

— Vou te levar para conhecer um lugar. Está cansada?

— Um pouco, mas estou bem — respondeu mentalmente e ele sorriu.


Parou e se abaixou à sua frente.

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— Obrigado por me responder — disse sorrindo.

— Desculpe, Harley, devo estar sendo uma pessoa horrível e um estorvo.

— Nunca me estorva. Gostaria de ir conhecer este lugar ou deseja ir para


casa?

— Desejo conhecer.

Harley sorriu e acariciou sua cara e ela lambeu sua mão. Ele levantou e
subiram por um caminho de terra e pedras rasas e a grama estava verde e com
muitas flores vermelhas, brancas e laranjas. Havia uma casa muito bonita no
topo.

Eles pararam na frente dela e ele sorriu, a olhando.

— Esta casa era de um antigo lobo, eu adorava vir aqui quando era mais
jovem, adorava a vista e tinha tranquilidade. Hoje ela está vazia, porque ele
morreu na guerra e sua companheira e seus dois filhos foram embora, não
queriam viver mais aqui.

— É linda.

— Quando o meu povo veio para cá, migrado do centro da Europa, a ilha
sofria muitas invasões, então por isso há várias colinas com casas
estratégicas. Era onde ficavam os olheiros. Era um período intenso de guerras
e conquistas. Os lobos eram bravos guerreiros. Minha família conquistou o
território de Creta há muitos séculos.

— É muito tempo.
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— Sim. No início eram mais pescadores, então meus antepassados


iniciaram o trabalho de comércio e os soldados tentavam proteger o lugar de
invasores. Hoje, a empresa de meu pai é uma potência em toda a Grécia com
o transporte marítimo, o qual seu pai também se inteirou.

— Você trabalhou lá?

— Não. Todas as empresas possuem acionistas e administradores. Meu


pai comandava tudo de longe, porque não gostava muito de estar entre os
humanos.

— Entendo.

— Venha, vou te mostrar a casa.

Ela o seguiu e ele mostrou todos os cômodos enquanto via como os olhos
dela brilhavam em agrado.

Quando viram tudo, ele a levou até o terraço, que possuía uma piscina e
uma visão descomunal do mar.

Eles sentaram numa espreguiçadeira e ficaram calados um tempo,


somente olhando a paisagem. Harley acariciou seu pelo. Ela virou a cabeça e
o olhou, sentindo seu corpo tremer. Ele sorriu quando viu seus olhos
cintilarem.

— Tudo bem?

— Sim.
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Que mentira, se ele soubesse como ela sofria quando ele a acariciava
daquele jeito.

— O que achou da casa, gostou?

— É maravilhosa, poderia ficar aqui, olhando esta paisagem para o resto


de minha vida.

Ele sorriu, virou na espreguiçadeira e olhou bem para ela.

— Gostaria de morar nela... comigo?

Seus olhos brilharam mais e ela arfou e eles voltaram ao normal.

— O quê?

— Estou te perguntando se você se mudaria comigo para esta casa. Você


pode ficar com esta suíte da frente e eu fico na outra. Eu acho que assim você
ficaria mais confortável, pois sei que está um pouco desconfortável na
mansão.

— E você ficaria aqui?

— Sim, pelo menos por um tempo — mentiu.

Pietra estava em choque. Ele era rápido e vinha como uma avalanche. Ela
sabia que faria isso, pois sabia exatamente o que ele queria: transformá-la em
sua companheira.

Mas como podia fazer isso? Bem, depois que ele soubesse a verdade
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talvez perdesse essa confiança toda que depositava nela e a mandasse


embora. Harley estava equivocado, sonhando com algo que ela não podia dar.

Sua mente estava confusa; enquanto seu coração gritou SIM, sua mente
razoável gritou NÃO.

— Está falando sério, Harley?

— Nunca falei tão sério na minha vida.

— O alfa permitiria tal coisa?

— Ele já permitiu. — Ela arregalou ainda mais os olhos. — Vamos,


querida, pense como será bom. Pode mudar o que quiser, até pintar se deseja
outra cor. Pode comprar móveis, quadros, o que quiser.

— Não tenho dinheiro para isso, Harley — disse triste.

— Isso não importa, eu te asseguro tudo o que necessita. Por favor, deixe-
me fazer estas coisas para você.

— E viveremos na mesma casa? Eu e você, em quartos separados?

Era mais fácil acreditar no Papai Noel, fadas e unicórnios.

Ele não conseguiu esconder aquele sorrisinho malandro no canto da boca.

— Eu dou minha palavra de lobo que ficarei comportadinho no outro


quarto.

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Ela estreitou os olhos e Harley quase soltou uma gargalhada, pois não era
tola e sabia que estava blefando. Ele ergueu a mão direita e colocou sobre o
peito.

— Dou minha palavra de lobo.

Ele sorriu abertamente quando ouviu uma risadinha vindo dela. Uma
risadinha. Isso era brilhante, estupendo.

Pietra gostava do jeito rufião dele, o deixava mais encantador.

Era tudo tão errado, tão certo e tão bagunçado que ela queria pular em seu
pescoço e beijá-lo.

— As criadas já começaram a limpeza na casa e então nos mudaremos,


tranquilos e, com o tempo, veremos como as coisas andam. Trato feito?

Ela suspirou e assentiu e ele abriu o mais lindo e maravilhoso sorriso que
chegou a ficar iluminado e isso até a fez sorrir.

Era uma belíssima casa e Pietra se sentiu bem ali. Seria uma boa coisa
poder sair da mansão.

Sentia-se mais envergonhada por ser uma pária, de pensar que quando a
olhavam a recriminavam, do que se incomodava com o casal de alfas.

Não se importava de perder o posto para Sami, pois ela nunca quis aquela
posição de alfa. Olhou para Harley, sentado perto dela, olhando o horizonte e
suspirou. Sim, aquilo ali era o que ela queria. Ela o queria.

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Sua verdadeira vida começaria agora.

Pietra sabia que depois desse passo as coisas teriam que mudar entre eles,
ela sabia em seu coração o que aquilo significava.

Pensava que ele estava fazendo uma grande tolice, mas ele era a única
coisa que tinha e lutaria por ele, nem que tivesse que lutar contra si mesma.

Mesmo porque ela queria ser feliz.

— Bem, vamos voltar à mansão.

Ela assentiu e saíram da casa e foram descendo a colina.

— Você gostaria de ver um dos meus cantos secretos?

Ela o olhou e um brilho cintilou no seu olhar.

— Seu canto secreto?

— Bem, não tão secreto, mas sagrado, na verdade. Um lugar que


mantenho uma de minhas paixões.

— Sim, eu adoraria.

— Ok, se prepare, pois está prestes a entrar no meu mundo, Afrodite.

Ela sorriu e o seguiu. Ele parecia mais entusiasmado e quando parou na


frente de um pavilhão grande com uma enorme porta de correr, ela o sentiu
nervoso e excitado.
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— Preparada?

— Sim.

Ele abriu a imensa porta, ligou as luzes e ela estancou, encantada. Era uma
enorme garagem.

De um lado, havia uma moto Harley Davidson antiga com um imenso


aparato de oficina com diversas ferramentas por todo lado, que demonstrava
que a moto estava sendo consertada; e do outro, num lugar limpo e bem
iluminado, havia mais quatro motos expostas.

Pietra abriu a boca, espantada.

— Minha paixão e o causador de meu apelido Harley. Eu amo estas motos


e passo um tempo consertando e restaurando motos antigas. Gosto de ficar
aqui quando estou nervoso.

— Uau! Isso é... estupendo, lindo...

Ela foi até uma das motos e andou ao redor.

Harley pegou uma estopa e passou pelo tanque para tirar alguma sujeira e
ela viu como ele tinha gosto de fazer aquilo. Era incrível que ele mesmo
consertasse uma Harley que estava com defeito e ela estava tendo o prazer de
observá-lo.

Assim que Harley juntou uma e outra ferramenta, que estava pelo chão e
arrumou sobre a mesa, ela sorriu, porque achou aquilo tão lindo.

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— Gosta de motos?

— Gosto, são selvagens e emocionantes.

— Bem, deixe-me apresentá-las. Esta é uma Dyna Wilde Glide FXDWG.


A primeira moto Harley que comprei. Claro que fui um dos primeiros a
comprar as primeiras lambretas lançadas. Vi nascer esta maravilha e, claro,
tive que ter a minha.

Ela riu com a carinha excitada dele, provavelmente se lembrando dos anos
passados e de sua aquisição.

— Deve ter sido emocionante.

— Garota, foi selvagem! Hoje, aquela lambreta seria como um brinquedo,


comparado a isso aqui, mas eu vi este mundo todo ser criado. Sempre foram
minhas paixões além dos computadores.

— Eu te entendo, meu irmão parecia muito rebelde em cima delas —


disse rindo.

— Esta é uma Softail fat Boy Lo SE e esta é uma das que mais gosto, uma
V-Rod Night Special.

— São lindas. E aquela que está ali?

— Bem, esta é uma antiga que comprei e estou restaurando, pois


precisava de uma pintura e trocar várias peças. É uma Harley Davidson
Kucklehead de 1941. É uma relíquia.

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— Uau. Ela é diferente. Esta parte da frente é esquisita. Que guidão


comprido!

Harley riu.

— Sim, isso é o que a faz especial. Você verá, quando estiver terminado
com ela, achará belíssima.

— Tem que levar uma dessas para a outra ilha para poder andar?

— Tenho, mas estas são somente para admirar, tenho mais duas que ficam
na casa, em Creta, pois são as que eu uso para andar pela cidade e tenho uma
na casa de Noah, em Atenas, que uso quando vou ali.

— Uau, é uma grande coleção.

— Sim — disse orgulhoso e com o peito inflado.

— Devem custar uma fortuna.

— Uma considerável, mas para que serve o dinheiro se não é para


alimentar nossas paixões? Penso que o dinheiro deve ser gasto para trazer as
coisas que amamos para perto de nós, realizar sonhos, senão não tem valor
algum.

— Isso é bonito, Harley.

Ele a olhou com o sorriso brilhante. O menino-lobo estava feliz de que ela
apreciava sua paixão.

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— Já andou numa dessas?

— Oh, não.

— Oh, temos que remediar isso. A senhorita aceitaria fazer um passeio


comigo um dia desses em uma de minhas motos?

Ela olhou para ele com o coração acelerado e cheia de uma nova
excitação. Seria uma aventura maravilhosa estar na sua garupa. Sempre quis
andar de moto e nunca havia feito, agora poder fazer com ele parecia
estupendo.

— Se sentiria magnífica e, para mim, seria uma honra e uma alegria


imensurável tê-la abraçando minha cintura e colada em minhas costas.
Consegue visualizar a cena?

Pietra soltou um rosnado involuntário e o cheiro de lobo faminto veio


sobre ela como uma onda que quase a fez saltar sobre ele.

Harley deu aquele sorriso malandro novamente.

— Está me provocando, Sr. Harley Davidson.

— Com toda a honra e glória, senhorita.

— É um descarado.

— Sou, não nego. O fato agora é saber se aceita meu desafio.

Ela virou o rosto o olhando e, ele, com a mão na cintura, todo lindo e
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enorme, estava sobre ela esperando sua resposta.

— Sim.

Ele soltou um uivo, que a fez rir. Ele riu em deleite por ter conseguido
mais esta conquista. Harley a olhou com tanta fome no olhar que seus olhos
cintilaram e, pela sua excitação exultante, preenchendo sua calça jeans, ela
podia ver a fome que sentia por ela. E sentiu seu sexo palpitar de desejo por
ele.

Bem, as coisas estavam realmente andando agora.

Ela rosnou e deu um passo atrás e os olhos de Harley escureceram de


desejo.

— Deus santo, seu cheiro vai me matar.

Harley somente via a imagem dela escarranchada, nua sobre sua moto, e
ele a tomando ali.

Seu lobo uivou em sua mente e ele rosnou, segurando-se para não saltar
sobre ela e enterrar-se dentro dela e amá-la até a insanidade.

Ele morreria quando isso acontecesse.

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Quando estavam voltando para casa, ele parou e a olhou, pensativo. Ela
fez o mesmo e o olhou indagativa e ele sorriu somente ao ver sua carinha
inocente. Ela era linda.

Sem dizer nada, se transformou em lobo e ficou parado, olhando para ela,
que estava com os olhos arregalados.

Pietra estava em choque, enfeitiçada, olhando para ele. Era a primeira vez
que ela o via em forma de lobo.

Harley era surpreendente e ela o achou o lobo mais lindo e poderoso de


todos.

Ele tinha a pelagem clara, creme e dourada e fios prateados, somente com
poucos feixes de pelo mais escuro sobre as orelhas e rabo e seus lindos olhos
verdes claríssimos estavam mais brilhantes como lobo, olhando fixamente
para ela.

Ela mal conseguia respirar, seu coração batia tão rápido no peito que doía.
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Ele tinha que parar de fazer tantas coisas para impressioná-la, porque ela
se derretia como uma manteiga na chapa quente por ele porque tinha o dom
de afastar seus temores e tristezas.

— Já que você se mantém na forma de loba e não vem a mim como


humana, vou a ti como lobo. Andarei ao seu lado até irmos para casa. Mas
se estiver cansada ou com a pata doendo, posso ficar como humano e te
levar no colo.

— Estou bem, obrigada, Harley.

Eles ficaram se olhando por um minuto que pareceu a eternidade.

— Gosta do meu lobo? — ele perguntou ansioso.

Gostava? Estava tão encantada que não queria piscar para não perder
aquela visão maravilhosa. Involuntariamente, ela deu um passo à frente para
ficar mais perto dele e parou.

Ela sentiu uma fisgada na pata machucada, mas estava tão maravilhada
com a visão dele que não fez caso.

Pietra teve que engolir o nó que se formou na garganta. Ela estava


achando que fosse seu destino ser transformada a nada para poder renascer
como uma nova pessoa, para estar ao lado dele.

— Ele é lindo.

Harley estava sentindo uma emoção nova, se fosse possível, pois nos
últimos dias tudo era uma enxurrada de emoções o atravessando
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impiedosamente.

Estar apaixonado era como estar em uma montanha-russa, com subidas e


descidas a toda velocidade, com o coração sempre acelerado e a respiração
descompassada. Adrenalina pura. Ele estava amando a sensação.

Ele estava a amando.

Seus lobos finalmente estavam frente a frente e a energia ao redor deles


era maravilhosa.

Ele deu um passo à frente e lentamente encostou sua face na dela,


esperando que ela não recuasse e quando se sentiram, ela soltou um suspiro
de deleite, todo seu corpo sentiu uma onda de prazer.

Harley acariciou sua bochecha, fazendo o carinho de lobo e ele queria


uivar ao céu, pois ela não se afastou e sua loba estava agraciada dele.

Ele lambeu sua face e colocou sua cabeça em seu pescoço.

Era estupendo. Então ele se afastou.

— Venha andar ao meu lado, theá Afroditi.

Ela o seguiu e os dois andaram pela ilha de Alamus e os lobos que viviam
ali os olhavam com admiração e curiosidade.

Burburinhos surgiram, olhares curiosos pipocaram de todos os lados.


Harley não estava preocupado e muito menos interessado.

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Ele tinha sua maravilhosa loba andando ao seu lado e para ele, era tudo o
que importava.

Quando foram ao seu quarto, ela sentou no tapete ao lado da cama e arfou.

— Está cansada, sua pata dói?

— Estou bem, dói um pouco, mas não é nada de mais. Foi bom andar,
pois ela está demorando a sarar.

— Ester disse que o osso foi muito danificado, que deveria cuidar bem e
ser monitorada, para que não fique com problemas para andar e correr.

— Ficarei bem. Obrigada, Harley, você tem sido muito paciente e


generoso comigo.

— Não há o que agradecer e é um prazer cuidar de você.

Harley se transformou em humano e estava nu na sua frente. Magnífico e


descaradamente nu.

Por Jesus, ela não suportaria aquilo por muito tempo. Ele era magnífico
por inteiro e o descarado ficou ali, parado, como se fizesse questão de se
mostrar para ela.

Sim, era bem isso. Harley queria que ela o visse, que o admirasse e como
não fazê-lo?

Ele era musculoso de forma perfeitamente distribuída, tinha as coxas


grossas, o peito largo com braços fortes e sua barriga era dividida por gomos
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de músculos e com suas tatuagens parecia ainda mais belo.

Seu corpo era perfeito e não podia afastar o olhar.

Seu olhar vagou sobre seus musculosos braços, seus quadris magros, e as
nádegas firmes, finalmente descendo por sua virilha.

Estava totalmente ereto, seu sexo sobressaía, excitado, o que quase a fez
salivar por vontade de tocá-lo e provar seu sabor, sentir a sua pele quente,
tomá-lo para si.

O cheiro almiscarado dele entrou em suas narinas e ela viu sua visão
turvar. Todos seus instintos aguçaram e sentiu que sua magia reverberava sob
sua pele, arrebentando pelos seus poros.

Seu olhar subiu de repente até o rosto dele, arfou e deu um passo atrás,
escorregando pelo tapete e ele obviamente percebeu seu desconforto e deu
um sorriso maroto.

Aliás, ele ficava lindo com aquele sorriso maroto.

— Algo a perturba, minha theá? — ele perguntou com inocência fingida.

Harley continuou fitando-a em toda sua estatura magnífica e excitado


como um deus.

O cheiro de sua excitação chegou forte ao nariz dele, que rosnou baixo,
cerrou os punhos e seu membro reagiu vividamente.

Que tortura era não saltar sobre ela, beijá-la como queria e amá-la até o
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fim dos tempos.

Ele sempre foi vaidoso e gostava que o admirassem, mas o prazer que
sentia agora de ver Pietra admirando seu corpo nu era tudo de diferente que já
havia vivido.

Era um prazer inenarrável, que não conseguia equiparar com qualquer


outra coisa. Se somente de sentir seu olhar faminto era assim prazeroso,
como seria sentir seu toque?

— Pode fugir, minha theá Afroditi, mas não para sempre e penso que não
queira fazê-lo, porque sente o mesmo que eu. Sou paciente, terá seu tempo.
Quero que venha livremente, que assuma que me quer e me reconheça. Já
sabe, mas sua vergonha ainda não te permite aceitá-lo. Vou tomar um banho
e depois podemos comer algo. Se quiser, pode ir até a banheira e te darei um
banho.

Harley girou nos calcanhares e foi para o banheiro e ela soltou a


respiração presa, tremeu inteira pelo desejo que a assolou e gemeu pela dor
que isso causou.

Pietra resistiu ao aceitar seu convite e tomou banho no banheiro do quarto


dela.

Naquela noite, ela jantou no quarto dele, comendo na sua mão e


novamente não dormiu em seu quarto, mas no dele, na cama dele. Como
homem e loba.

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Quando Harley entrou com Pietra e suas malas na casa nova, foi como
entrar num mundo novo, cheio de expectativas e esperanças.

A casa estava limpa, arejada com todas as janelas abertas e o sol do fim da
tarde entrava como uma carícia quente e suave.

— A casa agora é sua, minha querida, pode se sentir à vontade e arrumá-la


como quiser. Temos um mercado na ilha e ali podemos ter tudo o que
precisamos e, qualquer coisa que quiser, podemos ir a Creta. Há um carro na
garagem, caso queira sair.

— Parece ótimo.

Harley suspirou.

— Precisa me contar a verdade sobre o que está escondendo. O que


realmente aconteceu na sua alcateia.

— Eu vou.

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— Quando se sentir confiante pode me contar. Eu não vou julgar você. E


não preciso te dizer o porquê, porque você já sabe.

— Você é muito bom.

— Só o que precisamos, carinho, para que possamos começar nossa vida,


realmente como companheiros, é que você deixe de se sentir uma pária.

— Mas é o que eu sou.

— É o que te fizeram, mas não precisa continuar sendo. A partir do


momento que nos acasalarmos, você deixará de ser uma pária e será minha
companheira. Eu estou disposto a lutar, mas você também precisa estar.

Ela suspirou.

— Vou tentar, por ti.

— Não, querida, vai tentar por você.

Ele se abaixou e acariciou seu pelo e beijou sua face.

— Tenho certeza de que o que você fez é algo que podemos perdoar.

— Meu pai não me perdoou.

— Seu pai é um idiota.

Ela piscou algumas vezes e então riu.

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— Sim, acho que isso pode ser verdade.

Harley riu.

— Teremos um belo jantar hoje à noite na nossa nova casa. Espero que
me faça companhia. Vou colocar suas coisas no seu quarto.

Ele a beijou novamente, levantou e foi para o seu quarto para arrumar suas
coisas e as dela.

Ela suspirou.

— Bem, Pietra, seu príncipe encantado está com a razão. O que será de
você agora? Será forte, ou continuará se lamuriando e beijando o chão? —
sussurrou.

Olha onde havia chegado. Indo morar sozinha com Harley. Na casa que
ele dizia ser deles.

E não podia negar, estava amando.

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Harley estava usando uma camiseta branca justa e uma calça jeans preta e,
contente, colocou a travessa com o assado de cordeiro sobre a mesa que havia
posto.

Assoviando alegremente, tinha arrumado a bonita louça sobre o suplá e


uma taça de vinho. Tinha arrumado somente um prato, pois, como sempre,
ele cortaria a carne com pedaços pequenos e daria a ela na boca, esperando
que ela estivesse sentada no chão, ao seu lado.

Quando ele sentiu o cheiro dela ficar forte, soube que ela estava na sala e
com um sorriso gigantesco, se virou para ver sua loba.

Mas estancou, com os olhos arregalados, a respiração presa e teve que


piscar para ver se realmente a estava vendo.

Pietra estava parada na porta e o olhava, mas ela não estava em forma de
loba, estava na sua forma humana, vestindo um vestido azul de alças e com a
saia até o joelho, rodada. Seu lindo cabelo loiro estava puxado para o lado e
caía sobre seu ombro direito.
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Ela não estava usando nenhuma maquiagem, somente um brilho labial e


nunca pareceu tão fresca e linda. Cheirava a banho tomado e Harley não
conseguia respirar pela visão que estava vendo.

Ela sorriu, vendo a expressão de choque dele e o achou ainda mais


gracioso, lindo, perfeito, sexy.

— Olá.

— Olá — ele sussurrou.

— Eu achei que estava na hora. E você preparou o jantar com tanto


carinho e esta bonita mesa que achei indelicado de minha parte não me sentar
à mesa com você, como merece.

Harley piscou duas vezes, aturdido, engoliu em seco e foi até ela,
lentamente.

Ela estava linda.

Linda demais para sua sanidade mental.

A saudade que tinha sentido de vê-la como humana tinha o torturado e


esse gesto que ela fez por ele, foi um presente e ele se emocionou.

Harley parou na frente dela e eles ficaram se olhando intensamente e ele


acariciou sua bochecha com as postas dos dedos e suspirou ao sentir a
suavidade de sua pele.

Ela tocou sua mandíbula sobre uma pequena marca da mordida.


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— Ainda estou marcada.

— Eu vejo, mas sumirá.

— Não entendo por que demora a curar.

— Também não, mas para mim não importa. Você está linda — ele
sussurrou, embriagado pela sua visão.

— Obrigada, você também.

— Acho que preciso colocar mais um prato e uma taça.

Ela sorriu lindamente, que quase o fez desmaiar. Seu sorriso era
deslumbrante.

— Sim, será perfeito. Está na hora de eu enfrentar meus demônios, a


minha realidade e não queria mais ser um estorvo para você.

— Nunca foi um estorvo para mim.

— Você é um lobo maravilhoso e honrado, Harley, e estou feliz de


estarmos aqui, juntos nessa casa, e estou disposta a recomeçar minha vida.
Não quero mais me sentir tão miserável. E se não posso mudar meu passado,
então terei que aprender a viver com ele. E estou feliz que esteja ao meu lado,
pois não conseguiria sem ti.

— Sempre estarei ao seu lado.

— E eu sempre estarei ao seu lado.


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Harley travou a respiração e sentiu vontade de uivar.

Ver sonhos se tornando realidade era uma coisa estupenda.

Pietra lentamente se aproximou e o abraçou, e ele suspirou ao abraçá-la de


volta.

Um abraço forte, intenso, delicioso que tocou fundo na alma.

E não souberam quanto tempo ficaram abraçados, mas foi maravilhoso.

Assim que se afastou, ele pegou em sua mão e entrelaçou seus dedos nos
dela e foi um momento tão simples, mas tão forte e significativo que deveria
ser imortalizado.

Harley a trouxe para a mesa e puxou a cadeira para que ela se sentasse.
Depois foi até o armário e trouxe a louça. Sem deixar de sorrir, ele cortou a
carne e colocou no seu prato e sentou, observando-a pegar a carne e comer,
lentamente.

— Fico tão feliz de te ver assim, se alimentando sozinha, mas devo


confessar, eu amava te dar comida na boca.

Ela sorriu.

— Os lobos gostam de alimentar suas fêmeas.

— Assim é. E ficarei lisonjeado se me permitir fazê-lo de vez em quando.

— O farei.
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Ele sorriu, comeu um bocado da sua carne e bebeu um pouco do vinho.

O jantar passou tranquilo e sem muita conversa, porque, de repente, eles


estavam tímidos um com o outro.

Depois de tudo aquilo parecia um primeiro encontro.

Harley estava tímido e isso era uma coisa que pensou que nunca veria
sobre si mesmo.

Mas o que não faltou foram os olhares intensos. Eles simplesmente não
conseguiam parar de se olhar.

— O jantar estava maravilhoso, obrigada — ela disse.

— Fico contente que tenha gostado. E também que esteja muito melhor,
Pietra, se sentindo à vontade aqui nessa casa, comigo, a ponto de se
transformar.

— Sim, eu também estou contente de estar aqui.

Ele levantou e a levou para o terraço onde a noite com a brisa marítima os
brindou com sua beleza e eles ficaram olhando a noite estrelada e ela
suspirou.

Harley se aproximou cauteloso, pois não queria espantá-la, sabia que ela
estava acuada, apreensiva e com medo do que aconteceria, do que aquilo tudo
significava.

— Não tenha medo. Somente um beijo. Não há nada de errado num beijo,
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Pietra.

Não havia? Pelo amor dos deuses! Se o beijasse, ela sucumbiria de uma
vez. Não teria forças para fugir mais dele. Era um dos motivos que tinha
ficado em forma de loba. Para que ele não quisesse beijá-la.

Simplesmente porque ela não resistiria.

Então seu cérebro e coração e todas suas entranhas entraram em uma


espécie de surto e ela já não sabia mais o que era certo ou errado, se devia ou
não, ou se diabos ela tinha que resistir ou não.

Harley segurou seu rosto entre as mãos, se aproximou de seus lábios e os


tocou com os seus, docemente, em um beijo tão suave e delicado, até diria
temeroso. Mas foi o suficiente para causar um choque em todo seu corpo.

Seus lábios se soltaram e os dois ficaram se olhando por um longo minuto,


aturdidos.

Harley pôde ouvir os corações de ambos batendo descompassados e, pelo


assombro que ele viu nos olhos dela teve certeza de que ela sentiu o mesmo.

E mais, sabia que aquilo não era somente a luxúria falando mais alto, não
passaria depois de uma noite de sexo selvagem, não sumiria no dia seguinte,
ou depois que passasse o efeito do vinho.

Harley não sabia se ia em frente ou recuava, porque estava muito chocado


para saber o que fazer.

Ele a beijou novamente, dessa vez um beijo sedento, faminto,


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desesperado, delicioso, tão delicioso que Pietra parou de respirar, porque seus
lábios eram a perfeição e a maneira que ele a beijava?

Senhor, era tudo e mais um pouco do que ela havia desejado que fosse. Do
que havia sonhado que seria.

Se seu desejo era ser arrebatada, nem que fosse só por um beijo, bem,
aquele era o caminho.

Harley sabia o conceito de arrebatar com sucesso.

Então ele se afastou, beijou seu nariz, depois sua bochecha e no canto de
seus lábios.

— Vou para meu quarto e gostaria que me fizesse companhia para um


filme.

Filme?

Ela piscou aturdida, pois estava um tanto zonza com os beijos.

Ele beijou seus lábios novamente e saiu, deixando-a ali, atordoada e com
as pernas bambas, com o corpo quente e sem entender o que ele estava
fazendo.

Claro, idiota. Harley estava se afastando, porque estava tão excitado e


faminto que a tomaria bem ali no terraço.

Pensou um pouco, tentando sair da névoa afrodisíaca que tinha entrado e a


sua mente deu uma clareada.
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Ah, agora ela sabia o que ele estava fazendo, ele a queria inteira e não
quebrada e duvidosa que pensasse que estava se aproveitando de sua
fragilidade, porque era um cavalheiro acima de tudo. Um beta que sabia onde
estava pisando e estava seguro de si.

Ele estava construindo o alicerce de uma relação cheia de confiança,


amor, lealdade e respeito.

Porque a paixão e amor estavam desesperados e podiam atropelar tudo.

Ela sorriu e o amou ainda mais por isso.

Harley entrou no seu quarto e fechou a porta e estava sentindo como se


um tsunami estivesse o arrebatado por dentro.

— Merda! — rosnou e suas presas alongadas doeram como o inferno.

Seus olhos cintilaram e ele gemeu com a dor de seu membro.

Depois de um exercício ferrenho para acalmar sua excitação e seu lobo,


ele sentou na cama, ligou a tevê e se acomodou nos travesseiros, mas seu
olhar ficava pregado na porta, esperando.

Então ela se abriu, vagarosamente, e ela apareceu.

Ele parecia aqueles adolescentes tímidos que não sabiam o que fazer
quando a olhou. Ponto para ela, pois ele estava inteiramente aos seus pés.

Sem dizer nada, Harley esticou o braço e ofereceu sua mão, chamando-a
para ir até ele. Ela andou até a cama, lentamente, segurou sua mão e deitou,
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aconchegando-se em seu peito e ele a abraçou e ambos viram o filme juntos,


abraçados, somente trocando pequenos carinhos.

Na verdade, não viam exatamente o filme, pois estavam encantados


demais com aquelas pequenas carícias e suaves beijos.

O que pensaram que talvez fosse uma loucura e uma tortura, se tornou um
momento sublime, carregado de carinho, encantamento.

O sexo viria e seria estupendo, mas nesta noite ele teve sua loba em forma
humana em seus braços, calma como as águas de um lago, profunda como as
do oceano.

E quem diria que Harley um dia dormiria com uma mulher em seu leito e
que não fosse somente pelo sexo.

Dormiram na cama juntos. Só que, desta vez, eram um homem e uma


mulher.

Trastevere, Roma, Itália.

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Giorgio estava chegando à sua casa durante a noite e, de forma


apreensiva, olhou ao redor para ver se tinha visto ou ouvido algo, pois estava
farejando cheiros de lobos.

Ele abriu a porta de sua casa e entrou, trancou-a e acendeu as luzes.


Franziu o cenho ao farejar os cheiros mais fortes e se empertigou,
preparando-se para a luta.

Andou pelo corredor, entrou na outra sala e acendeu a luz. Seus olhos se
arregalaram e arfou.

Antes que pudesse se mover ou fugir, dois lobos o agarraram e ele até
tentou lutar, mas não era páreo para os dois, que eram maiores que ele e mais
fortes.

— O que estão fazendo em minha casa?

Eles o carregaram e o fizeram se ajoelhar no tapete. À sua frente, sentado


na poltrona, estava Marcello Scopelli.

— Beta!

— Olá, caro Giorgio — Marcello disse, tranquilamente.

— A que devo a honra? O senhor na minha humilde casa.

Marcello soltou uma baforada da fumaça do charuto cubano que segurava


entre os dedos e com uma paciência exasperante e olhar intenso, que causava
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um frio na espinha dos lobos, ele olhou para Giorgio.

— Adoro estes charutos cubanos, possuem um sabor forte, encorpado com


uma dose de requinte. Mas você não entende nada de requinte, não é?

— Não, meu senhor.

— Sabe, estes charutos custam uma pequena fortuna, eu até poderia dizer
que um charuto equivale a uma pedra de diamante.

O lobo arfou.

— É muito caro, senhor.

— Você sabe quanto custa uma pequena pedra de diamante, traste?

— Não, senhor.

— Nunca viu uma?

— Não, senhor.

— Por acaso, você não teria em sua posse as pedras que eram de minha
irmã?

— Eu? Pedras de diamantes de sua irmã? Por que eu as teria?

— Engraçado... você somente contou a nós sobre o que Pietra tinha feito,
sobre aquele desastre do acasalamento dela com Petrus em Alamus, depois de
ter se passado meses, mas eu me pergunto por que não contou antes, por que
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ficou todo este tempo calado?

— Não queria dar este desgosto ao alfa, é sua filha preciosa.

— Sim, e ele ficou tão enfurecido com ela que não puniu você.

— Punir a mim? Mas eu a entreguei para ele. Por que me puniria?

— Eu considero a chantagem algo tão baixo, tanto ou mais do que o erro


que Pietra cometeu.

— Chantagem? Não sei do que fala, senhor.

— Vocês não o acham engraçado, rapazes? Acho que ele tem um ótimo
senso de humor.

Os dois lobos que flanqueavam Giorgio e o que estava ao lado esquerdo


de Marcello rosnaram com sorrisos e risadinhas.

Marcello fez um sinal e um lobo trouxe a caixa e abriu, dentro dela


estavam as joias de Pietra, diamantes, rubis e esmeraldas.

— Isso pertence à Pietra — Marcello disse.

— Não sei como estava aqui!

— Encontramos também uma conta bancária sua com alguns milhares de


euros. Você estava chantageando Pietra e tirou tudo dela. E quando seus
recursos acabaram você a dedurou. Você ousou chantagear uma Scopelli.

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— Ela era uma traidora.

— Ela era minha irmã, uma Scopelli, e eu digo que ninguém ousa
chantagear um de nós. Você vai ter o castigo que merece.

— Beta, eu não queria, ela que me ofereceu para que eu ficasse calado,
achei que estaria poupando o alfa, mas ela não era uma boa pessoa e achei
que deveria contar.

— Ela deu tudo o que tinha, você a torturou com bilhetes e ameaças
durante meses e, então, a dedurou. Uma atitude nojenta, baixa e sem nenhum
caráter, até para sua índole.

— Beta...

Marcello levantou e colocou o charuto no cinzeiro, tirou o paletó e suas


abotoaduras de ouro, foi arregaçando as mangas de sua fina camisa, ficando
com o colete, conjunto do fino terno Armani.

— Beta, por favor...

— Isso, implore. Eu quero que implore ajoelhado aos meus pés. Eu devia
mandá-lo para a Floresta De Gamo, com um bando de executores para que
tivesse o mesmo fim dado à minha irmã.

O lobo arfou.

— Mas eu resolvi tomar a justiça por mim mesmo.

— Eu sinto muito, beta.


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— Sim, eu imagino que sinta.

Marcello não disse mais nada, rosnou alto, com os olhos cintilando e as
presas alongadas, e cravou as garras afiadas em seu peito. O lobo abriu a
boca, em um arfado mudo, sem ar, com os olhos arregalados.

Então, Marcello puxou a mão e trouxe o coração do lobo em sua mão.


Rosnou em sua cara, esmagou o coração e o soltou, fazendo o órgão cair no
chão com seu corpo sem vida.

— Isso é para você aprender a não roubar um Scopelli e por entregar


minha irmã. Se você arranca o coração de um Scopelli, eu arranco o seu.

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Noah estava vestindo seu kilt de couro negro, botas até o meio da
panturrilha e um cinturão de couro, nos punhos usava grandes braceletes de
couro amarrados com tiras do mesmo, seu cabelo longo estava solto e seu
torso nu. Ele se aproximou em toda sua postura de alfa, sem tirar o olhar de
Joan e quando parou na sua frente rosnou.

Joan estava usando um também, no centro de uma roda feita por lobos na
praia.

Todos da ilha estavam ali para assistir a luta entre Noah e Joan, incluindo
Petrus e Harley.

Havia uma sede de vingança e todos queriam poder ter o privilégio de


lutar com o bastardo, mas a honra era do alfa.

Ao longe, Ester estava apreensiva e não queria ver a luta, mas como alfa
era sua obrigação de estar ali. Ela sabia que Noah era forte e que venceria,
mas seu coração não conseguia deixar de doer por ele. Se algo acontecesse,
ela morreria.
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— Está pronto para morrer? — Noah rosnou.

— Não me intimida com essa roupa bárbara, com seu rosnado idiota.

— Não quero te intimidar, quero arrancar este coração negro que tem no
seu peito, quero abrir suas costelas e espremer seus pulmões até que pare de
respirar. Quero enviar sua alma negra para o limbo para que as profundezas a
queimem sem piedade.

— Se eu te matar serei o alfa desta alcateia.

— Ah lobo, você não consegue nem ser um alfa de um ninho de ratos,


imagina desta alcateia. Este teu sonho sempre foi distante e continuará sendo.
Você pode tentar ser alfa no inferno, mas acredito que o diabo não seria tão
estúpido de permitir tal coisa.

— Vou te matar.

— Pode tentar.

Noah rosnou e deu um soco em Joan, que cambaleou e revidou


rapidamente atingindo o alfa no rosto, que virou pelo baque, mas seu corpo
não se moveu. Noah virou a cabeça, lentamente, e olhou para Joan com os
olhos cintilantes. Ele era como uma muralha.

— Tudo o que fez Joan, para quê? Dinheiro?

— Para mostrar que posso ser maior que você, em tudo. Olhe onde eu os
levei. Tudo isso foi culpa sua.

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— Você não é maior do que eu, porque sempre quis ser alfa para dominar
e ser grande, coisa que não é.

— Sua mente é tão medíocre, tão pobre, tão pequena. Acha que eles te
amam? Que se orgulham de você? Não, são lobos muito fracos.

— Você não os conhece, não sabe o que eles necessitam e do que gostam.
Do que os motiva. Você não sabe nada de meus lobos, meus, porque eles
nunca serão seus.

Noah saltou sobre Joan, batendo em seu peito e o jogou longe. Joan
rodopiou no ar com três giros e caiu na areia, fazendo-a voar para todo lado.
Assim que se levantou, saltou alto e caiu sobre Noah, o derrubando, o juntou
pelo braço e perna deu um giro e jogou o alfa longe, que bateu numa árvore
estraçalhando-a.

Houve uma enxurrada de rosnados de seus lobos e gritos para que se


levantasse e ele o fez, rosnando pela dor e pela ira.

Joan saltou sobre ele novamente, mas rapidamente Noah se esquivou e


girou, desviou o rosto e deu uma cambalhota, batendo com o pé no estômago
de Joan, jogando-o longe.

— Sabe o que você fez, Joan? Sabe o que faziam naqueles laboratórios?
Você ficava lá assistindo? Quanto valia a vida de um lobo para você? Por
quanto nos vendeu, hein?!

— Vá para o inferno!

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— Eu não, para lá é aonde você vai. Sabe o que fizeram com nossas
mulheres? Com nossos amigos? Com as crianças? Pra quê, Joan?

— Acha que me importo? Eu não ligo a mínima. Vocês mereceram.

Enfurecido, Noah rosnou alto e deu uma enxurrada sucessiva de socos,


um atrás do outro, arrancando sangue dele.

Joan rosnou e cruzou suas garras no peito do alfa, fazendo quatro longos
rasgos, mas Noah rosnou e não se intimidou, pois sua adrenalina estava muito
alta e sua força era descomunal.

A sucessão de golpes e chutes foi feroz e Ester arfou pela tamanha


brutalidade dos golpes e ferimentos que um causava no outro. O torneio tinha
sido briga de menininhos, porque aquela ali era uma briga real e aterrorizante
de lobos. O sangue espirrava, cortes eram feitos, ossos eram quebrados e eles
continuavam em pé, lutando sem se importar com a dor.

— Quer saber de uma novidade, Joan?

— O quê? — rosnou.

— Harley descobriu suas contas bancárias e devo dizer... é muito dinheiro,


mas todas agora são minhas.

Noah se transformou em lobo e saltou sobre Joan mordendo-o ferozmente;


assim que se transformou também, os dois lobos seguiram rosnando alto,
mordendo e arranhando, tombando e levantando.

— Oh, meu Deus! — Ester gemeu e seu coração pareceu que ia explodir.
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Ela quase não conseguia olhar a luta.

Ambos estavam feridos, mas os lobos gritavam, rosnavam e davam força


para seu alfa.

Noah cravou violentamente os dentes nas costas de Joan, o girou e o jogou


longe, rolando na areia. Depois se transformou em homem, bateu com os dois
punhos cerrados no peito de Joan, quebrando suas costelas e fazendo-o perder
todo o ar e arfar pela dor.

Rosnando pela fúria, o alfa o ergueu tão alto sobre sua cabeça que seus
braços puderam esticar; e com um grito feroz, ele puxou Joan para baixo ao
mesmo tempo que se abaixava dobrando um joelho e bateu a coluna do lobo
em seu joelho.

O barulho de sua espinha quebrando ecoou pela praia e todos ofegaram. A


fúria que Noah exalava era algo descomunal, brutal. Todos sabiam que ele
era assim em suas lutas, mas nunca haviam presenciado tal coisa.

Joan caiu na areia, se contorcendo pela dor horrenda, e todos sabiam que
somente não havia desmaiado ainda por sua força de lobo. Um humano nem
respiraria mais.

Noah saltou e no ar se transformou em sua forma Dhálea e caiu sobre


Joan, cravando seu punho em seu peito, o barulho das costelas quebrando
calou todos; e no silêncio que encheu a praia, o alfa puxou a mão e ergueu,
segurando seu coração ensanguentado. Rosnou ferozmente, tão alto e forte
que feriu sua garganta, e depois uivou.

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Rosnados e uivos de todos os lobos tomou conta da praia, celebrando a


vitória.

Noah levantou, agarrou o coração e o destroçou, rosnando com muita


fúria.

Ester nunca tinha visto algo assim, tanta fúria, tanta dor de Noah e aquela
vingança, justiça e o fim daquele tormento com Joan. Ela chorou vendo
aquilo, porque era muito violento e sabia a dor e raiva que ele sentia no peito,
aliás, todos os lobos.

Noah gritou muitas vezes e seus lobos soltaram gritos e rosnados,


celebrando sua vitória, sua vingança, sua justiça. E a promessa de continuar
sua luta, suas vidas. Ele soltou ao céu vários gritos e palavras em gaélico que
ela não entendeu, como se estivesse gritando para os deuses, emitindo sua
luta a eles, batendo o punho diversas vezes no peito. Em seguida, jogou o
coração estraçalhado no chão, cuspiu sobre o cadáver e cambaleou.

Ester pensou que ele cairia, mas continuou em pé, mesmo com a dor em
seu corpo, acalmando sua fúria, tentando recobrar suas forças, centrar em sua
realidade, acalmar seu lobo. Ela saiu do meio da multidão, com os olhos
arregalados, ofegante e correu para ele, saltando em seu pescoço.

Noah a ergueu e rosnou e ela o beijou uma e outra vez, abraçando-o forte.
E ele gemeu e riu. Estava cansado, muito machucado, mas ela não pesava
nada para ele, que a segurou, escarranchada em sua cintura, abraçando-a de
volta, sem se importar que aquela era uma atitude um pouco desenfreada e
desalinhada para os alfas.

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Mas se tinha uma coisa que os lobos já tinham se acostumado era com os
rompantes escandalosos de Ester. Eles não se incomodavam e achavam
divertido, porque aquilo era simplesmente Ester e estava bem para Noah. E se
estava bem para o alfa, também estava para eles.

— O que faremos agora que Joan está morto, alfa? — Liam perguntou.

— Caçaremos o maldito que pagou por tudo isso.

— O tio de Sami e pai de Alexander.

— Este mesmo. Ele pode estar escondido, mas um dia eu o acharei.

— Isso pode levar tempo. E agora?

— Agora, vamos planejar um baile — Noah soltou uma gargalhada e saiu


da praia carregando Ester.

— Baile? — perguntaram aturdidos.

— Limpem esse lixo da minha praia, não quero que meu filho pise nele e
se contamine! — gritou já subindo as escadarias de pedra que levava à sua
mansão. — E não me chamem mais por hoje, pois estarei ocupado!

Noah saiu e todos riram sabendo o que ele iria fazer com sua fêmea, mas
se olharam confusos.

— Ele disse um baile? — Konan perguntou.

— Sim, Konan, daqueles que você convida uma dama para dançar e bebe
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umas cervejas geladas e usa uma gravata — Erick respondeu, rindo.

Konan rosnou.

— Não vou usar gravata, seu almofadinha!

Erick soltou uma gargalhada e deu um tapa em seu ombro.

— Você é muito controverso, Konan.

— Bem, vamos assar uma carne, beber umas cervejas geladas em honra
de que hoje Joan foi enviado ao inferno — Kirian disse.

— E que fique lá para a eternidade.

Todos os lobos se abraçaram em comemoração, rosnaram e foram para o


clube celebrar.

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Já estava escurecendo quando Harley chegou em casa e olhou ao redor


para ver se a via. Ele andou pela casa e deixou que seu instinto o guiasse e foi
para o terraço, sentindo o cheiro dela.

Ela estava parada, escorada na mureta, olhando para o céu que começava
a despontar as primeiras estrelas e ao fundo ainda se podia ver um pequeno
resquício do sol beijando o horizonte, se despedindo do dia.

A lua imensa que estava chegando ao céu já dava a impressão de como


seria maravilhosa à noite, pronta para irradiar sua magia sobre a terra.

Uma paisagem tão bucólica que poderia arrancar um suspiro de deleite.

Harley viu que ela retesou o corpo, tomando consciência de sua presença.
Ele parou calmamente ao seu lado.

— Boa noite.

— Boa noite.
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— Sinto muito ter ficado a tarde toda fora, tive que resolver alguns
assuntos. Espero que tenha ficado bem aqui na casa.

— Ela é muito agradável, Harley, realmente me sinto bem aqui.

— Fico muito feliz. O que estava fazendo?

— Uma oração.

— Qual delas?

— Oração do lobo.

— Oh, dos nossos ancestrais. Eu a ouvi uma vez em celta. Há uma versão
em italiano?

— Não, eu a decorei na língua antiga. Minha avó a tinha e me ensinou.

— Há muito não a ouço, pode recitar para mim?

Ela suspirou sem olhá-lo, ainda com o olhar fixo, perdido no mar.

“Espírito do lobo. Você que encanta as terras selvagens.


Você que persegue em sombras silenciosas
Você que corre e salta entre as árvores cobertas de musgo
Empresta-me sua força primal e sabedoria de seus olhos brilhantes
Ensina-me implacavelmente controlar meus desejos
e estar em pé para a defesa daqueles que eu amo
Mostre-me os caminhos escondidos e os campos ao luar

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Feroz espírito
Anda comigo em solidão
Uiva comigo na minha alegria
E me proteja enquanto eu me movo por este mundo.”

Lentamente, ele pegou sua mão e entrelaçou seus dedos nos dela e ficou
olhando o mar.

— Espero que tenha te dado forças.

— Deu.

Um suspiro involuntário saiu de seus lábios. Ela o olhou de relance, sorriu


sem jeito e ele retribuiu, ela se virou para o outro lado, um tanto encabulada e
sem saber o que fazer para afastar o desejo que sentia por ele.

— Que bela estátua, parece uma guerreira — Pietra disse, encantada com
uma estátua de mármore que havia no terraço.

— É uma amazona.

— Amazona?

— Na Grécia arcaica, que era por volta do século XII a.C., as mulheres
eram altamente veneradas e muito reverenciadas, principalmente em Creta e
Micenas.

— Por quê?

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— Porque elas possuíam o poder e domínio de sua fecundidade. Elas


escolhiam seus amantes e parceiros e de quem teriam seus filhos. Mantinham
poder e tratamento igual aos homens.

— Isso parece muito bom.

— Sim. Como pode ver, há muitas estátuas femininas. Os gregos


idolatravam sua beleza e as deusas eram muito reverenciadas. Com as
invasões de outras civilizações com uma sociedade patriarcal, houve a
opressão das mulheres e eram até discriminadas, principalmente em Atenas,
com o Cristianismo.

— Ah, o patriarcado... as mulheres mudavam da tutela do pai para o do


marido através do casamento. Quando se tornavam viúvas, a autoridade sobre
ela era do filho mais velho. Uma espécie de prisão — ela sussurrou e ele
assentiu, percebendo um tom de nostalgia e o brilho do seu olhar apagou.

Era como ela vivia? Numa prisão? Ele desconfiava disso.

— Creio que ocorreu o mesmo na Itália. Houve muitos períodos


conturbados para os lobos ali, muitas alcateias foram assassinadas pelos
cristãos, porque era difícil de se ocultar. Mas isso aconteceu entre os
humanos desde sempre. Até que chegamos aos dias de hoje e elas podem
escolher seu esposo. Uma grande evolução, até para os lobos.

Harley cruzou os braços e começou a selecionar as palavras, olhando-a


atentamente. As verdades deveriam começar a serem ditas.

— As lobas sempre foram protegidas e bem cuidadas. Principalmente

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companheiras. É muito raro encontrar lobos que maltratem lobas. Na sua


alcateia era assim, Pietra? Você era muito protegida?

Ela o olhou e suspirou, olhando novamente para o céu.

— Eu era, tanto que, às vezes, até ficava sufocada — disse sem jeito. —
Meu pai sempre foi protetor e amoroso. Eu era sempre sua menina, porque eu
tenho só irmãos e sou mulher. Eles sempre estavam cuidando de mim e
minha mãe sempre estava empenhada em ensinar-me como ser uma alfa para
quando meu pretendente chegasse.

— As lobas sempre tiveram a chance de recusar seus pretendentes. Não


entendo como você pode ser uma imposição. Os dois deveriam concordar.

— A quebra poderia causar guerra entre as alcateias. Se os lobos desejam


a paz, selam um pacto de harmonia. Unem as duas alcateias pelo
acasalamento.

— A maneira como seu pai conduziu seu acasalamento com Petrus foi tão
absurda que não entra na minha cabeça.

— Ele tinha seus motivos.

— Que ainda não entendo.

— Meu pai, às vezes, é difícil de entender e não é um lobo que se pode


levar ao descaso ou burlar suas ordens. Ele sempre foi justo e nunca o vi
cometer injustiças. Mas todos tinham que seguir as normas.

— E você burlou alguma norma? Não entra na minha cabeça que tenha
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cometido um crime tão forte para tal coisa.

— Os lobos levam a honra muito a sério, Harley. Eu desonrei minha


alcateia. Eu impedi o acasalamento.

— Mas foi o rei que impediu a cerimônia e não você. Você até aceitou
aquele desafio da Sami que pensei que meus nervos explodiriam.

Ela suspirou.

— Conte-me, prometo não julgá-la. Somente preciso saber a verdade.

— Papai estava errado, e eu pedi para ele parar e ele não parou e me
obrigou a mentir e eu... fui tão egoísta, pensei que conseguiria assumir meus
deveres, e me acasalar com Petrus, mas no fim não pude.

— Isso não devia ser uma obrigação, e o que você fez, aceitando que
Petrus ficasse com Sami, trouxe a felicidade a ele.

— Mas trouxe a desgraça para minha família. Há algo que meu pai não
me contou, há uma espécie de segredo que eles me escondem. Creio que por
isso sempre tenha sido muito vigiada e sempre pensei que meu pai me
amasse, mas ao descobrir o que fiz ele não me perdoou. — Ela suspirou e o
olhou. — Fui eu que chamei o rei.

— Sim, eu sei, me disse que o convidaria. Eu mesmo lhe disse que


poderia convidá-lo.

— Não, Harley, não foi apenas um convite na cerimônia, eu o chamei por


um pedido de socorro.
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— Não entendo.

— Eu sou culpada do que meu pai me acusou. Eu chamei o rei e pedi que
impedisse a cerimônia.

Harley a olhou espantado.

— Não foi Erick que contou ao rei que algo estava errado sobre estes
contratos, e disse que Petrus estava acasalado, que ele deveria intervir. Foi
ele, mas porque pedi.

— Continue.

— O rei disse que foi Erick porque estavam me encobrindo, para ninguém
saber que fui eu que pedi ao rei que parasse meu acasalamento com Petrus.

Harley estava tão chocado que parou de respirar.

— Por quê? Pensei que tinha aceitado o acasalamento com Petrus... Vocês
estavam se entendendo.

Ela o olhou nos olhos por um estante, suspirou e desviou o olhar.

— A lista para não querer aquilo era tão grande. Era uma jogada suja do
meu pai. Obrigar Petrus àquilo era tão errado e ele amava, Sami. Eu contei ao
Sr. Erick sobre as imposições de meu pai, eu implorei que avisasse ao rei,
antes que chegasse aqui, para que impedisse. Eu não podia, simplesmente não
podia me acasalar com Petrus, depois que eu soube que ele amava outra, que
ele tinha uma companheira, eu... eu simplesmente não pude.
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— Mas não daria tempo...

— Quando saí do quarto do alfa, naquele momento que eu esbarrei em


você, corri ao meu quarto e liguei para o Sr. Erick e pedi socorro. Ele avisou
seu pai e sua mãe. Isso fez com que se atrasassem um pouco na sua chegada,
mas, então, Sami apareceu e interrompeu a cerimônia e... depois de tudo você
já sabe. O rei apareceu com seu séquito, e a rainha mostrou aquelas imagens
do meu pai com sua mágica e eu nem sabia que ele tinha obrigado seu pai a
assinar aqueles papéis. Eu não sabia de nada. Aquilo também foi um choque
para mim.

Harley estava perplexo, olhando para ela com os olhos arregalados.

— Por isso que foi banida? Mas se o rei disse que foi Erick, por que seu
pai acusou você? Como ele soube?

— Um dos lobos de meu pai ouviu atrás da porta de meu quarto e


resolveu me chantagear. Aceitei sua chantagem por um tempo e as coisas
começaram a ficar fora de controle. Pensei que conseguiria levar sua
chantagem adiante, mas meus recursos acabaram e não pude mais.

Ela suspirou.

— Uma chantagem sempre acaba mal — Harley disse rosnando.

— Sim. Quando já não tinha mais como pagar seu silêncio, pois dei todo
meu dinheiro, meus diamantes e outras pedras preciosas, meu ouro, enfim,
tudo o que tinha de valor e quando a fonte secou, ele contou ao meu pai.

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— Maldito!

— Pensei que meu pai ficaria zangado, mas me perdoaria, talvez um


castigo, até pensei que me enviaria de volta a Milão para que ficasse longe
dele, mas... quando pediu uma audiência com os conselheiros da alcateia, fui
julgada como uma criminosa. Ele estava fora de si de tanta raiva. Mal ouviu
meus argumentos.

— Ele passou dos limites.

— Passou? Eu traí meu pai e meu alfa. Mereci a punição.

— Não, não mereceu, porque estava se defendendo, não queria se casar


com Petrus e ele não se importou com sua felicidade.

— Acasalar com Petrus e honrar minha alcateia era minha única


obrigação.

— Falou bem, obrigação e que você não queria.

— Bem, agora não adianta lamuriar, sou uma pária e não posso remediar
isso.

— Você não, mas eu posso.

— Está dizendo que me perdoa?

— Não tenho nada que te perdoar, pois a única coisa que sinto é alívio.

— Mesmo sabendo que não fui leal?


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— Quebraria sua lealdade comigo?

— Não.

Porque não podia trair seus sentimentos.

Harley se aproximou, com o peito estufado, cheio de convicção e


angústia.

— Não pode fazer isso. Uma hora terei que partir.

— É claro que posso e Petrus acolheu você.

— Você... não está zangado com o que contei?

— Estou furioso, mas com seu pai e sua alcateia. Não com você. Você foi
usada e depois punida. O que fizeram foi injusto.

— Mas eu deveria ser leal ao meu alfa... — ela choramingou e as lágrimas


escorreram e Harley se aproximou, segurou seu rosto entre as mãos, fazendo-
a olhar para ele. Vê-la chorar, senti-la emanar toda aquela dor despertava seus
instintos assassinos.

— E ele devia ter agido corretamente. O que ele fez quase destruiu a
todos. Esta é sua alcateia agora. Pode recomeçar.

— Sua alcateia não vai me aceitar.

— Ela vai, mas o mais importante é que eu te aceito. Mas para te poupar,
não contaremos nada. Ninguém precisa ficar sabendo de nada disso. Com as
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relações entre nossas alcateias cortadas, os italianos não entrarão mais aqui,
ninguém saberá de nada. Somente falaremos com Petrus.

— Mas um dia a verdade pode vir à tona.

— Então quando vier, cuidaremos disso, mas lembre-se, sou o beta e o


que digo é lei e garanto que Petrus, como alfa, vai continuar te acolhendo.

Ela soltou um soluço.

— Você salvou Petrus, a mim e nossa alcateia. Nós a apoiaremos.

— Mas perdi tudo o que eu tinha, minha família.

— Mas tem a mim — ele sussurrou.

Harley passou os braços por detrás de suas costas e a puxou para que se
encostasse em seu peito, com seu corpo preso ao seu as palavras sumiram.

— Então você fez isso para salvar Petrus?

Ela não conseguia respirar, colada no seu corpo, sentindo seus braços
abraçá-la daquela maneira. Era tão bom e se sentia tão protegida.

— Fiz por Petrus, mas também fiz por mim. Porque quando vi a dor nos
olhos dele, quando vi sua tristeza por abrir mão de sua companheira, aquele
desalento... eu me vi... vi que aquela era eu, sentindo as mesmas coisas. Que
não era somente Petrus que estava sendo condenado, mas a sua companheira
também... eu... e você.

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Ele piscou aturdido e mal conseguia respirar.

— O... O que quer dizer?

— Eu... Eu morreria dia após dia vivendo debaixo do mesmo teto de meu
companheiro e não poder tê-lo, não poder tocá-lo. Eu morreria lentamente em
ver você e não poder ser sua.

Harley sentiu suas pernas bambearem e não conseguia acreditar no que


estava ouvindo, seu peito doía, porque o coração batia fortemente contra ele,
o impedindo de respirar.

— Eu veria a luz dos teus olhos se apagar e não podia deixar isso
acontecer. Porque a luz que vejo é como o brilho do precioso sol direto em
minha alma, aquecendo meu coração. Eu poderia suportar minha condenação,
mas não suportaria ver a sua. Ver-te triste me mataria. Porque... meu coração
sempre foi seu. Porque eu amo você...

Harley pensou que o mundo deu um giro trágico, deixando-o tonto, sua
garganta embargou e seus olhos se encheram de lágrimas.

Um surto de emoções invadiu seu coração, sua alma inflou de forma


absurda.

Tudo o que ela disse antes do “eu amo você” desapareceu e perdeu a
importância. Ela o amava e agora nada mais importava, não que importasse
muito antes.

— Oh, Pietra, meu amor...

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Ele não esperou nada e segurou seu rosto entre as mãos e a beijou. Beijou
entre as lágrimas, suspiros e um amor sufocado. Beijou para selar aquelas
palavras abençoadas, desejadas. Para retribuir, para receber, para unir e selar
seu amor.

Senhor, beijá-la era como um terremoto atingindo o peito.

Ele a beijou com sofreguidão e ela correspondeu, deixando as lágrimas


rolarem.

Beijaram-se sem se importarem com o tempo e o espaço. Somente


queriam sentir. Ele soltou de seus lábios e a abraçou forte contra o peito.

— Eu queria tanto ter dito essas palavras antes, mas não pude. Pensei que
nunca pudesse — ela sussurrou em seu peito.

Depois de um longo tempo, Harley respirou fundo, soltando para fora seu
alívio, sua dor guardada no peito, substituindo pela felicidade. Uma
felicidade até então desconhecida.

— A esperança nunca pode ser perdida, pois quando ela finalmente se


acaba, é porque paramos de lutar. E nada o fará, porque agora estamos
finalmente juntos.

Ela suspirou e o abraçou mais forte.

A beleza daquele pensamento quase a fez desmoronar sobre seus joelhos.


O amava tanto que pensava que a sensação que sentia agora era demais para
caber dentro dela.

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— Quando as coisas ficarem ruins, confusas, por favor, não desista de


mim.

— Eu nunca desistirei de você, minha Afrodite. Eu sempre soube que


mesmo que eu tivesse que ir ao Hades e voltar, eu teria o presente que os
deuses fizeram para mim: você. Eu quase perdi as esperanças, mas ela se
negou a me deixar.

Ficaram assim por um longo minuto, ambos podiam sentir seus corações
chocando-se contra o peito um do outro, porque estavam desesperados.

Harley suspirou e a olhou e eles encostaram a testa um no outro e ali


ficaram.

— Que espécie de alfa eu seria se não posso cuidar de uma alcateia e


deixo minha vida ser mais importante? — ela sussurrou.

Ele suspirou triste por Pietra se sentir tão culpada.

— Pietra, ser alfa não é se sacrificar, como uma mártir. Precisa pensar no
bem da alcateia, sim, mas tudo deve ser levado em conta.

Ele a afastou um pouco a fazendo encará-lo.

— Eu quero que saiba que estarei segurando sua mão, para passar por
isso. Se me deixar segurá-la, vou segurar muito forte, não soltarei.

Ela sentiu a comoção que atingiu seu coração. Como não amá-lo?

Por isso tomou uma decisão que mudaria sua vida. Uma que afetaria a
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ambos.

Não ficaria mais esparramada no chão, como uma perdedora. Levantar-se-


ia. Faria Harley ter orgulho dela, porque o que ele estava fazendo por ela,
ninguém mais faria. Em seu coração ele sabia que seu lobo nunca
abandonaria sua loba. Talvez aquilo não fosse somente uma reinvindicação
de companheiros. Talvez fosse mais: companheiros de alma.

Este pensamento a fez gemer e sentir os braços dele ao seu redor era um
bálsamo.

O abraço dele era o ar para respirar, a água para matar a sede, era o
alicerce que a sustentaria e que a fazia saber que podia construir uma nova
vida. A força que ela precisava.

— Você está em casa agora. Você voltou para mim e agora é tudo o que
importa.

— Onde pertenço.

— Onde pertence.

Harley a beijou, mas esse beijo foi totalmente diferente. Ela o sentiu não
só na sua boca, mas em outras partes do seu corpo também.

Ele aplicou mais pressão ao beijo e rodou sua língua ao redor da sua,
beijando-a completamente. Os corpos encaixados perfeitamente.

A avalanche de sensações novas e desconhecidas que atingiam seus


corpos e suas mentes era excitante e assustadoramente emocionante.
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Ele se afastou e deu uma mordidinha no seu lábio inferior, que foi o
choque que ela precisava para voltar para a Terra, porque depois daquele
beijo, estava na lua, no mundo perfeito e encantado, no paraíso e era bom
demais para querer sair dele.

No mundo que ela sempre quis fazer parte e tinha sonhado: ao lado de seu
verdadeiro companheiro.

— Pietra, deixe-me amá-la. Deixe-me ser seu companheiro. Você sabe


que isso é o certo, sei que sente o mesmo que eu.

— Sim, eu sinto.

Ele fechou os olhos por um minuto, porque, senhor, ouvi-la admitir foi
estupendo.

— Não tema. O que fez pode ser visto de forma errada para sua alcateia,
mas fez bem à minha. Isso que temos não pode ser ignorado.

Ela suspirou e acariciou seu rosto, levemente, o que quase o fez suspirar
como um tolo. Ele segurou sua mão e beijou sua palma, suavemente.

— Você é digna de mim, de minhas honras e desta alcateia, de ser minha


beta. Quando estiver pronta, estarei te esperando. Eu já fiz minha escolha,
agora tem que fazer a sua. Eu estarei no meu quarto, se me necessita, é só me
chamar que estarei ali por ti.

Ele se virou e saiu, deixando-a ali, atordoada, parada no terraço.

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Ela suspirou e se abraçou e ficou ali por um momento, depois foi para seu
quarto.

Sozinha.

E olhando aquele quarto, ela sabia que seu lugar não era ali.

O lugar dela era no quarto do beta, mas se sentia inferior simplesmente


porque haviam lhe arrancado o coração e seu orgulho. Haviam lhe quebrado.

Poderia renascer como a fênix, que havia sido sucumbida às cinzas e


renasceu mais forte e mais bela que antes?

Não, antes ela nunca foi livre e feliz. Era a loba boneca, somente
esperando para cumprir as ordens do pai.

E ser livre era o que queria, ser livre daquelas amarras que detestava, ser
outra pessoa, diferente daquela que foi forçada a viver por toda vida. Ela não
gostava da loba que era antes, então por que não ser, agora, a loba que queria
realmente ser?

Livre e amada pelo seu verdadeiro companheiro de alma.

E sabia o que deveria fazer: mandar todo mundo para o inferno e tomar
seu companheiro. E faria.

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Harley estava em seu quarto, que ficava ao lado do dela, e andava de um


lado a outro.

Sabia que ela estava em seu quarto, porque a ouvia se locomover e estava
segurando seu instinto selvagem de ir tomar o que lhe pertencia.

O barulho do chuveiro somente o fez pensar nela, nua, recebendo a água


quente para banhar seu corpo, que ele morria por tocar. O sabonete
perfumado que deslizava por sua pele que ele queria tanto beijar.

A visão dela deitada na cama, sobre os travesseiros que ele queria tanto
compartilhar, cobri-la com seu corpo e amá-la, entregar seu coração
definitivamente, fazê-la sua. Estar dentro dela, ouvindo seus gemidos de
prazer, mordê-la.

Harley rosnou, tentando afastar todas aquelas visões escandalosamente


dolorosas e deliciosas que faziam seu corpo ficar tão excitado que a dor
estava ficando insuportável. Retraiu suas presas, que insistentemente
cresciam quando ele não desejava.
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Quase riu de sua desgraça. Ele, um amante fervoroso, que tinha o sexo tão
facilmente, a beleza do prazer tão bem definida na sua vida, agora estava ali,
sedento, quase rastejando e implorando por sexo. Era digno de uma peça de
tragédia grega. O tolo.

