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Postulacoes Provocativas Sobre A Aprendizagem Da A
Postulacoes Provocativas Sobre A Aprendizagem Da A
Postulacoes Provocativas Sobre A Aprendizagem Da A
Resumo
O artigo em pauta resulta de revisão de literatura, reflexões sobre a prática vivida e algumas postulações que
definimos como provocativas para um desempenho docente mais qualificado no que diz respeito à realização da
avaliação e à promoção da aprendizagem do estudante. Ancorados teoricamente em autores expressivos da área
como Luckesi, Hoffmann, Méndez, Saul, Vasconcellos busca-se tematizar ideias a respeito da avaliação da
aprendizagem com a finalidade de subsidiar educadores, gestores e estudantes para que atinjam uma maior
compreensão de seu real significado e importância no desenvolvimento de práticas pedagógicas cujo intuito seja
melhorar as aprendizagens. Este possui pretensões bem definidas: epistemológicas e didáticas, ou seja, almeja
alimentar e discutir alguns pressupostos teóricos que embasam e orientam os processos de realização da
avaliação e, também, servir para calibrar olhares e posturas adotadas no seu trato. Acredita-se que esta reflexão
possa contribuir para sinalizar ao educador a direção da mudança necessária na sua postura para tornar-se um
mediador que auxilie o estudante a aumentar seu potencial de aprendizagem, encontrar mais facilmente o
caminho do conhecimento e aprofundar sua compreensão da realidade.
Palavras-chave: Avaliação. Aprender. Prática pedagógica.
Abstract
The article in question results from literature review, reflections on the lived practice and some postulations we
define as provocative for a more qualified teacher performance with regard to the completion of the evaluation
and promotion of student learning. Theoretically anchored in significant authors of the area as Luckesi,
Hoffmann, Méndez, Saul, Vasconcellos, seeks to thematize ideas about learning evaluation in order to support
educators, managers and students to achieve a greater understanding of its real meaning and importance of the
development of educational practices whose aim is to improve the learning. This has well defined pretensions:
epistemological and didactic or, in other words, it aims to promote and discuss some theoretical assumptions that
underlie and guide the evaluation of the implementation process and also serve to calibrate looks and postures in
his dealings. It is believed that this reflection can contribute to signal to the educators the direction of change
required in his position to become a mediator to assist the student to increase their learning potential, more easily
find the path of knowledge and deepen their understanding of reality.
Key words: Evaluation. Learning. Pedagogical practice.
pedagógicos (autoavaliação). Não é objeto do texto queiramos o processo nos atinge, nos envolve;
em pauta tratar da Avaliação Institucional e da portanto é melhor ter uma postura ativa, olhar
avaliação de processos e projetos, pois demandaria crítico e exercer nossa autonomia do que sermos
uma abordagem completa e específica, o que não levados de roldão.
caberia nos propósitos desta elaboração escrita. No Mesmo após muita produção escrita,
entanto, não podemos deixar de lembrar como estão pesquisas concluídas, práticas realizadas e relatadas,
intrinsecamente vinculadas. haveria algo a acrescentar sobre avaliação que ainda
Ao falarmos de avaliação da aprendizagem tenha sentido e possa contribuir com nosso trabalho
e do desempenho acadêmico, indiretamente estamos enquanto educadores? No entender de Antunes
tratando dos resultados institucionais2. Assim como (2012), podemos somar os saberes imensos dos
a não aprendizagem ou baixos desempenhos acervos extraordinários com as longas experiências
acadêmicos dos estudantes podem repercutir na de práticas pedagógicas vivenciadas e ficaremos
instância maior da Instituição, a pouca atenção com surpresos ao descobrir que ainda existe muito, mas
um Projeto Político Pedagógico ou com aspectos muito mesmo, a se construir sobre a avaliação da
relacionados à gestão, corpo docente ou aprendizagem.
infraestrutura podem comprometer os resultados de Para que o leitor organize seu pensamento
sala de aula. Em síntese, no mundo acadêmico em relação à leitura do texto, esclarecemos que
temos que nos preocupar em desenvolver uma alicerçamos sua arquitetura em três grandes pilares:
cultura da avaliação, aprender a avaliar. concepção de avaliação; avaliação, planejamento e
A avaliação é um processo social, não é um concepção pedagógica do professor; e avaliação e
processo exclusivamente escolar, embora se realize erro. Embora houvesse possibilidade de estruturar o
com grande ênfase na escola. A avaliação artigo sob outras perspectivas, optamos por aquelas
educacional, como parte da relação de ensino e que consideramos mais essenciais para o
aprendizagem, é um trabalho de reflexão crítica aprendizado e realização de uma boa avaliação de
sobre a dinâmica, sobre o processo pedagógico, aprendizagem.
