Economia Brasileira
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2010
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184, Parágrafos 1º ao 3º, sem prejuízo das sanções cíveis cabíveis à espécie.
CDU: 338(81)
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
Fernando Haddad
PRESIDENTE DA CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Créditos da imagem da capa: extraída do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.
Prefácio
Apresentação.............................................................................................................9
Referências............................................................................................................ 133
Apresentação
Caro estudante,
Estamos iniciando a disciplina Introdução à Economia, na
qual você conhecerá como manusear as ferramentas econômicas.
Certamente, você já adquiriu, com base em seus estudos até aqui, a
capacidade de refletir sobre produção, consumo e distribuição para
opinar, sempre que necessário. Isso se dá com a segurança requerida
e com conhecimento a respeito da lógica do mercado em seus
meandros e suas reticências, sem deixar de crer na possibilidade da
conquista de um mundo mais humano e solidário.
Buscando dar continuidade ao estudo da ciência econômica,
trazemos para você, desta vez, um livro com tópicos de economia
muito especial para todos nós – um livro de economia brasileira. Este
tem o objetivo de fornecer os instrumentos de análise capazes de
auxiliar você na compreensão das várias correntes de pensamentos
sobre o modelo de desenvolvimento econômico brasileiro; de
despertar para a reflexão; e de fomentar o interesse pela realização
de pesquisas na área.
Estudar a economia brasileira constitui um dever de ofício
para nós que acreditamos na educação como meio para a conquista
do tão almejado desenvolvimento econômico. Quando conhecemos
pouco do passado, além de o presente ficar empobrecido, o futuro
desaparece de cena. A assimetria de informações se tem constituído
em um grave problema para as economias modernas. Precisa de uma
vez por todas ser minimizada, sob pena do fosso estabelecido entre
países desenvolvidos e em fase de desenvolvimento, ser ampliado.
Ninguém deve cruzar os braços na espera que as questões
postas sejam resolvidas sem as nossas interferências. Como cidadãos,
temos a responsabilidade na condução dos caminhos para lidar com
Módulo 3 9
Economia Brasileira
Módulo 3 11
Economia Brasileira
Auge e declínio
do modelo brasileiro
de desenvolvimento
Caro estudante,
Bem-vindo à Unidade 1, na qual vamos discutir os fundamentos
políticos da formação da economia brasileira na República.
Iniciaremos nosso estudo apresentando o desenvolvimento
econômico brasileiro, da primeira à nova República, com vista
à compreensão dos cenários, dentro das especificidades de
cada uma das épocas focadas. Lembre-se sempre de que cada
período tem os valores culturais do seu tempo e devem ser
levados em consideração, pois são realmente importantes nas
tomadas de decisões.
Para um bom aproveitamento tanto desta Unidade como das
demais, leia com atenção cada uma das abordagens. Caso
não compreenda algum assunto, solicitamos que faça uma
nova leitura. Se a situação persistir, divida as dificuldades
encontradas com seu tutor.
Para você aprofundar os conhecimentos em economia brasileira,
listamos vários autores, mencionados ao final deste livro.
Vamos iniciar? Boa leitura para você!
Módulo 3 15
Economia Brasileira
O autor brasileiro Celso Furtado possui Sorbonne de Paris, em 1948. Fonte: Elaborado
pelos autores.
uma das mais importantes contribuições
sobre a situação da economia brasileira
no século XX. A contribuição “furtadiana” ao pensamento
econômico brasileiro é muito vasta e merece ser conhecida.
Para Furtado (2001, p. 39),
Módulo 3 17
Economia Brasileira
País em uma grande república, e não cada casa governando indiretamente o país. Existem
três poderes responsáveis pelo andamento
em uma república, um lugar onde todos que o
do governo: o Legislativo, o Executivo e o
habitam desfrutam de forma igual de tudo a que
Judiciário. Fonte: Elaborado pelos autores.
tem direito. Na República, tivemos os seguintes
períodos de evolução política:
ff
Primeira República, ou República Velha (1889-1930);
ff
Era Populista (1930-1964);
ff
Era Ditatorial (1964-1984); e
ff
Nova República (a partir de 1985).
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Economia Brasileira
ff
os impactos da Primeira Guerra Mundial sobre o
comércio exterior;
ff
fortes oscilações no preço do café;
ff
a Crise de 1929, que abalou o mundo; e
ff
a transformação na condução da economia a partir de 1930.
Módulo 3 21
Economia Brasileira
v
que já vinha sendo utilizado desde princípios do século.
Outro momento que é importante destacarmos em relação
à economia brasileira foi o primeiro surto industrial no Brasil que
ocorreu no Rio de Janeiro, em fins do século XIX, e somente depois se
O Primeiro Ministro da
estendeu a São Paulo durante a Primeira República. Contudo, a ideia
Fazenda, Rui Barbosa, parece ter se fortalecido após a Primeira Guerra Mundial, quando se
exerceu o cargo de 15 de confirmou a necessidade de a economia buscar formas concretas de
novembro de 1989 a 17 se industrializar, embora os esforços ocorressem de forma lenta, tendo
de janeiro de 1891 e foi
em vista os interesses agrários predominarem na pauta das discussões
considerado simpatizante à
criação de indústrias no País. estabelecidas. E assim caminhou a Primeira República no Brasil.