Ele somente queria a ela.

Seu coração estava tão descompassado ainda revirando as palavras dela,


dizendo que o amava. Que tinha feito aquilo tudo por ele.

Petrus foi o gatilho que a impulsionou, mas o verdadeiro motivo era ele.

Zeus, ele não podia acreditar nas palavras e seus beijos, tão intensos e
doces, maravilhosos.

Estava sedento por mais. Achava que nunca teria o suficiente.

Ele andava de um lado a outro como um lobo enjaulado, desesperado, mas


queria que ela viesse por ele, que estivesse preparada para tomá-lo. Queria
que ela reivindicasse a ele e seu lobo.

Ele rosnou quando uma onda de energia emanou de seu corpo, como uma
explosão em onda, colorida e potente, que espalhou pelo quarto, fazendo com
que a luz de seu abajur estalasse em um estalo seco, soltando cacos pela
mesinha.

— Merda!

Ele se virou e olhou para a parede que os separava quando ouviu o


barulho da porta da varanda ser aberta e a música invadir o ambiente.
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E o cheiro dela invadiu suas narinas.

— Oh Zeus! — gemeu.

— Harley...

Era ela. Pietra estava o chamando.

Ele foi até a porta do quarto dela e, sem bater, abriu a porta.

A visão dela quase o cegou e o fez salivar.

Pietra estava de costas para ele, na porta aberta da varanda, usando uma
camisola de seda branca, longa até os pés que seguia as curvas de seu corpo
delicioso, e o penhoar semitransparente dançava com o vento. Seu cabelo
longo estava solto, caindo pelas suas costas e ela estava com os braços
levantados sobre a cabeça, escorados no batente da porta.

Ele não via seu rosto, mas sabia que estava em um momento de
sublimação, de oração, de onde batalhava consigo mesma.

Ela estava olhando para a imensa e bela lua que estava no céu, bem a sua
frente, enfeitando o céu escuro e perfeitamente estrelado. Ao fundo, o mar se
confundia na escuridão, trazendo sua brisa refrescante e poderosa para beijá-
la e entrar pelo quarto.

A loba estava conectada com o universo naquele momento, se


fortalecendo, enfrentando seus fantasmas.

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Tomando sua vida em suas mãos.

No aparelho de som tocava a música One and Only, de Adele, e toda


aquela cena tocou seu coração de forma absurda. Seu coração estava
disparado no peito.

Ele podia até ouvir o ruído sofrido que a sua respiração fazia ao passar
pela sua garganta embargada.

Seu perfume dançou pelo ar, chegando até ele, quase o impedindo de
respirar.

Pietra virou-se lentamente e o encarou e Harley sentiu que todo seu


mundo estava prestes a virar do avesso.

— Não quero ver aquele desalento nos seus olhos. Eu quero poder ser a
loba de maior sorte nesse mundo por ter você, para agradecer por ser
maravilhoso e quero poder te fazer feliz. Eu sou sua, Harley, sempre fui e não
fugirei mais. Eu lutarei com todas as minhas forças para estar ao seu lado e
ser feliz. E mesmo que o tempo passe, nessa longa vida que temos, o amor
que sinto por ti não vai diminuir, ou acabar. Eu te reconheço e o reivindico
como meu companheiro e nada nesse mundo vai nos separar.

Pietra caminhou até ele, parou na sua frente, o olhando com tanta paixão,
com os olhos mostrando relances de cintilar, o que o fez rosnar baixinho pelo
puro prazer que o encheu.

A forma como ela o olhava...

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Ela deslizou a mão pela sua mandíbula em um carinho doce que quase
arrancou um suspiro e então passou a mão em seu pescoço, deslizou para sua
nuca e embrenhou os dedos em seu cabelo e o puxou para seus lábios.

Quando o beijou, o autocontrole de Harley foi atirado longe e ele a tomou


nos braços e retribuiu com a mesma intensidade, com a paixão aflorada e
ânsia desesperada. Deu-lhe um beijo arrebatador, sentindo seus lábios que,
pela primeira vez, estavam cem por cento entregues, sem nenhuma ressalva,
medo ou tormento.

Harley vislumbrou do paraíso, e que os deuses o ajudassem, porque


poderia morrer naquela noite, mas morreria feliz.

Pietra soltou de seus braços e retirou sua calça, quase sem soltar os lábios
que necessitavam estar beijando-se, saciando a fome desesperada e depois
tirou sua camisa.

Enquanto tirou o penhoar, ele passou as mãos pelas alças de sua camisola,
que deslizou pelos braços dela, indo para o chão. Ela estava sem calcinha e
quando ele vislumbrou seu corpo nu na sua frente soltou um rosnado
misturado com um gemido.

Seu membro estava mais vivo que nunca, pulsante e dolorido, tão ansioso
para tomá-la e lhe dar prazer. Dar-lhe felicidade, uma vida, tudo.

Ele correu as pontas dos dedos, levemente circulando ao redor dos


mamilos dela, causando arrepios em sua espinha.

— Tão linda e perfeita. Meu lobo te reverencia, Pietra, e toda minha alma

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e coração.

Ele deu um passo à frente e a beijou tomando-a em seus braços.

A maneira que suas mãos percorriam seu corpo era para sentir cada
pedacinho dela enquanto a beijava, deliciosamente.

Beijar era tão bom que poderiam fazer isso por toda eternidade, roçando
seu corpo contra o dela. Pele contra pele.

Ela sentiu as mãos de Harley em suas costas, com a mesma ânsia e


vontade de senti-lo.

Então, ele passou o braço por baixo de seus joelhos e o outro detrás de
suas costas e a pegou no colo, saltou com ela pelo quarto e tombou na cama,
cobrindo-a com seu corpo e beijando-a mais profundamente.

O peso de seu corpo sobre o dela a fez arfar. Aquilo era delicioso, pois ele
era tão perfeito e havia tanto desejo reprimido para ser libertado.

— Você é minha. Hoje nosso mundo vai se unir. Aceita ser minha
companheira, Pietra Papolus?

Sorriu para ele com os olhos cintilando ao ouvir o sobrenome que ele já
dava a ela.

— Sim, eu aceito.

— Que assim seja.

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E ele beijou, de todas as formas, com todas as intensidades, tomando sua


boca e era tão viciante. Trilhou beijos na linha da sua mandíbula, desceu para
seu colo e seus dentes rasparam em seu mamilo, quase a fazendo chorar.

Seus beijos eram magníficos e senti-los pelo seu corpo era tão delicioso,
pecaminoso, e ele a beijava de forma intensa, quase como se fosse uma
reverência.

Harley deslizou sua mão pelo seu corpo e entre suas pernas e girou seus
dedos em seu sexo, arrancando um arfado de prazer, sentindo-a com os
dedos, atormentando-a, penetrando-a.

Ele afastou a mão e trouxe seus dedos até seus lábios, onde os sugou em
sua boca e gemeu com os olhos fechados, enquanto a provava.

A onda de necessidade que bateu sobre ela foi mais forte que tudo. Sentiu
suas bochechas queimarem pelo calor daquele ato extremamente erótico, com
seus cabelos irregulares caindo sobre seu rosto enquanto lambia seus dedos
daquela maneira escandalosa, como se seu gosto fosse a própria ambrosia,
manjar dos deuses. Então ele abriu os olhos e seu olhar cintilante, quente
como o fogo, a fulminou. Carregado de desejo e luxúria.

Tudo por ela, que sentiu-se viva novamente, na verdade viva pela primeira
vez na sua vida.

E aquele momento foi maior do que qualquer coisa que ele já tinha
experimentado.

— Você tem o sabor que faz minha mente se perder. Vou devorar você,

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loba.

Ela suspirou e soltou um gemido que o deixou mais alucinado.

Ele sorriu com o canto da boca, com promessas veladas, que ela chegou a
gemer e se contorceu pelas fisgadas que seu corpo dava. Harley sorriu
maliciosamente, se abaixou e tomou seu sexo na boca; e ela gritou porque
aquilo foi demais para aguentar enquanto ele se deleitou com ela, segurando-
a contra a cama para que ficasse à sua mercê.

Ela agarrou os lençóis com força quando ele abriu seu sexo com os dedos,
sentindo a suave textura, sentindo o quanto estava quente, tanto que podia
queimá-lo.

Seu corpo exalava um aroma que deixava seu lobo louco, cheirava tão
bem, que ele jamais poderia esquecer, seus dedos deslizaram facilmente, pois
estava molhada e escorregadia.

Harley colocou a língua no seu clitóris, dando voltas e o tomou na boca e


chupou com força. Seus quadris empurraram e ele agarrou com suas mãos
fortes e a segurou para baixo, enquanto a devorou com maestria e desejo,
banqueteando-se com louvor, como sempre desejou fazê-lo, como jamais
pensou que seria tão prazeroso.

Ele sempre gostou de dar prazer às mulheres, mas elas estavam totalmente
esquecidas. Agora, ele somente queria dar prazer a ela, dar-lhe tudo o que
tinha, amá-la sem reservas.

Porque dar-lhe prazer o deixava loucamente excitado. Queria arrancar os

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mais desesperados suspiros e gemidos. Queria mostrar-lhe que amaria seu


corpo e sua alma.

— Harley...

— Você é maravilhosa!

Com vontade ele lambeu, mordeu e provocou-a até que fez amor com sua
língua, indo e vindo e ela se contorceu forte se aproximando de um orgasmo
escandaloso. Ele retirou sua língua e seus dedos tomaram seu lugar,
preenchendo-a. Não parou até que a fez gritar arrancando seu prazer e seu
êxtase.

Enquanto seu corpo cobriu-a e sua boca exigiu a dela, num beijo intenso,
de roubar o ar e os pensamentos, ele penetrou-a, preenchendo-a com toda sua
longitude, e quando se encaixou todo dentro dela, ele mordeu seu lábio
inferior antes de sugá-lo na boca.

Pietra soltou um gemido tão erótico e desesperado, que ele pensou que
teria seu clímax, então impulsionou seus quadris para cima e empurrou seu
membro sedento de prazer dentro dela, movendo-se para trás e para frente,
até que a respiração estava quase impossível.

Ela podia sentir algo surgindo em seu núcleo novamente porque mal tinha
se recuperado do orgasmo que ele lhe deu, cada vez mais forte, mas quanto
mais duro e mais rápido ele se impulsionava dentro dela, mais ela necessitava
dele.

Uma intensa sensação se formou, até que, de repente, era puro prazer

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excruciante. Suas peles começaram a formigar e uma sensação estranha


começou a tomá-los.

Harley se moveu na cama e sentou, trazendo-a escarranchada em seu


quadril e encaixando-a contra ele, o que a fez arfar e pedir por ar.

Eles se olharam nos olhos, enquanto o prazer puramente cru exalava deles,
mas a maneira que se olhavam era terna, encantadora, como se fosse um
presente precioso. Ele a beijou longamente, e soltaram-se buscando ar.
Iniciando novamente seus movimentos.

O embalar de seus corpos estava em perfeita sintonia, numa dança sem


pudores onde o tempo e o espaço desapareceram.

Era sublime enquanto bocas se devoraram, línguas se entrelaçaram e mãos


se embriagavam do prazer de percorrer o corpo um do outro.

A magia de seus lobos estava quente, formosa e agitada, reverberando por


seus corpos e seus sentidos, tocando o paraíso e o que sentiam era como o
verdadeiro lar.

Não poderia ser diferente, já que suas almas se reconheciam. Seus lobos
se amavam e se aceitavam. O homem e a mulher se uniam num lapso do
tempo, de desejo, de destino.

Não havia palavras para serem ditas, pois as bocas estavam ocupadas, os
sussurros eram perdidos entre ofegos que nem suas mentes podiam registrar.

Harley sempre foi um lobo sedento de sexo e conhecedor da arte de

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sedução, mas estava totalmente surpreendido com os próprios sentimentos


naquele momento, com a plenitude que cada toque trazia, pois nunca havia
imaginado tal magnitude daquele ato: o sexo com amor.

O romance não era para os tolos, era para os verdadeiros amantes. Era
aquilo que estava pulsando dentro dele: o romance, o amor e o prazer de amar
sua companheira.

Ela gritou e rosnou agarrando-se a ele e quando ele a puxou para si, tão
fortemente, abraçando-a, tão encaixados, inteiros e unidos, as magias dos
dois se soltaram juntas e invadiu o quarto numa onda tão forte que estourou
todas as lâmpadas com um vento rodopiando e a névoa colorida como um
arco-íris foi observada por eles, que boquiabertos viram aquilo acontecer.

Harley ouvira relatos, mas agora acreditava que tudo era real, eles estavam
vivendo seu próprio momento.

A pura energia da natureza estava navegando em uma onda no quarto. Tão


fascinante e forte que quase o fez derramar lágrimas, atingindo o corpo, com
coração e sua alma.

Suas magias estavam se mesclando.

— Eu te tomo como minha companheira, de corpo e alma, hoje e sempre,


e prometo honrá-la e protegê-la com minha vida.

— Eu te tomo como meu companheiro, de corpo e alma, hoje e sempre, e


mesmo que eu não mais respire, seguirei te amando, porque minha alma o
seguirá até o fim deste mundo e além.

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Eles sentiram as presas alongarem, os olhos cintilarem e os seus lobos


falaram mais alto e ambos, envolvidos num poder sobrenatural que os tomou,
ao mesmo tempo um mordeu o ombro do outro, mas já estavam perdidos no
prazer do que os tomou que o mundo ao redor não importava.

Um forte orgasmo os abalou fazendo seus corpos tremerem, o rosnado


retumbou em suas gargantas.

Eles soltaram de seus ombros, sentindo o sangue em suas bocas e sugaram


a respiração com força e ambos foram jogados sobre a borda do êxtase.

A mistura de prazer e dor era tão intensa que nunca poderiam descrever
em palavras.

Harley sussurrou as palavras sagradas, na antiga língua celta, a original de


seu povo, que eram conhecidas por todos os lobos do mundo e mesmo que
falassem outra língua, do país que moravam, haviam rituais que eram feitos
como há dois mil anos.

Era a essência dos lobos, sua história e o elo que regia sua magia. E os
lobos deviam ser ensinados já na tenra idade. Eles tinham sangue celta e
viking correndo em suas veias, o sangue do rei nórdico e da rainha celta. E
isso não poderia ser negado, nunca.

A magia liberada reverberava dentro do quarto, sacudindo as coisas,


dançando como o vento, como uma onda de energia poderosa e colorida.
Algo mais estalou dentro do cômodo, mas não importava.

Antes que tivessem uma chance de se segurar, tombaram sobre a cama. A

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visão estava turva como uma nuvem de estrelas. Harley a puxou para seu
peito, abraçando-a contra o dele, com dificuldade de respirar e pensar, mal
sabia ele como conseguiu se lembrar das palavras certas.

Achava que era instintivo.

Segurou-a contra ele até que a nuvem de prazer se dissipou, e ele piscou,
voltando para a realidade, o que estava bem difícil.

Sua loba suspirou profundamente, o que o fez olhar para ela, retirando os
cabelos de seu rosto. Ela estava vermelha pelo prazer, amortecida e cansada,
mas havia uma aura mágica ao redor dela, uma que a deixou mais bonita,
mais sexy e mais dele.

Era tão prazeroso que quase podia arrancar lágrimas dos olhos. E elas
chegaram à borda, as dela romperam silenciosamente e ele as secou com o
polegar, carinhosamente.

— Tudo bem?

— Sim — sussurrou.

— Sentiu isso tudo? — ele sussurrou, com a voz embargada.

— Sim, nunca pensei em nada igual.

— Sabe o que significa, não é?

— Que somos companheiros. Mas é assim com todos os acasalamentos?

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— Não, querida. Não é.

— O que houve então?

— Como eu suspeitava... Nós somos mais que companheiros comuns,


somos companheiros de alma.

— Pode ser? Como diz a lenda?

— Sim. Tenho certeza, fomos abençoados.

— Bem que meu coração me disse.

Ele soltou o ar, com prazer e beijou seu nariz, depois um olho que ela
fechou e suavemente o outro, depois cada bochecha e seus lábios. Ele
suspirou e encostou sua testa na dela.

— Amo você, Pietra — sussurrou em seus lábios.

— Amo você, Nico Papolus.

Ela beijou seus lábios e ficaram ali, caídos, depois de se amarem, tentando
se recuperar.

Era mais do que ele pensou que seria tomá-la, era tudo mais intenso,
perfeito, quente como o inferno.

Suas aventuras anteriores foram boas, mas ele considerou que esta foi a
melhor. Única. Perfeita.

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Talvez por ter desejado tanto, por ser ela, por ele amá-la.

O sexo era diferente quando envolvia sentimentos. E gostou disso.

Estava bem demais com isso.

— Por Zeus! Eu poderia viver nessa cama pela eternidade — Harley


sussurrou, deslizando sua mão grande pelo seu quadril subindo pela cintura
fina e ela gemeu quando passou pelas costelas e tomou seu seio entre a mão,
acariciando-o.

A respiração ficou presa na garganta quando a olhou com fome nos olhos.
Fome dela, necessidade crua. Os lábios de Harley se contraíram.

— Você é minha companheira agora e este lar nunca será tirado de você.
É uma promessa.

Pietra pensou que ninguém conseguiria juntar os cacos de seu coração,


mas Harley fez. Ele sorriu lindamente, acariciando sua bochecha e ela
suspirou.

— Por que me olha assim, minha theá?

— Sabe, meu lobo, a coisa que mais me agrada quando olho para você é
quando sorri para mim. Realmente isso aquece meu coração. Você é sempre
lindo, galante e todo sexy, mas quando sorri é simplesmente perfeito.

— Nossa, meu ego foi massageado agora, mas pensei que iria elogiar
minha performance sexual.

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Ela riu e deu um tapa em seu ombro. Harley riu e a beijou.

— Isso também foi bom.

— Só bom?

— Mais que bom.

Ele riu e sua risada preencheu o quarto, o que fez o coração dela palpitar
mais rápido.

Isso era a alegria, o sentimento de arrebatamento que Pietra tanto


desejava, era se sentir solta e livre nos braços de seu amante, de seu amor.

Ela o beijou e Harley suspirou. Ainda sentiam o frisson da magia, suas


mentes ainda estavam atordoadas e a paz que sentiam era reveladora,
maravilhosa.

Uma sensação indescritível.

Harley não teve conhecimento do que houve depois, pois foi tomado de
uma paz descomunal, como se seus sentidos tivessem sido desligados e deu
um suspiro de puro deleite.

Ambos caíram no sono da paz e tudo pareceu se abrandar no mundo que


os envolvia, pois eram agora uma só alma e mesmo que o mundo estivesse
conturbado lá fora, ali, entre eles, a paz era intocável.

Unidos para a eternidade.

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Pietra acordou e estava sozinha na cama e suspirou, tentando dissipar a


bruma de seus sonhos. Ela tinha tido sonhos bons, o que era uma bênção.

Sua mão foi automaticamente ao lado da cama em busca de Harley, mas


ele não estava.

As memórias trouxeram as imagens vívidas sobre a noite anterior e ela


colocou a mão no ombro, onde Harley havia a mordido.

Não doía mais do que o resto do seu corpo.

Sorriu, um tanto encabulada, porque era consequência do sexo e o


dolorido era delicioso, de certa forma. Um sexo estupendo por sinal.

Todas as sensações que foram despertadas, que ele a fez sentir era tão
maravilhoso. Sentiu coisas pelo seu corpo que jamais pensou em sentir. Não
foi somente seu corpo que foi tocado, mas também sua alma e seu coração.

Algo inesquecível, que ela guardaria como uma relíquia em seu coração.
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Ela era companheira de Harley, estavam acasalados e não havia volta.

Fechou os olhos por um minuto para curtir a sensação que tomou seu
coração novamente e suspirou ao respirar fundo e sentir o cheiro dele nos
lençóis, na sua pele, na sua mente.

Levantou, tomou uma ducha rápida e colocou o robe de seda, que estava
abandonado no chão e saiu do quarto.

Ele estava na cozinha fazendo o café da manhã e ela sorriu quando o viu.

Parecia que estava mais bonito do que nunca, estava com os cabelos
molhados, cheirando banho tomado, usando somente uma calça de agasalho e
com os pés descalços.

Ele se virou e ficaram ali, parados por um momento, somente se


contemplando. Então, majestosamente, ele foi até ela e segurou seu rosto
entre as mãos, sorriu e deu um suave beijo em seus lábios.

— Eu ia levar o café na cama.

— Sinto muito ter estragado seus planos.

— Bom dia, theá.

— Buongiorno, mio dio — disse brincando em sua língua italiana e ele riu
beijando seus lábios, docemente.

— Você está bem?

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— Sim, eu me sinto muito bem e você?

— Melhor que nunca. Fiz um típico chá grego, lembro-me de que disse
que gostou. Não sei fazer o típico café, mas conheço um lugar que o faz
divinamente e a levarei ali. No mais, temos frutas, iogurte, hum... Baklava e
Tzatziki.

Ela riu.

— O chá está ótimo. O que é isso, Tzatzik? — disse, tentando imitar o


grego e ele riu.

— Tzatziki — repetiu devagar, e ela repetiu e sorriu. — É uma pasta de


coalhada seca com pepino, alho, azeite e hortelã, que fica estupendo com o
pão de pita.

— Parece gostoso.

— E para o almoço, teremos Klêftiko, que é pernil de cordeiro assado ao


forno com batatas ao limão e orégano. Keftedes, que são bolinhos de polvo e
Dolmades que você já comeu. São as folhas de uvas recheadas com arroz.
Sobre os temperos, não faço a mínima ideia do que sejam.

Ela riu.

— Tudo parece delicioso e isso me deu fome. Você vai cozinhar tudo
isso?

— Ham... Bem... não. — Ele riu. — Não sou assim prendado. Uma das
cozinheiras da mansão fará para mim. O que eu sei mesmo é degustar os
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pratos.

Ela riu novamente.

— Eu também não sou prendada na cozinha. Enquanto estive em Milão


ainda tive acesso à cozinha, onde aprendi algumas coisas, mas na casa de
meu pai era algo impensável. Eu na cozinha? Meu pai me colocaria na panela
e serviria loba assada. Acho que a única coisa que sei fazer bem é um
espaguete ao sugo.

— Hum, isso soa delicioso.

— Posso tentar fazer algum dia, mas não me responsabilizo.

Ele riu e a puxou pela mão.

— Bem, sente-se aqui que arrumarei a mesa para comermos.

Rapidamente colocou algumas coisas sobre a mesa e a louça e sentou do


outro lado da mesa retangular.

— Acho que temos que ter o dia para nós, podemos ir à praia, passear,
descansar e à tarde... fazer amor... desfrutar que somos companheiros.

Ela sorriu.

— Isso soou tão bem nos seus lábios.

— Sim, soa bem. Se sente bem com isso?

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— Isso parece estranho e inusitado, mas me sinto bem. Depois de todos os


acontecimentos, ter algo a comemorar parece estranho e você?

— Considerando pelo tempo que eu desejava estar assim com você,


parece-me que demorou uma eternidade, tanto que já me sentia um velho de
bengala.

Ele parou olhando-a comer e sorriu. Parecia um passarinho comendo,


delicada, olhando atentamente a comida e saboreando com gosto.

— Não precisa trabalhar hoje?

— Tinha planejado testar alguns brinquedos hoje.

— Brinquedos?

— Ah, eu e meus amigos criamos alguns brinquedos para proteger a ilha e


ia testá-los, mas isso pode ficar para mais tarde, já que estou pensando em
brincar um pouco com minha companheira. Acho que é mais divertido.

Ela sorriu lindamente.

— Seu alfa não vai se zangar?

— Não, estamos recém-acasalados. Petrus entenderá perfeitamente. Sua


mordida ainda está aparecendo um pouco, está dolorida?

Ela parou para pensar em si mesma por um minuto e estava espantada


com o que descobriu.

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— Sinto levemente. Há uma espécie de energia rodando dentro de mim.


Estou me sentindo viva.

— Estou orgulhoso de você.

Ela sorriu e seus olhos cintilaram enquanto ele rosnou baixinho.

— Não me olhe assim, senão saltarei sobre a mesa para alcançá-la.

Pietra continuou o olhando e então ela afastou a comida de sua frente e


levantou. Lentamente ela puxou o penhoar para cima de suas coxas e ele se
escorou na cadeira, sem entender o que ela estava fazendo, mas somente pelo
seu olhar, ele reconhecia o desejo, a fome.

Todo seu corpo já se excitou, seu membro inchou e ele rosnou baixo. Ela
subiu na mesa e foi engatinhando até ele, lentamente, que parou de respirar.

Bem, ela era boa em surpreender.

Com o braço ele empurrou toda a louça de sua frente para o lado, para dar
caminho e esperá-la, já morrendo de desejo, antecipando na sua mente o que
aconteceria.

Ele rosnou novamente sentindo o desejo o atingir violentamente, pois a


maneira que ela o olhava, como se movia, tão quente e sexy, fez sua boca
salivar.

A luxúria tomou conta dele e somente desejava tomá-la outra vez. Ela
parou na sua frente e seu cabelo solto escorregou e caiu para frente, pelas
laterais de sua cabeça.
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O decote de seu robe abriu e ele pôde ver seus seios à mostra e tomou-os
nas mãos e os acariciou fazendo-a arfar e ela o beijou.

Ela sentou-se à mesa e girou as pernas, colocando os pés nas laterais da


cadeira e lentamente abriu as pernas. O robe se soltou e ficou totalmente
aberto e ela estava nua, aberta na sua frente.

Respirando com dificuldade, ele deslizou a mão em sua mandíbula e tocou


seus lábios, contornando-os e ela abriu a boca e sugou seu polegar, roçando a
língua nele e ele rosnou.

Sua mente ficou embaralhada porque somente desejou que um dia ela
fizesse isso com seu membro, o colocasse na sua boca deliciosa e o sugasse e
o acariciasse com a sua língua quente.

Somente de pensar nisso, sua excitação chegou ao céu.

Depois ele deslizou a mão para seu colo, descendo pelos seus seios e pela
barriga e tocou seu sexo.

— Você é tão linda.

— Eu sou toda sua.

Ele rosnou e, com um puxão em suas coxas, trouxe-a mais para frente,
deixando-a mais na beirada da mesa, e se posicionou entre suas pernas, ainda
sentado na cadeira, sem deixar de olhar em seus olhos.

Ela arfou e seu coração acelerou, pois sabia o que ele faria e o achou
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tremendamente quente com seus olhos cintilando.

Harley era poderoso, pela forma como a segurava tão forte, com uma
pegada que a fazia tremer. Ao mesmo tempo que era gentil e dizia palavras
doces, ele sabia ser cru e selvagem, seus dedos eram firmes em sua carne,
agarrando-a com força, sem machucá-la. Ele era o tipo de cara que diziam
que tinha pegada. Ela estava descobrindo isso e adorando.

— Este é o melhor café da manhã de minha vida — ele sussurrou


extasiado.

— Ainda bem que gosta, pois não pode se arrepender, companheiro, vai
ter que tomar este café todos os dias.

Ele riu com sua brincadeira e adorou seu sorrisinho delicioso.

— Nunca vou me arrepender.

— Então me mostre o quanto gosta.

— Com todo prazer.

Lentamente deslizou as mãos pelas suas pernas, da panturrilha, por baixo


de seus joelhos até suas coxas, passou para dentro delas e as empurrou,
abrindo mais suas pernas.

Então se aproximou de seu sexo e ela prendeu a respiração sentindo o


hálito quente e ele deu uma longa e lenta lambida em seu sexo, fazendo-a
gritar e arfar.

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Primeiro ele provou, lentamente, se deliciou e a provocou, explorando


como se fosse a primeira vez, então a preencheu com seus dedos e a
penetrou, enquanto sua língua fazia a maestria de lhe dar um prazer incrível.

Ele teve seu tempo e amou dar este prazer a ela. Adorava tê-la daquela
maneira, fazê-la gemer. Sugou com força enquanto seus dedos entravam e
saíam e a tocavam por dentro.

Até que ela se contorceu estalando em seu prazer e ele a abraçou e a


puxou para seu colo, escarranchada em seu quadril e erguendo-a pela cintura
a penetrou.

Os dois rosnaram alto quando ele a preencheu, totalmente, deixando Pietra


buscando pelo ar, desesperada, gemendo pela sensação de estar inteiramente
tomada por ele. Sentindo o corpo se ajustar.

Então ela o olhou, com os lábios abertos, com a respiração errática e


embrenhou uma mão em seus cabelos da nuca e com o outro braço em sua
cintura a puxou para ele.

Dando-lhe beijos escandalosos, intensos e desesperados, com as mãos ele


a movimentava dando prazer a ambos.

Ali se perderam entre beijos e carícias, entre o sexo mais prazeroso que
podiam ter. Ele levantou com ela no colo e a sentou na mesa. Prendendo uma
mão na sua nuca, devorando sua boca, enquanto a outra mão segurava em sua
coxa, dominando seus movimentos que eram lânguidos e intensos,
despertando uma paixão selvagem.

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Ora ou outra ele dava golpes rápidos e fortes.

Ela mal conseguia respirar pelo prazer do ato, por senti-lo tão dentro dela,
para tomá-lo. E Harley rosnou, sentindo-a quente e escorregadia agarrando-o
com tanta vontade.

Depois se retirou por um momento, esfregou acima e abaixo seu membro


pulsante em seu sexo arrancando gemidos dela que ele tomava em seus beijos
intensos. Torturando-a. Entrou novamente, preenchendo-a completamente e
ela arqueou o corpo e tomou ar em desespero.

Harley era bom no que fazia, era experiente e sabia como tocar, como
excitar, como dar prazer, e dar isso a ela era absurdamente delicioso.

Amar Pietra era maravilhoso e sabia que aquilo ali era realmente especial.

Ela prendeu as pernas ao redor dos quadris dele e trouxe-o para mais
dentro dela.

— Beije-me, Harley.

— Eu te beijarei hoje, e sempre, pois adoro te beijar, nos lábios ou


qualquer outro lugar.

Ele a beijou, distribuiu beijos em seu pescoço, seus seios e encontrou o


ritmo do prazer de ambos. Forte e selvagem, levando a mente e o corpo dos
dois ao limite, tombando-os ladeira abaixo naquelas sensações deliciosas.

Os corações batiam rápido, a respiração difícil e o abraço era poderoso,


como se não quisessem se soltar nunca mais, com se fossem um só.
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Seus corpos dançavam juntos, então ele a empurrou com a mão para que
deitasse e ergueu suas pernas em seu peito e depois a possuiu fortemente,
fazendo com que Pietra soltasse gritos e arfados, e seus gemidos somente
eram mais um motivo para ele se excitar e adorá-la mais ainda.

Quando se retirou dela, tirou-a da mesa e beijou seus lábios e lentamente a


soltou, em pé na sua frente.

Lentamente Pietra se virou e se debruçou sobre a mesa, pois sabia o


quanto ele gostaria de tomar sua loba daquela maneira.

Harley somente gemeu de prazer e rosnou alto ao entrar nela novamente.


Deslizou as mãos pela sua coluna e acariciou seu traseiro empinado e roliço,
perfeito.

Ele se debruçou sobre suas costas e embrenhou os dedos em seu vasto e


sedoso cabelo, segurando fortemente, mas sem machucá-la, beijando seu
pescoço, sua orelha, arranhando os dentes em sua pele, somente aumentando
o prazer e as sensações.

E com o outro braço debaixo de sua barriga a trazia contra seu pênis.

Ele a amou, rápido e forte, levando-os ao êxtase.

Apertou seu braço nos quadris de Pietra para ter certeza de que ela não se
afastaria. Não que ela quisesse isso.

Harley rosnou outra vez, escondendo o rosto na curva do seu ombro lhes
dava o prazer final. Seu membro parecia inchar mais enquanto ele transava
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com ela freneticamente.

Os olhos de Pietra se fecharam, a boca se abriu em um grito mudo, pois


não podia pensar, apenas sentir, e ela gritou o nome dele.

As presas alongadas de Harley rasparam a parte suave do ombro de Pietra,


a língua dele se arremessou para molhar a área antes que ele a mordesse.

Dentes afiados perfuraram a pele dela e prazer e dor a turvaram enquanto


ela gozava novamente, e ele rosnou alto, que podia jurar que as vidraças
tremeram, pois seu orgasmo também foi maravilhoso, potente e descomunal.

Ele saiu dela e a trouxe para seu colo, sentando na cadeira, basicamente
tombando sobre ela, porque suas pernas tremiam.

Pietra o abraçou fortemente e eles ficaram ali, cansados, extasiados e com


as ondas do orgasmo ainda atormentando seus corpos.

Ela arfou e seu corpo tremeu enquanto Harley a abraçou fortemente


enredando todo seu corpo.

— Shhh, tudo bem, querida.

Suas mãos deslizavam pela sua pele, fazendo-a se sentir protegida em seus
braços, amada, e ele realmente amava tocá-la.

— Pelos deuses, se tiver isso todos os dias, morrerei — ele sussurrou com
a voz entrecortada porque precisava respirar, com o coração batendo forte e o
peito subindo e descendo com força, com a pele molhada pelo suor.

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Ele sorriu quando ela riu e sua risada foi abafada em seu pescoço.

Sua cabeça deu voltas enquanto seu orgasmo se desvanecia e seus dentes
retrocediam.

Pelos deuses do Olimpo, ele a tinha mordido no ombro outra vez, e ele
piscou aturdido com a informação, pois a lembrança do ato era muito vaga. A
luxúria tinha o deixado tão inebriado que seu lobo havia saltado.

— Eu machuquei você? — perguntou preocupado.

— Não.

— Desculpe se fui bruto.

— Não foi bruto, foi estupendo.

Ele suspirou e acariciou suas costas e beijou sua bochecha, com pequenos
e suaves beijos.

Pietra se apartou e o olhou fixamente, como se estivesse ébria.

Beijou-o nos lábios, acariciou seu rosto, olhando-o tão intensamente, com
tanto carinho. Gostando de cada pedacinho do rosto dele, amando como ele
se mostrava a ela.

Aquelas pequenas carícias depois de um sexo estupendo daquele


significava tudo.

— Que tal terminarmos nosso café? Acho que ele foi interrompido.
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Ele riu e a beijou.

— Perfeito.

Harley beijou seu ombro, pegou um pedaço de pão de pita, mergulhou na


pasta e ofereceu na frente de sua boca e esperou que ela abrisse.

— Vamos, passarinho, vou alimentá-la, pois seu estômago está fazendo


ruídos estranhos.

Ela riu, se afastou e tapou a boca, envergonhada e com as bochechas


vermelhas.

Ele adorava seu jeito tímido, simplesmente maravilhosa.

Inacreditável que ela pudesse ser tímida e envergonhada e também


poderia ser tão sexy e quente, que fazia sua mente girar.

As delícias e magias das lobas.

Isso o excitou novamente. Ele pensava que isso seria permanentemente


delicioso.

— Faça seu macho feliz, abra esta linda boquinha.

Ela abriu a boca e ele colocou o pedaço na sua boca e quando ela fechou,
sugou as pontas de seus dedos.

Prazer simples, puro e sublime.

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Os dois tomaram a refeição e Harley alimentou sua fêmea, dando


pequenos bocados em sua boca e ela fez o mesmo com ele e ambos sorriram
um para o outro, curtindo aquele momento.

— Estamos fazendo a coisa certa? — ela sussurrou.

— Querida, acho que estamos fazendo isso direitinho.

Ela riu e ele ajeitou seu cabelo molhado para trás e acariciou seu rosto e se
beijaram docemente.

— Não me referi ao sexo, bobinho, me referi ao acasalamento. Não foi


precipitado?

— Não.

— E se eu desapontá-lo?

— Bem, darei uns tapas no seu traseiro, e ficará de castigo.

Ela riu e suas bochechas ficaram vermelhas.

— Não teria coragem.

— Sou um amante com a mente aberta, adorarei dar uns tapinhas no seu
traseiro.

Ele riu e para demonstrar que estava falando sério, deu-lhe um tapinha e
ela soltou um gritinho e deu um tapa em seu ombro.

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Pietra riu novamente e suspirou e ele segurou seu rosto entre as mãos.

— Estamos fazendo o que é certo. Se tivermos problemas,


solucionaremos. O importante é que estamos juntos.

— O faremos.

Ele a afastou um pouco e olhou sua barriga e a cicatriz da operação


parecia somente uma fina linha.

— Aqui não dói?

— Não. Hoje parece que tudo parou de doer.

— Tomou seus remédios hoje?

Ela ficou sem jeito, mas assentiu.

— Isso te envergonha?

Ele rosnou.

— Não, não me envergonha.

— Sou deficiente.

— Tem uma deficiência, não é uma aberração ou algo assim.

— Muitos lobos matam os filhotes deficientes.

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— Eu não me importo se tem uma deficiência, Pietra. O que me incomoda


é que tenha escondido isso. Petrus sabia?

Ela negou.

— Por que não contou?

— Meu pai me proibiu.

Ele suspirou indignado.

— Uma imensa estupidez. E se te acontecesse alguma coisa, não


saberíamos o que estava havendo e não poderíamos ajudar. Você sofreu por
causa disso quando estava sendo operada, vi sua dificuldade de respirar no
helicóptero. Podia ter morrido. Já teve alguma crise assim?

— Sinto muito. Sim, já tive, por isso meu pai queria que não me
envolvesse em problemas, para evitar crises. Era vigiada e protegida. Na
verdade, não fazia quase nada que pudesse afetar meus batimentos cardíacos
nem meus pulmões.

— Seu pai não tinha miolos. Ele tentou empurrar você para Petrus de
todas as maneiras e, inclusive, ocultou que tinha problemas de saúde.

— Petrus era um alfa, ele não queria que me rejeitasse por ser deficiente.

— Pietra, Petrus jamais faria tal coisa.

— Muitos lobos fazem. Uma alfa deve ser perfeita.

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— Mas que merda. Eu penso que a alcateia de Roma vive na Idade Média,
não é possível tanta barbaridade.

— Você gosta menos de mim por saber que tenho deficiência?

Ele rosnou.

— Primeira coisa. Pare de falar que tem deficiência, você tem um


problema de saúde, nada mais. Sabe me dizer exatamente o que você tem?
Ester não conseguiu decifrar seu problema.

— Eu não sei exatamente, os médicos de minha alcateia sempre


desconversaram quando eu queria detalhes, um nome. Somente diziam que
tinha uma anomalia no pulmão e no coração e me davam os remédios. Eu não
tinha muita opção para pedir outras opiniões, já que não podia ir a um médico
especialista humano.

— Sim, isso é uma verdade.

— Ouvi uma vez um dos anciões dizer ao meu pai que eu carregava a
marca da maldição. Perguntei a minha mãe e ela desconversou dizendo que
os anciões muitas vezes diziam tolices.

Ele rosnou e a olhou incrédulo.

— Mas que merda!

— Esse foi um dos motivos no qual sempre fazia tudo para ser a boa loba,
para que meu pai não se envergonhasse mais de mim.

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— Seu pai era um idiota, creio que já disse isso.

— Isso não te incomoda?

— Não. Eu também tenho algum defeito.

— Tem? — perguntou espantada. — Eu não vi nenhum.

— Às vezes, eu ronco.

Ambos riram e aquele assunto se dissipou e ela pegou a xícara e bebeu um


gole de chá e colocou-a nos lábios dele, que bebeu. E este gesto lhe agradou.

— Primeiro disseram que você não era bom o suficiente para mim. Era
impossível. Agora dirão que eu não sou boa o suficiente para você. Que é
impossível — ela disse o olhando.

— Todos falam demais. Eu não ligo para o que os outros pensam.

— Então seremos bons um para o outro.

— Sim, hoje e sempre. Se aquelas pessoas viraram as costas para você,


talvez elas não te merecessem.

— Eram minha família.

— Eu sei e prezamos muito a família, mas quando ela não te compreende


e não se importa com você, quando te machuca, é hora de procurar uma nova.
As pessoas deixam de amar. O fato de continuarem juntas não significa amor
e sim obrigação.
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— Nunca vou deixar de te amar.

— Eu também não.

Ele suspirou e encostou sua testa na dela e ficaram assim por um minuto,
com os olhos fechados, vivendo aquele momento intenso.

Era um grande passo, principalmente para ela, se agarrar à felicidade que


surgia na frente e não permitir que sucumbisse à tristeza. Harley ainda não
podia acreditar que a tinha nos seus braços. Como ela correspondia a ele. A
lenda dizia que a companheira seria perfeita em tudo. E era.

E os lobos seriam fortes e perfeitos juntos, haveria uma harmonia e paz


interior jamais conhecida.

O amor tranquilo, suave como a brisa os beijaria e seria tão forte capaz de
destruir montanhas.

A paixão seria intensa como o fogo e uniria seus corpos como se fossem
fundidos. Suas magias se uniriam e seriam fortes juntos.

Eles podiam sentir esta força agora.

Inebriado com o momento, Harley sentia-se como se tivesse repousado


sobre uma nuvem. Vagando pelo céu, longe do mundo, e que ao fundo
estivesse soando cânticos angelicais.

— Bem, o que faremos hoje? Que tal eu ser um bom anfitrião grego e
mostrar à minha theá as belezas da Grécia? Além de nossa ilha? Temos
muitos lugares belos para te mostrar.
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— Oh, será meu guia turístico?

— Com todos os relatos históricos e mordomias, talvez eu possa lhe dar


umas coisinhas extras. Sabe, serviço VIP — disse sedutoramente.

— Sério? Não estou bem certa sobre estes extras e servicinhos VIP. Sobre
o quê estamos falando?

— Ah, não posso descrever, prefiro te mostrar. — Ela riu. — É uma


lobinha curiosa.

— Eu sou e aceito seu convite tão generoso.

— Sabe, eu não sei sua idade. Quando você nasceu?

— Bem, nasci em 1937.

— Bem, é uma lobinha nova, oitenta anos.

— Sim. Quantos anos você têm?

— Eu tenho 155 anos. Nasci em 1862.

— É muito tempo.

— Sim. Passei muitas fases da evolução, tanto de tecnologia, âmbito


social e até de comportamento.

— Tinham libertinos em 1862?

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Harley riu alto.

— Sim, tinha. Creio que nossa noite de amor um tanto quente tenha
quebrado suas regras.

— Oh, sim, o fez e devo dizer que estou totalmente propensa a quebrar
todas as outras e saltar na minha educação sexual anos-luz.

Ele soltou uma enorme gargalhada.

— Sério? Terei que ter relatos de seus desejos para que possa solucionar
este problema. Esse déficit educacional.

— Também não sou assim tão lerdinha.

— Hum, também não estou totalmente convencido disso, mas você é


muito quente, garota.

Pietra riu e o beijou.

— Precisamos de malas — ele disse.

— Malas?

— Sim, vamos para Creta.

— Ok, eu farei as malas. Mas eu não tenho muitas roupas, Harley. Nem
um biquíni.

— Não tem, mas terá. Iremos a Creta e compraremos tudo o que necessita:
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um protetor solar, biquíni, vestidos, calcinhas, etc. Aliás, você não precisa
usar calcinha.

— Como não? — perguntou rindo.

— Imagina que tesão, olhar para você e me lembrar que está sem calcinha.

Ela riu e deu um tapa em seu braço.

— Descarado.

— Que tal um banho de mar antes de irmos?

— Parece delicioso.

Ele saltou da cadeira, segurando-a pelas costas e com um braço debaixo


do seu traseiro e foi para a varanda.

— Seu desejo é uma ordem.

Ela gritou e riu quando ele saltou da varanda sobre duas pedras e sobre a
areia de uma pequena enseada.

A areia era branca e a água do mar tão clara e parada que parecia uma
piscina. Ele correu e saltou alto e longe e caiu dentro da água e tombou com
ela e os dois rolaram e se abraçaram brincando na água.

Um momento perfeito e cheio de felicidade dos dois. Pietra estava


gargalhando, porque ela tinha virado as costas para sua dor e se entregou
naquele momento com ele.
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Como não fazê-lo? Ele contagiava com sua risada, era espontâneo, estava
feliz.

Bem, eles estavam perdidos no seu mundo de prazer, somente existia


Harley e Pietra ali, mas o que eles não viram era que de longe havia olhos os
observando e não pareciam muito contentes.

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Harley e Pietra foram de lancha até Creta e ele a deixou na marina, na


península privada onde habitavam outros lobos de sua alcateia.

Toda aquela área era privada e turistas, ou mesmo cretenses humanos, não
poderiam entrar sem permissão, pois um grande muro cercava a propriedade
e, para todos os efeitos, era um condomínio fechado.

Ali os lobos tinham a privacidade de andar à vontade e se transformar em


lobo para correr, sem ter o problema de serem vistos.

Acima da colina, paralela ao muro, havia árvores altas que impedia a


visão da estrada.

Aquela parte da ilha de Creta somente podia ser vista da Ilha de Alamus
ou pelo mar.

Havia custado um bocado de trabalho, dinheiro e tempo para conseguir


isolar aquela península, mas lobos sabiam os meios para se ocultarem de
humanos enxeridos. Mesmo que algum barco passasse por ali, não poderiam
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atracar na marina. E nem se aproximar dos lobos.

Um lobo veio receber Harley e Pietra com um sorriso caloroso.

— Beta, que prazer tê-lo aqui novamente.

— Como vai, Dom? Tudo na paz por aqui?

— Sim, tudo na paz. Já deixei sua moto pronta. Achei que gostaria de usá-
la. O carro também está abastecido.

— Obrigado. Quero que abasteça a lancha, pois pretendo usá-la mais tarde
e arrumaram nosso quarto?

— Sim, beta, tudo foi providenciado como pediu ao telefone. Quero


parabenizá-lo por sua companheira, foi um enunciado um tanto febril para os
lobos da casa, mas estamos muito felizes.

— Esta é minha companheira, Pietra Papolus, sua beta.

O lobo a olhou com um sorriso amistoso e fez uma reverência honrosa,


com a mão no coração, o que a fez respirar aliviada e sorrir.

— É uma honra, senhora, seja bem-vinda.

— Obrigada.

Harley conduziu Pietra pelo píer, sempre com a mão em suas costas e ela
gostava disso nele. Quando chegaram à casa, ela ficou deslumbrada. Era bem
ao estilo grego, branca com as janelas azuis e com muitas floreiras coloridas.
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— É lindo.

— Sim, sabia que gostaria. Quando quis me mudar, pensei em vir aqui,
mas ir e vir de Alamus para cumprir minhas obrigações como beta me
custaria tempo e prefiro aproveitar este tempo para estar com você.

— A casa em Alamus também é preciosa. Todas estas casas e comércios


são de lobos?

— Sim. Depois de nossa propriedade há alguns que mantém comércio


para os turistas também. Em Chirisi mantemos um hotel de luxo. Lá há lobos
e humanos trabalhando juntos. Sem que eles saibam de nós, obviamente —
ele disse abraçando-a.

— Alguém aqui sabe?

— Alguns, mas mantém a boca fechada.

— Como conseguem?

— Dinheiro, medo e poder. O delegado de Creta é um lobo.

— Estrategicamente colocado ali.

— Exatamente.

— Acho que em minha alcateia também é assim.

— É assim com todas, ajuda na nossa proteção. Ossos do ofício. Falando


em sua alcateia, eu sei que usava marcas famosas de roupa e sapatos, acho
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que não temos isso aqui em Creta, talvez em Atenas tenha algo, mas podemos
providenciar.

— Não é necessário.

— Que marcas costumava usar, Pietra?

— Chanel e Louboutin, Dior, Armani...

— Bem, podemos ver isso.

— Eu não quero, Harley.

— Por quê? Eu posso comprar isso para você.

Ela o olhou e suspirou e seu coração inundou de mais amor por ele.

— Eu sei que pode. Tenho certeza de que aqui em Creta tem boas roupas
e estarei muito bem com elas.

— Não quero que pense que não as merece, porque o faz. Não quero que
pense que porque te tiraram tudo não merece tudo novamente.

— Ok, então se um dia passarmos por uma Dior, então deixarei que me dê
algo, mas se não for, tudo bem. O que busco agora não são futilidades,
Harley. Eu desejo realmente encontrar um sentido para minha vida. E roupas
de grife não é minha prioridade agora. Há algumas coisas que não quero mais
e acho que não são mais importantes para mim agora.

— Você é maravilhosa. — Ele beijou sua testa e a abraçou. — Só quero


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que se sinta bem.

— Nunca estive melhor.

— Ok, então, nós iremos às compras, depois te mostrarei um lugar que


acho que gostará.

Ela sorriu e ele a beijou, suavemente, depois foram até o carro e saíram às
compras.

Harley a acompanhou e deu opinião sobre as roupas e os dois se


divertiram fazendo aquilo. Era algo banal, mas estavam curtindo qualquer
coisa juntos. E ele teve toda a paciência do mundo nas suas provas.

Estava sentado em uma poltrona e ficava vendo-a desfilar as roupas para


ele, pois a chamava para ver e dar sua opinião. E vê-la bonita sempre era uma
carícia em seu coração.

Tudo estava indo bem, até a moça sair e ir buscar outro tamanho de roupa
na loja e ele invadiu a cabine e fechou a porta.

— Harley! O que está fazendo?

Ele rosnou, olhando-a de calcinha e sutiã.

— Nada de mais, somente matando minha saudade.

Ele a imprensou na parede no provador e a beijou, como nunca, como se o


mundo estivesse acabando e gemeu em sua boca, deslizando suas mãos pelo
seu corpo.
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— Harley, a mulher pode voltar!

— Deixe a mulher para lá, necessito beijá-la.

E assim o fez, beijou e beijou, ergueu-a escarranchada na sua cintura e ela


o abraçou pelo pescoço e se deleitaram, e quando as coisas ficaram quentes,
deixando os cheiros de seus corpos embriagá-los, os toques se tornaram mais
quentes, poderosos, queimando-os como fogo, já estavam esquecidos do
mundo lá fora daquele provador. Ele a excitou, mordeu os bicos de seus seios
sobre a lingerie, excitou-a com os dedos.

E quando a mulher voltou, bateu na porta da cabine. Ele soltou de seus


lábios com dificuldade.

— Senhora, trouxe o vestido.

Pietra o olhou com os olhos cintilando e riu, tapando a boca com a mão,
com as bochechas vermelhas e ele sorriu, com aquela cara de safado que a
deixava louca.

Ele não estava nem um pouquinho envergonhado de sua depravação


pública.

Ela abriu a portinha, colocou a mão para fora, pegou a roupa e fechou a
porta rapidamente.

— Senhora, acho que o senhor deveria sair daí de dentro.

Ela soltou uma risada, envergonhada e excitada pela aventura sexual em


pleno provador da loja.
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Harley rosnou, ele não estava muito a fim de sair, queria continuar o que
estava fazendo, mas ela se soltou dele e o empurrou para fora e fechou a porta
rapidamente e riu mais ainda.

— Somente estava a ajudando a fechar o fecho — ele disse.

A senhora olhou para um Harley excitado, enorme, diante de seus 1,50m


de altura e descabelado.

Bem, a senhora, com certeza jamais esqueceria a visão daquele homem e


ele rosnou novamente e se jogou no sofá, gemendo por estar excitado demais
e suas calças jeans estarem o espremendo como uma laranja.

Mas então ele riu, passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, satisfeito
consigo mesmo, feliz mais do que nunca.

Suas aventuras com sua companheira estavam tempestivas.

Tudo era delicioso com ela. Até seu descontrole era delicioso.

Voltaram para a casa com várias sacolas de compras e almoçaram, mas


antes eles correram para o quarto e mataram aquela excitação que havia
ficado em banho-maria e entre risadas e arfadas eles fizeram amor.

Depois do almoço, quando ela foi arrumar as roupas, ela percebeu que não
tinha comprado lingeries e foram de moto até uma loja famosa na cidade.

Mas a experiência de Harley participar das compras dessa vez não


funcionou. Primeiro pela sua luxúria, pois ela tinha um porte de modelo da
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Victoria’s Secret e a imaginou na lingerie sexy cada vez que olhava para
uma.

Além disso, ela o mandou para fora e ficou sozinha na loja, pois não
queria que ele visse as lingeries para lhe fazer surpresas e outra, porque a
atendente praticamente jogou os peitos de um decote escandaloso sobre ele,
descaradamente.

Se Harley não saísse, ele poderia jurar que Pietra morderia a garganta da
moça. Isso inflou seu ego e, zombeteiro, a beijou descaradamente e de forma
voluptuosa na frente da moça, para mostrar que ele tinha uma mulher e não
estava interessado em outra e, então, saiu da loja.

Pietra tinha olhado satisfeita para a moça, que parecia mais derretida que
uma maionese na sua frente.

Mulheres sabiam ser descaradas. Pietra colocou um sorriso no rosto e


empinou o nariz.

Ela não estava usando lentes o que fez a moça sentir uma inveja mortal
dela, por causa dos seus olhos incríveis, mais ainda por causa de Harley e
todo o resto. Pietra derramou seu olhar assassino sobre a mulher que quase
virou uma minhoca.

Bem, de qualquer forma, todas poderiam olhar para ele e babar, porque
Harley era dela e somente ela podia tocá-lo. Um sentimento de poder emanou
dela e ela sorriu. Sentia-se mais confiante, mais forte e estava gostando disso.

Quando saiu, ele estava sentado na moto, escarranchado, com as pernas

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longas e musculosas, firmemente pousadas de cada lado da moto, no chão,


com os braços cruzados no peito, óculos escuros e ela o achou magnífico.

Quando ele a olhou, mesmo com os óculos tapando sua visão, sentiu seu
olhar quente.

Quando olhou para as sacolas de lingeries, sua imaginação depravada já a


tinha visto usando-a vindo para ele.

Harley sorriu de suas tolices.

Um homem apaixonado pode ser tolo às vezes, mas quem se importava?

Ele não.

— Que estúpido, deveríamos ter vindo de carro. Por que não pediu que
entregassem as sacolas em casa?

— Desculpe, eu esqueci, é que isso também não pesa nada. Posso muito
bem levá-la.

— Vai me deixar ver o que comprou?

— Esta é a ideia, mas não agora.

Ele rosnou em antecipação e ela montou em sua garupa. Voltaram para


casa para deixar as sacolas.

— Bem, vamos passear, theá.

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— Ok, e aonde vamos?

— O lugar que vou te levar requer um biquíni.

— Uma praia?

— Sim, uma praia. Ela é diferente, você vai gostar.

— Diferente como?

— Essa é a surpresa.

— Ok... vou me trocar.

— Pode colocar uma bermuda, pois vamos de moto, dessa vez vamos
pegar a outra, a minha especial.

— Outra Harley Davidson, suponho.

— Obviamente. — Eles riram enquanto Pietra foi se trocar.

Quando ela viu a moto que iriam andar, ficou boquiaberta. Era esplêndida.
Preta com labaredas de fogo pintada no tanque em tons de vermelho, laranja
e amarelo, deixando a máquina com ar selvagem.

Parecia aquelas dos filmes de motoqueiros selvagens.

— Acho que isso aí não combina com uma bermuda jeans e biquíni — ela
disse impressionada.

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— Garota, combina com couro, já sei. — Ela riu. — Mas não podemos ir
à praia de couro, mas podemos providenciar isso para outro dia.

— Bem, seria divertido, mas não tenho roupa de couro.

— Oh, baby, seria. Você ficará quente em couro, prometo levá-la em


Atenas e ali compraremos uma roupa pra você, infelizmente aqui em Creta
não há.

— Ok, acho legal estas calças de couro e botas e tudo mais.

Ele riu e a olhou com um olhar malandro, de cobiça. O homem sabia ser
quente sem fazer nenhum esforço e fazê-la esquentar rapidamente. Estava se
sentindo uma depravada, mas a sensação era deliciosa.

— Pode ser quente.

— Vou te mostrar o que é quente, garota.

— Mal posso esperar.

Ele rosnou e ela suspirou, subiu na moto e colou nas suas costas e quando
o abraçou pela cintura, ele rosnou novamente.

— Companheira, teremos um momento exibicionista.

— Pensei que lobos deveriam ser discretos, garanto que não existe uma
garota que não olhe para você sobre esta moto.

Ele sorriu lisonjeiro.


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— Oh, sim, todas as garotas quebram o pescoço para me olhar e isso faz
muito bem para meu ego, mas não que me importe com elas, com você na
minha garupa.

— Acho bom — disse rindo.

— Zeus, consegui uma companheira ciumenta?

— Não pretendo dividir meu companheiro.

— Querida, te darei cada pedacinho deste enorme corpo, exclusivamente


para você, para usá-lo o quanto quiser. Só para você.

Ela riu.

— Isso me agrada muito.

Harley riu e seguiram pelos caminhos de Creta.

Creta era uma ilha belíssima, com muitas ruínas para apreciar e Harley ia
passando lentamente por tudo e contando a história, narrando acontecimentos
e obviamente que ambos chamaram toda a atenção para si.

Ambos eram muito altos, ele media 1,98m e ela 1,85m, além de seus
corpos belos e seus rostos parecendo os próprios deuses gregos. Sobre uma
Harley Davidson, então...

Querer passar despercebido era praticamente impossível.

Quando chegaram à praia, que ficava no oeste da ilha, ela desceu da moto,
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entrou na areia e ficou boquiaberta.

— É rosa! A areia é rosa! Isso é lindo, Harley!

Ele riu.

— Sim, sabia que gostaria. Eis uma das maravilhosas praias de areia rosa.

— Como se chama esta praia?

— Elafonisi.

Ela riu e pegou a areia na mão para poder ver de perto.

— A cor da areia é causada pela abundância de sedimentos vermelhos dos


tubos de coral misturados com a areia branca. Vermelho com o branco, de
longe fica rosa. Somente vemos os esporos separadamente quando a olhamos
bem de perto. Foi eleita a melhor praia da Grécia.

— Realmente é maravilhosa. A natureza é tão cheia de encantos, se eu


viver quinhentos anos ainda não verei tudo.

— Em relação a isso temos uma vantagem sobre os humanos, pois temos


mais tempo.

Harley a pegou pela mão e a bolsa e andaram para o lado mais isolado da
praia onde ficariam longe das pessoas, a praia não estava movimentada, por
sorte, e ele esticou uma grande toalha na areia.

Ela tirou a roupa e ele a achou divina com seu biquíni branco, óculos
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escuros com aro branco e um glamoroso chapéu de abas largas.

Tudo que Pietra usava a deixava elegante e sedutora. Era de sua natureza,
pois mesmo usando um trapo rasgado a acharia bonita e elegante. E seu corpo
era maravilhoso.

Ele pensava que nunca deixaria de desejá-la e achá-la bonita.

— Por Zeus, que tortura! — ele gemeu e desviou o olhar para o mar.

— O quê?

— Isso que está usando é sexy.

Ela sorriu e ele somente sentiu mais tesão.

— Obrigada.

Ele passou a mão sobre sua barriga e ela seguiu o olhar.

— Sua cicatriz diminuiu, somente consta uma linha.

— Sim.

Ele tocou seu rosto, e o canto de seus lábios.

— Seu rosto também, não há mais nenhuma marca.

— Acho que foi sua magia, ontem estava mais marcado.

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— Verdade.

— Se tivesse ficado marcada ainda gostaria de mim?

— Sim, eu a amaria da mesma forma.

— Você é muito bom.

Ela sorriu e o abraçou e ele a beijou, um beijo longo e delicioso, então,


num solavanco ele se afastou.

— O que foi? — perguntou atordoada.

— Se não parar de me agarrar aqui te deitarei nessa areia e te tomarei. Eu


acho que seria um escândalo já que tem pessoas na praia.

Ela riu.

Ele suspirou para espantar seus pensamentos pecaminosos, tirou o


mocassim e a camiseta, a bermuda jeans, ficando somente com a sunga de
banho, pegou um coral vermelho do chão e mostrou a ela.

— Está vendo? É este aqui, seus esporos estão espalhados por toda a areia.

— Oh, como é lindo, posso levá-lo como lembrança?

— Claro que pode, inclusive pode levar a mim, para onde queira — disse
com um sorriso malandro.

Ela riu e o olhou. E seus olhares se prenderam admirando um ao outro.


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— Você é um descarado.

Ele colocou a mão no coração com uma pantomima exagerada e arfou.

— Destrói meu coração, minha theá.

— Pobre lobo — disse sorrindo.

Ele rosnou e a beijou, puxando seu corpo para o dele, depois ele a afastou
um pouco com as mãos na sua cintura.

— Precisa é de um banho frio para apagar seu fogo.

— Acho isso difícil. Mas um banho de mar seria bom.

Ele sorriu, tirou seus óculos e seu chapéu, pegou na sua mão e a levou
para a água.

A praia era tranquila, com o mar azul-turquesa resplandecendo sua beleza


e sua calmaria. A praia não era funda, por um longo pedaço de areia e eles
rolaram ali, se abraçando e se beijando e brincaram como duas crianças e
Harley a levou mais para o fundo e ficou em pé, segurando-a escarranchada
em sua cintura.

Pietra se soltou de seu pescoço e deitou para trás, e ele sorriu, segurando-a
ainda escarranchada na sua cintura e a segurou para que boiasse, acariciando
sua barriga e seu colo.

Ele a movia na água e achou lindo o contraste e beleza daquele


movimento, sua pele branca e perfeita com o biquíni com o contraste da água
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azul e límpida que dançava ao redor dela e seus longos cabelos dançavam na
água e ela tinha um sorriso no rosto, que encheu seu coração de alegria.

Harley estava recuperando sua companheira, porque estava realmente feliz


com ele. Ele se abaixou e deu um beijo em seu colo e em seu queixo e ela o
abraçou pelo pescoço enquanto a ergueu. Depois que a soltou, de mãos dadas,
saíram da água porque começou a ficar mais agitada por causa do vento e ele
correu e se jogou na areia e ela fez o mesmo e deitou sobre ele.

E eles riram, beijando-se.

— Isso me lembra de algo, acho que já vi essa cena em algum lugar.

— Burt Lancaster, no filme A um Passo da Eternidade, lançado em 1953.


Acho que foi um dos filmes mais marcantes da época.

Ela riu.

— Ah todas as moças achavam ele maravilhoso e desejavam ser aquela


mocinha naquela praia, ganhar aquele beijo tão arrebatador.

— Então tem o sonho de ser beijada daquela maneira na praia?

— É o sonho de toda garota.

— Ah vai me dizer que era fã dele?

— Sim, é claro, assisti a todos seus filmes, assim como os de James Dean.

— O rebelde sem causa.


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— Ele tinha uma causa, a aventura e vontade de descobrir a vida.

— Sem dizer dos hormônios.

— Bem, sim. Você tem cara de que foi um rebelde sem causa dos anos 50.

— Garota, eu fui um daqueles típicos rebeldes dos anos 50, de onde acha
que veio minha paixão pelas motos, jaquetas de couro? Eu usava até a
brilhantina.

Ela riu com vontade e ele também. Em seguida, Harley passou a mão na
sua nuca e a trouxe para um beijo quente, intenso e foi maravilhoso.

Somente pararam de se beijar quando uma onda os atingiu e eles riram.

— Bem, nossa cena está completa.

— Acho que mais perfeita.

— Sim. Sabe o que vamos fazer?

— O quê?

— Viajar daqui mesmo. Não vamos voltar à Alamus. Eu prometi te


mostrar a Grécia, pelo menos alguns lugares.

— Sério?

— É claro, vamos ter nossa lua de mel.

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Era riu e o beijou.

— Ficarei feliz. Vou adorar conhecer a Grécia, somente o pedacinho dela


que conheço já amo.

Quando foram para casa estavam inebriados com uma nova felicidade.

Mais à noite, os dois nus banhavam-se preguiçosamente na banheira,


rodeada de velas com um delicioso vinho e doces carícias.

Para arrebatar mais o coração de Pietra, se é que isso fosse possível, ele a
banhou, lentamente, com suas mãos ensaboadas, deslizando pela sua pele
escorregadia e suave.

Lavou seus longos cabelos com uma delicadeza que ela se espantou.
Enterneceu-se mais e ela fez o mesmo com ele.

Como não amar gestos como aqueles?

Toques que significavam mais do que contatos sexuais, toques que


expressavam um amor que havia chegado e estava tomando forma segura.

Essa era a promessa aberta que vinha de suas almas, de seus corações
inebriados.

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— Acha uma boa ideia ficar perambulando pela Grécia com uma pária?
— Petrus perguntou ao telefone.

— Ela não e mais pária, é minha companheira e aqueles carcamanos não


pisariam na Grécia. Não devem ser tão estúpidos.

— Pode, pelos menos, tomar cuidado?

— Estou atento, como sempre estive. Não é porque estou apaixonado e


acasalado que fiquei burro ou cego.

— Sério? Parece-me meio abobado.

Harley rosnou e Petrus riu.

— Cale a boca.

— Olhe, sei que quer ter privacidade com ela, mas sempre é bom ficar
atento. E aqui eu tomarei conta. As pessoas estão especulando sobre seu

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sumiço com ela e obviamente que já falam de seu acasalamento, que parece
ter vazado de algum lado.

Harley rosnou quanto a isso. Pessoas gostavam de fofocar.

— Bem, é o que é. Ela é minha companheira e pronto. Quando voltarmos,


eu verei como apresentá-la formalmente, agora somente quero me divertir
com ela e fazê-la esquecer de toda esta merda.

— Ok, então se divirta, mas não deixe de me ligar e dar notícias.

— Sim, papai.

Petrus riu desligou o telefone enquanto Harley seguiu em sua viagem com
sua adorada companheira.

A viagem estava mais maravilhosa do que sequer imaginaram que seria.


