Anurofauna de Riachos de Fragmentos Florestais Da Chapada Das Perdizes, Serra de Carrancas, Sul de Minas Gerais
Anurofauna de Riachos de Fragmentos Florestais Da Chapada Das Perdizes, Serra de Carrancas, Sul de Minas Gerais
Anurofauna de Riachos de Fragmentos Florestais Da Chapada Das Perdizes, Serra de Carrancas, Sul de Minas Gerais
2008
JOÃO PAULO MARIGO CEREZOLI
Orientador
Prof. Dr. Julio Neil Cassa Louzada
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
2008
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da
Biblioteca Central da UFLA
LAVRAS
MINAS GERAIS – BRASIL
2008
AGRADECIMENTOS
RESUMO GERAL................................................................................................ i
GENERAL ABSTRACT....................................................................................... ii
CAPÍTULO I ASPECTOS DA BIOLOGIA, ECOLOGIA E
CONSERVAÇÃO DOS ANFÍBIOS.................................................................. 1
1 Introdução........................................................................................................... 2
2 Referencial Teórico............................................................................................ 3
2.1 Distribuição da Diversidade de Anfíbios......................................................... 3
2.2 Ameaças aos Anfíbios..................................................................................... 8
2.3 Conservação de Anfíbios................................................................................. 9
3 Referências Bibliográficas.................................................................................. 12
CAPÍTULO II DIVERSIDADE DOS ANFÍBIOS DA SERRA DE
CARRANCAS...................................................................................................... 19
RESUMO............................................................................................................... 20
ABSTRACT.......................................................................................................... 21
1 Introdução........................................................................................................... 22
2 Materiais e Métodos........................................................................................... 24
2.1 Área de Estudo................................................................................................. 24
2.2 Procedimento de Amostragem......................................................................... 29
2.3 Análises Estatísticas........................................................................................ 31
3 Resultados........................................................................................................... 33
4 Discussão............................................................................................................ 43
5 Conclusão........................................................................................................... 55
6 Referências Bibliográficas.................................................................................. 57
RESUMO GERAL
______________________
* Comitê Orientador: Julio Neil Cassa Louzada - UFLA (Orientador), Vinícius Xavier da
Silva – UNIFENAS e Marcelo Passamani – UFLA
i
GENERAL ABSTRACT
__________________
*Guidance Committee: Julio Neil Cassa Louzada - UFLA (Major professor), Vinícius Xavier
da Silva – UNIFENAS and Marcelo Passamani – UFLA.
ii
CAPÍTULO I
1
1 INTRODUÇÃO
2
1986). Os machos utilizam o artifício da vocalização, não só para atrair suas
fêmeas (canto de anúncio), como também para defesa contra seus predadores
(canto agonístico) e para defender seu território (canto territorial), entre outros.
Somente algumas espécies de anuros não produzem vocalizações ou estas são de
pouca intensidade (Bastos & Haddad, 1995).
Dezenas de modos reprodutivos são registradas para os anfíbios que,
na sua maioria , são ovíparos, isto é, depositam seus ovos na água ou sobre e sob
a terra úmida. Outros carregam seus ovos dentro de bolsas, no dorso ou nos
flancos e algumas espécies, ainda, dão à luz jovens já metamorfoseados (Pough,
1999).
Os anfíbios ocupam diversos tipos de sítios na natureza, seja para se
alimentar, reproduzir, desenvolver e até mesmo para descansar. Algumas
espécies de pererecas da família Hylidae forrageiam na vegetação arbustiva ou
arbórea, marginal ou sobre a água, abaixo de 1,5m de altura, enquanto que
outras, como algumas rãs da família Leiuperidae, encontram-se no nível da água,
parcialmente submersas ou flutuando (Toledo et al., 2003). Outros sítios , como
pedras, barrancos, árvores altas, vegetação rasteira e serrapilheira, podem
fornecer abrigo, alimentos e parceiros para os anfíbios.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
3
O inventário das espécies é o enfoque mais antigo e o mais clássico
para caracterizar a diversidade biológica de uma região ou de um sistema
ecológico (Lévêque, 1999). Segundo Zanzini (2000), o inventário faunístico
consiste no emprego conjunto de uma ampla variedade de métodos e técnicas,
com o objetivo de se obter uma listagem dos animais presentes em uma
determinada área, bem como estimativas sobre o tamanho de suas populações e
informações sobre aspectos ecológicos dos animais.
O Brasil é considerado um dos países de maior biodiversidade no
mundo, pois se calcula que nada menos que 10% de toda a biota terrestre se
encontre no país (Mittermeier et al., 1997). Embora as estimativas de riqueza
variem enormemente, o universo das espécies conhecidas para os principais
grupos taxonômicos já é sufic iente para colocar o país no primeiro lugar mundial
em número de espécies.
Desde a década de 1960 até hoje, foram descritas, aproximadamente,
313 espécies de anfíbios, dobrando o número descrito nos 200 anos anteriores.
Só nos últimos dez anos, foram descritas 97 novas espé cies (Silvano & Segalla,
2005).
Atualmente, são conhecidas 6.184 espécies de anfíbios no mundo
(Amphibian Species of the World, ASW, 2008). No Brasil, existem 825
espécies de anfíbios e, destas, 797 são da ordem Anura, 27 da ordem
Gymnophiona e um único representante da ordem Caudata, tornando-o o país de
maior diversidade de espécies do grupo (Sociedade Brasileira de Herpetologia ,
SBH, 2008).
Os dados de hoje registram, para o estado de Minas Gerais,
aproximadamente , 200 espécies de anfíbios (Drummond, 2005). Além da
presença de vários gêneros endêmicos do Brasil, registram-se endemismos em
várias localidades mineiras, principalmente nos complexos do Espinhaço e da
4
Mantiqueira (Duellman, 1999) e, mais recentemente, em fragmentos do Vale do
Jequitinhonha (Feio & Caramaschi, 2002; Feio et al., 2003).
O estado de Minas Gerais pode ser considerado um dos mais
privilegiados na composição de seus recursos naturais, pois tem áreas cobertas
por três grandes biomas: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Em cada um deles
ocorre grande número de fisionomias vegetais, como campo limpo, campo
cerrado, cerradão, campos rupestres, floresta ombrófila densa e floresta
estacional semidecidual, entre outras (Araújo, 2000). Tais características
favorecem a ocorrência de uma alta diversidade de anfíbios, muitos dos quais
extremamente especializados em relação aos ambientes onde ocorrem,
resultando também em um grande número de espécies endêmicas. Apesar de
toda diversidade da anurofauna do estado, o conhecimento sobre ela é ainda
insatisfatório quanto à composição de espécies como um todo.
