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Excerto 4

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Vem o escudeiro e diz: Moço Porém, senhor, digo eu

Escudeiro Se esta senhora é tal Que meu calçado é o meu


Como os judeus ma gabaram,(tem Pera estas vistas assi.
esperança que o casamento lhe resolva os problemas Escudeiro Que farei, que o sapateiro
económicos.)
Não tem solas nem tem pele?(não
Certo os anjos a pintaram,
passa de um pelintra)
E não pode ser i al.
Moço Sapatos me daria ele,
Diz que os olhos com que via
Se me vós désseis dinheiro…
Foram de Santa Luzia,
Escudeiro Eu o(dinheiro) faverei agora
E os cabelos de Mandanela.(não
acreditou na descrição que lhe fizeram e acha que a
conduta dele não seria a melhor.) E mais calças, te prometo.
Se fosse moça tao bela, Moço (Homem que não tem nem preto,
Como donzela seria?(Pergunta retorica: Casa muito na má hora.)
revela incredibilidade de Brás da Mata)
Chega o escudeiro onde está Inês e diz:
Moça de vila será ela
Com sinalzinho postiço,(enfeita-se para
parecer o q não é)
Escudeiro Antes que mais diga agora,
E sarnosa no toutiço, Deus vos salve, fresca rosa,(vocativo)
Como burra de Castela.(comparação) E vos dê por minha esposa.
Eu, assi como chegar, Por mulher e por senhora,
Cumpre-me bem d’atentar Que bem vejo
Se é garrida, se honesta, Nesse ar, nesse despejo,
Porque o melhor da festa Mui graciosa donzela,
É achar siso e calar.(qualidades que ele Que vós sois, minha alma, aquela
aprecia numa mulher) Que eu busco e que desejo.
Mãe Se este Escudeiro há de vir,
E é hoem de discrição, Obrou bem a natureza
Hás-te de pôr em feição Em vos dar tal condição,
De falar pouco e não rir. Que amais discrição
E mais, Inês, não muito olhar, Muito mais que a riqueza
E muito chão o menear, Bem parece
Por que te julguem por muda; Que a discrição merece
Porque a moça sisuda Gozar vossa fermosura,
É uma perla pra amar.( a melhor moça é Que é tal que, de ventura,
aquela que é seria) Outra tal não s’acontece.
Escudeiro Olha cá, Fernando, eu vou (tratamento elogioso: diz vir com intenções de casar)
Ver a com qu’hei de casar. (jovem com
propósito de casar)
Senhora, eu me contento
Avisa-te, que hás de estar
Receber-vos como estais;
Sem barrete onde eu estou.
Se vós não vos contentais;
Moço (Como a rei, corpo de mi!
O vosso contentamento
Mui bem vai isso assi.)- ironia
Pode falecer no mais.
Escudeiro E se cuspir, pela ventura,
Latão (Como fala!
Poe-lhe o pé e faz mesura.
Vidal E ela como se cala!
Moço (Ainda eu isso não vi.)
Este há de ser seu marido,
Escudeiro E se me vires mentir,
Segundo a coisa s’abala.)
Gabando-me de privado,
Está tudo dissimulado,
Escudeiro Eu não tenho mais de meu,
Ou sai-te pera fora(pleonasmo) a
Somente ser comprador
rir.( vai mentir está disposto a tudo para enganar ines e a mae. Da
orientações para o moço se comportar.)
Do Marichal, seu senhor,
Isto te aviso daqui, E sam escudeiro seu.
Faze-o por amor de mi. Sei bem ler,
E muito bem escrever, Moço Vós sempre zombais assi.
E bom jogador de bola, (irresponsável)
E quanto a tanger viola, (autocaracterização) Escudeiro Oh! Que boas vozes tem
Logo me vereis tanger. Esta viola aqui!
Leixa-me casar a mi.
Moço, que estás lá olhando? Depois, eu te farei bem.
Moço Que manda Vossa Mercê? Mãe Agora vos digo eu
Escudeiro Que venhas cá. Que Inês está no Paraíso!
Moço Pera quê? Inês Que tendes de ver co isso?
Escudeiro Por que faças o que eu mando! Todo o mal há de ser meu.
Mãe Oh! Como é seca a velhice
Moço Logo vou. Inês Leixai-me ouvir e folgar,
(o diabo me tomou: Que não m’hei de contentar
Sair-me de João Montês De casas com parvoíce.
Por servir um tavanês, Pode ser maior riqueza
Mor doudo que Deus criou!)- lamenta Que um homem avisado?
a atitude que tomou: deixar o antigo patrão para vir trabalhar j
com este)
Mãe Muitas vezes, mal pecado,
Escudeiro Fui despedir um rapaz
É melhor boa simpreza.(aconselha a
Por tomar este ladrão, filha)
Que valia Perpinhão. Latão Ora ouvi e ouvireis.
Moço! Dizei alguma cantadela.
Moço Que vos praz? Namorai esta donzela
Escudeiro A viola. E esta cantiga direis:
Moço (Oh! Como ficará tola, “Canas do amor, canas,
Se não fosse casar ante Canas do amor.
Co mais sáfio bargante Polo longo de um rio
Que coma pão e cebola!)- o homem Canaval está florido
para quem trabalha não passa de um reles, sem vergonha
Canas do amor”( tenta fazer com q ines
não de ouvidos a mae e sugere que cantem uma cantiga)
Ei-la aqui bem temperada
Não tendes que temperar.( duplo Canta o Escudeiro o romance de “Mal me
sentido: a viola já esta afinada e não precisa de lhe mexer; não
tendes nada para comer) quieren en Castilha” e diz Vidal:
Escudeiro Faria bem de t’a quebrar
Na cabeça, bem migada. Vidal Latão, já o sono é comigo,
Moço E se ela é emprestada, Como oiço cantar guaiado,
Quem na havia de pagar?( pegou a Que não vai esfandegado…
viola emprestada para impressionar inês) Latão Esse é o demo qu’eu digo.
Meu amo, eu quero-me ir.( está com Viste cantar Dona sol:
vontade de deixar este patrão)
“Pelo mar vai a vela,
Escudeiro E quando queres partir?
Vela vai pelo mar”?
Moço Logo quero começar.
Vidal Filha Inês, assi vivais
Que tomeis esse senhor
Determino de partir
Escudeiro cantador
Ante que venha o inverno,
E caçador de pardais,
Porque vós não dais governo
Sabedor, revolvedor,
Pera vos ninguém servir.
Falador, gracejador,
Escudeiro Não dormes tu que te farte?
Afoitado pela mão,
Moço No chão, e o telhado por manso
E sabe de gavião…
E cerra-se-m’ a garganta
Tomai-o por meu amor.
Com fome.
(enumera qualidades do escudeiro)
Escudeiro Isso tem arte.
Arrea espeçulá,
Podeis topar um rabugento, Bento o Deu de Jacob,
Desmazelado, baboso, Bento o Deu que a Faraó
Descancarado, brigoso, Espantou e espantará.
Medroso, carapatento. Bento o Deu de Abraão,
Este Escudeiro, aosadas, Benta a terra de Canão.”
Onde se derem pancadas, Pera bem sejais casados!
Ele as há de levar Dai-nos cá senhos ducados.( está na
Boas; senão, apanhar… hora de nos pagar com moedas de ouro)

