Communication">
Dissertação - Lana Cristina Bueno Miranda - 2019
Dissertação - Lana Cristina Bueno Miranda - 2019
Dissertação - Lana Cristina Bueno Miranda - 2019
GOIÂNIA
2019
LANA CRISTINA BUENO MIRANDA
GOIÂNIA
2019
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Prof.ª. Dr.ª Edlaine Faria de Moura Villela – Orientadora e Presidente
Mestrado Profissional em Saúde Coletiva – Universidade Federal de Goiás (UFG)
_________________________________________________________________
Prof.ª. Dr.ª Edsaura Maria Pereira – Membro Interno (Titular)
Mestrado Profissional em Saúde Coletiva – Universidade Federal de Goiás (UFG)
_________________________________________________________________
Prof. Ms. Elias Rassi Neto – Membro Interno (Suplente)
Mestrado Profissional em Saúde Coletiva – Universidade Federal de Goiás (UFG)
_________________________________________________________________
Prof.ª. Dr.ª Linamar Teixeira de Amorim – Membro Externo (Titular)
Universidade Federal de Goiás (UFG)
_________________________________________________________________
Prof.ª. Dr.ª Nusa de Almeida Silveira – Membro Externo (Suplente)
Mestrado Profissional em Saúde Coletiva – Universidade Federal de Goiás (UFG)
Dedico este trabalho aos meus pais, pela
presença constante, pelo exemplo de
perseverança, pela força e honradez, pelo apoio
incondicional.
Aos meus filhos, pelo amor, companheirismo e
amizade.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sua Graça e Misericórdia; por até aqui ter me ajudado, me dando
forças e sabedoria para a execução deste trabalho.
À minha orientadora, professora Edlaine Faria de Moura Villela, pela
orientação, amizade, incentivo, dedicação e paciência a cada encontro.
À professora Nusa, por me apresentar ao mundo das representações sociais,
abrindo horizontes para novas descobertas.
Aos professores Elias Rassi Neto, Edsaura Maria Pereira e Linamar Teixeira
Amorim, pela disposição em participar do processo da minha qualificação e defesa.
Aos colegas da turma do Mestrado Profissional em Saúde Coletiva, Turma 7,
que estiveram juntos nesta caminhada, pela troca incessante de experiências.
A tantos outros que me acompanharam nesta jornada, pela torcida e incentivo.
“Você ganha força, coragem e confiança através
de cada experiência em que você realmente
para e encara o medo de frente.”
Eleanor Roosevelt
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
RESUMO
ABSTRACT
Contemporary society has witnessed the growth of the information flow at an enormous
rate. The growing dissemination of information and data by the mass media covers
diverse topics with little or no concern for the quality, truthfulness and context of the
news presented. Studies have exposed the relationship between the media and health
issues, evidencing the hypervaluation of irrelevant themes and the media silencing
about important concerns. Considering the relationship between the media and the
Unified Health System, this research aimed to investigate how the SUS image was
built by the media at the time of its creation and as it is currently being conceived. For
that, a survey and analysis of news and published reports about SUS was carried out
in a newspaper and a magazine of great circulation in Brazil, in two periods, from
January 1988 to December 1991 and from March 2016 to March 2018. The
comparative study of these historical data made it possible to understand the socio-
political context of the SUS and to identify the main issues addressed by the media
throughout the during the study periods, leading to reflections and contributing to the
consolidation and strengthening of SUS in its current scenario.
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
EPÍGRAFE
RESUMO/PALAVRAS CHAVE
ABSTRACT/KEY-WORDS
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................12
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13
2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 16
2.1 Objetivos Geral ............................................................................................. 16
2.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 16
4 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................... 28
4.1 Informação, Comunicação e Notícia........................................................... 28
5 REFERNCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO...................................................... 32
5.1 Representações Sociais............................................................................... 32
6 METODOLOGIA .................................................................................................. 34
6.1 Tipo de Estudo e Período ............................................................................. 34
6.2 Coleta de Dados............................................................................................ 34
6.3 Análise dos Dados........................................................................................ 35
7 RESULTADOS E DISCUSSÕES.......................................................................... 38
7.1 Formulação de Categorias........................................................................... 38
7.2 Elaboração dos Discursos........................................................................... 44
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 66
REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 68
12
APRESENTAÇÃO
Naquele mesmo ano fui convidada a ministrar aulas no curso de farmácia oferecido
pela então Faculdade Montes Belos, hoje Centro Universitário Montes Belos. A
vivência de nove anos como servidora pública e docente me proporcionou
experiências incríveis e uma ânsia por mais conhecimento e descobertas. Em reunião
com colegas da Regional de Saúde Oeste II, soube da existência do Mestrado
Profissional em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Goiás. Meu momento
pessoal era conturbado, ainda assim, com dez dias para o final das inscrições, esbocei
um projeto, realizei as provas e fui aprovada! Um velho sonho de ingressar em um
mestrado, um novo começo! A cada aula, a cada novo professor, um turbilhão de
indagações e a certeza de que o curso faria diferença na minha vida profissional e
cidadã.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, estudos têm investigado e exposto a relação entre os meios de
comunicação de massa e os temas de saúde. No que diz respeito à saúde pública,
muitas dessas pesquisas visam a monitorar de forma crítica o modo pelo qual esses
meios de comunicação estabelecem sentidos que circulam no cotidiano sobre o
Sistema Único de Saúde, que em 2018 completou 30 anos. São diagnósticos,
interpretações e propostas acerca de assuntos debatidos na arena midiática e que
produziram a imagem do SUS na arena pública (LERNER, SACRAMENTO, 2014;
BRASIL, 2015; D’AVILA, TRIGUEIROS, 2017; CARDOSO, ROCHA, 2018; CAMPOS,
2018; SANTOS, 2018; LIMA, CARVALHO, COELI, 2018; PAIM, 2018; DUARTE,
EBLE, GARCIA, 2018; SACRAMENTO, 2019).
Por outro lado, aponta Jung (2018), na saúde pública é comumente alegado que o
público, sempre visto como leigo, não está capacitado para assimilar os principais
conhecimentos de saúde, tampouco tomar decisões em situações de conflito. Santos
(2012), analisando os editoriais sobre saúde em um periódico pernambucano, relata
que todos eles eram unânimes em rotular o poder público como incapaz, ineficiente e
mau gestor.