Um período de rápidas
transformações políticas e
econômicas: 1930 a 1964
ff
Primeira de 1930 a 1934: fase do governo
provisório, que entrou em choque com o movimento
Constitucionalista de 1932, pedindo um governo em
que a Constituição desse as cartadas.
ff
Segunda de 1934 a 1937: fase do governo
Constitucionalista, regida pela Constituição de 1934.
Módulo 3 23
Economia Brasileira
ff
Terceira de 1937 a 1945: fase do Estado Novo.
Surgiu a figura dos decretos-leis, o judiciário perdeu
forças, o autoritarismo e a repressão dominaram o
quadro da época, foram nomeado interventores para
governarem os Estados.
substituição de importações, que teve suas primei- Produtos anteriormente importados que
ras explicações com Furtado e depois com o traba- passaram a ser produzido internamente.
lho de Maria da Conceição Tavares cuja contri- Substituir importações não significa diminuí-
buição preencheu a lacuna que faltava para o las, pelo contrário, pode até vir a aumentá-
las, dependendo da necessidade. Neste caso,
entendimento da questão.
então, substituição de importações é o fato
É importante frisarmos ainda que o maior
de o país modificar a pauta dos importados
problema do processo de substituição de importações
por bens intermediários e de capital
na industrialização brasileira e na da América Latina visando ampliar e diversificar a capacidade
centrou-se na redução do coeficiente de importação, de produção. Contudo, com o passar dos
em outras palavras, a relação entre o valor das anos, alguns problemas parecem ameaçar
importações e o produto interno. o processo de substituição de importações:
A partir do momento em que essa relação se o tamanho e a forma de estruturação do
torna insuficiente para atender às necessidades da mercado, a característica do desenvolvimento
expansão da economia, tem-se o esgotamento do tecnológico e a organização dos recursos
Módulo 3 25
Economia Brasileira
ff
a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional;
ff
o Conselho Nacional do Petróleo;
ff
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);
ff
a Companhia Vale do Rio Doce;
ff
a Comissão da Indústria de Material Elétrico;
ff
o Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial;
ff
a Comissão Nacional de Ferrovias etc.
Módulo 3 27
Economia Brasileira
impasse para que o vice-presidente João Goulart Ou simplesmente Jango, como era
renúncia, quando João Goulart estava na China, 1961 a março de 1964. Nasceu no Rio Grande
do Sul. Entrou para a política com o apoio de
tentaram impedir o seu retorno ao País e a sua
seu conterrâneo e amigo particular, Getúlio
posse como presidente. Para que Goulart assumisse
Vargas. Fonte: <http://www.infoescola.com/
o poder, o Congresso Nacional teve de alterar
historia/governo-de-joao-goulart-jango/>.
o regime de governo de presidencialismo para
Acesso em: 20 ago. 2010.
parlamentarismo e transferir a responsabilidade
do governo ao Primeiro Ministro. Goulart teve o
mandato marcado por uma série de conflitos no campo e nas cidades.
A política econômica exposta no Plano Trienal, elaborado por Celso
Furtado, centrou-se na resolução das questões mais imediatas, como
a inflação, e deixou a industrialização para o segundo plano. Houve
muita revolta popular, o País clamava por reformas de base, mas por
baixo conspiravam contra o seu governo. Em 31 de março de 1964,
Goulart foi deposto pelos militares, que assumiram o governo com
o pretexto de ser por um curto período de tempo e ficaram por vinte
anos (1964-1984).
Módulo 3 29
Economia Brasileira
O período militar
ff
Primeira de 1964/1967: fase marcada pela estagnação das
atividades econômicas, grandes reformas institucionais
e preparação para entrada da economia brasileira na
economia mundial.
ff
Segunda de 1968/1973: fase conhecida como a do
“Milagre Econômico”, tendo o país colhido os frutos dos
ajustamentos anteriores, além da situação internacional
apresentar um quadro animador.
ff
Terceira de 1974/1979: fase do recrudescimento da
economia, com instabilidade na economia internacional,
após o choque do petróleo, que atingiu o mundo em
cheio. Foi nesse período que foi criado o II Plano Nacional
de Desenvolvimento Econômico com vistas a organizar a
economia diante das dificuldades.
ff
Quarta de 1980/1984: fase assinalada internamente
por recessão, inflação elevada, redução do investimento
estatal; e externamente por um quadro desfavorável devido
à elevação dos juros, ao segundo choque do petróleo e à
instabilidade cambial.
Módulo 3 31
Economia Brasileira
O período democrático
inflação foi a eleita para ser debelada* do cenário, sob pena afetar considerado maléfi-
co); extinguir, repri-
a estabilidade econômica do País ou de comprometer o crescimento
mir, suplantar. Fonte:
econômico. E, em 28 de fevereiro de 1986, foi lançado o Plano Cruzado, Houaiss (2009).
no qual uma nova moeda chamada cruzado substituiu o cruzeiro.
Nesse momento, o mecanismo de reajuste de salários foi
revisto e, toda vez que a inflação atingisse o patamar de 20%,
um “gatilho salarial” seria disparado visando corrigir o seu valor.