Além do ambiente proporcionar um bom romance, Harley e Pietra estavam se
sentindo bem juntos, aprendendo a conviver um com o outro, conhecendo
seus gostos, pensamentos e ideias, comportamentos.

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Sair de Alamus foi um sopro para que eles pudessem ser eles mesmos,
sem medos. Aos poucos, Pietra estava adquirindo confiança e tentava
fortemente afastar seus medos e aquele complexo de inferioridade que havia
se apossado dela.

Mesmo com o passeio ele permanecia sempre atento aos olhos humanos,
preocupado que não deixassem ninguém perceber sua verdadeira origem,
cuidando de sua fêmea como se fosse um cão de guarda.

Visitaram diversos sítios arqueológicos e Harley também a levou a


Knossos, em Creta, onde o grande mito de Minotauro surgiu.

Ali ficava o palácio do rei Minos, o mais conhecido rei da civilização


minoica, onde teria o famoso labirinto com o Minotauro e também tinha a
história de Dédalos e Ícaro. Apesar de várias especulações, o verdadeiro
labirinto nunca foi encontrado.

Ao visitar as ruínas do antigo palácio e as restaurações que estavam sendo


feitas através dos anos, eles ouviram a entusiasmada explicação do guia
turístico.

Harley sorria em somente ver o brilho dos olhos de fascinação de Pietra e


como ela devorava a informação de tudo.

Ele nunca tinha sido tão entusiasmado com a mitologia como ele a via ser.
E mais entusiasmada ainda ficou, quando assistiram a uma réplica de uma
Taurocatapsia ou conhecida também como o Salto de Touro que era realizada
na Creta Minoica, em louvor ao animal sagrado, o touro.

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Consistia de soltarem um touro com os longos e afiados chifres em uma


arena e os bravos desafiadores deveriam saltar sobre eles, dando cambalhotas
e giros mortais impressionantes.

Eles também visitaram diversos museus, e Pietra absorvia cada imagem,


cada palavra como se fosse puro ouro.

Ela já tinha visitado muitos lugares e países na Europa, inclusive voltada


simplesmente para a sua história, para complementar seus estudos da
universidade de história da arte que fez, mas nunca tinha ido à Grécia, porque
nunca tinha tido permissão.

Por que nunca tinha tido permissão para ir à Grécia?

Isso fez Pietra pensar, mas nunca conseguia entender os objetivos e


pensamentos de seu pai.

A estada em Karpathos havia deixado os dois inebriados. Era uma ilha


grega rica em cultura e tradições, localizada a meio caminho entre as ilhas de
Rodes e Creta, que também foi visitada.

Pietra estava achando tudo divino, lindo, mas teve uma queda a mais por
Karpathos, considerando a beleza e hospitalidade que era incomparável em
qualquer outro lugar na Grécia.

Ela fazia parte de um conjunto de ilhas chamado Dodecaneso, no sudeste


do Mar Egeu e ficaram dois dias no local, passeando, vendo os lugares
turísticos e apreciando os belos passeios de jipe pela encosta que beirava o
mar.

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Naquele último dia, ela vestiu um vestido branco com florais vermelhos,
até os joelhos com a saia rodada, e uma faixa vermelha na cintura, uma
sandália e um chapéu branco. Estava tão fresca e elegante que Harley quase
não conseguia tirar os olhos dela. Possuía uma elegância natural, mas uma
coisa que ele percebeu é que ela não estava com a coluna dura como se
tivesse engolido uma espada, uma elegância forçada, como ele a tinha
conhecido. Pietra estava sendo elegante por sua natureza delicada, sutil, bela,
e isso o agradou.

Harley podia ter um império como Alamus, mas ele e Petrus eram dois
rebeldes de maneiras não muito polidas. Gostavam de espontaneidade. Mas
Harley mantinha algo que poucos homens mantinham hoje em dia:
cavalheirismo.

Puxava a cadeira, abria a porta, andava sempre com a mão nas costas dela,
a servia primeiro, beijava a mão das damas quando as cumprimentava.
Parecia como os lordes de antigamente. Era contraditório e lindo.

Ele pensava que ser um cavalheiro era obrigação de todos os homens,


principalmente ao lidar com uma dama, mas isso não impedia que seu lado
animal fosse feroz.

Ao cair da noite, eles chegaram de barco à Mikonos, uma pequena cidade


que cultivava fortemente as tradições gregas e estava em festa, e Pietra
olhava tudo, encantada.

Foram ao hotel e soltaram as bagagens no quarto. Ele abriu a porta da


varanda e o ar noturno encheu o ambiente. Pietra foi até ele e o abraçou.

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A lua estava brilhante e estava posicionada bem em cima das ruínas, o que
tornava tudo mágico. Era uma visão de tirar o fôlego.

— Isso é tão lindo — ela sussurrou. — Acho que só perde para aquela
visão da sacada do hotel em Atenas que ficava no alto e bem em frente estava
a colina com as ruínas da Acrópole, toda iluminada. Foi tão mágico. Mas
aqui também é maravilhoso. Acho que não saberei escolher um local
preferido.

— Sabia que gostaria.

— Sempre parece saber o que gosto.

— Tenho me esforçado para descobrir tudo sobre você.

— Sim, você tem.

Ele foi até o balde de gelo que havia na mesinha e abriu a garrafa de
champanhe e encheu as taças. Ela o olhou, encantada, quando ele lhe
entregou e sorriu.

— É proibido falar de problemas aqui, e somente vamos nos divertir.


Combinado?

— Combinado.

Eles pegaram o champanhe e foram para a varanda e o chão era todo feito
de mosaico de pedras. Ela se abaixou para olhar, eram pequenas pedras
chatas e arredondadas, firmadas em pé, em três cores, branca, azul e preta.
Era de uma beleza descomunal.
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— Isso é lindo!

— É uma antiga técnica de mosaico grego, chamada Pebblestone. Esta é a


incrível arte de Stelios Grekos. Há poucos que ainda fazem isso.

— Adorei, gostaria muito de ter um pedaço disso em nossa casa.

— Eu gostei muito de ouvir isso, nossa casa.

Ela sorriu e o abraçou.

— Vou procurar um artista para que o faça, quem sabe uma parte do nosso
terraço?

— Ficaria lindo.

— Considere feito.

— Vou me arrumar para irmos ao festival, senão nos atrasaremos.

— Então nós teremos que tomar banho separados.

— Por quê?

— Tá brincando? Eu não resistiria e estaríamos atrasados.

Ela riu.

— Ok, eu vou primeiro.

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— Claro, primeiro as damas, até mesmo porque vocês demoram muito


para se arrumar.

— Ah, mas que grosseria de sua parte dizer tal coisa.

— É uma verdade — constatou rindo.

— Bem, acho que é, mas não quer dizer que deva mencioná-lo.

— Ok, preciosa, tome seu tempo e ficarei de bico calado.

Ela sorriu, o beijou e foi tomar banho e Harley olhou para a paisagem, e
pensou que nunca tinha achado-a tão maravilhosa.

Nunca a Grécia tinha sido tão linda, a comida tão deliciosa e passear tão
prazeroso. O amor podia mudar a maneira que se olhava a vida.

Eles chegaram a tempo para ver o Festival de danças e era contagiante


porque estavam espalhadas por toda a cidade e após os profissionais se
apresentarem, convidavam os turistas e moradores para dançarem com eles.

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De todas as que viram o povo assistir, no fim dançar como uma grande
festa de vila era a Zorba.

Harley a puxou para fazer parte do cordão de pessoas que se uniam pelo
entrelaçar dos braços e dançavam a dança que na maioria dos passos era com
os pés.

Pietra riu muito e tentava acompanhar os passos e Harley nunca a tinha


visto tão aberta e sua risada era tão maravilhosa que pensou que devia gravar
para reviver aqueles momentos de forma eterna.

Depois foram a um palco onde viram a apresentação de Shoe de Niculina


Stoican, que cantou “Maria Me Ta Kitrina”. Uma bem-humorada canção
tradicional. Ela cantava enquanto rodopiava pelo palco e os dançarinos a
acompanhavam. Homens e mulheres, dançando a dança típica.

E tudo estava maravilhoso.

— Está com fome? — Harley perguntou.

— Sim, faminta.

— Bem, então precisamos alimentar esta fêmea faminta.

Eles foram a um restaurante com a mesa ao céu aberto e o garçom serviu


todos os pratos e ele olhou tudo com prazer, assim como ela.

— Ah, experimente isso, eu adoro.

— Parece bom. — Ela abriu a boca e ele colocou um bocado na sua boca.
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— Hum, é realmente bom, o que é isso?

— Isso chama Meze, é uma seleção de petiscos tradicionalmente servidos


com Ouzo na Grécia.

— O que é Ouzo?

— Ah, essa bebida é deliciosa e produzida aqui, à base de anis. Veja, ela é
transparente, mas misturada com água ou gelo fica com aspecto leitoso.

— Parece esquisito.

Ele riu e ofereceu o pequeno copo a ela.

— É tradição, experimente.

Ela comeu um pouco do Mezo e depois deu um gole da bebida e riu,


tapando a boca.

Ele esperou sua opinião com um sorriso.

— Delicioso, forte, mas delicioso.

— Essa é minha garota.

Depois comeram cordeiro assado, ovelha e várias comidas típicas e doces


deliciosos de sobremesa.

— Gostaria de tomar um café típico?

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— Ah sim, aquele da areia, que sobe e desce?!

— Sim, o da areia — respondeu rindo abertamente.

Eles foram até um pequeno café que ficava na praça e ela sorriu quando
viu o jovem preparando o café. Tinha uma prancha ao fogo, forrada de areia
quente. Ele colocou água, açúcar e o pó de café no briki — recipiente de
bronze com um cabo longo de madeira no qual ferve o café.

O rapaz enterrou o briki na areia e quando o café fervia e subia até a


borda, ele o mexia na areia e o líquido baixava e, assim, o ritual foi feito
umas quatro vezes e depois ele despejou o café na xícara e deu a Pietra e uma
ao Harley.

Ela tomou o café e seus olhos brilharam olhando para ele, que sorria.

— Isso é delicioso, mais gostoso que o café italiano e olha que adoro o
café italiano.

— Devo concordar. Isso é realmente delicioso.

— Podemos fazer isso em casa? Acho que assim com a areia não, mas não
há outra maneira de fazê-lo?

— Sim, há outra maneira de prepará-lo, podemos comprar um kit que vem


o briki e um pequeno fogareiro feito do mesmo material e ali se pode prepará-
lo seguindo o mesmo ritual.

— Podemos comprá-lo?

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— Considere feito.

Eles tomaram o café e depois partiram para o hotel, andando calmamente


pela rua e ainda se divertindo com as danças do festival que ainda rolavam
pela cidade.

Depois eles beberam mais champanhe e fizeram amor noite adentro.

No dia seguinte voltariam para Alamus e Harley colocaria em ação sua


outra parte do plano: dar a ela as coisas que gostava e havia deixado para trás.
Ele daria seu trabalho e seus hobbies.

Harley digitava rapidamente em seu computador e olhou para a tela ao seu


lado e sorriu.

Alexander estava em sua cadeira de rodas, digitando os comandos de


programação do jogo que Harley tinha dado a ele para arrumar.

O rapaz era rápido e eficiente em efetuar os trabalhos que Harley lhe dava,
como seu novo funcionário.

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Nunca tinha frequentado uma escola especializada em computação, mas


sabia muito pela sua pouca idade e pelos livros que lia e pesquisava pela
internet e cursos on-line que fazia.

Sami tinha razão, era um bom rapaz e muito inteligente. Harley tinha o
observado de perto, tinha dado instruções e dado espaço a ele, o que o
deixava muito feliz.

Mas o assunto proibido entre eles era seu pai.

Alexander se recusava a falar dele e, então, Harley parou de perguntar e se


limitou a fazer sua pesquisa longe dele.

Mas ele se interessava pelos lobos e parecia genuinamente espantado,


admirado com sua raça, com sua magia. Genuinamente os admirava.

Sami sempre lhe dava muita atenção e muitas vezes se transformava em


loba para ficar perto dele.

Isso o deixava feliz, porque amava lobos, os achava lindos e


impressionantes e como ela sempre tinha se recusado em se transformar
antes, agora virar loba era um grande feito e essa era uma coisa que Petrus
amava. Sami finalmente tinha aceitado sua loba e ele amava quando ela ia
correr com ele pela ilha.

Seu pai e ela haviam montado, na clínica médica, um pequeno laboratório


e eles continuavam os cuidados com Alexander.

O tempo parecia sempre ajeitar as coisas para o bem para todo mundo,

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mas uma coisa que não estava andando bem para Alexander era o tempo.

Harley serviu uma caneca de café para si e uma para Alexander, que
sorriu, agradeceu e pegou a caneca, mas ela escorregou de sua mão e
espatifou no chão.

— Oh, Harley, me desculpe, foi sem querer!

Harley levantou, juntou os cacos e secou o chão com um pano.

— Não se preocupe, é somente uma caneca. Você se queimou?

— Não, ela escorregou de minha mão.

— O que há de errado?

— Hum... nada.

— Não minta para mim, garoto. Estas perdas de movimento, sua cadeira
que perdeu o rumo e bateu na porta. Os gemidos de dor, agora seus dedos que
estão fracos. Isso é normal? Quer dizer... pensei que estava se curando.

Alexander suspirou.

— Meus dedos estão ficando fracos novamente e sinto dores.

— O que quer dizer?

— Meu estoque de soro está acabando, Harley, meu tio está tentando fazer
mais, mas acho que não está funcionando. Tivemos que colocar as aplicações
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espaçadas do que era acostumado, para que durasse, mas os resultados já


estão começando a aparecer.

Harley olhou para Alexander e piscou, aturdido, assimilando a informação


e o que significava. Isso era péssimo.

— Seu tio e Sami são muito inteligentes, vão dar um jeito, não se
preocupe.

— Sim, confio neles. Sempre cuidaram muito bem de mim.

— Você gosta muito deles.

— Meu tio é como se fosse meu pai. Eu passava todo meu tempo com ele.
Era sempre preocupado com minha saúde, com meu bem-estar e me levava
para passear, ao jogo, sabe? Coisa de jovens. Pelo menos, algumas delas.

— Não tinha amigos?

— Eu nunca tive uma vida normal, nunca tive amigos de minha idade. Por
um tempo frequentei a escola, mas não conseguia acompanhar, então meu pai
pagava para ter aula em casa. Meu quarto era como um quarto de hospital e
uma biblioteca.

— Eu encontrei a sua casa.

— Imagino que sim, depois de saber quem eu era é fácil encontrar muito
sobre nossa vida. Minha casa está fechada agora.

— E seu pai?
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— Meu pai estava sempre trabalhando, e quando me via parecia muito


incomodado. Ele se preocupava demais, tanto que até sufocava, mas ele
sempre estava focado demais em achar uma cura para se importar que eu
somente queria poder assistir a um jogo com ele, sair para pescar.

— Nos usando.

Alexander fechou a fisionomia e Harley se arrependeu de mencioná-lo.


Ele sofria ao falar do pai. Então, a concha se fechou e Harley recuou e
suspirou.

Quem gostaria de ter um pai como o dele, que tinha causado tanto mal
para os lobos?

O que seu pai faria se um dia descobrisse que Alexander estava vivendo
entre eles? Que Sami era uma loba também?

Harley respirou fundo e queria perguntar, mas não o fez. Queria, na


verdade, dizer algo para animar seu novo amigo.

— Sei que o está buscando, Harley, mas terá dificuldade de achá-lo. Se


ele conseguiu manter estes laboratórios clandestinos por tanto tempo, fazer
tanta gente ficar calada e participar de suas experiências, sabe se esconder
muito bem. Você não vai encontrar nem suas contas bancárias. Tudo o que
vem das empresas dele vai para um fundo em meu nome. É desse dinheiro
que me mantenho e mantive Sami por esses anos. Para o mundo é como se
ele estivesse morto.

— Sim, eu sei.

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— O que me importa é o que acontece aqui, agora.

— Não se preocupe, tudo ficará bem.

— Sim, confio nisso.

Harley respirou fundo e pegou outra caneca e serviu para ele e colocou
sobre a mesa.

— Que tal você terminar um jogo que eu comecei? Tenho outros assuntos
para lidar e gostaria de agilizar seu lançamento.

— Oh, seria ótimo, sobre que tema é?

— Lobisomens.

Alexander riu.

— Cara, fabuloso! Tem muita luta?

— Luta é o que mais tem e algumas cabeças precisam rolar e, claro,


teremos nossos amigos mercenários soltando muitos tiros e explosões.

Alexander riu.

— Gostamos muito disso.

— Ótimo, vou pegar o esqueleto da história para você ver, e as anotações


que fiz, depois vou começar a fazer umas mudanças por aqui.

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— Que mudanças?

— Hum, você gostaria de ter seu próprio espaço?

— Como assim, quer dizer uma sala de computadores somente para mim?

— Sim, isso mesmo.

— Uau, isso é grande, Harley, obrigado. Vou adorar trabalhar em um jogo


com lobos e ter meu espaço.

— Sim, então verei isso. Muitas mudanças estão acontecendo por aqui.

— Isso é bom ou ruim?

Harley abriu um enorme sorriso.

— É ótimo. Agora assuma aqui, que eu vou ver minha adorada loba.

— Ainda é hora de trabalho — brincou.

— Ora bolas, por que eu contratei você se tenho que ficar aqui
trabalhando, ao invés de namorar minha bela loba?

Alexander riu.

— Ah, realmente sua loba é linda.

— Sim, e tire os olhos dela, que é só minha.

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— Como é ter uma companheira assim como Sami me explicou? Uma


companheira de alma?

— É o paraíso, amigo, é tocar o céu, conhecer uma felicidade que não


pode ser superada.

Pelo brilho dos olhos de Harley e seu sorriso, ele acreditou em cada
palavra. O homem estava realmente radiante.

— Uau, parece bom!

— Um dia encontrará uma companheira.

— Não sou um lobo.

— Não precisa ser um lobo para ter uma companheira.

— Acho que isso não vai acontecer comigo. Quem gostaria de um homem
com tantos problemas como eu, que futuro teria? Nem sequer tenho mais
minha casa.

— Não tem hoje, mas pode ter amanhã. É jovem e uma coisa que eu
aprendi nessa vida é que hoje podemos ter algo e amanhã perdê-la. Hoje
podemos não ter nada e amanhã ter tudo. O importante é ter sonhos e lutar.
Alexander, não desista. Enquanto respirar há chances a serem agarradas.

— Ok, obrigado.

— A decisão que tomou de vir para esta ilha me agradou muito.

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— Mas estavam com medo que eu os traísse.

— No começo sim.

— Não posso dizer que estou feliz por nunca mais ver meu pai. Ele era
meu pai e eu o amava. Mas conhecê-los somente fez ter mais vergonha do
que ele fez. Sei que a qualquer momento posso perder isso que conquistei,
estas falhas em minhas mãos podem seguir para algum órgão vital, como o
coração, os pulmões ou outro órgão que pode parar de funcionar.

— Sami estará aqui para te ajudar e agora tem seu tio.

— Eu sei.

— E eu entendo que não possa nos ajudar a encontrá-lo, mas vai


acontecer, um dia.

— Sim, e Noah vai matá-lo.

— É seu direito.

— A ciência é muito importante para o mundo, esta seria uma descoberta


estupenda. Curar as doenças dos humanos.

— Cada um tem que aprender a sobreviver como pode. Mas seu pai
perdeu a mente e o que acontecia lá era muito além de pesquisa: era tortura,
maldade.

— Me sinto culpado por isso.

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— Você disse que não sabia, então a culpa não é sua. Por acreditar nisso,
que ainda está vivo e demos a oportunidade de nos conhecer, como somos,
como vivemos.

— Eu gostaria de ser como vocês.

Isso espantou Harley.

— Gostaria?

— Acho incrível. Sami, às vezes, se transforma para eu ver. Ela é linda.

— É um grande avanço para ela.

— Ela sofreu muito. Quando a gente não se aceita como é, é mais


doloroso do que quando as pessoas não te aceitam como você é.

— Nisso devo concordar, mas você é um garoto forte. Vai conseguir. E


sobre uma garota, se ela for a certa, te amará se estiver sentado nessa cadeira
ou não.

— Obrigado.

— Agora vá trabalhar que te pago para fazer jogos e não para ser seu
terapeuta amoroso. — Harley sorriu, revirou seu cabelo e saiu.

Alexander riu e voltou a digitar.

— Sim, chefe.

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Pietra saiu no terraço, usando um leve vestido de seda azul e uma


rasteirinha, seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo. Lentamente
bebeu um gole do seu chá e sorriu, olhando a magnífica paisagem.

O mundo dos lobos era estranho e, apesar de algumas coisas serem ruins,
ela amava ser uma loba. Amava sua mágica e amava estar em forma de loba.

Agora, não tinha vergonha de ser o que era, apenas lamentava de não ter
conseguido lidar com as situações que a levaram a ser uma pária.

Seu coração estava tão arrebatado de amor por Harley que pensava que
não conseguiria administrar esses sentimentos tão fortes.

E por mais doloroso que houvesse sido o processo, não conseguia sentir
remorso ou arrependimentos.

Estava livre, porque aquela Pietra Scopelli não existia mais e ela havia
sido liberta de sua jaula dourada. Agora era Pietra Papolus.

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Sentia falta de sua família, porque, apesar de tudo, ainda os amava, mas
Harley era sua família agora. E pela primeira vez se sentia em seu lar, sua
casa e o mundo ao redor parecia sorrir para ela.

Viveria um dia e uma situação de cada vez.

Ela apreciaria as coisas boas e aprenderia com as ruins.

Olhou para o céu azul, para o mar tranquilo e deslumbrante do


Mediterrâneo e, pela primeira vez, estava ouvindo o cantarolar de diversos
pássaros pelas árvores frondosas e verdes da ilha.

Harley tinha falado com Petrus e eles fariam uma cerimônia dali uma
semana, para oficializar sua posição como beta diante da alcateia.

Todos já sabiam que Harley havia acasalado e que tinha uma


companheira, só precisavam das partes formais.

As coisas haviam se ajeitado e todos a cumprimentavam quando ela saía


para circular pela vila e conversar com os lobos. Todos estavam sendo
agradáveis. E ela estava contente com isso.

Ela arfou, se assustou e derrubou a xícara de chá quando ouviu uma risada
alta de mulher bem dentro da sua cabeça, que parecia fazer eco. Olhou
aturdida ao redor, pensando que havia alguém atrás dela, mas não havia
ninguém.

— Tem alguém aí?

A voz falou algo em grego que ela não entendeu e ouviu os guizos de
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cobra. Assustada, se escorando no balaústre, olhou para o chão e saiu


rapidamente dali e foi para a lateral da varanda.

O que era aquilo? Estava ficando louca e ouvindo vozes?

Pietra franziu o cenho percebendo uma presença de lobos por perto. Ela
olhou para o jardim e não viu nada, estranhando a sensação de estar sendo
observada, saiu para a lateral do terraço e desceu as escadas, entrando no
jardim da frente da casa.

— Tem alguém aí?

Pietra sentiu um calafrio e retesou o corpo quando o cheiro de vários lobos


ficou mais forte e dali a pouco meia dúzia de lobas e lobos saíram de entre as
árvores e vieram em sua direção.

Uma delas era Katra, esta era a única que sempre a olhava com cara feia e
ela sabia por que, pois sabia que tinha sido amante de Harley.

Ela apertou as mãos em punho, mas respirou fundo e sorriu.

— Bom dia, o que posso fazer por vocês? O beta não está. Ele foi para a
Ilha dos Lobos resolver algo com o alfa Noah. Deve retornar antes do
almoço.

— Não estamos aqui para falar com o beta, já que parece que ele perdeu a
cabeça — Katra disse.

— Como? — Pietra perguntou sem entender.

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— Nós descobrimos sua farsa, cadela.

— Sim, nós descobrimos quem você é — disse a outra.

— Nunca escondi quem eu sou. Todos já me conhecem na ilha.

— Sim, conhecemos. É a prostituta do beta.

— Primeiro do alfa, agora do beta.

Pietra arregalou os olhos e sentiu sua cabeça girar.

— Nunca pensamos que o beta seria tão obtuso de acasalar com a


prostituta pária italiana.

— Sim, é o que você é, não é? Sua alcateia a jogou na rua por ser uma
vadia.

— E nós não aceitamos que engane nosso beta e nosso alfa.

— Nós vamos te mostrar o que fazemos com párias.

Pietra deu passo para trás, cambaleando, suas pernas amoleceram e seu
coração explodiu em pânico. Era como se uma montanha-russa tivesse se
instalado na sua cabeça e a cena da floresta retornou.

— Olhe, as coisas não foram assim... eu...

— Cale-se! Pois sua falsidade como a garota rica e doce caiu por terra.
Vou arrancar sua língua e suas mãos por ter ousado tocar meu lobo. Pois
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lixos não podem tocar ouro — Katra disse.

— Estou aqui porque Harley e Petrus me aceitaram.

— Mentira! O alfa nunca permitiria e nem o beta, pois é contra a lei dar
refúgio a uma pária! — Katra disse com raiva. — Você mentiu para eles, os
enredou com suas mentiras e com esta carinha de boa moça rica. Eles não
sabem o quanto você é traidora.

Pietra somente teve tempo de saltar para trás e desviar do golpe de Katra,
que saltou sobre ela com suas garras afiadas.

Ela revidou o ataque de outra loba, jogando-a longe, mas gritou quando
um lobo macho veio por trás dela e rasgou suas costas com as garras
enquanto ela se defendia de outra loba em sua frente.

Pietra cambaleou e rodou e saltou para longe deles, gemendo pela dor. Ela
olhou para o grupo e rosnou, furiosa.

Se havia uma coisa que ela odiava era covardia.

— Harley vai ficar furioso por isso, sua ira cairá sobre vocês.

— Não, ele vai nos agradecer por termos o livrado de você.

E eles saltaram sobre ela novamente e ela lutou com bravura, em sua
forma Dhálea, arranhando, mordendo e dilacerando a carne dos inimigos.

Ela saltou sobre os ombros de uma loba e destroncou seu pescoço e jogou-
a longe.
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Pietra era forte e lutava muito bem, misturando golpes de luta que havia
aprendido, com as características de sua espécie.

Quando dois lobos machos saltaram sobre ela, ela rasgou a barriga de um
deles, mas foi atingida pelo outro e caiu rolando pela grama e sentiu seu
corpo ser brutalmente arranhado.

Ela gemeu, ficou de joelhos e limpou o sangue que saía de sua boca, com
um enorme corte na coxa que doía fortemente, então arregalou os olhos,
porque tomou conhecimento de algo.

Algo dentro dela.

Seu instinto de loba estava alertando-a sobre sua natureza, sobre a vida
que brotava.

Isso somente ativou todos os alertas e seu desespero foi rápido e cruel,
atingindo-a como uma marreta.

Ela piscou aturdida olhando sua situação e os seus inimigos se ergueram e


a estavam rodeando. Ela não conseguiria sobreviver lutando com todos eles.

Tinha que sair daquela situação, imediatamente, antes que fosse tarde.

Em outra situação, ela ficaria e lutaria até seu último suspiro, mas agora
ela precisava fugir.

— Vou lhes dar o último aviso, parem com isso, antes que se arrependam.
Eu sou sua beta! Companheira do beta.

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— Você não é mais do que uma pária. Somente pararemos quando estiver
morta.

Katra saltou sobre ela, e por um centímetro suas garras não estraçalharam
sua garganta, mas Pietra saltou para trás, rosnou alto e furiosa, com os olhos
cintilantes e com toda sua força revidou e bateu neles, derrubando, um após o
outro.

Quando todos estavam no chão, atordoados, ela se transformou em loba e


correu.

Assustada como estava, não sabia para que lado estava correndo. Ela saiu
do bosque, correu desesperada entre as árvores e quando freou, na praia,
jogou areia longe.

Ela olhou ao redor e uivou, pedindo por socorro, pedindo por Harley, mas
ela girou e olhou para trás, eles estavam vindo atrás dela.

Devia ir para a mansão, ali estaria segura, mas não sabia onde estava, sua
mente demorou em atinar que lado tinha corrido e que lado deveria correr.

— Não adianta fugir, covarde!

Então vieram os rosnados furiosos.

Pietra fraquejou e caiu, pois sua perna estava gravemente ferida e ela
soube que não conseguiria correr e, na verdade, ela não sabia para onde
correr.

Se transformou em sua forma intermediária, prestou atenção onde estava e


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teve a ideia de se esconder, pois reconheceu a pequena praia.

Ela correu até o fim da praia e onde começava outra mata entre as pedras e
parou, ela puxou o fôlego e sentiu uma dor no peito e sua respiração falhou.

Ela gemeu e arfou, com a mão no peito.

— Não, não, agora não, por favor...

Desesperada, saltou sobre as rochas e, em seguida, no mar. Transformou-


se em humana durante a queda e caiu na água, nadou, submersa, encontrando
as fendas nas rochas e as atravessou. Em pânico e com o peito doendo, soltou
todo o ar e quase não conseguiu atravessar, mas com esforço conseguiu.

Emergiu da água, entrando na gruta, que ficava escondida nas rochas, a


gruta que Petrus havia a levado uma vez e ele havia dito que era um segredo
dele e de seus irmãos, então talvez aqueles lobos não a visitasse, e não a
encontrariam ali.

Tossindo e arfando, buscando o ar com dificuldade e dor, subiu nas pedras


e gemeu quando outra dor no peito a atingiu.

— Harley... por favor, venha por nós... — sussurrou desesperada.

Se ele não a encontrasse logo, esse seria seu fim.

Os lobos pararam na praia, olhando ao redor.

— Para onde ela foi? Perdi seu rastro! — o lobo rosnou a farejando.

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— Deve ter ido por ali, deve ter corrido para a casa para tentar se refugiar.

— Vamos acabar com isso logo de uma vez.

E eles se embrenharam no bosque e sumiram da praia.

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— Onde infernos ela está? — o grito de Harley ecoou pela mansão e logo
ele entrou como um furacão no salão e olhou furioso para o grupo de lobos
que estavam reunidos com Petrus.

— Harley! Ainda bem que chegou. Você encontrou Pietra? — Petrus


perguntou.

— É o que eu quero saber. O que vocês estão fazendo aqui? — disse


olhando para um grupo de lobos.

— Viemos aqui reportar uma situação muito delicada ao alfa.

— Bem, então aproveitaremos para colocar as coisas às claras. Senti


cheiro de muitos lobos na minha casa e cenas de luta e Pietra sumiu. Onde ela
está? — disse rosnando entredentes, de forma ameaçadora.

— Bem, esse grupo de lobos pediu um julgamento — Petrus disse.

— Julgamento?
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— Estamos aqui para denunciar Pietra Scopelli.

— Denunciar o quê?

— Ela é uma pária, foi banida da alcateia dos lobos italianos e está
escondida aqui sem o conhecimento de todos o que ela é. Ela quebrou as leis
e deve se punida.

— Sim, beta, ela estava enganando a todos, descobrimos sua farsa e


tentamos capturá-la, mas ela foi muito rápida e perdemos seu rastro. Mas há
lobos caçando-a pela ilha, logo a encontraremos.

Harley viu tudo vermelho na sua frente e pensou que todos seus instintos
assassinos já haviam sido despertados nessa vida, mas ele soube que não.

Ficou tão zangado que suas garras alongaram e ele arreganhou suas presas
e soltou um rosnado tão feroz que as vidraças tremeram e os lobos saltaram
para trás, não antes de ele dar um cruzado com suas garras que dilaceraram a
garganta do lobo que estava mais próximo a ele.

E ele teria seguido matando um a um, mas Petrus saltou sobre ele
segurando-o e puxando-o para trás e girou e foi à sua frente entrando no seu
campo de visão.

— Harley!

Petrus teve que soltar toda sua força para segurá-lo e o chamou diversas
vezes até que ele o olhou e arfou, com os olhos cintilando e com as presas
arreganhadas.

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— Acalme-se, irmão. Harley, escute-me!

Ele deu mais um rosnado alto que tudo na sala tremeu e Petrus arfou
quando percebeu que seu braço sangrava, Harley havia o atingido com suas
garras na tentativa de saltar sobre ele.

— Eu disse, acalme-se! Vamos encontrar sua companheira.

— Eles ousaram atacar minha companheira!

— Ela é uma pária, beta, ouviu o que eu disse? Deve ser julgada,
condenada e...

Harley rosnou novamente para Katra e Petrus segurou-o mais forte.

— Katra! Cale a boca, senão eu mesmo arranco sua cabeça! — Petrus


gritou, furioso.

A loba não teve tempo de tornar a falar, pois Harley, em sua forma
intermediária, se soltou de Petrus e saltou sobre ela, tombando-a no chão,
imprensando seu peso sobre seu peito. Ela arfou e o olhou com os olhos
arregalados, gemendo pela dor.

Petrus o agarrou com um rosnado, o girou, o ergueu e o imprensou na


parede e Harley arfou pelo baque.

— Harley, pare e isso é uma ordem! — Petrus gritou.

— Não pode me impedir!

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Harley rosnou e empurrou Petrus, que rosnou de volta e o jogou contra a


parede novamente, arrancando mais lascas dela. E Harley arfou pelo baque.

— Eu posso, porque sou seu alfa! E vai me obedecer!

— Pensei que estava do meu lado!

Petrus agarrou sua nuca e encostou sua testa na dele e falou para que
somente ele ouvisse: — Eu estou do seu lado, porra! Irmão, confie em mim,
resolveremos isso tudo. Sim, nós teremos um julgamento em breve e
colocaremos tudo às claras. Mas o que eu quero que faça agora é se acalmar e
encontrar Pietra. Ela não deve ter saído da ilha, ela está aqui e devemos
encontrá-la.

— E se ela estiver com um arranhão, eu arrancarei suas cabeças e darei


para os cachorros comerem, me ouviram? — gritou para os outros.

Katra arfou e gemeu pela dor, espantada com tamanha raiva sobre ela e
arfou novamente quando viu o sangue escorrendo de seu peito e sua roupa
estava rasgada.

Aquilo não parecia estar do jeito que ela queria.

Harley soltou de Petrus num solavanco e arfou piscando diversas vezes


para acalmar seu lobo e seu instinto assassino e olhou para o irmão.

— Você sabia que este dia chegaria, Harley.

— Sim, sabia, mas não pensei que tentariam matá-la! — disse zangado.

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— Harley, nós lidaremos com isso. Vamos encontrá-la.

— Alfa, nenhum barco deixou a ilha, ela está aqui, escondida em algum
lugar — disse um dos lobos que estava em reunião com Petrus antes do grupo
de delatores chegarem e desligou o celular.

— Certo. Então a procurem. Tragam-na sã e salva e se mais algum lobo


machucá-la, juro que teremos vísceras de lobo para o jantar. Isso é uma
ordem, e quem quebrá-la eu mesmo o matarei.

Harley girou e saiu do salão e Petrus gritou ordens para seus lobos
espalharam-se, estava furioso.

Harley saltou para fora correndo como um louco, farejando seu cheiro
para saber de que lado havia ido.

A procura parecia não ter fim e ele estava ficando desesperado rodando de
um lado a outro sem encontrá-la até que ele parou em uma das praias e
arfando ficou ali.

— Pietra!

Então um frio percorreu sua espinha. Ele a sentiu, mas olhando ao redor
não conseguia saber onde estava até que ele olhou para as rochas e se
lembrou da gruta.

Não esperou mais nada e saltou na água e mergulhou, nadou por baixo das
rochas o mais rápido que pôde e emergiu dentro da gruta.

E ali estava ela, caída sobre uma pedra enorme.


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— Pietra!

Harley foi até ela, saiu da água e a pegou nos braços. Ela estava
desacordada, sua respiração estava quase nula e ele mal conseguia ouvir seu
coração. Pegou-a no colo e saltou na água; segurando-a somente com um
braço, nadou por baixo das rochas novamente.

Rosnando desesperado, ele nadou e saiu do mar, deitou-a na areia e fez


respiração boca a boca e fazia a pressão ritmicamente em seu peito.

— Vamos respire. Respire!

Ele fez o CPR, uma e outra vez. De joelhos, Harley uivou tão alto, que
ecoou pela ilha. Ele estava avisando Petrus que a encontrou e que precisava
de Sami. Depois a pegou no colo e correu o mais rápido que pôde e saltou
pelas escadarias e terraço. Ele chegou à sala médica que ficava em um dos
cantos da casa, com uma entrada independente da mansão.

Ficava basicamente com as portas dentro de um bosque e ele chutou a


porta, arrancando-a dos trincos e colocou Pietra na maca.

Ele uivou novamente chamando Sami, porque não sabia onde infernos
estava todo mundo e ele voltou a fazer a massagem cardíaca e soprar ar em
sua boca até que Sami entrou correndo.

E mais alguém estava com ela, mas ele estava muito atordoado para saber
e não conseguia tirar os olhos de Pietra. Petrus chegou e o puxou para fora.

— Calma, vai ficar tudo bem. Sami vai cuidar dela. Se acalme, Harley.
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Confie em Sami.

— Ela não estava respirando. Estava sangrando.

— Ela ficará bem, sente aqui.

Harley sentou, mas não conseguia mais assimilar nenhuma palavra que
Petrus dizia, somente ficava rezando e pedindo que ela ficasse bem.

— Harley, você não matará mais ninguém, porque teremos essa porra de
audiência. Segure sua raiva e vamos esclarecer esta merda toda. Nós
cometemos um erro em não explicar o que Pietra estava fazendo aqui.

— Os lobos não tem que saber o que ela está fazendo aqui e o que houve
na sua alcateia! Se eu digo que ela é minha companheira, é minha
companheira e os lobos não podem machucá-la. Eles simplesmente a
atacaram e a condenaram sem saber a verdade!

— Eu sei, Harley, então vamos dizer a verdade aos lobos e assim aplacar a
ira deles. Se eles conhecerem a verdade, não terão motivos para virar as
costas para Pietra. Eles entenderão.

— Deviam ter acreditado em mim!

— Deviam, mas não o fizeram. Olhe... — disse cansado. — Entendo sua


ira, sua dor e realmente sinto muito que eu não soube lidar com isso, mas te
prometo que farei de tudo para que ela fique bem, entendeu? É uma promessa
que eu faço a você. Só que precisamos de um pouco de diplomacia, senão
teremos uma guerra dentro da nossa alcateia. E isso significa que você teria

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que ir embora e eu não quero que você e nem ela vão embora, me entendeu?

Harley arfou, com a garganta embargada. Estava difícil de controlar sua


ira, mas sabia que Petrus estava certo.

— Certo. Farei como quer.

— Ótimo. Vamos mostrar aos estúpidos que nossa palavra é lei. Têm
alguns lobos que são meio lerdos. Mas não pode simplesmente matar estes
lobos sem mostrar a verdade, mostrar a toda a alcateia que Pietra é boa e deve
ser honrada por eles. Matá-los sem a verdade faria que os lobos somente a
odiassem e se voltassem contra nós. Confie em mim.

Harley respirou fundo, olhou para Petrus e assentiu.

— Ok. Acha que Katra realmente acreditava que eu não sabia que ela era
uma pária?

— É bem provável, talvez fosse mais plausível acreditar que uma estranha
nos enganou do que admitir que seu beta faria tal loucura.

— Não é tão loucura assim, ela é inocente e doce. Quem em sã


consciência a machucaria?

— Harley, nosso histórico é meio complicado com a alcateia. Já passamos


por muita coisa. Lutamos diariamente para ter a aceitação de todos e manter a
paz. Acasalar com uma pária parecia bem descabido.

— Você tomou uma loba desregrada como companheira.

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— Eu sei, e Sami tem se esforçado muito para ser aceita e Pietra passará
pelo mesmo processo e nós vamos ajudá-la. Katra pode ter sido intransigente,
mas não acho que faria isso tudo de caso pensado. Se o fez, descobriremos.
Confie em mim.

Sim, ele confiava em Petrus.

Ninguém tiraria ela dele. Ninguém.

Harley levantou e começou a andar de um lado a outro. E o tempo se


arrastou como se nunca passasse.

Harley sentiu sua garganta embargar quando a viu deitada na cama da


clínica médica.

Estava com os aparelhos ligados e um monitorava seus batimentos


cardíacos, outro injetava algo em sua veia e ela usava a máscara de oxigênio
e isso quase fez Harley rosnar.

Ele se aproximou e acariciou seus cabelos e quando ela abriu os olhos ele

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sentiu seu mundo girar e sua garganta embargou.

Ver sua loba machucada doía, bem no coração, como se fosse uma faca
que tivesse sido cravada ali.

— Oi, minha theá, como está? — perguntou, nervoso, mas com um


sorriso, pois não queria assustá-la.

Ela arfou quando o viu e seus olhos marejaram e rapidamente Harley a


tinha nos braços, abraçando-a.

— Está tudo bem, querida, estou aqui.

— Bem, deixe-me ver. Acho que já podemos tirar isso — Sami disse
retirando sua máscara. — Vou colocar a cânula, que é o cateter nasal, pois
assim receberá menor quantidade de oxigênio e se sentirá melhor e pode
falar. Mas nada de movimentos bruscos. Assim evita sentir dor nos
ferimentos. Mas como se curam rápido, em dois dias estará inteirinha em
folha.

Quando Sami terminou de colocar a cânula no seu nariz, ela sorriu. E


Harley olhava atentamente a tudo e segurava sua mão.

— Melhor assim, amor?

— Estou bem — ela sussurrou.

— Sente dor?

— Um pouco.
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— Suas dores intensas passaram, mas ainda sente dor, só precisa de um


pouco mais de tempo para que sumam completamente. Não posso lhe dar
mais analgésico do que já dei — Sami disse.

Ele beijou na sua face e encostou sua testa na dela.

— Me desculpe, eu devia ter cuidado mais de você.

— As lobas estavam zangadas e tinha os machos...

— Tomarei conta daqueles estúpidos depois, agora somente quero saber


se você está bem.

— A culpa foi minha... pensei que estava tudo bem e que era aceita, mas...

— Shhh... não foi sua culpa, aqueles lobos que são uns idiotas. Eu prometi
a você que estava tudo bem e deveria estar. Eu sinto muito.

— Eles nunca me aceitarão.

— Eles irão. Agora descanse, não chore, o importante é cuidar de você


agora, o resto nós veremos depois. Ela está bem, Sami?

— Sim, está bem, estabilizada e os cortes foram superficiais, o da sua


perna que foi o mais profundo, também vai cicatrizar. Levou vários pontos,
mas vai melhorar. Os hematomas e concussões também curarão. Tudo ficará
bem se sua dor no peito passar e respirar normalmente e... o bebê está bem.

Harley olhou para Sami como se ela tivesse virado um E.T..

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— O quê? — Harley perguntou.

— Parabéns, papai e mamãe. Vocês terão um bebê. Um lobinho.

— Um bebê? — Harley piscou aturdido.

— Bem, não conheço nada desta parte porque nunca perguntei, mas seria
bebê ou lobo?

Harley piscou aturdido e não respondeu e Petrus riu, quando surgiu na


porta e respondeu: — Bebês, parto igual aos humanos, mesmo tempo de
gestação, eles se transformam em lobinhos somente depois de um ano de
vida. Cada um tem seu tempo.

— Então, teremos um bebê daqui a nove meses. Está muito no início


ainda e teve sorte que o incidente de hoje não o prejudicou. Eu a manterei
monitorada e acho que devo ter uma conversa sobre isso com nossa vizinha
pediatra, Virna. Podemos chamá-la para que te examine e se sinta mais
tranquila. Mas no ultrassom mostrou que está tudo bem. Está bem?

— Ok.

Petrus riu da cara de espanto de Harley e Pietra, que ainda estavam


aturdidos e as lágrimas escorreram pelo rosto dela e Harley a abraçou,
emocionado.

— Quem diria, finalmente serei tio!

— Um bebê, meu amor. Teremos um bebê! Está feliz? — Harley


perguntou emocionado.
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Pietra fungou, riu e assentiu.

— Eu sempre quis um bebê e agora que encontrei meu amor, eu não


poderia estar mais feliz. Nunca pensei que poderia. Quer dizer, com meu
problema. Acha que posso ter o bebê sem problemas?

— Não sabemos exatamente a gravidade de seu caso, mas prometo me


empenhar em descobrir. Não se preocupe, seu bebê nascerá saudável e muito
feliz. Cuidaremos bem dele.

— Eu posso ir para casa?

— Seria bom ficar aqui até amanhã para que eu possa te desligar destes
aparelhos. Então te libero para ir para casa se estiver normalizada, ok?

— Ok.

— Tudo bem, meu amor, eu estarei aqui com você o tempo todo. Não
precisa temer, nenhum lobo vai entrar aqui, está segura.

— Eu colocarei dois guardas aqui do lado de fora da porta, eu prometo


que estará segura, agora pode descansar — Petrus disse.

Harley e Pietra se perderam em suas próprias emoções e se esqueceram de


tudo ao redor e Sami suspirou aliviada.

Petrus a pegou pela mão e a puxou para fora do quarto e a beijou.

— Obrigado por ter cuidado dela, Sami — Petrus disse e respirou fundo,
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pois estava nervoso.

— Quase não consegui trazê-la de volta, Petrus! — sussurrou nervosa.

— Mas conseguiu.

Sami respirou fundo.

— Temos que descobrir o que ela tem. Quero estar prevenida caso isso
aconteça novamente. Ela teve a mesma coisa da outra vez, aquela disfunção
no seu coração e uma parada respiratória. Outro ataque assim pode matar o
bebê, pode ficar sem oxigênio no cérebro, pode nascer com problemas ou
morrer.

— Calma. Você não deixará que aconteça.

— Tenho que fazer exames nela. Seu nível de oxigênio é muito baixo e
precisa ser monitorada.

— Fará, contanto que não a pique e nem a corte, pois Harley não
permitirá.

Sami assentiu e eles se abraçaram.

— Não entendo o que ela tem. Uma humana já teria morrido.

— Mas ela é uma loba.

— Sim. Tenho muito a aprender sobre isso.

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— E isso me fez pensar que poderíamos ter nosso herdeiro.

Sami riu e o soltou.

— Não sei de nada, companheiro, não sei de nada, a única coisa que sei é
que praticar é divertido.

— Nisso devo concordar.

— Depois falamos sobre isso, vou entrar e cuidar dela, senão Harley fará
o jantar com minha cabeça.

Ela o beijou e Petrus rosnou, rindo, e ela riu e foi se afastando para voltar
à sala onde Pietra estava.

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Bem, a tal audiência foi adiada para a total recuperação de Pietra. Harley
fez uma guarnição de lobos vindos de Kimera e os colocou ao redor de sua
casa.

Nem um mosquito tinha permissão de entrar, salvo Sami, Petrus e sua


mãe.

A ordem era para matar qualquer um que tentasse.

Harley teria que lidar com os traidores depois, pois agora somente queria
sua Pietra e seu filho bem.

Para acalmá-lo e para que ele não matasse todos os bastardos idiotas, que
tinham quase matado sua companheira e seu filhote, Petrus trancou os
agressores numa cela.

O alfa nunca pensou que seriam usadas as celas antigas em uma das alas
da ilha e nem os idiotas pensaram que seriam presos.

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Ele teve vontade de matá-los, depois de ouvir as desculpas esfarrapadas


que tentaram dar e que ele nem quis ouvir.

A hora de se esclarecer tudo chegaria, mas precisava que os ânimos


fossem acalmados, para que não houvesse uma revolução na ilha.

Quando Harley soube que o grupo de lobos havia sido trancafiado, sua ira
se aplacou um pouco e, para se vingar, negou o pedido de Petrus para que a
audiência ocorresse dois dias depois do ocorrido.

Ele queria que os idiotas ficassem na cela mais tempo, então aceitou a
audiência somente cinco dias depois. Assim, sua loba estaria mais recuperada
e seu instinto assassino estaria mais aplacado.

Harley entrou com Pietra e já ficou furioso ao ver que o salão estava
repleto de lobos e três anciões estavam sentados em cadeiras luxuosas do
lado esquerdo.

Sami não estava de acordo com aquilo, mas Petrus teve a dura tarefa de
convencê-la que era um mal necessário, mesmo contra sua vontade.

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Ele já sabia de todos os motivos sobre Pietra estar ali, mas o problema era
que o povo de Alamus não e, ter adiado o assunto, somente tinha trazido
complicações, uma que quase matou a companheira de seu irmão.

Seus nervos estavam torcidos e ele queria matar alguém. O problema de


ser um alfa é que ele tinha que controlar sua boca e seus atos, o que não era
fácil.

Agora ele entendia Noah quando ficava irritado com assuntos de alfa e
também detestava as firulas burocráticas.

Uma coisa que estava aprendendo nos últimos meses era ter paciência e
manter seu controle, um por ser alfa e outro por ser companheiro. Tinha
muito que aprender com sua adorada companheira.

Mas hoje seu mau humor era por lobos de sua alcateia terem feito um
motim e quase matado a companheira de seu irmão.

Entendia porque Harley estava tão fora de si e só não tinha matado a todos
eles porque não permitiu. Se alguém tivesse feito isso com Sami, ele mesmo
teria os matado.

Petrus a olhou e pegou sua mão e ela sorriu. Isso dissipou seu nervosismo
e seu mau humor. Ela tinha esse efeito sobre ele, que amava e as coisinhas
chatas do dia a dia desapareciam.

Harley e Pietra pararam em frente à Petrus e Sami, que estavam sentados


em suas poltronas de alfas.

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— Alfas — Pietra disse e fez uma reverência respeitosa e eles inclinaram


a cabeça em resposta.

— Está melhor de seus ferimentos?

— Sim, alfa.

— Como sabe, Pietra, esta audiência foi requerida por motivo dos
acontecimentos dos últimos dias. Em pedido de seus acusadores. Recebi as
acusações contra você e decidi que essa audiência era necessária para que
possamos esclarecer as coisas.

— Sim, alfa, eu entendo e já esperava.

— Um julgamento injusto — Harley disse entredentes.

— Entendo sua posição, beta, mas aceitei porque vejo como que as coisas
devem ser esclarecidas. Nosso conhecimento sobre os fatos de Pietra estar
aqui deve ser aberto ao povo de Alamus. Uma quebra na hierarquia ocorreu e
precisamos colocar as coisas nos seus devidos lugares para que possamos
acabar com os mal-entendidos e retomar a paz.

Harley rosnou baixo, pois não estava a fim de apaziguar nada, queria
arrancar uma dúzia de cabeças e aplacar sua raiva.

Petrus olhou significativamente para Harley e ele assentiu, mesmo contra


a vontade, mas sabia que sua posição era delicada e que aquilo era necessário.

Queria poupar Pietra de passar por aquele sofrimento, mas não podia. Se
eles não soubessem a verdade, nunca a aceitariam como sua beta. Ele
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demorou a admitir isso, e, por isso, tinham chegado até ali.

— Tem certeza de que está se sentindo bem para prosseguir, Pietra? —


Sami perguntou.

— Sim, alfa, estou bem e sou imensamente grata por ter cuidado de meus
ferimentos.

Sami assentiu.

Harley pegou Pietra pelo braço e a levou à cadeira estofada, colocada no


centro do salão e gentilmente a fez sentar. Ele segurou sua mão e ela o olhou
com os olhos apreensivos, mas estava com aquela pose majestosa e forte que
ele tanto admirava.

Ele acariciou sua bochecha carinhosamente e a olhou nos olhos.

— Está tudo bem, querida, fique calma e responda as perguntas. Tudo


ficará bem, confie em mim.

— Eu confio.

— Se não se sentir bem, me avise que a tiro daqui.

— Eu estou bem, sei que é preciso, imaginei que esta hora chegaria.
Prefiro falar tudo o que sei de uma vez e que meu destino seja definido.

Ele assentiu e se afastou e ficou ao lado de Petrus, em pé e olhou para


onde Katra e sua corja de lobos estava. Ela não desviou do olhar assassino
que ele lhe deu, empinou o nariz e se manteve ali, firme.
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O que a descarada estava pensando? Que iria sair daquilo ilesa? Porém,
Harley tinha uma surpresa para ela. Se a maldita pensava que tinha triunfado
estava redondamente enganada.

Ele ouviu o retumbar de um rosnado assassino se formando em seu peito.


Queria arrancar a cabeça dela e aquele bando de imbecis.

Petrus olhou seriamente para todos e um silêncio se fez.

— Bem, que comecemos logo com isso, pois não tenho o dia todo —
Petrus disse, impaciente.

O ancião levantou e olhou para Pietra como se ela fosse uma barata e
depois olhou para Petrus.

— Meu alfa, trazemos ao seu conhecimento a verdadeira identidade desta


loba: Pietra Scopelli.

— Sério? Juro que não havia reparado — Petrus disse impaciente e Harley
teria gargalhado se não estivesse tão zangado.

O ancião olhou feio para Petrus, que o olhou e ergueu a sobrancelha,


incitando-o a criticá-lo. Pigarreou e continuou como se fosse um deus: —
Sim, de alguma maneira essa identidade foi mantida em segredo até que
pudesse enredar a todos com suas mentiras. Contudo, nossa fiel loba Katra,
após descobrir quem era a loba ferida, tomou conhecimento do que realmente
aconteceu. Descobrimos que esta loba foi banida de sua alcateia, que
envergonhou seu alfa e todos os lobos, levando-os a tomar uma atitude
severa. Seu crime ainda é desconhecido, mas a notícia de que a filha dos

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italianos foi banida e é uma pária desavergonhada e traidora já se espalhou


por diversas alcateias. Com o passar do tempo, descobrimos sua intenção.
Como não conseguiu seduzir o alfa, tomou como alvo nosso beta. Sim, povo
de Alamus, esta mulher é uma pária, a escória dos lobos. Deve ser jogada da
ilha e os resquícios de sua existência devem ser queimados.

Por um momento, Pietra viu sua cabeça rodar e olhou apavorada para o
velho e depois para Harley, que por um motivo sobrenatural estava se
segurando para não cometer múltiplos assassinatos.

— Nossa! Esta loba é uma pária, que coisa horrível, sinto-me tão
enganado — Petrus disse com um espanto fingido e Harley o olhou como se
tivesse duas cabeças.

Ele estava levando as coisas na gozação. Bem, Harley conhecia o irmão,


então isso somente lhe trouxe calma. Sabia que Petrus estaria de seu lado.

Harley olhou para Pietra.

— Tranquila, minha theá, deixe-os falar o que quiserem, não tocarão em


você. São uns tolos — Harley disse mentalmente para ela, que se apaziguou,
mas o coração era difícil aplacar.

Ela assentiu para somente ele saber que o ouviu, já que sabia que ninguém
mais tinha o ouvido.

— Se aproxime, Katra, e relate a versão dos fatos afinal, justifique por que
pediu esta audiência.

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A loba empinou o nariz e se aproximou, fez uma reverência e olhou para


Harley e depois para Pietra.

— A princípio, fiquei intrigada do porquê a identidade dela foi ocultada.


Depois quando o beta se mudou com ela para a casa da colina fiquei mais
intrigada. Se o rei proibiu a interação entre os italianos e gregos, seria
impossível que ela permanecesse na ilha, mas pensei que fosse somente um
ato de boa-fé. Então, depois, houve o acasalamento. Tudo foi mantido em
sigilo, não houve cerimônia, ela nem sequer foi apresentada ao nosso povo.
Sempre soube que havia algo muito errado. Então ela tomou posse do beta,
de sua posição e enganou a todos. Ela não estava aqui de boa-fé, pois
descobri seu enredo. Ela é uma pária. Uma escória, foi banida de sua alcateia
e envergonhou a todos. Por isso estava tão ferida, pois seu próprio pai
mandou matá-la. E agora, se finge de boa moça, de loba digna e exige nosso
respeito, sendo que o que merece é nosso desprezo. Seu crime por mentir a
todos deve ser a morte!

Houve uma balbúrdia na sala e os lobos começaram a falar e rosnar e


xingar e Harley se perguntou por que se manteve no lugar e não rasgou a
garganta da cretina.

Era sério que acreditavam em tal acusação?

Bem, ele tinha sido enredado, isso não poderia negar, estava de quatro
pela loba, mas não estava nem um pouco triste com o fato, na verdade estava
amando estar de quatro por ela. Ser amado por ela era maravilhoso.

Anotado mentalmente: a loba futriqueira merecia um castigo, dos grandes.

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A barulheira irritou Petrus, que soltou um rosnado feroz e todos se


calaram.

— E pode me relatar como soube que Pietra, supostamente, seria uma


pária? Acaso falou com os italianos?

A loba arregalou os olhos.

— Oh, não, alfa, jamais falaria com os italianos. Pois o rei decretou que
não poderíamos interagir. Então falar com um italiano seria um crime. E
depois do que eles fizeram ao senhor, todo o sofrimento, quase separando o
senhor e a alfa, foi muito cruel. Quando soube quem era a loba logo
desconfiei que houvesse algo errado, o boato que ela lançou de que sofreu um
acidente foi muito mal contado. Além de tudo é uma mentirosa.

— Então, a seu ver, Pietra deve ser expulsa da ilha por ser uma pária e por
ter nos enganado — Petrus disse.

— Sim, alfa, é o que pensamos. Mas acho que ser expulsa é muito pouco,
pensamos que ela deveria ser condenada à morte, porque infringiu as ordens
do rei Kayli e enganou nosso alfa e nosso beta.

— E o que me diz do fato de um grupo de lobos terem a encurralado e a


agredido?

— Só tentamos fazer justiça, teríamos a mandado embora da ilha, mas ela


resistiu, conseguiu fugir e se escondeu, matou uma de nossas lobas e feriu
gravemente a outra.

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Harley soltou um rosnado involuntário e Petrus o olhou e os dois se


comunicaram somente com o olhar.

— Deixe-me-matar essa biscate do inferno — Harley disse mentalmente


para Petrus.

— Calma, irmão, tudo a seu tempo.

Petrus respirou fundo e se arrumou na cadeira. Demonstrando uma nova


calma adquirida. Ele também sabia jogar.

— Mais alguma coisa que queira acrescentar na sua acusação, Katra?

— Não, alfa, somente que prezo muito meus alfas para deixar que sejam
enganados e nosso beta que foi enredado numa rede de mentiras. É sempre
uma honra servi-los.

Petrus olhou para a loba e piscou para ver se tinha ouvido tudo aquilo
mesmo.

Ele estava começando a desconfiar que certos lobos eram acometidos de


alguma espécie de loucura porque as barbaridades que alguns poderiam
cometer era completamente absurda. Algum idiota acreditaria naquilo?

— Anciões, estão de acordo com as acusações?

— Sim, alfa, plenamente de acordo. Os italianos devem ser mortos se


entrarem na nossa ilha novamente e esta enredadora e mentirosa também.
Que a justiça seja feita e ela seja condenada ao máximo, à pena de morte, já
que milagrosamente fugiu de seu destino na Itália. Seu pai jamais permitiria
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que uma pária fosse acasalada com um de seus filhos, muito menos que fosse
uma beta. Seu crime para ter sido banida deve ter sido atroz.

— E posso saber quem deu esta preciosa informação de que na Itália


Pietra é uma pária?

— Como foi dito, as notícias se espalharam, todas as alcateias sabem que


ela é uma pária e foram avisadas para que não seja recebida.

Harley olhou para Petrus, que rosnou baixo.

O celular de Harley tocou e ele sem dizer nada atendeu e somente ouviu.
Os lobos deram uma olhada um para o outro, pois uma interrupção daquele
tipo deveria deixar Petrus zangado, mas não, ele não falou nada, não
reclamou e esperou pacientemente ele desligar o telefone.

— Obrigado, conselheiro. Obrigado, Katra, já estou satisfeito com seu


honorável depoimento. Harley.

— Nenhuma alcateia sabe sobre Pietra.

Os ofegos e murmúrios recomeçaram, mas foram interrompidos por outro


rosnado de Petrus.

— Pietra...

— Sim, alfa — disse com a voz serena.

Harley a olhou e percebeu uma calma nova nela. Pietra tinha perdido o ar
frágil e agora parecia tranquila e confiante. Serena na verdade e Harley a
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amou mais por isso. Ali estava a loba ponderada que havia conhecido no
início. Ela tinha colocado a máscara e mesmo que por um lado ele não
gostasse, pois a preferia com seus temores e sendo ela mesma, agora entendia
que sua posição necessitava e isso o enchia de orgulho. Depois de tudo que
ela tinha passado conseguia ser sua deusa majestosa. Ela não era apenas uma
companheira, era a companheira do beta e se ela se mostrasse fraca diante dos
lobos, eles não a respeitariam.

Mesmo sendo acusada daquela maneira horrorosa, mesmo tentando


destruir sua dignidade, ela não se deixou abater. Ela tinha aprendido algo
com seu sofrimento. Não era mais sozinha para desistir e não lutar. Não
permitiria que ninguém mais tirasse sua dignidade.

Uma beta não poderia ser fraca.

Era exatamente assim que ela estava agora, serena, ponderada e forte.

— Pietra, eu vou fazer algumas perguntas e peço que responda com total
sinceridade — Petrus disse.

— Sim, alfa.

— Se algum lobo ou loba abrir a boca enquanto falo com ela, arrancarei
suas vísceras e enviarei direto ao Hades.

Todos se calaram.

— Pietra, você sabia que seu pai estava mentindo sobre o acordo de
acasalamento?

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— Não, alfa, eu não sabia. Eu nunca estive inteirada dos assuntos de


negócios de meu pai. Fui criada para estar afastada dos negócios. O que me
foi dito é que eu era sua prometida e que era minha obrigação acasalar com o
alfa de Alamus.

— Aceitou isso?

— Era minha obrigação como a filha do alfa, estava preparada para isso.

— Mas não aceitou inteiramente.

— Eu achei que algo estava errado, mas honrei meu pai e meu destino.
Segui tudo como devia ser. Pelo menos até quase o fim.

— Estava preparada para acasalar com um alfa e não exatamente comigo.

— Sim, alfa, sempre soube, desde que era mais jovem que meu destino
era acasalar com o alfa de Alamus.

Petrus franziu o cenho e olhou para Harley, que agora também estava
estupefato.

— Sempre?

— Sim, sempre.

Petrus piscou aturdido.

— Não entendo. Quando lhe disseram isso?

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— Há uns doze anos, mais ou menos. Minha mãe me disse que eu era a
sua prometida desde sempre e que deveríamos ser acasalados. Nunca me foi
permitido conhecê-lo, mas na minha alcateia já era um fato concretizado.

Petrus franziu o cenho e olhou para Harley, que também estava aturdido.

— Sabe por quê?

— Não, sempre fui ensinada a assumir meus deveres e não questionar ao


alfa. Ele permitia que eu fizesse algumas coisas incomuns, como estudar e ter
alguns hobbies, mas eu sempre fui preparada para ser alfa. Sua alfa. Lembro-
me de que logo após eu saber disso, houve os rumores de que o senhor e seu
irmão haviam desaparecido. Meu pai disse que ainda haveria outro irmão,
Lucas, mas depois de um tempo, o senhor voltou e mesmo não morando na
Grécia, um dia seria o alfa e meu companheiro.

Petrus arfou aturdido e olhou para Harley, que também estava confuso.

— Sem um motivo aparente? — Petrus perguntou.

— Não.

— Parece que há algo errado nisso, porque seu pai sempre planejou que
fosse a companheira do alfa de Alamus e não exatamente eu?

— Não sei, alfa. Meu pai nunca me disse o porquê, somente que era
imprescindível nossa união, que era para o bem de nossa alcateia. Sempre
pensei que nossa união era de bom grado, por isso fiquei tão chocada quando
cheguei aqui e descobri que estava sendo obrigado a me tomar como

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companheira, que meu pai tinha sua ilha nas mãos e a colocou como dote.

— Não sabia da chantagem que ele fez com meu pai?

— Não, somente soube aqui quando a rainha mostrou. Fiquei tão


espantada quanto vocês.

— Questionou seu pai sobre isso?

— Sim, eu fiz em uma ligação telefônica. Ele disse que estava tudo bem,
que as coisas se ajeitariam e que eu deveria conquistá-lo, seduzi-lo.

Dessa vez ouviu-se um rosnado e Petrus, aturdido olhou para Sami e


suspirou.

Ele pegou em sua mão e beijou seus dedos.

— Tudo bem, querida, isso não ocorreu de fato.

— Sinto muito, alfa, mas apenas estou dizendo a verdade.

— Tudo bem, Pietra. Já sabia deste fato, em questão — Sami respondeu.

— Por que o rei e a rainha estavam na cerimônia?

— Porque eu os convidei, com a permissão do seu beta que me deu o


telefone do beta Erick, filho do rei. Inclusive assumiu a responsabilidade do
rei interferir.

— Por que ele fez isso?


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— Para me proteger.

— Então o rei chegou aqui já disposto a interferir.

Ela respirou fundo.

— Sim, alfa, porque fui eu que pedi que interferissem e parassem a


cerimônia.

Houve uma explosão de falas e rosnados e Petrus gritou novamente.

— Calem-se!

— Ela mente! — Katra gritou.

— Você pediu ao rei que parasse nossa cerimônia de união?

— Sim, eu pedi.

— Quando?

— Depois que o encontrei no quarto, que soube que estava acasalado com
Sami.

— Por quê?

— Porque eu vi seu sofrimento de ter perdido sua companheira, estava


cortando os laços com ela e sua dor era imensa. Não podia continuar com
aquilo. Era errado separar companheiros de alma, muito errado e ia contra a
vontade dos deuses, eu vi que amava a Sami. E... eu amava Harley.
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Houve outra comoção e ela suspirou.

— Isso já seria uma traição! — Katra gritou.

— Katra, se abrir a boca mais uma vez sem minha autorização irei
amordaçá-la.

Ela arfou e calou-se.

