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Tópico 4

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DISCIPLINA: Microbiologia Clínica

TÓPICO 4
Micologia Clínica: Sporothrix sp., Histoplasma sp. e Cryptococcus sp.

DIÁRIO DE BORDO

Duração do Tópico: 2 semanas.


Objetivo da Lição: Caracterizar cada um dos gêneros taxonomicamente.
Descrever a patogenia das micoses causadas por cada grupo de fungos e sua
relação homem/animal; Compreender os métodos diagnósticos; Reconhecer os
tratamentos disponíveis e profilaxia.

O que se espera de você, aluno (a), ao final da lição: você estará em


condições de, a partir do embasamento conceitual adquirido ao longo do
presente tópico, mostrar conhecimento técnico sobre o conteúdo referente aos
grupos de fungos e micoses relacionadas com destaque na área médica e
veterinária. Assim como, demonstrar domínio sobre como conduzir o estudo e
diagnóstico destes grupos em nível laboratorial. Saberá contextualizar a
aplicação prática deste conteúdo na sua formação acadêmica e profissional.

========================== Fim =============================

ROTEIRO

Prezado aluno, neste tópico trabalharemos o grupo dos fungos associados às


micoses cutâneas mais profundas e sistêmicas. Podendo afetar o ser humano
e animais a partir de algum trauma na pele ou mesmo por inalação ou ingestão.
Relacionando aspectos de virulência, doenças, diagnóstico, terapia e profilaxia
e sua relação com hospedeiros humanos e animais.

O desafio proposto, destacará um fungo muito associado a gatos, Sporothrix


Schenckii. Será relacionada a condição de colonização de solos e seu
oportunismo como patógeno. Após o estudo da lição reveja alguns pontos, os
vídeos e resolva os exercícios de fixação para consolidar a compreensão do
que estudou sobre as duas famílias.
1
Para encerrarmos este tópico, você encontrará no “Na Prática” uma indicação
de como esse conhecimento poderá ser aplicado no cotidiano de sua futura
profissão e, especialmente, a relação do isolamento desses fungos em nível
laboratorial.

Aproveite todo o conteúdo disponível para estudar. Aprofunde sobre o assunto,


pesquisando as indicações de referência bibliografia extra, além de assistir ao
vídeo complementar indicado na lição!

Palavras-Chave: Micoses. Sporothrix. Histoplasma. Cryptococcus.

Ótimos Estudos!

============================= Fim ===========================

CONTEÚDO DA LIÇÃO
1 INTRODUÇÃO

Os fungos que causam as micoses subcutâneas tem por característica o


oportunismo, normalmente, a partir de um traumatismo na pele, permitindo que
atinjam tecidos mais profundos, inclusive, podendo atingir os ossos. Os
traumas podem ser dos mais diversos (arranhões, espinhos, mordidas ou
mesmo corte) e acabam facilitando o início do processo infeccioso.

As partes do corpo mais atingidas são os braços e pernas, com destaque para
as mãos, e os agentes etiológicos associados, são encontrados no solo e/ou
vegetação. Dessa forma, podendo atingir tanto seres humanos, como animais.

Os fungos que causam micoses subcutâneas podem ser hialinos, sem


pigmentos, ou pigmentados e chamados por isso, demáceos, fungos que
apresentam melanina em sua parede celular. Pertencem a gêneros variados
sendo os mais frequentes: Sporothrix, Fonsecaea, Madurella e
Cephalosporium. E, os tipos de micoses relacionadas a estes fungos, são as

2
mais diversas, chamadas Cromoblastomicose, Feo-hifomicoses, Esporotricose,
Zigomicose e etc.

O tipo de lesão mais comum associada às micoses subcutâneas é causada por


gatos domésticos onde, a partir de um arranhão por patas contaminadas,
podem introduzir o fungo Sporothrix schenckii na região do traumatismo.
Profissionais que mexem com a terra, jardineiros e agricultores, também fazem
parte dos grupos mais atingidos por este tipo de fungo.