A região de Cerrados cobre cerca de 25% do território nacional, com
uma área aproximada de 1,5 a 1,8 milhão de km2 . Segundo maior bioma
brasileiro, faz contato com outros grandes biomas, como Floresta Amazônica,
Mata Atlântica, Caatinga e Chaco (Eiten, 1972). O Cerrado é fundamental para o
equilíbrio dos recursos hídricos no país, pois, na região, nascem rios que
abastecem as maiores bacias hidrográficas do Brasil, como a do São Francisco,
Paraguai e Amazônica.
O conhecimento da anurofauna do Cerrado é extremamente limitado,
e a maioria dos estudos foi conduzida nas regiões Norte e Central do Brasil.
(Moreira & Barreto, 1996; Strüssmann, 2000; Bastos et al., 2003; para uma
revisão ver Colli et al., 2002). A anurofauna do sul do Cerrado é virtualmente
desconhecida, com a exceção de dois estudos em herpetofauna em elevadas
altitudes (>1.200m), em áreas do Cerrado Central e Sul de Minas Gerais. Na
serra do Cipó, Eterovick & Sazima (2004) registraram 43 espécies de anfíbios
anuros, enquanto que, na serra da Canastra, Haddad et al. (1988) registraram 29
5
espécies. Estas áreas incluem, além do cerrado, campos rupestres que servem
como vários abrigos de espécies endêmicas de plantas e animais.
Vasconcelos & Rossa-Feres (2005) aumentaram as informações da
anurofauna da parte sul do Cerrado, estudando a distribuição espacial e temporal
de anfíbios em lagoas. Neste estudo, os autores registraram 27 espécies, para a
região noroeste do estado de São Paulo.
Na estação ecológica de Itirapina, nos municípios de Itirapina e
Brotas, estado de São Paulo, Brasileiro et al. (2005) registraram 28 espécies de
anfíbios anuros em diversos ambientes do cerrado, incluindo riachos, lagoas
temporárias e permanentes e brejos. No município de Guararapes, em 1999,
Bernarde & Kokubum encontraram 26 espécies de anuros em açudes e poças.
Outro bioma importante que ocorre em Minas Gerais é a Mata
Atlântica, considerado o bioma mais rico em biodiversidade do planeta. Em sua
formação original, ocupava 15% do território nacional, cerca de 1.300.000 km2 ,
abrangendo 17 estados brasileiros, atingindo até o Paraguai e a Argentina (SOS
Mata Atlântica, 2007). Restrita a, aproximadamente, 98.000 km2 de
remanescentes, ou 7,6% de sua extensão original, ela tem seus últimos
fragmentos sob intensa pressão antrópica e risco iminente de extinção
(Morellato & Haddad, 2000).
De acordo com o nível atual de conhecimento, esse bioma complexo
contém mais diversidade de espécies que a maioria das formações florestais
amazônicas, bem como níveis elevados de endemismo, destacando-se como um
dos que contêm maior diversidade na composição da sua anurofauna, com
várias formas endêmicas (Morellato & Haddad, 2000).
Na Mata Atlântica, são conhecidas 340 espécies de anfíbios (Heringer
& Montenegro, 2000). Em Minas Gerais, 70% das espécies de anfíbios são
encontradas nesse bioma (Instituto Estadual de Florestas, IEF, 2008). Essa
considerável riqueza é resultante, dentre outros fatores, do elevado índice
6
pluviométrico, da alta diversidade estrutural de habitats arbóreos e da
disponibilidade de ambientes úmidos desse hábitat. Estes últimos estão ligados
ao folhiço de matas localizadas nas margens de grandes rios e ou em florestas
de altitude. As florestas de altitude destacam-se por notáveis endemismos
propiciados pelo isolamento geográfico de conjuntos serranos, como os do
grande complexo da Mantiqueira. Nas serras do Caparaó, Brigadeiro, Ibitipoca
e Itatiaia, podem ser encontradas espécies exclusivas (Morellato & Haddad,
2000).
Heyer et al. (1990) registraram 66 espécies de anuros na Estação
Biológica de Boracéia e Feio (1990) registrou 26 espécies de anuros em
fragmentos de mata na região serrana do Parque Estadual de Ibitipoca, em Minas
Gerais. Em um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica existentes hoje,
uma área de transição entre a Serra do Mar e o planalto, Pombal & Haddad
(2005) encontraram 19 espécies de anuros em uma poça permanente. Bertoluci
& Rodrigues (2002) registraram 47 espécies de anuros no Parque Estadual
Intervales (SP). Estudo de dois fragmentos de Mata Atlântica em Rio Novo,
Minas Gerais, registrou 20 espécies de anuros (Feio & Ferreira, 2005). Toledo et
al. (2003) registraram, para a Floresta Estadual “Edmundo Navarro de
Andrade”, no município de Rio Claro, São Paulo, 21 espécies de anfíbios anuros
e Abrunhosa et al. (2006) encontraram 19 espécies de anuros em uma lagoa
temporária , numa área aberta de floresta em Saquarema, Rio de Janeiro,
Em virtude da sua riqueza biológica e dos níveis de ameaça, os
biomas Cerrado e Mata Atlântica foram indicados por especialistas, em um
estudo coordenado pela Conservation International, como hotspots mundiais, ou
seja, áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade em todo o mundo
(Brasil, 2002).
Na fitofisionomia do estado destacam-se também os campos rupestres,
que ocorrem no alto das serras, geralmente, em altitudes superiores a mil metros,
7
como no complexo do Espinhaço (serra do Cipó e regiões próximas ao Serro e a
Diamantina) e da Mantiqueira (serra de Ibitipoca). Nesses locais, há o
predomínio do extrato herbáceo, constituído por gramíneas e mesclado de
subarbustos e arbustos pequenos (Araújo, 2000).
Para estas regiões serranas do sudeste do Brasil , compreendidas no
Domínio Morfoclimático da Floresta Atlântica (sensu Ab’Saber, 1977),
popularmente denominado Mata Atlântica, e particularmente ricas em espécies
de anfíbios, estudos de cunho ecológico e ou quantitativo sobre a anurofauna são
praticamente inexistentes (Haddad & Sazima, 1992).