Quase todos os preços foram congelados, com exceção da energia
Módulo 3 33
Economia Brasileira
*Tablita – continha elétrica. Foi estabelecida também uma taxa de câmbio fixa, os aluguéis
índices que corrigiam foram revistos e os contratos prefixados corrigidos por uma “tablita”*.
os valores dos produ-
O plano teve sucesso no início, houve a queda da inflação e
tos decorrentes da
inflação. Fonte: Elabo-
as pessoas aprovaram tanto que algumas resolveram se tornar fiscais,
rado pelos autores. para que o congelamento não fosse desrespeitado. No entanto,
passada a fase da euforia, modos de contornar o congelamento
foram surgindo, por exemplo, a imposição de ágio
Saiba mais Ágio por alguns comerciantes. Além disso, podemos
O ágio funcionava da seguinte maneira: caso observar também que o governo fez um enorme
alguém necessitasse de algum produto que esforço no sentido de não descongelar a economia,
havia desaparecido das prateleiras, bastava isentando produtos de impostos, dando subsídios,
pagar um valor adicional, e, como em um liberando as importações de produtos em falta,
passe de mágica, a mercadoria reaparecia.
confiscando produtos que em algumas situações o
Fonte: Elaborado pelos autores.
produtor resolvia não colocar à venda no mercado.
Nessa dificuldade de congelamento versus
descongelamento, surgiu o chamado “Cruzadinho”, caracterizado
pela adoção de um conjunto de medidas como empréstimos
compulsórios na compra de gasolina, automóveis e passagens aéreas
internacionais. Isso permitiu uma sobrevida ao plano Cruzado até as
eleições para governadores de 1986. Passadas as eleições, das quais
o governo saiu vitorioso, foi adotado o Plano Cruzado II, com uma
série de novas medidas, na tentativa de controlar o déficit público.
Com o fracasso do Plano Cruzado II, surgiu, em 12 de junho
de 1987, o Plano Bresser, que propunha o congelamento dos preços
e dos salários por três meses, a desvalorização do câmbio, a utilização
da tablita nos contratos prefixados. No Plano Bresser, o déficit público
aumentou e começou então uma etapa de discussões em torno da
necessidade de reduzir o peso do setor público na economia.
Em 1988, foi lançado o Plano Verão, mudando a unidade
monetária de cruzado para cruzado novo. No Plano Verão, o salário
sofreu perdas, as medidas foram tímidas por conta da iminência
das eleições de 1988 e a inflação acelerou chegando a um patamar
de hiperinflação, seguindo o descontrole das contas públicas, e a
elevação das taxas de juros.
Mas foi nos anos de 1990 com a entrada de Fernando Collor
de Mello como presidente que se pôde perceber o descontrole
como Plano Real. Entre os pontos privilegiados pelo criado no ano de 1991 e deveria ser mais
estudado na administração pública, quando
Plano Real, destacaram-se a busca da ampliação
do desenvolvimento de monografias. Fonte:
da receita tributária, o equacionamento da dívida
Elaborado pelos autores.
dos Estados e dos municípios, a diminuição da
participação do Estado na economia com o
estímulo à privatização, e o estabelecimento de um controle maior
sobre os bancos estaduais (em algumas situações, a realização de
estudos visando ao seu fechamento).
Módulo 3 35
Economia Brasileira
Complementando...
Para aprofundar seu conhecimento a respeito dos assuntos desta Unidade,
recomendamos as leituras propostas a seguir:
Módulo 3 37
Economia Brasileira
Resumindo
Chegamos ao final da primeira Unidade, na qual discuti-
mos os fundamentos políticos da formação da economia brasi-
leira na República. Apresentamos o desenvolvimento econô-
mico brasileiro, da primeira à Nova República, com vista à
compreensão dos cenários, dentro das especificidades de cada
uma das épocas focadas. Vimos também que cada período tem
seus valores culturais, que devem ser levados em conta, pois
são realmente importantes nas tomadas de decisões. Entre os
assuntos estudados, podemos destacar:
ff
da República Velha à Nova República, o Brasil vivenciou
diferentes situações econômicas e enfrentou desafios
que deveriam ser superados, como as formas
autoritárias de governo;
ff
importantes focos de análise, com o propósito de
despertar o desenvolvimento de novos trabalhos na área,
dentro de uma perspectiva de administração pública;
ff
a conquista da estabilização econômica foi a grande
marca do século XX no Brasil e o interessante é que só foi
conseguida em um regime de governo democrático; e
ff
os Planos Econômicos elaborados dão uma ideia das
dificuldades enfrentadas pela economia brasileira.
Atividades de aprendizagem
Agora que você já leu todo o texto desta Unidade, que lhe
permitiu refletir sobre o desenvolvimento da economia
brasileira ao longo do século XX, chegou o momento de
realizarmos as atividades de aprendizagem. Vamos, então, às
questões formuladas:
Módulo 3 39
Economia Brasileira
Módulo 3 41
Unidade 2 – O processo de industrialização no Brasil
UNIDADE 2
O processo de
industrialização no Brasil
Objetivos específicos de aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você deverá ser capaz de:
ffConhecer o processo de transformação da estrutura produtiva
que se deu no Brasil ao longo do século XX, cujo centro dinâmico
da economia passou da agricultura para a indústria;
ffDescrever os alcances e limites deste processo destacando três
fases bem distintas;
ffVer como a industrialização é o resultado involuntário de um
período marcado pela predominância do modelo agrário-
exportador, até a década de 1920;
ffEntender o surgimento da política industrial, que passa a integrar
os objetivos de desenvolvimento capitalista no País; e
ffAnalisar os motivos pelos quais esta fase de industrialização
planejada por substituição de importações, que trouxe uma
rápida transformação e diversificação produtiva, parece esgotar-
se no início dos anos de 1980, com a crise da dívida e a mudança
de orientação do Estado brasileiro.