O presente estudo, no lastro desses debates, realiza uma investigação sobre como a
imagem do Sistema Único de Saúde foi construída no momento de sua criação e como
tem sido concebida atualmente. Na medida em que resgata discursos e mensagens
veiculadas nesses dois momentos, colabora para a consolidação e o fortalecimento
do SUS. Isso porque entendemos que conhecer os principais assuntos abordados
pela mídia de massa possibilita a identificação de aspectos da saúde midiaticamente
evidenciados ou negligenciados, permitindo que cientistas, gestores e governantes se
apoderem de informações que subsidiem a tomada de decisões na gestão do sistema.
2 OBJETIVOS
Identificar o noticiário sobre o SUS veiculado nos dois períodos e verificar como a
prática discursiva midiática contribuiu para a construção da imagem do SUS.
Resgatar as representações sociais contidas nos discursos e mensagens
veiculadas pela mídia sobre os principais temas relacionados ao SUS.
Descrever as principais diferenças do processo comunicativo de massa da época
da criação do SUS em comparação com o panorama atual.
17
3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
No começo dos anos 1970, já sob esse arcabouço legal, surgiu o projeto Nova Ordem
Mundial da Informação e Comunicação (Nomic), também de internacional, que visava
à reorganização dos fluxos globais de informação por meio de diversas ações
governamentais e do terceiro setor. Apoiado pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 1983), esse projeto redundou, em
1977, na Comissão Internacional para o Estudo da Comunicação, cujos trabalhos
geraram o documento “Um mundo e muitas vozes – comunicação e informação na
nossa época”, que ficou conhecido como Relatório MacBride, publicado em 1980 e
até hoje uma referência sobre a importância da comunicação na sociedade
contemporânea, apontam Pinheiro e Lofêgo (2012).
1O PIDCP, junto com a própria declaração e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e
Culturais (PIDESC), também lançado em 16 de dezembro de 1966, constituem a Carta Internacional
dos Direitos Humanos da ONU
18
As bases regulatórias da mídia brasileira seriam lançadas quase uma década depois,
em 1830, com a instituição do primeiro Código Criminal do Brasil, então sob regime
imperial. Contudo, foram necessários mais de cem anos para que o país criasse o
primeiro regulamento no setor de comunicações, voltado especificamente para os
serviços de radiocomunicação no território nacional, por meio do decreto 20.047, de
1931, aprovado pelo decreto 21.111, de 1932. A partir daí o rádio passou a ser um
serviço de competência da União, podendo ser explorado diretamente pelo Estado ou
por emissoras privadas, com finalidade comercial, por concessão governamental
(BARBOSA, BRANT, 2010; PAULINO, 2008; VALENTE, 2013).
Pouco depois, em 1967, por meio do Decreto-lei nº 200, foram criados os ministérios
das Comunicações e o da Saúde2. No mesmo ano, a Lei nº 5.250, ainda em vigor,
regulamentou a liberdade de manifestação de pensamento e informação, prevendo,
entre outros pontos, pena de prisão para jornalistas e responsáveis por produtos
editoriais por qualquer tipo de abuso no exercício profissional (PAULINO, 2008). Essa
lei, em seu Capítulo III, artigo 16, define:
2Esse decreto-lei desmembrou o Ministério da Educação e Saúde Pública, que fora criado em 14 de
novembro de 1930, por Getúlio Vargas, então chefe do governo ditatorial, que ficou conhecido como
Estado Novo, criou.
19
Assim, como prática social que faz parte do cotidiano, sendo discursos sociais ou
formas de representação do real (MEDEIROS, SOUZA, 2017; BRASIL, 2016), a
comunicação e a informação passaram a ser reconhecidas constitucionalmente como
um direito dado mediante garantias fundamentais. É o que expressa o Título II,
Capítulo I, artigo 5º, inciso IV, IX, XXXIII da Constituição:
Barbosa e Brant (2010) definem como complexo o quadro regulatório das políticas
públicas de comunicação, que passou por importantes alterações, antes e depois de
promulgada a atual norma constitucional. O Código Brasileiro de Telecomunicações,
que é de 1962, foi modificado em 1967, início da ditadura civil-militar, que se
estenderia até 1985. Reduzido a fragmentos depois da aprovação da Lei Geral das
Telecomunicações (Lei 9.442/1997), manteve válidos apenas os artigos relativos à
radiodifusão. A evolução tecnológica e as novas demandas comerciais do setor
também impuseram novas regras. Foi o caso de dois ordenamentos legais criados em
1995: a Lei 8.977, que regulamentava os serviços de TV a cabo, incipiente à época, e
a Emenda Constitucional nº 8, que quebrou o monopólio estatal das
telecomunicações. Já no início dos anos 2000, foi promulgada a Emenda
Constitucional nº 36 (2002), que autorizou a participação do capital estrangeiro em
30% do controle acionário de empresas nacionais de comunicação (radiodifusão e
jornalismo) (BARBOSA, BRANT, 2010).
20
Ao mesmo tempo, florescia no Brasil um amplo movimento social que visava a uma
reforma do setor de saúde, que naquele momento de crise mundial estava na
contramão das propostas, que questionavam a manutenção do estado de bem-estar
social. Era o início da Reforma Sanitária Brasileira, que reunia iniciativas de diversos
setores da sociedade, associados à academia (notadamente os departamentos de
medicina preventiva), aos sindicatos de trabalhadores, aos movimentos populares e
aos partidos políticos de esquerda, ilegais à época (PAIM, 2012). Sua principal
bandeira, conta o autor, a defesa da saúde como uma questão social e política a ser
abordada no espaço público.
No período colonial, que se estendeu por 300 anos, os serviços de saúde no país
estavam restritos ao trabalho de cirurgiões do exército português. Com a vinda da
família real para o Brasil em 1808, a saúde pública começou a ganhar uma estrutura
21
Em 1920, pelo decreto nº 3.987, regulamentado pelo decreto nº 14.354, foi instituído
o Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), subordinado ao Ministério da
Justiça e Negócios Interiores (HOCHMAN, 1993; PAULINO, 2008). Araújo e Cardoso
(2007) citam a criação do DNSP como a referência mais saliente da relação entre
comunicação e política públicas, ao abarcar a propaganda e educação sanitária como
estratégias de saúde.
