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Dissertação - Hélio de Cristo
Dissertação - Hélio de Cristo
Dissertação - Hélio de Cristo
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Feira de Santana-BA
2017
HÉLIO SOUZA DE CRISTO
Feira de Santana-BA
2017
Ficha Catalográfica – Biblioteca Central Julieta Carteado
CDU : 504
Dedico esta dissertação aos Davis, Elens,
Jéffersons, Laíses, Laises, Lorranas,
Melindas, Rafaéis, Uendersons e
Vanessas que se encontram espalhados
pelo mundo fazendo das suas trajetórias
de vida porta-vozes e pontes para a
construção de sociedades mais justas,
democráticas e esperançosas. À
juventude que milita, luta e resiste aos
golpes e retrocessos dos tempos
temerários e, sobretudo, acredita que um
outro mundo é possível.
AGRADECIMENTOS
construção profissional durante o Mestrado. É uma honra ser aluno dessa instituição!
Ao meu estimado orientador, Prof. Dr. Marco Antonio Leandro Barzano, pela
orientação, sobretudo por confiar em mim e em meu trabalho. Agradeço pela leveza,
trabalho. Características que, a meu ver, são fundamentais por permitirem que a
Carrano, Prof. Dr. Nei Nunes Neto e Prof.ª Dr.ª Denise Helena Pereira Laranjeira,
trabalho. Agradeço por cada fala e ponderações feitas à época da qualificação que,
Marco Antonio Leandro Barzano, pela seriedade e competência como coordena este
À Profª. Mirela Figueiredo Santos Iriart, Prof.ª Dr.ª Denise Helena Pereira
Dr. Miguel Almir Lima de Araújo por cada aula e pelas contribuições para minha
formação enquanto professor e pesquisador. Com certeza, levarei muito dos seus
ensinamentos.
Agradeço, em especial, a André Nunes Bispo, Clebson dos Santos Mota, Gilmara
Santos Dias Almeida, Jussiana Silva dos Santos Rebouças, Nadjane Gonçalves de
tanto pela disponibilidade de cada jovem que tão bem me acolheu quanto pela
durante o período em que fui seu inquilino e, especialmente, pelo carinho maternal e
meu lado desde os primeiros momentos dessa trajetória, pela companhia sempre
e disponível. Com certeza, sem você, esse processo seria mais difícil.
como ao amigo Joselito Silva pelas palavras de estímulo, por acreditarem no meu
demonstrações de cuidado.
À minha irmã, Anne Gabrielle de Cristo, por sua presença em minha trajetória,
seu apoio, amor e paciência com as minhas ausências e tensões. Agradeço pela sua
atenção e escuta sensível, que possibilitaram o cumprimento de mais essa etapa da
minha vida.
À minha tia, Iêda Maria Barbosa de Cristo e aos primos, Mariana Cristo Silva
e Daniel Cristo Silva pelos deliciosos bolos que recebia quando chegava em
A Deus, por proporcionar a honra e graça deste momento, pelo seu amor
INTRODUÇÃO 17
REFERÊNCIAS 227
APÊNDICES 237
17
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
1
Para efeitos desse trabalho, consideram-se “jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29
(vinte e nove) anos de idade”, conforme o artigo 1º da Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013, que
institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das
políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE (BRASIL, 2013).
18
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
socialização política que, na maioria das vezes, estão relacionados aos núcleos
escolar e familiar, por serem estas as primeiras e, geralmente, mais fortes
instituições de contatos e criação de vínculos da juventude.
Assim, partindo do princípio que no limiar do século XXI a concepção de que
escola e família já não são as únicas agências socializadoras das gerações mais
novas, o presente trabalho surge no pensamento de que nesses processos de
socialização que ocorrem dentro e fora dos espaços escolares e familiares, bem
como em um cenário da sociedade atual em que o próprio desenvolvimento
científico-tecnológico tem apontado e denunciado, cada vez mais, a necessidade e
importância de pensar em ações sustentáveis que garantam a sobrevivência das
gerações futuras, parece-me que a juventude atual se encontra engajada com as
questões e causas ambientalistas.
E é nessa percepção que se torna emergente a necessidade de mergulhar
nas narrativas desses jovens, a fim de compreender que campos e aspectos de
socialização estão por trás ou subsidiam a efervescência de uma juventude que se
engaja e desenvolve processos de militância ambiental na contemporaneidade, sem
perder de vista as relações de lutas das gerações passadas, que se configuram
como solo para as gerações presentes e horizonte para as gerações futuras2.
Novaes (2006) sinalizou que, mesmo em face aos trabalhos desenvolvidos
pelas escolas nas interlocuções entre a Política Nacional de Educação Ambiental e o
Ministério da Educação e do Ministério do Meio Ambiente, estes ainda eram
incipientes ao desenvolvimento de consciências ecológicas e atitudes ambientalistas
que avançassem inclusive nas discussões sobre esta temática. Após uma década,
não se nega o fato de que há uma diversidade de jovens participando e atuando em
movimentos e organizações, alguns deles estudantes de cursos técnicos em Meio
Ambiente, que têm construído experiências, conhecimentos e narrativas no campo
juventude e meio ambiente.
Pensar sobre esse “ser jovem em um tempo em que se dissemina o ideário
ecológico” (NOVAES, 2006, p. 07) e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento
2
Importante destacar que a histórias de lutas, engajamento e militância da juventude pelas questões
ambientais se constitui um marco histórico e social de gerações anteriores, nas quais alguns
ambientalistas brasileiros se destacaram, a exemplo de Chico Mendes, cuja influência do trabalho nos
seringais com seu pai se constituiu como processo de socialização política às suas disposições ao
engajamento e militância ambientalista (MILANEZ, 2013).
20
INTRODUÇÃO
3
O termo “pós”, neste trabalho, não faz referência à ideia de oposição ao que seja atrasado ou
passado. Ele apenas sinaliza que estamos falando de uma geração surgida “depois” da difusão das
ideias ambientalistas que, de acordo com o Programa Juventude e Meio Ambiente (2006), faz
menção aos jovens nascidos a partir do final dos anos 70.
4
A exemplo do vazamento de óleo da Chevron na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro (RJ), em
16 de novembro de 2011; e, mais recentemente, o rompimento da barragem da Samarco em
Mariana (MG), em 05 de novembro de 2015.
21
INTRODUÇÃO
às questões ambientais, porque elas sempre foram vistas como questões de menor
importância e relegadas, especialmente pelos ideais “desenvolvimentistas”, como
concepções românticas que poderiam gerar redução nos investimentos e lucros,
apresentando-se como um empecilho à superação do atraso econômico.
É somente a partir da geração de 1968, com os chamados militantes
ecológicos, que a legitimação e a preocupação com as questões ambientais tornam-
se mais consistentes e busca-se romper com a ideia de que elas não dizem respeito
a problemas sociais de cunho estrutural.
Dessa forma, através das discussões trazidas por Novaes (2012) sobre “as
juventudes e a luta por direitos”, percebe-se que mesmo diante de um ideário
ecológico já construído pelas antigas gerações a partir de movimentos de
sensibilização realizados por organizações não-governamentais (ONGs) e coletivos
de direitos humanos, a juventude contemporânea encontra-se perante e dentro de
questões ainda não solucionadas e que, por vezes, não têm sido alvo de luta nos
debates das agendas políticas e educacionais como reflexo da preocupação com o
desenvolvimento sustentável, como a produção de lixo, a contaminação do ar e da
água, a escassez da água, as queimadas e destruição das florestas.
Essas questões nos parecem antigas. Em contrapartida, existe aí a
necessidade de investigar como tem ocorrido a práxis ecológica da abordagem
dessas discussões no âmbito das reflexões e ações, ou seja, é preciso problematizar
a realidade ambiental considerando os sujeitos ecológicos da contemporaneidade,
conforme propõe Carvalho (2001). Se os problemas ambientais são antigos, o que
tem movimentado as agendas dos jovens ambientalistas? Serão eles, simplesmente,
os ditos romancistas dessa época? Quais são suas reais preocupações ao se
debruçarem e dedicarem suas vidas às questões ambientais? Quais as bandeiras
levantadas pela juventude contemporânea que luta por uma sociedade sustentável?
Quais são os temas ambientais que a juventude tem atuado com mais frequência?
Que processos de socialização atuam como fortes propulsores do imbricamento da
juventude atual com as questões ambientais?
Logicamente, este trabalho não esgotará a discussão sobre todas essas
questões, visto que sua questão central diz respeito aos processos de socialização
que exercem influência na disposição juvenil ao engajamento na militância
ambiental. No entanto, por um lado, são questões paralelas que estão nas
22
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
6
Nas palavras de Abad (2006, p. 28), a ideia de moratória juvenil é um “presente de grego”, visto que
“a moratória juvenil é um tempo vazio, não legitimado nem valorizado socialmente, de impotência,
raiva e estigmatização, que muitas vezes os empurra para a marginalidade”.
27
INTRODUÇÃO
7
Dentre os quais, pode-se citar Carvalho (2001), Leff (2006, 2009), Tristão (2013), Siqueira (2002),
Grün (1996, 2007), Nalini (2010) e Aristóteles (2007).
28
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
dos quais foi possível tecer e fazer as interlocuções entre juventude e meio
ambiente, conforme as finalidades desse trabalho. Dentre os trabalhos encontrados
mencionam-se, segundo suas temáticas:
- Meio ambiente, ética e educação ambiental:
Merecem destaque as obras: “A invenção ecológica: narrativas e trajetórias da
educação ambiental no Brasil”, de Carvalho (2001); “Epistemologia ambiental”,
“Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder”,
“Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza” e “Ecologia, capital e
cultura: a territorialização da racionalidade ambiental”, de Leff (2002, 2004, 2006,
2009)2; “Educação ambiental no Brasil: formação, identidades e desafios”, de Lima
(2011); o artigo “Produção coletiva de conhecimentos sobre qualidade de vida: por
uma educação ambiental participativa e emancipatória”, de Janke e Tozoni-Reis
(2008); o artigo “Uma abordagem filosófica da pesquisa em educação ambiental”, de
Tristão (2013); o livro “Ética e meio ambiente”, Siqueira (2002); o artigo “Ética
ambiental e crise ecológica: reflexões necessárias em busca da sustentabilidade”, de
Wolkmer e Paulitsch (2011); o texto “Ética e educação ambiental”, de Lopes e Costa
(2013); a monografia “Ética e educação ambiental: considerações filosóficas”, de
Battestin (2008); o livro “Ética e Educação Ambiental: a Conexão Necessária”, Grün
(1996); o artigo “A Pesquisa em Ética na Educação Ambiental”, de Grün (2007); a
obra “Ética ambiental”, de Nalini (2010); o texto “Ainda uma vez a ética e a ética
ambiental”, de Azevedo (2010); e a obra “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles (2007).
- Engajamento Militante
Quanto a essa categoria destacam-se: a obra “Narrativas juvenis e espaços
públicos: olhares de pesquisa em educação, mídia e ciências sociais”, de Carrano e
Fávero (Orgs, 2014); a tese “Militância de jovens em partidos políticos: um estudo de
caso com universitários”, de Brenner (2011); a monografia “Levante juventude,
juventude é prá lutar: a relação entre esferas de vida e identidade na construção do
engajamento juvenil”, de Ruskowski (2009); a dissertação “„Jovens de projetos‟ nas
ONGs: olhares e vivências entre o engajamento político e o trabalho no „social‟”, de
Sobrinho (2012); o ensaio “Territórios jovens: técnica e modos de vida”, de Ribeiro
(2014); os livros “Medo e ousadia” e “Pedagogia do oprimido”, de Freire (2011); o
texto “Engajamento e investimentos militantes: elementos para discussão”, de Seidl
2
Respectivamente.
34
CAPÍTULO 1
3
Respectivamente.
35
CAPÍTULO 1
A intrínseca relação entre teoria e prática tem orientado, cada vez mais, os
estudos e pesquisas, especialmente no campo educacional. A indissociabilidade da
prática com a teoria tanto tem despertado a atenção de estudiosos de diferentes
temáticas relacionadas à educação, quanto motivado à escolha de processos de
investigação que articulem e aproximem os caminhos metodológicos e os modos de
se fazer pesquisa com as práticas e vivências sociais.
Ao trabalhar com as experiências cotidianas dos indivíduos, segundo Bruner
(2001), colocam-se diante do pesquisador conhecimentos paradigmáticos e
narrativos, que são essenciais à compreensão de suas concepções de práticas
sociais e os caminhos tomados como referência para o processo de investigação.
36
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
4
Para a pesquisa de grupos, coletivos, organizações e movimentos ambientalistas por meio das
redes sociais e Google foram utilizados os seguintes descritores: juventude e meio ambiente; jovens
ambientalistas na Bahia; coletivos ambientalistas na Bahia; ONGs, juventude e meio ambiente na
Bahia.
5
Os critérios foram: jovens com idade entre 15 a 29 anos, que estão engajados na militância
ambientalista através da participação ativa, tanto nas discussões, quanto nas ações desenvolvidas
pelos grupos, movimentos, organizações e coletivos ambientalistas. Especificar o engajamento
militante como uma das condições sine qua non à participação na pesquisa se constituiu como um
critério fundamental, visto que nos contatos com os grupos, coletivos, organizações e movimentos
ambientalistas, alguns deles informaram que tinham jovens em seus quadros de membros; no
entanto, a atuação desses jovens estava restrita a atividades administrativas e, por isso, não se
enquadravam no perfil de jovens à pesquisa, já que não tinham experiências efetivas de engajamento
e militância ambientalista.
39
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
DAVI
6
Importante destacar que não se constitui objetivo deste trabalho problematizar questões relativas à
natureza, estrutura, organização e funcionamento dos grupos, coletivos, organizações e movimentos
nos quais os jovens estão inseridos. Por esta razão, o presente trabalho, embora reconheça a
importância da reflexão sobre os debates que as formas de atuação dos movimentos, grupos,
coletivos e organizações sociais, não adentrou às discussões acerca da atuação e e dos ideais que
sustentam os movimentos, grupos, coletivos, organizações e partidos nos quais estão imersos os
jovens entrevistados; por não ser o objeto que embasa a problemática desta pesquisa.
7
A entrevista com Davi foi realizada no dia 08 de outubro de 2016.