Módulo 3 43
Unidade 2 – O processo de industrialização no Brasil
Modernização e diversificação da
economia brasileira
Caro estudante,
Chegamos à Unidade 2, na qual veremos o longo processo
de construção do Brasil industrial, fruto de um verdadeiro
embate ideológico entre diferentes segmentos de nossas
elites econômicas e políticas.
Para você entender como foi possível transformar um País
agrário na oitava maior economia do planeta, será preciso
voltar, uma vez mais, no tempo. Reconstituiremos, assim, a
difícil convivência dos industrialistas no início do século XX
com um ambiente econômico favorável ao desenvolvimento
da monocultura de exportação.
Veremos ainda que a indústria floresce no Brasil, inicialmente,
como fruto de um projeto político que preconiza uma nova
inserção do País na divisão internacional do trabalho.
Chamaremos a sua atenção, enfim, para o resultado contraditório
dessa transformação, já que a industrialização não permitiu ao
País superar a sua condição de subdesenvolvimento.
Boa leitura. Qualquer dúvida não hesite em consultar o seu tutor!
Módulo 3 45
Economia Brasileira
Módulo 3 47
Economia Brasileira
O atraso no processo de
industrialização
v
Até pouco tempo atrás, o setor primário de nossa economia
ainda era predominante em nosso PIB. Somente partir dos anos 1960
a indústria superou a agricultura no valor agregado para o conjunto
Essa superação ocorreu de nossa economia. Contudo, a dinâmica de nossa economia já era
na medida em que considerada industrial desde o fim da década de 1940. De qualquer
a agricultura passou
forma, é importante chamarmos a atenção para o caráter tardio em
a cumprir um papel
subordinado aos que se dá o processo de industrialização no Brasil, se comparado aos
interesses industriais, países de capitalismo mais avançado, como os da Europa Ocidental,
como veremos a seguir. os Estados Unidos, a Rússia e o Japão. Vejamos por que isso ocorre.
A primeira razão para entender o
retardamento em nosso salto industrial consiste no
Saiba mais Escravismo colonial
longo período de regime de trabalho escravista em
A escravidão moderna adotada em boa parte
nosso território.
das colônias europeias na América, a partir
do século XVI, é um modo de produção
específico, distinto e antagônico ao
Você sabia que o Brasil foi um dos últimos
capitalismo, na medida em que não dá lugar à
países a abolir a escravidão, em 1888? E que
diversificação econômica e impõe barreiras à
industrialização, concentrando renda, terras esse modo de produção específico possui em
e poder em torno da classe dos senhores seu interior características que impossibilitam o
de escravos. A sociedade nesse modo de surgimento da industrialização? Vamos ver em
produção é predominantemente rural, com a detalhes por que isso ocorre?
produção organizada em unidades produtivas
denominadas plantagens: fazendas, no
geral, caracterizadas pela integração vertical O sistema escravista moderno, tal como o
das atividades relacionadas ao plantio, que vigorou no Brasil desde os tempos coloniais,
processamento e transporte da mercadoria. denominado escravismo colonial, tem como
Fonte: Elaborado pelos autores.
objetivo a especialização em uma monocultura
v
O principal desses incentivos é a remuneração na forma de
salário. E é apenas por meio da generalização da relação assalariada,
a partir da abolição da escravatura, em 1888, que podemos falar
de capitalismo no Brasil, quando surgiriam, gradativamente, as
condições econômicas e políticas para o desenvolvimento industrial.
A Abolição da escravatura
Isso não significa, e é importante dizermos, que não houve por si só não foi suficiente
indústria no período escravocrata no Brasil. Pelo contrário. Capitais para dar lugar ao processo
Módulo 3 49
Economia Brasileira
Por conta desse processo, alimentado pelos Originada por forte expansão monetária e
recursos liberados pelo último governo imperial crescimento econômico que deu origem a
movimentos de capitais especulativos nas
no sentido de aliviar o impacto do fim iminente da
bolsas de valores e moedas de diferentes países
escravidão entre os produtores de café, os primeiros
entre 1890 e 1893. Trouxe como resultado
anos da República foram de grande instabilidade
inflação e um grande número de falências.
financeira e aumentos de preços internos, período
Fonte: Elaborado pelos autores.
denominado de Encilhamento.
Diante desse cenário, o primeiro-ministro da Fazenda
republicano, Rui Barbosa, sofreu grande pressão para evitar gastos
que pudessem trazer descontrole macroeconômico. Sua posição
de incentivar a indústria incipiente por meio de investimentos do
Estado foi então duramente limitada pela imposição de uma política
econômica de tipo conservadora e pela desconfiança dos investidores
estrangeiros. Ferreira Lima (1976) aponta que, por essa razão, o
Encilhamento no Brasil deve ser compreendido como uma fase de
importante expansão econômica e industrial que é interrompida
devido à resistência dos interesses da elite cafeeira e do capital inglês
a um processo de industrialização autônomo nacional, que especula
contra a moeda brasileira.
