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Teste 11ºA Frei Luís de Sousa 2

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Teste de avaliação escrita de Português 11ºA, fevereiro/2022

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Grupo I (100 pontos)

TEXTO A

Lê atentamente os textos A e B.

CENA I
Manuel – Oh minha filha, minha filha! (Silêncio longo) Desgraçada filha, que ficas órfã!... órfã de pai e
de mãe… (pausa)… e de família e de nome, que tudo perdeste hoje… (Levanta-se com violenta
aflição.) A desgraçada nunca os teve. – Oh, Jorge, que esta lembrança é que me mata, que me
desespera! (apertando a mão do irmão, que se levantou após dele e o está consolando do gesto)
É o castigo terrível do meu erro… se foi erro… crime sei que não foi. E sabe-o Deus, Jorge, e
5 castigou-me assim, meu irmão!
[…]
Jorge – Tu chamas-te o homem mais infeliz da Terra… Já te esqueceste que ainda está vivo aquele…
Manuel (caindo em si) – É verdade. (pausa; e depois, como quem se desdiz.) Mas não é, nem tanto;
padeceu mais, padeceu mais longamente e bebeu até às fezes o cálice das amarguras humanas…
10 (levantando a voz.) Mas fui eu, eu que lho preparei, eu que lho dei a beber, pelas mãos…
inocentes mãos!... dessa infeliz que arrastei na minha queda, que lancei nesse abismo de
vergonha, a quem cobri as faces – as faces puras, e que não tinham corado doutro pejo senão do
da virtude e do recato… cobri-lhas de um véu de infâmia que nem a morte há de levantar,
porque lhe fica, perpétuo e para sempre, lançado sobre o túmulo a cobrir-lhe a memória de
15
sombras… de manchas que se não lavam! – Fui eu o autor de tudo isto, o autor da minha
desgraça e da sua desonra deles… Sei-o, conheço-o; e não sou mais infeliz que nenhum?
Jorge – Vê a palavra que disseste: «desonra»; lembra-te dela e de ti, e considera se podes pleitear
misérias com esse homem a quem Deus não quis acudir com a morte antes de conhecer essoutra
agonia maior. – Ele não tem…
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Manuel – Ele não tem uma filha como eu, desgraçado… (pausa) – uma filha bela, pura, adorada,
sobre cuja cabeça — oh, porque não é na minha! – vai cair toda essa desonra, toda a ignomínia,
todo o opróbrio que a injustiça do mundo, não sei porquê, me não quer lançar no rosto a mim,
para pôr tudo na testa branca e pura de um anjo, que não tem outra culpa senão a da origem
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que eu lhe dei. […]
Jorge (animando-o) – Ela não está tão mal: já lá estive hoje…
Manuel – Estiveste?... oh! conta-me, conta-me; eu não tenho… não tive ainda ânimo de a ir ver.

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Jorge – Haverá duas horas que entrei na sua câmara, e estive ao pé do leito. Dormia, e mais
sossegada da respiração. O acesso de febre que a tomou quando chegaram de Lisboa e que viu a
mãe naquele estado, parecia declinar… quebrar-se mais alguma coisa. Doroteia e Telmo… pobre
velho, coitado!... estavam ao pé dela, cada um de seu lado… disseram-me que não tinha tornado
a... a…
Manuel – A lançar sangue?... Se ela deitou o do coração!... não tem mais. Naquele corpo tão
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franzino, tão delgado, que mais sangue há de haver? – Quando ontem a arranquei de ao pé da
mãe e a levava nos braços, não mo lançou todo às golfadas aqui no peito? (Mostra um lenço
branco todo manchado de sangue.) Não o tenho aqui… o sangue… o sangue da minha vítima?...
que é o sangue das minhas veias… que é sangue da minha alma – é o sangue da minha querida
filha! (Beija o lenço muitas vezes.) Oh meu Deus, meu Deus! eu queria pedir-te que a levasses já…
40 e não tenho ânimo. Eu devia aceitar por mercê de tuas misericórdias que chamasses aquele anjo
para junto dos teus, antes que o mundo, este mundo infame e sem comiseração, lhe cuspisse na
cara com a desgraça do seu nascimento. – Devia, devia… e não posso, não quero, não sei, não
tenho ânimo, não tenho coração. Peço-te vida, meu Deus (ajoelha e põe as mãos), peço-te vida,
vida, vida… vida para ela, vida para a minha filha!... saúde, vida para a minha querida filha!... e
45 morra eu de vergonha, se é preciso; cubra-me o escárnio do mundo, desonre-me o opróbrio dos
homens, tape-me a sepultura uma loisa de ignomínia, um epitáfio que fique a bradar por essas
eras desonra e infâmia sobre mim!... Oh meu Deus, meu Deus! (Cai de bruços no chão... Passado
algum tempo, Frei Jorge se chega para ele, levantando-o quase a peso, e o torna a assentar.)
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, 3.ª edição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994, pp. 186-192.