Outro tipo de micose abordada neste tópico, são as micoses sistêmicas. Os


fungos relacionados a estas micoses ocorrem de maneira mais comum em
regiões de clima tropical e alguns tem por característica, o dimorfismo.

Fungos do gênero Histoplasma, Paracoccidioides e Blastomyces, são


exemplos de fungos dimórficos relacionados às micoses sistêmicas sendo, a
forma mais comum de contágio, a inalação. Outro fungo relacionado às
micoses sistêmicas pertence ao gênero Cryptococcus. Este fungo ganhou
destaque com o crescimento dos casos de HIV/AIDS e a condição de
imunodeficiência relacionada a esta patologia.

Portanto, este será um tópico de bastante relevância pois o Brasil apresenta,


além das características climáticas associadas a essas micoses, a atividade
agrícola e afins, que também acabam por facilitar a ocorrência dessas
patologias.

Sem dúvida, estas micoses são exemplos de bastante preocupação em saúde


pública e chamando atenção, novamente, para a rotina laboratorial e seus
respectivos métodos diagnósticos. Sejam todos bem vindos!!!

============================= Fim ===========================

2 MICOSES SUBCUTÂNEAS

Os fungos que causam as micoses subcutâneas tem uma origem, quase


sempre do solo. Próximo à regiões com vegetação e folhas se deteriorando.
Aliás, essa é a principal característica dos fungos em geral, degradar matéria

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orgânica. Porém, quando entram em contato com seres humanos e animais,
acabam por causar as micoses.

As micoses subcutâneas para ocorrerem precisam, do que poderíamos dizer,


de uma "ajudinha", pois os fungos envolvidos não conseguem transpor a
barreira de queratina da pele. Por isso, essa "ajuda" seria, um traumatismo,
que pode ser um arranhão, um corte ou uma perfuração da pele por espinhos,
por exemplo.

Várias são as micoses subcutâneas e variam conforme o tipo de fungo e


aspecto granulomatoso da lesão, sendo chamadas de Esporotricose (fungo da
espécie Sporothrix schenckii), Eumicetoma (fungos pertencentes aos gêneros
Madurella, Allescheria, Cephalosporium e Exophiala), Cromoblastomicose
(Fonsecaea, Phialophora e Cladosporium), Zigomicose (Absidia, Mucor e
Mortierella), Feo-hifomicose (Alternaria e Curvularia) e Lobomicose (Lacazia
loboi) (ZAITZ et al., 2010).

As micoses do tipo Eumicetomas, Cromoblastomicoses e Feo-hifomicoses são


causadas por fungos demáceos, que tem melanina (di-
hidroxinaftalenomelanina) em sua parede celular, conferindo uma cor
acastanhada ao micélio. Estes fungos são mais facilmente encontrados no solo
e em madeiras.

As Zigomicoses são mais raras e causadas por fungos de hifas com raros
septos ou não septadas. Sendo que os microrganismos envolvidos são
encontrados no solo, podendo ser encontrado colonizando alguns animais
(insetos, répteis e anfíbios). Já a Lobomicose tem relação com fungo
pertencente ao gênero Lacazia, com ocorrência em regiões tropicais úmidas,
em restos vegetais, solo e água.

Mas, de todas as micoses subcutâneas, a mais comum na América Latina e


especialmente no Brasil, é a Esporotricose, que tem sua origem zoonótica
associada a gatos ou pode acontecer também, por traumas com espinhos,
galhos e etc. É esta micose que vamos dar atenção a partir de agora.

2.1 ESPOROTRICOSE

4
A esporotricose é uma micose do tipo granulomatosa e subcutânea que ocorre
no ser humano e em animais, relacionada ao fungo dimórfico do gênero
Sporothrix. É uma das micoses subcutâneas mais presentes no mundo,
apresentando uma presença maior em regiões de clima temperado e tropical
(ZAITS et al., 2010; TORTORA; BERDELL; CASE, 2012).