Àquela altura, já havia sido criado o Conselho Nacional de Saúde (CNS) (Lei nº
378/1937). Com a separação do Ministério da Saúde em 1953, o Decreto nº 34.347
regulamentou o CNS5, que deixou de discutir apenas demandas internas e passou a
colaborar com o ministro de Estado, fomentando as bases gerais dos programas de
proteção à saúde (BRASIL, 1998; 2014).
3 FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Cronologia histórica da saúde pública. Brasília, 7 ago. 2017.
Disponível em: <http://www.funasa.gov.br:8080/cronologia-historica-da-saude-publica#wrapper>.
Acesso em: 7 jun. 2019.
4 Idem.
5 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. História do CSN. Brasília, DF, [s.d.].
O embate por detrás dessa regulamentação passa pelo campo político e comercial. O
setor de comunicações e suas tecnologias foram responsáveis por 7,1% do PIB global
em 2018, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da
Informação e Comunicação (Brasscom). Nesse contexto, de alta lucratividade não é
incomum a manipulação e conchavos políticos entre os donos ou controladores dos
grupos de comunicação, sempre com vistas a vantagens financeiras, políticas ou
interesses diversos (VALENTE, 2013; BARBOSA, BRANT, 2010; EICHELBAUN,
2019; MALINVERNI, CUENCA, 2017).
No Brasil, o quadro é ainda mais grave. Cerca de cinco famílias controlam a quase
totalidade dos produtos de comunicação, ao menos quatro delas (grupos Globo,
Record, SBT e Folha) atuam em forma de oligopólio cruzado, oferecendo produtos
aos mercados editorial, audiovisual (TV, rádio e cinema), fonográfico e virtual)
(MALINVERNI, CUENCA, 2017).
24
Preocupação recente no Brasil, como nos Estados Unidos e em vários outros países,
tem sido a disseminação de informação intencionalmente falsa, as chamadas fake
news. Segundo Scheufele e Krause (2019), a desinformação é resultado de uma
capacidade limitada de avaliar das pessoas, principalmente daquelas conectadas às
redes sociais, e, portanto, de distinguir entre notícia e anúncio noticioso.
27
Neste ponto, vale resgatar Goodman, Wennerstrom e Springgate (2011), que apontam
que a maior força das mídias sociais não está em transmitir informações para uma
grande parcela da população e sim em envolver grupos outrora excluídos na produção
e circulação das informações sobre saúde, tornando-os consumidores proativos dos
serviços.
28
4 REFERENCIAL TEÓRICO
Cecchi (2008 p. 390; tradução nossa) complementa: “[...] informar é comunicar através
de uma mensagem clara e inteligível por todos, é levar em conta as novas palavras
que aparecem constantemente e cujo significado evolui sempre”. Jung (2018) define
comunicação como uma troca de informações e opiniões entre todas as partes
envolvidas no processo comunicativo.
29
Mas este não é um processo de comunicação homogêneo e coeso, dado que sofre
interferência de ruídos que dificultam a acolhida da mensagem pelo receptor,
distraindo-o, confundindo-o, bloqueando e interferindo nas suas percepções, por fim,
gerando perdas no processo comunicativo. Comumente esses ruídos são derivados
de diferenças de percepção e compreensão das mensagens transmitidas pelo emissor
e o entendimento que o receptor tem delas (TEIXEIRA, 2012; CORREIA, 2009).
No caso do campo da saúde, Teixeira (1997, apud FERNANDES et al., 2017) refere
que a comunicação, de caráter fortemente unidirecional, coloca a população como
simples ouvinte de ações previamente definidas. De fato, essa é uma tese cara ao
educador Paulo Freire, que criticava a utilização da mídia como mera transmissora de
informação e comunicados unidirecionais, e não como meios de comunicação
(MEDITSCH, FARACO, 2003, apud VILLELA, 2012).
5 REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
De acordo com Guerra e Ichikawa (2011), a teoria das representações sociais permite
o entendimento sobre como os conceitos do universo científico são transformados em
conceitos no universo consensual.
É nessa perspectiva que a TRS é utilizada como eixo teórico desta pesquisa.
34
6 METODOLOGIA
Dados secundários foram coletados nos acervos do jornal Folha de S.Paulo e revista
Veja, ambos on-line, que abordavam o tema, permitindo que a análise descritiva fosse
composta por uma diversidade de fontes e pluralidade de informações relevantes para
o estudo.
35
O acesso ao noticiário publicado por Veja e Folha de S.Paulo ocorreu por meio
eletrônico. Nessa etapa foram utilizados os descritores: SUS, serviços de saúde do
SUS, gastos e SUS, manipulação e SUS, gestão do SUS, cidadão e SUS, comunidade
e SUS, problemas e SUS, carências do SUS, avanços do SUS, lado positivo do SUS,
PEC 55 ou 241, colapso do SUS, usuários do SUS. Os descritores também foram
intercalados entre SUS, serviços de saúde, políticas públicas e centros de saúde, com
o propósito de encontrar a intersecção entre trabalhos correlacionados.
Orientado pela TRS este trabalho emprega a técnica do discurso do sujeito coletivo
(DSC) para investigar o contexto da formação do SUS e sua atual conjuntura. O DSC
é caracterizado pela organização e tabulação de dados qualitativos de natureza
verbal. No presente caso, esses dados foram obtidos de notícias e reportagens
publicadas pelos meios de comunicação massivos.
O trabalho feito com a mídia, conforme descreve Villela (2012, p. 50) “[...] requer
disposição para ler e acompanhar o que é escrito diariamente, independente do tema
em questão estar contido na sua coluna regular ou não”. Assim, foi necessário
investigar a totalidade dos exemplares diários e semanais, sendo selecionadas 86
notícias que citavam o Sistema Único de Saúde, somados o jornal e a revista (Tabela
1).
Após a coleta das imagens e textos verbais procedeu-se à seleção dos temas
relacionados ao SUS. Os principais assuntos abordados pelos meios de comunicação
foram denominados subtemas (Tabela 2).
