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ASSERTIVIDADE
ASSERTIVIDADE
ASSERTIVIDADE
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O autor usou a designação “excitatory” (Salter, 1949, pg. 33).
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“Se uma resposta contrária à que provoca a ansiedade é emitida em presença de estímulos
produtores da mesma reacção, de forma a suprimi-la total ou parcialmente, então a associação
entre estes estímulos e a ansiedade diminui.” (Wolpe, 1958, p. 71).
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Capítulo 1: Treino assertivo
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Inicialmente, o treino assertivo foi aplicado por autores como Wolpe e Lazarus
(1966), exclusivamente no âmbito da terapia individual. Mais tarde, ainda
dentro da área da psicologia, o treino passou a ser implementado com sucesso
em contexto grupal (Carmody, 1978), por exemplo, com pacientes
psiquiátricos graves (Booraem & Flowers, 1972) e alcoólicos (Pfost, Stevens,
Parker & McGowan, 1992). Progressivamente, as intervenções grupais foram
sendo introduzidas em populações não clínicas (Flowers & Guerra, 1974;
Kaplan, 1982; Nota & Soresi, 2003; McFall & Twentyman, 1973; Safran, Alden
& Davidson, 1980). O desvincular do treino assertivo do contexto
psicoterapêutico permitiu a sua entrada noutras disciplinas, nomeadamente,
nas ciências empresariais (Ames & Flynn, 2007; Chakraborty, 2009; Deluga,
1988; Keeffe, Darling & Natesan, 2008; Mathison, 2001; Smith-Jentsch, Salas
& Baker, 1996), onde a assertividade se tornou mesmo uma “moda”
(Castanyer, 2002), educação (Allen, Kathleen, O`Mara & Judd, 2008) e
marketing (White & Jonhson, 2002).
A assertividade foi, desde logo, considerada uma competência que pode ser
aprendida (Galassi & Galassi, 1977) e não um traço de personalidade
(McCartan & Hargie, 2004a). Um grande número de factores, entre os quais, a
punição, o reforço, a modelagem, a falta de oportunidade, os padrões culturais
e as crenças pessoais, assim como a incerteza quanto aos direitos do próprio
contribuem para o défice de assertividade (Galassi & Galassi, 1977). O treino
assertivo pressupõe o desenvolvimento de duas competências fundamentais:
coordenação de perspectivas entre a pessoa e o interlocutor e flexibilidade.
Esta última visa modificar as próprias crenças depois de considerar as do
outro, ou mesmo integrar as do interlocutor nas suas (Joyce-Moniz & Barros,
2005).
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Capítulo 1: Treino assertivo
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CRENÇAS
do indivíduo
RESULTADOS DIREITOS
das situações e modo como que o indivíduo atribui
o indivíduo as interpreta a si próprio e aos outros
COMPORTAMENTO
do indivíduo
em várias situações
Figura 1. Modo como as crenças influenciam o comportamento assertivo (Back & Back, 2004).
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Para Alberti e Emmons (2008) o treino assertivo tem como principal objectivo
mudar a forma como o indivíduo se vê a si próprio, aumentar a sua
capacidade de afirmação, permitir que este expresse de forma adequada os
seus sentimentos e pensamentos e, posteriormente, estabelecer a auto-
confiança. Mais detalhados, Hargie e Dickson (2004) elencaram várias funções
do treino, entre as quais destacamos: (1) ajudar o indivíduo a assegurar que
os seus direitos não serão violados; (2) reconhecer os direitos dos outros; (3)
comunicar a sua opinião de forma confiante; (4) recusar pedidos irrazoáveis
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Capítulo 1: Treino assertivo
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(5) fazer pedidos razoáveis; (6) lidar eficazmente com recusas irrazoáveis; (7)
evitar conflitos agressivos desnecessários e (8) desenvolver e manter um
sentido pessoal de eficácia.