Esta micose não é de notificação compulsória no Brasil sendo, esta notificação,


exigida apenas nos estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba e alguns
municípios dos estados de São Paulo, Bahia e Minas Gerais (FALCÃO et al.,
2019).

Em 1998, o aumento de casos de esporotricose no estado do Rio de Janeiro foi


bastante expressivo chamado, por isso, de hiperendemia. Sendo que o
principal agente de transmissão foram os gatos e, a espécie mais isolada foi o
Sporothrix brasiliensis (FALCÃO et al., 2019).

Esta micose, além do ser humano, já foi descrita também, em gatos, cães,
cavalos, suínos e etc, porém, a condição de transmissão, sempre tem relação
com oportunismo a partir de um traumatismo, associado à arranhões,
mordeduras ou atividade de lazer e trabalho como em floricultura e jardinagem.

O fungo relacionado a esporotricose pertence, taxonomicamente, à Divisão


Ascomycota, Classe Sordariomycetes, Ordem Ophiostomatales e Família
Ophiostomataceae, sendo que o Gênero Sporothrix pode apresentar várias
espécies: S. schenckii; S. brasiliensis; S. globosa; S. mexicana; S. albicans e S.
luriei (Guarro et al., 1999). É facilmente encontrado no solo, como fungo
saprofítico, junto a substratos vegetais e já foi isolado também, a partir de
espinho, feno, palha, musgo e madeira (ZAITS et al., 2010).

Este fungo é encontrado na natureza e em culturas in vitro à temperatura


ambiente, na forma filamentosa (pluricelular). Macroscópicamente, apresentam
superfície coriácea, com sulcos e uma coloração acastanhada após alguns dias
de crescimento (Figura 1) (MURRAY et al., 2010).

Imagem de Referência

5
Legenda: Figura 1. Colônia do fungo Sporothrix schenckii no formato filamentoso.

Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sporothrix_schenckii_PHIL_3943_lores.jpg

Microscópicamente, percebe-se hifas septadas e conidióforos gerando esporos


(conídios) com formato arredondado à ovalar (Figura 2) (MURRAY et al., 2010).
Por serem fungos dimórficos, estes mesmos fungos, quando crescem no
organismo hospedeiro ou em cultura in vitro à 37ºC, apresentam colônias
leveduriformes semelhantes às colônias bacterianas, com coloração branca a
creme.

Sabia dessa?

O dimorfismo fúngico foi comentado ainda, na disciplina de Microbiologia


geral. É uma condição de poucas espécies fúngicas e apresenta relação
com a temperatura ambiente e também, corporal do hospedeiro. À
temperatura ambiente, em torno de 25ºC, o fungo se apresenta no formato
filamentoso (pluricelular), enquanto que à temperatura corporal (mamíferos),
o fungo se apresenta como leveduras (unicelular).

6
Imagem de Referência

Legenda: Figura 2. Forma filamentosa do fungo dimórfico Sporothrix schenckii á


microscopia ótica.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sporothrix_schenckii_conidia.png.

Esta doença pode se restringir apenas à condição cutânea e ao local do


trauma, conhecida como forma cutânea fixa ou mesmo, apresentar a forma
cutânea disseminada, que acontece, normalmente, a partir de múltiplas lesões
na pele (Figura 3). Ela pode se espalhar pelos vasos linfáticos, por isso
conhecida como forma cutânea-linfática, que é a forma mais comum da
doença, apresentando lesões papulares e úlceras nodulares, sendo que essas
lesões podem se espalhar, acompanhando os vasos linfáticos. As formas
sistêmicas podem evoluir quando o fungo atinge a corrente sanguínea,
podendo causar danos aos pulmões, olhos, testículos, fígado, entre outros
orgãos, ou quando os conídios são inalados, podendo com isso, atingir
diretamente os pulmões (TELLEZ et al., 2014).

Imagem de Referência

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Legenda: Figura 3. Braço de paciente com a forma cutânea disseminada da
Esporotricose.