— Já amava Harley naquela época?

— Sim, alfa, o amei desde o primeiro instante que o vi, mas sabia que
minha obrigação era me acasalar com o alfa e então suprimi meus
sentimentos e segui em frente, mas ao fim fiquei desesperada e pedi ajuda ao
rei, somente ele poderia interferir e evitar uma guerra. Os acontecimentos
foram por conta deles então. Inclusive aceitei o desafio da alfa para não
envergonhar minha alcateia, mas não queria feri-la.

Petrus se revirou na cadeira, olhou para Sami e depois para Harley, que
estava com os braços cruzados no peito.

— O que houve depois que voltou para a Itália?

— Meu pai estava furioso, tanto que não ousava me aproximar, nunca o vi
tão transtornado. Pensei que com o tempo as coisas se aplacariam, mas um
dos meus seguranças me ouviu no telefone com o Erick quando pedi sua
ajuda e que avisasse o rei e ele me chantageou.

— Chantageou?

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— Sim, pediu dinheiro e minhas pedras preciosas, senão contaria ao meu


pai.

— Isso me lembra de que tenho um lobo italiano para estripar! — Harley


rosnou.

— No princípio aceitei a chantagem e paguei tudo que podia a ele até


falir, mas ele cumpriu a ameaça e contou ao meu pai o que fiz. Então meu pai
me levou ao tribunal e fui condenada.

— Foi banida.

— Sim, expliquei meus motivos a eles, que não podia me acasalar com
um lobo que estava acasalado, que era errado separar companheiros e ele não
me perdoou, não me entendeu. Fui banida e condenada a uma Spurga.

— Então Harley a salvou.

— Sim. Harley apareceu na Floresta De Gamo e me tirou de lá, fui para a


ilha do alfa Noah onde sua alfa, Ester, me salvou e depois vim para cá. E o
resto o senhor já sabe, me recuperei e eu e Harley nos acasalamos.

Petrus respirou fundo e esfregou a testa.

— Então foi condenada a morte por... me salvar. Seu sacrifício salvou a


mim e a Sami de um futuro infeliz e porque amava Harley.

Pietra o olhou e franziu o cenho e ela olhou para Sami, que sorriu.

— Sim, alfa, não desejava traí-lo, mas tinha sentimentos por Harley.
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— Porque já sabiam que eram companheiros desde aquela época.

— Não sabia direito, estava muito confusa. Meu coração sabia, mas minha
obrigação era negar. E eu sofri calada.

— Eu sabia — Harley disse com a voz gutural.

Petrus respirou fundo novamente e um silêncio se fez na sala.

— Harley, você sabia que ela era uma pária desde que foi para a floresta?

— Somente sabia que iriam matá-la, depois quando estávamos vindo,


Liam comentou o que aquilo se tratava. Então, depois ela me contou a
verdade.

— Pietra lhe contou?

— Sim, ela nunca mentiu, ela me disse a verdade assim que voltou a falar
e eu não liguei a mínima.

— Beta, não pode se acasalar com uma pária! — o ancião disse.

— Posso me acasalar com um pato se eu quiser. Pietra não é uma simples


loba que me apaixonei, ela é minha companheira, ela foi enviada para mim,
pelos deuses, porque somos companheiros de alma.

Houve um rebuliço dentro da sala e Petrus teve que rosnar novamente


para que se calassem.

— Porra, não conhecem a palavra calados?! Por Zeus, parecem crianças


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briguentas que não conseguem ficar com a boca fechada. Harley, continue.

— Sabe essa merda de conselho? Não dou a mínima.

— Somos os anciões! — o velho disse.

— Vocês não sabem de nada o que realmente vivemos e sua opinião não
me importa. Ela vive em meu coração desde que pisou nesta ilha. Ela é meu
destino e estive calado, remoendo minha desgraça em silêncio. Tenho me
sentido miserável e não suporto mais. Não fui enganado, sempre soube que
ela era uma pária, pois fui eu que a salvou de ser morta pela alcateia italiana.
Eu sabia muito bem o que estava fazendo e estava disposto a ir até as últimas
consequências. A partir do momento que Pietra se tornou minha
companheira, a companheira do seu beta, ela deveria ser respeitada como
uma autoridade aqui. O que vocês fizeram contra ela, colocando sua vida em
risco, ferindo-a e ainda por cima ferindo meu filho, é imperdoável.

— Filho?

Harley se virou e olhou para Katra.

— Minha companheira espera meu filhote e vocês quase a mataram!

— Ela era nossa inimiga!

— Não, você é nossa inimiga, porque nunca se conformou que não te


tomei como companheira, que passou por cima de minha autoridade e atentou
contra a vida de minha companheira. Pietra nunca fez mal a ninguém desta
ilha e somente quis ter um lar e viver em paz ao meu lado. Mas vocês fizeram

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o quê? Trataram-na com desrespeito, armaram um motim e uma emboscada,


vários lobos atacando uma fêmea, isso não perdoarei.

— Beta, nossas leis dizem que devemos virar as costas para os párias, não
podemos ajudá-los — o ancião disse.

— Ao Hades com as malditas leis medievais! Nós evoluímos, precisamos


mudar as coisas nessa ilha. Precisamos agir mais como uma família e não
como bárbaros, querendo se manter num poder fraco e sem sentido, baseado
no medo.

O ancião se aproximou e olhou para Pietra e depois para Harley.

— Não podemos omitir que ela é uma pária.

— Você não tem que permitir ou omitir nada, velho, não me custa nada
arrancar sua cabeça. Não ouviu os relatos que ela fez? Não teve culpa de
nada.

— Sou um ancião, me deve respeito. Mesmo que pudéssemos perdoar o


que ela fez, ela não é digna de governar esta ilha ao lado do beta, assim como
não era apta a ser uma alfa.

— E por que não seria? Porque tínhamos uma rixa com os italianos?
Pietra é uma loba muito inteligente e interessada no bem dos lobos. Vocês é
que não deixaram que ela demonstrasse.

— Porque ela é uma loba deficiente! Uma loba deficiente, fraca, que por
qualquer coisa sufoca ou pode ter seu coração pifado não é digna de ser uma

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alfa nem beta — o ancião disse.

Houve vários murmúrios e Harley respirou fundo para não matar todos os
lobos.

Harley olhou para Pietra e viu o desalento em seus olhos.

— Pietra tem um problema em seu coração e seus pulmões, sim, mas para
mim não importa. A lei dos lobos que é irrevogável é que companheiros não
podem ser separados. Ela é minha companheira e eu, como companheiro e
seu beta, não me importo. Se lobos imbecis como vocês pararem de
atormentá-la, eu garanto que ela terá uma vida longa e sem surtos.

— Mas...

— Não há mas! — Petrus disse. — Pietra não será julgada por ter
problemas de saúde. Não permitirei tal coisa e nem que seja depreciada por
isso. Ela é uma loba totalmente capaz para ser alfa e beta.

Harley respirou fundo pelas palavras de Petrus.

— Bem, ancião, sei que antigamente as coisas eram assim, não mais. Eu
vou prestar meus respeitos e o que penso sobre você.

— Não estou sendo julgado aqui!

— Mas está sempre pronto a arruinar nossa paz.

O ancião arfou e franziu o cenho, parecendo muito insultado com a


declaração.
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— Não faço isso, somente quero que as regras sejam seguidas. É preciso
ter ordem na alcateia.

— Você não prestou para impedir a guerra travada injustamente contra a


ilha de Noah, este conselho falido nesta ilha morreu quando meu pai morreu.
Ainda respira porque eu e Petrus ainda temos respeito pelos anciões, mas ele
acaba quando abre sua boca para querer ferir minha companheira.

— Não pode ferir um ancião.

— E quem vai me impedir? Você? Pode tentar.

— Harley...

— Não, Petrus! Já passei todas as provações que poderia nessa vida. Fui
preso, torturado, fui desprezado pelo meu pai por ter um cérebro e querer usá-
lo ao invés de meus punhos, fui condenado à morte, abri mão da única pessoa
que amei na minha vida para que esta ilha continuasse nossa e vocês
mantivessem sua boa vida, suas casas. Deixei que minha companheira fosse a
sua companheira! Sofri calado, morri mil vezes e juro, que agora, depois de
tudo, ela regressou para mim, para que eu a cuide. E não haverá um homem,
um lobo ou sequer um deus que me faça me separar dela. Não o farei, nem
que tenha que guerrear, me tornar um pária como ela e ir embora daqui. Nem
que sofra por abrir mão de você, de minha família. Não a largarei, jamais.
Porque ela é uma vítima, é inocente e não merece a injustiça que lhe foi
imposta. E ela é minha vida. Pietra é minha companheira de alma e lutarei
por ela até a morte.

Petrus rangeu os dentes e rosnou alto. Levantou e andou por um momento

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pensativo, passou as mãos pelos cabelos e ficou calado.

Pietra estava sufocada e olhava para Harley com os olhos arregalados e as


lágrimas escorreram por sua face.

O silêncio imperou na sala e não dava para se escutar um sussurro. Todos


estavam chocados e com os olhos arregalados.

Então Petrus se virou e olhou sério para todos.

— Sim. É de meu conhecimento os ocorridos e tenho jurado que a


defenderia, assim como a ti, beta. Pietra foi condenada por salvar a mim e
Sami. Por isso não posso condená-la e agora muito menos por carregar seu
herdeiro. Ela é inocente e somente foi um peão no meio desta lama toda.

O silêncio absurdo continuou na sala, uma agulha poderia ser ouvida se


caísse no chão.

— Decreto que Pietra é uma Papolus agora, beta desta alcateia, a


companheira de Nico Papolus e, como minha palavra é lei, quem tocá-la será
banido ou morto. Ela não quebrou as leis do rei, porque naquele dia ele disse
e todo mundo ouviu que os italianos estavam proibidos de entrar na nossa
alcateia, mas ela seria uma exceção, que ela poderia ficar.

— Alfa... — o ancião começou a discursar.

— Decreto também que o conselho de anciões está extinto.

— O quê?! — o ancião gritou assombrado.

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— Isso que ouviu. Novas leis serão reformuladas e estes pensamentos


medievais não serão mais aceitos aqui. Não haverá desrespeito à Pietra e às
bruxas e eu determino isso.

O ancião abriu a boca, mas o outro lobo velho, que até então esteve
calado, se levantou.

— Acatamos suas ordens, meu alfa, e depois de tudo que ouvi aqui
concordo que excessos foram tomados e que esta moça foi injustiçada. Pode
ser que tenha sido banida por trair sua alcateia, aos olhos de seu pai, mas ela
o fez em favorecimento da nossa, por acreditar na verdade e em seus ideais e
sentimentos, por isso merece ser perdoada por nós. Nossa ilha deve evitar
mais conflitos, devemos buscar a paz. Eu desejo a paz, a tranquilidade e uma
vida digna a todos. Não podemos querer guerrear o tempo todo, não somos
mais guerreiros bárbaros que o necessitamos. O prejuízo que tivemos com
nossos lobos por causa da guerra foi sem precedentes. Reconhecemos vosso
sacrifício ao tentar aceitar a chantagem dos italianos e abrir mão de sua
companheira para que preservasse a ilha e, então, por causa dessa moça as
coisas se ajeitaram aqui. Ela merece nossa apreciação e nosso respeito e
desejo que sua união com o beta seja abençoada pelos deuses.

Todos arfaram espantados, inclusive o outro ancião que ficou sem fala
para contestar qualquer coisa. Os lobos se olharam aturdidos e ficaram
pensativos.

Os ânimos foram amenizados e os lobos pareciam estar entrando em


razão.

Afinal, os sobreviventes sabiam bem o que tinham passado por quererem


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guerra o tempo todo e viram que Pietra não era uma vilã.

— Obrigado por me apoiar, Korintus. Os agressores mereciam a morte,


mas demonstrarei misericórdia, como aviso de minha boa-fé e que sirva de
alerta, pois não serei condescendente outra vez. Harley, como você foi o mais
ofendido desta história e sua companheira, lhe permitirei que dê o castigo que
os lobos que a machucaram merecem.

Katra ofegou e os outros lobos também.

— Castigo? Mas agimos para proteger a alcateia, nosso alfa e beta!

— Sim um castigo — Harley disse. — Porque podem ter uma pena


aplacada por dizer que estava tentando nos defender, mas ela já era minha
companheira e isso não posso deixar passar. Mas vou lhe dar uma chance de
se redimir, contanto que demonstre arrependimento. Não os banirei da
alcateia, mas não viverão mais em Alamus.

— O quê?

— Viverão em Creta, com os outros lobos da costa.

— Eu não posso ser punido por querer expulsar uma pária imunda da
minha ilha! — um dos lobos disse zangado.

Harley rosnou, saltou sobre o lobo e jogou-o contra a parede. Ele caiu no
chão e saltou sobre ele, agarrando-o pelo pescoço.
Petrus levantou para impedi-lo, mas o beta quebrou seu pescoço com um
golpe, rosnou e olhou furioso para todos que estancaram com os olhos

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arregalados.

— Onde aprenderam conceitos de honra e justiça? Com meu pai? —


Harley gritou para todos. — Atacar uma loba inocente, grávida, deixou os
lobos se achando os poderosos? Vou mostrar a minha justiça se ousarem
machucar minha fêmea novamente. Depois de tudo que foi dito aqui alguém
ainda ousa incriminá-la? Quão burros podem ser?

Pietra estava o olhando com os olhos arregalados. Harley tinha


decididamente um aspecto intimidante, era uma fera letal no campo de
batalha, como já tinha visto naquele dia no bosque, mas agora parecia muito
furioso.

Harley intimidava e queria acabar com aquilo de uma vez. Não queria que
ela fosse submetida ao medo.

Antes de voltar a olhá-lo outra vez, Pietra respirou fundo. Ela não tinha
medo dele, tinha orgulho e o respeitava. E isso era justamente o que a
assustava. Não o efeito que tinha sobre ela, mas o fato de afetá-la daquela
forma. A maneira que ela se derretia por ele.

Como era possível que com um único olhar fizesse tremer seu corpo
inteiro? O que seus pais pensariam dela?

Ela percebeu seus pensamentos, estava se importando com o que seus pais
diriam dela, mas isso não importava mais. Eles não estariam pensando nela. E
se pensassem seria com vergonha e desprezo.

Era difícil dominar os pensamentos, mas com o tempo conseguiria.

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Afastou os pensamentos e prestou atenção no que Harley estava falando.


Pelo menos, não tinha arrancado a cabeça de mais ninguém.

Pietra se virou na cadeira e olhou para Sami que estava aturdida com tudo,
mas calada, e se compadeceu dela.

Como uma humana deveria estar atordoada com tudo aquilo. Mas ela
tinha que aprender algumas coisas. Estava altiva e ponderada, isso merecia
um grande crédito.

— Então, aos demais agressores ou possíveis agressores, aceitam a


realidade ou teremos que esfregar em suas caras? — Petrus pediu, com a voz
gutural e raivosa.

Katra abriu a boca para retalhar.

— Rá! Você! Sem mais uma palavra, porque juro que minha paciência
está por um fio e se não acatar sua sentença e viver ali em paz, Katra, será
banida e agradeça que ainda tem a cabeça sobre o pescoço. Não permitirei
mais nenhum desacato a mim ou a Pietra. Fui claro? Mais uma palavra, gesto
ou pensamento, arranco sua cabeça.

— Sim, beta.

— Quer ter o destino que Pietra teve e sentir o que ela sentiu ao ser
rechaçada e agredida?

— Não, beta.

— Pois parece que é isso que está buscando, Katra, ou pensou que lhe
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beijaria os pés e agradeceria por machucar minha companheira?

— Não, beta.

— Pietra é uma Papolus agora, é minha companheira. Deverá honrá-la e


respeitá-la, como eu. Entendido? E a você também, velho!

— Mas não nos esqueceremos do que ela é.

Ele rosnou novamente.

— É um dos nossos, e a tratará com gentileza, senão banirei você também.

— Não pode me banir.

— Harley não pode, mas eu posso.

— Não pode fazer isso, alfa, sou um conselheiro.

— E para que serve seus conselhos, hã? Instigando o mal? Era este tipo de
conselho que dava ao meu pai?

Ele arfou espantado.

— Dispenso seus conselhos, minha cabeça está muito lúcida para ouvir
tanta porcaria.

Quando viu que tinha perdido, o ancião assentiu e Petrus rosnou e, em


seguida, disse em um tom menos grave: — Sequer pense em matar mais
alguém, Harley, não queremos começar uma guerra dentro de nossa própria
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alcateia, por mais que eu mesmo tenha vontade de fazê-lo. — Olhou


diretamente para Harley. — Entendido? Sei que custa bastante controlar-se,
pois eu mesmo estou me controlando.

Harley assentiu e olhou para Katra.

— Então, Katra, qual sua decisão? Esta será sua única chance de tomar o
lado correto.

Ela suspirou e disse de maneira respeitável: — Vejo que nos equivocamos


e cometemos um erro de julgamento e agradeço seu ato benevolente em nos
perdoar. Viveremos pacificamente em Creta e desejamos os mais felizes anos
para o senhor e sua companheira e muita saúde ao seu filhote.

Harley olhou seriamente para ela com os olhos tão devoradores que ela
não conseguiu encará-lo e baixou o olhar. O beta se afastou, olhou a todos e
com a voz forte e imponente falou: — Nós somos lobos! Estamos nesse
mundo há dois mil anos e temos que lutar para sermos livres entre os
humanos. Não me façam lutar para ser livre entre meu próprio povo, mas se
não agirem com a cabeça ao invés de suas garras e seus próprios interesses,
eu lutarei! Nós damos o sangue para mantê-los seguros, mas não terei
misericórdia da próxima vez que ousarem me afrontar, me desafiar ou à
minha companheira. Nunca mais! Tenho em meu conceito que lobos são
muito inteligentes, não me façam pensar que há lobos que não são, como
estão se esforçando para se mostrar. Podemos ser duros, mas nunca injustos.
Nunca deixem o lado humano que corrompe mentes pelo poder corrompê-los,
porque sabe o que acontece? Vocês perdem a mente.

O silêncio imperou na sala e Harley viu pelo olhar dos lobos presentes que
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havia finalmente alcançado o ponto.

— Alfa? — Harley pediu a Petrus e o olhou, passando a palavra a ele, pois


seu discurso havia terminado.

— Estou de acordo. Há mais alguém que não concorde com que Pietra
seja a beta de nossa alcateia? Terá a oportunidade de partir em paz, pois não
tolerarei mais nenhum ato contra ela e já estou cansado dessa merda! —
Petrus disse autoritário.

Petrus esperou, mas ninguém se manifestou.

— Sami, minha alfa, deseja dar seu veredicto?

Os lobos olharam para Sami, um pouco aturdidos e ansiosos para o que


ela diria.

Sami levantou da cadeira e disse seriamente, sentindo-se valorizada por


Petrus querer seu veredito.

— Nós temos travado um longo caminho e tenho tentado ser uma boa alfa
para todos na ilha, ser compreensível e agradeço por serem compreensíveis
comigo, por ser uma humana transformada em loba. Mas estou do lado de
Pietra e Nico e acato todas as palavras do nosso alfa. Quem afrontar ou tratar
Pietra de forma desrespeitosa se verá comigo.

Todos os lobos arfaram e sussurraram entre si e Petrus deu um sorriso no


canto da boca.

— Harley, venha aqui — Petrus disse seriamente.


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Harley girou nos calcanhares e foi até Petrus, parando na sua frente.

Petrus o olhou por um minuto e então falou seriamente: — A ti demonstro


todo meu respeito e minha lealdade, meu irmão, meu beta, hoje e sempre.

Petrus deu um soco no peito de Harley, que significava o gesto de


confiança e lealdade entre lobos.

Harley o olhou aturdido por um momento, pois não esperava tal ato do
alfa na frente de todos. Ele se emocionou e os dois se abraçaram forte, com a
garganta embargada.

— Sempre estarei contigo, irmão.

— Obrigado.

Harley rosnou e eles se olharam nos olhos, emocionados, e então respirou


fundo e foi até Pietra, levantou-a da cadeira e virou para os lobos ali
presentes.

E, mais uma vez, Petrus surpreendeu Harley e Pietra que estava com a
garganta embargada, sem conseguir segurar toda sua emoção e desespero.

— Pietra?

— Sim, alfa.

— Gostaria de falar algo para a alcateia?

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Ela respirou fundo e olhou para o rosto dos tantos lobos que estavam no
salão e para Harley.

— Sei que eu não sou exatamente a beta que queriam para Nico Papolus, e
talvez ainda tenham dúvidas sobre minha integridade e lealdade e pensem
que não sou merecedora de tal posição. Mas eu fui criada para ser uma alfa,
sou de uma linhagem pura e... eu sei que errei com meu pai e minha alcateia e
nem sei exatamente porque errei tanto. Eu cometi um erro e paguei por isso.
Mas este lobo aqui me mostrou um amor incondicional, me mostrou que nós
dois não estamos aqui por acaso e eu o amo, com todo meu coração. Então
hoje eu digo sem medo, que se tivesse que passar por tudo isso de novo para
estar ao lado de meu companheiro, então eu passaria. Eu serei uma boa beta e
com o tempo podem pensar sobre isso novamente.

— Mostrem respeito e lealdade à sua beta! Quem não quiser fazê-lo saia
agora da minha ilha! — Petrus disse severo.

Todos os lobos presentes se ajoelharam sobre o joelho direito e colocaram


a mão em punho no peito e uivaram. Katra rangeu os dentes, contrariada, mas
engoliu sua raiva e fez o mesmo, assim como os lobos que estavam com ela.
Se ela sentia algum ressentimento, o escondeu bem.

Pietra ofegou porque não esperava tal coisa.

Ela já nem sabia o que esperar depois de tantos sustos. Bem, parecia que
sua nova vida realmente estivesse começando e ela teria sua paz.

Assim esperava.

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Harley suspirou e a abraçou forte.

— Tudo acabou, meu amor.

— Só quero estar com você e ter nosso bebê em paz.

— Prometo que teremos isso.

— Essa audiência acabou, retirem-se — Petrus disse.

Todos saíram e quando os alfas e os betas ficaram sozinhos, Petrus


suspirou e sentou na sua cadeira novamente.

— Acho que merecemos uma cerveja gelada — Petrus resmungou.

— Por Zeus, uma caixa inteira — Harley concordou com um suspiro.

— Pietra, ainda estou em uma espécie de choque com o que nos contou.

— Não sei o que dizer, alfa.

— Não é estranho isso de seu acasalamento com o alfa de Alamus?


Independente se fosse eu ou outro de meus irmãos?

— Nunca pensei desse jeito, alfa.

— Mas eu sim e falo agora. O que diabos o alfa italiano estava


escondendo, afinal? Se ele queria a ilha a teve, mas devolveria junto com
você. Não faz nenhum sentido.

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— Não sei, mas gostaria de descobrir, pois isso não me cheirou nada bem.

— Bem, acho que devemos esquecer isso por hoje e ir tomar nossas
cervejas e depois quero ir para casa e descansar com minha companheira.

Petrus foi até ele e o abraçou.

— Meus parabéns novamente pelo seu filho, Harley.

Ele soltou uma gargalhada.

— Céus, eu vou ser pai, isso sim merece uma comemoração.

Sami foi até Pietra e a abraçou.

— Mais uma vez, parabéns, Pietra. Espero que sejam muito felizes e
muito obrigada pelo que fez. Se não fosse você, eu e Petrus não estaríamos
juntos. Nem consigo imaginar isso. Seríamos quatro pessoas miseráveis para
o resto da vida.

— Sim, isso me assustou muito.

— Pois bem, agora nós a defenderemos e se mais alguém se meter a besta,


eu pessoalmente chutarei suas bundas lupinas.

Pietra riu, emocionada.

— Obrigada, alfa. Mas depois de tudo, estamos com nossos companheiros


e acho que tudo está no seu devido lugar. Eu sabia que isso viria. Só que não
pensei que teriam tanta raiva.
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— Eu devia ter prevenido isso — Harley disse.

— Não, Harley, podemos até desconfiar, mas não sabemos quando as


pessoas conseguem expor sua maldade e falta de bom senso. O importante é
que resolvemos isso. Tudo vai ficar bem agora.

— Sim. E assim manteremos.

Samira se aproximou e suspirou.

— Mais emoções como esta e meu pobre coração pifará. — Todos riram.
— Estou tão feliz que este pesadelo tenha acabado e que terei um neto. Vou
adorar ter um bebê por perto, tanto tempo sem crianças. — Ela abraçou Pietra
e depois Harley. — E você, meu filho, seja muito feliz.

— Serei.

— Somos uma família e ficaremos unidos. Por muito tempo esta família
esteve separada, cheia de enganos e condenações, mas é hora de remediarmos
isso.

— Que assim seja.

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Sasha parou na porta do quarto e contemplou Jessy, com as emoções


aflorando tão intensas que perdeu a respiração.

Tudo era sempre assim em relação a ela, forte e intenso, que o deixava
descompassado.

Ele tinha ficado assustado com o que ela tinha feito com Joan, mas a
maneira que o enfrentou deixou-o orgulhoso.

Ela era uma loba guerreira sem igual e poucas teriam sobrevivido a tudo
que ela passou. Ele a tinha conhecido quando se parecia com uma flor sem
água, seca e murcha, sem vitalidade, sem brilho, e ao longo dos anos a viu
lutar para viver.

Agora, Jessy parecia uma flor desabrochada, e ele a amava mais por isso,
tanto que pensava que em muitos momentos seu coração pararia de bater de
tanta emoção. Esse momento foi um deles.

Jessy estava sentada em uma banqueta estofada diante de um grande


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espelho que ficava sobre um tripé de carvalho ornado em estilo barroco, no


quarto deles.

Estava nua, com as pernas viradas, juntas para o lado, sentada tão cordata
e delicada que ele nunca tinha visto algo tão doce. Sua barriga avantajada
descansava sobre suas pernas e seus seios empinados que, de uma forma tão
linda e perfeita, estavam inchados pela gravidez.

Tão lentamente, quase em câmera lenta, penteava seu longo e preto cabelo
pela lateral esquerda de seu pescoço. A escova macia alisava os fios do topo,
deslizando em uma forma uniforme até chegar a sua cintura onde encontrava
suas pontas.

A maneira que ela se olhava no espelho era hipnotizadora. Assim que


soltou a escova, lentamente, sem tirar o olhar do espelho, acariciou sua
barriga e, então, Sasha percebeu algo mais que estava se passando na sua
cabeça. Seus olhos lindos e verdes brilhantes marejaram.

Ele suspirou e lentamente se aproximou dela, a encarou no espelho,


segurando em seus ombros. A imagem que ele via no espelho era tão
maravilhosa quando ela o olhou, somente erguendo os olhos, que ele queria
registrar numa foto para olhar por toda a vida.

A forma que ela o olhava, diferente de tudo, era tão intensa, tão meiga e
arrebatadora, que Sasha nunca encontraria uma palavra certa para descrever.
E ele a amava, idolatrava, se sentia pleno quando Jessy o olhava assim. E
carregando seu filho no ventre era maravilhosa.

— Você é tão linda que nem acredito que posso te tocar.

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— Mesmo estando assim?

— Ainda mais agora que carrega meu filho.

Seus olhos marejaram mais e Sasha piscou atordoado, pois não sabia que
ela ia chorar.

— Você está bem? Disse algo errado?

Ela negou.

— É que... é a segunda vez que vou ser mãe, Sasha, mas é a primeira que
me vejo no espelho... com a barriga.

— Jessy...

— Eu não desejei Lili, não vi como estava quando fiquei grávida, eu não
queria...

— Isso passou. Você a aceitou e agora ela é preciosa. E você é a melhor


mãe do mundo.

— Sim, eu fiz. Eu superei Lili, mas o que quero dizer é que esta é a
primeira vez que me acho bonita e que amo o que está no meu ventre.

— Entendo e fico feliz que deseje e ame este bebê, pois eu também.

— Mas você me acha bonita assim?

Porra, Sasha queria que o chão se abrisse. Lentamente, ele ajudou-a se


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levantar e a levou mais próxima ao espelho e a fez se encarar e fixou seu


olhar no dela. Olhando-a sobre seu ombro e abraçando-a.

— Jess, olhe para mim e preste muita atenção.

— Ok.

— Você é linda, hoje e sempre, porque é meu amor, minha vida e saiba
que este bebê será muito amado por mim, você, Lili e por todo mundo nesta
ilha porque ele é seu, uma guerreira sem igual. Uma loba tão linda e valorosa
que me orgulha todos os dias. E pode ficar velhinha de bengala que sempre a
acharei linda. — Ele deslizou suas mãos pela sua barriga e beijou seu
pescoço. — Pode sentir nosso amor e que está tudo bem no nosso lar, Jess.

— Sim e... eu amo este bebê, amo você e este lar.

— Pode me dizer sempre o que sente, ok?

— Direi. Está ansioso?

— Estou louco para ver nosso bebê e poder ensinar a ele a correr pela ilha
como o lobo lindo e forte que será e assistir ao jogo de basquete.

Ela suspirou e deu um sorriso tão maravilhoso que iluminou seu rosto e
Sasha sorriu somente por vê-la, enchendo seu coração de alegria.

— Amo você, lobinha. Eu quero saber se está feliz aqui comigo, Jess.

Ela suspirou, se virou e segurou seu rosto entre as mãos, acariciando-o.

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— Sim, nunca estive tão feliz. Você me mostrou o que a felicidade


significa.

— Bom, porque eu também estou muito feliz com esta família. Eu amo
você, lobinha, tanto que, se cada vez que olhar para você eu tiver problemas
em respirar, vou acabar com algum tipo de asma.

Ela riu e uma lágrima caiu de seus olhos e eles sorriram um para o outro
de forma tão pura e amorosa que o amor era claramente visto no olhar.

— Quero saber como está seu coração em relação a Joan.

— Foi como eu disse. Nunca mais quero pensar nele. Eu acabei com ele.
E qualquer sentimento que senti quando menina ou agora morreram com ele
quando Noah o matou.

— Ok, então somente vamos cuidar de nós e desse bebê que estará
chegando por estes dias.

— Sim. — Ela deslizou a mão sobre seu peito nu, pois ele somente estava
de calça jeans. — Suas cicatrizes sumiram.

— Sim, a magia do lobo fez com que sumissem.

— Elas sumiram na sua mente também?

— Não sumiram, mas tenho coisas mais importantes para me lembrar do


que aqueles tempos difíceis. Quando elas querem surgir, as jogo fora, olho
para você, escuto a risada de Lili, sinto meu filho se mexer na sua barriga ou
corro pelo bosque e pela praia como lobo. Isso faz com que elas vão embora.
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— Agora terá mais um para chorar nessa casa.

Ele riu e a beijou.

— Estou ansioso.

— Bom, porque... — ela soltou um gemido. — Acho que este menino que
tanto quer ensinar a correr pela ilha quer nascer.

Sasha arregalou os olhos, deu um passo atrás e viu que sua bolsa rompeu.

— Jesus!

Ele correu, ligou para Ester e Virna e, em seguida, levou Jessy para a
clínica.

Quando foi jogado para fora da sala de parto, começou a andar de um lado
a outro e não tardou para que diversos lobos estivessem ali com ele.

Era um nascimento especial, todos queriam estar presentes para receber


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um novo lobo na ilha. Era um grande acontecimento. Todos sabiam o que


aquele filho significava para Jessy e queriam mostrar a ela que estavam ali
para apoiá-la e a Sasha.

O triste era que, mesmo estando na varanda da clínica, ele ouvia os


ofegos, gemidos e gritos de dor de Jessy. Naquele momento, Sasha estava
odiando ter o ouvido aguçado, pois ficava mais nervoso ainda.

— Papai! — Lili gritou vindo correndo e ele a pegou no colo e a abraçou.

— Oi, princesa.

— O bebê já chegou?

— Ainda não, papai vai entrar para ficar com a mamãe. Você pode ficar
aqui com Clere?

— Sim, depois posso ver o bebê, Xaxa?

— Claro que pode, minha linda.

Ele beijou sua bochecha, a colocou no chão e girou nos calcanhares,


entrou na clínica e gemeu quando abriu a porta.

— Sasha! — Jessy gemeu.

— Estou aqui, amor.

— Ei, moço, dissemos para ficar lá fora — Virna disse.

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— Quero ficar com Jessy.

— Deixe-o ficar, Virna, por favor — Jessy pediu.

— Ok, então vista aquela roupa ali, se quiser ficar — Virna disse.

Num segundo estava vestido com uma túnica verde, uma touca e abraçado
a Jessy, segurando sua mão, e seu coração batia tão forte no peito que doía.

— Fique aqui comigo, Sasha.

— Estou aqui e não vou a nenhuma parte.

O parto de Jessy foi rápido e quando Virna ergueu o bebê e Jessy e Sasha
o viram, chorando a plenos pulmões, movimentando as perninhas e braços,
não aguentaram a emoção.

Sasha nunca pensou que um momento como aquele o afetaria tanto. Sua
garganta estava embargada, respirar estava difícil e seu coração batia mais
forte no peito. Ele era pai de um menino-lobo. Quando em sua vida poderia
imaginar tal coisa? Poderia dizer que era algo extraordinário e que não
saberia descrever tal emoção.

Virna e Ester rapidamente fizeram os procedimentos necessários com a


mãe e o bebê e Jessy soluçou quando o belo menino, envolto em uma manta
branca, foi colocado em seus braços e seus choramingos cessaram, ciente de
estar protegido no colo de sua mãe.

Ele era lindo, perfeito e muito esperto. Quando abriu os olhinhos,


encarou-a, com lindos olhos verde-claros.
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Jessy chorou aos soluços, abraçada ao seu bebê, porque houve uma
explosão de alegria dentro dela.

Sasha abraçou os dois e Virna e Ester ficaram ali, chorando de emoção,


porque sabiam como aquele momento era importante para Jessy.

— Ele é lindo, meu amor. Olhe como é forte, já agarrou meu dedo —
Sasha disse, emocionado.

— Sim — ela disse, rindo e chorando ao mesmo tempo. — Amo você,


Sasha.

— E eu amo você, Jessy.

Ela o beijou e beijou o nariz do bebê.

— E amamos você também, pequenino, seja bem-vindo.

— Como vão chamá-lo? — Ester perguntou.

— O que acha de Kail, Sasha? — Jessy perguntou com um sorriso.

— Kail é bonito.

— É irlandês. Significa poderoso.

Sasha sorriu e olhou para o bebê.

— Kail, o poderoso, gostei.

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— Ele será um guerreiro, poderoso, como o pai dele.

Sasha sorriu emocionado.

— E forte e belo como a mãe. — Ele beijou sua testa demoradamente e


suspirou, embalando Jessy em seus braços.

Nisso, Noah entrou na sala com Lili no colo e a soltou no chão. Ela correu
para Sasha, que a ergueu e a colocou no seu colo e beijou sua bochecha, e ela
ficou olhando o bebê com um lindo sorriso e entusiasmo, com os olhinhos
brilhantes.

— É uma mocinha como a Safira e eu? — Lili perguntou.

— Não, é um menininho como Lucian.

— Tenho um Lucian só pra mim?

Jessy riu, assim como todos na sala, e a beijou.

— Bem, você tem um irmãozinho só para você, mas ele se chama Kail.

— Kail. Vamos brincar muito, Kail, vou te ensinar a fazer castelo, adoro
fazer castelo de areia — ela sussurrou para o bebê.

Com uma passada larga, Noah estava ao lado deles e quando viu o bebê e
Jessy o olhou, com os olhos banhados em lágrimas, mas com um sorriso
deslumbrante, o lobo gigante sentiu sua garganta embargar.

Sim, Noah sabia e sentia aquilo tudo bem no peito. Pois para ele era um
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grande momento. Nada comparado com o outro parto dela, que havia sido um
terror. Este sim era o que ele queria ver e estava feliz. Era como se uma paz
nova entrasse em seu coração.

— Parabéns, Jessy, Sasha.

— Obrigada, Noah.

— Fáilte go dtí an phacáiste, Kail beag. Go raibh an déithe a chosaint —


Noah disse com a mão sobre a cabeça do bebê.

— O que você disse? — Ester perguntou.

— Seja bem-vindo a esta alcateia, pequeno Kail. Que os deuses o


protejam. É irlandês, a língua de nossa terra — Jessy respondeu emocionada
e Ester olhou para Noah e o abraçou.

O bebê pareceu entender, pois olhou ao gigante e soltou um suave


resmungo, o que arrancou uma risada emocionada de Noah e de todos.

Encostando o ouvido no peito de Noah, Ester pôde sentir seu coração


batendo acelerado e ela o abraçou mais forte.

Seu alfa era sensível, poderoso e tinha o coração bondoso e honrado. Ela o
amava por ser daquela magnitude. Por amar Jessy e fazer de tudo por ela.

Sim, aquele foi um grande dia, um grande momento e depois a sinfonia de


uivos de todos os lobos da alcateia se alastrou pela ilha, onde todos deram as
boas-vindas para o pequeno lobo.

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Por um momento Harley e Pietra ficaram no alto da colina observando a


ilha.

Diferente da maioria das ilhas de Creta, Alamus possuía uma grandiosa


mata, com muito verde entre as rochas cinza, características da Grécia e
grandes árvores frondosas e as casas ficavam entremeadas entre elas. Ao
longe podia ver uma intenção de ocultar os habitantes da ilha.

Uma, porque era realmente uma intenção; e outra, porque os lobos


gostavam muito do verde da natureza, era como se energizar e as lobas
realmente trabalhavam duro nos seus jardins e floreiras, para dar um ar
colorido aos seus lares.

Na península de Creta, a visão era um pouco mais rústica e mais


acinzentada e branca.

Alguns até podiam pensar que seria meio atrasada, mas estavam
inteiramente enganados. Havia tecnologia, todo tipo de facilidades, internet,
tevê a cabo, telefone, e acesso a tudo o que necessitavam.
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Nunca faltava nada a nenhum morador. Isso os próprios lobos se


encarregavam e Petrus e Harley e sua alfa providenciavam.

— Gosta daqui?

— Eu adoro aqui, Harley. É tão lindo.

— Fico contente.

Ele beijou sua testa e pegou em sua mão e seguiram o caminho e entraram
em um pequeno templo em pedra.

— Este é o templo das Górgonas. Ele foi construído no período clássico.


Uma parte dele foi destruída com o passar do tempo e outra na Segunda
Guerra Mundial, e depois minha família restaurou os principais monumentos
externos, esta parte aqui continua como estava.

— Estas pedras são originais da antiguidade?

— Sim.

— Uau! É emocionante.

— Sim, há mais magia nesta ilha, além da dos lobos.

— Eu sei e posso senti-la. Deve ter sido difícil durante a guerra.

— Nossa ilha foi atacada e o bombardeio destruiu nossa casa e uma parte
de Creta. Muitos dos nossos morreram e então evacuamos a ilha por um
breve momento. Depois que a guerra acabou retornamos e reconstruímos
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tudo. Foi um período difícil, perdi duas irmãs e um irmão no bombardeio,


assim como muitos amigos.

— Oh que horror!

— Minha mãe sofreu muito e meu pai se tornou mais duro do que
geralmente era.

— Na Itália também foi difícil, também tivemos que nos esconder. Aliás,
durante quase sempre. Sabe como é difícil se esconder num lugar onde há
uma acirrada caça às bruxas pela igreja?

— Eu sei. Com nossas características físicas éramos considerados bestas


do demônio, somente pela cor dos nossos olhos e o cabelo. Imagina se
alguém visse nosso lobo.

— Sim, imagino, às vezes, quantos mais de nós haveria no mundo se não


tivéssemos sido mortos somente por sermos diferentes dos humanos.

— Teríamos a terra cheia de shifters de lobo?

Ela riu e assentiu.

— Sim.

— Seria bom.

— Seria. Foram os nazistas que estiveram aqui?

— Creta foi invadida por tropas alemãs e italianas.


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Ela o olhou e piscou aturdida.

— Não descobriram os lobos?

— Não, quer dizer, alguns sim, os que nos viram não tiveram tempo de
contar a alguém. Matamos o maior número de nazistas que pudemos.
Matamos um pelotão inteiro, então quando enviaram bombardeios,
evacuamos.

— Sinto muito.

— Quando os bastardos se estabeleceram na nossa ilha, deixamos que o


fizessem, então, quando acharam que tinham conquistado a ilha e baixaram a
guarda, os atacamos durante a noite e os matamos. Logo a guerra acabou e
eles deixaram a Grécia.

— Ninguém reclamou pelos soldados?

— Não aqui.

— A guerra é algo tão cruel.

— Sim. Lutamos o quanto pudemos, mas era difícil de não sermos


notados, na época não tínhamos muitos recursos para camuflar nossas
características físicas. Um lobo não gosta de fugir e se esconder porque tem a
bravura correndo em seu sangue, e queríamos proteger nosso lar. Meu pai
sempre queria lutar, porque sempre teve este febril senso de guerra, mas
naquele tempo ele ainda pensava mais no bem da alcateia do que derramar
sangue. Fazíamos de forma pensada. Nós os deixamos entrarem, depois a

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tomamos de volta. Um dia a ilha estava lotada de nazistas; no outro, somente


havia cadáveres destroçados, e desaparecidos no mar, o mesmo com os
italianos.

— Tiveram sorte de não serem capturados pelos alemães.

— Que ironia, não fui capturado pelos alemães na época, mas fui há
alguns anos e o que vi naqueles laboratórios foi atroz, tão ruim quanto a
guerra, talvez pior.

— Sinto muito.

Ele suspirou e ela o olhou.

— Esse é um dos lados ruins de viver tanto, passamos por guerras demais,
mas viver tantos anos também tem seu lado bom, acompanhamos a evolução
do mundo, a tecnologia.

— Pena que eu acho que humanamente falando as pessoas não evoluíram


tanto.

— Em alguns aspectos não.

— Mas a ilha não contém nenhum traço da destruição, a não ser estas
ruínas.

— Sim, a ilha foi reconstruída, por isso tem partes modernas misturadas
com o clássico, e o templo de Afrodite foi quase todo reconstruído, mas este
não, já estava em ruínas antes do ataque e depois ficou assim. Aliás, não sei
por que havia este pequeno templo aqui, pelo que eu saiba, as Górgonas não
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eram reverenciadas e sim temidas. Conhece-as?

— Quem não conhece? Mas elas nem sempre foram temidas, já foram
deusas reverenciadas. A mais famosa de todas era Medusa, que foi morta por
Perseu em uma de suas aventuras. Todos conhecem a história de Medusa.

Ele olhou para ela e sorriu.

— Claro que sim e minha lobinha romana e inteligente sabe de sua


história.

— Um pouco.

Ela riu quando ele beijou sua testa.

— Elucide-me, minha deusa.

— Bem, deixe-me ver se me lembro... As Górgonas eram três irmãs,


Esteno, Euríale e Medusa, filhas das divindades do mar, Ceto e Fórcis que
também tiveram outros filhos: as Greias, Ladão e Equidna. Diziam que as
Górgonas eram deusas de uma beleza descomunal, até que se equiparava a
deusa Atenas, o que a irritou muito. Porém, eram impetuosas, inescrupulosas
e desregradas, com o coração cheio de maldade.

— Se eram tão belas, o que houve? Como chegaram a ter aquela imagem
peçonhenta?

— Então, para não permitir que essas três deusas continuassem com seus
maus comportamentos e que as comparações à Atenas fossem cessadas, a
deusa da Sabedoria, as castigou, deformando sua aparência. Transformou os
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belos cabelos em ninhos de cobras violentas, que picavam suas faces. Fez
com que os seus dentes se transformassem em presas e suas peles fossem
cobertas de escamas douradas e, para piorar, tinham parte do corpo como a
forma de uma serpente. Uma coisa meio esquisita.

Ele riu e Pietra continuou: — Qualquer pessoa que olhasse diretamente


para elas, em seus olhos, transformava-se em pedra. Por causa de seu
infortúnio, e por vergonha de sua nova imagem, as Górgonas fugiram e se
esconderem no submundo na Ciméria, conhecido como "O País da Noite
Eterna" ou “O País das Sombras”.

— Deviam ser muito más para receber tal castigo.

— As três irmãs eram terríveis, mas a pior delas foi Medusa, pois depois,
por vingança, se relacionou com Poseidon. Atena, enciumada, para castigar
Medusa, tirou sua imortalidade, foi por isso que, segundo o mito, o semideus
Perseu conseguiu matá-la, cortando sua cabeça.

Harley riu do entusiasmo de Pietra e a beijou.

— Acho que seríamos bons historiadores e gosto de você assim, falante.

Ela sorriu e suspirou.

— Eu amo História e mitologia.

— Eu também gosto.

— Desculpe pelo meu período de silêncio, não conseguia ver além de


minha tristeza e desespero.
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— Eu sei e entendo. O importante é que voltou para mim. Que teve forças
para voltar e dar uma oportunidade para nós.

— Foi o único motivo que me deu forças para voltar.

Pietra o beijou e os dois se abraçaram fortemente.

— Talvez eu possa conseguir um emprego de professora de História ou da


Arte ou até de guia turística, afinal, preciso de um emprego.

Harley riu alto.

— Ora, minha senhora, quer ficar nos ônibus de turistas entretendo os


homens do mundo que vem à Grécia? Que sem graça.

Ela riu e o abraçou mais.

— Eu disse turistas e não machos.

— Oh, te arrumarei outra profissão, garota.

A beta suspirou, sorrindo, e o beijou.

— Este é um pensamento sério, companheiro, preciso de um trabalho.

— Esqueceu que é minha beta, o que já condiz com uma posição? Uma
muito importante.

— Isso rende dinheiro?

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— Não precisa de dinheiro, eu tenho muito e para nós dois. E saiba que
nunca te faltará nada. Sei que seu pai tinha uma fortuna imensa, mas aqui
comigo, terá tudo que necessita. Posso te dar o luxo que era acostumada.

— Não estou preocupada com luxo, Harley, mas sim que eu quero ser útil.

— Mas é útil, é amada, querida e muito importante, afinal é minha beta. O


povo a aceitou, agora poderá interagir com eles.

— Bem, ninguém mais me atacou, mas acredito que ainda estão


reticentes. Mas farei o meu melhor para conquistá-los.

— Tudo ficará bem, só precisamos ter paciência. E além do mais, você


terá muito trabalho para lidar comigo e nosso filho, eu garanto.

Ela sorriu lindamente.

— Isso me deixa feliz.

— Se você está feliz, também estou feliz, e prometo que ficará mais
quando eu te mostrar uma surpresa.

— Surpresa? O que é?

— Sim, mas como diz surpresa, somente poderei falar dela quando te
mostrar.

Ela riu e o cutucou nas costelas, fazendo-o rir.

Pietra sentiu um arrepio percorrer sua coluna e olhou para trás, pois
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parecia que tinha ouvido um sussurro.

— O que foi? — ele perguntou.

Olhou ao redor e depois para Harley.

— Não sei... senti uma sensação estranha.

— Sente alguma dor?

— Não, foi só... uma impressão, mas poderíamos ir?

Assim que estavam saindo do templo, ela olhou para trás e podia jurar que
os sussurros ainda persistiam além do farfalhar de um guizo.

Foi uma sensação ruim, e por um momento sentiu medo.

Harley tocou seu rosto.

— Tudo bem, pequena?

— Sim, tudo bem. Você ouviu alguma coisa?

— Não ouvi nada.

— Ok, eu devo estar imaginando coisas. Acho que minha mente está me
pregando peças. Vamos sair daqui, este lugar me dá arrepios.

— Vamos, vou te mostrar o templo de Afrodite.

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Eles saíram do terraço e desceram as escadas do templo, andaram por um


caminho de pedras entre as árvores e quando saíram em uma pequena colina,
ela sorriu olhando para outro pequeno templo, em seu estilo clássico e era
lindo.

Eles entraram e ela sorriu olhando ao redor e foi até a frente onde tinha
uma estátua perfeitamente esculpida em mármore.

— Esta é estátua de Afrodite, a deusa do amor e da beleza... eu a


reconheço. Há uma réplica dela na minha casa. Meu avô mandou fazê-la. É
uma cópia de uma estátua romana dela datada de 200 a.C. que está no museu
de Nápolis. Minha família sempre a admirou e rendeu louvores a ela. Mas
não a chamamos de Afrodite e sim de Vênus.

— Ah, o sincretismo entre a religião greco-romana.

— Sim, os deuses gregos foram absorvidos pela cultura romana e


ganharam novos nomes. Zeus foi chamado de Júpiter, Dionísio se converteu
em Baco, Poseidon virou Netuno, Afrodite virou Vênus, Artemis se tornou
Diana, e assim por diante.

— Roma também tem uma lenda sobre lobos.

— Sim, sobre a origem de Roma.

— E mesmo sabendo da verdadeira história de nossa criação, que vem de


nossos reis, na antiga Gália Bélgica, a Grécia também tem sua lenda de lobo.

— Sim, toda cultura tem seus mitos, mas pouco se sabe o que de verdade

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há nas lendas e mitos.

— Sempre há algo de verdade. Como diz o ditado, onde há fumaça, há


fogo, mesmo que seja uma pequena labareda. — Ela riu. — Conte-me sobre
o mito de Roma.

— Conta-se que o trono de Alba-a-Grande, capital das terras italianas,


ocupadas pela linhagem de Enéias, de Tróia, era disputado pelos
descendentes de seu rei. Amúlio se apoderou do reino assegurando que o
irmão, Numitor, não tivesse descendentes: matou o filho dele e obrigou Réia
Sílvia, a filha de Numitor, a se tornar uma Vestal. Como sacerdotisa de
Vesta, ela seria obrigada a permanecer virgem.

— Que triste, coitadinha.

Pietra riu e continuou: — O deus Marte, porém, engravidou Réia Sílvia, e


ela deu à luz dois meninos. Ao descobrir, o rei Amúlio mandou prender a
mãe e jogar as crianças no rio Tibre. Aconteceu que o rio transbordou por
causa das chuvas e levou o cesto para longe e quando baixou, o cesto ficou
preso numa margem seca. Foi então que uma loba, ouvindo seu choro os
encontrou. Diz a lenda que ela dera à luz, mas perdera os filhotes e, então,
carregou os gêmeos para sua caverna e amamentou-os. Faustolo, um pastor
da região, encontrou os bebês e os levou para sua esposa, que os criou.
Receberam os nomes de Rômulo e Remo. Quando adultos, descobriram de
quem descendiam e restituíram o trono de seu avô, Numitor. Na região em
que foram encontrados pela loba, fundaram uma cidade que receberia o nome
de Roma.

— Fabuloso.
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— Sacerdotes romanos passaram a realizar rituais na tal gruta e em suas


cercanias. Eles se autodenominavam luperci sodalis, que significa “os amigos
do lobo”, e ali realizavam cerimônias de purificação. Em certa época do ano,
sacrificavam lobos ou cães, vestiam a pele ainda sangrenta dos animais e
entravam em transe. Segundo a tradição, tornavam-se lobos, ou homens-
lobos. As cerimônias foram proibidas quando um Papa proibiu por serem
ritos pagãos. Mas elas deram origem à crença de que era possível homens se
transformarem em lobos.

— Muito bem, historiadora.

— Obrigada, cavalheiro, agora me conte sobre o mito da Grécia.

— Muito bem, hum... Zeus, o senhor do Olimpo, às vezes descia do


Monte em que viviam os deuses e percorria a Terra, disfarçado de mortal. Em
mais uma de suas aventuras chegou a Arcádia e pediu abrigo no palácio do
governante Licaon, que era tido como um tirano muito malvado. O povo da
Arcádia sabia que um deus estava entre eles, pois Zeus não ocultou sua
natureza divina como sempre fazia. Porém, Licaon, o rei, duvidou dele e
planejou um embuste para provar que não era um deus e para que pudesse
matá-lo.

— Que embuste?

— Mandou que servissem pedaços de carne humana no jantar.

— Que horror!

— Ao ver a carne humana servida diante dele como uma iguaria, Zeus se

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enfureceu. Com um golpe na mesa do jantar, atraiu um raio dos céus e trouxe
a maldição ao rei tirano e a todos os seus descendentes. Foram transformados
em lobos.

— E podiam se transformar?

— Não, parece-me que virou lobo e permaneceu como lobo. Mas muitos
na antiguidade, quando meu povo migrou para cá, pensaram que éramos
descendentes de Licaon e ninguém chegava perto da encosta de Creta e
Alamus, onde meus ancestrais atracaram e tomaram a vila. Naquele tempo,
nossa ilha era cravada nas rochas de Creta. Com centenas de anos depois e
com os eventos naturais, a massa de terra que ligava Creta e Alamus
desapareceu e nossa vila se dividiu, por isso temos parte de lobos lá e aqui.

— E então o povo sabia de sua existência?

— Sim e o povo nos temia. Bom para nós. Pois lançamos nossos próprios
mitos.

— Quais?

— Um deles é que seriam devorados e outro é que se alguém pisasse nas


terras dos Licaon seria transformado em besta também e devorariam seus
próprios descendentes.

Ela riu e bateu palmas.

— Engenhoso. Eram tolinhos de acreditar.

— Bem, estamos na Grécia, naquele tempo o povo realmente acreditava


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nos mitos e que os deuses eram verdadeiramente reais, eram temidos e


idolatrados. Faziam rituais para agradá-los, oravam e pediam favores. Nossa
tropa de lobos era temida, pois não havia nenhum guerreiro que pudesse
derrotar os shifters.

— Bem, eu acredito em todos os mitos e deuses.

— Eu também.

— Oh, mas esta estátua de Afrodite é a original?

— Sim. A que está no museu que você citou era uma estátua gêmea dessa,
que foi levada daqui há muito tempo pelos romanos, quando tentaram possuir
nossa ilha. Meu irmão disse uma vez que queria roubá-la de volta, pois
pertence aqui — disse rindo.

Pietra olhou aturdida para Harley.

— Roubaram a estátua?

— Sim.

— Oh, a eterna briga entre os romanos e gregos.

— Sim. Creta foi subjugada pelos romanos por um tempo, mas resistiu
bravamente. Aqui vivia um lobo alfa muito poderoso que expulsou os
romanos, ele recuperou a ilha de Alamus. Aliás, em toda a história os
romanos e gregos seguem invadindo e tentando roubar e dominar uns aos
outros.

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— Nossa briga parece nunca cessar.

Ela suspirou triste e olhou para o horizonte e Harley acariciou seu rosto.

— Sempre há uma primeira vez.

— Eu gostaria de contar com isso, Harley. Meu pai não pode saber que
estou aqui.

— Ele não vai saber.

Houve alguns minutos de silêncio entre eles.

— Soube que quando os negócios foram desfeitos a conta da Tormetera


de meu pai foi retirada de sua companhia.

— A Tormetera cobria a maioria de nossos carregamentos e nossa filial na


Papolus Transportes Marítimos foi fechada na Itália e reduzida na Grécia.

— Sim, nos causou uma quebra muito grande também.

— Ambos os lados tiveram um enorme prejuízo.

— Eu sei.

— O que mais preocupou Petrus foram as famílias que perderam seus


empregos. Seu pai assumiu uma das filiais que Petrus abriu mão das ações.
Tivemos um grande prejuízo, assim como seu pai, mas foi inevitável. Foi
preferível assim, perder um pouco a perder tudo, mas nossa alcateia está
inteira e forte, por causa da ajuda do rei, isso é o que importa. Petrus nunca
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vislumbrou a riqueza mais do que a segurança.

— Meu pai não teve essa sorte.

— Porque estava do lado errado e queria prejudicar Petrus.

— Eu sei e Petrus é admirável.

— Sim.

Ela respirou fundo.

— Nunca consegui entender tudo isso.

— Nem eu.

— A impressão que eu tinha é que minha única opção era acasalar com o
alfa de Alamus, nenhum outro pretendente foi cogitado e meu pai negou
todos os pedidos que pretendentes de outras alcateias fizeram para me ter
como companheira e se aliar aos Scopelli.

Harley rosnou em desagrado e ela suspirou.

— Também acho estranho. Petrus tinha um real motivo de não querer,


mas por que não os outros alfas? Por que não aceitar outro alfa além de o alfa
de Alamus?

— Eu não sei.

— Ele tinha Alamus nas mãos, poderia ter ficado com tudo, mas deu a
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filha e a ilha de volta em troca da união das alcateias, do acasalamento.

— Já me fiz esta pergunta e ele desconversou quando eu questionei,


Harley. Meu pai desejava algo mais de Alamus e que somente viria com
nossa união.

— Bem, o que seu pai pensava ou queria de Alamus não importa mais.
Ele não tem mais acesso a nós.

— E eu?

— Você é uma Papolus, ponto final. Como minha companheira, sua


alcateia e seu pai perderam qualquer direito sobre você.

Ela sentiu tristeza, mas a chutou longe e olhou para seu lindo rosto, o que
lhe deu forças.

Ele era lindo, mais quente do que o sol, não havia dúvida sobre isso. Ele a
aquecia de corpo e alma.

— Fico contente que esteja aqui comigo, minha Afrodite.

— Também estou contente de estar aqui com você.

Ela o abraçou e ficaram olhando o mar ao longe, a vista dali era magnífica
e o terraço também com aquelas pedras milenares e diferentes do outro
templo, Pietra se sentiu bem ali.

— Você gostaria de sairmos hoje à noite de maneira devidamente


caracterizada em minha Harley?
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Ela riu e o olhou.

— Como prometeu? Um passeio selvagem?

Ele riu.

— Sim. Vamos pegar algumas roupas e vamos para Atenas, farei uma
ligação para avisar Noah que estamos indo à sua casa. Compraremos umas
roupas de couro pra você e teremos uma noite de motoqueiros.

— Parece divertido.

— Garota, se prepare, porque hoje à noite vamos sacudir Atenas.

Petrus e Sami, Harley, Konan, Noah e Ester estavam no estacionamento


da casa da Marina montados em suas Harley Davidson, devidamente munidos
de suas roupas pretas, calça de couro, camiseta, jaquetas e suas botinas
pesadas.

Juntos pareciam um clube de motoqueiros selvagens. E mesmo sendo

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noite, todos estavam sem as lentes e de óculos escuros, o que os deixava mais
impactantes ainda.

Konan também estava todo de couro e com uma regata preta justa e usava
uma bandana na testa.

— Sabe, tenho pensado sobre isso, podíamos fundar um clube só nosso —


Harley disse e todos riram.

— Eu sei, garoto, esse sempre foi seu desejo — Noah disse.

— Olhe para nós, parecemos uma gangue. Poderíamos ser os Lobos


Selvagens — Petrus disse.

Ester riu com gosto e disse: — Eu concordo, simplesmente adoro sair


assim com vocês, me sinto tão selvagem e é tentador provocar os humanos e
vê-los ficar de queixo no chão, me sinto tão poderosa.

— Lobos Selvagens, acho que combina conosco — Konan disse rindo.

— Ei, onde está sua garota, Harley? Será que as roupas não serviram? —
Sami perguntou.

— Acho que vou entrar e ver o que houve.

Então um silêncio se fez e Harley sentiu o cheiro dela e se virou e ficou


mudo, estático olhando para ela, parada no topo da escada de mármore que
estava iluminada com diversos spots.

— Cara, você se deu bem — Konan disse para Harley.


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Harley não disse nada, porque estava sem fôlego.

Pietra estava toda de couro preto, usando uma calça colada e uma regata
decotada que emolduravam perfeitamente seu corpo, sua bota era de salto
fino e alto, um cinto de correntes duplas e couro na cintura e uma jaqueta
curta de couro.

Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e caía pelo lado direito de
seu peito, maquiagem negra, batom vermelho.

Harley esticou o braço com o punho fechado e Petrus, sem dizer nada,
bateu com seu punho no dele. Harley saltou de sua moto e foi até ela,
inebriado, excitado, tanto que seus olhos cintilaram.

Quando ele parou na frente dela abriu um sorriso gigante e maravilhoso.


Realmente estava encantado.

— Estou bem? — ela perguntou um tanto tímida.

— Bem? Garota, você está alucinante!

— Então, Lobo Selvagem, pode me dar uma carona na sua moto?

— Querida, te darei muito mais do que isso.

Ela riu e eles foram para a moto e realmente Pietra sentiu outra sensação
ao estar com aquelas roupas, montada na garupa dele, numa Harley
Davidson.

— É isso aí, baby, vamos detonar — Noah disse.


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Quando pegaram a estrada e rodaram por Atenas chamando a atenção de


todos, mesmo que não desejassem, ela se sentiu livre, feliz, selvagem e
poderosa, pensou que não haveria nada no mundo que não pudesse enfrentar.

E Harley e Pietra estavam onde adoravam, curtindo uma moto pela cidade.
Havia prazeres que eram caros para guardar no coração, mas Harley estava
proporcionando muitos deles e ela o amava mais por isso.

Eles descobriam mais coisas a cada momento que adoravam fazer juntos.
Foram a um bar não muito movimentado no subúrbio oeste de Atenas,
beberam, jogaram sinuca, dançaram e causaram sensação dentro do bar.

Divertiram-se à beça e depois voltaram para casa, pois os casais estavam


excitados, alegres e queriam curtir a noite restante sobre a cama, regada a
sexo. Exceto Konan, que tomou um rumo diferente e foi a uma exótica casa
noturna chamada Éden.

Harley desligou a moto e esperou todos entrarem na casa de Noah e,


então, respirou fundo e olhou para o céu, mas antes que ele saísse da moto,
Pietra se ergueu, girou e passou para sua frente sentando sobre o tanque, de
frente para ele e deslizou as duas pernas sobre as suas poderosas coxas.

Harley se espantou com seus movimentos, mas sorriu.

— Uau, isso está quente!

— Quente estou eu, depois dessa noite. Nunca me diverti tanto, nunca me
senti tão livre.

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— Posso dizer o mesmo, nunca curti tanto meu passeio de Harley.

— Eu estou disposta a saber o que mais pode oferecer esta noite.

— Hum, bem, posso pensar em uma coisa ou duas.

Pietra embrenhou as mãos em sua nuca, entre seus cabelos e o puxou,


beijando-o intensamente. Ela tremeu levemente, mas era de prazer que
percorria seu corpo, de desejo por ele. Ainda se sentia insana de tanto que o
desejava, de como ele a fazia sentir.

Harley soltou seu cabelo que adorava tocar e esparramou em suas costas,
enquanto ela o olhava com os lábios entreabertos, os olhos levemente
cintilando e as bochechas coradas.

Ela era quente, se entregava a ele com tudo o que tinha e ele amava isso.

Estava linda sobre sua moto, escarranchada, e agora agarrou seu pescoço e
montou mais sobre ele, esfregando-se em seu peito, arrancando um gemido
afogado dele.

Aquela era uma combinação quente e explosiva que conturbava sua


mente. Ela aceitava desafios.

Harley estava amando ser seu companheiro, assim como ela estava
amando ser dele.

Pietra era selvagem e delicada ao mesmo tempo, como ela conseguia ser
assim ele não sabia, mas o deixava de quatro.

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Ela soltou um grito e riu quando, com um solavanco, ele rasgou sua calça,
abrindo entre as pernas.

— Harley, essa calça custou uma pequena fortuna.

— Querida, para te tomar bem aqui nessa posição nos próximos segundos,
eu pagaria um milhão de dólares.

Ela riu e o beijou profundamente, devoraram-se literalmente e Pietra nem


percebeu como ele tinha aberto sua calça de couro, mas gemeu alto quando
ele a penetrou com os dedos e a excitou com o polegar.

— Está pronta pra mim...

— Sempre estou pronta pra você.

— Queria ser lento, mas não posso.

— Não seja.

Ele puxou seus dedos e os sugou, fechando os olhos e degustando seu


sabor, então a tomou pela cintura e a ergueu encaixando em seu membro.

E ambos se moveram para encontrar seu prazer.

Com sua força, Harley segurava a moto com os pés cravados no chão
mesmo estando com o pé de segurança.

Ele a puxou fortemente contra si, penetrando-a profundamente.

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E assim seguiram naquele sexo quente, então ela saiu dele e se virou na
moto e se debruçou sobre o tanque.

Ele ficou aturdido e rosnou pela visão do ato, extremamente erótico,


sacana e pecaminoso.

E a tomou por trás, rápido e forte, até arrancar um orgasmo dos dois.

Harley se esvaiu e sua mente foi junto e suas pernas ficaram trémulas e
pensou que não conseguiria segurar ele, Pietra e a moto.

— Puta merda!

Ele a agarrou em seus braços e saiu da moto e gemeu.

— Está bem?

— Não, sim, caramba, mulher, isso foi quente!

Ela riu e o beijou, agarrada em seu pescoço.

— Espero que seus amigos não tenham ouvido nosso barulho


escandaloso.

— Acredito que cada um deles está preocupado com seu próprio barulho.

— Ainda bem, pois ficaria envergonhada se alguém nos ouvisse.

Ele riu com gosto e beijou sua bochecha.

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— Você não estava nada envergonhada há um minuto.

— Ah, mas isso foi o calor do momento. Se alguém me visse agora ou


dissesse que nos ouviu, eu ficaria muito envergonhada.

Ele riu novamente.

— E que tal nós continuarmos com este calor do momento na nossa cama,
hã?

— Adoraria, poderia seguir fazendo isso a noite toda.

— Considere isso feito.

Harley tirou sua jaqueta de couro, a colocou na sua cintura para tapar sua
calça rasgada e ela riu enquanto a levou para dentro, escarranchada em sua
cintura.

E a noite foi como prometeram um ao outro, fizeram amor até se


esgotarem e caírem exauridos na cama.

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Ilha de Alamus, Creta, Grécia.

Quando chegaram da viagem e entraram na casa, Pietra pegou sua bolsa e


colocou sobre a mesa e foi em direção ao quarto.