8
Segundo informações fornecidas via site do Greenpeace Brasil (2016), disponível em:
<http://www.greenpeace.org/brasil/pt/quemsomos/Missao-e-Valores-/>, o Greenpeace é uma
organização ambientalista global e independente, cuja finalidade é defender o meio ambiente e
inspirar mudanças de pensamentos, atitudes e comportamentos das pessoas. Constitui-se enquanto
42
CAPÍTULO 1
instituição sem fins lucrativos e independente, portanto não é adepta a doações governamentais,
empresariais ou oriundas de partidos políticos. O trabalho desenvolvido pela organização é fruto do
financiamento de milhões de colaboradores espalhados pelo mundo. A sua independência econômica
é vista como um dos meios mais eficazes de garantir transparência e liberdade de posicionamento,
lutas e expressão nos processos de investigação, exposição, denúncia e confronto frente aos crimes
ambientais e o seu compromisso com a construção de sociedades sustentavelmente equilibradas.
43
CAPÍTULO 1
ELEN
Elen Bárbara Pereira Marques, 21 anos na data da entrevista9, parda,
solteira, natural de Salvador-BA, onde mora com sua família, não possui filhos,
trabalha e é independente financeiramente com renda mensal entre 01 e 02 salários
mínimos (até R$ 1.760,00). Possui graduação em Gestão Ambiental e, atualmente,
está cursando Engenharia Ambiental e Sanitária. É coordenadora de Meio Ambiente
da Juventude do Partido Verde (PV)10 estadual, em cujo grupo político começou a
participar das reuniões aos 17 anos de idade.
Elen afirma que seu interesse pelas questões ambientais é anterior ao seu
ingresso no Partido Verde, onde iniciou como membro da juventude e, atualmente,
assume a coordenação de Meio Ambiente da Juventude. A jovem Elen diz que uma
das razões que mais instigaram para que ela permanecesse no Partido é o fato de
que os princípios dele muito se assemelham aos seus ideiais de vida quanto à sua
relação com as problemáticas ambientais, visto que ela possui uma trajetória
marcada por participação em movimentos e mobilizações ambientalistas, desde a
sua infância.
Para Elen, a solução das problemáticas ambientais depende das pequenas
ações cotidianas, por isso o seu engajamento se debruça em processos de
conscientização em educação ambiental; o que, para ela, é a parte mais complicada,
porque é difícil tentar mudar o pensamento das pessoas e os conceitos que elas têm
sobre meio ambiente. Nessa perspectiva, dentre as ações desenvolvidas e em seus
relatos, Elen dá grande relevância aos projetos desenvolvidos em orfanatos,
9
A entrevista com Elen foi realizada no dia 24 de setembro de 2016.
10
Segundo informações fornecidas via site do Partido Verde (2016), disponível em:
<http://pv.org.br/opartido/programa/>, o PV é um instrumento da ecologia política. Enquanto um de
seus princípios, o Partido verde luta pelo fortalecimento do movimento ecologista, funcionando
como um canal de ação política, no campo institucional, para servir o ambiental ismo, sem
pretensões hegemônicas ou instrumentalizantes. Partem da concepção que buscam na ecologia
política novos caminhos para os problemas do planeta e, nesse cenário, a juventude se constitui
como peça-chave muito importante para a denúncia das problem áticas ambientais,
conscientização e construção de uma sociedade mais verde, mais sustentável e democrática.
44
CAPÍTULO 1
JÉFFERSON FELIPE
Jéfferson Felipe Alves do Nascimento, 21 anos na data da entrevista11,
pardo, solteiro, poeta, ativista, natural de Paulo Afonso-BA, não possui filhos.
Morador de Jeremoabo-BA, atualmente, reside em Aracaju-SE em habitação coletiva
alugada (residência de estudantes), onde cursa Relações Internacionais na
Universidade Federal de Sergipe (UFS). É fundador do Grupo Aventura Ambiental
de Jeremoabo (GAAJE)12 e membro do Engajamundo13.
11
A entrevista com Jéfferson foi realizada no dia 31 de agosto de 2016.
12
Segundo informações fornecidas via site do Grupo Aventura Ambiental de Jeremoabo (2016),
disponível em: <https://greenwire.greenpeace.org/brazil/pt-br/groups/gaaje-grupo-aventura-ambiental-
jeremoabo> e <http://gaajebio.blogspot.com.br/>, o GAAJE é um grupo ambientalista composto por
jovens que gostam de aventuras e que desejam uma sociedade mais sustentável e, por isso, os
jovens se engajam em ações práticas voluntárias que, além de possibilitar a diversão e o lazer entre
eles, têm o objetivo de maior de desenvolver a consciência ambiental dos jeremoabenses no que diz
respeito às relações entre ser humano e meio ambiente. Para isso, o GAAJE se estrutura no tripé
“mobilização social, educação ambiental e aventura” como fundamento da sua missão de
conscientizar, aventurar e aprender.
13
Segundo informações fornecidas via site do Engajamundo (2016), disponível em:
<http://www.engajamundo.org/o-engajamundo/>, o Engaja – como também é conhecida – é uma
organização constituída por uma liderança jovem e criada por e para jovens. É uma organização sem
fins lucrativos e desvinculada de partidos políticos, representações governamentais e empresariais. O
Engajamundo acredita, sobretudo, na importância da atuação e engajamento da juventude na esfera
global e, por isso, busca formar jovens conscientes de seu impacto social e ambiental, capazes de
participar efetivamente das decisões que podem impactar as suas comunidades, o país e o mundo.
Portanto, a organização parte do princípio que as juventudes são peça fundamental para enfrentar e
propor estratégias de solução aos desafios sociais e ambientais pelos quais passam o Brasil e o
45
CAPÍTULO 1
mundo. Por isso, busca a participação efetiva, engajada, protagônica e militante dos jovens tanto
nas decisões quanto nas ações por meio de formações, mobilização e ações de ativismo, que têm
também a finalidade de empoderar a juventude brasileira para compreender, participar e incidir em
processos políticos internacionais. Além disso, a organização reivindica mais acesso e representação
da juventude nestes processos, para que os jovens conquistem mais espaço para articular suas
demandas, especialmente, nos âmbitos políticos. Assim, a organização atua com foco em quatro
temas, conforme propostos pelos voluntários, a saber: Clima, Habitat 3, Gênero e Desenvolvimento
Sustentável.
46
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
LAÍS
14
A entrevista com Laís foi realizada no dia 02 de setembro de 2016.
15
Segundo informações fornecidas via site do Grupo Aventura Ambiental Santa Brígida (2016),
disponível em: <http://www.gaasb.com.br/p/o-gaasb.html>, o GAASB é um grupo feito por e para
jovens, sem fins lucrativos, com caráter apartidário, que não aceita doações de partidos políticos ou
empresas, a fim de que sua neutralidade seja mantida e a representação dos reais interesses da
organização prevaleça. Define-se como um grupo composto por jovens residentes no município de
Santa Brígida - Bahia, que dispõem o seu tempo a fazer trabalhos voluntários visando a pratica de
lazer e conservação ambiental. Por meio de ações voluntárias, projetos e ativismo, incentiva o
protagonismo e o engajamento juvenis para chamar atenção da sociedade e governo, especialmente
quanto ao grave quadro que se encontra o meio ambiente, procurando compreender, participar e
monitorar as tomadas de decisões políticas, assim como também reivindica mais acesso à
representação de jovens nestes processos e espaços públicos. Vale ressaltar que a criação do Grupo
Aventura Ambiental de Jeremoabo (GAAJE) foi inspirada no Grupo Aventura Ambiental Santa Brígida
(GAASB), a partir das interlocuções, diálogos e parcerias entre seus idealizadores, Jéfferson Felipe
Alves do Nascimento e Rafael de Lisboa Deveza, respectivamente.
48
CAPÍTULO 1
ambiente e, ao mesmo tempo, insere o ser humano como ser ativo e integrado às
relações ambientais em sua conjuntura social, política e cultural.
Aos 19 anos de idade, passou a participar mais ativamente de movimentos
ambientalistas. No GAASB, promove passeios e, nesses passeios, faz coletas de
lixo. No local que escolhem, realizam alguns projetos de intervenção na cidade,
criação de lixeiras com material reciclado, implantação dessas lixeiras, projetos de
educação ambiental nas escolas para crianças e adolescentes. Além disso, participa
de projetos da gestão do município, da Secretaria de Educação e realiza –
semanalmente ou quinzenalmente – encontros para elaboração de ações em Santa
Brígida.
Em seus relatos, afirma que, desde quando entrou no grupo, foi uma
experiência que foi se construindo cada vez melhor e o que mais a instigava era o
desejo pela aventura, principalmente pelo fato de ser muito aventureira e as ações
do grupo instigavam a descoberta e conhecimento de novos lugares, de entrar numa
trilha, ver como é, ver o pôr do sol, subir uma serra. Esse conjunto de possibilidades
trazido pelo GAASB fez com que se tornasse integrante do grupo, já que há uma
articulação entre prazerosa de aproximar a juventude aos assuntos relacionados ao
meio ambiente.
Laís acredita que o primeiro passo para que as mudanças ambientais ocorram
é tentar conscientizar as pessoas, chamar primeiro a atenção delas para o
movimento e, a partir daí, poder criar ações e saber dessas pessoas, também, como
elas queriam que fosse. Assim, ela relata que participou do Projeto Cidade dos
Sonhos, a fim de que as pessoas pudessem se expressar e, a partir do que elas
verbalizassem, os jovens viam o que poderia fazer em prol da melhoria da qualidade
de vida ambiental da comunidade onde mora.
Conforme Laís, Cidade dos Sonhos é um projeto que está sendo feito para ir
à praça pública, onde os jovens coletam a informações com a população sobre “a
cidade dos seus sonhos”. No caso do GAASB integrado com o Engajamundo, todo o
processo é voltado para o meio ambiente, de onde emergem temas como coleta
seletiva e uso de outros tipos de combustíveis. Depois de coletar as informações
com a população, os jovens ambientalistas elaboram um documento e entregam
para representantes governamentais de seu município ou para os candidatos a
prefeito da cidade (em ano de eleição) para que eles se comprometam em trazer
49
CAPÍTULO 1
LAISE
16
A entrevista com Laise foi realizada no dia 25 de agosto de 2016.
50
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
LORRANA
17
A entrevista com Lorrana foi realizada no dia 24 de agosto de 2016.
18
Segundo informações fornecidas via site do Grupo Ambientalista da Bahia (2016), disponível em:
<http://www.gamba.org.br/instituicao/quem-somos>, o GAMBÁ é uma organização não-
governamental, sem fins lucrativos, constituída com a finalidade de promover a conservação do Meio
Ambiente, o desenvolvimento sustentável e a formação da cidadania, baseada em princípios
democráticos e de justiça social. Sua fundação ocorreu em 14 de abril de 1982, a partir da iniciativa
de um grupo de técnicos e profissionais liberais preocupados com o avanço da degradação ambiental
na Bahia. Em sua trajetória, o Gambá denuncia irregularidades ambientais, discute a legislação,
assume cargos de representação de ONGs ambientalistas nos espaços de controle público,
desenvolve campanhas e ações de mobilização social, elabora e executa projetos, além de realizar
trabalhos de pesquisa, monitoramento e recuperação da fauna e da flora.
19
Segundo informações fornecidas via documento dos Ministérios da Educação e Meio Ambiente
(2004), disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/com-vida.pdf>, a
Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-VIDA) é uma resposta ao pedido dos jovens
delegados e delegadas da Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente ocorrida em
2003, que escreveram uma Carta pedindo a criação de conselhos jovens e Agendas 21 nas escolas
como espaços de participação em defesa do meio ambiente. Desse modo, a COM-VIDA se constituiu
como uma nova forma de organização na escola e se baseia na participação de estudantes,
professores, funcionários, diretores, comunidade. O principal papel da COM-VIDA é contribuir para
um dia-a-dia participativo, democrático, animado e saudável na escola, promovendo o intercâmbio
entre a escola e a comunidade. Por isso, a COM-VIDA é vista como instrumento capaz de somar
esforços com outras organizações da escola, como o Grêmio Estudantil, a Associação de Pais e
Mestres e o Conselho da Escola, trazendo a Educação Ambiental para todas as disciplinas.
52
CAPÍTULO 1
MELINDA VICTÓRIA
20
A entrevista com Melinda foi realizada no dia 06 de setembro de 2016.
53
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 1
RAFAEL
21
A entrevista com Rafael foi realizada no dia 04 de setembro de 2016.
55
CAPÍTULO 1
ações, que desenvolve junto a grupos de jovens que promovem ações voluntárias
em prol do meio ambiente.
Para Rafael, a situação ambiental tanto nacional quanto global é crítica e na
esteira dos principais problemas ambientais da atualidade está o aumento da
temperatura do planeta, o desmatamento das florestas (com a perda da
biodiversidade), o acúmulo do lixo no solo e nos mares, o uso excessivo da energia
oriunda dos fósseis, a poluição de rios pelos agrotóxicos e redes de esgoto e
empresas.
Na sua visão, o retrato desses problemas deve-se ao fato de que, embora o
governo e as empresas estejam cada vez mais preocupados com o Planeta, de certa
forma não deixa de ser apenas “uma prestação de contas às ONGs, sociedade civil,
ONU e afins”. Por isso, ele acredita que os acordos firmados são pouco ambiciosos
e as mudanças em médio e longo prazo não garantem a conservação do meio
ambiente, nem que a Amazônia irá alcançar o desmatamento zero ou que a matriz
energética do Brasil daqui a 30 anos seja gerada a partir de fontes renováveis. O
que ele vê são leis de licenciamento ambiental sendo descartadas, dando legalidade
para empresas praticar seus atos sem os devidos cuidados e senso de
responsabilidade, apenas maquiando uma realidade que pode ser mudada.
UENDERSON
22
A entrevista com Uenderson foi realizada no dia 06 de outubro de 2016.
56
CAPÍTULO 1
dos problemas ambientais não está, necessariamente, nas mãos dos grupos,
coletivos, organizações e movimentos ambientalistas; dependem, sobretudo, das
posturas do ser humano nas relações diárias e, ao mesmo tempo, do teor e objetivos
das decisões empresariais e governamentais – sejam elas municipais, estaduais ou
federais.
