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Dissertação - Hélio de Cristo

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

HÉLIO SOUZA DE CRISTO

JUVENTUDE E MEIO AMBIENTE:


NARRATIVAS DE JOVENS AMBIENTALISTAS DO ESTADO
DA BAHIA

Feira de Santana-BA
2017
HÉLIO SOUZA DE CRISTO

JUVENTUDE E MEIO AMBIENTE:


NARRATIVAS DE JOVENS AMBIENTALISTAS DO ESTADO
DA BAHIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Educação da Universidade Estadual
de Feira de Santana, para a obtenção do grau de
Mestre em Educação, na área de concentração
Culturas, Formação e Práticas Pedagógicas.

Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Leandro Barzano

Feira de Santana-BA
2017
Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado

Cristo, Hélio Souza de


C951j Juventude e meio ambiente: narrativa de jovens ambientalistas do
estado da Bahia. /Hélio Souza de Cristo. Feira de Santana, 2017.
244f.

Orientador: Marco Antonio Leandro Barzano


Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Feira de Santana.
Programa de Pós-Graduação em Educação, 2017.

1.Juventude – Engajamento militante. 2.Meio ambiente. 3.Socialização


política. I.Barzano, Marco Antonio Leandro (orient.). II.Universidade
Estadual de Feira de Santana. III. Título.

CDU : 504
Dedico esta dissertação aos Davis, Elens,
Jéffersons, Laíses, Laises, Lorranas,
Melindas, Rafaéis, Uendersons e
Vanessas que se encontram espalhados
pelo mundo fazendo das suas trajetórias
de vida porta-vozes e pontes para a
construção de sociedades mais justas,
democráticas e esperançosas. À
juventude que milita, luta e resiste aos
golpes e retrocessos dos tempos
temerários e, sobretudo, acredita que um
outro mundo é possível.
AGRADECIMENTOS

Agradecer é reconhecer que a caminhada valeu a pena. Então, aqui registro

os meus mais sinceros e verdadeiros agradecimentos a todos que fizeram dessa

caminhada mais leve, significativa e prazerosa.

Porque os primeiros passos são os mais importantes, minha gratidão inicia

por Alessandra Ribeiro, que me apresentou o edital de seleção do mestrado,

incentivou e torceu a cada etapa da seleção. Sou, imensamente, grato!

Ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de

Feira de Santana, especialmente pela qualidade docente e empenho de seus

funcionários técnico-administrativos, que viabilizaram a travessia e a minha

construção profissional durante o Mestrado. É uma honra ser aluno dessa instituição!

Ao meu estimado orientador, Prof. Dr. Marco Antonio Leandro Barzano, pela

oportunidade de compartilhar saberes, conhecimentos e experiências durante esses

dois anos. Agradeço pelas falas e escutas respeitosas e comprometidas em cada

orientação, sobretudo por confiar em mim e em meu trabalho. Agradeço pela leveza,

sorriso e paz de espírito com que conduziu as orientações e a produção deste

trabalho. Características que, a meu ver, são fundamentais por permitirem que a

caminhada e a travessia acadêmicas aconteçam sem perder o rigor científico e o

pulsar da intensidade da vida.

À banca examinadora, composta pelo Prof. Dr. Paulo Cesar Rodrigues

Carrano, Prof. Dr. Nei Nunes Neto e Prof.ª Dr.ª Denise Helena Pereira Laranjeira,

agradeço pela disponibilidade e acolhimento para avaliar e contribuir com este

trabalho. Agradeço por cada fala e ponderações feitas à época da qualificação que,

em seu conjunto, deram conteúdo e forma aos objetivos da pesquisa.


Aos membros do Grupo de Pesquisa Rizoma, especialmente ao Prof. Dr.

Marco Antonio Leandro Barzano, pela seriedade e competência como coordena este

grupo e, sobretudo, dedica-se para que a formação humana, crítica, reflexiva,

libertadora e ética seja uma realidade no cenário educacional em suas interfaces

políticas, culturais, ideológicas, econômicas, ambientais e sociais. Enfim, agradeço a

cada membro do Rizoma pelas aprendizagens compartilhadas.

À Profª. Mirela Figueiredo Santos Iriart, Prof.ª Dr.ª Denise Helena Pereira

Laranjeira e aos colegas do componente curricular “Juventude e Educação”,

agradeço por possibilitarem maior aproximação com as leituras, reflexões e

vivências sobre a temática Juventude.

Agradeço, também, à Prof.ª Dr.ª Maria Helena da Rocha Besnosik e ao Prof.

Dr. Miguel Almir Lima de Araújo por cada aula e pelas contribuições para minha

formação enquanto professor e pesquisador. Com certeza, levarei muito dos seus

ensinamentos.

Aos colegas de turma, por todos os momentos e saberes compartilhados,

inclusive pelo compartilhamento de angústias e alegrias via grupo no Whatsaap.

Agradeço, em especial, a André Nunes Bispo, Clebson dos Santos Mota, Gilmara

dos Santos Belmon Bomfim, Gracielia Novaes da Penha, Janaina da Conceição

Santos Dias Almeida, Jussiana Silva dos Santos Rebouças, Nadjane Gonçalves de

Oliveira e Sara Soares Costa Mamona pelas nossas conversas, trocas de

conhecimentos, compartilhamento de textos e laços de amizades construídos.

Aos jovens ambientalistas que acolheram a pesquisa e abriram suas vidas ao

narrarem suas trajetórias e percursos nos movimentos ambientalistas. Agradeço

tanto pela disponibilidade de cada jovem que tão bem me acolheu quanto pela

aprendizagem pessoal e acadêmica adquirida ao longo da pesquisa.


A Maria Solange dos Santos e Joel dos Santos, agradeço pelo acolhimento

em Feira de Santana, as ajudas e formas carinhosas como me receberam e trataram

durante o período em que fui seu inquilino e, especialmente, pelo carinho maternal e

paternal dispensado a mim.

Ao amigo, companheiro e parceiro Teófanes Assis, agradeço por estar ao

meu lado desde os primeiros momentos dessa trajetória, pela companhia sempre

presente, pelos silêncios compreendidos e, sobretudo, pela escuta sempre atenciosa

e disponível. Com certeza, sem você, esse processo seria mais difícil.

A Valmer Argolo e sua família pelo incentivo e ajudas necessárias,

especialmente no processo de mudança para Feira de Santana e pelo cuidado

dispensado à minha irmã enquanto me encontrava distante.

Aos colegas, amigos e alunos do Colégio Municipal de Morro de São

Paulo/Zimbo pelo incentivo e vibrações positivas.

Ao prefeito Fernando Brito, à Secretária de Educação do município de Cairu-

BA – Isabela Brito – e à Secretária de Governo, Ariana Coutinho, que dividiram

comigo a alegria da aprovação no Mestrado e não tergiversaram quanto à minha

liberação de sala de aula para cursá-lo. Agradeço pelo compromisso e

responsabilidade com que tratam os processos de formação de professores.

Às amigas Júlia Rodrigues, Luana Figueiredo e Renata Magalhães, bem

como ao amigo Joselito Silva pelas palavras de estímulo, por acreditarem no meu

potencial, pelas ausências compreendidas e demonstrações de carinho.

Às amigas Elidiana de Jesus e Ilma Ângela Nunes pelo amor e

demonstrações de cuidado.

À minha irmã, Anne Gabrielle de Cristo, por sua presença em minha trajetória,

seu apoio, amor e paciência com as minhas ausências e tensões. Agradeço pela sua
atenção e escuta sensível, que possibilitaram o cumprimento de mais essa etapa da

minha vida.

À minha tia, Iêda Maria Barbosa de Cristo e aos primos, Mariana Cristo Silva

e Daniel Cristo Silva pelos deliciosos bolos que recebia quando chegava em

Valença, mas principalmente por estarem sempre presentes e comporem os

melhores e mais significativos momentos de minha vida.

À minha mãe, Celina Maria de Souza e à minha avó, Floripes Barbosa de

Cristo (ambas in memoriam), agradeço pelos ensinamentos, experiências e amor tão

acolhedores que continuam vivos e presentes dentro de mim, servindo de inspiração

para a minha trajetória.

A Deus, por proporcionar a honra e graça deste momento, pelo seu amor

incondicional e, sobretudo, pelo dom da vida.

Enfim, traduzo meus agradecimentos nos versos de Ana Vilela:

É saber se sentir infinito num universo tão vasto e bonito. É saber


sonhar e, então, fazer valer a pena cada verso daquele poema sobre
acreditar.
Não é sobre chegar no topo do mundo e saber que venceu. É sobre
escalar e sentir que o caminho te fortaleceu. É sobre ser abrigo e
também ter morada em outros corações. E assim ter amigos contigo
em todas as situações.
A gente não pode ter tudo, qual seria a graça do mundo se fosse
assim? Por isso, eu prefiro sorrisos e os presentes que a vida trouxe
pra perto de mim.
“A juventude? É uma maravilha. A
juventude é quase tudo. É a humanidade
e a esperança, recomeçando.”
(Guimarães Rosa)
RESUMO

O presente estudo busca compreender e refletir os processos de socialização que


figuram os percursos e trajetórias juvenis como disposições ao engajamento na
militância em grupos, coletivos, organizações e movimentos ambientalistas. Neste
sentido, pensa-se também na imbricação da escola enquanto espaço educativo
formal e de socialização das gerações no que tange às discussões sobre meio
ambiente. A pesquisa é de cunho qualitativo e se estrutura, em duas etapas, quais
sejam: a primeira, com a aplicação de questionário de perfil socioeconômico e,
posteriormente, a realização de entrevistas semiestruturadas, enquanto eixo-chaves
para a construção das narrativas orais dos jovens sujeitos da pesquisa. A relação
entre juventude e meio ambiente é estudada – nesta pesquisa - considerando as
categorias engajamento militante e socialização política como ferramentas que
contribuem para a formação e construção dos projetos e trajetórias de vida dos
jovens ambientalistas enquanto sujeitos sociais e políticos, partindo da natureza
histórica e plural subjacente ao conceito de juventude. Dada à peculiaridade das
categorias abordadas, a pesquisa é realizada com jovens do estado da Bahia que
participam, ativamente, de movimentos, grupos e projetos ambientalistas situados
em diferentes municípios baianos. Por isso, a pesquisa é tecida em uma perspectiva
sócio-histórica, em que o meio ambiente é entendido como campo de lutas e
conflitos perpassado por questões sociais, políticas, culturais, éticas e econômicas.
O caminho de chegada até os processos de socialização que levam ou motivam os
jovens a se engajarem na militância ambientalista é marcado, neste trabalho, pela
discussão de questões que interceptam o encontro entre a temática juventude e
meio ambiente como identidade e projeto de vida, ética e educação ambiental,
condição juvenil e influência das agências socializadoras na formação dos sujeitos
ecológicos. Para tal, a pesquisa se debruça nas ideias e pressupostos teóricos que
se constituem como campo amplo e significativo à construção de diálogos entre
teorias sociológicas e pedagógicas, que permitem perceber quais processos de
socialização tecem e constroem as disposições juvenis no campo do engajamento
militante ambientalista. Por meio das narrativas, percebeu-se que as relações
escolares, familiares, com grupos de sociabilidades, participação em sindicatos,
associações e pastorais da juventude influenciam no engajamento militante juvenil
ambientalista, bem como há necessidade de refletir e desenvolver ações que
evoquem a participação política institucionalizada da juventude ambientalista.

Palavras-chave: Juventude. Meio Ambiente. Engajamento Militante. Socialização


Política.
ABSTRACT

This paper aims to understand and reflect on processes of socialization that


represent the paths and juvenile trajectories as dispositions to engage in militancy in
groups, collectives, organizations and environmental movements. Therefore, the
imbrication of the school is considered as a space of formal education and
socialization of the generations regarding the discussions about the environment.
The research is qualitative and structured in two stages: first, with the application of a
socioeconomic profile questionnaire; later, semi-structured interviews, as key points
for the construction of oral narratives of young people research subjects. The
relationship between youth and the environment is studied - in this research -
considering the categories militant engagement and political socialization for tools
that contribute to the formation and construction of projects and life trajectories of
young environmentalists like social and political subjects, starting from the historical
and plural concept underlying the concept of youth. Because of the peculiarity of the
categories discussed, the research is conducted with young people from the state of
Bahia who actively participate in movements, groups and environmental projects
located in different municipalities of Bahia. Thus, research is made from a socio-
historical perspective, in which the environment is understood while a field of
struggles and conflicts permeated by social, political, cultural, ethical and economic
issues. The path of arrival to the processes of socialization that lead or motivate
young people to engage in environmental activism is marked in this paper by the
discussion of issues that intersect the encounter between youth and the environment
as identity and life project, ethics and environmental education, youth condition and
influence of socializing agencies in the training of ecological subjects. For this, the
research focuses on the theoretical ideas and assumptions that constitute a broad
and significant field for the construction of dialogues between sociological and
pedagogical theories, which allow us to perceive which socialization processes
compose and construct the juvenile dispositions in the field of militant
environmentalist engagement. Through the narratives, it has been observed that
school, family, social groups, participation in unions, youth associations and youth
ministries influence the youth environmental activism engagement, as well as it has
been shown that reflecting and developing actions that evokes the institutionalized
political participation of youth environmentalist are needed.

Keywords: Youth. Environment. Activist Engagement. Political Socialization.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação


BA Bahia
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEJCS Colégio Estadual João Cardoso dos Santos
CO2 Dióxido de Carbono
COM-VIDA Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola
COP Conferência das Partes
EA Educação Ambiental
FTC Faculdade de Tecnologia e Ciências
GAAJE Grupo Aventura Ambiental de Jeremoabo
GAASB Grupo Aventura Ambiental de Santa Brígida
GAMBÁ Grupo Ambientalista da Bahia
GT Grupo de Trabalho
IFBaiano Instituto Federal Baiano
JPV Juventude do Partido Verde
LGBTTT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros
MEC Ministério da Educação
MG Minas Gerais
NTICs Novas Tecnologias da Informação e Comunicação
ONG Organização Não-Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PEC Proposta de Emenda Constitucional
PJ Pastoral da Juventude
PNEA Política Nacional de Educação Ambiental
PT Partido dos Trabalhadores
PV Partido Verde
REJUMA Rede da Juventude pelo Meio Ambiente
RJ Rio de Janeiro
SCIELO Scientific Electronic Library Online
SE Sergipe
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SINAJUVE Sistema Nacional de Juventude
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCAM Universidade Cândido Mendes
UEFS Universidade Estadual de Feira de Santana
UFAM Universidade Federal do Amazonas
UFBA Faculdade Federal da Bahia
UFC Universidade Federal do Ceará
UFF Universidade Federal Fluminense
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFPA Universidade Federal do Pará
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFRB Universidade Federal do Recôncavo Baiano
UFS Universidade Federal de Sergipe
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UnB Universidade de Brasília
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 17

1. PERCURSOS E ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA 30


1.1. TRAJETÓRIA DA PESQUISA 30
1.2. POR QUE NARRATIVAS? 35
1.3. OS SUJEITOS DA PESQUISA 38

2. JUVENTUDE: ANTIGAS QUESTÕES, NOVAS ABORDAGENS 59


2.1. DE QUEM SE FALA QUANDO SE USA O TERMO JUVENTUDE? 59
2.2. JUVENTUDE: UMA CATEGORIA DE SUJEITOS PLURAIS 65
2.3. PROJETOS DE VIDA: CATEGORIA-CHAVE DA CONDIÇÃO JUVENIL 76
2.4. MEIO AMBIENTE: NOSSO VELHO (DES)CONHECIDO 86
2.5. ÉTICA AMBIENTAL 101
2.5. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA ALTERNATIVA (?) 120

3. O QUE SE PODE ESPERAR DOS JOVENS AMBIENTALISTAS? 134


3.1. ENGAJAMENTO JUVENIL: A PRÁXIS DO SER JOVEM-AMBIENTALISTA 134
3.2. SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA JUVENIL: UMA CATEGORIA EM DISPUTA 154

4. DA SOCIALIZAÇÃO AO ENGAJAMENTO MILITANTE: QUE BASES


SUSTENTAM OS PERCURSOS DA JUVENTUDE AMBIENTALISTA? 180

CONSIDERAÇÕES FINAIS 218

REFERÊNCIAS 227

APÊNDICES 237
17

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

Como podemos pensar em Meio Ambiente sem considerar os jovens 1? É


possível refletir sobre Sustentabilidade sem pensar neles? De que maneira os
programas e políticas de educação podem contribuir para estreitar as discussões
entre Meio Ambiente e Juventude? Como discutir a forma que a geração atual tem
suprido suas necessidades e o seu compromisso com a sobrevivência das gerações
futuras? Que efeitos sociopolíticos uma juventude ambientalista engajada produz?
Responder a essas questões não é tarefa fácil! Até mesmo porque as
produções de pesquisas que perpassam o campo da juventude e meio ambiente não
possuem um número significativo, especialmente no que tange ao que os jovens
pensam e sabem sobre meio ambiente e o seu papel na construção de sociedades
sustentáveis. Por isso, educação aqui é entendida como um processo amplo e
dinâmico que se dá para além dos processos formais da escola.
Importante destacar que a aproximação com a temática juventude e meio
ambiente está muito relacionada com o meu percurso profissional, especialmente ao
período em que ministrei aulas em um curso Técnico em Meio Ambiente entre 2012
e 2013 no Colégio Estadual João Cardoso dos Santos - CEJCS, situado no
município de Valença-BA. Essa experiência suscitou questionamentos sobre as
motivações que impulsionam e influenciam a juventude a se engajar em questões
ambientais, assim como ingressar e militar em movimentos ambientalistas.
Nesse sentido, embora as primeiras inquietações tenham surgido das
experiências docentes em espaços formais de educação, o desejo de estudo foi se
encaminhando por compreender as disposições juvenis para o engajamento na
militância ambiental em que os jovens estão imersos, também, em outros espaços
educativos como grupos, coletivos, movimentos e organizações ambientalistas.
Daí que a aproximação e aprofundamento com o tema foram se solidificando
na tentativa de compreender as seguintes questões: o que desperta ou atrai o
interesse dos jovens em participarem de organizações, grupos ou coletivos
ambientalistas? De quais ações ambientalistas participam ou estão envolvidos?
Como se dá o ritual de ingresso nessa participação e envolvimento? Como a

1
Para efeitos desse trabalho, consideram-se “jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29
(vinte e nove) anos de idade”, conforme o artigo 1º da Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, que
institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das
políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE (BRASIL, 2013).
18

INTRODUÇÃO

militância e o engajamento ambientalistas estão relacionados às suas trajetórias e


seus projetos de vida? A participação em movimentos ambientalistas auxilia na
construção tanto das suas identidades quanto de uma sociedade mais justa,
igualitária e comprometida com as gerações futuras? Qual relação os jovens
estabelecem entre suas experiências e aprendizagens na militância ambientalista e
outros espaços educativos?
Diante dessas questões – digamos paralelas – o presente trabalho debruça-
se no seguinte problema de pesquisa, que se constitui a sua questão-chave: “Quais
processos de socialização levam os jovens a se engajarem em movimentos,
coletivos, organizações e grupos ambientalistas?”.
A problemática acima busca compreender quais eventos, experiências,
ensinamentos, processos de socialização e sociabilidades estão presentes nas
trajetórias de vida da juventude ambientalista que motivaram a sua aproximação
junto aos movimentos ambientalistas. E desse modo, através de suas narrativas,
aparecem também os aspectos referentes ao tempo em que tais experiências
aconteceram e os significados delas para a disposição ao engajamento na militância
ambiental, como a relação entre a educação familiar, a formação escolar, a
lembrança de paisagens, pessoas, livros e aulas às suas experiências e construção
de percurso no engajamento militante ambientalista.
Ao conceber relações, representações e considerações que os jovens
constroem de si e do meio ambiente, enquanto espaço de vivências e produções,
parte-se da premissa de que o possível envolvimento de muitos jovens com
diferentes espaços de socialização representa especificidades que podem estar ou
não relacionadas às suas pré-disposições ao engajamento militante ambientalista. E,
nesse sentido, é que a problemática dessa pesquisa busca descobrir quais
processos de socialização influenciam na construção do percurso de jovens no
engajamento militante ambientalista, haja vista que ninguém nasce engajado e
militante e, portanto, acredita-se na existência de processos de socialização que são
portas de entrada dos jovens para o engajamento militante no universo
ambientalista.
Pressupõe-se que a militância – nas suas mais diversas modalidades de
engajamento – é fruto de processos de aprendizagens, transmissão de valores,
condutas, posturas, redes de contatos e vivências. Portanto, de processos de
19

INTRODUÇÃO

socialização política que, na maioria das vezes, estão relacionados aos núcleos
escolar e familiar, por serem estas as primeiras e, geralmente, mais fortes
instituições de contatos e criação de vínculos da juventude.
Assim, partindo do princípio que no limiar do século XXI a concepção de que
escola e família já não são as únicas agências socializadoras das gerações mais
novas, o presente trabalho surge no pensamento de que nesses processos de
socialização que ocorrem dentro e fora dos espaços escolares e familiares, bem
como em um cenário da sociedade atual em que o próprio desenvolvimento
científico-tecnológico tem apontado e denunciado, cada vez mais, a necessidade e
importância de pensar em ações sustentáveis que garantam a sobrevivência das
gerações futuras, parece-me que a juventude atual se encontra engajada com as
questões e causas ambientalistas.
E é nessa percepção que se torna emergente a necessidade de mergulhar
nas narrativas desses jovens, a fim de compreender que campos e aspectos de
socialização estão por trás ou subsidiam a efervescência de uma juventude que se
engaja e desenvolve processos de militância ambiental na contemporaneidade, sem
perder de vista as relações de lutas das gerações passadas, que se configuram
como solo para as gerações presentes e horizonte para as gerações futuras2.
Novaes (2006) sinalizou que, mesmo em face aos trabalhos desenvolvidos
pelas escolas nas interlocuções entre a Política Nacional de Educação Ambiental e o
Ministério da Educação e do Ministério do Meio Ambiente, estes ainda eram
incipientes ao desenvolvimento de consciências ecológicas e atitudes ambientalistas
que avançassem inclusive nas discussões sobre esta temática. Após uma década,
não se nega o fato de que há uma diversidade de jovens participando e atuando em
movimentos e organizações, alguns deles estudantes de cursos técnicos em Meio
Ambiente, que têm construído experiências, conhecimentos e narrativas no campo
juventude e meio ambiente.
Pensar sobre esse “ser jovem em um tempo em que se dissemina o ideário
ecológico” (NOVAES, 2006, p. 07) e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento

2
Importante destacar que a histórias de lutas, engajamento e militância da juventude pelas questões
ambientais se constitui um marco histórico e social de gerações anteriores, nas quais alguns
ambientalistas brasileiros se destacaram, a exemplo de Chico Mendes, cuja influência do trabalho nos
seringais com seu pai se constituiu como processo de socialização política às suas disposições ao
engajamento e militância ambientalista (MILANEZ, 2013).
20

INTRODUÇÃO

tecnológico atrai a juventude e corrobora para a produção de uma série de “lixo


tecnológico” (cada vez mais descartável), se constitui um dos marcos principal da
geração contemporânea pós-surgimento da ecologia3, enquanto potencialidade de
refletir sobre o lugar que os jovens ambientalistas ocupam, de onde eles falam, o
que os mobilizam e motivam a se envolverem em questões ambientalistas, quais
imagens constroem de si e do seu contexto, identificando-se como atores e
transformadores de si e da sociedade; transitando e rompendo, de acordo com
Freitas (2013) com a ideia de “jovem problema” para “sujeitos de direitos”.
De acordo com Novaes (2015), os jovens da contemporaneidade têm vivido
momentos históricos e sociais em que as tensões e conflitos entre o local e o global
apresentam diferentes formas entre o viver o presente e construir o futuro,
caracterizado por antigos e emergentes desafios que perpassam as discussões
ambientalistas.
É nesse espaço entre o passado, o presente e o futuro que os diferentes
processos de socialização vão construindo determinados modos de ser jovem-
ambientalista. Nesta perspectiva, este trabalho parte da premissa que a juventude
contemporânea vive um momento de conhecimento sobre as degradações
ambientais, que apontam o quão intensa tem sido as dificuldades para a vida em
sociedade e a necessidade de enfrentar as ameaças decorrentes da ação
transformadora do ser humano. São nas narrativas dos jovens – sujeitos da
pesquisa – que os acontecimentos e catástrofes ambientais adquirem uma dimensão
muito mais ampla do que pode ser observado nos noticiários midiáticos, por
exemplo4. Nelas, é possível perceber o quanto o engajamento militante ambientalista
está associado a questões de cunho social, política, econômica, cultural, ideológica,
religiosa e ética.
Isso mostra a relevância de colocar as questões ambientais como elementos
centrais nas agendas políticas educacionais, dos movimentos sociais,
governamentais e sindicalistas. Novaes (2006) alerta que é preciso dar visibilidade

3
O termo “pós”, neste trabalho, não faz referência à ideia de oposição ao que seja atrasado ou
passado. Ele apenas sinaliza que estamos falando de uma geração surgida “depois” da difusão das
ideias ambientalistas que, de acordo com o Programa Juventude e Meio Ambiente (2006), faz
menção aos jovens nascidos a partir do final dos anos 70.
4
A exemplo do vazamento de óleo da Chevron na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro (RJ), em
16 de novembro de 2011; e, mais recentemente, o rompimento da barragem da Samarco em
Mariana (MG), em 05 de novembro de 2015.
21

INTRODUÇÃO

às questões ambientais, porque elas sempre foram vistas como questões de menor
importância e relegadas, especialmente pelos ideais “desenvolvimentistas”, como
concepções românticas que poderiam gerar redução nos investimentos e lucros,
apresentando-se como um empecilho à superação do atraso econômico.
É somente a partir da geração de 1968, com os chamados militantes
ecológicos, que a legitimação e a preocupação com as questões ambientais tornam-
se mais consistentes e busca-se romper com a ideia de que elas não dizem respeito
a problemas sociais de cunho estrutural.
Dessa forma, através das discussões trazidas por Novaes (2012) sobre “as
juventudes e a luta por direitos”, percebe-se que mesmo diante de um ideário
ecológico já construído pelas antigas gerações a partir de movimentos de
sensibilização realizados por organizações não-governamentais (ONGs) e coletivos
de direitos humanos, a juventude contemporânea encontra-se perante e dentro de
questões ainda não solucionadas e que, por vezes, não têm sido alvo de luta nos
debates das agendas políticas e educacionais como reflexo da preocupação com o
desenvolvimento sustentável, como a produção de lixo, a contaminação do ar e da
água, a escassez da água, as queimadas e destruição das florestas.
Essas questões nos parecem antigas. Em contrapartida, existe aí a
necessidade de investigar como tem ocorrido a práxis ecológica da abordagem
dessas discussões no âmbito das reflexões e ações, ou seja, é preciso problematizar
a realidade ambiental considerando os sujeitos ecológicos da contemporaneidade,
conforme propõe Carvalho (2001). Se os problemas ambientais são antigos, o que
tem movimentado as agendas dos jovens ambientalistas? Serão eles, simplesmente,
os ditos romancistas dessa época? Quais são suas reais preocupações ao se
debruçarem e dedicarem suas vidas às questões ambientais? Quais as bandeiras
levantadas pela juventude contemporânea que luta por uma sociedade sustentável?
Quais são os temas ambientais que a juventude tem atuado com mais frequência?
Que processos de socialização atuam como fortes propulsores do imbricamento da
juventude atual com as questões ambientais?
Logicamente, este trabalho não esgotará a discussão sobre todas essas
questões, visto que sua questão central diz respeito aos processos de socialização
que exercem influência na disposição juvenil ao engajamento na militância
ambiental. No entanto, por um lado, são questões paralelas que estão nas
22

INTRODUÇÃO

entrelinhas da problemática da pesquisa. E, por outro lado, são âncoras analítico-


discursivas que chamam a atenção para o fato de que não se deve negar a validade
e importância das gerações mais velhas, inclusive enquanto instâncias
socializadoras das novas gerações, carregadas de sentidos, significados e modos de
ser e estar no mundo.
Por isso, é preciso pontuar que a responsabilidade, o compromisso e a
consciência acerca das questões ambientais não são atribuições restritas à geração
juvenil contemporânea. O Estatuto da Juventude, por meio da Lei nº 12.852/13,
assinala no artigo 34 que “o jovem tem direito à sustentabilidade e ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida, e o dever de defendê-lo e preservá-lo para a presente e as
futuras gerações”.
O referido artigo reforça o caráter educativo e pedagógico dos processos de
socialização intergeracional, bem como reconhece, como condição sine qua non do
diálogo entre as gerações, o direito e o dever da juventude à participação ativa nos
aspectos relacionados à efetividade da cidadania, da sustentabilidade, do
desenvolvimento equilibrado e sadio do meio ambiente. Sobretudo, a
conscientização de que “[...] desenvolvimento sustentável significa suprir as
necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem
as próprias necessidades” (BENEVIDES, 2010, p. 01).
Neste aspecto, há que se considerar a posição privilegiada da escola
enquanto instituição socializadora e, ao mesmo tempo, questionar sua função
formadora das novas gerações no que diz respeito ao desenvolvimento da
criticidade e consciência nas interlocuções entre Juventude e Meio Ambiente.
Enquanto instituição socializadora de conhecimentos e formadora de opiniões e
saberes, a escola exerce um papel nesse diálogo, já que o meio ambiente se
constitui, na transversalidade, como elemento que perpassa os componentes
curriculares, especialmente nos cursos técnicos de Meio Ambiente, onde a educação
ambiental está no centro das propostas curriculares.
No período em que atuei como professor no curso Técnico em Meio
Ambiente, pude perceber como os jovens experimentavam as possibilidades de
propor ações que visavam melhorias e transformações do meio social numa
23

INTRODUÇÃO

perspectiva político-sustentável, buscando problematizar, refletir e dialogar com os


mais diversos problemas do seu contexto.
Nesse universo com jovens do Ensino Médio, o contato fez perceber que as
questões ambientais que os motivam, não são necessariamente comuns a todos,
como uma preocupação relacionada ao futuro, o que acaba se tornando o caminho
escolhido por esses jovens para construção de seus sentidos juvenis. Isso inquieta-
me à seguinte indagação: que acontecimentos, circunstâncias, fenômenos, aspectos
ou experiências estão presentes nos percursos e repertórios de vidas desses jovens
que os encaminharam ou despertaram suas disposições para o engajamento na
militância ambientalista? Enfim, o que move os jovens a se tornarem militantes
ambientalistas? Teriam em suas bases de disposições ao engajamento razões
pessoais, familiares, escolares, acadêmicas, de grupos de amigos?
Compreender os arquétipos de socialização que se articulam para construir os
percursos de engajamento na militância ambientalista significa considerar que os
desafios postos à relação entre juventude e meio ambiente são constantes e
complexos, especialmente no que tange à construção do diálogo entre as gerações,
objetivando mudanças socioambientais de cunho intergeracional e intrageracional.
Por isso, a articulação entre educação e meio ambiente se apresenta como um forte
canal promissor à construção de seres críticos, reflexivos e protagonistas da efetiva
sustentabilidade social.
Se por um lado, é preciso superar a visão romântica e superficial de meio
ambiente que, por vezes, retira ou anula as questões sociais, culturais, econômicas,
políticas, éticas e ideológicas que perpassam o campo das políticas públicas para
juventude e o meio ambiente; cuja visão também contribui para que o engajamento
militante ambiental juvenil não seja, na maioria das vezes, levado a sério e assuma o
lugar da invisibilidade, conforme pode ser visto nas declarações dos jovens durante
os capítulos desse trabalho. Por outro lado, a juventude contemporânea deve ser
instigada a pensar no meio ambiente colocando o homem como ser atuante,
transformador e consciente desse espaço.
Por isso, o presente trabalho parte da premissa que é função da educação,
seja ela formal ou não-formal através das agências ou instituições socializadoras,
possibilitar a formação de uma juventude que não apenas se preocupa, mas que é
ativa. Não basta educar os indivíduos teoricamente, faz-se necessário educar na e
24

INTRODUÇÃO

para a reflexão e ação correlacionadas às suas vivências cotidianas. A ação pela


ação (sem consciência), assim como a reflexão sem a ação não constituem,
significativamente, o desenvolvimento dos indivíduos e da sua capacidade de
dialogar, conhecer e perceber o mundo.
Quanto a este aspecto, Freire (2011, p. 44) ressalta que “[...] esgotada a
palavra de sua dimensão de ação, sacrificada, automaticamente, a reflexão também,
se transforma em palavreria, verbalismo, blábláblá [...] não há denúncia verdadeira
sem compromisso de transformação, nem este sem ação”.
Quando se questiona “quais processos de socialização levam os jovens a se
engajarem em movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas?”, à luz
das reflexões e desenvolvimento do trabalho metodológico, mais do que responder a
um problema de pesquisa, tem no campo das intencionalidades e ações chamar a
atenção para os possíveis hiatos e aproximações existentes entre o poder exercido
pelos processos de socialização que incidiram com maior intensidade nos percursos
de vida juvenis e as disposições dos jovens para o engajamento militante
ambientalista. Ou seja, busca-se também desvelar a maneira como a temática
ambiental tem sido ofertada e construída pela juventude contemporânea por meio da
influência de agências socializadoras, principalmente entre aqueles que estão
envolvidos em movimentos ou organizações ambientalistas.
Isso se constitui como um desafio, pois as discussões que permeiam neste
trabalho, em torno das relações entre juventude e meio ambiente, buscam refletir
para além da ideia de “engajamento juvenil”. A compreensão das interfaces
ambientais possibilita uma percepção maior acerca da sociedade, servindo como
“uma espécie de lente para as juventudes, na medida em que amplia concepções,
expande ideias e visões de mundo, questiona e propõe novos valores, procurando
perceber e integrar diferentes assuntos, questões e problemas ambientais”
(NOVAES, 2006, p. 13).
Dessa maneira, considerando as lacunas na literatura acadêmica da
discussão entre juventude e meio ambiente – que passa a ter maior visibilidade a
partir da Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013 5 – o presente estudo nasce, justifica-
se e vai se tecendo ao longo da sua investigação com o sentido de compreender
5
Lei que institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e
diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE
(BRASIL, 2013).
25

INTRODUÇÃO

como os jovens imersos em questões ambientalistas e dotados de processos de


socialização atuam, intervêm e constroem seus percursos de militantes engajados
em movimentos, grupos, coletivos e organizações ambientalistas.
Assim, há uma perspectiva de entender como o envolvimento com questões
ambientalistas – através de processos de socialização política – constituem um
espaço de construção de discursos e articulação de práticas que corroboram tanto
para transformação dos jovens, ao pensarem sobre a posição que ocupam na
sociedade, como causam modificações na maneira com que se aproximam e
passam a visualizar o universo ambiental pela ótica de sujeitos sociais e não apenas
pela lente de estudantes ou telespectadores sociais.
A perspectiva de juventude assumida neste trabalho tem um caráter cultural e
parte da consideração de que os jovens são seres políticos, históricos e sociais
capazes de intervir e propor alternativas às questões ambientais que têm sido alvo
de inquietações e preocupações nas agendas mundiais. Assim, a interação da
juventude com os processos ambientais possibilita a construção de suas trajetórias
de vida, ao mesmo tempo reflete que “ser jovem não é tanto um destino, mas
escolha de transformar e dirigir a existência” (CARRANO, 2013, p. 99).
Por isso, ao refletir sobre os processos de socialização que se articulam como
fundamento às disposições juvenis ao engajamento na militância ambientalista,
demarca-se que o jovem-ambientalista não nasceu com esse destino. Pelo contrário,
a sua atuação engajada e militante é fruto de processos de construção, escolhas,
aprendizagens e posturas, que tiveram maior incidência em sua tomada de decisões
do que nos percursos de vida de outros jovens que militam em outras modalidades
de engajamento. Dessa maneira, torna-se importante pensar sobre esses processos
de socialização que tecem os percursos de vida juvenis e fazem da juventude uma
categoria plural (juventudes), por estar situada em contextos sociais, políticos e
culturais diferenciados que, por sua vez, constituem campos que oferecem bases
para os jovens tenderem para esta ou aquela modalidade de engajamento, ou ainda
para nenhum tipo de engajamento específico.
Abad (2006), ao discutir sobre a crise de gerações e os efeitos dos processos
de socialização juvenil, coloca que a participação dos jovens na vida pública não
depende apenas de suas vontades e das oportunidades que lhe são oferecidas, mas
do lugar que eles ocupam na estrutura social e das relações que mantém com as
26

INTRODUÇÃO

gerações mais velhas. Por isso, ao apontar as relações existentes entre os


processos de socialização política às disposições juvenis para o engajamento
militante ambientalista, este trabalho parte da ponderação de que

a forma como as sociedades incorporam as novas gerações tem a


ver, também, com as relações de poder entre gerações adultas e
jovens: a participação juvenil não resulta somente de um encontro
feliz entre a vontade de participar dos jovens (o que nos remete às
suas percepções individuais sobre custos e benefícios) e as
oportunidades que lhes são abertas para fazê-lo, mas também de um
complexo sistema de hábitos, regras, regulamentos, instituições e
práticas destinadas a negociar os conflitos da reprodução das
gerações. Isso nos remete a um aspecto fundamental da participação
da juventude: a sua relação com a mudança social. A cultura muda
quando muda o sujeito que é construído nela. Portanto, é relevante
analisar a dimensão subjetiva da participação do jovem relacionando-
a à questão das gerações (ABAD, 2006, p. 28).

Destarte, a abordagem das relações entre juventude e meio ambiente,


considerando o sentido mais amplo dos processos de educação (visto que ocorrem
dentro e fora dos espaços escolares), aponta a juventude como atriz-chave na
contribuição tanto de ações promotoras de desenvolvimento sustentável, quanto no
diálogo com as velhas e novas gerações, onde não somente atuam como sujeitos de
suas próprias vidas como também criam processos de socialização dos novos
modos de ser e estar num mundo que vem enfrentando grandes e sérios problemas
ambientais.
A responsabilidade com que os jovens contemporâneos, especialmente
aqueles imbricados em coletivos ambientalistas, se deparam de conviver com
antigos problemas e ter, ao mesmo tempo, que realizar novas abordagens e
alternativas de sobrevivência ecológica pressupõe a transposição do ideário
romancista de meio ambiente e da ideia de juventude como lugar de moratória 6.
Neste ideário, por vezes, restringe-se o meio ambiente como o espaço natural do
qual o homem deve retirar os meios para sua sobrevivência e marginaliza a
existência de militantes juvenis contemporâneos que, de fato, são conscientes,
refletem e lutam por problemas locais globais. Jovens que, inclusive, desconfiam da
própria política institucionalizada e buscam diversificar suas formas de atuação e
participação nas esferas da vida pública.

6
Nas palavras de Abad (2006, p. 28), a ideia de moratória juvenil é um “presente de grego”, visto que
“a moratória juvenil é um tempo vazio, não legitimado nem valorizado socialmente, de impotência,
raiva e estigmatização, que muitas vezes os empurra para a marginalidade”.
27

INTRODUÇÃO

Tanto as narrativas dos jovens ambientalistas – sujeitos dessa pesquisa –


quanto os autores com os quais mantenho diálogo (especialmente nas discussões
sobre meio ambiente, ética e educação ambiental)7 apontam que o grande equívoco
desse ideário é não situar o ser humano como ser pertencente e transformador
desse espaço, é não conceber o meio ambiente como espaço amplo onde
congregam movimentos de lutas, resistências, sentidos e significados que
perpassam os atos de cuidar, preservar e utilizar conscientemente os recursos
naturais, sem perder de vista que o homem é ser ativo, construtor e transformador.
Consequentemente, ao não situar o ser humano nessa lógica, quaisquer ações,
formas de engajamento, participação e militância juvenil é vista como desnecessária,
ilusória e blá-blá-blá de uma juventude que “não tem o que fazer”.
Diante disso, a tessitura desse trabalho visa compreender as experiências
juvenis com a temática meio ambiente, levando em consideração suas condutas,
escolhas e sentidos atribuídos às suas trajetórias de vida, a partir das suas
disposições ao engajamento militante em questões ambientalistas.
Daí surgem alguns questionamentos causadores de reflexão: Qual o lugar das
questões ambientais nas histórias de vida dos jovens? A participação em
movimentos ou organizações ambientalistas produzem diferenças em seus projetos
de vida? Qual a importância dos espaços não-formais de educação que discutem
questões ambientais? Que razões despertam ou atraem os jovens?
A intenção é abordar as possíveis respostas a essas questões no decorrer
da investigação, a partir das leituras e trabalho empírico, tendo como foco principal
compreender as relações que os jovens estabelecem entre seus processos de
socialização e o engajamento militante ambientalista, enquanto artefatos capazes de
produzir sujeitos sociais e ecológicos; sobretudo, considerando a investigação
acerca dos processos de socialização que levam os jovens a se engajarem em
movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas, cuja problemática a
pesquisa ganha forma e conteúdo.
Assim, tendo em vista as finalidades que norteiam este trabalho, o mesmo
está estruturado da seguinte forma: inicia-se por uma Introdução, em que apresento
a aproximação com o objeto de pesquisa; a justificativa; problemática, relevância e

7
Dentre os quais, pode-se citar Carvalho (2001), Leff (2006, 2009), Tristão (2013), Siqueira (2002),
Grün (1996, 2007), Nalini (2010) e Aristóteles (2007).
28

INTRODUÇÃO

os objetivos propostos. Em seguida, no primeiro capítulo intitulado “Percursos e


aspectos teórico-metodológicos da pesquisa”, apresento as questões teóricas e
metodológicas da pesquisa, onde é dado destaque à trajetória da pesquisa no que
tange aos referenciais teóricos utilizados ao longo do trabalho, à justificativa do uso
de narrativas enquanto procedimento metodológico e aos critérios para a seleção
dos jovens entrevistados. Além disso, suscintamente, apresento a biografia dos
sujeitos da pesquisa, cuja caracterização se baseia nos questionários de perfil
socioeconômico e nas suas narrativas orais, através dos quais relataram sobre suas
origens; aproximações com a temática meio ambiente e os movimentos, coletivos,
organizações ou grupos ambientalistas; e as suas visões sobre a situação ambiental
no Brasil e no mundo.
No segundo capítulo, “Juventude: antigas questões, novas abordagens”,
busca-se discutir a natureza plural e histórico-social do termo juventude, levando em
consideração as questões que perpassam a condição juvenil na atualidade,
entendendo os jovens enquanto sujeitos sociais e políticos que possuem trajetórias e
projetos de vida. Além disso, são tecidas discussões sobre o conceito de meio
ambiente em suas interfaces com as discussões de ética e educação ambiental
enquanto tópicos recorrentes nos relatos dos jovens entrevistados, considerando o
papel dos diferentes espaços educativos e pedagógicos (formais e não-formais) que
podem contribuir no processo de socialização e formação da consciência crítica,
problematizadora e ecológica juvenil, concebendo o meio ambiente como problema
social por ser um campo de lutas, conflitos, disputas e movimentos perpassados por
questões políticas, culturais, sociais e econômicas.
No terceiro capítulo, “O que se pode esperar dos jovens ambientalistas?”, são
abordadas, a partir das narrativas dos jovens, discussões sobre o caráter conceitual
e prático de engajamento militante e socialização política, enquanto categorias-
chave que foram selecionadas para a compreensão de como os processos de
socialização política podem subsidiar as disposições dos percursos juvenis ao
engajamento e militância em grupos, coletivos, movimentos e organizações
ambientalistas.
No quarto capítulo, denominado: “Da socialização ao engajamento militante:
que bases sustentam os percursos da juventude ambientalista?”, apresento e
discuto os processos de socialização que motivam e levam os jovens a se
29

INTRODUÇÃO

engajarem em movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas,


segundo a problemática que orienta esta pesquisa. Para melhor compreensão e
conforme os relatos dos jovens entrevistados, optamos por caracterizar e dividir os
processos de socialização de acordo com os pontos em comum que aparecem nas
narrativas. Desse modo, dividiu-se em: jovens oriundos de famílias com alguma
preocupação com o meio ambiente; jovem oriundo de família sem interesses com as
problemáticas ambientais; jovens de famílias engajadas e jovens com experiências
escolares/acadêmicas que socializaram ou não para as problemáticas ambientais.
Por fim, são apresentadas as considerações finais, que buscam reforçar as
questões principais da pesquisa e que, embora simbolizem a conclusão desse ciclo,
não se constituem o término desse diálogo e das narrativas que compõem um
recorte dos percursos, trajetórias e repertórios de jovens que, cotidianamente,
enfrentam, dinamizam e movimentam os debates ambientais e legitimam seus
lugares enquanto sujeitos sociais e políticos.
30

CAPÍTULO 1

1. PERCURSOS E ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA

1.1. TRAJETÓRIA DA PESQUISA

Situar o contexto da pesquisa e o lugar de onde se fala se constituem como


processos importantes para compreender que a dissertação “Juventude e Meio
Ambiente: narrativas de jovens ambientalistas do estado da Bahia”, apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Educação – Mestrado Acadêmico, da Universidade
Estadual de Feira de Santana – UEFS – tem como objetivo analisar narrativas de
jovens baianos engajados em movimentos ambientalistas, buscando nessas
narrativas os processos de socialização que motivam e impulsionam as disposições
juvenis para o engajamento na militância ambiental.
A Lei nº 12.852/2013 instituiu o Estatuto da Juventude como um instrumento
que busca dar visibilidade às demandas da juventude brasileira, situando-a como
instância portadora de direitos, conflitos, identidades, autonomia e formada por uma
diversidade que se dá tanto individual quanto coletivamente.
Ao apontar o Estatuto da Juventude como um documento legal que visa
agregar as discussões sobre juventude em seus variados matizes, não se quer
afirmar com isso que a ideia de juventude tenha nascido ou se configurado a partir
dele, até mesmo porque o conceito de juventude, conforme apontam Pais (2006) e
Novaes (2006) não se restringe a uma especificação cronológica de idade, que
começa aos 15 e termina aos 29 anos, como no caso do Brasil.
Para Novaes (2006) e Pais (2006) este conceito envolve, também, relações
geracionais e de classe, que apontam para novos significados sobre os estudos de
juventude, percebendo o jovem como sujeito protagonista de uma conjuntura de
possibilidades e desafios. Por isso, para os autores, a juventude não representa
apenas a promessa de um futuro, mas a construção desse futuro depende da
percepção cultural de juventude no presente.
No entanto, há que se considerar que o referido estatuto significou uma
importante iniciativa e os primeiros passos na agenda nacional voltados para a
valorização de uma parcela social que durante muito tempo foi colocada à margem,
especialmente pelas políticas públicas, dos processos de discussões, reflexões e
produção do desenvolvimento político-cultural do Brasil, conforme assinala Alves
(2013).
31

CAPÍTULO 1

Compreende-se a importância e relevância da Lei nº 12.852/2013 que


vislumbra, inicialmente, a possibilidade de a juventude brasileira ganhar e assumir
com maior propriedade a participação na vida social e política, enquanto
representação cidadã consciente, capaz de tomar decisões, fazer escolhas, construir
e intervir em seus projetos e trajetórias de vida, no entrecruzamento da vida pública
e privada.
Todavia, partindo do levantamento bibliográfico que realizei acerca da
literatura sobre Juventude e Meio Ambiente, percebi a existência de pouca produção
acadêmica, se considerado às outras temáticas de que tratam o Estatuto da
Juventude, como educação, profissionalização, trabalho, diversidade, saúde, cultura,
comunicação, território e mobilidade.
É válido reforçar que, no bojo das inquietações, a dissertação “Juventude e
Meio Ambiente: narrativas de jovens ambientalistas do estado da Bahia” tem como
pressuposto maior refletir sobre as relações entre processos de socialização e
disposições ao engajamento juvenil na militância ambiental, considerando os
discursos e ações de jovens engajados em questões ambientalistas, suas vivências
e representações juvenis construídas em movimentos, grupos, coletivos e
organizações ambientalistas à luz dos processos de socialização incidentes nos
seus percursos de engajamento militante. Desse modo, para tecer e aprofundar as
reflexões, a problemática “Quais processos de socialização levam os jovens a se
engajarem em movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas?” se
constitui o ponto central do trabalho.
Diante da problemática, é preciso dizer que, embora juventude seja um tema
que, segundo Novaes (2006), vem assumindo grande relevância nas pesquisas
acadêmicas desenvolvidas no Brasil nos últimos anos, tive a surpresa de, como já foi
mencionado, encontrar poucas produções acadêmicas que discutem sobre
juventude e meio ambiente, especialmente no acervo da Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) e do banco de dissertações e
teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
considerando o levantamento das produções acadêmicas dos últimos 10 anos.
Assim, em virtude da inexistência ampla de referências e publicações sobre o
campo juventude e meio ambiente, o desafio e a novidade que este trabalho pode
trazer é refletir em que medida uma pesquisa sobre juventude e meio ambiente
32

CAPÍTULO 1

pode, de fato, contribuir e avançar nos debates que interceptam a temática


juventude e meio ambiente, tomando os termos engajamento militante e socialização
política como categorias-chave pra se pensar essa relação.
Assim, na perspectiva do levantamento de pesquisas acadêmicas sobre
juventude e meio ambiente, foram consultadas as seguintes bases de pesquisa:
Scielo (Scientific Electronic Library Online); Portal da ANPEd1; banco de
dissertações e teses da CAPES; Observatório Jovem do Rio de Janeiro, da
Universidade Federal Fluminense (UFF); Observatório da Juventude da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Portal Ensino Médio EMdiálogo
(apoiado pelo MEC e desenvolvido, articuladamente, por oito universidades federais
- UFF, UFMG, UFSM, UFC, UFAM, UFPA, UnB, UFPR). A partir dos descritores
juventude contemporânea e condição juvenil; juventude e meio ambiente; meio
ambiente e sociedade; educação ambiental e juventude; engajamento militante e
socialização política juvenis foram encontrados 113 trabalhos entre artigos,
dissertações, teses e livros digitais/eletrônicos e impressos.
Importante destacar que, ao utilizar os descritores nas bases de pesquisas
citadas, foram encontrados apenas alguns trabalhos acadêmicos que tratavam
especificamente dessa temática, em especial, nos últimos dez anos. Dentre esses
trabalhos, destacam-se: os artigos “Um breve olhar sobre o Programa Nacional de
Juventude e Meio Ambiente”, de Batista et al (2015) e “Educação ambiental para a
escola básica: contribuições para o desenvolvimento da cidadania e da
sustentabilidade”, de Kondrat e Maciel (2013); a obra “EcoJustice, Citizen Science
and Youth Activism: Situated Tensions for Science Education”, de Dias e Callahan
(2014); a tese “„Anticorpos de Gaia no encontro das águas‟: trajetórias de
aprendizagens de jovens nas trilhas do ambientalismo”, de Gonçalves (2010); a obra
“Juventude, cidadania e meio ambiente: subsídios para elaboração de políticas
públicas” (BRASIL, 2006).
Em contrapartida, em face de pouca quantidade de trabalhos que discutem
juventude e meio ambiente como eixo central, foi encontrado um acervo maior de
trabalhos abordando a temática meio ambiente, ética e educação ambiental e,
principalmente, as categorias engajamento militante e socialização política; através
1
O mapeamento bibliográfico foi realizado nos seguintes Grupos de Trabalho: GT03 - Movimentos
sociais, sujeitos e processos educativos, GT14 - Sociologia da Educação, GT18 - Educação de
Pessoas Jovens e Adultas e GT22 - Educação Ambiental.
33

CAPÍTULO 1

dos quais foi possível tecer e fazer as interlocuções entre juventude e meio
ambiente, conforme as finalidades desse trabalho. Dentre os trabalhos encontrados
mencionam-se, segundo suas temáticas:
- Meio ambiente, ética e educação ambiental:
Merecem destaque as obras: “A invenção ecológica: narrativas e trajetórias da
educação ambiental no Brasil”, de Carvalho (2001); “Epistemologia ambiental”,
“Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder”,
“Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza” e “Ecologia, capital e
cultura: a territorialização da racionalidade ambiental”, de Leff (2002, 2004, 2006,
2009)2; “Educação ambiental no Brasil: formação, identidades e desafios”, de Lima
(2011); o artigo “Produção coletiva de conhecimentos sobre qualidade de vida: por
uma educação ambiental participativa e emancipatória”, de Janke e Tozoni-Reis
(2008); o artigo “Uma abordagem filosófica da pesquisa em educação ambiental”, de
Tristão (2013); o livro “Ética e meio ambiente”, Siqueira (2002); o artigo “Ética
ambiental e crise ecológica: reflexões necessárias em busca da sustentabilidade”, de
Wolkmer e Paulitsch (2011); o texto “Ética e educação ambiental”, de Lopes e Costa
(2013); a monografia “Ética e educação ambiental: considerações filosóficas”, de
Battestin (2008); o livro “Ética e Educação Ambiental: a Conexão Necessária”, Grün
(1996); o artigo “A Pesquisa em Ética na Educação Ambiental”, de Grün (2007); a
obra “Ética ambiental”, de Nalini (2010); o texto “Ainda uma vez a ética e a ética
ambiental”, de Azevedo (2010); e a obra “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles (2007).
- Engajamento Militante
Quanto a essa categoria destacam-se: a obra “Narrativas juvenis e espaços
públicos: olhares de pesquisa em educação, mídia e ciências sociais”, de Carrano e
Fávero (Orgs, 2014); a tese “Militância de jovens em partidos políticos: um estudo de
caso com universitários”, de Brenner (2011); a monografia “Levante juventude,
juventude é prá lutar: a relação entre esferas de vida e identidade na construção do
engajamento juvenil”, de Ruskowski (2009); a dissertação “„Jovens de projetos‟ nas
ONGs: olhares e vivências entre o engajamento político e o trabalho no „social‟”, de
Sobrinho (2012); o ensaio “Territórios jovens: técnica e modos de vida”, de Ribeiro
(2014); os livros “Medo e ousadia” e “Pedagogia do oprimido”, de Freire (2011); o
texto “Engajamento e investimentos militantes: elementos para discussão”, de Seidl

2
Respectivamente.
34

CAPÍTULO 1

(2014); a obra “Experiências de participação social de jovens e sentidos atribuídos


às suas vidas”, de Perondi (2015); o artigo “Jovens e participação no Brasil: para
além das políticas públicas”, de Souza (2013); a obra “Estação juventude: conceitos
fundamentais – ponto de partida para uma reflexão sobre políticas públicas de
juventude”, de Abramo (2014); e o texto “Ação coletiva, jovens e engajamento
militante”, de Sposito (2014)
- Socialização Política
Destacaram-se o texto “O jovem como sujeito social”, de Dayrell (2007); a
monografia intitulada “Um estudo de socialização política: jovens e suas noções de
democracia e cidadania”, de Marçal (2004); o texto “Participação política, quando o
jovem entra em cena”, de Almeida (2008); o livro “Sociologia dos movimentos
sociais”, de Gohn (2014); o artigo “Capital social e socialização política dos jovens
no Brasil”, de Nazzari (2006); a obra “Jovens brasileiros, espaços e tempos de
participação política”, de Tommasi (2007); o artigo “Juventude e socialização política:
atualizando o debate”, de Castro (2009); o texto “Jovens e militância política”, de
Brenner (2014); a obra “Juventude e política no Brasil: a socialização política dos
jovens na virada do milênio”, de Schmidt (2001); o artigo “Formas e conteúdos da
participação de jovens na vida pública”, de Carrano e Brenner (2008); o artigo “Até
onde vai a participação cidadã?”, de Teixeira (2008); a “Quebrando mitos: juventude,
participação e políticas”, de Castro e Abramovay (2009); o texto “A participação
social e política de jovens no Brasil: considerações sobre estudos recentes”, de
Carrano (2012); as obras “A juventude de hoje: (re) invenções da participação
social”, “Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias” e “Nada será como
antes: notícias das juventudes sul-americanas”, de Novaes (2005, 2006, 2007)3; e o
texto “Participação política e juventude: do mal-estar à responsabilização frente ao
destino comum”, de Castro (2008).
Os materiais encontrados e consultados contribuem, significativamente, às
reflexões e aprofundamento sobre o conceito de juventude numa perspectiva
singular e plural, enquanto categoria caracterizada por aspectos particulares e
especificidades que não se detém às delimitações de faixa etária, mas imbricam-se
com questões sociais, políticas, culturais, econômicas e geracionais que fazem
sempre da juventude um conjunto diversificado de concepções e representações

3
Respectivamente.
35

CAPÍTULO 1

relacionadas às diferentes socializações e sociabilidades, conforme à época e o


período em que os jovens estão imersos e movimentam-se.
As obras destacam, também, os novos arranjos de sociabilidades e
socialização juvenis que solicitam da família e da escola outras formas de
conceberem a noção de juventude, visto que estas não são mais as únicas e
privilegiadas instâncias de tutela da socialização das gerações mais novas.
Considerando os descritores que sustentam as relações entre juventude
contemporânea, condição juvenil e meio ambiente, pode-se afirmar que estes trazem
a questão da juventude com grande centralidade e visibilidade para se pensar a
construção e transformação da sociedade contemporânea por meio da participação
política juvenil, tendo o engajamento e a socialização como elementos essenciais.
Dessa forma, a maioria das obras discute a complexidade do termo juventude e
como a condição juvenil é perpassada e construída em diferentes épocas e
contextos pelo leque de concepções do que significa ser jovens em diferentes
contextos, projetos, trajetórias de vida e agências socializadoras.
Portanto, os autores – com quais dialogo neste trabalho – contribuem para se
pensar acerca da formação das identidades juvenis no seio dos movimentos
ambientalistas, bem como os desafios e possibilidades do mundo social e político,
que os convocam a refletir, posicionar-se e intervir. Enfim, viabilizam a oportunidade
da construção e ampliação dos olhares acerca da relação entre juventude,
sociedade contemporânea e meio ambiente.

1.2. POR QUE NARRATIVAS?

A intrínseca relação entre teoria e prática tem orientado, cada vez mais, os
estudos e pesquisas, especialmente no campo educacional. A indissociabilidade da
prática com a teoria tanto tem despertado a atenção de estudiosos de diferentes
temáticas relacionadas à educação, quanto motivado à escolha de processos de
investigação que articulem e aproximem os caminhos metodológicos e os modos de
se fazer pesquisa com as práticas e vivências sociais.
Ao trabalhar com as experiências cotidianas dos indivíduos, segundo Bruner
(2001), colocam-se diante do pesquisador conhecimentos paradigmáticos e
narrativos, que são essenciais à compreensão de suas concepções de práticas
sociais e os caminhos tomados como referência para o processo de investigação.
36

CAPÍTULO 1

Esses conhecimentos, para o autor, não são dicotômicos, contribuem à organização


das pesquisas em educação e delineiam as variadas formas do pesquisador
trabalhar com a experiência.
Bruner (2001) aponta que o modelo de investigação baseado puramente nos
conhecimentos paradigmáticos se situa nos métodos positivistas de conceber a
realidade e as experiências a partir de regras e prescrições, que atribuem
legitimidade apenas ao conhecimento de cunho formal, acadêmico e científico,
estabelecendo uma rigidez linear que, por vezes, afastam e não permitem o diálogo
entre pesquisador, sujeitos da pesquisa e suas vivências sociais.
Por outro lado, o modelo de investigações fundamentado em conhecimentos
narrativos, ainda que dialogue com uma perspectiva de ciência mais crítica,
configura-se em métodos que valorizam a hermenêutica, a interpretação e as
narrações. As narrações são conhecimentos práticos, provenientes de saberes
populares e que estão presentes nos discursos carregados de ações, histórias,
sentimentos, emoções, imagens, estórias, vivências, sentidos e significados.
Neste sentido é que o presente trabalho busca se fundamentar na
investigação narrativa como uma modalidade de pesquisa que tem como marco
principal o diálogo e a valorização de expressão dos pensamentos dos indivíduos.
Goodson e Gill (2015) assinalam que as narrativas não representam o exercício da
palavra pela palavra, da imagem pela imagem, da expressão pela expressão; não se
trata de uma questão de mero verbalismo. As narrativas compreendem um conjunto
de elementos que articulam pensamento, ação e reflexão que se constroem no
processo de interação social e que, por meio delas, os indivíduos transformam suas
experiências em significados.
As narrativas, segundo Bolívar (2002), possibilitam a compreensão das
histórias e diferentes formas que os indivíduos possuem de pensar acerca da vida,
seus conflitos, desafios, experiências, anseios, perspectivas e maneiras de atuar no
mundo. Essa compreensão permite ao pesquisador situar as narrativas em
contextos políticos, econômicos, culturais, históricos e sociais, onde os significados
das experiências humanas são construídos e visibilizados (GILL; GOODSON, 2015).
É por meio das narrativas que questões implícitas se tornam explícitas,
trazendo uma série de detalhes sobre o objeto da pesquisa, à medida que os
indivíduos podem reconstruir suas trajetórias de vida a partir da reflexão sobre as
37

CAPÍTULO 1

experiências vividas, as tomadas de decisões e as expectativas que surgem entre o


mundo vivido e o mundo narrado.
Ao narrar, os indivíduos não falam apenas de si. As palavras expressam suas
subjetividades imbricadas numa temporalidade articulada com seus contextos,
diferentes pontos de vista, com as narrativas particulares de outros indivíduos ou
instituições que compõem a sua história e que, portanto, tiveram e têm importância
na constituição e construção da sua realidade. Portanto, narrar é posicionar-se
diante de si e do mundo, é compreender a si e ao mundo; por isso as narrativas são
sempre culturais, históricas, sociais e pessoais (GILL; GOODSON, 2015).

O objetivo da análise narrativa é mostrar como as pessoas


compreendem a sua experiência vivida e como a narração desta
experiência lhes dá condições de interpretar o mundo social e sua
atuação dentro dele. Geralmente não se trata de revelar a “verdade”
dos relatos (GILL; GOODSON, 2015, p. 219).

As narrativas como investigação não se constituem apenas de enredos e


histórias. Ela está alicerçada no poder que a linguagem, a comunicação, a
reflexividade e a interpretação exercem nas interações e percepções de si e do
outro. É preciso lembrar que, ao narrarem, além dos indivíduos elucidarem, criarem
e recriarem explicações que esclareçam ou justifiquem suas maneiras de agir e
pensar; eles também falam de onde seus pés pisam e, ao mesmo tempo, constroem
uma relação participativa com os objetivos que sustentam a pesquisa.
Por assim afirmar, o pesquisador deve ter ciência de que a narrativa não é
uma produção livre, ela se concretiza como caminho de investigação pautado em
interpretações, objetivos, sistematizações, razões de ser e construções de
significados e sentidos. “É um relato feito no presente por um narrador, sobre o
processo de construção de um protagonista que tem o seu nome e existiu num
passado, desembocando a história no presente, onde o protagonista se une com o
narrador” (RABELO, 2011, p. 176).
Portanto, eleger as narrativas dos jovens ambientalistas como matriz
metodológica dessa pesquisa, significa considerar a pertinência e relevância de suas
trajetórias e percursos no engajamento e militância com questões ambientais.
Significa entender a importância dos enredos de suas experiências como elo entre
teoria e prática, fruto da práxis que lhes constroem enquanto sujeitos sociais e, ao
mesmo tempo, permite refletir e compreender os seus percursos no engajamento
38

CAPÍTULO 1

militante ambientalista e o papel de socialização exercido pelas instituições no que


tange às disposições juvenis para tal engajamento, num cenário em que “as
definições sobre „o que é ser jovem?‟, „quem e até quando pode ser considerado
jovem?‟ têm mudado no tempo e são sempre diferentes nas diversas culturas e
espaços sociais” (NOVAES, 2006, p. 105).