Nele tendes boas fadas. Mãe Amanhã vo-los darão.


Pois assi é, bem será
Mãe Quero rir com toda a mágoa Que não passe isto assi.
Destes teus casamenteiros! Eu quero chegar ali
Nunca vi judeus ferreiros Chamar meus amigos cá,
Aturar tao bem a frágoa,( alerta a filha E bailarão de terreiro.
para não ir na lábia deles) Escudeiro Oh! Quem me fora solteiro!
Não te é melhor, mal por mal, Inês Já vós vos arrependeis?
Inês, um bom oficial, Escudeiro Ó esposa, não faleis,
Que te ganhe nessa praça, Que casar é cativeiro.( Inês concebia a
Que é um escravo de graça, vida de solteiro como o marido acha a vida de casado)

E mais casas com teu igual?


Latão Senhora, perdei cuidado: Vem a Mãe com certas moças e mancebols
O que há de ser, há de ser; pera fafazerem festa e diz uma delas, per
E ninguém pode tolher nome Luzia:
O que está determinado. Luzia Inês, por teu bem te seja!
Vidal Assi diz Rabi Zarão. Oh! Que esposo e que alegria!
Mãe Inês, guar’-te de rascão! Inês Venhas embora, Luzia,
Escudeiro queres tu? E cedo, t’eu assi veja.
Inês Jesu, nome de Jesu! Mãe Ora vai tu ali, Inês,
Quão fora sois de feição! E bailareis três por três.
Já minha mãe adivinha… Fernando Tu connosco, Luzia, aqui,
Folgastes vós na verdade E a desposada ali,
Casar à vossa vontade? Ora vede qual direis.
Eu quero casar à minha.
Mãe Casa, filha, muit’embora. Cantam todos de terreiro:
Escudeiro Dai-me cá essa mão, senhora. “Mal ferida i va la garza
Inês Senhor, de mui boa mente. Enamorada,
Escudeiro Per palavras de presente Sola va y gritos daba.
Vos recebo desd’agora. A las orillas de um rio
Nome de Deus, assi seja! La garça tenia el nido;
Eu, Brás da Mata, escudeiro, Ballestero la há herido
Recebo a vós, Inês Pereira, En el alma;
Por esposa verdadeira Sola va y gritos dava.”
Como manda a Santa Igreja. E acabando de cantar e bailar diz Fernando:
Inês Eu, aqui diante Deus,
Inês Pereira, recebo a vós, Fernando Ora, senhores honrados,
Sem mais preço nem demanda, Ficai com vossa mercê,
Como a Santa Igreja manda, E nosso Senhor vos dê
A Brás da Mata. Com que vivais descandados.
Latão Aí somos nós! Luiza Ficai com Deus, desposados,
“Alça manim dona, ó dona, ha, Com prazer e com saúde,
E sempre ele vos ajude
Com que vivais descansados.
Esta festa foi agora,
Mas melhor será outrora.
(votos de boa vida)

Mãe Ficai com Deus, filha minha,


Não virei cá tao asinha;
A minha bênção hajais,
Esta casa em que ficais
Vos dou, e vou-me à casinha.
Senhor filho e senhor meu,
Pois que já Inês é vossa,
Vossa mulher e esposa,
Encomendo-vo-la eu
E, pois que dês que nasceu
A outrem não conheceu,
Senão a vós, por senhor,
Que lhe tenhais muito amor,
Que amado sejais no céu.
(votos da mãe) Inês casada com alguém
que sempre idealizou.

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