No Brasil, vários ecossistemas nativos são pobremente conhecidos em
relação à diversidade de anfíbios e à sua distribuição espacial. Algumas áreas
com alta relevância para a conservação da biodiversidade do estado de Minas
Gerais, por exemplo, nunca foram sequer visitadas e amostradas minimamente,
no que diz respeito à comunidade de anfíbios. Entre estes ecossistemas
pobremente conhecidos estão as serras e os ecossistemas de altitude associados a
estas.
8
Blaustein & Kiesecker, 2002), espécies invasoras (Blaustein & Kiesecker, 2002;
Collins & Storfer, 2003), flutuações populacionais (Eterovick et al., 2005),
desconexão de hábitats (Becker et al., 2007), entre outros, podem causar ou têm
causado o declínio global das populações de anfíbios. Desde 1980, quando as
alterações climáticas se acentuaram, constatou-se que nove espécies de anfíbios
desapareceram e 113 não foram vistas nos últimos anos, e que também podem
estar extintas (Mittermeier, 2004).
Poucos casos de declínio de anfíbios, foram publicados , até o
momento, para o Brasil (Heyer et al., 1988; Weygoldt, 1989; Izecksohn &
Carvalho-e-Silva, 2001; Eterovick et al., 2005), além de registros de alguns
relatos informais sobre o status de muitas espécies. A falta de conhecimento
sobre a história natural das espécies, de sua distribuição e as relações delas com
o meio que habitam, aliados à falta de investimento para a pesquisa nessa área,
contribuem para o atual estágio de conhecimento sobre o declínio dos anfíbios.
No sudeste do Brasil, o desmatamento de áreas naturais parece ser
uma das principais causas destes declínios (Haddad, 1998; Pombal-Jr & Gordo,
2004). Além do desmatamento, outros fatores, aliados ao relativo
desconhecimento sobre ecologia, história natural, diversidade e status de
conservação da fauna de anuros na região Neotropical (Azevedo-Ramos &
Galatti, 2002; Pombal-Jr & Gordo, 2004), demandam a urgência de estudos
desta natureza na região.
9
Somente na natureza as espécies são capazes de continuar o processo
de adaptação evolutiva para um ambiente em mutação dentro de suas
comunidades naturais (Primack & Rodrigues, 2001).
Para Paiva (1999), existem três objetivos básicos da conservação dos
recursos naturais vivos. São eles: i) manter processos ecológicos essenciais e
sistemas de sustentação da vida; ii) preservar a diversidade genética e iii)
garantir que a utilização dos recursos vivos e dos ecossistemas nos quais
ocorrem se faça de maneira sustentada.
Os esforços de conservação são freqüentemente dirigidos à proteção
de espécies cujas populações se encontram em declínio e ameaçadas de extinção.
A solução para proteger e manejar uma espécie ameaçada é entender sua relação
biológica com o seu ambiente e a situação atual de sua população (Primack &
Rodrigues, 2001). Muitas espécies de anfíbios já se extinguiram ou estão em
processo de extinção ao longo da história, mas, só nos últimos anos, as pessoas
constataram o grave problema que isso pode trazer à natureza e, em
conseqüência, ao homem.
Pesquisas têm sido realizadas em vários países, intensificando o
conhecimento ecológico das espécies e seus hábitats, para que se crie um banco
de dados de cada espécie de anfíbio no mundo e assim possam ser criados
programas de monitoramento e de conservação para cada uma delas em seu
hábitat natural. Segundo Eterovick & Sazima (2004), instituições como a Rede
para Análise dos Anfíbios Neotropicais Ameaçados RANA) e a União
Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) e a
colaboração de outras instituições e órgãos vêm conduzindo a Análise Global de
Anfíbios, um projeto com objetivo de acessar o status de conservação de cada
espécie de anfíbio existente.
A fragmentação dos ambientes naturais contribui de maneira
avassaladora sobre a biodiversidade do planeta. Os hábitats são destruídos
10
sejam pelo desenvolvimento urbano, pela poluição ou pelo desmatamento
(Townsend et al., 2006). Em alguns momentos, a perda de hábitat não se resume
apenas na redução de uma população, mas pode também dividir a mesma em
subpopulações isoladas, o que pode levar à extinção de uma determinada
espécie (Townsend et al., 2006).
A principal ameaça à conservação de anfíbios no Brasil é exatamente a
destruição de seus hábitats, como conseqüência do desmatamento, do avanço da
fronteira agrícola, da mineração, das queimadas e do desenvolvimento e da
urbanização (Silvano & Segalla, 2005).
Todos os biomas brasileiros estão sendo afetados, em especial a Mata
Atlântica, que tem perto de 92% de sua estrutura original já destruída. O Cerrado
também é considerado um dos hotspots mundiais de biodiversidade (Silvano &
Segalla, 2005). Altas taxas de destruição de hábitats (Myers et al., 2000; Sala et
at., 2000) e baixo conhecimento sobre a fauna de anfíbios caracterizam esse
bioma (Colli et al., 2002). Segundo estimativas recentes, restam apenas 34% da
vegetação original (Machado et al., 2004).
As altas taxas de desmatamento e o avanço da fronteira agrícola no
bioma Cerrado indicam a urgência da aplicação de medidas que garantam a
conservação de numerosas espécies endêmicas e de distribuição restrita
(Silvano & Segalla, 2005).
Para isso, é necessário que medidas conservacionistas sejam elaboradas
e, assim, as espécies de anfíbios sejam conhecidas em sua biologia e
distribuição, para que, com esse conhecimento, o caminho para a conservação
seja mais acessível.
11
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
12
BERTOLUCI, J.; RODRIGUES, M. T. Utilização de habitats reprodutivos e
micro-habitats de vocalização em uma taxocenose de anuros (Amphibia) da
Mata Atlântica do Sudeste do Brasil. Papéis Avulsos de Zoologia, São Paulo,
v. 42, n. 11, p. 287-297, 2002.
13
DUELLMAN, W. E. Patterns of distribution of amphibians: a global
perspective. New York: Johns Hopkins University, 1999. 658 p.
14
HADDAD, C. F. B. Biodiversidade dos anfíbios no estado de São Paulo. In:
CASTRO, R. (Ed.). Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: síntese
do conhecimento ao final do século XX. 6. Vertebrados. São Paulo: FAPESP,
1998. p. 17-26.