1.3. OS SUJEITOS DA PESQUISA

Os jovens participantes desta pesquisa constituem a parcela substancial para


que ela tenha sentido, significado e relevância, visto que são suas trajetórias,
projetos e percursos biográficos – a partir das suas experiências de socialização e
engajamento militante em movimentos ambientalistas – que dão conteúdo e forma
às discussões e diálogos teórico-práticos que justificam e sustentam a pesquisa e a
escrita dessa dissertação.
Assim, considerando as narrativas juvenis como expressão de marcas que
perpassam e constroem esses sujeitos enquanto portadores de vozes, foram
selecionados 10 jovens de diferentes municípios do estado da Bahia, com idades
entre 15 a 29 anos, tendo o engajamento e/ou a militância em grupos, coletivos,
organizações ou movimentos ambientalistas como um dos principais critérios para a
participação nesta pesquisa.
As primeiras aproximações com os jovens foram construídas a partir de visitas
a ONGs e levantamento tanto na rede social Facebook quanto no Google 4 de
grupos, coletivos ou movimentos ambientalistas onde os jovens participassem
ativamente. A partir daí passei a entrar em contato com as coordenações dos
grupos, coletivos, organizações e movimentos, a fim de averiguar a efetiva
existência de jovens compatíveis com os critérios da pesquisa5, assim como a

4
Para a pesquisa de grupos, coletivos, organizações e movimentos ambientalistas por meio das
redes sociais e Google foram utilizados os seguintes descritores: juventude e meio ambiente; jovens
ambientalistas na Bahia; coletivos ambientalistas na Bahia; ONGs, juventude e meio ambiente na
Bahia.
5
Os critérios foram: jovens com idade entre 15 a 29 anos, que estão engajados na militância
ambientalista através da participação ativa, tanto nas discussões, quanto nas ações desenvolvidas
pelos grupos, movimentos, organizações e coletivos ambientalistas. Especificar o engajamento
militante como uma das condições sine qua non à participação na pesquisa se constituiu como um
critério fundamental, visto que nos contatos com os grupos, coletivos, organizações e movimentos
ambientalistas, alguns deles informaram que tinham jovens em seus quadros de membros; no
entanto, a atuação desses jovens estava restrita a atividades administrativas e, por isso, não se
enquadravam no perfil de jovens à pesquisa, já que não tinham experiências efetivas de engajamento
e militância ambientalista.
39

CAPÍTULO 1

possibilidade de contar com a participação desses jovens durante as etapas da


pesquisa.
Desse modo, o quadro de jovens participantes dessa pesquisa é constituído
por 10 jovens (6 mulheres e 4 homens), sendo 2 jovens do Grupo Aventura
Ambiental de Santa Brígida – GAASB, localizado no município de Santa Brígida; 1
jovem do Grupo Ambientalista da Bahia – GAMBÁ, localizado no município de
Salvador; 1 jovem do Partido Verde, cuja sede está localizada no município de
Salvador; 1 jovem do Grupo Aventura Ambiental de Jeremoabo – GAAJE, localizado
no município de Jeremoabo; 1 jovem estudante do curso Técnico Subsequente em
Agropecuária pelo Instituto Federal Baiano – IFBaiano e membro da Pastoral da
Juventude do município de Serrinha; 1 jovem do Engajamundo, que atua no núcleo
local do EngajaBahia, localizado no município de Cachoeira; 3 jovens da
Organização Greenpeace, localizada no município de Salvador.
Importante mencionar que alguns jovens possuem vínculos em mais de um
grupo ou organização ambientalistas, conforme pode ser visto abaixo na
apresentação de seus perfis. No entanto, por fins metodológicos, optou-se por
apresentar e especificar, acima, a quantidade de jovens de acordo com os vínculos
de origem nas organizações e grupos ambientalistas.
Metodologicamente, este trabalho se configura como de caráter qualitativo,
subsidiado por revisão bibliográfica e pesquisa de campo. Convém ressaltar que a
pesquisa de campo foi realizada em dois momentos: primeiro, com a aplicação de
questionário a fim de conhecer o perfil socioeconômico dos jovens e ter noções
iniciais do lugar que esses jovens falam. Segundo, a partir das respostas obtidas por
meio dos questionários, foram elaboradas entrevistas semiestruturadas como
caminho propício à construção das narrativas juvenis. Os questionários de perfil
socioeconômico foram aplicados entre 31 de maio a 15 de agosto de 2016. Já as
entrevistas foram realizadas entre 24 de agosto a 10 de outubro do mesmo ano, por
meio da gravação de vozes.
Vale mencionar que o processo de encontros com os jovens foi caracterizado
por certas dificuldades, especialmente pelo tempo disponível dos jovens para
realização das entrevistas, uma vez que suas vidas se dividem entre trabalho,
estudos, lazer, família e atividades dos grupos, coletivos, organizações ou
movimentos ambientalistas nos quais estão inseridos.
40

CAPÍTULO 1

Essas atribuições juvenis, inclusive, aparecem em suas narrativas como um


dos principais fatores que, às vezes, não permitem que os jovens se sintam
plenamente realizados em relação ao tempo que dedicam ou têm disponível para
atuar na militância ambientalista. Ou seja, em suas narrativas, embora reconheçam
a importância e positividade das ações e trabalhos que desenvolvem por meio do
engajamento militante nos movimentos ambientalistas, muitos jovens afirmam que,
em virtude de outras responsabilidades e atribuições cotidianas, não atuam o quanto
gostariam de estarem envolvidos nas problemáticas ambientais.
Despertou-me atenção, nesses processos de organização e negociações
para a realização das entrevistas, a maneira como esses jovens encaram as
responsabilidades que possuem e como transitam entre diferentes espaços sociais.
Além disso, passei a observar também como se percebem enquanto jovens
ambientalistas e como enfrentam os preconceitos, discriminações e visões negativas
no que tange às suas condições juvenis, principalmente numa sociedade em que
juventude ainda é vista, por uma boa parcela da sociedade, como sinônimo de
desorientação, bagunça, desordem, instabilidade e imaturidade.
O olhar sobre os percursos de engajamento militante desses jovens mostra o
quão impressionante suas narrativas – embora sejam um recorte dos percursos
biográficos desses jovens – trazem a noção de uma juventude ativa, reflexiva e
preocupada com os rumos da sociedade. Uma juventude que não se porta como
fantoches ou marionetes de grupos, coletivos, organizações e movimentos
ambientalistas, mas que atuam ativamente dentro de suas possibilidades, limites e
desafios.
Os primeiros contatos com os jovens através de conversas informais, da
aplicação dos questionários e observação dos trabalhos realizados por eles
divulgados nas redes sociais possibilitaram perceber que, apesar de algumas
semelhanças de suas disposições ao engajamento e militância ambientalistas, suas
narrativas mostram as particularidades e singularidades de como se aproximam e
apropriam-se do universo ambientalista.
Nesse universo, fui adentrando na figura de pesquisador que almejava
entender – por meio das narrativas juvenis – um recorte tão significativo das
experiências e trajetórias de vida desses jovens: “suas disposições ao engajamento
militante ambientalista”. Assim, os relatos se constituíram como ponte para
41

CAPÍTULO 1

compreender quais processos de socialização exerceram influência na entrada


desses jovens nos grupos, coletivos, organizações ou movimentos ambientalistas.
É a partir dessa compreensão que se pode chegar a um entendimento mais
próximo tanto das agências socializadoras que incidiram sobre o percurso de
entrada dos jovens ao engajamento militante na modalidade ambientalista, como
também os motivos e sentidos atribuídos pelos jovens que servem de balizadores
para a permanência nesses espaços.
Dessa maneira, tomando como norte a problemática e os objetivos que
delineiam essa pesquisa, convém ressaltar que optou-se – com a devida
aquiescência dos jovens entrevistados – pelo não anonimato de seus nomes por se
tratar de sujeitos que possuem certa visibilidade pública como consequência de suas
atuações políticas e sociais, em virtude dos seus engajamentos na militância
ambiental. Procedimento semelhante é adotado na exposição dos nomes de grupos,
coletivos, organizações e movimentos ambientalistas citados nas narrativas, isto é,
utilizam-se em todo o trabalho os nomes reais das organizações6.
Abaixo, apresento o perfil sucinto dos jovens, de acordo com as respostas
dadas ao questionário de perfil socioeconômico e às entrevistas semiestruturadas,
considerando que durante os próximos capítulos serão explorados e melhor
detalhados os relatos dos jovens em articulação com o referencial teórico que
fundamenta este trabalho:

DAVI

Davi Maia Rocha, 21 anos na data da entrevista 7, negro, solteiro, vegano,


mora em Salvador-BA com sua família, estuda Psicologia pela Faculdade de
Tecnologia e Ciências – FTC. Atuou como anfitrião na Plataforma Greenwire do
Greenpeace e é membro voluntário do Greenpeace8 em Salvador. Destaca a

6
Importante destacar que não se constitui objetivo deste trabalho problematizar questões relativas à
natureza, estrutura, organização e funcionamento dos grupos, coletivos, organizações e movimentos
nos quais os jovens estão inseridos. Por esta razão, o presente trabalho, embora reconheça a
importância da reflexão sobre os debates que as formas de atuação dos movimentos, grupos,
coletivos e organizações sociais, não adentrou às discussões acerca da atuação e e dos ideais que
sustentam os movimentos, grupos, coletivos, organizações e partidos nos quais estão imersos os
jovens entrevistados; por não ser o objeto que embasa a problemática desta pesquisa.
7
A entrevista com Davi foi realizada no dia 08 de outubro de 2016.
8
Segundo informações fornecidas via site do Greenpeace Brasil (2016), disponível em:
<http://www.greenpeace.org/brasil/pt/quemsomos/Missao-e-Valores-/>, o Greenpeace é uma
organização ambientalista global e independente, cuja finalidade é defender o meio ambiente e
inspirar mudanças de pensamentos, atitudes e comportamentos das pessoas. Constitui-se enquanto
42

CAPÍTULO 1

importância e o papel exercido pela sua família para as inclinações ao engajamento


militante ambientalista e como se deu o encantamento pelo Greenpeace desde as
primeiras observações e contatos que teve com este grupo.
Em seus relatos, Davi faz associações entre os estudos no campo da
Psicologia e o engajamento militante nos movimentos e organizações
ambientalistas, especialmente por meio dos pressupostos de Skinner. Seu
despertamento para a problemática ambiental se deu, inicialmente, através das
relações familiares, reforçando com o conhecimento e ingresso no Greenpeace.
Com renda mensal entre 01 e 02 salários mínimos (até R$ 1.760,00), Davi
trabalha, mas não é independente financeiramente. O transporte coletivo é o
principal meio de transporte que utiliza, porém – sempre que possível e viável –
prefere utilizar bicicleta por acreditar que seja uma forma de locomoção mais
sustentável.
Davi se considera um jovem muito interessado pelos assuntos relacionados
ao meio ambiente, por isso sempre procura se informar da situação ambiental no
país e no mundo por meio da internet, discussões na organização, leitura de
informações, artigos e pesquisas. Parte do princípio que a solução para os
problemas ambientais depende das pequenas ações de todos, no seu dia-a-dia, que
inclusive servem como ponto de partida para compreender e questionar as decisões
tanto governamentais como das grandes empresas.
Para ele, o ambientalismo é um movimento de cunho social que se entrelaça
com questões políticas, culturais, ideológicas, educacionais e éticas. Davi acredita
que o ponto-chave para se alcançar a conscientização e reversão dos problemas
ambientais, especialmente para as gerações futuras, está no processo educação
realizado no tempo presente pelos espaços formais e não-formais de educação. Por
essa razão, há quatro meses se tornou coordenador do GT Escola do Greenpeace,
no qual é responsável por organizar palestras e ações em colégios.
Para Davi, infelizmente, é muito dura a realidade da situação ambiental no
Brasil e no mundo pois, cada vez mais, o mundo tem sofrido com as consequências

instituição sem fins lucrativos e independente, portanto não é adepta a doações governamentais,
empresariais ou oriundas de partidos políticos. O trabalho desenvolvido pela organização é fruto do
financiamento de milhões de colaboradores espalhados pelo mundo. A sua independência econômica
é vista como um dos meios mais eficazes de garantir transparência e liberdade de posicionamento,
lutas e expressão nos processos de investigação, exposição, denúncia e confronto frente aos crimes
ambientais e o seu compromisso com a construção de sociedades sustentavelmente equilibradas.
43

CAPÍTULO 1

do consumismo desacelerado que os seres humanos têm causado. Para ele, os


principais problemas ambientais da atualidade são o consumo de carne, o
desmatamento e os nossos governantes, que não têm a consciência ambiental
necessária para tomar medidas preventivas e imediatas para salvar o meio
ambiente.

ELEN
Elen Bárbara Pereira Marques, 21 anos na data da entrevista9, parda,
solteira, natural de Salvador-BA, onde mora com sua família, não possui filhos,
trabalha e é independente financeiramente com renda mensal entre 01 e 02 salários
mínimos (até R$ 1.760,00). Possui graduação em Gestão Ambiental e, atualmente,
está cursando Engenharia Ambiental e Sanitária. É coordenadora de Meio Ambiente
da Juventude do Partido Verde (PV)10 estadual, em cujo grupo político começou a
participar das reuniões aos 17 anos de idade.
Elen afirma que seu interesse pelas questões ambientais é anterior ao seu
ingresso no Partido Verde, onde iniciou como membro da juventude e, atualmente,
assume a coordenação de Meio Ambiente da Juventude. A jovem Elen diz que uma
das razões que mais instigaram para que ela permanecesse no Partido é o fato de
que os princípios dele muito se assemelham aos seus ideiais de vida quanto à sua
relação com as problemáticas ambientais, visto que ela possui uma trajetória
marcada por participação em movimentos e mobilizações ambientalistas, desde a
sua infância.
Para Elen, a solução das problemáticas ambientais depende das pequenas
ações cotidianas, por isso o seu engajamento se debruça em processos de
conscientização em educação ambiental; o que, para ela, é a parte mais complicada,
porque é difícil tentar mudar o pensamento das pessoas e os conceitos que elas têm
sobre meio ambiente. Nessa perspectiva, dentre as ações desenvolvidas e em seus
relatos, Elen dá grande relevância aos projetos desenvolvidos em orfanatos,

9
A entrevista com Elen foi realizada no dia 24 de setembro de 2016.
10
Segundo informações fornecidas via site do Partido Verde (2016), disponível em:
<http://pv.org.br/opartido/programa/>, o PV é um instrumento da ecologia política. Enquanto um de
seus princípios, o Partido verde luta pelo fortalecimento do movimento ecologista, funcionando
como um canal de ação política, no campo institucional, para servir o ambiental ismo, sem
pretensões hegemônicas ou instrumentalizantes. Partem da concepção que buscam na ecologia
política novos caminhos para os problemas do planeta e, nesse cenário, a juventude se constitui
como peça-chave muito importante para a denúncia das problem áticas ambientais,
conscientização e construção de uma sociedade mais verde, mais sustentável e democrática.
44

CAPÍTULO 1

trabalhos de requalificação no bairro da Ribeira (Salvador-BA) e plantio de árvores


para requalificar uma área de Lauro de Freitas (Salvador-BA). Ela relata de que,
durante a realização dessas ações, percebeu que se identifica com ações
relacionadas à educação ambiental, gestão de resíduos e conscientização da
população, sendo que a maioria das ações começou com trabalhos de faculdade
como o da Ribeira.
Na sua visão, a humanidade, infelizmente, ainda pensa que pode extrair tudo
do meio ambiente sem se preocupar com as gerações futuras. Por isso, há que
considerar o fato de que o ambientalismo é uma questão perpassada por fatores
sociais, políticos, econômicos, culturais e ideológicos. Ressaltando que, para Elen, a
educação – não apenas formal – é, por um lado, o ponto-chave para a construção de
sociedades mais sustentáveis formadas por pessoas conscientes, ambientalmente
éticas e equilibradas. Por outro lado, a sua ausência é o ponto de partida para o
aumento da degradação ambiental brasileira e mundial.

JÉFFERSON FELIPE
Jéfferson Felipe Alves do Nascimento, 21 anos na data da entrevista11,
pardo, solteiro, poeta, ativista, natural de Paulo Afonso-BA, não possui filhos.
Morador de Jeremoabo-BA, atualmente, reside em Aracaju-SE em habitação coletiva
alugada (residência de estudantes), onde cursa Relações Internacionais na
Universidade Federal de Sergipe (UFS). É fundador do Grupo Aventura Ambiental
de Jeremoabo (GAAJE)12 e membro do Engajamundo13.

11
A entrevista com Jéfferson foi realizada no dia 31 de agosto de 2016.
12
Segundo informações fornecidas via site do Grupo Aventura Ambiental de Jeremoabo (2016),
disponível em: <https://greenwire.greenpeace.org/brazil/pt-br/groups/gaaje-grupo-aventura-ambiental-
jeremoabo> e <http://gaajebio.blogspot.com.br/>, o GAAJE é um grupo ambientalista composto por
jovens que gostam de aventuras e que desejam uma sociedade mais sustentável e, por isso, os
jovens se engajam em ações práticas voluntárias que, além de possibilitar a diversão e o lazer entre
eles, têm o objetivo de maior de desenvolver a consciência ambiental dos jeremoabenses no que diz
respeito às relações entre ser humano e meio ambiente. Para isso, o GAAJE se estrutura no tripé
“mobilização social, educação ambiental e aventura” como fundamento da sua missão de
conscientizar, aventurar e aprender.
13
Segundo informações fornecidas via site do Engajamundo (2016), disponível em:
<http://www.engajamundo.org/o-engajamundo/>, o Engaja – como também é conhecida – é uma
organização constituída por uma liderança jovem e criada por e para jovens. É uma organização sem
fins lucrativos e desvinculada de partidos políticos, representações governamentais e empresariais. O
Engajamundo acredita, sobretudo, na importância da atuação e engajamento da juventude na esfera
global e, por isso, busca formar jovens conscientes de seu impacto social e ambiental, capazes de
participar efetivamente das decisões que podem impactar as suas comunidades, o país e o mundo.
Portanto, a organização parte do princípio que as juventudes são peça fundamental para enfrentar e
propor estratégias de solução aos desafios sociais e ambientais pelos quais passam o Brasil e o
45

CAPÍTULO 1

Neste ano, foi escolhido para compor a delegação brasileira da organização


Engajamundo enquanto membro participante da COP22 sobre Clima da ONU, que
aconteceu em Marrakech, Marrocos. O Engajamundo se constitui uma organização
composta por jovens, sem fins lucrativos que representa a juventude brasileira nos
espaços locais, nacionais e internacionais, onde são tomadas decisões importantes
sobre o presente e futuro do planeta.
Jéfferson trabalha, mas não é independente financeiramente; possuindo uma
renda mensal individual inferior a um salário mínimo (menos de R$ 880,00). O
transporte coletivo é o principal meio que utiliza, devido – especialmente – às suas
atividades e trajetos para a universidade.
Desde os 17 anos, participa de movimentos ambientalistas através da
coordenação de ações, captação de recursos, divulgação e organização interna.
Tendo como base o uso do conhecimento que adquire na universidade fazendo uma
aplicação prática, de modo que se sente parte de todo o processo de
conscientização externa e no desenvolvimento das organizações.
Começou seu percurso de engajamento no Grupo Aventura Ambiental de
Santa Brígida – GAASB, cuja finalidade era se aproximar mais das discussões sobre
juventude e meio ambiente e, a partir daí, criar um grupo em Jeremoabo. Desse
modo, pelo processo de incentivo, divulgação e fomento das discussões e ações em
Jeremoabo, os jeremoabenses começaram a querer saber do movimento e Jéfferson
foi convidando alguns amigos até que surgiu a ideia de criar o Grupo Aventura
Ambiental de Jeremoabo – GAAJE.
Jéfferson se qualifica como um jovem muito interessado pelas questões e
assuntos que envolvem meio ambiente e, por essa razão, acredita que para atuar
nos movimentos ambientalistas é necessário estar sempre atualizado. Assim, busca
atualizar através da leitura de artigos, acesso a sites e participação em discussões e
debates em ONGs. As principais atividades que gosta de desenvolver são aquelas

mundo. Por isso, busca a participação efetiva, engajada, protagônica e militante dos jovens tanto
nas decisões quanto nas ações por meio de formações, mobilização e ações de ativismo, que têm
também a finalidade de empoderar a juventude brasileira para compreender, participar e incidir em
processos políticos internacionais. Além disso, a organização reivindica mais acesso e representação
da juventude nestes processos, para que os jovens conquistem mais espaço para articular suas
demandas, especialmente, nos âmbitos políticos. Assim, a organização atua com foco em quatro
temas, conforme propostos pelos voluntários, a saber: Clima, Habitat 3, Gênero e Desenvolvimento
Sustentável.
46

CAPÍTULO 1

relacionadas às ações práticas, como coletas de lixo, plantar árvores e fazer


palestras de Educação Ambiental.
Embora tenha uma visão bem otimista acerca da participação e engajamento
dos jovens nos movimentos ambientalistas e acreditar que os movimentos
ambientalistas a nível nacional e internacional têm um grande potencial, Jéfferson
parte da ideia que esse potencial não é utilizado, porque apesar de ter muita gente
interessada, as ações práticas ainda são muito poucas.
Para Jéfferson, a situação ambiental atual do Brasil e do mundo vem
deteriorando-se a cada dia, sendo que, na atualidade, pode-se observar que a
poluição do ar, dos rios, e o desmatamento são os três maiores problemas
ambientais pelos quais as sociedades devem para tentar resolver. Segundo ele, os
Estados representam em sua maioria o interesse dos mais ricos, o fim econômico de
suas ações serve às forças econômicas com total subserviência, de modo a deixar
que os problemas ambientais sejam camuflados e postos de lado. O Brasil devido a
sua formação, devido a Amazônia e toda a diversidade do país, deveria tomar a voz
e a liderança nesses processos de decisão sobre os problemas ambientais que tem
sua localidade, porém são globais. Por isso, a seu ver, a problemática ambiental se
refere a uma questão de caráter social, política, educacional, ética e cultural.
De acordo com ele, apesar das pessoas da sua comunidade (Jeremoabo) o
ver como um jovem que é ativo, que busca tentar mudar o que está de errado na
comunidade e na sociedade, com certo otimismo, há pouca visibilidade das relações
em meio ambiente e juventude. No que tange à universidade, ele diz que o seu
curso de Relações Internacionais, as pessoas têm uma visão bem pessimista em
relação ao seu engajamento militante, especialmente quanto às questões
ambientais, uma vez que ele é visto como um jovem que luta por certa utopia, por
pensar que o homem possa dar importância ao desenvolvimento sustentável em
detrimento do lucro e do desenvolvimento econômico.
No entanto, ele afirma não se deixar abater por certas posturas e
posicionamentos contrários ao seu engajamento militante nos movimentos
ambientalistas, haja vista que são notórias essas relações de poder que existem nas
conferências internacionais relacionadas a meio ambiente, nas relações de poder
entre estados e negociações.
47

CAPÍTULO 1

Em seus relatos, Jéfferson afirma a existência da relação entre seu


engajamento militante nos movimentos ambientalistas e seu projeto de vida. Seu
desejo é concluir o curso em Relações Internacionais e poder trabalhar em
organismos internacionais ou organizações não-governamentais ligadas à
participação política, a juventude, a meio ambiente por se tratarem de áreas que ele
mais se identifica e está diariamente envolvido e realizando ações. Então, em
relação ao seu projeto de vida, ele diz que há uma relação intrínseca porque esse
desejo, também, o motiva no movimento ambientalista, possibilitando mais
experiências e dotando de mais conhecimentos para que, no futuro, possa trabalhar
e dar o seu máximo em relação à temática e às ações que envolvem juventude,
meio ambiente, engajamento e participação política.

LAÍS

Laís Bezerra de Souza, 21 anos na data da entrevista14, parda, solteira,


natural de Paulo Afonso-BA, não possui filhos. Atualmente, mora em Santa Brígida-
BA com os pais, não trabalha e não participa da vida econômica familiar. Estuda
Psicologia no Centro Universitário Ages, é membro do Grupo Aventura Ambiental de
Santa Brígida (GAASB)15 na Bahia. Além disso, participa também de ações
desenvolvidas pelo Engajamundo em parceria com o GAASB.
Considera-se uma jovem muito interessada pelos assuntos relacionados ao
meio ambiente, cuja solução das problemáticas ambientais depende das pequenas
ações humanas cotidianamente. No seu ponto de vista, o engajamento militante
juvenil nos movimentos ambientalistas se justifica à medida que o ambientalismo se
constitui como movimento social, que extrapola a visão romântica e natural de meio

14
A entrevista com Laís foi realizada no dia 02 de setembro de 2016.
15
Segundo informações fornecidas via site do Grupo Aventura Ambiental Santa Brígida (2016),
disponível em: <http://www.gaasb.com.br/p/o-gaasb.html>, o GAASB é um grupo feito por e para
jovens, sem fins lucrativos, com caráter apartidário, que não aceita doações de partidos políticos ou
empresas, a fim de que sua neutralidade seja mantida e a representação dos reais interesses da
organização prevaleça. Define-se como um grupo composto por jovens residentes no município de
Santa Brígida - Bahia, que dispõem o seu tempo a fazer trabalhos voluntários visando a pratica de
lazer e conservação ambiental. Por meio de ações voluntárias, projetos e ativismo, incentiva o
protagonismo e o engajamento juvenis para chamar atenção da sociedade e governo, especialmente
quanto ao grave quadro que se encontra o meio ambiente, procurando compreender, participar e
monitorar as tomadas de decisões políticas, assim como também reivindica mais acesso à
representação de jovens nestes processos e espaços públicos. Vale ressaltar que a criação do Grupo
Aventura Ambiental de Jeremoabo (GAAJE) foi inspirada no Grupo Aventura Ambiental Santa Brígida
(GAASB), a partir das interlocuções, diálogos e parcerias entre seus idealizadores, Jéfferson Felipe
Alves do Nascimento e Rafael de Lisboa Deveza, respectivamente.
48

CAPÍTULO 1

ambiente e, ao mesmo tempo, insere o ser humano como ser ativo e integrado às
relações ambientais em sua conjuntura social, política e cultural.
Aos 19 anos de idade, passou a participar mais ativamente de movimentos
ambientalistas. No GAASB, promove passeios e, nesses passeios, faz coletas de
lixo. No local que escolhem, realizam alguns projetos de intervenção na cidade,
criação de lixeiras com material reciclado, implantação dessas lixeiras, projetos de
educação ambiental nas escolas para crianças e adolescentes. Além disso, participa
de projetos da gestão do município, da Secretaria de Educação e realiza –
semanalmente ou quinzenalmente – encontros para elaboração de ações em Santa
Brígida.
Em seus relatos, afirma que, desde quando entrou no grupo, foi uma
experiência que foi se construindo cada vez melhor e o que mais a instigava era o
desejo pela aventura, principalmente pelo fato de ser muito aventureira e as ações
do grupo instigavam a descoberta e conhecimento de novos lugares, de entrar numa
trilha, ver como é, ver o pôr do sol, subir uma serra. Esse conjunto de possibilidades
trazido pelo GAASB fez com que se tornasse integrante do grupo, já que há uma
articulação entre prazerosa de aproximar a juventude aos assuntos relacionados ao
meio ambiente.
Laís acredita que o primeiro passo para que as mudanças ambientais ocorram
é tentar conscientizar as pessoas, chamar primeiro a atenção delas para o
movimento e, a partir daí, poder criar ações e saber dessas pessoas, também, como
elas queriam que fosse. Assim, ela relata que participou do Projeto Cidade dos
Sonhos, a fim de que as pessoas pudessem se expressar e, a partir do que elas
verbalizassem, os jovens viam o que poderia fazer em prol da melhoria da qualidade
de vida ambiental da comunidade onde mora.
Conforme Laís, Cidade dos Sonhos é um projeto que está sendo feito para ir
à praça pública, onde os jovens coletam a informações com a população sobre “a
cidade dos seus sonhos”. No caso do GAASB integrado com o Engajamundo, todo o
processo é voltado para o meio ambiente, de onde emergem temas como coleta
seletiva e uso de outros tipos de combustíveis. Depois de coletar as informações
com a população, os jovens ambientalistas elaboram um documento e entregam
para representantes governamentais de seu município ou para os candidatos a
prefeito da cidade (em ano de eleição) para que eles se comprometam em trazer
49

CAPÍTULO 1

alguma melhoria para Santa Brígida, de acordo com os anseios da população. Na


sua forma de interpretar, essa ação se constitui como um caminho viável à
construção de diretrizes e políticas públicas de meio ambiente, que não só o
município de Santa Brígida necessita.
Segundo Laís, a situação de degradação ambiental no Brasil e no mundo é
extremamente preocupante, visto que já estamos sofrendo a consequência dessas
intervenções catastróficas na natureza e, por isso, é preciso conscientizar a
população do Brasil e do mundo para que as pessoas se atentem ao grito de socorro
do Planeta. No seu ponto de vista, o aquecimento global sem dúvida é o pior dos
problemas ambientais que estamos enfrentando, pois ele está alterando o clima e
com isso o aparecimento de outras catástrofes, o derretimento das geleiras, o
aumento de chuvas em cidades chuvosas, maior seca em cidades onde predomina a
caatinga, e com isso afeta também a produção de alimentos em diversas regiões, o
que acaba afetando a população planetária de forma direta.
Diante desse cenário, acredita que uma das funções dos jovens que integram
o GAASB é informar e alertar sobre o que está acontecendo no Planeta através de
palestras e discussões sobre as causas, efeitos e estratégias de melhorias em
relação às problemáticas ambientais. Para isso, Laís afirma que por meio de
internet, jornais e revistas busca, também, ter acesso a informações e construir
conhecimentos sobre o que está acontecendo no mundo em relação ao meio
ambiente.

LAISE

Laise Santos Barbosa, 19 anos na data da entrevista16, parda, solteira,


natural de Serrinha-BA, onde mora com seus pais e irmãos no Povoado de
Mombaça de Valentina, não possui filhos. Atualmente, não trabalha e faz o curso
Técnico Subsequente em Agropecuária pelo Instituto Federal Baiano – IFBaiano, em
Serrinha.
Laise não é membro de nenhum grupo, organização ou movimento
ambientalista específico. No entanto, sempre participou e continua participando
ativamente de movimentos e ações ambientalistas – especialmente em sua
comunidade – pelo fato de estar envolvida em associações e sindicatos rurais, bem

16
A entrevista com Laise foi realizada no dia 25 de agosto de 2016.
50

CAPÍTULO 1

como em ações desenvolvidas pelo grupo da Pastoral da Juventude da Igreja


Católica, o que se reforçou com o ingresso no curso Técnico Subsequente em
Agropecuária.
Pelas ações desenvolvidas, experiências adquiridas e seu engajamento nas
questões ambientais, Laise se identifica como uma jovem que tem grande interesse
pelos assuntos relacionados com o meio ambiente por compreender, inclusive, que
as problemáticas ambientais se inserem num conjunto de questões sociais, políticas,
culturais e educacionais, cujas soluções dependem muito das pequenas ações das
pessoas no dia-a-dia.
Laise narra que sempre teve interesses individuais pela luta da preservação
do meio ambiente e tentava sempre influenciar tanto o grupo de jovem Pastoral da
Juventude (PJ) quanto a associação da comunidade em estarem envolvidos em
pequenas ações. E, depois que entrou no IFBaiano, começou a participar
diretamente de assuntos envolvidos com o desenvolvimento sustentável e
agroecologia, a fim de pensar em estratégias que visem a produção de forma
sustentável e a garantia de uma boa relação entre o homem e a natureza,
especialmente em sua comunidade, por ser esta campesina.
Embora não esteja vinculada a um movimento específico, nos espaços em
que está inserida ela tem construído seu percurso de engajada militante nos
movimentos ambientalistas através de ações práticas, lutas, trabalhos de
conscientização e participação em curso e oficinas voltados ao tema meio ambiente.
Ela acredita que um dos fatores que mais favorecem à degradação ambiental no
Brasil e no mundo é a falta de consciência das pessoas e, principalmente, das
empresas que visam o lucro. Com isso, muitas espécies de animais e plantas estão
sumindo, o que vem causando um desequilíbrio enorme da natureza. Isso, por sua
vez, tem contribuído para o aumento da luta dos ambientalistas frente aos problemas
ambientais da atualidade que, na sua concepção e conforme sua realidade, são:
lixões sem os cuidados necessários, desmatamento, degradação do solo devido o
uso de agrotóxicos e contaminação dos rios.
Laise acredita que a construção e agregação de valores tanto para ela quanto
para as pessoas que estão ao seu redor, assim como a conscientização e mudança
de hábitos no dia-a-dia das pessoas em suas múltiplas relações com o meio
ambiente são os principais efeitos do seu engajamento na militância ambiental.
51

CAPÍTULO 1

LORRANA

Lorrana Santos Sapucaia, 19 anos na data da entrevista17, parda, solteira,


natural de Salvador. Atualmente, mora em Castro Alves-BA com seu pai, não possui
filhos. Trabalha, mas não é independente financeiramente, sendo sua renda mensal
individual entre 01 e 02 salários mínimos (até R$ 1.760,00). Está cursando o 3º ano
do Ensino Médio da Educação Básica, na modalidade Formação Geral no Colégio
Polivalente de Castro Alves. É membro voluntária do Grupo Ambientalista da Bahia
(GAMBÁ)18 e da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (COM-
VIDA)19 na condição de estudante do Colégio Polivalente.
Engajada nos movimentos ambientalistas desde os 15 anos de idade, Lorrana
acredita que os movimentos ambientalistas são de extrema importância para
geração atual e as próximas, visto que os seres humanos estão destruindo com a
fauna, com a flora e com tudo que faz parte do meio ambiente. Por isso, os
movimentos ambientalistas se apresentam como instrumentos capazes de promover
a compreensão acerca da realidade ambiental, bem como proporcionar a criação de
estratégias para reagir frente a diversas situações entre o ser humano e o meio
ambiente, seja na realidade local ou global.
Na sua visão, lixos nas ruas que ocasionam as enchentes, desmatamento
para construção de prédios, casas e comércios são os principais problemas que

17
A entrevista com Lorrana foi realizada no dia 24 de agosto de 2016.
18
Segundo informações fornecidas via site do Grupo Ambientalista da Bahia (2016), disponível em:
<http://www.gamba.org.br/instituicao/quem-somos>, o GAMBÁ é uma organização não-
governamental, sem fins lucrativos, constituída com a finalidade de promover a conservação do Meio
Ambiente, o desenvolvimento sustentável e a formação da cidadania, baseada em princípios
democráticos e de justiça social. Sua fundação ocorreu em 14 de abril de 1982, a partir da iniciativa
de um grupo de técnicos e profissionais liberais preocupados com o avanço da degradação ambiental
na Bahia. Em sua trajetória, o Gambá denuncia irregularidades ambientais, discute a legislação,
assume cargos de representação de ONGs ambientalistas nos espaços de controle público,
desenvolve campanhas e ações de mobilização social, elabora e executa projetos, além de realizar
trabalhos de pesquisa, monitoramento e recuperação da fauna e da flora.
19
Segundo informações fornecidas via documento dos Ministérios da Educação e Meio Ambiente
(2004), disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf>, a
Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-VIDA) é uma resposta ao pedido dos jovens
delegados e delegadas da Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente ocorrida em
2003, que escreveram uma Carta pedindo a criação de conselhos jovens e Agendas 21 nas escolas
como espaços de participação em defesa do meio ambiente. Desse modo, a COM-VIDA se constituiu
como uma nova forma de organização na escola e se baseia na participação de estudantes,
professores, funcionários, diretores, comunidade. O principal papel da COM-VIDA é contribuir para
um dia-a-dia participativo, democrático, animado e saudável na escola, promovendo o intercâmbio
entre a escola e a comunidade. Por isso, a COM-VIDA é vista como instrumento capaz de somar
esforços com outras organizações da escola, como o Grêmio Estudantil, a Associação de Pais e
Mestres e o Conselho da Escola, trazendo a Educação Ambiental para todas as disciplinas.
52

CAPÍTULO 1

afetam as relações entre o ser humano e o meio ambiente na atualidade,


especialmente para satisfazer os anseios das sociedades capitalistas.
Ela parte do princípio que o ambientalismo se trata de um movimento de
ordem social que envolve questões das esferas política e cultural, cuja solução dos
problemas ambientais, no seu ponto de vista, depende das decisões dos governos e
das grandes empresas; embora não descarte a importância e necessidade das
pequenas ações humanas no dia-a-dia, como forma de respeito, cuidado,
preservação e relação ética com o meio ambiente.
Fazer trilhas, participar das ações e eventos do Gambá, desenvolver
atividades com alunos falando da importância do meio ambiente são as principais
ações realizadas por Lorrana enquanto membro dos grupos em que está inserida.
Para ela, existe a necessidade de maior e melhor conscientização das pessoas,
porque as pessoas ainda não se preocupam com o meio ambiente o quanto
deveriam, elas não sabem sobre a importância dele.
Em seus relatos, ela explica que o seu engajamento em movimentos
ambientalistas está muito relacionado ao seu projeto de vida à medida que tal
engajamento despertou o desejo para cursar Biologia, assim que concluir o Ensino
Médio.

MELINDA VICTÓRIA

Melinda Victória Carvalho dos Santos, 22 anos na data da entrevista20,


negra, solteira, natural de Salvador-BA, onde mora com sua família, não possui
filhos. Trabalha, mas não é independente financeiramente, sendo sua renda mensal
de menos de um salário mínimo (menos de R$ 880,00). Atualmente, reside em
Cachoeira-BA, onde estuda Ciências Sociais pela Universidade Federal do
Recôncavo Baiano (UFRB). É integrante há 3 anos do Engajamundo, no qual atua
como coordenadora do GT de Desenvolvimento Sustentável no núcleo local do
EngajaBahia em Cachoeira e há mais de 1 ano e meio do Greenpeace de Salvador,
como membro do grupo de voluntários.
Melinda afirma que desde pequena os temas relacionados ao meio ambiente
são alvo de sua preocupação e interesse, mas que só veio a se vincular a uma
instituição ou organização ligada a esses temas em 2013, quando conheceu o

20
A entrevista com Melinda foi realizada no dia 06 de setembro de 2016.
53

CAPÍTULO 1

Engajamundo e, desde então, tem se dedicado – especialmente – à formação ética


e ambiental de crianças, adolescentes e jovens em espaços de educação formal,
bem como tem desenvolvidos vários projetos e campanhas para além dos espaços
formais, a exemplo da formação “Moças pelo Clima”, realizada pelo Engajamundo
com mulheres marisqueiras e em unidades escolares do município de Cruz das
Almas-BA. Pelo Greenpeace, destaca-se a participação e engajamento nas
campanhas “Salve o Coração da Amazônia”, “Desmatamento Zero”, “Campanha
Solar” e “Carne ao Molho Madeira”.
A jovem Melinda participa ativamente dos movimentos ambientalistas
realizando ações para conscientizar a população sobre os efeitos das mudanças
climáticas e os prejuízos que a falta de conscientização sobre o meio ambiente pode
trazer a população. Além disso, por acreditar que a solução para a grande maioria
dos problemas ambientais depende das decisões governamentais e empresariais,
ela faz Lobby e Advocacy para pressionar representantes de grandes empresas e
chefes de estados a pensarem em pautas que não prejudiquem tanto o meio
ambiente, e realiza formações com jovens do Brasil para torná-los mais conscientes
sobre os processos nacionais e internacionais relacionados ao desenvolvimento
sustentável, meio ambiente, gênero e mudanças climáticas.
Na sua forma de avaliar a situação de degradação ambiental no Brasil e no
mundo, ela parte do princípio que, infelizmente, o Brasil é um país que ainda está
focado no agronegócio, os representantes brasileiros ainda estão preocupados em
gerar lucros e não estão ligando para a degradação do meio ambiente, o cultivo da
soja ainda devasta grande parte da Floresta Amazônica e extração de madeira ainda
é legal no nosso país, os mecanismos do governo para reparar esses processos
ainda são falhos e sem um acompanhamento efetivo.
Mundialmente, ela acredita que alguns países já sentem consideravelmente
os impactos das mudanças climáticas e já estão preocupados em reverter esses
processos, porém maiores países emissores do CO2, como os EUA, ainda tentam
justificar e burlar esses processos. No entanto, para ela, algo em comum entre todos
os países que compõem a ONU é o compromisso assumido em 2015 na COP21 em
Paris, que traz como meta reduzir as emissões dos gases do efeito estufa e não
deixar que a temperatura suba mais de 1,5° dentro de 50 anos.
54

CAPÍTULO 1

Nesse sentido, pelas suas experiências e engajamento militante, Melinda


considera que os principais problemas ambientais da atualidade são as emissões de
gases do efeito estufa que provocam a alteração da temperatura do planeta e a falta
de conscientização das grandes organizações, as maiores causadoras desses
impactos. Frente a essas problemáticas, ela afirma que no Engajamundo participa
ativamente dos processos de negociações internacionais acompanhando as
conferências da ONU sobre as mudanças climáticas e o posicionamento de cada
país, sendo que anualmente a organização leva uma delegação de jovens para a
conferência, a fim de acompanhar de perto todos os processos.

RAFAEL

Rafael de Lisboa Deveza, 21 anos na data da entrevista21, negro, solteiro,


natural de Santa Brígida-BA, onde mora com sua família, não possui filhos.
Trabalha, mas não é independente financeiramente, sendo sua renda mensal de
menos de um salário mínimo (menos de R$ 880,00). Atualmente, cursa o 3º ano do
Ensino Médio em Santa Brígida. É o fundador do Grupo Aventura Ambiental de
Santa Brígida – o GAASB e articula ações, campanhas e projetos em parceira com o
Greenpeace e o Engajamundo, dos quais também se considera integrante.
Por conceber o ambientalismo como uma questão social e política, assim
como por acreditar que a solução para os problemas ambientais depende muito – e
não exclusivamente – das decisões e posturas tomadas pelos governos e grandes
empresas, Rafael afirma que aos 18 anos de idade participou da primeira
Conferência Municipal do Meio Ambiente na cidade de Santa Brígida e, desde então,
vem buscando se informar sobre os acordos do meio ambiente global, as ações de
ONGs, a militância e ativismo dos movimentos ambientalistas, atuação dos órgãos
governamentais (seja municipal, estadual ou federal), bem como manifesta grande
interesse por seminários, conferências e encontros, cuja temática em foco seja meio
ambiente.
Além das aproximações com as esferas governamentais de seu município –
em especial com a Secretaria de Meio Ambiente –, ele participa de ações diretas,
com palestras nas escolas, coleta de resíduos sólidos, reflorestamento, voluntariado,
gestão de equipes e projetos, petições, mobilização social, reciclagem entre outras

21
A entrevista com Rafael foi realizada no dia 04 de setembro de 2016.
55

CAPÍTULO 1

ações, que desenvolve junto a grupos de jovens que promovem ações voluntárias
em prol do meio ambiente.
Para Rafael, a situação ambiental tanto nacional quanto global é crítica e na
esteira dos principais problemas ambientais da atualidade está o aumento da
temperatura do planeta, o desmatamento das florestas (com a perda da
biodiversidade), o acúmulo do lixo no solo e nos mares, o uso excessivo da energia
oriunda dos fósseis, a poluição de rios pelos agrotóxicos e redes de esgoto e
empresas.
Na sua visão, o retrato desses problemas deve-se ao fato de que, embora o
governo e as empresas estejam cada vez mais preocupados com o Planeta, de certa
forma não deixa de ser apenas “uma prestação de contas às ONGs, sociedade civil,
ONU e afins”. Por isso, ele acredita que os acordos firmados são pouco ambiciosos
e as mudanças em médio e longo prazo não garantem a conservação do meio
ambiente, nem que a Amazônia irá alcançar o desmatamento zero ou que a matriz
energética do Brasil daqui a 30 anos seja gerada a partir de fontes renováveis. O
que ele vê são leis de licenciamento ambiental sendo descartadas, dando legalidade
para empresas praticar seus atos sem os devidos cuidados e senso de
responsabilidade, apenas maquiando uma realidade que pode ser mudada.

UENDERSON

Uenderson Nunes da Paixão, 28 anos na data da entrevista22, branco,


solteiro, natural de Senhor do Bonfim-BA, não possui filho. Atualmente, não está
trabalhando e depende, financeiramente, da família; mora em Salvador-BA em
habitação coletiva, onde cursa Geologia pela Faculdade Federal da Bahia – UFBA.
Há 2 anos é coordenador do Greenpeace em Salvador-BA, de cujo grupo é membro
há 7 anos, sendo que começou a participar de movimentos ambientalistas aos 16
anos de idade.
Em seus relatos, Uenderson pontua que o seu percurso de vida militante nos
movimentos ambientalistas – inclusive com ações desenvolvidas em outras ONGs
para além do Greenpeace – possibilitou uma visão mais ampla acerca das questões
e problemáticas ambientais, para quem, tais questões são de natureza social,
política, cultural e econômica. Por isso, para ele, é preciso considerar que a solução

22
A entrevista com Uenderson foi realizada no dia 06 de outubro de 2016.
56

CAPÍTULO 1

dos problemas ambientais não está, necessariamente, nas mãos dos grupos,
coletivos, organizações e movimentos ambientalistas; dependem, sobretudo, das
posturas do ser humano nas relações diárias e, ao mesmo tempo, do teor e objetivos
das decisões empresariais e governamentais – sejam elas municipais, estaduais ou
federais.
Dentre as ações e atividades de engajamento realizadas por Uenderson,
destacam-se trabalhos voluntários, nos quais exerce o papel de levar ideias,
campanhas e informações referentes ao Greenpeace, especialmente em unidades
escolares. Além disso, ele se considera como um semeador do pensamento
sustentável, não só pela ONG, mas também pela sua vida social, profissional e pelos
ideais de sociedade com quais comunga acerca da intrínseca relação entre ser
humano, meio ambiente e equilíbrio sustentável.
Uenderson considera que a situação ambiental nacional e internacional é
muito preocupante, principalmente, pelo fato de que muito é falado, planejado e
quase nada é cumprido, efetivamente. E, na maioria das vezes, isso ocorre porque o
sistema governamental pensa muito mais nas relações capitalistas de obtenção de
lucros através da exploração exacerbada do meio ambiente, especialmente das
fontes e recursos naturais.
Nessa perspectiva, na visão do jovem Uenderson, os principais problemas
ambientais enfrentados pela humanidade atualmente são a produção de energia
associada à construção de hidrelétricas, usinas termoelétricas e nucleares; a
intensificação da exploração e uso da terra; e a ausência de atitudes cotidianas
sustentáveis, que estejam comprometidas com a redução do consumo de energia,
da geração de lixo e outras posturas simples, mas que – em seu conjunto – fazem
grande diferença para a construção de sociedades mais limpas, sustentáveis e
equilibradas.
Uenderson afirma que, após se formar em Geologia, pretende continuar no
Greenpeace, porque tendo conhecimento sobre os estudos da terra e sobre as
questões ambientais poderá fazer um trabalho mais conciso com mais
embasamento, visto que tem conhecimento de ambos os lados. E, desse modo,
poderá unir um campo ao outro e realizar seu trabalho, em consonância com o
desejo de continuar engajado e militando nos movimentos ambientalistas articulado
com o trabalho na área de geologia ambiental.
57

CAPÍTULO 1

VANESSA CINTHIA

Vanessa Cinthia Guimarães Silva, 26 anos na data da entrevista23, parda,


solteira, natural de Alagoinhas-BA, onde mora com sua família, não possui filhos.
Atualmente, não está trabalhando. Graduou-se em 2014 no curso de Engenharia
Ambiental pela Faculdade Área 1 em Salvador-BA, tem 5 anos no Grupo
Ambientalista Greenpeace Brasil de Salvador. Concluiu, em junho de 2016, o curso
de pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho pela UCAM e, no
momento, está cursando uma pós-graduação em Soluções e Tecnologias
Ambientais pelo SENAI CIMATEC, com término previsto para março de 2017.
Vanessa Cinthia deu os primeiros passos no percurso de engajamento
militante aos 19 anos de idade, a partir da realização de uma atividade solicitada
pela faculdade, na qual membros do Greenpeace fizeram o acompanhamento. Ela
narra que a sua primeira participação – enquanto integrante do Greenpeace – foi
uma limpeza de praia, na qual tinha a função de sensibilizar os banhistas em relação
às questões ambientais. Apesar de parecer – para algumas pessoas – uma ação
simples, Vanessa Cinthia relata que se constituiu como um “ritual” importantíssimo e
significativo para o seu desenvolvimento enquanto ser humano e profissional e,
inclusive, para perceber o quanto os componentes curriculares do seu curso de
graduação trabalhavam uma visão, por vezes, superficial, romântica e deslocada
tanto da realidade quanto da discussão de meio ambiente como lugar de conflitos,
onde se vive, luta, dinamiza a vida e é perpassado, constantemente, por questões
de ordem social, cultural, econômica, ideológica e política.
Possuidora de uma visão bastante otimista acerca da atuação engajada e
militante dos jovens nos movimentos, coletivos, grupos e organizações
ambientalistas, para ela, as questões ambientais estão ganhando, cada vez mais,
centralidade e força no campo social, político e econômico, por isso acredita num
futuro melhor a partir das ações desencadeadas no tempo presente.
Embora parta da premissa que a solução ou, pelo menos, a amenização dos
problemas ambientais estejam relacionados às decisões e formas de concepção
ambiental dos governos e das empresas, ela não descarta que é preciso maior
conscientização das pessoas no que tange às pequenas atitudes – especialmente

23
A entrevista com Vanessa Cinthia foi realizada no dia 10 de outubro de 2016.
58

CAPÍTULO 1

éticas – do dia-a-dia que fazem também diferença para a construção de sociedades


mais sustentáveis, limpas e comprometidas com a sobrevivência das gerações nos
tempos presente e futuro.
Considera que a degradação dos recursos hídricos, a destinação inadequada
dos resíduos e a poluição do ar são os principais problemas ambientais da
atualidade, dos quais se desencadeiam os demais problemas; cujas estratégias de
solução podem ser pensadas a partir da criação e efetivação de políticas públicas
comprometidas com o bem-estar do meio ambiente, sem desvincular o ser humano
desse lugar. Além disso, entende que são necessários mais investimentos e maior
fiscalização da real aplicabilidade das políticas públicas existentes, uma vez que, no
cenário brasileiro, temos uma grande biodiversidade e uma legislação avançada
comparada a outros países.
Dessa maneira, tomando como ponto de partida a natureza plural e singular da
categoria juventude, razão pela qual se considerou importante apresentar cada
sujeito desta pesquisa por possuírem especificidades de serem jovens situados em
seus tempos e contextos sociopolíticos, no capítulo a seguir será discutida a
perspectiva histórico-social do termo juventude, bem como o conceito de meio
ambiente correlacionado às reflexões sobre ética e educação ambiental.
59

CAPÍTULO 2

2. JUVENTUDE: ANTIGAS QUESTÕES, NOVAS ABORDAGENS

2.1. DE QUEM SE FALA QUANDO SE USA O TERMO JUVENTUDE?

Ser jovem é uma coisa muito relativa. Bourdieu já falava [...] Ser
jovem tem várias nuances, eu não posso definir, eu não posso dar
uma definição completa do que é ser jovem. Não é uma coisa só, é
muito relativo... (Melinda).

A atenção dada aos jovens pelos meios de comunicação, pelos estudos


desenvolvidos na educação superior, por instituições (não) governamentais vem
crescendo nas últimas décadas brasileiras, segundo Abramo (2014). A fala da jovem
Melinda coloca em evidência a plasticidade do conceito de juventude e, ao mesmo
tempo, re/afirma que, notadamente, há de considerar o fato de que a ideia de
juventude, marcada por um determinado período de idade (com começo e fim), não
pode ser concebida apenas pelos vieses biológicos e psicológicos, porque
historicamente o aparecimento desse termo é alvo de diferentes sentidos e
significados, especialmente sociológicos.
Falar de juventude na contemporaneidade requer situá-la como fenômeno
cultural, histórico-social e político, afinal a condição juvenil é fortemente
caracterizada pelo contato original das novas gerações com um meio cultural
preestabelecido. A ausência dessa concepção mais abrangente sobre juventude, de
acordo com Abramo (2014), é perceptível no percurso histórico da sociedade
brasileira quando se observa a inexistência de políticas públicas pensadas e
voltadas de maneira específica para a juventude, políticas essas que contemplem os
dilemas e anseios perpassantes às culturas juvenis brasileiras.
Neste ínterim, a fala de uma outra jovem – Laise – é muito emblemática ao se
referir à percepção que possui sobre a maneira como os jovens ambientalistas são
vistos e, ao mesmo tempo, como o engajamento de jovens por uma questão global e
de responsabilidade de todos, por vezes, é desconsiderada e ainda não se constitui
ponto central das políticas públicas:

Como jovens, somos capazes de mudar, de transformar muitas


coisas tanto pela nossa garra, dinamismo e pela energia que os
jovens têm. Somos capazes de mudar outros jovens, mudar os
pensamentos até mesmo das futuras gerações, das crianças... os
jovens ambientalistas são taxados assim de maluco, que o que a
gente está fazendo é loucura, muitas vezes ficam debochando, rindo,
quando tentamos desenvolver algo. Muitas vezes, alguns adultos,
não acreditam naquilo que nós falamos, achando que é bobagem.
60

CAPÍTULO 2

Mesmo que a gente explique, ficam sempre com aquele “pé atrás”,
com aquela concepção preconceituosa sobre a juventude.

Enquanto categoria sociológica e pensando nas narrativas trazidas pelos


jovens entrevistados que fazem e refazem suas experiências e histórias de vida, que
não se dão no vazio histórico, social e político; comunga-se com a ideia de que a
diversidade conceitual do termo “juventude” se insere como

consequência de determinadas condições sociais e de diferentes


representações produzidas para e pelos jovens. Isso porque é muito
variada a forma como cada sociedade, em um tempo histórico
determinado e, no seu interior, cada grupo social vai lidar e
representar esse momento. Existe uma tendência em nomear a
juventude a partir de um modelo que usa como referência
determinadas representações sociais que veem o jovem segundo a
perspectiva de um ser em construção cujos elementos constitutivos
são dados de acordo com os valores ideais das classes média e alta
(MARTINS; CARRANO, 2011, p. 51).

Acerca das fases da vida numa perspectiva histórica, Ariès (2014) salienta
que o entendimento de juventude que se tem nos dias de hoje não é o mesmo da
sociedade pré-industrial, onde a infância estava muito ligada ao mundo adulto.
Nesse contexto, a juventude é formada por pessoas de 6 a 40 anos de idade, pois
não havia uma institucionalização que classificasse as idades.
A partir do século XV, de acordo com Àries (2014), começam as surgir as
primeiras abordagens teóricas e práticas de ordem humanista e religiosa, a fim de
fazerem a distinção entre infância, juventude e vida adulta. Essa divisão, inclusive,
terá mudanças na organização do ensino, pois tende-se a separar as crianças,
jovens e adultos.
No entanto, o termo juventude ganha maior consolidação e precisão, a partir
da obra Emílio, de Rousseau, publicada no século XVIII. Nela, o filósofo produz,
teoricamente, concepções modernas de infância e adolescência, fornecendo as
bases para compreender o que viria a ser denominada juventude no século XIX.
A compreensão histórica sobre a ideia de juventude possibilita perceber que
essa categoria é construída socialmente e sofre mutações tanto no tempo quanto
nos espaços sociais, o que revela não ser homogênea. De acordo com Pais (2009),
organizar as fases da vida por segmentos etários não diz respeito a um aspecto
inerente às sociedades, essa característica tem suas origens nos processos de
construções sociais.
61

CAPÍTULO 2

Desse modo, nas duas últimas décadas, a juventude passa a ganhar certa
visibilidade no cenário brasileiro, especialmente por meio das políticas
governamentais, que buscam colocá-los numa posição de centralidade na
formulação e efetivação das políticas e programas públicos (CARRANO, 2013).
Daí que não se podem desconsiderar os aspectos históricos que perpassam
as trajetórias dos jovens ambientalistas na atualidade, como foi apresentado por
Rafael:

primeiramente, pra falar sobre o engajamento de jovens nas


questões ambientais, a gente tem que voltar um pouquinho atrás,
porque antes a questão da comunicação, de você saber quais eram
os problemas enfrentados no país e nisso você conseguir saber por
onde poderia ajudar era um tanto mais difícil. Hoje em dia com a
globalização, com a internet, há facilidade. Você vê sempre uma
organização, um comercial alertando sobre algum problema e, às
vezes, também dizendo como você pode ajudar. Hoje têm ONGs que
abrem espaços pra que jovens desenvolvam as suas habilidades. [...]
Tudo isso influencia pra que o jovem tenha mais espaço e,
principalmente, pra que ele tenha voz. Hoje, têm algumas políticas
que já fazem com que o jovem comece a pensar essas questões de
meio ambiente. Têm conferências que trazem jovens pra fazer parte,
tem a Conferência da Juventude, também. Enfim, tem vários
programas do governo, que fazem com que a juventude se engaje
mais nessas temáticas. A gente percebe que a educação ambiental
já é algo pra estar trabalhando na escola, interdisciplinar. Isso,
também, já é um ponto a mais pra que a juventude se engaje [...] A
juventude está mais engajada do que anteriormente, porque os
ambientalistas antes eram pessoas mais velhas. No sentido das
gerações passadas, eram meus tios, meus avós... E hoje, a geração
de 13 anos em diante já está super engajada nas questões e fazendo
o trabalho de gente grande.

Ainda assim, Abramo (2007, 2014) adverte que, mesmo em face dos jovens
ocuparem certa centralidade enquanto sujeitos de pesquisas nos temas de
dissertações e teses nas academias, as investigações ainda se pautam numa
perspectiva restrita a discussões sobre

[...] os sistemas e instituições presentes nas vidas dos jovens


(notadamente as instituições escolares, ou a família, ou ainda os
sistemas jurídicos e penais, no caso de adolescentes em situação
“anormal” ou de risco), ou mesmo as estruturas sociais que
conformam situações “problemáticas” para os jovens, poucas delas
enfocando o modo como os próprios jovens vivem e elaboram essas
situações (ABRAMO, 2007, p. 74).
62

CAPÍTULO 2

É possível perceber, em relação à fala de Abramo (2007) e a partir de um


mapeamento que realizei a partir dos trabalhos apresentados na ANPEd1, tanto o
crescimento dos estudos desenvolvidos considerando as interlocuções no campo da
juventude e o quanto esse campo tem se tornado área de interesse e inquietação de
muitos pesquisadores e estudiosos que se debruçam não nos limites do conceito de
juventude, mas na reflexão e entendimento do jovem enquanto ser social, político,
histórico, ator, construtor e transformador de suas experiências, visões de mundo e
percepções.
Enfim, as pesquisas mais atuais – especialmente dos últimos dez anos –
revelam, de certa forma, um deslocamento dos estudos centrados nos processos de
socialização para os processos de sociabilidade e atuação juvenis nos diferentes
espaços, tempos e contextos sociais. Quanto a este aspecto, cabe ressaltar que

a juventude é como um espelho retrovisor da sociedade. Mais do que


comparar gerações é necessário comparar as sociedades que vivem
os jovens de diferentes gerações. Ou seja, em cada tempo e lugar,
fatores históricos, estruturais e conjunturais determinam as
vulnerabilidades e as potencialidades das juventudes. Os jovens do
século XXI, que vivem em um mundo que conjuga um acelerado
processo de globalização e múltiplas desigualdades sociais,
compartilham uma experiência geracional historicamente inédita
(NOVAES, 2011, p. 02).

A ideia de juventude, com a qual comunga esse trabalho, pensa os jovens


como atores e sujeitos sociais com diferentes modos de ser e estar jovens,
englobando a compreensão de que esses jovens são afetados, constantemente,
pelas transformações, assim como são agentes das transformações sociais em
diferentes contextos e instâncias seja na vida política, familiar, escolar ou envolvido
em questões de sexualidade, meio ambiente, gênero, movimentos sociais, dentre
outras conjunturas que fazem e refazem a juventude contemporânea.
Por outro lado, Dayrell (2007) aponta as diferentes imagens que circulam no
cotidiano que assumiram e ainda assumem efeitos de verdade sobre a maneira
como os jovens são compreendidos, inclusive pelas instituições sociais e instâncias

1
Destaca-se que no mapeamento realizado nos trabalhos da ANPEd, mais especificamente no GT 03
– Movimentos sociais, sujeitos e processos educativos (8 trabalhos), pode-se perceber uma maior
valorização nos últimos anos dos estudos sobre juventude como categoria plural, possuidora de uma
identidade e o deslocamento da centralidade dos estudos apenas voltados para a família e a escola,
passando a considerar os diversos aspectos que perpassam as juventudes. A exemplo desse
deslocamento, foram encontrados trabalhos que abordam as relações juvenis com os movimentos
sociais, as expressões culturais, as culturas e saberes juvenis, a construção da autonomia juvenil.
63

CAPÍTULO 2

socializadoras. Uma dessas imagens reflete a ideia de juventude como condição de


transitoriedade para o mundo adulto e o jovem é visto pela perspectiva do “vir a ser”.
Numa perspectiva mais atual e concordando com Salem (1986), Abramo
(2014, p. 14) reforça que “o período juvenil não deve ser pensado como uma mera
transição, mas como um período de desenvolvimento que tem a mesma importância
que as demais etapas do ciclo vital, que nunca foram chamadas de transitórias”.
A contraposição à ideia de juventude como intervalo de transitoriedade,
conforme trazida por Dayrell (2007) e Abramo (2014), aparece de maneira forte na
fala da jovem Melinda, para quem, essa ideia é um dos fatores que dá margem para
os conflitos e embates geracionais e, por vezes, é utilizada como justificativa para
obstruir a participação efetiva da juventude ambientalista nos processos de decisão
política, social e ambiental:

É bem pouca a participação política dos jovens dentro dos


processos. Poucos conseguem chegar lá, a entrar nos espaços, a
participar dos espaços e, os que conseguem entrar nesses espaços
e participar não têm voz ativa, porque eles não têm credibilidade. É
muito difícil você ser um jovem ativo politicamente nos processos
ambientais, que possa dizer: “não, eu acho que deve ser assim por
esses e esses motivos”. Que a primeira coisa que os caras dizem é:
“Ah, mas você não viveu nada. Como é que você sabe disso?”. A
justificativa é que o tempo e a idade dão mais experiência e dá
entendimento, e nem sempre funciona desse jeito. Acho que a
cabeça do jovem, o mecanismo da juventude de conseguir se moldar
às coisas vão ajudar muito mais esse processo, do mesmo jeito que
a vivência também ajuda, dos caras que têm 40, que têm 50, que
têm 60 anos e que já viveu bastante coisa.

A visão romântica de juventude é outra imagem construída e surgida por volta


dos anos de 1960, no bojo do nascimento da indústria cultural com um mercado de
consumo efervescente, que buscava se expandir e solidificar-se entre os jovens por
meio da moda, revistas, músicas e lazer. Enfim, por uma série de atrativos pensados
e criados para despertar o interesse da juventude e, sobretudo, garantir a efetivação
dos princípios de uma sociedade industrial emergente.

Nessa visão, a juventude seria um tempo de liberdade, de prazer, de


expressão de comportamentos exóticos. A essa ideia se alia a noção
de moratória, como um tempo para o ensaio e o erro, para
experimentações, um período marcado pelo hedonismo e pela
irresponsabilidade, com uma relativização da aplicação de sanções
sobre o comportamento juvenil (DAYRELL, 2007, p. 156).
64

CAPÍTULO 2

A visão romântica vai, paulatinamente, situando a juventude como lugar de


cultura. No entanto, esse lugar é pertencente e atribuído aos jovens que curtem a
vida e sua condição juvenil em atividades de cunho cultural e de entretenimento nos
finais de semana.
Uma terceira imagem apontada que, segundo Dayrell (2007), está presente
nas visões anteriores é a ideia muito recente de juventude como etapa de crise da
vida humana, caracterizada como período difícil, repleto de problemas, conflitos,
instabilidades, baixa autoestima, dificuldades de aceitação, identificação e
construção da personalidade.
Especialmente em virtude dessa terceira imagem, por vezes, justifica-se a
tendência da distância criada entre o jovem e a família, bem como em relação ao
trabalho e à escola enquanto instâncias socializadoras que nos últimos anos têm
perdido o lugar privilegiado, sem perder a sua importância, de campos específicos
de sociabilidades e únicas instâncias capazes de transmitir os valores das gerações
mais velhas às gerações mais novas, principalmente com o advento das tecnologias
digitais e a grande expansão da cultura de massa, conforme Setton (2002) e Sousa,
Leão e Pinto (2013) alegam.
Se por um lado o panorama dessas imagens, que reflete diferentes visões
sobre juventude, permite analisar os jovens de maneira positiva; por outro lado,
sublinha as questões culturais e sociais como principais aspectos que elucidam a
complexidade para definir juventude e os modos de ser jovem presentes no
cotidiano.
Os estudos de Peralva (2007) trazem a juventude como condição social, onde
as transformações físicas e psicológicas próprias do desenvolvimento do corpo em
relação à faixa etária não se configuram como determinantes das representações
construídas nas sociedades acerca da categoria juventude. Ou seja, não existe uma
maneira única das sociedades compreenderem esse momento e nem esse momento
se configura por uma unicidade.
A entrada, a saída, as representações subjacentes aos significados do
ser/tornar-se jovem variam de uma sociedade para outra e até dentro de uma
mesma sociedade, em algumas inclusive celebram-se rituais como sinônimos de
“passagem”, transição, renovação e esperança do novo.
A esse respeito, Martins e Carrano (2013, p. 44) afirmam que
65

CAPÍTULO 2

uma das mais importantes tarefas das instituições, hoje, seria a de


contribuir para que os jovens pudessem realizar escolhas
conscientes sobre suas trajetórias pessoais e constituir os seus
próprios acervos de valores e conhecimentos que já não mais são
impostos como heranças familiares ou institucionais. O peso da
tradição encontra-se diluído e os caminhos a seguir são mais
incertos.

O fato é que os jovens vivem, de certa forma, nos conflitos entre os antigos
valores e as novas relações provenientes da sociedade. Ser jovem, por exemplo,
“crescendo em uma família „nuclear tradicional‟, com irmãos biológicos, é diferente
de sê-lo em uma família recasada, coabitando com padrasto e irmãos não
biológicos” (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 23).
Essa multiplicidade se alicerça em conjunturas sociais como aquelas de
classe, geracionais, identitárias, étnicas, de gênero, políticas, religiosas, históricas,
geográficas, familiares, dentre outros fatores que reverberam nas diferentes
maneiras e modos de ser jovem sócio-historicamente.

2.2. JUVENTUDE: UMA CATEGORIA DE SUJEITOS PLURAIS

Se por um lado juventude é uma categoria inventada pelos adultos, onde a


idade não é suficiente para refletir sobre esse momento da vida, por outro lado é
importante conceber juventude pelo seu caráter, eminentemente, heterogêneo, visto
que a idade é o único aspecto comum entre os sujeitos dessa categoria.
É precisamente neste aspecto que surge a necessidade de diferenciar
juventude e jovens. Para Souza (2013), juventude é a fase da vida e jovens são os
sujeitos imersos na diversidade social, que por sua vez terão diferentes maneiras,
desejos, gostos e posturas na vivência com as tensões sociais e essa fase da vida.
Dessa forma, é possível afirmar que a juventude – enquanto categoria criada
pelo ser humano – não se altera como fase da vida. As transformações ocorrem de
fato nos diferentes modos e maneiras com que os sujeitos (jovens) vivem essa fase
e constroem suas identidades, atuam, comportam-se e posicionam-se frente ao
dinamismo social de cada época. Conforme mencionam Levi e Schmitt (1996, p. 17),

de um contexto a outro, de uma época a outra, os jovens


desenvolvem outras funções e logram seu estatuto definidor de
fontes diferentes: da cidade ou do campo, do castelo feudal ou da
fábrica do século XIX... Tampouco se pode imaginar que a condição
juvenil permaneça a mesma em sociedades caracterizadas por
modelos demográficos totalmente diferentes.
66

CAPÍTULO 2

O jovem do século XXI não é o mesmo jovem do século XIX, pois as


demandas contextuais são outras, os problemas sociais já não são os mesmos, as
experiências de inserção na estrutura social forjam a formação de outras identidades
e subjetividades, solicitam dos jovens outras formas de lidar com os desafios e
anseios sociais.
Afinal, como afirma Melinda, ser jovem

não é uma coisa só, é muito relativo... se você é um jovem negro, se


você é um jovem de classe média, se você é um jovem de escola
pública, se você é um jovem de escola privada. Então, a categoria
juventude está muito mais relacionada a vários outros temas [...] Eu
posso dizer assim: “Ah, ser jovem é estar conectado, é ter acesso à
internet”. Mas, tem jovem que não tem isso e eles não deixam de ser
jovens. Eles não deixam de fazer ativismo, de fazer ações dentro da
comunidade.