Apresenta de forma clara e bem estruturada as tuas respostas aos itens que se seguem. Justifica,
sempre que possível, as afirmações que fizeres.

1. Explicita as razões que conduzem Manuel de Sousa Coutinho a assumir ter cometido um «erro»,
mas não um «crime».
2. Seleciona a opção de resposta adequada para completar as afirmações abaixo apresentadas.

O recurso a ___________, como «bebeu até às fezes o cálice das amarguras humanas…» (linha 10),
para além de conferirem intensidade e emotividade ao discurso de Manuel de Sousa Coutinho,
sugerem _______ da personagem.

(A) antíteses … a erudição


(B) metáforas… a ascendência nobre
(C) metáforas … a erudição
(D) antíteses… a ascendência nobre

3. A dor sentida leva Manuel de Sousa a contradizer-se quanto ao destino desejado para a filha.
Comprova a veracidade desta afirmação.

TEXTO B

CENA III

MADALENA, TELMO, MARIA

Maria (entrando com umas flores na mão, encontra-se com Telmo, e o faz tornar para a cena) […]
– Que é do romance que me prometestes? Não é o da batalha, não é o que diz:

Postos estão, frente a frente,

Os dois valorosos campos;


5
é o outro, é o da ilha encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de vir, um
dia de névoa muito cerrada… Que ele não morreu; não é assim, minha mãe?

Madalena – Minha querida filha, tu dizes coisas! Pois não tens ouvido, a teu tio Frei Jorge e a teu
tio Lopo de Sousa, contar tantas vezes como aquilo foi? O povo, coitado, imagina essas quimeras para
se consolar na desgraça.
10 Maria – Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe: eles que andam tão crentes nisto,
alguma coisa há de ser. Mas ora o que me dá que pensar é ver que, tirado aqui o meu bom velho
Telmo (chega-se toda para ele, acarinhando-o), ninguém nesta casa gosta de ouvir falar em que
escapasse o nosso bravo rei, o nosso santo rei D. Sebastião. – Meu pai, que é tão bom português, que
não pode sofrer estes castelhanos, e que até às vezes dizem que é de mais o que ele faz e o que ele
15 fala... em ouvindo duvidar da morte do meu querido rei D. Sebastião… ninguém tal há de dizer, mas
põe-se logo outro, muda de semblante, fica pensativo e carrancudo: parece que o vinha afrontar, se
voltasse, o pobre do rei. – Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe; não é, não?
Madalena – Minha querida Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que são
tão pouco para a tua idade! Isso é o que nos aflige, a teu pai e a mim; queria-te ver mais alegre,
20 folgar mais, e com coisas menos…
Maria – Então, minha mãe, então! – Veem, veem?... também minha mãe não gosta. Oh! essa
ainda é pior, que se aflige, chora… ela aí está a chorar… (Vai-se abraçar com a mãe, que chora.)
Minha querida mãe, ora pois então! – Vai-te embora, Telmo, vai-te: não quero mais falar, nem ouvir
falar de tal batalha, nem de tais histórias, nem de coisa nenhuma dessas. – Minha querida mãe!