15
LIPS, K. R.; BURROWES, P. A.; MENDELSON III, J. R.; PARRA -OLEA, G.
Amphibian declines in Latin American: widespread population declines,
extinctions and impacts. Biotropica, Connecticut, v. 37, n. 2, p. 163-165, 2005.
16
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: Vida,
2001. 328 p.
17
ZANZINI, A. C. da S. Fauna silvestre . Lavras: UFLA/FAEPE, 2000. 84 p.
(Especialização a Distância Lato Sensu. Gestão e Manejo Ambiental em
Sistemas Agrícolas).
18
CAPÍTULO II
19
RESUMO
______________________
*Comitê Orientador: Julio Neil Cassa Louzada - UFLA (Orientador), Vinícius Xavier da Silva –
UNIFENAS e Marcelo Passamani – UFLA.
20
ABSTRACT
__________________
*Guidance Committee: Julio Neil Cassa Louzada - UFLA (Major professor), Vinícius Xavier da
Silva – UNIFENAS and Marcelo Passamani – UFLA.
21
1 INTRODUÇÃO
22
Alguns fatores são atribuídos a esse declínio, como, por exemplo, a perda de
hábitats e fragmentação (Cushman, 2006; Green, 2003; Eterovick et al., 2005),
mudanças climáticas (Collins & Storfer, 2003), doenças (Daszak et al., 2003;
Lips et al., 2005; Ron, 2005), espécies invasoras (Blaustein & Kiesecker, 2002)
e a desconexão de hábitats (Becker et al., 2007), entre outros.
No sudeste do Brasil, o desmatamento de áreas naturais parece ser
uma das principais causas destes declínios (Haddad, 1998; Pombal-Jr & Gordo,
2004). Além do desmatamento, outros fatores, aliados ao relativo
desconhecimento sobre ecologia, história natural, diversidade e status de
conservação da fauna de anuros na região Neotropical (Azevedo-Ramos &
Galatti, 2002; Pombal-Jr & Gordo, 2004), demandam a urgência de estudos
desta natureza na região.
As estratégias usadas hoje para conservar e preservar os recursos de
biodiversidade são duas: conservação in situ e ex situ. A conservação ex situ se
dá a partir do confinamento das espécies da fauna em jardins zoológicos e
aquários, enquanto a forma de conservar a genética da flora é por meio de
bancos de sementes e jardins botânicos (Primack & Rodrigues, 2001).
Ao longo dos últimos anos, a fim de diminuir o ritmo da perda de
biodiversidade, foram criadas unidades de conservação, forma consagrada de
conservação in situ. Nestas unidades, busca-se manter os ambientes e as inter-
relações existentes entre as espécies ali presentes, além dos processos associados
à sua dinâmica de desenvolvimento. De modo geral, estas unidades são grandes
áreas naturais pouco alteradas pela ação humana, representativas dos
ecossistemas nas diferentes partes do planeta (Joly & Bicudo, 1999).
A criação destas unidades de conservação envolve ações múltiplas,
entre elas a identificação de áreas prioritárias para a conservação da
biodiversidade e a realização, nestas áreas, de estudos prévios que justifiquem a
criação dessas unidades de conservação. Dentre as áreas prioritárias para a
23
conservação de recursos naturais do Sul do estado de Minas Gerais está a serra
de Carrancas/Luminárias (Drummond, 2005).
O objetivo principal para a realização deste trabalho foi o de
conhecer a diversidade de anfíbios na Chapada das Perdizes, na serra do
município de Carrancas, Sul do estado de Minas Gerais e em riachos dentro de
fragmentos florestais. Adicionalmente, foram recolhidas informações sobre a
ecologia, biologia e história natural das espécies encontradas, como forma de
contribuir para o conhecimento da diversidade anurofaunística do estado de
Minas Gerais e subsidiar ações futuras para a conservação do grupo.
2 MATERIAL e MÉTODOS
24
Atlântica, sendo composta dos biomas: Campos, Floresta Estacional
Semidecidual e Campo Rupestre (Gavilanes & Brandão, 1991).
Ocorre uma concentração do bioma Campo na serra de Carrancas,
começando em Itumirim, passando por Itutinga, chegando a Minduri, onde se
encontra uma quantidade significativa de vegetação classificada como Floresta
Estacional Semidecidual. Observa-se, ainda, uma concentração de Campos
Rupestres no alto das serras de Carrancas e também nas de Luminárias/São
Tomé das Letras (Lima, 2007).
Uma análise sobre a vegetação das serras foi feita por Matsumoto
(1999), segundo o qual a vegetação no alto das serras é, predominantemente, de
campos e campos rupestres, mas, em alguns pontos, encontram-se afloramentos
rochosos com espécies arbóreas. Existem pequenas manchas remanescentes de
vegetação de Cerrado em solos mais profundos nas baixadas. Ao longo dos
cursos d’água, observa -se a presença de matas ciliares, mas, em muitos casos,
não se encontra esse tipo de vegetação e, sim, afloramentos rochosos com
vegetação herbáceo-arbustiva não adensada. Observa -se a presença de mata
mesófila em algumas encostas íngrimes e em alguns pontos ao longo das serras,
além de áreas úmidas ou brejosas, também presentes nas baixadas.
Os campos de Cerrado constituem a fitofisionomia predominante até
os 900m de altitude, substituídos , então, pelos campos rupestres (Rodrigues &
Carvalho, 2001). Considerados uma formação menos densa, os campos rupestres
podem estar associados a solos mais arenosos e pouco profundos (Furley, 1999).
Os campos rupestres são um complexo de campos de altitude e campos limpos,
com formações rochosas que ocorrem em cadeias com altitudes acima de 900m
(Prado & Lewinsohn, 2004). Além desse mosaico natural, existem áreas de
pastagens envolvendo fragmentos de ambientes nativos.
25
FIGURA 1 Mapa com a localização da área de estudo
26
FIGURA 2 Conjunto de fragmentos e Mata Triste, Chapada das
Perdizes, Serra de Carrancas, MG.
27
A B
C D
E F
28
2.2 Procedimento de amostragem
Foi realizada uma visita preliminar ao local do estudo, em março de
2007, quando foram definidos a metodologia e os locais mais favoráveis para a
coleta de dados e informações a respeito dos anfíbios anuros da região. Todos
os pontos foram registrados fotograficamente e tiveram suas coordenadas
geográficas tomadas com o uso de um GPS IV Garmin.
