Poetry">
PREPARAÇÃO EXAME RIBADOURO - Gramática
PREPARAÇÃO EXAME RIBADOURO - Gramática
PREPARAÇÃO EXAME RIBADOURO - Gramática
º ANO
Caderno de Atividades
GRUPO I
PARTE A
Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.
NOTAS
informe (verso 7) – sem forma, monstruoso, colossal.
insone (verso 5) – que tem insónias, que não dorme.
1. Interprete o verso «Cansa sentir quando se pensa.» (v. 1), atendendo à especificidade da poesia de
Fernando Pessoa ortónimo.
2. Explicite a relação que se estabelece entre o estado de espírito do sujeito poético e as referências
temporais presentes na segunda e na terceira estrofes. Fundamente a sua resposta com elementos
textuais pertinentes.
3. Comente a expressividade da última estrofe, tendo em conta, por um lado, a utilização dos
parêntesis e, por outro, o sentido dos paradoxos que encerra.
PARTE B
Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.
NOTAS
enxárcias (verso 19) – conjunto de todos os cabos de um navio que seguram os mastros.
maços (verso 14) – instrumento de calceteiro para bater pedras da calçada.
saibro (verso 23) – areia grossa com pequenas pedras à mistura.
vergas (verso 19) – varas flexíveis e delgadas.
4. Explicite um dos efeitos de sentido produzidos pelas referências às condições climatéricas ao longo
do poema.
5. Relacione o sentido dos versos 24 e 25 com as exclamações presentes na última estrofe do poema.
GRUPO II
Leia o texto.
Segundo o senso comum, a razão é o contrário da emoção. Expressões como «tem juízo», «pensa
com a razão e menos com o coração» são-nos ditas constantemente ao longo da nossa vida, por quem nos
ama, quem nos ensina e quem nos aconselha, mas também por quem menos gosta de nós. Por amor ou
por ódio, muitos são os que insistem em chamar-nos à razão.
5 A ciência económica tradicional compactua com esta dualidade, considerando que o processo de decisão é
composto por dois mecanismos díspares e em constante conflito: o mecanismo racional e intelectual, que nos
faz tomar decisões certas, e o mecanismo emocional e impulsivo, muitas vezes culpado das escolhas erradas e
ineficientes. Deixa, no entanto, para a psicologia o estudo das emoções e foca-se nas
escolhas que fazemos se fôssemos seres isentos de qualquer emoção. Isto é, se fôssemos o tal homo
10 economicus que é exclusivamente racional, que sabe o que é importante para si, que faz escolhas
calculando perfeitamente os riscos, os custos, os benefícios, no presente e no futuro.
Mas como na realidade não somos esta máquina «perfeita», as escolhas que fazemos são
influenciadas quer por impulsos primitivos e genéticos, como o instinto, quer por emoções e sentimentos
mais conscientes. E mesmo quando pensamos que estamos a tomar uma decisão racionalmente, esta,
15 muitas das vezes, já vem influenciada por escolhas anteriores que foram enviesadas por emoções. Por
exemplo, normalmente colocamos no carrinho das compras do supermercado produtos de que gostamos
e que já foram, achamos nós, fruto de um raciocínio lógico anterior, mas por vezes essas escolhas não são
mais do que o resultado de uma atividade cerebral que apenas busca padrões que foram provavelmente
influenciados por emoções. A música que passava na loja, por exemplo, pode ter influenciado, mesmo que
20 inconscientemente, a decisão de experimentar uma nova marca de detergente. [...]
Um estudo muito recente de neurocientistas sediados em Nova Iorque, Joseph LeDeboux e
Richard Brown, vem mostrar que as emoções podem gerar mais do que atos racionais. [...]
Emoções como a raiva, empatia, inveja e vergonha moldam interações estratégicas, porque não
influenciam apenas o comportamento de quem as sente, mas também o comportamento dos outros com
25 quem se interage. [...]
Aos que se entusiasmam com o poder da robótica, os drones da Amazon e os carros da Uber a
movimentarem-se “inteligentemente” sem motorista, talvez seja bom lembrar que máquinas inteligentes
que não sofrem, não se exaltam e não rejubilam de felicidade podem não tomar decisões ótimas,
sobretudo em interações estratégicas com os outros.
Sandra Maximiano, «A razão e a emoção moram juntas», Expresso, fevereiro de 2017 (texto adaptado e com
supressões)
1. Segundo a ciência económica, a razão e a emoção
(A) são consideradas numa perspetiva dicotómica.
(B) equivalem-se no seu contributo para as decisões humanas.
(C) complementam-se no processo de tomada de decisão.
(D) fazem parte de um processo cognitivo dialogante.
3. Os exemplos apresentados nas linhas 16 a 20, relativamente à influência das emoções nas decisões
humanas, constituem uma
(A) contradição.
(B) explicação.
(C) confirmação.
(D) incoerência.
5. Nas expressões «são-nos ditas» (linha 2) e «por quem nos ama» (linha 3), os pronomes pessoais
desempenham as funções sintáticas de
(A) complemento direto e complemento indireto, respetivamente.
(B) complemento indireto e complemento direto, respetivamente.
(C) complemento direto, em ambos os casos.
(D) complemento indireto, em ambos os casos.
6. O recurso ao grupo preposicional «com esta dualidade» (linha 5) configura um mecanismo de
coesão gramatical
(A) interfrásica.
(B) referencial.
(C) frásica.
(D) temporal.
8. Identifique a função sintática desempenhada pela oração «os que insistem em chamar-nos à razão.»
(linha 4).
9. Indique o tipo de dêixis assegurado pelo determinante demonstrativo «esta» presente na linha 5.
GRUPO III
Na obra épica de Luís de Camões, verifica-se a dado passo um tom crítico em que o autor
questiona os valores da sociedade portuguesa quinhentista, denunciando uma realidade decadente e
antiépica do final do século XVI.
Partindo da sua experiência de leitura, redija uma exposição, de 130 a 170 palavras, na qual
explicite de que forma Os Lusíadas ilustram um tom reprovador e sentenciador da realidade
portuguesa do final do século XVI.
Teste 2
GRUPO I
PARTE A
NOTA
enleio (verso 11) – perturbação, perplexidade.
1. Comente o recurso aos parêntesis, no verso 4, tendo em conta o sentido da primeira estrofe.
2. Identifique a figura de estilo presente em «E a alma era um céu» (verso 7) e refira o seu valor
expressivo.
3. Interprete o sentido dos dois últimos versos do poema, atendendo à especificidade da poesia
de Fernando Pessoa ortónimo.
PARTE B
DE VERÃO
I
No campo; eu acho nele a musa que me anima:
A claridade, a robustez, a ação.
Esta manhã, saí com minha prima,
Em quem eu noto a mais sincera estima
5 E a mais completa e séria
educação. [...]
III
Andam cantando aos bois; vamos cortando as
leiras; E tu dizias: «Fumas? E as fagulhas?
Apaga o teu cachimbo junto às eiras;
IV
E perguntavas sobre os últimos inventos
Agrícolas. Que aldeias tão lavadas!
X
Exótica! E cheguei-me ao pé de ti. Que vejo!
XI
Elas, em sociedade, espertas,
diligentes. Na natureza trémula de
sede, Arrastam bichos, uvas e sementes
E atulham, por instinto, previdentes,
25 Seus antros quase ocultos na parede.
4. Explicite a relação que se estabelece entre o estado de espírito do sujeito lírico e a caracterização
que faz do campo.
5. Interprete a referência ao episódio das formigas (versos 17 a 25), tendo em conta uma das
características temáticas da poesia de Cesário Verde.
GRUPO II
NOTAS
epíteto (linha 12) – palavra que se associa a um nome para o qualificar ou o realçar, alcunha.
espetral (verso 19) – relativo a um espetro, fantasma.
1. O adjetivo «ficcional» (linha 4) contribui para conferir à «correspondência» com «Ofélia» o seu pendor
(A) fingido.
(B) sentimental.
(C) misterioso.
(D) sensível.
2. Ao afirmar que «Ofélia não era um seu heterónimo» (linha 9), o autor
(A) valida a presença dela no universo literário pessoano.
(B) situa-a na obra poética do ortónimo e dos heterónimos.
(C) centra-a como personagem literária da poesia pessoana.
(D) evidencia a separação da realidade do ficcional literário.
4. Na expressão «suportar a insuportável e incógnita realidade do que chamamos Vida.» (linha 25),
Eduardo Lourenço utiliza
(A) uma hipérbole.
(B) uma metáfora.
(C) um paradoxo.
(D) uma personificação.
5. No segmento «Se Ofélia tivesse lido o menor dos poemas do seu efémero e improvável «namorado»
[...] onde nada se glosa senão a evidência » (linhas 11 e 12), os vocábulos sublinhados são
(A) pronomes, em ambos os casos.
(B) conjunções, em ambos os casos.
(C) pronome e conjunção, respetivamente.
(D) conjunção e pronome, respetivamente.
6. A retoma do referente «Fernando Pessoa» (linha 21) pela expressão «o Poeta» (linhas 22 e 23)
constitui um mecanismo de coesão referencial por
10. Refira a função sintática do constituinte «de quem as escreveu» (linha 31).
Grupo III
Na obra épica de Camões, os quatro planos convergem para uma ideia de herói que eleva os
portugueses acima de qualquer outro povo, contemporâneo do autor, da Antiguidade ou mitológico.
Partindo da sua experiência de leitura, redija uma exposição, de 130 a 170 palavras, na qual
explicite de que forma Os Lusíadas contribuem para a mitificação do herói português.
Teste 3
GRUPO I
PARTE A
[…]
Eia, que vida essa! essa era a vida, eia!
Eh-eh-eh-eh-eh-eh-eh!
Eh-lahô-lahô!-laHO-lahá-á-á-à-à!
Eh-eh-eh-eh-eh-eh-eh!
[...]
[…]
NOTAS
amuradas (verso 7) – partes inferiores da borda que serve de parapeito ao navio.
conveses (verso 6) – áreas do pavimento superior dos navios.
Quilhas (verso 5) – as peças do fundo do navio.
1. Explicite dois dos efeitos de sentido produzidos pelos versos 1 a 17, ilustrando a resposta com
elementos textuais significativos.
2. Interprete os versos «A lua sobe no horizonte/E a minha infância feliz acorda, como uma lágrima,
em mim.» (versos 22 e 23), tendo em conta o contexto em que ocorrem.