Portanto, podemos afirmar que nesse período da República
Velha predominou o modelo de desenvolvimento “para fora”, como
o denominou Tavares (1983), de tipo agrário-exportador. Como a
ocorrência de crises era frequente nesse arranjo econômico pouco
diversificado e sujeito a variações de preços externos, o governo
acudia para socorrer o setor exportador sempre que havia risco de
Módulo 3 51
Economia Brasileira
Crescimento
Indicador Período Anual
População da cidade de São Paulo 1910-1930 4,4%
População da cidade do Rio de Janeiro 1910-1930 2,6%
Estoque total de imigrantes 1889-1930 3,7%
Importações de combustíveis 1901-1929 9,4%
Produção de manufaturados 1901-1929 8,4%
PIB per capita 1901-1929 5,5%
Módulo 3 53
Economia Brasileira
interno. Os barões do café aplicavam parte desses originada na década de 1940 a partir da
Módulo 3 55
Economia Brasileira
de proteção social voltados à classe trabalhadora. nos Estados Unidos, entre fins do século XIX
e princípios do século XX, está associado ao
Deve-se igualmente à iniciativa de Vargas a
entendimento segundo o qual a expansão da
adoção desses primeiros elementos de um Estado
economia não pode prescindir da manutenção
de bem-estar, no Brasil, a partir da instituição do
do poder aquisitivo dos trabalhadores. No
salário mínimo (em 1940), de leis reguladoras das
Brasil, a proteção social assume um caráter
relações de trabalho (1943), e da consolidação de
muito limitado se comparado ao sistema
uma estrutura pública de fornecimento de serviços existente nos países desenvolvidos. Fonte:
de educação, saúde e previdência. Porém, dada Elaborado pelos autores.
a imensa proporção de trabalhadores informais
no País à época, boa parte da população terminaria por não ser
contemplada por esses benefícios.
De qualquer forma, apesar dos limites e das contradições
presentes na ditadura do Estado Novo, o País saiu da era Vargas
com uma estrutura produtiva transformada e um mercado interno
v
em franca expansão.
Na Guerra Fria, que então se iniciava e que confrontaria
durante as próximas quatro décadas as duas maiores potências do
globo, EUA e URSS, o Brasil se apresentava como um território
extremamente estratégico. Essa variável é decisiva para entender os Para saber mais sobre a
êxitos daquele período, mas também a frustração dos objetivos nacional- Guerra Fria, acesse <http://
www.mundoeducacao.com.
desenvolvimentistas em nosso país entre os anos de 1945 e 1964.
br/guerra-fria>.
Módulo 3 57
Economia Brasileira
Módulo 3 59
Economia Brasileira
ff
em primeiro lugar, a falta de ênfase nos gastos sociais.
Os projetos educacionais representavam apenas 3% do
total de gastos previstos pelo Plano;
ff
em segundo lugar, a opção pelo financiamento
inflacionário e endividamento externo, ou seja, a
inexistência de avaliação rigorosa dos possíveis
desequilíbrios de um programa de expansão executado
sem lastro monetário sustentável no longo prazo; e
ff
por último, a ausência de preocupação com o setor
agrícola, que se beneficiaria apenas de forma indireta
por meio de metas como as de aumento na produção
nacional de tratores e fertilizantes.
Módulo 3 61
Economia Brasileira
havia investido em apenas seis empresas nesses países. Fonte: Elaborado pelos autores.
Módulo 3 63
Economia Brasileira
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Economia Brasileira
Módulo 3 67
Economia Brasileira
Complementando...
Para aprofundar seu conhecimento a respeito dos assuntos desta Unidade,
recomendamos as leituras propostas a seguir:
Resumindo
Nesta segunda Unidade, fizemos uma ampla discussão sobre
o processo de industrialização no Brasil. Inicialmente vimos que o
Brasil começou tardiamente o seu processo de industrialização,
se comparado às principais potências econômicas. Isso é devido à
duração prolongada da escravidão e à predominância de interes-
ses agrário-exportadores ao longo da República Velha. Somente
durante o chamado período desenvolvimentista da economia
brasileira, entre 1930 e 1964, é que a indústria expandiu-se rapi-
damente, aumentando a diversificação de nossa produção manu-
fatureira. A época desenvolvimentista foi igualmente marcada
por importantes avanços na legislação social e trabalhista, o que
permitiu o fortalecimento do consumo nacional e a reorientação
da dinâmica do setor externo para o mercado interno.
Vimos ainda que a estratégia brasileira de industrialização
foi caracterizada por uma política de substituição de importações,
que ganhou em complexidade até atingir o seu ápice no início de
1970, com a nacionalização da produção de bens de capital. A dita-
dura militar (1964-1984) marcou o final do processo de industria-
lização por substituição de importações, por causa de uma série
de escolhas feitas pela equipe econômica no poder nesse período,
como a política salarial regressiva e o aumento da dependência de
capitais estrangeiros.
Por fim, vimos que a estagnação econômica dos anos 1980,
com altos índices de inflação e dívida externa crescente, afetou
duramente o setor manufatureiro nacional. Dá-se início a um
processo de desindustrialização no País com a abertura comercial
a partir de 1990.
Módulo 3 69
Economia Brasileira
Atividades de aprendizagem
Módulo 3 71
UNIDADE 3
Desigualdade,
Inflação e Desemprego
na Economia Brasileira
Os principais desequilíbrios do
desenvolvimento capitalista
no Brasil
Caro estudante,
Bem-vindo à Unidade 3, na qual nossa preocupação será a de
mostrar como a evolução de nossa economia em geral, e mais
particularmente o processo de industrialização brasileira, não
se fez sem uma série de contradições e desequilíbrios.