As amostragens foram realizadas nos meses de abril, agosto,
outubro, novembro e dezembro de 2007, em seis idas a campo, totalizando 160
horas de esforço amostral (23-26.IV; 03-06.VIII; 04-07.X; 14-17.XI; 18-21.XI;
18-21.XII), com visitas mais constantes na estação chuvosa, nos meses de
outubro, novembro e dezembro. Amostrou-se cada um dos quatro riachos
escolhidos em cada um dos fragmentos e constatou-se que todos têm,
basicamente, as mesmas características, apresentando poucas variações entre si.
As altitudes nos pontos variam de 1.233 a 1.530 metros.
A vegetação do local de estudo é do tipo floresta semidecidual alto-
montana marginal. As famílias mais ricas na área, Melastomataceae e
Myrtaceae, são características dessas florestas. Outra característica é a
abundância de epífitas, sobretudo de bromélias, orquídeas, pteridófitas, musgos
e liquens (Oliveira Filho et al., 2004). A abertura de dossel diminui
significativamente no sentido borda-interior da mata (Van den berg & Santos,
2003). Os riachos estudados estão, em sua maior extensão, no interior da mata.
A semideciduidade das matas locais também pode interferir na abertura de
dossel. Conforme os pontos subiam em direção à cabeceira do riacho, ocorreu,
então, a diminuição da abertura do dossel.
Os fragmentos apresentaram, na borda e no interior da mata,
diferentes conjuntos de espécies principais, sendo a primeira caracterizada pela
grande abundância de Eremanthus erythropappus, a candeia. Nas regiões
montanhosas do Sudeste do Brasil, o nome candeal é dado a essa fisionomia
29
florestal de estatura mais baixa (6 a 12 m de altura) e com predominância da
candeia (Oliveira Filho et al., 2004).
A largura média dos riachos é de 100 cm, variando de 90 a 110 cm e
a profundidade média de 30 cm, variando de 5 a 50 cm. Os riachos
apresentaram, em sua maioria , trechos com fundo pedregoso, porém, em alguns
locais, porções de areia tomavam conta do fundo e, em trechos de água parada,
o folhiço cobria o fundo pedregoso. A velocidade da água variou ao longo de
toda a extensão dos riachos, com áreas de água totalmente parada, áreas com
água corrente e pequenas quedas d´água, essas variando de 20 a 30cm de altura.
Cada riacho foi dividido em 10 seções de 10 metros, totalizando 100
metros de extensão. Elas foram inspecionadas exaustivamente , durante 20
minutos cada, totalizando 3 horas e 20 minutos para cada riacho, padronizando,
assim, nosso esforço amostral. As observações se iniciavam às 18 horas, pouco
antes do pôr-do-sol, e se estendiam até 21 ou 21:30 horas.
Além da identificação das espécies da anurofauna, foram estudados
alguns aspectos da história natural e da biologia desse grupo, as interações entre
os indivíduos e populações e os fatores que colocam os anfíbios anuros como
importantes bioindicadores. Foi registrado, para cada exemplar, o tipo de
substrato, a distância e a altura em relação à água em que foi observado. De
acordo com as preferências das espécies, os pontos de observação foram
divididos em microambientes que foram, então caracterizados.
A identificação das espécies foi feita auditivamente e por meio da
observação direta. Se , mesmo após a visualização, restavam dúvidas, os
espécimes eram coletados e levados para o laboratório e ou museu para a
identificação. As coletas de espécimes foram manuais e, geralmente , com o
auxílio de lanternas, visto que a maioria das espécies é noturna. O sacrifício de
indivíduos foi restrito ao material testemunho (das gravações e ou de espécies
de difícil identificação), sendo os animais transportados em sacos plásticos
30
umedecidos. Procurou-se coletar apenas uma amostragem representativa das
espécies presentes, evitando-se supercoleta.
No laboratório , os espécimes coletados foram sacrificados, fixados
em formol 10% e preservados em álcool 70% (Auricchio & Salomão, 2002). Os
espécimes preservados foram, então, comparados com descrições da literatura,
bem como com exemplares já identificados e tombados em coleções científicas.
Os espécimes-testemunho estão depositados na coleção de anfíbios do
Laboratório e Museu de Zoologia (LMZ) da Universidade Federal de Alfenas
(UNIFAL-MG). As coordenadas geográficas de ocorrência das espécies foram
determinadas pelo sistema de georreferenciamento (GPS).
Sempre que necessário, foram feitas gravações das vocalizações dos
machos em fita magnética, usadas na identificação em laboratório, por meio da
comparação com arquivos sonoros e ou para análises espectrográficas dos sons.
As gravações foram arquivadas em coleção de vocalizações, compondo um
banco de dados sonoros da anurofauna da área de estudo. Foram fotografados
exemplares vivos das diferentes espécies, permitindo a criação de um arquivo
visual, que possibilitou a consulta de detalhes da coloração em vida dos
indivíduos. Tal procedimento também ajudou na identificação de espécies
problemáticas, do ponto de vista taxonômico.
31
Pielou (Krebs, 1999). O índice de diversidade de espécies é utilizado para
combinar a riqueza em espécies e a uniformidade ou equitabilidade na
distribuição dos indivíduos entre essas espécies (Townsend et al., 2006). A
diversidade teórica máxima (H’máx) foi determinada de acordo com o proposto
por Krebs (1999). A diversidade foi considerada alta quando a equitabilidade,
(e) = 0,7, a diversidade, H’= 1,0 e H’= 70% H’máx (Conte & Rossa-Feres,
2006).
As similaridades e as diferenças entre a composição das espécies nas
comunidades dos fragmentos foram avaliada s atravésor meio de uma análise de
agrupamento, aplicando-se o Índice de Bray-Curtis (Krebs, 1999), como medida
de similaridade/dissimilaridade e o método de ligação-simples (single-linkage)
para a formação dos agrupamentos.
A riqueza de espécies nos ambientes foi calculada pelos estimadores
não-paramétricos de riqueza de espécies Chao 2, Jacknife 1 e Bootstrap
(Gardner et al., 2007), produzindo uma estimativa média do número de espécies
esperado para cada fragmento. Com base no valor estimado médio de riqueza
foi possível avaliar o grau de eficiência amostral, expresso pela porcentagem
das espécies que, teoricamente, poderiam ser observadas no local e que foram
efetivamente observadas durante a amostragem.