[ Quero acabar este discurso dos louvores, e virtudes dos peixes com um, que não sei se foi
ouvinte de Santo António, e aprendeu dele a pregar. A verdade é que me pregou a mim, e se eu fora outro,
também me convertera. Navegando daqui para o Pará (que é bem não fiquem de fora os peixes da nossa
costa), vi correr pela tona da água de quando em quando a saltos um cardume de peixinhos, que não
5 conhecia; e como me dissessem que os Portugueses lhe chamavam “Quatro-olhos”, quis averiguar
ocularmente a razão deste nome, e achei que verdadeiramente têm quatro olhos, em tudo cabais, e
perfeitos. […]
Filosofando pois sobre a causa natural desta Providência, notei que aqueles quatro olhos estão
lançados um pouco fora do lugar ordinário, e cada par deles unidos como os dois vidros de um relógio de
10 areia, em tal forma, que os da parte superior olham direitamente para cima, e os da parte inferior
direitamente para baixo. E a razão desta nova arquitetura é: porque estes peixezinhos, que sempre andam na
superfície da água, não só são perseguidos dos outros peixes maiores do mar, senão também de grande
quantidade de aves marítimas, que vivem naquelas praias; e como têm inimigos no mar, e inimigos no ar,
dobrou-lhes a Natureza as sentinelas, e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para
15 se vigiarem das aves, e outros dois, que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes.
Oh que bem informara estes quatro olhos uma Alma racional, e que bem empregada fora neles, melhor
que em muitos homens! Esta é a pregação, que me fez aquele peixezinho, ensinando-me que se tenho
Fé, e uso de razão, só devo olhar direitamente para cima, e só direitamente para baixo: para cima,
considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há Inferno.
VIEIRA, Padre António, 2014. “Sermão de Santo António”. In Obra Completa (Direção de José Eduardo
Franco e Pedro Calafate). Tomo II. Volume X (Sermões Hagiográficos I). Lisboa: Círculo de Leitores (pp.
143-148) (1.ª ed.: 1682). Texto com supressões.
4. Relacione a referência a Santo António com o comentário do orador «se eu fora outro, também me
convertera» (linhas 2 e 3).
1. De acordo com o segundo parágrafo, a admiração de Vasco Graça Moura em relação à sua «galeria
de convivas» (linha 6) prende-se com
(A) a valorização de aspetos formais e estilísticos.
(B) a organização cronológica destes autores.
(C) o peso que associa às suas temáticas.
(D) o relevo que eles adquiriram na literatura.
2. Na opinião da autora, «os antepassados literários» (linha 9), convocados no trabalho poético de
Vasco Graça Moura, tornam-se
(A) secundários.
(B) conservadores.
(C) atuais.
(D) superiores.
4. A expressão «enciclopédia envolvida» (linha 28), no contexto em que surge, caracteriza a obra
poética de Vasco Graça Moura como
(A) redutora.
(B) complexa.
(C) englobante.
(D) polémica.
5. A «função da Grande Poesia» (linha 32) é fomentar, no leitor,
(A) o questionamento.
(B) a resignação.
(C) o comodismo.
(D) o descontentamento.
6. As palavras sublinhadas no segmento «deve ser apreciada por todo aquele que não tenha no
horizonte a ideia da satisfação consolada, que essa não é a função da Grande Poesia.» (linhas 31 e 32)
são
(A) pronome e conjunção, respetivamente.
(B) conjunção e pronome, respetivamente.
(C) conjunção nos dois casos.
(D) pronome nos dois casos.
9. Indique a função sintática desempenhada pelo constituinte «seus contemporâneos» (linha 10).
10. Classifique a oração «que Pessoa não tenha lugar reservado nesta mesa» (linhas 21 e 22).
GRUPO III
«As sociedades são conduzidas por agitadores de sentimentos, não por agitadores de ideias.»
Fernando Pessoa, in Notas Autobiográficas e de Autognose
Escreva um texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e
cinquenta palavras, sobre o modo como a ação humana é condicionada pelas manipulações emocionais, na
atualidade.
Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo.
Teste 4
GRUPO I
PARTE A
NOTAS
Perene (verso 9) – eterno, que dura sempre.
hausto (verso 10) – aspiração.
1. Clarifique o sentido da primeira estrofe, tendo em conta o valor dos paradoxos que encerra.
3. Relacione o sentido dos versos «Colhe/O dia, porque és ele» (versos 11 e 12) com o conteúdo da
última estrofe.
PARTE B
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
Com esta última advertência vos despido, ou me despido de vós, meus peixes. E para que vades
consolados do sermão, que não sei quando ouvireis outro, quero-vos aliviar de uma desconsolação mui
antiga, com que todos ficastes desde o tempo em que se publicou o Levítico. Na lei eclesiástica ou ritual
do Levítico, escolheu Deus certos animais, que lhe haviam de ser sacrificados; mas todos eles ou animais
5 terrestres ou aves, ficando os peixes totalmente excluídos dos sacrifícios. E quem duvida que esta exclusão
tão universal era digna de grande desconsolação e sentimento para todos os habitadores de um elemento tão
nobre, que mereceu dar a matéria ao primeiro Sacramento? O motivo principal de serem excluídos os peixes
foi porque os outros animais podiam ir vivos ao sacrifício, e os peixes geralmente não, senão
mortos; e coisa morta não quer Deus que se lhe ofereça, nem chegue aos seus altares. Também este ponto
10 era muito importante e necessário aos homens, se eu lhes pregara a eles. Oh quantas almas chegam
àquele altar mortas, porque chegam e não têm horror de chegar, estando em pecado mortal! [...]
Ah peixes, quantas invejas vos tenho a essa natural irregularidade! Quanto melhor me fora não tomar a
Deus nas mãos, que tomá-lo tão indignamente! Em tudo o que vos excedo, peixes, vos reconheço muitas
vantagens. A vossa bruteza é melhor que a minha razão e o vosso instinto melhor que o meu
15 alvedrio. Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras; eu lembro-me, mas vós não ofendeis a
Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis a Deus com o entendimento; eu quero, mas vós
não ofendeis a Deus com a vontade. [...]
Benedicite, cete, et omnia quæ moventur in aquis, Domino: «Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os
pequenos», e repartidos em dois coros tão inumeráveis, louvai-o todos uniformemente. Louvai a Deus,
20 porque vos criou em tanto número. Louvai a Deus, que vos distinguiu em tantas espécies; louvai a Deus, que
vos vestiu de tanta variedade e formosura; louvai a Deus, que vos habilitou de todos os instrumentos
necessários para a vida; louvai a Deus, que vos deu um elemento tão largo e tão puro; louvai a Deus, que,
vindo a este mundo, viveu entre nós, e chamou para si aqueles que convosco e de vós viviam; louvai a
Deus, que vos sustenta; louvai a Deus, que vos conserva; louvai a Deus, que vos multiplica; louvai a Deus,
25 enfim, servindo e sustentando ao homem, que é o fim para que vos criou; e assim como no princípio vos deu
sua bênção, vo-la dê também agora. Ámen. Como não sois capazes de Glória, nem de Graça, não acaba
o vosso Sermão em Graça e Glória.
VIEIRA, Padre António, 2014. “Sermão de Santo António”. In Obra Completa (Direção de José Eduardo
Franco e Pedro Calafate). Tomo II. Volume X (Sermões Hagiográficos I). Lisboa: Círculo de Leitores (pp.
143-148) (1.ª ed.: 1682). Texto com supressões.
NOTAS
aqueles (linha 23) – os apóstolos que eram pescadores.
despido (linha 1) – despeço.
Levítico (linha 4) – livro da Bíblia que regula o culto entre os Hebreus. O 1.º Livro do Levítico pode considerar-se um ritual de sacrifícios.
primeiro sacramento (linha 7) – a água é a matéria usada no batismo, que é o primeiro sacramento.
4. Explicite a crítica aos homens e a autocrítica que o Pregador apresenta, tendo em conta o contexto
apresentado.
5. Mostre como o orador procura despertar a emoção do auditório, ao mesmo tempo que apela ao
louvor a Deus.
GRUPO II
Fernando Pessoa e o romance nunca foram amigos chegados. No espólio, há vários textos em
que se refere pejorativamente ao género literário, chamando-lhe o “conto de fadas de quem não tem
imaginação”, a “poesia da mesquinhez”. Se é verdade que Pessoa escreveu vários contos (uma boa parte
policiais), também parece certo que nunca se deu ao trabalho de escrever um romance. Mas será que é
5 mesmo assim? A resposta é simples: não.
No interior da arca, […] existem rascunhos de dois romances que ficaram por acabar e que
pertencem a uma fase da juventude do poeta conotada com a famosa Empresa Íbis — Oficinas a Vapor,
uma tipografia que Pessoa abriu em 1907 e fechou em 1910, e que constituiu o seu primeiro projeto
empresarial. Escritos por volta de 1909, os dois textos, Marcos Alves e Reação, reúnem uma série de
10 questões, temáticas e perceções que Fernando Pessoa viria a retomar anos mais tarde e que, por isso, não
deixam de ser importantes. E foi exatamente sobre um deles, Reação, que Ana Maria Freitas falou esta
quinta-feira no Congresso Internacional Fernando Pessoa.
Inserida numa sessão intitulada “Pessoa livre”, que decorreu já durante a parte da tarde, a
comunicação da investigadora do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Faculdade de Ciências
15 Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa focou-se neste romance inacabado que tem como
personagem principal um anarquista, mas onde entram também um padre conspirador e uma condessa
malvada e defensora da monarquia.
[ Padres e condessas à parte, o que interessa mesmo é a personagem principal, Miguel, em
torno do qual o texto se desenvolve. Dele e da sua “visão da anarquia”, como explicou Ana Maria Freitas.
20 E que visão era essa? Num bloco de texto em que surge em conversa um homem chamado Sequeira,
Miguel diz: “Quem tiver de vencer verá. Produzamos essa anarquia. O resto não é connosco. E aqui vê
Vossa Excelência como o argumento que mais ilógico e irracional parece é o mais radical e lógico de todos…
[ Apesar “da incompletude”, de acordo com Ana Maria Freitas, é possível perceber que “o autor
escolheu um formato de blocos de texto, sem uma sequência temporal seletiva”. Os blocos “de tipos
25 diferentes” incluem todo o tipo de escritos — de reflexão, diálogos e até uma cena dramática, “com
indicações cénicas incluídas”. Uma “mistura de géneros, que não deixa de ter direito a ser chamado
romance, que não volta a ser repetida” em mais nenhum lugar da obra pessoana. […]
in http://observador.pt/2017/02/10/fernando-pessoa-escreveu-romances-nao-mas-
quase/ (consultado em 5-10-2017, texto com supressões)
NOTAS
espólio (linha 1) – conjunto de bens deixados pelo falecimento de uma pessoa.
pejorativamente (linha 12) – de forma desagradável, insultuosa.