Compreender o caráter social e histórico da categoria juventude, cujos


sujeitos vêm passando por constantes mudanças e transformações, permite avançar
no sentido de não reduzir a “uma etapa com um fim predeterminado, muito menos
como um momento de preparação que será superado com o chegar da vida adulta”
(DAYRELL, 2007, p. 158).
A juventude é marcada por processos abrangentes que extrapolam a visão
superficial e restrita a uma noção de idade, embora essa noção assuma um
significativo papel também para a definição e destino de políticas públicas para a
juventude, conforme sinaliza o Estatuto da Juventude – instituído pela Lei nº 12.852
de 5 de agosto de 2013 – para o qual a juventude vai dos 15 aos 29 anos de idade,
enquanto para a Organização das Nações Unidas dos 15 aos 24 anos. Além disso,
“a idade não é somente um conjunto de anos que se vai agregando num processo
linear, mas determina expectativas e comportamentos, podendo tornar o tempo um
inimigo” (SOUZA, 2004, p. 49).
Carrano (2013, p. 100) enfatiza que “a definição pelo corte de idade é uma
maneira de se definir o universo de sujeitos que habitariam o tempo da juventude.
Este é um critério variável e muda de país para país. Na América Latina vai se
estabelecendo o consenso de que os jovens devem ser considerados até os 29
anos”.
Torna-se necessário refletir sobre como os jovens, em seus cotidianos e
imersos em diferentes culturas sociais, constroem maneiras de ser jovem e quais
67

CAPÍTULO 2

significados e sentidos atribuem às experiências e descobertas provenientes do e no


seu contexto.
Como afirma Dayrell (2007), discutir e compreender a noção de juventude
numa perspectiva mais ampla e na interação com o contexto social requer o
“desapego” de definição e delimitação de critérios rígidos acerca do que seja
juventude. Esse “desapego” não marginaliza a importância dos critérios que
subsidiam a ideia de juventude, mas busca compreendê-la numa conjuntura que
prestigia as potencialidades juvenis para além da maturação biológica.
Melucci (2004) ressalta que o desenvolvimento biológico (marcado por
questões corporais e psicológicas) implica, na maioria das culturas, na demarcação
do princípio da juventude através do processo de inserção e reconhecimento dos
potenciais juvenis a partir de mudanças como a capacidade de procriar, as
responsabilidades que os jovens passam a adquirir, a necessidade de demonstrar
auto-suficiência, os primeiros sinais de busca por menos proteção familiar como
sinônimo de certa independência, a aproximação e formação de grupos de
sociabilidades, onde se desenvolvem relações afetivas, criam-se os referenciais de
modelos a serem seguidos.
No entanto, a juventude não deve ser vista como momento ou processo de
passagem dissociado do meio social em que se engendram as relações entre os
indivíduos, visto que não existe uma maneira única de ser jovem porque o jovem
está inserido em sociedades que são dinâmicas, que privilegiam e legitimam
determinadas práticas em detrimento de outras. Por isso, o ideal é pensar a
juventude no seu pluralismo, ou seja, juventudes, conforme enfatiza Dayrell (2007,
2013) e Carrano (2013) ao discutirem sobre a natureza plural e diversa da noção de
juventude e a condição dos jovens como sujeitos sociais.
Transitando pelos significados de sujeitos sociais, Charlot (2000) aponta que
se constitui como sujeito o ser humano que dialoga com o mundo, com sua própria
história, com as pessoas, constrói e é construído pelo mundo. O sujeito possui
vontades, elabora e constrói projetos de vida, é um ser ativo inserido num
determinado grupo familiar, numa dada sociedade e, portanto, ele ocupa um lugar
social dentro das relações sociais. Ao mesmo tempo em que é constituído das
múltiplas relações que o inserem no contexto social, o sujeito tem caráter singular no
68

CAPÍTULO 2

que tange às suas particularidades, emoções, história de vida, peculiaridades,


formas de ver e interpretar o mundo.
Numa perspectiva antropológica, onde a condição de espécie humana é o que
de fato aproxima os sujeitos entre si, Charlot (2000) sinaliza as interdependências
entre a multiplicidade e as singularidades que constituem os sujeitos sociais
enquanto espécie humana, situando-os como fruto de construções alicerçadas em
fundamentos sociais, históricos, políticos e culturais que se dão ao longo da vida dos
sujeitos.
Isso significa afirmar que, essencialmente, os sujeitos sociais se constroem e
legitimam suas práticas nas relações sociais. A esse respeito, refletindo sobre os
processos de socialização e atuação juvenis, bem como partindo do princípio que
todo ser humano (nesse caso, o jovem) é sujeito, Dayrell (2007, p. 160) sinaliza que
“o homem se constitui como ser biológico, social e cultural, dimensões totalmente
interligadas, que se desenvolvem com base nas relações que estabelece com o
outro, no meio social concreto em que se insere”.
No diálogo entre a dimensão natural (biológica) e a cultural (social) é fato que
os jovens nasceram numa sociedade preexistente, que estruturalmente não
dependeu dele para ser produzida. No entanto, à medida que esses jovens vão
fortalecendo seus laços de sujeitos sociais, eles vão sendo convocados a perceber,
refletir e posicionar-se perante os conflitos, contradições e problemas emergentes e
presentes na sociedade. “Nessa perspectiva, nosso grande desafio é compreender
como os jovens constroem seus modos de ser e viver, educam-se e são educados
no contexto de uma sociedade que mudou muito nas últimas décadas” (LEÃO, 2011,
p. 102).
Como sujeitos e representantes de uma geração mais nova, é sobre os jovens
que, na maioria das vezes, depositam-se as esperanças de mudanças e
transformações sociais. Ainda que o nascimento dos problemas da atualidade, a
exemplo dos ambientais, não sejam frutos das ações juvenis, a juventude é
convocada ou despertada a se apropriar da sua realidade (local e global) e pensar
em alternativas que viabilizem melhores condições de vida humana.
Nesse sentido, refletindo sobre o seu papel enquanto sujeito social e o
engajamento juvenil em problemáticas ambientais que, na escala espaço-temporal,
69

CAPÍTULO 2

são frutos de ações anteriores ao nascimento da sua geração, Lorrana reconhece


que

é importante os jovens estarem nos movimentos ambientalistas. As


pessoas vão ver que os jovens estão interessados no meio ambiente,
uma geração que vai fazer a diferença e que eles mesmos vão
precisar do meio ambiente, e que têm que lutar por isso. Só tenho 19
anos, isso aí é meu futuro. Se eu não cuidar agora, o que vai ser do
meio ambiente futuramente?

Ao colocar-se como membro de “uma geração que vai fazer a diferença” a


partir de suas ações no tempo presente, essa jovem coloca em xeque que a defesa
da perspectiva do jovem como sujeito, capaz de uma práxis social, não se trata de
uma mera opção teórico-conceitual que pode cair no erro de atribuir à juventude a
condição de objetos, mas entrelaça-se com a dimensão que situa o tempo presente
como espaço de reflexão e atuação juvenil. Nesse sentido, concebe-se a juventude
para além dos pressupostos basilares da ideia de transitoriedade, que coloca o
jovem como probabilidade do “vir-a-ser”.
Nas narrativas dos jovens entrevistados, fica muito claro que é atuando no
presente vivido que os jovens constroem as capacidades de refletir acerca do futuro,
esse processo não pode ser visto como característica singular e nascente apenas no
adentramento à vida adulta. Nas falas dos jovens ambientalistas é muito presente a
ideia de que, embora haja certa ausência de reconhecimento por uma parte das
instâncias sociais do papel ativo da juventude, o tempo presente é o tempo da
juventude. Ou seja, os jovens ambientalistas partem da perspectiva que suas ações
não se constituem como transitórias e pontuais, eles são jovens do tempo presente
que levantam bandeiras pensando, também, nos seus futuros.
Davi, jovem ambientalista que coordena o Grupo de Trabalho (GT) Escola do
Greenpeace, considera que um dos pontos principais que deve ser compreendido
tanto pelos jovens ambientalistas quanto pela sociedade de um modo geral é que as
ações da juventude engajada em movimentos ambientalistas buscam refletir sobre a
herança deixada pelo homem nas suas diferentes formas de atuar no meio
ambiente, entrelaçando presente e futuro e, portanto, a juventude não é o mero
espaço da preparação e do “vir-a-ser”.
Dessa maneira, pensando no papel da juventude ambientalista na atualidade,
ele diz:
70

CAPÍTULO 2

O Skinner fala que quando a resposta é muito longe, dificilmente a


pessoa vai ser reforçada a fazer determinado comportamento. No
caso, a resposta de preservar o futuro agora pra ter uma resposta no
futuro, de poder sobreviver no futuro é muito mais difícil de
conseguir. Então, eu tento passar pra esses jovens coisas do nosso
dia a dia mesmo. Tipo: “Se você jogar aquele lixo no chão, onde é
que ele vai parar? Porque não tem fora. Tem o planeta, mas não tem
fora do planeta. Ele vai ficar em algum lugar. Ele vai acabar
entupindo algum bueiro, ele acaba fazendo alguma coisa que vai
prejudicar você mesmo”. A gente tenta mostrar isso. É muito difícil
você levar pra criança, adolescente ou jovem que você tem que
preservar para o futuro, tem que mostrar pra ele a realidade agora e
reforçar de forma social.

Para Sarti (2004), o mundo social e a compreensão do lugar que ocupam são
construídos pelos jovens por meio dos processos de socialização e interação social
que viabilizam tanto a tomada de consciência dos conflitos, desafios e possibilidades
existentes em seu contexto como a consciência das expectativas criadas entorno
das novas gerações como sinônimos de vigor, luta e manifestações de anseios.
No entanto, não se pode cair na falsa ideia ou na ingenuidade que a
juventude por si só é fonte de resolução dos problemas sociais articulados com
questões políticas, econômicas, culturais e ideológicas. A juventude, mediante as
problemáticas ambientais, deve ser vista como parte da solução e não como
responsável total e absoluta pela resolução e amenização dos problemas
ambientais.
Rafael, Davi e Uenderson, por exemplo, acreditam que a solução para os
problemas ambientais e o efetivo resultado do engajamento juvenil ambientalista não
dependem apenas das pequenas ações das pessoas no dia a dia. Embora
acreditem na importância dessas ações, eles colocam que é preciso um movimento
maior, mais consistente e positivo por parte das esferas governamentais e das
empresas, especialmente em sua tomada de decisões na sociedade capitalista que
tem seu foco nas relações de produção e consumo, por vezes, desenfreadas.
Para eles, a existência de grupos, organizações e coletivos ambientalistas por
si só não terão efeitos significativos se não conseguirem atingir positivamente os
modos de pensar e ser ambientalistas dos governos e grandes empresas. Por essa
razão, na perspectiva de Rafael – tomando como referência o grupo que coordena, o
GAASB – os grupos, coletivos e organizações ambientalistas são vistos

como uma evolução, um empoderamento de jovens. É uma coisa


nova, porque a gente sempre vê a questão de falar sobre meio
71

CAPÍTULO 2

ambiente nas escolas; mas, na prática, as escolas deixam muito a


desejar. E quando a gente trabalha na questão da coleta de resíduos
sólidos, do ativismo ambiental, de participar de fóruns, conferências,
de plantar ideia na mente, principalmente dos jovens, e mostrar pra
eles que a nossa realidade é precária e que a gente não deve se
acomodar com isso; então, as pessoas começam a ficar inquietas,
elas começam a ver problemas e elas querem, também, fazer parte
da solução. Então, é isso que a gente quer. A gente não quer apenas
apontar um erro, mas também quer unir forças e conseguir uma
solução pra aquilo [...] É toda essa questão mesmo que envolve, que
engloba e faz com que a gente sonhe, cada dia mais, em ter um
mundo melhor para a gente e para as futuras gerações.

Acreditar na juventude como campo potencial à amenização dos problemas e


desafios enfrentados pela sociedade significa compreender que esse processo
ocorrerá mediante o imbricamento das instâncias sociais aliadas à efetivação de
políticas públicas que legitimem os jovens como cidadãos e sujeitos, capazes de
transitar e intervir nos espaços e tempos sociais.
É preciso assinalar, conforme Sposito (2014), que no plano das políticas
públicas2 a temática juventude tem ganhado mais visibilidade nos últimos anos e,
com isso, os jovens têm assumido a condição de sujeitos de direitos, que lhes
confere maior autonomia e legitimidade para suas intervenções no campo social e
cultural, inclusive por meio dos vários programas e projetos criados no Brasil com
intuito de desenvolver o caráter social e humano juvenis, principalmente a partir do
governo Lula.
Nesse sentido, a natureza plural das juventudes contemporâneas traz como
ponto-chave a necessidade de fortalecer e promover espaços de diálogos entre
gerações e compreender a juventude como partícipe do contexto econômico,
político, cultural e social em que estão imersos. Desconsiderar essa peculiaridade
presente na juventude significa desconsiderar, também, o papel ativo e consciente
que muitos jovens-estudantes brasileiros expressam ao realizarem, por exemplo,
manifestações em prol de uma educação pública de qualidade, como aquelas que
ocorreram no estado de São Paulo, em 2015 e 2016.
Não pretendo descrever ou aprofundar a discussão sobre políticas públicas e
juventude, mas ao pontuá-la (ainda que brevemente) busca-se elucidar que ser

2
Política pública é aqui entendida como “o conjunto de diretrizes e ações encaminhadas pelo poder
público para atender a determinados interesses e necessidades coletivas, as quais podem ser
implementadas pelo próprio Estado ou em conjunto com a sociedade civil” (SILVA; SILVA, 2011, p.
663).
72

CAPÍTULO 2

jovem no contexto da sociedade contemporânea é diferente do ser jovem de


algumas décadas passadas, porque cada período traz suas singularidades e
desafios, que interferem nas posturas dos jovens frente aos graus de mudanças na
sociedade.
Sposito (2002) e Carrano (2008) afirmam que é preciso desmistificar os
discursos que ainda estão muito presentes na contemporaneidade, especialmente
nas práticas educacionais, que caracterizam os jovens como rebeldes,
desocupados, indivíduos em crise, problemáticos, inconstantes, imaturos, violentos,
desordeiros, mal-educados, dentre outros termos e adjetivos que acabam por
“anular” o caráter de sujeitos tão intrínseco às juventudes.
Essa caracterização, também, é muito presente no universo da juventude
ambientalista. Há quase que um consenso nas narrativas dos jovens de que a
maioria dos jovens ambientalistas é vista com descrédito, especialmente, pelas
pessoas adultas através de discursos do tipo:

É maconheiro, é vagabundo. Tem muito isso! “Ah, você faz o quê?”


Faço trabalho voluntário. “Ah, rapaz, isso não é pra mim não”. “Ah,
você é novo. Vá fazer alguma coisa de verdade. Vá trabalhar, vá
estudar”. Sim, estou fazendo o quê? Trabalho, estudo e faço
voluntariado. Não é porque estou fazendo isso que sou vagabundo.
Existe muito isso de pessoas mais velhas principalmente, assim de
40, 50 anos que já vêm de outra vida. Já de jovem pra jovem é mais
de boa, mas de adulto, de pessoa mais velha pra jovem tem muito
preconceito (Uenderson).

No grupo [se referindo ao Greenpeace], eu sou tipo um cabeça. Eu


acho que tem a questão também da gente gostar de poder ser
alguém no grupo, ser alguma coisa importante no grupo. Acho que é
natural do ser humano poder ser valorizado. Fora do grupo,
geralmente, me chamam de louco [sic]. Primeiro, porque meu tempo
é ambiental, sempre estou em busca de alguma coisa. Todo mundo
se revolta um pouquinho, às vezes, com isso porque, além de ser do
Greenpeace, eu sou vegano. O povo acha que eu sou chato por isso,
que eu sou irritante por isso. [...] Mas assim, é uma paixão minha. No
trabalho pelas pessoas que a gente tenta parar, porque eu sou
captador de recursos do Greenpeace, sempre que a gente vai parar,
alguém fala: “Ah, vocês são desocupados” e não sei o que... Na
minha família, direto tem alguma piadinha, tipo: “Ah, não tem o que
fazer”, “é falta do que fazer” (Davi).

A jovem Elen ratifica que embora existam os discursos negativos de que


“jovem é bagunceiro. Jovem é isso, é aquilo, é baderneiro. Mas, não é! Quando eles
73

CAPÍTULO 2

querem alguma coisa, eles colocam a cara pra bater e dizem: „Oh, eu estou aqui! Eu
quero isso, me escutem‟”.
É preciso, pois, abandonar essa visão negativa acerca da juventude e passar
a compreender os jovens como produtores de história, culturas e de territórios
individuais/coletivos. Para Leão, (2011, p. 99), “os jovens são atores plurais, abertos
à experimentação e propensos a assumir diferentes identidades dependendo do
contexto e das relações sociais em que estão inseridos”.
Leão (2011) parte do pressuposto de que refletir sobre quem é esse jovem e
como ele se tornou quem é se constituem uns dos aspectos principais para
compreendê-lo como sujeito dentro de uma multiplicidade de experiências e papéis
sociais que assume. Por isso, para Melucci (2004), ser jovem não se fundamenta na
ideia de destino; para ele, a juventude está atrelada à capacidade de fazer escolhas,
transformações e construir caminhos de autonomia e responsabilidade.
Dayrell, Moreira e Stengel (2011) apontam que a pluralidade das juventudes
contemporâneas implica na necessidade de compreendê-las sob olhares múltiplos
para além dos demarcadores etários e enquanto formadas por sujeitos de e em
transformação, entendendo juventude como categoria social cuja complexidade é
perpassada por questões de gênero, etnia, geração, política e classe social.
Desse modo, as discussões tecidas nesse trabalho, no conjunto das reflexões
acerca da juventude contemporânea e seu imbricamento com a problemática
ambiental, consideram

os jovens como sujeitos em construção, mas sujeitos também do


tempo presente e não somente como um “vir-a-ser” adulto. Os jovens
vistos como portadores de direitos e seres políticos capazes de
intervir no espaço coletivo revelam no cotidiano as contradições, os
impasses e os antagonismos nas relações com os próprios pares e
com os demais segmentos sociais, tornando visível, como um
iceberg, a complexidade da sociedade contemporânea (DAYRELL et
al, 2011, p. 12).

Concordando com o pensamento de Leão (2011), acredito que seja


importante entender a condição juvenil na contemporaneidade distante das visões e
imaginários preconcebidos que, por vezes, criamos e utilizamos para categorizar de
forma fechada as múltiplas possibilidades de vivências e atuação juvenis,
esquecendo-se que os jovens são sujeitos portadores de voz e que é preciso
oportunizar aos jovens a condição de ser ouvidos e posicionar-se frente às
74

CAPÍTULO 2

condições sociais, culturais, econômicas e políticas que os transformam e, ao


mesmo tempo, são transformadas por eles. Por essa razão, é arriscado falar de
juventude numa perspectiva universal, pois além de perder a sua dimensão histórica
e social, pode-se cair no engano de que os jovens vivem e compartilham as mesmas
experiências, independente de seus contextos sociais.
Castro (2011), ao fazer o seguinte questionamento: “os jovens podem falar?”,
apresenta caminhos para refletir sobre a atuação juvenil enquanto uma construção
histórica e, ao mesmo tempo, complexa porque a atuação dos jovens na
contemporaneidade é fruto de enfrentamentos e conquistas diante da cortina do
silêncio imposta aos jovens.
Enquanto portadores de vozes e sujeitos sociais, a juventude engajada
ambientalmente parte do princípio de que ser jovem e ambientalista, na atualidade,
não significa apenas levantar a bandeira por uma causa ou grupo ambiental. Para
eles, estar imbricado nos movimentos ambientalistas não representa ociosidade,
perda de tempo, falta de expectativas ou anulação dos seus direitos de ser ouvidos e
posicionar-se frente ao mundo. Ao contrário, a juventude engajada nas
problemáticas ambientais acredita que ser jovem ambientalista

é ser ousado, porque tem que ter muita ousadia pra bater de frente
com pessoas que estão ali dispostas a lhe impedir de fazer seu
trabalho. Pessoas que ficam tentando fazer você desacreditar no que
você pensa. Então, você tem que ter a cabeça muito centrada e força
de vontade pra lutar pelo objetivo que se quer. Acho que ser jovem e
ser ambientalista tem um pouco dessa ousadia: você querer e você
correr atrás do que você quer (Laís).

Historicamente, os jovens assumiram a condição muito mais de indivíduos


falados do que de falantes, salienta Castro (2011). Nesse sentido, a autora reforça
que a “fala” em sua dimensão múltipla e social representa a própria constituição dos
jovens enquanto sujeitos políticos e capazes de promover transformações na vida
social coletiva. Castro (2011) afirma que é preciso superar a visão decorrente do
século XIX que concebe os jovens como seres passivos e meros aprendizes que
nada sabem, cuja construção de mundo e de si mesmos dependem unicamente da
sua submissão aos adultos, através dos quais poderão adquirir todos os
conhecimentos das gerações passadas, desconsiderando a juventude como
categoria formada por questões peculiares e diferenciadas contextualmente.
75

CAPÍTULO 2

Neste aspecto, enquanto coordenadora da juventude do Partido Verde em


Salvador-BA e gestora ambiental, Elen ao fazer referência à condição juvenil e
ambientalista da juventude atual, pontua que nos interstícios das gerações não se
deve desconsiderar que “o jovem tem direito a ter uma boa qualidade de vida e a
maioria sabe que é um dever proteger o meio ambiente para as futuras gerações”.
Concomitantemente, Dayrell e Corrochano (2009, p. 119) chamam a atenção
que é

importante considerarmos os jovens enquanto pertencentes a uma


geração que vive em determinado contexto social, econômico e
político – o do início do século XXI com todas as suas mutações e
desafios a ele inerentes, mas, ao mesmo tempo, em sua diversidade
de pertencimento de classe social, sexo, cor/raça e trajetórias de
vida. E, tal como alerta Martuccelli (2004), por detrás de posições
estruturais semelhantes, evidencia-se uma diversidade de estados
sociais.

Condição social e representação se configuram como os principais pilares


para se entender o conceito de juventude na contemporaneidade a partir da noção
de que existe uma diversidade dos modos de ser jovem como reflexo da própria
pluralidade das diferentes juventudes que se constroem e constituem através de
experiências e vivências diversificadas. Ser jovem, por exemplo, pertencente à
classe média é diferente de ser jovem pertencente às classes menos favorecidas.
Sem dúvidas, as condições sociais, econômicas, as disparidades entre o
capital cultural, econômico e social influenciam na formação de diferentes perfis
juvenis que, por sua vez, podem atuar como indicadores decisivos e não
determinantes das relações sociais juvenis inscrevendo sobre os jovens posições de
prestígio, oportunizando ou não o acesso a determinados meios culturais.
Por isso, o processo de vivência da juventude deve ser visto pelo prisma tanto
social quanto subjetivo, pois é uma falácia considerar que a participação e inserção
dos jovens na sociedade se dão de forma horizontal, como se todos tivessem as
mesmas oportunidades de acesso e garantia dos seus direitos enquanto sujeitos
sociais dotados de autonomia, consciência, desejos, valores, sentimentos e anseios.
O desenvolvimento pleno do jovem até alcançar a idade adulta e perceber-se,
sobretudo, como cidadão depende das experiências que os jovens constroem no
processo de suas juventudes, onde o descobrimento e fortalecimento de suas
potencialidades por meio das relações estabelecidas com os diferentes espaços e
76

CAPÍTULO 2

tempos são de fundamental importância para que os jovens desenvolvam sua


capacidade crítica, entendam-se como agentes de transformação social e possam
se posicionar diante do mundo com uma efetiva participação social.

2.3. PROJETOS DE VIDA: CATEGORIA-CHAVE DA CONDIÇÃO JUVENIL

Quando eu realmente entrei pra esse mundo ambientalista, a


princípio, o que eu pensava era apenas terminar os estudos e seguir
um cursinho qualquer, alguma coisa que me rendesse alguma grana
pra que pudesse me manter. Mas, depois que eu comecei ir a fundo
no GAASB, a participar de outras organizações, eu percebi que eu
tinha que me especializar na área para poder ajudar outras pessoas,
para que eu pudesse crescer na organização e, consequentemente,
para que eu tirasse dali o meu sustento. Eu não consigo mais
distinguir o que é o meu lado ambientalista e o que é o meu lado da
minha vida social, porque tudo já é uma só. Eu consigo fazer essa
mistura. E hoje, depois de tantas influências boas que, é claro, foram
muito positivas na minha vida e foi um divisor do que realmente eu
quero ser, eu vou ser – com fé em Deus – um biólogo. Eu quero me
especializar na área de ecologia [...] eu quero trabalhar nessa área,
eu quero me especializar melhor. E também, claro, minha paixão,
quero seguir com ela que é ser fotógrafo. Na verdade, eu já sou
fotógrafo, mas eu quero ter muito mais conhecimento para conseguir
fazer esse casamento biologia e fotografia [...] Dizer o que significa
GAASB é um pouco complicado, porque na maior parte do tempo já
está fazendo parte de uma vida, porque eu não consigo mais separar
o que é trabalhar com a organização e o que é a vida comum. Então,
já se tornou uma coisa única, uma coisa que eu tenho me
empenhado bastante, me dedicado muito (Rafael).

A fala de Rafael permite perceber que o universo de possibilidades, limites e


desafios colocados frente aos jovens, que contribuem para seu desenvolvimento
muito além da ideia de juventude restrita a uma delimitação etária, são influenciados
e, ao mesmo tempo, influenciam na formação da identidade e das perspectivas de
projeto de vida dos jovens.
Nesse ínterim, Dayrell (2013) enfatiza a estreita relação entre identidade e
projeto de vida, uma vez que o projeto de vida pode ser compreendido como o poder
de decisão e escolha dos jovens acerca dos seus desejos, anseios e fantasias
quanto ao futuro, assim como a representação de seus objetivos e visão de mundo
sobre as estratégias a ser utilizadas a fim de alcançar a vida que pretende construir.
A formação da identidade juvenil tem nos contextos sociais, econômicos e
culturais a principal base onde se estruturam as primeiras possibilidades dos seus
projetos de vida, que dependem das considerações que os jovens constroem de si e
77

CAPÍTULO 2

das experimentações que vão tecendo nesses contextos que viabilizam o


descobrimento de seus gostos, desejos e prazeres.
No discurso de Elen, por exemplo, aparece de maneira muito forte o
entrelaçamento da sua perspectiva de vida com as atividades que desenvolve no
engajamento ambientalista, que extrapolam a conclusão de um curso em nível
superior e relaciona-se com visão ética e de responsabilidade social que possui no
que tange à sua função social e política:

Eu sou uma Gestora Ambiental e futura Engenheira Ambiental e


Sanitária. Então, os projetos que eu atuo, que eu ajudo, os
movimentos que eu contribuo estão entrelaçados com a minha vida
pessoal, porque é algo que eu tenho interesse, é algo que eu busco
pra estar melhorando a minha qualidade de vida; não só minha, mas
de toda a população. É um jeito que eu busco em estar melhorando a
minha partezinha que estou fazendo pra melhorar o mundo [sic]. Mas
enfim, essas ações são importantes e elas fazem parte do que eu
quero na minha vida, dos meus ideais, dos meus projetos e,
futuramente, eu pretendo estar engajada muito mais em relação a
isso, em estar colocando os projetos, que eu ainda penso, na rua.

Logicamente, a abordagem de identidade aqui não se limita à noção do “eu


interior” relacionada ao conjunto de características inerentes aos indivíduos quando
nascem. Pelo contrário, a identidade, no campo das discussões e reflexões até aqui
trazidas, é entendida como processo de construção que se dá nas relações que os
jovens mantêm consigo, com os outros e com o mundo.
Como disse Viana (2009), a identidade juvenil poder ser entendida pelo
prisma do “conceito de si” ou “representações de si” que os jovens constroem como
falas individuais e dos grupos sociais que fazem parte ou pertencem. Nessa
construção, gradativamente, os jovens vão tomando consciência de si e do seu
papel nas múltiplas relações que estabelecem com o meio.
No campo da juventude ambientalista, os conflitos que perpassam os
diferentes processos de construção da identidade juvenil são mais emergentes em
virtude da invisibilidade juvenil ambientalista que, por vezes, essa juventude é
colocada à margem das interações e interrelações sociais, é como se os jovens
estivessem sozinhos e lutando por causas que não são levadas a sério. E essa
invisibilidade, por sua vez, não permite que o envolvimento da juventude em
problemáticas ambientais seja compreendido como o percurso em que, na reflexão e
ação, eles constroem suas identidades e seus repertórios de vida. É preciso sinalizar
78

CAPÍTULO 2

que essa invisibilidade tem em suas raízes a concepção de que “cuidar do meio
ambiente já é visto, por muita gente, como falta do que fazer” (Davi).
Logo, numa sociedade capitalista a luta ambientalista ocupa muito mais o
lugar da “desordem” do que de reflexo de uma juventude que, imersas nos
movimentos ambientalistas, constroem e ressignificam suas biografias através das
interações sociais na busca por sentidos de vivências, experiências de vida e
formação das suas identidades. Portanto, vistos pela perspectiva da interação social
e enquanto sujeitos sociais, os jovens ambientalistas não se fundamentam em “oba-
oba”, em ações estanques. Há sentidos e significados atribuídos às suas maneiras
de ver, interpretar e atuar no mundo.
Além disso, é importante perceber que as diferentes experiências vividas
pelos jovens, desde a infância, mostram que o que acontece na infância não
permanece na infância, mas se estende para o resto da vida dos indivíduos em suas
diferentes fases. E, nesse sentido, desconsiderar as relações sociais construídas
pelos jovens como formatadoras das suas identidades significa desconsiderar o
quanto as relações familiares, escolares, entre amigos e outras instâncias sociais
exercem influência na formação identitária juvenil. A esse respeito, vejamos o que
disse Laise:

Quando eu era criança, eu tinha uma vontade de ser bióloga pra


poder cuidar dos animais, mas isso eu já mudei. Hoje, com meu
curso técnico em Agropecuária, eu pretendo fazer Agronomia e
continuar com meus dois projetos que eu estou desenvolvendo de
pesquisa, dentro do IF, que é voltado também à questão de
agroecologia, desenvolvimento sustentável e eu pretendo estar,
daqui em diante, participando de mais e mais projetos ou
movimentos. Mas, o meu trabalho mesmo é na área de Agronomia
com ênfase na Agroecologia, porque eu quero aproveitar a minha
permanência e a minha experiência através do meu avô, que é
agricultor, e também minha paixão por trabalhos voltados pra meio
ambiente, e juntar o útil ao agradável para construção de uma
sociedade melhor, de estar de certa forma ajudando, contribuindo
para o futuro. Não só pensando na questão financeira, mas também
no melhor para nossa sociedade. O interesse pela Agronomia surgiu
a partir do meu envolvimento com o sindicato dos trabalhadores
rurais, vendo a experiência, o dia a dia dos meus tios, avós... tudo
voltados à agricultura familiar. E eu pretendo utilizar isso em favor da
alimentação saudável e utilizar métodos mais adequados para
produção desses agricultores. O sindicato dos trabalhadores rurais
significa construção de saberes, de lutas e de histórias também da
minha comunidade dentro do município de Serrinha, perceber que a
autonomia que eles tinham na sua produção, hoje se perdeu com o
uso de agrotóxicos e coisas que o mercado financeiro oferece. E
79

CAPÍTULO 2

hoje, a Agroecologia vem surgindo através disso, é o retorno dessas


formas tradicionais para que não danifiquem tanto o solo e o espaço
que eles vivem, valorizando assim as sementes crioulas e o alimento
que eles estão produzindo e os agricultores e moradores estão
adquirindo.

Percebe-se que o encadeamento dado por Laise no tocante aos seus


estudos, à busca e produção de conhecimentos, bem como à sua visão de projeto
de vida estão muito fortemente ligadas às suas relações familiares e à participação
de reuniões em sindicatos e associações rurais com seus avós e tios; enfim, a
identidade de Laise foi construída nesses processos de interação. Isso permite
lembrar o que Dayrell (2013) ressalta que a identidade juvenil se constitui como um
processo de formação fundamentado na interação social, que não é possível sem o
contato e o relacionamento dos jovens com outros sujeitos e as variáveis que
formam o contexto onde estão inseridos, visto que a identidade diz muito sobre os
laços de pertencimento individual e coletivo que os jovens passam a ter no bojo de
suas relações. Por isso, “fica evidente a importância do grupo de amigos, das
esferas culturais, das atividades de lazer, da escola, entre outros, como espaços que
podem contribuir na construção de identidades positivas” (DAYRELL, 2013, p. 02).
As diferentes maneiras como os jovens constroem suas identidades, leem e
interpretam o mundo orientam e justificam suas escolhas por este ou aquele projeto
de vida, bem como sinalizam os desejos, envolvimento e sentidos de pertencimentos
que atribuem por se interessarem e participarem de determinados grupos sociais,
por se imbricarem em determinadas causas e questões cotidianas. Assim, a
identidade pode ser entendida como uma variável basilar na formação dos projetos
de vida juvenis.
No entanto, é fato que a construção de um projeto de vida, que não está
necessariamente relacionado às perspectivas de cunho profissional, depende do
processo de aprendizagem de escolhas e decisões pelo qual os jovens passam, que
contribui para a sua formação autônoma à medida que aprender a escolher e decidir
se relaciona à tomada de responsabilidade e compromisso sociais.
Importante destacar que, a depender do meio social em que os jovens estão
imersos, seu desejo e engajamento em grupos, coletivos ou movimentos
ambientalistas são mais ou menos aceitos, mal ou bem vistos, especialmente pelos
familiares. Diferentemente da fala de Laise, na maior parte das narrativas dos jovens
80

CAPÍTULO 2

é muito comum aparecer o relato de que, embora muitos tenham despertado sua
vontade pelas problemáticas ambientais por meio dos pais, há certo
descontentamento (ou a princípio existiu) da família em virtude de os jovens
seguirem seus projetos de vida dentro dos movimentos ambientalistas,
principalmente por causa do pouco retorno financeiro. Dos jovens entrevistados, é
possível perceber que da juventude que mora na zona urbana, as famílias esperam
que eles tenham desejo por cursos de alto prestígio ou que busquem construir suas
vidas de modo que sejam mais reconhecidos social e financeiramente, como
podemos observar:

Minha família fica muita preocupada, minha mãe acha que eu não
tenho o que fazer. Ela não entende muito a fundo sobre o grupo [...]
Enfim, minha família super apoia, só ficou meio assim quando eu
disse que ia fazer Biologia pra ser professor. Ficaram meio... “ah,
porque existem tantos outros cursos que podem dar uma melhor vida
pra você no futuro”. Mas, isso aí passou, eles entenderam que essa
é minha vontade [...] Então, digamos que esses movimentos são
incentivo, influência e foi um divisor de pensamentos. E hoje, já é
uma decisão minha: assim que terminar o colégio, já vou procurar
fazer alguma coisa, um vestibular relacionado a Ciências Biológicas.
A princípio, queria fazer um bacharelado porque minha intenção é
trabalhar com organizações. Mas, caso não consiga, é licenciatura
mesmo, não tem problema (Rafael).

A minha vida, na infância, eu comecei com a questão de família.


Sempre tem a questão de família. Minha mãe sempre falou: “Não
jogar o lixo no chão. Não fazer isso, não fazer aquilo outro”. E eu fui
adquirindo esse repertório aos poucos, apesar de minha família não
acreditar nesse altruísmo de se engajar em uma coisa sem fins
lucrativos (Davi).

Meus colegas de faculdade me achavam besta, burra [sic], louca por


estar trabalhando voluntária, enquanto poderia estar procurando
mais estágios pra ganhar dinheiro. Eles não sabiam como era estar
envolvida nesse grupo, que gera até um ciclo de amizades também.
Tem outra visão de tudo que está acontecendo no nosso meio
(Vanessa Cinthia).

No caso de Laise, moradora do campo, a questão financeira não é o


balizador da sua decisão de abranger as problemáticas ambientais enquanto projeto
de sua vida. Na família de Laise não houve certa rejeição ou estranhamento no
tocante à sua motivação e desejo pelas questões ambientais e, como ela mesma
afirmou, essa decisão foi motivo de orgulho “por eu vir e ser uma menina do campo,
querer crescer, me desenvolver perante o local onde eu vivo, sem ter que precisar ir
pra fora”.
81

CAPÍTULO 2

O “ir pra fora”, inclusive, remete à ideia errônea que, historicamente, foi
construída de que o jovem do campo deve projetar sua vida desconsiderando suas
raízes campesinas3; visto que, nessa linha de pensamento, o campo é o lugar do
atraso e da contemplação da natureza. Portanto, essa visão corrobora para a
negação e invisibilidade da identidade juvenil (LEÃO, 2015).
Nesse sentido, compreende-se que seja “tarefa do mundo adulto e suas
instituições garantir aos jovens momentos e situações em que se coloquem como
interlocutores, promovendo uma relação intergeracional” (DAYRELL, 2013, p. 03). O
cumprimento dessa tarefa em sua plenitude e efetividade requer o rompimento com
o conjunto de representações negativas e preconceituosas que, ainda, circundam no
imaginário, discursos e relações mantidas com a noção de juventude.
Compreender a juventude como categoria constituída por sujeitos sociais que
possuem autonomia, capacidade de escolha, condições de decidir e perspectivas de
diferentes projetos de vida não invalida nem nega o importante papel que as
instituições sociais podem exercer no diálogo intergeracional, como forma de
orientação e mediação entre as gerações passadas e presentes. Neste aspecto,
Dayrell (2013) enfatiza a necessidade de romper com a visão de juventude atrelada
à noção de incompletude, despreparo, ausência, incerteza e desconfiança.
Melinda considera que o intervalo entre a esperança e a falta de credibilidade
dada aos jovens contribui para os conflitos entre gerações, uma vez que na maioria
das vezes não se concebe a existência da juventude sem a tutela das gerações mais
velhas e, dessa forma, é retirada do jovem sua autonomia de sujeito; bem como se
reforça a ideia que os jovens são indivíduos despreparados, problemáticos,
inexperientes, instáveis e, se são incapazes de pensar sobre as suas próprias
trajetórias de vida, que condições têm de decidir sobre a relação entre sociedade e
meio ambiente?
Por essa razão, sem desconsiderar sua importância, Melinda afirma que
inclusive nos próprios movimentos ambientalistas se faz presente tanto a visão da

3
Novaes (2006, p. 10) destaca que “via ecologia, os jovens rurais e urbanos se conectam com as
questões de seu tempo, fazendo dialogar velhos problemas com novas motivações. Hoje, no campo e
na cidade, há grupos de jovens ambientalistas. E ao mesmo tempo, o tema é quase obrigatório nas
demais organizações juvenis. Os grêmios estudantis, as juventudes partidárias e as pastorais da
juventude católica e evangélica se veem na obrigação de colocar um item ecológico em seus
projetos, programas e agendas [...] Nesse contexto, em que a violência se banaliza e a natureza está
ameaçada, o ideário ecológico pode ser uma amálgama para a construção de sentido e utopias
juvenis”.
82

CAPÍTULO 2

juventude como categoria formada por sujeitos pensantes e críticos quanto à visão
de uma juventude amorfa e agregadora de instabilidades em relação ao seu
engajamento e projetos de vida. Para ela, essa falta de visibilidade e credibilidade
dada às vozes juvenis corrobora para as dissenções geracionais e, ao mesmo
tempo, para que alguns jovens não consigam transpor seus próprios limites e
cheguem à vida adulta com uma visão de mundo mais ampliada.
E por isso, de maneira bem geral, pensando nos anseios juvenis dentro dos
movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas, ainda se vê que

a maioria dos jovens é usada como mecanismo pra desenvolver o


processo, mas eles não são parte da construção do processo. É por
isso que a gente tem poucos jovens engajados nos processos,
porque pra eles não é interessante só ir pra rua e fazer e acontecer.
Eles querem desenvolver tudo (fazer e acontecer, não. Ir pra rua e
botar em prática). Eles querem fazer a coisa acontecer, eles querem
construir junto. Nem sempre o que é prioridade pra um cara de 50
anos, é prioridade pra um jovem. Então, o que a gente precisa
desses movimentos é a participação efetiva da juventude, porque a
juventude é criativa (Melinda).

E complementa:

Esse é o diferencial do Engajamundo: a gente não usa o jovem como


objeto, a gente é jovem e chama o jovem pra pensar junto com a
gente os processos. A gente vai pensar o que é melhor para a gente,
porque é a gente quem vai estar aqui daqui a 20 anos, daqui a 30
anos, daqui a 40 anos vivenciando isso. Então, vamos parar pra
refletir do nosso ponto de vista? Não adianta ter um discurso bem
legal [...] É importante ter movimento, sim. Não quero descredibilizar
os movimentos, eu acho que a atividade que eles fazem, as ações
que eles desempenham, é muito importante. Mas, é importante que a
gente insira o jovem nesse processo [...] O jovem tem total
consciência para distinguir o que vai ser bom ou não para eles
(Melinda).

Logo, não há dúvidas da necessidade de reconhecimento do jovem enquanto


sujeito que

ama, sofre, se diverte, pensa a respeito das suas experiências,


interpreta o mundo, tem desejos e projetos de vida. Torna-se
necessário escutá-los, considerá-los como interlocutores válidos e,
na perspectiva do protagonismo juvenil, tomá-los como parceiros na
definição de ações que possam potencializar o que já trazem de
experiências de vida (DAYRELL, 2013, p. 03).

É através do conhecimento e reconhecimento das potencialidades juvenis,


percebendo o jovem como sujeito dotado de sentimentos, criatividade, autonomia,
83

CAPÍTULO 2

consciência e não como mero corpo em estado de transformação, que as


identidades juvenis são construídas, bem como são postos os alicerces à elaboração
de projetos de vida de maneira mais segura, positiva e imbricada com a sua própria
formação humana.
Viana (2009) salienta que a formação da identidade juvenil é um processo,
eminentemente, social que se inicia pela ação socializadora dos adultos e, aos
poucos, os jovens vão construindo de modo mais efetivo suas autoimagens e
aprendendo a escolher e decidir.
Nesse processo, há que se tomar cuidado para que essa influência,
principalmente das instâncias socializadoras, não acabe por projetar nos jovens uma
espécie de adulto-padrão por julgá-los incompletos, problemáticos, inconstantes,
transitórios e necessitados de chegar a um modelo ideal de adulto, desconsiderando
suas trajetórias de vida, suas vozes, suas diferentes realidades, as peculiaridades de
sua geração e as ambiguidades existentes de suas experiências e os projetos que
embasam, dão sentido, significado e ressignificam suas vidas.
Para Novaes (2011, p. 01),

na sociedade moderna, embora haja variação dos limites de idade, a


juventude é compreendida como um tempo de construção de
identidades e de definição de projetos de futuro. Por isto mesmo, de
maneira geral, a juventude é a fase da vida mais marcada por
ambivalências. Ser jovem é viver uma contraditória convivência entre
a subordinação à família e à sociedade e ao mesmo tempo, grandes
expectativas de emancipação. Para a juventude acena-se com uma
espécie de “moratória social”. Isto é, a juventude é vista como etapa
de preparação, em que os indivíduos processam sua inserção nas
diversas dimensões da vida social, a saber: responsabilidade com
família própria, inserção no mundo do trabalho, exercício pleno de
direitos e deveres de cidadania. Certamente, entre os jovens
contemporâneos, há diferenças culturais e desigualdades sociais.
Hoje já é lugar comum falar em “juventudes”, no plural. Em uma
sociedade marcada por grandes distâncias sociais, são desiguais e
diferentes as possibilidades de se viver a juventude como “moratória
social”, tempo de preparação. A condição juvenil é vivida de forma
desigual e diversa em função da origem social; dos níveis de renda;
das disparidades socioeconômicas entre campo e cidade, entre
regiões do mesmo país, entre países, entre continentes, hemisférios.

Esta mesma autora deixa evidente que a condição juvenil, no que tange à
formação de sua identidade e construção de seus projetos de vida, não se dá
unilateralmente e ramifica-se em virtude dos diferentes gostos, da participação em
84

CAPÍTULO 2

grupos religiosos, associativos e políticos que dão sentido e atribuem significados à


formação identitária dos jovens.
Enquanto sujeitos sociais, históricos e políticos, os jovens constroem seus
próprios espaços de socialização e na produção de seus territórios de sociabilidades
vão elaborando suas identidades. São nesses territórios que os jovens vão
descobrindo sua autonomia, construindo noções de responsabilidade e compromisso
a partir do momento em que o envolvimento com seus grupos passam a despertar
neles o desejo de conhecer-se e, ao mesmo tempo, de questionar-se sobre a
contribuição de sua existência no e para o mundo.
Nessa perspectiva, é possível perceber nas narrativas dos jovens
ambientalistas certa multiplicidade de questões que perpassam seus primeiros
contatos com a temática meio ambiente e a solidificação com o engajamento
ambiental, que vão desde a influência da família, passando pela escola até a
participação em sindicatos, associações, igrejas e grupos de amigos; o que, de certa
forma, mostra também o forte papel que as instâncias socializadoras tendem a
exercer na constituição identitária juvenil, conforme pode ser percebido na fala de
Laise:

Não é à toa que, desde os oito anos, eu participo de movimentos no


sindicato, associação, de vários e vários outros grupos tanto de igreja
como da sociedade civil; porque eles têm um peso grande, além de
das experiências compartilhadas, das lutas, trazem também a
construção de amizades que é fundamental para esses movimentos
saber que existem pessoas que pensam igual a você, que querem
compartilhar as mesmas coisas, que querem construir algo melhor
para o mundo, para o futuro. Esses motivos que fizeram estar no
IFBaiano, para estar fazendo um curso voltado para Agroecologia,
para assim eu poder ser a multiplicadora de saberes para os
agricultores de forma agroecológica, sustentável, incentivando eles a
planejar suas produções de forma que não prejudiquem o meio
ambiente.

É nesse sentido que Martins e Carrano (2011, p. 44) ressaltam que, apesar
dos jovens possuírem certa autonomia em relação ao mundo adulto na construção
de suas identidades culturais, “há uma via de mão dupla entre aquilo que herdam e a
capacidade de cada um construir seus próprios repertórios culturais”. Nessa via, é
preciso estar atento para os riscos e as incertezas que perpassam a formação dos
projetos de vida juvenis, especialmente em virtude desses jovens estarem imersos
85

CAPÍTULO 2

numa sociedade globalizada e caracterizada, fortemente, por relações assimétricas


de oportunidades.
Com isso, não se nega a forte influência e poder exercido pelas estruturas e
instituições sociais na formação das identidades juvenis. Mas, é preciso considerar
que nessa influência e poder não reside, puramente, uma imposição de
determinados modos de ser jovem e construir a identidade juvenil na
contemporaneidade. Há, também, de considerar que os jovens expressam seu poder
de escolha e veem as estruturas sociais como elementos que condicionam, mas não
determinam e vetam sua capacidade de escolha, decisão e posicionamento diante
do mundo.
Quanto a este aspecto, Martins e Carrano (2011, p. 44) pontuam que

os jovens fazem seus trânsitos para a vida adulta no contexto de


sociedades produtoras de riscos – muitos deles experimentados de
forma inédita, tal como o da ameaça ambiental e do tráfico de drogas
–, mas também experimentam processos societários com maiores
campos de possibilidades para a realização de apostas diante do
futuro.

Compreender os jovens como sujeitos e atores sociais é um dos primeiros


passos ao estabelecimento do diálogo entre diferentes gerações onde o conjunto de
representações, dos acervos culturais e as trocas simbólicas ganham forma,
visibilidade, sentido e articulam-se na construção das identidades e legitimação dos
projetos de vida juvenis no processo de interação, nem sempre harmoniosa, entre a
comunicação e socialização exercidas pelas gerações mais velhas em relação aos
diferentes processos de sociabilidades que engendram as vivências e experiências
das gerações mais novas.
A juventude não deve ser vista como uma categoria passiva e amorfa sobre a
qual se depositam todos os problemas sociais, históricos, políticos e culturais na
tentativa e esperança de que sejam solucionados pelos “jovens futuros adultos”, sem
que essa categoria não seja vista igualmente como de natureza política, social e
cultural.
De nada adianta pensarmos “o jovem como a possibilidade de um futuro
melhor, mas não constituímos as oportunidades de a juventude se reconhecer como
tal potencialidade concreta de mudança no tempo presente” (MARTINS; CARRANO,
2011, p. 50). Isto é, a concretude de mudanças provenientes da atuação juvenil não
86

CAPÍTULO 2

será efetiva sem a devida credibilidade dada a essa categoria e sem que sejam
oferecidas as condições necessárias para que os jovens possam compreender sua
realidade e participar ativamente na transformação do seu contexto.
Nesse cenário de intersecções entre as múltiplas identidades juvenis, seus
projetos de vida e os paradoxos da atual condição juvenil, Abramo (2014, p. 13)
adverte que

a condição juvenil refere-se ao modo como uma sociedade constitui


e atribui significado a esse momento do ciclo de vida, refere-se a
uma dimensão histórico-geracional, ao passo que a situação dos
jovens revela o modo como tal condição é vivida a partir dos diversos
recortes referidos às diferenças sociais – classe, gênero, etnia etc.

Portanto, a formação e construção da identidade e dos projetos de vida


juvenis concatenadas com as expectativas das gerações mais velhas que, por
vezes, veem nas novas gerações as possibilidades de mudanças dos problemas
sociais que, historicamente, não são frutos da geração atual, passam pelos
diferentes modos como os jovens veem e são vistos pela sociedade, bem como pelo
conjunto de valores e significados que atribuem às suas responsabilidades e
compromissos perante os desafios que lhes são apresentados e que, na maioria das
vezes, representam questões sociais, políticas, econômicas e culturais preexistentes
à sua geração.
Isso, por sua vez, faz com que não se pense a juventude apenas como um
momento de passagem, mas a conceba como categoria formada por sujeitos que
são habitantes de uma sociedade dinâmica e em constante transformação, que traz
em seu bojo problemas, conflitos, incertezas e possibilidades de atuação.

2.4. MEIO AMBIENTE: NOSSO VELHO (DES)CONHECIDO

Infelizmente é uma realidade muito dura a situação ambiental no


Brasil e no mundo. Cada vez mais, o mundo sofre as consequências
de um consumismo desacelerado que nós seres humanos causamos
(Davi).

A situação ambiental atual do Brasil e do mundo vem deteriorando-se


a cada dia. Percebe-se que os Estados representam, em sua
maioria, o interesse dos mais ricos, o fim econômico de suas ações
serve as forças econômicas com total subserviência, de modo a
deixar que os problemas ambientais sejam camuflados e postos de
lado. O Brasil – devido a sua formação, devido a Amazônia e toda a
diversidade do país – deveria tomar a voz e a liderança nesses
87

CAPÍTULO 2

processos de decisão sobre os problemas ambientais que tem sua


localidade, porém são globais (Jéfferson Felipe).

Aquecimento global sem dúvida é o pior dos problemas que estamos


enfrentando, pois ele está alterando o clima. Com isso, o
aparecimento de outras catástrofes: o derretimento das geleiras, o
aumento de chuvas, maior seca em cidades onde predomina a
caatinga. E, com isso, afeta também a produção de alimentos em
diversas regiões, o que acaba nos afetando de forma direta (Laís).

Se por um lado as falas de Davi, Jéfferson Felipe e Laís ilustram que é


inegável o fato que o planeta Terra está enfrentando sérias mudanças e grandes
transformações, que têm afetado a vida dos indivíduos na sua forma de produção,
consumo e interação com os recursos naturais e demais seres vivos. Por outro lado,
diante desse cenário, é igualmente inegável que as questões ambientais no que
tange à relação homem-natureza têm ganhado grande importância na sociedade
atual, pois as ações humanas sobre o meio ambiente se constituem por diferentes e
diversas intencionalidades que, por vezes, não se caracterizam de maneira
harmoniosa e ecologicamente saudáveis e têm levado a geração atual suprir suas
necessidades comprometendo a capacitação e sobrevivência das gerações futuras.
Neste aspecto, digamos que o engajamento da juventude ambientalista não
tem apenas como foco resolver as dívidas ambientais criadas e deixadas pelos seus
pais e avós, assim como não se coloca nos ombros dessa juventude a inerência da
responsabilidade de solucionar os problemas ambientais como se dependesse
apenas dela. Mas, existe um desejo deles próprios não aumentarem essa dívida no
que tange às relações com o meio ambiente e, ao mesmo tempo, lutam para que as
gerações futuras possam conviver de forma harmoniosa e sustentável. Ou seja, a
perspectiva da juventude ambientalista é, sobretudo, construir um mundo de
pessoas mais éticas ambientalmente, bem como deixarem um mundo melhor com
pessoas melhores, que não sejam simplesmente levadas pela corrente e fluxo das
prescrições capitalistas, que vê o meio ambiente como espaço de exploração.
E, nesse sentido, são bastantes comuns afirmativas, tais como:

Eu não quero que um filho ou um neto meu não possa ver o que eu
tenho a oportunidade de ver. Tipo, eu moro num lugar que tem
bastante árvores, tem pássaros, tem tudo isso. E, assim, está ficando
urbanizado, mas pelo menos eu tive a oportunidade de conhecer e
eu não quero que as próximas gerações não tenham a oportunidade
de conhecer as coisas como são de verdade ou conviver num mundo
88

CAPÍTULO 2

pior do que já está. Eu quero ajudar mesmo e mudar, tentar mudar


de alguma forma o mundo, melhorando ele em si (Elen).

Para Leff (2002, p. 17), ambiente “não é a ecologia, mas a complexidade do


mundo; é um saber sobre as formas de apropriação do mundo e da natureza através
das relações de poder que se inscreveram nas formas dominantes de
conhecimento”.
Assim, de uma sociedade para outra ou dentro de uma mesma sociedade, os
indivíduos podem perceber e considerar a temática meio ambiente de maneiras
diferenciadas a depender das relações que mantêm e valores que atribuem à
natureza, como por exemplo as diferenças existentes entre as sociedades indígenas
e as sociedades industriais.
O conceito de meio ambiente, entendido nesse trabalho, não se resume a
uma noção contemplativa da natureza, reduzida à ideia de vida no campo e distante
dos centros urbanos ou ainda considerar que apenas os lugares que não são/foram
explorados e degradados pelo ser humano podem ser denominados como meio
ambiente.
O conceito de meio ambiente está além dos elementos naturais:

A questão ambiental aparece como uma problemática social e


ecológica generalizada de alcance planetário, que mexe com todos
os âmbitos da organização social, do aparato do Estado e todos os
grupos e classes sociais. Isso induz um amplo e complexo processo
de transformações epistêmicas no campo do conhecimento e do
saber, das ideologias teóricas e práticas, dos paradigmas científicos
e os programas de pesquisa (LEFF, 2006, p. 282).

Essa visão, que situa o meio ambiente numa perspectiva entrelaçada com a
ideia de problemática social, é apontada pelos jovens como elemento fundamental
trazido nos processos de formação (palestras, seminários, oficinas) que
desenvolvem com crianças, jovens e adultos, a fim de descortinar a falsa ideia de
que meio ambiente se resume ao mundo das coisas naturais e que, por vezes, exclui
o ser humano enquanto sujeito integrante e atuante desse espaço:

A visão que os jovens de Ensino Médio têm de meio ambiente é bem


relativa. Uns acham que “ah, meio ambiente é plantar árvore, não
jogar o lixo na rua”. A gente questiona: “você acha que colabora para
a poluição do meio ambiente?”; “não, de jeito nenhum” [...] Pra eles,
é plantar árvore, tudo verdinho, bonitinho, aquilo ali é meio ambiente.
Cuidar dos bichinhos... que não é nunca responsabilidade minha, é
sempre o outro que vai fazer; que é bonitinho quando alguém planta
89

CAPÍTULO 2

uma árvore, mas não precisa fazer isso [...] Não adianta ensinar o
que é o meio ambiente e não conscientizar. É preciso conscientizar.
É preciso dizer que somos parte disso, não à parte. Não estamos
avessos a esse processo, não estamos separados disso (Melinda).

Percebe-se, a partir do relato de Melinda, que os jovens consideram que é


cada vez mais urgente e necessário que a problemática ambiental assuma posição
de relevância e a temática meio ambiente seja tratada como prioridade pelos
projetos, ações e políticas públicas brasileiras, principalmente educacionais. Mesmo
com os avanços de estudos sobre diferentes concepções ambientais, ainda é
preciso avançar da noção reducionista de meio ambiente atrelado apenas à ideia de
fauna e flora, o que por vezes corrobora para o fato de situar o ser humano fora
dessa percepção limitada e equivocada de meio ambiente.
Atualmente, conforme Machado (2014), já não cabe mais a visão fechada de
meio ambiente como o essencialmente natural. É preciso fomentar o caráter holístico
desse conceito numa perspectiva que busca refletir sobre as relações entre o
homem, o mundo, a natureza e os demais seres vivos, sem perder de vista as
implicações das relações humanas na construção da vida em sociedade marcada
por diferentes formas de relacionamentos com os recursos naturais.
É urgente sair das reflexões que apenas apontam relações de causas e
efeitos como se as ações humanas sobre a natureza fossem naturais, imparciais,
imprevisíveis e neutras. Se por um lado, é preciso assumir posturas mais efetivas
que possibilitem o desenvolvimento de consciências críticas dispostas a mudar a
realidade de degradação, exploração e comprometimento de vida das gerações
futuras. Por outro lado, é necessário também dar visibilidade e atenção aos coletivos
e grupos de pessoas que têm se debruçado na busca por alternativas que garantam
a nossa sobrevivência sem maltratar a natureza.
Vistos por este prisma, os relatos dos jovens ao mesmo tempo em que
justificam e trazem à tona as suas mobilizações de inserção em grupos
ambientalistas, especialmente as ONGs, também denunciam a necessidade de uma
integração ativa da juventude nos movimentos ambientalistas:

As ONGs, de um modo geral, trazem uma importância muito grande


e muito significativa pra sociedade. Os papeis que elas desenvolvem
são de extrema importância, tanto na área social, na área
educacional, na área ambiental, também. Todas elas têm sua
importância e é sempre voltada pra causas dos menos favorecidos.
No caso das causas ambientalistas, vejo como uma forma de buscar
90

CAPÍTULO 2

melhorias, de acreditar num mundo melhor e de tentar conscientizar


as pessoas sobre o que acontece no planeta (Laís).

Eu tenho admiração pelos trabalhos que eles fazem, em saber que


eles estão buscando melhorias e formas mais adequadas de
preservar o ambiente... eu não sei pela experiência de outros
movimentos ambientalistas, mas o daqui de Serrinha, pelo que eu
percebi em uma conferência no Dia do Meio Ambiente, só tem
pessoas mais velhas, adultas e tem poucos jovens participando
(Laise).

Neste ínterim, é importante considerar e reconhecer o papel desempenhado


por muitas organizações governamentais e não-governamentais que buscam
interligar contextos históricos e sociais enquanto produções humanas para
compreender as intencionalidades das transformações ocorridas na natureza por
intermédio das intervenções do homem. Há a necessidade de tratar as questões
ambientais desde seus aspectos físicos e biológicos àqueles que dizem respeito às
diferentes maneiras do homem interagir com a natureza. Por isso, refletir sobre meio
ambiente na contemporaneidade é atentar-se para a complexidade que essa
temática engloba, que vai desde as noções de cuidado, preservação, interação ser
humano-natureza às ideias que sustentam as práticas desenvolvimentistas sociais.
Nesse processo de interação, o ser humano não pode ser extraído ou
desapropriado da natureza como se fosse um elemento à parte dela, ele também é
natureza, faz parte do meio ambiente, se constrói e reconstrói a partir de suas
intervenções. A juventude ambientalista, especialmente dos anos 2000, dada à
multiplicidade de questões que perpassam as relações humanas busca entrelaçar as
discussões de meio ambiente com questões políticas, sociais, econômicas, culturais
e de gênero; reforçando que a discussão acerca das problemáticas ambientais não
deve se fundamentar numa visão dicotômica entre meio ambiente e ser humano,
como se o segundo não compusesse o primeiro. A ruptura dessa visão pode ser
percebida no relato de Melinda sobre uma ação desenvolvida pelo Engajamundo:

A última formação que a gente fez foi o “Moças pelo Clima”, que teve
duas etapas: a primeira foi com mulheres marisqueiras, para
entender os impactos das mudanças climáticas na vida dessas
mulheres e passar para elas o que eram mudanças climáticas, como
elas entendiam isso; porque muitas nem sabem o que são as
mudanças climáticas. São mulheres de uma comunidade quilombola
de Santo Amaro, que trabalham e vivem da pesca e da mariscagem.
E a segunda etapa, a gente fez numa escola de Cruz das Almas, que
foi exatamente pra mostrar aos alunos da escola a relação de clima e
gênero. Como as mulheres são as mais afetadas pelas mudanças
91

CAPÍTULO 2

climáticas [...] Sim, mulheres e clima têm tudo a ver. Então, a gente
mostrou para esses alunos de forma bem dinâmica, fez alguns jogos
e sempre questionava pra eles: “se chove demais e sua casa inunda,
quem é que vai limpar a casa?”. E eles sempre respondiam: “Minha
mãe”. E aí a gente ia mostrando para eles: “Olha como isso está
relacionado?!”. “Se você fica doente, tem dengue ou chikungunya, ou
pega uma leptospirose, quem cuida do filho? A mãe”.

Os jovens ambientalistas partem do princípio que as abordagens acerca de


temáticas ambientais devem refletir sobre a importância do meio ambiente em sua
conjuntura macrossocial4, considerando as representações dos impactos de cuidado
ou degradação sobre o planeta vinculado à sobrevivência na Terra. O relato de
Melinda, por exemplo, coloca em evidência que o agir juvenil nas causas ambientais
não deve ser confundido como mera ação pela ação. Os relatos juvenis enfatizam a
natureza política, cultural e social do meio ambiente enquanto lugar de conflitos,
lutas, disputas e representações que fazem percebê-lo não como um espaço inerte,
exterior à vida humana, disponível à degradação, fonte de exploração e acúmulo de
capital.
Por essa razão, comungando com os postulados de Leff (2002), o presente
trabalho parte da premissa de que

a complexidade ambiental é pensada como construção social que


emerge da reflexão (a intervenção, o efeito, o impacto) do
conhecimento sobre o real e sobre a natureza, para além da visão
objetiva das ciências da complexidade e da visão ecologista do
pensamento complexo. A complexidade ambiental emerge da
hibridação entre a ordem físico-biológica, tecnológico-econômica e
simbólico-cultural (LEFF, 2002, p. 19).

Por um bom tempo meio ambiente e ser humano foram vistos como
categorias que, embora estivessem relacionadas, o primeiro assumia uma posição
de subserviência em relação ao segundo. Além da capacidade de retirar da natureza
os meios para proverem seu sustento e sobrevivência, em nome do
desenvolvimento e progresso, o ser humano à medida que as sociedades foram se
desenvolvendo, passou a deter certo poder para agir sobre o meio ambiente. Já não
bastava apenas extrair da natureza seus alimentos, o próprio desenvolvimento
tecnológico impulsionou para que o homem explorasse e transformasse a ordem,
organização e funcionamento da natureza.
4
Macrossocial refere-se à ideia de entender numa perspectiva ampla e mais abrangente a relação
estabelecida entre ser humano e natureza, que não se limita às denúncias de causas e
consequências da atuação do homem sobre o meio ambiente.
92

CAPÍTULO 2

Embora Cruz e Silva (2010) sinalizem que o campo de conhecimento mais


sistemático sobre meio ambiente, especialmente no que tange ao surgimento dos
movimentos ambientais, ainda se configure como recente, é importante considerar
que a arena em que se constituem e consolidam-se os estudos acerca de meio
ambiente, para além de uma visão superficial, romântica e contemplativa da
natureza, fundamenta-se numa concepção política e histórica, o que faz pensar que
a preocupação e abordagem sobre questões ambientais não são atributos
especificamente da época presente.
Machado (2014) aponta que as primeiras discussões em torno de questões
ambientais fazem parte das sociedades mais remotas e vem se intensificando a
partir do processo da Revolução Industrial e a formação de sociedades cada vez
mais urbano-industriais. Dessa forma, o autor chama a atenção que se constitui uma
falácia considerar que apenas o momento atual pode ser caracterizado como um
período marcado pela desarmonia existente entre o ser humano e a natureza, visto
que desde os tempos mais remotos não existia uma relação harmoniosa perfeita
entre homem-natureza.
Neste aspecto, Leff (2002) enfatiza que as problemáticas ambientais como a
poluição, degradação e exploração excessiva de recursos naturais passam a se
configurar nas décadas finais do século XX como principais elementos que
caracterizam a crise de civilização trazida pelo processo dominante da racionalidade
econômica e tecnológica, passando a representar não somente uma crise ambiental
no sentido restrito, mas – dada a sua complexidade – a crise ambiental é sinônimo
da própria crise civilizatória.
Se por um lado, para Leff (2002), a crise de civilização é resultante da
desproporcionalidade entre o crescimento da população e o uso dos recursos
naturais pouco disponíveis; por outro lado, ele atribui que tal crise é também
resultante dos processos capitalistas que se fundamentam na exploração da
natureza a fim de manter a tríade capital-consumo-produção, o que tem gerado o
esgotamento das reservas de recursos naturais, tornando muitos solos inférteis e
atingindo a sobrevivência dos ecossistemas.
Pensando no papel da juventude dentro dos movimentos e grupos
ambientalistas correlacionados às expectativas que recaem sobre os jovens no
tocante às problemáticas ambientais, os jovens ambientalistas partem do
93

CAPÍTULO 2

pressuposto que os problemas ambientais não são recentes e que suas lutas se
tornam mais urgentes na atualidade, especialmente, por causa do avanço
desenfreado da sociedade capitalista:

A gente também vê que esses movimentos não são novos, não foi de
2000 para cá que começaram os movimentos ambientalistas. Então,
muito atrás, já dá pra perceber que já tinha um movimento se
criando, já tinha pessoas preocupadas com a caça de baleias, com o
aquecimento global. Tudo isso só foi gerando e se desenvolvendo ao
longo que o planeta ia ficando um pouco mais doente do que já está
e você vê que as pessoas começaram a ficar preocupadas (Rafael).