— Ei, ei, volte aqui, mocinha, onde pensa que vai?

— Vou tomar um banho e ver algo para o jantar, acho que hoje não
teremos a cozinheira.

— Soa bem, mas quero lhe mostrar algo primeiro.

— O que é? Vai me revelar a surpresa? Finalmente, por favor, porque


ficou me mantendo fora de casa por todos esses dias. Já estava com saudades
de minha casa.

— Ora, não gostou das pequenas férias? Tinha que te manter longe para
ter tempo de arrumar tudo.

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— Sim, eu amei e nosso filhote também e arrumar o quê?

Ele rosnou e a beijou.

— Sim, vou te mostrar a surpresa, na verdade são três.

— Três?

Ele tapou seus olhos e ela riu.

— Calma aí, deixe os olhos fechados, só abra quando eu disser.

— Foi por isso que me levou a Atenas? Para não ver a surpresa?

— Exatamente.

— Mas estava divertido.

— Hum... eu também gostei muito. Cuidado para não tropeçar, vou te


levar à primeira surpresa.

Ele andou pela casa a guiando, segurando seus braços para que não
batesse em nada.

— Não abra os olhos.

— Não abrirei.

Ao entrar em uma das grandes salas a fez parar.

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— Ok, agora pode abrir.

Ela abriu e olhos para dentro da sala. E havia computadores grandes e


pequenos, três monitores enormes de 40 polegadas suspensos e no centro da
mesa havia um monitor Super Ultra Wide de 49 polegadas horizontal.

Ela piscou aturdida e o olhou.

— O que é isso?

— Bem, esta é minha nova sala do crime, onde entro no meu mundo dos
computadores e descubro o que desejo e crio meus jogos e programas e meus
outros brinquedinhos.

— Uau, isso parece complicado.

— Não é, eu amo isso.

Ela o olhou e sorriu.

— Isso quer dizer que agora sua sala de trabalho será aqui?

— Sim, deixei a sala que eu tinha na mansão com alguns computadores


para que fosse a sala de Alexander, já que o contratei para que trabalhe para
mim. Então, eu estarei aqui.

— Eu adorei isso, Harley!

— Mesmo?

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— Sim. Assim poderá ficar mais em casa, além de quando necessitar sair
e estar com o alfa e coisas de beta.

Ele riu e a beijou.

— Sim. Essa é a ideia.

— Ah, eu amei sua ideia e fico contente que esteja contente e queira ficar
mais perto de nosso lar. Algum dia pode me mostrar seus jogos?

— Claro, minha querida, mostrarei o que você quiser. Agora vamos à


surpresa dois.

— Ok. Tem certeza de que não vai me assustar?

— Não vou. Feche os olhos.

Ela sorriu e os fechou.

Ele a guiou e andaram por um corredor enorme e então abriu uma porta.

— Abra.

Ela abriu e olhou, entrando na sala e piscou diversas vezes quando


começou a focar no que havia dentro.

A sala estava abarrotada de móveis e caixas e iluminada pelo sol e a brisa


do mar que vinha do terraço que havia daquele lado e com vista para o mar
enchia a sala.

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Ela custou um pouco a entender o que era tudo aquilo. Além dos armários,
estantes e bancadas, que ainda cheiravam a madeira e tinta fresca.

— O que é isso?

— Esse será seu atelier para suas joias, semijoias e bijuterias e toda essas
coisas que cria.

Ela abriu a boca de espanto e se aproximou para ver melhor.

Havia todos os tipos de tamanhos de pedrarias desde as mais simples até


as preciosas como ágatas, ametistas, turquesas, safiras, Pedras da Lua, opalas,
jades, Lápis Lázule, cristais, pérolas, como as mais simples, cuidadosamente
expostas em caixas com divisórias e uma tampa de vidro com fechadura.

Havia caixas com alicates de corte, meia cana, cortadores e prensadores.


Correntes, argolas e elos de prata e ouro. Alongadores entremeios e
passantes, pingentes.

Havias as bancadas e armários especiais para guardar tudo e trabalhar, e


ela olhou as caixas com os materiais pesados, como laminadores, brocas,
limas, prensa, materiais para banho e gravações, escovas e rodas, aparelhos
de fundição e maçaricos e todos os demais aparelhos que necessitaria ao
longo do tempo.

Tudo estava ali. Ela não conseguia respirar.

— Depois você pode me dizer os locais que quer estes aparelhos e


colocarei no lugar para você. O arquiteto fez o design da sala seguindo as

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especificações de um atelier de design de joias, então acho que ficou certo, o


resto você pode pedir que arrumamos. Você disse que queria trabalhar,
então... bem... achei que deveria trabalhar no que gosta.

Ela olhou para Harley com os olhos arregalados e banhados de lágrimas e


ele ficou sem jeito.

— Acha que poderia inaugurar isso fazendo seu anel de beta e um novo
para mim? Tenho um, mas eu gostaria de usar um feito por você.

— Seria uma honra.

— Não tenho muito das pedras como diamantes ou rubis, e o ouro, porque
isso custa um pouco mais caro, mas com o tempo...

Ela não o deixou terminar, saltou em seu pescoço e o beijou. Beijou tanto
e tantas vezes e o abraçou tão forte que ele arfou espantado.

— Amo você, porque é o melhor lobo deste mundo. Porque é meu


companheiro. Porque é meu.

— Achei que ficaria feliz.

Ela o olhou com as lágrimas correndo livres pela face.

— Estou muito feliz. Obrigada. Você realmente me vê, Harley. Você foi o
único que realmente me viu. Sabe, li algo uma vez, em algum lugar, que dizia
que a pessoa que te ama é a única que enxerga a dor nos teus olhos quando
todos os outros vão somente enxergar seu sorriso.

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— Sim, eu te vejo, te conheço e sei também que foi porque você teve a
capacidade de me ver que desistiu de Petrus.

Ela assentiu e beijou seus lábios.

— E eu o amo.

— E eu a amo. Eu sei que pensava que nunca poderia montar suas joias e
está enganada, porque pode. Quero que seja feliz e vi como seus olhos
brilhavam quando me mostrava isso pelo computador.

— Sim, faz, mas o que mais me faz feliz é ter você.

Ele a beijou, segurando seu rosto e encostou sua testa na dela e ambos
ficaram ali em momento tentando fazer o coração diminuir suas batidas
ferozes no peito.

— Obrigada.

— Tudo por ti. Agora vou te mostrar a surpresa três.

— Oh, meu Deus, que não vou resistir a mais uma surpresa dessas. O que
mais teria para me dar? Isso já é tanto que nem sei como retribuir.

— Se me der seu amor, não preciso de mais nada.

— Esse você já tem, meu coração, minha alma e minha lealdade.

— Então estamos bem.

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Ele sorriu e pegou sua mão e foram para o lado da casa onde ficava seu
quarto e ele abriu a porta do quarto ao lado do deles e ela arfou e tapou a
boca e arregalou os olhos.

O quarto estava decorado em tons suaves, um lado da parede havia uma


paisagem de um bosque com o mar ao fundo e havia dois lindos lobos um
sentado e outro deitado na areia.

O berço do bebê era branco e havia guarda-roupa, trocador e uma estante


com vários brinquedos e bichinhos de pelúcia.

— Você já pode guardar as roupinhas que comprou em Atenas nos


armários. Depois, quando soubermos o sexo do bebê, podemos colocar mais
cor rosa ou azul ou outra que preferir aí. O arquiteto teve que suar para
arrumar tudo em pouco tempo até que voltássemos, porque ele era humano e
não queria que ele visse você e tudo o mais. Para preservá-la. Mas se quiser
mudar algo podemos chamá-lo de novo.

Ela olhou para ele segurando um ursinho, abraçada contra o peito, e


acariciou sua barriga.

— É perfeito. Nós amamos — disse emocionada.

Ela o abraçou pela cintura e eles ficaram abraçados, deixando que e aquela
emoção forte demais se assentasse. O que estava bem difícil.

— Posso pedir um favor? — ela sussurrou.

— Sim, meu amor.

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— Chega de emoções por hoje, senão desmaiarei.

Ele riu e a abraçou mais forte.

— Combinado, prometo uma noite sem sustos.

— Você valoriza todas as coisas que eu faço e gosto, minha arte.

— Eu acho que a arte é a expressão do artista. Ele coloca seus


sentimentos, seus desejos, sonhos e conhecimento, sua própria técnica, faz
parte dele. Então, como eu não vou amar o que você cria, se faz parte de
você? E amo você somente por ser você e por carregar meu filho. Agora
estamos unidos de uma maneira que é irrevogável, estamos criando nossa
vida juntos, nossa família. Vou lutar para mantê-la segura e feliz.

Ela riu e fungou, secando as lágrimas.

— Faz tanto por mim e não dei nada a você.

— Está enganada, minha theá. Você me deu tudo. Deu-me uma nova vida.
A cada dia me dá uma coisa boa e nova.

Ela se afastou e o olhou.

— Eu farei de tudo por você, sempre, porque nada é mais importante na


minha vida que você e nosso filho.

Ele a beijou emocionado.

— Então vamos cuidar bem desse bebê e amá-lo muito.


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— Sim, o amarei muito e a ti também.

— O que acha daquele banho juntos, hã?

— Eu adoraria, mas quero te mostrar uma coisa, acho que é meu presente,
nada comparado com os seus, mas...

— Adorarei.

Ela foi até onde ficavam suas telas e descobriu a que tinha terminado de
pintar e ainda estava no cavalete e ele arfou.

Era a pintura da fotografia dela na cama, na mesma posição que a sua, e


ela pegou a que tinha pintado dele e colocou ao lado.

Era fantástico. As duas imagens estavam na mesma posição, só que de


lados opostos, como se estivessem espelhadas e as suas mãos que estavam
estendidas para fora da cama chegavam à borda da tela e quase se tocavam.

Somente havia um pequeno vão entre as telas e ele piscou aturdido


olhando aquilo, achando tão magnífico e significativo, maravilhoso e ele a
olhou com um lindo sorriso.

— A ideia é colocar uma do lado da outra na parede.

— Uau! Isso é incrível!

— Nunca estaremos separados, nunca, mesmo quando nossos corpos


morrerem e nossa alma deixar este mundo, ainda assim o amarei e, ainda
assim, te tocarei.
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Ele sentiu seu coração inflar, sim aquilo era um belo presente. Pois
presentes são eram somente materiais e caros, presentes eram aqueles vindos
do coração, que significavam o quanto um se importava com o outro.

Ele pegou a tela e a colocou no chão, a puxou para si e a beijou, beijou


com tanta paixão que era impossível quase não derramar as lágrimas, com o
amor aflorado, intenso e verdadeiro, carregado de uma enxurrada de palavras
não ditas, de toques que ainda seriam dados, de sublimação da alma.

Ele a ergueu em sua cintura e a abraçou como pôde e devorou sua boca e
o banho planejado somente veio depois do sexo selvagem, desesperado e
necessitado, da paixão que queria saciar os desejos que explodiram com
tantas palavras e gestos querendo agradar um ao outro.

Era assim que devia ser, era assim que sempre era.

Demonstrar o amor para agradar, para deixar feliz, para se sentir feliz e
ouvir risadas, para chorar de alegria e amar sem reservas.

Demonstrar o quanto eles estavam gratos e apaixonados um pelo outro,


quanto a cada gesto e palavra um laço em seus corações se estreitava e juntos
iam construindo seu mundo perfeito, inquebrável.

Os quadros foram para a parede e o gesto para o coração.

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Harley parou um pouco longe e ficou a observando. Ela estava com um


short branco e uma batinha solta, cinza, com pequenas flores coloridas
bordadas no decote, seu longo cabelo estava preso num rabo de cavalo e
estava com um chinelo.

Pietra estava deliciosa mostrando um bronzeado dourado pelos tantos dias


que passaram viajando e usufruindo tranquilamente de praias paradisíacas.

Realmente gostava de sua casa porque a arrumava e cuidava com amor.


Agora, ela estava molhando o jardim com uma mangueira, com um esguicho
e sorria tão lindamente, como se molhar aquelas flores coloridas sobre o
gramado verde e as floreiras fosse a coisa mais importante do mundo.

Harley soube mais uma coisa de sua companheira: ela via a beleza em
pequenos elementos da natureza, numa flor, numa borboleta. Ela acreditava
na beleza e idolatrava cada pedacinho dela, era sensível e tinha o coração
puro. E por Deus, ela era mais sexy que qualquer mulher que se esforçava
para ser sexy. Ele se aproximou lentamente, ainda embevecido com sua
visão.
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— Tão linda quanto as flores.

Ela se assustou, se virou num rompante e consigo veio o jato de água e


jogou sobre Harley. Ele gritou e tentou se defender da água, então,
percebendo que o molhava, ela abaixou a mangueira e cobriu a boca aberta
com a outra mão.

— Oh! Harley! Eu sinto muito. Oh, eu molhei toda sua roupa...


branquinha...

Ele olhou para sua calça social bege e sua camisa branca e olhou para ela.

— Eu vim convidar você para um jantar romântico em Creta.

— Oh. E eu estraguei sua roupa.

— Acho que isso é guerra.

— O quê?

— Guerra de água. — Ele correu rosnando sobre ela e ela gritou se


afastando, então riu.

— Ahhh!

— Vou te mostrar que não se deve molhar um lobo.

— Aiiii! — gritou rindo e correndo.

Ele a agarrou pela cintura e a ergueu do chão, rodando-a e pegando a


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mangueira. Pietra riu e tentou pegar de volta, mas levou uma rajada de água e
quando ele a soltou, ela segurou a mangueira novamente e a água ia para todo
lado, molhando ambos, que entre gritos e gargalhadas brincavam como dois
adolescentes.

Pietra soltou a mangueira e correu e ele correu atrás, agarrou-a e os dois


caíram na grama, rolando um sobre o outro e então, pararam, com ela sobre
seu peito e ficaram se olhando, ofegando e rindo.

Ele a puxou e a beijou, interrompendo o que ela diria. Soltou de seus


lábios e a olhou. Harley a rolou ficando sobre ela e a beijou, depois olhou
para o lado e esticando o braço alcançou uma flor e a arrancou e colocou
sobre sua orelha, embrenhando em seu cabelo e acariciou seu queixo.

— Linda.

— Sempre tão galante.

— É como sou.

— Gosto de como é.

— Também gosto de como você é. Não sentiu meu cheiro se


aproximando?

Ela fez uma careta e ficou com as bochechas vermelhas.

— Bem, eu estava muito distraída.

— Distraída com as flores?


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— Com meus pensamentos.

— O que pensava?

— Bem, não sei se devo dizer.

— Se não me disser, terei que aplicar uma técnica de tortura.

— Jura? Qual?

— Cosquinhas.

Ele fez cosquinhas nela, que gritou e riu tão lindamente que Harley não
conseguia parar de sorrir. Sua face se iluminava quando ria e depois de ver
tanta tristeza no rosto dela, vê-la sorrindo ou gargalhando, era maravilhoso.

— Pensava em como foi maravilhosa nossa viagem e na noite passada, de


como foi maravilhoso dormir com você.

— Ah, somente a parte que dormimos? Pensei que a outra parte também
tivesse sido interessante.

— Harley! — disse rindo, envergonhada.

— Fica linda com suas bochechas rosadas.

— Faz de propósito?

— Sim — respondeu rindo e depositando um doce beijo em seus lábios.

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— Você é indecente, Harley — disse brincando.

— Oh, isso feriu meu coração!

Ela riu novamente e ele a beijou. Harley nunca pensou que beijar seria tão
prazeroso. Tinha sonhado, imaginado e desejado tanto beijá-la por tanto
tempo, desde o primeiro segundo que a viu, que parecia que agora não
conseguiria mais parar de fazê-lo.

— Oh, você já veio arrumado convidar uma dama para jantar?

— Ops, culpado!

— Para um notório libertino, como sua fama mesma diz, foi uma gafe
grave.

Ele riu, rolou na grama e a trouxe sobre seu peito.

— Ando muito distraído ultimamente. Devo acrescentar que a culpa é de


certa loba que tem confundido meus pensamentos. Mas na altura dos
acontecimentos e no fato de estarmos sujos, molhados e jogados nessa grama,
acho que devíamos adiar esse jantar em Creta e irmos para a banheira. Talvez
tomarmos um vinho e eu possa te agradecer por estar cuidando tão bem de
mim, por me dar tantos cuidados.

— Como estragar sua roupa e te molhar todo?

— Também.

Ela riu.
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— Acho uma ideia perfeita. Acha que podemos pedir uma comida na
mansão?

— Com certeza. Temos que providenciar uma cozinheira permanente.

— Seria bom, já que nós não somos muito bons na cozinha.

— Senti saudades o dia todo.

— Eu também senti muita saudade.

— Mas podemos tomar algumas atitudes que a aplacam.

Ela riu.

— Sim, podemos.

Harley não esperou mais nada, girou, saltou e numa peripécia que ela
quase não conseguiu atinar, ele estava em pé com ela nos braços. Ela soltou
um gritinho e se agarrou em seu pescoço e riu e foram para dentro da casa.

Enquanto a banheira enchia, ele providenciou o vinho, Pietra acendeu as


velas e colocou sais na água. E nua, esperou-o imersa.

Ele chegou ao banheiro e entrou na água e beberam do vinho e ele a


beijou intensamente, trazendo-a para seu colo.

— Você gosta de velas, sempre as acende — ele disse.

— Sim, acho que elas trazem uma energia muito boa e deixa o ambiente
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agradável... e romântico.

Ele sorriu e a beijou.

— Já provou suas gotas na pele? — ele perguntou com um brilho no


olhar.

— Não, isso deve doer.

— Uma pequena dor que traz prazer.

Ela ficou olhando para ele e, então, pegou uma que estava próxima.

— Posso testar isso?

Harley rosnou e sem tirar os olhos dela assentiu.

Pietra piscou ponderando se devia ou não, então, lentamente pingou


algumas gotas em seu peito. Ele rosnou novamente e seus olhos cintilaram e
ela viu como seu membro reagiu violentamente.

Oh, aquilo era quente, muito quente, e sua própria excitação aflorou mais.
Então ela pingou novamente, o fazendo rosnar de novo.

Ele a puxou para si e a beijou ardentemente e quando a soltou, ela se


excitou com a visão selvagem dele, mas sua curiosidade ficou a espreitando.

— Sempre quis fazer isso. Isso está bom, companheiro?

— Bom? — disse gemendo. — Bom é pouco, isso é bom demais para ser
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de verdade.

— Só quis retribuir tudo que me faz sentir, quero te dar prazer.

— Você me dá prazer, theá, como ninguém jamais vai dar. Deixa-me


fazê-lo em ti? — ele pediu.

— Não sei...

— Uma gota, se pedir eu paro.

Ela respirou fundo, tomando coragem.

— Ok.

Ele rosnou em agrado, pegou a vela e sem aviso a puxou para ele e a
beijou loucamente e quando se afastaram, o prazer estava aflorado
deliciosamente e sem deixar de olhar em seus olhos obscurecidos pelo desejo,
ele esticou o braço e pegou a faixa de seda de seu robe que estava caído no
chão.

— O que vai fazer?

— Só ampliando nossos horizontes de prazer.

Colocou a faixa de seda branca sobre seus olhos e amarrou atrás da cabeça
e beijou seus lábios.

Ela arfou e passou a língua sobre os lábios, arfando em antecipação.

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— Gosta disso, companheira?

— Excitante.

Lentamente, Harley a acariciou com a ponta dos dedos, deslizando-os por


sua pele molhada.

Sem ela saber o que seu companheiro estava fazendo exatamente, arfou
quando ele pingou uma gota de cera derretida em seu seio. Pietra gritou e
gemeu, se contorcendo em seu colo e então viu estrelas quando, ainda
sentindo o pinicar do calor da cera, Harley tomou seu mamilo na boca e
chupou com força, sugando-o com a maestria que somente ele sabia fazer,
seu quadril moveu-se e se posicionou dentro dela que estava quente e
molhada tomando-o com facilidade.

A mente de Pietra girou, ela sentiu suas presas crescerem e teve que
empurrá-las de volta e a sua magia se soltou sem que mandasse e dançou
entre eles como um suave arco-íris e ele sorriu vendo aquilo.

— Uau, isso foi quente!

Harley pegou a vela e pingou algumas gotas em sua barriga, ela gritou
pela dor e então ele assoprou sobre as gotas e soltou diversos beijos em seus
seios.

Depois que soltou a vela, ela percebeu que ele pegou algo, mas não
prestou atenção até que gritou novamente e gemeu, com seu corpo todo
pulsando em um prazer intenso quando Harley passou um cubo de gelo sobre
a cera, que havia tirado de um copo que havia trazido, causando o choque do

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calor com o frio.

Pietra arfou porque foi uma sensação tão intensa quanto dolorosa que fez
seu corpo encontrar o prazer na dor. O frio que vinha do gelo dava um
choque, que a fez gemer novamente e contrair as coxas.

Ela arfou e sussurrou o nome dele quase em desespero e Harley a beijou,


enroscando seu quadril no dela, movendo-se dentro dela, tomando-a como
nunca.

Em seguida, ele deslizou as mãos pela sua barriga, subiu e passou pelos
seios, subiu pelo pescoço e retirou sua venda dos olhos. Depois desceu suas
mãos pelos braços e quando chegou às suas mãos, entrelaçou seus dedos nos
dela e cruzou seus braços nas costas e a trouxe para si, beijando-a com
loucura, entrando mais fundo, mexendo o quadril de forma lenta e circular,
trazendo um prazer intenso para ambos.

Assim que soltou de suas mãos e embrenhou em seus longos cabelos,


esparramados sobre eles e a segurou com força, fazendo com que o olhasse,
Harley rosnou ao ver seus olhos escurecidos pelo prazer e nublados de
desejo.

— Eu vou te foder duro, loba. É o que deseja? — disse com a voz rouca,
carregada de desejo.

— Sim.

Harley empurrou-se dentro dela com um impulso para cima a fazendo


gritar e buscar por ar e seus movimentos começaram lentos, praticamente

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uma tortura, então os acelerou, repetidos e fortes.

Assim que rosnou e girou com ela e a posicionou de costas para ele contra
a banheira, Harley a tomou por trás, a possuindo verdadeiramente de corpo e
alma até chegarem ao clímax.

A água tornou-se um bálsamo tranquilizante para seus corpos quando os


dois tombaram exaustos nela.

Harley a trouxe deitada sobre ele e a abraçou forte.

Entre beijos lânguidos, carícias e olhares profundos, sorrisos de satisfação


e felicidade, eles se acarinhavam, roçando para sentir a pele um do outro,
esperando que a água acalmasse o calor de suas peles.

Era incrível como até o silêncio era audível para eles, dizendo muitas
coisas, traduzindo os sentimentos. Pensamentos foram sussurrados em suas
mentes, dispensando as palavras audíveis, trazendo outro tipo de prazer.

Havia um elo, certa sintonia, havia amor verdadeiro, respeito e admiração,


havia tudo que sonhavam e prezavam.

— Você está bem? — ele sussurrou.

— Sim, estou bem, me sinto... curada, de certa forma.

— Meu coração também parece curado.

— A única coisa que quero na minha vida é ficar com você.

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— Fico contente, nem consegui pensar e vislumbrar que nossa vida juntos
seria tão boa e feliz.

— Não acreditou que eu pudesse te fazer feliz?

— Por mais que minhas esperanças desejassem isso, não consegui ver
além de pouco. Estava enganado, pois isso é melhor. Sinto paz, aqui, quando
me abraça — disse colocando a mão no coração.

— Também sinto paz com você. Não quero perder isso.

— Não vai.

— Amo você, Harley.

— Amo você, Pietra.

Quando um lobo veio entregar a comida, enviada da mansão, outro o


acompanhou, trazendo vários embrulhos com um bilhete da alfa mãe.

Confusa, Pietra agradeceu e quando o lobo foi embora, ela o abriu.


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“Não precisa se esgueirar escondida para pintar, agora tem seu próprio
material, mas se um dia quiser se juntar a mim para uma aula de pintura e
um chá, está convidada.”

— O que é? — Harley perguntou.

Ela arfou e olhou para Harley.

— É de sua mãe! Ela está me dando telas e tinta!

Ela abriu tudo rapidamente com a ajuda dele e a recompensa de Harley foi
vê-la rindo, feliz, e se jogando em seus braços.

— Você gosta de pintar?

— Sim, eu amo, e cometi uma loucura indo rabiscar uma tela de sua mãe e
achei que se zangaria.

— Minha mãe, zangada, isso é muito raro, e ela me disse isso esses dias e
achei muito bom. Fico contente que gostou de seu presente.

— Ela é sua mãe, a matriarca, e se importa comigo.

— Sim, assim como todos nós, somente queremos te ver feliz.

— Estou feliz.

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Harley sorriu e ficou observando como ela abria tudo e arrumava as tintas,
olhando tudo com tanto entusiasmo que parecia uma criança ao ganhar um
brinquedo.

Muitas vezes pequenos gestos podiam significar tudo.

Ele iria agradecer à mãe por isso.

Sim, ele amava sua família.

Harley acordou e suspirou, passando a mão ao lado da cama, buscando


por Pietra. Quando percebeu que estava vazio, abriu os olhos. Ele estava
deitado de bruços, com a cabeça apoiada no braço esticado saindo da cama e
seu olhar caiu sobre ela.

Pietra estava sentada em uma banqueta, ao lado da cama, pintando uma


tela que estava sobre o cavalete, usando somente um penhoar curto branco e
com a perna apoiada no varão da banqueta, abria a penhoar deixando sua
perna à mostra e o decote escorregou pelo ombro esquerdo, cujo braço
segurava a paleta com as tintas. Seu cabelo estava solto, caindo pelas costas e

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ela estava compenetrada nas suas pinceladas.

A porta da varanda estava aberta, deixando o sol quente da Grécia entrar


aquecendo o quarto e as cortinas balançavam sutilmente com a brisa
marítima.

O aroma do verde das árvores e das plantas, misturado com a maresia e o


perfume dela, era agradável e inebriante, e Harley respirou fundo para deixar
aquela vida toda entrar em seus pulmões.

Imaginou que ainda estivesse dormindo e sonhando. Seu coração aqueceu


de uma forma absurda porque havia tanto amor dentro dele que seria quase
inconcebível tal coisa.

Ele nem queria piscar para não perder aquela visão maravilhosa. A vida
estava sendo boa com ele, finalmente.

Pietra virou para ele e sorriu, iluminando seu rosto e parecia que sua aura
brilhou. Estava conseguindo emanar força e beleza novamente, o que era
estupendo.

— Bom dia, dorminhoco — ela disse e ele sorriu.

— O que faz aí? Deveria estar aqui me enchendo de beijos — ele


resmungou, se espreguiçando.

Ela sorriu mais ainda.

— Bem, agora que o belo adormecido acordou e eu terminei minha tela,


posso pensar no seu caso.
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Ele rosnou, levantou nu e foi até ela e beijou seus lábios, uma e outra vez,
e quando conseguiu parar de beijá-la, ele olhou a tela e arregalou os olhos.

Era a pintura dele, dormindo na cama, com o braço sob a cabeça e


pendendo para o lado de fora da cama, estava nu e o lençol branco somente
cobria seu quadril.

— Céu bendito! Isso é... perfeito! Parece uma fotografia. Não imaginava
que pintasse assim, Pietra.

— Um dos meus talentos é a arte da pintura, me relaxa e gosto de brincar


com as cores.

— Você é muito talentosa. Uau! Isso é fantástico. Hum... Mas esse


modelo aí também é muito bonito e másculo, não tem como a tela não ficar
maravilhosa.

Ela riu e cutucou sua costela.

— Sua modéstia me encanta.

— Nada comparado à artista, obviamente.

— Você é muito gentil, companheiro.

— Confesso que preferiria você na tela.

— Se você bater uma foto minha, posso pintá-la, pois sou boa
observadora, mas a única imagem que fica completamente clara na minha
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mente é a sua — sussurrou e Harley respirou fundo.

— Hum, bem, gosto de saber que minha imagem está na sua mente.

— Sempre.

Ele a beijou demoradamente e quando a olhou havia uma calma nova em


seus corações.

— Acho que podemos providenciar isso.

— Providenciar o quê?

— A foto.

Ela riu e ele a soltou, indo até o armário, abriu uma bolsa e tirou uma
máquina fotográfica Canon.

— Olha, não sabia que tinha uma máquina tão boa.

— Um dos meus hobbies. Os anos longos de nossas vidas podem ser um


pouco entediante, então hobbies ajudam a registrar as belezas da vida e, como
eu tenho a maior das belezas aqui no meu quarto, vou fotografá-la.

Ele a pegou no colo com um rosnado e ela riu, segurando em seu pescoço,
e ele a colocou na cama ao mesmo tempo que a beijava.

— Sabe, poderia vestir algo.

— Por que minha nudez te incomoda? Uma loba dizendo isso, que
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vergonha.

Ela riu lindamente.

— Harley, pare, pois assim não consigo dissipar meus pensamentos.

— Oh, e eu posso saber que pensamentos são esses?

Ela o olhou atentamente, cada pedacinho do seu rosto, e acariciou sua


bochecha e passou os dedos lentamente em seus lábios e seu olhar seguiu o
leve toque de seus dedos e, então, ela olhou em seus olhos.

— De amar você — ela sussurrou, emocionada e cheia de desejo.

Ele fechou os olhos por um minuto e somente deixou aquela frase pousar
em seu coração. Então abriu os olhos e a olhou e a única coisa que conseguiu
fazer depois disso foi beijá-la, e demonstrar a ela o quanto a amava.

Com dificuldade, ele soltou de seus lábios.

— Uau, agora eu fiquei sem palavras.

— Você sem palavras, isso é novidade. Acho que eu causo este efeito.

Ele riu e a beijou, antes que começasse a bater as fotos dela.

Ela ria e tentava se esconder dele, enquanto batia as fotos de todas as


maneiras, enrolada nos lençóis, em poses doces e sensuais, abraçada ao
travesseiro, eles dois juntos, se beijando, abraçados e pequenos detalhes dela,
como suas mãos, sua boca, um olhar de lado, suas coxas e até algo mais
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erótico, como ela totalmente nua.

Foi um momento mágico e divertido, só deles, até que ele bateu uma foto
com ela na mesma posição que ele estava na cama e que ela havia pintado.

Harley queria imortalizar em fotografias o grande amor de sua vida e a


beleza rara que ele achava que ela era.

E, claro, Pietra roubou sua máquina e bateu diversas dele também e


Harley mostrou sua coleção de fotografias, onde ele aparecia durante todos os
anos de sua vida, onde riram e falavam sobre o período de tempo, seu
penteado, suas roupas e lugares.

Então, Harley ligou a câmera sobre um tripé e deixou gravando os dois, as


horas rolaram, com os dois deliciando-se com o café da manhã na cama, onde
morder um morango no umbigo de sua amada, lamber o mel de seus
mamilos, sugando-os com deleite e prazer, dividindo o pequeno pedaço de
maçã que se misturava com o beijo, era de um prazer imensurável.

As frutas cítricas e excitantes arrancavam os arrepios, assim como os


toques eróticos, as mãos que deslizavam pela pele, marcavam como o calor
do fogo.

Os sabores do sexo misturados com as frutas e geleias, mel e sucos, era


como experimentar o manjar dos deuses, a mistura perfeita da luxúria, do
pecado e do prazer.

E tomá-la intensamente, estar dentro dela, dando-lhe o prazer que haviam


feito eclodir, era somente mais um detalhe. O que eles compartilhavam era

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mais do que o sexo, era a entrega completa, a luxúria em forma de amor. A


paixão desenfreada e incansável, que fazia o sangue de suas veias
queimarem. Era firmar o amor que nascia entre eles. Forte como uma rocha,
inquebrável.

Pietra deu outro passo enorme com Harley, eles conseguiram encontrar
um equilíbrio perfeito em seu relacionamento sexual e diário, onde não havia
mais a vergonha, o medo ou a timidez, somente o que havia era admiração,
desejo e deslumbre.

Tocar o corpo um do outro era além de prazeroso e os dois se encaixavam


tão perfeitamente que podiam ficar assim todos os dias e as noites. Era um
momento de total harmonia. E quando as coisas ficavam bem quentes, não
havia pudor, receio ou pecado. Era natural degustar, experimentar e se
deliciar com o prazer cru e delicioso.

E Harley não tinha problema nenhum em ensiná-la nas suas aventuras


amorosas e ela não tinha medo em aprender. Isso era perfeito, simplesmente
porque seus corpos foram criados para isso, para o prazer, para o deleite, para
o amor.

Nesses momentos, as cicatrizes dolorosas no coração de Pietra ficavam no


fundo, afastadas da superfície e impedidas de sangrar. Ela tinha sido salva e
agradeceria por isso eternamente assim como se lamentaria porque teve seu
castigo. Porém, ela conheceu os dois lados da vida, onde teve que perder tudo
para ganhar em dobro.

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Os meses foram passando e pareceu que uma grande calmaria se instalou


sobre a ilha.

Os olhares tortos cessaram, o medo de Pietra foi embora e o inverno, um


tanto rigoroso, tinha ido embora e a primavera trouxe nova cor para a ilha e
aquecia o coração dos lobos.

Harley e Pietra viviam cada segundo, cada hora do dia de forma intensa e
amorosa.

A vida fluía pela ilha, tranquila e cheia de esperanças e alegrias.

O filho de Harley e Pietra crescia forte no ventre e o quartinho ganhou


tons de azul quando, em euforia, eles foram a Ilha dos Lobos e Virna fez o
exame para descobrirem o sexo do bebê.

Harley não podia ter ficado mais feliz e os amigos estavam contentes em
ajudá-lo a extravasar sua felicidade, com suas amizades e uma festa na praia,
com a fogueira grande, dança, bebidas e risadas.
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Tudo estava perfeito, até Pietra acordar certa manhã com seus sentidos de
lobo aflorados.

Sua magia estava causando desconforto pela pele, sua loba estava agitada.
Havia zumbidos em seus ouvidos, sussurros que a assustavam, palavras que
ela não entendia dentro da sua cabeça.

Sem entender o que estava errado e por que aquela sensação estranha
estava a acometendo, ela foi para sua sala trabalhar em suas joias para se
acalmar.

Se as sensações piorassem, avisaria Harley e veria Sami para ver o que


estava errado com ela e ver se seu bebê estava bem.

Harley parou na porta a observando e sorriu ao vê-la trabalhando, tão


linda, perfeita e delicada, manuseando aqueles aparelhos, moldando o ouro e
fazia aquilo com tanta devoção que ele teve certeza de ter feito tudo certo.

O anel de ouro estava preso num timão e com uma lima especial, ela o
delineava, aparando qualquer aresta, preparando-o para receber as pedras
preciosas.

Ele sorriu e saiu, indo para seu próprio trabalho. Sentou, respirou fundo e
começou a digitar no seu computador.

Depois de algum tempo, Pietra entrou na sua sala e entregou uma xícara a
ele.

— Trouxe um café, meu amor.

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— Oh, muito obrigado, theá. A máquina de expresso está funcionando


hoje?

— Sim, o café está delicioso. Amanhã pode pifar novamente.

Ele riu, pegou a xícara e bebeu um gole.

— Acho que teremos que providenciar outra.

— Acho que sim. O que está fazendo?

— Finalizando um jogo, depois vou terminar de testar e instalar os


dispositivos de segurança.

— Você faz isso?

— Oh, conheço uns brinquedinhos comandados por computador, mas


ainda estamos instalando e testando. Quanto aos jogos, devo dizer, aquele
moleque, Alexander, é muito bom, ele achou vários bugs e os consertou
rapidamente e já fez amizade com Luca. Agora os dois jogam os videogames
e me jogaram para fora.

Ela riu.

— Muito bem, aprecio o que está fazendo por ele.

— Sim, espero que tenhamos feito a coisa certa.

— Por quê?

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— Ele é uma bomba-relógio, minha theá, e cedo ou tarde a bomba vai


explodir.

— Acha que ele fará mal aos lobos?

— Não. Mas não tenho um bom pressentimento sobre isso. Um dia


acharemos seu pai e o mataremos e isso seria ruim para Alexander e Sami,
também para seu pai. Eles estão em paz aqui, mas me pergunto até quando.

— O que é isso? — ela perguntou apontando para outro monitor.

— Estou tentando encontrar seu pai.

— Oh! Isso é mau.

— Sim, é.

Pietra piscou e não quis perguntar mais para não incomodar Harley.

Ela soltou um leve gemido e Harley a olhou.

— Você está bem?

— Estou bem, somente um pouco indisposta.

— Seria bom descansar um pouco.

— O farei, não se preocupe.

O arrepio na base de sua coluna e o formigamento na sua nuca parecia ser

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um mau presságio, mas ela não disse nada a Harley, porque não queria
atormentá-lo com suas tolices e aquilo não tinha nada a ver com Alexander.

Ela beijou Harley e saiu, foi até a varanda e olhou ao redor.

A ilha parecia tranquila, o céu estava azul e o sol quente.

Nada aparentemente fora do lugar.

Ela abraçou sua barriga avantajada de cinco meses e tentou afastar aquele
sentimento de medo, aquela agonia que tilintava ao seu redor.

O pressentimento ruim só parecia aumentar e seus ouvidos pareciam doer.


Parecia que tinha vozes dentro de sua cabeça que só faziam aumentar.

Ela respirou fundo e tentou afastar tudo de sua mente e respirar o ar


fresco, mas a vertigem pareceu aumentar. Ela se escorou no balaústre e foi
chamar Harley, mas um barulho ensurdecedor a impediu.

Um helicóptero passou sobre e a ilha num rasante e Pietra olhou, cobrindo


o rosto do sol, então ela olhou o mar ao longe e viu várias lanchas vindo em
sua direção.

Bem, aquilo não parecia barco de turistas.

— Harley! — gritou.

Em um minuto, ele chegou à varanda.

— O que foi? Está sentindo algo? O que diabo é isso? — ele perguntou
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olhando para o céu.

— Aquilo parece estar vindo em nossa direção.

Harley se virou e observou. Sim, as lanchas estavam vindo direto para a


ilha, então o helicóptero passou novamente sobre eles.

— Entre, Pietra!

Harley saltou da porta para dentro e sentou na cadeira e digitou os


comandos do programa.

Logo as telas focavam as imagens de câmeras de seguranças que existiam


por toda a ilha.

— O que é isso? Merda!

Ele arregalou os olhos quando avistou no monitor três lanchas se


aproximando também, pelo outro lado.

Ele digitou o comando do viva voz com o alerta direto no celular de


Petrus.

— Fale!

— Petrus, estamos sendo atacados!

— O quê? — Ele soltou um rosnado que fez os ouvidos de Harley doerem.


— Quem são?

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— Não sei, mas apostaria meu pescoço que não são os humanos.

— Os Scopelli?

— Bem, é uma possibilidade.

— Aquele velho maldito não teria tanta coragem!

— Ele pode ter descoberto que Pietra está aqui.

— Não interessa quem seja, mataremos todos. Acione os alarmes.

— Sim.

— Sinto por Pietra, mas dessa vez ela ficará sem um pai.

— Pietra não tem um pai. A família dela sou eu.

— Bem.

Harley desligou e acionou outro comando no computador e um alerta foi


acionado no interior da ilha, era um sinal silencioso que somente os lobos
poderiam escutar e automaticamente todos os celulares recebiam uma
mensagem de alerta.

Então os lobos, assustados, piscaram aturdidos ao receber a chamada.

As lobas fecharam as portas dos estabelecimentos, pegaram seus filhotes


que estavam inocentemente brincando no pátio, nas ruas, e os lobos machos
se prepararam para lutar.
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Pietra entrou na sua sala e o olhou, assustada.

— O que está havendo, Harley?

— Alguém está invadindo a ilha.

— Quem?

— Talvez seja sua alcateia.

— Mas por quê?

— Não sei, meu bem, mas aqui dentro é o mais seguro. Vai ficar tudo
bem.

Ela olhou para Harley com os olhos arregalados, que foi até ela e beijou
sua testa e segurou seu rosto entre as mãos.

— Não se preocupe, vai ficar tudo bem.

— Acha que é meu pai?

Ele espremeu os lábios e não queria responder.

— Se for ele, Pietra, eu sinto muito, mas ele somente entrará, pois não
sairá daqui vivo.

Ela arfou e sentiu um pânico percorrer seu corpo.

— Por que ele viria atrás de mim? Não represento perigo nenhum a ele. Já

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não sou parte de sua família.

— Eu não sei, mas vamos descobrir. Olhe, fique tranquila, ok? Pense no
nosso bebê, eu resolverei tudo.

Agora ela estava apavorada, porque além do seu desconforto e mal-estar,


havia um pânico em seu coração.

Harley sentou na cadeira e digitou um comando destravando todas as


armadilhas.

— Bem, podem vir bastardos, papai está esperando.

O comando foi digitado e uma grade submarina começou a se levantar no


mar, com grandes lanças nas pontas.

— Vamos, anda!

Os barcos passaram antes que a grade fosse totalmente levantada e


somente o último barco se chocou contra a grade, furando seu casco e
afundou.

— Merda! Por que este maldito alarme não apitou antes?! Onde estava o
olheiro que não viu isso pra me avisar? — rosnou furioso.

Pelos monitores que transmitiam diversas imagens de diversas câmeras


distribuídas pela ilha, Harley observou barcos vieram pela área leste e o
helicóptero que sobrevoava a ilha, começou a soltar diversos lobos sobre ela.

Outro comando foi digitado e um alçapão no chão se abriu e saiu dele um


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lançador de lanças com cinco lanças, de dois metros de comprimento e elas


foram lançadas. Duas delas atingiram dois lobos e as outras se perderam.

Do telhado de uma das casas do litoral, metralhadoras surgiram e


começaram a disparar por controle remoto, atingindo vários lobos que
desciam dos barcos e saltavam para a praia.

Agora eles estavam se espalhando e Harley xingou alto, pois devia ter
instalado as outras armadilhas, mas ainda estavam em teste.

Com um soco ele bateu no teclado e dois lobos voaram com a explosão
que veio do chão, com minas que tinham sido instaladas.

Seus lobos já estavam travando lutas com os intrusos e ao longe se podia


ouvir rosnados, uivos e tiros.

O cheiro de sangue começava a impregnar o ar.

Era hora de sair da frente do computador e agir com suas próprias mãos.

— Fique aqui, Pietra, estará segura. Tranque a porta e ligue o alarme.

Ela assentiu assustada. Queria lutar, mas sabia que não poderia, pois
deveria preservar a vida de seu filho, mas estaria atenta e se alguém tentasse
entrar na casa, ela atacaria, mesmo que fossem lobos de seu pai. Isso já não
importava mais.

Harley saiu da casa correndo e desceu a colina e seguiu para o sul da ilha
e não tardou a encontrar alguns intrusos. Ele não fez perguntas, o que
queriam, o que estavam fazendo ali.
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O que importava era matar todos os invasores. Como Konan sempre dizia.
Mate primeiro, pergunte depois.

Ele estava furioso e seus inimigos descobriram logo que Harley furioso
não era bonito de se ver. Partiu sem piedade sobre eles, rasgando suas
gargantas, destroncando seus pescoços, mordendo suas jugulares, um a um
foram deixados por Harley, mortos no chão.

Ele havia se afastado e ido em direção da mansão e ali Petrus e seus lobos
estavam em uma guerra. Lobos surgiram por todos os lados.

— Maldição!

Ele rosnou alto e saltou pelas pedras e árvores e se juntou à luta matando
cada lobo que saía das lanchas que atracavam na praia e lobos do terraço da
mansão soltavam rajadas de balas das metralhadoras.

Os lobos que eram de Kimera mostraram a que tinham vindo. Eram


brutais lutando e os italianos não tiveram nenhuma chance.

Em um momento o chão estava forrado de corpos e Harley, Petrus e os


outros ficaram ofegantes, olhando ao redor.

Um enorme silêncio se fez e eles franziram o cenho tentando ver ao redor,


escutando.

— Que silêncio é este?

— Não sei, mas não me cheira bem.


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— A invasão cessou? Matamos todos?

— Impossível.

— Eles invadiram nossa ilha, sabendo de nossa segurança, somente com


estes poucos homens?

— Realmente, seria uma imbecilidade sem tamanho.

— Algo está errado.

Petrus bateu o dedo no microfone auricular.

— Relatório das áreas norte e nordeste da ilha!

— Nada aqui, alfa, nenhuma lancha e lobo italiano nessa área. Nossos
atiradores estão na posição, mas nada de lobo, o mar está vazio.

— Mikel, relatório!

— Minha área está limpa, alfa. Nenhum lobo atracou aqui, o mar está
limpo.

— Minha casa? — Harley perguntou.

— As câmeras não apresentam nenhum movimento perto da sua casa,


beta.

— Merda! — Petrus rosnou, desligando. — Não entendo. Por que


invadiram somente um lado da ilha? Que estratégia de ataque é este?
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Então um zunido alto veio do intercomunicador e Harley e Petrus o


tiraram do ouvido, gemendo pela dor.

— O que está havendo? — Harley gritou, colocando-o no ouvido


novamente.

— Beta, estamos com problemas nas câmeras.

Logo o intercomunicador ficou mudo.

Harley sentiu algo formigar na sua nuca e um frio atravessou sua espinha.

Ele olhou com os olhos arregalados para Petrus.

— É uma armadilha, uma distração...

— Não entendo, Harley!

— O que teria aqui na ilha para Enrico invadi-la?

— Pietra.

— Merda! Ele nos afastou de minha casa, porque sabia que ela estava no
lado norte e por isso todos invadiram do outro lado. É uma armadilha
direcionada a capturar Pietra! Enrico não invadiu, ele já está na ilha.

Então Harley, com seu ouvido aguçado, ouviu ao longe, o alarme de sua
casa soar e se virou. Ele olhou para Petrus, que também empertigou o corpo.

— Pietra!
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Harley saiu correndo em uma corrida desenfreada, correndo o mais rápido


que podia e Petrus e vários dos lobos correram atrás dele.

Ele saltou a colina com saltos gigantescos para ir mais rápido e entrou em
sua casa com um rosnado feroz.

— Pietra!

Ele olhou assustado, a porta estava arrombada e os móveis caídos.

— Ela não está aqui. Sinto cheiro de lobos! — Petrus disse.

— Os malditos italianos a pegaram!

Harley rosnou alto e tão forte que os ouvidos de Petrus doeram e eles
saíram correndo novamente, farejando o cheiro dela.

Quando seguiram para a colina do templo das Górgonas, eles toparam


com alguns lobos italianos e travaram outra luta.

Harley agarrou uma corrente que fazia uma cerca e a rodou no punho. Ele
agarrou a corrente, com muita ira, girou-a no ar e atirou no lobo que rosnou
pela dor e se defendeu com o braço. Ele segurou a corrente com a outra e
rosnou para Harley, que rosnou de raiva, puxou a corrente com toda força,
puxando o lobo num solavanco, girou e num movimento rápido enrolou a
corrente no pescoço do lobo duas vezes que sufocou e tentou retirar a
corrente.

Harley deu uma patada em suas costas e o lobo voou, pela beirada da
escadaria e com o tranco da corrente, que Harley segurou fortemente, o lobo
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morreu com o pescoço destroncado.

Assim que cerrou os punhos e rosnou, com a boca e as garras


ensanguentadas e olhou ao redor, e saiu correndo seguindo o cheiro de sua
fêmea que vinha do terraço do templo.

Harley subiu os degraus de pedra o mais rápido que pôde e Petrus e os


outros lobos o seguiram.

Quando chegaram ao terraço do templo das Górgonas, Harley arfou


estupefato e deu uma freada brusca.

Havia um grupo de lobos italianos e Enrico estava segurando Pietra


fortemente.

Harley rosnou furioso quando a viu, com os olhos arregalados, assustada e


respirando com dificuldade.

— Solte-a, Enrico! Se machucá-la, juro que arrancarei cada membro do


seu corpo, lentamente, e jogarei aos tubarões.

— Você não entende, ela tem que morrer! — Enrico rosnou.

— Você que tem que morrer.

— Se Pietra não morrer toda a alcateia Scopelli sumirá.

— Do que fala, homem?

— Ela carrega a marca da maldição, a loba marcada que deveria cumprir o


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ritual, mas ela é romântica demais para seguir ordens e deixar seu amor para
trás. Tão melodramática, tão estúpida.

— O que diz não faz sentido. Do que está falando?

— Quando ela nasceu o médico detectou seu problema. Órgão


empedrados. O conselho disse que eu devia matá-la, eu tentei, mas sua mãe
implorou que eu não o fizesse, eu amei aquela garotinha e não consegui
cumprir o meu dever.

Pietra arfou e as lágrimas escorreram. Doía ouvir seu pai dizer que ela
deveria morrer.

— Por que ela deveria morrer?

— Vocês não entendem, a maldição! Ela carrega a maldição! Eu não a


matei quando nasceu, porque era uma lobinha doce e linda e meu velho
coração se apaixonou por ela. E eu amava minha companheira e não consegui
negar seu pedido, então nós a preparamos para ser a alfa de Alamus, e então
tudo ficaria bem, seguiríamos os rituais e nossa alcateia estaria salva. Mas ela
fez o quê? Apaixonou-se pelo beta, pelo irmão do alfa, e me traiu, chamando
o rei e estragou todos meus planos. Eu tentei ser misericordioso, mas ela
tinha que morrer, então a condenei à Spurga. Pela sua traição e por ela ter que
quebrar a maldição. Mas você, lobo estúpido, estragou tudo novamente, a
roubou!

— A salvei. Ela é minha companheira e juro por Deus que se não soltá-la
agora não sobrará nada de sua alcateia para contar a sua história de louco,
porque esmagarei o crânio de todos os lobos.

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— Ela tem que morrer.

— Ela está grávida, bastardo!

Nisso, Marcello chegou correndo, seguido de alguns lobos e Harley


rosnou para ele.

— Pai, pare! — Marcello gritou.

Harley e Petrus ficaram aturdidos. Marcello chegou ali para impedir seu
pai?

Não estavam entendendo.

— Você me traiu também, Marcello, a encobriu, você disse que ela não
estava aqui. Meu próprio filho! O que há de errado com vocês que não podem
seguir minhas ordens?

— Pai, deixe Pietra ir. Vamos sair da ilha dos gregos e deixá-los em paz.

— Você ainda não acredita em mim, Marcello. Eu expliquei a você a


maldição e você e sua mãe não acreditam em mim. Mas ela está vindo, eu
sinto. Eu sei. Não sente, Pietra?

— O quê? — ela perguntou aturdida.

Sim, o que ela sentia era uma dor no coração, como aquelas pontadas que
já havia sentido antes e tinha dificuldade de respirar. Ela estava inclusive à
mercê dele, sem forças para lutar.

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Odiava se sentir assim fraca. Um lobo fraco é um lobo morto.

— Não ouve os sussurros? O guizo dela? — Enrico perguntou.

Pietra olhou assombrada para seu pai.

Guizo?

Ela tinha ouvido guizos, mas pensou que era coisa de sua imaginação.

Sim, e pela primeira vez ela olhou para seu pai com medo e sabia que algo
estava errado. Bem errado.

— Está louco, velho! — Harley disse, zangado.

— Não, eu não estou louco, vocês é que estão negligenciando a verdade, a


maldição, e agora estamos todos mortos.

— Fale-me sobre essa tal maldição!

— Há muitos séculos quando a rivalidade entre gregos e romanos era


muito forte, em uma dessas batalhas algo ultrapassou as guerras entre os
exércitos. Os antigos travavam guerras sangrentas e faziam dos espólios uma
coisa meio brutal. O general romano queria conquistar Creta e dominar
Alamus que naquela época ainda era parte de Creta, era a morada de Pitélius,
o soberano de Creta, seu inimigo, um lobo muito poderoso. Uma grande
guerra foi travada e o general romano Rufius tomou a península e se tonou o
soberano de Creta.

— Um lobo?
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— Sim. Ele era um shifter de lobo que veio do norte e conquistou a ilha e
se tornou seu soberano, mas os romanos queriam este poder para si. O
romano matou o alfa e tomou seu lugar. Só que uma de suas lobas gregas o
ajudou a tramar uma traição, uma emboscada, com a promessa de ser sua
companheira, mas ao fim, ele tomou a loba viúva para si, como espólio. Ela a
amaldiçoou e a alcateia italiana para que sempre tivesse que se ligar com o
alfa de Alamus, senão teria sua morte e de sua alcateia. Depois os gregos
tomaram Creta novamente, mas a maldição permaneceu, porque era sobre os
alfas do lugar e não sobre sua nacionalidade em si.

— Como jogou uma maldição?

— Com a ajuda de uma feiticeira, lançaram a maldição às Górgonas e às


Erínias, que têm sede de vingança e reagem à traição, que foi aceita e cobrada
desde então. O alfa e sua filha gerada dessa união foram amaldiçoados e
assim toda sua alcateia.

— Isso quer dizer que Pietra herdou a maldição de dois mil anos atrás?

— Se uma filha de lobo nascesse marcada, deveria desposar o alfa de


Creta, que hoje é O Alfa de Alamus e deveria matar seu filho como sacrifício,
ou ela e toda a alcateia romana virariam estátuas de pedra.

— Mas que besteira! Nunca ouvi falar disso.

— Mas nós sim, pois em todos esses séculos houve relatos de que lobas
da alcateia da Itália nasceram defeituosas.

— Mas não me recordo que em nossa história uma romana tenha se

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acasalado com um grego.

— Os romanos odiavam os gregos e matavam suas filhas antes que se


acasalassem. Não queriam unir suas famílias.

— O quê?

— O nosso conselho quis que eu matasse Pietra quando ela nasceu


defeituosa, pois ela tem as marcas contidas nas escrituras. Ela é amaldiçoada,
mas minha companheira me convenceu de que era tolice. Então o conselho
tem me pressionado para que acasalasse Pietra com o alfa de Alamus e fazer
o sacrifício, pois assim nos livraríamos da maldição, mas ela, com seu pedido
ao rei, quebrou nossa chance de impedir que nossa alcateia fosse atingida.

— Eu não acredito nisso.

Nisso, um vento violento bateu neles, que tentaram se equilibrar e não


cair, mas o vento bateu mais forte em Pietra, que foi jogada longe e caiu em
frente a um altar de pedras que havia no templo.

Harley gritou e correu até ela, que se levantou, gemendo, mas quando ele
ia tocá-la, chocou-se em uma espécie de parece invisível.

Os dois, aturdidos, apalparam e perceberam que ela estava dentro de uma


redoma.

— Harley! — Pietra gemeu, apavorada.

— O que é isso? Enrico, o que fez? — ele gritou.

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— Nico Papolus, eu não fiz nada, foi ela. Ela veio buscá-la.

— Ela quem, seu carcamano dos infernos?!

— Quem você acha? A Górgona. Estamos aqui, em um templo de


Górgonas. Pietra tem partes de seus órgãos petrificados. Olhe para ela!

Arfando, Harley olhou para Pietra, que apalpava aquela parede invisível e
o olhava com os olhos arregalados ouvindo a tudo aquilo.

— Não a matei quando nasceu. Falha. Não se acasalou com o alfa. Falha.
Sobreviveu a minha Spurga. Falha. Agora, não há mais nada a fazer.
Devemos oferecer ela para a deusa, já que tem um filho no ventre, filho de
um grego, ou todos nós morreremos.

— Por que infernos não me disse isso antes? — Petrus gritou.

— Não podia. Você não concordaria em fazer a cerimônia do sacrifício,


achei melhor obrigá-lo a se acasalar e quando a criança nascesse, faríamos o
sacrifício sem que pudesse impedir.

— Planejava matar meu filho?! — Petrus gritou furioso.

— Era uma vida para salvar uma alcateia inteira e sua alfa. Mas tudo deu
errado e quando soubemos que Pietra estava viva e carregava o filho do beta,
resolvemos tentar fazer o ritual para que a deusa se aplacasse. Talvez se
entregasse a vida da mãe e do filho em seu ventre, ela seria misericordiosa e
liberaria a alcateia da maldição. Se ela tivesse morrido na Spurga, nada disso
estaria acontecendo, já teríamos solucionado tudo. Mas não, fui traído

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novamente.

— Pai, não entende? Nossa alcateia está arruinada agora, da mesma


maneira, porque quebrou o decreto do rei e invadiu sua ilha, ameaçando
matar a companheira do beta. Mesmo que quebre esta porcaria de maldição,
todos nós estamos mortos. Acabou!

Harley olhou para Marcello e, pela segunda vez, admirou o bastardo.

— Pietra e seu filho precisam morrer. É a obrigação de ser minha filha,


ela deve salvar a alcateia.

— Isso não vai acontecer, pois ela não faz mais parte de sua alcateia, faz
parte da minha, e para tocar nela, vai ter que me matar primeiro.

— A morte dela é inevitável, se ela não for sacrificada ela será


transformada em pedra juntamente com a alcateia italiana inteira. Não há
meios de salvá-la, lobo.

Harley olhou para o velho e para Pietra e pensou que explodiria em


agonia, era muita informação para digerir e não sabia o que fazer.

— Mas que merda, vocês acreditam nisso? É uma porra de uma lenda! —
Petrus rosnou.

— No ano de 900 o ritual foi efetuado, no ano de 1278 ele foi ignorado e
toda a alcateia foi transformada em estátua, eles jazem em um cemitério
subterrâneo embaixo de uma praça de Roma, nas catacumbas. Muito tempo
se passou e nunca mais nenhuma filha sobreviveu, uma morreu ao parto,

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outra foi assassinada pelo seu pai e estes são os que, pelo menos, temos
registrado em nossa biblioteca e é um segredo guardado.

— Por isso fizeram toda estra trama diabólica de acasalar Petrus com ela?
Os contratos, as chantagens.

— Não podíamos arriscar que ele simplesmente não quisesse se acasalar


com ela, como realmente não queria, tinha que prendê-lo de alguma forma
para que o fizesse. Sim e isso tudo nos trouxe aqui hoje.

— Eu teria matado você se tocasse no meu filho.

— E sua ilha desfalcada de lobos e com toda sua fortuna amarrada na


minha mão você não poderia fazer nada contra mim. Não teria nenhuma
chance. Todos morreriam e minha alcateia estaria salva.

Harley olhou para Pietra, que olhava tudo com os olhos arregalados e o
rosto banhada nas lágrimas, nem conseguia respirar direito, puxando o ar com
dificuldade.

— Você sabia disso?

— Não! Eu não sabia, juro, eu não sabia de nada disso.

— Ela não sabia. Pietra é péssima mentirosa, teria entregado nosso plano
de cara. Ela somente seguia minhas ordens como uma filha deve fazer — seu
pai disse.

— Mas o que estão tentando fazer, o ritual? Vocês mesmo disseram que
deveria ser filha do alfa, eu não sou o alfa.
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— Não custa tentar, se não der certo, ela morrerá de qualquer maneira,
como todos nós.

Harley rosnou com o comentário.

— A missão de um lobo é proteger suas fêmeas, e você, velho, falhou


miseravelmente nisso. Essa é a diferença entre mim e você, posso não ser
alfa, mas ao invés de simplesmente jogar sua filha aos leões, sem ao menos
tentar salvá-la, eu farei diferente, eu a salvarei e terei o gosto de mandar você
queimar no Hades.

— Não pode sacrificar uma alcateia inteira por um lobo.

— Bem, ela é minha companheira e não somente isso, é minha


companheira de alma e não há nada maior que isso. Sim, eu farei, eu a
protegerei. Porque antes, eu prefiro abrir mão de minha posição de beta a ver
uma inocente ser massacrada. E pior, quando ela carrega meu herdeiro. Eu
ainda sou da lei que companheiras são sagradas e devem ser protegidas a
qualquer custo.

Houve um trovão que retumbou pelo ar e depois um guizo alto. Todos


olharam para o céu, ao redor as nuvens moviam-se rapidamente, mais do que
o normal, como se uma tempestade estivesse se formando.

— O que está havendo?

Uma risada alta de mulher ecoou pelo céu e todos ouviram e ficaram
chocados.

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— É ela — Enrico disse. — Ela veio por nós! A maldição é verdadeira.

Pietra começou a respirar com mais dificuldade e se ajoelhou, tombando


em seus joelhos.

— Harley! — ela gritou assustada, tentando sair.

Harley se ajoelhou na frente dela e os dois colocaram suas mãos na parede


feita pela magia.

Ele bateu nela uma e outra vez, tocando, para saber se podia desfazer,
quebrar, mas parecia inquebrável, era transparente como o vidro.

— Solte-a! Não ouse tocar nela.

Harley rosnou e tentou quebrar novamente e Petrus o ajudou, mas sem


resultado, até que cansado, ele se ajoelhou na sua frente.

Tudo parecia ser verdadeiro e o terror tomou conta dele.

— Pietra, não tema, eu vou tirá-la daí.

Ela estava com medo, com o rosto banhado nas lágrimas, olhou assustada
e ofegou quando dois lobos italianos viraram estátuas de pedra.

Ela arfou e gritou, apavorada e todos olharam aquilo, aturdidos.

— Pietra, olhe pra mim, não olhe para eles, olhe pra mim! — Harley
gritou.

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Ela olhou para ele e queria poder tocá-lo.

— Harley, não se esqueça de mim.

— Não. Por favor... Pietra, não pode me deixar.

— Quero que saiba que você foi a coisa mais importante de minha vida,
que eu o amei mais que tudo e fui muito feliz, mais do que pensei que seria.

Ele soluçou e as lágrimas escorreram.

— Não faça disso uma despedida, não aceito, eu vou achar um jeito.

— Amo você, Harley, e não importa para onde me mandem agora, eu


levarei meu amor comigo para a eternidade. Se você não tivesse me salvado,
eu teria morrido sem conhecer a felicidade e, se por algum motivo, tivesse
sobrevivido à Spurga, eu não teria nenhuma vida para viver. Seria um
pequeno grão de areia perdida no deserto, seca e só.

— Mas eu te salvei.

— Sim, meu amor, salvou e eu te agradeço por isso.

— Te salvarei novamente, eu juro, nosso destino é estarmos juntos, Pietra,


eu e você. Vou te tirar daí.

Ela começou a sufocar, pois não conseguia mais respirar e sua frequência
cardíaca foi diminuindo.

— Har... Harley...
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Ele tentou alcançar sua mão, mas não adiantava, a força invisível não
permitia, a parede não cedia.

Então a risada ecoou novamente pelo ar e um rosto apareceu no céu. O


rosto da Górgona. Todos ficaram assustados e impressionados e não sabiam o
que fazer.

Um lobo tentou correr e estacou, paralisando como uma pedra.

Pietra olhou aquilo com os olhos arregalados e arfou apavorada.

— Pietra, olhe para mim, não olhe para ele, olhe para mim!

Ela suspirou e desviou o olhar para ele, com os olhos marejados de


lágrimas que escorreram pela face.

— Obrigada pelo amor que me deu. Eu sinto muito que eu não vou poder
lhe dar seu filho, queria tanto poder ver seu rostinho, queria que ele fosse
parecido com você...

— Pietra, não fale essas coisas, por favor.

— Eu amo você, por favor, não se esqueça de mim.

Ela ofegou quando a onda de energia atingiu seu pai e ele foi
transformado em pedra diante de seus olhos, assim como Marcello e os
outros e ela não ficou com mais medo.

— Pietra...

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— Meu nome combina comigo... ao fim... virarei uma pedra.

Sua pele começou a ficar cinzenta.

— Não. Não! Não! Pietra, olhe para mim, por favor. Alguém faça alguma
coisa! Fica comigo, fica comigo.

Petrus e mais um lobo tentaram quebrar a parede e batiam com toda a


força, mas não adiantava em nada.

Sua pele começou a se tornar cinza e seus membros foram petrificando e


ela já não conseguia de mover.

A última lágrima escorreu e ela sussurrou: — Amo você...

— Eu também te amo, minha Afrodite.

— Obrigada por ter sido... meu companheiro.

Ela se transformou em pedra, totalmente. Naquela posição, ajoelhada e


com as mãos espalmadas para frente, mas sua fisionomia estava calma, pois
seu último olhar para Harley foi carregado de amor e gratidão.

Harley ficou ali, estático, paralisado olhando para ela, sem respirar, em
completo choque.

A parede desapareceu, todos os italianos tinham virado pedra e Harley não


queria ter conhecimento deles a não ser ela.

— Pietra... Pietra — disse tocando seu rosto com as mãos trêmulas,


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sentindo a frieza da pedra.

Harley sentiu-se desesperado, chorando com as lágrimas escorrendo pelo


rosto, sem acreditar no que ela havia se transformado bem diante de seus
olhos, sem poder salvá-la sem poder fazer nada para impedir.

— Pietra volte para mim! Por favor, volte para mim! Não me deixe, por
favor!

Harley chorou, aos soluços, escorregou, deitando de bruços no chão,


pousou a cabeça sobre suas pernas e chorou sem que nada mais ao seu redor
existisse, sem chance de ser consolado. Sem saber o que fazer.

Olhando aquela cena, Petrus sentiu seu coração quebrar, sabendo que não
havia nada que pudesse consolar seu irmão. Sem poder ajudar, sem entender
direito o que tudo aquilo significava, sem acreditar que um mito tinha surgido
diante deles e causado aquela desgraça.

Sami chegou correndo com sua mãe e elas olharam a tudo horrorizadas e
Petrus somente abraçou sua companheira e acariciou os seus cabelos, o mais
forte que pôde.

Harley gritou tão alto que todos pensaram que sua garganta rasgaria. Nada
mais podia ser feito. Ele chorou tocando a estátua de pedra, fria, imóvel e
assim foi como seu coração se sentiu, cheio de dor.