1. De acordo com os dois primeiros parágrafos, no universo literário de Fernando Pessoa, o
«romance» teve um lugar
(A) prestigiado, mas incompleto.
(B) secundário, mas apreciado.
(C) significativo e mesquinho.
(D) distante e contido.
3. No último parágrafo, Ana Maria Freitas destaca o romance Reação (linha 11) na sessão «Pessoa
Livre» (linha 13) por ser
(A) incoerente.
(B) singular.
(C) lacunar.
(D) impreciso.
4. Reação «não deixa de ter direito a ser chamado romance» (linhas 26 e 27),
(A) apesar de não cumprir com as categorias da narrativa.
(B) por incluir personagens muito complexas e incompreensíveis.
(C) mesmo apresentando características de várias tipologias textuais.
(D) contrariando o que Pessoa foi referindo ao longo da sua vida.
5. Quanto ao aspeto verbal, o segmento «nunca se deu ao trabalho de escrever um romance» (linha 4)
exprime um valor
(A) genérico.
(B) perfetivo.
(C) imperfetivo.
(D) iterativo.
6. Os vocábulos sublinhados no segmento «Se é verdade que Pessoa escreveu vários contos (uma boa
parte policiais), também parece certo que nunca se deu ao trabalho de escrever um romance.» (linhas
3 a 5) são
(A) pronomes, em ambos os casos.
(B) conjunções, em ambos os casos.
(C) pronome e conjunção, respetivamente.
(D) conjunção e pronome, respetivamente.
7. A forma verbal «O resto não é connosco.» (linha 21) veicula um valor modal de
(A) certeza.
(B) probabilidade.
(C) obrigação.
(D) permissão.
8. Classifique a oração «que Ana Maria Freitas falou esta quinta-feira no Congresso Internacional
Fernando Pessoa.» (linha 11).
9. Indique a função sintática desempenhada pelo pronome relativo «que» (linha 13).
GRUPO III
«Se Vieira procura conduzir a opinião pública, transformando o púlpito em tribuna política, o facto nada
tem de excecional: no século XVII, o púlpito desempenhava também funções que hoje cabem aos jornais, à
televisão, enquanto instrumentos nas mãos dos governantes.»
Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra, no mínimo, a dois argumentos, ilustrando cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Teste 5
GRUPO I
PARTE A
Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.
ANTÓNIO VIEIRA
2. Indique dois dos aspetos que, no poema, se referem ao mito sebastianista. Fundamente a sua
resposta com elementos textuais pertinentes.
3. Explicite a atitude do sujeito poético no verso 9, relacionando-a com a oposição que se estabelece
na terceira estrofe.
PARTE B
Leia o excerto de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Se necessário, consulte a nota.
ATO II
CENA IX
JORGE
(só)
Jorge – Eu faço por estar alegre, e queria vê-los contentes a eles. Mas não sei já que diga do estado em
5 que vejo minha cunhada, a filha. Até meu irmão o desconheço! A todos parece que o coração lhes
adivinha desgraça. E eu quase que também já se me pega o mal. Deus seja connosco!
CENA X
(JORGE, MADALENA)
MADALENA
10 (falando ao bastidor)
Madalena – Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e quando
desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Vem para a cena.) Não há vento, e o dia está
lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a volta. Quem sabe? O tempo muda tão depressa.
JORGE
15 Jorge – Não, hoje não tem perigo.
MADALENA
Madalena – Hoje. Hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado. Que ainda temo que
não acabe sem muita grande desgraça. É um dia fatal para mim; faz hoje anos que... que casei a
primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que vi pela primeira vez
Manuel de Sousa.
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, 3.ª edição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994
NOTA
bergantim (linha 11) – navio de dois mastros que arma como um brigue e tem uma só coberta.
4. Compare as reações das duas personagens ao proferirem a palavra «hoje» (linhas 15, 17 e 18) e explique
o modo como essas reações se manifestam, tanto nas suas falas como no seu comportamento.
Bem sei que uma tradição de pensamento quase canónica nos assegura que o patriotismo é doce e bom,
enquanto o nacionalismo é amargo e mau; e que o primeiro é benévolo e tolerante em relação às diferenças
culturais e às minorias étnicas e religiosas, enquanto o segundo é agressivo em relação a tudo o que considera
estrangeiro e, levado aos seus extremos, constitui uma regressão a um estado guerreiro e de
5 existência tribal. Mas este discurso que pretende distinguir duas formas de pertença a uma comunidade,
dizendo que elas são completamente diferentes, baseia-se em falácias ou em critérios tão plásticos que
servem para tudo e para nada.
Podíamos parafrasear Hobbes, dizendo que «o nacionalismo é um patriotismo desagradável, enquanto o
patriotismo é o nacionalismo que agrada». […] É verdade que ser patriota não significa reivindicar um
10 direito adquirido pelo sangue (isto é, por via dos nossos progenitores) e pelo solo (isto é, por fusão com a
entidade nacional onde se inscreve o lugar de nascimento). Mas significa termos orgulho nessa coisa que se
chama cidadania e sentirmos amor pela «pátria», essa entidade tão mítica como é, para o nacionalismo,
o mito nacional-estatal. O nacionalismo é o patriotismo dos outros, mas os patriotas (de Esquerda e de Direita)
salvam a sua boa consciência dizendo que o patriotismo e o nacionalismo não coincidem na mesma
15 reivindicação identitária. É verdade que, nesse aspeto, exibem algumas diferenças, mas ambos, com mais ou
menos essencialismos à mistura, não prescindem das identidades, das pesadas cristalizações históricas,
culturais e geográficas. Uma história do conceito de patriotismo, como a que faz o grande historiador dos
conceitos que é Reinhart Koselleck, mostra que ele nasceu no início do século XVIII como uma figura-guia
do Iluminismo político e que no século XIX, na época do Romantismo, se tornou um princípio organizador
20 da ação política. Mas o que Koselleck mostra também é que antes de começar a ser entendido como um
antídoto contra o nacionalismo, o patriotismo não se distinguia claramente deste e até foi necessário definir
um patriotismo mau e um patriotismo bom. Foi aliás para isolar e salvar um patriotismo bom — operação
impossível, disseram os seus críticos — que Habermas formulou o seu conceito de «patriotismo
constitucional», pós-nacional, isento de visões apologéticas do passado nacional e até portador de uma
25 visão crítica, como exigia a Federal da Alemanha depois do nazismo. Avatar romântico, o bom patriota é
uma figura da reciclagem histórica.
https://www.publico.pt/2017/12/29/culturaipsilon/opiniao/o-patriotismo-dos-outros-1797196
(adaptado e com supressões)
NOTAS
apologéticas (linha 24) – relativo a louvor ou elogio.
Avatar (linha 26) – ser sobrenatural; mutante.
1. De acordo com o primeiro parágrafo do texto, a distinção entre os conceitos de «patriotismo» (linha
1) e «nacionalismo» (linha 2)
(A) demarca-se da perspetiva dicotómica do mundo.
(B) assenta em argumentos potencialmente falaciosos.
(C) traduz uma visão negativa devidamente fundamentada.
(D) baseia-se em preceitos irrefutáveis.
4. De acordo com o último período do texto, «o bom patriota» (linha 26) é uma figura
(A) passadista.
(B) reinventada.
(C) fossilizada.
(D) extremista.
10. Indique a função sintática desempenhada pelo segmento «de visões apologéticas» (linha 24).
GRUPO III
Há quem considere, por um lado, que somos cidadãos do mundo, por outro lado, outros
afirmam que devemos dar prioridade à nação a que pertencemos.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada
um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Teste 6
GRUPO I
PARTE A
Leia o poema. Se necessário, consulte as notas.
D. JOÃO O SEGUNDO
1. Interprete a atitude de D. João Segundo no verso 1, relacionando-a com o sentido dos versos 2 a 4.
2. Explique de que modo os versos 5 e 6 contribuem para a construção simbólica do herói referido no
poema.
3. Explicite o sentido metafórico do último verso do poema, considerando a ideia presente no verso 7.
PARTE B
Leia o excerto de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Se necessário, consulte as notas.
ATO III
CENA I
[…]
MANUEL
Manuel – Mas eu em que mereci ser feito o homem mais infeliz da terra, posto de alvo à irrisão e ao
5 discursar do vulgo?... Manuel de Sousa Coutinho, o filho de Lopo de Sousa Coutinho, o filho do
nosso pai, Jorge!
JORGE
Jorge – Tu chamas-te o homem mais infeliz da terra... Já te esqueceste que ainda está vivo aquele.
MANUEL
10 (caindo em si)
Manuel – É verdade. (Pausa: e depois, como quem se desdiz.) Mas não é nem tanto: padeceu mais,
padeceu mais longamente e bebeu até às fezes o cálix das amarguras humanas. (Levantando a voz.)
Mas fui eu, eu que lho preparei, eu que lho dei a beber, pelas mãos. Inocentes mãos! Dessa infeliz que
arrastei na minha queda, que lancei nesse abismo de vergonha, a quem cobri as faces - as faces
15 puras e que não tinham corado doutro pejo senão do da virtude e do recato... cobri-lhas de um véu
de infâmia que nem a morte há de levantar, porque lhe fica perpétuo e para sempre lançado sobre
o túmulo a cobrir-lhe a memória de sombras...de manchas que se não lavam! Fui eu o autor de
tudo isto, o autor da minha desgraça e da sua desonra deles... Sei-o, conheço-o; e, não sou mais
infeliz que nenhum?
20 JORGE
Jorge – Vê a palavra que disseste: «desonra»; lembra-te dela e de ti, e considera se podes pleitear
misérias com esse homem a quem Deus não quis acudir com a morte antes de conhecer essoutra
agonia maior. Ele não tem...
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, 3ª edição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994
NOTAS
cálix (linha 13) – cálice.
irrisão (linha 5) – escárnio.
pejo (linha 17) – pudor, vergonha.
pleitear (linha 24) – discutir, comparar.
vulgo (linha 5) – povo.