Fonte:
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=Sporotrichosis&title=Special:Medi
aSearch&go=Go&type=image

Chamam à atenção, as manifestações clínicas da doença, com uma


apresentação de feridas e áreas de necrose que não deixam de causar impacto
visual, porém, deve se destacar a condição de virulência dos fungos
pertencentes ao chamado complexo Sporothrix schenckii.

A virulência destes fungos se dá por apresentarem adesinas, que garantem a


adesão às células dos tecidos do hospedeiro; pela produção de proteinases,
que ajudam a degradar os tecidos e também a defende-los contra a ação de
anticorpos; produzem catalase e peroxidase, que protegem o fungo das
atividades oxidativas das espécies reativas do Oxigênio no interior das células
fagocíticas; a melanina (parede celular) e o ergosterol (membrana celular)
também colaboram na proteção contra a atividade oxidativa das células
fagocíticas, entre outros (TELLEZ et al., 2014).

Já que vários são os fatores de virulência e estes fazem muita diferença na relação
entre patógeno e hospedeiro, consulte o artigo abaixo para maiores informações.

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TELLEZ, M. D.; BATISTA-DUHARTE, A.; PORTUONDO, D.; QUINELLO, C.;
BONNE-HERNADEZ, R.; CARLOS, I. Z. Sporothrix schenckii complex biology:
environment and fungal pathogenicity. Microbiology, 160, 2352–2365, 2014.

3. MICOSES SISTÊMICAS

As micoses sistêmicas tem por particularidade a via de transmissão, que quase


sempre é por inalação de propágulos fúngicos ou mesmo de esporos/conídios.
Inicialmente, causam lesões nos pulmões, podendo evoluir e atingir outros
órgãos. No Brasil, essas micoses não tem notificação compulsória e por isso, a
escassez de dados epidemiológicos.

Os fungos mais envolvidos com as micoses sistêmicas são das espécies


Paracoccidioides brasiliensis, Histoplasma capsulatum, Coccidioides immitis e
o Blastomyces dermatitidis. Ainda há relatos relacionando leveduras do gênero
Candida sp. e Cryptococcus sp. (TRABULSI et al., 2008). Neste tópico,
daremos atenção a dois tipos de micoses sistêmicas, que são: a Histoplasmose
e a Criptococose, respectivamente associadas aos fungos H. capsulatum e
Cryptococcus neoformans.

3.1 HISTOPLASMOSE

Esta micose ocorre em todo o continente americano, com distribuição também


no continente africano e sudeste asiático. No Brasil, os casos ficaram mais
frequentes a partir do surgimento da AIDS, a partir da década de 1980, e tem
maior destaque nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país.

O fungo, que também é dimórfico, tem uma relação próxima com aves e
morcêgos. Nas aves, a temperatura corporal mais alta impede o crescimento
do fungo em seu organismo, porém, no solo, o fungo pode crescer facilmente
junto as fezes deste animal. Nos morcêgos, ele é encontrado colonizando seu
trato digestório sendo, consequentemente, eliminado junto à fezes, e pode ser
encontrado em cavernas, galinheiros, forros de casas, construções
abandonadas, galpões e etc.

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Tem duas variantes que são patogênicas ao ser humano; sendo H. capsulatum
var. capsulatum e H. capsulatum var . duboisii. Uma terceira variante é
patogênica para equinos sendo chamada H. capsulatum var . farciminosum
(ANTINORI, 2014). Sua condição taxonômica o coloca pertencente ao Reino
Fungi, da classe Hyphomycetes, dimórfico e da ordem Onygenales. Tem como
teleomorfo: Ajellomyces capsulatus (filo Ascomycota, classe Euascomycetes,
ordem Onygenales, família Onygenaceae) (HOOG et al., 2011).

À temperatura ambiente se mostra no formato filamentoso, com colônias de


coloração creme a acastanhado. Microscópicamente, apresenta hifas septadas
com destaque taxonômico para os macroconídios lembrando uma flor (Figura
4) (TORTORA; FUNKE; CASE, 2012).