como uma atividade humana que vai sendo
constituída no âmbito de várias relações sociais. Em Concepção de avaliação: diversos olhares
nenhum momento a avaliação escolar da
aprendizagem pode estar dissociada da dinâmica A expressão “avaliação da aprendizagem
social e dessas relações, tensões, possibilidades que escolar” abriga ampla produção teórica sobre si e
a sociedade o tempo todo vai constituindo, sobre os mais variados enfoques e tendências, o que
elaborando e dialogando com as práticas escolares. nos conduz, inicialmente, a esclarecer que fizemos
O momento contemporâneo (atual cenário opções por alguns autores e tendências de
educacional) está transpassado pela cultura de pensamento e definimos alguns ângulos de
avaliação e constitui-se no protótipo concreto da abordagem para ter o fôlego necessário a fim de
ideia referida no parágrafo acima. Avaliação explorá-los dentro dos contornos e da extensão
Institucional, Exame Nacional de Desempenho dos deste texto. Isto equivale a dizer que permanecem
Estudantes (Enade), Sistema de Avaliação da em aberto muitos outros olhares e possibilidades de
Educação Básica (Saeb), Prova Brasil, Programa tratar desse assunto.
Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), Ao falar da avaliação da aprendizagem
enfim, estamos imersos estamos imersos em escolar, Luckesi (2011a) estabelece a diferença
diferentes sistemáticas e modalidades de avaliação. entre exame e avaliação. Para ele, o exame possui
Temos razoável convicção em afirmar que este duas características fundamentais: é classificatório e
quadro vai manter-se e que dificilmente ocorrerá excludente, enquanto que a avaliação é diagnóstica
algum tipo de mudança radical que vá aboli-lo. O e includente. Com esta diferenciação quer
que nos cabe é inserir-nos neste processo seja demonstrar que o que temos praticado na escola é
compreendendo como funciona, inteirando-nos de predominantemente exame e quase nada de
suas regras, testando seus limites, conhecendo sua avaliação. Este ponto de vista é oportuno para que,
contribuição para que possamos utilizá-lo da melhor quando nos referirmos à avaliação, o leitor perceba
forma possível em nossa atividade, seja como que estaremos falando de práticas que visem
professor, gestor ou estudante na respectiva diagnosticar e incluir, a exemplo do que pensa o
responsabilidade do cotidiano de cada um. Ficarmos autor referido.
alheios não será possível, pois mesmo que não Ao estabelecer as diferenças entre exame e
em certos parâmetros finalistas para todos, mas nas um processo que “não se dá nem se dará num vazio
possibilidades pessoais de cada um dos discentes. conceitual, mas sim dimensionada por um modelo
Esteban (2000) observa que a avaliação teórico de mundo” e consequentemente “de
sempre foi uma atividade de controle que visava educação” que possa ser “traduzido em prática
selecionar e, portanto, incluir alguns e excluir pedagógica” (LUCKESI, 1996, p. 28).
outros; é recente a denominação “avaliação” em A avaliação sempre implica julgamento, e
comparação a uma prática por muito tempo este, quando negativo, acarreta muitas vezes
chamada “exame”. prejuízos irreversíveis à vida do indivíduo avaliado.
A avaliação é uma ocorrência em que se É um processo contínuo, subjacente a todo bom
manifestam concretamente os dilemas em relação ensino e aprendizagem, podendo ser definido como
ao tempo: seja para planejar, seja para analisar os um processo sistemático que determina a extensão
trabalhos elaborados pelos alunos, seja para retomar na qual os objetivos educacionais foram alcançados
aspectos que necessitem ser retomados. Para Demo pelos alunos. Há dois aspectos importantes nessa
(2004), as questões referentes à avaliação precisam definição. Primeiro, note-se que a avaliação implica
ser mais bem explicitadas, pois ela é objeto de uma um processo sistemático, o qual omite observações
contenda longa e complicada, tendo-se a casuais, não-controladas a respeito dos alunos.