Dentre as ações e atividades de engajamento realizadas por Uenderson,
destacam-se trabalhos voluntários, nos quais exerce o papel de levar ideias,
campanhas e informações referentes ao Greenpeace, especialmente em unidades
escolares. Além disso, ele se considera como um semeador do pensamento
sustentável, não só pela ONG, mas também pela sua vida social, profissional e pelos
ideais de sociedade com quais comunga acerca da intrínseca relação entre ser
humano, meio ambiente e equilíbrio sustentável.
Uenderson considera que a situação ambiental nacional e internacional é
muito preocupante, principalmente, pelo fato de que muito é falado, planejado e
quase nada é cumprido, efetivamente. E, na maioria das vezes, isso ocorre porque o
sistema governamental pensa muito mais nas relações capitalistas de obtenção de
lucros através da exploração exacerbada do meio ambiente, especialmente das
fontes e recursos naturais.
Nessa perspectiva, na visão do jovem Uenderson, os principais problemas
ambientais enfrentados pela humanidade atualmente são a produção de energia
associada à construção de hidrelétricas, usinas termoelétricas e nucleares; a
intensificação da exploração e uso da terra; e a ausência de atitudes cotidianas
sustentáveis, que estejam comprometidas com a redução do consumo de energia,
da geração de lixo e outras posturas simples, mas que – em seu conjunto – fazem
grande diferença para a construção de sociedades mais limpas, sustentáveis e
equilibradas.
Uenderson afirma que, após se formar em Geologia, pretende continuar no
Greenpeace, porque tendo conhecimento sobre os estudos da terra e sobre as
questões ambientais poderá fazer um trabalho mais conciso com mais
embasamento, visto que tem conhecimento de ambos os lados. E, desse modo,
poderá unir um campo ao outro e realizar seu trabalho, em consonância com o
desejo de continuar engajado e militando nos movimentos ambientalistas articulado
com o trabalho na área de geologia ambiental.
57
CAPÍTULO 1
VANESSA CINTHIA
23
A entrevista com Vanessa Cinthia foi realizada no dia 10 de outubro de 2016.
58
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
Ser jovem é uma coisa muito relativa. Bourdieu já falava [...] Ser
jovem tem várias nuances, eu não posso definir, eu não posso dar
uma definição completa do que é ser jovem. Não é uma coisa só, é
muito relativo... (Melinda).
CAPÍTULO 2
Mesmo que a gente explique, ficam sempre com aquele “pé atrás”,
com aquela concepção preconceituosa sobre a juventude.
Acerca das fases da vida numa perspectiva histórica, Ariès (2014) salienta
que o entendimento de juventude que se tem nos dias de hoje não é o mesmo da
sociedade pré-industrial, onde a infância estava muito ligada ao mundo adulto.
Nesse contexto, a juventude é formada por pessoas de 6 a 40 anos de idade, pois
não havia uma institucionalização que classificasse as idades.
A partir do século XV, de acordo com Àries (2014), começam as surgir as
primeiras abordagens teóricas e práticas de ordem humanista e religiosa, a fim de
fazerem a distinção entre infância, juventude e vida adulta. Essa divisão, inclusive,
terá mudanças na organização do ensino, pois tende-se a separar as crianças,
jovens e adultos.
No entanto, o termo juventude ganha maior consolidação e precisão, a partir
da obra Emílio, de Rousseau, publicada no século XVIII. Nela, o filósofo produz,
teoricamente, concepções modernas de infância e adolescência, fornecendo as
bases para compreender o que viria a ser denominada juventude no século XIX.
A compreensão histórica sobre a ideia de juventude possibilita perceber que
essa categoria é construída socialmente e sofre mutações tanto no tempo quanto
nos espaços sociais, o que revela não ser homogênea. De acordo com Pais (2009),
organizar as fases da vida por segmentos etários não diz respeito a um aspecto
inerente às sociedades, essa característica tem suas origens nos processos de
construções sociais.
61
CAPÍTULO 2
Desse modo, nas duas últimas décadas, a juventude passa a ganhar certa
visibilidade no cenário brasileiro, especialmente por meio das políticas
governamentais, que buscam colocá-los numa posição de centralidade na
formulação e efetivação das políticas e programas públicos (CARRANO, 2013).
Daí que não se podem desconsiderar os aspectos históricos que perpassam
as trajetórias dos jovens ambientalistas na atualidade, como foi apresentado por
Rafael:
Ainda assim, Abramo (2007, 2014) adverte que, mesmo em face dos jovens
ocuparem certa centralidade enquanto sujeitos de pesquisas nos temas de
dissertações e teses nas academias, as investigações ainda se pautam numa
perspectiva restrita a discussões sobre
CAPÍTULO 2
1
Destaca-se que no mapeamento realizado nos trabalhos da ANPEd, mais especificamente no GT 03
– Movimentos sociais, sujeitos e processos educativos (8 trabalhos), pode-se perceber uma maior
valorização nos últimos anos dos estudos sobre juventude como categoria plural, possuidora de uma
identidade e o deslocamento da centralidade dos estudos apenas voltados para a família e a escola,
passando a considerar os diversos aspectos que perpassam as juventudes. A exemplo desse
deslocamento, foram encontrados trabalhos que abordam as relações juvenis com os movimentos
sociais, as expressões culturais, as culturas e saberes juvenis, a construção da autonomia juvenil.
63
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
O fato é que os jovens vivem, de certa forma, nos conflitos entre os antigos
valores e as novas relações provenientes da sociedade. Ser jovem, por exemplo,
“crescendo em uma família „nuclear tradicional‟, com irmãos biológicos, é diferente
de sê-lo em uma família recasada, coabitando com padrasto e irmãos não
biológicos” (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 23).
Essa multiplicidade se alicerça em conjunturas sociais como aquelas de
classe, geracionais, identitárias, étnicas, de gênero, políticas, religiosas, históricas,
geográficas, familiares, dentre outros fatores que reverberam nas diferentes
maneiras e modos de ser jovem sócio-historicamente.
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
Para Sarti (2004), o mundo social e a compreensão do lugar que ocupam são
construídos pelos jovens por meio dos processos de socialização e interação social
que viabilizam tanto a tomada de consciência dos conflitos, desafios e possibilidades
existentes em seu contexto como a consciência das expectativas criadas entorno
das novas gerações como sinônimos de vigor, luta e manifestações de anseios.
No entanto, não se pode cair na falsa ideia ou na ingenuidade que a
juventude por si só é fonte de resolução dos problemas sociais articulados com
questões políticas, econômicas, culturais e ideológicas. A juventude, mediante as
problemáticas ambientais, deve ser vista como parte da solução e não como
responsável total e absoluta pela resolução e amenização dos problemas
ambientais.
Rafael, Davi e Uenderson, por exemplo, acreditam que a solução para os
problemas ambientais e o efetivo resultado do engajamento juvenil ambientalista não
dependem apenas das pequenas ações das pessoas no dia a dia. Embora
acreditem na importância dessas ações, eles colocam que é preciso um movimento
maior, mais consistente e positivo por parte das esferas governamentais e das
empresas, especialmente em sua tomada de decisões na sociedade capitalista que
tem seu foco nas relações de produção e consumo, por vezes, desenfreadas.
Para eles, a existência de grupos, organizações e coletivos ambientalistas por
si só não terão efeitos significativos se não conseguirem atingir positivamente os
modos de pensar e ser ambientalistas dos governos e grandes empresas. Por essa
razão, na perspectiva de Rafael – tomando como referência o grupo que coordena, o
GAASB – os grupos, coletivos e organizações ambientalistas são vistos
CAPÍTULO 2
2
Política pública é aqui entendida como “o conjunto de diretrizes e ações encaminhadas pelo poder
público para atender a determinados interesses e necessidades coletivas, as quais podem ser
implementadas pelo próprio Estado ou em conjunto com a sociedade civil” (SILVA; SILVA, 2011, p.
663).
72
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
querem alguma coisa, eles colocam a cara pra bater e dizem: „Oh, eu estou aqui! Eu
quero isso, me escutem‟”.
É preciso, pois, abandonar essa visão negativa acerca da juventude e passar
a compreender os jovens como produtores de história, culturas e de territórios
individuais/coletivos. Para Leão, (2011, p. 99), “os jovens são atores plurais, abertos
à experimentação e propensos a assumir diferentes identidades dependendo do
contexto e das relações sociais em que estão inseridos”.
Leão (2011) parte do pressuposto de que refletir sobre quem é esse jovem e
como ele se tornou quem é se constituem uns dos aspectos principais para
compreendê-lo como sujeito dentro de uma multiplicidade de experiências e papéis
sociais que assume. Por isso, para Melucci (2004), ser jovem não se fundamenta na
ideia de destino; para ele, a juventude está atrelada à capacidade de fazer escolhas,
transformações e construir caminhos de autonomia e responsabilidade.
Dayrell, Moreira e Stengel (2011) apontam que a pluralidade das juventudes
contemporâneas implica na necessidade de compreendê-las sob olhares múltiplos
para além dos demarcadores etários e enquanto formadas por sujeitos de e em
transformação, entendendo juventude como categoria social cuja complexidade é
perpassada por questões de gênero, etnia, geração, política e classe social.
Desse modo, as discussões tecidas nesse trabalho, no conjunto das reflexões
acerca da juventude contemporânea e seu imbricamento com a problemática
ambiental, consideram
CAPÍTULO 2
é ser ousado, porque tem que ter muita ousadia pra bater de frente
com pessoas que estão ali dispostas a lhe impedir de fazer seu
trabalho. Pessoas que ficam tentando fazer você desacreditar no que
você pensa. Então, você tem que ter a cabeça muito centrada e força
de vontade pra lutar pelo objetivo que se quer. Acho que ser jovem e
ser ambientalista tem um pouco dessa ousadia: você querer e você
correr atrás do que você quer (Laís).
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
que essa invisibilidade tem em suas raízes a concepção de que “cuidar do meio
ambiente já é visto, por muita gente, como falta do que fazer” (Davi).
Logo, numa sociedade capitalista a luta ambientalista ocupa muito mais o
lugar da “desordem” do que de reflexo de uma juventude que, imersas nos
movimentos ambientalistas, constroem e ressignificam suas biografias através das
interações sociais na busca por sentidos de vivências, experiências de vida e
formação das suas identidades. Portanto, vistos pela perspectiva da interação social
e enquanto sujeitos sociais, os jovens ambientalistas não se fundamentam em “oba-
oba”, em ações estanques. Há sentidos e significados atribuídos às suas maneiras
de ver, interpretar e atuar no mundo.
Além disso, é importante perceber que as diferentes experiências vividas
pelos jovens, desde a infância, mostram que o que acontece na infância não
permanece na infância, mas se estende para o resto da vida dos indivíduos em suas
diferentes fases. E, nesse sentido, desconsiderar as relações sociais construídas
pelos jovens como formatadoras das suas identidades significa desconsiderar o
quanto as relações familiares, escolares, entre amigos e outras instâncias sociais
exercem influência na formação identitária juvenil. A esse respeito, vejamos o que
disse Laise:
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
é muito comum aparecer o relato de que, embora muitos tenham despertado sua
vontade pelas problemáticas ambientais por meio dos pais, há certo
descontentamento (ou a princípio existiu) da família em virtude de os jovens
seguirem seus projetos de vida dentro dos movimentos ambientalistas,
principalmente por causa do pouco retorno financeiro. Dos jovens entrevistados, é
possível perceber que da juventude que mora na zona urbana, as famílias esperam
que eles tenham desejo por cursos de alto prestígio ou que busquem construir suas
vidas de modo que sejam mais reconhecidos social e financeiramente, como
podemos observar:
Minha família fica muita preocupada, minha mãe acha que eu não
tenho o que fazer. Ela não entende muito a fundo sobre o grupo [...]
Enfim, minha família super apoia, só ficou meio assim quando eu
disse que ia fazer Biologia pra ser professor. Ficaram meio... “ah,
porque existem tantos outros cursos que podem dar uma melhor vida
pra você no futuro”. Mas, isso aí passou, eles entenderam que essa
é minha vontade [...] Então, digamos que esses movimentos são
incentivo, influência e foi um divisor de pensamentos. E hoje, já é
uma decisão minha: assim que terminar o colégio, já vou procurar
fazer alguma coisa, um vestibular relacionado a Ciências Biológicas.
A princípio, queria fazer um bacharelado porque minha intenção é
trabalhar com organizações. Mas, caso não consiga, é licenciatura
mesmo, não tem problema (Rafael).
CAPÍTULO 2
O “ir pra fora”, inclusive, remete à ideia errônea que, historicamente, foi
construída de que o jovem do campo deve projetar sua vida desconsiderando suas
raízes campesinas3; visto que, nessa linha de pensamento, o campo é o lugar do
atraso e da contemplação da natureza. Portanto, essa visão corrobora para a
negação e invisibilidade da identidade juvenil (LEÃO, 2015).
Nesse sentido, compreende-se que seja “tarefa do mundo adulto e suas
instituições garantir aos jovens momentos e situações em que se coloquem como
interlocutores, promovendo uma relação intergeracional” (DAYRELL, 2013, p. 03). O
cumprimento dessa tarefa em sua plenitude e efetividade requer o rompimento com
o conjunto de representações negativas e preconceituosas que, ainda, circundam no
imaginário, discursos e relações mantidas com a noção de juventude.
Compreender a juventude como categoria constituída por sujeitos sociais que
possuem autonomia, capacidade de escolha, condições de decidir e perspectivas de
diferentes projetos de vida não invalida nem nega o importante papel que as
instituições sociais podem exercer no diálogo intergeracional, como forma de
orientação e mediação entre as gerações passadas e presentes. Neste aspecto,
Dayrell (2013) enfatiza a necessidade de romper com a visão de juventude atrelada
à noção de incompletude, despreparo, ausência, incerteza e desconfiança.
Melinda considera que o intervalo entre a esperança e a falta de credibilidade
dada aos jovens contribui para os conflitos entre gerações, uma vez que na maioria
das vezes não se concebe a existência da juventude sem a tutela das gerações mais
velhas e, dessa forma, é retirada do jovem sua autonomia de sujeito; bem como se
reforça a ideia que os jovens são indivíduos despreparados, problemáticos,
inexperientes, instáveis e, se são incapazes de pensar sobre as suas próprias
trajetórias de vida, que condições têm de decidir sobre a relação entre sociedade e
meio ambiente?