Imagem de Referência

Legenda: Figura 4. Histoplasma capsulatum. Destaque para hifas e


macroconídios circulares, semelhantes a uma flor.
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=histoplasma&title=Special:MediaS
earch&go=Go&type=image

A maioria dos indivíduos que se expõem ao fungo desenvolvem uma forma


leve à assintomática da histoplasmose, que é evidenciada por raio X e achados
de calcificação residual nos pulmões ou pelo teste de hipersensibilidade de
Histoplasmina (antígeno fúngico intradérmico) positivo.

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A manifestação clínica mais grave e aguda da histoplasmose é em nível
pulmonar (lobos pulmonares), que seria equivalente a uma broncopneumonia
(Figura 5). Após a inalação dos conídios a partir do ambiente estes, no
organismo hospedeiro germinam em formas leveduriformes. Essas leveduras
são fagocitadas pelos macrófagos pulmonares, porém, não são destruídas, se
reproduzindo no seu interior. Por via linfática podem se espalhar para
linfonodos regionais, formando novos focos inflamatórios. E podem ainda,
caindo na corrente sanguínea atingir demais órgãos do hospedeiro. Os
sintomas associados aos quadros sintomáticos de pneumonia são: febre,
tosse, cefaleia, dor torácica e fadiga (ZAITS et al., 2010).

Imagem de Referência

Legenda: Figura 5. Pneumonia causada pelo fungo dimórfico Histoplasma


capsulatum.
Fonte: https://stock.adobe.com/br/images/pneumonia-or-histoplasmosis-normal-and-
inflammatory-condition-of-the-lung/169840657?prev_url=detail
Tradução: Inflammation (inflamação).

3.2 CRIPTOCOCOSE

A Criptococose é também classificada como uma micose oportunista que


guarda uma relação com animais, assim como comentado sobre a
Histoplasmose. Enquanto a Histoplasmose tem relação, principalmente, com
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morcêgos, a Criptococose tem relação com aves silvestres e, na área urbana,
com pombos. No card abaixo, o vídeo apresenta uma relação direta entre aves
urbanas e esta doença.

Criptococose: https://www.youtube.com/watch?v=L5EJ6V0YID4

O fungo está presente, na área urbana, nas fezes de pombos e pode ser
encontrado também em solo contaminado por essas fezes. Quando secas,
essas fezes podem se espalhar mais facilmente e os fungos podem ser
inalados.

Taxonômicamente, são reconhecidas duas espécies do gênero Cryptococcus,


que são o C. neoformans e o C. gattii. Já que são fungos que tem a sua fase
sexuada descrita, outra nomenclatura foi usada para esta fase sendo,
respectivamente, chamados Filobasidiella neoformans e Filobasidiella
bacillispora. No mais, sua taxonomia tem continuidade com sendo um fungo
pertencente ao Reino Fungi, Sub-reino: Dikarya, Filo: Basidiomycota, Sub-filo:
Agaricomycotina, Classe: Tremellomycetes, Ordem: Tremellales, Família:
Filobasidiaceae e Gênero: Filobasidiella (fase teleomórfica-sexuada) (HIBBETT
et al., 2007).

Este fungo apresenta como fator de virulência a presença de cápsula (Figura


6), que ajuda o fungo a melhor resistir no ambiente à condições adversas e
dificultar a quimiotaxia relacionada à fagocitose, e a presença de melanina,
junto à parede celular, que reduz a ação oxidativa no interior das células
fagocíticas (MURRAY; ROSENTHAL; KOBAYASHI, 2010).

Imagem de Referência

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Legenda: Figura 6. Célula capsulada do fungo Cryptococcus neoformans.

Fonte: https://stock.adobe.com/br/images/csf-india-ink-test-positive-cryptococcus-
neoforman-kind-of-yeast-that-cause-of-meningitis/428640742?prev_url=detail

E as aves, não são atingidas pelos Cryptococcus?

Na verdade, embora o fungo esteja presente no ambiente das aves, ele não causa
doença nesses animais, sobretudo, devido à alta temperatura corporal, a qual inibe
o crescimento da levedura e da baixa capacidade de invasão sistêmica do fungo
nessas espécies. Em bovinos ocorre surtos de mastite e nas demais espécies de
animais de pequeno porte, pode ocorrer a forma disseminada.