5. Explicite o efeito de sentido produzido pela exclamação «de manchas que se não lavam!» (linha 17),
tendo em conta o seu conhecimento da obra.
GRUPO II
A sociedade vive ciclicamente entre quatro sentimentos distintos, a saber, a euforia, a nostalgia, os
vencidos da vida e o sebastianismo. A euforia corresponde a um período de otimismo normalmente resultante de
um recomeço. Por exemplo, com a nossa entrada, primeiro, na União Europeia e, depois, na zona euro, tornámo-
nos um país novo, rico, pujante, com novos horizontes. Tudo confirmado pelas muitas autoestradas,
5 pelos novos padrões de consumo, pela aquisição de casa própria, pela proliferação das piscinas e do parque
automóvel. Portugal cumpria, assim, o seu destino de país europeu próspero. Esta euforia não é um produto
menor do cavaquismo ou do socialismo de Guterres. Tem paralelos com o Quinto Império […] glosado por
Fernando Pessoa ou com o sonho republicano de 1911 ou com o Portugal liberal e constitucional do século XIX.
10 Segue-se a nostalgia. Fomos a grande potência disto e daquilo, o maior império, a primeira globalização, temos
uma cultura importantíssima, o país com as fronteiras mais antigas da Europa. Com ela, vivemos uma certa
bipolaridade de um passado glorioso (que não o foi mais do que o de qualquer outro país europeu) e um
sentimento de culpa, por termos perdido essa maravilhosa glória. Não temos ainda uma relação saudável com o
passado. Por exemplo, muitas vezes avaliamo-lo com os nossos olhos, procurando culpa nos nossos avós, que
15 evidentemente julgaram pelos seus olhos e não pelos nossos (pensemos nas nossas aventuras coloniais). Mas,
por outro lado, ignoramos a prevalência de corrupção e do enriquecimento ilícito em muitos dos nossos
heróis, naquilo que já era uma conduta contemporaneamente criticada […].
Com a nostalgia, instala-se o pessimismo: “isto não tem solução”, “mais vale emigrar”, “são sempre os
mesmos”. Chegam os vencidos da vida. Infelizmente, sabemos que na história predomina este sentimento,
20 principalmente nas suas fases mais democráticas (final do século XIX, Primeira República, agora), porque
estamos constantemente confrontados com a insuficiência da nossa sociedade e da nossa economia, com o
fracasso das expectativas criadas.
A nostalgia e os vencidos da vida desembocam no sempre presente sebastianismo. Sabemos que
aparecerá um redentor que, fora das instituições e mesmo contra as instituições, salvará o país. Temos
25 fundamentalmente uma cultura política e intelectual de personalidades (os “ismos” abundam na nossa política em
detrimento de ideologias ou filosofias), e não de instituições ou correntes de opinião. Como sabemos que as
instituições são sempre parte do problema, procuramos a resposta num Salvador que nos resolverá tudo,
queremos um caudilho que nos liberte do peso das instituições. E sempre que o anunciado caudilho começa a
falhar, a culpa não é dele, mas dos que o rodeiam: cultivamos a irresponsabilidade do Salvador. É por isso, aliás,
30 que as nossas fases democráticas se assemelham muito mais a consulados bonapartistas que a uma
democracia anglo-saxónica.
http://observador.pt/especiais/fracasso-das-instituicoes-portuguesas-um-problema-longo-prazo/
(consultado a 21/01/2018, adaptado e com supressões)
NOTAS
bonapartistas (linha 33) – relativo a Napoleão Bonaparte.
caudilho (linha 30) – chefe de fação, de partido; manda-chuva.
1. A referência a Fernando Pessoa (linha 8) perspetiva a «euforia» como um sentimento
(A) esporádico.
(B) contínuo.
(C) repetido.
(D) único.
2. Com a expressão «Há sempre um momento em que Portugal se vai finalmente realizar» (linha 9),
o autor apresenta uma visão
(A) otimista.
(B) saudosista.
(C) pessimista.
(D) vanguardista.
5. Através da afirmação «E sempre que o anunciado caudilho começa a falhar, a culpa não é dele,
mas dos que o rodeiam: cultivamos a irresponsabilidade do Salvador.» (linhas 28 e 29), o autor
(A) critica o comportamento desculpabilizante da população.
(B) enaltece a confiança depositada no trabalho dos outros.
(C) valoriza o envolvimento de todos na ação.
(D) enfatiza a responsabilidade constante de dever em outrem.
6. O complexo verbal «começa a falhar» (linha 29) tem um valor aspetual
(A) perfetivo.
(B) imperfetivo.
(C) iterativo.
(D) habitual.
7. No excerto «Sabemos que aparecerá um redentor que, fora das instituições e mesmo contra as
instituições, salvará o país.» (linhas 23 e 24), as palavras sublinhadas são
(A) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(B) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(C) pronomes, em ambos os casos.
(D) conjunções, em ambos os casos
8. Identifique o antecedente do pronome pessoal em «Por exemplo, muitas vezes avaliamo-lo com
os nossos olhos» (linha 14).
9. Indique a função sintática desempenhada pelo segmento «os vencidos da vida» (linha 23)
10. Classifique a oração «Como sabemos que as instituições são sempre parte do problema» (linhas
26 e 27).
GRUPO III
Nos nossos dias, a humanidade está absorvida pelas suas descobertas científicas,
tecnológicas e pelo seu poder, porém, muitas vezes, recorre à memória coletiva para perpetuar a
sua inspiração.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada
um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Teste 7
GRUPO I
Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.
PARTE A
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
A figura vai-se formando aos poucos como um puzzle gasoso, inquieto, informe. Vê-se um pedacinho
bem nítido e colorido mas que logo se esvai para aparecer daí a pouco, nítido ainda, mas esfumado. George
fecha os olhos com a força possível, tem sono, volta a abri-los com dificuldade, olhos de pupilas escuras,
semicirculares, boiando num material qualquer, esbranquiçado e oleoso.
5 À sua frente uma senhora de idade, primeiro esboçada, finalmente completa, olha-a atentamente. De idade não,
George detesta eufemismos, mesmo só pensados, uma mulher velha. Tem as mãos enrugadas sobre uma carteira
preta, cara, talvez italiana, italiana, sim, tem a certeza. A velha sorri de si para consigo, ou então
partiu para qualquer lugar e deixou o sorriso como quem deixa um guarda-chuva esquecido numa sala de
espera. […]
10 Sem voz e sem perder o sorriso diz:
– Verá que há de passar, tudo passa. Amanhã é sempre outro dia. Só há uma coisa, um crime, que
ninguém nos perdoa, nada a fazer. Mas isso ainda está longe, muito longe, para quê pensar nisso? Ainda
ninguém a acusa, ainda ninguém a condena. Que idade tem?
– Quarenta e cinco anos. Porquê?
15 – É muito nova – afirma. – Muito nova.
– Sinto-me velha, às vezes.
– É normal. Eu tenho quase 70 anos. Como estava a chorar, pensei…
Encolhe os ombros, responde aborrecida:
– Não tive desgosto nenhum, nenhum. Um encontro, um simples encontro…
20 – Também tenho muitos encontros, eu. Não quero tê-los mas sou obrigada a isso, vivo tão só. Cheguei à ignomínia
de pedir a pessoas conhecidas retratos da minha família. Não tinha nenhum, só um retrato meu, de rapariguinha. E
retratos de amigos, também. De amigos desaparecidos, levados pelas tempestades, os mais queridos,
naturalmente. Porque… o tal crime de que lhe falei, o único sem perdão, a velhice. Um dia vai acordar
na sua casa mobilada…
25 – Como sabe que…
– E verá que está só e olhará para o espelho com mais atenção e verá que está velha. Irremediavelmente
velha.
– Tenho um trabalho que me agrada.
– Não seja tonta, menina. Outro dia vai reparar, ou talvez já tenha dado por isso, que está a ver pior, e
30 outro ainda que as mãos lhe tremem. E, se for um pouco sensata ou se souber olhar em volta, descobrirá que
este mundo já não lhe pertence, é dos outros, dos que julgam que Baden Powell é um tipo que toca guitarra e
que Levi Strauss é uma marca de calças.
– Isso é ignorância, não tem nada a ver com a idade.
– Talvez seja ignorância, também. Talvez seja. Estou a incomodá-la, parece-me.
35 – Dói-me simplesmente a cabeça.
– Desculpe.
George fecha os olhos com força e deixa-se embalar por pensamentos mais agradáveis, bem-vindos: a
exposição que vai fazer, aquele quadro que vendeu muito bem o mês passado, a próxima viagem aos Estados
Unidos, o dinheiro que pôs no banco.
CARVALHO, Maria Judite de, 2015, “George”, in George e Seta Despedida. Porto: Porto Editora (texto com supressões; pp. 19-21)
NOTAS
Baden Powell (linha 31) – Robert Stephenson Smyth Baden Powell (1857-1941), general inglês, fundador do movimento escutista e
principal autor da sua doutrina.
é um tipo que toca guitarra (linhas 31 e 32) – alusão a Roberto Baden-Powell de Aquino (1937-2000), guitarrista brasileiro cujo nome foi
atribuído por seu pai em homenagem ao criador do movimento escutista.
é uma marca de calças (linha 32) – alusão a Levi Strauss (1829-1902), empresário norte-americano de origem alemã que, no final do século
XIX, “inventou” as calças de ganga.
ignomínia (linha 21) – infâmia, vergonha.
Levi Strauss (linha 32) – Claude Lévi-Strauss (1908-2009), antropólogo francês.
1. Explicite o modo como se constrói o retrato da «mulher velha» (linha 6). Fundamente a sua
resposta em dois elementos textuais pertinentes.
VOLTAS
5 E posto que chegue o bem
- o que duvido de ser -,
que gosto se pode ter
na que firmeza não tem?
Vida cheia de mudanças,
10 tudo em ti cansa e altera;
porque dás mil esperanças
e não dás o que se espera.
5. Caracterize o interlocutor do sujeito poético, tendo em conta o conteúdo dos versos 9 a 20.
Fundamente a sua resposta com elementos textuais significativos.
GRUPO II
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
No fim deram-lhe os prémios todos. Porque Maria Judite de Carvalho era uma grande escritora
portuguesa. Porque as pessoas precisavam de saber que ela existia. Porque os livros dela não vendiam.
Crónicas, contos, poemas, romances, treze-livros-treze. Uma vida de sobra. No fim disseram-lhe que
valera a pena. Ela ouviu, no fim. Foi há um ano. Os livros continuam à espera que tenha valido a pena.
