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Educar Atraves Das Memórias
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RESUMO
Esse texto pretende conceituar e problematizar memória vista como um instrumento de
empoderamento identitário através de processos educativos outros, quer sejam na escola,
ou em espaços educativos não formais, ou até mesmo espaços educativos informais. Analiso
especificamente como os “lugares de memória” educam, ou seja, são espaços educativos
não formais. Para isso, pretendo diferenciar os conceitos de educação formal, não formal e
informal relacionando-os aos possíveis fortalecimentos de identidades locais de diferentes
grupos sociais através da construção da(s) memória(s) e da ressignificação das histórias
locais, principalmente através dos chamados “lugares de memória”. Os museus são
guardiões e divulgadores de culturas e ideologias de grupos sociais específicos. Sendo assim,
me concentro na compreensão e correlações da missão educativa dos museus e dos “lugares
de memória” em geral.
ABSTRACT
This article intends to conceptualize and problematize memory as an instrument of identity
empowerment by means of other educational processes, whether at school, in non-formal
educational spaces or even informal educational spaces. I analyze specifically how "places of
memory" educate, that is, how they are non-formal educational spaces. I intend to
differentiate the concepts of formal, non-formal and informal education by relating them to
the possible strengthening of local identities of different social groups through the
construction of memor(ies) and the re-signification of local histories, mainly through the so-
called "places of memory". Museums are guardians and disseminators of cultures and
ideologies of specific social groups. Therefore, I focus on the understanding and correlations
of the educational mission of museums and "places of memory" in general.
Nível Superior (CAPES) e à UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), pela bolsa de
estudo para pós-doutoramento.
2
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Educação Básica – PPGEB/CAp-UERJ; Pós-
Doutoranda da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. e-mail:
hmaraujo@ig.com.br
INTRODUÇÃO
Esse texto pretende conceituar e problematizar a memória como um
instrumento de empoderamento identitário através de processos educativos outros,
quer sejam na escola, ou em espaços educativos não formais, ou até mesmo
informais.
Segundo Tomaz Tadeu da Silva (1999) toda a cultura é pedagógica, ou seja,
ensina alguma coisa e toda a cultura é fruto de um momento histórico, de um
determinado contexto. Nesse texto analiso como os “lugares de memória” educam,
ou seja, são por excelência espaços de educação não formal. Para isso, pretendo
diferenciar os conceitos de educação formal, não formal e informal relacionando-os
aos possíveis fortalecimentos de identidades locais de diferentes grupos sociais
através da construção da(s) memória(s) e da ressignificação das histórias locais,
principalmente através dos chamados “lugares de memória”3 (NORA, 1993).
Para Nora (id) os “lugares de memória” são onde depositamos nossa memória
coletiva, onde trançamos memórias individuais e coletivas, memórias de camadas
populares ou de elites. Podem ser materiais ou não materiais, como por exemplo: o
sabor da comida, os ritmos musicais, os valores religiosos, dentre outros. Os “lugares
de memória”, por definição, são permeados de relações de poder (CHAGAS, 2005,
2007, 2008). Logo, os “lugares de memória” relacionados às camadas dominantes
têm obras e práticas culturais materiais e imateriais mais valorizadas do que aquelas
das camadas populares.
Nesse texto interessa-nos os museus, que são guardiões e divulgadores de
culturas e ideologias de grupos sociais específicos. Sendo assim, nos concentramos
na compreensão e correlações da missão educativa dos museus (APPADURAI e
BRECKENRIDGE, 2007) e dos “lugares de memória” em geral.
3
A expressão “lugares de memória” foi cunhada por Pierre Nora em sua obra intitulada Entre
memória e história: a problemática dos lugares em 1993.
4
Rede educativa do cotidiano é uma expressão cunhada por Nilda Alves em diversos de seus
escritos, como “O Sentido da Escola” (1999).
mas é ela que demarca um objetivo específico na educação não formal – formar para
a cidadania.” (id, p. 34)
Afirma que a educação que recebemos dos pais é a educação informal, já a
que recebemos na escola denomina-se educação formal e a educação do mundo,
aquela advinda da experiência, dos espaços e ações coletivos cotidianos chama-se
educação não formal.
As áreas, que segundo Gohn (2010), demandam a educação não formal são
as áreas de formação para a cidadania e a de trabalhos voltados para a emancipação
social de indivíduos, grupos e coletivos sociais. A educação para a cidadania
incorpora a educação para a justiça social; os direitos humanos, sociais, políticos e
culturais; a liberdade; a igualdade e diversidade cultural; a democracia; a favor do
fim dos preconceitos e qualquer forma de discriminação; o exercício da cultura e
manifestações das diferenças culturais (Gohn, 2010).
Sendo assim, Gohn (2010) articula sua concepção de educação não formal ao
campo da educação cidadã, como fica registrado no trecho abaixo:
É a partir dos anos 2000, segundo Gohn, que a educação não formal se
difunde e se dá o reconhecimento e a popularização de outras concepções de formas
e meios educacionais feitos fora da escola, mas com objetivos educacionais. Na
França, Alemanha e Espanha temos publicações com a denominação de educação
social, no campo da pedagogia social segundo Gohn (2010), que configuram a
educação não formal.
Para Gohn (2010) a educação não formal é definida pelo que não é, mas é
importante que passemos a conceitua-la e defini-la pelo que é. Normalmente
contrapõe-se educação formal a não formal, mas a autora não concorda e acha que
elas se complementam. Porém, não é complementar no sentido de fazer o que a
escola não faz, mas sim, na ideia de desenvolver campos de aprendizagem
específicos.
A educação não formal não possui uma dimensão normatizadora e nem emite
certificações, trabalha com uma outra lógica de espaço e tempo. Não tem currículo
definido a priori, tanto no que diz respeito aos conteúdos, temas ou habilidades.
Ainda acrescenta Gohn (2010) que a educação não formal é diferente da
educação informal, que é herdada e naturalizada, enquanto a primeira é adquirida de
modo intencional e empodera os seres humanos a se tornarem cidadãos do mundo.
Os objetivos são cunhados durante a interação vivenciada, incentivando e criando-se
um processo educativo. Um objetivo na educação não formal é a transmissão da
informação de forma não escolarizada e a formação política e sociocultural dos
indivíduos.
Gohn (2010) identifica as características de cada tipo de educação
diferenciando a educação informal da não formal, ou seja:
- educação informal: conhecimento não sistematizado, atuação no campo das
emoções e sentimentos, é um processo permanente e não organizado;
- educação não formal: não organizada por séries, idades, conteúdos; atua sobre
aspectos subjetivos do grupo; trabalha e forma a cultura política de um grupo; cria
laços de pertencimento; empodera a construção identitária coletiva do grupo;
influencia na formação do capital social de um grupo, que Gohn prefere chamar de
acervo sociocultural e político; é fundamentada, segundo ela, em vários critérios de
solidariedade e identificação de interesses comuns, parte da cidadania coletiva e
pública do grupo.
Porém, uma das questões primordiais nos museus é que a memória ali
construída pode estar a serviço do passado ou do presente, pode servir à
emancipação dos indivíduos, ou à sua submissão. Sendo assim, entendemos que
esta é uma reflexão e problemática que permeia todo nosso estudo sobre relações
entre memória, educação e museus.
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