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cada subtema resgatado foi representado por duas perguntas: uma é referente ao
período histórico de criação e implementação do SUS e outra representa o período
atual, 30 anos após sua criação, conforme observado na Tabela 3.
Para cada pergunta elaborada a partir dos subtemas foram formuladas categorias
conforme a síntese de ideias centrais, como descrito na Tabela 4.
39
Figura 1. Distribuição das “respostas” dadas para cada pergunta feita, segundo
subtema e momento histórico (1988-1991 e 2016-2018), sobre a cobertura
midiática do SUS no Brasil.
60
50
Número absoluto de notícias
40
30
20
10
0
Subtema 1 Subtema 2
1988-1991 2016-2018
Figura 2. Número e distribuição das “respostas” dadas para cada pergunta feita,
segundo categorias formadas – síntese de ideias centrais –, sobre a
cobertura midiática do SUS no Brasil.
40
CATEGORIZAÇÃO DAS RESPOSTAS EXTRAÍDAS PARA CADA PERGUNTA H (2)
35 A B C D E F G H G (4)
NÚMERO ABSOLUTO DE NOTÍCIAS
30
25 F (12)
20 F (8)
E (1) E (8)
15 D (2)
C (1)
C (1) B (2) D (2)
10
C (4) B (5) C (3)
5 B (3) A (11) B (5)
A (4) A (6)
0 A (2)
PERGUNTA 1 PERGUNTA 2 PERGUNTA 3 PERGUNTA 4
Com relação à Pergunta 2, 12 respostas foram obtidas (Tabela 5). Salienta-se uma
visão positiva sobre o SUS (Categoria A), totalizando 6 notícias (50%). Os discursos
enfatizavam, ainda, o SUS ser uma grande conquista, mas que necessitava de
aprimoramento e maior financiamento (Categoria B). A visão de que o SUS estava
42
A Pergunta 3 trata das informações veiculadas pela mídia sobre o Sistema Único de
Saúde no período de 1988 a 1991. Pelo momento histórico percebe-se uma maior
quantidade de notícias sobre projetos, votações e aprovação de leis referentes ao
SUS (Categoria A), em um total de 11 reportagens (44%). Apesar da maioria das
informações veiculadas estar nessa categoria, poucas informações foram dadas sobre
o funcionamento do SUS. As reportagens eram superficiais, traziam poucas
explicações para a população sobre o que realmente seria esse novo modelo de
saúde pública. O segundo ponto mais debatido naquele momento estava relacionado
à participação da iniciativa privada no SUS (Categoria F), com 8 respostas (32%). É
possível notar intensos debates sobre a liberdade dos planos privados e do capital
estrangeiro, que explicitavam o jogo político em defesa de interesses particulares.
Muito se falou sobre projetos, votações e leis, mas nada se explicou sobre a
organização dos serviços e reorientação do modelo de atenção à população (Tabela
6).
43
As informações veiculadas pela mídia sobre o SUS no período de 2016 a 2018 foram
tratadas na Pergunta 4. A Tabela 7 demonstra 38 respostas para esse subtema, o que
obteve maior quantidade de respostas. As categorias mais abordadas foram a
participação da iniciativa privada no SUS (Categoria F), com 12 respostas (31,58%) e
tratamentos e medicamentos oferecidos pelo SUS (Categoria E), com 8 respostas
(21,05%), seguida da Categoria C, cortes de serviço por falta de verbas, com 5
respostas (13,16%).
O método do DSC visa obter como produto final discursos-síntese que representem o
pensamento social de uma coletividade sobre o tema abordado. Seu objetivo não é
saber quem falou o quê, valorizando a fala individual, mas reunir ideias semelhantes
de vários sujeitos sobre o assunto em questão, construindo um discurso
representativo da coletividade (VILLELA, 2012).
As composições dos DSC para cada categoria formada dentro de cada subtema
(pergunta) do trabalho serão demonstradas a seguir, bem como a discussão sobre os
resultados.
O Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser a solução para a tragédia sanitária. Um
dos caminhos para sair da crise da saúde no Brasil foi aberto pela Constituição. Tudo
que temos de positivo na saúde está na Constituição. A base legal e constitucional
dessas mudanças já existe. Falta vontade e coragem política para colocá-la em
prática. Enquanto na prática o Brasil é um país doente, na teoria tem um sistema de
saúde que o coloca entre os países mais desenvolvidos. É preciso centralizar as
decisões no Ministério da Saúde. De que adianta dezenas de órgãos que não
funcionam, que acabam proporcionando a fraude, a corrupção e a burocracia no
atendimento? Além da implantação do SUS é essencial que o governo priorize a
saúde. Saúde é também saneamento básico, alimentação, higiene, além de hospitais
bem equipados e com seus serviços devidamente pagos. Também é preciso
acompanhar a medicina do resto do mundo, desenvolvendo pesquisas e assistência
de ponta, como transplantes. A colocação em prática do SUS é vista pelos
especialistas como a única e mais rápida solução da crise. Se for bem-sucedida,
45
parcela conservadora do PMDB — Centro Democrático — PFL, PDS, PTB, PL e PDC. Incentivaram a
organização do bloco suprapartidário elites empresariais, insatisfeitas com a aprovação de direitos
sociais e de dispositivos nacionalistas e estatizantes, e o governo federal, com o objetivo de derrubar
algumas definições, como o sistema parlamentar de governo e o mandato presidencial de quatro anos.
Setores militares também se articulavam ao Centrão, preocupados com o que consideravam uma
tendência esquerdista da Comissão de Sistematização.
46
Há uma guerra aberta, declarada, violenta como todo conflito, no campo da saúde. De
um lado alinham-se a Associação Médica Brasileira, a Federação Brasileira dos
Hospitais e entidades privadas, com o apoio parlamentar do Centrão e respaldo, na
administração federal, do Ministério da Saúde. Do outro, o que se convencionou
chamar de Partido da Saúde (PS), uma forte aliança suprapartidária formada ainda no
período do autoritarismo como reação à política de saúde dos governos militares e
fortalecida, com o advento da transição, através do plano de saúde assumido por
Tancredo Neves e as gestões de Waldir Pires e Carlos Santana nos ministérios da
Previdência e da Saúde. As propostas do “PS” são apoiadas pela liderança do PMDB,
pelos partidos de esquerda e, na administração federal, pelo Ministério da
Previdência. No Congresso Constituinte, os parlamentares, pressionados pelos
lobbies dos dois lados, negociaram um acordo que, na essência, garante o básico das
teses das esquerdas – sistema único de saúde, descentralização, municipalização etc.