O primeiro e mais importante desses desequilíbrios é a
desigualdade na estrutura de rendimentos em nosso país – que
ainda se situa entre uma das mais elevadas do mundo. O Brasil,
em sua estratégia de desenvolvimento, privilegiou o crescimento,
relegando a redistribuição a um distante segundo plano.
Já o segundo desequilíbrio, o desemprego, toma proporções
crônicas com o esgotamento do processo de industrialização,
a partir dos anos de 1990, principalmente. E, por fim, a
inflação, o terceiro desses desequilíbrios resultantes do rápido
crescimento econômico do País, parece agora controlado, mas
até pouco tempo monopolizava a atenção dos economistas e
impedia o debate sobre o desenvolvimento de nossa economia.
Preparado para continuar nossa conversa? Vamos lá.
Módulo 3 75
Economia Brasileira
Módulo 3 77
Economia Brasileira
que foi acompanhado de um processo especulativo Este é um tipo de política econômica ortodoxa
na bolsa de valores, o encilhamento, que você utilizada para conter um processo inflacionário
estudou na unidade anterior. Em 1899, Joaquim por meio do enxugamento da moeda e dos
gastos públicos na economia. Isso se faz
Murtinho assumiu o Ministério da Fazenda com o
com elevação da taxa de juros e redução
objetivo de conter essa elevação nos preços e adotou
do crédito disponível. Como resultado, a
uma estratégia ortodoxa, promovendo um ajuste
demanda agregada se retrai e os preços
recessivo. Isso fez com que os anos seguintes se
tendem consequentemente a se reduzir. Fonte:
caracterizassem por uma desaceleração econômica Elaborado pelos autores.
e forte deflação no País.
O período do nacional-desenvolvimentismo
(1940-1963), marcado por uma rápida transformação industrial no
País, como o Quadro 2 indica, foi uma época marcada por uma
taxa de inflação muito superior à do encilhamento. Na realidade, a
inflação passou a ser vista como um problema estrutural, e não foi
objeto de políticas específicas, exceto durante o governo Goulart,
quando a aceleração dos preços se tornou objeto de grande debate
na sociedade.
Módulo 3 79
Economia Brasileira
Módulo 3 81
Economia Brasileira
Módulo 3 83
Economia Brasileira
Os governos militares, ao lançarem mão da correção
monetária, puderam minimizar o impacto dos fortes reajustes do
início de 1960. Os preços passavam a ser reajustados de acordo
com uma regra oficial cujo percentual incorporava parte das perdas
com a inflação passada. Porém, no início de 1980, quando um novo
processo de rápida elevação de preços estava em andamento, a
correção monetária surtiu o efeito contrário, alimentando a espiral
inflacionária.
A leitura que se fazia à época era que a hiperinflação surgia
por conta de dois componentes:
ff
a inércia na remarcação de preços e salários (associada
à indexação ou correção monetária); e
ff
a ocorrência de choques que abalavam a estrutura dos
preços relativos (o choque de juros e petróleo ao final
da década de 1970, por exemplo).
Módulo 3 85
Economia Brasileira
inflação, pelo qual o Banco Central passaria a se Fonte: Elaborado pelos autores.
responsabilizar.
Durante o governo Lula, apesar do histórico de inflação muito
baixa, a justificativa para a manutenção dos juros em patamares
Módulo 3 87
Economia Brasileira
Módulo 3 89
Economia Brasileira
Módulo 3 91
Economia Brasileira
ff
menos de 10% da população adulta têm Ensino Superior
no Brasil, frente a cerca de 25% nos países avançados
(segundo dados do IBGE e OCDE);
ff
o seguro-desemprego não contempla a massa de
trabalhadores informais e tem duração e remuneração
muito limitadas em nosso país; e
ff
a falta de investimentos no setor de saúde pública
mantém o Brasil distante dos níveis adequados em uma
série de indicadores da Organização Mundial de Saúde.
Isso explica em parte a gravidade da crise social que
enfrentamos nos dias atuais.
Módulo 3 93
Economia Brasileira
Módulo 3 95
Economia Brasileira
Desigualdade de renda e
desigualdades regionais
1 Dinamarca 0,225
2 Suécia 0,243
3 Holanda 0,251
4 Nova Zelândia 0,251
5 Áustria 0,252
11 Bélgica 0,272
12 França 0,273
13 Alemanha 0,277
15 Canadá 0,301
18 Japão 0,314
20 Espanha 0,329
22 Itália 0,347
23 Portugal 0,356
24 EUA 0,357
26 Costa Rica 0,470
27 México 0,480
28 Venezuela 0,499
30 Argentina 0,524
32 Paraguai 0,536
34 Chile 0,550
36 Brasil 0,613
Módulo 3 97
Economia Brasileira
Módulo 3 99
Economia Brasileira
Módulo 3 101
Economia Brasileira
ff
a expansão da rede viária e ferroviária e o deslocamento
da capital do País do Rio de Janeiro para Brasília, todas
essas decisões adotadas no governo Kubitschek;
ff
a criação da Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (SUDENE), durante o governo Goulart;
ff
a criação da Zona Franca de Manaus;
ff
a construção da rodovia Transamazônica; e
ff a diversificação de investimentos de empresas estatais
em Estados do Norte e Nordeste, ao longo dos governos
militares.