A constância de ocorrência das espécies (c) nas cinco coletas
realizadas, incluindo todas as espécies, inclusive as que não emitiram
vocalização, foi calculada pela fórmula de DAJOZ (c = p x 100/P, em que c =
constância; p = número de levantamentos contendo a espécie; P = número total
de levantamentos), categorizando as espécies como constantes, quando c>50%;
acessórias, quando 25<c<50% e acidentais , quando c<25% (Dajoz, 1973).
32
3 RESULTADOS
Família / Espécie
Bufonidae
Rhinella schneideri (Werner, 1894)
Centrolenidae
Hyalinobatrachium uranoscopum (Muller, 1924)
Hylidae
Scinax longilineus (B. Lutz, 1968)
Aplastodiscus leucopygius (Cruz & Peixoto, 1985 “1984”)
Bokermannohyla gr. circumdata
Dendropsophus sanborni (Schmidt, 1944)
Hypsiboas stenocephalus (Caramaschi & Cruz, 1999)
Leiupe ridae
Pseudopaludicola mineira (Cope, 1887)
Hylodidae
Crossodactylus gaudichaudii Duméril & Bibron, 1841
Cycloramphidae
Odontophrynus cultripes Reinhardt & Lütken, 1861 “1862”
Brachycephalidae
Ischnocnema juipoca (Sazima & Cardoso, 1978)
33
Nenhuma das espécies registradas para a Serra de Carrancas está na
lista das espécies ameaçadas de extinção da fauna brasileira (M.M.A., 2003) e
nem no Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção do Estado de
Minas Gerais (Machado, 1998).
Considerando o esquema de classificação que estava em vigor até o
ano de 2006, as famílias Hylidae e Leptodactylidae foram as que registraram
maior riqueza, com cinco e quatro espécies, respectivamente. As demais
famílias registraram uma espécie cada. Esse padrão de distribuição é comum
para regiões do Neotrópico (Duellman, 1988). Após o trabalho de classificação
feito por Frost et al. (2006), a distribuição das espécies dentro das famílias
mudou, além do que novas famílias foram criadas, ficando difícil uma análise
mais clara com relação à distribuição no Neotrópico. Neste caso, foram
registradas as famílias Hylidae, com 5 espécies, e as famílias, Bufonidae,
Centrolenidae, Leiuperidae, Brachychephalidae, Hylodidae e Cycloramphidae,
cada uma com uma espécie.
34
A B
C D
E F
35
A B
36
ocorrência em locais de altitudes mais baixas (média de 900m). Outras espécies
foram registradas para a serra de Carrancas, porém, fora dos pontos amostrados
e são aqui chamadas de espécies ocasionais (Tabela 3).
Família / Espécie
Hylidae
Hypsiboas faber (Wied-Neuwied, 1821)
Scinax fuscovarius (A. Lutz, 1925)
Dendropsophus minutus (Peters, 1872)
Leptodactylidae
Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799)
Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758)
Leiuperidae
Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826
37
curva de rarefação de espécies (Figura 6). A média dos índices de riqueza
esperada para a área de estudo foi de 12,72 espécies, duas a mais do que a
efetivamente registrada, que foi de 11 (Tabela 2). Trata-se de um nível de
eficiência amostral compatível com outros trabalhos realizados na região
tropical, como no de Gardner et al. (2007).
18
16
Número de espécies
14
12
10
8
6
4
2
0
1,2 1,6 2 2,4 2,8 3,2 3,6 4 4,4
Campanhas amostrais
38
TABELA 4 Sucesso de captura, riqueza de espécies e totalidade das
amostras de anfíbios em três fragmentos e uma área de mata
na serra de Carrancas, Minas Gerais .
a
Número de indivíduos observados
b
Número de espécies observadas
c
Porcentagem da média estimada de espécies efetivamente observadas.
d
Número de espécies encontradas exclusivamente em um fragmento sobre a porcentagem do
total de espécies.
e
Número de espécies observadas em cada fragmento sobre a porcentagem do total de espécies.
39
TABELA 5 Diversidade e equitabilidade das espécies em
cada fragmento estudado.
a
Número de espécies observadas
b
Diversidade (Shannon-Wiener)
c
Diversidade teórica máxima
d
Porcentagem da diversidade teórica máxima
e
Equitabilidade
40
TABELA 6 Ocorrência de espécies pela constância de Dajoz.
41
F10
MT
F4
F1
1,02
0,96
0,9
0,84
Similaridade
0,78
0,72
0,66
0,6
0,54
0,48
42
350
300
Altura da vegetação (cm)
250
200
150
100
50
S. longilineus
B. gr. circumdara
H. uranoscopum
D. sanborni
A. leucopygius
H. stenocephalus
4 DISCUSSÃO
43
características diferentes dos riachos de mata estudados existem no local e
devem ser explorados, a fim de que novas espécies sejam registradas.
A serra de Carrancas está localizada entre dois complexos de Serras,
a da Mantiqueira e a do Espinhaço. Apresenta uma anurofauna diferenciada de
outras serras já estudadas da região Sudeste do país. Na serra do Cipó, por
exemplo, foram registradas 43 espécies de anuros e, destas, 26 ocorreram em
riachos de mata de galeria (Eterovick & Sazima, 2004) e apenas três ocorreram
também em Carrancas: Rhinella schneideri, Ischnocnema juipoca e
Pseudopaludicola mineira. Dessas, P. mineira é a que chama mais a atenção,
pois não havia registro dessa espécie para outra localidade senão na serra do
Cipó. Para o estudo de Haddad et al. (1988), no Parque Nacional da Serra da
Canastra, foram registradas 29 espécies de anuros, sendo 11 delas observadas
em ambientes de riacho de mata e em seu entorno. Apenas uma delas foi
registrada para este estudo, Ischnocnema juipoca. Feio (1990) registrou 26
espécies de anuros e, destas, 14 observadas em ambientes de riachos de mata.
Uma delas ocorreu neste estudo, Aplastodiscus leucopygius.
Analisando a composição de espécies registradas, observa -se que
uma delas tem ampla distribuição pelo Brasil, Rhinella schneideri, e é típica de
áreas abertas. Por outro lado, algumas espécies tiveram seus limites de
distribuição ampliados neste estudo, como foi o caso de Crossodactylus
gaudichaudii, Aplastodiscus leucopygius, Dendropsophus sanborni, Hypsiboas
stenocephalus e Pseudoludicola mineira (G.A.A., 2008).