Portanto, é na sociedade moderna que se tornam mais nítidos e perceptíveis


os efeitos provenientes da possibilidade de o homem intervir na natureza,
especialmente aqueles advindos da chamada Revolução Industrial. É inegável os
sinais de crise ambiental que a sociedade moderna vem enfrentando nos últimos
anos, que, de modo geral, tanto numa perspectiva local quanto global, o meio
ambiente vem apresentando sinais de grande degradação em virtude da exploração
excessiva dos recursos naturais, bem como da destruição dos ecossistemas e
biomas, alguns com tendência a desaparecer devido a mudanças climáticas, desvios
de curso de rios, queimadas, desmatamento, uso indevido de agrotóxicos, entre
outros.
Esse cenário, fruto dos usos e abusos do comportamento humano sobre a
natureza, possui reverberações de cunho social, político, econômico e cultural, o que
contribui para que na atualidade as questões ambientais assumam, sobretudo, um
caráter político na esteira das políticas de lutas dos movimentos sociais, dos grupos
governamentais e coletivos ambientalistas que, diante da realidade de degradação e
contínua ação negativa do ser humano sobre o meio ambiente, têm se esforçado a
desenvolver trabalhos de conscientização em diferentes espaços e por meio de
diferentes estratégias, a fim de reverter algumas situações e garantir a preservação
dos ecossistemas.
E, nesse sentido, Siqueira (2002, p. 09) adverte que

inserida profundamente nos diferentes contextos sociais, políticos e


econômicos da sociedade pluralista contemporânea, entre acertos e
desacertos, a temática do meio ambiente passou a integrar de
maneira significativa as preocupações do Estado e da sociedade na
formação da cidadania.
94

CAPÍTULO 2

Pode-se afirmar que o ponto de vista de Siqueira (2002) em muito se


aproxima da perspectiva ambiental das novas gerações que partem da consideração
de que as problemáticas ambientais, dadas às dificuldades de relações harmoniosas
e ecologicamente corretas entre sociedade e natureza, sinalizam tanto a ausência
histórica quanto a necessidade de construção de uma visão sistêmica e holística que
perceba a integralidade entre sociedade, homem e natureza. Isso não é tarefa fácil,
pois não dá para tentar reverter ou amenizar a crise ambiental em que as
sociedades contemporâneas vivem sem considerar que essa crise tem raízes
históricas e que vem se alastrando no decorrer dos últimos séculos.
Por isso, a reflexão sobre caminhos ecológicos que possibilitem melhores
condições de vida às gerações futuras significa, também, conhecer os interesses e
integrar os processos sociais, políticos, econômicos e históricos, que deram
principais suportes às problemáticas ambientais, aos projetos de sustentabilidade
ecológica a fim de que seja possível questionar esses processos e, ao mesmo
tempo, provocar mudanças em suas estruturas.
Considero importante destacar que o conceito de sustentabilidade 5, neste
trabalho, comunga com a ideia de que a

sustentabilidade está intrinsecamente relacionada ao uso dos


recursos renováveis de forma qualitativamente adequada e em
quantidades compatíveis com sua capacidade de renovação, em
soluções economicamente viáveis de satisfação das necessidades,
além de relações sociais que permitam qualidade adequada de vida
para todos. Em outras palavras, deve-se ter como prioridade o uso
apropriado de tecnologias e ferramentas para fins de conter, reverter
e conservar o uso dos recursos naturais, sem, no entanto, olvidar o
benefício à espécie humana (WOLKMER; PAULITSCH, 2011, p.
219).

5
Vale lembrar que o conceito de sustentabilidade difere do conceito de desenvolvimento sustentável.
De acordo com Sartori et al (2014), a sustentabilidade tem como objetivo maior atingir o equilíbrio
entre as relações humanas e o meio ambiente, procurando inclusive delinear os limites quanto ao uso
dos recursos naturais. Por outro lado, o desenvolvimento sustentável se pauta na ideia de
preservação dos ecossistemas, mas dá maior relevância em satisfazer as relações socioeconômicas
e, sobretudo, manter o modelo de desenvolvimento econômico capitalista. Assim, Sartori et al (2014)
salientam a forte relação do capitalismo e o neoliberalismo com a ideia de desenvolvimento
sustentável. Ou seja, as autoras enfatizam que o termo desenvolvimento sustentável, principalmente
na contemporaneidade, está a serviço dos princípios capitalistas e que, portanto, fere ao ideário da
construção de uma sociedade sustentável; visto que o desenvolvimento sustentável está associado
ao discurso socioeconômico de degradação ambiental e foge da ética ambiental pautada em valores.
Por essa razão, segundo os objetivos que norteiam este trabalho, será considerada a ideia de
sustentabilidade.
95

CAPÍTULO 2

Tanto Jacobi (2003) quanto Wolkmer e Paulitsch (2011) consideram que a


noção de sustentabilidade se constitui o pilar principal para pensar e repensar as
relações e impactos do ser humano no meio ambiente em proporções quantitativas e
qualitativas. A sustentabilidade, nesse sentido, engloba questionamentos e
alternativas viáveis perante a crise ambiental, objetivando delimitar, inclusive, o uso
dos recursos naturais como meros apêndices da busca pelo desenvolvimento e
crescimento econômico desenfreado e sem responsabilidade ética com as gerações
presentes e futuras.
Valorizar a sustentabilidade como pressuposto importante à construção de
uma sociedade mais justa, igualitária e fundamentada em valores éticos norteados
pelo equilíbrio entre homem e meio ambiente significa, mais do que evocar
mudanças de comportamentos, promover mudanças de pensamentos que transitem
da ideia de meio ambiente como lugar de exploração e uso excessivo, para uma
visão holística que acredita e defende o meio ambiente acima dos interesses e
objetivos individuais subjacentes à sociedade tecnológica e industrial, situando-a
como mero objeto.
Batista, Becker e Cassol (2015, p. 168) afirmam que

a crise ambiental é, na verdade, uma crise de pensamento, na qual os


ideais da modernidade, aplicados ao sistema dominante,
comprometem a visão holística do ambiente, fragmentam a realidade e
conduzem a um processo de contínua exploração e destruição da
vida.
Nesta perspectiva, o racionalismo científico (e econômico) permitiu a
fragmentação dos saberes, especializando-os e reduzindo a
capacidade de compreensão do todo, das inter-relações e da
organização do espaço. Também se instaurou a divisão corpo e alma,
sociedade e natureza, razão e emoção, o que levou o homem a uma
visão de superioridade sobre os demais seres e, consequentemente, à
introdução da degradação ambiental e da injustiça social, pois o
indivíduo passa a ser considerado o elemento mais importante do
contexto no qual está inserido, esquecendo-se do cuidado com o
ambiente.

Dessa forma, mudar pensamentos implicará, também, em posturas novas na


intrínseca relação ser humano-natureza, o que não significa necessariamente que as
próximas gerações terão condições de vida cada vez melhores em relação à
geração atual. No entanto, dar visibilidade à discussão sobre meio ambiente pode
ser um prelúdio para garantir o futuro das novas gerações.
96

CAPÍTULO 2

Isso mostra que cada sociedade possui uma visão singular de natureza, que
vai desde a visão mágica de meio ambiente até à visão dualista oriunda da
revolução científica que se fundamenta em binarismos, tais como: homem versus
natureza, homem versus animal e sociedade versus natureza. Tal visão coloca em
pauta que outro aspecto a ser observado é o fato de que os problemas ambientais
não dizem respeito apenas a uma discussão sobre degradação e preservação dos
recursos naturais, mas busca também perceber as questões ambientais como um
problema de caráter ético.
Vistos por essa ótica, uma alternativa a enfrentar e amenizar os problemas
ambientais da atual sociedade talvez esteja na própria superação das relações
antropocêntricas, que colocam tanto o homem em condição de dominação total
sobre a natureza como sobre si mesmo. Essa superação requer mudanças crítico-
reflexivas acerca dos paradigmas científicos, sociais e culturais que sustentam os
valores, conhecimentos, percepções e atitudes do homem no espaço.
Desse modo, coloca-se em xeque a construção de uma sociedade que seja,
de fato, cidadã e democrática, onde as questões ambientais assumam a condição de
opção política ao refletirem sobre visões de mundo, valores, comportamentos,
injustiças sociais, questões de saúde e maneiras de viver dos indivíduos, desde as
gerações mais velhas às mais novas.
Isso perpassa pela compreensão da responsabilidade, compromisso e do
papel que cada indivíduo, enquanto sujeito social, possui na produção de uma
sociedade mais justa e igualitária, onde seja possível viver de maneira equilibrada,
percebendo-se tanto como ser integrante da natureza quanto como sujeito que deve
procurar e descobrir soluções aos problemas ambientais que a própria sociedade
moderna criou e tem dificuldades de conviver com eles.
Quanto a este aspecto, Machado (2014, p. 139) ressalta que meio ambiente
deve ser visto como uma categoria de “esfera pública, espaço por excelência da
ação humana como convivência com os ouros humanos e partilha nas decisões
sobre os destinos dos bens comuns, isto é, se orientada pela preservação do mundo
e não pela defesa do eu”.
Este mesmo autor elucida as interlocuções estabelecidas entre meio ambiente
e dinâmicas sociais, uma vez que a compreensão do papel dos atores sociais
nessas interlocuções perpassa pelo conhecimento da real situação dos problemas
97

CAPÍTULO 2

ambientais e da tomada de decisões perante a preservação, cuidado e conservação


dos recursos naturais. Por isso, quando se fala da atuação humana na natureza é
preciso provocar reflexões que suscitem pensar sobre os sentidos e significados do
meio ambiente para o homem.
É importante destacar que a utilização dos recursos naturais pelos homens
pode se dar adequada ou inadequadamente, tornando-se responsável pelos
processos de degradação ou sustentabilidade social, econômica e política. No
entanto, a ação humana não é neutra e imparcial, por isso não se deve esquecer
que os problemas ambientais enfrentados pelos homens na atualidade são
decorrentes das próprias relações que eles, visando atender às suas necessidades,
mantiveram e mantêm com os recursos naturais.

A problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia


a interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo
histórico dominado pela expansão do modo de produção capitalista,
pelos padrões tecnológicos gerados por uma racionalidade
econômica guiada pelo propósito de maximizar lucros os lucros e os
excedentes econômicos a curto prazo, numa ordem econômica
mundial marcada pela desigualdade entre nações e classes sociais.
Este processo gerou assim efeitos econômicos, ecológicos e
culturais desiguais sobre diferentes regiões, populações, classes e
grupos sociais, bem como perspectivas diferenciadas de análises
(LEFF, 2002, p. 64).

Esse talvez seja um dos maiores desafios da sociedade atual: percebe-se


como natureza, colocar-se como atriz e autora dos processos de degradação ou de
desenvolvimento sustentável. Isso implica em perceber a relação bidirecional entre
os seres humanos e a natureza, onde as noções de cuidado e respeito são basilares
ao entendimento de que não existe supremacia do ser humano sobre o meio
ambiente, por isso a necessidade de construir uma relação de equidade, respeito e
equilíbrio ambiental.
Nesse sentido, é possível afirmar que a natureza exerce certa influência sobre
a vida das pessoas, ao mesmo tempo em que é por elas também atingida. Nessa
relação, os indivíduos constroem uma série de representações sociais que
expressam seus conhecimentos e concepções sobre meio ambiente, considerando a
realidade dos recursos naturais no planeta. Importante frisar que as representações
construídas pelos indivíduos podem muito variar, porque dependem do que pensam,
quais leituras fazem do mundo e suas problemáticas, como se posicionam frente às
98

CAPÍTULO 2

questões ambientais, quais relações estabelecem entre suas rotinas cotidianas e o


meio ambiente, quais sentidos e relevância atribuem à importância e necessidade de
refletir sobre o diálogo homem-natureza.
Pensar as dinâmicas sociais e representações que os indivíduos constroem
de si mesmo e os demais numa perspectiva ecológica significa, também, não
desvencilhar o permanente e contínuo diálogo dessa relação com o papel das
ciências, em especial, com o crescente desenvolvimento das tecnologias, no que
tange à sua responsabilidade de viabilizar meios ao entendimento das
consequências ecológicas correlacionadas ao poder humano de intervenção e
transformação.
A verticalização presente na produção e disseminação do saber teve sérias e
grandes consequências quanto ao conhecimento e interpretação que o chamado
“progresso tecnológico” poderia representar para a sociedade e natureza, uma vez
que o certo ocultamento das repercussões do desenvolvimento tecnológico sobre o
meio ambiente não permitiu a visão do todo social, o que significou o aumento da
crise ambiental e a busca atual por outras maneiras não somente de ver e
compreender o mundo com também de intervir nele.
Assim, conforme Junges (2010), a estratégia viável à crise ambiental que se
alastra pelo século XXI está no estudo da natureza em sua integralidade, ou seja, a
natureza não pode ser estudada pelas ciências de forma fragmentada, reduzida e
dissociada das suas múltiplas relações com as esferas sociais, políticas, ideológicas,
econômicas, tecnológicas, culturais e ecológicas.
Crescer, desenvolver e explorar foram e continuam sendo palavras de ordem
que legitimam as ações insustentáveis do homem sobre a natureza em contrapartida
a coletivos ambientalistas que lutam pela efetivação de um processo de mudanças
não apenas na maneira do homem pensar a sua relação com o meio ambiente, mas
sobretudo de compreender e viver ecologicamente bem como sinônimo de qualidade
de vida.
Em contrapartida às palavras de ordem da sociedade industrial-capitalista,
para os jovens ambientalistas, as palavras de ordem – tardiamente – da
contemporaneidade e mais necessárias são: responsabilidade, esperança e
mudanças de mentalidade desta e das próximas gerações, de maneira que as
mudanças voltadas para a efetiva inseparabilidade do espaço social e do espaço
99

CAPÍTULO 2

ambiental em suas dimensões culturais, políticas, sociais, biológicas e econômicas


sejam o objetivo de toda a sociedade.
Esse pensamento, inclusive, aparece fortemente, entre os jovens, associado a
uma perspectiva otimista frente às problemáticas ambientais e à forma como avaliam
seus engajamentos nos movimentos ambientalistas. Para eles, o engajamento
juvenil ambientalista não é em vão, há sentidos e significados atribuídos às lutas,
formas de pensar e ações. E, por isso, os jovens acreditam nos efeitos positivos do
seu engajamento:

Acredito na mudança tanto da pessoa como do planeta também. Eu


espero que isso aconteça, que as pessoas, principalmente os
governantes caiam em si e ajudem a gente; porque o que eles mais
fazem é criar mais indústrias, mais fábricas e fazem de tudo pra
poder fazer com que as coisas piorem, com que a devastação da
Amazônia, o desmatamento, o aquecimento global só aumentem.
Eles contribuem para a desgraça de todo mundo. Então, eu espero
que a gente consiga, todos que fazem parte dos movimentos
ambientalistas consigam um dia conscientizar essas pessoas e trazer
melhoria para o mundo (Laís).

Penso que, futuramente, vai ter mais gente se preocupando com o


meio ambiente. Vai ter mais gente protegendo o meio ambiente de
forma geral, tanto os animais como as plantas. Vai ser totalmente
diferente como é hoje, porque hoje algumas pessoas se preocupam
e outras não, e aí fica difícil para a gente trabalhar desse jeito
(Lorrana).

Hoje, em pleno século XXI, a gente vê o movimento ambientalista


como algo que é realmente importante pra sociedade, que ele tem
que existir, até porque é a partir deles que a gente começa a fazer as
pressões pra que as empresas, o governo e as pessoas se
conscientizem e sejam, realmente, parte daquilo que elas querem ver
no futuro mais próximo. Vejo o seguinte: que a cada ano que passa,
as pessoas se tocam mais em relação ao ambientalismo, elas veem
que um dia, uma hora ou outra, elas vão ter que se preocupar com
isso. Então, muitos estão acordando agora e nunca é tarde para
parar e pensar nas questões ambientais (Rafael).

Os relatos de Laís, Lorrana e Rafael chamam a atenção e, ao mesmo tempo,


ratificam que o entendimento acerca da problemática ambiental não pode esbarrar
meramente no plano das ideias. São primordiais o desenvolvimento e a efetivação
de estudos que se tornem em ações reais e as práticas em possíveis soluções frente
aos problemas de cunho ambiental que as diferentes sociedades vêm enfrentando.
Por isso, apesar da sua importância, apenas a consciência das problemáticas
100

CAPÍTULO 2

ambientais não é suficiente para que ocorram mudanças efetivas seja numa
perspectiva local, seja global.
O engajamento de jovens ambientalistas evidencia que conectar a tomada de
consciência com a importância da tomada de ação no envolvimento com a
problemática ambiental não significa adotar uma postura individualista, pois “é algo
que todo mundo, na verdade desde o pequenininho até o senhor mais velho, deveria
ser preocupado porque é algo que implica na nossa vida de tal forma, que muitas
pessoas não têm nem noção” (Rafael). Envolver-se com as questões ambientais é
uma opção política necessária que não pode recair como responsabilidade exclusiva
dos coletivos ambientais, cientistas, técnicos e especialistas; como se fossem deles
o papel de resolver os problemas do meio ambiente, conforme reforçam Kondrat e
Maciel (2013) e Tristão (2013).
Tristão (2013) sinaliza que a temática meio ambiente não deve assumir a
conotação de interesse e preocupação de algumas pessoas ou coletivos sociais.
Para ela, essa questão é de todos os indivíduos, pois enquanto sujeitos sociais
somos produtores de formas de consumo, exploração, degradação, preservação ou
conservação da natureza e, nesse sentido, não há imparcialidade de nenhum
indivíduo na sua relação com o meio ambiente.
Para esta autora, compreender as questões ambientais em sua
complexidade deve-se partir do princípio de que essa é uma questão, sobretudo,
social, que não está ancorada essencialmente nos pressupostos científicos. A
ausência dessa compreensão pode gerar a falsa ideia de que os assuntos e a
solução dos problemas ambientais são de responsabilidade do campo técnico-
científico, quando na verdade eles possuem uma natureza social, política,
econômica e cultural que extrapola a atuação técnica-científica.
Por essa razão, há que se considerar a importância de uma visão mais crítica
e reflexiva sobre as imbricações entre relações sociais e ambientais, visto que

a politização dos problemas ambientais não só é mais recente como


ainda não foi incorporada às atividades ambientais. Entre outros
motivos, essa politização é barrada pela dificuldade de entender
problemas urbanos e sociais cotidianos relativos a saneamento,
saúde, marginalização, consumo, produção, energia, transportes,
entre outros temas, como questões ambientais. Essa dissociação
entre o social e o ambiental também se deve ao predomínio de
concepções que confundem meio ambiente com natureza e tendem
101

CAPÍTULO 2

a ver os problemas ambientais como problemas ecológicos


desvinculados da sociedade e da cultura (SOUZA, 2016, p. 132).

Portanto, defende-se que a questão ambiental se constitui como um problema


social, que expressa e traz problematizações sobre os diferentes modos, sentidos e
significados de viver, estar, conviver e relacionar-se com o planeta. A natureza
política e social das questões ambientais permite ir além da concepção naturalista
de meio ambiente e situá-lo no campo da cidadania, justiça social, sustentabilidade e
ética que está subjacente às relações socioambientais como pressupostos
fundamentais à construção de uma sociedade sustentável. Na próxima seção,
discorreremos mais sobre esse assunto.

2.5. ÉTICA AMBIENTAL

É fato que os movimentos ambientalistas, as experiências e motivações que


sustentam o engajamento ambiental juvenil, bem como os pressupostos que
embasam a ideia de educação ambiental na contemporaneidade não podem
distanciar-se da ideia de ética, sobretudo, ambiental. Para Pelizzoli (1999, p. 22),

falar em ética é, pois tentar dizer de um equilíbrio ou convivialidade e


um conjunto de ações, mas, também, de fundamentos que
perpassam ou que possam vir a perpassar o que se infere deste
modelo civilizacional e sua correspondente produção de
subjetividade em tempos de mutação.

Os jovens contemporâneos, assim como os movimentos ambientalistas, têm


vivido cada vez mais um período histórico-social marcado pela aceleração do
processo de produção-consumo, o que por sua vez tem reverberado na grande
degradação ao meio ambiente numa perspectiva de desenvolvimento sustentável –
por vezes, disfarçada pelos preceitos da sustentabilidade – que reforça e tenta
legitimar a soberania do capitalismo e do consumo desequilibrado como elementos
necessários e naturais à sobrevivência na Terra.
Nessa conjuntura, Wolkmer e Paulitsch (2011, p. 213) alertam que,

atualmente, verificam-se, em todo o mundo, diversos indicadores que


denotam um crescimento exponencial das agressões ao meio
ambiente e a ameaça crescente de uma ruptura do equilíbrio
ecológico, configurando um quadro catastrófico que coloca em
questão a própria sobrevivência humana. A pressão sobre os
recursos naturais e as matérias primas é preocupante, pois o bem-
estar econômico e a qualidade de vida das nossas sociedades se
102

CAPÍTULO 2

assentam na exploração destes mesmos recursos e matérias-primas


advindas do meio ambiente.

É nesse cenário marcado por conflitos éticos, onde as relações entre o meio
ambiente e a sociedade fazem emergir os sinais de uma crise ecológica, que estes
mesmos autores sinalizam o importante papel da juventude na luta contra o
consumo desenfreado, a degradação e a poluição, percebendo as questões
ambientais como variáveis que estão imersas num contexto mais amplo que envolve
relações econômicas, políticas, sociais, culturais e ideológicas.
Os movimentos ambientalistas, nesse sentido, vêm sinalizando a importância
e necessidade de refletir sobre o que é possível fazer e ser para superar a crise
ambiental e construir uma relação homem-natureza pautada em mudanças oriundas
da educação e ética ambientais. Para Wolkmer e Paulitsch (2011), a superação
dessa crise está contida na construção de uma ética ambiental que reoriente as
condutas humanas no que tange ao meio ambiente, haja vista que, se o futuro do
meio ambiente em toda sua amplitude diz respeito a um a questão de ordem ética,
logo se presume a necessidade de mudanças de condutas – seja a nível local ou
global.
De acordo com Boff (2004), os reflexos da crise ecológica e o reforço ao
nascimento de uma ética frente à contemporaneidade se tornam mais agravantes e
emergentes, respectivamente, quando os alertas de que a continuidade do uso
desenfreado e desequilibrado dos recursos naturais produzirão grandes colapsos
ambientais, especialmente às gerações futuras, são subestimados pelas gerações
presentes.
Boff (2004) afirma que é preciso repensar acerca dos modelos tradicionais
que ainda sustentam a lógica de uso dos recursos naturais, cujos modelos se
fundamentam na crença ilusória e errônea de dois infinitos como expressão de uma
lógica de ética utilitarista: o primeiro que se baseia na ideia de que os recursos
terrestres são ilimitados e o segundo na ideia de que o crescimento pode ser,
igualmente, infinito. Para ele,

a Terra não é infinita, pois se trata de um planeta pequeno com


recursos limitados, muitos deles não renováveis, e o crescimento não
pode ser infinito e indefinido porque não pode ser universalizado,
pois, como foi calculado, precisaríamos outros três planetas iguais
aos nosso (BOFF, 2004, p. 15).
103

CAPÍTULO 2

Nas palavras do autor, fica evidente tanto a finitude dos recursos ambientais
como a noção de que a preservação do meio ambiente e o redimensionamento das
condutas humanas dependem, sobretudo, de maior entendimento acerca do caráter
ético e social das problemáticas que perpassam as questões ambientais; visto que o
ser humano não somente interage como também integra o meio ambiente e,
portanto, nele sofre e provoca transformações e, por isso, é essencial questionar e
refletir sobre a postura e o papel desempenhado pelo ser humano nas suas múltiplas
relações com o meio ambiente.
Paralelamente, Nalini (2010) afirma que a ética ambiental se estrutura na
mudança de consciência face às problemáticas ambientais a partir da efetividade de
novas atitudes que agreguem formas de pensar, ser e agir desde as posturas
individuais às coletivas. Ou seja, a ideia de ética ambiental traz em seu bojo os
modos de ser, pensar e agir que os homens constroem entre si e com os demais
seres vivos, sem estabelecer uma hierarquia.
Para o autor, isso significa uma mudança de paradigmas que, na atualidade,
busque também corrigir os erros das gerações passadas tendo em vista a busca por
novos rumos cada vez mais sustentáveis, onde haja a compreensão ética e social do
verdadeiro sentido de “respeitar a natureza, respeitar a vida, empenhar-se na
reposição das espécies, plantar uma árvore, cuidar de um jardim, não poluir,
alimentar pássaros, libertar-se do consumismo” (NALINI, 2010, p. 536).
Nalini (2010) traz à tona a unicidade e o dinamismo das interrelações e
interdependência existentes entre o ser humano e o meio ambiente como
constitutivos da intervenção ambiental deste primeiro, como também denuncia o
surgimento dos conflitos decorrentes da utilização seja do espaço ou dos recursos
ambientais. Logo, para o autor, o conceito e materialização da ética ambiental
ultrapassam a simples ideia do certo ou errado, mas se corporifica à medida em que
se extrai dela a perspectiva utilitarista de meio ambiente e amplifica para uma
perspectiva em que o ser humano é visto como parte integrante desse espaço e, por
isso, ao intervir nele se constitui como fruto de sua própria intervenção.
Partindo desse princípio, Battestin (2008, p. 05) afirma que

o objetivo de repensar a relação homem-natureza, em profunda


integração com o processo histórico, é necessário para não se
perder o sentido da existência, o sentido de ser um ser humano.
Estruturar uma nova concepção de mundo, através de mudanças do
104

CAPÍTULO 2

agir e do pensar exige um entendimento dos problemas globais, e


um agir nos problemas locais. A crise ambiental decorrente desta
relação é uma crise que faz com que busquemos razões profundas
para refletir e produzir novos modos e estilos de vida que possam
educar para um mundo futuro de seres vivos.

A autora adverte que repensar a relação homem-natureza é uma questão,


sobretudo, filosófica que não se encerra com a perspectiva romântica, contemplativa
e utilitarista que ao longo dos anos vem sendo atribuída pelo ser humano ao meio
ambiente, especialmente com o processo de desenvolvimento e intensificação
industrial-tecnológica. Para ela, há uma emergência de trazer as questões éticas
para as discussões e reflexões que perpassam os diferentes campos que transitam
os estudos sobre meio ambiente, considerando a dimensão social, histórica e
cultural que articulam a compreensão acerca da sustentabilidade, responsabilidade e
racionalidade humana, sem perder de vista o caráter, eminentemente, histórico da
relação entre o homem e a natureza, assim como sua relação ética com o meio
ambiente.
De acordo com Battestin (2008), a conduta humana deve ser direcionada por
uma ética que seja capaz de repensar modos de ser e agir frente às problemáticas
ambientais, que traga para o centro das reflexões os princípios e problemas que
regem a nossa sociedade. Enfim, uma ética que não esteja alheia à
responsabilidade da conduta humana enquanto fato primordial para se pensar,
repensar e efetivar as mudanças necessárias no cenário de uma sociedade que, por
um lado, vem crescendo cada dia mais no campo da tecnologia, do conhecimento,
da informação e exercendo um forte poder de transformação sobre o meio ambiente,
mas que, por outro lado, as relações entre o homem e o meio ambiente têm se
mostrado frágeis no que tange ao aumento de degradações ambientais visando,
sobretudo, satisfazer aos apelos e à lógica de produção e consumo capitalistas.
Por isso, a ética de responsabilidade tanto com esta quanto com as gerações
futuras é um dos possíveis caminhos que deve ser trilhado como princípio social
capaz de perceber a ética ambiental como um preceito que situa o ser humano no
mesmo plano dos demais seres vivos e que, portanto, há a necessidade de construir
relações mais respeitosas, cuidadosas e próximas com plantas, animais e
ecossistemas, segundo Battestin (2008) e Wolkmer e Paulitsch (2011).
105

CAPÍTULO 2

Embora o termo “ética ambiental” tenha surgido na década de 1960, de


acordo com Lopes e Costa (2013), até os dias atuais a variante dessa ética tem se
mostrado complexa e merecido maior atenção por parte dos pesquisadores e
especialistas por se tratar de uma especificidade ética que deve buscar meios e
estratégias que possibilitem ao ser humano a capacidade de se relacionar com o
meio ambiente de forma integrada, mais consciente, positiva, menos destrutiva,
menos utilitarista. Para os autores, a grande falha da humanidade no decorrer dos
anos foi a percepção de meio ambiente enquanto lugar externo, enquanto recurso
disponível para obtenção de suas riquezas.
A esse respeito, Wolkmer e Paulitsch (2011, p. 215) dizem que,

nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, alicerçado


na industrialização, com uma nova forma de produção e organização
do trabalho, a mecanização e produção industrial, a mecanização da
agricultura e uso intenso de agrotóxicos e a concentração
populacional nas cidades [...] Nesse contexto, conferiu-se à natureza
um valor puramente utilitário.

Wolkmer e Paulitsch (2011) chamam a atenção para o fato de que,


especialmente na cultura do mundo ocidental, há uma predominância histórica das
relações de mercado como eixo basilar das interações entre o ser humano e o meio
ambiente, o que expressa o caráter de uma ética essencialmente utilitarista que teve
seu maior momento de intensificação no período da Revolução Industrial, onde a
visão de meio ambiente como objeto de exploração dos recursos naturais foi
articulada com o desenvolvimento tecnológico e os interesses de atendimento ao
mercado.
Portanto, usando do argumento de promoção de desenvolvimento econômico,
a ética utilitarista se constitui como um conjunto de posturas e atitudes voltadas para
a satisfação do mercado, das relações de consumo e produção, dos interesses de
determinados e pequenos grupos ainda que, a fim de alcançar os objetivos
econômicos, os recursos naturais estivessem a serviço da exploração e,
consequentemente, da degradação e destruição ambiental.
Neste sentido, ao falar em ética ambiental numa época em que se tem uma
juventude engajada em questões ambientalistas – seja em movimentos, grupos,
coletivos ou organizações – significa afirmar primeiramente que os impactos da ação
humana no meio ambiente são reais e, ao mesmo tempo, que essa juventude tem
106

CAPÍTULO 2

sido porta-voz da conscientização tanto da importância do senso ético na relação ser


humano e meio ambiente quanto dos efeitos negativos face à ausência desse senso.
Importante destacar que a luta por uma sociedade sustentável, equilibrada e
que preze por uma ética que valorize a interdependência entre o ser humano e o
meio ambiente não é algo recente, assim como também não o é a atuação dos
movimentos ambientalistas. Conforme Wolkmer e Paulitsch (2011, p. 216),

historicamente, a preocupação com o meio ambiente aumentou a


partir da década de 60, quando ficou claro que a humanidade rumava
aceleradamente para o esgotamento e/ou a inviabilização dos
recursos naturais, indispensáveis à sobrevivência no planeta. Assim,
criaram-se movimentos em defesa do ambiente, com o objetivo de
diminuir o ritmo acelerado de destruição da natureza, construindo
alternativas que conciliassem a conservação efetiva do meio
ambiente com a qualidade de vida da sociedade em geral.

As autoras apontam que as problemáticas ambientais advindas, em especial,


do processo de intensificação industrial-tecnológico colocaram em xeque a
perspectiva utilitarista de meio ambiente à medida que a articulação positiva entre
qualidade de vida e avanço científico e tecnológico passou a ser questionada. Ou
seja, até que ponto a solução para os problemas econômicos e sociais estavam, de
fato, no processo de exploração dos recursos naturais?
A partir daí, Wolkmer e Paulitsch (2011) afirmam que o próprio conceito de
desenvolvimento, inclusive sustentável, passou a ser alvo de interrogações; sendo
que, a partir dos encontros, convenções e reuniões mundiais, principalmente a
Convenção de Estocolmo (em 1972) e a Rio-92 (em 1992), a temática ambiental
começa a ser vista sob um novo prisma ético, no qual a qualidade de vida está
associada à ideia de conservação do meio ambiente de modo que seja possível
garantir a sobrevivência das gerações presentes sem comprometer a qualidade de
vida das gerações futuras, considerando a essência do conceito de sustentabilidade,
fazendo-se, portanto, “[...] necessária uma ruptura frente ao modelo utilitarista e
consumista adotado, com um novo fundamento ético” (WOLKMER; PAULITSCH,
2011, p. 219).
Mesmo diante dos avanços no que tange às formas de pensar os modelos
éticos que regem a problemática ambiental, Wolkmer e Paulitsch (2011) reiteram
que muito ainda precisa ser feito para que, de fato, a ética ambiental subsidiada nos
princípios da sustentabilidade se efetive. As autoras sustentam a ideia de que, ainda,
107

CAPÍTULO 2

é muito presente em nossa sociedade posturas e ações paliativas, porque o


contrário implica numa grande e complexa transformação social que caminhe (quem
sabe!) na contramão dos modelos industriais e tecnológicos tão amplamente
disseminados, propagados e consagrados como essenciais à sobrevivência e
subsistência humanas.
Por isso, segundo Wolkmer e Paulitsch (2011), cumpre às gerações atuais
refletir sobre o processo histórico lesivo da relação entre o ser humano e o meio
ambiente, buscando repensar o modus vivendi da sociedade como um todo frente à
crise ecológica e a necessidade de construir modus operandi ético ambiental.
Neste ínterim, Leff (2006) também avalia que há uma subestimação por parte
do ser humano quanto aos impactos de sua ação no planeta e, por isso, o assunto
ética ambiental tem se mostrado tão preocupante em relação ao futuro.
Lopes e Costa (2013, p. 01) afirmam que

a ética ambiental pode ser considerada um ponto focal no trato das


questões ambientais. Somente o comportamento ético com o meio,
ou seja, que as ações antrópicas sobre a natureza sejam executadas
levando-se em conta os princípios da sustentabilidade, podem
garantir que os recursos naturais sejam mantidos para as futuras
gerações indefinidamente. Dessa forma, pode-se evitar que os
elementos naturais sejam dilapidados pela ação humana.

Não há como negar, em Lopes e Costa (2013), que a ética ambiental diz
respeito a uma ordem de conduta pessoal imbricada com a maneira responsável de
como se deve agir com o meio ambiente, englobando os organismos humanos, não
humanos, as diferentes espécies, ecossistemas e recursos naturais. Para os
autores, a ética ambiental em sua essência deve, sobretudo, reconhecer a inerência
do valor presente no ambiente. Valor não consequencialista ou utilitarista, uma vez
que são tipicamente formados nos moldes das sociedades capitalistas, mas a ideia
de valor que pense o meio ambiente como direito, que tem a sua importância pelo
que é e não por aquilo que, porventura, possa oferecer como preconiza a visão
instrumental de meio ambiente como mero recurso a serviço dos interesses
humanos e de grupos, especialmente, mercadológicos/econômicos.
Desse modo, fica perceptível que a crise ecológica da atualidade é,
sobretudo, uma crise de cunho ético e, nesse sentido, configura-se como uma crise
de valores enquanto reflexo da maneira como o ser humano vem se relacionando
com o meio ambiente. Logo, compreender a natureza das problemáticas ambientais
108

CAPÍTULO 2

como de ordem ética é um dos primeiros e grandes passos orientadores do universo


de decisões e escolhas humanas na tomada de consciência para a construção de
sociedade sustentável, a adoção de posturas responsáveis e efetivação de uma
ética subsidiada por valores que não sobreponham o ser humano ao meio ambiente.
Tal sobreposição se constitui como uma armadilha e um sofisma à medida
que

a crise ambiental é também a crise do ser humano em sua


subjetividade. Isso porque o respeito e a consideração devidos ao
meio ambiente estão intimamente relacionados com o respeito e o
equilíbrio do ser humano consigo mesmo, exigindo uma mudança
conceitual de paradigma no que tange à concepção de bem-estar do
homem, à questão das gerações futuras e à consideração da
natureza como detentora de um valor intrínseco a ser respeitado
(WOLKMER; PAULITSCH, 2011, p. 221).

Se por um lado, de acordo com Wolkmer e Paulitsch (2011), a ética ambiental


coloca em evidência a interdependência existente entre o ser humano e o meio
ambiente, por outro lado, ela também expõe as fragilidades dessa relação à medida
que a maioria dos projetos das sociedades contemporâneas não adota a ideia de
natureza com valor intrínseco. E, nesse sentido, a questão ambiental – por vezes –
se apresenta de forma dicotômica no que tange à relação sociedade e meio
ambiente.
No que se refere à ideia de valor intrínseco e a perspectiva de refutar a
natureza como recurso ou valor instrumental, na visão de Grün (2007, p. 192),

a mudança radical ocorreria quando as pessoas, governos e


empresas parassem de valorizar tanto os recursos e passassem a
admirar mais “a Natureza em seus próprios termos” e não a
perturbassem nem a desvalorizassem tanto. Isso não quer dizer que
uma pequena parte da Natureza não possa ser transformada em
recurso, mas teríamos de aprender a não valorizar somente os
recursos e sim toda uma parte da Natureza que aparentemente não
tem valor. Nós valorizamos apenas aquilo que processamos –
madeira, água represada, minérios, etc –, deixando de lado o valor
intrínseco da Natureza. A nossa civilização Ocidental parece ser
capaz de conferir apenas valor instrumental à Natureza, valor de uso
e de negociação. Simplesmente, não concebemos que uma enorme
área da Natureza pode não servir ao mero interesse utilitário da
maioria dos seres humanos.

Partindo desse pressuposto, Grün (2007) considera que para romper com o
modelo da natureza como mero recurso natural é de suma importância uma nova
teoria que, aliada aos ideais da sustentabilidade, fundamente-se numa perspectiva
109

CAPÍTULO 2

não-antropocêntrica. Desse modo, a ética ambiental não pode ser vista como fator
inatingível e abstrato às relações entre os seres humanos e o meio ambiente. Ao
contrário, ela deve ser interpretada como elemento primordial para repensar e
ressignificar os valores, posturas e princípios que têm orientado as diferentes
maneiras de relacionamento do ser humano com o meio ambiente, visto que apenas
a consciência individual não é suficiente para as transformações e construção de
sociedades sustentáveis pautadas na ética dos valores, como aponta Aristóteles
(2007), é preciso, sobretudo, redefinir o cenário ético e social que vem sustentando
as relações ser humano-sociedade-natureza.
Para Wolkmer e Paulitsch (2011), na esteira das correntes éticas – utilitarista,
aristotélica, da lei natural e antropocêntrica – a própria história dos movimentos
ambientalistas e as causas ambientais sobre as quais a juventude contemporânea
tem se debruçado, oferecem pistas da urgência de ruptura com a ética ambiental
antropocêntrica, que concebe o ser humano como sujeito absoluto e único. Tal
ruptura significaria uma concepção de ética ambiental onde o ser humano deixa de
ser visto como o centro das relações com o meio ambiente e passa a ser
considerado como integrante desse meio no espaço e no tempo.
A esse respeito, Leff (2006) afirma que urge a necessidade de uma
racionalidade ambiental capaz de gerar um rompimento com o princípio da
racionalidade instrumental, segundo o qual, a ética se fundamenta na ideia de que o
fim justifica os meios, ainda que esse fim tenha resultados degradantes ao meio
ambiente, uma vez que a centralidade de todo o processo é satisfazer aos
interesses do ser humano sem levar em consideração a relação intrínseca entre ser
humano-natureza. A natureza, nesse sentido, serve apenas como instrumento
propício aos anseios humanos.
A visão de Leff (2006) permite retomar o pensamento de Grün (2002) quando
este último parte do pressuposto que o predicado “ambiental” dentro da discussão
“ética e educação ambiental” tem suas raízes, sobretudo, nas bases filosóficas
cartesianas, que contribuíram para que a Natureza fosse objetificada e vista apenas
com valor instrumental. Para o autor, o fato de – quase sempre – concebermos a
natureza como elemento exterior a nós pode ser explicado pela lógica cartesiana e
antropocêntrica desenvolvida pelas sociedades, especialmente renascentistas, onde
as questões éticas passam a estar centradas no ser humano e muito fortemente
110

CAPÍTULO 2

ligadas ao paradigma cartesiano-mecanicista que se estrutura numa visão de


natureza enquanto máquina.
Desse modo, Siqueira (2002, p. 11) afirma que a ética ambiental se refere a
uma questão de ordem axiológica, cujos valores, visões e paradigmas
predominantes nas diferentes sociedades num período histórico-social contribuíram
para a crise ética ambiental vivida na atualidade. Em razão disso, para o autor,

a crise nas relações homem-natureza deve ser buscada nos modelos


axiológicos que, sustentados por fundamentações filosóficas,
marcaram as diferentes concepções de natureza, algumas das quais
são hoje profundamente questionadas [...] A partir do Renascimento
dois tipos distintos de interpretação da natureza surgiram: um ligado
ao ideal galileano-cartesiano de ciência, com forte acento na
quantificação e formalização matemática da natureza e outro
relacionado com a dimensão qualitativa e valorativa da natureza.

Tanto Siqueira (2002) quanto Grün (2002) partem do princípio que a atual
crise ambiental é fruto de um processo histórico que privilegiou muito mais o
desenvolvimento social, cultural e econômico na perspectiva da racionalidade
quantificada da natureza do que da racionalidade qualitativo-axiológica. E, vista pela
ótica cartesiana, a natureza assume condição de objeto humano e de instrumento
quantitativo da maioria das ciências.
Neste aspecto, é importante assinalar que nas experiências e relatos dos
jovens ambientalistas é bastante frequente a concepção de que o meio ambiente
não se restringe ao lugar da contemplação de elementos naturais nem do espaço
divinamente criado, intocável e harmônico; assim como não deve ser visto,
cartesianamente, como máquina a serviço da satisfação e dos interesses pessoais e
de pequenos grupos, especialmente com cunho econômico:

A gente começa conscientizando ambientalmente, daqui a pouco o


jovem está com uma consciência política, com outro tipo de
consciência porque ele vai se envolver naquilo e ele vai ver que não
é só aquilo, que tem outras coisas relacionadas. Que meio ambiente
não é só planta ou o lugar onde é muito lindo e belo. Então, quando
ele começa a criar consciência ambiental, ele vai ver que essa
consciência ambiental está ligada à consciência política também.
Então, ele começa a pensar: “em quem eu vou votar?”, “esse cara
que vou votar pensa nas questões ambientais?”, “ele está ligado a
isso?” (Melinda).

Eu comecei o projeto GAASB, que empodera jovens para que


participem dos locais onde são decididos o seu futuro, porque a
gente tem essa ilusão de que meio ambiente é só planta, é só animal
111

CAPÍTULO 2

e esquece que a gente também tem um espaço nele [...] No início,


toda ideia era que a gente formasse um grupo pra fazer aventuras aí
no meio ambiente, mas disso tudo a gente percebeu que não só
dava pra aproveitar da natureza, mas a gente também teria que
retribuir de alguma forma (Rafael).

Os relatos dos jovens ambientalistas, juntamente com as falas dos autores


chamados para essa discussão, colocam em evidência que a questão ética
ambiental está relacionada ao processo de desenvolvimento da consciência social e
política dos seres humanos no sentido de romper com os valores, modelos e
paradigmas cartesianos e antropocêntricos que não atribuem ou percebem na
natureza o seu valor intrínseco e sobre os quais se apoiam a crise ambiental na
contemporaneidade.
A maneira peculiar com que os jovens percebem as relações entre o ser
humano e o meio ambiente se configura como um sinalizador de que as relações
humanas e ambientais estão com problemas, que não serão resolvidos pela ótica
cartesiana, mecanicista e antropocêntrica. A juventude ambientalista chama a
atenção para o fato que é necessário uma nova concepção ética fundamentada
numa nova visão de mundo.
Esse olhar mais sensitivo da juventude faz lembrar a obra “O Ponto de
Mutação” de Capra (2004), à medida que o contato com os jovens ambientalistas faz
perceber o quanto eles acreditam ser necessário o rompimento com a ideia de meio
ambiente separado do ser humano e, ao mesmo tempo, do quanto é importante a
construção da consciência coletiva para que as mudanças aconteçam e uma nova
ética possa conectar, sustentavelmente, o ser humano e o meio ambiente.
Assim, os jovens ambientalistas têm dado o sinal de alerta no sentido de que
o modelo atual em que vem se sustentando as relações ser humano-natureza-
sociedade não é viável, visto que a vida não deve ser concebida de maneira
mecânica, comparada ao funcionamento de um relógio, conforme pressupõe a lógica
cartesiana. É preciso a compreensão de que homem e natureza constituem uma teia
inseparável e interconectada de relações.
Na verdade, bem distante dos preconceitos que circundam o ativismo e
engajamento juvenil ambientalista, o contato com esses jovens deixa claro que há
nos seus engajamentos a intenção de alertar as pessoas que a crise ambiental é
uma verdade, não se trata de conversa despretensiosa nem de discurso infundado.
112

CAPÍTULO 2

Nesse plano entre realidade, visão e perspectivas, não se pode esquecer que,
ao falar de meio ambiente equilibrado tendo como norte a ética das virtudes trazida
por Aristóteles em contrapartida às correntes cartesiana e antropocêntrica, parte-se
do pressuposto de que esse equilíbrio está imbricado com a melhoria e garantia da
saúde, qualidade de vida e bem-estar do ser humano nessa e para as próximas
gerações.
No tocante à realidade brasileira, essa questão se encontra presente,
enquanto dispositivo legal, no artigo 225 da Constituição de 1988, que faz menção
ao meio ambiente como fundamental importância para existência da vida:

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem


de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2016,
p. 01).

Tomando como ponto de referência o que afirma o artigo acima, tanto


Pelizzoli (1999) quanto Wolkmer e Paulitsch (2011) ressaltam que a problemática
ambiental e a construção de uma ética fundamentada em valores não dizem respeito
apenas a uma questão de engajamento, visto que a teoria não pode ocupar o lugar
de abstração. Para os autores, a ética numa perspectiva de valores deve estar
associada tanto às mudanças comportamentais quanto à criação de novas maneiras
de se portar perante a natureza no que tange à ressignificação de como o ser
humano pensa e interpreta a sua existência, presença e atuação no meio ambiente.
Portanto, quer seja pelo processo de engajamento, quer seja pelas
discussões teóricas, refletir sobre os valores éticos que subsidiam a multiplicidade
de relações com o meio ambiente regidas por questões políticas, econômicas,
sociais e culturais significa considerar que é através de uma base tanto teórica
quanto prática da ética ambiental que será possível a construção de relações mais
harmoniosas e sustentáveis entre o meio ambiente, o ser humano e a sociedade.
Nesta perspectiva, Nalini (2010, p. 2-3) considera que

somente a ética pode resgatar a natureza, refém da arrogância


humana. Ela é a ferramenta para substituir o deformado
antropocentrismo num saudável biocentrismo. Visão biocêntrica
fundada sobre quatro alicerces/convicções: a) a convicção de que os
humanos são membros da comunidade de vida da Terra da mesma
forma e nos mesmos termos que qualquer outra coisa viva é membro
de tal comunidade; b) a convicção de que a espécie humana, assim
113

CAPÍTULO 2

como todas as outras espécies, são elementos integrados em um


sistema de interdependência e, assim sendo, a sobrevivência de
cada coisa viva bem como suas chances de viver bem ou não são
determinadas não somente pelas condições físicas de seu meio
ambiente, mas também por suas relações com os outros seres vivos;
c) a convicção de que todos os organismos são centros teleológicos
de vida no sentido de que cada um é um indivíduo único, possuindo
seus próprios bens em seu próprio caminho; d) a convicção de que o
ser humano não é essencialmente superior às outras coisas vivas.
Esse o verdadeiro sentido de um “existir em comunidade”.

Nalini (2010) ressalta que um dos pontos fortes do exercício da ética


ambiental, pensando no biocentrismo como elo entre o ser humano e a natureza, é
criar e fortalecer a conscientização de que o meio ambiente ou a natureza não é
simples objeto da ação humana e que, portanto, deve se fundamentar em valores
ecológicos que exaltem e empreendam esforços, sobretudo para a existência da
vida no planeta por meio da efetividade de condutas racionais, sustentáveis,
reguladoras e ecologicamente equilibradas.
Para ele, é preciso retomar ou empreender esforços no sentido de aproximar
o ser humano da natureza de forma saudável, sustentável e respeitosa, de modo
que o ser humano compreenda-se como sujeito de valores. Por isso, segundo o
autor, a maior finalidade da ética ambiental é articular essa relação do ser humano
com a natureza e, por meio dela, será possível superar a crise ambiental no planeta;
sem perder de vista que

[...] a crise que se vivencia hoje é uma questão eminentemente ética,


que tem levado a questionamentos sobre a racionalidade dos
sistemas sociais, do modo de produção, dos valores e dos
conhecimentos que o sustenta. Urge uma reflexão e uma premente
alteração na conduta social e em seus valores éticos e morais
(WOLKMER; PAULITSCH, 2011, p. 226).

Wolkmer e Paulitsch (2011) e Nalini (2010) compartilham da mesma crença


em acreditarem que a ética ambiental pode ser traduzida pela efetividade e carência
de uma ética social comprometida com os valores de uma sociedade sustentável e
equilibrada. Noutras palavras, para os autores, a crise não é necessariamente do
meio ambiente, ela é parte do reflexo de uma crise maior que tem suas raízes na
própria crise dos valores humanos. Por isso, antes de ser uma crise ética ambiental,
ela nasce e alastra-se enquanto crise ética social e, portanto, “a esperança é que as
crianças e jovens sejam o freio à insensatez e sirvam de consciência para seus
avós” (NALINI, 2010, p. 07).
114

CAPÍTULO 2

E, nesse sentido, a juventude ambientalista vem afirmando, por meio de suas


ações (ainda que com pouca visibilidade), que a análise das problemáticas
ambientais e suas questões éticas não são simples de ser realizadas. Pelos relatos
dos jovens ambientalistas, é possível perceber o quanto as relações entre o ser
humano e o meio ambiente se encontram em um cenário multidimensional,
complexo, multifacetado e interligado. Para eles, falar em crise e ética ambientais
significa extrapolar a visão romântica de meio ambiente e juventude e compreender
que a luta, os conflitos e embates que perfazem seus engajamentos em
movimentos, coletivos, organizações ou grupos ambientalistas estão muito mais
associados à ideia de que a falta de uma ética ambiental sustentável afeta a saúde
da humanidade, os modos de vida das pessoas, as relações econômicas, culturais,
políticas, tecnológicas e, sobretudo, a própria qualidade do meio ambiente.
Desse modo, a abordagem sobre a ética ambiental deve, também, partir da
premissa que a crise não é do meio ambiente, mas no meio ambiente, uma vez que
a conjuntura em que ela toma consistência tem implicações éticas sociais das
tensões, conflitos, possibilidades, desafios, comportamentos e formas de pensar dos
seres humanos face ao planeta. Assim, parte-se do princípio que a questão de fundo
dos problemas ambientalistas é, especialmente, ética.
Por essa razão, Azevedo (2010, p. 01) afirma que “quanto à visão de mundo e
de vida, a sociedade humana atravessou três fases (paradigmáticas) e hoje as três
convivem conosco e em nós: a teocêntrica, a antropocêntrica e a biocêntrica. Bom
seria se tivéssemos tido sempre uma só fase – a eticocêntrica...”6. Para ele, a ética é
o ponto-chave para repensar as problemáticas ambientais, ela é o ponto de partida e
de chegada dos problemas ambientais que o planeta vem enfrentando.
Para Azevedo (2010), os movimentos ambientalistas da atualidade têm
refletido, cada vez mais, a necessidade de uma ética ecocêntrica ou biocêntrica, por
se tratar de uma perspectiva mais democrática e humana no tratamento das
relações entre o ser humano e o meio ambiente. O autor salienta que se deve ter

6
Para Azevedo (2010), a fase teocêntrica tem sua origem com base na Bíblia, mais especificamente
no livro de Gênesis, tendo como marco principal a criação do homem, que encerra a criação do
universo. Azevedo (2010) ressalta que nas narrativas bíblicas no livro de Gênesis, o homem assume
a figura de dominador, superior às demais criações e, portanto, está numa condição inferior apenas
em relação ao Criador. Dessa forma, tudo lhe é ético diante da natureza, ordem era crescer e
multiplicar por meio dos recursos disponíveis. “Portanto, tínhamos o homem senhor da natureza
submetido apenas ao Deus senhor do Universo” (AZEVEDO, 2010, p. 01).
115

CAPÍTULO 2

muito cuidado para não cair no erro de focar no meio ambiente e retirar o ser
humano desse cenário que, legitimamente, o homem pertence. O ecocentrismo ou
biocentrismo, nesse caso, partem de uma concepção ética de interdependência e
interconexões de todos os seres que compõem a natureza.
Desse modo, o ecocentrismo opõe-se tanto à ética utilitarista quanto à ética
antropocêntrica, uma vez que em sua concepção de ética busca compreender os
aspectos intrínsecos do meio ambiente e construir uma ética

menos egóica e um pouco mais ecóica [...] passagem de uma ética


ambiental antropocêntrica para uma ética ambiental biocêntrica ou
ecocêntrica significa um esforço enorme para a sociedade humana
atual porque implica em reconstrução de crenças, condutas e
quereres [...] Primeiro fomos seres animais e só depois seres sociais.
E para criar sociedades e seus valores morais os seres humanos
habilitaram-se a intervir e interferir no ambiente natural,
desenvolveram tal capacidade. Contudo, este ambiente natural aqui
já estava, foi-nos oferecido, não é produto de nossa criação, logo é
ético mantê-lo, ainda que nele interfiramos. Não é moral destruir o
que não criei e, portanto, não é meu. Aliás, quem sabe nem seja
ético destruir mesmo o que criei. Essa linha de raciocínio talvez
possa ser uma boa base para nossa ética ambiental. É ético viver.
Mais do que isso, é ético viver e deixar viver. Ainda mais, é ético
viver, deixar viver e promover a vida (AZEVEDO, 2010, p. 02, 07).

Para o autor, a ética ambiental se efetiva no hiato entre a palavra e a ação, é


aquilo que o ser humano pratica e as posturas que adota frente a si e ao meio social,
desenvolvendo a consciência da necessidade do cuidado ambiental e
comprometendo-se com o espaço e tempo da sua geração e das gerações futuras.
Por isso, segundo Azevedo (2010), a ética – vista pelo prisma dos cuidados
ambientais – exerce uma forte influência na qualidade de vida ambiental e
intergeracional, sendo que, antes de existir socialmente, o ser humano já existe
ambientalmente.
E nesta questão, pensando no engajamento ambientalista juvenil da
contemporaneidade, Nalini (2010) faz um adendo no sentido de reforçar que a
construção e efetividade da ética ambiental pautada em valores sociais e ecológicos
requer a participação ativa dos indivíduos em movimentos ecológicos. Para ele, ter
simpatia pelas discussões éticas ambientalistas e dizer-se preocupado com o meio
ambiente sem ações, posturas, práticas e o devido engajamento não se constituem
ferramentas suficientes para barrar ou amenizar a destruição e degradação do meio
ambiente.
116

CAPÍTULO 2

Tomando a discussão trazida tanto por Lopes e Costa (2013) quanto por
Siqueira (2002), torna-se importante destacar a ideia de ética das virtudes de
Aristóteles, que leva em consideração a maneira como o homem deve viver e o que
deve fazer a fim de que alcance o bem e a felicidade, o que não quer dizer que a
felicidade seja um bom emprego, ganhar muito dinheiro ou adquirir muitos bens
materiais. Na perspectiva da ética das virtudes, a ética é o substrato importantíssimo
que oferece condições aos seres humanos de avaliarem de forma crítica o meio em
que vivem, bem como as decisões tomadas e posturas adotadas.
Silva (2008) afirma que a ética das virtudes trazida por Aristóteles é originária
da Grécia Antiga e tinha, sobretudo, o objetivo de responder ao questionamento
socrático-platônico sobre como o homem deve viver. Se para Aristóteles (2007) a
finalidade última da vida humana é alcançar a felicidade, na perspectiva de Sócrates
e Platão – antecessores à visão de ética aristotélica – a vida ética estava
direcionada pelo conhecimento, que estava associado à ideia de um mundo das
sombras, da ilusão e do desprezível.
Na filosofia aristotélica há uma inversão da lógica de conhecimento presente
na filosofia platônica: para Aristóteles (2007), a origem do conhecimento está ligada
ao mundo material, que é regido por uma causa final (finalidade da existência). Logo,
a ética de Aristóteles, ou ética das virtudes, tem o pressuposto no campo da
realidade concreta por meio do éthos e da práxis humana, que dizem respeito ao
conjunto de costumes e ações humanas, respectivamente.
A ética das virtudes, nesse sentido, considera que as decisões sobre a melhor
maneira de viver não devem apenas se situar na ideia do que seja necessário para
tonar o mundo melhor ou, ainda, basear-se em normas que devem ser obedecidas
sem o devido entendimento e apropriação do sentido e significado dessas normas
para a vivência em sociedade. Logo, a ética das virtudes parte do princípio que é de
fundamental importância ter clareza acerca do tipo de ser humano que queremos ser
e, portanto, a ética aristotélica centra-se nos aspectos que dizem respeito ao caráter
moral, enquanto expressão de uma ética que reflete muito mais o que o ser humano
é do que, simplesmente, o que ele faz.
O que seria, então, a ética para Aristóteles? O conceito de ética para
Aristóteles (2007) parte do princípio que esta é algo a ser conquistada via
eudamonia, que é sinônimo de felicidade. Isto é, na lógica da ética aristotélica há
117

CAPÍTULO 2

uma preocupação, um debruçar-se sobre o que é, no próprio agir da sociedade,


viver uma vida boa, que princípios e fundamentos sustentam essa vida em
sociedade. Quanto a isso, Aristóteles (2007) coloca que o caminho propício à
eudamonia é a prática da aretê (virtude). Para ele, a virtude é o caminho do meio, é
o meio termo, constitui-se como o campo da moderação e, portanto, a virtude
expressa a ação equilibrada.
Por isso, em sua obra Ética a Nicômaco, o autor deixa claro que a ética das
virtudes se opõe à ideia de extremidades entre as paixões, apetites e inclinações
humanas que podem gerar falta ou excesso de atitudes e daí, seja por falta ou
excesso de atitude, Aristóteles (2007) afirma que nascem os vícios. Qual é a virtude,
então? A virtude é, justamente, o agir moderado, a ação equilibrada entre a falta e o
excesso de atitudes frente às paixões, necessidades e inclinações do ser humano.
Dessa forma, a ética aristotélica parte do pressuposto que ser virtuoso significa
empreender esforços em determinada ação de maneira comedida e necessária.
Essa, para ele, é a verdadeira expressão do equilíbrio da ação entre o homem e a
sociedade.
Desse modo, a concepção de ética presente nas reflexões que tecem esse
trabalho está subjacente à perspectiva de ética das virtudes trazida por Aristóteles
(2007), uma vez que parte do princípio que a interferência e intervenção do ser
humano, ou seja, as causas e finalidades da sua ação devem seguir o “caminho do
meio”, considerar o meio termo das suas ações. Ou seja, as interações do ser
humano com o meio ambiente precisam ser equilibradas, moderadas e é necessário
que o ser humano aprenda a agir no meio termo com justiça e equidade.
Para a ética das virtudes aristotélica, de acordo com Silva (2008), é no éthos,
ou seja, no costume que a ética se fundamenta. A ética aristotélica possibilita
questionarmos a concepção de homem que socialmente construímos na realidade
concreta e, ao mesmo tempo, refletir sobre a concepção de ser humano que
almejamos. Nesse aspecto, é possível também pensar sobre as relações existentes
entre a ética das virtudes de Aristóteles e a ética ambiental, uma vez que a ética
apontada por Aristóteles (2007) gira em torno de como o homem deve ser e
comportar-se, da maneira como ele age dentro da comunidade política (pólis).
Daí que, pensando na ética ambiental a partir da ética das virtudes, surge o
questionamento: as ações dos movimentos e jovens ambientalistas (sem
118

CAPÍTULO 2

desconsiderar a importância das ações dos demais indivíduos) têm contribuído para
alcançar a eudamonia? As ações humanas têm convergido para atingir a felicidade
na perspectiva de Aristóteles do equilíbrio entre suas necessidades e a
sobrevivência da coletividade, visto que as situações, decisões e posturas
particulares/individuais têm fortes implicações no bem-estar maior da sociedade?
Quanto a essas interrogações, na obra Ética a Nicômaco é possível perceber
que, em Aristóteles (2007), a ética da virtude assume um caráter, sobretudo,
teleológico por natureza. Dessa maneira, a ética aristotélica tem centralidade nos
objetivos e fins que orientam as ações humanas e no modo de ser do homem. É
possível perceber, também, que a ideia teleológica presente na ética das virtudes se
difere da ideia que subsidia a ética utilitarista, visto que a ética da virtude está
concentrada no propósito que deve direcionar a vida de modo geral, que se refere ao
objetivo do ser humano de viver bem a fim de almejar experiência e excelência
enquanto ser humano.
Na visão aristotélica, o ser humano somente atingirá a felicidade por meio da
virtude, sendo que para o filósofo o homem bom é aquele instruído e educado, ou
seja, a pessoa só será justa, boa, equilibrada e moderada em suas ações se ela for
educada e instruída a agir dessa maneira – educação essa que não tem relação com
a ideia de educação formal tal qual como distinguimos na contemporaneidade 7 –
caso contrário, a tendência é que viva segundo os seus vícios.
Daí, a partir da ética aristotélica, surge o seguinte questionamento:

Como se chega à felicidade? O meio para consegui-la são as


virtudes, ou seja, os hábitos ou disposições humanas graças aos
quais realizará as obras que lhe são próprias. O homem deve se
impor o exercício, firme e constante, da virtude. Não basta um ato
virtuoso de quando em quando. A virtude é a atualização do que lhe
é próprio (NALINI, 2009, p. 53 – grifo do autor).

Nalini (2009) chama a atenção para o fato que refletir sobre o conceito de vida
se constitui a base da ética das virtudes, visto que tem como objetivo maior alcançar
o desenvolvimento da boa pessoa e a plenitude da boa vida, onde as virtudes são

7
É preciso dizer e lembrar que Aristóteles viveu em outro contexto social e, a partir dele, elaborou
seus pensamentos e teorias, o que não significa dizer que não tenham sentido para refletir e
compreender aspectos da sociedade atual. Mas, é preciso tomar cuidado a fim de que não seja feita
uma transposição dos nossos conceitos e preconceitos, da nossa forma de ver o mundo hoje para a
compreensão acerca das teorias aristotélicas.
119

CAPÍTULO 2

elementos do caráter capazes de fornecer ao ser humano as condições para


alcançar a felicidade, como sinônimo de estado de bem-estar consigo e com a vida.
A ética das virtudes representa um prelúdio para refletir sobre a ética
ambiental à medida que o caráter e o hábito são vistos por ela como elementos de
grande importância, uma vez que tem como norte principal os pensamentos,
desejos, sentimentos e ações que podem potencializar e habilitar o ser humano para
a excelência e bem-estar frente às suas experiências de vida. Desse modo, na
concepção aristotélica, a ética está diretamente associada à vontade humana,
depende dessa vontade para que seja desenvolvida e, portanto, a virtude – por ser
um hábito – é adquirida através do exercício.
Segundo Nalini (2009), a ética das virtudes parte do pressuposto que a vida
se constitui como um processo de escolhas e tomada de decisões com a finalidade
de que o ser humano alcance a felicidade por meio da construção de uma sociedade
justa. Dessa forma, ela preconiza a harmonia entre a natureza humana e a moral
social, de modo que Aristóteles (2007) compreende que o ser humano é dotado da
capacidade de pensar e, portanto, é um ser político e social que necessita viver em
sociedade e nela praticar seus princípios morais. Logo, para Aristóteles (2007), o
homem virtuoso é aquele que sabe ponderar seus desejos em relação ao seu meio
social e as virtudes são adquiridas através do hábito enquanto prática contínua, que
se concretiza principalmente através do exemplo.
Quanto a este aspecto, Nalini (2009, p. 68) ressalta que

os valores dão dignidade à vida e “são imprescindíveis para o


homem. Que é este sem a consciência dos valores? Em que se
fundamentaria o homem ao perde-los, ou deles duvidar? Sem o valor
desaparece o homem”. É a adequada consciência valorativa que
propiciará à criatura se definir pela melhor opção quando se
encontrar diante de uma escolha.