2. Estilos de resposta
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Capítulo 1: Treino assertivo
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O objectivo destas respostas parece ser agradar aos outros e evitar conflitos a
qualquer custo (Hargie & Dickson, 2004). Na origem das respostas passivas
encontram-se diversos factores, tais como: medo das consequências negativas
da expressão directa da sua opinião, percepção de ameaça da situação ou do
outro, dificuldade em aceitar os seus direitos, dificuldade em pensar de forma
racional sobre si próprio, confundir assertividade com agressividade ou
associar as respostas passivas a boa educação e prestabilidade (Back & Back,
2005). As crenças irracionais relacionadas com desvalorização pessoal (e.g.,
“A minha opinião não conta.”) e o poder dos outros (e.g., “Em situações de
conflito é mais seguro não me manifestar.”) podem igualmente contribuir para
este tipo de resposta.
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interlocutor, com o risco evidente de escalada (Back & Back, 2005; Galassi &
Galassi, 1977; Hargie & Dickson, 2004).
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Quadro 1. Comparação entre os três estilos de comunicação (adaptado de Alberti & Emmons,
2008 e Jakubowski & Lange, 1978).
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Capítulo 1: Treino assertivo
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A descrição dos vários tipos de resposta assertiva não se revela uma tarefa
fácil. Na literatura sobre assertividade, co-existem as mais diversas
categorizações, chegando a existir designações distintas para mesmo tipo de
resposta (Back & Back, 2005; Castanyer, 2002; Hargie & Dickson, 2004;
Jakubowski & Lange, 1978). Apresentam-se, de seguida, os cinco tipos de
resposta assertiva mais comuns e seguidos por mais autores. São eles:
assertividade básica e assertividade escalonada (Hargie & Dickson, 2004),
mensagem do eu, asserção empática, e asserção de confronto (Jakubowski &
Lange, 1978).
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Capítulo 1: Treino assertivo
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sente melhoras e considera que este tratamento não é o mais adequado para
si. Gostava muito de lhe explicar o meu ponto de vista sobre a sua evolução e
o plano de tratamento.” Note-se que a primeira parte, o reconhecimento da
situação, não corresponde a uma concordância. A pessoa simplesmente
reconhece os sentimentos, desejos, crenças ou situação do interlocutor.
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Todas estas temáticas requerem treino específico, uma vez que, em cada uma
delas, podem estar envolvidas competências distintas. Assim, é prática
comum os treinos de assertividade abordarem as várias temáticas de forma
separada, incluindo mesmo sessões específicas para cada uma delas (Lin,
Shiah, Chang, Lai, Wang & Chou, 2004).
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Exemplo de
Categoria Temática Descrição crenças
irracionais
As pessoas têm o direito de “Não devia ter que
fornecer feedback positivo aos elogiar os outros.
Dar e receber outros sobre aspectos Eles já sabem o que
elogios específicos do seu eu sinto!”
comportamento, aparência,
etc.
Todos os indivíduos têm o “Se peço um favor,
direito de fazer pedidos, mas estou a impor-me à
Elaborar
também a responsabilidade de outra pessoa.”
Pedidos
respeitar uma eventual recusa
do outro.
Expressão de
A expressão de agrado, amor “É muito lamechas
sentimentos
ou afecto é habitualmente expressar estes
positivos
recebida de forma muita sentimentos. Não
Expressar
positiva pelas outras pessoas e me sinto bem.”
afecto
constitui uma forma de
aprofundamento da relação
interpessoal.
As pessoas têm o direito de “Não sei o que
iniciar e manter conversas com dizer. Se não digo
Iniciar e
os outros algo brilhante, a
manter uma
outra pessoa vai
conversa
achar que sou um
idiota.”
Existe uma grande variedade “Não quero parecer
de situações no dia-a-dia em irrazoável com este
que os direitos da pessoa são assunto. É melhor
Defender
ignorados ou mesmo violados não fazer nenhuma
direitos
(e.g., serviço ineficaz num reclamação.”
legítimos
restaurante). A resposta
assertiva permite a defesa
desses direitos.
Auto- As pessoas têm o direito de “Eu sou mesmo
afirmação recusar pedidos irrazoáveis ou amigo dele, tenho
Recusar
pedidos que, sendo razoáveis, que fazer-lhe este
pedidos
a pessoa não está disposta a favor.”
fazer.