necessidade de discutir primordialmente sobre a Segundo, avaliação sempre pressupõe que objetivos
aprendizagem quando nos referimos à avaliação, educacionais sejam previamente identificados. Sem
pois mesmo que tenhamos aumentado os dias a determinação prévia dos objetivos, é impossível
letivos e melhorado os índices quanto ao ingresso julgar a extensão do progresso. A avaliação inclui
de crianças nas escolas não melhoramos a julgamento de valor quanto à desejabilidade do
aprendizagem na mesma proporção. Os desacertos comportamento do aluno.
da educação estão muito mais associados à ausência Avaliar é, portanto, essa perspectiva de vir-
de aprendizagem do que de outros como, por a-ser, de tomada de decisão, o que faz Parolin e
exemplo, a forma como se faz a avaliação. Bozza (2011, p. 25) identificarem a avaliação como
Luckesi (2011, p. 178) diz que: um “olhar mais amplo, que percebe o que o
aprendiz sabe e o que pode vir a saber, quais os
Em síntese, o ato de avaliar a humores que o motivam , o contexto que o cerca e
aprendizagem, ainda que tenha muitos que está disponível em seu entorno”.
componentes metodológicos, é simples. Ele Costumeiramente olhamos a avaliação da
é o ato por meio do qual perguntamos ao perspectiva dos instrumentos, da forma como é
nosso educando se aprendeu o que feita, procurando por novas denominações, como
ensinamos. Se o educando aprendeu, ótimo; que, mudando-se a nomenclatura, mudar-se-ia a
se não, vamos ensinar de novo, até que essência ou a substância. Age muito bem Demo
aprenda, pois o importante é aprender. (2004, p. 26), quando afirma ser o cerne da
Todavia, esse ato simples envolve-se, como avaliação uma questão de concepção pedagógica
veremos, num conjunto de fatores muito mais que questão de método. “Aí o defeito
históricos, sociais e psicológicos que o mais gritante sequer está nos métodos de avaliação,
torna quase inviável. Para aprender – e mas na aprendizagem quase inexistente”.
efetivamente praticar - a avaliação da
aprendizagem, necessitamos fazer uma Avaliação da aprendizagem escolar,
“desconstrução” de nossas crenças mais planejamento e concepção pedagógica do
arraigadas e de nossos hábitos de ação; professor
necessitaremos de transitar do senso
comum para o senso crítico neste âmbito de O campo da avaliação constitui-se em um
conhecimento. terreno movediço e cheio de percalços, pois nunca
sabemos o suficiente quando se trata de avaliar, ao
Por isso a escola não pode continuar mesmo tempo que os desafios da prática cotidiana
trabalhando com verdades absolutas, prontas e exigem reconsideração permanente da sistemática,
acabadas, inclusive no que diz respeito ao tema dos objetivos e estratégias da avaliação. Modelos
avaliação. Precisa investigar, indagar, avaliar a todo avaliativos existentes podem nos auxiliar a orientar
instante a seu labor, sua ação educativa e, neste nosso olhar e ser usados para entender como certas
sentido, não se pode esquecer de que a avaliação é situações ocorreram e problemas foram resolvidos -
são parâmetros, mas seu alcance fica restrito a partir dados3. “Um instrumento precisa ser escolhido e
do momento em que mudanças ocorrem. construído intencionalmente: não há lugar para a
A avaliação é sempre acompanhada de aleatoriedade. Sua principal característica deve ser a
dúvidas, incertezas e, muitas vezes, incoerências. capacidade de coletar dados de que o avaliador
No entanto, constitui-se no processo crucial para a necessita para configurar e qualificar a realidade
vida de quem está sendo avaliado. Nossa sociedade com a qual está trabalhando” (LUCKESI, 2011, p.
reserva às instituições escolares o poder de conferir 337).
notas e certificados que, supostamente, atestam o Sempre que se fala em avaliação as imagens
conhecimento ou a capacidade do indivíduo, o que repentinas suscitadas dizem respeito a notas,
torna imensa a responsabilidade de quem avalia. instrumentos (especialmente provas, exames),
Sempre que nos referimos à avaliação há reprovação, promoção automática..., deixando de
duas condições que devem ser levadas em lado aspectos importantes como a concepção
consideração: a concepção pedagógica do professor pedagógica do professor, conhecimentos técnicos,
e o planejamento. A concepção pedagógica, ou seja, diagnósticos, aprendizagem, juízos de valor,
o que este pensa, como entende, concebe os essenciais a uma prática educativa diferenciada e a
conceitos nucleares da prática pedagógica uma aprendizagem significativa. A discussão
(aprendizagem, ensino, erro, aluno, professor, centraliza-se em extremos, desconsiderando o que
função da escola...). “As ações, sejam elas simples Serres (1993) considera como uma terceira
ou complexas, fazem sentido e são compreensíveis possibilidade entre o ensinar e o aprender, o lugar
à luz de uma compreensão teórica. A lógica das do equilíbrio: “não existe um terceiro possível e, por
ações é coerente com a concepção teórica (crenças) isso, diz-se que o Terceiro está excluído, ou melhor
que a sustenta. A teoria é o arcabouço que dirige e ainda, que o meio termo não existe. Será verdade?”