Nalini (2009) considera que, a partir da ética aristotélica, é possível perceber


os valores como forças que impulsionam os comportamentos, condutas e posturas
humanas. Virtudes, nesse caso, são as ações praticadas subsidiadas por
determinados valores considerados muito bons para convivência em sociedade.
Portanto, a ética das virtudes parte do princípio que a virtude (o hábito) não se
restringe ao campo das intenções e, nesse sentido, é que se pode afirmar que a
perspectiva de ética aristotélica muito se aproxima das discussões e reflexões que
120

CAPÍTULO 2

atravessam a atuação dos jovens engajados em problemáticas ambientais; pois não


se trata de um envolvimento ou participação que se encerra no campo das intenções
e verbalismo. A juventude ambientalista estaria muito ligada à concepção da ética
das virtudes à medida que seu engajamento engloba intenção mais ação. A intenção
pela intenção, sem o agir – de acordo com Aristóteles (2007) – não se constitui em
virtude, representa apenas vício e omissão.
Assim, numa sociedade onde ainda é muito forte a concepção cartesiana e,
por sua vez, o paradigma mecanicista se constitui como uma barreira entre as
relações do ser humano e meio ambiente, Grün (2002, 2007) aponta que um dos
caminhos viáveis à superação dessa visão que coloca a natureza como objeto
passivo, e dela retira-se o ser humano – colocando-o na condição de estudioso,
cientista e dominador do meio ambiente – encontra-se na educação ambiental,
enquanto eixo capaz de quebrar a dicotomia ser humano versus meio ambiente.
Sobre tal questão, discutiremos na seção a seguir.

2.6. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA ALTERNATIVA (?)

A contínua ação, por vezes desenfreada, do ser humano sobre o meio


ambiente, bem como o exercício de uma ética que pondere e valorize o equilíbrio da
ação humana são as principais causas da crise ambiental que o planeta vem
enfrentando nas últimas décadas. Frente a essa realidade, Wolkmer e Paulitsch
(2011, p. 227) ressaltam que

o primeiro desafio para nova Ética Ambiental é a necessidade de


uma adequada educação ambiental, a qual desempenha função
fundamental no processo de conhecimento, nas modificações dos
valores e das condutas pró-ambientalistas e, principalmente, no
moroso processo de conscientização social, ao capacitar para uma
consciência dos atos praticados.

Wolkmer e Paulitsch (2011) não negam que, face aos problemas ambientais e
a busca por alternativas que solucionem e/ou amenizem as atitudes e
comportamentos que expressam a ausência de consciência ecológica, a educação
ambiental tem assumido a condição de uma das estratégias capazes de reverter
algumas situações de degradação ambiental e, sobretudo, construir uma sociedade
mais justa, sustentável e fundamentada nos princípios que norteiam a ética das
virtudes (enquanto aporte teórico que mais se aproxima das reflexões trazidas neste
trabalho).
121

CAPÍTULO 2

Tendo em vista que a crise ambiental expressa muito mais a crise da própria
subjetividade humana,

o desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que


seja crítica e inovadora... O seu enfoque deve buscar uma
perspectiva de ação holística que relaciona o homem, a natureza e o
universo, tendo como referência que os recursos naturais se
esgotam e que o principal responsável por sua degradação é o
homem (JACOBI, 2003, p. 189).

A fala deste autor torna emblemático o fato que a problemática ambiental


deve ser encarada como uma questão de cunho ético ambiental e social que tem
requerido das sociedades novas maneiras de pensar e agir seja na esfera individual
ou coletiva, de modo que estejam comprometidas com a criação de caminhos mais
sustentáveis e justos para a satisfação das necessidades humanas e redução do
cenário de desigualdades quanto às diferentes maneiras como os seres humanos
têm sido “vítimas” da ausência de garantia da sustentabilidade ecológica.
De acordo com o autor, a construção de uma ordem social requer mudanças
de valores e concepções, cujos obstáculos podem ser ultrapassados por meio do
desenvolvimento da ideia de meio ambiente enquanto direito por um planeta melhor,
o que será possível através do papel importantíssimo da educação ambiental,
enquanto mola propulsora de discussões, reflexões e que não ocorre,
necessariamente, nos espaços formais de educação.
Segundo Leff (2009), a manifestação com maior nitidez da crise ambiental
que o planeta Terra se encontra envolvido tem suas raízes na década de 1960,
quando começam a surgir as primeiras discussões sobre a necessidade de
mudanças da vida em sociedade como um dos caminhos propícios à garantia da
biodiversidade. Para Leff (2004, 2006), as mudanças necessárias à construção de
uma sociedade sustentável e, de fato, envolvida com a solução dos problemas
ambientais passa, sobretudo, pela produção de um saber ambiental fundamentado
na capacidade dialógica que compreenda a educação ambiental como processo
permanente, contínuo e importante ao desenvolvimento de uma racionalidade
ambiental.
É da Constituição Federal de 1988 o artigo 225 onde afirma-se que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem


de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
122

CAPÍTULO 2

e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2012,


p. 127).

Esse artigo, em seu inciso VI, oferece maior status à educação ambiental ao
apresentá-la como condição importante à qualidade de vida por meio da
preservação do meio ambiente. Assim, pode-se afirmar que, embora a luta pela
preservação e conservação do meio ambiente seja anterior à existência de um
marco legal, constitucionalmente esse marco significou o reconhecimento e a
renovação de esperança especialmente dos ambientalistas.
Legalmente, a instituição da educação ambiental ocorre a partir da aprovação
da Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, sendo que através do Decreto nº 4.281, de
25 de junho de 2002, foi estabelecida a Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA).
As reflexões sobre Educação Ambiental (EA) trazidas por Sorrentino e Trajber
(2007) colocam também em questão o papel da escola na construção da justiça
ambiental. Os autores sinalizam que o grande desafio da escola no século XXI é,
através de seus conceitos e práticas, transitar da ideia simplista de meio ambiente
enquanto natureza e alcançar um patamar mais amplo que perceba o meio ambiente
como lugar da diversidade, do valor ético e político comprometido com as gerações
presentes e futuras.
Nos relatos dos jovens ambientalistas, embora reconheçam a importância da
escola na formação dos cidadãos, a maioria dos discursos critica negativamente a
maneira como a escola trabalha a temática meio ambiente. Para alguns jovens,
tomando como referência suas experiências enquanto estudantes e jovens que
desenvolvem ações em escolas, a escola discute de maneira superficial,
desinteressada e distante da realidade dos alunos:

A escola exerce um papel importante em relação a tudo na formação


dos jovens e o ensino não tem um foco em relação ao ambiental, o
que eu acho errado. Deveríamos ter uma matéria ligada à educação
ambiental no colégio, desde a primeira série até a conclusão de tudo
[...] Educação é base! É pela educação que se formam as pessoas.
Então seria muito importante que houvesse, como obrigação, a
matéria de Educação Ambiental em todos os colégios (Elen).

As escolas pousam, botam os meninos de florzinha, de árvore, de


não sei o quê, tira foto... mas, na prática, não ensinam, não
conscientizam. Ensinou tudo, menos a consciência! E as escolas
trabalham como se aquilo não fosse a realidade [...] A escola deixou
muito a lacuna desses processos, eu não tenho recordação de ter
123

CAPÍTULO 2

trabalhado questões relacionadas ao meio ambiente como a gente


trabalha hoje com Engajamundo e com o Greenpeace (Melinda).

A escola, sinceramente, precisa desenvolver mais essa parte de


Educação Ambiental, visto que não tem. Acredito que no lugar de ter
religião, que só ensina o Catolicismo, deveria ter Educação
Ambiental pra que as crianças, desde pequenas, tivessem
consciência do que está acontecendo no mundo e se preocupassem
e cuidassem mais do meio ambiente. A escola durante o
Fundamental e Médio nunca teve essa preocupação em passar para
os jovens esse conhecimento (Laís).

Em contrapartida, mesmo criticando a forma como a temática é abordada


pelos currículos escolares, alguns jovens reconhecem também que a escola exerceu
e continua exercendo um papel importante na formação da juventude ambientalista,
porque geralmente é nesses espaços que crianças, jovens e adultos têm contato
com as discussões sobre meio ambiente, em especial pelos projetos que são
desenvolvidos na escola:

[Lorrrana se referindo ao projeto COM-VIDA, realizado no colégio


onde estuda]: A COM-VIDA significa algo bem importante para mim.
Foi na COM-VIDA que eu participei mais das discussões sobre meio
ambiente; que eu descobri o valor do meio ambiente e que a COM-
VIDA me ensinou que devemos falar sempre, conversar, dialogar,
explicar a realidade para a nossa comunidade. Eu amo a COM-VIDA!
(grifos meus).

A escola foi um instrumento muito importante pra mim e ainda é,


porque foi onde eu tirei toda minha inspiração, eu vou ser bem
generoso mesmo, e foi lá onde eu aprendi muita coisa,
principalmente essa questão de como se relacionar melhor com o
meio ambiente, com a sua cidade, sobre as mudanças climáticas,
que é um tema que eu estou super engajado no momento [...] A
escola foi um espaço onde eu consegui absorver muita coisa bacana
e, com certeza, ela conseguiu trazer esse espírito ambientalista não
só pra mim, mas eu acredito que pra muitas pessoas também. E a
forma como ela trouxe foi a melhor porque sempre nesses espaços
educativos a gente tem palestras que motivam a ser uma pessoa
melhor, a se relacionar melhor e também nos projetos que a escola
desenvolve. Tem a semana do meio ambiente, que é super
trabalhada as questões de meio ambiente, então você tem contato
com muitas iniciativas bacanas que são feitas na cidade, você
também desenvolve iniciativas na escola. E são esses projetos que
fazem a formação da pessoa (Rafael).

Os relatos da maioria dos jovens dão indícios que a ideia de educação


ambiental está muito vinculada a uma responsabilidade delegada às escolas, cuja
visão é reflexo do fato de ser a escola uma instituição formal e uma das primeiras
instâncias de socialização humana. No entanto, para que a visão de meio ambiente
124

CAPÍTULO 2

seja ampliada e ressignificada, tanto Sorrentino e Trajber (2007) quanto Lima (2011)
partem do princípio que é necessário que o meio ambiente seja entendido pela
escola como problema social, uma questão de debate social e como um movimento
social. Por isso, para os autores, é urgente a necessidade de desconstruir a ideia de
meio ambiente como mero conteúdo disciplinar que, por vezes, não assume um
comprometimento com as transformações de comportamentos, posturas, atitudes e,
na maioria das vezes, não acompanham as lutas dos sujeitos sociais que estão
imbricados em questões ambientalistas.
Nesse sentido, Sorrentino e Trajber (2007) acreditam que há um grande
potencial presente tanto nas práticas dos educadores das instituições formais de
ensino quanto dos educadores ambientais populares8, tendo a escola como lugar
privilegiado, encontra-se neste e noutros espaços terreno fértil para que a educação
ambiental seja permanente, contínua e articulada com as diversas modalidades de
ensino ao longo da vida dos sujeitos.
A concepção de Educação Ambiental numa perspectiva crítica deve estar
imbricada com movimentos ambientalistas que denunciem e expressem
preocupação com os primeiros sinais da intervenção humana no meio ambiente, em
especial com a possibilidade de extinção de espécies. Ao mesmo tempo, os
movimentos ambientalistas devem começar a exigir limites para a exploração das
espécies e recursos naturais, o que causa certo incômodo no processo econômico e
financeiro industrial.
Em seus relatos, os jovens expressam os sentidos e significados de estarem
engajados em movimentos ambientalistas, enquanto campo de educação,
construção de aprendizado, obtenção de experiências e lugar de luta:

Os movimentos ambientalistas são de extrema importância, porque


se a minoria preocupada não lutar pelo que se quer, o que já está
ruim vai piorar cada vez mais. É como todos os grupos de classe
inferior que tentam lutar pelos seus direitos, nós, ambientalistas, que
lutamos por um ambiente melhor, por um mundo mais sustentável,
que nos dê mais saúde e oportunidade de uma melhor qualidade de
vida. É de extrema importância e significado pra sociedade que
existam esses movimentos para que chame a atenção de outras
pessoas a participar e tentar mudar o que está acontecendo no
Planeta (Laís).

8
Sorrentino e Trajber (2007) utilizam esse termo ao se referirem ao papel educativo e pedagógico
desenvolvido por grupos, coletivos e organizações ambientalistas, enquanto espaços não-formais de
educação.
125

CAPÍTULO 2

Desse modo, a partir da fala de Laís é possível pensar que a crise ambiental

apresenta-se a nós como um limite no real, que ressignifica e


reorienta o curso da história: limite do crescimento econômico, e
populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades
de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social
(LEFF, 2002, p. 191).

Acredita-se que um dos pressupostos essenciais à efetivação de


transformações na sociedade atual, que provoquem a passagem de uma sociedade
baseada na exploração do meio ambiente para uma sociedade sustentável, passa
justamente pelo processo de uma educação que privilegie a formação cidadã e
ecológica como de fundamental importância ao direito à sobrevivência das gerações
futuras. Educação que não seja meramente instrumental, mas que esteja
compromissada com o processo de desconstrução e reconstrução de pensamentos
quanto à complexidade que envolve a crise ambiental e civilizatória.
A mobilização de coletivos ambientalistas e de algumas esferas
governamentais de diferentes nações ampliou a agenda das discussões sobre a
problemática ambiental, colocando-a enquanto questão de valores, modos de vida,
comportamentos e preocupação mundial. Os eventos, encontros e conferências
internacionais, a exemplo da ECO-929, bem como a produção de documentos a
partir desses eventos como a Agenda 2110 e os Tratados das ONG‟s se constituíram
como importantes elementos estruturantes para se pensar em ações estratégicas,
princípios, finalidades e diretrizes voltadas à discussão ambiental de ordem mundial.
Desse modo, os pressupostos da Educação Ambiental fortalecidos sobretudo
na ECO-92, têm se desenvolvido no Brasil nos últimos anos e têm ganhado
importante papel, especialmente, na formação das novas gerações. Importante
destacar que a educação ambiental tem se tornado elemento de grande
necessidade à medida que tem suprido as lacunas de formação ambiental deixadas

9
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada entre os dias
3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro-Brasil, que contou com a presença de organizações
governamentais e não-governamentais. Na ECO-92 ou Rio-92 foram feitas discussões sobre os
problemas ambientais existentes e progressos alcançados. Além disso, nessa Conferência, foram
elaborados documentos de referência às principais discussões e reflexões ambientais, inclusive foi
aprovada a Declaração do Rio ou Carta da Terra, cujo documento afirma que os países ricos
possuem maior responsabilidade na conservação e preservação do planeta.
10
Consiste num plano de ações com metas e estratégias acordadas entre 179 países, que visam a
melhoria das condições ambientais do planeta e o alcance da sustentabilidade.
126

CAPÍTULO 2

pela educação tradicional, por isso ela não se dá necessariamente nos espaços
formais de educação.
Não há como negar o fato que a Educação Ambiental surge e vai se
solidificando na perspectiva de promover transformações sociais que assegurem a
vida no planeta tanto da espécie humana como das demais espécies. A Educação
Ambiental, em sua essência, tem como princípio maior construir e manter o diálogo e
debates rumo à efetivação de diferentes formas de se relacionar com o planeta
através de novas posturas e comportamentos do homem com o meio ambiente,
considerando tanto suas redes de relacionamentos locais como globais, vistas pelo
viés da responsabilidade e compromisso individual e coletivo.
E, quanto a este aspecto, Wolkmer e Paulitsch (2011, p. 230) reconhecem

a urgência de uma consciência ambiental potencializada pela


educação ambiental. Sem dúvida, palavras e ideias não têm a virtude
de por si só produzirem a realidade almejada; mas, pelo menos,
contribuem sobremaneira para tal, na medida em que as práticas
tomam como referência conceitos, teorias, filosofias que formam a
compreensão da realidade. Sendo assim, a emergência de uma Ética
Ambiental requer inicialmente a estruturação de uma nova
consciência através da educação ambiental.

Conforme as autoras, educar ambientalmente não se trata de uma


perspectiva individual, isolada e com experiências pontuais de tomadas de
consciência ambiental e ecológica. Essa é, com certeza, uma tarefa que se propõe a
toda humanidade, independente de classe social, gênero, faixa etária e concepções
político-sociais; razão pela qual as discussões e debates entorno da temática meio
ambiente apontam a problemática ambiental como campo de interesse mundial das
presentes e futuras gerações.
De caráter abrangente, dinâmico, social e político, a Educação Ambiental se
caracteriza pela sua responsabilidade e compromisso com a tríade ser humano-
tempo-meio ambiente, onde presente e futuro se constituem as matérias-primas de
sua função de formar para e na cidadania. A educação ambiental parte do princípio
que a problemática ambiental não é uma questão do futuro, mas que se faz e refaz
no tempo presente.
No âmbito da perspectiva das novas gerações, acredita-se que

embora com as contradições existentes entre o ideal intelectual e a


vivência cotidiana do real, no que se refere à questão ecológica, as
novas gerações são educadas, em nível formal e informal, para uma
127

CAPÍTULO 2

maior sensibilidade em relação aos problemas ambientais, gerando


assim posturas éticas extremamente sérias e importantes para o
futuro. A experiência [...] sobretudo com os jovens, revela essa
realidade e nos abre uma esperança muito grande em relação à
mudança de mentalidade das gerações futuras (SIQUEIRA, 2002, p.
79).

A formação para a cidadania é uma emergência do tempo presente e essa


formação, por sua vez, não é uma atribuição específica da escola, uma vez que
deve estar presente nos planejamentos estratégicos políticos, coletivos e
organizacionais em prol de uma sociedade onde as pessoas possam viver
ecologicamente bem.
Isso significa dizer que, situar a educação ambiental para além dos processos
de formação escolares tradicionais, reflete também o déficit do sistema educacional
brasileiro na abordagem da temática meio ambiente, que na maioria das vezes é
abordada de maneira superficial e romantizada nas aulas de Ciências e Biologia,
quando na verdade deve proporcionar aos futuros cidadãos condições de refletirem
sobre o seu presente e propor meios para enfrentarem as mais variadas situações
cotidianas.
Embora toda educação tivesse que ter o caráter ambiental o uso do adjetivo
ambiental na terminologia “educação ambiental”, para Janke e Tozoni-Reis (2008),
serve para reforçar o fato que a educação tradicional, por muitos anos, sonegou a
oportunidade e acesso a um trabalho efetivo com a temática meio ambiente, dando
prioridade sobretudo às visões antropocêntrica, utilitarista e individualista das
relações entre meio ambiente e sociedade.
Nesse sentido, a educação ambiental deve ser vista como um conhecimento
de cunho público e acessível a todos os indivíduos com consciência ambiental, por
isso não se trata de uma área própria de especialistas, mas “surge como parte de
uma proposta em busca de soluções aos problemas ambientais e de mudanças de
paradigmas da sociedade atual” (SOUZA, 2016, p. 123).
Loureiro (2006) explica que, na verdade, não há um tipo específico e
determinado de educação ambiental e que o ideal seria falar em educações
ambientais, visto que em diferentes momentos e épocas os indivíduos foram e são
educados ambientalmente, cujas educações estiveram subjacentes a diferentes
visões sobre a temática meio ambiente e muito fortemente ligadas a concepções
políticas de sociedade, mundo, meio e homem.
128

CAPÍTULO 2

O meio ambiente, enquanto campo social e político, não fica isento dos
planejamentos estratégicos capitalistas de mercantilização, que reforçam o espírito
de competitividade, o uso excessivo e desordenado dos recursos naturais e a
própria desvalorização da vida e das espécies no planeta. Assim, refletir sobre o
processo de educação ambiental significa indagar sobre os reais interesses que
estão nas estrelinhas do desenvolvimento alardeado pelas políticas de mercado e
pelas empresas, por exemplo.
É preciso questionar a favor de quem e do quê esse desenvolvimento tem se
mantido, quais são os conflitos e impactos ambientais que podem causar em nome
dos lucros e exploração desenfreada dos recursos naturais, que podem
comprometer o bem-estar das gerações em virtude da falta de uma consciência
socioambiental preocupada, sobretudo, com as minorias sociais que, na maioria das
vezes, são as mais atingidas e prejudicadas pelo uso inadequado e indevido dos
recursos naturais em nome do desenvolvimento e progresso industrial-tecnológico.
Dessa maneira, a Educação Ambiental se apresenta como um caminho
propício a se pensar e refletir sobre as velhas questões ambientais por meio de
novas abordagens que se configuram pela responsabilidade adotada pelas
instâncias governamentais nacionais e internacionais, pelas ONG‟s, movimentos e
coletivos sociais imbricados com as demandas e desafios que perpassam a
construção de uma sociedade capaz de oportunizar e garantir melhores condições
de vida às diferentes espécies do planeta. É preciso garantir e efetivar a ideia de
uma sociedade planetária justa, que respeite e valorize a diversidade da vida e a
riqueza dos bens naturais se efetive, sem estar submissa aos objetivos de
exploração e ação descuidada da sociedade capitalista-industrial.
Não há dúvidas de que o alcance dessa sociedade comprometida com as
problemáticas ambientais passa por um processo contínuo, permanente e
progressivo de formação das gerações atuais e futuras, as quais são convocadas a
perceber o quão é importante e necessária a conservação e preservação do meio
ambiente, bem como a importância de compreendê-lo de modo integrado e
articulado com a diversidade dos seres.
Historicamente, a Educação Ambiental, vista pela perspectiva da
emancipação e transformação social, não se limita a apresentar o cenário de
degradação e desgastes ambientais provocados pelo homem a fim de atingir os
129

CAPÍTULO 2

objetivos que embasaram a organização e funcionamento das diferentes sociedades


em seus mais variados contextos. Pelo contrário, diante dessa realidade, a
Educação Ambiental se debruça na busca de estratégias que viabilizem a reflexão
do que ainda pode ser feito com o intuito de garantir qualidade de vida planetária.
Compreende-se, portanto, que Educação Ambiental não pode ser entendida
como um mero conceito ou simples opção filosófica, com o intuito de suavizar as
preocupações que perpassam as agendas e documentos interessados com as
relações conflitantes entre homem, sociedade e meio ambiente. Ela se constitui
como um novo horizonte que desponta os limites, as possibilidades e os desafios
das relações interdependentes entre sociedade, meio ambiente, justiça social e
modos de viver e estar num mundo marcado, especialmente, pelo anseio ao
desenvolvimento tecnológico-industrial que, na maioria das vezes, tem caminhado
na contramão de uma sociedade sustentável e, eminentemente, comprometida com
a qualidade de vida no planeta.
À “questão ambiental”, entendida como principal alvo da Educação Ambiental,
é dada uma visibilidade maior que entrelaça a problemática ambiental a fenômenos
sociais e ecológicos que expressam tanto as múltiplas relações construídas pelos
homens com o ambiente como aquelas estabelecidas na vida em sociedade. Por
isso, destaca-se que a degradação a que está sujeito o planeta, não diz respeito
apenas a uma questão ambiental, mas há, sobretudo, uma relação de
interdependência entre os processos de degradação ambiental, social e humana.
A compreensão acerca dessa interdependência serve como ponto de partida
primordial para entender a multiplicidade e pluralidade de elementos que dão sentido
e significado à concepção de meio ambiente enquanto categoria sociológica, que
não está esvaziada de condições políticas, ecológicas, econômicas, tecnológicas,
culturais, sociais e ideológicas. Somente por meio da devida análise dessas
condições torna-se mais possível chegar a um entendimento aprofundado sobre o
processo de onde emerge e solidifica-se a crise ambiental planetária.
Portanto, a construção de um saber ambiental – fundamentado numa
consciência crítica, emancipatória e de transformação social – é basilar à superação
das dicotomias existentes entre ser humano e ambiente, que historicamente os
situavam como se fossem pertencentes a mundos separados, ao invés de aproximá-
130

CAPÍTULO 2

los através de uma formação cidadã crítica comprometida com o bem-estar


socioambiental.
Nesse sentido, o grande desafio colocado à humanidade na esteira da crise
ambiental é buscar, no seio dos debates e movimentos sociais, possíveis respostas
e caminhos que problematizem as relações entre meio ambiente e sociedade com o
objetivo maior de estimular o espírito sensível, as ideias, valores e posturas
direcionadas e preocupadas com a preservação da vida no planeta.
Isso, por sua vez, torna-se inatingível sem uma educação e consciência
ambiental que ampliem essa noção de vida planetária enquanto aspecto humano,
natural, cultural e social. Essa noção permite, inclusive, questionar a própria função
da cultura dominante e das relações humanas que, por vezes, produzem efeitos de
degradação ambiental, sem considerar a necessidade de uma intervenção que
amenize os problemas ambientais e, ao mesmo tempo, esteja associada a uma
mudança de mentalidade quanto ao compromisso de todos os sujeitos sociais com
as problemáticas ambientais.
Mesmo com a atuação de diversos segmentos sociais como a mídia, a
representação de movimentos sociais e de ecologistas envolvidos com militâncias,
ainda é muito presente o processo de “terceirização” no que tange ao ato de assumir
a responsabilidade com as questões ambientais. Ou seja, muitas pessoas ainda
consideram que é de responsabilidade dos cientistas, das ONG‟s, das
representações governamentais e dos ecologistas militantes a função de prover
meios que subsidiem a sobrevivência das espécies no planeta.
Desse modo, ainda é um muito presente o deslocamento e transferência
desse comprometimento para os coletivos ambientalistas, como se a problemática
ambiental estivesse situada na esfera de um mundo particular e restrito à reflexão,
compreensão e problematização de pequenos grupos, que deverão dar respostas e
soluções a uma crise ambiental que se configura como global e vem atingindo o
planeta de ponta a ponta.
É mais do que urgente o desenvolvimento consciente de que o enfrentamento
à crise ambiental é uma necessidade humana e que não pode ser transferida ou
delegada a pequenos grupos que, embora desempenhem um importante papel de
conscientização e alerta da real situação do planeta, não possuem a total condição
de reverter os problemas ambientais, visto que não se trata de uma mera questão de
131

CAPÍTULO 2

ativismo ecológico, mas as mudanças necessárias estão situadas na própria


estrutura e superestrutura da sociedade, o que requer mudanças de valores,
comportamentos e mentalidades frente à relação homem e meio ambiente.
Leff (2002, p. 191) ajuda-nos a compreender que “a crise ambiental é a crise
do nosso tempo. O risco ecológico questiona o conhecimento do mundo” e, portanto,
a problemática ambiental deve ser considerada para além de uma questão social e
natural, visto que o conceito de meio ambiente não deve se situar apenas como
categoria biológica, mas é preciso perceber a abrangência e dinamicidade desse
conceito através da construção de um novo significado que vislumbre ambiente
enquanto categoria plural e sociológica permeada por uma racionalidade social que
se constitui em sua essência por saberes, conhecimentos, valores e modos de se
comportar.
A mudança do panorama ambiental contemporâneo requer a efetividade de
ações conjuntas direcionadas à prática e vivência da Educação Ambiental como
processo de transformação de valores e comportamentos na construção do saber
ambiental, enquanto saber necessário à tomada de consciência sobre a situação
planetária e a implementação de estratégias voltadas a criar melhores condições de
vida e comprometidas com a qualidade de vida dessa e das próximas gerações, bem
como com a garantia da existência das espécies.
Assim, no limiar do século XXI, a educação ambiental impulsionada por
diferentes órgãos aparece como um dos caminhos viáveis à formação e efetiva
construção de uma sociedade mais consciente, justa, sustentável e solidária, onde o
caráter ativo e protagonista dos sujeitos seja estimulado. Dessa maneira, tendo em
vista os desafios que perpassam a problemática ambiental e que balizam as ações
dos movimentos ambientalistas, há a necessidade de pensar sobre

como colocar em prática a Ética Ambiental, incrementando os meios


de informação, aprofundando a reflexão sobre as alternativas
possíveis para alterar o quadro de degradação ambiental. Se o futuro
é fruto das ações praticadas no presente, hoje ele se mostra
preocupante, daí o desafio para a política, a economia, o direito e
outras áreas, de, através de um diálogo de saberes, buscarem
alternativas que promovam a Vida em nosso planeta (WOLKMER;
PAULITSCH, 2011, p. 230-231).

O alerta acerca do futuro ambiental, trazido por Wolkmer e Paulitsch (2011),


parte da premissa que a proposição de estratégias que evoquem um novo
132

CAPÍTULO 2

relacionamento do ser humano com o planeta não pode se dar distante do pensar e
refletir sobre o processo histórico das relações entre ele e o meio ambiente,
decisivamente, caracterizado pela poluição de diferentes modos e contextos e pela
exploração dos recursos naturais que refletem, historicamente, o acirramento das
desigualdades sociais, culturais e econômicas.
Nesse sentido, Leff (2006, 2009) explica que é preciso ultrapassar a
racionalidade econômica que subsidiou a formação e perpetuação das sociedades
não sustentáveis especialmente na América Latina e que, por vezes, reforça e tenta
justificar erroneamente o processo de desenvolvimento social atrelado às ações de
degradação ambiental e alcançar uma racionalidade ambiental fundamentada em
saberes ambientais que reflitam e questionem a problemática ambiental pelos vieses
econômicos, tecnológicos, políticos, sociais e ecológicos.
Para Leff (2009),

a deterioração ambiental, a devastação dos recursos naturais e seus


efeitos nos problemas ambientais globais (perdas de biodiversidade,
desmatamento, contaminação da água e solo, erosão, desertificação
e, inclusive, a contribuição da América Latina ao aquecimento global
e diminuição da camada de ozônio), são em grande parte
consequência dos padrões de industrialização, centralização
econômica, concentração urbana, capitalização do campo,
homogeneização do uso do solo e uso de fontes não renováveis de
energia (2009, p. 42).

Frente ao colapso ecológico, o saber ambiental coloca de um lado a


necessidade de mudanças planejadas e organizadas por meio dos diversos
organismos e organizações sociais sejam elas governamentais ou não; e, por outro
lado, aponta a necessidade de por limites à visão desenfreada de crescimento
econômico e social em detrimento ao bem-estar da relação ser humano-meio
ambiente, que coloca em xeque o próprio discurso de justiça social e cidadania.
A racionalidade ambiental não desconsidera o poder criativo e transformador
do homem como elemento capaz de provocar melhorias nas condições de vida
humana. No entanto, essa racionalidade privilegia a construção de uma nova ética
que reoriente as relações entre ser humano, desenvolvimento sócio-econômico e
meio ambiente, onde “os princípios de racionalidade ambiental reorientam as
políticas científicas e tecnológicas para o aproveitamento sustentável dos recursos,
visando a construção de um novo paradigma produtivo e de estilos alternativos de
desenvolvimento” (LEFF, 2009, p. 30).
133

CAPÍTULO 2

Dessa forma, as novas reconfigurações em busca de uma sociedade mais


democrática e sustentável pressupõem mudanças nas estruturas política, cultural e
econômica através da transformação humana de consciência e comportamento, que
tragam em seu bojo o desejo de conhecer o meio e de encaminhar ações que
tenham como pressupostos novos valores, visões de mundo e modos de ser, estar e
estabelecer as relações em todas as esferas da vida com o planeta.
Nessa perspectiva, pensando nas convergências entre juventude e meio
ambiente, no capítulo a seguir são tecidas algumas reflexões sobre aspectos
conceituais e práticos do engajamento militante e socialização política juvenis como
portas de entrada dos jovens ao engajamento e militância em grupos, coletivos,
movimentos e organizações ambientalistas.
134

CAPÍTULO 3

3. O QUE SE PODE ESPERAR DOS JOVENS AMBIENTALISTAS?

3.1. ENGAJAMENTO JUVENIL: A PRÁXIS DO SER JOVEM-AMBIENTALISTA

Ser jovem já é um processo tão forte, porque a gente tem um


potencial incrível de energia, criatividade, inovação. Nós queremos
mudar. Nós queremos fazer a diferença. Então, já é uma parte que
ajuda no movimento. É mais por isso que os jovens se identificam
tanto com os movimentos ambientalistas, porque é uma tentativa de
mudar o status quo, de tentar mudar a situação atual. E, com isso, o
forte instinto de rebeldia, de revolução da juventude atrai mais gente,
em sua maioria, mais jovens. Ser jovem e ser ambientalista são
querer mudar o status quo, a situação atual em âmbito local,
regional, nacional, global. É mais nessa vibe mesmo, as
características da juventude já propiciam uma boa atuação no
movimento ambientalista (Jéfferson).

Os olhares das pesquisas sobre jovens em seus mais diversos territórios e


formas de relações que expressam sua participação social, sua atuação protagônica
e seu engajamento seja no contexto social, político, ambiental, econômico e cultural
partem da premissa, segundo Ribeiro (2014), de que esses jovens não devem ser
separados da condição de sujeitos da ação, das suas relações e dos seus vínculos
geracionais, dinâmicos, relacionais e territoriais.
Daí que o engajamento ambientalista, conforme o relato de Jéfferson, pode
ser considerado como uma categoria que insere e socializa os jovens politicamente
na conjuntura social. Uma inserção e socialização política que está imbricada com
os processos de ativismo, como o ativismo ambientalista. Ou seja, por essa
perspectiva, a ação e reflexão na e sobre a ação se constituem como pilares
fundamentais que dão sentido, significado e consistência ao engajamento de jovens
nos movimentos ambientalistas, visto que “sem engajamento dos indivíduos
enquanto sujeitos, nada acontecerá nem haverá progresso” (GOHN, 2014, p. 26).
O imbricamento entre ação e reflexão na e sobre a ação como fator
preponderante para o engajamento de jovens ambientalistas aparece de maneira
intensa no relato de Davi ao expressar certo descontentamento pela ausência de
compreensão de alguns jovens sobre o verdadeiro sentido do termo “engajamento
juvenil ambientalista”:

Um problema que tem muito forte no Greenpeace é a questão do


Greenpeace ter grande nome. Então, muitas vezes eu sinto que são
pessoas que se preocupam com o meio ambiente, mas entram pro
Greenpeace pra dizer que são do Greenpeace. Eu acredito que 70%
135

CAPÍTULO 3

do pessoal que está no Greenpeace, pelo menos no grupo de


voluntários, não são pessoas totalmente engajadas. Na verdade, são
pessoas que fazem alguma coisa e tal. Mas, se colocar pra elas
tomarem atitude, não são todas que fazem isso. Falta muito
engajamento nos jovens, às vezes, eles entram por nome, por
amizade.
E hoje em dia, têm muitos que entram pra fazer parte de um grupo,
alguns não estão ali por estarem lutando pelo meio ambiente. E me
incomoda um pouco isso. Têm uns que, quando chegam lá, não
sabem o que foi a ECO-92, não sabem quase nada sobre meio
ambiente, que é uma coisa básica. Se você está numa organização
ambiental, você tem que saber sobre o meio ambiente.
O engajamento vai muito além de estar na rua. Ser engajado é
participar de forma ativa, mas sabendo o porquê você está
participando daquilo. Têm pessoas engajadas que não fazem parte
de um grupo. Eu mesmo, antes de entrar para o Greenpeace, eu já
era uma pessoa engajada, eu já tentava fazer coisas por conta
própria. O grupo só agrega a um movimento, experiências, trocas.

O relato de Davi vem carregado da ideia de que engajamento envolve


propriedade de conhecimento das causas pelas quais os jovens ambientalistas
lutam, os objetivos que impulsionam a participação nos grupos ou movimentos
ambientalistas e a capacidade de atuar ativamente nas ações e reflexões. Na fala
dele, ainda, é presente a sinalização que o engajamento, por vezes, não está
associado à inserção em grupo. Pela sua experiência, o engajamento é anterior à
entrada no Greenpeace e este, por sua vez, possibilitou a construção de
conhecimentos mais sistemáticos, a troca de experiências e a socialização política.
A esse respeito, Sobrinho (2012, p. 60) traz alguns questionamentos que
oferecem pistas para refletir sobre a categoria engajamento juvenil:

os jovens que consideram seu envolvimento nas ONGs como


engajamento, que sentido dão ao termo? Como vivem esse
engajamento? Até que ponto suas atividades nos projetos sociais
podem ser consideradas engajamento? Afinal, estão engajados em
que? Para que? Para quem?

Por esse espectro, estar engajado significa ter conhecimento e consciência


das partes e do todo que formam o mosaico de possiblidades da sua ação e
reflexão. Dizer-se engajado e ocupar, fragmentadamente, o lugar daquele que reflete
sobre a realidade (sem propor estratégias e participar da execução delas), ou
daquele que cria as estratégias (sem executá-las), ou ainda daquele que executa as
estratégias (mas não participa das reflexões e elaboração delas) representa a forma
mais abstrata do termo teórico-prático de engajamento de jovens em suas mais
136

CAPÍTULO 3

variadas modalidades. Engajar-se requer tácito conhecimento sobre suas ações e


participação em sua totalidade, onde não cabem a segmentação entre quem pensa
a realidade, quem cria as estratégias e quem as executa.
Quanto a este intervalo entre quem pensa, executa e reflete as ações,
Melinda – enquanto jovem-coordenadora do Engajamundo – pontua que, na
contemporaneidade, é preciso revisitar ou repensar o conceito de engajamento
militante juvenil dentro dos movimentos ambientalistas, especialmente naqueles que
não são formados majoritariamente por jovens. Ou seja, sem desconsiderar a
importância do diálogo entre as novas e velhas gerações, para ela, nos grupos,
coletivos, movimentos e organizações que não são construídos de jovens para
jovens há certa ausência do engajamento juvenil em sua essência, enquanto reflexo
da falta de protagonismo juvenil.
Desse modo, a jovem Melinda afirma que, embora haja uma valorização do
engajamento juvenil nos discursos proferidos pelos adultos em debates,
conferências e eventos ambientalistas, a realidade que ainda prevalece é que o
jovem – a galera, como ela chama –,

não é protagonista das ações. Ele é, meramente, o mecanismo de


execução. O engajado robozinho. Já que eu não tenho a força pra ir
pra rua correr, colar lambe1, fazer as coisas, a gente vai usar aquela
galera lá. Mas, pra sentar com aquela galera pra pensar junto e
estruturar, não funciona. A galera não pensa junto, ela não estrutura
o processo. Eles são só a galera que vai participar na hora, depois
vai embora e acabou. Eu vou usar o jovem (eu não gosto de usar
esse termo pra não ficar como massa de manobra, que acho que é
um termo muito forte), mas eles usam mesmo. Usam os jovens como
objeto de colocar aquela ação em prática. E, mais uma vez, esse é o
diferencial do Engajamundo: a gente não usa o jovem como objeto, a
gente é jovem e chama o jovem pra pensar junto com a gente os
processos.

Numa visão bem próxima à de Melinda, a jovem Elen – coordenadora da


Juventude de Meio Ambiente do Partido Verde a nível estadual – pondera que

Os movimentos ambientalistas são importantes. É importante


mesmo, porque a maioria deles busca preservar o meio ambiente,
evitar a extinção de espécies como o WWF, o Greenpeace, o SOS
Mata Atlântica. Os jovens têm aquela capacidade de estarem à
frente, de estarem lutando. Eles têm força, eles têm mais garra de
1
Tipo de pôster artístico, cujo tamanho pode variar, que é colado em espaços públicos, geralmente,
tem integrado o conjunto de novas linguagens juvenis artísticas urbanas na contemporaneidade. O
pôster lambe-lambe também é conhecido como poster-bomber, e pode ser pintado com tinta látex,
spray ou guache.
137

CAPÍTULO 3

chegar e gritar: “Olha, eu tô aqui. Eu quero isso, vocês têm que me


ouvir”. O jovem sempre faz isso e não é só em movimento ambiental
como qualquer outro tipo de movimento. Eles são muito importantes
e estão aí pra poder mostrar garra e força. Acho que eles têm mais
vitalidade pra estarem na frente buscando pelo que eles querem.

A partir dos relatos de Melinda e Elen, em Souza (2006) encontra-se a


discussão que as organizações, coletivos, grupos e movimentos possibilitam
perceber a importância da participação e engajamento do jovem em diferentes
modalidades, onde eles passam a ser vistos como canais de solução às
problemáticas ambientais. Por isso, para esta mesma autora (2006, p. 15),

hoje ONG é a instância que faz a intermediação entre os indivíduos e


o cenário público, oferecendo-lhe um canal de participação. A
realização do objetivo de integração da juventude pobre coube, em
grande parte, às ONGs que têm se dedicado à chamada educação
não-formal. E no cumprimento da mais importante finalidade da
educação não-formal - a transformação do jovem em ator social.

A autora enfatiza que o engajamento juvenil – via protagonismo – é um termo


produzido pelos adultos e, por isso, sinaliza que é preciso tomar cuidado com os
discursos e efeitos da ideia de engajamento juvenil para que os jovens não sejam
vistos como meros objetos de organismos internacionais, governamentais, ONGs e
instituições.
A autora, sem desmerecer o importante papel e função social das ONGs e
coletivos engajados com questões sociais, enfatiza que não se pode acreditar de
maneira ingênua que a presença de jovens como integrantes de ONGs e coletivos
sociais garanta a efetividade do engajamento dessa categoria. Para ela, é preciso
observar e questionar a ideia de engajamento juvenil, visto que, em alguns casos, a
juventude tem assumido muito mais o papel de telespectadora e executante de
projetos do que de engajada, propriamente dito.
Assim, Souza (2006, p. 15) afirma que em algumas realidades "o ator social
por excelência é a organização não-governamental (ONG)" e os jovens, por sua vez,
assumem o lugar de figurantes. Essa ponderação, trazida pela autora, coloca em
xeque o desvirtuamento e esvaziamento do caráter conceitual e prático de
engajamento juvenil, que não tem como pressuposto basilar a separação entre os
indivíduos que pensam as ações e aqueles que são do puro fazer (da execução
dissociada do pensar, discutir e refletir sua ação).
138

CAPÍTULO 3

Corroborando com o pensamento de Davi, quando afirmou que engajamento


está além dos movimentos de rua e, ao mesmo tempo, com a fala de Melinda
quando mostra que os jovens precisam ter uma atuação mais ativa dentro dos
movimentos ambientalistas, Laise aponta – como sinônimo de engajamento – a
necessidade de maior participação ativa dos jovens nos espaços de discussões e
decisões acerca de problemáticas ambientais. Para ela, a participação não significa
apenas “marcar presença”, mas está articulada com o envolvimento por completo
dos jovens nas questões ambientalistas, desde a presença às transformações nos
espaços ambientalistas, o que vai lhe conferir as credenciais – digamos assim – de
jovens engajados:

Ainda vejo pouca participação, porque quando se fala de movimentos


nem todos os jovens têm interesse, sempre ficam achando que é
besteira. Por isso, a importância de estarem à frente desses
movimentos ambientalistas pessoas jovens também, que já tenham
esse conhecimento da importância pra estar incentivando, tentando
trazer jovens, para que percebam a importância [...] Participar todo
mundo pode participar. Mas se engajar nas atividades, eu acredito
que é estar mais diretamente ligado, porque participação, por
exemplo, eu posso ir em uma conferência sobre meio ambiente, mas
só ir. Mas já engajar, eu posso, além de ir, estar junto pra poder
contribuir para os projetos (Laise).

Pelo relato de Laise, não se constrói nem se materializa engajamento se a


ação racional, consciente e interessada não for um dos fundamentos principais para
que o engajamento tenha sentido e significado tanto na individualidade quanto na
coletividade, como reflexo de uma consciência política sobre e com o mundo. Por
isso, o engajamento não é sinônimo de apenas discursos ou de mero ativismo (ação
pela ação), ele se dá nos interstícios da reflexão e ação. No entanto, "se, pelo
contrário, se enfatiza ou exclusiviza a ação, com o sacrifício da reflexão, a palavra se
converte em ativismo. Este, que é ação pela ação, ao minimizar a reflexão, nega
também a práxis verdadeira e impossibilita o diálogo" (FREIRE, 2011, p. 44).
Na percepção de Freire (2011), a construção da consciência política é a
maneira mais natural e eficaz dos seres humanos compreenderem a si mesmos e o
mundo, bem como atribuírem sentido e significado à sua existência no e com o
mundo enquanto sujeitos sociais. Uma vez desenvolvida a consciência reflexiva e
139

CAPÍTULO 3

crítica, os indivíduos têm condições de questionar e problematizar a sua realidade,


que resultará na construção de sua identidade pessoal e coletiva.
Nesse sentido, o engajamento pode ser fruto de uma ação racional ou ainda a
consciência sobre o mesmo pode surgir a partir das mudanças percebidas pelos
sujeitos em virtude de ter se engajado numa dada ação. Em ambos os casos, o
interesse e a consciência da necessidade da ação se constituem aspectos que
devem ser considerados, a fim de que o engajamento tenha significado tanto para
quem pratica a ação quanto o meio ao qual a ação é destinada.
Os jovens, de fato, engajados nos movimentos ambientalistas chamam a
atenção para a necessidade de estar atento às armadilhas que, por vezes,
circundam o conceito de engajamento dentro dos próprios grupos, coletivos,
movimentos e organizações ambientalistas. E essas armadilhas conceituais acabam
gerando grandes reverberações nas práticas ambientalistas que, por vezes, acabam
dando outro norte à essência e objetividade do engajamento militante ambientalista:

Há um bom número de jovens engajados e participando de


movimentos ambientalistas; nas redes sociais a gente pode
acompanhar isso. Só que eu acredito assim: precisa de um
amadurecimento maior das ideias e na forma de intervenção, para
que não cause transtornos à sociedade. Porque têm muitas pessoas
que não conhecem o movimento e a gente acaba sendo alvo de
críticas (Laís).

No Greenpeace, de uns anos pra cá, a gente tem questionado muitas


coisas que vêm acontecendo em relação a campanhas, a lutas;
porque aquela questão que eu falei, que as pessoas que se engajam
são poucas, acho que um ponto é esse. Nesses 70% que eu falei
que não se engaja, a comodidade é muito grande de estar no
Greenpeace e estar fazendo abaixo-assinado, pra eles está bom. E
esses 30%, no caso eu, o Eros, o Júlio, a Milena e outros que sabem
que o Greenpeace está prejudicado em várias coisas, a gente vai
questionar ao pessoal de São Paulo. O Greenpeace mudou muito.
Eu quando entrei, entrei com a ideia de ativista, de poder chegar e
fazer alguma coisa com a ideia pacífica. Mas, hoje em dia, o
Greenpeace está muito fraco em relação isso. Ele faz o quê? Ele faz
abaixo-assinado, coleta de assinaturas. Eu acho que isso é uma
parte importante para as pessoas se engajarem, mas acho que tem
que mostrar a luta do Greenpeace e a gente questiona isso, porque o
Greenpeace vai perdendo força. Coleta de assinaturas não é uma
coisa motivadora para as pessoas (Davi).

Para Dias e Callahan (2015), o engajamento de jovens ativistas pelo meio


ambiente, geralmente, está associado a influências sofridas pelos jovens por meio
de experiências no contato com a natureza, com pessoas fora do espaço da sala de
140

CAPÍTULO 3

aula ou ainda os jovens começam a se interessar pelas problemáticas ambientais a


partir da influência de amigos, professores e pais. Para os autores, o ativismo juvenil
ambientalista não é algo inerente aos sujeitos, ele é fruto de relações, experiências e
desejos que motivam os jovens e que, por vezes, nasce antes mesmo da juventude.
Por essa razão, estes autores consideram que a escola pode desempenhar
um papel importantíssimo na “libertação dos espíritos” ativistas e engajados dos
jovens, desde que esteja comprometida com a formação de sujeitos capazes de
solucionar problemas, com a educação de seres pensantes e atuantes que tenham
condições de compreender o mundo numa visão mais global e relacionada com os
aspectos econômicos, políticos e sociais.
Em linhas gerais, os jovens assinalam que compreender e valorizar o ativismo
juvenil ambientalista é um dos primeiros passos necessários para que, na
atualidade, o engajamento juvenil em problemáticas ambientais seja levado a sério,
já que historicamente sobre a juventude, apesar das suas lutas e movimentos, recaiu
uma visão errônea de descrédito como se os jovens fossem sujeitos
desinteressados quanto aos seus futuros:

A escola tem um papel fundamental, claro se for usado esse papel.


Na minha escola, não tinha nenhum viés pra ligar as crianças aos
problemas ambientais, botar a mão na massa e fazer com que a
criança aprendesse de fato; e não ficar aquela coisa muito teórica na
sala, que não identifica os problemas e não busca encontrar
soluções pra elas refletirem sobre o estado atual. Eu acredito que a
escola tem que ter um papel ativo na formação da criança, fazer com
que a criança possa olhar para a realidade, refletir aquela realidade,
criticar e buscar soluções para os problemas encontrados nessa
realidade. A escola tem o poder gigantesco de influenciar os jovens,
de libertar os jovens, de libertar pessoas, de dar conhecimento.
Então, o seu papel é fundamental para a formação de um
ambientalista, mas tem que ser uma escola ativa (Jéfferson).

Melinda acrescenta, a partir das suas vivências e experiências de formação


que ministra nas escolas trabalhando as questões climáticas com jovens e as
múltiplas relações do ser humano com o meio ambiente:

A maneira com a qual a escola trabalha (quando ela trabalha essas


questões) é uma maneira chata. Então, quando você chega na
escola, que você diz assim “a gente vai falar de mudanças
climáticas”. Aí, um olha e fala: “ai, meu Deus, aquecimento global.
Ah, mas eu já dei isso na aula de Geografia. Eu já sei; não precisa
falar não”. E, quando a gente começa a conversar com eles, a gente
começa a dizer pra eles: “olha, a gente veio falar de mudanças
climáticas, mas não dessa maneira como você está pensando”.
141

CAPÍTULO 3

Em outras palavras,

a pessoa engajada deve ter consciência de que foi ela que fez a
aposta, que sua ação é gerada por um interesse, o qual deve ser
percebido como necessário, pois o indivíduo não agirá para realizar
um interesse se não o perceber como necessário. Em outras
palavras, o interesse por si só, não é suficiente para criar o
engajamento. É preciso sentir que este interesse é necessário
(BRENNER, 2014, p. 36).

Brenner (2014), ao discutir sobre interesse e necessidade como


características basilares do engajamento juvenil, sinaliza que esse engajamento é
resultado de vários fatores, desde os processos de socialização de pais engajados
às experiências escolares adquiridas pelos jovens em sua participação em grêmios.
Essa perspectiva traz à tona que ninguém nasce engajado, torna-se
engajado. Para Seidl (2014), o engajamento está associado à ideia de tempo social,
geralmente entre a adolescência e antes dos trinta anos de idade, quando se inicia e
torna-se mais intensa a vida social pública dos indivíduos; uma vez que, geralmente,
com as exigências da vida adulta, o indivíduo até então engajado, "em determinado
momento da vida, afasta-se parcial ou momentaneamente do ativismo e, como se
costuma dizer, „vai cuidar de sua vida'" (SEIDL, 2014, p. 61). E, assim, na maioria
das vezes nas organizações ambientalistas têm “pessoas mais de faculdade que
tem mais essa proatividade de participar de alguma coisa, porque depois que a
pessoa se forma, só quer saber de sua vida adulta propriamente e esquece a área
ambiental, só quer saber mesmo de dinheiro” (Uenderson).
O relato de Uenderson reforça que o engajamento é um processo que se dá a
partir da interação e integração dos sujeitos em diferentes contextos e ações, o que
faz com ele esteja muito associado às trajetórias pessoais. Seidl (2014) afirma que
os engajamentos não ocorrem no vácuo histórico e cultural, é preciso estar atento
para o fato de que eles são porta-vozes de uma conjuntura subjetiva, social, política
e de valores morais que movimentam as sociedades em diferentes épocas e
períodos com objetivos, interesses e expectativas em relação às ações. Logo, para
Seidl (2014), o engajamento é um processo formado por uma rede de sentidos
capazes de possibilitar aos sujeitos intervir no mundo social de forma consciente,
crítica e através de ações coletivas.
A relação consciente e transformadora dos sujeitos no e com o mundo se
constitui o próprio cenário onde é possível refletir sobre o engajamento ambiental
142

CAPÍTULO 3

juvenil a partir da participação e experiências de jovens em grupos, organizações,


coletivos ou movimentos ambientalistas. Nessa perspectiva, os jovens consideram
legítimos seus engajamentos, porque veem na militância ambientalista uma forma de
transformação social, política e cultural:

Eu vejo mais o GAAJE como significado de resistência, porque se a


gente for pensar na juventude de hoje é um grupo bem fechado de
mobilização social de jovens, a maioria dos jovens fica estagnada.
Então, o sentido é de tirar a gente da mesmice e da acomodação, e
fazer com que a gente seja ativo na sociedade, para conseguir
mudar alguma coisa e ir para as ações, para o fazer. Sou bastante
positivo na questão da militância, eu acredito que os jovens que
estão engajados fazem sua parte. A militância e o engajamento, eu
vejo com bastante positividade porque quanto mais participação dos
jovens, mais aprendizado para os próprios jovens e sucesso com a
causa (Jéfferson).

O engajamento de jovens em questões ambientais pode ser compreendido


como processo de transformação da cultura e expressão da sua capacidade de
intervir nas relações entre o homem e a natureza. Ao intervirem, os jovens não
apenas expõem suas ideias e atitudes como também tornam o engajamento um
processo pedagógico onde, através de suas ações, aprendem e transformam a si e
ao outro.
Na visão de Abramo (2008, p. 98), o engajamento também representa a
construção e elo da identidade juvenil e da identidade militante, partindo do princípio
que

a capacidade de sonhar e de atuar não está referida a uma essência,


não é uma identidade “natural‟. Na verdade, esses jovens se
constroem também como seres atuantes, participativos, militantes: é
essa a identidade juvenil que lhes interessa afirmar, e é nessa chave
que a identidade juvenil ganha especial sentido para eles. Do mesmo
modo, a identidade juvenil não é ela mesma, “natural” referida a uma
essência. Tem de ser descoberta, acionada, à proporção que fizer
sentido existencial e político para eles.

A partir da discussão trazida por Abramo (2008) correlacionando às reflexões


que embasam esse trabalho e as narrativas dos jovens ambientalistas, é possível
inferir que o engajamento ambiental juvenil pode ser visto como reflexo de uma
consciência tanto sobre o aumento da crise ambiental quanto da necessidade de
criar mecanismos que possibilitem uma conscientização mais ampla articulada com
interferências humanas em prol do meio ambiente. Ou seja, a juventude que tem se
143

CAPÍTULO 3

debruçado sobre as problemáticas ambientais atribuem um sentido e significado


social às suas ações:

Antes, muitas pessoas jogavam o lixo tudo à toa e a comunidade


ficava muito suja, as roças cheias de plásticos, de objetos. Aí, depois
que a gente fez três anos seguidos uma campanha de preservação
do meio ambiente através da coleta, orientando os moradores a
estarem jogando o lixo no lugar certo ou então juntando para levar
para o local de reciclagem, hoje vejo que a comunidade mudou a
consciência, porque não vejo mais lixo como antes nas roças. Aqui,
na comunidade, não tem coleta de lixo, as pessoas tinham a mania
de queimar e, aqueles que não conseguiam queimar, ficavam
espalhados. Hoje, eles têm a consciência de estarem levando pra
rua, pro lugar adequado. Isso acabou marcando porque eu percebi
que uma pequena ação acabou mudando os pensamentos das
pessoas, elas aprenderam com aquilo que a gente fazia e, hoje,
agem diferente (Laise).

Eu me engajo totalmente em todas as ações, eu me doo por inteiro


pra fazer. Mas, o que eu gosto mesmo, o que mais me ativa, me
deixa mesmo feliz é realizar uma ação prática, fazer uma coleta de
lixo voluntária em algum ponto turístico, em qualquer lugar. Fazer
coisas práticas. Eu adoro entrar com a mão na massa, plantar
árvores, pegar lixo, dar palestra de educação ambiental... Tendo
ação prática, eu desenrolo bem, me sinto muito bem nos ambientes,
porque a ação prática ativa a gente, dá um ânimo tão grande. As
ações que eu realizo e organizo, o meu grupo de estudo me fazem
estar engajado nas questões ambientalistas (Jéfferson).

Essa juventude imbricada em grupos ambientalistas, segundo Gonçalves


(2010), tem a consciência de que as problemáticas ambientais da atualidade são
frutos das injustiças que perpassam as várias áreas sociais e, por isso, tem buscado
por meio de sua participação e ação conjunta reverter o quadro de degradação
ambiental e, ao mesmo tempo, (re)construir a esperança de um futuro mais
sustentável, equitativo e digno, iniciando inclusive no universo das suas próprias
comunidades.
Isso atesta a afirmativa de que as experiências juvenis em diferentes grupos
de engajamento, onde se inserem os ambientais, atuam como fatores favoráveis à
compreensão do papel significativo que os jovens exercem nos processos de
participação social na contemporaneidade. Para Perondi (2015), apesar de alguns
discursos propagarem a ideia de que não existe uma preocupação da juventude com
questões sociais, não se deve acreditar, ingenuamente, que a participação e o
engajamento juvenis nos seus contornos com as questões sociais cessaram de
acontecer na atualidade.
144

CAPÍTULO 3

Para o autor, o que vem ocorrendo são mutações das diferentes maneiras
através das quais os jovens se apropriam dos dilemas e desafios de sua época e
contextos e, a partir dessa apropriação, passam a construir outras maneiras de se
posicionarem diante dos problemas e questões sociais, ambientais, culturais,
políticas, econômicas e educacionais.
Essa questão apontada por Perondi (2015) aparece no relato de Uenderson
quando ele faz um “balanço”, uma avaliação do seu percurso de engajamento em
organizações ambientalistas e, ao mesmo tempo, sinaliza como o período de
existência e os nomes das organizações ambientalistas se apresentam como fatores
que dão maior ou menor legitimidade e visibilidade aos jovens nelas inseridos, assim
como as demandas da conjuntura social e política têm sido fortes motivos para a
juventude ambientalista colocar em prática seu engajamento:

Depois de sete anos dentro de organização, não só do Greenpeace,


mas já fui de outras ONGs aqui em Salvador, hoje em dia, eu não sei
se é pelo fato de já estar a tanto tempo no grupo, no meio
ambientalista e começar a ver as coisas com outros olhos, sei que
tem muitas ONGs ambientalistas que, também, têm trabalhos
interessantes. Mas, muitas se perderam no tempo, até o Greenpeace
mesmo, quando eu entrei era uma coisa, já se reduziu porque
realmente o cenário mudou e eles infelizmente tiveram que se
adaptar a esse novo cenário. Há algumas coisas que vão se
adaptando ao contexto atual e vão perdendo um pouco de força, vão
encolhendo. Aqui em Salvador, nos últimos dois anos, também teve
um crescimento de grupos, porém pequenos, que infelizmente não
têm tanta força pra poder lutar. Tem a do Rio Vermelho, acho que é
SOS Rio Vermelho, que surgiu devido às reformas que o prefeito
ACM Neto fez lá no bairro e teve destruição de área ambiental.
Várias árvores foram cortadas, várias áreas verdes foram cimentadas
e algumas ONGs foram aparecendo, foram criando uma cara.

No âmbito dos grupos ambientalistas, é importante destacar que a


participação juvenil transcorre dentro de ações engajadas pelo interesse na vida
pública, entendendo a ideia de "público" como elemento que diz respeito às
vivências e relações que se estabelecem na coletividade social.
Assim, falando da participação e engajamento juvenis na contemporaneidade,
Carrano (2012) diz que os modos de ser jovem podem variar conforme a velocidade
das transformações que ocorrem no âmbito da produção e reprodução da vida em
sociedade. O autor enfatiza que os jovens não estão alheios a essas transformações
sociais, mas que são também produtores e reprodutores da vida social. Nessa
relação entre participação, engajamento e vida social, por vezes, adquirem alguns
145

CAPÍTULO 3

benefícios decorrentes das mudanças; em contrapartida, noutras vezes, as


mudanças da modernidade prejudicam os jovens ao produzirem outras contradições
e desigualdades.
As marcas da participação e engajamento na vida pública, segundo Paiva
(2013), reverberam-se, em sua grande maioria, pelo ativismo juvenil que culminou
em conquistas alcançadas por meio das lutas por melhores condições de educação
e saúde, pelo respeito à democracia, pelo cuidado e preservação ambiental, pela
garantia e efetividade das políticas públicas, pelo respeito às questões de gênero e
pela valorização da dignidade da vida humana, independente de raça, cor e etnia.
Logicamente, as conquistas não fecham as lacunas históricas, sociais,
políticas e culturais que alimentam a participação e o engajamento militante juvenil,
em virtude do próprio dinamismo das sociedades que traz novos dilemas e desafios
que solicitam a iniciativa e tomada de decisão dos sujeitos sociais.
Ao fazer uma análise da realidade brasileira a partir do governo Lula em sua
articulação com o processo de construção da participação cidadã no Brasil,
considerando os atores sociais como pilares e porta-vozes de mudanças, Teixeira
(2008, p. 02) ressalta que

é inegável que mais atores participam hoje do debate público e que a


agenda foi de alguma forma alargada por tal participação. Setores
que antes estavam totalmente alijados do debate, como os usuários
dos serviços de saúde, os portadores de patologias, os moradores de
rua, os sem-teto e tantos outros, têm agora a possibilidade de discutir
as políticas públicas.

Importante fazer esse paralelo considerando a atual conjuntura política


brasileira que estamos atravessando, especialmente a partir das medidas
verticalizadas tomadas pelo governo Temer2, porque é muito frequente na fala dos
jovens ambientalistas, sujeitos de nossa pesquisa, a preocupação com a garantia
dos seus direitos de serem ouvidos e a sobrevivência do engajamento militante. Na
verdade, diante dos retrocessos e embates travados entre o governo Temer e os
movimentos sociais engajados em diferentes causas, os jovens ambientalistas

2
Importante destacar que o atual Presidente do Brasil, Michel Temer, tomou posse da presidência em
31 de agosto de 2016 após a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) ser afastada definitivamente do
cargo por um processo de Impeachment, fruto de um contexto e período político marcado por um
golpe parlamentar articulado, sobretudo, pelo PMDB de onde emerge Temer enquanto vice-
presidente de Dilma Rousseff.
146

CAPÍTULO 3

temem ser cerceados ou silenciados por forças reacionárias às bandeiras que


levantam e defendem. Entre eles, há uma preocupação com o governo atual e um
medo em relação às perspectivas de futuro do engajamento militante ambientalista.
Davi, por exemplo, expressa sua angústia no que tange à garantia do direito de lutar:

Os jovens, pelo menos do grupo, são pessoas engajadas em lutas


sociais, são pessoas que estão sendo prejudicadas por esse atual
governo. A gente acaba perdendo mais a voz em relação a tudo. Eu
não sou PT, apesar de saber que isso foi um golpe. Eu sei que foi
um golpe. E sei a importância que Lula teve para a população
carente, para o trabalhador e para a gente também, ambientalista,
porque a gente pode ter voz. Então, com o atual governo, o prejuízo
é imenso para a gente, tanto pela perda de voz como a gente sabe
que vai ficar, cada vez mais, limitados os nossos trabalhos. Acho
que a gente vai acabar tendo retrocesso na questão dos
movimentos sociais, porque são partidos de homens brancos e
classe alta, que para eles não têm a mínima importância se você
está preservando o meio ambiente. Mas, eu acho que é aí que a
gente pode entrar com a questão de ativista, de entrar lutando
mesmo, de mostrar porque a gente está lutando pelo meio
ambiente. A ideia é a gente ter que voltar pra época de luta pelas
ruas, como teve na década de 60. Vai ser um prejuízo muito além
do que é só o ambiental.

Relacionando a discussão trazida por Teixeira em 2008 com a fala de Davi,


percebe-se que questionar a juventude oito anos depois, remete à compreensão que
a juventude em seus mais variados territórios tem deixado suas digitais no campo da
participação social ao longo da história brasileira por meio de conflitos, disputas e
tensões, alcançando avanços e trazendo à agenda pública outros desafios.
A perspectiva histórica é um dos caminhos essenciais para a compreensão e
efetivação do engajamento militante juvenil, entendendo esse engajamento como
sinônimo de participação, envolvimento, socialização política, inclusão e visibilidade
da juventude nas problemáticas sociais, econômicas, políticas, ambientais e culturais
- enquanto seres ativos, críticos, capazes de pensar e problematizar sua própria
realidade.
E, pensando acerca da fluidez do engajamento militante ambientalista
imbricado com a conjuntura social e política enquanto arena de lutas e disputas,
Rafael reforça que vê

a autonomia da juventude nos movimentos ambientalistas no


governo Temer reprimida. No governo Dilma, a ONG que eu faço
parte – o Engajamundo – a gente super tinha apoio do governo,
principalmente do Itamaraty com as credenciais. No Ministério do
147

CAPÍTULO 3

Meio Ambiente, a Izabella Teixeira... A galera lá conseguia fazer um


debate, conseguiam fazer acordos. São pessoas que estavam no
poder, mas que sempre arrumavam um tempo para ouvir as
demandas da juventude. No governo Temer, a gente já está com
certo receio porque, ultimamente, a gente vem percebendo nos
noticiários quantas coisas estão sendo votadas que são retrocessos,
principalmente na área da educação e na área da saúde. E tudo isso,
também, envolve o meio ambiente porque são os espaços onde nós
estamos inseridos e, principalmente, são nesses espaços onde a
gente adquire conhecimento para que possa incidir socialmente e
politicamente. Então, a juventude acaba sendo um pouco barrada
desses – digamos – privilégios que tinham com o governo. E hoje é,
totalmente, mais complicado. Recentemente, agora em setembro nós
percebemos que o governo Temer ratificou o acordo de Paris da
Conferência de Clima da ONU, que aconteceu em dezembro do ano
passado. E isso já foi um grande avanço, já foi um ponto positivo no
governo, embora ele já estivesse previsto para que fosse ratificado
no governo de Dilma. Mas, com tudo que aconteceu, acabou que
ficou para o governo interino; na verdade, o atual. Ao mesmo tempo,
percebe-se uma controvérsia que foi a votação que aconteceu na
Câmara logo após e os deputados concordaram em incentivar as
usinas termelétricas no país. Então, você coloca na balança que, de
um lado, está ratificando um acordo que é para diminuir a emissão
de gases do efeito estufa. Por outro lado, eles incentivam a criação
de novas usinas termelétricas que são, extremamente, poluidoras e
prejudiciais ao meio ambiente. Então, você percebe que é um morde
e assopra, porque não dá para ter 100% de confiança nesse governo
porque é, totalmente, controverso. É só jogada e não dá! Eu não vejo
uma autonomia da parte desse governo, principalmente quando se
trata de movimentos ambientalistas. Estamos aí numa luta diária,
mas eu percebo que existe uma grande barreira nesse governo. E é
uma luta que a gente, ainda, está conhecendo o campo, conhecendo
como é que essas pessoas trabalham e, ultimamente, é só
frustração.