Por essa razão, sem desconsiderar sua importância, Melinda afirma que
inclusive nos próprios movimentos ambientalistas se faz presente tanto a visão da
3
Novaes (2006, p. 10) destaca que “via ecologia, os jovens rurais e urbanos se conectam com as
questões de seu tempo, fazendo dialogar velhos problemas com novas motivações. Hoje, no campo e
na cidade, há grupos de jovens ambientalistas. E ao mesmo tempo, o tema é quase obrigatório nas
demais organizações juvenis. Os grêmios estudantis, as juventudes partidárias e as pastorais da
juventude católica e evangélica se veem na obrigação de colocar um item ecológico em seus
projetos, programas e agendas [...] Nesse contexto, em que a violência se banaliza e a natureza está
ameaçada, o ideário ecológico pode ser uma amálgama para a construção de sentido e utopias
juvenis”.
82
CAPÍTULO 2
juventude como categoria formada por sujeitos pensantes e críticos quanto à visão
de uma juventude amorfa e agregadora de instabilidades em relação ao seu
engajamento e projetos de vida. Para ela, essa falta de visibilidade e credibilidade
dada às vozes juvenis corrobora para as dissenções geracionais e, ao mesmo
tempo, para que alguns jovens não consigam transpor seus próprios limites e
cheguem à vida adulta com uma visão de mundo mais ampliada.
E por isso, de maneira bem geral, pensando nos anseios juvenis dentro dos
movimentos, coletivos, organizações e grupos ambientalistas, ainda se vê que
E complementa:
CAPÍTULO 2
Esta mesma autora deixa evidente que a condição juvenil, no que tange à
formação de sua identidade e construção de seus projetos de vida, não se dá
unilateralmente e ramifica-se em virtude dos diferentes gostos, da participação em
84
CAPÍTULO 2
É nesse sentido que Martins e Carrano (2011, p. 44) ressaltam que, apesar
dos jovens possuírem certa autonomia em relação ao mundo adulto na construção
de suas identidades culturais, “há uma via de mão dupla entre aquilo que herdam e a
capacidade de cada um construir seus próprios repertórios culturais”. Nessa via, é
preciso estar atento para os riscos e as incertezas que perpassam a formação dos
projetos de vida juvenis, especialmente em virtude desses jovens estarem imersos
85
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
será efetiva sem a devida credibilidade dada a essa categoria e sem que sejam
oferecidas as condições necessárias para que os jovens possam compreender sua
realidade e participar ativamente na transformação do seu contexto.
Nesse cenário de intersecções entre as múltiplas identidades juvenis, seus
projetos de vida e os paradoxos da atual condição juvenil, Abramo (2014, p. 13)
adverte que
CAPÍTULO 2
Eu não quero que um filho ou um neto meu não possa ver o que eu
tenho a oportunidade de ver. Tipo, eu moro num lugar que tem
bastante árvores, tem pássaros, tem tudo isso. E, assim, está ficando
urbanizado, mas pelo menos eu tive a oportunidade de conhecer e
eu não quero que as próximas gerações não tenham a oportunidade
de conhecer as coisas como são de verdade ou conviver num mundo
88
CAPÍTULO 2
Essa visão, que situa o meio ambiente numa perspectiva entrelaçada com a
ideia de problemática social, é apontada pelos jovens como elemento fundamental
trazido nos processos de formação (palestras, seminários, oficinas) que
desenvolvem com crianças, jovens e adultos, a fim de descortinar a falsa ideia de
que meio ambiente se resume ao mundo das coisas naturais e que, por vezes, exclui
o ser humano enquanto sujeito integrante e atuante desse espaço:
CAPÍTULO 2
uma árvore, mas não precisa fazer isso [...] Não adianta ensinar o
que é o meio ambiente e não conscientizar. É preciso conscientizar.
É preciso dizer que somos parte disso, não à parte. Não estamos
avessos a esse processo, não estamos separados disso (Melinda).
CAPÍTULO 2
A última formação que a gente fez foi o “Moças pelo Clima”, que teve
duas etapas: a primeira foi com mulheres marisqueiras, para
entender os impactos das mudanças climáticas na vida dessas
mulheres e passar para elas o que eram mudanças climáticas, como
elas entendiam isso; porque muitas nem sabem o que são as
mudanças climáticas. São mulheres de uma comunidade quilombola
de Santo Amaro, que trabalham e vivem da pesca e da mariscagem.
E a segunda etapa, a gente fez numa escola de Cruz das Almas, que
foi exatamente pra mostrar aos alunos da escola a relação de clima e
gênero. Como as mulheres são as mais afetadas pelas mudanças
91
CAPÍTULO 2
climáticas [...] Sim, mulheres e clima têm tudo a ver. Então, a gente
mostrou para esses alunos de forma bem dinâmica, fez alguns jogos
e sempre questionava pra eles: “se chove demais e sua casa inunda,
quem é que vai limpar a casa?”. E eles sempre respondiam: “Minha
mãe”. E aí a gente ia mostrando para eles: “Olha como isso está
relacionado?!”. “Se você fica doente, tem dengue ou chikungunya, ou
pega uma leptospirose, quem cuida do filho? A mãe”.
Por um bom tempo meio ambiente e ser humano foram vistos como
categorias que, embora estivessem relacionadas, o primeiro assumia uma posição
de subserviência em relação ao segundo. Além da capacidade de retirar da natureza
os meios para proverem seu sustento e sobrevivência, em nome do
desenvolvimento e progresso, o ser humano à medida que as sociedades foram se
desenvolvendo, passou a deter certo poder para agir sobre o meio ambiente. Já não
bastava apenas extrair da natureza seus alimentos, o próprio desenvolvimento
tecnológico impulsionou para que o homem explorasse e transformasse a ordem,
organização e funcionamento da natureza.
4
Macrossocial refere-se à ideia de entender numa perspectiva ampla e mais abrangente a relação
estabelecida entre ser humano e natureza, que não se limita às denúncias de causas e
consequências da atuação do homem sobre o meio ambiente.
92
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
pressuposto que os problemas ambientais não são recentes e que suas lutas se
tornam mais urgentes na atualidade, especialmente, por causa do avanço
desenfreado da sociedade capitalista:
A gente também vê que esses movimentos não são novos, não foi de
2000 para cá que começaram os movimentos ambientalistas. Então,
muito atrás, já dá pra perceber que já tinha um movimento se
criando, já tinha pessoas preocupadas com a caça de baleias, com o
aquecimento global. Tudo isso só foi gerando e se desenvolvendo ao
longo que o planeta ia ficando um pouco mais doente do que já está
e você vê que as pessoas começaram a ficar preocupadas (Rafael).
CAPÍTULO 2
5
Vale lembrar que o conceito de sustentabilidade difere do conceito de desenvolvimento sustentável.
De acordo com Sartori et al (2014), a sustentabilidade tem como objetivo maior atingir o equilíbrio
entre as relações humanas e o meio ambiente, procurando inclusive delinear os limites quanto ao uso
dos recursos naturais. Por outro lado, o desenvolvimento sustentável se pauta na ideia de
preservação dos ecossistemas, mas dá maior relevância em satisfazer as relações socioeconômicas
e, sobretudo, manter o modelo de desenvolvimento econômico capitalista. Assim, Sartori et al (2014)
salientam a forte relação do capitalismo e o neoliberalismo com a ideia de desenvolvimento
sustentável. Ou seja, as autoras enfatizam que o termo desenvolvimento sustentável, principalmente
na contemporaneidade, está a serviço dos princípios capitalistas e que, portanto, fere ao ideário da
construção de uma sociedade sustentável; visto que o desenvolvimento sustentável está associado
ao discurso socioeconômico de degradação ambiental e foge da ética ambiental pautada em valores.
Por essa razão, segundo os objetivos que norteiam este trabalho, será considerada a ideia de
sustentabilidade.
95
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
Isso mostra que cada sociedade possui uma visão singular de natureza, que
vai desde a visão mágica de meio ambiente até à visão dualista oriunda da
revolução científica que se fundamenta em binarismos, tais como: homem versus
natureza, homem versus animal e sociedade versus natureza. Tal visão coloca em
pauta que outro aspecto a ser observado é o fato de que os problemas ambientais
não dizem respeito apenas a uma discussão sobre degradação e preservação dos
recursos naturais, mas busca também perceber as questões ambientais como um
problema de caráter ético.
Vistos por essa ótica, uma alternativa a enfrentar e amenizar os problemas
ambientais da atual sociedade talvez esteja na própria superação das relações
antropocêntricas, que colocam tanto o homem em condição de dominação total
sobre a natureza como sobre si mesmo. Essa superação requer mudanças crítico-
reflexivas acerca dos paradigmas científicos, sociais e culturais que sustentam os
valores, conhecimentos, percepções e atitudes do homem no espaço.
Desse modo, coloca-se em xeque a construção de uma sociedade que seja,
de fato, cidadã e democrática, onde as questões ambientais assumam a condição de
opção política ao refletirem sobre visões de mundo, valores, comportamentos,
injustiças sociais, questões de saúde e maneiras de viver dos indivíduos, desde as
gerações mais velhas às mais novas.
Isso perpassa pela compreensão da responsabilidade, compromisso e do
papel que cada indivíduo, enquanto sujeito social, possui na produção de uma
sociedade mais justa e igualitária, onde seja possível viver de maneira equilibrada,
percebendo-se tanto como ser integrante da natureza quanto como sujeito que deve
procurar e descobrir soluções aos problemas ambientais que a própria sociedade
moderna criou e tem dificuldades de conviver com eles.
Quanto a este aspecto, Machado (2014, p. 139) ressalta que meio ambiente
deve ser visto como uma categoria de “esfera pública, espaço por excelência da
ação humana como convivência com os ouros humanos e partilha nas decisões
sobre os destinos dos bens comuns, isto é, se orientada pela preservação do mundo
e não pela defesa do eu”.
Este mesmo autor elucida as interlocuções estabelecidas entre meio ambiente
e dinâmicas sociais, uma vez que a compreensão do papel dos atores sociais
nessas interlocuções perpassa pelo conhecimento da real situação dos problemas
97
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
ambientais não é suficiente para que ocorram mudanças efetivas seja numa
perspectiva local, seja global.
O engajamento de jovens ambientalistas evidencia que conectar a tomada de
consciência com a importância da tomada de ação no envolvimento com a
problemática ambiental não significa adotar uma postura individualista, pois “é algo
que todo mundo, na verdade desde o pequenininho até o senhor mais velho, deveria
ser preocupado porque é algo que implica na nossa vida de tal forma, que muitas
pessoas não têm nem noção” (Rafael). Envolver-se com as questões ambientais é
uma opção política necessária que não pode recair como responsabilidade exclusiva
dos coletivos ambientais, cientistas, técnicos e especialistas; como se fossem deles
o papel de resolver os problemas do meio ambiente, conforme reforçam Kondrat e
Maciel (2013) e Tristão (2013).
Tristão (2013) sinaliza que a temática meio ambiente não deve assumir a
conotação de interesse e preocupação de algumas pessoas ou coletivos sociais.
Para ela, essa questão é de todos os indivíduos, pois enquanto sujeitos sociais
somos produtores de formas de consumo, exploração, degradação, preservação ou
conservação da natureza e, nesse sentido, não há imparcialidade de nenhum
indivíduo na sua relação com o meio ambiente.
Para esta autora, compreender as questões ambientais em sua
complexidade deve-se partir do princípio de que essa é uma questão, sobretudo,
social, que não está ancorada essencialmente nos pressupostos científicos. A
ausência dessa compreensão pode gerar a falsa ideia de que os assuntos e a
solução dos problemas ambientais são de responsabilidade do campo técnico-
científico, quando na verdade eles possuem uma natureza social, política,
econômica e cultural que extrapola a atuação técnica-científica.
Por essa razão, há que se considerar a importância de uma visão mais crítica
e reflexiva sobre as imbricações entre relações sociais e ambientais, visto que
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
É nesse cenário marcado por conflitos éticos, onde as relações entre o meio
ambiente e a sociedade fazem emergir os sinais de uma crise ecológica, que estes
mesmos autores sinalizam o importante papel da juventude na luta contra o
consumo desenfreado, a degradação e a poluição, percebendo as questões
ambientais como variáveis que estão imersas num contexto mais amplo que envolve
relações econômicas, políticas, sociais, culturais e ideológicas.
Os movimentos ambientalistas, nesse sentido, vêm sinalizando a importância
e necessidade de refletir sobre o que é possível fazer e ser para superar a crise
ambiental e construir uma relação homem-natureza pautada em mudanças oriundas
da educação e ética ambientais. Para Wolkmer e Paulitsch (2011), a superação
dessa crise está contida na construção de uma ética ambiental que reoriente as
condutas humanas no que tange ao meio ambiente, haja vista que, se o futuro do
meio ambiente em toda sua amplitude diz respeito a um a questão de ordem ética,
logo se presume a necessidade de mudanças de condutas – seja a nível local ou
global.
De acordo com Boff (2004), os reflexos da crise ecológica e o reforço ao
nascimento de uma ética frente à contemporaneidade se tornam mais agravantes e
emergentes, respectivamente, quando os alertas de que a continuidade do uso
desenfreado e desequilibrado dos recursos naturais produzirão grandes colapsos
ambientais, especialmente às gerações futuras, são subestimados pelas gerações
presentes.
Boff (2004) afirma que é preciso repensar acerca dos modelos tradicionais
que ainda sustentam a lógica de uso dos recursos naturais, cujos modelos se
fundamentam na crença ilusória e errônea de dois infinitos como expressão de uma
lógica de ética utilitarista: o primeiro que se baseia na ideia de que os recursos
terrestres são ilimitados e o segundo na ideia de que o crescimento pode ser,
igualmente, infinito. Para ele,
CAPÍTULO 2
Nas palavras do autor, fica evidente tanto a finitude dos recursos ambientais
como a noção de que a preservação do meio ambiente e o redimensionamento das
condutas humanas dependem, sobretudo, de maior entendimento acerca do caráter
ético e social das problemáticas que perpassam as questões ambientais; visto que o
ser humano não somente interage como também integra o meio ambiente e,
portanto, nele sofre e provoca transformações e, por isso, é essencial questionar e
refletir sobre a postura e o papel desempenhado pelo ser humano nas suas múltiplas
relações com o meio ambiente.