sustenta a ação” (LUCKESI, 2011, p. 272). Falamos (SERRES, 1993, p. 55). Assim, temos pensado a
aqui dos princípios teóricos que orientam o olhar do avaliação como: aprovação ou reprovação, certo ou
professor em relação ao seu trabalho, baliza suas errado, professor ou aluno, seja dentro de uma ou
ações. São as lentes pelas quais vê a realidade. outra tendência, concepção, sem nos perguntarmos
No tocante ao planejamento, acredita-se que sobre qual a melhor maneira de contribuir com a
o professor, ao organizar as estratégias didático- aprendizagem do estudante.
pedagógicas, define quais considera mais eficazes Ao discutirmos a respeito da avaliação não
para atingir o fim desejado. Em outras palavras, podemos perder de vista a ideia de contradição
opta por e executa escolhas intencionais. Como imbricada quando falamos do ser humano e do
decorrência natural, também deve prever conhecimento. A tendência natural é a perspectiva
mecanismos para saber se atingiu os objetivos linear do isto ou aquilo, dos lugares definidos a
definidos, o que nós denominamos de ato de avaliar. priori, o que nos coloca numa situação difícil, pois
Este não pode se casual ou espontâneo, mas fazem parte do nosso ser. Existir é existir como
criteriosamente pensado para verificar se os meios contradição. E os processos avaliativos e os
utilizados levaram ou não ao fim desejado e se instrumentos são muito rudimentares quanto à
chegou aos resultados esperados. Portanto, a possibilidade de contemplarem e abarcarem a
avaliação supõe planejamento, organização e contradição. O que desejamos é eliminá-la,
coerência. De acordo com Luckesi (2011a), “simplificar”, como se isso fosse possível. Antunes
enquanto que o planejamento é o ato pelo qual (2012) traduz-nos com precisão esta ideia quando
decidimos o que construir, a avaliação é o ato crítico afirma que os alunos sempre aprendem muito mais
que nos subsidia na verificação de como estamos do que tudo quanto pode ser captado pelas
construindo o nosso projeto. atividades de avaliação desenvolvidas.
Na prática pedagógica avaliação e O professor é sujeito por demais envolvido
planejamento possuem relação estreita, umbilical, ao se tratar da avaliação. Independentemente dos
uma vez que se queira executar um trabalho com adjetivos que se criarem para definir seu
sentido e que produza resultados efetivos, o que envolvimento ou função (mediador, orientador,
leva Luckesi a (2011a) afirmar que a avaliação emancipador...), o que cabe reforçar é a natureza
atravessa o ato de planejar e de executar; por isso, originária de sua atuação, o que ele representa e
contribui em todo o percurso de ação planificada, significa na caminhada da aprendizagem.
seja na organização de uma aula, seja na definição
ou construção de um instrumento para coleta de Erro e avaliação da aprendizagem escolar
em espaços de tempo pequenos no momento fundamental. Saber que se pode errar e que o erro
em que são detectados. Além disso, o não vai ser castigado, mas compreendido como
fundamental para aprender é que o próprio parte do caminho para se chegar à aprendizagem,
aluno seja capaz de detectar suas “um ainda não”, mas possível de tornar-se, de
dificuldades, compreendê-las e autorregulá- chegar ao percurso desejado.
las (SANMARTÍ, 2009, p. 33). Educar requer um compromisso com a
tarefa de desvelar as raízes da própria prática,
Segundo Nogaro e Granella (2004), não através da qual o professor se encontra e se
podemos perder a oportunidade de aproveitar as confronta com muitas outras pessoas. Desvelar a
insuficiências nas produções escolares como prática implica buscar alianças e assumir conflitos,
possibilidade de avaliar o trabalho a ser realizado, significa desafiar e ser desafiado a mudar ou a
focando-o de acordo com as suas necessidades. A manter as estruturas que atravessam o contexto em
natureza e a origem das insuficiências devem ser que o educador atua.