O relato de Rafael reforça, conforme o pensamento de Carrano (2008), que


mesmo em face aos desafios e possibilidades, os coletivos, organizações, grupos e
movimentos ambientalistas se constituem como lugares de resistência e construção
das identidades juvenis, onde a juventude - muitas vezes vista como problema,
imatura, desordeira, desocupada - passa a ser concebida como categoria formada
por sujeitos potenciais de soluções, mudanças e transformações imbricadas,
sobretudo, com a coletividade social.
Para Carrano (2011, p. 244-245),

hoje, os jovens possuem um campo maior de autonomia frente às


instituições do denominado “mundo adulto” para construir seus
próprios acervos e identidades culturais. Há uma rua de mão dupla
entre aquilo que os jovens herdam e a capacidade de cada um
construir seus próprios repertórios culturais. Sem desconsiderar os
148

CAPÍTULO 3

pesos específicos das estruturas e condicionamentos sociais, um dos


princípios organizadores dos processos produtores das identidades
contemporâneas diz respeito ao fato dos sujeitos selecionarem as
diferenças com as quais querem ser reconhecidos socialmente. Isso
faz com que a identidade seja muito mais uma escolha do que uma
imposição.

Nesse sentido, a noção de engajamento juvenil ambientalista se articula com


a condição autêntica dada aos jovens para pensar sobre seu contexto social e fazer
intervenções com o intuito de responder aos problemas não apenas por meio das
palavras, mas através do seu posicionamento. Neste caso, o jovem assume lugar de
centralidade tanto na reflexão quanto na tomada de decisão sobre os
acontecimentos sociais, políticos e culturais que afetam, em maior ou menor
proporção, as suas vidas.
Os relatos dos jovens entrevistados fazem pensar, de acordo com Souza
(2013), que o engajamento juvenil não é um fenômeno recente e característico da
sociedade atual. Historicamente, muitos coletivos juvenis foram às ruas e lutaram
por questões que inquietavam a sociedade de suas épocas. Por isso, a ideia de
engajamento e participação juvenil deve estar sempre associada à perspectiva
histórica que se deu de diferentes maneiras nas mais diversas sociedades. Ou seja,
as causas das lutas dos jovens do século XXI não se dão na mesma plataforma de
conjuntura social, política e cultural dos séculos XIX e XX - apesar de que muitas
questões que têm sido alvo de lutas da juventude atual, a exemplo das
socioambientais, são resquícios oriundos dos séculos e sociedades anteriores.
No entanto, mesmo em face aos diferentes anseios e motivações que levam
as gerações juvenis a experienciar este ou aquele tipo de participação político-social,
o engajamento traz em seu bojo uma característica peculiar e em comum:
independentemente do tipo de sociedade, ele representa processos de lutas,
manifestações e movimentos sociais, que dão sentido e unidade à participação
política e social da juventude enquanto categoria que deixou e tem deixado as
marcas de sua atuação coletiva ao longo da histórica da conjuntura brasileira.
Tomando Melucci (2001) como referência, pode-se afirmar que o
engajamento da juventude não está limitado à participação em determinados
coletivos ou não deve estar a serviço de atender aos anseios de determinados
grupos, mas essa participação deve ganhar uma dimensão maior na medida em que
149

CAPÍTULO 3

se constitui como campo propício a ocupar os espaços sociais, inclusive das


manifestações públicas.
Quanto a este aspecto, Castro e Abramovay (2009, p. 39) sinalizam que

é diagnosticado em diversas pesquisas sobre juventude no Brasil,


que o interesse e a participação dos jovens na vida pública não se
esvaziou [...] ainda que os contextos sociais e econômicos estejam
cada vez mais cedo encurralando jovens para o precário mercado de
trabalho, tomando o tempo livre para agrupações; ainda que a mídia
comercial tenda a manipular as muitas formas de resistência num
disfarçado teatro de felicidade obtida simplesmente pelo consumo de
apetrechos, os jovens vêm se mostrando bastante adaptáveis e
adaptadores dessas condições. Ou seja, novas são as motivações
objetivas que inibem o processo de participação juvenil, porém,
muitas são as adaptações e mutações, engendradas pelos jovens,
que favorecem os processos de participação.

Castro e Abramovay (2009) assim como Perondi (2015) apontam que a


inserção precária e prematura dos jovens no mercado de trabalho e a
desqualificação ou invisibilidade dada pelas mídias comerciais à participação e
engajamentos juvenis nas mais diversas esferas sociais são os principais impasses
à maior atuação dos jovens na sociedade. Entretanto, os autores afirmam que os
jovens têm driblado as resistências que objetivam calar suas vozes e adormecerem
seus corpos, integrando-se cada vez mais a grupos e mobilizando-se por meio de
ações conscientes e concretas.
Castro e Abramovay (2009) ressaltam que ao agirem contrariamente às
perspectivas do senso comum que os colocam como baderneiros, desordeiros e
desocupados, os jovens envolvidos em grupos de engajamento lutam, também, pela
superação e rejeição do estigma de sujeitos politicamente alienados e ingênuos -
entendendo política enquanto campo de interesses, lutas, transformação,
conhecimento da realidade e capacidade de intervir nela.
Desse modo, o engajamento ambientalista juvenil se estrutura e efetiva-se
numa conjuntura que vai além do discurso e entrelaça-se com o papel de reflexão
social dos jovens enquanto atores-chave na construção da cidadania e superação
dos desafios entre a sua geração e as gerações que os antecederam. Engajar-se
significa construir e manter uma relação sensível, palpável e concreta com a
realidade, subsidiada pelos princípios da democracia, cidadania e justiça social, por
isso o engajamento pressupõe conhecimento sobre os objetivos da ação, bem como
dos meios para alcançá-los.
150

CAPÍTULO 3

Neste aspecto, Rafael pontua que o engajamento ambientalista possui uma


dimensão, também entrelaçada com o campo de subjetividades, concepções e
visões de mundo que delineiam as relações e vivências dos jovens dentro da
sociedade:
quando a gente fala sobre meio ambiente, sobre pessoas
ambientalistas, geralmente, a gente faz analogia a pessoas que
buscam resolver problemas. Meio ambiente nem sempre está
relacionado a problemas. É claro que tem suas dificuldades, não é
uma área fácil de trabalhar, mas é uma área muito prazerosa. É um
tema que você acaba relacionando com sua vida de tal forma, que
depois que você entra, que você faz parte de movimentos fica difícil
até de sair. Porque quando você sai, você não sai por completo.
Você sai pela metade. Talvez você não esteja na ativa em um
movimento, em uma ONG, mas você vai estar ativa no seu ser, na
sua pessoa enquanto cidadã, na sua pessoa enquanto dona de casa,
pai, enfim. Então, sempre vai levar a mensagem para os seus
amigos, pro seus familiares e esse é o lado bom.

Não se pode perder de vista que o papel desempenhado pelos jovens


engajados em determinados grupos e coletivos ambientalistas possui uma
dimensão, sobretudo, de exercício da cidadania. Nessa perspectiva, alicerçado em
ações voltadas para a vida coletiva, o engajamento não é uma questão que diz
respeito apenas aos jovens, mas está intimamente relacionado aos novos rumos do
contexto sociopolítico. Contexto esse que, segundo Abramo (2014), nas últimas
décadas tem trazido mudanças, reconfigurando as relações econômicas, culturais,
políticas e tecnológicas e afetando a juventude.
Por isso, para Abramo (2014, p. 91),

a participação em coletivos e grupos é uma experiência vital não só


para a juventude, que se inicia ainda na infância, através da escola,
que permite a circulação inicial para além do âmbito familiar. A
juventude representa o momento mais intenso de abertura dos
horizontes intelectuais e afetivos, já que é quando se ampliam
consideravelmente as redes de relações sociais que terão papel
determinante na construção do lugar no mundo, propiciando também
um contato mais direto com a realidade em que se vive.

Abramo (2014) acredita que, mesmo em face aos processos de globalização


que acentuam as relações individuais e reforçam o crescimento de sociedades cada
vez mais centradas na relação produção-consumo capitalista, é possível notar que a
participação e o engajamento de jovens na contemporaneidade, por diferentes
causas sociais, representam lutas e trajetórias que fazem o percurso na direção
151

CAPÍTULO 3

contrária aos preceitos que alicerçam a nossa sociedade capitalista, sobretudo,


sustentada pelo ideário da produção, consumo e individualismo.
Em consonância à fala de Abramo (2014), alguns relatos dos jovens
reafirmam seus compromissos com a construção de uma sociedade que não reforce
os preceitos de sobrevivência capitalista, que muito se distanciam da perspectiva
ética de valores entre o ser humano e o meio ambiente, até porque “o sistema
precisa dessas pessoas, que não estão nem aí, não cuidam do meio ambiente. Eles
precisam de pessoas ignorantes para estar manipulando e gerando lucro. É a ideia
do capitalismo de que você precisa de pessoas para consumir” (Davi).
Por isso, seja pela via do engajamento em grupos, coletivos e organizações
ambientalistas, ou seja, pela escolha dos seus cursos de educação superior, os
jovens se posicionam contrários à lógica de estruturação e funcionamento da
sociedade capitalista e percebem que o processo do engajamento é uma via
propícia à formação de sociedades melhores para a atual e futuras gerações:

No meu caso como engenheira, eu quero muito fazer construções


sustentáveis e que sejam acessíveis à população de baixa renda,
gerar energia limpa e que seja acessível pra todo mundo. E é isso
que, pelo menos, eu estou estudando e tentando fazer, tentar
ajudar de qualquer forma o mundo em que estamos, porque eu não
estou nem um pouquinho a fim de privar as próximas gerações de
viverem as mesmas coisas que meus pais até viveram melhor que
eu ou do que já vivi (Elen).

Situando-o numa esfera de participação sociopolítica, Abramo (2014) leva a


pensar que o engajamento não diz respeito a um simples ato de vontade - não é um
oba-oba da juventude nem um movimento vazio de sentidos, visto que o seu
nascimento está relacionado a fatores históricos e contextuais que sustentam as
lutas e mobilizações juvenis; considerando que "o primeiro movimento dos jovens
que buscavam agir na vida política foi romper com a invisibilidade e se afirmar como
sujeito portador de direitos, em um campo dominado pela perspectiva adulta de
mundo" (ABRAMO, 2014, p. 93).
Contrariamente, o conceito de engajamento juvenil descortina a visão da
Antiguidade Clássica3 que concebia a juventude como categoria formada por
indivíduos do eterno "vir a ser", do jovem que não tem condições ou não está

3
Segundo a Abramo (2014), as reflexões de Aristóteles na Antiguidade Clássica sobre as primeiras
experiências de democracia apontam que os jovens - assim como as crianças e as mulheres - não
eram considerados cidadãos e, portanto, não participam da vida política da pólis grega.
152

CAPÍTULO 3

preparado para participar de maneira ativa da vida pública. Com a percepção da


juventude enquanto campo de sujeitos sociais, o engajamento ganha força e
intensifica-se à medida que as desigualdades sociais, políticas, culturais e
ambientais - especialmente com o crescimento e expansão das cidades
proporcionados pelo desenvolvimento da indústria e das tecnologias - passam a
fazer parte da agenda de lutas juvenis como questões sociais que devem ser vistas
como problemas da coletividade social.
Por isso faz parte das bandeiras de engajamento juvenil desenvolver a
consciência de que as lutas e mobilizações não se restringem à mera vontade de
participar, sem propósitos claros e definidos, de grupos ou coletivos. Existe uma
intencionalidade presente nos relatos dos jovens engajados que não se limitam a
preocupações individuais, uma vez que os problemas sociais se constituem questão
de ordem coletiva. Muito mais do que a vontade ou o envolvimento, o engajamento é
expressão de pertencimento juvenil à conjuntura social, ambiental e política na qual
os jovens sentem-se inseridos, influenciados e capazes de intervir.
Da ideia de engajamento enquanto vontade a engajamento associado à
noção de pertencimento, Abramo (2014, p. 94) adverte que:

o século XX marcou o reconhecimento mundial da juventude como


um novo ator no cenário social e político. No entanto, uma vez
superada a invisibilidade, os jovens passaram a ter que lidar com os
estigmas de violento, incapaz ou alienado, que também atuaram
como fatores inibidores de sua maior participação na vida política.

Tanto Abramo (2014) quanto Sposito (2014) ressaltam que o engajamento e a


militância juvenis, especialmente a partir da década de 60 (conhecida como década
juvenil), representam os anseios juvenis por liberdade, a crítica consciente da ordem
social, a busca pela construção social e política pautada nos princípios da
democracia, a luta para ser reconhecidos como sujeitos de direitos e experiências, a
resistência à alienação através da participação, a construção de sua autonomia e
emancipação como sujeitos sociais.
Dessa maneira, paulatinamente, o engajamento e a reverberação positiva da
atuação juvenil nos movimentos ambientalistas viabilizam a transição das
concepções que viam os jovens como excluídos, marginais, desajustados ou massa
de manobra para a visão de atores-chave na construção de uma sociedade mais
justa, igualitária e democrática. No entanto, ainda, há relatos acerca da falta de
153

CAPÍTULO 3

entendimento e valorização do engajamento ambientalista, especialmente em virtude


da visão preconceituosa e estigmatizada sobre juventude, o que representa para os
jovens um dos maiores entraves ao sucesso e efetivação do movimento
ambientalista:

A dificuldade maior que a gente enfrenta é a não aceitação dos


nossos projetos na sociedade. As pessoas da nossa cidade não
reconhecem o valor do nosso grupo, não ajudam a gente, muito pelo
contrário. Isso é muito triste, porque a gente está ali construindo,
tentando buscar melhorias pra a cidade, enquanto que as pessoas
ficam atrapalhando nosso trabalho, as pessoas não nos ajudam.
Muitos pensam que a gente está fazendo o trabalho para aparecer
na cidade, pra ter alguma coisa, pra que o povo olhe pra gente como
um bando de adolescente querendo chamar a atenção. Mas, esse
não é nosso propósito: chamar a atenção. E é chamar a atenção
também, mas não para a gente, para os problemas que o planeta
está encontrando. Então, se as pessoas soubessem o risco que
estão correndo com o aquecimento global, todas essas catástrofes
que estão acontecendo elas nos apoiariam bem mais, ajudariam nas
nossas atividades. Enfim, eu acho que essa não aceitação é falta de
informação, se as pessoas fossem mais informadas saberiam dar
valor (LAÍS, 2016).

Diante dessa realidade, Abramo (2014, p. 99) sinaliza que, mesmo em face ao
ativismo social e político da juventude brasileira,

permanece um hiato entre o discurso participativo, que sempre


afirma o protagonismo da juventude, e a incorporação de novos
modelos de política participativa, distanciando a juventude de
instituições que parecem funcionar com lógicas distintas no que
tange ao reconhecimento dos jovens como sujeitos.

Por esta via, é importante reconhecer que muitos são os desafios e as


dificuldades para o efetivo investimento e implementação de políticas públicas
voltadas para a juventude que não sejam descontínuas e pontuais, visto que não
adianta apenas garantir a participação juvenil sem oferecer condições viáveis à
continuidade e efetividade do engajamento juvenil como ferramenta propícia à
superação dos déficits que são muito fortes na história ainda recente da democracia
e cidadania brasileiras.
Portanto, o engajamento é um dos pontos centrais para se pensar acerca da
participação política e social da juventude no cenário mundial, onde os jovens
deixam de ser tutela do Estado, agentes passivos de organizações ou espectadores
da vida pública e passam a assumir a condição de sujeitos ativos, politizados,
154

CAPÍTULO 3

capazes de formular e implementar políticas, porque além de sujeitos de direitos,


são também sujeitos de experiências.

3.2. SOCIALIZAÇÃO POLÍTICA JUVENIL: UMA CATEGORIA EM DISPUTA

Os movimentos ajudam no processo de socialização com outros


jovens, porque nos movimentos sociais a gente faz viagens, vai
conhecer outros grupos, trocar experiências e isso ajuda muito. A
gente cria uma rede de amigos e colaboradores imensa no Brasil
inteiro. É bem nítida essa socialização com outros jovens de diversos
locais do Brasil e do mundo... (Jéfferson).

Quando se fala das múltiplas relações existentes entre a juventude engajada


em movimentos ambientalistas e seus percursos de vida no que tange às
motivações que levaram e levam esses jovens a estarem imbricados em
problemáticas ambientais e como esse engajamento se relaciona com suas
perspectivas de vida é fundamental não perder de vista que a juventude não é
formada por sujeitos isolados ou à parte do restante da sociedade. O relato de
Jéfferson, por exemplo, aponta que é preciso considerar que, além de sujeitos
sociais e culturais, os jovens são sujeitos políticos e que seus processos de
socialização política4 se dão de diferentes formas e através da imersão juvenis em
variados espaços sociais, que acabam por influenciar ou não nas decisões dos
jovens de se engajarem por esta ou aquela causa.
Dayrell (2007, p. 1114) considera que a socialização juvenil está muito
relacionada às dimensões de espaço e tempo sociais, culturais, políticos e
ideológicos; e, portanto, está ligada à ideia de condição juvenil. Para o autor

na sociedade contemporânea, os atores sociais não são totalmente


socializados a partir das orientações das instituições, nem a sua
identidade é construída apenas nos marcos das categorias do
sistema. Significa dizer que eles estão expostos a universos sociais
diferenciados, a laços fragmentados, a espaços de socialização
múltiplos, heterogêneos e concorrentes, sendo produtos de múltiplos
processos de socialização.

Os espaços pelos quais os jovens ambientalistas transitam e atuam – família,


escola, universidade, trabalho, grupos, coletivos, organizações e movimentos – para

4
Neste trabalho, entende-se a ideia de "socialização política" enquanto processos que contribuem
para a formação do engajamento juvenil em suas várias instâncias de militância. Logo, a ideia de
"política" presente nesse trabalho se constitui como ferramenta para refletir, a partir do conceito de
socialização política, a transmissão e formação de valores políticos que perpassam e perfazem o
próprio entendimento acerca de engajamento juvenil.
155

CAPÍTULO 3

além de espaços que forjam suas identidades acabam assumindo a condição de


lugar de socialização e formação política. Essa transição da ideia de espaço para
lugar, segundo Marçal (2004), se deve pelo fato de que esses espaços sociais
exercem grande influência na construção do engajamento de jovens, ao mesmo
tempo em que contribuem para um entendimento mais amplo da conjuntura social,
política e cultural, bem como a construção de conceitos mais sólidos e concisos que
aos poucos vão demarcando e dando visibilidade dos seus lugares em sociedade,
inclusive do que vem a ser participação e socialização política juvenis.
Almeida (2008) afirma que é “comum” a afirmação de que jovem não gosta de
política ou que juventude não combina com política. No entanto, para o autor, essa
afirmativa revela dois aspectos: primeiro, trata-se de uma falácia, visto que a história
dos movimentos sociais nas mais diferentes modalidades de participação e
engajamento sociais – especialmente na realidade brasileira – é fortemente marcada
pela participação ativa da juventude, de onde provém grande parte das conquistas
no campo social, político e cultural, principalmente a partir da década de 1960,
conforme Gohn (2014, p. 13) também aponta ao afirmar que na esteira do cenário
político e social da década de 1960, os jovens:

criaram identidades político-culturais, no sentido de pautarem novos


temas de gênero, etnia, ser estudante, ser jovem, ser mulher etc.
Eles queriam ser ouvidos. Não queriam ser mais conduzidos pelo
passado, pela tradição, pelos velhos, pelos “tempos mortos”. Dentre
as formas de comunicação na época, destacaram-se o uso dos
muros de Paris, as frases e cartazes emblemáticos do movimento e o
uso da televisão com o meio de divulgação de fatos sociais
importantes.

Segundo, é preciso distinguir a ideia de política associada a partido e


governo; e ampliá-la para o sentido da participação, atuação, tomada de decisões e
socialização juvenil, enquanto processo formativo, que dá sentido e significado aos
seus percursos de jovens militantes e engajados.
Dialogando com Almeida (2008), Nazzari (2006) e Baquero (2008) apontam a
necessidade de ampliar a visão sobre o termo “socialização política”, vistos que ele
não está circunscrito apenas no âmbito dos partidos políticos, isto é, para as autoras,
a abordagem da política enquanto tema que perfaz a socialização juvenil não está
limitada à ideia de política institucional tradicional. Elas reforçam que os estudos
sobre juventude e socialização política têm mostrado que a participação política dos
156

CAPÍTULO 3

jovens vem ocupando, cada vez mais, os espaços públicos e instituições externas ao
eixo político-partidário.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o engajamento de jovens ambientalistas,
antes de qualquer coisa, constitui-se como ato político que se dá por meio do
processo formativo de socialização dentro dos movimentos, grupos, coletivos e
organizações em que estão inseridos. Desse modo, o engajamento juvenil
ambientalista é, sobretudo, um ato político, porque envolve lutas, conflitos, jogos de
interesses, disputas e expressão de pontos de vista que, por vezes, revelam
embates e choques com os modelos convencionais e pensamentos estabelecidos de
diferentes gerações.
Quanto a este aspecto, Tommasi (2007) afirma que os jovens brasileiros
sabem distinguir entre a ideia de política partidária e de política enquanto ato, ação.
E que, embora muitos jovens desacreditem dos políticos e da política
institucionalizada, eles continuam acreditando e vendo a política como o espaço de
luta, onde é possível atuar como sujeitos sociais, culturais e políticos visando a
garantia dos seus direitos e a construção de uma sociedade fundamentada nos
princípios da cidadania.
Castro (2009) alerta que é muito frequente na maior parte da literatura sobre
jovens, política e juventude aparecerem como assuntos distantes. A autora chama a
atenção que o processo de socialização política juvenil não deve ser reduzido ou
apenas visto como sinônimo de preparação para a vida adulta, visto que a
socialização política juvenil pressupõe muito mais do que o desenvolvimento da
atividade política após o jovem atingir a maioridade. Pensar dessa forma, segundo
ela, significa reforçar o processo de alijamento juvenil em relação aos seus direitos
políticos, cuja característica é muito presente nas sociedades modernas.
Concordando com Castro (2009), Brenner (2014, p. 32) afirma que

as pesquisas sobre juventude no Brasil ainda são pouco frequentes


no que diz respeito à interface dos jovens com a política, seja em
relação à transmissão de valores políticos, seja em relação aos
engajamentos de jovens nas mais variadas modalidades de
militância.

Neste ínterim, Baquero (2008) salienta que, numa visão geral, a forma como o
processo de socialização política juvenil se estrutura e consolida-se, por vezes, vem
carregada da ideia de que o jovem deve dar provas da sua capacidade de gerir a
157

CAPÍTULO 3

própria vida e assim os conflitos geracionais podem tornar-se mais acirrados, em


virtude da transposição da vida privada para a vida pública.
O intervalo e a intersecção entre a vida privada e a pública como um dos
fatores que promovem a socialização política juvenil é presente no relato de Melinda
, quando ela permite pensar nos contrastes e na contradição existente da maneira
em que as sociedades, especialmente contemporâneas, pensam a juventude
inclusive dentro dos próprios movimentos ambientalistas. Na fala dela, fica
perceptível que o jovem ambientalista nos espaços de socialização ainda é visto
como aquele que necessita de uma credencial que lhe confira condições para
atuarem como sujeitos sócio-políticos:

É um questionamento que eu sempre faço em todos os espaços que


estou, é sobre como se dão os movimentos ambientalistas, qual é a
forma que esses movimentos se constroem, sabe?. Então assim,
pensando na questão de juventude, os movimentos ambientalistas
trazem uma problemática muito grande, porque eles não se
constroem para uma juventude. Eles não se constroem entendendo
que a juventude é o fator preponderante para as mudanças no
planeta [...] Eles não entendem que quem vai definir o futuro do
planeta são os jovens que estão aqui hoje. É legal ver os caras mais
velhos, que já têm uma experiência estarem discutindo esses temas,
definindo essas coisas. Mas, é legal também trazer essa juventude,
porque não adianta eu agora com 50 anos, 40 anos discutir esse
processo e, daqui a 20 anos, eu não estar aqui pra gozar desse
processo e não ser um processo positivo pra mim, pra quem ficou,
pro futuro. Então, eles não se adequam a isso. Mas esse, pra mim, é
o ponto negativo: é não se adequar pra receber a juventude dentro
desse processo. É muito chato, é muito formal o processo para
participar. São muito chatas as reuniões, os temas. Eles não estão
preocupados em trazer a juventude pra dentro disso.

Na fala de Melinda é possível perceber que, embora haja um reconhecimento


no mundo adulto ambientalista da importância e necessidade da juventude participar
desses espaços como viáveis à sua socialização, há uma denúncia que, de um lado,
o jovem ambientalista é enaltecido pelo seu engajamento, participação e pelos
valores que orientam sua forma de pensar e agir. No entanto, por outro lado, existe
também uma exclusão por parte de uma parcela desse mundo que não reconhece o
papel ativo da juventude ambientalista na vida pública e, portanto, não os veem
como sujeitos políticos capazes de se envolverem ativamente nos processos que
estão inseridos.
158

CAPÍTULO 3

Na relação entre socialização, engajamento e juventude, percebe-se a


necessidade de repensar a noção de espaço público e a visão sobre o termo
“política”, em virtude da própria polissemia e plasticidade do termo juventude e as
diferentes formas como os jovens constroem seus repertórios e percursos de vida.
Dessa maneira, é importante perceber que

o espaço público é síntese de múltiplas dimensões materiais,


políticas e simbólicas. Engajamentos militantes e ações coletivas
juvenis, a despeito da narrativa desencantada que só enxerga
alienação e consumismo dos „jovens de hoje‟, são também eixos
constitutivos das culturas juvenis nos espaços públicos [...] A questão
principal da condição moderna é a de saber como o indivíduo pode
se situar no mundo e com quais suportes pode contar, ou ainda é
capaz de articular em seu ambiente, para se sustentar no mundo
(CARRANO; FÁVERO, 2014, p. 14).

Partindo desse pressuposto, os jovens não são sujeitos políticos do vir-a-ser.


O próprio contato original das gerações atuais com as culturas preestabelecidas
pelas gerações anteriores convoca e solicita dos jovens posicionamentos, posturas,
pontos de vista e formas de lidar entre a significatividade do passado, a transmissão
de valores no presente e as suas intenções para o futuro. Esse processo dá base e
vai, gradativamente, constituindo o jovem político que carrega em suas ações,
maneiras de pensar e posicionar-se como marcas dos seus processos de
socialização, sejam eles advindos da família, escola, grupos de amigos, coletivos ou
movimentos sociais.
Por essa razão, Almeida (2008) reforça e alerta que

é de suma importância a participação dos jovens na vida pública de


sua cidade, do seu país. Afinal, como membro de uma sociedade, ele
tem responsabilidade sobre os rumos que ela vai tomar. Porém isso
não é responsabilidade apenas dos jovens, mas de todos. Por vezes,
pretende-se lançar nos ombros da juventude toda a responsabilidade
pela mudança social. E há também uma crença de que, por se tratar
de jovem, a ação política que dele vem será sempre boa. Há jovens
políticos no Congresso que defendem as mesmas posições
conservadoras de seus pais, de seus avós... Ao tratar do tema da
participação, não podemos ignorar o seu conteúdo ideológico. Ou
seja, não basta que o jovem participe apenas, mas como se dará
esta participação e qual formação tem este jovem são questões
fundamentais. O jovem não é naturalmente revolucionário.
Dependendo do processo formativo que teve, pode ou não ter uma
atitude revolucionária.

Nessa perspectiva, é importante assinalar que a ideia de socialização política


presente nesse trabalho comunga com a noção de política associada à participação
159

CAPÍTULO 3

na vida pública e coletiva, onde a família, a escola, a universidade, os movimentos,


grupos, coletivos e organizações ambientalistas assumem a condição de agentes ou
agências de socialização e formação política juvenil, uma vez que geralmente
nesses espaços os jovens vão descobrindo e construindo seus percursos de
engajamento militante e começam suas primeiras interferências, e por vezes
experiências mais ativas, nos contextos sociais, políticos e culturais pela via do
engajamento ambientalista.
O processo de socialização política amplia – principalmente nos movimentos
– a visão do engajamento de jovens ambientalistas, pois permite perceber, reforçar e
construir a percepção de que meio ambiente não deve ser minimizado à ideia de
plantas e animais. A percepção social e política, ou seja, a socialização política dos
jovens ambientalistas maximiza o meio ambiente como lugar de conflitos, disputas e
uma problemática em que questões de ordem da vida pública e privada se
encontram, onde convergem interesses sociais, políticos, econômicos, culturais,
ideológicos e ambientais. No cenário do engajamento juvenil ambientalista, não se
pode esquecer que a socialização política é um caminho próprio à formação de
jovens capazes de sinalizarem os olhares para a sustentabilidade das atuais e
futuras gerações.
O meio ambiente, neste sentido, é o cerne da questão do debate político da
juventude ambientalista, cujo debate está presente a todo tempo nos coletivos,
grupos e organizações nos quais os jovens partem do princípio que a solução às
problemáticas ambientais não dependem apenas da ação individual (privada), é
preciso o exercício da ação pública e, portanto, política. Logo, o engajamento juvenil
ambientalista não diz respeito a uma questão privada e restrita a um grupo de
jovens. Na verdade, ele se solidifica enquanto questão política presente, sobretudo,
nas relações públicas, que vão desde as problemáticas locais às globais e vice-
versa.
Nesse sentido, para além das questões espaço-tempo, é possível perceber no
relato de Ueanderson que a socialização política não é um simples processo de
transmissão de valores, comportamentos, símbolos e escolhas, ela se materializa
como processo educativo que permite aos sujeitos produzirem sentidos, significados
e motivos que justifiquem o engajamento e a participação política e social dos jovens
ambientalistas:
160

CAPÍTULO 3

Eu gosto muito de fala a fala, cara a cara. Eu gosto muito de ir pra


rua. Eu sempre gosto de parar e conversar com as pessoas. A ação
que eu mais gosto é essa de trocar informações e conhecimentos.
Eu gosto da parte de dialogar com as pessoas de ouvir e falar, que a
pessoa possa pegar pelo menos 10% do que eu estou falando e
levar para transformar sua própria vida.
Numa limpeza de praia, por exemplo, as pessoas às vezes se
enganam. Acham que você está lá fazendo papel de gari. Quando a
gente faz uma limpeza de praia não é para fazer papel de gari, a
gente vai lá pra falar assim: “oh, eu estou pegando o lixo aqui, peguei
seu lixo tá vendo?!”. Para a pessoa ver: “nossa, a pessoa pegou o
lixo que eu joguei, porque eu não fiz isso antes?”. Às vezes, essa é a
mensagem que não é recebida. Acham que o nosso papel é limpar
praia. Aí eu acho que, às vezes, a nossa mensagem nem sempre é
captada. Já na parte do dialogar, do boca a boca, dá muito mais
resultado, na minha opinião. Acho que assim o impacto é mais 100%
recebido do que o outro.

Schmidt (2001) vai chamar a atenção que o processo de socialização política


não se dá no vazio histórico, social, cultural e político. Portanto, há que se levar em
consideração o perfil de jovem e sociedade em pauta, o que confere à socialização
política uma categoria em disputa, pois ela envolve escolhas, tomada de decisões,
visões de mundo e uma projeção analítica entre passado, presente e futuro,
especialmente quando se trata de relações geracionais.
Importante destacar que, como fortalecimento à socialização política, a rede
de sociabilidades dentro dos movimentos ambientalistas se constitui, também, como
um dos elementos mobilizadores do engajamento juvenil. O processo de
sociabilidade oportuniza a formação de uma rede de socialização com outros jovens
envolvidos, inclusive, em outras causas e situados em regiões diferentes,
geograficamente falando. “É uma porta pra conhecer novas pessoas também, é
interessante participar desses movimentos. Você conhece pessoas de outras
cidades, de outros movimentos ambientalistas. Isso é importante também, né?!”,
afirma Laís.
Assim, como Laís, Jefférson considera que

Os encontros sempre marcam muito, porque a troca de


conhecimentos, a troca de informações é uma coisa gigantesca,
quando a gente conhece essas pessoas. Marca muito cada encontro
desse. Eu tive um encontro uma vez com o pessoal do Coletivo de
Meio Ambiente de Sergipe, também, marcou demais porque você
conhece várias pessoas, faz mais uma rede de contatos. Você vai
conhecendo, cada vez mais, pessoas inteligentes, que estão aí pra
agir e realizar ações práticas. O movimento ambientalista tem um
potencial gigantesco. As pessoas que se movem por ele, através
161

CAPÍTULO 3

dele e para ele são pessoas que se comprometem por inteiro; e


fazem o melhor de si para que aconteça. E essas coisas são que
marca mesmo: as experiências, os encontros, essas trocas de
informações. Não só para a vida de um ambientalista, mas de um
jovem. Isso é grandioso pra vida de um jovem! Você poder ter mais
informações, criar uma rede de contatos, ir desenvolvendo suas
habilidades sociais... isso é incrível!

Pode-se perceber que, dada à invisibilidade sócio-política juvenil


ambientalista, a rede de sociabilidade fortalece o caráter político do engajamento
ambientalista e, ao mesmo tempo, faz com que os jovens não se sintam sozinhos ou
isolados em suas lutas. É também nos espaços públicos que “as identidades juvenis
se constituem em espaços-tempos de sociabilidades e práticas coletivas, colocam
em jogo interesses em comum que dão sentido ao „estar junto‟ e ao „ser‟ dos grupos
e também constitui o „nós‟ que se diferencia dos „outros‟” (CARRANO; FÁVERO,
2014, p. 13-14).
O relato acima de Jéfferson evidencia que a troca de experiências,
conhecimentos, saberes, compartilhamento de ideias e a construção do ideário de
que podem fazer e transformar contextos possibilita que o jovem perceba a
importância da sua participação e atuação política no movimento ambientalista.
Enfim, “a ação individual voluntarista não cria redes e dificilmente este jovem se
mantém por muito tempo no desenvolvimento de um trabalho. Estar e agir em grupo
encanta os jovens para atuarem na realidade que os envolve e cria um compromisso
mais permanente” (ALMEIDA, 2008, p. 03).
A esse respeito, Laís salienta que,

com todas as letras, o GAASB é uma segunda casa, é a segunda


família. É onde você encontra amigos de verdade que lutam pelo
mesmo objetivo e buscam um futuro melhor pra todo mundo.
Pessoas que acreditam, ainda, que o mundo pode melhorar, que as
pessoas podem mudar. E isso é motivador, de vez em quando a
gente tem um pouco de tristeza, a gente se encontra com alguns
desafios que nos desanimam, mas um sempre está sustentando o
outro, sempre apoiando o outro e acho que isso é muito construtivo,
não só pra o grupo, mas como pra cada um de nós enquanto pessoa.
O GAASB é minha segunda família.
Na verdade, a maioria dos jovens vê em nós um grupo de jovens
amigos. Já aconteceu de algumas pessoas entrarem no GAASB por
falta de amigos na sociedade, por pessoas que se isolam atrás de
um celular, de um computador e que não procuram viver isso. Então,
o GAASB é uma forma de unir, de trazer pessoas para a realidade
também e desperta, desperta bastante o interesse [...] É tanto que o
GAASB está sendo bem chamado pra todo tipo de intervenção, de
162

CAPÍTULO 3

congresso, de palestra, todo mundo está envolvendo o GAASB,


porque vê vendo uma forma de motivar outros jovens a participar
também, de mostrar o que é está acontecendo no Planeta, o que é
que está causando as nossas ações do dia-a-dia, a falta de água, o
jogar lixos nas ruas, entupir bueiros, inundação e tudo mais. Todo
mundo está prestando atenção e nós, na cidade, chamamos muito a
atenção porque é um grupo pequeno, mas que está trabalhando
bastante e vai continuar trabalhando para que as coisas mudem aos
poucos.

A participação e o engajamento em organizações e movimentos provocam


grande repercussão na vida política e pública dos jovens e, além disso,

nos ombros dos jovens é colocada a responsabilidade de encontrar


solução não somente para seus problemas, como também de toda a
“comunidade” local, exaltando as qualidades e as possibilidades e
ação do voluntariado juvenil [...] e os jovens se transformam assim de
“problema” em “solução” (TOMMASI, 2007, p. 14).

A discussão trazida por Nazzari (2006) e Tommasi (2007) permite refletir


sobre as práticas políticas e sociais dos jovens associadas às diferentes percepções
que as sociedades possuem acerca da ideia de juventude e como essas percepções
implicam no processo de socialização política juvenil. E, nesse sentido, Nazzari
(2006) pontua que a socialização política está fortemente relacionada à maneira
como a juventude internaliza crenças, normas, atitudes e valores que estão
presentes em sua vida cultural, social e política.
Concomitantemente, Castro (2009, p. 479) concorda com Nazzari (2006) e, ao
mesmo tempo, dialoga com Almeida (2008) ao afirmar que, nas sociedades
modernas, “a articulação entre Juventude e Política tem sido entendida,
principalmente, por meio do conceito de socialização política, ou seja, o processo de
preparação do jovem para assumir seu lugar ulterior de cidadão, consciente de seus
direitos e deveres políticos”.
O conceito de socialização política coloca em pauta que a consciência juvenil
acerca de sua vida política – enquanto reflexão e ação sobre e na vida pública – não
é algo que se desenvolve após a juventude, como se o período da juventude
servisse de mera transição para a vida adulta. Falar em socialização política significa
dizer que

essas diferentes dimensões da condição juvenil são influenciadas


pelo espaço onde são construídas, que passa a ter sentidos próprios,
transformando-se em lugar, o espaço do fluir da vida, do vivido,
sendo o suporte e a mediação das relações sociais, investido de
163

CAPÍTULO 3

sentidos próprios, além de ser a ancoragem da memória, tanto


individual quanto coletiva. Os jovens tendem a transformar os
espaços físicos em espaços sociais, pela produção de estruturas
particulares de significados (DAYRELL, 2007, p. 1112).

Dentro da conjuntura de sociabilidades e socializações presentes nos


movimentos ambientalistas é notório o fato de como os grupos, coletivos e
organizações assumem lugares centrais e referências para os jovens ambientalistas.
Mesmo imersos em outros espaços de socialização e sociabilidades, como a escola,
a família, o grupo de amigos, a universidade, é possível perceber que há um crédito
maior dado aos espaços ambientalistas – digamos assim – no sentido de
pertencimento e construção de uma visão social, política e ideológica mais ampla e
compatível, geracionalmente falando, enquanto agências de socialização juvenil:

O GAASB significa solução, esperança. O lado de bom de ser


ambientalista é porque acaba fazendo novas amizades, adquirindo
conhecimentos e, principalmente, conhece o seu papel como
cidadão. Conhece até onde pode ir, até onde pode contribuir, pois
muitas pessoas sentam e começam a reclamar sobre a vida, sobre
os problemas de sua cidade através de redes sociais; mas são
poucas pessoas que, realmente, arregaçam as mangas e vão à luta
pra realmente serem parte da solução (Rafael).

Em 2013, eu conheci o Engajamundo. Não fui só por questões


climáticas, mas eu fui pelo conjunto da obra, porque trabalha com
coisas que eu me interesso: juventude, gênero, clima,
desenvolvimento sustentável. E a partir daí eu comecei, realmente,
ser ativa e fazer atividades, e fazer ações, a participar das coisas
(Melinda).

Os relatos de Rafael e Melinda são substanciais ao reforçar que no quesito


“socialização política”, “além dessas instituições clássicas – família e escola -, outros
coletivos culturais e sociais, como os grupos juvenis, têm adquirido centralidade
nesta função e na construção das identidades individuais e coletivas de jovens”
(BRENNER, 2014, p. 33).
Neste aspecto, é importante destacar também a experiência de Elen, cujo
desejo pelo engajamento ambientalista fez encontrar na política institucionalizada
(partidária) a representação dos seus pensamentos e formas de ver o mundo:

Antes de fazer Gestão Ambiental, eu fiz um curso no SENAI e o


pessoal de lá (muita gente) tinha o mesmo ideal que o meu. Aí,
começamos a frequentar essas coisas de limpeza de praia, eu fui
conhecendo mais gente que era da área e que se envolvia nos
mesmos movimentos que o meu. Quando eu fiz 17 anos, eu fui
conhecer o pessoal do Partido Verde, que foi até um amigo do meu
164

CAPÍTULO 3

pai que me chamou e falavam sobre questões ligadas à política,


jovens e meio ambiente, a jovens na política do meio ambiente. Aí,
eu comecei a conhecer o pessoal lá e fui me envolvendo cada vez
mais, inclusive agora eu sou Coordenadora de Meio Ambiente da
Juventude do Partido Verde estadual, por conta disso.
O Partido Verde é o único partido, no momento dos que eu também
conheço, que tem os mesmos ideiais que os meus, são os mesmos
pensamentos e as mesmas ideias de construir um mundo melhor ou
pelo menos tentar [sic] [...] E foi o que mais achei bacana!

Logo, não se trata apenas do espaço físico onde jovens se reúnem para
discutir e estruturar ações ambientais, não se trata também de jovens que na
ausência do que fazer se reúnem para conversar entre si (até porque, como pode
ser observado na biografia dos jovens, eles estão inseridos em outras atividades
cotidianas), os espaços de socialização ambientalistas têm a envergadura de
despertarem, primeiramente os jovens, para a urgência e emergência da discussão
sobre as problemáticas ambientais sem perder de vista a influência que as questões
sociais, econômicas, políticas, ideológicas, culturais, as decisões e a aprovação de
leis, por exemplo, exercem tanto no âmbito das problemáticas ambientais como no
âmbito da própria expressão juvenil enquanto porta-vozes de questões que, na
maioria das vezes, vão de encontro com os objetivos das esferas governamentais.
Desse modo, a noção de socialização política no que tange aos movimentos
ambientalistas está associada ao papel e poder que os coletivos, grupos e
organizações acabam exercendo na construção e formação da consciência crítica,
reflexiva, contextualizada, capaz de ler, interpretar, opinar e posiciona-se frente à
conjuntura social, econômica e cultural; como pode ser observado nos relatos
seguintes:

Quando a pessoa é envolvida num movimento assim, a visão de


mundo é diferente. Você começa a ver o mundo de outra forma.
Você começa a se atentar pra tudo que está à sua volta, ao seu
redor e consegue se diferenciar no ambiente que você está
convivendo e acaba sendo centro das atenções, por ser diferente.
Tudo que é diferente, pra quem faz tudo igual, acaba se tornando o
centro das atenções. Então, quando se é jovem, quando se é
universitário e tem esse diferencial influencia muito. [...] Quando eu
comecei a entrar a fundo no grupo, eu comecei a mudar minha visão
de mundo. [...] Às vezes, eu saio com minha mãe e ela está comendo
algum biscoito, e joga o papel no chão, eu digo: “mãe, como é que
você faz um negócio deste? Sua filha ambientalista e a senhora faz
um negócio deste. Dê exemplo! Você tem que dar exemplo, você é
minha mãe”. Ela começa a dar risada, até ela está começando a
levar isso mais a sério (Laís).
165

CAPÍTULO 3

Ser jovem-ambientalista na atualidade é ter um pensamento crítico e


uma visão diferenciada em relação ao que a sociedade e a mídia
pregam. É ter a capacidade de estar refletindo sobre nossas ações
diariamente, analisando que isso pode prejudicar o futuro. Não só
pensar em si, mas no tudo. É fazer, mesmo que muitos não façam
sua parte. Muitas vezes, somos taxados de tantos nomes. É ter a
ousadia e a coragem de estar defendendo nossos pontos de vista
nos espaços e ter argumentos suficientes para que se possa mostrar
que isso é o certo e que se vale a pena investir na sustentabilidade e
preservação (Laise).

Quanto ao imbricamento e à forma como os jovens constroem seus


posicionamentos, escolhas e visões de mundo por meio das agências
socializadoras, Castro (2009, p. 480-481) chama a atenção que se deve tomar
cuidado para que a socialização política juvenil não assuma a noção de que apenas
“diz respeito aos processos de aquisição de habilidades e atitudes que credenciam
determinado sujeito ao exercício ulterior de uma função ou atividade”, como se os
jovens fossem “[...] recipientes passivos dos estímulos ambientais e do que os
adultos desejavam fazer deles”.
O percurso de Uenderson no engajamento militante ambientalista reflete certo
rompimento com o processo de socialização clássico familiar, a partir do momento
em que decide não seguir os desejos originais do seu pai, mas ainda assim o jovem
fica entre o que vivenciou durante 21 anos de sua vida, o “pirar” do pai e suas
convicções sobre a relação ser humano-natureza:

Eu sou de uma parte contrária: meu pai trabalhou sempre na


mineração e sempre aonde eu ia (eu morei em algumas cidades do
Brasil) todas eram com mineração. Ou seja, uma das coisas que
mais destrói o meio ambiente hoje em dia é a mineração e a minha
vida sempre foi nessa área [...] Aí, eu comecei minha faculdade
fazendo Engenharia de Minas e, como eu vim desde a infância da
mineração, esse era o caminho que tinha para seguir. Só que no
segundo semestre, quando eu comecei de fato mesmo entrar pra
mineração, visitar minas e ver de perto mesmo o quanto devastante
era a mineração no Brasil, enfim no mundo todo. Aí, eu falei: “não
vou querer isso pra mim”. Aí decidi falar: “não estou mais a fim
disso”. Meu pai ficou (claro!) pirado comigo, mas depois eu falei: “Oh,
eu não vou mudar de rumo de vez, o que eu não posso é passar 21
anos de minha vida toda nessa área de mineração e, de repente, ir
fazer sei lá... História, Pedagogia, alguma coisa assim que não tem
nada a ver comigo, teoricamente”. Aí, eu mudei pra Geologia que é
uma área que tem a ver com os estudos da Terra, assim como
mineração. E nessa área, o que é que eu faço? Eu tento juntar o que
eu conheço da Geologia, estudo da Terra, para uma parada mais
166

CAPÍTULO 3

sustentável, fazer um trabalho que não desmate tanto, não destrua


tanto como a mineração iria fazer.

A expressão de Uenderson “eu sou de uma parte contrária”, além de trazer à


tona as expectativas de que os filhos devam geralmente seguir a educação familiar
recebida como primeiro núcleo de ensinamentos e socialização, remete ao
pensamento de Dayrell (2007), que acredita estar a socialização política, em
primeira instância, ligada a processos de preparação dos jovens para participar
politica e ativamente da vida pública.
No entanto, Castro (2009) sinaliza que é preciso que esse processo de
preparação e habilitação – considerado como um credenciamento para vida adulta –
estimule e leve em consideração a autonomia e capacidade crítica dos jovens, bem
como fortaleça as suas perspectivas de futuro, visto que esse processo não está
fechado e acabado em si mesmo, já que outras variáveis de socialização também
podem exercer forte influência na tomada de decisões, escolhas e preferências
juvenis.
Mais do que lançar as bases para processos de escolhas e decisões, é
preciso estar atento para o fato de que a socialização política solicita dos jovens o
ato de participar, reivindicar, lutar e envolver-se ativamente nas questões e
problemáticas sociais que, por um lado, ainda se constituem como desafios dos
cidadãos contemporâneos. Por outro lado, pode-se afirmar que a socialização
política e a participação social por meio das agências de socialização representam
campos de possibilidades propícios à reflexão, interação e intervenção nas mais
diversas esferas da sociedade, podendo gerar mudanças e transformações.
E, nesse sentido, “a atuação dos jovens na vida pública está relacionada tanto
com as condições – materiais e simbólicas – que os indivíduos encontram para se
fazer sujeitos quanto com as possibilidades e oportunidades de reconhecer o outro
como elemento constitutivo da identidade e da ação coletiva” (CARRANO;
BRENNER, 2008, p. 69).
Pensar acerca da socialização política juvenil articulada a questões
socioambientais significa olhar para a juventude como lugar de atores e sujeitos
sociais que são dotados da capacidade de reivindicar e transformar a realidade
ambiental nos seus variados contextos e amplitudes. Neste aspecto, é importante
destacar que, durante o levantamento e contatos com as organizações, grupos e
167

CAPÍTULO 3

coletivos ambientalistas citados nesse trabalho, dois aspectos chamaram a atenção


que dão subsídios práticos para reflexão do conceito de socialização política.
Primeiro, a valorização, legitimidade e credibilidade dada ao papel
participativo dos jovens nas organizações e coletivos ambientalistas se constituem
como ferramentas principais dos diálogos entre a problemática ambiental, a geração
presente e a preocupação com as gerações futuras em sua tessitura com as
questões mais amplas da sociedade. Ou seja, são perceptíveis os esforços
empreendidos para que os jovens ambientalistas despertem e desenvolvam uma
consciência política acerca das questões ambientais.
Segundo, os processos de socialização política de jovens para jovens é algo
muito valorizado entre a juventude ambientalista, especialmente entre os jovens
membros do Engajamundo. Eles partem do princípio que os efeitos são mais
positivos quando os valores, normas, condutas e formas de pensar são colocados e
construídos em debate pelos próprios jovens. Segundo eles, embora não
desconsiderem a aprendizagem adquirida com as gerações mais velhas, são nesses
momentos que existem maior interação e abertura para se discutir o caráter
multifacetado de questões que perpassam o tema juventude e meio ambiente, até
porque “cuidar do meio ambiente já é visto, por muita gente, como falta do que fazer”
(Davi). Logo, é preciso pensar em estratégias que aproximem as pessoas e
fortaleçam o engajamento ambientalista.
São em suas reuniões, encontros, diálogos, ações de rua que acabam
descobrindo, também, que as gerações mais velhas podem aprender muito com as
gerações mais novas. Essa visão intercambial de gerações revela o quanto os
debates e processos formativos da juventude ambientalista exercem um papel
fundamental na socialização política dessa juventude.
E é nesse sentido que Rafael e Melinda, respectivamente, afirmam:

Quando a gente vai falar para um jovem sobre as questões


ambientais, não devemos levar uma maneira complicada de falar,
tem que ser mais claro, mais objetivo naquilo que se quer. Tem que
saber, como a gente trabalha no Engaja, sensualizar as questões e
realmente fazer com que a pessoa entre no clima e ela entenda
sobre meio ambiente, mas da forma da forma e da linguagem como
ela é, conforme a sua idade.

Como o foco do Engajamundo é juventude, a gente faz formações


com jovens do Brasil inteiro. No Engaja, a gente faz grupos de
estudos, a gente faz hangouts, que são grupos de estudos online. E
168

CAPÍTULO 3

a gente participa desses hangouts e debate os temas pra depois


fazer as formações. Então, toda semana a gente tem uma reunião do
Engajamundo, que é um grupo de estudo de um tema específico.
Toda semana a gente tem um grupo de estudo de gênero, um grupo
de estudo de clima, um grupo de estudo de ODS, um grupo de
estudo de biodiversidade, um grupo de estudo de habitat. E a gente
tem todo um material de suporte e a experiência de vida conta
bastante, quando você começa a trabalhar com isso, você acaba
aprendendo na prática.

É neste sentido e numa visão mais ampla que

a socialização política é utilizada como melhor termo para explicar os


processos de transmissão de atitudes, escolhas, preferências,
símbolos, comportamentos políticos e representações de mundo [...]
A socialização constitui-se na introdução do indivíduo no social e é
um dos princípios da formação da identidade” (BRENNER, 2014, p.
32-33).

Compreender esse processo se constitui como uma das estratégias viáveis à


compreensão dos percursos que levam os jovens a se engajarem na militância
ambientalista. Através dos contatos com os jovens ambientalistas, foi possível
perceber o quanto seus projetos e ações trazem a força, a garra, o estímulo à
participação política na vida pública como elementos importantes para fortalecer e
efetivar ações que, de fato, promovam transformações nos modos de pensar, ser,
agir e conviver das pessoas tanto na esfera local quanto global.
Nas organizações, coletivos e grupos ambientalistas, os jovens não assumem
papéis de meros espectadores dos dilemas ambientais e nem ficam à margem das
questões políticas e sociais que, direta ou indiretamente, podem atingir ou tentar
cercear seus direitos enquanto cidadãos. Pelo contrário, é muito forte e presente a
ideia de que a sobrevivência da coletividade social depende, sobretudo, das atitudes
dos jovens, ou seja, eles são vistos como categoria que tem muito a contribuir com
efetividade das transformações sociais e, por isso, são convidados a refletir, propor
estratégias, fazer intervenções, desenvolver atividades de mobilização e
sensibilização. Enfim, nesses espaços, os jovens têm também a oportunidade de
articular suas vidas privadas com o mundo público, ele assume o papel de “ator
social na sua possibilidade de participação e reflexão sobre o mundo que o cerca”
(PAIVA, 2013, p. 07).
Pela via da socialização política, esse papel ativo do jovem que pensa, reflete
e constrói práticas sociais amplia a visão de participação juvenil para um processo
169

CAPÍTULO 3

dialético e politizado, onde participar "[...] não é apenas „marcar presença' em


reuniões ou encontros. Participar ativamente é apresentar propostas, definir
caminhos" (CANANÉA, 2012, p. 64).
No que se refere à realidade ambientalista brasileira, a fala de Cananéa
(2012) permite pontuar que a socialização política encontra-se muito ligada ao
processo de inclusão juvenil possibilitados pelos mais diversos grupos e
organizações, principalmente não-governamentais, que deram os primeiros passos
na visibilidade dos jovens enquanto atores sociais e políticos. Atualmente, Souza
(2013) aponta que, mesmo em face aos desafios de expansão, o campo de
possibilidades de participação e atuação política juvenis tem ganhado mais espaço,
principalmente com a criação e fortalecimento da Secretaria Nacional da Juventude,
dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente, a Rede da Juventude pelo Meio Ambiente
(REJUMA), o Grupo de Trabalho de Juventude no âmbito do Fórum Brasileiro de
Organizações Não-Governamentais (ONG) e Movimentos Sociais pelo Meio
Ambiente e Desenvolvimento.
O processo de socialização política juvenil, na visão de Schmidt (2001), não
pode se restringir à inclusão dos jovens em determinados grupos, coletivos ou
movimentos sociais, bem como à sua intervenção sem a construção consciente e
crítica da necessidade e importância de sua atuação para o contexto em que está
inserido. Ou seja, a efetividade da socialização política não está limitada a aspectos
técnicos e instrumentais da execução de projetos. Ela pressupõe uma reflexão sobre
e na ação, não é o ativismo pelo ativismo nem a reflexão pela reflexão.
No caso dos jovens ambientalistas, o que concede consistência, legitimidade
e sentido ao processo de socialização política – enquanto caminho formativo – é a
capacidade que se tem de, ao refletir sobre a realidade e as estratégias de
mudanças, provocar e despertar o espírito emancipatório, criativo, transformador e
inquiridor dos indivíduos, de modo que estes tenham plena consciência do porquê e
para quê propõem, atuam e executam em prol de questões coletivas, que ora
aproximam, ora se distanciam de suas vidas privadas.
Um aspecto importante que deve ser levado em consideração ao se referir à
natureza da socialização política e que merece destaque é o fato de que ela se
constitui como um processo que possibilita aos jovens construírem novos
conhecimentos e repertórios de vida sobre questões relacionadas à ética, direitos
170

CAPÍTULO 3

humanos, justiça social, respeito à diversidade, bem como lutarem em prol de uma
sociedade mais justa e igualitária, a partir do envolvimento em causas sociais,
políticas, ambientais e culturais. Desse modo, o processo de socialização política
não apenas viabiliza a ampliação e maior engajamento do jovem na sociedade,
como também por meio dele o jovem vai se (re)construindo enquanto ser histórico,
social e cultural.
Aproximar ou dar visibilidade ao papel da socialização política juvenil em torno
das questões socioambientais são processos que se sustentam nos hiatos entre o
passado, presente e futuro das marcas deixadas pelo ser humano em sua relação
com o planeta e os processos formativos em que os jovens estão imersos nos
coletivos, grupos, organizações e movimentos ambientalistas, fundamentando-se na
perspectiva que

a indagação sobre a participação social dos jovens remete à


indagação a respeito do futuro da democracia e do desenvolvimento
das sociedades latinoamericanas. A preocupação com os jovens
remete ao futuro da sociedade e ao campo de virtualidades para seu
desenvolvimento. Serão os jovens que definirão continuidades ou
mudanças da sociedade e de suas instituições. Nesta perspectiva,
refletir sobre continuidades e descontinuidades históricas nas formas
de participação dos jovens pressupõe um diálogo entre as
experiências do passado e os novos sujeitos e tipos de organização
do presente (NOVAES, 2005, p. 02).

A autora fornece pistas que levam ao entendimento de que, ao reconhecer-se


como sujeitos sociais e políticos, os jovens começam a compreender que a sua
atuação e intervenção em busca de uma sociedade mais equitativa, justa e
equilibrada depende dos seus posicionamentos e posturas no tempo presente e não
em um futuro próximo, como se tivessem apenas que se preocupar na idade adulta.
A concepção de socialização política, nesse sentido, não anula a juventude
enquanto período de preparação e transição para a vida adulta, mas pressupõe que
esse período é caracterizado por momentos de contradições, conflitos, descobertas,
ações e modos de pensar e ser, nos quais os jovens atuam e constroem visões de si
e do mundo que os cercam, apresentando em seus discursos e ações fortes marcas
provenientes das agências de socialização que tiveram ou têm grande incidência
sobre suas vidas.
Conceber os jovens como atores sociais e sujeitos políticos é condição sine
qua non para a socialização política, como afirmam Carrano e Brenner (2008, p. 69):
171

CAPÍTULO 3

isso passa pelo fortalecimento do indivíduo, isto é, pela chance de


uma socialização satisfatória (pela educação, pela construção da
autoestima, pela possibilidade de espelhar-se em papéis na vida
adulta futura etc.), assim como pelo fortalecimento da capacidade de
ser ator de sua própria vida: de escolher, julgar, ter projetos e
sustentar relações sociais com outros (sejam relações de
cooperação, consenso ou conflitos). O objetivo é fortalecer a
capacidade de ação dos jovens, contribuir para seu desenvolvimento
pessoal integrado, intensificar a integração de sua experiência e a
vinculação desta a projetos.

A ideia de socialização política juvenil pressupõe a ação – positiva ou


negativa – de agências que poderão ofertar as bases para a participação e
intervenção efetiva dos jovens, de modo a impulsionar a formação de sujeitos
críticos, autônomos, responsáveis e comprometidos com questões de cunho social,
político, econômico, ambiental, ético e cultural. Considerando essa perspectiva,
frente à sociedade capitalista em que vivemos, é possível afirmar que os processos
de socialização e sociabilidades das agências ambientalistas têm, dentre outros
fatores, proporcionado as bases necessárias para a formação de uma geração mais
solidária, justa, democrática e preocupada a sobrevivência da sociedade para além
das relações de produção e consumo.
A ideia de “socialização política juvenil” coloca em evidência a credibilidade e
confiança depositadas na juventude como categoria capaz de atuar, participar e
intervir nos acontecimentos histórico-sociais, como indicativo de que a juventude -
especialmente aquelas que participam de movimentos, grupos, coletivos e
organizações sociais - não está indiferente às demandas e problemas sociais
herdados das gerações passadas, assim como aqueles provocados pela sua
geração. Ao contrário, por meio da socialização política, os jovens têm mais
condições de conhecerem, refletirem e posicionarem-se acerca dos caminhos
estratégicos viáveis às soluções dos problemas sociais, visto que há uma tendência
de ingressarem, integralmente, nos processos e vivências da vida social pública.
Os debates acerca do tema juventude, política e agências de socialização, de
acordo com Souza (2004), parecem estar sempre carregados do desejo e interesse
de romper com os lugares de omissão e passividade que, histórica e
intencionalmente, foram destinados aos jovens na esfera da vida pública. Gonzales
(2007) relata que esse anseio é fruto de uma luta em que, pouco a pouco, a
172

CAPÍTULO 3

juventude vem ganhando visibilidade e deixando de ser vista como problema 5,


especialmente a partir de 2001 - na realidade do cenário brasileiro - com a criação
mais incisiva de políticas públicas voltadas para a juventude e a maior valorização
das vozes dos movimentos, organizações, coletivos e grupos sociais enquanto
veículos políticos comprometidos com uma sociedade mais justa, igualitária e
democrática.
Dessa maneira, para entender a dimensão e complexidade das relações entre
juventude e socialização política é preciso, primeiramente, considerar que

a participação política dos jovens não se faz no vazio cultural e


histórico, mas em sociedades reais que carregam as marcas
singulares de sua história e as dificuldades específicas de seu
presente. No contexto das desigualdades sociais da sociedade
brasileira, compreender como e porquê os jovens brasileiros
participam da construção e da decisão societárias põe em questão a
forma como cada um reconhece-se como integrante desse conjunto
tão desigual e como se vê implicado nos seus destinos. Assim, a
participação política não pode desvincular-se das condições
subjetivantes que darão forma ao sentimento de pertencimento à
coletividade por parte de jovens e de crianças e de como essa
coletividade é representada por eles (CASTRO, 2008, p. 253).

Este mesmo autor oferece caminhos para se pensar o conceito de


socialização política atrelado à ideia de engajamento militante juvenil como reflexo
da livre escolha e decisão dos jovens direcionadas a compreender e posicionarem-
se frente às desigualdades sociais e políticas. O engajamento juvenil pela via das
agências socializadoras não ocorre de uma hora para outra, esse processo se dá à
medida que a juventude vai tomando consciência e se envolvendo com ações que
têm como finalidade maior problematizar a realidade e promover transformações,
sobretudo, no campo social.
Desse modo, a socialização política assume a condição de prática cidadã e
democrática que vai além do ato de transmissão de determinadas condutas ou ainda
o ingresso e pertencimento dos jovens a organizações, instituições, grupos ou
coletivos sociais. Vê-se aí a necessidade de considerar que a participação de jovens
nas organizações, principalmente não-governamentais, comprometidas com
questões de ordem social e política reflete a própria participação social e a

5
Segundo Gonzales (2007), a juventude vista como problema é uma concepção que perdurou até o
século XX. A partir do século XXI, embora houvesse e ainda hajam resquícios do século XX, as
visões sobre juventude começam a sofrer mudanças e os jovens, por sua vez, começam a ser vistos
pela ótica de sujeitos e atores sociais.
173

CAPÍTULO 3

socialização política nos seus sentidos mais amplos, visto que, diante do seu poder
de escolha e decisão, os jovens optam por participarem de espaços que não são
necessariamente instituídos pelos poderes públicos, mas que têm grandes
contribuições e o seu grau de importância para a vida pública social.
Novaes (2006), ao discutir o conceito de socialização juvenil como categoria
imbricada com a noção de contextos, diferenças e trajetórias, considera que o jovem
engajado da época atual conta com elementos particulares e singulares específicos,
que fazem com que seu processo de socialização política tome proporções
significativas cada vez maiores de participação social desde os movimentos de ruas
às mobilizações por intermédio das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTICs), que viabilizam outras relações da juventude com as questões
sociais, políticas, ambientais, culturais e econômicas, se comparadas com as
juventudes das sociedades anteriores ao século XXI.
Ela afirma que, do seu ponto de vista,

a condição juvenil – como etapa da vida que se situa entre a


proteção socialmente exigida para a infância e a emancipação
esperada na vida adulta – tem suas especificidades. Isso porque a
experiência geracional é inédita, já que a juventude é vivenciada em
diferentes contextos históricos, e a história não se repete. Dessa
forma, para pensar a condição juvenil contemporânea, devemos que
considerar a rapidez e as características das mudanças no mundo de
hoje. Por um lado, houve uma ampliação das agências
socializadoras da juventude que extrapolam o âmbito da família e da
escola, implicam o aumento do espaço de influência dos meios de
comunicação e a presença da Internet. A inovação tecnológica tem
aproximado jovens de mundos diferentes. [...] Embora sejam muitos
os que não têm computador em casa, os computadores de
associações, centros comunitários e ONGs são usados pelos jovens
(NOVAES, 2006, p. 119-120).

Nesse sentido, os jovens ambientalistas da contemporaneidade não limitam


suas ações e capacidade crítica de se posicionarem e disseminarem suas visões de
mundo apenas nos espaços físicos das organizações, coletivos e grupos sociais. Ao
contrário, as NTICs – enquanto novas agências de socialização – têm possibilitado a
expansão, diálogo e interlocução com outros atores sociais que, embora
geograficamente se encontrem distantes, as ferramentas das redes sociais
possibilitam a aproximação e não somente a troca de ideias e informações, como
também a organização de mobilizações:
174

CAPÍTULO 3

Hoje em dia, com a informática e também a internet, as redes


sociais, o crescimento das discussões e grupos ambientais está mais
fácil. A internet traz pra você e muitas pessoas falam: “ah, eu soube
do Greenpeace porque eu vi uma matéria”, “ah, eu vi uma página no
Facebook que fala sobre os animais, sobre a Floresta Amazônica,
sobre a Chapada Diamantina, a caatinga...”. As pessoas vão tendo
mais conhecimento [...] Acho que o engajamento e o crescimento de
jovens nas organizações, atualmente, têm muito a ver com isso. Está
mais aberto isso hoje em dia, está mais fácil conhecer a causa e
tentar lutar por ela (Uenderson).

Claro que a tecnologia trouxe seus malefícios, por exemplo, a


questão do uso dos materiais, do descarte inadequado [...] Mas
assim, a gente usa ao nosso favor. Com um celular de última
geração eu posso criar uma petição em qualquer lugar, qualquer
hora na rua. Posso filmar um cara cortando árvore ilegal como
acontece muito, posso usar o celular pra me conectar com outras
pessoas. E, quando a gente não usa da tecnologia em nosso
benefício, nosso trabalho fica bem mais complicado (Melinda).