5 Lá dessa nuvem onde ela dizia que morava "desde sempre" escreveu-nos: "Acordo de manhã e sinto--me
gelada". Ao longo dos anos, desde o começo, os dias que Maria Judite de Carvalho foi largando dentro dos
livros pareciam começar todos assim, a acordar para o frio, para o silêncio, para o nada – a noite
sem fim, por dentro das pessoas. Nos treze livros que nos deixou antes de morrer, fez ontem um ano, os
protagonistas são essas pessoas todas, sempre sozinhas cercadas de gente, desde Tanta Gente, Mariana, a
10 obra de estreia, em 1959. Não é fácil ler a desolação dos dias. Sobretudo, não é fácil reconhecermos, num livro,
fragmentos da nossa própria desolação. Os leitores escaparam e Maria Judite de Carvalho não foi atrás deles.
Afastou-se ainda mais, para dentro de si, para longe do brilho, "retirada e aflita" como resumiu Agustina Bessa-
Luís, que lhe chamou "flor discreta" sem "ruído". Esse retiro, essa "nuvem" imaginária,
pertencia a outro tempo, não este, veloz, apressado, barulhento. Maria Judite explicou: "Era um tempo de
15 estrelas à noite (agora fugiram todas para dentro dos telescópios), água fresca (não gelada), nesga de terra que
às vezes era nossa. Aqui, agora, não possuímos nada. Tudo é alugado a alguém ou pago a prestações. Quando
elas, as prestações, acabam, começam logo outras, porque o que comprámos está velho e bom
para a sucata. É assim este tempo em que vivemos." "Este" tempo era o de outubro de 1971, medido assim
numa crónica para o Diário de Lisboa, uma das centenas de crónicas para jornais e revistas que ela escreveu
20 principalmente nos anos 60 e 70. Mas o tempo presente, para Maria Judite, era sempre o tempo errado, ou o
tempo onde ela erradamente estava. [...] Nesse tempo de "desexistência", "passado ao lado, de fora da faixa
por onde os outros se movimentam", ela não sabe viver. Fica onde está: "Fecho os olhos até à infância e
encontro um enorme lago – enorme e até imponente para mim nesse tempo – ali mesmo à entrada do
parque. Existiu ou contaram-mo ou sonhei-o? Não sei, mas o que interessa, o que me interessa, é que era
25 maravilhoso e tinha um barco." Depois abrem-se os olhos e não há barcos, nunca há barcos, nem lagos, nada
que maravilhe. [...] Quando, em maio de 1996, o jornalista Rodrigues da Silva a visitou para uma conversa
(provavelmente a última assim tão longamente registada) encontrou uma mulher de 74 anos que não ria, nem
sorria: "Só se iluminou assim que falou do Urbano". Urbano Tavares Rodrigues, escritor, seu
marido desde os tempos da Faculdade de Letras de Lisboa, quando ela era uma estudante de Germânicas e
30 ele um caloiro de Românicas. "Era um bom aluno e era bonito..." resumiu ela nessa tarde em que Rodrigues da
Silva narrou de forma inesquecível no Jornal de Letras. A fotografia suspensa na memória do repórter, agora
descrita ao Público: "Uma coisa fantasmática, a preto e branco, mais sombra que luz, um pequeno ser
perdido num grande espaço, uma natureza triste e prodigiosamente arguta ao mesmo tempo". Maria Judite
35 de Carvalho na casa desmesurada da Tomás Ribeiro, em Lisboa – nove assoalhadas, um corredor de 18
metros, "em que a pessoa está tão sozinha que ouve o próprio átomo da matéria a mover-se". Aí viveu, a
desprender-se dos dias, mais de 40 anos. [...] Foi dentro desse silêncio que Maria Judite de Carvalho
escreveu, até morrer na sua nuvem.
NOTAS
arguta (linha 34) – astuta, hábil.
nesga (linha 15) – pedaço, pouco.
1. De acordo com o primeiro parágrafo do texto, a atribuição de prémios a Maria Judite de Carvalho
(A) colmatou o escasso número de vendas dos seus livros.
(B) suplantou a desvalorização de que os seus livros sempre foram alvo.
(C) não compensou a falta de reconhecimento a que quase sempre foi votada.
(D) não impediu que figurasse entre os conceituados vultos da literatura portuguesa.
2. A expressão «desolação dos dias» (linha 10) é apontada no texto como justificação para
(A) o desconforto dos leitores, que se reveem no seu sentido.
(B) a distância dos leitores, que não compreendem o seu sentido.
(C) a hesitação dos leitores, que não se identificam com o seu sentido.
(D) a aproximação dos leitores, que se reconhecem no seu sentido.
3. A definição de Agustina Bessa-Luís de Maria Judite de Carvalho como «“flor discreta”» (linha 13)
acentua o seu caráter
(A) pueril e inocente.
(B) singelo e introspetivo.
(C) inovador e visionário.
(D) ingénuo e fantasioso.
4. A afirmação de Maria Judite de Carvalho, presente nas linhas 14 a 18, não veicula a sua posição
relativamente
(A) à valorização dos bens supérfluos.
(B) ao materialismo dos seres humanos.
(C) ao imediatismo da sociedade moderna.
(D) à imposição de um passado recente.
5. No contexto em que ocorre, a conjunção «e» está associada a uma ideia de oposição
(A) na linha 5.
(B) na linha 11.
(C) na linha 17.
(D) na linha 30.
6. As orações introduzidas por «onde» e «que» (linha 5) são
(A) subordinada substantiva completiva e subordinada adjetiva relativa, respetivamente.
(B) subordinada adjetiva relativa e subordinada substantiva completiva, respetivamente.
(C) subordinada adjetiva relativa, em ambos os casos.
(D) subordinada substantiva completiva, em ambos os casos.
10. Identifique o valor da oração iniciada por «assim que» na linha 28.
GRUPO III
Tendo em conta a sua experiência de leitura, analise dois aspetos relevantes da obra poética de
um dos heterónimos abaixo indicados.
Para cada poeta, e a título meramente exemplificativo, apresentam-se aspetos que poderá
abordar na sua resposta.
− Alberto Caeiro – a comunhão com a natureza; a valorização das sensações.
− Ricardo Reis – a busca do prazer relativo; a fuga ao sofrimento e à dor.
Redija uma exposição de duzentas a duzentas e cinquenta palavras. Comece por indicar, na folha de
respostas, o nome do heterónimo selecionado.
Teste 8
GRUPO I
A outra está perto. Se houve um momento de nitidez no seu rosto, ele já passou, George não deu por isso.
Está novamente esfumado. A proximidade destrói ultimamente as imagens de George, por isso a vai vendo pior à
medida que ela se aproxima. É certo que podia pôr os óculos, mas sabe que não vale a pena tal trabalho. Param ao
mesmo tempo, espantam-se em uníssono, embora o espanto seja relativo, um pequeno espanto
5 inverdadeiro, preparado com tempo.
– Tu?
– Tu, Gi?
Tão jovem, Gi. A rapariguinha frágil, um vime, que ela tem levado a vida inteira a pintar, primeiro à
maneira de Modigliani, depois à sua própria maneira, à de George, pintora já com nome nos marchands das
10 grandes cidades da Europa. Gi com um pregador de oiro que um dia ficou, por tuta e meia, num penhorista
qualquer de Lisboa. Em tempos tão difíceis.
– Vim vender a casa.
– Ah, a casa.
É esquisito não lhe causar estranheza que Gi continue tão jovem que podia ser sua filha. Quieta, de
15 olhar esquecido, vazio, e que não se espante com a venda assim anunciada, tão subitamente, sem preparação,
da casa onde talvez ainda more.
– Que pensas fazer, Gi?
– Partir, não é? Em que se pode pensar aqui, neste cu de Judas, senão em partir? Ainda não me fui embora
por causa do Carlos, mas... O Carlos pertence a isto, nunca se irá embora. Só a ideia o apavora, não é?
20 – Sim. Só a ideia.
– Ri-se de partir, como nós nos rimos de uma coisa impossível, de uma ideia louca. Quer comprar uma
terra, construir uma casa a seu modo. Recebeu uma herança e só sonha com isso. Creio que é a altura de eu...
– Creio que sim. [...]
– Creio que estou atrasada – diz então, olhando para o relógio. – Estou mesmo – acrescenta, olhando
25 melhor. – E não posso perder o comboio. Amanhã bem cedo sigo para Amesterdão. Estou a viver em
Amesterdão, agora. Tenho lá um atelier.
– Amesterdão é? Onde fica isso?
Mas é uma pergunta que não pede resposta. Gi fá-la por fazer e sorri o seu lindo sorriso branco de 18
anos. Depois ambas dão um beijo rápido, breve, no ar, não se tocam, nem tal seria possível, começam a mover-
30 se ao mesmo tempo, devagar, como quem anda na água ou contra o vento. Vão ficando longe. E nenhuma
delas olha para trás. O esquecimento desceu sobre ambas.
NOTA
marchands (linha 9) – comerciantes que promovem, divulgam e vendem obras de arte.
1. Explique o sentido da expressão «um pequeno espanto inverdadeiro, preparado com tempo.»
(linhas 4 e 5)
MOTE ALHEIO
VOLTAS
4. Explicite o sentido dos versos «que venho a ser avarento/das dores de minha dor!» (versos 5 e 6),
relacionando-o com o conteúdo da última volta.
O conto vem de tempos imemoriais e, como toda a ficção, obedece a um simples caderno de encargos:
ser interessante – disse-o Henry James e, antes e depois dele, disseram-no ou pensaram-no muitos outros.
Desde o Decameron até Hemingway e Carver, os formatos adoptados pelo congeminador de ficções curtas têm
sido os mais variados. Todos válidos, nenhum se impondo como o único aceitável. Maugham,
5 grande contista inglês, não se importou nada, no século XX, de seguir, quase à letra, o guião de Maupassant, do
século XIX. Saroyan, desbocado americano de origem arménia, varia de formato como quem muda de camisa e
cultiva, desde fábulas singelas ao gosto da velha pátria, até conversas escaroladas e desarrumadas
sobre coisas e em termos que nada devem aos protocolos mais normais da narrativa.