determinadas, coisa que geralmente escapa ao
professor. É necessário que o educador tome uma Considerações finais
posição diante do erro e da postura que têm em
relação a eles: punição, complacência ou A literatura sobre avaliação aponta
possibilidade de aprender. Se o educador tiver uma diferentes conceituações para a postura do professor
concepção problematizada do erro, este não é em relação à avaliação (dialógica, emancipatória,
tratado simplesmente como uma questão reduzida mediadora, construtiva, reguladora...), destas
ao resultado da operação, mas sim de invenção e de optamos por referendar a postura mediadora em
descoberta. Sob este enfoque, buscamos a relação à aprendizagem, pois encontramos nela
compreensão do erro não apenas da perspectiva do maior sintonia com o que acreditamos ser sua
aluno, como também na atuação docente em sala de função e seu trabalho. Meier (2007) investiga e
aula. Nesse caso, aluno e professor integram o explicita o percurso do significado atribuído à
processo de ensino-aprendizagem, e os erros mediação nas áreas de filosofia, psicologia,
cometidos são produzidos tanto individual como dicionários de língua portuguesa, astronomia,
coletivamente. O erro construtivo está associado à religião e ciência jurídica. Este percurso circula
postura na qual o sujeito se utiliza de relações como ato ou efeito de mediar (dicionário de língua
mentais para criar hipóteses cognitivas que trazem portuguesa), processo criativo, mediante o qual se
uma hipótese acerca de qualquer conhecimento passa de um termo inicial a um termo final
(matemático, linguístico, social, entre outros). (filosofia), sequência de elos intermediários numa
Entretanto, não basta entendermos o erro se cadeia de ações, entre estímulo inicial e a resposta
não pensarmos em desenvolver mecanismos para verbal no final do circuito (psicologia).
que o professor possa intervir, junto ao aluno e Já, por sua vez, Piaget (1995) considera o
auxiliá-lo a construir outras hipóteses para um mediador como um problematizador. O mediador é
determinado conhecimento. A questão é como aquele que promove desiquilíbrio, conflito, reflexão
transformar o erro em um problema, um diálogo e e resolução de problemas, aquele que oportuniza e
por fim uma situação de aprendizagem. Este é um favorece processos de reflexão do educando sobre
desafio proposto ao professor, que precisa rever suas ações, articulando ideias, construindo
seus conceitos sobre aquisição de conhecimento, compreensões cada vez mais ricas acerca da
aprendizagem e conduta pedagógica para ler o erro realidade.
sob um enfoque que vá além da ideia de Porém a definição de Japiassu e Marcondes
insuficiência ou de certezas absolutas. (2001 apud MEIER, 2007, p. 37) apresenta-se mais
A aprendizagem envolve o risco, a precisa e próxima ao que desejamos para a
possibilidade não concretizada, o planejamento do avaliação: “como a ação de relacionar duas ou mais
que se deseja, mas para isso há que se subentender coisas, de servir de intermediário ou ‘ponte’, de
que “nenhuma aprendizagem evita a viagem” e que permitir a passagem de uma coisa à outra.”
aprender “provoca a errância”(SERRES, 1993, p. Portanto, o potencial de aprendizagem pode ser
23), isto é, trata-se de um percurso sujeito a desenvolvido, principalmente, se o aprendiz tiver
deslizes, incertezas, imprecisões, mas a que só um mediador atento e perspicaz e que favoreça as
chega quem se desafia ao movimento e no qual a necessárias reflexões de como se pode
concepção de erro como parte do processo torna-se pensar/resolver/agir em uma determinada situação.
A breve caracterização da mediação e do ato devir, do “ainda não”, mas que poderá tornar-se o
de mediar nos auxilia a demonstrar a sua projeto humano se transformarmos em ação nossos
importância para o processo pedagógico e para o ato ideais e sonhos. É vontade, acesa na intuição
de avaliar, transformando este em um momento primeira, concretizada como conquista do objeto.