Paralelamente, Nalini (2010) afirma que a ética ambiental se estrutura na
mudança de consciência face às problemáticas ambientais a partir da efetividade de
novas atitudes que agreguem formas de pensar, ser e agir desde as posturas
individuais às coletivas. Ou seja, a ideia de ética ambiental traz em seu bojo os
modos de ser, pensar e agir que os homens constroem entre si e com os demais
seres vivos, sem estabelecer uma hierarquia.
Para o autor, isso significa uma mudança de paradigmas que, na atualidade,
busque também corrigir os erros das gerações passadas tendo em vista a busca por
novos rumos cada vez mais sustentáveis, onde haja a compreensão ética e social do
verdadeiro sentido de “respeitar a natureza, respeitar a vida, empenhar-se na
reposição das espécies, plantar uma árvore, cuidar de um jardim, não poluir,
alimentar pássaros, libertar-se do consumismo” (NALINI, 2010, p. 536).
Nalini (2010) traz à tona a unicidade e o dinamismo das interrelações e
interdependência existentes entre o ser humano e o meio ambiente como
constitutivos da intervenção ambiental deste primeiro, como também denuncia o
surgimento dos conflitos decorrentes da utilização seja do espaço ou dos recursos
ambientais. Logo, para o autor, o conceito e materialização da ética ambiental
ultrapassam a simples ideia do certo ou errado, mas se corporifica à medida em que
se extrai dela a perspectiva utilitarista de meio ambiente e amplifica para uma
perspectiva em que o ser humano é visto como parte integrante desse espaço e, por
isso, ao intervir nele se constitui como fruto de sua própria intervenção.
Partindo desse princípio, Battestin (2008, p. 05) afirma que
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
Não há como negar, em Lopes e Costa (2013), que a ética ambiental diz
respeito a uma ordem de conduta pessoal imbricada com a maneira responsável de
como se deve agir com o meio ambiente, englobando os organismos humanos, não
humanos, as diferentes espécies, ecossistemas e recursos naturais. Para os
autores, a ética ambiental em sua essência deve, sobretudo, reconhecer a inerência
do valor presente no ambiente. Valor não consequencialista ou utilitarista, uma vez
que são tipicamente formados nos moldes das sociedades capitalistas, mas a ideia
de valor que pense o meio ambiente como direito, que tem a sua importância pelo
que é e não por aquilo que, porventura, possa oferecer como preconiza a visão
instrumental de meio ambiente como mero recurso a serviço dos interesses
humanos e de grupos, especialmente, mercadológicos/econômicos.
Desse modo, fica perceptível que a crise ecológica da atualidade é,
sobretudo, uma crise de cunho ético e, nesse sentido, configura-se como uma crise
de valores enquanto reflexo da maneira como o ser humano vem se relacionando
com o meio ambiente. Logo, compreender a natureza das problemáticas ambientais
108
CAPÍTULO 2
Partindo desse pressuposto, Grün (2007) considera que para romper com o
modelo da natureza como mero recurso natural é de suma importância uma nova
teoria que, aliada aos ideais da sustentabilidade, fundamente-se numa perspectiva
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CAPÍTULO 2
não-antropocêntrica. Desse modo, a ética ambiental não pode ser vista como fator
inatingível e abstrato às relações entre os seres humanos e o meio ambiente. Ao
contrário, ela deve ser interpretada como elemento primordial para repensar e
ressignificar os valores, posturas e princípios que têm orientado as diferentes
maneiras de relacionamento do ser humano com o meio ambiente, visto que apenas
a consciência individual não é suficiente para as transformações e construção de
sociedades sustentáveis pautadas na ética dos valores, como aponta Aristóteles
(2007), é preciso, sobretudo, redefinir o cenário ético e social que vem sustentando
as relações ser humano-sociedade-natureza.
Para Wolkmer e Paulitsch (2011), na esteira das correntes éticas – utilitarista,
aristotélica, da lei natural e antropocêntrica – a própria história dos movimentos
ambientalistas e as causas ambientais sobre as quais a juventude contemporânea
tem se debruçado, oferecem pistas da urgência de ruptura com a ética ambiental
antropocêntrica, que concebe o ser humano como sujeito absoluto e único. Tal
ruptura significaria uma concepção de ética ambiental onde o ser humano deixa de
ser visto como o centro das relações com o meio ambiente e passa a ser
considerado como integrante desse meio no espaço e no tempo.
A esse respeito, Leff (2006) afirma que urge a necessidade de uma
racionalidade ambiental capaz de gerar um rompimento com o princípio da
racionalidade instrumental, segundo o qual, a ética se fundamenta na ideia de que o
fim justifica os meios, ainda que esse fim tenha resultados degradantes ao meio
ambiente, uma vez que a centralidade de todo o processo é satisfazer aos
interesses do ser humano sem levar em consideração a relação intrínseca entre ser
humano-natureza. A natureza, nesse sentido, serve apenas como instrumento
propício aos anseios humanos.
A visão de Leff (2006) permite retomar o pensamento de Grün (2002) quando
este último parte do pressuposto que o predicado “ambiental” dentro da discussão
“ética e educação ambiental” tem suas raízes, sobretudo, nas bases filosóficas
cartesianas, que contribuíram para que a Natureza fosse objetificada e vista apenas
com valor instrumental. Para o autor, o fato de – quase sempre – concebermos a
natureza como elemento exterior a nós pode ser explicado pela lógica cartesiana e
antropocêntrica desenvolvida pelas sociedades, especialmente renascentistas, onde
as questões éticas passam a estar centradas no ser humano e muito fortemente
110
CAPÍTULO 2
Tanto Siqueira (2002) quanto Grün (2002) partem do princípio que a atual
crise ambiental é fruto de um processo histórico que privilegiou muito mais o
desenvolvimento social, cultural e econômico na perspectiva da racionalidade
quantificada da natureza do que da racionalidade qualitativo-axiológica. E, vista pela
ótica cartesiana, a natureza assume condição de objeto humano e de instrumento
quantitativo da maioria das ciências.
Neste aspecto, é importante assinalar que nas experiências e relatos dos
jovens ambientalistas é bastante frequente a concepção de que o meio ambiente
não se restringe ao lugar da contemplação de elementos naturais nem do espaço
divinamente criado, intocável e harmônico; assim como não deve ser visto,
cartesianamente, como máquina a serviço da satisfação e dos interesses pessoais e
de pequenos grupos, especialmente com cunho econômico:
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
Nesse plano entre realidade, visão e perspectivas, não se pode esquecer que,
ao falar de meio ambiente equilibrado tendo como norte a ética das virtudes trazida
por Aristóteles em contrapartida às correntes cartesiana e antropocêntrica, parte-se
do pressuposto de que esse equilíbrio está imbricado com a melhoria e garantia da
saúde, qualidade de vida e bem-estar do ser humano nessa e para as próximas
gerações.
No tocante à realidade brasileira, essa questão se encontra presente,
enquanto dispositivo legal, no artigo 225 da Constituição de 1988, que faz menção
ao meio ambiente como fundamental importância para existência da vida:
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
6
Para Azevedo (2010), a fase teocêntrica tem sua origem com base na Bíblia, mais especificamente
no livro de Gênesis, tendo como marco principal a criação do homem, que encerra a criação do
universo. Azevedo (2010) ressalta que nas narrativas bíblicas no livro de Gênesis, o homem assume
a figura de dominador, superior às demais criações e, portanto, está numa condição inferior apenas
em relação ao Criador. Dessa forma, tudo lhe é ético diante da natureza, ordem era crescer e
multiplicar por meio dos recursos disponíveis. “Portanto, tínhamos o homem senhor da natureza
submetido apenas ao Deus senhor do Universo” (AZEVEDO, 2010, p. 01).
115
CAPÍTULO 2
muito cuidado para não cair no erro de focar no meio ambiente e retirar o ser
humano desse cenário que, legitimamente, o homem pertence. O ecocentrismo ou
biocentrismo, nesse caso, partem de uma concepção ética de interdependência e
interconexões de todos os seres que compõem a natureza.
Desse modo, o ecocentrismo opõe-se tanto à ética utilitarista quanto à ética
antropocêntrica, uma vez que em sua concepção de ética busca compreender os
aspectos intrínsecos do meio ambiente e construir uma ética
CAPÍTULO 2
Tomando a discussão trazida tanto por Lopes e Costa (2013) quanto por
Siqueira (2002), torna-se importante destacar a ideia de ética das virtudes de
Aristóteles, que leva em consideração a maneira como o homem deve viver e o que
deve fazer a fim de que alcance o bem e a felicidade, o que não quer dizer que a
felicidade seja um bom emprego, ganhar muito dinheiro ou adquirir muitos bens
materiais. Na perspectiva da ética das virtudes, a ética é o substrato importantíssimo
que oferece condições aos seres humanos de avaliarem de forma crítica o meio em
que vivem, bem como as decisões tomadas e posturas adotadas.
Silva (2008) afirma que a ética das virtudes trazida por Aristóteles é originária
da Grécia Antiga e tinha, sobretudo, o objetivo de responder ao questionamento
socrático-platônico sobre como o homem deve viver. Se para Aristóteles (2007) a
finalidade última da vida humana é alcançar a felicidade, na perspectiva de Sócrates
e Platão – antecessores à visão de ética aristotélica – a vida ética estava
direcionada pelo conhecimento, que estava associado à ideia de um mundo das
sombras, da ilusão e do desprezível.
Na filosofia aristotélica há uma inversão da lógica de conhecimento presente
na filosofia platônica: para Aristóteles (2007), a origem do conhecimento está ligada
ao mundo material, que é regido por uma causa final (finalidade da existência). Logo,
a ética de Aristóteles, ou ética das virtudes, tem o pressuposto no campo da
realidade concreta por meio do éthos e da práxis humana, que dizem respeito ao
conjunto de costumes e ações humanas, respectivamente.
A ética das virtudes, nesse sentido, considera que as decisões sobre a melhor
maneira de viver não devem apenas se situar na ideia do que seja necessário para
tonar o mundo melhor ou, ainda, basear-se em normas que devem ser obedecidas
sem o devido entendimento e apropriação do sentido e significado dessas normas
para a vivência em sociedade. Logo, a ética das virtudes parte do princípio que é de
fundamental importância ter clareza acerca do tipo de ser humano que queremos ser
e, portanto, a ética aristotélica centra-se nos aspectos que dizem respeito ao caráter
moral, enquanto expressão de uma ética que reflete muito mais o que o ser humano
é do que, simplesmente, o que ele faz.
O que seria, então, a ética para Aristóteles? O conceito de ética para
Aristóteles (2007) parte do princípio que esta é algo a ser conquistada via
eudamonia, que é sinônimo de felicidade. Isto é, na lógica da ética aristotélica há
117
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
desconsiderar a importância das ações dos demais indivíduos) têm contribuído para
alcançar a eudamonia? As ações humanas têm convergido para atingir a felicidade
na perspectiva de Aristóteles do equilíbrio entre suas necessidades e a
sobrevivência da coletividade, visto que as situações, decisões e posturas
particulares/individuais têm fortes implicações no bem-estar maior da sociedade?
Quanto a essas interrogações, na obra Ética a Nicômaco é possível perceber
que, em Aristóteles (2007), a ética da virtude assume um caráter, sobretudo,
teleológico por natureza. Dessa maneira, a ética aristotélica tem centralidade nos
objetivos e fins que orientam as ações humanas e no modo de ser do homem. É
possível perceber, também, que a ideia teleológica presente na ética das virtudes se
difere da ideia que subsidia a ética utilitarista, visto que a ética da virtude está
concentrada no propósito que deve direcionar a vida de modo geral, que se refere ao
objetivo do ser humano de viver bem a fim de almejar experiência e excelência
enquanto ser humano.
Na visão aristotélica, o ser humano somente atingirá a felicidade por meio da
virtude, sendo que para o filósofo o homem bom é aquele instruído e educado, ou
seja, a pessoa só será justa, boa, equilibrada e moderada em suas ações se ela for
educada e instruída a agir dessa maneira – educação essa que não tem relação com
a ideia de educação formal tal qual como distinguimos na contemporaneidade 7 –
caso contrário, a tendência é que viva segundo os seus vícios.
Daí, a partir da ética aristotélica, surge o seguinte questionamento:
Nalini (2009) chama a atenção para o fato que refletir sobre o conceito de vida
se constitui a base da ética das virtudes, visto que tem como objetivo maior alcançar
o desenvolvimento da boa pessoa e a plenitude da boa vida, onde as virtudes são
7
É preciso dizer e lembrar que Aristóteles viveu em outro contexto social e, a partir dele, elaborou
seus pensamentos e teorias, o que não significa dizer que não tenham sentido para refletir e
compreender aspectos da sociedade atual. Mas, é preciso tomar cuidado a fim de que não seja feita
uma transposição dos nossos conceitos e preconceitos, da nossa forma de ver o mundo hoje para a
compreensão acerca das teorias aristotélicas.
119
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
Wolkmer e Paulitsch (2011) não negam que, face aos problemas ambientais e
a busca por alternativas que solucionem e/ou amenizem as atitudes e
comportamentos que expressam a ausência de consciência ecológica, a educação
ambiental tem assumido a condição de uma das estratégias capazes de reverter
algumas situações de degradação ambiental e, sobretudo, construir uma sociedade
mais justa, sustentável e fundamentada nos princípios que norteiam a ética das
virtudes (enquanto aporte teórico que mais se aproxima das reflexões trazidas neste
trabalho).
121
CAPÍTULO 2
Tendo em vista que a crise ambiental expressa muito mais a crise da própria
subjetividade humana,
CAPÍTULO 2
Esse artigo, em seu inciso VI, oferece maior status à educação ambiental ao
apresentá-la como condição importante à qualidade de vida por meio da
preservação do meio ambiente. Assim, pode-se afirmar que, embora a luta pela
preservação e conservação do meio ambiente seja anterior à existência de um
marco legal, constitucionalmente esse marco significou o reconhecimento e a
renovação de esperança especialmente dos ambientalistas.
