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Aula 12 - Neoliberalismo
Aula 12 - Neoliberalismo
Aula 12 - Neoliberalismo
O debate teórico
sobre o neoliberalismo
EDA 0101
Prof. Daniel Tojeira Cara
Importante
Todos precisam acompanhar as aulas
com os dois textos em mãos
O que é neoliberalismo?
O que vocês já ouviram falar sobre
neoliberalismo?
Leitura de Perry Anderson
“O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da
Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação
teórica e política veemente contra o Estado soviético e de bem-estar. Seu texto
de origem é O caminho da servidão, de Friedrich Hayek, escrito já em 1944.
2016
A lógica neoliberal – 2022
Crítica de Hayek ao estado de bem-estar social
Parte 1 de 2
“As raízes da crise, afirmavam Hayek e seus companheiros, estavam
localizadas no poder excessivo e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais
geral, do movimento operário, que havia corroído as bases da acumulação
capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua
pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos
sociais.
Esses dois processos não podiam deixar de terminar numa crise generalizada
das economias de mercado. O remédio então era claro: manter um Estado forte,
sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do
dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas.
A estabilidade monetária deveria ser a meta suprema de qualquer governo. [...]
Crítica de Hayek ao estado de bem-estar social
Parte 2 de 2
Para isso seria necessária uma disciplina orçamentária, com a contenção dos
gastos com bem-estar, e a restauração da taxa “natural” de desemprego, ou
seja, a criação de um exército de reserva de trabalho para quebrar sindicatos.
Ademais, reformas fiscais eram imprescindíveis, para incentivar os agentes
econômicos. Em outras palavras, isso significava reduções de impostos sobre
os rendimentos mais altos e sobre as rendas. Dessa forma, uma nova e
saudável desigualdade iria voltar a dinamizar as economias avançadas...”
Atenção: "Este Estado muitas vezes foi erigido por governos de esquerda
que, acreditando contrariar o neoliberalismo ao “modernizar” a burocracia,
acabam por realizar as reformas que consolidam sua racionalidade.”
1. Privatização e mercadização;
2. Financialização;
3. Administração e manipulação de crises;
4. Redistribuições via Estado.
Contribuição marxista
Parte 4 de 4
“O Estado joga um papel decisivo no neoliberalismo. O ímpeto de restauração do
poder de classe distorce na prática a teoria do Estado mínimo.”
Os economistas são inclinados assim a confundir “as coisas da lógica com a lógica das
coisas” (Bourdieu, 1998: 135-136 e 144). Ao partir de pressupostos falsos, reduzem a
racionalidade à concepção estreita da racionalidade individual, ignorando as condições
sociais que produzem a disposição calculadora (Bourdieu, 1998: 136).
Contribuição bourdieusiana
Parte 2 de 3
“A análise do neoliberalismo operou um deslocamento na obra final de Bourdieu (Bourdieu,
2001; Laval, 2018). Ao manter o mesmo esquema conceitual anterior, o autor o reativa para
pensar a nova estrutura da dominação social e a formação histórica das disposições
necessárias à inclusão na economia capitalista. No neoliberalismo, a sociedade francesa
passou a uma estrutura na qual a ciência econômica tomou o lugar da filosofia, o capital
econômico ganhou em importância frente ao capital cultural, a mídia tomou o terreno da escola
no exercício da “violência simbólica” e o Estado foi cada vez mais controlado pela alta função
pública fundida com dirigentes financeiros. Como o neoliberalismo estende a lógica econômica
a todos os campos – assentando-a como a racionalidade em geral –, Bourdieu procurou mostrar
a gênese social dessas disposições e da autonomização do campo econômico. Sua teoria do
habitus passou a operar como suporte metodológico da desconstrução histórica dos valores da
conduta econômica racional, desfazendo o idealismo universalista que permite à teoria
econômica produzir evidências e estabelecer leis pretensamente neutras, mas politicamente
eficazes.”