Sua condição sistêmica é um pouco variável e boa parte transcorre de forma


assintomática. Porém, em indivíduos susceptíveis, após a inalação, as
infecções pulmonares podem ocorrer e evoluir para uma pneumonia, com
sintomas de febre e dor torácica. A partir dos alvéolos pode haver
disseminação para outros órgãos por via hematogênica sendo, o sistema
nervoso central, o mais atingido. O quadro clínico é a meningoencefalite, sendo
que a infecção não se limita às meninges, podendo atingir também o córtex
cerebral, tronco cerebral e cerebelo.

========================== Fim slide =======================

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4 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico das micoses tratadas neste tópico apresenta uma certa


semelhança com os procedimentos descritos para as micoses
superficiais/cutâneas. O exame direto a partir do material biológico pode ser
usado para os três tipos de micose trabalhadas neste tópico, porém, nem
sempre é assertivo. O mais usado é a tinta da China para a Criptococose.

Você sabe em que se baseia o teste da tinta da China?


Este teste é muito usado para a suspeita de meningite por Cryptococcus sp. Neste,
coloca-se tinta nanquim na cor preta, junto ao líquido Cefalorraquidiano (LCR) do
paciente, numa lâmina de vidro. E, ao microscópio, procura-se a presença de
células fúngicas que se apresentam arredondadas e com cápsula. Como o nanquim
não penetra pela cápsula, forma-se um contorno ao redor da célula, facilmente,
percebido.

Se utiliza com mais frequência, eficiência e baixo custo, para diagnóstico da


Esporotricose, Histoplasmose e Criptococose, a cultura em meio seletivo pois,
respectivamente, os materiais biológicos após a coleta, secreção de ferida,
secreção pulmonar e líquor, podem ser facilmente cultiváveis. Já que os
gêneros Sporothrix sp. e Histoplasma sp. são fungos dimórficos, detalhes como
temperatura de incubação devem ser controlados, colocando os meios de
cultura à temperatura ambiente e estufa (37ºC). Para o Cryptococcus sp. a
temperatura utilizada é a de 37ºC.

Após o crescimento das colônias, as formas unicelulares são caracterizadas,


morfológicamente, pela coloração de Gram, enquanto que as formas
pluricelulares, dependem da preparação do microcultivo, em lâmina.

Existem métodos que dispensam a cultura, porém, garantem a especificidade e


sensibilidade no diagnóstico. Para a Histoplasmose, pode se usar os testes
sorológicos do tipo ELISA, imunodifusão e fixação do complemento. O teste de
histoplasmina, que é uma reação intradérmica com antígeno fúngico, não tem
valor diagnóstico, sendo mais usado em inquéritos epidemiológicos, por indicar

14
infecção pregressa. Para a Criptococose, pode se usar a técnica de
aglutinação em látex, que se baseia em detectar antígeno fúngico no líquor,
soro e urina (ZAITS et al., 2010).

Para Saber Mais sobre o ASSUNTO, Consulte: KONEMAN, E. W.; JANDA, W.;
PROCOP, G.; SCHRECKENBERGER, P.; WOODS, G.; WINN Jr, W.. Diagnóstico
Microbiológico. TEXTO E ATLAS COLORIDO. 6a ed., Editora Guanabara Koogan,
2008 e edições anteriores.

Para estas doenças o controle zoonótico tem sido empregado de forma


sustentável. Mantendo locais limpos, orientando quanto a resíduos de
alimentos e, especialmente, a não alimentação dos pombos, no caso da
Criptococose. A colocação de telas e mesmo o uso de aves de rapina, podem
afastar potenciais agentes vetores destas micoses.