Legalmente, a instituição da educação ambiental ocorre a partir da aprovação
da Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, sendo que através do Decreto nº 4.281, de
25 de junho de 2002, foi estabelecida a Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA).
As reflexões sobre Educação Ambiental (EA) trazidas por Sorrentino e Trajber
(2007) colocam também em questão o papel da escola na construção da justiça
ambiental. Os autores sinalizam que o grande desafio da escola no século XXI é,
através de seus conceitos e práticas, transitar da ideia simplista de meio ambiente
enquanto natureza e alcançar um patamar mais amplo que perceba o meio ambiente
como lugar da diversidade, do valor ético e político comprometido com as gerações
presentes e futuras.
Nos relatos dos jovens ambientalistas, embora reconheçam a importância da
escola na formação dos cidadãos, a maioria dos discursos critica negativamente a
maneira como a escola trabalha a temática meio ambiente. Para alguns jovens,
tomando como referência suas experiências enquanto estudantes e jovens que
desenvolvem ações em escolas, a escola discute de maneira superficial,
desinteressada e distante da realidade dos alunos:
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
seja ampliada e ressignificada, tanto Sorrentino e Trajber (2007) quanto Lima (2011)
partem do princípio que é necessário que o meio ambiente seja entendido pela
escola como problema social, uma questão de debate social e como um movimento
social. Por isso, para os autores, é urgente a necessidade de desconstruir a ideia de
meio ambiente como mero conteúdo disciplinar que, por vezes, não assume um
comprometimento com as transformações de comportamentos, posturas, atitudes e,
na maioria das vezes, não acompanham as lutas dos sujeitos sociais que estão
imbricados em questões ambientalistas.
Nesse sentido, Sorrentino e Trajber (2007) acreditam que há um grande
potencial presente tanto nas práticas dos educadores das instituições formais de
ensino quanto dos educadores ambientais populares8, tendo a escola como lugar
privilegiado, encontra-se neste e noutros espaços terreno fértil para que a educação
ambiental seja permanente, contínua e articulada com as diversas modalidades de
ensino ao longo da vida dos sujeitos.
A concepção de Educação Ambiental numa perspectiva crítica deve estar
imbricada com movimentos ambientalistas que denunciem e expressem
preocupação com os primeiros sinais da intervenção humana no meio ambiente, em
especial com a possibilidade de extinção de espécies. Ao mesmo tempo, os
movimentos ambientalistas devem começar a exigir limites para a exploração das
espécies e recursos naturais, o que causa certo incômodo no processo econômico e
financeiro industrial.
Em seus relatos, os jovens expressam os sentidos e significados de estarem
engajados em movimentos ambientalistas, enquanto campo de educação,
construção de aprendizado, obtenção de experiências e lugar de luta:
8
Sorrentino e Trajber (2007) utilizam esse termo ao se referirem ao papel educativo e pedagógico
desenvolvido por grupos, coletivos e organizações ambientalistas, enquanto espaços não-formais de
educação.
125
CAPÍTULO 2
Desse modo, a partir da fala de Laís é possível pensar que a crise ambiental
9
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada entre os dias
3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro-Brasil, que contou com a presença de organizações
governamentais e não-governamentais. Na ECO-92 ou Rio-92 foram feitas discussões sobre os
problemas ambientais existentes e progressos alcançados. Além disso, nessa Conferência, foram
elaborados documentos de referência às principais discussões e reflexões ambientais, inclusive foi
aprovada a Declaração do Rio ou Carta da Terra, cujo documento afirma que os países ricos
possuem maior responsabilidade na conservação e preservação do planeta.
10
Consiste num plano de ações com metas e estratégias acordadas entre 179 países, que visam a
melhoria das condições ambientais do planeta e o alcance da sustentabilidade.
126
CAPÍTULO 2
pela educação tradicional, por isso ela não se dá necessariamente nos espaços
formais de educação.
Não há como negar o fato que a Educação Ambiental surge e vai se
solidificando na perspectiva de promover transformações sociais que assegurem a
vida no planeta tanto da espécie humana como das demais espécies. A Educação
Ambiental, em sua essência, tem como princípio maior construir e manter o diálogo e
debates rumo à efetivação de diferentes formas de se relacionar com o planeta
através de novas posturas e comportamentos do homem com o meio ambiente,
considerando tanto suas redes de relacionamentos locais como globais, vistas pelo
viés da responsabilidade e compromisso individual e coletivo.
E, quanto a este aspecto, Wolkmer e Paulitsch (2011, p. 230) reconhecem
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
O meio ambiente, enquanto campo social e político, não fica isento dos
planejamentos estratégicos capitalistas de mercantilização, que reforçam o espírito
de competitividade, o uso excessivo e desordenado dos recursos naturais e a
própria desvalorização da vida e das espécies no planeta. Assim, refletir sobre o
processo de educação ambiental significa indagar sobre os reais interesses que
estão nas estrelinhas do desenvolvimento alardeado pelas políticas de mercado e
pelas empresas, por exemplo.
É preciso questionar a favor de quem e do quê esse desenvolvimento tem se
mantido, quais são os conflitos e impactos ambientais que podem causar em nome
dos lucros e exploração desenfreada dos recursos naturais, que podem
comprometer o bem-estar das gerações em virtude da falta de uma consciência
socioambiental preocupada, sobretudo, com as minorias sociais que, na maioria das
vezes, são as mais atingidas e prejudicadas pelo uso inadequado e indevido dos
recursos naturais em nome do desenvolvimento e progresso industrial-tecnológico.
Dessa maneira, a Educação Ambiental se apresenta como um caminho
propício a se pensar e refletir sobre as velhas questões ambientais por meio de
novas abordagens que se configuram pela responsabilidade adotada pelas
instâncias governamentais nacionais e internacionais, pelas ONG‟s, movimentos e
coletivos sociais imbricados com as demandas e desafios que perpassam a
construção de uma sociedade capaz de oportunizar e garantir melhores condições
de vida às diferentes espécies do planeta. É preciso garantir e efetivar a ideia de
uma sociedade planetária justa, que respeite e valorize a diversidade da vida e a
riqueza dos bens naturais se efetive, sem estar submissa aos objetivos de
exploração e ação descuidada da sociedade capitalista-industrial.
Não há dúvidas de que o alcance dessa sociedade comprometida com as
problemáticas ambientais passa por um processo contínuo, permanente e
progressivo de formação das gerações atuais e futuras, as quais são convocadas a
perceber o quão é importante e necessária a conservação e preservação do meio
ambiente, bem como a importância de compreendê-lo de modo integrado e
articulado com a diversidade dos seres.
Historicamente, a Educação Ambiental, vista pela perspectiva da
emancipação e transformação social, não se limita a apresentar o cenário de
degradação e desgastes ambientais provocados pelo homem a fim de atingir os
129
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
relacionamento do ser humano com o planeta não pode se dar distante do pensar e
refletir sobre o processo histórico das relações entre ele e o meio ambiente,
decisivamente, caracterizado pela poluição de diferentes modos e contextos e pela
exploração dos recursos naturais que refletem, historicamente, o acirramento das
desigualdades sociais, culturais e econômicas.
Nesse sentido, Leff (2006, 2009) explica que é preciso ultrapassar a
racionalidade econômica que subsidiou a formação e perpetuação das sociedades
não sustentáveis especialmente na América Latina e que, por vezes, reforça e tenta
justificar erroneamente o processo de desenvolvimento social atrelado às ações de
degradação ambiental e alcançar uma racionalidade ambiental fundamentada em
saberes ambientais que reflitam e questionem a problemática ambiental pelos vieses
econômicos, tecnológicos, políticos, sociais e ecológicos.
Para Leff (2009),
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
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CAPÍTULO 3
Em outras palavras,
a pessoa engajada deve ter consciência de que foi ela que fez a
aposta, que sua ação é gerada por um interesse, o qual deve ser
percebido como necessário, pois o indivíduo não agirá para realizar
um interesse se não o perceber como necessário. Em outras
palavras, o interesse por si só, não é suficiente para criar o
engajamento. É preciso sentir que este interesse é necessário
(BRENNER, 2014, p. 36).
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
Para o autor, o que vem ocorrendo são mutações das diferentes maneiras
através das quais os jovens se apropriam dos dilemas e desafios de sua época e
contextos e, a partir dessa apropriação, passam a construir outras maneiras de se
posicionarem diante dos problemas e questões sociais, ambientais, culturais,
políticas, econômicas e educacionais.
Essa questão apontada por Perondi (2015) aparece no relato de Uenderson
quando ele faz um “balanço”, uma avaliação do seu percurso de engajamento em
organizações ambientalistas e, ao mesmo tempo, sinaliza como o período de
existência e os nomes das organizações ambientalistas se apresentam como fatores
que dão maior ou menor legitimidade e visibilidade aos jovens nelas inseridos, assim
como as demandas da conjuntura social e política têm sido fortes motivos para a
juventude ambientalista colocar em prática seu engajamento:
CAPÍTULO 3
2
Importante destacar que o atual Presidente do Brasil, Michel Temer, tomou posse da presidência em
31 de agosto de 2016 após a presidente eleita Dilma Rousseff (PT) ser afastada definitivamente do
cargo por um processo de Impeachment, fruto de um contexto e período político marcado por um
golpe parlamentar articulado, sobretudo, pelo PMDB de onde emerge Temer enquanto vice-
presidente de Dilma Rousseff.
146
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
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CAPÍTULO 3
3
Segundo a Abramo (2014), as reflexões de Aristóteles na Antiguidade Clássica sobre as primeiras
experiências de democracia apontam que os jovens - assim como as crianças e as mulheres - não
eram considerados cidadãos e, portanto, não participam da vida política da pólis grega.
152
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
Diante dessa realidade, Abramo (2014, p. 99) sinaliza que, mesmo em face ao
ativismo social e político da juventude brasileira,
CAPÍTULO 3
4
Neste trabalho, entende-se a ideia de "socialização política" enquanto processos que contribuem
para a formação do engajamento juvenil em suas várias instâncias de militância. Logo, a ideia de
"política" presente nesse trabalho se constitui como ferramenta para refletir, a partir do conceito de
socialização política, a transmissão e formação de valores políticos que perpassam e perfazem o
próprio entendimento acerca de engajamento juvenil.
155
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
jovens vem ocupando, cada vez mais, os espaços públicos e instituições externas ao
eixo político-partidário.
Nesse sentido, pode-se afirmar que o engajamento de jovens ambientalistas,
antes de qualquer coisa, constitui-se como ato político que se dá por meio do
processo formativo de socialização dentro dos movimentos, grupos, coletivos e
organizações em que estão inseridos. Desse modo, o engajamento juvenil
ambientalista é, sobretudo, um ato político, porque envolve lutas, conflitos, jogos de
interesses, disputas e expressão de pontos de vista que, por vezes, revelam
embates e choques com os modelos convencionais e pensamentos estabelecidos de
diferentes gerações.
Quanto a este aspecto, Tommasi (2007) afirma que os jovens brasileiros
sabem distinguir entre a ideia de política partidária e de política enquanto ato, ação.
E que, embora muitos jovens desacreditem dos políticos e da política
institucionalizada, eles continuam acreditando e vendo a política como o espaço de
luta, onde é possível atuar como sujeitos sociais, culturais e políticos visando a
garantia dos seus direitos e a construção de uma sociedade fundamentada nos
princípios da cidadania.
Castro (2009) alerta que é muito frequente na maior parte da literatura sobre
jovens, política e juventude aparecerem como assuntos distantes. A autora chama a
atenção que o processo de socialização política juvenil não deve ser reduzido ou
apenas visto como sinônimo de preparação para a vida adulta, visto que a
socialização política juvenil pressupõe muito mais do que o desenvolvimento da
atividade política após o jovem atingir a maioridade. Pensar dessa forma, segundo
ela, significa reforçar o processo de alijamento juvenil em relação aos seus direitos
políticos, cuja característica é muito presente nas sociedades modernas.
Concordando com Castro (2009), Brenner (2014, p. 32) afirma que
Neste ínterim, Baquero (2008) salienta que, numa visão geral, a forma como o
processo de socialização política juvenil se estrutura e consolida-se, por vezes, vem
carregada da ideia de que o jovem deve dar provas da sua capacidade de gerir a
157
CAPÍTULO 3
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CAPÍTULO 3
Logo, não se trata apenas do espaço físico onde jovens se reúnem para
discutir e estruturar ações ambientais, não se trata também de jovens que na
ausência do que fazer se reúnem para conversar entre si (até porque, como pode
ser observado na biografia dos jovens, eles estão inseridos em outras atividades
cotidianas), os espaços de socialização ambientalistas têm a envergadura de
despertarem, primeiramente os jovens, para a urgência e emergência da discussão
sobre as problemáticas ambientais sem perder de vista a influência que as questões
sociais, econômicas, políticas, ideológicas, culturais, as decisões e a aprovação de
leis, por exemplo, exercem tanto no âmbito das problemáticas ambientais como no
âmbito da própria expressão juvenil enquanto porta-vozes de questões que, na
maioria das vezes, vão de encontro com os objetivos das esferas governamentais.
Desse modo, a noção de socialização política no que tange aos movimentos
ambientalistas está associada ao papel e poder que os coletivos, grupos e
organizações acabam exercendo na construção e formação da consciência crítica,
reflexiva, contextualizada, capaz de ler, interpretar, opinar e posiciona-se frente à
conjuntura social, econômica e cultural; como pode ser observado nos relatos
seguintes:
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
humanos, justiça social, respeito à diversidade, bem como lutarem em prol de uma
sociedade mais justa e igualitária, a partir do envolvimento em causas sociais,
políticas, ambientais e culturais. Desse modo, o processo de socialização política
não apenas viabiliza a ampliação e maior engajamento do jovem na sociedade,
como também por meio dele o jovem vai se (re)construindo enquanto ser histórico,
social e cultural.
Aproximar ou dar visibilidade ao papel da socialização política juvenil em torno
das questões socioambientais são processos que se sustentam nos hiatos entre o
passado, presente e futuro das marcas deixadas pelo ser humano em sua relação
com o planeta e os processos formativos em que os jovens estão imersos nos
coletivos, grupos, organizações e movimentos ambientalistas, fundamentando-se na
perspectiva que
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
5
Segundo Gonzales (2007), a juventude vista como problema é uma concepção que perdurou até o
século XX. A partir do século XXI, embora houvesse e ainda hajam resquícios do século XX, as
visões sobre juventude começam a sofrer mudanças e os jovens, por sua vez, começam a ser vistos
pela ótica de sujeitos e atores sociais.