Petrus olhou por cima da cabeça de Sami, para as estátuas dos italianos,
do pai de Pietra, de seus irmãos e seus guerreiros e sentiu um ódio tremendo,
pela falta de compreensão daquele velho, que podia ter salvado sua filha e

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podia ter falado a verdade.

Talvez, pensando juntos, eles teriam encontrado uma solução, uma saída,
uma maneira de salvar Pietra e sua alcateia, mas não, ele achou que teria sua
filha obediente como desejava.

Mas as coisas não tinham saído do jeito que ele queria e tinha causado a
dor mais profunda que era separar companheiros de alma.

Petrus queria poder abraçar o seu irmão e dizer que tudo ficaria bem, mas
sabia que não ficaria, que não havia nada que apagasse a dor de Harley e não
haveria nada que ele pudesse fazer.

Olhar para aquele templo agora, que havia se transformado em um


cemitério de uma alcateia de italianos, todos em pedra fria como gelo e ali
também repousava agora o coração de seu irmão, o que havia sido arrancada
de seu peito, era surpreendentemente doloroso.

Inconformado, Harley se levantou.

— Não, algo tem que ser feito, não vou permitir que morra, não vou.

Em seguida, pegou uma taça de ouro e a adaga que estavam sobre o altar
de pedra e cortou a palma de sua mão e derramou seu sangue nela.

— Harley, o que está fazendo? — Petrus perguntou assustado.

— Não permitirei, deve ter um jeito de quebrar isso.

— Não vai funcionar, Harley.


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— Tem que funcionar!

Petrus parou de insistir, deixou que ele fizesse, pois nada acalmaria
Harley.

Ele pegou a taça, molhou os dedos no sangue e passou em seus lábios,


ensanguentando-os e pegou o livro que o velho tinha trazido, o qual dizia o
encantamento, as palavras do ritual de sacrifício de sua loba para a deusa.

Ele começou a ler o encantamento, ele se esforçava para ler direito,


porque sua garganta estava embargada. Ele leu, uma, duas vezes e olhava ao
redor, tocava nela para ver se algo acontecia. Se a magia era revertida. Mas
nada mudava.

— Vamos, Pietra, volte para mim! Por favor!

Uma chuva forte começou a cair sobre eles, molhou o livro, e ele olhou
para a estátua de Pietra e a chuva lavou o sangue e nada aconteceu.

Então ele percebeu que junto com a chuva suas lágrimas também
molhavam o livro.

Harley desistiu de recitar as palavras, pois não estava funcionando, estava


tudo perdido e ele havia perdido sua companheira e, desta vez, era para
sempre. Ele deitou novamente de bruços no chão, com a cabeça em seu colo
e ali ficou, perdido na sua dor.

Vendo aquilo Petrus deixou sua ira solta.

Ele se soltou de Sami, e num momento de fúria, saltou pelo templo e caiu
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com um punho cerrado sobre a estátua de Enrico, rosnando com toda raiva e
golpeou a estátua, fazendo-a estraçalhar em diversos pedaços.

Todos ofegaram e ele, cuspiu no chão, sobre as pedras partidas, ignorando


sua mão ferida, que sangrava.

— Isso é culpa sua, carcamano, bastardo! Devia ter contado a verdade em


vez de todas as maquinações que fez. Devia ter matado você há muito tempo!

Petrus olhou para sua mãe, que molhada da chuva, olhava a cena
estarrecida.

Ela arfou ao ver Pietra e Harley e suas lágrimas caíram.

— O que podemos fazer depois disso? — Petrus sussurrou para sua mãe.

Ela respirou fundo, com a garganta embargada, ouvindo os soluços de


Harley que partiam seu coração. Sabia quanto seu filho amava aquela loba.

— Vamos deixá-lo com sua dor, não há nada que possamos fazer por ora.
Depois cuidaremos dele e daremos todo nosso amor.

— É muito cruel ter de volta a quem se ama e depois perder — Sami disse
entre suas lágrimas.

— Ele precisará de tempo — Samira disse.

Ela assentiu e Petrus fez sinal para que seus lobos deixassem a colina.

Eles saíram e deixaram, mesmo sem querer, Harley com sua dor,
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prostrado diante da estátua da mulher que amava.

Ele havia desatado sua magia de lobo, mesmo sem querer, se supunha, e a
aura multicolorida vagava pelo ar, como uma suave onda de arco-íris,
envolvendo ele e Pietra.

O que somente causou mais pesar de todos os lobos que viam a cena.

Todos foram embora e o local pareceu mais frio, mais perdido no topo do
morro.

Um local que Harley sempre tinha admirado, agora era o mausoléu de sua
adorada companheira. Agora lotado de uma alcateia de lobos em mármore.

Harley podia sentir seu coração congelar, esfriar como um bloco de gelo,
transformando-se em pedra. Ele nunca mais seria o mesmo, nunca mais
conseguiria fazer seu coração ser aquecido novamente.

O tempo passou, mas parecia congelado. Nada ao redor tinha vida ou


importância para Harley.

Até pensou em ir para casa, mas estaria vazia sem Pietra, sem suas
risadas, sua beleza, seu calor e ele não queria encarar sua vida desse jeito.

Somente ficou ali, esperando, não sabia o quê.

Sempre soube que alguns deuses eram ardilosos e não tão bonzinhos
assim, parecia que, ao fim, era verdade.

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O dia estava carregado de nuvens negras e a chuva era tórrida, pois


parecia que a natureza estava exalando a dor do coração de Harley e
derramando suas lágrimas sobre eles.

A Ilha de Alamus estava silenciosa, de luto e poucas palavras eram ditas.

Os lobos eram regidos pela magia e acreditavam no poder dos deuses,


muitos deles. Sendo criados sob o poder dos deuses celtas e nórdicos, eles
também respeitavam os deuses dos países que viviam. Como era o caso dos
gregos.

A mitologia grega era muito importante para o país e conhecida pelo


mundo todo e os lobos sempre acreditavam que se havia um mito ou lenda,
além dos acréscimos dos trovadores e encantadores de palavras, havia um
fundo de verdade, de realidade.

Eles tinham testemunhado a olhos vistos o mito dos deuses e suas


criaturas naquela ilha. Uma maldição que tinha levado muitos lobos e,
principalmente, Pietra.
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Todos tinham ficado sem ação e agora lamentavam a dor de seu beta.

Harley não conseguia se conformar e passava a maior parte de seu tempo


ajoelhado em frente à estatua de sua companheira no templo ou isolado em
sua casa na frente dos seus computadores ou enfurnado horas a fio na sua
garagem consertando suas motos.

Naquele dia tinha virado a noite tirando e colocando parafusos, limpando


o cano de descarga até que virasse um espelho e então tinha corrido como
lobo pela ilha para cansar mais ainda, talvez assim ele conseguisse finalmente
dormir.

Agora estava vestido todo de branco, que era a cor característica do luto
dos gregos antigos, e olhava para a janela de sua casa, para o mar que se
perdia no infinito do céu que estava cinza.

A dor das lembranças o alagou e ele saiu na chuva e andou sem rumo pela
ilha e foi até a beira da água. Ele queria deitar ali e entrar nas profundezas do
mar.

Quem sabe Poseidon tivesse pena de sua alma e o levasse e toda a dor
sumisse.

Ele se ajoelhou na água e tirou os cabelos molhados do rosto e respirou


fundo.

Quem sabe o ouvisse e a trouxesse de volta? Ou Afrodite. Ele sempre


tinha adorado Afrodite.

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Ele tinha sua própria Afrodite em casa, sua theá e tinham a tirado dele.

Ele abriu os braços e gritou, gritou até a garganta doer, então fechou os
olhos e ficou ali, ouvindo a chuva, ouvindo as ondas, deixando a água lavar
sua alma. Silenciou sua mente e pediu uma ajuda aos céus.

Qualquer coisa.

— Por favor, os deuses a mandaram para mim, não posso perdê-la. Não
posso. Ajudem-me, me digam o que devo fazer? Como faço para fazer isso
parar?

Ele chorou sob a chuva que caía sem piedade.

Foi estranho, mas pareceu ouvir um sussurro pelo ar, uma voz doce e
melodiosa de mulher.

Harley piscou aturdido e olhou ao redor, mas não havia ninguém. Ouviu o
sussurro novamente, sem entender o que dizia.

Atiçou todos seus sentidos de lobo e deixou sua mente ouvir a natureza, o
mundo que queria lhe dizer algo.

Então algo se abateu em seu peito, uma força entrou em sua alma e uma
ideia surgiu em sua mente, ele não teve certeza, mas pensou que as nuvens se
mexeram estranhamente.

Ele levantou e teve uma certeza em seu coração.

Podia sentir como se houvesse uma centelha de vida, a batida de um


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coração. Ele prestou atenção em si mesmo, em sua alma e soube. Ela não
estava morta.

Ele piscou aturdido, poderia ser somente sua dor falando, mas não, ele
olhou o céu coberto de nuvens e a chuva caindo e sentiu uma pontada em seu
coração, uma diferente, uma que alertava sobre sua companheira, sobre sua
alma.

Podia jurar que a voz de uma mulher ecoou na sua cabeça, com um
sussurro tão suave quanto um respiro.

— Uma deusa tira, uma deusa devolve. Há esperança.

Era uma mensagem, bem dentro de sua cabeça. Algo divino que vinha do
céu infinito, algo que atingia sua mente e seu coração.

Não viveria sem Pietra. Havia esperança.

Ele correu e subiu o monte, entrou no templo e parou bruscamente diante


da estátua de Pietra e seu coração doeu demais.

Sua doce e linda companheira estava ali, ajoelhada, uma pedra fria e
molhada pela chuva.

Ela não deveria estar molhada da chuva, era sua obrigação mantê-la seca e
aquecida.

Ele espalmou suas mãos nas dela que estavam petrificadas naquela
posição e rosnou.

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— Eu fiz um juramento! Ouviu-me, minha theá? Jurei que nenhum


humano, lobo ou deus a tiraria de mim e não irão! Vou encontrar um jeito de
trazê-la de volta. Você viu isso? A ouviu também? Sim, minha Afrodite, é
ela, veio me alertar, tenho certeza. Por fim, eu sei que há uma chance e vou
descobrir o que é. Aguente, meu amor, pois a trarei para casa. Eu juro!

Ele uivou alto e forte e olhou para o céu, com os punhos cerrados, sem se
importar com a chuva que caía sobre ele, sem se importar com o duro
mármore que feria seus joelhos.

— Você, maldita, deusa do inferno! Se prepare porque irei atrás de você.


Ela é minha, e não descansarei até ter minha companheira de volta e cortar
sua cabeça!

E seu rosnado feroz, como um grito de guerra, ecoou pela ilha.

Petrus suspirou olhando pela janela de sua casa, ouvindo as súplicas e


lamento em forma de uivo que atravessava o fim de tarde, o lamento de um
coração sangrando e de uma alma despedaçada, de seus rosnados furiosos e
Sami o abraçou pelas costas.
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— Pobre Harley — ela sussurrou e ele suspirou e agarrou a mão dela


sobre seu peito.

— Temos que encontrar um meio de ajudá-lo.

— Como? Palavras não adiantam nesse momento.

— Eu não sei, mas vamos descobrir.

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Petrus entrou na sala da casa de Harley, onde ele tinha montado seu
espaço de trabalho e piscou aturdido olhando ao redor, havia pilhas de livros
sobre as mesas, sobre o chão, alguns abertos, outros fechados.

E ele estava olhando atentamente para uma das telas do computador que
continha muitas imagens e textos sobre a mitologia grega.

Em um notebook, no canto da mesa, um vídeo rodava na tela e Petrus viu


que era a filmagem dele e dela rolando pelos lençóis, rindo e brincando. E
havia fotos dela para todo o lado, pregada na parede, nos porta-retratos.

Aquilo tudo deu um nó na garganta de Petrus.

Harley sabia que Petrus estava ali, mas não tinha tirado os olhos do que
estava lendo no computador.

— O que é este vídeo? — Petrus perguntou.

— Um vídeo que fizemos uns dias antes de ela ser atacada pelos lobos
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idiotas. Ela estava tão feliz e pintou minha tela.

— Eu vi os quadros, são lindos.

— Estou fazendo cópias do vídeo, muitas dele, porque se algo acontecer a


um eu tenho outro. Não posso perder o vídeo dela, porque não posso permitir
que ela se vá. Devia ter batido mais fotos, feito mais vídeos. Eu ainda nem a
ensinei a jogar pelo computador, ela pediu que a ensinasse, queria jogar meus
jogos. Queria que eu a ensinasse a pilotar uma Harley Davidson.

Sua voz embargou e Petrus quase chorou também.

Harley estava abatido, muito mais do que ficou da primeira vez que tinha
mantido seus cabelos e barba longos.

— Eu sinto muito, imagino como deve estar sentindo muito a sua falta.
Ela era preciosa.

— É, mais preciosa que tudo neste mundo... ela era mágica, tinha... magia,
um encantamento, ela conseguiu me encantar, assim, fácil, como uma água
mansa, como uma brisa. Ela me trouxe paz, alegria. Quando me olhava, era
como se o mundo todo desaparecesse e só existisse nós dois.

Petrus respirou fundo quando viu Harley secar o rosto com o punho.

Ele sabia que dor ele devia estar sentindo, ele tinha conhecido a felicidade
ao lado de sua companheira e a tinham tirado dele.

Petrus estava desconcertado porque o ambiente todo era quase palpável de


dor.
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Ninguém merecia tal coisa.

Petrus abraçou Harley por trás, com o braço envolvendo seu peito e beijou
o topo de sua cabeça. E eles ficaram ali por um longo tempo naquele abraço
apertado, sem palavras e isso ajudou Harley, lhe deu um pouco de força.

Eles eram muito unidos e o respeito e amor que havia entre os dois irmãos
eram muito fortes.

Ambos conheciam o que era a dor, o que era perder. Sabiam o que era
lutar. Eram fortes, mas juntos poderiam dar força um ao outro.

Petrus engoliu seu choro, respirou fundo e se levantou buscando forças.

— Trouxe uma cerveja — Petrus disse com a mão sobre seu ombro.

Ele pegou uma e ofereceu a Harley.

— Obrigado.

— O que está fazendo com estes livros?

Harley abriu a cerveja, tomou vários goles, respirou fundo e secou o rosto.

— Estou pesquisando.

— Sobre o quê?

— Mitologia... Górgonas.

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— Acha que isso vai te aliviar?

— Não estou buscando alívio, estou buscando um meio de buscar minha


companheira. Aquele monstro a levou e eu a quero de volta.

Petrus piscou aturdido e olhou para Harley como se ele fosse louco.

— Harley, Pietra... ela... é uma... pedra. Como pensa que pode tê-la de
volta?

— Se algo sobrenatural a levou de mim encontrarei algo sobrenatural que


a traga de volta para mim.

— Harley...

— Não vou aceitar a morte dela. Não vou acreditar que não haja algo que
eu possa fazer. Ela é minha companheira e não posso desistir. Não posso
atravessar esta vida sem ela. Nunca poderei olhar para outra loba e dizer que
é minha companheira. Ou eu trago ela de volta ou nunca haverá mais
ninguém na minha vida.

Petrus pensou em discordar, mas Harley não parecia disposto a aceitar


outra coisa, então respirou fundo e tomou um gole da cerveja.

— Acha que é possível?

— Deve haver um jeito. Não vou desistir, nunca.

— Harley... olha... acho que isso é uma loucura, pois nunca ouvi tal coisa.
Ainda me custa acreditar que aquelas estátuas, lá no templo, um dia eram
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pessoas.

— Aquelas pessoas não me interessam em nada. As únicas pessoas que


quero trazer de volta são minha companheira e meu filho.

Petrus respirou fundo e olhou o teto.

Seu filho, sua dor era demasiada para sequer alguém entender.

— Bem, quero que saiba que eu estarei ao seu lado para o que necessitar,
se precisar derrubar alguns pilares da Grécia ou lutar com algum deus, eu irei
ao seu lado. Estarei contigo e traremos Pietra de volta, sã e salva e ao seu
filhote.

Harley olhou para Petrus e sua garganta embargou.

— Obrigado.

— Vou arrancar serpente por serpente daquela cabeça horrorosa de


Górgona.

— Yeah! É assim que se fala.

Os dois bateram as garrafas Long Neck e beberam um grande gole da


cerveja e ficaram escorados nas cadeiras, em silêncio por um minuto.

Era loucura? Sim, mas todo o mundo que eles viviam era uma loucura.

— Bem, nessa bagunça que fez e, pelo que vejo, derrubou a biblioteca da
família no chão, encontrou algo?
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— Encontrei algumas coisas. Desde o início, de alguma forma, nossos


países, Grécia e Itália, sempre tiveram ligações. Boas e ruins. Agora estamos
no mesmo barco de novo. Estava pesquisando sobre as Górgonas e achei
algumas coisas interessantes.

— Acha que uma delas pode ter a solução para trazê-la de volta? Outro
feitiço?

— Sim. Será que podemos pedir ajuda da nossa rainha? Preciso de uma
informação.

— Bem. Aquela adorável bruxa me parece ser muito amigável. Se houver


algo que ela possa fazer, ela fará.

— Acho que é algo perigoso.

— Não me importa o perigo, por ti, sua companheira e seu filhote, estarei
pronto para a briga.

— Ok.

— Teria ido com você para aquela maldita Floresta De Gamo resgatar a
sua companheira, se tivesse me pedido.

Harley suspirou.

— Fiquei louco.

— Eu também teria ficado.

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Houve um silêncio entre eles.

— Quase a perdi naquele dia. Ela já foi tantas vezes e consegui trazê-la de
volta, não posso perdê-la de novo sem lutar. Todos sempre querem tirá-la de
mim. Não permitirei.

— Eu sei, Harley, mas você é muito turrão para deixá-la ir.

— Todo meu mundo parou, num baque tão forte quanto uma marretada no
cérebro, meu coração dói porque o sentimento que entrou nele é grande
demais para caber nele. Eu conheci a pessoa mais maravilhosa do mundo e
quero somente cuidar dela.

— Sim, ela era.

— Quero conhecer tudo que ela gosta para poder lhe dar, agradá-la é
sempre minha prioridade, porque ao vê-la sorrir, sorrio também, porque seu
rosto brilha como o sol e me aquece. Saber que ela está triste me deixa triste.
É quase impossível não tocar nela, sentir sua pele, a suavidade, o calor, uma
ânsia de querer possui-la e ser possuído por ela. Perder isso é uma dor que
parece que nunca cessará, é sofrer cada minuto do dia. O mundo perde a cor.

— Eu sei, mas precisa se alimentar.

— Pra quê? A comida perdeu o gosto, eu bebo a água, mas não mata a
sede. Eu ainda estou respirando, mas estou sem vida e não sei se voltarei a
viver. Sinto falta de minha família.

— Eu entendo isso, irmão. Fico contente pela família que estavam

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construindo.

— Quero minha família de volta.

— A terá, é uma promessa.

— Tem certeza disso, Harley? — Petrus perguntou.

— Rastreei suas chamadas, não tenho nenhuma dúvida. Nosso olheiro foi
morto, por isso nosso alarme não soou antes que as lanchas chegassem à
nossa costa e Enrico sabia exatamente onde Pietra estava. Ele já estava aqui
antes do helicóptero sobrevoar a ilha. Alguém o colocou aqui dentro.

Um lobo entrou na sala e olhou para Harley e Petrus, fazendo


respeitosamente sua reverência.

— Trouxe minha resposta, lobo? — Petrus perguntou.

— Sim, alfa. A suspeita do beta estava correta. Quem entregou que Pietra
estava aqui na ilha e que estava grávida para os lobos italianos foi Katra. Um

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dos lobos confessou, ajudou a colocar Enrico dentro da ilha, os mesmos que a
atacaram da outra vez.

— Merda — Petrus rosnou com remorso.

— Onde ela está? — Harley perguntou.

— Na península, cuidando do armazém, como o alfa ordenou, nem


desconfia que estamos em seu encalço. Para dizer a verdade, está... ham...
radiante.

Harley rosnou furioso, soltando um monte de imprecações e Petrus


suspirou.

— Sinto muito, Harley, você quis puni-la com a morte pelo que havia
feito e desejei que fosse misericordioso e lhe déssemos uma chance.

— Você temia que a alcateia se rebelasse contra nós.

— Sim, eu queria manter a paz e olha no que deu.

— Nem sempre podemos manter a paz quando traidores conspiram em


nossas costas.

— Está correto, mas confiei, pois ela pareceu se desculpar


verdadeiramente.

— Você espera sempre o bem das pessoas, irmão.

— Sinto que meu engano tenha custado a vida de sua companheira.


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Perdoe-me.

— Não foi sua culpa, e eu terei minha vingança. Reúna todos no centro da
praça.

Harley saiu da sala e Petrus suspirou.

Sim, nem sempre ser piedoso e condescendente era a solução. Às vezes


era preciso ser duro para colocar ordem.

Quando Harley se escorou no batente da porta olhando para Katra, que


cantarolava uma música enquanto arrumava os mantimentos no armazém, ele
estava tranquilo até demais.

Para dizer a verdade estava frio como gelo, e com aquele olhar assassino
que amedrontaria qualquer um.

Qualquer lobo teria receio de cruzar em sua frente neste momento.

Então ele camuflou sua ira e colocou um sorriso no rosto.

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A loba olhou para ele quando sentiu seu cheiro e abriu um sorriso
deslumbrante.

— Beta! Que surpresa tê-lo aqui me visitando. Estou tão feliz.

Francamente, ele mesmo não soube como não rosnou e saltou sobre ela
neste momento.

— Olá, querida, vim lhe fazer uma visitinha.

— Hum, estava com saudades?

— Sim, estava saudoso de você. Olhe só ao que te regalei, trabalhando


neste armazém ao invés de estar na ilha usufruindo de todas as regalias que
merece.

— Oh, eu entendo, o alfa estava zangado. Fui uma menina má e impulsiva


e acabei magoando-o, mas estou completamente pronta para adorá-lo como
sempre, beta. Eu aceitei meu castigo, me arrependi do que fiz.

— Claro que está. Inclusive venho aqui porque me sinto verdadeiramente


só.

— Oh, coitadinho, vou cuidar de você.

— E eu vou cuidar de você.

— Lamento por sua companheira.

Harley quase arrancou sua cabeça nesse momento, mas seu lobo gelado de
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emoções somente ficou mais zangado. Como ousava falar de sua


companheira na sua cara?

— Sim, mas não podemos fazer nada a respeito.

— Não podemos. Os italianos são lobos estranhos e não sabem obedecer.


Veja quanta imprudência, se não tivessem sido punidos pela tal Górgona,
seriam punidos pelo rei, por terem quebrado seu decreto.

— Pois é, veja só quanta imprudência ousar invadir minha ilha, não é?

— Muito insanos — disse suspirando e balançando a cabeça.

— Gostaria sinceramente de saber quais são seus planos agora que eu


estou novamente solteiro, Katra.

— Eu? Quer dizer que não está mais de luto? — perguntou espantada.

— Minha companheira se foi e tenho que lidar com isso. Eu estou


disposto a aceitar outra companheira.

— Outra companheira?

— Sim, e pensei que seria você a pessoa mais indicada. — Ela o olhou
com os olhos arregalados. — Quero saber se nós podemos recomeçar nossa
relação, como tínhamos antes. Pensei em te levar de volta à ilha e então
poderíamos nos ver com mais frequência, voltar a formar nossos laços.

Ela foi até ele com um sorriso largo e olhos brilhantes e tocou em seu
peito de forma depravada e sexual, o que somente fez Harley sentir nojo dela.
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— Oh, beta, esperei por isso tanto tempo.

— Sim, eu sei, investi num relacionamento que estava fadado ao fracasso,


Pietra era uma boa loba, mas complicada demais e ignorei o fato que sua
família não ficaria quieta. Somente cometi um erro. Mas isso ficará para trás
e quero começar uma vida nova, dessa vez ao seu lado.

Katra parecia realmente espantada e Harley torcia para que estivesse


sendo convincente, que ela não percebesse sua farsa.

Estava sendo muito difícil dizer aquelas coisas, pois seu coração jamais
diria uma palavra para maldizer sua adorada Pietra.

Mas a farsa era necessária. Ele queria lhe dar o doce e depois lhe tirar.

— Fico tão feliz que tenha caído em si que aquela loba não servia para o
senhor. Agora que estamos livres dela podemos ter nossa vida feliz.

— Claro. Pietra foi uma perda de tempo, fez bem em me ajudar a me


livrar dela. Afinal, eu estava meio cego, mas vejo tudo claramente agora. Eu,
como um beta, preciso de uma loba forte como você ao meu lado, não uma
moça cheia de problemas que traz nossos inimigos para nossa porta,
bagunçando nossa paz.

— Sim, ela sempre foi fraca e nunca o mereceu.

— Sim, vejo isso agora.

Ela beijou-o no queixo e quando ela foi beijar seus lábios ele se afastou e
soltou a pergunta.
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— Aceita ser minha companheira, Katra? Honrar verdadeiramente nossa


alcateia, ser forte ao meu lado?

— Oh, claro que sim, eu faria qualquer coisa para estar ao seu lado, para
ser sua companheira!

— Claro que faria. Venha, vamos falar com o alfa e comunicar nossa
decisão.

— Agora?

— Imediatamente, não quero perder mais nenhum minuto.

Ela alisou o cabelo com os dedos e foi com ele, sem hesitar.

Harley estava estupefato que ela tinha caído na sua conversa. Ela não
devia estar bem da cabeça.

Mas isso não importava para ele, porque, em breve, ela não teria mais uma
cabeça.

Eles pegaram a lancha e em poucos minutos estavam em Alamus e Harley


foi até o meio da praça onde os lobos da ilha estavam reunidos e ele olhou
para Petrus e Sami e para Katra, que parecia estar nervosa agora.

— Katra — Petrus disse, sério.

— Alfas — disse fazendo a mesura respeitosamente.

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— Bem, diante dos acontecimentos, eu não vou ficar aqui fazendo


discurso, nem me justificando, pois depois do julgamento de Pietra e com a
invasão dos italianos, eu assumo que cometi um erro.

Ela sorriu e estava com os olhos brilhantes. Parecia não ter assimilado a
conversa ainda.

Harley a olhou incrédulo.

— Povo de Alamus, como sabem, eu dei uma segunda chance para os


lobos que ousaram machucar a companheira de Harley, meu beta, Pietra. Eu
pensei que haviam se arrependido, mas então agora fomos invadidos pelos
italianos. Com isso, dois de nossos lobos foram mortos, temos vários feridos
e a companheira de Harley foi transformada em pedra, sem contar que há
muitos italianos aqui virados em rocha, não que eu me importe com eles,
afinal.

Katra olhou para o alfa e apertou as mãos. Algo estava errado.

— Descobrimos hoje que quem entregou Pietra para seu pai foi nossa
loba, Katra. Junto com seus comparsas que, inclusive, delataram aos italianos
sobre Pietra estar na ala norte da ilha, na casa deles. Onde seu pai e seus
lobos puderam capturá-la, passando por nossas defesas, sorrateiramente e
desabilitando nossas câmeras. Para ser mais direto, foram infiltrados na ilha.

Dois enormes lobos entraram no meio da praça arrastando dois machos


que haviam participado da caça à Pietra e da conspiração com os italianos.

Todos os lobos cochicharam e olharam para Katra, zangados e depois para

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os dois lobos, mas eles não podiam falar, pois estavam com fitas em suas
bocas, mas pareciam, pelos seus ferimentos, que já tinham dito o suficiente.

— Alfa, perdoe-me, mas há um engano, não fui eu que dedurei a loba


italiana — Katra disse.

— Não foi o que me deu a entender minutos atrás.

— Eu não confessei nada. Pensei que o senhor não a queria.

— É claro que eu não a queria. Por que acasalaria com ela, enfrentaria
uma alcateia inteira de italianos, minha própria alcateia e a engravidaria, se
eu não a quisesse? Realmente não vejo sentido nisso.

Katra arfou com sua ironia.

— Mentiu.

— Não menti. Você é que foi burra ao pensar que eu não estava
representando uma farsa, uma bem ruim, por sinal. Mas você mentiu,
enganou, zombou de nossa boa vontade, de nossa confiança. E realmente
devo dizer, estou farto de ser bonzinho com quem não merece. Katra, não
haverá misericórdia dessa vez.

— Beta... eu...

— Eu resolvi te dar exatamente o que minha doce companheira teve.


Como todos sabem, ela foi caçada, maltratada, agredida, machucada e morta.
É exatamente isso que ofereço a você agora, porque meu amor, minha vida e
minha lealdade somente Pietra terá, hoje e sempre, e reze para que eu consiga
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trazê-la de volta, porque senão ressuscito você e a mato novamente.

Katra arfou e começou a falar e gaguejar, mas nem Harley e nem Petrus
estavam a ouvindo mais.

— Executores! – Petrus gritou.

Vários lobos fortes e com cara de poucos amigos vieram à frente.

— A caçada a estes lobos traidores está aberta. Eu os condeno a uma


Spurga. E garanto que ninguém irá salvá-los. Principalmente você, Katra,
porque você não é digna de ter um companheiro que a proteja e a salve como
eu fiz pela minha Pietra — Harley disse.

Os lobos rosnaram e se transformaram e ela gritou, se transformou em


loba e correu com os lobos atrás. Assim como os outros dois lobos
condenados.

Harley estava tão furioso que olhou para seu povo, alguns aturdidos,
outros boquiabertos ou zangados.

— Que isso sirva de exemplo para que nunca mais se repita.


Companheiras são sagradas e se vocês não aprenderam isso com meu pai irão
aprender comigo. Não terei mais misericórdia de lobos traidores e falsos, que
juram lealdade a nós e nos apunhalam pelas costas! — Petrus disse furioso.

Petrus dispensou todos que foram cuidar de suas vidas e pensar sobre os
acontecimentos, muito cruéis no fim das contas.

— Sua vingança está aplacada, Harley?


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Ele respirou fundo e olhou o céu.

— Para dizer a verdade... não.

— Pensei que a Spurga seria o seu maior castigo.

— E é, mas depois de ser caçada e sentir o medo que minha Pietra sentiu,
eu mesmo arrancarei sua cabeça.

Harley se transformou em lobo e saiu correndo.

Em forma de lobo, ele correu pelo bosque fechado, onde os executores


encurralaram Katra e os outros lobos. Um lobo atacava Katra e, do outro
lado, os dois lobos eram mortos pelos outros.

Eles não estavam brincando com eles como fizeram com Pietra. Apenas
estavam caçando e cumprindo a execução, como lobos.

Harley saltou sobre um tronco e uivou, advertindo o lobo que a atacava


que parasse.

O lobo parou e olhou para trás, baixou a cabeça e se afastou. Harley saltou
do tronco, deu dois passos, devagar, e observou Katra.

Sua loba era negra com mechas brancas nas costas e pérola na barriga. Era
uma bonita loba, que estava ferida e acuada e o olhou espantada, arfando.

Ela se transformou em humana e ficou nua na sua frente, um tanto torpe e


arfou pela dor de seus ferimentos.
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— O senhor mentiu para mim.

— Estava jogando, como você gosta de jogar.

— Beta, por favor, me perdoe! Fiz isso por amor.

Harley se transformou na sua forma intermediária e rosnou.

— Você não sabe o que é amor, Katra, e eu te perdoei uma vez, agora vou
tomar minha vingança pelo que fez à minha companheira. Você não é digna
de pena, de misericórdia, nem sequer é digna de um pensamento meu. Você
não chega aos pés dela.

Katra abriu a boca para contestar, mas Harley não estava a fim de perder
tempo com palavras, ele rosnou com sua fúria desatada, saltou no ar e desceu
sobre ela, com o punho cerrado e, quando desceu, cravou o braço com toda
força em seu peito, que o atravessou, saindo pelas suas costas.

Katra arfou em um grito mudo, com os olhos esbugalhados e quando


Harley puxou o braço, rapidamente, golpeou num golpe violento em sua
cabeça, arrancando-a do pescoço e ela rolou no chão e o corpo dela caiu ao
seu lado.

Harley arfava rapidamente, com a raiva reverberando em sua pele e aquela


dor em seu coração por Pietra.

Ele cerrou os punhos e gritou, rosnou e depois soltou um uivo que foi
ouvido pela ilha toda, que, por fim, tinham entendido como as coisas
funcionavam, tinham concordado visto o mal que Katra tinha feito desde o

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início.

Harley proclamava sua vingança para que todos soubessem e para jogar o
restante de sua raiva para fora e mostrar sua força.

Ele cuspiu no chão e foi para casa tirar o sangue daquela loba de si.

Sua ira estava aplacada, pelo menos um pouco dela.

Agora iria arrancar a cabeça de uma Górgona.

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Quando a rainha Vanora entrou na sala da casa de Harley, acompanhada


de Erick, ele sentiu seu coração acelerar.

Harley fez uma reverência formal e beijou sua mão e abraçou Erick.

— Minha rainha, é uma honra tê-la em minha humilde casa e agradeço


profundamente que tenha vindo ao meu auxílio.

— Erick me contou mais ou menos o que houve e estou disposta a ajudar.

— Serei eternamente grato.

— Sinto muito por sua companheira.

— Obrigado.

— O que querem de mim exatamente?

— Como Erick deve ter contado, Pietra era vítima de uma maldição. Seu

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pai tentou seguir o ritual, tardiamente, já que não havia matado a loba ao
nascer e depois também não foi possível. Tivemos a manifestação da
maldição em nossa ilha e... a deusa... uma Górgona apareceu e petrificou a
alcateia dos italianos e minha companheira.

— Oh, sim, entendo.

— Ela... não está morta, eu sinto... aqui no meu coração.

— Harley, ela é uma pedra, talvez somente não esteja aceitando sua
morte. Se for mesmo uma Górgona que a atingiu, isso não seria seu fim? —
Erick perguntou cautelosamente.

Harley rosnou e olhou para a rainha.

— Isso é verdade? Sim. Mas não acredito que seja o fim, acho que há vida
depois disso, pelo menos de certa maneira.

— Pode ser certo — a rainha disse pensativa.

— Mas se alguém nesse mundo pode saber dessa verdade é a Senhora. Por
favor, me diga se isso é certo ou apenas estou sendo enganado pelo meu
coração.

— Me dê algo dela para que possa me conectar a ela.

— Me sigam.

Harley saiu da sala e eles o seguiram e ficaram estupefatos ao ver a


estátua dela no seu quarto, na mesma posição que havia ficado no templo.
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— Mas que merda, Harley! — Petrus disse espantado.

— Estava chovendo, não podia deixá-la lá fora.

— Porra! — Erick disse assustado ao ver a moça virada numa estátua.

Era tão perfeita que era de doer os olhos.

— Está tudo bem, nós entendemos, querido — a rainha disse


amorosamente. — Deve ser muito difícil ver isso e deixá-la lá fora sofrendo
com as intempéries.

A rainha foi até a estátua, segurou suas mãos e recitou palavras em outra
língua, num sussurro que parecia um cântico e uma aura azul a rodeou e
depois a estátua.

Eles se assustaram e após alguns minutos a luz sumiu, ela se afastou e se


virou.

— Ela vive em outra dimensão. É como uma escrava da deusa. É tão real
como se estivesse humanamente lá.

Harley rosnou ferozmente.

— Não está morta?

— Em tese, sim, aqui no mundo terreno, mas ainda vive no submundo.

— Como isso é possível?

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— Magia, poderes de deuses, muitas coisas inimagináveis podem ser


feitas.

— Eu a quero de volta! Quero saber se é possível desfazer isso e trazer


Pietra de volta!

— Quer quebrar a maldição cumprida por uma deusa?

— Sim — disse rosnando.

— Hum... Há uma possibilidade, ínfima, pois o tempo pode agir ao nosso


favor, ainda pode haver uma esperança de tentar resgatá-la. Se quebrar a
maldição antes que sua alma se alastre pelo ambiente em que se encontra,
senão será impossível. Deve haver um objetivo de ainda viver do outro lado.

— As Górgonas são deusas e imortais, mas durante minha pesquisa


descobri algo. Penso que posso matá-la e quebrar a maldição. Se Medusa foi
morta, estas duas que ainda vivem, em algum lugar, podem ser também.

— E acha que matando uma deusa a terá de volta?

— É minha única chance.

— Você é um mortal, não pode matar um deus, Harley. Medusa foi morta
porque perdeu sua imortalidade, castigada pela deusa Atena e Perseu, sendo
um semideus pôde matá-la. Você não pode matar Esteno e Euríale. Somente
se elas fossem abdicadas de seus poderes de deusa ou se alguém com poderes
semelhantes o fizesse.

— Tem que haver um jeito.


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— É um caso delicado, tudo deve ser refletido e ponderado.

Harley se aproximou dela e disse seriamente: — Com todo respeito,


minha Senhora. Com sua ajuda ou sem, eu irei atrás dela, quebrarei esta
maldição e trarei minha companheira e meu filho para casa. Nem que eu
tenha de demolir cada templo da Grécia, invocar cada deus ou não deste
universo, matarei o próprio Zeus, mas eu terei minha companheira de volta,
porque estou cansado de tentarem tirar ela de mim!

Vanora pensou um pouco e sorriu.

— Bem, admiro sua convicção e seu amor pela sua querida companheira,
lobo, e também não gosto que sempre queiram afastá-la de você. A jovem me
pareceu muito doce e honrada e fez suas escolhas por amor... a você.

Harley piscou aturdido por um momento e até abriu a boca para dizer
algo, mas ela o interrompeu, com aquela calma que sempre deixava todos
aturdidos.

— Como no mito, a mulher se torna um monstro pela traição e se torna


cruel pelo ciúme e, principalmente, pelo descuido de um homem maldoso,
invocando vingança.

— Foi por isso que Scopelli queria forçar Pietra a se acasalar com Petrus,
para matar seu filho, pois ele não matou Pietra ao nascer. Se não cumprissem
os rituais, todos virariam pedra — Harley disse.

— Hum... sim, entendo. Bem, vejamos sobre Medusa. O que sabe?

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— Segundo as lendas, parte do sangue que escorreu de Medusa quando


teve sua cabeça cortada, foi recolhido por Perseu em cálices de ouro, depois
do nascimento de seus filhos, Pégasus e Criasor. Da veia esquerda saía um
poderoso veneno; da direita, um remédio capaz de ressuscitar os mortos.
Ironicamente, Medusa trazia dentro de si o remédio da vida, mas nunca o
usou porque ela era má e amarga, conhecida pelo dom da traição. Suas irmãs
eram do mesmo impulso.

— Por isso Esteno e Euríale aceitavam as oferendas para selar os feitiços


de vingança de uma bruxa, para ter sua própria vingança e exalar sua raiva.
Um jogo cruel — Petrus disse.

— Então se o olhar de uma Górgona pode matar e petrificar os lobos e


pessoas, seu sangue tem a cura. Se não podemos matá-las, podemos pegar o
sangue de Medusa, que, segundo a lenda, o do lado bom, pode trazer os
mortos à vida, então poderia curar os lobos petrificados e trazer Pietra de
volta — Harley disse.

— Então, este é seu plano? Entrar no recinto de um deus e matar uma


Górgona? — Erick perguntou espantado.

— Ou encontrar onde este sangue está guardado. Se a lenda sobre seu


sangue procede, o que é capaz de matar, o outro pode trazer Pietra de volta.

A rainha pensou um pouco.

— Hum, e ele poderia estar no País das Sombras onde dizem ser seu lar.

— Acredito que sim, acredito que as Górgonas o guardam. Não encontrei

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nenhum relato que Perseu tenha o mantido.

— Então a visão da Górgona que tivemos, não foi Medusa e sim uma de
suas irmãs? — Petrus perguntou.

— Sim.

— Que merda!

— A senhora acha que isso é possível? Se ela apareceu e veio até nós,
podemos ir até ela?

— Bem, seu plano parece muito lógico, somente há alguns empecilhos —


a rainha disse.

— Quais?

— O País das Sombras fica no submundo da antiga Ciméria, mas é um


mundo paralelo, Harley, como Kimera. É um mundo somente visitado por
deuses e semideuses, um lobo não pode entrar ali.

— Uma bruxa pode?

— Não facilmente. Acredito que somente haja duas maneiras de entrar,


conseguindo a chave.

— Chave?

— A chave que abre o portal para o mundo das Górgonas.

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— O que seria isso?

— Uma opção é encontrar o Nekromanteion, no qual poderíamos


encontrar uma maneira de entrar no País das Sombras.

— O que diabo é isso?

— O Nekromanteion era um lugar na Grécia antiga, dedicado à


comunicação com o mundo espiritual para obter informações do passado, do
futuro ou do pós-vida pela evocação dos mortos. Era um templo de adoração
dos deuses do submundo de Hades e Perséfone. O local possuía várias
câmaras subterrâneas, onde eram praticadas cerimônias de necromancia.
Através de rituais complexos de purificação, seguindo vários rituais como
sacrificar uma ovelha, os peregrinos podiam, então, acessar o salão principal,
onde se comunicavam com os mortos. Diziam que se conseguissem alcançar
o maior grau, poderiam visitar o submundo. Inclusive ter acesso ao País das
Sombras e outros mundos.

— Podemos conseguir isso?

— Primeiro, tem que conseguir achar o lugar.

— Se bem me lembro, em 1958, o arqueólogo Sotirios Dakaris descobriu,


nas montanhas de Épiro, no noroeste da Grécia, várias construções que
pareciam coincidir com as descrições antigas do oráculo dos mortos. O lugar
se situa às margens do rio Aqueronte, que, segundo a lenda, flui pelo
submundo — Petrus disse.

— Bem, então podemos ir até este lugar e fazer estes rituais e tentar

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entrar? — Harley perguntou.

— Sim, é possível, mas podemos mexer com Hades, o que não é uma boa
ideia. Com a ajudinha de um pouco de magia, podemos despistá-lo, mas isso
pode levar tempo. Tempo que acho que não temos.

— Quanto mais ela ficar lá, mais perigoso é?

— Sim, quanto mais ela ficar, mais rápido seu elo entre nosso mundo se
desliga e então ela se perderá para sempre, sem contar que há muitos perigos
por lá, além das Górgonas.

Harley rosnou, nervoso.

— Isso não pode acontecer, temos que ter algo mais rápido!

— Imaginei isso. Bem, o outro jeito é conseguir o sangue de um deus ou


de um ser imortal.

Todos piscaram aturdidos.

— Ah, pelo amor de Zeus! Isso, eu acho que também está meio
complicado, quer dizer... Como conseguir sangue de um deus? Isso é
impossível. E imortal? Isso existe? — Harley disse exasperado.

— O universo possui muitos mistérios, nós não conhecemos nem um


resquício deles e seus segredos. A magia, o que está oculto de nossos olhos,
pode trazer o inimaginável. Os humanos não têm ideia do que anda pelo
mundo sem que eles saibam. Muitos não acreditam, outros simplesmente não
querem acreditar — a rainha disse calmamente.
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— Acho que tenho que concordar com isso — Petrus disse com um
suspiro.

— Como inferno eu consigo o sangue de algum deles e o que faço com


ele? — Harley disse desanimado.

— Se um deus ou um ser imortal doar seu sangue num recipiente de ouro,


com o feitiço certo, poderei abrir um portal que leva ao País das Sombras.

— Que maravilha e onde acho um deus?

— A pergunta é, eles são reais? — Petrus perguntou.

— Ainda tem dúvida, alfa Petrus? Você mesmo viu. Aquela imagem no
céu era de uma Górgona. Górgonas são deusas.

Ele rosnou, coçando sua barba e mudou o peso das pernas e cruzou os
braços.

— O que é esta loucura toda, afinal? É muito mito pra minha cabeça.

— Você mesmo é um ser mitológico, alfa.

— Bem, isso é verdade também.

— O fato é que nenhum mortal pode invocar um deus, a não ser por sua
própria vontade, somente outro deus, um semideus ou um imortal pode fazê-
lo e, no caso, para abrir tal portal que leve ao seu mundo.

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— Poderia invocar a deusa Afrodite? Ham... Bem... creio que ela poderia
querer ajudar.

A rainha olhou bem para Harley e soube do acontecido da praia.

— O fato de ela ter dado esperança, não quer dizer que ela lhe dê seu
sangue. Ela precisaria se materializar aqui e se quisesse fazê-lo já teria feito.
Ela já lhe deu a ajuda que podia.

Harley suspirou desalentado e concordou.

— Sim, mas agradeço mesmo assim.

— Muito bem.

Harley ficou pensativo por um momento e o silêncio se fez no quarto.

— A senhora pode, pois está viva há dois mil anos! Pode me fornecer um
pouco de seu sangue e abriremos o portal.

— Se eu fosse, sim, o daria, mas não posso. Não sou imortal, beta.
Mantenho-me vivendo por muitos anos, no mundo de Kimera, mas o tempo
passa normalmente como uma loba aqui na Terra. Portanto, um dia morrerei,
assim como todos os lobos de Kimera, somente demoraremos mais tempo
que vocês.

— Oh, desculpe-me, esqueci-me disso.

— E se juntarmos o sangue de vários lobos? A união de nossa magia


poderia causar efeito? — Petrus perguntou.
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— Não acredito que funcione.

Harley suspirou esgotado.

— Voltamos à estaca zero.

— Os Fae, fadas, como a maioria conhece, são imortais. Poderíamos


encontrá-los? — Erick perguntou.

— Os Fae sim, são imortais, mas os portais são fechados por eles e
somente eles podem abri-los. Nem mesmo eu poderia encontrar um se eles
não permitissem ser encontrados.

— Eles se negariam a falar com a Senhora? Eles ajudaram-na a construir


Kimera.

— É possível, mas isso foi há mais de dois mil anos, a nossa relação era
diferente, mas agora... invocar um Fae é quase tão difícil quanto invocar um
deus. Os Fae nunca tiveram uma boa relação com os humanos, pois sempre
foram hostilizados e maltratados. Eles circulavam pela Terra livremente até
que o rei dos Fae ordenou que não o fizessem mais. Se algum humano
conseguiu ver algum Fae na Terra é porque eles mesmos, por travessuras,
ousam entrar no plano da Terra.

— Pode tentar?

— Sim, posso tentar. Emitirei uma magia e se algum deles ouvir pode
passar o portal e falar comigo. Eles falam conosco e nós não falamos com
eles. Posso tentar apelar pelos meus antigos laços de amizade com os Fae e

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orar para que me atendam.

— Ok, há uma esperança. Se um Fae não aparecer, qual a outra


alternativa?

— Não creio que haja muitas, beta.

— O que vai me dizer, que não há nenhum ser imortal na Terra ou fora
dela?

— Há a possibilidade de haver...

— Quem?

— Os Berserkers.

— Os o quê? — Petrus perguntou.

Harley rosnou e esfregou os olhos.

— Berserkers eram guerreiros que mantinham tal estado de fúria na


batalha que pareciam seres sobrenaturais, não ligavam para a dor e ferimentos
e matavam sem piedade e com uma agilidade ímpar — Harley disse.

— Sim. Diz a lenda que se cobriam com a pele de urso ou lobo e tomavam
seus poderes e força. Muitos diziam que eram bestas do inferno — a rainha
disse.

— Esse termo me é familiar — Harley disse zombeteiro.

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— Mas... pensei que eram humanos que usavam chás alucinógenos, ervas
que lhes aflorava a força descomunal — Erick disse.

— Cientificamente há uma explicação para isso, tipo descarga de


adrenalina que entorpece os sentidos, fazendo-os ignorar a dor e aumentar a
força. Eram guerreiros humanos, bombados de ervas — Harley disse.

— Sim, essa é uma lenda, e segundo ela, eles tinham olhos de cor anil
brilhante. Eram guerreiros de Odin... na Terra — a rainha disse.

— Isso quer dizer o que eu penso que quer dizer?

— Sim... havia homens que levavam a fama destes guerreiros por usar tais
ervas e etc., mas... há verdadeiros Berserkers. Guerreiros criados pelo próprio
Odin — a rainha disse. — Dizem que Odin, ficou impressionado com o efeito
que os Berserkers tinham e para ajudar em uma guerra antiga entre dois reis
vikings, ele teria criado seus próprios guerreiros e colocado-os na Terra para
lutar na tal guerra, depois disso dizem que eles se misturaram aos humanos e
vivem até então aqui.

— O quê? E... eles são imortais?

— Sim, são imortais.

— Oh merda! Como é possível? Isso é tão surreal.

— Como já disse, o mundo oculto pode trazer o inimaginável — Vanora


explanou com um doce sorriso.

— Sim, disso sabemos.


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— Houve um tempo que usar magia ou ver seres místicos não era assim
tão temeroso e sobrenatural. Quando o mundo pagão foi esmagado pelos
cristãos, tudo que envolve magia ou sobrenatural tornou-se um pecado,
condenável a morte, coisas de demônio. Nosso mundo ficou nas sombras,
mas ele existe, está ali e somente alguns humanos podem ter a honra de
descobri-los. Nós somos uma parte desse mundo e somos abençoados —
Vanora disse.

Harley rosnou e bufou.

— Bem, isso é verdade, os humanos não têm ideia do que anda pelo
mundo sem que eles saibam. Muitos não acreditam, outros simplesmente não
querem acreditar. Nós somos exemplo disso.

— Mas acredite, uma das maiores bestas que andam pela Terra são os
humanos, eles são capazes das maiores atrocidades, das maiores covardias e
fazem pelo seu prazer e poder. Os animais agem pela sobrevivência.

— Bem, tenho que concordar, se shifters, bruxas, deuses e Faes, existem,


porque duvidaria que os verdadeiros Berserkers existem?

— Agora não duvido mais — Harley disse espantado.

— Mas que merda! — Petrus rosnou.

— Você já disse isso — Harley disse.

— Só para reforçar — Petrus resmungou.

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— Podemos encontrá-los?

— Sim, mas também é tão difícil quanto encontrar um Fae, eles também
têm o poder de se ocultar no universo e se mesclam aos humanos... como nós.

— Mas tem aparência como os humanos?

— Sim, algumas características peculiares, mas que ocultam, como os


olhos de um azul anil. Eles possuem tal magia que lhes permite se ocultar.

— Por que não temos isso?

— Nossa raça não foi criada por um deus, Harley, foi criada por mim,
com a ajuda de alguns elementos especiais.

— Bem, então está na hora de encontrarmos estes seres tão privilegiados e


pedir ajuda. Não descansarei até que consiga o sangue desta serpente e traga
minha theá de volta ou morrerei tentando. Nem que tenha que invocar o
próprio Zeus.

— Nunca tive esta sensação, mas tenho a impressão de que eu entrei em


um mundo bizarro — Petrus disse e Erick riu.

— Amigo, a mim nada mais me espanta nessa vida, depois de conhecer


minha companheira e minha família.

A rainha riu lindamente e todos os homens sorriram.

Sim, ela sempre conseguia este efeito.

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— Vamos para a sala, pois teremos mais espaço.

Quando chegaram na sala, ela movimentou a mão e uma mesa com um


monte de apetrechos como candelabros, velas de várias cores, ervas e potes,
vidros de formatos estranhos e antigos com líquidos de diversas cores
apareceu.

E ainda sobre ela, havia um enorme livro com folhas amareladas, escrito
em uma língua que não conseguiam ler sobre um pedestal de carvalho. Ela
folheou as páginas com cuidado.

— Nunca me canso de ver seu Grimório, é tão lindo.

Todos se viraram para ver a figura glamorosa e delicada da companheira


de Erick que surgiu na sala. A pequena ex-humana, loira, que uma vez foi
cega e tinha se convertido em uma Senhora das Castas e em uma loba. Quem
diria. E ao seu lado, o grande e imponente rei Kayli, usando suas roupas
características de seu mundo.

Petrus e Harley piscaram olhando para ele. Sempre os impressionava.

— Kira, o que faz aqui, amor? — Erick perguntou e foi até ela e a beijou
na bochecha.

— Seu pai estava preocupado que sua rainha havia se metido em alguma
encrenca e disse que eu o estava deixando tonto por andar em círculos e
nosso bebê dormiu como o anjinho que é, então, nós a deixamos com a babá
e viemos. Só para o caso de precisarem. Meu coração dizia que devia vir.

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— Agradeço sua oferta, minha Senhora — Harley disse fazendo uma


formal reverência com a mão sobre o coração e Kira sorriu, mas tristemente.

— Sinto muito pela sua companheira, Harley.

— Obrigado, mas vou trazê-la de volta.

— Isso é possível?

— Bem, querida, isso depende, se conseguirmos o sangue de um imortal


para que eu possa fazer um feitiço, então talvez haja uma chance.

— Quando Erick me contou sobre o que aconteceu aqui, sobre a Górgona


e tudo mais, eu realmente não acreditei, quer dizer, isso é muito louco.

— Louco, mas real, afinal estamos na Grécia.

— Sim e eu era fascinada pelas histórias que minha vó contava, amava a


mitologia grega e acredito que deve haver um jeito.

— A esperança é a última que morre e quando há companheiros de alma


envolvidos, então ela nunca se esvai.

— Só pararei quando estiver morto — Harley disse.

— Bem, aqui está, encontrei o feitiço.

A rainha ergueu a mão e um incenso feito de um macinho de ervas foi


aceso, o que encheu o ambiente com o perfume.

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Ela começou a colocar pós, líquidos de uma garrafinha e outra, tirou


algumas pequenas folhas e ia colocando tudo dentro de um almofariz de
louça branca.

Vanora pegou a caixa de fósforos com palito longo e pacientemente foi


acendendo as velas, uma a uma.

— Por que não estala os dedos e acende todas de uma vez? — Erick
perguntou.

Ela sorriu lindamente.

— Há coisas que merecem a serenidade do gesto, merecem a reverência.


Cada chama tem um propósito e sua função quando se evoca um feitiço. Uma
vela tem muito poder. Quando acendemos uma vela, acendemos uma luz no
universo, abrimos uma janela da magia. Velas não são simples adornos, elas
são uma janela e quando se abre, abre-se um mundo de possibilidades.

Todos ficaram observando ela fazer isso e era hipnotizador.

— Temos que sacrificar algum animal ou algo? — Harley perguntou.

A rainha sorriu.

— Acha que os rituais gregos envolviam animais?

— Não sei.

— No sacrifício grego usando animais, não era coisa ruim. Era uma
oferenda aos deuses e para os homens era uma refeição de festa que desde a
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criação, alimentação e morte do animal estava envolvida numa atmosfera de


alegria. Toda a encenação ritual era uma solenidade pacífica de uma festa
feliz. Não havia gritos ou gente bebendo o sangue, ou grandes
esfaqueamentos. O animal do sacrifício era uma iguaria. Devidamente
honrada e preparada.

— Mas nem todos eram assim.

— Cada cultura segue seus rituais, inclusive algumas até usavam da


oferenda humana.

— Isso parecia ruim.

— Ficaria estupefato em saber que em muitas culturas, ser a “oferenda” a


ser sacrificada era uma honra.

— Difícil de acreditar.

— Bem, muitas coisas reverenciadas no passado não fazem sentido ao


senso moderno. Tudo faz parte do desenvolvimento humano. Mas não se
preocupe, para este ritual não necessitamos matar nenhum animal, ou um
humano — disse sorrindo. — Pode me dar uma gota de sangue, Senhora? —
a rainha pediu para Kira e ela prontamente foi até a mesa e ofereceu a mão e
Erick logo rosnou e sua mãe, com um sorriso, o olhou.

— Só um pequeno corte, filho, não vou maltratar sua linda companheira e


nem cravar uma adaga em seu coração. Eu acho que com meu sangue e o
dela podemos ter mais força para chamar um imortal o mais rápido possível.

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Erick rosnou novamente e Harley riu, mas estava nervoso e com o coração
batendo descompassado no peito.

Vanora pegou uma adaga e cortou a palma da mão de Kira, que fez uma
careta e Erick rosnou novamente ao ver o sangue dela. Logo que algumas
gotas de sangue caíram dentro do almofariz, misturando-se com as outras
especiarias, a rainha passou a mão sobre a palma cortada de Kira e o corte se
fechou.

— Pronto, sua companheira está inteira novamente.

Kira sorriu para Erick e ele parou de rosnar.

Companheiros eram possessivos e protetores e somente ver sangue de


suas companheiras, mesmo que fosse uma gota, era para fazer seu lobo saltar
dentro de si.

Com a adaga, que tinha desenhos celtas na lâmina e intrincados desenhos


no punho, cravejado de pedras preciosas, Vanora fez um corte na sua palma,
o que fez com que fosse a vez de Kayli rosnar e dessa vez Erick riu. As gotas
caíram e, então, ela fechou seu corte.

— Vamos, Kira, vamos juntas. Devemos repetir este feitiço e então a


magia agirá por si só e se tivermos sorte, os seres encantados se revelarão a
nós.

— Tá mé an Mhuires na Fíonchaora na witches agus teachit cabhrú leat.


Dhíth orm cabhair ó bász a fháil a abir tairseach. Tá mé ain Mhuire na
Fíonchaiora. Beannachtaí.

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Elas começaram a recitar o feitiço na língua antiga e a rainha mexia as


mãos sobre o almofariz e uma luz azul com pontos brilhantes começou a
rodar no ar, como se fosse um pequeno tornado, sobre a cumbuca de louça
branca.

Uma e outra vez, elas repetiram as palavras e então aquela fumaça azul se
ergueu no ar, se separou em diversos pontos de fumaça e saiu pelo teto um
para cada lado, se espalhou e desapareceu.

— Está feito.

— Simples assim? Funcionou?

— Paciência, meu caro. Agora somente precisamos esperar.

— Céu bendito — Harley resmungou.

— O que fez, companheira? — Kayli perguntou curioso.

— Emiti ao universo a magia do chamado. As criaturas imortais receberão


o pedido de ajuda e, então, saberão que estou chamando. Eles atenderão ou
não. Agora é com eles, se terão a boa vontade de se mostrar e nos ajudar.

— Quanto tempo isso demora?

— Isso eu não sei. O feitiço é como um radar e estará rodando a atmosfera


em busca de um sinal, então transmitirá minha mensagem.

— E eles podem ouvir?

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— Sim, eles irão, agora se responderão, é apenas uma incógnita.

— Rainha, acha mesmo que... isso pode estar certo, quer dizer, que Pietra
e estas pessoas estão vivas do outro lado?

— Bem, é uma lenda, mas senti sua vibração ainda, mesmo que não
pudesse vê-la. Acredito que sim, que seja real. Mas somente saberemos se
conseguirmos chegar até ao submundo.

Harley rosnou e começou a andar.

Eles esperaram ali por um tempo, mas nada aconteceu.

Depois, todos o deixaram sozinho e Harley, sentado no chão, ficou


contemplando os quadros na parede, que ela havia pintado deles dois, um do
lado do outro, com suas bordas quase se tocando e suas mãos quase se
alcançado.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto e a voz doce de sua companheira


dançava nas suas memórias, tão vívidas como se estivessem dentro do quarto.

— Nunca estaremos separados, nunca, mesmo quando nossos corpos


morrerem e nossa alma deixar este mundo, ainda assim, o amarei e ainda
assim te tocarei.

Outra lágrima escorreu ao se lembrar do sorriso brilhante dela, de como


era suave, delicada e tão bela, como tinha sonhado com uma vida bonita ao
seu lado, como queria fazer mil coisas para viver, para mostrar, compartilhar.

— Vou te trazer de volta... mas se eu não puder, então te encontrarei do


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outro lado e ali permanecerei. Não te deixarei sozinha e com medo, nunca.

Ele foi até a parede e empurrou os dois quadros juntos, para que se
tocassem.

— Estou contigo para a eternidade e não há espaço entre nós.

A tarde passou, a noite veio e nenhuma resposta se apresentou.

Os reis foram embora e Harley caiu na cama de cansaço, pois ficou a


maior parte da noite na varanda olhando para o céu, como se estivesse
esperando que uma das estrelas caísse e um ser se materializasse na sua frente
dizendo que veio salvar sua Pietra.

Seu coração doía e sua alma chorava.

Ele ficou olhando as estrelas e orou, pediu ajuda. Ele gostava da noite, das
estrelas e suspirou ao lembrar-se da noite que ele e Pietra ficaram deitados na
areia, olhando as estrelas.

Ela estava deitada em seu peito, entrelaçando seus dedos nos dele,
acariciando com suaves toques.

Ele adorava ver como ela se encantava com tudo, pequenos detalhes,
sempre tão intensa e profunda. Reverenciando cada dádiva.

— Olha como este céu é lindo! — ela sussurrou encantada.

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— Eu também gosto de vê-lo à noite, estas estrelas, a lua, saber que há


tanto neste universo. Tanto que não podemos ver.

— Um universo tão imenso e somos tão pequenos diante de todos os


segredos e mistérios deste universo. Aqui onde estamos é apenas uma
centelha.

— Sim. É incrível, nossa conexão é mais forte quando eu olho para o céu,
eu sinto minha energia e acredito nos deuses, na magia, e tenho esperança.

— Eu sinto o mesmo, ficava no terraço do meu quarto olhando as estrelas


e sempre soube que se eu pedisse algo, receberia ajuda e sempre pedi que
queria ser amada. E finalmente você chegou.

— E eu amo você.

— E eu o amo por isso.

Ela o olhou e sorriu e o beijou, depois levantou e estendeu sua mão para
ele.

— Eu quero fazer algo por ti — ela disse com um sorriso.

— O quê?

— Você me deu banho quando eu estava em forma de loba e depois


quando me transformei.

— Foi meu prazer cuidar de você.

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— Quero fazer o mesmo por você.

— Não tem que me pagar nada, o que fiz foi porque meu coração
mandou.

— Não quero te pagar, Harley, eu quero te dar um pouco de cuidado que


acho que você merece e porque eu, como sua companheira, também gosto de
cuidar de você.

Emocionado, ele segurou sua mão e ela lentamente o levou até o banheiro
da casa. E enquanto a banheira enchia, ela tirou sua roupa, peça por peça,
lentamente, como se tudo fosse um ritual sagrado, uma carícia e ele somente
ficou ali, parado, deixando-a fazer o que quisesse com ele.

E por Deus, estava tão inebriado que sua garganta estava embargada.

Ela o despiu, beijou seu peito e sua face delicadamente e o acariciou,


fazendo o carinho de lobo em sua bochecha, o levou até a banheira e com a
suave espuma dos sais de banho ela o banhou, deslizando suas mãos em todo
seu corpo, lavou seu cabelo vagarosamente.

Aquele banho durou uma hora inteira, até mais, mas foi perfeito, e
quando ela o secou, beijou seus lábios docemente.

Não houve sexo depois daquilo, houve uma paz imensa, uma calmaria,
uma revelação entre eles, mais uma delas.

Eles deitaram na cama, abraçados, e dormiram e nada poderia ter sido


mais perfeito do que aquele gesto de puro amor, de gratidão, de

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companheirismo.

O amor era muito mais do que sexo, era entrega, era cuidar, era ser grato,
era ser cuidadoso, era simplesmente sentir com o coração e com a alma.

Eles tinham entendido e sentido isso.

E todas estas lembranças dela foram o que maltratavam o coração de


Harley.

Como alguém conseguiria viver sem isso depois de ter conhecido o amor
verdadeiro?

E suas memórias embalaram seus sonhos.

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— Ei, irmão, acorde.

Harley rosnou e se moveu na cama, seu corpo todo doía e seus olhos
ardiam. Ele tentou cobrir os olhos da claridade quando Petrus abriu as
cortinas.

— O quê?

— Sei que é cedo e está cansado, mas temos uma visita.

— Quem?

— A rainha voltou, parece que tem notícias.

Num segundo Harley estava em pé, pôs a calça jeans, uma camiseta e
saltou para a sala e ele deu uma freada brusca quando viu a rainha, Aaron,
Kayli e um homem que não identificou.

Ele fez a reverência para a rainha, que sorriu.

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— Bom dia, Sr. Papolus, desculpe tirá-lo da cama, mas depois desse
tempo angustiante de espera, eis que eu achei que gostaria de conhecer nosso
amigo, o Sr. Soren Osteberg.

Harley olhou para o homem novamente e prestou atenção nele. Ele devia
medir uns dois metros de altura, um pouco mais alto de Harley, era loiro e
tinha os cabelos compridos até o pescoço, penteado para trás, musculoso, mas
nada assim tão impressionante, parecia até normal, comparado com ele.

Seus olhos eram azuis normais, não parecia ter nada de especial nele,
apesar de ser bem-apessoado e alto. Podia até dizer que era bonito e atraente.

Usava uma roupa normal, uma calça jeans preta, uma camiseta e um
blazer pretos, não deixou de reparar no Rolex no pulso e o sapato caro e bem
lustrado.

— É um prazer conhecê-lo. Sou Nico Papolus, mas pode me chamar de


Harley.

— É um prazer, Harley.

— Você é...

— Sim, sou um Berserker.

— Mas... não parece um.

Eles apertaram as mãos e então Harley o olhou aturdido.

— O que esperava, um viking usando couro e peles, com um machado?


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Então Harley arfou, assim como Petrus ao ver os olhos do homem mudar
de cor e passar de azul para um azul anil brilhante. Uma onda de energia
atravessou seu corpo e Harley soltou de sua mão num solavanco.

— Uau!

— Ele pode enganar em sua aparência, mas sua força é descomunal, nas
suas duas formas — a rainha disse.

— Bem, isso é interessante. Imortal?

— Sim.

— Quando nasceu? Quer dizer, quando foram criados?

— 760 a.C..

— Uau! — Petrus exclamou.

— Os homens de Odin marcham sem cotas de malha, e eram loucos como


cães ou lobos. Mordiam seus escudos, e eram fortes como touros ou ursos
selvagens. Matavam a seus inimigos com um só golpe, e nem o fogo ou aço
podia detê-los. É isso que chamam de fúria do Berserkers — Harley disse.