Uma espécie que teve sua distribuição geográfica aumentada foi C.
gaudichaudii, que era conhecida para a região Sudeste, só que apenas para os
estados de São Paulo e Rio de Janeiro (A.W., 2008). Além disso, havia registros
de que esta espécie tinha hábitos apenas diurnos (Gomes et al., 2003), porém,
constatou-se que suas atividades ocorrem tanto diurna quanto noturnamente. A
espécie H. stenocephalus é conhecida até o momento apenas para a localidade-
44
tipo, o município de Poços de Caldas, MG (A.W., 2008). D. sanborni não tem
registro para o estado de Minas Gerais, tendo ocorrência do Sul do Brasil até
São Paulo (A.W., 2008). Já A. leucopygius ocorre na serra do Mar e serra da
Mantiqueira, em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais, porém, não
havia registro para a região de estudo (G.A.A., 2008). A espécie
Pseudopaludicola mineira tem registro apenas para a serra do Cipó (Eterovick
& Sazima, 2004).
Com relação à presença de espécies exclusivas, que podem ser
usadas como uma medida da diferença na composição de espécies entre
comunidades distintas, o fragmento 10 e a MT apresentaram os maiores valores,
enquanto os fragmentos 1 e 4 não apresentaram espécies exclusivas, ou seja,
têm sua fauna representada no conjunto dos demais fragmentos. Segundo Odum
(1973), uma característica comum de comunidades é que elas contêm poucas
espécies comuns e um maior número de espécies raras. Foi o que ocorreu nos
trabalhos de Brasileiro (1993), Cardoso (1986) e Nascimento (1991), mas não
traduz os dados obtidos no presente estudo. Castanho (2000) registrou, para seu
estudo, um maior número de espécies comuns (19).
Das sete espécies consideradas constantes, três pertencem à família
Hylidae e uma à família Centrolenidae. Isso pode ser explicado pela maior
facilidade que os membros dessas famílias têm em ocupar ambientes
diversificados, como estratificação vertical, devido à presença de discos digitais,
e também ocorrer sobre pedras e folhiços (Nascimento, 1991). Outros dois
membros da família Hylidae, Dendropsophus sanborni e Hypsiboas
stenocephalus, não foram constantes, pois ocorreram nas duas últimas coletas
apenas. Sua ocorrência pode estar associada à influência do período chuvoso.
Os agrupamentos formados na análise de cluster ocorreram
meramente ao acaso, já que a porcentagem encontrada é muito próxima,
variando 4% entre os dois grupos. Esse acaso indica que poderiam ter ocorrido
45
outras combinações de agrupamentos entre os quatro fragmentos. Nesse caso, a
relativa proximidade entre os fragmentos 1 e 4 não influenciou, assim como o
tamanho similar entre os fragmentos 1, 4 e 10 também não e, apesar do tamanho
muito maior da Mata Triste em relação aos outros fragmentos, todos eles foram
similares entre si, quanto à sua composição de espécies.
As espécies de anfíbios possuem certa s preferências com relação ao
hábitat ideal (Cardoso, 1986). Algumas espécies ocupam as mesmas áreas e,
para que possam ocorrer sem atrapalhar umas às outras, utilizam diferentes
coberturas vegetais e corpos d’água, além de se segregarem vertical e
horizontalmente. Segundo Feio (1990), existe especificidade ambiental entre
diversas espécies e ambientes oferecidos pela área. Cardoso (1986) sugere que a
heterogeneidade espacial é determinante no número de espécies que podem
explorar determinado ambiente.
Houve sobreposição na utilização de substratos entre algumas
espécies da família Hylidae, que apresentaram distribuição mais diversa e
verticalmente mais ampla, provavelmente por apresentarem estruturas de fixação
na porção distal dos dedos (expansões digitais). Esse aspecto facilita mais sua
locomoção, podendo, assim, estar em ambientes arbustivos e arbóreos, locais de
difícil acesso para outros grupos de anuros. Cardoso et al. (1989) afirmam que a
presença dessas expansões pode conferir vantagem adaptativa aos hilídeos.
Bokermannohyla gr. circumdata e Scinax longilineus ocuparam a faixa entre 200
cm e 300 cm da vegetação herbáceo-arbustiva. Aplastodiscus leucopygius,
Dendropsophus sanborni e Hyalinobatrachium uranoscopum, esta última
representante da família Centrolenidae, ocuparam uma porção mais restrita e
inferior da vegetação, detectando-se sobreposição entre elas na faixa entre 100
cm e 150 cm.
As demais espécies das outras famílias ocuparam substratos no solo,
como serrapilheira, barrancos, fendas e riachos de fundo pedregoso. Foram os
46
casos de Rhinella schneideri, Ischnocnema juipoca, Pseudopaludicola mineira e
Crossodactylus gaudichaudii. Duas espécies foram observadas, tanto na
vegetação quanto no fundo do riacho, Scinax longilineus e Hyalinobatrachium
uranoscopum, sendo a primeira com maior freqüência. Hipóteses propõem que
deve haver um mínimo de diferenças ecológicas entre as espécies para que elas
coexistam de forma estável com os recursos limitantes (Cardoso, 1986). Não foi
constatada, neste estudo, uma competição espacial entre as espécies,
provavelmente devido à baixa abundância da maioria delas.
Informações sobre história natural de anuros brasileiros , em geral,
são escassas. A seguir serão apresentadas algumas informações a respeito das
espécies dos riachos de fragmentos florestais da serra de Carrancas. Durante as
ativ idades de campo, para cada espécie , foi registrado o maior número possível
de dados quanto à sua localização quando em atividade reprodutiva
(vocalização) ou em outro tipo de atividade (locomoção, alimentação, disputa
territorial, etc.) ou até mesmo em repouso.
Rhinella schneideri
47
escassa, caracterizando um brejo. Havia uma fêmea e seis machos a seu redor.
Girinos também foram observados. Brasileiro et al. (2005) também registraram
essa espécie próxim o às matas de galeria , ao longo de riachos.
Aplastodiscus leucopygius
Scinax longilineus
48
Bokermannohyla gr. circumdata
Hypsiboas stenocephalus
Dendropsophus sanborni
49
Hyalinobatrachium uranoscopum
Ischnocnema juipoca
50
Odontophrynus cultripes
Crossodactylus gaudichaudii
51
Pseudopaludicola mineira
52
O baixo número de espécies registradas nesse estudo se deve a alguns
fatores. Os ambientes explorados influenciaram no pequeno número de espécies.