5 TRATAMENTO

Há um ponto comum nas terapias para as micoses subcutâneas,


especialmente na forma disseminada, e para as micoses sistêmicas. Os fungos
em questão são susceptíveis aos antifúngicos mais usados seja para pacientes
que apresentam as formas mais graves e podem recorrer a tratamento com
drogas injetáveis, no caso, anfotericina B, ou aqueles que podem ser
administrados por via oral e pertencentes ao grupo dos azóis, que são:
cetoconazol, itraconazol e fluconazol. A anfotericina B tem sido a droga de
escolha e a mais efetiva para o tratamento destas doenças.

No caso da Esporotricose, o tratamento de escolha é uma solução saturada de


Iodeto de Potássio, sendo a melhora das lesões percebidas já após uma
semana de terapia (MURRAY; ROSENTHAL; KOBAYASHI, 2010).

========================== Fim slide =======================

6 CONCLUSÃO

Este tópico fez uma apresentação de fungos, considerados, mais atípicos como
agentes etiológicos de enfermidades em seres humanos e alguns animais.
Expôs também a relação direta, da condição zoonótica de algumas micoses.

15
O dimorfismo foi uma característica comum à maioria dos fungos relacionadas
às micoses subcutâneas e sistêmicas, embora, o Cryptococcus sp. não tenha
essa propriedade. Além disso, a presença de cápsula e produção de melanina,
junto à parede celular, garantem a virulência de alguns desses fungos.

Comentamos sobre o diagnóstico, chamando atenção para a avaliação


microscópica, cultura e testes adicionais que levam em consideração princípios
imunológicos.

========================== Fim slide =======================

7 REFERÊNCIAS

ANTINORI, S. Histoplasma capsulatum: More Widespread than Previously


Thought. Am J Trop Med Hyg. 90(6):982– 3, 2014.

FALCÃO, E. M. M.; FILHO, J. B. L.; CAMPOS, D. P.; DO VALLE, A. C. F. ;


BASTOS, F. I.; GUTIERREZ-GUALHARDO, M. C.; FREITAS, D. F. S.
Hospitalizações e óbitos relacionados à esporotricose no Brasil (1992-2015).
Cad. Saúde Pública; 35(4):e00109218, 2019.

GUARRO, J., GENÉ, J. & STCHIGEL, A. M. Developments in fungal taxonomy.


Clinical Microbiology Reviews. 12(3): 454–500, July, 1999.

HIBBETT, D. S.; BINDER, M.; BISCHOFF, J. F.; BLACKWELL, M.; CANNON,


P. F.; ERIKSSON, O. E.; HUHNDORF, S.; JAMES, T.; KIRK, P. M.; LÜCKING,
R.; THORSTEN LUMBSCH, H.; LUTZONI, F.; MATHENY, P. B.;
MCLAUGHLIN, D. J.; POWELL, M. J.; REDHEAD, S.; SCHOCH, C. L.;
SPATAFORA, J. W.; STALPERS, J. A.; VILGALYS, R.; AIME, M. C.;
APTROOT, A.; BAUER, R.; BEGEROW, D.; BENNY, G. L.; CASTLEBURY, L.
A.; CROUS, P. W.; DAI, Y. C.; GAMS, W.; GEISER, D. M.; GRIFFITH, G. W.;
GUEIDAN, C.; HAWKSWORTH, D. L.; HESTMARK, G.; HOSAKA, K.;
HUMBER, R. A.; HYDE, K. D.; IRONSIDE, J. E.; KÕLJALG, U.; KURTZMAN,
C. P.; LARSSON, K. H.; LICHTWARDT, R.; LONGCORE, J.; MIADLIKOWSKA,
J.; MILLER, A.; MONCALVO, J. M.; MOZLEY-STANDRIDGE, S.;
OBERWINKLER, F.; PARMASTO, E.; REEB, V.; ROGERS, J. D.; ROUX, C.;
RYVARDEN, L.; SAMPAIO, J. P.; SCHÜSSLER, A.; SUGIYAMA, J.; THORN,
R. G.; TIBELL, L.; UNTEREINER, W. A.; WALKER, C.; WANG, Z.; WEIR, A.;
WEISS, M.; WHITE, M. M.; WINKA, K.; YAO, Y. J.; ZHANG, N. A higher-level
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HOOG, G. S.; GUARRO, J.; GENÉ, J.; AHMED, S.; AL-HATMI, A. M. S.;
FIGUERAS, M. J.; VITALE, R. G. Atlas of Clinical Fungi. Electronic version 3.1.
Centraal Bureau voor Schimmelcultures. Utrecht, the Netherlands. 2011.