Neste seu belo livro – Prantos, amores e outros desvarios – Teolinda Gersão (TG), que tem já, no seu
10 ativo, quatro livros de contos, dá-nos um exemplo pessoalíssimo da arte da short story: histórias, quase
sempre, de pequeníssima dimensão, estas, caracterizam-se, entre outras, por duas vantagens: uma finíssima
e maliciosa ironia e uma pessoalíssima liberdade de execução e de formatos e protocolos, exibindo
também uma enorme variedade de registos e de vozes narrativas. Tudo alimentado por uma prodigiosa
imaginação fabricadora.
15 Tirando a última história – “Alice in Thunderland”, extraordinário tour de force – todas as outras, se bem que
muito pessoalmente concebidas e executadas, correspondem perfeitamente ao acervo de exigências proposto
por Edgar Poe, para o que deve ser uma boa short story: ser uma ficção que dê conta de
um único incidente, material ou espiritual, que possa ser lida de uma assentada, que seja original, que cintile,
excite ou impressione e que deva ter uma unidade de efeito ou de impressão. A todas estas exigências
20 respondem, de modo exemplar, estes “prantos, amores e outros desvarios” que, em boa hora, TG resolveu
servir-nos.
Estes contos breves, mais do que quaisquer outros, até porque dispõem de pouco espaço e de
limitados recursos, não podem dar-se ao luxo de acomodarem neles o supérfluo. Era Tcheckov quem
observava que, se, num primeiro capítulo de uma história, se fala de uma pistola pendurada na parede, se
25 tornava que, no segundo ou terceiro capítulo, a pistola acabasse por disparar. Não há, na narrativa curta,
espaço para objetos meramente decorativos. Tudo deve ter serventia, no conto bem construído. Os contos
de TG são, a este respeito, exemplares. A mais pequena notação tem consequências decisivas. Por exemplo,
o primeiro e curto parágrafo do admirável conto “O meu semelhante” dá, em poucas palavras, uma série de
informações fundamentais, para explicar o desenvolvimento da história e, também, para o seu desfecho. [...]
30 Escolhi, quase ao acaso, esta amostra da arte do conto de Teolinda Gersão. É uma arte de imensa subtileza, em
que o não dito assume tanta ou mais importância do que o dito. Um escritor mais indiscreto ou mais voluntarista
teria tirado maior e mais explícito partido deste subliminar “conflito de classes”, aqui insinuado com deliciosa
ironia. Do que duvido é que o fizesse com mais eficácia ou, para usar a formulação
de Poe, com maior unidade de efeito ou de impressão. A subtileza tem sempre a palavra final.
35
Eugénio Lisboa, in Jornal de Letras, 19 de janeiro de 2017
1. A enumeração de diferentes escritores no primeiro parágrafo realça
(A) a importância dos cânones de literatura.
(B) a diversidade de géneros dos textos literários.
(C) a passagem do tempo na história de literatura.
(D) a heterogeneidade de contistas na literatura.
2. O uso dos dois pontos presentes na linha 10 serve para introduzir uma
(A) explicitação.
(B) exemplificação.
(C) enumeração.
(D) conclusão.
3. De acordo com Edgar Allan Poe, uma «boa short story» (linha 17) deve ser
(A) maliciosa e banal.
(B) estimulante e concisa.
(C) perturbadora e astuciosa.
(D) exigente e magistral.
4. Segundo o cronista, os contos de Teolinda Gersão são «exemplares» (linha 27), uma vez que
(A) apresentam uma progressão precisa da história.
(B) desenvolvem com grande pormenor a história.
(C) expõem descrições supérfluas na história.
(D) descrevem consequências inimagináveis na história.
5. Com base na leitura do texto, é possível afirmar que a «subtileza» (linha 32) dos contos de Teolinda
Gersão destaca
(A) a eficácia do seu enredo.
(B) o cinismo da sua linguagem.
(C) a perspicácia da sua escrita.
(D) o objetivismo dos seus textos.
6. Os vocábulos sublinhados no segmento «Era Tcheckov quem observava que, se, num primeiro capítulo
de uma história, se fala de uma pistola pendurada na parede» (linhas 23 e 24) são
(A) pronomes, em ambos os casos.
(B) conjunções, em ambos os casos.
(C) pronome e conjunção, respetivamente.
(D) conjunção e pronome, respetivamente.
7. A forma verbal «Tudo deve ter serventia.» (linha 26) veicula um valor modal de
(A) permissão.
(B) certeza.
(C) possibilidade.
(D) obrigação.
8. Classifique a oração «se bem que muito pessoalmente concebidas e executadas» (linha 16).
10. Indique a função sintática desempenhada pelo segmento ««fundamental» (linha 25)
GRUPO III
Tendo em conta a sua experiência de leitura, analise dois aspetos relevantes da obra poética do
heterónimo abaixo indicado.
Para o poeta, e a título meramente exemplificativo, apresentam-se aspetos que poderá abordar
na sua resposta.
GRUPO I
PARTE A
Leia o poema.
O Poema
I
Refira duas das características do poema que comprovam o seu poder indestrutível. Ilustre a
resposta com elementos textuais pertinentes.
48
PARTE B
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
[...] Olhava a folha branca: e a banal expressão Minha senhora dava-lhe uma saudade dilacerante
por aquela a quem na véspera ainda dizia: “Minha adorada”, pela mulher que se não chamava ainda
Mac Gren, que era perfeita, e que uma paixão indomável, superior à razão, entontecera e vencera. E o
seu amor por essa Maria Eduarda, nobre e amante, que se transformara na Mac Gren, amigada
5 e falsa, era agora maior infinitamente, desesperado por ser irrealizável — como o que se tem por uma
morta e que palpita mais ardente junto da frialdade da cova. Oh! se ela pudesse ressurgir outra vez,
limpa, clara, do lodo em que afundara, outra vez Maria Eduarda, com o seu casto bordado!...
[...]
Mas porquê? porquê? Porque entrara ela nesta longa fraude tramada dia a dia, mentindo
10 em tudo, desde o pudor que fingia até ao nome que usava!
Apertava a cabeça entre as mãos, achava a vida intolerável. Se ela mentia — onde havia
então a verdade? [...]
Carlos entrou.
Lá estava, ainda de capa, esperando de pé, pálida, com toda a alma concentrada nos olhos
15 que refulgiam entre as lágrimas. E correu para ele, arrebatou-lhe as mãos, sem poder falar,
soluçando, tremendo toda. [...]
Carlos ficara diante dela, imóvel. O seu coração parecia parado de surpresa e de dúvida, sem
força para desafogar. Apenas agora sentia quanto seria baixo e brutal deixar-lhe o cheque — que tinha
ali na carteira e que o enchia de vergonha... Ela ergueu o rosto, todo molhado, murmurou com
20 um grande esforço:
— Escuta-me!... Nem sei como hei de dizer... Oh, são tantas coisas, são tantas coisas!... Tu
não te vais já embora, senta-te, escuta... [...]
A culpa não fora dela! não fora dela! Ele devia ter perguntado àquele homem que sabia
toda a sua vida... Fora sua mãe... [...] Estava perdida... […]
25 Carlos voltou-se, ferido no coração. Com o seu vestido escuro, para ali caída e abandonada, parecia já
uma pobre criatura arremessada para fora de todo o lar, sozinha a um canto, entre a inclemência do
mundo... Então respeitos humanos, orgulho, dignidade doméstica, tudo nele foi
levado como por um grande vento de piedade. Viu só, ofuscando todas as fragilidades, a sua beleza, a
sua dor, a sua alma sublimemente amante. Um delírio generoso, de grandiosa bondade, misturou-
30 se à sua paixão. E, debruçando-se, disse-lhe baixo, com os braços abertos:
— Maria, queres casar comigo? [...]
in Eça de Queirós, Os Maias, Porto, Porto Editora, 2016, pp. 502-517 (texto com supressões)
NOTAS
frialdade (linha 6) – qualidade do que é frio.
refulgiam (linha 14) – brilhavam.
4. Explicite um dos efeitos de sentido produzido pelo discurso indireto livre presente nas linhas 6 a
11.
49
Caracterize duas das atitudes de Maria Eduarda. Fundamente cada uma delas com um excerto
textual pertinente.
GRUPO II
Cascais, 26.12.2000
Muito caro Eugénio,
Li a sua “Poesia”, li e reli vagarosa e minuciosamente, e a impressão geral é a de que não há nenhum
poeta português que possa ombrear consigo neste meio século (Pessoa embaraça as contas quando se
5 considera o século inteiro). Talvez o Cesariny e a Sophia se aproximem de si, mas seria necessário, tanto a
um como a outra, eliminar vários poemas maus.
Quanto a si, não existe um só verso que possa ser eliminado. No que chamarei de “ciência artesanal”, só
vejo o Carlos Oliveira da segunda fase com alguma possibilidade de eventualmente ser comparado consigo.
Nemésio, que considero um poeta enorme, possui, quanto a essa “ciência artesanal”, algo que é menos isso
10 do que uma estonteante agilidade filológica e uma perigosa facilidade verbal e versificatória. Nem sequer se
aguenta bem com esses dotes.
Porque o século só acaba agora, devo citar os únicos dois outros poetas que, para além dos citados - mas
nenhum deles atingindo deveras a sua (de você) altura –, que me interessaram: Luiza Neto Jorge e Francisco
Assis Pacheco.
15 Claro que tudo isto é pessoal, mas se sairmos do “pessoal” aonde vamos dar? Àquilo que os outros dizem,
à opinião estabelecida, ao que se convenciona. E voltemos a si: poema a poema, verso a verso, com os
intervalos necessários para tudo se adentrar em mim e ressoar, li-o de seguida, li-o como deve ser, como
poucas vezes tenho lido um poeta, e você saiu maior – embora evidentemente eu o já soubesse grande – do que
era. Algo que alguns chamariam “monotonia” e que para mim é garantia da existência de um universo
20 pessoal impositivo é uma impressão global, mas é algo que a leitura minuciosa revela depois ser
subtilmente organizado com materiais renovados e de modos sempre diferentes.
A música – e vê-se logo que a grande música se meteu nas suas palavras – mais límpida percorre toda a
sua obra, mas essa música, às vezes aparentemente fácil e captável, é sinuosa, complexa, rica, e acaba por
desembocar, sobretudo a partir de “Rente ao Dizer”, num admirável, de quando em quando deliciosamente
25 difícil, feixe de linhas sincopadas: a melodia que se quebra, a harmonia que se precipita. É quando, muito
sabiamente, você recorre ao “enjambement”. [...]