Módulo 3 103
Economia Brasileira
Complementando...
Para que você complemente os seus conhecimentos sobre os aspectos abordados
nesta Unidade, procure fazer as leituras indicadas a seguir:
ÍÍ Desafios para o Brasil: como retomar crescimento econômico nacional?
– de Rosa Maria Marques e João Ildebrando Bocchi (Orgs.).
ÍÍO emprego no desenvolvimento da nação – de Márcio Pochmann.
Resumindo
Chegamos ao final da Unidade 3, na qual destacamos a
inflação, a desigualdade e o desemprego, que são consequên-
cias inevitáveis e indesejáveis de qualquer processo rápido de
modernização nas estruturas econômicas de um país.
No Brasil, esses fenômenos assumiram um caráter extre-
mado, já que os aumentos de preços alimentaram um processo
hiperinflacionário entre 1985 e 1993, o desemprego e subem-
prego tornaram-se problemas crônicos após a década perdida
e o nível de desigualdade situa-se entre os piores do mundo.
Um problema importante para entender a persistência
de altos níveis de desigualdade no País é o caráter regressivo de
nossa estrutura tributária, taxando relativamente mais os mais
pobres com impostos indiretos e exigindo pouca contribuição
das camadas mais abastadas, quando o contrário se observa
nos países mais desenvolvidos.
Vimos ainda que uma série de planos heterodoxos foram
adotados com o objetivo de controlar a inflação entre 1986 e
1993. Todos eles fracassaram, até que se colocou em prática o
Plano Real, que mudou a estratégia de combate à inflação: em
lugar de congelar preços, instituiu uma nova moeda indexada.
Diante desse cenário, o novo modelo de desenvolvimen-
to, que se consolidou no País a partir de 1990, deu ênfase à libe-
ralização da economia, trazendo um forte impacto em termos
de redução, ao mesmo tempo, na quantidade e na qualidade de
empregos disponíveis para a maioria da população.
Módulo 3 105
Economia Brasileira
Atividades de aprendizagem
Agora é sua vez. Confira se você teve bom entendimento dos
assuntos abordados nesta Unidade, realizando as atividades
propostas a seguir.
Módulo 3 107
Economia Brasileira
A economia brasileira
na era da globalização
Caro estudante,
Vamos ao nosso último tema. Esperamos que aqui você
encontre respostas para algumas das questões que ficaram
pendentes, sabendo que novas indagações aparecerão,
mas que com paciência e determinação também serão
compreendidas com o desenrolar das atividades.
Para discutir as perspectivas da economia brasileira no período
contemporâneo, abordaremos a globalização, que vem há
muitos anos, o endividamento e as relações internacionais
com vistas ao fortalecimento do comércio exterior, eixos
fundamentais de qualquer debate que se pretenda sério e
aprofundado.
É preciso que você preste muita atenção nos pontos levantados,
reflita a respeito das questões com espírito crítico e tenha em
conta que ainda há muito para ser conquistado.
O Brasil se transformou rapidamente nas últimas décadas e
continuará buscando se transformar ainda mais, muito embora
tudo aconteça no seu devido tempo e dentro de um processo
próprio a suas especificidades econômicas e culturais.
Pedimos que você leia o texto com atenção, faça as atividades
de aprendizagem e participe da construção do conhecimento
desta nova fase, com vistas ao desencadeamento de habilidades
voltadas ao amadurecimento do setor público, sem deixar de
ter em conta o significado do setor privado para a economia.
Vamos lá!
Módulo 3 111
Economia Brasileira
ff
Quando efetivamente começou o endividamento
externo brasileiro?
ff
Por que o Brasil resolveu buscar o endividamento externo?
ff Por que o choque do petróleo afetou a economia brasileira?
ff Qual o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI)?
ff Quantas vezes o Brasil recorreu ao FMI?
ff O receituário do FMI era de cunho monetarista?
ff Qual a importância da Conferência de Bretton Woods
para o mundo?
ff
A dívida externa brasileira acabou se concentrando no
setor público?
ff
Qual o significado da palavra vulnerabilidade?
ff Em qual globalização nos encontramos inseridos?
ff O Brasil tem jeito?
ff Quais as perspectivas para a economia brasileira?
momentos, foi um recurso que se dispôs com a Dívida externa não é um fenômeno novo. O nosso
finalidade de superar as dificuldades enfrentadas país convive com ela há mais de 150 anos. Aliás,
pelo Brasil ao longo da sua trajetória econômica. logo após 7 de setembro de 1822, emitimos títulos
da dívida externa por meio de J. M. Rothschild and
Cabe destacarmos ainda que na década de
Sons de Londres em quase quatro milhões de libras
1970, quando se dá a opção pelo financiamento
para cobrir déficits internos e para o pagamento
externo do novo plano de desenvolvimento, as
de obrigações a Portugal. O importante é que,
vantagens oferecidas eram tentadoras, o sistema
embora com grandes oscilações, a dívida externa
financeiro internacional gozava de excesso de sempre representou um considerável ônus
liquidez e os bancos se mostraram interessados para o País em termos de pagamento de juros e
em emprestar, oferecendo inúmeras vantagens, amortização do principal. Fonte: Sandroni (1989).
que se tornavam irrecusáveis.