173
CAPÍTULO 3
socialização política nos seus sentidos mais amplos, visto que, diante do seu poder
de escolha e decisão, os jovens optam por participarem de espaços que não são
necessariamente instituídos pelos poderes públicos, mas que têm grandes
contribuições e o seu grau de importância para a vida pública social.
Novaes (2006), ao discutir o conceito de socialização juvenil como categoria
imbricada com a noção de contextos, diferenças e trajetórias, considera que o jovem
engajado da época atual conta com elementos particulares e singulares específicos,
que fazem com que seu processo de socialização política tome proporções
significativas cada vez maiores de participação social desde os movimentos de ruas
às mobilizações por intermédio das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (NTICs), que viabilizam outras relações da juventude com as questões
sociais, políticas, ambientais, culturais e econômicas, se comparadas com as
juventudes das sociedades anteriores ao século XXI.
Ela afirma que, do seu ponto de vista,
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 3
sociais; por outro lado, a geração atual também tem apresentado suas ferramentas,
possibilidades, estratégias e potencialidades de participação nos mais diversos
campos da vida sociais.
Essas duas faces que podem ser percebidas na visão de Novaes (2007)
aponta que, considerando o processo de socialização política como um constructo
social e educativo, a depender das oportunidades que os jovens tiverem na vida, do
seio familiar em que vivem, da escola que frequentaram, os grupos que fazem
partem, teremos jovens mais ou menos críticos, mais ou menos reflexivos e
engajados em militâncias de diferentes modalidades. Por isso, o processo de
socialização política não é neutro, imparcial e contido em si mesmo, ele possui a
capacidade de produzir ou reproduzir determinados tipos de sujeitos sociais e
políticos. Daí a necessidade de perceber que socializar o jovem politicamente não é
torná-lo ou fazê-lo assumir uma função político-partidária. Significa, sobretudo, que
esse jovem ambientalista engajado e militante é, na maioria das vezes, pai, mãe,
estudante, trabalhador e, portanto, cidadão político que tem o espaço público como a
sua maior e principal arena de atuação.
Carrano e Brenner (2008, p. 67) afirmam que
CAPÍTULO 3
comunidades onde vivem. Boa parte dos jovens ambientalistas, embora não veja
suas causas representadas e acolhidas pelas esferas públicas, afirmam que, por
vezes, a aproximação e certa sujeição às formas de pensar as políticas públicas
para o meio ambiente da política institucionalizada e partidária são os meios
encontrados para que consigam participar dos processos de discussões e decisões,
e adentrarem nesses espaços públicos.
Embora considerem a política partidária como campo menos permeável para
a efetiva participação e engajamento ambientalista, a maioria dos jovens não refuta
a ideia de que inseridos ou aproximando-se da política institucionalizada –
especialmente das Secretarias Municipais de Meio Ambiente – é possível, ainda que
em pouca proporção, lutar e reverter algumas situações destoantes dos ideais que
sustentam o engajamento ambientalista, conforme pode ser percebido nos relatos a
seguir:
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
oriundos de famílias com alguma preocupação com o meio ambiente; jovem oriundo
de família sem interesses com as problemáticas ambientais; jovens de famílias
engajadas e jovens com experiências escolares/acadêmicas que socializaram ou
não para as problemáticas ambientais. A seguir, por meio dos seus relatos, veremos
os aspectos que aproximam e separam as disposições juvenis ao engajamento
militante ambientalista, tomando como referência o peso ou a influência que os
processos de socialização exerceram em seus percursos e tomadas de decisões.
Nesse grupo, estão os jovens cujos pais ou familiares mais próximos não são
engajados ambientalmente, mas manifestam certo interesse pelo cuidado, respeito e
preservação ao meio ambiente; fator que, de certa forma, contribuiu para as
disposições ao engajamento militante ambientalista de jovens inseridos nesses
núcleos familiares.
Essa manifestação pode ser percebida nos relatos de alguns jovens, ao
afirmarem que suas primeiras disposições ao engajamento ambientalista têm como
base os ensinamentos, ainda que não direcionados para o movimento e
engajamento ambientalista, que seus pais lhes deram durante a infância e que
serviram de subsídios para que, na juventude, ingressassem em coletivos,
organizações, grupos e movimentos ambientalistas.
Nas narrativas dos jovens que compõem este grupo, fica claro que, embora a
maioria dos seus pais tenha os incentivado a valorizarem a relação ser humano e
natureza, boa parte dos pais não comunga muito com a ideia dos filhos se
engajarem em movimentos ambientalistas e, dentre muitos fatores, encontra-se a
justificativa de que não é um campo provedor de retorno financeiro e promissor de
reconhecimento social.
Para este caso, podemos tomar como exemplo a experiência de Davi:
CAPÍTULO 4
Desde a minha infância, foi com a ajuda da minha mãe, porque ela
me ajudou e me ensinava a plantar horta e/ou rosas vermelhas. A
gente amava rosas vermelhas. E com isso, depois da morte dela, eu
achei que o meio ambiente me aproximava de um meio ou outro
dela. Aí, eu quis praticar o que ela já praticava. Eu não estou falando
que ela era nenhuma bióloga, estou falando que ela era uma cidadã
normal, só que ela gostava do meio ambiente. Ela plantava, ela
gostava de plantas. E aí acho que isso me aproximou do movimento
1
Davi relata que a ideia e instrução dadas por seu pai para “economizar energia e água” estavam
associadas a preocupações do ponto de vista financeiro e não, necessariamente, devido a questões
ambientais.
187
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
E ainda acrescenta:
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
causas ambientais é diferente de quem não nasce e cresce nessas situações. Essas
diferenças se expressam nas maneiras como os jovens internalizam seus processos
de socialização e expressam através de seus gostos, preferências, decisões e
prazeres por determinado engajamento como no caso da militância ambientalista.
Nesse sentido, a história de Melinda no engajamento ambientalista enfatiza
que, além da família, as redes de amigos e grupos de sociabilidades juvenis também
atuam como instrumentos de reforço de socialização ao engajamento militante.
Melinda relata que, apesar de sua mãe chamar sempre a atenção acerca da
importância de preservação do meio ambiente, ela considera que grande parte da
sua disposição ao engajamento militante ambientalista se deve à influência exercida
por processos de sociabilidades:
CAPÍTULO 4
Laís, por exemplo, considera que o contato com seus pares possibilita tanto
as trocas de experiências e o aprimoramento do ser engajado quanto se constitui
como um meio para atrair outros jovens, às vezes, por meio do lazer e diversão,
onde também existe a intencionalidade de socializar os jovens acerca das questões
ambientais, levando em considerando os espaços, tempos e situações sociais em
que os jovens estão inseridos:
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
O que Uenderson narra leva a perceber que um dos maiores motivos que
fizeram com que ele se engajasse na militância dos movimentos ambientalistas foi o
desejo de “pagar a dívida” ambiental do seu pai enquanto minerador e explorador da
terra. Para Uenderson, não seguir o mesmo percurso de vida do pai significa ter
posturas diferentes e mais éticas em relação ao meio ambiente. Nesse sentido, o
conjunto de valores transmitidos pelo seu pai foi acionado como meio para tornar-se
um jovem ambientalista engajado.
Uenderson relata que a vivência com a prática de mineração foi o principal
fator que o levou a desistir do curso de Engenharia de Minas para fazer Geologia, o
195
CAPÍTULO 4
que a princípio causou certo descontentamento ao seu pai; pois a sua família
esperava que ele seguisse seus estudos e vida profissional no campo da Engenharia
de Minas.
Pode-se perceber que a maneira como Uenderson chega ao engajamento
militante ambientalista se constrói no campo de reflexões entre o seu passado,
presente e futuro como tempos inseridos em espaços que figuraram como
mecanismos de aprendizagens e tomada de decisões e posturas, mediante seu
processo de socialização familiar.
Com base na narrativa de Uenderson, em Melucci (2004, p. 13), podemos
acreditar que a transmissão de valores, posturas, aprendizagens e posicionamentos
é muito marcante na tomada de decisões juvenis, visto que, neste momento, o
significado das aprendizagens do passado, as experiências do presente e as visões
de futuro se agregam e são muito levados em consideração nos percursos de
escolhas e decisões juvenis entre as motivações externas e pessoais:
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
2
Destaco que a maioria dos jovens relatou que é mais difícil ter jovens de escolas privadas engajados
na militância ambientalista e acredita que esse baixo quantitativo se deve pelo fato de que, imersos
nas organizações e movimentos ambientalistas, teriam que protestar contra o sistema que defendem
e os sustentam. O que, dificilmente, ocorre com os jovens de escolas públicas. Por isso, os jovens
entrevistados entendem que o engajamento na militância ambientalista representa, também, uma luta
de classes onde transitam interesses econômicos, políticos, culturais e ideológicos forjados na esteira
de valores educacionais e pedagógicos.
200
CAPÍTULO 4
Meu pai era do Movimento Hare Krishna. Então, ele seguia como
base e ensinou tanto a mim quanto a meu irmão que era importante
proteger os animais, proteger o meio ambiente, cuidar. Então, nós
dois fomos criados nessa mesma forma, acabou que fomos
crescendo e, quando eu escolhi área de meio ambiente, eu percebi
que era o que eu queria, que aquilo que desde pequena eu sempre
aprendi com ele, a estar cuidando de tudo. E assim, eu fui
aproximando de várias outras pessoas que tinham o mesmo ideal
que o meu e aí juntamos, fizemos essa parte de movimentação
ligada ao meio ambiente, de cuidar, de propagar pra todo mundo que
o ideal é estar mesmo cuidando de tudo e preservando o máximo
que puder. Mas enfim, veio mesmo desde pequena com meu pai. Ele
sempre reclamava comigo e meu irmão, ele dizia: “nada de jogar lixo
no chão”, “lixo é no lixo”, “preserve o meio ambiente”. Desde sempre
fomos criados assim, inclusive nem eu nem meu irmão comemos
carne, por conta disso também, porque já foi uma criação dele, por
ele dizer que era para proteger os animais.
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
A consciência política e ambiental do pai de Elen foi essencial para que ela se
tornasse uma militante engajada nas problemáticas ambientais e desenvolvesse
uma visão mais crítica, reflexiva, ampla e holística acerca da multiplicidade de
relações que fazem e perfazem os diálogos entre ser humano e natureza. É na base
dessa consicência possibilitada pelos processos de socialização familiar – em
primeira instância – depois pela participação em movimentos ambientalistas e pelos
processos acadêmicos e políticos que Elen construiu a ideia de meio ambiente
enquanto lugar de identidade, conflitos, lutas e disputas por uma perspectiva de
qualidade de vida que está além da noção superficial de que meio ambiente se
refere apenas a plantas e animais, ou ainda que a reflexão e discussão sobre as
questões ambientais dizem respeito apenas aos consagrados ambientalistas.
Portanto, o contexto familiar engajado nos movimentos ambientalistas se
apresenta como as raízes de apredizado de Elen para suas disposições ao
engajamento militante ambientalista, tendo também um papel decisivo para seus
desdobramentos na vida acadêmica e política e desenvolvimento da consciência da
possibilidade de ler, compreender e interpretar as questões e fatos cotidianos
ambientais como o universo da política e da Engenharia Ambiental e Sanitária.
Assim como Uenderson, uma boa parte dos jovens entrevistados teve suas
disposições instigadas ao engajamento militante ambientalista por meio da
socialização escolar. Os relatos dos jovens, cujas experiências escolares estão
associadas aos seus envolvimentos com as problemáticas ambientais, apontam
atividades escolares, professores de determinadas disciplinas e maior identificação
com alguns componentes curriculares como fortes influências de motivação ao
engajamento ambientalista.
Rafael, por exemplo, afirma que, embora sua família não fosse engajada ou
demonstrasse interesse pelas discussões acerca das problemáticas ambientais,
segundo ele, teve o privilégio de ter tido excelentes professores de Ciências e
estudar em escolas que valorizavam as relações entre o ser humano e o meio
ambiente. Esse processo de socialização escolar pertinentes à temática meio
ambiente influenciou também no seu desejo de, futuramente, cursar Biologia.
205
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
Nota-se pelos relatos de Rafael e Jéfferson que as escolas, por vezes e dada
à falta de maior incidência das famílias, assumem a função de instituições
socializadoras de maior peso e relevância na vida dos jovens, inclusive nas suas
escolhas e preferências quanto aos seus projetos de vida. Desse modo, é possível
perceber que, geralmente, em virtude da ausência da socialização familiar, a escola
figura como o eixo fundamental de socialização e construção de dispositivos e
instrumentos capazes de oferecer as bases necessárias para o engajamento
ambientalista juvenil.
Nesse sentido, é importante destacar que, apesar da construção de
disposições ao engajamento ambientalista de Davi não ter sido via socialização
escolar, haja vista que o engajamento dele foi motivado através da família e,
principalmente, a partir da sua entrada no Greenpeace; Davi salienta que o fato de
tornar-se coordenador do GT Escola dentro do Greenpeace3 é decorrente, também,
do desejo de amenizar as lacunas deixadas pela escola no período em que,
enquanto estudante secundarista, não teve a oportunidade e o privilégio de ter sido
educado ambientalmente por meio dos processos formais de educação.
Para Davi, ninguém nasce engajado ou sabendo sobre as questões e
problemáticas ambientais, as pessoas aprendem a ser engajados, a gostar mais ou
menos de meio ambiente. E, por isso, ele acredita que o trabalho de palestras
ministradas nas escolas pelo Greenpeace se constitui como um forte instrumento de
socialização ambiental juvenil, desde que esteja também articulado a um trabalho
consistente, objetivo, sistemático, atencioso e dinâmico desenvolvido pelas escolas,
que desperte o desejo e o gosto dos estudantes pelas questões ambientais. Ou seja,
o trabalho não deve se limitar na palestra pela palestra.
3
As ações do Greenpeace se apoiam nos seguintes Grupos de Trabalhos: Escola, Logística e
Comunicação.