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, 3.ª edição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994, pp. 103-107.

Apresenta de forma clara e bem estruturada as tuas respostas aos itens que se seguem.
Justifica, sempre que possível, as afirmações que fizeres.

1.Explica a evolução do estado de espírito de D. Madalena ao longo desta cena.

2. A perspicácia de Maria leva-a a descobrir uma contradição na atitude do pai. Explicita-a.

3. Procede à caracterização de Maria, tendo em conta a sua segunda fala.

Grupo II (54 pontos)

Amor de Perdição, 1921: a história de um filme e sua banda-sonora


Pela janela entreaberta, ouve-se o zumbido dos carros que atravessam a Avenida da Índia. Lá
fora, o som de uma cidade no século XXI. Cá dentro, numa das salas da sede da Orquestra
Metropolitana de Lisboa, trabalha-se outro tempo. «Adeus, Simão, até à eternidade», diz o
entretítulo no ecrã do computador aberto na cauda do piano. Na sala, a música cresce em
dramatismo e Teresa de Albuquerque agoniza, despedindo-se da vida enquanto o barco que leva
5 Simão Botelho para o degredo navega à sua vista. Cordas, piano e contrabaixo em uníssono para as
notas finais. Teresa arrojada no chão, morta.
É quarta-feira e continuam os ensaios da banda sonora de Amor de Perdição, criada por
Armando Leça para o mais ambicioso filme da Invicta Film, estreado a 9 de Novembro de 1921 no
10 Cinema Olímpia, no Porto. […]
Amor de Perdição foi uma superprodução, com orçamento que hoje alcançaria cerca de um
milhão de euros. Musicalmente, é evidência de uma rápida evolução. «Ficamos com a ideia de que
ao terceiro filme o Armando Leça descobre como funciona a narrativa no cinema», diz Manuel Deniz
Silva. «Rosa do Adro é um filme em que não há praticamente nenhuma interação da música com o
15 ecrã, mas ela já está muito mais presente nos Fidalgos da Casa Mourisca e acentua-se aqui».
Intervém o maestro Cesário Costa: «Olhando para a partitura, vendo que há secções muito curtas,
nota-se que Armando Leça já a pensou tendo em conta as diferentes cenas do filme. A nível da
orquestração e das ideias musicais, já estamos noutro patamar». Uma relação simbiótica forjada
entre música e imagem que transbordava para o lado de cá do ecrã. «Cria-se uma ligação emocional
20 que, como conseguimos ver na imprensa da época, não escapou aos ouvintes», conta Manuel Deniz
Silva. «Nem aos ouvintes, nem aos músicos», acrescenta Bárbara Carvalho: os jornais descreviam
como, na cena da morte de Teresa de Albuquerque, não era só o público que chorava, mas também
os músicos. […]
O público contemporâneo viverá momentos de peculiar surpresa quando se deparar com
25
sequências de silêncio total. Estas não indicam lacunas na partitura. Pelo contrário, estão nela
expressamente indicadas por Armando Leça. É uma das curiosidades deste regresso ao cinema de há
cem anos. Ao contrário do que intuímos, a música não acompanhava um filme ininterruptamente.
«O silêncio assume a mesma importância que pode ter a música», diz Cesário Costa.
Servindo um objetivo preciso, o de recuperar filmes do mudo português com as partituras
originais e devolvê-los ao público através da criação de cópias restauradas para exibição e cuidadas
30 edições em DVD, […] o processo que nos conduz, agora, à projeção de Amor de Perdição em Lisboa e
no Porto 
(a edição em DVD está prevista para 2022, tal como a de Os Fidalgos da Casa  Mourisca) permite
também algo novo para olhos e ouvidos do século XXI.
«Já estamos habituados a ver cinema mudo com acompanhamentos contemporâneos,
improvisados, e isso é muito bom porque dá uma vida nova e diferente aos filmes, mas ver o filme
com música feita especificamente para ele há cem anos tem um efeito especial», nota Bárbara
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Carvalho. «Nos Fidalgos isso notou-se. Poder-se-ia imaginar que um filme mudo de três horas seria
difícil de atravessar. Sem música, acredito que seria, mas com ela, transforma-se». Este sábado e
domingo, quem sabe, talvez caiam lágrimas furtivas na sala quando a música crescer em
dramatismo e Teresa tombar morta.