A pessoa tem direito a “Se a outra pessoa
Expressar expressar opiniões pessoais de não está de acordo
opiniões forma assertiva, mas não a com a minha
pessoais forçar os outros a aceitá-las. opinião vai deixar
de gostar de mim.”
Existem várias situações em “Se sou mesmo
que a pessoa pode sentir amigo dele, não
Expressar desagrado pelo devia ficar
aborrecimento comportamento do outro (e.g., aborrecido com
e desagrado pessoa que chega sempre esta situação. Os
Expressão de justificado atrasada). amigos não se
sentimentos aborrecem com
negativos assuntos destes.”
Nas circunstâncias em que a “Se eu expresso a
Expressar pessoa se sente revoltada, é minha revolta, os
revolta benéfico expressar este outros vão achar
justificada sentimento, sem deixar de que sou irracional.”
respeitar o outro.
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DOMÍNIOS TEMÁTICAS
Elaboração de perguntas/pedidos
Pedidos/perguntas
Resposta a perguntas/pedidos
As temáticas escolhidas são úteis, quer para o profissional de saúde, quer para
o paciente (Blackwell & Gutmann, 1986; Post, Cegala & Miser, 2002).
Contudo, atendendo ao objectivo do presente trabalho, a descrição que a
seguir se apresenta será apenas relativa aos cuidadores.
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desconforto nos cuidadores (Fallowfield, Lipkin & Hall, 1998; Fallowfield, Saul
& Gilligan, 2001; Jacobsen, Baerheim, Lepp & Schei, 2006; Sage, Sowden,
Chorlton & Edeleanu, 2008). Nestas circunstâncias, a tendência mais evidente
consiste em evitar o paciente ou minimizar/apaziguar a sua hostilidade o mais
depressa possível (Hulsman et al., 1999; Rosenfield & Jones, 2004). Daqui
resulta que, na sua maioria, os pacientes têm poucas oportunidades de
expressar reacções emocionais intensas e se sentirem compreendidos pelo
profissional de saúde (Fallowfield, Saul & Gilligan, 2001; Sage et al., 2008).
Não obstante as dificuldades que este procedimento possa representar para o
cuidador, permitir que o paciente verbalize os sentimentos negativos e as
razões que o conduziram aquele estado emocional tem-se revelado uma
metodologia eficaz proporcionando alívio do sofrimento do paciente (Giesen et
al., 2008; Gard, 2004; Lincoln, 1993; Sage et al., 2008).
Para além dos factores relacionados com a forma como o paciente confronta a
doença ou o tratamento, frequentemente, o sentimento de insatisfação face à
relação estabelecida com o profissional de saúde leva a que o paciente se
mostre mais relutante em manifestar as suas preocupações e demonstrar a
sua vulnerabilidade (Schofield, 2004).
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ELABORAÇÃO DE PERGUNTA
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RESPOSTA A PEDIDO
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“Posso comer doces?”, “Quanto tempo irei ficar internado?”). Na sua maioria,
exigem respostas curtas e concisas, baseadas nos conhecimentos técnicos do
especialista.
RESPOSTA A PERGUNTA
5.2.3. Críticas
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Paciente – Sinto que ando aqui a perder o meu tempo. Este tratamento é
sempre o mesmo, estou sempre a fazer os mesmos exercícios. Não uso
nenhum dos aparelhos mais modernos. Se estivesse numa daquelas
clínicas mais recentes, seguramente, já tinha melhorado.
Profissional de Saúde – Este tratamento foi estabelecido por uma
equipa multidisciplinar e parece-me ser o mais adequado para a sua
situação. Penso que, se tivesse mais informação, não faria esta crítica,
pois estamos a utilizar as técnicas mais avançadas aplicáveis ao seu
problema.
Quando a crítica injusta remete para uma área particularmente sensível para o
profissional de saúde e/ou é acompanhada de hostilidade da parte do
paciente, a tarefa do cuidador é dificultada. Compreensivelmente, nestas
situações, o profissional de saúde poderá ter dificuldade em centrar-se apenas
nos factos. Porém, é importante que o cuidador não se deixe que a sua
resposta seja influenciada, em demasia, pelos sentimentos envolvidos, uma
vez que estes conduziriam a uma escalada nas emoções negativas.
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