–, mas que chegou a emperrar quando se discutiu a extensão da participação da
iniciativa privada. Não resta dúvida de que os interesses privatizantes, alicerçados na
impunidade sem limites do setor privado da saúde, viabilizada pela atuação do Estado,
nas últimas décadas, sentem e reagem violentamente contra qualquer possibilidade
de controle de sua atuação pelo poder público. (1988) – (2 notícias)
47
Segundo Paim (2009) a proposta central do SUS era: todas as pessoas têm direito à
saúde. Esse direito não estava condicionado ao pagamento de um seguro social, nem
48
Mendes (1996) lembra que a iniciativa privada dominava a saúde brasileira desde o
século XX, tendo os serviços médico-assistenciais particulares crescido e se ampliado
a partir da década de 1950. Desse modo, o setor saúde, de modo geral, e a prática
médica, em particular, estavam orientados pelo lucro, que promoveu a capitalização
da medicina e privilegiava o fornecedor privado desses serviços.
Em uma análise do contexto da época, Paim (2009) descreve uma percepção geral
de que a Constituição não definira se a saúde era um bem público ou um serviço a
ser comprado no mercado. Essa ambiguidade resultou dos embates e acordos
políticos no processo constituinte, representando o que foi possível conquistar
naquele momento pelos deputados que defendiam a criação do Sistema Único de
Saúde.
Sobre esse aspecto, Azevedo (2006) aponta a relação histórica da mídia brasileira
com as elites. O autor faz referência a um estudo de Fraser (1992) sobre dois grupos
formadores da opinião pública. Um grupo de sujeitos com recursos políticos,
econômicos e simbólicos capazes de influenciar a agenda da mídia, as tomadas de
49
decisão e a opinião pública; e um segundo grupo, que não possui recursos políticos e
econômicos suficientes para influenciar a opinião pública de forma tão significativa.
C- Fadado ao desmonte
Mesmo fadado ao desmonte com o ajuste fiscal, o Sistema Único de Saúde (SUS) já
dispõe de repertório considerável: campanhas publicitárias, preservativos, testagem
51
Trinta anos após a existência do SUS, a mídia expõe o sistema de saúde brasileiro
como uma conquista positiva. Mesmo quando se refere a ele como um sistema
“fadado ao desmonte”, em razão do ajuste fiscal imposto pelo Emenda Constitucional
nº 95, o discurso exalta as conquistas desse sistema.
Lima, Carvalho e Coeli (2008), em balanço dos 30 anos de existência do SUS, relatam
que ele faz parte do senso comum de gestores, políticos, mídia, profissionais de saúde
e da população, apesar dos ataques e golpes sofridos, da falta de prioridade
financeira, inclusive por parte do Estado brasileiro, cenário agravado pela crise
econômica. O SUS possibilitou a construção de uma base de sustentação das
políticas de saúde, ancorada na atuação de grupos e organizações setoriais, na sua
maioria, e em regulamentações específicas. E mesmo diante da crônica escassez de
financiamento público, conseguiu ampliar ações e serviços.
Paim (2018) chama atenção para um aspecto importante do SUS: o sistema foi
implantado, mas não se encontra consolidado. Ainda assim, com todas as dificuldades
e fragilidades, produziu conquistas e resultados significativos ao longo de três
décadas. Nos discursos dos defensores do SUS, gestores e políticos, é tomado, na
grande maioria das vezes, como uma das maiores conquistas da sociedade brasileira.
O SUS necessário para que tenhamos uma sociedade mais justa está definido nos
seus princípios legais, segundo Souza (2009). E o SUS possível, hoje, é aquele que
se encontra no cotidiano dos serviços de saúde. Mesmo com os avanços significativos
desde o início de sua implementação, ainda está longe do SUS necessário.
A visão midiática sobre o SUS durante seus 30 anos não mudou. Embora seja
indiscutivelmente uma das maiores conquistas brasileiras e disponha de um repertório
considerável de vigilância em saúde, transplantes, hemodiálise, medicamentos de alto
custo e controle do HIV, por exemplo, e não houve mudança no discurso dos meios
de comunicação sobre o sistema público de saúde, pesquisados. Hoje, como ontem,
a mídia segue abordando do SUS pelo viés capitalista. Como observa Santos (2018,
p.1719), “[...] a mídia tradicional se autodeclara independente do mundo da política,
mas atua em um espaço de representação de interesses ao disseminar perspectivas
de grupos específicos”.
52
No caso dos veículos analisados neste estudo, entender suas políticas editoriais ajuda
na compreensão dos discursos que eles produziram sobre o SUS. Em estudo sobre
os 40 anos da revista Veja, França (2011, p. 16) identifica “[...] a crítica à esquerda e
aos movimentos anticapitalistas, construindo uma memória voltada para seus
interesses atuais, reconstruindo os acontecimentos a partir de seu imaginário próprio”.
O autor aponta ainda uma importante mudança no conteúdo da revista ao longo de
três décadas: nos anos 1980, Veja equilibrava textos brilhantes com outros que
“jogavam” a favor do senso comum da classe média, enquanto na década de 1990
passou a praticar um jornalismo pautado em “[...] agressões, alusões a defeitos físicos
e manipulações de declarações de fontes” (FRANÇA, 2011, p. 37). Esse modelo
alcançou o ápice nos anos 2000, quando a reportagem passou a ter uma agenda pré-
definida, cabendo aos seus repórteres buscar informações para dar suporte a essa
agenda.
Já a identidade do jornal Folha de S.Paulo é definida por Ribeiro (1994, apud Moreira
2006, p. 90) como “[...] comercialmente oportunista, ideologicamente flácida ou
adaptada aos tempos e às preferências do público; (...) capaz de adotar com rapidez
a racionalização característica da indústria cultural”.