16
KONEMAN, E. W.; JANDA, W.; PROCOP, G.; SCHRECKENBERGER, P.;
WOODS, G.; WINN Jr, W.. Diagnóstico Microbiológico. TEXTO E ATLAS
COLORIDO. 6a ed., Editora Guanabara Koogan, 2008 e edições anteriores.

MURRAY, Patrick R.; ROSENTHAL, Ken S.; KOBAYASHI, George S.;


PFALLER, Michael A. Microbiologia Médica. 6ª. ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier, 2010.

TELLEZ, M. D.; BATISTA-DUHARTE, A.; PORTUONDO, D.; QUINELLO, C.;


BONNE-HERNADEZ, R.; CARLOS, I. Z. Sporothrix schenckii complex biology:
environment and fungal pathogenicity. Microbiology, 160, 2352–2365, 2014.

TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia.


10. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2012. xxviii, [1], 934, [3] p.

TRABULSI, L. R. Microbiologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 2008 e edições


anteriores.

ZAITZ, C.; CAMPBELL, I.; MARQUES, S. A.; RUIZ, L. R. B.; FRAMIL, V. M. S.


Compêndio de Micologia Médica. 2ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2010.

========================== Fim slide =======================

DESAFIO
Prezados, como desafio responta à pergunta:

Imagem

Legenda: Problematização
Fonte: https://stock.adobe.com/br/images/ear-feline-
sporotrichosis/196338992?prev_url=detail
Tradução:

17
“As micoses subcutâneas e especialmente, a Esporotricose, tem por
característica a condição de virulência do fungo, sendo eles queratinofílicos.”
Você concorda com essa afirmativa? Como pode acontecer a transmissão
dessas micoses? Que profissões são mais susceptíveis a elas? (Cite pelo
menos duas). É uma micose comum em nosso país? Justifique. Para auxílio,
consulte o artigo abaixo:

Para Saber Mais sobre o ASSUNTO, Consulte: ALMEIDA, A. J.; REIS, N. F.;
LOURENÇO, C. S.; COSTA, N. Q.; BERNARDINO, M. L. A.; VIEIRA DA MOTTA, O.
Esporotricose em felinos domésticos (Felis catus domesticus) em Campos dos
Goytacazes, RJ. Pesq. Vet. Bras. 38(7):1438-1443, julho 2018.

OBJETIVO DO DESAFIO

O que se espera do aluno (a), ao final do Desafio:


Reconhecer o padrão de transmissão da Esporotricose e a condição de virulência
do fungo envolvido.

Objetivos:
Cita como acontece a transmissão;
Citar as profissões mais envolvidas;
Reconhecer os fatores de virulência dos fungos.

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NA PRÁTICA

Imagem

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Legenda: Criptococose.
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=cryptococcus&title=Special:MediaSear
ch&go=Go&type=image.

Prezado aluno, a foto acima registra uma lâmina de vidro preparada com Tinta
nanquim, para diagnóstico de meningite por Cryptococcus. O material utilizado
é o líquor (Líquido Cefalorraquidiano), obtido a partir de punção lombar
realizada por um médico. A partir desta figura e utilizando o artigo abaixo como
apoio, cite: Tipo de meio de cultura que pode ser utilizado para o crescimento
do Cryptococcus in vitro. Que estrutura está indicada pela seta? Que fatores de
virulência estão relacionados a este fungo? Qual o tratamento indicado?

KON et al. Consenso em criptococose – 2008. Revista da Sociedade Brasileira de


Medicina Tropical 41(5):524-544, set-out, 2008.

============================= Fim ===========================

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