— Ah, a Saga dos Inglingos — Soren disse com um sorriso.

— Sim, li isso uma vez e sempre achei que era uma lenda.

— Eu pensei que vocês eram, mas tive o prazer de conhecer sua raça há
muito tempo.
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— Você ouviu o chamado da rainha?

— Sim, eu e meus irmãos ouvimos. Primeiramente pensamos em não nos


expor, mas pensamos que deveria ser algo importante para ela ter emitido tal
chamado. Aliás, depois de tanto tempo, nem sabíamos mais que a Senhora
ainda existia.

— Minha companheira está amaldiçoada e foi... transformada em pedra


por uma... Górgona.

Soren ergueu uma sobrancelha olhando para eles e depois para a rainha,
como se a notícia tivesse sido absurda, o que, por um lado, era.

— É isso mesmo, da mitologia grega, aquelas com cobras na cabeça.

— Estamos falando de Medusa? Pensei que estaria morta.

— Bem, na verdade Medusa está morta, ou estaria, segundo seu mito, e


segundo escritos, diz que sua cabeça ainda manteria o poder de petrificar as
pessoas, mas, no caso, não foi ela que veio buscar sua presa e sim uma de
suas irmãs.

— Irmãs?

— Sim, ela tinha mais duas irmãs iguais a ela.

— E eu que pensei que já tinha visto de tudo na minha vida. Como


conseguiu tal feito?

— Eu também posso dizer o mesmo. Foi por uma maldição, uma bruxa
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invocou as deusas há séculos e elas agora vieram por Pietra.

— Você quer que eu ajude a salvar sua companheira?

— Temos a teoria de que ela ainda vive em outra dimensão, quero quebrar
a maldição e trazê-la de volta, mas para podermos ir até o País das Sombras,
onde pensamos que as deusas se escondem, e onde o espírito de Pietra ainda
vive, por um tempo limitado, a rainha precisa do sangue de um imortal para
abrir o portal.

Soren abriu um sorriso.

— Eu me lembro da última vez que a Senhora das Castas nos pediu


sangue.

Ela sorriu e o olhou.

— Sim, foi há uns dois mil anos e eu queria salvar Kayli.

— E nós demos de nosso sangue para que fizesse o feitiço.

— Sim, e eu serei eternamente grata.

— Agora eu darei para salvar a vida dessa loba.

Harley piscou prestando muita atenção no homem.

— E isso implica que quer algo em troca? — Harley disse quase


rosnando.

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— Mas é claro que eu quero algo em troca. Acha que meu precioso
sangue é assim fácil de tirar de mim?

— E o que seria?

Se ele não fosse razoável e se negasse, Harley estava mais do que disposto
de espremer o imbecil até que tirasse sua última gota de sangue.

Soren fez seus olhos azuis anil brilharem mais fortes e Harley piscou
olhando sua fisionomia, ele havia encorpado mais, seus dentes eram maiores
e afiados, e seus punhos podiam quebrar uma parede de concreto.

E ele disse com a voz grossa e animalesca: — Que me permita


acompanhá-los e chutar o traseiro de alguns deuses. Minha vida como
humano está muito aborrecida.

Harley sorriu lentamente, assim como Petrus, Aaron e Kayli.

— Feito.

Eles rosnaram como as feras que eram e foram criadas para ser, selando
seu acordo. Até que ouviram um som de sininhos e algo praticamente
invisível passou por eles e foi como se uma purpurina vagasse no ar.

Todos olharam aturdidos de um lado a outro para ver o que era, e um som
como uma suave melodia e sininhos soou pelo ar novamente.

— Oh, meus deuses, ela veio! — Vanora disse encantada.

— Ela quem?
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Um pontinho de luz surgiu no meu deles, como uma estrela brilhante e


então umas minúsculas asinhas surgiram.

— O que é isso? — Petrus perguntou.

Soren sorriu.

— Esta, caro amigo, é uma fada.

— A Sininho?

— Sininho, do Peter Pan, tá de brincadeira — Petrus disse rindo,


incrédulo.

Soren e a rainha riram e então a estrelinha brilhante fez “puf” e uma


mulher deslumbrante surgiu no meio deles. Ela era alta e magra, tinha o
cabelo loiro e cacheado até a cintura e brilhava como purpurina.

Seu corpo era escultural e ornada com um fino e belíssimo vestido longo
até os pés, feito de musselina e gaze branca, com uma faixa rosa abaixo no
busto que ostentava um provocante decote que emoldurava belos seios.

Ela usava uma tiara na testa que ornava até atrás de sua cabeça caindo
como uma cascata de fios brilhantes como pontos de luz e suas orelhas eram
levemente pontudas e seus olhos eram azuis muito claros com uma orla
branca e, por fora, outra negra.

Sua beleza era etérea e escandalosamente hipnotizante e transmitia uma


excitação e ao mesmo tempo um encantamento.

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Harley piscou várias vezes e sentiu como se estivesse amortecido.

A moça abriu a boca e emitiu um som que doeu nos ouvidos sensíveis dos
lobos, fazendo-os gemer e um vaso de cristal sobre a mesa espatifou.

Ela arfou e tapou a boca com os dedos e riu, pigarreou e quando falou sua
voz saiu tranquila e suave.

— Desculpem-me, língua errada.

Todos conseguiram entender, mesmo puxando um pesado sotaque que


somente a deixava mais atraente.

— Por Zeus... — Petrus sussurrou.

— Olá, creio que foi aqui que pediram ajuda para salvar alguém em
perigo? — ela disse.

— Caramba! — Harley rosnou.

— Acho que estou meio cego — Petrus resmungou.

— Rapazes, esta é a nossa doce amiga, Cristal, uma princesa Fae.

A mulher, que era jovem e vibrante, sorriu lindamente e podia jurar que
todos os homens da sala derreteram como manteiga na chapa quente.

— Oh, Senhora Vanora, que honra vê-la novamente, eu vim porque fiquei
muito curiosa para saber como temos duas Senhoras, posso conhecê-la?
Aliás, deixe-me vê-la, continua deslumbrante.
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— Obrigada, posso dizer o mesmo. Acredito que Kira, minha pupila e


nora, ficará encantada em conhecer sua graça.

— Oh, adorarei!

Ela se virou e encarou Soren.

— Como vai, Soren?

— Muito bem, princesa, encantado que se lembre de minha pessoa.

— Faz muito tempo, mas minha memória é muito boa.

— Sim, faz. A eternidade tem feito bem a você.

— E a você.

Ela respirou fundo e se virou para Kayli.

— Rei Kayli! Que honra vê-lo e assim tão bem.

Ele fez uma reverência com a mão sobre o coração.

— A honra é inteiramente minha, princesa.

— Continua encantador e jovem.

— Com sua ajuda.

— Foi um prazer. Pena que não tenha tido tanta sorte de encontrar mais

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humanos decentes para nos mantermos aqui. Humanos sempre querendo nos
enfiar dentro de um pote de vidro como um vagalume ou queimar para sugar
nossa energia vital. Tolos.

Ela suspirou nostalgicamente e abriu seu sorriso novamente.

— Rei Aaron... Após dois mil anos ainda mantém seu charme.

Ele fez uma reverência formal e sorriu lindamente.

— Sua beleza fulgura e ilumina meu dia, princesa. Mas não sou mais rei,
voltei a ser o príncipe em Kimera.

— Oh, mas uma vez rei sempre um rei. Um verdadeiro rei não leva seu
título na coroa e sim no seu coração. E todo seu coração é de um rei.

— Obrigado.

— Sinto muito por sua companheira.

— Faz muito tempo.

Ela assentiu e se virou com um lindo sorriso.

— Você foi rei? — Petrus perguntou espantado para Aaron.

— Sim, por um tempo. Kayli deixou a Terra antes de mim e, eu, como seu
irmão, era seu sucessor.

— E tinha uma companheira? — Harley perguntou espantado.


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— Tinha, mas isso está no passado.

Petrus quis fazer mais perguntas, mas não fez.

— E quem são estes moços, lobos e fabulosos? — a fada perguntou


olhando para Petrus e Harley.

— Sou Petrus, o Alfa de Alamus, e este é meu irmão e meu beta, Harley.
Nico Papolus, na verdade.

Petrus fez uma reverência e Harley pegou sua mão e beijou seus dedos.

— É uma honra, em conhecer uma Fae. Isso é maravilhoso, minha


companheira ficaria encantada em conhecê-la, ela fez até umas joias
inspirada nos Fae. Hum... ela gosta das fadas e seres élficos e tudo mais. É
uma estudiosa, conhecedora de arte e mitologia, História também.

— Bem, eu teria grande prazer de conhecer sua loba.

— Obrigado.

— Fiquei curiosa em saber por que uma Senhora das Castas, com tantos
poderes mágicos, estaria chamando nós, os imortais. Isso é tão raro quanto
um humano me vir.

— Precisamos entrar no mundo de uma deusa e resgatar minha


companheira.

— Oh, isso é excitante! Por que a deusa pegou sua companheira?

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— Porque ela não sabia que seu companheiro iria por sua fêmea e
arrancaria sua cabeça por ousar machucá-la.

— Acho esta resposta convincente — disse sorrindo. — A ama?

— Com toda minha alma. Minha companheira estava grávida de meu


filhote e não haverá um pilar em toda Grécia que fique em pé ou no mundo
paralelo que for, ou no submundo, pois não descansarei até tê-los de volta.

— Isso é inspirador, a paixão que faz o sangue ferver. Adoro esta paixão
selvagem dos lobos.

— Fico feliz que isso a inspire.

— O amor sempre me inspira.

— Vai nos ajudar?

— Bem, grandão... Onde coloco meu doce sangue feérico?

Harley respirou fundo e a esperança brotou em seu peito.

Vanora movimentou as duas mãos no ar e sussurrou palavras que ninguém


mal pode ouvir e entender e, novamente, a mesa usada anteriormente
apareceu, com seu Grimório cheio de velas, livros, ervas e vidros com
líquidos coloridos.

— Todos estão preparados para o ritual? Assim que o portal for aberto
vocês devem entrar, eu ficarei aqui protegendo sua entrada e tendo a certeza
de que voltarão.
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— Sim, não podemos perder mais tempo. Os guerreiros lobos que irão
conosco estão prontos, Petrus?

— Sim, do lado de fora da casa, somente esperando sua missão.

— Só aviso, assim que o portal for aberto terão um tempo para retornar,
senão vocês ficarão presos lá — disse a rainha.

— Somente devo achar Pietra e trazê-la?

— Precisa quebrar a maldição, como acredito que somente existe o elo


entre as deusas e Pietra, ela deve tomar o sangue de Medusa. Se o fizer, todos
que foram amaldiçoados poderão retornar.

— Então devo encontrá-la, a este sangue, fazê-la beber e voltar.

— Parece fácil — Aaron disse.

— Não subestime o poder do submundo. Nem mesmo eu poderia ser mais


forte que uma Górgona. Ela é uma deusa, somente estará frágil enquanto eu
estiver aqui com o portal aberto e enviando minha magia para enfraquecê-la.
Dê isso a Pietra e, após beber o sangue de Medusa, deve colocar isso na boca.

— O que é isso?

— Uma mandrágora acurada com um feitiço. É muito forte e poderoso.


Misturado ao sangue da deusa intensificará o poder de seu sangue.

— Todos os lobos italianos voltariam?

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— Não garanto que todos o façam. É um risco que todos correrão. Tomem
cuidados com as criaturas que podem encontrar no caminho. Um ferimento
por estas criaturas ou o olhar de uma Górgona os matará. Nunca, jamais olhe
nos olhos delas.

— Arrancarei a cabeça de quem quer que seja que esteja entre mim e
Pietra.

Todos sentiram o cheiro de visitante e se viraram para a porta e logo um


grupo de lobos apareceu na sala.

— Não irão a lugar nenhum sem mim — Noah disse.

— E nem sem mim — Erick disse.

Noah, Erick, Liam, Konan, Kirian, Ronan e Sasha encheram a sala.

Harley piscou aturdido.

— Noah, o que faz aqui?

Noah foi até ele.

— Você sempre lutou por mim e minha alcateia. Está na hora de lutarmos
por você. Lamentamos o que ocorreu com sua companheira e é nosso dever
como amigos ajudar a trazê-la de volta.

— E não se esqueçam de mim.

Harley arfou quando viu Ester ao lado de Noah.


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— Alfa? Quer ir ao submundo? Pode ser ferida.

— Bem, eu irei e isso está fora de discussão. Quero ajudar.

Harley olhou para Noah, que estava sério.

— Conhece esta fêmea, quando coloca algo na cabeça, nem batendo com
uma marreta ela muda de ideia.

— Não sou fraca e posso lutar. É a vida de uma fêmea que está em jogo,
devo ajudar. Você é meu amigo e não posso conceber a ideia de que perca
sua companheira. A traremos de volta e chutaremos o traseiro desta cobra
peçonhenta dentuça.

— Nunca duvidei de sua força, alfa.

— Bom, porque eu não preciso de proteção agora, você sim, precisa de


ajuda.

— Obrigado, alfa.

— Ótimo. Rainha, será que pode realizar um fetiche meu?

— Claro, pequena, o que deseja?

— Poderia me dar uma dessas armaduras bonitas que vocês usam? Tipo
como uma amazona ou algo assim?

Vanora riu, encantada, e passou as mãos na frente de Ester e sussurrou


umas palavras e então sua calça jeans e sua blusa de seda desapareceram e ela
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estava vestida como uma amazona.

Seus cabelos longos estavam presos com uma trança, usava um elmo
dourado, uma saia de couro curta e um corpete estruturado e com intrincados
desenhos, era de couro com placas de metal dourado, moldado ao seu corpo.

Tinha botas de couro que vinham até seu joelho. Nos punhos, braceletes
dourados que iam do pulso até seu cotovelo e acima dele até embaixo do
braço, que sumia abaixo de uma ombreira que parecia de escamas douradas.

Ester piscou, se olhando, com a boca aberta e olhou para Noah, que
piscou, aturdido.

— Uau, isso é incrível! Sinto-me uma amazona, uma Joana d’Arc ou algo
semelhante.

Noah rosnou e ela riu.

— Eu gostei, amor, você gostou? O que acha de depois brincarmos com


isso, hã? — cochichou.

Ele rosnou de forma depravada e ela riu. E houve várias risadas na sala.

— Obrigada, Majestade, eu adorei!

Ester olhou para a mulher próxima à Vanora e piscou atordoada.

— Nossa! Você é linda, não a conhecia ainda, uma belíssima loba, seus
olhos são diferentes. Uau, são lindos e você... tem purpurina no cabelo e...
orelhas... pontudas... sem ofensa.
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Vanora riu com a cara de Ester, assim como todos os homens na sala, que
voltaram os olhos para a fêmea loira e brilhante.

— Princesa, esta é Ester, companheira do lobo Noah, a alfa da Ilha dos


Lobos.

— Uma humana transformada, que interessante.

— Sim, mas não sou fraca.

— Vejo que alguém tentou te convencer do contrário.

— Sim, mas não sou.

— Vejo que não, você transpira força, pequena, e, pelo que vejo, seu
companheiro também não pensa que é uma fraca.

— Sim, tenho orgulho de Ester, ela é forte. Já lutou com lobas e venceu.

— Estupendo.

— O que é você? — Ester perguntou.

— Sou uma fada.

Ester abriu tanto a boca de espanto que sua mandíbula doeu.

— Fada? Uma fada? Jura?

— Sim, uma Fae. Sou descendente dos Thuatha de Danann.

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— Jesus! Você é maravilhosa! Quem diria, uma fada. Mas não tem asas?

Ester saltou para trás com um gritinho de susto e arregalou os olhos


quando duas belas e brilhantes asas surgiram nas costas dela.

— Uau! Que coisa mais linda! Virna vai morrer de inveja de não ter te
conhecido.

— Obrigada, gostei de você. É tão espontânea. Ester, não é?

— Sim. Nunca vou esquecer isso na minha vida. E estou com medo de
perguntar quem é ele — disse apontando para o homem gigante atrás dela.

Soren sorriu lindamente.

— Sou Soren. Encantado em conhecê-la. Sou um Berserker.

— Um o quê?

Noah rosnou e puxou Ester para trás dele.

— Não tema, alfa, estou aqui para ajudar e não devoro lobas.

— Acho bom, porque pode ser até o filho de Odin, mas se encostar em
minha companheira vira tapete.

Soren riu.

— Acredito que sim.

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— Bem, pela reação de Noah, acho que deve ser mau. Desculpe minha
ignorância, mas nunca ouvi falar de Berserkers, mas prometo que lerei sobre
quando chegar em casa.

— Ele é uma besta de Odin — Noah disse.

— De certa forma — Soren disse arreganhando os dentes afiados e


passando a língua neles e seus olhos ficaram da cor anil brilhante e todos os
lobos ofegaram e rosnaram.

Soren até poderia se ofender com Noah por tê-lo chamado de besta, mas
não o fez, isso era algo que já não se importava mais.

— Mas que coisa é esta? — Sasha perguntou aturdido.

— Diferente dos guerreiros que usavam as drogas e ficavam


incontroláveis em batalha, nós, os verdadeiros Berserkers, sabemos muito
bem o que estamos fazendo.

— Bom saber, mesmo assim fique longe de minha companheira.

— Como queira.

— E vai me dizer que existe um Légolas? — Ester perguntou.

— Quem? — Cristal perguntou.

— Légolas, sabe... Senhor dos Anéis, um elfo.

— Não conheço este Légolas, mas sim, elfos existem, não neste plano,
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obviamente.

— Obviamente. Senhor, e eu que pensei que já tinha visto tudo na minha


vida.

— Acho que esta frase já foi expressa demais nesta sala hoje.

Todos riram.

— O papo está muito divertido, mas precisamos ir buscar minha


companheira, o tempo está se esgotando — Harley disse.

— Estamos prontos para lutar, contra o que quer que seja.

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Vanora começou o ritual usando seu Grimório e misturando diversos


ingredientes, desta vez em um almofariz de ouro; e Soren e Cristal, com a
adaga, fizeram pequenos cortes em suas palmas e colocaram seu sangue na
mistura.

Vanora recitou as palavras em celta, movimentou as mãos e uma fumaça


em forma de redemoinho se formou saindo do almofariz.

Primeiro era pequena e foi crescendo, girou dentro sala e foi aumentando
cada vez mais e toda a casa tremeu, trepidando como se estivesse causando
um terremoto.

Ela virou, unificou a fumaça dispersa como um cone e luzes e se


posicionou contra a parede.

Aquela fumaça foi se modificando, girando em círculo e, então, um


círculo negro surgiu no meio e foi se abrindo. Quando estava com uns dois
metros de diâmetro, ela parou, saindo de seu transe e suspirou.

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— Aí está, o portal para o País das Sombras, conseguimos. Vocês entram


e eu ficarei aqui, impedindo que algo aconteça e o portal se feche, senão
vocês estarão presos lá. Como segurança, Cristal permanecerá aqui comigo e
impediremos qualquer coisa que esteja do lado de lá passe para o lado de cá.
Vocês não têm muito tempo, pois o portal tem seu próprio tempo, portanto
façam o seu melhor.

— Obrigado, rainha.

— Orarei por vocês.

Harley rosnou, girou entre os dedos duas longas adagas e as enfiou na


bainha de couro, cruzadas na cintura, em suas costas, presas em um cinturão
de couro.

Sasha destravou sua arma e se posicionou em sua forma de combate,


usando sua roupa negra de mercenário, e carregava mais uma Glock no
coldre preso a sua perna e na outra uma faca de combate que tinha um lado
serrilhado e uma adaga em uma bainha no peito.

— Lembrem-se, elas podem petrificar vocês, não fixem seu olhar nos
delas, de jeito nenhum. Se olharem para seus olhos terão um segundo para
desviá-los, senão ela os apanhará.

Kirian e o rei Kayli estavam levando suas espadas e os outros estavam


preparados para usar suas garras e se transformar se precisasse.

Agrupados de forma estratégica e olhando ao redor, atentos a qualquer


movimento, eles entraram no portal.

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O lugar parecia um mundo em ruínas, havia muitos pilares e rochas


inteiras, outras quebradas e muitas estátuas para todo lado.

Em um lugar ou outro havia fogo crepitando, fumaça e não sabiam o que


havia em cima deles, mas era negro como o céu sem estrelas.

— Que lugar bizarro — Petrus sussurrou.

Pietra acordou e gemeu ao sentar e olhou ao redor, ficou assustada e


levantou rapidamente ouvindo o guizo alto de cobra como havia ouvido
quando estava em Alamus, só que agora parecia muito mais alto e vívido.

— Então é aqui que me trouxe, hã? Bem, aqui me tem.

— Pietra!

Ela se virou assustada ao ouvir a voz de Marcello, e seu primeiro impulso


foi correr e se jogar em seus braços, então ela viu seu pai e uma trupe de
lobos.

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Ela piscou atordoada e deu um passo atrás e eles pararam a uma distância.

Ela olhou bem para seu pai, com os sentimentos controversos no peito.

— Sua maldição estava certa.

— Bem, veja a que nos trouxe.

— Devia ter me contado a verdade.

— Você devia ter me obedecido.

— Bem, “papai”, não sou uma marionete sem cérebro. Vai me matar
agora ou o quê?

— Acho que isso é irrelevante agora, já que estamos todos aqui e


tecnicamente mortos, assim como toda nossa alcateia.

— Não me sinto morta.

— Se não estamos mortos devemos encontrar um meio de sair daqui.

— Aqui onde é, exatamente?

— Não faço ideia, mas sinto que há milhares de olhos nos observando —
Marcello disse.

— Vamos por este lado, vamos tentar encontrar uma saída — Enrico
disse.

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— Não vou a lugar nenhum com vocês. Procurarei eu mesma minha


própria saída — Pietra disse.

— Pietra, por favor, estará segura com a gente — Marcello disse.

— Vamos, Pietra, não seja teimosa — seu pai disse.

— Segura? Teimosa? Nunca estive segura e não faço mais parte de sua
alcateia para obedecer suas ordens. Sou uma Papolus agora e a única coisa
que quero é sair daqui e voltar para meu companheiro, para Harley.

Ela se virou e foi andando entre as ruínas.

— Pietra! — seu pai a chamou.

Ela parou e se virou.

— Devia ter contado, filha, mas achei que estava fazendo a coisa certa. Eu
estava pensando na alcateia.

— Eu também acho que estou fazendo a coisa certa. E agora eu estou


pensando em mim, pois por minha vida toda somente pensei no senhor, e na
alcateia. E quando cometi um erro, nem sequer me deu a chance de me
defender, condenou-me, quebrou meu coração. O senhor mesmo me baniu,
então, me deixe em paz para viver a minha vida ou a minha morte. E não
precisa ter o trabalho de me matar, porque, ops, acho que já estou morta.

Ela se virou e seguiu seu caminho, sozinha.

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Harley e o grupo de lobos se viraram rapidamente quando escutaram uma


risada de mulher ecoar pelo local, e o guizo de cobra.

— Parece que já sabem que estamos aqui.

— Sim, os ratinhos entraram na sua cova e elas estão salivando para


brincar com a gente.

— Vamos mostrar a elas como sabemos brincar.

A cada minuto que adentavam naquele lugar, mais ficavam boquiabertos,


a sensação era de que estavam na Grécia antiga, tudo era do estilo clássico,
altas colunas de mármore chanfrado, pedras enormes e pequenas, rachadas e
quebradas.

Tudo tinha uma visão muito cinza, e era um silêncio sombrio que causava
um arrepio na espinha.

À medida que iam passando encontravam uma estátua, cada uma delas em
posições diferentes e em seus rostos, o susto, o medo, a raiva, a paralisação.

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Não havia apenas homens, mas também mulheres, guerreiros segurando


uma espada, tentando correr ou caído.

— Tenho a impressão de que eles não são meras estátuas.

— São pessoas que foram transformadas em pedra.

— Não entendo, como seriam pessoas se não se podem entrar facilmente


aqui? Não acredito que muitos humanos tenham pedido a uma bruxa para
conseguir o sangue de um deus e abrir um portal para chegar aqui.

— Não sei, mas não gosto disso.

Com sua audição aguçada, eles se viraram e olharam para cima e viram
três criaturas arqueadas parecendo humanos, mas tinham membros um tanto
deformados.

Parecia uma mistura de humano com morcego, com asas e garras muito
afiadas, rosto deformado e sangue nos olhos.

Elas soltaram um grito esganiçado que ecoou pelas ruínas de pedras e


saltaram sobre eles.

Um guerreiro com sua espada interceptou um que saltou sobre Petrus e ele
se esquivou e saltou longe, batendo sobre outro com um soco feroz que o
jogou longe, batendo em uma pilastra.

O outro, Noah rosnou alto, saltou e o atingiu no ar, matando-o com suas
garras.

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Outras duas surgiram entre as ruínas e saltaram sobre Harley, mas antes
que ele se defendesse, Sasha despejou uma rajada de balas e a criatura caiu
morta.

Todos olharam ao redor esperando se mais apareciam.

— O que são essas coisas? — Noah perguntou.

— Me parecem Erínias — Harley respondeu.

— O que diabos são isso?

— Criaturas femininas do submundo alimentadas por raiva e vingança.

— Bem, isso condiz bem com as Górgonas.

— Erínias são também conhecidas por Fúrias na cultura romana.

— Sim.

— Parecem uns bichinhos de estimação bem bizarros — Sasha disse.

— O que queria, um poodle? — Konan perguntou rindo.

Erick riu, divertindo-se com a comparação.

— Pelo menos latidos são melhores que estes guinchos que doem meus
ouvidos — Harley disse.

Harley rosnou e todos olharam para onde ele estava olhando.

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Eles se aproximaram olhando a estátua com os olhos arregalados.

— Mas que merda!

— É um lobo!

— Sim, e acho que é um dos lobos italianos.

— Como? Não entendo.

Harley se virou e olhou para eles, espantado.

— É isso que acontece! No nosso plano, a Górgona veio reclamar seus


amaldiçoados, todos foram transformados em pedra, como vimos acontecer.
Mas no livro dizia que eles viviam por um tempo aqui antes que fosse tarde
demais, coisa que a rainha nos confirmou.

— Antes que elas brincassem de gato e rato e caçassem suas presas


novamente, uma a uma, brincando nestes labirintos e ruínas e os
transformasse em pedra.

— Por isso que dizia que eles tinham pouco tempo, o tempo que
conseguiriam sobreviver aos jogos perversos das Górgonas.

— Sim, até ser definitivamente caçado e transformado em pedra e, então,


não poderiam mais ser resgatados, aqui é sua morada final. Primeiro ela
petrifica a casca e depois a alma.

Harley rosnou alto, e o eco ecoou pelo local.

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— Pietra! — gritou com todas as suas forças.

Um dos lobos espiou pelo penhasco, então uma cobra gigante se ergueu
sobre ele, com seu susto ele ergueu sua espada e olhou para ela.

Eles se defenderam com os cascalhos de rocha que voaram contra eles.

Harley gritou e rapidamente girou contra o pilar e fechou os olhos. Gemeu


pelo baque, soltando o ar.

Mas a figura não era dos outros monstros, era uma das Górgonas e seus
olhos brilharam e o lobo petrificou, tornando-se uma estátua.

Ela soltou uma risada em sua diversão maligna e Harley xingou e saltou
para longe dela.

A Górgona girou a cauda e bateu nele, que voou e bateu contra uma
pilastra, fazendo-a rachar e derrubar cacos de mármore.

Nisso, várias Erínias saltaram sobre eles, como uma nuvem negra e uma
verdadeira guerra começou e Ester saltou alto, cravando suas garras e rolando
com uma para afastá-la de Noah, que lutava com outras duas.

Soren, com seus olhos anil e suas garras alongadas, com um baque
destroçava cada uma delas.

Com sua espada, Kirian cortava uma e outra que tentasse agredi-lo.

Era como uma grande nuvem de morcegos medonhos e gigantes.

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Harley tentou ir atrás da Górgona, que se distanciou entre os pilares, mas


foi atacado por três Erínias de uma vez e Petrus veio lutar ao seu lado.

Isso somente deixava Harley mais furioso, pois não estavam conseguindo
avançar.

Até que conseguiram matar muitas delas, eles correram pelos labirintos,
desviando das rochas e labaredas. Então, ouviram um grito e um rosnado. O
que fez eles estacarem.

Harley sentiu seu rosto avermelhar e rosnou furioso e saiu correndo. Ele a
reconheceu.

— Pietra!

Ela estava diante de uma imensa porta que brilhava como se fosse feita de
luz e ouro e parecia incrivelmente fora de lugar.

Pietra estava lutando bravamente com várias Erínias e ela olhou espantada
quando avistou Harley e os lobos saltarem por vários lados, tirando os bichos
grotescos de cima dela e Harley a tomou nos braços.

— Oh, meu Deus, você está aqui! — ela disse se agarrando em seu
pescoço, espantada por vê-lo.

— Mulher, eu pensei que tinha te perdido, deixe-me te olhar! — Ele


segurou seu rosto entre as mãos e seus olhos brilhavam banhados em
lágrimas. Tocá-la parecia surreal. — Você está bem?

— Não sei dizer exatamente, mas acho que estou bem, mas que lugar é
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este?

— O covil das Górgonas.

— Como está aqui? Virou pedra também?

— Não, viemos por um portal, vim te tirar daqui.

— Eu sabia que não tinha acabado, eu sabia.

— Precisamos encontrar os cálices do sangue de Medusa.

— Cálices do sangue de Medusa? Pra quê? Quer dizer, isso existe? De


verdade?

— Meu bem, segundo a lenda sim, e segundo a rainha, se existe está aqui
em algum lugar. Precisa beber isso para que consiga quebrar a maldição e te
tirar daqui, se não fizermos isso, você não passará pelo portal. Não temos
muito tempo.

— Ok... Bem, eu estava tentando abrir esta porta, não sei o que há aí atrás,
mas estes demônios pareciam não querer que eu entrasse.

Eles olharam para a porta e ela era muito alta, branca, com relevos em
ouro.

— Vamos descobrir.

Harley e Pietra tentaram abrir, mas ela não se moveu.

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— Estranho, não parece ter uma tranca. Como abrimos isso?

— Será que precisamos de outro ritual?

— Eu diria que não, diria que é pela força.

— Então vamos juntos.

Harley, Petrus, Kayli e Noah se jogaram contra a porta e fazendo força, a


porta se abriu, mas somente uma pequena fresta que não permitia que
passassem.

— Caramba, que coisa pesada!

— Precisamos de mais força.

— Deixem-me tentar.

Eles se afastaram e Soren rosnou alto e se transformou novamente na sua


forma animalesca e todos ofegaram e deram um passo atrás.

O homem tinha a forma de uma besta feroz.

Nada comparado ao que tinha mostrado na casa.

Era assustador e grande e seus olhos de cor anil brilhavam.

Soren rosnou, que ecoou pelas ruínas e ele se jogou contra a porta e ela
abriu, estraçalhando uma parte dela, fazendo pedaços dela voarem.

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— Puta merda, isso foi realmente impressionante! — Petrus disse


espantado.

Soren rosnou novamente e se virou e voltou ao normal.

— Incrível.

E, para espanto deles, quando entraram ali, cautelosos e olhando ao redor,


parecia silencioso, silencioso demais.

— Isso não me cheira bem.

— Que lugar é este?

Todos estavam embasbacados. O piso era de mármore branco e parecia


que havia muita luz no local, diferente do lado de fora que era escuro e
mórbido.

Havia muitas colunas gregas estilo clássico, ruínas tombadas e várias


estátuas.

Os gritos esganiçados das Erínias haviam cessado e o silêncio naquela


câmera era tão amedrontador que causava um arrepio na espinha.

— Que droga de lugar é este?

Eles foram entrando, cautelosos, prestando atenção em tudo, até que uma
risada ecoou pelo ambiente e o guizo de cobra.

Antes que pudessem reagir, uma nuvem de Erínias saltou sobre eles,
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atacando com suas garras afiadas. Uma enorme saltou sobre Pietra e cravou
suas garras em seus ombros e a levantou do chão.

Harley agiu rápido, saltou e a agarrou pelas pernas, e ela gritou pelas
unhas afiadas e longas cravarem fundo em seus ombros.

Então, Sasha começou a atirar no monstro, que se sacudia, mas parecia


não ceder até que Kirian lançou sua espada, que cravou no coração do
monstro, e ela soltou Pietra, que tombou no chão com Harley, que caiu em
pé, segurando-a em seus braços.

— Você está bem? — Harley perguntou assustado.

Sangrando e sem ar, ela gemeu pela dor.

— Sim, estou bem.

Harley a colocou no chão, protegendo-a e a afastando da luta. Todos


lutavam incansavelmente para matar as criaturas voadoras.

Então, uma Górgona apareceu entre os pilares, deslizando como a cobra


peçonhenta que era.

E, ao choque de sua entrada, pegou um dos lobos desprevenido, que foi


transformado em pedra, ao olhar direto em seus olhos.

— Não olhem para os olhos dela! — Petrus gritou.

Os lobos fecharam os olhos, e usaram o instinto de seus lobos para lutar


sem ver.
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Com sua audição aguçada, continuaram a luta contra as Erínias e


agredindo a Górgona que era enorme e desviando de seus golpes da cauda.

Os lobos saltavam sobre ela, tentando imobilizá-la, mas ela possuía uma
força descomunal. Nem Soren, que claramente possuía mais força bruta que
um lobo conseguia imobilizá-la.

Harley pegou Pietra pela mão, a puxou e correram através do templo


estranho e, ao fim dele, chegaram a um enorme pedestal feito em ouro e sobre
ele havia duas taças de ouro, ricamente cravejada de pedras preciosas.

— É isso!

— O que é isso? — Pietra perguntou.

Harley olhou dentro das taças e havia uma quantidade igual de sangue em
cada uma delas. Impressionantemente, ele parecia vivo, como se acabasse de
ter sido colocado nelas.

— O sangue de Medusa. Pietra, precisa tomá-lo. Se tomar o cálice certo, o


poder do sangue poderá quebrar a maldição e voltará ao nosso mundo.

— Tomar isso? Está louco? É sangue!

— Eu sei, querida, é nojento, mas se quisermos quebrar a maldição


precisa fazê-lo.

— Mas qual delas é? Isso não me mataria?

— Querida, este é o vale da morte das Górgonas, para o mundo humano


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você já está morta. Essa é nossa única chance.

Pietra piscou aturdida, bem aquela constatação caiu nela como um soco no
estômago.

— Isso não me parece agradável.

Ele a beijou com sofreguidão e a abraçou.

— Se tomar sangue de cura dela, poderá passar o portal e regressar, a


maldição será quebrada.

— E o outro cálice o que é?

Ele respirou fundo e se afastou e a olhou.

— O sangue venenoso, morrerá e não poderá retornar.

— As taças são iguais, Harley, como saberei qual é?

— Isso eu não sei dizer — disse nervoso. — Maldição, não sei qual é!

Pietra foi até o altar e olhou as duas taças.

— Teremos que contar com a sorte, então?

— Acho que sim.

— Considerando que com todos os acontecimentos dos últimos tempos de


minha vida, não sou uma pessoa muito sortuda. Com exceção de você.

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Ele sorriu, nervoso e a beijou.

— Conseguiremos.

Ele olhou atentamente e não havia sequer algo que os diferenciasse.

Eles se olharam e ela o beijou, beijou como se tudo fosse acabar.

— Amo você.

— Também amo você.

— Vamos, meu bem, não temos tempo.

Eles olharam ao longe de onde gritos e rosnados vinham, pareciam estar


se aproximando. Eles sabiam que todos os lobos estavam lutando com a
Górgona e as Erínias, impedindo-os de chegar até eles.

Ela fechou os olhos e colocou as mãos sobre as taças.

— Por favor, meus deuses, guiem minha mão, por favor, deixe-me voltar
para casa e ter minha família de volta, por favor.

Ela pegou uma e, sem pensar em mais nada, foi levando a taça à boca.

— Pare! — Harley puxou sua mão, impedindo-a de beber.

— O quê? — ela perguntou assustada.

— Não estou preparado para te perder, entendeu?

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— Não vai me perder.

Ele rosnou e engoliu em seco e a beijou novamente. Afastou-se e a olhou,


apreensivo.

Ela fechou os olhos, levou a taça à boca e bebeu.

Quando ela baixou a taça olhou para Harley, fazendo uma careta pelo
gosto horrível, e, por um segundo, nada aconteceu.

— A mandrágora! Tome, engula isso.

Ele tirou a pequena planta do bolso e colocou na sua boca e ela engoliu.

— O que sente? — ele perguntou preocupado.

— Nada. O que deveria acontecer agora?

— Diabos se eu sei!

Ela, então, se contorceu e gritou, derrubando a taça e segurando o


estômago e tombou em seus joelhos.

Harley, assustado, se ajoelhou, tomando-a nos braços.

— Pietra!

Ela estremeceu, parecia engasgada e não conseguia respirar, seus olhos


ficaram totalmente brancos e ele entrou em pânico. Ela se agarrou nele,
desesperada, como se estivesse sufocando.
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— Deus, não! Você tomou o cálice errado, não, não pode ser! Por favor,
não.

Harley ficou sem ação, porque não sabia o que fazer, e seu pânico estava o
deixando tonto.

Ela gemeu e tremeu novamente e foi ficando pior e ele tentou segurá-la.

Pietra estremeceu e tombou em seus braços, sem nenhum resquício de


vida, e Harley olhou, estupefato, novamente ela morrer em seus braços.

Ele tentou sentir sua respiração, ouvir seu coração, tentou fazê-la reagir,
mas não havia nada. Não havia nenhum sinal de vida.

— Não! Pietra! — gritou desesperado. Rosnou furiosamente a abraçando


com força.

Alguns lobos entraram, Petrus, Erick, Noah, Ester e olharam Pietra caída
no chão e olharam aturdidos para um Harley possuído de raiva.

— Meu Deus! — Petrus disse.

— O que houve? — Ester perguntou.

— Deve ter dado errado. Acho que ela bebeu a taça errada.

— O que faremos agora?

Eles se viraram olhando ao redor porque o grito estridente de uma das


Górgonas ou sabia-se lá o que fosse quase os deixou surdos.
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— Acho que estamos ferrados — Erick disse.

— Nem me diga! — Noah rosnou.

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Harley a soltou delicadamente no chão e ajeitou seu cabelo e ele engoliu o


nó de sua garganta.

Ele levantou, virou e rosnou alto, tanto que pareceu que todo o chão
tremeu, até sua garganta doer.

Harley rosnou novamente, vociferando sua raiva. Seu lobo estava fora de
si de fúria e Petrus reconheceu isso. Era a linha tênue onde a forma humana
era ultrapassada pelo animal e ele não ouvia a razão.

Nisso, algo bateu em um dos pilares, derrubando-o, e ele girou, em sua


forma intermediária e olhou para a Górgona que entrou no recinto.

— Você, maldita! Vou arrancar sua pele e fazer um tapete! — Harley


disse com a voz animalesca.

A imensa cobra com torso de mulher o olhou e gritou, eriçando as


diversas cobras em seu cabelo e com os olhos brilhantes, mas Harley desviou
o olhar e saltou sobre ela.
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Nisso, os demais lobos chegaram atrás, seguidos de uma enxurrada de


monstros voadores.

— Estão chegando mais dessas coisas. Não daremos conta!

Ester saltou uns dois metros, agarrou uma criatura voadora, com os
tornozelos travou as pontas dos pés atrás de sua cabeça e girou o corpo,
trazendo a criatura para o chão num baque, então, girou sobre ela e cravou
suas garras em seu pescoço.

Ela saltou longe caindo em pé e rosnou furiosa.

— Ok, suas feiosas, que tal experimentar minha nova técnica de luta?

Ester desenrolou um chicote comprido que estava preso na sua cintura e,


com um movimento, ela estalou no chão e o barulho fez um estalo alto e seco
e fez eco no ar.

— Uau, o que é isso, alguma coisinha sadomasoquista? — Sasha


perguntou.

Noah rosnou ao lado de Ester.

— Nem queira saber, mas não ficaria no caminho dela se eu fosse você.

— Vocês gostam de escolher suas armas, eu escolhi uma das minhas. O


chicote é divertido, algo de mistura de mulher-gato, da Halle Berry, com
Indiana Jones.

Os lobos olharam espantados.


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Ester rosnou, girou e saltou, Noah a pegou pelos quadris e a jogou alto no
ar. Ester estalou o chicote e em um único golpe derrubou duas das criaturas
pelo pescoço. Ela caiu no chão. Ficando de joelhos e sorriu olhando para os
rapazes.

— Uau, isso foi chocante!

Noah rosnou e Ester sorriu.

A Górgona desviou de Harley, jogando-o longe e, com a cauda, bateu


num dos pilares e jogou contra eles, mas Soren, com um rosnado forte,
interceptou o grande pilar, com sua força descomunal e, com os punhos, o
dilacerou em muitos pedaços.

A todo o momento podia-se ouvir em uma chuva de balas que Sasha não
parava de atirar para todo lado.

Harley saltou sobre a Górgona que, pelo seu tom avermelhado nas
serpentes, além do tom verde, sabia que era Esteno.

Ele agredia e a cortava de um lado, Petrus e Noah de outro, enquanto os


outros lutavam incansavelmente contra as Erínias que saltavam sobre eles
como um grande enxame de abelhas.

Ela era muito forte e mesmo com as garras dos lobos agredindo-a
ferozmente, ainda parecia mal lhe causar efeito.

Então Harley, saltou em seu pescoço, com os olhos fechados e os dois


tombaram, mas ela se recuperou e jogou Harley longe, que estava muito

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enfurecido e disposto a matar ou morrer.

Mas quando ele se levantou, esquecendo as dores e machucados de seu


corpo. Com sua cauda, ela se enrolou em seu corpo, apertando-o e o trouxe
para cima.

Ela apertou mais Harley, quase o esmagando e ele gemeu de dor e a


Górgona fez seus olhos brilharem e trouxe Harley à sua frente, para matá-lo
com seu olhar assassino.

— Solte meu companheiro, sua víbora peçonhenta! — Pietra gritou ao ver


que ia transformá-lo em pedra.

Todos olharam para o altar e viram Pietra em pé, viva e forte e parecia
mais poderosa e bem que nunca. Todos seus ferimentos haviam desaparecido.

Os lobos piscaram aturdidos, a olhando, pois parecia que havia algo


diferente nela.

Havia uma aura ao redor dela, perecia certa luz e seus olhos cintilavam
muito mais do que sua loba normal, seus cabelos estavam soltos e
desalinhados, caindo sobre seu corpo, mas parecia que dançavam ao vento.

Só que não havia nenhum vento.

Suas garras e suas presas estavam alongadas e uma onda de fúria emanava
dela.

— Estou cansada de ser capacho dos outros, de sempre tirarem tudo de


mim. Esta merda acaba aqui, pois ninguém toca em meu companheiro!
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Pietra correu e saltou sobre a Górgona a desestabilizando, cravou as garras


em seu pescoço e desviou das cobras que queriam picá-la, ela rosnou e a
empurrou para baixo e eles tombaram, com uma força tão brutal que quebrou
o piso de mármore.

Pietra cravou uma e outra vez suas garras nela. Ela soltou Harley que
rolou pelo chão, e, então, a Górgona se levantou e encarou Pietra com seus
olhos mortíferos brilhando sobre ela.

— Não! — Harley gritou, assustado.

A Górgona gritou com seu grito estridente, quase ensurdecendo a todos e


seus olhos caíram direto nos de Pietra e todos olharam embasbacados,
esperando que a loba virasse pedra, mas não aconteceu.

Pietra cintilou seus olhos e eles ficaram prateados como um lobo não
poderia fazê-lo e soltou um grito estridente semelhante ao dela. E espantados,
todos viram o que a Górgona estava tentando, mas não estava petrificando
Pietra, e arfou espantada.

— Mas o quê...? — Harley ofegou.

— Com mil diabos! — Petrus resmungou espantado.

— Pietra está imune ao poder da Górgona! — Soren disse.

Pietra rosnou alto para ela, com uma fúria que Harley nunca tinha visto e
sequer imaginado e ela saltou sobre a Górgona, agarrando seu pescoço,
derrubando-a novamente e elas rolaram pelos escombros em uma luta feroz e
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caíram no penhasco de Pedras.

— Não!

Harley se jogou na borda e todos os lobos correram e olharam para baixo


e Pietra estava agarrada com uma mão numa rocha e, com a outra, segurava a
cabeça decepada da Górgona.

— Pietra! — ele gritou.

— Puta que pariu!

— Ela decepou sua cabeça!

— Ela matou a Górgona!

Ela rosnou alto e forte, pela dificuldade de se segurar e então soltou a


cabeça e se agarrou na rocha com as duas mãos.

Ela arfou e olhou para cima e tentou subir, mas estava difícil.

— Segure, Pietra, eu vou descer! — Harley gritou.

Harley olhou as pedras para descer, e ela tentou se erguer, mas a beirada
da rocha rompeu e ela caiu.

— Não! — ele gritou desesperado a vendo cair, assim como todos


ofegaram.

O terror tomou conta de Harley, mais uma vez. E todos olharam


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estarrecidos sem poder fazer nada e a queda era muito alta, então, aturdidos,
viram algo passar sobre eles, numa velocidade que não atinaram o que era e
desceu pelo penhasco de pedras.

No segundo seguinte, um bater de asas cortou o ar sobre eles que


ofegaram e se afastaram da borda, prontos para a luta. Somente então, viram
o que havia acontecido.

Maddox subiu o penhasco com suas asas abertas e segurava Pietra em


seus braços, ele desceu com ela e Harley, aturdido, a segurou. Eles se
abraçaram forte, com as emoções afloradas, com o coração descompassado e
ela voltou à sua forma humana.

— Pietra! Você está bem? — Harley perguntou assustado, segurando seu


rosto entre as mãos.

— Sim... estou bem.

Harley olhou para Maddox.

— Obrigado.

— Foi uma honra.

— Maddox! O que faz aqui? — Kayli perguntou se aproximando.

— Achei que poderiam precisar de minha ajuda, a alfa me enviou pelo


portal.

— Muito bem, rapaz.


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Todos estavam muitos espantados e cansados, com ferimentos espalhados


pelos seus corpos, olhando a tudo e então olharam para Pietra.

Aliás, todos estavam tão espantados com tantos acontecimentos bizarros


que seria uma aventura jamais esquecida em suas vidas.

— Como ela não foi petrificada e conseguiu matar a Górgona? — Petrus


perguntou confuso. Pensei que um lobo não teria poder para isso.

— Verdade. Seria impossível.

Harley olhou para Pietra, indagativo.

— Você se pôs na minha frente, olhou direto nos olhos dela! — Harley
argumentou, espantado.

— Eu não sei, somente fiz o que meu coração mandou, não poderia deixar
que ela te petrificasse.

— Porque ela bebeu o sangue de Medusa — Kayli disse. — Deve ter


obtido alguma resistência.

— Sim, senhores, o rei tem razão, isso deve ter servido para alguma coisa,
além de permitir que ela possa passar pelo portal — Erick disse.

— O quê?! — ele e ela perguntaram juntos, espantados.

— Ela deve ter adquirido algum poder desta deusa, viu como sua força
derrubou a Górgona, quando nós não conseguimos? E ela bebeu seu sangue e
sobreviveu — Kayli disse.
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Harley arfou e Pietra piscou aturdida.

— O quê?

— Uau! Isso é grande! — Petrus disse.

— Não, não pode ser algo assim — Pietra disse.

— Bem, podemos discutir essa tese depois, acho que temos que sair daqui
o mais rápido possível. Minha mãe disse que o portal não se mantém aberto
por muito tempo — Erick disse.

— Sim, a rainha avisou que não conseguirá mantê-lo, que devemos nos
apressar — Maddox disse.

Eles ouviram um grito estridente que ecoou pelo ambiente como um eco e
olharam para o labirinto de ruínas com seus ouvidos doendo.

— É Euríale. Vamos, não temos tempo, temos que sair daqui!

Eles correram o máximo que puderam em direção ao portal, enquanto


ouviam os gritos e estrondos.

— Ela está vindo, corram!

Harley corria segurando a mão de Pietra.

Então quando eles passavam por uma das portas gigantescas do templo ela
explodiu jogando pedras para todo lado e uma cauda gigante, atingiu uma
parte da tropa dos lobos, que voaram e caíram longe, rolando pelo chão e
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alguns foram atingidos pelos escombros e outros conseguiram desviar.

Eles gemeram pela dor dos ferimentos e olharam assombrados para a


porta e ali, estava Euríale, surgida com toda sua ira e tamanho, e era
horripilante.

— Mas que merda...

— Será que ela está zangada por eu ter matado sua irmã peçonhenta?

— Acho que deve estar um pouquinho.

Ela gritou alto, o que mais parecia um guincho, e todos taparam os


ouvidos, gemendo pela dor e ela olhou para um dos lobos, eriçando as cobras
de sua cabeça e com os olhos brilhando como um foco de luz, o que fez com
que ele se transformasse em pedra.

— Corram! — Harley gritou.

Eles levantaram e começaram a correr, mas ela lançou sua cauda de


serpente e derrubou Pietra e Harley novamente e se enrolou nas pernas de
Pietra e a puxou.

Pietra gritou pela dor e gemeu. Ela tentou se agarrar no chão e tentou
agarrar as mãos que Harley estendeu para ela, mas não conseguiu. Ela foi
arrastada, pelo chão e os lobos pararam e voltaram, tentando alcançar Pietra e
libertá-la, até que um bando de lobos, em forma de animal e alguns em sua
forma intermediária, saltaram sobre a Górgona, rosnando e mordendo.

Eram os lobos italianos.


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Marcello e seu pai apareceram e a atacavam, cortavam sua cauda tentando


fazer com que a víbora soltasse Pietra.

Ela ergueu a cauda levantando Pietra no ar, de cabeça para baixo, e


Marcello e Enrico foram mais impiedosos em seu ataque e ela a soltou. Pietra
caiu e gritou, pois a queda era alta.

Harley saltou, chegando até ela, e a interceptou no ar e eles tombaram no


chão, mas tentou protegê-la o máximo que podia com seu corpo. Ele a
levantou e ela gemeu, segurando sua barriga.

— Está bem?

— Deus, não — ela disse gemendo.

— Temos que sair daqui. Pode correr?

— Sim.

Ele a puxou pela mão e a afastou da briga.

Como a outra Górgona, Euríale era enorme e muito forte e os lobos


tinham pouco impacto sobre ela, a serpente enrolou sua cauda em Enrico,
ergueu-o e apertou seu corpo, fazendo-o gemer de dor e seus lobos tentavam
soltá-lo.

— Pai! — Pietra gritou.

— Pietra! Corre! — Enrico gritou entre um gemido.


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Pietra fixou seu olhar em seu pai e ele a olhou fixamente, de forma que
dizia mil palavras significativas.

— Pietra... Eu sinto muito, por tudo... Agora... corre!

Pietra o olhou com os olhos arregalados e seu coração tombou no peito.


Seu pai estava tentando salvá-la, o que espantou a todos.

Então a Górgona deu um puxão e atravessou a porta e todos os lobos


italianos se jogaram em cima dela a empurrando para longe.

— Pai!

— O portal está se fechando! Precisamos ir, agora! — Kayli gritou.

— Corre! — Harley disse e a agarrou pela mão, puxando-a e todos


correram o máximo que podiam e quando avistaram o portal, correram mais
ainda.

Eles atravessaram e o portal começou a se fechar.

Pietra se virou e ficou olhando para o buraco que fechava.

— Eles precisam atravessar, eles precisam atravessar!

Soren saltou por último pelo buraco, encolhendo-se e ele se fechou.

Quando o portal se fechou, houve uma espécie de explosão que eclodiu da


parede e atingiu Pietra bem no peito, como uma explosão de luz.

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Todos foram jogados longe, tombando sobre os móveis. Batendo na


parede, e as vidraças da casa explodiram em mil pedaços, voando para todo
lado.

Tudo o que era de vidro e lâmpadas explodiram e eles mal conseguiam


enxergar o que estava acontecendo por causa da névoa luminosa que tomou
conta da sala.

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Embasbacados, gemendo pela dor que os baques causaram, e com os


olhos arregalados, eles se levantaram e viram Pietra flutuar no meio da sala,
dois metros acima do chão, envolta a um torvelino de luzes e fumaça que
dançavam como uma névoa mágica.

Seus olhos estavam totalmente brancos rajados de prata e brilhavam como


holofotes acesos e seus longos cabelos soltos dançavam no ar, lentamente.

Ela estava em forma intermediária, com suas garras e dentes à mostra e


brilhava inteira parecendo desconectada do mundo.

Harley piscou aturdido vendo aquilo e não sabia o que fazer.

— Pietra!

Ele foi tentar ir até ela, mas era difícil de chegar perto, parecia que aquela
névoa queria deixar todos longe.

A rainha apareceu, andando lentamente até Pietra.


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— O que está acontecendo? — Harley perguntou, assustado.

— Calma, não se aproxime, beta. Eu preciso ajudá-la a domar seu poder.

— Que poder? O que há com ela?

— Deus Santo, ela parece uma luz acesa! — Noah disse, espantado.

Harley tentou tocá-la, mas gemeu quando sua mão queimou.

— Ela está quente como o fogo!

Umas espécies de trovões soaram pelo ar e pequenos raios cintilavam ao


redor dela, como se estivesse elétrica.

— Bem, meu querido lobo, esta é sua companheira agora. Uma


semideusa.

— Uma o quê? — Harley perguntou espantado e com os olhos tão


arregalados que poderiam saltar de suas órbitas. — Não, não pode ser.

— O que acha que acontece com quem toma o sangue de uma deusa,
Harley? Ou ela morre ou se torna um semideus.

— O quê? Pietra é uma semideusa? — perguntou assombrado. —


Realmente? Mas, ela ficará assim agora? Nem consigo tocá-la!

— Sim, ela será assim, mas podemos controlar todo este poder. Somente
precisamos tirá-la da tomada no momento, pois está um tanto sobrecarregada
e descontrolada.
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— Mas que merda! — Petrus rosnou.

— Mas por que ela ficou assim agora e não lá no submundo quando bebeu
do sangue. Pelos deuses, pensei que ela tinha morrido!

— Ela morreu, de certa forma. Ela precisava morrer para renascer como
uma semideusa. Seu poder é forte lá no mundo dos deuses, a ponto de
conseguir matar uma Górgona, mas aqui, na Terra, é isso que vê, energia
pura, pura magia, puro poder.

— Quero minha companheira de volta! Pode tirar isso dela?

— E a terá, mas não posso tirar isso dela, o que posso fazer é ajudá-la a
controlar isso. Se afastem por um momento.

Vanora movimentou as mãos e começou a falar em outra língua,


sussurrando e tudo começou a girar novamente, o torvelinho que rodeava
Pietra se agitou e um grande vento se formou dentro da sala.

A energia começou a diminuir e girou no ar eclodindo dentro dela.

Houve outra explosão de luz e Pietra caiu no chão.

Harley correu até ela e a tomou nos braços, que vagava pela
inconsciência, desorientada e gemendo.

— Pietra! Acorde. Pietra! Senhora, ela está bem? Meu filho está bem? —
Harley perguntou angustiado, com a mão sobre sua barriga.

Vanora foi até ela e tocou com a mão em sua barriga e após um minuto
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sorriu.

— Sim, seu bebê está muito bem, não se preocupe e sua companheira
também está perfeita.

Ela gemeu, mas não abriu os olhos.

— Isso o que disse é sério? — ele perguntou a rainha.

— Sim, eu apenas ajudei a domar sua força, centrando-a dentro dela.

— Ela tem poderes de deusa?

— Sim, ela tem alguns poderes peculiares agora, um deles é que sua loba
é três vezes mais forte agora do que era antes, temos que testá-la para
descobrir seus outros poderes peculiares.

— Que tipo de poderes peculiares poderiam ser esses?

— Bem, ela pode ter adquirido algum poder como transformar alguém em
pedra, o que acredito que seria somente direcionado, poder ir de um lugar a
outro, mas isso não saberemos por ora.

— A Senhora sabia que isso aconteceria quando disse para ela beber o
sangue? Sabia o tempo todo que isso aconteceria?

— Sim, eu sabia. Mas não tinha alternativa, ou seria isso ou a morte.


Acredito que a prefira assim do que morta.

— Claro que sim.


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— Ser uma semideusa lhe dá alguns privilégios e dons, mas ela terá uma
vida normal, ou quase.

— Uau, por esta eu não esperava! — Petrus resmungou com os olhos


arregalados.

— O que importa é que ela está de volta e a maldição está quebrada.

— Está?

— Sim. E seus órgãos estão curados agora.

— Pensei que Medusa fosse mortal quando morreu.

— Seus poderes estavam, como vou dizer, desligados, mas seu poder de
deusa ainda estava impregnado em seu sangue, que é a energia que circula
por todo o corpo, quando Pietra o bebeu e engoliu a mandrágora, ele se ligou,
mas foi ativado realmente quando entrou no nosso mundo, pois a vibração
daqui é diferente de lá onde estavam. Mas ela não tem todos os poderes,
senão todos nós agora estaríamos como estátua. Ele tem apenas um vislumbre
dos poderes que uma Górgona tinha.

Pietra gemeu em seus braços.

— Pietra, fale comigo. Está bem?

— Eu... sinto-me tonta e enjoada — gemeu.

— Isso logo passará — a rainha disse.

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— Meu bebê, como está meu bebê?

— Não se preocupe, seu bebê está muito bem.

Ela respirou fundo, aliviada, então olhou ao redor.

— Onde eles estão? — Pietra perguntou, tonta.

— Quem?

— Marcello, meu pai e os lobos de minha alcateia?

— Ficaram para trás. Seu pai e os outros lobos impediram que ela viesse
atrás de nós — Soren disse negando.

Ela levantou, com a ajuda de Harley, e cambaleando foi até a parede, a


tateou e todos ficaram a olhando.

— Temos que voltar! Marcello! Papai!

Harley a abraçou e ela chorou em seu ombro.

— Acabou, meu amor, sinto muito.

— Temos que voltar! Não podemos deixa-los lá, Harley!

— Sinto muito, mas é tarde demais.

Pietra olhou para a rainha.

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— Podemos abrir o portal novamente?

— O portal está esgotado por um tempo, ele somente se mantém aberto


por tempo determinado. Sinto muito.

— Diz que sou uma semideusa agora, posso tentar!

— Seria arriscado e no mais, precisa esperar. Há algo chamado destino,


Pietra, coisas que não podem ser mudadas, mesmo que tentemos. No seu caso
e de sua alcateia, os próximos eventos já estão traçados.

— O que quer dizer?

A rainha sorriu e ficou calada.

— Pietra, tranquila, pense no nosso bebê agora, precisa descansar —


Harley disse.

Ela assentiu, tristemente.

Todos sabiam que, mesmo tendo reservas e mágoa de sua família, era
duro para Pietra vê-los sucumbir. Havia coisas que causavam dor e que não
podiam ser evitadas e, por fim, ela era uma loba de coração puro e sensível e
seu pai, ao fim, tinha tentado ajudá-la.

— Vamos, querida, precisa descansar. Você e o bebê precisam de um bom


repouso. Já tivemos emoções e lutas demais por hoje.

— Oh, isso tudo parece tão difícil de acreditar.

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— Depois de tudo o que viveram, acha que isso não seria possível? Quase
tudo nesse mundo é possível. Até trazer os mortos do submundo — Vanora
disse com um sorriso que os deixou confusos.

— Sabe de algo que não está dizendo, minha rainha? — Kayli disse.

— Sim, eu sei.

Eles ficaram ali, todos cansados e angustiados, um tanto estupefatos com


tudo que tinha acontecido e o que tinham visto.

— Olhem aquilo! Algo está acontecendo no templo! — Kirian gritou do


terraço.

Eles foram até o terraço e podiam ver o templo das Górgonas no alto do
morro e, uma a uma das estátuas, foram se transformando em homens
novamente.

— Olhem, as estátuas estão se transformando!

Pietra correu até o templo e Harley a seguiu, assim como todos os outros,
e então, eles viram os homens-lobos italianos retornarem.

— O que está havendo?

— A maldição foi quebrada e os lobos estão retornando à vida — a rainha


disse.

A estátua de Marcello se transformou e ela o viu, mas ao fim de tudo,


havia algumas estraçalhadas que não se transformaram, inclusive a de seu
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pai.

Em entendimento, ela foi até ele e tocou as pedras quebradas, com a


fisionomia de seu pai.

— Os lobos que morreram do outro lado não puderam voltar — a rainha


disse.

Pietra suspirou dolorida e as lágrimas caíram.

Aquele tinha sido o fim da maldição e, no fim, Enrico Scopelli havia


sucumbido.

Eles não viram isso naquele momento, mas a estátua de Pietra, que estava
no quarto de Harley, transformou-se em pó.

Harley abraçou Pietra novamente, então ela respirou fundo e se afastou.

— Preciso fazer algo — ela disse.

— O que quiser.

Ela assentiu, se virou e todos olharam boquiabertos Pietra voltar ao tempo.


Ela parou na frente da enorme estátua da Górgona, deu um rosnado alto e
forte, que todos olharam aturdidos.

Seus olhos cintilaram, mas não da forma dos lobos, era como uma intensa
luz branca e ela com força deu um soco na enorme estátua de mármore e ela
partiu em milhares de pedaços.

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Harley e todos ofegaram estupefatos, mas ninguém ousou dizer uma


palavra porque estavam chocados demais.

Com outro rosnado, ela bateu os punhos no enorme tablado de pedra, que
era a mesa de sacrifícios e ela quebrou-se, então ela foi para os pilares e
derrubou um a um.

Harley pensou em impedir, tirá-la dali, mas estava muito chocado para
reagir.

Ela estava usando além de sua força de loba, a força da deusa e ali, diante
de todos, Pietra mostrou que não era mais a loba fraca e impotente.

Agora era forte e não somente porque tinha adquirido parte do poder de
uma deusa, mas porque ela era assim e seria ela mesma depois daquilo tudo.

Tinha suportado tudo aquilo como uma loba digna e forte.

Tinha suportado tanta dor e revolta, além de sua dor física por sua vida
toda, pois Ester disse que aquela deficiência em seus órgãos internos deveria
lhe causar muita dor, desde criança.

E Harley sentiu orgulho dela, mais do que antes.

Com seus punhos, ela colocou abaixo todos os blocos de pedras do templo
das Górgonas, demonstrando o tamanho de sua força.

Quando o restante do teto desabou, e tudo virou um aglomerado de pedras


quebradas, ela se afastou, ofegante.

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Eles olharam aturdidos para suas mãos que deveriam estar ensanguentadas
pelos ferimentos de atingir o mármore, mas ela estava sem um arranhão.

Ela se virou para eles e todos ofegaram e alguns até deram um passo atrás,
com os olhos arregalados.

Quando voltou a sua forma humana e olhou a todos, Harley podia jurar
que ela estava mais linda que nunca, radiante e brilhante como uma estrela.

— A partir de agora, não existe mais nenhuma amaldiçoada, nenhuma


pária, nenhuma deficiente. Eu sou Pietra Papolus, beta de Alamus, e vim para
ficar, porque este aqui é meu lugar, ao lado de meu companheiro Nico
Papolus! Então, ou lutam ao meu lado, ou lutam contra mim!

Harley soltou um urro e ergueu o braço e os outros lobos o seguiram


fazendo uma baderna e ela riu e foi até ele e o abraçou.

Harley se virou para Marcello, e seus lobos, que sangrava e estava


atordoado, sem saber exatamente o que estava acontecendo e olhou aturdido
vendo que seu pai estava morto e a transformação extraordinária de Pietra.

Ele estava quase sem acreditar no que tinha vivido e o que tinha
acontecido a Pietra e no que tudo aquilo acarretava.

— Saia de minha ilha, Marcello, e não volte — Petrus disse.

Sem dizer nada, porque não sabia exatamente o que dizer, Marcello
assentiu e acenou, e seus lobos, aturdidos com tudo, o seguiram.

Marcello olhou para Pietra, com o olhar carregado de dor e confusão, mas
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não se aproximou dela, que o olhava com lágrimas nos olhos, abraçada a
Harley.

Todos foram embora e um silêncio, sem precedentes, se fez na ilha.

— Acho que está na hora de nós irmos também — Soren disse se


aproximando com Cristal.

Harley apertou sua mão.

— Obrigado. Como já deve saber, esta é minha companheira, Pietra.

— É um prazer, senhora.

Ele fez uma reverência e Cristal olhava para Pietra, que piscava aturdida.

— Antes que pergunte, docinho, sou uma fada e ele é um Berserker.


Viemos ajudar a entrar lá no covil da Górgona.

— Oh, uma fada e um Berserker? De verdade? — perguntou espantada e


com os olhos arregalados.

— Sim, somos de verdade.

— Bem, estou sem palavras, mas obrigada. Gostaria de saber mais de


vocês. Eu... não sei o que dizer...

— Oh e eu adoraria saber mais sobre sua aventura, mas acho que eu e meu
amigo iremos embora, pois acredito que queira desfrutar de um momento em
paz com seu companheiro, mas quem sabe possamos voltar em outro
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momento para um... como se diz?

— Bate-papo — Harley disse, rindo.

— Isso, o que seja.

Eles riram.

— Adeusinho.

Pietra ia dizer algo mais, mas os dois simplesmente desapareceram na sua


frente e ficou somente uma purpurina flutuando no ar e Pietra tentou tocar,
encantada.

— Eu realmente vi isso mesmo? — ela perguntou aturdida e com os olhos


arregalados olhando os pequenos pontinhos em sua mão.

— Sim, viu mesmo.

— Uau!

— Vamos, querida, um bom banho e descanso são merecidos. Está se


sentindo bem?