Uma avaliação menos pontual, envolvendo toda a paisagem local, seria mais
efetiva , em termos de complexidade das espécies, pois envolveria não apenas
riachos e matas de galeria, mas, sim, outros elementos da paisagem local, como
o campo rupestre e outros tipos de corpos d’água, como ambientes lênticos, onde
a riqueza de anuros geralmente é maior, como se pôde constatar em vários
trabalhos (Cardoso et al., 1989; Eterovick & Sazima, 2004; Brasileiro, 1993).
O número de visitas ao campo pode ter sido insuficiente para a
realização de um inventário completo da anurofauna da área de estudo, havendo
a probabilidade de encontro de até duas espécies adicionais no local,
estatisticamente falando. A utilização de outros métodos de coleta de anfíbios,
como armadilhas de interceptação e queda (pit-fall traps), também poderia
ajudar na complementação da lista de espécies. Além das limitações dos
métodos utilizados (Heyer et al., 1994), algumas espécies podem não ter sido
encontradas, em decorrência de seus padrões reprodutivos explosivos (Wells,
1977), ou seja, essas espécies que possuem período reprodutivo com duração de
poucas semanas ou poucos dias, estimuladas por condições climáticas pontuais,
podem ter vocalizado nos dias em que não foram realizadas atividades de
campo (Toledo et al., 2003). Além disso, algumas espécies podem apresentar
populações muito reduzidas ou um hábitat tão específico que, dificilmente, são
amostradas (Feio, 1990).
Pelos motivos citados, novas amostragens devem ser feitas na serra
de Carrancas, devido ao grande potencial da região, por ser uma área isolada
altitudinalmente. Além disso, uma série de mensurações poderia ajudar a
entender melhor a dinâmica das comunidades registradas nos riachos, como, por
exemplo, pH, oxigênio e velocidade da água. Isso deve ser feito em estudos
futuros na região, para a complementação desses importantes dados.
53
Os resultados obtidos no inventário da área estudada são de grande
importância para posteriores pesquisas na região, por não haver registros de
estudos anteriores com anfíbios anuros. Além disso, esse grupo apresenta
algumas características que o torna m referência para estudos ambientais
(bioindicadores). É altamente dependente de ambientes úmidos, apresenta alta
sensibilidade a alterações na qualidade da água, é intimamente relacionada com
a vegetação marginal e próxima aos corpos d’água, sendo bastante vulneráve l a
quaisquer alterações que o substrato vegetacional utilizado por eles possa sofrer.
São animais de fácil localização durante a estação reprodutiva, pois emitem sons
(vocalização), facilitando o seu encontro (Bernarde, 2007). Possuem baixa
capacidade de deslocamento, o que explica a ocorrência de endemismos,
principalmente em ambientes de altitude ou com barreiras geográficas. Assim,
ambientes montanhosos e acidentados, como a área de estudo, costumam
propiciar barreiras à dispersão de diversos grupos de anuros, ocasionando
especiação em topos de montanhas (Giaretta & Aguiar Jr., 1998). Portanto, o
levantamento anurofaunístico nesse tipo de ambiente tem demonstrado a
existência de diversas espécies novas, raras e endêmicas (Giaretta & Aguiar Jr.,
1998), cujos dados ajudarão a complementar a lista de anfíbios anuros do estado
de Minas Gerais e do Brasil, já líder mundial de diversidade para esse grupo.
Esses dados serão importantes também como requisitos para a futura
implantação de uma unidade de conservação na serra de Carrancas, proposta por
Lima (2007). Juntamente com outros elementos da fauna que hoje são estudados
na região, o conhecimento sobre a anurofauna da área, certamente, fornecerá
subsídios para que seja aceita a implantação dessa unidade de conservação no
estado. O primeiro passo nessa direção foi dado pelo Instituto Estadual de
Florestas de Minas Gerais, com a cooperação da Conservation International do
Brasil, da Fundação S.O.S. Mata Atlântica e da Fundação Biodiversitas, ao
confeccionarem um mapa das áreas prioritárias para a conservação do estado de
54
Minas Gerais, no qual a serra de Carrancas está inserida como “área de muito
alta importância biológica” (Heringer & Montenegro, 2000).
5 CONCLUSÕES
55
científico sobre os anfíbios anuros da região. Para que as pessoas, órgãos
governamentais e não-governamentais e demais instituições possam investir na
proteção ao meio ambiente, é preciso que o conheçam, e o primeiro passo para
isso foi dado com este inventário.
Novas perguntas podem agora ser testadas como: os diferentes
comportamentos podem variar entre diferentes populações da mesma espécie ;
como se estabelecem os mecanismos de seleção sexual; quais as interações
dessas espécies com alguns parâmetros dos respectivos fragmentos , como
tamanho, forma, distância relativa entre eles e estudos envolvendo girinos que
possibilitem generalizações conceituais, entre outros.
56
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
57
CARDOSO, A. J. Utilização de recursos para a reprodução em comunidade
de anuros do Sudeste do Brasil. 1986. 216 p. Tese (Doutorado em Biologia) -
Universidade de Campinas. Instituto de Biologia, Campinas, SP.
58
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SILVANO, D. L.; SEGALLA, M. V.; SAZIMA, I. Amphibian declines in
Brazil. Biotropica, Connecticut, v. 37, n. 2, p. 166-179, 2005.
59
GOMES, M. A.; VAN SLUYS, M.; ROCHA, C. F. D. da. Dinâmica de girinos
de Crossodactylus gaudichaudii (Anura: Leptodactylidae) em córregos de uma
área de Mata Atlântica na Ilha Grande, RJ. In: CONGRESSO DE ECOLOGIA
DO BRASIL, 6., 2003, Fortaleza.
Anais…Fortaleza, CE: SEB, 2003.
60
IZECKSOHN, E.; CARVALHO-E-SILVA, S. P. de. Anfíbios do município do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. 148 p.
61
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Mangabeiras (Belo Horizonte, MG). 1991. 204p. Dissertação (Mestrado em
Zoologia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Museu Nacional, Rio de
Janeiro.
62
RON, S. R. Predicting the distribution of the amphibian pathogen
Batrachochytrium dendrobatidis in the New World. Biotropica, Connecticut, v.
37, n. 2, p. 209-221, 2005.
63