Há um pormenor que não gostaria de deixar escapar: não fui comparar a versão final de cada poema com
versões anteriores, porque acho que, se o autor trabalhou até chegar àquela forma final, é porque ela é a certa,
a verdadeira. É o que eu gostaria que fizessem com os meus poemas. Regresso à ideia de “nobreza”
30 ou “dignidade”. Não percebo bem, eu próprio, o que pretendo dizer. Acrescento no entanto que o Sena,
por exemplo, tenta continuamente alcançar essa nobreza ou dignidade, e raramente consegue. A Sophia,
não toda ela, às vezes consegue. Nada tem a ver com solenidade. É uma “nobilíssima visão” [...] do mundo,
parece-me. A sua poesia, Eugénio, constitui uma nobilíssima visão do mundo.
Por isso, lhe agradeço, a si, ter-me proporcionado agora, de uma assentada, a partilha dessa visão.
35 [...]
Um abraço de muito grande admiração do seu
amigo Herberto
Carta de Herberto Helder a Eugénio de Andrade, publicada no Jornal Fundão em
2005 [519 palavras]
50
NOTAS
“enjambement” (linha 26) – encavalgamento.
filológica (linha 10) – relativa à língua.
1. Ao assumir que «Pessoa embaraça as contas quando se considera o século inteiro» (linhas 4 e
5), Herberto Helder destaca
(A) a supremacia de Eugénio de Andrade e da sua poesia no século XX.
(B) o poeta contemporâneo capaz de ombrear com Eugénio de Andrade.
(C) o poeta português que ultrapassa a genialidade de Eugénio de Andrade.
(D) a preeminência do poeta dos heterónimos e da sua poesia no século XX.
3. Herberto Helder perspetiva a «leitura minuciosa» (linha 20) da obra de Eugénio de Andrade
como uma experiência
(A) reveladora do caráter monótono da poesia.
(B) determinada pela análise das impressões iniciais.
(C) libertadora de imposições convencionais.
(D) marcada pelo imediatismo do conhecimento.
5. No contexto em que ocorrem, as palavras «poema» (linha 16), «verso» (linha 16) e «poeta» (linha
18)
(A) estabelecem uma relação de holonímia/meronímia.
(B) estabelecem uma relação de hiperonímia/hiponímia.
51
(C) pertencem ao mesmo campo semântico.
(D) pertencem ao mesmo campo lexical.
7. O uso das palavras «ela» (linha 32) e «lhe» (linha 34) assegura a coesão
(A) referencial.
(B) temporal.
(C) frásica.
(D) lexical.
9. Indique o tipo de deixis assegurado pelo determinante possessivo presente na linha 29.
10. Identifique a função sintática desempenhada pela expressão «o que pretendo dizer» (linha 30).
Grupo III
Considere o texto apresentado no Grupo II.
Num texto estruturado, de cento e quinze a cento e quarenta palavras, elabore a sua síntese,
respeitando as características deste género textual.
52
Teste 10
GRUPO I
53
1. Atente na primeira estrofe.
Relacione o estado de espírito do sujeito poético com a repetição da expressão «num quarto só» (versos
7 e 9).
2. Explique os motivos que justificam a designação de «um funcionário apagado […] triste» (versos 10 e
11).
3. Explicite o sentido dos versos 21 a 24, tendo em conta o contexto em que ocorrem.
54
PARTE B
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
in Eça de Queirós, Os Maias – Episódios da Vida Romântica, Ed. Carlos Reis e Maria do Rosário Cunha,
INCM, Lisboa, 2017, pp. 566-568 (texto com supressões)
NOTAS
cheviote (linha 9) — tecido inglês de lã.
encatarroado (linha 3) — cheio de catarro.
esgalgado (linha 9) – magro.
Explicite a relação que se estabelece entre o «jornal elegante» (linha 2) e as sensações expressas na
descrição do espaço.
5. Identifique dois dos traços caracterizadores do Neves veiculados pela sua decisão de publicar a «carta»
(linha 23).
55
GRUPO II
No meio das desgraças e venturas do mundo, e das várias amostras de loucura que os dias trazem, há
certas coisas que se constroem e são feitas para durar, servindo para nos dar prazer e para, na medida do
possível, nos proteger daquela parte da banalidade que ofende e agride. A poesia de Herberto Helder é
uma dessas coisas.
5 A poesia não deixa as palavras intactas, ou quando as deixa é má poesia ou poesia nenhuma. E certamente que a
poesia de Herberto Helder, sendo grande poesia, nada deixa intacto. Desorganiza, porque o caos é necessário
para a criação, e a partir dessa desorganização surge um organismo composto por sentidos transformados e
como que magicamente coerentes entre si, onde, no entanto, se encontra sempre,
presente e não recalcado, o caos inicial, espécie de advertência da vida. A grande poesia não se pode dar ao
10 luxo da gentileza, e a poesia de Herberto Helder é tudo menos uma poesia da gentileza, excetuando aquela
gentileza feroz que olha de frente a vida do enigma e procura – e consegue – dar forma a um espanto
informe. [...]
Há uma coisa em Herberto Helder que é comum a toda a grande poesia. É a criação apresentar uma
espécie de necessidade própria onde o lugar para o arbitrário é mínimo. O que se chama “estilo” é um bom
15 bocado isso: uma organização não redundante do aleatório, como lembrou um filósofo. E uma organização
que, no caso da poesia, se faz através de uma série de operações sobre o sentido comum das palavras da
tribo. Se a expressão “trabalho poético” pode ser utilizada é exatamente por relação a isto, por relação ao
modo como se procede à transformação do sentido das palavras. Se lermos um poema onde a palavra “mar”
nada significar senão a costumeira ideia de mar, podemos ter a certeza de que é um mau poema. Em Herberto
20 Helder isso nunca acontece. Há sempre operações sobre as palavras. [...]
O que faz a singularidade de Herberto Helder é o ele ter praticamente publicado só grande poesia. O que
isso revela sobre o seu acerto crítico, resultado sem dúvida do profundo conhecimento que ele tinha das
operações poéticas que tinha inventado, é enorme. Não há um só poema dele que nos permita uma ocasional
distração. Nisso só houve, no século XX português, alguém de comparável: Pessoa, é claro. Também a poesia
25 de Pessoa é inteiramente construída por operações sobre o sentido primeiro das palavras, que as
transformam e as tornam num objeto de contemplação novo e inesperado. [...] Pessoa, é claro, através dos
heterónimos, produziu diferentes tipos de transformações: as de Caeiro não são as de Campos, nem as de
Campos as de Ricardo Reis, ou estas as do próprio Pessoa. E também Pessoa, como Herberto Helder, era dotado
de um juízo crítico perfeitamente acertado sobre o valor daquilo que escrevia. Prova-o o que publicou
30 em vida.
Numa coisa, é certo, Herberto Helder terá mais sorte do que Pessoa. Não verá a sua obra ganhar maior
celebridade através de algo menor, como aconteceu a Pessoa com o Livro do desassossego, de Bernardo Soares,
que é quase um epígono que Pessoa ele próprio criou para si mesmo (o exato contrário, portanto, de um
heterónimo). Dado o gosto generalizado pelo epigonal, não admira o sucesso obtido junto do público, à
35 cata de consolos poéticos em prosa que o façam sentir-se inteligente. A Herberto Helder, queira Deus, isso
nunca acontecerá.
56
1. De acordo com o primeiro parágrafo, a poesia de Herberto Helder exclui
(A) a sua dimensão prazerosa.
(B) o seu sentido de banalidade.
(C) a sua capacidade protetora.
(D) o seu caráter indestrutível.
2. Segundo a informação presente no terceiro parágrafo (linhas 13 a 20), o «estilo» de Herberto Helder é
marcado
(A) pelo sentido arbitrário das palavras.
(B) pela reinterpretação dos sentidos literais.
(C) pelo trabalho artesanal na forma dos poemas.
(D) pela excecionalidade das operações formais.
5. No segmento «A poesia não deixa as palavras intactas» (linha 5), a forma verbal apresenta um valor
aspetual
(A) imperfetivo.
(B) genérico.
(C) habitual.
(D) iterativo.
57
6. Na expressão «aquela gentileza feroz que olha de frente a vida do enigma» (linha 11), o autor recorre
(A) ao paradoxo.
(B) à ironia.
(C) à hipálage.
(D) à metonímia.
7. No segmento «servindo para nos dar prazer e para, na medida do possível, nos proteger daquela parte
da banalidade» (linhas 2 e 3), os pronomes pessoais desempenham, respetivamente, as funções sintáticas
de
(A) predicativo do sujeito e complemento direto.
(B) complemento indireto e complemento direto.
(C) complemento direto e complemento indireto.
(D) predicativo do sujeito e predicativo do sujeito.
8. Transcreva a oração subordinada presente em «A poesia não deixa as palavras intactas, ou quando as
deixa é má poesia ou poesia nenhuma.» (linha 5).
9. Identifique o valor do vocábulo «que», presente em «que nos permita uma ocasional distração» (linhas
23 e 24).
GRUPO III
Num texto estruturado, de cento e vinte e oito a cento e cinquenta e seis palavras, elabore a sua
síntese, respeitando as características deste género textual.
58
Teste 11
GRUPO I
PARTE B
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
[…]
NOTAS
Arquetipo (verso 18) – Deus.
barão (verso 1) – varão, homem.
ciência (verso 3) – conhecimento.
mercê (verso 1) – favor.
Sapiência Suprema (versos 1 e 2) – Deus.
trasunto (verso 21) – cópia.
59
4. Explicite o pedido que Tétis dirige a Vasco da Gama, relacionando-o com a simbologia das
características do «mato» (verso 7) e do «erguido cume» (verso 9).
5. Comente a reação de Vasco da Gama, relacionando-a com o sentido dos versos 21 a 24.
60
GRUPO II
Leia o texto.
Podemos talvez perguntar-nos que sentido tem a literatura neste tempo dominado pela ganância e pelo
império do dinheiro. A economia única traz a lógica do pensamento único, da cultura única, da língua única.
Como disse George Steiner: “Cada língua é um ato de liberdade que permite a sobrevivência do homem. Cada
língua é algo que tem a ver com aquilo a que Blake chamou “o sagrado do particular”. Há já uns anos, José
5 Saramago disse em Madrid que as línguas se cercam umas às outras. E que o português, tal como o italiano e o
francês, seriam línguas ameaçadas. Não estou de acordo. No que respeita ao português, não só porque é a
terceira língua da Europa Ocidental mais falada no Mundo. Mas também porque é uma língua de grande
literatura, a língua de Camões e de Fernando Pessoa, dos brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Jorge
Amado, dos angolanos Luandino Vieira e Pepetela, dos moçambicanos José Craveirinha e Mia Couto, além de
10 ser a língua em que o próprio Saramago ganhou o Prémio Nobel. E também a língua em que António Lobo
Antunes fez uma das maiores revoluções no romance contemporâneo. Língua de diferentes identidades e
diferentes culturas. Essa é a riqueza de brasileiros, africanos, portugueses. Somos diferentes na mesma língua.