Em contrapartida, embora não desmereça o processo de socialização


construído por intermédio das redes sociais, Davi pontua que

ser jovem-ambientalista é ser mais do que Facebook, porque tem


muita gente que luta pelo meio ambiente via Facebook. Eu acho que,
na atualidade, o importante é a gente ir pra rua, realmente
consciente. Não é só colocar no Facebook, compartilhar várias
coisas e na vida real não fazer nada. A atualidade propicia,
exatamente, isso: você defender movimentos sociais, você defender
lutas via Facebook somente ou via internet, via discursos, textão.
Mas, é muito mais que isso, é ir para rua e mostrar a cara, o porquê
veio, porque está lutando.

Os relatos de Uenderson, Melinda e Davi podem ser compreendidos como


expressão dos novos paradigmas dos movimentos e protestos sociais que, para
Harvey et al (2012), a união dos corpos em espaços públicos através de
manifestações nas ruas, praças e parques possuem um impacto muito maior e mais
abrangente do que as manifestações que ocorrem na internet.
Importante destacar que o autor não desmerece a importância e positividade
aos movimentos e protestos sociais advindas do fluxo de comunicação
proporcionado pela internet, em especial pelas redes sociais. Mas, ele afirma –
assim como Carr (2011) – que é necessário utilizar a internet para além do estímulo
de inteligência espacial e visual, ou seja, os indivíduos, diante do imenso universo
das redes sociais e das possibilidades que daí emergem, devem estimular suas
capacidades de refletir, interpretar, analisar e pensar criticamente, de modo que não
175

CAPÍTULO 3

se tornem pessoas de pensamentos rasos e não consigam articular o mundo virtual


com as vivências e práticas cotidianas. A forma de pensar as relações entre os
novos e antigos sociais, trazida pelos autores, torna seus pensamentos muito
próximos das concepções de Uenderson, Melinda e Davi quando se referem à
relação entre novas tecnologias, socialização política e engajamento militante nos
movimentos ambientalistas.
Esse caráter de socialização e construção de redes de sociabilidades
viabilizadas pelas redes sociais foi possível perceber quando comecei a entrar em
contato com as organizações, coletivos e grupos ambientais para a realização da
presente pesquisa. Tive conhecimento da existência de alguns deles pelas visitas
realizadas em suas páginas nas redes sociais, especialmente no Facebook, onde
pude perceber o quanto essas redes ganham sentido e significado para os jovens
ambientalistas poderem construir processos de socialização e sociabilidades com
pessoas próximas e distantes que se interessam por suas discussões, formas de
pensar, ser e agir.
Essa condição das redes sociais como teia de socialização política e criação
de sociabilidades torna-se legítima na atualidade não apenas à visibilidade dada
pelos jovens ambientalistas no que tange às suas ações e chamadas públicas para
os movimentos de rua, mas é possível perceber como as NTICs têm sido cada vez
mais uma potente agência socializadora das gerações mais novas em várias
modalidades de engajamento.
A exemplo disso, podemos perceber a forte atuação da juventude
(especialmente estudantes) que tem ocupado, nos últimos meses, as ruas, escolas,
universidades e repartições públicas como forma de protesto contra a PEC 241/55 e
a Medida Provisória do Ensino Médio nº 746, bem como protestam pelos direitos e
conquistas que, jovens assim como os da atualidade, lutaram, alcançaram e agora
se veem na iminência de ações governamentais retrógradas propostas “de cima
para baixo” pelo governo Temer, que ferem diretamente o direito à democracia, ao
exercício da cidadania e da participação cidadã.
176

CAPÍTULO 3

Dentro do momento histórico-social em que vivemos, essa nova configuração


de engajamento – conhecida como ciberativismo6 – se constitui como um indicativo
para se pensar a emergência de discutir e compreender as razões que motivam a
geração juvenil atual ir às ruas em forma de protestos, ocuparem os espaços
públicos na realização de manifestações e utilizarem as redes sociais como recursos
de socialização e divulgação dos seus modos de ser, pensar e agir como expressão
de participativa, democrática e cidadã.
Em Novaes (2005) é possível perceber que a socialização política se dá por
meio da participação social da juventude, especialmente a partir dos anos 90,
caracterizando-se, sobretudo, pelos conflitos e diálogos entre os velhos e novos
problemas sociais que, por sua vez, trazem outras demandas e "convocam" a
juventude a atuar e participar mais ativamente.
Para Novaes (2007, p. 99), as diferentes maneiras como a juventude exerce,
especialmente na América do Sul, seu papel de participante social e política refletem
que ser jovem não se limita a uma concepção universalista de juventude, razão pela
qual as discussões sobre socialização política e participação social juvenil não
podem desconsiderar o fato de que

em cada tempo e lugar são muitas as juventudes e entre elas sempre


existem adesões ao estabelecido e territórios de resistências e de
criatividade. Na sociedade moderna, a juventude se apresenta como
a fase da vida mais marcada por ambivalências provocadas pela
convivência contraditória entre a subordinação à família e à
sociedade e as expectativas de emancipação, sempre em choque e
negociação. Assim sendo, ainda que não haja consenso em torno
dos exatos limites de idade que devem vigorar para definir quem é
jovem, a juventude é compreendida como um tempo de construção
de identidades e de definição de projetos de futuro.

Se por um lado a fala de Novaes (2007) permite refletir sobre a condição


juvenil brasileira de uma parcela que se encontra em territórios de exclusão e
vulneráveis aos mais variados tipos de condições sociais, em virtude das diferenças
de gênero, raça, renda, etnia e outros determinantes sociais que agem,
desigualmente, na distribuição de oportunidades e acesso a melhores condições de
vida, o que tem grandes implicações e explica os diferentes modos de socialização
política a que são submetidos os jovens a depender dos seus condicionantes
6
Nas palavras de Gohn (2012, 2014), refere-se a uma estratégia de ativismo pela internet, que
também é conhecida como ativismo online ou digital, cuja finalidade é realizar divulgação de causas,
reivindicações e organizar mobilizações, especialmente por meio das redes sociais.
177

CAPÍTULO 3

sociais; por outro lado, a geração atual também tem apresentado suas ferramentas,
possibilidades, estratégias e potencialidades de participação nos mais diversos
campos da vida sociais.
Essas duas faces que podem ser percebidas na visão de Novaes (2007)
aponta que, considerando o processo de socialização política como um constructo
social e educativo, a depender das oportunidades que os jovens tiverem na vida, do
seio familiar em que vivem, da escola que frequentaram, os grupos que fazem
partem, teremos jovens mais ou menos críticos, mais ou menos reflexivos e
engajados em militâncias de diferentes modalidades. Por isso, o processo de
socialização política não é neutro, imparcial e contido em si mesmo, ele possui a
capacidade de produzir ou reproduzir determinados tipos de sujeitos sociais e
políticos. Daí a necessidade de perceber que socializar o jovem politicamente não é
torná-lo ou fazê-lo assumir uma função político-partidária. Significa, sobretudo, que
esse jovem ambientalista engajado e militante é, na maioria das vezes, pai, mãe,
estudante, trabalhador e, portanto, cidadão político que tem o espaço público como a
sua maior e principal arena de atuação.
Carrano e Brenner (2008, p. 67) afirmam que

os jovens, ao contrário do que insinua o senso comum, não são


desinteressados da participação na vida pública. O que é fato,
contudo, diagnosticado por diferentes investigações no Brasil e em
outros países, são as mutações nas formas e conteúdos da
participação motivadas pelas novas configurações sociais que
interferem nas motivações e condições objetivas que favorecem ou
inibem processos de participação. Os jovens, evidentemente não
todos, mantêm a motivação para a participação, porém, é um número
reduzido que se encontra disposto a fazê-lo em espaços tradicionais
e institucionalizados e também em torno de propostas cujos
significados não dialogam com as contemporâneas condições de
vivência do tempo da juventude. Um dos traços característicos da
vida juvenil, hoje, vem a ser o maior campo de autonomia que os
jovens possuem frente aos adultos e às instituições, e a capacidade
que diferentes coletivos de jovens têm demonstrado na invenção de
novos espaços-tempos de participação.

Interessante que a fala de Carrano e Brenner (2008) aponta para um dado


revelado pelos jovens ambientalistas quando se fala da relação entre o engajamento
juvenil e a aproximação com esferas públicas governamentais partidárias,
especialmente no que tange aos contatos com as prefeituras, por se tratarem de
grupos ambientalistas que atuam mais precisamente a partir das suas localidades e
178

CAPÍTULO 3

comunidades onde vivem. Boa parte dos jovens ambientalistas, embora não veja
suas causas representadas e acolhidas pelas esferas públicas, afirmam que, por
vezes, a aproximação e certa sujeição às formas de pensar as políticas públicas
para o meio ambiente da política institucionalizada e partidária são os meios
encontrados para que consigam participar dos processos de discussões e decisões,
e adentrarem nesses espaços públicos.
Embora considerem a política partidária como campo menos permeável para
a efetiva participação e engajamento ambientalista, a maioria dos jovens não refuta
a ideia de que inseridos ou aproximando-se da política institucionalizada –
especialmente das Secretarias Municipais de Meio Ambiente – é possível, ainda que
em pouca proporção, lutar e reverter algumas situações destoantes dos ideais que
sustentam o engajamento ambientalista, conforme pode ser percebido nos relatos a
seguir:

Quando você já tem o conhecimento, quando você quer fazer


determinada ação e você tem o empecilho, em contrapartida, do
governo. Porque existem problemas na cidade e, quando você vai lá
dá a cara a tapa, fazer o negócio acontecer ali, sua ação pra
melhorar, o governo está lá no meio e ele consegue de uma forma
fazer com que você acabe desistindo do seu ativismo, da sua ação
que você queria fazer naquele local. Então, ou você trabalha em
harmonia com o governo e vai levando esse jeitinho, e vai
conversando, e vai levando nessa vibe ou nunca vai dar certo, quer
dizer, pode dar certo; mas aqui na minha realidade é muito difícil
você bater de frente com a prefeitura. Ou você trabalha junto com ela
desenvolvendo e dizendo qual é o caminho que tem a seguir ou, se
você for uma pessoa radical e não quiser vínculo nenhum, isso
nunca vai dar em nada (Rafael).

O que o falta é, realmente, interesse. Eles não estão querendo muito


mexer com meio ambiente. Aí, eles usam meio ambiente quando é
ano de política para ser eleitos. Como muitas pessoas estão
envolvidas, aí eles vêm para querer ajudar (Lorrana).

Interessante notar em Boaventura de Sousa Santos (2011, p. 03) que esse


distanciamento sentido e denunciado pelos jovens ambientalistas quanto à
existência e efetividade de políticas públicas voltadas para o fortalecimento,
participação e engajamento da juventude nas questões ambientais é fruto da própria
concepção estruturante das sociedades capitalistas que, na maioria das vezes,
apresentam novos discursos, mas permanecem com as velhas práticas:

Está a ser gerado nas sociedades um combustível altamente


inflamável que flui nos subterrâneos da vida coletiva sem que se dê
179

CAPÍTULO 3

conta. Esse combustível é constituído pela mistura de quatro


componentes: a promoção conjunta da desigualdade social e do
individualismo, a mercantilização da vida individual e coletiva, a
prática do racismo em nome da tolerância, o sequestro da
democracia por elites privilegiadas e a consequente transformação
da política em administração do roubo "legal" dos cidadãos. Cada um
dos componentes tem uma contradição interna [...] Estamos perante
uma denúncia política violenta de um modelo social e político que
tem recursos para resgatar bancos e não os tem para resgatar a
juventude de uma vida sem esperança, do pesadelo de uma
educação cada vez mais cara e mais irrelevante.

Mesmo em face aos desafios, a participação social e as relações de


socialização e sociabilidades juvenis têm marcado cada vez mais presença na busca
pela efetiva democracia. O que há, então, de novo com a geração atual? É possível
perceber o (re)nascimento de uma juventude mais solidária, engajada, participativa,
mais imbricada com os espaços públicos, que questiona o conservadorismo e os
pilares da sociedade de consumo e exploração. Por meio das suas atitudes e
representações de mundo, a juventude tem mostrado que não se constitui como
categoria apática e vem assumido o poder de decisões e escolhas.
Neste aspecto, Novaes (2007) afirma que a participação política e social
juvenil ao longo dos anos possibilitou o surgimento e intensificação de movimentos
sociais por diferentes causas desde a proliferação dos grupos ambientalistas
àqueles de ordem política, que vêm ocupando e ganhando espaços nas ruas,
comunidades, mídias e redes sociais.
Desse modo, considerando as discussões que perpassam o campo da
participação política e social juvenil, no capítulo a seguir é feita a apresentação e
discussão dos processos de socialização que motivam e levam os jovens a se
engajarem em movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas, de
conforme a questão-chave que orienta a problemática desta pesquisa.
180

CAPÍTULO 4

4. DA SOCIALIZAÇÃO AO ENGAJAMENTO MILITANTE: QUE BASES


SUSTENTAM OS PERCURSOS DA JUVENTUDE AMBIENTALISTA?

Quais processos de socialização levam os jovens a se engajarem em


movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas? Trazer à baila o
problema de pesquisa que se constitui a estrutura de discussão e escrita desse
trabalho, ou seja, compreender as razões e os motivos articulados com processos
de socialização que contribuem para o engajamento de jovens em movimentos
ambientalistas significa, em primeira instância, reafirmar que a socialização se
configura como processo introdutório dos jovens no mundo social e, ao mesmo
tempo, constitui-se como um dos pilares da formação identitária desses jovens.
Garimpar e compreender – por meio das narrativas juvenis – os elementos de
socialização presentes nos percursos de vida que estão por trás e alicerçam o
engajamento militante ambientalista dos jovens se constituem caminhos viáveis ao
entendimento sobre em quais bases de socialização e experiências se sustentam as
disposições juvenis para a militância e engajamento ambientalista. Além disso, abre-
se o leque de percepções acerca das divergências e convergências que tecem os
percursos e repertórios de socialização juvenis no tocante ao engajamento militante
ambientalista, cujas narrativas ora se aproximam, ora se afastam.
Por esse espectro, ao discutir sobre os processos de socialização de jovens
engajados em movimentos e organizações ambientalistas, Dubar (2005) chama a
atenção que é preciso estar atento às interações e relações que socializam, tecem e
constroem a visão dos jovens entre aquilo que é público e privado, universal e
particular. Isto é, para o autor, as diferentes formas com que os jovens interagem em
sociedades, bem como seus diferentes interesses por determinados engajamentos
estão muito relacionados aos espaços e lugares sociais que os jovens mantêm
contato, transitam, identificam-se e convivem socialmente.
Assim, esses espaços e lugares acabam se constituindo como referenciais e,
ainda que os jovens venham a recriar suas regras de convivência – especialmente
aquelas aprendidas na família –, os seus repertórios e percursos de engajamento
militante são reflexos dessa interação com as diversas instituições sociais, que vão
desde a família, alonga-se pela escola e prolonga-se por meio de coletivos sociais e
culturais, a exemplo dos próprios grupos juvenis.
181

CAPÍTULO 4

É preciso dizer que – considerando os percursos e narrativas juvenis acerca


dos seus engajamentos militantes nos movimentos ambientalistas – a socialização
ambientalista se dá por meio de mecanismos e processos que extrapolam os
espaços das famílias e escolas como únicas agências socializadoras e não apenas
introduzem os jovens na vida em sociedade, mas também reforçam o
desenvolvimento de suas relações sociais, legitimam a defesa das causas que
defendem, reconhecem como justas as suas lutas e dão suporte para a adaptação,
questionamentos e integração à vida em sociedade.
Brenner (2014, p. 31) faz alguns questionamentos que provocam a reflexão
sobre como os jovens se constituem enquanto sujeitos engajados e como os
processos de socialização juvenil estão, de certa forma, relacionados à construção
do engajamento militante: "Como alguém se transforma em um militante, já nasce
assim? Existe um momento em que se processa a decisão „a partir de hoje vou me
engajar'? Quem influencia essa decisão, ou não existem tais influências?".
A partir dessas interrogações, essa mesma autora aponta que há uma
multiplicidade de engajamentos que nem sempre estão associados às questões de
cunho social e político, como o engajamento militante ambientalista. Para ela, a
participação ativa em grupos de identidades, a militância política e os vícios (drogas,
álcool, sexo, jogo) representam diferentes tipos de engajamentos.
Assim, um dos possíveis caminhos que ajudam a compreender como os
jovens ambientalistas se tornam militantes de movimentos nas esferas sociais e
políticas, e a maneira como se dá a concretização do engajamento nas relações
construídas por eles (sociais, familiares, com a escola, os grupos de amigos) estão
muito atreladas aos processos de socialização que introduzem os jovens no mundo
social e, ao mesmo tempo, corroboram para a formação de suas identidades e sua
consciência política. “E a compreensão desse processo ajuda a compreender como
se concretizam os engajamentos [...]” (BRENNER, 2014, p. 32).
Esta mesma autora sinaliza que é preciso dar maior visibilidade aos
processos de socialização que ocorrem fora do seio da família e da escola. Segundo
ela, a maioria dos trabalhos desenvolvidos nos últimos anos na área da Educação
sobre engajamentos juvenis está centrada nos espaços escolares e poucos
trabalhos se debruçam no engajamento de jovens em espaços não escolares. Esses
poucos trabalhos versam sobre a participação ativa e efetiva da juventude no
182

CAPÍTULO 4

engajamento em partidos políticos, ONGs, grupos e movimentos sociais e, por isso,


constituem-se como links capazes de se pensar os diferentes processos educativos
que se dão dentro desses espaços.
Neste ponto, Maurer (2000) explica que, embora a família e a escola exerçam
uma forte influência na socialização política juvenil, não se pode determinar que
esses espaços sejam os únicos e necessários para o enriquecimento e efetivação do
engajamento juvenil, visto que - até mesmo pelas sociabilidades - muitos jovens
passam a se engajarem a partir de suas múltiplas relações com movimentos e
organizações que, por vezes, não têm aproximação com o universo familiar e
escolar, como é muito recorrente nos percursos de jovens militantes ambientalistas.
Tanto para Maurer (2000) quanto para Brenner (2014), além das instituições
clássicas (família e escola), outras agências socializadoras e coletivos culturais e
sociais, como os espaços não-formais de educação, têm desempenhado um forte
papel em relação aos engajamentos de jovens e a efetivação de suas militâncias
têm reverberado em saldos positivos tanto para a construção da autonomia juvenil
quanto para a sociedade.
O conceito de socialização amplia o leque de possibilidades à compreensão
sobre engajamento juvenil, uma vez que através dele a ideia de juventude militante
ambientalista também se amplia enquanto categoria constituída por sujeitos capazes
de pensar, refletir, dialogar, posicionar-se, participar, conviver e atuar no meio social
de maneira crítica e consciente: "Em última instância, a socialização política pode
ser considerada um processo educativo que coloca os sujeitos em contato consigo e
com o outro, identificando-se e diferenciando-se, produzindo motivos e sentidos para
a participação social e política" (BRENNER, 2014, p. 35).
Ao afirmar a interlocução entre socialização e participação social e política,
suscitam-se algumas interrogações que instigam uma reflexão maior sobre a ideia
de engajamento, como:
 Que motivações balizam o engajamento de jovens em questões sociais,
políticas, culturais e econômicas?
 Que geração é essa que se engaja e vai às ruas protestar contra as
desigualdades ambientais? O que leva os jovens se engajarem em
determinados grupos, coletivos, organizações e movimentos ambientalistas?
183

CAPÍTULO 4

 O que leva uma parcela da juventude se engajar por problemáticas


ambientais? De onde vem esse engajamento por questões que, em sua
grande maioria, foram causadas pelas gerações anteriores?
 De que lugar os jovens engajados ambientalistas falam?
 Que resultados os jovens ambientalistas buscam ao se engajarem por
determinadas questões? Quais ações racionais sustentam seus discursos e
práticas?
Para além de uma definição conceitual, as interrogações acima reforçam o
caráter educativo, pedagógico e político do engajamento militante ambientalista.
Pensar acerca dos reais motivos e razões que instigam os jovens a se engajarem
em grupos, coletivos, organizações e movimentos ambientalistas é uma tarefa que
não se dá num vazio histórico-social nem no campo da imparcialidade, despretensão
ou neutralidade.
Dessa maneira, a compreensão acerca dos processos de socialização que
dão subsídios para o engajamento militante juvenil em movimentos ambientalistas
requer o entendimento de que a produção do engajamento, segundo Seidl (2009), se
dá por meio de uma complexidade de fenômenos sociais e, também, através de
processos de socialização que tanto precedem ao engajamento quanto se
constituem como dispositivos à sua construção.
Por esse ângulo, torna-se importante pensar sobre o papel da socialização no
engajamento juvenil ambientalista. Pensando essa juventude enquanto constituída
por sujeitos que falam, resistem, lutam e buscam – via engajamento militante –
espaços de falas, diálogos e identidades. Além disso, é preciso refletir sobre como
esses jovens narram e veem esses espaços de pertencimento e, ao mesmo tempo,
como esses espaços constituem os percursos de engajamento militante
ambientalista.
A reflexão sobre os processos de socialização juvenil no que tange ao
engajamento militante em movimentos ambientalistas não deve passar distante da
noção de que o meio ambiente, conforme vem sendo enfatizado em todo esse
trabalho, não é um lugar inerte, estático, passivo e da exploração.
Conceber a socialização como uma categoria-chave para se pensar as
disposições juvenis ao engajamento militante ambientalista significa, sobretudo,
afirmar que nos percursos e trajetórias de vida dos jovens suas narrativas trazem à
184

CAPÍTULO 4

tona experiências vividas e significativas que, direta ou indiretamente, lançaram as


bases para que os jovens construíssem seus caminhos na militância ambientalista a
partir de uma perspectiva mais ampla de meio ambiente, enquanto território onde se
vive, cria-se, produz-se e dinamiza-se a vida. Enquanto lugar, onde as questões e
problemáticas sociais, políticas, ideológicas, culturais, éticas e econômicas se
interceptam, articulam, ganham sentido, conteúdo e forma via engajamento.
Portanto, os sentidos da luta ambientalista no terreno da socialização e
engajamento juvenis estão muito fortemente ligados com o campo de significação
que os processos de socialização têm no cenário da militância de jovens em
movimentos ambientalistas, cujos processos potencializaram a construção de
determinadas disposições e de um lugar social para a juventude ambientalista, que
configura um modo de ser jovem dentro dos movimentos. Esse conjunto de
disposições – via socialização – possibilita perceber e compreender os motivos pelos
quais alguns jovens militam em determinadas modalidades de engajamento e outros
não, bem como o porquê de alguns jovens se engajarem neste ou naquele grupo.
Assim, à luz da problemática que delineia este trabalho, opta-se por
apresentar o mosaico de disposições e processos de socialização de onde emanam
as possibilidades e disposições juvenis ao engajamento militante ambientalista.
Destaca-se que serão apresentados os fatores e aspectos significativos, que
aparecem nas narrativas dos 10 jovens entrevistados, pertinentes aos seus
percursos, experiências e vivências de socialização no que se refere à construção
dos seus engajamentos militantes nos movimentos ambientalistas.
Importante dizer que – embora a família não seja a única e absoluta
instituição socializadora – nas narrativas dos jovens o nível de aproximação dos pais
com o tema meio ambiente é grande âncora que fundamenta as disposições juvenis
para o engajamento militante ambientalista, seja pelo crivo da concordância ou
refutação do modo com os pais estabelecem suas relações com o meio ambiente.
No entanto, a socialização familiar não se apresenta como o único fundamento de
apoio para os jovens ambientalistas se engajarem.
Por isso, entre os dez jovens entrevistados, optamos metodologicamente pela
formação de quatro grupos, cujos critérios de formação foram as semelhanças e
diferenças que aparecem nas narrativas dos jovens quanto aos seus processos de
socialização como disposição ao engajamento militante juvenil, a saber: jovens
185

CAPÍTULO 4

oriundos de famílias com alguma preocupação com o meio ambiente; jovem oriundo
de família sem interesses com as problemáticas ambientais; jovens de famílias
engajadas e jovens com experiências escolares/acadêmicas que socializaram ou
não para as problemáticas ambientais. A seguir, por meio dos seus relatos, veremos
os aspectos que aproximam e separam as disposições juvenis ao engajamento
militante ambientalista, tomando como referência o peso ou a influência que os
processos de socialização exerceram em seus percursos e tomadas de decisões.

Jovens oriundos de famílias com alguma preocupação com o meio ambiente

Nesse grupo, estão os jovens cujos pais ou familiares mais próximos não são
engajados ambientalmente, mas manifestam certo interesse pelo cuidado, respeito e
preservação ao meio ambiente; fator que, de certa forma, contribuiu para as
disposições ao engajamento militante ambientalista de jovens inseridos nesses
núcleos familiares.
Essa manifestação pode ser percebida nos relatos de alguns jovens, ao
afirmarem que suas primeiras disposições ao engajamento ambientalista têm como
base os ensinamentos, ainda que não direcionados para o movimento e
engajamento ambientalista, que seus pais lhes deram durante a infância e que
serviram de subsídios para que, na juventude, ingressassem em coletivos,
organizações, grupos e movimentos ambientalistas.
Nas narrativas dos jovens que compõem este grupo, fica claro que, embora a
maioria dos seus pais tenha os incentivado a valorizarem a relação ser humano e
natureza, boa parte dos pais não comunga muito com a ideia dos filhos se
engajarem em movimentos ambientalistas e, dentre muitos fatores, encontra-se a
justificativa de que não é um campo provedor de retorno financeiro e promissor de
reconhecimento social.
Para este caso, podemos tomar como exemplo a experiência de Davi:

A minha vida, na infância, eu comecei com a questão de família.


Sempre tem a questão de família. Minha mãe sempre falou: “Não
jogar o lixo no chão. Não fazer isso, não fazer aquilo outro”. E eu fui
adquirindo esse repertório aos poucos, apesar de minha família não
acreditar muito nesse altruísmo de se engajar em uma coisa sem fins
lucrativos.
Minha mãe e meu pai tiveram papéis distintos, mas importantes.
Minha mãe sempre falou para a gente não jogar papel no chão, pra
evitar desperdício... Meu pai sempre teve o papel de dizer: “não
desperdice água, não desperdice energia”. Mas não pela questão
186

CAPÍTULO 4

ambiental, mais pela questão de economizar energia, economizar


água1. Mas, acho que eu fui formando isso, juntando as coisas e
aprendendo. São papéis distintos, mas que foram importantes na
minha vida, todos dois. E eu fui adquirindo esse repertório de gostar
do meio ambiente.
É uma coisa que eu fui adquirindo, assim me apaixonei pelas
florestas e todo tipo de mal que acontecia a elas me tocava muito.
Então, não teve muito aquela coisa de “oh, foi minha família”. Na
verdade, foi um conjunto mesmo, que durante o repertório da minha
vida foi acumulando isso e gostando cada vez mais.

Embora considere a importância e influência da família como núcleo onde


surgiram os primeiros estímulos para o seu engajamento e afirme que sempre foi
muito apegado à natureza de forma geral, Davi reitera que o despertar e
aprofundamento maior com a temática meio ambiente se deram em 2005, quando
conheceu o Greenpeace num ativismo que o grupo realizou com a exposição de
banner no Elevador Lacerda em Salvador-BA. A partir desse trabalho, ele criou uma
simpatia muito grande pelo Greenpeace e passou a pesquisar sobre o grupo. Depois
de um tempo, conseguiu entrar em contato com o grupo e acabou ingressando como
voluntário.
De modo semelhante, Lorrana diz que a origem do seu engajamento
ambientalista está muito relacionada à relação que sua mãe tinha com o meio
ambiente e que serviu de referência para ela, desde a infância. O envolvimento e
engajamento com as problemáticas ambientais tornaram-se mais fortes com o
falecimento de sua mãe, visto que Lorrana passou a ver o engajamento
ambientalista – seja pela participação no GAMBÁ ou na COM-VIDA – como uma
forma de superar a ausência de sua mãe e, ao mesmo tempo, senti-la mais próxima
pelas ações de preservação e cuidado que sua mãe tinha com o meio ambiente,
mais especificamente com o mundo das plantas:

Desde a minha infância, foi com a ajuda da minha mãe, porque ela
me ajudou e me ensinava a plantar horta e/ou rosas vermelhas. A
gente amava rosas vermelhas. E com isso, depois da morte dela, eu
achei que o meio ambiente me aproximava de um meio ou outro
dela. Aí, eu quis praticar o que ela já praticava. Eu não estou falando
que ela era nenhuma bióloga, estou falando que ela era uma cidadã
normal, só que ela gostava do meio ambiente. Ela plantava, ela
gostava de plantas. E aí acho que isso me aproximou do movimento

1
Davi relata que a ideia e instrução dadas por seu pai para “economizar energia e água” estavam
associadas a preocupações do ponto de vista financeiro e não, necessariamente, devido a questões
ambientais.
187

CAPÍTULO 4

ambientalista, do que eu amo fazer. Minha história no movimento


ambientalista começou com minha mãe.

Nota-se no depoimento de Lorrana o quanto as questões da vida pública e


privada, e suas próprias subjetividades, podem se aproximar enquanto dispositivos
de socialização ao engajamento militante ambientalista. Ao dizer “ela não era
nenhuma bióloga”, Lorrana sinaliza que as problemáticas ambientais não devem ser
de interesse apenas dos estudiosos e pesquisadores dessa área, mas se constitui
enquanto problemáticas cotidianas, sociais, culturais e políticas. Dessa maneira,
embora sua mãe não se engajasse em qualquer tipo de ação ou movimento
ambientalista, há uma influência relativamente próxima entre as vivências de Lorrana
na infância, o contato com a natureza por intermédio de sua mãe, o desenvolvimento
da consciência ambiental e a educação recebida acerca de valores como o cuidado,
respeito e preservação do meio ambiente.
As experiências da infância de Lorrana, nesse sentido, não se constituíram
fatos isolados e desprezíveis para o seu engajamento ambientalista no GAMBÁ e na
COM-VIDA. Muito pelo contrário, ela destaca que houve um período em que ela e
seu pai moraram em São Paulo e ela não se acostumou porque se sentia presa e
rodeada de prédios. Os únicos lugares e atividades que a satisfaziam eram os
parques, o contato com plantas e animais.
Passado um tempo, foram morar em Castro Alves, na Bahia, onde Lorrana
pode construir uma rede de contatos e aproximação ambientalistas através da
participação na COM-VIDA no Colégio Polivalente de Castro Alves (na condição de
estudante) e no GAMBÁ (na condição de voluntária), sendo que através dos
processos de socialização possibilitados por esses grupos ela tem fortalecido o seu
desejo de cursar Biologia e trabalhar a favor das problemáticas ambientais,
especialmente as que mais lhes tocam: plantio de árvores, preservação de áreas
verdes e o cuidado com os animais.
Dentro do grupo de jovens que tiveram suas primeiras motivações a partir das
relações de socialização familiar, há aqueles cujas disposições ao engajamento
militante ambientalista estão associadas a aspectos geográficos de moradia das
suas famílias, especialmente aqueles que têm relação com a vida campesina, como
Laís:
188

CAPÍTULO 4

Desde muito pequena, eu sempre fui uma criança que gostava de


estar em contato com terra. Meus pais têm uma fazenda, minha avó
morava no interior e mora até hoje. Minha mãe foi criada, se criou
trabalhando na roça para poder dar sustento aos irmãos. Então, eu
me espelhei muito na minha mãe. Desde pequena, ela sempre
incentivou a gente a estar em contato com a natureza. Ela mostrava
o pôr do sol pra gente, a gente subia a serra aqui de Santa Brígida.
Ela levava a gente para a praça e tudo isso acho que já veio da
minha bagagem de construção como pessoa. Então assim, eu desde
pequena sempre gostei, tanto que quando surgiu a oportunidade de
entrar no GAASB eu vi uma forma de estar mais próxima.

Como pode ser percebido, o engajamento e o ingresso de Laís no GAASB


são reflexos do processo de socialização familiar, que se deu por meio da
transmissão de valores, princípios, condutas e ensinamentos acerca do cuidado para
com a terra, principalmente pelo fato da sua família ser de origem campesina.
Processo semelhante, mas com a presença e fortalecimento da socialização
escolar, tece também o percurso de engajamento militante ambientalista da jovem
Laise, que atualmente é moradora da zona rural de Serrinha:

O que me fez participar de movimentos ambientalistas e se


interessar por assuntos sobre a natureza foi a questão que, quando
eu era criança, eu morava em Salvador. Não gostava de lá, preferia
quando eu vinha pra Serrinha pra estar no meio da minha família e,
além de tudo, o contato diretamente com a natureza. Era onde eu
tomava banho de rio, sempre estava indo para um riacho que tem
aqui na roça do meu avô, estar ajudando na agricultura que eu ficava
plantando com eles e sempre ouvindo relatos dele sobre a
importância do meio ambiente. Foi através, também, de palestras
tanto nas escolas, que eu participei até de uma passeata que teve no
Dia do Meio Ambiente. Essas pequenas coisas que acabaram
fazendo com que eu me apaixonasse cada vez mais e, além disso,
sempre gostei de estar observando o por do sol, a natureza em si, os
pássaros, são coisas que trago em mim.

E ainda acrescenta:

Eu não tenho grupo específico dos movimentos ambientalistas, mas


sempre busquei estar incentivando tanto na minha comunidade, no
grupo jovem, na pastoral da juventude a estarem preservando,
fazendo coleta de lixo pra reciclar... sempre participei de cursos,
sempre estou tendo o cuidado, falando em relação até mesmo às
árvores daqui de casa, pra minha mãe estar sempre tendo cuidado.
E tenho em meu pai um exemplo, porque ele sempre amou plantar
árvores, estar cuidando de árvores e foi um dos motivos para eu
estar envolvida também.
189

CAPÍTULO 4

Nota-se, pelos relatos de Laís e Laise, que a socialização familiar que


sofreram tinha uma concepção de valor intrínseco da natureza, que se distancia da
ideia de meio ambiente enquanto recurso disponível para o ser humano explorar e
crescer economicamente, como aponta Grün (2007). Pelas experiências de
socialização familiar – especialmente com sua mãe, e avô e pai – Laís e Laise,
respectivamente, narram sobre como as relações familiares foram substanciais para
que se engajassem em grupos, movimentos e organizações ambientalistas, bem
como desenvolvessem a consciência da importância das relações éticas, de
respeito, preservação e cuidado do ser humano para com o meio ambiente.
Além disso, importante destacar que a socialização familiar e religiosa por ser
membro da Pastoral da Juventude da Igreja Católica, bem como a participação –
desde os oito anos de idade – em reuniões de sindicatos e associações rurais em
sua comunidade, quando acompanhava seus pais e avós, serviram de subsídios
mobilizadores para que Laise decidisse fazer o Curso Técnico em Agropecuária pelo
IFBaiano, com o intuito de fortalecer seu engajamento dentro dos movimentos
ambientalistas e propor estratégias mais sustentáveis à prática da agricultura em sua
comunidade:

esses motivos que fizeram estar no IFBaiano, pra estar fazendo um


curso voltado para Agroecologia; para assim eu poder ser a
multiplicadora de saberes para os agricultores de forma
agroecológica, sustentável, incentivando eles a planejar suas
produções de forma que não prejudiquem o meio ambiente.

Os relatos dos jovens, como no caso da aproximação de Laise com o


ambiente rural, permitem perceber como a aproximação com o engajamento
militante ambientalista está, também, relacionada com questões de espaços e
tempos geográficos nos quais estão inseridos conforme seus territórios de
identidade, que revelam a plasticidade da condição juvenil, inclusive a própria
diversidade de ações engajadas juvenis dentro dos movimentos, coletivos, grupos e
organizações ambientalistas diz muito acerca dos processos de socialização que
mais exerceram forças na construção e constituição dos seus percursos de
engajamento.
As histórias de Laís e Laise enfatizam que,

quando os pais já têm o hábito de realizar atividades ao ar livre e em


contato com a natureza, estas experiências se tornam mais
recorrentes na vida das crianças. Nesse sentido, aparecem as
190

CAPÍTULO 4

referências aos pais que gostam de cultivar jardins e hortas, que


procura os parques para recreação e lazer e que gostam de viajar.
As escolhas e as condições materiais dos pais também apoiam as
oportunidades que se têm na própria residência: possuir quintais,
plantas e animais domésticos, hábitos de consumo, práticas
ecológicas realizadas em casa (GONÇALVES, 2010, p. 129).

Isso, talvez, seja um ponto-chave para compreender que, embora todos os


jovens entrevistados sejam militantes engajados ambientalistas, suas formas de
atuação e engajamentos variam em suas causas, conforme as heranças ambientais
familiares e de acordo com suas localizações espaciais. Em vista disso, temos
jovens envolvidos em ações de limpeza de praia, outros em limpezas de ruas,
serras, coletas de lixo, ocupações, plantação de árvores, manifestações públicas,
realizações de palestras, reuniões e atividades de conscientização em espaços
formais e não-formais de educação; dentre várias outras ações que representam a
multiplicidade do engajamento militante na modalidade ambientalista.
Nessa linha de pensamento, ao se referir aos motivos e aproximações que
geram o engajamento militante juvenil ambientalista no campo das práticas e
representações sociais, bem como à invisibilidade ou falta de entendimento social
que circunda sobre os sentidos desse engajamento, Gonçalves (2010, p. 61) afirma
que as sociedades, ainda, precisam chegar à concepção de que

o indivíduo não mobiliza em suas ideias/representações algo que não


conhece, algo que se torna invisível a ele. Quem irá se importar com
uma cultura que está desaparecendo se nem sabe de sua existência
ou, se sabe, não a valoriza? Como mudar uma atitude se não se
percebe opção ou se não se têm parâmetros para entender que a
atitude atual está equivocada? [...] Nossas interpretações são fruto
de nossa cultura e que coexistem diferentes culturas no planeta,
muitas delas “invisíveis” [...] e, em sua invisibilidade, deixam de
contribuir com novos referenciais simbólicos que poderiam fertilizar a
sociedade com outras opções, outros modos de viver mais próximos
da sustentabilidade.

Por isso, em primeira instância, o entendimento acerca dos motivos e razões


que levam os jovens a se engajarem na militância ambientalista, ou seja, as suas
disposições não devem passar distantes da compreensão de que juventude é uma
categoria plural, histórica e socioespacial, como afirma Bourdieu (2003), “a juventude
é apenas uma palavra”. E, portanto, ser jovem da classe média é diferente de ser
jovem da classe popular. Ser jovem da cidade é diferente de ser jovem do campo.
Nascer e crescer num núcleo familiar de pessoas envolvidas ou engajadas em
191

CAPÍTULO 4

causas ambientais é diferente de quem não nasce e cresce nessas situações. Essas
diferenças se expressam nas maneiras como os jovens internalizam seus processos
de socialização e expressam através de seus gostos, preferências, decisões e
prazeres por determinado engajamento como no caso da militância ambientalista.
Nesse sentido, a história de Melinda no engajamento ambientalista enfatiza
que, além da família, as redes de amigos e grupos de sociabilidades juvenis também
atuam como instrumentos de reforço de socialização ao engajamento militante.
Melinda relata que, apesar de sua mãe chamar sempre a atenção acerca da
importância de preservação do meio ambiente, ela considera que grande parte da
sua disposição ao engajamento militante ambientalista se deve à influência exercida
por processos de sociabilidades:

A preservação do meio ambiente sempre foi cultivada em mim,


desde pequena, mais por minha mãe (apesar dela não ser vinculada
a nenhum movimento), para não jogar lixo na rua, cuidar das
plantinhas. A gente tinha bastante planta em casa. Então, isso foi
naturalmente incutido em mim. Minha mãe fala, tipo: “Não pode jogar
lixo na rua. Você sabe que, se você jogar lixo, vai entupir o bueiro e
com isso a água vai invadir as casas das pessoas. Então, a gente
tem que cuidar do meio ambiente. A gente não pode destruir as
plantas. Vamos ter cuidado com isso”. Sempre ela me incentivou
nesse sentido. Eu não sei se pautada para as questões ambientais,
mas por questões de educação mesmo, o cuidado [...] A gente
aprendeu a cuidar do meio ambiente mais por questões de educação
e isso me fez gostar de cuidar do meio ambiente, de trabalhar com
essas coisas.
Mas, nunca surgiu essa vontade: agora vou me vincular a um
movimento ambientalista, porque eu quero fazer isso. Foi bem
natural, eu conheci o Engajamundo através de um amigo, o Iago, e aí
ele fez: “ah, vai lá! O Engaja é legal! A gente trabalha com cinco
temas diferentes, que inclui também meio ambiente, biodiversidade,
a questão de habitação, gênero, desenvolvimento sustentável”. Eu
disse: “Não, eu vou lá. Vou conhecer o Engajamundo”. E aí conheci o
Engajamundo, vi que a organização era legal e disse “oh, vou ficar
aqui”.

Nos relatos de muitos jovens entrevistados – a exemplo de Melinda,


Uenderson e Laís – a rede de sociabilidade, enquanto expressão cultural da
condição juvenil, aparece como uma forte influenciadora dos primeiros rituais de
ingresso dos jovens nos grupos, coletivos, movimentos e organizações
ambientalistas e, a partir daí, os jovens vão se descobrindo como sujeitos engajados
e passam a fortalecer e construir seus percursos de militância.
192

CAPÍTULO 4

Laís, por exemplo, considera que o contato com seus pares possibilita tanto
as trocas de experiências e o aprimoramento do ser engajado quanto se constitui
como um meio para atrair outros jovens, às vezes, por meio do lazer e diversão,
onde também existe a intencionalidade de socializar os jovens acerca das questões
ambientais, levando em considerando os espaços, tempos e situações sociais em
que os jovens estão inseridos:

Quando eu vejo os meninos pulando de pedra em pedra, subindo


serra, descendo serra, fazendo trilha... isso é muito gratificante e
você constrói uma amizade muito forte. A gente (o nosso grupo),
além de ser muito acolhedor, é muito divertido também. E fazer o
trabalho que a gente faz com esses meninos (se referindo ao
trabalho desenvolvido junto às escolas) é muito bom, muito bom
mesmo! Eu sempre peço, sempre chamo pessoas, sempre divulgo,
sempre estou procurando mais pessoas pra fazer parte e um dos
alvos também é chamar os meninos que estão em vulnerabilidade
social. Acho que é importante também acolher esses meninos pra
que, pelos menos, eles tenham uma visão de mundo diferente e
possam, ao invés de estar jogados na rua fazendo besteiras, estejam
fazendo algo em prol do bem-estar deles próprios também.

É possível perceber nas falas desses jovens, que a ideia de sociabilidade


assume uma dimensão dinâmica de relações construídas com níveis de
envolvimento diferenciados entre aqueles que estão mais próximos e aqueles que se
encontram mais distantes e que precisam ser atraídos, motivados, sensibilizados e
sensualizados para que se aproximem e passem a integrar “a turma e galera do
movimento ambientalista”. Inclusive, o termo “sensualizar” é bastante utilizado pelos
jovens do Engajamundo como fundamentado das suas estratégias de atrair e
despertar a atenção das pessoas para ações que desenvolvem, especialmente nas
ruas, utilizando-se das linguagens orais e corporais para atrair a juventude
mostrando que jovens ambientalistas também se divertem, têm momentos de lazer e
não são uma galera careta, ecochata e ecoxiitas, conforme os próprios jovens
ressaltaram durante as entrevistas.
Assim, ao considerar os processos de socialização juvenis dentro dos
movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas que se dão no plano
da teia de sociabilidades construídas pelos jovens que ocupam e constroem espaços
e tempos sociais significa dizer que “a turma de amigos é uma referência na
trajetória da juventude: é com quem fazem os programas, „trocam ideias‟, buscam
193

CAPÍTULO 4

formas de se afirmar diante do mundo adulto, criando um „eu‟ e um „nós‟ distintivos”


(DAYRELL, 2007, p. 1111).
O autor afirma que os grupos de amigos são importantes elementos na
solidificação dos processos de socialização pelos quais os jovens passam desde a
família e a escola, porque esses grupos agem como espécie de espelho das suas
identidades e “fixação” dos percursos e trajetórias de vida, uma vez que através
deles os jovens constroem repertórios de semelhanças e diferenças em relação aos
outros, conforme Pais (1999) também chamou a atenção. Ou seja, os grupos de
amigos viabilizam, também, aos jovens realizarem as descobertas sobre suas
disposições de engajamento por esta ou aquela modalidade.
Em razão disso, às vezes, ocorre de alguns jovens começarem participando
das reuniões, discussões e algumas ações ambientalistas e, depois de um tempo,
descobrir que aquela não é a sua galera, que seus processos de socialização os
levam a outras disposições de engajamento, que não são ambientalistas:

A gente tem casos de jovens que entraram no GAASB, porque


acreditavam ser um grupo de passeio. É também. Mas, quando a
gente disse: “Ó gente, vamos fazer uma ação de coleta, vamos em
tal lugar e vamos começar a catar lá o lixo”. Aí, teve jovem que já não
gostou. Aí, acabam saindo, vê que não é a realidade que ela pensou
(Rafael).

Em linhas gerais, pode-se dizer que é por meio da sociabilidade – enquanto


extensão dos processos de socialização – que a satisfação das necessidades de
comunicação juvenis é concretizada e, ao mesmo tempo, os jovens constroem
vínculos e relações democráticas, autônomas, solidárias, efetivas e, sobretudo, de
identidades como características que territorializam e permeiam a legitimação do
universo do engajamento militante ambientalista. Desse modo, as formas como os
jovens são socializados e constroem seus percursos de engajamento militante
ambientalista não se limitam à família, mas estão articulados com a multiplicidade de
questões que compõem os espaços e tempos da condição juvenil, que
paulatinamente vão demarcando seus lugares e posições sociais, políticas,
ideológicas e culturais.

Jovem oriundo de família sem interesses com as problemáticas ambientais

É muito menor a quantidade de jovens que relatou a ausência de qualquer


manifestação ou interesse de suas famílias, em especial seus pais, com as
194

CAPÍTULO 4

problemáticas ambientais. Ou seja, dentre os jovens entrevistados, apenas um não


relatou a aproximação dos seus pais com as questões ambientais no que tange à
ideia de preservação e consciência ambiental.
A história de Uenderson – membro do Greenpeace – revela que, embora seu
pai trabalhasse com mineração, não havia uma preocupação por parte do seu pai
quanto aos danos causados pela prática da mineração. Essa falta de preocupação
associada aos valores familiares pautados na ideia de meio ambiente como lugar de
exploração e produção econômica contribuíram para que Uenderson questionasse a
transmissão desses valores e, ao mesmo tempo, utilizasse esses valores para
construir seu percurso de engajamento militante nos movimentos ambientalistas:

Sinceramente, na minha infância, não teve nenhuma parte que eu


falasse assim: “oh, meu Deus do céu, vou virar ambientalista”. Até
porque eu sou de uma parte contrária: meu pai trabalhou sempre na
mineração e sempre aonde eu ia (eu morei em algumas cidades do
Brasil) todas eram com mineração, ou seja, uma das coisas que mais
destrói o meio ambiente hoje em dia é a mineração e a minha vida
sempre foi nessa área.
Aí, eu tentei entrar no Greenpeace. Por que Greenpeace? Porque é
uma ONG grande e como eu sabia: “Poxa meu pai, durante muito
tempo, ajudou a destruir o meio ambiente. Então, acho que eu vou
começar a fazer alguma coisa pra tentar resgatar”. Hoje em dia,
minha função, uma coisa que eu tenho é tentar consertar um pouco
os erros que meu pai como meio da mineração fez para a terra. Por
sinal, minha história com o Greenpeace e a Geologia se casa,
porque entrei ao mesmo tempo. Eu fiz Engenharia de Minas de 2006
a 2008 e meio. No segundo semestre, larguei o curso. Aí, eu fiquei
um ano e meio no interior de Jacobina de novo, fazendo curso pré-
vestibular. Em 2010, passei em Geologia na UFBA. Comecei em
2010, aí dia 05 de março eu comecei minha faculdade de Geologia e
dia 20 de março eu comecei a ser voluntário pelo Greenpeace. Antes
de ser voluntário, eu já era colaborador no Greenpeace. E estou aí
até hoje, há sete anos no grupo.

O que Uenderson narra leva a perceber que um dos maiores motivos que
fizeram com que ele se engajasse na militância dos movimentos ambientalistas foi o
desejo de “pagar a dívida” ambiental do seu pai enquanto minerador e explorador da
terra. Para Uenderson, não seguir o mesmo percurso de vida do pai significa ter
posturas diferentes e mais éticas em relação ao meio ambiente. Nesse sentido, o
conjunto de valores transmitidos pelo seu pai foi acionado como meio para tornar-se
um jovem ambientalista engajado.
Uenderson relata que a vivência com a prática de mineração foi o principal
fator que o levou a desistir do curso de Engenharia de Minas para fazer Geologia, o
195

CAPÍTULO 4

que a princípio causou certo descontentamento ao seu pai; pois a sua família
esperava que ele seguisse seus estudos e vida profissional no campo da Engenharia
de Minas.
Pode-se perceber que a maneira como Uenderson chega ao engajamento
militante ambientalista se constrói no campo de reflexões entre o seu passado,
presente e futuro como tempos inseridos em espaços que figuraram como
mecanismos de aprendizagens e tomada de decisões e posturas, mediante seu
processo de socialização familiar.
Com base na narrativa de Uenderson, em Melucci (2004, p. 13), podemos
acreditar que a transmissão de valores, posturas, aprendizagens e posicionamentos
é muito marcante na tomada de decisões juvenis, visto que, neste momento, o
significado das aprendizagens do passado, as experiências do presente e as visões
de futuro se agregam e são muito levados em consideração nos percursos de
escolhas e decisões juvenis entre as motivações externas e pessoais:

A cada dia, todos os dias, esboçamos gestos rotineiros, movemo-nos


ao ritmo de motivações externas ou pessoais, cultivamos memórias e
projetamos o futuro. Assim como nós, todos os demais. As
experiências cotidianas parecem minúsculos fragmentos isolados da
vida, tão distantes dos vistosos eventos coletivos e das grandes
mutações que perpassam a nossa cultura. Contudo, é nessa fina
malha de tempos, espaços, gestos e relações que acontece quase
tudo o que é importante para a vida social. É onde assume sentido
tudo aquilo que fazemos e onde brotam as energias para todos os
eventos, até os mais grandiosos.

Analisando pela perspectiva desse autor, o percurso de engajamento militante


de Uenderson expressa uma reinvenção de posicionamento frente à influência
externa de sua socialização familiar e os sentidos que atribuiu às representações
sociais e ambientais dessa socialização fizeram emergir novos pontos de vista,
questionamentos e motivações internas (pessoais) como forma de contraponto às
aprendizagens e expectativas dos seus pais de que ele, futuramente, seguiria os
mesmos passos do pai na exploração de minas.
Além disso, Uenderson relata que as sociabilidades construídas nos grupos
de amigos, bem como o trabalho desenvolvido por uma professora no Ensino Médio
contribuíram, significativamente, para o seu engajamento militante nos movimentos
ambientalistas:
196

CAPÍTULO 4

Eu já morava aqui na Bahia, em Jacobina, e lá tem várias


cachoeiras. E aí os amigos sempre saíam para fazer trilha, pra ir
para a cachoeira e sempre via lixo pela estrada, pelo caminho. A
galera sempre ia. Aí a gente foi, pegou e falou: “ah, vamos nos reunir
e começar a pegar esses lixos e levar pra cidade, jogar fora, reciclar”.
Começou aí a minha vida ambiental [...] No meu colégio, eu só tive
uma professora de Geografia, Rosemeire, que realmente, mudou a
minha cabeça pra isso inicialmente. Ela fazia um trabalho ambiental
lá em Jacobina; ela foi a pessoa que mais me levou para o caminho
de pensar em uma forma mais sustentável e isso há 13 anos, no meu
primeiro ano do Ensino Médio.

Os meios de socialização pelos quais Uenderson transitou para construir seus


repertórios e percursos de engajamento militante ambientalista colocam em
evidência a capacidade de os jovens em questionar e refutar alguns valores
transmitidos pela família e que, a partir de suas observações e contatos com outras
instituições, os jovens passam a considerar como comportamentos antiéticos, que
vão de encontro com a perspectiva de construção de sociedades mais sustentáveis,
justas e igualitárias. No relato de Uenderson, percebe-se que “as mudanças de
cidade, por conta do percurso profissional dos pais, mobilizam também novas
interações e a percepção dos contrastes entre os diferentes espaços urbanos e os
modos de vida de cada lugar” (GONÇALVES, 2010, p. 129).
Quanto a este aspecto, Bourdieu (2003, 159-160) oferece caminhos para
refletir sobre como as fronteiras geracionais e os contrastes espaço-temporais têm
grandes implicações nos diferentes modos como os jovens lidam com seus
processos de socialização e relacionam-se com a vida no tempo presente,
colocando a socialização como campo de lutas e relações de poder:

De fato, a fronteira entre a juventude e a velhice é um objeto de


disputas em todas as sociedades [...] Uma coisa muito simples e na
qual não se pensa, é que as aspirações das sucessivas gerações, de
pais e filhos, são constituídas em relação a estados diferentes da
estrutura da distribuição de bens e de oportunidades de acesso aos
diferentes bens [...] E muitos conflitos de gerações são conflitos entre
sistemas de aspirações constituídos em épocas diferentes. Aquilo
que para a geração 1 foi uma conquista de toda uma vida, é dado
imediatamente, desde o nascimento, à geração 2 [...] Evidentemente
nem todos os velhos são anti-jovens, mas a velhice também é um
declínio social, uma perda de poder social e através deste viés, os
velhos têm, no que se refere aos jovens, uma relação que também é
característica das classes em declínio. Evidentemente, os velhos das
classes em declínio [...] são contra tudo aquilo que muda, tudo aquilo
que se move, etc., justamente porque eles deixaram o futuro para
trás, enquanto os jovens se definem como tendo futuro, como
definindo o futuro.
197

CAPÍTULO 4

Os relatos de Uenderson, em consonância com os escritos de Bourdieu


(2003), trazem à tona que, embora as famílias socializem os jovens a partir da
crença em determinados comportamentos, valores e atitudes, outras instituições e
agências sociais como a escola e os grupos de amigos assumem também os pontos
de referências para que os jovens questionem suas crenças, revejam seus
posicionamentos, reconstruam seus repertórios de vida e concretizem as suas
militâncias. Ou seja, tanto os valores socializados pelas famílias e internalizados
pelos jovens exercem influência em suas disposições ao engajamento quanto as
experiências escolares e os grupos, organizações e movimentos atuam como
instrumentos basilares e espaços privilegiados no fomento à concretização do
engajamento militante juvenil.
Isso reforça que a juventude não é uma categoria estática e imutável. Ela se
move com o tempo e as realidades sociais. E, portanto, os jovens podem também
reconfigurar seus processos de socialização conforme seus momentos e vivências
sociais, culturais, históricas e políticas que, na maioria das vezes, não se
apresentam com as mesmas características da época em que seus pais viveram e
construíram suas juventudes. Dessa maneira, segundo Sposito (2014), os processos
de socialização e as diferentes formas como os jovens absorvem e externalizam
esses processos são derivadas das condições contemporâneas em que os jovens
estão inseridos e acionam suas capacidades de pensar e agir socialmente.
Nesse sentido, é possível perceber que para os jovens cujos pais não são
engajados, mas têm aproximação e interesse pelas problemáticas ambientais, o
espaço-tempo escolar pode ser visto como lugar de reforço à socialização
ambientalista. Por outro lado, para os jovens cujos pais são, totalmente,
desengajados o espaço-tempo escolar assume a condição de lugar privilegiado para
a socialização ambientalista por ser esse o primeiro espaço de socialização
(descartada a família) em que os jovens poderão ter um contato maior e mais
consistente com as problemáticas ambientais e que pode exercer grande influência
na disposição juvenil ao engajamento militante ambientalista.
Essa questão, inclusive, pode ser notada nos depoimentos de Uenderson
que, apesar de acreditar no papel que a educação escolar exerceu na sua formação
de jovem engajado (a partir do trabalho desenvolvido pela sua professora de
Geografia), reforça e pontua que
198

CAPÍTULO 4

a escola tem um papel importantíssimo na formação do jovem


ambientalista e, infelizmente, não faz tanto o quanto deveria,
principalmente no ensino público. As escolas, especialmente
públicas, pecam muito nessa parte de ensino ambiental. Ainda mais
agora com essa reforma do Ensino Médio aí, que o governo está
propondo, fico até com medo em pensar como vai ficar a coisa.

Sem fazer abordagem detalhada entre o tratamento que é dado às questões


ambientais na escola pública e na escola privada, Uenderson afirma que, em suas
experiências de formações e palestras dadas em escolas, os jovens das escolas
particulares tecem conversas mais sérias sobre problemáticas ambientais, enquanto
na escola pública essa realidade é menor. No entanto, independente desse fator,
para o jovem Uenderson o sistema educacional como um todo tem deixado muitas
lacunas e falhas quanto à formação ambiental e ecológica de crianças, jovens e
adultos, visto que tanto na escola pública quanto na particular a temática meio
ambiente ainda não é encarada com centralidade nas propostas curriculares.
Ao pensar no futuro das questões ambientalistas no cenário escolar,
Uenderson possibilita ultrapassar a ideia de escola enquanto mero espaço de
socialização para uma perspectiva mais ampla desse espaço enquanto lugar de
estímulo e concretização do engajamento militante juvenil. Ou seja, ao se referir à
reforma do Ensino Médio e as relações com o engajamento militante juvenil,
Uenderson chama a atenção que a escola – independente de ser pública ou privada
–, também, é o espaço da militância, da mobilização, da formação de seres
pensantes, críticos e questionadores dessa sociedade capitalista fundamentada nas
relações de exploração, consumo, produção, desgaste e degradação ambientais.
E, nesse sentido, existe uma preocupação que o direito à denúncia, à crítica,
ao questionamento e oposição a essa sociedade seja silenciado por uma proposta
curricular que não dê ouvidos às vozes juvenis e não considerem legítimas as
causas dos movimentos, coletivos, grupos e organizações ambientalistas, visto que
vetar o direito a uma educação mais crítica significa, em primeira análise, negar o
quão justas são as lutas pelas causas ambientais e, sobretudo, cercear o direito a
uma sociedade mais justa, humana, igualitária e sustentável, uma vez que a maioria
dos grupos, coletivos e organizações ambientalistas está também dentro dos
espaços escolares desenvolvendo ações de conscientização e despertando as
pessoas para questionarem as estratégias e formas abusivas com que a sociedade
199

CAPÍTULO 4

capitalista vem agindo, em virtude do falso desenvolvimento econômico, político e


social.
Por esse viés, pode-se presumir que ainda com as falhas e contrastes
presentes na educação formal pública, como sinalizado por Uenderson, a escola
pública é a que mais se apresenta como um campo propício e fomentador da crítica,
protesto e resistência às práticas antidemocráticas e à formação de uma juventude
política mais crítica, reflexiva e contrária aos retrocessos políticos e sociais.
É na escola pública que se constrói e reforça, de modo mais consistente e
libertador, o pensamento de que a politização muda vidas e o diálogo é um caminho
eficaz à transformação e emancipação. Por isso, é preciso pensar e perceber nas
linhas e entrelinhas dessa juventude que tem ido às ruas, ocupado escolas e ecoado
suas vozes que a escola pública tem grande participação na formação engajada e
militante desses jovens que lutam e resistem, justamente porque lutam e resistem a
partir das deficiências e déficits que a própria escola pública apresenta, ou seja, eles
falam de onde seus pés pisam. Esse fato, inclusive, pode ser observado ao analisar
que os jovens engajados na militância ambientalista, cujas disposições foram
suscitadas pelas experiências escolares são oriundos de escolas públicas2.
Logo, pelo viés da discussão de Uenderson, no sentido mais amplo da
influência da escola na socialização política juvenil enquanto instrumento de
possibilidade ao engajamento militante ambientalista, concorda-se que a escola,
“além de espaço de socialização, pode também ser lugar onde ocorrem as primeiras
aproximações com grupos militantes organizados, pela existência de grêmios e
outras formas de mobilização estudantis” (BRENNER, 2014, p. 44). Desse modo,
com todas as limitações e desafios, a escola pública tem sido o terreno mais fértil
para germinar a formação e participação política dos jovens.

Jovens de famílias engajadas

2
Destaco que a maioria dos jovens relatou que é mais difícil ter jovens de escolas privadas engajados
na militância ambientalista e acredita que esse baixo quantitativo se deve pelo fato de que, imersos
nas organizações e movimentos ambientalistas, teriam que protestar contra o sistema que defendem
e os sustentam. O que, dificilmente, ocorre com os jovens de escolas públicas. Por isso, os jovens
entrevistados entendem que o engajamento na militância ambientalista representa, também, uma luta
de classes onde transitam interesses econômicos, políticos, culturais e ideológicos forjados na esteira
de valores educacionais e pedagógicos.
200

CAPÍTULO 4

No universo dos 10 jovens entrevistados, apenas uma jovem – Elen – relatou


que o seu engajamento militante ambientalista tem raízes e está, estreitamente,
relacionado ao engajamento do seu pai em movimentos e causas ambientalistas, por
ele ser do Movimento Hare Krishna. E, desse modo, o compartilhamento de valores
e práticas sustentáveis dentro de sua casa, os diálogos construídos sobre a
realidade cotidiana das causas ambientais atreladas à sua participação – desde a
tenra idade – nos movimentos ambientalistas tornaram o mundo dos debates,
reflexões e engajamento militante como um percurso, praticamente, natural:

Meu pai era do Movimento Hare Krishna. Então, ele seguia como
base e ensinou tanto a mim quanto a meu irmão que era importante
proteger os animais, proteger o meio ambiente, cuidar. Então, nós
dois fomos criados nessa mesma forma, acabou que fomos
crescendo e, quando eu escolhi área de meio ambiente, eu percebi
que era o que eu queria, que aquilo que desde pequena eu sempre
aprendi com ele, a estar cuidando de tudo. E assim, eu fui
aproximando de várias outras pessoas que tinham o mesmo ideal
que o meu e aí juntamos, fizemos essa parte de movimentação
ligada ao meio ambiente, de cuidar, de propagar pra todo mundo que
o ideal é estar mesmo cuidando de tudo e preservando o máximo
que puder. Mas enfim, veio mesmo desde pequena com meu pai. Ele
sempre reclamava comigo e meu irmão, ele dizia: “nada de jogar lixo
no chão”, “lixo é no lixo”, “preserve o meio ambiente”. Desde sempre
fomos criados assim, inclusive nem eu nem meu irmão comemos
carne, por conta disso também, porque já foi uma criação dele, por
ele dizer que era para proteger os animais.

A experiência familiar de Elen se diferencia das experiências dos jovens,


cujos pais ou familiares manifestam pouco interesse pelas problemáticas ambientais,
à medida que a incidência de socialização familiar sobre o percurso de engajamento
dela se dá por meio da participação e engajamento ativo do seu pai nos movimentos
ambientalistas. Por isso, pensando nos percursos de engajamento militante
ambientalista de jovens provenientes de famílias não engajadas, é importante
ressaltar que “mesmo o desengajamento dos pais não impede a transmissão de
conteúdos, valores e posturas [...]” (BRENNER, 2014, p. 40), que poderão reverberar
no engajamento juvenil posteriormente, como no caso de Uenderson.
No entanto, a que se considera que ter pais ou crescer num núcleo familiar de
pessoas ambientalmente ativas e engajadas representam impactos positivos e
incidem diretamente no percurso de jovens mais participativos, ativos, militantes e
engajados.
201

CAPÍTULO 4

Na realidade de Elen, além de haver um reforço no plano do discurso e da


transmissão de valores no âmbito doméstico familiar acerca da preservação e
cuidado com o meio ambiente, há também um estímulo maior no plano das ações,
da participação em movimentos ambientalistas e, sobretudo, do exemplo do pai
enquanto alguém que fala, orienta, ensina e ocupa um lugar dentro do engajamento
ambientalista. Isso, por sua vez, tornou-se um referencial para que o percurso de
engajamento militante ambientalista de Elen fosse construído. Logo, pode-se afirmar
que ela estava inserida num ambiente familiar fértil às disposições do engajamento
militante ambientalista.
“Eu sempre fui com o meu pai, quando eu era pequena”. A afirmação de Elen
em relação aos seus primeiros contatos e aproximação com os movimentos
ambientalistas sinaliza que, na maioria das vezes, o engajamento de pais se torna
modelo para que seus filhos sejam ativamente engajados. Além disso, geralmente,
os filhos de pais engajados tendem a se envolver com mais facilidade em questões
da vida pública e são mais ativos do que aqueles inseridos em famílias que não
estimulam ou cultivam o engajamento por alguma causa, seja ela de cunho social,
política, cultural ou ambientalista.
Os relatos e experiências de Elen são indicativos que, no seio das
disposições ao engajamento militante,

a família emerge como estruturante da gênese das representações


sociais e do desenvolvimento sociocultural do indivíduo,
principalmente nos primeiros anos de vida. Os pais, em geral, são as
principais referências [...] As experiências de contato com a natureza
são muitas vezes oferecidas pela família. As oportunidades
acontecem dentro de casa, na sua vizinhança, nos passeios em
parques e nas viagens ao interior e à praia. Visitar os parentes e
aproveitar as férias e fins de semana estão entre as experiências de
vida nutridas pela família que alargam a existência do indivíduo
(GONÇALVES, 2010, p. 128-129).