O plenário do Congresso constituinte aprovou, por acordo que obteve 472 votos contra
apenas 9, com 6 abstenções, o capítulo da Saúde, introduzindo o chamado sistema
único para a administração dos serviços públicos neste setor. Pelo novo mecanismo,
cada nível de governo (federal, estadual e municipal) deverá implementar uma direção
única responsável pelo controle e planejamento das ações de todas as entidades que
prestarem atendimento médico estatal (inclusive instituições com convênios). O
financiamento será com recursos definidos no orçamento da União, Estados e
Municípios. A iniciativa privada continuará a atuar nos serviços de saúde. Instituições
particulares com fins lucrativos não poderão receber recursos públicos. O plenário
decidiu ainda proibir que empresas estrangeiras participem da assistência à saúde no
país. (1988) - (1 notícia)
concluímos não só com diretrizes de uma política de saúde para 1991, como elaborou-
se e aprovou-se uma proposta para a formação de um Conselho Municipal de Saúde.
(1990) – (2 notícias)
C- Irregularidades
D- Financiamento
O SUS prevê uma convivência pacífica entre a rede pública e os serviços da iniciativa
privada, mas deixa claro que quem dará as ordens e os fiscalizará é o poder público.
As empresas particulares que quiserem se credenciar terão que se abrir para um
controle de sua gestão. Essa convivência, que será vigiada também por
representantes das comunidades, implicará na prática de um jogo aberto que não tem
existido nas relações entre os hospitais de Estado com o atual Suds. Muitas
irregularidades foram descobertas na aplicação do dinheiro do Suds. Corrupções em
todos os níveis já foram denunciadas. (1990) – (1 notícia)
Paim (2009) relata que nos primeiros anos de implantação do SUS dava-se muita
ênfase à descentralização e à busca de financiamento e não havia preocupação na
divulgação de informações sobre a organização dos serviços e a reorientação do
56
Ramos (1996, apud PEREIRA, 2010) destaca que, nesse contexto, um dos
componentes fundantes do SUS era o controle social na saúde, considerado um dos
mais importantes aspectos do processo de redemocratização das políticas públicas
do país. No modelo brasileiro, por meio dos Conselhos de Saúde, o exercício do
controle social garante a participação popular nas deliberações e nos rumos das
políticas de saúde nas três esferas de governo.
De acordo com Lefèvre (1999, apud VILLELA, 2012), os estudos sobre a relação entre
mídia e saúde no Brasil mostram que as coberturas jornalísticas estão distantes de
contribuir efetivamente para as mudanças necessárias na educação em saúde no
país.
Souza (2009) diz que o relacionamento com a mídia é bastante complexo. Em primeiro
lugar, os órgãos de comunicação são empresas com interesses comerciais. Em
segundo, têm posições ideológicas ou partidárias mais ou menos explícitas. Em
terceiro, trabalham com um objeto – a informação – que requer um tratamento
específico para atrair a atenção do público e dos anunciantes.
Percebemos que as poucas discussões reflexivas que aparecem nas reportagens são
relativas à participação da iniciativa privada no SUS. Nessas, nota-se jogos e
estratégias de poder que refletem, na maioria das vezes, interesses econômicos e
políticos.
Estabelecendo uma comparação entre os dois recortes históricos deste trabalho, nota-
se também que as principais informações veiculadas sobre o SUS em ambos os
momentos históricos cumpriam um papel descritivo. No primeiro, a cobertura midiática
deteve-se na transmissão de informações sobre votações e aprovações de projetos e
leis, sendo negligenciadas as discussões acerca da participação da iniciativa privada
nos serviços de saúde. Essa abordagem refletia os interesses econômicos e políticos
defendidos pelos meios de comunicação ou grupos ligados a eles, o que vai de
encontro com o segundo recorte, demonstrando um crescente esforço em minimizar
a ação do Estado no Sistema Único de Saúde.
Foi aprovada uma portaria que flexibiliza as normas atuais da chamada atenção
básica em saúde, tida como porta de entrada para o SUS. Na prática, a medida passa
a permitir o financiamento de equipes de saúde menores do que a política atual prevê
para atendimento nas unidades básicas de saúde, e com cargas horárias mínimas
distintas entre os profissionais. Hoje, o modelo adotado prevê contrapartida de
financiamento apenas para as equipes de “Saúde da Família”. A nova portaria
reconhece a possibilidade de repasse de verbas federais também para as chamadas
“equipes de atenção básica”, as quais devem ser formadas por, no mínimo, três
profissionais – um médico, um enfermeiro e um técnico de enfermagem. (2017) - (1
notícia)
Nos últimos 30 anos, o Brasil construiu uma política de Estado para portadores de
transtornos mentais que ganhou o reconhecimento da Organização Mundial da
Saúde. Suas diretrizes foram pactuadas por usuários, familiares e profissionais de
58
Em 2017, o Hospital São Paulo fez um pleito para reajustar o contrato com o SUS, o
que não foi concedido e, para sua surpresa, teve o seu recurso advindo do Rehuf
(Programa Nacional de Restruturação dos Hospitais Universitários Federais)
suspenso por alegações técnicas sobre a natureza jurídica. Estudantes, professores
e técnicos querem seu hospital. (2017) – (2 notícias)
No SUS falta droga básica para tratar AVC. O Ministério da Saúde anunciou a intenção
de comprar apenas dois dos oito medicamentos biológicos disponíveis hoje no
sistema público para tratamento da artrite reumatoide, como forma de reduzir custos.