Obs.: ver “disposições” e “habitus” na teoria bourdieusiana.
Contribuição bourdieusiana
Parte 3 de 3
Loïc Wacquant (2012): O autor reconhece um núcleo institucional do
neoliberalismo que “consiste numa articulação entre Estado, mercado e
cidadania que aparelha o primeiro para impor a marca do segundo à
terceira” (Wacquant, 2012: 510).
“A partir dos países liberais avançados, a lógica neoliberal viajou para ambientes
tão variados quanto Estados militares, oligarquias pós-socialistas, formações
autoritárias e ex-colônias, sem substituir suas práticas políticas.
Esse modo de regulação estava fundado numa fictícia centralidade do “interesse geral” na definição
das políticas, na prevalência do direito público na organização da ação social, na difusão de normas e
formas de organização burocrática nos mais diversos setores, inclusive na produção de bens e
serviços, no compromisso salarial entre as classes sociais e na distribuição dos ganhos de
produtividade. Para minar e suplantar essa poderosa racionalidade administrativa e burocrática, o
neoliberalismo tinha que se constituir como uma forma “total” ou “transversal”, com base em um modelo
de relação social que fosse transferível para todas as atividades. Tudo aconteceu como se a passagem
de uma racionalidade à outra nova, em virtude de uma lógica que não é a de um mero confronto
intelectual, impusesse a essa nova racionalidade que ela viesse a prevalecer mantendo a abrangência
e a simplicidade de sua antecessora. Na verdade, o que estava em questão, muito mais do que a
ideologia ou a política econômica, era um sistema eficaz de normas que operasse, desde o início, em
termos de práticas e comportamentos.”
Pierre Dardot e Christian Laval
Parte 3 de 9
O neoliberalismo é um fenômeno totalmente novo.
O fetichismo da quantidade
“Para pôr os indivíduos em concorrência, para empurrá-los ao máximo
desempenho, é preciso pôr um preço sobre o que eles fazem e mesmo
sobre o que eles são. Avaliar significa dar um valor aquilo que, posto nas
condições específicas de um mercado, apresentaria um preço. Construir
um quase-mercado, portanto, envolve a definição de uma quase-moeda.
É preciso dispor de um sistema de informação que seja análogo ao
sistema de preços que existe num mercado. Um sistema de mercado
concorrencial requer um dispositivo de produção de valor.”
Pierre Dardot e Christian Laval
Parte 8 de 9
“Agir de modo eficaz se torna, então, agir apenas com base no sistema de informação de
preços. E esse tipo de quantidade, de acordo com Hayek, torna-se o único “conhecimento
relevante” para a ação: “a economia de mercado funciona atribuindo um índice numérico
a cada tipo de recurso escasso, o qual não tem ligação alguma com qualquer
característica desse recurso em particular, mas que reflete – e, assim, resume – o seu
significado tendo em vista a estrutura da produção”.
Ideb:
“Codificar e quantificar uma atividade consiste precisamente em reduzi-la a uma dada
informação, bem simples, a qual permite uma decisão rápida e, eventualmente, uma
sanção mercantil, sem discussão. É bem essa lógica que se espalhou por meio da difusão
das ferramentas que servem ao gerenciamento dos serviços e dos homens no mundo dos
negócios e, agora, nos mais diversos campos de atividade. Por meio desses métodos e
técnicas, toda uma disciplina contábil passa a regular a vida dos indivíduos.”
Pierre Dardot e Christian Laval
Parte 9 de 9
Fabricar a subjetividade contábil
“Uma boa pista é dada por Francisco de Oliveira. Para ele, em um mundo
em que “o padrão da crise do desenvolvimentismo [Estado de bem-estar
social desenvolvimentista] tornou-se o padrão normal do período neoliberal
(OLIVEIRA, 2018, p. 68), a “educação se tornou não funcional para a
melhoria do mercado de trabalho” (Ibid., p. 74).