Mário Lopes, disponível em www.publico.pt


(adaptado, consultado em fevereiro de 2022).

1. Comparando Amor de Perdição com os dois filmes musicados por Armando Leça, constata-se
(A) um avanço a nível do entrosamento entre a música e o ecrã.
(B) uma menor relação entre som e imagem do que no filme anterior.
(C) uma regularidade quanto à interação entre a música e o ecrã.
(D) uma relação um pouco forçada entre a música e a imagem.

2. As reações ao filme Amor de Perdição, em 1921, foram, de acordo com a imprensa da época,
(A) distintas, quer do público quer dos músicos da orquestra.
(B) comoventes para o público e para os músicos que o acompanharam.
(C) enternecedoras para quem leu as descrições dos jornais.
(D) emotivas, quer da assistência quer dos elementos da orquestra.
3. Amor de Perdição, sendo um filme mudo, apresenta, na sua reedição,
(A) vários aspetos inovadores no arranjo musical.
(B) arranjos maioritariamente inéditos.
(C) a banda sonora criada para o original.
(D) um acompanhamento musical atual.

4. A oração «que ao terceiro filme o Armando Leça descobre como funciona a narrativa no cinema»
(linhas 12 e 13) é
(A) subordinada substantiva completiva, com função de complemento do nome.
(B) subordinada substantiva completiva, com função de complemento do adjetivo.
(C) subordinada substantiva relativa, com função de complemento do nome
(D) subordinada substantiva relativa, com função de complemento do adjetivo.

5. No contexto em que ocorre, «nela» (linha 24) retoma «partitura» (linha 24) por
(A) substituição (meronímia).
(B) substituição (pronome).
(C) substituição (determinante possessivo).
(D) substituição (sinonímia).

6. Em «Já estamos habituados» (linha 33), a palavra sublinhada é um


(A) deítico pessoal. (C) deítico temporal e pessoal.
(B) deítico temporal. (D)deítico espacial e pessoal.

7. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:


a) «nos Fidalgos da Casa Mourisca» (linha 15);
b) «para a partitura» (linha 16).

Grupo III (46 pontos)

Escolhe apenas um tema.

Tema A

“É melhor morrer a lutar pela liberdade, do que ser um prisoneiro pelo resto da vida. “
Bob Marley

1. Num texto expositivo-argumentativo, de cento e oitenta a duzentas e cinquenta


palavras, estabelece comparações entre as lutas simbólicas pela liberdade, quer no mundo
contemporâneo quer em Frei Luís de Sousa, partindo da afirmação supracitada.

Tema B
Observa o cartoon de Nardi, A força da resistência, 2018.

Redige uma apreciação crítica do cartoon, bem estruturada, com um mínimo de cento e oitenta
e um máximo de duzentas e cinquenta palavras.

No teu texto deves abordar os seguintes tópicos, entre


outros:
– descrição objetiva do cartoon;
– simbolismo da imagem e a pertinência do título;
– relação com a atitude de Manuel de Sousa
Coutinho, no final do Ato I de Frei Luís de
Sousa;
– comentário crítico, devidamente fundamentado.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer
sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando
esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2020/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre cento e oitenta e duzentas e cinquenta
palavras –, há que atender ao seguinte:
– um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto
produzido;
– um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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