(2017) – (2 notícias)
do peso. Estima-se que o Sistema Único de Saúde despenda por ano quase R$ 500
milhões com condições relacionadas à obesidade. (2017) – (1 notícia)
Cirurgia inédita no país separa gêmeas siamesas é realizada no Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. O valor de uma cirurgia como
essa é calculado em US$ 2,5 milhões na rede privada dos Estados Unidos. No Brasil
será feita pelo SUS a um custo de R$100 mil. (2018) – (1 notícia)
legalizar os ditos planos populares, o que veio a público nas poucas audiências indica
que um novo marco legal serviria para sepultar vários projetos de lei que pedem
ampliação de coberturas assistenciais, para proibir a aplicação do Código de Defesa
do Consumidor aos contratos, para rever o ressarcimento ao SUS previsto toda vez
que uma pessoa que tem plano é atendida na rede pública e até mesmo para liberar
totalmente o reajuste das mensalidades. O ressarcimento ao SUS passa a ter um
formato de captação de recursos de hospitais e secretarias de Saúde, o que na
realidade se trata de claro incentivo à dupla porta, o atendimento diferenciado de
clientes de planos em unidade públicas. Com a mudança o SUS passa a ser um
prestador de serviços dos planos de saúde. A intenção do ministro da Saúde e dos
que o antecederam no cargo é muito simples: viabilizar e tornar mais abrangente o
negócio dos planos privados, de forma a reduzir o SUS ao mínimo. Na prática, está-
se a fazer uma privatização dissimulada do sistema público de saúde. As restrições
de atendimento deixam os usuários desprotegidos e empurram para o SUS
procedimentos mais complexos, acumulando gastos para a rede pública. Com o ajuste
fiscal, o Sistema Único de Saúde vai encolher a partir de 2018, quando passa a valer
o congelamento dos recursos públicos da área. O retorno do livre mercado dos planos
de saúde só iria contribuir para acelerar a crise sanitária sem precedentes que se
anuncia no Brasil. Se for aprovado, as empresas certamente verão seus lucros
crescerem, os problemas dos consumidores aumentarão, o SUS continuará sendo
onerado e o Judiciário, única esperança que resta àqueles que forem lesados, terá
mais dificuldades de conter os abusos. Se aprovado, será pior para todos nós. (2017)
– (7 notícias)
O ministro da Saúde afirma que planos de saúde “assumem um risco antecipado por
uma coisa incerta” ao não poderem reajustar a mensalidade de usuários após os 60
anos. Se queremos que o setor de saúde suplementar continue cooperando com o
SUS e atendendo vidas que se autofinanciam no atendimento de saúde, e com isso
aliviam a pressão sobre o SUS, é preciso que esse sistema se sustente. O equilíbrio
econômico do plano de saúde tem que ser mantido. O modelo suplementar é o duto
62
Encerrando uma controvérsia de duas décadas, Supremo decide que planos privados
precisam compensar o SUS por serviços a seus segurados. Para o relator do
processo, o contrato do plano obriga a empresa a pagar pelo atendimento, não
fazendo diferença se esse atendimento é na rede privada ou na pública.
Representantes dos planos justificaram a ação diante do fato de que a Constituição
prevê o direito à saúde, que deve ser oferecida pelo Estado, o que foi contestado pelos
ministros. (2018) – (2 notícias)
G- Judicialização na saúde
H- Irregularidades/Corrupção
Em uma análise atual sobre os principais temas veiculados na mídia sobre o SUS,
entre março de 2016 e março de 2018, a maior parte das informações retratava a
participação dos planos privados no SUS e os serviços, tratamentos e medicamentos
oferecidos por ele.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de análises dos discursos do sujeito coletivo, formados a partir da cobertura
dos meios de comunicação escolhidos, foi possível verificar como a prática discursiva
midiática contribuiu para a construção da imagem do SUS, que pode ser dividida em
duas vertentes antagônicas. Na primeira, tanto no momento de sua criação quanto no
período contemporâneo, tem-se uma imagem positiva do SUS, na qual é enaltecida a
sua base legal e constitucional, bem como seu repertório de conquistas ao longo de
seus 30 anos.
Foi possível verificar que no primeiro recorte (janeiro de 1988 a janeiro de 1991) a
mídia limitou-se a um papel descritivo, apresentando informações superficiais que não
contribuíam para o entendimento do SUS na prática. Porque se tratava de um
momento gestacional do SUS, entendemos que havia necessidade de uma discussão
mais profunda acerca dos princípios que norteariam o novo sistema, bem como qual
67
seria sua dimensão, de que maneira seria colocado em prática, quais as formas de
financiamento. No entanto, temas sobre a participação da iniciativa privada no SUS
foram os mais abordados.
REFERÊNCIAS
AIRES, J.; SANTOS, S. Sempre foi pela família: mídias e políticas no Brasil. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2017.
ALBALAWI, Y.; SIXSMITH, J. Identifying Twitter influencer profiles for health
promotion in Saudi Arabia. Health Promotion International, [s.l.], v. 32, n. 3, p. 1-8,
2015.
ARAÚJO, I. S. de. Tempos idos, tempos vindos. Muita história por contar, muita
história por fazer. In: D’AVILA, C.; TRIGUEIROS, U. (Org.). Comunicação, mídia e
saúde: novos agentes, novas agendas. Rio de Janeiro: Editora Luminatti, 2017. p.
11-49.
AZEVEDO, F. A. Mídia e democracia no Brasil: relações entre o sistema de mídia e
o sistema político. Opin. Publica. Campinas, v. 12, n. 1, p. 88-113, Ma 2006.
________; CARSOSO, J. M. Comunicação e saúde. 20. ed. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz, 2007. 152p. (Coleção Temas da Saúde).
BARBOSA, B. C. Violações de direitos humanos e regulação de conteúdo na
TV: Brasil em perspectiva comparada com França e Reino Unido. 2013. 161f.
Dissertação (Mestrado em Gestão e Políticas Públicas) - Fundação Getúlio Vargas,
Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, SP, 2013.
BARBOSA, B. et al. Brasil e seu desenvolvimento mediático: síntese e análise da
aplicação dos indicadores da Unesco. Infoamérica: Iberoamerican
Communication Review, [s.l.], v. 11, p. 75-95, 2017.
________; BRANT, J. As iniciativas da sociedade civil para dar rumo democrático às
políticas de comunicação no Brasil. Como os processos da Conferência Nacional de
Comunicação (Confecom) e da construção de indicadores do direito à comunicação
se articulam para definir novas. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação
e Inovação em Saúde, [s.l.], v. 4, n. 4, p. 36–44, 2010.
BATALHA, E. Serviço Nacional de Educação Sanitária – o estreito vínculo entre
educação e saúde. Invivo/Fundação Oswaldo Cruz, [s.l.] 2007. Disponível em:
<http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=922&sid=7>. Acesso
em: 14 abr. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Para entender o
controle social na saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.178p.