singular para aprender, não numa cobrança ou Mesmo diante do fato de termos experiência
acerto de contas. Ao identificar que mediar é de avaliar ou sermos avaliados, quem sabe por
interpretar, dialogar, estar aberto a interlocução - o muitos anos, não há como negar que precisamos
que faz com que haja diferença entre o que uma aprender a postura mediadora de avaliar, isto é,
pessoa pode aprender ao se envolver sozinha numa aprender os conceitos teóricos sobre avaliação, mas,
experiência educativa ou com a ajuda de outra, mais concomitante a isso, aprender a praticar a avaliação,
competente, ao lhe proporcionar desafios adequados traduzindo-a em atos do cotidiano. Consideramos
situamos o lugar do educador na relação pedagógica apropriado parafrasear Luckesi (2011a) em três
como aquele que “interfere” em favor da postulados que podem orientar uma prática
aprendizagem, que aproxima o aprendiz e o inquieta mediadora de aprendizado da avaliação.
em busca do saber. Em primeiro lugar, importa estar aberto a
Desenvolver a avaliação na perspectiva do essa prática e aprendê-la. Sem uma disposição
ensinar e aprender exige alguns movimentos dos psicológica de abertura efetiva para o tema, não há
sujeitos envolvidos. A postura estática não contribui como cuidar dele. Em segundo lugar, podemos
para o aprendizado. Portanto, a aprendizagem exige aprender sobre avaliação da aprendizagem
um ir à busca do objeto do saber, um sair do lugar observando se estamos satisfeitos (ou não) com os
em que se encontra, muitas vezes, um mover-se resultados de aprendizagem de nossos educandos
impelido pelo ator de ensinar. E o professor será o decorrentes de nossa ação pedagógica. E, por
personagem que criará as oportunidades para que o último, ainda que o estudo do que já foi escrito
estudante aprenda, para que o aluno se movimente, sobre avaliação da aprendizagem não nos ofereça
dando sentido e criando sua forma de entender o todos os recursos necessários à aprendizagem desse
que lhe é proposto O que nutre a identidade do modo de agir, ele é um bom aliado. A compreensão
aprender e do ensinar é o nó górdio que faz de cada e a experiência do outro, ou dos outros, podem ser
um ser ou existir na dependência da existência do nossos aliados em nossa jornada de busca e
outro. O aprender só existe no ensinar e o ensinar no aprendizagem do ato de avaliar.
aprender. É claro que a afirmação desta unidade A avaliação deve procurar emancipar,
indissolúvel entre ambos demanda um permitindo ao aluno questionar a respeito de
reposicionamento pedagógico, epistemológico, conceitos, de aprendizagens. É através de situações
ético, atitudinal tanto do professor quanto do aluno. conflitantes, na escola, na sala de aula, que o
O fato de a aprendizagem dar-se como educador poderá observar o aluno, identificando
processo e na interação com o meio e entre suas dificuldades. Num modelo de intervenção em
indivíduos nos permite afirmar que a organização que não visualizamos a possibilidade do conflito,
ou a pré-disposição de um ambiente que propicie a em que evitamos os problemas interpessoais, em
aprendizagem ou a favoreça deve ser levado em que limitamos a capacidade de atuação dos alunos,
conta. Isto nos faz reforçar a importância da sala de em que não haja espaços para expressar
aula enquanto espaço dinamizador da aprendizagem autonomamente a opinião pessoal, em que não
e a avaliação como ritual de conhecimento. Daí que valorizemos a autonomia nem proponhamos
o papel do educador se constitui como um atividades que obriguem a conviver em situações
provocador, um alimentador permanente do desejo complexas, dificilmente será possível observar os
de aprender do aluno. Para isso, ele precisa avanços e as dificuldades de progresso de cada
demonstrar também ser conhecedor, pesquisador, aluno neste terreno, assim como avaliarmos a
explorador de novos mundos; mundos estes que necessidade de oferecer ajudas educativas que
também que os alunos desejarão descortinar? Muito promovam a emancipação e o crescimento pessoal
mais do que apresentar conhecimento como produto nas tomadas de decisões e no emprego das
acabado há a necessidade de vê-lo como um objeto competências e habilidades de cada educando.
em construção que precisa ser modelado, traçado, A avaliação só é verdadeiramente formativa
delineado de acordo com os protótipos expressos quando compreendida pelo aluno nas suas
em nossos desejos, que nascem e se constituem diferentes dimensões e lhe permite regular a sua
como expressões do inacabamento humano, do aprendizagem, o que supõe a escuta dos pares e o
DEMO, P. Ser professor é cuidar que o aluno ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar.
aprenda. Porto Alegre: Artmed, 2004. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Sobre os autores:
Idanir Ecco: Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo. Professor da Universidade Regional
Integrada Campus Erechim, RS.