Uma língua em que as vogais não têm todas a mesma cor. E em que as consoantes, como se sabe, em Portugal
assobiam, na África cantam e no Brasil dançam. Uma língua onde há a mesma música de fundo: o mar. O mar
15 dos nossos encontros, desencontros e reencontros. Viagem de nós para nós, viagem de nós para o Mundo.
Permitam-me que lembre, neste momento, aqueles que me leram versos de Camões e de outros poetas
quando eu próprio não sabia ler nem escrever. Nem sempre compreendia o sentido, mas foi desse modo que
descobri a música da língua e a toada que para sempre ficou dentro de mim. Permitam-me que partilhe esta
distinção com os professores da escola primária que me ensinaram a escrever o português. Permitam-me que
20 sublinhe a importância que para mim tiveram poetas desconhecidos, como os cegos que, na rua onde nasci, em
Águeda, cantavam versos de amor e de tragédia, ora inspirados em factos reais ora decalcados dos romances do
Cancioneiro Português. Sou o que sou graças à família, ao povo, e aos poetas com quem aprendi os mistérios e os
segredos da poesia até conseguir, a muito custo e depois de muitos cadernos rasgados, um verso meu e
uma voz que suponho ser minha.
25 Esta é uma hora difícil para a Europa e para cada um dos nossos países. Falta grandeza, faltam estadistas, falta uma
outra visão da Europa e do Mundo, faltam os largos horizontes da grande literatura. É preciso subverter o discurso
cinzento e tecnocrático e recuperar a força primordial da palavra. As perguntas e as respostas não estão nos
manuais de economia. Talvez se encontrem em Cervantes, no idealismo de D. Quixote
e na sabedoria de Sancho Pança. Talvez seja preciso voltar à Grécia e a Roma, dialogar de novo com Platão,
30 reaprender em Sófocles a tão atual lição de Antígona e redescobrir com Séneca que “cada dia é, por si só, uma
vida.” Reler as cartas de Cícero, descobertas por Petrarca e aquela prosa que, mais do que qualquer outra, terá
influenciado a história da literatura europeia. […] A poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner, minha querida
amiga, escreveu três versos em que diz quase tudo sobre a arte da poesia, que é a arte de perguntar e nomear:
“Ia e vinha/E a cada coisa perguntava/Que nome tinha.” Eu leio e releio muitas vezes o grande poeta brasileiro
35 Carlos Drummond de Andrade. Olhando o Mundo atual, apetece dizer com ele: “Tinha uma pedra no meio do
caminho/No meio do caminho tinha uma pedra/Tinha uma pedra no meio do caminho”.
61
1. Na linha 6, o adjetivo «ameaçadas» remete para a ideia de
(A) desaparecimento.
(B) proeminência.
(C) desvalorização.
(D) revolução.
2. Com a referência a autores de língua portuguesa, nas linhas 8 a 11, Manuel Alegre pretende colocar
em evidência a
(A) singularidade da língua portuguesa.
(B) diversidade de escritores pelo mundo.
(C) abrangência de produções literárias.
(D) multiplicidade de raças e culturas.
3. Com a expressão «Somos diferentes na mesma língua.» (linha 12), Manuel Alegre destaca
(A) a diversidade cultural na língua portuguesa.
(B) a semelhança linguística das variantes do português.
(C) a similitude de culturas nas variantes do português.
(D) a multiplicidade de identidades na variante europeia.
62
6. O segmento «É preciso subverter o discurso cinzento e tecnocrático e recuperar a força primordial da
palavra.» (linhas 26 e 27) exprime uma
(A) probabilidade.
(B) dúvida.
(C) permissão.
(D) obrigação.
10. Indique a função sintática desempenhada pelo pronome pessoal presente em «Permitam-me que
sublinhe a importância» (linhas 19 e 20).
GRUPO III
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
63
Teste 12
GRUPO I
PARTE B
A Débil
NOTAS
devasso (verso 5) – libertino, imoral.
vexado (verso 14) – envergonhado, embaraçado.
64
4. Explicite dois dos efeitos que a figura feminina provoca no sujeito poético.
5. Identifique duas das características temáticas da poesia de Cesário Verde presentes no poema.
Fundamente cada uma delas com um segmento textual pertinente.
65
GRUPO II
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
Desafiando o vosso mais do que fundamentado ceticismo, chamei a isto que não é conferência Algumas Provas
da Existência Real de Herbert Quain. De facto, de acordo com o que Borges permitiu que conhecêssemos deste
assunto, a circunstância de Herbert Quain ter escrito uns quantos livros não seria prova suficiente de que tivesse
existido como pessoa. Alguém viu um retrato de Quain? [...] Não, ninguém viu, ninguém leu, portanto
5 Borges parece ter razão, Herbert Quain não existiu, tudo foi um puro jogo. Mas como pode ter sido tudo um
puro jogo se o próprio Borges afirma ter lido esses livros, e entre eles um que se chama The god of the
labyrinth? [...]
No final de 1935, isto é, dois anos depois da publicação de The god of the labyrinth, um exemplar deste
livro, pelo menos um exemplar, fazia parte da biblioteca de um barco inglês denominado Highland Brigade.
10 Requisitou-o ao respetivo bibliotecário um poeta português, Ricardo Reis, embarcado no Rio de Janeiro, e de
quem, curiosamente, durante muitos anos, também se disse que não tinha existido. Ora, não é necessário ter
estudado lógica intuicionista para compreender que duas proposições contraditórias não podem ser, ambas,
falsas. Como se aplica isto a Ricardo Reis e a Herbert Quain? Aceitando, ainda que com recurso ao paradoxo,
que, se um deles é autêntico, também o pode ser o outro. Além disso, temos a prova do livro. Ao desembarcar
15 em Lisboa, o poeta Ricardo Reis, por esquecimento, não devolveu The god of the labyrinth à biblioteca. São
coisas que estão sempre a suceder, esquecermo-nos de devolver um livro. Foi já no hotel que Reis, ao abrir as
malas, deu com The god. Digamos, pois, que a existência material do livro fica claramente demonstrada pelo
facto de que, em primeiro lugar, Ricardo Reis o encontrou e, em segundo lugar, o levou consigo para o hotel.
[...] As casualidades da vida são uma realidade, bastará dar-lhes um mínimo de atenção para compreender que
20 as pessoas e as coisas estão todas relacionadas umas com as outras, o que acontece, infelizmente, é que nem
sempre sabemos onde se encontra o fio que as liga. [...]
Tereis observado que toda a minha preocupação, até agora, tem estado centrada na apresentação e
defesa das provas da existência real de Herbert Quain, e que, para alcançar esse objetivo, me tenho servido de
um romance publicado em 1984 com o título de O Ano da Morte de Ricardo Reis. É tempo, portanto, de me
25 antecipar a alguma dúvida que se esteja formando no vosso espírito sobre a existência real, não de Herbert
Quain, mas de Ricardo Reis. Se não o fiz até agora foi por pudor de introduzir factos e circunstâncias da minha
vida pessoal numa demonstração que está obrigada a respeitar, pelo menos, os limites de uma aceitável
verosimilhança literária. Embora temendo que não ireis poder reprimir a incredulidade, arrisco-me a ler uma
passagem de O Ano da Morte de Ricardo Reis em que se descreve um episódio da viagem que Reis fez a Fátima
30 para encontrar uma rapariga de quem se julgava enamorado. Ei-la: «Ricardo Reis baixou a vidraça, olhou para
fora. Uma mulher idosa, descalça, vestida de escuro, abraçava um rapazinho magro, de uns treze anos, dizia,
Meu rico filho, estavam os dois à espera de que o comboio recomeçasse a andar[…]» Ora, por mais incrível que vos
pareça, aquele rapaz de treze anos que desceu do comboio na estação de Mato de Miranda em 1936 era
eu. É verdade que hoje, passados tantos anos, me será impossível recordar se um senhor com cara de médico
35 e de poeta esteve a olhar para mim quando eu abraçava a minha avó, mas se Ricardo Reis afirma que me viu
da janela do comboio, quem sou eu para atrever-me a dizer o contrário? [...] Como quer que seja, creio ter
deixado claramente demonstrado que há, ou pelo menos houve-a quando eu tinha treze anos, uma relação
direta e quase visceral entre Borges, Herbert Quain, Ricardo Reis e eu próprio.
66
1. Saramago, no primeiro parágrafo do texto, considera o ceticismo dos que assistem à conferência
(A) compreensível.
(B) desafiante.
(C) descabido.
(D) impróprio.
2. A afirmação «São coisas que estão sempre a suceder, esquecermo-nos de devolver um livro.» (linhas
15 e 16) constitui
(A) uma crítica associada à banalidade de uma atitude social.
(B) uma repreensão aos comportamentos displicentes.
(C) um comentário sobre uma atitude verosímil do ser humano.
(D) um elogio à legitimidade das ações humanas.
3. O escritor recorre ao episódio da viagem que Ricardo Reis fez a Fátima para
(A) refutar a tese com um caso concreto.
(B) apresentar um novo ponto de vista.
(C) introduzir um contra-argumento.
(D) ilustrar o ponto de vista defendido.
67
6. Relativamente à expressão «Algumas Provas da Existência Real de Herbert Quain» (linhas 1 e 2), o
recurso ao pronome demonstrativo presente na linha 1 constitui uma
(A) substituição por hiperonímia.
(B) substituição por sinonímia.
(C) anáfora.
(D) catáfora.
7. O segmento «As casualidades da vida são uma realidade» (linha 19) tem um valor aspetual
(A) genérico.
(B) perfetivo.
(C) iterativo.
(D) habitual.
9. Indique a função sintática desempenhada pelo pronome relativo «que» (linha 28).
10. Identifique o valor da oração iniciada por «se» nas linhas 34 e 35.
GRUPO III
Tem-se assistido, ao longo do tempo, a variações nos valores morais, com repercussões mais
notórias no papel da mulher na sociedade.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a igualdade de género na sociedade atual.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
68