_______. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Legislação estruturante do
SUS– . 20. ed. Brasília: Conass, 2011. 534p. (Coleção Para entender a gestão do
SUS 2011, 13).
________. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Que saúde você vê?
Brasília: Conass, 2015. 76p. (Conass Debate, 4).
________. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações
determinadas pelas Emendas Constitucionais de Revisão n o 1 a 6/94, pelas
Emendas Constitucionais no 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008.
Brasília: Senado Federal, 2016. Disponível em:
69
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_20
16.pdf>. Acesso em: 7 abr. 2019.
________. História do Ministério. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2017a.
Disponível em: <http://portalms.saude.gov.br/historia-do-ministerio>. Acesso em: 13
abr. 2019.
________. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. I Conferência
Nacional de Comunicação. Proposta elaborada no âmbito do Conselho Nacional
de Saúde. Brasília, 2009. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/Web_comissoes/cicis/doc/Iconferencia.pdf>. Acesso
em: 13 abr. 2019.
________. Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962. Institui o Código Brasileiro de
Telecomunicações. Brasília, DF, Câmara dos Deputados, [1962]. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4117.htm>. Diário Oficial da União,
Brasília, DE, 17 dez. 1962. Acesso em: 7 abr. 2019.
________. Lei nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. Regula a liberdade de
manifestação do pensamento e da informação. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 10 fev. 1967. Seção 1, p. 1657. Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-5250-9-fevereiro-1967-
359026-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 7 abr. 2019.
________. Ministério da Saúde. Relatório 1a Conferência Nacional Livre de
Comunicação em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Conselho Nacional de
Saúde, 2017a Disponível em:
<https://www.icict.fiocruz.br/sites/www.icict.fiocruz.br/files/Relatorio_1CNLCS.pdf>.
Acesso em: 14 de Abril de 2019.
________. Medida Provisória nº 870, de 1 de janeiro de 2019. Estabelece a
organização básica dos órgãos da Presidência da República e Ministérios. Diário
Oficial da União, 1 jan. 2019a. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm>.
Acesso em: 7 abr. 2019.
________. Conselho Nacional de Saúde Comissão Intersetorial de Comunicação e
Informação em Saúde - CICIS. Brasília, 2019b. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/Web_comissoes/cicis/index.html>. Acesso em: 13 abr.
2019.
________. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 277, de
7 de maio de 1998. Aprova a criação da Comissão Intersetorial de Informações em
Saúde e afirma que as atribuições da Comissão Intersetorial de Informações em
Saúde serão desempenhadas, por delegação de competência, pela Oficina de
Trabalho Interagencial da RIPSA. Brasília, DF, 7 maio 1998. Disponível em:
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_98.htm>. Acesso em: 07 de Abril de
2019.
________. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 349, de
5 de maio de 2005. Aprovar a criação da Comissão Intersetorial de Comunicação e
Informação em Saúde, na forma do Art. 12 e seu parágrafo único da Lei nº 8.080/90.
Brasília, DF, 5 maio 2005. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2005/res0349_05_05_2005.html>.
Acesso em: 7 abr. 2019.
70
CAMPOS, G. W. S. SUS: o que e como fazer? Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1707–1714, 2018.
CARDOSO, J. M. Comunicação e saúde: desafios para fortalecer o SUS, ampliar a
participação e o controle social. In MINISTÉRIO DA SAÚDE. CONSELHO
NACIONAL DE SAÚDE.Coletânea de comunicação e informação em saúde para
o exercício do controle social. Brasília, 2006. (Série F. Comunicação e Educação
em Saúde). p. 45–55.
________; ROCHA, R. L. Interfaces e desafios comunicacionais do Sistema Único
de Saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1871-1880,
2018.
CASTIEL, L. D.; VASCONCELLOS-SILVA, P. R. Precariedades do excesso:
informação e comunicação em saúde coletiva. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006.
168p.
CAVACA, A. G. et al. Entre evidências e negligências: cobertura e invisibilidade de
temas de saúde na mídia impressa portuguesa. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 20, n. 11, p. 3569-3580, 2015.
CECCHI C. La place de l'information dans la décision en santé publique. Santé
Publique, [s.l.], v. 20 n. 4, p. 387-394, 2008. Disponível em:
<https://www.cairn.info/revue-sante-publique-2008-4-page-387.htm>. Acesso em: 6
abr. 2019.
CIRINO, J. A.; TUZZO, S. A. Comunicação e saúde: a mídia como agente social de
saúde. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
CENTRO-OESTE, 17., Campo Grande, 2015. Anais... Campo Grande: Intercom,
2015.
COUTINHO, C.; LISBÔA, E. Sociedade da informação, do conhecimento e da
aprendizagem: desafios para educação no século XXI. Revista de Educação,
Lisboa, v. XVIII, n. 1, p. 5-22, 2011.
CORREIA, M. B. F. A comunicação de dados estatísticos por intermédio de
infográficos: uma abordagem ergonômica. 2009. 464f. Dissertação (Mestrado em
Design) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
CRANE, O. et al. This is a repository copy of use of information and communication
technologies in the formal and informal health system responses to the 2015 Nepal
earthquakes. Health Policy and Planning, [s.l.], v. 32, n. 3, p. 48–58, 2017.
D’AVILA, C.; TRIGUEIROS, U. (orgs). Comunicação, mídia e saúde: novos
agentes, novas agendas. Rio de Janeiro: Editora Luminatti, 2017. 248p.
DO, M.; FIGUEROA, M. E.; KINCAID, D. L. HIV testing among young people aged
16–24 in South Africa: impact of mass media communication programs. AIDS and
Behavior, [s.l.], v. 20, n. 9, p. 2033-2044, 2016.
DUARTE, E.; EBLE, L.J.; GARCIA, L. P. 30 anos do Sistema Único de Saúde.
Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, v. 27, n.1, 2018.
EICHELBAUN, M. Setor de tecnologia movimenta R$ 460 bilhões. Brasscom, São
Paulo, 2019. Disponível em: <https://brasscom.org.br/setor-de-tecnologia-
movimenta-r-460-bilhoes/>. Acesso em: 18 abr. 2019.
71