Pelos relatos dos jovens entrevistados, é possível perceber que há uma


tendência muito forte dos jovens repetirem e canalizarem suas disposições de
engajamento para aqui que aprenderam no núcleo familiar, especialmente quando
seus repertórios de vidas são constituídos por relações de convívio com pessoas
engajadas. Por essa razão, pode-se afirmar que a presença de pais ou familiares
engajados em questões e problemáticas ambientais fazem muita diferença nos
202

CAPÍTULO 4

processos de engajamento militante ambientalista desta e das próximas gerações,


através da socialização política, social e ambiental.
É preciso dizer que a socialização de famílias engajadas incide, também, de
maneira mais forte nas escolhas e decisões dos jovens quanto ao seu futuro
profissional, projetos de vida e relações sociais mais ou menos democráticas, éticas,
humanas, justas e sustentáveis. No caso de Elen, ela afirma que o seu desejo e
decisão por se tornar gestora ambiental e estudar Engenharia Ambiental e Sanitária
estão muito relacionados ao papel significativo que seu pai e dinâmica familiar
tiveram em sua formação política, social, ideológica e ambiental.
E assim, ao compartilhar valores, comportamentos, posturas, e integrá-la às
suas experiências nos movimentos ambientalistas, a dinâmica familiar contribuiu
para que Elen vinculasse seu processo de socialização familiar ao seu projeto de
vida acadêmica e pessoal, de modo a deixar a sua marca na história do movimento
ambientalista em sua conjuntura social, política, econômica, educacional e cultural:

Eu tenho sonhos de mudar o mundo de alguma forma, de ajudar pra


contribuir. Algum jeito, alguma coisa eu tenho que fazer e que esteja
na história. É assim que eu penso e é assim que eu sempre pensei
desde pequena, que eu preciso mudar de algum jeito, eu preciso
fazer história, eu preciso melhorar o mundo. E a forma que eu achei
pra estar tentando, pelo menos, organizar meu sonho foi indo pra
área ambiental. Eu pretendo sim, com fé em Deus, montar ações
sustentáveis que ajudem a população de baixa renda, que deem
moradia mais adequada, que deem uma qualidade de vida para as
pessoas. Eu não acho que a Elen jovem e a Elen ambientalista
sejam duas pessoas diferentes. Eu acho que elas pensam iguais e
elas pensam sim em melhorar o mundo, em ajudar, em melhorar a
qualidade de vida da população e fazer o que estiver em suas mãos
pra poder mudar de qualquer forma.

Os desejos e sonhos de Elen em querer melhor o mundo e qualidade de vida


das pessoas pela via do engajamento militante ambientalista articulada com a sua
formação profissional e acadêmica, encontraram também no campo da socialização
política um caminho estratégico para que pudesse, além de fortalecer seu
engajamento, trabalhar com outros jovens segundo as perspectivas de construção
de uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável. Nesse sentido, a convite de
um amigo de seu pai, Elen aos 17 anos de idade, começou a participar das reuniões
do Partido Verde. Interessou-se pelas discussões sobre juventude, política e meio
ambiente e, a partir daí, vinculou-se ao Partido Verde, debruçando-se sobre a
temática juventude e meio ambiente.
203

CAPÍTULO 4

Pelo seu envolvimento, inclusive com trabalhos sociais, ações de


conscientização em educação ambiental e desenvolvimento de projetos em alguns
bairros de Salvador-BA, que buscam articular seu engajamento ambientalista-
partidário às suas atividades de formação acadêmica, atualmente, Elen é
Coordenadora de Meio Ambiente da Juventude do Partido Verde Estadual. Para ela,
a sua identificação e permanência no Partido Verde, deve-se ao fato de que

o Partido Verde não pensa somente em prol do meio ambiente, mas


sim em como melhorar o mundo, no modo geral. Tipo, ele pensa em
diversidade, ele pensa em juventude, ele tenta trazer todos os tipos
de gênero, movimentos, tenta juntar todo mundo pra ver se consegue
fazer algo melhor. E foi o que mais achei bacana! O Partido Verde
tem os mesmos ideiais que os meus, são os mesmos pensamentos e
as mesmas ideias de construir um mundo melhor ou pelo menos
tentar [sic].

A identificação de Elen pelos ideiais do Partido Verde pode ser entendida


como reflexo da transmissão de valores políticos passados pelo seu pai. A
socialização familiar não apenas viabilizou a sua familiarização com os movimentos
e problemáticas ambientais, como também proporcionou a ampliação do leque de
informações e conhecimentos sobre as questões ambientais a partir da mobilização
política. Ainda que este não tivesse nenhuma ligação ou inclinação político-
partidária, o processo de socialização familiar acionou as disposições de Elen para o
engajamento ambientalista dentro da política partidária, haja vista que ela afirma que
nos primeiros contatos com o Partido percebeu que havia muitas similaridades entre
sua forma de pensar e os ideais do Partido no que tange às relações entre juventude
e meio ambiente.
O percurso de engajamento militante ambientalista de Elen é caracterizado
por diferentes fatores e instituições socializadoras, que serviram de disposições e
reforço ao seu engajamento, mas é fato que pelos seus depoimentos a socilialização
oriunda de uma família engajada com as probleáticas ambientais se constitui o
carro-chefe do seu engajamento e trânsito nas áreas de sua vida, como os cursos de
formação acadêmica superior, o desenvolvimento de trabalhos sociais e ambientais
– especilamente na Ribeira (bairro de Salvador-BA) e o seu engajamento partidário
como reflexo dos debates e discussões que já mantinha com seu pai acerca da
natureza das questões e causas ambientais.
204

CAPÍTULO 4

A consciência política e ambiental do pai de Elen foi essencial para que ela se
tornasse uma militante engajada nas problemáticas ambientais e desenvolvesse
uma visão mais crítica, reflexiva, ampla e holística acerca da multiplicidade de
relações que fazem e perfazem os diálogos entre ser humano e natureza. É na base
dessa consicência possibilitada pelos processos de socialização familiar – em
primeira instância – depois pela participação em movimentos ambientalistas e pelos
processos acadêmicos e políticos que Elen construiu a ideia de meio ambiente
enquanto lugar de identidade, conflitos, lutas e disputas por uma perspectiva de
qualidade de vida que está além da noção superficial de que meio ambiente se
refere apenas a plantas e animais, ou ainda que a reflexão e discussão sobre as
questões ambientais dizem respeito apenas aos consagrados ambientalistas.
Portanto, o contexto familiar engajado nos movimentos ambientalistas se
apresenta como as raízes de apredizado de Elen para suas disposições ao
engajamento militante ambientalista, tendo também um papel decisivo para seus
desdobramentos na vida acadêmica e política e desenvolvimento da consciência da
possibilidade de ler, compreender e interpretar as questões e fatos cotidianos
ambientais como o universo da política e da Engenharia Ambiental e Sanitária.

Jovens com experiências escolares/acadêmicas que socializaram ou não para


as problemáticas ambientais

Assim como Uenderson, uma boa parte dos jovens entrevistados teve suas
disposições instigadas ao engajamento militante ambientalista por meio da
socialização escolar. Os relatos dos jovens, cujas experiências escolares estão
associadas aos seus envolvimentos com as problemáticas ambientais, apontam
atividades escolares, professores de determinadas disciplinas e maior identificação
com alguns componentes curriculares como fortes influências de motivação ao
engajamento ambientalista.
Rafael, por exemplo, afirma que, embora sua família não fosse engajada ou
demonstrasse interesse pelas discussões acerca das problemáticas ambientais,
segundo ele, teve o privilégio de ter tido excelentes professores de Ciências e
estudar em escolas que valorizavam as relações entre o ser humano e o meio
ambiente. Esse processo de socialização escolar pertinentes à temática meio
ambiente influenciou também no seu desejo de, futuramente, cursar Biologia.
205

CAPÍTULO 4

Desde criança, eu sempre me achei uma pessoa muito ativa. Sempre


quando eu tinha tempo, estava em contato com a natureza, ia pra
serra, saía com os amigos e tal. Mas, foi quando eu comecei
realmente a estudar, a gostar principalmente de Ciências, que a
gente falava de animais, plantas e eu tinha uma curiosidade incrível
sobre isso; porque também a gente via sobre a questão do
aquecimento global. Aí, já entrei mais na 4ª série, 5ª série e, disso
em diante, teve um projeto na escola que era pra plantar árvores no
colégio e cada turma ficava responsável na semana por cuidar
dessas árvores. Então, isso foi um estopim pra gostar mais da
questão do meio ambiente, da natureza e, quando cheguei ao Ensino
Médio, eu tive a oportunidade de participar de uma palestra da ONG
Nordeste. E eu fiquei muito encantado com isso, porque eu via um
trabalho muito magnífico em relação ao meio ambiente, à
preservação da fauna, da flora e com isso algo foi florescendo dentro
de mim e eu fui me apaixonando, realmente, pela causa. Então, pela
minha dedicação na área (sempre era destaque nos trabalhos nas
escolas), eu fui chamado para participar da Conferência de Meio
Ambiente que teve aqui na minha cidade. Aí, depois disso,
deslanchou. Foi onde eu entrei de cabeça, realmente, nas questões
ambientais e daí por diante só foram lutas e glórias. E depois eu
comecei a juntar a galera, os amigos... e a gente começou a pensar
em como desenvolver o assunto meio ambiente e incluir mais jovens
nessa temática, pra que a gente pudesse desenvolver projetos que
melhorassem a qualidade do meio ambiente da cidade e,
consequentemente, da vida das pessoas. Então, nessa temática de
elaborar projetos pra melhorar a qualidade do meio ambiente foi
quando eu comecei a pesquisar mais sobre o movimento
ambientalista, principalmente o ativismo e eu cheguei até a ONG
Greenpeace.

O depoimento de Rafael serve como alerta para o quanto as atividades, a


exemplo de palestras, aulas e projetos que abordam a temática meio ambiente
podem surtir efeitos positivos na construção de disposições juvenis para o
engajamento ambientalista. Neste mesmo ponto, Jéfferson relata que suas
motivações seminais ao engajamento ambientalista e, consequentemente, sua
inserção nos movimentos estão muito fortemente relacionadas às suas experiências
escolares.

Lembrando da minha vida na infância, o que mais me remete a


movimento ambientalista é que, quando eu estudava em São Paulo,
tinham alguns soldados do exército que faziam palestras, visitas na
escola em que eu estudava, eu tinha acho que uns cinco anos. E
tipo, nos fascinava aquilo de estar na selva, de cuidar, de proteger.
Ainda me lembro de uma atividade, meio que uma dinâmica sobre a
Amazônia e tal. E isso foi um marco gigantesco, que alavancou esse
sentido de querer entrar no movimento ambientalista.
206

CAPÍTULO 4

Nota-se pelos relatos de Rafael e Jéfferson que as escolas, por vezes e dada
à falta de maior incidência das famílias, assumem a função de instituições
socializadoras de maior peso e relevância na vida dos jovens, inclusive nas suas
escolhas e preferências quanto aos seus projetos de vida. Desse modo, é possível
perceber que, geralmente, em virtude da ausência da socialização familiar, a escola
figura como o eixo fundamental de socialização e construção de dispositivos e
instrumentos capazes de oferecer as bases necessárias para o engajamento
ambientalista juvenil.
Nesse sentido, é importante destacar que, apesar da construção de
disposições ao engajamento ambientalista de Davi não ter sido via socialização
escolar, haja vista que o engajamento dele foi motivado através da família e,
principalmente, a partir da sua entrada no Greenpeace; Davi salienta que o fato de
tornar-se coordenador do GT Escola dentro do Greenpeace3 é decorrente, também,
do desejo de amenizar as lacunas deixadas pela escola no período em que,
enquanto estudante secundarista, não teve a oportunidade e o privilégio de ter sido
educado ambientalmente por meio dos processos formais de educação.
Para Davi, ninguém nasce engajado ou sabendo sobre as questões e
problemáticas ambientais, as pessoas aprendem a ser engajados, a gostar mais ou
menos de meio ambiente. E, por isso, ele acredita que o trabalho de palestras
ministradas nas escolas pelo Greenpeace se constitui como um forte instrumento de
socialização ambiental juvenil, desde que esteja também articulado a um trabalho
consistente, objetivo, sistemático, atencioso e dinâmico desenvolvido pelas escolas,
que desperte o desejo e o gosto dos estudantes pelas questões ambientais. Ou seja,
o trabalho não deve se limitar na palestra pela palestra.

A gente leva só uma palestra. Uma palestra é importante? É. Só que


cabe, também, aos professores e às instituições estarem reforçando
esse comportamento dos alunos no dia a dia. Eu estudava no Thales
de Azevedo, na minha época, não tinha nada disso, não tinha
ensinamento, não tinha aula, nada do tipo. No meu colégio, eu nunca
tive nenhum incentivo para as questões ambientais [...] Eu acho que
a questão de conscientizar e ensinar são as coisas mais importantes
para as crianças, para o futuro de forma geral. A forma mais forte de
levar essas discussões para as crianças e para a juventude é através
da educação. Eu acredito que eu aprendi com a educação, que eu

3
As ações do Greenpeace se apoiam nos seguintes Grupos de Trabalhos: Escola, Logística e
Comunicação.
207

CAPÍTULO 4

mudei com a educação, com as pessoas me ensinando. Eu acredito


bastante nisso!

As histórias de Rafael, Jéfferson e Davi, além de trazerem à tona o fato de


como a socialização escolar exerce grande influência para o engajamento militante
ambientalista – especialmente nos casos em que esta se torna o primeiro veículo
socializador, remetem também às discussões de Dayrell (2007), mais
especificamente ao texto “A escola „faz‟ as juventudes? Reflexões em torno da
socialização juvenil”, quando o autor discute e problematiza as relações que a escola
ocupa nos processos de socialização juvenil na contemporaneidade.
Dayrell (2007) oferece pistas para se pensar acerca dos processos de
socialização – via educação escolar – articulados às disposições juvenis no que
tange aos engajamentos em suas mais variadas modalidades, considerando as
relações de espaços e tempos juvenis das gerações contemporâneas. Segundo o
autor, por vezes, a escola tem sido o palco de tensões e conflitos entre os seus
processos de socialização e a juventude, devido aos novos dilemas, desafios,
possibilidades e limites apresentados na contemporaneidade:

Para os jovens, a escola se mostra distante dos seus interesses,


reduzida a um cotidiano enfadonho, com professores que pouco
acrescentam à sua formação, tornando-se cada vez mais uma
“obrigação” necessária, tendo em vista a necessidade dos diplomas.
Parece que assistimos a uma crise da escola na sua relação com a
juventude, com professores e jovens se perguntando a que ela se
propõe (DAYRELL, 2007, p. 1106).

Aspectos da fala do autor podem ser percebidos no relato de Melinda ao


expressar seu descontentamento com o processo de socialização escolar referente
aos subsídios dados pela escola para a construção do seu engajamento militante
ambientalista. Pela sua experiência, Melinda afirma que, além da influência exercida
pela socialização familiar, o aprimoramento de suas disposições ao engajamento
está muito relacionado à sua participação nos grupos ambientalistas, como o
Engajamundo e o Greenpeace, e pouco relacionada às suas experiências escolares
e acadêmicas.
E, dessa forma, ela faz uma crítica ao processo de socialização escolar no
que diz respeito às lacunas deixadas na formação de jovens mais críticos, reflexivos
e próximos do conhecimento sobre as problemáticas ambientais. Segundo Melinda,
os espaços de educação não-formais – a exemplo dos grupos, coletivos,
208

CAPÍTULO 4

organizações e movimentos ambientalistas – têm exercido um papel muito mais


consistente com a formação de jovens ambientalistas no sentido de apresentar uma
realidade de meio ambiente fora do estereótipo do lugar belo, natural e romântico
que, na maioria das vezes, é apresentado aos jovens pelas escolas.
Desse modo, ela afirma:

A escola deixou muito a lacuna desses processos, eu não tenho


recordação de ter trabalhado questões relacionadas ao meio
ambiente como a gente trabalha hoje com o Engajamundo e o
Greenpeace [...] Na verdade, a escola, o ensino não está preocupado
em formar cidadãos. Eles estão preocupados em formar máquinas
mecanizadas pra passar no vestibular, pra entrar na academia, fazer
o que a academia manda e ponto. Eles não estão preocupados em
“vamos formar pessoas”. Eles tão preocupados em “vamos formar
um monte de robozinhos” pra continuar reproduzindo esse sistema
que está aí. Então, não é interesse conscientizar.

O ponto de vista de Melinda que, a priori, muito se diferencia das


experiências de Rafael e Jéfferson quanto ao universo de socialização escolar, não
deslegitima a função social e política da socialização escolar; mas se apresenta
como indicativo das múltiplas possiblidades que a escola pode exercer para a
disposição ao engajamento militante ambientalista. Isto é, Melinda não nega nem
invalida a importância da escola enquanto instituição socializadora juvenil, até
porque é nas escolas que ela atua com formações juvenis sobre as relações entre
mudanças climáticas, gênero e desenvolvimento sustentável. Ao contrário, mesmo
em face ao seu desabafo e denúncia de como compreende as relações entre
juventude, meio ambiente e escola, Melinda reconhece que a escola é um
importante potencial para despertar e fortalecer os espíritos e consciências
ambientalistas juvenis.
Pela sua experiência familiar, escolar e dentro dos movimentos
ambientalistas, não é função da escola formar jovens ambientalistas para se engajar
em movimentos, visto que é normal que os jovens se engajem por esta ou aquela
causa, que não é necessariamente ambiental. No entanto, há a necessidade de a
escola repensar os processos de formação juvenil referentes à construção da
socialização ambientalista, de modo que os jovens aprendam que meio ambiente
envolve questões sociais, políticas, econômicas, culturais, ideológicas, de gênero e
biodiversidade. Ou seja, que avancem nas concepções de que meio ambiente não
se reduz a animais e plantas, bem como desenvolvam a consciência de que ser
209

CAPÍTULO 4

ambientalista não é tarefa única e exclusiva de membros e integrantes de grupos,


organizações, coletivos e movimentos ambientalistas.

Ser um ambientalista é você trabalhar com temas relacionados ao


meio ambiente. Mesmo que você não se considere um ambientalista,
mas só uma pequena ação que você faz já te torna. Então, numa
atividade da escola, só em você ter consciência de que determinadas
atitudes podem prejudicar ao meio ambiente, isso já te torna um
ambientalista. Eu acho que vem mais da consciência, não de você
estar fazendo ações na prática, mas você inibir ações que
prejudicam já te torna um ambientalista. Então, não quer dizer que
porque eu não coleto assinaturas para o desmatamento, porque eu
não planto árvores ou não faço campanhas, não quer dizer que eu
não seja uma ambientalista. Só em fazer a separação do meu lixo,
não jogar o meu papel na rua, ter consciência de que devo preservar
já me torna um ambientalista (Melinda).

As diferentes maneiras como os jovens se relacionam e interpretam seus


processos de socialização como prelúdio ao engajamento ambientalista por ser
entendido em Dayrell (2007) como uma questão que diz respeito à necessidade de
compreender as juventudes da época atual pela ótica do conjunto de incidências que
as diferentes agências de socialização têm sobre e com elas, buscando entender a
condição juvenil em suas culturas, necessidades e demandas.
Além disso, como afirma Dubar (2005), os jovens – enquanto atores sociais e
políticos – não são em sua totalidade socializados por todos os tipos de orientações
das instituições. Isso significa que as disposições dos jovens ao engajamento
militante ambientalista estão expostas e são, paralelamente, reflexos dos seus
universos sociais, políticos, culturais e econômicos, o que faz com que alguns jovens
tenham e percebam nos seus percursos de engajamento mais influência de uma
instituição do que de outra e, por isso, às vezes a falta de maior relevância atribuída
a determinada instância socializadora faz com que o jovem a negue, uma vez que
não percebe nela contribuições significativas para a construção do seu engajamento.
Desse modo, é importante também considerar que o engajamento pode ser
resultado de múltiplos processos de socialização, inclusive os de negação, como
pode ser percebido nos casos de Davi e Melinda que, devido à ausência que
sentiam da socialização escolar no tocante às discussões sobre as problemáticas
ambientais, decidiram – após adentrarem nos movimentos ambientalistas – canalizar
seus engajamentos, também, para ações desenvolvidas em escolas com jovens
como um meio de fazer com que as gerações atuais e futuras tenham acesso e
210

CAPÍTULO 4

oportunidade a discussões que os mesmos não tiveram em sua época de


secundaristas; o que pode ser compreendido também como um instrumento de
disposição e estímulo ao engajamento militante ambientalista.
Portanto, pelos relatos dos jovens, cujos processos de aproximação com o
engajamento militante ambientalista se deram por maior intermédio da socialização
oriunda de experiências e vivências escolares, percebe-se que a escola enquanto
instituição socializadora juvenil não se reduz aos seus tempos e espaços. Há nos
depoimentos dos jovens uma atribuição de maior complexidade e amplitude aos
tempos e espaços escolares como elementos significativos para a descoberta e
construção de engajamentos juvenis em suas mais variadas modalidades, dentre
elas a militância ambientalista.
Uenderson relata que, pelas suas experiências de trabalhos de educação e
conscientização ambientais desenvolvidos pelo GT Escola do Greenpeace, ele
percebe que quanto mais elitizada é a escola maior é o processo de socialização
juvenil acerca das problemáticas ambientais. Segundo ele, os alunos de escolas
privadas têm maior oportunidade de acesso a informações e conhecimentos
ambientalistas do que alunos de escolas públicas:

Aqui, volta e meia, os colégios nos chamam para fazer palestra, que
a gente tem um grupo de ir para as escolas, seja escola particular ou
pública não importa. Aí, vamos fazer uma apresentação, falar sobre
as campanhas, apresentar algo para as crianças de 6 a 10 anos, de
15 anos, de Ensino Médio e a gente percebe que nas escolas
particulares, principalmente, os meninos de 7 e 8 anos com
conversas sérias sobre assuntos ambientais. Claro que não é nada
papo cabeça, mas eles têm um assunto, uma conversa com base, ou
seja, a escola está passando isso para eles. Já nas escolas públicas
não é assim e eu vim de escola pública, estudei uma parte na
particular, mas a maioria foi na escola pública. Então, eu fico triste.

Apesar de considerar a influência que sua professora de Geografia exerceu


na sua disposição ao engajamento ambientalista, Uenderson reconhece que o
processo de socialização escolar – especialmente das instituições públicas – deixa a
desejar no tocante às discussões, compreensão e interpretação sobre as
problemáticas ambientais, bem como na construção da consciência ambiental; muito
embora, curiosamente, sejam os jovens provenientes de escolas públicas que
tendem a participar de forma mais ativa dos grupos, coletivos, movimentos e
organizações ambientalistas.
211

CAPÍTULO 4

Dessa maneira, os relatos de jovens com experiências escolares que


socializaram ou não para o engajamento militante ambientalista, muito mais do que
denunciar as fragilidades escolares nos seus múltiplos processos de socialização
juvenil, deixam claro que,

quer se trate de seu grupo de origem, no seio do qual transcorreu


sua primeira infância, quer se trate do outro grupo, no qual quer se
integrar e ao qual se refere subjetivamente, o indivíduo se socializa,
interiorizando valores, normas e disposições que fazem dele um ser
socialmente identificável (DUBAR, 2005, p. 97).

De acordo com o autor, e como pode ser visto nos relatos dos jovens, os
repertórios de socialização trazem em seu bojo o poder de incorporação de modos
de ser de uma instituição ou de grupo, que vêm carregados de visões de mundo,
relações entre o passado, presente e futuro, bem como suas crenças e formas de
escolher, decidir e se posicionar no mundo. Essas características, por sua vez, são
essenciais para se pensar como os jovens se constituem engajados por estas ou
aquelas, a depender da maior incidência de determinadas instâncias ou grupos nos
seus percursos de vida, conforme pode ser observado no relato de Vanessa Cinthia:

Na ONG em que eu sou voluntária, eu fiz cinco anos agora em


outubro. O que motivou a entrar nessa ONG foi o período em que eu
estava no início da minha faculdade, eu deveria ter uns 19 anos, eu
fui convidada para participar de uma limpeza de praia e para
sensibilizar os banhistas quanto à questão do lixo nas praias, só que
eu fui mais por causa de ponto, porque precisava para uma disciplina
e aí eu fui.
Só que chegando lá, eu vi todo o engajamento do pessoal, que
estava divertido e não foi uma coisa de catar lixo na rua, na praia.
Era coisa de sentar com banhista e falar das coisas ambientais. Não
era a função de ser gari, entendeu? Era mais de educação ambiental
mesmo. E, nessa ocasião, quem estava acompanhando foi o pessoal
do Greenpeace e aí eu gostei do trabalho deles e de tudo o que
estava acontecendo, foi quando me candidatei a ser voluntária da
ONG. Eu me cadastrei em 2009 pelo site deles e só fui para a
seleção em 2011.
A partir de cada campanha do grupo, eu ia pesquisando, eu ia
aprendendo e nas atividades do Greenpeace se você vai tendo
contato com o público, você vai tendo várias visões, você sai da sua
caixinha e vê que têm pessoas que têm pensamentos diferentes dos
seus. Você tem a teoria e eles têm a prática, que não é tudo tão belo
como você vê nos livros. E eu acho que foi isso que me motivou a
engajar e ficar no grupo por tanto tempo.

A história de socialização e engajamento de Vanessa Cinthia apresenta um


alerta de que não são as escolas, faculdades e universidades, necessariamente, que
212

CAPÍTULO 4

formam ou geram jovens engajados e militantes ambientalistas. Pelo seu processo


de socialização acadêmica – à época em que estudava Engenharia Ambiental – ela
relata que as atividades acadêmicas trouxeram à tona suas disposições ao
engajamento ambientalista ao aproximá-la do Greenpeace, embora não fosse
objetivo do curso desenvolver ou despertar essa disposição e, além disso, a forma
como seus colegas lidavam com o meio ambiente se dava de maneira desigual.
Os depoimentos de Vanessa Cinthia levam a perceber que o fato de ter
acesso a discussões, conhecimentos e reflexões sobre meio ambiente não torna ou
desperta, necessariamente, o espírito de engajamento militante, especialmente pelo
ideário de mundo capitalista que circunda os projetos de vida de muitos jovens:

Minhas colegas me achavam besta, burra [sic], louca por estar


trabalhando voluntária enquanto poderia estar procurando mais
estágios pra ganhar dinheiro e me especializar na minha área. A
visão que eu tinha dos meus colegas é que eles não sabiam como
era estar nesse grupo, que gera até um ciclo de amizades. Você
conhece outras pessoas, tem outra visão de tudo que está
acontecendo no nosso meio.
No decorrer do tempo em que eu estou no Greenpeace, eu aprendi
que o que eu aprendi na faculdade não era tão bonito quando você
estava na rua. Tinha bastante campanha no Greenpeace que eu
aprendi muito mais lendo e pesquisando dentro das campanhas do
que em sala de aula, porque no início da faculdade tinham poucas
disciplinas na área ambiental, tinham mais focadas na engenharia.

A partir dos relatos de Vanessa Cinthia, mensura-se que o despertamento dos


jovens para o engajamento militante ambientalista, dificilmente, se inicia no interior
dos próprios grupos, coletivos, organizações e movimentos ambientalistas. A grande
maioria dos jovens engajados despertou para a militância em outros espaços de
socialização ou através de ações desenvolvidas por esses espaços, como no caso
de Vanessa Cinthia em que a atividade acadêmica funcionou como uma ponte para
que as suas disposições ao engajamento fossem afloradas.
A forma como se deu o engajamento militante tanto de Vanessa Cinthia
quanto dos demais jovens entrevistados chama a atenção que o engajamento juvenil
ambientalista pode ser fruto do entrelaçamento de processos de socialização,
aprendizagens e ações práticas que, como afirma Gonçalves (2010), constituem o
percurso de identidade ecológica dos jovens e grupos ambientalistas.
Numa visão geral, as narrativas dos jovens entrevistados colocam em
evidência que as memórias das suas infâncias, assim como os compartilhamentos e
213

CAPÍTULO 4

vivências familiares se constituíram como maiores portas de acesso ao engajamento


militante ambientalista, se comparado às outras agências e instituições
socializadoras, como a escola, os grupos de amigos, a faculdade e coletivos
ambientalistas.
Nesse sentido, é possível perceber que os percursos e trajetórias de jovens
no engajamento militante ambientalista não se dão de forma linear e uniforme, ou
seja, há uma diversidade de influências e motivos que fundamentam as experiências
de vida dos jovens no engajamento militante ambientalista e, conforme os relatos
dos jovens entrevistados, suas disposições agregam experiências que vão desde o
contato com a natureza (especialmente, na infância), passando pelas relações com
a escola, a família e o mundo da profissionalização, até a participação em grupos,
coletivos, organizações e movimentos ambientalistas.
Por isso, o melhor caminho à compreensão acerca dos processos de
socialização que levam e motivam os jovens a se engajarem em movimentos,
coletivos, organizações e grupos ambientalistas deve ser feita pelo prisma das
experiências socializadoras que os jovens tiveram e têm acesso durante sua vida,
pois, através dos relatos dos jovens entrevistados, entende-se que suas
experiências correlacionadas às agências socializadoras atuam, diretamente, na
constituição de seus repertórios de vida e percursos no engajamento militante;
sendo que, ao mesmo tempo em que constroem suas identidades juvenis, elaboram
também estratégias de atuação para e com o mundo, em seus matizes sociais,
políticas, econômicas, culturais, ideológicas e ambientais.
Carvalho (2001), na obra “A invenção ecológica: narrativas e trajetórias da
educação ambiental no Brasil”, a partir da análise de narrativas de educadores
brasileiros no tocante às interfaces entre suas trajetórias de vida e a educação
ambiental, oferece pistas para refletir sobre os processos de formação dos sujeitos
ecológicos e a imbricação dessa formação com as múltiplas relações que os
indivíduos mantêm no cotidiano. Desse modo, a autora pontua que há certa
conexão entre o dinamismo da vida social, política e cultural como o
desenvolvimento de instrumentos e mecanismos para as questões que perpassam a
educação ambiental.
Assim, considerando a citada obra de Carvalho (2001), bem como as
discussões trazidas por Touraine (2009), as narrativas dos jovens – que constituem
214

CAPÍTULO 4

o corpo dessa pesquisa – deixam claro que o engajamento militante juvenil nos
movimentos ambientalistas está carregado de significados e sentidos de
socialização política, social, cultural e que, portanto, distancia-se de qualquer tipo de
percepção preconceituosa acerca da condição juvenil dentro dos movimentos
ambientalistas.
Estes sentidos e significados que estruturam o engajamento militante, por sua
vez, dão aos movimentos ambientalistas a legitimidade de movimentos sociais,
políticos e culturais que refletem também os aspectos subjetivos presentes nos
percursos das experiências e histórias de vida dos jovens ambientalistas.
Por assim afirmar, devo abrir um parêntese para destacar que o contato com
os jovens engajados na militância ambientalista, assim como as leituras tecidas
sobre juventude e os processos socialização incidentes nos percursos de
engajamento militante juvenil ambientalista possibilitaram perceber que os lemas das
bandeiras levantadas pelos jovens estão muito além da ideia romântica, superficial a
fragmentada das relações entre o ser humano e o meio ambiente. Os jovens
ambientalistas entendem-se como sujeitos que constroem e lutam por movimentos
cujas bandeiras emergem e inserem-se no campo das lutas, conflitos e disputas de
ordem social, antropológica, política, filosófica, cultural, pedagógica, econômica e
ecológica.
Desse modo, para além dos discursos de meio ambiente enquanto conjunto
de plantas e animais, nas narrativas dos jovens o engajamento militante se configura
como um processo de subjetivação caracterizado, segundo Carvalho (2001, 2004),
por interações simbólicas que se refletem na própria maneira como os jovens se
posicionam e enfrentam as problemáticas ambientais enquanto causas sociais e
políticas.
Entre os jovens do passado e os jovens ambientalistas do tempo presente,
Jacobi (2007, p. 56-57) sinaliza que o engajamento militante ambientalista na
atualidade traz a emergência de novos desafios e posturas diante da complexidade
das relações entre ser humano e natureza e, portanto, requer novos atores e sujeitos
sociais:

Vive-se, no início do século XXI, uma emergência que, mais que


ecológica, é uma crise do estilo de pensamento, dos imaginários
sociais, dos pressupostos epistemológicos e do conhecimento que
sustentaram a modernidade. Uma crise do ser no mundo, que se
215

CAPÍTULO 4

manifesta em toda sua plenitude; nos espaços internos do sujeito,


nas condutas sociais autodestrutivas; e nos espaços externos, na
degradação da natureza e da qualidade de vida das pessoas.

A fala do autor articulada com as narrativas dos jovens ambientalistas


entrevistados aponta para a superação, por meio do engajamento militante, do hiato
entre reconhecer a crise ambiental na contemporaneidade e a criação de estratégias
que tanto possibilitem a construção de uma sociedade sustentável como sirvam de
alerta para as pessoas compreenderem a situação ambiental no mundo.
As narrativas dos jovens, como expressão de suas mais variadas formas de
disposições ao engajamento militante à luz das agências ou instâncias
socializadoras que incidirem com maior intensidade, apresentam-se e reforçam os
indicativos de que

o percurso do jovem ambientalista não se dá em um mundo à parte,


mas suas experiências com este mundo têm características
peculiares. Acredita-se que a análise dessas peculiaridades é uma
chave para a discussão das oportunidades que podem ser
estimuladas por ações de educação ambiental, de modo a contribuir
com o avanço qualitativo e quantitativo do engajamento ambiental
juvenil (GONÇALVES, 2010, p. 66).

Pelas palavras de Gonçalves (2010) é preciso que as sociedades – digamos


suas instituições e órgãos (não) governamentais – concebam as narrativas e os
percursos dos jovens ambientalistas com um teor mais significativo, descortinando
inclusive as inverdades e falsos discursos preconceituosos, descabidos, retrógrados
que, por vezes, têm sido os substratos de apoio à ideia de que os jovens
ambientalistas são despolitizados e que não têm referências que balizam seus
percursos no engajamento militante ambientalista.
Nesse sentido, percebe-se que há a necessidade de maior aprofundamento e
valorização dos percursos que narram as identidades desses jovens dentro e fora
dos movimentos ambientalistas. A exemplo dos jovens entrevistados nessa
pesquisa, é muito presente nos seus relatos como a juventude ambientalista veem
em suas formas de socialização caminhos propícios à transformação da cultura
ambiental, que não se dá distante da aproximação, leitura, interpretação e
mobilização dos processos sociais, políticos e econômicos.
Isso significa ratificar, como já fora mencionado em capítulos anteriores, que
mesmo em face ao crescimento nas últimas décadas sobre as discussões
216

CAPÍTULO 4

envolvendo a temática juventude, ainda se faz necessário romper com a


obscuridade que coloca as narrativas da juventude ambientalista no campo do
esquecimento social, da invisibilidade literária e da omissão acadêmica. As
pesquisas sobre juventude, de acordo com Abramo (2014), vêm crescendo e, ao
mesmo tempo, esse crescimento mostra que a juventude ambientalista tem ficado à
margem dentro desse processo. As pesquisas se debruçam nos estudos sobre
juventude abordando temáticas sobre sexualidade, profissionalização, mercado de
trabalho, violência urbana, grupos de sociabilidades, educação, dentre outros. E a
juventude ambientalista? É como se ela estivesse à parte ou ocupasse o não-lugar
social, político e cultural.
É mais que urgente que as histórias dos percursos e representações sociais
desses jovens tornem-se alvo de narração nas agendas públicas brasileiras tanto em
seus cenários locais como globais. Urge, também, despertar para o fato de que as
experiências de engajamento desses jovens, conforme aparecem em seus relatos,
são emergentes de relações construídas em e por espaços e tempos sociais
diferenciados, como escola, trabalho, universidade, lazer, família e militância.
Diante desse cenário, de modo geral, vivemos numa realidade em que o
esforço de discussões e reflexões em torno da juventude, ainda,

consiste, basicamente, em superar a percepção da juventude como


um problema para compreender e apoiar os jovens como sujeitos de
direitos, ou seja, identificar certamente, os problemas que afetam os
jovens, mas também o que eles trazem de potencialidade para a
produção de propostas [...] valorizar o que há de questionador e
propositivo nos jovens, compreendendo a relevância que sua
atuação tem para a sociedade (ABRAMO, 2007, p. 13).

Quase uma década depois, a fala de Abramo (2007) no que tange ao


universo da juventude ambientalista parece-me tão próxima e atual, porque essa
pesquisa fala de um lugar que percebe – seja pelas narrativas juvenis, seja pelo
aporte teórico – a necessidade de compreender a categoria juventude, seus
enfretamentos e os problemas que mapeiam seus percursos, trajetórias e repertórios
de experiências das suas condições juvenis. Por outro lado, mesmo às vezes sendo
vista como insana, despreparada, indefinida e imatura, a juventude se coloca como
porta-voz de uma geração e categoria com potencialidade para se articular diante
das problemáticas sociais, questionar suas causas e efeitos, bem como reivindicar
soluções e propor mudanças.
217

CAPÍTULO 4

Portanto, é na arena desses espaços sociais e políticos – no diálogo


permanente, contínuo, dinâmico e conflituoso entre passado, presente e futuro – que
a juventude engajada na militância ambientalista amplia, também, suas
possibilidades de sujeitos sociais e políticos; aceitam e refutam determinados tipos
de posturas e ideologias; criam, fazem e constroem seus percursos de jovens que se
engajam e militam por causas que acreditam e consideram legítimas e necessárias
para a construção de um mundo melhor, diga-se de passagem, mais sustentável.
218

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As narrativas dos jovens – sujeitos dessa pesquisa – explicitam e reforçam as


relações entre suas vivências, experiências e processos de socialização com seus
percursos e repertórios de identificação e pré-disposições ao engajamento militante
em grupos, coletivos, movimentos ou organizações ambientalistas. Esse cruzamento
das linhas de suas trajetórias de vida particular com as linhas da vida pública
oxigena os processos de formação dos sujeitos sociais, políticos e ecológicos
juvenis (BRENNER, 2014). Interessante foi perceber que muito dos processos de
socialização que levaram os jovens ao engajamento na militância ambiental
passaram a serem melhores percebidos pelos jovens a partir do momento em que
imergiram no roteiro da entrevista, bem como eles trouxeram suas percepções
quanto às representatividades do que é ser jovem na atualidade, sobretudo, jovem
ambientalista.
Por meio das entrevistas, os jovens visitaram suas histórias e, articulando
passado, presente e futuro, utilizaram a memória e a linguagem como ferramentas à
elaboração de suas narrativas orais, através das quais filtraram o que queriam e o
que não queriam relatar ao pesquisador/entrevistador e, desse modo, construíram
suas versões narrativas sobre seus processos pessoais de socialização que
serviram de base às suas disposições ao engajamento na militância ambientalista,
conforme pode ser percebido na apresentação dos conjuntos de situações,
experiências e motivações que dão singularidade ao percurso militante de cada
jovem, de acordo com os processos de socialização que incidiram e marcaram suas
vidas com maior intensidade.
Dada à natureza plural, histórica, social e singular da ideia de juventudes –
porque cada jovem é produto e sujeito de determinados contextos históricos, sociais
e políticos (CASTRO, 2011) –, o passado e presente nas narrativas dos jovens
entrevistados assumem a condição de uma espécie de “espelho retrovisor”, onde
professores, pais, amigos, paisagens, determinados lugares, certas emoções, certos
referenciais, lembranças da infância e realidades sociopolíticas aparecem em suas
narrativas como constituintes do mosaico de possibilidades e tendências de suas
inclinações ao engajamento e militância nas questões ambientais. Portanto, chegar
aos processos de socialização que subsidiam as disposições juvenis ao
engajamento na militância ambiental é estar atento ao conjunto de fatores e
219

CONSIDERAÇÕES FINAIS

contextos que compõem a esteira onde tais disposições são fomentadas, bem como
às representações que os jovens ambientalistas constroem de si e os significados
que atribuem à sua modalidade e percurso de engajamento, que não se dá no vazio
histórico, cultural, social e político.
Assim, segundo as semelhanças e diferenças que aparecem nas narrativas
dos jovens quanto aos seus processos de socialização como disposição ao
engajamento militante juvenil a formação de grupos por especificidades de
aproximação com as questões ambientais; como os jovens oriundos de famílias com
alguma preocupação com o meio ambiente; o jovem oriundo de família sem
interesses com as problemáticas ambientais; os jovens de famílias engajadas e
jovens com experiências escolares/acadêmicas que socializaram ou não para as
problemáticas ambientais, representam tanto as relações dos jovens com os
contextos em que estão inseridos – especialmente as famílias e as escolas como
agências socializadoras que exercem grande poder nos referenciais de posturas e
comportamentos adotados pelos jovens, por serem elas as primeiras agências de
maior prevalência no ritual de socialização de gerações – quanto o reflexo das
relações internas e individuais construídas pelos jovens a partir da socialização
exercida sobre eles, onde podem imprimir seus próprios desejos, ideias, visões e
emoções.
Desse modo, aproximar-se e compreender as vias de socialização que
potencializam a entrada dos jovens no engajamento militante ambientalista significou
tracejar um percurso de pesquisa capaz de levar aos cenários de socialização que
dão abrigo ao engajamento juvenil na militância ambientalista. Por esse caminho,
percebe-se que os cenários de onde os sujeitos da pesquisa falam estão situados no
campo familiar, escolar, acadêmico, profissional, político, econômico, social, ético e
cultural.
Importante sinalizar que os processos de socialização não são mecanismos
de encaminhamento passivo dos jovens a determinadas disposições de
engajamento, como se os jovens estivessem destinados a atuar nesta ou naquela
militância. Os relatos dos jovens apontam que o engajamento militante em questões
ambientais não está situado no plano do “destino traçado”, o que ocorre é que, a
depender do tipo de socialização de maior incidência, ter-se-á a formação de
sujeitos mais ou menos ecológicos, mais ou menos imbricados com as
220

CONSIDERAÇÕES FINAIS

problemáticas e lutas ambientais. Isso reforça que ninguém nasce engajado,


ninguém nasce militante. Os indivíduos são sujeitos potenciais a atuarem em
determinadas esferas de engajamento e militância, conforme os efeitos produzidos
pelos mecanismos socialização que os mobilizam.
As narrativas levam também a perceber que, por vezes, os percursos juvenis
de engajamento na militância ambientalista estão associados a questionamentos e
formas “reversas” de compreender a relação ser humano e meio ambiente,
diferentemente, do modo como foram socializados. Ou seja, não existe um
determinismo de que filhos de pais engajados na militância ambiental serão,
necessariamente, engajados ou vice-versa. No entanto, de uma forma ou de outra,
seja pela afirmação ou negação dos processos de aprendizagens, posturas e
comportamentos tidos como esperados para os jovens construírem suas trajetórias,
os processos de socialização – em especial política – atuam como fortes dispositivos
capazes de oportunizar às juventudes se posicionarem diante do mundo, refletirem
sobre sua conjuntura sócio-política, autoconhecerem e construírem seus repertórios
de vida no engajamento militante ambientalista.
Os relatos dos jovens entrevistados dão pistas de que entre os seus
processos de socialização e o engajamento na militância ambiental existe a marca
identitária de como cada jovem internaliza e externaliza a transmissão de
aprendizagens, condutas, posturas e percepções adquiridas por meio da família,
escola, faculdade e grupos de amigos. É nessa construção entre o mundo interior e
o exterior que os jovens ambientalistas recriam, reinventam, redimensionam e
“repolitizam” a conjuntura e dinâmica social, política, cultural, tecnológica, ambiental
e econômica. Isso, por sua vez, faz com que a socialização e o engajamento sejam
categorias flexíveis e maleáveis à medida que são vivenciados e construídos pelos
sujeitos de diferentes formas e perspectivas.
As interrelações entre as categorias socialização política e engajamento
militante podem ser percebidas nas narrativas dos jovens como fatores estruturantes
da construção e legitimidade dos “eus ecológicos juvenis” oriundos dos efeitos dos
múltiplos processos de socialização que os motivaram a militarem em formas de
atuação diferenciadas de engajamento nos grupos, movimentos, coletivos ou
organizações ambientalistas.
221

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por conseguinte, têm-se jovens que se identificam com os movimentos de


rua, outros com ações de conscientização em espaços formais de educação, outros
com protestos contra empresas, outros se engajam nas intervenções contra
propostas governamentais e outros com as melhorias da agricultura no campo; de
maneira que os jovens estabelecem conexões entre seus engajamentos na
militância ambientalista e as socializações que atravessam seus percursos às
disposições para tal engajamento, como as relações familiares, escolares, atividades
acadêmicas, grupos de amigos e participação em eventos, que os constituíram como
sujeitos ecológicos.
A constituição dos sujeitos ecológicos figura nas narrativas dos jovens como o
resultado dos diferentes fatores e aspectos de socialização que, em seu conjunto,
concorrem e corroboram para a aquisição de valores ao mesmo tempo em que
solicitam dos jovens novas posturas, comportamentos e práticas, tendo em vista o
próprio dinamismo das sociedades que conferem certa plasticidade à atuação juvenil
nas várias facetas que interceptam seus cenários sociais, políticos, culturais,
econômicos e ambientais.
Desse modo, a análise acerca dos processos de socialização que ritualizam
as disposições seminais da juventude ao engajamento na militância ambientalista
trazem à tona aspectos pertinentes à própria condição juvenil nos movimentos
ambientalistas como aqueles relacionados à construção de identidades, sentimento
de pertença ao grupo, produção de sentidos e significados atribuídos aos seus
repertórios de vida dentro dos movimentos, formação de grupos de sociabilidades
que, além de fortalecer os laços e vínculos de participação social, têm como
finalidade a concretização de ideais, perspectivas, ideias e estratégias de
participação política na vida pública.
Os processos de socialização pelos quais transitaram e transitam os jovens
ambientalistas não apenas se configuram como espaços de transmissão de valores,
posturas e conhecimentos que podem influenciar nas escolhas e decisões juvenis,
como também possibilitam a sua efetiva participação na vida pública, onde se
constroem enquanto sujeitos políticos, sociais, de direitos e deveres, e ao mesmo
protestam a favor dos mecanismos de inclusão que, historicamente, lhes são
sonegados. Por isso, em virtude da proximidade entre suas trajetórias de
socialização e o engajamento em questões ambientais, é possível perceber nas
222

CONSIDERAÇÕES FINAIS

narrativas dos jovens o quanto as organizações e movimentos ambientalistas são


para os jovens espaços e tempos de convívio e construção de sociabilidades, onde
produzem e trocam conhecimentos, informações, ideias, saberes e colocam em
prática estratégias de atuação ambientalista, visando a efetividade da justiça e
sustentabilidade ambientais, bem como a legitimidade dos sentidos da luta
ambientalista no terreno do engajamento militante juvenil.
Importante destacar que, na concepção dos jovens, os grupos, coletivos,
organizações e movimentos ambientalistas exercem um papel fundamental no
reforço, estímulos e estruturação das suas disposições ao engajamento militante,
uma vez que esses espaços se constituem como comunidades de práticas, onde os
jovens formam suas identidades e produzem significados para suas vidas na esfera
individual e coletiva, na atuação da vida privada e da vida pública (GONÇALVES,
2010).
Desse modo, entende-se que os processos de socialização pelos quais os
jovens passaram são matriciais nas disposições aos seus percursos no engajamento
militante ambientalista, desde as interações e aprendizagens advindas do meio
familiar e escolar àqueles ocorridos pelos contatos com grupos ambientalistas, bem
como pela via das relações de sociabilidades construídas com outros jovens
ambientalistas que fomentaram as primeiras aproximações com o universo do
engajamento na militância ambiental.
Nas narrativas juvenis percebe-se que os processos de socialização que
maior incidiram nas suas disposições ao engajamento se constituem, também, como
portas de entrada aos processos de sociabilidades e de atuação política, visto que
meio ambiente é compreendido como campo de lutas, desafios, interesses, conflitos
e representações que expressam sua natureza política, social, ética, cultural e
econômica.
Partindo dessa premissa é que, durante toda a dissertação, buscou-se trazer
os relatos dos jovens a fim de perceber que elementos de socialização estimulam e,
ao mesmo tempo, atuam como dispositivos promotores do engajamento juvenil na
militância ambiental, compreendendo esses jovens como sujeitos em potencial para
o engajamento militante. Os percursos dos jovens entrevistados reforçam a
relevância do debruçar sobre suas experiências enquanto campo propício à
compreensão de como através do engajamento e da militância, a partir da bandeira
223

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ambientalista, os jovens constroem ações e estratégias políticas, assim como se


autoconstroem como sujeitos políticos, sociais e ecológicos.
Neste sentido, observa-se que socializar politicamente não é uma ação que
se encerra na simples ou complexa transmissão de condutas, saberes, experiências
e comportamentos, visto que seus efeitos não são estáticos, fixos e imutáveis. É
preciso refletir que sentidos e significados têm os processos de socialização nos
movimentos e dinâmicas sociopolíticas criadas a partir do momento em que os
jovens entram em cena na vida pública.
No tocante às impressões adquiridas e construídas antes, durante e depois
da trajetória teórico-metodológica que estrutura este trabalho, é preciso dizer que o
processo de pesquisa – especialmente quando se fundamenta em narrativas – se
constitui como experiência e construção de sentidos e significados para a minha vida
de pesquisador; sendo assim, conforme salienta Larrosa (2011), a experiência é o
que nos passa, nos atravessa e nos toca. E esse processo de experiência não se dá
de maneira diferente quando nos referimos ao percurso de realização de uma
pesquisa acadêmica, visto que – desde os primeiros contatos – sujeitos e
pesquisadores são impelidos a revisitarem seus conceitos, pré-conceitos,
concepções e formas de ver o mundo em suas múltiplas relações, leituras e
interpretações.
Essa percepção leva-nos a acreditar que pesquisa, experiência e trajetórias
de vida estão, constantemente, interligadas e dialogam, que constroem e
reconstroem pesquisadores e sujeitos da pesquisa. Por questões metodológicas e
temporais, pode-se findar uma pesquisa. Mas, ela se prolonga pelos novos
questionamentos, saberes e provocações que dinamiza a intensidade e o pulsar da
vida por outros caminhos e novos horizontes.
Por isso, torna-se importante destacar que o envolvimento com os sujeitos
desta pesquisa e o debruçar sobre as narrativas juvenis na busca pelos processos
de socialização que, em linhas gerais, atuam como dispositivos ao engajamento
juvenil na militância ambiental implicaram, também, na percepção de que há
necessidade de maior reflexão e discussão sobre o engajamento juvenil de natureza
política. Ou seja, embora a centralidade dessa pesquisa esteja nos processos
socialização política presentes nas linhas das narrativas orais, as entrelinhas – por
sua vez – trazem à tona a necessidade de refletir sobre o engajamento político
224

CONSIDERAÇÕES FINAIS

juvenil, visto que nos relatos da maioria dos jovens aparece a ideia de engajamento
muito mais voltada para ações como limpeza de praias e ruas, conscientização via
palestras sobre educação ambiental, ações de captação de recursos para as
organizações ambientais, relação entre economia financeira e meio ambiente.
Muitos dos relatos levam ao entendimento de que apenas as ações realizadas
em suas comunidades são suficientes para reverter e amenizar as problemáticas
ambientais. Elas são importantes, mas não são suficientes, porque não dependem
apenas das ações humanas no dia-a-dia. As problemáticas ambientais estão
inseridas num contexto complexo e a reversão desse cenário depende, também, de
uma atuação mais incisiva no campo político institucionalizado.
Por outro lado, e de igual importância, os aspectos de enfrentamento político
institucional no que tange à atuação dentro dos espaços governamentais, a fim de
questionar a construção de políticas públicas para as problemáticas ambientais,
enquanto questões de ordem coletiva e de compromisso das esferas sociais
aparecem raríssimas vezes nos relatos dos jovens. De um modo geral e não menos
importante, o engajamento político dos jovens ambientalistas está mais centrado no
mundo local, ou seja, os jovens estão mais engajados em ações desenvolvidas
dentro das suas comunidades por meio das organizações, grupos, coletivos e
movimentos ambientalistas.
Essas ações são interessantes e plausíveis, no entanto há que se pensar na
continuidade e ampliação delas no campo do engajamento político-institucional, a
fim de que as estruturas das políticas públicas – muitas vezes, contrárias às lutas
juvenis em suas comunidades – sejam questionadas e colocadas em xeque para
que as lutas dos jovens ambientalistas ganhem visibilidade e legitimidade, tornando-
se canais de transformações locais e globais.
Para se pensar a natureza política do engajamento juvenil, a princípio
desenvolvido apenas nos espaços das comunidades e do engajamento numa
perspectiva institucionalizada, pode-se citar a história de Chico Mendes, cuja
juventude foi engajada pelas problemáticas ambientais, passando a ser considerado
um dos ambientalistas mais influentes da sua época, principalmente pelo fato de que
rompeu com as lutas fechadas à realidade da comunidade em que vivia e deu
seguimento à sua militância nos debates e projetos internacionais, deixando um
legado que serve de inspiração ao engajamento político não limitado às pequenas
225

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ações e ao entorno das lutas locais (MILANEZ, 2013). A história de Chico Mendes
chama a atenção que é preciso colocar na agenda dos movimentos ambientalistas a
natureza e poder presente no engajamento político institucionalizado, capaz de
trazer às pautas nacionais e internacionais a função social, política, cultural,
econômica e ideológica do meio ambiente.
Grosso modo, percebe-se o engajamento político como característica
marcante nas narrativas dos jovens membros do Engajamundo. Para eles, o
engajamento militante ambiental está além da ideia de jogar o lixo no local
adequado, de fazer palestras nas escolas sobre educação ambiental, de
desenvolver projetos ou campanhas sem dar o enfoque maior nas questões políticas
e governamentais que sustentam e, por vezes, delas dependem para que os
objetivos das organizações, coletivos, grupos e movimentos ambientalistas sejam
alcançados e sejam ampliados da perspectiva local para a global.
As narrativas dos jovens participantes, especialmente do Greenpeace,
GAASB, GAAJE e Partido Verde, por exemplo, colocam em evidência que, apesar
de estarem engajados na militância ambiental, a maioria dos jovens se sente
limitada quando se trata de engajar-se politicamente, em especial – segundo eles –
pelo fato de muitas organizações, coletivos, grupos e movimentos ambientalistas
terem se rendido à logica capitalista e, além disso, muitos coordenadores
(geralmente, adultos) de organizações ambientalistas foram cooptados por
empresas e sistemas governamentais que, na maioria das vezes, “compram” o
silêncio das organizações e, consequentemente, reverbera-se no movimento,
liberdade, participação e direito de fala dos jovens.
Por isso, presumo que pelo fato do Engajamundo ser constituído de jovens
para jovens e se pautar – até o presente momento – como uma organização que
possui maior liberdade e participação nos debates com as esferas públicas e
privadas (governos e empresas) sobre as problemáticas ambientais, o engajamento
político seja uma categoria mais fortemente percebida nas narrativas dos jovens do
Engajamundo.
Portanto, a experiência oriunda do contato com os sujeitos desta pesquisa e a
partir da problemática que a tece, chega-se ao indicativo de que, dentro da
ramificação de engajamentos, é importante refletir sobre o engajamento político
juvenil no sentido de transpor a superficialidade da sua natureza ou não confundi-la
226

CONSIDERAÇÕES FINAIS

como presença de estratégias e ações deslocadas do universo ideológico e do


enfrentamento governamental no que tange às questões ambientais. Além disso, a
devida e profunda análise dessa categoria, especialmente atrelada ao engajamento
militante juvenil nos movimentos ambientalistas, pode ser uma ponte de reforço para
reconhecer tanto o potencial quanto o caráter mobilizador e transformador da
juventude, deslocando-se do engajamento militante desenvolvido em suas
comunidades (que não deixa de ser um ato político) para a inserção mais ativa e
efetiva no engajamento político institucionalizado; visto que os jovens ambientalistas
não são sujeitos passivos e imunes às políticas institucionais.
227

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237

APÊNDICES

APÊNDICES
238

APÊNDICES
239

APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS


Departamento de Educação – DEDU
Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos você para participar da Pesquisa de Mestrado “Juventude e Meio


Ambiente: narrativas de jovens ambientalistas do estado da Bahia”, sob a
responsabilidade do pesquisador Hélio Souza de Cristo, a qual pretende conhecer e
analisar narrativas de jovens baianos engajados em movimentos ambientalistas,
levando em consideração as motivações que os impulsionam a se envolverem com
questões e ações ambientalistas.
Sua participação é voluntária e se dará em duas etapas: primeiro, por meio da
aplicação de questionários do perfil socioeconômico e segundo, por meio da
realização de entrevistas. Se você aceitar participar, estará contribuindo para a
produção de pesquisa acadêmica, numa perspectiva teórico-prática, das relações
entre juventude e meio ambiente – em especial no que se refere ao engajamento de
jovens em grupos, coletivos, movimentos ou organizações ambientalistas.
Se depois de consentir em sua participação, você desistir de continuar
participando, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer
fase da pesquisa, seja antes ou depois da produção dos dados, independente do
motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. Você não terá nenhuma despesa e
também não receberá nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão
analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada
em sigilo, caso não autorize o uso do seu nome na pesquisa e, desse modo, será
utilizado nomes fictícios. Para qualquer outra informação, você poderá entrar em
contato com o pesquisador no endereço eletrônico helio-87@hotmail.com, pelo
telefone (75) 99921-8611, ou poderá entrar em contato com o Programa de Pós-
Graduação em Educação – PPGE, UEFS, na Avenida Transnordestina, s/n, Novo
Horizonte, CEP: 44036-900, Feira de Santana-Bahia-Brasil, tel.: (75) 3161- 8871
240

Consentimento Pós–Informação
Eu, ______________________________________________________________,
fui informado/a sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha
colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar da
pesquisa, sabendo que minha participação é voluntária e que posso sair quando
quiser. Além disso, ( ) autorizo ( ) não autorizo o uso e a divulgação do meu nome
no trabalho escrito. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós.

Data: ___/ ____/ _____

__________________________________________
Assinatura do participante

__________________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
241

APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO DE PERFIL SOCIOECONÔMICO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS


Departamento de Educação – DEDU
Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

QUESTIONÁRIO DE PERFIL SOCIOECONÔMICO


ATENÇÃO: Prezado (a), este questionário tem como objetivo conhecer os aspectos
socioeconômicos que caracterizam os sujeitos engajados em questões ambientais tem como
objetivo a obtenção de informações para a pesquisa de Mestrado do estudante Hélio Souza de
Cristo - “Juventude e Meio Ambiente: narrativas de jovens ambientalistas do estado da
Bahia”. Por isso, a veracidade das respostas e a devolução deste questionário são necessárias e
indispensáveis para o levantamento de dados, execução e qualidade da pesquisa em curso.

DADOS PESSOAIS
1. Nome: __________________________________________________________________
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Data de nascimento: _____/_____/_____
4. Idade: _______________
5. Endereço: _____________________________________________________________

6. Como você se considera:


( ) Branco(a) ( ) Pardo(a) ( ) Mulato (a) ( ) Negro(a) ( ) Amarelo (a)
( ) Indígena ( ) Outro: ______________________

7. Qual seu estado civil?


( ) Solteiro (a)
( ) Casado(a) /mora com um(a) companheiro(a)
( ) União estável
( ) Separado (a) / divorciado (a)/ Desquitado (a)
( ) Viúvo (a)
( ) União estável

8. Escolaridade:
( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Superior Completo
( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Pós-Graduação
( ) Ensino Médio Completo
Se curso de graduação, qual? _________________________________________________
9. Onde você nasceu? _______________________________________________________
242

10. Onde e como você mora atualmente?


( ) Em casa ou apartamento, com sua família.
( ) Em casa ou apartamento, sozinho(a).
( ) Em casa ou apartamento, com cônjuge/companheiro(a).
( ) Em quarto ou cômodo alugado, sozinho(a).
( ) Em casa de outros familiares.
( ) Em casa de amigos.
( ) Em habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel, pensionato, república, etc.
( ) Outra situação,___________________________________________________

11. A casa ou apt.º em que você reside é:


( ) Emprestada (o) ou cedida (o) ( ) Alugada (o)
( ) Própria (o) em pagamento ( ) Própria (o) já quitada (o)

12. Quem mora com você?


( ) Moro sozinho(a) ( ) Filho (a)
( ) Pai ( ) Irmãos (ãs)
( ) Mãe ( ) Outros parentes
( ) Esposa / marido / companheiro(a) ( ) Amigos (as) ou colegas
13. Você tem filhos?
( ) Sim
( ) Não
Em caso afirmativo, quantos filhos você tem? ________

14. Qual sua renda mensal individual?


( ) menos de um salário mínimo (menos de R$ 880,00)
( ) entre 01 e 02 salários mínimos (até R$ 1.760,00)
( ) de 02 até 03 salários mínimos ( até R$ 2.640,00)
( ) superior a 03 salários mínimos (superior a R$ 2.640,00)

15. Qual o principal meio de transporte que você mais utiliza?


( ) a pé/carona/bicicleta
( ) transporte coletivo
( ) transporte escolar
( ) transporte próprio(carro/moto)

16. Qual é a sua participação na vida econômica de sua família?


( ) Você trabalha e é independente financeiramente.
( ) Você trabalha, mas não é independente financeiramente.
( ) Você trabalha e é responsável pelo sustento da família.

17. Qualifique seu interesse pelos assuntos relacionados com o meio ambiente:
a) Muito interessado
b) Razoavelmente interessado
c) Pouco interessado
d) Nenhum interesse
27

18. A solução dos problemas ambientais, a seu ver, depende mais:


a) Das pequenas ações de todos, no seu dia-a-dia
b) Das decisões dos governos e das grandes empresas
c) Não sei

19. Para você, ambientalismo é um movimento social?


( ) Sim ( ) Não

20. Você participa de algum movimento ambientalista?


( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, qual (ais)?______________________

21. Você já participou/participa de alguma organização não-governamental (ONG)?


( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, responda:
Qual?____________________________________________
Há quanto tempo?________ Onde? __________________________
22. Com qual idade você começou a participar de movimentos ambientalistas?
___________________________________________________________________________
23. De que maneira você participa desses movimentos?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
24. Como você avalia a situação de degradação ambiental no Brasil e no mundo?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
25. Para você, quais são os principais problemas ambientais da atualidade?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
26. Você procura se informar sobre o que está acontecendo no mundo em relação ao meio
ambiente? Se não, por quê? Se sim, de que maneira?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
27. Desejaria continuar participando da pesquisa, no momento da entrevista?
( ) Sim ( ) Não
28. Telefone: ( ) ________________________
Email: _________________________________________________________________
28

APÊNDICE C: TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA ENTREVISTA E GRAVAÇÃO DE


VOZ

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS


Departamento de Educação – DEDU
Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA ENTREVISTA E


GRAVAÇÃO DE VOZ

Eu, _______________________________________________________________________,
fui devidamente informado/a sobre os objetivos da pesquisa acadêmica desenvolvida por
Hélio Souza de Cristo, tendo como foco o engajamento de jovens em movimentos
ambientalistas. Estou ciente que a pesquisa “Juventude e Meio Ambiente: narrativas de jovens
ambientalistas do estado da Bahia” faz parte do seu curso de mestrado na Universidade
Estadual de Feira de Santana, iniciado em 2015 e com previsão para término em 2017.

Concordo em participar de entrevistas com gravação de voz, tendo ciência que minha fala
abordará questões pertinentes à minha história de vida, a ideias pessoais e ao engajamento no
movimento ou grupo ambientalistas.

Sei que tenho o direito de recusar esta permissão, assim como interromper a participação
neste trabalho a qualquer tempo, sem prejuízos para mim. Fui informado que posso perguntar
ao pesquisador sobre quaisquer questões acerca do projeto que fundamenta esta pesquisa e
que tenho total liberdade para não responder a qualquer questão que desejar.

Portanto, quanto à privacidade das informações prestadas por meio das entrevistas, escolho
(favor, assinalar uma alternativa):
( ) não permitir que a minha voz seja apresentada nos produtos dessa pesquisa.
( ) permitir que a minha voz seja apresentada nos produtos dessa pesquisa.

______________________________, _______ de __________________ de_________


(local) (dia) (mês) (ano)

_____________________________________________________________________
Assinatura do participante/declarante
29

APÊNDICE D: ROTEIRO DE ENTREVISTA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS


Departamento de Educação – DEDU
Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Essa entrevista se constitui como parte da pesquisa acadêmica que está em andamento na
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação – PPGE. A entrevista tem como objetivo compreender questões
relacionadas ao engajamento juvenil nos movimentos ambientalistas através da escuta, análise
e estudo de suas narrativas correlacionadas às suas histórias de vida e suas visões sobre a
imbricação da juventude na dinâmica dos movimentos ambientalistas.

1. Lembrando da sua vida desde a infância, quais os eventos/experiências você acha que
motivaram a sua aproximação junto aos movimento ambientalistas? (Quando aconteceu?
Qual significado teve para você? Que paisagens, ideias, pessoas, livros, filmes, aulas...
estão relacionadas às suas experiências no movimento ambientalista?)
2. Qual sua história no movimento ambientalista?
3. Qual sua visão sobre os movimentos ambientalistas?
4. De que maneira você vê o engajamento e a militância juvenil nos movimentos
ambientalistas? (relação entre os jovens/jovens e adultos)
5. Fale um pouco sobre o grupo ou movimento ambientalista que você faz parte.
6. Descreva uma experiência que você teve no movimento ambientalista que marcou sua
vida. Por que marcou?
7. Com quais tipos de ações você mais se engaja dentro dos movimentos ambientalistas? Por
quê?
8. Você se considera um jovem engajado? Por quê?
9. O que é ser jovem e ambientalista na atualidade?
10. Partindo de sua realidade, quais as principais dificuldades encontradas por um jovem
ambientalista?
11. Existe relação entre o engajamento nos movimentos ambientalistas e seu projeto de vida?
Se sim, qual? Se não, por quê?
12. Você acha que a participação política, o engajamento e a questão do exercício da
cidadania têm reflexos na vida acadêmica, universitária e profissional do jovem? Quais?
13. Existe algo que gostaria de falar que não foi contemplado nas perguntas?

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