207
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
Aqui, volta e meia, os colégios nos chamam para fazer palestra, que
a gente tem um grupo de ir para as escolas, seja escola particular ou
pública não importa. Aí, vamos fazer uma apresentação, falar sobre
as campanhas, apresentar algo para as crianças de 6 a 10 anos, de
15 anos, de Ensino Médio e a gente percebe que nas escolas
particulares, principalmente, os meninos de 7 e 8 anos com
conversas sérias sobre assuntos ambientais. Claro que não é nada
papo cabeça, mas eles têm um assunto, uma conversa com base, ou
seja, a escola está passando isso para eles. Já nas escolas públicas
não é assim e eu vim de escola pública, estudei uma parte na
particular, mas a maioria foi na escola pública. Então, eu fico triste.
CAPÍTULO 4
De acordo com o autor, e como pode ser visto nos relatos dos jovens, os
repertórios de socialização trazem em seu bojo o poder de incorporação de modos
de ser de uma instituição ou de grupo, que vêm carregados de visões de mundo,
relações entre o passado, presente e futuro, bem como suas crenças e formas de
escolher, decidir e se posicionar no mundo. Essas características, por sua vez, são
essenciais para se pensar como os jovens se constituem engajados por estas ou
aquelas, a depender da maior incidência de determinadas instâncias ou grupos nos
seus percursos de vida, conforme pode ser observado no relato de Vanessa Cinthia:
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
o corpo dessa pesquisa – deixam claro que o engajamento militante juvenil nos
movimentos ambientalistas está carregado de significados e sentidos de
socialização política, social, cultural e que, portanto, distancia-se de qualquer tipo de
percepção preconceituosa acerca da condição juvenil dentro dos movimentos
ambientalistas.
Estes sentidos e significados que estruturam o engajamento militante, por sua
vez, dão aos movimentos ambientalistas a legitimidade de movimentos sociais,
políticos e culturais que refletem também os aspectos subjetivos presentes nos
percursos das experiências e histórias de vida dos jovens ambientalistas.
Por assim afirmar, devo abrir um parêntese para destacar que o contato com
os jovens engajados na militância ambientalista, assim como as leituras tecidas
sobre juventude e os processos socialização incidentes nos percursos de
engajamento militante juvenil ambientalista possibilitaram perceber que os lemas das
bandeiras levantadas pelos jovens estão muito além da ideia romântica, superficial a
fragmentada das relações entre o ser humano e o meio ambiente. Os jovens
ambientalistas entendem-se como sujeitos que constroem e lutam por movimentos
cujas bandeiras emergem e inserem-se no campo das lutas, conflitos e disputas de
ordem social, antropológica, política, filosófica, cultural, pedagógica, econômica e
ecológica.
Desse modo, para além dos discursos de meio ambiente enquanto conjunto
de plantas e animais, nas narrativas dos jovens o engajamento militante se configura
como um processo de subjetivação caracterizado, segundo Carvalho (2001, 2004),
por interações simbólicas que se refletem na própria maneira como os jovens se
posicionam e enfrentam as problemáticas ambientais enquanto causas sociais e
políticas.
Entre os jovens do passado e os jovens ambientalistas do tempo presente,
Jacobi (2007, p. 56-57) sinaliza que o engajamento militante ambientalista na
atualidade traz a emergência de novos desafios e posturas diante da complexidade
das relações entre ser humano e natureza e, portanto, requer novos atores e sujeitos
sociais:
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
contextos que compõem a esteira onde tais disposições são fomentadas, bem como
às representações que os jovens ambientalistas constroem de si e os significados
que atribuem à sua modalidade e percurso de engajamento, que não se dá no vazio
histórico, cultural, social e político.
Assim, segundo as semelhanças e diferenças que aparecem nas narrativas
dos jovens quanto aos seus processos de socialização como disposição ao
engajamento militante juvenil a formação de grupos por especificidades de
aproximação com as questões ambientais; como os jovens oriundos de famílias com
alguma preocupação com o meio ambiente; o jovem oriundo de família sem
interesses com as problemáticas ambientais; os jovens de famílias engajadas e
jovens com experiências escolares/acadêmicas que socializaram ou não para as
problemáticas ambientais, representam tanto as relações dos jovens com os
contextos em que estão inseridos – especialmente as famílias e as escolas como
agências socializadoras que exercem grande poder nos referenciais de posturas e
comportamentos adotados pelos jovens, por serem elas as primeiras agências de
maior prevalência no ritual de socialização de gerações – quanto o reflexo das
relações internas e individuais construídas pelos jovens a partir da socialização
exercida sobre eles, onde podem imprimir seus próprios desejos, ideias, visões e
emoções.
Desse modo, aproximar-se e compreender as vias de socialização que
potencializam a entrada dos jovens no engajamento militante ambientalista significou
tracejar um percurso de pesquisa capaz de levar aos cenários de socialização que
dão abrigo ao engajamento juvenil na militância ambientalista. Por esse caminho,
percebe-se que os cenários de onde os sujeitos da pesquisa falam estão situados no
campo familiar, escolar, acadêmico, profissional, político, econômico, social, ético e
cultural.
Importante sinalizar que os processos de socialização não são mecanismos
de encaminhamento passivo dos jovens a determinadas disposições de
engajamento, como se os jovens estivessem destinados a atuar nesta ou naquela
militância. Os relatos dos jovens apontam que o engajamento militante em questões
ambientais não está situado no plano do “destino traçado”, o que ocorre é que, a
depender do tipo de socialização de maior incidência, ter-se-á a formação de
sujeitos mais ou menos ecológicos, mais ou menos imbricados com as
220
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
juvenil, visto que nos relatos da maioria dos jovens aparece a ideia de engajamento
muito mais voltada para ações como limpeza de praias e ruas, conscientização via
palestras sobre educação ambiental, ações de captação de recursos para as
organizações ambientais, relação entre economia financeira e meio ambiente.
Muitos dos relatos levam ao entendimento de que apenas as ações realizadas
em suas comunidades são suficientes para reverter e amenizar as problemáticas
ambientais. Elas são importantes, mas não são suficientes, porque não dependem
apenas das ações humanas no dia-a-dia. As problemáticas ambientais estão
inseridas num contexto complexo e a reversão desse cenário depende, também, de
uma atuação mais incisiva no campo político institucionalizado.
Por outro lado, e de igual importância, os aspectos de enfrentamento político
institucional no que tange à atuação dentro dos espaços governamentais, a fim de
questionar a construção de políticas públicas para as problemáticas ambientais,
enquanto questões de ordem coletiva e de compromisso das esferas sociais
aparecem raríssimas vezes nos relatos dos jovens. De um modo geral e não menos
importante, o engajamento político dos jovens ambientalistas está mais centrado no
mundo local, ou seja, os jovens estão mais engajados em ações desenvolvidas
dentro das suas comunidades por meio das organizações, grupos, coletivos e
movimentos ambientalistas.
Essas ações são interessantes e plausíveis, no entanto há que se pensar na
continuidade e ampliação delas no campo do engajamento político-institucional, a
fim de que as estruturas das políticas públicas – muitas vezes, contrárias às lutas
juvenis em suas comunidades – sejam questionadas e colocadas em xeque para
que as lutas dos jovens ambientalistas ganhem visibilidade e legitimidade, tornando-
se canais de transformações locais e globais.
Para se pensar a natureza política do engajamento juvenil, a princípio
desenvolvido apenas nos espaços das comunidades e do engajamento numa
perspectiva institucionalizada, pode-se citar a história de Chico Mendes, cuja
juventude foi engajada pelas problemáticas ambientais, passando a ser considerado
um dos ambientalistas mais influentes da sua época, principalmente pelo fato de que
rompeu com as lutas fechadas à realidade da comunidade em que vivia e deu
seguimento à sua militância nos debates e projetos internacionais, deixando um
legado que serve de inspiração ao engajamento político não limitado às pequenas
225
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ações e ao entorno das lutas locais (MILANEZ, 2013). A história de Chico Mendes
chama a atenção que é preciso colocar na agenda dos movimentos ambientalistas a
natureza e poder presente no engajamento político institucionalizado, capaz de
trazer às pautas nacionais e internacionais a função social, política, cultural,
econômica e ideológica do meio ambiente.
Grosso modo, percebe-se o engajamento político como característica
marcante nas narrativas dos jovens membros do Engajamundo. Para eles, o
engajamento militante ambiental está além da ideia de jogar o lixo no local
adequado, de fazer palestras nas escolas sobre educação ambiental, de
desenvolver projetos ou campanhas sem dar o enfoque maior nas questões políticas
e governamentais que sustentam e, por vezes, delas dependem para que os
objetivos das organizações, coletivos, grupos e movimentos ambientalistas sejam
alcançados e sejam ampliados da perspectiva local para a global.
As narrativas dos jovens participantes, especialmente do Greenpeace,
GAASB, GAAJE e Partido Verde, por exemplo, colocam em evidência que, apesar
de estarem engajados na militância ambiental, a maioria dos jovens se sente
limitada quando se trata de engajar-se politicamente, em especial – segundo eles –
pelo fato de muitas organizações, coletivos, grupos e movimentos ambientalistas
terem se rendido à logica capitalista e, além disso, muitos coordenadores
(geralmente, adultos) de organizações ambientalistas foram cooptados por
empresas e sistemas governamentais que, na maioria das vezes, “compram” o
silêncio das organizações e, consequentemente, reverbera-se no movimento,
liberdade, participação e direito de fala dos jovens.
Por isso, presumo que pelo fato do Engajamundo ser constituído de jovens
para jovens e se pautar – até o presente momento – como uma organização que
possui maior liberdade e participação nos debates com as esferas públicas e
privadas (governos e empresas) sobre as problemáticas ambientais, o engajamento
político seja uma categoria mais fortemente percebida nas narrativas dos jovens do
Engajamundo.
Portanto, a experiência oriunda do contato com os sujeitos desta pesquisa e a
partir da problemática que a tece, chega-se ao indicativo de que, dentro da
ramificação de engajamentos, é importante refletir sobre o engajamento político
juvenil no sentido de transpor a superficialidade da sua natureza ou não confundi-la
226
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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154, jan./fev. 2009.
APÊNDICES
APÊNDICES
238
APÊNDICES
239
Consentimento Pós–Informação
Eu, ______________________________________________________________,
fui informado/a sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha
colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar da
pesquisa, sabendo que minha participação é voluntária e que posso sair quando
quiser. Além disso, ( ) autorizo ( ) não autorizo o uso e a divulgação do meu nome
no trabalho escrito. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós.
__________________________________________
Assinatura do participante
__________________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
241
DADOS PESSOAIS
1. Nome: __________________________________________________________________
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Data de nascimento: _____/_____/_____
4. Idade: _______________
5. Endereço: _____________________________________________________________
8. Escolaridade:
( ) Ensino Fundamental Incompleto ( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Superior Completo
( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Pós-Graduação
( ) Ensino Médio Completo
Se curso de graduação, qual? _________________________________________________
9. Onde você nasceu? _______________________________________________________
242
17. Qualifique seu interesse pelos assuntos relacionados com o meio ambiente:
a) Muito interessado
b) Razoavelmente interessado
c) Pouco interessado
d) Nenhum interesse
27
Eu, _______________________________________________________________________,
fui devidamente informado/a sobre os objetivos da pesquisa acadêmica desenvolvida por
Hélio Souza de Cristo, tendo como foco o engajamento de jovens em movimentos
ambientalistas. Estou ciente que a pesquisa “Juventude e Meio Ambiente: narrativas de jovens
ambientalistas do estado da Bahia” faz parte do seu curso de mestrado na Universidade
Estadual de Feira de Santana, iniciado em 2015 e com previsão para término em 2017.
Concordo em participar de entrevistas com gravação de voz, tendo ciência que minha fala
abordará questões pertinentes à minha história de vida, a ideias pessoais e ao engajamento no
movimento ou grupo ambientalistas.
Sei que tenho o direito de recusar esta permissão, assim como interromper a participação
neste trabalho a qualquer tempo, sem prejuízos para mim. Fui informado que posso perguntar
ao pesquisador sobre quaisquer questões acerca do projeto que fundamenta esta pesquisa e
que tenho total liberdade para não responder a qualquer questão que desejar.
Portanto, quanto à privacidade das informações prestadas por meio das entrevistas, escolho
(favor, assinalar uma alternativa):
( ) não permitir que a minha voz seja apresentada nos produtos dessa pesquisa.
( ) permitir que a minha voz seja apresentada nos produtos dessa pesquisa.
_____________________________________________________________________
Assinatura do participante/declarante
29
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Essa entrevista se constitui como parte da pesquisa acadêmica que está em andamento na
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação – PPGE. A entrevista tem como objetivo compreender questões
relacionadas ao engajamento juvenil nos movimentos ambientalistas através da escuta, análise
e estudo de suas narrativas correlacionadas às suas histórias de vida e suas visões sobre a
imbricação da juventude na dinâmica dos movimentos ambientalistas.
1. Lembrando da sua vida desde a infância, quais os eventos/experiências você acha que
motivaram a sua aproximação junto aos movimento ambientalistas? (Quando aconteceu?
Qual significado teve para você? Que paisagens, ideias, pessoas, livros, filmes, aulas...
estão relacionadas às suas experiências no movimento ambientalista?)
2. Qual sua história no movimento ambientalista?
3. Qual sua visão sobre os movimentos ambientalistas?
4. De que maneira você vê o engajamento e a militância juvenil nos movimentos
ambientalistas? (relação entre os jovens/jovens e adultos)
5. Fale um pouco sobre o grupo ou movimento ambientalista que você faz parte.
6. Descreva uma experiência que você teve no movimento ambientalista que marcou sua
vida. Por que marcou?
7. Com quais tipos de ações você mais se engaja dentro dos movimentos ambientalistas? Por
quê?
8. Você se considera um jovem engajado? Por quê?
9. O que é ser jovem e ambientalista na atualidade?
10. Partindo de sua realidade, quais as principais dificuldades encontradas por um jovem
ambientalista?
11. Existe relação entre o engajamento nos movimentos ambientalistas e seu projeto de vida?
Se sim, qual? Se não, por quê?
12. Você acha que a participação política, o engajamento e a questão do exercício da
cidadania têm reflexos na vida acadêmica, universitária e profissional do jovem? Quais?
13. Existe algo que gostaria de falar que não foi contemplado nas perguntas?