— Nunca estive melhor.

Harley pegou Pietra no colo e beijou sua testa.

Eles desceram a colina do templo e, então, toparam com uma multidão de


lobos, os seus lobos.
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Todos pararam olhando os lobos da ilha, aturdidos, e Petrus veio à frente,


já se preparando para um embate, mas todos estavam com os olhos
arregalados e ele sabia que tinham visto tudo o que houve ali nos últimos
minutos.

— O que estão fazendo? — Harley perguntou já se preparando para soltar


sua ira.

Ambos estavam de saco cheio dos seus lobos dizerem besteiras e tomarem
atitudes estúpidas.

— Ham... Nós soubemos o que houve, a beta salvou nosso beta, ela matou
a Górgona — um dos lobos disse.

— É uma heroína! — gritou outro.

— Nós a honraremos para todo o sempre.

— Queremos realmente nos desculpar por termos sidos rudes e não termos
compreendido que a beta o valorizava tanto.

— Sim, todos nós estamos agora, aqui, para demonstrarmos realmente que
a aceitamos, não porque o alfa e o beta pediram, mas porque sim a aceitamos
de coração.

— É uma loba valorosa e merece nosso respeito e devoção.

— Mostrou a todos que se importa, que ama nosso beta de verdade.

— Que é uma Papolus de coração.


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— É uma semideusa!

— Ela é forte!

— É verdade que é uma semideusa?

Harley soltou Pietra no chão.

— Sim, é verdade! Se algum de vocês temiam que ela era fraca, não é.
Nunca foi quando era somente uma loba e não é agora como loba e
semideusa, vocês é que nunca lhe deram uma chance. Pietra é mais forte que
todos vocês juntos! — Harley gritou e houve uma balbúrdia de espanto e
quando ele pensou que os lobos reagiriam de forma ruim, eles riram, uivaram
e comemoraram o que deixou todos espantados.

— Uau, será que ela agora pode nos transformar em pedra?

— Será que ela é como Medusa?

— Ela é boazinha, não transformaria ninguém em pedra.

— Melhor não mexer com ela.

— Devemos honrá-la e respeitá-la.

— Ah, ela é a companheira do nosso beta!

— Não é só isso, é a companheira de alma.

— Companheiras são sagradas.


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— Ela é linda!

— Seu filho vai ser loirinho como os pais.

— Talvez seja um lobinho semideus.

— Sim, não se pode ir contra os deuses.

— Olhem só, somente nós temos uma loba semideusa como beta! Nossa
alcateia é a melhor de todas.

— Viva a beta!

— Viva Pietra Papolus!

Todos gritaram.

Harley riu das indagações e Pietra, ao ouvir os sussurros admirados do


povo de Alamus, que fofocavam entre si, e eles podiam ouvir por causa de
sua audição, ela acabou achando engraçado e olhou para Harley, satisfeita e
emocionada.

Ele riu e no fim, todos riram também.

E para sua surpresa, a de Harley e a de Petrus, os lobos se ajoelharam com


a mão sobre o coração e fizeram o juramento de lealdade.

Com a garganta embargada, eles viram os lobos a honrarem,


verdadeiramente, uivando para que toda a ilha ouvisse, até a costa de Creta.

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— Obrigada — ela disse, com a voz embargada.

Ela riu e, as lágrimas que caíram, foram de emoção e felicidade.


Agradeceu novamente e olhou para Harley, que a beijou intensamente e
houve uma grande salva de palmas e uivos.

Pietra sentiu, realmente, em seu coração, que agora ela se encaixaria e


seria feliz ali, com sua nova alcateia.

— Acha que me honram somente porque sou uma semideusa agora? —


ela perguntou a Harley.

— Não, querida, te honram porque mostrou que é uma loba grande e


corajosa e, além do mais, para mim, você sempre foi minha deusa.

Ela suspirou e olhou para todos e sorriu.

— Mas... como eles sabiam o que aconteceu? Que sou uma semideusa
agora e que matei a Górgona? Mal saímos do portal.

— Ops, eu devo ter soltado alguns fuxicos para alguns lobos que
espalharam por aí, pensei que seria útil — a rainha disse fazendo cara de
espanto fingido e Kayli soltou uma enorme gargalhada.

— Essa é minha alfa, sempre cuidando de todos os detalhes e dos seus


lobos.

Kayli abraçou Vanora e Harley sorriu lindamente olhando para Pietra.

— Acho que está na hora de irmos para casa — Pietra disse.


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— Sim, e termos um pouco de paz.

Harley suspirou e ela acariciou sua face, olhando-o com tanto amor, tanta
alegria.

— Sim, meu amor, e, finalmente, acho que esta alcateia será um


verdadeiro lar, como sempre devia ter sido.

Eles olharam para o céu, sentindo uma presença se movendo entre as


nuvens e, ali, quase imperceptível, a face de uma bela mulher, os observando,
apareceu. Ela sorriu e desapareceu.

Harley e Pietra piscaram aturdidos, olhando aquilo, sem entender e se


olharam intrigados.

Olharam para os outros lobos, que pareciam não ter visto nada, avessos ao
que eles estavam vivenciando. Então Harley sorriu e olhou para Pietra.

Sim, era Afrodite. Ela tinha vindo acalentar seu coração aquele dia na
praia, avisá-lo de que havia uma chance de salvar Pietra.

Ela era real e, de alguma maneira, havia ouvido suas súplicas, os portões
do céu tinham sido abertos e eles tinham vivenciado um raro segundo da
presença dos deuses.

Ele venerava Afrodite e talvez ela tenha se agraciado dele, por sua
devoção a ela, se compadecido de seu infortúnio com as Górgonas e o tinha
ajudado, avisando-o que não estava perdido, trazendo-lhe esperança.

— Obrigado — Harley sussurrou para os céus.


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Com uma felicidade e uma sensação gigante dentro do peito, de que havia
testemunhado seu próprio milagre, ele beijou sua companheira e ambos não
precisaram anunciar sobre aquilo que presenciaram para ninguém.

Era algo somente para eles saberem.

Então, ele pegou sua doce companheira e a levou para seu lar.

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Ilha dos Lobos, Grécia.

Ester soltou de sua mão e Clere a olhou, perdida.

Clere estava vestindo um vestido de tafetá verde, com decote tomara que
caia, uma saia godê, longa até os pés, e seu cabelo curto estava penteado com
gel e estava usando os brincos de esmeralda, que Noah havia dado de
presente para Ester.

Usava uma maquiagem requintada e perfeita, o que só realçou a beleza de


Clere e seus deslumbrantes olhos amarelos brilhantes como ouro.

Ester estava usando um vestido negro, longo com as costas nuas e também
estava maquiada e com os cabelos bem arrumados, assim como Noah que
vestia uma calça social preta e uma camisa preta aberta na gola.

— Oh, Clere, você está tão linda! — Ester disse emocionada.

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— Alfa, por que estou vestida assim, com este vestido tão elegante, esta
maquiagem? E me emprestou este par de brincos que custa uma fortuna e foi
presente do alfa para a senhora. E se eu perder?

— Você não vai perder e não me chame de senhora que me sinto uma
velha e olha que ainda não tenho trezentos anos.

Clere riu.

— Estas esmeraldas combinam com seu vestido e Noah não vai se


importar de eu ter emprestado a você, porque sabe que é uma noite especial.

— Mas esta noite é especial, por quê? Há uma festa aqui?

— Bem, querida, sim, é uma festa, estamos fazendo uma surpresa para
uma pessoa. Por isso, tudo é segredinho.

— Para quem faremos a surpresa, não posso saber?

— Eu não posso contar, porque essa pessoa logo estará chegando, então
suba lá e espero que esta noite seja especial e muito importante para seu
coração e sua vida.

— Não entendo.

— Olhe para mim e preste bem atenção. Eu não vou deixar você cair,
Clere, você tem amigos e pessoas que te amam de verdade, que farão tudo
nesta vida para te ajudar, principalmente eu. Ok?

— Ok.
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— Você tem sido corajosa e mesmo tendo tantas memórias horríveis,


sempre esteve calma e sorrindo, tentando enfrentar tudo, como se isso não
tivesse a afetado, mas não é problema chorar, surtar e xingar. Quero que,
quando estiver com raiva, coloque para fora, ok? Nem que tenha que me
chamar durante a madrugada. Estamos acertadas nisso? Pode me falar sempre
tudo o que quiser, assim como pode ir à academia dos rapazes e socar a cara
daquele boneco que Noah comprou, que serve para treinar boxe — disse
brincando, para conter sua emoção, pois sua garganta estava embargada e
Clere riu, segurando sua emoção.

— Ok, entendi, alfa. Não querem que aconteça comigo o que aconteceu
com Jessy.

Ester suspirou e acariciou seu rosto.

— Isso, querida, estávamos fazendo a mesma coisa, com o intuito de te


proteger e você mesma estava reprimindo tudo, mas não é por este caminho.

— Eu estava deprimida porque tinha minhas memórias e o fato de me


sentir presa, mas eu gostava do Harley e...

— Eu sei, querida, mas ele não estava correspondendo da maneira que


você esperava.

— Não, e isso me deixou muito mal e soube que agora ele encontrou sua
companheira: a loba que estava aqui.

— Sim, ela é sua companheira e eu sinto muito, e devemos consertar estes


equívocos todos. Porque, um dia, a senhorita também encontrará o lobo certo,

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mas não fique com raiva de Harley, porque ele não fez nada de mau contigo,
certo?

— Sim, não sinto mais raiva dele.

— Fico feliz com isso.

— Agradeço por tudo que tem feito, alfa, vou ficar bem.

— Ótimo, e estou muito orgulhosa de você, é uma guerreira e me sinto


lisonjeada de tê-la como uma amiga.

— Obrigada.

— Então, hoje, teremos um momento maravilhoso e você vai se soltar e se


divertir, pode fazer o que quiser. Mas saiba, quando subir lá, não desperdice
nenhum minuto. Eu te garanto que isso vai te ajudar.

— Ok. Está me deixando temerosa, mas confio em você, alfa.

Ester sorriu emocionada e acariciou seu rosto e beijou sua bochecha.

— Ok, respire fundo, nariz para cima, ombros para trás e brilhe como uma
estrela.

Clere apertou as mãos e viu Ester sair e se encontrar com Noah, que a
esperava um pouco afastado. Eles vieram trazê-la e deixando-a carregada de
mistérios.

Sem saber o que a aguardava, ela subiu as escadas em direção ao


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restaurante. Afinal de contas, o que poderia ser para estar vestida daquele
jeito e todo aquele mistério?

Não tinha nenhuma ideia.

Respirou fundo e subiu as escadas e, lá em cima, onde ficava o restaurante


e salão de festas, estava tudo silencioso.

Entrou no salão e estava vazio, mas estava todo enfeitado com lindíssimos
arranjos de flores por todo lado e sobre as mesas havia tecidos saindo do teto
e amarrados nas colunas, em cascatas.

As mesas estavam todas perfeitamente arrumadas com toalhas, louças


novas e alinhadas e taças de cristal, com arranjos de flores no centro.

Estava escuro, pois as luzes estavam apagadas, somente os lustres da


enorme varanda estavam acesos.

Clere não entendeu nada e, então, um globo redondo de espelhos no


centro foi ligado e algumas luzes e aquelas réstias de luz começaram a girar
dando ao lugar uma aura etérea e maravilhosa.

Ela ficou boquiaberta olhando ao redor.

— Olá, tem alguém aqui?

Ela foi ao centro e girou ao redor e parou quando viu Harley de fraque e
com seus cabelos penteados com gel para trás. Estava lindamente parado
olhando para ela, como um príncipe.

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Clere arregalou os olhos e parou de respirar.

Uma música começou a tocar e ele andou até ela.

— Harley? — perguntou espantada.

— Olá, Clere, está belíssima.

Ele fez uma reverência formal e beijou o dorso de sua mão.

— Obrigada, e... você está muito bonito com esta roupa.

— Tudo para você.

— Para mim? O que é isso? Não entendo.

— Esta é sua festa.

— Minha festa?

— Eu estou aqui para te dar um presente, sua primeira dança, no seu


primeiro baile. Sei que, sem querer, eu te magoei e que você tinha
expectativas sobre mim, mas, infelizmente, não posso corresponder.

Ela espremeu as mãos e engoliu em seco.

— Eu sei, já falamos sobre isso e está tudo bem. Foi uma expectativa que
criei e não foi sua culpa. Eu estava confusa com meus sentimentos. Nunca as
pessoas tinham sido boas comigo e confundi as coisas.

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— Quero te ver feliz, Clere, eu queria muito te dar isso, para espantar sua
tristeza, mostrar que ainda quero ser seu amigo.

— Oh, Harley, não precisava, eu tenho sido uma tola. Você não tem culpa
de não me amar e sei que encontrou sua companheira, a italiana. Eu já
entendi tudo, não me deve nada.

— Não, Clere, você não tem sido tola. O que aconteceu foi natural e juro
que se eu pudesse comandar os sentimentos seria o homem mais feliz do
mundo em ser seu companheiro, mas todos nós temos nossos companheiros e
um dia eles virão, como a minha veio.

— Eu sei. Pietra tem muita sorte de ter você.

— Você tem sido uma moça que foi brutalmente machucada, não sendo
tratada como merece. Perdeu parte de sua vida e sente falta dela e precisa
viver. Eu quero te dizer: viva intensamente. E se um dia precisar de mim
estarei aqui por você.

Uma lágrima escorreu pela face, mas ela estava tentando se segurar. Sim,
era verdade e pensou que desmaiaria.

— Espero que ainda possa me considerar seu amigo.

— Sim, sempre.

Ele secou suas lágrimas, docemente, e beijou sua testa. Então, ele pegou
sua mão e a envolveu pela cintura com a outra e uma música começou a tocar
e ela soltou um soluço e encostou-se ao seu peito.

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Então, ela somente o deixou embalá-la, protegida. Dançando no meio


daquele lindo salão sua primeira dança com seu par, ela chorou vivendo
profundamente o momento.

— Acha que é possível, depois de perder a sua humanidade e a esperança


de tê-las novamente? — ela perguntou em um sussurro.

— Sim e, acredite, eu sou testemunha de que a esperança nos mantém no


caminho certo. E independente do que acontecer daqui para frente, eu quero
que saiba que todos os lobos aqui a amam e cuidarão de você, farão tudo por
você, porque nunca desistimos de buscá-la quando estava presa e nunca
pararemos de ajudá-la e fazê-la feliz com o que pudermos, e isso inclui a
mim.

Ela o olhou e as lágrimas escorreram.

— Obrigada, Harley. Isso significou muito para mim.

— E agora uma valsa. Baile deve ter uma valsa.

Clere riu e a música parou e logo uma valsa começou a tocar e Harley a
conduziu como um exímio dançarino.

Ela havia visto os passos na internet, porque, misteriosamente, um dia, a


alfa tinha vindo lhe mostrar vídeos de bailes antigos, com valsas e lindos
vestidos, com uma desculpa esfarrapada e ela tinha achado lindo e prestado
atenção de como se dançava.

Deixou que ele a guiasse e de vez em quando ela errava os passos, mas

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não tinha nenhuma importância. Harley riu e a rodopiou até que ela,
encantada, conseguiu acompanhá-lo e ria a cada volta, trazendo uma beleza e
uma magia inenarrável.

E, então, ela empurrou qualquer pensamento triste para longe e amou a


surpresa e sua primeira valsa. E era maravilhoso.

Quando a música acabou, eles pararam e Harley fez uma reverência


galante e sorriu lindamente para ela.

— Então, minha princesa, promete que não vai mais chorar e vai se
divertir?

— Sim. Obrigada, Harley, isso foi lindo!

— Ah, mas esta noite teremos muitas surpresas, e olha que Petrus e eu
fizemos questão que no bar tivesse margaritas e canapés para você.

Ela riu e fungou, lembrando-se da festa que tinham tido no SPA do amigo
de Ester em Oldemburgo, que tinham dançado, bebido margaritas e tinha
sido maravilhoso.

— Oh, adoro margaritas!

— Bem, como você ficou muitos aniversários sem ganhar uma festa e
presentes, nós demos esta a você. Pode não ser grande coisa, mas é sua e de
todos nós.

— Obrigada, foi o presente mais lindo que poderia ganhar. Sempre sonhei
em ter uma festa de aniversário.
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— Parabéns, Clere! — ele gritou batendo palmas.

Então, quando ela ouviu uma enxurrada de palmas, olhou para trás e tapou
a boca com as mãos e, surpresa e encantada, todos os lobos estavam ali, no
canto do salão, vestidos a caráter, e com lindos sorrisos, batendo palmas para
ela.

Eles gritavam parabéns e Kirian veio arrastando um carrinho, com um


enorme bolo de três andares, redondos com lindas rosas o enfeitando, e todos
começaram a cantar parabéns e novamente as lágrimas rolaram e ela não
sabia se ria ou chorava e eles vieram para ela e a rodearam.

Todos entregaram presentes e a abraçaram, parabenizando-a e ela se


emocionou muito quando sua mãe veio abraçá-la e entregar seu presente.

Harley assobiou para parar a algazarra e chamou a atenção para si.

— Bem, princesa, antes de cortarmos o bolo e servirem os outros doces e


salgados, vamos entregar a outra parte do presente.

— Tem mais?

— Sim, e como sei que gosta de minhas motos e até a ensinei a pilotar,
tenho um presente para você. Na verdade, é meu e de Petrus.

— Mais um presente?

Ele pegou sua mão e a virou para que olhasse para trás e Petrus veio
trazendo uma moto. Era uma Kawasaki Ninja 300 preta, com desenhos de
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fogo, rajadas em vermelho, laranja e amarelo pintados no tanque.

— Sei que gosta de Harley Davidson, mas sua paixão pelas motos de
corrida deixa seus olhos brilhando, e apesar de sua mãe querer torcer nosso
pescoço, ela concordou que seria um presente que você gostaria. Contanto,
que se cuide na estrada — Petrus disse.

— Ela é pesada para uma mulher humana, mas como você é uma loba,
terá facilidade de segurá-la — Harley disse orgulhoso de si.

Clere estava muito espantada e literalmente com a boca aberta.

— Oh, isso é para mim? Quer dizer... meu presente, minha, só minha?

— Sim, é sua.

Ela correu, rindo, e foi até ela, brilhante e linda, a tocou e ria e chorava ao
mesmo tempo.

Ester soltou um rosnado que fez todos rirem. Noah a ergueu e a colocou
sentada sobre seu ombro direito e todos prestaram atenção nela.

— Bem, eu sou pequena no meio de vocês e tenho que usar de


subterfúgios — Ester disse.

Todos riram.

— Agora, mais um presente.

— Mais?
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— Bem, este é meu e de Noah e sei que vai gostar. Está vendo isso? —
disse mostrando um envelope.

— O que é?

— É um plano turístico. Temos três roteiros que você vai escolher e duas
passagens. Uma para você e uma em branco. Ainda.

— O quê?

— Você é encantada com o mundo, Clere, e não conhece nada fora desta
ilha e do que se lembra da Irlanda. Então pedi a Noah e ele concordou que
você ganhasse uma viagem para conhecer alguns lugares bonitos, alguns aqui
na Grécia ou onde queira.

— Oh meu Deus, mas isso... é demais, eu não mereço todos estes


presentes.

— Você merece. Sua vida foi arrancada de você e perdeu sua juventude
trancada numa cela, aguentando bravamente todas as suas desventuras e
torturas. Se for preciso que tenha um pouco de vida, então terá. É um
presente de todos nós, para que saiba que nos importamos e pode contar
sempre conosco.

— Eu sei, e nunca pensei que teria uma alegria tão grande... muito
obrigada, por tudo, nem tenho palavras para agradecer.

— Sim, mas tenho uma condição. Não fará a viagem sozinha, temos que
encontrar um lobo que a acompanhe.

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— Sim, um guarda-costas — disse Harley. — Não sairá sozinha por aí.

— Quem?

— Bem, isso nós ainda não sabemos, mas encontraremos alguém e


quando tivermos tudo pronto, partirá para a viagem.

Ela gritou e saltitou, batendo as mãos e todos uivaram, bateram palmas e


riram.

— E minha moto?

— A levaremos para Atenas, ficará na nossa casa junto com os outros


carros e motos e quando quiser andar, vai lá e óbvio que terá que tirar a
carteira de motorista.

— Oh, maravilhoso!

— Agora, música, maestro! Vamos dançar e comer, porque somos lobos e


não esqueçam as cervejas geladas! — Harley gritou e Luca uivou e colocou
uma música para que pudessem dançar.

Petrus, que usava um terno elegante e estava usando um rabo de cavalo, se


aproximou de Sami, que bebia uma taça de vinho e olhava a festa. Ela estava
linda com um vestido longo azul-escuro, de alças finas e decote V generoso.

— Será que eu poderia dançar com minha companheira?

Ela o olhou e sorriu, pois o achou tão lindo e elegante. Ela assentiu e
soltou a taça sobre a mesa.
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Petrus segurou sua mão e a levou ao centro e começou a dançar e inalou


profundamente seu perfume, puxando seu corpo para o dele.

— Parece triste, agápi mou.

— Não, estou contente por esta festa, por querer ajudar Clere, é muito
louvável da parte de Harley e sua.

— Sim, e você a salvou.

Sami suspirou.

— Somente impedi mais uma de suas dores e traumas.

— Isso passou.

— Há coisas na vida que não passam.

— O que quer dizer?

— Nada, vamos esquecer os problemas por esta noite, somente quero estar
aqui e dançar com meu companheiro e meu amor.

— Não está feliz na ilha?

— Estou muito feliz na ilha, com você.

Petrus beijou seus lábios e ela o abraçou forte.

Eles olharam para um lado do salão e viram Alexander rindo ao lado de

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Luca, que mostrava os discos que tocaria na festa. Eles pareciam estar se
dando bem.

— Parece que ele fez um amigo — Petrus disse.

— Sim, parece.

— Vamos cuidar dele. Tem minha palavra.

— Obrigada pelo que tem feito. Eu amo você, Petrus.

— E eu amo você, Sami.

Sami olhou-o intensamente e o beijou.

Nisso, um pequeno filhote de lobo passou pelo salão com pequenos


latidos um tanto desafinados, chamando a atenção de todos. Era Lucian.

Tentando tomar conta dele e brincar, Lili correu atrás, vestindo um lindo
vestido de cetim salmão e os lobos riram.

E claro, Ester e Noah estavam rindo, de olho neles.

E o pequeno começou a fazer mais barulho quando chegou a uma mesa e


saltava nas pernas de Kira, para alcançar Safira em seu colo, que batia palmas
e ria para ele, chamando-o com a mãozinha.

Ester não estava simplesmente rindo, estava gargalhando, vendo seu filho
correr entre os lobos gigantes atrás de Safira.

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Ele adorava a lobinha, filha de Erick, e não parecia nem um pouco


intimidado pelo seu pequeno tamanho entre aqueles lobos gigantes e ferozes.

Ester ainda não tinha se acostumado com ele em forma de lobo, mas
estava amando ser mãe de um. Ele tinha se transformado diversas vezes
depois de sua transição e ela sempre ria, chorava e se divertia com ele.

Esta mistura de lobo e humano havia tomado conta dela e ela não sabia se
cuidava deles como médica ou veterinária, mas zombava de si mesma, que
estava cuidando de ambos, afinal ela mesma era ambos.

E estava tudo perfeito e o que não estivesse, tinha fé de que ficaria.

Harley abraçou Pietra, que estava linda, vestindo um vestido longo de


gaze pérola, tomara que caia, com saia de várias camadas, com uma faixa
bordada sob o seio e deixava livre sua barriga avantajada.

Ele sorriu, a beijou nos lábios e começou a dançar com ela, que estava
com um lindo sorriso, enquanto os outros casais dançavam espalhados pelo
salão.

— Foi maravilhoso o que fez, Harley. Estou orgulhosa de você — Pietra


disse sorrindo.

— Eu precisava fazer isso, por ela. Sentime mal por não poder
corresponder aos seus sentimentos.

— Ninguém tem culpa de algo assim, ninguém manda no coração. E lobos


podem escolher seus companheiros, mas não podem negar seus

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companheiros de alma. O amor é maior que tudo, que qualquer convenção ou


contrato. Nós, mais do que ninguém, sabemos disso.

— Eu sei, mas ela passou por muita coisa e queria poupá-la. Ela ainda é
muito jovem e estava tendo dificuldade de ver a vida, depois de tudo.

— Ela é jovem, mas é madura, pois não acalentou raiva de você e nem fez
um escândalo por me ver aqui. Também fiquei temerosa que me
censurassem.

— Querida, Noah deu sua permissão para entrar na sua alcateia sempre
que quiser, pois, como meu amigo e um lobo muito sensato e justo que é,
jamais viraria as costas para você. E além do mais, você é uma semideusa
agora, e não mais uma pária. Este título não lhe pertence mais. Você, minha
theá, é maior que muito lobo. E nós somos amigos de outro pária, e Noah o
tem na mais alta estima e ele ajudou você.

A maneira que Harley a olhou fez com que entendesse sua mensagem.

— Oh, meu Deus! O lobo branco? — disse espantada e com os olhos


arregalados.

— Sim.

Harley mostrou Liam com a cabeça.

— Podemos ir até ele para que eu possa lhe agradecer?

— Claro.

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Ele segurou sua mão e a levou até Liam que dançava com Virna.

— Liam, eu trouxe alguém que gostaria de lhe falar.

Liam se virou e sorriu lindamente para eles, abraçando Virna pela cintura.

— Liam, se recorda de mim? — Pietra perguntou com um sorriso.

— Claro, senhora. É um prazer revê-la, agora em uma circunstância


festiva. Meus parabéns pelo acasalamento e pelo seu filho.

— Obrigada e quero lhe agradecer pelo que fez por mim, arriscando sua
vida para me salvar na Floresta De Gamo. Foi muito corajoso ajudando
Harley a enfrentar tantos executores para me salvar.

— Foi um prazer. Vejo que se recuperou bem.

— Sim, e devo dizer, agora que me recordo bem de seu lobo. Um lobo
branco. Nunca tinha conhecido um.

— Eles não são muito fáceis de ver.

— Acredito nisso.

— Esta é minha companheira, Virna.

— Já nos conhecemos. Vim a uma consulta pré-natal.

— Sim, quem diria que eu, um dia, faria partos de lobinhos.

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Eles riram.

— É uma humana que se transformou em loba.

— Sim, também fico contente que tenha se salvado, qualquer que seja o
motivo, de... bem... você sabe.

— Sim, eu sei que tive sorte de encontrar meu companheiro. O amor de


minha vida.

Ela olhou para Harley e sorriu e ele inflou o peito, porque cada vez que
ela dizia algo como isso, seu coração inflava de felicidade, de amor por ela.

— Harley...

Eles se viraram e era Clere atrás deles.

— Clere, está gostando da festa?

— Sim, estou muito feliz e queria vir aqui agradecer novamente e vejo
que está com sua companheira. Queria conhecê-la.

— Sim, hum... esta é Pietra.

Houve um silêncio enquanto as duas se olhavam seriamente e então Pietra


sorriu docemente.

Harley quase ficou apreensivo, então Clere sorriu e ofereceu a mão para
ela. Pietra piscou aturdida e estendeu sua mão.

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— Parabéns, Pietra, por ter encontrado seu companheiro verdadeiro e por


seu bebê, vejo que está quase ganhando.

— Sim, falta pouco agora. Feliz aniversário.

— Obrigada. Eu realmente espero que vocês sejam muito abençoados e


felizes. Foi muita sorte companheiros de alma terem se encontrado.

— Obrigada. Sua festa está linda.

— Obrigada. É minha primeira festa de aniversário em muitos anos. Eu já


nem me lembrava mais como era. Isso ficará para sempre em meu coração.
Harley, você é generoso e um lobo muito especial, merece toda a felicidade
do mundo.

— É o que eu desejo a você também, Clere.

— Não se preocupe, eu estarei bem, muito bem. Um dia, eu encontrarei


meu companheiro e serei muito feliz. Bem, aproveitem a festa.

Clere sorriu, virou as costas e saiu.

— Uau! Devo admitir que essa loba é surpreendente, em vários sentidos


— Virna disse.

— Espero que ela encontre seu companheiro — Harley disse.

— Ela irá — Liam disse com um sorriso.

— Quando você fala assim, me dá um arrepio na espinha, alien — Virna


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disse.

Liam riu e beijou seus lábios.

— Porque é verdade, minha ruivinha. Não precisa de muitas adivinhações


para isso.

Todos olharam para onde Liam estava olhando e Aaron, usando um belo
terno preto, com os cabelos penteados para trás, e um lindo sorriso no rosto,
convidava Clere para dançar, e ela, retribuindo o sorriso, tomou sua mão e
logo rodopiava pelo salão com o belo e milenar lobo.

Harley sorriu e olhou para Liam, que sorria como nunca, e para Pietra.

— O que acha de irmos assaltar aquela mesa de doces ali, meu coração?
Liam perguntou para Virna.

— Acho ótimo, mas depois terei que malhar para perder todas estas
calorias.

— Não se preocupe, eu mesmo lhe darei uma bela sessão de exercícios


para perder qualquer caloria que queira. Começaremos esta noite mesmo.

— Liam!

Liam soltou uma gargalhada e Harley riu, entendendo sua indireta.

— Viu o que sofro com estes lobos? — Virna perguntou à Pietra, que riu.

— Sim, sei bem.


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Eles saíram e Harley suspirou e olhou Pietra com um sorriso gigantesco e


acariciou sua barriga avantajada.

— Obrigado por ter concordado com esta festa para Clere, companheira.

— Acho que fizemos muito bem em dar este presente a ela. Foi privada
por tempo demais de coisas boas da vida. Você é o que ela disse: muito
generoso. Um companheiro maravilhoso que tenho muito orgulho. Além do
mais, eu não posso me zangar com ela por se apaixonar por você, todas as
moças o fazem.

Ele riu todo bobo.

— Eu que tenho orgulho de você.

Ela sorriu e ele a beijou docemente.

— Como está nosso lobinho?

— Ele está se divertindo com a música, está até ensaiando uns passinhos
de tanto que chuta.

— Será que será um lobo semideus?

— Minha nossa! Eu não sei — disse sorrindo —, mas a rainha disse e,


pelos exames que Virna fez, que está muito bem, saudável e forte.

— Isso me lembra de nunca brigar com você, vai que me transforma em


pedra. Deus me livre!

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— Viu? Deve ter cuidado comigo, contrariar uma semideusa, ainda mais
com poderes de te transformar em pedra, é meio perigoso.

Ele riu com uma gargalhada deliciosa e beijou seus lábios.

— Bem, a rainha disse que tem o poder de transformar em pedra quando


desejar e se concentrar no ato.

— Sim. Pena que eu não posso testar em ninguém — disse rindo.

— Sua força equivale a três lobos e corre muito mais rápido.

— Sim, e não tenho mais dificuldade de respirar e não sinto mais dores, e
não preciso mais dos remédios e outras coisas que ainda não sei. Depois que
o bebê nascer testaremos, pois não posso mais me transformar em loba
porque não quero prejudicar nosso bebê.

— O importante é que te tenho.

Ele a tomou nos braços e a levou para a pista de dança e os dois, entregues
numa dança deliciosa, foram embalados pelo amor.

E assim aquele baile foi mais do que uma festa para Clere, foi uma
celebração de muitas conquistas para os lobos.

E, como sempre, eles adoravam comemorar suas conquistas. E mereciam


depois de tantas loucuras vividas.

Na verdade, eles consideravam apenas mais uma aventura em suas vidas,


e sabiam que mais viriam.
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E estavam preparados para isso.

Afinal, eram lobos.

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Ilha de Alamus, Creta, Grécia.

Meses depois...

A festa estava animada e Pietra olhava para Harley com os olhos


brilhantes e com o peito cheio de felicidade, assim como ele.

Ambos estavam no salão da mansão onde festejavam a cerimônia dupla de


casamento junto com Petrus e Sami.

Era no formato humano, pois as duas estavam vestidas de branco, com


seus buquês de flores, e grinaldas delicadas e belíssimas, assim como Petrus e
Harley que haviam resolvido fazer uma cerimônia juntos, afinal, gostavam de
agradar suas companheiras, realizando seus desejos e sonhos.

Havia sido curta e bonita no terraço da mansão, com a belíssima vista para

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o Mediterrâneo e todos da ilha estavam espalhados por ali para comemorar,


inclusive os reis e os lobos da alcateia de Noah.

Uma coisa que não faltava era muita comida e bebida para todos e música.

Eles haviam acabado de fazer o brinde com champanhe e cortado o bolo


enorme e Pietra olhou para sua mão e sorriu admirando sua aliança de ouro
que fazia par com a dele e no outro dedo, tinha o anel de beta e tocou no dele.

Eram de ouro com desenhos celtas em prata e com um lobo e ao fundo


havia um lobo com o brasão da família Papolus e com pequenas esmeraldas e
o dela era igual, somente menor e mais delicado.

— Espero que tenha gostado de nossos anéis. Depois de tantas confusões,


finalmente consegui terminá-los.

— Estão perfeitos, Pietra, mais bonitos do que jamais vi. Você é uma
artista muito talentosa.

— Obrigada. Eu queria te dar mais um presente.

Ela mostrou uma gargantilha e o pingente a ele. Harley o olhou e sorriu. A


corrente era de ouro e havia uma medalha do mesmo com arabescos célticos
ao redor em prata: de um lado tinha a figura de um lobo; e atrás, havia a frase
“Amor eterno”.

— É muito bonito, Pietra. Vou guardar este presente com minha vida.

Ele a beijou docemente e ela colocou em seu pescoço.

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— Isso é bom.

— Bem, nunca soube exatamente porque quando retornamos de lobo a


humano estamos com nossos anéis e quem usa corrente ou qualquer joia de
ouro ou prata também. Sei que faz parte de nossa magia, mas na verdade
nunca entendi direito como funciona, já que não funciona com nossas roupas.

— O ouro e a prata são os únicos metais que tem o poder de se fundir com
nossa magia, assim como as pedras preciosas. São os elementos máximos da
natureza e eles captam a magia, por isso quando os usamos, eles absorvem
nossa magia de lobo e se transformam com nosso corpo. Se usarmos qualquer
outro material, ele cairá como nossas roupas.

— Oh, incrível, somente a Sra. Papolus ourives para me dar uma aula.

Ela riu.

— Esta mágica poderia servir para nossas roupas também.

Ele riu com gosto e beijou seus lábios.

— Uma loba envergonhada de sua nudez? Senhor!

— Não sou envergonhada, é só no caso de prevenção. Pouparia alguma


eventual tragédia e não perderíamos tantas roupas por aí.

— Já houve a tentativa, acredite, mas não funciona, mas a rainha tem um


feitiço para isso.

— Tem? — ela perguntou espantada e ele riu.


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— Sim, o povo de Kimera fica de roupa quando se transformam de lobo a


humano e eles mantêm suas joias, por isso sempre usam o ouro e a prata com
as pedras preciosas. E eu acho que Kira já sabe fazer isso também.

— A magia é tão impressionante.

— Você é impressionante.

Ele a beijou e Pietra sorriu e pegou o bebê no colo que estava no carrinho
ao seu lado e que havia acordado e choramingou para obter atenção.

— Oi, dorminhoco da mamãe. Está perdendo toda a diversão da festa.

Petrus se aproximou com um belo sorriso no rosto.

— Pietra, isso chegou para você.

— O que é?

— É melhor se preparar antes de ler.

— Obrigada — disse apreensiva.

Harley pegou o bebê no colo e ela abriu o bilhete e leu.

Pietra piscou, aturdida, ao ler todo o bilhete em suas mãos e olhou para
Harley que estava na sua frente, segurando seu bebê nos braços, que, em
meio a gorjeios felizes, começou a brincar com uma mecha do seu cabelo,
que agora estava comprido até um pouco abaixo dos ombros, pois os cabelos
dos lobos cresciam muito rápido, e ele mantinha uma barba rala.
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O bebê se chamava Apolo e eles haviam escolhido este nome que


significava “Força”, em grego. Ele estava com quatro meses de vida e era
esperto e feliz, ostentando cabelos loiros e lindos olhos verdes translúcidos.

Harley amava seu filho com todo seu ser, como uma joia rara e jamais
imaginou que tamanha felicidade fosse possível, tanto amor por uma coisinha
minúscula, assim como de sua companheira.

Pietra havia desabrochado, conhecendo o verdadeiro sentido do amor e


felicidade. O brilho de seus olhos agora era permanente, o sorriso e as
gargalhadas eram fáceis e ela o fazia mais feliz do que nunca.

Mas Harley sabia que em seu coração Pietra ainda sofria.

Ela podia ser a companheira do beta, ter conseguido o respeito de sua


nova alcateia e o lugar que merecia, e conhecer a maravilha de ter seu filho
saudável e bem nos seus braços, e seu amor junto dela.

E também ser uma semideusa agora, mas a marca de ter sido transformada
em pária por sua alcateia estava marcada em seu coração. Tudo o que
aconteceu em sua alcateia era muito forte para ser simplesmente apagado.

Aquilo era uma dor que ela tinha conseguido colocar no fundo do seu
coração. Tinha aliviado, superado, aprendido a viver com ela, mas ela estava
ali, como uma cicatriz que jamais sumiria.

Porém, era assim que os guerreiros se tornavam fortes. Eles sobreviviam


aos desafios, aos tormentos e lutavam pela vida e aprendiam a empurrar suas
dores para o esquecimento.

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Depois de tudo que havia acontecido em Alamus, entre a alcateia grega e


italiana, nenhuma palavra mais tinha sido dita, os italianos sobreviventes
haviam ido embora e nenhum contato havia sido feito depois disso.

Até agora.

Harley olhava para Pietra com um misto de preocupação e ansiedade


enquanto ela lia com o cenho franzido, protetor com sua fêmea e seu filhote.

— O que diz a nota? — ele perguntou ansioso.

Ela o olhou com os olhos arregalados e marejados de lágrimas.

— Marcello é o alfa da alcateia italiana agora, ele extinguiu o conselho de


anciões e revogou meu veredito.

— O quê?

— Marcello decretou meu perdão. Disse que não sou mais uma pária.
Disse que sou bem-vinda na alcateia, que serei recebida como sua irmã e que
ele, minha mãe e meus irmãos estão esperando que os perdoe e que possa
visitá-los para que conheçam meu filho, como um membro de sua família.

Harley estava estupefato, olhando com os olhos arregalados para ela.

Duas lágrimas escorreram pelo rosto de Pietra e ela suspirou e foi até ele,
abraçando-o e ao seu bebê, que soltou um gritinho, olhando para ela, com
lindos olhos verdes de lobo, com um sorriso iluminando sua face rosada e
gordinha, o que a fez rir entre as lágrimas.

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Ela beijou sua bochecha e beijou Harley.

— Acha que está sendo verdadeiro? — ele perguntou.

— Marcello te ajudou, não foi?

— Sim.

— Ele disse que quer que nossas alcateias finalmente tenham um elo
permanente, pelo acasalamento, mas que seja feita de forma correta e que
vivamos em paz e que possamos interagir, sem ressentimentos. Que este
sempre foi seu desejo. Disse que também enviou uma nota ao alfa Petrus para
que selem um acordo de paz.

— Ora essa...

— O que acha que devemos fazer?

— Bem, falaremos com Petrus para ver sua decisão, provavelmente estará
ansioso para saber o que desejamos fazer e, então, pensaremos se é seguro ir
lá ou não.

— Tem medo de que seja uma armadilha?

Harley pensou um pouco e respirou profundamente, beijou sua testa e


escorregou sua face na dela, fazendo o carinho de lobo e a olhou.

— Depois de tudo, sempre temos que estar alertas, mas, sinceramente,


acho que ele está sendo sincero. Marcello nunca demonstrou animosidade
contra nós. Seguiu ordens, sim, mas confesso... penso que ele realmente não
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desejou tudo isso e sempre amou você. Ele não te entregou quando soube que
estava aqui. Sabia que fui eu que a resgatou da Floresta De Gamo.

— O quê? — perguntou sem entender.

— Desculpe se não falei disso antes. Marcello sempre soube que eu a


tinha. Esteve aqui na ilha e foi ele que me entregou seus remédios, não foi
Ester que os receitou e foi sua mãe que me ligou, pedindo que fosse ao seu
resgate.

Ela piscou atordoada e mais lágrimas caíram, suspirou quando a


informação tomou forma em sua mente e no seu coração.

— Isso alivia meu coração, mas o que mais importa é que estamos juntos
e nosso bebê está a salvo.

Ela sorriu lindamente quando ele assentiu e os dois olharam para o bebê,
deitado nos braços de Harley, usando as fraldas e um macaquinho de malha
branca e preta, com um design de smoking e gravatinha borboleta.

Ele estava avesso a qualquer coisa, somente querendo ter toda a atenção
para ele. Era o bebê mais lindo e feliz que já tinham visto.

O fruto do seu amor e de sua paz.

O que ainda não sabiam era se o pequeno lobo teria algum poder de um
deus, já que aquilo tudo no submundo poderia tê-lo atingido também, pois
ainda estava no ventre de sua mãe.

Mas somente saberiam no futuro, quando ele crescesse e seus poderes de


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lobo viessem à tona.

Contudo, nada mais deixaria os lobos admirados depois daquela aventura


que tinham vivido.

Ela sorriu lindamente e Harley sorriu somente pela alegria que ela
demonstrou.

Harley finalmente tinha sua família e, dessa vez, era para sempre.

Trastevere, Roma, Itália.

Com Apolo no colo, Pietra não conseguia parar de tremer e olhou ao redor
para ver o séquito que Petrus e Harley tinham montado.

Ela estava no meio como se fosse a própria rainha sendo protegida por um
bando de lobos guerreiros, dispostos a qualquer coisa.

Harley estava ao seu lado, protetor como um gavião, Petrus e Sami

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estavam à frente e, ao seu lado, estavam Noah e Ester, pois Marcello também
havia enviado uma nota para Noah para lhe oferecer um elo de paz.

Erick e Kira também estavam presentes e mais um monte de lobos como


guardiões, incluindo alguns guerreiros de Kimera.

Ela tinha achado um pouco exagerado tudo aquilo, ainda mais sabendo
que as coisas já estavam previamente acordadas entre os alfas e betas.

Aquilo era somente para receber Pietra e selar finalmente seus tratados,
mas ela estava nervosa demais para se acalmar, e além do mais, Harley não
abriria nenhuma brecha para que ela ou seu bebê fossem machucados.

Quando a porta do imenso salão da mansão, onde os alfas italianos


viviam, se abriu, os deixou realmente impressionados.

A mansão não era nada menos que um castelo luxuoso, que ficava em
uma vila em Trastevere, na beira do rio Tevere, ao sul de Roma e ao redor da
propriedade ficavam as moradias dos seus lobos, que provinha de um antigo
condado de Trastevere, da família Scopelli, mantida por muitos séculos.

A propriedade era imensa, rodeada de muito verde e bosques e ficava um


pouco isolada do convívio dos humanos e os bosques ali eram propriedade
privada, o que dava aos seus lobos um local para correrem como lobos, sem
serem surpreendidos pelos humanos. Obviamente que a segurança do local
era impressionante.

Harley entendeu porque Pietra sentira falta daquele lugar e como ele
também poderia ser como uma gaiola dourada.

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Ele a olhou e apertou seu ombro, lhe dando coragem e ela lhe sorriu,
nervosa.

Ao entrar no grande salão, todos olharam ao redor para ver a recepção.

Quando Pietra se aproximou da cadeira de alfa, que mais parecia um trono


dos séculos passados, avistou Marcello, sua mãe, e seus outros irmãos,
impecavelmente vestidos para uma cerimônia formal.

Seu coração tombou no peito e a garganta embargou.

Ela deu uma olhada para o lado e travou a respiração, pois quem estava ali
eram o rei Kayli e a rainha Vanora com seu séquito.

Eles pareciam amistosos e relaxados, com um sorriso em seus rostos.

Ela viu o espanto de todos e Harley soltou um rosnado baixo, que dizia
que estava espantado e seu braço ficou mais apertado ao redor de seu ombro.

— Sejam bem-vindos — Marcello disse.

Eles fizeram a formal reverência para o rei e a rainha e então para


Marcello, que acenaram respeitosamente.

— Como podem ver, nossa alcateia está em paz com nosso rei —
Marcello disse. — Todos os mal-entendidos ficarão no passado e uma nova
era paira sobre nós. A alcateia italiana oferece um tratado de paz ao nosso rei,
aceitando sua honra e seu reinado, pois lhe é de direito. E quanto à alcateia de
Petrus e Noah, ofereço outra aliança, que esqueçamos nosso passado
conturbado e cheio de enganos. Ofereço paz e que, de agora em diante,
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possamos interagir, sem receios. Serão bem-vindos aqui.

Depois de um silêncio, Noah deu um passo à frente e sem deixar seu olhar
sério que faria qualquer um tremer, falou tranquilamente.

— Eu, Noah MacCarthy, como alfa da Ilha dos Lobos, da Grécia, aceito a
aliança de paz.

Noah inclinou a cabeça e bateu a mão em punho sobre o próprio peito.


Marcello fez o mesmo no seu.

— É uma honra, alfa Noah — Marcello respondeu.

Aquele era um gesto antigo feito em todas as alcateias quando os alfas


faziam alianças.

Petrus deu um passo à frente e olhou nos olhos de Marcello. Ele tinha
ponderado muito para chegar até ali, depois de tudo.

— Quero oferecer meu pedido de desculpas pelo que houve, alfa Petrus. E
saiba que mesmo que meu pai tenha tido a oportunidade de se redimir em
seus últimos momentos de vida, ainda devo um pedido de desculpas. Seus
atos desesperados eram para salvar nossa alcateia, por uma maldição que a
maioria de nós não acreditava. Bem, todos estavam errados no fim. Mas isso
ficará no passado. Ofereço de todo o meu coração esta aliança e este tratado
de paz entre nós e sua alcateia. Espero chegar a dizer que algum dia
possamos ser amigos.

Petrus estava emocionado, realmente surpreso, no entanto, devia admitir

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que o italiano sempre o impressionou e merecia um crédito.

Ele olhou para trás, para Pietra e Harley, que assentiu em acordo.

Ele voltou o olhar para Marcello e, para alívio de todos, inclinou a cabeça,
e bateu o punho em seu próprio peito.

E, nesse momento, Petrus se deu conta que este era um verdadeiro tratado
de paz e alianças entre as alcateias grega e italiana, pois quando teve o tratado
entre eles, feito anteriormente com Enrico, não tinha havido isso, pois não
havia sido feito com honra.

Ele respirou aliviado.

As coisas ficariam bem.

Petrus se afastou, o séquito se abriu e Harley e Pietra se aproximaram.

Ele estava sério, olhando atentamente para eles, abraçado a Pietra.

Ela olhou para os rostos de seus irmãos e de sua mãe e estava se


segurando para não chorar e eles a olharam, visivelmente emocionados. Sua
mãe estava com os olhos marejados a olhando, mas se mantinha como uma
alfa ereta e calma ao lado de Marcello.

Pietra olhou para Marcello esperando que dissesse algo e assim eles
ficaram se encarando por um minuto longo.

— Eu vi você... na Floresta De Gamo, um pouco antes de o lobo cinza me


atacar. Estava... longe com seus lobos de sua guarda pessoal — ela disse
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calmamente, quase como um sussurro.

— Sim — Marcello respondeu.

— Aquilo quebrou meu coração...

— Eu sinto muito.

Ela respirou fundo e o encarou firmemente, buscando a verdade.

— Você não estava ali para me matar... — Ele negou, com os lábios
apertados e ela soube a verdade. — Estava ali para me salvar.

Ele assentiu.

— Mesmo sabendo, que se papai descobrisse, você poderia perder seu


posto de beta e futuramente poderia deixar de ser alfa.

Ele assentiu.

— Quando cheguei para te resgatar, vi Nico Papolus e Liam, eu os


reconheci e então fiquei ao longe, deixei que eles te levassem. Sabia que se
estava ali era porque te queria e te protegeria. Vi isso na cerimônia que deu
errado. Vi o quanto ele se importava com você.

— Mas omitiu isso de papai.

— Sim.

— Fez isso por mim.


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— Aquilo não estava certo.

— Papai queria proteger a alcateia.

— Eu sei, mas mesmo assim não era certo.

Emocionada, as lágrimas rolaram e ela quase não conseguiu respirar.

— Seja bem-vinda à sua casa, irmã. Aqui não há mais nenhuma


condenação, nenhuma ressalva e espero que algum dia possa nos perdoar.

— Eu é que peço perdão — ela disse com a voz embargada. — Eu só


queria meu companheiro.

— Então que tudo fique para trás e recomeçaremos. Uma nova era começa
e nossa alcateia será liberta de muitas amarras e medos do passado. Teremos
uma nova era de paz aqui e digo que, sempre que desejar, nossas portas
estarão abertas para você, seu companheiro e seu filho.

Marcello não bateu no peito, ele colocou a mão espalmada ali e fez uma
reverência e quando a olhou, ela se aproximou e o abraçou fortemente.

Ele riu emocionado e a abraçou, beijou sua testa e depois olhou para
Apolo, que o olhava com os olhinhos espantados e curiosos, e ele beijou sua
testa e acariciou sua cabeça e, então, Marcello se afastou e olhou para Harley.

— Espero que nossas animosidades fiquem para trás, afinal, se não nos
matamos aquele dia em Alamus, não há mais motivos agora.

— Sim, você saiu com a cabeça.


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— E você ficou com a sua.

Harley deu um pequeno sorriso.

— Aceito sua aliança de paz.

Harley bateu em seu peito e Marcello fez o mesmo. Depois, ele voltou
para o seu lugar e cruzou as mãos na frente do corpo.

Pietra olhou para sua mãe, que deixou as firulas de lado e correu para sua
filha e a abraçou em lágrimas e a beijou e beijou seu bebê, encantada e
apaixonada pelo pequeno lobo, soltando palavras de carinho em italiano.

Sua mãe foi até Harley e, emocionada, segurou o rosto dele entre as mãos.

— Obrigada por ter salvado minha filha, de todas as maneiras que fez.

Ele assentiu, emocionado.

— Obrigado por tê-la me dado. Sua filha é maravilhosa.

Ela assentiu, emocionada e deu leves batidinhas em sua face e foi até
Pietra e a beijou na face novamente.

— Posso segurar meu neto?

Pietra riu e o deu para a senhora e o pequeno pareceu gostar de seu colo,
pois deu um forte gritinho em meio a um enorme sorriso e Marcello soltou
uma gargalhada. E todos acabaram rindo.

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Vanora que estava ali, somente vendo tudo, estava emocionada e olhou
para Kayli, que também estava muito satisfeito com tudo, e ela respirou
fundo, com um lindo sorriso. Ele trouxe sua mão e beijou seus dedos com
carinho e sorriu para ela.

— Parece que as coisas estão bem agora — Kayli disse ao ouvido de sua
companheira.

— Sim, meu rei, agora está — disse amorosamente.

— Isso é lindo, filha — a senhora disse, olhando o jogo de colar e brincos


de ouro com pedras de ônix que ela usava.

— Fui eu que fiz — Pietra disse e a senhora sorriu e assentiu, orgulhosa.


— Tenho um site com minha assinatura e vou fazer joias. Harley montou o
negócio para mim e já estou vendendo algumas peças. Estamos planejando
abrir uma pequena joalheria em Creta, no shopping, e com o tempo se
conseguirmos, voltarei a fazer com as preciosas, mas estou amando usar as
semi. Também voltei a pintar.

— E isso a deixa feliz? — Marcello perguntou, vindo ao lado da mãe e


olhando as joias.

— Sim, irmão, isso me deixa muito feliz.

— Então somente lhe desejo sucesso.

Pietra sorriu e olhou para Harley, que lhe sorriu e beijou sua testa.

— Então penso que gostaria de ter estas de volta.


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Marcello fez um gesto com a mão e um lobo veio trazendo a caixa de


pedras preciosas que pertencia a Pietra e uma mala cheia de dinheiro.

Ela abriu a caixa e arfou e olhou para ele com os olhos arregalados e, em
seguida, olhou para Harley, que também estava espantado.

— Isso era meu. Como teve de volta?

— Digamos que a justiça foi feita.

Ela engoliu em seco e seus olhos novamente se encheram de lágrimas.

— Obrigada.

Harley rosnou e olhou para Marcello e os dois se encararam por um


momento. Seu cunhado estendeu-lhe a mão e Harley a apertou; e Pietra riu,
emocionada.

Sim, as coisas podiam ser boas.

No meio de tudo, alguém, não se soube quem, soltou um uivo e vários


outros o seguiram até que entre risadas todos uivaram, em um alerta de paz.

E então, algo mais interessante ocorreu, entre champanhes à vontade


circulando em bandejas por garçons, houve uma festa, e era impressionante
observar três alcateias que passaram por tantos problemas, agora unidas e
eram abençoadas pelos reis e criadores de tudo.

A vida entre os lobos poderia ser difícil e muitas vezes dolorosa, e


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inimaginavelmente intrigante e rodeada de mistérios do universo, mas era


maravilhosa quando se permitiam deixar a magia bela dos lobos aflorarem
sobre todas as outras coisas e sentimentos mundanos e encontravam a
felicidade e a paz.

Estes eram os reais objetivos dos lobos de bom coração: terem paz e
serem felizes.

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Leia uma prévia do sexto volume da série Os Lobos de Ester

Konan bateu cada vez mais forte no saco de boxe, que arrebentou das
correntes que o mantinham suspenso pelo teto e voou pela sala, caindo sobre
uma pilha de pesos e arrebentando, e, consecutivamente, espalhando a areia
por todo lado.

— É o terceiro saco que arrebenta este mês, Konan. Então, a menos que
tenhamos que trocar de empresa por outra que faça algo mais reforçado,
sugiro que me conte qual é o seu problema — Erick disse chegando ao seu
lado e cruzando os braços sobre o peito.

— Não há problema nenhum — Konan disse com um rosnado, arfando e


com o corpo encharcado de suor.

— Você sempre é muito calmo, mas ultimamente está nervoso. Por quê?

— O que eu ganho sendo calmo quando eu tenho vontade de arrancar a


cabeça de alguém?
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— Alguém específico?

— Não.

— Alguém o aborreceu?

— Estes malditos humanos pensam que são quem? Reis? Eu deveria


mostrar um verdadeiro rei a eles. Um que comeria suas vísceras no café da
manhã.

— Sei que os humanos nunca lhe caíram muito bem, mas você é o que
mais gosta de andar entre eles.

— Não gosto!

Erick levantou uma sobrancelha, inquisitivo.

— Então por que anda?

— Eles não se metem comigo porque sou grande; e quando algum idiota
tenta, na maioria das vezes está bêbado e as mulheres gostam de mim.

— Eu sei que elas gostam, pois é um bom tipo.

— As mulheres gostam de homens fortes e grandes. Mas elas não


entenderiam nosso lado animal. Tivemos prova disso nos laboratórios e
aquelas doutoras mulheres eram como os homens, maus. E... já aconteceu
outra vez.

Erick olhou para ele por alguns segundos, analisando seu comportamento.
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— Você ainda tem mágoa de Liana?

— Não tenho mágoa.

— Tem, sim.

— Ela partiu meu coração, mas eu superei, portanto ela não me importa
mais.

— Se não te importa, por que as lembranças dela estão castigando você? E


justo agora?

— Eu... eu não sei. Penso nela... ultimamente.

— Você arriscou sua vida por ela. Revelou-se aos soldados alemães para
salvá-la. E ela o temeu e o desprezou.

— Chamou-me de monstro!

Konan engoliu em seco e suas memórias o castigaram. Ele ainda podia


ouvir os tiros, os gritos, sentir o ardor das balas perfurarem sua carne.

Podia ver claramente nas suas memórias a pequena tropa nazista descendo
dos barcos e metralhando todos da costa da pequena vila irlandesa, próximo à
vila onde morava sua alcateia.

Era uma imagem difícil de esquecer e o horror que ele viu nos olhos da
moça que amava, no momento que sua fera surgiu para protegê-la, tinha o
matado.

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— Por isso não aceita que tomemos companheiras humanas — Erick


disse, tirando-o de suas lembranças.

— Humanas são fracas para os lobos.

— Algumas sim, mas nossas companheiras são fortes.

— Não quero uma companheira humana.

— Posso respeitar isso, Konan. Você não é obrigado a tomar uma


companheira humana. Pode escolher uma loba para ser sua companheira.

— Não quero ser responsável por ninguém. Não quero uma companheira.

— Tudo bem, pode ser que não queira agora, mas um dia vai querer. Vai
querer ter sua família. Vivemos muitos anos, Konan, para passarmos
sozinhos. Uma aventura de sexo quente por aí é legal e entusiasmante, mas
um dia seu coração e sua mente vão querer mais. Vai querer um lar, um
herdeiro, alguém para abraçar quando chegar em casa. Lobos não nasceram
para serem sozinhos.

— Eu sei, mas não é agora.

Erick o observou por um minuto em silêncio, lendo a fisionomia do


amigo.

— Se está assim tão aflito e trazendo suas dores do passado, se


martirizando, é porque... talvez... você tenha a encontrado.

— Não encontrei! — disse rapidamente, com um rosnado que quase fez


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Erick rir.

— Acho que você entrou em um meio de negação, sabe. Isso acontece


quando não queremos ver a realidade ou estamos nos preocupando demais
que ela vá nos atingir.

— Eu não estou criando distrações para minha realidade. Conheço-a bem.


Esta humana não está nela.

— Hum... esta humana? Esta humana, por acaso, não seria a moça da
boate?

— Não é ela.

— Não sente nada quando está com ela? Sua libido não mudou?

— Não.

— Eu tenho a impressão que estourar dois sacos de areia em seus treinos


de boxe, me parece meio desregulado.

— Isso é fraco.

— Pode mentir para si mesmo, Konan, mas não pode mentir para os
deuses, nem para mim, pois não acredito em você.

— Se os deuses me conhecessem, não me fariam uma companheira


humana, pois saberiam que não a quero.

— Bem, talvez eles saibam exatamente o que pode curar seu coração
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ferido.

— Você se intromete demais, beta!

Konan rosnou, estufando o peito e cerrando os punhos, mas isso não


intimidou Erick nem um pouco.

— Sou seu amigo e somente quero ajudar. Desejo que esteja bem, mas se
estourar mais um saco de areia, eu chutarei seu traseiro.

— Ponha na minha conta.

— Não é sobre o valor dos sacos que me importa e sim porque os está
socando. Vá transar, Konan, e resolva seu problema com sua pequena
humana que está tirando seus pensamentos do sério.

— Não tenho uma humana.

— Certo. Se precisar de algo, pode falar comigo.

Erick foi até a porta e saiu, então voltou e somente colocou a cabeça na
porta.

— Ah! E não esqueça que eu quero ser o padrinho do casamento.

Erick saiu rapidamente pelo clube e soltou uma risada quando ouviu
Konan soltar um feroz rosnado que fez o chão tremer e ouviu mais um saco
voar e explodir na parede.

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JANICE GHISLERI é catarinense, estilista e pós-graduada em


Comunicação e Artes Visuais. Sempre foi apaixonada por livros de romance
e filmes. Por isso, a linha literária dos seus livros são os romances de época e
fantasia. Além da série Os Lobos de Ester, publicada pela Editora Planeta
Literário, seus outros livros publicados são Entre o Amor e a Fé: A Profecia,
e a saga Paixões no Oeste, com quatro livros. Três de seus livros foram
finalistas no 4º Concurso Literário do Clube de Autores. Seu conto A Noite

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Sombria foi selecionado para o livro O Corvo, da Editora Empíreo. E conta


com mais contos como: Sweet Alabama, 1 e 2, O Pecado em Veneza, A
Sombra de um Amor, Meu Anjo na Terra.

Aventurando-se pelo cinema, desenvolveu dois roteiros para a produtora


Stairs, O Vale dos Dinossauros e O Mistério da Ilha Del Rei, Juvenal e o
Dragão, além de outros projetos de romances em andamento.

Site:
janiceghisleri.wordpress.com/

Fanpage:
Janice Ghisleri Autora

Grupo da Série:
Os Lobos de Ester – Janice Ghisleri

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A HERDEIRA
Série Os Lobos de Ester - Vol. 1

Eles eram milenares, míticos e poderosos, mas foram capturados e

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tratados como cobaias. Com a ajuda de um cientista foram libertados, e agora


lutam para resgatar os últimos lobos e começar uma vida nova.

Noah era o alfa. Apesar de belo e feroz, carregava profundas cicatrizes em


seu coração. Por isso, estar perto de Ester era a última coisa que ele podia
enfrentar, mas seu beta, Erick, pensava o contrário. Tudo estava indo bem
para Ester. Ela tinha uma nova casa, além de uma clínica veterinária, e um
admirador secreto que lhe enviava flores e presentes, até ela atender um
chamado para ajudar um animal ferido. E assim, Ester entrou em um mundo
paralelo, onde havia homens altos, fortes, sensuais e com olhos exóticos que
jamais havia visto na vida.

Após o choque de descobrir a verdade sobre seu pai, Ester soube que não
era uma herdeira normal quando o conteúdo do seu testamento foi revelado.
Um deles era um companheiro, e isso teria uma consequência imensa para a
sua vida. Porém, nem imagina o que acontecerá quando descobrirem sua
verdadeira identidade.

Embarque nessa aventura e descubra qual o mistério que uniu a herdeira


aos lobos.

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O DESPERTAR
Série Os Lobos de Ester - Vol. 2

Erick, o beta da alcateia dos lobos, era o mediador e braço direito do alfa.
Belíssimo e bem-humorado, sempre manteve todos unidos e pacíficos,
mesmo quando ele próprio quase perdeu sua prudência, enquanto esteve
preso nos laboratórios. Ele acreditava que, se pedisse aos antigos deuses,
seria libertado e presenteado com a sua companheira de alma, como
profetizava a lenda. Então, ele foi libertado e, um dia, ela apareceu.

Enquanto isso, Kira era uma jovem doce e solitária, que vivia reclusa em
seu mundo, tentando sobreviver com sua arte e sua cegueira. Ela possuía um
segredo que poderia fazer com que Erick, o queridinho da alcateia, já não
fosse tão bem-vindo entre os seus. E pior, que além de banidos, eles
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poderiam ser caçados e mortos pelos lobos.

Nenhum dos dois era o que imaginavam, e quando os segredos são


descobertos, trazem à tona a verdade sobre seus ancestrais. Para proteger sua
companheira, Erick mostraria que não seria nada pacífico.

QUANDO OS LOBOS CHORAM


Série Os Lobos de Ester - Vol. 3

Dois amigos lobos escondem um segredo que quebra suas almas.

Jessy, irmã do alfa, é tão bela que todos têm vontade de suspirar ao vê-la.
Mãe da pequena humana, Lili, que é sua vida, luta duramente com as marcas
profundas que anos de cativeiro e estupros deixaram. Mesmo encontrando

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seu companheiro de alma, Sasha, o mercenário que ajudou a libertá-los dos


laboratórios, ela tem dificuldades de vencer seu trauma e aceitá-lo.

Kirian, um lobo forte e feroz, ornado com seu kilt, guarda muita raiva e
traumas em seu coração. Raiva pelo que fizeram a ele e aos seus, por ter
encontrado sua companheira, Annelise, mas que pertence a outro homem,
raiva e remorso pelos segredos que guarda. A solidão o consome e usa seu
trauma de comida para se distrair, assim como as lutas de espadas e adagas.

Agora, tanto Kirian quanto Jessy chegaram ao ponto que precisam se


libertar de seus pesadelos e seu passado e lutar pelos seus companheiros, nem
que para isso precisem reviver seu inferno e revelar seus segredos.

O ALFA DE ALAMUS

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Série Os Lobos de Ester - Vol. 4

Petrus se tornou alfa de sua alcateia e recebeu sua herança empacotada em


uma chantagem.

Após anos de cativeiro, o que mais almejava era sua liberdade, mas
continuava sendo preso nas armadilhas do inimigo.

Sua única vontade era ficar preso às garras de certa loba.

Prestes a se acasalar com sua prometida italiana, Petrus fez uma


descoberta que poderá mudar o rumo de sua história.

Sami estava em busca de vingança e, ao reencontrar Petrus, teria que


enfrentar muitos desafios e o maior deles era aceitar sua própria loba.

Eles se meterão em grandes confusões e lutas em Las Vegas em meio a


um delicioso jogo de sedução, mas se o resultado não for aceitável, o alfa de
Alamus poderá perder seu império.

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ENTRE O AMOR E A FÉ
A PROFECIA - Vol. 1

Uma profecia mudaria suas vidas...

Quando Urs Barker, do museu de Londres, envia a arqueóloga Marien


Stewart para uma exploração das ruínas de uma suposta igreja na Itália, ele
não sabia onde estaria se metendo.

O que encontrariam junto do padre Sebastien Caseneuve não seriam meras


ruínas, mas magia, paixão e sofrimento, que trazem para suas vidas uma
arrebatadora história do século XIV.

Suas vidas se misturam entre o passado e presente, fazendo-os reviver em

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forma de estranhas visões a vida daquelas pessoas que viveram no passado e


enfrentaram acusações de bruxaria, viveram como templários lutando em
Jerusalém e tiveram suas vidas separadas.

Agora no século XXI, eles são escolhidos para cumprir uma profecia e,
assim, trazer à tona a história, a justiça e o amor. Não encontrarãoapenas o
destino de suas vidas, explodindo em um conflitante triângulo amoroso, mas
também descobrirão o grande segredo oculto no templo que pensavam ser
uma simples igreja católica medieval.

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Acesse o site da Editora PL para saber mais informações sobre esse e


outros livros:

www.editorapl.com

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