A realidade é que o excesso de liquidez
internacional acabou levando o Brasil a se endividar e, além disso, o
acordo de Breton Woods, realizado após o final da Segunda Guerra
Mundial, deu a força que faltava para o fortalecimento das economias
de mercado.
Módulo 3 113
Economia Brasileira
Módulo 3 115
Economia Brasileira
Módulo 3 117
Economia Brasileira
Déficit externo
e vulnerabilidade
Módulo 3 119
Economia Brasileira
Módulo 3 121
Economia Brasileira
Mas não para por aí, na atualidade, vivemos desde 2008 uma
crise que se arrasta aos poucos e que parece não ter fim, por enquanto
algo que parece desafiar a todos. Para Sen (2009, p. 18),
ff
Balança Comercial: formada das exportações e das
importações. Em caso das exportações superarem as
importações, tem-se uma situação de superávit, e no
caso inverso, apresenta-se com déficit.
Módulo 3 123
Economia Brasileira
ff
Balança de Serviços e Rendas: desenvolvida com os
resultados dos investimentos e os trabalhos realizados (e
aqui se encontram especificados: transportes, viagens,
seguros, royalties e licenças, serviços do governo,
aluguéis etc.).
ff
Transferências Unilaterais Correntes: formada dos
pagamentos realizados entre países, destacando-se as
remessas feitas por migrantes e as doações recebidas ou
realizadas.
Módulo 3 125
Economia Brasileira
Complementando...
Para você que tem pela frente muita responsabilidade no gerenciamento da
nossa economia, recomendamos as seguintes leituras:
ÍÍ Um novo capitalismo? Revista Exame, abril/2009.
ÍÍ Desconcentração produtiva regional do Brasil (1970-2005) – de Wilson
Cano.
ÍÍ Desenvolvimento capitalista no Brasil – de Luiz Gonzaga de Mello
Belluzzo e Renato Coutinho.
Módulo 3 127
Economia Brasileira
Resumindo
Chegamos ao final de nossa disciplina. Nesta Unidade,
discutimos a forma como veio se dando a inserção da econo-
mia brasileira no capitalismo mundial, faz uma passagem pelas
crises enfrentadas a partir da segunda metade do século XX e
sugere situações de como enfrentar o novo milênio.
As propostas sugeridas de como enfrentar as dificuldades
encontram-se amparadas nos temas do passado e do presente,
tendo como pano de fundo a situação do capitalismo mundial,
que a partir de 2008 enfrenta uma das maiores crises e parece
clamar por “um novo tipo de capitalismo”.
No bojo da discussão, retomamos algumas discussões
interessantes como a questão do dólar para moeda de reserva
internacional.
Atividades de aprendizagem
Chegamos ao final de nossa disciplina, na qual você deve ter
percebido que as discussões envolvem diferentes juízos de
valor e que pode extrair a sua própria forma e concepção de
enxergar o mundo. Assim, convidamos você a mergulhar no
estudo de caso apresentado a seguir.
Módulo 3 129
Economia Brasileira
130
Considerações Finais
Considerações finais
Caro estudante,
Neste livro tivemos a oportunidade de ver como a economia
brasileira é uma disciplina que aborda a história dos fatos, das
políticas e das ideias econômicas do Brasil, com ênfase no Período
Republicano. Para tanto, tratamos dos principais períodos da
evolução do capitalismo no Brasil, procurando delimitar as diferentes
dinâmicas econômicas, como o ciclo agrário-exportador (até 1930),
o ciclo industrial (até 1980) e o ciclo atual de predomínio financeiro.
O objetivo principal desta disciplina foi o de analisar os fatores
políticos, sociais e econômicos que permitiram o desencadeamento
do processo de industrialização no Brasil, procurando revelar os
seus alcances e limites. Paralelamente, discutimos a eficiência das
políticas econômicas adotadas em termos de seu impacto tanto no
crescimento da produção como na produtividade e no bem-estar do
conjunto da população.
Procuramos, além disso, abordar o processo de evolução
econômica do País articulando-o com o plano das ideias econômicas.
Isso permitiu compreender o posicionamento dos economistas em
relação aos diferentes modelos de desenvolvimento em debate em
um determinado contexto no País e tornar claras as suas propostas
de políticas públicas.
Diferente de outros livros didáticos, que optam por uma
leitura cronológica dos fatos econômicos, neste manual fizemos
opção por uma divisão temática. Essa opção metodológica permitirá
uma compreensão mais concisa das questões centrais associadas à
evolução econômica do País. Evitamos, assim, o risco de comprometer
o aprendizado com uma abordagem que apenas percorre as diferentes
Módulo 3 131
Economia Brasileira
Referências
ABREU, Marcelo de Paiva (Org.). A ordem do progresso: cem anos de
Política Econômica Republicana (1889-1989). 15. tiragem. Rio de Janeiro:
Campus, 1990.
Módulo 3 133
Economia Brasileira
______. Economia Colonial no Brasil nos séculos XVI e XVII. São Paulo:
HUCITEC e ABPHE, 2001.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. 11. reimp. São
Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Módulo 3 135
Economia Brasileira
MIHM, Stephem. Revista Exame Ceo. São Paulo, abr., p. 64-66, 2009.
Módulo 3 137
Economia Brasileira
Minicurrículo
Fernando Tadeu de Miranda Borges